------------------------Escritos de Ellen G. White (Livros) AA 0 0 Atos dos Apóstolos CBV 17 1 A Ciência do Bom Viver CBVc 8 1 A Ciência do Bom Viver (condensado) CC 9 1 Caminho a Cristo CCn 9 1 Caminho a Cristo (nova edição) DTN 9 1 O Desejado de Todas as Nações Ed 7 1 Educação GC 7 1 O Grande Conflito HR 5 1 História da Redenção MDC vi 1 O Maior Discurso de Cristo PE 5 1 Primeiros Escritos PJ 2 1 Parábolas de Jesus PP 8 1 Patriarcas e Profetas PR 5 12 Profetas e Reis T1 2 1 Testemunhos para a Igreja, 1 T2 5 1 Testemunhos para a Igreja, 2 T3 5 1 Testemunhos para a Igreja, 3 T4 5 1 Testemunhos para a Igreja, 4 T5 3 1 Testemunhos para a Igreja, 5 T6 3 1 Testemunhos para a Igreja, 6 T7 3 1 Testemunhos para a Igreja, 7 T8 5 1 Testemunhos para a Igreja, 8 T9 3 1 Testemunhos para a Igreja, 9 VJ 9 1 Vida de Jesus ------------------------Atos dos Apóstolos AA 0 0 Capítulo 1 -- O propósito de Deus para sua igreja AA 10 1 Capítulo 2 -- O preparo dos doze AA 14 1 Capítulo 3 -- A grande comissão AA 19 0 Capítulo 4 -- O Pentecostes AA 26 1 Capítulo 5 -- O dom do Espírito AA 32 0 Capítulo 6 -- À porta do templo AA 39 0 Capítulo 7 -- Uma advertência contra a hipocrisia AA 43 0 Capítulo 8 -- Perante o Sinédrio AA 48 0 Capítulo 9 -- Os sete diáconos AA 54 0 Capítulo 10 -- O primeiro mártir cristão AA 57 0 Capítulo 11 -- O evangelho em Samaria AA 62 0 Capítulo 12 -- De perseguidor a discípulo AA 68 0 Capítulo 13 -- Dias de preparo AA 73 0 Capítulo 14 -- Um pesquisador da verdade AA 79 0 Capítulo 15 -- Liberto da prisão AA 86 0 Capítulo 16 -- A mensagem do evangelho em Antioquia AA 92 0 Capítulo 17 -- Arautos do evangelho AA 98 0 Capítulo 18 -- Pregando entre os gentios AA 104 0 Capítulo 19 -- Judeus e gentios AA 112 0 Capítulo 20 -- Exaltando a cruz AA 118 0 Capítulo 21 -- Nas regiões distantes AA 123 0 Capítulo 22 -- Tessalônica AA 128 0 Capítulo 23 -- Beréia e Atenas AA 135 0 Capítulo 24 -- Corinto AA 141 0 Capítulo 25 -- As cartas aos tessalonicenses AA 149 0 Capítulo 26 -- Apolo em Corinto AA 156 0 Capítulo 27 -- Éfeso AA 162 0 Capítulo 28 -- Dias de lutas e de provas AA 166 0 Capítulo 29 -- Mensagem de advertência e de apelo AA 172 0 Capítulo 30 -- Chamado à mais elevada norma AA 180 0 Capítulo 31 -- A mensagem atendida AA 187 1 Capítulo 32 -- Uma igreja liberal AA 193 1 Capítulo 33 -- Trabalhando sob dificuldades AA 200 1 Capítulo 34 -- Ministério consagrado AA 207 0 Capítulo 35 -- A salvação para os judeus AA 213 0 Capítulo 36 -- Apostasia na Galácia AA 217 0 Capítulo 37 -- A última viagem de Paulo a Jerusalém AA 223 0 Capítulo 38 -- Paulo prisioneiro AA 234 0 Capítulo 39 -- Perante o tribunal de Cesaréia AA 239 0 Capítulo 40 -- Paulo apela para César AA 242 0 Capítulo 41 -- Quase persuadido AA 246 0 Capítulo 42 -- A viagem e o naufrágio AA 251 0 Capítulo 43 -- Em Roma AA 259 1 Capítulo 44 -- Os da casa de César AA 263 0 Capítulo 45 -- Carta de Roma AA 272 1 Capítulo 46 -- Em liberdade AA 274 1 Capítulo 47 -- A última prisão AA 276 1 Capítulo 48 -- Paulo perante Nero AA 280 0 Capítulo 49 -- Última carta de Paulo AA 286 1 Capítulo 50 -- Condenado à morte AA 289 0 Capítulo 51 -- Um fiel subpastor AA 297 0 Capítulo 52 -- Firme até o fim AA 302 1 Capítulo 53 -- João, o discípulo amado AA 306 0 Capítulo 54 -- Uma fiel testemunha AA 312 1 Capítulo 55 -- Transformado pela graça AA 318 1 Capítulo 56 -- Patmos AA 323 1 Capítulo 57 -- O Apocalipse AA 331 1 Capítulo 58 -- A igreja triunfante ------------------------Capítulo 1 -- O propósito de Deus para sua igreja AA 0 0 A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir e sua missão é levar o evangelho ao mundo. Desde o princípio, tem sido plano de Deus que, através de Sua igreja, seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência. Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, compete manifestar Sua glória. A igreja é a depositária das riquezas da graça de Cristo; e pela igreja será, a seu tempo, manifesta, mesmo aos "principados e potestades nos Céus" (Efésios 3:10), a final e ampla demonstração do amor de Deus. AA 0 0 Muitas e maravilhosas são as promessas citadas nas Escrituras com respeito à igreja. "Porque a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Isaías 56:7. "E a elas, e aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo: chuvas de bênção serão" "E lhes levantarei uma plantação de renome, e nunca mais serão consumidas pela fome na Terra, nem mais levarão sobre si o opróbrio dos gentios. Saberão, porém, que Eu, o Senhor seu Deus, estou com elas, e que elas são o Meu povo, a casa de Israel, diz o Senhor Jeová. Vós, pois, ó ovelhas Minhas, ovelhas do Meu pasto: homens sois, mas Eu sou o vosso Deus, diz o Senhor Jeová". Ezequiel 34:26, 29-31. AA 0 0 "Vós sois as Minhas testemunhas diz o Senhor, e o Meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e Me creiais, e entendais que Eu sou o mesmo, e que antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá. Eu, Eu sou o Senhor, e fora de Mim não há Salvador. Eu anunciei, e Eu salvei, e Eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus". Isaías 43:10-12. "Eu o Senhor te chamei em justiça, e te tomarei pela mão e te guardarei, e te darei por concerto do povo, e para luz dos gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas". Isaías 42:6, 7. AA 0 0 "No tempo favorável te ouvi e no dia da salvação te ajudei, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, para restaurares a terra, e lhe dares em herança as herdades assoladas: para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei: eles pastarão nos caminhos, e em todos os lugares altos terão o seu pasto. Nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o sol os afligirá; porque o que Se compadece deles os guiará, e os levará mansamente aos mananciais das águas. E farei de todos os Meus montes um caminho; e as Minhas veredas serão exaltadas. AA 7 1 "Exultai, ó Céus, e alegra-te tu, Terra, e vós, montes, estalai de júbilo, porque o Senhor consolou o Seu povo, e dos Seus aflitos Se compadecerá. Mas Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o Senhor Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que essa se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado: os teus muros estão continuamente perante Mim". Isaías 49:8-11, 13-16. AA 7 2 A igreja é a fortaleza de Deus, Sua cidade de refúgio, que Ele mantém num mundo revoltado. Qualquer infidelidade da igreja é traição para com Aquele que comprou a humanidade com o sangue de Seu unigênito Filho. Pessoas fiéis constituíram, desde o princípio, a igreja sobre a Terra. Em cada era, teve o Senhor Seus vigias que deram fiel testemunho à geração em que viveram. Essas sentinelas apregoaram a mensagem de advertência e, ao serem chamadas para depor a armadura, outros empreenderam a tarefa. Deus pôs essas testemunhas em relação de concerto com Ele próprio, unindo a igreja da Terra à do Céu. Enviou Seus anjos para cuidar de Sua igreja e as portas do inferno não puderam prevalecer contra Seu povo. AA 7 3 Através de séculos de perseguição, conflito e trevas, Deus tem amparado Sua igreja. Nenhuma nuvem sobre ela caiu, para a qual Ele não estivesse preparado; nenhuma força oponente surgiu para impedir Sua obra, que Ele não houvesse previsto. Tudo sucedeu como Ele predisse. Ele não deixou Sua igreja ao desamparo, mas traçou em declarações proféticas o que deveria ocorrer, e aquilo que Seu Espírito inspirou os profetas a predizerem tem-se realizado. Todos os Seus propósitos serão cumpridos. Sua lei está vinculada a Seu trono, e nenhum poder do mal poderá destruí-la. A verdade é inspirada e guardada por Deus; e ela triunfará sobre toda oposição. AA 7 4 Durante séculos de trevas espirituais, a igreja de Deus tem sido como uma cidade edificada sobre um monte. De século em século, através de sucessivas gerações, as puras doutrinas do Céu têm sido desdobradas dentro de seus limites. Fraca e defeituosa como possa parecer, a igreja é o único objeto sobre que Deus concede em sentido especial Sua suprema atenção. É o cenário de Sua graça, na qual Se deleita em revelar Seu poder de transformar corações. AA 7 5 "A que", perguntava Cristo, "assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos?" Marcos 4:30. Ele não podia empregar os reinos do mundo como uma ilustração. Na sociedade, nada achou com que o pudesse comparar. Os reinos da Terra se regem pela supremacia do poder físico; mas no reino de Cristo não existe arma carnal nem instrumento de coerção. Esse reino deve erguer e enobrecer a humanidade. A igreja de Deus é o recinto de vida santa, plena de variados dons e dotada com o Espírito Santo. Os membros devem encontrar sua felicidade na felicidade daqueles a quem ajudam e abençoam. AA 8 1 Maravilhosa é a obra que o Senhor Se propõe realizar por intermédio de Sua igreja, a fim de que Seu nome seja glorificado. Um quadro dessa obra é dado na visão que teve Ezequiel, do rio de águas purificadoras: "Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, sararão as águas. E será que toda a criatura vivente que vier por onde quer que entrarem estes dois ribeiros, viverá" "E junto do ribeiro, à sua margem, de uma e de outra banda, subirá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer: não cairá a sua folha, nem perecerá o seu fruto: nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio". Ezequiel 47:8-9, 12. AA 8 2 Desde o início, tem Deus operado por intermédio de Seu povo a fim de trazer bênçãos ao mundo. Deus fez de José uma fonte de vida para a antiga nação egípcia. Através de sua integridade, a vida de todo o povo foi preservada. Por meio de Daniel salvou Deus a vida de todos os sábios de Babilônia. E esses livramentos são como lições objetivas. Eles ilustram as bênçãos espirituais oferecidas ao mundo, pela ligação com o Deus a quem José e Daniel adoravam. Todos aqueles em cujo coração Cristo habita, cada um que mostre Seu amor ao mundo, é um cooperador de Deus, para bênção da humanidade. À medida que recebe do Salvador graça para reparti-la com outros, de seu próprio ser fluem torrentes de vida espiritual. AA 8 3 Deus escolhera Israel para revelar Seu caráter aos homens. Queria que os israelitas fossem fontes de salvação no mundo. A eles foram entregues os oráculos do Céu, a revelação da vontade de Deus. Nos primeiros dias de Israel, as nações do mundo, mediante práticas corruptas tinham perdido o conhecimento de Deus. Eles O haviam conhecido antes; mas porque "não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu". Romanos 1:21. Mas em Sua misericórdia Deus não as riscou da existência. Ele Se propôs dar-lhes nova oportunidade de se familiarizarem com Ele por intermédio de Seu povo escolhido. AA 8 4 Mediante os ensinos do sacrifício expiatório, Cristo deveria ser exaltado perante todas as nações, e todos os que olhassem para Ele viveriam. Cristo era o fundamento da organização judaica. Todo o sistema de tipos e símbolos era uma compacta profecia do evangelho, uma representação em que se continham as promessas de redenção. AA 8 5 Mas o povo de Israel perdeu de vista seus altos privilégios como representantes de Deus. Esqueceram-se de Deus e deixaram de cumprir Sua santa missão. As bênçãos por eles recebidas não produziram bênçãos para o mundo. Apropriaram-se de todas as suas vantagens para glorificação própria. Excluíram-se do mundo para escapar à tentação. As restrições por Deus impostas na sua associação com os idólatras como um meio de prevenir-lhes o conformismo com as práticas pagãs, eles as usaram para levantar um muro de separação entre si e as demais nações. AA 9 1 Roubaram a Deus no serviço que Ele requeria deles e roubaram ao próximo na guia religiosa e santo exemplo. AA 9 2 Sacerdotes e príncipes fixaram-se numa rotina de cerimonialismo. Satisfizeram-se com uma religião legal e era-lhes impossível dar a outros as vivas verdades do Céu. Consideravam suficiente sua própria justiça e não desejavam a intromissão de um novo elemento em sua religião. A boa vontade de Deus para com os homens não era por eles aceita como algo à parte deles próprios, mas a relacionavam com seus próprios méritos por causa de suas boas obras. A fé que atua por amor e purifica a vida não achava lugar na união com a religião dos fariseus, feita de cerimonialismo e injunções humanas. AA 9 3 De Israel disse Deus: "Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel: como pois te tornaste para Mim uma planta degenerada, de vide estranha?" Jeremias 2:21. "Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo". Oséias 10:1. "Agora pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas? AA 9 4 "Agora pois vos farei saber o que Eu hei de fazer à Minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das Suas delícias; e esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor". Isaías 5:3-7. "A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza". Ezequiel 34:4. AA 9 5 Os líderes judeus imaginavam-se demasiado sábios para necessitar de instrução, demasiado justos para necessitar de salvação e demasiado honrados para necessitar da honra que vem de Cristo. O Salvador afastou-Se deles para outorgar a outros os privilégios de que tinham abusado e a obra que haviam negligenciado. A glória de Deus tinha de ser revelada e Sua Palavra confirmada. O reino de Cristo tinha de ser estabelecido no mundo. A salvação de Deus tinha que se tornar conhecida nas cidades do deserto; e os discípulos foram chamados para fazer a obra que os líderes judaicos deixaram de fazer. ------------------------Capítulo 2 -- O preparo dos doze AA 10 1 Para a tarefa de levar avante Sua obra, Cristo não escolheu os doutos ou eloqüentes do Sinédrio judaico ou do poder de Roma. Passando por alto os ensinadores judaicos cheios de justiça própria, o Mestre por excelência escolheu homens humildes, iletrados, para proclamarem as verdades que deviam abalar o mundo. Ele Se propôs preparar e educar esses homens para dirigentes de Sua igreja. Eles, por sua vez, deviam educar outros e enviá-los com a mensagem evangélica. Para que pudessem ter sucesso em sua obra, deviam eles receber o poder do Espírito Santo. Não pelo poder humano ou humana sabedoria devia o evangelho ser proclamado, mas pelo poder de Deus. AA 10 2 Por três anos e meio, estiveram os discípulos sob a direção do maior Professor que o mundo já conheceu. Por associação e contato pessoal, Cristo preparou-os para Seu serviço. Dia a dia, caminhavam a Seu lado, conversando com Ele, ouvindo Suas palavras de ânimo aos cansados e quebrantados, e vendo a manifestação de Seu poder em favor dos doentes e sofredores. Às vezes, Ele os instruía, assentando-Se entre eles junto às montanhas; outras vezes, junto ao mar ou andando pelo caminho, lhes revelava os mistérios do reino de Deus. Onde quer que houvesse corações abertos para receber a divina mensagem, Ele desdobrava as verdades do caminho da salvação. Não mandava que os discípulos fizessem isto ou aquilo, mas dizia: "Segue-Me". Marcos 2:14. Em Suas jornadas através dos campos e das cidades, levava-os com Ele para que pudessem ver como ensinava o povo. Viajavam com Ele de um lugar a outro. Tomavam parte nas Suas frugais refeições e, como Ele, estiveram algumas vezes famintos e não raro cansados. Estiveram com Ele nas ruas apinhadas, junto ao lago e no solitário deserto. Viram-nO em todos os aspectos da vida. AA 10 3 Foi na ordenação dos doze que se deram os primeiros passos na organização da igreja que, depois da partida de Cristo devia levar avante Sua obra na Terra. A respeito dessa ordenação, diz o relato: "E subiu ao monte, e chamou para Si os que Ele quis; e vieram a Ele. E nomeou doze para que estivessem com Ele e os mandasse a pregar". Marcos 3:13, 14. AA 10 4 Consideremos a tocante cena. Imaginemos a Majestade do Céu tendo em torno de Si os doze por Ele escolhidos. Logo os separaria para a obra que lhes havia destinado. Por meio desses débeis instrumentos, mediante Sua Palavra e Espírito, Ele Se propôs colocar a salvação ao alcance de todos. AA 11 1 Com alegria e júbilo, Deus e os anjos contemplavam essa cena. O Pai sabia que, por intermédio desses homens, a luz do Céu haveria de brilhar; que as palavras por eles ditas ao testemunharem de Seu Filho haveriam de ecoar de geração em geração, até o fim dos séculos. AA 11 2 Os discípulos deviam sair como testemunhas de Cristo para anunciar ao mundo o que dEle tinham visto e ouvido. Seu cargo era o mais importante dos cargos a que já haviam sido chamados seres humanos, apenas inferior ao do próprio Cristo. Eles deviam ser colaboradores de Deus na salvação dos homens. Como no Antigo Testamento os doze patriarcas ocupavam o lugar de representantes de Israel, assim os doze apóstolos representam a igreja evangélica. AA 11 3 Durante Seu ministério terrestre, Cristo deu início à obra de derrubar o muro de separação entre judeus e gentios e apregoar a salvação a toda a humanidade. Embora fosse judeu, comunicava-Se livremente com os samaritanos, anulando costumes farisaicos dos judeus com respeito a esse desprezado povo. Dormia sob seu teto, comia em suas mesas e ensinava em suas ruas. AA 11 4 O Salvador ansiava por desdobrar aos discípulos a verdade referente à demolição da "parede de separação" (Efésios 2:14) entre Israel e as outras nações -- a verdade de que "os gentios são co-herdeiros" dos judeus, "e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho". Efésios 3:6. Essa verdade foi revelada em parte quando Ele recompensou a fé do centurião de Cafarnaum, e quando pregou o evangelho aos habitantes de Sicar. Isso foi ainda mais plenamente revelado por ocasião de Sua visita à Fenícia, quando curou a filha da mulher cananéia. Essas experiências ajudaram os discípulos a compreender que entre aqueles a quem muitos consideravam indignos da salvação, havia pessoas famintas da luz da verdade. AA 11 5 Assim buscou Cristo ensinar aos discípulos a verdade de que, no reino de Deus, não há fronteiras territoriais, nem classes sociais; que eles deviam ir a todas as nações, levando-lhes a mensagem do amor do Salvador. Mas não foi senão mais tarde que compreenderam em toda a plenitude que Deus "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos já antes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós". Atos 17:26, 27. AA 11 6 Uma grande diversidade caracterizava esses primeiros discípulos. Eles deviam ser ensinadores do mundo e representavam amplamente variados tipos de caráter. Para conduzir com êxito a obra para a qual haviam sido chamados, esses homens, diferindo em características naturais e em hábitos de vida, necessitavam chegar à unidade de sentimento, pensamento e ação. Essa unidade Cristo tinha por objetivo conseguir. Para alcançar esse fim procurou mantê-los unidos a Ele. A responsabilidade que sentia em Sua obra por eles é expressa em Sua oração ao Pai: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós" "Para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:21, 23. Sua constante oração por eles era que fossem santificados pela verdade; e Ele orou com segurança, sabendo que um decreto da parte do Todo-poderoso fora feito antes que o mundo tivesse vindo à existência. Sabia que o evangelho do reino devia ser pregado para testemunho a todas as nações; que a verdade fortalecida com a onipotência do Santo Espírito seria vitoriosa na batalha contra o mal, e que a bandeira sangrenta um dia haveria de tremular triunfante sobre Seus seguidores. AA 12 1 Ao aproximar-se o término do ministério terrestre de Cristo e reconhecer Ele que logo precisaria deixar que Seus discípulos levassem avante a obra sem Sua pessoal supervisão, procurou encorajá-los e prepará-los para o futuro. Não os enganou com falsas esperanças. Como num livro aberto, leu o que deveria acontecer. Sabia que estava prestes a ser separado deles, para deixá-los como ovelhas entre lobos. Sabia que haveriam de sofrer perseguição, que seriam lançados fora das sinagogas e metidos nas prisões. Sabia que, por testemunharem dEle como o Messias, alguns experimentariam a morte. E falou-lhes alguma coisa a respeito disso. Referindo-Se ao futuro deles, foi claro e definido para que, nas aflições que viriam, pudessem lembrar Suas palavras e ser fortalecidos para crer nEle como o Redentor. AA 12 2 Falou-lhes também palavras de encorajamento e esperança. "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho". João 14:1-4. Por sua causa vim ao mundo; em seu favor tenho trabalhado. Quando Eu for, ainda trabalharei ardentemente em seu benefício. Vim ao mundo para Me revelar, de modo que vocês possam crer. Vou para o Meu Pai e o seu Pai, para atuar juntamente com Ele em seu favor. AA 12 3 "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço, e as fará maiores do que estas; porque Eu vou para Meu Pai". João 14:12. Não queria Cristo dizer com isso que os discípulos fariam maiores esforços do que os que Ele havia feito, mas que sua obra teria maior amplitude. Ele não Se referiu meramente à operação de milagres, mas a tudo quanto iria acontecer sob a influência do Espírito Santo. "Mas, quando vier o Consolador", disse Ele, "que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade que procede do Pai, Ele testificará de Mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio". João 15:26, 27. AA 13 1 Essas palavras foram maravilhosamente cumpridas. Depois da descida do Espírito Santo, os discípulos sentiram tanto amor por Ele, e por aqueles por quem Ele morrera, que corações se comoveram pelas palavras que falaram e pelas orações que fizeram. Falaram no poder do Espírito; e sob a influência desse poder, milhares se converteram. AA 13 2 Como representantes de Cristo, os apóstolos deviam fazer decidida impressão sobre o mundo. O fato de serem homens simples não devia diminuir-lhes a influência, antes incrementá-la; pois a mente de seus ouvintes devia ser levada deles para o Salvador que, conquanto invisível, estava ainda operando com eles. O maravilhoso ensino dos apóstolos, suas palavras de ânimo e confiança, assegurariam a todos que não era em seu próprio poder que operavam, mas no poder de Cristo. Com humildade, declarariam que Aquele que os judeus haviam crucificado era o Príncipe da vida, o Filho do Deus vivo e que em Seu nome haviam feito as obras que Ele fizera. AA 13 3 Em Sua reunião de despedida com os discípulos, na noite anterior à crucifixão, o Salvador não fez referência ao sofrimento que Ele havia suportado e teria ainda de suportar. Não falou da humilhação que estava a Sua frente, mas quis apresentar-lhes algo que pudesse fortalecer sua fé, levando-os a olhar para a frente, à recompensa que espera o vencedor. Ele Se regozijava na certeza de que poderia fazer por Seus seguidores mais do que havia prometido, e o faria; de que dEle brotariam amor e compaixão que purificariam o templo espiritual e tornariam as pessoas semelhantes a Ele no caráter; de que Sua verdade, robustecida com o poder do Espírito, sairia vencendo e para vencer. AA 13 4 "Tenho-vos dito isto", declarou Ele, "para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo". João 16:33. Cristo não fracassou, nem Se desencorajou; e Seus discípulos deviam mostrar fé da mesma persistente natureza. Deviam trabalhar como Ele havia trabalhado, buscando dEle forças. Embora o caminho fosse obstruído por aparentes impossibilidades, por Sua graça deveriam avançar, de nada desesperando e esperando por tudo. AA 13 5 Cristo havia terminado a obra que Lhe fora dada para fazer. Tinha reunido os que teriam de continuar Sua obra entre os homens. E disse: "E nisso sou glorificado. E Eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós" "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um" "Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:10-11, 20-21, 23. ------------------------Capítulo 3 -- A grande comissão AA 14 1 Após a morte de Cristo, os discípulos ficaram quase vencidos pelo desalento. Seu Mestre tinha sido rejeitado, condenado e crucificado. Os sacerdotes e príncipes haviam declarado zombeteiramente: "Salvou a outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nEle". Mateus 27:42. O sol da esperança dos discípulos tinha declinado, e a noite havia descido sobre seus corações. Muitas vezes repetiram as palavras: "E nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel". Lucas 24:21. Desolados e com o coração em dor, lembraram-se de Suas palavras: "Se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?" Lucas 23:31. AA 14 2 Por várias vezes havia Jesus tentado revelar o futuro a Seus discípulos, mas eles não haviam querido refletir no que Ele dissera. Por essa razão, Sua morte veio-lhes como uma surpresa; e mais tarde, ao rememorarem o passado e verem o resultado de sua incredulidade, encheram-se de tristeza. Quando Cristo foi crucificado, eles não creram que Ele ressurgisse. Ele havia afirmado claramente que haveria de ressurgir ao terceiro dia, mas eles ficaram perplexos sobre o que Ele queria dizer. Essa falta de compreensão deixou-os extremamente desesperançados por ocasião da morte de Jesus. Ficaram amargamente desapontados. Sua fé não penetrava além das sombras que Satanás tinha baixado em seu horizonte. Tudo lhes parecia vago e misterioso. Tivessem eles crido nas palavras do Salvador, e quanta tristeza teria sido evitada! AA 14 3 Esmagados pelo desapontamento, angústia e desespero, os discípulos se reuniram no cenáculo e fecharam as portas, temendo que seu destino fosse igual ao do seu bem-amado Mestre. Foi nesse recinto que o Salvador, depois da ressurreição, lhes apareceu. AA 14 4 Por quarenta dias, permaneceu Cristo na Terra, preparando os discípulos para a obra que deviam fazer, e explanando o que até então eles tinham sido incapazes de compreender. Falou-lhes das profecias concernentes a Seu advento, Sua rejeição pelos judeus e Sua morte, mostrando que cada especificação dessas profecias tinha sido cumprida. Falou-lhes também que deviam considerar o cumprimento dessas profecias como garantia do poder que haveria de assisti-los nas suas futuras atividades. "Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém" E Ele acrescentou: "E destas coisas sois vós testemunhas". Lucas 24:45-48. AA 15 1 Durante esses dias que Cristo passou com os discípulos, eles adquiriram nova experiência. Ao ouvirem o querido Mestre explicar-lhes as Escrituras à luz de tudo quanto acontecera, sua fé foi inteiramente firmada nEle. Chegaram ao ponto de poder declarar: "Eu sei em quem tenho crido". 2 Timóteo 1:12. Começaram a compreender a natureza e extensão de sua obra e a reconhecer que deviam proclamar ao mundo as verdades a eles confiadas. Os acontecimentos da vida de Cristo, Sua morte e ressurreição, as profecias que apontavam para esses acontecimentos, os mistérios do plano da salvação, o poder de Jesus para remissão de pecados -- de todas essas coisas haviam eles sido testemunhas e deviam torná-las conhecidas ao mundo. Deviam proclamar o evangelho de paz e salvação mediante o arrependimento e o poder do Salvador. AA 15 2 Antes de ascender ao Céu, Cristo deu aos discípulos uma comissão. Disse-lhes que deviam ser os executores do testamento no qual Ele legava ao mundo os tesouros da vida eterna. Vocês são as testemunhas de Minha vida de sacrifício em favor do mundo, disse. Viram tudo o que fiz por Israel: E embora Meu povo não quisesse vir a Mim para ter vida, embora sacerdotes e príncipes tenham feito comigo o que desejaram, conquanto Me tenham rejeitado, terão ainda outra oportunidade de aceitar o Filho de Deus. Viram vocês que todos os que vieram a Mim confessando seus pecados, Eu os recebi livremente. AA 15 3 Aquele que vem a Mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. Aos Meus discípulos Eu entrego essa mensagem de misericórdia. Ela deve ser dada tanto a judeus como a gentios -- primeiro a Israel, e então, a todas as nações, línguas e povos. Todos os que crerem devem ser congregados numa única Igreja. AA 15 4 A comissão do evangelho é a Carta Magna missionária do reino de Cristo. Os discípulos deviam trabalhar fervorosamente pelas pessoas, estendendo a todas o convite de misericórdia. Não deviam esperar que o povo viesse a eles; deviam eles ir ao povo com a mensagem. AA 15 5 Deviam os discípulos levar avante sua obra no nome de Cristo. Cada uma de suas palavras e cada ato devia atrair a atenção sobre Seu nome como possuindo esse poder vivificante pelo qual os pecadores podem ser salvos. Sua fé devia centralizar-se nAquele que é a fonte de misericórdia e poder. Em Seu nome deviam apresentar suas petições ao Pai, e receberiam resposta. Deviam batizar no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O nome de Cristo devia ser a senha, a insígnia, o laço de união, a autoridade para sua norma de prosseguimento e a fonte de seu sucesso. Nada devia ser reconhecido em Seu reino que não trouxesse Seu nome e inscrição. AA 16 1 Quando Cristo disse aos discípulos: "Ide" em Meu nome ajuntar na igreja a todos quantos crerem, deixou claro perante eles a necessidade de manterem simplicidade. Quanto menor fosse a ostentação e exibicionismo, maior seria sua influência para o bem. Os discípulos deviam falar com a mesma simplicidade com que Cristo havia falado. Deviam imprimir no coração dos ouvintes as mesmas lições que lhes havia ensinado. AA 16 2 Cristo não disse a Seus discípulos que sua obra seria fácil. Mostrou-lhes a vasta confederação do mal arregimentada contra eles. Teriam de lutar "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. Mas não seriam deixados a lutar sozinhos. Assegurou-lhes que estaria com eles e, se fossem avante com fé, seriam protegidos pelo Onipotente. Ordenou-lhes que fossem valorosos e fortes; pois Alguém mais poderoso que os anjos -- o General das hostes celestiais -- estaria em suas fileiras. Ele tomou completas providências para a continuação de Sua obra, e assumiu a responsabilidade de seu êxito. Enquanto obedecessem Sua Palavra e trabalhassem em harmonia com Ele, não fracassariam. "Ide" por todas as nações, ordenou Ele. Até as mais distantes partes do mundo habitado, e estejam certos de que Minha presença estará com vocês, mesmo ali. Trabalhem com fé e confiança; pois em tempo algum os deixarei. Estarei sempre ajudando-os a executar suas tarefas, guiando-os, confortando-os, santificando-os e os sustendo, dando-lhes sucesso, quando falarem, de maneira que suas palavras atraiam a atenção dos outros para o Céu. AA 16 3 O sacrifício de Cristo em favor do homem foi amplo e completo. A condição da expiação fora preenchida. A obra para que viera a este mundo fora realizada. Ele conquistara o reino. Arrebatara-o de Satanás, e Se tornara herdeiro de todas as coisas. Estava a caminho do trono de Deus, para ser honrado pela hoste celestial. Revestido de autoridade ilimitada, deu a Seus discípulos sua comissão: "Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:19, 20. AA 16 4 Antes de deixar Seus discípulos, Cristo uma vez mais definiu a natureza de Seu reino. Trouxe-lhes à lembrança as coisas que lhes havia falado anteriormente com relação a esse reino. Declarou-lhes que não era Seu propósito estabelecer neste mundo um reino temporal. Ele não havia sido indicado para reinar como um rei terrestre sobre o trono de Davi. Quando os discípulos Lhe perguntaram: "Senhor, restaurarás Tu neste tempo o reino a Israel?" Ele respondeu: "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo Seu próprio poder". Atos 1:6, 7. Não lhes era necessário ver mais distante no futuro do que as revelações que lhes havia feito os capacitavam a ver. Sua obra era proclamar a mensagem do evangelho. AA 17 1 A visível presença de Cristo estava prestes a ser retirada dos discípulos, mas uma nova dotação de poder lhes pertenceria. O Espírito Santo lhes seria concedido em Sua plenitude, selando-os para a sua obra. Disse o Salvador: "Eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder". Lucas 24:49. "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo; não muito depois destes dias" "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da Terra". Atos 1:5, 8. AA 17 2 O Salvador sabia que nenhum argumento, embora lógico, enterneceria corações endurecidos nem atravessaria a crosta da mundanidade e do egoísmo. Sabia que os discípulos precisavam receber o dom celestial; que o evangelho só seria eficaz se fosse proclamado pelos corações aquecidos e lábios tornados eloqüentes pelo vivo conhecimento dAquele que é o caminho, a verdade e a vida. A obra comissionada aos discípulos iria requerer grande eficiência, porque a onda do mal avançava profunda e forte contra eles. Um vigilante e determinado líder estava no comando das forças das trevas, e os seguidores de Cristo somente poderiam batalhar pelo direito com o auxílio que Deus, pelo Seu Espírito, lhes daria. AA 17 3 Cristo disse a Seus discípulos que começassem o trabalho em Jerusalém. Aquela cidade fora o cenário de Seu estupendo sacrifício pela raça humana. Lá, envolto nas vestes da humanidade, andara e falara com os homens, e poucos discerniram quão próximo da Terra estava o Céu. Lá fora condenado e crucificado. Em Jerusalém havia muitos que, secretamente, criam que Jesus de Nazaré era o Messias, e muitos que haviam sido enganados pelos sacerdotes e príncipes. A esses o evangelho deveria ser proclamado. Seriam chamados ao arrependimento. Deveria ser esclarecida a maravilhosa verdade de que somente por meio de Cristo pode ser obtida a remissão dos pecados. E era enquanto toda a Jerusalém estava agitada pelos acontecimentos sensacionais das poucas semanas passadas, que a pregação dos discípulos causaria a mais profunda impressão. AA 17 4 Durante Seu ministério, Jesus tinha conservado constantemente perante os discípulos o fato de que eles deviam ser um com Ele em Sua obra para recuperar o mundo da escravidão do pecado. Quando Ele enviou os doze, e depois os setenta, para proclamarem o reino de Deus, estava-lhes ensinando o dever de repartir com outros o que lhes dera a conhecer. Em toda a Sua obra Ele os estivera preparando para trabalho em favor das pessoas, o qual deveria ser expandido à medida que seu número aumentasse, até finalmente alcançar os confins da Terra. A última lição que deu a Seus seguidores foi que lhes tinham sido confiadas as boas-novas de salvação para o mundo. AA 17 5 Ao chegar o tempo para Jesus ascender ao Pai, Ele levou os discípulos até Betânia. Ali parou, e eles se agruparam em torno dEle. Com as mãos estendidas para abençoar, como a assegurar-lhes Seu protetor cuidado, vagarosamente subiu dentre eles. "E aconteceu que, abençoando-os Ele, Se apartou deles e foi elevado ao Céu". Lucas 24:51. AA 18 1 Enquanto os discípulos olhavam atônitos para o alto, procurando captar o último vislumbre da ascensão do Senhor, foi Ele recebido pela jubilosa hoste de anjos celestiais. Enquanto esses anjos O acompanhavam às cortes celestiais, cantavam triunfalmente: "Reinos da Terra, cantai a Deus, cantai louvores ao Senhor. Aquele que vai montado sobre os céus dos céus" "Dai a Deus fortaleza: a Sua excelência está sobre Israel e a Sua fortaleza nas mais altas nuvens". Salmos 68:32-34. AA 18 2 Os discípulos ainda estavam com os olhos fitos no céu quando, "eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir". Atos 1:10, 11. AA 18 3 A promessa da segunda vinda de Cristo deveria ser conservada sempre viva na mente de Seus discípulos. O mesmo Jesus, a quem viram subir ao Céu, viria outra vez, para receber aos que na Terra se entregam a Seu serviço. A mesma voz que lhes disse: "Estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20), lhes daria as boas-vindas a Sua presença no reino celestial. AA 18 4 Como no cerimonial típico o sumo sacerdote despia suas vestes pontificais e oficiava vestido de linho branco dos sacerdotes comuns, assim Cristo abandonou Suas vestes reais e Se vestiu de humanidade, oferecendo-Se em sacrifício, sendo Ele mesmo o sacerdote, Ele mesmo a vítima. Como o sumo sacerdote, depois de realizar essa cerimônia no santo dos santos, deixava o local e se apresentava à expectante multidão em suas roupas pontificais, assim Cristo virá a segunda vez, trajando os mais alvos vestidos, "como nenhum lavadeiro sobre a Terra os poderia branquear". Marcos 9:3. Ele virá na Sua própria glória, e na glória de Seu Pai, e todos os anjos O escoltarão em Seu caminho. AA 18 5 Assim se cumprirá a promessa de Cristo a Seus discípulos: "Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo". João 14:3. A todos os que O têm amado e esperado por Ele, Ele coroará com honra, glória e imortalidade. Os justos mortos ressurgirão de suas sepulturas, e os que estiverem vivos serão arrebatados com eles para encontrar o Senhor nos ares. Eles ouvirão a voz de Jesus, mais suave que qualquer música jamais ouvida por ouvido mortal, dizendo-lhes: As lutas estão terminadas. "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo". Mateus 25:34. AA 18 6 Os discípulos tinham motivos para rejubilar-se na esperança da volta do Senhor. ------------------------Capítulo 4 -- O Pentecostes AA 19 0 Este capítulo é baseado em Atos 2:1-39. AA 19 1 Ao voltarem os discípulos do Olivete para Jerusalém, o povo fitava-os, esperando descobrir-lhes no rosto expressões de tristeza, confusão e derrota, mas viram alegria e triunfo. Os discípulos não pranteavam desapontadas esperanças. Viram o Salvador ressurgido, e Sua promessa na despedida lhes ecoava constantemente aos ouvidos. AA 19 2 Em obediência à ordem de Cristo, esperaram em Jerusalém o cumprimento da promessa do Pai -- o derramamento do Espírito. Não esperaram ociosos. Diz o registro que "estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus". Lucas 24:53. Reuniram-se também para, em nome de Jesus, apresentar seus pedidos ao Pai. Sabiam que tinham um representante no Céu, um advogado junto ao trono de Deus. Em solene reverência, ajoelharam-se em oração, repetindo a promessa: "Tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra". João 16:23, 24. Mais e mais alto eles estenderam a mão da fé, com o poderoso argumento: "É Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós". Romanos 8:34. AA 19 3 Ao esperarem os discípulos pelo cumprimento da promessa, humilharam o coração em verdadeiro arrependimento e confessaram sua incredulidade. Ao trazerem à lembrança as palavras que Cristo lhes havia dito antes da morte, entenderam mais amplamente seu significado. Verdades que lhes tinham escapado à lembrança lhes voltavam à mente, e eles as repetiam uns aos outros. Reprovavam-se por não haverem compreendido o Salvador. Como numa seqüência, cena após cena de Sua maravilhosa vida passou perante eles. Meditando sobre Sua vida pura, santa, sentiram que nenhum trabalho seria árduo demais, nenhum sacrifício demasiado grande, contanto que pudessem testemunhar na própria vida, da amabilidade do caráter de Cristo. Oh! se pudessem viver de novo os passados três anos, pensavam, quão diferentemente agiriam! Se pudessem somente ver o Mestre outra vez, com que ardor procurariam mostrar quão profundamente O amavam, e quanto se haviam entristecido por terem-nO ferido com uma palavra ou um ato de incredulidade! Mas estavam confortados com o pensamento de que haviam sido perdoados. E determinaram que, tanto quanto possível, expiariam sua incredulidade confessando-O corajosamente perante o mundo. AA 20 1 Os discípulos oraram com intenso fervor para serem habilitados a se aproximar das pessoas e, em seu trato diário, falar palavras que levassem os pecadores a Cristo. Pondo de parte todas as divergências, todo o desejo de supremacia, uniram-se em íntima comunhão cristã. Aproximaram-se mais e mais de Deus e, fazendo isso, sentiram que era um privilégio poderem associar-se tão intimamente com Cristo. A tristeza lhes inundava o coração ao se lembrarem de quantas vezes O haviam mortificado por terem sido tardos de compreensão, falhos em entender as lições que, para seu bem, Ele estivera buscando ensinar-lhes. AA 20 2 Esses dias de preparo foram de profundo exame de coração. Os discípulos sentiram sua necessidade espiritual, e suplicaram do Senhor a santa unção que os devia capacitar para a obra da salvação. Não suplicaram essas bênçãos apenas para si. Sentiam a responsabilidade que pesava sobre eles. Compreendiam que o evangelho devia ser proclamado ao mundo e clamavam pelo poder que Cristo prometera. AA 20 3 Durante a era patriarcal, a influência do Espírito Santo tinha sido muitas vezes revelada de maneira muito notável, mas nunca em Sua plenitude. Agora, em obediência à palavra do Salvador, os discípulos faziam suas súplicas por esse dom e, no Céu, Cristo acrescentou Sua intercessão. Ele reclamou o dom do Espírito para que pudesse derramá-lo sobre Seu povo. AA 20 4 "E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados". Atos 2:1, 2. AA 20 5 O Espírito veio sobre os discípulos que, expectantes, oravam, com uma plenitude que alcançou cada coração. O Ser infinito revelou-Se em poder a Sua igreja. Era como se por séculos essa influência estivesse sendo reprimida e, agora, o Céu se regozijasse em poder derramar sobre a igreja as riquezas da graça do Espírito. E sob a influência do Espírito, palavras de arrependimento e confissão misturavam-se com cânticos de louvor por pecados perdoados. Eram ouvidas palavras de gratidão e de profecia. Todo o Céu se inclinou na contemplação da sabedoria do incomparável e incompreensível amor. Absortos em admiração, os apóstolos exclamaram: "Nisto consiste o amor"! 1 João 4:10. Eles se apossaram do dom que lhes era repartido. E que se seguiu? A espada do Espírito, de novo afiada com poder e banhada nos relâmpagos do Céu, abriu caminho através da incredulidade. Milhares se converteram num dia. AA 20 6 Disse Cristo a Seus discípulos: "Digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-Lo-ei" "Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir". João 16:7, 13. AA 21 7 A ascensão de Cristo ao Céu foi, para Seus seguidores, um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Por ela deviam esperar antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as portas celestiais, foi Jesus entronizado em meio à adoração dos anjos. Tão logo foi essa cerimônia concluída, o Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre os discípulos, e Cristo foi, de fato, glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda a eternidade. O derramamento pentecostal foi uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. De conformidade com Sua promessa, Jesus enviou do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em sinal de que Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o Ungido sobre Seu povo. AA 21 1 "E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem". Atos 2:3, 4. O Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo, repousou sobre a assembléia. Esse era um emblema do dom então outorgado aos discípulos, o qual os capacitava a falar com fluência línguas com as quais antes não tinham tomado contato algum. A aparência de fogo significava o zelo fervente com que os apóstolos trabalhariam, e o poder que assistiria sua obra. AA 21 2 "E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu". Atos 2:5. Durante a dispersão, os judeus tinham sido espalhados por quase todas as partes do mundo habitado, e em seu exílio tinham aprendido a falar várias línguas. Muitos desses judeus estavam, nessa ocasião, em Jerusalém assistindo às festas religiosas que então se realizavam. Cada língua conhecida estava por eles representada. Essa diversidade de línguas teria sido um grande obstáculo à proclamação do evangelho; Deus, portanto, de maneira miraculosa, supriu a deficiência dos apóstolos. O Espírito Santo fez por eles o que não teriam podido fazer por si em toda uma existência. Agora, podiam proclamar as verdades do evangelho em toda parte, falando com perfeição a língua daqueles por quem trabalhavam. Esse miraculoso dom era para o mundo uma forte evidência de que o trabalho deles tinha a aprovação do Céu. Daí por diante, a linguagem dos discípulos era pura, simples e correta, falassem eles no idioma materno ou numa língua estrangeira. AA 21 3 "E, correndo aquela voz, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?" Atos 2:6-8. AA 21 4 Os sacerdotes e príncipes estavam excessivamente enraivecidos ante essa manifestação extraordinária, mas não ousavam demonstrar sua má disposição, por temor de se exporem à violência do povo. Tinham assassinado o Nazareno; mas eis que ali estavam os Seus servos, indoutos da Galiléia, contando em todas as línguas então faladas, a história de Sua vida e ministério. Os sacerdotes, resolvidos a atribuir o poder miraculoso dos discípulos a alguma causa natural, declararam estarem eles embriagados por terem bebido demais do vinho novo preparado para o banquete. Alguns dos mais ignorantes dentre o povo creram na acusação, mas os mais inteligentes sabiam que isso era falso; e os que compreendiam as diferentes línguas testificavam da correção com que eram usadas pelos discípulos. AA 22 1 Em resposta à acusação dos sacerdotes, Pedro destacou que essa demonstração era um direto cumprimento da profecia de Joel, onde é predita a descida de tal poder sobre homens a fim de habilitá-los para uma obra especial. "Varões judeus, e todos os que habitais em Jerusalém," disse ele, "seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, e os vossos mancebos terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do Meu Espírito derramarei sobre os Meus servos e Minhas servas naqueles dias, e profetizarão". Atos 2:14-18. AA 22 2 Com clareza e poder Pedro testificou da morte e ressurreição de Cristo: "Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a Este... crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela". Atos 2:22-24. AA 22 3 Pedro não se referiu aos ensinos de Cristo a fim de justificar sua atitude, porque sabia que o preconceito de seus ouvintes era tal que suas palavras sobre o assunto seriam de nenhum efeito. Em vez disso, falou de Davi, que era considerado pelos judeus como um dos patriarcas da nação. "Porque", declarou, "dEle disse Davi: Sempre via diante de Mim o Senhor, porque está à Minha direita, para que Eu não seja comovido; por isso se alegrou o Meu coração, e a Minha língua exultou; e ainda a Minha carne há de repousar em esperança; pois não deixarás a Minha alma no Hades, nem permitirás que o Teu santo veja a corrupção. Atos 2:25-27. AA 22 4 "Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura" Ele "disse da ressurreição de Cristo: que a Sua alma não foi deixada no Hades, nem a Sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas". Atos 2:29, 31-32. AA 22 5 É uma cena cheia de interesse. Eis o povo afluindo de todas as direções para ouvir os discípulos testificarem da verdade como é em Jesus. Eles se acotovelam, lotando o templo. Sacerdotes e príncipes estão presentes, fisionomias carregadas de malignidade, o coração ainda cheio de permanente ódio contra Cristo, as mãos maculadas com o sangue do Redentor do mundo, sangue esse derramado quando O crucificaram. Pensavam encontrar os apóstolos acovardados e temerosos sob a mão forte da opressão e assassínio, mas encontram-nos acima de todo temor, cheios do Espírito, proclamando com poder a divindade de Jesus de Nazaré. Ouvem-nos declarando com ousadia que Aquele tão recentemente humilhado, escarnecido, ferido por mãos cruéis e crucificado é o Príncipe da vida, agora exaltado à direita de Deus. AA 23 1 Alguns dos que ouviam os apóstolos tinham tomado parte ativa na condenação e morte de Cristo. Suas vozes tinham-se misturado com a da turba, pedindo Sua crucificação. Quando Jesus e Barrabás foram colocados perante eles no tribunal, e Pilatos perguntou: "Qual quereis que vos solte?" (Mateus 27:17) eles clamaram: "Este não, mas Barrabás". João 18:40. Quando Pilatos lhes apresentou Cristo, dizendo: "Tomai-O vós, e crucificai-O; porque eu nenhum crime acho nEle" (João 19:6), "Estou inocente do sangue dEste justo", eles exclamaram: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos". Mateus 27:24, 25. AA 23 2 Agora, eles ouvem os discípulos declararem que era o Filho de Deus que havia sido crucificado. Sacerdotes e príncipes tremeram. Um sentimento de convicção e angústia se apoderou do povo. "E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?" Atos 2:37. Entre os ouvintes dos discípulos havia judeus devotos, sinceros em sua fé. O poder que acompanhou as palavras de Pedro convenceu-os de que Jesus era, de fato, o Messias. AA 23 3 "E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe; a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar". Atos 2:38, 39. AA 23 4 Pedro deixou claro ao povo convicto o fato de que haviam rejeitado a Cristo por terem sido enganados pelos sacerdotes e príncipes; e que se eles continuassem a buscar conselho desses homens, e esperassem por eles para reconhecerem a Cristo em vez de ousar fazê-lo por si mesmos, jamais O aceitariam. Esses homens poderosos, embora fazendo profissão de piedade, eram ambiciosos de riquezas e glórias terrestres. Não desejavam vir a Cristo para receber esclarecimento. AA 23 5 Sob a influência dessa celestial iluminação, as passagens da Escritura que Cristo tinha explanado aos discípulos apresentavam-se perante eles com o brilho da verdade perfeita. O véu que os impedia de ver o fim do que fora abolido estava agora removido, e eles compreendiam com perfeita clareza o objetivo da missão de Cristo e a natureza de Seu reino. Puderam falar com poder a respeito do Salvador e, ao desdobrarem perante seus ouvintes o plano da salvação, muitos ficavam convictos e persuadidos. As tradições e superstições inculcadas pelos sacerdotes foram varridas de sua mente, e os ensinos do Salvador, aceitos. AA 24 1 "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas". Atos 2:41. AA 24 2 Os líderes judeus tinham imaginado que a obra de Cristo terminaria com Sua morte; mas em vez disso, testemunharam as maravilhosas cenas do dia do Pentecostes. Ouviram os discípulos dotados de poder e energia até então desconhecidos pregando a Cristo e viram suas palavras confirmadas por sinais e maravilhas. Em Jerusalém, o centro do judaísmo, milhares declararam abertamente sua fé em Jesus de Nazaré como o Messias. Os discípulos estavam assombrados e sobremodo jubilosos com a abundante colheita de conversos. Eles não consideravam essa maravilhosa colheita como resultado de seus próprios esforços; sabiam que estavam somando ao trabalho de outros homens. Desde a queda de Adão, Cristo estivera confiando a servos escolhidos a semente de Sua Palavra, para ser lançada nos corações humanos. Durante Sua vida na Terra, Ele semeara a semente da verdade e a regara com Seu sangue. As conversões ocorridas no dia do Pentecostes foram resultado dessa semeadura, a colheita da obra de Cristo, revelando o poder de Seus ensinos. AA 24 3 Apenas os argumentos dos apóstolos, conquanto convincentes e claros, não teriam removido o preconceito que resistira a tanta evidência. Mas o Espírito Santo com divino poder convenceu os corações pelos argumentos. As palavras dos apóstolos eram como afiadas setas do Todo-poderoso, convencendo as pessoas de sua terrível culpa por haverem rejeitado e crucificado o Senhor da glória. AA 24 4 Sob a influência dos ensinos de Cristo, os discípulos tinham sido induzidos a sentir sua necessidade do Espírito. Mediante a instrução do Espírito receberam a habilitação final, saindo no desempenho de sua vocação. Não mais eram ignorantes e iletrados. Haviam deixado de ser um grupo de unidades independentes, ou elementos discordantes em conflito. Sua esperança não mais repousava sobre a grandeza terrestre. Todos eram "unânimes" (Atos 2:46) e "era um o coração e a alma da multidão dos que criam". Atos 4:32. Cristo lhes enchia os pensamentos; e eles visavam ao avançamento de Seu reino. Na mente e no caráter, haviam-se tornado semelhantes a seu Mestre, e os homens "tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus". Atos 4:13. AA 24 5 O Pentecostes trouxe-lhes uma iluminação celestial. As verdades que não puderam compreender enquanto Cristo estava com eles, eram agora reveladas. Com uma fé e certeza que nunca antes conheceram, aceitaram os ensinamentos da Sagrada Palavra. Não mais lhes era questão de fé, ser Cristo o Filho de Deus. Sabiam que, ainda que revestido da humanidade, Ele era, de fato, o Messias, e contaram sua experiência ao mundo com uma confiança que inspirava a convicção de que Deus estava com eles. AA 25 1 Eles podiam falar no nome de Jesus com segurança; pois era Ele seu Amigo e Irmão mais velho. Levados em íntima comunhão com Cristo, assentaram-se com Ele nos lugares celestiais. Com uma linguagem convincente vestiam suas idéias quando testificavam dEle. Tinham o coração sobrecarregado com a benevolência tão ampla, tão profunda, de tão vasto alcance que foram impelidos a ir aos confins da Terra, testificando do poder de Cristo. Estavam cheios de um intenso desejo de levar avante a obra que Ele tinha iniciado. Sentiam a enormidade de seu débito para com o Céu, e a responsabilidade de sua obra. Fortalecidos pela concessão do Espírito Santo, saíram com zelo para estender os triunfos da cruz. O Espírito os animava, e falava por intermédio deles. A paz de Cristo brilhava na face deles. Tinham-Lhe consagrado a vida para serviço, e seu próprio semblante evidenciava a entrega que haviam feito. ------------------------Capítulo 5 -- O dom do Espírito AA 26 1 Quando Cristo fez a Seus discípulos a promessa do Espírito, estava Se aproximando do fim de Seu ministério terrestre. Estava à sombra da cruz, com plena consciência do peso da culpa que havia de repousar sobre Ele como o portador do pecado. Antes de Se oferecer como a vítima sacrifical, instruiu Seus discípulos com respeito a um dom essencial e completo que ia conceder a Seus seguidores -- o dom que haveria de pôr-lhes ao alcance os ilimitados recursos de Sua graça. "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O conhece: mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós". João 14:16, 17. O Salvador estava apontando para o futuro, ao tempo em que o Espírito Santo deveria vir para fazer uma poderosa obra como Seu representante. O mal que se vinha acumulando por séculos, devia ser resistido pelo divino poder do Espírito Santo. AA 26 2 Qual foi o resultado do derramamento do Espírito no dia do Pentecostes? As boas-novas de um Salvador ressuscitado foram levadas até as mais longínquas partes do mundo habitado. À medida que os discípulos proclamavam a mensagem da graça redentora, os corações se entregavam ao poder da mensagem. A igreja viu conversos vindo para ela de todas as direções. Extraviados converteram-se de novo. Pecadores uniram-se aos crentes em busca da Pérola de grande preço. Alguns que haviam sido os mais ferrenhos inimigos do evangelho tornaram-se seus campeões. Cumpriu-se a profecia: "O que dentre eles tropeçar... será como Davi, e a casa de Davi... como o anjo do Senhor". Zacarias 12:8. Cada cristão via em seu irmão uma revelação do amor e benevolência divinos. Só um interesse prevalecia; um elemento de emulação absorveu todos os outros. A ambição dos crentes era revelar a semelhança do caráter de Cristo, bem como trabalhar pelo desenvolvimento de Seu reino. AA 26 3 "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça". Atos 4:33. Pelas suas atividades agregaram-se à igreja homens escolhidos que, recebendo a palavra da verdade, consagraram a vida à obra de levar aos outros a esperança que lhes enchia o coração de paz e satisfação. Não podiam ser reprimidos nem intimidados por ameaças. O Senhor falava por seu intermédio e, à medida que iam de lugar a lugar, o evangelho era pregado aos pobres e manifestavam-se milagres da divina graça. AA 27 1 Deus pode atuar tão poderosamente quando os homens se entregam ao controle de Seu Espírito. AA 27 2 A promessa do Espírito Santo não é limitada a uma época ou povo. Cristo declarou que a divina influência do Espírito deveria estar com Seus seguidores até o fim. Desde o dia do Pentecostes até ao presente, o Confortador tem sido enviado a todos os que se rendem inteiramente ao Senhor e a Seu serviço. A todos os que aceitam a Cristo como Salvador pessoal, o Espírito Santo vem como consolador, santificador, guia e testemunha. Quanto mais intimamente os crentes andam com Deus, tanto mais clara e poderosamente testificam do amor do Redentor e da Sua graça salvadora. Os homens e mulheres que através dos longos séculos de perseguição e prova desfrutaram, em larga escala, a presença do Espírito em sua vida, permaneceram como sinais e maravilhas no mundo. Revelaram, diante dos anjos e dos homens, o transformador poder do amor que redime. AA 27 3 Os que, no Pentecostes, foram dotados com poder do alto, não ficaram por isso livres de tentações e provas. Enquanto testemunhavam da verdade e da justiça, eram repetidamente assediados pelo inimigo de toda a verdade, o qual procurava roubar-lhes a sua experiência cristã. Eram compelidos a lutar com todas as faculdades dadas por Deus, a fim de alcançarem a estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. Diariamente, oravam por novos suprimentos de graça, para que pudessem subir mais e mais na escala da perfeição. Sob a operação do Espírito Santo, mesmo os mais fracos, pelo exercitar fé em Deus, aprendiam a melhorar as faculdades conseguidas, e a se tornarem santificados, refinados e enobrecidos. Tendo se submetido em humildade à modeladora influência do Espírito Santo, recebiam a plenitude da Divindade e eram modelados à semelhança do divino. AA 27 4 O tempo decorrido não operou mudança na promessa dada por Cristo ao partir, de que enviaria o Espírito Santo como Seu representante. Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça deixam de fluir para a Terra em favor dos homens. Se o cumprimento da promessa não é visto como poderia ser, é porque a promessa não é apreciada como deveria. Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. Onde quer que a necessidade do Espírito Santo seja um assunto de que pouco se pense, ali se verá sequidão espiritual, escuridão espiritual e espirituais declínio e morte. Quando assuntos de menor importância ocupam a atenção, é sinal de que está faltando o divino poder, necessário para o crescimento e prosperidade da igreja, ainda que oferecido em infinita plenitude, o qual traz após si todas as demais bênçãos. AA 27 5 Uma vez que é esse o meio pelo qual havemos de receber poder, por que não sentimos fome e sede pelo dom do Espírito? Por que não falamos sobre ele, não oramos por ele e não pregamos a seu respeito? O Senhor está mais disposto a dar o Espírito Santo àqueles que O servem do que os pais a dar boas dádivas a seus filhos. Cada obreiro deve fazer sua petição a Deus pelo batismo diário do Espírito. Grupos de obreiros cristãos se devem reunir para suplicar auxílio especial, sabedoria celestial, para que saibam como planejar e executar sabiamente. Principalmente, devem eles orar para que Deus batize Seus embaixadores escolhidos nos campos missionários, com uma rica medida do Seu Espírito. A presença do Espírito com os obreiros de Deus dará à proclamação da verdade um poder que nem toda a honra ou glória do mundo dariam. AA 28 1 O Espírito Santo habita no consagrado obreiro de Deus, onde quer que ele possa estar. As palavras dirigidas aos discípulos são-no também a nós. O Consolador é tanto nosso quanto deles. O Espírito concede a força que sustenta a pessoa que se esforça e luta em todas as emergências, em meio ao ódio do mundo e ao reconhecimento de seus próprios fracassos e erros. Em tristezas e aflições, quando as perspectivas se afiguram escuras e o futuro aterrador, e nos sentimos desamparados e sós -- é tempo de o Espírito Santo, em resposta à oração da fé, conceder conforto ao coração. AA 28 2 Manifestar êxtases espirituais sob circunstâncias extraordinárias não é prova conclusiva de que uma pessoa é cristã. Santidade não é arrebatamento: é inteira entrega da vontade a Deus; é viver por toda a palavra que sai da boca de Deus; é fazer a vontade de nosso Pai celestial; é confiar em Deus na provação, tanto nas trevas como na luz; é andar pela fé e não pela vista; é apoiar-se em Deus com indiscutível confiança, descansando em Seu amor. AA 28 3 Não é essencial que sejamos capazes de definir exatamente o que seja o Espírito Santo. Cristo nos diz que o Espírito é o Consolador, o "Espírito de verdade, que procede do Pai". João 15:26. É declarado positivamente, a respeito do Espírito Santo, que, em Sua obra de guiar os homens em toda a verdade, "não falará de Si mesmo". João 16:13. AA 28 4 A natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não lhes revelou. Com fantasiosos pontos de vista, podem-se reunir passagens da Escritura e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a igreja. Com relação a tais mistérios -- demasiado profundos para o entendimento humano -- o silêncio é ouro. AA 28 5 A função do Espírito Santo é distintamente especificada nas palavras de Cristo: "E quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo". João 16:8. É o Espírito Santo que convence do pecado. Se o pecador atender à vivificadora influência do Espírito, será levado ao arrependimento e despertado para a importância de obedecer aos reclamos divinos. AA 28 6 Ao pecador arrependido, faminto e sedento de justiça, o Espírito Santo revela o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. "Ele... há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar", disse Cristo. João 16:14. "Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito". João 14:26. AA 29 1 O Espírito é dado como agente de regeneração, para tornar eficaz a salvação operada pela morte de nosso Redentor. O Espírito está constantemente buscando atrair a atenção das pessoas para a grande oferta feita na cruz do Calvário, a fim de desvendar ao mundo o amor de Deus, e abrir às mentes convictas as preciosidades das Escrituras. AA 29 2 Havendo operado a convicção do pecado, e apresentado perante a mente a norma de justiça, o Espírito Santo afasta as afeições pelas coisas da Terra, e enche o espírito com o desejo de santidade. "Ele vos guiará em toda a verdade", declarou o Salvador. João 16:13. Se os homens se dispuserem a ser moldados, haverá a santificação de todo o ser. O Espírito tomará as coisas de Deus e as gravará no seu coração. Por Seu poder o caminho da vida se tornará tão claro que ninguém o errará. AA 29 3 Desde o princípio, tem Deus operado por Seu Espírito Santo, mediante agentes humanos, para a realização de Seu propósito em benefício da humanidade caída. Isso se manifestou na vida dos patriarcas. À igreja no deserto, no tempo de Moisés, também deu Deus Seu "bom Espírito, para os ensinar". Neemias 9:20. E nos dias dos apóstolos, Ele atuou poderosamente por Sua igreja através do Espírito Santo. O mesmo poder que susteve os patriarcas, que a Calebe e Josué deu fé e coragem, e eficiência à obra da igreja apostólica, tem sustentado os fiéis filhos de Deus nos séculos sucessivos. Foi mediante o poder do Espírito Santo que na idade escura os cristãos valdenses ajudaram a preparar o caminho para a Reforma. Foi o mesmo poder que deu êxito aos esforços de nobres homens e mulheres que abriram o caminho para o estabelecimento das modernas missões, e para a tradução da Bíblia para as línguas e dialetos de todas as nações e povos. AA 29 4 E ainda hoje, Deus está usando Sua igreja para tornar conhecido Seu propósito na Terra. Hoje, os arautos da cruz vão de cidade em cidade e de lugar em lugar, preparando o caminho para o segundo advento de Cristo. A norma da lei de Deus está sendo exaltada. O Espírito do Onipotente está movendo o coração dos homens, e os que respondem a essa influência tornam-se testemunhas de Deus e Sua verdade. Em muitos lugares podem ser vistos homens e mulheres consagrados comunicando a outros a luz que lhes iluminou o caminho da salvação mediante Cristo. E enquanto deixam sua luz brilhar, como fizeram os que foram batizados com o Espírito no dia do Pentecostes, recebem mais e mais do poder do Espírito. Assim é a Terra iluminada com a glória de Deus. AA 29 5 Por outro lado, há alguns que, em vez de aproveitar sabiamente as oportunidades presentes, estão esperando indolentes por alguma ocasião especial de refrigério espiritual, pelo qual suas habilidades para iluminar outros sejam grandemente aumentadas. Esses negligenciam os deveres e privilégios do presente e deixam que sua luz se apague, enquanto esperam um tempo em que, sem nenhum esforço de sua parte, sejam feitos os recipientes de bênçãos especiais, pelas quais sejam transformados e tornados aptos para o serviço. AA 30 1 É certo que, no tempo do fim, quando a causa de Deus na Terra estiver prestes a terminar, os sinceros esforços dos consagrados crentes sob a guia do Espírito Santo serão acompanhados por especiais manifestações de favor divino. Sob a figura das chuvas temporã e serôdia, que caem nas terras orientais ao tempo da semeadura e da colheita, os profetas hebreus predisseram a dotação de graça espiritual em medida extraordinária à igreja de Deus. O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o começo da primeira chuva, ou temporã, e glorioso foi o resultado. Até o fim do tempo, a presença do Espírito deve ser encontrada com a verdadeira igreja. AA 30 2 Ao avizinhar-se o fim da ceifa da Terra, uma especial concessão de graça espiritual é prometida a fim de preparar a igreja para a vinda do Filho do homem. Esse derramamento do Espírito é comparado com a queda da chuva serôdia; e é por esse poder adicional que os cristãos devem fazer as suas petições ao Senhor da seara "no tempo da chuva serôdia" Em resposta, "o Senhor, que faz os relâmpagos, lhes dará chuveiro de água". Zacarias 10:1. "Ele... fará descer a chuva, a temporã e a serôdia, no primeiro mês". Joel 2:23. AA 30 3 A menos, porém, que os membros da igreja de Deus hoje estejam em viva associação com a Fonte de todo o crescimento espiritual, não estarão prontos para o tempo da ceifa. A menos que mantenham suas lâmpadas bem acesas, deixarão de receber a graça adicional em tempos de maior necessidade. AA 30 4 Apenas os que estão a receber constantemente novos suprimentos de graça, terão o poder proporcional a sua necessidade diária e sua capacidade de usar esse poder. Em vez de aguardar um tempo futuro em que, mediante uma concessão especial de poder espiritual, recebam uma habilitação miraculosa para conquistar almas, rendem-se diariamente a Deus, para que os torne vasos próprios para o Seu uso. Aproveitam cada dia as oportunidades do serviço que encontram a seu alcance. Diariamente, testificam em favor do Mestre, onde quer que estejam, seja em alguma humilde esfera de atividade no lar, ou em algum setor de utilidade pública. AA 30 5 Há para o consagrado obreiro uma maravilhosa consolação em saber que mesmo Cristo, durante Sua vida na Terra, buscava diariamente Seu Pai em procura de nova provisão da necessária graça, e saía dessa comunhão com Deus para fortalecer e abençoar a outros. AA 30 6 Contemplemos o Filho de Deus curvado em adoração a Seu Pai! Conquanto fosse o Filho de Deus, robustecia Sua fé por meio da prece, e mediante a comunhão com o Céu trazia a Si mesmo força para resistir ao mal e ministrar às necessidades dos homens. Como o Irmão mais velho de nossa raça, conheceu as necessidades dos que, cercados de enfermidades e vivendo num mundo de pecado e tentação, desejam, contudo, servi-Lo. Ele sabe que os mensageiros que acha por bem enviar, são homens fracos e falíveis, mas a todos que se dedicam inteiramente ao Seu serviço, promete auxílio divino. Seu próprio exemplo é uma garantia de que a diligente e perseverante súplica a Deus em fé -- fé que leva a uma inteira confiança nEle e consagração sem reserva a Sua obra -- será eficaz em trazer aos homens o auxílio do Espírito Santo na batalha contra o pecado. AA 31 1 Todo obreiro que segue o exemplo de Cristo, estará apto a receber e empregar o poder que Deus prometeu a Sua igreja para a maturação da seara da Terra. Manhã após manhã, ao se ajoelharem os arautos do evangelho perante o Senhor, renovando-Lhe seus votos de consagração, Ele lhes concederá a presença de Seu Espírito, com Seu poder vivificante e santificador. Ao saírem para seus deveres diários, têm eles a certeza de que a invisível atuação do Espírito Santo os habilita a ser "cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. ------------------------Capítulo 6 -- À porta do templo AA 32 0 Este capítulo é baseado em Atos 3; 4:1-31. AA 32 1 Os discípulos de Cristo tinham profundo senso da própria ineficiência e, com humilhação e oração, uniam sua fraqueza a Sua força, sua ignorância a Sua sabedoria, sua indignidade a Sua justiça e sua pobreza a Sua inesgotável riqueza. Assim fortalecidos e equipados, não hesitaram em avançar a serviço do Mestre. AA 32 2 Pouco tempo após a descida do Espírito Santo, e imediatamente depois de um período de fervorosa oração, Pedro e João, subindo ao templo para adorar, viram à porta Formosa, um coxo, de quarenta anos de idade, cuja vida, desde o seu nascimento, tinha sido de dor e enfermidade. Esse infeliz havia durante muito tempo desejado ver Jesus para ser curado, mas encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico. Seus rogos finalmente induziram alguns amigos a levá-lo à porta do templo, mas chegando ali, soube que Aquele em quem suas esperanças se centralizavam havia sido morto cruelmente. AA 32 3 Seu desapontamento provocou a simpatia dos que sabiam por quanto tempo ele avidamente esperara ser curado por Jesus, e diariamente o levavam ao templo, a fim de que os que passavam fossem, pela piedade, induzidos a dar-lhe uma ninharia para lhe aliviar as necessidades. Ao passarem Pedro e João, pediu-lhes uma esmola. Os discípulos olharam-no com compaixão, e Pedro disse: "Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro". Atos 3:4-6. Ao declarar Pedro desta maneira a sua pobreza, o rosto do coxo descaiu; mas tornou-se radiante com esperança ao continuar o apóstolo: "Mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda". Atos 3:6. AA 32 4 "E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus". Atos 3:7, 8. AA 32 5 "E, apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão". Atos 3:11. Estavam estupefatos de que os discípulos pudessem efetuar milagres semelhantes aos que foram realizados por Jesus. Contudo, ali estava aquele homem que, durante quarenta anos, fora um coxo inválido, regozijando-se agora em pleno uso de seus membros, livre de dor, e feliz por crer em Jesus. AA 33 1 Quando os discípulos viram o espanto do povo, Pedro perguntou: "Por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?" Atos 3:12. Assegurou-lhes que a cura tinha sido operada em nome e pelos méritos de Jesus de Nazaré, a quem Deus ressuscitara dos mortos. "Pela fé no Seu nome", declarou o apóstolo, "fez o Seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a fé que é por Ele deu a este, na presença de todos vós, essa perfeita saúde". Atos 3:16. AA 33 2 Os apóstolos falaram claramente do grande pecado dos judeus, em terem rejeitado e matado o Príncipe da vida; mas foram cuidadosos em não levar seus ouvintes ao desespero. "Vós negastes o Santo e o Justo", disse Pedro, "e matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas" "E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes, mas Deus assim cumpriu o que já antes pela boca de todos os Seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer". Atos 3:14, 15, 17, 18. Ele declarou que o Espírito Santo os estava chamando para arrependimento e conversão, e assegurou-lhes que não havia esperança de salvação a não ser mediante a graça dAquele a quem haviam crucificado. Somente pela fé nEle podiam seus pecados ser perdoados. AA 33 3 "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos," exclamou ele, "para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor". Atos 3:19. AA 33 4 "Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da Terra. Ressuscitando Deus a Seu Filho Jesus, primeiro O enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades". Atos 3:25, 26. AA 33 5 Assim os discípulos pregaram a ressurreição de Cristo. Muitos entre os que os ouviam estavam esperando por este testemunho e, quando o ouviram, creram. Vieram-lhes à mente as palavras que Cristo havia dito, e tomaram posição ao lado dos que aceitaram o evangelho. A semente que o Salvador havia plantado brotava e produzia frutos. AA 33 6 Enquanto os discípulos falavam ao povo, "sobrevieram os sacerdotes, e o capitão do templo, e os saduceus, doendo-se muito de que ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição dos mortos". Atos 4:1, 2. AA 33 7 Após a ressurreição de Cristo, os sacerdotes tinham espalhado longe e perto a mentira de que Seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos enquanto a guarda romana dormia. Não é de admirar que tenham ficado descontentes quando ouviram Pedro e João pregar a ressurreição dAquele que haviam matado. Os saduceus, especialmente, estavam sobremodo alvoroçados. Sentiam que suas mais acariciadas doutrinas estavam em perigo e sua reputação em risco. AA 34 1 Os conversos à nova fé estavam rapidamente aumentando, e tanto fariseus como saduceus concordaram em que, se permitissem a esses novos ensinadores prosseguir livremente, sua própria influência estaria em maior perigo do que quando Jesus estava na Terra. Em conformidade com isso, o capitão do templo, com auxílio de alguns dos saduceus, deteve Pedro e João, e os pôs na prisão, visto ser muito tarde para os interrogar naquele dia. AA 34 2 Os inimigos dos discípulos não podiam deixar de estar convencidos de que Cristo ressuscitara dos mortos. A prova era por demais clara para que fosse posta em dúvida. Não obstante, endureceram o coração, recusando arrepender-se da terrível ação que haviam cometido, matando Jesus. Haviam sido dadas aos príncipes judeus abundantes evidências de que os apóstolos estavam falando e agindo sob a divina inspiração, mas eles firmemente resistiram à mensagem da verdade. Cristo não tinha vindo da maneira como esperavam e, embora, às vezes, tivessem estado convictos de que Ele era o Filho de Deus, fizeram calar a convicção e O crucificaram. Por misericórdia, Deus lhes deu novas provas, e agora outra oportunidade era-lhes concedida para voltarem a Ele. Ele enviou os discípulos para dizer-lhes que haviam matado o Príncipe da vida, e nesta terrível acusação deu-lhes outra oportunidade para arrependimento. Mas, sentindo-se seguros em sua própria justiça, os ensinadores judeus recusaram-se a admitir que os homens que os acusavam de haverem crucificado a Cristo estivessem falando pela direção do Espírito Santo. AA 34 3 Tendo-se entregue a uma atitude de oposição a Cristo, cada ato de resistência tornava-se para os sacerdotes um adicional incentivo para prosseguirem nesse procedimento. Sua obstinação tornara-se mais e mais determinada. Não que eles não se pudessem render; podiam, mas não o queriam. Não era só porque fossem culpados e merecedores de morte, nem apenas por terem levado à morte o Filho de Deus, que estavam apartados da salvação; mas porque se armaram de oposição contra Deus. Persistentemente rejeitaram a luz, e sufocaram as convicções do Espírito. A influência que controla os filhos da desobediência operava neles, levando-os a maltratar os homens por cujo intermédio Deus estava agindo. A malignidade de sua rebelião era intensificada por todo ato sucessivo de resistência contra Deus e contra a mensagem que Ele mandara transmitir por Seus servos. Cada dia, em sua recusa de se arrepender, os líderes judeus retomavam sua rebelião, preparando-se para ceifar o que estavam semeando. AA 34 4 A ira de Deus não é declarada contra pecadores impenitentes, apenas por causa dos pecados por eles cometidos, mas porque, quando chamados a arrepender-se escolhem continuar em resistência, repetindo os pecados do passado em desafio à luz que lhes é dada. Se os líderes judeus se tivessem submetido ao convincente poder do Espírito Santo, teriam sido perdoados; mas estavam determinados a não se render. De igual forma, o pecador, pela contínua resistência, coloca-se onde o Espírito Santo não o pode influenciar. AA 35 1 No dia seguinte ao da cura do coxo, Anás e Caifás, com os outros dignitários do templo, reuniram-se para o julgamento, e os prisioneiros foram trazidos perante eles. No mesmo recinto e diante de alguns dos mesmos homens, Pedro tinha vergonhosamente negado seu Senhor. Isso lhe veio claramente à memória, ao comparecer ele próprio para ser julgado. Agora, tinha oportunidade para reparar sua covardia. AA 35 2 Os presentes que se lembravam da parte que Pedro havia desempenhado no julgamento de seu Mestre, lisonjeavam-se de que ele seria intimidado pela ameaça de prisão e morte. Mas o Pedro que negara a Cristo na hora de Sua maior necessidade era impulsivo e cheio de confiança própria, diferindo grandemente do Pedro que fora trazido perante o Sinédrio para ser interrogado. Depois de sua queda, ele se havia convertido. Não mais era orgulhoso e jactancioso, mas modesto e sem confiança em si mesmo. Estava cheio do Espírito Santo e, com o auxílio desse poder, estava resolvido a remover a mancha de sua apostasia, honrando o nome que repudiara. AA 35 3 Até então, os sacerdotes tinham evitado mencionar a crucifixão ou ressurreição de Jesus. Mas agora, em cumprimento de seu propósito, foram obrigados a indagar do acusado como se efetuara a cura do inválido. "Com que poder, ou em nome de quem fizestes isto?" perguntaram. Atos 4:7. AA 35 4 Com santa ousadia e no poder do Espírito, destemidamente Pedro declarou: "Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, Aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos, em nome dEsse é que este está são diante de vós. Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos 4:10-12. AA 35 5 Essa corajosa defesa aterrorizou os chefes judeus. Haviam suposto que os discípulos seriam vencidos pelo temor e confusão, quando trazidos perante o Sinédrio. Mas em vez disso, aquelas testemunhas falavam como Cristo havia falado, com um poder convincente que silenciava os adversários. Não havia indício de temor na voz de Pedro, quando declarou acerca de Cristo: "Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina". Atos 4:11. AA 35 6 Pedro usou aqui uma figura de linguagem familiar aos sacerdotes. Os profetas haviam falado da pedra rejeitada; e o próprio Cristo, falando uma ocasião aos sacerdotes e anciãos, disse: "Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça de ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Porquanto Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre essa Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó". Mateus 21:42-44. AA 36 1 Ao ouvirem os sacerdotes as destemidas palavras dos apóstolos, "tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus". Atos 4:13. AA 36 2 Depois da transfiguração de Cristo, é dito dos discípulos que, ao fim da maravilhosa cena, "ninguém viram senão unicamente a Jesus". Mateus 17:8. AA 36 3 Nas palavras "unicamente a Jesus", está contido o segredo da vida e do poder que marcaram a história da igreja primitiva. Ao ouvirem pela primeira vez as palavras de Cristo, os discípulos sentiram sua necessidade dEle. Eles O buscaram, O acharam e O seguiram. Com Ele estavam no templo, à mesa, na encosta das montanhas ou no campo. Eram como alunos com o professor, dEle recebendo diariamente lições da eterna verdade. AA 36 4 Após a ascensão do Salvador, o senso da divina presença, plena de amor e luz, permanecia ainda com eles. Era uma presença pessoal. Jesus, o Salvador, que tinha andado com eles, com eles falado e orado, que lhes falara de esperança e conforto ao coração, tinha sido tomado deles para o Céu, quando a mensagem de paz ainda estava em Seus lábios. Enquanto o séquito de anjos, O recebia, dEle lhes vieram as palavras: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. Ele havia ascendido ao Céu na forma humana. Sabiam que, diante do trono de Deus, Ele ainda era seu Salvador e Amigo; sabiam que Sua simpatia era imutável; que Ele estaria para sempre identificado com a humanidade sofredora. Sabiam que Ele estava apresentando diante de Deus os méritos de Seu sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, como lembrança do preço que havia pago por Seus redimidos; e esse pensamento os fortalecia para suportar a injúria por Sua causa. Sua união com Ele era mais forte agora do que quando Ele estava com eles em pessoa. A luz, o amor e o poder de um Cristo sempre presente brilhava por meio deles, de maneira que os homens, contemplando, se maravilhavam. AA 36 5 Cristo pôs o Seu selo às palavras que Pedro falara em Sua defesa. Bem ao lado dos discípulos, como convincente testemunha, estava o homem que tão milagrosamente havia sido curado. A aparência desse homem, poucas horas antes um aleijado ao desamparo, mas agora restaurado à perfeita saúde, acrescentava peso de testemunho às palavras de Pedro. Sacerdotes e príncipes ficaram em silêncio. Eram incapazes de refutar as declarações de Pedro, mas nem por isso estavam menos decididos a pôr um paradeiro ao ensino dos discípulos. AA 36 6 O mais importante milagre de Cristo -- a ressurreição de Lázaro -- tinha selado a determinação dos sacerdotes de excluir do mundo Jesus e Suas maravilhosas obras, as quais estavam rapidamente destruindo sua influência sobre o povo. Eles O haviam crucificado; mas ali estava uma convincente prova de que não haviam feito cessar a obra de milagres em Seu nome, nem a proclamação da verdade que Ele ensinara. A cura do coxo e a pregação dos apóstolos já haviam enchido Jerusalém de agitação. AA 37 1 A fim de ocultarem sua perplexidade, os sacerdotes e príncipes ordenaram que os apóstolos fossem afastados, para que pudessem aconselhar-se entre si. Concordaram todos que seria inútil negar que o homem fora curado. Pensaram em encobrir o prodígio por meio de falsidades, mas isso era impossível, pelo fato de que o milagre fora operado em plena luz do dia, diante de uma multidão de pessoas, e já chegara ao conhecimento de milhares. Sentiam que a obra dos discípulos devia cessar, ou Jesus ganharia mais adeptos. Sua própria desgraça poderia seguir-se, pois estariam sujeitos a ser responsabilizados pelo assassínio do Filho de Deus. AA 37 2 Apesar do seu desejo de destruir os discípulos, os sacerdotes não ousaram fazer mais que ameaçá-los com o mais severo castigo, se continuassem a falar nem agir no nome de Jesus. Chamando-os novamente perante o Sinédrio, ordenaram-lhes não falar ou ensinar no nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: "Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido". Atos 4:19, 20. AA 37 3 De boa vontade, teriam os sacerdotes punido esses homens por sua inamovível fidelidade a sua sagrada vocação, mas temeram o povo; "porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera". Atos 4:21. Assim, com repetidas ameaças e admoestações, foram os apóstolos libertados. AA 37 4 Enquanto Pedro e João estavam prisioneiros, os outros discípulos, conhecendo a malignidade dos judeus, haviam orado incessantemente por seus irmãos, temendo que a crueldade mostrada para com Cristo pudesse repetir-se. Tão logo foram os apóstolos libertados, puseram-se eles em busca dos demais discípulos e lhes relataram o resultado do interrogatório. Grande foi a alegria dos crentes. "Ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, Tu és o que fizeste o céu, e a Terra, e o mar, e tudo o que neles há; que disseste pela boca de Davi, Teu servo: Por que bramaram as gentes, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da Terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o Seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o Teu santo Filho Jesus, que Tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos; com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer". Atos 4:24-28. AA 37 5 "Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos Teus servos que falem com toda ousadia a Tua Palavra; enquanto estendes a Tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do Teu santo Filho Jesus". Atos 4:29, 30. AA 37 6 Os discípulos oraram para que maior força lhes fosse concedida na obra do ministério; pois viam que teriam de enfrentar a mesma determinada oposição que Cristo tinha encontrado quando esteve na Terra. Enquanto suas orações unidas ascendiam em fé ao Céu, veio a resposta. Moveu-se o lugar onde estavam reunidos, e novamente foram cheios do Espírito Santo. Com o coração cheio de ânimo, de novo saíram para proclamar a Palavra de Deus em Jerusalém. "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus" (Atos 4:33), e Deus abençoava maravilhosamente seus esforços. AA 38 1 O princípio pelo qual os discípulos se mantiveram tão destemidamente quando, em resposta à ordem de não falarem mais no nome de Jesus, declararam: "Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós que a Deus" (Atos 4:19), é o mesmo que os adeptos do evangelho se esforçaram por manter nos dias da Reforma. Quando, em 1529, os príncipes alemães se reuniram na Dieta de Espira, foi-lhes apresentado o decreto do imperador, restringindo a liberdade religiosa, e proibindo toda posterior disseminação das doutrinas reformadas. Dir-se-ia que a esperança do mundo estava prestes a ser esmagada. Aceitariam os príncipes o decreto? Devia a luz do evangelho, ser vedada às multidões ainda em trevas? Achavam-se em jogo decisões importantes para o mundo. Os que haviam aceitado a fé reformada reuniram-se, sendo sua unânime decisão: "Rejeitemos este decreto. Em questões de consciência, a maioria não influi" (D'Aubigné, História da Reforma, livro 13, cap. 5). AA 38 2 Esse princípio tem de ser mantido firmemente em nossos dias. A bandeira da verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja do evangelho e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então, foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos. A responsabilidade por esse grande dom repousa com aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra. Temos de receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência a ele como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um "Assim diz o Senhor", não deve ser posto à margem por um "Assim diz a igreja", ou um "Assim diz o Estado" A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de autoridades terrestres. AA 38 3 Não se nos exige que desafiemos as autoridades. Nossas palavras, quer faladas quer escritas, devem ser cuidadosamente consideradas, para que não sejamos tidos na conta de proferir coisas que nos façam parecer contrários à lei e à ordem. Não devemos dizer nem fazer coisa alguma que nos venha desnecessariamente impedir o caminho. Temos de avançar em nome de Cristo, defendendo as verdades que nos foram confiadas. Se somos proibidos pelos homens de fazer essa obra, podemos, então, dizer como os apóstolos: "Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus? Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido". Atos 4:19, 20. ------------------------Capítulo 7 -- Uma advertência contra a hipocrisia AA 39 0 Este capítulo é baseado em Atos 4:32-37 para 5:11. AA 39 1 Ao proclamarem os discípulos as verdades do evangelho em Jerusalém, Deus confirmou suas palavras, e uma multidão creu. Muitos desses primeiros crentes foram imediatamente separados da família e dos amigos pelo zeloso fanatismo dos judeus, sendo, portanto, necessário prover-lhes alimento e abrigo. AA 39 2 O relato declara: "Não havia pois entre eles necessitado algum". Atos 4:34. E diz como as necessidades eram supridas. Aqueles dentre os crentes que tinham dinheiro e bens, alegremente sacrificavam-nos para socorrer na emergência. Vendendo suas casas ou suas terras, eles levavam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. "E repartia-se por cada um, segundo a necessidade que cada um tinha". Atos 4:35. AA 39 3 Essa liberalidade da parte dos crentes foi o resultado do derramamento do Espírito. "Era um o coração e a alma" (Atos 4:32) dos conversos ao evangelho. Um comum interesse os guiava -- o êxito da missão a eles confiada; e a avareza não tinha lugar em sua vida. Seu amor aos irmãos e à causa que haviam abraçado, era maior do que o amor ao dinheiro e às posses. Suas obras testificavam que eles tinham a salvação dos homens em maior apreço que as riquezas terrestres. AA 39 4 Assim será sempre, quando o Espírito de Deus toma posse da vida. Aqueles cujo coração transborda do amor de Cristo seguirão o exemplo dAquele que, por amor de nós, Se tornou pobre, para que por Sua pobreza enriquecêssemos. Dinheiro, tempo, influência -- todos os dons que receberem das mãos de Deus -- só serão por eles apreciados quando usados como meio de fazer avançar a obra do evangelho. Assim foi na igreja primitiva e, ao ver-se na igreja de hoje que, pelo poder do Espírito, os membros retiraram suas afeições das coisas do mundo e se dispõem a fazer sacrifícios a fim de que seus semelhantes possam ouvir o evangelho, as verdades proclamadas terão poderosa influência sobre os ouvintes. AA 39 5 Contraste flagrante com o exemplo de generosidade manifestada pelos crentes, foi a conduta de Ananias e Safira, cuja experiência, traçada pela pena da Inspiração, deixou uma escura nódoa na história da igreja primitiva. Com outros, esses professos discípulos haviam participado do privilégio de ouvir o evangelho pregado pelos apóstolos. Haviam eles estado presentes com outros crentes, quando, após haverem os apóstolos orado, "moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo". Atos 4:31. Profunda convicção havia-se apossado de todos os presentes e, sob a direta influência do Espírito de Deus, Ananias e Safira haviam feito o voto de dar ao Senhor o produto da venda de certa propriedade. AA 40 1 Depois, Ananias e Safira ofenderam o Espírito Santo cedendo a sentimentos de cobiça. Começaram a lamentar o haverem feito aquela promessa e logo perderam a suave influência da bênção que lhes havia aquecido o coração com o desejo de fazer grandes coisas em benefício da causa de Cristo. Julgaram haverem-se precipitado e sentiam ser necessário reconsiderar sua decisão. Falaram entre si sobre o caso e resolveram não cumprir a promessa. Viam, porém, que os que entregavam seus bens para suprir as necessidades de seus irmãos mais pobres, eram tidos em alta estima pelos crentes e, com vergonha de que os irmãos viessem a saber que sua mesquinhez de alma regateara aquilo que haviam solenemente dedicado a Deus, resolveram deliberadamente vender sua propriedade e fingir que davam todo o produto para o fundo comum, guardando, porém, para si mesmos, grande parte. Desse modo garantiriam para si o pão do depósito comum, ao mesmo tempo que alcançariam a alta estima de seus irmãos. AA 40 2 Mas Deus aborrece a hipocrisia e a falsidade. Ananias e Safira praticaram fraude em sua conduta para com Deus. Mentiram ao Espírito Santo, e seu pecado foi punido com juízo rápido e terrível. Quando Ananias chegou com sua oferta, Pedro disse: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus". Atos 5:3, 4. AA 40 3 "E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram". Atos 5:5. AA 40 4 "Guardando-a não ficava para ti?" perguntou Pedro. Atos 5:4. Nenhuma escusa influência tinha levado Ananias a sacrificar sua propriedade pelo bem geral. Ele agira por livre escolha. Mas, procurando enganar os discípulos, tinha mentido ao Onipotente. AA 40 5 "E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E ela disse: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os mancebos, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas". Atos 5:7-11. AA 41 1 A infinita sabedoria viu que essa evidente manifestação da ira divina era necessária para impedir que a jovem igreja se desmoralizasse. O número dos crentes aumentava rapidamente. A igreja teria corrido perigo se, no rápido aumento de conversos, fossem acrescentados homens e mulheres que, embora professassem servir a Deus, adoravam a Mamom. Esse juízo testificou que os homens não podem enganar a Deus, que Ele descobre o pecado oculto do coração e não Se deixa escarnecer. Destinava-se a ser uma advertência à igreja, para levá-la a evitar a pretensão e hipocrisia, e acautelar-se de roubar a Deus. AA 41 2 Não apenas para a igreja primitiva, mas para todas as gerações futuras, esse exemplo de como Deus aborrece a cobiça, a fraude, a hipocrisia, foi dado como um sinal de perigo. Foi a cobiça que Ananias e Safira tinham acariciado em primeiro lugar. O desejo de reter para si a parte que haviam prometido ao Senhor, levou-os à fraude e à hipocrisia. AA 41 3 Deus tem feito depender a proclamação do evangelho do trabalho e dos donativos de Seu povo. As ofertas voluntárias e os dízimos constituem o meio de manutenção da obra do Senhor. Dos bens confiados aos homens, Deus reclama uma porção definida -- o dízimo. A todos deixa Ele liberdade para decidir se desejam ou não dar mais do que isso. Mas quando o coração é tocado pela influência do Espírito Santo, e é feito um voto de dar certa importância, aquele que fez o voto não tem mais direito sobre a porção consagrada. Promessas dessa espécie feitas aos homens são consideradas como irrescindíveis; seriam menos obrigatórias as feitas a Deus? São as promessas julgadas no tribunal da consciência menos obrigatórias que as escritas nos contratos humanos? AA 41 4 Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder inusitados, o habitual egoísmo relaxa as garras e há disposição para dar para a causa de Deus. Mas ninguém deve pensar que lhe será permitido cumprir as promessas feitas, sem protesto da parte de Satanás. Ele não tem prazer em ver o reino do Redentor estabelecido na Terra. Sugere que a promessa feita foi excessiva, que isso poderá prejudicar a aquisição de propriedades ou a satisfação dos desejos da família. AA 41 5 É Deus quem abençoa os homens dando-lhes bens, e faz isso para que eles possam contribuir para o progresso de Sua causa. Ele envia o sol e a chuva. Faz florescer a vegetação. Dá saúde e habilidade para serem adquiridos os meios. Todas as nossas bênçãos são recebidas de Sua mão generosa. Em retribuição, Ele quer que homens e mulheres demonstrem sua gratidão devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas -- em ofertas de ação de graças, em ofertas pelo pecado e ofertas voluntárias. Se o dinheiro entrasse para a tesouraria de acordo com este plano divinamente recomendado -- a décima parte do que ganhamos e as ofertas liberais -- haveria abundância para o avanço do trabalho do Senhor. AA 42 1 Mas o coração dos homens torna-se endurecido pelo egoísmo e, à semelhança de Ananias e Safira, são tentados a reter parte do preço, conquanto pretendam estar cumprindo os requisitos de Deus. Muitos gastam dinheiro prodigamente na satisfação própria. Homens e mulheres consultam o prazer e satisfazem o gosto, ao passo que levam para Deus, quase de má vontade, uma oferta mesquinha. Esquecem-se de que, um dia, Deus pedirá estrita conta de como Seus bens foram usados, e que não aceitará a insignificância que levam à tesouraria, mais do que aceitou a oferta de Ananias e Safira. AA 42 2 Do severo castigo infligido àquelas pessoas, quer Deus que aprendamos também quão profunda é Sua aversão e desprezo por toda a hipocrisia e engano. Simulando haverem dado tudo, Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo e, como resultado, perderam essa vida e a futura. O mesmo Deus que os puniu, condena hoje toda falsidade. Lábios mentirosos são-Lhe uma abominação. Ele declara que na cidade santa "não entrará... coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira". Apocalipse 21:27. Seja a verdade dita sem disfarces nem frouxidão. Torne-se ela uma parte da vida. Considerar levianamente a verdade, e dissimular para servir a planos egoístas, significa o naufrágio da fé. "Estai pois firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade". Efésios 6:14. Quem profere inverdades, vende sua alma por baixo preço. Suas falsidades podem parecer servir em emergências; pode parecer, assim, que faz negócios vantajosos que não poderia conseguir pelo reto proceder. Mas, finalmente, chega ao ponto em que não pode confiar em ninguém. Sendo ele mesmo falsificador, não tem confiança na palavra de outros. AA 42 3 No caso de Ananias e Safira, o pecado da fraude contra Deus foi rapidamente punido. O mesmo pecado foi muitas vezes repetido na história posterior da igreja, e é cometido por muitos em nosso tempo. Mas, embora, possa não manifestar-se visivelmente o desagrado de Deus, não é menos desprezível a Sua vista agora do que o foi no tempo dos apóstolos. A advertência foi dada; Deus tem claramente mostrado Sua desaprovação a esse pecado; e todos os que se dão à hipocrisia e à cobiça, podem estar certos de que estão destruindo a própria vida. ------------------------Capítulo 8 -- Perante o Sinédrio AA 43 0 Este capítulo é baseado em Atos 5:12-42. AA 43 1 Foi a cruz, esse instrumento de vergonha e tortura, que trouxe esperança e salvação ao mundo. Os discípulos não passavam de pessoas simples, sem dinheiro e com nenhuma outra arma a não ser a Palavra de Deus; entretanto, na força de Cristo eles saíram para contar a maravilhosa história da manjedoura e da cruz e para triunfar sobre toda a oposição. Sem honra ou reconhecimento terrestres, foram heróis da fé. De seus lábios saíam palavras de divina eloqüência que abalaram o mundo. AA 43 2 Em Jerusalém, onde existia o mais profundo preconceito, e onde prevaleciam as mais confusas idéias com respeito Àquele que havia sido crucificado como malfeitor, os discípulos continuaram a falar com ousadia as palavras da vida, expondo perante os judeus a obra e a missão de Cristo, Sua crucifixão, ressurreição e ascensão. Sacerdotes e príncipes ouviram pasmados o claro, ousado testemunho dos apóstolos. O poder do Salvador ressurgido tinha, sem dúvida alguma, caído sobre os discípulos e sua obra era acompanhada por sinais e milagres que aumentavam diariamente o número de crentes. Ao longo das ruas por onde deviam passar os discípulos, o povo trazia seus enfermos "para as ruas e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles". Atos 5:15. Traziam também os que estavam tomados de espíritos imundos. As turbas aglomeravam-se-lhes em torno, e os que eram curados erguiam louvores a Deus, glorificando o nome do Redentor. AA 43 3 Os sacerdotes e príncipes viram que Cristo era mais enaltecido do que eles. Ouvindo os saduceus, que não criam na ressurreição, os apóstolos declararem que Cristo ressuscitara dos mortos, ficaram enraivecidos, compreendendo que, se aos apóstolos fosse permitido pregar um Salvador ressuscitado e operar milagres em Seu nome, a doutrina de que não haveria ressurreição seria rejeitada por todos e a seita dos saduceus logo se extinguiria. Os fariseus ficaram irados ao perceberem que a tendência do ensino dos discípulos era destruir as cerimônias judaicas e tornar de nenhum valor as ofertas sacrificais. AA 43 4 Até ali, todos os esforços feitos para suprimir o novo ensino tinham sido em vão; mas agora, tanto fariseus como saduceus decidiram que a obra dos discípulos devia ser contida, pois estava demonstrando serem eles os culpados da morte de Jesus. Cheios de indignação, os sacerdotes violentamente lançaram mão de Pedro e João e os encerraram na prisão comum. AA 44 1 Os guias da nação judaica tinham assinaladamente deixado de cumprir o propósito de Deus para Seu povo escolhido. Aqueles a quem o Senhor tinha feito depositários da verdade provaram-se infiéis a seu legado, e Deus escolheu outros para fazerem Sua obra. Em sua cegueira, esses guias davam, agora, amplo impulso ao que chamavam justa indignação contra aqueles que estavam pondo de lado suas acariciadas doutrinas. Não podiam sequer admitir a possibilidade de não haverem entendido devidamente a Palavra, ou que tivessem interpretado mal ou aplicado erradamente as Escrituras. Agiam como homens que houvessem perdido a razão. Que direito têm esses ensinadores, diziam, alguns deles meros pescadores, para apresentar idéias contrárias às doutrinas que temos ensinado ao povo? Estando determinados a suprimir o ensino dessas idéias, aprisionavam os que o estavam apresentando. AA 44 2 Os discípulos não se intimidaram nem esmoreceram com tal tratamento. O Espírito Santo lhes trouxe à mente as palavras proferidas por Cristo: "Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que Me enviou". João 15:20, 21. "Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus" "Tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito". João 16:2, 4. AA 44 3 O Deus do Céu, o poderoso Governador do Universo, tomou em Suas mãos a questão do aprisionamento dos discípulos; pois homens estavam a guerrear contra a Sua obra. À noite, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e disse aos discípulos: "Ide, apresentai-vos no templo e dizei ao povo todas as palavras desta vida". Atos 5:20. Essa ordem era diretamente contrária à ordem dada pelos chefes judeus; porventura disseram os apóstolos: Não podemos fazer isto sem ter consultado os magistrados e recebido deles permissão? Não! Deus dissera: "Ide", e eles obedeceram. "Entraram de manhã cedo no templo, e ensinavam". Atos 5:21. AA 44 4 Quando Pedro e João apareceram entre os crentes e contaram como o anjo os havia guiado diretamente através do grupo de soldados que guardavam a prisão, ordenando-lhes retomar a obra interrompida, os irmãos se encheram de espanto e alegria. AA 44 5 Nesse intervalo, o sumo sacerdote e os que com ele estavam convocaram o conselho, "e a todos os anciãos dos filhos de Israel" Os sacerdotes e príncipes resolveram atribuir aos discípulos a acusação de insurreição, culpando-os do assassínio de Ananias e Safira e de conspiração para despojarem os sacerdotes de sua autoridade. Esperavam despertar a turba de tal maneira que essa decidisse tomar a questão nas mãos e tratar com os discípulos como haviam feito com Jesus. Eles sabiam que muitos que não haviam aceitado os ensinos de Cristo estavam cansados do arbitrário governo das autoridades judaicas e ansiosos por alguma mudança. Os sacerdotes temiam que, se esses descontentes fossem levados a aceitar as verdades proclamadas pelos apóstolos e a reconhecer Jesus como o Messias, a ira de todo o povo se levantaria contra os guias religiosos, fazendo-os responder pelo assassínio de Cristo. Decidiram, então, tomar medidas drásticas para prevenir isso. AA 45 1 Quando mandaram trazer os prisioneiros a sua presença, grande foi o seu espanto ante a resposta de que as portas da prisão foram encontradas seguramente fechadas e a guarda estacionada perante elas, mas não se encontravam os prisioneiros em parte alguma. AA 45 2 Logo chegou a estranha notícia: "Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no templo e ensinam ao povo. Então foi o capitão com os servidores, e os trouxe, não com violência (porque temiam ser apedrejados pelo povo)". Atos 5:25, 26. AA 45 3 Embora os apóstolos tivessem sido miraculosamente libertados da prisão, não escaparam ao interrogatório e castigo. Cristo dissera, quando estava com eles: "Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios". Marcos 13:9. Enviando um anjo para os livrar, Deus lhes dera um sinal de Seu amor e certeza de Sua presença. Cabia-lhes agora sofrer por amor dAquele cujo evangelho estavam pregando. AA 45 4 Na história dos profetas e apóstolos, existem muitos nobres exemplos de lealdade para com Deus. As testemunhas de Cristo têm suportado a prisão, tortura e a própria morte, de preferência a violar os mandamentos de Deus. O relatório deixado por Pedro e João é tão heróico como outros da dispensação cristã. Achando-se eles pela segunda vez perante os homens que pareciam empenhados em efetuar a sua destruição, nenhum temor ou hesitação se poderia divisar em suas palavras e atitudes. E quando o sumo sacerdote disse: "Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem", Pedro respondeu: "Mais importa obedecer a Deus do que aos homens". Atos 5:28, 29. Foi um anjo do Céu que os livrou da prisão e os mandou ensinar no templo. Seguindo suas instruções estavam obedecendo à ordem divina; e isso deveriam continuar a fazer, custasse o que custasse. AA 45 5 Então, o Espírito de Inspiração sobreveio aos discípulos; os acusados se tornaram os acusadores, denunciando como assassinos de Cristo aqueles que compunham o concílio. "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus," declarou Pedro, "ao qual vós matastes, suspendendo-O no madeiro. Deus com a Sua destra O elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados. E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo que Deus deu àqueles que Lhe obedecem". Atos 5:30-32. AA 46 1 Tão enraivecidos ficaram os judeus com essas palavras que se decidiram a fazer justiça pelas próprias mãos e, sem mais processo, ou sem autoridade dos oficiais romanos, intentaram matar os presos. Já culpados do sangue de Cristo, estavam agora ávidos de manchar as mãos com o sangue de Seus discípulos. AA 46 2 Mas no concílio houve um homem que reconheceu a voz de Deus nas palavras proferidas pelos discípulos. Esse homem foi Gamaliel, fariseu de boa reputação e homem de saber e alta posição. Seu claro intelecto viu que o passo violento que tinham em vista os sacerdotes, traria terríveis conseqüências. Antes de se dirigir aos presentes, pediu que os presos fossem afastados. Bem conhecia os elementos com quem tinha de tratar; sabia que os assassinos de Cristo em nada hesitariam a fim de executar seu propósito. AA 46 3 Falou, então, com grande ponderação e calma, dizendo: "Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou essa obra é de homens, se desfará. Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus". Atos 5:35-39. AA 46 4 Os sacerdotes viram a racionalidade dessas opiniões, e foram obrigados a concordar com Gamaliel. Contudo, seu preconceito e ódio dificilmente podiam ser restringidos. Muito relutantemente, depois de castigar os discípulos, e ordenar-lhes de novo, sob pena de morte, a não mais pregarem no nome de Jesus, soltaram-nos. "Retiraram-se pois da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo". Atos 5:41, 42. AA 46 5 Pouco tempo antes de Sua crucifixão, Cristo tinha garantido a Seus discípulos um legado de paz. "Deixo-vos a paz," disse Ele, "a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize". João 14:27. Essa paz não é a paz que se obtém mediante a conformação com o mundo. Cristo jamais comprou a paz condescendendo com o mal. A paz que Cristo deixou a Seus discípulos é, antes, interna que externa, e sempre devia permanecer com Suas testemunhas nas lutas e contendas. AA 46 6 Falando de Si, Cristo disse: "Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada". Mateus 10:34. Príncipe da paz, era Ele não obstante causa de divisão. Aquele que veio proclamar alegres novas e promover a esperança e alegria no coração dos filhos dos homens, abriu uma controvérsia que arde profundamente e desperta intensa paixão no coração humano. E Ele adverte Seus seguidores: "No mundo tereis aflições". João 16:33. "Lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do Meu nome" "E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós". Lucas 21:12, 16. AA 47 1 Essa profecia tem sido cumprida de modo notável. Toda indignidade, toda injúria, toda crueldade que Satanás podia instigar o coração humano a imaginar, têm recaído sobre os seguidores de Jesus. E isso será de novo cumprido; pois o coração carnal está ainda em inimizade com a lei de Deus, e não se sujeitará a Seus mandamentos. O mundo não está hoje em maior harmonia com os princípios de Cristo, do que esteve nos dias dos apóstolos. O mesmo ódio que motivou o clamor: "Crucifica-O! Crucifica-O!" (Lucas 23:21), o mesmo ódio que levou a perseguição aos discípulos, ainda atua nos filhos da desobediência. O mesmo espírito que, nos séculos escuros, enviou homens e mulheres à prisão, ao exílio e à morte; que concebeu as atrozes torturas da inquisição; que planejou e executou o massacre de São Bartolomeu e acendeu as fogueiras de Smithfield, está ainda agindo com maligna energia em corações não regenerados. A história da verdade tem sido sempre o relato da luta entre o direito e o erro. A proclamação do evangelho sempre tem sido levada avante neste mundo em face de oposição, perigos, perdas e sofrimentos. AA 47 2 Em que consistia a força daqueles que, no passado, sofreram perseguição por amor a Cristo? Era a união com Deus, união com o Espírito Santo, união com Cristo. A acusação e a perseguição têm separado muitos de seus amigos terrestres, mas nunca do amor de Cristo. Nunca a pessoa, provada pela tempestade, é mais encarecidamente amada por seu Salvador do que quando sofre a perseguição por amor à verdade. "Eu o amarei", disse Cristo, "e Me manifestarei a ele". João 14:21. Quando, por causa da verdade, o crente se acha perante os tribunais terrestres, Cristo Se acha a seu lado. Quando é encerrado entre as paredes da prisão, Cristo Se lhe manifesta e com Seu amor lhe anima o coração. Quando sofre a morte por amor a Cristo, o Salvador lhe diz: Eles podem matar o corpo, mas não podem matar a alma. "Tende bom ânimo, Eu venci o mundo". João 16:33. "Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça". Isaías 41:10. AA 47 3 "Os que confiam no Senhor serão como o Monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do Seu povo desde agora e para sempre". Salmos 125:1, 2. "Libertará as suas almas do engano e da violência, e precioso será o seu sangue aos olhos dEle". Salmos 72:14. AA 47 4 "O Senhor dos exércitos os amparará" "E o Senhor seu Deus naquele dia os salvará, como ao rebanho do Seu povo; porque como as pedras de uma coroa eles serão exaltados na sua terra". Zacarias 9:15, 16. ------------------------Capítulo 9 -- Os sete diáconos AA 48 0 Este capítulo é baseado em Atos 6:1-7. AA 48 1 Ora naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano". Atos 6:1. AA 48 2 A igreja primitiva era constituída de muitas classes de pessoas de diferentes nacionalidades. Ao tempo do derramamento do Espírito Santo, no dia do Pentecostes, "em Jerusalém estavam habitando judeus, varões religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu". Atos 2:5. Entre os que adotavam a fé dos hebreus, reunidos em Jerusalém, havia alguns comumente conhecidos como gregos; entre estes e os judeus da Palestina tinha havido desde muito tempo desconfiança e mesmo antagonismo. AA 48 3 O coração daqueles que se converteram mediante o trabalho dos apóstolos, abrandou-se e uniu-se pelo amor cristão. A despeito de preconceitos anteriores, todos estavam em harmonia uns com os outros. Satanás sabia que, enquanto essa união continuasse a existir, ele seria impotente para deter o progresso da verdade do evangelho; e procurou tirar vantagem de anteriores hábitos de pensar, na esperança de que, por esse meio, pudesse introduzir na igreja elementos de desunião. AA 48 4 Assim aconteceu que, aumentando o número dos discípulos, o inimigo conseguiu despertar suspeitas de alguns que antigamente tiveram o hábito de olhar com ciúme a seus irmãos na fé, e descobrir defeitos em seus guias espirituais; e, desta maneira, "houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus". Atos 6:1. A causa da queixa foi a negligência que se alegava na distribuição diária de auxílio às viúvas gregas. Qualquer desigualdade seria contrária ao espírito do evangelho, contudo, Satanás conseguira despertar a suspeita. Medidas imediatas deveriam ser tomadas para remover todo o motivo de descontentamento, para que não acontecesse triunfar o inimigo em seus esforços de disseminar divisão entre os crentes. AA 48 5 Os discípulos de Jesus tinham chegado a uma crise em sua experiência. Sob a sábia direção dos apóstolos, que trabalhavam unidos no poder do Espírito Santo, a obra indicada aos mensageiros do evangelho havia-se desenvolvido rapidamente. A igreja se ampliava de contínuo, e o crescimento em membros representava constante aumento de trabalho para os que tinham responsabilidades. Pessoa alguma, ou mesmo um grupo de homens, poderiam levar sozinhos o pesado fardo sem pôr em perigo a prosperidade futura da igreja. Havia necessidade de uma redistribuição das responsabilidades que tão fielmente tinham sido levadas por uns poucos nos primeiros dias da igreja. Os apóstolos precisavam dar, então, um importante passo para a organização do evangelho na igreja, pondo sobre outros alguns dos encargos até então levados somente por eles. AA 49 1 Convocando uma reunião dos crentes, os apóstolos foram levados pelo Espírito Santo a esboçar um plano para a melhor organização de todas as forças ativas da igreja. Chegara o tempo, declararam os apóstolos, em que os chefes espirituais que superintendiam as igrejas deveriam ser aliviados da tarefa de distribuir aos pobres, e de outros encargos semelhantes, de modo que pudessem estar livres para levar avante a obra de pregar o evangelho. "Escolhei pois, irmãos, dentre vós," disseram eles, "sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da Palavra". Atos 6:3, 4. Este conselho foi seguido e, pela oração e imposição das mãos, sete homens escolhidos foram solenemente separados para seus deveres como diáconos. AA 49 2 A designação dos sete para tomarem a direção de ramos especiais da obra mostrou-se uma grande bênção para a igreja. Esses oficiais tomaram em cuidadosa consideração as necessidades individuais, bem como os interesses financeiros gerais da igreja; e, pela sua gestão acautelada e seu piedoso exemplo, foram, para seus colegas, um auxílio importante em conjugar os vários interesses da igreja em um todo unido. AA 49 3 Que este passo estava no desígnio de Deus é-nos revelado nos imediatos resultados para o bem, que se viram. "Crescia a Palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé". Atos 6:7. Esse crescimento notável era tanto o resultado de maior liberdade assegurada aos apóstolos como do zelo e poder mostrados pelos sete diáconos. O fato de terem sido esses irmãos ordenados para a obra especial de olhar pelas necessidades dos pobres, não os excluía do dever de ensinar a fé. Ao contrário, foram amplamente qualificados para instruir a outros na verdade; e se empenharam na obra com grande fervor e sucesso. AA 49 4 À igreja primitiva tinha sido confiada uma obra de constante ampliação -- estabelecer centros de luz e bênção, onde quer que existissem pessoas sinceras e dispostas a se dedicarem ao serviço de Cristo. A proclamação do evangelho devia abranger o mundo, e os mensageiros da cruz não poderiam esperar cumprir sua importante missão a menos que permanecessem unidos pelos laços da afinidade cristã, revelando, assim, ao mundo que eles eram um com Cristo em Deus. Não tinha seu divino Guia orado ao Pai: "Guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós"? João 17:11. E não declarara Ele com respeito a Seus discípulos: "O mundo os aborreceu, porque não são do mundo"? João 17:14. Não pleiteara com o Pai que eles pudessem ser "perfeitos em unidade" "para que o mundo creia que Tu Me enviaste"? João 17:23, 21. Sua vida e poder espirituais dependiam de íntima relação com Aquele que os havia comissionado para pregar o evangelho. AA 50 1 Somente enquanto estivessem unidos com Cristo podiam os discípulos esperar possuir o poder acompanhante do Espírito Santo e a cooperação dos anjos do Céu. Com o auxílio desses divinos instrumentos, apresentariam ao mundo uma frente unida, e seriam vencedores no conflito que eram forçados a manter incessantemente contra os poderes das trevas. Enquanto persistissem em trabalhar unidos, mensageiros celestiais iriam adiante deles, abrindo-lhes o caminho; corações seriam preparados para a recepção da verdade, e muitos seriam ganhos para Cristo. Enquanto permanecessem unidos, a igreja avançaria "formosa como a Lua, brilhante como o Sol, formidável como um exército com bandeiras". Cânticos 6:10. Nada lhe impediria o progresso. Ela avançaria de vitória em vitória, cumprindo gloriosamente sua divina missão de proclamar o evangelho ao mundo. AA 50 2 A organização da igreja em Jerusalém deveria servir de modelo para a organização de igrejas em todos os outros lugares em que mensageiros da verdade conquistassem conversos ao evangelho. Aqueles a quem fora entregue a responsabilidade da administração geral da igreja, não deveriam assenhorear-se da herança de Deus, mas, como sábios pastores, apascentar "o rebanho de Deus", "servindo de exemplo ao rebanho" (1 Pedro 5:2, 3); e os diáconos deveriam ser "varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria". Atos 6:3. Esses homens deveriam, unidos, defender o direito e mantê-lo com firmeza e decisão; assim teriam sobre o rebanho todo, uma influência para a união. AA 50 3 Mais tarde, na história da igreja primitiva, quando nas várias partes do mundo muitos grupos de crentes se constituíram em igrejas, a organização da mesma foi mais aperfeiçoada, de modo que a ordem e a ação harmoniosa pudessem ser mantidas. Todo membro era exortado a bem desempenhar sua parte. Cada qual devia fazer sábio uso dos talentos a ele confiados. Alguns foram dotados pelo Espírito Santo de dons especiais -- "primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas". 1 Coríntios 12:28. Todos esses obreiros, porém, deveriam trabalhar em harmonia. AA 50 4 "Ora há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que atua tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito atua todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo assim é Cristo também". 1 Coríntios 12:4-12. AA 51 1 Solenes são as responsabilidades que pesam sobre os que são chamados a agir como dirigentes na igreja de Deus na Terra. Nos dias da teocracia, quando Moisés estava procurando levar sozinho fardos tão pesados que logo sucumbiria sob eles, foi ele aconselhado por Jetro a fazer planos para uma sábia distribuição de responsabilidades. "Sê tu pelo povo diante de Deus," aconselhou Jetro, "e leva tu as coisas a Deus; e declara-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer" Jetro sugeriu mais: que fossem escolhidos homens como "maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez" Os escolhidos deviam ser "homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza" Deviam ser estabelecidos para que julgassem o povo "em todo o tempo", aliviando assim Moisés da exaustiva responsabilidade de atender a muitos assuntos de menor importância, que podiam ser solucionados com habilidade por auxiliares consagrados. Êxodo 18:19-22. AA 51 2 O tempo e a força dos que, na providência de Deus, foram colocados em posições de mando e responsabilidade na igreja, devem ser gastos no trato com assuntos de maior importância, que demandem capacidade especial e generosidade de coração. Não é o plano de Deus que tais homens sejam solicitados na solução de assuntos de pequena consideração, que outros são bem qualificados para manejar. "Seja que todo o negócio grave tragam a ti," aconselhou Jetro a Moisés, "mas todo o negócio pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás então subsistir: assim também todo este povo em paz virá ao seu lugar". Êxodo 18:22, 23. AA 51 3 Em harmonia com este plano, "escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: maiorais de mil e maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez. E eles julgaram o povo em todo o tempo; o negócio árduo trouxeram a Moisés, e todo o negócio pequeno julgaram eles". Êxodo 18:25, 26. AA 51 4 Mais tarde, ao escolher setenta anciãos para com eles repartir as responsabilidades da liderança, Moisés foi cuidadoso em selecionar para seus auxiliares homens que possuíssem dignidade, são juízo e experiência. Em suas instruções a esses anciãos ao tempo em que foram ordenados, ele esboçou algumas das qualificações que habilitam um homem a ser dirigente sábio na igreja. "Ouvi a causa entre vossos irmãos," disse Moisés, "e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele. Não atentareis para pessoa alguma em juízo, ouvireis assim o pequeno como o grande: Não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus". Deuteronômio 1:16, 17. AA 52 1 O rei Davi, ao fim de seu reinado, fez solene exortação aos que tinham o encargo da obra de Deus em seus dias. Convocando a Jerusalém "todos os príncipes de Israel, os príncipes das tribos, e os capitães das turmas, que serviam o rei, e os capitães dos milhares, e os capitães das centenas, e os maiorais de toda a fazenda e possessão do rei, e de seus filhos, como também os eunucos e varões, e todo o varão valente", o idoso rei solenemente os advertiu "perante os olhos de todo o Israel, a congregação do Senhor, e perante os ouvidos do nosso Deus", para que guardassem e buscassem "todos os mandamentos do Senhor vosso Deus". 1 Crônicas 28:1, 8. AA 52 2 A Salomão, como aquele que devia ocupar posição de maior responsabilidade, Davi exortou de maneira especial: "E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai, e serve-O com um coração perfeito e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o Senhor todos os corações, e entende todas as imaginações dos pensamentos: Se O buscares, será achado de ti; porém, se O deixares, rejeitar-te-á para sempre. Olha pois agora, porque o Senhor te escolheu... esforça-te". 1 Crônicas 28:9, 10. AA 52 3 Os mesmos princípios de piedade e justiça que deviam orientar os líderes entre o povo de Deus nos dias de Moisés e de Davi, deviam ser igualmente seguidos por aqueles a quem foi entregue o cuidado da recém-organizada igreja de Deus na dispensação cristã. Na obra de ordenar as coisas em todas as igrejas, e na ordenação de homens capazes para agir como oficiais, os apóstolos se orientaram pelas altas normas de governo esboçadas no Antigo Testamento. Mantiveram o princípio de que aquele que é chamado para ocupar posição de maior responsabilidade na igreja, "seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes". Tito 1:7-9. AA 52 4 A ordem que foi mantida na primitiva igreja cristã, possibilitou-lhes avançarem firmemente como bem disciplinado exército, vestido com a armadura de Deus. Os grupos de crentes, se bem que espalhados em um grande território, eram todos membros de um só corpo; todos se moviam com ordem e em harmonia uns com os outros. Quando surgia dissensão em uma igreja local, como mais tarde aconteceu em Antioquia e em outros lugares, e os crentes não podiam chegar a um acordo entre si, não se permitia que tais assuntos criassem divisão na igreja. Eram encaminhados a um concílio geral de todo o conjunto dos crentes, constituído de delegados designados pelas várias igrejas locais, com os apóstolos e anciãos nos cargos de maior responsabilidade. Assim; os esforços de Satanás para atacar a igreja nos lugares isolados, foram contidos pela ação adequada por parte de todos e os planos do inimigo para esfacelar e destruir foram subvertidos. AA 53 1 "Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos". 1 Coríntios 14:33. Ele requer que o método e a ordem sejam observados na administração dos negócios da igreja hoje, não menos do que o foram nos antigos tempos. Deseja que Sua obra seja levada avante com proficiência e exatidão, de modo que possa pôr sobre ela o selo de Sua aprovação. Cristão deve estar em união com cristão, igreja com igreja, cooperando o instrumento humano com o divino, achando-se cada agência subordinada ao Espírito Santo, e tudo em combinação para dar ao mundo as boas-novas da graça de Deus. ------------------------Capítulo 10 -- O primeiro mártir cristão AA 54 0 Este capítulo é baseado em Atos 6:5-15; 7. AA 54 1 Estêvão, o principal dos sete diáconos, era homem de profunda piedade e grande fé. Posto que judeu de nascimento, falava a língua grega e estava familiarizado com os usos e costumes dos gregos. Achou, portanto, oportunidade de pregar o evangelho na sinagoga dos judeus gregos. Era muito ativo na causa de Cristo e com ousadia proclamava sua fé. Ilustrados rabinos e doutores da lei empenharam-se em discussão pública com ele, esperando confiantemente uma fácil vitória. Mas "não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava" Não somente falava no poder do Espírito Santo, mas também era claro ser ele um estudioso das profecias, e instruído em todos os assuntos da lei. Habilmente defendia as verdades que advogava e derrotava completamente seus oponentes. Em relação a ele cumpriu-se a promessa: "Proponde pois em vossos corações não premeditar como haveis de responder; porque Eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem". Lucas 21:14, 15. AA 54 2 Vendo os sacerdotes e príncipes o poder que acompanhava a pregação de Estêvão, encheram-se de ódio atroz. Em vez de se renderem às provas que ele apresentava, resolveram fazer silenciar sua voz, matando-o. Em várias ocasiões, haviam subornado as autoridades romanas a fim de passarem por alto casos em que os judeus tinham feito justiça pelas próprias mãos, julgando, condenando e executando prisioneiros de acordo com seu costume nacional. Os inimigos de Estêvão não tinham dúvida em poder seguir de novo o mesmo caminho sem se exporem ao perigo. Determinados a arcar com as conseqüências, agarraram Estêvão e o trouxeram perante o concílio do Sinédrio para ser julgado. AA 54 3 Judeus eruditos de países circunvizinhos foram convocados para o fim de refutar os argumentos do prisioneiro. Saulo de Tarso estava presente e tomou parte importante contra Estêvão. Trouxe o peso da eloqüência e a lógica dos rabis a atuarem no caso, para convencer o povo de que Estêvão estava pregando doutrinas enganadoras e perigosas; mas em Estêvão encontrou quem tinha plena compreensão dos propósitos de Deus em propagar o evangelho às outras nações. AA 54 4 Como não conseguiram os sacerdotes e príncipes prevalecer contra a sabedoria de Estêvão, clara e calma, decidiram fazer dele uma lição; e, enquanto assim satisfaziam seu ódio vingativo, impediriam outros, pelo medo, de adotarem sua crença. Testemunhas foram assalariadas para depor falsamente que o ouviram proferir blasfêmias contra o templo e a lei. "Nós lhe ouvimos dizer", declararam essas testemunhas, "que esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés deu". Atos 6:14. Quando Estêvão se colocou face a face com seus juízes, para responder à acusação de blasfêmia, um santo brilho resplandeceu em seu rosto, e "todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo". Atos 6:15. Muitos que contemplaram essa luz tremeram e velaram o rosto, mas a calejada incredulidade e o preconceito dos príncipes não se abalaram. AA 55 1 Sendo interrogado quanto à verdade das acusações contra ele feitas, Estêvão começou sua defesa com voz clara, penetrante, que repercutia pelo recinto do conselho. Com palavras que mantinham a assembléia atenta, prosseguiu ele relatando a história do povo escolhido de Deus. Mostrou completo conhecimento da economia judaica, e interpretação espiritual da mesma, agora manifesta por meio de Cristo. Repetiu as palavras de Moisés que prediziam o Messias: "O Senhor vosso Deus levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim: a Ele ouvireis". Atos 3:22. Patenteou sua própria lealdade para com Deus e para com a fé judaica, enquanto mostrava que a lei na qual os judeus confiavam para a salvação não fora capaz de salvar Israel da idolatria. Ligava Jesus Cristo com toda a história judaica. Referiu-se à construção do templo por Salomão, e às palavras deste, bem como de Isaías: "Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O Céu é o Meu trono, e a Terra o estrado de Meus pés. Que casa Me edificareis? diz o Senhor: ou qual é o lugar do Meu repouso? Porventura não fez a Minha mão todas estas coisas?" Atos 7:48-50. AA 55 2 Ao atingir Estêvão este ponto, houve um tumulto entre o povo. Quando estabeleceu conexão entre Cristo e as profecias, e falou, como fizera, a respeito do templo, o sacerdote, pretendendo estar tomado de horror, rasgou as vestes. Para Estêvão, esse ato foi um sinal de que sua voz logo seria silenciada para sempre. Viu a resistência que encontraram suas palavras, e compreendeu que estava a dar seu último testemunho. Embora ainda estivesse no meio de seu sermão, concluiu-o abruptamente. AA 55 3 Interrompendo subitamente o relato da história que vinha seguindo, e volvendo-se a seus juízes enfurecidos, exclamou: "Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido: vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes". Atos 7:51-53. AA 55 4 A essa altura, sacerdotes e príncipes ficaram fora de si, de cólera. Agindo mais como feras rapinantes do que como seres humanos, precipitaram-se sobre Estêvão, rangendo os dentes. Nos rostos cruéis em redor de si, o prisioneiro leu a sua sorte; mas não vacilou. Para ele, o temor da morte desaparecera. Para ele, os coléricos sacerdotes e a turba irada não ofereciam terror. O quadro que diante dele estava se desvaneceu de sua vista. Para ele, as portas do Céu estavam abertas, e, olhando por elas, viu a glória da corte de Deus, e Cristo, em pé como que Se havendo levantado de Seu trono precisamente então, para dar auxílio a Seu servo. Com palavras de triunfo Estêvão exclamou: "Eis que vejo os Céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus". Atos 7:56. AA 56 1 Descrevendo ele as gloriosas cenas que estava a contemplar, seus perseguidores não o suportaram mais. Tapando os ouvidos para não ouvir suas palavras, e dando altos brados, com fúria correram unânimes sobre ele e o expulsaram da cidade. "E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu". Atos 7:59, 60. AA 56 2 Nenhuma sentença legal fora pronunciada contra Estêvão, mas as autoridades romanas foram subornadas com grandes somas de dinheiro para não fazerem investigação sobre o caso. AA 56 3 O martírio de Estêvão produziu profunda impressão em todos os que o presenciaram. A lembrança da aprovação de Deus em sua face; suas palavras que tocaram o coração dos que as ouviram, permaneceram na mente dos espectadores e testificaram da verdade do que ele havia proclamado. Sua morte foi uma rude prova para a igreja, mas resultou na convicção de Saulo, que não pôde apagar de sua memória a fé e constância do mártir e a glória que lhe resplandeceu no rosto. AA 56 4 Na cena do julgamento e morte de Estêvão, Saulo parecera estar imbuído de um zelo frenético. Depois, ficara irado com sua própria convicção íntima de que Estêvão fora honrado por Deus, ao mesmo tempo em que era desonrado pelos homens. Saulo continuou a perseguir a igreja de Deus, afligindo os seus membros, prendendo-os em suas casas e entregando-os aos sacerdotes e príncipes para prisão e morte. Seu zelo em levar avante essa perseguição aterrorizou os cristãos em Jerusalém. As autoridades romanas nenhum esforço especial fizeram para deter a cruel obra e secretamente ajudavam os judeus, a fim de conciliá-los e assegurar seu favor. AA 56 5 Depois da morte de Estêvão, Saulo foi eleito membro do conselho do Sinédrio, em consideração à parte que desempenhara naquela ocasião. Durante algum tempo, foi um instrumento poderoso nas mãos de Satanás para promover sua rebelião contra o Filho de Deus. Logo, porém, esse implacável perseguidor deveria ser empregado em edificar a igreja que, então, tentava destruir. Alguém mais poderoso que Satanás escolhera Saulo para tomar o lugar do martirizado Estêvão, a fim de pregar e sofrer pelo Seu nome e propagar extensamente as novas da salvação por meio de Seu sangue. ------------------------Capítulo 11 -- O evangelho em Samaria AA 57 0 Este capítulo é baseado em Atos 8. AA 57 1 Depois da morte de Estêvão, levantou-se em Jerusalém uma perseguição tão implacável contra os crentes que "todos foram dispersos pelas terras da Judéia e Samaria". Atos 8:1. Saulo "assolava a igreja, entrando pelas casas: e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão". Atos 8:3. De seu zelo nessa cruel obra, disse ele posteriormente: "Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos; o que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; [...] e, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui". Atos 26:9-11. Que Estêvão não foi o único que sofreu a morte pode ser evidenciado das próprias palavras de Saulo: "E quando os matavam eu dava o meu voto contra eles". Atos 26:9. AA 57 2 Nesse tempo de perigo, Nicodemos veio destemidamente confessar sua fé no Salvador. Ele era membro do Sinédrio, e com outros tinha sido movido pelos ensinos de Jesus. Ao testemunhar as maravilhosas obras de Cristo, a convicção de que Ele era o enviado de Deus tomou posse de sua mente. Demasiado orgulhoso para se mostrar abertamente simpático ao Mestre galileu, havia procurado uma entrevista secreta. Nessa entrevista, Jesus desdobrara perante ele o plano da salvação e de Sua missão ao mundo; entretanto, Nicodemos hesitava ainda. Tinha a verdade no coração, e por três anos houve pouco fruto aparente. Mas, conquanto não tivesse publicamente reconhecido a Cristo, repetidamente havia ele no concílio do Sinédrio impedido os desígnios dos sacerdotes para destruí-Lo. Quando, afinal, Cristo foi levantado na cruz, Nicodemos se lembrou das palavras que Ele dissera na noite da entrevista no Monte das Oliveiras: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado" (João 3:14); e ele viu em Jesus o Redentor do mundo. AA 57 3 Com José de Arimatéia, Nicodemos tinha pago as despesas do sepultamento de Jesus. Os discípulos estavam temerosos de se mostrarem abertamente como seguidores de Cristo, mas Nicodemos e José corajosamente vieram em seu auxílio. O apoio desses ricos e honrados homens era grandemente necessário naquela hora de trevas. Eles puderam fazer por seu Mestre morto o que teria sido impossível para os pobres discípulos; e sua riqueza e influência os protegeram, em grande medida, da maldade dos sacerdotes e príncipes. AA 58 1 Então, quando os judeus procuravam destruir a igreja nascente, Nicodemos veio em sua defesa. Não mais cauteloso nem duvidando, encorajou a fé dos discípulos, e usou sua riqueza para ajudar a manter a igreja em Jerusalém, e no avanço da obra do evangelho. Os que noutros tempos o reverenciavam, agora o perseguiam e dele escarneciam; e ele tornou-se pobre em bens deste mundo, mas não esmoreceu na defesa de sua fé. AA 58 2 A perseguição que sobreveio à igreja de Jerusalém resultou em grande impulso para a obra do evangelho. O êxito havia acompanhado o ministério da Palavra nesse lugar, e havia o perigo de que os discípulos ali se demorassem por muito tempo, despreocupados da comissão que haviam recebido do Salvador de ir a todo o mundo. Esquecidos de que a força para resistir ao mal é melhor obtida pelo trabalho intenso, começaram a pensar que não havia para eles trabalho tão importante como o de proteger a igreja de Jerusalém dos ataques do inimigo. Em lugar de instruir os novos conversos para levarem o evangelho aos que ainda não o haviam ouvido, estavam em perigo de tomar um caminho que os levaria a se sentirem satisfeitos com o que já tinha sido alcançado. A fim de espalhar Seus representantes por outras partes do mundo, de maneira que pudessem trabalhar por outros, Deus permitiu que lhes sobreviesse a perseguição. Expulsos de Jerusalém, os crentes "iam por toda parte anunciando a Palavra". Atos 8:4. AA 58 3 Entre aqueles a quem o Salvador dera a missão: "Portanto ide, ensinai todas as nações" (Mateus 28:19), havia muitos que eram das camadas mais pobres, homens e mulheres que tinham aprendido a amar seu Senhor, e que decidiram seguir Seu exemplo de abnegado serviço. A esses humildes; bem como aos discípulos que tinham estado com o Salvador durante Seu ministério terrestre, fora confiado o precioso encargo. Deveriam levar ao mundo as alegres novas da salvação por meio de Cristo. AA 58 4 Quando foram espalhados pela perseguição, saíram cheios de zelo missionário. Compenetraram-se da responsabilidade de sua missão. Sabiam ter nas mãos o pão da vida para um mundo faminto; e eram constrangidos pelo amor de Cristo a distribuir esse pão a todos os que estivessem em necessidade. O Senhor agia por meio deles. Aonde quer que fossem, os doentes eram curados e aos pobres se pregava o evangelho. AA 58 5 Filipe, um dos sete diáconos, estava entre os que foram expulsos de Jerusalém. E "descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia. Pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, [...] e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade". Atos 8:5-8. AA 58 6 A mensagem de Cristo à mulher samaritana com quem Ele falara junto ao poço de Jacó, tinha produzido fruto. Após ouvir Suas palavras, a mulher tinha ido aos habitantes da cidade, dizendo: "Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito: porventura não é este o Cristo?" Eles foram com ela, ouviram Jesus e creram nEle. Ansiosos por ouvir mais, suplicaram-Lhe que permanecesse com eles. Por dois dias, Ele Se demorou com eles, "e muitos mais creram nEle, por causa da Sua palavra". João 4:29, 41. AA 59 1 E quando Seus discípulos foram expulsos de Jerusalém, alguns encontraram seguro asilo em Samaria. Os samaritanos receberam bem os mensageiros do evangelho, e os judeus convertidos colheram preciosos frutos entre aqueles que uma vez foram seus mais fortes inimigos. AA 59 2 O trabalho de Filipe em Samaria foi assinalado por grande sucesso, e assim, encorajado, mandou pedir auxílio em Jerusalém. Os apóstolos, então, perceberam mais amplamente o sentido das palavras de Cristo: "Ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da Terra". Atos 1:8. AA 59 3 Quando Filipe ainda se encontrava em Samaria, foi-lhe determinado por um mensageiro celestial que fosse "para a banda do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza" "E levantou-se, e foi". Atos 8:26, 27. Ele não pôs em dúvida o chamado, nem hesitou em obedecer, pois havia aprendido a lição da conformidade com a vontade de Deus. AA 59 4 "E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías". Atos 8:27, 28. Esse etíope era homem de boa posição e grande influência. Deus viu que, quando se convertesse, proporcionaria a outros a luz que recebera, e exerceria forte influência em favor do evangelho. Anjos de Deus estavam auxiliando esse inquiridor da luz, e ele estava sendo atraído para o Salvador. Pelo ministério do Espírito Santo, o Senhor o pôs em contato com quem o poderia guiar à luz. AA 59 5 Filipe foi dirigido a ir ao encontro do etíope e explicar-lhe a profecia que estava lendo. "Chega-te", disse o Espírito, "e ajunta-te a esse carro". Atos 8:29. Aproximando-se, Filipe perguntou ao eunuco: "Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse". Atos 8:31. A passagem que ele estava lendo era a profecia de Isaías relativa a Cristo: "Foi levado como a ovelha para o matadouro, e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não abriu a Sua boca. Na Sua humilhação foi tirado o Seu julgamento; e quem contará a Sua geração? porque a Sua vida é tirada da Terra". Atos 8:32, 33. AA 59 6 "De quem diz isto o profeta?" perguntou o eunuco; "de si mesmo ou de algum outro?" Então, Filipe lhe apresentou a grande verdade da redenção. Começando com a mesma passagem, "lhe anunciou a Jesus". Atos 8:34, 35. AA 59 7 O coração do homem vibrava de interesse ao serem-lhe explicadas as Escrituras e, ao terminar o discípulo, estava pronto para aceitar a luz proporcionada. Ele não fez de sua elevada posição mundana uma desculpa para recusar o evangelho. "Indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. AA 60 1 "E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho. E Filipe se achou em Azoto, e, indo passando, anunciava o evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia". Atos 8:36-40. AA 60 2 Esse etíope representa uma grande classe que necessita ser ensinada por missionários como Filipe -- homens que ouvem a voz de Deus, e vão aonde Ele mandar. Muitos há que estão lendo as Escrituras sem compreender-lhes o verdadeiro significado. Em todo o mundo homens e mulheres olham atentamente para o Céu. De pessoas ansiosas por luz, graça e pelo Espírito Santo, sobem orações, lágrimas e indagações. Muitos estão no limiar do reino, esperando somente serem recolhidos. AA 60 3 Um anjo guiou Filipe àquele que procurava a luz, e que estava pronto para receber o evangelho; e hoje, anjos guiarão os passos dos obreiros que permitam ao Espírito Santo santificar-lhes a língua, educar e enobrecer-lhes o coração. O anjo enviado a Filipe poderia ter ele próprio feito a obra pelo etíope, mas essa não é a maneira de Deus agir. É Seu plano que os homens trabalhem por seus semelhantes. AA 60 4 Crentes de todos os séculos têm tomado parte na incumbência dada aos primeiros discípulos. Todos os que receberam o evangelho, receberam a sagrada verdade para repartir ao mundo. Os fiéis de Deus têm sido sempre destemidos missionários, consagrando seus recursos para a honra de Seu nome, e sabiamente usando seus talentos em Seu serviço. AA 60 5 A obra altruísta de cristãos do passado deveria ser uma lição objetiva e uma inspiração para nós. Os membros da igreja de Deus devem ser zelosos de boas obras, separando-se de ambições mundanas e seguindo nos passos dAquele que andou fazendo o bem. Com o coração repleto de simpatia e compaixão, devem eles ministrar aos que necessitam de auxílio, levando aos pecadores o conhecimento do amor do Salvador. Tal obra requer laboriosos esforços, mas produz rica recompensa. Os que nela se empenharem com sinceridade de propósito verão pessoas salvas para o Salvador; pois a influência que acompanha a atividade prática da divina missão é irresistível. AA 60 6 Não somente sobre o pastor ordenado repousa a responsabilidade de sair a cumprir essa missão. Todo indivíduo que haja recebido a Cristo é chamado a trabalhar pela salvação de seus semelhantes. "O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem" O dever de fazer este convite inclui a igreja toda. Todo o que tenha ouvido o convite, deve fazer ecoar a mensagem pelas colinas e vales, dizendo: "Vem". Apocalipse 22:17. AA 61 1 É erro fatal supor que a obra da salvação dependa só do ministério. O humilde e consagrado crente sobre quem o Senhor da vinha colocou a responsabilidade pelas pessoas, deve receber encorajamento daqueles a quem o Senhor delegou maiores responsabilidades. Os que ocupam lugar de líderes na igreja de Deus devem sentir que a missão do Salvador é dada a todos os que crerem no Seu nome. Deus deseja enviar para a Sua vinha muitos que não foram consagrados ao ministério pela imposição das mãos. AA 61 2 Centenas, talvez milhares, que já ouviram a mensagem de salvação estão ainda ociosos na praça, quando podiam estar empenhados em algum setor de trabalho ativo. A esses Cristo está dizendo: "Por que estais ociosos todo o dia?" E acrescenta: "Ide vós também para a vinha". Mateus 20:6, 7. Por que razão muitos mais não respondem ao chamado? Será porque se imaginam dispensados pelo fato de não ocuparem os púlpitos? Esses devem compreender que há uma vasta obra a ser feita fora do púlpito, por milhares de consagrados membros leigos. AA 61 3 Longamente tem Deus esperado que o espírito de serviço se apodere de toda a igreja, de maneira que cada um trabalhe para Ele segundo sua habilidade. Quando os membros da igreja de Deus fizerem a obra que lhes é indicada nos necessitados campos nacionais e estrangeiros, em cumprimento da comissão evangélica, todo o mundo será logo advertido, e o Senhor Jesus retornará à Terra com poder e grande glória. "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim". Mateus 24:14. ------------------------Capítulo 12 -- De perseguidor a discípulo AA 62 0 Este capítulo é baseado em Atos 9:1-18. AA 62 1 Entre os guias judeus que ficaram profundamente abalados com o êxito que acompanhava a proclamação do evangelho, encontrava-se, preeminentemente, Saulo de Tarso. Cidadão romano de nascimento, Saulo era não obstante judeu por descendência, e fora educado em Jerusalém pelos mais eminentes rabis. "Da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim", era Saulo "hebreu de hebreus"; segundo a lei, foi "fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível". Filipenses 3:5, 6. Era considerado pelos rabinos como um jovem altamente promissor, e grandes esperanças eram acariciadas com respeito a ele como capaz e zeloso defensor da antiga fé. Sua elevação a membro do Sinédrio colocou-o numa posição de poder. AA 62 2 Saulo tinha tomado parte de destaque no julgamento e condenação de Estêvão, e a impressionante evidência da presença de Deus com o mártir o deixara em dúvida quanto à justiça da causa que ele havia assumido contra os seguidores de Jesus. Sua mente estava profundamente agitada. Em sua perplexidade, consultou aqueles em cuja sabedoria e juízo tinha plena confiança. Os argumentos dos sacerdotes e príncipes convenceram-no, afinal, de que Estêvão fora um blasfemo, que o Cristo que o discípulo martirizado pregara fora um impostor e que tinham forçosamente de ter razão esses que ministravam no santo serviço. AA 62 3 Não foi sem um rigoroso exame que Saulo chegou a essa conclusão. Mas, afinal, sua educação, seus preconceitos, seu respeito para com os mestres antigos, e seu orgulho e popularidade deram-lhe força para rebelar-se contra a voz da consciência e a graça de Deus. E, resolvido plenamente a dar razão aos sacerdotes e escribas, Saulo fez acérrima oposição às doutrinas ensinadas pelos discípulos de Jesus. Sua atividade, fazendo com que homens santos e santas mulheres fossem arrastados perante os tribunais, onde alguns eram condenados à prisão, e outros à morte, unicamente por causa de sua fé em Jesus, trouxe tristezas e pesares à igreja recém organizada, e fez muitos buscarem segurança na fuga. AA 62 4 Os que foram expulsos de Jerusalém por essa perseguição "iam por toda a parte, anunciando a Palavra". Atos 8:4. Entre as cidades para as quais foram, achava-se Damasco, onde a nova fé ganhou muitos conversos. AA 63 1 Os sacerdotes e príncipes tinham esperado que, por um esforço vigilante e severa perseguição, a heresia pudesse ser suprimida. Compreendiam agora que deveriam prosseguir em outros lugares com as medidas decisivas tomadas em Jerusalém contra o novo ensino. Para o trabalho especial que desejavam fosse feito em Damasco, Saulo ofereceu sua ajuda: "Respirando ainda ameaças, e mortes contra os discípulos do Senhor", ele "dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém". Atos 9:1, 2. Assim, "com poder e comissão dos principais dos sacerdotes" (Atos 26:12), Saulo de Tarso, e usando de toda a força e vigor, e ardendo em um zelo equivocado, pôs-se a caminho naquela memorável jornada, cujas estranhas ocorrências deveriam mudar todo o curso de sua vida. AA 63 2 No último dia da viagem, "ao meio-dia" (Atos 26:13), quando os cansados viajantes se aproximavam de Damasco, seus olhos contemplaram o cenário de amplas extensões de terras férteis, belos jardins e pomares frutíferos, banhados pelas refrigerantes correntes das montanhas ao redor. Depois da longa viagem por áreas desoladas, tais cenas eram na verdade aprazíveis. Enquanto Saulo e seus companheiros se deleitavam na contemplação da planície frutífera e da bela cidade abaixo, "subitamente" (Atos 9:3), como ele mais tarde declarou, "envolveu a mim e aos que iam comigo" "uma luz do céu, que excedia o esplendor do Sol" (Atos 26:13), por demais gloriosa para que os olhos mortais a suportassem. Cego e desorientado, Saulo caiu prostrado ao chão. AA 63 3 Enquanto a luz continuava a resplandecer em redor deles, Saulo ouviu "uma voz que... falava... em língua hebraica" (Atos 26:14), e "que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que Me persegues? E Ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões". Atos 9:4, 5. Cheios de temor e quase cegados pela intensidade da luz, os companheiros de Saulo ouviram a voz, mas a ninguém viram. Saulo, porém, compreendeu as palavras que foram faladas; e a ele claramente foi revelado Aquele que falou, a saber, o Filho de Deus. No Ser glorioso que estava diante dele, viu o Crucificado. Na mente do judeu surpreso, a imagem do rosto do Salvador ficou gravada para sempre. As palavras faladas lhe atingiram o coração com terrível força. Nos entenebrecidos recessos do espírito derramou-se-lhe uma inundação de luz, revelando a ignorância e o erro de sua vida anterior e sua presente necessidade de esclarecimento do Espírito Santo. AA 63 4 Saulo viu agora que, ao perseguir os seguidores de Jesus, em realidade tinha estado a fazer a obra de Satanás. Viu que suas convicções do direito e de seu próprio dever tinham estado grandemente baseadas em sua implícita confiança nos sacerdotes e príncipes. Tinha crido neles quando lhe afirmaram que a história da ressurreição de Cristo fora um artifício forjado pelos discípulos. Agora que o próprio Jesus Se lhe revelara, Saulo estava convencido da veracidade das reivindicações feitas pelos discípulos. AA 64 1 Naquela hora de iluminação celestial, o espírito de Saulo agiu com notável rapidez. Os registros proféticos das Escrituras Sagradas abriram-se-lhe à compreensão. Viu que a rejeição de Jesus pelos judeus, Sua crucifixão, ressurreição e ascensão, tinham sido preditas pelos profetas e demonstravam ser Ele o Messias prometido. O sermão de Estêvão, por ocasião de seu martírio, foi de maneira impressiva trazido à lembrança de Saulo, e ele compreendeu que o mártir sem dúvida contemplava "a glória de Deus", quando disse: "Eis que vejo os Céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus". Atos 7:55, 56. Os sacerdotes tinham declarado blasfemas essas palavras, mas Saulo agora sabia que elas eram verdade. AA 64 2 Em tudo isso, que revelação para o perseguidor! Saulo sabia, agora com certeza, que o prometido Messias viera à Terra na pessoa de Jesus de Nazaré, que fora rejeitado e crucificado por aqueles a quem viera salvar. Sabia também que o Salvador ressurgira triunfalmente do túmulo e ascendera ao Céu. Naquele momento de revelação divina, Saulo lembrou-se com terror de que Estêvão, que dera testemunho de um Salvador crucificado e ressuscitado, fora sacrificado com seu consentimento, e que, mais tarde, por seu intermédio, muitos outros dignos seguidores de Jesus haviam encontrado a morte pela perseguição cruel. AA 64 3 O Salvador falara a Saulo por intermédio de Estêvão, cujo claro raciocínio não pôde ser contraditado. O erudito judeu tinha visto a face do mártir refletindo a luz da glória de Cristo, sendo sua aparência "como o rosto de um anjo". Atos 6:15. Testemunhara sua clemência pelos inimigos e o perdão que lhes concedera. Tinha testemunhado também a decidida e até alegre resignação de muitos de cujo tormento e aflição tinha sido causa. Tinha visto alguns deporem a própria vida com regozijo, por amor de sua fé. AA 64 4 Todas essas coisas tinham apelado altamente a Saulo, e, às vezes, se lhe alojara na mente uma quase avassaladora convicção de que Jesus era o prometido Messias. Nessas ocasiões, ele havia lutado noites inteiras contra essa convicção, e sempre terminara por manter a crença de que Jesus não era o Messias, e que Seus discípulos eram fanáticos iludidos. AA 64 5 Agora, Cristo falara a Saulo com Sua própria voz, dizendo: "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" E a interrogação: "Quem és, Senhor?" foi respondida pela mesma voz: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues". Atos 9:4, 5. Cristo aqui Se identifica com Seu povo. Perseguindo os seguidores de Jesus, Saulo tinha batalhado diretamente contra o Senhor do Céu. Em os acusar falsamente, e falsamente testificar contra eles, havia acusado falsamente a Jesus e falsamente testificado contra o Salvador do mundo. AA 64 6 Nenhuma dúvida assaltou a mente de Saulo quanto a ser Aquele que lhe falara Jesus de Nazaré, o tão longamente esperado Messias, a consolação e redenção de Israel. "E ele, tremendo e atônito", perguntou: "Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer". Atos 9:6. AA 65 1 Quando se retirou a glória e Saulo se levantou do chão, achou-se completamente despojado da visão. O brilho da glória de Cristo fora por demais intenso para seus olhos mortais e, desaparecido esse brilho, a escuridão da noite invadiu-lhe a visão. Ele creu que essa cegueira era um castigo divino por sua cruel perseguição aos seguidores de Jesus. Em terríveis trevas tateava em torno, e seus companheiros, em temor e pasmo "guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco". Atos 9:8. AA 65 2 Na manhã desse acidentado dia, Saulo tinha-se aproximado de Damasco com sentimentos de presunção por causa da confiança nele depositada pelos principais dos sacerdotes. Havia sido confiada a ele grande responsabilidade. Fora comissionado para promover os interesses da religião judaica, impedindo, se possível, a disseminação da nova fé em Damasco. Determinara que sua missão seria coroada de êxito e, com ávida antecipação, olhava as experiências que o aguardavam. AA 65 3 Quão diferente do que imaginara foi sua entrada na cidade! Ferido de cegueira, desorientado, torturado pelo remorso, não sabendo se outros juízos o aguardavam ainda, procurou ali a casa do discípulo Judas, onde, em solidão, teve ampla oportunidade para refletir e orar. AA 65 4 Saulo "esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu". Atos 9:9. Esses dias de íntima agonia tiveram para ele a duração de anos. Vezes sem conta ele recordava, com o espírito angustiado, a parte que tinha desempenhado no martírio de Estêvão. Com horror, pensava em sua culpa por se haver deixado controlar pela maldade e preconceito dos sacerdotes e príncipes, mesmo quando a face de Estêvão fora iluminada pelas radiações do Céu. Com o espírito triste e quebrantado, reconsiderou as inúmeras vezes que tinha fechado os olhos e os ouvidos às mais tocantes evidências, e persistentemente incrementara a perseguição aos crentes em Jesus de Nazaré. AA 65 5 Esses dias de exame de consciência e humilhação do coração foram passados em reclusão íntima. Os crentes, tendo sido advertidos dos propósitos de Saulo em vir a Damasco, temiam estivesse ele fingindo, para mais facilmente iludi-los; e se mantinham arredios, recusando-lhe sua simpatia. Ele não desejava apelar aos judeus não convertidos, aqueles com quem planejara unir-se na perseguição aos crentes; pois sabia que nem sequer dariam ouvidos a sua história. Assim, parecia-lhe estar separado de toda a simpatia humana. Sua única esperança de ajuda estava no misericordioso Deus, e para Ele apelou com o coração quebrantado. AA 65 6 Durante as longas horas em que Saulo estivera fechado a sós com Deus, relembrou muitos textos das Escrituras referentes ao primeiro advento de Cristo. Com a memória aguçada pela convicção de que estava possuído, cuidadosamente seguiu o fio das profecias. Ao refletir no significado dessas profecias, ficou pasmado ante a cegueira de entendimento de que estivera possuído, bem como a dos judeus em geral, que os levara à rejeição de Jesus como o Messias prometido. A sua iluminada visão, tudo agora parecia claro. Sabia que seu anterior preconceito e incredulidade tinham-lhe obscurecido a percepção espiritual, impedindo-o de discernir em Jesus de Nazaré o Messias da profecia. AA 66 1 Ao render-se Saulo inteiramente ao convincente poder do Espírito Santo, viu os erros de sua vida e reconheceu a amplitude dos reclamos da lei de Deus. Aquele que fora um orgulhoso fariseu, confiante na justificação por suas boas obras, curvou-se, então, perante Deus com a humildade e simplicidade de uma criancinha, confessando sua indignidade e pleiteando os méritos de um Salvador crucificado e ressurgido. Saulo ansiava por entrar em inteira harmonia e comunhão com o Pai e o Filho; e na intensidade de seu desejo de perdão e aceitação, elevou ferventes súplicas ao trono da graça. AA 66 2 As orações do penitente fariseu não foram em vão. Os mais secretos pensamentos e emoções de seu coração foram transformados pela divina graça; e Suas nobres faculdades foram postas em harmonia com os eternos propósitos de Deus. Cristo e Sua justiça passaram a representar para Saulo mais que o mundo inteiro. AA 66 3 A conversão de Saulo é notável evidência do miraculoso poder do Espírito Santo para convencer os homens do pecado. Ele havia crido que, de fato, Jesus de Nazaré havia desconsiderado a lei de Deus, ensinando aos Seus discípulos ser a mesma de nenhum valor. Mas, depois de sua conversão, Saulo tinha reconhecido Jesus de Nazaré como Aquele que viera ao mundo com o propósito expresso de defender a lei de Seu Pai. Estava convencido de que Jesus fora o originador de todo o sistema judaico de sacrifícios. Viu que o tipo da crucificação tinha encontrado o antítipo; que Jesus havia cumprido as profecias do Antigo Testamento, concernentes ao Redentor de Israel. AA 66 4 No relato da conversão de Saulo, encontramos importantes princípios que devemos sempre ter em mente. Saulo foi levado diretamente à presença de Cristo. Foi uma pessoa designada por Cristo para uma importantíssima obra, alguém que seria "um vaso escolhido" (Atos 9:15), para Ele; no entanto, o Senhor não lhe disse imediatamente qual era a obra para ele designada. Embargou-lhe o caminho e convenceu-o do pecado; e quando Saulo perguntou: "Que queres que faça?" (Atos 9:6) o Salvador colocou o indagador judeu em contato com Sua igreja, para que obtivesse o conhecimento da vontade de Deus em relação a ele. AA 66 5 A maravilhosa luz que iluminara as trevas de Saulo era obra do Senhor; mas havia também um trabalho a ser feito em favor dele pelos discípulos. Cristo tinha realizado a obra de revelação e convicção. Agora, o penitente estava em condições de aprender daqueles a quem o Senhor tinha ordenado que ensinassem a Sua verdade. AA 67 1 Enquanto em recolhimento na casa de Judas, Saulo continuava em oração e súplica, o Senhor apareceu em visão a "certo discípulo" em Damasco, "chamado Ananias", dizendo-lhe que Saulo de Tarso estava orando e necessitava de auxílio. "Levanta-te, e vai à rua chamada Direita," disse o mensageiro celestial, "e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; e numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver". Atos 9:10-12. AA 67 2 Ananias mal podia crer nas palavras do anjo; pois a notícia da tenaz perseguição aos santos em Jerusalém tinha-se espalhado amplamente. Atreveu-se a argumentar: "Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos Teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o Teu nome" Mas a ordem foi imperativa: "Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido, para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel". Atos 9:13-15. AA 67 3 Obediente à orientação do anjo, Ananias saiu em busca do homem que ainda pouco antes havia respirado ameaças contra todos os que criam no nome de Jesus; e colocando as mãos sobre a cabeça do penitente sofredor, disse: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado". Atos 9:17, 18. AA 67 4 Dessa maneira confirmou Jesus a autoridade de Sua igreja organizada, e pôs Saulo em contato com Seus instrumentos apontados na Terra. Cristo tinha, agora, uma igreja como Sua representante na Terra, e a ela pertencia a obra de dirigir os pecadores arrependidos no caminho da vida. AA 67 5 Muitos têm a idéia de que são responsáveis somente a Cristo pela luz e experiência que possuem, independentemente de Seus reconhecidos seguidores na Terra. Jesus é o Amigo dos pecadores, e Seu coração se confrange por seu infortúnio. Ele possui todo o poder, tanto no Céu como na Terra; mas respeita os meios por Ele ordenados para o esclarecimento e salvação das pessoas; dirige os pecadores para a igreja por Ele feita instrumento de luz para o mundo. AA 67 6 Quando, em meio ao seu erro e cego preconceito, Saulo recebeu uma revelação de Cristo, a quem estava perseguindo, foi ele colocado em comunicação direta com a igreja, a qual é a luz do mundo. Nesse caso, Ananias representava Cristo, como representa também os ministros de Cristo sobre a Terra, os quais são indicados para agir em Seu lugar. No lugar de Cristo, Ananias tocou os olhos de Saulo para que ele recobrasse a visão. Em lugar de Cristo, colocou suas mãos sobre ele, e enquanto orava em nome de Cristo, Saulo recebeu o Espírito Santo. Tudo foi feito no nome e pela autoridade de Cristo. Cristo é a fonte; a igreja, o canal de comunicação. ------------------------Capítulo 13 -- Dias de preparo AA 68 0 Este capítulo é baseado em Atos 9:19-30. AA 68 1 Depois de seu batismo, Paulo quebrou o jejum, e permaneceu "alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. E logo nas sinagogas pregava a Jesus, que Este era o Filho de Deus" Ousadamente, declarou ser Jesus de Nazaré o ansiado Messias, que "morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; [...] foi sepultado, e [...] ressurgiu ao terceiro dia", após o que foi visto pelos doze e pelos outros. "E por derradeiro de todos", acrescenta Paulo, "me apareceu também a mim, como a um abortivo". 1 Coríntios 15:3, 4, 8. Sua argumentação com respeito às profecias era tão lógica, seus esforços tão manifestamente acompanhados pelo poder de Deus, que os judeus ficavam confundidos e incapazes de responder-lhe. AA 68 2 As novas da conversão de Paulo haviam chegado aos judeus como enorme surpresa. Aquele que havia viajado para Damasco "com poder e comissão dos principais dos sacerdotes" (Atos 26:12), para prender e processar os crentes, estava agora pregando o evangelho do Salvador crucificado e ressurgido, fortalecendo as mãos dos que eram, já, Seus discípulos e continuamente trazendo novos conversos para a fé a que antes tão amargamente se opusera. AA 68 3 Paulo fora anteriormente reconhecido como zeloso defensor da religião judaica, e implacável perseguidor dos seguidores de Jesus. Corajoso, independente, perseverante, seus talentos e preparo tê-lo-iam capacitado a servir quase em qualquer atividade. Era capaz de arrazoar com clareza extraordinária, e por seu fulminante sarcasmo podia colocar o adversário em posição nada invejável. E agora, os judeus viam esse jovem extraordinariamente promissor unido com aqueles a quem antes perseguira, pregando destemidamente no nome de Jesus. AA 68 4 Um general que tomba em combate está perdido para seu exército, mas sua morte não acrescenta força ao inimigo. Mas quando um homem preeminente se une às forças opositoras, não apenas se perdem seus serviços como ganham decidida vantagem aqueles com quem ele se une. Saulo de Tarso, em caminho para Damasco, podia facilmente ter sido fulminado pelo Senhor, e muita força se teria retirado do poder perseguidor. Mas Deus, em Sua providência, não apenas poupou a vida de Saulo, mas converteu-o, transferindo assim um campeão do campo do inimigo para o lado de Cristo. Orador eloqüente e crítico severo, Paulo, com seu decidido propósito e inquebrantável coragem, possuía as próprias qualificações necessárias à igreja primitiva. AA 69 1 Enquanto Paulo pregava a Cristo em Damasco, todos os que o ouviam ficavam admirados, e diziam: "Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?" Atos 9:21. Paulo declarava que sua mudança de fé não tinha sido gerada por impulso ou fanatismo, mas fora resultado de irresistível evidência. Em sua apresentação do evangelho, ele procurava tornar claras as profecias relativas à primeira vinda de Cristo. Mostrava irrefutavelmente que essas profecias se tinham cumprido literalmente em Jesus de Nazaré. O fundamento de sua fé era a segura palavra da profecia. AA 69 2 Enquanto continuava a apelar a seus assombrados ouvintes para "que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento" (Atos 26:20), Saulo "se esforçava muito mais, e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que Aquele era o Cristo". Atos 9:22. Muitos, porém, endureceram o coração, recusando-se a atender a sua mensagem; e logo o espanto deles pela sua conversão foi mudado em ódio intenso, semelhante ao que haviam mostrado para com Jesus. AA 69 3 A oposição tornou-se tão violenta que não foi permitido a Paulo continuar suas atividades em Damasco. Um mensageiro do Céu ordenou-lhe retirar-se por algum tempo; e ele foi "para a Arábia", onde encontrou um refúgio seguro. Gálatas 1:17. AA 69 4 Ali, na solidão do deserto, Paulo teve ampla oportunidade para sossegado estudo e meditação. Recapitulou calmamente sua experiência passada, possuindo-se de genuíno arrependimento. Buscou a Deus de todo o coração, não descansando até que tivesse a certeza de que seu arrependimento fora aceito e seus pecados perdoados. Anelava a certeza de que Jesus estaria com ele em seu ministério futuro. Esvaziou a mente dos preconceitos e tradições que lhe haviam, até então, modelado a vida e recebeu instruções da fonte da verdade. Jesus comungou com ele e confirmou-o na fé, conferindo-lhe uma rica medida de sabedoria e graça. AA 69 5 Quando a mente de um homem é posta em comunhão com a mente de Deus, o finito com o Infinito, o efeito sobre o corpo, a mente e o espírito vai além do admissível. Em comunhão tal é encontrada a mais alta educação. É o método de desenvolvimento usado por Deus. "Reconcilia-te com Ele", é a mensagem do Senhor à humanidade. Jó 22:21. AA 69 6 A solene incumbência dada a Paulo por ocasião de seu encontro com Ananias, pesou-lhe mais e mais sobre o coração. Quando, em resposta à declaração: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus... me enviou, para que tornes a ver", Paulo olhou pela primeira vez a face desse devoto homem, Ananias, que sob a inspiração do Espírito Santo, disse-lhe: "O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a Sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz de Sua boca. Porque hás de ser Sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido. E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor". Atos 22:14-16. AA 70 1 Essas palavras estavam em harmonia com as palavras do próprio Jesus, que, quando deteve Saulo na viagem para Damasco, declarou: "Porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te deste povo e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em Mim". Atos 26:16-18. AA 70 2 Ponderando essas coisas em seu coração, Paulo compreendeu mais e mais claramente a razão de seu chamado -- ser um "apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus". 1 Coríntios 1:1. Esse chamado lhe veio, "não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai". Gálatas 1:1. A magnitude da obra que estava a sua frente levou-o a dedicar muito estudo às Escrituras Sagradas, a fim de que pudesse pregar o evangelho, "não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã", "mas em demonstração de Espírito e de poder", para que a fé de todos os que ouvissem "não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus". 1 Coríntios 1:17; 2:4, 5. AA 70 3 Ao examinar as Escrituras, Paulo aprendeu que, através dos séculos, "não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele". 1 Coríntios 1:26-29. E assim, considerando a sabedoria do mundo a partir da perspectiva da cruz, Paulo se propôs nada "saber... se não a Jesus Cristo, e Este crucificado". 1 Coríntios 2:2. AA 70 4 Através de todo o seu ministério posterior, Paulo jamais perdeu de vista a Fonte de sua sabedoria e força. Mais para o fim da sua experiência, declarou: "Porque para mim o viver é Cristo". Filipenses 1:21. E de novo: "Tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas... para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nEle, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação de Suas aflições". Filipenses 3:8-10. AA 70 5 Da Arábia, Paulo voltou outra vez a Damasco (Gálatas 1:17), e "falava ousadamente... no nome de Jesus" Incapazes de resistir à sabedoria de seus argumentos, "os judeus tomaram conselho entre si para o matar" As portas da cidade eram guardadas diligentemente, de dia e de noite, para impedir que ele escapasse. Essa situação crítica levou os discípulos a buscar a Deus com fervor; e, finalmente, "tomando-o de noite, os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro". Atos 9:25. AA 71 1 Depois de escapar de Damasco, Paulo foi a Jerusalém, tendo já passado três anos de sua conversão. Seu principal objetivo ao fazer essa visita, como ele próprio mais tarde declarou, era "ver a Pedro". Gálatas 1:18. Tendo chegado à cidade onde antes fora bem conhecido como "Saulo, o perseguidor", "procurava ele juntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo" Era-lhes difícil crer que tão fanático fariseu, e um dos que tanto fizeram para destruir a igreja, pudesse estar transformado num sincero seguidor de Jesus. "Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus". Atos 9:27. AA 71 2 Ouvindo isso, os discípulos o receberam com confiança. Logo tiveram provas abundantes da genuinidade de sua experiência cristã. O futuro apóstolo dos gentios agora se achava na cidade em que viviam muitos de seus anteriores companheiros; e a esses líderes judeus almejava ele explicar as profecias relativas ao Messias, as quais se cumpriram no advento do Salvador. Paulo estava certo de que esses mestres em Israel, com os quais estivera tão bem familiarizado, eram tão sinceros e honestos como ele o fora. Mas avaliara erradamente o espírito de seus irmãos judeus e, na esperança de sua rápida conversão, estava condenado a amargo desapontamento. Ainda que falasse "ousadamente no nome de Jesus", e disputasse "também contra os gregos", aqueles que estavam à testa da igreja judaica se recusaram a crer, antes "procuravam matá-lo" A tristeza encheu-lhe o coração. De boa vontade teria ele dado a vida se, por esse meio, pudesse trazer alguns ao conhecimento da verdade. Com vergonha pensava na parte ativa que tomara no martírio de Estêvão; e agora, em sua ansiedade por apagar a mancha que repousava sobre aquele que fora tão falsamente acusado, procurava reivindicar a verdade pela qual Estêvão dera a vida. AA 71 3 Sentindo a responsabilidade em relação aos que se recusavam a crer, estava Paulo a orar no templo, como ele próprio testificou mais tarde, quando caiu em êxtase. Nisso apareceu diante dele um mensageiro celestial e disse: "Dá-te pressa, e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de Mim". Atos 22:18. AA 71 4 Paulo se inclinava a permanecer em Jerusalém, onde poderia fazer frente à oposição. Parecia-lhe um ato de covardia fugir, se, permanecendo, pudesse convencer alguns dos obstinados judeus quanto à verdade da mensagem do evangelho, mesmo que o permanecer lhe custasse a vida. E assim respondeu: "Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em Ti. E quando o sangue de Estêvão, Tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava os vestidos dos que o matavam" Mas não estava de acordo com os propósitos de Deus que Seu servo desnecessariamente expusesse a vida; e o mensageiro celestial respondeu: "Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe". Atos 22:19-21. AA 72 1 Ao saberem dessa visão, os irmãos apressaram-se em efetuar ocultamente a saída de Paulo de Jerusalém, receosos de que fosse assassinado. Os irmãos "o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso". Atos 9:30. A partida de Paulo suspendeu por algum tempo a oposição violenta dos judeus, e a igreja teve um período de descanso, no qual muitos foram acrescentados ao número dos crentes. ------------------------Capítulo 14 -- Um pesquisador da verdade AA 73 0 Este capítulo é baseado em Atos 9:32-43; 10; 11:1-18. AA 73 1 No decorrer de seu ministério, o apóstolo Pedro visitou os crentes em Lida. Ali curou Enéias, que durante oito anos estivera de cama, com paralisia. "Enéias, Jesus Cristo te dá saúde"; disse o apóstolo; "levanta-te, e faze a tua cama. E logo se levantou. E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor". Atos 9:34, 35. AA 73 2 Em Jope, que era perto de Lida, vivia uma mulher chamada Dorcas, cujas boas ações a tornaram grandemente amada. Era uma digna discípula de Jesus e sua vida estava repleta de atos de bondade. Sabia quem carecia de roupa confortável e quem necessitava de simpatia, e liberalmente ministrava aos pobres e tristes. Seus hábeis dedos eram mais ativos do que sua língua. AA 73 3 "Aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu". Atos 9:37. A igreja de Jope sentiu a sua perda; e, ouvindo que Pedro estava em Lida, os crentes lhe enviaram mensageiros "rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles. E, levantando-se Pedro, foi com eles. Quando chegou, o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e vestes que Dorcas fizera quando estava com elas". Atos 9:38, 39. Em vista da vida de serviços que Dorcas vivera, não é de admirar que chorassem, que cálidas lágrimas caíssem sobre o corpo inanimado. AA 73 4 O coração do apóstolo foi tocado de simpatia ao contemplar-lhes a tristeza. Então, determinando que os amigos em pranto se retirassem do quarto, ajoelhou-se e orou fervorosamente a Deus, para que restabelecesse Dorcas à vida e à saúde. Voltando-se para o corpo, disse: "Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e vendo a Pedro, assentou-se". Atos 9:40. Dorcas fora de grande utilidade à igreja, e Deus quis trazê-la da terra do inimigo, a fim de que sua habilidade e energia pudessem ainda ser uma bênção para outras pessoas, e que também por essa manifestação de Seu poder a causa de Cristo se fortalecesse. AA 73 5 Foi enquanto Pedro ainda se encontrava em Jope, que ele foi chamado por Deus para levar o evangelho a Cornélio, em Cesaréia. AA 73 6 Cornélio era centurião romano. Era homem rico e de nobre nascimento, e seu cargo era de confiança e honra. Gentio de nascimento, ensino e educação, pelo contato com os judeus adquirira o conhecimento de Deus, e O adorava com coração verdadeiro, mostrando a sinceridade de sua fé pela compaixão para com os pobres. Era conhecido longe e perto pela sua beneficência, e sua vida reta o fazia de boa reputação entre judeus e gentios. Sua influência era uma bênção a todos os que com ele entravam em contato. O relato inspirado descreve-o como um homem "piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus". Atos 10:2. AA 74 1 Crendo em Deus como o Criador do Céu e da Terra, Cornélio O reverenciava, reconhecia Sua autoridade e procurava Seu conselho em todos os negócios da vida. Era fiel a Jeová em sua vida doméstica e em seus deveres oficiais. Erguera em seu lar o altar de Deus, pois não ousava efetuar seus planos ou encarar suas responsabilidades sem o auxílio divino. AA 74 2 Embora Cornélio cresse nas profecias e estivesse a esperar pela vinda do Messias, não tinha conhecimento do evangelho como foi revelado na vida e morte de Cristo. Não era membro da igreja judaica e teria sido considerado pelos rabinos como um gentio e imundo. Mas o mesmo santo Vigia que dissera de Abraão: "Eu o tenho conhecido" (Gênesis 18:19), conhecia também Cornélio, e lhe enviou uma mensagem direta do Céu. AA 74 3 O anjo apareceu a Cornélio quando ele se achava em oração. Ouvindo o centurião alguém a ele dirigir-se pelo nome, ficou atemorizado; todavia compreendeu que o mensageiro viera de Deus, e disse: "Que é, Senhor?" Atos 10:4. O anjo respondeu: "As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus. Agora, pois, envia homens a Jope, e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro. Ele está com um certo Simão curtidor, que tem a sua casa junto ao mar". Atos 10:32. AA 74 4 Os detalhes dessas informações, nas quais se mencionava até a ocupação do homem em cuja casa Pedro se encontrava, mostram que o Céu está a par da história e ocupação dos homens de todas as condições de vida. Deus está familiarizado com a experiência e afazeres do humilde trabalhador, bem como os do rei em seu trono. AA 74 5 "Envia homens a Jope, e manda chamar a Simão" Assim Deus deu prova de Sua atenção para com o ministério evangélico e Sua igreja organizada. O anjo não foi incumbido de contar a Cornélio a história da cruz. Um homem sujeito a fragilidades e tentações humanas, como o centurião, deveria ser aquele que lhe contaria a respeito do Salvador crucificado e ressuscitado. AA 74 6 Deus não escolhe como Seus representantes entre os homens anjos que jamais caíram, mas seres humanos, homens de paixões idênticas às daqueles a quem buscam salvar. Cristo Se revestiu da forma humana para que pudesse alcançar a humanidade. Um Salvador divino-humano era necessário para trazer a salvação ao mundo. E a homens e mulheres foi entregue a sagrada tarefa de tornar conhecidas "as riquezas incompreensíveis de Cristo". Efésios 3:8. AA 75 1 Em Sua sabedoria, o Senhor põe os que estão à procura da verdade em contato com seus semelhantes que a conhecem. É plano do Céu que os que receberam a luz a comuniquem aos que se acham em trevas. A humanidade, tirando sua eficiência da grande Fonte da sabedoria, torna-se o instrumento, a agência operadora por meio da qual o evangelho exerce seu poder transformador sobre o espírito e o coração. AA 75 2 Cornélio foi, com alegria, obediente à visão. Tendo-se retirado o anjo, o centurião "chamou dois de seus criados, e a um piedoso soldado dos que estavam ao seu serviço. E, havendo-lhes contado tudo, os enviou a Jope". Atos 10:8. AA 75 3 O anjo, depois de sua entrevista com Cornélio, foi a Pedro em Jope. Na ocasião, Pedro estava orando no terraço da casa em que se achava, e lemos que, "tendo fome, quis comer; e, enquanto lho preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos". Atos 11:5. Não era unicamente do pão material que Pedro tinha fome. Ao ver do terraço a cidade de Jope e o território circunvizinho, teve fome de salvação para os seus patrícios. Tinha intenso desejo de indicar-lhes as profecias das Escrituras relativas ao sofrimento e morte de Cristo. AA 75 4 Na visão, viu Pedro "o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra, no qual havia de todos os animais quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. E segunda vez lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três vezes; e o vaso tornou a recolher-se no céu". Atos 10:11-16. AA 75 5 Essa visão tanto serviu para repreender a Pedro como para instruí-lo. Revelou-lhe o propósito divino -- de que pela morte de Cristo os gentios deviam tornar-se co-herdeiros dos judeus nas bênçãos da salvação. Até então, nenhum dos discípulos pregara o evangelho aos gentios. Em seu pensamento, o muro de separação posto abaixo pela morte de Cristo ainda existia, e seus trabalhos limitavam-se aos judeus, pois tinham considerado os gentios excluídos das bênçãos do evangelho. O Senhor queria, então, ensinar a Pedro a extensão universal do plano divino. AA 75 6 Muitos dos gentios tinham sido ouvintes interessados da pregação de Pedro e dos outros apóstolos, e muitos dos judeus gregos se tinham tornado crentes em Cristo, mas a conversão de Cornélio foi a primeira de importância entre os gentios. AA 75 7 Era chegado o tempo para ser introduzida pela igreja de Cristo uma fase de trabalho inteiramente nova. A porta que muitos dos judeus conversos haviam fechado aos gentios devia agora ser aberta de par em par. E os gentios que aceitassem o evangelho deveriam ser considerados em condição de igualdade com os discípulos judeus, sem a necessidade de observar o rito da circuncisão. AA 76 1 Quão cuidadosamente agiu o Senhor para vencer o preconceito contra os gentios, o qual tão firmemente se fixara na mente de Pedro pela sua educação judaica! Pela visão do lençol e seu conteúdo, procurou Ele tirar da mente do apóstolo esse preconceito, e ensinar a importante verdade de que no Céu não há acepção de pessoas; que judeus e gentios são igualmente preciosos à vista de Deus; que, por meio de Cristo, os pagãos podem se tornar participantes das bênçãos e privilégios do evangelho. AA 76 2 Enquanto Pedro meditava sobre o sentido da visão, os homens enviados da parte de Cornélio chegaram a Jope e pararam diante da porta da casa onde ele estava hospedado. Então, disse o Espírito: "Eis que três varões te buscam. Levanta-te, pois, e desce, e vai com eles, não duvidando; porque Eu os enviei". Atos 10:20. AA 76 3 Para Pedro, essa era uma ordem difícil, e foi com relutância em cada passo que assumiu o dever que lhe fora imposto; mas não ousou desobedecer. "Descendo Pedro para junto dos varões que foram enviados por Cornélio, disse: Sou eu a quem procurais; qual é a causa porque estais aqui?" Atos 10:21. Eles lhe falaram a respeito de sua singular incumbência, dizendo: "Cornélio, o centurião, varão justo e temente a Deus, e que tem bom testemunho de toda a nação dos judeus, foi avisado por um santo anjo para que te chamasse a sua casa, e ouvisse as tuas palavras". Atos 10:22. AA 76 4 Em obediência às instruções que acabava de receber de Deus, o apóstolo prometeu ir com eles. Na manhã seguinte, partiu para Cesaréia, acompanhado por seis de seus irmãos. Esses deveriam servir de testemunhas de tudo o que ele dissesse ou fizesse enquanto em visita aos gentios; pois Pedro sabia que seria chamado a prestar contas de uma violação tão direta dos ensinos judaicos. AA 76 5 Entrando Pedro na casa do gentio, Cornélio não o saudou como a um visitante comum, mas como a alguém honrado pelo Céu, a ele enviado por Deus. É costume oriental curvar-se perante um príncipe ou qualquer alto dignitário, e curvarem-se as crianças perante seus pais; mas Cornélio, tomado pela reverência por aquele que fora enviado por Deus para o ensinar, caiu aos pés do apóstolo e o adorou. Pedro ficou assustado e levantou o centurião, dizendo: "Levanta-te, que eu também sou homem". Atos 10:26. AA 76 6 Enquanto os mensageiros de Cornélio desempenhavam a sua incumbência, o centurião havia "já convidado seus parentes e amigos mais íntimos" (Atos 10:24), para que, como ele, pudessem ouvir a pregação do evangelho. Quando Pedro chegou, encontrou um grande grupo avidamente a espera para ouvir suas palavras. AA 76 7 Aos que estavam reunidos, Pedro falou em primeiro lugar do costume dos judeus, dizendo que lhes era considerado ilícito misturarem-se socialmente com os gentios, e que fazer isso implicava contaminação cerimonial. "Vós bem sabeis", disse ele, "que não é lícito a um varão judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo. Pelo que, sendo chamado, vim sem contradizer. Pergunto, pois, por que razão mandastes chamar-me?" Atos 10:28, 29. AA 77 1 Cornélio, então, relatou sua experiência e as palavras do anjo, dizendo em conclusão: "Logo mandei chamar-te, e bem fizeste em vir. Agora, pois, estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado" Disse Pedro: "Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que Lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, O teme e obra o que é justo". Atos 10:34, 35. AA 77 2 Então, àquele atento grupo de ouvintes, o apóstolo pregou a Cristo -- Sua vida, Seus milagres, Sua traição e crucificação, Sua ressurreição e ascensão, e Sua obra no Céu como representante e advogado do homem. Ao indicar Jesus aos presentes como a única esperança do pecador, Pedro, ele próprio, compreendeu mais perfeitamente o sentido da visão que tivera, e o coração ardeu-lhe com o espírito da verdade que estava apresentando. AA 77 3 Subitamente, o discurso foi interrompido pela descida do Espírito Santo. "Dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a Palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. AA 77 4 "Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor". Atos 10:47, 48. AA 77 5 Assim foi o evangelho levado àqueles que tinham sido estranhos e forasteiros, tornando-os concidadãos dos santos e membros da família de Deus. A conversão de Cornélio e sua casa não foi senão o início de uma preciosa colheita. Dessa família estendeu-se uma vasta obra de graça naquela cidade gentílica. AA 77 6 Deus está hoje buscando pessoas entre os grandes bem como entre os humildes. Há muitos como Cornélio, homens a quem o Senhor deseja colocar em contato com Sua obra na Terra. Suas simpatias estão com o povo do Senhor, mas os laços que os retêm ao mundo, mantêm-nos firmemente seguros. Requer-se força moral para que tomem posição ao lado de Cristo. Devem ser feitos esforços especiais por essas pessoas em tão grande perigo, por causa de suas responsabilidades e relacionamentos. AA 77 7 Deus chama obreiros humildes e fervorosos, que desejem levar o evangelho às mais altas classes. Há milagres a serem operados em conversões genuínas -- milagres que não são agora discernidos. Os maiores homens deste mundo não estão além do poder de um Deus que realiza maravilhas. Se todos os que são Seus colaboradores se dispuserem a ser homens de oportunidade, cumprindo destemida e fielmente o dever, Deus converterá homens que ocupam posições de responsabilidade, homens de intelecto e de influência. Pelo poder do Espírito Santo, muitos aceitarão os princípios divinos. Convertidos à verdade, tornar-se-ão instrumentos na mão de Deus, para comunicar luz. Sentirão especial responsabilidade por outras pessoas desse grupo negligenciado. Consagrarão tempo e dinheiro à obra do Senhor, e uma nova eficiência e poder serão adicionados à igreja. AA 78 1 Porque estivesse Cornélio vivendo em harmonia com toda a instrução que havia recebido, Deus de tal maneira encaminhou os acontecimentos que lhe foi dada mais verdade. Um mensageiro das cortes celestiais foi enviado ao oficial romano e a Pedro, para que Cornélio pudesse ser posto em contato com quem poderia guiá-lo à maior luz. AA 78 2 Há em nosso mundo muitos que estão mais próximos do reino de Deus do que supomos. Neste tenebroso mundo de pecado, o Senhor tem muitas jóias preciosas a quem Ele guiará Seus mensageiros. Há em toda parte os que assumirão sua atitude ao lado de Cristo. Muitos darão mais valor à sabedoria de Deus do que a qualquer vantagem terrestre, e se tornarão fiéis portadores de luz. Constrangidos pelo amor de Cristo, conduzirão outros até Ele. AA 78 3 Quando os irmãos na Judéia ouviram que Pedro havia entrado na casa de um gentio e pregara aos que ali estavam reunidos, ficaram surpresos e escandalizados. Receavam que tal conduta, que a eles parecia presunçosa, tivesse como resultado contrariar seu próprio ensino. Quando, a seguir, viram Pedro, defrontaram-no com severa censura, dizendo: "Entraste em casa de varões incircuncisos, e comeste com eles". Atos 11:3. AA 78 4 Pedro lhes expôs toda a questão. Relatou sua experiência, com referência à visão, e alegou que isso o ensinara a não mais observar a distinção cerimonial da circuncisão e incircuncisão, bem como a não considerar os gentios como imundos. Contou-lhes acerca da ordem que lhe fora dada para ir aos gentios, da vinda dos mensageiros, de sua viagem para Cesaréia e do encontro com Cornélio. Relatou a substância de sua entrevista com o centurião, na qual este lhe contara a visão que lhe determinava mandasse chamar Pedro. AA 78 5 "Quando comecei a falar", disse ele, relatando sua experiência, "caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio. E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: João certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?" Atos 11:15-17. AA 78 6 Ouvindo esse relato, os irmãos ficaram em silêncio. Convictos de que a conduta de Pedro estava em direto cumprimento ao plano de Deus, e que seus preconceitos e exclusivismo eram inteiramente contrários ao espírito do evangelho, glorificaram a Deus, dizendo: "Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida". Atos 11:18. AA 78 7 Assim, sem controvérsias, foi vencido o preconceito, abandonou-se o exclusivismo estabelecido pelo costume durante séculos, e abriu-se o caminho para que o evangelho fosse proclamado aos gentios. ------------------------Capítulo 15 -- Liberto da prisão AA 79 0 Este capítulo é baseado em Atos 12:1-23. AA 79 1 E por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar". Atos 12:1. O governo da Judéia estava, então, nas mãos de Herodes Agripa, súdito de Cláudio, imperador romano. Herodes mantinha também o cargo de tetrarca da Galiléia. Era prosélito professo da fé judaica e, aparentemente, muito zeloso em efetuar as cerimônias da lei judaica. Desejoso de obter o apoio dos judeus, esperando assim confirmar seus cargos e honras, pôs-se a realizar os desejos deles, perseguindo a igreja de Cristo, roubando as casas e os bens dos crentes e prendendo os principais membros da igreja. Lançou na prisão Tiago, irmão de João, e mandou um algoz matá-lo à espada, assim como o outro Herodes fizera com que o profeta João fosse degolado. Vendo que os judeus se agradavam muito com essas medidas, prendeu também Pedro. AA 79 2 Foi durante a Páscoa que tais crueldades foram praticadas. Enquanto os judeus estavam celebrando seu libertamento do Egito e pretendendo possuir grande zelo pela lei de Deus, estavam ao mesmo tempo transgredindo cada princípio dessa lei ao perseguir e assassinar os crentes em Cristo. AA 79 3 A morte de Tiago causou grande dor e consternação entre os crentes. Quando Pedro também foi preso, a igreja toda se empenhou em jejum e oração. AA 79 4 O ato de Herodes matando Tiago foi aplaudido entre os judeus, se bem que alguns se queixassem da maneira reservada pela qual foi ele realizado, afirmando que uma execução pública teria de maneira mais completa intimidado os crentes e os que com eles simpatizavam. Herodes, portanto, conservou Pedro em custódia, com a intenção de satisfazer ainda mais aos judeus pelo espetáculo público de sua morte. Sugeriu-se, porém, que não seria uma boa idéia trazer o veterano apóstolo para a execução perante o povo então reunido em Jerusalém. Receava-se que a cena de estar ele sendo levado para morrer pudesse provocar a compaixão da multidão. AA 79 5 Os sacerdotes e anciãos também temiam que Pedro fizesse um daqueles poderosos apelos que tinham freqüentemente incitado o povo a estudar a vida e caráter de Jesus -- apelos esses, que eles, com todos os seus argumentos tinham sido incapazes de contradizer. O zelo de Pedro em advogar a causa de Cristo, tinha levado muitos a assumir sua atitude ao lado do evangelho, e os príncipes temiam que se lhe fosse dada oportunidade para defender sua fé na presença da multidão que viera à cidade para adorar, seu livramento seria exigido das mãos do rei. AA 80 1 Enquanto, sob vários pretextos, a execução de Pedro estava sendo retardada para depois da páscoa, os membros da igreja tiveram tempo para examinar profundamente o coração e orar com fervor. Oravam sem cessar em favor de Pedro, pois achavam que ele não poderia faltar na obra da pregação. Compreendiam que haviam chegado a um ponto em que, sem o auxílio especial de Deus, a igreja de Cristo seria destruída. AA 80 2 Ao mesmo tempo, adoradores de todas as nações procuravam o templo que havia sido dedicado à adoração de Deus. Resplandecendo em ouro e pedras preciosas, ostentava um aspecto de magnificência e encanto. Mas Jeová não seria mais achado nesse palácio de beleza. Israel, como nação, tinha-se divorciado de Deus. Quando Cristo, perto do fim de Seu ministério terrestre, olhou pela última vez para o interior do templo, disse: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta". Mateus 23:38. Até então, Ele tinha considerado o templo como a casa de Seu Pai, mas ao deixar o Filho de Deus o interior dessas paredes, a presença de Deus abandonou para sempre o templo construído para Sua glória. AA 80 3 O dia para a execução de Pedro foi finalmente marcado, mas ainda as orações dos crentes ascendiam ao Céu; e, enquanto todas as suas energias e simpatias eram suscitadas em fervorosos pedidos de auxílio, anjos de Deus estavam a vigiar o apóstolo prisioneiro. AA 80 4 Lembrando-se do anterior libertamento dos apóstolos da prisão, Herodes tomara desta vez precauções dobradas. Para evitar toda a possibilidade de escape, Pedro tinha sido posto sob o cuidado de dezesseis soldados, que, em diferentes vigílias, o guardavam dia e noite. Em sua cela, fora colocado entre dois soldados, ligado por duas correntes, cada uma presa ao pulso de um dos soldados. Não podia mover-se sem o conhecimento deles. Com as portas da prisão firmemente seguras e uma forte guarda diante delas, toda a possibilidade de livramento ou escape por meios humanos estava excluída. Mas os extremos do homem são a oportunidade de Deus. AA 80 5 Pedro estava encerrado em uma cela cavada na rocha, cujas portas tinham fortes ferrolhos e barras; e os soldados em guarda ficaram responsabilizados pela custódia do prisioneiro. Mas os ferrolhos e barras, e a guarda romana, que eficazmente removiam toda a possibilidade de auxílio humano, não serviriam senão tornar mais completa a vitória de Deus no livramento de Pedro. Herodes estava levantando a sua mão contra o Onipotente, e deveria ser totalmente derrotado. Aplicando o Seu poder, Deus estava prestes a salvar a vida preciosa cuja destruição estavam os judeus tramando. AA 80 6 Era a última noite antes da planejada execução. Do Céu foi enviado um poderoso anjo para libertar Pedro. As vigorosas portas que prendiam o santo de Deus abriram-se sem auxílio de mãos humanas. O anjo do Altíssimo por elas penetrou, fechando-se as portas sem ruído por trás dele. Ele entrou na cela, e ali estava Pedro, dormindo tranqüilamente o sono de uma perfeita confiança. AA 81 1 A luz que circundava o anjo encheu a cela, mas não despertou o apóstolo. Só quando ele sentiu o toque da mão do anjo e ouviu uma voz dizendo: "Levanta-te depressa" (Atos 12:7), acordou o suficiente para ver a cela iluminada pela luz celestial, e um anjo de grande glória, em pé diante dele. Automaticamente, obedeceu à ordem que lhe foi dada e, como ao se levantar ergueu as mãos, tornou-se meio consciente de que as cadeias lhe caíram dos pulsos. AA 81 2 De novo lhe ordenou a voz do mensageiro celestial: "Cinge-te, e ata as tuas alparcas" (Atos 12:8), e de novo Pedro automaticamente obedeceu, conservando o admirado olhar voltado para o visitante, e crendo estar sonhando ou em visão. Mais uma vez o anjo ordenou: "Lança às costas a tua capa, e segue-me" Ele se moveu em direção à porta, seguido por Pedro, usualmente loquaz, agora mudo de espanto. Passaram pela guarda e chegaram à porta, pesadamente aferrolhada, que por si mesma se abriu, e imediatamente se fechou de novo, enquanto os guardas dentro e fora permaneceram imóveis em seu posto. AA 81 3 Alcançaram a segunda porta, também guardada por dentro e por fora. Abriu-se, como o fez a primeira, sem ranger de dobradiças ou ruído dos fechos de ferro. Passaram por ela e novamente se fechou, também sem ruído. De modo idêntico passaram pela terceira porta, e acharam-se em plena rua. Não se trocou uma palavra; não houve ruído de passos. O anjo se movia suavemente diante de Pedro, cercado de uma luz de deslumbrante brilho, e Pedro, desorientado, e julgando-se ainda em sonho, seguia seu libertador. Assim, eles percorreram uma rua, e então, estando cumprida a missão do anjo, desapareceu subitamente. AA 81 4 Dissipou-se a luz celestial, e a Pedro pareceu achar-se em profundas trevas; mas, acostumando-se-lhe os olhos, pareceram elas diminuir gradualmente, e ele se encontrou só na rua silenciosa, com o ar fresco da noite a soprar-lhe no rosto. Compreendeu, então, que estava livre, em uma parte da cidade que lhe era familiar; reconheceu o lugar como sendo um que freqüentara muitas vezes, e por onde esperara passar no dia seguinte pela última vez. AA 81 5 Procurou rememorar os fatos dos últimos poucos momentos. Lembrou-se de ter adormecido, preso entre dois soldados, com as sandálias e vestes exteriores removidas. Examinou sua pessoa e achou-se completamente vestido e cingido. Seus pulsos, inchados pela pressão dos ferros cruéis, estavam livres das algemas. Compenetrou-se de que sua liberdade não era engano, sonho ou visão, mas bendita realidade. No dia seguinte, deveria ser levado para morrer; mas, eis que um anjo o livrara da prisão e da morte. "E Pedro, tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o Seu anjo, e me livrou da mão de Herodes, e de tudo que o povo dos judeus esperava". Atos 12:11. AA 82 1 O apóstolo se encaminhou imediatamente à casa onde seus irmãos estavam reunidos, e onde naquele momento se encontravam em oração fervorosa por ele. "E batendo Pedro à porta do pátio, uma menina chamada Rode saiu a escutar; e, conhecendo a voz de Pedro, de gozo não abriu a porta, mas, correndo para dentro, anunciou que Pedro estava à porta. E disseram-lhe: Estás fora de ti. Mas ela afirmava que assim era. E diziam: É o seu anjo". Atos 12:13-15. AA 82 2 "Mas Pedro perseverava em bater, e, quando abriram, viram-no e se espantaram. E, acenando-lhes ele com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão" E Pedro, "saindo, partiu para outro lugar". Atos 12:16, 17. Alegria e louvor encheram o coração dos crentes porque Deus ouvira e atendera suas orações, e libertara Pedro das mãos de Herodes. AA 82 3 Pela manhã, uma multidão se reuniu para presenciar a execução do apóstolo. Herodes enviou oficiais à prisão para buscarem Pedro, que deveria ser trazido com grande aparato de guardas e armas, não apenas para se evitar possível fuga, como também para intimidar os simpatizantes e mostrar o poder do rei. AA 82 4 Quando os guardas diante da porta verificaram que Pedro tinha escapado, foram possuídos de terror. Tinha sido expressamente declarado que a vida deles responderia pela do prisioneiro; e por isso haviam eles estado especialmente vigilantes. Quando os oficiais vieram buscar Pedro, os soldados estavam ainda guardando a porta da prisão, os ferrolhos e barras ainda intatos, as cadeias presas aos pulsos dos dois soldados mas o prisioneiro havia escapado. AA 82 5 Quando foi trazida a Herodes a notícia de que Pedro escapara, ele ficou exasperado e enraivecido. Acusando os guardas da prisão de infidelidade, ordenou que fossem mortos. Herodes sabia que poder humano algum havia livrado a Pedro, mas estava decidido a não reconhecer que um poder divino lhe frustrara o desígnio, e pôs-se em ousado desafio a Deus. AA 82 6 Não muito tempo depois do livramento de Pedro da prisão, Herodes foi a Cesaréia. Enquanto ali se achava, fez uma grande festa, destinada a provocar admiração e ganhar aplausos do povo. Compareceram à festa os amantes do prazer de todas as regiões, e houve muita glutonaria e bebedice. Com grande pompa e cerimônia Herodes apareceu diante do povo e lhes dirigiu em eloqüente discurso. Vestido em roupas cintilantes de prata e ouro, em que os raios do Sol refletindo em suas luminosas dobras deslumbravam os olhos dos que o contemplavam, constituía ele uma figura magnífica. A majestade de sua aparência e a força de sua linguagem bem escolhida dominavam a assembléia com grande poder. Estando já seus sentidos pervertidos pelo beber e banquetear-se, ficaram deslumbrados pela ornamentação de Herodes, e encantados pelo seu porte e oratória; e, desenfreados pelo entusiasmo, cumulavam-no de lisonja, declarando que nenhum mortal poderia apresentar igual aparência, ou possuir eloqüência tão surpreendente. Declararam mais que, conquanto o houvessem sempre respeitado como governador, dali em diante o adorariam como a um deus. AA 83 1 Alguns daqueles cujas vozes agora eram ouvidas a glorificar um vil pecador, fazia poucos anos haviam levantado o grito frenético: Fora com Jesus! Crucifica-O, crucifica-O! Os judeus tinham-se recusado a receber a Cristo, cujas vestes, simples e muitas vezes sujas pelas viagens, cobriam um coração de amor divino. Seus olhos não podiam discernir, sob o humilde exterior, o Senhor da vida e da glória, embora o poder de Cristo fosse revelado diante deles em obras que nenhum mero homem poderia fazer. Estavam, porém, prontos a adorar como a um deus, o altivo rei, cujas esplêndidas vestes de prata e ouro cobriam um coração corrupto e cruel. AA 83 2 Herodes sabia que não merecia nenhum dos louvores e homenagens que lhe eram tributados, todavia aceitou a idolatria do povo como se lhes fosse devida. Seu coração saltou de triunfo e um lampejo de orgulho satisfeito espalhou-se-lhe pelo rosto ao ouvir a aclamação: "Voz de deus, e não de homem". Atos 12:22. AA 83 3 Subitamente, porém, sobreveio-lhe uma terrível mudança. Seu rosto se tornou pálido como a morte e contorcido pela agonia. Grandes gotas de suor lhe brotaram dos poros. Ficou, por um momento, como que traspassado de dor e terror; então, volvendo a face branqueada e lívida para seus amigos tomados de horror, exclamou em tom rouco e desesperado: Aquele que exaltastes como um deus, está ferido de morte! AA 83 4 Sofrendo a mais cruciante angústia, foi retirado daquela cena de orgia e ostentação. Um momento antes ele tinha sido o alvo orgulhoso do louvor e adoração daquela vasta multidão; agora, se compenetrava, de que se achava nas mãos de um Governador mais poderoso do que ele próprio. Remorsos o atormentavam: lembrou-se de sua implacável perseguição aos seguidores de Cristo; lembrou-se de sua ordem cruel para matar o inocente Tiago, e seu intento de tirar a vida ao apóstolo Pedro; recordou-se de como, em seu desgosto e decepcionada raiva, tirara uma injusta desforra dos guardas da prisão. Sentia que, agora, Deus estava a tratar com ele, o implacável perseguidor. Não encontrou alívio para a dor do corpo nem para a angústia do espírito, e nem esperava encontrar. AA 83 5 Herodes conhecia a lei de Deus, que diz: "Não terás outros deuses diante de Mim" (Êxodo 20:3); e sabia que, aceitando a adoração do povo, enchera a medida de sua iniqüidade e acarretara sobre si a justa ira de Jeová. AA 83 6 O mesmo anjo que viera dos palácios reais para libertar Pedro, fora o mensageiro da ira e juízo a Herodes. O anjo tocou em Pedro para o despertar do sono; foi com um contato diferente que ele feriu o ímpio rei, acabando com seu orgulho e trazendo sobre ele o castigo do Todo-poderoso. Herodes morreu em grande angústia de espírito e corpo, sob o juízo retribuidor de Deus. AA 84 1 Essa demonstração da justiça divina teve uma influência poderosa sobre o povo. As novas de que o apóstolo de Cristo fora miraculosamente liberto da prisão e da morte, enquanto seu perseguidor fora atingido pela maldição de Deus, foram levadas a todos os países, e vieram a ser um motivo de muitos passarem a crer em Cristo. AA 84 2 A experiência de Filipe, incumbido por um anjo do Céu de ir ao lugar em que encontrou alguém que procurava a verdade; a experiência de Cornélio, visitado por um anjo com a mensagem de Deus; de Pedro na prisão e condenado à morte conduzido por um anjo à liberdade -- tudo mostra a intimidade da ligação entre o Céu e a Terra. AA 84 3 Para o obreiro de Deus, o relato destas visitas de anjos deve trazer força e coragem. Hoje, tão verdadeiramente como nos dias dos apóstolos, mensageiros celestiais estão a passar por todo o comprimento e largura da Terra, procurando consolar os tristes, proteger os impenitentes, ganhar o coração das pessoas para Cristo. Não os podemos ver pessoalmente; não obstante estão conosco, guiando-nos, dirigindo-nos, protegendo-nos. AA 84 4 O Céu se aproxima da Terra por meio daquela escada espiritual cuja base está firmemente plantada na Terra, enquanto seu último degrau atinge o trono do Ser infinito. Anjos estão constantemente subindo e descendo por essa escada de fulgurante brilho, levando ao Pai, no alto, as orações dos necessitados e angustiados e trazendo bênção e esperança, coragem e auxílio aos filhos dos homens. Esses anjos de luz criam uma atmosfera celestial, erguendo-nos para o invisível e eterno. Não lhes podemos contemplar as formas com nossa vista natural; somente pela visão espiritual podemos distinguir os seres celestiais. Somente o ouvido espiritual pode ouvir a harmonia de vozes celestiais. AA 84 5 "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os livra". Salmos 34:7. Deus encarrega Seus anjos de salvar Seus escolhidos da calamidade, de guardá-los da "peste que anda na escuridão", e da "mortandade que assola ao meio-dia". Salmos 91:6. Repetidas vezes, têm anjos falado com homens, do mesmo modo como um homem fala com seu amigo, e os têm levado para lugares livres de perigo. Uma e outra vez têm as encorajadoras palavras dos anjos renovado o ânimo prostrado dos fiéis, desviando-lhes o espírito das coisas da Terra, levando-os a contemplar pela fé as vestes brancas, as coroas, as palmas da vitória que os vencedores receberão junto ao grande trono branco. AA 84 6 Faz parte da obra dos anjos proteger os que são provados, atender aos sofredores e tentados. Trabalham incansavelmente em favor daqueles por quem Cristo morreu. Quando os pecadores aceitam entregar-se ao Salvador, os anjos levam as novas ao Céu, e há grande regozijo entre as hostes celestiais. "Haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento". Lucas 15:7. Um registro é levado ao Céu, de todo o esforço bem-sucedido de nossa parte para dissipar as trevas e propagar o conhecimento de Cristo. Ao ser a ação referida diante do Pai, fremente alegria toma posse de toda a multidão celestial. AA 85 1 Os principados e potestades do Céu estão observando a luta em que, sob circunstâncias aparentemente desanimadoras, os servos de Deus se acham empenhados. Novas conquistas estão sendo conseguidas, novas honras ganhas, ao saírem os cristãos arregimentados em torno da bandeira de seu Redentor, para combater o bom combate da fé. Todos os anjos celestiais estão ao serviço do humilde e crente povo de Deus; e, ao entoar o exército de obreiros do Senhor, seus cânticos de louvor aqui na Terra, o coro celestial une-se com eles no louvor a Deus e a Seu Filho. AA 85 2 Precisamos conhecer melhor a missão dos anjos. Convém lembrar que cada verdadeiro filho de Deus tem a cooperação dos seres celestiais. Exércitos invisíveis, de luz e poder, auxiliam os mansos e humildes que crêem nas promessas de Deus e as reclamam. Querubins, serafins e anjos magníficos em poder, estão à destra de Deus, sendo "todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação". Hebreus 1:14. ------------------------Capítulo 16 -- A mensagem do evangelho em Antioquia AA 86 0 Este capítulo é baseado em Atos 11:19-26; 13:1-3. AA 86 1 Após haverem sido os discípulos expulsos de Jerusalém pela perseguição, a mensagem do evangelho espalhou-se rapidamente pelas regiões que ficavam além das fronteiras da Palestina; e muitos grupos pequenos de crentes se formaram em importantes centros. Alguns dos discípulos "caminharam até a Fenícia, Chipre e Antioquia, [...] anunciando [...] a Palavra". Atos 11:19. Suas atividades estavam circunscritas em geral aos hebreus e judeus gregos, dos quais se encontravam por esse tempo grandes colônias em quase todas as cidades do mundo. AA 86 2 Entre os lugares mencionados onde o evangelho fora recebido alegremente, estava Antioquia, nesse tempo a metrópole da Síria. O extenso comércio desse populoso centro trazia para a cidade muitas pessoas de várias nacionalidades. Ademais, Antioquia era conhecida como refúgio favorável para os amantes do sossego e recreação, por causa de sua saudável localização, das belezas que a circundavam, da riqueza, cultura e refinamento que ali se encontravam. Nos dias dos apóstolos, ela se havia tornado uma cidade de luxo e vício. AA 86 3 O evangelho era publicamente ensinado em Antioquia por certos discípulos de Chipre e Cirene, os quais ali chegaram "anunciando o Senhor Jesus" "E a mão do Senhor era com eles", e seus fervorosos esforços produziam frutos. "E grande número creu e se converteu ao Senhor". Atos 11:21. AA 86 4 "E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia". Atos 11:22. Chegando nesse novo campo de trabalho, Barnabé viu a obra que tinha já sido realizada pela divina graça, e "se alegrou, e exortou a todos para que permanecessem no Senhor com propósito de coração" AA 86 5 Os trabalhos de Barnabé em Antioquia foram ricamente abençoados, e muitos foram acrescentados ao número dos crentes ali. Desenvolvendo-se a obra, Barnabé sentiu a necessidade de auxílio adequado, a fim de assegurar as oportunidades que pela providência de Deus se lhe deparavam; e foi a Tarso buscar Paulo, que, depois de sua partida de Jerusalém algum tempo antes, estivera trabalhando nas regiões "da Síria e da Cilícia", proclamando "a fé que antes destruía". Gálatas 1:21, 23. Barnabé teve êxito em encontrar Paulo e em persuadi-lo a voltar em sua companhia como colega de ministério. AA 87 1 Na populosa cidade de Antioquia, Paulo encontrou um excelente campo de trabalho. Sua cultura, sabedoria e zelo exerceram uma poderosa influência sobre os habitantes e as pessoas que freqüentavam aquela cidade de cultura; e ele se mostrou ser precisamente o auxílio de que Barnabé necessitava. Durante um ano, os dois discípulos trabalharam unidos em um ministério fiel, levando a muitos o salvador conhecimento de Jesus de Nazaré, o Redentor do mundo. AA 87 2 Foi em Antioquia que os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos. Esse nome foi-lhes dado porque Cristo era o principal tema de sua pregação, conversação e ensino. Continuamente, estavam eles repetindo os incidentes ocorridos durante os dias de Seu ministério terrestre, quando Seus discípulos foram abençoados com Sua presença pessoal. Demoravam-se incansavelmente sobre Seus ensinos e milagres de cura. Com lábios trêmulos e olhos rasos d'água falavam de Sua agonia no jardim, Sua traição, julgamento e execução, a paciência e humildade com que havia suportado a afronta e a tortura a Ele impostas por Seus inimigos e a divina piedade com que tinha orado por Seus algozes. Sua ressurreição e ascensão e Sua obra no Céu como Mediador do homem caído eram tópicos sobre os quais se regozijavam em relembrar. Os pagãos bem podiam chamá-los cristãos, uma vez que pregavam a Cristo e dirigiam suas orações a Deus por intermédio dEle. AA 87 3 Foi Deus quem lhes deu o nome de cristãos. Este é um nome real, dado a todos os que se unem a Cristo. Foi referindo-se a este nome que Tiago escreveu mais tarde: "Não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?" Tiago 2:6, 7. E Pedro declarou: "Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte" "Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus". 1 Pedro 4:16, 14. AA 87 4 Os crentes de Antioquia compreenderam que Deus estava disposto a operar em sua vida "tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:13. Vivendo, como viviam, no meio de um povo que parecia pouco apreciar as coisas de valor eterno, procuraram chamar a atenção dos sinceros de coração e apresentar positivo testemunho concernente Àquele a quem amavam e serviam. Em seu humilde ministério, confiavam no poder do Espírito Santo para tornar eficaz a Palavra da vida. E assim, nos vários passos da vida, davam testemunho diário de sua fé em Cristo. AA 87 5 O exemplo dos seguidores de Cristo em Antioquia deve servir de inspiração para todos os crentes que vivem atualmente nas grandes cidades do mundo. Conquanto esteja no plano de Deus que obreiros escolhidos, de consagração e talento, sejam enviados a importantes centros de população para realizar conferências públicas, é também Seu propósito que os membros da igreja que vivem nessas cidades usem os talentos que Deus lhes deu trabalhando em favor das pessoas. Ricas bênçãos estão preparadas para os que se entregam sem reservas ao chamado de Deus. Ao se empenharem tais obreiros em pregar a salvação através de Jesus, verificarão que muitos que jamais teriam sido alcançados de outra forma, estão prontos a responder ao esforço pessoal inteligente. AA 88 1 A causa de Deus na Terra nestes dias está em necessidade de representantes vivos da verdade bíblica. Apenas os ministros ordenados não são suficientes para a tarefa de advertir as grandes cidades. Deus está chamando não somente pastores, mas também médicos, enfermeiros, colportores, obreiros bíblicos e outros consagrados membros da igreja, possuidores de diferentes talentos, que tenham o conhecimento da Palavra de Deus e possuam o poder de Sua graça, para que considerem as necessidades das cidades não advertidas. O tempo está passando rapidamente, e muito resta a ser feito. Todos os meios devem ser postos em operação, para que as oportunidades atuais sejam sabiamente aproveitadas. AA 88 2 Os trabalhos de Paulo em Antioquia, em colaboração com Barnabé, fortaleceram-lhe a convicção de que o Senhor o havia chamado para uma obra especial em favor dos gentios. Por ocasião da conversão de Paulo, o Senhor declarara que ele devia ser ministro dos gentios "para lhes abrires os olhos", disse, "e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em Mim". Atos 26:18. O anjo que apareceu a Ananias dissera de Paulo: "Este é para Mim um vaso escolhido, para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel". Atos 9:15. E o próprio Paulo, posteriormente em sua experiência cristã, quando orava no templo de Jerusalém, foi visitado por um anjo do Céu que lhe ordenou: "Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe". Atos 22:21. AA 88 3 Assim o Senhor comissionara Paulo para que penetrasse no enorme campo missionário do mundo gentio. A fim de prepará-lo para essa extensa e difícil tarefa, Deus o trouxera em íntima comunhão consigo, abrindo-lhe perante a arrebatada visão aspectos da beleza e glória do Céu. Fora-lhe entregue a missão de tornar conhecido "o mistério" que esteve oculto "desde tempos eternos" (Romanos 16:25) -- "o mistério da Sua vontade" (Efésios 1:9), "o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas; a saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual", declara Paulo, "fui feito ministro. [...] A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada essa graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor". Efésios 3:5-11. AA 89 1 Abundantemente havia Deus abençoado o trabalho de Paulo e Barnabé durante o ano que ficaram com os crentes em Antioquia. Mas nenhum deles havia sido formalmente ordenado para o ministério evangélico. Haviam chegado agora em sua experiência cristã a um ponto em que Deus estava para confiar-lhes a execução de difícil tarefa missionária, na continuação da qual necessitavam de todo o apoio que pudesse ser obtido através da igreja. AA 89 2 "E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão, chamado Níger, e Lúcio cireneu, e Manaém, [...] e Saulo. E servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado". Atos 13:1, 2. Antes de serem enviados como missionários ao mundo pagão, esses apóstolos foram solenemente consagrados a Deus com jejum e oração e a imposição das mãos. Assim foram eles autorizados pela igreja, não somente para ensinar a verdade, mas para realizar o rito do batismo e organizar igrejas, achando-se investidos de plena autoridade eclesiástica. AA 89 3 A igreja cristã estava a esse tempo entrando numa fase importante. A obra de proclamar a mensagem do evangelho entre os gentios devia, agora, prosseguir com vigor; e, em resultado, a igreja se havia de fortalecer por um grande número de conversões. Os apóstolos que tinham sido designados para dirigir essa obra, estariam expostos a suspeitas, preconceitos e ciúmes. Seus ensinos a respeito da demolição da "parede de separação que estava no meio" (Efésios 2:14), a qual por tanto tempo separara o mundo judaico do gentílico, haviam naturalmente de acarretar-lhes a acusação de heresia; e sua autoridade como ministros do evangelho seria posta em dúvida por muitos judeus zelosos e crentes. Deus previu as dificuldades que Seus servos seriam chamados a enfrentar e, para que Sua obra estivesse acima de acusação, instruiu a igreja, mediante revelação, a separá-los publicamente para a obra do ministério. Sua ordenação era um reconhecimento público de sua divina designação para levar aos gentios as boas-novas do evangelho. AA 89 4 Tanto Paulo como Barnabé já haviam recebido sua comissão do próprio Deus, e a cerimônia da imposição das mãos não acrescentou graça ou especial qualificação. Era uma forma reconhecida de designação para um cargo específico, bem como reconhecimento da autoridade conferida à pessoa. Por ela, o selo da igreja era colocado sobre a obra de Deus. AA 89 5 Esse gesto era significativo para os judeus. Quando um pai judeu abençoava os filhos, punha-lhes reverentemente as mãos sobre a cabeça. Quando um animal era destinado ao sacrifício, a mão daquele que se achava revestido da autoridade sacerdotal colocava-se sobre a cabeça da vítima. E quando os dirigentes da igreja de Antioquia puseram as mãos sobre Paulo e Barnabé, estavam pedindo que Deus concedesse Sua bênção aos escolhidos apóstolos, ao serem consagrados para a obra específica a que haviam sido designados. AA 90 1 Em época posterior, o rito da ordenação mediante a imposição das mãos sofreu muito abuso; ligava-se a esse ato uma insustentável importância, como se acrescentasse um poder aos que recebiam essa ordenação, poder que os habilitaria imediatamente para toda e qualquer obra ministerial. Mas, na separação desses dois apóstolos, não há registro a indicar que qualquer virtude tenha sido comunicada pelo simples ato da imposição das mãos. Há unicamente o singelo relatório de sua ordenação, e da influência que ela teve em sua obra futura. AA 90 2 As circunstâncias ligadas à separação de Paulo e Barnabé pelo Espírito Santo, para um definido ramo de serviço, mostram claramente que Deus atua mediante designados instrumentos em Sua igreja organizada. Anos antes, quando o propósito divino a respeito de Paulo foi primeiramente revelado a ele, pelo próprio Salvador, Paulo foi imediatamente depois posto em contato com os membros da recém-organizada igreja de Damasco. Demais, essa igreja não foi por mais tempo deixada na ignorância quanto à experiência pessoal do fariseu convertido. E agora que a divina comissão então dada devia ser mais plenamente levada a efeito, o Espírito Santo, dando novamente testemunho a respeito de Paulo como um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios, impôs à igreja a obra de ordená-lo e a seu companheiro de trabalho. E enquanto os dirigentes da igreja de Antioquia estavam servindo ao "Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado". Atos 13:2. AA 90 3 Deus fez de Sua igreja na Terra um conduto de luz, e, por intermédio dela comunica Seus desígnios e Sua vontade. Ele não dá a um de Seus servos uma experiência independente da experiência da própria igreja, ou a ela contrária. Nem dá a um homem um conhecimento de Sua vontade para toda a igreja, enquanto esta -- o corpo de Cristo -- é deixada em trevas. Em Sua providência, Ele coloca Seus servos em íntima relação com a igreja, a fim de que tenham menos confiança em si mesmos, e mais em outros a quem Ele está guiando para levarem avante Sua obra. AA 90 4 Tem havido sempre na igreja os que estão constantemente inclinados à independência individual. Parecem incapazes de compreender que a independência de espírito é susceptível de levar o instrumento humano a ter demasiada confiança em si mesmo e em seu próprio discernimento, de preferência a respeitar o conselho e estimar altamente a maneira de julgar de seus irmãos, especialmente os que se acham nos cargos designados por Deus para guia de Seu povo. Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar; pois aquele que assim procede, despreza a voz de Deus. AA 91 1 Os que são inclinados a considerar como supremo seu critério individual, acham-se em grave perigo. É o estudado esforço de Satanás separar esses dos que são condutos de luz, e por cujo intermédio Deus tem operado para edificar e estender Sua obra na Terra. Negligenciar ou desprezar aqueles que Deus designou para arcar com as responsabilidades da administração ligadas ao progresso da verdade, é rejeitar o meio ordenado por Ele para auxílio, animação e fortalecimento de Seu povo. Passar qualquer obreiro na causa do Senhor por alto a esses, e pensar que a luz não lhe deve vir por nenhum outro instrumento mas diretamente de Deus, é assumir uma atitude em que está sujeito a ser iludido pelo inimigo, e vencido. Em Sua sabedoria, o Senhor tem designado que, mediante a íntima relação mantida por todos os crentes, cristão esteja unido a cristão, igreja a igreja. Assim estará o instrumento humano habilitado a cooperar com o divino. Todo o agente estará subordinado ao Espírito Santo, e todos os crentes unidos num esforço organizado e bem dirigido para dar ao mundo as alegres novas da graça de Deus. AA 91 2 Paulo considerava a ocasião de sua ordenação formal como assinalando o início de uma nova e importante época na obra de sua vida. É desse tempo que ele faz datar, depois, o começo de seu apostolado na igreja cristã. AA 91 3 Enquanto a luz do evangelho brilhava em Antioquia, uma importante obra era conduzida pelos apóstolos que haviam permanecido em Jerusalém. Cada ano, por ocasião das festas, muitos judeus de todas as terras, vinham a Jerusalém para adorar no templo. Alguns desses peregrinos eram homens de grande piedade, e zelosos estudantes das profecias. Suspiravam pelo advento do prometido Messias, a esperança de Israel. Enquanto Jerusalém estava cheia desses estrangeiros, os apóstolos pregavam a Cristo com indômita coragem, embora soubessem que assim procedendo estariam expondo a vida a constantes perigos. O Espírito de Deus confirmava esses esforços; muitos se convertiam à fé; e esses, de volta a seus lares em diferentes partes do mundo, espalhavam as sementes da verdade através de todas as nações, e entre todas as classes da sociedade. AA 91 4 Entre os apóstolos que se empenhavam nesse trabalho encontravam-se preeminentemente Pedro, Tiago e João, os quais estavam convictos de que Deus os havia indicado para pregar a Cristo entre os seus compatriotas. Sábia e fielmente eles trabalhavam, testificando do que tinham visto e ouvido, e apelando para a "mui firme... palavra dos profetas" (2 Pedro 1:19, num esforço de persuadir "a casa de Israel)... que a esse Jesus, a quem" os judeus crucificaram, "Deus O fez Senhor e Cristo". Atos 2:36. ------------------------Capítulo 17 -- Arautos do evangelho AA 92 0 Este capítulo é baseado em Atos 13:4-52. AA 92 1 Enviados pelo Espírito Santo", Paulo e Barnabé, depois de sua ordenação pelos irmãos em Antioquia, "desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre". Atos 13:4. Assim começaram os apóstolos sua primeira viagem missionária. AA 92 2 Chipre era um dos lugares para onde os crentes tinham fugido de Jerusalém por causa da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão. Foi de Chipre que alguns homens tinham viajado para Antioquia, "anunciando o Senhor Jesus". Atos 11:20. O próprio Barnabé era "natural de Chipre" (Atos 4:36); e agora, ele e Paulo, acompanhados por João Marcos, parente de Barnabé, visitavam essa ilha. AA 92 3 A mãe de Marcos era uma convertida à religião cristã, e seu lar em Jerusalém era um abrigo para os discípulos. Ali estavam sempre certos de ser bem-vindos para ocasiões de repouso. Foi durante uma dessas visitas dos apóstolos ao lar da mãe de Marcos que este propôs a Paulo e Barnabé acompanhá-los em sua viagem missionária. Ele sentia o favor de Deus em seu coração, e almejava devotar-se inteiramente à obra do ministério evangélico. AA 92 4 Chegando a Salamina, os apóstolos "anunciavam a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. [...] E havendo atravessado a ilha até Pafos, acharam um certo judeu mágico, falso profeta, chamado Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, varão prudente. Este, chamando a si Barnabé e Saulo, procurava muito ouvir a Palavra de Deus. Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (que assim se interpreta o seu nome), procurando apartar da fé o procônsul". Atos 13:5-8. AA 92 5 Não é sem luta que Satanás permite ser o reino de Deus estabelecido na Terra. As forças do mal estão empenhadas em incessante luta contra os instrumentos indicados para disseminar o evangelho; e esses poderes das trevas são especialmente ativos quando a verdade é proclamada diante de homens de reputação e genuína integridade. Assim foi quando Sérgio Paulo, o procônsul de Chipre, estava ouvindo a mensagem do evangelho. O procônsul tinha solicitado a presença dos apóstolos, para ser instruído na mensagem que possuíam; e agora as forças do mal, operando por intermédio de Elimas, o encantador, procuravam com malignas sugestões desviá-lo da fé, e impedir assim o propósito de Deus. AA 92 6 Dessa maneira sempre trabalha o inimigo caído para conservar em suas fileiras homens de influência que, se convertidos, prestariam eficiente serviço à causa de Deus. Mas o fiel obreiro do evangelho não precisa temer o fracasso, pois é seu privilégio ser assistido com o poder do alto a fim de enfrentar cada satânica influência. AA 93 1 Embora penosamente assediado por Satanás, Paulo teve a coragem de repreender aquele por cujo intermédio o inimigo agia. "Cheio do Espírito Santo", o apóstolo "fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele, e, andando à roda buscava a quem o guiasse pela mão. Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor". Atos 13:9-12. AA 93 2 O mágico tinha cerrado os olhos às evidências da verdade do evangelho, e o Senhor, em justa indignação, fez que seus olhos naturais se fechassem, deles excluindo a luz do dia. Essa cegueira não foi permanente, mas apenas por certo período, a fim de que fosse advertido e se arrependesse, buscando o perdão de Deus a quem tão gravemente ofendera. A confusão em que assim foi lançado, tornou de nenhum efeito suas artes sutis contra a doutrina de Cristo. O fato de ter ele de andar apalpando, em sua cegueira, provou a todos que os milagres que os apóstolos haviam realizado, e que Elimas acusara de serem prestidigitações, haviam sido operados pelo poder de Deus. O procônsul, convencido da verdade da doutrina ensinada pelos apóstolos, aceitou o evangelho. AA 93 3 Elimas não era homem de cultura, no entanto, estava peculiarmente capacitado para fazer a obra de Satanás. Os que pregam a verdade de Deus encontrarão o astucioso inimigo por muitas diferentes formas. Algumas vezes, será na pessoa de um erudito, mas na maioria delas por intermédio de homens ignorantes, a quem Satanás treinou para se tornarem eficientes instrumentos para enganar as pessoas. É dever do ministro de Cristo permanecer fiel em seu posto, no temor de Deus e na força do Seu poder. Assim poderá ele pôr em confusão as hostes de Satanás e triunfar no nome do Senhor. AA 93 4 Paulo e seus companheiros continuaram viagem para Perge, na Panfília. Seu caminho era penoso; encontraram dificuldades e privações, e estavam cercados de perigos por todos os lados. Nas vilas e cidades por onde passavam, e ao longo das estradas desertas, estavam rodeados de perigos visíveis e invisíveis. Mas Paulo e Barnabé tinham aprendido a confiar no poder libertador de Deus. O coração deles estava cheio de fervente amor pelos pecadores. Como fiéis pastores na busca da ovelha perdida, não abrigavam o pensamento de facilidades ou conveniências próprias. Esquecidos de si mesmos, não fraquejavam quando cansados, famintos ou com frio. Eles tinham em vista um único objetivo -- a salvação dos que vagueavam distantes do redil. AA 94 1 Foi aqui que Marcos, dominado por temor e desânimo, hesitou por um momento em seu propósito de consagrar-se de todo o coração à obra do Senhor. Pouco habituado a sacrifícios, desanimaram-no os perigos e privações do caminho. Trabalhara com êxito sob circunstâncias favoráveis, mas agora, em meio a oposição e perigos que tantas vezes cercam o missionário pioneiro, não suportou as dificuldades como bom soldado da cruz. Devia aprender ainda a enfrentar valorosamente os perigos, perseguições e adversidades. À medida que os apóstolos avançavam, encontrando dificuldades cada vez maiores, Marcos intimidava-se, e perdendo todo o ânimo, recusou-se a prosseguir, retornando a Jerusalém. AA 94 2 Essa deserção fez com que Paulo julgasse por algum tempo desfavoravelmente a Marcos; severamente mesmo. Por outro lado, Barnabé se inclinava a desculpá-lo devido a sua inexperiência. Estava ansioso para que Marcos não abandonasse o ministério, pois nele via qualidades que o habilitariam para ser útil obreiro de Cristo. Anos depois, sua solicitude por Marcos foi ricamente recompensada; pois o jovem se entregou sem reservas ao Senhor e à tarefa de proclamar a mensagem do evangelho em campos difíceis. Sob a bênção de Deus e a sábia orientação de Barnabé, ele se tornou um valoroso obreiro. AA 94 3 Paulo se reconciliou mais tarde com Marcos, recebendo-o como colaborador. Recomendou-o também aos colossenses, como "cooperador no reino de Deus" e como tendo para ele "sido consolação". Colossences 4:11. Não muito tempo antes de sua morte, Paulo tornou a falar de Marcos como lhe sendo "muito útil para o ministério". 2 Timóteo 4:11. AA 94 4 Depois da partida de Marcos, Paulo e Barnabé visitaram Antioquia da Pisídia, e no sábado entraram na sinagoga judaica e se assentaram. "E, depois da lição da lei e dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da sinagoga: varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai" Convidado para falar, levantou-se "Paulo, e pedindo silêncio com a mão, disse: Varões israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi" Seguiu-se então um maravilhoso discurso. Ele começou por historiar a maneira como o Senhor havia tratado com os judeus desde o tempo de seu libertamento do cativeiro egípcio, e como fora prometido um Salvador, da semente de Davi. E ousadamente declarou que "da descendência deste, conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel; tendo primeiramente João, antes da vinda dEle, pregado a todo o povo de Israel o batismo do arrependimento. Mas João, quando completava a carreira, disse: Quem pensais vós que eu sou? Eu não sou o Cristo; mas eis que após mim vem Aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés" Assim, com poder ele pregou a Jesus como o Salvador, o Messias da profecia. AA 94 5 Depois de haver feito essa declaração, disse Paulo: "Varões irmãos, filhos da geração de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a vós vos é enviada a palavra desta salvação. Por não terem conhecido a Este, os que habitavam em Jerusalém, e os seus príncipes, condenaram-nO, cumprindo assim as vozes dos profetas que se lêem todos os sábados". Atos 13:13-27. AA 95 1 Paulo não hesitou em falar com clareza a verdade concernente à rejeição do Salvador pelos dirigentes judaicos. "E, embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto", declarou o apóstolo. "E, havendo eles cumprido todas as coisas que dEle estavam escritas, tirando-O do madeiro, O puseram na sepultura; mas Deus O ressuscitou dos mortos. E Ele por muitos dias foi visto pelos que subiram com Ele da Galiléia a Jerusalém, e são Suas testemunhas para com o povo". Atos 13:28-31. AA 95 2 "E nós vos anunciamos", continuou o apóstolo, "que a promessa que foi feita aos pais Deus a cumpriu, a nós, Seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo segundo: Meu Filho és Tu, hoje Te gerei. E que O ressuscitaria dos mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Pelo que também em outro salmo diz: Não permitirás que o Teu Santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, e foi posto junto de seus pais e viu a corrupção. Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu". Atos 13:32-37. AA 95 3 E então, tendo falado claramente do cumprimento de profecias familiares concernentes ao Messias, Paulo pregou-lhes o arrependimento e a remissão dos pecados mediante os méritos de Jesus, Salvador deles. "Seja-vos pois notório, varões irmãos", disse ele, "que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por Ele é justificado todo aquele que crê". Atos 13:38-39. AA 95 4 O Espírito de Deus acompanhou as palavras faladas e os corações foram tocados. O apelo dos apóstolos às profecias do Antigo Testamento, e sua declaração de que elas haviam sido cumpridas no ministério de Jesus de Nazaré, levaram a convicção muitas pessoas que suspiravam pelo advento do Messias prometido. As palavras de afirmação dos apóstolos, de que "as boas-novas" (Isaías 52:7) de salvação eram para judeus e gentios igualmente, trouxeram esperança e alegria a todos os que não haviam sido contados entre os filhos de Abraão segundo a carne. AA 95 5 "E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas" Tendo finalmente a congregação se dispersado, "muitos dos judeus e dos prosélitos religiosos", que tinham aceitado as boas-novas que lhes foram apresentadas naquele dia, "seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a que permanecessem na graça de Deus". Atos 13:42, 43. AA 95 6 O interesse despertado em Antioquia da Pisídia pelo discurso de Paulo, reuniu no "sábado seguinte... quase toda a cidade a ouvir a Palavra de Deus. Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja; e, blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia. AA 96 1 "Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: Era necessário que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios; porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da Terra" AA 96 2 "E os gentios, ouvindo isso, alegraram-se, e glorificavam a Palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna" Eles se rejubilaram grandemente de Jesus os reconhecer como filhos de Deus, e com coração grato atentavam à palavra pregada. Os que creram foram zelosos em comunicar a mensagem do evangelho a outros, e assim "a Palavra do Senhor se divulgava por toda aquela província". Atos 13:44-49. AA 96 3 Séculos antes, profetas haviam antecipado essa colheita de gentios; mas aquelas previsões proféticas tinham sido apenas obscuramente entendidas. Oséias havia dito: "Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois Meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo". Oséias 1:10. E outra vez: "E semeá-la-ei para Mim na terra, e compadecer-Me-ei de Lo-Ruama; e a Lo-Ami direi: Tu és Meu povo; e ele dirá: Tu és o meu Deus!" Oséias 2:23. O próprio Salvador, durante o Seu ministério terrestre, predisse a disseminação do evangelho entre os gentios. Na parábola da vinha Ele declarou aos impenitentes judeus: "O reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos". Mateus 21:43. E depois de Sua ressurreição, Ele comissionou os discípulos para irem "por todo o mundo" (Mateus 28:19), a ensinar "todas as nações" Não deviam deixar de advertir ninguém, mas deviam pregar "o evangelho a toda a criatura". Marcos 16:15. AA 96 4 Voltando-se para os gentios em Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé não deixaram de trabalhar pelos judeus de outras partes, onde quer que a oportunidade lhes deparasse ouvintes. Posteriormente, em Tessalônica, em Corinto, em Éfeso e em outros importantes centros, Paulo e seus companheiros de trabalho pregaram o evangelho tanto a judeus como a gentios. Mas suas maiores energias eram daí por diante dirigidas no sentido de estabelecer o reino de Deus em território gentílico, entre povos que tinham pouco ou nenhum conhecimento do verdadeiro Deus e de Seu Filho. AA 96 5 O coração de Paulo e seus associados no trabalho estava aberto em benefício dos que estavam "sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Efésios 2:12. Mediante a incansável ministração dos apóstolos aos gentios, os "estrangeiros e forasteiros", os "que antes [estavam] longe", aprenderam que "pelo sangue de Cristo", chegaram perto, e que pela fé em Seu sacrifício expiatório, podiam tornar-se "concidadãos dos santos, e da família de Deus". Efésios 2:13, 19. AA 97 1 Avançando pela fé, Paulo trabalhou sem cessar pela edificação do reino de Deus entre os que tinham sido negligenciados pelos mestres de Israel. Exaltava constantemente a Cristo Jesus como o "Rei dos reis, e Senhor dos senhores" (1 Timóteo 6:15), e exortava os crentes a permanecerem "arraigados e sobreedificados nEle, e confirmados na fé". Colossences 2:7. AA 97 2 Para os que crêem, Cristo é o firme Fundamento. Sobre essa Pedra viva podem edificar igualmente judeus e gentios. Ela é suficientemente grande para todos, e forte bastante para sustentar o peso e o fardo de todo o mundo. Este é um fato plenamente reconhecido pelo próprio Paulo. Nos dias finais de seu ministério, quando, dirigindo-se a um grupo de crentes gentios que tinham permanecido firmes em seu amor pela verdade do evangelho, o apóstolo escreveu: "Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal Pedra da esquina". Efésios 2:20. AA 97 3 Como a mensagem do evangelho se espalhasse na Pisídia, judeus incrédulos de Antioquia, em seu cego preconceito, "incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram" (Atos 13:50) fora daquele distrito. AA 97 4 Os apóstolos não ficaram desencorajados por esse tratamento; lembraram-se das palavras de seu Mestre: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós". Mateus 5:11, 12. AA 97 5 A mensagem do evangelho estava avançando, e os apóstolos tinham todo o motivo para sentir-se encorajados. Suas atividades entre os de Antioquia da Pisídia, tinham sido ricamente abençoadas, e os crentes a quem tinham deixado a conduzir a obra sozinhos por algum tempo, "estavam cheios de alegria e do Espírito Santo". Atos 13:52. ------------------------Capítulo 18 -- Pregando entre os gentios AA 98 0 Este capítulo é baseado em Atos 14:1-26. AA 98 1 De Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé foram para Icônio. Nesse lugar, como em Antioquia, começaram suas atividades na sinagoga de seu próprio povo. Tiveram assinalado sucesso; "creu uma grande multidão, não só de judeus mas de gregos" Mas em Icônio, como em outros lugares onde os apóstolos trabalharam, "os judeus incrédulos incitaram e irritaram, contra os irmãos, os ânimos dos gentios". Atos 14:1, 2. AA 98 2 Os apóstolos, entretanto, não recuaram de sua missão; pois muitos estavam aceitando o evangelho de Cristo. Enfrentando a oposição, inveja e preconceito foram eles avante com sua obra, "falando ousadamente acerca do Senhor"; e Deus "dava testemunho à palavra de Sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios". Atos 14:3. Essas evidências da aprovação divina tinham poderosa influência sobre aqueles cuja mente estava aberta à convicção, e multiplicavam-se os conversos ao evangelho. AA 98 3 A crescente popularidade da mensagem apresentada pelos apóstolos encheu de inveja e ódio os judeus incrédulos e eles determinaram fazer cessar de uma vez os trabalhos de Paulo e Barnabé. Por meio de relatos falsos e exagerados, levaram as autoridades a temer que toda a cidade estivesse em perigo de ser incitada a uma insurreição. Declararam que grande número se estava aliando aos apóstolos, e sugeriram que havia nisso desígnios secretos e perigosos. AA 98 4 Em conseqüência dessas acusações, os discípulos eram repetidamente levados perante as autoridades; mas sua defesa era tão clara e singela, e tão calma e compreensível sua afirmação daquilo que estavam ensinando, que forte influência era exercida em seu favor. Embora os magistrados estivessem prevenidos contra eles pelas falsas afirmações ouvidas, não ousavam condená-los. Tinham de reconhecer que os ensinos de Paulo e Barnabé tendiam a formar homens virtuosos, cidadãos leais, e que a moral e a ordem da cidade seriam melhoradas se fossem aceitas as verdades ensinadas pelos apóstolos. AA 98 5 Por intermédio da oposição que os discípulos enfrentavam, a mensagem da verdade ganhava grande publicidade; os judeus viam que seus esforços para impedir a obra dos novos ensinadores resultava apenas em acrescentar maior número de adeptos à nova fé. "E dividiu-se a multidão da cidade; e uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos". Atos 14:4. AA 99 1 Tão enraivecidos ficaram os líderes judeus pelo rumo que as coisas estavam tomando que decidiram alcançar seu objetivo pela violência. Estimulando as piores paixões da massa ignorante e barulhenta, foram felizes em provocar um motim, atribuindo-o aos ensinos dos discípulos. Com essa falsa acusação esperavam ganhar o auxílio dos magistrados na realização de seu propósito. Estavam determinados a que os apóstolos não tivessem oportunidade de se defenderem, interferindo a turba e apedrejando a Paulo e a Barnabé, pondo assim um fim a suas atividades. AA 99 2 Amigos dos apóstolos, embora incrédulos, advertiram-nos dos maldosos desígnios dos judeus, e suplicaram-lhes que não se expusessem desnecessariamente à fúria da turba, mas fugissem para salvar a vida. Concordando, Paulo e Barnabé partiram secretamente de Icônio, deixando os crentes a promoverem a obra sozinhos por algum tempo. Mas de maneira nenhuma saíam em definitivo; haviam proposto retornar, após acalmada a agitação, para completar a obra iniciada. AA 99 3 Em cada século e em cada região, os mensageiros de Deus têm sido chamados a enfrentar amarga oposição dos que deliberadamente escolhem rejeitar a luz do Céu. Não raro, pela mistificação e falsidade, têm os inimigos do evangelho aparentemente triunfado, cerrando assim as portas por onde os mensageiros de Deus poderiam ter acesso ao povo. Mas essas portas não podem permanecer para sempre fechadas; e, muitas vezes, ao voltarem os servos de Deus para reassumir suas atividades, o Senhor tem atuado poderosamente em favor deles, habilitando-os a estabelecer monumentos para a glória de Seu nome. AA 99 4 Expulsos de Icônio pela perseguição, os apóstolos foram para Listra e Derbe, na Licaônia. Essas cidades eram habitadas principalmente por um povo supersticioso e pagão, mas havia entre eles alguns dispostos a ouvir a mensagem do evangelho e aceitá-la. Nesses lugares e arredores os apóstolos decidiram trabalhar, esperando escapar ao preconceito e perseguição dos judeus. AA 99 5 Em Listra não havia sinagoga judaica, embora vivessem na cidade uns poucos judeus. Muitos dos habitantes de Listra adoravam num templo dedicado a Júpiter. Quando Paulo e Barnabé apareceram na cidade, e, congregando os habitantes do local em torno deles, explanaram as verdades simples do evangelho. Muitos procuraram relacionar essas doutrinas com suas supersticiosas crenças na adoração de Júpiter. AA 99 6 Os apóstolos se esforçaram para comunicar a esses idólatras o conhecimento de Deus, o Criador, e de Seu Filho, o Salvador do gênero humano. Chamaram, primeiramente, a atenção deles, para as obras maravilhosas de Deus -- o Sol, a Lua e as estrelas, a bela ordem das sucessivas estações, as poderosas montanhas coroadas de neve, as majestosas árvores, e várias outras maravilhas da natureza, as quais testemunham uma capacidade além da compreensão humana. Mediante essas obras do Todo-poderoso, levaram os apóstolos o espírito dos gentios à contemplação do grande Governador do Universo. AA 100 1 Havendo tornado claras as verdades fundamentais concernentes ao Criador, falaram os apóstolos aos habitantes de Listra a respeito do Filho de Deus, que veio do Céu ao nosso mundo por haver amado os filhos dos homens. Falaram de Sua vida e ministério, Sua rejeição por parte daqueles a quem veio salvar, Seu julgamento e crucifixão, ressurreição e ascensão ao Céu, para aí atuar como advogado do homem. Assim, no Espírito e no poder de Deus, Paulo e Barnabé pregaram o evangelho em Listra. AA 100 2 Uma ocasião, estando Paulo a falar ao povo das obras de Cristo como de Alguém que curava os enfermos e sofredores, viu entre seus ouvintes um coxo, cujos olhos estavam nele fixos, e que recebia suas palavras e nelas cria. O coração de Paulo encheu-se de simpatia para com o doente, em quem percebeu alguém "que tinha fé para ser curado". Atos 14:9. Em presença da idólatra assembléia, Paulo ordenou ao coxo que se pusesse de pé. Até então, o coxo não podia fazer mais que assentar-se; mas obedeceu instantaneamente à ordem de Paulo e, pela primeira vez em sua vida, se pôs de pé. Com esse esforço de fé lhe vieram as forças, e aquele que havia sido coxo "andou e saltou". Atos 14:10. AA 100 3 "E as multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a sua voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós" Essa afirmação estava em harmonia com sua tradição de que os deuses ocasionalmente visitavam a Terra. Barnabé foi chamado Júpiter, o pai dos deuses, por causa de sua venerável aparência, sua digna compostura e a suavidade e benevolência expressas em seu semblante. Paulo criam eles ser Mercúrio, "porque este era o que falava" (Atos 14:11, 12), fervoroso, ativo e eloqüente em palavras de advertência e exortação. AA 100 4 Os listrianos, ansiosos de mostrar sua gratidão, apelaram ao sacerdote de Júpiter para honrar os apóstolos; e ele, "trazendo para a entrada da porta touros e grinaldas, queria com a multidão sacrificar-lhes". Atos 14:13. Paulo e Barnabé, que se haviam retirado para repouso, não foram advertidos desses preparativos. Logo, porém, sua atenção foi despertada pelo som da música e brados entusiásticos de uma grande multidão que se aproximava da casa onde estavam hospedados. AA 100 5 Quando os apóstolos se certificaram da causa da visita e do motivo de tal agitação, "rasgaram os seus vestidos, e saltaram para o meio da multidão", na esperança de evitar novas demonstrações. Clamando, com voz que se sobrepunha aos vivas do povo, Paulo captou-lhes a atenção; e cessando subitamente o tumulto, disse: "Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a Terra, e o mar, e tudo quanto há neles; o qual nos tempos passados deixou andar todas as gentes em seus próprios caminhos. E contudo, não Se deixou a Si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do Céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações". Atos 14:14-17. AA 101 1 Não obstante a positiva afirmação dos apóstolos de que não eram divinos, e não obstante ainda os esforços de Paulo para dirigir-lhes a mente para o verdadeiro Deus como o único objeto digno de adoração, foi quase impossível desviar os pagãos de seu intento de oferecer sacrifícios. Tão firme tinha sido sua crença de que esses homens eram, sem dúvida, deuses, e tão grande seu entusiasmo, que estavam relutantes em reconhecer seu erro. Diz o relato que eles foram impedidos "com dificuldade". Atos 14:18. AA 101 2 Arrazoavam os habitantes de Listra, que eles haviam contemplado com os próprios olhos o miraculoso poder exercido pelos apóstolos; que haviam visto um coxo que nunca antes andara, rejubilar-se em perfeita saúde e força. Foi somente após muita persuasão da parte de Paulo, e cuidadosa explicação de sua própria missão e de Barnabé como sendo representantes do Deus do Céu e de Seu Filho, o grande Médico, que o povo foi persuadido a abandonar seu propósito. AA 101 3 As atividades de Paulo e Barnabé em Listra, foram subitamente reprimidas pela maldade de "uns judeus de Antioquia e de Icônio" (Atos 14:18) que, ouvindo do sucesso do trabalho dos apóstolos entre os licaônios, tinham determinado ir-lhes no encalço e persegui-los. Chegando a Listra, esses judeus logo alcançaram êxito em inspirar o povo com o mesmo amargo espírito que atuava em suas próprias mentes. Com palavras de mistificação e calúnia, os que recentemente haviam considerado a Paulo e Barnabé como seres divinos, foram convencidos de que, na realidade, os apóstolos eram piores que assassinos, e dignos de morte. AA 101 4 O desapontamento sofrido pelos listrianos por lhes ter sido recusado o privilégio de oferecer sacrifícios aos apóstolos, preparou-os para se voltarem contra Paulo e Barnabé com um entusiasmo aproximado ao mesmo com que os tinham honrado como deuses. Incitados pelos judeus, planejaram atacar os apóstolos pela força. Os judeus admoestaram-nos a que não dessem a Paulo a oportunidade de falar, alegando que se lhe fosse permitido esse privilégio, ele poderia enfeitiçar o povo. AA 101 5 Logo os desígnios homicidas dos inimigos do evangelho foram executados. Rendendo-se à influência do mal, os listrianos tornaram-se possuídos de satânica fúria, e apoderando-se de Paulo o apedrejaram sem misericórdia. O apóstolo imaginou que havia chegado seu fim. O martírio de Estêvão, e a parte cruel que ele desempenhara na ocasião, lhe vieram vividamente ao espírito. Coberto de feridas e desfalecido de dor, ele caiu, e a turba enfurecida o arrastou "para fora da cidade, cuidando que estava morto". Atos 14:19. AA 102 1 Nessa hora escura e de prova, o grupo de crentes de Listra, convertidos por Paulo e Barnabé à fé de Jesus, permaneceu firme e leal. A oposição absurda e a cruel perseguição por parte de seus inimigos serviram apenas para confirmar a fé desses devotados irmãos; e agora, em face do perigo e escárnio, mostraram sua lealdade reunindo-se com tristeza ao redor daquele que supunham estar morto. AA 102 2 Qual não foi sua surpresa, quando, em meio a seus lamentos, o apóstolo subitamente levantou a cabeça e se ergueu, com o louvor de Deus nos lábios. Para os crentes, essa inesperada restauração do servo de Deus era considerada como milagre do poder divino, e parecia ser o selo do Céu sobre sua mudança de crença. Rejubilaram-se com inexprimível alegria, e louvaram a Deus com renovada fé. AA 102 3 Entre os que se haviam convertido em Listra, e que eram testemunhas oculares dos sofrimentos de Paulo, se achava alguém que se havia de tornar mais tarde preeminente obreiro de Cristo, e devia partilhar com o apóstolo as provas e alegrias do serviço pioneiro em campos difíceis. Era um jovem chamado Timóteo. Quando Paulo foi arrastado para fora da cidade, esse jovem discípulo estava entre os que se puseram ao lado de seu corpo aparentemente sem vida, e que o viram erguer-se ferido e coberto de sangue, mas com louvores nos lábios por lhe haver sido permitido sofrer por amor de Cristo. AA 102 4 No dia seguinte ao apedrejamento de Paulo, os apóstolos partiram para Derbe, onde seu trabalho foi abençoado e muitas pessoas foram levadas a aceitar a Cristo como o Salvador. Mas "tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos", nem Paulo nem Barnabé estavam dispostos a iniciar trabalho em outra parte sem confirmar a fé dos conversos que eram forçados a deixar sozinhos por algum tempo, nos lugares onde tinham recém trabalhado. E assim, sem esmorecer diante dos perigos, "voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé". Atos 14:21, 22. Muitos haviam aceitado as alegres novas do evangelho e expuseram-se ao opróbrio e oposição. A esses procurou o apóstolo firmar na fé, para que a obra pudesse subsistir. AA 102 5 Como importante fator no crescimento espiritual dos novos conversos, os apóstolos tiveram o cuidado de cercá-los com a salvaguarda da ordem evangélica. As igrejas eram devidamente organizadas em todos os lugares da Licaônia e da Pisídia onde houvesse crentes. Eram indicados oficiais para cada igreja, e ordem e sistema próprios eram estabelecidos para que se conduzissem todas as atividades pertinentes ao bem-estar espiritual dos crentes. AA 102 6 Isso estava em harmonia com o plano evangélico de unir num só corpo todos os crentes em Cristo, e esse plano devia Paulo seguir cuidadosamente através de seu ministério. Aqueles que, em qualquer lugar, eram por seu testemunho levados a aceitar a Cristo como o Salvador, eram, a seu devido tempo, organizados em igreja. Mesmo que fossem poucos os crentes era feito assim. Os cristãos eram dessa maneira ensinados a se ajudarem mutuamente, recordando a promessa: "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles". Mateus 18:20. AA 103 1 E Paulo não esquecia as igrejas assim estabelecidas. O cuidado dessas igrejas ficava em sua mente como uma preocupação sempre maior. Não importava quão pequeno fosse um grupo, era não obstante objeto de sua constante solicitude. Ele cuidava ternamente das pequenas igrejas, sentindo que elas estavam em necessidade de especial cuidado, para que os membros pudessem ser inteiramente firmados na verdade e ensinados a fazer esforços fervorosos e altruístas pelos que lhes estavam ao redor. AA 103 2 Em todos os seus esforços missionários, Paulo e Barnabé procuravam seguir o exemplo de Cristo, com sacrifício voluntário e trabalho fiel e ardoroso em prol das pessoas. Despertos, zelosos e incansáveis, não consultavam as inclinações ou a comodidade pessoal, mas com uma ansiedade acompanhada de orações, e atividade incessante, semeavam a semente da verdade. E, com o semear da semente, os apóstolos tinham muito cuidado em proporcionar a todos os que tomavam posição ao lado do evangelho, instruções práticas de indizível valia. Esse espírito de fervor e de temor piedoso produziu nos novos discípulos uma impressão duradoura com relação à importância da mensagem do evangelho. AA 103 3 Quando homens promissores e hábeis se convertiam, como no caso de Timóteo, Paulo e Barnabé procuravam zelosamente mostrar-lhes a necessidade de trabalhar na vinha. E, quando os apóstolos partiam para outro lugar, a fé daqueles homens não vacilava, antes aumentava. Haviam sido fielmente instruídos no caminho do Senhor, e se lhes ensinara como trabalhar abnegadamente, com fervor e perseverantemente pela salvação de seus semelhantes. Essa cuidadosa instrução aos novos conversos era um importante fator no êxito notável que acompanhava Paulo e Barnabé, pregando eles o evangelho nas terras gentílicas. AA 103 4 A primeira viagem missionária estava rapidamente chegando ao fim. Encomendando ao Senhor as igrejas recém-organizadas, os apóstolos foram para Panfília, "e, tendo anunciado a Palavra em Perge, desceram a Atália e dali navegaram para Antioquia". Atos 14:26. ------------------------Capítulo 19 -- Judeus e gentios AA 104 0 Este capítulo é baseado em Atos 15:1-35. AA 104 1 Havendo chegado à Antioquia da Síria, de onde haviam saído para a sua missão, Paulo e Barnabé aproveitaram logo uma oportunidade para reunir os crentes a fim de contar-lhes "quão grandes coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios a porta da fé". Atos 14:27. A igreja de Antioquia era grande e próspera. Centro de atividade missionária, era uma das mais importantes entre os grupos de cristãos. Sua congregação era composta de pessoas de diferentes classes, tanto de judeus como de gentios. AA 104 2 Enquanto os apóstolos se uniam aos ministros e membros leigos em Antioquia, num fervoroso esforço para ganhar conversos para Cristo, alguns crentes judeus, vindos da Judéia, "da seita dos fariseus" (Atos 15:5), conseguiram introduzir uma questão que em breve levou a grande controvérsia na igreja, produzindo consternação nos crentes gentílicos. Com grande segurança esses mestres judaizantes afirmavam que, para ser salvo, era preciso ser circuncidado e observar toda a lei cerimonial. AA 104 3 Paulo e Barnabé enfrentaram com prontidão essas falsas doutrinas, e se opuseram à introdução do assunto aos gentios. Por outro lado, muitos crentes judeus de Antioquia favoreciam a posição dos irmãos recentemente vindos da Judéia. AA 104 4 Os conversos judeus não eram geralmente inclinados a mudar tão rapidamente quanto a providência de Deus abria o caminho. Do resultado do trabalho dos apóstolos entre os gentios, ficou evidente que os conversos dentre este último povo excederiam muito aos conversos judeus em número. Os judeus temiam que, se as restrições e cerimônias de sua lei não fossem tornadas obrigatórias aos gentios como condição para se tornarem membros da igreja, as peculiaridades nacionais dos judeus, que até então os tinham mantido como um povo distinto de todos os outros povos, desapareceriam finalmente dentre os que recebiam a mensagem do evangelho. AA 104 5 Os judeus se haviam sempre orgulhado de seu cerimonial de instituição divina; e muitos dos que se haviam convertido à fé de Cristo ainda sentiam que uma vez que Deus havia claramente esboçado a forma hebréia de adoração, era pouco provável que Ele tivesse autorizado uma mudança em quaisquer de suas especificações. Insistiam em que as leis e cerimônias judaicas deviam ser incorporadas aos ritos da religião cristã. Eram tardos em discernir que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho de Deus, em que o tipo encontrou o antítipo, depois do que os ritos e cerimônia da dispensação mosaica não mais deviam perdurar. AA 105 1 Antes de sua conversão, Paulo se havia considerado irrepreensível "segundo a justiça que há na lei". Filipenses 3:6. Mas, desde sua mudança de coração, ele havia alcançado uma clara concepção da missão do Salvador como Redentor da raça toda, judeus e gentios, e aprendera a diferença entre uma fé viva e um formalismo morto. À luz do evangelho, os antigos ritos e cerimônias confiados a Israel haviam ganho uma nova e mais profunda significação. Aquilo que haviam prefigurado tinha-se cumprido, e os que estavam vivendo sob a dispensação do evangelho tinham ficado livres de sua observância. A imutável lei de Deus, dos Dez Mandamentos, entretanto, Paulo ainda guardava no espírito bem como na letra. Na igreja de Antioquia, a consideração do assunto da circuncisão deu em resultado muitas discussões e litígio. Afinal, os membros da igreja, temendo que o resultado de continuada discussão fosse uma divisão entre eles, decidiram enviar a Jerusalém Paulo e Barnabé, juntamente com alguns homens de responsabilidade na igreja, a fim de exporem a questão perante os apóstolos e anciãos. Ali deviam eles encontrar-se com delegados de diversas igrejas e com os que tinham ido a Jerusalém para assistir às próximas festas. Enquanto isso, toda a discussão devia cessar até que fosse pronunciada a decisão do concílio geral. Essa decisão devia ser, então, universalmente aceita pelas várias igrejas em todo o país. AA 105 2 Em caminho para Jerusalém, os apóstolos visitaram os crentes das cidades por onde passavam e encorajavam-nos relatando sua experiência na obra de Deus e na conversão dos gentios. AA 105 3 Em Jerusalém, os delegados de Antioquia se encontraram com os irmãos das várias igrejas, que se haviam congregado para a reunião geral; e a estes relataram os sucessos que seu ministério entre os gentios haviam alcançado. Deram-lhes, então, um claro esboço da confusão que resultara porque certos fariseus convertidos tinham ido a Antioquia declarando que, para serem salvos, os conversos gentios precisavam ser circuncidados e deviam guardar a lei de Moisés. AA 105 4 Essa questão foi ardorosamente debatida na assembléia. Em íntima relação com o assunto da circuncisão estavam vários outros que demandavam cuidadoso estudo. Um deles era quanto à atitude a ser tomada com respeito a carnes sacrificadas a ídolos. Muitos dos gentios convertidos estavam vivendo entre pessoas ignorantes e supersticiosas, que faziam freqüentes sacrifícios e ofertas a ídolos. Os sacerdotes desse culto pagão mercadejavam extensamente com ofertas a eles trazidas; e os judeus temiam que os gentios conversos pudessem levar descrédito ao cristianismo comprando aquilo que tinha sido sacrificado aos ídolos, sancionando assim, em certa medida, costumes idólatras. AA 106 1 Além disso, os gentios estavam acostumados a comer a carne de animais estrangulados, aos passo que os judeus tinham sido divinamente instruídos de que, quando animais fossem mortos para alimento, se tomasse particular cuidado para que o sangue fosse derramado do corpo; a não ser assim a carne não poderia ser considerada saudável. Deus havia dado essas injunções aos judeus a fim de preservar-lhes a saúde. Os judeus consideravam pecaminoso usar sangue como alimento. Consideravam que o sangue era a vida, e que o derramamento do sangue era conseqüência do pecado. AA 106 2 Os gentios, ao contrário, costumavam aparar o sangue derramado da vítima sacrifical e usá-lo na preparação de alimento. Os judeus não podiam crer que estivessem obrigados a mudar de costumes que haviam adotado sob a especial direção de Deus. Portanto, como as coisas, então, se apresentavam, se um judeu e um gentio se assentassem à mesma mesa para comer, o primeiro se consideraria ofendido e ultrajado pelo último. AA 106 3 Os gentios, e especialmente os gregos, eram extremamente liberais, e havia o perigo de que alguns, não convertidos de coração, fizessem uma profissão de fé sem renunciar as suas más práticas. Os cristãos judeus não podiam tolerar a imoralidade, que nem mesmo era considerada crime pelos pagãos. Os judeus, portanto, consideravam necessário que a circuncisão e a observância da lei cerimonial fossem impostas aos conversos gentios como um teste de sua sinceridade e devoção. Isso, criam eles, poderia impedir que se aliassem à igreja os que, adotando a fé sem verdadeira conversão, pudessem, mais tarde, trazer opróbrio sobre a causa por imoralidade e excesso. AA 106 4 Pelos vários pontos envolvidos na regulamentação da principal questão em jogo, parecia que o concílio estava diante de dificuldades insuperáveis. Mas o Espírito Santo já havia, em realidade, solucionado essa questão, de cuja decisão dependeria a prosperidade, senão a própria existência da igreja cristã. AA 106 5 "E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem". Atos 15:7. Ele arrazoou que o Espírito Santo havia decidido o assunto em discussão ao descer com igual poder sobre os gentios incircuncisos e sobre os judeus circuncidados. Rememorou a visão em que Deus apresentara perante ele um lençol cheio de toda a espécie de quadrúpedes, e lhe ordenara matar e comer. Recusando ele, com a afirmação de que jamais comera coisa comum ou imunda, a resposta fora: "Não faças tu comum ao que Deus purificou". Atos 10:15. AA 106 6 Pedro relatou a clara interpretação dessas palavras, a qual lhe fora dada quase em seguida à notificação de ir ter com o centurião para instruí-lo na fé cristã. Essa mensagem mostrava que Deus não faz acepção de pessoas, mas aceita e reconhece a quantos O temem. Pedro falou de seu assombro quando, ao transmitir as palavras da verdade àquela assembléia em casa de Cornélio, testemunhara que o Espírito Santo Se apossara de seus ouvintes, tanto gentios como judeus. A mesma luz e glória que se refletira sobre os judeus circuncidados, brilhou igualmente na face dos incircuncisos gentios. Isso era uma advertência de Deus a Pedro para que não considerasse pessoa alguma inferior a outra; porque o sangue de Cristo pode limpar de toda a imundícia. AA 107 1 Em ocasião anterior, Pedro havia arrazoado com seus irmãos com respeito à conversão de Cornélio e seus amigos, e sua comunhão com eles. Ao relatar nessa ocasião como o Espírito Santo descera sobre os gentios declarara: "Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quanto havemos crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?" Atos 11:17. Agora, com igual fervor e força, ele afirma: "E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?" Atos 15:10. Esse jugo não era a lei dos Dez Mandamentos, como afirmam alguns que se opõem aos reclamos da lei; Pedro se refere aqui à lei das cerimônias, tornada nula e vã pela crucifixão de Cristo. AA 107 2 O discurso de Pedro levou a assembléia ao ponto de poderem ouvir com paciência a Paulo e a Barnabé relatarem suas experiências na obra pelos gentios. "Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios". Atos 15:12. Tiago também apresentou seu testemunho com decisão, declarando que era o propósito de Deus outorgar ao gentios os mesmos privilégios e bênçãos concedidos aos judeus. AA 107 3 Ao Espírito Santo pareceu bem não impor aos gentios conversos a lei cerimonial, e o parecer dos apóstolos a esse respeito foi como o do Espírito de Deus. Tiago presidiu ao concílio, e sua decisão final foi: "Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus" AA 107 4 Isso pôs fim à discussão. Nesse exemplo, temos a refutação da doutrina mantida pela Igreja Católica Romana de que Pedro era a cabeça da igreja. Os que, como papas, têm pretendido ser seus sucessores, não encontram fundamento escriturístico para suas pretensões. Coisa alguma na vida de Pedro concorda com a afirmativa de que ele fora colocado acima de seus irmãos como representante do Altíssimo. Se os que são considerados sucessores de Pedro tivessem seguido seu exemplo, ter-se-iam contentado sempre com ser iguais a seus irmãos. AA 107 5 Nessa ocasião, parece ter sido escolhido Tiago para anunciar a decisão tomada pelo concílio. E sua sentença foi que a lei cerimonial, e especialmente a ordenança da circuncisão, não deveriam ser impostas aos gentios, ou a eles sequer recomendadas. Tiago procurou impressionar a mente de seus irmãos com o fato de que, convertidos a Deus, os gentios tinham feito grande mudança em sua vida, e que se deveria usar de muita cautela para não perturbá-los com assuntos de menor importância, que levantariam dúvidas e perplexidade, para que não desanimassem em seguir a Cristo. AA 108 1 Os conversos gentios, porém, deviam abandonar os costumes incoerentes com os princípios do cristianismo. Os apóstolos e anciãos, portanto, concordaram em instruir por carta os gentios a se absterem de carnes sacrificadas aos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Deviam ser ensinados a guardar os mandamentos e a levar vida santa. Deviam também estar certos de que os que declaravam ser a circuncisão obrigatória não estavam autorizados a fazê-lo em nome dos apóstolos. AA 108 2 Paulo e Barnabé eram-lhes recomendados como pessoas que haviam arriscado a vida pelo Senhor. Judas e Silas foram enviados com esses apóstolos para declarar aos gentios de viva voz a decisão do concílio. "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; das quais coisas fazeis bem se vos guardardes". Atos 15:28, 29. Os quatro servos de Deus foram enviados a Antioquia com a epístola e a mensagem que devia pôr fim a toda controvérsia; porque era a voz da mais alta autoridade sobre a Terra. AA 108 3 O concílio que decidiu esse caso era composto dos apóstolos e mestres que se haviam destacado no trabalho de fundar igrejas cristãs judaicas e gentias, juntamente com delegados escolhidos de vários lugares. Estavam presentes anciãos de Jerusalém e delegados de Antioquia, e as igrejas mais influentes estavam representadas. O concílio se conduziu de acordo com os ditames de iluminado juízo e com a dignidade de uma igreja estabelecida pela vontade divina. Como resultado de suas deliberações, todos eles viram que o próprio Deus dera resposta à questão, concedendo aos gentios o Espírito Santo; e sentiram que era sua parte seguir a orientação do Espírito. AA 108 4 Não foram convocados todos os crentes para votarem sobre a questão. Os "apóstolos e anciãos" (Atos 15:23), homens de influência e bom senso, redigiram e expediram a resolução, que foi logo aceita pelas igrejas cristãs. Nem todos, entretanto, ficaram contentes com a decisão; havia uma facção de irmãos ambiciosos e possuídos de presunção que a desaprovaram. Esses homens pretensiosamente tomaram a decisão de se empenhar na obra sob a própria responsabilidade. Entregaram-se a muita murmuração e crítica, propondo novos planos e procurando desfazer a obra dos homens a quem Deus ordenara que ensinassem a mensagem do evangelho. Desde o início teve a igreja tais obstáculos a enfrentar, e há de tê-los até a consumação do tempo. AA 109 1 Jerusalém era a metrópole dos judeus, e era ali que se encontravam o maior exclusivismo e intolerância. Os cristãos judeus, vivendo próximos do templo, naturalmente permitiam voltar a mente aos privilégios peculiares dos judeus como nação. Quando viram a igreja cristã se afastando das cerimônias e tradições do judaísmo, e perceberam que a peculiar santidade de que os costumes judeus eram revestidos seria logo perdida de vista à luz da nova fé, muitos se mostraram indignados com Paulo como sendo a pessoa que, em grande medida, havia provocado essa mudança. Até mesmo os discípulos não estavam todos preparados para aceitar de boa vontade a decisão do concílio. Alguns eram zelosos com relação à lei cerimonial, e discordavam de Paulo, pois pensavam que eram frouxos seus princípios referentes às obrigações da lei judaica. AA 109 2 As decisões amplas e de grande alcance do concílio geral levaram confiança aos crentes gentios e a causa de Deus prosperou. Em Antioquia, a igreja foi favorecida com a presença de Judas e Silas, os mensageiros especiais que, da reunião em Jerusalém, tinham voltado com os apóstolos. Sendo "também Judas e Silas profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras". Atos 15:32. Esses homens piedosos se detiveram em Antioquia por algum tempo. "E Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a Palavra do Senhor". Atos 15:35. AA 109 3 Quando Pedro, posteriormente, visitou Antioquia, captou a confiança de muitos por sua conduta prudente para com os conversos gentios. Por algum tempo, ele agiu de acordo com a luz dada pelo Céu. Dominou seu natural preconceito até o ponto de sentar-se à mesa com os conversos gentios. Mas quando certos judeus zelosos da lei cerimonial vieram de Jerusalém, Pedro mudou inesperadamente o seu procedimento para com os conversos do paganismo. Alguns "judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação". Gálatas 2:13. Essa revelação de fraqueza da parte daqueles que haviam sido respeitados e amados como dirigentes, produziu dolorosa impressão na mente dos crentes gentios. A igreja foi ameaçada de divisão. Mas Paulo, que viu a subversiva influência do erro praticado para com a igreja pela duplicidade de atitude da parte de Pedro, reprovou-o abertamente por dissimular assim seus verdadeiros sentimentos. Na presença da igreja, Paulo argüiu a Pedro: "Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?" Gálatas 2:14. AA 109 4 Pedro viu o erro em que havia caído, e procurou imediatamente reparar, tanto quanto possível, o mal que causara. Deus, que conhece o fim desde o princípio, permitiu que Pedro revelasse essa fraqueza de caráter, para que o provado apóstolo visse nada haver em si de que se pudesse vangloriar. Mesmo os melhores homens, se entregues a si próprios, errarão no julgamento. Deus viu também que no tempo por vir, alguns seriam tão iludidos que atribuiriam a Pedro e seus pretensos sucessores as elevadas prerrogativas que só a Deus pertencem. E esse registro de fraqueza do apóstolo permanece como uma prova de sua falibilidade, e de que ele, de modo algum, esteve acima do nível dos outros apóstolos. AA 110 1 A história desse desvio dos retos princípios permanece como solene advertência a homens em posições de confiança na causa de Deus, para que não venham a fracassar na integridade mas se apeguem firmemente ao princípio. Quanto maiores forem as responsabilidades colocadas sobre o agente humano, e quanto mais amplas suas oportunidades para mandar e controlar, é certo que mais erros cometerá, se não seguir cuidadosamente o caminho do Senhor e trabalhar em harmonia com as decisões tomadas pelo corpo geral de crentes reunidos em concílio. AA 110 2 Depois de todas as faltas de Pedro; depois de sua queda e restauração, seu longo tempo de serviço, sua intimidade com Cristo, seu conhecimento da correta prática dos retos princípios do Salvador; depois de toda a instrução recebida, todos os dons, conhecimento e influência obtidos pela pregação e ensino da Palavra -- não é estranho que ele dissimulasse e evitasse os princípios do evangelho por temor dos homens, ou para captar a estima? Não é estranho que ele vacilasse no apego ao direito? Possa Deus dar a cada homem o reconhecimento de seu desamparo, sua incapacidade para guiar o próprio barco seguro e a salvo para o porto. AA 110 3 Em seu ministério, Paulo era muitas vezes compelido a permanecer sozinho. Ele fora especialmente ensinado por Deus, e não ousava fazer concessões que envolvessem princípios. Às vezes, o fardo era pesado, mas Paulo permanecia firme pelo direito. Ele considerava que a igreja não deve jamais ser colocada debaixo do controle do poder humano. AA 110 4 As tradições e idéias humanas não devem tomar o lugar da verdade revelada. O progresso da mensagem do evangelho não deve ser detido por preconceitos e preferências das pessoas, qualquer que seja sua posição na igreja. AA 110 5 Paulo dedicara sua vida e todas as suas habilidades ao serviço de Deus. Havia recebido as verdades do evangelho diretamente do Céu, e em todo o seu ministério mantivera vital ligação com os instrumentos celestiais. Tinha sido ensinado por Deus com respeito a impor encargos desnecessários aos cristãos gentios; assim, quando crentes judaizantes introduziram na igreja de Antioquia a questão da circuncisão, Paulo conhecia o pensamento do Espírito de Deus com respeito a tal ensino, e tomou decisão firme e inabalável, que libertou as igrejas de cerimônias e ritos judaicos. AA 110 6 Não obstante o fato de haver sido Paulo ensinado pessoalmente por Deus, não mantinha idéias irredutíveis de responsabilidade individual. Embora buscando de Deus a orientação direta, estava sempre pronto a reconhecer a autoridade contida no corpo de crentes unidos como igreja. Sentia a necessidade de aconselhar-se; e quando surgiam assuntos de importância, alegrava-se em poder apresentá-los perante a igreja, e em unir-se com os irmãos para buscar de Deus sabedoria para fazer decisões acertadas. Mesmo "os espíritos dos profetas", declarou ele, "estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos". 1 Coríntios 14:32, 33. Da mesma forma que Pedro, ele ensinava que todos unidos na qualidade de igreja deviam ser "sujeitos uns aos outros". 1 Pedro 5:5. ------------------------Capítulo 20 -- Exaltando a cruz AA 112 0 Este capítulo é baseado em Atos 15:36-41; 16:1-6. AA 112 1 Depois de haver gasto algum tempo ministrando em Antioquia, Paulo propôs a seu companheiro fazerem outra viagem missionária. "Tornemos a visitar nossos irmãos", disse ele a Barnabé, "por todas as cidades em que já anunciamos a Palavra do Senhor, para ver como estão". Atos 15:36. AA 112 2 Tanto Paulo como Barnabé tinham terno cuidado pelos que haviam aceitado recentemente a mensagem do evangelho sob seu ministério, e estavam ansiosos por vê-los uma vez mais. Paulo jamais perdeu essa solicitude. Mesmo quando em campos missionários distantes, longe do cenário de suas primeiras atividades, continuava a levar sobre o coração a responsabilidade de animar esses conversos a permanecerem fiéis, "aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. Constantemente, procurava ajudá-los a se tornarem cristãos confiantes e desenvolvidos, fortes na fé, ardentes no zelo e de coração inteiro na consagração a Deus e à obra de ampliar Seu reino. AA 112 3 Barnabé estava pronto a ir com Paulo, mas desejava que levassem Marcos, o qual decidira de novo devotar-se ao ministério. Paulo foi contra. Parecia-lhe "razoável que não tomassem consigo aquele que" durante sua primeira viagem missionária tinha-os deixado em tempo de necessidade. Ele não estava inclinado a desculpar a fraqueza de Marcos em desertar da obra pela segurança e conforto do lar. Insistia que alguém de tão pouca fibra não estava habilitado para uma obra que requeria paciência, altruísmo, bravura, devoção, fé e disposição para sacrificar, se necessário, a própria vida. Tão forte foi a contenda, que Paulo e Barnabé se separaram, seguindo este suas convicções e tomando consigo a Marcos. "Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos, à graça de Deus". Atos 15:38-40. AA 112 4 Viajando através da Síria e Cilícia, onde fortaleciam as igrejas, Paulo e Silas alcançaram por fim Derbe e Listra, na província de Licaônia. Foi em Listra que Paulo fora apedrejado, no entanto, vamos encontrá-lo de novo no cenário onde passara o perigo anterior. Ele estava ansioso por ver como os que haviam aceitado o evangelho por meio de seus esforços estavam enfrentando o teste das provações. Não ficou desapontado; verificou que os crentes listrianos tinham permanecido firmes em face de violenta oposição. AA 113 1 Ali, Paulo tornou a encontrar Timóteo, que havia testemunhado seus sofrimentos ao final de sua primeira visita a Listra, e em cuja mente a impressão então feita tinha-se aprofundado com o passar do tempo, até que se convenceu de que era seu dever entregar-se inteiramente à obra do ministério. Seu coração estava unido ao coração de Paulo, e ele ansiava compartilhar das atividades do apóstolo, ajudando na medida das oportunidades. AA 113 2 Silas, companheiro de trabalho de Paulo, era um obreiro experimentado, dotado com o dom de profecia; mas a obra a ser feita era tão grande que foi necessário preparar mais obreiros para o serviço ativo. Em Timóteo, Paulo viu alguém que apreciava a santidade da obra de um pastor; que não se atemorizava ante a perspectiva de sofrimento e perseguição; que estava pronto a ser ensinado. Todavia, o apóstolo não se arriscou a tomar a responsabilidade de exercitar Timóteo, jovem não provado, para o ministério evangélico, sem primeiro certificar-se plenamente quanto a seu caráter e vida passada. AA 113 3 O pai de Timóteo era grego, e a mãe judia. Desde criança, ele conhecia as Escrituras. A piedade que ele presenciara em sua vida doméstica era sã e sensata. A confiança de sua mãe e de sua avó nos sagrados oráculos, lembravam-lhe continuamente as bênçãos que há em fazer a vontade de Deus. A Palavra de Deus era a regra pela qual essas duas piedosas mulheres haviam guiado Timóteo. O poder espiritual das lições que delas recebera conservou-o puro na linguagem, e incontaminado pelas más influências de que se achava rodeado. Assim, a instrução recebida através do lar havia cooperado com Deus em prepará-lo para assumir responsabilidades. AA 113 4 Paulo viu que Timóteo era fiel, firme e leal, e escolheu-o como companheiro de trabalho e de viagem. Os que haviam ensinado Timóteo na infância foram recompensados com vê-lo, ao filho de seu cuidado, ligado em íntima associação com o grande apóstolo. Timóteo era um simples jovem quando foi escolhido por Deus para ser um ensinador; mas seus princípios tinham sido tão estabelecidos por sua educação dos primeiros anos, que ele estava apto a ocupar seu lugar como auxiliar de Paulo. E embora jovem, levou suas responsabilidades com humildade cristã. AA 113 5 Como medida acauteladora, Paulo aconselhou prudentemente a Timóteo a que se circuncidasse -- não que Deus o exigisse, mas a fim de tirar do espírito dos judeus aquilo que poderia servir de objeção ao ministério de Timóteo. Em sua obra, Paulo devia viajar de cidade em cidade, em muitas terras, e teria muitas vezes ocasião de pregar a Cristo em sinagogas judaicas, bem como em outros lugares de reunião. Viesse a ser sabido que um de seus companheiros de trabalho era incircunciso, e sua obra seria grandemente entravada pelo preconceito e fanatismo dos judeus. Em toda parte encontrou o apóstolo determinada oposição e severa perseguição. Ele desejava levar a seus irmãos judeus, bem como aos gentios, o conhecimento do evangelho e, por essa razão buscava ele, tanto quanto estivesse em harmonia com a fé, remover cada pretexto de oposição. E conquanto fizesse essa concessão ao preconceito judaico, cria e ensinava nada ser a circuncisão ou incircuncisão, mas o evangelho de Cristo -- este era tudo. AA 114 1 Paulo amava a Timóteo, seu "verdadeiro filho na fé". 1 Timóteo 1:2. O grande apóstolo muitas vezes puxava pelo discípulo mais jovem, interrogando-o acerca da história bíblica; e enquanto viajavam de um lugar para outro, ensinava-lhe cuidadosamente a maneira de trabalhar com êxito. Tanto Paulo como Silas, em todas as suas relações com Timóteo, procuravam aprofundar a impressão que já se fizera em seu espírito quanto à natureza sagrada e séria da obra do ministro do evangelho. AA 114 2 Em sua obra, Timóteo buscava de Paulo constantemente conselho e instrução. Não agia por impulso, mas consideradamente e com calma reflexão, indagando a cada passo: É este o caminho do Senhor? Nele encontrou o Espírito Santo quem poderia ser moldado e ajustado como templo para a habitação da divina Presença. AA 114 3 Quando as lições da Bíblia são aplicadas na vida diária, exercem profunda e duradoura influência sobre o caráter. Timóteo aprendeu e praticou essas lições. Não tinha talentos particularmente brilhantes; mas sua obra era valiosa porque ele usava no serviço do Mestre as habilidades que Deus lhe dera. Seu conhecimento da piedade prática distinguia-o dos outros crentes, e dava-lhe influência. AA 114 4 Os que trabalham pelas pessoas têm de alcançar um conhecimento mais profundo, mais amplo e mais claro de Deus do que pode ser obtido pelo esforço comum. Têm de aplicar todas as suas energias na obra do Mestre. Estão empenhados em alta e santa vocação e, se quiserem obter conversões como recompensa, precisam apegar-se firmemente a Deus, recebendo diariamente poder e graça da Fonte de toda a bênção. "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:11-14. AA 114 5 Antes de iniciarem a penetração de novo território, Paulo e seus companheiros visitaram as igrejas que haviam sido estabelecidas na Pisídia e arredores. "E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número". Atos 16:5. AA 114 6 O apóstolo Paulo sentia profunda responsabilidade por essas pessoas convertidas sob seu trabalho. Acima de tudo, ansiava que permanecessem fiéis, "para que no dia de Cristo", disse ele, "possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão". Filipenses 2:16. Ele estremecia pelo resultado de seu ministério. Sentia que até sua própria salvação estaria em perigo se falhasse em cumprir o dever, e se a igreja fracassasse em cooperar com ele na obra da salvação. Sabia que apenas a pregação não bastava para educar os crentes para expor a Palavra da vida. Sabia que, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali, eles precisavam ser ensinados a fazer progresso na obra de Cristo. AA 115 1 É princípio universal que sempre que alguém se recusa a usar as faculdades que Deus lhe deu, essas faculdades se debilitam e morrem. A verdade que não é vivida, que não é repartida, perde seu poder de comunicar vida, sua virtude salutar. Essa era a razão por que o apóstolo temia não ser capaz de apresentar todo homem perfeito em Cristo. A esperança de Paulo em relação ao Céu diminuía quando considerava alguma falha de sua parte que pudesse resultar em estar ele colocando diante da igreja um modelo humano em lugar do divino. Seu conhecimento, eloqüência, milagres, sua visão das cenas eternas quando levado ao terceiro Céu -- tudo isso perderia o valor se, por infidelidade em seu trabalho, aqueles por quem ele trabalhou viessem a ser excluídos da graça de Deus. Assim, de viva voz e por carta, insistia com todos os que haviam aceitado a Cristo, para que prosseguissem no caminho que haveria de capacitá-los a tornarem-se "irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, [...] como astros no mundo; retendo a Palavra da vida". Filipenses 2:15, 16. AA 115 2 Todo verdadeiro pastor sente pesada responsabilidade pelo progresso espiritual dos crentes entregues a seu cuidado, um profundo desejo de que sejam cooperadores de Deus. Ele sente que, da fiel execução da tarefa que Deus lhe entregou depende, em grande medida, o bem-estar da igreja. Fervorosa e incansavelmente busca inspirar os crentes com o desejo de salvar pessoas para Cristo, lembrando-se de que cada acréscimo à igreja representa mais um instrumento para dar a conhecer o plano de redenção. AA 115 3 Havendo visitado as igrejas da Pisídia e regiões circunvizinhas, Paulo e Silas, juntamente com Timóteo, deram-se pressa em passar "pela Frígia e pela província da Galácia" (Atos 16:6), onde com grande poder proclamaram as alegres novas da salvação. Os gálatas eram dados à adoração de ídolos, mas como os apóstolos lhes pregassem, rejubilaram-se na mensagem que prometia libertação do cativeiro do pecado. Paulo e seus cooperadores proclamaram a doutrina da justificação pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Apresentaram a Cristo como sendo Aquele que, vendo o estado desesperado da raça caída, veio para redimir homens e mulheres mediante uma vida de obediência à lei de Deus, e o pagamento da penalidade da desobediência. E, diante da cruz, muitos que nunca antes haviam conhecido o verdadeiro Deus, começaram a compreender a magnitude do amor do Pai. AA 116 1 Assim foram os gálatas ensinados no que respeita às verdades fundamentais concernentes a "Deus Pai" e a "nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai". Gálatas 1:3, 4. "Pela pregação da fé", receberam o Espírito de Deus, e tornaram-se "filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus". Gálatas 3:2, 26. AA 116 2 A maneira como Paulo viveu entre os gálatas foi tal que ele pôde afirmar mas tarde: "Rogo-vos que sejais como eu". Gálatas 4:12. Seus lábios tinham sido tocados com a brasa viva do altar, e ele fora habilitado a sobrepor-se às fraquezas do corpo e a apresentar Jesus como a única esperança do pecador. Os que o ouviam sabiam que ele havia estado com Jesus. Assistido com o poder do alto, estava capacitado a comparar as coisas espirituais com as espirituais e a demolir as fortalezas de Satanás. Corações eram quebrantados ao apresentar ele o amor de Deus como revelado no sacrifício de Seu único Filho, e muitos eram levados a perguntar: Que devo fazer para salvar-me? AA 116 3 Esse método de apresentar o evangelho caracterizou o trabalho do apóstolo através de seu ministério entre os gentios. Conservava sempre diante deles a cruz do Calvário. "Não nos pregamos a nós mesmos", declarou ele depois de anos em sua experiência, "mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". 2 Coríntios 4:5, 6. AA 116 4 Os consagrados mensageiros que nos primeiros dias do cristianismo levaram as alegres novas da salvação a um mundo a perecer, não permitiam que pensamentos de exaltação própria viessem empanar sua apresentação de Cristo, e Este crucificado. Não cobiçavam nem autoridade nem preeminência. Ocultando-se no Salvador, exaltavam o grande plano da salvação e a vida de Cristo, o Autor e Consumador deste plano. Cristo, o mesmo ontem, hoje e eternamente, era o seu insistente ensino. AA 116 5 Se os que hoje estão ensinando a Palavra de Deus, exaltassem a cruz de Cristo mais e mais, haveria muito maior sucesso em seu ministério. Se os pecadores forem levados a contemplar com fervor a cruz, se alcançarem visão ampla do Salvador crucificado, reconhecerão a profundeza da compaixão de Deus e a malignidade do pecado. AA 116 6 A morte de Cristo prova o grande amor de Deus pelo homem. É o penhor de nossa salvação. Remover do cristianismo a cruz, seria como apagar do céu o Sol. A cruz nos aproxima de Deus, reconciliando-nos com Ele. Com a enternecedora compaixão do amor de um pai, Jeová considera o sofrimento que Seu Filho teve de suportar para salvar a raça da morte eterna, e nos recebe no Amado. AA 116 7 Sem a cruz não teria o homem união com o Pai. Dela depende toda a nossa esperança. Daí brilha a luz do amor do Salvador; e quando ao pé da cruz o pecador contempla Aquele que morreu para salvá-lo, pode rejubilar-se com grande alegria, pois seus pecados estão perdoados. Ao ajoelhar-se em fé junto à cruz, alcança ele o mais alto lugar que o homem pode atingir. AA 117 1 Por intermédio da cruz aprendemos que o Pai celestial nos ama com amor infinito. Podemos admirar-nos de haver Paulo exclamado: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo"? Gálatas 6:14. É nosso privilégio também nos gloriarmos na cruz, nosso privilégio dar-nos inteiramente a Ele, como Ele Se deu por nós. Então, com a luz que jorra do Calvário a brilhar em nossa face, podemos sair para revelar essa luz aos que estão em trevas. ------------------------Capítulo 21 -- Nas regiões distantes AA 118 0 Este capítulo é baseado em Atos 16:7-40. AA 118 1 Chegara o tempo em que o evangelho devia ser pregado além dos confins da Ásia Menor. O caminho estava preparado para Paulo e seus companheiros passarem à Europa. Em Trôade, às margens do Mediterrâneo, "Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um varão da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos". Atos 16:9. AA 118 2 O chamado era imperativo, não admitindo demora. "Logo depois desta visão", declara Lucas, que acompanhava Paulo, Silas e Timóteo em sua viagem pela Europa, "procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia, e no dia seguinte para Nápoles. E dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia". Atos 16:10-12. AA 118 3 "E no dia de sábado", continua Lucas, "saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos ter lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração" Lídia recebeu a verdade alegremente. Ela e os de sua casa foram convertidos e batizados, e ela insistiu com os apóstolos para que se hospedassem em sua casa. AA 118 4 Enquanto os mensageiros da cruz se entregavam a sua obra de ensinar, uma mulher possessa de espírito de adivinhação seguia-os, clamando: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus altíssimo. E isto fez ela por muitos dias". Atos 16:13-18. AA 118 5 Essa mulher era um instrumento especial de Satanás e, por meio de adivinhação, dava muito lucro a seus senhores. Sua influência auxiliara o fortalecimento da idolatria. Satanás sabia que seu domínio estava sendo invadido, e recorreu a esse meio de opor-se à causa de Deus, esperando misturar seus sofismas com as verdades ensinadas pelos que proclamavam a mensagem do evangelho. As palavras de recomendação proferidas por essa mulher representavam um dano à causa da verdade, distraíam o espírito do povo dos ensinos dos apóstolos e traziam má reputação para o evangelho, e, por meio delas, muitos foram levados a crer que esses homens que falavam no Espírito e poder de Deus, eram impelidos pelo mesmo espírito dessa emissária de Satanás. AA 119 1 Por algum tempo os apóstolos suportaram essa oposição; por inspiração do Espírito Santo, Paulo ordenou ao espírito mau que deixasse a mulher. Seu imediato silêncio provou serem os apóstolos servos de Deus e que o demônio tinha conhecimento disso e obedecera a sua ordem. AA 119 2 Libertada do espírito mau e restituída ao uso da razão, a mulher preferiu seguir a Cristo. Seus senhores ficaram alarmados por causa de seus lucros. Viram que estava perdida toda esperança de obter dinheiro por meio de suas adivinhações e predições, e que, se fosse permitido aos apóstolos continuar com a obra do evangelho, estaria logo esgotada inteiramente sua fonte de renda. AA 119 3 Muitos outros na cidade estavam interessados em alcançar lucro mediante satânicos enganos; e esses, temendo a influência de um poder que pudesse tão eficazmente deter sua obra, levantaram um forte clamor contra os servos de Deus. Levaram os apóstolos diante dos magistrados com a acusação: "Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade, e nos expõem costumes que nos não é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos". Atos 16:20, 21. AA 119 4 Impelida por um frenesi, a multidão se levantou contra os discípulos. Prevaleceu o espírito de tumulto, sancionado pelas autoridades, que, rasgando a roupa dos apóstolos, ordenaram que fossem açoitados. "E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco". Atos 16:23, 24. AA 119 5 Os apóstolos sofreram extrema tortura por causa da dolorosa posição em que foram postos, mas não murmuraram. Em vez disso, nas densas trevas e desolação do calabouço, encorajavam-se mutuamente com palavras de oração, e cantavam louvores a Deus por terem sido considerados dignos de sofrer por Sua causa. Seus corações foram animados por um amor fervoroso e profundo a seu Redentor. Paulo lembrava-se da perseguição movida contra os discípulos de Cristo, da qual ele havia sido instrumento, e rejubilava-se de que lhe tivessem sido abertos os olhos para ver, e seu coração para sentir o poder das gloriosas verdades que uma vez desprezara. AA 119 6 Com espanto os outros prisioneiros ouviram os sons de oração e hinos que saíam do interior da prisão. Estavam habituados a ouvir gritos e gemidos, maldições e blasfêmias a quebrarem o silêncio da noite, mas nunca antes haviam eles ouvido palavras de oração e louvor ascenderem daquela sombria cela. Guardas e prisioneiros se maravilharam, e perguntavam quem poderiam ser esses homens que, com frio, fome e torturados, podiam ainda se regozijar. AA 119 7 Enquanto isso, os magistrados voltaram a seus lares, lisonjeando-se de, com medidas prontas e decisivas, haverem acabado com o tumulto. Mas, no caminho, ouviram mais pormenores com respeito ao caráter e à obra desses homens que haviam sentenciado ao açoite e prisão. Viram a mulher que havia sido liberta da satânica influência, e ficaram impressionados com a mudança em sua aparência e comportamento. Antes ela havia causado perturbação na cidade; agora, estava calma e em paz. Sentindo que haviam provavelmente aplicado a dois homens inocentes as rigorosas penalidades da lei romana, ficaram indignados, e decidiram que, pela manhã, ordenariam que os apóstolos fossem secretamente libertados e escoltados para fora da cidade, longe do perigo de violência por parte da turba. AA 120 1 Mas, conquanto houvessem os homens sido cruéis e vingativos, ou criminosamente negligentes nas responsabilidades solenes sobre eles postas, Deus não Se havia esquecido de ser misericordioso para com Seus servos. Todo o Céu estava interessado nos homens que estavam sofrendo por amor de Cristo, e anjos foram enviados a visitar a prisão. A terra tremeu aos seus passos. As portas da prisão pesadamente aferrolhadas abriram-se; cadeias e grilhões caíram das mãos e pés dos prisioneiros; e brilhante luz inundou a prisão. AA 120 2 O guarda do cárcere tinha ouvido extasiado as orações e cânticos dos apóstolos prisioneiros. Quando foram encarcerados, havia ele visto suas feridas intumescidas e sangrentas, e por si próprio tinha-se decidido a colocar seus pés no cepo. Esperara ouvir-lhes amargos urros e imprecações; mas ouvia em lugar disto cânticos de louvor. Com esses sons nos ouvidos havia o carcereiro caído no sono de que foi despertado pelo terremoto e pelo sacudir das paredes da prisão. AA 120 3 Erguendo-se alarmado, viu com espanto que todas as portas da prisão estavam abertas e dele se apossou o temor de que os prisioneiros tivessem escapado. Lembrou-se com que explícitas recomendações Paulo e Silas haviam sido confiados a seu cuidado na noite anterior, e estava certo de que a morte seria a pena de sua aparente infidelidade. Em amargura de espírito, sentia que lhe seria melhor morrer pelas próprias mãos que submeter-se a uma vergonhosa execução. Tirando a espada, estava prestes a matar-se, quando a voz de Paulo foi ouvida em palavras de animação: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos". Atos 16:28. Cada prisioneiro estava em seu lugar, retido pelo poder de Deus exercido por intermédio de um companheiro de prisão. AA 120 4 A severidade com que o carcereiro tratara os apóstolos não havia despertado neles ressentimento. Paulo e Silas tinham o Espírito de Cristo, e não o de vingança. Em seu coração, repleto do amor do Salvador, não havia lugar para a maldade contra os perseguidores. AA 120 5 O carcereiro, depondo a espada e pedindo luz, apressou-se a descer ao calabouço. Queria ver que espécie de homens eram esses, que retribuíam com bondade a crueldade com que haviam sido tratados. Alcançando o lugar onde estavam os apóstolos, prostrou-se diante deles e pediu perdão. Então, levando-os para um recinto aberto, interrogou: "Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos 16:30. AA 121 1 O carcereiro havia estremecido ao contemplar a ira de Deus no terremoto; quando supôs que os prisioneiros tinham escapado, esteve prestes a matar-se pela própria mão; mas agora, todas essas coisas pareciam de pouca importância, comparadas com a nova e estranha perturbação que lhe agitava a mente, e por seu desejo de possuir a tranqüilidade e alegria mostradas pelos apóstolos debaixo de sofrimento e maus-tratos. Via-lhes no semblante a luz do Céu; sabia que Deus Se havia interposto de maneira miraculosa para salvar-lhes a vida e com força peculiar, vieram-lhe à mente as palavras da mulher possessa: "Estes homens que nos anunciam o caminho da salvação são servos do Deus altíssimo" AA 121 2 Com profunda humildade, pediu aos apóstolos que lhe mostrassem o caminho da vida. "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa", responderam eles; "e lhe pregavam a Palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa". Atos 16:31, 32. O carcereiro, então, lavou as feridas dos apóstolos e serviu-os, sendo a seguir batizado por eles, juntamente com todos os que estavam em sua casa. Uma santificadora influência foi difundida entre os prisioneiros, e a mente de todos foi aberta às verdades expostas pelos apóstolos. Eles estavam convictos de que o Deus a quem esses homens serviam os havia milagrosamente libertado da servidão. AA 121 3 Os cidadãos de Filipos haviam ficado grandemente atemorizados com o terremoto e quando, pela manhã, os funcionários da prisão contaram aos magistrados o que havia ocorrido durante a noite, eles ficaram alarmados, e enviaram oficiais para libertar os apóstolos. Paulo, porém, declarou: "Açoitaram-nos publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na prisão, e agora encobertamente nos lançam fora? Não será assim; mas venham eles mesmos e tirem-nos para fora". Atos 16:37. AA 121 4 Os apóstolos eram cidadãos romanos, e era contra a lei açoitar um romano, ou privá-lo da liberdade, sem justo julgamento, salvo no caso do mais flagrante crime. Paulo e Silas haviam sido presos publicamente, e agora se recusavam a aceitar a liberdade secreta, sem as necessárias explicações da parte dos magistrados. AA 121 5 Quando esse fato foi levado ao conhecimento das autoridades, estas ficaram alarmadas, temendo que os apóstolos apelassem para o imperador; indo imediatamente à prisão, se desculparam diante de Paulo e Silas pela injustiça e crueldade a eles feita, e pessoalmente conduziram-nos para fora da prisão, suplicando-lhes que partissem da cidade. Os magistrados temeram a influência dos apóstolos sobre o povo, e temeram também o Poder que se interpusera em benefício desses homens inocentes. AA 121 6 Agindo segundo as instruções dadas por Cristo, os apóstolos não insistiram em permanecer onde sua presença não era desejada. "E, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia, e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram". Atos 16:40. AA 122 1 Os apóstolos não consideraram infrutíferas suas atividades em Filipos. Haviam encontrado muita oposição e perseguição; mas a intervenção da Providência em seu favor, e a conversão do carcereiro e de sua casa, foram mais que suficientes para cobrir a desventura e o sofrimento que haviam suportado. As novas de sua injusta prisão e milagroso libertamento tornaram-se conhecidas em toda a região, e isso levou a obra dos apóstolos ao conhecimento de um grande número que de outra maneira não teriam sido alcançados. AA 122 2 As atividades de Paulo em Filipos deram em resultado ser aí estabelecida uma igreja, cujo número de membros aumentava firmemente. Seu zelo e devoção, e acima de tudo, sua disposição de sofrer por Cristo exerciam profunda e perdurável influência sobre os conversos. Os irmãos apreciavam as preciosas verdades por que os apóstolos se haviam sacrificado tanto, e davam-se com devoção e inteiro coração à causa de seu Redentor. AA 122 3 Que essa igreja não escapou à perseguição é mostrado por uma expressão da carta de Paulo a eles. Diz Paulo: "Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele. Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto" E era tal a firmeza deles na fé que ele declara: "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora". Filipenses 1:29, 30, 3-5. AA 122 4 Terrível é a luta que se trava entre as forças do bem e do mal em centros importantes onde os mensageiros da verdade são chamados ao trabalho. "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue", declara Paulo, "mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século". Efésios 6:12. Até o fim do tempo haverá conflito entre a igreja de Deus e os que estão sob o controle dos anjos maus. AA 122 5 Os cristãos primitivos foram chamados muitas vezes a enfrentar face a face os poderes das trevas. Mediante a perseguição e o engano, o inimigo se esforçava por fazê-los desviarem-se da verdadeira fé. Neste tempo, quando o fim de todas as coisas terrestres está-se aproximando rapidamente, Satanás faz desesperados esforços para enredar o mundo. Está arquitetando muitos planos para ocupar as mentes e distrair a atenção das verdades essenciais à salvação. Em cada cidade seus agentes estão ativamente organizando em partidos todos os que se opõem à lei de Deus. O arquienganador está em atividade para introduzir elementos de confusão e rebelião, e os homens estão sendo possuídos de ardente zelo que não está de acordo com o entendimento. AA 122 6 A impiedade está alcançando um nível nunca antes atingido; contudo, muitos pastores estão clamando: "Paz e segurança". 1 Timóteo 5:3. Mas os fiéis mensageiros de Deus devem prosseguir firmemente com sua obra. Revestidos com a armadura do Céu, devem avançar destemida e vitoriosamente, jamais cessando de lutar até que cada pessoa a seu alcance tenha recebido a mensagem da verdade para este tempo. ------------------------Capítulo 22 -- Tessalônica AA 123 0 Este capítulo é baseado em Atos 17:1-10. AA 123 1 Deixando Filipos, Paulo e Silas viajaram para Tessalônica. Aí lhes foi dado o privilégio de se dirigirem a grandes congregações na sinagoga judaica. Sua aparência deixava à mostra o vergonhoso tratamento que haviam recebido recentemente, e era necessário dar uma explicação do que acontecera. Isso fizeram eles sem se exaltar, mas exaltando Àquele que operara seu livramento. AA 123 2 Ao pregar aos tessalonicenses, Paulo recorreu às profecias do Antigo Testamento concernentes ao Messias. Cristo, em Seu ministério, tornara claras aos Seus discípulos estas profecias; "começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras". Lucas 24:27. Pedro, ao pregar a Cristo, tinha apresentado provas do Antigo Testamento. Estêvão procedeu de modo idêntico. Também Paulo, em seu ministério, recorreu às passagens que prediziam o nascimento, sofrimentos, morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Pelo inspirado testemunho de Moisés e dos profetas, provou cabalmente que Jesus de Nazaré era o Messias, e demonstrou que, desde os dias de Adão, foi a voz de Cristo que falara por intermédio dos patriarcas e profetas. AA 123 3 Profecias claras e específicas haviam sido feitas relativamente ao aparecimento do Prometido. A Adão fora dada a certeza da vinda do Redentor. A sentença proferida contra Satanás: "E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a sua semente; essa te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar", foi para nossos primeiros pais uma promessa da redenção que seria efetuada por meio de Cristo. Gênesis 3:15. AA 123 4 A Abraão fora feita a promessa que de sua linhagem haveria de nascer o Salvador do mundo. "E em tua semente serão benditas todas as nações da Terra". Gênesis 22:18. "Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: e à tua posteridade, que é Cristo". Gálatas 3:16. AA 123 5 Próximo ao fim de sua obra como líder e mestre de Israel, Moisés claramente profetizou do Messias por vir. "O Senhor teu Deus", declarou ele às hostes congregadas de Israel, "te despertará um Profeta do meio de Ti, de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis" E Moisés assegurou aos israelitas que Deus mesmo lhe havia revelado isto no Monte Horebe, dizendo: "Eis lhes suscitarei um Profeta do meio de seus irmãos, como tu; e porei as Minhas palavras na Sua boca, e Ele lhes falará tudo o que Eu Lhe ordenar". Deuteronômio 18:15, 18. AA 124 1 O Messias devia provir de linhagem real; pois na profecia feita por Jacó o Senhor disse: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos". Gênesis 49:10. AA 124 2 Isaías profetizou: "Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará". Isaías 11:1. "Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi. Eis que Eu O dei como testemunha aos povos, como príncipe e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque Ele te glorificou". Isaías 55:3-5. AA 124 3 Jeremias também testificou da vinda do Redentor como um príncipe da casa de Davi: "Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo Rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na Terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o Seu nome, com que O nomearão: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA". Jeremias 23:5, 6. E outra vez: "Assim diz o Senhor: Nunca faltará a Davi varão que se assente sobre o trono da casa de Israel; nem aos sacerdotes levíticos faltará varão diante de Mim, para que ofereça holocausto, e queime ofertas de manjares, e faça sacrifício todos os dias". Jeremias 33:17, 18. AA 124 4 Mesmo o local do nascimento do Messias foi predito: "E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti Me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Miquéias 5:2. AA 124 5 A obra que o Salvador devia fazer na Terra fora amplamente esboçada: "E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor". Isaías 11:2, 3. Aquele que assim fora ungido devia "pregar boas-novas aos mansos: [...] restaurar os contritos de coração, [...] proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; [...] apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança de nosso Deus; [...] consolar todos os tristes; [...] ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado". Isaías 61:1-3. AA 124 6 "Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho; o Meu Eleito, em quem se compraz a Minha alma; pus o Meu Espírito sobre Ele; juízo produzirá entre os gentios. Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade produzirá o juízo; não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo; e as ilhas aguardarão a Sua doutrina". Isaías 42:1-4. AA 125 1 Com poder convincente, baseado nas Escrituras do Antigo Testamento, Paulo demonstrava "que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos". Atos 17:3. Não havia Miquéias profetizado: "Ferirão com a vara no queixo ao Juiz de Israel?" Miquéias 5:1. E não havia o Prometido profetizado de Si próprio por intermédio de Isaías: "As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que Me arrancam os cabelos; não escondo a Minha face dos que Me afrontam e Me cospem"? Isaías 50:6. Por intermédio do salmista, Cristo havia predito o tratamento que receberia dos homens: "Mas Eu sou [...] opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que Me vêem zombam de Mim, estendem os beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que O livre; livre-O, pois nEle tem prazer" "Poderia contar todos os Meus ossos; eles vêem e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sortes sobre a Minha túnica". Salmos 22:6-8, 17, 18. "Tenho-Me tornado como um estranho para com Meus irmãos, e um desconhecido para com os filhos de Minha mãe. Pois o zelo da Tua casa Me devorou, e as afrontas dos que Te afrontam caíram sobre Mim" "Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei". Salmos 69:8, 9, 20. AA 125 2 Quão inconfundivelmente claras foram as profecias de Isaías, referentes aos sofrimentos e morte de Cristo! "Quem deu crédito a nossa pregação?" interroga o profeta, "e a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como um renovo perante Ele, e como, raiz duma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos. Era desprezado, e o mais indigno entre os homens; homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e não fizemos dEle caso algum. AA 125 3 "Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados. AA 125 4 "Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da Sua vida? porquanto foi cortado da Terra dos viventes; pela transgressão do Meu povo foi Ele atingido". Isaías 53:1-8. AA 125 5 Até mesmo a maneira de Sua morte foi prefigurada. Como a serpente de bronze foi levantada no deserto, assim devia ser levantado o Redentor por vir, "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. AA 126 1 "E se alguém Lhe disser: Que feridas são essas nas Tuas mãos? Dirá Ele: São as feridas com que fui ferido em casa dos Meus amigos". Zacarias 13:6. AA 126 2 "E puseram a Sua sepultura com os ímpios, e com o rico na Sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na Sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-Lo, fazendo-O enfermar". Isaías 53:9, 10. AA 126 3 Mas Aquele que havia de sofrer a morte pelas mãos de homens vis, devia ressurgir como conquistador sobre o pecado e sobre a sepultura. Sob a inspiração do Todo-poderoso, o suave cantor de Israel havia testificado das glórias da manhã da ressurreição: "Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção". Salmos 16:9, 10. AA 126 4 Paulo mostrou quão intimamente havia Deus ligado o sacrifício expiatório com as profecias referentes Àquele que devia, como um cordeiro, ser "levado ao matadouro" O Messias daria Sua vida como "expiação do pecado" Olhando através dos séculos as cenas do sacrifício expiatório do Salvador, o profeta Isaías testificara que o Cordeiro de Deus "derramou a Sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercede". Isaías 53:7, 10, 12. AA 126 5 O Salvador profetizado viria, não como um rei temporal, para livrar a nação judaica de opressores terrestres, mas como um homem entre homens, para viver uma vida de pobreza e humildade, e ser afinal desprezado, rejeitado e morto. O Salvador predito nas Escrituras do Antigo Testamento Se ofereceria como um sacrifício em favor da raça caída, cumprindo assim cada requisito da lei quebrantada. NEle, os tipos sacrificais encontrariam seu antítipo, e Sua morte na cruz emprestaria significado à inteira dispensação judaica. AA 126 6 Paulo falou aos judeus tessalonicenses a respeito de seu zelo anterior pela lei cerimonial, e de sua maravilhosa experiência às portas de Damasco. Antes de sua conversão, estivera ele confiando numa piedade hereditária e falsa esperança. Sua fé não estivera ancorada em Cristo; em lugar disso, estivera confiando em formalidades e cerimônias. Seu zelo pela lei estava dissociado da fé em Cristo, sendo vão. Enquanto blasonava de ser irrepreensível na prática das obras da lei, tinha recusado aceitar Aquele que tornara a lei valiosa. AA 126 7 Mas ao tempo de sua conversão, tudo havia sido mudado. Jesus de Nazaré, a quem Paulo perseguira na pessoa de Seus santos, aparecera diante dele como o prometido Messias. O perseguidor vira-O como o Filho de Deus, Aquele que viera à Terra em cumprimento das profecias, e em cuja vida se cumprira cada detalhe dos Sagrados Escritos. AA 126 8 Ao proclamar Paulo, com zelo santo, o evangelho na sinagoga de Tessalônica, um jato de luz se derramou sobre o verdadeiro significado dos ritos e cerimônias que se relacionavam com o serviço do tabernáculo. Conduziu ele a mente de seus ouvintes para além do cerimonial terrestre e do ministério de Cristo no santuário celestial, até o tempo em que, tendo completado Seu trabalho de intercessão, Ele deverá voltar, com poder e grande glória, para estabelecer Seu reino na Terra. Paulo cria na segunda vinda de Cristo; apresentou as verdades concernentes a esse evento com tanta clareza e ênfase, que produziu na mente de muitos dos ouvintes uma impressão que nunca mais se apagou. AA 127 1 Por três sábados sucessivos, Paulo pregou aos tessalonicenses, debatendo com eles sobre as Escrituras referentes à vida, morte, ressurreição, obra intercessória e glória futura de Cristo, "o Cordeiro morto desde a fundação do mundo". Apocalipse 13:8. Ele exaltava a Cristo, de cujo ministério a compreensão exata é a chave que abre as Escrituras do Antigo Testamento, dando acesso a seus ricos tesouros. AA 127 2 Ao serem as verdades do evangelho assim proclamadas em Tessalônica com forte poder, foi atraída a atenção de grandes congregações. "E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais". Atos 17:4. AA 127 3 Como aconteceu nos lugares anteriormente trabalhados, também aí os apóstolos encontraram decidida oposição. "Mas os judeus desobedientes" foram "movidos de inveja" Esses judeus não estavam, então, nas boas graças do poder romano, porque não fazia muito tempo, haviam levantado uma insurreição em Roma. Eram olhados com desconfiança, e sua liberdade estava, até certo ponto, restringida. Agora, viam eles uma oportunidade para tirar vantagem das circunstâncias, para readquirirem o favor e, ao mesmo tempo, lançar a culpa sobre os apóstolos e conversos do cristianismo. AA 127 4 Isso procuraram executar, unindo-se com "alguns homens perversos dentre os vadios," por cujo intermédio "alvoroçaram a cidade, e, assaltando a casa de Jasom," na esperança de encontrar os apóstolos; mas não encontraram Paulo nem Silas. "Porém, não os achando", a turba, desatinada pelo desapontamento, trouxe "Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui, os quais Jasom recolheu. Todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus". Atos 17:5-7. AA 127 5 Como Paulo e Silas não fossem encontrados, os magistrados prenderam os acusados crentes para manter a paz. Temendo mais violência, "logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia". Atos 17:10. AA 127 6 Os que hoje ensinam verdades impopulares não se devem desanimar, se por vezes encontram, mesmo por parte dos que se dizem cristãos, recepção não mais favorável que a dispensada a Paulo e seus companheiros, por aqueles por quem trabalham. Os mensageiros da cruz devem armar-se de vigilância e oração, avançando com fé e ânimo, trabalhando sempre no nome de Jesus. Devem exaltar a Cristo como Mediador do homem no santuário celestial; como Aquele em quem se centralizam todos os sacrifícios da dispensação do Antigo Testamento, e por cujo sacrifício expiatório os transgressores da lei de Deus podem encontrar paz e perdão. ------------------------Capítulo 23 -- Beréia e Atenas AA 128 0 Este capítulo é baseado em Atos 17:11-34. AA 128 1 Em Beréia, Paulo encontrou judeus dispostos a pesquisar as verdades por ele ensinadas. A respeito deles declara o relatório de Lucas: "Estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a Palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos varões". Atos 17:11, 12. AA 128 2 A mente dos bereanos não se achava limitada pelo preconceito. Estavam dispostos a pesquisar a veracidade das doutrinas pregadas pelos apóstolos. Estudavam a Bíblia, não por curiosidade, mas para que pudessem aprender o que havia sido escrito a respeito do Messias prometido. Diariamente examinavam os relatos inspirados e, ao compararem texto com texto, anjos celestiais se colocavam ao lado deles, iluminando-lhes a mente e impressionando-lhes o coração. AA 128 3 Onde quer que as verdades do evangelho sejam proclamadas, os que honestamente desejam proceder com retidão serão levados a exame diligente das Escrituras. Se, nas cenas finais da história da Terra, aqueles a quem são proclamadas verdades decisivas seguissem o exemplo dos bereanos, examinando diariamente as Escrituras, e comparando com a Palavra de Deus as mensagens a eles levadas, haveria hoje em dia grande número de pessoas leais aos preceitos da lei de Deus, onde agora existem relativamente poucos. Mas, quando são apresentadas verdades bíblicas impopulares, muitos se recusam a pesquisá-las. Embora incapazes de refutar os claros ensinos da Escritura, manifestam extrema relutância em estudar as evidências oferecidas. Alguns presumem que mesmo sendo essas doutrinas verdades incontestes, pouco importa aceitarem ou não a nova luz; e apegam-se a fábulas agradáveis usadas pelo inimigo para desviar as pessoas. Assim são suas mentes cegadas pelo erro, e ficam separados do Céu. AA 128 4 Todos serão julgados de acordo com a luz que tem sido dada. O Senhor envia Seus embaixadores com a mensagem de salvação, e aos que a ouvem, Ele faz responsáveis pela maneira por que tratam as palavras de Seus servos. Os que sinceramente buscarem a verdade pesquisarão cuidadosamente, à luz da Palavra de Deus, as doutrinas a eles apresentadas. AA 128 5 Os judeus incrédulos de Tessalônica, cheios de ciúme e ódio contra os apóstolos, e não satisfeitos com havê-los expulsado de sua própria cidade, seguiram-nos até Beréia e levantaram contra eles as paixões excitáveis da classe mais baixa. Temendo que seria exercida violência contra Paulo caso ele permanecesse ali, os irmãos o enviaram para Atenas, acompanhado de alguns novos conversos bereanos. AA 129 1 Assim, a perseguição seguiu os pregadores da verdade de cidade em cidade. Os inimigos de Cristo não puderam impedir o avanço do evangelho, mas conseguiram tornar a tarefa dos apóstolos extremamente difícil. Embora em face de oposição e conflito, Paulo prosseguia firmemente, determinado a executar o propósito de Deus a ele revelado na visão de Jerusalém: "Hei de enviar-te aos gentios de longe". Atos 22:21. AA 129 2 A inesperada partida de Paulo de Beréia privou-o da oportunidade por ele acariciada de visitar os irmãos de Tessalônica. AA 129 3 Chegando a Atenas, o apóstolo enviou de retorno os irmãos bereanos com a mensagem para que Silas e Timóteo fossem reunir-se a ele imediatamente. Timóteo tinha vindo a Beréia antes da partida de Paulo e, com Silas, tinha permanecido para prosseguir com a obra tão bem começada nesse lugar e instruir os novos conversos nos princípios da fé. AA 129 4 A cidade de Atenas era a metrópole do paganismo. Aí Paulo não se encontrou com uma população crédula e ignorante, como em Listra, mas com um povo famoso por sua inteligência e cultura. Em todos os lugares estavam à vista estátuas de seus deuses e de heróis divinizados da História e da Poesia, enquanto magnificentes arquiteturas e pinturas representavam a glória nacional e o culto popular de deidades pagãs. O senso do povo estava empolgado com o esplendor e a beleza da arte. De todos os lados santuários, altares e templos representando enorme despesa, exibiam suas formas maciças. Vitórias das armas e feitos de homens célebres eram comemorados pela escultura, relicários e placas. Tudo isso fez de Atenas uma vasta galeria de arte. AA 129 5 Olhando Paulo a beleza e a grandeza que o rodeavam, e vendo a cidade toda entregue à idolatria, seu espírito se encheu de zelo por Deus, a quem via desonrado por todos os lados. Seu coração se comoveu de piedade pelo povo de Atenas, que, apesar de sua cultura intelectual, era ignorante do verdadeiro Deus. AA 129 6 O apóstolo não se deixou seduzir pelo que viu nesse centro de cultura. Sua natureza espiritual estava tão atenta às atrações das coisas celestiais, que a alegria e magnificência das riquezas que nunca perecerão tornavam de nenhum valor aos seus olhos a pompa e o esplendor daquilo que o circundava. Vendo a magnificência de Atenas, ele compreendeu seu poder sedutor sobre os amantes da Arte e da Ciência, e seu espírito ficou profundamente impressionado com a importância da obra que tinha diante de si. AA 129 7 Nessa grande cidade onde Deus não era adorado, Paulo foi oprimido por um sentimento de solidão, e anelou a simpatia e o auxílio de seus colaboradores. No que respeita à amizade humana, sentia-se inteiramente só. Em sua epístola aos tessalonicenses, ele exprimiu seus sentimentos nas palavras: "Deixar-nos ficar sós em Atenas". 1 Tessalonicenses 3:1. Obstáculos aparentemente intransponíveis se apresentaram diante dele, fazendo com que se lhe afigurasse quase sem esperança a tentativa de alcançar o coração do povo. AA 130 1 Enquanto esperava por Silas e Timóteo, Paulo não ficou ocioso. "Dissertava na sinagoga entre os judeus e os piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali". Atos 17:17. Mas a sua principal obra em Atenas era levar as boas-novas de salvação aos que não tinham clara concepção de Deus e de Seu propósito em favor da raça caída. O apóstolo logo havia de enfrentar o paganismo em sua forma mais sutil e sedutora. AA 130 2 Não demorou que os grandes homens de Atenas ouvissem a respeito da presença de mestre tão singular em sua cidade, que estava apresentando perante o povo doutrinas novas e estranhas. Alguns desses homens procuraram Paulo e entraram em conversação com ele. Logo, uma multidão de ouvintes se lhes reuniu em torno. Alguns estavam preparados para ridicularizar o apóstolo como alguém que estivesse muito abaixo deles, tanto intelectual como socialmente, e esses diziam zombeteiros: "Que quer dizer este paroleiro?" Outros, "porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição", diziam: "parece que é pregador de deuses estranhos". Atos 17:18. AA 130 3 Entre os que se encontraram com Paulo na praça havia "alguns dos filósofos epicureus e estóicos"; mas esses, e todos os demais que entraram em contato com ele, logo viram que ele tinha um conhecimento superior mesmo ao deles. Sua capacidade intelectual impunha respeito aos letrados, ao passo que seu fervoroso e lógico raciocínio e seu poder de oratória captavam a atenção de todo o auditório. Seus ouvintes reconheciam que ele não era nenhum aprendiz, mas era capaz de enfrentar todas as classes com argumentos convincentes em favor das doutrinas que ensinava. Assim, o apóstolo permaneceu invicto, enfrentando seus opositores no próprio terreno deles, contrapondo lógica a lógica, filosofia a filosofia, eloqüência a eloqüência. AA 130 4 Seus oponentes pagãos chamavam-lhe a atenção para o fim de Sócrates, que, por ser pregador de deuses estranhos, tinha sido condenado à morte; e aconselhavam Paulo a não pôr sua vida em perigo enveredando pelo mesmo caminho. Mas os discursos do apóstolo cativavam a atenção do povo, e sua sabedoria sem afetação impunha-lhes admiração e respeito. Ele não foi posto em silêncio pela Ciência nem pela ironia dos filósofos; e convencendo-se de que ele estava disposto a concluir sua missão entre eles, e, apesar dos riscos, a contar sua história, decidiram ouvi-lo com boa disposição. AA 130 5 Portanto, conduziram-no ao Areópago. Esse era um dos locais mais sagrados de Atenas, e suas evocações e reminiscências eram tais que o faziam ser considerado com uma supersticiosa reverência que, na mente de alguns, chegava ao terror. Era nesse local que os assuntos relacionados com a religião eram muitas vezes considerados cuidadosamente por homens que atuavam como juízes finais em todas as questões mais importantes, tanto morais como civis. AA 131 1 Ali, afastado do ruído e agitação das ruas apinhadas e do tumulto da discussão promíscua, o apóstolo podia ser ouvido sem interrupção. Ao seu redor reuniram-se poetas, artistas, e filósofos -- intelectuais e sábios de Atenas, que a ele assim se dirigiram: "Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos pois saber o que vem a ser isto". Atos 17:19, 20. AA 131 2 Nessa hora de solene responsabilidade, o apóstolo estava calmo e confiante. Tinha o coração possuído de importante mensagem, e as palavras que lhe caíram dos lábios, convenceram seus ouvintes de que ele não era nenhum paroleiro. "Varões atenienses", disse ele, "em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse pois que vós honrais, não O conhecendo, é o que eu vos anuncio". Atos 17:22, 23. Com toda a sua inteligência e conhecimento generalizado, eram eles ignorantes do Deus que criara o Universo. Alguns, todavia, que ali estavam, almejavam maior luz. Estavam procurando alcançar o infinito. AA 131 3 Com a mão estendida em direção ao templo apinhado de ídolos, Paulo esvaziou seu coração e expôs os erros da religião dos atenienses. Os mais sábios entre seus ouvintes ficaram admirados ao atentarem para a sua argumentação. Ele mostrou estar familiarizado com suas obras de arte, literatura e religião. Apontando para o estatuário e ídolos deles, declarou que Deus não pode ser assemelhado a formas de imaginação humana. Aquelas imagens esculpidas não podiam, mesmo da maneira mais pálida, representar a glória de Jeová. Fê-los pensar no fato de que aquelas imagens não tinham vida, mas eram controladas pelo poder humano, movendo-se apenas quando as mãos dos homens as moviam; de maneira que os adoradores eram, em tudo, superiores ao objeto adorado. AA 131 4 Paulo levou a mente de seus ouvintes idólatras para além dos limites de sua falsa religião, a uma visão correta da Divindade a que eles denominaram "Deus desconhecido" Este Ser que ele agora lhes anunciava, era independente do homem, nada necessitando das mãos humanas que Lhe viesse acrescentar poder e glória. AA 131 5 O povo foi tomado de admiração pela fervorosa e lógica apresentação feita por Paulo dos atributos do verdadeiro Deus -- Seu poder criador e a existência de Sua soberana providência. Com ardente e poderosa eloqüência, o apóstolo declarou: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Senhor do Céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas". Atos 17:24, 25. Os Céus não eram suficientemente grandes para conter Deus, quanto mais os templos feitos por mãos humanas. AA 132 1 Nesse século de tantas diferenças sociais, quando os direitos dos homens não eram muitas vezes reconhecidos, Paulo expôs a grande verdade da fraternidade humana, declarando que Deus "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra" À vista de Deus, todos são iguais; e cada ser humano deve ao Criador suprema obediência. Então, o apóstolo mostrou como, mediante todo o trato de Deus com o homem, Seu propósito de graça e misericórdia corre como um fio de ouro. Ele tem determinado "os tempos já antes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós". Atos 17:26, 27. AA 132 2 Apontando os nobres espécimes da humanidade em torno de si, com palavras tomadas de um de seus poetas, Paulo pintou o infinito Deus como um Pai, de quem eram filhos. "NEle vivemos, e nos movemos, e existimos", declarou ele, "como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também Sua geração. Sendo nós pois geração de Deus, não havemos de cuidar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. AA 132 3 "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam". Atos 17:28-30. Nos séculos de trevas que precederam o advento de Cristo, o divino Soberano passou por alto a idolatria dos gentios; mas agora, por intermédio de Seu Filho, enviara Ele aos homens a luz da verdade; e esperava de todos o arrependimento para a salvação, não somente do pobre e humilde, mas também do altivo filósofo e dos príncipes da Terra. "Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou; e disto deu certeza a todos, ressuscitando-O dos mortos" Como Paulo se referisse à ressurreição dos mortos, "uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez". Atos 17:31, 32. AA 132 4 Terminou assim o trabalho do apóstolo em Atenas, o centro da cultura pagã; pois os atenienses, apegando-se persistentemente a sua idolatria, viraram as costas à luz da verdadeira religião. Quando um povo está inteiramente satisfeito com suas próprias realizações, pouco mais se pode esperar dele. Conquanto presumindo-se de refinamento e instrução, os atenienses estavam se tornando constantemente mais corruptos, e mais satisfeitos com os vagos mistérios da idolatria. AA 132 5 Entre os que ouviram as palavras de Paulo estavam alguns a cuja mente as verdades apresentadas levaram a convicção; mas eles não se quiseram humilhar para conhecer a Deus e aceitar o plano da salvação. Nenhuma eloqüência de palavras, nem força de argumentos pode converter o pecador. Somente o poder de Deus pode imprimir a verdade no coração. Aquele que persistentemente se desvia desse poder, não pode ser alcançado. Os gregos buscavam a sabedoria, e a mensagem da cruz era para eles loucura, porquanto valorizavam sua própria sabedoria mais que a sabedoria que vem do alto. AA 133 1 Em sua sabedoria humana e orgulho intelectual se encontra a razão por que a mensagem do evangelho teve comparativamente pouco êxito entre os atenienses. Os sábios segundo o mundo, que forem a Cristo como pobres e perdidos pecadores, tornar-se-ão sábios para a salvação; mas os que a Ele forem como pessoas de importância, gabando-se de sua própria sabedoria, deixarão de receber a luz e o conhecimento que só Ele pode dar. AA 133 2 Assim enfrentou Paulo o paganismo de seus dias. Seus esforços em Atenas não foram inteiramente em vão. Dionísio, um dos mais preeminentes cidadãos, e alguns outros, aceitaram a mensagem do evangelho e uniram-se completamente aos crentes. AA 133 3 Para que se visse como Deus, por intermédio de Seu servo, repreendeu a idolatria e os pecados de um povo orgulhoso e presumido, a inspiração nos deu este apanhado da vida dos atenienses que, com todo o seu conhecimento, refinamento e arte, estavam, não obstante, chafurdados no vício. As palavras do apóstolo, e a descrição de sua atitude e circunstâncias, tais como as traçou a inspiração, deviam atingir todas as gerações futuras, dando testemunho de sua inamovível confiança, sua coragem na adversidade, e a vitória por ele obtida para o cristianismo no coração do paganismo. AA 133 4 As palavras de Paulo contêm um tesouro de conhecimento para a igreja. Estava ele numa posição em que facilmente poderia ter dito qualquer coisa que teria irritado seus orgulhosos ouvintes, colocando-se em dificuldade. Tivesse seu sermão sido um ataque direto aos deuses e aos grandes homens da cidade, e ele teria corrido o perigo de sofrer a sorte de Sócrates. Mas, com o tato nascido do divino amor, cuidadosamente ele afastou-lhes a mente de suas divindades pagãs, revelando-lhes o verdadeiro Deus, para eles desconhecido. AA 133 5 Hoje, as verdades das Escrituras devem ser levadas perante os grandes homens do mundo, para que possam escolher entre a obediência à lei de Deus e a aliança com o príncipe do mal. Deus põe perante eles a verdade eterna -- verdade que os fará sábios para a salvação -- mas não os força a aceitá-la. Se Lhe voltam as costas, Ele os deixa entregues a si mesmos para que se fartem com os frutos de suas próprias ações. AA 133 6 "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são". 1 Coríntios 1:18, 19, 27, 28. Muitos dos mais eminentes homens do mundo, doutos e estadistas, nestes últimos dias volver-se-ão da luz porque o mundo por sua própria sabedoria desconhece a Deus. Entretanto, os servos de Deus deverão aproveitar cada oportunidade para comunicar a verdade a esses homens. Alguns reconhecerão sua ignorância em relação às coisas de Deus e assentar-se-ão como humildes discípulos aos pés de Jesus, o Mestre por excelência. AA 134 1 Em cada esforço para alcançar as mais altas classes, o obreiro de Deus necessita de forte fé. As aparências podem parecer desoladoras, mas na hora mais escura, há luz do alto. A força dos que amam a Deus e a Ele servem será renovada cada dia. A mente do infinito está posta a seu serviço para que ao executarem Seu propósito não cometam erro. Mantenham esses obreiros firme até o fim, o princípio de sua confiança, lembrando-se de que a luz da verdade de Deus deve brilhar em meio às trevas que envolvem nosso mundo. Não deve haver nenhum desalento em relação com o trabalho de Deus. A fé do consagrado obreiro tem de resistir a cada prova que o alcance. Deus pode e está disposto a outorgar a Seus servos toda a fortaleza de que precisem e a dar-lhes a sabedoria que suas variadas necessidades imponham. Ele fará mais que cumprir as mais altas expectativas dos que nEle põem sua confiança. ------------------------Capítulo 24 -- Corinto AA 135 0 Este capítulo é baseado em Atos 18:1-18. AA 135 1 Durante o primeiro século da era cristã, Corinto foi uma das principais cidades, não somente da Grécia, mas do mundo. Gregos, judeus e romanos, juntamente com viajantes de todas as terras, apinhavam-se nas suas ruas, intensamente entregues às atividades e aos prazeres. Grande centro comercial, situado com fácil acesso a todas as partes do império romano, era um importante lugar para o estabelecimento de monumentos para Deus e Sua verdade. AA 135 2 Entre os judeus que haviam fixado residência em Corinto, achavam-se Áquila e Priscila, que se distinguiram posteriormente como zelosos obreiros de Cristo. Vindo a conhecer o caráter dessas pessoas, Paulo "ficou com eles" AA 135 3 Logo no princípio de seu trabalho nesse ponto de sua viagem, Paulo viu de todos os lados sérios obstáculos ao progresso de sua obra. A cidade estava quase inteiramente entregue à idolatria. Vênus era a divindade favorita e, com a adoração de Vênus estavam relacionados muitos ritos e cerimônias degradantes. Os coríntios tinham-se tornado notáveis, mesmo entre os pagãos, por sua grosseira imoralidade. Parecia que sua preocupação ou cuidado não ia além dos prazeres e passatempos do momento. AA 135 4 Em sua pregação do evangelho em Corinto, o apóstolo seguiu um sistema diferente do que assinalara seu trabalho em Atenas. Neste lugar procurara ele adaptar seu estilo ao caráter de seu auditório; à lógica opusera lógica, respondera à ciência com ciência, à filosofia com filosofia. Considerando o tempo assim gasto, e concluindo que seu ensino em Atenas fora pouco produtivo, decidiu seguir outro plano de trabalho em Corinto, nos seus esforços para atrair a atenção dos descuidados e indiferentes. Decidiu evitar discussões e argumentos elaborados e nada se propor saber entre os coríntios, "senão a Jesus Cristo, e Este crucificado" Estava disposto a pregar-lhes, não com "palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder". 1 Coríntios 2:2, 4. AA 135 5 Jesus, a quem Paulo estava prestes a apresentar perante os gregos em Corinto como o Cristo, era um judeu de origem humilde, criado em uma cidade proverbial por sua perversidade. Havia sido rejeitado por Sua própria nação, sendo afinal crucificado como malfeitor. Os gregos criam na necessidade do reerguimento da raça humana, mas consideravam o estudo da filosofia e da ciência como o único meio de atingir a verdadeira elevação e honra. Poderia Paulo levá-los a crer que a fé no poder desse obscuro Judeu elevaria e enobreceria cada faculdade do ser? AA 136 1 Para o entendimento de multidões que vivem no presente, a cruz do Calvário está cercada de sagradas recordações. Santas associações estão relacionadas com as cenas da crucifixão. Mas nos dias de Paulo, a cruz era olhada com sentimentos de repulsa e horror. Exaltar como o Salvador da humanidade Aquele que havia encontrado a morte sobre a cruz poderia, naturalmente, despertar o ridículo e a oposição. AA 136 2 Paulo bem sabia como sua mensagem seria considerada tanto pelos judeus como pelos gregos de Corinto. "Nós pregamos a Cristo crucificado", admitiu ele, "que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos". 1 Coríntios 1:23. Entre seus ouvintes judeus havia muitos que ficariam irados com a mensagem que ele estava para proclamar. Na avaliação dos gregos, suas palavras seriam absurda loucura. Ele seria considerado como um débil mental ao tentar mostrar como a cruz poderia ter alguma relação com o reerguimento da raça ou a salvação da humanidade. AA 136 3 Mas para Paulo, a cruz era o único objeto de supremo interesse. Desde que fora detido em sua carreira de perseguição contra os seguidores do crucificado Nazareno, jamais cessara de se gloriar na cruz. Nesse tempo, fora-lhe dada uma revelação do infinito amor de Deus, como revelado na morte de Cristo; e maravilhosa transformação tinha-se operado em sua vida, pondo em harmonia com o Céu todos os seus planos e propósitos. Desde esse momento tornara-se um novo homem em Cristo. Ele sabia por experiência pessoal que quando um pecador uma vez contempla o amor do Pai, como se vê no sacrifício de Seu Filho, e se rende à divina influência, tem lugar uma mudança de coração e, desde então, Cristo é tudo em todos. AA 136 4 Por ocasião de sua conversão, Paulo foi inspirado com o incontido desejo de ajudar seus semelhantes a contemplar a Jesus de Nazaré como o Filho do Deus vivo, poderoso para transformar e para salvar. Desde então, sua vida fora inteiramente dedicada ao esforço para retratar o amor e o poder do Crucificado. Seu grande coração de simpatia abrangeu todas as classes. "Eu sou devedor", declarou, "tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes". Romanos 1:14. O amor para com o Senhor da glória, a quem tão implacavelmente perseguira na pessoa de Seus santos, era o princípio que atuava em sua conduta, o motivo que o impelia. Se acontecia afrouxar o seu amor no caminho do dever, um olhar à cruz e ao amor admirável ali revelado, era suficiente para fazê-lo cingir os lombos de seu entendimento e impeli-lo na senda da renúncia de si mesmo. AA 136 5 Eis o apóstolo pregando na sinagoga de Corinto, argumentando com os escritos de Moisés e dos profetas, e levando seus ouvintes até ao advento do prometido Messias! Consideremos como ele tornou clara a obra do Redentor como o grande Sumo Sacerdote da humanidade -- Aquele que, mediante o sacrifício da Sua própria vida, fez expiação pelo pecado de uma vez por todas e assumiu Seu ministério no santuário celestial. Os ouvintes de Paulo foram levados a compreender que o Messias, por cujo advento haviam eles estado a suspirar, tinha já vindo; que Sua morte fora o antítipo de todas as ofertas sacrificais, e que Seu ministério no santuário do Céu era o grande objeto que projetava sua sombra para o passado, e tornava claro o ministério do sacerdócio judaico. AA 137 1 Paulo testificou aos judeus que Jesus era o Cristo. Baseando-se nas escrituras do Antigo Testamento, mostrou que, de acordo com as profecias e com a universal expectativa dos judeus, o Messias seria da linhagem de Abraão e de Davi; então, traçou a descendência de Jesus do patriarca Abraão ao salmista real. Leu o testemunho dos profetas referentes ao caráter e obra do prometido Messias, e a maneira como seria recebido e tratado na Terra; mostrou, então, que todas essas predições tinham sido cumpridas na vida, ministério e morte de Jesus de Nazaré. AA 137 2 Paulo mostrou que Cristo tinha vindo para oferecer salvação antes de tudo à nação que aguardava a vinda do Messias como a consumação e glória de sua existência nacional. Mas essa nação havia rejeitado Aquele que lhes teria dado vida, e tinha escolhido outro líder cujo reino terminaria em morte. Ele procurou impressionar seus ouvintes com o fato de que somente o arrependimento poderia salvar a nação judaica da ruína impendente. Revelou-lhes a ignorância do significado dessas passagens de que principalmente se orgulhavam e se gloriavam de entender profundamente. Recriminou-lhes o mundanismo, o amor a posições, títulos e ostentação, e seu anormal egoísmo. AA 137 3 No poder do Espírito, Paulo relatou a história de sua própria miraculosa conversão, e de sua confiança nas Escrituras do Antigo Testamento, que tão completamente se haviam cumprido em Jesus de Nazaré. Suas palavras foram faladas com solene fervor, e seus ouvintes não podiam deixar de compreender que ele amava com todo o coração o Salvador crucificado e ressurgido. Viam que sua mente estava centralizada em Cristo, que toda a sua vida estava unida a seu Senhor. Tão impressivas foram suas palavras, que somente os que estavam cheios do mais amargo ódio contra a religião cristã não se deixaram mover por elas. AA 137 4 Mas os judeus de Corinto fecharam os olhos às provas tão claramente apresentadas pelo apóstolo, e recusaram atender seus apelos. O mesmo espírito que os havia levado a rejeitar a Cristo, encheu-os de ira e fúria contra Seu servo. Não o houvesse Deus especialmente protegido, para que ele pudesse continuar levando a mensagem do evangelho aos gentios, e teriam posto fim a sua vida. AA 137 5 "Mas resistindo e blasfemando eles, sacudiu os vestidos, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios. E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Tito Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga". Atos 18:7. AA 138 1 Silas e Timóteo "desceram da Macedônia", para ajudar Paulo, e juntos trabalharam pelos gentios. Aos pagãos, bem como aos judeus, Paulo e seus companheiros pregaram a Cristo como o Salvador da raça caída. Evitando o arrazoado complicado e sutil, os mensageiros da cruz demoraram-se nos atributos do Criador do mundo, o supremo Governador do Universo. Coração inflamado com o amor de Deus e de Seu Filho, eles apelavam aos pagãos para contemplarem o infinito sacrifício feito em favor do homem. Sabiam que, se os que tinham por tanto tempo estado a tatear nas trevas do paganismo pudessem apenas ver a luz a jorrar da cruz do Calvário, seriam atraídos para o Redentor. "E Eu, quando for levantado da terra", declarou o Salvador, "todos atrairei a Mim". João 12:32. AA 138 2 Os obreiros do evangelho em Corinto reconheceram os terríveis perigos que ameaçavam aqueles por quem estavam trabalhando; e foi com o senso de responsabilidade que sobre eles repousava que apresentaram a verdade como é em Jesus. Límpida, clara e decidida foi sua mensagem -- um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. E não apenas em suas palavras, mas em sua vida diária, era o evangelho revelado. Anjos cooperavam com eles, e a graça e poder de Deus eram vistos na conversão de muitos. "E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram, e foram batizados". Atos 18:8. AA 138 3 O ódio com que os judeus haviam sempre olhado os apóstolos foi, então, intensificado. A conversão e o batismo de Crispo tiveram o efeito de exasperar em vez de convencer esses obstinados oponentes. Não podiam apresentar argumentos que refutassem a pregação de Paulo; e, à falta de tais provas, recorreram ao engano e maldosos ataques. Blasfemaram do evangelho e do nome de Jesus. Em seu cego ódio, palavra nenhuma era bastante feia, nenhum ardil demasiadamente vil para não ser por eles usados. Não podiam negar que Cristo havia operado milagres, mas declaravam que Ele os realizara pelo poder de Satanás; e ousadamente afirmavam que as maravilhosas obras feitas por Paulo, o eram por intermédio do mesmo instrumento. AA 138 4 Embora Paulo tivesse tido certa medida de êxito em Corinto, a impiedade que viu e ouviu naquela corrupta cidade quase o desanimou. A depravação que testemunhou entre os gentios, e o desdém e insultos recebidos dos judeus, produziram-lhe grande angústia de espírito. Duvidou da sabedoria de procurar estabelecer uma igreja com o material que ali se encontrava. AA 138 5 Como estivesse planejando deixar a cidade para ir a um campo mais promissor, e buscasse fervorosamente compreender o seu dever, o Senhor lhe apareceu em visão e disse: "Não temas, mas fala, e não te cales; porque Eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade". Atos 18:9, 10. Paulo compreendeu ser essa uma ordem para permanecer em Corinto e uma garantia de que o Senhor faria germinar a semente lançada. Fortalecido e animado, continuou a trabalhar ali, com zelo e perseverança. AA 139 1 Os esforços do apóstolo não estavam restringidos à pregação pública; muitos havia que não poderiam ser alcançados dessa maneira. Ele gastou muito tempo no trabalho de casa em casa, prevalecendo-se assim das relações familiares do círculo doméstico. Visitava os enfermos e tristes, confortava os aflitos, animava os oprimidos. Em tudo o que dizia e fazia engrandecia o nome de Jesus. Trabalhava assim "em fraqueza, e em temor, e em grande tremor". 1 Coríntios 2:3. Ele tremia ao pensamento de que seus ensinos pudessem revelar mais o humano que o divino. AA 139 2 "Falamos sabedoria entre os perfeitos", declarou Paulo depois, "não porém a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu, porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam". 1 Coríntios 2:9. Mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Por que, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. AA 139 3 "Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais". 1 Coríntios 2:6-13. AA 139 4 Paulo reconheceu que sua suficiência não estava em si próprio, mas na presença do Espírito Santo, cuja benigna influência enchia-lhe o coração trazendo cada pensamento em sujeição a Cristo. Ele falava de si como "trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no [...] corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos". 2 Coríntios 4:10. Nos ensinos do apóstolo, Cristo era a figura central. "E vivo", declarou ele, "não mais eu, mas Cristo vive em mim". Gálatas 2:20. O eu fora apagado; Cristo foi revelado e exaltado. AA 139 5 Paulo era um orador eloqüente. Antes de sua conversão havia ele muitas vezes procurado impressionar seus ouvintes com rasgos de oratória. Mas agora, pusera tudo isso de lado. Em vez de se demorar em descrições poéticas e fantasiosas representações que poderiam lisonjear os sentidos e alimentar a imaginação, mas que não encontrariam eco na experiência diária, buscava ele, pelo uso de linguagem simples, convencer os corações com as verdades de importância vital. Representações fantasiosas da verdade podem provocar um êxtase dos sentidos, mas não raro, verdades apresentadas desta maneira não suprem o alimento necessário ao fortalecimento e robustecimento do crente para as batalhas da vida. As necessidades imediatas, as provas presentes das pessoas em conflito, devem ser enfrentadas com instrução prática e sadia com base nos princípios fundamentais do cristianismo. AA 140 1 Os esforços de Paulo em Corinto não ficaram sem fruto. Muitos abandonaram a adoração dos ídolos para servirem ao Deus vivo, e uma grande igreja se alistou sob a bandeira de Cristo. Alguns foram salvos dentre os mais devassos gentios e tornaram-se monumentos da misericórdia de Deus e da eficácia do sangue de Cristo para limpar do pecado. AA 140 2 O crescente sucesso que teve Paulo em apresentar a Cristo despertou a mais determinada oposição da parte dos judeus incrédulos. Levantaram-se "concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal" de Gálio, então procônsul da Acaia. Esperavam que as autoridades, como em ocasiões anteriores, se poriam ao lado deles; e vociferando irados, apresentaram sua acusação contra o apóstolo: "Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei". Atos 18:12, 13. AA 140 3 A religião judaica estava sob a proteção do poder romano; e os acusadores de Paulo pensavam que, se pudessem aplicar-lhe a pecha de violador das leis de sua religião, provavelmente ele lhes seria entregue para julgamento e sentença. Assim esperavam conseguir a sua morte. Mas Gálio era um homem de integridade e recusou tornar-se instrumento da inveja e da intriga dos judeus. Aborrecido com sua hipocrisia e justiça própria, não tomou conhecimento da acusação. Como Paulo se preparasse para falar em defesa própria, Gálio lhe disse não ser necessário. Então, voltando-se para os irados acusadores, disse: "Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria, mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas. E expulsou-os do tribunal". Atos 18:14-16. AA 140 4 Tanto judeus como gregos haviam ansiosamente esperado pela decisão de Gálio; e sua imediata rejeição do caso, como sendo destituído de qualquer interesse público, foi o sinal de retirada dos judeus, mal-sucedidos e irados. A decidida atitude do procônsul abriu os olhos à vociferante multidão que estivera a incitar os judeus. Pela primeira vez durante os trabalhos de Paulo na Europa, a multidão tomou o seu partido. Diante das próprias vistas do procônsul, e sem interferência de sua parte, acometeram violentamente contra o mais preeminente dos acusadores do apóstolo. "Então todos agarraram Sóstenes principal da sinagoga, e o feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o incomodava". Atos 18:17. Assim obtivera o cristianismo assinalada vitória. AA 140 5 Paulo, depois disso, permaneceu "ainda ali muitos dias" Tivesse o apóstolo sido a esse tempo obrigado a deixar Corinto, e os conversos à fé de Jesus teriam sido colocados em perigosa posição. Os judeus ter-se-iam empenhado em aproveitar a vantagem obtida, até mesmo à exterminação do cristianismo naquela região. ------------------------Capítulo 25 -- As cartas aos tessalonicenses AA 141 0 Este capítulo é baseado nas Epístolas aos Tessalonicenses. AA 141 1 A chegada de Silas e Timóteo, vindos da Macedônia enquanto Paulo se encontrava em Corinto, alegrara muito o apóstolo. Trouxera-lhe "boas notícias" da "fé e caridade" dos que haviam aceitado a verdade durante a primeira visita dos mensageiros evangélicos a Tessalônica. O coração de Paulo se comoveu com a mais terna simpatia para com esses crentes que, em meio às provações e adversidades, se haviam mantido fiéis a Deus. Desejou muito visitá-los pessoalmente; como, porém, isso fosse impossível então, escreveu-lhes. AA 141 2 Nessa carta à igreja de Tessalônica, o apóstolo expressa sua gratidão a Deus pelas alegres novas do progresso por eles alcançado na fé. "Irmãos", escreveu, "ficamos consolados acerca de vós, em toda a nossa aflição e necessidade, pela vossa fé, porque agora vivemos, se estais firmes no Senhor. Porque, que ação de graças poderemos dar a Deus por vós, por todo o gozo com que nos regozijamos por vossa causa diante do nosso Deus, orando abundantemente dia e noite, para que possamos ver o vosso rosto, e supramos o que falta à vossa fé? AA 141 3 "Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do trabalho da caridade, e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai". 1 Tessalonicenses 1:2, 3. AA 141 4 Muitos dos crentes de Tessalônica haviam-se convertido dos ídolos a Deus, "para servir ao Deus vivo e verdadeiro" Eles haviam recebido "a palavra em muita tribulação"; e seu coração estava cheio do "gozo do Espírito Santo" O apóstolo declarou que em sua fidelidade em seguir ao Senhor, haviam eles sido "exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia" Essas palavras de louvor não eram imerecidas; "porque por vós", escreveu ele, "soou a Palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou". 1 Tessalonicenses 1:6-8. AA 141 5 Os crentes de Tessalônica eram verdadeiros missionários. Seu coração estava inflamado de zelo pelo seu Salvador, que os livrara do temor da "ira futura". 1 Tessalonicenses 1:10. Mediante a graça de Cristo, uma transformação maravilhosa ocorrera na vida deles; e a Palavra do Senhor, por eles pregada, era acompanhada de poder. Por intermédio das verdades apresentadas, corações foram ganhos e salvos acrescentados ao número dos crentes. AA 142 1 Nessa primeira epístola, Paulo se referiu a sua maneira de trabalhar entre os tessalonicenses. Declarou que não tinha procurado ganhar conversos mediante engano ou fraude. "Mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações. Porque, como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza; Deus é testemunha; e não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros, ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo, ser-vos pesados. Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos". 1 Tessalonicenses 2:4-8. AA 142 2 "Vós e Deus sois testemunhas", continuou o apóstolo, "de quão santa, e justa, e irrepreensivelmente nos houvemos para convosco, os que crestes. Assim como bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós, como o pai a seus filhos; para que vos conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama para o Seu reino e glória. AA 142 3 "Pelo que também damos sem cessar graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também atua em vós, os que crestes". 1 Tessalonicenses 2:10. "Qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? Na verdade vós sois a nossa glória e gozo". 1 Tessalonicenses 2:19, 20. AA 142 4 Em sua primeira epístola aos crentes de Tessalônica, Paulo procurou instruí-los sobre o verdadeiro estado dos mortos. Falou dos que morrem como estando dormindo -- em estado de inconsciência: "Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele. [...] Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor". 1 Tessalonicenses 4:13-17. AA 142 5 Os tessalonicenses tinham-se apegado com avidez à idéia de que Cristo havia de vir para transformar os fiéis que estivessem vivos, levando-os com Ele. Haviam cuidadosamente guardado a vida de seus amigos, para que não morressem e perdessem assim a bênção que eles aguardavam, do encontro com o Salvador prestes a voltar. Porém, um após outro, foram seus amados separados deles. Com angústia, os tessalonicenses tinham contemplado pela última vez o rosto de seus mortos, quase não ousando esperar encontrá-los na vida futura. AA 143 1 Ao ser a epístola de Paulo aberta e lida, grande alegria e consolação tomaram conta da igreja pelas palavras que revelavam o verdadeiro estado dos mortos. Paulo mostrava que os que estivessem vivos quando Cristo voltasse não iriam ao encontro do seu Senhor precedendo aos que tinham morrido em Jesus. A voz do Arcanjo e a trombeta de Deus alcançariam os que estivessem dormindo, e os mortos em Cristo ressuscitariam primeiro, antes que o toque de imortalidade fosse dado aos vivos. "Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras". 1 Tessalonicenses 4:17, 18. AA 143 2 A esperança e alegria que essa afirmação levou à jovem igreja de Tessalônica mal pode ser por nós apreciada. Eles creram na carta que lhes foi enviada por seu pai no evangelho, apreciaram-na e seu coração se comoveu de amor por Paulo. Ele lhes havia falado antes dessas coisas; mas nesse tempo a mente deles tinha dificuldade em compreender doutrinas que pareciam novas e estranhas, e não é de surpreender que a força de alguns pontos não lhes tivesse ficado vividamente impressa na mente. Mas eles estavam famintos da verdade, e a epístola de Paulo deu-lhes nova esperança e alento, e mais firme fé em Cristo, e mais profunda afeição por Aquele que por intermédio de Sua morte tinha trazido à luz vida e imortalidade. AA 143 3 Agora, eles se regozijavam em saber que seus amigos crentes haveriam de ressuscitar da sepultura, a fim de viver para sempre no reino de Deus. As trevas que tinham envolvido o lugar de repouso dos mortos fora dispersada. Um novo esplendor coroava a fé cristã, e eles viram uma nova glória na vida, morte e ressurreição de Cristo. AA 143 4 "Aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele", escreveu Paulo. Muitos dão a essa passagem a interpretação de que os que dormem serão trazidos com Cristo do Céu; mas Paulo queria dizer que, como Cristo ressuscitou dos mortos, assim Deus chamará de suas sepulturas os santos que dormem e os levará consigo para o Céu. Preciosa consolação! Gloriosa esperança! Não apenas para a igreja de Tessalônica, mas para todos os cristãos onde quer que estejam. AA 143 5 Enquanto trabalhava em Tessalônica, Paulo tratou tão amplamente do assunto dos sinais dos tempos, mostrando os acontecimentos que ocorreriam antes da revelação do Filho do homem nas nuvens do céu, que ele não julgava necessário escrever circunstanciadamente sobre esse assunto. Entretanto, especificamente se referiu ao que havia ensinado anteriormente: "Acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva", disse ele. "Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; pois que, quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição". 1 Tessalonicenses 5:1-3. AA 144 1 Muitos há no mundo hoje que fecham os olhos às evidências dadas por Cristo para advertir os homens sobre Sua vinda. Buscam aquietar toda a apreensão, ao mesmo tempo em que os sinais do fim se cumprem rapidamente e o mundo se apressa em direção ao tempo em que o Filho do homem Se revelará nas nuvens do céu. Paulo ensina ser pecaminoso mostrar-se indiferente aos sinais que devem preceder à segunda vinda de Cristo. Aos culpados dessa negligência chama ele filhos da noite e das trevas. Ao vigilante e atento anima ele com estas palavras: "Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão. Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. Não durmamos pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios". 1 Tessalonicenses 5:4-6. AA 144 2 Especialmente importantes para a igreja em nosso tempo são os ensinamentos do apóstolo sobre esse ponto. Para os que vivem tão próximo da grande consumação, as palavras de Paulo devem ter eloqüente força: "Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da caridade, e tendo por capacete a esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com Ele". 1 Tessalonicenses 5:8-10. AA 144 3 Cristão alerta é o cristão que trabalha, buscando zelosamente fazer tudo que está em suas forças para o avanço do evangelho. À proporção que aumenta o seu amor pelo Redentor, também aumenta por seus semelhantes. Como seu Mestre, experimenta ele severas provas, mas não permite que a aflição lhe irrite o temperamento ou destrua a paz de espírito. Sabe que as provações, se bem aceitas, o refinarão e purificarão, pondo-o em íntima comunhão com Cristo. Os que são participantes das aflições de Cristo também participarão de Sua consolação e, por fim, de Sua glória. AA 144 4 "E rogamo-vos irmãos", continua Paulo em sua carta aos tessalonicenses, "que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós". 1 Tessalonicenses 5:12, 13. AA 144 5 Os crentes de Tessalônica foram muito incomodados por homens que chegaram ao seu meio com opiniões e doutrinas fanáticas. Alguns andavam "desordenadamente, não trabalhando, [...] fazendo coisas vãs". 2 Tessalonicenses 3:11. A igreja havia sido devidamente organizada, e seus oficiais tinham sido designados, a fim de agirem como pastores e diáconos. Por que havia alguns rebeldes e impetuosos, que recusavam sujeitar-se aos que exerciam os cargos de autoridade na igreja. Não somente se arrogavam o direito de exercer o juízo pessoal mas o de impor publicamente suas opiniões à igreja. Em vista disso, Paulo chamou a atenção dos tessalonicenses para o respeito e a consideração devidos aos que haviam sido escolhidos para ocupar os cargos de autoridade na igreja. AA 145 1 Em sua ansiedade para que os crentes de Tessalônica andassem no temor de Deus, o apóstolo suplicava-lhes que revelassem na vida diária a piedade prática. "Finalmente, irmãos," escreveu, "vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que continueis a progredir cada vez mais; porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição". 1 Tessalonicenses 4:13. "Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação". 1 Tessalonicenses 4:7. AA 145 2 O apóstolo [Paulo] sentia-se responsável em grande medida pelo bem-estar espiritual dos que se convertiam por seu trabalho. Seu desejo era que crescessem no conhecimento do único verdadeiro Deus, e de Jesus Cristo, a quem Ele enviou. Não raro, em seu ministério, reunia-se com pequenos grupos de homens e mulheres que amavam a Jesus, inclinando-se com eles em oração, pedindo a Deus para lhes ensinar como se manter em íntima comunhão com Ele. Muitas vezes, tomava conselho com eles sobre os melhores métodos de dar a outros a luz da verdade do evangelho. Muitas vezes, quando separados daqueles por quem assim havia trabalhado, suplicava a Deus para que os guardasse do mal, e os ajudasse a se manterem como missionários ativos e fervorosos. AA 145 3 Uma das mais fortes evidências da verdadeira conversão é o amor a Deus e ao homem. Os que aceitam a Jesus como seu Redentor, têm amor sincero e profundo por outros de fé semelhantemente preciosa. Assim foi com os crentes de Tessalônica. "Quanto, porém, à caridade fraternal", escreveu o apóstolo, "não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros. Porque também já assim o fazeis para com todos os irmãos que estão por toda a Macedônia. Exortamo-vos, porém, a que ainda nisto abundeis cada vez mais, e procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessiteis de coisa alguma". 1 Tessalonicenses 4:9-12. AA 145 4 "E o Senhor vos aumente e faça crescer em caridade uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco; para confortar o vosso coração, para que sejais irrepreensíveis em santidade de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os Seus santos". 1 Tessalonicenses 3:12, 13. AA 145 5 "Rogamo-vos também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos. Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças; porque essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco". 1 Tessalonicenses 5:14-18. AA 146 1 O apóstolo advertiu os tessalonicenses a não desprezar o dom de profecia, e nas palavras, "não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias; examinai tudo. Retende o bem", ele ordenou uma cuidadosa discriminação entre o falso e o verdadeiro. Suplicou-lhes que se abstivessem "de toda a aparência do mal"; e concluiu sua carta com uma oração para que Deus os santificasse em tudo, para que em "espírito, e alma, e corpo", fossem "plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama", acrescentou, "o qual também o fará". 1 Tessalonicenses 5:19-24. AA 146 2 As instruções que Paulo enviou aos tessalonicenses em sua primeira epístola com respeito à segunda vinda de Cristo, estavam em perfeita harmonia com seu ensino anterior. No entanto, suas palavras foram mal-compreendidas por alguns dos irmãos tessalonicenses. Compreenderam que Paulo havia expressado a esperança de que ele próprio estaria vivo para testemunhar o advento do Salvador. Essa crença serviu para aumentar-lhes o interesse e o entusiasmo. Os que antes haviam negligenciado suas responsabilidades e deveres, agora se tornaram mais persistentes em insistir em seus errôneos pontos de vista. AA 146 3 Em sua segunda carta, Paulo procurou corrigir a má interpretação de seu ensino, e expor perante eles sua verdadeira posição. De novo expressou sua confiança na integridade deles, e gratidão por sua firme fé, e pelo abundante amor de uns para com outros, bem como para com a causa do Mestre. Disse-lhes que os apresentava às outras igrejas como exemplo de paciente, perseverante fé que valorosamente suporta perseguição e tribulação, e dirigia-lhes o pensamento para o tempo da segunda vinda de Cristo, quando o povo de Deus descansaria de seus cuidados e perplexidades. AA 146 4 "Nós mesmos", escreveu ele, "nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais [...] e a vós, que sois atribulados, descanso conosco; quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o Céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais por castigo padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder [...] pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da Sua vocação, e cumpra todo o desejo da Sua bondade, e a obra da fé com poder; para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nEle, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo". 2 Tessalonicenses 1:4-8. AA 146 5 Mas antes da vinda de Cristo deviam ocorrer importantes acontecimentos no mundo religioso, preditos em profecias. O apóstolo declarou: "Não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus". 2 Tessalonicenses 2:2-4. AA 147 1 As palavras de Paulo não deviam ser mal-interpretadas. Não pretendiam ensinar que ele, por especial revelação, tivesse advertido os tessalonicenses da imediata vinda de Cristo. Tal posição causaria confusão de fé; pois o desapontamento geralmente leva à incredulidade. O apóstolo, pois, advertia os irmãos a não receberem tal mensagem como vinda de sua parte; e prosseguia dando ênfase ao fato de que o poder papal, tão claramente descrito pelo profeta Daniel, devia ainda levantar-se, e fazer guerra contra o povo de Deus. Até que esse poder tivesse realizado sua obra mortal e blasfema, seria inútil a igreja esperar pela vinda do Senhor. "Não vos lembrais", interrogava Paulo, "de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?" 2 Tessalonicenses 2:5. AA 147 2 Terríveis eram as provas que deviam alcançar a igreja verdadeira. Na época em que o apóstolo estava escrevendo, já "o mistério da injustiça" começara a operar. O desenvolver dos acontecimentos a ocorrer no futuro devia ser segundo a eficácia de Satanás "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem". 2 Tessalonicenses 2:7, 9, 10. AA 147 3 Especialmente solene é a afirmação do apóstolo com respeito aos que se recusariam a receber "o amor da verdade" "E por isso", declarou ele a respeito de todos os que deliberadamente rejeitam a mensagem da verdade, "Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade". 2 Tessalonicenses 2:10-12. As pessoas não podem rejeitar impunemente as advertências que Deus em Sua misericórdia lhes envia. Deus retira Seu Espírito dos que persistem em desprezar essas advertências, deixando-os na dependência do engano que amam. AA 147 4 Assim esboçou Paulo a desastrosa obra desse poder do mal que devia continuar através dos longos séculos de trevas e perseguição, antes da segunda vinda de Cristo. Os crentes de Tessalônica tinham esperado por libertação imediata; agora eram admoestados a assumir corajosamente e no temor de Deus, a obra que estava diante deles. O apóstolo mandou que não negligenciassem seus deveres nem se resignassem à expectativa inútil. Depois de sua ardente expectativa de imediato livramento, a rotina da vida diária e a oposição que teriam de enfrentar pareceriam duplamente desalentadoras; portanto, ele os exortava a permanecer firmes na fé: AA 147 5 "Estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console os vossos corações, e vos conforte em toda a boa palavra e obra". 2 Tessalonicenses 2:15-17. "Mas fiel é o Senhor, que vos confortará, e guardará do maligno. E confiamos de vós no Senhor que não só fazeis, como fareis o que vos mandamos. Ora o Senhor encaminhe os vossos corações na caridade de Deus, e na paciência de Cristo". 2 Tessalonicenses 3:5. AA 148 1 A obra dos crentes fora-lhes dada por Deus. Por seu fiel apego à verdade deviam eles dar a outros a luz que haviam recebido. O apóstolo os encorajou a não se cansarem de fazer o bem, e apontou-lhes seu próprio exemplo de diligência em assuntos temporais mesmo enquanto trabalhava com incansável zelo na causa de Cristo. Reprovou os que se haviam entregado ao despertamento irrazoável e sem objetivo, e mandou que estes "trabalhando com sossego" comessem "o seu próprio pão". 2 Tessalonicenses 3:12. Também ordenou à igreja que separasse de sua comunhão qualquer pessoa que persistisse em desrespeitar as instruções dadas pelos ministros de Deus. "Todavia", acrescentou, "não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão". 2 Tessalonicenses 3:15. AA 148 2 Também essa epístola Paulo concluiu com uma oração, para que, em meio às provações e lutas da vida, a paz de Deus e a graça do Senhor Jesus Cristo pudessem servir-lhes de consolação e arrimo. ------------------------Capítulo 26 -- Apolo em Corinto AA 149 0 Este capítulo é baseado em Atos 18:18-28. AA 149 1 Depois de deixar Corinto, o seguinte ponto de trabalho de Paulo foi Éfeso. Ele estava a caminho de Jerusalém, a fim de assistir a uma festividade que se aproximava; e sua permanência em Éfeso foi necessariamente breve. Discursou aos judeus na sinagoga, e tão favorável foi a impressão exercida sobre eles que insistiram para que continuasse seu trabalho entre eles. Seu plano de visitar Jerusalém o impediu então de demorar-se, mas prometeu que voltaria para eles, "querendo Deus". Atos 18:21. Áquila e Priscila haviam-no acompanhado a Éfeso, e ele os deixou ali para que continuassem a obra que ele havia começado. AA 149 2 Foi por esse tempo que "um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, varão eloqüente e poderoso nas Escrituras" (Atos 18:24) chegou a Éfeso. Ele tinha ouvido a pregação de João Batista, recebido o batismo do arrependimento e era uma testemunha viva de que a obra do profeta não tinha sido em vão. O relatório que a Escritura apresenta de Apolo é que ele "era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João". Atos 18:25. AA 149 3 Enquanto esteve em Éfeso, Apolo começou a falar ousadamente na sinagoga. Entre seus ouvintes estavam Áquila e Priscila que, percebendo não ter ele ainda recebido toda a luz do evangelho, "tomaram-no consigo e, com mais exatidão lhe expuseram o caminho de Deus". Atos 18:26. Por meio de seus ensinos ele obteve mais clara compreensão das Escrituras, e tornou-se um dos mais hábeis advogados da fé cristã. AA 149 4 Apolo estava desejoso de ir para Acaia, e os irmãos de Éfeso "escreveram aos discípulos que o recebessem" como um ensinador em perfeita harmonia com a igreja de Cristo. Seguiu para Corinto onde, em trabalho público e de casa em casa, "com grande veemência convencia... os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo". Atos 18:27, 28. Paulo havia plantado a semente da verdade; Apolo regou-a em seguida. O sucesso alcançado por Apolo na pregação do evangelho levou alguns crentes a exaltar seu trabalho acima do de Paulo. Essa comparação de homem com homem suscitou na igreja o espírito de partidarismo que ameaçou deter o progresso do evangelho. AA 149 5 Durante o ano e meio que Paulo permanecera em Corinto, propositadamente apresentara o evangelho em sua simplicidade. "Não foi com sublimidade de palavras ou de sabedoria" que ele se havia apresentado aos coríntios; mas com temor e tremor, e "em demonstração de espírito e de poder" havia ele declarado "o testemunho de Deus" para que sua fé "não se apoiasse em sabedoria de homens, mas no poder de Deus". 1 Coríntios 2:1, 4, 5. AA 150 1 Paulo havia necessariamente adaptado às condições da igreja sua maneira de ensinar. "E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais", explicou-lhes mais tarde, "mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tão pouco ainda agora podeis". 1 Coríntios 3:1, 2. Muitos dos crentes coríntios haviam sido vagarosos em aprender as lições que ele procurara lhes ensinar. Seu progresso no conhecimento espiritual não havia sido proporcional aos privilégios e oportunidades. Quando deviam estar muito adiantados na experiência cristã, e capazes de compreender e praticar as profundas verdades da Palavra, ainda estavam onde estiveram os discípulos quando Cristo lhes dissera: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora". João 16:12. Inveja, desconfianças e acusações haviam fechado o coração de muitos dos crentes coríntios para uma completa obra do Espírito Santo, o qual "penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus". 1 Coríntios 2:10. Sábios como pudessem ser em conhecimentos seculares, ainda não passavam de crianças no conhecimento de Cristo. AA 150 2 Tinha sido a obra de Paulo instruir os conversos coríntios nos rudimentos, o próprio alfabeto, da fé cristã. Havia ele sido obrigado a instruí-los como a pessoas ignorantes das operações do poder divino sobre o coração. A esse tempo eram eles incapazes de compreender os mistérios da salvação; pois "o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. Paulo tinha procurado semear a semente que outros deviam regar. Os que viessem depois dele deviam continuar a obra do ponto em que ele a havia deixado, proporcionando luz e conhecimento espirituais no tempo devido, conforme a igreja fosse capaz de compreender. AA 150 3 Quando o apóstolo se empenhou em sua obra em Corinto, sentiu que precisava introduzir da maneira mais cuidadosa as grandes verdades que lhes desejava ensinar. Ele sabia que entre seus ouvintes estariam crentes que se orgulhavam de teorias humanas, expositores de falsos sistemas de adoração, que tateavam como cegos, esperando encontrar no livro da natureza teorias que pudessem contradizer a realidade da vida espiritual e imortal como revelada nas Escrituras. Sabia também que críticos se esforçariam para controverter a interpretação cristã da Palavra revelada, e que céticos tratariam o evangelho de Cristo com zombaria e escárnio. AA 150 4 Enquanto se esforçava por levar as pessoas para o pé da cruz, Paulo não se aventurava a repreender diretamente os licenciosos, ou a mostrar quão abominável era o pecado deles aos olhos de um Deus santo. Antes, expunha diante deles o verdadeiro objetivo da vida, e procurava imprimir-lhes na mente as lições do divino Mestre, as quais, se recebidas, os levantariam do mundanismo e do pecado para a pureza e justiça. Frisou especialmente a piedade prática, e a santidade que deviam alcançar os que desejassem ser considerados dignos de um lugar no reino de Deus. Almejava ver a luz do evangelho de Cristo afastando-lhes as trevas do espírito, para que pudessem ver quão ofensivas eram à vista de Deus suas práticas imorais. Por isso, a ênfase de seus ensinos entre eles era Cristo, e Este crucificado. Procurava mostrar-lhes que seu mais fervoroso estudo e sua maior alegria deviam ser a maravilhosa verdade da salvação mediante o arrependimento para com Deus e a fé no Senhor Jesus Cristo. AA 151 1 Os filósofos se desviam da luz da salvação, porque ela expõe à vergonha suas orgulhosas teorias; os mundanos recusam-se a recebê-la, porque ela tende a separá-los de seus ídolos terrenos. Paulo viu que o caráter de Cristo precisava ser compreendido antes que os homens pudessem amá-Lo, ou contemplar a cruz com os olhos da fé. Nesse ponto deve começar o estudo que será a ciência e o cântico dos remidos através de toda a eternidade. Somente à luz do Calvário pode o verdadeiro valor de uma pessoa ser avaliado. AA 151 2 A enobrecedora influência da graça de Deus muda a disposição natural do homem. O Céu não seria um lugar desejável à mente carnal; seu coração natural, não santificado, não sentiria nenhum interesse para esse puro e santo lugar; e se lhes fosse possível ali entrar, nada encontrariam com que se identificar. As tendências que controlam o coração natural devem ser subjugadas pela graça de Cristo, antes que o homem caído esteja em condições de entrar no Céu e partilhar da comunhão com os anjos puros e santos. Quando o homem morre para o pecado, e passa a viver nova vida em Cristo, divino amor enche-lhe o coração; seu entendimento é santificado; ele bebe da inesgotável fonte de alegria e conhecimento; e brilha em seu caminho a luz de um eterno dia, pois com ele está continuamente a luz da vida. AA 151 3 Paulo tinha procurado imprimir na mente de seus irmãos coríntios o fato de que ele e os ministros que com ele trabalhavam eram apenas homens comissionados por Deus para ensinar a verdade; que estavam todos empenhados na mesma obra; e que igualmente dependiam de Deus para alcançar sucesso em sua obra. A discussão que se levantara na igreja com respeito ao mérito relativo de diferentes ministros não era do plano divino, mas foi o resultado de acariciarem os atributos do coração natural. "Porque, dizendo um: eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento". 1 Coríntios 3:4-7. AA 152 1 Foi Paulo quem primeiro pregou o evangelho em Corinto, e organizou a igreja ali. Essa era a obra que o Senhor lhe havia designado. Mais tarde, pela direção de Deus, outros obreiros foram admitidos para ocupar seu lugar e cargo. A semente semeada devia ser regada, e isso Apolo devia fazer. Ele seguiu a Paulo em sua obra, a fim de dar instruções posteriores e ajudar a semente a se desenvolver. Ele logrou alcançar o coração do povo, mas foi Deus que deu o crescimento. Não é o poder humano, mas o divino, que atua para a transformação do caráter. Nem os que plantam nem os que regam promovem a germinação da semente; trabalham sob a orientação de Deus, como instrumentos por Ele indicados, com Ele cooperando em Sua obra. Ao Obreiro Mestre pertencem a honra e a glória que vêm com sucesso. AA 152 2 Nem todos os servos de Deus possuem os mesmos dons, mas são todos obreiros a Seu serviço. Cada um deve aprender do grande Mestre e, então, comunicar o que aprendeu. Deus deu a cada um de Seus mensageiros uma obra individual. Há diversidade de dons, mas todos os obreiros devem coordenar-se em harmonia, controlados pela santificadora influência do Espírito Santo. Ao tornarem conhecido o evangelho da salvação, muitos ficarão convencidos e se converterão pelo poder de Deus. A colaboração humana está oculta com Cristo em Deus, e Cristo aparece como o que leva a bandeira entre dez mil, como Aquele que é totalmente desejável. AA 152 3 "Ora o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão segundo seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus". 1 Coríntios 3:8, 9. Nessa passagem o apóstolo compara a igreja a um campo cultivado, em que o lavrador cuida da vinha do Senhor; também a compara a um edifício, o qual cresce para templo santo do Senhor. Deus é o arquiteto, e a cada um Ele indicou o respectivo trabalho. Todos devem trabalhar sob a Sua supervisão, permitindo-Lhe agir em favor de Seus obreiros e por intermédio deles. Ele lhes dá tato e habilidade, e se aceitarem Suas instruções, coroa-lhes os esforços com sucesso. AA 152 4 Os servos de Deus devem trabalhar unidos, coordenando-se em bondade e cortesia mútuas, preferindo-se "em honra uns aos outros". Romanos 12:10. Não deve haver indelicado criticismo, nem o desejo de fragmentar a obra de outros; não deve haver partes separadas. Cada pessoa a quem o Senhor confiou uma mensagem tem sua obra específica. Cada um tem sua própria individualidade, que não deve diluir-se na de outro. Não obstante, cada um deve trabalhar em harmonia com seus irmãos. Em seu trabalho, os obreiros de Deus devem ser essencialmente uma unidade. Ninguém deve colocar-se como padrão, falando desconsideradamente a respeito de seus companheiros, ou tratando-os como se eles fossem inferiores. Sob o cuidado de Deus, cada um deve desincumbir-se da tarefa que lhe foi indicada, devendo contar com o respeito, amor e animação dos outros obreiros. Unidos, devem conduzir a obra rumo a sua terminação. AA 153 1 Esses princípios são muito frisados na primeira carta de Paulo à igreja de Corinto. O apóstolo refere-se aos "ministros de Cristo", como "despenseiros dos mistérios de Deus"; e com respeito a sua obra, declara: "Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tão pouco a mim mesmo me julgo. Porque em nada me sinto culpado; mas nem por isso me considero justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto nada julgueis antes do tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor". 1 Coríntios 4:1-5. AA 153 2 A ninguém é dado julgar entre os diferentes servos de Deus. Somente o Senhor é o juiz da obra do homem, e a cada um dará Ele a justa recompensa. AA 153 3 Continuando, o apóstolo se referiu diretamente à comparação feita entre seu trabalho e o de Apolo: "Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" 1 Coríntios 4:6, 7. AA 153 4 Paulo passa a expor claramente perante a igreja os perigos e dificuldades que ele e seus companheiros haviam pacientemente suportado no serviço para Cristo. "Até esta presente hora", declarou ele, "sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa. E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar; mas admoesto-vos como meus filhos amados. Porque ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo não teríeis contudo muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo". 1 Coríntios 4:11-15. AA 153 5 Aquele que envia obreiros evangelistas como Seus embaixadores, é desonrado quando se manifesta entre os ouvintes um tão forte apego a algum pastor favorito, a ponto de haver má vontade em aceitar os trabalhos de outro mestre. O Senhor envia auxílio a Seu povo nem sempre da maneira por que eles preferem, mas sim, conforme as suas necessidades; pois os homens são curtos de vista, e não podem discernir o que é para seu maior bem. É raro ter um pastor todas as qualidades necessárias para aperfeiçoar uma igreja em todas as exigências do cristianismo; por isso Deus muitas vezes lhes envia outros pastores, possuindo cada qual habilitações em que os outros eram deficientes. AA 153 6 A igreja deve acolher com gratidão esses servos de Cristo, da mesma forma que acolheria o próprio Senhor. Deveriam procurar tirar das instruções que cada ministro lhes proporciona da Palavra de Deus, todo o benefício possível. As verdades apresentadas pelos servos de Deus devem ser aceitas e apreciadas com docilidade e humildade, mas ministro algum deve ser idolatrado. AA 154 1 Mediante a graça de Cristo, os ministros de Deus são feitos mensageiros de luz e bênção. Quando mediante oração fervorosa e perseverante obtiverem a dotação do Espírito Santo e saírem possuídos do desejo de salvar, os corações plenos de zelo para estender os triunfos da cruz verão os frutos de seus trabalhos. Recusando resolutamente exibir sabedoria humana ou exaltar-se, eles realizarão uma obra que resistirá aos assaltos de Satanás. Muitas pessoas sairão das trevas para a luz, e muitas igrejas serão estabelecidas. Os homens se converterão, não ao instrumento humano, mas a Cristo. O eu será mantido subjugado; somente Jesus, o Homem do Calvário, aparecerá. AA 154 2 Os que trabalham por Cristo hoje, podem revelar as mesmas distintas excelências reveladas pelos que proclamaram o evangelho na era apostólica. Deus está tão pronto a dar poder a Seus servos hoje quanto esteve quando o deu a Paulo e Apolo, a Silas e Timóteo, a Pedro, Tiago e João. AA 154 3 Nos dias dos apóstolos, havia algumas pessoas mal orientadas que diziam crer em Cristo, mas se recusavam a demonstrar respeito aos Seus representantes. Declaravam que não seguiam mestres humanos, mas eram diretamente instruídas por Cristo, sem a ajuda dos ministros do evangelho. Eram de espírito independente e indispostos para se submeterem à orientação da igreja. Tais criaturas estavam em grave perigo de ser enganadas. AA 154 4 Deus pôs na igreja, como Seus auxiliares indicados, homens de talentos diferentes para que, mediante a sabedoria de muitos, seja feita a vontade do Espírito. Os homens que agem de conformidade com seus fortes traços de caráter, recusando aliar-se a outros que têm tido mais longa experiência na obra de Deus, ficam cegos pela confiança própria, incapazes de discernir entre o falso e o verdadeiro. Não é seguro escolher tais pessoas para líderes na igreja, pois seguirão seu próprio juízo e planos, sem consideração pelo juízo de seus irmãos. É fácil para o inimigo agir por intermédio dos que, necessitando eles próprios de conselho a cada passo, se encarregam do cuidado dos salvos em sua própria força, sem ter aprendido a mansidão de Cristo. AA 154 5 Impressões apenas não são guias seguros no cumprimento do dever. Muitas vezes, o inimigo persuade os homens a crer que é Deus que os está guiando, quando na realidade estão seguindo apenas o impulso humano. Mas se vigiarmos cuidadosamente, e tomarmos conselho com nossos irmãos, ser-nos-á dada compreensão da vontade do Senhor; pois a promessa é: "Guiará os mansos retamente, e aos mansos ensinará o Seu caminho". Salmos 25:9. AA 154 6 Na primitiva igreja cristã havia alguns que recusavam reconhecer a Paulo ou a Apolo, mas consideravam Pedro seu guia. Afirmavam que Pedro tinha estado na maior intimidade de Cristo quando o Mestre esteve na Terra, ao passo que Paulo fora um perseguidor dos crentes. Suas opiniões e sentimentos estavam atados ao preconceito. Não mostravam a liberalidade, a generosidade e brandura que revelam estar Cristo habitando no coração. AA 155 1 Havia o perigo desse espírito de partidarismo resultar em grande mal para a igreja cristã; e Paulo foi instruído pelo Senhor a usar palavras de fervorosa admoestação e solene protesto. Aos que diziam: "Eu sou de Paulo; e, Eu de Apolo; e, Eu de Cefas; e, Eu de Cristo", o apóstolo interrogava: "Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?" 1 Coríntios 1:12, 13. "Ninguém se glorie nos homens", suplicava ele. "Porque tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus". 1 Coríntios 3:21-23. AA 155 2 Paulo e Apolo estavam em perfeita harmonia. O último ficou desapontado e magoado por causa da dissensão na igreja de Corinto; não tirou vantagem da preferência a ele mostrada, nem a encorajou, mas apressadamente deixou o campo da contenda. Quando mais tarde Paulo insistiu com ele para que tornasse a visitar Corinto, ele declinou, e não voltou a trabalhar ali por muito tempo, até que a igreja tivesse alcançado melhor estado espiritual. ------------------------Capítulo 27 -- Éfeso AA 156 0 Este capítulo é baseado em Atos 19:1-20. AA 156 1 Enquanto Apolo pregava em Corinto, Paulo cumpria sua promessa de voltar a Éfeso. Havia feito uma rápida visita a Jerusalém e gastara algum tempo em Antioquia, cenário de seus primeiros trabalhos. Daí viajou através da Ásia Menor, "sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia" (Atos 18:23), visitando as igrejas que ele próprio estabelecera e fortalecendo a fé dos crentes. AA 156 2 No tempo dos apóstolos, a parte oeste da Ásia Menor era conhecida como a província romana da Ásia. Éfeso, a capital, era um grande centro comercial. Seu porto estava coalhado de embarcações e suas ruas apinhadas de pessoas de todos os países. Como Corinto, Éfeso apresentava um campo promissor para o trabalho missionário. AA 156 3 Os judeus, então amplamente dispersos por todas as terras civilizadas, estavam geralmente expectantes pelo advento do Messias. Quando João Batista estava pregando, muitos, em suas visitas a Jerusalém por ocasião das festas anuais, haviam ido às barrancas do Jordão para ouvi-lo. Ali ouviram eles ser Jesus proclamado como o Prometido, e tinham levado as novas a todas as partes do mundo. Dessa maneira, a providência havia preparado o caminho para o trabalho dos apóstolos. AA 156 4 Chegando a Éfeso, Paulo encontrou doze crentes que, como Apolo, tinham sido discípulos de João Batista e como ele alcançado algum conhecimento da missão de Cristo. Eles não tinham a habilidade de Apolo, mas com a mesma sinceridade e fé estavam procurando espalhar o conhecimento que possuíam. AA 156 5 Esses irmãos nada sabiam da missão do Espírito Santo. Quando interrogados por Paulo se haviam recebido o Espírito Santo, responderam: "Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo" "Em que sois batizados então?" interrogou Paulo, e eles responderam: "No batismo de João". Atos 19:2, 3. AA 156 6 Então, o apóstolo expôs perante eles as grandes verdades que são o fundamento da esperança do cristão. Falou-lhes da vida de Cristo na Terra, e de Sua cruel morte de vergonha. Contou-lhes como o Senhor da vida quebrara os grilhões da tumba e ressurgira triunfante da morte. Repetiu as palavras da comissão do Salvador aos discípulos: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto ide, e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo". Mateus 28:18, 19. Falou-lhes também da promessa de Cristo de enviar o Consolador, por cujo poder grandes sinais e maravilhas seriam feitos, e contou-lhes quão gloriosamente havia essa promessa sido cumprida no dia de Pentecostes. AA 157 1 Com profundo interesse e grata alegria os irmãos atentaram para as palavras de Paulo. Pela fé aprenderam a maravilhosa verdade do sacrifício expiatório de Cristo, e receberam-nO como seu Redentor. Foram, então, batizados em nome de Jesus; "e, impondo-lhes Paulo as mãos" (Atos 19:6), receberam também o batismo do Espírito Santo que os capacitou a falar as línguas de outras nações e a profetizar. Dessa forma estavam habilitados a trabalhar como missionários em Éfeso e circunvizinhanças, e também a sair para proclamar o evangelho na Ásia Menor. AA 157 2 Foi por nutrir um espírito humilde e dócil que esses homens alcançaram a experiência que os capacitava a sair como obreiros para o campo da seara. Seu exemplo oferece aos cristãos uma lição de grande valor. Há muitos que fazem apenas pequeno progresso na vida religiosa porque são presunçosos demais para ocupar a posição de aprendizes. Sentem-se satisfeitos com o conhecimento superficial da Palavra de Deus. Não desejam mudar sua fé ou obras, e não fazem, por conseguinte, qualquer esforço para obter maior luz. AA 157 3 Se os seguidores de Cristo fossem fervorosos na busca da sabedoria, seriam levados aos ricos campos da verdade, ainda inteiramente desconhecidos para eles. Aquele que se entregar inteiramente a Deus, será guiado pela mão divina. Poderá ser humilde e aparentemente não dotado de dons; contudo, se com coração amante e confiante obedecer a toda manifestação da vontade de Deus, suas faculdades serão purificadas, enobrecidas, revigoradas e aumentada a sua capacidade. Ao serem por ele entesouradas as lições de divina sabedoria, um sagrado encargo ser-lhe-á confiado; será capacitado a fazer de sua vida uma honra para Deus e uma bênção para o mundo. "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices". Salmos 119:130. AA 157 4 Há muitos hoje em dia tão ignorantes da obra do Espírito Santo sobre o coração quanto o eram os crentes de Éfeso; não há, entretanto, verdade mais claramente ensinada na Palavra de Deus. Profetas e apóstolos têm-se demorado sobre este tema. Cristo mesmo chama nossa atenção para o crescimento do mundo vegetal, como uma ilustração da operação de Seu Espírito para manter a vida espiritual. A seiva da vinha, subindo da raiz, é difundida para os ramos, promovendo o crescimento e produzindo flores e frutos. Assim o poder vitalizante do Espírito Santo, que emana do Salvador, permeia a vida, renova os motivos e afeições e leva os próprios pensamentos à obediência da vontade de Deus, capacitando o que recebe a produzir os preciosos frutos de obras santas. AA 157 5 O Autor dessa vida espiritual é invisível, e o método exato pelo qual é essa vida repartida e mantida está além da capacidade da filosofia humana explicar. Todavia, as operações do Espírito estão sempre em harmonia com a Palavra escrita. Como sucede no mundo natural, assim também se dá no espiritual. A vida natural é preservada a todo momento pelo divino poder; todavia não é sustentada por um milagre direto, mas mediante o uso de bênçãos colocadas ao nosso alcance. De igual forma é a vida espiritual sustentada pelo uso dos meios supridos pela Providência. Se o seguidor de Cristo quiser crescer até chegar "a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Efésios 4:13), precisa comer do pão da vida e beber da água da salvação. Precisa vigiar, orar e trabalhar, dando em todas as coisas atenção às instruções de Deus em Sua Palavra. AA 158 1 Há ainda para nós outras lições na experiência daqueles conversos judeus. Quando receberam o batismo das mãos de João, não compreenderam completamente a missão de Jesus como Aquele que leva o pecado. Mantinham sérios erros. Mas com mais clara luz, alegremente aceitaram a Cristo como seu Redentor, e com esse passo de progresso veio uma mudança em suas obrigações. Ao receberem uma fé mais pura, houve uma correspondente mudança em sua vida. Como sinal dessa mudança, e em reconhecimento de sua fé em Cristo, foram rebatizados no nome de Jesus. AA 158 2 Conforme seu costume, Paulo iniciou sua obra em Éfeso pregando na sinagoga dos judeus. Aí continuou trabalhando por três meses, "disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus" A princípio, encontrou recepção favorável; mas como nos outros campos, logo surgiu violenta oposição. "Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão" (Atos 19:8, 9), e como persistissem em sua rejeição do evangelho, o apóstolo cessou de pregar na sinagoga. AA 158 3 O Espírito de Deus operara em Paulo e por meio dele, em seus trabalhos em favor de seus compatriotas. Suficiente prova fora apresentada para convencer a todos os que sinceramente desejassem conhecer a verdade. Muitos, porém, permitiram que os dominassem o preconceito e a incredulidade, e recusaram submeter-se à mais decisiva evidência. Temendo que a fé dos crentes corresse perigo pela contínua associação com esses oponentes da verdade, Paulo se separou deles e reuniu os discípulos num grupo distinto, continuando suas instruções públicas na escola de Tirano, professor de algum destaque. AA 158 4 Paulo viu que "uma porta grande e eficaz" se lhe abria, embora houvesse "muitos adversários". 1 Coríntios 16:9. Éfeso não era somente a mais magnificente, como também a mais corrupta das cidades da Ásia. A superstição e os prazeres sensuais mantinham domínio sobre sua fervilhante população. À sombra de seus templos encontravam guarida os criminosos de toda espécie, e floresciam os mais degradantes vícios. AA 158 5 Éfeso era o centro popular da adoração de Diana. A fama do magnificente templo da "Diana dos efésios", estendia-se através de toda a Ásia e do mundo. Seu insuperável esplendor tornava-o o orgulho não apenas da cidade, mas da nação. Declarava a tradição haver o ídolo caído do céu dentro do templo. Sobre ele estavam escritos caracteres simbólicos, dos quais se dizia que possuíam grande poder. Livros haviam sido escritos pelos efésios para explicar o significado e o uso desses símbolos. AA 159 1 Entre os que estudavam com atenção esses custosos livros, estavam muitos mágicos que exerciam poderosa influência sobre a mente dos supersticiosos adoradores da imagem no templo. AA 159 2 Ao apóstolo Paulo, em suas atividades em Éfeso, foi dada especial demonstração do favor divino. O poder de Deus acompanhava seus esforços, e muitos eram curados de males físicos. "E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam". Atos 19:11, 12. Essas manifestações de poder sobrenatural eram tão mais poderosas que as que já haviam sido antes testemunhadas em Éfeso, e de tal caráter que as não podiam imitar os habilidosos truques ou encantamentos de feiticeiros. Ao serem esses milagres operados no nome de Jesus de Nazaré, tinha o povo oportunidade de ver que o Deus do Céu era mais poderoso que os mágicos adoradores da deusa Diana. Assim o Senhor exaltava Seu servo, mesmo diante dos idólatras, incomparavelmente acima do mais poderoso e favorecido dos mágicos. AA 159 3 Mas Aquele a quem estão sujeitos todos os espíritos do mal, e sobre os quais dera a Seus servos autoridade, estava para levar maior vergonha e ruína sobre os que desprezavam e profanavam Seu santo nome. A feitiçaria havia sido proibida pela lei de Moisés, sob pena de morte, embora de tempos em tempos houvesse sido praticada secretamente por judeus apostatados. Ao tempo da visita de Paulo a Éfeso, havia na cidade "alguns dos exorcistas judeus ambulantes", os quais vendo as maravilhas por ele operadas, "tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos" Uma tentativa foi feita por "sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes" Encontrando um homem possesso de demônio, disseram-lhe: "Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega" Porém, "o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de dois, pôde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa". Atos 19:13-16. AA 159 4 Foi dada assim prova insofismável da santidade do nome de Cristo, e do perigo que incorreriam os que invocassem esse nome sem fé na divindade da missão do Salvador. "E caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido". Atos 19:17. AA 159 5 Fatos que haviam sido previamente encobertos foram então trazidos à luz. Ao aceitarem o cristianismo, alguns crentes não haviam renunciado inteiramente as suas superstições. Ainda continuaram em certa medida a praticar a magia. Agora, convictos de seu erro, "muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos". Atos 19:18. A boa obra se estendeu mesmo a alguns dos próprios feiticeiros; e "muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montavam a cinqüenta mil peças de prata. Assim a Palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia". Atos 19:19, 20. AA 160 1 Queimando seus livros sobre magia, os conversos efésios mostravam que aquilo em que antes se deleitavam abominavam agora. Foi por praticarem artes mágicas, e por meio delas, que haviam especialmente ofendido a Deus e posto em perigo sua salvação; e foi contra as artes mágicas que mostraram tal indignação. Assim deram prova de verdadeira conversão. AA 160 2 Esses tratados de adivinhação continham regras e formas de comunicação com os espíritos do mal. Eram os regulamentos da adoração de Satanás -- regras para lhe solicitar auxílio e obter dele informações. Retendo esses livros os discípulos se estariam expondo à tentação; vendendo-os teriam colocado a tentação no caminho de outros. Haviam renunciado ao reino das trevas, e para destruir seu poder não hesitaram ante qualquer sacrifício. Triunfou assim a verdade sobre o preconceito dos homens e seu amor ao dinheiro. AA 160 3 Por essa manifestação do poder de Cristo, foi ganha poderosa vitória para o cristianismo na própria fortaleza da superstição. A influência do evento espalhou-se até mais amplamente do que Paulo imaginava. De Éfeso, as novas circularam por vasta extensão, e forte impulso foi dado à causa de Cristo. Muito tempo depois de haver o apóstolo terminado sua carreira, estas cenas ainda viviam na memória do povo e eram um meio de ganhar conversos para o evangelho. AA 160 4 Supõe-se lisonjeiramente que as superstições pagãs tenham desaparecido dos locais mais civilizados em nossos dias. Mas a Palavra de Deus e o severo testemunho dos fatos declaram que a feitiçaria é praticada neste século tanto quanto o foi nos velhos tempos da magia. O antigo sistema de magia é, na realidade, o mesmo agora conhecido como espiritualismo. Satanás está encontrando acesso a milhares de mentes por apresentar-se sob o disfarce de amigos já falecidos. As Escrituras declaram que "os mortos não sabem coisa nenhuma". Eclesiastes 9:5. Seus pensamentos, amor e ódio já pereceram. Os mortos não mantêm comunhão com os vivos. Mas seguro de sua antiga astúcia, Satanás emprega esse engano para obter o controle das mentes. AA 160 5 Através do espiritualismo, muitos enfermos, desolados, curiosos se estão comunicando com os espíritos do mal. Todos os que se aventuram a isso estão pisando solo perigoso. A Palavra da verdade declara a maneira como Deus os considera. Nos tempos antigos, Ele pronunciou um severo juízo contra um rei que havia buscado conselho de um oráculo pagão: "Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás". 2 Reis 1:3, 4. AA 161 1 Os mágicos dos tempos pagãos têm seu correspondente nos médiuns espiritistas, nos videntes e nos cartomantes de hoje. As vozes misteriosas que falaram em En-Dor e em Éfeso ainda estão por suas palavras mentirosas desviando os filhos dos homens. Se fosse erguido o véu que está diante de nossos olhos, veríamos anjos maus empregando todas as suas artes para enganar e destruir. Onde quer que uma influência esteja afastando de Deus os homens, ali está Satanás exercendo seu poder de feitiçaria. Quando os homens se rendem a sua influência, antes de se darem conta, a mente está desviada e o espírito poluído. A admoestação do apóstolo à igreja de Éfeso tem de ser ouvida pelo povo de Deus hoje: "E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as". Efésios 5:11. ------------------------Capítulo 28 -- Dias de lutas e de provas AA 162 0 Este capítulo é baseado em Atos 19:21-41; 20:1. AA 162 1 Por mais de três anos, Éfeso foi o centro do trabalho de Paulo. Uma florescente igreja foi estabelecida ali, e dessa cidade o evangelho se espalhou através da província da Ásia, tanto entre judeus como entre gentios. AA 162 2 O apóstolo estivera planejando por algum tempo outra viagem missionária. Ele "propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma" Em harmonia com esse plano, enviou "à Macedônia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto"; mas sentindo que a causa em Éfeso ainda requeria sua presença, decidiu permanecer até depois do Pentecostes. Logo, entretanto, ocorreu um acontecimento que apressou sua partida. Atos 19:21, 22. AA 162 3 Uma vez ao ano, eram realizadas em Éfeso cerimônias especiais em honra da deusa Diana. Estas atraíam grande número de pessoas de todas as partes da província. Durante esse período, festividades eram conduzidas com a maior pompa e esplendor. AA 162 4 Essa ocasião de gala era um tempo de prova para os que haviam recentemente aceitado a fé. O grupo de crentes que se reunia na escola de Tirano estava em evidente desarmonia com o coro festivo, e o ridículo, zombaria e insulto eram-lhes livremente atirados. Os trabalhos de Paulo haviam produzido sobre o culto pagão um golpe de morte, em conseqüência do que houve uma sensível queda na assistência à festividade nacional, e no entusiasmo dos adoradores. A influência dos seus ensinos alcançava muito além dos atuais conversos à fé. Muitos que não tinham abraçado abertamente as novas doutrinas, tornaram-se esclarecidos bastante para perder toda a confiança em seus deuses pagãos. AA 162 5 Existia ainda outra causa de descontentamento. Um extenso e lucrativo negócio havia-se desenvolvido em Éfeso pela manufatura e venda de nichos e imagens modelados segundo o templo e a imagem de Diana. Os que estavam empenhados nessa indústria e comércio sentiram que seus lucros estavam diminuindo, e foram unânimes em atribuir aos trabalhos de Paulo a prejudicial mudança. AA 162 6 Demétrio, fabricante de nichos de prata, convocando uma reunião dos artífices, disse-lhes: "Varões, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade; e bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos. E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo veneram a ser destruída" Essas palavras despertaram as paixões do povo. "Encheram-se de ira e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios". Atos 19:25-28. AA 163 1 A notícia desse discurso circulou rapidamente. "Encheu-se de confusão toda a cidade" Saíram em busca de Paulo mas o apóstolo não foi encontrado. Seus irmãos, recebendo um aviso de perigo, tinham-no levado às pressas para fora do lugar. Anjos de Deus haviam sido enviados para guardar o apóstolo; ainda não havia chegado seu tempo para sofrer a morte de mártir. AA 163 2 Não conseguindo encontrar o alvo de sua ira, a turba apanhou "a Gaio e a Aristarco, macedônios, companheiros de Paulo na viagem"; e com eles "unânimes correram ao teatro". Atos 19:29. AA 163 3 O local do esconderijo de Paulo não era muito distante, e ele logo soube do perigo de seus amados irmãos. Esquecendo sua própria segurança, quis ir imediatamente ao teatro para falar aos amotinados. Mas "não lho permitiram os discípulos" Gaio e Aristarco não eram a presa que o povo buscava; nenhum dano sério os ameaçava. Mas se a face do apóstolo, pálida e desfigurada pelo cuidado, fosse vista, despertaria desde logo as piores paixões da turba, e não haveria a menor possibilidade humana de salvação para a sua vida. AA 163 4 Paulo estava ainda ansioso para defender a verdade perante a multidão; mas foi, afinal, dissuadido por uma mensagem de advertência vinda do teatro. "Alguns dos principais da Ásia, que eram seus amigos, lhe rogaram que não se apresentasse no teatro". Atos 19:31. AA 163 5 O tumulto no teatro crescia continuamente. "Uns... clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles não sabiam por que causa se tinham ajuntado". Atos 19:32. O fato de Paulo e alguns de seus companheiros serem de ascendência judaica tornou os judeus ansiosos para mostrar que não eram simpatizantes com ele e sua obra. Impeliram, pois para diante a um de seu próprio número, para expor o assunto diante do povo. O orador escolhido foi Alexandre, artífice que trabalhava em cobre, a quem Paulo mais tarde se referiu como lhe tendo feito muito mal. 2 Timóteo 4:14. Alexandre era um homem de considerável habilidade, e usava todas as suas energias no sentido de dirigir a ira do povo exclusivamente contra Paulo e seus companheiros. Mas a turba, vendo que Alexandre era judeu, empurrou-o para o lado, "clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios". Atos 19:34. AA 163 6 Afinal, de pura exaustão, cessaram, e houve um silêncio momentâneo. Então, o escrivão da cidade chamou a atenção da turba, e em função de seu ofício conseguiu que o ouvissem. Enfrentou o povo em seu próprio terreno, mostrando-lhes que não havia causa para aquele tumulto. Apelou-lhes à razão: "Varões efésios," disse, "qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana e da imagem que desceu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente; porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros. Mas, se alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítimo ajuntamento. Na verdade, até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso. E, tendo dito isto, despediu o ajuntamento". Atos 19:35-41. AA 164 1 Em suas declarações, Demétrio afirmou: "Há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito" Essas palavras revelam a real causa do tumulto de Éfeso, e também de grande parte da perseguição que acompanhava os apóstolos em sua obra. Demétrio e seus colegas de ofício viram que o negócio de fabricação de imagens estava em perigo por causa do ensino e disseminação do evangelho. A renda dos sacerdotes pagãos e dos artífices estava em risco; essa era a razão por que se levantaram em terrível oposição contra Paulo. AA 164 2 A atitude do escrivão e de outros que exerciam funções de autoridade na cidade, tinha apresentado Paulo perante o povo como inocente de qualquer ato ilegal. Esse foi outro dos triunfos do cristianismo sobre o erro e a superstição. Deus despertara um grande magistrado para defender Seu apóstolo e fazer calar a turba. O coração de Paulo se encheu de gratidão a Deus por ter sido a sua vida preservada, e porque o cristianismo não fora desonrado pelo tumulto de Éfeso. AA 164 3 "E, depois que cessou o alvoroço, Paulo chamou a si os discípulos e, abraçando-os, saiu para a Macedônia. E havendo andado por aquelas terras, e exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia". Atos 20:1. Nessa viagem, ele se fez acompanhar por dois fiéis irmãos efésios, Tíquico e Trófimo. AA 164 4 O trabalho de Paulo em Éfeso estava concluído. Seu ministério ali tinha sido uma época de incessante labor, de muitas provas e profunda angústia. Havia ensinado o povo em público e de casa em casa, instruindo-os e advertindo-os com muitas lágrimas. Enfrentara contínua oposição da parte dos judeus, que não perdiam oportunidade de acirrar contra ele os sentimentos populares. AA 164 5 E enquanto assim batalhava contra a oposição, impelindo para a frente com incansável zelo a obra do evangelho, e cuidando dos interesses de uma igreja ainda jovem na fé, Paulo levava sobre si o pesado fardo de todas as igrejas. AA 165 1 Novas de apostasia em alguma das igrejas por ele estabelecidas causaram-lhe profunda tristeza. Temeu que seus esforços em benefício deles tivesse sido em vão. Muitas noites de insônia havia ele passado em oração e fervorosa meditação, quando ouvira que medidas estavam sendo tomadas para contrariar sua obra. Quando tinha oportunidade e quando as condições o requeriam, escrevia às igrejas reprovando, aconselhando, admoestando e encorajando. Nessas cartas, o apóstolo não se deteve sobre suas próprias lutas, embora houvesse vislumbres ocasionais de seus labores e sofrimentos na causa de Cristo. Açoites e prisões, frio, fome e sede, perigos por terra e por mar, nas cidades e no deserto, da parte de seus patrícios, dos pagãos e dos falsos irmãos -- tudo isto ele sofreu por causa do evangelho. Foi "difamado", "injuriado", feito "a escória de todos", "angustiado", "perseguido", "em tudo atribulado", "a toda a hora em perigo, sempre entregue à morte por amor de Jesus". 1 Coríntios 4:13. AA 165 2 Em meio a constantes tempestades de oposição, o clamor de inimigos e a deserção de amigos, o destemido apóstolo quase perdia o ânimo. Mas, lançando um olhar retrospectivo ao Calvário, com novo ardor prosseguia disseminando o conhecimento do Crucificado. Ele estava palmilhando a trilha sangrenta pela qual Cristo tinha passado antes dele. Procurava não abandonar a luta até que pudesse depor a armadura aos pés de seu Redentor. ------------------------Capítulo 29 -- Mensagem de advertência e de apelo AA 166 0 Este capítulo é baseado na Primeira Epístola aos Coríntios. AA 166 1 A primeira epístola do apóstolo Paulo à igreja de Corinto foi escrita durante a última parte de sua permanência em Éfeso. Não sentia ele por quaisquer outros crentes mais profundo interesse nem dedicava mais incansável esforço que pelos crentes de Corinto. Durante ano e meio trabalhara entre eles, apontando-lhes o Salvador crucificado e ressurgido como o único meio de salvação, e instando com eles para que se rendessem implicitamente ao poder transformador de Sua graça. Antes de aceitar como membros da igreja aos que professavam o cristianismo, tinha ele o cuidado de dar-lhes especial instrução quanto aos deveres e privilégios do crente cristão; e fervorosamente havia procurado ajudá-los a ser fiéis aos votos do batismo. AA 166 2 Paulo tinha uma aguda intuição do conflito que cada pessoa há de sustentar com as agências do mal que continuamente estão procurando enlaçá-la e enganá-la; e incansavelmente havia ele trabalhado para fortalecer e confirmar os novos na fé. Apelara para que fizessem uma inteira entrega a Deus; pois sabia que, quando a pessoa deixa de fazer essa entrega, então o pecado não é abandonado, os apetites e as paixões ainda lutam por manter a supremacia e as tentações confundem a consciência. AA 166 3 A entrega tem que ser completa. Todos os que se sentem fracos, em dúvida, que lutam para se render inteiramente ao Senhor, são colocados em contato direto com as agências que os habilitarão a vencer. O Céu lhes está próximo, e eles são sustentados e socorridos por anjos de misericórdia em todas as ocasiões de lutas e necessidade. AA 166 4 Os membros da igreja de Corinto estavam rodeados pela idolatria e sensualismo da mais sedutora forma. Enquanto os apóstolos estavam com eles, essas influências tiveram para eles pouco atrativo. A fé firme de Paulo, suas ardentes orações e fervorosas palavras de instrução, e acima de tudo, sua vida piedosa, tinham-nos ajudado a negar a si mesmos por amor de Cristo, em vez de se deleitarem nos prazeres do pecado. AA 166 5 Depois da partida de Paulo, no entanto, surgiram condições desfavoráveis; o joio que havia sido semeado pelo inimigo apareceu entre o trigo, e não demorou para que começasse a produzir seu fruto maligno. Esse foi um tempo de severa prova para a igreja de Corinto. O apóstolo não estava mais com eles para socorrê-los com seu zelo, e em seus esforços ajudá-los a viver em harmonia com Deus; e pouco a pouco muitos se tornaram descuidados e indiferentes, permitindo que gostos e inclinações naturais os controlassem. Aquele que tantas vezes havia instado com eles para que mantivessem altos ideais de pureza e retidão, não mais estava com eles; e não foram poucos os que, tendo ao tempo de sua conversão abandonado os maus hábitos, retornaram aos degradantes pecados do paganismo. AA 167 1 Paulo havia escrito brevemente à igreja, admoestando os irmãos a não se misturarem com membros que persistissem na perversidade; porém muitos dos crentes perverteram o significado das palavras do apóstolo, discutindo sobre elas e desculpando-se por desconsiderarem suas instruções. AA 167 2 Uma carta foi enviada pela igreja a Paulo, suplicando-lhe conselhos sobre vários assuntos, mas nada dizendo dos afrontosos pecados existentes entre eles. O apóstolo foi, entretanto, fortemente impressionado pelo Espírito Santo, quanto a estar sendo ocultado o verdadeiro estado da igreja, e que essa carta era uma tentativa de arrancar-lhe afirmações que os signatários pudessem usar para servir a seus próprios intentos. AA 167 3 Por essa ocasião, vieram a Éfeso membros da família de Cloé, família cristã de alta reputação em Corinto. Paulo pediu informações e lhe disseram que a igreja estava dividida. As dissensões que surgiram no tempo da visita de Apolo haviam aumentado grandemente. Falsos mestres estavam levando os membros a desprezar as instruções de Paulo. As doutrinas e ordenanças do evangelho haviam sido pervertidas. Orgulho, idolatria e sensualismo estavam constantemente tomando vulto entre os que uma vez haviam sido zelosos na vida cristã. AA 167 4 Sendo-lhe este quadro apresentado, Paulo viu que seus maiores temores tinham mais que se realizado. Mas não deu por isto lugar ao pensamento de que sua obra tinha sido um fracasso. Com "angústia de coração", e com "muitas lágrimas" ele procurou o conselho de Deus. Alegremente teria visitado Corinto imediatamente, se esse fosse o caminho mais sábio a seguir. Mas ele sabia que em sua presente condição os crentes não tirariam proveito de seu trabalho, pelo que enviou Tito a fim de lhe preparar caminho para uma visita pessoal mais tarde. Então, pondo de parte todos os sentimentos pessoais sobre o caminho daqueles cuja conduta revelava tão estranha perversidade, e descansando suas preocupações em Deus, o apóstolo escreveu à igreja de Corinto uma das mais ricas, mais instrutivas e mais poderosas de todas as suas cartas. AA 167 5 Com notável clareza começou por responder às várias perguntas suscitadas pela igreja, estabelecendo princípios gerais, que, se fossem aceitos, os levariam ao mais alto plano espiritual. Eles estavam em perigo e ele não podia sequer admitir o pensamento de fracassar em alcançar-lhes o coração nesse momento crítico. Fielmente os advertiu de seus perigos e reprovou-lhes os pecados. Apontou-lhes de novo a Cristo, e procurou reacender neles o fervor da primitiva devoção. AA 168 1 O grande amor do apóstolo pelos crentes coríntios foi revelado em sua terna saudação à igreja. Ele se referia à experiência deles em se haverem tornado da idolatria para o culto e serviço ao verdadeiro Deus. Recordava-lhes os dons do Espírito Santo que haviam recebido, e mostrava que era privilégio deles fazer constante progresso na vida cristã até que alcançassem a pureza e santidade de Cristo. "Em tudo fostes enriquecidos nEle", escreveu, "em toda a palavra e em todo o conhecimento (como foi mesmo o testemunho de Cristo confirmado entre vós). De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo". 1 Coríntios 1:8. AA 168 2 Paulo falou claramente das dissensões que haviam surgido na igreja de Corinto, e exortou os membros para que cessassem as contendas. "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo", escreveu ele, "que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer". 1 Coríntios 1:10. AA 168 3 O apóstolo sentiu-se em liberdade para mencionar como e por quem tinha sido informado das divisões na igreja. "Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé, que há contendas entre vós". 1 Coríntios 1:11. AA 168 4 Paulo era um apóstolo inspirado. As verdades que ensinou a outros, ele as havia recebido "por revelação"; todavia, o Senhor não lhe revelava diretamente em todos os tempos a condição exata de Seu povo. Nessa ocasião, os que estavam interessados na prosperidade da igreja de Corinto, e que tinham visto males nela penetrando, haviam apresentado o assunto perante o apóstolo; e pelas divinas revelações que havia anteriormente recebido, estava ele preparado para julgar quanto ao caráter desses desenvolvimentos. Não obstante o fato de o Senhor não lhe haver dado uma nova revelação para esse tempo especial, os que estavam realmente em busca de luz aceitaram sua mensagem como expressão do pensamento de Cristo. O Senhor lhe havia mostrado as dificuldades e perigos que surgiriam nas igrejas, e quando esses males surgiram, o apóstolo reconheceu-lhes o significado. Ele havia sido posto para a defesa da igreja. Devia cuidar dos salvos, como quem deve dar conta deles a Deus; não era, pois, coerente e justo, que tomasse conhecimento dos relatos referentes a anarquia e divisões entre eles? Sem dúvida alguma; e a reprovação que lhes enviou era tão seguramente escrita sob a inspiração do Espírito de Deus como o foram quaisquer outras de suas epístolas. AA 168 5 O apóstolo não fez menção dos falsos mestres que estavam procurando destruir o fruto de seus trabalhos. Por causa das trevas e divisão na igreja, evitou prudentemente irritá-los com tais referências, temendo que alguns se afastassem inteiramente da verdade. Chamava-lhes a atenção para a sua própria obra entre eles, como a de um "sábio arquiteto" (1 Coríntios 3:10), o qual pusera o fundamento sobre que outros haviam edificado. Mas nem por isso ele se exaltou; pois declarou: "Somos cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. Não alegava possuir sabedoria própria, antes reconhecia que somente o poder divino o havia habilitado a apresentar a verdade de uma forma agradável a Deus. Unido com Cristo, o maior de todos os mestres, Paulo tinha sido habilitado a comunicar lições de sabedoria divina, que satisfaziam às necessidades de todas as classes, e eram aplicáveis a todos os tempos, em todos os lugares e sob todas as condições. AA 169 1 Dentre os mais sérios males que se haviam desenvolvido entre os crentes coríntios, estava o de haverem retornado a muitos degradantes costumes do paganismo. A apostasia de um converso tinha sido tal que sua atitude de licenciosidade constituía uma violação até do mais baixo padrão de moralidade adotado pelo mundo gentio. O apóstolo instou com a igreja para que afastasse de seu seio "o que cometeu tal ação" "Não sabeis", admoestou ele, "que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos pois do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento". 1 Coríntios 5:6, 7. AA 169 2 Outro grave mal que havia na igreja era o de ir um irmão contra outro perante tribunais. Haviam sido tomadas suficientes medidas para a solução de dificuldades entre crentes. O próprio Cristo havia fornecido claras instruções sobre a maneira de solucionar tais questões. "Ora, se teu irmão pecar contra ti", aconselhara o Salvador, "vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir ganhaste a teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar à igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu". Mateus 18:15-18. AA 169 3 Aos crentes coríntios que haviam perdido de vista esse claro conselho, Paulo escreveu, não em termos incertos de reprovação e advertência. "Ousa algum de vós," perguntou ele, "tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois, porventura, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes na cadeira aos que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isso perante infiéis. Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? [...] Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano e isso aos irmãos. Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?" 1 Coríntios 6:1-9. AA 170 1 Satanás está constantemente procurando introduzir desconfiança, alienação e malícia entre o povo de Deus. Somos muitas vezes tentados a sentir que nossos direitos estão sendo usurpados mesmo quando não há causa real para tais sentimentos. Aqueles cujo amor por si mesmos é mais forte que por Cristo e Sua causa, colocarão seus próprios interesses em primeiro lugar, e se valerão de quase qualquer expediente a fim de guardá-los e mantê-los. Muitos que parecem ser cristãos conscienciosos são, pelo orgulho e presunção, impedidos de ir particularmente àquele a quem consideram em erro, a fim de falar-lhe no espírito de Cristo e juntos orarem um pelo outro. Quando se consideram ofendidos pelo irmão, alguns vão até aos tribunais, em vez de seguir a regra dada pelo Salvador. AA 170 2 Não devem os cristãos apelar para os tribunais civis para solucionarem diferenças que possam surgir entre membros da igreja. Tais diferenças deverão ser solucionadas entre eles, ou pela igreja, em harmonia com as instruções de Cristo. Mesmo que tenha havido injustiça, o seguidor do manso e humilde Jesus deixar-se-á "defraudar" de preferência a publicar diante do mundo os pecados de seus irmãos na igreja. AA 170 3 Demandas entre irmãos são uma desonra para a causa da verdade. Cristãos que vão a juízo contra outro expõem a igreja ao ridículo de seus inimigos, e dão motivo a que os poderes das trevas triunfem. De novo estão ferindo a Cristo e expondo-O a franco vexame. Hebreus 6:6. Passando por alto a autoridade da igreja, demonstram menosprezo por Deus, que deu à igreja sua autoridade. AA 170 4 Nessa carta aos coríntios, Paulo procurou mostrar-lhes o poder de Cristo para guardá-los do mal. Sabia que se eles se ajustassem às condições por ele expostas, seriam fortalecidos na força do Onipotente. Como um meio de ajudá-los a quebrar a escravidão do pecado, e a aperfeiçoarem a santidade no temor do Senhor, Paulo incutia-lhes as reivindicações dAquele a quem haviam dedicado a vida por ocasião de sua conversão. "Vós [sois] de Cristo", declarou. "Não sois de vós mesmos. [...] Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus". 1 Coríntios 6:19, 20. AA 170 5 O apóstolo esboça com clareza o resultado de deixar a vida de pureza e santidade para voltar às práticas corruptas do paganismo. "Não erreis", escreveu ele, "nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, [...] nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus". 1 Coríntios 6:10. Suplicou-lhes que controlassem os apetites e paixões inferiores. "Ou não sabeis", interrogou, "que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus?" AA 171 1 Embora Paulo possuísse grandes dotes intelectuais, sua vida revelava o poder de uma sabedoria mais rara, a qual lhe dava habilidade introspectiva e simpatia de coração, o que o levava em íntima associação com outros, capacitando-o a despertar neles sua melhor natureza e a inspirá-los a lutar por uma vida mais elevada. Seu coração estava cheio de fervoroso amor pelos crentes coríntios. Ansiava por vê-los revelar uma piedade íntima que os fortificasse contra a tentação. Ele sabia que, em cada passo no caminho cristão, encontrariam a oposição da sinagoga de Satanás, e que diariamente teriam de enfrentar conflitos. Teriam de guardar-se contra a sutil aproximação do inimigo, vencendo velhos hábitos e inclinações naturais, sempre vigiando em oração. Paulo estava certo de que os mais altos ideais cristãos só podem ser alcançadas mediante muita oração e permanente vigilância, e isso procurava incutir-lhes na mente. Mas ele sabia também que em Cristo crucificado lhes era oferecido poder suficiente para converter a pessoa, e divinamente adaptado para habilitá-los a resistir a todas as tentações para o mal. Com fé em Deus como sua armadura, e com Sua Palavra como arma de guerra, eles seriam supridos com poder íntimo que os capacitaria a rechaçar os ataques do inimigo. AA 171 2 Os crentes coríntios necessitavam de mais profunda experiência nas coisas de Deus. Eles não sabiam exatamente o que significa contemplar Sua glória e ser transformados de glória em glória. Haviam visto apenas os primeiros raios do alvorecer desta glória. O desejo de Paulo por eles era que eles fossem cheios de toda plenitude de Deus, conhecendo e prosseguindo em conhecer Aquele cuja saída é como a alva, e continuassem a aprender dEle até que chegasse a pleno meio-dia de uma perfeita fé evangélica. ------------------------Capítulo 30 -- Chamado à mais elevada norma AA 172 0 Este capítulo é baseado na Primeira Epístola aos Coríntios. AA 172 1 Na esperança de imprimir vividamente no espírito dos crentes coríntios a importância do firme autocontrole, estrita temperança e persistente zelo no serviço de Cristo, Paulo em sua carta a eles faz destacada comparação entre a milícia cristã e as celebradas maratonas que se realizavam em intervalos fixos, próximo de Corinto. De todos os jogos instituídos entre os gregos e romanos, era a maratona a mais antiga e mais altamente considerada. A ela assistiam reis, nobres e governadores. Jovens fortes e sadios nela tomavam parte, e não se excluíam de qualquer esforço ou disciplina necessária para alcançar o prêmio. AA 172 2 As competições eram regidas por regulamentos estritos, dos quais não havia apelação. Os que desejavam ter seu nome inscrito como competidor ao prêmio, tinham que primeiro submeter-se a severo treino preparatório. Prejudicial condescendência com o apetite, ou qualquer outra concessão que pudesse diminuir o vigor físico ou mental, eram estritamente proibidas. Para alguém ter alguma esperança de sucesso nessas competições de força e velocidade, os músculos tinham de ser fortes e flexíveis e os nervos estar sob controle. Cada movimento tinha de ser exato, cada passo rápido e bem orientado; as faculdades físicas precisavam alcançar o mais alto ponto. AA 172 3 Enquanto os concorrentes na corrida se apresentavam perante a multidão expectante, seus nomes eram anunciados e as regras da corrida claramente expostas. Então, todos davam juntos a largada, sob a atenção fixa dos espectadores que lhes inspiravam a determinação de vencer. Os juízes assentavam-se próximo à meta final, para que pudessem observar a corrida do início ao fim, e dar o prêmio ao verdadeiro vencedor. Se um corredor alcançava o alvo primeiro, através de alguma vantagem ilegal, não tinha direito ao prêmio. AA 172 4 Nessas competições havia grandes riscos. Alguns jamais se refaziam do terrível esforço físico. Não era incomum pessoas caírem no percurso, sangrando pela boca e nariz, e algumas vezes um competidor caía morto quando estava para alcançar o prêmio. Mas a possibilidade de dano para o resto da vida, ou a própria morte, não eram olhados como risco grande demais por amor da honra reservada ao vencedor. AA 172 5 Quando o vencedor alcançava o alvo, os aplausos da vasta multidão de espectadores vibravam pelos ares e despertavam o eco das montanhas e morros circunvizinhos. Sob as vistas dos assistentes, o juiz presenteava-o com os emblemas da vitória -- uma coroa de louros e um ramo de palma que o atleta levava na mão direita. Sua glória era cantada através da Terra; seus pais recebiam sua parte na honra; e a própria cidade na qual vivia era tida em grande estima por haver produzido tão grande atleta. AA 173 1 Referindo-se a essas corridas como uma figura da milícia cristã, Paulo deu ênfase à preparação necessária para o sucesso dos contendores na maratona -- a disciplina preliminar, o regime de abstenção alimentar, a necessidade de temperança. "E todo aquele que luta", declarou Paulo, "de tudo se abstém". 1 Coríntios 9:25. Os corredores punham de lado toda a condescendência que tendesse a diminuir-lhes as faculdades físicas, e mediante severa e contínua disciplina, treinavam os músculos para se tornarem fortes e resistentes, para que, ao chegar o dia da competição, pudessem exigir de suas forças o máximo de rendimento. Quão mais importante é que o cristão, cujos eternos interesses estão em jogo, coloquem os apetites e as paixões em sujeição à razão e à vontade de Deus! Jamais deve ele permitir que seja sua atenção desviada por entretenimentos, luxos ou comodidades. Todos os seus hábitos e paixões devem ser postos sob a mais estrita disciplina. A razão, iluminada pelos ensinos da Palavra de Deus e guiada por Seu Espírito, tem de assumir o controle. AA 173 2 E havendo feito isso, precisa o cristão esforçar-se ao máximo para alcançar a vitória. Nos jogos coríntios, as passadas finais dos competidores eram dadas sob agonizante esforço para conservar a velocidade. Assim o cristão, ao aproximar-se do alvo, prosseguirá com ainda maior zelo e determinação que no início da carreira. AA 173 3 Paulo apresenta a diferença entre a coroa perecível de louros recebida pelo vencedor nas corridas, e a imortal coroa de glória que será dada ao que corre vitoriosamente a carreira cristã. "Eles o fazem", declara, "para alcançar uma coroa corruptível". 1 Coríntios 9:25. Para alcançar um prêmio perecível, os corredores gregos não fugiam a qualquer esforço ou disciplina. AA 173 4 Nós estamos lutando por um prêmio infinitamente mais valioso, a própria coroa da vida eterna. Quão mais cuidadosa deveria ser nossa luta, e quão maior nossa disposição para o sacrifício e renúncia! Na epístola aos hebreus é destacada a inteireza de propósito que deve caracterizar a carreira do cristão para a vida eterna: "Deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé". Hebreus 12:1, 2. Inveja, malícia, ruins suspeitas, maledicências, cobiça -- são embaraços que o cristão deve pôr de lado, se quiser correr com êxito a carreira para a imortalidade. Cada hábito ou prática que conduz ao pecado e leva a desonra a Cristo, precisa ser posto de lado, seja qual for o sacrifício. A bênção do Céu não pode acompanhar qualquer homem em violação dos eternos princípios de justiça. Um pecado acariciado é bastante para promover a degradação do caráter e desviar outros. AA 174 1 "Se a tua mão te escandalizar", disse o Salvador, "corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga; e, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés seres lançado no inferno". Marcos 9:43-45. Se para salvar o corpo da morte, o pé ou a mão devem ser cortados, ou mesmo o olho arrancado, quão mais interessado deveria estar o cristão em afastar o pecado que resulta na morte eterna! AA 174 2 Os competidores nos antigos jogos, depois de se haverem submetido à renúncia e rígida disciplina, não estavam ainda assim seguros da vitória. "Não sabeis vós", pergunta Paulo, "que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio?" 1 Coríntios 9:24. Não importa com quanto entusiasmo e ardor tivessem corrido os competidores, o prêmio seria apenas de um. A mão de um apenas agarraria o cobiçado galardão. Alguns podiam dedicar supremo esforço para obter o prêmio, mas ao estenderem a mão para apanhá-lo, outro, um instante antes dele, poderia arrebatar-lhe o cobiçado tesouro. AA 174 3 Tal não é o caso na milícia cristã. Ninguém que se submete às condições ficará desapontado ao fim da carreira. Ninguém que seja fervoroso e perseverante deixará de alcançar sucesso. Não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja. O mais fraco dos santos, bem como o mais forte, podem alcançar a coroa de glória imortal. Podem vencer todos os que, pelo poder da divina graça, conduzem a vida em conformidade com a vontade de Cristo. Nos pormenores da vida, a prática dos princípios estabelecidos pela Palavra de Deus é, não raro, olhada como coisa sem importância -- assunto por demais trivial para que se lhe dê atenção. Mas, considerando o que está em jogo, nada é pequeno quando ajuda ou estorva. Cada ato acrescenta seu peso na balança que determina a vitória ou fracasso na vida. E a recompensa dada aos que triunfam será proporcional à energia e fervor com que lutaram. AA 174 4 O apóstolo se compara a uma pessoa disputando uma corrida, exigindo de cada músculo para alcançar o prêmio. "Pois eu assim corro", diz ele, "não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado". 1 Coríntios 9:27. Para que não viesse a correr incertamente ou a esmo na carreira cristã, Paulo se submetia a severo exercício. As palavras "subjugo o meu corpo", literalmente significam repelir por severa disciplina os desejos, os impulsos e as paixões. AA 174 5 Paulo temia que, tendo pregado a outros, viesse ele próprio a ficar reprovado. Compreendia que se não praticasse na vida os princípios em que cria e que pregava, seu trabalho em favor de outros em nada lhe aproveitaria. Sua conversação, sua influência, sua recusa de render-se à satisfação própria, deviam mostrar que sua religião não era mera profissão mas um viver diário em ligação com Deus. Um alvo mantinha ele sempre diante de si, e lutava fervorosamente por alcançá-lo: "a justiça que vem de Deus pela fé". Filipenses 3:9. AA 175 1 Paulo sabia que sua batalha contra o mal não terminaria enquanto ele tivesse vida. Sempre sentia a necessidade de praticar estrita vigilância sobre si mesmo, para que os desejos terrestres não conseguissem minar seu zelo espiritual. Com todas as suas forças, continuava a lutar contra as inclinações naturais. Sempre mantinha diante de si o ideal a ser alcançado, e esse ideal procurava alcançar mediante voluntária obediência à lei de Deus. Suas palavras, atos e paixões -- tudo era posto sob o controle do Espírito de Deus. AA 175 2 Era essa inteireza de propósitos para vencer na carreira pela vida eterna que Paulo ansiava ver revelada na vida dos crentes coríntios. Ele sabia que para alcançar o ideal de Cristo, tinham eles diante de si uma luta vitalícia na qual não haveria tréguas. Insistia com eles para que porfiassem lealmente, buscando dia a dia a piedade e a excelência moral. Suplicava-lhes que pusessem de lado todo embaraço, e prosseguissem rumo ao alvo da perfeição em Cristo. AA 175 3 Paulo apontava aos coríntios as experiências do antigo Israel, as bênçãos que lhes recompensaram a obediência e os juízos que seguiram suas transgressões. Recordava-lhes a miraculosa maneira por que os hebreus foram tirados do Egito, sob a proteção da nuvem de dia; e da coluna de fogo de noite. Assim foram conduzidos a salvo através do Mar Vermelho, enquanto os egípcios, procurando atravessá-lo da mesma maneira, foram todos submergidos. Por esses atos, Deus havia reconhecido Israel como Sua igreja. "E todos comeram dum mesmo manjar espiritual. E beberam todos duma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia, e a pedra era Cristo". 1 Coríntios 10:3. Em todas as suas peregrinações, os hebreus tiveram Cristo como seu guia. A rocha ferida tipificava Cristo, que devia ser ferido pelas transgressões dos homens, para que a fonte de salvação pudesse jorrar para todos. AA 175 4 Não obstante o favor mostrado por Deus aos hebreus, todavia por causa do seu desejo pelas comodidades deixadas no Egito, e por causa de seu pecado e rebelião, os juízos de Deus caíram sobre eles. O apóstolo ordenou aos crentes coríntios a atenderem às lições contidas na experiência de Israel. "Estas coisas foram-nos feitas em figuras, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram". 1 Coríntios 10:6. Ele mostrou como o amor ao conforto e aos prazeres tinha preparado o caminho para os pecados que atraíram a notável vingança de Deus. Foi quando os filhos de Israel se assentaram a comer e a beber, e se levantaram para folgar, que se afastaram do temor de Deus, o qual haviam experimentado quando presenciaram a entrega da lei; e, fazendo um bezerro de ouro para representar a Deus, o adoraram. E foi depois de haverem fruído um banquete licencioso relacionado com a adoração de Baal-Peor, que muitos dos filhos de Israel caíram por causa da licenciosidade. A ira de Deus se levantou e a Seu mando "vinte e três mil" (1 Coríntios 10:8) foram feridos pela praga num dia. AA 176 1 O apóstolo advertiu os coríntios: "Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia". 1 Coríntios 10:12. Se eles se tornassem presunçosos e cheios de confiança própria, negligenciando vigiar e orar, cairiam em grave pecado, atraindo sobre si a ira de Deus. Entretanto, Paulo não queria que se entregassem ao desespero ou desalento. Ele lhes deu a segurança: "Fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar". 1 Coríntios 10:13. AA 176 2 Paulo instava com seus irmãos para que perguntassem a si mesmos que influência suas palavras e atos estavam exercendo sobre outros, e para que não fizessem coisa alguma, embora inocente em si mesma, que pudesse parecer apoio à idolatria, ou ofender os escrúpulos dos que fossem fracos na fé. "Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus". 1 Coríntios 10:31, 32. AA 176 3 As palavras de advertência do apóstolo à igreja de Corinto, são aplicáveis a todos os tempos, e especialmente adaptadas a nossos dias. Por idolatria entendia ele não apenas a adoração de ídolos, mas o egocentrismo, o amor às comodidades e a condescendência com o apetite e paixão. Uma mera profissão de fé em Cristo, um presumido conhecimento da verdade, não tornam um homem cristão. Uma religião que busca apenas o deleite dos olhos, dos ouvidos, do paladar, ou que aceita a condescendência própria, não é a religião de Cristo. AA 176 4 Pela comparação da igreja com o corpo humano, o apóstolo ilustrou habilmente a íntima e harmoniosa relação que deve existir entre todos os membros da igreja de Cristo. "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo", escreveu ele, "quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora pois há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. [...] Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela; para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular". 1 Coríntios 12:13-27. AA 177 1 E então, com palavras que desde aquele dia até ao presente têm sido uma fonte de inspiração e encorajamento a homens e mulheres, Paulo expôs a importância deste amor que deveria ser acariciado pelos seguidores de Cristo: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará". 1 Coríntios 13:1-3. AA 177 2 Não importa o quanto possa prometer, aquele cujo coração não está cheio de amor a Deus e aos semelhantes, não é verdadeiro discípulo de Cristo. Embora possua grande fé, e tenha poder até para operar milagres, sem amor sua fé será de nenhum valor. Poderá ostentar grande liberalidade; mas se por qualquer outro motivo que não o genuíno amor, entregar todos os seus bens para sustento dos pobres, o ato não o recomendará ao favor de Deus. Em seu zelo, poderá mesmo sofrer a morte de mártir, mas não sendo impulsionado por amor, será considerado por Deus como iludido entusiasta, ou ambicioso hipócrita. AA 177 3 "O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece". 1 Coríntios 13:4. A mais pura alegria jorra da mais profunda humilhação. O caráter mais forte e mais nobre é construído sobre o fundamento da paciência, do amor e da submissão à vontade de Deus. AA 177 4 O amor "não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal". 1 Coríntios 13:5. Amor igual ao de Cristo atribui a mais favorável das intenções aos motivos e atos dos outros. Não expõe desnecessariamente suas faltas; não ouve com avidez relatórios desfavoráveis, mas antes procura trazer à mente as boas qualidades de outros. AA 177 5 O amor "não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" Esse amor "jamais acaba". 1 Coríntios 13:6-8. Jamais perde seu valor; é um atributo celestial. Como precioso tesouro, será levado por seu possuidor através das portas da cidade de Deus. AA 177 6 "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor". 1 Coríntios 13:13. AA 177 7 No declínio do padrão moral entre os crentes coríntios, houve os que abandonaram alguns aspectos fundamentais de sua fé. Alguns haviam ido ao ponto de negar a doutrina da ressurreição. Paulo enfrentou essa heresia com um claro testemunho referente à inegável evidência da ressurreição de Cristo. Declarou que Cristo, depois de Sua morte, "ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras", depois do que, "foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos me apareceu também a mim". 1 Coríntios 15:4-7. AA 178 1 Com poder convincente, o apóstolo expôs a grande verdade da ressurreição. "Se não há ressurreição dos mortos", argumentou, "também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem". 1 Coríntios 15:13-20. AA 178 2 O apóstolo transportou o pensamento dos irmãos coríntios para os triunfos da manhã da ressurreição, quando todos os santos que dormem serão ressuscitados para viver para sempre com seu Senhor. "Eis aqui vos digo um mistério", declarou o apóstolo; "na verdade nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?... Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo". 1 Coríntios 15:51-57. AA 178 3 Glorioso é o triunfo que espera o fiel. O apóstolo, reconhecendo as possibilidades que tinham perante si os crentes coríntios, procurou colocar diante deles o que eleva do egoísmo e do sensual, e glorifica a vida com a esperança da imortalidade. Ardentemente exortou-os a ser fiéis a sua alta vocação em Cristo. "Meus amados irmãos", instou ele, "sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor". 1 Coríntios 15:58. AA 178 4 Assim o apóstolo, da maneira mais decidida e impressiva, procurou corrigir as falsas e perigosas idéias e práticas que estavam prevalecendo na igreja de Corinto. Falou claramente, porém em amor por sua salvação. Em suas advertências e reprovações a luz do trono de Deus brilhou sobre eles, revelando os pecados ocultos que lhes estavam debilitando a vida. Como seriam essas advertências recebidas? AA 179 1 Depois de haver remetido a carta, Paulo temeu que o que havia escrito pudesse ferir muito a fundo aqueles a quem desejava beneficiar. Temia profundamente uma separação maior, e algumas vezes ansiava trazer de volta suas palavras. Os que, como o apóstolo, já sentiram a responsabilidade por amadas igrejas ou instituições, podem melhor apreciar-lhe a depressão de espírito e o sentimento de culpa. Os servos de Deus que levam o fardo de Sua obra atualmente, sabem alguma coisa da mesma experiência de trabalho, conflito e ansioso cuidado que recaía sobre o grande apóstolo. Opresso pelas divisões na igreja, encontrando a ingratidão e traição da parte de alguns de quem esperava simpatia e conforto, sentindo o perigo que ameaçava as igrejas que abrigavam a iniqüidade, compelido a dar em reprovação do pecado um testemunho íntimo e penetrante, estava ao mesmo tempo oprimido pelo temor de ter agido com demasiada severidade. Com angustiante ansiedade esperou receber alguma notícia de como fora recebida sua mensagem. ------------------------Capítulo 31 -- A mensagem atendida AA 180 0 Este capítulo é baseado na Segunda Epístola aos Coríntios. AA 180 1 De Éfeso, Paulo empreendeu outra viagem missionária, durante a qual esperava visitar uma vez mais os lugares que foram cenário de seu primeiro trabalho na Europa. Demorando-se por algum tempo em Trôade "para pregar o evangelho de Cristo", encontrou alguns que estavam prontos para ouvir-lhe a mensagem. "Abrindo-se-me uma porta no Senhor" (2 Coríntios 2:12), foi como declarou mais tarde com referência a seu trabalho nesse lugar. Apesar de bem-sucedidos os seus esforços em Trôade, ele não permaneceu ali muito tempo. "O cuidado de todas as igrejas" (2 Coríntios 11:28), e particularmente da igreja de Corinto, pesava sobre seu coração. Esperava encontrar Tito em Trôade e dele ouvir de como haviam sido recebidas pelos irmãos de Corinto as palavras de conselho e reprovação que lhes enviara; mas nisso ele ficou decepcionado. "Não tive descanso no meu espírito", escreveu com relação a essa experiência, "porque não achei ali meu irmão Tito". 2 Coríntios 2:13. Deixou pois Trôade, e atravessou para a Macedônia, encontrando-se com Timóteo em Filipos. AA 180 2 Durante esse tempo de ansiedade com respeito à igreja de Corinto, Paulo esperava pelo melhor; todavia às vezes sentimentos de profunda tristeza lhe varriam o coração, pelo receio de que seus conselhos e admoestações pudessem ser mal-entendidos. "A nossa carne não teve repouso algum", escreveu mais tarde, "antes em tudo fomos atribulados; por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito". 2 Coríntios 7:5. AA 180 3 Esse fiel mensageiro trouxe as alegres novas de que maravilhosa mudança ocorrera entre os crentes coríntios. Muitos haviam aceitado as instruções contidas na carta de Paulo, e arrependeram-se de seus pecados. A vida deles não era mais uma vergonha para o cristianismo, mas passaram a exercer poderosa influência a favor da piedade prática. AA 180 4 Cheio de satisfação, o apóstolo enviou outra carta aos crentes de Corinto, expressando sua alegria de coração por causa da boa obra neles executada: "Ainda que vos contristei com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido". 2 Coríntios 7:8. Quando torturado pelo temor de que suas palavras pudessem ser desprezadas, sentiu algumas vezes pesar de haver escrito tão decidida e severamente. "Agora folgo", continuou, "não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento, pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus atua arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende". 2 Coríntios 7:9, 10. Esse arrependimento, produzido pela influência da divina graça no coração, levará à confissão e ao abandono do pecado. Tais eram os frutos que o apóstolo declarava terem sido vistos na vida dos crentes coríntios. "Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós, que segundo Deus fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo". 2 Coríntios 7:11. AA 181 1 Por algum tempo Paulo estivera levando um peso no coração pelas igrejas -- um peso tão grande que ele mal o podia suportar. Falsos ensinadores haviam buscado destruir sua influência entre os crentes, inculcando-lhes suas próprias doutrinas em lugar da verdade do evangelho. As perplexidades e desencorajamento de que Paulo se achava rodeado são revelados nestas palavras: "Fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos". 2 Coríntios 1:8. AA 181 2 Agora, porém, uma causa de ansiedade estava removida. Ao receber as novas da aceitação de sua carta aos coríntios, Paulo prorrompeu em palavras de júbilo: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também a nossa consolação sobeja por meio de Cristo. Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é, a qual se atua suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos; e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação". 2 Coríntios 1:3-7. AA 181 3 Expressando seu júbilo pela reconversão deles e crescimento na graça, Paulo tributa a Deus todo o louvor por essa transformação do coração e da vida. "Graças a Deus", exclamou, "que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar o cheiro do Seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem". 2 Coríntios 2:14, 15. Era costume da época um general vitorioso numa guerra conduzir em seu retorno um séquito de cativos. Em tais ocasiões eram designados incensadores, e na triunfal marcha de regresso do exército, o suave odor era para os cativos destinados para morrer, um cheiro de morte, o qual indicava estarem eles próximos da execução; mas para os prisioneiros que haviam alcançado o favor de seus captores, e cuja vida devia ser poupada, era um cheiro de vida, pois isso lhes indicava estarem perto da libertação. AA 181 4 Paulo estava agora cheio de fé e esperança. Sentia que Satanás não haveria de triunfar sobre a obra de Deus em Corinto, e em palavras de louvor extravasou a gratidão que lhe ia no coração. Ele e seus colaboradores celebraram sua vitória sobre os inimigos de Cristo e da verdade, saindo com novo zelo para estender o conhecimento do Salvador. À semelhança do incenso, a fragrância do evangelho devia ser difundida através do mundo. Aos que aceitassem a Cristo, a mensagem seria um cheiro de vida para vida; mas, aos que persistissem na incredulidade, um cheiro de morte para morte. AA 182 1 Sentindo o peso da grande obra que estava para ser feita, Paulo exclamou: "E para estas coisas quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:16. Quem está habilitado a pregar a Cristo de maneira que Seus inimigos não tenham justo motivo para desprezar o mensageiro ou mensagem por ele levada? Paulo desejava impressionar os crentes com a solene responsabilidade do ministério evangélico. A fidelidade em pregar a Palavra, unida a uma vida pura e coerente, só pode tornar os esforços dos pregadores aceitáveis a Deus e proveitosos às pessoas. Os pastores de nossos dias, que arcam com o peso da enormidade da obra, bem poderiam exclamar com o apóstolo: "Para estas coisas quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:16. AA 182 2 Havia alguns que tinham acusado Paulo de louvor próprio por haver escrito a carta anterior. A isso se referiu então o apóstolo, quando perguntou aos membros da igreja se assim haviam julgado seus motivos. "Começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos?" indagou; ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?" 2 Coríntios 3:1. Crentes que se mudavam para outro lugar, levavam muitas vezes cartas de recomendação da igreja a que estavam antes unidos; mas os pioneiros da obra, os fundadores dessas igrejas, não tinham necessidade de tal recomendação. Os crentes coríntios, que haviam sido levados do culto dos ídolos para a fé no evangelho, eram eles mesmos toda a recomendação de que Paulo necessitava. O haverem recebido a verdade, e a reforma operada em sua vida, davam eloqüente testemunho da fidelidade de seus trabalhos e de sua autoridade para aconselhar, reprovar e exortar como ministro de Cristo. AA 182 3 Paulo se referiu aos irmãos coríntios como suas testemunhas. "Vós sois a nossa carta", disse ele, "escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração". 2 Coríntios 3:2, 3. AA 182 4 A conversão dos pecadores e sua santificação por meio da verdade é a mais forte prova, para um pastor, de que Deus o chamou para o ministério. A evidência de seu apostolado está escrita no coração desses conversos, e é testemunhada por sua vida renovada. Cristo, a esperança da glória, é neles formado. Um pastor é grandemente fortalecido por esses sinais de seu ministério. AA 182 5 Atualmente, os ministros de Cristo deveriam ter o mesmo testemunho que a igreja de Corinto deu dos trabalhos de Paulo. Mas embora neste tempo haja muitos pregadores, há grande escassez de pastores santos e capazes -- homens cheios do amor que havia no coração de Cristo. O orgulho, a confiança própria, o amor do mundo, o criticismo, o rancor, a inveja são os frutos que apresentam muitos que professam a religião de Cristo. Sua vida, em evidente contraste com a vida do Salvador, não raro dá mau testemunho do caráter da obra ministerial sob a qual foram convertidos. AA 183 1 Não pode um homem receber maior honra que ser aceito por Deus como hábil ministro do evangelho. Mas os que o Senhor abençoa com poder e êxito em Sua obra não se envaidecem. Reconhecem sua inteira dependência dEle, sentindo que não possuem poder algum em si mesmos. Com Paulo eles dizem: "Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo testamento". 2 Coríntios 3:5. AA 183 2 Um verdadeiro ministro faz a obra do Mestre. Reconhece a importância de sua obra, sentindo que mantém para com a igreja e para com o mundo uma relação similar à que manteve Cristo. Trabalha incansavelmente para conduzir pecadores a uma vida mais nobre e mais elevada, a fim de que eles possam obter a recompensa do vencedor. Seus lábios são tocados com a brasa viva do altar, e ele exalta a Jesus como a única esperança do pecador. Os que o ouvem sabem que ele se tem achegado a Deus em oração fervorosa e eficaz. O Espírito Santo sobre ele tem repousado, seu espírito sentiu o fogo vital e celestial, e está capacitado a comparar coisas espirituais com espirituais. É-lhe dado poder para pôr abaixo as fortalezas de Satanás. Apresentando ele o amor de Deus, o coração é quebrantado, e muitos são levados a indagar: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos 16:30. AA 183 3 "Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a Palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". 2 Coríntios 4:1-6. AA 183 4 Assim o apóstolo enalteceu a graça e a misericórdia de Deus, mostradas na sagrada incumbência a ele entregue como ministro de Cristo. Pela abundante misericórdia de Deus ele e seus irmãos tinham sido sustentados em dificuldades, aflição e perigo. Não haviam eles modelado sua fé e ensino de maneira a agradar aos desejos de seus ouvintes, nem sonegaram verdades essenciais à salvação para tornar seu ensino mais atrativo. Tinham apresentado a verdade com simplicidade e clareza, orando pela convicção e conversão das pessoas. Tinham procurado manter a conduta em harmonia com seu ensino, para que a verdade apresentada se recomendasse à consciência de cada homem. AA 184 1 "Temos, porém, este tesouro", prosseguiu o apóstolo, "em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós". 2 Coríntios 4:7. Deus poderia ter proclamado Sua verdade por meio de anjos sem pecado, mas esse não é Seu plano. Ele escolhe seres humanos, homens cheios de fraquezas, como instrumentos na execução de Seus desígnios. Os tesouros de valor inapreciável são colocados em vasos terrestres. Por intermédio de homens Suas bênçãos devem ser transmitidas ao mundo. Por meio deles Sua glória deve brilhar em meio às trevas do pecado. Em amorável ministério devem ir ao encontro dos necessitados e dos pecadores e guiá-los à cruz. E em toda a sua obra devem tributar glória, honra e louvor Àquele que é sobre tudo e sobre todos. AA 184 2 Referindo-se a sua experiência, Paulo mostrou que ao escolher servir a Cristo não fora movido por motivos egoístas, pois seu caminho tinha sido assediado por provas e tentações. "Em tudo somos atribulados", escreveu, "mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos". 2 Coríntios 4:8-10. AA 184 3 Paulo recordava a seus irmãos que, como mensageiros de Cristo, ele e seus companheiros de trabalho estavam continuamente em perigo. As privações que suportaram estavam comprometendo suas forças. "E assim nós, que vivemos", escreveu, "estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em a nossa carne mortal. De maneira que em nós atua a morte, mas em vós a vida". 2 Coríntios 4:11, 12. Sofrendo fisicamente através de privações e fadigas, esses ministros de Cristo estavam imitando Sua morte. Mas o que neles estava operando a morte, levava vida e saúde espiritual aos coríntios que, por crerem na verdade, estavam sendo feitos participantes da vida eterna. Em vista disso, os seguidores de Jesus deviam ser cuidadosos para não aumentar, por negligência e desafeição, as cargas e trabalhos dos obreiros. AA 184 4 "E temos portanto o mesmo espírito de fé", continuou Paulo, "como está escrito: Cri, por isso falei. Nós cremos também, por isso também falamos". 2 Coríntios 4:13. Plenamente convencido da realidade da verdade a ele confiada, nada poderia induzir Paulo a manejar a Palavra de Deus enganosamente, ou a ocultar as convicções de seu espírito. Ele não compraria riquezas, honra ou prazeres mediante o conformar-se com as opiniões do mundo. Embora em constante perigo de martírio por causa da fé que havia pregado aos coríntios, não estava intimidado; pois sabia que Aquele que havia morrido e ressuscitado poderia ressuscitá-lo da sepultura, e apresentá-lo ao Pai. AA 185 1 "Porque tudo isso é por amor de vós", declarou, "para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundante a ação de graças, para glória de Deus". 2 Coríntios 4:15. Não para o engrandecimento próprio pregavam os apóstolos o evangelho. Era a esperança de apresentar a salvação que os levava a devotar a vida a esse trabalho. E era essa esperança que os livrara de cessar seus esforços pelo temor dos perigos que os ameaçavam ou do sofrimento real. AA 185 2 "Por isso", declarou Paulo, "não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia". 2 Coríntios 4:16. Paulo sentia o poder do inimigo; mas embora sua força física estivesse declinando, fiel e inabalavelmente ele declarava o evangelho de Cristo. Revestido de toda armadura de Deus, esse herói da cruz prosseguia no conflito. Sua voz animosa proclamava-o triunfante no combate. Olhos fitos na recompensa dos fiéis, ele exclamava em tom de vitória: "A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas". 2 Coríntios 4:17, 18. AA 185 3 Muito ardente e tocante é o apelo do apóstolo para que seus irmãos coríntios considerassem de novo o incomparável amor de seu Redentor. "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo", escreveu, "que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis". 2 Coríntios 8:9. Conheceis a altura de onde Ele baixou; a profundeza da humilhação a que desceu. Uma vez tendo entrado na senda da renúncia e do sacrifício, não recuou até que tivesse dado a vida. Não houve repouso para Ele entre o trono e a cruz. AA 185 4 Demoradamente, Paulo considerou ponto por ponto, para que todos os que lessem sua epístola pudessem compreender amplamente a maravilhosa condescendência do Salvador em seu benefício. Apresentando a Cristo ao tempo em que Ele estava em igualdade com Deus e com Ele recebendo homenagem dos anjos, o apóstolo traçou Seu caminho até que Ele alcançou as mais baixas profundezas da humilhação. Paulo estava convencido de que se fossem levados a compreender o estupendo sacrifício feito pela majestade do Céu, todo o egoísmo seria banido da vida deles. Ele mostrou como o Filho de Deus tinha posto de lado Sua glória, submetendo-Se voluntariamente às condições da natureza humana; e então, Se humilhara como servo, tornando-Se obediente até a morte, "e morte de cruz" (Filipenses 2:8), para que pudesse levantar o homem caído, da degradação à esperança, à alegria e ao Céu. AA 186 1 Quando estudamos o caráter divino à luz da cruz, vemos a misericórdia, a compaixão e o perdão, misturados à eqüidade e à justiça. Vemos no trono Alguém tendo nas mãos, nos pés e no lado as marcas do sofrimento suportado para reconciliar o homem com Deus. Vemos um Pai, infinito, habitando na luz inacessível e todavia recebendo-nos para Si através dos méritos de Seu Filho. A nuvem de vingança que ameaçava apenas miséria e desespero, à luz da cruz refletida revela as palavras de Deus: Vive, pecador, vive! Arrependido e crente, vive! Eu já paguei o resgate! AA 186 2 Na contemplação de Cristo demoramo-nos na praia de um amor sem limites. Procuramos falar deste amor, e a linguagem falha. Consideramos Sua vida sobre a Terra, Seu sacrifício por nós, Sua obra no Céu como nosso Advogado e as mansões que Ele está preparando para os que O amam; e não podemos mais que exclamar: Ó altura e profundidade do amor de Cristo! "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho em propiciação pelos nossos pecados". 1 João 4:10. "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus". 1 João 3:1. AA 186 3 Em cada verdadeiro discípulo, esse amor, como fogo sagrado, arde no altar do coração. Foi sobre a Terra que o amor de Deus foi revelado por meio de Cristo. É sobre a Terra que Seus filhos devem refletir esse amor mediante uma vida irrepreensível. Assim serão os pecadores levados à cruz, a fim de contemplarem o Cordeiro de Deus. ------------------------Capítulo 32 -- Uma igreja liberal AA 187 1 Em sua primeira carta à igreja de Corinto, Paulo deu aos crentes instruções referentes a princípios gerais sobre os quais se apóia o sustento da obra de Deus na Terra. Escrevendo a respeito de seu trabalho apostólico em favor deles, ele interroga: AA 187 2 "Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não toma do leite do gado? Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança, e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. AA 187 3 "Se nós vos semeamos as coisas espirituais", indagou mais o apóstolo, "será muito que de vós recolhamos as carnais? Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho". 1 Coríntios 9:7-14. AA 187 4 O apóstolo aqui se refere ao plano do Senhor para a manutenção dos sacerdotes que ministravam no templo. Os que eram separados para esse sagrado ofício eram mantidos por seus irmãos, aos quais ministravam bênçãos espirituais. "Os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo". Hebreus 7:5. A tribo de Levi fora escolhida pelo Senhor para os sagrados ofícios relacionados com o templo e o sacerdócio. Do sacerdote foi dito: "O Senhor teu Deus o escolheu... para que assista a servir no nome do Senhor". Deuteronômio 18:5. Um décimo de toda a renda era reclamada pelo Senhor como Lhe pertencendo, e reter o dízimo era por Ele considerado como roubo. AA 187 5 Foi a esse plano para sustento do ministério que Paulo se referiu quando disse: "Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho". 1 Coríntios 9:14. E mais tarde, escrevendo a Timóteo, disse o apóstolo: "Digno é o obreiro do seu salário". 1 Timóteo 5:18. AA 187 6 A devolução do dízimo era apenas uma parte do plano de Deus para o sustento de Seu trabalho. Numerosas dádivas e ofertas foram divinamente especificadas. Sob o sistema judaico, o povo era ensinado a cultivar o espírito de liberalidade, tanto em sustentar a causa de Deus como em socorrer os necessitados. Para ocasiões especiais havia ofertas voluntárias. Na colheita e na vindima, as primícias dos frutos do campo -- grãos, vinho e óleo -- eram consagrados como oferta ao Senhor. Os respigos e os cantos do campo eram reservados para os pobres. As primícias da lã, quando o rebanho era tosquiado, do grão, quando era malhado o trigo, eram postos de parte para Deus. De igual forma, os primogênitos de todos os animais; e o preço de resgate era pago pelo filho primogênito. As primícias deviam ser apresentadas perante o Senhor no santuário, e eram, então, dedicadas ao uso dos sacerdotes. AA 188 1 Por este sistema de beneficência, o Senhor procurava ensinar a Israel que em tudo devia Ele ser o primeiro. Assim era-lhes feito lembrar que Deus era o proprietário de seus campos, rebanhos de ovelhas e de gado; que era Ele quem enviava o sol e a chuva para que a seara se desenvolvesse e amadurecesse. Tudo que possuíam era dEle; eles eram apenas mordomos de Seus bens. AA 188 2 Não é o propósito de Deus que os cristãos, cujos privilégios excedem em muito aos da nação judaica, dêem menos abundantemente do que deram eles. "A qualquer que muito for dado", declarou o Salvador, "muito se lhe pedirá". Lucas 12:48. A liberalidade requerida dos hebreus era-o em grande parte para beneficiar sua própria nação. Atualmente, a obra de Deus se estende por toda a Terra. Cristo tinha colocado nas mãos de Seus seguidores os tesouros do evangelho, e sobre eles colocou a responsabilidade de dar as alegres novas de salvação ao mundo. Nossas obrigações são muito maiores, seguramente, do que as do antigo Israel. AA 188 3 À medida que a obra de Deus se amplia, pedidos de auxílio aparecerão mais e mais freqüentemente. Para que esses pedidos possam ser atendidos, devem os cristãos acatar a ordem: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa". Malaquias 3:10. Se os professos cristãos levassem fielmente a Deus os seus dízimos e ofertas, o divino tesouro estaria repleto. Não haveria, então, ocasião para recorrer a quermesses, rifas ou reuniões de divertimento a fim de angariar fundos para a manutenção do evangelho. AA 188 4 As pessoas são tentadas a usar seus bens em benefício próprio, na satisfação do apetite, no adorno pessoal ou no embelezamento de seus lares. Nessas coisas muitos membros da igreja não hesitam em gastar livremente, e até de forma extravagante. Mas quando são solicitados a dar para o tesouro do Senhor, a fim de que se promova Sua obra na Terra, titubeiam. Talvez, sentindo que não podem escapar à conjuntura, dão à questão uma importância tão insignificante que não raro gastam com coisas desnecessárias. Não manifestam um amor real pelo serviço de Cristo, um fervoroso interesse na salvação dos outros. Não é de admirar que a vida cristã de tais criaturas seja uma existência atrofiada e doentia! AA 189 1 Aquele cujo coração se abrasa com o amor de Cristo considera não apenas um dever, mas um prazer, ajudar no avanço da mais elevada e santa obra delegada aos seres humanos -- a obra de apresentar ao mundo as riquezas da bondade, misericórdia e verdade. AA 189 2 É o espírito de cobiça que leva os homens a guardar para a satisfação do eu, o que por inteira justiça pertence a Deus, e esse espírito é-Lhe tão aborrecível agora como quando, por intermédio do Seu profeta, severamente repreendeu Seu povo, dizendo: "Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais, e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação". Malaquias 3:8, 9. AA 189 3 O espírito de liberalidade é o espírito do Céu. Este espírito encontra sua mais alta manifestação no sacrifício de Cristo sobre a cruz. Em nosso benefício, o Pai nos deu Seu único Filho; e Cristo, tendo renunciado a tudo o que possuía, entregou-Se para que o homem pudesse ser salvo. A cruz do Calvário deve ser um apelo à beneficência de cada seguidor de Cristo. O princípio aí ilustrado é dar, dar. "Aquele que diz que está nEle, também deve andar como Ele andou". 1 João 2:6. AA 189 4 Por outro lado, o espírito de egoísmo é o espírito de Satanás. O princípio ilustrado na vida dos mundanos é receber, receber. Assim esperam eles conseguir felicidade e conforto, mas o fruto do que semeiam é miséria e morte. AA 189 5 Não antes que Deus cesse de abençoar Seus filhos estarão eles livres da obrigação de Lhe devolver a porção que Ele reclama. Não apenas deverão eles devolver ao Senhor o que Lhe pertence, mas também levar ao Seu tesouro, como oferta de gratidão, um donativo liberal. Com o coração jubiloso devem dedicar ao Criador as primícias de sua generosidade -- suas mais bem escolhidas posses, seu melhor e mais santo serviço. Assim alcançarão ricas bênçãos. Deus mesmo tornará sua vida como um jardim regado, cujas águas não faltem. E quando a última grande colheita estiver recolhida, os molhos que são habilitados a trazer ao Mestre serão a recompensa do uso abnegado dos talentos a eles entregues. AA 189 6 Os mensageiros escolhidos de Deus, empenhados em árduo trabalho, jamais deveriam ser compelidos a entrar na luta a sua própria custa, sem o compreensivo e cordial auxílio de seus irmãos. É a parte dos membros da igreja repartir liberalmente com os que põem de lado seus afazeres seculares para que possam dedicar-se ao ministério. A causa de Deus avança melhor, quando os ministros de Deus são encorajados. Quando, porém, por causa do egoísmo das pessoas, seu justo sustento é retido, suas mãos se enfraquecem, e muitas vezes sua utilidade é seriamente prejudicada. AA 189 7 O desprazer de Deus é despertado contra os que professam ser Seus seguidores, e no entanto permitem que consagrados obreiros padeçam necessidade, enquanto estão empenhados em ministério ativo. Essas criaturas egoístas serão chamadas a prestar contas, não apenas pelo abuso do dinheiro do seu Senhor, mas também pela depressão e angústia que sua conduta fez pesar sobre Seus fiéis servos. Os que são chamados para a obra do ministério, e ao chamado do dever renunciam a tudo e se empenham no serviço de Deus, devem receber por seus abnegados esforços salários suficientes para se manterem bem como a sua família. AA 190 1 Nos diversos setores de atividades seculares, mentais e físicas, trabalhadores fiéis podem ganhar bons salários. Não é a obra de disseminar a verdade e de levar as pessoas a Cristo de mais importância que qualquer atividade comum? E não são, os que fielmente se empenham nesta obra, com justiça merecedores de ampla remuneração? Por nossa estimativa do valor relativo de trabalho para o bem físico e o espiritual, mostramos nossa apreciação do celestial em contraste com o terreno. AA 190 2 A fim de que haja fundos na tesouraria para a manutenção do ministério, e para atender aos pedidos de auxílio para empreendimentos missionários, é necessário que o povo de Deus dê alegre e liberalmente. Solene responsabilidade repousa sobre os pastores, qual seja a de expor perante as igrejas as necessidades da causa de Deus e ensiná-las a ser liberais. Quando isso é negligenciado, e as igrejas deixam de contribuir para as necessidades de outros, não somente a causa do Senhor sofre, mas é retirada a bênção que deveria vir sobre os crentes. AA 190 3 Mesmo os mais pobres devem levar a Deus sua oferta. Devem eles ser repartidores da graça de Cristo, mediante o negarem-se para ajudar aqueles cujas necessidades são mais prementes que a deles. A dádiva do pobre, fruto da abnegação, sobe perante Deus como suave incenso. E cada ato de abnegado sacrifício fortalece o espírito de beneficência no coração do doador, aliando-o mais intimamente Àquele que era rico, e por amor a nós Se fez pobre, para que por Sua pobreza enriquecêssemos. AA 190 4 O ato da viúva que colocou na arca duas pequenas moedas -- tudo quanto possuía -- é posto em realce para encorajamento dos que, lutando com a pobreza, ainda desejam com suas dádivas ajudar a causa de Deus. Cristo chamou a atenção dos discípulos para essa mulher, que dera "todo o seu sustento". Marcos 12:44. Ele considerou sua dádiva de maior valor que as grandes ofertas daqueles cujos dádivas não representavam abnegação. Deram de sua abundância uma pequena porção. Para dar a sua oferta, a viúva se havia privado mesmo dos gêneros de primeira necessidade, confiando em Deus para o suprimento de suas necessidades para o dia de amanhã. A respeito dela, declarou o Salvador: "Em verdade vos digo que essa pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro". Marcos 12:43. Assim ensinou Ele que o valor da oferta é estimado, não pela quantidade, mas pela proporção em que é dada e pelos motivos que moveram o doador. AA 190 5 O apóstolo Paulo, em seu ministério entre as igrejas, foi incansável em seus esforços para inspirar no coração dos novos conversos o desejo de fazer grandes coisas pela causa de Deus. Muitas vezes ele os exortava à liberalidade. Falando aos anciãos de Éfeso sobre suas anteriores atividades entre eles, disse: "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber". Atos 20:35. "E digo isto", escreveu ele aos coríntios, "que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria". 2 Coríntios 9:6, 7. AA 191 1 Quase todos os crentes da Macedônia, eram pobres em bens deste mundo, mas seu coração estava transbordando com o amor a Deus e Sua verdade, e alegremente deram para o sustento do evangelho. Quando as coletas gerais foram tiradas entre as igrejas gentílicas para socorro aos crentes judeus, a liberalidade dos conversos da Macedônia foi exaltada como um exemplo para as outras igrejas. Escrevendo aos crentes coríntios, o apóstolo chamou-lhes a atenção para "a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder... e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente, pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos". 2 Coríntios 8:1-4. AA 191 2 A voluntariedade em sacrificar da parte dos crentes macedônios era conseqüência de sua inteira consagração. Movidos pelo Espírito de Deus, "se deram primeiramente ao Senhor" (2 Coríntios 8:5, daí estarem dispostos a dar voluntariamente de seus meios para o sustento do evangelho). Não era necessário constrangê-los para que dessem; antes se rejubilavam pelo privilégio de negarem a si mesmos até coisas necessárias a fim de suprir as necessidades de outros. Quando o apóstolo quis restringi-los, insistiram com ele para que aceitasse suas ofertas. Em sua simplicidade e integridade, e em seu amor pelos irmãos, renunciaram alegremente, e assim foram ricos no fruto da beneficência. AA 191 3 Quando Paulo enviou Tito a Corinto para fortalecer os crentes ali, instruiu-o a desenvolver a igreja na graça de dar; e em carta pessoal aos crentes ele acrescentou também seu próprio apelo. "Como, porém, em tudo, manifestai superabundância, tanto na fé", apelou ele, "e na palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis nesta graça. Completai, agora, a obra começada, para que, assim como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem". 2 Coríntios 8:7, 11, 12. "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; [...] para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência a qual faz que por nós se dêem graças a Deus". 2 Coríntios 9:8-11. AA 192 1 Abnegada liberalidade levou a primeira igreja a um sentimento de alegria; pois os crentes sabiam que seus esforços estavam ajudando a levar o evangelho aos que estavam em trevas. Sua beneficência testificava que não haviam recebido a graça de Deus em vão. Que teria produzido tal liberalidade senão a santificação do Espírito? Aos olhos de crentes e incrédulos foi um milagre de graça. AA 192 2 A prosperidade espiritual está intimamente ligada à liberalidade cristã. Os seguidores de Cristo devem regozijar-se pelo privilégio de revelar em sua vida a beneficência do seu Redentor. Dando ao Senhor, eles têm a certeza de que seu tesouro está indo em sua frente para as cortes celestiais. Querem os homens ter seus bens seguros? Coloquem-nos nas mãos que levam as marcas da crucifixão. Querem aproveitar seus rendimentos? Usem-nos para abençoar os necessitados e sofredores. Querem aumentar suas posses? Acatem a ordem divina: "Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares". Provérbios 3:9, 10. Procurem eles reter suas posses com propósitos egoístas, e isso será para sua eterna perda. Dêem, porém seu tesouro a Deus, e desse momento em diante ele levará Sua inscrição. Ficará selado com a Sua imutabilidade. AA 192 3 Deus declara: "Bem-aventurados vós os que semeais sobre todas as águas". Isaías 32:20. Um contínuo repartir dos dons de Deus onde quer que a causa do Senhor ou as necessidades da humanidade requeiram nosso auxílio, não leva à pobreza. "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda". Provérbios 11:24. O semeador multiplica a semente ao utilizá-la. Assim é com os que são fiéis em distribuir os dons de Deus. Repartindo, aumentam suas bênçãos. "Dai, e ser-vos-á dado", prometeu Deus; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço". Lucas 6:38. ------------------------Capítulo 33 -- Trabalhando sob dificuldades AA 193 1 Embora Paulo fosse cuidadoso em expor perante os conversos o claro ensino das Escrituras referentes ao legítimo sustento da obra de Deus, e embora reclamasse para si mesmo, como ministro do evangelho, o direito de "deixar de trabalhar" (1 Coríntios 9:6), em atividades seculares como meio de manutenção própria, todavia em várias ocasiões durante seu ministério nos grandes centros da civilização, dedicou-se a um trabalho manual para ganhar sua manutenção. AA 193 2 Entre os judeus, o trabalho físico não era considerado estranho ou degradante. Por intermédio de Moisés, os hebreus haviam sido ensinados a instruir seus filhos em hábitos industriosos; e era considerado um pecado permitir a um jovem crescer sem aprender o trabalho físico. Mesmo que uma criança devesse ser educada para o ofício divino, o conhecimento da vida prática era considerado essencial. A cada jovem, fossem seus pais ricos ou pobres, era ensinado algum ofício. Os pais que negligenciavam prover tal aprendizado a seus filhos eram olhados como se desviando da instrução do Senhor. De acordo com esse costume, Paulo cedo aprendeu o ofício de fabricar tendas. AA 193 3 Antes de se tornar discípulo de Cristo, Paulo ocupava uma alta posição, e não dependia de trabalho manual para se manter. Mais tarde, porém, quando havia usado todas as suas posses na promoção da causa de Cristo, ele recorreu algumas vezes ao ofício para ganhar a manutenção. Este era especialmente o caso quando trabalhava em lugares onde seus motivos pudessem ser mal-entendidos. AA 193 4 É em Tessalônica que pela primeira vez lemos de Paulo trabalhando com suas próprias mãos para manter-se enquanto pregava a Palavra. Escrevendo ao grupo de crentes ali, ele lhes recorda que teria podido ser-lhes "pesado", e acrescenta: "Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos o evangelho de Deus". 1 Tessalonicenses 2:6, 9. E outra vez, em sua segunda epístola a eles, declara que ele e seus companheiros, enquanto permaneceram com eles, não comeram o pão de nenhum deles "de graça" Noite e dia trabalhamos, escreveu "para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmo exemplo, para nos imitardes". 2 Tessalonicenses 3:8, 9. AA 194 1 Em Tessalônica, Paulo havia encontrado os que se recusavam trabalhar com suas próprias mãos. Foi a respeito dessa classe que ele escreveu mais tarde: "Alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego comam o seu próprio pão" Enquanto trabalhava em Tessalônica, Paulo havia tido o cuidado de dar a tais pessoas um bom exemplo. "Porque quando ainda estávamos convosco", escreveu, "vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também". 2 Tessalonicenses 3:11, 12, 10. AA 194 2 Em cada época, Satanás tem procurado prejudicar os esforços dos servos de Deus pela intromissão na igreja do espírito de fanatismo. Assim foi nos dias de Paulo e assim foi também durante o tempo da Reforma. Séculos mais tarde, Wycliffe, Lutero e muitos outros que abençoaram o mundo por sua influência e fé, encontraram as astúcias pelas quais o inimigo busca levar ao fanatismo extremado mentes desequilibradas e não santificadas. Criaturas desorientadas têm ensinado que a conquista da verdadeira santidade coloca a mente acima de todos os pensamentos terrestres, e leva os homens a se absterem inteiramente do trabalho. Outros, interpretando com extremismo determinados textos das Escrituras, têm ensinado que é pecado trabalhar -- que os cristãos não devem se preocupar quanto aos seus interesses temporais e de sua família, mas dedicar a vida inteiramente às coisas espirituais. Os ensinos e exemplos do apóstolo Paulo são uma reprovação a tais extremismos. AA 194 3 Paulo não dependeu inteiramente do trabalho de suas mãos para manter-se enquanto esteve em Tessalônica. Referindo-se mais tarde a sua experiência nessa cidade, ele escreveu aos crentes filipenses em reconhecimento dos donativos que deles havia recebido enquanto esteve ali, dizendo: "Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica". Filipenses 4:16. Não obstante o fato de haver recebido este auxílio, foi cuidadoso em dar aos tessalonicenses um exemplo de diligência, para que ninguém pudesse, com razão, acusá-lo de cobiça, e também para que os que mantinham pontos de vista fanáticos referentes ao trabalho manual recebessem uma reprovação prática. AA 194 4 Quando Paulo visitou Corinto pela primeira vez, encontrou-se entre um povo que desconfiava das intenções dos estrangeiros. Os gregos do litoral eram negociantes perspicazes, e por tão longo tempo se haviam dedicado à prática de negócios condenáveis, que chegaram a crer que o ganho era piedade, e que conseguir dinheiro, quer por meios lícitos ou ilícitos, era louvável. Paulo estava familiarizado com suas características, e não lhes desejava dar ocasião de dizer que ele pregava o evangelho para enriquecer. Ele podia, com justiça, exigir manutenção da parte de seus ouvintes coríntios; mas a esse direito se dispunha a renunciar, com receio de que sua utilidade e sucesso como pastor fossem prejudicados pela suspeita injusta de estar ele pregando o evangelho a troco de dinheiro. Ele procurava remover qualquer oportunidade de mistificação, para que não ficasse comprometida a força da sua mensagem. AA 195 1 Logo após sua chegada a Corinto, Paulo encontrou "um certo judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher" Esses eram "do mesmo ofício" que ele. Banidos pelo decreto de Cláudio, que ordenara que todos os judeus deixassem Roma, Áquila e Priscila tinham vindo para Corinto, onde estabeleceram um negócio como fabricantes de tendas. Paulo fez uma pesquisa com respeito a eles e, ciente de que temiam a Deus e estavam procurando evitar as contaminadoras influências de que estavam cercados, "ficou com eles, e trabalhava... e todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos". Atos 18:2-4. AA 195 2 Mais tarde, Silas e Timóteo se reuniram a Paulo em Corinto. Esses irmãos levavam consigo recursos das igrejas da Macedônia para o sustento da obra. AA 195 3 Em sua segunda carta aos crentes de Corinto, escrita depois de haver erguido ali uma forte igreja, Paulo recordou sua maneira de proceder entre eles. "Pequei porventura", perguntou ele, "humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei. Como a verdade de Cristo está em mim, essa glória não me será impedida nas regiões da Acaia". 2 Coríntios 11:7-10. AA 195 4 Paulo expôs porque havia assim procedido em Corinto. E que não desejava dar "ocasião aos que buscam ocasião". 2 Coríntios 11:12. Enquanto esteve trabalhando na fabricação de tendas, fielmente havia também proclamado o evangelho. Ele próprio declara a respeito de seu trabalho: "Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas" E acrescenta: "Porque, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo. Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós. [...] Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas". 2 Coríntios 12:12-15. AA 195 5 Durante o longo período de seu ministério em Éfeso, onde promoveu durante três anos uma intensiva campanha evangelística através daquela região, Paulo retornou ao seu ofício. Em Éfeso, como em Corinto, o apóstolo se rejubilou pela presença de Áquila e Priscila, os quais o haviam acompanhado em seu retorno à Ásia ao fim de sua segunda viagem missionária. AA 195 6 Havia alguns que faziam restrição a estar Paulo trabalhando num ofício, sob a alegação de que era incoerente com a obra de um ministro evangélico. Por que deveria Paulo, um ministro da mais alta categoria, assim aliar uma atividade braçal com a pregação da Palavra? Não é o obreiro digno do seu salário? Por que deveria ser gasto na fabricação de tendas o tempo, que, segundo tudo indicava, podia ser empregado com melhor proveito? AA 196 1 Mas Paulo não considerava perdido o tempo assim gasto. Enquanto trabalhava com Áquila, mantinha-se em contato com o grande Mestre, não perdendo oportunidade de dar testemunho do Salvador e de auxiliar a tantos quantos necessitassem de auxílio. Sua mente estava sempre à procura de conhecimento espiritual. A seus colaboradores deu instrução sobre coisas espirituais, e também exemplo de operosidade e inteireza. Era um obreiro hábil e ativo, diligente nos negócios, fervoroso "no espírito, servindo ao Senhor". Romanos 12:11. Enquanto trabalhava em seu ofício, o apóstolo tinha acesso a uma classe de pessoas que de outra maneira não teria podido alcançar. Mostrava aos que a ele estavam unidos que a habilidade nas artes comuns é um dom de Deus, o qual provê tanto o dom como a sabedoria para usá-lo retamente. Ensinava que, mesmo nas atividades diárias, Deus deve ser honrado. Suas mãos calejadas em nada diminuíam a força de seus inflamados apelos como ministro cristão. AA 196 2 Paulo trabalhava algumas vezes dia e noite, não apenas para seu próprio sustento, mas para que pudesse ajudar a seus companheiros de trabalho. Repartia seu ganho com Lucas, e auxiliava Timóteo. Sofria até fome às vezes, para que pudesse aliviar as necessidades de outros. Sua vida era de abnegação. Ao fim de seu ministério, na ocasião de sua despedida dos anciãos de Éfeso e Mileto, ele pôde erguer perante ele as suas mãos gastas do trabalho e dizer: "De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestido. Vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber". Atos 20:33-35. AA 196 3 Se há pastores que sentem estar sofrendo dificuldades e privações na causa de Cristo, visitem em imaginação a tenda de trabalho de Paulo. Tenham em mente que, enquanto esse escolhido homem de Deus está modelando a lona, está trabalhando pelo pão a que tem justo direito por seus trabalhos como apóstolo. AA 196 4 O trabalho é uma bênção, não maldição. Um espírito de indolência destrói a piedade e ofende o Espírito de Deus. Um lago estagnado é repulsivo, mas uma fonte pura e corrente espalha saúde e alegria sobre a Terra. Paulo sabia que os que negligenciam o trabalho físico logo se tornam debilitados. Ele queria ensinar a pastores jovens que, pelo trabalho manual, pelo exercício dos músculos e nervos, tornar-se-iam fortes para suportar os trabalhos e privações que os esperavam no campo evangélico. Sentia que seus próprios ensinos se ressentiriam de força e vitalidade se ele não mantivesse todas as partes do organismo devidamente exercitadas. AA 197 1 O indolente se priva da valiosa experiência obtida pelo fiel cumprimento dos deveres comuns da vida. Não são poucos, mas milhares os seres humanos que vivem apenas para consumir os benefícios que Deus, em Sua misericórdia, derrama sobre eles. Esquecem de dar ao Senhor ofertas de gratidão pelas riquezas que Ele lhes confiou. Esquecem que, por negociar sabiamente com os talentos a eles emprestados, devem ser produtores tanto quanto consumidores. Se compreendessem a obra que o Senhor quer que eles façam como Sua mão ajudadora, não fugiriam à responsabilidade. AA 197 2 A utilidade de jovens que se sentem chamados por Deus para pregar, depende muito da maneira pela qual entram no trabalho. Os que são escolhidos por Deus para a obra do ministério darão prova de sua alta vocação e por todos os meios possíveis procurarão desenvolver-se em obreiros capazes. Esforçar-se-ão por alcançar uma experiência que os capacite a planejar, organizar e executar. Apreciando a santidade de seu chamado desejarão, por autodisciplina, tornar-se mais e mais semelhantes a seu Mestre, revelando Sua bondade, amor e verdade. Ao se mostrarem fervorosos em desenvolver os talentos a eles confiados, a igreja os deve ajudar judiciosamente. AA 197 3 Nem todos os que sentem ter sido chamados a pregar devem ser encorajados a depender imediatamente, com suas famílias, da igreja para contínuo sustento. Há o perigo de que alguns de limitada experiência sejam inutilizados pela lisonja e por encorajamento desavisado a esperar pela manutenção independentemente de qualquer sério esforço de sua parte. Os meios dedicados à extensão da obra de Deus não devem ser consumidos por homens que desejem pregar apenas para receber sustento, e assim satisfazer a ambição egoísta de uma vida fácil. AA 197 4 Jovens que desejarem exercer seus dons na obra do ministério encontrarão ótima lição no exemplo de Paulo em Tessalônica, Corinto, Éfeso e outros lugares. Embora fosse eloqüente pregador, e por Deus escolhido para uma obra especial, ele jamais se colocou acima do trabalho nem se cansou de se sacrificar pela causa que amava. "Até esta presente hora", escreveu aos coríntios, "sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa. E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos". 1 Coríntios 4:11, 12. AA 197 5 Sendo um dos maiores mestres humanos, Paulo alegremente executou os mais humildes bem como os mais altos deveres. Quando em seu serviço pelo Mestre as circunstâncias o requeriam, ele voluntariamente trabalhava em seu ofício. Contudo, estava sempre pronto a pôr de lado sua obra secular, para enfrentar a oposição dos inimigos do evangelho, ou aproveitar uma especial oportunidade de salvar pessoas para Jesus. Sua operosidade e zelo eram uma reprovação à indolência e ao desejo de acomodação. AA 198 1 Paulo deu um exemplo contra o sentimento que então ganhava influência na igreja, de que o evangelho só poderia ser pregado com êxito por aqueles que estivessem inteiramente libertos da necessidade de trabalho físico. Ele ilustrou de maneira prática o que podia ser feito por consagrados leigos em muitos lugares onde o povo não estava familiarizado com as verdades do evangelho. Sua atitude inspirou em muitos humildes trabalhadores o desejo de fazer o que lhes fosse possível para o avanço da causa de Deus, enquanto ao mesmo tempo se mantinham com o trabalho diário. Áquila e Priscila não foram chamados a dar todo o seu tempo ao ministério evangélico; todavia esses humildes obreiros foram usados por Deus para mostrar a Apolo mais perfeitamente o caminho da verdade. O Senhor emprega vários instrumentos para a realização de Seu propósito e, enquanto alguns com talentos especiais são escolhidos para devotar todas as suas energias à tarefa de ensinar e pregar o evangelho, muitos outros, sobre quem mãos humanas nunca foram postas em ordenação, são chamados a desempenhar importante parte na salvação. AA 198 2 Há um vasto campo aberto diante do obreiro de manutenção própria. Muitos podem alcançar valiosas experiências no ministério, enquanto trabalham parte do tempo em alguma forma de atividade manual e, por esse método, eficientes obreiros podem-se desenvolver para importantes serviços em campos necessitados. AA 198 3 O voluntário e abnegado servo de Deus, que trabalha incansavelmente pela palavra e pela doutrina, leva sobre o coração um pesado fardo. Ele não mede sua obra pelas horas. O salário não tem influência em seu trabalho, nem se desvia ele do dever por causa de condições desfavoráveis. Recebe do Céu sua missão, e do Céu espera a recompensa quando a obra a ele confiada estiver concluída. AA 198 4 É desígnio de Deus que tais obreiros estejam livres de ansiedade desnecessária, a fim de que possam obedecer completamente à ordem de Paulo a Timóteo: "Medita estas coisas; ocupa-te nelas". 1 Timóteo 4:15. Conquanto devam ser cuidadosos em exercitar-se o bastante para manter a mente e o corpo vigorosos, não é plano de Deus que sejam obrigados a gastar grande parte de seu tempo em empreendimentos seculares. AA 198 5 Esses fiéis obreiros, embora sejam dispostos a gastar-se pelo evangelho não estão isentos de tentação. Quando embaraçados e sobrecarregados de ansiedade por deixar a igreja de lhes prover o devido sustento financeiro, alguns são ferozmente assediados pelo tentador. Quando vêem suas atividades tão levianamente apreciadas, tornam-se deprimidos. Na realidade, eles aguardam o tempo do juízo para receber a legítima recompensa, e isso os anima; contudo, sua família precisa de roupa e alimento. Se se pudessem sentir libertos de sua missão divina, de bom grado trabalhariam com suas próprias mãos. Mas eles sentem que seu tempo pertence a Deus, não obstante a miopia dos que deveriam prover-lhes suficientes fundos. Sobrepõem-se à tentação de empreenderem atividades pelas quais logo se colocariam além do alcance da penúria; e continuam a trabalhar para o avanço da causa que lhes é mais amada que a própria vida. Para assim proceder, porém, são forçados a seguir o exemplo de Paulo e empenham-se por algum tempo em trabalho manual enquanto continuam a promover sua atividade ministerial. Assim procedem, não para buscar seus próprios interesses, mas os interesses da causa de Deus na Terra. AA 199 1 Há vezes em que parece ao servo de Deus impossível realizar a obra necessária, porque faltam meios para levar avante um trabalho sólido e forte. Alguns ficam temerosos de que não possam fazer tudo quanto sentem que é seu dever, com os recursos de que dispõem. Mas se avançarem com fé, a salvação de Deus será revelada e o êxito acompanhará seus esforços. Aquele que ordenou a Seus seguidores ir por todas as partes do mundo, susterá cada obreiro que em obediência a Seu mando procura proclamar Sua mensagem. AA 199 2 Na promoção de Sua obra, nem sempre o Senhor torna claras todas as coisas a Seus servos. Algumas vezes, Ele prova a confiança de Seu povo deparando-lhes circunstâncias que o compelirão a prosseguir pela fé. Não raro, leva-os a lugares difíceis e apertados, e ordena que avancem quando seus pés parecem estar tocando as águas do Jordão. É em tais ocasiões, quando as orações de Seus servos ascendem a Ele em fervorosa fé, que Deus abre o caminho diante deles e leva-os a um lugar espaçoso. AA 199 3 Quando os mensageiros de Deus reconhecerem suas responsabilidades em relação às partes necessitadas da vinha do Senhor, e no espírito do Obreiro por excelência trabalharem incansavelmente para a conversão de pecadores, os anjos de Deus prepararão o caminho diante deles, e os meios necessários para o avanço da obra serão providos. AA 199 4 Os que são esclarecidos darão livremente para sustentar a obra feita em seu próprio benefício. Atenderão liberalmente a cada pedido de auxílio, e o Espírito de Deus lhes moverá o coração para sustentar a causa do Senhor não somente nos campos nacionais mas também nas regiões distantes. Assim os obreiros de outros lugares serão fortalecidos e a obra do Senhor avançará na maneira por Ele designada. ------------------------Capítulo 34 -- Ministério consagrado AA 200 1 Cristo deu, em Sua vida e lições, perfeito exemplo de ministério abnegado, o qual tem sua origem em Deus. Deus não vive para Si. Pela criação do mundo e pela sustentação de todas as coisas, está Ele constantemente ministrando a outros. Ele "faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Mateus 5:45. Esse ideal de ministério o Pai confiou a Seu Filho. Foi dado a Jesus colocar-Se à frente da humanidade, para por Seu exemplo ensinar o que significa ministrar. Toda a Sua vida esteve sob a lei do serviço. Serviu a todos e a todos ministrou. AA 200 2 Mais de uma vez procurou Jesus estabelecer esse princípio entre Seus discípulos. Quando Tiago e João pediram um lugar de preeminência, Ele disse: "Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos". Mateus 20:26-28. AA 200 3 Desde Sua ascensão, Cristo tem conduzido Sua obra na Terra por meio de escolhidos embaixadores e por cujo intermédio Ele fala aos filhos dos homens e ministra a suas necessidades. A grande Cabeça da igreja dirige Sua obra através da colaboração de homens ordenados por Deus para agir como Seus representantes. AA 200 4 A posição dos que foram chamados por Deus para trabalhar por palavra e doutrina para o reerguimento de Sua igreja é de grande responsabilidade. Estão no lugar de Cristo rogando a homens e mulheres que se reconciliem com Deus; e eles só podem cumprir sua missão se receberem sabedoria e poder do alto. AA 200 5 Os ministros de Cristo são guardadores espirituais do povo confiado a seu cuidado. Sua obra tem sido comparada à do vigia. Nos tempos antigos, as sentinelas eram muitas vezes colocadas sobre os muros da cidade, onde, de posição vantajosa, pudessem dominar importantes postos a ser guardados, e dar advertência da aproximação do inimigo. De sua fidelidade dependia a segurança de todos os que estavam dentro da cidade. A determinados intervalos, exigia-se-lhes que chamassem uns aos outros a fim de estarem seguros de que todos estavam despertos e que nenhum dano sobreviera a alguém. O brado de animação ou de advertência era repetido de um ao outro até que ecoasse ao redor de toda a cidade. AA 201 1 O Senhor declara a cada ministro: "A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por vigia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio de seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio de seu caminho, [...] livraste a tua alma". Ezequiel 33:7-9. AA 201 2 As palavras do profeta declaram a solene responsabilidade dos que são designados como guardas da igreja de Deus, despenseiros dos mistérios de Deus. Devem ser vigias sobre os muros de Sião, para fazer soar o toque de alarme à aproximação do inimigo. Pessoas estão em perigo de cair sob a tentação, e perecerão, a menos que os ministros de Deus sejam fiéis ao seu encargo. Se por qualquer razão seu senso espiritual se torna tão embotado que são incapazes de discernir o perigo, e por deixarem de dar advertência o povo perecer, Deus requererá de sua mão o sangue dos que se perderem. AA 201 3 É privilégio dos vigias sobre os muros de Sião viver tão perto de Deus e ser de tal modo suscetíveis às impressões de Seu Espírito que Ele possa operar por meio deles, a fim de advertir do perigo a homens e mulheres, e apontar-lhes o lugar de segurança. Fielmente devem adverti-los do inevitável resultado da transgressão, e devem fielmente salvaguardar os interesses da igreja. Em tempo algum devem eles relaxar sua vigilância. Sua obra requer o exercício de cada habilidade. Como sons de trombeta sua voz deve fazer-se ouvir, e nunca deixar soar uma nota confusa ou hesitante. Não devem trabalhar pelo salário, mas porque não podem agir de outra maneira, pois sentem que há uma condenação sobre eles se deixarem de pregar o evangelho. Escolhidos por Deus, selados com o sangue da consagração, devem libertar homens e mulheres da destruição impendente. AA 201 4 O pastor que é coobreiro de Cristo tem um profundo senso da santidade de sua obra, e das labutas e sacrifícios requeridos para executá-la com êxito. Ele não planeja seu próprio bem-estar ou conveniência. Esquece-se de si mesmo. Na busca da ovelha perdida não percebe que está cansado, com frio ou com fome. Tem apenas um objetivo em vista -- a salvação do perdido. AA 201 5 Aquele que serve sob a bandeira sangrenta de Emanuel terá a fazer o que requererá heróico esforço e paciente perseverança. Mas o soldado da cruz permanecerá inabalável na frente de batalha. Ao arremessar o inimigo o ataque contra ele, procurará a fortaleza para auxílio, e ao apresentar ao Senhor as promessas da Palavra, será ele fortalecido para os deveres do momento. Ele sente sua necessidade de forças do alto. As vitórias que alcança não o levam à exaltação própria, mas sim a apegar-se mais e mais firmemente ao Poderoso. Apoiando-se nesse Poder, está ele capacitado a apresentar a mensagem de salvação de forma tão impressiva que ela vibrará em outras mentes. AA 202 1 O que ensina a Palavra precisa, ele próprio, viver em consciente e contínua comunhão com Deus pela oração e estudo de Sua Palavra; pois nela está a fonte da força. A comunhão com Deus comunica aos esforços do pastor um poder maior que a influência de sua pregação. Não se deve ele permitir privar-se desse poder. Com um fervor que não pode ser negado, deve pleitear com Deus para que o fortaleça e prepare para o dever e as provações, e lhe toque os lábios com a brasa viva. É demasiado fraco o apego que os embaixadores de Cristo muitas vezes têm às realidades eternas. Se os homens andarem com Deus, Ele os esconderá no abrigo da Rocha. Assim abrigados, podem ver a Deus tal como Moisés. Pelo poder e luz que Ele comunica podem compreender e realizar mais do que seu finito julgamento havia considerado possível. AA 202 2 O engano de Satanás é usado com mais êxito contra os que se sentem deprimidos. Quando o desencorajamento procura derrotar o pastor, exponha ele perante Deus suas necessidades. Foi quando os céus estavam como bronze sobre Paulo que ele confiou mais amplamente em Deus. Mais que a maioria dos homens, ele conhecia o significado da aflição; mas note seu grito de triunfo quando, sitiado pelas tentações e conflitos, seus pés se apressavam rumo ao Céu: "A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem". 2 Coríntios 4:17, 18. Os olhos de Paulo estavam sempre voltados para o invisível e eterno. Reconhecendo que estava lutando contra poderes sobrenaturais, pôs sua confiança em Deus, e nisso repousava sua força. É pelo contemplar Aquele que é invisível que se obtém a força e o vigor do espírito, e é quebrado o poder das coisas terrenas sobre a mente e o caráter. AA 202 3 Deve o pastor misturar-se livremente com aqueles por quem trabalha a fim de familiarizar-se com eles e saber como adaptar seus ensinos às necessidades deles. Havendo pregado um sermão, a obra do pastor apenas começou. Há um trabalho pessoal para ele fazer. Deverá visitar o povo em seus lares, falando e orando com eles com fervor e humildade. Há famílias que jamais serão alcançadas pelas verdades da Palavra de Deus a menos que os mordomos de Sua graça entrem em seus lares e lhes indiquem o mais alto caminho. Mas o coração dos que fazem essa obra devem pulsar em uníssono com o coração de Cristo. AA 202 4 Muito está compreendido na ordem: "Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha". Lucas 14:23. Ensinem os pastores as verdades nos lares, aproximando-se daqueles por quem trabalham; ao assim cooperarem com Deus, Ele os revestirá de poder espiritual. Cristo os guiará em sua obra, dando-lhes palavras que penetrarão profundamente no coração dos ouvintes. É privilégio de cada pastor poder dizer com Paulo: "Nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus" "Nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, [...] testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo". Atos 20:27, 20, 21. AA 203 1 O Salvador ia de casa em casa, curando os enfermos, confortando os que choravam, consolando os aflitos, inspirando paz aos desconsolados. Tomava as criancinhas nos braços e as abençoava, e dizia palavras de esperança e conforto às mães cansadas. Com infalível gentileza e ternura, Ele Se aproximava de cada forma de miséria e aflição humanas. Trabalhava não para Si mesmo, mas para os outros. Era o servo de todos. Sua comida e bebida era levar esperança e ânimo a todos aqueles com quem entravam em contato. E ao atentarem homens e mulheres para as verdades que caíam de Seus lábios, tão diferentes das tradições e dogmas ensinados pelos rabinos; brotava-lhes a esperança no coração. Havia em Seus ensinos um fervor que enviava Suas palavras ao íntimo com poder convincente. AA 203 2 Os ministros de Deus devem aprender o método de trabalho de Cristo, para que possam tirar dos celeiros de Sua Palavra o que irá suprir as necessidades espirituais daqueles por quem trabalham. Somente assim poderão desempenhar a tarefa que lhes foi confiada. O mesmo Espírito que habitou em Cristo ao repartir Ele a instrução que estava constantemente recebendo, deve ser-lhes a fonte de conhecimento e segredo de seu poder para realizar a obra do Salvador no mundo. AA 203 3 Alguns que trabalharam no ministério deixaram de alcançar sucesso porque não dedicaram interesse total à obra do Senhor. Não devem os pastores abrigar outros interesses além da grande obra de conduzir pessoas ao Salvador. Os pescadores a quem Cristo chamou, imediatamente deixaram suas redes e O seguiram. Não podem os pastores fazer um trabalho aceitável para Deus, e ao mesmo tempo levar o fardo de grandes empreendimentos de negócios pessoais. Tal divisão de interesse diminui-lhes a percepção espiritual. A mente e o coração ficam ocupados com coisas terrenas, e o serviço de Cristo toma o segundo lugar. Procuram ajustar sua obra para Deus de acordo com as circunstâncias, em vez de ajustar as circunstâncias aos reclamos de Deus. AA 203 4 As energias do pastor são todas necessárias para o seu alto chamado. Suas melhores faculdades pertencem a Deus. Não deve ele envolver-se em especulações, ou em qualquer outro negócio que o desvie de sua grande obra. "Ninguém que milita", escreveu Paulo, "se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar aquele que o alistou para a guerra". 2 Timóteo 2:4. Assim deu o apóstolo ênfase à necessidade do pastor se consagrar sem reservas ao serviço do Mestre. O pastor que está integralmente consagrado a Deus recusa empenhar-se em negócios que poderiam impedi-lo de se dedicar inteiramente ao sagrado ofício. Não procura riquezas nem honra terrestres; seu único propósito é falar a outros a respeito do Salvador que Se entregou para levar aos seres humanos as riquezas da vida eterna. Seu supremo desejo não é acumular tesouros neste mundo, mas chamar a atenção dos indiferentes e desleais para as realidades eternas. Ele pode ser convidado a empenhar-se em empresas que prometam grandes lucros mundanos, mas a tais tentações ele responde: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" Marcos 8:36. AA 204 1 Satanás apresentou esse engano a Cristo, sabendo que se Ele o aceitasse, o mundo jamais seria redimido. E sob diferentes disfarces apresenta a mesma tentação aos ministros de Deus hoje, sabendo que os que forem enganados por ela serão infiéis ao seu legado. AA 204 2 Não é vontade de Deus que Seus ministros procurem enriquecer. Com respeito a isso escreveu Paulo a Timóteo: "O amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão" Pelo exemplo, bem como por preceito, o embaixador de Cristo deve orientar "aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:10, 11, 17-19. AA 204 3 As experiências do apóstolo Paulo e suas instruções referentes à santidade da obra do pastor, são uma fonte de auxílio e inspiração aos que se empenham no ministério evangélico. O coração de Paulo ardia em amor pelos pecadores, e ele punha todas as suas energias na obra da salvação. Jamais houve obreiro mais perseverante e abnegado. As bênçãos que recebeu, avaliou-as como outros tantos privilégios a serem usados para abençoar a outros. Ele não perdia oportunidade de falar do Salvador ou de ajudar aos que estavam em lutas. Ia de lugar em lugar, pregando o evangelho de Cristo e estabelecendo igrejas. Onde quer que pudesse encontrar audiência, procurava desfazer o mal e dirigir os pés de homens e mulheres para o caminho da justiça. AA 204 4 Paulo não se esquecia das igrejas que havia estabelecido. Depois de fazerem uma viagem missionária, Paulo e Barnabé repassavam seu caminho, visitavam as igrejas que haviam estabelecido, escolhendo delas homens a quem pudessem preparar a fim de se unirem na proclamação do evangelho. AA 204 5 Esse aspecto da obra de Paulo contém uma importante lição para os ministros de hoje. O apóstolo estabeleceu como parte de seu trabalho educar jovens para o encargo do ministério. Levava-os consigo em suas viagens missionárias e assim adquiriam experiência que mais tarde os habilitava a ocupar posições de responsabilidade. Separado deles, conservava-se ainda em contato com o trabalho deles, e suas cartas a Timóteo e a Tito são provas de quão profundo era o seu desejo pelo êxito deles. AA 205 1 Os experimentados obreiros de hoje fazem nobre obra quando, em vez de procurarem levar todos os encargos sozinhos, preparam obreiros mais jovens e colocam responsabilidades sobre seus ombros. AA 205 2 Paulo jamais esqueceu a responsabilidade que repousava sobre ele como ministro de Cristo, nem que, se pessoas se perdessem por infidelidade de sua parte, Deus o consideraria responsável. Do "qual estou feito ministro", declarou ele a respeito do evangelho, "segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a Palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que obra em mim poderosamente". Colossences 1:25-29. AA 205 3 Essas palavras apresentam perante o obreiro de Cristo um elevado objetivo, que entretanto, pode ser alcançado por todos os que, colocando-se sob o controle do grande Mestre, aprendem diariamente na escola de Cristo. O poder à disposição de Deus é ilimitado, e o pastor que em sua grande necessidade une-se a Deus pode estar certo de que receberá o que há de ser para seus ouvintes um cheiro de vida para vida. AA 205 4 Os escritos de Paulo mostram que o ministro do evangelho deve ser um exemplo das verdades que ensina, "não dando... escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado" De sua própria obra deixou-nos um quadro em sua carta aos crentes coríntios: "Tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos". 2 Coríntios 6:3, 4-10. AA 205 5 A Tito ele escreveu: "Exorta semelhantemente os mancebos a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós". Tito 2:6-8. AA 205 6 Nada existe mais precioso à vista de Deus que Seus ministros, os quais vão aos lugares desolados da Terra para semear as sementes da verdade, na esperança da colheita. Ninguém a não ser Cristo pode medir o empenho de Seus servos ao saírem em busca dos perdidos. Ele lhes outorga Seu Espírito, e por seus esforços as pessoas são tiradas do pecado para a justiça. AA 206 1 Deus está chamando homens que estejam dispostos a deixar suas fazendas, negócios, se necessário a família, para se tornarem missionários para Ele. E o chamado será respondido. Tem havido no passado homens que, constrangidos pelo amor de Cristo e pelas necessidades dos perdidos, deixaram os confortos do lar e a sociedade de amigos, inclusive da esposa e filhos, para ir a terras estrangeiras, entre idólatras e selvagens, a fim de proclamar a mensagem de misericórdia. Nessa empreitada muitos perderam a vida, mas outros têm surgido para levar a obra. Assim, passo a passo, a causa de Cristo tem progredido, e a semente semeada em tristeza tem produzido uma abundante colheita. O conhecimento de Deus tem sido estendido amplamente, e a bandeira da cruz plantada em terras pagãs. AA 206 2 Para a conversão de um só pecador, o ministro deve empenhar ao máximo suas energias. A pessoa, criada por Deus e por Cristo redimida, é de grande valor, por causa das possibilidades perante ela, das vantagens espirituais que lhe tem sido concedidas, das habilidades que pode possuir se vitalizada pela Palavra de Deus e da imortalidade que pode obter através da esperança apresentada no evangelho. E se Cristo deixou as noventa e nove ovelhas para que pudesse buscar e salvar a única que se havia extraviado, podemos nós ser justificados fazendo menos? Não constitui o negligenciar trabalhar como Cristo trabalhou, sacrificar como Ele sacrificou, a traição de sagradas verdades, um insulto a Deus? AA 206 3 O coração do verdadeiro ministro está cheio do intenso desejo de salvar. São gastos o tempo e a força, e nenhum penoso esforço é evitado, pois outros precisam ouvir as verdades que trouxeram ao seu próprio coração tamanha alegria, paz e satisfação. O Espírito de Cristo repousa sobre ele. Ele se preocupa com os perdidos como quem deve dar conta deles. Com os olhos fixos na cruz do Calvário, contemplando o Salvador suspenso, confiando em Sua graça, crendo que Ele estará com ele até o fim, como sua proteção, sua fortaleza, sua eficiência, ele trabalha para Deus. Com rogos e convites, misturados com a segurança do amor de Deus, ele busca conquistar almas para Jesus, e no Céu é contado entre os que são "chamados, e eleitos, e fiéis". Apocalipse 17:14. ------------------------Capítulo 35 -- A salvação para os judeus AA 207 0 Este capítulo é baseado na Epístola aos Romanos. AA 207 1 Após muitos inevitáveis atrasos, Paulo chegou afinal a Corinto, cenário de tantos trabalhos ansiosos no passado, e por algum tempo objeto de profunda solicitude. Verificou que muitos dos primitivos crentes ainda se referiam a ele com afeição, como aquele que primeiro lhes levara a luz do evangelho. Como saudasse esses discípulos e visse as evidências de sua fidelidade e zelo, rejubilava-se por sua obra em Corinto não haver sido em vão. AA 207 2 Os crentes de Corinto, antes tão propensos a perder de vista seu alto chamado em Cristo, tinham desenvolvido a força do caráter cristão. Suas palavras e atos revelavam o poder transformador da graça de Deus, e eram eles agora uma potente força para o bem nesse centro de paganismo e superstição. Na sociedade de seus amados companheiros e desses fiéis conversos, o espírito cansado e abatido do apóstolo encontrou repouso. AA 207 3 Durante sua permanência em Corinto, Paulo achou tempo para projetar novos e mais vastos campos de trabalho. Sua projetada viagem a Roma ocupava especialmente seus pensamentos. Ver a fé cristã firmemente estabelecida no grande centro do mundo conhecido, era uma de suas mais caras esperanças e acalentados planos. Uma igreja já havia sido estabelecida em Roma, e o apóstolo desejava conseguir a cooperação dos crentes dali na obra a ser promovida na Itália e em outros países. A fim de preparar o caminho para os seus trabalhos entre esses irmãos, muitos dos quais lhe eram até então estranhos, enviou-lhes uma carta, anunciando seu intento de visitar Roma e sua esperança de plantar o estandarte da cruz na Espanha. AA 207 4 Em sua epístola aos romanos, Paulo expôs os grandes princípios do evangelho. Ele afirmava a sua posição nas questões que estavam agitando as igrejas judaicas e gentílicas, e mostrava que as esperanças e promessas que haviam pertencido antes aos judeus eram, agora, oferecidas também aos gentios. AA 207 5 Com grande clareza e poder, o apóstolo apresentava a doutrina da justificação pela fé em Cristo. Ele esperava que outras igrejas também pudessem ser ajudadas pela instrução enviada aos cristãos de Roma; mas quão pouco podia ele prever o vasto alcance da influência de suas palavras! Através dos séculos, a grande verdade da justificação pela fé tem permanecido como poderoso farol a guiar os pecadores arrependidos ao caminho da vida. Foi essa luz que dissipou as trevas que envolviam a mente de Lutero e revelou-lhe o poder do sangue de Cristo para purificar do pecado. A mesma luz tem guiado à verdadeira fonte de perdão e de paz, milhares de seres sobrecarregados de pecado. Cada cristão tem motivos para agradecer a Deus pela epístola aos romanos. AA 208 1 Nesta carta, Paulo deu livre expressão a suas preocupações em favor dos judeus. Desde sua conversão suspirava por ajudar seus irmãos a alcançar uma clara compreensão da mensagem do evangelho. "O bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel", declarou, "é para sua salvação". Romanos 10:1. AA 208 2 Não era um desejo comum que o apóstolo sentia. Constantemente, estava pedindo a Deus para operar em favor dos israelitas que haviam deixado de reconhecer a Jesus de Nazaré como o Messias prometido. "Em Cristo digo a verdade, não minto", afirmou ele aos crentes de Roma, "dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo, que tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos Deus bendito eternamente". Romanos 9:1-5. AA 208 3 Os judeus foram o povo escolhido de Deus, por cujo intermédio Ele Se propusera abençoar toda a humanidade. Dentre eles, Deus havia levantado muitos profetas. Estes haviam predito o advento de um Redentor que devia ser rejeitado e morto pelos que deveriam ter sido os primeiros a reconhecê-Lo como o Prometido. AA 208 4 O profeta Isaías, devassando os séculos e testemunhando a rejeição de profeta após profeta e finalmente do Filho de Deus, foi inspirado a escrever com respeito à aceitação do Redentor por parte daqueles que nunca haviam sido antes contados entre os filhos de Israel. Referindo-se a essa profecia, Paulo declara: "Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que Me não buscavam, fui manifestado aos que por Mim não perguntavam. Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as Minhas mãos a um povo rebelde e contradizente". Romanos 9:1-5. AA 208 5 Muito embora houvesse Israel rejeitado Seu Filho, Deus não os rejeitou. Note como Paulo continua a argumentar: "Digo pois: Porventura rejeitou Deus o Seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os Teus profetas, e derribaram os Teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para Mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim pois também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça". Romanos 11:1-5. AA 209 1 Israel tinha tropeçado e caído, mas isso não tornara impossível para eles se levantarem outra vez. Em resposta à pergunta: "Porventura tropeçaram, para que caíssem?" o apóstolo responde: "De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?" Romanos 11:11-15. AA 209 2 Era propósito de Deus que Sua graça fosse revelada entre os gentios bem como entre os israelitas. Isso havia sido claramente esboçado nas profecias do Antigo Testamento. O apóstolo usa algumas dessas profecias em seu argumento. Ele interroga: "Não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já antes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz em Oséias: Chamarei Meu povo ao que não era Meu povo; e amada, à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois Meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo". Romanos 9:21-26. AA 209 3 Não obstante haver Israel falhado como nação, havia entre eles um considerável remanescente em condições de ser salvo. Ao tempo do advento do Salvador, houve homens e mulheres fiéis que receberam com alegria a mensagem de João Batista, e foram assim levados a estudar de novo as profecias referentes ao Messias. Quando a igreja cristã primitiva foi fundada, foi ela composta desses fiéis judeus que reconheceram Jesus de Nazaré como Aquele cujo advento haviam almejado. É a esse remanescente que Paulo se referiu quando escreveu: "E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são". Romanos 11:16. AA 209 4 Paulo relaciona o remanescente de Israel a uma boa oliveira de que alguns galhos foram quebrados. E compara os gentios aos ramos de uma oliveira silvestre, enxertados no tronco da oliveira-mãe. "E se alguns dos ramos foram quebrados," escreve ele aos crentes gentios, "e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem! Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. Considera, pois a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na Sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado". Romanos 11:17-22. AA 210 1 Devido à incredulidade e à rejeição do propósito do Céu para eles, Israel como nação perdera sua ligação com Deus. Mas os ramos que haviam sido cortados do tronco, Deus podia ligar ao verdadeiro tronco de Israel -- o remanescente que havia permanecido fiel ao Deus de seus pais. "E também eles", declara o apóstolo, falando dos ramos cortados, "se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar" "Se tu", escreve aos gentios, "foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. AA 210 2 "E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E este será o Meu concerto com eles, quando Eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Porque assim como vós também antigamente fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles, assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. AA 210 3 "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque dEle, e por Ele e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente". Romanos 11:23-36. AA 210 4 Assim mostra Paulo que Deus tem poder de sobra para transformar o coração tanto de judeus como de gentios, e de conceder a cada crente em Cristo as bênçãos prometidas a Israel. Ele repete a declaração de Isaías concernente ao povo de Deus: "Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor executará a Sua palavra sobre a Terra, completando-a e abreviando-a. E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos exércitos não nos deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma, e seríamos semelhantes a Gomorra". Romanos 9:27-29. AA 211 1 Ao tempo em que Jerusalém foi destruída e o templo reduzido a ruínas, muitos milhares de judeus foram vendidos para servir como escravos em terras pagãs. Como náufragos numa praia deserta, foram espalhados entre as nações. Por mil e oitocentos anos [isso até o século 19] têm os judeus vagueado de terra em terra através do mundo, e em nenhum lugar tem-se-lhes dado o privilégio de recuperarem o antigo prestígio como nação. Odiados e perseguidos, de século em século sua herança tem sido de sofrimento. AA 211 2 Muito embora a tremenda sentença pronunciada sobre os judeus como nação ao tempo da rejeição de Jesus de Nazaré, por parte deles, tem havido de século em século muitos judeus nobres, homens e mulheres, tementes a Deus, os quais têm sofrido em silêncio. Deus tem confortado seus corações em aflição, e tem contemplado com piedade sua terrível situação. Tem ouvido as agonizantes orações dos que de todo o coração O têm buscado para uma justa compreensão de Sua Palavra. Alguns têm aprendido a ver no humilde Nazareno a quem seus antepassados rejeitaram e crucificaram, o verdadeiro Messias de Israel. Ao alcançar sua mente o significado das familiares profecias há muito obscurecidas pela tradição e errada interpretação, seu coração se tem enchido de gratidão a Deus pelo dom inaudito que Ele outorga a todo ser humano que decide aceitar a Cristo como Salvador pessoal. AA 211 3 É a essa classe que Isaías se refere em sua profecia: "O remanescente é que será salvo". Isaías 10:22, 23. Desde os dias de Paulo até o presente, Deus pelo Seu Espírito Santo tem estado a chamar tanto a judeus como a gentios. "Deus não faz acepção de pessoas" (Romanos 2:11), declarou Paulo. O apóstolo considerava-se devedor "tanto a gregos como a bárbaros", bem como a judeus; mas jamais perdeu ele de vista as decididas vantagens que os judeus haviam possuído sobre outros, "primeiramente", porque "as palavras de Deus lhe foram confiadas". Romanos 3:2. "O evangelho", declarou, "é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé". Romanos 1:16, 17. É desse evangelho de Cristo, igualmente eficaz a judeus e gentios, que Paulo em sua epístola aos romanos declara não se envergonhar. AA 211 4 Quando esse evangelho for apresentado em sua plenitude aos judeus, muitos aceitarão a Cristo como o Messias. Entre os ministros cristãos há poucos que se sentem chamados a trabalhar pelo povo judeu; mas aos que têm sido passados por alto, bem como a todos os outros, deve chegar a mensagem de misericórdia e esperança em Cristo. AA 211 5 Na proclamação final do evangelho, quando deve ser feito um trabalho especial pelas classes de pessoas até aqui negligenciadas, Deus espera que Seus mensageiros tomem interesse especial pelo povo judeu, o qual se encontra em todas as partes da Terra. Ao serem as Escrituras do Antigo Testamento relacionadas com o Novo numa explanação do eterno propósito de Jeová, isto será para muitos judeus como o raiar de uma nova criação, a ressurreição da esperança. Ao verem o Cristo da dispensação do evangelho retratado nas páginas das Escrituras do Antigo Testamento, e perceberem quão claramente o Novo Testamento explica o Antigo, suas adormecidas faculdades despertarão e eles reconhecerão a Cristo como o Salvador do mundo. Muitos receberão a Cristo pela fé como seu Redentor. Em relação a eles se cumprirão as palavras: "Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no Seu nome". João 1:12. AA 212 1 Há entre os judeus alguns que, como Saulo de Tarso, são poderosos nas Escrituras, e esses proclamarão com maravilhoso poder a imutabilidade da lei de Deus. O Deus de Israel fará que isso ocorra em nossos dias. Seu braço não está encolhido para que não possa salvar. Ao trabalharem com fé Seus servos pelos que de muito têm sido negligenciados e desprezados, Sua salvação será revelada. AA 212 2 "Assim diz o Senhor, que remiu a Abraão, acerca da casa de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face. Mas quando vir a Seus filhos, a obra das Minhas mãos, no meio dele, santificarão o Meu nome, e santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel. E os errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão doutrina". Isaías 29:22-24. ------------------------Capítulo 36 -- Apostasia na Galácia AA 213 0 Este capítulo é baseado na Epístola aos Gálatas. AA 213 1 Enquanto permanecia em Corinto, Paulo teve motivos para sérias apreensões com respeito a algumas das igrejas já estabelecidas. Através da influência de falsos ensinadores que se tinham levantado entre os crentes em Jerusalém, a divisão, heresia e sensualismo estavam rapidamente ganhando terreno entre os crentes na Galácia. Esses falsos ensinadores estavam misturando tradições judaicas com as verdades do evangelho. Desconsiderando a decisão do concílio geral de Jerusalém, impuseram aos crentes gentios a observância da lei cerimonial. AA 213 2 A situação era crítica. Os males que haviam sido introduzidos ameaçavam destruir rapidamente as igrejas da Galácia. AA 213 3 Paulo tinha o coração cortado e sua mente estava contristada por essa franca apostasia da parte daqueles a quem ensinara fielmente os princípios do evangelho. Imediatamente, ele escreveu aos enganados crentes, expondo as falsas teorias que tinham aceitado, e com grande severidade repreendeu a todos os que se estavam apartando da fé. Após saudar os gálatas com as palavras "graça e paz da parte de Deus Pai e da de nosso Senhor Jesus Cristo", dirigiu-lhes estas palavras de penetrante reprovação: AA 213 4 "Maravilho-me de que tão depressa passásseis dAquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho. O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do Céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema". Gálatas 1:3, 6-8. Os ensinos de Paulo estavam em harmonia com as Escrituras, e o Espírito Santo tinha dado testemunho de seu trabalho; por isso ele advertia a seus irmãos a não atentarem para coisa alguma que contradissesse as verdades que lhes havia ensinado. AA 213 5 O apóstolo aconselhou os crentes gálatas a considerarem cuidadosamente sua primeira experiência na vida cristã. "Ó insensatos gálatas!" exclamou, "quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado? Só quisera saber isto de vós: Recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão. Aquele pois que vos dá o Espírito e que obra maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" Gálatas 3:1-5. AA 214 1 Assim Paulo colocava os crentes da Galácia perante o tribunal de sua própria consciência, e procurava detê-los em seu caminho. Confiando no poder de Deus para salvar, e recusando-se a reconhecer as doutrinas dos ensinadores apóstatas, o apóstolo ansiava por levar os conversos a ver que haviam sido grosseiramente enganados, mas que pelo retorno a sua primeira fé no evangelho podiam ainda anular os propósitos de Satanás. Ele tomou posição firmemente ao lado da verdade e da justiça; e sua suprema fé e confiança na mensagem que apresentara, ajudou a muitos cuja fé havia fracassado, a retornarem à obediência ao Salvador. AA 214 2 Quão diferente da maneira de Paulo escrever à igreja de Corinto, foi o caminho que ele seguiu em relação aos gálatas! Aos primeiros repreendeu com cautela e ternura; aos últimos, com palavras de farta reprovação. Os coríntios haviam sido vencidos pela tentação. Enganados por engenhosos sofismas de ensinadores que apresentavam erros sob o disfarce da verdade, tinham-se tornado confusos e desorientados. Ensiná-los a distinguir o falso do verdadeiro requeria cuidado e paciência. Aspereza ou descuidosa precipitação da parte de Paulo teriam destruído sua influência sobre muitos daqueles a quem ansiava ajudar. AA 214 3 Nas igrejas da Galácia, aberta e desmascaradamente estava o erro suplantando a mensagem do evangelho. Cristo, o verdadeiro fundamento da fé, fora virtualmente renunciado pelas obsoletas cerimônias do judaísmo. O apóstolo viu que, para que os crentes da Galácia fossem salvos das perigosas influências que os ameaçavam, as mais decisivas medidas deviam ser tomadas, dadas as mais penetrantes advertências. AA 214 4 Uma importante lição que todo ministro de Cristo deve aprender, é a de adaptar seu trabalho às condições daqueles a quem busca beneficiar. Ternura, paciência, decisão e firmeza são igualmente necessárias; mas devem ser exercidas com o necessário discernimento. Tratar sabiamente com diferentes tipos de mentalidade, sob circunstâncias e condições variadas, é uma obra que requer sabedoria e juízo iluminado e santificado pelo Espírito de Deus. AA 214 5 Em sua carta aos crentes gálatas, Paulo recapitula brevemente os incidentes principais relacionados com sua própria conversão e com sua experiência cristã primitiva. Por esse meio, ele procurava mostrar que foi através de uma especial manifestação de poder divino que ele havia sido levado a ver e abraçar as grandes verdades do evangelho. Foi mediante instrução recebida do próprio Deus que Paulo foi levado a advertir e admoestar os gálatas de maneira tão solene e positiva. Ele escreveu, não em hesitação e dúvida, mas com a segurança de decidida convicção e absoluto conhecimento. Esboçava claramente a diferença entre ser ensinado pelo homem e receber a instrução diretamente de Cristo. AA 214 6 O apóstolo exortava os gálatas a deixar os falsos guias por quem haviam sido desviados, e a voltar à fé que havia sido acompanhada por inquestionáveis evidências de aprovação divina. Os homens que os haviam procurado desviar de sua fé no evangelho eram hipócritas, de coração não santificado e vida corrupta. Sua religião era feita de um conjunto de cerimônias, por cujas práticas esperavam ganhar o favor de Deus. Não tinham interesse num evangelho que requeria obediência à palavra: "Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". João 3:3. Sentiam que uma religião baseada em tal doutrina requeria demasiado sacrifício, e assim se apegavam a seus erros, enganando-se e também aos outros. AA 215 1 Suprir formas externas de religião em lugar de santidade de coração e de vida é ainda tão agradável à natureza não renovada como o foi nos dias desses ensinadores judeus. Hoje, como então, existem falsos guias espirituais, para cujas doutrinas muitos atentam avidamente. É estudado esforço de Satanás desviar as mentes da esperança da salvação pela fé em Cristo e obediência à lei de Deus. Em cada época, o arquiinimigo adapta suas tentações aos preconceitos ou inclinações daqueles a quem está procurando enganar. Nos tempos apostólicos, levou os judeus a exaltar a lei cerimonial e rejeitar a Cristo; no presente, ele induz muitos cristãos professos, sob a pretensão de honrar a Cristo, a pôr em controvérsia a lei moral, e a ensinar que seus preceitos podem ser transgredidos impunemente. É dever de cada servo de Deus opor-se firme e decididamente a esses pervertedores da fé, e expor destemidamente seus erros pela Palavra da verdade. AA 215 2 Em seu esforço para reconquistar a confiança de seus irmãos na Galácia, Paulo habilmente vindica sua posição como apóstolo de Cristo. Ele se declarou apóstolo, "não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que O ressuscitou dos mortos" Não de homens, mas da mais alta autoridade no Céu, tinha ele recebido seu comissionamento. E sua posição tinha sido reconhecida por um concílio geral em Jerusalém, com cujas decisões Paulo se tinha conformado em todos os seus trabalhos entre os gentios. AA 215 3 Não foi para exaltar-se, mas para magnificar a graça de Deus, que Paulo assim apresentou aos que estavam pondo em dúvida seu apostolado, provas de que não era "inferior aos mais excelentes apóstolos". 2 Coríntios 11:5. Os que procuravam diminuir sua vocação e sua obra estavam lutando contra Cristo, cuja graça e poder eram manifestos através de Paulo. O apóstolo foi forçado, pela oposição de seus inimigos, a tomar decidida atitude de manter sua posição e autoridade. AA 215 4 Paulo pleiteava com os que haviam uma vez conhecido na vida o poder de Deus, para voltarem a seu primeiro amor pela verdade do evangelho. Com irrespondíveis argumentos, expunha perante eles o privilégio de se tornarem homens e mulheres livres em Cristo, por cuja graça expiatória todos os que fazem completa entrega são vestidos com o manto de Sua justiça. A posição que Ele tomou é que cada pessoa que deseja ser salva precisa ter uma experiência genuína e individual nas coisas de Deus. As fervorosas palavras de súplica do apóstolo não ficaram sem fruto. O Espírito Santo operou com forte poder, e muitos cujos pés se haviam desviado para caminhos estranhos, retornaram a sua primeira fé no evangelho. Daí em diante ficaram firmes na liberdade com que Cristo os havia libertado. Na vida deles foi revelado o fruto do Espírito -- "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Gálatas 5:22, 23. O nome de Deus foi glorificado e muitos foram acrescentados ao número dos crentes em toda aquela região. ------------------------Capítulo 37 -- A última viagem de Paulo a Jerusalém AA 217 0 Este capítulo é baseado em Atos 20:4-38; 21:1-16. AA 217 1 Paulo tinha grande desejo de alcançar Jerusalém antes da Páscoa, para que assim tivesse uma oportunidade de encontrar-se com os que vinham de todas as partes do mundo para assistir à festa. Acariciava sempre a esperança de servir, de algum modo, como instrumento na remoção dos preconceitos de seus patrícios incrédulos, a fim de que fossem levados a aceitar a preciosa luz do evangelho. Desejava também visitar a igreja de Jerusalém e levar-lhes os donativos que as igrejas gentílicas enviavam para os irmãos pobres da Judéia. E por essa visita esperava promover mais firme união entre os judeus conversos e os conversos gentios. AA 217 2 Tendo completado seu trabalho em Corinto, determinou navegar diretamente para um dos portos na costa da Palestina. Haviam-se tomado todas as disposições e ele estava prestes a tomar o navio quando teve aviso de uma trama dos judeus para tirar-lhe a vida. Até então, tinham sido frustrados todos os esforços dos adversários da fé para acabar com a obra do apóstolo. AA 217 3 O êxito que alcançou a pregação do evangelho havia despertado de novo a ira dos judeus. Chegavam de cada canto informações da disseminação da nova doutrina, segundo a qual os judeus eram libertados da observância dos ritos da lei cerimonial, e os gentios eram admitidos a iguais privilégios com os judeus como filhos de Abraão. Paulo, em sua pregação em Corinto, apresentou os mesmos argumentos que expunha com tanta veemência em suas epístolas. Sua categórica afirmação: "Não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão" (Colossences 3:11), foi considerada pelos inimigos como ousada blasfêmia, e decidiram que sua voz devia ser silenciada. AA 217 4 Tendo sido avisado da conspiração, Paulo decidiu dar a volta pela Macedônia. Teve assim de renunciar ao plano de chegar a Jerusalém em tempo para as festividades da Páscoa, mas esperava lá estar para o Pentecostes. AA 217 5 Na companhia de Paulo e Lucas estavam "Sópater, de Beréia, e dos de Tessalônica, Aristarco e Segundo, e Gaio, de Derbe, e Timóteo, e dos da Ásia, Tíquico e Trófimo". Atos 20:4. Paulo trazia consigo grande soma de dinheiro das igrejas gentílicas, e pretendia depô-la nas mãos dos irmãos encarregados do trabalho na Judéia; e para esse fim combinou com várias igrejas contribuintes que representantes seus o acompanhassem a Jerusalém. AA 218 1 Em Filipos, Paulo demorou-se para celebrar a Páscoa. Só Lucas ficou com ele, partindo os demais membros da comitiva para Trôade, a fim de ali o esperarem. Os filipenses eram dentre os conversos do apóstolo os mais amorosos e sinceros, e durante os oito dias da festa ele desfrutou pacífica e feliz comunhão com eles. AA 218 2 Embarcando em Filipos, Paulo e Lucas alcançaram os companheiros cinco dias mais tarde, em Trôade, e demoraram-se sete dias com os crentes naquele lugar. Na última noite de sua estada ali os irmãos se ajuntaram "para partir o pão" O fato de que seu amado mestre ia partir, promoveu um ajuntamento maior que o de costume. Reuniram-se num "cenáculo" (Atos 20:7, 8), no terceiro andar. Ali, no fervor de seu amor e solicitude por eles, o apóstolo pregou até a meia-noite. AA 218 3 Numa das janelas abertas estava assentado um jovem por nome Êutico. Nessa perigosa posição adormeceu, e caiu ao solo. Num momento tudo era susto e confusão. O jovem foi levantado morto, e muitos se acercaram dele com gritos e lamentações. Mas Paulo, passando por entre os irmãos atribulados, abraçou-o e fez uma fervorosa oração para que Deus restaurasse a vida ao morto. Sua petição foi atendida. Sobrepondo-se aos clamores e lamentações, ouviu-se a voz do apóstolo dizendo: "Não vos perturbeis, que a sua alma nele está" Com júbilo, os crentes voltaram a se reunir no cenáculo. Havendo participado da comunhão, Paulo "ainda lhes falou largamente até à alvorada". Atos 20:10, 11. AA 218 4 O navio em que Paulo e seus companheiros deviam prosseguir viagem estava prestes a partir e os irmãos apressaram-se a subir a bordo. O apóstolo, porém, preferiu tomar o caminho mais perto, por terra, entre Trôade e Assôs, encontrando-se com seus companheiros nesta cidade. Isto lhe deu um pouco de tempo para meditação e oração. As dificuldades e perigos relacionados com sua próxima visita a Jerusalém, a atitude da igreja ali para com ele e sua obra, bem como a condição das igrejas e o interesse da obra do evangelho em outros campos, eram assuntos de ardente e solícito pensar; e ele aproveitou essa oportunidade especial para buscar de Deus força e guia. AA 218 5 Enquanto os viajantes navegavam rumo ao sul, para Assôs, passaram pela cidade de Éfeso, que fora por tanto tempo cenário dos trabalhos do apóstolo. Paulo havia desejado muito visitar a igreja ali; pois tinha importante instrução e conselho a dar-lhes. Havendo, porém, ponderado, determinou apressar-se; pois desejava "estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia do Pentecostes". Atos 20:16. Chegando, porém, a Mileto, cerca de cinqüenta quilômetros de Éfeso, soube que lhe seria possível comunicar-se com a igreja antes que o navio partisse. Enviou portanto uma mensagem imediatamente aos anciãos, pedindo para que viessem depressa a Mileto, para que pudesse vê-los antes de continuar a viagem. AA 218 6 Em resposta a seu chamado vieram, e ele lhes dirigiu palavras ardentes e tocantes de admoestação e despedida. "Vós bem sabeis", disse ele, "desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo". Atos 20:18-21. AA 219 1 Paulo sempre exaltara a lei divina. Ele havia mostrado que não há poder na lei para salvar os homens da penalidade da desobediência; que os pecadores precisam arrepender-se de seus pecados, e humilhar-se perante Deus, em cuja justa ira incorreram pela transgressão de Sua lei, e precisam também exercer fé no sangue de Cristo como o único meio de perdão. O Filho de Deus havia morrido como sacrifício por eles, e havia subido ao Céu para permanecer como seu Advogado perante o Pai. Mediante arrependimento e fé podiam ficar livres da condenação do pecado, e pela graça de Cristo ser capacitados daí por diante a render obediência à lei de Deus. AA 219 2 "E agora", continuou Paulo, "eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer, senão o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto". Atos 20:22-25. AA 219 3 Paulo não pensava em dar esse testemunho, mas enquanto falava veio sobre ele o Espírito de inspiração, confirmando seus pressentimentos de que esse seria seu último encontro com os irmãos efésios. AA 219 4 "Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos, porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus". Atos 20:26, 27. Nenhum temor de causar escândalo, nenhum desejo de amizade ou de aplausos, poderiam levar Paulo a reter as palavras que Deus lhe dera para instrução deles, advertência ou correção. Dos Seus servos hoje Deus requer coragem na pregação da Palavra e na exposição de seus preceitos. O ministro de Cristo não deve apresentar ao povo apenas as verdades mais agradáveis, retendo outras que lhes possam causar mágoa. Deve ele observar com profundo interesse o desenvolvimento do caráter. Se vir que alguém no rebanho está acariciando o pecado, precisa como fiel pastor dar-lhe instrução da Palavra de Deus que se aplique ao caso. Permitisse-lhes ele prosseguirem confiadamente sem advertência, e seria responsabilizado por sua perdição. O pastor que cumpre seu alto encargo deve dar a seu povo, fiel instrução sobre cada ponto da fé cristã, mostrando-lhes o que precisam ser e fazer para se apresentarem perfeitos no dia de Deus. Unicamente aquele que é fiel ensinador da verdade poderá, ao fim de seu trabalho, dizer como Paulo: "Estou limpo do sangue de todos". Atos 20:26. AA 220 1 "Olhai por vós", advertiu o apóstolo a seus irmãos, "e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue". Atos 20:28. Se os ministros do evangelho mantiverem sempre em mente que estão tratando com a aquisição do sangue de Cristo, terão mais profundo senso da importância de seu trabalho. Devem ter cuidado de si e do rebanho. Seu próprio exemplo deve ilustrar e fortalecer suas instruções. Como ensinadores do caminho da vida, não devem dar ocasião de ser blasfemada a verdade. Como representantes de Cristo, devem manter a honra de Seu nome. Mediante devoção, pureza de vida, pia conversação, devem provar-se dignos de sua alta vocação. AA 220 2 Os perigos que assaltariam a igreja de Éfeso foram revelados ao apóstolo. "Eu sei isto", disse, "que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si". Atos 20:29, 30. Paulo tremia pela igreja quando, olhando para o futuro, via os ataques que ela sofreria de inimigos externos e internos. Com solene fervor exortou seus irmãos a guardar vigilantes seu sagrado depósito. Como exemplo, apresentou-lhes seu próprio infatigável trabalho entre eles: "Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas, a cada um de vós". Atos 20:31. AA 220 3 "Agora pois, irmãos," continuou ele, "encomendo-vos a Deus e à palavra da Sua graça; a Ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados. De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste" Alguns dos irmãos efésios eram ricos; mas Paulo jamais procurara tirar deles benefício pessoal. Não fazia parte de sua mensagem chamar a atenção para as suas próprias necessidades. "Para o que me era necessário, a mim", declarou, "e aos que estavam comigo, estas mãos me serviram". Atos 20:33, 34. Em meio a seus árduos labores e extensas jornadas pela causa de Cristo, ele fora capaz não apenas de suprir suas próprias necessidades, mas de poupar alguma coisa para o sustento dos seus companheiros de trabalho e ajuda aos pobres. Isso ele conseguiu unicamente com intenso trabalho e estrita economia. Bem podia ele apontar a seu próprio exemplo, quando disse: "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber. AA 220 4 "E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio". Atos 20:35-38. AA 221 1 De Mileto, os viajantes navegaram "caminho direito [...] a Cós, e no dia seguinte a Rodes, de onde" passaram "a Pátara", na praia sudoeste da Ásia Menor, onde "achando um navio que ia para a Fenícia", embarcaram nele e partiram. Em Tiro, onde o navio foi descarregado, acharam uns poucos discípulos, com quem lhes foi permitido ficar sete dias. Pelo Espírito Santo foram esses discípulos advertidos dos perigos que aguardavam Paulo em Jerusalém, e eles insistiram com ele, "que não subissem a Jerusalém". Atos 21:1-4. Mas o apóstolo não permitiu que o temor de provações e encarceramento o demovesse de seu propósito. AA 221 2 Após a semana passada em Tiro, todos os irmãos, com suas esposas e filhos, foram com Paulo ao navio, e antes que ele embarcasse, ajoelharam na praia e oraram, ele por eles, e eles por ele. AA 221 3 Prosseguindo sua jornada rumo ao sul, os viajantes chegaram a Cesaréia; "e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete" (Atos 21:8), ficaram com ele. Ali Paulo passou uns poucos dias, pacíficos e felizes -- os últimos da perfeita liberdade de que ele devia usufruir por muito tempo. AA 221 4 Enquanto Paulo se demorava em Cesaréia, "chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; e, vindo ter conosco," conta Lucas, "tomou a cinta de Paulo e, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta e o entregarão nas mãos dos gentios. E, ouvindo nós isto," continua Lucas, "rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém" Mas Paulo não se desviaria do caminho do dever. Seguiria a Cristo se necessário à prisão e à morte. "Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração?" exclamou; "porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus" Vendo que lhe causavam sofrimento sem mudar o propósito, os irmãos cessaram de insistir, dizendo apenas: "Faça-se a vontade do Senhor!" Atos 21:10-14. AA 221 5 Logo chegou o momento em que a breve estada em Cesaréia teve fim, e acompanhado por alguns dos irmãos, Paulo e sua comitiva partiram para Jerusalém, com o coração profundamente pesaroso pelo pressentimento de males vindouros. AA 221 6 Nunca antes havia o apóstolo se acercado de Jerusalém com o coração tão triste. Sabia que encontraria poucos amigos e muitos inimigos. Estava-se aproximando da cidade que tinha rejeitado e matado o Filho de Deus, e sobre a qual agora pairavam as ameaças da ira divina. Relembrando quão amargos tinham sido seus próprios preconceitos contra os seguidores de Cristo, sentia a mais profunda piedade por seus iludidos compatriotas. E no entanto, quão pouco podia ele esperar ser capaz de fazer para ajudá-los! A mesma ira cega que antes inflamara seu coração, ardia agora com inaudito poder no coração de toda uma nação contra ele. AA 222 1 E ele não poderia contar com a simpatia e o auxílio de seus próprios irmãos na fé. Os incrédulos judeus que lhe haviam tão de perto seguido os passos, não haviam demorado em fazer circular em Jerusalém os boatos mais desfavoráveis sobre ele e sua obra, tanto por carta como pessoalmente; e alguns, mesmo dentre os apóstolos e anciãos, tinham tomado esses relatos por verdadeiros, nada fazendo para contradizê-los, e não manifestando desejo de se harmonizarem com ele. AA 222 2 Se bem que assaltado de desânimo, o apóstolo não se desesperara. Confiava em que a voz que lhe falara ao próprio coração ainda falaria ao de seus concidadãos, e que o Mestre a quem os condiscípulos amavam e serviam uniria ainda seus corações ao dele na obra do evangelho. ------------------------Capítulo 38 -- Paulo prisioneiro AA 223 0 Este capítulo é baseado em Atos 21:17-40; 22; 23:1-35. AA 223 1 E logo que chegamos a Jerusalém, os irmãos nos receberam de muito boa vontade. E no dia seguinte Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali". Atos 21:17, 18. AA 223 2 Nessa ocasião, Paulo e seus companheiros formalmente apresentaram aos dirigentes da obra em Jerusalém as contribuições enviadas pelas igrejas gentílicas para o sustento dos pobres existentes entre os irmãos judeus. A arrecadação dessas contribuições havia custado ao apóstolo e a seus colaboradores, muito tempo, profunda ansiedade e intenso trabalho. A importância, que excedia em muito à expectativa dos anciãos de Jerusalém, representava muitos sacrifícios e mesmo severas privações da parte dos crentes gentios. AA 223 3 Essas ofertas voluntárias traduziam a lealdade dos conversos gentios para com a obra de Deus organizada em todo o mundo, e deviam ter sido por todos recebidas com grato reconhecimento; entretanto, era manifesto a Paulo e seus colaboradores que, mesmo dentre aqueles diante de quem agora estavam, havia alguns que eram incapazes de apreciar o espírito de amor fraternal que prodigalizara as ofertas. AA 223 4 Nos primeiros anos da obra do evangelho entre os gentios, alguns dos irmãos dirigentes de Jerusalém, apegando-se a anteriores preconceitos e modos de pensar, não haviam cooperado sinceramente com Paulo e seus companheiros. Em sua ansiedade por preservar umas poucas formas e cerimônias insignificantes, tinham perdido de vista as bênçãos que poderiam advir a eles e à causa que amavam, mediante um esforço para unir numa só todas as partes da obra do Senhor. Embora estivessem desejosos de salvaguardar os melhores interesses da igreja cristã, tinham deixado de manter-se atentos às progressivas providências de Deus, e em sua humana sabedoria tinham procurado entravar os obreiros com muitas restrições desnecessárias. Assim, surgiu ali um grupo de homens que não estavam familiarizados pessoalmente com as circunstâncias difíceis e peculiares necessidades enfrentadas pelos obreiros em campos distantes, e que entretanto sustentavam ter autoridade para levar seus irmãos nesses campos a seguir certos e determinados métodos de trabalho. Julgavam que a obra de pregar o evangelho tinha de ser levada avante em harmonia com suas opiniões. AA 223 5 Vários anos haviam passado desde que os irmãos em Jerusalém, juntamente com representantes de outras igrejas principais, tinham dado cuidadosa atenção às perturbadoras questões que haviam surgido com respeito a métodos seguidos pelos que trabalhavam entre os gentios. Como resultado desse concílio, os irmãos tinham sido unânimes em fazer definidas recomendações às igrejas concernentes a certos ritos e costumes, inclusive a circuncisão. Nesse concílio geral os irmãos foram também unânimes em recomendar Paulo e Barnabé às igrejas cristãs como obreiros dignos da inteira confiança de cada crente. AA 224 1 Havia entre os presentes a essa reunião, alguns que haviam criticado severamente os métodos de trabalho seguidos pelos apóstolos sobre quem repousava o principal encargo de levar o evangelho ao mundo gentio. Mas durante o concílio, sua visão do propósito de Deus se tinha ampliado, e eles se uniram a seus irmãos em fazer sábias decisões que tornaram possível a unificação de todo o corpo de crentes. AA 224 2 Posteriormente, quando se tornou claro que os conversos dentre os gentios estavam aumentando rapidamente, houve alguns poucos dentre os irmãos dirigentes em Jerusalém que começaram de novo a acariciar seus anteriores preconceitos contra os métodos de Paulo e seus companheiros. AA 224 3 Esses preconceitos se fortaleceram com o passar dos anos, até que alguns dos dirigentes determinaram que a obra de pregar o evangelho devia daí por diante ser dirigida de acordo com suas próprias idéias. Se Paulo conformasse seus métodos a certa orientação por eles defendida, reconheceriam sua obra e a sustentariam; de outro modo, não mais a veriam com favor nem lhe concederiam a manutenção. AA 224 4 Esses homens haviam perdido de vista o fato de que Deus é o Mestre de Seu povo; que cada obreiro em Sua causa deve alcançar uma experiência pessoal em seguir o divino Líder, e não em buscar dos homens guia direta; que Seus obreiros devem ser talhados e moldados, não segundo as idéias do homem, mas segundo a semelhança divina. AA 224 5 Em seu ministério, o apóstolo Paulo tinha ensinado o povo não com "palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder" As verdades que proclamava tinham-lhe sido reveladas pelo Espírito Santo; "porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. [...] As quais", declara Paulo, "também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais". 1 Coríntios 2:4, 10-13. AA 224 6 Através de seu ministério, Paulo tinha buscado orientação direta de Deus. Ao mesmo tempo, tinha sido muito cuidadoso em trabalhar em harmonia com as decisões do concílio geral de Jerusalém; e como resultado, as igrejas "eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número". Atos 16:5. E agora, apesar da falta de simpatia mostrada por alguns, encontrava conforto na tranqüila consciência de que havia cumprido seu dever ao encorajar em seus conversos um espírito de lealdade, generosidade e amor fraternal, como se revelou nessa ocasião nas contribuições liberais que lhe foi possível colocar diante dos anciãos judeus. AA 225 1 Após a apresentação das ofertas, Paulo "contou-lhes por miúdo o que por seu ministério Deus fizera entre os gentios" Essa exposição de fatos levou ao coração de todos, mesmo dos que tinham estado a duvidar, a convicção de que a bênção do Céu tinha acompanhado seu trabalho. "E, ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor". Atos 21:19, 20. Eles sentiram que os métodos de trabalho seguidos pelo apóstolo levavam a aprovação do Céu. As liberais contribuições que tinham perante si, acrescentavam peso ao testemunho do apóstolo no tocante à fidelidade das novas igrejas estabelecidas entre os gentios. Os homens que, embora contados entre os que tinham o encargo da obra em Jerusalém, tinham insistido em que se adotassem arbitrárias medidas de controle, viram o ministério de Paulo sob nova luz, e ficaram convencidos de que seu próprio procedimento tinha sido errado, que haviam estado escravizados pelas tradições e costumes judaicos, e que a obra do evangelho tinha sido grandemente embaraçada por não haverem reconhecido que o muro de separação entre judeus e gentios tinha sido derribado pela morte de Cristo. AA 225 2 Foi essa uma áurea oportunidade para todos os irmãos dirigentes francamente confessarem que Deus operara por Paulo, e que haviam por vezes errado, permitindo que os boatos dos inimigos despertassem neles inveja e preconceito. Mas em vez de se unirem num esforço a fim de fazer justiça àquele que fora ofendido, deram-lhe um conselho que revelava nutrirem ainda a idéia de que Paulo devesse ser em grande parte responsabilizado pelos preconceitos existentes. Não se puseram nobremente ao lado dele para defendê-lo, esforçando-se por mostrar aos desgostosos irmãos onde eles próprios estiveram errados, mas procuraram criar um compromisso aconselhando-o a seguir um caminho que na opinião deles removeria toda causa de equívoco. AA 225 3 "Bem vês, irmão," disseram em resposta a seu testemunho, "quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei; e foram informados a teu respeito que ensinas todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei. Que se há de fazer, pois? Certamente saberão da tua chegada. Faze, portanto, o que te vamos dizer: estão entre nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram voto; toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa necessária para que raspem a cabeça; e saberão todos que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que, pelo contrário, andas também, tu mesmo, guardando a lei. Quanto aos gentios que creram, já lhes transmitimos decisões para que se abstenham das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas". Atos 21:20-25. AA 226 1 Os irmãos esperavam que, seguindo Paulo o procedimento sugerido, pudesse contrariar de maneira decisiva as falsas notícias concernentes a ele. Asseguraram-lhe que a decisão do concílio anterior no tocante aos conversos gentios e à lei cerimonial, ainda vigorava. Mas o conselho agora dado não estava em harmonia com aquela decisão. O Espírito de Deus não ratificou essa instrução; foi ela fruto da covardia. Os líderes da igreja em Jerusalém sabiam que, por se não conformarem com a lei cerimonial, os cristãos atrairiam sobre si o ódio dos judeus, e se exporiam à perseguição. O Sinédrio estava fazendo o máximo para deter o progresso do evangelho. Por ele foram escolhidos homens para seguirem os apóstolos, especialmente Paulo, e por toda a maneira possível opor-se a sua obra. Se os crentes em Cristo fossem condenados pelo Sinédrio como quebrantadores da lei, seriam levados a sofrer imediata e severa punição como apóstatas da fé judaica. AA 226 2 Muitos dos judeus que haviam aceitado o evangelho acariciavam ainda certa deferência pela lei cerimonial, e estavam demasiado dispostos a fazer perigosas concessões, esperando assim ganhar a confiança de seus concidadãos, remover seus preconceitos e ganhá-los para a fé em Cristo como o Redentor do mundo. Paulo compreendeu que, por todo o tempo em que muitos dos principais membros da igreja em Jerusalém continuassem a manter o preconceito contra ele, procurariam constantemente prejudicar sua influência. Acreditava que se por alguma concessão razoável pudesse ganhá-los para a verdade, removeria um grande obstáculo ao êxito do evangelho em outros lugares. Não se achava, porém, autorizado por Deus para ceder tanto quanto pediam. AA 226 3 Quando pensamos no grande desejo de Paulo em harmonizar-se com seus irmãos, sua bondade para com os fracos na fé, sua reverência pelos apóstolos que haviam estado com Cristo, e por Tiago, o irmão do Senhor, e seu propósito de tornar-se tanto quanto possível tudo para com todos sem sacrificar princípios -- quando pensamos em tudo isso, surpreende menos que ele tenha sido constrangido a se desviar do caminho firme e decidido que até aí seguira. Mas em vez de alcançar o objetivo desejado, seus esforços pela conciliação apenas precipitaram a crise, apressaram os sofrimentos que lhe estavam preditos, e resultaram em separá-lo de seus irmãos, privando a igreja de uma de suas mais fortes colunas, e levando a tristeza aos corações cristãos em toda parte. AA 226 4 No dia seguinte, Paulo começou a executar o conselho dos anciãos. Os quatro homens que haviam feito o voto de nazireus (Números 6), cujo termo estava quase cumprido, foram levados por Paulo ao templo, "anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta". Atos 21:26. Certos dispendiosos sacrifícios para a purificação ainda deveriam ser oferecidos. AA 226 5 Os que aconselharam Paulo a dar esse passo não haviam considerado bem o grande perigo a que estaria assim exposto. Jerusalém estava, nessa época, regurgitando de adoradores vindos de muitas terras. Quando, em cumprimento da comissão que lhe fora imposta por Deus, Paulo anunciara o evangelho aos gentios, visitara muitas das maiores cidades do mundo, e era bem conhecido de milhares que, de terras estrangeiras, tinham vindo a Jerusalém para assistir à festa. Entre esses, havia homens cujo coração se enchera de amargo ódio contra Paulo; e sua entrada no templo numa tal ocasião pública significava arriscar a vida. Por vários dias, entrou e saiu entre os adoradores, aparentemente despercebido; mas, antes do fim do tempo especificado, ao estar falando com um sacerdote a respeito dos sacrifícios a serem oferecidos, foi reconhecido por alguns dos judeus da Ásia. AA 227 1 Com fúria de demônios precipitaram-se sobre ele, clamando: "Varões israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo e contra a lei, e contra este lugar" E como o povo correspondesse ao pedido de auxílio, outra acusação foi acrescentada: "E, demais disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo lugar". Atos 21:27, 28. AA 227 2 Pela lei judaica era crime punível com a morte entrar uma pessoa incircuncisa nos pátios internos do edifício sagrado. Paulo tinha sido visto na cidade em companhia de Trófimo, um efésio, e conjeturou-se que o houvesse trazido ao templo. Isso ele não fizera; e, sendo ele mesmo judeu, seu ato de entrar no templo não era violação da lei. Mas, embora a acusação fosse inteiramente falsa, serviu para despertar o preconceito popular. E como o clamor se levantasse e fosse levado aos pátios do templo, as multidões ali reunidas foram lançadas em violento despertar. A notícia rapidamente se espalhou por Jerusalém, e "alvoroçou-se toda a cidade, e houve grande concurso de povo". Atos 21:30. AA 227 3 Que um apóstata de Israel ousasse profanar o templo na mesma ocasião em que milhares de todas as partes do mundo tinham vindo ali para adorar, despertou as mais violentas paixões da multidão. "Pegando de Paulo, o arrastaram para fora do templo, e logo as portas se fecharam" AA 227 4 "E, procurando eles matá-lo, chegou ao tribuno da coorte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusão" Cláudio Lísias bem conhecia os elementos turbulentos com quem tinha de tratar, e, "tomando logo consigo soldados e centuriões, correu para eles. E, quando viram o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo" Ignorando a causa do tumulto, mas vendo que a raiva da multidão se dirigia contra Paulo, o tribuno romano concluiu que ele deveria ser um certo egípcio rebelde de quem ouvira falar e que até aí conseguira escapar de ser capturado. Portanto, ele "o prendeu e o mandou atar com duas cadeias, e lhe perguntou quem era e o que tinha feito" De pronto, muitas vozes se levantaram em altas e raivosas acusações: "uns clamavam duma maneira, outros doutra; mas, como nada podia saber ao certo, por causa do alvoroço, mandou conduzi-lo para a fortaleza. E sucedeu que, chegando às escadas, os soldados tiveram de lhe pegar por causa da violência da multidão. Porque a multidão do povo o seguia, clamando: Mata-o" AA 228 1 No meio do tumulto, o apóstolo estava calmo e senhor de si. Seu pensamento permanecia em Deus, e sabia que anjos do Céu estavam ao redor dele. Sentia-se indisposto a afastar-se do templo sem fazer qualquer esforço por apresentar a verdade a seus compatriotas. Quando estava para ser conduzido à fortaleza, disse ao tribuno: "É me permitido dizer-te alguma coisa?" Lísias respondeu: "Sabes o grego? Não és tu porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteadores?" Em resposta disse Paulo: "Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo" AA 228 2 O pedido foi satisfeito, e "Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mão ao povo" O gesto atraiu a atenção deles, enquanto o seu porte impunha respeito. "E, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica, dizendo: Varões irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós" Ao soarem as familiares palavras hebraicas, "maior silêncio guardaram" (Atos 21:30-40); e no completo silêncio ele continuou: AA 228 3 "Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje". Atos 22:3. Ninguém podia negar as afirmações do apóstolo, porquanto os fatos a que se referia eram bem conhecidos de muitos que ainda estavam vivendo em Jerusalém. Falou, então, de seu antigo zelo em perseguir os discípulos de Cristo, até mesmo à morte; e narrou as circunstâncias de sua conversão, contando a seus ouvintes como seu próprio orgulhoso coração tinha sido levado a se render ao crucificado Nazareno. Tivesse ele procurado entrar em discussão com seus oponentes, e ter-se-iam recusado teimosamente a ouvir suas palavras; mas o relato de sua experiência foi acompanhado de um convincente poder que naquele momento pareceu abrandar e subjugar-lhes o coração. AA 228 4 Ele procurou, então, mostrar que não tinha entrado de livre escolha na obra pelos gentios. Havia desejado trabalhar por sua própria nação; mas nesse mesmo templo a voz de Deus lhe falara em santa visão, dirigindo seu caminho "aos gentios de longe" AA 228 5 Até esse momento o povo escutou com toda a atenção; mas quando Paulo chegou em sua história ao ponto em que fora designado como embaixador de Cristo aos gentios, seu furor irrompeu de novo. Acostumados a considerarem-se como único povo favorecido por Deus, não estavam dispostos a permitir que os desprezados gentios participassem dos privilégios que até então tinham sido considerados exclusivamente deles. Erguendo suas vozes mais alto que a do orador, clamaram: "Tira da Terra um tal homem, porque não convém que viva" AA 229 1 "E, clamando eles, e arrojando de si os vestidos, e lançando pó para o ar, o tribuno mandou que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem com açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele. AA 229 2 "E, quando o estavam atando com correias, disse Paulo ao centurião que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado? E, ouvindo isto, o centurião foi, e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano. E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu sou-o de nascimento. E logo dele se apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor, quando soube que era romano, visto que o tinha ligado. AA 229 3 "E no dia seguinte, querendo saber ao certo a causa por que era acusado pelos judeus, soltou-o das prisões, e mandou vir os principais dos sacerdotes, e todo o seu conselho; e, trazendo Paulo, o apresentou diante deles". Atos 22:22-30. AA 229 4 O apóstolo deveria, agora, ser julgado pelo mesmo tribunal de que ele próprio fora membro antes de sua conversão. Estando perante os príncipes judeus, seu porte era calmo, e o rosto revelava a paz de Cristo. "E pondo Paulo os olhos no conselho, disse: Varões irmãos, até ao dia de hoje tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência" Ao ouvirem estas palavras, reacendeu-se-lhes o ódio; e "o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca" A essa ordem desumana, Paulo exclamou: "Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir? E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus?" Com sua cortesia costumeira Paulo respondeu: "Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo. AA 229 5 "E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado. AA 229 6 "E, havendo dito isto, houve dissensão entre os fariseus e saduceus, e a multidão se dividiu" Os dois partidos começaram a discutir entre si, e assim se quebrara a força de sua oposição contra Paulo. "Levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus". Atos 23:1-9. AA 229 7 Na confusão que se seguiu, os saduceus esforçavam-se ardorosamente por apoderar-se do apóstolo, para que o pudessem matar; e os fariseus estavam igualmente empenhados em seus esforços para o proteger. "O tribuno, temendo que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a soldadesca, para que o tirassem do meio deles, e o levassem para a fortaleza". Atos 23:10. AA 230 1 Mais tarde, enquanto refletia sobre as experiências decisivas daquele dia, Paulo começou a recear que sua conduta pudesse não ter sido agradável a Deus. Seria, afinal, que houvesse cometido um erro visitando Jerusalém? Teria seu grande desejo de estar em união com seus irmãos levado a esse desastroso resultado? AA 230 2 A posição que os judeus, como povo professo de Deus, ocupavam perante um mundo incrédulo, causava ao apóstolo intensa angústia de espírito. Como os considerariam esses oficiais pagãos? Alegando ser adoradores de Jeová, e exercendo sagrado ofício, entregavam-se não obstante ao controle de uma ira irrazoável e cega, procurando destruir até mesmo a seus irmãos que ousavam diferir deles em fé religiosa, e tornando o seu mais solene conselho deliberativo numa cena de batalha e selvagem confusão. Paulo sentia que o nome de seu Deus tinha sido desonrado aos olhos dos pagãos. AA 230 3 E agora estava ele na prisão, e sabia que seus inimigos em sua desesperada maldade recorreriam a todos os meios para dar-lhe a morte. Seria o caso de estar sua obra pelas igrejas terminada, e que lobos vorazes estivessem para se introduzir nela? A causa de Cristo estava muito perto do coração de Paulo, e com grande ansiedade pensava nos perigos das igrejas espalhadas, expostas como estavam às perseguições de homens precisamente como os que encontrara no conselho do Sinédrio. Com angústia e desfalecimento chorou e orou. AA 230 4 Nessa hora tenebrosa, o Senhor não Se esqueceu de Seu servo. Guardara-o da multidão assassina nos pátios do templo; estivera com ele perante o conselho do Sinédrio; com ele estava na fortaleza; e Se revelou como a Sua fiel testemunha em resposta às fervorosas orações do apóstolo, em que pedia que o guiasse. "E, na noite seguinte, apresentando-Se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ânimo; porque, como de Mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma". Atos 23:11. AA 230 5 Havia muito que Paulo queria visitar Roma; desejava muitíssimo testemunhar de Cristo ali, mas compreendera que seus propósitos se frustraram pela inimizade dos judeus. Mal imaginava, mesmo então, que seria como prisioneiro que chegaria em Roma. AA 230 6 Enquanto o Senhor encorajava Seu servo, os inimigos de Paulo estavam avidamente tramando sua destruição. "E, quando já era dia, alguns dos judeus fizeram uma conspiração, e juraram, dizendo que não comeriam nem beberiam enquanto não matassem a Paulo. E eram mais de quarenta os que fizeram essa conjuração". Atos 23:12, 13. AA 230 7 Aqui estava um jejum tal como o Senhor condenara por intermédio de Isaías -- um jejum para "contendas e debates", e para darem "punhadas impiamente". Isaías 58:4. AA 230 8 Os conspiradores "foram ter com os principais dos sacerdotes e anciãos, e disseram: Conjuramo-nos, sob pena de maldição, a nada provarmos até que matemos a Paulo. Agora, pois, vós, com o conselho, rogai ao tribuno que vo-lo traga amanhã, como que querendo saber mais alguma coisa de seus negócios, e, antes que chegue, estaremos prontos para o matar". Atos 23:15. AA 231 1 Em lugar de reprovar esse plano cruel, os príncipes e sacerdotes mais que depressa o aceitaram. Paulo havia dito a verdade quando comparou Ananias a um sepulcro branqueado. AA 231 2 Mas Deus Se interpôs para salvar a vida de Seu servo. O filho da irmã de Paulo, ouvindo desta "cilada" dos assassinos, "foi e entrou na fortaleza e o anunciou a Paulo. E Paulo, chamando a si um dos centuriões, disse: Leva este mancebo ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comunicar. Tomando-o ele, pois, o levou ao tribuno e disse: O preso Paulo, chamando-me a si, me rogou que te trouxesse este mancebo, que tem alguma coisa que dizer-te". Atos 23:16, 18. AA 231 3 Cláudio Lísias recebeu o jovem bondosamente, e tomando-o à parte perguntou: "Que tens que me contar?" O jovem respondeu: "Os judeus se concertaram rogar-te que amanhã leves Paulo ao conselho, como que tendo de inquirir dele mais alguma coisa ao certo; mas tu não os creiais; porque mais de quarenta homens dentre eles lhe andam armando ciladas; os quais se obrigaram, sob pena de maldição, a não comerem nem beberem até que o tenham morto; e já estão apercebidos, esperando de ti promessa" "Então o tribuno despediu o mancebo, mandando-lhe que a ninguém dissesse que lhe havia contado aquilo". Atos 23:19-22. AA 231 4 Lísias imediatamente decidiu transferir Paulo de sua jurisdição para a de Félix, o procurador. Como um povo, os judeus estavam num estado de agitação e irritação e eram freqüentes os tumultos. A presença permanente do apóstolo em Jerusalém podia levar a conseqüências perigosas para a cidade, e até mesmo para o próprio comandante. Assim pois, "chamando dois centuriões, lhes disse: Aprontai para as três horas da noite duzentos soldados, e setenta de cavalo, e duzentos arqueiros para irem até Cesaréia; e aparelhai cavalgaduras, para que, pondo nelas a Paulo, o levem salvo ao presidente Félix". Atos 23:23, 24. AA 231 5 Nenhum tempo devia ser perdido em enviar Paulo. "Tomando pois os soldados a Paulo, como lhe fora mandado, o trouxeram de noite a Antipátride". Atos 23:31. Deste lugar os cavaleiros foram com o prisioneiro para Cesaréia, enquanto os quatrocentos soldados retornaram a Jerusalém. AA 231 6 O oficial a cujo cargo estava o destacamento, entregou a Félix o prisioneiro, apresentando também uma carta que lhe tinha sido confiada pelo tribuno: AA 231 7 "Cláudio Lísias, a Félix, potentíssimo presidente, saúde. Esse homem foi preso pelos judeus; e, estando já a ponto de ser morto por eles, sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei, informado de que era romano. E, querendo saber a causa por que o acusavam, o levei ao seu conselho. E achei que o acusavam de algumas questões da sua lei; mas que nenhum crime havia nele digno de morte ou de prisão. E, sendo-me notificado que os judeus haviam de armar ciladas a esse homem, logo to enviei, mandando também aos acusadores que perante ti digam o que tiverem contra ele. Passa bem". Atos 23:26-30. AA 232 1 Após ler a comunicação, Félix inquiriu de que província era o prisioneiro, e informado que da Cilícia, disse: "Ouvir-te-ei... quando também aqui vierem os teus acusadores. E mandou que o guardassem no pretório de Herodes". Atos 23:35. AA 232 2 O caso de Paulo não era o primeiro em que um servo de Deus encontrava entre os pagãos um abrigo da maldade do professo povo de Jeová. Em sua cólera contra Paulo, os judeus haviam acrescentado mais um crime ao tenebroso catálogo que marcava a história desse povo. Haviam endurecido ainda mais o coração contra a verdade e tornado mais certa a sua condenação. AA 232 3 Poucos compreendem o amplo significado das palavras ditas por Cristo quando, na sinagoga de Nazaré apresentara-Se como o Ungido. Ele anunciara Sua missão de confortar, abençoar e salvar os aflitos e pecadores; e então, vendo que a incredulidade e o orgulho controlavam o coração de Seus ouvintes, Ele recordou que, no passado, Deus Se havia retirado de Seu povo escolhido por causa de sua incredulidade e rebelião, e Se tinha manifestado aos das terras pagãs que não haviam rejeitado a luz do Céu. A viúva de Sarepta e Naamã da Síria tinham vivido à altura de toda a luz que possuíam; assim foram eles considerados mais justos que o povo escolhido de Deus que se tinha desviado dEle, e sacrificado o princípio à conveniência e à honra mundana. AA 232 4 Cristo disse aos judeus de Nazaré uma terrível verdade quando declarou que com o apóstata Israel não havia segurança para o fiel mensageiro de Deus. Eles não reconheceriam seu valor nem apreciariam seus labores. Enquanto os dirigentes judeus professavam ter grande zelo pela honra de Deus e o bem de Israel, eram inimigos de ambos. Por preceito e exemplo estavam levando o povo mais e mais longe da obediência a Deus -- guiando-o onde Deus não poderia ser sua defesa no dia da angústia. AA 232 5 As palavras de reprovação do Salvador, aos homens de Nazaré, aplicavam-se, no caso de Paulo, não apenas aos incrédulos judeus, mas a seus próprios irmãos na fé. Houvessem os dirigentes na igreja abandonado inteiramente seus sentimentos de amargura contra o apóstolo, aceitando-o como alguém especialmente chamado por Deus para levar o evangelho aos gentios, e o Senhor o teria poupado para eles. Deus não havia ordenado que os trabalhos de Paulo tão cedo tivessem fim; mas não operou um milagre para conter o encadeamento de circunstâncias que a atitude dos dirigentes da igreja em Jerusalém haviam provocado. AA 232 6 Esse espírito está ainda produzindo os mesmos resultados. A negligência em apreciar e aproveitar as provisões da divina graça tem privado a igreja de muitas bênçãos. Quantas vezes teria o Senhor prolongado a obra de um fiel ministro, tivesse seu trabalho sido apreciado! Mas se a igreja permite ao inimigo perverter o entendimento, de maneira que representem e interpretem mal as palavras e atos do servo de Cristo; se se permitem opor-se-lhe e estorvar a utilidade própria, o Senhor, às vezes, remove deles a bênção que Ele deu. AA 233 1 Satanás está constantemente operando por meio de seus agentes para desanimar e destruir aqueles a quem Deus tem escolhido para realizar uma grande e boa obra. Podem eles estar prontos para sacrificar mesmo a própria vida para o avançamento da causa de Cristo, não obstante o grande enganador sugerirá a seus irmãos dúvidas referentes a eles que, se mantidas, minarão a confiança em sua integridade de caráter, impedindo assim sua utilidade. Muitas vezes, ele alcança êxito em acarretar sobre eles, por intermédio de seus próprios irmãos, tal tristeza de coração que Deus graciosamente Se interpõe para dar repouso a Seus perseguidos servos. Depois que as mãos estão dobradas sobre o peito que já não vibra, quando a voz de advertência e encorajamento está em silêncio, então os obstinados podem ser despertados para ver e apreciar a bênção que repeliram. Sua morte pode realizar o que sua vida não conseguir fazer. ------------------------Capítulo 39 -- Perante o tribunal de Cesaréia AA 234 0 Este capítulo é baseado em Atos 24. AA 234 1 Cinco dias depois de haver Paulo chegado a Cesaréia, seus acusadores chegaram de Jerusalém, acompanhados por Tértulo, um orador a quem tinham aliciado como conselheiro. Foi concedida ao caso imediata audiência. Paulo foi levado perante a assembléia, e Tértulo "começou a acusá-lo" Julgando que a lisonja pudesse ter sobre o governador romano mais influência que as simples afirmações da verdade e da justiça, o astuto orador começou seu discurso louvando a Félix: "Visto como por ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços, sempre e em todo o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer". Atos 24:2, 3. AA 234 2 Tértulo desceu aqui a deslavada falsidade; pois o caráter de Félix era indigno e desprezível. Dele foi dito que "na prática de toda espécie de luxúria e crueldade, exerceu o poder de um rei com a têmpera de um escravo" Tácito, História, cap. 5, par. 9. Todos os que ouviram Tértulo sabiam que suas aduladoras palavras eram uma mentira; mas seu desejo de assegurar a condenação de Paulo era mais forte que seu amor à verdade. AA 234 3 Em seu discurso, Tértulo acusou Paulo de crimes que, se provados, teriam resultado em sua condenação por alta traição contra o governo. "Temos achado que este homem é uma peste", declarou o orador, "e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos, o qual intentou também profanar o templo". Atos 24:5, 6. Tértulo afirmou, então, que Lísias, comandante da guarnição em Jerusalém, tinha arrebatado Paulo aos judeus com violência, quando estavam para julgá-lo por sua lei eclesiástica, e que assim os forçou a apresentar o assunto perante Félix. Essas afirmações eram feitas com o desígnio de induzir o procurador a devolver Paulo à corte judaica. Todas as acusações foram sustentadas com veemência pelos judeus presentes, os quais nenhum esforço fizeram para ocultar seu ódio ao prisioneiro. AA 234 4 Félix teve suficiente perspicácia para ler a disposição e caráter dos acusadores de Paulo. Sabia por que motivo o tinham lisonjeado, e viu também que não tinham conseguido provar suas acusações contra Paulo. Voltando-se para o acusado, acenou-lhe para que respondesse por si. Paulo não gastou palavras em cumprimentos, mas afirmou simplesmente que com tanto maior ânimo se defendia perante Félix, uma vez que este era, havia tanto tempo, procurador, e portanto tinha bom conhecimento das leis e costumes dos judeus. Referindo-se às acusações apresentadas contra ele, mostrou plenamente que nenhuma era verdadeira. Declarou que não havia provocado distúrbio em parte alguma de Jerusalém, nem profanado o santuário. "Não me acharam no templo falando com alguém", declarou, "nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade. Nem tão pouco podem provar as coisas de que agora me acusam". Atos 24:12, 13. AA 235 1 Conquanto confessando que "conforme aquele caminho que chamam seita" adorava ao Deus de seus pais, sustentou que sempre havia crido em "tudo quanto está escrito na lei e nos profetas"; e que em harmonia com o claro ensino das Escrituras, cria na ressurreição dos mortos. Declarou ainda mais que o propósito orientador de sua vida era "sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens". Atos 24:14-16. AA 235 2 De maneira sincera e reta ele declarou o objetivo de sua visita a Jerusalém, e as circunstâncias de sua prisão e julgamento: "Ora, muitos anos depois, vim trazer a minha nação esmolas e ofertas. Nisto me acharam já santificado no templo, não em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Ásia, os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem. Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante o conselho, a não ser estas palavras, que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreição dos mortos". Atos 24:17-21. AA 235 3 O apóstolo falou com ardorosa e evidente sinceridade, e suas palavras levavam um peso de convicção. Cláudio Lísias, em sua carta a Félix, tinha dado testemunho similar com respeito à conduta de Paulo. Além disso, Félix tinha melhor conhecimento da religião judaica do que muitos supunham. A clara exposição que Paulo fizera dos fatos, capacitou Félix neste caso a entender ainda mais claramente os motivos pelos quais os judeus eram dominados ao procurar acusar o apóstolo de sedição e conduta desleal. O governador não queria agradar a eles condenando injustamente um cidadão romano, nem o poderia entregar para que o matassem sem um reto julgamento. No entanto, Félix não conhecia mais alto motivo que o interesse próprio, e era controlado pelo amor da fama e desejo de promoção. O temor de ofender os judeus o impediu de fazer inteira justiça a um homem que sabia ser inocente. Decidiu, portanto, suspender o julgamento até que Lísias estivesse presente, dizendo: "Quando o tribuno Lísias tiver descido, então tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios" AA 235 4 O apóstolo permaneceu prisioneiro, mas Félix ordenou ao centurião que havia sido indicado para guardar Paulo, "que o guardassem em prisão, tratando-o com brandura, e que a ninguém dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele". Atos 24:22, 23. AA 236 1 Não foi muito depois disso que Félix e sua esposa, Drusila, mandaram chamar Paulo para, em entrevista privada, poderem ouvi-lo "acerca da fé em Cristo". Atos 24:24. Eles estavam desejosos e mesmo ávidos de ouvir a respeito dessas novas verdades -- verdades que poderiam jamais ouvir de novo, e que, se rejeitadas, dariam um pronto testemunho contra eles no dia de Deus. AA 236 2 Paulo considerou essa oportunidade como provida por Deus, e fielmente a aproveitou. Sabia achar-se na presença de um homem que tinha poder de o condenar à morte ou de o livrar; contudo não se dirigiu a Félix e Drusila com palavras de elogio ou lisonjas. Sabia que suas palavras seriam para eles um cheiro de vida ou de morte, e esquecendo toda consideração egoísta, procurou despertá-los para o senso de seu perigo. AA 236 3 O apóstolo compreendia que o evangelho tinha uma reivindicação sobre quem quer que atentasse para suas palavras; que um dia eles estariam ou entre os puros e santos ao redor do grande trono branco, ou com aqueles a quem Cristo haveria de dizer: "Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade". Mateus 7:23. Ele sabia que teria de encontrar cada um de seus ouvintes diante do tribunal do Céu, e que aí teria de prestar contas, não apenas de tudo o que havia dito e feito, mas do motivo e espírito de suas palavras e ações. AA 236 4 Tão violenta e cruel havia sido a conduta de Félix, que poucos haviam alguma vez ousado dar-lhe a entender que seu caráter e conduta não estavam isentos de faltas. Paulo, porém, não tinha temor do homem. Expôs claramente sua fé em Cristo, e as razões dessa fé, e foi assim levado a falar particularmente das virtudes essenciais do caráter cristão, de que o arrogante par diante dele era tão sensivelmente destituído. AA 236 5 Ele exaltou perante Félix e Drusila o caráter de Deus -- Sua retidão, justiça e eqüidade, e a natureza de Sua lei. Mostrou claramente que é dever do homem levar uma vida de sobriedade e temperança, mantendo as paixões sob o controle da razão, em conformidade com a lei de Deus, e preservando as faculdades físicas e mentais em condições sadias. Declarou que viria, seguramente, um dia de juízo, quando todos seriam recompensados de acordo com o que tivessem feito no corpo, e quando seria plenamente revelado que a riqueza, posição ou títulos são destituídos de poder para alcançar para o homem o favor de Deus, ou para livrá-lo dos resultados do pecado. Mostrou que essa vida é o tempo de preparo do homem para a vida futura. Negligenciassem eles os presentes privilégios e oportunidades, e sofreriam eterna perda; nenhuma nova oportunidade de graça lhes poderia ser dada. AA 236 6 Paulo frisou especialmente os profundos reclamos da lei de Deus. Mostrou como ela alcança os íntimos segredos da natureza moral do homem, derramando um dilúvio de luz sobre aquilo que tem estado oculto à vista e ao conhecimento dos seres humanos. O que as mãos podem fazer ou a língua proferir -- isso que a vida exterior revela -- mostra, imperfeitamente embora, o caráter moral do homem. A lei esquadrinha seus pensamentos, motivos e propósitos. As perigosas paixões que permanecem ocultas à vista dos homens, a inveja, o ódio, o sensualismo, a ambição, as propostas perversas nos profundos recessos do coração, ainda não executadas por falta de oportunidade -- tudo isso a lei de Deus condena. AA 237 1 Paulo procurou dirigir a mente de seus ouvintes para o grande sacrifício pelo pecado. Apontou aos sacrifícios que constituíam sombra dos bens futuros, e apresentou, então, a Cristo como o antítipo de todas essas cerimônias -- o objeto para o qual elas apontavam como a única fonte de vida e esperança para o homem caído. Santos homens do passado foram salvos pela fé no sangue de Cristo. Ao contemplarem as agonias de morte das vítimas sacrificais, olhavam através dos séculos para o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo. AA 237 2 Deus, com justiça, reclama o amor e obediência de todas as Suas criaturas. Deu-lhes em Sua lei uma perfeita norma de retidão. Muitos, porém, se esquecem de seu Criador, e escolhem seguir seus próprios caminhos, em oposição à vontade de Deus. Pagam com inimizade o amor que é tão alto quanto o Céu e tão amplo quanto o Universo. Deus não pode baixar os reclamos de Sua lei a fim de corresponder à norma de homens ímpios; nem pode o homem em sua própria capacidade, cumprir as exigências da lei. Só pela fé em Cristo pode o pecador ser purificado da culpa e capacitado a prestar obediência à lei de seu Criador. AA 237 3 Assim Paulo, o prisioneiro, apresentou as exigências da lei divina tanto para judeus como para gentios, e apresentou a Jesus, o desprezado Nazareno, como o Filho de Deus, e Redentor do mundo. AA 237 4 A princesa judia bem compreendia o sagrado caráter daquela lei que tão desavergonhadamente transgredia; mas seu preconceito contra o Homem do Calvário endureceu-lhe o coração contra a palavra de vida. Mas Félix nunca ouvira antes a verdade; e à medida que o Espírito de Deus lhe imprimia convicção à alma, sentia-se profundamente agitado. A consciência, agora desperta, fez ouvir sua voz; e Félix sentiu que as palavras de Paulo eram verdadeiras. Sua memória retornou ao culposo passado. Com terrível clareza surgiram perante ele os segredos de seus primeiros tempos de homem sanguinário e perverso, e o relatório tenebroso de seus últimos anos. Viu-se licencioso, cruel, desonesto. Jamais tinha sido a verdade assim levada ao íntimo de seu coração. Nunca antes seu coração se enchera de terror. O pensamento de que todos os segredos de sua carreira de crimes estavam abertos aos olhos de Deus, e que ele seria julgado conforme as suas obras fê-lo tremer de pavor. AA 237 5 Mas em vez de permitir que suas convicções o guiassem ao arrependimento, procurou livrar-se dessas reflexões indesejáveis. A entrevista com Paulo foi abreviada. "Por agora vai-te", disse; "e em tendo oportunidade te chamarei" AA 238 1 Quão amplo é o contraste entre o procedimento de Félix e o do carcereiro de Filipos! Os servos do Senhor foram levados em cadeias ao carcereiro, como Paulo a Félix. A evidência que deram de estar sendo sustidos por um divino poder, seu regozijo sob o sofrimento e desventura, seu destemor quando a terra vacilou com o terremoto, e seu espírito de perdão semelhante ao de Cristo levaram a convicção ao coração do carcereiro, que tremente confessou seus pecados e encontrou perdão. Félix tremeu, mas não se arrependeu. O carcereiro, jubiloso, abriu ao Espírito de Deus o coração e o lar; Félix ordenou que o mensageiro divino se retirasse. Um escolheu tornar-se filho de Deus e herdeiro do Céu; o outro preferiu os que praticavam a iniqüidade. AA 238 2 Durante dois anos, nenhuma outra atitude foi tomada contra Paulo, embora permanecesse prisioneiro. Félix visitou-o várias vezes e ouviu-lhe atentamente as palavras. Mas o motivo real dessa aparente benevolência era o desejo de ganho, e insinuou que mediante grande soma de dinheiro Paulo poderia assegurar sua liberdade. O apóstolo, entretanto, era de natureza demasiado nobre para libertar-se por meio de suborno. Não era culpado de crime algum, e não se aviltaria cometendo um mal para alcançar a liberdade. Demais era muito pobre para poder pagar esse resgate, caso a isso estivesse disposto, e não apelaria, em seu próprio benefício, para a simpatia e generosidade de seus conversos. Compreendia que estava nas mãos de Deus, e não poderia interferir no propósito divino a respeito de sua pessoa. AA 238 3 Félix foi finalmente chamado a Roma, por causa de graves males feitos aos judeus. Antes de deixar Cesaréia em resposta a esse chamado, desejou "comprazer aos judeus" (Atos 24:27), deixando Paulo na prisão. Mas Félix não alcançou êxito em sua tentativa de readquirir a confiança dos judeus. Foi removido do cargo em desonra, e Pórcio Festo foi indicado para sucedê-lo, com sede em Cesaréia. AA 238 4 Havia sido permitido que um raio de luz do Céu brilhasse sobre Félix, quando Paulo arrazoou com ele a respeito da justiça, temperança e juízo vindouro. Essa foi a oportunidade que o Céu lhe enviara para que visse seus pecados e os abandonasse. Mas dissera ao mensageiro de Deus: "Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei". Atos 24:25. Menosprezara a última oferta de misericórdia. Nunca mais deveria receber outro convite de Deus. ------------------------Capítulo 40 -- Paulo apela para César AA 239 0 Este capítulo é baseado em Atos 25:1-12. AA 239 1 "Tendo, pois, Festo assumido o governo da província, três dias depois, subiu de Cesaréia para Jerusalém; e, logo, os principais sacerdotes e os maiorais dos judeus lhe apresentaram queixa contra Paulo e lhe solicitavam, pedindo como favor, em detrimento de Paulo, que o mandasse vir a Jerusalém". Atos 25:1-3. Fazendo esse pedido, tinham como plano armar-lhe ciladas no caminho para Jerusalém e matá-lo. Mas Festo tinha alto senso da responsabilidade de sua posição, e cortesmente se eximiu de enviar Paulo. Respondeu "não ser costume dos romanos entregar algum homem à morte, sem que o acusado tenha presentes os seus acusadores, e possa defender-se da acusação". Atos 25:16. Declarou que "brevemente partiria" para Cesaréia. "Os que pois, disse, dentre vós têm poder, desçam comigo e, se neste varão houver algum crime, acusem-no". Atos 25:4, 5. AA 239 2 Não era isso o que os judeus desejavam. Não haviam esquecido sua anterior derrota em Cesaréia. Em contraste com a calma atitude do apóstolo e seus irretorquíveis argumentos, a própria malignidade do espírito deles e suas descabidas acusações apareceriam da pior maneira possível. De novo insistiram para que Paulo fosse enviado a Jerusalém para ser julgado, mas Festo manteve firmemente seu propósito de proporcionar a Paulo um julgamento justo em Cesaréia. Deus, em Sua providência, controlou a decisão de Festo para que a vida do apóstolo fosse poupada. AA 239 3 Havendo falhado seus propósitos, os líderes judeus imediatamente se prepararam para testemunhar contra Paulo perante o tribunal do procurador. Havendo retornado a Cesaréia, depois de poucos dias de permanência em Jerusalém, Festo "no dia seguinte, assentando-se no tribunal, mandou que trouxessem Paulo" "Os judeus que haviam descido de Jerusalém", "o rodearam, trazendo contra Paulo muitas e graves acusações, que não podiam provar". Atos 25:6, 7. Estando nessa ocasião sem um advogado, os próprios judeus apresentaram suas acusações. Ao prosseguir o julgamento, o acusado com calma e mansidão mostrou claramente a falsidade das acusações. AA 239 4 Festo compreendeu que a questão em consideração se prendia inteiramente a doutrinas judaicas, e que, convenientemente entendido, nada havia nas acusações feitas a Paulo, pudessem elas ser provadas, que merecesse sentença de morte, ou mesmo de prisão. Contudo, viu com clareza a tempestade de ódio que se levantaria se Paulo não fosse condenado ou entregue às mãos deles. "Todavia Festo, querendo comprazer aos judeus" (Atos 25:9), voltando-se para Paulo, perguntou se estava disposto a ir a Jerusalém sob sua proteção, para ser julgado pelo Sinédrio. AA 240 1 O apóstolo sabia que não podia esperar justiça do povo que, por seus crimes, estava atraindo sobre si a ira de Deus. Sabia que, como o profeta Elias, estaria mais seguro entre os pagãos do que com os que haviam rejeitado a luz do Céu e endurecido o coração contra o evangelho. Cansado de contendas, seu ativo espírito mal podia suportar as repetidas delongas e fatigante retardamento de seu julgamento e prisão. Decidiu, pois, valer-se de seu privilégio, como cidadão romano, e apelar para César. AA 240 2 Em resposta à pergunta do governador, Paulo disse: "Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes. Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César". Atos 25:10, 11. AA 240 3 Festo nada sabia das conspirações dos judeus para matar Paulo, e ficou surpreso com este apelo a César. Entretanto, as palavras do apóstolo puseram fim ao julgamento. "Festo, tendo falado com o conselho respondeu: Apelaste para César? Para César irás". Atos 25:12. AA 240 4 Assim foi que uma vez mais, por causa do ódio nascido do fanatismo e da justiça própria, um servo de Deus volta-se para os pagãos em busca de proteção. Foi esse mesmo ódio que forçou o profeta Elias a buscar socorro da viúva de Sarepta; e levou os arautos do evangelho a volver-se dos judeus, para proclamar a mensagem do evangelho aos gentios. E este ódio o povo de Deus que vive neste século terá ainda que enfrentar. Entre muitos dos professos seguidores de Cristo, existe o mesmo orgulho, formalismo e egoísmo, o mesmo espírito de opressão que ocupou tão grande lugar no coração dos judeus. No futuro, homens que declaram ser representantes de Cristo tomarão atitude idêntica à dos sacerdotes e príncipes no seu trato com Cristo e os apóstolos. Na grande crise por que deverão em breve passar, os fiéis servos de Deus encontrarão a mesma dureza de coração, a mesma determinação cruel, o mesmo ódio inflexível. AA 240 5 Todo o que nesse dia mau se dispuser a servir a Deus com destemor, segundo os ditames de sua consciência, necessitará de coragem, firmeza e do conhecimento de Deus e Sua Palavra; pois os que forem fiéis a Deus serão perseguidos, seus motivos impugnados, desvirtuados seus melhores esforços e seus nomes repudiados como um mal. Satanás trabalhará com todo o seu poder enganador para influenciar o coração e obscurecer o entendimento, a fim de que o mal pareça bem, e o bem mal. Quanto mais forte e mais pura a fé do povo de Deus, e mais firme sua determinação de obedecer-Lhe, tanto mais ferozmente procurará Satanás instigar contra eles a ira daqueles que, embora se declarando justos, tripudiam sobre a lei de Deus. Requererá a mais firme confiança, o mais heróico propósito reter firme a fé que uma vez foi entregue aos santos. AA 241 1 Deus deseja que Seu povo se prepare para a crise prestes a vir. Preparados ou não, todos terão de enfrentá-la; e somente os que têm levado a vida em conformidade com a norma divina, permanecerão firmes naquele tempo de prova. Quando legisladores seculares se unirem a ministros religiosos para legislarem em assuntos de consciência, ver-se-á, então, quem realmente teme a Deus e O serve. Quando as trevas são mais profundas, mais resplandece a luz de um caráter semelhante ao de Deus. Quando toda a demais confiança falha, então se verá quem tem uma confiança permanente em Jeová. E enquanto os inimigos da verdade estiverem, de todos os lados, observando os servos do Senhor para o mal, Deus estará vigiando sobre eles para o bem. Ele será para eles como a sombra de uma grande rocha numa terra sedenta. ------------------------Capítulo 41 -- Quase persuadido AA 242 0 Este capítulo é baseado em Atos 25:13-27; 26. AA 242 1 Paulo tinha apelado para César, e Festo não tinha outro recurso senão enviá-lo a Roma. Mas algum tempo se passou antes que pudesse ser encontrado um navio oportuno; e como outros prisioneiros deviam ser enviados com Paulo, a consideração de seus casos também ocasionou demora. Isso deu a Paulo oportunidade de apresentar as razões de sua fé diante dos principais homens de Cesaréia, como também perante o rei Agripa II, o último dos Herodes. AA 242 2 "E, passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar Festo. E, como ali ficassem muitos dias, Festo contou ao rei os negócios de Paulo, dizendo: Um certo varão foi deixado por Félix aqui preso. Por cujo respeito os principais dos sacerdotes e os anciãos dos judeus, estando eu em Jerusalém, compareceram perante mim, pedindo sentença contra ele". Atos 25:13-15. Ele esboçou as circunstâncias que levaram o prisioneiro a apelar para César, contando do recente julgamento de Paulo perante ele, e dizendo que os judeus não tinham apresentado contra Paulo nenhuma acusação das que ele supunha, mas "algumas questões acerca de sua superstição, e de um tal Jesus, defunto, que Paulo afirmava viver". AA 242 3 Havendo Festo contado sua história, Agripa tornou-se interessado, e disse: "Bem quisera eu também ouvir esse homem" Conforme sua vontade, foi arranjada uma reunião para o dia seguinte. "E, no dia seguinte, vindo Agripa e Berenice, com muito aparato, entraram no auditório com os tribunos e varões principais da cidade, sendo trazido Paulo por mandado de Festo". Atos 25:19, 22, 23. AA 242 4 Em homenagem aos visitantes, Festo buscara tornar a ocasião bastante aparatosa. As ricas vestes do procurador e de seus hóspedes, as espadas dos soldados e as brilhantes armaduras de seus comandantes, emprestavam brilho à cena. AA 242 5 E agora Paulo, ainda algemado, achava-se diante do grupo reunido. Que contraste era ali apresentado! Agripa e Berenice possuíam poder e posição, e eram por isso favorecidos pelo mundo. Mas eram destituídos dos traços de caráter que Deus estima. Eram transgressores de Sua lei, corruptos de coração e de vida. Sua conduta era aborrecida pelo Céu. AA 242 6 O idoso prisioneiro, acorrentado a um soldado, não tinha em seu aspecto coisa alguma que levasse o mundo a prestar-lhe homenagem. Entretanto, nesse homem aparentemente sem amigos, riqueza ou posição, preso por sua fé no Filho de Deus, o Céu todo estava interessado. Os anjos eram seus assistentes. Caso se houvesse manifestado a glória de um só desses resplandecentes mensageiros, a pompa e o orgulho da realeza teria empalidecido; rei e cortesãos teriam sido lançados por terra, como os soldados romanos junto ao sepulcro de Cristo. AA 243 1 O próprio Festo apresentou Paulo à assembléia com estas palavras: "Rei Agripa, e todos os varões que estais presentes conosco; aqui vedes um homem de quem toda a multidão dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como aqui, clamando que não convém que viva mais. Mas, achando eu que nenhuma coisa digna de morte fizera, e apelando ele mesmo também para Augusto, tenho determinado enviar-lho. Do qual não tenho coisa alguma certa que escreva ao meu senhor, e por isso perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para que, depois de interrogado, tenha alguma coisa que escrever. Porque me parece contra a razão enviar um preso, e não notificar contra ele as acusações". Atos 25:24-27. AA 243 2 O rei Agripa deu, então, a Paulo a liberdade de falar. O apóstolo não estava desconcertado pela brilhante pompa ou elevada posição de seu auditório; pois sabia de quão pouco valor representam riqueza ou posição mundanas. Poder e pompa terrestres não poderiam nem por um momento abater-lhe o ânimo ou roubar-lhe o domínio próprio. AA 243 3 "Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa", disse ele, "de que perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus; mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência". Atos 26:2, 3. AA 243 4 Paulo relatou a história de sua conversão de obstinada incredulidade à fé em Jesus de Nazaré como o Redentor do mundo. Descreveu a visão celestial que a princípio o enchera de indizível terror, porém mais tarde provou ser uma fonte da maior consolação -- uma revelação de glória divina, no meio da qual estava entronizado Aquele a quem ele desprezara e odiara, cujos seguidores procurara levar à destruição. Desde esse momento Paulo se havia tornado um novo homem, um sincero e fervoroso crente em Jesus, a isto chegando pela transformadora misericórdia. AA 243 5 Com clareza e poder Paulo traçou perante Agripa um esboço dos principais acontecimentos relacionados com a vida de Cristo sobre a Terra. Sustentou que o Messias da profecia tinha já aparecido na pessoa de Jesus de Nazaré. Mostrou como as Escrituras do Antigo Testamento haviam declarado que o Messias devia aparecer como um homem entre os homens; e como na vida de Jesus se havia cumprido cada especificação esboçada por Moisés e os profetas. Com o propósito de redimir o mundo perdido, o divino Filho de Deus, desdenhando a ignomínia, suportou a cruz e subiu ao Céu, triunfante sobre a morte e a sepultura. AA 244 1 Por que, raciocinava Paulo, parecia incrível que Cristo ressuscitasse dos mortos? Uma vez assim lhe parecera; mas como poderia descrer daquilo que ele mesmo havia visto e ouvido? À porta de Damasco havia sem qualquer dúvida contemplado o Cristo crucificado e ressurgido, o mesmo que tinha palmilhado as ruas de Jerusalém, morrido no Calvário, quebrado as ligaduras da morte e ascendido ao Céu. Tão seguramente como Cefas, Tiago e João, ou qualquer outro dos discípulos, tinha-O visto e com Ele falado. A Voz o intimara a proclamar o evangelho de um Salvador ressuscitado, e como poderia desobedecer? Em Damasco, em Jerusalém, através de toda a Judéia e nas regiões distantes, havia ele testemunhado de Jesus, o Crucificado, mostrando a todas as classes "que se arrependessem, e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento". AA 244 2 "Por causa disto", declarou o apóstolo, "os judeus lançaram mão de mim no templo, e procuraram matar-me. Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios". Atos 26:20-23. AA 244 3 Todos os presentes escutaram encantados a narração feita por Paulo de suas maravilhosas experiências. O apóstolo estava falando sobre o seu tema predileto. Nenhum dos que o ouviam podia duvidar de sua sinceridade. Mas no momento de sua mais persuasiva eloqüência, foi interrompido por Festo, que exclamou: "Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar." O apóstolo respondeu: "Não deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de verdade e de um são juízo. Porque o rei, diante de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto" Então, voltando-se para Agripa, a ele se dirigiu diretamente: "Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês". Atos 26:24-27. AA 244 4 Profundamente impressionado, Agripa perdeu de vista por um momento o ambiente e a dignidade de sua posição. Tendo apenas consciência das verdades que tinha ouvido, vendo somente o humilde prisioneiro que estava diante dele como embaixador de Deus, respondeu involuntariamente: "Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!" AA 244 5 Ardorosamente o apóstolo respondeu: "Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias" (Atos 26:28, 29), acrescentou erguendo as mãos acorrentadas. AA 244 6 Festo, Agripa e Berenice podiam com justiça trazer nos pulsos os grilhões que acorrentavam o apóstolo. Eram todos culpados de graves crimes. Esses transgressores tinham ouvido nesse dia a oferta de salvação mediante o nome de Cristo. Um, pelo menos, estivera quase persuadido a aceitar a graça e o perdão oferecidos. Mas Agripa afastou a misericórdia oferecida, recusando aceitar a cruz de um Redentor crucificado. AA 245 1 A curiosidade do rei foi satisfeita e, levantando-se, deu a entender que a entrevista tinha terminado. Ao se dispersarem, os presentes falavam entre si dizendo: "Este homem nada fez digno de morte ou de prisões." AA 245 2 Embora Agripa fosse judeu, não participava ele do zelo intolerante e cego preconceito dos fariseus. "Bem podia soltar-se este homem", disse ele a Festo, "se não houvera apelado para César". Atos 26:31, 32. Mas o caso fora levado àquele supremo tribunal, e estava agora além da jurisdição tanto de Festo quanto de Agripa. ------------------------Capítulo 42 -- A viagem e o naufrágio AA 246 0 Este capítulo é baseado em Atos 27; 28:1-10. AA 246 1 Paulo estava afinal a caminho de Roma. "E, como se determinou que havíamos de navegar para a Itália", escreve Lucas, "entregaram Paulo, e alguns outros presos, a um centurião por nome Júlio, da coorte augusta. E, embarcando nós em um navio adramitino, partimos navegando pelos lugares da costa da Ásia, estando conosco Aristarco, macedônio, de Tessalônica". Atos 27:1, 2. AA 246 2 No primeiro século da era cristã, as viagens por mar eram feitas com peculiares dificuldades e perigos. Os marinheiros faziam a sua rota em grande parte orientando-se pela posição do Sol e das estrelas; e quando estes corpos celestes não apareciam, e havia indício de tempestade, os proprietários dos navios temiam aventurar-se em pleno mar. Durante uma parte do ano era quase impossível a navegação sem riscos. AA 246 3 O apóstolo Paulo era agora chamado a suportar as difíceis experiências que lhe poderiam tocar como um prisioneiro em cadeias durante a longa e tediosa viagem para a Itália. Uma circunstância suavizou grandemente as dificuldades de sua vida -- foi-lhe permitida a companhia de Lucas e Aristarco. Em sua carta aos colossenses, referiu-se ele mais tarde ao último como seu "companheiro de prisão" (Colossences 4:10); mas foi por vontade própria que Aristarco partilhou da prisão de Paulo, a fim de poder confortá-lo em suas aflições. AA 246 4 A viagem começou favoravelmente. No dia seguinte, lançaram âncora no porto de Sidom. Ali Júlio, o centurião, "tratando Paulo humanamente", e sendo informado de que nesse lugar havia cristãos, "lhe permitiu ir ver os amigos, para que cuidassem dele". Atos 27:3. Essa permissão foi grandemente apreciada pelo apóstolo, que estava com a saúde debilitada. AA 246 5 Havendo deixado Sidom, o navio encontrou ventos contrários; e tendo-se desviado de uma rota direta, seu progresso foi lento. Em Mirra, na província de Lícia, o centurião encontrou um grande navio de Alexandria, que viajava para a costa da Itália, e para esse navio transferiu imediatamente os prisioneiros. Mas os ventos eram ainda contrários, e o progresso do navio foi difícil. Lucas escreve: "E, como por muitos dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte a Cnido, não nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos abaixo de Creta, junto de Salmone. E, costeando-a dificilmente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos." AA 247 1 Em Bons Portos foram forçados a ficar por algum tempo, esperando vento favorável. O inverno estava-se aproximando rapidamente, "sendo já perigosa a navegação"; e os que tinham a responsabilidade do navio tiveram que desistir de alcançar seu destino antes que a época favorável para a navegação marítima se encerrasse naquele ano. A única questão a ser decidida, então, era se deviam permanecer em Bons Portos ou tentar alcançar um lugar mais favorável para invernar. AA 247 2 Essa questão foi calorosamente discutida, sendo afinal referida pelo centurião a Paulo, o qual conquistara o respeito tanto dos soldados como da tripulação. Sem hesitação o apóstolo aconselhou ficarem onde estavam. "Vejo", disse ele, "que a navegação há de ser incômoda, e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas" Mas "o piloto" e o "mestre" do navio e a maioria dos passageiros e toda a tripulação não quiseram aceitar esse conselho. Como aquele porto em que ancoraram "não era cômodo para invernar, os mais deles foram de parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fênix, que é um porto de Creta que olha para a banda do vento da África e do Coro, e invernar ali". Atos 27:8-12. AA 247 3 O centurião decidiu seguir o discernimento da maioria. De comum acordo, "soprando o vento sul brandamente", deixaram Bons Portos na esperança de que alcançariam logo o desejado porto. "Mas, não muito depois, deu nela um pé-de-vento [...] E, sendo o navio arrebatado" (Atos 27:13-15), não podiam navegar contra o vento. AA 247 4 Impulsionado pela tempestade, o navio se aproximou da pequena ilha de Clauda, e nesse abrigo os tripulantes se prepararam para o pior. O bote salva-vidas, seu único meio de escape no caso do navio afundar, estava amarrado, e sujeito a ser feito em pedaços a cada momento. Seu primeiro trabalho foi içar esse bote para bordo. Todas as precauções possíveis foram, então, tomadas para fortificar o navio e prepará-lo para resistir à tempestade. A exígua proteção oferecida pela pequena ilha não durou muito, e logo estavam de novo expostos a toda a violência da tempestade. AA 247 5 Toda a noite a tempestade rugiu, e não obstante as precauções tomadas, o navio fazia água. "No dia seguinte aliviaram o navio." De novo veio a noite, mas o vento não amainava. O navio batido pela tempestade, com os mastros partidos e as velas rotas, era pela fúria do vento atirado de um para outro lado. A cada momento parecia que o madeiramento dos costados, que não deixava de ranger, se iria abrir, tal a veemência dos abalos e estremecimentos produzidos pelos choques das ondas. A invasão da água mais aumentava, e a tripulação e passageiros trabalhavam continuamente nas bombas. Não havia um momento de repouso para ninguém a bordo. "E ao terceiro dia", escreve Lucas, "nós mesmos, com as nossas próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio". "E não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos". Atos 27:18-20. AA 248 1 Durante catorze dias flutuaram sob um céu sem sol e sem estrelas. O apóstolo, embora sofrendo ele próprio fisicamente, tinha palavras de esperança para o momento mais crítico, uma mão auxiliadora em cada emergência. Agarrou-se pela fé ao braço do Poder Infinito, e seu coração se apoiava em Deus. Não temia por si; sabia que Deus o preservaria para testificar em Roma da verdade de Cristo. Porém, seu coração se comovia de piedade pelas pessoas que lhe estavam ao redor, pecadoras, degradadas e não preparadas para morrer. Ao suplicar ardentemente a Deus para lhes poupar a vida, foi-lhe revelado que sua oração fora atendida. AA 248 2 Aproveitando a vantagem de uma trégua na tempestade, Paulo ficou na coberta, e levantando a voz disse: "Senhores, na verdade, era preciso terem-me atendido e não partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, já agora, vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se perderá de entre vós, mas somente o navio. Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por Sua graça, te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito. Porém é necessário que vamos dar a uma ilha". Atos 27:21-26. AA 248 3 Após essas palavras, reviveu a esperança. Passageiros e tripulantes se ergueram de sua apatia. Havia muito, ainda, a ser feito, e cada esforço e capacidade deviam ser exercitados para evitar a destruição. AA 248 4 Foi na décima quarta noite de arremesso sobre as ondas negras e encapeladas que "lá pela meia-noite", ouvindo som característico, "suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra. E, lançando prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças. E, temendo", escreve Lucas, "ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia". Atos 27:27-29. AA 248 5 Ao raiar do dia os contornos da costa tempestuosa eram vagamente visíveis, mas não se viam quaisquer sinais de terra familiar. Tão sombria era a perspectiva que os marinheiros pagãos, perdendo toda a coragem, procuravam "fugir do navio", e fazendo preparativos dissimulados para "lançar as âncoras pela proa", tinham já lançado o bote salva-vidas, quando Paulo, percebendo seu baixo intento, disse ao centurião e aos soldados: "Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos" Os soldados imediatamente "cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair" no mar. AA 248 6 A hora mais crítica estava ainda diante deles. De novo o apóstolo disse palavras de encorajamento, e exortou a todos, soldados e passageiros, para que tomassem algum alimento, dizendo: "E já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis sem comer, não havendo provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós". Atos 27:30-34. AA 249 1 "E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer" Então, aquele exausto e desencorajado grupo de duzentas e setenta e cinco almas que, não fora Paulo, ter-se-ia desesperado, uniu-se ao apóstolo em partilhar do "alimento. E, refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar". Atos 27:35-38. AA 249 2 A luz do dia tinha agora rompido plenamente, mas eles nada podiam ver que lhes determinasse o lugar em que estavam. "Enxergaram porém uma enseada que tinha praia, e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio. E, levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia. Dando, porém, num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas". Atos 27:39-41. AA 249 3 Paulo e os outros prisioneiros estavam, agora, ameaçados por um perigo maior que o naufrágio. Os soldados viram que, enquanto estivessem procurando alcançar a terra, ser-lhes-ia impossível vigiar os prisioneiros. Cada homem teria que fazer todo o possível para salvar-se. Entretanto, se algum dos prisioneiros faltasse, perderia a vida o responsável por eles. Por isso os soldados desejavam matar todos os prisioneiros. A lei romana sancionava essa cruel prática, e o plano teria sido imediatamente executado, não fosse aquele a quem todos muito deviam. Júlio, o centurião, sabia que Paulo tinha sido o instrumento para salvar a vida de todos a bordo; e, além disso, convencido de que o Senhor estava com ele, temeu fazer-lhe mal. Portanto, "mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra; e os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra, a salvo". Atos 27:43, 44. Quando se verificou a lista, nenhum faltava. AA 249 4 Os náufragos foram bondosamente recebidos pelos nativos de Malta. "Acendendo uma grande fogueira", escreve Lucas, "nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e por causa do frio". Paulo estava entre os que se mostravam ativos em prover o conforto dos outros. Tendo "ajuntado e atirado à fogueira um feixe de gravetos, uma víbora, fugindo do calor, prendeu-se-lhe à mão". Os circunstantes ficaram tomados de horror, e vendo por suas correntes que Paulo era um prisioneiro, "diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a justiça não o deixa viver". Mas Paulo sacudiu o réptil no fogo, e nenhum mal sentiu. Sabendo a natureza venenosa da víbora, as pessoas olhavam para ele, esperando vê-lo entrar num momento em terrível agonia. "Mas tendo esperado já muito e vendo que nenhum incômodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus". Atos 28:2-6. AA 250 1 Durante os três meses que o pessoal do navio permaneceu em Malta, Paulo e seus companheiros de trabalho aproveitaram muitas oportunidades de pregar o evangelho. De modo notável operou o Senhor por meio deles. Por amor de Paulo, toda a tripulação do navio foi tratada com grande bondade; todas as suas necessidades foram supridas e, ao deixarem Malta, foram liberalmente providos de todo o necessário para a viagem. Os principais incidentes dessa permanência ali são assim descritos por Lucas: AA 250 2 "E ali, próximo daquele mesmo lugar, havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha, por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente por três dias. E aconteceu estar de cama enfermo de febres e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver e, havendo orado, pôs as mãos sobre ele e o curou. Feito pois isto, vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades, e sararam. Os quais nos distinguiram também com muitas honras; e, havendo de navegar, nos proveram das coisas necessárias". Atos 28:7-10. ------------------------Capítulo 43 -- Em Roma AA 251 0 Este capítulo é baseado em Atos 28:11-31 e da Epístola a Filemom. AA 251 1 Vindo o tempo próprio para a navegação, o centurião e seus prisioneiros retomaram a viagem para Roma. Um navio alexandrino, o "Castor e Polux" (Atos 28:11), tinha invernado em Malta, em sua viagem para o oeste, e nele os viajantes embarcaram. Embora um pouco retardada por ventos contrários, a viagem foi concluída, e o navio lançou âncora no belo porto de Potéoli, na costa da Itália. AA 251 2 Nesse lugar havia uns poucos cristãos, e eles se empenharam com Paulo para permanecer com eles por sete dias, privilégio esse bondosamente concedido pelo centurião. Desde que receberam a epístola de Paulo aos romanos, os cristãos da Itália tinham avidamente desejado uma visita do apóstolo. Não haviam imaginado vê-lo como prisioneiro, mas seus sofrimentos apenas o tornaram mais querido deles. Sendo a distância de Potéoli a Roma de apenas uns 220 quilômetros, e estando o porto marítimo em constante comunicação com a metrópole, os cristãos de Roma foram informados da aproximação de Paulo, e alguns deles se adiantaram para encontrá-lo e saudá-lo. AA 251 3 No oitavo dia depois de sua chegada, o centurião e seus prisioneiros retomaram o caminho de Roma. Júlio de boa vontade permitiu ao apóstolo cada favor que estava em suas forças conceder, mas não lhe podia mudar a condição de prisioneiro nem libertá-lo das cadeias que o ligavam ao soldado que o guardava. Foi com o coração opresso que Paulo partiu para sua muito ansiada visita à metrópole do mundo. Quão diversas eram as circunstâncias do que ele imaginara! Como poderia ele, acorrentado e estigmatizado, proclamar o evangelho? Suas esperanças de conquistar muitos conversos para a verdade em Roma, pareciam destinadas ao desapontamento. AA 251 4 Os viajantes chegaram, afinal, à praça de Ápio, sessenta e quatro quilômetros distante de Roma. Enquanto abriam caminho entre a multidão que transitava na grande via, o encanecido ancião, acorrentado com um grupo de criminosos mal-encarados, recebeu muitos olhares de zombaria, tornando-se objeto de muito gracejo rude e escarnecedor. AA 251 5 De súbito ouviu-se um grito de alegria e um homem se destacou da turba que passava, e lançou-se ao pescoço do prisioneiro, abraçando-o e chorando de alegria, como um filho que saudasse o pai por muito tempo ausente. A cena se repetiu muitas vezes à medida que, com a vista aguçada por expectante amor, muitos reconheceram no preso acorrentado aquele que, em Corinto, Filipos e Éfeso, lhes havia pregado as palavras da vida. AA 252 1 Os amantes discípulos ansiosamente afluíram ao redor de seu pai no evangelho, obrigando todo o cortejo a parar. Os soldados impacientaram-se com a demora, mas não tiveram coragem de interromper essa feliz reunião; pois também eles aprenderam a respeitar e estimar seu prisioneiro. Nessa face macerada e batida pela dor, os discípulos viam refletida a imagem de Cristo. Asseguraram a Paulo que nunca o esqueceram nem deixaram de amá-lo; que lhe eram devedores pela feliz esperança que lhes animava a vida, e dava-lhes paz para com Deus. Na grandeza de seu amor o levariam nos ombros todo o caminho até a cidade, fosse-lhes dado esse privilégio. AA 252 2 Poucos consideram o significado das palavras de Lucas, quando diz que Paulo, vendo seus irmãos "deu graças a Deus e tomou ânimo". Atos 28:15. No meio do simpatizante e lacrimoso grupo de crentes, os quais não se envergonhavam de suas cadeias, o apóstolo louvou a Deus em voz alta. A nuvem de tristeza que estava sobre seu espírito se dissipara. Sua vida cristã tinha sido uma sucessão de sofrimentos, desapontamentos e provações, mas nesse momento ele se sentia abundantemente recompensado. Com passos mais firmes e o coração repleto de alegria, ele continuou seu caminho. Não podia queixar-se do passado nem temer o futuro. Cadeias e aflições o esperavam, isso ele sabia; mas sabia também que lhe coubera libertar as pessoas de um cativeiro infinitamente mais terrível, e se rejubilava em seus sofrimentos por amor de Cristo. AA 252 3 Em Roma, o centurião Júlio entregou seus prisioneiros ao comandante da guarda imperial. A boa referência que deu de Paulo, somada à carta de Festo, permitiram ser o apóstolo favoravelmente considerado pelo comandante, e em vez de ser trancado na prisão, foi-lhe permitido viver em uma casa alugada. Embora ainda ficasse constantemente acorrentado a um soldado, tinha liberdade para receber seus amigos e trabalhar para o avanço da causa de Cristo. AA 252 4 Muitos dos judeus que haviam sido banidos de Roma alguns anos antes, tiveram permissão para voltar, de maneira que, então, ali se encontravam em grande número. A eles, antes de tudo, queria Paulo apresentar os fatos que diziam respeito a si mesmo e a sua obra, antes que seus inimigos tivessem ocasião de os incitar contra ele. Três dias depois de sua chegada a Roma, portanto, reuniu os líderes judeus, e de maneira simples e direta, declarou porque viera a Roma como prisioneiro. AA 252 5 "Varões irmãos", disse ele, "não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos; os quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum de morte. Mas, opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César, não tendo, contudo, de que acusar a minha nação. Por essa causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou com essa cadeia". Atos 28:17-20. AA 253 1 Ele nada disse dos abusos que havia sofrido às mãos dos judeus, nem das repetidas tramas para assassiná-lo. Suas palavras caracterizaram-se pela prudência e bondade. Ele não estava procurando ganhar atenção pessoal ou simpatia, mas defender a verdade e manter a honra do evangelho. AA 253 2 Em resposta, seus ouvintes afirmaram que não tinham recebido acusação alguma contra ele, por carta pública ou particular, e que nenhum dos judeus que tinham vindo a Roma o acusara de qualquer crime. Expressaram, ainda, um forte desejo de ouvir as razões de sua fé em Cristo. "Quanto a essa seita", disseram, "notório nos é que em toda a parte se fala contra ela". Atos 28:22. AA 253 3 Uma vez que eles próprios desejavam isso, Paulo pediu que escolhessem um dia, quando lhes apresentaria as verdades do evangelho. No tempo marcado, "muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde pela manhã até à noite". Atos 28:23. Ele relatou-lhes sua experiência, e apresentou argumentos das Escrituras do Antigo Testamento com simplicidade, sinceridade e poder. AA 253 4 O apóstolo mostrou que a religião não consiste em ritos e cerimônias, credos e teorias. Se assim fosse, o homem natural poderia entendê-la pela pesquisa, como entende as coisas do mundo. Paulo ensinou que a religião é uma coisa prática, uma energia salvadora, um princípio inteiramente de Deus, uma experiência pessoal do poder renovador de Deus sobre o coração. AA 253 5 Mostrou como Moisés tinha apontado Cristo a Israel como o profeta a quem deviam ouvir; como todos os profetas haviam testificado dEle como o grande remédio de Deus para o pecado, o inocente que devia levar os pecados do culpado. Paulo não censurou sua observância de formas e cerimônias, mas mostrou que, enquanto mantinham o ritual com grande exatidão, estavam rejeitando a Cristo, que era o antítipo de todo aquele sistema. AA 253 6 Paulo declarou que, antes da conversão, tinha conhecido a Cristo, não por contato pessoal, mas simplesmente pela concepção que, em comum com outros, tinha nutrido concernente ao caráter e obra do Messias por vir. Tinha rejeitado a Jesus de Nazaré, considerando-O impostor porque Ele não preenchia essa concepção. Finalmente, a visão que passara a ter de Cristo e Sua missão era muito mais espiritual e exaltada; pois tinha sido convertido. O apóstolo afirmou que não lhes apresentava a Cristo segundo a carne. Herodes tinha visto a Cristo nos dias de Sua humanidade; vira-O Anás; Pilatos, os sacerdotes e príncipes tinham-nO visto; viram-nO os soldados romanos. Mas não O haviam visto com os olhos da fé; não O tinham visto como o Redentor glorificado. Receber a Cristo pela fé, ter dEle um conhecimento espiritual era mais para desejar que um contato pessoal com Ele como apareceu na Terra. A comunhão com Cristo na qual Paulo agora se rejubilava era mais íntima, mais duradoura que um mero e humano companheirismo terrestre. AA 254 1 Ao falar Paulo do que sabia e testificar do que vira, concernente a Jesus de Nazaré como a esperança de Israel, os que honestamente estavam procurando a verdade foram convencidos. Em alguns espíritos, pelo menos, suas palavras produziram uma impressão que jamais se apagou. Mas outros se recusaram obstinadamente a aceitar o claro testemunho das Escrituras, mesmo quando apresentado a eles por alguém que tinha especial iluminação do Espírito Santo. Eles não podiam refutar seus argumentos, mas se recusaram a aceitar suas conclusões. AA 254 2 Muitos meses se passaram depois da chegada de Paulo a Roma, antes que os judeus de Jerusalém aparecessem pessoalmente para apresentar suas acusações contra o prisioneiro. Tinham sido repetidas vezes impedidos em seus desígnios; e agora que Paulo deveria ser julgado perante o mais elevado tribunal do império romano, não tinham desejo de se arriscar a mais uma derrota. Lísias, Félix, Festo e Agripa tinham todos declarado acreditar na sua inocência. Seus inimigos poderiam esperar êxito unicamente procurando, pela intriga, influenciar o imperador em favor deles. A demora lhes favoreceria o objetivo, visto que lhes proporcionaria tempo para aperfeiçoar e executar seus planos; e assim esperaram algum tempo antes de levarem pessoalmente suas acusações contra o apóstolo. AA 254 3 Na providência de Deus, essa demora resultou no avanço do evangelho. Pelo favorecimento daqueles que tinham Paulo sob sua guarda, foi-lhe permitido morar em uma casa cômoda, onde podia encontrar-se livremente com seus amigos e também apresentar diariamente a verdade aos que o iam ouvir. Assim, durante dois anos continuou suas atividades, "pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum". Atos 28:31. AA 254 4 Durante esse tempo, [Paulo] não se esqueceu das igrejas que havia estabelecido em muitas terras. Compreendendo os perigos que ameaçavam os conversos da nova fé, o apóstolo procurou tanto quanto possível satisfazer-lhes às necessidades por meio de cartas de admoestação e instrução prática. E de Roma enviou obreiros consagrados para trabalharem não somente por essas igrejas, mas em campos que ele próprio não tinha visitado. Tais obreiros, como sábios pastores, fortaleciam a obra tão bem iniciada por Paulo; e o apóstolo, que se conservava informado das condições e perigos das igrejas mediante comunicação constante com elas, estava habilitado a exercer uma sábia direção sobre todas. AA 254 5 Desse modo, enquanto estivesse aparentemente separado do trabalho ativo, Paulo exercia uma influência maior e mais duradoura do que se estivesse livre para viajar entre as igrejas como nos anos anteriores. Como prisioneiro do Senhor, ele retinha mais firmemente as afeições de seus irmãos; e suas palavras, escritas por quem estava em cadeias por amor de Cristo, impunham maior atenção e respeito do que quando ele estava pessoalmente com eles. Não antes que Paulo fosse deles separado, compreenderam os irmãos quão pesados eram os encargos que ele tinha levado em benefício deles. Até então, tinham-se em grande parte escusado de responsabilidades e obrigações, porque sentiam a falta de sua sabedoria, tato e indomável energia; mas agora, deixados em sua inexperiência a aprender as lições que tinham rejeitado, apreciaram seus conselhos, advertências e instruções como não haviam considerado seu trabalho pessoal. E ao aprenderem de sua coragem e fé durante sua longa prisão, foram estimulados a maior fidelidade e zelo na causa de Cristo. AA 255 1 Entre os assistentes de Paulo em Roma, havia muitos de seus anteriores companheiros e colaboradores. Lucas, "o médico amado" (Colossences 4:14), que o tinha assistido em sua viagem a Jerusalém, durante os dois anos de sua prisão em Cesaréia, e em sua perigosa viagem a Roma, estava ainda com ele. Timóteo também ministrava para o seu conforto. Tíquico, um "irmão amado e fiel ministro, e conservo no Senhor" (Colossences 4:7), permaneceu nobremente ao lado do apóstolo. Demas e Marcos também estavam com ele. Aristarco e Epafras eram seus companheiros de prisão. Colossences 4:7-14. AA 255 2 Desde os primeiros anos de sua profissão de fé, a experiência cristã de Marcos tinha-se aprofundado. Ao estudar mais acuradamente a vida e a morte de Cristo, tinha ele obtido mais clara visão da missão do Salvador, Suas provas e conflitos. Lendo nas cicatrizes das mãos e pés de Cristo as marcas de Seu serviço pela humanidade, e até aonde leva a abnegação para salvar os perdidos e quase a perecer, Marcos se dispusera a seguir o Mestre no caminho do sacrifício. Depois, partilhando a sorte de Paulo, o prisioneiro, ele compreendeu melhor que nunca, que é infinito lucro ganhar a Cristo, e infinita perda ganhar o mundo e perder a vida, por cuja redenção foi o sangue de Cristo derramado. Em face de severa adversidade e prova, Marcos continuou firme, um sábio e amado auxiliar do apóstolo. AA 255 3 Demas, firme por algum tempo, abandonou mais tarde a causa de Cristo. Referindo-se a isso, Paulo escreveu: "Demas me desamparou, amando o presente século". 2 Timóteo 4:10. Por ganho mundano, trocou Demas toda alta e nobre consideração. Com que pouco discernimento fizera ele a troca! Possuindo apenas riquezas e honras mundanas, Demas era de fato pobre, por muito que pudesse orgulhosamente considerar seu; enquanto Marcos, escolhendo sofrer por amor de Cristo, possuía riquezas eternas, sendo considerado no Céu como herdeiro de Deus e co-herdeiro de Seu Filho. AA 255 4 Entre os que deram o coração a Deus por intermédio do trabalho de Paulo em Roma, estava Onésimo, escravo pagão que havia lesado a seu senhor, Filemom, crente cristão de Colosso, e havia escapado para Roma. Na bondade de seu coração, Paulo procurou aliviar a pobreza e angústia do desventurado fugitivo e, em seguida procurou derramar a luz da verdade em sua mente obscurecida. Onésimo ouviu as palavras da vida, confessou seus pecados e foi convertido à fé em Cristo. AA 256 1 Onésimo tornou-se caro a Paulo por sua piedade e sinceridade, não menos que por seu terno cuidado com o conforto do apóstolo, e seu zelo em promover a obra do evangelho. Paulo viu nele traços de caráter que poderiam torná-lo um útil auxiliar no trabalho missionário, e aconselhou-o a retornar sem demora a Filemom, suplicar-lhe perdão, e fazer planos para o futuro. O apóstolo prometeu responsabilizar-se pela soma que de Filemom havia sido roubada. Estando pronto para enviar Tito com cartas para várias igrejas na Ásia menor, enviou com ele Onésimo. Era uma severa prova essa para o servo, apresentar-se ao senhor a quem havia lesado, mas havia sido convertido de verdade, e não se furtou a esse dever. AA 256 2 Paulo tornou Onésimo portador de uma carta a Filemom, na qual, com seu usual tato e bondade, o apóstolo pleiteava a causa do servo arrependido, e manifestava o desejo de retê-lo para seu serviço no futuro. A carta começava com uma afetuosa saudação a Filemom como um amigo e cooperador: AA 256 3 "Graça a vós e paz da parte de Deus nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo. Graças dou ao meu Deus, lembrando-me sempre de ti nas minhas orações; ouvindo a tua caridade e a fé que tens para com o Senhor Jesus Cristo, e para com todos os santos; para que a comunicação da tua fé seja eficaz no conhecimento de todo o bem que em vós há por Cristo Jesus". Filemom 4-6. O apóstolo recordava a Filemom que cada bom propósito e bom traço de caráter que ele possuía devia-o à graça de Cristo; somente esta o tornara diferente dos perversos e pecadores. A mesma graça pode transformar o mais vil criminoso num filho de Deus e útil obreiro no evangelho. AA 256 4 Paulo podia ter imposto a Filemom seu dever como cristão; mas escolheu antes a linguagem da súplica: "..sendo eu tal como sou, Paulo o velho, e também agora prisioneiro de Jesus Cristo. Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil". Filemom 9-11. AA 256 5 O apóstolo pedia a Filemom, que em vista da conversão de Onésimo, recebesse o arrependido escravo como a seu próprio filho, mostrando-lhe tal afeição que ele escolhesse permanecer com seu senhor de outrora, "não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado". Filemom 16. Expressava seu desejo de reter Onésimo como alguém que poderia servi-lo em suas prisões, como o próprio Filemom teria feito, todavia, ele não desejava os seus serviços a menos que Filemom de própria vontade libertasse o escravo. AA 257 1 O apóstolo bem conhecia a severidade que os senhores usavam para com os seus escravos, e sabia também que Filemom estava grandemente indignado pela conduta de seu servo. Procurou escrever-lhe de maneira a despertar seus mais profundos e ternos sentimentos como cristão. A conversão de Onésimo o tornara um irmão na fé, e qualquer punição aplicada a seu novo converso seria considerada por Paulo como aplicada a si próprio. AA 257 2 Paulo se propôs voluntariamente a assumir o débito de Onésimo para que ao criminoso fosse poupado o sofrimento da punição, e pudesse ele, de novo, se regozijar nos privilégios que tinha rejeitado. "Se me tens por companheiro", escreveu a Filemom, "recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei". Filemom 17-19. AA 257 3 Quão apropriadamente isso ilustra o amor de Cristo pelo pecador arrependido! O servo que defraudara a seu senhor não tinha com que fazer a restituição. O pecador que tem roubado a Deus de anos de serviço não tem meios de cancelar o débito. Jesus Se interpõe entre o pecador e Deus, dizendo: Eu pagarei o débito. Poupa o pecador; Eu sofrerei em seu lugar. AA 257 4 Depois de oferecer-se para assumir o débito de Onésimo, Paulo recordou a Filemom o quanto ele próprio era devedor ao apóstolo. Devia-lhe sua própria vida, uma vez que Deus tinha feito Paulo o instrumento de sua conversão. Então, num apelo fervoroso e terno, suplicou a Filemom que, assim como ele havia por sua liberalidade vivificado os santos, também vivificaria o espírito do apóstolo concedendo-lhe essa causa de regozijo. "Escrevi-te", ele acrescentou, "confiado na tua obediência, sabendo que ainda farás mais do que digo". Filemom 21. AA 257 5 A carta de Paulo a Filemom mostra a influência do evangelho nas relações entre senhores e servos. A escravidão era instituição estabelecida em todo o império romano, e tanto senhores como escravos eram encontrados na maioria das igrejas pelas quais Paulo trabalhou. Nas cidades, onde os escravos eram muitas vezes muito mais numerosos do que a população livre, leis de terrível severidade eram consideradas necessárias para mantê-los em sujeição. Um romano rico possuía, não raro, centenas de escravos de toda categoria, de todas as nações e de toda habilidade. Com pleno controle sobre a vida e o corpo dessas desajudadas criaturas, podiam infligir-lhes o castigo que desejassem. Se um deles, por vingança ou autodefesa, ousasse levantar a mão para seu proprietário, toda a família do ofensor poderia ser cruelmente sacrificada. O mais leve erro, acidente ou descuido eram, muitas vezes, punidos sem misericórdia. AA 257 6 Alguns senhores, mais humanos que outros, eram mais indulgentes para com seus servos; mas a grande maioria dos ricos e nobres, procedendo sem restrição à luxúria, paixão e apetite, tornava seus escravos miseráveis vítimas de capricho e tirania. A tendência de todo o sistema era desesperadamente degradante. AA 258 1 Não era obra do apóstolo subverter arbitrária ou subitamente a ordem estabelecida da sociedade. Tentar isso seria impedir o sucesso do evangelho. Mas ele ensinava os princípios que atingiam o próprio fundamento da escravatura, os quais, se postos em execução, minariam seguramente todo o sistema. "Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade", declarou ele. 2 Coríntios 3:17. Quando convertido, o escravo tornava-se membro do corpo de Cristo, e como tal, devia ser amado e tratado como irmão, co-herdeiro com seu senhor das bênçãos de Deus e dos privilégios do evangelho. Por outro lado, os servos deviam cumprir seus deveres, "não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus". Efésios 6:6. AA 258 2 O cristianismo cria um forte laço de união entre o senhor e o servo, o rei e o súdito, o ministro do evangelho e o degradado pecador que encontrou em Cristo a purificação do pecado. Foram lavados no mesmo sangue, vivificados pelo mesmo Espírito; e são feitos um em Cristo Jesus. ------------------------Capítulo 44 -- Os da casa de César AA 259 1 O evangelho sempre alcançou seu maior sucesso entre as classes humildes. "Não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados". 1 Coríntios 1:26. Não seria de esperar que Paulo, pobre prisioneiro e sem amigos, pudesse obter a atenção das classes ricas e titulares dos cidadãos romanos. Para estas o vício apresentava todas as suas brilhantes seduções, e retinha-as como cativas voluntárias. Mas, dentre as cansadas e necessitadas vítimas de sua opressão, mesmo dentre os pobres escravos, muitos alegremente ouviam as palavras de Paulo, e encontravam na fé cristã esperança e paz que os animavam nas dificuldades de sua vida. AA 259 2 Embora o trabalho do apóstolo começasse com os humildes e modestos, sua influência se estendeu até atingir o próprio palácio do imperador. AA 259 3 Roma era, nessa ocasião, a metrópole do mundo. Os arrogantes Césares estavam dando leis a quase todas as nações da Terra. Reis e cortesãos, ou não tomavam conhecimento do humilde Nazareno, ou O consideravam com ódio e desprezo. E contudo, em menos de dois anos, o evangelho teve acesso da modesta casa do prisioneiro aos recintos imperiais. Paulo estava em cadeias como um malfeitor; mas "a Palavra de Deus não está presa". 2 Timóteo 2:9. AA 259 4 Em anos anteriores, o apóstolo havia publicamente proclamado a doutrina de Cristo com cativante poder; e por sinais e milagres dera indiscutível evidência de seu divino caráter. Com nobre firmeza, levantara-se perante os sábios da Grécia, e por seu conhecimento e eloqüência tinha feito silenciar os argumentos da altiva filosofia. Com indômita coragem estivera diante de reis e governadores, e falara da justiça, da temperança e do juízo vindouro, até que soberbos governadores estremeceram como se já contemplassem os terrores do dia de Deus. AA 259 5 Tais oportunidades não lhe eram agora concedidas, confinado como se achava em sua própria residência, podendo pregar a verdade apenas aos que ali viessem. Não tinha, como Moisés e Arão, ordem divina para ir até os perversos reis, e em nome do grande EU SOU repreendê-los por sua crueldade e opressão. No entanto, foi nessa época, quando seus principais defensores estavam aparentemente separados do trabalho público, que o evangelho alcançou grande vitória; até membros da casa do imperador foram acrescentados à igreja. AA 260 1 Em nenhum lugar poderia haver uma atmosfera menos propícia ao cristianismo que na corte romana. Nero parecia ter apagado de seu coração o último vestígio de origem divina, e mesmo da humana, havendo recebido o carimbo de Satanás. Seus assistentes e cortesãos eram, em geral, do mesmo caráter que ele -- violentos, envilecidos e corruptos. Segundo todas as aparências, seria impossível ao cristianismo firmar pé na corte e no palácio de Nero. AA 260 2 Contudo, nesse caso, como em muitos outros, ficou provada a veracidade da afirmação de Paulo de que as armas de sua milícia eram "poderosas em Deus, para destruição das fortalezas". 2 Coríntios 10:4. Mesmo na casa de Nero foram ganhos troféus para a cruz. Dentre os vis servidores de um soberano ainda mais vil, foram ganhos conversos os quais se tornaram filhos de Deus. Não eram eles cristãos secretamente, mas abertamente. Não se envergonhavam de sua fé. AA 260 3 E por que meios foi conseguida entrada e uma firme posição alcançada pelo cristianismo, onde sua simples admissão parecia impossível? Em sua epístola aos filipenses, Paulo atribui à sua prisão o sucesso em ganhar conversos da casa de Nero. Temendo que se pudesse pensar que suas aflições haviam impedido o progresso do evangelho, assegurou-lhes: "E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho". Filipenses 1:12. AA 260 4 Logo que as igrejas cristãs souberam que Paulo deveria visitar Roma, tiveram a expectativa de um triunfo assinalado para o evangelho nessa cidade. Paulo levara a verdade a muitas terras; proclamara-a em grandes cidades. Não poderia esse campeão da fé ser bem-sucedido em conquistar conversos para Cristo também na metrópole do mundo? Mas as esperanças [dessas igrejas] se aniquilaram com a notícia de que Paulo fora a Roma como prisioneiro. Tinham confiantemente esperado ver o evangelho, uma vez estabelecido naquele grande centro, estender-se rapidamente a todas as nações e tornar-se um poder predominante na Terra. Quão grande foi a sua decepção! Falharam as expectativas humanas, mas não o propósito de Deus. AA 260 5 Não pelos sermões de Paulo, mas pelas suas cadeias, foi a atenção da corte atraída para o cristianismo. Foi como um cativo que ele rompeu de tantas vidas as cadeias que as mantinham na escravidão do pecado. E não foi só isso. Declarou: "Muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a Palavra mais confiadamente, sem temor". Filipenses 1:14. AA 260 6 A paciência e bom ânimo de Paulo durante seu longo e injusto aprisionamento, sua coragem e fé, eram um contínuo sermão. Seu espírito, tão diferente do espírito do mundo, dava testemunho de que um poder mais alto que o da Terra habitava com ele. E por seu exemplo, foram os cristãos impelidos a maior energia como defensores da causa no trabalho público de que Paulo havia sido afastado. Dessa maneira, foram as cadeias do apóstolo de tal influência que, quando seu poder e utilidade pareciam liqüidados, e segundo todas as aparências muito pouco poderia ele fazer, alcançou ele para Cristo molhos em campos dos quais parecia inteiramente excluído. AA 261 1 Antes do fim desses dois anos de prisão, Paulo pôde dizer: "As minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares" (Filipenses 1:13); e entre os que enviavam saudações aos filipenses, ele mencionou "principalmente os que são da casa de César". Filipenses 4:22. AA 261 2 A paciência, assim como a coragem, tem as suas vitórias. Pela mansidão diante da dificuldade, não menos do que pela ousadia nos empreendimentos, podem as pessoas ser ganhas para Cristo. O cristão que manifesta paciência e bom ânimo sob aflição e sofrimentos, que enfrenta a própria morte com a paz e calma de uma fé inabalável, pode realizar para o evangelho mais do que faria por uma longa vida de fiel labor. Muitas vezes, quando o servo de Deus é subtraído ao trabalho ativo, a misteriosa providência que nossa curta visão seria levada a lamentar, é designada por Deus para realizar a obra que de outra forma jamais seria feita. AA 261 3 Não pense o seguidor de Cristo, quando não mais lhe é possível trabalhar ativa e abertamente para Deus e Sua verdade, que não tem mais serviço a fazer nem recompensa a esperar. As verdadeiras testemunhas de Cristo jamais são postas de lado. Em saúde e na enfermidade, na vida e na morte, Deus ainda as usa. Quando, pela obra de Satanás, os servos de Cristo foram perseguidos, seu ativo trabalho embaraçado, quando lançados na prisão, ou arrastados ao cadafalso ou à fogueira, foi que a verdade pôde alcançar maior triunfo. Ao selarem essas fiéis criaturas seu testemunho com o próprio sangue, pessoas até então em dúvida e incerteza, foram convencidas da doutrina de Cristo, e corajosamente tomaram sua posição ao lado dEle. Da cinza dos mártires brotou abundante colheita para Deus. AA 261 4 O zelo e fidelidade de Paulo e seus cooperadores, não menos que a fé e obediência desses conversos ao cristianismo, sob circunstâncias tão desalentadoras, constituem uma repreensão à negligência e falta de fé no ministro de Cristo. O apóstolo e seus cooperadores podiam ter argumentado que seria inútil chamar ao arrependimento e à fé em Cristo os servos de Nero, sujeitos como se achavam a violentas tentações, rodeados por empecilhos tremendos, e expostos à mais dura oposição. Mesmo que fossem convencidos da verdade, como poderiam prestar-lhe obediência? Mas Paulo não raciocinou assim. Com fé, apresentou o evangelho a essas criaturas e, entre os que o ouviram, alguns decidiram obedecer a qualquer preço. Não obstante os obstáculos e perigos, aceitaram a luz e confiaram em que Deus os ajudaria a fazer sua luz brilhar para outros. AA 261 5 Não somente houve conversos ganhos para a verdade na casa de César mas, depois de sua conversão, eles permaneceram nessa casa. Não se sentiram na liberdade de abandonar seu posto de dever por não lhes ser mais favorável o ambiente. A verdade os achara ali, e ali permaneceram dando testemunho do poder transformador da nova fé, através de sua vida e caráter mudados. AA 262 1 Alguém ainda está sendo tentado a fazer das circunstâncias uma desculpa para não testificar de Cristo? Que esses considerem a situação dos discípulos na casa de César -- a depravação do imperador e a perversidade da corte. Dificilmente poderemos imaginar circunstâncias mais desfavoráveis para uma vida religiosa, e que acarretam maior sacrifício ou oposição do que as que enfrentaram esses conversos. No entanto, em meio a dificuldade e perigos, eles mantiveram sua fidelidade. Por causa de obstáculos que parecem insuperáveis o cristão pode procurar esquivar-se de obedecer à verdade como é em Jesus; mas não pode oferecer escusa que resista à investigação. Pudesse ele fazer isso e provaria que Deus é injusto, impondo a Seus filhos condições de salvação que eles não conseguem cumprir. AA 262 2 Aquele cujo coração está determinado a servir a Deus encontrará oportunidade de testemunhar dEle. As dificuldades não terão força para impedir aquele que está determinado a buscar primeiro o reino de Deus e Sua justiça. Na força conquistada pela oração e estudo da Palavra, ele encontrará a virtude e abandonará o vício. Olhando para Jesus, o Autor e Consumador da fé, o qual suportou a oposição dos pecadores contra Si mesmo, o crente voluntariamente enfrentará o escárnio e a zombaria. E são prometidos auxílio e graça suficientes para cada circunstância, por Aquele cuja palavra é a verdade. Seus eternos braços envolvem a pessoa que se volta para Ele em busca de auxílio. Em Seu cuidado podemos descansar seguros, dizendo: "No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti". Salmos 56:3. Deus cumpre Sua promessa para com todos aqueles que nEle depositam confiança. AA 262 3 Por Seu exemplo, o Salvador mostrou que Seus seguidores podem estar no mundo sem todavia pertencer ao mundo. Ele veio, não para compartilhar de seus prazeres ilusórios e ser governado por seus costumes, ou seguir suas práticas, mas para fazer a vontade de Seu Pai e buscar e salvar o perdido. Com esse objetivo em vista, o cristão poderá permanecer incontaminado em qualquer meio. Quaisquer que forem sua situação e circunstâncias, exaltada ou humilde, ele manifestará o poder da verdadeira religião na prática fiel do dever. AA 262 4 Não é fora das provas mas em meio a elas que o caráter cristão se desenvolve. O achar-se exposto à repulsa e oposição leva o seguidor de Cristo a maior vigilância e mais intensa oração ao poderoso Ajudador. Severa prova resistida pela graça de Deus desenvolve a paciência, a vigilância, a resistência e uma profunda e permanente confiança em Deus. A vitória da fé cristã consiste em que ela capacita seu seguidor a sofrer e ser forte; a submeter-se e assim conquistar; a morrer em todo o tempo e contudo viver; a levar a cruz, e assim alcançar a coroa de glória. ------------------------Capítulo 45 -- Carta de Roma AA 263 0 Este capítulo é baseado sobre as Colossences e Filipenses. AA 263 1 Ao apóstolo Paulo, cedo em sua experiência cristã, foram dadas especiais oportunidades de conhecer a vontade de Deus concernente aos seguidores de Jesus. Ele "foi arrebatado até ao terceiro Céu", "ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar" Ele próprio reconheceu que lhe tinham sido dadas muitas "visões e revelações do Senhor" Sua compreensão dos princípios da verdade do evangelho era igual à dos "mais excelentes apóstolos". 2 Coríntios 12:2, 4, 1, 11. Ele tinha clara e plena compreensão da "largura, e o comprimento e a altura, e a profundidade" do "amor de Cristo, que excede todo o entendimento". Efésios 3:18, 19. AA 263 2 Paulo não podia falar de tudo o que tinha visto em visão; pois entre seus ouvintes havia alguns que teriam interpretado mal suas palavras. Mas o que lhe fora revelado capacitou-o a trabalhar como líder e sábio mestre, e também a moldar as mensagens que, em seus últimos anos, enviou às igrejas. A impressão que recebeu quando em visão, ficou para sempre com ele, capacitando-o a dar uma representação correta do caráter cristão. De viva voz e por carta ele apresentou uma mensagem que, desde então, tem levado auxílio e força à igreja de Deus. Aos crentes de hoje essa mensagem fala claramente dos perigos que ameaçarão a igreja, e das falsas doutrinas que ela terá de enfrentar. AA 263 3 O desejo do apóstolo àqueles a quem enviava suas cartas de conselho e admoestação era que não mais fossem "meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina"; mas para que viessem "à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" Aconselhava aos que eram seguidores de Jesus em comunidades pagãs, a não andarem como andavam "também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus [...] pela dureza do seu coração" (Efésios 4:14, 13, 17, 18), mas "como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus". Efésios 5:15, 16. Animava os crentes a olharem ao tempo em que Cristo, o qual "amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela", haveria de a "apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível". Efésios 5:25, 27. AA 263 4 Essas mensagens, escritas não com o poder do homem mas de Deus, contêm lições que devem ser estudadas por todos, e que podem, com proveito, ser muitas vezes repetidas. Nelas é esboçada a piedade prática, são assentados princípios que devem ser seguidos em todas as igrejas, e é esclarecido o caminho que leva à vida eterna. AA 264 1 Em sua carta "aos santos e irmãos fiéis em Cristo, que [estavam] em Colossos", escrita enquanto prisioneiro em Roma, Paulo fez menção de sua alegria pela firmeza deles na fé, novas que lhe haviam sido levadas por Epafras, "o qual", escreveu o apóstolo, "nos declarou também a vossa caridade no Espírito. Por essa razão", continuou, "nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo". Colossences 1:2-11. AA 264 2 Assim Paulo exprimiu em palavras seu desejo para com os crentes colossenses. Quão elevado é o ideal que essas palavras apresentam ao seguidor de Cristo! Elas mostram as maravilhosas possibilidades da vida cristã, e tornam claro que não há limite para as bênçãos que os filhos de Deus podem receber. Crescendo constantemente no conhecimento de Deus, podem eles ir de força em força, de altura em altura na experiência cristã até que, pela "força da Sua glória", sejam feitos "idôneos para participar da herança dos santos na luz". Colossences 1:12. AA 264 3 O apóstolo exaltou a Cristo perante seus irmãos como Aquele por quem Deus criara todas as coisas, e por quem tinha promovido a redenção. Ele declarou que a mão que sustém os mundos no espaço, e mantém na ordem perfeita e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a mão que foi pregada na cruz por eles. "NEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra", escreveu Paulo, "visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele". Colossences 1:16, 17. "A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou no corpo da Sua carne, pela morte, para perante Ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis". Colossences 1:21, 22. AA 264 4 O Filho de Deus Se rebaixou para levantar os caídos. Para isso, deixou Ele os mundos sem pecado, as noventa e nove que O amavam, e veio à Terra para ser "ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades". Isaías 53:5. Em tudo foi feito semelhante aos irmãos. Tornou-Se carne, exatamente como nós somos. Ele soube o que significa ter fome, sede e cansaço. Foi sustentado pelo alimento e restaurado pelo sono. Foi estrangeiro e peregrino na Terra -- estava no mundo mas não era do mundo; foi tentado e provado como o são os homens e mulheres de hoje, vivendo, contudo, uma vida sem pecado. Compassivo, compreensivo e terno, sempre gentil para com os outros, Ele representava o caráter de Deus. "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade". João 1:14. AA 265 1 Cercados pelas práticas e influências do paganismo, os crentes colossenses estavam em perigo de ser afastados da simplicidade do evangelho, e Paulo, para adverti-los contra isso, apontou-lhes a Cristo como o único Guia seguro. "Porque quero que saibais", escreveu ele, "quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne; para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em caridade, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus -- Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. AA 265 2 "E digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle, arraigados e edificados nEle e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças. Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle, que é a cabeça de todo principado e potestade". Colossences 2:4, 6-10. AA 265 3 Cristo predisse que se levantariam enganadores, por cuja influência faria transbordar a iniqüidade e esfriaria o "amor de muitos". Mateus 24:12. Advertiu os discípulos de que a igreja se encontraria em maior perigo por motivo desse mal, do que pela perseguição movida por seus inimigos. Vezes e mais vezes Paulo advertiu os crentes contra esses falsos ensinadores. Contra esse perigo, acima de qualquer outro, deviam eles precaver-se; pois que, recebendo falsos ensinadores, abririam a porta aos erros mediante o que o inimigo turbaria as percepções espirituais e abalaria a confiança dos recém-conversos à fé do evangelho. Cristo era a norma pela qual deviam eles testar as doutrinas apresentadas. Tudo o que não estivesse em harmonia com Seus ensinos devia ser rejeitado. Cristo crucificado pelo pecado, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo assunto ao Céu -- essa era a ciência da salvação que eles deviam aprender e ensinar. AA 265 4 As advertências da Palavra de Deus com respeito aos perigos que rodeiam a igreja cristã pertencem a nós hoje. Como nos dias dos apóstolos, os homens procuravam destruir a fé nas Escrituras pelas tradições e filosofias, assim hoje, pelos aprazíveis sentimentos da "alta crítica", evolução, espiritismo, teosofia e panteísmo, o inimigo da justiça está procurando levar as pessoas para caminhos proibidos. Para muitos, a Bíblia é uma lâmpada sem óleo, porque voltaram a mente para canais de crenças especulativas que produzem má compreensão e confusão. A obra da "alta crítica", em dissecar, conjeturar e reconstruir está destruindo a fé na Bíblia como uma revelação divina. Está roubando a Palavra de Deus em seu poder de controlar, erguer e inspirar vidas humanas. Pelo espiritismo, multidões são ensinadas a crer que o desejo é a mais alta lei, que licenciosidade é liberdade, e que o homem deve prestar contas apenas a si mesmo. AA 266 1 O seguidor de Cristo enfrentará "palavras persuasivas" (Colossences 2:4), contra as quais o apóstolo advertiu os crentes colossenses. Enfrentará interpretações espiritualistas das Escrituras, mas não as deve aceitar. Sua voz deve ser ouvida na clara afirmação das verdades eternas das Escrituras. Conservando os olhos fixos em Cristo, deve avançar com firmeza no caminho estabelecido, rejeitando todas as idéias que não estejam em harmonia com os Seus ensinos. A verdade divina deve ser o objeto de sua contemplação e meditação. Deve considerar a Bíblia como a voz de Deus a ele falando diretamente. Achará assim a sabedoria que é divina. AA 266 2 O conhecimento de Deus como revelado em Cristo é o conhecimento que precisam ter todos os salvos. É o conhecimento que atua a transformação do caráter. Recebido na vida, criará de novo o ser à imagem de Cristo. É o conhecimento além do qual tudo é vaidade e nulidade, e o qual Deus convida Seus filhos a receber. AA 266 3 Em cada geração, e em cada terra, o verdadeiro fundamento para a edificação do caráter tem sido o mesmo -- os princípios contidos na Palavra de Deus. A única regra certa e segura é fazer o que Deus diz. "Os preceitos do Senhor são retos" (Salmos 19:8) e "quem faz isto nunca será abalado". Salmos 15:5. Foi com a Palavra de Deus que os apóstolos enfrentaram as falsas teorias de seu tempo, dizendo: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto". 1 Coríntios 3:11. AA 266 4 Ao tempo de sua conversão e batismo, os crentes colossenses se comprometeram a pôr de lado crenças e práticas que até então tinham sido parte de sua vida, e a serem verdadeiros em sua obediência a Cristo. Em sua carta, Paulo lhes recorda isso, e adverte-os a não esquecerem que, para manter sua promessa, precisavam esforçar-se constantemente contra os males que procuravam dominá-los. "Se já ressuscitastes com Cristo", disse ele, "buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". Colossences 3:1-3. AA 266 5 "Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". 2 Coríntios 5:17. Mediante o poder de Cristo, homens e mulheres têm quebrado a cadeia do hábito pecaminoso. Têm renunciado ao egoísmo. O profano tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio; o pervertido, puro. Pessoas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus. Essa transformação é em si o milagre dos milagres. Uma mudança, operada pela Palavra, é um dos mais profundos mistérios dessa Palavra. Não o podemos compreender; somente podemos crer, conforme declaram as Escrituras, que é "Cristo em vós, esperança da glória". Colossences 1:27. AA 267 1 Quando o Espírito de Deus controla a mente e o coração, a pessoa convertida entoa um novo cântico; pois reconhece que a promessa de Deus se tem cumprido em sua experiência, que sua transgressão foi perdoada e seu pecado coberto. Ele exerceu arrependimento para com Deus, pela transgressão da divina lei, e fé para com Cristo que morreu para justificação do homem. "Sendo pois justificados pela fé", ele tem "paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo". Romanos 5:1. AA 267 2 Mas porque essa é sua experiência, o cristão não deve cruzar os braços, satisfeito com o que já conseguiu. Aquele que tem determinado entrar no reino espiritual verificará que todos os poderes e paixões da natureza não regenerada, apoiados pelas forças do reino das trevas, estão arregimentados contra ele. Ele precisa renovar a sua consagração cada dia, e cada dia batalhar contra o mal. Velhos hábitos, tendências hereditárias para o erro, lutarão para manter a supremacia, e contra isso deve ele estar sempre em guarda, lutando na força de Cristo pela vitória. AA 267 3 "Mortificai pois os vossos membros, que estão sobre a Terra", escreve Paulo aos colossenses, "nas quais também em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas. Mas agora despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. [...] Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E sobretudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos". Colossences 3:5-17. AA 267 4 A carta aos colossenses está repleta de lições do mais alto valor a todos quantos estão empenhados no serviço de Cristo, lições que mostram a singeleza de propósito e as altas aspirações que serão vistas na vida daquele que de maneira reta representa o Salvador. Renunciando a tudo que poderia impedi-lo de progredir em direção ao alto, ou levar a desviar os pés de alguém do caminho estreito, o crente revelará em sua vida diária misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade e o amor de Cristo. AA 267 5 O poder de uma vida mais alta, mais pura e mais nobre é nossa grande necessidade. O mundo tem ocupado demais os nossos pensamentos, e o reino de Deus bem pouco. AA 267 6 Em Seus esforços para alcançar o ideal de Deus para si, o cristão não deve desesperar de coisa alguma. A perfeição moral e espiritual mediante a graça e o poder de Cristo é prometida a todos. Jesus é a fonte de poder, a origem da vida. Ele nos leva a Sua Palavra, e da árvore da vida nos apresenta as folhas para a saúde dos enfermos de pecado. Ele nos leva ao trono de Deus, e põe em nossa boca uma oração pela qual somos levados a íntimo contato com Ele próprio. Em nosso benefício, põe em operação os instrumentos todo-poderosos do Céu. Em cada passo, tocamos Seu vivo poder. AA 268 1 Deus não fixa limite para o progresso dos que desejam ser "cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual". Colossences 1:9. Mediante a oração, a vigilância, através do crescimento no conhecimento e na compreensão, eles devem ser "corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória". Colossences 1:11. Assim são preparados para trabalhar por outros. É propósito do Salvador que os seres humanos, purificados e santificados, sejam Sua mão ajudadora. Sejamos gratos por este grande privilégio Àquele "que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor". Colossences 1:12, 13. AA 268 2 A carta de Paulo aos filipenses, como a enviada aos colossenses, foi escrita enquanto ele estava prisioneiro em Roma. A igreja de Filipos tinha enviado donativos a Paulo pela mão de Epafrodito, a quem Paulo chama "meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e... vosso mensageiro e vosso auxiliar nas minhas necessidades". Filipenses 2:25. Enquanto esteve em Roma, Epafrodito ficou doente "e quase à morte; mas Deus Se apiedou dele", escreveu Paulo, "e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza". Filipenses 2:27. Ouvindo da enfermidade de Epafrodito, os crentes de Filipos ficaram muito ansiosos com respeito a ele, e ele decidiu retornar. "Porquanto tinha muitas saudades de vós todos", escreveu Paulo, "e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente [...] vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza. Recebei-o pois no Senhor com todo o gozo, e tende-o em honra. Porque pela obra de Cristo chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida para suprir para comigo a falta do vosso serviço". Filipenses 2:28-30. AA 268 3 Por Epafrodito, Paulo enviou aos crentes filipenses uma carta, na qual lhes agradecia os donativos que lhe haviam enviado. De todas as igrejas, a de Filipos tinha sido a mais liberal em suprir as necessidades de Paulo. "E bem sabeis também vós, ó filipenses", disse o apóstolo em sua carta, "que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente. Porque também, uma e outra vez, me mandastes o necessário a Tessalônica. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente para a vossa conta. Mas bastante tenho recebido e tenho abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus". Filipenses 4:15-18. AA 268 4 "Graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo. Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo; que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho. [...] E peço isto: que a vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao dia de Cristo, cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus". Filipenses 1:2-11. AA 269 1 A graça de Deus sustinha Paulo em sua prisão, habilitando-o a regozijar-se na tribulação. Com fé e segurança ele escreveu a seus irmãos filipenses que sua prisão tinha redundado no progresso do evangelho. "Quero, irmãos, que saibais", escreveu, "que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares; e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a Palavra mais confiadamente, sem temor". Filipenses 1:12-14. AA 269 2 Há uma lição para nós nesta experiência de Paulo; pois ela revela a maneira de Deus operar. O Senhor pode tirar vitória daquilo que poderá parecer para nós confusão e revés. Estamos em perigo de nos esquecermos de Deus, de olhar para as coisas que se vêem, em vez de contemplar pelos olhos da fé, as que se não vêem. Quando ocorre uma desventura ou calamidade, estamos prontos a acusar a Deus de negligência ou crueldade. Se Lhe parece próprio eliminar nossa utilidade em algum sentido, entristecemo-nos, não nos detendo para pensar que assim Deus pode estar agindo para nosso bem. Necessitamos aprender que a correção é uma parte de Seu grande plano, e que sob a aflição pode o cristão algumas vezes fazer mais pelo Mestre que quando empenhado em serviço ativo. AA 269 3 Como exemplo aos filipenses na fé cristã, Paulo chamou-lhes a atenção para Cristo, "que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz". Filipenses 2:6-8. AA 269 4 "De sorte que, meus amados", continuou, "assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que atua em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a Palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão". Filipenses 2:12-16. AA 270 1 Essas palavras foram relatadas para auxílio de toda pessoa que luta. Paulo ergue a norma de perfeição, e mostra como pode ser alcançada. "Operai a vossa salvação", diz ele, "porque Deus é o que atua em vós". AA 270 2 A obra de ganhar a salvação é de co-participação e cooperação. Deve haver cooperação entre Deus e o pecador arrependido. Isso é necessário para a formação de corretos princípios de caráter. Deve o homem fazer veementes esforços para vencer o que o impede de alcançar a perfeição. Mas, para alcançar êxito, ele depende inteiramente de Deus. Por si mesmo o esforço humano não é suficiente. Sem a ajuda do poder divino ele de nada vale. Deus age e o homem também. A resistência à tentação deve partir do homem, que por sua vez deve obter de Deus o poder. De um lado se acham sabedoria infinita, compaixão e poder; do outro debilidade, pecaminosidade e incapacidade absoluta. AA 270 3 Deus quer que governemos nosso ser, mas não nos pode ajudar sem nosso consentimento e cooperação. O Espírito divino age por meio dos poderes e faculdades concedidos ao ser humano. Não podemos colocar por nós mesmos nossos propósitos, desejos e inclinações em harmonia com a vontade divina; mas se estivermos dispostos, o Salvador fará isso por nós, "destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo". 2 Coríntios 10:5. AA 270 4 Aquele que deseja construir um caráter forte e simétrico, e que deseja ser um cristão bem equilibrado, deve dar tudo a Cristo e fazer tudo por Cristo; pois o Redentor não aceitará serviço dividido. Precisa aprender diariamente o significado da entrega do eu. Precisa estudar a Palavra de Deus, aprendendo seu significado e obedecendo a seus preceitos. Assim pode ele alcançar o padrão da excelência cristã. Dia a dia Deus trabalha com ele, aperfeiçoando o caráter que deve resistir no tempo da prova final. E dia a dia o crente está manifestando diante dos homens e dos anjos um experimento sublime, mostrando o que o evangelho pode fazer por caídos seres humanos. AA 270 5 "Quanto a mim", escreveu Paulo, "não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". Filipenses 3:13, 14. AA 270 6 Paulo fizera muitas coisas. Desde o momento em que se dera em obediência a Cristo, sua vida foi cheia de incansável serviço. De cidade em cidade, de país em país, ele viajou, contando a história da cruz, conquistando conversos para o evangelho e estabelecendo igrejas. Por essas igrejas tinha constante cuidado, e a elas escreveu muitas cartas de instrução. Às vezes, trabalhava em seu ofício para ganhar o pão de cada dia. Mas em todas as cansativas atividades de sua vida, Paulo jamais perdeu de vista o grande propósito -- caminhar para o alvo da sua soberana vocação. Um alvo mantinha ele firmemente diante de si -- ser fiel Àquele que, às portas de Damasco, Se lhe revelara. Desse alvo força alguma poderia desviá-lo. Exaltar a cruz do Calvário -- esse era o motivo dominante que lhe inspirava as palavras e os atos. O grande propósito que constrangia Paulo a prosseguir em face das durezas e dificuldades, deveria levar cada obreiro cristão a consagrar-se inteiramente ao serviço de Deus. Atrações mundanas se apresentarão para afastar sua atenção do Salvador, mas ele deve prosseguir em direção ao alvo, mostrando ao mundo, aos anjos e aos homens que a esperança de ver a face de Deus compensa todos os esforços e sacrifícios que a concretização dessa esperança requer. AA 271 1 Embora fosse um prisioneiro, Paulo não se desencorajava. Em vez disso, uma nota de triunfo vibra através das cartas que escreveu de Roma às igrejas. "Regozijai-vos sempre no Senhor", escreveu aos filipenses, "outra vez digo, regozijai-vos. [...] Não estejais inquietos por coisa alguma: antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai". "O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus. [...] A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vós todos". Filipenses 4:4-9. ------------------------Capítulo 46 -- Em liberdade AA 272 1 Enquanto os trabalhos de Paulo em Roma estavam sendo abençoados para a colheita de muitas conversões e fortalecimento e animação dos crentes, estavam a ajuntar-se nuvens que não somente ameaçavam sua própria segurança, mas também a prosperidade da igreja. Em sua chegada a Roma fora ele colocado aos cuidados do tribuno da guarda imperial, homem de justiça e integridade, por cuja clemência ficou relativamente livre para prosseguir na obra do evangelho. Mas, antes do fim dos dois anos de prisão, esse homem foi substituído por um oficial de quem o apóstolo não poderia esperar nenhum favor especial. AA 272 2 Os judeus estavam agora em mais atividade do que nunca em seus esforços contra Paulo, e encontraram uma hábil auxiliadora na mulher corrupta de quem Nero fizera sua segunda esposa, e que, sendo uma prosélita judia, emprestou toda a sua influência para auxiliar os intuitos assassinos deles contra o campeão do cristianismo. AA 272 3 Pouca justiça podia Paulo esperar da parte de César, para quem apelara. Nero era mais vil em seus costumes, mais frívolo no caráter, e ao mesmo tempo capaz de mais atroz crueldade do que qualquer governante que o houvesse precedido. As rédeas do governo não podiam ter sido confiadas a um governador mais déspota. O primeiro ano de seu governo fora assinalado pelo envenenamento de seu jovem irmão afim, o legítimo herdeiro do trono. De uma a outra profundidade do vício e do crime, desceu Nero até que assassinou a própria mãe, e em seguida a esposa. Não houve atrocidade que não perpetrasse, ato vil a que não se rebaixasse. A todo espírito nobre inspirava ele apenas aversão e desprezo. AA 272 4 Os pormenores da iniqüidade praticada em sua corte são por demais degradantes, por demais horríveis para serem descritos. Sua desenfreada impiedade provocou asco e desprezo mesmo a muitos dos que eram obrigados a partilhar de seus crimes. Viviam em constante temor quanto a que atrocidades sugeriria ele a seguir. Não obstante tais crimes como os que Nero praticava, não ficava abalada a submissão de seus súditos. Era reconhecido como o governador absoluto de todo o mundo civilizado. Mais que isso, foi feito objeto de honras divinas e adorado como um deus. AA 272 5 Do ponto de vista do juízo humano, era certa a condenação de Paulo perante tal juiz. Mas o apóstolo compreendia que, enquanto ele fosse fiel a Deus, nada teria a temer. Aquele que no passado fora o seu protetor, poderia ainda protegê-lo da maldade dos judeus e do poder de César. AA 273 1 E Deus amparou Seu servo. Ao ser Paulo interrogado, não foram sustentadas as acusações feitas contra ele; e, contrariamente à expectativa geral, e com um respeito pela justiça inteiramente em desacordo com o seu caráter, Nero declarou inocente o prisioneiro. As cadeias de Paulo foram removidas; tornou-se novamente homem livre. AA 273 2 Tivesse o seu julgamento demorado mais, ou fosse ele por qualquer motivo detido em Roma até o ano seguinte, e teria sem dúvida perecido na perseguição que então aconteceu. Durante a prisão de Paulo, os conversos ao cristianismo se tornaram tão numerosos que atraíram a atenção e despertaram a inimizade das autoridades. A ira do imperador se despertou de modo especial pela conversão dos membros de sua própria casa, e logo encontrou pretexto para fazer dos cristãos objeto de sua inexorável crueldade. AA 273 3 Ocorreu por aquele tempo um terrível incêndio em Roma, pelo qual quase metade da cidade se queimou. O próprio Nero, falava-se, ateara o fogo, mas, para desviar as suspeitas, fez uma ostentação de grande generosidade, prestando assistência aos que ficaram sem lar e destituídos de seus bens. Foi, contudo, acusado do crime. O povo ficou agitado e enraivecido, e Nero, a fim de inocentar-se e também livrar a cidade de uma classe que ele temia e odiava, voltou a acusação contra os cristãos. Seu expediente foi bem-sucedido, e milhares de seguidores de Cristo -- homens, mulheres e crianças -- foram cruelmente mortos. AA 273 4 Dessa terrível perseguição Paulo foi poupado; pois que, logo depois de seu libertamento, deixara Roma. Esse último intervalo de liberdade ele aproveitara diligentemente, trabalhando entre as igrejas. Procurou estabelecer uma união mais firme entre as igrejas gregas e orientais e fortificar o espírito dos crentes contra as falsas doutrinas que estavam a entrar sorrateiramente para corromper a fé. AA 273 5 As provações, as ansiedades que Paulo havia suportado despojaram-no de suas forças físicas. Assaltavam-no as enfermidades da idade avançada. Pressentia que estava a fazer sua última obra e, abreviando-se o tempo de seu trabalho, seus esforços se tornaram mais intensos. Parecia não haver limite para o seu zelo. Resoluto no propósito, pronto nas ações, forte na fé, viajava de uma igreja a outra, em muitas terras, e procurava por todos os meios ao seu alcance fortalecer as mãos dos crentes, para que pudessem efetuar um trabalho fiel na conquista de almas para Jesus, a fim de que, nos tempos difíceis em que então se achavam mesmo a entrar, permanecessem firmes no evangelho, dando fiel testemunho de Cristo. ------------------------Capítulo 47 -- A última prisão AA 274 1 O trabalho de Paulo entre as igrejas, depois de sua absolvição em Roma, não poderia escapar à observação de seus inimigos. Desde o princípio da perseguição sob Nero, os cristãos se tornaram em todos os lugares uma seita proscrita. Depois de algum tempo, os judeus incrédulos conceberam a idéia de lançar sobre Paulo o crime de haver instigado o incêndio de Roma. Nenhum deles nem por um momento achava que ele fosse culpado; mas sabiam que tal acusação, ainda que feita com a mais fraca mostra de plausibilidade, selaria a sua condenação. Pelos esforços deles, Paulo foi novamente preso e levado precipitadamente para sua reclusão final. AA 274 2 Em sua segunda viagem para Roma, Paulo foi acompanhado por vários de seus anteriores companheiros; outros desejavam ardentemente partilhar de sua sorte, mas ele recusou permitir-lhes pôr assim em perigo a vida. As perspectivas diante dele eram muito menos favoráveis que na ocasião de seu primeiro encarceramento. A perseguição sob Nero tinha grandemente diminuído o número de cristãos em Roma. Milhares tinham sido martirizados por sua fé, muitos tinham deixado a cidade, e os que permaneciam estavam sobremaneira deprimidos e intimidados. AA 274 3 Chegando a Roma, Paulo foi posto em sombrio calabouço, até que terminasse a carreira. Acusado de instigar um dos mais bárbaros e terríveis crimes contra a cidade e a nação, tornou-se objeto de ódio universal. AA 274 4 Os poucos amigos que haviam compartilhado dos trabalhos do apóstolo, passaram então a abandoná-lo, alguns por deserção, outros em missão a várias igrejas. Fígelo e Hermógenes foram os primeiros a sair. Então Demas, desanimado pelas densas nuvens de dificuldades e perigos, abandonou o perseguido apóstolo. Crescente foi enviado por Paulo às igrejas da Galácia, Tito a Dalmácia, Tíquico a Éfeso. Escrevendo a Timóteo sobre essa experiência, Paulo disse: "Só Lucas está comigo". 2 Timóteo 4:11. Jamais teve o apóstolo tanta necessidade do cuidado de seus irmãos como agora, debilitado como estava pela idade; lutas e enfermidades, e confinado numa prisão romana, úmida e escura. Os serviços de Lucas, discípulo amado e fiel amigo, foram um grande conforto para Paulo, permitindo-lhe comunicar-se com seus irmãos e o mundo exterior. AA 274 5 Nesse tempo de provação, o coração de Paulo encontrou alegria nas freqüentes visitas de Onesíforo. Esse efésio de coração amorável fez tudo o que estava em seu poder para aliviar o fardo que representava ao apóstolo a prisão. Seu amado mestre estava em cadeias por amor à verdade, ao passo que ele estava livre; e não se poupava nenhum esforço para tornar mais amena a vida de Paulo. AA 275 1 Na última carta escrita pelo apóstolo, assim se expressa com respeito a esse fiel discípulo: "O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes me recreou, e não se envergonhou das minhas cadeias. Antes, vindo ele a Roma, com muito cuidado me procurou e me achou. O Senhor lhe conceda que naquele dia ache misericórdia diante do Senhor". 2 Timóteo 1:16-18. AA 275 2 O desejo de amor e simpatia é implantado no coração pelo próprio Deus. Cristo, na hora de Sua agonia no Getsêmani, ansiou pela simpatia de Seus discípulos. E Paulo, embora aparentemente indiferente a durezas e sofrimento, almejou simpatia e companheirismo. A visita de Onesíforo, testificando de sua fidelidade num tempo de solidão e abandono, levou alegria àquele que tinha gasto sua vida no trabalho por outros. ------------------------Capítulo 48 -- Paulo perante Nero AA 276 1 Quando Paulo foi intimado a comparecer diante do imperador Nero para ser julgado, sentia a perspectiva de sua morte próxima e certa. A séria natureza do crime de que era acusado e a animosidade que prevalecia contra os cristãos, ofereciam pouco terreno para a esperança de um desfecho favorável. AA 276 2 Havia entre os gregos e romanos o costume de permitir a um acusado o privilégio de contratar um advogado para pleitear em seu benefício perante as cortes de justiça. Por força de argumentos, por apaixonada eloqüência, ou por apelos, rogos e lágrimas, tais advogados logravam muitas vezes assegurar a decisão em favor do prisioneiro, ou, falhando isso, conseguiam abrandar a severidade da sentença. Mas quando Paulo foi chamado perante Nero, ninguém se aventurou a funcionar como seu conselheiro ou advogado; nenhum amigo lhe esteve ao lado, nem mesmo para preservar um relatório das acusações apresentadas contra ele, ou dos argumentos que usou em sua defesa. Não houve entre os cristãos de Roma, quem viesse à frente para estar a seu lado nessa hora de prova. AA 276 3 O único relato certo dessa ocasião é dado pelo próprio Paulo, em sua segunda carta a Timóteo. "Ninguém me assistiu na minha primeira defesa", escreveu ele, "antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão". 2 Timóteo 4:16, 17. AA 276 4 Paulo perante Nero -- como se salienta o contraste! O soberbo rei, diante de quem o homem de Deus devia responder por sua fé, tinha alcançado o mais alto poder terreno, autoridade e riqueza, bem como as mais baixas profundezas da iniqüidade e do crime. Em poder e grandeza ele não tinha rival. Ninguém havia que pusesse em dúvida sua autoridade nem que lhe resistisse à vontade. Reis depunham as coroas a seus pés. Exércitos poderosos marchavam ao seu mando, e as insígnias de seus navios significavam vitórias. Sua estátua foi erguida nas salas dos tribunais, e os decretos dos senadores e as decisões dos juízes eram apenas o eco de sua vontade. Milhões se curvavam em obediência a suas ordens. O nome de Nero fazia o mundo tremer. Cair em seu desagrado era perder a propriedade, a liberdade, a vida; e a sua carregada fisionomia era para temer mais que a pestilência. AA 277 1 Sem dinheiro, sem amigos, sem conselho, o idoso prisioneiro estava perante Nero -- apresentando a fisionomia do imperador o relato vergonhoso das paixões que no interior combatiam, e exprimindo o semblante do acusado um coração em paz com Deus. A vida de Paulo tinha sido de pobreza, abnegação, sofrimento. Não obstante a persistente difamação, opróbrios, maus-tratos com que seus inimigos tinham procurado intimidá-lo, destemidamente mantivera no alto o estandarte da cruz. Como seu Mestre, tinha sido um errante sem lar, e como Ele vivera para abençoar a humanidade. Como poderia Nero, tirano caprichoso, licencioso e apaixonado, compreender ou apreciar o caráter e os intuitos desse filho de Deus? AA 277 2 O vasto recinto foi invadido por uma multidão ávida e inquieta, que se comprimia e acotovelava para ver e ouvir tudo o que ocorresse. Os grandes e pequenos ali estavam, os ricos e os pobres, os doutos e os ignorantes, os orgulhosos e os humildes, todos igualmente destituídos do verdadeiro conhecimento do caminho da vida e da salvação. AA 277 3 Os judeus apresentaram contra Paulo as velhas acusações de sedição e heresias, e tanto judeus como romanos o denunciaram como tendo instigado o incêndio da cidade. Enquanto insistiam nessas acusações contra ele, Paulo conservava uma inquebrantável serenidade. O povo e os juízes olhavam para ele com surpresa. Tinham presenciado muitos julgamentos, e olhado para muitos criminosos; mas nunca tinham visto um homem apresentar um aspecto de tão santa calma como apresentava o prisioneiro perante eles. Os olhos perspicazes dos juízes, acostumados a ler o rosto dos prisioneiros, pesquisavam em vão a fisionomia de Paulo a fim de descobrirem alguma evidência de crime. Quando lhe foi permitido falar em sua própria defesa, todos escutaram com ávido interesse. AA 277 4 Mais uma vez teve Paulo a oportunidade de erguer perante uma multidão maravilhada a bandeira da cruz. Contemplando a multidão diante de si -- judeus, gregos, romanos, juntamente com estrangeiros de muitas terras, -- o espírito se lhe agitou com um intenso desejo da salvação deles. Perdeu de vista a ocasião em que se encontrava, os perigos que o cercavam, o terrível destino que parecia tão próximo. Via somente a Jesus, o Intercessor, pleiteando perante Deus em prol de homens pecadores. Com eloqüência e poder mais do que humanos, Paulo apresentou as verdades do evangelho. Apontou a seus ouvintes o sacrifício feito pela raça decaída. Declarou que um preço infinito foi pago pela redenção do homem. Foram-lhe providos os meios para participar do trono de Deus. Por meio de mensageiros angélicos, a Terra está ligada ao Céu, e todas as ações dos homens, sejam boas ou más, estão patentes aos olhos da Justiça Infinita. AA 277 5 Assim pleiteou o advogado da verdade. Fiel entre infiéis, leal entre desleais, achava-se ele como o representante de Deus, e sua voz era como a voz do Céu. Não havia temor, tristeza, desânimo nas suas palavras ou aspecto. Forte na convicção da inocência, revestido da armadura da verdade, regozijava-se em ser filho de Deus. Suas palavras eram uma aclamação de vitória por sobre o troar da batalha. Ele declarava ser a causa a que dedicou a vida, a única que nunca poderá falhar. Embora ele perecesse, o evangelho não pereceria. Deus vive, e Sua verdade triunfará. AA 278 1 Muitos que naquele dia olharam para ele, "viram o seu rosto como o rosto de um anjo". Atos 6:15. AA 278 2 Nunca antes havia aquela multidão ouvido palavras como essas. Elas tocaram uma corda que vibrou até no coração dos mais endurecidos. A verdade, clara e convincente, derribou o erro. A luz brilhou na mente de muitos que mais tarde seguiram alegremente seus raios. As verdades expostas nesse dia estavam destinadas a sacudir as nações, e a perdurar através de todos os tempos, influenciando o coração dos homens quando os lábios que as haviam proferido estivessem silenciosos na sepultura de um mártir. AA 278 3 Nunca antes ouvira Nero a verdade como a ouviu nessa ocasião. Nunca antes os enormes crimes de sua vida tinham-lhe sido dessa maneira revelados. A luz do Céu penetrou nos recessos de sua alma poluída pelo pecado, e ele tremeu com terror ao pensar em um tribunal perante o qual ele, o governador do mundo, seria finalmente citado, recebendo suas obras a justa sentença. Temeu o Deus do apóstolo, e não ousou passar sentença contra Paulo, contra quem nenhuma acusação pudera ser sustentada. Um sentimento de temor restringiu por algum tempo seu espírito sanguinário. AA 278 4 Por um instante, o Céu se abrira para o criminoso e endurecido Nero, e sua paz e pureza lhe pareceram desejáveis. Naquele momento, o convite de misericórdia se estendera até ele. Mas, por um momento apenas foi-lhe bem-vindo o pensamento de perdão. A seguir, foi expedida a ordem para que Paulo fosse reconduzido ao calabouço; e quando a porta se fechou por trás do mensageiro de Deus, a porta do arrependimento se fechava para sempre para o imperador de Roma. Nenhum raio de luz do Céu penetraria de novo as trevas que o envolviam. Logo deveria ele sofrer os juízos retribuidores de Deus. AA 278 5 Não muito tempo depois disso, Nero deu início à sua ignominiosa expedição à Grécia, onde desonrou a si e ao seu reino em desprezíveis e vis frivolidades. Retornando a Roma com grande pompa, cercou-se de seus cortesãos e se entregou a cenas de revoltante devassidão. Em meio a essa orgia, ouviu-se nas ruas uma voz de tumulto. Um mensageiro despachado para se informar da causa, voltou com novas de empalidecer, dizendo que Galba, à frente de um exército, estava marchando rapidamente sobre Roma, e que a insurreição havia já irrompido na cidade, estando as ruas cheias de uma multidão enraivecida que, ameaçando de morte o imperador e todos os que o cercavam, se estava rapidamente aproximando do palácio. AA 279 1 Nesse tempo de perigo, Nero não teve, como o fiel Paulo, um Deus poderoso e compassivo em quem confiar. Temendo o sofrimento e possíveis torturas que poderia ser levado a enfrentar diante da fúria da turba, o miserável tirano pensou em pôr fim à vida pelas próprias mãos, mas no momento crítico faltou-lhe a coragem. Completamente pusilânime, fugiu ignominiosamente da cidade, buscando refúgio numa residência de província, a poucos quilômetros de distância; porém, de nada valeu. Seu esconderijo foi logo descoberto, e enquanto os perseguidores se aproximavam a cavalo, ele chamou um escravo para ajudá-lo, e infligiu a si mesmo um golpe mortal. Assim pereceu o tirano Nero, na curta idade de trinta e dois anos. ------------------------Capítulo 49 -- Última carta de Paulo AA 280 0 Este capítulo é baseado na Segunda Epístola a Timóteo. AA 280 1 Do tribunal de César, Paulo voltou a sua cela, compreendendo que havia ganho para si apenas uma breve trégua. Sabia que seus inimigos não descansariam até que conseguissem sua morte. Mas sabia também que, durante algum tempo, a verdade triunfara. Ter proclamado um Salvador crucificado e ressuscitado perante a vasta multidão que o ouvira era em si mesmo uma vitória. Iniciara-se naquele dia uma obra que cresceria e se fortaleceria, e que Nero e todos os outros inimigos de Cristo em vão procurariam impedir ou destruir. AA 280 2 Sentado dia após dia em sua sombria cela, sabendo que por uma palavra ou um simples aceno de Nero sua vida seria sacrificada, Paulo pensou em Timóteo, e determinou chamá-lo. Timóteo havia sido incumbido de cuidar da igreja de Éfeso, e ficara para trás quando Paulo efetuou sua última viagem a Roma. Paulo e Timóteo estavam unidos por uma afeição profunda e invulgar. Desde sua conversão, Timóteo havia tomado parte nos trabalhos e sofrimentos de Paulo e a amizade entre os dois crescera cada vez mais robusta, profunda e sagrada, a ponto de se tornar Timóteo para o idoso e esgotado apóstolo, tudo que um filho possa ser para um amado e honrado pai. Não é de estranhar que em sua solidão Paulo almejasse vê-lo. AA 280 3 Sob as mais favoráveis circunstâncias, vários meses passariam antes que Timóteo, vindo da Ásia Menor, pudesse alcançar Roma. Paulo sabia que sua vida era incerta, e temia que Timóteo chegasse tarde demais para vê-lo. Tinha importantes conselhos e instruções para o jovem, a quem havia sido confiada tão grande responsabilidade; e enquanto instava para que viesse sem demora, ditou seu derradeiro testemunho, pois talvez sua vida não fosse poupada para proferi-lo de viva voz. O coração cheio de terna solicitude por seu filho no evangelho, e pela igreja a seu cargo, procurou Paulo impressionar Timóteo com a importância da fidelidade à sua sagrada missão. AA 280 4 Paulo começou a carta com a saudação: "A Timóteo, meu amado filho: graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço memória de ti nas minhas orações noite e dia." AA 280 5 O apóstolo, então, instou com Timóteo quanto a necessidade de firmeza na fé. "Por cujo motivo te lembro", escreveu, "que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação. Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro Seu; antes participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus." Paulo rogava a Timóteo que se lembrasse de que fora chamado "com uma santa vocação" para proclamar o poder dAquele que tinha trazido "à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho; para o que", declarou, "fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios. Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia". 2 Timóteo 1:2-12. AA 281 1 Através de sua longa vida de serviço, Paulo nunca vacilou em sua fidelidade ao Salvador. Onde quer que estivesse -- fosse diante dos sisudos fariseus, ou das autoridades romanas; fosse diante da furiosa plebe de Listra ou dos condenados pecadores do calabouço da Macedônia; fosse arrazoando com os marinheiros tomados de pânico, do navio prestes a naufragar, ou estando sozinho diante de Nero, para pleitear por sua vida -- ele nunca se envergonhou da causa que defendia. O grande propósito de sua vida cristã fora servir Àquele cujo nome outrora o enchera de desprezo, e desse propósito nenhuma oposição ou perseguição fora capaz de afastá-lo. Sua fé, fortalecida pelo esforço e purificada pelo sacrifício, o sustinha e fortalecia. AA 281 2 "Tu, pois, meu filho", continua Paulo, "fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros. Sofre pois, comigo, as aflições como bom soldado de Jesus Cristo". 2 Timóteo 2:1. AA 281 3 O verdadeiro ministro de Deus não se esquiva a trabalhos ou responsabilidades. Da Fonte que nunca decepciona os que sinceramente buscam o poder divino, tira ele força que o capacita a enfrentar e vencer a tentação, e a executar as tarefas que Deus sobre ele coloca. A natureza da graça que recebe, amplia sua capacidade para conhecer a Deus e a Seu Filho. Seu coração se expande num desejo anelante de fazer para o Mestre trabalho aceitável. E enquanto avança na experiência cristã, torna-se forte "na graça que há em Cristo Jesus". 2 Timóteo 2:1. Essa graça dá-lhe o poder de ser fiel testemunha das coisas que ouviu. Ele não despreza nem negligencia o conhecimento que recebeu de Deus, mas transmite esse conhecimento a homens fiéis, os quais por sua vez ensinam a outros. AA 281 4 Na sua última carta a Timóteo, Paulo expôs perante o obreiro mais jovem um alto ideal, apontando os deveres que sobre ele pesavam como ministro de Cristo. "Procura", escreve o apóstolo, "apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" "Foge também dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor. E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade". 2 Timóteo 2:15, 22-26. AA 282 1 O apóstolo advertia Timóteo contra os falsos mestres que se introduziriam na igreja. "Sabe, porém, isto", escreveu, "que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos... tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te". 2 Timóteo 3:1-5. AA 282 2 "Mas", continuou, "os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as Sagradas Letras, que podem fazer-te sábio para a salvação. [...] Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra". 2 Timóteo 3:13-17. Deus proveu meios abundantes para o êxito na luta contra o mal que há no mundo. A Bíblia é a armadura com que nos podemos equipar para a luta. Nossos lombos devem estar cingidos com a verdade. Nossa couraça deve ser de justiça. Na mão devemos ter o escudo da fé, e na cabeça o capacete da salvação; e com a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, devemos abrir caminho por entre as obstruções e embaraços do pecado. AA 282 3 Paulo sabia estar perante a igreja um tempo de grande perigo. Sabia que uma obra fiel e zelosa devia ser feita pelos que tinham a responsabilidade das igrejas; assim escreveu a Timóteo: "Conjuro-te pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino, que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:1, 2. AA 282 4 Essa solene incumbência a alguém tão zeloso e fiel como era Timóteo é um forte testemunho da importância e responsabilidade da obra do ministro do evangelho. Chamando Timóteo ao tribunal de Deus, Paulo lhe ordenou pregar a Palavra, não fórmulas e pensamentos humanos; a testemunhar prontamente de Deus onde quer que se lhe apresentasse oportunidade -- diante de grandes congregações ou de limitados círculos, junto aos caminhos e nos lares, a amigos e a inimigos, fosse em segurança ou exposto a dificuldades e perigos, injúria e danos. AA 282 5 Temendo que a disposição branda e condescendente de Timóteo pudesse levá-lo a esquivar-se de uma parte essencial de sua obra, Paulo exortou a ser fiel em reprovar o pecado, e a repreender mesmo com firmeza os que fossem culpados de males graves. Contudo, devia fazê-lo "com toda a longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:2. Devia ele revelar a paciência e o amor de Cristo, tornando claras suas reprovações e reforçando-as pelas verdades da Palavra. AA 283 1 Odiar e reprovar o pecado, e ao mesmo tempo mostrar piedade e compaixão pelo pecador é uma difícil tarefa. Quanto mais ardentes forem nossos próprios esforços para manter a santidade do coração e da vida, tanto mais aguda será nossa percepção do pecado, e mais decidida nossa desaprovação de qualquer desvio do direito. Precisamos guardar-nos contra a indevida severidade no trato com os que erram; mas precisamos também ser cuidadosos para não perder de vista a excessiva malignidade do pecado. Há necessidade de mostrar-se paciência e amor semelhantes aos de Cristo pelo que erra, mas há também o perigo de se mostrar tão grande tolerância pelo seu erro que ele se considerará não merecedor de reprovação e a rejeitará como inoportuna e injusta. AA 283 2 Os ministros do evangelho às vezes causam grande dano permitindo que sua tolerância pelo que erra degenere em tolerância pelos pecados, e mesmo participação deles. Assim são levados a desculpar e passar por alto o que Deus condena e, depois de certo tempo, tornam-se tão cegos que chegam a louvar aqueles a quem Deus manda reprovar. Aquele que tem suas percepções espirituais embotadas pela pecaminosa tolerância por aqueles a quem Deus condena, em breve estarão cometendo maior pecado pela severidade e rudeza no trato para com aqueles aos quais Deus aprova. AA 283 3 Por se orgulharem de humana sabedoria, por menosprezarem a influência do Espírito Santo e por aversão às verdades da Palavra de Deus, muitos que professam ser cristãos e que se imaginam competentes para ensinar a outros, serão levados a voltar as costas aos requisitos de Deus. Paulo declarou a Timóteo: "Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas". 2 Timóteo 4:3, 4. AA 283 4 O apóstolo não faz aqui referência a aberta irreligiosidade, mas a professos cristãos que fazem da inclinação guia, tornando-se assim escravos do eu. Tais pessoas estão dispostas a atentar apenas às doutrinas que lhes não repreendam os pecados ou condenem a vida de amor ao prazer. Sentem-se ofendidos pelas claras palavras dos fiéis servos de Cristo, e escolhem mestres que os louvem e adulem. E entre os professos ministros há os que pregam as opiniões dos homens em lugar da Palavra de Deus. Infiéis ao dever, desviam os que a eles vão em busca de orientação espiritual. AA 283 5 Nos preceitos de Sua santa lei, deu Deus uma regra perfeita de vida; e Ele declarou que, até o fim do tempo, essa lei, imutável num jota ou num til, deve manter seus reclamos sobre os seres humanos. Cristo veio para engrandecer a lei e a tornar gloriosa. Mostrou que ela está baseada no amplo fundamento do amor a Deus e amor aos homens, e que a obediência a seus preceitos compreende todo o dever do homem. Em Sua própria vida, deu Ele exemplo de obediência à lei de Deus. No sermão da montanha Ele mostrou como seus requisitos vão além dos atos exteriores, e penetram os pensamentos e as intenções do coração. AA 284 1 A lei, obedecida, leva os homens a renunciar "à impiedade e às concupiscências mundanas", e a viver "neste presente século sóbria, e justa, e piamente". Tito 2:12. Mas o inimigo de toda a justiça tornou cativo o mundo e tem levado homens e mulheres à desobediência da lei. Conforme previu Paulo, multidões têm-se desviado das claras e esquadrinhadoras verdades da Palavra de Deus e escolhido ensinadores que lhes apresentem as fábulas que desejam. Muitos, tanto entre ministros como entre o povo, estão tripudiando sobre os mandamentos de Deus. Assim é insultado o Criador do mundo, e Satanás ri triunfante aos sucessos de seus enganos. AA 284 2 Com o crescente desprezo pela lei de Deus, há uma progressiva aversão pela religião, um avultar-se do orgulho, do amor aos prazeres, da desobediência aos pais e da tolerância consigo mesmo; e homens pensantes em todas as partes estão interrogando ansiosos: Que se pode fazer para corrigir esses alarmantes males? A resposta se encontra na exortação de Paulo a Timóteo: "Que pregues a Palavra". 2 Timóteo 4:2. Na Bíblia encontram-se os únicos princípios seguros de ação. Ela é um transcrito da vontade de Deus, uma expressão da divina sabedoria. Abre à compreensão do homem os grandes problemas da vida; e a todos os que abraçam seus preceitos ela se provará um guia infalível, livrando-os de arruinarem a vida em desorientados esforços. AA 284 3 Deus fez conhecida a Sua vontade, e é insensatez da parte do homem questionar sobre o que saiu de Seus lábios. Depois que falou a Infinita Sabedoria, não pode haver questões ambíguas para o homem solucionar, nem pode haver possibilidades vagas a serem por ele ajustadas. Tudo o que dele se requer, é sincera conformidade com a expressa vontade de Deus. A obediência é o mais alto ditame da razão bem como da consciência. AA 284 4 Paulo continua sua exortação: "Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra dum evangelista, cumpre o teu ministério". 2 Timóteo 4:5. Paulo estava para terminar sua carreira, e desejava que Timóteo tomasse o seu lugar, guardando a igreja das fábulas e heresias pelas quais o inimigo, de várias maneiras, queria afastá-la da simplicidade do evangelho. Ele o admoestava a fugir de todo interesse e embaraço temporal que pudesse impedi-lo de dar-se inteiramente ao trabalho de Deus; a suportar de bom grado a oposição, a perseguição e a injúria a que estaria exposto por sua fidelidade, e a dar prova cabal de seu ministério pelo emprego de todos os meios a seu alcance para fazer o bem a todos por quem Cristo morreu. AA 284 5 A vida de Paulo foi uma exemplificação das verdades que ensinava; e nisso repousava seu poder. Seu coração estava cheio de um profundo e permanente senso de sua responsabilidade; e ele trabalhava em íntima comunhão com Aquele que é a fonte de justiça, misericórdia e verdade. Apegava-se à cruz de Cristo como sua garantia única de sucesso. O amor do Salvador era o permanente motivo que lhe dava a vitória em seus conflitos com o eu e em suas lutas contra o mal, ao avançar no serviço de Cristo contra o desamor do mundo e a oposição de seus inimigos. AA 285 1 O que a igreja necessita nestes dias de perigo é de um exército de obreiros que, como Paulo, se tenham educado para utilidade, que tenham uma profunda experiência nas coisas de Deus, e que sejam cheios de fervor e zelo. Necessita-se de homens santificados e abnegados; homens que não se esquivem a provas e responsabilidades; homens que sejam corajosos e verdadeiros; homens em cujo coração Cristo está formado "a esperança da glória" (Colossences 1:27), e que com lábios tocados com santo fogo "preguem a Palavra" Por falta de tais obreiros a causa de Deus definha, e erros fatais, como mortal veneno, pervertem a moral e destroem as esperanças de grande parte da raça humana. AA 285 2 Quando os fiéis e exaustos porta-bandeiras imolam a vida pelo amor à verdade, quem irá à frente para lhes ocupar o lugar? Aceitarão nossos jovens o sagrado encargo das mãos de seus pais? Estão eles se preparando para preencher as lacunas que se apresentam pela morte dos fiéis? Será a exortação do apóstolo aceita, ouvido o chamado ao dever, em meio aos incitamentos ao egoísmo e ambições que seduzem a juventude? AA 285 3 Paulo concluiu sua carta com mensagens particulares a várias pessoas, e de novo repetiu o urgente pedido para que Timóteo viesse ao seu encontro sem demora, se possível antes do inverno. Falou de sua solidão, motivada pela deserção de alguns de seus amigos e a ausência necessária de outros; e para que Timóteo não hesitasse, pelo receio de que a igreja de Éfeso pudesse necessitar de seus trabalhos, Paulo afirmou que já havia despachado Tíquico a fim de preencher-lhe a vaga. AA 285 4 Depois de falar das cenas de seu julgamento perante Nero, da deserção de seus irmãos e da mantenedora graça de um Deus que guarda o concerto, Paulo terminou a carta recomendando seu amado Timóteo à guarda do Supremo Pastor, o qual, mesmo que os subpastores pudessem ser abatidos, cuidaria ainda de Seu rebanho. ------------------------Capítulo 50 -- Condenado à morte AA 286 1 Durante o julgamento final de Paulo perante Nero, o imperador ficou tão profundamente impressionado com a força das palavras do apóstolo, que protelou a decisão do caso, não absolvendo nem condenando o acusado servo de Deus. Mas logo voltou a maldade do imperador contra Paulo. Exasperado pela sua incapacidade de sustar a propagação da religião cristã, mesmo na casa imperial, decidiu que, apenas se encontrasse um pretexto plausível, o apóstolo seria morto. Não muito depois, Nero pronunciou a decisão que condenava Paulo à morte de mártir. Se bem que um cidadão romano não pudesse ser submetido à tortura, foi ele condenado a ser decapitado. AA 286 2 Paulo foi levado reservadamente ao lugar da execução. A poucos espectadores se permitiu estar presentes; pois seus perseguidores, alarmados com a extensão da sua influência, temiam que fossem ganhos conversos para o cristianismo por meio das cenas de sua morte. Mas, até os soldados empedernidos que o acompanhavam, ouviram suas palavras, e com espanto o viram animado e mesmo alegre à vista da morte. Para alguns que testemunharam seu martírio, o espírito de perdão que manifestou para com seus assassinos, e sua inabalável confiança em Cristo até o último momento, mostraram ser um cheiro de vida para vida. Muitos aceitaram o Salvador que Paulo pregava, e sem demora selaram destemidamente com o sangue a sua fé. AA 286 3 Até o último instante a vida de Paulo testificou da verdade de suas palavras aos coríntios: "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos". 2 Coríntios 4:6-10. Sua suficiência não estava em si mesmo, mas na presença e na operação do divino Espírito que lhe enchia o coração, e levava cativo todo o entendimento à vontade de Cristo. O profeta declarou: "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti". Isaías 26:3. A paz celestial que o semblante de Paulo irradiava ganhou muitos conversos para o evangelho. AA 287 1 Paulo levava consigo a atmosfera do Céu. Todos os que com ele se associavam sentiam a influência de sua união com Cristo. O fato de que sua própria vida exemplificava a verdade que pregava, dava a sua pregação um convincente poder. Nisto reside o poder da verdade. A influência espontânea e inconsciente de uma vida santa é o mais convincente sermão que se pode fazer em favor do cristianismo. O argumento, mesmo quando seja irrespondível, pode só provocar oposição; mas o exemplo piedoso tem um poder a que é impossível resistir completamente. AA 287 2 O apóstolo perdeu de vista os próprios sofrimentos, que se aproximavam, em sua solicitude por aqueles que ele estava prestes a deixar a lutar com o preconceito, ódio e perseguição. Os poucos cristãos que o acompanharam para o local da execução, ele se esforçou por fortalecer e animar, repetindo as promessas feitas àqueles que são perseguidos por causa da justiça. Assegurou-lhes que nada falharia de tudo aquilo que o Senhor falara com respeito a Seus filhos provados e fiéis. Por algum tempo poderiam estar sob o peso de multiformes tentações; poderiam achar-se destituídos de conforto terrestre; poderiam, porém, animar o coração com a certeza da fidelidade de Deus, dizendo: "Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia". 2 Timóteo 1:12. Logo terminaria a noite de provações e sofrimentos, e raiaria a alegre manhã da paz e do dia perfeito. AA 287 3 O apóstolo estava a olhar para o grande além, não com incerteza ou terror, mas com esperança e anelante expectativa. Ao encontrar-se no lugar do martírio, não via a espada do carrasco ou a terra que tão logo haveria de receber o seu sangue; olhava, através do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno. AA 287 4 Esse homem de fé contemplava a escada da visão de Jacó, que representa Cristo, e que ligou a Terra com o Céu, o homem finito com o infinito Deus. Sua fé se fortaleceu na recordação de como os patriarcas e profetas confiaram nAquele que era também seu arrimo e consolação, e por quem estava dando a vida. Desses santos homens que, de século em século, deram testemunho de sua fé, ouviu ele a segurança de que Deus é verdadeiro. De seus colaboradores apóstolos, que, para pregar o evangelho de Cristo, saíram a enfrentar o fanatismo religioso e as superstições pagãs, a perseguição e o desprezo, que não tiveram a vida por preciosa desde que pudessem levar a luz da verdade em meio aos escuros labirintos da incredulidade -- desses ele ouviu o testemunho de Jesus como o Filho de Deus, o Salvador do mundo. Do cavalete, das fogueiras, das masmorras, das covas e cavernas da Terra ecoou em seus ouvidos o grito de triunfo dos mártires. Ele ouviu o testemunho dos que ficaram firmes e que, embora despojados, afligidos, atormentados, deram testemunho da fé, de forma destemida e solene, declarando: "Eu sei em quem tenho crido". 2 Timóteo 1:12. Esses, que entregam a vida pela fé, declaram ao mundo que Aquele em quem têm crido é capaz de salvá-los perfeitamente. AA 288 1 Resgatado pelo sacrifício de Cristo, lavado do pecado em Seu sangue, e revestido de Sua justiça, Paulo tinha em si mesmo o testemunho de que sua vida é preciosa à vista de seu Redentor. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, e ele estava persuadido de que Aquele que conquistou a morte é capaz de guardar o seu depósito. Seu espírito se apegou à promessa do Salvador: "Eu o ressuscitarei no último dia". João 6:40. Seus pensamentos e esperanças estavam centralizados na segunda vinda de seu Senhor. E quando a espada do carrasco desceu e a sombra da morte caiu sobre o mártir, seu último pensamento avançou, do mesmo modo que o primeiro quando ressuscitar, para encontrar o Doador da vida, que o há de convidar para o regozijo dos santos. AA 288 2 Quase vinte séculos se passaram desde que o idoso Paulo derramou seu sangue em testemunho da Palavra de Deus e para testificar de Jesus Cristo. Nenhuma mão fiel registrou para as gerações vindouras as últimas cenas da vida desse santo homem; a inspiração, porém, nos preservou seu testemunho ao morrer ele. Como o toque de uma trombeta, sua voz tem repercutido através de todos os séculos, enrijecendo com sua coragem milhares de testemunhas de Cristo, e despertando em milhares de corações, feridos pela tristeza, o eco de sua alegria triunfante: "Eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo de minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda". 2 Timóteo 4:6-8. ------------------------Capítulo 51 -- Um fiel subpastor AA 289 0 Este capítulo é baseado na Primeira Epístola de Pedro. AA 289 1 Pouca menção se faz no livro de Atos quanto ao último trabalho do apóstolo Pedro. Durante os ativos anos de ministério que se seguiram ao derramamento do Espírito no dia do Pentecostes, ele se encontrava entre os que se empenhavam incansavelmente para entrar em contato com os judeus que vinham a Jerusalém para adorar por ocasião das festividades anuais. AA 289 2 Aumentando o número de crentes em Jerusalém e outros lugares visitados pelos mensageiros da cruz, os talentos do apóstolo Pedro se provaram de inestimável valor para a primitiva igreja cristã. A influência de seu testemunho referente a Jesus de Nazaré se estendia amplamente. Sobre ele havia sido posta dupla responsabilidade. Dava perante os incrédulos positivo testemunho com respeito ao Messias, trabalhando fervorosamente para a conversão deles, fazendo ao mesmo tempo trabalho especial pelos crentes, fortalecendo-os na fé em Cristo. AA 289 3 Foi depois de haver sido levado à renúncia do eu e à inteira confiança no poder divino, que Pedro recebeu o chamado para agir como um subpastor. Cristo havia dito a Pedro, antes de O haver negado: "Quando te converteres, confirma teus irmãos". Lucas 22:32. Essas palavras denotavam a ampla e eficiente obra que o apóstolo devia fazer no futuro pelos que viessem para a fé. Para essa obra, a própria experiência do pecado, do sofrimento e arrependimento de Pedro o havia preparado. Não antes que tivesse ele reconhecido sua fraqueza, poderia conhecer a necessidade que tem o crente de confiar em Cristo. Em meio à tormenta da tentação ele compreendeu que o homem só pode andar seguramente quando, em absoluta desconfiança própria, confia no Salvador. AA 289 4 Na última reunião de Cristo com Seus discípulos junto ao mar, Pedro, provado pela pergunta três vezes repetida: "Amas-Me?" (João 21:15-17) tinha sido reabilitado em seu lugar entre os doze. Sua obra tinha-lhe sido indicada -- alimentar o rebanho do Senhor. Agora, convertido e aceito, devia ele não somente buscar salvar os que estavam fora do redil, mas devia ser um pastor do rebanho. AA 289 5 Cristo fez menção a Pedro de uma única condição de serviço -- "Amas-Me?" João 21:17. Essa é a qualificação essencial. Mesmo que Pedro possuísse todas as outras, sem o amor de Cristo ele não seria um fiel pastor do rebanho de Deus. Conhecimento, benevolência, eloqüência, zelo -- tudo isso é essencial para um bom trabalho; mas sem o amor de Cristo no coração, a obra do ministro cristão é um fracasso. AA 290 1 O amor de Cristo não é um sentimento volúvel, mas um princípio vivo, o qual se manifesta como um poder permanente no coração. Se o caráter e a conduta do pastor são um exemplo da verdade que defende, o Senhor porá em sua obra o selo de Sua aprovação. O pastor e o rebanho serão um, unidos pela comum esperança em Cristo. AA 290 2 A maneira do Salvador tratar com Pedro tinha uma lição para ele e para seus irmãos. Conquanto tivesse Pedro negado a seu Senhor, o amor de Jesus por ele jamais vacilara. E ao assumir o apóstolo o encargo de ministrar a outros, devia tratar o transgressor com paciência, simpatia e compassivo amor. Lembrando sua própria fraqueza e queda, devia tratar as ovelhas e cordeiros entregues a seu cuidado com a mesma ternura que Cristo tivera com ele. AA 290 3 Os seres humanos, dados eles próprios ao mal, são inclinados a tratar duramente com os tentados e os que erram. Eles não podem ler o coração; não conhecem suas lutas e pesares. Necessitam aprender a respeito da repreensão que é amor, do golpe que fere para curar, da advertência que fala de esperança. AA 290 4 Durante seu ministério, Pedro vigiou fielmente o rebanho que lhe fora confiado, tornando-se assim digno do encargo e responsabilidades que lhe foram outorgados pelo Salvador. Exaltou sempre a Jesus de Nazaré como a Esperança de Israel, o Salvador da humanidade. Manteve sua vida sob a disciplina do Mestre por excelência. Buscou, por todos os meios ao seu alcance, educar os crentes para o serviço ativo. Seu piedoso exemplo e incansável atividade inspiravam muitos jovens promissores a se entregarem inteiramente à obra do ministério. Com o passar do tempo, a influência do apóstolo como educador e líder cresceu; e conquanto jamais perdesse de vista sua preocupação de trabalhar especialmente pelos judeus, levou contudo seu testemunho a muitas terras, e fortaleceu a fé de multidões no evangelho. AA 290 5 Nos últimos anos de seu ministério, Pedro foi inspirado a escrever aos crentes "dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia". 1 Pedro 1:11. Suas epístolas foram o meio de reavivar o ânimo e fortalecer a fé daqueles que estavam sofrendo provas e aflições, e de renovar as boas obras dos que, assediados por tentações de toda ordem, estavam em perigo de perder seu apego a Deus. Essas cartas levam a impressão de terem sido escritas por alguém em quem os sofrimentos de Cristo, bem como Sua consolação, tinham sido abundantes; alguém cujo ser todo tinha sido transformado pela graça, e cuja esperança de vida eterna era certa e firme. AA 290 6 No início de sua primeira carta, o encanecido servo de Deus rende a seu Senhor tributo de louvor e graças. "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo", exclama, "que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos Céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo". 1 Pedro 1:3-5. AA 291 1 Nesta esperança de uma herança segura na Terra renovada rejubilavam-se os primeiros cristãos, mesmo em tempos de severa prova e aflição. "Em que vós grandemente vos alegrais", escreveu Pedro, "ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações. Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora... vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das almas". 1 Pedro 1:6-9. AA 291 2 As palavras do apóstolo foram escritas com o objetivo de instruir os crentes de todas as épocas, e têm significado especial para os que vivem no tempo em que "já está próximo o fim de todas as coisas" Suas exortações e advertências, bem como suas palavras de fé e de ânimo, são de necessidade para todos os que desejam conservar sua fé "firmemente" "até ao fim". Hebreus 3:14. AA 291 3 O apóstolo procurou ensinar aos crentes quão importante é guardar a mente de vagar por temas proibidos, ou de gastar sua energia em assuntos triviais. Os que não querem cair presa dos enganos de Satanás, devem guardar bem as vias de acesso à mente; devem-se esquivar de ler, ver ou ouvir tudo quanto sugira pensamentos impuros. Não devem permitir que a mente se demore ao acaso em cada assunto que o inimigo possa sugerir. O coração deve ser fielmente guardado, pois de outra maneira os males externos despertarão os internos, e a pessoa vagará em trevas. "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento", escreveu Pedro, "sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; [...] não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo". 1 Pedro 1:13-16. AA 291 4 "Andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação; sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por Ele credes em Deus, que O ressuscitou dos mortos, e Lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus". 1 Pedro 1:17-21. AA 292 1 Se a prata e o ouro fossem suficientes para a compra da salvação do homem, quão fácil isto teria sido para Aquele que diz: "Minha é a prata, e Meu é o ouro". Ageu 2:8. Mas só pelo precioso sangue do Filho de Deus podia o transgressor ser redimido. O plano da salvação foi elaborado em sacrifício. O apóstolo Paulo escreveu: "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis". 2 Coríntios 8:9. Cristo Se deu por nós para nos redimir de toda a iniqüidade. E como a sobre excelente bênção da salvação, "o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". Romanos 6:23. AA 292 2 "Purificando as vossas almas na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida", continua Pedro, "amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro" A Palavra de Deus -- a verdade -- é o conduto pelo qual o Senhor manifesta Seu Espírito e poder. A obediência à Palavra produz o fruto da qualidade requerida -- "caridade fraternal, não fingida". 1 Pedro 1:22. Esse amor tem a sua origem no Céu, e conduz aos mais altos motivos e ações altruístas. AA 292 3 Quando a verdade se torna um princípio dominante na vida, a vida é gerada, "não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre". 1 Pedro 1:23. Esse novo nascimento é o resultado de receber Cristo como a Palavra de Deus. Quando, mediante o Espírito Santo, as verdades divinas são impressas no coração, surgem novas concepções, e as energias antes adormecidas despertam para cooperar com Deus. AA 292 4 Assim foi com Pedro e os demais discípulos. Cristo foi o revelador da verdade ao mundo. Por Ele a incorruptível semente -- a Palavra de Deus -- foi semeada no coração humano. Muitas, porém, das mais preciosas lições do grande Ensinador foram ditas aos que então não as entenderam. Quando, depois de Sua ascensão, o Espírito Santo levou Seus ensinos à lembrança dos discípulos, seus sentidos despertaram. O significado dessas verdades brilhou-lhes no espírito como nova revelação, e a verdade, inalterada e pura, encontrou lugar para si. Então, a maravilhosa experiência da vida do Salvador tornou-se deles. A Palavra testificou por intermédio deles, os homens escolhidos, os quais proclamaram a poderosa verdade: "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade" "E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça". João 1:14, 16. AA 292 5 O apóstolo exortou os crentes a estudar as Escrituras, por cuja compreensão adequada poderiam eles fazer obra segura para a eternidade. Pedro sabia que na experiência de cada pessoa finalmente vitoriosa haveria cenas de perplexidade e prova; mas sabia também que a compreensão das Escrituras capacitaria o tentado a relembrar promessas que lhe confortariam o coração e fortaleceriam a fé no Onipotente. AA 293 1 "Porque toda a carne é como erva", declarou o apóstolo, "e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre; e essa é a Palavra que entre vós foi evangelizada. Deixando pois toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo; se é que já provastes que o Senhor é benigno". 1 Pedro 1:24-2:3. AA 293 2 Muitos dos crentes a quem Pedro dirigiu suas cartas estavam vivendo no meio do paganismo, e muito dependia de permanecerem fiéis à alta vocação de sua profissão de fé. O apóstolo insistia em seus privilégios como seguidores de Cristo Jesus. "Vós sois a geração eleita", escreveu, "o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz; vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia". 1 Pedro 2:9, 10. AA 293 3 "Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação". 1 Pedro 2:11, 12. AA 293 4 O apóstolo esboça com clareza a atitude que deveriam os crentes sustentar em relação às autoridades civis: "Sujeitai-vos pois a toda a ordenação humana por amor do Senhor: quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por Ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei." AA 293 5 Os que eram servos, foram aconselhados a permanecer sujeitos "com todo temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus". "Porque", continua o apóstolo, "é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Por que, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? mas se, fazendo bem, sois afligidos, e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano. O qual, quando O injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se Àquele que julga justamente; levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas Suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas." AA 294 1 O apóstolo exorta as mulheres cristãs a manter vida pura e ser modestas no traje e no comportamento. "O enfeite delas", aconselhou, "não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro; na compostura de vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." AA 294 2 A lição se aplica aos crentes em todas as eras. "Pelos seus frutos os conhecereis". Mateus 7:20. O adorno interior de um espírito manso e quieto é inestimável. Na vida do verdadeiro cristão, o adorno externo está sempre em harmonia com a paz e a santidade internas. "Se alguém quiser vir após Mim", disse Jesus, "renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me". Mateus 16:24. O sacrifício e a negação do eu assinalarão a vida do cristão. E a evidência de que o gosto está mudado será vista no vestuário de todo aquele que anda na vereda aberta para os redimidos do Senhor. AA 294 3 É justo amar o belo e desejá-lo; mas Deus deseja que primeiro amemos e busquemos a beleza do alto, que é imperecível. Nenhum adorno externo se compara em valor ou amabilidade com "um espírito manso e quieto", o "linho fino, branco e puro" (Apocalipse 19:14), que todos os santos da Terra usarão. Essa veste os fará belos e amados aqui, e será depois sua senha para admissão ao palácio do Rei. Sua promessa é: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso". Apocalipse 3:4. AA 294 4 Olhando com visão profética para os perigosos tempos em que a igreja de Cristo estava para entrar, o apóstolo exortou os crentes a permanecerem firmes em face das provas e sofrimentos. "Amados", escreveu ele, "não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse." AA 294 5 As provas são parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de Deus da escória do que é terreno. É porque Deus está guiando Seus filhos que lhes sobrevêm experiências decisivas. Provas e obstáculos são Seus métodos escolhidos de disciplina, e as condições por Ele indicadas para o êxito. Aquele que lê os corações humanos conhece-lhes as fraquezas melhor do que eles mesmos as poderiam conhecer. Ele vê que alguns têm qualificações que, se apropriadamente dirigidas, poderiam ser usadas no avanço de Sua obra. Em Sua providência, Ele leva essas pessoas a diferentes posições e variadas circunstâncias, para que possam descobrir os defeitos que estão ocultos ao seu próprio conhecimento. Dá-lhes oportunidades de vencer esses defeitos, habilitando-se para o serviço. Não raro, permite que o fogo da aflição os abrase, a fim de serem purificados. AA 294 6 O cuidado de Deus por Sua herança é incessante. Ele não permite que sobrevenha a Seus filhos nenhuma aflição que não seja essencial ao seu bem presente e eterno. Deseja purificar Sua igreja da mesma maneira como Cristo purificou o templo durante Seu ministério terrestre. Tudo quanto Ele faz recair sobre Seu povo como provas, vem para que se alcance mais profunda piedade e maior força para levar avante os triunfos da Cruz. AA 295 1 Houve um tempo na experiência de Pedro em que ele não se dispunha a ver a cruz na obra de Cristo. Quando o Salvador deu a conhecer aos discípulos os sofrimentos e morte que O esperavam, Pedro exclamou: "Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso". Mateus 16:22. A compaixão própria, que se esquivava de seguir a Cristo no sofrimento, preparou as razões de Pedro. Foi para o discípulo uma amarga lição, que ele não aprendeu senão vagarosamente, a de que a senda de Cristo na Terra é feita de sofrimento e humilhação. Porém, na fornalha de fogo ardente devia ele aprender essa lição. Agora, quando seu corpo, antes ativo, estava curvado ao peso dos anos e trabalhos, pôde ele escrever: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis." AA 295 2 Dirigindo-se aos anciãos da igreja, no tocante a suas responsabilidades como subpastores do rebanho de Cristo, o apóstolo escreve: "Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória." AA 295 3 Os que ocupam a posição de subpastores devem exercer atento cuidado sobre o rebanho do Senhor. Isso não quer dizer vigilância ditatorial, mas com o objetivo de encorajar, fortalecer e a levantar. Ministrar significa mais que pregar sermões; significa trabalho zeloso e pessoal. A igreja na Terra é composta de homens e mulheres falíveis, que necessitam de esforços laboriosos e pacientes para que sejam disciplinados e educados para trabalhar de forma aceitável nesta vida, e serem na futura coroados de glória e imortalidade. Necessita-se de pastores -- pastores fiéis -- que não lisonjeiem o povo de Deus, nem o tratem com dureza, mas alimentem-no com o pão da vida -- homens que sintam diariamente na vida o poder convertedor do Espírito Santo, e que cultivem amor forte e altruísta por aqueles por quem trabalham. AA 295 4 Há para o subpastor fazer uma obra que requer tato, quando é ele chamado a enfrentar a apostasia, descontentamento, inveja e ciúmes na igreja, e ele terá que trabalhar no espírito de Cristo para pôr as coisas em ordem. Fielmente devem ser advertidos, repreendido o pecado, endireitados os erros, não apenas pela obra do ministro no púlpito, mas por trabalho pessoal. O coração contumaz pode objetar à verdade e o servo de Deus pode estar sujeito a ser incompreendido e criticado. Lembre-se ele, portanto, que "a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz". Tiago 3:17, 18. AA 296 1 A obra do ministro do evangelho é "demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus". Efésios 3:9. Se alguém, ao entrar nesta obra, escolher a parte que demanda o menor sacrifício, contentando-se com pregar, e deixar a obra de ministério pessoal para outro, seu trabalho não será aceito por Deus. Pessoas por quem Cristo morreu estão perecendo por falta de trabalho pessoal bem dirigido; e tem se enganado a respeito do chamado quem, ao entrar para o ministério, não se dispuser ao trabalho pessoal que o cuidado do rebanho requer. AA 296 2 O espírito do verdadeiro pastor é de inteiro esquecimento de si mesmo. Ele perde de vista o eu para que possa fazer as obras de Deus. Pela pregação da Palavra e pelo ministério pessoal nos lares do povo, toma conhecimento de suas necessidades, tristezas e provas; e, cooperando com Aquele que leva o maior fardo, participa das aflições deles, conforta-os em seus dissabores, farta-lhes a alma faminta e salva-lhes o coração para Deus. Nesta obra é o ministro assistido pelos anjos do Céu, sendo ele próprio instruído e iluminado na verdade que o torna sábio para a salvação. AA 296 3 Em relação com as instruções que dá aos que ocupam posições de responsabilidade na igreja, o apóstolo esboça alguns princípios gerais que deveriam ser seguidos por todos que estivessem incluídos na comunhão da igreja. Os membros mais novos do rebanho eram exortados a seguir o exemplo dos mais velhos na prática da humildade cristã. "Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos pois debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Ao qual resisti firmes na fé". 1 Pedro 5:5-9. AA 296 4 Assim escreveu Pedro aos crentes num tempo de peculiar provação para a igreja. Muitos tinham já experimentado a participação nos sofrimentos de Cristo, e logo a igreja devia passar por um período de terrível perseguição. Dentro de breves anos, muitos dos que tinham sido mestres e líderes na igreja deviam depor a vida pelo evangelho. Logo se levantariam lobos devoradores que não poupariam o rebanho. Mas nada disso devia desencorajar aqueles cujas esperanças estavam centralizadas em Cristo. Com palavras de encorajamento e ânimo, Pedro dirigiu o pensamento dos crentes das presentes provas e futuras cenas de sofrimento "para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar". 1 Pedro 1:4. "E o Deus de toda graça", orou ele com fervor, "que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A Ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém". 1 Pedro 5:10, 11. ------------------------Capítulo 52 -- Firme até o fim AA 297 0 Este capítulo é baseado na Epístola Segunda Epístolas de Pedro. AA 297 1 Na segunda carta enviada por Pedro aos que com ele haviam alcançado "fé igualmente preciosa", o apóstolo expôs o plano divino para desenvolvimento do caráter cristão. Escreveu: "Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor; visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude; pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo." AA 297 2 "E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo". 2 Pedro 1:1-8. AA 297 3 Essas palavras são plenas de instrução e tratam do que é fundamental. O apóstolo apresenta perante os crentes a escada do progresso cristão, cujos degraus representam cada qual um acréscimo no conhecimento de Deus e em cuja ascensão não deve haver parada. Fé, virtude, ciência, temperança, paciência, piedade, amor fraternal e caridade são os degraus da escada. Permanecemos salvos ao subir degrau a degrau, passo após passo, para o alto ideal de Cristo para nós. Assim é Ele feito para nós sabedoria, e justiça, e santificação e redenção. AA 297 4 Deus tem chamado Seu povo para glória e virtude, e isso deve manifestar-se na vida de todo o que verdadeiramente se associa a Ele. Havendo-se tornado participantes do dom celestial, devem prosseguir para a perfeição, "guardados na virtude de Deus para a salvação". 1 Pedro 1:5. Para Deus, a glória é conceder Ele Sua virtude a Seus filhos. Ele deseja ver homens e mulheres alcançarem a mais elevada norma; e quando pela fé se apegarem ao poder de Cristo, quando pleitearem Suas infalíveis promessas, considerando-as como suas, quando com persistência buscarem o poder do Espírito Santo que lhes não será negado, então se farão completos nEle. AA 297 5 Tendo recebido a fé do evangelho, o trabalho seguinte do crente é acrescentar virtude a seu caráter, e assim purificar o coração e preparar a mente para a recepção do conhecimento de Deus. Esse conhecimento é a base de toda educação e serviço verdadeiros. É a única salvaguarda real contra a tentação; e essa é a única coisa que pode tornar alguém semelhante a Deus no caráter. Mediante o conhecimento de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo, é dado ao crente "tudo o que diz respeito à vida e piedade". 2 Pedro 1:3. Nenhuma boa dádiva é retida daquele que sinceramente deseja obter a justiça de Deus. AA 298 1 "E a vida eterna é esta", disse Jesus, "que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". João 17:3. E o profeta Jeremias declarou: "Não se glorie o sábio na sua sabedoria; nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor". Jeremias 9:23, 24. Apenas de maneira vaga pode a mente humana compreender a largura e a profundidade e a altura das realizações espirituais de quem alcança esse conhecimento. AA 298 2 Ninguém precisa deixar de alcançar em sua esfera a perfeição do caráter cristão. Pelo sacrifício de Cristo, foi tomada providência para que o crente receba todas as coisas que dizem respeito à vida e piedade. Deus nos convida a alcançarmos a norma da perfeição, e põe diante de nós o exemplo do caráter de Cristo. O Salvador mostrou, por meio de Sua humanidade consumada por uma vida de constante resistência ao mal, que, com a cooperação da Divindade, podem os seres humanos alcançar nesta vida a perfeição de caráter. Essa é a certeza que Deus nos dá de que também nós podemos alcançar a vitória completa. AA 298 3 Perante o crente é apresentada a maravilhosa possibilidade de ser semelhante a Cristo, obediente a todos os princípios da lei. Mas por si mesmo é o homem absolutamente incapaz de alcançar essa condição. A santidade que a Palavra de Deus declara dever ele possuir antes que possa ser salvo, é o resultado da operação da divina graça, ao submeter-se à disciplina e restritoras influências do Espírito de verdade. A obediência do homem só pode ser aperfeiçoada pelo incenso da justiça de Cristo, o qual enche com a divina fragrância cada ato de obediência. A parte do cristão é perseverar em vencer cada falta. Constantemente deve orar para que o Salvador sare os distúrbios de sua vida enferma pelo pecado. Ele não tem a sabedoria nem a força para vencer; isso pertence ao Senhor, e Ele as outorga a todos os que em humildade e contrição dEle buscam auxílio. AA 298 4 A obra de transformação da impiedade para a santidade é contínua. Dia a dia, Deus atua para a santificação do ser humano, e o homem deve cooperar com Ele, desenvolvendo perseverantes esforços para o cultivo de hábitos corretos. Deve acrescentar graça à graça; e assim procedendo num plano de adição, Deus atua por ele num plano de multiplicação. Nosso Salvador está sempre pronto a ouvir e responder à oração do coração contrito, e graça e paz são multiplicadas a Seus fiéis seguidores. Alegremente lhes concede as bênçãos de que necessitam em sua luta contra os males que os cercam. AA 299 1 Há os que querem subir a escada do progresso cristão mas, ao avançarem, começam a pôr a confiança na capacidade humana, e logo perdem de vista Jesus, Autor e Consumador de sua fé. O resultado é fracasso e perda de tudo o que foi ganho. Verdadeiramente lamentável é a condição dos que, perdendo-se no caminho, permitem que o inimigo lhes roube as graças cristãs que lhes estiveram em desenvolvimento no coração e na vida. "Aquele em quem não há estas coisas", declara o apóstolo, "é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação de seus antigos pecados". 2 Pedro 1:9. AA 299 2 O apóstolo Pedro tivera longa experiência nas coisas de Deus. Sua fé no poder de Deus para salvar se fortalecera com os anos, até alcançar a prova suficiente de que não há possibilidade de fracasso para aquele que, avançando pela fé, sobe degrau a degrau, sempre para cima e para a frente, em direção ao último degrau da escada que alcança os próprios portais do Céu. AA 299 3 Por muitos anos, estivera Pedro insistindo com os crentes sobre a necessidade do crescimento constante na graça e no conhecimento da verdade e então, sabendo que logo deveria ser levado a sofrer martírio por sua fé, uma vez mais chamou a atenção para os preciosos privilégios que estão ao alcance de todo crente. Com ampla certeza de fé, o idoso discípulo exortou os irmãos à firmeza de propósito na vida cristã. "Procurai", suplica-lhes, "fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". 2 Pedro 1:10, 11. Preciosa garantia! Gloriosa é a esperança oferecida ao crente, ao avançar ele pela fé em direção às alturas da perfeição cristã! AA 299 4 "Pelo que", continuou o apóstolo, "não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas ainda que bem as saibais, e estejais confirmados na presente verdade. E tenho por justo, enquanto estiver neste tabernáculo, despertar-vos com admoestações: Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado. Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas". 2 Pedro 1:12-15. AA 299 5 O apóstolo estava bem qualificado para falar dos propósitos de Deus com respeito à raça humana; pois durante o ministério terrestre de Cristo ele vira e ouvira muito do que pertencia ao reino de Deus. "Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas," recordava ele aos crentes, "mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da Sua majestade, pois Ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela glória excelsa Lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo. Ora, esta voz vinda do Céu, nós a ouvimos quando estávamos com Ele no monte santo". 2 Pedro 1:16-18. AA 300 1 No entanto, por convincente que fosse essa prova da certeza da esperança dos crentes, havia contudo outra evidência ainda mais convincente no testemunho da profecia, através do qual a fé de todos pode ser confirmada e ancorada com segurança. "E temos, mui firme, a palavra dos profetas", declarou Pedro "à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo". 2 Pedro 1:19-21. AA 300 2 Ao mesmo tempo que exaltava a "firme palavra dos profetas" como guia seguro em tempos de perigo, o apóstolo solenemente advertia a igreja contra a tocha da falsa profecia, que seria erguida por "falsos doutores", os quais introduzirão encobertamente "heresias de perdição, e negarão o Senhor". 2 Pedro 2:1. Esses falsos mestres que apareceriam na igreja e seriam considerados verdadeiros por muitos de seus irmãos na fé, são comparados pelo apóstolo a "fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento; para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva". 2 Pedro 2:17. "Tornou-se-lhes o último estado", declarou ele, "pior do que o primeiro" "Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado". 2 Pedro 2:20, 21. AA 300 3 Olhando através dos séculos para o fim do tempo, Pedro foi inspirado a esboçar as condições que prevaleceriam no mundo antes da segunda vinda de Cristo. "Nos últimos dias virão escarnecedores", escreveu, "andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação". 2 Pedro 3:3, 4. Mas "quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição". 1 Tessalonicenses 5:3. Nem todos, porém, seriam enganados pelos ardis do inimigo. Ao aproximar-se o fim de todas as coisas terrestres, haveria fiéis capazes de discernir os sinais dos tempos. Embora um grande número de professos crentes negasse a sua fé por suas obras, haveria um remanescente que perseveraria até o fim. AA 300 4 Pedro conservou viva em seu coração a esperança da volta de Cristo, e assegurou à igreja a certeza do cumprimento da promessa do Salvador: "Se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo". João 14:3. Aos provados e fiéis a vinda de Cristo poderia parecer estar sendo demasiado demorada, mas o apóstolo assegurou-lhes: "O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão." AA 301 1 "Havendo pois de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova Terra, em que habita a justiça. Pelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dEle sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz. E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. [...] Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo". 2 Pedro 3:11-18. AA 301 2 Na providência de Deus, foi permitido a Pedro encerrar seu ministério em Roma, onde sua prisão foi ordenada pelo imperador Nero, aproximadamente ao tempo da última prisão de Paulo. Assim os dois apóstolos veteranos, que por muitos anos tinham estado separados pela distância, em seu trabalho, deviam dar seu último testemunho em favor de Cristo na metrópole do mundo, e sobre seu solo derramar o sangue como a semente de uma vasta colheita de santos e mártires. AA 301 3 Desde sua reintegração depois de haver negado a Cristo, Pedro enfrentara firmemente o perigo, e mostrara nobre coragem em pregar um Salvador crucificado, ressuscitado e assunto ao Céu. Em sua cela, recordava as palavras que Cristo havia falado a seu respeito: "Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos; e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras". João 21:18. Assim fizera Jesus conhecer ao discípulo a própria maneira de sua morte, e predissera mesmo o estender de suas mãos sobre a cruz. AA 301 4 Pedro, como um estrangeiro judeu, foi condenado a ser açoitado e crucificado. Na perspectiva dessa terrível morte, o apóstolo lembrou seu grande pecado em haver negado a Jesus na hora de Seu julgamento. Não preparado, então, para reconhecer a cruz, considerava agora uma alegria entregar a vida pelo evangelho, sentindo tão-somente que, para ele que negara seu Senhor, morrer da mesma maneira por que seu Mestre morrera, lhe era uma honra demasiado grande. Pedro havia-se arrependido sinceramente daquele pecado, e tinha sido perdoado por Cristo, o que se revelava pela alta missão a ele dada para alimentar as ovelhas e cordeiros do rebanho. Ele, porém, nunca pôde perdoar a si mesmo. Nem mesmo o pensamento das agonias da última e terrível cena puderam diminuir a amargura de sua tristeza e arrependimento. Como último favor, rogou aos seus algozes que fosse pregado na cruz de cabeça para baixo. O pedido foi atendido, e dessa maneira morreu o grande apóstolo Pedro. ------------------------Capítulo 53 -- João, o discípulo amado AA 302 1 João é distinguido dos outros apóstolos como o "discípulo a quem Jesus amava". João 21:20. Parece haver ele alcançado preeminente grau de amizade com Cristo, e recebido muitas provas da confiança e amor do Salvador. Foi ele um dos três a quem se permitiu testemunhar a glória de Cristo sobre o monte da transfiguração e Sua agonia do Getsêmani, e foi a seu cuidado que o Senhor confiou Sua mãe nas últimas horas de angústia sobre a cruz. AA 302 2 A afeição do Salvador pelo amado discípulo foi correspondida em toda a força de ardente devoção. João se apegou a Cristo como a vinha se apega à majestosa coluna. Por amor do Mestre enfrentou os perigos da sala de julgamento, e permaneceu próximo a cruz; e às novas de que Cristo havia ressuscitado, apressou-se a ir ao sepulcro, e em seu zelo levou a dianteira mesmo ao impetuoso Pedro. AA 302 3 O confiante amor e devoção altruísta manifestados na vida e no caráter de João apresentam lições de grande valor para a igreja cristã. João não possuía por índole a amabilidade de caráter que sua experiência posterior revelou. Ele tinha, por natureza, graves defeitos. Não somente era orgulhoso, presumido e ambicioso de honras, mas impetuoso e vingativo quando injuriado. Ele e seu irmão eram chamados "filhos do trovão". Marcos 3:17. O mau gênio, o desejo de vingança, o espírito de crítica, tudo isso se encontrava no discípulo amado. Mas atrás dessas coisas o divino Mestre viu o ardente, sincero e amante coração. Jesus repreendeu seu egoísmo, desapontou suas ambições, provou-lhe a fé. Mas revelou-lhe o que sua alma almejava -- a beleza da santidade, o transformador poder do amor. AA 302 4 Os defeitos do caráter de João revelaram-se fortemente em várias ocasiões durante sua associação pessoal com o Salvador. Uma vez, Cristo enviou mensageiros diante dEle a uma vila dos samaritanos, pedindo ao povo para preparar hospedagem para Si e Seus discípulos. Mas quando o Salvador Se aproximou da cidade, manifestou desejo de prosseguir para Jerusalém. Isso despertou a inveja dos samaritanos, e em vez de convidá-Lo para permanecer com eles, recusaram-Lhe a cortesia que teriam dispensado a um viajante comum. Jesus jamais impôs Sua presença a quem quer que seja, e os samaritanos perderam a bênção que teriam recebido, caso O tivessem convidado a ser seu hóspede. AA 303 1 Os discípulos sabiam que era propósito de Cristo abençoar os samaritanos mediante Sua presença; e a frieza, a inveja, o desrespeito mostrados para com seu Mestre encheu-os de surpresa e indignação. Tiago e João especialmente se agitaram. Que Aquele a quem tão altamente reverenciavam fosse assim tratado, parecia-lhes falta demasiado grave para ficar sem imediata punição. Em seu zelo disseram: "Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?" (Lucas 9:54) referindo-se à destruição dos capitães samaritanos e seus soldados enviados para buscar o profeta Elias. Ficaram surpresos ao verem que Jesus Se molestara com suas palavras, e mais surpresos ficaram ainda quando Sua reprovação lhes alcançou os ouvidos: "Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las". Lucas 9:54-56. AA 303 2 Não faz parte da missão de Cristo compelir as pessoas a recebê-Lo. É Satanás, e homens manejados por seu espírito, que procuram forçar a consciência. Sob pretenso zelo pela justiça, homens confederados com anjos maus levam algumas vezes o sofrimento a seus semelhantes para convertê-los a suas idéias de religião; mas Cristo está sempre mostrando misericórdia, sempre procurando salvar pela revelação de Seu amor. Ele não admite rival no coração, nem aceita serviço parcial; deseja somente serviço voluntário, voluntária entrega do coração constrangido pelo amor. AA 303 3 Em outra ocasião, Tiago e João apresentaram por intermédio de sua mãe um pedido para que lhes fosse permitido ocupar a mais alta posição de honra no reino de Cristo. Não obstante a repetida instrução de Cristo com respeito à natureza de Seu reino, esses jovens discípulos ainda acariciavam a esperança por um Messias que tomasse Seu trono e real poder de acordo com os desejos humanos. A mãe, cobiçando juntamente o lugar de honra nesse reino para seus filhos, suplicou: "Dize que estes meus dois filhos se assentem um à Tua direita e outro à Tua esquerda, no Teu reino". Mateus 20:21. AA 303 4 O Salvador, porém, respondeu: "Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que Eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que Eu sou batizado?" Mateus 20:22. Eles recordaram Suas misteriosas palavras que indicavam prova e sofrimento, contudo responderam confiantes: "Podemos" Consideravam eles a mais alta honra provar sua lealdade partilhando de tudo o que sobreviesse a seu Senhor. AA 303 5 "Na verdade bebereis o Meu cálice", declarou Cristo -- diante dEle uma cruz em vez de um trono, Seus companheiros dois malfeitores, um a Sua direita e o outro a Sua esquerda. Tiago e João deviam ser participantes com seu Mestre no sofrimento -- um, destinado à própria morte pela espada; o outro, o que dentre os discípulos por mais tempo devia seguir seu Mestre em trabalho, injúria e perseguição. "Mas o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda", continuou Jesus, "não Me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem Meu Pai o tem preparado". Mateus 20:23. AA 304 1 Jesus compreendeu o motivo que animava o pedido, e assim reprovou o orgulho e ambição dos dois discípulos: "Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja o vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos". Mateus 20:25-28. AA 304 2 Não se alcança posição no reino de Deus mediante favoritismo. Não é adquirida nem recebida mediante concessão arbitrária. É o resultado do caráter. A coroa e o trono são a prova de uma condição conquistada -- prova do domínio do eu por meio da graça de nosso Senhor Jesus Cristo. AA 304 3 Muito tempo depois, quando João havia sido levado à apreciação de Cristo mediante participação nos Seus sofrimentos, o Senhor Jesus lhe revelou a condição de estar perto de Seu reino. "Ao que vencer", disse Cristo, "lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono". Apocalipse 3:21. Aquele que permanece mais próximo de Cristo é o que tem bebido mais profundamente de Seu espírito de amor que vai ao sacrifício -- amor que "não trata com leviandade, não se ensoberbece... não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal" (1 Coríntios 13:4, 5) -- amor que atua no discípulo, como atuou em nosso Senhor, levando-O a dar tudo, a viver, a trabalhar e sacrificar-Se até à própria morte, pela salvação da humanidade. AA 304 4 Em outra ocasião, durante suas primeiras atividades evangelísticas, Tiago e João encontraram alguém que, embora não fosse reconhecido seguidor de Cristo, estava expulsando demônios em Seu nome. Os discípulos proibiram-no de fazê-lo, e julgaram que estavam certos assim procedendo. Mas quando expuseram o assunto a Cristo, Ele os reprovou, dizendo: "Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagres em Meu nome e possa logo falar mal de Mim". Marcos 9:39. Ninguém que se mostre de alguma maneira amigo de Cristo deve ser repudiado. Os discípulos não deviam acariciar um espírito estreito, exclusivista, mas sim manifestar a mesma profunda simpatia que tinham visto na vida de seu Mestre. Tiago e João haviam pensado que proibindo este homem estavam tendo em conta a honra do Senhor; mas começavam a ver que o que tinham era ciúme do que era seu. Reconheceram seu erro e aceitaram a reprovação. AA 304 5 As lições de Cristo apresentando a mansidão, humildade e amor como essenciais ao crescimento na graça e como condição para Seu trabalho, foram do mais alto valor para João. Ele entesourou cada lição, e constantemente procurou levar sua vida em harmonia com o divino padrão. João tinha começado a discernir a glória de Cristo -- não a pompa e o poder terrenos que tinha sido ensinado a esperar, mas "a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". João 1:14. AA 305 1 A fervente e profunda afeição de João por seu Mestre não era a causa do amor de Cristo por ele, mas o efeito desse amor. João desejava tornar-se semelhante a Jesus; e sob a transformadora influência do amor de Cristo, tornou-se manso e meigo. O eu estava escondido em Jesus. Mais que todos os seus companheiros, João se rendeu ao poder dessa extraordinária vida. Diz ele: "Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos". 1 João 1:2. "E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça". João 1:16. João teve do Salvador um conhecimento experimental. As lições de seu Mestre ficaram-lhe gravadas na mente. Quando testificava da graça do Salvador, sua linguagem simples tornava-se eloqüente com o amor que lhe permeava todo o ser. AA 305 2 Foi o profundo amor de João por Cristo que o levou a desejar estar sempre a Seu lado. O Salvador amava todos os doze, mas o espírito de João era mais receptivo. Ele era mais jovem que os outros, e com confiança mais que infantil abria o coração a Jesus. Assim, ligou-se por maior afeição a Cristo, e por meio dele os mais profundos ensinos espirituais do Salvador foram comunicados ao povo. AA 305 3 Jesus ama aos que representam o Pai, e João podia falar do amor do Pai como nenhum outro discípulo poderia fazê-lo. Ele revelou a seus semelhantes o que sentia no coração, representando em seu caráter os atributos de Deus. A glória do Senhor se revelava em sua face. A beleza da santidade que o havia transformado irradiava de seu semblante com a glória de Cristo. Com adoração e amor contemplou ele o Salvador até que assemelhar-se a Ele e com Ele familiarizar-se, tornou-se-lhe o único desejo, e em seu caráter se refletia o caráter de seu Mestre. AA 305 4 "Vede", disse ele, "que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; [...] Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é". 1 João 3:1, 2. ------------------------Capítulo 54 -- Uma fiel testemunha AA 306 0 Este capítulo é baseado sobre as Epístolas de João. AA 306 1 Após a ascensão de Cristo, João permaneceu como fiel e ardoroso obreiro do Mestre. Juntamente com os demais discípulos fruiu o derramamento do Espírito no dia do Pentecostes, e com novo zelo e poder continuou a falar ao povo as palavras de vida, procurando levar seus pensamentos para o invisível. Era um pregador de poder, fervoroso e profundamente sincero. Em bela linguagem e voz musical, falou das palavras e obras de Cristo, expressando-se de maneira a impressionar o coração dos que o ouviam. A simplicidade de suas palavras, o sublime poder das verdades proferidas e o fervor que lhe caracterizava os ensinos, deram-lhe acesso a todas as classes. AA 306 2 A vida do apóstolo estava em harmonia com seus ensinos. O amor de Cristo que ardia em seu coração, induziu-o a empenhar-se em fervorosa e incansável atividade por seus semelhantes, especialmente por seus irmãos na igreja cristã. AA 306 3 Cristo ordenara aos primeiros discípulos amarem-se uns aos outros como Ele os amara. Assim deviam dar testemunho ao mundo de que Cristo estava formado neles, a esperança da glória. "Um novo mandamento vos dou", disse Ele, "que vos ameis uns aos outros". João 13:34. Ao tempo em que essas palavras foram pronunciadas, os discípulos não as puderam compreender; mas depois de haverem testemunhado os sofrimentos de Cristo, depois de Sua crucificação, ressurreição e ascensão ao Céu, e após haver o Espírito Santo repousado sobre eles no dia do Pentecostes, tiveram mais clara compreensão do amor de Deus, e da natureza desse amor que deviam possuir uns pelos outros. Então, pôde João dizer a seus companheiros: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos". 1 João 3:16. AA 306 4 Depois da descida do Espírito Santo, quando os discípulos saíram para proclamar um Salvador vivo, seu único desejo era a salvação dos perdidos. Rejubilavam-se na doçura da comunhão com os santos. Eram ternos, prestativos, abnegados, voluntários em fazer qualquer sacrifício pelo amor da verdade. Em seu contato diário entre si, revelavam aquele amor que Cristo lhes ordenara. Por palavras e obras de altruísmo, procuravam acender esse amor em outros corações. AA 306 5 Um tal amor deviam os crentes sempre acariciar. Deviam viver em obediência voluntária ao novo mandamento. Tão intimamente tinham de estar unidos com Cristo a ponto de estar habilitados a cumprir todos os seus reclamos. Sua vida devia magnificar o poder de um Salvador que poderia justificá-los por Sua justiça. AA 307 1 Mas gradualmente se operou uma mudança. Os crentes começaram a olhar os defeitos uns dos outros. Demorando-se sobre os erros, dando lugar a severo criticismo, perderam de vista o Salvador e Seu amor. Tornaram-se mais estritos na observância de cerimônias exteriores, mais rigorosos na teoria que na prática da fé. Em seu zelo para condenar a outros, passavam por alto os próprios erros. Perderam o amor fraternal que Cristo lhes ordenara, e, o que é mais triste, não tinham consciência dessa perda. Não reconheceram que a felicidade e a alegria lhes estavam abandonando a vida, e que, havendo excluído o amor de Deus do coração, estariam logo andando em trevas. AA 307 2 João, sentindo que o amor fraternal estava diminuindo na igreja, insistiu com os crentes sobre a constante necessidade deste amor. Suas cartas à igreja estão repletas deste pensamento. "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o Seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dEle. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros". 1 João 4:7-11. AA 307 3 Sobre o sentido especial em que esse amor deveria ser manifestado pelos crentes, escreve o apóstolo: "Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha. Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos". 1 João 2:8-11. "Porque esta é a mensagem que ouvimos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros". 1 João 1:5. "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si. Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos". 1 João 3:14-16. AA 307 4 Não é a oposição do mundo o que mais ameaça a igreja de Cristo. É o mal abrigado no coração dos crentes que acarreta suas mais graves derrotas, e mais seguramente retarda o progresso da causa de Deus. Não há maneira mais certa de debilitar a espiritualidade que acariciar a inveja, a suspeita, a crítica e as vis desconfianças. Por outro lado, o mais forte testemunho de haver Deus enviado Seu Filho ao mundo é a existência de harmonia e união entre os homens de variados temperamentos que compõem Sua igreja. É privilégio dos seguidores de Cristo dar este testemunho. Mas para isso fazer, precisam colocar-se sob o comando de Cristo. O caráter deles precisa conformar-se ao Seu caráter, e a vontade deles à Sua vontade. AA 308 1 "Um novo mandamento vos dou", disse Cristo, "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis". João 13:34. Que maravilhosa afirmação; mas oh! quão pouco praticada! O amor fraternal está tristemente faltando na igreja de Deus hoje em dia. Muitos que professam amar o Salvador não se amam uns aos outros. Os incrédulos estão observando para ver se a fé dos professos cristãos está exercendo sobre sua vida uma influência santificadora; e eles são ligeiros em discernir os efeitos no caráter, as incoerências na ação. Não permitam os cristãos ao inimigo apontá-los e dizer: Vejam como esse povo, permanecendo sob a bandeira de Cristo odeiam uns aos outros. Os cristãos são todos membros de uma família, filhos todos do mesmo Pai celestial, com a mesma bendita esperança da imortalidade. Muito íntimo e terno deve ser o laço que os une. AA 308 2 O amor divino faz seus mais tocantes apelos ao coração quando requer que manifestemos a mesma terna compaixão que Cristo manifestou. Somente o homem que tem no coração amor altruísta por seus irmãos, tem verdadeiro amor a Deus. O verdadeiro cristão não permitirá voluntariamente que a pessoa em perigo e necessidade prossiga sem advertência e sem ajuda. Ele não se esquivará dos que estão em erro, deixando-os afundarem-se na infelicidade e no desânimo, ou caírem no campo de batalha de Satanás. AA 308 3 Os que nunca experimentaram o amor terno e cativante de Cristo não podem guiar outros à fonte da vida. Seu amor no coração é um poder que constrange e que leva os homens a revelarem-nO na conversação, no espírito misericordioso e terno, no reerguimento da vida daqueles com quem se associam. Para ter êxito em seus esforços devem os obreiros cristãos conhecer a Cristo; e para conhecê-Lo, precisam conhecer Seu amor. No Céu, sua aptidão como obreiros é medida por sua habilidade em amar como Cristo amou e trabalhar como Ele trabalhou. AA 308 4 "Não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade" (1 João 3:18), escreveu o apóstolo. Atinge-se a plenitude do caráter de Cristo quando o impulso para auxiliar e abençoar a outros brota constantemente do íntimo. É a atmosfera desse amor circundando o próprio crente que o torna um cheiro de vida para vida, e permite que Deus lhe abençoe o serviço. AA 308 5 Supremo amor por Deus e desinteressado amor mútuo -- eis o melhor dom que nosso Pai celestial pode conceder. Esse amor não é um impulso, mas um princípio divino, um poder permanente. O coração não consagrado não o pode criar ou produzir. Ele somente é achado no coração em que Jesus reina. "Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro". 1 João 4:19. No coração renovado pela graça divina, o amor é o princípio que regula a ação. Ele modifica o caráter, governa os impulsos, controla as paixões e enobrece as afeições. Esse amor, acariciado no coração, ameniza a vida e derrama influência enobrecedora ao redor. AA 309 1 João procurou levar os crentes a compreender os elevados privilégios que lhes adviriam mediante o exercitarem o espírito de amor. Esse poder redentor, enchendo o coração, controlará todos os outros motivos, e colocará seus possuidores acima das influências corruptoras do mundo. E à medida que a esse amor fosse permitido agir amplamente e tornar-se o motivo impelente na vida, sua esperança e confiança em Deus e Seu trato para com eles seriam completos. Poderiam, então, vir a Ele em plena confiança de fé, sabendo que receberiam dEle tudo quanto fosse necessário para o seu bem presente e eterno. "Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no dia do juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo Ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor". 1 João 4:17, 18. "E essa é a confiança que temos nEle, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E... sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos". 1 João 5:14, 15. AA 309 2 "E, se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo". 1 João 2:1, 2. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça". 1 João 1:9. As condições para se alcançar misericórdia de Deus são simples e razoáveis. O Senhor não requer que façamos alguma coisa penosa para alcançarmos perdão. Não precisamos fazer longas e exaustivas peregrinações ou praticar dolorosas penitências para encomendar nossa alma ao Deus do Céu ou expiar nossa transgressão. Aquele que "confessa e deixa" os seus pecados "alcançará misericórdia". Provérbios 28:13. AA 309 3 Nos tribunais do Céu, Cristo está a interceder por Sua igreja -- advogando a causa daqueles cujo preço de redenção Ele pagou com o Seu próprio sangue. Séculos e eras nunca poderão diminuir a eficácia de Seu sacrifício expiatório. Nem a morte, nem a vida, altura ou profundidade, nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus; não porque a Ele nos apeguemos com firmeza, mas porque Ele nos segura com Sua forte mão. Se nossa salvação dependesse de nossos próprios esforços não nos poderíamos salvar; mas ela depende de Alguém que está por trás de todas as promessas. Nosso apego a Ele pode ser débil, mas Seu amor é como de um irmão mais velho; enquanto nos mantivermos em união com Ele, ninguém nos poderá arrancar de Sua mão. AA 310 1 Enquanto os anos passavam e o número dos crentes aumentava, João trabalhava pelos irmãos com crescente fidelidade e devotamento. Os tempos eram cheios de perigo para a igreja. Enganos satânicos existiam por toda parte. Por meio de adulteração e falsificação os emissários de Satanás buscavam suscitar oposição às doutrinas de Cristo; e como conseqüência disso, dissensões e heresias estavam pondo em perigo a igreja. Alguns que professavam a Cristo pretendiam que Seu amor os havia libertado da obediência à lei de Deus. Por outro lado, muitos ensinavam que era necessário observar as cerimônias e os costumes judaicos; que a mera observância da lei, sem fé no sangue de Cristo, era suficiente para a salvação. Outros sustentavam que Cristo fora um homem bom, mas negavam Sua divindade. Alguns que simulavam ser leais à causa de Deus eram enganadores e, na prática, negavam a Cristo e Seu evangelho. Vivendo eles mesmos em transgressão, introduziam heresias na igreja. Muitos eram assim levados a um labirinto de ceticismo e engano. AA 310 2 João enchia-se de tristeza ao ver surgirem na igreja esses venenosos erros. Viu os perigos a que a igreja seria exposta, e enfrentou a emergência com prontidão e decisão. As epístolas de João respiram o espírito de amor. É assim como se ele escrevesse com a tinta do amor. Mas quando entrou em contato com os que estavam a quebrar a lei de Deus, embora declarando estar vivendo sem pecado, não hesitou em adverti-los de seu perigoso engano. AA 310 3 Escrevendo a uma auxiliar na obra do evangelho, uma mulher de boa reputação e grande influência, disse ele: "Já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado; antes, recebamos o inteiro galardão. Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz essa doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras". 2 João 1:7-11. AA 310 4 Estamos autorizados a ter na mesma consideração indicada pelo discípulo amado os que alegam permanecer em Cristo ao mesmo tempo que vivem em transgressão da lei de Deus. Existem nestes últimos dias males semelhantes àqueles que ameaçavam a prosperidade da igreja primitiva; e os ensinos do apóstolo João sobre estes pontos deveriam ser cuidadosamente considerados. "Necessitais mostrar amor", é o clamor que se ouve em todos os lugares, principalmente da parte daqueles que professam santificação. Mas o verdadeiro amor é demasiado puro para acobertar um pecado não confessado. Conquanto devamos amar as pessoas por quem Cristo morreu, não nos devemos comprometer com o mal. Não podemos nos unir aos rebeldes e chamar a isso amor. Deus requer de Seu povo nesta fase do mundo que permaneça firme pelo direito, tanto quanto João em oposição aos erros que arruínam as pessoas. AA 311 1 O apóstolo ensina que embora devamos manifestar cortesia cristã, estamos autorizados a tratar em termos claros com o pecado e os pecadores; que isso não está em desarmonia com o verdadeiro amor. "Qualquer que comete pecado", escreveu ele, "também comete iniqüidade; porque o pecado é iniqüidade. E bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados; e nEle não há pecado. Qualquer que permanece nEle não peca; qualquer que peca não O viu nem O conheceu". 1 João 3:4-6. AA 311 2 Como testemunha de Cristo, João não se empenhou em controvérsia nem em debates inúteis. Declarou o que sabia, o que tinha visto e ouvido. Havia estado intimamente relacionado com Cristo, tinha-Lhe ouvido os ensinos, testemunhado Seus poderosos milagres. Poucos puderam, como João, ver as belezas do caráter de Cristo. Para ele, as trevas tinham passado; brilhava a verdadeira luz. Seu testemunho com respeito à vida e morte do Salvador era claro e penetrante. Da abundância que havia no coração brotava o amor pelo Salvador enquanto ele falava; e poder algum lhe podia impedir as palavras. AA 311 3 "O que era desde o princípio", declarou, "o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida; [...] o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com Seu Filho Jesus Cristo". 1 João 1:1, 3. AA 311 4 Assim pode estar todo verdadeiro crente habilitado, através de sua própria experiência, a confirmar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Pode dar testemunho daquilo que viu, ouviu e sentiu do poder de Cristo. ------------------------Capítulo 55 -- Transformado pela graça AA 312 1 Na vida do discípulo João é exemplificada a verdadeira santificação. Durante os anos de sua íntima relação com Cristo foi ele muitas vezes advertido e admoestado pelo Salvador; e aceitou essas repreensões. Quando o caráter do Ser divino lhe foi manifestado, João viu suas próprias deficiências, e foi feito humilde pela revelação. Dia a dia, em contraste com seu próprio espírito violento, ele observava a ternura e longanimidade de Jesus e ouvia-Lhe as lições de humildade e paciência. Dia a dia, seu coração era atraído para Cristo, até que perdeu de vista o próprio eu no amor pelo Mestre. O poder e ternura, a majestade e brandura, o vigor e a paciência que ele via na vida diária do Filho de Deus, encheram-lhe a alma de admiração. Ele submeteu seu temperamento ambicioso e vingativo ao modelador poder de Cristo, e o divino amor operou nele a transformação do caráter. AA 312 2 Em evidente contraste com a santificação operada na vida de João está a experiência de seu companheiro Judas. Como João, Judas professava ser discípulo de Cristo, mas possuía apenas uma aparência de piedade. Ele não era insensível à beleza do caráter de Cristo; e muitas vezes, ao ouvir as palavras do Salvador, vinha-lhe a convicção, mas ele não humilhava o coração nem confessava seus pecados. Resistindo à divina influência desonrou o Mestre a quem professava amar. João guerreou ferozmente contra suas faltas; mas Judas violava a consciência e cedia à tentação, mais se lhe robustecendo os hábitos do mal. A prática das verdades que Cristo ensinava não correspondia a seus desejos e propósitos, e ele não podia renunciar a suas idéias para receber sabedoria do Céu. Em lugar de andar na luz, escolheu caminhar nas trevas. Os maus desejos, a cobiça, as paixões vingativas, os pensamentos soturnos, tenebrosos, foram acariciados até que Satanás alcançou sobre ele pleno controle. AA 312 3 João e Judas representam aqueles que professam ser seguidores de Cristo. Ambos esses discípulos tiveram as mesmas oportunidades de estudar e seguir o divino Modelo. Ambos estiveram intimamente ligados a Jesus e experimentaram o mesmo privilégio de ouvir-Lhe os ensinos. Ambos possuíam sérios defeitos de caráter; e ambos tiveram acesso à divina graça que transforma o caráter. Mas, ao passo que um em humilhação estava aprendendo de Jesus, o outro revelava não ser cumpridor da Palavra, mas ouvinte apenas. Um, morrendo diariamente para o eu e vencendo o pecado, era santificado pela verdade; o outro, resistindo ao poder transformador da graça e condescendendo com desejos egoístas, era levado para a escravidão de Satanás. AA 313 1 Uma transformação de caráter como a que se vê na vida de João é sempre o resultado da comunhão com Cristo. Pode haver marcados defeitos na vida de um indivíduo; contudo, quando ele se torna um verdadeiro discípulo de Cristo, o poder da divina graça transforma-o e o santifica. Contemplando como num espelho a glória do Senhor, é transformado de glória em glória, até alcançar a semelhança dAquele a quem adora. AA 313 2 João ensinava a santidade, e em suas cartas à igreja estabeleceu regras infalíveis para a conduta do cristão. "E qualquer que nEle tem essa esperança", escreveu, "purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro". 1 João 3:3. "Aquele que diz que está nEle, também deve andar como Ele andou". 1 João 2:6. Ele ensinava que o cristão precisa ser puro de coração e de vida. Jamais deve satisfazer-se com uma profissão vazia. Como Deus é santo em Sua esfera, assim deve o homem caído, mediante fé em Cristo, ser santo na sua. AA 313 3 "Esta é a vontade de Deus", escreve o apóstolo Paulo, "a vossa santificação". 1 Tessalonicenses 4:3. Em todo o Seu trato com o Seu povo, o objetivo de Deus é a santificação da igreja. Ele os escolheu desde a eternidade, para que fossem santos. Deu-lhes Seu Filho para morrer por eles, a fim de que pudessem ser santificados pela obediência à verdade, despidos de toda a mesquinhez do eu. Deles requer trabalho pessoal e pessoal entrega. Deus só pode ser honrado pelos que professam crer nEle, quando são conformes à Sua imagem e controlados por Seu Espírito. Então, como testemunhas do Salvador, podem tornar conhecido o que a graça divina fez por eles. AA 313 4 A verdadeira santificação vem por meio da operação do princípio do amor. "Deus é amor e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele". 1 João 4:16. A vida daquele em cujo coração Cristo habitar, revelará a piedade prática. O caráter será purificado, elevado, enobrecido e glorificado. A doutrina pura estará entretecida com as obras de justiça; os preceitos celestiais misturar-se-ão com as práticas santas. AA 313 5 Os que desejam alcançar a bênção da santificação têm de primeiro aprender o que seja a abnegação. A cruz de Cristo é a coluna central sobre que repousa o "peso eterno de glória mui excelente". 2 Coríntios 4:17. "Se alguém quiser vir após Mim", disse Jesus, "renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me". Mateus 16:24. É o perfume de nosso amor aos semelhantes o que revela nosso amor a Deus. É a paciência no serviço, o que traz repouso ao coração. É pelo humilde, diligente e fiel labor que se promove o bem-estar de Israel. Deus sustém e fortalece aquele que está disposto a seguir o caminho de Cristo. AA 314 1 A santificação não é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas da vida toda. Não se alcança com um feliz vôo dos sentimentos, mas é o resultado de morrer constantemente para o pecado, e viver constantemente para Cristo. Não se pode corrigir os erros nem apresentar reforma de caráter por meio de esforços débeis e intermitentes. Só podemos vencer mediante longos e perseverantes esforços, severa disciplina e rigoroso conflito. AA 314 2 Não sabemos quão terrível será nossa luta no dia seguinte. Enquanto reinar Satanás, teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam; enquanto durar a vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: "Alcancei tudo completamente." A santificação é o resultado de uma obediência que dura a vida toda. Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que viveram o mais próximo de Deus, que sacrificariam a vida de preferência a cometer conscientemente um ato mau, homens a quem Deus honrou com divina luz e poder, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Eles não puseram a sua confiança na carne, nem alegaram possuir justiça própria, mas confiaram inteiramente na justiça de Cristo. AA 314 3 Assim será com todos que contemplarem a Cristo. Quanto mais nos aproximarmos de Jesus, e quanto mais claramente distinguirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claro veremos a excessiva malignidade do pecado, e tanto menos nutriremos o desejo de nos exaltar. Haverá um contínuo anelo de ir em direção a Deus, uma contínua, sincera, contrita confissão de pecado e humilhação do coração perante Ele. A cada passo para frente em nossa experiência cristã, nosso arrependimento se aprofundará. Saberemos que nossa suficiência está em Cristo unicamente, e faremos nossa a confissão do apóstolo: "Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Romanos 7:18. "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". Gálatas 6:14. AA 314 4 Que os anjos relatores escrevam a história das santas lutas e pelejas do povo de Deus; que anotem as orações e lágrimas; mas não permitamos que Deus seja desonrado pela declaração de lábios humanos: "Estou sem pecado; sou santo." Lábios santificados nunca pronunciarão palavras de tamanha presunção. AA 314 5 O apóstolo Paulo havia sido arrebatado até o terceiro Céu, e tinha visto e ouvido coisas que não poderiam ser proferidas; contudo, sua humilde afirmação foi: "Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo. [...]". Filipenses 3:12. Que os anjos do Céu escrevam as vitórias de Paulo ao combater o bom combate da fé. Que o Céu se rejubile em sua marcha firme rumo do Céu e que, ao manter ele em vista o prêmio, considere tudo o mais como sem valor. Os anjos se regozijam ao contar seus triunfos, mas Paulo não se vangloria de suas conquistas. A atitude de Paulo é a atitude que cada seguidor de Cristo deve tomar ao prosseguir na luta pela coroa imortal. AA 315 1 Que os que se sentem inclinados a fazer alta profissão de santidade se contemplem no espelho da lei de Deus. Ao verem o vasto alcance de seus reclamos, e compreenderem que ela atua como perscrutadora dos pensamentos e intenções do coração, não se presumirão de estar sem pecado. "Se dissermos que não temos pecado", diz João não se excluindo de seus irmãos, "enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós". "Se dissermos que não pecamos, fazemo-Lo mentiroso, e a Sua palavra não está em nós." "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça". 1 João 1:8, 10, 9. AA 315 2 Há os que professam possuir santidade, que se declaram santos do Senhor, que reclamam como um direito a promessa de Deus, ao mesmo tempo que recusam obediência aos mandamentos de Deus. Esses transgressores da lei reclamam tudo quanto é prometido aos filhos de Deus; mas isso é presunção da parte deles, pois João nos diz que o verdadeiro amor a Deus se revelará na obediência a todos os Seus mandamentos. Não basta crer na teoria da verdade, fazer uma profissão de fé em Cristo, crer que Jesus não é um impostor, e que a religião da Bíblia não é uma fábula artificialmente composta. "Aquele que diz: Eu conheço-O", escreveu João, "e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado: nisto conhecemos que estamos nEle". 1 João 2:4, 5. "E aquele que guarda os Seus mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele". 1 João 3:24. AA 315 3 João não ensinou que a salvação devia ser adquirida pela obediência, mas que a obediência é fruto da fé e do amor. "E bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados", disse, "e nEle não há pecado. Qualquer que permanece nEle não peca; qualquer que peca não O viu nem O conheceu". 1 João 3:5, 6. Se estivermos em Cristo, se o amor de Deus estiver no coração, nossos sentimentos, pensamentos e ações estarão em harmonia com a vontade de Deus. O coração santificado está em harmonia com os preceitos da lei de Deus. AA 315 4 Muitos há que, embora procurando obedecer aos mandamentos de Deus, têm pouca paz ou alegria. Essa falha em sua experiência é o resultado da falta de exercitar a fé. Andam como se pisassem uma terra salina, um ressequido deserto. Pedem pouco, quando deviam pedir muito, pois não há limite para as promessas de Deus. Tais pessoas não representam corretamente a santificação que vem mediante a obediência à verdade. O Senhor quer que todos os Seus filhos e filhas sejam felizes, obedientes e desfrutem paz. Mediante o exercício da fé o crente toma posse dessas bênçãos. Pela fé, cada deficiência de caráter pode ser suprida, todas as contaminações purificadas, cada falta corrigida e toda boa qualidade desenvolvida. AA 315 5 A oração é ordenada pelo Céu como meio de alcançar êxito no conflito com o pecado e no desenvolvimento do caráter cristão. As influências divinas que vêm em resposta à oração da fé produzirão no coração do suplicante tudo o que ele pleiteia. Podemos pedir o perdão do pecado, o Espírito Santo, a natureza cristã, sabedoria e fortaleza para Sua obra, todos os dons, enfim, que Ele prometeu, e a promessa é: "Recebereis." AA 316 1 Foi no monte com Deus que Moisés contemplou o modelo da maravilhosa construção que devia ser o lugar de habitação da glória do Senhor. É no monte com Deus -- no lugar secreto da comunhão -- que devemos contemplar Seu glorioso ideal para a humanidade. Em todas as eras, por meio de comunicação com o Céu, Deus tem realizado Seu propósito por Seus filhos pelo gradual desdobrar em seu espírito das doutrinas da graça. Sua maneira de repartir a verdade é ilustrada nas palavras: "Como a alva será a Sua saída". Oséias 6:3. Aquele que se coloca onde Deus o possa iluminar, avança, por assim dizer, da obscuridade parcial da aurora para o pleno brilho do meio-dia. A verdadeira santificação significa perfeito amor, perfeita obediência, perfeita conformidade com a vontade de Deus. Devemos santificar-nos para Deus mediante a obediência à verdade. Nossa consciência deve ser expurgada das obras mortas para servir ao Deus vivo. Não somos ainda perfeitos; mas é nosso privilégio desvencilharmo-nos dos obstáculos do eu e do pecado e prosseguir para a perfeição. Grandes possibilidades, altas e santas conquistas são colocadas ao alcance de todos. AA 316 2 A razão por que muitos nesta época não fazem maiores progressos na vida religiosa é que interpretam a vontade divina como sendo apenas o que eles gostariam de fazer. Presumem estar em conformidade com a vontade de Deus, quando na verdade estão seguindo seus próprios desejos. Esses não têm conflito com o eu. Há outros que, por algum tempo, são bem-sucedidos na luta contra seus desejos egoístas por prazeres e comodidades. São sinceros e fervorosos, mas cansam-se do contínuo esforço, do morrer cada dia, da incessante labuta. A indolência parece convidativa, repulsiva a morte do eu; fecham os olhos sonolentos e caem sob a tentação em vez de resistir-lhe. AA 316 3 As diretrizes traçadas na Palavra de Deus não deixam lugar para compromisso com o mal. O Filho de Deus Se manifestou para atrair a Si todos os homens. Não veio para embalar o mundo em seu sono, mas para indicar o caminho estreito em que todos devem seguir para alcançar, afinal, os portais da cidade de Deus. Seus filhos precisam seguir por onde Ele abriu caminho; seja qual for o sacrifício do bem-estar ou condescendência egoísta, seja qual for o custo do trabalho ou sofrimento, precisam manter constante batalha contra o eu. AA 316 4 O maior louvor que os homens podem apresentar a Deus é tornarem-se consagrados instrumentos por cujo intermédio possa Ele operar. O tempo está passando rapidamente para a eternidade. Não retenhamos de Deus aquilo que é Sua propriedade. Não Lhe recusemos aquilo que, embora não possa ser dado sem mérito, não pode ser negado sem ruína. Se Ele pede o inteiro coração; devemos dar-Lhe; é Seu, tanto pela criação como pela redenção. Se Ele pede o intelecto; devemos dar-Lhe; é Seu. Ele pede também o nosso dinheiro; não devemos reter-Lhe; é Seu. "Não sabeis que [...] não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço". 1 Coríntios 6:19, 20. Deus requer a homenagem da vida santificada, que, pelo exercício da fé que atua por amor se tenha preparado para servi-Lo. Ele ergue perante nós o mais alto ideal, a própria perfeição. Pede que estejamos completa e absolutamente por Ele neste mundo, como Ele está por nós na presença de Deus. AA 317 1 "Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação". 1 Tessalonicenses 4:3. É essa também a nossa vontade? Nossos pecados podem ser como uma montanha diante de nós; mas se humilharmos o coração, e confessarmos nossos pecados, confiando nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido, Ele nos perdoará e purificará de toda a injustiça. Deus requer de nós inteira conformidade com Sua lei. Essa lei é o eco de Sua voz dizendo-nos: Mais santidade, sim, mais santidade ainda. Temos de buscar a plenitude da graça de Cristo, permitir que nosso coração se encha de intenso desejo por Sua justiça, cujo efeito a Palavra de Deus declara ser paz, e cuja operação é repouso e segurança para sempre. AA 317 2 À medida que nossa alma anelar a Deus, mais e mais encontraremos as infinitas riquezas de Sua graça. Ao contemplarmos essas riquezas, passaremos a possuí-las, e revelaremos os méritos do sacrifício do Salvador, a proteção de Sua justiça, a plenitude de Sua sabedoria, e Seu poder de nos apresentar diante do Pai "imaculados e irrepreensíveis". 2 Pedro 3:14. ------------------------Capítulo 56 -- Patmos AA 318 1 Mais de meio século havia passado, desde a organização da igreja cristã. Durante esse tempo, a mensagem do evangelho tinha sofrido constante oposição. Seus inimigos jamais afrouxaram os esforços e, afinal, alcançaram êxito em arregimentar o poder do imperador romano contra os cristãos. AA 318 2 Na terrível perseguição que se seguiu, o apóstolo João muito fez para confirmar e fortalecer a fé dos crentes. Ele deu um testemunho que seus adversários não puderam controverter, e que ajudou seus irmãos a enfrentar com lealdade e coragem as provas que lhes sobrevieram. Quando a fé dos cristãos lhes parecia vacilar sob a feroz oposição que eram forçados a enfrentar, o velho e provado servo de Jesus lhes repetia com poder e eloqüência a história do Salvador crucificado e ressurgido. Mantinha firmemente a fé, e de seus lábios brotava sempre a mesma alegre mensagem: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos". 1 João 1:1-3. AA 318 3 João alcançou avançada idade. Testemunhou a destruição de Jerusalém e a ruína do majestoso templo. Último sobrevivente dos discípulos que haviam privado intimamente com o Salvador, sua mensagem teve grande influência em estabelecer o fato de que Jesus é o Messias, o Redentor do mundo. Ninguém poderia duvidar de sua sinceridade, e através de seus ensinos muitos foram levados a deixar a incredulidade. AA 318 4 Os príncipes dos judeus encheram-se de ódio atroz contra João por sua inamovível fidelidade à causa de Cristo. Declararam que de nada valeriam seus esforços contra os cristãos enquanto o testemunho de João soasse aos ouvidos do povo. Para que os milagres e ensinos de Cristo fossem esquecidos, a voz da ousada testemunha teria de ser silenciada. AA 318 5 João foi, por conseguinte, convocado a Roma para ser julgado por sua fé. Ali perante as autoridades, as doutrinas do apóstolo foram deturpadas. Falsas testemunhas acusaram-no de ensinar sediciosas heresias. Por essas acusações esperavam seus inimigos levar em breve o discípulo à morte. AA 318 6 João respondeu por si de maneira clara e convincente, e com tal simplicidade e candura que suas palavras tiveram efeito poderoso. Seus ouvintes ficaram atônitos com sua sabedoria e eloqüência. Porém, quanto mais convincente era seu testemunho, mais profundo o ódio de seus opositores. O imperador Domiciano estava cheio de ira. Não podia contrafazer as razões do fiel advogado de Cristo, nem disputar o poder que lhe acompanhava a exposição da verdade; determinou, contudo, fazer silenciar sua voz. AA 319 1 João foi lançado dentro de um caldeirão de óleo fervente; mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma maneira como preservara a dos três hebreus na fornalha ardente. Ao serem pronunciadas as palavras: Assim pereçam todos os que crêem nesse enganador, Jesus Cristo de Nazaré, João declarou: "Meu Mestre Se submeteu pacientemente a tudo quanto Satanás e seus anjos puderam inventar para humilhá-Lo e torturá-Lo. Ele deu a vida para salvar o mundo. Considero uma honra o ser-me permitido sofrer por Seu amor. Sou um homem pecador e fraco. Cristo era santo, inocente, incontaminado. Não pecou nem se achou engano em Sua boca." AA 319 2 Essas palavras exerceram sua influência, e João foi retirado do caldeirão pelos mesmos homens que ali o haviam lançado. AA 319 3 De novo, a mão da perseguição caiu pesadamente sobre o apóstolo. Por decreto do imperador foi João banido para a ilha de Patmos, condenado "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 1:9. Ali, pensavam seus inimigos, sua influência não mais seria sentida, e ele morreria, afinal, pelas privações e sofrimentos. AA 319 4 Patmos, uma ilha árida e rochosa no mar Egeu, havia sido escolhida pelo governo romano para banimento de criminosos; mas para o servo de Deus sua solitária habitação tornou-se a porta do Céu. Ali, afastado das cansativas cenas da vida, e dos ativos labores dos primeiros anos, ele teve a companhia de Deus, de Cristo, dos anjos celestiais, e deles recebeu instrução para a igreja no futuro. Os eventos que deveriam ocorrer nas cenas finais da história deste mundo foram esboçados perante ele; e ali escreveu as visões recebidas de Deus. Quando sua voz não mais podia testificar dAquele a quem amara e servira, as mensagens que foram dadas nessa costa desolada deviam avançar como uma lâmpada que arde, declarando o seguro propósito do Senhor concernente a cada nação da Terra. AA 319 5 Entre as rochas e recifes de Patmos, João manteve comunhão com seu Criador. Recapitulou sua vida passada e, ao pensamento das bênçãos que havia recebido, a paz encheu-lhe o coração. Ele vivera a vida de um cristão, e pudera dizer com fé: "Sabemos que passamos da morte para a vida". 1 João 3:14. Não assim o imperador que o banira. Este olharia para trás e encontraria apenas campos de batalha e carnificina, lares desolados, lágrimas de órfãos e viúvas, o fruto de seu ambicioso desejo de proeminência. AA 319 6 Em seu isolado lar, João estava habilitado a estudar mais profundamente do que nunca as manifestações do poder divino como reveladas no livro da natureza e nas páginas da Inspiração. Era para ele um deleite meditar sobre a obra da criação, e adorar o divino Arquiteto. Em anos anteriores, seus olhos tinham-se deleitado na contemplação dos morros cobertos de florestas, dos verdes vales e frutíferas planícies; e nas belezas da natureza sempre se deleitara em considerar a sabedoria e habilidade do Criador. Agora, estava circundado por cenas que poderiam parecer melancólicas e desinteressantes a muitos; mas para João representavam outra coisa. Embora o cenário que o rodeava fosse desolado e árido, o céu azul que o cobria era tão luminoso e belo como o céu de sua amada Jerusalém. Nas rochas rudes e ermos, nos mistérios dos abismos, nas glórias do firmamento lia ele importantes lições. Tudo trazia mensagem do poder e glória de Deus. AA 320 1 Em tudo ao seu redor via o apóstolo testemunhas do dilúvio que inundara a Terra porque seus habitantes se aventuraram a transgredir a lei de Deus. As rochas que foram lançadas da Terra e do grande abismo pelo irromper das águas, traziam-lhe vividamente ao espírito os terrores daquele terrível derramamento da ira de Deus. Na voz de muitas águas -- abismo chamando abismo -- o profeta ouvia a voz do Criador. O mar, açoitado pela fúria de impiedosos ventos, representava para ele a ira de um Deus ofendido. As poderosas ondas, em sua terrível comoção, mantidas em seus limites por mão invisível, falavam do controle de um poder infinito. E em contraste, considerava a fraqueza e futilidade dos mortais que, embora vermes do pó, gloriam-se em sua suposta sabedoria e força e colocam o coração contra o Governador do Universo, como se Deus fosse igual a eles. As rochas lhe lembravam Cristo, a Rocha de sua fortaleza, em cujo abrigo podia ele refugiar-se sem temor. Do exilado apóstolo sobre o rochedo de Patmos subiam para Deus os mais ardentes anseios do coração, as mais fervorosas orações. AA 320 2 A história de João fornece uma vívida ilustração de como Deus pode usar obreiros idosos. Quando João foi exilado para a ilha de Patmos, havia muitos que o consideravam como tendo passado do tempo de serviço, um caniço velho e quebrado, pronto para cair a qualquer momento. Mas o Senhor achou próprio usá-lo ainda. Embora banido das cenas de seus primeiros trabalhos, ele não cessou de dar testemunho da verdade. Até em Patmos fez amigos e conversos. Sua mensagem era de alegria, proclamava um Salvador ressurreto que, no Céu intercede por Seu povo até que possa retornar e tomá-lo para Si mesmo. E foi depois de haver João encanecido na obra de seu Senhor que ele recebeu do Céu mais comunicações que durante todos os anos anteriores de sua vida. AA 320 3 A mais terna consideração deve ser dispensada a todos aqueles cujos interesses da vida estiveram ligados com a obra de Deus. Esses obreiros idosos têm permanecido fiéis em meio a tempestades e provas. Podem ter enfermidades, mas possuem ainda talentos que os qualificam para permanecer em seu lugar na causa de Deus. Embora gastos, incapazes de levar os encargos mais pesados que os mais jovens podem e devem levar, seus conselhos são do mais alto valor. AA 321 1 Podem ter cometido erros, mas de suas falhas aprenderam a evitar enganos e perigos; e não são ainda assim competentes para dar sábios conselhos? Suportaram provas e aflições, e embora tenham perdido parte de seu vigor, o Senhor não os põe de lado. Ele lhes dá especial graça e sabedoria. AA 321 2 Os que serviram seu Mestre quando a obra era difícil, que suportaram a pobreza e permaneceram fiéis quando poucos havia ao lado da verdade, devem ser honrados e respeitados. O Senhor deseja que os obreiros mais jovens ganhem sabedoria, fortaleza e maturidade pela associação com esses homens fiéis. Que os homens mais jovens sintam que ter entre eles tais obreiros lhes representa um alto favor. Dêem-lhes um lugar de honra em seus concílios. AA 321 3 Quando os que gastaram a vida no serviço de Cristo se aproximam do fim de seu ministério terrestre, são impressionados pelo Espírito Santo a contar as experiências que tiveram em relação com a obra de Deus. O relato de Seu maravilhoso trato com Seu povo, de Sua grande bondade em livrá-los das provas, deveria ser repetido aos recém-vindos à fé. Deus deseja que os velhos e provados obreiros permaneçam em seus lugares, fazendo sua parte para livrar homens e mulheres de serem varridos pela poderosa corrente do mal, e deseja que conservem a armadura até que lhes ordene depô-la. AA 321 4 Na experiência do apóstolo João sob a perseguição, há para o cristão uma lição de maravilhosa fortaleza e conforto. Deus não impede a trama dos ímpios, mas faz que suas armadilhas contribuam para o bem daqueles que, em prova e conflito, mantêm sua fé e lealdade. Não raro, o obreiro do evangelho efetua sua obra em meio a tempestades de perseguições, oposição atroz e acusações injustas. Em tais ocasiões, lembre-se ele de que a experiência da fornalha da prova e da aflição paga todos os pesares de seu preço. Assim traz Deus Seus filhos para perto de Si, para que lhes possa mostrar Sua força e a fraqueza deles. Ele os ensina a se apoiarem nEle. Dessa forma prepara-os para enfrentar as emergências, ocupar posições de responsabilidade e realizar o grande propósito para o que lhes foram dadas as faculdades. AA 321 5 Em todas as épocas, as testemunhas designadas por Deus se têm exposto às perseguições e ao desprezo por amor à verdade. José foi caluniado e perseguido por haver preservado sua virtude e integridade. Davi, o mensageiro escolhido de Deus, foi caçado como um animal feroz por seus inimigos. Daniel foi lançado na cova dos leões por ser leal ao seu concerto com o Céu. Jó foi destituído de suas posses terrestres e ferido no corpo de tal maneira que o desprezaram os próprios parentes e amigos; contudo manteve sua integridade. Jeremias não pôde ser impedido de falar as palavras que Deus lhe ordenara; e seu testemunho de tal maneira enfureceu o rei e os príncipes que o atiraram num poço asqueroso. Estêvão foi apedrejado por haver pregado a Cristo, e Este crucificado. Paulo foi encarcerado, açoitado, apedrejado e finalmente entregue à morte por ter sido fiel mensageiro de Deus aos gentios. E João foi banido para a ilha de Patmos "por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 1:9. AA 322 1 Esses exemplos de humana firmeza dão testemunho da fidelidade das promessas de Deus -- de Sua permanente presença e mantenedora graça. Testificam do poder da fé para enfrentar os poderes do mundo. É obra de fé repousar em Deus na hora mais escura, sentir, embora dolorosamente provado e sacudido pela tempestade, que nosso Pai está ao leme. Somente os olhos da fé podem ver para além das coisas temporais e apreciar com acerto o valor das riquezas eternas. AA 322 2 Jesus não oferece a Seus seguidores a esperança de alcançar glórias e riquezas terrestres, de viver uma vida livre de provações. Ao contrário, chama-os para segui-Lo no caminho da abnegação e ignomínia. Aquele que veio para redimir o mundo sofreu a oposição das arregimentadas forças do mal. Numa impiedosa confederação, homens e anjos maus se aliaram contra o Príncipe da paz. Cada um de Seus atos e palavras revelava divina compaixão, e Sua desconformidade com o mundo provocou a mais dura hostilidade. AA 322 3 Assim será com todos os que se dispuserem a viver piamente em Cristo Jesus. A perseguição e o descrédito esperam todos os que estiverem cheios do Espírito de Cristo. O tipo de perseguição muda com o tempo, mas o princípio -- o espírito que a anima -- é o mesmo que tem dado a morte aos escolhidos do Senhor desde os dias de Abel. AA 322 4 Em todas as épocas, Satanás tem perseguido o povo de Deus. Tem-no torturado e lhe dado a morte, porém tornaram-se eles conquistadores ao morrer. Deram testemunho do poder de Alguém que é mais forte que Satanás. Podem os ímpios torturar e matar o corpo, mas não podem tocar na vida que está escondida com Cristo em Deus. Podem encerrar homens e mulheres nas prisões, mas não lhes podem encerrar o espírito. AA 322 5 Mediante provas e perseguições, a glória -- o caráter -- de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra, andam em caminhos estreitos; são purificados na fornalha da aflição. Isaías 48:10. Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: "Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada". Romanos 8:18. ------------------------Capítulo 57 -- O Apocalipse AA 323 1 Nos dias dos apóstolos, os crentes cristãos estavam cheios de fervor e entusiasmo. Tão incansavelmente trabalhavam eles para o Mestre que, em tempo comparativamente curto, não obstante a feroz perseguição, o evangelho do reino soou em todas as partes do mundo habitado. O zelo manifestado nesse tempo pelos seguidores de Jesus foi relatado pela inspiração para encorajamento dos crentes em todos os séculos. Da igreja de Éfeso, usada pelo Senhor Jesus como símbolo de toda a igreja cristã na era apostólica, a Testemunha fiel e verdadeira declarou: "Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo Meu nome, e não te cansaste". Apocalipse 2:2, 3. AA 323 2 No início, a experiência da igreja de Éfeso foi marcada por simplicidade e puro fervor. Os crentes procuravam fervorosamente obedecer a cada ordem de Deus, e sua vida revelava fervoroso e sincero amor por Cristo. Regozijavam-se em fazer a vontade de Deus porque o Salvador estava sempre presente em seu coração. Cheios de amor pelo Redentor, era seu mais alto objetivo conquistar almas para Ele. Não pensavam em reter o precioso tesouro da graça de Cristo. Sentiam a importância do seu chamado; e com a responsabilidade da mensagem, "Paz na Terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14), ardiam em desejo de levar as alegres novas de salvação aos recantos mais remotos da Terra. E o mundo teve conhecimento de que haviam estado com Jesus. Homens pecadores, arrependidos, perdoados, purificados e santificados, foram levados em participação com Deus através de Seu Filho. AA 323 3 Os membros da igreja estavam unidos em sentimento e ação. O amor a Cristo era a cadeia de ouro que os unia. Prosseguiram em conhecer o Senhor mais e mais perfeitamente, e a vida deles revelava o júbilo e a paz de Cristo. Visitavam os órfãos e as viúvas em suas aflições, e guardavam-se imaculados do mundo, sentindo que deixar de fazer isto seria uma contradição de sua fé e uma negação de seu Redentor. AA 323 4 Em cada cidade a obra era levada para frente. Pessoas eram convertidas e essas por sua vez sentiam que precisavam falar do inestimável tesouro que haviam recebido. Não tinham repouso sem que a luz que lhes iluminara a mente brilhasse sobre outros. Multidões de incrédulos ficavam AA 324 1 familiarizados com as razões da esperança dos cristãos. Amorosos e inspirados apelos pessoais eram feitos aos que estavam em erro, aos excluídos e aos que, embora professando conhecer a verdade, eram mais amantes dos prazeres que de Deus. AA 324 2 Depois de algum tempo, porém, começou a minguar o zelo dos crentes, bem assim seu amor a Deus e de uns para com os outros. A frieza invadiu a igreja. Alguns esqueceram a maneira maravilhosa em que haviam recebido a verdade. Os velhos porta-estandartes caíram em seu posto um após outro. Alguns dos obreiros mais jovens, que poderiam haver partilhado das responsabilidades desses pioneiros e assim se preparado para assumir direção sábia, haviam-se cansado das tão repetidas verdades. Em seu desejo de alguma coisa nova e estimulante, buscaram introduzir novos aspectos da doutrina, mais agradáveis a muitos espíritos, mas não em harmonia com os princípios fundamentais do evangelho. Em sua confiança própria e cegueira espiritual deixaram de discernir que esses sofismas levariam muitos a pôr em dúvida as experiências do passado, conduzindo assim à confusão e incredulidade. AA 324 3 Ao serem essas falsas doutrinas introduzidas, despertavam divergências, e os olhos de muitos deixaram de contemplar a Jesus como o Autor e Consumador de sua fé. A discussão sobre insignificantes pontos de doutrina, e o gosto por fábulas de invenção humana, ocupavam o tempo que deveria ser gasto na proclamação do evangelho. As massas que poderiam ter sido convencidas e convertidas pela fiel apresentação da verdade, eram deixadas sem advertência. A piedade decaía rapidamente e parecia que Satanás estava para alcançar ascendência sobre os que se declaravam seguidores de Cristo. AA 324 4 Foi nesse tempo crítico da história da igreja que João foi sentenciado ao exílio. Jamais fora a sua voz tão necessária à igreja como então. Quase todos os seus antigos companheiros de ministério tinham sofrido martírio. O remanescente dos crentes estava enfrentando feroz oposição. Segundo todas as aparências, não estava longe o dia em que os inimigos da igreja de Cristo triunfariam. AA 324 5 Mas a mão do Senhor se movia invisível no meio das trevas. Na providência de Deus, João fora colocado onde Cristo lhe podia dar uma maravilhosa revelação de Si mesmo e da divina verdade para iluminação das igrejas. AA 324 6 Exilando João, tinham os inimigos da verdade esperado fazer silenciar para sempre a voz da fiel testemunha de Deus; mas em Patmos o discípulo recebeu uma mensagem cuja influência devia continuar a fortalecer a igreja até o fim dos tempos. Embora não tendo ficado livres da responsabilidade de seu mau ato, os que exilaram João tornaram-se instrumento nas mãos de Deus para a realização do propósito do Céu; e o próprio esforço para extinguir a luz colocou a verdade em ousada notoriedade. AA 325 1 Foi no sábado que o Senhor da glória apareceu ao exilado apóstolo. O sábado era tão religiosamente observado por João em Patmos como quando estava pregando ao povo nas cidades e vilas da Judéia. Considerava como sua propriedade as preciosas promessas feitas em referência a este dia. "Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor", escreve João, "e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro. [...] E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem". Apocalipse 1:10-13. AA 325 2 Ricamente favorecido foi esse amado discípulo. Ele tinha visto seu Mestre no Getsêmani, face marcada com o gotejar do sangue da agonia, "o Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens". Isaías 52:14. Vira-O nas mãos dos soldados romanos, vestido com um velho manto de púrpura e coroado de espinhos. Vira-O suspenso na cruz do Calvário, objeto de cruel zombaria e abuso. Então, foi permitido a João contemplar uma vez mais a seu Senhor. Mas quão mudada estava Sua aparência! Não mais era um homem de dores, desprezado e humilhado pelos homens. Estava envolvido em vestes de esplendor celestial. "E a Sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os Seus olhos como chama de fogo; e os Seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha". Apocalipse 1:14, 15. Sua voz era como a música de muitas águas. Seu rosto brilhava como Sol. Em Sua mão estavam sete estrelas, e de Sua boca saia uma espada aguda de dois gumes, emblema do poder de Sua Palavra. Patmos resplendia com a glória do Senhor ressurgido. AA 325 3 "E eu, quando O vi", escreve João, "caí a Seus pés como morto; e Ele pôs sobre mim a Sua destra, dizendo-me: Não temas". Apocalipse 1:17. AA 325 4 João estava fortalecido para viver na presença do seu glorificado Senhor. Então, perante sua maravilhada visão foram abertas as glórias do Céu. Foi-lhe permitido ver o trono de Deus e olhando para além dos conflitos da Terra, contemplar a multidão de remidos vestidos de branco. Ele ouviu a música dos anjos celestiais e os triunfantes cânticos dos que venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra de Seu testemunho. Na revelação a ele dada, foram desdobradas cena após cena de empolgante interesse na experiência do povo de Deus, e a história da igreja foi desvelada até o fim dos séculos. Em figuras e símbolos, assuntos de vasta importância foram apresentados a João para que os relatasse, a fim de que o povo de Deus do seu século e dos séculos futuros tivesse inteligente compreensão dos perigos e conflitos diante dele. AA 325 5 Essa revelação foi dada para orientação e conforto da igreja através da dispensação cristã. No entanto, mestres religiosos têm declarado que este é um livro selado e seus segredos não podem ser explicados. Em conseqüência, muitos se têm desviado do relato profético, recusando-se a devotar tempo e estudo a seus mistérios. Mas Deus não deseja que Seu povo tenha este livro em semelhante conta. Ele é a "revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer" "Bem-aventurado aquele que lê", declara o Senhor, e "os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo". Apocalipse 1:1, 3. "Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho". Apocalipse 22:18-20. AA 326 1 No Apocalipse são representadas as coisas profundas de Deus. O próprio nome dado a suas inspiradas páginas, "revelação", contradiz a afirmação de que é um livro selado. Uma revelação é alguma coisa que foi desvendada. O próprio Senhor revelou a Seu servo os mistérios contidos neste livro, e propõe que seja aberto ao estudo de todos. Suas verdades são dirigidas aos que vivem nos últimos dias da história da Terra, como o foram aos que viviam nos dias de João. Algumas das cenas descritas nesta profecia estão no passado e algumas estão agora acontecendo; algumas apresentam-nos o fim do grande conflito entre os poderes das trevas e o Príncipe do Céu e algumas revelam os triunfos e o regozijo dos remidos na Terra renovada. AA 326 2 Que ninguém pense que por não poder explicar o significado de cada símbolo do Apocalipse, é-lhe inútil estudar esse livro numa tentativa de conhecer o significado da verdade que ele apresenta. Aquele que revelou estes mistérios a João dará ao diligente pesquisador da verdade um antegozo das coisas celestiais. Aqueles cujo coração estiver aberto à recepção da verdade serão capacitados a compreender seus ensinos, e ser-lhes-á garantida a bênção prometida àqueles que "ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas". Apocalipse 1:3. AA 326 3 No Apocalipse, todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem. Ali está o complemento do livro de Daniel. Um é uma profecia; o outro uma revelação. O livro que foi selado não é o Apocalipse, mas a porção da profecia de Daniel relativa aos últimos dias. O anjo ordenou: "E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo". Daniel 12:4. AA 326 4 Foi Cristo quem ordenou ao apóstolo relatar o que lhe seria revelado. "O que vês, escreve-o num livro", ordenou Ele, "e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia e a Laodicéia" "Eu sou. [...] o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. [...] Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer: o mistério das sete estrelas, que viste na Minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas". Apocalipse 1:11, 18-20. AA 327 1 Os nomes das sete igrejas são símbolos da igreja em diferentes períodos da era cristã. O número sete indica plenitude, e simboliza o fato de que as mensagens se estendem até o fim do tempo, enquanto os símbolos usados revelam o estado da igreja nos diversos períodos da história do mundo. AA 327 2 É dito de Cristo que andava no meio dos castiçais de ouro. Assim é simbolizada a Sua relação para com as igrejas. Ele está em constante comunicação com Seu povo. Conhece seu verdadeiro estado. Observa-lhe a ordem, piedade e devoção. Embora seja Sumo Sacerdote e Mediador no santuário celestial, é apresentado andando de um para outro lado entre as Suas igrejas terrestres. Com infatigável desvelo e ininterrupta vigilância, observa para ver se a luz de qualquer de Suas sentinelas está bruxuleando ou se extinguindo. Se os castiçais fossem deixados ao cuidado meramente humano, sua trêmula chama enlanguesceria e morreria; mas Ele é o verdadeiro vigia da casa do Senhor, o verdadeiro guarda dos átrios do templo. Seu assíduo cuidado e graça mantenedora são a fonte de vida e luz. AA 327 3 Cristo é representado como tendo sete estrelas em Sua mão direita. Isso nos assegura que nenhuma igreja fiel a seu encargo necessita temer o fracasso; pois nenhuma estrela que tem a proteção do Onipotente pode ser arrebatada da mão de Cristo. AA 327 4 "Isto diz Aquele que tem na Sua destra as sete estrelas". Apocalipse 2:1. Essas palavras são ditas aos que ensinam na igreja -- aqueles a quem Deus confiou pesadas responsabilidades. As suaves influências que devem existir na igreja têm muito que ver com os ministros de Deus, os quais devem revelar o amor de Cristo. As estrelas do céu estão sob o Seu controle. Ele as ilumina com Sua luz. Guia-as e dirige os seus movimentos. Se Ele não fizesse isso tornar-se-iam estrelas caídas. Assim é com Seus ministros. Eles são apenas instrumentos em Suas mãos, e todo o bem que realizam é feito por meio de Seu poder. Através deles deve a Sua luz brilhar. O Salvador deve ser a sua eficiência. Se olharem para Ele como Ele olhava para o Pai, serão habilitados a fazer a Sua obra. Ao fazer de Deus o Seu apoio, Ele lhes dará Seu resplendor para o refletirem sobre o mundo. AA 327 5 Cedo na história da igreja, o mistério da iniqüidade predito pelo apóstolo Paulo iniciou sua calamitosa obra; e quando os falsos ensinadores, a cujo respeito Pedro advertiu os crentes, exibiram suas heresias, muitos foram seduzidos pelas falsas doutrinas. Alguns tropeçaram sob as provas e foram tentados a abandonar a fé. Ao tempo em que foi dada essa revelação a João, muitos haviam perdido seu primeiro amor da verdade evangélica. Mas em Sua misericórdia Deus não permitiu que a igreja continuasse em estado de apostasia. Numa mensagem de infinita ternura Ele revelou Seu amor por eles, e Seu desejo de que fizessem segura obra para a eternidade. "Lembra-te pois donde caíste", apelou, "e arrepende-te, e pratica as primeiras obras". Apocalipse 2:5. AA 328 1 A igreja era defeituosa, e necessitava de severa reprovação e advertência; e João foi inspirado a registrar mensagens de advertência e reprovação e a apelar aos que, tendo perdido de vista os princípios fundamentais do evangelho, estavam pondo em perigo sua esperança de salvação. Mas as palavras de repreensão que Deus acha necessário enviar são ditas sempre em cativante amor, e com a promessa de paz a cada crente contrito. "Eis que estou à porta, e bato", declara o Senhor; "se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo". Apocalipse 3:20. AA 328 2 E aos que em meio ao conflito mantivessem sua fé em Deus, foram dadas ao profeta as palavras de louvor e promessa: "Eu sei as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a Minha palavra, e não negaste o Meu nome. [...] Como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra" Os crentes foram admoestados: "Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer" "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa". Apocalipse 3:8, 10, 2, 11. AA 328 3 Foi por intermédio de alguém que se declarava "irmão, e companheiro na aflição" (Apocalipse 1:9), que Cristo revelou a Sua igreja o que ela devia sofrer por Seu amor. Olhando através dos longos séculos de trevas e superstições, o exilado encanecido viu multidões sofrendo o martírio por causa de seu amor pela verdade. Mas viu também que Aquele que sustinha Suas primeiras testemunhas não abandonaria Seus fiéis seguidores durante os séculos de perseguição por que deviam passar antes do fim dos tempos. "Nada temas das coisas que hás de padecer", declarou o Senhor. "Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação. [...] Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida". Apocalipse 2:10. AA 328 4 E a todos os fiéis que estivessem lutando contra o mal, João ouviu as promessas: "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus". Apocalipse 2:7. "O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos" "Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono". Apocalipse 3:5, 21. AA 328 5 João viu a misericórdia, a compaixão e o amor de Deus de mistura com Sua santidade, justiça e poder. Viu encontrarem os pecadores um Pai nAquele a quem eles, por pecadores que eram, foram levados a temer. E olhando para além da conclusão do grande conflito, contemplou Sião "e também os que saíram vitoriosos... que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus" "E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro". Apocalipse 15:2, 3. AA 329 1 O Salvador é apresentado perante João sob os símbolos do "Leão da tribo de Judá", e de um "Cordeiro, como havendo sido morto". Apocalipse 5:5, 6. Esses símbolos representam a união do onipotente poder e do amor que se sacrifica. O Leão de Judá, tão terrível para os que rejeitam Sua graça, será o Cordeiro de Deus para os obedientes e fiéis. A coluna de fogo que fala de terrores e indignação para o transgressor da lei de Deus, é um sinal de luz, misericórdia e livramento para os que guardaram os Seus mandamentos. O braço forte que aniquila o rebelde será forte para libertar os fiéis. Todo o que for fiel será salvo. "E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus". Mateus 24:31. AA 329 2 Em comparação com os milhões do mundo, o povo de Deus será, como tem sido sempre, um pequeno rebanho; mas se permanecer na verdade, como revelada em Sua Palavra, Deus será seu refúgio. Permanecerão sob o amplo abrigo da Onipotência. Deus é sempre a maioria. Quando o som da última trombeta penetrar a prisão dos mortos, e os justos saírem triunfantes, exclamando: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória" (1 Coríntios 15:55), para permanecerem, então, com Deus, com Cristo, com os anjos e com os leais e fiéis de todos os tempos, os filhos de Deus serão a grande maioria. AA 329 3 Os verdadeiros discípulos de Cristo seguem-nO através de severos conflitos, suportando a negação de si mesmos e experimentando amargos desapontamentos; mas isso lhes ensina a culpa e o sofrimento do pecado, e assim são levados a olhar para ele com repulsa. Participantes dos sofrimentos de Cristo, estão destinados a participar de Sua glória. Em santa visão, o profeta contemplou o triunfo final da igreja remanescente de Deus. Ele escreveu: "E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos... que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos". Apocalipse 15:2, 3. AA 329 4 "E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte de Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome dEle e o de Seu Pai". Apocalipse 14:1. Neste mundo suas mentes foram consagradas a Deus; serviram-nO com o intelecto e com o coração; e agora Ele pode colocar Seu nome "em suas testas" "E reinarão para todo o sempre". Apocalipse 22:5. Eles não entram e saem como quem suplica um lugar. São daquele número aos quais Cristo diz: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Dá-lhes as boas-vindas como Seus filhos, dizendo: "Entra no gozo do teu Senhor". Mateus 25:34, 21. AA 330 1 "Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro". Apocalipse 14:4. A visão do profeta representa-os como estando sobre o monte de Sião, cingidos para santo serviço, vestidos de linho branco, que representa a justiça dos santos. Mas todos os que seguirem o Cordeiro no Céu, precisarão, primeiro, tê-Lo seguido na Terra, não contrariados ou por capricho, mas em confiante, amorável e voluntária obediência, como o rebanho segue o pastor. AA 330 2 "E ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas. E cantavam um como cântico novo diante do trono, [...] e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da Terra [...] E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus". Apocalipse 14:2-5. AA 330 3 "E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do Céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido." "E a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze tribos de Israel." "E as doze portas eram doze pérolas: cada uma das portas era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro transparente. E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro". Apocalipse 21:2, 11, 12, 21, 22. AA 330 4 "E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e Seus servos O servirão. E verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia". Apocalipse 22:3-5. AA 330 5 "E mostrou-me o rio puro de água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça e de uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas". Apocalipse 22:1, 2, 14. AA 330 6 "E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, Pois com eles habitará, E eles serão o Seu povo, E o mesmo Deus estará com eles, será o seu Deus". Apocalipse 21:3. ------------------------Capítulo 58 -- A igreja triunfante AA 331 1 Mais de dezenove séculos são passados desde que os apóstolos descansaram de seus trabalhos; a história de suas lutas e sacrifícios por amor de Cristo, porém, encontra-se ainda entre os mais preciosos tesouros da igreja. Essa história, escrita sob a inspiração do Espírito Santo, foi registrada a fim de que, por seu intermédio, os seguidores de Cristo pudessem, em todas as épocas, ser estimulados a maior fervor e zelo na causa do Salvador. AA 331 2 A comissão dada por Cristo aos discípulos foi cumprida. Ao saírem esses mensageiros da cruz a proclamar o evangelho, houve tal revelação da glória de Deus como nunca antes fora testemunhada pelos mortais. Mediante a cooperação do Espírito divino, os apóstolos fizeram uma obra que abalou o mundo. O evangelho foi levado a todas as nações numa única geração. AA 331 3 Gloriosos foram os resultados que acompanharam o ministério dos apóstolos escolhidos de Cristo. No começo de seu ministério, alguns deles eram homens sem instrução, mas sua consagração à causa de seu Mestre era sem reservas, e, ensinados por Ele, alcançaram o preparo necessário para a grande obra que lhes foi confiada. Graça e verdade reinavam em seu coração, inspirando-lhes os motivos e regendo-lhes os atos. Traziam a vida escondida com Cristo em Deus, e o próprio eu perdeu-se de vista, submergindo nas profundezas do infinito amor. AA 331 4 Os discípulos eram homens que sabiam falar e orar com sinceridade, homens que sabiam apropriar-se do poder do Forte de Israel. Quão intimamente se achegaram a Deus e ligaram sua honra pessoal à honra do trono do Senhor! Jeová era seu Deus, e Sua honra era a deles. A verdade dEle era a sua verdade. Qualquer ataque ao evangelho era como se os golpeassem profundamente no coração, e combatiam pela causa de Cristo com todas as energias de seu ser. Podiam expor a Palavra da vida, pois haviam recebido a celestial unção. Esperavam muito, e portanto muito empreendiam. Cristo Se lhes havia revelado, e nEle tinham os olhos à espera de direção. Sua compreensão da verdade e sua resistência em face da oposição eram proporcionais à conformidade que tinham com a vontade de Deus. Jesus Cristo, poder e sabedoria de Deus, era o tema de todos os seus discursos. Seu nome -- o único nome debaixo do céu dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos -- era exaltado por eles. Ao proclamarem a plenitude de Cristo, o Salvador ressuscitado, suas palavras tocavam os corações, e homens e mulheres eram ganhos para o evangelho. Multidões que haviam injuriado o nome do Salvador e desprezado Seu poder, confessavam-se agora discípulos do Crucificado. AA 332 1 Não foi com o seu próprio poder que os apóstolos cumpriram sua missão, mas no poder do Deus vivo. Sua obra não foi fácil. Os trabalhos iniciais da igreja cristã foram cercados de dificuldades e amarga aflição. Em sua obra, os discípulos encontravam constantes privações, calúnias e perseguições; mas não reputavam sua vida por preciosa, e regozijavam-se em ser chamados a sofrer perseguição por Cristo. A dúvida, a indecisão, a fraqueza de propósitos, não encontravam lugar em seus esforços. Estavam prontos para gastar e se deixarem gastar. A consciência da responsabilidade que repousava sobre eles, enriquecia-lhes a vida cristã; e a graça celestial revelava-se nas conquistas que faziam para Cristo. Com a força da onipotência, Deus operava por meio deles para tornar triunfante o evangelho. AA 332 2 Sobre o fundamento que o próprio Cristo assentara, os apóstolos construíram a igreja de Deus. A figura da construção de um templo é freqüentemente usada nas Escrituras para ilustrar a edificação da igreja. Zacarias se refere a Cristo como Renovo que edificaria o templo do Senhor. Fala dos gentios como auxiliares nessa obra: "Aqueles que estão longe virão e edificarão o templo do Senhor" (Zacarias 6:12, 15), e Isaías declara: "E os filhos dos estrangeiros edificarão os teus muros". Isaías 60:10. AA 332 3 Escrevendo sobre a edificação desse templo, Pedro diz: "E, chegando-vos para Ele -- pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo". 1 Pedro 2:4, 5. AA 332 4 Nas pedreiras do mundo judeu e do mundo pagão, os apóstolos trabalharam trazendo pedras para colocar sobre o fundamento. Em sua carta aos crentes de Éfeso, Paulo disse: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito". Efésios 2:19-22. AA 332 5 E aos coríntios ele escreveu: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta, e o fogo provará qual seja a obra de cada um". 1 Coríntios 3:10-13. AA 333 1 Os apóstolos edificaram sobre um firme fundamento, sobre a própria Rocha dos Séculos. Para esse fundamento trouxeram eles as pedras tiradas da pedreira do mundo. Não foi sem empecilhos que os edificadores trabalharam. Sua obra foi excessivamente dificultada pela oposição dos inimigos de Cristo. Tiveram de lutar contra o fanatismo, o preconceito, o ódio dos que estavam a construir sobre falso fundamento. Muitos que trabalhavam como construtores da igreja poderiam ser comparados aos construtores do muro, nos tempos de Neemias, dos quais é dito: "Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas". Neemias 4:17. AA 333 2 Reis e governadores, sacerdotes e príncipes procuraram destruir o templo de Deus. Mas em face de prisões, tortura e morte, os fiéis prosseguiram na obra; e a estrutura cresceu bela e simétrica. Algumas vezes, foram os obreiros quase cegados pelas névoas da superstição que baixavam sobre eles. Às vezes, quase se apoderava deles a violência de seus oponentes. Mas com inabalável fé e inquebrantável coragem levaram avante a obra. AA 333 3 Um a um, os principais construtores caíram pelas mãos do inimigo. Estêvão foi apedrejado; Tiago morto à espada; Paulo foi decapitado; Pedro crucificado; João exilado. Contudo, a igreja cresceu. Novos obreiros tomaram o lugar daqueles que caíram, e pedra sobre pedra foi acrescentada ao edifício. Assim se ergueu lentamente o templo da igreja de Deus. AA 333 4 Séculos de feroz perseguição se seguiram ao estabelecimento da igreja cristã, mas nunca faltaram homens que tomassem a construção do templo divino como mais cara do que a sua própria vida. De tais pessoas está escrito: "E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da Terra". Hebreus 11:36-38. AA 333 5 O inimigo da justiça nada deixou por fazer em seu esforço para deter a obra confiada aos edificadores do Senhor. Mas Deus "não Se deixou a Si mesmo sem testemunho". Atos 14:17. Levantaram-se obreiros que, com aptidão, defenderam a fé uma vez entregue aos santos. A história dá testemunho da fortaleza e heroísmo desses homens. Como os apóstolos, muitos deles tombaram em seus postos, mas a construção do templo avançou firmemente. Os obreiros foram mortos, mas a obra prosseguiu. Os valdenses, João Wycliffe, Huss e Jerônimo, Martinho Lutero e Zwínglio, Cranmer, Latimer e Knox, os huguenotes, João e Carlos Wesley, e uma multidão de outros, contribuíram para o fundamento com material que permanecerá por toda a eternidade. E em anos posteriores, os que tão nobremente têm procurado promover a disseminação da Palavra de Deus, e por seu serviço em terras pagãs têm preparado o caminho para a proclamação da última grande mensagem -- também esses têm estado a ajudar na estrutura. AA 334 1 Através de todos os séculos que se passaram desde os dias dos apóstolos, a construção do templo de Deus jamais cessou. Podemos olhar para os séculos que estão para trás, e veremos as pedras vivas de que é composto, brilhantes como jatos de luz em meio às trevas do erro e da superstição. Através da eternidade, as jóias preciosas brilharão com brilho sempre maior, testificando do poder da verdade de Deus. O foco de luz dessas pedras polidas revela o forte contraste entre a luz e as trevas, entre o ouro da verdade e a escória do erro. AA 334 2 Paulo e os outros apóstolos, e todos os justos que viveram depois deles, fizeram sua parte na edificação do templo. Mas a estrutura ainda não está completa. Nós que vivemos neste tempo temos um trabalho a fazer, uma parte a cumprir. Devemos levar para o fundamento material que resista à prova do fogo -- ouro, prata e pedras preciosas "lavradas, como colunas de um palácio". Salmos 144:12. Aos que assim edificam para Deus, dirige Paulo as palavras de ânimo e advertência: "Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá a recompensa. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo". 1 Coríntios 3:14, 15. O cristão que fielmente apresenta a Palavra da vida, encaminhando homens e mulheres às veredas da santidade e da paz, está levando para o fundamento material resistente, e no reino de Deus será honrado como edificador sábio. AA 334 3 Está escrito acerca dos apóstolos: "E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram". Marcos 16:20. Como Cristo enviou Seus discípulos, assim envia Ele hoje os membros de Sua igreja. Está-lhes reservado o mesmo poder que os apóstolos possuíam. Se fizerem de Deus sua força, Ele cooperará com eles, e não hão de trabalhar em vão. Compreendam que a obra em que se acham empenhados tem sobre si impressa a aprovação de Deus. O Senhor disse a Jeremias: "Não digas: eu sou uma criança; porque aonde quer que Eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás. Não temas diante deles; porque Eu sou contigo para te livrar, diz o Senhor." Então o Senhor estendeu a mão e tocou nos lábios de Seu servo, dizendo: "Eis que ponho as Minhas palavras na tua boca". Jeremias 1:7-9. E Ele nos ordena que vamos e falemos as palavras que nos dá, sentindo Seu santo contato em nossos lábios. AA 334 4 Cristo confiou à igreja uma sagrada missão. Cada membro deve ser um conduto através do qual Deus possa comunicar ao mundo os tesouros de Sua graça, as insondáveis riquezas de Cristo. Nada há que o Salvador deseje tanto como agentes que representem ao mundo Seu Espírito e Seu caráter. Nada existe que o mundo necessite mais do que a manifestação do amor do Salvador através da humanidade. Todo o Céu está à espera de homens e mulheres por cujo intermédio possa Deus revelar o poder do cristianismo. AA 335 1 A igreja é o instrumento de Deus para a proclamação da verdade, por Ele dotada de poder para fazer uma obra especial; e se ela for leal ao Senhor, obediente a todos os Seus mandamentos, nela habitará a excelência da graça divina. Se for fiel à sua missão, se honrar ao Senhor Deus de Israel, não haverá poder capaz de a ela se opor. AA 335 2 O zelo em favor de Deus e Sua causa impulsionou os discípulos a dar testemunho do evangelho com grande poder. Não deveria um zelo tal inflamar nosso coração com a determinação de contar a história do amor redentor de Cristo e Esse crucificado? É privilégio de todo cristão não somente aguardar, mas apressar a vinda do Salvador. AA 335 3 Se a igreja se revestir do manto da justiça de Cristo, deixando qualquer aliança com o mundo, raiará para ela o amanhecer de um dia brilhante e glorioso. As promessas de Deus a ela feitas serão sempre firmes. Ele fará dela uma excelência eterna, um regozijo de muitas gerações. A verdade, passando de largo aqueles que a desprezam e rejeitam, triunfará. Embora, às vezes, pareça haver retardado, seu progresso nunca foi impedido. Quando a mensagem de Deus se defronta com a oposição, Ele lhe concede força adicional, para que ela exerça maior influência. Dotada de energia divina, abrirá caminho através das mais fortes barreiras e triunfará sobre todos os obstáculos. AA 335 4 O que susteve o Filho de Deus durante Sua vida de trabalho e sacrifício? Ele viu os resultados do trabalho de Sua alma, e ficou satisfeito. Olhando para dentro da eternidade, contemplou a felicidade dos que receberam por intermédio de Sua humilhação, perdão e vida eterna. Seus ouvidos perceberam os louvores dos remidos. Ouviu-os entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. AA 335 5 Podemos ter uma visão do futuro, da felicidade no Céu. Na Bíblia estão reveladas visões da glória futura, cenas pintadas pela mão de Deus, e que são uma preciosidade para Sua igreja. Pela fé, podemos chegar até o limiar da cidade eterna e ouvir as afáveis boas-vindas dadas aos que, nesta vida, cooperaram com Cristo, considerando uma honra sofrer por Sua causa. Ao serem pronunciadas as palavras: "Vinde, benditos de Meu Pai" (Mateus 25:34), eles lançarão suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: "Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graça. [...] E ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Apocalipse 5:12, 13. AA 335 6 Lá, os remidos saúdam os que os conduziram ao Salvador, e todos se unem no louvor Àquele que morreu para que os seres humanos pudessem ter a vida que se mede com a vida de Deus. O conflito está terminado. As tribulações e lutas chegaram ao fim. Cânticos de vitória enchem todo o Céu, enquanto os remidos entoam o jubiloso coro: "Digno é o Cordeiro, que foi morto" (Apocalipse 5:12), e vive outra vez, como triunfante vencedor. AA 336 1 "Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro". Apocalipse 7:9, 10. AA 336 2 "Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para a fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima". Apocalipse 7:14-17. "E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas". Apocalipse 21:4. ------------------------A Ciência do Bom Viver CBV 17 1 Capítulo 1 -- Nosso exemplo CBV 29 1 Capítulo 2 -- Dias de ministério CBV 51 1 Capítulo 3 -- Com a natureza e com Deus CBV 59 1 Capítulo 4 -- O toque da fé CBV 73 1 Capítulo 5 -- A cura da alma CBV 95 1 Capítulo 6 -- Salvo para servir CBV 111 1 Capítulo 7 -- A cooperação do Divino com o humano CBV 125 1 Capítulo 8 -- O médico é um educador CBV 139 1 Capítulo 9 -- Ensinando e curando CBV 161 1 Capítulo 10 -- Auxílio aos tentados CBV 171 1 Capítulo 11 -- A obra em favor dos intemperantes CBV 183 1 Capítulo 12 -- Auxílio aos desempregados e aos destituídos de lar CBV 201 1 Capítulo 13 -- Os pobres desamparados CBV 209 1 Capítulo 14 -- O ministério em favor dos ricos CBV 219 1 Capítulo 15 -- No quarto do doente CBV 225 1 Capítulo 16 -- Oração pelos doentes CBV 234 1 Capítulo 17 -- O emprego de remédios CBV 241 1 Capítulo 18 -- A cura mental CBV 261 1 Capítulo 19 -- Em contato com a natureza CBV 271 1 Capítulo 20 -- Higiene geral CBV 277 1 Capítulo 21 -- Higiene entre os Israelitas CBV 287 1 Capítulo 22 -- Vestuário CBV 295 1 Capítulo 23 -- O regime alimentar e a saúde CBV 311 1 Capítulo 24 -- A carne como alimento CBV 318 1 Capítulo 25 -- Extremos no regime CBV 325 1 Capítulo 26 -- Estimulantes e narcóticos CBV 337 1 Capítulo 27 -- O comércio de bebidas e a proibição CBV 349 1 Capítulo 28 -- O ministério do lar CBV 356 1 Capítulo 29 -- Os fundadores do lar CBV 363 1 Capítulo 30 -- Escolha e preparo do lar CBV 371 1 Capítulo 31 -- A mãe CBV 379 1 Capítulo 32 -- A criança CBV 388 1 Capítulo 33 -- Influências do lar CBV 395 1 Capítulo 34 -- A verdadeira educação é um ensino CBV 409 1 Capítulo 35 -- O verdadeiro conhecimento de Deus CBV 427 1 Capítulo 36 -- O perigo do conhecimento especulativo CBV 439 1 Capítulo 37 -- O falso e o verdadeiro na educação CBV 451 1 Capítulo 38 -- A importância de buscar o verdadeiro conhecimento CBV 458 1 Capítulo 39 -- O conhecimento recebido mediante a Palavra de Deus CBV 469 1 Capítulo 40 -- Auxílio na vida diária CBV 483 1 Capítulo 41 -- Em contato com os outros CBV 497 1 Capítulo 42 -- Desenvolvimento e serviço CBV 503 1 Capítulo 43 -- Uma experiência mais alta ------------------------Capítulo 1 -- Nosso exemplo CBV 17 1 Nosso Senhor Jesus Cristo veio a este mundo como o infatigável servo das necessidades do homem. "Tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mateus 8:17), a fim de poder ajudar a todas as necessidades humanas. Veio para remover o fardo de doenças, misérias e pecado. Era Sua missão restaurar inteiramente os homens; veio trazer-lhes saúde, paz e perfeição de caráter. CBV 17 2 Várias eram as circunstâncias e necessidades dos que Lhe suplicavam o auxílio, e nenhum dos que a Ele se chegavam saía desatendido. DEle emanava uma corrente de poder restaurador, ficando os homens física, mental e moralmente sãos. CBV 17 3 A obra do Salvador não era restrita a qualquer tempo ou lugar. Sua compaixão desconhecia limites. Em tão larga escala realizava Ele Sua obra de curar e ensinar, que não havia na Palestina edifício grande o bastante para comportar as multidões que se aglomeravam ao Seu redor. Nas verdes encostas da Galiléia, nas estradas, à beira-mar, nas sinagogas e em todo lugar a que os doentes Lhe podiam ser levados, aí se encontrava Seu hospital. Em cada cidade, cada vila por que passava, punha as mãos sobre os doentes e os curava. Onde quer que houvesse corações prontos a receber-lhe a mensagem, Ele os confortava com a certeza do amor de Seu Pai celestial. Todo o dia ajudava aos que a Ele iam; à tardinha atendia aos que tinham que labutar durante o dia pelo sustento da família. CBV 18 1 Jesus carregava o grande peso de responsabilidade da salvação dos homens. Ele sabia que, a menos que houvesse da parte da raça humana decidida mudança nos princípios e desígnios, tudo estaria perdido. Esse era o fardo de Sua alma, e ninguém podia avaliar o peso que sobre Ele repousava. Através da infância, juventude e varonilidade, andou sozinho. Todavia era um céu estar-se em Sua presença. Dia a dia enfrentava provas e tentações; dia a dia era posto em contato com o mal, e testemunhava o poder do mesmo sobre aqueles a quem buscava abençoar e salvar. Não obstante, não vacilava nem ficava desanimado. CBV 19 1 Em todas as coisas, punha Seus desejos em estrita obediência à Sua missão. Glorificava Sua vida por torná-la em tudo submissa à vontade do Seu Pai. Na Sua juventude, Sua mãe O encontrou na escola dos rabis e disse: "Filho, por que fizeste assim para conosco?" Lucas 2:48. Ele respondeu (e Sua resposta é a nota tônica de Sua obra vitalícia): "Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:49. CBV 19 2 Sua vida foi de constante abnegação. Não possuía lar neste mundo, a não ser o que a bondade dos amigos Lhe preparava como peregrino. Ele veio viver em nosso favor a vida do mais pobre, e andar e trabalhar entre os necessitados e sofredores. Entrava e saía, não reconhecido nem honrado, diante do povo por quem tanto fizera. CBV 19 3 Era sempre paciente e bem-disposto, e os aflitos O saudavam como a um mensageiro de vida e paz. Via as necessidades de homens e mulheres, crianças e jovens, e a todos dirigia o convite: "Vinde a Mim." Mateus 11:28. CBV 19 4 Durante Seu ministério, Jesus dedicou mais tempo a curar os enfermos do que a pregar. Seus milagres testificavam da veracidade de Suas palavras, de que não veio a destruir, mas a salvar. Aonde quer que fosse, as novas de Sua misericórdia O precediam. Por onde havia passado, os que haviam sido alvo de Sua compaixão se regozijavam na saúde, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões ajuntavam-se em torno deles para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz havia sido o primeiro som ouvido por muitos, Seu nome o primeiro proferido, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não haveriam de amar a Jesus, e proclamar-Lhe o louvor? Ao passar por vilas e cidades, era como uma corrente vivificadora, difundindo vida e alegria. CBV 20 1 "A terra de Zebulom e a terra de Naftali, Junto ao caminho do mar, além do Jordão, A Galiléia das nações, O povo que estava assentado em trevas Viu uma grande luz; E aos que estavam assentados na região e sombra da morte A luz raiou." Mateus 4:15-16. CBV 20 2 O Salvador tornava cada ato de cura uma ocasião para implantar princípios divinos na mente e na alma. Esse era o desígnio de Sua obra. Comunicava bênçãos terrestres, para que pudesse inclinar o coração dos homens ao recebimento do evangelho de Sua graça. CBV 20 3 Cristo poderia ter ocupado o mais elevado lugar entre os mestres da nação judaica, mas preferiu levar o evangelho aos pobres. Ia de lugar a lugar, para que os que se achavam nos caminhos e atalhos pudessem ouvir as palavras da verdade. Na praia, nas encostas das montanhas, nas ruas da cidade, nas sinagogas, Sua voz se fazia ouvir explicando as Escrituras. Muitas vezes ensinava no pátio do templo, a fim de os gentios Lhe poderem ouvir as palavras. CBV 21 1 Os ensinos de Cristo eram tão diferentes das explicações bíblicas feitas pelos escribas e fariseus que prendiam a atenção do povo. Os rabis apegavam-se à tradição, às teorias e especulações humanas. Muitas vezes, o que os homens haviam ensinado e escrito acerca das Escrituras era posto em lugar delas próprias. O tema dos ensinos de Cristo era a Palavra de Deus. Ele respondia aos inquiridores com um positivo "Está escrito" (Mateus 4:4), "Que diz a Escritura?" (Romanos 4:3), Como lês?. Lucas 10:26. Em todas as oportunidades, despertando-se em um amigo ou adversário qualquer interesse, Ele apresentava a Palavra. Proclamava a mensagem evangélica de maneira clara e poderosa. Suas palavras derramavam abundante luz sobre os ensinos dos patriarcas e profetas, e as Escrituras chegavam aos homens como uma nova revelação. Nunca antes haviam Seus ouvintes percebido na Palavra de Deus tal profundeza de sentido. CBV 22 1 Jamais houve um evangelista como Cristo. Ele era a majestade do Céu, mas humilhou-Se para tomar nossa natureza, a fim de chegar até ao homem na condição em que se achava. A todos, ricos e pobres, livres e servos, Cristo, o Mensageiro do concerto, trouxe as boas novas de salvação. Sua fama como o grande Operador de curas espalhou-se por toda a Palestina. Os enfermos iam para os lugares por onde Ele devia passar, a fim de poderem encontrar auxílio. Iam também muitas criaturas ansiosas de Lhe ouvir as palavras e receber o toque de Sua mão. Assim ia de cidade em cidade, de vila em vila, pregando o evangelho e curando os enfermos -- o Rei da glória na humilde veste humana. CBV 22 2 Assistia às grandes festas anuais da nação, e falava das coisas celestes às multidões absortas nas cerimônias exteriores, trazendo a eternidade ao alcance de sua visão. Dos celeiros da sabedoria tirava tesouros para todos. Falava-lhes em linguagem tão simples que não podiam deixar de entender. Por métodos inteiramente Seus, ajudava a todos quantos se achavam em aflição e dor. Com graça e cortesia, ajudava a alma enferma de pecado, levando-lhe saúde e vigor. CBV 23 1 Príncipe dos mestres, buscava acesso ao povo por meio de suas mais familiares relações. Apresentava a verdade de maneira que daí em diante ela estaria sempre entretecida no espírito de Seus ouvintes com suas mais sagradas recordações e afetos. Ensinava-os de maneira que os fazia sentir quão perfeita era Sua identificação com os interesses e a felicidade deles. Suas instruções eram tão diretas, tão adequadas Suas ilustrações, Suas palavras tão cheias de simpatia e animação, que os ouvintes ficavam encantados. A simplicidade e sinceridade com que Se dirigia aos necessitados santificavam cada palavra. CBV 24 1 Que vida atarefada levou Ele! Dia a dia podia ser visto entrando nas humildes habitações da miséria e da dor, dirigindo palavras de esperança aos abatidos, e de paz aos aflitos. Cheio de graça, sensível e clemente, andava erguendo os desfalecidos e confortando os tristes. Aonde quer que fosse, levava bênçãos. CBV 24 2 Enquanto ajudava os pobres, Jesus estudava também os meios de atingir os ricos. Procurava travar relações com o rico e culto fariseu, o nobre judeu e a autoridade romana. Aceitava-lhes os convites, assistia a suas festas, tornava-Se familiar com os interesses e ocupações deles, a fim de obter acesso ao seu coração, e revelar-lhes as imperecíveis riquezas. CBV 25 1 Cristo veio a este mundo para mostrar que, mediante o recebimento de poder do alto, o homem pode levar vida imaculada. Com incansável paciência e assistência compassiva, ia ao encontro dos homens nas suas necessidades. Pelo suave contato da graça, bania da alma o desassossego e a dúvida, transformando a inimizade em amor e a incredulidade em confiança. CBV 25 2 Podia dizer a quem Lhe aprouvesse: "Segue-Me", e aquele a quem Se dirigia levantava-se e O seguia. Quebrava-se o encanto da fascinação do mundo. Ao som de Sua voz, fugia do coração o espírito de avidez e ambição, e os homens levantavam-se, libertos, para seguir o Salvador. Amor fraternal CBV 25 3 Cristo não conhecia distinção de nacionalidade, posição ou credo. Os escribas e fariseus desejavam fazer dos dons celestes um privilégio local e nacional, e excluir o resto da família de Deus no mundo. Mas Cristo veio derrubar todo muro de separação. Veio mostrar que Seu dom de misericórdia e amor é tão ilimitado como o ar, a luz ou a chuva que refrigera a terra. CBV 25 4 A vida de Cristo estabeleceu uma religião em que não há diferenças, a religião em que judeus e gentios, livres e servos são ligados numa fraternidade comum, iguais perante Deus. Nenhuma questão política Lhe influenciava a maneira de agir. Não fazia diferença alguma entre vizinhos e estranhos, amigos e inimigos. O que tocava Seu coração era uma alma sedenta pelas águas da vida. CBV 25 5 Não passava nenhum ser humano por alto como indigno, mas procurava aplicar a toda pessoa o remédio capaz de sarar. Em qualquer companhia em que Se encontrasse, apresentava uma lição adequada ao tempo e às circunstâncias. Cada negligência ou insulto da parte de alguém para com seu semelhante servia apenas para fazê-Lo mais consciente da necessidade que tinham de Sua simpatia divino-humana. Procurava inspirar esperança aos mais rudes e menos promissores, prometendo-lhes a certeza de que haveriam de tornar-se irrepreensíveis e inocentes, alcançando um caráter que manifestaria serem filhos de Deus. CBV 26 1 Muitas vezes Jesus encontrava pessoas que haviam caído no poder de Satanás e que não tinham forças para romper os laços. A essas criaturas, desanimadas, doentes, tentadas, caídas, costumava dirigir palavras da mais terna piedade, palavras adequadas e que podiam ser compreendidas. Quando encontrava pessoas empenhadas numa luta renhida com o adversário das almas, Ele as animava a perseverar, assegurando-lhes que haviam de triunfar, pois anjos de Deus se achavam a seu lado e lhes dariam a vitória. CBV 26 2 À mesa dos publicanos Ele Se sentava como hóspede de honra, mostrando por Sua simpatia e benevolência social que reconhecia a dignidade humana; e os homens anelavam tornar-se dignos de Sua confiança. Sobre seu coração sedento, as palavras dEle caíam com bendito poder vivificante. Novos impulsos eram despertados, e abria-se para esses excluídos da sociedade a possibilidade de vida nova. CBV 26 3 Conquanto fosse judeu, Jesus Se associava sem reserva com os samaritanos, deitando assim por terra os costumes farisaicos de Sua nação. Apesar de seus preconceitos, Ele aceitou a hospitalidade desse povo desprezado. Dormia com eles sob seu teto, comia à mesa deles -- compartilhando da comida preparada e servida por suas mãos -- ensinava em suas ruas e tratava-os com a maior bondade e cortesia. Enquanto lhes atraía o coração pelos laços de humana simpatia, Sua divina graça levava-lhes a salvação que os judeus rejeitavam. Serviço Pessoal CBV 27 1 Cristo não negligenciava oportunidade alguma de proclamar o evangelho da salvação. Escutai Suas maravilhosas palavras àquela única mulher, de Samaria. Achava-Se sentado junto ao poço de Jacó, quando ela foi tirar água. Para surpresa dela, pediu-lhe um favor. "Dá-Me de beber", disse Ele. João 4:7. Queria uma bebida refrigerante, e desejava também abrir o caminho pelo qual lhe pudesse dar a água da vida. "Como", disse a mulher, "sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus e quem é O que te diz: Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva. ... Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna." João 4:9, 10, 13-14. CBV 28 1 Quanto interesse manifestou Cristo nessa única mulher! Quão fervorosas e eloquentes foram Suas palavras! Ao ouvi-las, a mulher deixou seu cântaro e foi à cidade, dizendo aos amigos: "Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é este o Cristo?" João 4:29. Lemos que "muitos dos samaritanos daquela cidade creram nEle". João 4:39. E quem pode avaliar a influência que essas palavras exerceram para a salvação de pessoas nos anos que se passaram desde então? CBV 28 2 Onde quer que os corações se abram para receber a verdade, Cristo está pronto a instruí-los. Revela-lhes o Pai, e o serviço aceitável Àquele que lê o coração. Para esses não usa Ele de parábolas. Diz-lhes como à mulher junto à fonte: "Eu o sou, Eu que falo contigo." João 4:26. ------------------------Capítulo 2 -- Dias de ministério CBV 29 1 No lar do pescador, em Cafarnaum, a mãe da esposa de Pedro "estava enferma com muita febre; e rogaram-Lhe por ela". Lucas 4:38. Jesus "tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se e serviu-os" [ao Salvador e a Seus discípulos]. Mateus 8:15. CBV 29 2 A notícia se espalhou rapidamente. O milagre fora operado no sábado e, por medo dos rabis, o povo não ousava ir para ser curado antes do pôr-do-sol. Então, das casas, lojas e mercados, os habitantes da cidade dirigiram-se para a humilde habitação que abrigava Jesus. Os enfermos eram levados em padiolas, iam apoiados em bordões ou, amparados por amigos, cambaleavam debilmente até à presença do Salvador. CBV 29 3 Hora após hora, entravam e saíam; pois ninguém sabia se no dia seguinte ainda Se encontraria entre eles o Médico divino. Nunca antes testemunhara Cafarnaum um dia semelhante a esse. O ar estava cheio de vozes de triunfo e de exclamações de livramento. CBV 29 4 Enquanto o último sofredor não foi socorrido, Jesus não cessou Seu trabalho. Era tarde da noite quando a multidão partiu e se fez silêncio em casa de Simão. Findara o longo dia cheio de agitação, e Jesus buscou repouso. Mas, enquanto a cidade se achava imersa no sono, o Salvador "levantando-Se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava". Marcos 1:35. CBV 30 1 De manhã cedo, Pedro e seus companheiros foram ao encontro de Jesus, dizendo que o povo de Cafarnaum já O estava procurando. Com surpresa, ouviram as palavras de Cristo: "Também é necessário que Eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus, porque para isso fui enviado." Lucas 4:43. CBV 31 1 Na agitação de que Cafarnaum se achava então possuída, havia perigo que se perdesse de vista o objetivo de Sua missão. Jesus não Se satisfazia em atrair a atenção para Si mesmo unicamente como um operador de maravilhas, ou alguém que curasse as doenças do corpo. Queria atrair as pessoas a Si como seu Salvador. O povo estava ansioso de crer que Ele viera como rei para estabelecer um reino terrestre, mas Ele lhes desejava desviar a mente do terreno para o espiritual. Um êxito meramente mundano Lhe estorvaria a obra. CBV 31 2 E a admiração da descuidosa massa era chocante ao Seu espírito. Nenhum egoísmo tinha parte em Sua vida. A homenagem prestada pelo mundo à posição, à riqueza ou ao talento era coisa estranha ao Filho do homem. Jesus não Se servia de nenhum dos meios que os homens empregam para conseguir a lealdade ou atrair homenagem. Séculos antes de Seu nascimento, fora profetizado a Seu respeito: "Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade, produzirá o juízo." Isaías 42:2-3. CBV 32 1 Os fariseus procuravam distinção por meio de seu escrupuloso cerimonialismo, e pela ostentação de seu culto e suas caridades. Provavam o zelo que tinham pela religião tornando-a objeto de discussões. As disputas entre as seitas oponentes eram ruidosas e longas, e não raro se ouvia nas ruas o som de irritadas questões entre doutores da lei. CBV 32 2 Em notável contraste com tudo isso estava a vida de Jesus. Nessa vida não se via nunca ruidosa disputa, nem ostentoso culto, nem atos que visassem a aplausos. Cristo estava escondido em Deus, e Deus era revelado no caráter de Seu Filho. Era a essa revelação que Jesus desejava dirigir a mente do povo. CBV 32 3 O Sol da Justiça não irrompia sobre o mundo em esplendor, para deslumbrar os sentidos com Sua glória. Está escrito de Cristo: "Como a alva, será a Sua saída." Oseias 6:3. Calma e suavemente rompe a luz matinal sobre a terra, dissipando as trevas e despertando o mundo para a vida. Assim surgiu o Sol da Justiça, "trazendo salvação nas Suas asas". Malaquias 4:2. CBV 33 1 "Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho, O Meu Eleito, em quem Se compraz a Minha alma." Isaías 42:1. CBV 33 2 "Foste a fortaleza do pobre E a fortaleza do necessitado na sua angústia; Refúgio contra a tempestade e sombra contra o calor." Isaías 25:4. CBV 33 3 "Assim diz Deus, o Senhor, Que criou os céus, e os estendeu, E formou a Terra e a tudo quanto produz, Que dá a respiração ao povo que nela está E o espírito, aos que andam nela. Eu, o Senhor, Te chamei em justiça, E Te tomarei pela mão, E Te guardarei, e Te darei por concerto do povo E para luz dos gentios; Para abrir os olhos dos cegos, Para tirar da prisão os presos E do cárcere, os que jazem em trevas." Isaías 42:5-7. CBV 33 4 "E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, Fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram; Tornarei as trevas em luz perante eles E as coisas tortas farei direitas. Essas coisas lhes farei e nunca os desampararei." Isaías 42:16. CBV 33 5 "Cantai ao Senhor um cântico novo E o Seu louvor, desde o fim da Terra, Vós que navegais pelo mar e tudo quanto há nele; Vós, ilhas e seus habitantes. Alcem a voz o deserto e as suas cidades, Com as aldeias que Quedar habita; Exultem os que habitam nas rochas E clamem do cume dos montes. Dêem glória ao Senhor E anunciem o Seu louvor nas ilhas." Isaías 42:10-12. CBV 33 6 "Cantai alegres, vós, ó céus, porque o Senhor fez isso; Exultai vós, as partes mais baixas da Terra; Vós, montes, retumbai com júbilo; Também vós, bosques e todas as árvores em vós; Porque o Senhor remiu a Jacó E glorificou-Se em Israel." Isaías 44:23. CBV 34 1 Da prisão de Herodes, onde em decepção e perplexidade quanto à obra do Salvador, vigiava e esperava, João Batista enviou dois de seus discípulos a Jesus, com a mensagem: "És Tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?" Mateus 11:3. CBV 34 2 O Salvador não respondeu imediatamente à pergunta dos discípulos. Enquanto ali ficavam, maravilhados de Seu silêncio, os doentes iam chegando aos Seus pés. A voz do poderoso operador de curas penetrava nos ouvidos surdos. Uma palavra, um toque de Sua mão, abria os olhos cegos para a contemplação da luz do dia, das cenas da natureza, do rosto dos amigos e de seu Libertador. Sua voz chegava aos ouvidos do moribundo, e eles se erguiam com saúde e vigor. Paralisados possessos Lhe obedeciam à palavra, abandonava-os a loucura e Lhe rendiam culto. Os pobres camponeses e os trabalhadores, evitados pelos rabis como imundos, reuniam-se ao seu redor, e Ele lhes falava as palavras da vida eterna. CBV 35 1 Assim se passou o dia, os discípulos de João vendo e ouvindo tudo. Afinal, Jesus os chamou a Si, e pediu-lhes que fossem e dissessem a João o que tinham visto e ouvido, acrescentando: "Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim." Mateus 11:6. Os discípulos levaram a mensagem, e foi suficiente. CBV 35 2 João relembrou a profecia relativa ao Messias: "O Senhor Me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor... a consolar todos os tristes." Isaías 61:1-2. Jesus de Nazaré era o prometido. A prova de Sua divindade se revelava em Seu ministério às necessidades da sofredora humanidade. Sua glória se manifestava em Sua condescendência para com nosso estado decaído. CBV 36 1 As obras de Cristo não somente atestavam ser Ele o Messias, como indicavam a maneira por que se havia de estabelecer Seu reino. Foi revelada a João a mesma verdade que se demonstrou a Elias no deserto, quando houve "um grande e forte vento, que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e, depois do terremoto, um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo", Deus falou ao profeta numa "voz mansa e delicada". 1 Reis 19:11-12. Assim Jesus devia fazer Sua obra, não por meio da queda de tronos e reinos, não com pompa e exibição exterior, mas falando ao coração dos homens mediante uma vida de misericórdia e abnegação. CBV 36 2 O reino de Deus não vem com aparência exterior. Vem mediante a suavidade da inspiração de Sua Palavra, pela operação interior de Seu Espírito, a comunhão da alma com Ele que é sua vida. A maior manifestação de Seu poder se observa na natureza humana levada à perfeição do caráter de Cristo. CBV 36 3 Os seguidores de Cristo devem ser a luz do mundo; mas Deus não lhes manda fazer um esforço para brilhar. Ele não aprova nenhum esforço de satisfação própria para exibir uma bondade superior. Deseja que sua alma esteja imbuída dos princípios do Céu; então, ao se porem em contato com o mundo, revelarão a luz que neles está. Sua firme fidelidade, em todos os atos da vida, será um meio de iluminação. CBV 37 4 Riqueza ou elevada posição, caros equipamentos, arquitetura ou mobiliários, não são essenciais ao progresso da causa de Deus; tampouco o são as realizações que atraem o aplauso das pessoas e fomentam a vaidade. As exibições mundanas, conquanto imponentes, são de nenhum valor aos olhos de Deus. Acima do que é visível e temporal, aprecia Ele o invisível e eterno. O primeiro só tem valor na medida em que exprime o segundo. As mais belas produções de arte não possuem beleza que se possa comparar à beleza de caráter, que é o fruto da operação do Espírito Santo na alma. CBV 37 1 Quando Deus deu Seu Filho ao nosso mundo, dotou os seres humanos com riquezas imperecíveis -- riquezas diante das quais as entesouradas fortunas dos homens desde o princípio do mundo nada são. Cristo veio à Terra e esteve perante os filhos dos homens com o acumulado amor da eternidade, e esse é o tesouro que, mediante nossa ligação com Ele, devemos receber, revelar e comunicar. CBV 37 2 O esforço humano na obra de Deus terá eficiência proporcional à consagrada devoção do obreiro -- revelando o poder da graça de Cristo para transformar a vida. Devemos distinguir-nos do mundo porque Deus pôs Seu selo em nós, porque em nós manifesta Seu caráter de amor. Nosso Redentor nos cobre com Sua justiça. CBV 37 3 Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloquência. Pergunta: "Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?" CBV 37 4 Deus pode usar cada pessoa exatamente na proporção em que pode introduzir-lhe Seu Espírito no templo da alma. O trabalho que Ele aceita é aquele que Lhe reflete a imagem. Seus seguidores devem levar, como credenciais perante o mundo, as indeléveis características de Seus princípios imortais. Atenção às Crianças CBV 38 1 Enquanto Jesus ministrava nas ruas das cidades, as mães, levando nos braços os filhinhos, comprimiam-se através da multidão, tentando chegar onde Ele as pudesse ver. CBV 38 2 Imaginai essas mães, pálidas, cansadas, quase em desespero, mas decididas e perseverantes. Carregando seu fardo de sofrimentos, buscam o Salvador. Como são repelidas para trás pela multidão revolta, Cristo abre passo a passo caminho para elas, até que lhes fica ao lado. Brota-lhes no coração a esperança. Caem-lhes lágrimas de alegria ao Lhe atraírem a atenção, e fitarem os olhos que tanta piedade e amor exprimem. CBV 38 3 Destacando uma do grupo, o Salvador lhe estimula a confiança, dizendo: "Que posso fazer por ti?" Ela soluça sua grande necessidade: "Mestre, cura meu filho." Cristo toma o pequenino nos braços, e a doença foge ao Seu contato. Desaparece a palidez da morte; a corrente comunicadora de vida flui através das veias; os músculos são revigorados. Jesus dirige à mãe palavras de conforto e paz; e logo se apresenta outro caso, de urgência igual. Novamente, Cristo exerce Seu poder vivificante, e todos dão louvor e honra Àquele que opera maravilhas. CBV 39 1 Detemo-nos muito na grandeza da vida de Cristo. Falamos das coisas maravilhosas por Ele realizadas, dos milagres que Ele operava. Mas Sua atenção às coisas consideradas pequeninas é uma prova ainda maior de Sua grandeza. CBV 40 1 Entre os judeus era costume levar as crianças a algum rabi para que lhes impusesse as mãos numa bênção; mas os discípulos julgavam o trabalho do Salvador muito importante para ser interrompido daquela maneira. Quando as mães chegaram, desejando que Ele lhes abençoasse os pequeninos, os discípulos as olharam com desagrado. Pensavam que essas crianças eram muito pequenas para receber benefício da visita a Jesus, e concluíram que Ele não apreciaria sua presença. Mas o Salvador compreendeu o cuidado e a preocupação das mães que estavam procurando educar seus filhos em harmonia com a Palavra de Deus. Ouvira-lhes as orações. Ele próprio as atraíra a Sua presença. CBV 41 1 Uma mãe deixara a casa com o filhinho para ir em busca de Jesus. No caminho, ela disse a uma vizinha o que ia fazer, e esta teve desejo de que Jesus abençoasse seus filhos também. Assim, várias mães ali chegaram juntas, levando seus pequenos. Alguns deles já haviam passado da primeira infância, à meninice e adolescência. Quando as mães explicaram seu desejo, Jesus ouviu com simpatia a tímida e lacrimosa petição. Mas esperou para ver como os discípulos as tratariam. Quando os ouviu reprovar as mães e mandá-las embora, julgando fazer-Lhe um favor, Ele lhes mostrou seu erro, dizendo: "Deixai vir os pequeninos a Mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus." Marcos 10:14. Tomou nos braços as crianças. Pôs-lhes as mãos em cima, e deu-lhes as bênçãos que tinham ido buscar. CBV 41 2 As mães ficaram confortadas. Voltaram para casa fortalecidas e felizes pelas palavras de Cristo. Foram animadas a retomar suas cargas com redobrado ânimo, e a trabalhar esperançosas em favor de seus filhos. CBV 41 3 Se nos fosse revelada a vida posterior daquele pequenino grupo, veríamos as mães recordando aos filhos a cena daquele dia, e repetindo-lhes as amoráveis palavras do Salvador. Veríamos também quantas vezes, nos anos que se sucederam, a lembrança daquelas palavras guardou os filhos de se desviarem do caminho traçado para os remidos do Senhor. CBV 41 4 Cristo é hoje o mesmo compassivo Salvador que era quando andava entre os homens. É agora, tão certamente como quando tomava nos braços os pequeninos da Judéia, o ajudador das mães. Os filhos de nossa casa, da mesma maneira que as crianças dos tempos antigos, são o preço de Seu sangue. CBV 42 1 Jesus conhece o fardo do coração de cada mãe. Aquele que tinha uma mãe que lutava com a pobreza e a privação, simpatiza com cada mãe em seus labores. Aquele que fez uma longa jornada a fim de aliviar o ansioso coração da mulher cananéia fará o mesmo pelas mães de nossos dias. O que restituiu à viúva de Naim seu filho único, e em Sua agonia na cruz lembrou-Se de Sua própria mãe, é hoje tocado pelas dores maternas. Em todo desgosto, em toda necessidade, Ele confortará e socorrerá. CBV 42 2 Vão as mães ter com Jesus em suas perplexidades. Acharão graça suficiente para as ajudar no cuidado de seus filhos. As portas acham-se abertas para toda mãe que queira depor seus fardos aos pés do Salvador. Aquele que disse "Deixai vir os pequeninos a Mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus" (Marcos 10:14) convida ainda as mães a levar-Lhe os pequeninos para que os abençoe. CBV 42 3 Nas crianças que foram postas em contato com Ele, Jesus viu os homens e as mulheres que deviam ser herdeiros de Sua graça, e súditos de Seu reino, e alguns dos quais se tornariam mártires por amor dEle. Sabia que essas crianças haviam de Lhe dar ouvidos e aceitá-Lo como seu Redentor muito mais prontamente do que o fariam os adultos, alguns dos quais eram os sábios segundo o mundo e endurecidos de coração. Ensinando, Ele descia ao seu nível. Ele, a Majestade do Céu, respondia-lhes às perguntas, e simplificava Suas importantes lições para alcançar-lhes o infantil entendimento. Plantava-lhes no espírito a semente da verdade que, nos anos por vir, brotaria e daria frutos para a vida eterna. CBV 42 4 Quando Jesus disse aos discípulos que não impedissem as crianças de ir a Ele, estava falando a Seus seguidores de todos os séculos -- aos oficiais da igreja, aos pastores, auxiliares, e a todos os cristãos. Jesus está atraindo as crianças, e nos manda: "Deixai-as vir". É como se quisesse dizer: "Elas virão, caso as não impeçais." CBV 43 1 Não deixeis que vosso caráter não cristão represente mal a Jesus. Não conserveis os pequeninos afastados dEle pela vossa frieza e aspereza. Nunca lhes deis motivo de pensar que o Céu não seria um lugar aprazível para eles, se lá estivessem. Não faleis de religião como de uma coisa que as crianças não possam compreender, nem procedais como se não se esperasse delas que aceitassem a Cristo em sua infância. Não lhes deis a falsa impressão de que a religião de Cristo seja uma religião sombria, e que, indo ao Salvador, elas devem renunciar a tudo quanto faz a vida agradável. CBV 44 1 Ao tocar o Espírito Santo o coração das crianças, cooperai com Sua obra. Ensinai-lhes que o Salvador as está chamando, que coisa alguma Lhe poderá causar maior alegria do que se entregarem a Ele na florescência e vigor de seus anos. Responsabilidade dos Pais CBV 44 2 O Salvador considera com infinita ternura as almas que Ele comprou com Seu sangue. São a reivindicação de Seu amor. Ele as olha com inexprimível anelo. Seu coração se dilata, não somente para as mais bem-educadas e mais atrativas crianças, mas para as que, por herança ou negligência, têm objetáveis traços de caráter. Muitos pais não compreendem quão responsáveis são por esses traços em seus filhos. Não possuem a ternura e a sabedoria necessárias para lidar com os faltosos a quem eles próprios fizeram o que são. Mas Jesus olha a essas crianças com piedade. Parte da causa para o efeito. CBV 44 3 O obreiro cristão pode ser o instrumento de Cristo em atrair ao Salvador esses faltosos e errantes. Com sabedoria e tato, é-lhe possível prendê-los ao próprio coração, infundir-lhes ânimo e esperança, e mediante a graça de Cristo pode vê-los transformados em caráter, de modo que a seu respeito se possa dizer: "Dos tais é o reino de Deus." Lucas 18:16. Cinco Pãezinhos Alimentam a Multidão CBV 45 1 O dia inteiro o povo se havia aglomerado em volta de Cristo e dos discípulos, enquanto Ele ensinava à beira-mar. Haviam escutado Suas graciosas palavras, tão simples e tão claras, que eram como o bálsamo de Gileade para sua alma. A cura, de Sua divina mão, trouxera saúde ao enfermo e vida ao moribundo. O dia se lhes afigurara como o Céu na Terra, e haviam ficado inconscientes do tempo que estavam sem comer. CBV 45 2 O Sol imergia no ocidente, e o povo ainda permanecia ali. Por fim, os discípulos foram falar com Cristo, insistindo que, por amor dela mesma, a multidão devia ser despedida. Muitos tinham vindo de longe, e nada haviam comido desde cedo. Nas cidades e aldeias vizinhas, poderiam encontrar algum alimento. Mas Jesus lhes disse: "Dai-lhes vós de comer." Mateus 14:16. Depois, voltando-Se para Filipe, perguntou: "Onde compraremos pão, para estes comerem?" João 6:5. CBV 45 3 Filipe olhou para o mar de cabeças e pensou como seria impossível prover comida para tão grande ajuntamento. Respondeu que não bastariam duzentas moedas de prata para que cada um tivesse um pouco de pão. CBV 45 4 Jesus indagou a quantidade de comida que se poderia encontrar entre a multidão. "Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos", disse André; "mas que é isso para tantos?" João 6:9. Jesus ordenou que os mesmos Lhe fossem levados. Depois pediu que os discípulos fizessem o povo sentar na relva. Feito isso, tomou a comida, "e erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos, à multidão. E comeram todos e saciaram-se, e levantaram dos pedaços que sobejaram doze cestos cheios." Mateus 14:19-20. CBV 47 1 Foi por um milagre do divino poder que Cristo alimentou a multidão; todavia, quão humilde foi o mantimento provido -- unicamente os peixes e os pães de cevada que eram o sustento diário dos pescadores da Galiléia. CBV 47 2 Cristo poderia haver proporcionado ao povo uma rica refeição, mas comida preparada meramente para satisfação do apetite não lhes teria transmitido nenhuma lição para seu benefício. Por meio desse milagre, Cristo desejava ensinar uma lição de simplicidade. Se os homens de hoje fossem de hábitos simples, vivendo em harmonia com as leis da natureza, como viviam Adão e Eva, no princípio, haveria abundante provisão para as necessidades da família humana. Mas o egoísmo e a condescendência com o apetite trouxeram pecado e miséria, por excesso de um lado, e do outro por escassez. CBV 47 3 Jesus não procurava atrair o povo a Si pela satisfação do desejo de luxos. Para aquela grande multidão, fatigada e faminta depois do longo e agitado dia, a simples refeição era garantia de Seu poder, ao mesmo tempo que de Seu terno cuidado por eles nas necessidades comuns da vida. O Salvador não prometeu aos Seus seguidores os luxos do mundo; a sorte deles poderá ser limitada à pobreza; mas Sua palavra está empenhada quanto à satisfação de suas necessidades, e Ele prometeu o que é melhor que bens terrenos -- o permanente conforto de Sua presença. CBV 48 1 Depois de a multidão haver sido alimentada, restou ainda abundância de comida. Jesus ordenou aos discípulos: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Essas palavras queriam dizer mais que pôr o alimento em cestos. Era uma lição dupla. Coisa alguma se deve desperdiçar. Não devemos deixar-se perder nenhuma vantagem temporal. Nada deveríamos negligenciar capaz de beneficiar uma criatura humana. Junte-se tudo quanto possa aliviar as necessidades dos famintos da Terra. Com o mesmo cuidado nos cumpre entesourar o pão do Céu para satisfazer as necessidades da alma. Por toda palavra de Deus havemos de viver. Não se deve perder coisa alguma do que Deus tem falado. Nem uma palavra referente a nossa salvação eterna devemos negligenciar. Nem uma palavra deve cair inutilmente em terra. CBV 48 2 O milagre dos pães ensina confiança em Deus. Quando Cristo alimentou os cinco mil, a comida não estava à mão. Aparentemente Ele não tinha meios ao Seu dispor. Ali estava, com cinco mil homens, além de mulheres e crianças, num lugar deserto. Não convidara a multidão a segui-Lo ali. Ansiosos de estar em Sua presença, tinham ido sem ordem ou convite; mas Ele sabia que, depois de escutar o dia todo Suas instruções, estavam com fome e desfalecidos. Achavam-se longe de casa, e a noite estava prestes a chegar. Muitos deles estavam sem recursos para comprar comida. Aquele que por amor deles jejuara quarenta dias no deserto não permitiria que voltassem em jejum para casa. CBV 48 3 A providência de Deus colocara Jesus na situação em que Se encontrava; e Ele confiou em Seu Pai celeste quanto aos meios para auxiliar os necessitados. Quando somos levados a situações críticas, devemos confiar em Deus. Em toda emergência devemos buscar auxílio dAquele que tem à Sua disposição ilimitados recursos. CBV 49 1 Nesse milagre, Cristo recebeu do Pai; transmitiu aos discípulos, estes ao povo, e o povo uns aos outros. Assim todos quantos se acham unidos com Cristo receberão dEle o pão da vida e o transmitirão a outros. Seus discípulos são o instrumento designado para comunicação entre Cristo e o povo. CBV 49 2 Quando os discípulos ouviram a ordem do Salvador: "Dai-lhes vós de comer", todas as dificuldades lhes surgiram na mente. Perguntaram: "Iremos nós e compraremos?" Mas que disse Cristo? "Dai-lhes vós de comer." Marcos 6:37. Os discípulos levaram a Jesus tudo quanto tinham; mas Ele não os convidou a comer. Pediu-lhes que servissem o povo. A comida se multiplicou em Suas mãos, e as mãos dos discípulos, estendendo-se para Cristo, nunca ficavam vazias. A pequenina provisão foi suficiente para todos. Quando a multidão tinha sido alimentada, os discípulos comeram com Jesus da preciosa comida proporcionada pelo Céu. CBV 49 3 Ao vermos as necessidades dos pobres, dos ignorantes, dos aflitos, quantas vezes nosso coração desfalece! Perguntamos: "Que vale a nossa fraca força, quanto valem nossos escassos recursos, para suprir essa grande necessidade? Não esperaremos por uma pessoa de mais capacidade para dirigir a obra, ou por alguma organização para empreendê-la?" Cristo diz: "Dai-lhes vós de comer." Empregai os meios, o tempo, as aptidões que possuís. Levai a Jesus vossos pães de cevada. CBV 49 4 Conquanto vossos recursos talvez não sejam suficientes para alimentar milhares, poderão bastar para dar de comer a um. Nas mãos de Cristo poderão alimentar a muitos. Como os discípulos, dai o que tendes. Cristo multiplicará a dádiva. Recompensará a sincera e simples confiança nEle. Aquilo que parece apenas uma escassa provisão se demonstrará um abundante banquete. CBV 50 1 "O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. ... Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra, conforme está escrito: 'Espalhou, deu aos pobres, a Sua justiça permanece para sempre.' 'Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência.'" 2 Coríntios 9:6, 8-11. ------------------------Capítulo 3 -- Com a natureza e com Deus CBV 51 1 A vida do Salvador na Terra foi de comunhão com a natureza e com Deus. Nessa comunhão, Ele revelou-nos o segredo de uma vida de poder. CBV 51 2 Jesus era trabalhador fervoroso e constante. Jamais existiu entre os homens alguém tão carregado de responsabilidades. Jamais outro conduziu tão pesado fardo das dores e pecados do mundo. Jamais outro labutou com um zelo tão consumidor de si próprio, pelo bem dos homens. Todavia, teve uma vida saudável. Física bem como espiritualmente, Ele era representado pelo cordeiro sacrifical, "imaculado e incontaminado". 1 Pedro 1:19. No corpo e na alma, era um exemplo do que Deus designava que fosse toda a humanidade por meio da obediência a Suas leis. CBV 51 3 Quando se olhava para Jesus, via-se um rosto em que a divina compaixão se misturava com um poder consciente. Ele parecia circundado de uma atmosfera de vida espiritual. Suas maneiras eram suaves e despretensiosas, mas Ele impressionava as pessoas com um senso de poder que, embora oculto, não podia ser inteiramente dissimulado. CBV 51 4 Durante Seu ministério, Ele foi continuamente perseguido por homens astutos e hipócritas, que Lhe buscavam a vida. Espias andavam nos Seus passos, espreitando-Lhe as palavras, para encontrar ocasião contra Ele. Os mais argutos e cultos espíritos da nação buscavam derrotá-Lo em debate. Nunca, porém, puderam conseguir qualquer vantagem. Tinham de retirar-se do campo, confundidos e envergonhados pelo humilde Mestre da Galiléia. O ensino de Cristo possuía uma novidade e um poder que os homens nunca tinham conhecido antes. Seus próprios inimigos eram forçados a confessar: "Nunca homem algum falou assim como este homem." João 7:46. CBV 52 1 A infância de Jesus, passada na pobreza, não fora contaminada pelos hábitos artificiais de uma era corrupta. Trabalhando ao banco de carpinteiro, desempenhando as responsabilidades da vida doméstica, aprendendo as lições da obediência e da labuta, encontrava recreação entre as cenas da natureza, colhendo conhecimento enquanto buscava compreender os mistérios dessa natureza. Estudava a Palavra de Deus, e as horas de maior felicidade para Ele eram aquelas em que Se podia afastar do cenário de Seus labores e ir para o campo a meditar nos quietos vales, a entreter comunhão com Deus na encosta da montanha, ou entre as árvores da floresta. O alvorecer encontrava-O muitas vezes em algum lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Com cânticos saudava a luz matinal. Com hinos de gratidão alegrava Suas horas de labor, e levava a alegria celeste ao cansado e ao abatido. CBV 52 2 Durante Seu ministério, Jesus viveu em grande parte ao ar livre. Suas jornadas de um lugar para outro eram feitas a pé, e muito de Seu ensino foi ministrado ao ar livre também. Ao preparar os discípulos, Ele Se retirava muitas vezes da confusão da cidade para um lugar tranquilo nos campos, mais em harmonia com as lições de simplicidade, fé e abnegação que lhes desejava ministrar. Foi sob as agasalhantes árvores da encosta da montanha, mas a pouca distância do Mar da Galiléia, que os doze foram chamados ao apostolado, e proferido o Sermão do Monte. CBV 54 1 Cristo gostava de reunir o povo em torno de Si sob o azul dos céus, numa relvosa encosta, ou à margem de um lago. Ali, rodeado pelas obras por Ele próprio criadas, era-Lhe possível atrair-lhes a atenção das coisas artificiais para as naturais. No crescimento e desenvolvimento da natureza, eram revelados os princípios de Seu reino. Ao erguerem os homens o olhar para os montes de Deus, e contemplarem as maravilhosas obras de Sua mão, podiam aprender preciosas lições de verdade divina. Nos dias futuros, as lições do divino Mestre lhes seriam assim repetidas pelas coisas da natureza. O espírito seria elevado, e o coração encontraria descanso. CBV 55 1 Aos discípulos que estavam ligados com Ele em Sua obra, Jesus dava muitas vezes licença por algum tempo, a fim de irem visitar a família e descansar; mas em vão se esforçavam eles por afastá-Lo de Seus labores. O dia todo atendia às multidões que iam ter com Ele e, ao anoitecer, ou bem cedo de manhã, retirava-Se para o santuário das montanhas em busca de comunhão com o Pai. CBV 55 2 Muitas vezes o incessante trabalho e a luta com a inimizade e os falsos ensinos dos rabis O deixavam tão fatigado que Sua mãe e irmãos, e mesmo os discípulos, receavam que Sua vida fosse sacrificada. Mas, ao voltar das horas de oração que encerravam o atarefado dia, notavam-Lhe o aspecto sereno do rosto, o vigor, a vida e o poder de que todo o Seu ser parecia possuído. Das horas passadas a sós com Deus Ele saía, manhã após manhã, para levar aos homens a luz do Céu. CBV 56 1 Foi justamente depois de voltarem da primeira viagem missionária que Jesus disse aos discípulos: "Vinde... à parte, ... e repousai um pouco." Os discípulos haviam voltado cheios de alegria por seu êxito como arautos do evangelho, quando os alcançaram as novas da morte de João Batista às mãos de Herodes. Foi para eles amarga tristeza e decepção. Jesus sabia que, deixando o Batista a morrer na prisão, provara severamente a fé dos discípulos. Com piedosa ternura, contemplou-lhes o semblante entristecido, manchado de lágrimas. Lágrimas umedeciam-Lhe também os olhos e a voz, ao dizer: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco." Marcos 6:31. CBV 56 2 Próximo de Betsaida, na extremidade norte do Mar da Galiléia, havia uma solitária região, embelezada com o luxuriante verde da primavera, a qual oferecia convidativo retiro a Jesus e Seus discípulos. Para ali partiram, atravessando o lago em seu bote. Ali podiam descansar, afastados do tumulto da multidão. Ali podiam os discípulos escutar as palavras de Cristo, sem ser perturbados pelas réplicas e acusações dos fariseus. Ali também esperavam fruir um breve período de associação uns com os outros e com seu Senhor. CBV 56 3 Pouco tempo apenas esteve Jesus sozinho com Seus amados, mas quão preciosos foram para eles aqueles momentos! Falaram juntos acerca da obra do evangelho e da possibilidade de tornarem sua tarefa mais eficaz quanto a alcançar o povo. Ao Jesus expor-lhes os tesouros da verdade, foram como que vitalizados por divino poder, e inspirados de esperança e coragem. CBV 57 1 Mas dentro em pouco foi Ele novamente procurado pela multidão. Supondo que houvesse ido a Seu lugar habitual de retiro, o povo ali O seguiu. Foi frustrada Sua esperança de conseguir sequer uma hora de repouso. Mas, nas profundezas de Seu puro e compassivo coração, o bom Pastor das ovelhas só teve amor e piedade para com aquelas desassossegadas e sedentas. O dia todo ministrou-lhes às necessidades, e ao anoitecer os despediu para que voltassem a casa a descansar. CBV 58 1 Numa vida inteiramente devotada ao bem dos outros, o Salvador achava necessário desviar-Se da incessante atividade e do contato com as necessidades humanas, a fim de buscar o retiro e a inteira comunhão com o Pai. Ao partirem as multidões que O haviam seguido, Ele vai para as montanhas, e ali, a sós com Deus, derrama a alma em oração por essas criaturas sofredoras, pecadoras e necessitadas. CBV 58 2 Quando Jesus disse aos discípulos que a seara era grande, e poucos os obreiros, não insistiu quanto à necessidade de incessante lida, mas disse-lhes: "Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a Sua seara." Mateus 9:38. A Seus esgotados obreiros de hoje, da mesma maneira que aos primeiros discípulos, dirige Ele estas palavras de compaixão: "Vinde vós, aqui à parte, ... e repousai um pouco." Marcos 6:31. CBV 58 3 Todos quantos se acham sob as instruções de Deus precisam da hora tranquila para comunhão com o próprio coração, com a natureza e com Deus. Neles se deve revelar uma vida não em harmonia com o mundo, seus costumes e práticas; é-lhes necessário experiência pessoal em obter o conhecimento da vontade de Deus. Devemos, individualmente, ouvi-Lo falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e, em sossego, esperamos diante dEle, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus. Ele nos manda: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus." Salmos 46:10. Este é o preparo eficaz para todo trabalho feito para o Senhor. Entre o vaivém da multidão e a tensão das intensas atividades da vida, aquele que é assim refrigerado será circundado de uma atmosfera de luz e de paz. Receberá nova dotação de resistência física e mental. Sua vida exalará uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens. ------------------------Capítulo 4 -- O toque da fé CBV 59 1 "Se eu tão-somente tocar a Sua veste, ficarei sã." Mateus 9:21. Foi uma pobre mulher que proferiu essas palavras -- uma mulher que por doze anos sofrera de doença que lhe tornara a vida um fardo. Gastara todos os seus recursos com médicos e remédios, apenas para ser desenganada. Ao ouvir, porém, falar no grande Médico, reviveram-lhe as esperanças. Pensou: "Se tão-somente eu me pudesse aproximar o bastante para falar-Lhe, havia de sarar." CBV 59 2 Cristo estava a caminho para a casa de Jairo, o rabino judeu que Lhe rogara que fosse e curasse sua filha. Sua desolada súplica -- "Minha filha está moribunda; rogo-Te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva" (Marcos 5:23) -- tocara o terno e compassivo coração de Cristo, e pôs-Se imediatamente a caminho com o príncipe para sua casa. CBV 59 3 Avançavam lentamente, pois a multidão apertava a Cristo de todos os lados. Ao abrir caminho por entre a turba, o Salvador aproximou-Se do lugar em que se achava a enferma. Repetidamente buscou chegar perto dEle. Eis agora sua oportunidade. Ela não via um jeito de Lhe falar. Não buscaria entravar-Lhe a vagarosa marcha. Mas ouvira dizer que sobrevinha cura a um toque de Suas vestes; e, temendo perder o único ensejo de cura, forçou passagem para diante, dizendo consigo mesma: "Se eu tão-somente tocar a Sua veste, ficarei sã." Mateus 9:21. CBV 60 1 Cristo sabia todos os seus pensamentos, e dirigia os passos em direção a ela. Compreendia-lhe a grande necessidade, e estava-a ajudando a exercer fé. CBV 60 2 Ao Ele passar, a mulher se adiantou e conseguiu tocar-lhe de leve na orla do vestido. No mesmo momento, percebeu que estava curada. Naquele único toque concentrara a fé de sua vida, e instantaneamente desapareceram-lhe a dor e a fraqueza. Sentiu no mesmo instante a comoção como de uma corrente elétrica que lhe perpassasse pelas fibras do ser. Sobreveio-lhe uma sensação de perfeita saúde. "Sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal." Marcos 5:29. CBV 60 3 A agradecida mulher desejava exprimir sua gratidão ao poderoso Médico, que mais fizera por ela num único toque do que os doutores tinham feito em doze longos anos; mas não ousava. Com o coração cheio de reconhecimento, procurava subtrair-se à multidão. De repente, Jesus parou e, olhando em volta de Si, perguntou: "Quem é que Me tocou?" Lucas 8:45. CBV 60 4 Olhando-O surpreendido, Pedro respondeu: "Mestre, a multidão Te aperta e Te oprime, e dizes: Quem é que Me tocou?" Lucas 8:45. CBV 60 5 "Alguém Me tocou", disse Jesus, "porque bem conheci que de Mim saiu virtude." Lucas 8:46. Ele podia distinguir o toque da fé do contato casual da multidão descuidosa. Alguém O tocara com um desígnio profundo, e recebera resposta. CBV 60 6 Cristo não fez a pergunta por causa de Si mesmo. Tinha uma lição para o povo, para os discípulos e a mulher. Desejava inspirar esperança aos aflitos e mostrar que fora a fé que trouxera o poder restaurador. A confiança da mulher não devia ser passada por alto, sem comentário. Deus devia ser glorificado por sua grata confissão. Cristo desejava que ela compreendesse que Ele aprovava seu ato de fé. Não queria que se afastasse apenas com metade da bênção. Ela não devia ficar sem saber que Ele conhecia seu sofrimento, nem seu compassivo amor, e Sua aprovação à fé que depositara em Seu poder de salvar perfeitamente a todo que a Ele se dirige. CBV 61 1 Olhando para a mulher, Cristo insistiu em saber quem O havia tocado. Vendo que era inútil ocultar-se, ela se adiantou tremendo, e prostrou-se a Seus pés. Com lágrimas de gratidão contou-Lhe, perante todo o povo, porque Lhe tocara nas vestes, e como havia sido imediatamente curada. Temia que seu ato em tocar-Lhe a vestimenta fosse uma presunção; mas nenhuma palavra de censura saiu dos lábios de Cristo. Só proferiu palavras de aprovação. Estas provinham de um coração de amor, cheio de simpatia pelo infortúnio. "Tem bom ânimo, filha", disse suavemente; "a tua fé te salvou; vai em paz." Lucas 8:48. Quão animadoras foram essas palavras para ela! Agora nenhum temor de haver ofendido lhe amargurou a alegria. CBV 62 1 Aos curiosos da turba que se comprimia em volta de Jesus, não havia sido comunicado nenhum poder vital. Mas a sofredora mulher que Lhe tocara com fé recebera cura. Assim nas coisas espirituais difere o contato casual do toque da fé. Crer em Cristo meramente como o Salvador do mundo jamais trará cura à alma. A fé que é para salvação não é um simples assentimento à verdade do evangelho. Fé verdadeira é a que recebe a Cristo como Salvador pessoal. Deus deu Seu Filho unigênito, para que eu, crendo nEle, "não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Quando me aproximo de Cristo, segundo a Sua palavra, cumpre-me acreditar que recebo Sua graça salvadora. A vida que agora vivo, devo viver "na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim". Gálatas 2:20. CBV 62 2 Muitos têm a fé como uma opinião. A fé salvadora é um acordo pelo qual os que recebem a Cristo se unem em concerto com Deus. Uma fé viva quer dizer aumento de vigor, segura confiança, pela qual, mediante a graça de Cristo, a alma se torna um poder vitorioso. CBV 62 3 A fé é um conquistador mais poderoso do que a morte. Se o doente puder ser levado a fixar com fé os olhos no poderoso Médico, veremos maravilhosos resultados. Ela trará vida ao corpo e à alma. CBV 62 4 Ao trabalhar em favor das vítimas de maus hábitos, em lugar de lhes apontar o desespero e a ruína para os quais se precipitam, fazei-os volver os olhos a Jesus. Fazei-os fixá-los nas glórias do celestial. Isso fará mais pela salvação do corpo e da alma do que farão todos os terrores da sepultura quando postos diante dos destituídos de força e, aparentemente, de esperanças. "Sua Misericórdia nos Salvou" CBV 63 1 O servo de um centurião estava enfermo de paralisia. Entre os romanos, os servos eram escravos, comprados e vendidos nos mercados, e muitas vezes tratados rude e cruelmente; mas o centurião era ternamente afeiçoado a seu servo, e desejava grandemente seu restabelecimento. Acreditava que Jesus podia curá-lo. Não tinha visto o Salvador, mas as notícias que ouvira lhe haviam inspirado fé. Apesar do formalismo dos judeus, esse romano estava convencido de que a religião judaica era superior à dele. Já rompera as barreiras do preconceito e ódio nacionais que separavam o vencedor do povo vencido. Manifestara respeito pelo culto a Deus, e mostrara bondade para com os judeus como Seus adoradores. Nos ensinos de Cristo, segundo lhe haviam sido transmitidos, ele encontrara aquilo que satisfazia a necessidade da alma. Tudo quanto nele havia de espiritual correspondia às palavras do Salvador. Mas julgava-se indigno de se aproximar de Jesus, e apelou para os anciãos dos judeus para que apresentassem a petição em favor da cura de seu servo. CBV 63 2 Os anciãos apresentaram o caso a Jesus, insistindo nas palavras: "É digno de que lhe concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga." Lucas 7:4-5. CBV 63 3 Mas, a caminho para a casa do centurião, Jesus recebe uma mensagem do próprio oficial aflito: "Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado." Lucas 7:6. CBV 63 4 Todavia, o Salvador prossegue em Seu caminho, e o centurião vai em pessoa para completar a mensagem, dizendo: "Nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai; e ele vai; e a outro: Vem; e ele vem; e ao meu servo: Faze isto; e ele o faz." Lucas 7:7-8. CBV 64 1 "Eu represento o poder de Roma, e meus soldados reconhecem minha autoridade como suprema. Assim representas Tu o poder do infinito Deus, e todas as coisas criadas obedecem à Tua palavra. Podes ordenar à doença que se vá, e ela Te obedecerá. Fala somente uma palavra, e meu servo estará curado." CBV 64 2 "Como creste", disse Cristo, "te seja feito. E, naquela mesma hora, o seu criado sarou." Mateus 8:13. CBV 65 1 Os anciãos judaicos haviam recomendado o centurião a Cristo por causa do favor mostrado a "nossa nação". "É digno...", disseram eles, "porque... ele mesmo nos edificou a sinagoga". Lucas 7:4-5. Mas o centurião disse de si mesmo: "Não sou digno." Lucas 7:6. No entanto, ele não temeu pedir auxílio a Jesus. Não confiou ele em sua bondade, mas na misericórdia do Salvador. Seu único argumento era sua grande necessidade. CBV 65 2 Da mesma maneira se pode aproximar de Cristo toda criatura humana. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou." Tito 3:5. Sentis que, por serdes pecador, não podeis esperar receber bênçãos de Deus? Lembrai-vos de que Cristo veio ao mundo para salvar pecadores. Nada temos que nos recomende a Deus; a alegação em que podemos insistir agora e sempre é nossa condição de inteiro desamparo, que torna uma necessidade Seu poder redentor. Renunciando a toda confiança em nós mesmos, podemos olhar a cruz do Calvário, e dizer: CBV 65 3 "O preço do resgate eu não o tenho; Mas à Tua cruz prostrado me sustenho." CBV 65 4 "Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê." Marcos 9:23. É a fé que nos liga ao Céu, e traz-nos forças para resistir aos poderes das trevas. Em Cristo, Deus proveu meios para subjugar todo mau traço, e resistir a toda tentação, por mais forte que seja. Mas muitos sentem que lhes falta fé, e assim permanecem afastados de Cristo. Que essas almas, em sua impotente indignidade, se lancem sobre a misericórdia de seu compassivo Salvador. Não olheis a vós mesmos, mas a Cristo. Aquele que curara os enfermos e expulsara demônios quando andava entre os homens, é ainda o mesmo poderoso Redentor. Agarrai, pois, Suas promessas como folhas da árvore da vida: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora." João 6:37. Ao irdes a Ele, crede que vos aceitará, porque vos tem prometido. Nunca podereis perecer enquanto assim fizerdes -- nunca. CBV 66 1 "Deus prova o Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores." Romanos 5:8. CBV 66 2 E "se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:31-32. CBV 66 3 "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" Romanos 8:38-39. "Podes Tornar-me Limpo" CBV 67 1 De todas as doenças conhecidas no Oriente, a lepra era a mais temida. Seu caráter incurável e contagioso, e seu terrível efeito sobre as vítimas, enchiam de temor aos mais corajosos. Entre os judeus era considerada um juízo pelo pecado, e daí ser chamada "o açoite", "o dedo de Deus". Profundamente arraigada, inextirpável, mortal, olhavam-na como símbolo do pecado. CBV 67 2 Pela lei ritual, o leproso era considerado impuro. Tudo quanto ele tocasse estava imundo. O ar era corrompido por seu hálito. Como uma criatura já morta, excluíam-no das habitações dos homens. Uma pessoa suspeita de estar com essa doença devia apresentar-se aos sacerdotes, os quais a examinavam e decidiam o caso. Se declarado leproso, era isolado da família, separado da congregação de Israel e condenado a se associar unicamente com outros leprosos. Não havia exceção nem mesmo para reis e príncipes. Um governante atacado dessa terrível doença devia renunciar ao trono e fugir da sociedade. CBV 67 3 Longe dos parentes e amigos, o leproso devia suportar a maldição de sua enfermidade. Era obrigado a publicar a própria desgraça, rasgar os vestidos e fazer soar o alarme, advertindo a todos para que fugissem de sua contaminadora presença. O grito "Imundo! imundo!" (Levítico 13:45), vindo em lamentosos tons do solitário desterrado, era um sinal ouvido com temor e repulsão. CBV 68 1 Na região do ministério de Cristo achavam-se muitos desses sofredores. Quando um deles ouviu a notícia de Sua obra, a fé começou a despontar em seu coração. Se ele pudesse ir a Jesus, seria curado. Mas como encontrar Jesus? Condenado como se achava a um completo isolamento, como se apresentaria ao Médico? E Cristo iria curá-lo? Não poderia, como os fariseus e mesmo os médicos, proferir sobre ele uma maldição e adverti-lo a fugir da cidade? CBV 68 2 Pensou em tudo quanto lhe fora dito de Jesus. Ninguém que buscou Seu auxílio foi mandado embora. O desgraçado homem decidiu procurar o Salvador. Apesar de excluído das cidades, quem sabe se não lhe seria possível cruzar-Lhe o caminho em qualquer atalho da montanha, ou encontrá-Lo enquanto ensinava fora das aldeias? As dificuldades eram grandes, mas é sua única esperança. CBV 68 3 Ficando de longe, o leproso entendeu algumas palavras dos lábios do Salvador. Ele O viu pondo as mãos sobre os enfermos. Viu o coxo, o cego, o paralítico e os que estavam a morrer de várias doenças erguerem-se com saúde, louvando a Deus pela libertação. Sua fé se robusteceu. Aproximou-se mais e mais da multidão que O escutava. As restrições impostas, a segurança do povo, o temor com que todos os homens o olhavam foram juntamente esquecidos. Pensou unicamente na bendita esperança da cura. CBV 69 1 Ele apresentou um repugnante espetáculo. A doença fizera tremendas marcas e seu corpo, em decadência, era horrível de ver-se. Ao avistá-lo, o povo recuou. Em seu terror, atropelavam-se uns aos outros para escapar do contato com ele. Alguns tentavam impedi-lo de se aproximar de Jesus, mas em vão. Ele nem os viu nem os ouviu. Suas expressões de repugnância não o atingiram. Viu tão-somente o Filho de Deus, ouviu unicamente a voz que comunica vida. CBV 69 2 Avançando para Jesus, atirou-se aos Seus pés com o grito: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo." Mateus 8:2. CBV 69 3 Jesus respondeu: "Quero; sê limpo", e pôs-lhe as mãos em cima. Mateus 8:3. CBV 69 4 Imediatamente se operou uma mudança no leproso. Seu sangue tornou-se sadio, os nervos sensíveis, firmes os músculos. A pele de um branco fora do natural, escamosa, peculiar à lepra, desapareceu e sua carne ficou semelhante à de uma criancinha. CBV 69 5 Se os sacerdotes soubessem os fatos referentes à cura do leproso, seu ódio para com Cristo os levaria a dar uma sentença desonesta. Jesus desejava assegurar uma decisão imparcial. Pediu, portanto, ao homem que a ninguém contasse a cura, mas se apresentasse sem demora no templo com uma oferta, antes que qualquer rumor acerca do milagre se espalhasse. Antes que os sacerdotes pudessem aceitar tal oferta, exigia-se deles que examinassem o ofertante e se certificassem de sua completa cura. CBV 69 6 Esse exame foi feito. Os sacerdotes que haviam condenado o leproso ao exílio testificaram da cura. O homem restabelecido foi restituído à família e à sociedade. Sentiu que a dádiva da saúde era muito preciosa. Regozijava-se no vigor da varonilidade, e em se ver entre os seus. Não obstante a advertência de Jesus, ele não podia por mais tempo ocultar sua cura, e foi alegremente proclamando por todos os lugares o poder dAquele que o tinha curado. CBV 70 1 Quando esse homem chegou a Jesus, estava "cheio de lepra". Lucas 5:12. Seu mortal veneno enchia-lhe o corpo todo. Os discípulos tentaram impedir que Seu Mestre o tocasse; pois aquele que tocasse num leproso ficava também imundo. Mas, ao colocar a mão sobre o leproso, Jesus não recebeu nenhuma contaminação. A lepra estava purificada. Assim se dá com a lepra do pecado -- profundamente arraigada, mortífera, impossível de ser purificada por poder humano. "Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres." Isaías 1:5-6. Mas Jesus, vindo habitar na humanidade, não recebe nenhuma poluição. Sua presença era restauradora virtude para o pecador. Quem quer que Lhe cair aos pés, dizendo com fé: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo", ouvirá a resposta: "Quero; sê limpo." Mateus 8:2-3. CBV 70 2 Em alguns casos de cura, Jesus não concedia imediatamente a bênção solicitada. Mas, no caso da lepra, mal o apelo era feito, era ela concedida. Quando oramos por bênçãos terrestres, a resposta a nossa petição pode ser retardada ou Deus talvez nos dê uma coisa diversa daquela que pedimos; não assim, porém, quando oramos por libertação do pecado. É Sua vontade purificar-nos do pecado, tornar-nos Seus filhos, e habilitar-nos a viver uma vida santa. Cristo "Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai." Gálatas 1:4. "E esta é a confiança que temos nEle: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos." 1 João 5:14-15. CBV 71 1 Jesus olhava aos aflitos e desalentados, aqueles cujas esperanças se haviam desvanecido, e que procuravam, com alegrias terrenas, acalentar os anseios da alma, e convidava todos a nEle buscarem descanso. Descanso CBV 71 2 Com ternura pedia ao fatigado povo: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. CBV 71 3 Por essas palavras, Cristo Se dirigia a todos os seres humanos. Saibam-no eles ou não, todos se acham cansados e oprimidos. Todos estão vergados sob fardos que unicamente Cristo pode remover. O mais pesado fardo que levamos é o do pecado. Se fôssemos deixados a suportar-lhe o peso, ele nos esmagaria. Mas Aquele que era sem pecado tomou-nos o lugar. "O Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos." Isaías 53:6. CBV 71 4 Ele carregou o fardo de nossa culpa. Ele tomará o peso de nossos cansados ombros. Ele nos dará descanso. O fardo de cuidado e aflição, Ele o conduzirá também. Convida-nos a lançar sobre Ele toda a nossa solicitude; pois traz-nos sobre o coração. CBV 71 5 O Irmão mais velho de nossa raça está ao pé do trono eterno. Atenta para toda pessoa que volve o rosto para Ele como o Salvador. Conhece por experiência o que são as fraquezas da humanidade, quais as nossas necessidades, e onde está a força de nossas tentações; pois "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado". Hebreus 4:15. Está vigiando por ti, tremente filho de Deus. Estás tentado? Ele te livrará. Sentes-te fraco? Fortalecer-te-á. És ignorante? Esclarecer-te-á. Estás ferido? Há de te sarar. O Senhor "conta o número das estrelas"; e todavia "sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas". Salmos 147:4 e 3. CBV 72 1 Sejam quais forem vossas ansiedades e provações, exponde vosso caso perante o Senhor. Vosso espírito será fortalecido para a resistência. O caminho se abrirá para vos libertardes de todo embaraço e dificuldade. Quanto mais fraco e impotente vos reconhecerdes, tanto mais forte vos tornareis em Sua força. Quanto mais pesados vossos fardos, tanto mais abençoado o descanso em os lançar sobre vosso Ajudador. CBV 72 2 As circunstâncias podem separar amigos; as ondas desassossegadas do vasto mar podem rolar entre nós e eles. Mas nenhuma circunstância, distância alguma nos pode separar do Salvador. Estejamos onde estivermos, Ele Se acha à nossa mão direita para sustentar, manter, proteger e animar. Maior que o amor de uma mãe por seu filho, é o de Cristo por seus remidos. É nosso privilégio descansar em Seu amor; dizer: "Nele confiarei; pois deu a Sua vida por mim." CBV 72 3 O amor humano pode mudar; mas o amor de Cristo não conhece variação. Quando a Ele clamamos por socorro, Sua mão está estendida para salvar. CBV 72 4 "As montanhas se desviarão E os outeiros tremerão; Mas a Minha benignidade não se desviará de ti, E o concerto da Minha paz não mudará, Diz o Senhor, que Se compadece de ti." Isaías 54:10. ------------------------Capítulo 5 -- A cura da alma CBV 73 1 Muitos dos que iam ter com Cristo em busca de auxílio, haviam trazido sobre si a enfermidade; todavia, Ele não Se recusava a curá-los. E quando a virtude que dEle provinha penetrava nessas pessoas, elas experimentavam a convicção do pecado, e muitos eram curados de sua enfermidade espiritual, bem como da doença física. CBV 73 2 Entre esses estava o paralítico de Cafarnaum. Como o leproso, esse paralítico perdera toda esperança de restabelecimento. Sua doença era o resultado de uma vida pecaminosa, e seus sofrimentos eram amargurados pelo remorso. Em vão apelara para os fariseus e os doutores em busca de alívio; pronunciaram incurável o seu mal, declararam que havia de morrer sob a ira de Deus. CBV 73 3 O paralítico imergira no desespero. Ouviu então contar as obras de Jesus. Outros, tão pecadores e desamparados como ele, haviam sido curados, e foi animado a crer que também ele o poderia ser, se fosse levado ao Salvador. Sua esperança quase se desvaneceu ao lembrar-se da causa de seu mal, todavia não podia rejeitar a possibilidade da cura. CBV 74 1 Seu grande desejo era o alívio do grande fardo do pecado. Ansiava ver a Jesus, e receber a certeza do perdão e a paz com o Céu. Então estaria contente de viver ou morrer, segundo a vontade de Deus. CBV 74 2 Não havia tempo a perder; sua carne consumida já apresentava indícios de morte. Suplicou aos amigos que o conduzissem em seu leito a Jesus, o que empreenderam satisfeitos. Tão compacta era, porém, a multidão que se aglomerara dentro e em volta da casa em que estava o Salvador, que era impossível ao doente e seus amigos chegarem até Ele, ou mesmo pôr-se-Lhe ao alcance da voz. Jesus estava ensinando na casa de Pedro. Segundo seu costume, os discípulos sentaram-se ao Seu redor, "e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém". Lucas 5:17. Muitos deles tinham ido como espiões, buscando acusação contra Jesus. Além destes apinhava-se a promíscua multidão, os fervorosos, os reverentes, os curiosos e os incrédulos. Achavam-se representadas diferentes nacionalidades e todos os graus sociais. "E a virtude do Senhor estava com Ele para curar." Lucas 5:17. O Espírito de vida pairava sobre a assembléia, mas os fariseus e os doutores não Lhe discerniam a presença. Não experimentavam nenhum sentimento de necessidade, e a cura não era para eles. "Encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos." Lucas 1:53. CBV 75 1 Repetidamente procuraram os condutores do paralítico forçar caminho por entre a multidão, mas nulos eram seus esforços. O doente olhava em redor com inexprimível angústia. Como poderia ele abandonar a esperança quando tão perto estava o anelado auxílio? Por sugestão sua, os amigos o suspenderam para o telhado da casa e, abrindo o teto, baixaram-no aos pés de Jesus. CBV 75 2 O discurso foi interrompido. O Salvador contemplou a dolorosa fisionomia, e viu os olhos súplices nEle cravados. Bem conhecia Ele o anelo daquela alma oprimida. Fora Cristo quem lhe infundira convicção à consciência quando ele ainda se achava na própria casa. Quando se arrependera de seus pecados, e crera no poder de Jesus para restaurá-lo, a misericórdia do Salvador lhe abençoara o coração. Jesus observava o desenvolver-se no primeiro tênue raio de fé a convicção de que Ele era o único auxílio do pecador, e a vira se fortalecer a cada esforço por chegar à Sua presença. Fora Cristo que atraíra o sofredor a Si. Agora, em palavras que soavam qual música aos ouvidos atentos do enfermo, o Salvador disse: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados." Mateus 9:2. CBV 76 1 O peso da culpa cai da alma do doente. Não pode duvidar. As palavras de Cristo revelam Seu poder de ler o coração. Quem pode negar Seu poder de perdoar pecados? A esperança toma o lugar do desespero, e a alegria o do opressivo acabrunhamento. Desaparece o sofrimento físico do homem, e todo o seu ser se acha transformado. Sem mais nada pedir, repousa em tranquilo silêncio, demasiado feliz para falar. CBV 76 2 Com a respiração suspensa de interessados que estavam, muitos observavam cada gesto nesse estranho acontecimento. Muitos sentiam que as palavras de Cristo eram um convite para eles mesmos. Não eram eles enfermos da alma por causa do pecado? Não estavam ansiosos de ser libertados desse fardo? CBV 76 3 Mas os fariseus, receosos de perder a influência para com o povo, diziam em seu coração: "Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Marcos 2:7. CBV 76 4 Fixando neles o olhar, sob o qual se intimidaram e retrocederam, Jesus disse: "Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados", disse Ele voltando-Se para o paralítico: "Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa." Mateus 9:4-6. CBV 77 1 Então aquele que havia sido levado num leito a Jesus pôs-se de pé com a elasticidade e a força de um jovem. E "tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos." Marcos 2:12. CBV 77 2 Nada menos do que poder criador é o que foi requerido para restituir à saúde aquele corpo em decadência. A mesma voz que comunicou vida ao homem criado do pó da terra infundira vida ao paralítico moribundo. E o mesmo poder que dera vida ao corpo renovara o coração. Aquele que, na criação, "falou, e tudo se fez", que "mandou, e logo tudo apareceu" (Salmos 33:9), comunicara vida à alma morta em ofensas e pecados. A cura do corpo era uma evidência do poder que renovara o coração. Cristo mandou que o paralítico se erguesse e andasse, "para que saibais", disse Ele, "que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados". Mateus 9:6. CBV 77 3 O paralítico encontrou em Cristo tanto a cura da alma como a do corpo. Ele necessitava saúde da alma antes de poder apreciar a do corpo. Antes de poder ser curada a enfermidade física, Cristo precisava dar alívio à mente, e purificar a alma do pecado. Essa lição não deve ser passada por alto. Existem hoje milhares de pessoas a sofrer de doenças físicas, as quais, como o paralítico, estão ansiando a mensagem: "Perdoados te são os teus pecados." Mateus 9:2. O fardo do pecado, com seu desassossego e desejos não satisfeitos, é o fundamento de sua doença. Não podem encontrar alívio enquanto não forem ter com o Médico da alma. A paz que tão-somente Ele pode comunicar restituiria vigor à mente e saúde do corpo. CBV 78 1 O efeito produzido no povo pela cura do paralítico foi como se o céu se houvesse aberto e revelado as glórias do mundo melhor. Ao passar por entre a multidão o homem que tinha sido curado, bendizendo a Deus a cada passo, e levando sua carga como se fossem penas, o povo recuava para lhe dar passagem e fitava-o com fisionomia cheia de respeito, murmurando suavemente entre si: "Hoje, vimos prodígios". Lucas 5:26. CBV 79 1 Grande regozijo houve na casa do paralítico quando ele voltou para a família, levando com facilidade o leito em que fora penosamente conduzido dentre eles, pouco antes. Reuniram-se ao seu redor com lágrimas de alegria, mal ousando crer no que seus olhos viam. Ele ali estava no pleno vigor da varonilidade. Aqueles braços que antes estavam sem vida, achavam-se agora prontos a obedecer-lhe à vontade. A carne antes encolhida e arroxeada era agora fresca e rosada. Ele caminhava com passo firme e desembaraçado. Alegria e esperança achavam-se impressos em cada traço de seu rosto; e uma expressão de pureza e paz havia tomado o lugar dos vestígios do pecado e do sofrimento. Alegres ações de graças subiram daquele lar, e Deus foi glorificado por meio de Seu Filho, que restituíra a esperança ao destituído dela, e força ao abatido. Esse homem e sua família estavam prontos a dar a vida por Jesus. Nenhuma dúvida ofuscava sua fé; nenhuma descrença lhes prejudicava a fidelidade para com Aquele que lhes trouxera luz ao ensombrado lar. CBV 79 2 "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, E tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, E não te esqueças de nenhum de Seus benefícios. É Ele que perdoa todas as tuas iniquidades E sara todas as tuas enfermidades; Quem redime a tua vida da perdição; ... De sorte que a tua mocidade se renova como a águia. O Senhor faz justiça E juízo a todos os oprimidos. Não nos tratou segundo os nossos pecados, Nem nos retribuiu segundo as nossas iniquidades. Como um pai se compadece de seus filhos, Assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa est rutura; Lembra-Se de que somos pó." Salmos 103:1-6, 10, 13-14. "Queres Ficar São?" CBV 81 1 "Ora, em Jerusalém há, próximo à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia grande multidão de enfermos: cegos, coxos e paralíticos, esperando o movimento das águas." João 5:2-3. CBV 81 2 A certos períodos as águas desse poço eram agitadas, e acreditava-se geralmente que era o resultado de um poder sobrenatural, e que aquele que primeiro descesse à água depois do movimento dela seria curado de qualquer doença que tivesse. Centenas de sofredores visitavam esse lugar; mas tão grande era a multidão quando as águas eram agitadas, que se precipitavam para diante, atropelando homens, mulheres e crianças mais fracos que eles. Muitos não podiam se aproximar do poço. Muitos também que tinham conseguido chegar à beira dele, ali morriam. Haviam sido construídos abrigos em volta do lugar, a fim de proteger os doentes do calor do dia e do frio da noite. Alguns passavam a noite nesses alpendres, arrastando-se para a margem do tanque dia após dia, na vã esperança de cura. CBV 81 3 Jesus achava-Se em Jerusalém. Caminhando sozinho, em aparente meditação e oração, chegou ao poço. Viu os míseros aflitos vigilantes por aquilo que julgavam sua única oportunidade de cura. Ele almejava exercer Seu poder restaurador, curando cada um daqueles sofredores. Mas era sábado. Multidões estavam se dirigindo ao templo para o culto, e Ele sabia que tal ato de cura despertaria o preconceito dos judeus, os quais cerceariam Sua obra. CBV 81 4 Mas o Salvador viu um caso de supremo infortúnio. Era o de um homem que estava inválido há trinta e oito anos. Sua doença era, em grande parte, resultado de seus hábitos maus, e era considerada como um juízo de Deus. Sozinho e sem amigos, sentindo-se excluído da misericórdia de Deus, o enfermo havia passado longos anos de miséria. Na hora em que se esperava o movimento das águas, os que se compadeciam de seu desamparo o levavam para os alpendres. Mas, no momento exato, ninguém o ajudava a entrar. Ele vira a agitação das águas, mas jamais conseguira chegar além da margem do tanque. Outros mais fortes que ele imergiam primeiro. O pobre e impotente enfermo não podia competir com a multidão mais ágil e egoísta. Os persistentes esforços na perseguição daquele único objetivo, e a ansiedade e contínua decepção, estavam minando rapidamente as forças que lhe restavam. CBV 83 1 Jazia o enfermo em sua esteira, erguendo às vezes a cabeça para olhar o tanque, quando o terno e compassivo rosto se curvou para ele, e lhe prenderam a atenção as palavras: "Queres ficar são?" João 5:6. Nasceu-lhe no coração a esperança. Sentiu que, de alguma maneira, lhe viria auxílio. Mas logo se dissipou o clarão dessa esperança. Lembrou-se de quantas vezes tentara chegar ao poço, e tinha agora pouca probabilidade de viver até que ele fosse novamente agitado. Voltou-se fatigado, dizendo: "Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me coloque no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim." João 5:7. CBV 84 1 Jesus ordena-lhe: "Levanta-te, toma a tua cama e anda." João 5:8. Renovada a esperança, o enfermo olha para Jesus. A expressão de Seu semblante e o tom da voz são diferentes de tudo o mais que vira antes. Sua própria presença parece irradiar amor e poder. A fé do paralítico apega-se à palavra de Cristo. Sem replicar, dirige sua vontade no sentido da obediência e, assim fazendo, todo o seu corpo corresponde. CBV 84 2 Cada nervo, cada músculo, vibra com uma nova vida, e sadia ação vem aos membros paralisados. Num salto, ei-lo de pé e põe-se a caminho com passo firme e desenvolto, louvando a Deus, e regozijando-se no vigor que acabava de receber. CBV 84 3 Jesus não dera ao inválido qualquer certeza de auxílio divino. O homem poderia ter dito: "Senhor, se me puseres são, obedecerei à Tua palavra." Poderia haver-se detido para duvidar, tendo assim perdido seu único ensejo de cura. Mas não, ele creu na palavra de Cristo, creu que estava são; fez imediatamente o esforço, e Deus lhe deu o poder; determinou andar, e andou. Agindo segundo a palavra de Cristo, foi curado. CBV 84 4 Pelo pecado, fomos separados da vida de Deus. Nossa alma acha-se paralítica. Não somos, por nós mesmos, mais capazes de viver uma vida santa do que o impotente homem era capaz de andar. Muitos compreendem sua impotência; anelam aquela vida espiritual que lhes trará harmonia com Deus, e estão-se esforçando por obtê-la. Mas em vão. Em desespero, clamam: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. Que essas almas abatidas, em luta, olhem para o alto. O Salvador inclina-Se sobre a aquisição de Seu sangue, dizendo com inexprimível ternura e piedade: "Queres ficar são?" João 5:6. Manda-vos levantar em saúde e paz. Não espereis sentir que estais são. Crede na palavra do Salvador. Ponde vossa vontade do lado de Cristo. Determinai servi-Lo, e agindo em obediência a Sua palavra, recebereis forças. Seja qual for a má prática, a paixão dominante que, devido a longa condescendência, prende tanto a alma como o corpo, Cristo é capaz de libertar, e anseia fazê-lo. Ele comunicará vida aos seres "mortos em ofensas". Efésios 2:1. Porá em liberdade o cativo, preso por fraqueza e infortúnio e pelas cadeias do pecado. CBV 85 1 O senso do pecado tem envenenado as fontes da vida. Mas Cristo diz: "Eu tirarei vossos pecados; dar-vos-ei paz. Comprei-vos com Meu sangue. Sois Meus. Minha graça fortalecerá vossa vontade enfraquecida; o remorso do pecado, Eu hei de remover." Quando vos assaltam tentações, quando vos rodeiam cuidado e perplexidade, quando, deprimidos e desanimados, vos achais prestes a ceder ao desespero, olhai a Jesus, e as trevas que vos envolvem dissipar-se-ão ao brilho de Sua presença. Quando o pecado luta pelo predomínio em vossa alma, e sobrecarrega a consciência, olhai ao Salvador. Sua graça é suficiente para subjugar o pecado. Que vosso grato coração, trêmulo de incerteza, se volva para Ele. Apoderai-vos da esperança posta diante de vós. Cristo espera adotar-vos em Sua família. Sua força ajudará vossa fraqueza; conduzir-vos-á passo a passo. Colocai nas Suas a vossa mão, e deixai que Ele vos guie. CBV 85 2 Nunca julgueis que Cristo está distante. Ele está sempre perto. Sua amorável presença vos rodeia. Procurai-O como a Alguém que deseja ser achado por vós. Deseja que não somente Lhe toqueis as vestes, mas caminheis com Ele em constante comunhão. "Não Peques Mais" CBV 86 1 Acabara a Festa dos Tabernáculos. Os sacerdotes e rabis em Jerusalém haviam sido logrados em suas tramas contra Jesus, e ao cair da noite "cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o Monte das Oliveiras". João 7:53-81. CBV 86 2 Fugindo à agitação e confusão da cidade, às turbas ansiosas e aos traiçoeiros rabis, Jesus desviou-Se para o sossego dos bosques das oliveiras, onde podia estar a sós com Deus. De manhã cedo, porém, voltou ao templo; e, ajuntando-se o povo em torno dEle, sentou-Se e pôs-Se a ensinar. CBV 87 1 Foi logo interrompido. Um grupo de fariseus e escribas aproximou-se dEle, arrastando consigo uma mulher possuída de terror, a quem, com veemência e dureza, acusavam de haver violado o sétimo mandamento. Empurrando-a para a presença de Jesus, disseram, com hipócrita manifestação de respeito: "Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando, e, na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?" João 8:4-5. CBV 88 1 Sua fingida reverência encobria uma trama astutamente urdida para Sua ruína. Se Jesus absolvesse a mulher, seria acusado de desprezar a lei de Moisés. Se a declarasse digna de morte, poderia ser acusado aos romanos como alguém que pretendia autoridade que unicamente a eles pertencia. CBV 88 2 Jesus contemplou a cena -- a trêmula vítima em sua vergonha, a fisionomia dura dos dignitários, destituídos de simples piedade humana. Seu espírito de imaculada pureza como que recuou do espetáculo. Sem dar nenhum sinal de haver ouvido a pergunta, curvou-Se e, fixando os olhos no chão, pôs-Se a escrever na areia. CBV 88 3 Impacientes com Sua demora e aparente indiferença, os acusadores aproximaram-se mais, insistindo em Lhe chamar a atenção para o assunto. Mas, quando seus olhos, seguindo os de Jesus, caíram no chão a Seus pés, suas vozes emudeceram. Ali, traçados diante deles, achavam-se os criminosos segredos da vida de cada um. CBV 88 4 Erguendo-Se, e fixando os olhos nos astuciosos anciãos, Jesus disse: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela." João 8:7. E, inclinando-Se, continuou a escrever. CBV 88 5 Ele não pusera de lado a lei mosaica, nem desrespeitara a autoridade romana. Os acusadores foram derrotados. Agora, havendo-lhes sido arrancadas as vestes de pretendida santidade, ali estavam, culpados e condenados, em presença da infinita pureza. Tremendo, não fosse a oculta iniquidade de sua vida exposta perante a multidão, cabisbaixos, retiraram-se furtivamente, deixando sua vítima com o compassivo Salvador. CBV 88 6 Jesus ergueu-Se e, olhando para a mulher, disse: "Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem Eu também te condeno; vai-te e não peques mais." João 8:10-11. CBV 89 1 A mulher estivera diante de Jesus toda encolhida de temor. Suas palavras: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela" (João 8:7), soaram-lhe aos ouvidos como uma sentença de morte. Ela não ousava erguer os olhos para o rosto do Salvador, mas esperava em silêncio sua condenação. Com espanto viu os acusadores retirarem-se mudos e confundidos; então, chegaram-lhe ao ouvido aquelas palavras de esperança: "Nem Eu também te condeno; vai-te e não peques mais." João 8:11. Enterneceu-se o coração, e atirando-se aos pés de Jesus, soluçou seu reconhecido amor, e com amargo pranto confessou seus pecados. CBV 89 2 Isso foi para ela o começo de uma nova vida, uma vida de pureza e paz, devotada a Deus. No reerguimento dessa alma caída, Jesus realizou um milagre maior do que na cura da mais terrível doença; curou a doença espiritual que produz morte eterna. Esta arrependida mulher tornou-se um de Seus mais firmes seguidores. Com abnegado amor e devoção, mostrou seu reconhecimento pela perdoadora misericórdia de Jesus. Para essa desviada mulher não tinha o mundo senão desprezo e zombaria; mas Aquele que é sem pecado compadeceu-Se de sua fraqueza, e estendeu-lhe ajudadora mão. Enquanto os fariseus hipócritas acusavam, Jesus mandou-lhe: "Vai-te e não peques mais." CBV 89 3 Jesus conhece as circunstâncias de toda pessoa. Quanto maior a culpa do pecador, tanto mais necessita ele do Salvador. Seu coração de divino amor e simpatia é atraído acima de tudo para aquele que se acha mais desesperadoramente enredado nos laços do inimigo. Com o próprio sangue assinou Ele a carta de emancipação da raça humana. CBV 90 1 Jesus não deseja que fiquem desprotegidos ante às tentações de Satanás os que por tal preço foram adquiridos. Não deseja que sejamos vencidos e venhamos a perecer. Aquele que fechou a boca aos leões na cova, e andou com Seus fiéis por entre as chamas da fornalha, está igualmente disposto a trabalhar em nosso favor, a subjugar todo mal em nossa natureza. Hoje, está Ele ao altar da misericórdia, apresentando perante Deus as súplicas dos que Lhe desejam o auxílio. Não repele nenhuma criatura chorosa e arrependida. Perdoa abundantemente a todos quantos vão ter com Ele em busca de perdão e restauração. Ele não conta a ninguém tudo quanto poderia revelar, mas manda a toda alma tremente que tenha ânimo. Quem quiser pode apoderar-se da força de Deus, e fazer paz com Ele, e Ele fará paz. CBV 90 2 Aqueles que se volvem para Ele em busca de refúgio, Jesus ergue acima das acusações e da contenda das línguas. Nem homem nem anjo mau algum podem comprometê-los. Cristo os liga a Sua própria natureza divino-humana. Eles se acham ao lado do grande Salvador, na luz que procede do trono de Deus. CBV 90 3 O sangue de Jesus "purifica de todo pecado". 1 João 1:7. CBV 90 4 "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Romanos 8:33-34. CBV 91 1 Sobre os ventos e as ondas, e sobre homens possessos de demônios, mostrou Cristo que tinha absoluto poder. Aquele que fez emudecer a tempestade e acalmou o revoltoso mar comunicou paz a espíritos enlouquecidos e subjugados por Satanás. CBV 91 2 Na sinagoga de Cafarnaum, estava Jesus falando sobre Sua missão de libertar os escravos do pecado. Foi interrompido por um urro de terror. Um louco precipitou-se para a frente, por entre o povo, gritando: "Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus." Marcos 1:24. CBV 91 3 Jesus repreendeu o demônio, dizendo: "Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal." Lucas 4:35. CBV 91 4 A causa da aflição desse homem se achava também em sua própria vida. Fora fascinado pelos prazeres do pecado, e pensara tornar a vida um grande carnaval. A intemperança e a frivolidade perverteram os nobres atributos de sua natureza, e Satanás tomou inteira posse dele. O remorso veio muito tarde. Quando ele teria sacrificado riqueza e prazer para reconquistar sua perdida varonilidade, tinha-se tornado impotente nas garras do maligno. CBV 91 5 Na presença do Salvador foi despertado para ansiar a liberdade; mas o demônio resistia ao poder de Cristo. Quando o homem tentava apelar para Jesus em busca de socorro, o mau espírito pôs-lhe nos lábios as palavras, e ele gritou em angústia de temor. O endemoninhado compreendeu em parte achar-se em presença dAquele que o podia pôr em liberdade; mas quando tentou colocar-se ao alcance daquela poderosa mão, outra vontade o segurou; as palavras de outro foram por ele proferidas. CBV 92 1 Foi terrível o combate entre o poder de Satanás e seu desejo de libertação. Parecia que o torturado homem devesse perder a vida na luta com o inimigo que fora a ruína de sua varonilidade. Mas o Salvador falou com autoridade e pôs livre o cativo. O homem que estivera possesso achava-se perante o povo maravilhado, na liberdade da posse de si mesmo. CBV 92 2 Com voz de júbilo deu louvores a Deus pelo livramento. Os olhos que, ainda há pouco, fulguravam com o brilho da loucura, cintilavam agora de inteligência, e nadavam em lágrimas de reconhecimento. O povo emudecera de pasmo. Assim que recuperaram a palavra, exclamavam uns para os outros: "Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!" Marcos 1:27. CBV 92 3 Hoje existem multidões tão verdadeiramente sob o poder dos maus espíritos como estava o endemoninhado de Cafarnaum. Todos aqueles que voluntariamente se apartam dos mandamentos de Deus estão-se colocando sob o domínio de Satanás. Muito homem brinca com o mal, julgando que o pode deixar quando lhe aprouver; mas é engodado mais e mais, até que se encontra dominado por uma vontade mais forte que a sua própria. Não pode escapar ao seu misterioso poder. Pecado secreto ou paixão dominante o pode reter cativo, tão impotente como se achava o endemoninhado de Cafarnaum. CBV 93 1 Todavia, sua condição não é desesperadora. Deus não domina nossa mente sem nosso consentimento; mas toda pessoa é livre para escolher o poder que deseja domine sobre ela. Ninguém caiu tão baixo, ninguém há tão vil, que não possa encontrar libertação em Cristo. O endemoninhado, em lugar de oração, não podia proferir senão as palavras de Satanás; porém, o silencioso apelo do seu coração foi ouvido. Nenhum grito de uma alma em necessidade, mesmo sem ser enunciado em palavras, será desatendido. Os que concordam em entrar em concerto com Deus não são deixados entregues ao poder de Satanás ou à enfermidade de sua própria natureza. CBV 93 2 "Tirar-se-ia a presa ao valente? Ou os presos justamente escapariam? ... Assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a presa do tirano escapará; porque Eu contenderei com os que contendem contigo e os teus filhos Eu remirei." Isaías 49:24-25. CBV 93 3 Maravilhosa será a transformação operada naquele que, pela fé, abre a porta do coração ao Salvador. "Eis que vos Dou Poder" CBV 94 1 Como os doze apóstolos, os setenta discípulos a quem Cristo enviou mais tarde receberam dons sobrenaturais como selo de sua missão. Quando sua obra estava concluída, voltaram com alegria, dizendo: "Senhor, pelo Teu nome, até os demônios se nos sujeitam." Lucas 10:17. Jesus respondeu: "Eu via Satanás, como raio, cair do Céu." Lucas 10:18. CBV 94 2 Dali em diante, os seguidores de Cristo deviam olhar Satanás como um inimigo vencido. Na cruz devia Jesus ganhar a vitória para eles; essa vitória, Ele desejava que aceitassem como sua própria. "Eis", disse Ele, "que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum." Lucas 10:19. CBV 94 3 O onipotente poder do Espírito Santo é a defesa de toda alma contrita. Cristo não permitirá que ninguém que, em arrependimento e fé, haja clamado por Sua proteção passe para sob o poder do inimigo. É verdade que Satanás é um poderoso ser; mas, graças a Deus, temos um Todo-poderoso Salvador, que expulsou do Céu o maligno. Satanás se agrada quando magnificamos seu poder. Por que não falar de Jesus? Por que não engrandecer Seu poder e amor? CBV 94 4 O arco-íris da promessa, circundando o trono de Deus no alto, é um perpétuo testemunho de que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Ele testifica diante do Universo que Deus nunca abandonará Seus filhos na luta com o mal. É para nós uma garantia de força e proteção enquanto durar o próprio trono. ------------------------Capítulo 6 -- Salvo para servir CBV 95 1 Manhã, no Mar da Galiléia. Jesus e Seus discípulos chegaram à praia depois de uma noite tempestuosa sobre as águas, e a luz do sol nascente banha a terra e o mar como a bênção da paz. Ao saltarem na praia, porém, são recebidos por um espetáculo mais terrível que o mar agitado pela tempestade. De lugares ocultos por entre os túmulos, dois loucos precipitam-se sobre eles, como se os quisessem despedaçar. Pendem-lhes em volta restos de correntes que quebraram para escapar da prisão. Sua carne está dilacerada e sangrenta, os olhos brilham dentre o longo e emaranhado cabelo; o próprio aspecto humano parece haver-se neles apagado. Têm mais a aparência de animais selvagens que de homens. CBV 95 2 Os discípulos e seus companheiros fogem aterrorizados; mas logo percebem que Jesus não Se acha entre eles, e voltam-se à Sua procura. Ele está no mesmo lugar em que O deixaram. Aquele que fizera silenciar a tempestade, que havia anteriormente enfrentado e vencido a Satanás, não foge diante desses demônios. Quando os homens, rangendo os dentes e espumando, se aproximam dEle, Jesus ergue aquela mão que, num gesto, impusera calma aos vagalhões, e eles não se podem aproximar mais. Estacam perante Ele, furiosos, mas impotentes. CBV 96 1 Com autoridade ordena aos espíritos imundos que saiam deles. Os infelizes homens compreendem estar ali perto Alguém que os pode salvar dos atormentadores demônios. Caem aos pés do Salvador para suplicar misericórdia; mas, quando os lábios se abrem, os demônios falam por eles, bradando: "Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?" Mateus 8:29. CBV 97 1 Os maus espíritos são forçados a libertar suas vítimas, e aos possessos sobrevém uma transformação maravilhosa. A luz brilha em sua mente. Os olhos iluminam-se de inteligência. A fisionomia por tanto tempo desfigurada à semelhança de Satanás torna-se de repente branda, aquietam-se as mãos ensanguentadas, e os homens erguem a voz em louvores a Deus. CBV 97 2 Entretanto os demônios, expulsos de sua humana habitação, entraram nos porcos, impelindo-os à destruição. Seus guardadores correm para anunciar o acontecido, e toda a população aflui ao encontro de Jesus. Os dois endemoninhados haviam sido o terror do lugar. Agora, esses homens estão vestidos e em seu perfeito juízo, sentados aos pés de Jesus escutando-Lhe as palavras, e glorificando o nome dAquele que os curara. Mas os que testemunham essa maravilhosa cena não se regozijam. O prejuízo dos porcos lhes parece de maior importância que a libertação desses cativos de Satanás. Em terror, aglomeram-se em volta de Jesus, rogando-Lhe que se aparte deles, no que os satisfaz, tomando imediatamente o barco para o outro lado. CBV 98 1 Muito diferente é o sentir dos restaurados possessos. Eles desejam a companhia de seu libertador. Em Sua presença sentem-se seguros contra os demônios que lhes atormentaram a vida e arruinaram a varonilidade. Quando Jesus estava para entrar no barco, mantiveram-se bem próximo dEle e, ajoelhando aos Seus pés, rogam para ficar ao Seu lado, onde poderão ouvir Suas palavras. Mas Jesus lhes pede que vão para casa, e contem quão grandes coisas o Senhor fez por eles. CBV 98 2 Ali estava uma obra para eles fazerem -- ir a um lar gentio, e contar as bênçãos que haviam recebido de Jesus. Duro lhes é separarem-se do Salvador. Grandes dificuldades os rodearão na convivência com seus conterrâneos pagãos. E o grande afastamento em que tinham vivido da sociedade parece incapacitá-los para esse trabalho. Mas, assim que Ele lhes indica o dever, estão prontos a obedecer-Lhe. CBV 98 3 Não somente contaram em sua própria casa e na vizinhança o que dizia respeito a Jesus, mas foram por toda a Decápolis, declarando em toda parte Seu poder de salvar e, descrevendo como Ele os libertara dos demônios. CBV 98 4 Embora o povo de Gergesa não tivesse recebido a Jesus, Ele não os entregou às trevas que haviam preferido. Quando Lhe pediram que os deixasse, não tinham ouvido Suas palavras. Ignoravam aquilo que estavam rejeitando. Enviou-lhes portanto a luz, e por meio daqueles a quem não se recusariam a escutar. CBV 98 5 Ocasionando a destruição dos porcos, era desígnio de Satanás afastar o povo do Salvador, e impedir a pregação do evangelho naquela região. Mas esta própria ocorrência despertou o povo dali como nenhuma outra coisa poderia ter feito, e atraiu a atenção para Cristo. Conquanto o próprio Salvador partisse, ficaram os homens a quem Ele tinha curado como testemunhas de Seu poder. Aqueles que haviam sido instrumentos do príncipe das trevas tornaram-se condutores de luz, mensageiros do Filho de Deus. Quando Jesus voltou a Decápolis, o povo se aglomerou ao Seu redor, e por três dias milhares de pessoas de todos os arredores ouviram a mensagem de salvação. CBV 99 1 Os dois endemoninhados restituídos à razão foram os primeiros missionários que Cristo enviou a ensinar o evangelho na região de Decápolis. Apenas pouco tempo haviam esses homens escutado Suas palavras. Nem um sermão de Seus lábios lhes havia caído nos ouvidos. Não podiam instruir o povo como os discípulos, que tinham estado diariamente com Cristo, eram capazes de fazer. Mas podiam contar o que sabiam; o que eles próprios viram e ouviram e sentiram do poder do Salvador. É isto que pode fazer todo aquele cujo coração foi tocado pela graça de Deus. É esse o testemunho que nosso Senhor requer, e por cuja falta está o mundo a perecer. CBV 99 2 O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, os homens podem possuir semelhança de caráter com Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que demos testemunho de que Ele não pode ficar satisfeito enquanto todos quantos hão de aceitar a salvação não forem reivindicados e reintegrados em seus santos privilégios como Seus filhos e filhas. CBV 99 3 Mesmo aqueles cujo procedimento Lhe tem sido mais ofensivo, Ele aceita plenamente. Quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, e envia-os ao campo dos desleais para proclamar Sua misericórdia. Almas que têm sido degradadas a instrumentos de Satanás são ainda, pelo poder de Cristo, transformadas em mensageiros de justiça, e mandadas a contar quão grandes coisas o Senhor fez por elas, e como teve compaixão delas. Louvor Para Sempre CBV 100 1 Depois que a mulher de Cafarnaum fora curada pelo toque da fé, Jesus desejou que ela reconhecesse a bênção que recebera. Os dons que o evangelho oferece não são para uma pessoa deles se apoderar furtivamente, nem fruí-los em segredo. CBV 100 2 "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus." Isaías 43:12. CBV 100 3 Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Cumpre-nos reconhecer Sua graça segundo foi dada a conhecer por intermédio dos santos homens da antiguidade; mas o que será mais eficaz é o testemunho de nossa própria experiência. Somos testemunhas de Deus ao revelarmos em nós mesmos a operação de um poder divino. Cada indivíduo tem uma vida diversa da de todos os outros, e uma experiência que difere muito da deles. Deus deseja que nosso louvor ascenda a Ele, levando o cunho de nossa própria personalidade. Esses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando fortalecidos por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, o qual opera para salvação de almas. CBV 100 4 É benefício para nós o conservarmos viva na memória cada dádiva de Deus. Por esse meio a fé é fortalecida para invocar e receber mais e mais. Há maior ânimo na mínima bênção que nós mesmos recebemos de Deus do que em todas as narrações que possamos ler da fé e experiência de outros. A alma que corresponde à graça de Deus será como um jardim regado. Sua saúde apressadamente brotará; sua luz brilhará nas trevas, e sobre ela se verá a glória do Senhor. CBV 101 1 "Que darei eu ao Senhor Por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação E invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, Agora, na presença de todo o Seu povo." Salmos 116:12-14. CBV 101 2 "Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; Cantarei louvores ao meu Deus, enquanto existir. A minha meditação a Seu respeito será suave; Eu me alegrarei no Senhor." Salmos 104:33-34. CBV 101 3 "Quem pode referir as obras poderosas do Senhor? Quem anunciará os Seus louvores?" Salmos 106:2. CBV 101 4 "Invocai o Seu nome; Fazei conhecidas as Suas obras entre os povos. Cantai-Lhe, cantai-Lhe salmos; Falai de todas as Suas maravilhas. Gloriai-vos no Seu santo nome; Alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor." Salmos 105:1-3. CBV 101 5 "Porque a Tua benignidade é melhor do que a vida; Os meus lábios Te louvarão. A minha alma se fartará, como de tutano e de gordura; E a minha boca Te louvará com alegres lábios, Quando me lembrar de Ti na minha cama E meditar em Ti nas vigílias da noite. Porque Tu tens sido o meu auxílio; Jubiloso cantarei refugiado à sombra das Tuas asas." Salmos 63:3, 5-7. CBV 101 6 "Em Deus tenho posto a minha confiança; Não temerei o que me possa fazer o homem. Os Teus votos estão sobre mim, ó Deus; Eu Te renderei ações de graças; Pois tu livraste a minha alma da morte, Como também os meus pés de tropeçarem, Para que eu ande diante de Deus na luz dos viventes." Salmos 56:11-13. CBV 101 7 "Ó Santo de Israel. Os meus lábios exultarão quando eu Te cantar, Assim como a minha alma que Tu remiste. A minha língua falará da Tua justiça todo o dia." Salmos 71:22-24. CBV 102 1 "Tu és a minha esperança, ... desde a minha mocidade. ... O meu louvor será para Ti constantemente." Salmos 71:5-6. CBV 102 2 "Farei lembrado o Teu nome...; Pelo que os povos Te louvarão eternamente." Salmos 45:17. "De Graça Recebestes, de Graça Dai" CBV 102 3 O convite evangélico não deve ser limitado, e apresentado apenas a alguns escolhidos que, supomos, nos farão honra se o aceitarem. A mensagem deve ser dada a todos. Quando Deus abençoa Seus filhos, não é apenas por amor deles mesmos, mas do mundo. Quando nos confere Seus dons, é para que os multipliquemos transmitindo-os a outros. CBV 102 4 A samaritana que conversou com Jesus junto ao poço de Jacó, mal achou o Salvador, levou outros a Ele. Mostrou-se mais eficiente missionária que os próprios discípulos. Esses nada viram em Samaria que indicasse ser ela um campo animador. Tinham os pensamentos fixos numa grande obra a ser efetuada no futuro. Não viram que mesmo junto deles estava uma colheita a fazer. Mas, por intermédio da mulher a quem desprezavam, toda uma cidade foi levada a ouvir Jesus. Ela levou imediatamente a luz a seus conterrâneos. CBV 102 5 Essa mulher representa a operação de uma fé prática em Cristo. Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário. Assim que vem a conhecer o Salvador, deseja pôr os outros em contato com Ele. A santificadora verdade não pode ficar encerrada em seu coração. Aquele que bebe da água viva torna-se uma fonte de vida. O recipiente vem a ser um doador. A graça de Cristo na alma é como uma fonte no deserto, vertendo para refrigerar a todos, e fazendo com que os prestes a perecer tenham sede da água da vida. Fazendo esta obra, é recebida uma maior bênção do que se trabalhamos unicamente para nos beneficiar a nós mesmos. É trabalhando para disseminar as boas novas de salvação que somos levados perto do Salvador. CBV 103 1 Dos que recebem Sua graça, diz o Senhor: CBV 103 2 "E a elas e aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênção serão." Ezequiel 34:26. CBV 103 3 "No último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-Se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre." João 7:37-38. CBV 103 4 Os que recebem devem comunicar a outros. De todas as direções vêm pedidos de auxílio. Deus roga aos homens que ministrem alegremente a seus semelhantes. Há coroas imortais a conquistar; temos a ganhar o reino do Céu; o mundo, a perecer na ignorância, tem de ser iluminado. CBV 103 5 "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna." João 4:35-36. CBV 104 1 Por três anos, os discípulos tiveram diante deles o maravilhoso exemplo de Jesus. Dia a dia, andavam e falavam com Ele, ouvindo-Lhe as palavras de ânimo ao cansado e oprimido, e assistindo às manifestações de Seu poder em favor do doente e do aflito. Ao chegar o tempo em que devia deixá-los, deu-lhes graça e poder para levar avante Sua obra em Seu nome. Deviam irradiar a luz de Seu evangelho de amor e cura. E o Salvador prometeu que Sua presença estaria sempre com eles. Por meio do Espírito Santo Jesus estaria mesmo mais perto deles do que quando andava visivelmente entre os homens. CBV 104 2 A obra que os discípulos fizeram, também nós devemos fazer. Todo cristão deve ser missionário. Cumpre-nos, em simpatia e compaixão, servir aos que necessitam de auxílio, buscando com abnegado zelo aliviar as misérias da humanidade sofredora. CBV 104 3 Todos podem encontrar alguma coisa para fazer. Ninguém deve achar que não há lugar em que possa trabalhar por Cristo. O Salvador Se identifica com todo filho da humanidade. Para que nos pudéssemos tornar membros da família celeste, Ele Se fez membro da família da Terra. É o Filho do homem, e assim um irmão de todo filho e filha de Adão. Seus seguidores não devem se sentir separados do mundo que está a perecer em volta deles. Fazem parte da grande teia da humanidade, e o Céu os considera como irmãos dos pecadores da mesma maneira que dos santos. CBV 104 4 Milhões e milhões de seres humanos, em enfermidades, ignorância e pecado, jamais ouviram sequer falar no amor de Cristo por eles. Fossem nossa posição e a sua invertidas, que desejaríamos que eles fizessem por nós? Tudo isso, o quanto estiver ao nosso alcance, devemos nós fazer por eles. A regra de vida de Cristo, segundo a qual todos nós devemos subsistir ou perecer no juízo, é: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. CBV 105 1 Por tudo que nos confere vantagem sobre outros -- seja educação, seja refinamento, nobreza de caráter e instrução cristã, seja experiência religiosa -- achamo-nos em dívida para com os menos favorecidos; e, tanto quanto esteja em nosso poder, cumpre-nos servi-los. Se somos fortes, devemos apoiar as mãos dos fracos. CBV 105 2 Anjos da glória, que vêem sempre a face do Pai do Céu, regozijam-se em servir aos Seus pequeninos. Os anjos estão sempre presentes onde são mais necessitados, junto àqueles que têm a combater as mais renhidas batalhas com o próprio eu, e cujo ambiente é o mais desanimador. Fracas e trementes almas que têm muitos objetáveis traços de caráter são seu especial encargo. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante -- servir àqueles que se acham na miséria e são, em todos os aspectos, inferiores em caráter -- eis a obra dos puros e santos seres das cortes do alto. CBV 105 3 Jesus não considerou o Céu um lugar desejável enquanto nós nos achávamos perdidos. Abandonou as cortes celestes por uma vida de ignomínia e insulto, e uma morte vergonhosa. Aquele que era rico do inapreciável tesouro do Céu, tornou-Se pobre, para que, por meio de Sua pobreza, nós nos pudéssemos enriquecer. Cumpre-nos seguir na senda por Ele trilhada. CBV 105 4 Aquele que se torna um filho de Deus deve, daí em diante, considerar-se como um elo na cadeia descida para salvar o mundo, um com Cristo em Seu plano de misericórdia, indo com Ele a buscar e salvar o perdido. CBV 105 5 Muitos acham que seria grande privilégio visitar o cenário da vida de Cristo na Terra, andar pelos lugares por Ele trilhados, contemplar o lago à margem do qual gostava de ensinar, e os montes e vales em que tantas vezes pousaram Seus olhos. Mas não necessitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum, ou a Betânia, para podermos andar nas pegadas de Jesus. Acharemos os vestígios dos Seus passos ao lado do leito do enfermo, nas favelas, nas apinhadas avenidas das grandes cidades e em todo lugar em que há corações humanos necessitados de consolação. CBV 106 1 Temos de alimentar o faminto, vestir o nu, confortar o aflito e o sofredor. Devemos ajudar os que estão em desespero, e inspirar esperança aos destituídos dela. CBV 106 2 O amor de Cristo, manifestado num ministério abnegado, será mais eficaz na reforma do malfeitor do que a espada ou o tribunal de justiça. Esses precisam incutir terror ao transgressor da lei, mas o amorável missionário pode fazer mais do que isso. Muitas vezes o coração que se endurece sob a reprovação, abranda-se ante o amor de Cristo. CBV 106 3 O missionário não somente pode aliviar as doenças físicas, como pode conduzir o pecador ao grande Médico, o qual é capaz de curar a alma da lepra do pecado. Por intermédio de Seus servos designa Deus que os doentes, os desafortunados e os possessos de espíritos maus hão de escutar Sua voz. Por meio dos instrumentos humanos Ele deseja ser um Consolador como o mundo desconhece. CBV 106 4 O Salvador deu a própria vida a fim de estabelecer uma igreja capaz de ajudar aos sofredores, aos aflitos, aos tentados. Um grupo de crentes pode ser pobre, destituído de educação e desconhecido; todavia em Cristo podem fazer uma obra no lar, no lugar em que vivem, e mesmo em terras afastadas; obras cujos resultados serão de alcance tão vasto como a eternidade. CBV 106 5 Não menos que aos seguidores de Cristo outrora, são dirigidas aos de hoje essas palavras: "É-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações." Mateus 28:18-19. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. CBV 107 1 Também para nós é a promessa de Sua presença: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. CBV 107 2 Hoje em dia, não afluem multidões de curiosos aos desertos a fim de ver e ouvir a Jesus. Sua voz não se faz ouvir nas movimentadas ruas. Não soa nos caminhos o grito: É Jesus de Nazaré que passa. (Lucas 18:37.) CBV 107 3 Todavia essa palavra é verdadeira em nossos dias. Cristo passa por nossas ruas sem ser visto. Vem a nossos lares com mensagens de misericórdia. Ele acompanha a todos quantos estão buscando ministrar em Seu nome, a fim de com eles cooperar. Acha-Se entre nós para curar e abençoar, se O recebemos. CBV 107 4 "Assim diz o Senhor: No tempo favorável, te ouvi e, no dia da salvação, te ajudei, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, para restaurares a Terra e lhe dares em herança as herdades assoladas; para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei." Isaías 49:8-9. CBV 107 5 "Quão suaves são sobre os montes Os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, Que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, Que diz a Sião: O teu Deus reina!" Isaías 52:7. CBV 107 6 "Clamai cantando, exultai juntamente, desertos...! Porque o Senhor consolou o Seu povo. ... O Senhor desnudou o Seu santo braço Perante os olhos de todas as nações; E todos os confins da Terra Verão a salvação do nosso Deus." Isaías 52:9-10. ------------------------Capítulo 7 -- A cooperação do Divino com o humano CBV 111 1 No ministério da cura, o médico tem de ser um cooperador de Cristo. O Salvador assistia tanto à alma como ao corpo. O evangelho por Ele pregado era uma mensagem de vida espiritual e de restauração física. O libertamento do pecado e a cura da doença estavam ligados entre si. O mesmo ministério é confiado ao médico cristão. Ele deve se unir a Cristo no aliviar tanto as necessidades físicas como as espirituais de seus semelhantes. Cumpre-lhe ser para o enfermo um mensageiro de misericórdia, levando-lhe um remédio ao corpo doente e à alma enferma de pecado. CBV 111 2 Cristo é a verdadeira cabeça da profissão médica. O Médico-chefe acha-Se ao lado de todo clínico que trabalha para aliviar os sofrimentos humanos. Ao mesmo tempo que emprega remédios naturais para a doença física, o médico deve encaminhar seus doentes Àquele que pode aliviar tanto os males da alma como os do corpo. Aquilo que os médicos só podem ajudar a fazer é realizado por Cristo. Eles se esforçam por auxiliar a operação da natureza na cura; quem cura é o próprio Cristo. O médico busca conservar a vida; Jesus a comunica. A Fonte da Cura CBV 112 1 Em Seus milagres, o Salvador revela o poder que está continuamente operando em favor do homem, para manter e curar. Por intermédio de agentes naturais, Deus está operando dia a dia, hora a hora, momento a momento, para nos conservar em vida, construir e restaurar-nos. Quando qualquer parte do corpo sofre um dano, principia imediatamente um processo de cura; os agentes da natureza põem-se em operação para restaurar a saúde. Mas o poder que opera por intermédio seu é o poder de Deus. Todo poder comunicador de vida tem nEle sua origem. Quando alguém se restabelece de uma enfermidade, é Deus que o restaura. CBV 113 1 Doença, sofrimento e morte são obra de um poder antagônico. Satanás é o destruidor; Deus, o restaurador. CBV 113 2 As palavras dirigidas a Israel verificam-se hoje naqueles que recuperam a saúde do corpo ou da alma. "Eu sou o Senhor, que te sara." Êxodo 15:26. CBV 113 3 O desejo de Deus para com toda criatura humana, exprime-se nas palavras: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma." 3 João 1:2. CBV 113 4 "É Ele que perdoa todas as tuas iniquidades e sara todas as tuas enfermidades; quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia." Salmos 103:3-4. CBV 113 5 Quando Cristo curava a doença, advertia a muitos dos enfermos: "Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior." João 5:14. Assim Ele ensinava que haviam trazido sobre si mesmos a doença transgredindo as leis de Deus, e que a saúde podia ser preservada unicamente pela obediência. CBV 113 6 O médico deve ensinar a seus pacientes que devem cooperar com Deus na obra de restauração. O médico tem uma compreensão sempre crescente de que a enfermidade é o resultado do pecado. Sabe que as leis da natureza são tão verdadeiramente divinas como os preceitos do decálogo, e que unicamente obedecendo-lhes podemos conservar ou recuperar a saúde. Ele vê sofrendo muitos em resultado de práticas nocivas, os quais poderiam ser restituídos à saúde caso fizessem o possível em benefício de sua própria cura. Precisam que se lhes ensine que toda prática destrutiva das energias físicas, mentais ou espirituais é pecado, e que a saúde tem de ser garantida por meio da obediência às leis estabelecidas por Deus para o bem da humanidade. CBV 114 1 Quando um médico vê um doente sofrendo uma doença ocasionada por regime alimentar impróprio, ou outros hábitos errôneos, e todavia deixa de dizer-lhe isso, está fazendo um mal a seu semelhante. Bêbados, maníacos, os que se entregam a licenciosidade, todos apelam ao médico para que lhes declare positiva e claramente que o sofrimento é resultado do pecado. Os que compreendem os princípios da vida deviam ser zelosos em lutar para combater as causas das doenças. Vendo o contínuo conflito com a dor, trabalhando constantemente para aliviar o sofrimento, como pode o médico manter-se em silêncio? É ele benévolo e misericordioso se não ensina a estrita temperança como o remédio contra a doença? CBV 114 2 Torne-se claro que o caminho dos mandamentos de Deus é a vereda da vida. Deus estabeleceu as leis da natureza, mas Suas leis não são arbitrárias exigências. Todo "Não farás", seja na lei física seja na moral, implica uma promessa. Se obedecemos, a bênção nos seguirá os passos. Deus nunca nos força a fazer o que é direito, mas nos procura salvar do mal e levar-nos ao bem. CBV 114 3 Chame-se a atenção às leis ensinadas a Israel. Deus lhes deu definidas instruções quanto a seus hábitos de vida. Deu-lhes a conhecer as leis relativas tanto ao bem-estar físico como ao espiritual; e, sob a condição de obediência, assegurou-lhes: "E o Senhor de ti desviará toda enfermidade." Deuteronômio 7:15. "Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós." Deuteronômio 32:46. "Porque são vida para os que as acham e saúde para o seu corpo." Provérbios 4:22. CBV 114 4 Deus deseja que alcancemos a norma de perfeição que o dom de Cristo nos tornou possível. Ele nos convida a fazer nossa escolha do direito, para nos ligarmos com os instrumentos celestes, adotarmos princípios que hão de restaurar em nós a imagem divina. Na palavra escrita e no grande livro da natureza, Ele revelou os princípios da vida. É nossa obra obter conhecimento desses princípios e, pela obediência, cooperar com Ele na restauração da saúde do corpo bem como da alma. CBV 115 1 Os homens precisam saber que as bênçãos da obediência, em sua plenitude eles só podem fruir à medida que receberem a graça de Cristo. É Sua graça que dá ao homem poder para obedecer às leis de Deus. É isso que o habilita a quebrar as cadeias do mau hábito. Esse é o único poder que pode colocá-lo e conservá-lo firme no caminho do direito. CBV 115 2 Quando o evangelho é recebido em sua pureza e poder, é uma cura para as doenças originadas pelo pecado. O Sol da Justiça ergue-Se "trazendo salvação nas Suas asas". Malaquias 4:2. Todos os recursos do mundo não podem curar um coração quebrantado, nem comunicar paz de espírito, nem remover o cuidado, nem banir a enfermidade. A fama, o engenho, o talento -- são todos impotentes para alegrar um coração dolorido ou restaurar uma vida arruinada. A vida de Deus na alma, eis a única esperança do homem. CBV 115 3 O amor difundido por Cristo por todo o ser é um poder vitalizante. Todo órgão vital -- o cérebro, o coração, os nervos -- esse amor toca, transmitindo cura. Por ele são despertadas para a atividade as mais altas energias do ser. Liberta a alma da culpa e da dor, da ansiedade e do cuidado que consomem as forças vitais. Vêm com ele serenidade e compostura. Implanta na alma uma alegria que coisa alguma terrestre pode destruir -- a alegria no Espírito Santo -- alegria que comunica saúde e vida. CBV 115 4 As palavras de nosso Salvador "Vinde a Mim, ... e Eu vos aliviarei" (Mateus 11:28) são uma receita para a cura dos males físicos, mentais e espirituais. Embora os homens hajam trazido sobre si o sofrimento por causa de suas más ações, Ele os olha com piedade. NEle podem encontrar socorro. Grandes coisas fará por aqueles que nEle confiam. CBV 116 1 Se bem que por séculos o pecado tenha estado a intensificar seu domínio sobre a raça humana, não obstante por meio de mentiras e artifícios Satanás haver lançado a negra sombra de sua interpretação sobre a Palavra de Deus, e feito os homens duvidarem de Sua bondade, a misericórdia e amor do Pai não têm cessado de fluir em abundantes torrentes para a Terra. Se os seres humanos abrissem as janelas da alma em direção ao Céu, apreciando as divinas dádivas, por elas penetraria uma onda de restauradora virtude. CBV 116 2 O médico que deseja ser um aceitável coobreiro de Cristo esforçar-se-á por se tornar eficiente em todos os ramos de seu trabalho. Estudará diligentemente, a fim de se habilitar para as responsabilidades de sua profissão e buscará com afinco atingir uma norma mais elevada, procurando crescente conhecimento, maior habilidade e mais profundo discernimento. Todo médico devia compreender que aquele que faz um trabalho fraco, ineficiente, está causando prejuízo não só ao doente, como também a seus colegas de profissão. O médico que se satisfaz com uma baixa norma de competência e conhecimento não somente amesquinha a profissão médica, mas desonra ao próprio Cristo, o Médico-chefe. CBV 116 3 Os que se sentem inaptos para a obra médica devem escolher outra profissão. Os que são bem capazes de cuidar dos doentes, mas cuja educação e habilitações médicas são limitadas, fariam bem em empreender as partes mais humildes dessa obra, trabalhando fielmente como enfermeiros. Mediante paciente serviço sob a direção de hábeis médicos, poderão aprender continuamente, e aproveitando toda oportunidade de adquirir conhecimento tornar-se, a seu tempo, plenamente habilitados para realizar obra médica. Que os médicos mais jovens "cooperando também com Ele [o Médico-chefe]", ... não recebam "a graça de Deus em vão, ... não dando... escândalo em coisa alguma, para que o... ministério não seja censurado. Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo". 2 Coríntios 6:1, 3-4. CBV 117 1 O desígnio de Deus a nosso respeito é que avancemos sempre em direção ascendente. O verdadeiro médico-missionário será um profissional de habilidade sempre maior. Talentosos médicos cristãos, possuindo superior capacidade profissional, deviam ser procurados, e animados a entrar para o serviço de Deus em lugares em que possam instruir e preparar outros para que se tornem médicos-missionários. CBV 117 2 O médico deve reunir em sua alma a luz da Palavra de Deus. Deve fazer contínuo progresso na graça. Para ele, a religião não deve ser meramente uma influência entre outras. Tem de ser uma força que domine todas as outras. Deve agir por elevados e santos motivos -- motivos que são poderosos porque provêm dAquele que deu Sua vida para nos proporcionar poder a fim de vencer o mal. CBV 117 3 Se o médico se esforçar fiel e diligentemente para se tornar eficiente em sua profissão, se ele se consagrar ao serviço de Cristo, e dedicar tempo para examinar o próprio coração, compreenderá a maneira de se apoderar dos mistérios de sua vocação sagrada. Poderá disciplinar-se e educar-se de tal modo, que todos os que se encontram dentro da esfera de sua influência verão a excelência da educação e da sabedoria obtidas por meio dAquele que Se acha ligado com o Deus de sabedoria e poder. CBV 117 4 Em parte alguma é mais necessária uma íntima comunhão com Cristo do que na obra do médico. Aquele que queira realizar devidamente os deveres médicos deve viver, dia a dia, hora a hora, uma vida cristã. A vida do enfermo está nas mãos do médico. Um diagnóstico negligente, uma receita errada, num caso melindroso, ou um inábil movimento da mão, por um fio de cabelo sequer, numa operação, e uma vida pode ser sacrificada, uma alma lançada à eternidade. Que solene pensamento! Como é importante que o médico esteja sempre sob a direção do Médico divino! CBV 117 5 O Salvador está disposto a ajudar a todos quantos O invoquem em busca de sabedoria e discernimento. E quem mais necessita de sabedoria e clareza de idéias do que o médico, de cujas decisões tanto depende? Que aquele que está procurando prolongar a vida olhe com fé em Cristo para que Ele lhe dirija cada movimento. O Salvador lhe dará tato e habilidade no lidar com os casos difíceis. CBV 118 1 Maravilhosas são as oportunidades oferecidas aos guardiões dos enfermos. Em tudo quanto se faz para a restauração dos doentes, faça-se com que eles compreendam estar o médico procurando ajudá-los a cooperar com Deus no combate à doença. Levai-os a sentir que, em cada passo dado em harmonia com as leis de Deus, eles podem esperar o auxílio do poder divino. CBV 118 2 Se crêem que o médico ama e teme a Deus, os doentes e sofredores terão muito mais confiança nele. Descansam em sua palavra. Experimentam um sentimento de segurança na presença e na direção desse médico. CBV 118 3 Conhecendo o Senhor Jesus, é o privilégio do clínico cristão pedir em oração Sua presença no quarto do enfermo. Antes de efetuar uma operação melindrosa, peça o cirurgião o auxílio do grande Médico. Assegure ao paciente que Deus pode fazê-lo passar a salvo pelo problema, que em todos os tempos de aflição é Ele um seguro refúgio para os que nEle confiam. O médico que não pode fazer isso perde um caso após o outro que, do contrário, teriam sido salvos. Se ele pudesse proferir palavras que inspirassem fé no compassivo Salvador que sente cada pulsação de angústia, e Lhe pudesse apresentar em oração as necessidades da alma, a crise passaria frequentemente com mais facilidade. CBV 118 4 Unicamente Aquele que lê o coração pode saber com que tremor e terror consentem muitos pacientes numa operação às mãos de um médico. Compreendem o perigo em que se acham. Conquanto tenham confiança na competência do cirurgião, sabem que ele não é infalível. Ao verem, porém, o médico curvado em oração, pedindo o auxílio de Deus, são inspirados a confiar. Gratidão e confiança abrem-lhe o coração ao poder restaurador de Deus, as energias de todo o ser são possuídas de vigor, e as forças vitais triunfam. CBV 119 1 Também ao médico a presença do Salvador é um elemento de força. Muitas vezes as responsabilidades e possibilidades de sua obra lhe trazem temor ao espírito. A febre da incerteza e do receio tornaria inábil sua mão. Mas a certeza de que o divino Conselheiro Se acha ao seu lado, a guiá-lo e sustê-lo, comunica serenidade e ânimo. O toque de Cristo na mão do médico traz-lhe vitalidade, calma, confiança e poder. CBV 119 2 Tendo passado a salvo o momento da crise, e havendo perspectiva de êxito, sejam alguns momentos dedicados a orar com o paciente. Exprimi vosso reconhecimento pela vida que foi poupada. Ao brotarem dos lábios do paciente palavras de gratidão para com o médico, faça este que essa gratidão seja dirigida a Deus. Dizei-lhe que sua vida foi poupada porque ele se achava sob a proteção do Médico celeste. CBV 119 3 O médico que segue essa orientação está conduzindo o doente para Aquele de quem depende a sua vida, Aquele que é capaz de salvar plenamente todos quantos a Ele se chegam. CBV 119 4 Na obra do médico-missionário deve-se introduzir um profundo anseio por almas. Ao médico, da mesma maneira que ao pastor, é confiado o mais precioso depósito que já se entregou ao homem. Compreenda-o ele ou não, a todo médico é confiada a cura de almas. CBV 119 5 Em sua obra de tratar com doença e morte, perdem os médicos frequentemente de vista as solenes realidades da vida futura. Em seu ansioso esforço por afastar o perigo do corpo, esquecem o da alma. Aquele a quem estão ministrando pode estar-se desprendendo dos laços da vida. Estão-lhe fugindo as últimas oportunidades. Essa pessoa, o médico há de encontrar de novo no tribunal de Cristo. CBV 120 1 Perdemos muitas vezes as mais preciosas bênçãos por negligenciar proferir uma palavra a seu tempo. Se não vigiarmos a áurea oportunidade, esta se perderá. Ao pé do enfermo, não se deve dizer nenhuma palavra relativa a credos ou pontos controvertidos. Que o sofredor seja encaminhado Àquele que está disposto a salvar a todos quantos a Ele vão ter com fé. Esforçai-vos zelosa e ternamente por ajudar a alma que paira entre a vida e a morte. CBV 120 2 O médico que sabe ser Cristo seu Salvador pessoal, porque ele próprio foi conduzido ao Refúgio, sabe lidar com as almas trementes, culpadas, enfermas de pecado, que para ele se volvem em busca de auxílio. Sabe responder à pergunta: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos 16:30. Pode contar a história do amor do Redentor. Pode falar por experiência do poder do arrependimento e da fé. Em palavras simples e fervorosas, sabe apresentar a Deus em oração as necessidades da alma, e animar o doente a pedir também e aceitar a misericórdia do compassivo Salvador. Ao ministrar ele assim ao pé do leito do doente, esforçando-se por proferir palavras que levem auxílio e conforto, o Senhor opera com ele e por intermédio dele. Ao ser o espírito do sofredor encaminhado a Cristo, Sua paz enche-lhe o coração, e a saúde espiritual que lhe sobrevém é empregada como a mão ajudadora de Deus na restauração da saúde do corpo. CBV 121 1 Ao atender um doente, muitas vezes o médico encontra oportunidade de confortar seus queridos. Enquanto eles permanecem à beira do leito do sofredor, sentindo-se impotentes para livrá-lo da agonia, seu coração se abranda. Muitas vezes a mágoa de outros ocultada é exposta ao médico. É então o ensejo de encaminhar esses aflitos Àquele que convidou cansados e oprimidos a irem a Ele. Pode-se fazer orações com eles e por eles, apresentando suas necessidades ao Aliviador de todos os infortúnios, o Suavizador de todas as dores. As Promessas de Deus CBV 121 2 O médico tem preciosas oportunidades para dirigir a atenção de seus doentes para as promessas da Palavra de Deus. Cumpre-lhe tirar do tesouro coisas novas e velhas, falando aqui e ali as ansiadas palavras de conforto e instrução. Torne o médico sua mente um tesouro de novos pensamentos. Estude diligentemente a Palavra de Deus, a fim de estar familiarizado com suas promessas. Aprenda a repetir as confortadoras palavras que Cristo proferiu durante Seu ministério terrestre, quando dava Suas lições e curava os enfermos. Deve falar das obras de cura realizadas por Cristo, de Sua ternura e Seu amor. Nunca negligencie o encaminhar a mente dos doentes para Cristo, o Médico por excelência. CBV 122 1 O mesmo poder exercido por Cristo enquanto andava visivelmente entre os homens acha-se em Sua Palavra. Era por Sua palavra que Jesus curava a doença e expulsava os demônios; por Sua palavra, acalmava o mar, e ressuscitava os mortos; e o povo dava testemunho de que Sua palavra tinha autoridade. Ele falava a Palavra de Deus, a mesma que falara a todos os profetas e mestres do Antigo Testamento. Toda a Bíblia é uma manifestação de Cristo. CBV 122 2 As Escrituras devem ser recebidas como a Palavra de Deus a nós, não meramente escrita, mas falada também. Quando os aflitos iam ter com Cristo, Ele os via não somente a eles que pediam auxílio, mas a todos quantos, através dos séculos, haviam de buscá-Lo com igual necessidade e idêntica fé. Quando disse ao paralítico: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados" (Mateus 9:2); quando disse à mulher de Cafarnaum: "Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz" (Lucas 8:48), dirigia-Se a outros sofredores, oprimidos do pecado, que haviam de ir ter com Ele em busca de auxílio. CBV 122 3 O mesmo se dá quanto a todas as promessas da Palavra de Deus. Por meio delas, Ele nos está falando a nós, individualmente; falando tão diretamente, como se Lhe pudéssemos ouvir a voz. É por intermédio dessas promessas que Cristo nos comunica Sua graça e poder. Elas são folhas daquela árvore que é "para a saúde das nações". Apocalipse 22:2. Recebidas, assimiladas, elas serão a fortaleza do caráter, a inspiração e o sustentáculo da vida. Nenhuma outra coisa pode possuir tal poder restaurador. Nada além delas pode comunicar o ânimo, e a fé que dá energia vital a todo o ser. CBV 122 4 A alguém que se acha a tremer de temor à beira da sepultura, à alma cansada do fardo de sofrimento e pecado, repita o médico, quando se lhe oferecer ensejo, as palavras do Salvador -- pois todas as palavras das Santas Escrituras são Suas: "Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome; tu és Meu. Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque Eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador. ... Enquanto foste precioso aos Meus olhos, também foste glorificado, e Eu te amei." Isaías 43:1-4. "Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim e dos teus pecados Me não lembro." Isaías 43:25. "Não temas, pois, porque estou contigo." Isaías 43:5. CBV 123 1 "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-Se de que somos pó." Salmos 103:13-14. CBV 123 2 "Somente reconhece a tua iniquidade, que contra o Senhor, teu Deus, transgrediste." Jeremias 3:13. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 João 1:9. CBV 123 3 "Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados, como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi." Isaías 44:22. CBV 123 4 "Vinde, então, e argui-me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra." Isaías 1:18-19. CBV 123 5 "Com amor eterno te amei; também com amorável benignidade te atraí." Jeremias 31:3. "Escondi a Minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna Me compadecerei de ti." Isaías 54:8. CBV 123 6 "Não se turbe o vosso coração." João 14:1. "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27. CBV 124 1 "E será aquele Varão como um esconderijo contra o vento, e como um refúgio contra a tempestade, e como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta." Isaías 32:2. CBV 124 2 "Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor, os ouvirei, Eu, o Deus de Israel os não desampararei." Isaías 41:17. CBV 124 3 "Assim diz o Senhor que te criou...: Derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o Meu Espírito sobre a tua posteridade e a Minha bênção, sobre os teus descendentes." Isaías 44:2-3. CBV 124 4 "Olhai para Mim e sereis salvos, vós, todos os termos da Terra." Isaías 45:22. CBV 124 5 "Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças." Mateus 8:17. "Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados." Isaías 53:5. ------------------------Capítulo 8 -- O médico é um educador CBV 125 1 O verdadeiro médico é um educador. Ele reconhece sua responsabilidade, não somente para com o doente que se acha sob seu cuidado imediato, mas também para com a coletividade no meio da qual vive. Ocupa o lugar de um guardião tanto da saúde física como da moral. É seu esforço, não somente conseguir métodos corretos no tratamento dos enfermos, mas incentivar hábitos sãos de vida, e disseminar o conhecimento dos retos princípios. Educação nos Princípios de Saúde CBV 125 2 Nunca foram mais necessários os conhecimentos dos princípios de saúde do que o são na atualidade. Apesar dos maravilhosos progressos em tantos ramos relativos aos confortos e comodidades da vida, mesmo no que respeita a questões sanitárias e tratamento de doenças, é alarmante o declínio do vigor físico e do poder de resistência. Isso exige a atenção de todos quantos levam a sério o bem-estar de seus semelhantes. CBV 125 3 Nossa civilização artificial está fomentando males que destroem os sãos princípios. Os costumes e as modas se acham em guerra com a natureza. As práticas a que eles obrigam, e as condescendências que fomentam, estão diminuindo rapidamente a resistência física e mental, e trazendo sobre a raça insuportável fardo. A intemperança e o crime, a doença e a miséria encontram-se por toda parte. CBV 126 1 Muitos transgridem as leis de saúde devido à ignorância, e necessitam instruções. A maioria, porém, sabe melhor do que aquilo que pratica. Esses precisam ser impressionados quanto à importância de tornar o conhecimento que têm um guia de vida. O médico tem muitas oportunidades tanto de comunicar o conhecimento dos princípios de saúde como de mostrar a importância de pô-los em prática. Mediante as devidas instruções, muito pode fazer para corrigir males que estão produzindo indizível dano. CBV 126 2 Um costume que está deitando bases a vasta soma de doenças e males mais sérios ainda é o livre uso de drogas venenosas. Quando atacados pela enfermidade, muitos não se darão ao trabalho de descobrir a causa do mal. Sua principal ansiedade é verem-se livres da dor e dos desconfortos. Recorrem portanto a panacéias, cujas reais propriedades eles mal conhecem, ou recorrem a um médico para neutralizar os efeitos de seu mau proceder, mas sem nenhuma idéia de mudar seus nocivos hábitos. Caso não sintam benefícios imediatos, experimentam outro remédio, e depois outro. Assim continua o mal. CBV 126 3 O povo precisa que se lhes ensine que as drogas não curam as doenças. É verdade que elas por vezes proporcionam temporário alívio, e o paciente parece restabelecer-se em resultado de havê-las usado; isso acontece porque a natureza possui bastante força vital para expelir o veneno, e corrigir as condições ocasionadoras do mal. A saúde é recuperada a despeito da droga. Mas na maioria dos casos ela apenas muda a forma e o local da doença. Muitas vezes o efeito do veneno parece ser vencido por algum tempo, mas os resultados permanecem no organismo, operando posteriormente grande dano. CBV 126 4 Com o uso de drogas venenosas, muitos trazem sobre si doença para toda a vida, e perdem-se muitos que poderiam ser salvos com o emprego de métodos naturais. Os venenos contidos em muitos dos chamados remédios formam hábitos e apetites que importam em ruína tanto para o corpo como para a alma. Muitos dos populares remédios patenteados, e mesmo algumas drogas receitadas por médicos, desempenham seu papel em deitar bases para o hábito da bebida, do ópio, da morfina, os quais são uma tão terrível maldição para a sociedade. CBV 127 1 A única esperança de coisas melhores está na educação do povo nos verdadeiros princípios. Ensinem os médicos ao povo que o poder restaurador não se encontra em drogas, porém na natureza. A doença é um esforço da natureza para libertar o organismo de condições resultantes da violação das leis da saúde. Em caso de doença, convém verificar a causa. As condições insalubres devem ser mudadas, os maus hábitos corrigidos. Então se auxilia a natureza em seu esforço para expelir as impurezas e restabelecer as condições normais no organismo. Remédios Naturais CBV 127 2 Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino -- eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve possuir conhecimentos dos meios terapêuticos naturais, e da maneira de aplicá-los. É essencial tanto compreender os princípios envolvidos no tratamento do doente como ter um preparo prático que habilite a empregar devidamente esse conhecimento. CBV 127 3 O uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço que muitos não estão dispostos a exercer. O processo da natureza para curar e construir é gradual, e isso parece vagaroso ao impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a natureza, não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram na obediência a suas leis ceifarão galardão em saúde de corpo e de alma. CBV 128 1 Bem pouca é a atenção dada em geral à conservação da saúde. É incomparavelmente melhor evitar a doença do que saber tratá-la uma vez contraída. CBV 128 2 É o dever de toda pessoa, por amor de si mesma, e por amor da humanidade, instruir-se quanto às leis da vida, e a elas prestar conscienciosa obediência. Todos precisam familiarizar-se com esse organismo, o mais maravilhoso de todos, que é o corpo humano. Devem compreender as funções dos vários órgãos, e a dependência de uns para com os outros quanto ao são funcionamento de todos. Cumpre-lhes estudar a influência da mente sobre o corpo, e deste sobre aquela, e as leis pelas quais são eles regidos. O Preparo Para a Luta da Vida CBV 128 3 Nunca será demais lembrar que a saúde não depende do acaso. É resultado da obediência da lei. Isso é reconhecido pelos competidores nos jogos atléticos e nas provas de resistência. Esses homens preparam-se da maneira mais cuidadosa. Submetem-se a um treino perfeito, e uma estrita disciplina. Todo hábito físico é cuidadosamente regulado. Sabem que a negligência, o excesso ou a indiferença, que enfraquecem ou prejudicam qualquer órgão ou função do corpo, resultariam na derrota certa. CBV 128 4 Quão mais importante é tal cuidado para assegurar o êxito na luta da vida! Não são arremedos de batalhas, aquelas em que nos achamos empenhados. Estamos pelejando um combate do qual dependem resultados eternos. Temos inimigos invisíveis a enfrentar. Anjos maus estão se esforçando para obter o domínio sobre toda criatura humana. Tudo quanto prejudica a saúde não somente diminui o vigor físico como tende a enfraquecer as faculdades mentais e morais. A condescendência com qualquer prática nociva à saúde torna mais difícil a uma pessoa o discernir entre o bem e o mal, e daí mais difícil resistir ao mal. Aumenta o perigo de fracasso e derrota. CBV 129 1 "Os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio." 1 Coríntios 9:24. Na luta em que nos achamos empenhados podem ganhar todos quantos se disciplinam a si mesmos pela obediência aos retos princípios. A prática desses princípios nos detalhes da vida é demasiado frequente considerada como sem importância -- coisa muito trivial para exigir atenção. Mas em vista das consequências em jogo coisa alguma daquilo com que temos de tratar é insignificante. Toda ação lança seu peso na balança que determina a vitória ou a derrota da vida. O texto nos manda: "Correi de tal maneira que o alcanceis." 1 Coríntios 9:24. CBV 129 2 Quanto a nossos primeiros pais, o desejo imoderado trouxe em resultado a perda do Éden. A temperança em todas as coisas tem mais que ver com nossa restauração no Éden, do que os homens o imaginam. CBV 129 3 Indicando a renúncia praticada pelos competidores nos antigos jogos gregos, escreve o apóstolo Paulo: "Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:25-27. CBV 129 4 O progresso da reforma depende de um claro reconhecimento da verdade fundamental. Ao passo que, de um lado, espreita o perigo em uma estreita filosofia e numa rígida e fria ortodoxia, há, por outro lado, maior perigo num descuidado liberalismo. O fundamento de toda reforma estável é a Lei de Deus. Cumpre-nos apresentar em linhas distintas e claras a necessidade de obedecer a essa lei. Seus princípios devem ser mantidos perante o povo. Eles são tão eternos e inexoráveis como o próprio Deus. CBV 129 5 Um dos mais deploráveis efeitos da apostasia original foi a perda do poder de domínio próprio por parte do homem. Unicamente à medida que esse poder é reconquistado pode haver real progresso. CBV 130 1 O corpo é o único agente pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Daí o adversário dirigir suas tentações para o enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu êxito nesse ponto importa na entrega de todo o corpo ao mal. As tendências de nossa natureza física, a menos que estejam sob o domínio de um poder mais alto, hão de operar por certo ruína e morte. CBV 130 2 O corpo tem de ser posto em sujeição. As mais elevadas faculdades do ser devem dominar. As paixões devem ser regidas pela vontade, e essa deve, por sua vez, achar-se sob a direção de Deus. A régia faculdade da razão, santificada pela graça divina, deve ter domínio em nossa vida. CBV 130 3 Os reclamos de Deus devem impressionar a consciência. Homens e mulheres precisam ser despertados para o dever do império de si mesmos, para a necessidade da pureza, a liberdade de todo aviltante apetite e todo hábito contaminador. Precisam ser impressionados com o fato de que todas as suas faculdades de mente e corpo são dons de Deus, e destinam-se a ser preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço. CBV 130 4 Naquele antigo ritual que era o evangelho em símbolo, nenhuma oferta defeituosa podia ser levada ao altar de Deus. O sacrifício que devia representar a Cristo tinha de ser sem mancha. A Palavra de Deus refere-se a isso como uma ilustração do que devem ser Seus filhos -- um "sacrifício vivo, santo", "irrepreensível", e "agradável a Deus". Romanos 12:1; Efésios 5:27. CBV 130 5 À parte do poder divino, nenhuma reforma genuína pode ser efetuada. As barreiras humanas erguidas contra as tendências naturais e cultivadas não são mais que bancos de areia contra uma torrente. Enquanto a vida de Cristo não se torna um poder vitalizante em nossa vida, não nos é possível resistir às tentações que nos assaltam interior e exteriormente. CBV 130 6 Cristo veio a este mundo e viveu a Lei de Deus, a fim de que o homem pudesse ter perfeito domínio sobre as naturais inclinações que corrompem a alma. Médico da alma e do corpo, Ele dá a vitória sobre as concupiscências em luta no íntimo. Proveu toda facilidade para que o homem possa possuir inteireza de caráter. CBV 131 1 Quando uma pessoa se entrega a Cristo, seu espírito é posto sob o domínio da lei; mas é a lei real que proclama liberdade a todo cativo. Fazendo-se um com Cristo, o homem é tornado livre. A sujeição à vontade de Cristo significa restauração à perfeita varonilidade. CBV 131 2 Obediência a Deus é liberdade do cativeiro do pecado, livramento das paixões e impulsos humanos. O homem pode ser vencedor de si mesmo, vencedor de suas inclinações, vencedor dos principados e potestades, e dos "príncipes das trevas deste século", e das "hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. CBV 131 3 Em lugar algum são tais instruções mais necessárias, e em nenhum lugar produzem elas maior benefício que no lar. Os pais têm que ver com o próprio fundamento do hábito e do caráter. O movimento reformador deve começar por apresentar-lhes os princípios da Lei de Deus como influindo tanto sobre a saúde física como sobre a moral. Mostrai que a obediência à Palavra de Deus é nossa única salvaguarda contra os males que estão compelindo o mundo à destruição. Fazei clara a responsabilidade dos pais, não só quanto a si mesmos, mas quanto a seus filhos. Eles dão a esses filhos um exemplo, seja de obediência, seja de transgressão. Por seu exemplo e ensino, é decidido o destino de sua casa. Os filhos serão aquilo que os pais os fizerem. CBV 131 4 Se os pais pudessem seguir o resultado de seu procedimento, e ver como, por seu exemplo e ensinos, perpetuam e aumentam o poder do pecado ou o da justiça, certamente se operaria uma mudança. Muitos se desviariam da tradição e do costume, e aceitariam os divinos princípios da vida. O Poder do Exemplo CBV 132 1 O médico que ministra nos lares do povo, velando ao pé do leito dos doentes, aliviando-lhes a aflição, tirando-os das portas da morte, dirigindo palavras de esperança ao moribundo, conquista-lhes na confiança e nas afeições um lugar que a poucos outros é dado ocupar. Nem mesmo ao ministro do evangelho são concedidas tão grandes possibilidades, ou uma influência de tão vasto alcance. CBV 132 2 O exemplo do médico, não menos que seu ensino, deve ser uma força positiva para o lado do direito. A causa da reforma exige homens e mulheres cuja maneira de viver seja uma ilustração do domínio de si mesmos. É nossa observância dos princípios que recomendamos que lhes dá peso. O mundo necessita de uma demonstração prática do que a graça de Deus pode fazer para restaurar aos homens sua perdida realeza, dando-lhes o governo de si mesmos. Não há nada de que o mundo tanto precise como do conhecimento do poder salvador do evangelho revelado em vidas semelhantes à de Cristo. CBV 133 1 O médico é continuamente posto em contato com os que necessitam da força e da ânimo de um bom exemplo. Muitos são fracos em poder moral. Carecem de domínio próprio, e são facilmente presa da tentação. O médico só pode auxiliar a essas pessoas na medida em que revela na própria vida uma firmeza de princípios que o habilita a triunfar sobre todo hábito nocivo e toda contaminadora concupiscência. Em sua vida, deve ser notada a operação de um poder de origem divina. Se ele falha nisso, por mais vigorosas e convincentes que sejam suas palavras, sua influência se demonstrará nociva. CBV 133 2 Muitos dos que procuram conselho e tratamento médico tornaram-se ruínas morais mediante seus próprios maus hábitos. Estão alquebrados e fracos, e feridos, sentindo a própria loucura e sua incapacidade para vencer. Esses nada deviam ter em seu ambiente que os incitasse a continuar nos pensamentos e sentimentos que os tornaram o que são. Necessitam respirar uma atmosfera de pureza, de nobres e elevados pensamentos. Quão terrível é a responsabilidade quando aqueles que lhes deviam dar um bom exemplo, são, eles próprios, escravos de maus hábitos, acrescentando, por sua influência, nova força à tentação! O Médico e a Obra da Temperança CBV 133 3 Buscam os cuidados do médico muitos que se estão arruinando, alma e corpo, pelo uso do fumo ou de bebidas intoxicantes. O médico fiel às suas responsabilidades, deve indicar a esses pacientes a causa de seus sofrimentos. Se ele próprio, porém, é fumante ou dado a tóxicos, que peso terão suas palavras? Com a consciência de condescender ele mesmo com isso, não hesitará em apontar o lugar da infecção na vida do doente? Enquanto ele próprio usar essas coisas, como poderá convencer o jovem de seus efeitos prejudiciais? CBV 134 1 Como pode um médico ocupar na sociedade o lugar de um exemplo de pureza e de governo de si mesmo, como pode ser um eficiente obreiro da causa da temperança, enquanto ele próprio está condescendendo com um hábito vil? Como poderá ministrar de maneira aceitável junto ao enfermo e ao moribundo, quando seu próprio hálito é repugnante, impregnado do cheiro da bebida e do fumo? CBV 134 2 Enquanto põe seus nervos em desordem e nubla o cérebro com um uso de venenos narcóticos, como pode uma pessoa ser fiel à confiança nele posta como um médico competente? Como lhe é impossível discernir prontamente ou executar com precisão! CBV 134 3 Se ele não observa as leis que regem seu próprio ser, se prefere a satisfação egoísta à sanidade mental e física, não se declara por esta forma inapto para que se lhe confie a responsabilidade de vidas humanas? CBV 134 4 Por mais hábil e fiel que seja um médico, há em sua experiência muito de aparente desânimo e fracasso. Muitas vezes sua obra deixa de realizar aquilo que ele almeja ver efetuado. Se bem que seja restituída a saúde a seus doentes, talvez ela não seja nenhum benefício real a eles e ao mundo. Muitos recuperam a saúde unicamente para repetir as condescendências que convidaram a doença. Com o mesmo afã de antes, atiram-se à roda das satisfações pessoais e da loucura. O trabalho do médico por eles parece esforço jogado fora. CBV 134 5 Cristo teve a mesma experiência; todavia, não cessou de esforçar-Se por uma alma sofredora. Dos dez leprosos que foram purificados, apenas um apreciou o dom recebido, e esse era estrangeiro e samaritano. Por amor daquele um, Cristo curou os dez. Se o médico não encontra mais êxito do que teve o Salvador, aprenda uma lição com o Principal dentre os médicos. A respeito de Cristo acha-se escrito: "Não faltará, nem será quebrantado." Isaías 42:4. "O trabalho de Sua alma Ele verá e ficará satisfeito." Isaías 53:11. CBV 135 1 Se não houvesse senão uma alma que aceitasse o evangelho de Sua graça, Cristo teria, para salvar aquela alma, preferido Sua vida de labuta e humilhação, e morte de ignomínia. Se, por meio de nossos esforços, uma criatura humana for levantada e enobrecida, habilitada a brilhar nas cortes do Senhor, não teremos nós razão de regozijo? CBV 135 2 Árduos e difíceis são os deveres do médico. A fim de os cumprir com mais êxito, precisa ele possuir robusta constituição e vigorosa saúde. Um homem fraco ou adoentado não pode resistir ao fatigante labor inerente à profissão médica. Uma pessoa a quem falta o domínio de si mesma não pode ser apta para lidar com todas as espécies de doenças. CBV 135 3 Frequentemente privado do sono, negligenciando mesmo o alimento, afastado, em grande parte, dos prazeres sociais e dos privilégios religiosos, a vida do médico parece achar-se sob contínua sombra. A aflição que ele vê, os dependentes mortais ansiando auxílio, seu contato com os depravados, magoam-lhe o coração e chegam quase a ponto de lhe destruir a confiança na humanidade. CBV 135 4 Na luta com a doença e a morte, suas energias são provadas ao máximo da resistência. A reação desse terrível esforço prova em extremo o caráter. É então que a tentação tem maior poder. O médico, mais que qualquer outro profissional, necessita de domínio de si mesmo, pureza de espírito, e daquela fé que se apega ao Céu. Por amor dos outros e de si próprio, não se pode permitir o menosprezo à lei física. A negligência nos hábitos materiais tende à negligência nas coisas morais. CBV 135 5 A única segurança do médico é, em todas as circunstâncias, agir por um princípio, fortalecido e enobrecido por um firme propósito baseado unicamente em Deus. Ele se deve manter na excelência moral de Seu caráter. Dia a dia, hora a hora, momento a momento, deve viver como diante do mundo invisível. Como Moisés, deve resistir "como vendo o invisível". Hebreus 11:27. CBV 136 1 A justiça tem sua raiz na piedade. Homem algum pode manter firmemente diante de seus semelhantes uma vida pura, poderosa, a não ser que sua vida esteja escondida com Cristo em Deus. Quanto maior a atividade entre os homens, tanto mais íntima deve ser a comunhão da alma com o Céu. CBV 136 2 Quanto mais urgentes seus deveres e maiores suas responsabilidades, tanto maior necessidade tem o médico de poder divino. É mister salvar, das coisas temporais, tempo para meditar nas eternas. Deve resistir a um mundo usurpador, capaz de exercer sobre ele tamanha pressão que o separe da Fonte da resistência. Ele, mais que todos os outros homens, deve, por meio de oração e estudo das Escrituras, colocar-se sob a proteção de Deus. Cumpre-lhe viver em incessante comunhão com os princípios da verdade, da justiça e da misericórdia que revelam os atributos de Deus na alma. CBV 136 3 Justamente na medida em que a Palavra de Deus é recebida e observada, impressionará ela com sua potência e tocará com sua vida toda fonte de ação, toda face do caráter. Purificará todo pensamento, regulará todo desejo. Aqueles que fazem da Palavra de Deus sua confiança, portar-se-ão como homens, e serão fortes. Erguer-se-ão acima de tudo quanto é baixo, a uma atmosfera isenta de contaminação. CBV 136 4 Quando o homem se acha em ligação com Deus, aquele inabalável propósito que guardou José e Daniel entre a corrupção de cortes pagãs tornar-lhe-á a vida de imaculada pureza. Suas vestes de caráter serão sem manchas. A luz de Cristo não se enfraquecerá em sua vida. A Resplandecente Estrela da Manhã brilhará firmemente sobre ele em imutável glória. CBV 136 5 Tal vida será um elemento de força na coletividade. Será uma barreira contra o mal, uma salvaguarda para o tentado, uma luz guiadora aos que, por entre dificuldades e desânimos, estão buscando o caminho verdadeiro. ------------------------Capítulo 9 -- Ensinando e curando CBV 139 1 Quando Cristo enviou os doze discípulos em sua primeira viagem missionária, ordenou-lhes: "Indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:7-8. CBV 139 2 Aos setenta enviados mais tarde, Ele disse: "Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, ... curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus." Lucas 10:8-9. A presença e o poder de Cristo estava com eles, "e voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo Teu nome, até os demônios se nos sujeitam". Lucas 10:17. CBV 139 3 Depois da ascensão de Cristo, foi continuada a mesma obra. As cenas de Seu próprio ministério foram repetidas. "Das cidades circunvizinhas" vinha uma multidão "a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais todos eram curados." Atos 5:16. CBV 139 4 E os discípulos, "tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor". Marcos 16:20. "Descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, ... pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, ... e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade." Atos 8:5-8. A Obra dos Discípulos CBV 140 1 Lucas, o autor do evangelho que tem seu nome, era médico-missionário. Ele é, nas Escrituras, chamado "o médico amado". Colossences 4:14. O apóstolo Paulo ouviu falar de sua habilidade como médico, e procurou-o como a alguém a quem o Senhor havia confiado uma obra especial. Obteve sua cooperação, e por algum tempo Lucas o acompanhou em suas viagens de um lugar para outro. Depois de certo tempo, Paulo deixou Lucas em Filipos, na Macedônia. Ali continuou ele a trabalhar por vários anos, tanto como médico, como na qualidade de ensinador do evangelho. Em sua obra médica, ministrava aos enfermos, e orava então para que o poder restaurador de Deus repousasse sobre os aflitos. Assim era o caminho aberto para a mensagem evangélica. O êxito de Lucas como médico conseguiu-lhe muitas oportunidades para pregar a Cristo entre os gentios. É o plano divino que trabalhemos como os discípulos fizeram. A cura física está ligada à incumbência evangélica. Na obra do evangelho, o ensino e a cura nunca se devem separar. CBV 141 1 Era a tarefa dos discípulos disseminar o conhecimento do evangelho. Foi-lhes confiada a obra da proclamação, a todo o mundo, das boas novas que Cristo trouxe aos homens. Essa obra, eles a realizaram pelo povo de seu tempo. A toda nação debaixo do céu foi levado o evangelho, numa única geração. CBV 141 2 O dar o evangelho ao mundo é a obra que Deus confiou aos que professam Seu nome. Para o pecado e a miséria do mundo, é o evangelho o único antídoto. Tornar conhecida a toda a humanidade a mensagem da graça de Deus, eis a primeira obra dos que lhe conhecem o poder restaurador. CBV 142 1 Quando Cristo enviou os discípulos com a mensagem evangélica, a fé em Deus e Sua Palavra havia quase desaparecido da Terra. Entre o povo judeu, que professava conhecer a Jeová, Sua Palavra havia sido posta à margem para dar lugar à tradição e às especulações humanas. A ambição egoísta, o amor da ostentação e a ganância do lucro absorviam os pensamentos dos homens. À medida que desaparecia a reverência para com Deus, fugia também a compaixão para com os homens. O egoísmo era o princípio dominante, e Satanás executava sua vontade na miséria e na degradação da humanidade. CBV 142 2 Instrumentos satânicos tomavam posse dos homens. O corpo humano, feito para habitação de Deus, tornou-se morada de demônios. Os sentidos, os nervos e órgãos dos homens eram manejados por influências sobrenaturais na condescendência com as mais vis concupiscências. O próprio cunho dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. O semblante humano refletia a expressão das legiões do mal de que os próprios homens estavam possuídos. CBV 142 3 Qual é a condição do mundo atualmente? Não é a fé na Bíblia hoje destruída tão eficazmente pela alta crítica e as especulações, como o era pela tradição e o rabinismo dos dias de Jesus? Não têm a ambição e a cobiça e o amor do prazer tão forte domínio no coração dos homens agora como possuíam então? No professo mundo cristão, mesmo nas professas igrejas de Cristo, quão poucos são regidos por princípios cristãos! Nos círculos comerciais, sociais, domésticos, e mesmo nos religiosos, quão poucos fazem dos ensinos de Cristo a regra do viver diário! Não é verdade que "a justiça se pôs longe, ... a equidade não pode entrar. ... E quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado"? Isaías 59:14-15. CBV 142 4 Vivemos em meio de uma epidemia de crime, diante da qual ficam estupefatos os homens pensantes e tementes a Deus em toda parte. A corrupção que predomina está além da descrição da pena humana. Cada dia traz novas revelações de conflitos políticos, de subornos e fraudes. Cada dia traz seu doloroso registro de violência e ilegalidade, de indiferença aos sofrimentos do próximo, de brutal e diabólica destruição de vidas humanas. Cada dia testifica do aumento da loucura, do assassínio, do suicídio. Quem pode duvidar que instrumentos satânicos se achem em operação entre os homens, numa atividade crescente, para perturbar e corromper a mente, contaminar e destruir o corpo? CBV 143 1 E enquanto o mundo se acha cheio desses males, o evangelho é tantas vezes apresentado de maneira tão indiferente, que não produz senão uma fraca impressão na consciência ou vida das pessoas. Há por toda parte corações clamando por qualquer coisa que não possuem. Anelam um poder que lhes dê domínio sobre o pecado, um poder que os liberte da servidão do mal, que lhes proporcione saúde, vida e paz. Muitos dos que uma vez conheceram o poder da Palavra de Deus têm-se achado onde não há nenhum reconhecimento dEle, e anseiam pela divina presença. CBV 143 2 O mundo necessita atualmente daquilo que tem sido necessário já há mil e novecentos anos -- a revelação de Cristo. É preciso uma grande obra de reforma, e é unicamente mediante a graça de Cristo que a obra de restauração física, mental e espiritual se pode efetuar. CBV 143 3 Unicamente o método de Cristo trará verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: "Segue-Me." João 21:19. CBV 144 4 É necessário pôr-se em íntimo contato com o povo mediante esforço pessoal. Se se empregasse menos tempo a pregar sermões, e mais fosse dedicado a serviço pessoal, maiores seriam os resultados que se veriam. Os pobres devem ser socorridos, cuidados os doentes, os aflitos e os que sofreram perdas confortados, instruídos os ignorantes e os inexperientes aconselhados. Cumpre-nos chorar com os que choram, e alegrar-nos com os que se alegram. Aliado ao poder de persuasão, ao poder da oração e ao poder do amor de Deus, esta obra jamais ficará sem frutos. CBV 144 1 Devemos lembrar sempre que o objetivo da obra médico-missionária é encaminhar homens e mulheres enfermos de pecado ao Homem do Calvário, que tira os pecados do mundo. Contemplando-O, serão eles transformados à Sua imagem. Temos de animar os doentes e sofredores a olharem a Jesus, e viver. Mantenham os obreiros a Cristo, o grande Médico, constantemente diante daqueles a quem a doença física e espiritual levou ao desânimo. Encaminhai-os Àquele que é capaz de curar tanto a doença do corpo como a da alma. Falai-lhes dAquele que Se comove diante de suas enfermidades. Animai-os a se colocarem sob o cuidado do que deu Sua vida a fim de tornar possível que eles tenham a vida eterna. Falai de Seu amor; falai de Seu poder para salvar. CBV 144 2 Eis o elevado dever e o precioso privilégio do médico-missionário. E o ministério pessoal prepara muitas vezes o caminho para isso. Deus utiliza nossos esforços para alcançar os corações e aliviar o sofrimento físico. CBV 144 3 A obra médico-missionária é a pioneira do evangelho. No ministério da Palavra e na obra médico-missionária, deve o evangelho ser pregado e praticado. CBV 144 4 Há, em quase todas as localidades, grande número de pessoas que não escutam a pregação da Palavra de Deus nem assistem aos cultos. Se elas tiverem de ser alcançadas pelo evangelho, este lhes há de ser levado em casa. Muitas vezes o socorro a suas necessidades físicas é o único caminho pelo qual essas pessoas podem ser abordadas. Enfermeiras-missionárias que tratam dos doentes e mitigam a aflição dos pobres encontrarão muitas oportunidades de orar com eles, ler-lhes a Palavra de Deus e falar do Salvador. Elas podem orar com os impotentes, destituídos de força de vontade para reger os apetites que a paixão tem degradado. Podem levar um raio de esperança à vida dos vencidos e desanimados. Seu abnegado amor, manifestado em atos de desinteressada bondade, tornará mais fácil a esses sofredores crerem no amor de Cristo. CBV 145 1 Muitos não têm nenhuma fé em Deus, e perderam a confiança no homem. Mas apreciam os atos de simpatia e prestatividade. Ao verem uma pessoa, sem nenhum incentivo de louvor terrestre nem de compensação, ir a sua casa, ajudando ao doente, alimentando o faminto, vestindo o nu, confortando o triste e encaminhando-os ternamente a todos Àquele de cujo amor e piedade o obreiro humano não é senão um mensageiro -- ao verem isso, seu coração é tocado. Brota a gratidão. Ateia-se a fé. Vêem que Deus cuida deles, e ficam preparados para escutar ao ser-lhes aberta a Sua Palavra. CBV 145 2 Seja nos campos de além-mar, seja em nosso país, todos os missionários, tanto homens como mulheres, conquistarão muito mais rapidamente acesso ao povo, e sentirão que sua utilidade aumentará grandemente, se forem aptos a ajudar aos doentes. As mulheres que vão como missionárias às terras pagãs poderão assim encontrar oportunidade de ensinar o evangelho às mulheres dessas terras, quando todas as outras portas de acesso se acharem fechadas. Todos os obreiros evangélicos devem saber fazer os simples tratamentos que tanto contribuem para aliviar a dor e remover a doença. O Ensino dos Princípios de Saúde CBV 146 1 Os obreiros evangélicos também devem ser capazes de dar instruções sobre os princípios do viver saudável. Há doenças por toda parte, e a maioria delas poderia ser prevenida pela atenção dispensada às leis da saúde. O povo precisa ver a influência dos princípios de saúde em seu bem-estar, tanto no que respeita a esta vida como à futura. Necessitam ser despertados quanto a sua responsabilidade para com a habitação humana adaptada pelo Criador para Sua morada, e acerca da qual Ele deseja que sejam mordomos fiéis. Precisam ser impressionados no que respeita à verdade contida nas palavras da Santa Escritura: CBV 146 2 "Vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo." 2 Coríntios 6:16. CBV 146 3 Milhares necessitam e de bom grado receberiam instruções a respeito dos simples métodos de tratar os enfermos -- métodos que estão tomando o lugar das drogas venenosas. Grande é a necessidade existente de conhecimentos quanto à reforma dietética. Hábitos errôneos de alimentação, e o uso de comidas nocivas, são em grande parte responsáveis pela intemperança, o crime e a ruína que infelicitam o mundo. CBV 146 4 Ensinando os princípios de saúde, mantende diante do povo o grande objetivo da reforma -- que seu desígnio é assegurar o mais alto desenvolvimento do corpo, da mente e da alma. Mostrai que as leis da natureza, sendo as Leis de Deus, são designadas para nosso bem; que a obediência às mesmas promove a felicidade nesta vida, e contribui no preparo para a vida por vir. CBV 147 1 Levai o povo a estudar as manifestações do amor e da sabedoria de Deus nas obras da natureza. Levai-os a estudar esse maravilhoso organismo que é o corpo humano, e as leis que o regem. Os que percebem as evidências do amor de Deus, que compreendem alguma coisa da sabedoria e beneficência de Suas leis, e os resultados da obediência, virão a considerar seus deveres e obrigações sob um ponto de vista inteiramente diverso. Em vez de olhar a observância das leis da saúde como um sacrifício ou uma abnegação, considerá-la-ão, como em realidade é, uma inestimável bênção. CBV 147 2 Todo obreiro evangélico deve sentir que o instruir o povo quanto aos princípios do viver saudável é uma parte do trabalho que lhe é designado. Grande é a necessidade dessa obra, e o mundo está aberto para ela. CBV 147 3 Há, por toda parte, a tendência de substituir o esforço individual pela obra de organizações. A sabedoria humana tende à consolidação, à centralização, à edificação de grandes igrejas e instituições. Muitos deixam às instituições e organizações a obra da beneficência; eximem-se do contato com o mundo, e seu coração torna-se frio. Ficam absorvidos consigo mesmos e insensíveis à impressão. Extingue-se-lhes no coração o amor para com Deus e o homem. CBV 147 4 Cristo confia a Seus seguidores uma obra individual -- uma obra que não pode ser feita por procuração. O serviço aos pobres e enfermos, o anunciar o evangelho aos perdidos, não deve ser deixado a comissões ou caridade organizada. Responsabilidade individual, individual esforço e sacrifício pessoal são exigências evangélicas. CBV 147 5 "Sai pelos caminhos e atalhos, e força-os a entrar", é a ordem de Cristo, "para que a Minha casa se encha." Lucas 14:23. Ele põe homens em contato com aqueles a quem eles buscam beneficiar. "Recolhas em casa os pobres desterrados", diz Ele. "Vendo o nu, o cubras." Isaías 58:7. "Imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão." Marcos 16:18. Por meio de contato direto, de ministério pessoal, devem as bênçãos do evangelho ser comunicadas. CBV 148 1 Ao comunicar luz a Seu povo antigamente, Deus não operava exclusivamente por meio de uma classe. Daniel era um príncipe de Judá. Também Isaías era de linhagem real. Davi era um jovem pastor, Amós um vaqueiro, Zacarias um cativo de Babilônia, Eliseu um lavrador. O Senhor suscitava como representantes Seus a profetas e príncipes, nobres e plebeus, e ensinava-lhes as verdades a serem dadas ao mundo. CBV 148 2 A todos quantos se tornam participantes de Sua graça, o Senhor indica uma obra em benefício de outros. Cumpre-nos estar, individualmente, em nosso posto, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. Sobre o ministro da Palavra, a enfermeira-missionária, o médico cristão, o cristão individualmente, seja ele comerciante ou fazendeiro, profissional ou mecânico -- sobre todos repousa a responsabilidade. É nossa obra revelar aos homens o evangelho de sua salvação. Toda empresa em que nos empenhemos deve ser um meio para esse fim. CBV 148 3 Os que se entregam à obra que lhes é designada não somente serão uma bênção a outros, como hão de ser eles próprios abençoados. A consciência do dever bem cumprido exercerá uma influência reflexa sobre sua própria alma. O acabrunhado esquecerá seu acabrunhamento, o fraco se tornará forte, o ignorante inteligente, e todos encontrarão um infalível auxiliador nAquele que os chamou. CBV 148 4 A igreja de Cristo está organizada para o serviço. Sua senha é servir. Seus membros são soldados em preparo para o conflito sob as ordens do Príncipe de sua salvação. Pastores, médicos e professores cristãos têm uma obra mais vasta do que muitos têm reconhecido. Não lhes cumpre somente servir ao povo, mas ensinar-lhes a servir. Não devem apenas dar instruções nos retos princípios, mas educar seus ouvintes a comunicar os mesmos princípios. A verdade que não é vivida, que não é comunicada, perde seu poder vivificante, sua virtude restauradora. Sua bênção só pode ser conservada à medida que é partilhada com outros. CBV 149 1 Necessita ser quebrada a monotonia de nosso serviço para Deus. Todo membro de igreja deve empenhar-se em algum ramo de atividade para o Mestre. Alguns não podem fazer tanto como outros, mas cada um deve efetuar o máximo para repelir a onda de doenças e aflições que está avassalando o mundo. Muitos teriam boa vontade de trabalhar, se lhes ensinassem a começar. Necessitam ser instruídos e animados. CBV 149 2 Toda igreja deve ser uma escola missionária para obreiros cristãos. Seus membros devem ser instruídos em dar estudos bíblicos, em dirigir e ensinar classes da Escola Sabatina, na melhor maneira de auxiliar os pobres e cuidar dos doentes, de trabalhar pelos não-convertidos. Deve haver cursos de saúde, de arte culinária, e classes em vários ramos de serviço no auxílio cristão. Não somente deve haver ensino, mas trabalho real, sob a direção de instrutores experientes. Que os mestres vão à frente no trabalho entre o povo, e outros, unindo-se a eles, aprenderão em seu exemplo. Um exemplo vale mais que muitos preceitos. CBV 149 3 Cultivem todas as faculdades físicas e mentais ao máximo de sua capacidade, a fim de poderem trabalhar para Deus onde Sua providência os chamar. A mesma graça que veio de Cristo a Paulo e a Apolo, que os distinguiu por excelências espirituais, será hoje comunicada aos devotados missionários cristãos. Deus deseja que Seus filhos tenham inteligência e conhecimento, para que com infalível clareza e poder Sua glória seja revelada em nosso mundo. CBV 150 1 Obreiros educados, sendo consagrados a Deus, podem prestar mais variados serviços e realizar uma obra mais vasta, do que os não educados. Sua disciplina mental dá-lhes vantagens. Mas os que não são dotados de grandes talentos nem muita instrução podem trabalhar aceitavelmente por outros. Deus Se servirá de homens que desejam ser usados. Não são as pessoas mais brilhantes ou talentosas aquelas cujo trabalho produz maiores e mais duradouros resultados. Necessitam-se homens e mulheres que ouviram uma mensagem do Céu. Os obreiros mais eficientes são os que atendem ao convite: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim." Mateus 11:29. CBV 150 2 São missionários de coração, os que são necessários. Aquele cujo coração é tocado por Deus é cheio de um grande anseio por aqueles que nunca Lhe conheceram o amor. Sua condição os impressiona com um senso de infortúnio pessoal. Expondo a própria vida, vai como mensageiro enviado pelo Céu e por ele inspirado para efetuar uma obra em que os anjos podem cooperar. CBV 150 3 Se aqueles a quem Deus confiou grandes talentos intelectuais empregam esses dons para fins egoístas, serão deixados, após um período de prova, a seguir seu próprio caminho. Deus tomará homens que não parecem tão prodigamente dotados, que não têm grande confiança em si mesmos, e tornará os fracos fortes, porque confiam que Ele fará em seu favor o que eles próprios não podem realizar. Deus aceitará o serviço prestado de todo o coração, e suprirá por Sua parte as deficiências. CBV 150 4 O Senhor tem muitas vezes escolhido para Seus colaboradores homens que não tiveram oportunidade de obter senão limitada educação escolar. Esses homens têm aplicado as faculdades da maneira mais diligente, e o Senhor os tem recompensado pela fidelidade a Sua obra, pela laboriosidade, a sede de conhecimento. Ele lhes tem sido testemunha das lágrimas, ouvido suas orações. Como desceram Suas bênçãos sobre os cativos na corte de Babilônia, assim dará Ele sabedoria e conhecimento aos Seus obreiros de hoje. CBV 151 1 Homens deficientes em instrução, humildes quanto à condição social, têm, mediante a graça de Cristo, sido por vezes admiravelmente bem-sucedidos em ganhar almas para Ele. O segredo de seu êxito consistia na confiança que depositavam em Deus. Aprendiam diariamente dAquele que é maravilhoso em conselho e forte em poder. CBV 151 2 Tais obreiros devem ser animados. O Senhor os põe em contato com os de mais assinalada capacidade, a preencher as brechas deixadas por outros. Sua prontidão em ver o que é preciso fazer, em acudir aos que se acham em necessidade, suas bondosas palavras e ações, abrem portas de utilidade que de outro modo permaneceriam fechadas. Procuram de perto os que se acham em aflições, e a persuasiva influência de suas palavras tem poder de atrair a Deus muitas almas trementes. Sua obra mostra o que milhares de outros poderiam fazer, se tão-somente o quisessem. Vida Mais Ampla CBV 151 3 Coisa alguma despertará tanto um abnegado zelo e dará amplitude e resistência ao caráter como empenhar-se em trabalho para benefício de outros. Muitos cristãos professos, ao procurarem as relações da igreja, não pensam senão em si mesmos. Desejam fruir a comunhão da igreja e os cuidados pastorais. Fazem-se membros de grandes e prósperas igrejas, e ficam satisfeitos com pouco fazer pelos outros. Por esta maneira, estão-se roubando a si mesmos as mais preciosas bênçãos. Muitos seriam beneficiados em sacrificar suas aprazíveis associações, conducentes ao comodismo. Necessitam ir aonde suas energias serão requeridas em trabalho cristão, e aprenderão a assumir as responsabilidades. CBV 152 1 Árvores plantadas muito próximas não crescem fortes e vigorosas. O jardineiro as transplanta, a fim de terem espaço para se desenvolver. Idêntico processo beneficiaria a muitos dos membros de grandes igrejas. Precisam ser colocados onde suas energias serão chamadas ao ativo esforço cristão. Eles estão perdendo a espiritualidade, tornando-se raquíticos e ineficientes por falta de abnegado trabalho em favor de outros. Transplantados para algum campo missionário, tornar-se-iam fortes e vigorosos. CBV 152 2 Mas ninguém precisa esperar até que seja chamado para um campo distante, para começar a ajudar a outros. Portas de serviço se acham abertas por toda parte. Acham-se por todo lado ao redor de nós os que necessitam de auxílio. A viúva, o órfão, o doente e o moribundo, o magoado, o abatido, o ignorante e o desprezado acham-se por onde quer que formos. CBV 152 3 Devemos sentir ser nosso especial dever trabalhar pelos que se encontram em nossa vizinhança. Pensai como podereis melhor ir em socorro dos que não têm nenhum interesse nas coisas religiosas. Ao visitardes vossos amigos e vizinhos, mostrai interesse em seu bem-estar espiritual, da mesma maneira no que respeita ao temporal. Falai-lhes de Cristo como um Salvador que perdoa o pecado. Convidai os vizinhos para vossa casa, e lede-lhes partes da preciosa Bíblia, e de livros que lhes explicam as verdades. Convidai-os a se unirem convosco em cânticos e orações. Nessas pequeninas reuniões, o próprio Cristo estará presente, segundo prometeu, e os corações serão tocados pela Sua graça. CBV 152 4 Os membros da igreja se devem educar em fazer essa obra. Ela é exatamente tão essencial como salvar as almas entenebrecidas dos países estrangeiros. Enquanto alguns se preocupam com almas distantes, experimentam muitos dos que se acham na própria pátria responsabilidade pelos que se encontram ao redor, trabalhando com igual diligência pela salvação deles. CBV 153 1 Muitos lamentam estar vivendo uma vida monótona. Eles próprios podem tornar sua vida mais ativa e influente, se quiserem. Os que amam a Cristo de coração, entendimento e alma, e a seu próximo como a si mesmos, têm um campo vasto em que empregar sua capacidade e influência. As Pequenas Oportunidades CBV 153 2 Ninguém passe por alto as pequenas oportunidades, esperando por uma obra maior. Talvez executásseis com êxito o trabalho pequeno, mas falhásseis redondamente ao tentar fazer um outro maior, e caísseis em desânimo. É fazendo segundo as vossas forças o que vos vem à mão que haveis de desenvolver capacidade para uma obra de mais vulto. Desprezando as oportunidades diárias, negligenciando as pequeninas coisas que se acham bem perto, é que muitos se tornam infrutíferos e secos. CBV 153 3 Não dependais de ajuda humana. Olhai para além das criaturas humanas, Àquele que foi designado por Deus para levar os nossos pesares, as nossas penas, e satisfazer as nossas necessidades. Pegando ao Senhor em Sua Palavra, dai começo ao trabalho onde quer que o encontreis, e avançai com inabalável fé. É a fé na presença de Cristo que dá resistência e firmeza. Trabalhai com abnegado interesse, árduos esforços e perseverante energia. CBV 153 4 Nos campos em que as condições são tão objetáveis e desanimadoras que muitos para lá não estão dispostos a ir, assinaladas mudanças se têm operado pelos esforços de obreiros prontos a se sacrificarem. Paciente e perseverantemente eles trabalharam, não confiando no poder humano, mas em Deus, e Sua graça os susteve. Quanto de bem foi assim realizado, jamais será conhecido neste mundo, mas benditos resultados se verão no grande porvir. Missionários de Manutenção Própria CBV 154 1 Em muitos lugares, podem trabalhar com êxito missionários de manutenção própria. Foi como tal que o apóstolo Paulo trabalhou na disseminação do conhecimento de Cristo por todo o mundo. Enquanto ensinava diariamente o evangelho em grandes cidades da Ásia e da Europa, trabalhava em um ofício para se manter a si mesmo e a seus companheiros. Suas palavras de despedida aos anciãos da igreja de Éfeso, mostrando sua maneira de trabalhar, encerram preciosas lições para todo obreiro evangélico. CBV 154 2 "Vós bem sabeis", disse ele, "como em todo esse tempo me portei no meio de vós, ... como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas. ... De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste. Vós mesmos sabeis que, para o que me era necessário, a mim e aos que estão comigo, estas mãos me serviram. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber." Atos 20:18, 20, 33-35. CBV 154 3 Muitos hoje em dia, caso se achassem imbuídos do mesmo espírito de sacrifício, poderiam realizar uma boa obra, por maneira idêntica. Que dois ou mais comecem juntos obra evangelística. Visitem o povo, orando, cantando, ensinando, explicando as Escrituras, ajudando aos enfermos. Alguns se podem manter como colportores, outros, como o apóstolo, podem trabalhar em algum ofício ou em outros ramos de trabalho. À medida que avançam em sua obra, compreendendo sua impotência mas confiando humildemente em Deus, obtêm uma bendita experiência. O Senhor Jesus vai adiante deles, e entre ricos e pobres encontram eles favor e auxílio. CBV 155 1 Os que se preparam para obra médico-missionária em campos distantes devem ser animados a partir sem demora ao lugar em que esperam trabalhar, e começar a obra entre o povo, aprendendo a língua enquanto trabalham. Bem depressa estarão aptos a ensinar as simples verdades da Palavra de Deus. CBV 155 2 Necessitam-se por todo o mundo mensageiros de misericórdia. Há necessidade de famílias cristãs que vão para localidades que se acham em trevas e erro, vão a lugares longínquos, e aí tomem conhecimento das necessidades de seus semelhantes, e trabalhem pela causa do Mestre. Se essas famílias se estabelecessem nos lugares escuros da Terra, lugares em que o povo se acha envolto em sombras espirituais, e deixassem a luz da vida de Cristo irradiar por meio delas, nobre seria a obra que se poderia realizar. CBV 156 1 Essa obra requer sacrifício. Enquanto muitos estão esperando que sejam removidos todos os obstáculos, fica por fazer a obra que poderiam efetuar, e multidões estão morrendo sem esperança e sem Deus. Alguns, por amor de vantagens comerciais, ou para adquirir conhecimentos científicos, se arriscam a penetrar em regiões desabitadas, e a resistir de bom grado a sacrifícios e privações; mas quão poucos estão dispostos, por amor de seus semelhantes, a transportar sua família para regiões carecidas do evangelho! CBV 156 2 Alcançar o povo onde quer que esteja e seja qual for sua posição ou estado, e auxiliá-lo por todos os modos possíveis -- eis o verdadeiro ministério. Mediante esses esforços, podeis conquistar corações, e abrir uma porta para o acesso a almas que estão a perecer. CBV 156 3 Lembrai-vos, em todo o vosso trabalho, que vos achais ligados a Cristo, sendo uma parte do grande plano de redenção. O amor de Cristo, numa corrente que cura e vivifica, deve fluir de vossa vida. Ao buscardes atrair outros para o círculo de Seu amor, que a pureza de vossa linguagem, o desinteresse de vosso serviço e o contentamento de vossa conduta sejam um testemunho ao poder de Sua graça. Oferecei ao mundo uma tão pura e justa representação dEle que os homens O contemplem em Sua beleza. CBV 156 4 De pouca utilidade é procurar reformar outros atacando o que podemos considerar maus hábitos. Tais esforços dão muitas vezes em resultado mais dano que bem. Em Sua conversa com a samaritana, em lugar de desmerecer o poço de Jacó, Cristo apresentou alguma coisa melhor. "Se tu conheceras o dom de Deus", disse Ele, "e quem é o que te diz: Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva." João 4:10. Desviou a conversa para o tesouro que tinha a dar, oferecendo à mulher alguma coisa melhor do que ela possuía, a própria água viva, a alegria e a esperança do evangelho. CBV 157 1 Isso é uma ilustração do modo por que devemos trabalhar. Temos de oferecer aos homens alguma coisa melhor do que eles possuem, a própria paz de Cristo, que excede todo o entendimento. Cumpre-nos falar-lhes da santa Lei de Deus, a transcrição de Seu caráter, e uma expressão daquilo que Ele quer que se tornem. Mostrai-lhes quão infinitamente superior às fugazes alegrias e prazeres do mundo é a imperecível glória celeste. Falai-lhes da liberdade e do repouso que se encontram no Salvador. "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede", declarou Ele. João 4:14. CBV 157 2 Exaltai a Jesus, clamando: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. Unicamente Ele pode satisfazer o anseio do coração, e dar paz à alma. CBV 157 3 De todos os povos da Terra, deviam ser os reformadores os mais abnegados, os mais bondosos, os mais corteses. Dever-se-ia ver em seus atos a verdadeira bondade dos atos desinteressados. O obreiro que manifesta falta de cortesia, que mostra impaciência ante a ignorância dos outros ou por se acharem extraviados, que fala bruscamente ou procede sem reflexão, pode cerrar a porta de corações por tal maneira que nunca mais lhes seja dado conquistá-los. Como o orvalho e a chuva branda caem nas ressequidas plantas, assim deixai cair suavemente as palavras quando procurais desviar os homens de seus erros. O plano de Deus é conquistar primeiro o coração. Devemos falar a verdade com amor, confiando nEle quanto ao poder para a reforma da vida. O Espírito Santo aplicará ao coração a palavra proferida com amor. CBV 157 4 Somos naturalmente egocêntricos e opiniosos. Mas, ao aprendermos as lições que Cristo nos deseja ensinar, tornamo-nos participantes de Sua natureza; daí em diante, vivemos a Sua vida. O maravilhoso exemplo de Cristo, a incomparável ternura com que compreendia os sentimentos dos outros, chorando com os que choravam e Se regozijando com os que se regozijavam, deve exercer profunda influência sobre o caráter de todos quantos O seguem em sinceridade. Mediante palavras e atos bondosos, procurarão facilitar o trilho aos pés cansados. CBV 158 1 "O Senhor Jeová Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado." Isaías 50:4. CBV 158 2 Todos quantos nos cercam são almas aflitas. Aqui e ali, por toda parte, podemos encontrá-las. Procuremos esses sofredores e demos-lhes uma palavra a seu tempo para lhes confortar o coração. Sejamos sempre condutos por onde fluam as refrigerantes águas da compaixão. CBV 158 3 Em todas as nossas relações devemos lembrar que há, na vida dos outros, capítulos fechados às vistas mortais. Há, nas páginas da memória, tristes histórias que são cuidadosamente guardadas de olhares curiosos. Aí se encontram registradas longas, renhidas batalhas com circunstâncias difíceis, talvez perturbações da vida doméstica, que enfraquecem dia a dia o ânimo, a confiança e a fé. Os que estão pelejando o combate da vida em grande desvantagem de condições podem ser fortalecidos e animados por pequeninas atenções que não custam senão um amorável esforço. Para esses, o caloroso e ajudador aperto de mão dado por verdadeiro amigo vale mais que prata ou ouro. As palavras de bondade são recebidas com tanto agrado como o sorriso dos anjos. CBV 158 4 Há multidões lutando com a pobreza, obrigados a batalhar duramente por pequenos salários, e mal podendo garantir as mais rudimentares exigências da vida. A labuta e a privação, sem esperança de coisas melhores, tornam excessivamente pesada sua carga. E, quando a isso se ajuntam a dor e a doença, o fardo é quase insuportável. Alquebrados e oprimidos, não sabem para onde se voltar em busca de auxílio. Compadecei-vos deles em suas provações, suas mágoas e decepções. Isso vos abrirá o caminho para os ajudar. Falai-lhes das promessas de Deus, orai com eles e por eles, inspirai-lhes a esperança. CBV 159 1 As palavras de ânimo e coragem dirigidas quando a pessoa está doente e sem ânimo são palavras consideradas pelo Salvador como ditas a Ele próprio. Ao serem os corações reconfortados, os anjos celestes olham para o alto em satisfeito reconhecimento. CBV 159 2 De século em século, o Senhor tem estado buscando despertar na alma dos homens um senso de sua divina fraternidade. Sede coobreiros Seus. Enquanto a desconfiança e a separação estão penetrando por todo o mundo, os discípulos de Cristo devem revelar o espírito que reina no Céu. CBV 159 3 Falai como Ele falaria, agi como Ele haveria de agir. Revelai constantemente a doçura de Seu caráter. Manifestai aquela opulência de amor que se acha na base de todos os Seus ensinos e de todo o Seu trato com os homens. Os mais humildes obreiros, em cooperação com Cristo, podem tocar cordas cujas vibrações ressoarão até aos extremos da Terra, e ecoarão harmoniosamente através dos séculos eternos. CBV 159 4 Os espíritos celestes estão esperando para cooperar com os instrumentos humanos, para revelar ao mundo o que se podem tornar os homens, mediante a união com o Divino, e o que pode ser realizado em favor da salvação das almas prestes a perecer. Não pode haver limite à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o eu, oferece margem à operação do Espírito Santo em seu coração, e vive uma vida inteiramente consagrada a Deus. Todos quantos consagram corpo, alma e espírito a Seu serviço estarão constantemente recebendo nova provisão de poder físico, mental e espiritual. Os inesgotáveis abastecimentos celestes se acham a sua disposição. Cristo lhes dá o alento de Seu próprio espírito, a vida de Sua vida. O Espírito Santo desenvolve suas mais altas energias para operar na mente e no coração. Mediante a graça que nos é dada podemos conseguir vitórias que, devido a nossas opiniões errôneas e preconcebidas, nossos defeitos de caráter, nossa pouca fé, pareciam impossíveis. CBV 160 1 A todos quantos se oferecem ao Senhor para o serviço, sem nada reter, é dado poder para alcançar resultados sem limites. Por esses fará Deus grandes coisas. Ele operará no espírito dos homens de modo que, mesmo neste mundo, ver-se-á em sua vida um cumprimento da promessa do futuro estado. CBV 160 2 "O deserto e a terra se alegrarão; O ermo exultará e florescerá como o narciso. Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará; Deu-se-lhes a glória do Líbano, O esplendor do Carmelo e de Sarom; Eles verão a glória do Senhor, O esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos frouxas E firmai os joelhos vacilantes. Dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais. Eis o vosso Deus. ... Então, se abrirão os olhos dos cegos, E se desimpedirão os ouvidos dos; Os coxos saltarão como cervos, E a língua dos mudos cantará; Pois águas arrebentarão no deserto, E ribeiros, no ermo. A areia esbraseada se transformará em lagos, E a terra sedenta, em mananciais de águas. ... E ali haverá bom caminho, Caminho que se chamará o Caminho Santo; O imundo não passará por ele, Pois será somente para o seu povo; Quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco. Ali não haverá leão, Animal feroz não passará por ele, Nem se achará nele; Mas os remidos andarão por ele. Os resgatados do Senhor voltarão E virão a Sião com cânticos de júbilo; Alegria eterna coroará a sua cabeça; Gozo e alegria alcançarão, E deles fugirá a tristeza e o gemido." Isaías 35:1-10. ------------------------Capítulo 10 -- Auxílio aos tentados CBV 161 1 Não foi porque nós O amássemos primeiro que Cristo nos amou; mas, "sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5:8), Ele morreu por nós. Não nos trata segundo os nossos merecimentos. Embora nossos pecados mereçam condenação, Ele não nos condena. Ano após ano, tem lidado com a nossa fraqueza e ignorância, com nossa ingratidão e extravios. Apesar desses desvios, nossa dureza de coração, nossa negligência de Sua santa Palavra, Sua mão ainda se acha estendida para nós. CBV 161 2 A graça é um atributo de Deus, exercido para com as indignas criaturas humanas. Não a buscamos, porém ela foi enviada a procurar-nos. Deus Se regozija de conceder-nos Sua graça, não porque somos dignos, mas porque somos tão completamente indignos. Nosso único direito a Sua misericórdia é nossa grande necessidade. CBV 161 3 O Senhor Deus, por intermédio de Jesus Cristo, estende o dia todo a mão num convite aos pecadores e caídos. A todos receberá. Dá as boas-vindas a todos. É Sua glória perdoar ao maior dos pecadores. Ele tomará a presa ao valente, libertará o cativo, tirará do fogo o tição. Baixará a áurea cadeia de Sua misericórdia às mais baixas profundezas da ruína humana, e erguerá a degradada alma, contaminada pelo pecado. CBV 162 1 Toda criatura humana é objeto de amoroso interesse por parte dAquele que deu a vida a fim de reconduzir os homens a Deus. Almas culpadas e impotentes, sujeitas a ser destruídas pelos ardis e artes de Satanás, são cuidadas como a ovelha do rebanho o é pelo pastor. CBV 162 2 O exemplo do Salvador deve ser a norma de nosso serviço pelo tentado e o errante. O mesmo interesse e ternura e longanimidade que Ele tem manifestado para conosco, nos cumpre mostrar para com os outros. "Como Eu vos amei a vós", diz Ele, "que também vós uns aos outros vos ameis". João 13:34. Se Cristo habita em nós, manifestaremos Seu abnegado amor para com todos com quem temos de tratar. Ao vermos homens e mulheres necessitados de simpatia e auxílio, não devemos indagar: "São eles dignos?", mas: "Como os poderei beneficiar?" CBV 162 3 Ricos e pobres, elevados e humildes, livres e servos, todos são herança de Deus. Aquele que deu a vida para redimir os homens vê em toda criatura humana um valor que excede ao cálculo finito. Pelo mistério e glória da cruz, devemos discernir Sua estimativa do preço de uma alma. Quando assim fizermos, sentiremos que a criatura humana, embora degradada, custou demasiado para ser tratada com frieza e desdém. Compreenderemos a importância de trabalhar por nossos semelhantes, para que sejam exaltados ao trono de Deus. CBV 163 1 A moeda perdida da parábola do Salvador, conquanto se achasse na sujeira e lixo, era ainda um pedaço de prata. Sua possuidora buscou-a porque era de valor. Assim toda pessoa, ainda que desvalorizada pelo pecado, é aos olhos de Deus considerada preciosa. Como a moeda trazia a imagem e inscrição do poder dominante, assim apresentava o homem na sua criação a imagem e inscrição de Deus. Embora estejam ao presente manchadas e obscurecidas pela influência do pecado, os traços dessa inscrição permanecem em cada pessoa. Deus deseja readquiri-la para reimprimir sobre ela Sua própria imagem em justiça e santidade. CBV 163 2 Quão pouco nos ligamos com Cristo em simpatia naquilo que devia ser o mais forte laço de união entre nós e Ele -- a compaixão para com os depravados, culpados, sofredores, mortos em ofensas e pecados! A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado. Muitos pensam que estão representando a justiça de Deus, ao passo que deixam inteiramente de Lhe representar a ternura e o grande amor. Muitas vezes aqueles a quem eles tratam com severidade e rispidez se acham sob o jugo da tentação. Satanás está lutando com essas pessoas, e palavras ásperas, destituídas de simpatia, desanimam-nas, fazendo-as cair presa do poder do tentador. CBV 163 3 Delicada coisa é o trato com a mente dos homens. Unicamente Aquele que conhece o coração sabe a maneira de levar o homem ao arrependimento. Só a Sua sabedoria nos pode dar êxito em alcançar os perdidos. Podeis erguer-vos inflexivelmente, pensando: "Sou mais santo do que tu", e não importa quão correto seja o vosso raciocínio ou quão verdadeiras as vossas palavras, elas jamais tocarão corações. O amor de Cristo, manifestado em palavras e atos, encontrará caminho à alma, quando a reiteração do preceito ou do argumento nada conseguiria. CBV 164 1 Necessitamos mais da simpatia natural de Cristo; não somente simpatia pelos que se nos apresentam irrepreensíveis, mas pelas pobres almas sofredoras, em luta, que são muitas vezes achadas em falta, pecando e se arrependendo, sendo tentadas e vencidas de desânimo. Devemos dirigir-nos a nossos semelhantes tocados -- como nosso misericordioso Sumo Sacerdote -- pelo sentimento de suas enfermidades. CBV 164 2 Eram os rejeitados, os publicanos e pecadores, os desprezados pelos povos, que Cristo chamava, e por Sua amorável bondade os compelia a aproximar-se dEle. A classe que Ele nunca favorecia era a daqueles que ficavam à parte na própria estima, e olhavam os outros de alto para baixo. CBV 164 3 "Sai pelos caminhos e atalhos, e força-os a entrar", ordena-nos Cristo, "para que a Minha casa se encha." Lucas 14:23. Em obediência a esta palavra, devemos ir aos não-convertidos que se acham perto de nós, e aos que estão distantes. Os "publicanos e as meretrizes" (Mateus 21:31) devem ouvir o convite do Salvador. Por meio da bondade e da longanimidade de Seus mensageiros, o convite se torna um poder para erguer os que se acham imersos nas maiores profundezas do pecado. CBV 164 4 Os motivos cristãos exigem que trabalhemos com um firme desígnio, um infatigável interesse e crescente insistência, por essas almas a quem Satanás está procurando destruir. Coisa alguma nos deve esfriar a fervorosa, anelante energia pela salvação dos perdidos. CBV 164 5 Notai como através de toda a Palavra de Deus se manifesta o espírito de insistência, de implorar a homens e mulheres que se cheguem a Cristo. Devemo-nos apoderar de toda oportunidade, tanto em particular como em público, apresentando todo argumento, insistindo com razões de peso infinito para atrair homens ao Salvador. Com todas as nossas forças nos cumpre insistir com eles para que olhem a Jesus, e aceitem Sua vida de abnegação e sacrifício. Devemos mostrar que esperamos que eles dêem alegria ao coração de Cristo, usando todos os Seus dons para honra de seu nome. Salvos por Esperança CBV 165 1 "Em esperança, somos salvos." Romanos 8:24. Os caídos devem ser levados a sentir que não é demasiado tarde para serem íntegros. Cristo honrou o homem com Sua confiança, deixando-o então sob a vigilância de sua própria honra. Mesmo aqueles que haviam caído mais baixo, Ele tratava com respeito. Era para Cristo uma contínua dor o contato com a inimizade, a depravação e a impureza; nunca, porém, soltou Ele uma expressão que mostrasse estarem as Suas sensibilidades chocadas ou ofendidos os Seus apurados gostos. Fossem quais fossem os maus hábitos, os fortes preconceitos ou as dominantes paixões das criaturas humanas, Ele as encarava a todas com piedosa ternura. Ao partilharmos de Seu Espírito, olharemos todos os homens como irmãos, com idênticas tentações, caindo muitas vezes e lutando por se erguer novamente, combatendo contra o desânimo e as dificuldades, sedentos de simpatia e auxílio. Então nos aproximaremos deles de modo a não desanimá-los nem repeli-los, mas a suscitar a esperança em seu coração. Ao serem assim animados, poderão dizer em confiança: "Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz." Ele julgará "a minha causa" e executará "o meu direito". Ele trazer-me-á "à luz, e eu verei a Sua justiça." Miqueias 7:8-9. CBV 166 1 Deus "da Sua morada contempla todos os moradores da Terra. Ele é que forma o coração de todos eles." Salmos 33:14-15. CBV 166 2 Ele nos manda, no trato com os tentados e errantes, olhar "por ti mesmo, para que não sejas também tentado". Gálatas 6:1. Com um senso de nossas próprias enfermidades, teremos compaixão das enfermidades dos outros. CBV 166 3 "Quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?" 1 Coríntios 4:7. "Um só é o vosso Mestre, ... e todos vós sois irmãos." Mateus 23:8. "Por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? ... Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão." Romanos 14:10 e 13. CBV 166 4 É sempre humilhante ver seus próprios erros apontados. Ninguém deveria tornar a prova mais amarga por desnecessárias censuras. Ninguém já foi conquistado por meio de repreensão; mas muitos têm sido assim alienados, sendo levados a endurecer o coração contra as convicções. Um espírito brando, uma maneira suave e cativante, pode salvar o desviado, e encobrir uma multidão de pecados. CBV 166 5 O apóstolo Paulo achou necessário reprovar o erro, mas quão cuidadosamente procurou ele mostrar que era um amigo para os extraviados! Quão ansiosamente lhes explicava o motivo de seu proceder! Fazia-os compreender que lhe doía o causar-lhes dor. Mostrava a simpatia e confiança que tinha para com os que estavam lutando por vencer. CBV 166 6 "Em muita tribulação e angústia de coração, vos escrevi", disse ele, "com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho." 2 Coríntios 2:4. "Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido; ... agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento. ... Porque, quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio. ... Por isso, fomos consolados." 2 Coríntios 7:8, 9, 11 e 13. CBV 167 1 "Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós." 2 Coríntios 7:16. "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração." Filipenses 1:3-7. "Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados." Filipenses 4:1. "Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor." 1 Tessalonicenses 3:8. CBV 167 2 Paulo escrevia a esses irmãos como a "santos em Cristo Jesus" (Filipenses 4:21); mas não estava escrevendo a pessoas de caráter perfeito. Escrevia-lhes como a homens e mulheres que estavam lutando contra a tentação, e se achavam em perigo de cair. Apontava-lhes "o Deus de paz" que "tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas". Assegurava-lhes que, "pelo sangue do concerto eterno" Ele os aperfeiçoaria "em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus". Hebreus 13:20-21. CBV 167 3 Quando uma pessoa em falta se torna consciente de seu erro, cuidai em não lhe destruir o respeito de si mesma. Não a desanimeis pela indiferença ou a desconfiança. Não digais: "Antes de lhe dar minha confiança, quero esperar para ver se ela persevera." Frequentemente essa mesma desconfiança faz com que o tentado tropece. CBV 168 1 Devemos esforçar-nos por compreender as fraquezas dos outros. Pouco sabemos nós das provas de coração daqueles que têm estado ligados em cadeias de trevas, a quem falta resolução e poder moral. Por demais lastimável é a condição daquele que sofre ao peso do remorso; é como uma pessoa aturdida, cambaleante, a afundar-se no pó. Não pode ver nada com clareza. A mente se acha obscurecida, não sabe que passo há de dar. Muita pobre alma é mal compreendida, mal apreciada, cheia de aflição e de angústia -- uma ovelha desgarrada, perdida. Não pode encontrar a Deus, e experimenta todavia intenso anseio de perdão e de paz. CBV 168 2 Oh, não deixeis escapar nenhuma palavra que vá causar dor mais profunda ainda! À alma cansada de uma vida de pecado, mas não sabendo onde encontrar alívio, apresentai o compassivo Salvador. Tomai-a pela mão, erguei-a, dirigi-lhe palavras de ânimo e esperança. Ajudai-a a segurar a mão do Salvador. CBV 168 3 Desanimamos muito facilmente com os que não correspondem imediatamente aos nossos esforços. Nunca devemos deixar de trabalhar por uma pessoa enquanto houver um raio de esperança. Os seres humanos custaram a nosso Redentor demasiado caro para serem levianamente abandonados ao poder do tentador. CBV 168 4 Necessitamos colocar-nos a nós mesmos no lugar dos tentados. Considerai o poder da hereditariedade, a influência das más companhias e do ambiente, a força dos maus hábitos. Podemos nós admirar-nos de que, sob tais influências, muitos se degradem? Podemos admirar que sejam tardios em corresponder aos nossos esforços pelo seu reerguimento? CBV 168 5 Muitas vezes, quando conquistados para o evangelho, aqueles que se afiguravam vulgares e não promissores, achar-se-ão entre os mais leais de seus adeptos e defensores. Não estão inteiramente corrompidos. Sob um desagradável exterior, há impulsos bons que podem ser atraídos. Sem a mão ajudadora, muitos há que nunca se haveriam de restabelecer, mas mediante esforço paciente e perseverante, podem ser levantados. Essas pessoas requerem ternas palavras, bondosa consideração, auxílio real. Necessitam aquela espécie de conselho que não extinguirá o débil raio de ânimo na alma. Considerem isso os obreiros que se põem em contato com elas. CBV 169 1 Serão encontrados alguns cuja mente foi por tão longo tempo desacreditada que nunca na vida se tornarão aquilo que poderiam ter sido sob mais favoráveis circunstâncias. Mas os brilhantes raios do Sol da Justiça podem resplandecer na alma. É seu privilégio possuir aquela vida que se estende paralela à vida de Deus. Implantai-lhes na mente pensamentos que elevem e enobreçam. Que vossa vida lhes patenteie a diferença entre o vício e a pureza, as trevas e a luz. Leiam eles em vosso exemplo o que significa ser cristão. Cristo é capaz de levantar os maiores pecadores, colocando-os no estado em que serão reconhecidos como filhos de Deus, herdeiros com Cristo da herança imortal. CBV 169 2 Pelo milagre da divina graça, muitos podem tornar-se aptos para uma vida de utilidade. Desprezados e abandonados, perderam por completo o ânimo; talvez pareçam insensíveis e indiferentes. Sob o ministério do Espírito Santo, todavia, a estupidez que faz parecer impossível seu reerguimento desaparecerá. A mente pesada, obscurecida, despertará. O escravo do pecado será posto em liberdade. O vício desaparecerá, será vencida a ignorância. Mediante a fé que opera por amor, o coração será purificado e a mente, iluminada. ------------------------Capítulo 11 -- A obra em favor dos intemperantes CBV 171 1 Toda verdadeira reforma tem seu lugar na obra do evangelho, e tende ao reerguimento da alma a uma vida nova e mais nobre. A obra da temperança, especialmente, requer o apoio dos obreiros cristãos. Eles devem chamar a atenção para essa obra, tornando-a objeto de vivo interesse. Por toda parte devem apresentar ao povo os princípios da verdadeira temperança, e pedir assinaturas para o voto da mesma. Fervorosos esforços se devem fazer em favor dos que se acham escravizados aos maus hábitos. CBV 171 2 Há por toda parte uma obra a ser feita por aqueles que caíram devido à intemperança. Entre as igrejas, as instituições religiosas, e lares supostamente cristãos, muitos jovens estão seguindo o caminho da ruína. Por hábitos de intemperança, trazem sobre si mesmos a enfermidade, e pela ganância de obter dinheiro para pecaminosas transigências, caem em práticas desonestas. Arruínam a saúde e o caráter. Alienados de Deus, rejeitados pela sociedade, essas pobres pessoas se sentem sem esperança tanto para esta vida como para outra, por vir. O coração dos pais fica quebrantado. As pessoas falam desses extraviados como casos sem esperança; assim não os considera Deus. Ele compreende todas as circunstâncias que os têm tornado o que são, e os contempla com piedade. Essa é uma classe que demanda auxílio. Nunca lhes deis ocasião de dizer: "Ninguém se importa comigo." CBV 172 1 Acham-se entre as vítimas da intemperança indivíduos de todas as classes e profissões. Pessoas de elevada posição, de notáveis talentos, de grandes realizações, têm cedido aos apetites a ponto de se tornarem incapazes de resistir à tentação. Alguns, que eram antes possuidores de fortuna, encontram-se sem lar, sem amigos, em sofrimento e miséria, enfermidade e degradação. Perderam o domínio de si mesmos. A menos que uma mão ajudadora lhes seja estendida, hão de cair mais e mais baixo. Aliada a essa condescendência consigo mesmo se acha, não somente um pecado moral, mas uma doença física. CBV 172 2 Muitas vezes, ao ajudar os intemperantes, devemos, como Cristo fazia tão frequentemente, atender primeiro a suas condições físicas. Necessitam alimento e bebida saudáveis, não estimulantes, roupas limpas, oportunidades de manter o asseio físico. Necessitam ser rodeados de uma atmosfera de salutar e enobrecedora influência cristã. Deve-se prover em toda cidade um lugar em que os escravos dos maus hábitos possam receber auxílio para quebrar as cadeias que os prendem. A bebida forte é considerada por muitos o único consolo na aflição; mas não será preciso que seja assim, se, em lugar de desempenhar o papel do sacerdote e do levita, os professos cristãos seguirem o exemplo do bom samaritano. CBV 172 3 Ao lidar com as vítimas da intemperança, cumpre-nos lembrar que não estamos tratando com pessoas de são juízo, mas com aqueles que, de momento, se acham sob o poder de um demônio. Sede pacientes e mansos. Não penseis na desagradável, repulsiva aparência, mas na preciosa vida para cuja redenção Cristo morreu. Ao despertar o bêbado para o sentimento de sua degradação, fazei quanto estiver ao vosso alcance para lhe mostrar que sois seu amigo. Não profirais uma palavra de censura ou de repugnância. É muito provável que a pobre pessoa se maldiga a si mesma. Ajudai-a a se erguer. Dirigi-lhe palavras que fortaleçam a fé. Procurai fortalecer todo bom traço em seu caráter. Ensinai-lhe a maneira de alcançar um nível mais elevado. Mostrai-lhe que é possível viver de modo a conquistar o respeito de seus semelhantes. Ajudai-a a ver o valor dos talentos que Deus lhe tem dado, mas que ela tem negligenciado desenvolver. CBV 173 1 Embora se haja a vontade depravado e enfraquecido, existe para ela esperança em Cristo. Esse lhe despertará no coração mais elevados impulsos e desejos mais santos. Animai-a a apoderar-se da esperança que se lhe apresenta no evangelho. Abri a Bíblia ao tentado e lutador, lendo-lhes repetidamente as promessas de Deus. Essas promessas serão para ele como as folhas da árvore da vida. Continuai pacientemente em vossos esforços, até que, com reconhecida alegria, a trêmula mão se apegue à esperança da redenção em Cristo. CBV 173 2 Deveis apegar-vos firmemente àqueles a quem buscais ajudar, do contrário jamais obtereis a vitória. Eles serão continuamente tentados para o mal. Serão repetidamente quase vencidos pelo intenso desejo da bebida forte; aqui e ali poderão cair; não cesseis, entretanto, por isso, os vossos esforços. CBV 173 3 Eles decidiram fazer um esforço para viver para Cristo; sua força de vontade, porém, acha-se enfraquecida, e devem ser cuidadosamente guardados pelos que cuidam das almas como quem por elas têm de dar contas. Eles perderam sua varonilidade, que devem reconquistar. Muitos têm de lutar contra fortes tendências hereditárias para o mal. Fortes desejos não naturais, impulsos sensuais, eis a herança que por nascimento receberam. Contra os mesmos devem ser cuidadosamente guardados. Interior e exteriormente, estão o bem e o mal em luta pelo domínio. Os que nunca passaram por tais experiências não podem conhecer o quase avassalador poder do apetite, ou o feroz conflito entre os hábitos de condescendência consigo mesmo e a decisão de ser temperante em todas as coisas. Essa batalha deve ser travada uma e muitas vezes. CBV 173 4 Muitos dos que são atraídos a Cristo não possuirão força moral para continuar a luta contra o apetite e a paixão. O obreiro não deve, no entanto, se desanimar por isso. São apenas os que foram salvos das maiores profundidades os que apostatam? CBV 174 1 Lembrai-vos de que não trabalhais sozinhos. Anjos ministradores se unem em serviço a todo o sincero filho e filha de Deus. E Cristo é o restaurador. O grande Médico mesmo Se acha ao lado dos fiéis obreiros, dizendo à alma arrependida: "Filho, perdoados estão os teus pecados." Marcos 2:5. CBV 174 2 Muitos serão os párias que se apoderarão da esperança que lhes é apresentada no evangelho, e entrarão no reino do Céu, ao passo que outros que foram beneficiados com grandes oportunidades e grande luz, que não aproveitaram, serão deixados nas trevas exteriores. CBV 174 3 As vítimas de maus hábitos devem ser despertadas para a necessidade de fazer esforços por si mesmos. Outros podem desenvolver os mais fervorosos empenhos para erguê-los, a graça de Deus pode-lhes ser abundantemente oferecida, Cristo pode rogar, Seus anjos ministrar; tudo, porém, será em vão, a menos que eles próprios despertem para pelejar o combate em seu favor. CBV 174 4 As últimas palavras de Davi a Salomão, então um jovem, e que ia em breve receber a coroa de Israel, foram: "Esforça-te, ... e sê homem." 1 Reis 2:2. A todo filho da humanidade, candidato a uma coroa imortal, dirigem-se estas palavras proferidas pela inspiração: "Esforça-te, ... e sê homem." CBV 174 5 Os habituados a satisfazer às tendências naturais devem ser levados a ver e a sentir que é mister grande renovação moral, se se querem tornar homens. Deus os convida a despertar e, na força de Cristo, reconquistar a varonilidade que Deus lhes dera, e que foi sacrificada em pecaminosas condescendências. CBV 174 6 Sentindo o terrível poder da tentação, o arrastamento do desejo que leva à fraqueza, muito homem brada em desespero: "Não posso resistir ao mal." Dizei-lhe que ele pode, que ele precisa resistir. Poderá haver sido derrotado uma e outra vez, mas não é necessário que seja sempre assim. Ele é fraco em força moral, dominado por hábitos de uma vida de pecado. Suas promessas e resoluções são como cordas de areia. A consciência das promessas não cumpridas e dos violados votos enfraquece-lhe a confiança na própria sinceridade, fazendo com que ele sinta que Deus não o pode aceitar, nem cooperar com os seus esforços. Não precisa, entretanto, desesperar. CBV 175 1 Os que põem em Cristo a confiança não devem ficar escravizados por nenhuma tendência ou hábito hereditário, ou cultivado. Em lugar de ficar subjugados em servidão à natureza inferior, devem reger todo apetite e paixão. Deus não nos deixou lutar com o mal em nossa própria, limitada força. Sejam quais forem nossas tendências herdadas ou cultivadas para o erro, podemos vencer, mediante o poder que Ele nos está disposto a comunicar. O Poder da Vontade CBV 176 1 O tentado necessita compreender a verdadeira força da vontade. É este o poder que governa na natureza do homem -- o poder de decisão, de escolha. Tudo depende da devida ação da vontade. Os desejos em direção da bondade e da pureza são em si mesmos justos; mas, se aí ficamos, nada aproveitam. Muitos descerão à ruína, enquanto esperam e desejam vencer suas más propensões. Eles não entregam a vontade a Deus. Não escolhem servi-Lo. CBV 176 2 Deus nos deu o poder da escolha; a nós cumpre exercitá-lo. Não podemos mudar o coração, nem reger nossos pensamentos, impulsos e afeições. Não nos podemos tornar puros, aptos para o serviço de Deus. Mas podemos escolher servi-Lo, podemos entregar-Lhe nossa vontade; então, Ele operará em nós o querer e o efetuar, segundo a Sua aprovação. Assim, nossa natureza toda será posta sob o domínio de Cristo. CBV 176 3 Mediante o devido exercício da vontade, uma completa mudança pode ser operada na vida. Entregando a vontade a Cristo, aliamo-nos com o divino poder. Recebemos força do alto para nos manter firmes. Uma vida nobre e pura, uma vida vitoriosa sobre o apetite e a concupiscência, é possível a todo aquele que quiser unir sua vontade humana, fraca e vacilante, à onipotente e inabalável vontade de Deus. CBV 176 4 Os que estão em luta com o poder do apetite devem ser instruídos nos princípios do viver saudável. Deve-se-lhes mostrar que a violação das leis da saúde, criando um estado enfermo e desejos não naturais, lança as bases para o hábito das bebidas alcoólicas. Unicamente vivendo em obediência aos princípios da saúde, podem eles se libertar da sede de estimulantes contrários à natureza. Ao passo que dependem da força divina para quebrar as cadeias do apetite, devem cooperar com Deus pela obediência a Suas leis, tanto as morais como as físicas. CBV 177 1 Os que se estão esforçando para reformar-se devem ser ajudados a obter emprego. Ninguém em condições de trabalhar deve ser ensinado a esperar alimento, roupa e casa de graça. Por amor deles próprios, bem como dos outros, devia ser planejado um meio pelo qual produzam o equivalente àquilo que recebem. Animai todo esforço quanto à manutenção própria. Isso fortalecerá o respeito de si mesmo, e uma nobre independência. E a ocupação da mente e do corpo num trabalho útil é essencial como salvaguarda contra a tentação. Decepções e Perigos CBV 177 2 Os que trabalham pelos caídos ficarão decepcionados com muitos que dão esperança de reforma. Muitos não farão senão uma superficial mudança em seus hábitos e maneiras de proceder. São movidos por impulso, e por algum tempo podem parecer reformados; mas não há verdadeira mudança de coração. Acariciam o mesmo amor-próprio, têm a mesma sede de prazeres vãos, o mesmo desejo de satisfação própria. Não têm conhecimento da obra da formação do caráter, e não se pode confiar neles como homens de princípios. Rebaixaram suas faculdades mentais e espirituais pela satisfação do apetite e da paixão, o que os enfraquece. São inconstantes e mutáveis. Seus impulsos tendem à sensualidade. Essas pessoas são muitas vezes uma fonte de perigo para outros. Sendo considerados como homens e mulheres reformados, confiam-se-lhes responsabilidades, e são colocados em posições em que sua influência corrompe os inocentes. CBV 178 1 Mesmo os que estão buscando sinceramente reformar-se não se acham livres do perigo de cair. Precisam ser tratados com grande sabedoria e ternura. A tendência de lisonjear e exaltar os que foram salvos das maiores profundidades provoca por vezes sua ruína. O costume de convidar homens e mulheres para relatar em público os incidentes de sua vida de pecado é cheio de perigos, tanto para o que fala como para os que escutam. Demorar o pensamento em cenas de mal é corruptor para a mente e a alma. E o destaque em que se colocam os que são assim salvos é-lhes prejudicial. Muitos são levados a pensar que sua vida pecaminosa lhes confere certa distinção. São animados o amor da notoriedade e o espírito de confiança em si mesmo, os quais se demonstram fatais à alma. Unicamente desconfiando de si mesmos e confiando na misericórdia de Cristo podem eles subsistir. CBV 178 2 Todos quantos dão provas de verdadeira conversão devem ser animados a trabalhar pelos outros. Que ninguém repila uma alma que deixa o serviço de Satanás pelo de Cristo. Quando uma pessoa dá demonstração de que o Espírito de Deus está lutando com ela, dai-lhe todo ânimo para entrar no serviço do Senhor. "E tende piedade de uns, usando de discernimento." Judas 22, Versão Trinitariana. Os que são sábios na sabedoria que vem de Deus verão almas necessitadas de auxílio, pessoas que se arrependeram sinceramente, mas que, sem animação, mal se atreveriam a firmar-se na esperança. O Senhor porá no coração de Seus servos receber com agrado essas criaturas trementes, arrependidas, para sua amorável convivência. Sejam quais forem seus pecados habituais, não importa quão baixo hajam elas caído, quando, em contrição se achegam a Cristo, Ele as recebe. Dai-lhes então alguma coisa a fazer para Ele. Se elas desejam trabalhar no reerguimento de outros do abismo da destruição de que elas próprias foram salvas, dai-lhes oportunidade. Ponde-as em contato com cristãos experientes, a fim de obterem vigor espiritual. Enchei-lhes o coração e as mãos de trabalho para o Mestre. CBV 179 1 Quando a luz resplandece na alma, alguns dos que pareciam mais entregues ao pecado se tornarão obreiros de êxito em favor de pecadores da mesma espécie que eles antes foram. Mediante a fé em Cristo, alguns se erguerão a elevadas posições de serviço, e ser-lhes-ão confiadas responsabilidades na obra de salvar almas. Eles vêem onde reside sua fraqueza, compreendem a depravação de sua natureza. Conhecem a força do pecado, e do mau hábito. Avaliam sua incapacidade para vencer sem o auxílio de Cristo, e seu constante clamor é: "Sobre Ti lanço minha desamparada alma." CBV 179 2 Esses podem ajudar a outros. Aquele que tem sido tentado e provado, cuja esperança havia quase desaparecido, mas foi salvo ouvindo a mensagem de amor, é capaz de entender a ciência de salvar almas. Aquele cujo coração está cheio de amor para com Cristo, por haver sido, ele mesmo, procurado pelo Salvador e trazido de volta ao redil, sabe ir em busca dos perdidos. Pode encaminhar os pecadores ao Cordeiro de Deus. Entregou-se sem reservas a Deus, e foi aceito no Amado. Foi segurada a mão que, em fraqueza, se estendeu num pedido de socorro. Pelo ministério dessas pessoas, muitos pródigos serão levados ao Pai. CBV 179 3 Para toda alma em luta por se erguer de uma vida de pecado a uma de pureza, o grande elemento de poder reside no único nome "debaixo do céu", "dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos 4:12. Se alguém tem sede de tranquilizadora esperança, de libertação de propensões pecaminosas, Cristo diz: "Venha a Mim e beba." João 7:37. O único remédio para o vício é a graça e o poder de Cristo. CBV 179 4 As boas resoluções tomadas por alguém em suas próprias forças nada valem. Nem todos os votos do mundo quebrariam o poder do mau hábito. Homem algum nunca praticará a temperança em todas as coisas enquanto seu coração não estiver renovado pela graça divina. Não nos podemos guardar de pecar por um momento sequer. A cada instante dependemos de Deus. CBV 180 1 A verdadeira reforma começa com a purificação da alma. Nosso trabalho com os caídos só logrará real êxito à medida que a graça de Cristo remodelar o caráter, e a alma for posta em viva ligação com Deus. CBV 180 2 Cristo viveu uma vida de perfeita obediência à Lei de Deus, deixando nisto um exemplo perfeito a toda criatura humana. A vida que Ele viveu neste mundo, devemos nós viver, mediante Seu poder, e sob as Suas instruções. CBV 180 3 Em nossa obra pelos caídos, cumpre gravar na mente e no coração deles as exigências da Lei de Deus e a necessidade de lealdade para com Ele. CBV 180 4 Nunca deixeis de mostrar que existe assinalada diferença entre os que servem a Deus e os que O não servem. Deus é amor, mas não pode desculpar a voluntária desconsideração de Seus mandamentos. Os decretos de Seu governo são de tal ordem que o homem não escapa às consequências da deslealdade. Ele só pode honrar àqueles que O honram. A conduta do homem neste mundo decide seu eterno destino. Segundo houver semeado, assim ceifará. A causa será seguida do efeito. CBV 180 5 Nada menos que a perfeita obediência pode satisfazer ao ideal que Deus requer. Ele não deixou Sua vontade indefinida. Não ordenou coisa alguma que não seja necessária a fim de pôr o homem em harmonia com Ele. Devemos encaminhar os pecadores a Seu ideal de caráter, e conduzi-los a Cristo, por cuja graça, unicamente, pode esse ideal ser atingido. CBV 180 6 O Salvador tomou sobre Si as enfermidades humanas, e viveu uma vida sem pecado, a fim de os homens não terem nenhum temor de que, devido à fraqueza da natureza humana, eles não pudessem vencer. Cristo veio para nos tornar "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4), e Sua vida declara que a humanidade, unida à divindade, não comete pecado. CBV 181 1 O Salvador venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Todas as tentações de Satanás, Cristo enfrentava com a Palavra de Deus. Confiando nas promessas divinas, recebia poder para obedecer aos mandamentos de Deus, e o tentador não podia alcançar vantagem. A toda tentação, Sua resposta era: "Está escrito." Assim Deus nos tem dado Sua Palavra para com ela resistirmos ao mal. Pertencem-nos grandíssimas e preciosas promessas, a fim de que por elas fiquemos "participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. CBV 181 2 Dizei ao tentado que não olhe às circunstâncias, à fraqueza do próprio eu, ou ao poder da tentação, mas ao poder da Palavra de Deus. Toda a sua força nos pertence. "Escondi a Tua palavra no meu coração", diz o salmista, "para eu não pecar contra Ti." Salmos 119:11. "Pela palavra dos Teus lábios me guardei das veredas do destruidor." Salmos 17:4. CBV 181 3 Falai ao povo de maneira a incutir ânimo; erguei-os a Deus em oração. Muitos dos que têm sido vencidos pela tentação são humilhados por seus fracassos, e sentem ser vão buscar aproximar-se de Deus; mas esse pensamento é sugestão do inimigo. Quando pecaram, e sentem que não podem orar, dizei-lhes que é então o momento de orar. Talvez se encontrem envergonhados, e profundamente humilhados; ao confessarem, porém os seus pecados, Aquele que é fiel e justo lhos perdoará, purificando-os de toda injustiça. CBV 182 1 Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na realidade mais invencível, do que a alma que sente o seu nada, e confia inteiramente nos méritos do Salvador. Pela oração, pelo estudo de Sua Palavra, pela fé em Sua constante presença, a mais fraca das criaturas humanas pode viver em contato com o Cristo vivo, e Ele a segurará com mão que nunca a soltará. CBV 182 2 Essas preciosas promessas toda pessoa que permanece em Cristo pode tornar suas. Ela pode dizer: CBV 182 3 "Eu, ... esperarei no Senhor; Esperarei no Deus da minha salvação; O meu Deus me ouvirá. Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz." Miqueias 7:7-8. CBV 182 4 "Tornará a ter compaixão de nós, Apagará as nossas iniquidades E lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar." Miqueias 7:19 (Tradução de Noyes). CBV 182 5 Deus prometeu: CBV 182 6 "Farei que um homem seja mais precioso do que o ouro puro E mais raro do que o ouro fino de Ofir." Isaías 13:12. CBV 182 7 "Ainda que vos deiteis entre redis, Sereis como as asas de uma pomba, cobertas de prata, Com as suas penas de ouro amarelo." Salmos 68:13. CBV 182 8 Aqueles a quem mais Cristo perdoou, mais O amarão. São estes os que, no dia final, mais perto se acharão de Seu trono. CBV 182 9 "E verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome." Apocalipse 22:4. ------------------------Capítulo 12 -- Auxílio aos desempregados e aos destituídos de lar CBV 183 1 Há homens e mulheres de grande coração, os quais meditam ansiosamente na situação dos pobres, e nos meios pelos quais possam ser aliviados. Um problema para o qual muitos estão buscando uma solução é como os desempregados e os que não têm lar podem ser ajudados em obter as bênçãos comuns da providência de Deus e viver a vida que Ele intentava que o homem vivesse. Mas não há muitos, mesmo entre educadores e estadistas, que compreendam as causas que se acham no fundo do atual estado da sociedade. Os que seguram as rédeas do governo são incapazes de resolver o problema da pobreza, do pauperismo e do crime crescente. Estão a lutar em vão para colocar as operações comerciais em base mais segura. CBV 183 2 Se os homens dessem mais atenção aos ensinos da Palavra de Deus, encontrariam uma solução a esses problemas que os desconcertam. Muito se poderia aprender do Antigo Testamento quanto à questão do trabalho e do alívio aos pobres. O Plano de Deus Para Israel CBV 183 3 No plano de Deus para Israel, toda família tinha um lar na Terra, e terreno suficiente para plantações. Assim eram proporcionados tanto os meios como o incentivo para uma vida útil, industriosa e independente. E nenhuma medida humana já excedeu a esse plano. A pobreza e a miséria que hoje existem se devem, em grande parte, ao fato de o mundo ter se afastado dele. CBV 184 1 Ao estabelecer-se Israel em Canaã, a terra foi dividida entre todo o povo, sendo excetuados apenas os levitas, como ministros do santuário, nessa equitativa distribuição. As tribos eram contadas por famílias, e a cada uma destas era concedida, segundo o seu número, uma herança proporcional. CBV 184 2 E embora uma pessoa pudesse, por algum tempo, dispor de sua possessão, não poderia vender permanentemente a herança de seus filhos. Quando habilitada a resgatar sua terra, estava em qualquer tempo na liberdade de o fazer. As dívidas eram perdoadas cada sete anos, e no quinquagésimo, ou ano do jubileu, toda propriedade em terras, revertia a seu original possuidor. CBV 184 3 "A terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é Minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo. Portanto, em toda a terra da vossa possessão dareis resgate à terra. Quando teu irmão empobrecer e vender alguma porção da sua possessão, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que vendeu seu irmão. E, se alguém... achar o que basta para o seu resgate, ... tornará à sua possessão. Mas, se a sua mão não alcançar o que basta para restituir-lha, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu." Levítico 25:23-28. CBV 185 1 "E santificareis o ano quinquagésimo e apregoareis liberdade na Terra a todos os seus moradores; Ano de Jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua possessão, e tornareis, cada um à sua família." Levítico 25:10. CBV 185 2 Assim cada família era garantida em sua possessão, sendo proporcionada uma salvaguarda contra os extremos, quer da opulência, quer da miséria. Preparo Profissional CBV 185 3 Em Israel, era considerado um dever o preparo profissional. Exigia-se de cada pai que ensinasse a seus filhos algum ofício útil. Os maiores homens em Israel eram exercitados para atividades industriais. O conhecimento dos deveres pertencentes ao governo da casa era considerado essencial a toda mulher. E a habilidade nesses deveres era considerada uma honra para as mulheres da mais alta posição. CBV 186 1 Várias profissões eram ensinadas nas escolas dos profetas, e muitos dos alunos se mantinham a si mesmos por meio de trabalho manual. A Consideração Para com os Pobres CBV 186 2 Essas medidas não conseguiam, entretanto, evitar inteiramente a pobreza. Não era o desígnio de Deus que cessasse de todo essa condição. É um de Seus meios para o desenvolvimento do caráter. "Pois nunca cessará o pobre", diz Ele, "do meio da Terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra." Deuteronômio 15:11. CBV 186 3 "Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade." Deuteronômio 15:7-8. CBV 186 4 "E, quando teu irmão empobrecer, e as suas forças descaírem, então, sustentá-lo-ás como estrangeiro e peregrino, para que viva contigo." Levítico 25:35. CBV 186 5 "Quando também segardes a sega da vossa terra, o canto do teu campo não segarás totalmente." Levítico 19:9. "Quando no teu campo segares a tua sega e esqueceres uma gavela no campo, não tornarás a tomá-la. ... Quando sacudires a tua oliveira, não tornarás atrás de ti a sacudir os ramos. ... Quando vindimares a tua vinha, não tornarás atrás de ti a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será o restante." Deuteronômio 24:19-21. CBV 187 1 Ninguém precisa temer que sua liberalidade o leve à necessidade. A obediência aos mandamentos de Deus daria certamente em resultado a prosperidade. "Por esta causa", disse Deus, "te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no que puseres a tua mão." Deuteronômio 15:10. "Emprestarás a muitas nações, mas não tomarás empréstimos; e dominarás sobre muitas nações, mas elas não dominarão sobre ti." Deuteronômio 15:6. Princípios Comerciais CBV 187 2 A Palavra de Deus não sanciona nenhum plano que enriqueça uma classe pela opressão e o sofrimento de outra. Em todas as nossas transações comerciais, ela nos ensina a colocar-nos no lugar daqueles com quem estamos tratando, a considerar, não somente o que é nosso, mas também o que é dos outros. Aquele que se aproveitasse do infortúnio de um outro para se beneficiar a si mesmo, ou que buscasse para si lucros por meio da fraqueza ou incompetência de outros seria um transgressor, tanto dos princípios como dos preceitos da Palavra de Deus. CBV 187 3 "Não perverterás o direito do estrangeiro e do órfão; nem tomarás em penhor a roupa da viúva." Deuteronômio 24:17. "Quando emprestares alguma coisa ao teu próximo, não entrarás em sua casa para lhe tirar o penhor. Fora estarás, e o homem, a quem emprestaste, te trará fora o penhor. Porém, se for homem pobre, te não deitarás com o seu penhor." Deuteronômio 24:10-12. "Se tomares em penhor a veste do teu próximo, lho restituirás antes do pôr-do-sol, porque aquela é a sua cobertura; ... em que se deitaria? Será, pois, que, quando clamar a Mim, Eu o ouvirei, porque sou misericordioso." Êxodo 22:26-27. "E, quando venderdes alguma coisa ao vosso próximo ou a comprardes da mão do vosso próximo, ninguém oprima a seu irmão." Levítico 25:14. CBV 188 1 "Não cometereis injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida." Levítico 19:35. "Na tua bolsa não terás diversos pesos, um grande e um pequeno. Na tua casa não terás duas sortes de efa, um grande e um pequeno." Deuteronômio 25:13-14. "Balanças justas, pedras justas, efa justo e justo him tereis." Levítico 19:36. CBV 188 2 "Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes." Mateus 5:42. "O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo compadece-se e dá." Salmos 37:21. CBV 188 3 "Toma conselho, executa o juízo, e põe a tua sombra no pino do meio-dia como a noite; esconde os desterrados e não descubras os fugitivos. Habitem entre ti os Meus desterrados, ... serve-lhes de refúgio perante a face do destruidor." Isaías 16:3-4. CBV 188 4 O plano de vida que Deus deu a Israel, destinava-se a servir de lição objetiva para toda a humanidade. Fossem esses princípios postos em prática hoje em dia, quão diverso seria o mundo! CBV 188 5 Dentro dos vastos limites da natureza, ainda há margem para os sofredores e necessitados acharem um lar. Há ainda, dentro de seu meio, recursos suficientes para lhes fornecer alimento. Ocultas nas profundezas da terra, existem bênçãos para todos quantos têm a coragem, a força de vontade e a perseverança de lhe recolher os tesouros. CBV 189 1 O cultivo do solo -- o emprego designado por Deus ao homem no Éden -- abre um campo que oferece a multidões oportunidade para ganhar a subsistência. CBV 189 2 "Confia no Senhor e faze o bem; Habitarás na terra e, verdadeiramente, serás alimentado." Salmos 37:3. CBV 189 3 Milhares e dezenas de milhares dos que se apinham nas cidades, à espera de um acaso para ganhar uma ninharia, poderiam estar trabalhando no solo. Na maioria dos casos, essa insignificância que ganham não é gasta em pão, mas posta na gaveta do vendedor de bebidas, para obter aquilo que destrói alma e corpo. CBV 189 4 Muitos consideram o lavrar a terra como trabalho vil, e procuram obter a subsistência por meio de expedientes, de preferência a um trabalho honesto. Este desejo de ganhar a vida sem trabalho abre, de maneira quase ilimitada, a porta à ruína, ao vício e ao crime. Nos Bairros Pobres CBV 189 5 Há nas grandes cidades multidões que recebem menos cuidado e consideração do que os que são concedidos a mudos animais. Pensai nas famílias amontoadas como rebanhos em miseráveis cortiços, sombrios porões muitos deles, exalando umidade e imundícia. Nesses sórdidos lugares as crianças nascem, crescem e morrem. Nada vêem das belezas naturais que Deus criou para deleitar os sentidos e elevar a alma. Rotas e quase morrendo de fome, vivem elas entre o vício e a depravação, moldadas no caráter pela miséria e o pecado que as rodeia. As crianças só ouvem o nome de Deus de maneira profana. A linguagem suja, as imprecações e os insultos enchem-lhes os ouvidos. As exalações da bebida e do fumo, nocivos maus cheiros e degradação moral pervertem-lhes os sentidos. Assim se preparam multidões para se tornarem criminosos, inimigos da sociedade que os abandonou à miséria e à degradação. CBV 190 1 Nem todos os pobres dos becos das cidades pertencem a essa classe. Homens e mulheres tementes a Deus têm sido levados aos extremos da pobreza por doença ou infortúnio, muitas vezes causados pelos desonestos planos dos que vivem à custa dos semelhantes. Muitos que são retos e bem-intencionados ficam pobres por falta de preparo profissional. Por ignorância, se acham inaptos para lutar com as dificuldades da vida. Levados a esmo para as cidades, são muitas vezes incapazes de achar emprego. Rodeados de cenas e sons de vício, são sujeitos a terríveis tentações. Associados e muitas vezes classificados com os viciados e os degradados, é somente por uma luta sobre-humana, um poder acima do finito, que podem ser preservados de cair no mesmo abismo. Muitos se apegam firmemente a sua integridade, preferindo sofrer a pecar. Esta classe, em especial, requer auxílio, simpatia e ânimo. CBV 190 2 Se os pobres agora aglomerados nas cidades encontrassem habitações no campo, poderiam não somente ganhar a subsistência, mas encontrar a saúde e a felicidade que hoje desconhecem. Trabalho árduo, comida simples, estrita economia, muitas vezes durezas e privações, eis o que seria sua sorte. Mas que bênçãos lhes seria deixar a cidade com suas atrações para o mal, sua agitação e crime, sua miséria e torpeza, para o sossego, a paz e pureza do campo! CBV 191 1 Para muitos dos que residem nas cidades, sem ter um cantinho de relva verde em que pisar, que olham ano após ano para pátios imundos, becos estreitos, paredes e pavimentos de tijolo e céus nublados de poeira e fumaça -- pudessem eles ser levados a alguma região agrícola, circundada de verdes campinas, matas, colinas e riachos, os límpidos céus e o ar fresco e puro dos campos, isso lhes pareceria quase um paraíso. CBV 192 1 Separados em grande parte do contato do homem e da dependência deles, afastados das máximas e costumes corruptores do mundo e de suas tentações, aproximar-se-iam mais do coração da natureza. A presença de Deus lhes seria mais real. Muitos aprenderiam a lição da confiança nEle. Mediante a natureza, ouviriam Sua voz comunicando-lhes paz e amor ao coração; e espírito e alma e corpo corresponderiam ao restaurador e vivificante poder. CBV 192 2 Se hão de tornar-se um dia industriosos e independentes, muitos precisam de ter auxílio, encorajamento e instrução. Há multidões de famílias pobres pelas quais não se poderia fazer nenhum melhor trabalho missionário do que ajudá-las a se estabelecerem no campo, e aprenderem a tirar dele um meio de vida. CBV 192 3 A necessidade de tal auxílio e instrução não se limita às cidades. Mesmo no campo, com todas as suas possibilidades quanto a uma vida melhor, multidões de pobres se acham em grande carência. Localidades inteiras estão destituídas de educação em assuntos industriais e higiênicos. Há famílias morando em choças, com mobília e vestuário deficientes, sem utensílios, sem livros, destituídos tanto de confortos como de meios de cultura. Almas embrutecidas, corpos fracos e mal formados, mostram os resultados da má hereditariedade e dos hábitos errôneos. Essas pessoas devem ser educadas principiando com os próprios fundamentos. Têm vivido uma vida frouxa, ociosa, corrupta, e precisam ser exercitadas nos hábitos corretos. CBV 193 1 Como podem elas ser despertadas para a necessidade de melhoria? Como podem ser encaminhadas para um mais elevado ideal de vida? Como podem ser ajudadas a se erguer? Que se pode fazer onde domina a pobreza, tendo-se com ela de lutar a cada passo? O trabalho é certamente difícil. A necessária reforma jamais se efetuará, a menos que homens e mulheres sejam assistidos por um poder fora deles mesmos. É o desígnio de Deus que o rico e o pobre estejam intimamente ligados pelos laços da simpatia e da assistência mútua. Os que dispõem de meios, talentos e aptidões devem empregá-los para benefício de seus semelhantes. CBV 193 2 Os agricultores cristãos podem fazer um verdadeiro trabalho missionário em ajudar os pobres a encontrar um lar no campo, e ensinar-lhes a lavrar o solo e torná-lo produtivo. Ensinai-os a servir-se dos instrumentos de agricultura, a cultivar as várias plantações, a formar pomares e cuidar deles. CBV 193 3 Muitos dos que lavram o solo deixam de colher a devida retribuição por causa de sua negligência. Seus pomares não são devidamente cuidados, as sementes não são semeadas no tempo conveniente, e a obra de revolver a terra é feita de modo superficial. Seu mau êxito, lançam eles à conta da esterilidade do solo. Dá-se muitas vezes um falso testemunho ao condenar uma terra que, devidamente cultivada, havia de produzir fartos lucros. A estreiteza dos planos, o pequeno esforço desenvolvido, o pouco estudo feito quanto aos melhores processos, clamam em alta voz por uma reforma. CBV 193 4 Ensinem-se os métodos apropriados a todos quantos estejam dispostos a aprender. Se alguns não gostam que lhes faleis de idéias avançadas, dai-lhes silenciosamente as lições. Cultivai do melhor modo vossa própria terra. Dirigi quando vos for possível uma palavra aos vizinhos, e deixai que a colheita fale eloquentemente em favor dos bons métodos. Demonstrai o que se pode fazer com a terra, quando devidamente cultivada. CBV 194 1 Deve-se dar atenção ao estabelecimento de várias indústrias, para que famílias pobres possam assim encontrar colocação. Carpinteiros, ferreiros, enfim todos quantos têm conhecimento de algum ramo de trabalho útil, devem sentir a responsabilidade de ensinar e ajudar o ignorante e o desempregado. CBV 194 2 No serviço aos pobres há, para as mulheres, um vasto campo de utilidade, da mesma maneira que para os homens. A eficiente cozinheira, a dona-de-casa, a costureira, a enfermeira -- de todas elas é necessário auxílio. Ensinem-se os membros das famílias pobres a cozinhar, a costurar e remendar sua própria roupa, a tratar dos doentes, a cuidar devidamente da casa. Ensine-se aos meninos e às meninas alguma ocupação útil. Famílias Missionárias CBV 194 3 Necessitam-se famílias missionárias que se estabeleçam em lugares incultos. Que agricultores, financistas, construtores e os que são hábeis em várias artes e ofícios vão para os campos negligenciados para melhorar a terra, estabelecer indústrias, preparar lares modestos para si mesmos e ajudar a seus vizinhos. CBV 194 4 Os lugares rústicos da natureza, os sítios selvagens, Deus tem tornado atrativos com a presença de coisas belas entre as não aprazíveis. Tal é a obra que somos chamados a fazer. Os próprios desertos da Terra, cujo aspecto parece destituído de atração, podem-se tornar como o jardim de Deus. CBV 194 5 "E naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, E, dentre a escuridão e dentre as trevas, as verão os olhos dos cegos. E os mansos terão regozijo no Senhor; E os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel." Isaías 29:18-19. CBV 194 6 Dando instruções em atividades práticas, podemos muitas vezes ajudar os pobres da maneira mais eficaz. Em regra, os que não foram exercitados no trabalho não têm hábitos de laboriosidade, perseverança, economia e abnegação. Não sabem se dirigir. Frequentemente, por falta de cuidado e são discernimento, há desperdícios que lhes manteriam a família com decência e conforto, fossem cuidadosa e economicamente empregados. "Abundância de mantimento há na lavoura do pobre, mas alguns há que se consomem por falta de juízo." Provérbios 13:23. CBV 195 1 Podemos dar aos pobres, e prejudicá-los, ensinando-os a depender de outros. Tais dádivas animam o egoísmo e a inutilidade. Conduzem muitas vezes à ociosidade, ao desperdício e à intemperança. Homem algum que seja capaz de ganhar sua subsistência tem o direito de depender dos outros. O provérbio "O mundo me deve a manutenção" encerra a essência da mentira, da fraude e do roubo. O mundo não deve a subsistência a nenhum homem capaz de trabalhar e ganhar a vida por si mesmo. CBV 195 2 A verdadeira caridade ajuda os homens a se ajudarem a si mesmos. Se alguém vem à nossa porta e pede alimento, não o devemos mandar embora com fome; sua pobreza pode ser o resultado de um infortúnio. Mas a verdadeira beneficência significa mais que simples dádivas. Importa num real interesse no bem-estar dos outros. Cumpre-nos buscar compreender as necessidades dos pobres e dos aflitos, e conceder-lhes o auxílio que mais benefício lhes proporcione. Dedicar pensamentos e tempo e esforço pessoal, custa muitíssimo mais que dar meramente dinheiro. Mas é a verdadeira caridade. CBV 195 3 Os que são ensinados a ganhar o que recebem aprenderão mais prontamente a empregá-lo bem. E, aprendendo a depender de si próprios, estão adquirindo aquilo que não somente os tornará independentes, mas os habilitará a ajudar a outros. Ensinai a importância dos deveres da vida aos que estão desperdiçando suas oportunidades. Mostrai-lhes que a religião da Bíblia nunca torna os homens ociosos. Cristo sempre incentivou ao trabalho. "Por que estais ociosos todo o dia?" (Mateus 20:6), disse aos indolentes. "Convém que Eu faça as obras... enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar." João 9:4. CBV 196 1 É o privilégio de todos dar ao mundo, em sua vida de família, em seus costumes e práticas e ordem, um testemunho do que o evangelho pode fazer pelos que lhe obedecem. Cristo veio ao mundo para dar-nos um exemplo daquilo que nos podemos tornar. Espera que Seus seguidores sejam modelos de correção em todas as relações da vida. Deseja que o toque divino se manifeste nas coisas exteriores. CBV 196 2 Nosso lar e os arredores devem ser uma lição prática, ensinando processos de aperfeiçoamento, de maneira que a atividade, o asseio, o bom gosto e o refinamento tomem o lugar da ociosidade, da falta de limpeza, da desordem e do que é grosseiro. Por nossa vida e exemplo, podemos ajudar outros a distinguir o que é repulsivo em seu caráter e ambiente, e com cortesia cristã podemos animar o aperfeiçoamento. Ao manifestarmos interesse neles, encontraremos oportunidade de lhes ensinar a empregar melhor suas energias. Esperança e Ânimo CBV 196 3 Nada podemos fazer sem ânimo e perseverança. Dirigi palavras de esperança e ânimo aos pobres e abatidos. Se necessário, dai-lhes provas palpáveis de vosso interesse, ajudando-os quando se encontram em apertos. Os que têm tido muitas vantagens devem lembrar-se de que eles ainda erram em muitas coisas, e que lhes é penoso quando seus erros são indicados, sendo-lhes apresentado um belo modelo do que devem ser. Lembrai-vos de que a bondade conseguirá mais que a censura. Ao procurardes ensinar os outros, agi de maneira que eles vejam que lhes desejais uma mais elevada norma, e estais dispostos a dar-lhes auxílio. Se em algumas coisas eles falham, não vos apresseis a condená-los. CBV 196 4 Simplicidade, abnegação e economia, lições tão essenciais para os pobres aprenderem, parecem-lhes muitas vezes difíceis e indesejáveis. O exemplo e o espírito do mundo estão continuamente incitando e fomentando o orgulho, o amor da ostentação, condescendência consigo mesmo, prodigalidade e ociosidade. Esses males levam milhares à penúria, e impedem outros milhares de se erguerem da degradação e miséria. Os cristãos devem animar os pobres a resistir a essas influências. CBV 197 1 Jesus veio ao mundo em humildade. Foi de modesto nascimento. A Majestade do Céu, o Rei da glória, o Líder das hostes angélicas, humilhou-Se para aceitar a humanidade, preferindo assim uma vida de pobreza e humilhação. Não teve oportunidades que não sejam dadas aos pobres. Labuta, asperezas e privações constituíam uma parte da Sua experiência diária. "As raposas têm covis", disse Ele, "e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça." Lucas 9:58. CBV 197 2 Jesus não buscava a admiração ou o aplauso das pessoas. Não comandava um exército. Não governava algum reino terrestre. Não cortejava o favor dos ricos e honrados deste mundo. Não pretendia uma posição entre os dirigentes da nação. Habitou entre os humildes. Reduziu a nada as artificiais distinções da sociedade. A aristocracia do nascimento, da fortuna, do talento, do saber e da classe não existiam para Ele. CBV 197 3 Ele era o Príncipe do Céu, todavia não escolheu Seus discípulos dentre os instruídos doutores da lei, dos príncipes, dos escribas ou dos fariseus. Passou-os por alto, porque se orgulhavam de seu saber ou posição. Eram aferrados às tradições que tinham e às superstições. Aquele que lia os corações escolheu humildes pecadores dispostos a aprenderem. Comeu com publicanos e pescadores, e misturou-Se com o povo comum, não para Se tornar vulgar e terreno como eles, mas a fim de que, pelo preceito e o exemplo, lhes apresentasse retos princípios, e os elevasse de seu mundanismo e aviltamento. CBV 197 4 Jesus tentou corrigir a falsa norma do mundo no julgar o valor dos homens. Colocou-Se ao lado dos pobres, para tirar da pobreza o estigma que o mundo lhe imprimira. Dela arrancou para sempre a ignomínia do desprezo, abençoando os pobres, os herdeiros do reino de Deus. Ele nos indica a vereda que trilhou, dizendo: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. CBV 198 1 Os obreiros cristãos devem-se aproximar do povo na posição em que este se encontra, e educá-lo, não no orgulho, mas na edificação do caráter. Ensinai-lhes como Cristo trabalhava e Se negava a Si mesmo. Ajudai-os a aprender dEle as lições de abnegação e sacrifício. Ensinai-os a estar alerta quanto à condescendência com o próprio eu no se conformar com a moda. A vida é demasiado valiosa, demasiado cheia de solenes e sagradas responsabilidades para ser desperdiçada em agradar-se a si mesmo. As Melhores Coisas da Vida CBV 198 2 Homens e mulheres mal têm começado a compreender o verdadeiro objetivo da vida. São atraídos pelo brilho e a ostentação. São ambiciosos de preeminência mundana. A esta se sacrificam os verdadeiros objetivos da vida. As melhores coisas da existência -- a simplicidade, a honestidade, a veracidade, a pureza e a integridade -- não se podem vender nem comprar. Elas são tão gratuitas para o ignorante como para o educado, para o humilde trabalhador como para o honrado estadista. Para todos proveu Deus prazeres que podem ser fruídos pelo rico e pelo pobre semelhantemente -- o prazer que se encontra no cultivo da pureza de pensamento e no desinteresse da ação, o prazer que provém de dirigir palavras de simpatia e praticar atos de bondade. Dos que tais serviços realizam, irradia a luz de Cristo para aclarar vidas obscurecidas por muitas sombras. CBV 198 3 Ao mesmo tempo que ajudais o pobre nas coisas temporais, mantende sempre em vista suas necessidades espirituais. Que vossa própria vida testifique do poder mantenedor de Cristo. Que vosso caráter revele a elevada norma que todos podem atingir. Ensinai o evangelho em simples lições concretas. Que tudo com que tendes de lidar seja uma lição na formação do caráter. CBV 199 1 Na humilde rotina do trabalho, os mais fracos, os mais obscuros, podem ser coobreiros de Deus, e ter o conforto de Sua presença e Sua mantenedora graça. Não lhes cabe afadigar-se com ansiosas preocupações e desnecessários cuidados. Trabalhem eles dia a dia, cumprindo fielmente a tarefa que a providência de Deus lhes designa, e Ele os terá sob Seu cuidado. Diz o Senhor: "Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus." Filipenses 4:6-7. CBV 199 2 O cuidado do Senhor envolve todas as Suas criaturas. Ele as ama a todas, e não faz diferença, a não ser que tem a mais terna piedade para com os que são chamados a suportar os mais pesados fardos da vida. Os filhos de Deus devem enfrentar provas e dificuldades. Mas devem aceitar sua sorte com um espírito animoso, lembrando-se de que por tudo que o mundo lhes negligencia dar, o próprio Deus os indenizará com os melhores favores. CBV 199 3 É quando chegamos a circunstâncias difíceis que Ele revela Seu poder e sabedoria em resposta à humilde oração. NEle confiai como um Deus que ouve e responde à oração. Ele Se vos revelará como Alguém capaz de socorrer em todas as emergências. Aquele que criou o homem, que lhe deu suas maravilhosas faculdades físicas, mentais e espirituais, não recusará aquilo que é necessário para manter a vida por Ele dada. Aquele que nos deu Sua Palavra -- as folhas da árvore da vida -- não reterá de nós o conhecimento da maneira de prover alimento a Seus necessitados filhos. CBV 199 4 Como pode a sabedoria ser obtida por aquele que maneja o arado e tange os bois? Buscando-a como à prata, e procurando-a como a tesouros ocultos. "O seu Deus o ensina e o instrui acerca do que há de fazer." Isaías 28:26. "Até isto procede do Senhor dos Exércitos, porque é maravilhoso em conselho e grande em obra." Isaías 28:29. CBV 200 1 Aquele que ensinou a Adão e Eva no Éden a guardar o jardim deseja instruir os homens hoje. Há sabedoria para o que conduz o arado e lança a semente. Deus abrirá caminhos de progresso diante dos que nEle confiam e Lhe obedecem. Marchem eles avante animosamente, confiando nEle quanto à satisfação de suas necessidades, segundo as riquezas de Sua bondade. CBV 200 2 Aquele que alimentou a multidão com cinco pães e dois peixinhos é capaz de nos dar hoje o fruto de nossos labores. Aquele que disse aos pescadores da Galiléia: "Lançai as vossas redes para pescar" (Lucas 5:4), e que, ao obedecerem, encheu-lhes as redes até se romperem, deseja que Seu povo veja nisto uma prova do que fará por eles hoje em dia. O Deus que no deserto deu aos filhos de Israel o maná do Céu vive e reina ainda. Ele guiará Seu povo, e lhe dará habilidade e entendimento na obra que são chamados a realizar. Dará sabedoria aos que se esforçam para cumprir conscienciosa e inteligentemente o seu dever. Aquele que possui o mundo é rico em recursos, e há de abençoar a todo aquele que está buscando abençoar a outros. CBV 200 3 Necessitamos olhar com fé ao alto. Não devemos ficar desanimados por causa de aparentes fracassos, nem desfalecidos com a tardança. Cumpre-nos trabalhar com ânimo, esperança e gratidão, crendo que a terra contém em seu seio ricos tesouros para o fiel obreiro recolher, depósitos mais preciosos que a prata ou o ouro. As montanhas e colinas estão mudando; a terra está ficando velha como um vestido; mas a bênção de Deus, que estende para Seu povo uma mesa no deserto, jamais cessará. ------------------------Capítulo 13 -- Os pobres desamparados CBV 201 1 Quando se tem feito o que é possível para ajudar o pobre a se ajudar a si mesmo, restam ainda a viúva e o órfão, o velho, o inválido e o enfermo, os quais requerem simpatia e cuidado. Estes nunca deveriam ser negligenciados. São confiados pelo próprio Deus à misericórdia, ao amor e ao terno cuidado de todos a quem Ele constituiu mordomos. A Família da Fé CBV 201 2 "Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé." Gálatas 6:10. CBV 201 3 Em sentido especial, Cristo colocou sobre Sua igreja o dever de cuidar dos necessitados dentre seus próprios membros. Ele consente que Seus pobres se encontrem nos limites de todas as igrejas. Devem achar-se sempre entre nós, e Ele dá aos membros da igreja uma responsabilidade pessoal quanto a cuidar deles. CBV 201 4 Como os membros de uma verdadeira família cuidam uns dos outros, tratando dos doentes, sustentando os fracos, ensinando os ignorantes, exercitando os inexperientes, assim cumpre aos que pertencem à "família da fé" atender aos seus necessitados e inválidos. Por nenhuma consideração deverão estes ser passados por alto. Viúvas e Órfãos CBV 202 1 As viúvas e os órfãos são objeto do cuidado especial de Deus. CBV 202 2 "Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus no Seu lugar santo." Salmos 68:5. CBV 202 3 "O teu Criador é o teu marido; Senhor dos Exércitos é o Seu nome; E o santo de Israel é o teu Redentor; Ele será chamado o Deus de toda a Terra." Isaías 54:5. CBV 202 4 "Deixa os teus órfãos; Eu os guardarei em vida; E as tuas viúvas confiarão em Mim." Jeremias 49:11. CBV 202 5 Muitos pais, quando chamados a separar-se de seus queridos, têm morrido descansando com fé nas promessas de Deus, de por eles velar. O Senhor provê quanto às viúvas e os órfãos, não por meio de um milagre, enviando-lhes maná do céu, não mandando corvos a lhes trazer alimento; mas por um milagre no coração humano, expelindo o egoísmo, e descerrando as fontes do amor cristão. Os aflitos e desolados, confia-os Ele a Seus seguidores como precioso depósito. Eles têm o mais forte direito às nossas simpatias. CBV 202 6 Nos lares providos dos confortos da vida, nas despensas e celeiros cheios do fruto das abundantes colheitas, em armazéns abastecidos com os produtos do tear, e nos subterrâneos em que se armazenam a prata e o ouro, tem Deus suprido os meios para a manutenção desses necessitados. Ele nos roga que sejamos condutos de Sua bênção. CBV 203 1 Muita mãe viúva, com seus filhos destituídos de pai, está se esforçando valorosamente para levar seu duplo fardo, trabalhando tantas vezes muito além de suas forças a fim de conservar consigo seus pequeninos e prover-lhes às necessidades. Pouco tempo tem ela para os educar e instruir, pouca oportunidade de os rodear de influências que lhes aclarem a vida. Ela necessita de ânimo, simpatia e auxílio positivo. CBV 203 2 Deus nos pede que, na medida do possível, supramos para com essas crianças a falta do pai. Em vez de ficar à distância, queixando-nos de seus defeitos, e dos inconvenientes que possam causar, auxiliai-as por todos os modos possíveis. Buscai ajudar à mãe gasta de cuidados. Aliviai-lhe a carga. CBV 203 3 Além disso, há a multidão de crianças inteiramente privadas da guia dos pais, e da influência de um lar cristão. Abram os cristãos o coração e o lar a esses desamparados. A obra a eles confiada por Deus como dever individual não deve ser passada a alguma instituição de caridade, ou deixada aos acasos da caridade do mundo. Se as crianças não têm parentes em condições de cuidar delas, provejam os membros da igreja um lar para essas crianças. Aquele que nos fez ordenou que fôssemos associados em famílias, e a natureza da criança se desenvolverá melhor na amorosa atmosfera de um lar cristão. CBV 203 4 Muitos que não têm filhos próprios poderiam fazer uma boa obra cuidando dos filhos dos outros. Em lugar de dar atenção a animaizinhos mimados, prodigalizando afeição a mudas criaturas, dediquem suas atenções às criancinhas, cujo caráter podem moldar segundo a semelhança divina. Ponde vosso amor nos membros destituídos de lar da família humana. Vede quantas dessas crianças podeis criar na doutrina e admoestação do Senhor. Muitos seriam assim por sua vez beneficiados. Os Idosos CBV 204 1 Também os idosos necessitam da auxiliadora influência das famílias. Na casa de irmãos e irmãs em Cristo, é mais fácil haver para eles como que uma compensação da perda de seu próprio lar. Se animados a partilhar dos interesses e ocupações domésticos, isto os ajudará a sentir que não deixaram de ser úteis. Fazei-os sentir que seu auxílio é apreciado, que há ainda alguma coisa para fazerem em servir a outros, e isso lhes dará ânimo ao coração, ao mesmo tempo que comunicará interesse a sua vida. CBV 204 2 O quanto possível, fazei com que aqueles cuja cabeça está alvejando e cujos passos trôpegos indicam que se vão avizinhando da sepultura permaneçam entre amigos e relações familiares. Que adorem entre aqueles que conheceram e amaram. Sejam cuidados por mãos amorosas e brandas. CBV 204 3 Sempre que possível, deveria ser o privilégio dos membros de cada família atender a seus próprios parentes. Quando assim não se dá, a obra pertence à igreja, e deve ser considerada como um privilégio, da mesma maneira que um dever. Todos quantos possuem o espírito de Cristo terão uma terna consideração para com os fracos e os idosos. CBV 204 4 A presença, em nosso lar, de um destes inválidos é uma preciosa oportunidade de cooperar com Cristo em Seu ministério de misericórdia, e desenvolver traços de caráter semelhantes aos Seus. Há uma bênção no convívio dos mais idosos com os mais jovens. Esses podem iluminar o coração e a vida dos idosos. Aqueles cujos laços da vida se estão enfraquecendo necessitam o benefício do contato com a esperança e a vivacidade da juventude. E os jovens podem ser auxiliados pela sabedoria e a experiência dos idosos. Sobretudo, eles precisam aprender a lição do abnegado ministério. A presença de um necessitado de simpatia, paciência e abnegado amor, seria uma inapreciável bênção para muitas famílias. Haveria de suavizar e refinar a vida doméstica, e despertar em idosos e jovens aquelas graças cristãs que os destacariam com uma divina beleza, e os enriqueceriam com os imperecíveis tesouros do Céu. Uma Prova de Caráter CBV 205 1 "Sempre tendes os pobres convosco", disse Cristo, "e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes." Marcos 14:7. "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. CBV 205 2 Ao colocar entre eles os inválidos e os pobres, de modo a dependerem de seus cuidados, Cristo está provando Seus professos seguidores. Por nosso amor e serviço a Seus necessitados filhos, provamos a genuinidade de nosso amor por Ele. Negligenciá-los é declarar-nos falsos discípulos, estranhos a Cristo e Seu amor. CBV 205 3 Ainda que se fizesse tudo quanto fosse possível em prover lares para as crianças pobres entre as famílias, restariam ainda muitas a demandar cuidados. Muitas delas têm recebido uma má herança. Não são promissoras, mas sem atrativos, perversas; são, no entanto, o preço do sangue de Cristo, e a Seus olhos, tão preciosas como nossos próprios filhinhos. A menos que uma mão ajudadora lhes seja estendida, crescerão em ignorância, caindo no vício e no crime. Muitas dessas crianças poderiam ser salvas mediante a obra de orfanatos. CBV 205 4 Tais instituições, para serem mais eficazes, deveriam ser modeladas o mais possível à semelhança de um lar cristão. Em lugar de grandes estabelecimentos, reunindo grande número, haja pequenas instituições em vários lugares. Em vez de ficar dentro ou próximo de uma grande cidade, devem ser localizadas no campo, onde se pode obter terra para cultivo, e as crianças podem ser postas em contato com a natureza, e ter o benefício do preparo profissional. CBV 206 1 Os que tomam conta desse lar devem ser homens e mulheres dotados de coração nobre, cultos e abnegados; homens e mulheres que empreendam a obra impulsionados pelo amor a Cristo, e que eduquem as crianças para Ele. Sob tais cuidados, muitas crianças sem lar e desamparadas podem ser preparadas para se tornarem úteis membros da sociedade e uma honra para Cristo, ajudando a outros por sua vez. CBV 206 2 Muitos desprezam a economia, confundindo-a com a avareza e a mesquinhez. A economia, porém, harmoniza-se com a mais ampla liberalidade. Verdadeiramente, sem economia não pode existir real liberalidade. É preciso que poupemos, a fim de podermos dar. CBV 206 3 Ninguém pode exercitar verdadeira beneficência sem abnegação. Unicamente por uma vida de simplicidade, de renúncia e estrita economia, nos é possível realizar a obra a nós designada como representantes de Cristo. O orgulho e a ambição mundanos precisam ser expelidos de nosso coração. Em toda a nossa obra, o princípio do desinteresse pessoal revelado na vida de Cristo tem de ser desenvolvido. Nas paredes de nossa casa, nos quadros, na mobília, devemos ler: Recolhe "em casa os pobres desterrados". Em nosso guarda-roupa, cumpre-nos ler: "Veste o nu." Na sala de jantar, na mesa coberta de abundante alimento, devemos ver traçado: Reparte "o teu pão com o faminto". Isaías 58:7. CBV 206 4 Mil portas de utilidade se acham abertas perante nós. Lamentamos muitas vezes os escassos recursos disponíveis, mas, se os cristãos estivessem com inteiro fervor, poderiam multiplicar os recursos mil vezes. É o egoísmo, a condescendência com o próprio eu, que entravam o caminho a nossa utilidade. CBV 207 1 Quantos recursos são gastos com artigos que são meros ídolos, coisas que absorvem pensamentos, tempo e energias que deviam ser empregadas para fins mais elevados! Quanto dinheiro é gasto em casas e móveis caros, em prazeres egoístas, comidas luxuosas e nocivas, em prejudiciais condescendências com o próprio eu! Quanto é esbanjado em dádivas que não beneficiam a ninguém! Em coisas desnecessárias, muitas vezes nocivas, estão professos cristãos hoje em dia despendendo mais, muitas vezes mais, do que empregam em buscar salvar almas do tentador. CBV 207 2 Muitos dos que professam ser cristãos gastam tanto no vestuário que nada têm para dar a fim de suprir as necessidades dos outros. Pensam que precisam ter custosos ornamentos e dispendiosa roupa, a despeito das necessidades dos que só com dificuldade podem conseguir o mais simples vestuário. CBV 207 3 Minhas irmãs, se harmonizásseis vossa maneira de vestir com as regras dadas na Bíblia, teríeis abundância para auxiliar vossas irmãs mais pobres. Não teríeis apenas recursos, mas tempo. Muitas vezes é isso o mais necessário. Muitos há a quem poderíeis ajudar com as vossas sugestões, vosso tato e habilidade. Mostrai-lhes como podem vestir-se com simplicidade e ainda com bom gosto. Muitas mulheres permanecem fora da casa de Deus por causa de seus miseráveis, mal arranjados trajes se acharem em tão assinalado contraste com o vestuário das outras. Muitos espíritos sensíveis nutrem um sentimento de amarga humilhação e injustiça devido a esse contraste. E por causa disso muitos são levados a duvidar da realidade da religião e a endurecer o coração contra o evangelho. CBV 207 4 Cristo nos manda: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Enquanto milhares perecem diariamente de fome, derramamento de sangue, incêndio e peste, convém a todo aquele que ama a seu semelhante cuidar em que nada se perca, que não seja desnecessariamente gasta coisa alguma com que pudesse beneficiar uma criatura humana. CBV 208 1 É pecado desperdiçar nosso tempo; é pecado desperdiçar nossos pensamentos. Perdemos todo momento que dedicamos ao egoísmo. Se cada momento fosse devidamente avaliado e empregado do modo adequado, teríamos tempo para tudo que necessitamos fazer para nós mesmos ou para o mundo. No emprego do dinheiro, no uso do tempo, das energias, das oportunidades, volva-se cada cristão para Deus em busca de guia. "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada." Tiago 1:5. "Dai, e Ser-vos-á Dado" CBV 208 2 "Fazei o bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus." Lucas 6:35. CBV 208 3 "O que esconde os olhos terá muitas maldições"; mas "o que dá ao pobre não terá necessidade." Provérbios 28:27. CBV 208 4 "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão." Lucas 6:38. ------------------------Capítulo 14 -- O ministério em favor dos ricos CBV 209 1 Cornélio, o centurião romano, era homem de fortuna e de nobre nascimento. Ocupava uma posição de confiança e honra. Pagão pelo nascimento e pela educação, obtivera, mediante o contato com os judeus, certo conhecimento do verdadeiro Deus, e adorava-O, mostrando a sinceridade de sua fé pela compaixão para com os pobres. Ele dava "esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus". Atos 10:2. CBV 209 2 Cornélio não tinha conhecimento do evangelho segundo fora revelado na vida e morte de Cristo, e Deus enviou-lhe uma mensagem diretamente do Céu, e por meio de outra mensagem dirigiu o apóstolo Pedro para que o visitasse e instruísse. Cornélio não se achava ligado à igreja judaica, e teria sido considerado pelos rabis pagão e imundo; mas Deus lia a sinceridade de seu coração, e enviou mensageiros de Seu trono para que se unissem a Seu servo na Terra a fim de que ensinasse o evangelho a este oficial romano. CBV 209 3 Assim hoje em dia, Deus está buscando pessoas entre as de alta classe, da mesma maneira que entre as humildes. Muitos há, como Cornélio, homens a quem Ele deseja ligar a Sua igreja. As simpatias desses homens são para o povo do Senhor. Mas os laços que os ligam ao mundo os prendem firmemente. É preciso coragem moral para que esses homens se coloquem ao lado dos humildes. Esforços especiais se devem fazer por essas pessoas, que se acham em tão grande risco, devido às responsabilidades e à convivência que têm. CBV 210 1 Muito se diz quanto ao nosso dever para com os pobres negligenciados; não se deveria dar alguma atenção aos negligenciados ricos? Muitos consideram essa classe um caso perdido, e pouco fazem para abrir os olhos daqueles que, cegos e ofuscados pelo falso brilho da glória terrena, perderam o cálculo da eternidade. Milhares de ricos têm baixado ao túmulo inadvertidos. Mas, por mais indiferentes que pareçam, muitos entre eles são almas oprimidas. "O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda." Eclesiastes 5:10. Aquele que diz ao ouro fino: "Tu és a minha confiança; ... assim negaria a Deus, que está em cima". Jó 31:24 e 28. "Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)." Salmos 49:7-8. CBV 210 2 As riquezas e as honras mundanas não podem satisfazer a alma. Muitos dentre os ricos anseiam por alguma divina certeza, alguma esperança espiritual. Muitos, anelam alguma coisa que lhes venha pôr termo à monotonia de uma vida sem objetivo. Muitos, em sua vida profissional, sentem a necessidade de alguma coisa que não possuem! Poucos entre eles vão à igreja; pois sentem que pouco benefício recebem. Os ensinos que recebem não lhes tocam o coração. Não lhes faremos, nós, nenhum apelo pessoal? CBV 210 3 Entre as vítimas da necessidade e do pecado encontram-se aqueles que já possuíram fortuna outrora. Homens de várias carreiras e posições diversas na vida foram vencidos pelas corrupções do mundo, pelo uso da bebida forte, por se entregarem às concupiscências, e caíram sob a tentação. Ao passo que esses caídos requerem piedade e auxílio, não se deveria atender aos que ainda não desceram a essas profundidades, mas que estão pondo os pés na mesma vereda? CBV 211 1 Milhares que ocupam posições de confiança e honra estão condescendendo com hábitos que significam ruína para o corpo e a alma. Ministros do evangelho, estadistas, escritores, homens de fortuna e de talento, homens de vasta capacidade comercial, de aptidões para ser úteis, encontram-se em perigo mortal, porque não reconhecem a necessidade do domínio de si mesmos em todas as coisas. É necessário que se lhes chame a atenção para os princípios de temperança, não por maneira estreita e arbitrária, mas à luz do grande desígnio de Deus para a humanidade. Pudessem os princípios da verdadeira temperança ser-lhes assim apresentados, e muitos dentre as classes mais elevadas haveriam de reconhecer seu valor e aceitá-los com sinceridade. CBV 211 2 Deveríamos mostrar a essas pessoas os resultados das nocivas complacências em diminuir as energias físicas, mentais e morais. Ajudai-os a compreender sua responsabilidade como mordomos dos dons de Deus. Mostrai-lhes o bem que poderiam fazer com o dinheiro que agora despendem com aquilo que só mal lhes faz. Apresentai-lhes o compromisso de abstinência total, pedindo que o dinheiro que, de outro modo, eles gastariam em bebidas, fumo ou prazeres semelhantes seja consagrado a aliviar os pobres, enfermos, ou à educação de crianças e jovens de modo a serem úteis no mundo. Não seriam muitos os que se negassem a ouvir apelos semelhantes. CBV 211 3 Há outro perigo a que os ricos se acham especialmente expostos, e aí está também um campo aberto ao médico-missionário. Multidões de pessoas prósperas no mundo que nunca desceram às formas comuns do vício, são ainda levadas à ruína mediante o amor das riquezas. O cálice mais difícil de conduzir não é o que se acha vazio, mas o que está cheio até às bordas. É este que de mais cuidadoso equilíbrio necessita. A aflição e adversidade trazem decepção e dor; mas é a prosperidade que mais perigo oferece à vida espiritual. CBV 212 1 Os que estão sofrendo reveses são representados pela sarça que Moisés viu no deserto que, embora ardendo, não se consumia. O anjo do Senhor estava no meio da sarça. Assim, na perda e na aflição, o brilho da presença do Invisível se encontra conosco para nos confortar e suster. Frequentemente solicitam-se orações para os que estão padecendo por doença ou adversidade; nossas orações são, entretanto, mais necessitadas pelos homens a quem foram confiadas prosperidade e influência. CBV 212 2 No vale da humilhação, onde os homens sentem sua necessidade e confiam em que Deus lhes guiará os passos, há relativa segurança. Mas aqueles que se acham, por assim dizer, em elevados pináculos, e que, devido a sua posição, se julgam possuidores de grande sabedoria -- estes se encontram no maior perigo. A menos que esses homens tornem Deus a sua confiança, hão de por certo cair. CBV 212 3 A Bíblia não condena ninguém por ser rico, uma vez que haja adquirido suas riquezas honestamente. Não o dinheiro, mas o amor do dinheiro é a raiz de todos os males. É Deus que dá aos homens poder para adquirir fortuna; e nas mãos daquele que agir como mordomo de Deus, empregando seus meios altruistamente, a fortuna é uma bênção -- tanto para seu possuidor como para o mundo. Muitos, porém, absorvidos em seus interesses nos tesouros mundanos, tornam-se insensíveis aos reclamos de Deus e às necessidades de seus semelhantes. Consideram sua riqueza como um meio de glorificarem a si mesmos. Acrescentam casa a casa, e terra a terra: enchem sua casa de luxo, enquanto tudo ao seu redor são seres humanos em miséria e crime, em enfermidade e morte. Aqueles que assim consagram sua existência ao serviço do próprio eu estão desenvolvendo em si mesmos não os atributos de Deus, mas os do maligno. CBV 213 1 Esses homens estão necessitados do evangelho. Precisam desviar os olhos da vaidade das coisas materiais para a contemplação das preciosidades das imperecíveis riquezas. Necessitam aprender a alegria de dar, a bem-aventurança de ser colaborador de Deus. CBV 213 2 O Senhor nos ordena: "Manda aos ricos deste mundo" que não confiem na "incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. CBV 213 3 Não é por nenhum toque casual, acidental, que almas ricas, amantes do mundo, podem ser atraídas a Cristo. Essas pessoas são muitas vezes as de mais difícil acesso. É preciso em seu favor um esforço pessoal da parte de homens e mulheres dotados de espírito missionário, que não fracassem nem desanimem. CBV 213 4 Alguns são especialmente habilitados a trabalhar nas classes mais elevadas. Estes devem buscar de Deus sabedoria para saber como alcançar essas pessoas, não somente para uma relação casual com elas, mas para, mediante esforço pessoal e fé viva, despertá-las para as necessidades da alma, levá-las ao conhecimento da verdade tal como é em Jesus. CBV 213 5 Muitos supõem que, para se aproximar das classes mais altas, é preciso adotar uma maneira de vida e um método de trabalho que se harmonizem com seus fastidiosos gostos. Uma aparência de riqueza, custosos edifícios, caros vestidos, equipamentos e ambiente, conformidade com os costumes do mundo, o artificial polimento da sociedade da moda, cultura clássica, as graças da oratória, são considerados essenciais. Isso é um erro. O caminho dos métodos do mundo não é o caminho de Deus para alcançar as classes mais elevadas. O que na verdade os tocará é uma apresentação do evangelho de Cristo feita de modo coerente e isento de egoísmo. CBV 214 1 A experiência do apóstolo Paulo ao defrontar-se com os filósofos de Atenas encerra uma lição para nós. Ao apresentar o evangelho no Areópago, Paulo enfrentou a lógica com a lógica, ciência com ciência, filosofia com filosofia. Os mais sábios de seus ouvintes ficaram atônitos e emudecidos. Suas palavras não podiam ser controvertidas. Pouco fruto, porém, produziu seu esforço. Poucos foram levados a aceitar o evangelho. Daí em diante Paulo adotou uma diversa maneira de trabalhar. Evitava os argumentos elaborados e as discussões de teorias e, em simplicidade, encaminhava homens e mulheres a Cristo como o Salvador dos pecadores. CBV 214 2 Escrevendo aos coríntios acerca de sua obra entre eles, disse: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Coríntios 2:1, 2, 4-5. CBV 215 1 E ainda em sua epístola aos Romanos, ele diz: "Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego." Romanos 1:16. CBV 215 2 Portem-se os que trabalham com as classes mais altas com verdadeira dignidade, lembrando-se de que os anjos são seus companheiros. Conservem eles o tesouro do espírito e do coração cheio de "Está escrito". Guardem na memória as preciosas palavras de Cristo. Elas devem ser apreciadas muito acima do ouro e da prata. CBV 215 3 Cristo disse que seria mais fácil a um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus. No trabalho a fazer por essa classe, apresentar-se-ão muitos desânimos, muitas revelações pungentes terão lugar. Mas todas as coisas são possíveis com Deus. Ele pode e há de operar mediante instrumentos humanos na mente dos homens cuja vida tem sido consagrada a ganhar dinheiro. CBV 216 1 Há milagres a se operarem na genuína conversão, milagres agora não discernidos. Os maiores homens da Terra não se encontram além do alcance de um Deus poderoso em maravilhas. Se aqueles que são Seus colaboradores cumprirem valorosa e fielmente o seu dever, Deus converterá homens que ocupam posições de responsabilidade, homens de intelecto e influência. Por meio do poder do Espírito Santo, muitos serão levados a aceitar os divinos princípios. CBV 216 2 Quando se tornar claro que o Senhor espera que eles, como Seus representantes, aliviem a sofredora humanidade, muitos a isso corresponderão, dando de seus meios juntamente com a sua simpatia para o benefício dos pobres. À medida que sua mente é assim afastada dos próprios interesses egoístas, muitos se entregarão a Cristo. Com seus talentos de influência e meios, unir-se-ão de boa vontade à obra de beneficência com o humilde missionário que foi o instrumento de Deus em sua conversão. Pelo devido emprego de seus tesouros terrenos, ajuntarão para si "um tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói". Lucas 12:33. CBV 216 3 Quando convertidos a Cristo, muitos se tornarão na mão de Deus instrumentos para trabalhar em favor de outros de sua classe. Sentirão ser-lhes confiada uma dispensação do evangelho para aqueles que fizeram deste mundo o seu tudo. O tempo e o dinheiro serão a Deus consagrados, devotados o talento e a influência à obra de ganhar almas para Cristo. CBV 216 4 Unicamente a eternidade revelará o que tem sido realizado por esta espécie de ministério -- quantas almas, enfermas de dúvida e cansadas da mundanismo e do desassossego, têm sido levadas ao grande Restaurador, que anseia salvar perfeitamente a todos quantos a Eles se achegam. Cristo é um Salvador ressurgido e há salvação debaixo de Suas asas. ------------------------Capítulo 15 -- No quarto do doente CBV 219 1 Os que tratam dos doentes devem compreender a importância da cuidadosa atenção às leis da saúde. Em parte alguma tem mais importância a obediência a estas leis do que no quarto do enfermo. Em caso nenhum a fidelidade às pequenas coisas, da parte dos assistentes, tem maiores consequências. Em casos de doença grave, a menor negligência, a mais ligeira falta de atenção às necessidades especiais ou perigos particulares do enfermo, toda a manifestação de temor, agitação ou impaciência, até uma falta de simpatia, pode fazer pender o fiel da balança que oscila entre a vida e a morte, e causar a descida à sepultura de um doente que doutra sorte poderia ter-se curado. CBV 219 2 A eficiência da enfermeira depende em grande parte do seu vigor físico. Quanto mais saudável, robusta, tanto mais estará apta a suportar a fadiga no tratamento do enfermo e a cumprir com bom êxito os seus deveres. Os que cuidam dos doentes devem prestar particular atenção ao regime alimentar, limpeza, ar puro e exercício. Precauções especiais da parte da família lhe permitirão também suportar as fadigas suplementares trazidas sobre ela e a auxiliar a evitar o contágio da doença. CBV 220 1 Quando a doença é grave e exige dia e noite a presença da enfermeira, o trabalho deve ser partilhado ao menos por duas enfermeiras competentes, de sorte que cada uma tenha a oportunidade de descansar e de fazer exercício ao ar livre. Isso é particularmente importante nos casos em que seja difícil assegurar abundância de ar puro no quarto do doente. Devido à falta de conhecimento da importância do ar puro, limita-se por vezes a ventilação, ficando com frequência em perigo a vida do doente, como a dos que o tratam. CBV 220 2 Se forem observadas precauções convenientes, não há necessidade de que doenças não contagiosas sejam contraídas por outros. Que os hábitos sejam corrigidos, e pelo asseio e ventilação conveniente guarde-se o quarto do doente livre de elementos venenosos. Em tais condições, o enfermo tem muito mais probabilidades de cura, e na maior parte dos casos tanto as enfermeiras como os membros da família estarão ao abrigo do contágio da doença. Luz Solar, Ventilação e Temperatura CBV 220 3 Para assegurar ao doente as mais favoráveis condições de cura, o quarto que ocupa deve ser amplo, iluminado e alegre, com os meios para uma ventilação perfeita. Escolher-se-á para quarto do enfermo o aposento da casa que melhor satisfaça esses requisitos. Muitas casas não oferecem condições para conveniente ventilação e é difícil consegui-la; mas tentem-se os possíveis esforços para permitir que o quarto do doente seja atravessado dia e noite por uma corrente de ar puro. CBV 221 1 Quanto possível deve manter-se uma temperatura igual. Para o efeito consulte-se o termômetro. Os que tratam do doente, sendo muitas vezes privados de sono ou despertados durante a noite para atender o paciente, são suscetíveis ao frio, e não serão bons juízes de uma temperatura saudável. Dieta CBV 221 2 Parte importante dos deveres da enfermeira é o cuidado com a dieta do paciente. Não se permita que o doente sofra ou enfraqueça por falta de alimento, nem carregue em excesso os enfraquecidos órgãos da digestão. Tenha-se cuidado em preparar e servir comida agradável ao paladar, mas usando um sábio critério em a adaptar, tanto em quantidade como em qualidade, às necessidades do paciente. Em particular durante o tempo da convalescença, em que o apetite é vivo e os órgãos digestivos não recuperaram ainda suas forças, há grande perigo de prejuízo devido a erros de dieta. Deveres dos Assistentes CBV 221 3 As enfermeiras, e as pessoas que entram no quarto do doente, devem se dominar, ser calmas e animosas. Evite-se toda pressa, nervosismo ou confusão. As portas devem ser abertas e fechadas sem ruído e toda a casa deve estar tranquila. Em casos de febre, necessita-se de especial atenção ao vir a crise e a febre estar baixando. É muitas vezes necessária uma constante vigilância. A ignorância, esquecimento e negligência causaram a morte de muitas pessoas que teriam vivido se houvessem recebido cuidado de uma enfermeira judiciosa e inteligente o devido cuidado. As Visitas aos Doentes CBV 222 1 É uma bondade mal dirigida, uma falsa idéia de cortesia, que leva a visitar muito os enfermos. Os doentes que se encontram muito mal não devem receber visitas. A agitação que acompanha a recepção dos visitantes fatiga o enfermo numa ocasião em que tem a máxima necessidade de repouso e tranquilidade. CBV 222 2 Para o convalescente ou paciente que sofre de doença crônica constitui por vezes um prazer e um benefício saber que é lembrado com afeto; mas esta certeza transmitida por uma mensagem de simpatia ou por alguma pequena lembrança surtirão geralmente melhor efeito do que uma visita pessoal, e sem perigo de dano. A Enfermagem em Instituições CBV 222 3 Em sanatórios e hospitais, onde as enfermeiras estão em relações constantes com grande número de doentes, requer-se um esforço decidido para se manterem sempre de bom humor e alegres, e manifestarem uma consideração inteligente em cada palavra e em cada ato. Nessas instituições é da máxima importância que as enfermeiras se esforcem por desempenhar seu trabalho com sabedoria e acerto. Necessitam lembrar-se constantemente de que no cumprimento dos seus deveres cotidianos estão servindo a Jesus Cristo. CBV 223 1 Os doentes têm necessidade de que se lhes digam sábias palavras. As enfermeiras devem estudar a Bíblia diariamente, para que se possam habilitar a pronunciar palavras que iluminem e auxiliem o sofredor. Os anjos de Deus estão nos quartos onde tais doentes são tratados, e a atmosfera que rodeia a alma de quem dá o tratamento será pura e fragrante. Médicos e enfermeiras devem nutrir os princípios de Cristo. Suas virtudes se devem manifestar na vida dos mesmos. Então, mediante o que dizem e fazem, atrairão o doente ao Salvador. CBV 223 2 Enquanto aplica o tratamento para restauração da saúde, a enfermeira cristã, de maneira agradável e com êxito, atrairá o espírito do paciente para Cristo, o médico da alma da mesma maneira que do corpo. Os pensamentos apresentados, um pouco aqui, um pouco ali, exercerão sua influência. As enfermeiras de mais idade não deverão perder ensejo favorável de chamar a atenção do doente para Cristo. Elas devem estar sempre preparadas para misturar a cura espiritual com a física. CBV 224 1 Pela maneira mais bondosa e terna, cumpre às enfermeiras ensinar que aquele que se quer curar precisa deixar de transgredir a Lei de Deus. Necessita deixar de preferir uma vida de pecado. Deus não pode abençoar aquele que continua a trazer sobre si mesmo doença e sofrimento por uma voluntária violação das leis do Céu. Mas Cristo, mediante o Espírito Santo, vem, como um poder que cura, aos que deixam de fazer o mal e aprendem a praticar o bem. CBV 224 2 Os que não possuem nenhum amor para com Deus hão de agir continuamente contra os melhores interesses da alma e do corpo. Mas os que despertam para a importância de viver em obediência a Deus neste mundo mau de agora serão voluntários em se apartar de todo hábito errôneo. Reconhecimento e amor lhes encherá o coração. Sabem que Cristo é seu amigo. Em muitos casos, a compreensão de possuir um tal amigo significa para os sofredores mais, em seu restabelecimento da doença, do que o melhor tratamento que se lhe possa aplicar. Mas ambos os ramos de ministério são essenciais. Devem andar de mãos dadas. ------------------------Capítulo 16 -- Oração pelos doentes CBV 225 1 Diz a Escritura que os homens devem "orar sempre e nunca desfalecer" (Lucas 18:1); e, se há um tempo em que eles sintam sua necessidade de orar, é quando lhes faltam as forças, e a própria vida lhes parece fugir. Frequentemente os que estão com saúde esquecem as maravilhosas misericórdias a eles feitas continuadamente, dia após dia, ano após ano, e não rendem a Deus tributo e louvor por Seus benefícios. Ao sobrevir a doença, porém, Ele é lembrado. Ao faltarem as forças humanas, sentem os homens a necessidade do auxílio divino. E nunca o nosso misericordioso Deus Se afasta da alma que para Ele em sinceridade se volve em busca de auxílio. Ele é nosso refúgio na enfermidade assim como na saúde. CBV 225 2 "Como um pai se compadece de seus filhos, Assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; Lembra-Se de que somos pó." Salmos 103:13-14. CBV 225 3 "Por causa do seu caminho de transgressão E por causa das suas iniquidades", os homens "são afligidos. A sua alma aborreceu toda comida, E chegaram até às portas da morte." Salmos 107:17-18. CBV 225 4 "Então, clamaram ao Senhor na sua angústia, E Ele os livrou das suas necessidades. Enviou a Sua palavra, e os sarou, E os livrou da sua destruição." Salmos 107:19-20. CBV 226 1 Deus está hoje tão desejoso de restabelecer os doentes como quando o Espírito Santo proferiu estas palavras por intermédio do salmista. E Cristo é agora o mesmo compassivo médico que era durante Seu ministério terrestre. NEle há bálsamo curativo para toda doença, poder restaurador para toda enfermidade. Seus discípulos de nossos dias devem orar pelos doentes tão verdadeiramente como os de outrora. E seguir-se-ão as curas; pois "a oração da fé salvará o doente". Tiago 5:15. Temos o poder do Espírito Santo, a calma certeza da fé, de que podemos reivindicar as promessas de Deus. A promessa do Senhor: "Imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (Marcos 16:18), é tão digna de fé hoje como nos dias dos apóstolos. Ela apresenta o privilégio dos filhos de Deus, e nossa fé deve lançar mão de tudo quanto aí se encerra. Os servos de Cristo são os instrumentos de Sua operação, e por meio deles deseja exercer Seu poder de curar. É nossa obra apresentar o enfermo e sofredor a Deus, nos braços da fé. Devemos ensinar-lhes a crer no grande Médico. CBV 226 2 O Salvador deseja que animemos os enfermos, os desesperançados, os aflitos a apegarem-se a Sua força. Mediante a fé e a oração, o quarto do doente pode se transformar numa Betel. Por palavras e atos, os médicos e as enfermeiras podem dizer, tão positivamente que não possa ser mal compreendido: "Deus está neste lugar" para salvar, e não para destruir. Cristo deseja manifestar Sua presença no quarto do doente, enchendo o coração dos médicos e enfermeiros com a doçura de Seu amor. Se a vida dos assistentes do enfermo é de maneira a Jesus os poder acompanhar ao leito dele, ao mesmo sobrevirá a convicção de que o compassivo Salvador está presente, e essa convicção por si só fará muito em benefício tanto de sua alma como do corpo. CBV 226 3 E Deus ouve a oração. Cristo disse: "Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei." João 14:14. Noutro lugar, Ele diz: "Se alguém Me serve, ... Meu Pai o honrará." João 12:26. Se vivemos em harmonia com Sua palavra, toda preciosa promessa dada por Ele em nós se cumprirá. Somos indignos de Sua misericórdia, mas, ao entregar-nos a Ele, recebe-nos. Ele operará em favor e por intermédio daqueles que O seguem. CBV 227 1 Mas unicamente vivendo em obediência a Sua palavra podemos pedir o cumprimento das promessas que nos faz. O salmista diz: "Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Salmos 66:18. Se Lhe prestamos apenas uma obediência parcial, com a metade do coração, Suas promessas não se cumprirão em nós. CBV 227 2 Temos na Palavra de Deus instruções relativas à oração especial pelo restabelecimento de um doente. Mas tal oração é um ato soleníssimo, e não o devemos realizar sem atenta consideração. Em muitos casos de oração pela cura de um doente, o que se chama fé não é nada mais que presunção. CBV 227 3 Muitas pessoas chamam sobre si a doença pela condescendência consigo mesmas. Não têm vivido segundo as leis naturais ou os princípios da estrita pureza. Outros têm desconsiderado as leis da saúde em seus hábitos de comer e beber, vestir ou trabalhar. Frequentemente é alguma forma de vício a causa do enfraquecimento mental ou físico. Obtivessem essas pessoas a bênção da saúde, e muitas delas continuariam a seguir o mesmo rumo de descuidosa transgressão das leis naturais e espirituais de Deus, raciocinando que, se Ele as cura em resposta à oração, elas se acham em liberdade de prosseguir em suas práticas nocivas, condescendendo sem restrições com apetites pervertidos. Se Deus operasse um milagre para restaurar à saúde essas pessoas, estaria animando o pecado. CBV 227 4 É trabalho perdido ensinar o povo a volver-se para Deus como Aquele que cura suas enfermidades, a menos que seja também ensinado a renunciar aos hábitos nocivos. Para que recebam Sua bênção em resposta à oração, devem cessar de fazer o mal e aprender a fazer o bem. Seu ambiente deve ser higiênico, corretos os seus hábitos de vida. Devem viver em harmonia com a Lei de Deus, tanto a natural como a espiritual. A Confissão dos Pecados CBV 228 1 Deve-se tornar claro aos que desejam orações por seu restabelecimento que a violação da Lei de Deus, quer natural quer espiritual, é pecado, e que, a fim de receber Suas bênçãos, ele deve ser confessado e abandonado. CBV 228 2 A Escritura nos ordena: "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis." Tiago 5:16. Ao que solicita orações, sejam apresentados pensamentos como este: "Nós não podemos ler o coração, nem conhecer os segredos de vossa vida. Estes são conhecidos unicamente por vós mesmos e por Deus. Se vos arrependeis de vossos pecados, é o vosso dever fazer confissão deles." O pecado de natureza particular deve ser confessado a Cristo, o único mediador entre Deus e o homem. Pois "se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". 1 João 2:1. Todo pecado é uma ofensa a Deus, e Lhe deve ser confessado por intermédio de Cristo. Todo pecado público, deve ser do mesmo modo publicamente confessado. A ofensa feita a um semelhante deve ser ajustada com a pessoa ofendida. Se alguém que deseja recuperar a saúde se acha culpado de maledicência, se semeou a discórdia no lar, na vizinhança ou na igreja, suscitando separação e dissensão, se por qualquer má prática induziu outros a pecar, essas coisas devem ser confessadas diante de Deus e perante os agravados. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar... e nos purificar de toda a injustiça." 1 João 1:9. CBV 229 1 Havendo os erros sido endireitados, podemos apresentar as necessidades do enfermo ao Senhor com fé tranquila, como Seu espírito nos indicar. Ele conhece cada indivíduo por nome, e cuida de cada um como se não houvesse na Terra nenhum outro por quem houvesse dado Seu bem-amado Filho. Por ser o amor de Deus tão grande e inalterável, o doente deve ser estimulado a confiar nEle e ficar esperançoso. Estar ansioso quanto a si mesmo tende a causar fraqueza e doença. Se eles se erguerem acima da depressão e da tristeza, será melhor sua perspectiva de restabelecimento; pois "os olhos do Senhor estão sobre... os que esperam na Sua misericórdia". Salmos 33:18. CBV 229 2 Ao orar pelos doentes, cumpre lembrar que "não sabemos o que havemos de pedir como convém". Romanos 8:26. Não sabemos se a bênção que desejamos será para o bem ou não. Portanto, nossas orações devem incluir este pensamento: "Senhor, Tu conheces todo segredo da alma. Estás familiarizado com estas pessoas. Jesus, seu Advogado, deu a vida por elas. Seu amor por elas é maior do que é possível ser o nosso. Se, portanto, for para Tua glória e o bem dos aflitos, pedimos, em nome de Jesus, que sejam restituídas à saúde. Se não for da Tua vontade que se restaurem, rogamos-Te que a Tua graça as conforte e a Tua presença as sustenha em seus sofrimentos." CBV 230 1 Deus conhece o fim desde o princípio. Conhece de perto o coração de todos os homens. Lê todo segredo da alma. Sabe se aqueles por quem se fazem as orações haviam ou não de resistir às provações que lhes sobreviriam, houvessem eles de viver. Sabe se sua vida seria uma bênção ou uma maldição para si mesmos e para o mundo. Esta é uma razão pela qual, ao mesmo tempo que apresentamos nossas petições com fervor, devemos dizer: "Todavia, não se faça a minha vontade, mas a Tua." Lucas 22:42. Jesus acrescentou estas palavras de submissão à sabedoria e vontade de Deus, quando, no jardim de Getsêmani, rogava: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice." Mateus 26:39. Se elas eram apropriadas para Ele, o Filho de Deus, quanto mais adequadas são nos lábios dos finitos e errantes mortais! CBV 230 2 A atitude coerente é expor nossos desejos a nosso sábio Pai celeste e então, em perfeita segurança, tudo dEle confiar. Sabemos que Deus nos ouve se pedimos em harmonia com a Sua vontade. Mas insistir em nossas petições sem um espírito submisso não é direito; nossas orações devem tomar a forma, não de uma ordem, mas de uma intercessão. CBV 230 3 Há casos em que o Senhor opera decididamente por Seu divino poder na restauração da saúde. Mas nem todos os doentes são sarados. Muitos são postos a dormir em Jesus. João, na ilha de Patmos, foi mandado escrever: "Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam." Apocalipse 14:13. Vemos por aí que, se as pessoas não forem restituídas à saúde, não devem ser por isso consideradas sem fé. CBV 230 4 Todos nós desejamos respostas imediatas e diretas às nossas orações, e somos tentados a ficar desanimados quando a resposta é retardada ou vem por uma maneira que não esperávamos. Mas Deus é demasiado sábio e bom para atender nossas petições sempre justamente ao tempo e pela maneira que desejamos. Ele fará mais e melhor por nós do que realizar sempre os nossos desejos. E como podemos confiar em Sua sabedoria e Seu amor, não devemos pedir que nos conceda a nossa vontade, mas buscar identificar-nos com Seu desígnio, e cumpri-lo. Nossos desejos e interesses devem-se fundir com Sua vontade. Estas experiências que provam a fé são para nosso bem. Por elas se manifesta se nossa fé é verdadeira e sincera, repousando unicamente na Palavra de Deus, ou se depende de circunstâncias, sendo incerta e instável. A fé é revigorada pelo exercício. Devemos permitir que a paciência tenha a sua obra perfeita, lembrando-nos de que há preciosas promessas nas Escrituras para aqueles que esperam no Senhor. CBV 231 1 Nem todos compreendem esses princípios. Muitos dos que buscam as restauradoras graças do Senhor pensam que devem ter uma resposta direta e imediata a suas orações, ou se não sua fé é falha. Por essa razão os que estão enfraquecidos pela doença precisam ser sabiamente aconselhados, para que procedam prudentemente. Eles não devem desatender ao seu dever para com os amigos que lhes sobreviverem, nem negligenciar o emprego dos agentes naturais. CBV 231 2 Há muitas vezes perigo de erro nisto. Crendo que hão de ser curados em resposta à oração, alguns temem fazer qualquer coisa que possa indicar falta de fé. Mas não devem negligenciar o pôr em ordem os seus negócios como desejariam se esperassem ser tirados pela morte. Nem também temer proferir palavras de ânimo ou de conselho que estimariam dirigir aos seus amados na hora da partida. CBV 231 3 Os que buscam a cura pela oração não devem negligenciar o emprego de remédios ao seu alcance. Não é uma negação da fé usar os remédios que Deus proveu para aliviar a dor e ajudar a natureza em sua obra de restauração. Não é nenhuma negação da fé cooperar com Deus, e colocar-se nas condições mais favoráveis para o restabelecimento. Deus pôs em nosso poder o obter conhecimento das leis da vida. Este conhecimento foi colocado ao nosso alcance para ser empregado. Devemos usar todo recurso para restauração da saúde, aproveitando-nos de todas as vantagens possíveis, agindo em harmonia com as leis naturais. Tendo orado pelo restabelecimento do doente, podemos trabalhar com muito maior energia ainda, agradecendo a Deus o termos o privilégio de cooperar com Ele, e pedindo-Lhe a bênção sobre os meios por Ele próprio fornecidos. CBV 232 1 Temos a sanção da Palavra de Deus quanto ao uso de remédios. Ezequias, rei de Israel, estava doente, e um profeta de Deus levou-lhe a mensagem de que haveria de morrer. Ele clamou ao Senhor, e Este ouviu a Seu servo, e mandou-lhe dizer que lhe seriam acrescentados quinze anos de vida. Ora, uma palavra de Deus haveria curado instantaneamente a Ezequias; mas foram dadas indicações especiais: "Tomem uma pasta de figos e a ponham como emplasto sobre a chaga; e sarará." Isaías 38:21. CBV 233 1 Certa ocasião, Cristo ungiu os olhos de um cego com terra, e mandou-lhe: "Vai, lava-te no tanque de Siloé. ... Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo." João 9:7. A cura poderia ser operada unicamente pelo poder do grande Médico; todavia, Cristo fez uso de simples agentes da natureza. Conquanto Ele não favorecesse as medicações de drogas, sancionou o emprego de remédios simples e naturais. CBV 233 2 Ao termos orado pela restauração de um enfermo, seja qual for o desenlace do caso, não percamos a fé em Deus. Se formos chamados a sofrer a perda, aceitemos o amargo cálice, lembrando-nos de que é a mão de um Pai que no-lo chega aos lábios. Mas, sendo a saúde restituída, não se deveria esquecer que o objeto da misericordiosa cura se acha sob renovada obrigação para com o Criador. Quando os dez leprosos foram purificados, apenas um voltou em busca de Jesus para dar-Lhe glória. Que nenhum de nós seja como os inconsiderados nove, cujo coração ficou insensível diante da misericórdia de Deus. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação." Tiago 1:17. ------------------------Capítulo 17 -- O emprego de remédios CBV 234 1 A doença nunca vem sem causa. O caminho é preparado, e a doença convidada, pela desconsideração para com as leis da saúde. Muitos sofrem em consequência da transgressão dos pais. Embora não sejam responsáveis pelo que seus pais fizeram, é no entanto seu dever procurar verificar o que é e o que não é violação das leis da saúde. Devem evitar os hábitos errôneos de seus pais, e mediante uma vida correta colocar-se em melhores condições. CBV 234 2 O maior número, todavia, sofre devido a sua própria direção errônea. Desatendem aos princípios de saúde por seus hábitos de comer e beber, vestir e trabalhar. Sua transgressão das leis da natureza produz os infalíveis resultados; e, ao sobrevir-lhes a doença, muitos não atribuem seu sofrimento à verdadeira origem, mas murmuram contra Deus por causa de suas aflições. Mas Deus não é responsável pelo sofrimento que se segue ao menosprezo da lei natural. CBV 234 3 Deus nos dotou com certa quantidade de força vital. Formou-nos também com órgãos adequados à manutenção das várias funções da vida, e designa que esses órgãos operem juntamente, em harmonia. Se preservamos cuidadosamente a força vital, mantendo o delicado mecanismo do corpo em ordem, o resultado é saúde; mas, se a força vital é esgotada muito rapidamente, o sistema nervoso toma emprestado de seus fundos de resistência a força necessária para o uso, e, quando um órgão é prejudicado, todos são afetados. A natureza sofre muito abuso sem aparente resistência; levanta-se então, fazendo decidido esforço para remover os efeitos do mau tratamento a que foi submetida. Seus esforços para corrigir estas condições manifestam-se muitas vezes em febre e várias outras formas de doença. Remédios Racionais CBV 235 1 Quando o abuso da saúde é levado tão longe que traz em resultado a enfermidade, o doente pode muitas vezes fazer por si mesmo o que ninguém mais pode fazer. A primeira coisa é verificar o verdadeiro caráter do mal, e então operar inteligentemente para remover a causa. Se a harmoniosa operação do organismo se desequilibrou por excesso de trabalho, de comida ou de outras irregularidades, não tenteis ajustar a desordem ajuntando uma carga de venenosos medicamentos. CBV 235 2 A intemperança no comer é muitas vezes a causa da doença, e o que a natureza precisa mais é ser aliviada da indevida carga que lhe foi imposta. Em muitos casos de doença, o melhor remédio é o paciente jejuar por uma ou duas refeições, a fim de que os sobrecarregados órgãos digestivos tenham oportunidade de descansar. Um regime de frutas por alguns dias tem muitas vezes produzido grande benefício aos que trabalham com o cérebro. Muitas vezes um breve período de inteira abstinência de comida, seguido de alimento simples e moderadamente tomado, tem levado à cura por meio dos próprios esforços recuperadores da natureza. Um regime de abstinência por um ou dois meses, haveria de convencer a muitos sofredores que a vereda da abnegação é o caminho para a saúde. O Repouso Como Remédio CBV 236 1 Alguns se tornam doentes por excesso de trabalho. Para esses, o descanso, a libertação do cuidado e um regime reduzido são essenciais à restauração da saúde. Para os que estão mentalmente fatigados e nervosos devido a trabalho contínuo e restrita limitação de ambiente, uma visita ao campo, onde podem viver uma vida simples, livre de cuidado, pondo-se em íntimo contato com as coisas da natureza, será muito salutar. Vagar pelos campos e matas, apanhando flores, escutando os cânticos dos pássaros, fará por seu restabelecimento incomparavelmente mais que qualquer outro meio. CBV 237 1 Na saúde e na doença, a água pura é uma das mais excelentes bênçãos do Céu. Foi a bebida provida por Deus para saciar a sede de homens e animais. Bebida abundantemente, ela ajuda a suprir as necessidades do organismo, e a natureza em resistir à doença. A aplicação externa da água é um dos mais fáceis e mais satisfatórios meios de regular a circulação do sangue. Um banho frio ou fresco é excelente tônico. O banho quente abre os poros, auxiliando assim na eliminação das impurezas. Tanto os banhos quentes como os neutros acalmam os nervos e equilibram a circulação. CBV 237 2 Muitos há, porém, que nunca aprenderam por experiência os benéficos efeitos do devido uso da água, têm medo dela. Os tratamentos hidroterápicos não são apreciados como deviam ser, e aplicá-los bem requer trabalho que muitos não estão dispostos a realizar. Mas ninguém se devia sentir desculpado de ignorância ou indiferença neste assunto. Há muitas maneiras pelas quais a água pode ser aplicada para aliviar o sofrimento e combater a doença. Todos devem se tornar entendidos no emprego da mesma, nos simples tratamentos domésticos. As mães, especialmente, devem saber tratar de sua família, tanto na saúde como na enfermidade. CBV 237 3 A atividade é uma lei de nosso ser. Todo órgão do corpo tem sua obra designada, de cujo desempenho depende seu desenvolvimento e vigor. A função normal de todos os órgãos dá resistência e vigor, ao passo que o não usá-los leva à decadência e à morte. Atai um braço suspenso, mesmo por poucas semanas, e depois soltai-o de suas ligaduras, e vereis que se acha mais fraco do que o que mantivestes em uso moderado durante o mesmo período. A inação produz o mesmo efeito sobre todo o sistema muscular. CBV 238 1 A inatividade é prolífera causa de doenças. O exercício aviva e equilibra a circulação do sangue, mas na ociosidade o sangue não circula livremente, e não ocorrem as mudanças que nele se operam, e são tão necessárias à vida e à saúde. Também a pele se torna inativa. As impurezas não são eliminadas, como seriam se a circulação houvesse sido estimulada por vigoroso exercício, a pele conservada em condições saudáveis, e os pulmões alimentados com abundância de ar puro, renovado. Esse estado do organismo lança um duplo fardo sobre o sistema excretor, dando em resultado a doença. CBV 238 2 Os inválidos não devem ser animados a ficar inativos. Se houver sobrecarga em qualquer sentido, o repouso total por algum tempo impedirá por vezes uma doença séria; mas no caso de inválidos crônicos, raramente é necessário suspender toda a atividade. CBV 238 3 Os que se acham esgotados em virtude de trabalho mental devem repousar dos pensamentos fatigantes, mas não devem ser levados a crer que seja perigoso usar de algum modo as faculdades mentais. Muitos são inclinados a considerar seu estado pior do que na realidade é. Esse estado de espírito não é favorável à cura, e não deve ser animado. CBV 238 4 Pastores, professores, alunos e outros obreiros intelectuais sofrem frequentemente doenças provenientes de pesado esforço mental não atenuado pelo exercício físico. O que essas pessoas precisam é de uma vida mais ativa. Hábitos de estrita temperança no viver, ao lado do conveniente exercício, assegurariam vigor tanto físico como mental, dando capacidade de resistência a todos os obreiros que trabalham com o cérebro. CBV 238 5 Os que sobrecarregaram suas forças físicas não devem ser animados a abandonar inteiramente o trabalho manual. Mas o trabalho físico para produzir os melhores resultados deve ser sistemático e aprazível. O exercício ao ar livre é o melhor; deve ser arranjado de maneira a revigorar pelo uso os órgãos que se têm enfraquecido; convém que o coração esteja posto nisto. O trabalho manual nunca deveria degenerar em esforço excessivo. CBV 239 1 Quando os inválidos nada têm em que ocupar o tempo e a atenção, seus pensamentos se concentram em si mesmos, e tornam-se mórbidos e irritáveis. Muitas vezes se preocupam com o mal que sentem, a ponto de se julgarem muito pior do que na realidade estão, e inteiramente incapazes de fazer qualquer coisa. CBV 239 2 Em todos esses casos, o bem orientado exercício físico se demonstraria eficaz remédio. Em alguns casos, ele é indispensável à restauração da saúde. A vontade acompanha o trabalho das mãos; e o que esses inválidos precisam é do despertamento da vontade. Quando esta se encontra adormecida, a imaginação torna-se anormal, e é impossível resistir à doença. CBV 240 1 A inatividade é a maior desgraça que poderia sobrevir à maioria desses enfermos. Ocupação leve em trabalho útil, ao passo que não sobrecarrega a mente e o corpo, tem uma benéfica influência sobre ambos. Fortalece os músculos, promove melhor circulação, ao mesmo tempo que dá ao inválido a satisfação de saber que não é inteiramente inútil neste atarefado mundo. Talvez não seja capaz de fazer senão pouco a princípio, mas em breve verificará que suas forças aumentam, e pode proporcionalmente aumentar a quantidade de trabalho. CBV 240 2 O exercício é salutar aos dispépticos, pois fortalece os órgãos da digestão. Empenhar-se em difícil estudo ou exercício físico violento imediatamente depois de comer impede o trabalho digestivo; mas um pequeno passeio depois da refeição, com a cabeça erguida e os ombros para trás, é de grande benefício. CBV 240 3 Não obstante tudo quanto se diz e escreve sobre sua importância, existem ainda muitos que negligenciam o exercício físico. Muitos se tornam corpulentos porque o organismo está carregado; outros ficam magros e fracos por terem exaustas as forças vitais em dar conta de um excesso de comida. O fígado é sobrecarregado em seu esforço de limpar o sangue das impurezas, dando em resultado a doença. CBV 240 4 Aqueles cujos hábitos são sedentários devem, quando o tempo permitir, fazer exercício ao ar livre todos os dias, de verão e de inverno. Caminhar é preferível a andar a cavalo ou de carro, pois movimenta mais músculos. Os pulmões são forçados a uma ação benéfica, uma vez que é impossível andar em passo rápido sem os dilatar. CBV 240 5 Tal exercício seria, em muitos casos, melhor para a saúde do que drogas. Os médicos aconselham muitas vezes seus clientes a fazer uma viagem marítima, a ir a alguma estação de águas ou visitar diversos lugares em busca de mudança de ares, quando, na maioria dos casos, se eles comessem moderadamente, e fizessem animado e saudável exercício, recuperariam a saúde, economizando tempo e dinheiro. ------------------------Capítulo 18 -- A cura mental CBV 241 1 Muito íntima é a relação que existe entre a mente e o corpo. Quando um é afetado, o outro se ressente. O estado da mente atua muito mais na saúde do que muitos julgam. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental. Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte. CBV 241 2 A doença é muitas vezes produzida, e com frequência grandemente agravada pela imaginação. Muitos que atravessam a vida como inválidos poderiam ser sãos, se tão-somente assim o pensassem. Muitos julgam que a mais leve exposição lhes ocasionará doença, e produzem-se os maus efeitos exatamente porque são esperados. Muitos morrem de doença de origem inteiramente imaginária. CBV 241 3 O ânimo, a esperança, a fé, a simpatia e o amor promovem a saúde e prolongam a vida. Um espírito contente, animoso, é saúde para o corpo e força para a alma. "O coração alegre serve de bom remédio." Provérbios 17:22. CBV 241 4 No tratamento do enfermo não se deveria esquecer o efeito da influência mental. Devidamente usada, essa influência proporciona um dos mais eficazes meios de combater a doença. O Controle de uma Mente sobre Outra CBV 242 1 Uma forma de cura mental existe, entretanto, que é um dos mais eficazes meios para o mal. Mediante essa chamada ciência, a mente de uns é submetida ao domínio de uma outra, de modo que a individualidade do mais fraco imerge na do espírito mais forte. Uma pessoa executa a vontade de outra. Pretende-se assim poder mudar o curso dos pensamentos, comunicar impulsos que promovem a saúde, e habilitar o doente a resistir e vencer a doença. CBV 242 2 Esse método de cura tem sido empregado por pessoas que ignoravam sua natureza e tendências reais, e que acreditavam ser ele um modo de beneficiar os doentes. Mas a assim chamada ciência baseia-se em falsos princípios. É estranha à natureza e princípios de Cristo. Ela não conduz Àquele que é vida e salvação. Aquele que atrai as mentes para si leva-as a separar-se da verdadeira Fonte de sua força. CBV 242 3 Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos. Ninguém deve fundir sua individualidade na de outrem. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus. Na dignidade da varonilidade que lhe foi dada pelo Senhor, deve ser por Ele próprio dirigido, e não por nenhuma inteligência humana. CBV 242 4 Deus deseja pôr os homens em direta relação com Ele. Em todo o Seu trato com as criaturas, reconhece o princípio da responsabilidade individual. Busca estimular o senso da dependência pessoal, e impressioná-los com a necessidade de direção própria, isto é, individual. Deseja pôr o humano em ligação com o divino, a fim de que os homens sejam transformados à divina semelhança. Satanás trabalha para impedir este desígnio. Procura fomentar a confiança nos homens. Quando a mente é desviada de Deus, o tentador pode colocá-la sob seu domínio. Pode governar a humanidade. CBV 243 1 A teoria de uma mente reger outra teve origem em Satanás, a fim de se introduzir como o obreiro principal, para pôr a filosofia humana onde se devia encontrar a divina. De todos os erros que estão encontrando aceitação entre cristãos professos, não há engano mais perigoso, nenhum mais propício a separar infalivelmente o homem de Deus do que esse. Por inocente que pareça, ao ser exercido sobre os pacientes, tende para sua destruição, e não para seu restabelecimento. Abre uma porta através da qual Satanás entrará para tomar posse tanto da mente que se entrega ao domínio de outra como da que a domina. CBV 243 2 Terrível é o poder assim entregue a homens e mulheres maldosos. Que oportunidade proporciona isso aos que vivem de se aproveitar das fraquezas e tolices dos outros! Quantos, por meio do poder exercido sobre mentes fracas ou enfermas, encontrarão meio de satisfazer cobiçosas paixões ou ganâncias de lucro! CBV 243 3 Há algo melhor em que nos podemos empenhar do que o controle da humanidade pela humanidade. O médico deve educar o povo a volver o olhar do humano para o divino. Em lugar de ensinar o enfermo a confiar em criaturas humanas quanto à cura da alma e do corpo, deve dirigi-lo Àquele que é capaz de salvar perfeitamente a todos quantos a Ele se chegam. Aquele que fez a mente do homem sabe o que ela necessita. Unicamente Deus é quem pode curar. Aqueles que se acham doentes da mente e do corpo têm de ver em Cristo o restaurador. "Porque Eu vivo", diz Ele, "vós vivereis." João 14:19. Esta é a vida que nos cumpre apresentar aos doentes, dizendo-lhes que, se tiverem fé em Cristo como restaurador, se com Ele cooperarem, obedecendo às leis da saúde, e se esforçando por aperfeiçoar a santidade em Seu temor, Ele lhes comunicará Sua vida. Quando por essa maneira lhes apresentamos a Cristo, estamos transmitindo um poder e uma força de valor, porquanto vêm de cima. Esta é a verdadeira ciência da cura do corpo e da alma. Simpatia CBV 244 1 Grande sabedoria é necessária no trato das doenças produzidas pela mente. Um coração dolorido, enfermo, um espírito desalentado, requerem um brando tratamento. Muitas vezes um problema doméstico está, como um câncer, corroendo até à própria alma, e enfraquecendo as forças vitais. Outras ocasiões é o caso do remorso pelo pecado minando o organismo e desequilibrando a mente. É mediante uma terna simpatia que esta classe de doentes pode ser beneficiada. O médico deve conquistar-lhes primeiro a confiança, encaminhando-os depois ao grande Restaurador. Se sua fé pode ser dirigida para o verdadeiro médico, e são capazes de confiar em que lhes tomou o caso nas mãos, isso trará alívio ao espírito, dando muitas vezes saúde ao corpo. CBV 244 2 A simpatia e o tato se demonstrarão frequentemente um maior benefício ao enfermo do que o mais hábil tratamento executado de modo frio, indiferente. Quando um médico se aproxima do leito de um doente com uma maneira desatenta e negligente, olha para o aflito com pouco interesse, dando por palavras ou atos a impressão de que o caso não requer muito cuidado, para deixar em seguida o paciente entregue a suas reflexões, esse médico causou ao doente positivo dano. A dúvida e o desânimo produzidos por sua indiferença neutralizarão muitas vezes o bom efeito dos remédios por ele prescritos. CBV 245 1 Se os médicos se colocassem no lugar daquele cujo espírito se acha humilhado e cuja vontade está enfraquecida pelo sofrimento, que anela palavras de simpatia e segurança, estariam mais preparados para apreciar seus sentimentos. Quando o amor e a compaixão manifestados por Cristo para com o enfermo se misturam aos conhecimentos do médico, a própria presença deste será uma bênção. CBV 245 2 A franqueza no trato com o doente lhe inspira confiança, demonstrando-se assim importante auxílio no restabelecimento. Médicos há que consideram sábia a medida de ocultar ao doente a natureza e causa da doença de que ele está sofrendo. Muitos, temendo chocar ou desanimar um paciente com a declaração da verdade, dão-lhe falsas esperanças de cura, permitindo mesmo que desça ao túmulo sem o advertir do perigo. Tudo isso é falta de sabedoria. Talvez nem sempre seja seguro, nem o melhor a fazer, explicar ao doente toda a extensão de seu perigo. Isso poderia alarmá-lo e viria a retardar ou mesmo impedir o restabelecimento. Nem pode toda a verdade ser dita àqueles cujos males são em grande parte imaginários. Muitas dessas pessoas são irrazoáveis, e não se habituaram a exercer o domínio de si mesmas. Têm fantasias peculiares, e imaginam muitas coisas irreais quanto a si mesmas e a outros. Para elas, essas coisas são verdadeiras, e os que delas cuidam devem manifestar constante bondade, paciência e tato incansáveis. Se fosse dita a esses doentes a verdade quanto a si mesmos, alguns se ofenderiam, e outros ficariam desanimados. Cristo disse a Seus discípulos: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora." João 16:12. Mas, embora a verdade não possa ser dita inteiramente em todas as ocasiões, nunca é necessário nem justificável enganar. Nunca o médico ou a enfermeira devem descer à mentira. Aquele que assim faz coloca-se em posição em que Deus não pode com ele cooperar; e, perdendo a confiança de seus clientes, está desperdiçando um dos mais eficazes auxílios para a restauração. CBV 246 1 O poder da vontade não é estimado como devia ser. Permaneça a vontade desperta e devidamente dirigida, e ela comunicará energia a todo o ser, sendo maravilhoso auxiliar na manutenção da saúde. Também é uma potência no tratar a doença. Exercida na devida direção, dominaria a imaginação, e seria poderoso meio de resistir e vencer tanto a doença da mente como a do corpo. Pelo exercício da força de vontade no se colocar na justa relação para com a existência, o enfermo muito pode fazer para cooperar com os esforços médicos em favor de seu restabelecimento. Há milhares que, se quiserem, poderão recuperar a saúde. O Senhor não quer que estejam doentes. Deseja que sejam sadios e felizes, e devem dirigir a mente no sentido de ficar bons. Muitas vezes, os inválidos podem resistir à doença, simplesmente recusando entregar-se às doenças e deixar-se ficar num estado de inatividade. Erguendo-se acima de suas dores e incômodos, empenhem-se em útil ocupação, adequada a suas forças. Por tal ocupação e o livre uso do ar e da luz do sol, muito inválido enfraquecido haveria de recuperar a saúde e as forças. Princípios Bíblicos de Cura CBV 246 2 Há para os que desejam reconquistar ou manter a saúde uma lição nas palavras da Escritura: "Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito." Efésios 5:18. Não mediante a excitação ou o esquecimento produzido por estimulantes contrários à natureza e à saúde, não por meio da satisfação dos apetites inferiores e das paixões, se encontrará verdadeira cura ou refrigério para o corpo e a alma. Entre os enfermos muitos existem que estão sem Deus e sem esperança. Sofrem de desejos insatisfeitos, desordenadas paixões, e a condenação da própria consciência; estão-se desprendendo desta vida, e não têm nenhuma perspectiva quanto à por vir. Não esperem os assistentes dos enfermos beneficiá-los com o conceder-lhes frívolas e excitantes satisfações. Estas têm sido a ruína de sua vida. A alma faminta e sedenta continuará a ter fome e sede enquanto buscar encontrar aqui satisfações. Os que bebem da fonte do prazer egoísta estão enganados. Confundem o riso com a força, e uma vez passada a euforia, a inspiração termina, e são deixados entregues ao descontentamento e desânimo. CBV 247 1 A permanente paz, o verdadeiro descanso do espírito, não têm senão uma Fonte. Foi desta que Cristo falou quando disse: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27. Essa paz não é qualquer coisa que Ele dê à parte de Si mesmo. Ela está em Cristo, e só a podemos receber recebendo a Cristo. CBV 247 2 Cristo é a fonte da vida. O que muitos necessitam é possuir dEle mais clara compreensão; precisam ser paciente, bondosa e fervorosamente ensinados quanto à maneira em que podem abrir inteiramente o ser às curativas forças celestes. Quando a luz solar do amor de Deus ilumina as mais escuras câmaras da alma, cessam o desassossego, a fadiga e o descontentamento, e satisfatórias alegrias virão dar vigor à mente, saúde e energia ao corpo. CBV 247 3 Achamo-nos num mundo de sofrimento. Dificuldades, provações e dores nos aguardam em todo o percurso para o lar celeste. Muitos existem, porém, que tornam duplamente pesados os fardos da vida por estarem continuamente antecipando aflições. Se têm de enfrentar adversidade ou decepção, pensam que tudo se encaminha para a ruína, que sua sorte é a mais dura de todas, que vão por certo cair em necessidade. Trazem assim sobre si o infortúnio, e lançam sombras sobre todos os que os rodeiam. A própria vida se lhes torna um fardo. Mas não precisa ser assim. Custará um decidido esforço o mudar a corrente de seus pensamentos. Mas a mudança se pode operar. Sua felicidade, tanto nesta vida como na futura, depende de que fixem a mente em coisas animadoras. Desviem-se eles do sombrio quadro, que é imaginário, voltando-se para os benefícios que Deus lhes tem espargido na estrada, e para além destes, aos invisíveis e eternos. CBV 248 1 Para toda aprovação proveu Deus auxílio. Quando Israel, no deserto, chegou às águas amargas de Mara, Moisés clamou ao Senhor. Este não proveu nenhum remédio novo; chamou a atenção para o que lhes estava ao alcance. Um arbusto por Ele criado devia ser lançado na fonte para tornar a água pura e doce. Isto feito, o povo bebeu dela e refrigerou-se. Em toda provação, se O buscarmos, Cristo nos dará auxílio. Nossos olhos se abrirão para discernir as restauradoras promessas registradas em Sua Palavra. O Espírito Santo nos ensinará a apoderar-nos de toda bênção, que servirá de antídoto para o desgosto. Para toda amarga experiência havemos de encontrar um ramo restaurador. CBV 248 2 Não devemos permitir que o futuro, com seus difíceis problemas, suas não satisfatórias perspectivas, façam nosso coração desfalecer, tremer-nos os joelhos, pender-nos as mãos. "... Se apodere da Minha força", diz o Poderoso, "e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. Os que submetem a vida a Sua direção e a Seu serviço, jamais se verão colocados numa posição para a qual Ele não haja tomado providências. Seja qual for nossa situação, se somos cumpridores de Sua Palavra, temos um Guia a nos dirigir o caminho, seja qual for nossa perplexidade, temos um seguro Conselheiro; seja qual for nossa tristeza, perda ou solidão, possuímos um Amigo cheio de compassivo interesse. CBV 249 1 Se, em nossa ignorância, damos passos em falso, nosso Salvador não nos abandona. Nunca precisamos sentir que nos achamos sós. Temos anjos por companheiros. O Consolador que Cristo nos prometeu enviar em Seu nome permanece conosco. No caminho que conduz à cidade de Deus não há dificuldades que os que nEle confiam não possam vencer. Não existem perigos de que não lhes seja possível escapar. Não há uma tristeza, uma ofensa, uma fraqueza humana para a qual não haja Ele provido o remédio. CBV 249 2 Ninguém tem necessidade de se abandonar ao desânimo e desespero. Satanás poderá se achegar a vós com a cruel sugestão: "Teu caso é desesperado. És irremissível." Mas há para vós esperança em Cristo. Deus não nos manda vencer em nossas próprias forças. Pede-nos que nos acheguemos bem estreitamente a Ele. Sejam quais forem as dificuldades sob que labutemos, que nos façam vergar o corpo e a alma, Ele está à espera de nos libertar. CBV 249 3 Aquele que tomou sobre Si a humanidade sabe compadecer-Se dos sofrimentos dela. Cristo não só conhece cada alma, suas necessidades e provações particulares, mas também sabe todas as circunstâncias que atritam e desconcertam o espírito. Sua mão se estende em piedosa ternura a todo filho em sofrimento. Os que mais sofrem, mais simpatia e piedade dEle recebem. Comove-Se com o sentimento de nossas enfermidades, e deseja que Lhe lancemos aos pés as perplexidades e aflições, deixando-as ali. CBV 249 4 Não é sábio olhar-nos a nós mesmos, e estudar nossas emoções. Se assim fazemos, o inimigo apresentará dificuldades e tentações que enfraquecerão a fé e destruirão o ânimo. Estudar atentamente nossas emoções e dar curso aos sentimentos é entreter a dúvida, e enredar-nos em perplexidades. Devemos desviar os olhos do próprio eu para Jesus. CBV 250 1 Quando sois assaltados pelas tentações, quando o cuidado, a perplexidade e as trevas parecem circundar vossa alma, olhai para o lugar em que pela última vez vistes a luz. Descansai no amor de Cristo, e sob Seu protetor cuidado. Quando o pecado luta pelo predomínio no coração, quando a culpa oprime a alma e sobrecarrega a consciência, quando a incredulidade obscurece a mente -- lembrai-vos de que a graça de Cristo é suficiente para subjugar o pecado e banir a escuridão. Entrando em comunhão com o Salvador, penetramos na região da paz. CBV 250 2 As Promessas de Restauração "O Senhor resgata a alma dos Seus servos, E nenhum dos que nEle confiam será condenado." Salmos 34:22. CBV 250 3 "No temor do Senhor, há firme confiança, E Ele será um refúgio para Seus filhos." Provérbios 14:26. CBV 250 4 "Sião diz: Já me desamparou o Senhor; O Senhor Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, Que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que, na palma das Minhas mãos, te tenho gravado." Isaías 49:14-16. CBV 251 1 "Não temas, porque Eu sou contigo; Não te assombres, porque Eu sou o teu Deus; Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." Isaías 41:10. CBV 251 2 "Vós, a quem eu carreguei desde o nascimento E conduzi desde a primeira respiração. Até à vossa velhice Eu sou o mesmo E ainda até às cãs Eu vos levarei; Eu o fiz, e ainda vos conduzirei, Eu vos carregarei e vos livrarei." Isaías 46:3-4 (Tradução de Noyes). CBV 251 3 Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e da alma do que um espírito de gratidão e louvor. É um positivo dever resistir à melancolia, às idéias e sentimentos de descontentamento -- dever tão grande como é orar. Se nos destinamos ao Céu, como poderemos ir qual bando de lamentadores, gemendo e queixando-nos por todo o caminho da casa de nosso Pai? CBV 251 4 Os professos cristãos que se estão sempre queixando, e que parecem julgar que a alegria e a felicidade sejam um pecado, não possuem genuína religião. Os que encontram um funesto prazer em tudo que é melancolia no mundo natural; que preferem olhar às folhas mortas em vez de colher as belas flores vivas; que não vêem beleza nas elevações das grandes montanhas e nos vales revestidos de luxuriante verdor; que fecham os sentidos à jubilosa voz que lhes fala na natureza e é doce e harmoniosa ao ouvido atento -- estes não estão em Cristo. Estão colhendo para si mesmos tristezas e sombras, quando poderiam ter esplendor, o próprio Sol da Justiça surgindo-lhes no coração e trazendo saúde em Seus raios. CBV 251 5 Frequentemente vosso espírito se poderá nublar por causa do sofrimento. Não busqueis pensar então. Sabeis que Jesus vos ama. Ele compreende vossa fraqueza. Podeis fazer Sua vontade com o simples repousar em Seus braços. CBV 251 6 É uma lei da natureza que nossas idéias e sentimentos sejam animados e fortalecidos ao lhes darmos expressão. Ao passo que as palavras exprimem pensamentos, é também verdade que estes seguem aquelas. Se exprimíssemos mais a nossa fé, mais nos regozijássemos nas bênçãos que sabemos possuir -- a grande misericórdia e o amor de Deus -- teríamos mais fé e maior alegria. Língua alguma pode traduzir, nenhuma mente conceber a bênção que resulta de apreciar a bondade e o amor de Deus. Mesmo na Terra podemos fruir alegria como uma fonte inesgotável, porque se nutre das correntes que emanam do trono de Deus. CBV 253 1 Eduquemos, pois, o coração e os lábios a entoar o louvor de Deus por Seu incomparável amor. Eduquemos a alma a ser esperançosa, e a permanecer na luz que irradia da cruz do Calvário. Nunca devemos nos esquecer de que somos filhos do celeste Rei, filhos e filhas do Senhor dos Exércitos. É nosso privilégio manter um calmo repouso em Deus. CBV 253 2 "E a paz de Deus, ... domine em vossos corações; e sede agradecidos." Colossences 3:15. Esquecendo nossas próprias dificuldades e aflições, louvemos a Deus pela oportunidade de viver para glória de Seu nome. Que as novas bênçãos de cada dia nos despertem no coração louvor por esses testemunhos de Seu amoroso cuidado. Quando abris os olhos pela manhã, dai graças a Deus por vos haver guardado durante a noite. Agradecei-Lhe pela paz que tendes no coração. De manhã, ao meio-dia e à noite, qual suave perfume, ascenda ao Céu a vossa gratidão. CBV 253 3 Quando alguém vos pergunta como vos sentis, não penseis em qualquer coisa triste para contar a fim de atrair simpatia. Não faleis de vossa falta de fé e de vossas aflições e sofrimentos. O tentador se deleita em ouvir palavras assim. Quando falais em assuntos sombrios, estais a glorificá-lo. Não nos devemos demorar no grande poder de Satanás para nos vencer. Entregamo-nos muitas vezes em suas mãos por falar no poder dele. Falemos ao contrário no grande poder de Deus para ligar aos Seus todos os nossos interesses. Falai do incomparável poder de Cristo, e de Sua glória. Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Os anjos de Deus, milhares de milhares, e miríades de miríades, são comissionados a ministrar aos que hão de herdar a salvação. Eles nos guardam do mal, e repelem os poderes das trevas que nos estão procurando destruir. Não temos nós motivo de ser a todo momento agradecidos, mesmo quando existem aparentes dificuldades em nosso caminho? Cantar Louvores CBV 254 1 Que o louvor e ações de graças sejam expressos em cânticos. Quando tentados, em lugar de dar expressão a nossos sentimentos, ergamos pela fé um hino de graças a Deus. CBV 254 2 Louvamos-Te, ó Deus, pelo dom de Jesus, Que por nós, pecadores, foi morto na cruz. CBV 254 3 Coro Aleluia! Toda a glória Te rendemos sem fim. Aleluia! Tua graça imploramos. Amém. CBV 254 4 Louvamos-Te, ó Deus, pelo Espírito, luz Que nos tira das trevas e a Cristo conduz. CBV 254 5 Ó, vem nos encher de celeste fervor, De esperança e bondade, de fé, zelo e amor. CBV 254 6 O canto é uma arma que podemos empregar sempre contra o desânimo. Ao abrirmos assim o coração à luz da presença do Salvador, teremos saúde e Sua bênção. CBV 255 1 "Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, Porque a Sua benignidade é para sempre. Digam-no os remidos do Senhor, Os que remiu da mão do inimigo." Salmos 107:1-2. CBV 255 2 "Cantai-Lhe, cantai-Lhe salmos; Falai de todas as Suas maravilhas. Gloriai-vos no Seu santo nome; Alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor." Salmos 105:2-3. CBV 255 3 "Pois fartou a alma sedenta E encheu de bens a alma faminta, Tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, Presa em aflição e em ferro. Então, clamaram ao Senhor na sua angústia, E Ele os livrou das suas necessidades. Tirou-o das trevas e sombra da morte E quebrou as suas prisões. Louvem ao Senhor pela Sua bondade E pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens." Salmos 107:9, 10, 13-15. CBV 255 4 "Por que estás abatida, ó minha alma, E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, Pois ainda O louvarei. Ele é a salvação da minha face E o meu Deus." Salmos 42:11. CBV 255 5 "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." 1 Tessalonicenses 5:18. Esta ordem é uma certeza de que mesmo as coisas que nos parecem ser adversas contribuirão para o nosso bem. Deus não nos mandaria ser agradecidos por aquilo que nos causasse dano. CBV 255 6 "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; A quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; De quem me recearei?" Salmos 27:1. CBV 255 7 "No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; No oculto do Seu tabernáculo me esconderá. ... Pelo que oferecerei sacrifício de júbilo no Seu tabernáculo; Cantarei, sim, cantarei louvores ao Senhor." Salmos 27:5-6. CBV 256 1 "Esperei com paciência no Senhor, E Ele Se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me de um lago horrível, de um charco de lodo; Pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos; E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus." Salmos 40:1-3. CBV 256 2 "O Senhor é a minha força e o meu escudo; NEle confiou o meu coração, e fui socorrido; Pelo que o meu coração salta de prazer, E com o meu canto O louvarei." Salmos 28:7. CBV 256 3 Um dos mais seguros impedimentos à restauração dos enfermos é o concentrarem a atenção em si mesmos. Muitos inválidos acham que todo o mundo lhes devia mostrar simpatia e dar auxílio, quando o que eles precisam é desviar a atenção de si mesmos e pensar nos outros, e deles cuidar. CBV 256 4 Muitas vezes são solicitadas orações pelos aflitos, os tristes e desanimados, e isso é correto. Devemos rogar que Deus derrame luz na mente obscurecida, e conforte o coração magoado. Mas Deus só atende às orações em favor dos que se colocam no rumo de Suas bênçãos. Ao mesmo tempo que pedimos por esses aflitos, devemos estimulá-los a se esforçar por ajudar aos que se acham mais necessitados que eles. Dissipar-se-ão as trevas de seu próprio coração enquanto buscam auxiliar a outros. Ao buscarmos confortar nosso semelhante com o conforto com que nós mesmos somos confortados, a bênção nos é devolvida. CBV 256 5 O Capítulo 58 de Isaías é uma prescrição tanto para as doenças do corpo como para as da alma. Se desejamos saúde e a verdadeira alegria da vida, devemos pôr em prática as regras dadas nesta escritura. Diz o Senhor quanto ao serviço que Lhe é aceitável e a suas bênçãos: CBV 256 6 "Não é também que repartas o teu pão com o faminto E recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras E não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, E a tua cura apressadamente brotará, E a tua justiça irá adiante da tua face, E a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então, clamarás, e o Senhor te responderá; Gritarás, e Ele dirá: Eis-me aqui; Acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo, O estender do dedo e o falar vaidade; E, se abrires a tua alma ao faminto E fartares a alma aflita, Então, a tua luz nascerá nas trevas, E a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, E fartará a tua alma em lugares secos, E fortificará teus ossos; E serás como um jardim regado E como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:7-11. CBV 257 1 As boas ações são bênçãos duplas, beneficiando tanto o que pratica como o que é objeto da bondade. A consciência de proceder bem é um dos melhores medicamentos para corpos e mentes enfermos. Quando a mente está livre e satisfeita por um sentimento de dever cumprido e o prazer de proporcionar felicidade a outros, a animadora influência traz vida nova a todo o ser. CBV 257 2 Que o inválido, em lugar de exigir constantemente simpatia, procure comunicá-la a outros. Que o fardo de vossa própria fraqueza, dor e aflição seja lançado sobre o compassivo Salvador. Abri o coração ao Seu amor, e deixai que este flua para os outros. Lembrai-vos de que todos têm provações duras de suportar, tentações difíceis de resistir, e está em vossas mãos fazer qualquer coisa para aliviar esses fardos. Exprimi gratidão pelas bênçãos que tendes; mostrai apreciação pelas atenções de que sois objeto. Mantende o coração cheio das preciosas promessas de Deus, a fim de que possais tirar desse tesouro palavras que sejam um conforto e vigor para outros. Isso vos circundará de uma atmosfera que será benéfica e enobrecedora. Seja vossa aspiração beneficiar os que vos rodeiam, e encontrareis sempre ocasião de ser úteis, tanto aos membros de vossa própria família, como aos outros. CBV 258 1 Se os que estão padecendo má saúde esquecessem o próprio eu em seu interesse pelos demais; se cumprissem o mandamento do Senhor de ajudar aos mais necessitados que eles, haveriam de compreender a veracidade da profética promessa: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará." Isaías 58:8. CBV 258 2 Mara e Elim Hoje é Elim com suas palmeiras e fontes, E sombra feliz para a fadiga do deserto. Ontem foi Mara, somente rocha e sal, Solidão sem fim e penosa canseira. Contudo, o mesmo deserto encerra ambas, A mesma brisa sobre ambas sopra; O mesmo vale abriga uma e outra, E as mesmas montanhas as envolvem. Assim é conosco sobre a Terra, e assim, Quanto eu saiba, sempre foi. O amargo e o doce, a dor e a alegria, Jazem lado a lado, à parte apenas um dia. Por vezes Deus converte o amargo em doce, Por vezes nos abriga na concha de Sua mão. Por vezes nos guia a fontes aprazíveis; Por vezes nos traz a um oásis de palmeiras.Que importa? A prova não será longa. De igual modo passam Mara e Elim. Fontes e palmeiras ficam para trás, Chegamos à cidade de nosso Deus enfim. Oh! terra feliz! além destes montes solitários, Onde jorram cantando as fontes eternas. Oh! santo paraíso! Oh! bendita mansão! Onde breve finda nossa peregrinação. (Horácio Bonar -- Tradução livre de J. S. Schwantes) CBV 259 1 Bendita Segurança Que segurança! Sou de Jesus! Eu já desfruto bênçãos da luz! Sei que herdeiro sou de meu Deus; Ele me leva à glória dos Céus! CBV 259 2 Coro Canta, minh'alma! Canta ao Senhor! Rende-Lhe sempre honra e louvor! Canta, minh'alma! Canta ao Senhor! Rende-Lhe sempre honra e louvor! Sendo submisso sempre ao bem, Sinto os enlevos puros do além; Anjos, descendo, trazem do alvor Ecos da graça, bênçãos do amor. Sempre vivendo em Seu grande amor, Me regozijo em meu Salvador; Esperançoso, vivo na luz; Quanta bondade tem meu Jesus! (Fanny J. Crosby) ------------------------Capítulo 19 -- Em contato com a natureza CBV 261 1 O Criador escolheu para nossos primeiros pais o ambiente que mais convinha a sua saúde e felicidade. Não os colocou num palácio, nem os rodeou dos adornos e luxos artificiais que tantos lutam hoje em dia por obter. Pô-los em íntimo contato com a natureza, em estrita comunhão com os santos entes celestiais. CBV 261 2 No jardim que Deus preparou para servir de lar a Seus filhos, graciosos arbustos e flores delicadas saudavam por toda parte o olhar. Havia árvores de toda variedade, muitas delas carregadas de aromáticos e deliciosos frutos. Em seus ramos gorjeavam os pássaros seus cânticos de louvor. À sua sombra, livres de temor, brincavam juntas as criaturas da Terra. CBV 261 3 Adão e Eva, em sua imaculada pureza, deleitavam-se nas cenas e nos sons do Éden. Deus lhes designara o trabalho no jardim -- "... o lavrar e o guardar". Gênesis 2:15. O trabalho de cada dia lhes trazia saúde e contentamento, e o feliz par saudava com alegria as visitas de seu Criador, quando, na viração do dia, andava e falava com eles. Diariamente lhes ensinava Deus Suas lições. CBV 261 4 O plano de vida que o Senhor designara a nossos primeiros pais encerra lições para nós. Embora haja o pecado lançado suas sombras sobre a Terra, Deus deseja que Seus filhos encontrem deleite nas obras de Suas mãos. Quanto mais estritamente for seguido Seu plano de vida, tanto mais maravilhosamente operará Ele para restaurar a sofredora humanidade. O doente necessita ser posto em íntimo contato com a natureza. Uma vida ao ar livre, num ambiente natural, operaria maravilhas em favor de muitos inválidos, quase sem nenhuma esperança. CBV 262 1 O rumor, a confusão e agitação das cidades, sua vida constrangida e artificial, são muito fatigantes e exaustivos para o doente. O ar, carregado de fumaça e pó, de gases venenosos e de germes de doenças, constitui um perigo para a vida. Os doentes se encerram, na maioria dos casos, dentro de quatro paredes, e chegam a sentir-se por assim dizer, prisioneiros em seu quarto. Ao olharem para fora, a vista encontra casas, calçadas, multidões apressadas, sem ter talvez uma nesga do céu azul ou da luz do sol, de relvas verdes, flores ou árvores. Assim trancafiados, cismam em seus sofrimentos e dores, tornando-se presa dos próprios pensamentos tristes. CBV 263 1 E para os que são fracos em poder moral, as cidades enxameiam de perigos. Nelas, os doentes que têm apetites não naturais a vencer se encontram continuamente expostos à tentação. Eles necessitam ser colocados em novos ambientes, onde haja novo rumo à corrente de seus pensamentos; precisam ser postos sob influências inteiramente diversas das que lhes infelicitaram a vida, e por algum tempo afastados de tudo que desvia de Deus, para uma atmosfera mais pura. CBV 263 2 As instituições para o cuidado dos doentes seriam incomparavelmente mais bem-sucedidas se fossem situadas fora das cidades. O quanto possível, todos os que estão procurando recuperar a saúde se devem colocar num ambiente campestre, onde possam fruir os benefícios da vida ao ar livre. A natureza é o médico de Deus. O ar puro, a radiosa luz solar, as flores e árvores, os pomares e vinhas e o exercício ao ar livre nessa atmosfera são salutares e vivificantes. CBV 264 1 Os médicos e enfermeiras devem estimular os pacientes a estar demoradamente ao ar livre. A vida assim é o único remédio de que muitos inválidos necessitam. Possui maravilhoso poder para curar doenças causadas pelas irritações e excessos da vida moderna, vida que enfraquece e destrói as energias do corpo, da mente e da alma. CBV 264 2 Quão aprazíveis, para os enfermos cansados da vida da cidade, do ofuscante clarão das muitas luzes e do ruído das ruas, são o sossego e a liberdade do campo! Com que sofreguidão se volvem eles para as cenas da Natureza! Com que prazer se sentariam fora para fruir a luz solar e respirar o perfume das árvores e das flores! Há vivificantes propriedades no bálsamo do pinheiro, na fragrância do cedro e do abeto, e outras árvores têm também propriedades curadoras. CBV 264 3 Em caso de doença crônica, nada influi mais para o restabelecimento da saúde e felicidade do que viver no meio das atraentes cenas do campo. Aí, os mais enfraquecidos enfermos podem sentar-se ou estar deitados à luz do sol ou à sombra das árvores. Basta-lhes levantar os olhos para verem sobre si a folhagem magnífica. Uma suave sensação de repouso e alívio os envolve quando ouvem o murmúrio da brisa. Os espíritos abatidos revivem. As forças que se esgotavam se refazem. Inconscientemente, o espírito inunda-se de paz, e o pulso febril torna-se mais calmo e regular. À medida que os doentes se fortalecem, vão-se aventurando a dar alguns passos para colher delicadas flores, preciosas mensageiras do amor de Deus à Sua família sofredora neste mundo. CBV 264 4 Devem ser feitos planos a fim de conservar os doentes ao ar livre. Procurai alguma ocupação agradável e fácil para os que podem trabalhar. Fazei-lhes compreender quão agradável e salutar é este trabalho ao ar livre. Entusiasmai-os a encher os pulmões com ar puro. Ensinai-os a respirar fundo e a exercitar os músculos abdominais quando respiram e falam. Eis um hábito que lhes será de valor incalculável. CBV 265 1 O exercício ao ar livre devia ser prescrito como necessidade vital. E para tal exercício nada há melhor do que o cultivo do solo. Dai aos pacientes canteiros a cultivar, ou fazei-os trabalhar no pomar ou na horta. Levando-os assim a deixar seus quartos e a passar o tempo ao ar livre, a cultivar flores ou a fazer algum outro trabalho leve e agradável, sua atenção será afastada de si mesmos e de seus sofrimentos. CBV 265 2 Quanto mais o paciente puder ser conservado ao ar livre, de menos cuidados necessitará. Quanto mais agradável for o ambiente, mais se encherá de ânimo. Encerrado numa casa, embora elegantemente mobiliada, torna-se nervoso e sombrio. Rodeai-o das coisas da Natureza, colocai-o onde possa ver desabrochar as flores e ouvir trinar os pássaros, e então seu coração cantará em uníssono com as canções das aves. O corpo e a alma experimentarão alívio. A inteligência despertará, a imaginação será estimulada, e preparado o espírito para apreciar a beleza da Palavra de Deus. CBV 265 3 Na Natureza os doentes sempre encontram algo com que afastar a atenção de si mesmos e dirigir seus pensamentos para Deus. Rodeados de Suas maravilhosas obras, seu espírito é elevado das coisas visíveis para as invisíveis. A formosura da Natureza leva-os a pensar na pátria celeste, onde nada haverá para comprometer a beleza, corromper ou destruir, nem causar doença ou morte. CBV 266 1 Extraiam os médicos e enfermeiras, das coisas da Natureza, lições que façam conhecer a Deus. Chamem a atenção dos pacientes para Aquele cuja mão fez as majestosas árvores, a relva e as flores, levando-os a descobrir em cada botão e em cada flor uma expressão do amor de Deus pelos Seus filhos. Ele que tem cuidado das árvores e das flores cuidará também dos entes formados à Sua própria imagem. CBV 266 2 Ao ar livre, no meio das coisas que Deus criou, respirando ar puro e sadio, falar-se-á melhor ao doente da vida nova em Cristo. Aí pode ser lida a Palavra de Deus, e a luz da justiça de Cristo brilhar em corações entenebrecidos pelo pecado. CBV 267 1 Oh, se eu pudesse, dia a dia, Mais perto estar de Deus! Quão suave o tempo se escoaria, Cumprindo os mandos Seus! Quero contigo, ó Pai, viver Em vida nova assim, Em Ti achando o meu prazer, Prazer puro e sem fim. Vem, ó Jesus, meu coração De Tua presença encher; Faze-o constante habitação, Regendo assim meu ser. (Benjamim Cleveland) CBV 267 2 É assim que homens e mulheres, necessitados de cura física e espiritual, podem ser postos em contato com aqueles cujas palavras e ações os atrairão para Cristo. Serão colocados sob a influência do grande Médico-Missionário, que pode curar tanto a alma como o corpo. Ouvirão a narrativa do amor do Salvador, do perdão gratuitamente concedido a todos os que dEle se aproximam confessando os pecados. CBV 267 3 Sob tais influências, muito entes sofredores serão guiados para o caminho da vida. Os anjos do Céu cooperam com os instrumentos humanos, trazendo ânimo, esperança, alegria e paz aos corações dos enfermos e aflitos. Nessas condições, os doentes são duplamente abençoados, e muitos encontram a saúde. O passo hesitante retoma sua elasticidade, os olhos recuperam seu brilho. O desesperado adquire nova esperança. O rosto abatido ganha expressão de alegria. Os acentos lamentosos da voz dão lugar a acentos de júbilo e regozijo. CBV 267 4 Recuperando a saúde física, homens e mulheres ficam mais aptos a exercer aquela fé em Cristo que assegura a saúde da alma. Há inexprimível paz, alegria e repouso na consciência dos pecados perdoados. A anuviada esperança do cristão resplandece com um brilho novo. Estas palavras exprimem a sua fé: "Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia". Salmos 46:1. "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam." Salmos 23:4. "Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor." Isaías 40:29. CBV 268 1 A Ti, Senhor, meu Deus, Levanto os olhos meus, Ouve o clamor! Nunca me deixes só, Levanta-me do pó, De mim, Senhor, tem dó, Por Teu amor! Concede ao coração Força e resolução, Zelo sem fim; Seja este fraco amor Por Ti meu Salvador, Meu Rei e Benfeitor, Eterno, sim! Do mundo a vida, aqui, Nem sempre me sorri, Nem satisfaz; Transforma a escuridão! Renove a Tua mão O indigno coração, E dá-me paz! (Ray Palmer) ------------------------Capítulo 20 -- Higiene geral CBV 271 1 O conhecimento de que o homem deve ser um templo para Deus, uma morada para a revelação de Sua glória, deve ser o mais alto incentivo ao cuidado e desenvolvimento de nossas faculdades físicas. Terrível e maravilhosamente tem o Criador operado na estrutura humana, e nos ordena que a estudemos para lhe compreender as necessidades e fazermos nossa parte no preservá-la de dano e contaminação. A Circulação do Sangue CBV 271 2 Para termos boa saúde, é necessário que tenhamos bom sangue; pois este é a corrente da vida. Ele repara os desgastes e nutre o corpo. Quando provido dos devidos elementos de alimentação e purificado e vitalizado pelo contato com o ar puro, leva a cada parte do organismo vida e vigor. Quanto mais perfeita a circulação, tanto melhor se realizará esse trabalho. CBV 271 3 A cada pulsação do coração, o sangue deve fazer, rápida e facilmente, seu caminho a todas as partes do corpo. Sua circulação não deve ser estorvada por vestuários ou cintas apertadas, nem por deficiente agasalho dos membros. Seja o que for que prejudique a circulação, força o sangue a voltar aos órgãos vitais, congestionando-os. Dor de cabeça, tosse, palpitação, ou indigestão, eis muitas vezes os resultados. A Respiração CBV 272 1 Para possuir bom sangue, é preciso respirar bem. Plena e profunda inspiração de ar puro, que encha os pulmões de oxigênio, purifica o sangue. Isso comunica ao mesmo uma cor viva, enviando-o, qual corrente vitalizadora, a todas as partes do corpo. Uma boa respiração acalma os nervos, estimula o apetite e melhora a digestão, o que conduz a um sono profundo e restaurador. CBV 272 2 Deve-se conceder aos pulmões a maior liberdade possível. Sua capacidade se desenvolve pela liberdade de ação; diminui, se eles são constrangidos e comprimidos. Daí os maus efeitos do hábito tão comum, especialmente em trabalhos sedentários, de ficar todo dobrado sobre a tarefa em mão. Nessa postura é impossível respirar profundamente. A respiração superficial torna-se em breve um hábito, e os pulmões perdem a capacidade de expansão. Idêntico efeito é produzido por qualquer constrição. Não se proporciona assim espaço suficiente à parte inferior do peito; os músculos abdominais, destinados a auxiliar na respiração, não desempenham plenamente seu papel, e os pulmões são restringidos em sua ação. CBV 273 1 Assim é recebida uma deficiente provisão de oxigênio. O sangue move-se lentamente. Os resíduos, matéria venenosa que devia ser expelida nas exalações dos pulmões, são retidos, e o sangue se torna impuro. Não somente os pulmões, mas o estômago, o fígado e o cérebro são afetados. A pele torna-se pálida, é retardada a digestão; o coração fica deprimido; o cérebro nublado; confusos os pensamentos; baixam sombras sobre o espírito; todo o organismo se torna deprimido e inativo, e especialmente suscetível à doença. CBV 274 1 Os pulmões estão de contínuo expelindo impurezas, e necessitam ser constantemente abastecidos de ar puro. O ar contaminado não proporciona a necessária provisão de oxigênio, e o sangue passa ao cérebro e aos outros órgãos sem o elemento vitalizador. Daí a necessidade de perfeita ventilação. Viver em aposentos fechados, mal arejados, onde o ar é sem vida e viciado, enfraquece todo o organismo. Este se torna particularmente sensível à influência do frio, e uma leve exposição leva à doença. É o viver muito fechadas, dentro de casa, que faz muitas mulheres pálidas e fracas. Respiram o mesmo ar repetidamente, até que ele se carrega de venenosos elementos expelidos pelos pulmões e os poros; e assim as impurezas são novamente levadas ao sangue. Ventilação e Luz Solar CBV 274 2 Na construção de edifícios, seja para fins públicos seja para morada, devia-se tomar cuidado de providenciar quanto à boa ventilação e abundância de luz. As igrejas e salas de aula são muitas vezes deficientes a esse respeito. A negligência da ventilação apropriada é responsável por muita morosidade e sonolência que destrói o efeito de muitos sermões e torna fatigante e ineficaz o trabalho do professor. CBV 274 3 O quanto possível, os prédios destinados a servir de morada devem ser situados em terreno alto e enxuto. Isso garantirá um lugar seco, prevenindo o perigo de doenças contraídas pela umidade e a podridão. Esse assunto é com demasiada frequência considerado muito levemente. Saúde frágil, doenças sérias e muitas mortes são o resultado da umidade e da podridão de lugares baixos e com deficiente escoamento. CBV 274 4 Na construção de casas é de especial importância assegurar perfeita ventilação e abundância de sol. Haja uma corrente de ar e quantidade de luz em cada aposento da casa. Os quartos de dormir devem ser colocados de maneira a terem ampla circulação de ar noite e dia. Nenhum aposento é apropriado para servir de dormitório, a menos que possa ser completamente aberto todos os dias ao ar e ao sol. Em muitos países, os quartos de dormir precisam ser aparelhados com aquecimento, para que fiquem completamente aquecidos e secos no tempo frio ou úmido. CBV 275 1 O quarto dos hóspedes deve merecer cuidados iguais aos que se destinam a uso constante. Como os demais dormitórios, deve receber ar e sol, e ser aparelhado com meios de aquecimento, a fim de secar a umidade que geralmente se acumula num aposento que não é sempre usado. Quem quer que durma num quarto não banhado por sol, ou ocupe uma cama que não seja bem seca e arejada, o faz com risco da saúde, e muitas vezes da própria vida. CBV 275 2 Ao construir sua casa, muitos tomam cuidadosas providências quanto às plantas e flores. A estufa ou a janela dedicada às mesmas é quente e ensolarada; pois sem calor, ar e sol, as plantas não poderiam existir e florescer. Se essas condições são necessárias à vida das plantas, quão mais necessárias são à nossa saúde e à de nossa família e hóspedes! CBV 275 3 Se queremos que nosso lar seja a morada da saúde e da felicidade, devemos colocá-lo acima da poluição e neblinas das baixadas, dando livre entrada aos celestes elementos de vida. Dispensai as pesadas cortinas, abri as janelas e persianas, não permitais que trepadeiras, por mais belas que sejam, vos ensombrem as janelas, nem que nenhuma árvore fique tão próxima da casa que impeça a luz do sol de nela penetrar. Talvez essa luz desbote as cortinas e os tapetes, e manche os quadros; dará, porém, saudável vivacidade aos rostos das crianças. CBV 275 4 Os que têm de atender a pessoas idosas devem lembrar que estas, especialmente, precisam de quartos quentes, confortáveis. O vigor declina à medida que avança a idade, deixando menos vitalidade para resistir às influências insalubres; daí a maior necessidade dos velhos, quanto a abundância de luz solar e de ar renovado e puro. CBV 276 1 O escrupuloso asseio é indispensável tanto à saúde física como à mental. Impurezas são constantemente expelidas do corpo por meio da pele. Seus milhões de poros logo ficam obstruídos, a menos que se mantenham limpos mediante banhos frequentes, e as impurezas que deviam sair pela pele se tornam mais uma sobrecarga aos outros órgãos eliminadores. CBV 276 2 Muitas pessoas tirariam proveito de um banho frio ou tépido cada dia, pela manhã ou à noite. Em vez de tornar mais sujeito a resfriados, um banho devidamente tomado fortalece contra os mesmos, porque melhora a circulação; o sangue é levado à superfície, conseguindo-se que ele aflua mais fácil e regularmente às várias partes do organismo. A mente e o corpo são igualmente revigorados. Os músculos tornam-se mais flexíveis, mais vivo o intelecto. O banho é um calmante dos nervos. Ajuda os intestinos, o estômago e o fígado, dando saúde e energia a cada um, o que promove a digestão. CBV 276 3 Também é importante que a roupa esteja sempre limpa. O vestuário usado absorve os resíduos expelidos pelos poros; não sendo frequentemente mudado e lavado, serão as impurezas reabsorvidas. CBV 276 4 Toda forma de desasseio tende à enfermidade. Germes produtores de morte pululam nos recantos escuros e negligenciados, em apodrecidos detritos, na umidade, no mofo e bolor. Nada de verduras deterioradas ou montes de folhas secas se deve permitir que permaneça próximo de casa, poluindo e envenenando o ar. Coisa alguma suja ou estragada se deve tolerar dentro de casa. Em vilas e cidades consideradas perfeitamente salubres, tem-se verificado que muita epidemia de febre se tem originado de matéria em decomposição existente em redor da residência de algum negligente chefe de família. CBV 276 5 Perfeito asseio, quantidade de sol, cuidadosa atenção às condições sanitárias em todos os detalhes da vida doméstica são essenciais à prevenção das doenças e ao contentamento e vigor dos habitantes do lar. ------------------------Capítulo 21 -- Higiene entre os Israelitas CBV 277 1 Nos ensinos dados por Deus a Israel, foi dispensada cuidadosa atenção à conservação da saúde. O povo que tinha saído da servidão, com os hábitos desasseados e nocivos que ela facilita, foram sujeitos ao mais rigoroso preparo no deserto, antes de entrar em Canaã. Foram-lhes ensinados princípios de saúde e impostas leis sanitárias. A Prevenção da Doença CBV 277 2 Não somente em seu culto, mas em todos os assuntos da vida diária, era observada a distinção entre o limpo e o imundo. Todos quantos eram de algum modo postos em contato com doenças contagiosas ou contaminadoras, eram isolados do acampamento, não lhes sendo permitido voltar ali sem completa purificação tanto do corpo como das vestes. CBV 277 3 No caso de uma pessoa atacada de uma doença contagiosa, eram dadas as seguintes instruções: "Toda cama em que se deitar... será imunda; e toda coisa sobre o que se assentar será imunda. E qualquer que tocar a sua cama lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E aquele que se assentar sobre aquilo em que se assentou... lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E aquele que tocar a carne ... lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E qualquer que tocar em alguma coisa que estiver debaixo dele será imundo até à tarde; e aquele que a levar lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. Também todo aquele em quem [ele] tocar... sem haver lavado as suas mãos com água, lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E o vaso de barro em que tocar... será quebrado; porém todo vaso de madeira será lavado com água." Levítico 15:4-7-12. CBV 278 1 A lei relativa à lepra também demonstra o rigor com que esses regulamentos deviam ser impostos: "Todos os dias em que a praga estiver nele [no leproso], será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será fora do arraial. Quando também em alguma veste houver praga de lepra, ou em veste de lã, ou em veste de linho, ou no fio urdido, ou no fio tecido, seja de linho, ou seja de lã, ou em pele, ou em qualquer obra de peles, ... o sacerdote examinará a praga. ... Se a praga se houver estendido na veste, ou no fio urdido, ou no fio tecido, ou na pele, para qualquer obra que for feita da pele, lepra roedora é; imundo está. Pelo que se queimará aquela veste, ou fio urdido, ou fio tecido de lã, ou de linho, ou de qualquer obra de peles, em que houver a praga, porque lepra roedora é; com fogo se queimará." Levítico 13:46-48, 50-52. CBV 278 2 Da mesma maneira, se uma casa apresentava indícios de condições que não a tornavam garantida para habitação, era destruída. O sacerdote devia derribar "a casa, as suas pedras, e a sua madeira, como também todo o barro da casa; e se levará tudo para fora da cidade, a um lugar imundo. E o que entrar naquela casa, em qualquer dia em que estiver fechada, será imundo até à tarde. Também o que se deitar a dormir em tal casa lavará as suas vestes; e o que comer em tal casa lavará as suas vestes". Levítico 14:45-47. Asseio CBV 279 1 A necessidade do asseio pessoal foi ensinada da maneira mais impressiva. Antes de se reunirem no Monte Sinai para ouvir a proclamação da lei pela voz de Deus, foi exigido do povo que se lavassem a si mesmos, e a suas roupas. Esta recomendação foi imposta sob pena de morte. Nenhuma impureza devia ser tolerada diante de Deus. CBV 279 2 Durante a estada no deserto, os israelitas se achavam quase continuamente ao ar livre, onde as impurezas teriam efeito menos nocivo do que nos que vivem em casas fechadas. Mas era requerido o mais estrito asseio, tanto dentro como fora de suas tendas. Nenhum lixo devia ficar dentro ou em volta do acampamento. O Senhor disse: "O Senhor, teu Deus, anda no meio do teu arraial, para te livrar e entregar os teus inimigos diante de ti; pelo que o teu arraial será santo." Deuteronômio 23:14. Regime CBV 280 1 A distinção entre o limpo e o imundo era feita em todos os assuntos de regime alimentar: "Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos. Fareis, pois, diferença entre os animais limpos e imundos e entre as aves imundas e as limpas; e a vossa alma não fareis abominável por causa dos animais, ou das aves, ou de tudo o que se arrasta sobre a terra, as quais coisas apartei de vós, para tê-las por imundas." Levítico 20:24-25. CBV 280 2 Muitos dos artigos de alimentação livremente comidos pelos pagãos que os rodeavam eram proibidos aos israelitas. Não era feita qualquer distinção arbitrária. As coisas proibidas eram nocivas. E o fato de serem declaradas imundas ensinava a lição de que as comidas prejudiciais são contaminadoras. Aquilo que corrompe o corpo tende a contaminar a alma. Incapacita o que o usa para a comunhão com Deus, torna-o inapto para serviço elevado e santo. CBV 280 3 Na Terra Prometida, a disciplina começada no deserto continuou sob circunstâncias favoráveis à formação de bons hábitos. O povo não se aglomerava nas cidades, porém cada família possuía sua própria terra, garantindo a todos as saudáveis bênçãos da vida natural, não pervertida. CBV 280 4 Quanto aos costumes cruéis, licenciosos dos cananeus que foram desapossados pelos israelitas, disse o Senhor: "E não andeis nos estatutos da gente que Eu lanço fora diante da vossa face, porque fizeram todas estas coisas; portanto, fui enfadado deles." Levítico 20:23. "Não meterás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim como ela." Deuteronômio 7:26. CBV 281 1 Em todos os assuntos da vida diária, aos israelitas era ensinada a lição salientada pelo Espírito Santo: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." 1 Coríntios 3:16-17. Regozijo CBV 281 2 "O coração alegre serve de bom remédio." Provérbios 17:22. Gratidão, regozijo, benignidade, confiança no amor e no cuidado de Deus -- eis as maiores salvaguardas da saúde. Elas deviam ser, para os israelitas, as notas predominantes da vida. CBV 281 3 A viagem feita três vezes por ano para as festas anuais em Jerusalém e a estada de sete dias em cabanas, durante a festa dos tabernáculos, eram oportunidades para recreação ao ar livre e vida social. Essas festas eram ocasiões de regozijo, tornando-se mais doces e ternas pelo hospitaleiro acolhimento dispensado aos estrangeiros, aos levitas e aos pobres. CBV 281 4 "E te alegrarás por todo o bem que o Senhor, teu Deus, te tem dado a ti e a tua casa, tu, e o levita, e o estrangeiro que está no meio de ti." Deuteronômio 26:11. CBV 281 5 Assim, nos anos posteriores quando a Lei de Deus foi lida em Jerusalém aos cativos que voltaram de Babilônia, e o povo chorava por causa de suas transgressões, foram proferidas as graciosas palavras: "Não vos lamenteis. ... Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força." Neemias 8:9-10. CBV 282 1 E foi publicado e anunciado "por todas as suas cidades e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte e trazei ramos de oliveiras, e ramos de zambujeiros, e ramos de murtas, e ramos de palmeiras, e ramos de árvores espessas, para fazer cabanas, como está escrito. Saiu, pois, o povo, e de tudo trouxeram, e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço, e nos seus pátios, e nos átrios da casa de Deus, e na praça da Porta das Águas, e na praça da Porta de Efraim. E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas e habitou nas cabanas; ... e houve mui grande alegria." Neemias 8:15-17. CBV 283 1 Deus deu a Israel instruções em todos os princípios essenciais à saúde física, bem como à moral, e foi com relação a esses princípios, da mesma maneira que aos da lei moral, que Ele lhes ordenou: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas." Deuteronômio 6:6-9. CBV 283 2 "Quando teu filho te perguntar, pelo tempo adiante, dizendo: Quais são os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: ... o Senhor nos ordenou que fizéssemos todos estes estatutos, para temer ao Senhor, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje." Deuteronômio 6:20, 21 e 24. CBV 283 3 Houvessem os israelitas obedecido às instruções recebidas, e aproveitado suas vantagens, e teriam sido para o mundo uma lição objetiva de saúde e prosperidade. Se, como um povo, houvessem vivido em harmonia com o plano de Deus, teriam sido preservados das doenças que afligiam outras nações. Haveriam, mais que qualquer outro povo, possuído resistência física e vigor intelectual. Teriam sido a mais poderosa nação da Terra. Deus disse: "Bendito serás mais do que todos os povos." Deuteronômio 7:14. CBV 283 4 "E o Senhor, hoje, te fez dizer que Lhe serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao Senhor, teu Deus, como tem dito." Deuteronômio 26:18-19. CBV 284 1 "E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do Senhor, vosso Deus: Bendito serás tu na cidade e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais, e a criação das tuas vacas, e os rebanhos das tuas ovelhas. Bendito o teu cesto e a tua amassadeira. Bendito serás ao entrares e bendito serás ao saíres." Deuteronômio 28:2-6. CBV 284 2 "O Senhor mandará que a bênção esteja contigo nos teus celeiros e em tudo que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o Senhor, teu Deus. O Senhor te confirmará para Si por povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andares nos Seus caminhos. E todos os povos da Terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e terão temor de ti. E o Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto da tua terra, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o Seu bom tesouro, o Céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo e para abençoar toda a obra das tuas mãos. ... E o Senhor te porá por cabeça e não por cauda; e só estarás em cima e não debaixo, quando obedeceres aos mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e fazer." Deuteronômio 28:8-13. CBV 285 1 A Arão, o sumo sacerdote, e as seus filhos, foram dadas as orientações: CBV 285 2 "Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes: O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti E tenha misericórdia de ti; O Senhor sobre ti levante o Seu rosto E te dê a paz. Assim, porão o Meu nome sobre os filhos de Israel, E eu os abençoarei." Números 6:23-27. CBV 285 3 "A tua força será como os teus dias. Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus, Que cavalga sobre os céus para a tua ajuda E, com a Sua alteza, sobre as mais altas nuvens! O Deus eterno te seja por habitação, E por baixo de ti os braços eternos. ... Israel, pois, habitará só e seguro, Na terra da fonte de Jacó, Na terra de cereal e de mosto; E os seus céus gotejarão orvalho. Bem-aventurado és tu, ó Israel! Quem é como tu, um povo salvo pelo Senhor, O escudo do teu socorro e a espada da tua alteza?" Deuteronômio 33:25-29. CBV 285 4 Os israelitas falharam no cumprimento do desígnio de Deus, deixando assim de receber as bênçãos que lhes teriam pertencido. Mas em José e Daniel, em Moisés e Eliseu, e em muitos outros, temos nobres exemplos dos resultados do verdadeiro plano de vida. Idêntica fidelidade hoje produzirá os mesmos frutos. Quanto a nós está escrito: CBV 286 1 "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. CBV 286 2 "Bendito o varão que confia no Senhor, E cuja esperança é o Senhor." Jeremias 17:7. CBV 286 3 Ele "florescerá como a palmeira; Crescerá como o cedro no Líbano. Os que estão plantados na Casa do Senhor Florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; Serão viçosos e florescentes." Salmos 92:12-14. CBV 286 4 "O teu coração guarde os Meus Mandamentos. Porque eles aumentarão os teus dias E te acrescentarão anos de vida e paz." Provérbios 3:1-2. CBV 286 5 "Então, andarás com confiança no teu caminho, E não tropeçará o teu pé. Quando te deitares, não temerás; Sim, tu te deitarás, e o teu sono será suave. Não temas o pavor repentino, Nem a assolação dos ímpios quando vier. Porque o Senhor será a tua esperança E guardará os teus pés de serem presos." Provérbios 3:23-26. ------------------------Capítulo 22 -- Vestuário CBV 287 1 A Bíblia ensina modéstia no vestuário. "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto." 1 Timóteo 2:9. Isto proíbe ostentação nos vestidos, cores berrantes, profusa ornamentação. Tudo que tenha o objetivo de chamar a atenção para a pessoa, ou provocar admiração, está excluído do traje modesto recomendado pela Palavra de Deus. CBV 287 2 Nosso vestuário não deve ser dispendioso -- não "com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos". 1 Timóteo 2:9. CBV 287 3 O dinheiro é um legado de Deus. Não nos pertence para gastá-lo na satisfação do orgulho ou da ambição. Nas mãos dos filhos de Deus é alimento para o faminto e roupas para o nu. É uma defesa para o oprimido, um meio de restituir a saúde ao enfermo, ou de pregar o evangelho ao pobre. Poderíeis levar felicidade a muitos corações mediante o sábio emprego dos recursos agora usados para exibição. Considerai a vida de Cristo. Estudai-Lhe o caráter, e sede participantes de Seu espírito de renúncia. CBV 287 4 No professo mundo cristão gasta-se com jóias e vestidos desnecessariamente caros o que seria suficiente para alimentar todos os famintos e vestir todos os nus. A moda e a ostentação absorvem os meios que poderiam confortar os pobres e sofredores. Roubam ao mundo o evangelho do amor do Salvador. Definham as Missões. Multidões perecem por falta de ensino cristão. Ao pé de nossa porta e em terras estrangeiras, estão pagãos por instruir e salvar. Quando Deus carregou a terra de Suas bênçãos, e encheu os celeiros dos confortos da vida; quando nos tem tão abundantemente dado um salvador conhecimento de Sua verdade, que desculpa teremos nós de permitir que ascendam aos Céus os clamores das viúvas e dos órfãos, dos doentes e sofredores, dos ignorantes e perdidos? No dia de Deus, quando levados face a face com Aquele que deu a vida por esses necessitados, que desculpa terão os que estão a gastar tempo e dinheiro em satisfações que Deus proíbe? A tais pessoas não dirá Cristo: "Tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; ... estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes"? Mateus 25:42-43. CBV 288 1 Mas nossas roupas, conquanto modestas e simples, devem ser de boa qualidade, de cores próprias, e adequadas ao uso. Devem ser escolhidas mais com vistas à durabilidade do que à aparência. Devem proporcionar agasalho e a devida proteção. A mulher prudente descrita nos Provérbios "não temerá por causa da neve, porque toda a sua casa anda forrada de roupa dobrada". Provérbios 31:21. CBV 288 2 Nosso vestuário deve ser asseado. O desasseio neste sentido é nocivo à saúde, e portanto contaminador para o corpo e a alma. "Sois o templo de Deus. ... Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá." 1 Coríntios 3:16-17. CBV 288 3 Em todos os aspectos as roupas devem contribuir para a saúde. Acima de tudo Deus quer que tenhamos saúde (3 João 1:2) -- saúde de corpo e de alma. E devemos ser coobreiros Seus tanto para a saúde de um como da outra. Ambas são promovidas pelo vestuário saudável. CBV 289 1 Ele deve possuir a graça, a beleza, a conveniência da simplicidade natural. Cristo nos advertiu contra o orgulho da vida, mas não contra sua graça e beleza naturais. Apontou às flores do campo, aos lírios desabrochando em sua pureza, e disse: "Nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:29. Assim, pelas coisas da Natureza, Cristo ilustra a beleza apreciada pelo Céu, a graça modesta, a simplicidade, a pureza, a propriedade que Lhe tornariam aprazível nossa maneira de vestir. CBV 289 2 Ele nos manda que usemos o mais belo vestido na alma. Nenhum adorno exterior se pode comparar em valor ou encanto àquele "espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. CBV 289 3 Para os que fazem dos princípios do Salvador a sua guia, quão preciosas são Suas palavras de promessa: "E quanto ao vestuário, por que andais solícitos? ... Se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós? ... Não andeis, pois, inquietos, dizendo: ... Com que nos vestiremos? ... Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:28, 30-33. CBV 289 4 "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti." Isaías 26:3. CBV 289 5 Que contraste oferece isto com a fadiga, o desassossego, a enfermidade e miséria que resultam do domínio da moda! Quão contrários aos princípios dados nas Escrituras são muitos dos modelos de roupa prescritos por ela! Pensai nos feitios que têm dominado nos últimos cem anos, ou mesmo nas últimas décadas. Quantos deles, quando não em moda, seriam declarados imodestos; quantos julgados inadequados para uma senhora distinta, temente a Deus, e que se preza! CBV 290 1 O fazer mudanças no vestuário só por amor da moda não é aprovado pela Palavra de Deus. Modelos sempre variáveis e complicados, custosos adornos, esbanjam o tempo e o dinheiro dos ricos, estragando-lhes as energias da mente e da alma. Impõem às classes médias e mais pobres um pesado jugo. Muitos dos que mal podem ganhar a subsistência e, com modas simples, seriam capazes de fazer os próprios vestidos, são forçados a recorrer à costureira a fim de se vestir segundo à moda. Muita moça pobre, para ter um vestido de estilo, tem-se privado de agasalhadora roupa interna, pagando com a própria vida. Muitas outras, cobiçando a exibição e a elegância dos ricos, têm sido incitadas a caminhos desonestos e à vergonha. Muitos lares se têm privado de conforto, muitos homens têm sido arrastados à fraude ou à bancarrota, para satisfazer às extravagantes exigências da mulher e das filhas. CBV 290 2 Muita mulher, forçada a fazer para si mesma ou para os filhos, as extravagantes roupas demandadas pela moda, vê-se condenada a incessante labuta. Muita mãe, com nervos tensos e trêmulos dedos, trabalha arduamente noite a dentro para ajuntar ao vestuário de seus filhos enfeites que nada contribuem para a saúde, o conforto ou a verdadeira beleza. Por amor da moda, ela sacrifica a saúde e a calma do espírito tão essenciais à conveniente direção de seus filhos. É negligenciada a cultura da mente e do coração. A alma fica atrofiada. CBV 291 1 A mãe não tem tempo para estudar os princípios do desenvolvimento físico, de modo a saber cuidar da saúde dos filhos. Não tem tempo de ministrar-lhes às necessidades da mente e do espírito, nem para manifestar terna simpatia para com eles em suas pequenas decepções e provas, ou partilhar de seus interesses e empreendimentos. CBV 291 2 Por assim dizer, logo que entram no mundo acham-se as crianças sujeitas à influência da moda. Ouvem mais de vestidos do que do Salvador. Vêem as mães consultando os figurinos com mais diligência do que a Bíblia. A exibição de vestidos é tratada como sendo mais importante que o desenvolvimento do caráter. Pais e filhos são privados daquilo que é melhor, mais doce e mais verdadeiro na vida. Por amor da moda, são roubados da preparação para a vida por vir. CBV 291 3 Foi o adversário de todo o bem que instigou à invenção das sempre mutáveis modas. Coisa alguma deseja ele tanto como ocasionar a Deus pesar e desonra mediante a miséria e a ruína dos seres humanos. Um dos meios por que ele o consegue mais eficazmente são as invenções da moda, que enfraquecem o corpo da mesma maneira que debilitam a mente e amesquinham a alma. CBV 291 4 As mulheres são sujeitas a sérias enfermidades, e seus sofrimentos são grandemente aumentados por sua maneira de vestir. Em lugar de conservar a saúde para as emergências que certamente hão de vir, elas, por seus hábitos errôneos, sacrificam, muitas vezes, não somente a saúde, mas a vida, deixando a seus filhos um legado de sofrimento numa constituição arruinada, em hábitos pervertidos e numa falsa idéia da vida. CBV 291 5 Uma das invenções extravagantes e nocivas da moda são as saias que varrem o chão. Desasseadas, desconfortáveis, inconvenientes, anti-higiênicas -- tudo isso e mais ainda se verifica quanto às saias que arrastam. São extravagantes, tanto pelo desperdício de material exigido como pelo desnecessário gasto, devido ao comprimento. E quem quer que tenha visto uma senhora com uma saia de cauda, mãos cheias de embrulhos, tentando subir ou descer uma escada, entrar num bonde, atravessar uma multidão, andar na chuva ou num enlameado caminho, não necessita outras provas de sua inconveniência e incômodo. CBV 292 1 Outro sério dano é o usar saias de modo que seu peso recaia sobre os quadris. Esse excesso de peso, fazendo-se sentir sobre os órgãos internos, puxa-os para baixo, causando fraqueza do estômago, e uma sensação de lassitude, fazendo com que a pessoa que a traz se incline, o que mais ainda comprime os pulmões, tornando mais difícil a respiração correta. CBV 292 2 Nos últimos anos, tem-se discutido tanto os perigos resultantes da compressão da cintura, que poucas pessoas os podem ignorar; todavia, tão grande é o poder da moda, que o mal continua. Por essa prática estão as senhoras e moças trazendo sobre si indizível dano. É essencial à saúde que o peito tenha margem para expandir-se à sua máxima plenitude, a fim de os pulmões poderem inspirar amplamente. Quando os pulmões são restringidos, é diminuída a quantidade de oxigênio que recebem. O sangue não é devidamente vivificado, e são retidos os resíduos, matéria venenosa que devia ser expelida pelos pulmões. Além disso, a circulação é dificultada; e os órgãos internos são por tal forma apertados e impelidos para fora do lugar que não podem realizar devidamente o seu trabalho. CBV 292 3 Espartilhos apertados não melhoram a forma do corpo. Um dos principais elementos da beleza física é a simetria, a harmônica proporção de suas várias partes. E o modelo correto quanto ao desenvolvimento físico se pode encontrar não nos modelos exibidos pelos modistas franceses, mas no corpo humano desenvolvido segundo as leis de Deus na Natureza. Ele é o autor de toda a beleza, e, unicamente ao nos conformarmos com Seus ideais havemos de aproximar-nos da verdadeira norma de beleza. CBV 293 1 Outro mal fomentado pelo uso é a desigual distribuição do vestuário, de modo que, enquanto algumas partes do corpo estão mais agasalhadas do que precisam, outras se acham insuficientemente vestidas. Os pés e os membros, estando afastados dos órgãos vitais, devem ser especialmente protegidos do frio por suficiente roupa. É impossível desfrutar saúde quando as extremidades estão habitualmente frias; pois, se há pouco sangue nelas, terá de haver em excesso noutras partes do corpo. Saúde perfeita requer perfeita circulação; isso, porém, não se pode ter quando três ou quatro vezes mais agasalho é usado sobre o corpo, onde se encontram os órgãos vitais, do que nos membros. CBV 293 2 Multidões de mulheres são nervosas e cheias de preocupações porque se privam do ar puro que lhes proporcionaria um sangue puro, e da liberdade de movimentos que impeliria o mesmo através das veias, dando-lhes vida, saúde e energia. Muitas mulheres têm se tornado inválidas confirmadas, quando poderiam haver fruído boa saúde, e muitas têm morrido de tuberculose e outras doenças, quando lhes teria sido possível viver o determinado termo da vida, houvessem elas se vestido de acordo com os princípios da saúde, fazendo abundante exercício ao ar livre. CBV 293 3 A fim de prover-se do mais saudável vestuário, é preciso estudar cuidadosamente as necessidades de cada parte do corpo. O clima, o ambiente, as condições da saúde, a idade e as ocupações, tudo deve ser considerado. Cada peça de vestuário deve ser facilmente ajustada, não obstruindo nem a circulação do sangue, nem a livre, plena e natural respiração. Cada peça deve ser tão ampla que, ao erguer os braços, a roupa se erga correspondentemente. CBV 293 4 As senhoras de saúde precária podem fazer muito em benefício próprio, vestindo-se e exercitando-se adequadamente. Quando vestidas de maneira correta a desfrutar o ar livre, façam elas aí exercício, a princípio com cautela, mas em progressiva quantidade, à medida que o puderem suportar. Assim fazendo, muitas poderiam recuperar a saúde, e viver de modo a desempenhar a sua parte na tarefa do mundo. Independente da Moda CBV 294 1 Em vez de tentarem cumprir as exigências da moda, tenham as mulheres a força moral de se vestirem saudável e singelamente. Em lugar de se entregar a uma verdadeira labuta, procure a esposa e mãe encontrar tempo para ler, para se manter bem informada, para ser uma companheira de seu marido, e se conservar em contato com a mente em desenvolvimento de seus filhos. Empregue ela sabiamente as oportunidades que tem agora de influenciar os seus queridos para aquela vida mais elevada. Tome tempo para tornar o querido Salvador um companheiro diário, um amigo familiar. Consagre tempo ao estudo de Sua Palavra, para levar as crianças aos campos, e aprender a conhecer a Deus mediante a beleza de Suas obras. CBV 294 2 Mantenha-se ela animada e alegre. Em vez de passar todos os momentos num costurar sem fim, faça do serão um aprazível período social, uma reunião de família depois dos deveres do dia. Muito homem seria assim levado a preferir o convívio de seu lar, em vez de o clube e os bares. Muito menino seria guardado contra a rua e o bar da esquina. Muita menina seria salva de associações frívolas, que não levam a bom caminho. A influência do lar seria, tanto para os pais como para os filhos, aquilo que era o desígnio de Deus que fosse: uma bênção que se estendesse por toda a vida. ------------------------Capítulo 23 -- O regime alimentar e a saúde CBV 295 1 Nosso corpo é formado pela comida que ingerimos. Há constante desgaste dos tecidos do corpo; todo movimento de qualquer órgão implica um desgaste, o qual é reparado por meio do alimento. Cada órgão do corpo requer sua parte de nutrição. O cérebro deve ser abastecido com sua porção; os ossos, os músculos e os nervos requerem a sua. Maravilhoso é o processo que transforma a comida em sangue, e se serve deste sangue para restaurar as várias partes do organismo; mas esse processo está prosseguindo continuamente, suprindo a vida e a força a cada nervo, cada músculo e tecido. Escolha de Alimento CBV 295 2 Deve-se escolher o alimento que melhor proveja os elementos necessitados para a edificação do organismo. Nessa escolha, o apetite não é um guia seguro. Mediante hábitos errôneos de comer, o apetite se tornou pervertido. Muitas vezes exige alimento que prejudica a saúde e a enfraquece em lugar de fortalecê-la. Não nos podemos guiar com segurança pelos hábitos da sociedade. A doença e o sofrimento que por toda parte dominam são em grande parte devidos a erros populares com referência ao regime alimentar. CBV 295 3 A fim de saber quais são os melhores alimentos, cumpre-nos estudar o plano original de Deus para o regime do homem. Aquele que criou o homem e lhe compreende as necessidades designou a Adão o que devia comer: "Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente... e toda árvore em que há fruto de árvore que dá semente; ser-vos-ão para mantimento." Gênesis 1:29. Ao deixar o Éden para ganhar a subsistência lavrando a terra sob a maldição do pecado, o homem recebeu também permissão para comer a "erva do campo". Gênesis 3:18. CBV 296 1 Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime dietético escolhido por nosso Criador. Esses alimentos, preparados da maneira mais simples e natural possível, são os mais saudáveis e nutritivos. Proporcionam uma força, uma resistência e vigor intelectual que não são promovidos por uma alimentação mais complexa e estimulante. CBV 296 2 Mas nem todas as comidas saudáveis em si mesmas são igualmente adequadas a nossas necessidades em todas as circunstâncias. Deve haver cuidado na seleção do alimento. Nossa comida deve ser de acordo com a estação, o clima em que vivemos e a ocupação em que nos empregamos. Certas comidas apropriadas para uma estação ou um clima, não o são para outro. Assim, há diferentes comidas mais adequadas às pessoas segundo as várias ocupações. Muitas vezes, alimentos que podem ser usados com proveito por pessoas que se empenham em árduo labor físico não são próprios para as de trabalho sedentário, ou de intensa aplicação mental. Deus nos tem dado ampla variedade de comidas saudáveis, e cada pessoa deve escolher dentre elas aquelas que a experiência e o bom senso demonstram ser as mais convenientes às suas próprias necessidades. CBV 297 1 As abundantes provisões de frutas, nozes e cereais da Natureza são amplas; e de ano para ano os produtos de todas as terras são mais amplamente distribuídos por todos, devido às facilidades de transporte. Em resultado, muitos artigos de alimentação que, poucos anos atrás, eram considerados como luxos caros encontram-se agora ao alcance de todos, como gêneros diários. Este é especialmente o caso com frutas secas e em conservas. CBV 298 1 As nozes e as receitas com elas preparadas estão-se tornando largamente usadas, substituindo os pratos de carne. Com as nozes se podem combinar cereais, frutas e alguns tubérculos, preparando pratos saudáveis e nutritivos. Deve-se cuidar, no entanto, em não usar grande proporção de nozes. Os que percebem os maus efeitos do uso das nozes talvez consigam afastar o mal mediante essa precaução. Convém lembrar, também, que algumas qualidades de nozes não são tão saudáveis como outras. As amêndoas são preferíveis aos amendoins, mas estes, em limitadas porções, usados conjuntamente com cereais, são nutritivos e digeríveis. CBV 298 2 Quando devidamente preparadas, as azeitonas, como as nozes, substituem a manteiga e as comidas de carne. O azeite, comido na oliva, é muito preferível à gordura animal. Atua como laxativo. Seu uso se verificará benéfico aos tuberculosos, sendo também medicinal para um estômago inflamado, irritado. CBV 298 3 As pessoas que se têm habituado a um regime muito condimentado, altamente estimulante, têm um gosto não natural, e logo não podem apreciar o alimento simples. Levará tempo até que o gosto se torne natural, e o estômago se recupere do abuso sofrido. Mas os que perseveram no uso do alimento saudável, depois de algum tempo o acharão agradável ao paladar. Seu delicado e delicioso sabor será apreciado, e será ingerido com maior satisfação do que se pode encontrar em nocivas iguarias. E o estômago, numa condição saudável, não estimulado nem sobrecarregado, está apto a se desempenhar mais facilmente de sua tarefa. CBV 299 1 A fim de manter a saúde, é necessária suficiente provisão de alimento bom e nutritivo. Se planejarmos sabiamente, os artigos promovem a boa saúde podem ser obtidos em quase todas as terras. Os vários artigos preparados de arroz, trigo, milho e aveia são enviados para toda parte, bem como feijões, ervilhas e lentilhas. Estes, juntamente com as frutas nacionais ou importadas, e a quantidade de verduras que dão em todas as localidades, oferecem oportunidade de escolher um regime dietético completo, sem o uso de alimentos cárneos. CBV 299 2 Onde quer que haja frutas em abundância, deve-se preparar farta provisão para o inverno, conservando-as cozidas ou secas. As frutas pequenas, como morangos, amoras, groselhas e outras, podem dar com vantagem em muitos lugares onde são pouco usadas, sendo negligenciado o seu cultivo. CBV 299 3 Para conservas domésticas, os vidros devem ser usados sempre que possível, de preferência às latas. É especialmente digno de atenção que as frutas a serem conservadas estejam em boas condições. Empregue-se pouco açúcar, e a fruta seja cozida apenas o necessário à sua preservação. Assim preparadas, são excelente substituto para as frutas frescas. CBV 299 4 Onde quer que as frutas secas como passas, ameixas, maçãs, pêras, pêssegos e abricós se podem obter por moderado preço, verificar-se-á que se podem usar como artigos principais de regime, muito mais abundantemente do que se costuma fazer, com os melhores resultados para a saúde de todas as classes. CBV 299 5 Não deve haver grande variedade em cada refeição, pois isso incita o excesso na alimentação, e produz má digestão. CBV 299 6 Não é bom comer verduras e frutas na mesma refeição. Se a digestão é deficiente, o uso de ambas ocasionará, com frequência, perturbação, incapacitando para o esforço mental. Melhor é usar as frutas numa refeição e as verduras em outra. CBV 300 1 O cardápio deve ser variado. Os mesmos pratos, preparados da mesma maneira, não devem aparecer à mesa refeição após refeição, dia após dia. O alimento é tomado com mais prazer, e o organismo mais bem nutrido, quando é variado. O Preparo do Alimento CBV 300 2 É pecado comer apenas para satisfazer o apetite, mas não se deve ser indiferente quanto à qualidade da alimentação, ou à maneira de a preparar. Se a refeição que comemos não é saborosa, o organismo não recebe tanta nutrição. O alimento deve ser cuidadosamente escolhido e preparado com inteligência e habilidade. CBV 300 3 Para o pão, não é a melhor a farinha branca, superfina. Seu uso nem é saudável nem econômico. A farinha branca, fina, carece de elementos nutritivos que se encontram no pão feito do trigo integral. É causa frequente de prisão de ventre e outras condições insalubres. CBV 300 4 O emprego do bicarbonato ou fermento em pó no pão é nocivo e desnecessário. O bicarbonato produz inflamação do estômago, envenenando muitas vezes todo o organismo. Muitas donas de casa julgam não poder fazer bom pão sem empregar o bicarbonato, mas isso é um erro. Se se derem ao incômodo de aprender melhores métodos, seu pão será mais saudável e, a um paladar natural, muito mais agradável. CBV 301 1 Ao fazer pão crescido, ou levedado, não se devia utilizar leite em lugar de água. Isso representa despesa adicional e torna o pão menos saudável. O pão que leva leite não se conserva bem tanto tempo depois de assado como o que é feito com água, e fermenta mais facilmente no estômago. CBV 301 2 O pão deve ser leve e agradável. Nem o mais leve vestígio de acidez se deve tolerar. Os pães devem ser pequenos, e tão perfeitamente assados que, o quanto possível, os germes do fermento sejam destruídos. Quando quente ou fresco, qualquer espécie de pão levedado é de difícil digestão. Nunca devia aparecer à mesa. Isso não se aplica, entretanto, ao pão sem levedar. Pão de trigo fresco, sem fermento ou levedura, e assado num forno bem quente, é ao mesmo tempo saboroso e saudável. CBV 301 3 Os cereais empregados em mingaus devem ser cozidos várias horas. Mas as refeições brandas ou líquidas são menos saudáveis que as secas, que requerem mastigação total. Torradas são dos mais digestíveis e aprazíveis alimentos. Corte-se o pão comum em fatias, ponha-se no forno até haver desaparecido o último vestígio de umidade. Deixe-se então dourar levemente e por igual. Pode-se conservar esse pão num lugar seco por muito mais tempo que o pão comum e, se posto novamente ao forno pouco antes de ser servido, ficará como torrado de fresco. CBV 301 4 Em geral, usa-se demasiado açúcar no alimento. Bolos, pudins, massas folhadas, geléias e doces são causa ativa de má digestão. Especialmente nocivos são os cremes e pudins em que o leite, ovos e açúcar são os principais elementos. Deve-se evitar o uso abundante de leite e açúcar juntos. CBV 302 1 O leite que se usa deve ser perfeitamente esterilizado; com esta precaução, há menos perigo de contrair doenças por seu uso. A manteiga é menos nociva quando comida no pão do que empregada na cozinha; mas, em regra, melhor é dispensá-la inteiramente. O queijo é ainda mais objetável; é totalmente impróprio como alimento. CBV 302 2 A alimentação deficiente, mal cozida, estraga o sangue, por enfraquecer os órgãos que o preparam. Isso desarranja o organismo, trazendo doenças, com seu cortejo de nervos irritados e mau gênio. As vítimas da deficiência culinária contam-se aos milhares e dezenas de milhares. Sobre muitos túmulos se poderia gravar: "Morto devido à má cozinha"; "Morto por maus-tratos infligidos ao estômago." CBV 302 3 É um sagrado dever para os que cozinham o saber preparar alimento saudável. Muitas almas se perdem em razão de um errôneo modo de preparar os alimentos. Exige reflexão e cuidado o fazer um bom pão; há, porém, mais religião num pão bem feito do que muitos pensam. Na verdade há poucas boas cozinheiras. As jovens entendem ser coisa servil cozinhar e fazer outros serviços domésticos; e, por isso, muitas jovens que se casam e têm cuidado de família pouca idéia possuem dos deveres que pesam sobre a esposa e mãe. CBV 302 4 Cozinhar não é ciência desprezível, porém uma das mais essenciais na vida prática. É uma arte que todas as mulheres deviam aprender, devendo ser ensinada de um modo que beneficiasse às classes mais pobres. Fazer comida apetecível e ao mesmo tempo simples e nutritiva requer habilidade; pode no entanto ser feito. As cozinheiras devem saber preparar alimento de maneira simples e saudável, e de modo que seja mais apetecível e mais são, justo por causa de sua simplicidade. CBV 303 1 Toda mulher que se encontra à frente de uma família e ainda não entende a arte da cozinha saudável deve decidir aprender aquilo que é tão essencial ao bem-estar de sua casa. Em muitos lugares, escolas de arte culinária saudável oferecem ensejo de uma pessoa se instruir nesse sentido. Aquela que não tem o auxílio de tais facilidades devia tomar instruções com uma boa cozinheira, perseverando em seus esforços por se aperfeiçoar até se tornar senhora da arte culinária. CBV 303 2 É de vital importância a regularidade no comer. Deve haver tempo determinado para cada refeição. Nesta ocasião, coma cada um o que o organismo requer, e depois não tome nada mais até a próxima refeição. Muitas pessoas comem quando o organismo não sente necessidade de alimento, em intervalos irregulares e entre as refeições, porque não têm suficiente força de vontade para resistir à inclinação. Quando em viagem, alguns estão continuamente mordicando, se lhes chega ao alcance qualquer coisa de comer. Isso é muito nocivo. Se os viajantes comessem regularmente, um alimento simples e nutritivo, não experimentariam tão grande fadiga, nem sofreriam tanto enjôo. CBV 303 3 Outro hábito prejudicial é o de tomar alimento exatamente antes de dormir. Pode-se haver tomado as refeições regulares, mas, por sentir-se uma sensação de fraqueza, ingere-se mais alimento. Mediante a condescendência, essa prática errônea se torna um hábito, e tantas vezes tão firmemente fixado que se julga impossível dormir sem comer. Em resultado de tomar ceias tardias, o processo digestivo é continuado através do período de repouso. Mas, embora o estômago trabalhe constantemente, sua função não é bem feita. O sono é mais vezes perturbado por sonhos desagradáveis, e pela manhã a pessoa acorda sem se haver descansado, e com pouco apetite para a refeição matinal. Quando nos deitamos para repousar, o estômago já devia ter concluído a sua obra, a fim de, como os demais órgãos do corpo, fruir repouso. Para as pessoas de hábitos sedentários, as ceias tarde da noite são particularmente nocivas. Para essas, as desordens criadas são geralmente o começo de doenças que findam na morte. CBV 304 1 Em muitos casos, a fraqueza que leva a desejar alimento é sentida porque os órgãos digestivos foram muito sobrecarregados durante o dia. Depois de digerir uma refeição, os órgãos que se empenharam nesse trabalho precisam de repouso. Pelo menos cinco ou seis horas devem entremear as refeições; e a maior parte das pessoas que experimentarem esse plano verificará que duas refeições por dia são preferíveis a três. Maneiras Erradas de Comer CBV 305 1 A comida não deve ser ingerida muito quente nem muito fria. Se está fria, as forças vitais do estômago são chamadas a fim de aquecê-la antes de ter começo o processo digestivo. Bebidas frias, pelo mesmo motivo, são prejudiciais. Por outro lado, o uso copioso de bebidas quentes é debilitante. Na verdade, quanto mais líquido for ingerido nas refeições, tanto mais difícil se tornará a digestão do alimento, pois o líquido precisa ser absorvido primeiro para que principie a digestão. Não useis sal em quantidade, evitai os picles e comidas condimentadas, servi-vos de abundância de frutas, e a irritação que requer tanta bebida nas refeições desaparecerá em grande parte. CBV 305 2 A comida deve ser ingerida devagar, completamente mastigada. Isso é necessário para a saliva ser devidamente misturada com o alimento, e os sucos digestivos chamados à ação. CBV 305 3 Outro mal sério é comer em ocasiões impróprias, como depois de violento ou excessivo exercício, quando uma pessoa se encontra exausta ou aquecida. Logo depois da comida, há forte demanda das energias nervosas; e, quando a mente ou o corpo é muito sobrecarregado justo antes ou logo depois de comer, prejudica-se a digestão. Quando uma pessoa está agitada, ansiosa ou apressada, é melhor não comer enquanto não descansar ou obtiver alívio. CBV 306 1 O estômago está intimamente relacionado com o cérebro; e quando ele está doente, a força nervosa é chamada do cérebro em auxílio dos enfraquecidos órgãos digestivos. Sendo estas exigências demasiado frequentes, o cérebro fica congestionado. Se este é constantemente sobrecarregado, e há falta de exercício físico, mesmo a comida simples deve ser tomada parcimoniosamente. Na hora da refeição, expulsai o cuidado e os pensamentos ansiosos; não estejais apressados, mas comei devagar e satisfeitos, o coração cheio de gratidão para com Deus por todas as Suas bênçãos. CBV 306 2 Muitas pessoas que rejeitam a carne e outros pesados e nocivos artigos pensam que, porque sua comida é simples e sã, podem condescender com o apetite sem restrições, comendo excessivamente, por vezes até a gulodice. Isso é um erro. Os órgãos digestivos não devem ser sobrecarregados com uma quantidade ou qualidade de alimento que torne pesado ao organismo o digeri-lo. CBV 306 3 O costume determina que a comida seja trazida para a mesa por pratos. Não sabendo o que vem depois, uma pessoa pode comer bastante de um prato que talvez não lhe seja o mais conveniente. Quando a última parte é apresentada, ela se arrisca muitas vezes a ultrapassar um pouco os limites, e aceita a tentadora sobremesa, o que, no entanto, não se lhe demonstra nada bom. Se toda a comida de uma refeição é posta na mesa ao princípio, a pessoa fica habilitada a fazer a melhor escolha. CBV 306 4 Por vezes, o resultado do excesso de alimento é imediatamente sentido. Noutros casos, não há uma sensação de mal-estar; mas os órgãos digestivos perdem a força vital, e é solapada a base da resistência física. CBV 307 1 Alimento em excesso pesa no organismo, produzindo um estado mórbido, febricitante. Chama uma indevida quantidade de sangue para o estômago, causando resfriamento nos membros e extremidades. Impõe pesada carga aos órgãos digestivos, e, quando os mesmos têm executado sua tarefa, resta uma sensação de desfalecimento e fraqueza. Pessoas que estão continuamente a comer em excesso chamam fome a essa sensação de esvaimento; é, porém, causado pelo estado de exaustão dos órgãos digestivos. Há por vezes torpor do cérebro, com indisposição para o esforço mental e físico. CBV 307 2 Sentem-se esses desagradáveis sintomas porque a natureza realizou seu trabalho à custa de um desnecessário dispêndio de força vital, achando-se completamente exausta. O estômago está dizendo: "Dá-me repouso." Por parte de muitos, todavia, a fraqueza é interpretada como um pedido de mais alimento; de modo que, em lugar de conceder descanso ao estômago, lançam-lhe em cima outra carga. Em consequência, os órgãos digestivos se acham com frequência gastos quando deviam se encontrar em condições de prestar bom serviço. CBV 307 3 Não devemos preparar para o sábado mais liberal provisão de alimento, nem maior variedade que nos outros dias. Em lugar disso, a comida deve ser mais simples, e menos se deve comer, a fim de a mente estar mais clara e vigorosa para compreender as coisas espirituais. Um estômago abarrotado quer dizer um cérebro pesado. As mais preciosas palavras podem ser ouvidas e não apreciadas devido à mente estar confusa por uma alimentação imprópria. Comendo demais no sábado, muita gente faz mais do que julga para se tornar incapaz de receber o benefício de suas sagradas oportunidades. CBV 307 4 Embora deva-se evitar cozinhar no sábado, não é necessário comer alimento frio. No tempo frio, a comida preparada no dia anterior deve ser aquecida. E as refeições, embora simples, sejam saborosas e atrativas. Especialmente nas famílias em que há crianças, é bom, aos sábados, qualquer coisa que seja considerada como um prato especial, coisa que a família não tenha todos os dias. CBV 308 1 Onde tem havido condescendência com hábitos errôneos, não deve haver demora em reformá-los. Quando a dispepsia tem sido o resultado do mau trato infligido ao estômago, façam-se cuidadosos esforços para conservar o resto da resistência das forças vitais, afastando toda sobrecarga. Talvez o estômago nunca recupere inteiramente a saúde depois de longo tempo de mau trato; mas uma correta orientação no regime dietético poupará posterior debilidade, e muitos se recuperarão mais ou menos. Não é fácil prescrever regras que se adaptem a todos os casos; mas, atendendo aos sãos princípios no comer, podem-se operar grandes reformas, e a cozinheira não precisa labutar continuamente para tentar o apetite. CBV 308 2 A sobriedade na alimentação é recompensada com vigor mental e moral; é também eficaz no domínio das paixões. O excessivo comer é especialmente prejudicial aos que são de temperamento indolente; estes devem comer frugalmente, e fazer bastante exercício físico. Existem homens e mulheres de excelentes aptidões naturais, que não realizam metade do que poderiam efetuar se exercessem domínio sobre si mesmos quanto a negar-se ao apetite. CBV 309 1 Muitos escritores e oradores falham nesse ponto. Depois de comer à vontade, entregam-se a ocupações sedentárias, lendo, estudando ou escrevendo, não se dando nenhum tempo para exercício físico. Em consequência, é dificultado o livre fluxo dos pensamentos e das palavras. Não podem escrever nem falar com a intensidade e o vigor necessários para atingir o coração; seus esforços são fracos e infrutíferos. CBV 309 2 Aqueles sobre quem impendem importantes responsabilidades, e sobretudo os que são guardas dos interesses espirituais, devem ser homens de viva sensibilidade e rápida percepção. Mais que os outros, devem eles ser temperantes no comer. Alimentos muito condimentados e sofisticados não deveriam ter lugar em sua mesa. CBV 309 3 Todos os dias, homens que ocupam posição de responsabilidade têm de tomar decisões das quais dependem resultados de grande importância. É-lhes preciso com frequência pensar rapidamente, e isso só pode ser feito com êxito pelos que observam estrita temperança. A mente se revigora sob o correto tratamento das faculdades físicas e mentais. Se a tensão não é demasiada, sobrevém renovado vigor a cada esforço. Mas com frequência a obra dos que têm importantes planos a considerar e sérias decisões a tomar é afetada para mal em consequência de um regime impróprio. Um estômago perturbado produz um estado mental incerto e perturbado. Causa muitas vezes irritabilidade, aspereza ou injustiça. Muito plano que haveria sido uma bênção para o mundo tem sido posto à margem; muitas medidas injustas, opressivas e mesmo cruéis têm sido executadas em resultado de estados enfermos, resultantes de hábitos errôneos no comer. CBV 310 1 Eis uma sugestão para todos quantos têm trabalho sedentário ou especialmente mental; experimentem-no os que tiverem suficiente força moral e domínio próprio: Comei em cada refeição apenas duas ou três espécies de alimento simples, não ingerindo mais do que o necessário para satisfazer a fome. Fazei exercício ativo todos os dias, e vede se não experimentais benefício. CBV 310 2 Homens fortes, que se empenham em ativo trabalho físico, não são forçados a cuidar tanto no que respeita à qualidade e à quantidade do alimento, como as pessoas de hábitos sedentários; mas mesmo esses desfrutariam melhor saúde se usassem de domínio sobre si mesmos quanto ao comer e ao beber. CBV 310 3 Alguns desejariam que se lhes prescrevesse uma regra exata para seu regime. Comem demais, e depois se lamentam, e ficam sempre a pensar no que comem e bebem. Não deve ser assim. Um pessoa não pode ditar uma estrita regra para outra. Cada um deve exercer discernimento e domínio, agindo por princípio. CBV 310 4 Nosso corpo é a possessão adquirida de Cristo, e não nos achamos na liberdade de fazer com ele o que nos apraz. Todos quantos compreendem as leis da saúde devem reconhecer sua obrigação de obedecer a essas leis, estabelecidas por Deus em nosso ser. A obediência às leis da saúde deve ser considerada questão de dever pessoal. Temos de sofrer os resultados da lei violada. Cumpre-nos responder individualmente a Deus por nossos hábitos e práticas. Portanto, a questão quanto a nós, não é: "Qual é o costume do mundo?", mas: "De que maneira eu, como indivíduo, tratarei a habitação que Deus me deu?" ------------------------Capítulo 24 -- A carne como alimento CBV 311 1 O regime indicado ao homem no princípio não compreendia alimento animal. Não foi senão depois do dilúvio, quando tudo quanto era verde na Terra havia sido destruído, que o homem recebeu permissão para comer carne. CBV 311 2 Escolhendo a comida do homem, no Éden, mostrou o Senhor qual era o melhor regime; na escolha feita para Israel, ensinou Ele a mesma lição. Tirou os israelitas do Egito, e empreendeu educá-los, a fim de serem um povo para Sua possessão própria. Desejava, por intermédio deles, abençoar e ensinar o mundo inteiro. Proveu-lhes o alimento mais adaptado ao Seu desígnio; não carne, mas o maná, "o pão do Céu". João 6:32. Foi unicamente devido a seu descontentamento e murmuração em torno das panelas de carne do Egito que lhes foi concedido alimento cárneo, e isso apenas por pouco tempo. Seu uso trouxe doença e morte a milhares. Apesar disso, um regime sem carne não foi nunca aceito de coração. Continuou a ser causa de descontentamento e murmuração, franca ou secreta, e não ficou permanente. CBV 311 3 Quando se estabeleceram em Canaã, foi permitido aos israelitas o uso de alimento animal, mas com restrições cuidadosas, que tendiam a diminuir o mal. O uso da carne de porco era proibido, bem como de outros animais e aves e peixes cuja carne foi declarada imunda. Das carnes permitidas, era estritamente proibido comer a gordura e o sangue. CBV 312 1 Só se podiam usar como alimento animais em boas condições. Nenhum animal despedaçado, que morrera naturalmente, ou do qual o sangue não havia sido cuidadosamente tirado, podia servir de alimento. CBV 312 2 Afastando-se do plano divinamente indicado para seu regime, sofreram os israelitas grande prejuízo. Desejaram um regime cárneo, e colheram-lhe os resultados. Não atingiram o ideal divino quanto ao seu caráter, nem cumpriram os desígnios de Deus. O Senhor "satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma". Salmos 106:15. Estimaram o terreno acima do espiritual, e a sagrada preeminência que Deus tinha o propósito de lhes dar não conseguiram eles obter. Razões para Rejeitar o Alimento Cárneo CBV 313 1 Os que se alimentam de carne não estão senão comendo cereais e verduras em segunda mão; pois o animal recebe destas coisas a nutrição que dá o crescimento. A vida que se achava no cereal e na verdura passa ao que os ingere. Nós a recebemos comendo a carne do animal. Quão melhor não é obtê-la diretamente, comendo aquilo que Deus proveu para nosso uso! CBV 313 2 A carne nunca foi o melhor alimento; seu uso agora é, todavia, duplamente objetável, visto as doenças nos animais estarem crescendo com tanta rapidez. Os que comem alimentos cárneos mal sabem o que estão ingerindo. Frequentemente, se pudessem ver os animais ainda vivos, e saber que espécie de carne estão comendo, iriam repelir enojados. O povo come continuamente carne cheia de germes de tuberculose e câncer. Assim são comunicadas essas e outras doenças. CBV 313 3 Os tecidos dos porcos estão infestados de parasitas. Destes disse Deus: "Imundo vos será; não comereis da carne destes e não tocareis no seu cadáver." Deuteronômio 14:8. Esta ordem foi dada porque a carne do porco é imprópria para alimentação. Os porcos são limpadores públicos, e é esse o único emprego que lhes foi destinado. Nunca, sob nenhuma circunstância, devia sua carne ser ingerida por criaturas humanas. É impossível que a carne de qualquer criatura viva seja saudável, quando a imundícia é o seu elemento natural, e quando se alimenta de tudo quanto é detestável. CBV 314 1 Muitas vezes são levados ao mercado e vendidos para alimento animais que se acham tão doentes que os donos receiam conservá-los por mais tempo. E alguns dos processos de engorda para venda produzem enfermidade. Excluídos da luz e do ar puro, respirando a atmosfera de imundos estábulos, engordando talvez com alimentos deteriorados, todo o organismo se acha contaminado com matéria imunda. CBV 314 2 Os animais são muitas vezes transportados a longas distâncias e sujeitos a grandes sofrimentos para chegar ao mercado. Tirados dos verdes pastos e viajando por fatigantes quilômetros sobre cálidos e poentos caminhos, ou aglomerados em carros sujos, febris e exaustos, muitas vezes privados por muitas horas de alimento e água, as pobres criaturas são conduzidas para a morte a fim de que seres humanos se banqueteiem com seu cadáver. CBV 314 3 Em muitos lugares os peixes ficam tão contaminados com a sujeira de que se nutrem que se tornam causa de doenças. Isso se verifica especialmente onde o peixe está em contato com os esgotos de grandes cidades. Peixes que se alimentam dessas matérias podem passar a grandes distâncias, sendo apanhados em lugares em que as águas são puras e boas. De modo que, ao serem usados como alimento, ocasionam doença e morte naqueles que nada suspeitam do perigo. CBV 315 1 Os efeitos do regime cárneo podem não ser imediatamente experimentados; isto, porém, não é nenhuma prova de que não seja nocivo. A poucas pessoas se pode fazer ver que é a carne que ingerem o que lhes tem envenenado o sangue e ocasionado os sofrimentos. Muitos morrem de doenças inteiramente devidas ao uso da carne, ao passo que a verdadeira causa não é suspeitada nem por eles nem pelos outros. CBV 315 2 Os males morais do regime cárneo não são menos assinalados do que os físicos. A comida de carne é prejudicial à saúde, e seja o que for que afete ao corpo tem seu efeito correspondente na mente e na alma. Pensai na crueldade que o regime cárneo envolve para com os animais, e seus efeitos sobre os que a infligem e nos que a observam. Como isso destrói a ternura com que devemos considerar as criaturas de Deus! CBV 315 3 A inteligência apresentada por muitos mudos animais chega tão perto da inteligência humana que é um mistério. Os animais vêem e ouvem, amam, temem e sofrem. Eles se servem de seus órgãos muito mais fielmente do que muitos seres humanos dos seus. Manifestam simpatia e ternura para com seus companheiros de sofrimento. Muitos animais mostram pelos que deles cuidam uma afeição muito superior à que é manifestada por alguns membros da raça humana. Criam para com o homem apegos que se não rompem senão à custa de grandes sofrimentos de sua parte. CBV 316 1 Que homem, dotado de um coração humano, havendo já cuidado de animais domésticos, poderia fitá-los nos olhos tão cheios de confiança e afeição, e entregá-los voluntariamente à faca do açougueiro? Como lhes poderia devorar a carne como um delicioso bocado? CBV 316 2 É um erro supor que a força muscular depende do uso de alimento animal. As necessidades do organismo podem ser melhor supridas, e mais vigorosa saúde se pode desfrutar, deixando de usá-lo. Os cereais, com frutas, nozes e verduras contêm todas as propriedades nutritivas necessárias a formar um bom sangue. Estes elementos não são tão bem, ou tão plenamente supridos pelo regime cárneo. Houvesse o uso da carne sido essencial à saúde e à força, e o alimento animal haveria sido incluído no regime do homem desde o princípio. CBV 316 3 Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança. CBV 316 4 Quando se abandona a carne, deve-se substituí-la com uma variedade de cereais, nozes, verduras e frutas, os quais serão a um tempo nutritivos e apetitosos. Isso se necessita especialmente no caso de pessoas fracas, ou carregadas de contínuo labor. Em alguns países em que é comum a pobreza, é a carne o alimento mais barato. Sob estas circunstâncias, a mudança se efetuará sob maiores dificuldades; pode no entanto ser operada. Devemos, porém, considerar a situação do povo e o poder de um hábito de toda a vida, sendo cautelosos em não insistir indevidamente, mesmo quanto a idéias justas. Ninguém deve ser solicitado a fazer abruptamente a mudança. O lugar da carne deve ser preenchido com alimento são e pouco dispendioso. A esse respeito, muito depende da cozinheira. Com cuidado e habilidade se podem preparar pratos que sejam ao mesmo tempo nutritivos e saborosos, substituindo, em grande parte, o alimento cárneo. CBV 317 1 Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, supri alimento bom, saudável, e a mudança se efetuará rapidamente, desaparecendo em breve a necessidade de carne. CBV 317 2 Não é o tempo de todos dispensarem a carne da alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam antes à saudável e deliciosa alimentação dada ao homem no princípio, e a praticarem e ensinarem a seus filhos a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio. ------------------------Capítulo 25 -- Extremos no regime CBV 318 1 Nem todos que professam crer na reforma dietética são realmente reformadores. Para muitas pessoas, a reforma consiste meramente em rejeitar certos artigos prejudiciais. Não compreendem claramente os princípios da saúde, e sua mesa, anda carregada de iguarias nocivas, está longe de ser um exemplo da temperança e moderação cristãs. CBV 318 2 Outra classe, em seu desejo de dar bom exemplo, vai para o extremo oposto. Alguns não podem obter os alimentos mais desejáveis, e, em lugar de usar aqueles que melhor lhes supririam a falta, adotam um regime pobre. Sua alimentação não fornece os elementos necessários a formar um bom sangue. A saúde sofre, é prejudicada a utilidade, e seu exemplo testifica mais contra a reforma dietética do que em seu favor. CBV 318 3 Outros pensam que, uma vez que a saúde requer um regime simples, pouca atenção precisa ser dispensada à seleção ou preparo do alimento. Alguns se restringem a uma alimentação bem escassa, não tendo a variedade suficiente para suprir às necessidades do organismo, e em consequência sofrem. CBV 318 4 Os que não têm senão parcial compreensão dos princípios da reforma são muitas vezes os mais rígidos, não somente em viver segundo suas próprias idéias, como em insistir nas mesmas para com a família e os vizinhos. O efeito dessas reformas erradas, tal como se manifesta em sua má saúde, e o esforço de incutir nos demais a todo transe seus pontos de vista dão muitas idéias falsas da reforma dietética, levando outros a rejeitá-la inteiramente. CBV 319 1 Os que entendem as leis da saúde e são governados por princípios fugirão dos extremos, tanto da condescendência como da restrição. Sua alimentação é escolhida não meramente para agradar o apetite, mas para fortalecimento do organismo. Procuram conservar todas as faculdades nas melhores condições para o mais elevado serviço a Deus e aos homens. O apetite acha-se sob o controle da razão e da consciência, e são recompensados com a saúde física e mental. Embora não insistam de modo impertinente em seus pontos de vista para os outros, seu exemplo é um testemunho em favor dos princípios corretos. Essas pessoas exercem vasta influência para o bem. CBV 319 2 Há verdadeiro senso comum na reforma do regime. O assunto deve ser estudado de forma ampla e profunda. Ninguém devia criticar outros porque não estejam, em todas as coisas, agindo em harmonia com seu ponto de vista. É impossível estabelecer uma regra fixa para regular os hábitos de cada um, e ninguém se deve considerar critério para todos. Nem todos podem comer as mesmas coisas. Comidas apetecíveis e sãs para uma pessoa podem ser desagradáveis e mesmo nocivas para outra. Alguns não podem usar leite, ao passo que outros tiram bom proveito dele. Há pessoas que não conseguem digerir ervilhas e feijão; para outros, eles são saudáveis. Para uns, as preparações de cereais integrais são boas, enquanto outros não as podem ingerir. CBV 320 1 Os que residem em países novos, ou em distritos pobres, onde são escassas as frutas e as nozes, não deviam ser incitados a excluir o leite e os ovos de seu regime dietético. É verdade que pessoas de físico forte e em quem as paixões são vigorosas precisam evitar o uso de comidas estimulantes. Especialmente nas famílias de crianças dadas a hábitos sensuais, os ovos não devem ser usados. Mas no caso de pessoas cujos órgãos produtores do sangue são fracos -- especialmente se não se podem obter outros alimentos que forneçam os elementos necessários -- leite e ovos não deviam ser de todo abandonados. Grande cuidado, no entanto, deve ser exercido para que o leite seja de vacas sãs, e da mesma maneira os ovos venham de aves sadias e bem alimentadas e cuidadas; e os ovos sejam preparados de modo a serem facilmente digeridos. CBV 320 2 A reforma dietética deve ser progressiva. À medida que as doenças aumentam nos animais, o uso de leite e ovos se tornará cada vez menos livre de perigo. Deve-se fazer um esforço para os substituir com outras coisas que sejam saudáveis e baratas. O povo de toda parte deve ser ensinado a cozinhar sem leite e ovos, isso o quanto possível, fazendo não obstante comida saudável e gostosa. CBV 321 1 O costume de comer apenas duas vezes por dia, em geral, demonstra-se benéfico à saúde; todavia, sob certas circunstâncias, talvez algumas pessoas tenham necessidade de uma terceira refeição. Esta, porém, deve ser muito leve, e de comida de fácil digestão. Bolachas de sal, ou pão torrado e fruta, ou bebida de cereal, eis os alimentos mais próprios para a refeição da noite. CBV 321 2 Alguns andam continuamente ansiosos de que seu alimento, embora simples e são, lhes possa fazer mal. Seja-me permitido dizer a esses: Não penseis que vossa comida vos vai fazer mal; não penseis absolutamente nela. Comei segundo vosso melhor discernimento; e, havendo pedido ao Senhor que vos abençoe o alimento para revigorar o corpo, crede que Ele escuta a oração, e ficai descansados. CBV 321 3 Se os princípios requerem de nós o rejeitar as coisas que irritam o estômago e desequilibram a saúde, devemos lembrar que um regime pobre enfraquece o sangue. Casos de doenças de mui difícil cura sobrevêm em resultado disso. O organismo não é suficientemente nutrido, sendo a consequência dispepsia e fraqueza geral. Os que seguem tal regime não são sempre a isso forçados pela pobreza, mas o escolhem levados pela ignorância ou a negligência, ou para seguir suas próprias idéias errôneas de reforma. CBV 322 1 Deus não é honrado quando o corpo é negligenciado ou maltratado, ficando assim incapacitado para Seu serviço. Cuidar do corpo, proporcionando-lhe comida saborosa e revigorante, é um dos principais deveres dos pais de família. É muito melhor usar roupas e mobília menos caras do que restringir a provisão de alimento. CBV 322 2 Alguns chefes de casa poupam na mesa da família a fim de proporcionar dispendiosa hospedagem às visitas. Isso não é sábio. Deve haver maior simplicidade na hospedagem. Dê-se primeiro atenção às necessidades da família. CBV 322 3 Uma economia destituída de sabedoria e os costumes artificiais impedem o exercício da hospitalidade onde é necessária e quando seria uma bênção. A quantidade regular de alimento deve ser de maneira que se possa receber de boa vontade o inesperado hóspede, sem sobrecarga para a dona-de-casa, com preparativos extras. CBV 323 1 Todos devem aprender a maneira de comer, e de preparar o que comem. Os homens, bem como as mulheres, precisam entender do simples e saudável preparo do alimento. Seus negócios os chamam muitas vezes aonde não conseguem obter comida saudável; se possuem alguns conhecimentos da arte culinária, poderão então empregá-los bem. CBV 323 2 Considerai cuidadosamente vosso regime. Estudai das causas para os efeitos. Cultivai o domínio de vós mesmos. Mantende o apetite sob o domínio da razão. Nunca abuseis do estômago, comendo excessivamente, mas não vos priveis da comida saudável e saborosa que a saúde exige. CBV 323 3 As idéias limitadas de alguns falsos reformadores têm sido um grande dano à causa da saúde. Os que promovem a saúde devem lembrar que a reforma dietética será julgada, em alto grau, pela comida que eles suprem sobre suas próprias mesas; e, em vez de seguir um curso que trará descrédito sobre ela, devem de tal modo exemplificar-lhe os princípios que os recomendem a mentes sinceras. Há uma grande classe que se oporá a qualquer movimento reformador, por mais razoável, uma vez que imponha restrições ao apetite. Consultam o gosto em vez da razão, ou das leis da saúde. Por essa classe, todos quantos deixarem o batido caminho do costume, e advogarem uma reforma, serão considerados radicais, por mais coerente que seja seu procedimento. A fim de que essas pessoas não tenham razões para a crítica, os promotores da saúde não devem tentar ver quão diferentes eles podem ser dos outros, mas devem deles se aproximar tanto quanto possível, sem o sacrifício de princípio. CBV 324 1 Quando os que advogam a reforma de saúde vão aos extremos, não admira que muitos que consideram essas pessoas como representantes dos princípios da saúde rejeitem inteiramente a reforma. Esses extremos fazem frequentemente mais mal dentro de pouco tempo do que se poderia desfazer em toda uma existência de vida coerente. CBV 324 2 A reforma de saúde baseia-se em princípios amplos e de vasto alcance, e não a devemos amesquinhar com pontos de vista e práticas acanhados. Ninguém, todavia, deve permitir que a oposição, o ridículo ou o desejo de agradar ou influenciar a outros o desvie dos verdadeiros princípios ou o faça considerá-los levianamente. Os que são regidos por princípios serão firmes e decididos em colocar-se ao lado do direito; no entanto manifestarão, em todas as suas relações com outros, um espírito generoso e cristão, e verdadeiro comedimento. ------------------------Capítulo 26 -- Estimulantes e narcóticos CBV 325 1 Sob a denominação de estimulantes e narcóticos se acha classificada grande variedade de artigos que, embora usados como comida ou bebida, irritam o estômago, envenenam o sangue e excitam os nervos. Seu uso é um verdadeiro mal. Muitos procuram a excitação dos estimulantes porque, no momento, são aprazíveis os resultados. Há sempre, porém, uma reação. O uso de estimulantes não naturais tende sempre ao excesso, sendo agente ativo em promover a degeneração e a ruína. Condimentos CBV 325 2 Nesta época de pressa, quanto menos estimulante for a comida, melhor. Os condimentos são prejudiciais em sua natureza. A mostarda, a pimenta, as especiarias, os picles e coisas semelhantes irritam o estômago e tornam o sangue febril e impuro. O estado de inflamação do estômago do bêbado é muitas vezes pintado para ilustrar os efeitos das bebidas alcoólicas. Condição semelhante de inflamação é produzida pelo uso de condimentos irritantes. Dentro em pouco, a comida comum não satisfaz o apetite. O organismo sente necessidade de alguma coisa mais estimulante. Chá e Café CBV 326 1 O chá atua como estimulante, e, até certo grau, produz intoxicação. A ação do café, e de muitas outras bebidas populares, é idêntica. O primeiro efeito é estimulante. São agitados os nervos do estômago, que comunicam irritação ao cérebro, o qual, por sua vez, desperta para transmitir aumento de atividade ao coração, e uma fugaz energia a todo o organismo. Esquece-se a fadiga; parece aumentar a força. Estimula o intelecto, torna-se mais viva a imaginação. CBV 326 2 Em virtude desses resultados, muitos julgam que seu chá ou café lhes faz grande benefício. Mas é um engano. Chá e café não nutrem o organismo. Seu efeito produz-se antes de haver tempo para ser digerido ou assimilado, e o que parece força não passa de excitação nervosa. Uma vez dissipada a influência do estimulante, abate-se a força não natural, sendo o resultado um grau correspondente de abatimento e fraqueza. CBV 326 3 O uso continuado desses irritantes nervosos é seguido de dores de cabeça, insônia, palpitação, indigestão, tremores e muitos outros males, pois eles gastam a força vital. Os nervos fatigados necessitam repouso e sossego em lugar de estimulantes e hiperatividade. A natureza necessita de tempo para recuperar as exaustas energias. Quando suas forças são aguilhoadas pelo uso de estimulantes, conseguir-se-á mais durante algum tempo; mas, à medida que o organismo se enfraquece mediante o uso contínuo, torna-se gradualmente mais difícil erguer as energias ao desejado nível. A exigência de estimulantes se torna cada vez mais difícil de controlar, até que a vontade é vencida, parecendo não haver poder capaz de negar a satisfação do forte apetite contrário à natureza. São exigidos estimulantes mais fortes e ainda mais fortes, até que a natureza exausta já não pode corresponder. O Hábito do Fumo CBV 327 1 O fumo é um veneno lento, perigoso, por demais maligno. Seja qual for a forma de utilização, atua na constituição; é o mais perigoso, porque seu efeito é lento, e a princípio por assim dizer imperceptível. Excita e depois paralisa os nervos. Debilita e obscurece o cérebro. Muitas vezes, ele afeta os nervos de maneira mais forte que a bebida intoxicante. É mais sutil, e seus efeitos são difíceis de desarraigar do organismo. Seu uso estimula a sede de bebidas fortes, lançando em muitos casos a base para o hábito das bebidas alcoólicas. CBV 328 1 O uso do fumo é inconveniente, caro, sujo, contaminador para o que o tem e incômodo para os outros. Encontram-se por toda parte os seus devotos. Dificilmente passais por uma multidão sem que algum fumante vos solte no rosto uma baforada de seu hálito envenenado. É desagradável e pouco higiênico ficar num vagão ou numa sala em que a atmosfera esteja impregnada dos vapores da bebida ou do fumo. Embora os homens persistam em usar esses venenos para si mesmos, que direito têm eles de contaminar o ar que os outros devem respirar? CBV 328 2 Entre as crianças e os jovens, o uso do fumo está operando indizível dano. As práticas contrárias à saúde, das gerações passadas, afetam as crianças e a juventude de hoje. A incapacidade mental, a fraqueza física, os descontrolados nervos e os apetites contrários à natureza são transmitidos como legado de pais aos filhos. E as mesmas práticas, continuadas pelos filhos, vão crescendo e perpetuando os maus resultados. A isso se deve, em não pequena escala, a decadência física, mental e moral que se está tornando tão grande causa de alarme. CBV 329 1 Os meninos começam a fumar em bem tenra idade. O hábito assim formado, quando o corpo e a mente se acham especialmente susceptíveis aos seus efeitos, diminui a resistência física, impede o desenvolvimento do corpo, entorpece a mente e corrompe a moral. CBV 329 2 Mas que se pode fazer para ensinar às crianças e aos jovens os males de um costume de que os pais, os mestres e pastores lhes dão o exemplo? Meninos que mal saíram da primeira infância são vistos fumando. Se alguém lhes fala alguma coisa a esse respeito, respondem: "Meu pai fuma." Apontam ao pastor ou ao superintendente da escola dominical, e dizem: "Um homem como ele fuma; que mal faz que eu fume também?" Muitos obreiros da causa da temperança são apegados ao uso do fumo. Que autoridade são essas pessoas capazes de ter para impedir o progresso da intemperança? CBV 329 3 Apelo para aqueles que professam crer na Palavra de Deus e obedecer-lhe: Podeis vós, como cristãos, condescender com um hábito que vos está paralisando o intelecto, privando-vos da capacidade de estimar devidamente as realidades eternas? Podeis consentir em roubar diariamente a Deus do serviço que Lhe é devido, e roubar a vossos semelhantes, tanto do serviço que lhes poderíeis prestar como do poder do exemplo? CBV 329 4 Tendes vós considerado vossas responsabilidades como mordomos de Deus quanto aos meios colocados em vossas mãos? Quanto do dinheiro do Senhor empregais vós em fumo? Somai o que tendes assim gasto durante toda a vossa vida. Qual é o termo de comparação entre o que consumistes com essa contaminadora concupiscência e aquilo que tendes dado para alívio dos pobres e a disseminação do evangelho? CBV 330 1 Nenhuma criatura humana necessita de fumo, mas há multidões perecendo por falta dos meios que, empregados como são, fazem mais mal do que se fossem desperdiçados. Não tendes estado a empregar mal os bens do Senhor? Não tendes sido culpados de roubo para com Deus e vossos semelhantes? Não sabeis que "não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus". 1 Coríntios 6:19-20. CBV 330 2 Bebidas Intoxicantes "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; E todo aquele que neles errar nunca será sábio." Provérbios 20:1. CBV 330 3 "Para quem são os ais? Para quem, os pesares? Para quem, as pelejas? Para quem, as queixas? Para quem, as feridas sem causa? E para quem, os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, Para os que andam buscando bebida misturada. Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, Quando resplandece no copo E se escoa suavemente. No seu fim, morderá como a cobra E, como o basilisco, picará." Provérbios 23:29-32. CBV 330 4 Nunca foi traçado pela pena humana mais vivo quadro do aviltamento e escravidão da vítima da bebida intoxicante. Escravizado, degradado, mesmo quando desperto para o sentimento de sua miséria, falta-lhe poder para romper as malhas; ainda a tornará "a buscá-la outra vez". Provérbios 23:35. CBV 331 1 Não são necessários argumentos para mostrar os maus efeitos dos intoxicantes no bêbado. As embrutecidas ruínas da humanidade -- almas por quem Cristo morreu, e sobre as quais choram os anjos -- encontram-se por toda parte. São uma nódoa em nossa alardeada civilização. São a vergonha e a ruína e o perigo de toda Terra. CBV 331 2 E quem pode pintar a miséria, a agonia, o desespero que se ocultam na casa do bêbado? Pensai na esposa, muitas vezes delicadamente criada, sensível, culta, refinada, ligada a uma criatura a quem a bebida transforma num beberrão ou num demônio. Pensai nas crianças, privadas dos confortos do lar, de educação, vivendo em terror daquele que devia ser o seu orgulho e a sua proteção, atiradas ao mundo, levando as marcas da vergonha, muitas vezes com a maldição hereditária da sede da bebida! CBV 331 3 Pensai nos terríveis acidentes que ocorrem todos os dias por influência do álcool. Algum funcionário num trem de estrada de ferro negligencia atender a um sinal ou entende mal a uma ordem. O trem avança; dá-se um choque, e muitas vidas se perdem. Ou é um navio que encalha, e passageiros e tripulação encontram nas águas seu túmulo. Quando se investiga a questão, verifica-se que alguém, num posto de responsabilidade, se achava sob o efeito da bebida. Até que ponto pode uma pessoa condescender com o hábito da bebida, confiando-se lhe com segurança vidas humanas? Só merece essa confiança o que for totalmente abstêmio. Os Intoxicantes Mais Brandos CBV 331 4 As pessoas que herdaram o apetite dos estimulantes contrários à natureza não devem por modo nenhum ter vinho, cerveja ou sidra diante dos olhos ou ao seu alcance; pois isso lhes mantém a tentação continuamente adiante. Considerando inofensiva a sidra não fermentada, muitos não têm escrúpulos de a comprar à vontade. Mas só por pouco tempo ela se conserva não fermentada; começa depois a fermentação. O sabor picante que adquire então a torna ainda mais apetecível para muitos paladares, e ao seu adepto repugna reconhecer que ela fermentou. CBV 332 1 Há perigo para a saúde mesmo no uso de sidra não fermentada, segundo é comumente produzida. Se o povo pudesse ver o que o microscópio revela quanto à sidra que compram, poucos estariam dispostos a ingeri-la. Frequentemente os que fabricam sidra para o mercado não são cuidadosos quanto às condições da fruta empregada, sendo extraído o suco de maçãs bichadas e podres. Aqueles que não quereriam pensar em se servir de maçãs apodrecidas e envenenadas de outro jeito beberão sidra delas feita, considerando-a uma delícia; mas o microscópio mostra que mesmo quando fresca, saída da prensa, essa aprazível bebida é inteiramente imprópria para o consumo. CBV 332 2 A intoxicação é produzida tão positivamente pelo vinho, cerveja e sidra, como pelas bebidas mais fortes. O uso delas suscita o gosto pelas outras, estabelecendo-se assim o hábito da bebida. O beber moderado é a escola em que os homens se educam para a carreira da embriaguez. Todavia, tão perigosa é a obra desses estimulantes mais brandos que a vítima entra no caminho da embriaguez antes de suspeitar o perigo em que se encontra. CBV 332 3 Alguns que nunca são considerados realmente bêbados estão sempre sob a influência de intoxicantes brandos. São febris, de mente instável, desequilibrados. Imaginando-se seguros, vão mais e mais adiante, até que toda barreira é derribada, todo princípio sacrificado. São minadas as mais vigorosas resoluções, as mais elevadas considerações não são suficientes para manter o degradado apetite sob o controle da razão. CBV 333 1 Em parte alguma sanciona a Bíblia o uso de vinho intoxicante. O vinho feito por Cristo da água, nas bodas de Caná, foi o puro suco da uva. Esse é o vinho novo que se "acha mosto em um cacho de uvas", de que a Escritura diz: "Não o desperdices, pois há bênção nele." Isaías 65:8. CBV 333 2 Foi Cristo que, no Antigo Testamento, advertiu a Israel: "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio." Provérbios 20:1. Ele nunca proveu tal bebida. Satanás tenta o homem a transigir com aquilo que obscurece a razão e embota as percepções espirituais, mas Cristo nos ensina a pôr a natureza inferior em sujeição. Ele nunca põe diante do homem aquilo que lhe seria uma tentação. Toda a Sua vida foi um exemplo de abnegação. Foi para vencer o poder do apetite que, nos quarenta dias de jejum no deserto, Ele sofreu em nosso favor a mais rigorosa prova que a humanidade podia suportar. Foi Cristo que ordenou que João Batista não bebesse vinho nem bebida forte. Foi Ele que recomendou tal abstinência por parte da mulher de Manoá. Cristo não contradiz os próprios ensinos. O vinho não fermentado, que Ele forneceu para os convidados das bodas, era uma bebida saudável e refrigerante. Foi esse o vinho usado por nosso Salvador e Seus discípulos na primeira comunhão. É o vinho que se deve sempre usar na mesa da comunhão como símbolo do sangue do Salvador. O sacramento destina-se a ser refrigerante para a alma, e comunicador de vida. Com ele não deve estar ligada coisa alguma que sirva ao mal. CBV 333 3 À luz de tudo quanto a Escritura, a Natureza e a razão ensinam em relação ao uso de intoxicantes, como cristãos se podem empenhar em cultivar lúpulo para a fabricação de cerveja, ou na fabricação de vinho ou sidra, para venda? Se amam aos seus semelhantes como a si mesmos, como poderão auxiliar a pôr-lhes no caminho aquilo que lhes servirá de laço? CBV 334 1 Muitas vezes, a intemperança começa no lar. Pelo uso de alimentos condimentados, não saudáveis, enfraquecem-se os órgãos digestivos, criando-se um desejo de comida ainda mais estimulante. Assim se educa o apetite a desejar continuamente alguma coisa mais forte. A exigência dessas substâncias torna-se mais frequente e mais irresistível. O organismo enche-se mais ou menos de venenos, e, quanto mais debilitado se torna, tanto maior o desejo dessas coisas. Um passo dado na direção errada prepara o caminho para outro. Muitas pessoas que não seriam culpadas de pôr à mesa vinho ou bebida alcoólica de qualquer espécie enchê-la-ão de comidas que criam tal sede de bebida forte, que quase impossível é resistir à tentação. Os hábitos errôneos no comer e no beber destroem a saúde e preparam o caminho para a embriaguez. CBV 334 2 Haveria em breve pouca necessidade de cruzadas antialcoólicas, se nos jovens, que formam e modelam a sociedade, se pudessem implantar retos princípios de temperança. Iniciem os pais uma cruzada contra a intemperança em seu próprio lar, nos princípios que ensinam os filhos a seguir desde a infância, e poderão esperar êxito. CBV 334 3 Há trabalho para as mães no ajudarem os filhos a formar hábitos corretos e gostos puros. Educai o apetite; ensinai as crianças a abominarem os estimulantes. Criai vossos filhos de modo a formarem fibra moral para resistir ao mal que os circunda. Ensinai-lhes que não devem ser desviados pelos outros, nem ceder a fortes influências, mas sim influenciar a outros para o bem. CBV 334 4 Grandes esforços se fazem por derribar a intemperança; muito esforço se faz, no entanto, que não é dirigido exatamente ao ponto. Os advogados da reforma da temperança devem estar alerta quanto aos maus resultados do uso de comidas não saudáveis dos condimentos, do chá e do café. Desejamos boa sorte a todos os obreiros da temperança; mas convidamo-los a considerar mais profundamente a causa do mal que combatem, e estar certos de que são coerentes na reforma. CBV 335 1 Deve ser mantido perante o povo que o justo equilíbrio das faculdades mentais e morais depende em alto grau da devida condição do sistema fisiológico. Todos os narcóticos e estimulantes não naturais que enfraquecem e degradam a natureza física tendem a abaixar o tono do intelecto e da moral. A intemperança jaz à base da depravação moral do mundo. Pela satisfação do apetite pervertido, perde o homem seu poder de resistir à tentação. CBV 335 2 Os reformadores da temperança têm uma obra a fazer em educar o povo nesse sentido. Ensinai-lhes que a saúde, o caráter e a própria vida são postos em perigo pelo uso de estimulantes que incitam as exaustas energias a uma ação anti-natural, espasmódica. CBV 335 3 Quanto ao chá, ao café, fumo e bebidas alcoólicas, a única atitude segura é não tocar, não provar, não manusear. A tendência do chá, café e bebidas semelhantes é no mesmo sentido que as bebidas alcoólicas e o fumo, e em alguns casos o hábito é tão difícil de vencer como é para um bêbado o abandonar os intoxicantes. Os que tentam deixar esses estimulantes sentirão por algum tempo sua falta, e sofrerão sem eles. Com persistência, porém, vencerão o forte desejo, e a falta deixará de se fazer sentir. A natureza talvez exija algum tempo até se recuperar do mau trato sofrido; dai-lhe, no entanto, uma oportunidade, e ela se reanimará, realizando nobremente e bem a sua tarefa. ------------------------Capítulo 27 -- O comércio de bebidas e a proibição CBV 337 1 "Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça e os seus aposentos sem direito; ... que diz: Edificarei para mim uma casa espaçosa e aposentos largos, e lhe abre janelas, e está forrada de cedro e pintada de vermelhão. Reinarás tu, só porque te encerras em cedro? ... Os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a tua avareza, e para o sangue inocente, a fim de derramá-lo, e para a opressão, e para a violência, a fim de levar isso a efeito." Jeremias 22:13-15 e 17. A Obra do Vendedor de Bebidas CBV 337 2 Essa passagem apresenta a obra dos que fabricam e dos que vendem bebidas intoxicantes. Seu comércio quer dizer roubo. Pelo dinheiro que recebem, não dão eles nenhum valor equivalente. Cada centavo que ajuntam a seus lucros trouxe ao comprador uma maldição. CBV 337 3 Com mão liberal tem Deus derramado Suas bênçãos sobre os homens. Fossem Suas dádivas sabiamente empregadas, quão pouco o mundo havia de conhecer de pobreza ou aflição! É a impiedade dos homens que Lhe transforma as bênçãos em maldição. É mediante a ganância de lucro e a concupiscência do apetite que os cereais e as frutas dadas para nossa manutenção se convertem em venenos que produzem miséria e ruína. CBV 338 1 Todos os anos se consomem milhões e milhões de litros de bebidas intoxicantes. Milhões e milhões de dólares são gastos na compra da miséria, pobreza, enfermidade, degradação, concupiscência, crime e morte. Por amor do ganho, o vendedor de bebidas passa a suas vítimas aquilo que corrompe e destrói a mente e o corpo. Traz sobre a família do bêbado a pobreza e a ruína. CBV 338 2 Morta a sua vítima, não cessam as cobranças do vendedor de álcool. Rouba a viúva, e leva os filhos à mendicidade. Não hesita em tirar da despojada família até o que é indispensável à vida, a fim de se pagar a conta do marido e pai. Os clamores das sofredoras crianças, as lágrimas da mãe angustiada, não servem senão para o exasperar. Que lhe importa se esses pobres coitados morrerem de fome? Que lhe importa se também eles forem compelidos à degradação e à ruína? Ele enriquece à custa do bocado daqueles a quem está arrastando à perdição. CBV 338 3 Casas de prostituição, antros de vícios, tribunais criminais, prisões, casas de caridade, asilos de alienados, hospitais -- todos, em alto grau, se acham cheios em resultado da obra do vendedor de bebidas. Como a Babilônia mística do Apocalipse, ele está mercadejando com "corpos" e "almas de homens". Por trás do vendedor de bebidas está o grande destruidor de almas, e toda arte, que a Terra ou o inferno possa imaginar, é empregada para atrair as criaturas humanas para debaixo de seu poder. Na cidade e no campo, nos trens da estrada de ferro, nos grandes navios, nos lugares de comércio, nos salões de prazer, no dispensário médico, e mesmo na igreja, na sagrada mesa da comunhão, são lançadas suas armadilhas. Coisa alguma é esquecida a fim de criar e fomentar o desejo de intoxicantes. Em quase todas as esquinas, acha-se um bar, com suas luzes brilhantes, seus atrativos e animação, convidando o trabalhador, o rico ocioso e o incauto jovem. CBV 338 4 Nos restaurantes particulares e lugares de recreio, oferecem-se, às senhoras, sob alguma designação aprazível, bebidas populares que são na verdade intoxicantes. Para os doentes e debilitados, há os largamente preconizados aperitivos, que consistem em grande parte de álcool. CBV 339 1 Para despertar nas crianças o apetite de bebida, introduz-se o álcool em confeitos ou bombons. Esses são vendidos nas confeitarias. E por meio desses confeitos o vendedor de bebidas atrai para si as crianças. CBV 339 2 Dia a dia, mês a mês, ano a ano, prossegue a obra. Pais e maridos e irmãos, o esteio, a esperança e o orgulho da nação, vão decididamente passando para os antros do traficante de bebidas para serem devolvidos desgraçados em ruínas. CBV 339 3 Mais terrível ainda, a praga está ferindo o próprio coração do lar. Mais e mais estão as mulheres formando o hábito da bebida. Em muitas casas, estão crianças, mesmo na inocência e desamparo de seus primeiros dias, em perigo diário, devido à negligência, ao mau trato, à vileza de mães embriagadas. Filhos e filhas estão a crescer à sombra desse terrível mal. Quais as perspectivas para seu futuro, senão que venham a abismar-se ainda mais fundo que seus pais? CBV 339 4 Das terras chamadas cristãs, é a praga levada às regiões da idolatria. Os pobres e ignorantes selvagens são ensinados a beber. Mesmo entre os pagãos, homens de inteligência reconhecem e protestam contra o álcool como veneno mortífero; em vão, porém, têm eles procurado proteger sua terra contra as devastações que ele traz. Povos civilizados forçam a entrada do fumo, do álcool e do ópio entre as nações pagãs. As desenfreadas paixões dos selvagens, estimuladas pelo álcool, arrastam-nos a uma degradação antes desconhecida, tornando-se empreendimento quase desesperado o envio de missionários a essas terras. CBV 339 5 Mediante seu contato com os povos que lhes deviam ter dado o conhecimento de Deus, são os pagãos levados a vícios que têm causado a destruição de tribos e nações inteiras. E por isso, nos lugares obscurecidos da Terra, os homens das nações civilizadas são odiados. A Responsabilidade da Igreja CBV 340 1 O interesse da bebida é um poder no mundo. Ele tem de seu lado as forças conjugadas do dinheiro, do hábito e do apetite. Seu poder faz-se sentir na própria igreja. Homens cujo dinheiro foi ganho, direta ou indiretamente, no tráfico das bebidas alcoólicas, são membros de igrejas, de boa reputação. Muitos deles dão liberalmente para as obras populares de caridade. Suas contribuições ajudam a manter os empreendimentos da igreja e a sustentar seus pastores. Impõem a consideração dispensada ao poder do dinheiro. As igrejas que aceitam tais membros estão virtualmente apoiando o comércio de bebidas. Com demasiada frequência o pastor não tem a coragem de ficar ao lado do direito. Ele não declara ao povo o que Deus disse a respeito da obra do vendedor de bebidas. Falar claramente seria ofender a congregação, sacrificar a popularidade, perder o salário. CBV 340 2 Acima do tribunal da igreja, porém, encontra-se o tribunal de Deus. Aquele que declarou ao primeiro assassino: "A voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra" (Gênesis 4:10), não aceitará para Seu altar as dádivas do traficante de bebidas. Sua ira se acende contra os que tentam cobrir a própria culpa com a capa da liberdade. Seu dinheiro é manchado de sangue. Está sobre ele uma maldição. CBV 341 1 "De que Me serve a Mim a multidão dos vossos sacrifícios, Diz o Senhor? ... Quando vindes para comparecer perante Mim, Quem requereu isso de vossas mãos, que viésseis pisar os Meus átrios? Não tragais mais ofertas debalde. ... Quando estendeis as mãos, Escondo de vós os olhos; Sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, Porque as vossas mãos estão cheias de sangue." Isaías 1:11-15. CBV 341 2 O bebedor é capaz de coisas melhores. Foi dotado de talentos com que possa honrar a Deus e beneficiar o mundo; mas seus semelhantes lhe puseram uma armadilha à alma, e edificam-se à custa de sua degradação. Vivem em luxo, ao passo que as pobres vítimas a quem têm roubado vivem na pobreza e na miséria. Mas Deus requererá isto da mão daquele que ajudou a precipitar o bêbado na ruína. Aquele que reina no Céu não tem perdido de vista a causa primária ou o derradeiro efeito da embriaguez. Aquele que cuida do pardal e veste a erva do campo não passará por alto os que foram formados à Sua imagem, comprados com Seu próprio sangue, não dando ouvidos ao seu clamor. Deus registra toda essa impiedade que perpetua o crime e a miséria. CBV 341 3 O mundo e a igreja podem ter aprovação para o homem que adquiriu fortuna degradando a alma humana. Podem sorrir àquele por meio de quem homens são levados passo a passo mais baixo na vereda da vergonha e da degradação. Mas Deus observa tudo, dá em troca um justo juízo. O mercador de bebidas pode ser classificado pelo mundo como um bom comerciante; mas o Senhor diz: "Ai dele!" Ser-lhe-á imputado o desamparo, a miséria, o sofrimento trazido ao mundo pelo comércio de bebidas alcoólicas. Terá de responder pela necessidade e desgraça de mães e filhos que sofreram por falta de alimento, roupa e abrigo, e para quem foram sepultadas toda esperança e alegria. Terá de responder pelas almas que enviou não preparadas para a eternidade. E os que apóiam o mercador de bebidas nessa obra são participantes de sua culpa. A esses diz Deus: "As vossas mãos estão cheias de sangue." Isaías 1:15. Licenças CBV 342 1 As licenças para o comércio de bebidas são advogadas por muitos como tendentes a restringir o mal da bebida. O licenciá-lo, porém, coloca-o sob a proteção da lei. O governo sanciona-lhe a existência, fomentando assim o mal que professa restringir. Sob a proteção das leis de licença, as cervejarias, destilarias e fábricas de vinho são estabelecidas por toda parte da Terra, e o negociante de bebidas traz sua obra mesmo para junto de nossa porta. CBV 342 2 Muitas vezes é proibido vender bebidas alcoólicas; mas a obra de transformar os jovens em alcoólatras prossegue decididamente. A própria existência do comércio depende de criar na juventude o gosto pela bebida. Os jovens vão sendo levados avante, passo a passo, até que o hábito de beber se acha estabelecido, e desperta-se uma sede que tem de ser satisfeita a todo custo. Menor mal seria conceder o álcool ao bebedor inveterado, cuja ruína, na maioria dos casos, já está determinada, do que permitir que a flor de nossa juventude seja seduzida para a destruição mediante esse terrível hábito. CBV 342 3 Mediante a licença concedida ao tráfico de bebidas, mantém-se a tentação constantemente diante dos que se estão esforçando por se regenerar. Têm-se estabelecido instituições onde as vítimas da intemperança podem ser auxiliadas a vencer o apetite. É uma nobre tarefa; mas, enquanto a venda de bebidas for sancionada por lei, os intemperantes pouco benefício recebem das instituições de recuperação de alcoólatras. Eles não podem aí ficar para sempre. Devem retomar seu lugar na sociedade. A sede de bebidas intoxicantes, embora subjugada, não foi inteiramente destruída; e quando a tentação os assalta, como acontece de todos os lados, também eles caem como fácil presa. CBV 343 1 O homem que tem um animal bravo, e que, conhecendo-lhe a disposição, permite-lhe liberdade é, pelas leis da Terra, considerado responsável pelo dano que o animal possa causar. Nas leis dadas a Israel, o Senhor ordenou que, quando um animal conhecido como bravo causasse a morte de uma criatura humana, a vida do dono devia pagar o preço de seu descuido ou malignidade. Segundo esse princípio, o governo que licencia o vendedor de bebidas alcoólicas deve ser considerado responsável pelos resultados de seu tráfico. E, se é um crime digno de morte deixar em liberdade um animal bravo, quão maior é o crime de sancionar a obra do vendedor de bebidas! CBV 343 2 As licenças são concedidas sob a alegação de que trazem uma renda ao tesouro público. Mas que é esse lucro quando comparado com a enorme despesa que acarretam os criminosos, os loucos, os indigentes, que são o fruto do comércio alcoólico! Sob a influência da bebida, um homem comete um crime e é levado ao tribunal; e os que legalizam o tráfico são forçados a lidar com os resultados de sua própria obra. Autorizaram a venda da bebida que havia de transformar um homem são num louco; e agora é-lhes necessário condená-lo à prisão ou à morte, enquanto muitas vezes sua esposa e filhos são deixados ao desamparo, para se tornarem uma carga à sociedade em que vivem. CBV 344 1 Considerando apenas o aspecto financeiro da questão, que loucura é tolerar tal comércio! Que renda pode compensar a perda da razão humana, o apagamento e a desfiguração da imagem de Deus no homem, a ruína de crianças reduzidas à indigência e à degradação, para perpetuarem nos filhos as más tendências de seus pais alcoólatras? Proibição CBV 344 2 O homem que formou o hábito de usar intoxicantes encontra-se em situação desesperada. Tem o cérebro enfermo, enfraquecido o poder da vontade. No que respeita a qualquer poder de sua parte, é incontrolável o apetite da bebida para ele. Não se pode raciocinar com ele nem persuadi-lo à renúncia. Arrastada aos antros de vício, a pessoa que resolvera abandonar a bebida é novamente levada a empunhar o copo, e com o primeiro trago do intoxicante é vencida toda boa resolução, destruído qualquer vestígio de vontade. Uma prova da enlouquecedora bebida, e jazem desvanecidos todos os pensamentos quanto a seus resultados. É esquecida a desolada esposa. O viciado pai não mais se incomoda se os filhos estão com fome ou nus. Legalizando o tráfico, a lei empresta sua sanção a essa queda da alma, e recusa-se a deter o comércio que enche o mundo de males. CBV 344 3 Deve isso continuar sempre? Hão de almas lutar sempre pela vitória tendo diante de si aberta a porta da tentação? Deverá a maldição da intemperança ficar para sempre como uma praga sobre o mundo civilizado? Deverá continuar a devastar, todos os anos, qual incêndio consumidor, a milhares de lares felizes? Quando um navio naufraga à vista da praia, o povo não fica em ociosa contemplação. Arriscam a vida no esforço de salvar homens e mulheres de encontrar a sepultura no mar. Quanto mais necessário não é o esforço para salvá-los da sorte de um alcoólatra! CBV 345 1 Não são somente o bêbado e sua família os que se acham em perigo pela obra do comerciante de bebidas, nem é o peso do imposto o maior mal trazido por seu comércio à coletividade. Achamo-nos entretecidos na teia humana. O mal que sobrevém a qualquer parte da grande fraternidade humana põe a todos em perigo. CBV 345 2 Muitas pessoas que, mediante o amor do lucro ou da comodidade, nada quereriam ter no restringir o comércio das bebidas, verificaram, demasiado tarde, que esse comércio tinha que ver com elas. Viu seus próprios filhos embrutecidos e arruinados. A anarquia anda a rédeas soltas. Corre risco a propriedade. A vida não está em segurança. Multiplicam-se os acidentes por terra e mar. Doenças que crescem nos antros da imundícia e da miséria abrem caminho até aos lares senhoriais e luxuosos. Os vícios fomentados pelos filhos da depravação e do crime infectam filhos e filhas de casas distintas e cultas. CBV 345 3 Não existe pessoa a quem o tráfico das bebidas não ponha em risco. Não há homem que não deva, por sua própria segurança, pôr mãos à obra de o destruir. CBV 345 4 Mais que quaisquer outras instituições que tenham de lidar apenas com interesses seculares, as câmaras legislativas e os tribunais de justiça se devem achar isentos da praga da intemperança. Governadores, senadores, deputados, juízes, homens que decretam e administram as leis de uma nação, homens que têm nas mãos a vida, a boa reputação e os bens de seus semelhantes devem ser homens de estrita temperança. Somente assim podem eles ter clara a mente para discriminar entre o bem e o mal. Só assim podem possuir firmeza de princípios e sabedoria para ministrar a justiça e mostrar misericórdia. Mas como reza o relatório? Quantos desses homens têm a mente nublada, confuso o senso do bem e do mal pela bebida forte! Quantas leis opressivas são decretadas, quantas pessoas inocentes condenadas à morte mediante a injustiça de legisladores, testemunhas, jurados, advogados e mesmo juízes dados à bebida! Muitos há "poderosos para beber vinho" e "homens forçosos para misturar bebida forte" (Isaías 5:22), "que ao mal chamam bem e ao bem, mal" (Isaías 5:20); que "justificam o ímpio por presentes e ao justo negam justiça!". Isaías 5:23. Desses tais diz Deus: CBV 346 1 "Ai deles... Como a língua de fogo consome a estopa, E a palha se desfaz pela chama, Assim será a sua raiz, como podridão, E a sua flor se esvaecerá como pó; Porquanto rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos E desprezaram a Palavra do Santo de Israel." Isaías 5:22 e 24. CBV 346 2 A honra de Deus, a estabilidade da nação, o bem-estar da coletividade, do lar e do indivíduo, exigem que se faça todo esforço por despertar o povo quanto ao mal da intemperança. Em breve haveremos de ver, como agora não vemos, o resultado desse terrível mal. Quem exercerá decidido esforço para deter a obra de destruição? Até aqui o conflito mal foi começado. Que se forme um exército para fazer cessar a venda das bebidas que encerram drogas capazes de enlouquecer os homens. Torne-se patente o perigo do comércio de bebidas, e crie-se um sentimento público de molde a exigir sua proibição. Dê-se aos homens enlouquecidos pelo álcool oportunidade de escaparem a seu cativeiro. Exija a voz da nação de seus legisladores que se ponha um termo a esse tráfico infame. CBV 346 3 "Se faltares de livrar aos que são levados à morte E arrastados à matança; Se disseres: Eis que não soubemos isso: Não é assim que Aquele, que pondera os corações, Esse o entende? E que Aquele que guarda a tua alma, Esse o sabe?" Provérbios 24:11-12, Versão Trinitariana. CBV 346 4 E "que dirás, quando Ele te visitar?" Jeremias 13:21, Versão Trinitariana. ------------------------Capítulo 28 -- O ministério do lar CBV 349 1 A restauração e reerguimento da humanidade começam no lar. A obra dos pais é a base de toda outra obra. A sociedade compõe-se de famílias, e é o que a façam os chefes de família. Do coração "procedem as saídas da vida" (Provérbios 4:23); e o coração da comunidade, da igreja e da nação é o lar. A felicidade da sociedade, o êxito da igreja e a prosperidade da nação dependem das influências domésticas. CBV 349 2 A importância e as oportunidades da vida do lar ressaltam na vida de Jesus. Aquele que veio a este mundo para ser nosso exemplo e nosso Mestre passou trinta anos como membro de uma família em Nazaré. Pouco diz a Bíblia relativamente a esses trinta anos. Durante eles não houve milagres notáveis que chamassem a atenção do povo. Não houve multidões que seguissem ansiosas os passos do Senhor, ou que Lhe escutassem as palavras. E, não obstante, durante todos esses anos o Senhor levava a cabo Sua missão divina. Vivia como qualquer um de nós, tomando parte na vida doméstica, a cuja disciplina Se submetia, cumprindo os deveres da mesma, e tomando Sua parte nas responsabilidades. Sob a proteção do lar humilde, participando dos incidentes da sorte comum, "Jesus crescia em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens". Lucas 2:52. CBV 350 1 Durante todos esses anos de retiro, a vida do Senhor fluía em torrentes de préstimo. Seu desprendimento e tolerância, Seu valor e fidelidade, Sua resistência à tentação, Sua nunca desmentida paz e Sua doce alegria eram um contínuo estímulo. Trazia ao lar um ambiente puro e doce, e Sua vida foi qual um fermento ativo entre os elementos da sociedade. Ninguém diria houvesse feito algum milagre; não obstante, dEle saía virtude e o poder restaurador e vivificante do amor para com os tentados, enfermos e abatidos. Desde tenra idade, e sem que Se tornasse intruso, desempenhava Suas tarefas entre os demais, de maneira que, ao começar o ministério público, muitos O escutaram com prazer. CBV 350 2 Os primeiros anos da vida do Salvador são mais que um exemplo para a juventude. São uma lição, e deveriam ser um estímulo para todo pai. O círculo dos deveres para com a família e os vizinhos é o primeiro campo de ação para os que se querem empenhar na obra do levantamento moral de seus semelhantes. Não há um campo de ação mais importante do que o que foi designado aos fundadores e protetores do lar. Das obras, confiadas a seres humanos, nenhuma existe tão repleta de consequências de grande alcance, como a obra dos pais. CBV 351 1 A juventude e a infância de hoje é que determinam o futuro da sociedade, e o que esses jovens e essas crianças hão de ser depende do lar. A falta de boa educação doméstica pode ser responsabilizada pela maior parte das enfermidades, de miséria e criminalidade que flagelam os homens. Se a vida doméstica fosse pura e verdadeira, se os filhos que saem do lar se achassem devidamente preparados para enfrentar as responsabilidades da vida e seus perigos, que transformação não experimentaria o mundo! CBV 351 2 Realizam-se muitos esforços, gastam-se tempo, dinheiro e trabalho em proporções quase ilimitadas, em empresas e instituições destinadas à regeneração das vítimas dos maus hábitos. E ainda assim todos esses esforços se tornam insuficientes para enfrentar tão grandes necessidades. Quão insignificantes são os resultados! Quão poucos os que se regeneram para sempre! CBV 351 3 Muitíssimos aspiram a uma vida melhor, mas falta-lhes valor e resolução para romper com os maus hábitos. Recuam ante a enormidade do esforço, das lutas e sacrifícios exigidos, e sua vida fracassa e malogra-se. Assim, mesmo os mais brilhantes, os de aspirações mais elevadas e faculdades mais nobres, aqueles que são dotados pela natureza e pela educação de maneira a ocupar cargos de confiança e responsabilidade, degradam-se e perdem-se para esta vida e para a vida por vir. CBV 351 4 Para os que se emendam, que luta encarniçada para recuperar a perdida varonilidade! E durante toda a vida, com o organismo arruinado, a vontade vacilante, a inteligência embotada e a alma enfraquecida, muitos colhem o fruto do mal que semearam. Quanto mais não se poderia levar a cabo se se houvesse enfrentado o mal desde o princípio! CBV 352 1 Essa obra depende, em grande parte, dos pais. Nos esforços para deter os avanços da intemperança e de outros males que corroem como câncer o organismo social, se fosse concedida mais atenção à tarefa de ensinar aos pais a maneira de formar os hábitos e o caráter dos filhos, o resultado seria cem vezes mais benéfico. O hábito, força tão poderosa para o mal, pode ser transformado pelos pais em força para o bem. Têm de cuidar do rio desde a nascente, cumprindo-lhes dar ao mesmo uma boa direção. CBV 352 2 É possível aos pais lançar as bases de uma vida sã e feliz para seus filhos. Podem fazer com que, ao deixarem o lar, eles possuam a força moral necessária para resistir à tentação, e valor e força para resolverem com êxito os problemas da vida. Podem inspirar-lhes o propósito, e desenvolver neles a faculdade de tornar sua vida uma honra para Deus e uma bênção para o mundo. Podem abrir retas veredas para seus pés, através de sol e sombra, até às gloriosas alturas celestes. CBV 352 3 A missão do lar estende-se para além do círculo de seus membros. O lar cristão deve ser uma lição prática que ponha em relevo a excelência dos princípios verdadeiros da vida. Semelhante exemplo será no mundo uma força para o bem. Muito mais poderosa que qualquer sermão pregado é a influência de um verdadeiro lar, no coração e na vida. Ao deixarem um lar assim, os jovens ensinarão as lições que aí aprenderam. Por essa maneira, penetrarão em outros lares princípios mais nobres de vida, e uma influência regeneradora será sentida na sociedade. CBV 352 4 Há muitos outros para quem nossa família pode se tornar uma bênção. Nossas recreações sociais não deveriam ser ditadas pelos costumes do mundo, mas pelo Espírito de Cristo, e pelos ensinos de Sua Palavra. Os israelitas, em todas as suas festas, admitiam os pobres, os estrangeiros e os levitas, os quais eram ao mesmo tempo ajudantes do sacerdote no santuário, mestres de religião e missionários. Todos esses eram considerados hóspedes do povo, recebendo hospitalidade durante as festas sociais e religiosas, e sendo atendidos carinhosamente em suas enfermidades e necessidades. A pessoas assim devemos acolher em nosso lar. Quanto esse acolhimento não alegraria e daria ânimo ao enfermeiro ou missionário, à mãe carregada de cuidados e trabalhos árduos, ou às pessoas fracas e idosas, que vivem muitas vezes sem lar, lutando com a pobreza e com tantos desalentos! CBV 353 1 "Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14. CBV 354 1 Estes são hóspedes que não nos custará muito receber. Não necessitareis de dispensar-lhes uma hospedagem dispendiosa e elaborada. O calor das boas-vindas, um assento ao pé do lume e outro à vossa mesa, o privilégio de compartilhar da bênção do culto de família, será, para muitos destes pobres, como um antegozo do Céu. CBV 354 2 Nossas simpatias devem transbordar para além de nossa personalidade e do círculo de nossa família. Há preciosas oportunidades para os que desejam fazer de seu lar uma bênção para outros. A influência social é uma força maravilhosa. Se queremos, podemos valer-nos dela para auxiliar aqueles que nos rodeiam. CBV 354 3 Nosso lar deve ser um refúgio para os jovens que sofrem tentações. Muitos há que se encontram na encruzilhada dos caminhos. Toda influência e impressão recebida determina a escolha do rumo de seu destino nesta vida e na por vir. O mal os atrai. Seus pontos de reunião são brilhantes e sedutores, e todos são aí muito bem recebidos. Em redor de nós há jovens sem família, ou cujos lares não exercem sobre eles uma força protetora nem enobrecedora, e eles se vêem arrastados para o mal. Encaminham-se para a ruína aos nossos olhos. CBV 354 4 Esses jovens necessitam que se lhes estenda a mão da simpatia. Uma boa palavra dita com sinceridade e uma pequena atenção para com eles varrerão as nuvens da tentação que se amontoam sobre sua alma. A verdadeira expressão da simpatia filha do Céu tem o poder de abrir a porta do coração que necessita da fragrância de palavras cristãs, e do simples, delicado contato do espírito do amor de Cristo. Se quiséssemos dar provas de algum interesse pela juventude, convidá-la a nossa casa, e cercá-la aí de influências alentadoras e proveitosas, muitos haveria que de boa vontade dirigiriam seus passos numa escala ascensional. Oportunidades da Vida CBV 355 1 Curto é o tempo de que dispomos. Não podemos passar por este mundo mais de uma vez; tiremos pois, ao fazê-lo, o melhor proveito de nossa vida. A tarefa a que somos chamados não requer riquezas, posição social, nem grandes capacidades. O que se requer é um espírito bondoso e desprendido, e firmeza de propósito. Uma luz, por pequena que seja, se está sempre brilhando, pode servir para acender outras muitas. Nossa esfera de influência poderá parecer limitada, nossas capacidades diminutas, escassas as oportunidades, nossos recursos reduzidos; no entanto, se soubermos aproveitar fielmente as oportunidades de nossos lares, maravilhosas serão nossas possibilidades. Se abrirmos o coração e o lar aos divinos princípios da vida, poderemos ser condutos que levem correntes de força vivificante. De nosso lar fluirão rios de vida e de saúde, de beleza e fecundidade numa época como esta, em que tudo é desolação e esterilidade. ------------------------Capítulo 29 -- Os fundadores do lar CBV 356 1 Aquele que deu Eva a Adão por companheira, operou Seu primeiro milagre numa festa de casamento. Na sala festiva em que amigos e parentes juntos se alegravam, Cristo começou Seu ministério público. Sancionou assim o matrimônio, reconhecendo-o como instituição por Ele mesmo estabelecida. Ordenou que homens e mulheres se unissem em santo matrimônio, para constituir famílias cujos membros, coroados de honra, fossem reconhecidos como membros da família celestial. CBV 356 2 Cristo honrou a relação matrimonial tornando-a também símbolo da união entre Ele e os remidos. Ele próprio é o esposo; a esposa é a igreja, da qual diz: "Tu és toda formosa, amiga Minha, e em ti não há mancha." Cantares 4:7. CBV 356 3 Cristo "amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, ... para a apresentar a Si mesmo... santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a sua própria mulher". Efésios 5:25-28. CBV 356 4 O vínculo de família é o mais íntimo, o mais terno e sagrado de todos na Terra. Foi designado a ser uma bênção à humanidade. E assim o é sempre que se entre para o pacto matrimonial inteligentemente, no temor de Deus, e tomando em devida consideração as suas responsabilidades. CBV 357 1 Os que pensam em casar-se devem tomar em conta qual será o caráter e a influência do lar que vão fundar. Ao tornarem-se pais, é-lhes confiado um santo legado. Deles depende em grande medida o bem-estar dos filhos neste mundo e sua felicidade no mundo por vir. Determinam, em grande extensão, a imagem física e a moral que os pequeninos recebem. E da qualidade do lar depende a condição da sociedade; o peso da influência de cada família concorrerá para fazer subir ou descer o prato da balança. CBV 357 2 A escolha do companheiro para a vida deve ser feita de molde a melhor assegurar, aos pais e aos filhos, a felicidade física, mental e espiritual -- de sorte que habilite tanto os pais como os filhos a serem uma bênção aos semelhantes e uma honra ao Criador. CBV 358 1 Antes de assumir as responsabilidades que o casamento envolve, devem os jovens ter na vida prática uma experiência que os prepare para os deveres e encargos do mesmo. Casamentos precoces não convêm. Relação tão importante como seja a do casamento, e tão vasta no alcance de seus resultados, não deve ser assumida precipitadamente, sem suficiente preparo, e antes de se acharem bem desenvolvidas as faculdades mentais e físicas. CBV 358 2 Podem as partes não ter abastança, mas devem ter a bênção, muito maior, da saúde. E na maioria dos casos não convém grande diferença de idade. Da não observância desta regra poderá resultar sério prejuízo para a saúde da pessoa mais jovem. E muitas vezes os filhos são privados de força física e mental. Não podem receber de um idoso pai ou mãe o cuidado e a camaradagem que requer sua vida nova, e poderão ser pela morte privados do pai ou da mãe, exatamente quando mais precisavam de seu amor e guia. CBV 358 3 Só em Cristo é que se pode com segurança entrar para a aliança matrimonial. O amor humano deve fazer derivar do amor divino os seus laços mais íntimos. Só onde Cristo reina é que pode haver afeição profunda, verdadeira e altruísta. CBV 358 4 É o amor um dom precioso, que recebemos de Jesus. A afeição pura e santa não é sentimento, mas princípio. Os que são movidos pelo amor verdadeiro não são irrazoáveis nem cegos. Ensinados pelo Espírito Santo, amam a Deus supremamente e ao próximo como a si mesmos. CBV 359 1 Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção da aliança matrimonial caracterizado pela modéstia, simplicidade, sinceridade e o sincero propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura tanto neste mundo como no vindouro. O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar. CBV 359 2 Se desfrutais a bênção de ter pais tementes a Deus, procurai deles conselhos. Abri-lhes vossas esperanças e planos, aprendei as lições que lhes ensinaram as experiências da vida, e poupar-se-vos-ão muitas dores. Sobretudo, fazei de Cristo vosso conselheiro. Estudai Sua Palavra com oração. CBV 359 3 Sob essa guia, receba a jovem como companheiro vitalício tão-somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus. Procure o jovem, para lhe ficar ao lado, aquela que esteja habilitada a assumir a devida parte dos encargos da vida, cuja influência o enobreça e refine, fazendo-o feliz com seu amor. CBV 359 4 "Do Senhor vem a mulher prudente." Provérbios 19:14. "O coração do seu marido está nela confiado. ... Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida. Abre a boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua. Olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça. Levantam-se seus filhos, e chamam-na bem-aventurada; como também seu marido, que a louva, dizendo: Muitas filhas agiram virtuosamente, mas tu a todas és superior." Provérbios 31:11, 12, 26-29. O que consegue tal esposa "acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do Senhor". Provérbios 18:22. CBV 359 5 Por mais cuidadosa e sabiamente que se tenha entrado no casamento, poucos casais se encontram completamente unidos ao realizar-se a cerimônia matrimonial. A real união dos dois em matrimônio é obra dos anos subsequentes. CBV 360 1 Ao enfrentar o recém-casado par a vida com sua carga de perplexidade e cuidado, desaparece o romance com o qual tantas vezes a imaginação reveste o casamento. Marido e mulher ficam conhecendo mutuamente o caráter, como não lhes era possível conhecê-lo em sua associação anterior. E este é um período realmente crítico de sua vida. A felicidade e utilidade de toda a sua vida futura dependem de seguirem agora o devido procedimento. Muitas vezes descobrem no outro fraquezas e defeitos insuspeitáveis; mas os corações que o amor uniu descobrirão também excelências até então desconhecidas. Que todos procurem descobrir as virtudes e não os defeitos. Muitas vezes é nossa própria atitude, a atmosfera que nos rodeia, o que determina aquilo que o outro nos revelará. Muitos há que consideram a expressão de amor como uma fraqueza, e mantêm uma reserva que repele aos outros. Este espírito detém a corrente de simpatia. Sendo reprimidos os generosos impulsos sociais, eles mirram, e o coração torna-se desolado e frio. Devemos precaver-nos contra este erro. O amor não pode existir por muito tempo sem se exprimir. Não permitais que o coração do que se acha ligado convosco pereça à míngua de bondade e simpatia. CBV 360 2 Embora possam surgir dificuldades, perplexidades e desânimo, nem o marido nem a esposa abrigue o pensamento de que sua união é um erro ou uma decepção. Resolva cada qual ser para o outro tudo que é possível. Continuai as primeiras atenções. De todos os modos, anime um o outro nas lutas da vida. Procure cada um promover a felicidade do outro. Haja amor mútuo, mútua paciência. Então, o casamento, em vez de ser o fim do amor, será como que seu princípio. O calor da verdadeira amizade, o amor que liga coração a coração, é um antegozo das alegrias do Céu. CBV 361 1 Em torno de cada família existe um círculo sagrado que deve ser mantido inviolável. Nenhuma outra pessoa tem o direito de entrar nesse círculo. Nem o marido nem a esposa permitam que outro partilhe das confidências que somente a eles pertencem. CBV 361 2 Dê cada um amor, em vez de exigi-lo. Cultive aquilo que tem em si de mais nobre, e esteja pronto a reconhecer as boas qualidades do outro. É um admirável estímulo e satisfação saber alguém que é estimado. A simpatia e o respeito animam na luta em busca da perfeição, e o próprio amor cresce à medida que estimula a propósitos mais nobres. CBV 361 3 Nem o marido nem a esposa deve imergir sua individualidade na do outro. Cada qual tem uma relação pessoal para com Deus; e a Ele cada um deve perguntar: "Que é direito?" "Que não é direito?" "Como posso cumprir melhor o propósito de minha vida?" Que a abundância de vosso afeto flua para Aquele que deu a vida por vós. Fazei com que Cristo seja o primeiro, o último e o melhor em todas as coisas. Ao aprofundar-se e fortalecer-se vosso amor para com Ele, vosso recíproco amor será purificado e fortalecido. CBV 361 4 O espírito que Cristo manifesta para conosco é o que devem manifestar mutuamente os esposos. "E andai em amor, como também Cristo vos amou. ... Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela." Efésios 5:2, 24-25. CBV 361 5 Nem o marido nem a esposa deve pensar em exercer governo arbitrário um sobre o outro. Não intentem impor um ao outro os seus desejos. Não é possível fazer isso e ao mesmo tempo reter o amor mútuo. Sede bondosos, pacientes, longânimos, corteses e cheios de consideração mútua. Pela graça de Deus, podeis ter êxito em vos fazerdes mutuamente felizes, como prometestes no voto matrimonial. Felicidade no Serviço Abnegado CBV 362 1 Lembrai-vos, porém, de que não encontrareis a felicidade encerrando-vos em vós mesmos, satisfeitos com entornar toda a vossa afeição um sobre o outro. Aproveitai toda oportunidade de contribuir para a felicidade dos que vos rodeiam. Lembrai-vos de que a verdadeira alegria só se encontra no serviço desinteressado. CBV 362 2 A longanimidade e a abnegação assinalam as palavras e atos de todos quantos vivem vida nova em Cristo. Ao procurardes viver Sua vida, lutando por vencer o próprio eu e o egoísmo, e ajudar os outros em suas necessidades, alcançareis uma vitória após outra. Assim, vossa influência abençoará o mundo. CBV 362 3 Homens e mulheres podem atingir o ideal de Deus a seu respeito, se tomarem a Cristo como seu ajudador. O que a sabedoria humana não pode fazer, Sua graça realizará pelos que a Ele se entregarem em amorosa confiança. Sua providência pode unir corações com laços de origem celestial. O amor não será mera troca de suaves e lisonjeiras palavras. O tear do Céu tece com trama e urdidura mais fina, porém mais firme, do que se pode tecer nos teares da Terra. O resultado não é um tecido débil, mas sim capaz de resistir a fadigas e provas. Coração unir-se-á a coração nos áureos vínculos de um amor que é perdurável. ------------------------Capítulo 30 -- Escolha e preparo do lar CBV 363 1 O evangelho é um grande simplificador dos problemas da vida. Suas instruções, quando atendidas, resolveriam muita perplexidade e salvar-nos-iam de muitos erros. Ensina-nos a estimar as coisas em seu justo valor, e a dedicar o melhor de nosso esforço às de maior valia -- as que hão de permanecer. Precisam desta lição aqueles sobre quem repousa a responsabilidade de escolher o lar. Não devem deixar-se afastar do alvo mais elevado. Lembrem-se de que o lar da Terra deve ser o símbolo e o preparo para o do Céu. A vida é uma escola de preparo, na qual pais e filhos devem graduar-se para a escola superior das mansões de Deus. Ao procurar-se a localização para um lar, permita-se que esse propósito dirija a escolha. Não sejais dominados pelo desejo da riqueza, pelos ditames da moda ou os costumes da sociedade. Considerai o que melhor contribuirá para a simplicidade, pureza, saúde e valor real. CBV 363 2 Em todo o mundo, as cidades estão se tornando viveiros de vícios. Por toda parte se vê e ouve o que é mau, e encontram-se estimulantes à sensualidade e ao desregramento. Avoluma-se incessantemente a onda da corrupção e do crime. Cada dia oferece um registro de violência: roubos, assassínios, suicídios e crimes inomináveis. CBV 364 1 A vida nas cidades é falsa e artificial. A intensa paixão de ganhar dinheiro, o redemoinho da agitação e da corrida aos prazeres, a sede de ostentação, de luxo e extravagância, tudo são forças que, no que respeita à maioria da humanidade, desviam o espírito do verdadeiro desígnio da vida. Abrem a porta para milhares de males. Essas coisas exercem sobre a juventude uma força quase irresistível. CBV 364 2 Uma das mais sutis e perigosas tentações que assaltam as crianças e jovens nas cidades é o amor dos prazeres. Numerosos são os dias feriados; jogos e corridas de cavalos arrastam milhares, e a onda de satisfação e prazer atrai-os para longe dos sóbrios deveres da vida. O dinheiro que deveria haver sido economizado para melhores fins é desperdiçado em divertimentos. CBV 364 3 Em razão de monopólios, sindicatos e greves, as condições da vida nas cidades estão-se tornando cada vez mais difíceis. Sérias aflições encontram-se perante nós; e sair das cidades se tornará uma necessidade para muitas famílias. CBV 365 1 O ambiente material das cidades constitui muitas vezes um perigo para a saúde. O estar constantemente sujeito ao contato com doenças, o predomínio de ar poluído, água e alimento impuros, as habitações apinhadas, obscuras e insalubres, são alguns dos males a enfrentar. CBV 365 2 Não era desígnio de Deus que o povo se aglomerasse nas cidades, se apinhasse em cortiços. Ele pôs, no princípio, nossos primeiros pais entre os belos quadros e sons em que deseja que nos regozijemos ainda hoje. Quanto mais chegarmos a estar em harmonia com o plano original de Deus, mais favorável será nossa posição para assegurar saúde ao corpo, espírito e alma. CBV 365 3 Uma residência dispendiosa, mobília trabalhada, ostentação, luxo e conforto não proporcionam as condições essenciais a uma vida útil e feliz. Jesus veio ao mundo a fim de realizar a maior obra jamais efetuada entre os homens. Veio como embaixador de Deus, para nos mostrar a maneira de viver de modo a conseguir na vida os melhores resultados. Quais foram as condições escolhidas pelo Pai infinito para Seu Filho? Uma habitação isolada nas colinas da Galiléia; um lar mantido pelo trabalho honesto e respeitável; vida de simplicidade; luta diária com as dificuldades e provações; abnegação, economia e serviço paciente, feito com contentamento; a hora de estudo junto da mãe, com o rolo aberto das Escrituras; a serenidade da alvorada ou do crepúsculo no verdor do vale; o sagrado ministério da Natureza; o estudo da criação e da providência; a comunhão da alma com Deus: tais foram as condições e oportunidades dos primeiros anos de vida de Jesus. CBV 366 1 O mesmo acontece com a maioria dos melhores e mais nobres homens de todos os séculos. Lede a história de Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e Eliseu. Estudai a vida dos homens de épocas posteriores, que mais honrosamente ocuparam posições de confiança e responsabilidade, homens cuja influência foi mais eficaz no reerguimento do mundo. CBV 366 2 Quantos deles não foram criados num lar campestre! Pouco conheciam de luxo. Não gastaram o tempo da juventude em diversões. Muitos deles foram obrigados a lutar com a pobreza e privações. Aprenderam primeiramente a trabalhar, e sua vida ativa ao ar livre deu-lhes elasticidade e vigor a todas as faculdades. Forçados a contar unicamente com os próprios recursos, aprenderam a combater as dificuldades, a vencer os obstáculos, e adquiriram ânimo e perseverança. Abrigados, por assim dizer, das más companhias, satisfaziam-se com os prazeres naturais, com uma camaradagem sã. Eram simples nos gostos e de hábitos moderados. Regiam-se por princípios, e cresciam puros, robustos e leais. Ao terem que dedicar-se a um meio de vida, levavam para esse trabalho vigor físico e mental, boa disposição de espírito, capacidade de conceber e executar planos, e firmeza para resistir ao mal, o que os tornava no mundo uma força positiva para o bem. CBV 366 3 A melhor de todas as heranças que podeis legar a vossos filhos é o dom de um corpo sadio, mente sã e caráter nobre. Os que compreendem o que constitui o verdadeiro êxito da vida serão sábios em boa hora. Ao escolherem um lar, terão em vista os bens mais preciosos da vida. CBV 367 1 Em vez de morar onde só se podem ver as obras dos homens, onde o que se vê e ouve frequentemente sugere pensamentos maus, onde a balbúrdia e a confusão produzem fadiga e desassossego, ide para um lugar onde possais contemplar as obras de Deus. Buscai tranquilidade de espírito na beleza, quietude e paz da Natureza. Descanse o olhar nos campos verdejantes, nos bosques e colinas. Erguei os olhos ao céu azul, não obscurecido pelo pó e fumaça das cidades, e aspirai o ar celeste e revigorador. Ide para um lugar onde, separados das diversões e extravagâncias da vida de cidade, possais ser companheiros para vossos filhos, ensinando-os a conhecer a Deus mediante Suas obras, e preparando-os para uma vida íntegra e útil. Simplicidade no Mobiliário CBV 367 2 Nossos hábitos artificiais privam-nos de muitas bênçãos e alegrias, e incapacitam-nos para viver uma vida mais útil. Mobílias trabalhadas e custosas representam não somente um desperdício de dinheiro, mas daquilo que é mil vezes mais precioso. Elas trazem para a família pesado fardo de cuidados, labores e perplexidades. CBV 367 3 Quais são as condições em muitos lares, mesmo onde os recursos são limitados, e o serviço doméstico recai principalmente sobre a mãe? Os melhores aposentos são mobiliados num estilo que excede as posses dos moradores, e inadequados às suas conveniências e capacidades de usufruí-los. Há tapetes caros, cadeiras entalhadas e ricamente estofadas, custosas tapeçarias. Mesas, saliências ou qualquer outro espaço adequado se acha apinhado de ornamentos, e as paredes tão cheias de quadros que a vista se cansa. E que quantidade de trabalho exige tudo isso para se manter em ordem, livre de pó! Esse trabalho e outros hábitos artificiais da família para se manter de conformidade com a moda exigem da mãe uma lida interminável. CBV 368 1 Em muitos lares, a esposa e mãe não tem tempo para ler e manter-se bem informada, nem para servir de companheira ao marido, ou estar em contato com a mente em desenvolvimento de seus filhos. Não há tempo para o precioso Salvador Se tornar um companheiro íntimo e querido. Ela imerge pouco a pouco unicamente na lida doméstica, absorvendo suas forças, seu tempo e interesse nas coisas que perecem com o uso. Demasiado tarde, desperta para o fato de se achar quase uma estranha em sua própria casa. As preciosas oportunidades que lhe foram outrora concedidas para influenciar seus queridos para uma vida mais elevada, e que ela não soube aproveitar, passaram para sempre. CBV 369 1 Resolvam as donas de casa viver de maneira mais sábia. Seja vosso primeiro objetivo tornar o lar aprazível. Cuidai em providenciar as facilidades que amenizam o trabalho e promovem a saúde e o conforto. Tomai providências para entreter os hóspedes que Cristo vos pede acolher bem, e dos quais diz: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. CBV 370 1 Mobiliai vossa casa com móveis simples, com coisas que se possam manusear livremente, limpar com facilidade e substituir sem grande dispêndio. Com bom gosto, podeis tornar um lar simples atrativo e aprazível, se aí residirem o amor e o contentamento. Belos Arredores CBV 370 2 Deus ama o belo. Revestiu a Terra e o céu de beleza, e com alegria paternal contempla o deleite de Seus filhos nas coisas que criou. Ele deseja que circundemos nossas habitações com a beleza das coisas naturais. CBV 370 3 Quase todos os moradores do campo, se bem que pobres, poderiam ter ao redor de suas moradas um pedaço de gramado, algumas árvores de sombra, arbustos floridos, ou flores fragrantes. E, muito mais que os adornos artificiais, contribuirão para a felicidade do lar. Trarão para a vida doméstica influência amenizante, aperfeiçoadora, robustecendo o amor da Natureza, e atraindo mais os membros da família uns para os outros, e para Deus. ------------------------Capítulo 31 -- A mãe CBV 371 1 O que são os pais, em grande parte, hão de ser os filhos. As condições físicas dos pais, suas disposições e apetites, suas tendências morais e mentais são, em maior ou menor grau, reproduzidas em seus filhos. CBV 371 2 Quanto mais nobres os objetivos, mais elevados os dotes mentais e espirituais, e mais desenvolvidas as faculdades físicas dos pais, mais bem aparelhados para a vida se encontrarão os filhos. Cultivando a parte melhor de si mesmos, os pais exercem influência no moldar a sociedade e erguer as gerações futuras. CBV 371 3 Os pais precisam compreender sua responsabilidade. O mundo está cheio de laços para os pés da juventude. Multidões são atraídas por uma vida de egoísmo e prazeres sensuais. Não podem discernir os perigos ocultos, ou o terrível fim da senda que se lhes afigura o caminho da felicidade. Mediante a condescendência com o apetite e a paixão, desperdiçam as energias, e milhões se arruínam tanto para este mundo como para o por vir. Os pais devem lembrar que os filhos hão de enfrentar estas tentações. Mesmo antes do nascimento da criança, deve começar o preparo que a habilitará a combater com êxito na luta contra o mal. CBV 372 1 A responsabilidade repousa especialmente sobre a mãe. Ela, de cujo sangue a criança se nutre e se forma fisicamente, comunica-lhe também influências mentais e espirituais que tendem a formar-lhe a mente e o caráter. Foi Joquebede, a hebréia que, fervorosa na fé, não temeu "o mandamento do rei" (Hebreus 11:23), a mãe de Moisés, libertador de Israel. Foi Ana, a mulher de oração e espírito abnegado, inspirada pelo Céu, que deu à luz Samuel, a criança divinamente instruída, juiz incorruptível, fundador das escolas sagradas de Israel. Foi Isabel, a parenta e especial amiga de Maria de Nazaré, que gerou o precursor do Messias. Temperança e Domínio Próprio CBV 372 2 É-nos ensinado nas Escrituras o cuidado com que a mãe deve vigiar seus hábitos de vida. Quando o Senhor quis levantar Sansão como libertador de Israel, "o anjo do Senhor" (Juízes 13:13) apareceu à mãe, dando-lhe instruções especiais com relação a seus hábitos, e também quanto ao cuidado da criança. "Agora, pois, não bebas vinho nem bebida forte e não comas coisa imunda." Juízes 13:7. CBV 372 3 O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim. A mensagem enviada por um anjo de Deus, e duas vezes dada da maneira mais solene, mostra que isso merece nossa mais atenta consideração. CBV 372 4 Nas palavras dirigidas à mãe hebréia, Deus fala a todas as mães de todas as épocas. "De tudo quanto Eu disse à mulher se guardará ela." Juízes 13:13. A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe. Seus apetites e paixões devem ser regidos por princípios. Existem coisas que lhe convém evitar, coisas a combater, se quer cumprir o desígnio de Deus a seu respeito ao dar-lhe um filho. Se antes do nascimento de seu filho, ela é condescendente consigo mesma, egoísta, impaciente e exigente, esses traços se refletirão na disposição da criança. Assim muitas crianças têm recebido como herança quase invencíveis tendências para o mal. CBV 373 1 Mas se a mãe se firma, sem reservas, nos retos princípios, se é temperante e abnegada, bondosa, amável e esquecida de si mesma, ela pode transmitir ao filho os mesmos traços de caráter. Muito explícita foi a ordem que proibia o uso de vinho pela mãe. Cada gota de bebida forte por ela ingerida para satisfazer seu apetite põe em perigo a saúde física, mental e moral do filho, sendo um pecado direto contra seu Criador. CBV 373 2 Muitos aconselham insistentemente que todo desejo da mãe seja satisfeito; assim, se ela deseja qualquer artigo de alimentação, mesmo nocivo, deve satisfazer plenamente o apetite. Tal método é falso e pernicioso. As necessidades físicas da mãe não devem de modo algum ser negligenciadas. Dela dependem duas vidas, e seus desejos devem ser bondosamente considerados, supridas generosamente suas necessidades. Mas neste tempo, mais que em qualquer outro, tanto no regime alimentar como em tudo mais, deve evitar qualquer coisa que possa enfraquecer-lhe o vigor físico ou mental. Pelo próprio mandamento de Deus, ela se encontra na mais solene obrigação de exercer domínio sobre si mesma. Excesso de Trabalho CBV 373 3 As forças da mãe devem ser carinhosamente nutridas. Em lugar de gastar suas preciosas energias em excessivo labor, seus cuidados e encargos devem ser diminuídos. Frequentemente, o marido e pai desconhece as leis físicas de cuja compreensão depende a felicidade de sua família. Absorvido na luta pela subsistência, ou empenhado em adquirir fortuna e assoberbado de cuidados e perplexidades, ele consente que pesem sobre a mulher e mãe responsabilidades que lhe sobrecarregam as energias no período mais crítico, causando-lhe enfraquecimento e doença. CBV 374 1 Muitos maridos e pais deveriam aprender uma útil lição do cuidado do fiel pastor. Jacó, sendo insistentemente convidado para fazer uma jornada penosa, respondeu: "Estes filhos são tenros e... tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se as afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá. ... Eu irei como guia pouco a pouco, conforme o passo do gado que está diante da minha face e conforme o passo dos meninos." Gênesis 33:13-14. CBV 374 2 Na cansativa estrada da vida, que o esposo e pai guie "pouco a pouco", segundo a resistência de sua companheira de jornada. Em meio da ansiosa precipitação do mundo em busca de riqueza e poder, aprenda a deter os seus passos, a confortar e prestar apoio àquela que foi convidada para caminhar ao seu lado. Boa Disposição CBV 374 3 A mãe deve cultivar disposição alegre, contente e feliz. Todo esforço nesse sentido será abundantemente recompensado, tanto na boa condição física como no caráter de seus filhos. O espírito satisfeito promoverá a felicidade de sua família, melhorando em alto grau a saúde dela própria. CBV 374 4 Ajude o marido à esposa, mediante a simpatia e constante afeto. Se ele a deseja conservar jovial e contente, de modo a ser no lar como um raio de sol, auxilie-a no fazer face às responsabilidades. Sua bondade e amorável cortesia serão para ela uma preciosa animação, e a felicidade que ele comunica lhe trará paz e alegria ao próprio coração. CBV 374 5 O esposo e pai retraído, egoísta, despótico, não somente é infeliz, como lança sombras sobre todos os que o cercam em casa. Ele há de colher o resultado vendo a esposa desalentada e doentia, e os filhos manchados pelos desagradáveis traços de seu próprio caráter. CBV 375 1 Se a mãe fica sem o cuidado e conforto que lhe devem ser proporcionados, se esgota suas forças em trabalho excessivo ou por ansiedade e tristeza, seus filhos ficam carentes da força vital, da elasticidade mental e da jovialidade que poderiam herdar. Muito melhor seria tornar a vida da mãe feliz e contente, pô-la ao abrigo de necessidades, trabalho fatigante e deprimentes cuidados, fazendo com que os filhos herdem boa constituição, e possam abrir caminho na vida por suas próprias forças e energias. CBV 375 2 Grande é a responsabilidade posta sobre pais e mães, e a honra a eles conferida nesse fato de que devem ocupar o lugar de Deus para com os filhos. Seu caráter, vida diária e métodos de educação serão para os pequeninos a interpretação das palavras de Deus. Sua influência há de atrair ou alienar a confiança dos pequeninos seres nas promessas divinas. O Privilégio dos Pais na Educação dos Filhos CBV 375 3 Felizes os pais cuja vida é um verdadeiro reflexo da divina, de modo que as promessas e mandamentos de Deus despertem na criança gratidão e reverência; os pais cuja ternura, justiça e longanimidade representam para a criança a longanimidade, a justiça e o amor de Deus; e que, ao ensinarem o filho a amá-los, a neles confiar e obedecer-lhes, estão ensinando-o a amar o Pai do Céu, a nEle confiar e obedecer-Lhe. Os pais que comunicam ao filho um tal dom, dotam-no com um tesouro mais precioso que a riqueza de todos os séculos -- um tesouro perdurável como a eternidade. CBV 376 1 Nos filhos confiados aos seus cuidados, tem cada mãe um sagrado encargo de Deus. "Toma este filho, esta filha", diz Ele; "educa-o para Mim; forma-lhe um caráter polido como um palácio, a fim de que brilhe nas cortes do Senhor para sempre." CBV 376 2 O trabalho da mãe muitas vezes se afigura, aos seus próprios olhos, sem importância. Raras vezes é apreciado. Pouco sabem os outros de seus muitos cuidados e encargos. Seus dias são ocupados com uma série de pequeninos deveres, exigindo todos paciente esforço, domínio de si mesma, tato, sabedoria e abnegado amor; todavia, ela não pode se vangloriar do que fez como de algum importante feito. Fez apenas com que tudo corresse suavemente no lar; muitas vezes fatigada e perplexa, esforçou-se por falar bondosamente às crianças, mantê-las ocupadas e satisfeitas, guiar os pequeninos pés no caminho reto. Sente que nada fez. Assim não é, entretanto. Anjos do Céu observam a mãe, fatigada de cuidados, notando suas responsabilidades dia a dia. Seu nome pode não ser ouvido no mundo, acha-se, porém, escrito no livro da vida do Cordeiro. A Oportunidade da Mãe CBV 377 1 Existe um Deus em cima no Céu, e a luz e glória do Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra pode se comparar à sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Não tem, como o escritor, de expressar um nobre pensamento em eloquentes palavras, nem, como o músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio divino, gravar na alma humana a imagem de Deus. CBV 378 1 A mãe que sabe apreciar isso há de considerar as oportunidades que se lhe oferecem como inestimáveis. Zelosamente, ela procurará, em seu próprio caráter e em seus métodos de educação, apresentar aos filhos o mais elevado ideal. Com zelo, paciência e ânimo, desenvolverá suas aptidões, de modo que empregue devidamente as mais altas faculdades de sua inteligência na educação dos filhos. Há de inquirir com sinceridade a cada passo: "Que disse Deus?" Estudará diligentemente Sua Palavra. Conservará os olhos fixos em Cristo, a fim de que sua vida diária, no humilde curso dos cuidados e deveres, seja um verdadeiro reflexo da única Vida verdadeira. ------------------------Capítulo 32 -- A criança CBV 379 1 Não somente os hábitos da mãe, mas a educação da criança se achava incluída nas instruções dadas pelo anjo aos pais hebreus. Não bastava que Sansão, a criança que devia libertar Israel, devesse receber boa herança ao nascer. Esta deveria ser secundada por uma educação cuidadosa. Desde a infância, ele deveria ser exercitado em hábitos de estrita temperança. CBV 379 2 Iguais instruções foram dadas no caso de João Batista. Antes do nascimento da criança, a mensagem enviada do Céu aos seus pais foi: "Terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo." Lucas 1:14-15. CBV 379 3 No registro celeste dos homens nobres, declarou o Salvador que nenhum existe maior que João Batista. A obra que lhe foi confiada não exigia somente energia física e resistência, mas as mais elevadas qualidades do espírito e da alma. Tão importante era exercitar o pequeno em hábitos sãos de vida para prepará-lo para essa obra que o mais elevado dos anjos foi enviado com uma mensagem de instrução aos seus pais. CBV 380 1 As instruções dadas quanto às crianças hebréias, ensinam-nos que coisa alguma que afete a boa condição física dos pequeninos deve ser negligenciada. Coisa alguma é sem importância. Tudo quanto afeta a saúde do corpo tem sua influência sobre o intelecto e o caráter. CBV 380 2 Nunca se pode acentuar demasiado a importância da educação ministrada à criança em seus primeiros anos de existência. As lições aprendidas, os hábitos formados durante os anos da infância, têm mais que ver com o caráter e a direção da vida do que todas as instruções e educação dos anos posteriores. CBV 380 3 Os pais devem considerar isso. Eles precisam compreender os princípios que fundamentam o cuidado e a educação das crianças. Devem ser capazes de criá-las sadias física, espiritual e moralmente. Os pais devem estudar as leis da Natureza. Cumpre-lhes familiarizar-se com o organismo humano. Devem conhecer as funções dos vários órgãos, suas relações e dependências mútuas. Devem estudar a relação entre as faculdades mentais e físicas, e as condições exigidas para a ação saudável de cada uma delas. Assumir as responsabilidades da paternidade sem esse preparo é um pecado. CBV 380 4 Demasiado pouco se atende às causas que servem de base para a mortalidade, para a enfermidade e degenerescência que existem hoje em dia, mesmo nos países mais civilizados e favorecidos. A espécie humana está-se deteriorando. Mais de um terço dela morre na infância; dos que atingem a maturidade, grande é a quantidade dos que sofrem de qualquer forma de doença, e poucos são os que alcançam o limite da existência humana. CBV 380 5 A maior parte dos males que trazem ruína e miséria à humanidade poderiam ser evitados, e a capacidade de assim fazer está especialmente com os pais. Não é uma "misteriosa providência" que tira as criancinhas. Deus não deseja que morram. Ele as dá aos pais a fim de serem preparadas para a utilidade aqui, e para o Céu, depois. Se pais e mães fizessem o que lhes fosse possível para transmitir aos filhos uma boa herança, e depois, mediante sábia direção, se esforçassem para remediar qualquer má condição inata, que mudança para melhor não testemunharia o mundo! O Cuidado da Criança CBV 381 1 Quanto mais sossegada e simples for a vida da criança, mais favorável será, tanto para seu desenvolvimento físico como mental. A mãe deve buscar estar, em todas as ocasiões, serena, calma, e na inteira posse de si mesma. Muitas crianças são em extremo suscetíveis a provocações nervosas, e a maneira suave, sossegada da mãe terá influência calmante, que será de inapreciável benefício sobre elas. CBV 381 2 As criancinhas precisam de calor, mas comete-se frequentemente um erro, conservando-as em aposentos muito aquecidos, privados em alto grau do ar fresco. O costume de cobrir o rosto da criança enquanto dorme é prejudicial, uma vez que isso impede a livre respiração. CBV 381 3 O nenê deve ser mantido ao abrigo de toda influência que tenda a enfraquecer ou envenenar-lhe o organismo. Dever-se-ia ter o mais escrupuloso cuidado em manter tudo que o cerca asseado e aprazível. Conquanto seja necessário proteger os pequeninos de repentinas e fortes mudanças de temperatura, convém cuidar para que, dormindo ou despertos, dia e noite, eles respirem ar puro e revigorante. CBV 381 4 No preparo do guarda-roupa do nenê, deve ter-se em vista a conveniência, o conforto e a saúde, de preferência à moda e ao desejo de causar admiração. A mãe não deve desperdiçar tempo em bordados ou trabalhos de fantasias, para embelezar as pequeninas vestimentas, sobrecarregando-se assim de trabalho desnecessário, com detrimento de sua saúde e da do pequenino ser. Ela não deve se inclinar sobre costuras que exijam esforço fatigante dos olhos e dos nervos, numa época em que necessita de abundância de repouso e exercício agradável. Convém compreender sua obrigação de poupar as forças, de modo a poder suportar o que dela é exigido. CBV 382 1 Se a roupa da criança for quentinha, protetora e confortável, então uma das principais causas de irritação e inquietude será removida. O pequeno terá uma saúde melhor, e o cuidado da criança não será para a mãe uma sobrecarga tão grande sobre sua força e tempo. CBV 382 2 Faixas apertadas impedem o funcionamento do coração e dos pulmões, devendo ser evitadas. Parte alguma do corpo deve jamais ficar mal-acomodada por meio de roupas que comprimam qualquer órgão, ou restrinjam sua liberdade de movimento. As roupas de toda criança devem ser bastante folgadas a fim de permitir a mais livre e ampla respiração, e arranjadas de maneira que os ombros lhes suportem o peso. CBV 382 3 Em alguns países existe ainda o costume de deixar nus os ombros e os membros das crianças pequenas. Nunca será demais falar contra esse costume. Estando os membros muito afastados do centro da circulação, exigem maior agasalho do que as outras partes do corpo. As artérias que enviam o sangue para as extremidades são grandes, provendo quantidade de sangue suficiente para aquecer e nutrir. Mas, quando os membros ficam desabrigados, ou insuficientemente vestidos, as artérias e veias contraem-se, as partes mais sensíveis do corpo esfriam-se, e a circulação fica prejudicada. CBV 382 4 Nas crianças em crescimento, todas as forças da natureza necessitam de toda a vantagem a fim de habilitá-las a aperfeiçoar a estrutura física. Se os membros ficarem insuficientemente abrigados, as crianças, e especialmente as meninas, não podem estar fora de casa, a não ser que a temperatura esteja amena. De maneira que são mantidas dentro de casa, por temor de resfriados. Se as crianças estiverem bem agasalhadas, ser-lhes-á benéfico fazerem exercícios ao ar livre, seja verão ou inverno. CBV 382 5 As mães que desejam que seus filhos e filhas possuam o vigor da saúde devem vesti-los convenientemente, e animá-los a estar o mais possível ao ar livre, sempre que o tempo não seja impróprio. Serão precisos esforços para libertar-se das cadeias dos costumes, e vestir e educar os filhos tendo em vista a saúde; o resultado, porém, compensará largamente qualquer esforço nesse sentido. O Regime Alimentar da Criança CBV 383 1 O melhor alimento para o bebê é o que lhe foi provido pela Natureza. Não deveria, sem necessidade, ser dele privado. É falta de coração eximir-se a mãe, por amor da comodidade ou de diversões sociais, da delicada tarefa de amamentar o filhinho. CBV 383 2 A mãe que consente que seu filho seja amamentado por outra deve considerar bem os resultados que isso pode trazer. Em maior ou menor grau a ama comunica seu próprio temperamento à criança que amamenta. CBV 383 3 Mal se pode apreciar devidamente a importância de habituar bem as crianças quanto a um são regime alimentar. As crianças devem aprender que têm de comer para viver, e não viver para comer. Esses hábitos devem começar a ser implantados já na criancinha de braço. Ela só deve tomar alimentos a intervalos regulares, e menos frequentemente, à medida que vai tendo mais idade. Não convém dar-lhe doces, ou comidas dos adultos, que é incapaz de digerir. O cuidado e a regularidade na alimentação dos pequeninos não somente promove a saúde, tendendo assim a torná-los sossegados e mansos, mas lançará o fundamento para os hábitos que lhes serão uma bênção nos anos posteriores. CBV 384 1 Ao saírem as crianças da primeira infância, deve-se exercer grande cuidado em educar-lhes os gostos e o apetite. Muitas vezes se lhes permite que comam o que preferem, e quando o entendam, sem se tomar em consideração a saúde. Os esforços e o dinheiro desperdiçados frequentemente em petiscos levam as crianças a pensar que o primeiro objetivo na vida, o que maior soma de felicidade proporciona, é poder-se satisfazer o apetite. O resultado disso é a gula, vindo depois a doença, à qual se segue em geral o emprego de drogas envenenadoras. CBV 384 2 Os pais devem educar o apetite dos filhos, não lhes permitindo também comerem coisas que prejudiquem a saúde. Mas, no esforço de regularizar-lhes a alimentação, devemos ser cuidadosos em não exigir dos filhos que comam coisas desagradáveis ao paladar, nem mais do que necessitam. As crianças têm direitos, têm preferências, e, quando forem razoáveis, devem ser respeitadas. CBV 384 3 A regularidade nas refeições deve ser fielmente observada. Coisa alguma se deve comer entre elas, nada de doces, nozes, frutas, ou qualquer espécie de comida. A irregularidade na alimentação arruína a saúde dos órgãos digestivos, com detrimento da saúde em geral, e da alegria. E, quando as crianças chegam à mesa, não apetecem os alimentos sãos; desejam o que lhes é prejudicial. CBV 384 4 As mães que satisfazem os desejos dos filhos com detrimento da saúde e de uma disposição feliz estão lançando sementes daninhas que hão de germinar e dar fruto. A condescendência consigo mesmos cresce com os pequenos, e tanto o vigor físico como o mental são por essa forma sacrificados. As mães que assim fazem ceifam com amargura a semente que semearam. Vêem os filhos crescerem, tanto mentalmente como no que respeita ao caráter, incapazes para desempenhar um papel nobre e útil na família e na sociedade. As faculdades espirituais, mentais e físicas sofrem sob a influência de uma alimentação não saudável. A consciência fica entorpecida, e diminui de suscetibilidade às boas impressões. CBV 385 1 Ao passo que se ensinam as crianças a dominarem o apetite, e comerem segundo as leis da saúde, convém fazê-las compreender que se estão privando apenas daquilo que lhes seria prejudicial. Rejeitam coisas nocivas por outras melhores. Que a mesa seja convidativa e atraente, sendo provida das boas coisas que Deus tão generosamente nos proporcionou. Seja a hora da refeição um tempo alegre e feliz. E, ao desfrutarmos os dons que nos são concedidos, retribuamos com gratos louvores ao Doador. O Cuidado da Criança na Doença CBV 385 2 Em muitos casos, as doenças infantis têm sua origem nos erros cometidos na maneira de as cuidar. Irregularidade na alimentação, deficiência no vestuário nas tardes frias, falta de vigoroso exercício para manter o sangue em saudável circulação, ou falta de abundância de ar puro à purificação desse mesmo sangue, podem ser a causa da perturbação. Estudem os pais a fim de ver as causas da doença, e modifiquem então as más condições o mais depressa possível. CBV 385 3 Todos os pais podem aprender muito sobre o cuidado, a prevenção e mesmo o tratamento das doenças. A mãe, especialmente, deve saber o que fazer nos casos comuns de doença na família. Deve saber a maneira de tratar o filho doente. Seu amor e percepção devem habilitá-la para prestar-lhe serviços que não deveriam ser confiados a mãos estranhas. O Estudo da Fisiologia CBV 385 4 Os pais devem procurar interessar desde cedo os filhos no estudo da fisiologia, e ensinar-lhes seus simples princípios. Ensinar-lhes a preservar as faculdades físicas, mentais e espirituais, e empregar os dons de que são dotados, de maneira que sua vida se torne uma bênção para outros, e uma honra para Deus. Este conhecimento é inapreciável para a juventude. Ser instruídos nas coisas que dizem respeito à vida e à saúde é para eles mais importante do que o conhecimento de muitas das ciências ensinadas nas escolas. CBV 386 1 Os pais devem viver mais para seus filhos, e menos para a sociedade. Estudai assuntos de saúde, e ponde em prática vossos conhecimentos. Ensinai vossos filhos a raciocinar da causa para o efeito. Ensinai-lhes que, se desejam ter saúde e felicidade, devem obedecer às leis da Natureza. Ainda que não vejais aproveitamento tão rápido como desejaríeis, não desanimeis, mas continuai paciente e perseverantemente vossa obra. CBV 386 2 Ensinai desde o berço vossos filhos a exercer a abnegação, o domínio de si mesmos. Ensinai-os a desfrutar as belezas da Natureza e a exercitar sistematicamente as faculdades da mente e do corpo em ocupações úteis. Criai-os de modo a terem constituição sã e boa moral, disposição alegre e índole branda. Impressionai-lhes a tenra mente com a verdade de que não é o desígnio divino que vivamos meramente para satisfazer nossas inclinações atuais, mas para nosso bem final. Ensinai-lhes que ceder à tentação é fraqueza e impiedade; resistir-lhe, nobreza e varonilidade. Essas lições serão como sementes lançadas em boa terra, e produzirão frutos que farão a alegria de vosso coração. CBV 386 3 Sobretudo, que os pais circundem os filhos de uma atmosfera de alegria, cortesia e amor. O lar onde o amor habita, e onde este se exprime em olhares, palavras e atos, é um lugar onde os anjos se deleitam em manifestar sua presença. CBV 387 1 Pais, que o sol do amor, da alegria, do feliz contentamento penetre vosso coração, e que sua doce e alentadora influência domine em vosso lar. Manifestai espírito bondoso, tolerante; e incentivai o mesmo em vossos filhos, cultivando todas as graças que tornarão ditosa a vida de família. A atmosfera assim criada será para os filhos o que o ar e a luz do sol são para o mundo vegetal, promovendo saúde e vigor da mente e do corpo. ------------------------Capítulo 33 -- Influências do lar CBV 388 1 O lar deve ser para as crianças o mais atrativo lugar do mundo, e sua maior atração deve ser a presença da mãe. As crianças têm natureza sensível e amorável. Facilmente se consegue agradá-las, e facilmente também se pode torná-las infelizes. Mediante uma disciplina suave, em palavras e atos, as mães conseguem unir os filhos ao seu coração. CBV 388 2 As crianças gostam de ter companhia, e raramente se podem divertir sozinhas. Anseiam simpatia e ternura. O que lhes dá prazer, elas crêem que também o dá à mãe; e é natural que a ela se dirijam com suas pequeninas alegrias e pesares. A mãe não deve ferir-lhes o coraçãozinho tratando com indiferença essas coisas que, embora insignificantes para ela, são de grande importância para as crianças. A simpatia e aprovação que ela lhes dispensa são preciosas. Um olhar de aprovação e uma palavra de ânimo ou louvor, serão como um raio de sol em seu coraçãozinho tornando-as às vezes felizes em todo o dia. CBV 388 3 Em vez de mandar que os filhos se afastem dela, a fim de não ser molestada pelo barulho que fazem, ou perturbada por suas pequeninas necessidades, imagine a mãe algum divertimento ou trabalho leve, para entreter a mente e suas ativas mãozinhas. CBV 389 1 Penetrando em seus sentimentos, dirigindo-lhes os brinquedos e as ocupações, a mãe conquistará a confiança dos filhos, podendo com mais eficácia corrigir-lhes os hábitos errôneos, ou combater-lhes as manifestações de egoísmo ou mau gênio. Uma palavra de advertência ou de reprovação, dita oportunamente, será de grande valor. Mediante paciente e vigilante amor, ela poderá dar à mente das crianças a verdadeira direção, nelas cultivando belos e atrativos traços de caráter. CBV 389 2 As mães devem guardar-se de educar os pequenos de maneira a se tornarem dependentes, e absorvidos consigo mesmos. Nunca os leveis a cuidar que são o centro, e que tudo o mais deve girar em torno deles. Alguns pais dedicam demasiado tempo e atenção para distrair os filhos, mas estes devem ser acostumados a se divertirem a si próprios, a exercer seu próprio engenho e habilidade. Assim, aprenderão a estar satisfeitos com prazeres simples. Devem ser ensinados a sofrer animosamente seus pequeninos desapontamentos e provações. Em lugar de chamar a atenção para toda dorzinha ou insignificante ferimento, distraí-lhes a mente, ensinai-lhes a passar por alto esses aborrecimentos e pequenos mal-estares. Estudai maneiras a sugerir às crianças, pelas quais elas aprendam a preocupar-se com os outros. CBV 389 3 Não se permita, porém, que elas sejam negligenciadas. Sobrecarregadas de muitos cuidados, as mães sentem que não podem às vezes dedicar tempo para instruir seus pequenos, e dispensar-lhes amor e simpatia. Lembrem-se elas, no entanto, de que, se os filhos não encontram nos pais e no lar aquilo que lhes satisfaz o desejo que experimentam de afeto e companheirismo, volvem-se para outras fontes, onde tanto a mente como o caráter podem perigar. CBV 389 4 Por falta de tempo e de idéia, muita mãe recusa a seus filhos algum inocente prazer, enquanto os dedos atarefados e os fatigados olhos se empenham diligentemente em qualquer obra destinada a mero adorno, qualquer coisa que, na melhor hipótese, servirá unicamente para animar a vaidade e a extravagância em seu jovem coração. Ao aproximarem-se os filhos da adolescência, estas lições dão frutos em orgulho e ausência de valor moral. A mãe aflige-se com as faltas dos filhos, mas não compreende que a colheita que está tendo é o fruto da semente por ela própria plantada. CBV 390 1 Algumas mães não são uniformes no tratamento de suas crianças. Têm às vezes condescendências que lhes são nocivas; e de outras vezes, recusam qualquer inocente satisfação que tornaria deveras felizes o coraçãozinho infantil. Assim fazendo, elas não imitam a Cristo; Ele amava as crianças; compreendia-lhes os sentimentos, e interessava-Se por elas, fosse em seus prazeres, fosse em suas provações. A Responsabilidade do Pai CBV 390 2 O marido e pai é a cabeça da família. A esposa espera dele amor e interesse, bem como auxílio na educação dos filhos, e isso é justo. Os filhos pertencem-lhe, da mesma maneira que a ela, e sua felicidade igualmente o interessa. Os filhos esperam do pai apoio e guia; cumpre-lhe ter justa concepção da vida, e das influências e associações que devem rodear sua família; ele deve ser regido, acima de tudo, pelo amor e temor de Deus, e pelos ensinos de Sua Palavra, a fim de lhe ser possível guiar os pés dos filhos no caminho reto. CBV 390 3 O pai é o legislador da família; e, como Abraão, deve fazer da Lei de Deus o governo de sua casa. Deus disse de Abraão: "Porque Eu tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa." Gênesis 18:19. Não haveria pecaminosa negligência em restringir o mal, nada de favoritismo fraco, imprudente, cheio de condescendência; nada de ceder sua convicção do dever aos reclamos de enganosa afeição. Abraão não somente dava a instrução devida, mas mantinha a autoridade de leis justas e retas. Deus nos deu regras para nossa direção. As crianças não devem ter permissão de desviar-se da segura vereda estabelecida na Palavra de Deus, para caminhos que levam a perigos, os quais se acham abertos de todos os lados. Bondosamente, mas com firmeza, com perseverante esforço secundado de oração, seus maus desejos devem ser refreados, reprimidas suas inclinações. CBV 391 1 Cumpre ao pai fortalecer na família as austeras virtudes -- energia, integridade, honestidade, paciência, ânimo, diligência e utilidade prática. E o que exige de seus filhos deve ele mesmo praticar, ilustrando essas virtudes na própria conduta varonil. CBV 391 2 Mas, pais, não desanimeis vossos filhos. Combinai o afeto com a autoridade, a bondade e simpatia com a firme restrição. Dedicai a vossos filhos algumas de vossas horas de lazer; relacionai-vos com eles; associai-vos com eles em seus trabalhos e brinquedos e captai-lhes a confiança. Cultivai a camaradagem com eles, especialmente os meninos. Tornar-vos-eis, assim, uma forte influência para o bem. CBV 392 1 O pai deve fazer sua parte para tornar o lar feliz. Sejam quais forem seus cuidados e perplexidades nos negócios, não permita que estes ensombrem a família; deve penetrar em casa com sorrisos e palavras aprazíveis. CBV 392 2 Em certo sentido, o pai é o sacerdote da família, depondo sobre seu altar o sacrifício matutino e vespertino. Mas a mulher e os filhos devem unir-se à oração e aos cânticos de louvor. Pela manhã, antes que saia de casa para o trabalho do dia, reúna ele os filhos em redor de si, e, curvando-se perante Deus, entregue-os ao Seu paternal cuidado. Passados os cuidados do dia, reúna-se a família para fazer uma prece de gratidão, e erguer hinos de louvor, em reconhecimento do divino cuidado no decorrer do mesmo. CBV 393 1 Pais e mães, por mais prementes que sejam vossos afazeres, não deixeis de reunir vossa família em torno do altar de Deus. Pedi a guarda dos santos anjos em vosso lar. Lembrai-vos de que vossos queridos estão sujeitos a tentações. Aborrecimentos diários juncam a estrada tanto dos jovens como dos mais idosos. Os que querem viver vida paciente, amorável e satisfeita, devem orar. Somente obtendo constante auxílio de Deus podemos alcançar a vitória sobre o eu. CBV 393 2 O lar deve ser um lugar onde o contentamento, a cortesia e o amor façam habitação; onde moram essas graças, aí residem a paz e felicidade. Podem invadi-lo as aflições, mas isso é a sorte da humanidade. Que a paciência, a gratidão e o amor mantenham no coração a luz solar, seja embora o dia sempre nublado. Em tais lares os anjos de Deus habitam. CBV 393 3 Estudem, o marido e a esposa, a felicidade mútua, nunca faltando as pequeninas cortesias e pequenos atos de bondade que alegram e iluminam a vida. Entre o marido e a esposa deve existir perfeita confiança. Juntos, devem considerar suas responsabilidades. Operar juntos pelo mais alto benefício de seus filhos. Jamais devem, em presença dos filhos, criticar-se mutuamente os planos, ou discutir a maneira de julgar um do outro. Tenha a mulher o cuidado de não tornar mais difícil a obra do marido pelos filhos. Apóie o marido as mãos da esposa, dando-lhe sábios conselhos, e afetuosa animação. CBV 394 1 Não se deve permitir que se erga entre pais e filhos barreira alguma de frieza e reserva. Relacionem-se os pais com eles, buscando compreender-lhes os gostos e disposições, penetrando em seus sentimentos e discernindo o que lhes vai no coração. CBV 394 2 Pais, deixai que vossos filhos vejam que os amais, e fareis tudo que estiver ao vosso alcance para torná-los felizes. Se assim fizerdes, as necessárias restrições que lhes impuserdes terão incomparavelmente mais peso em seu espírito. Governai vossos filhos com ternura e compaixão, lembrando que "os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai que está nos Céus". Mateus 18:10. Se quereis que os anjos façam por vossos filhos a obra de que Deus os incumbiu, cooperai com eles, fazendo a vossa parte. CBV 394 3 Criadas sob a sábia e amorosa guia de um lar verdadeiro, as crianças não terão desejo de ausentar-se em busca de prazer e camaradagem. O espírito que prevalece no lar moldará seu caráter; formarão hábitos e princípios que serão uma forte defesa contra a tentação, quando deixarem o abrigo do lar e assumirem sua posição no mundo. CBV 394 4 Tanto as crianças como os pais têm importantes deveres a cumprir no lar. Deve-se-lhes ensinar que constituem uma parte da organização do lar. São alimentados, vestidos, amados e cuidados; e devem corresponder a esses muitos favores, assumindo a parte que lhes cabe nas responsabilidades do lar, e trazendo toda a felicidade possível à família da qual são membros. CBV 394 5 As crianças são às vezes tentadas a zangar-se quando lhes são feitas restrições; mas, mais tarde na vida, elas bendirão os pais pelo fiel cuidado e estrita vigilância que as guardou e guiou na idade da inexperiência. ------------------------Capítulo 34 -- A verdadeira educação é um ensino CBV 395 1 A verdadeira educação é um preparo missionário. Todo filho e filha de Deus é chamado a ser missionário; somos chamados ao serviço de Deus e de nossos semelhantes; e habilitar-nos para essa obra deve ser o objetivo de nossa educação. Preparar Para o Serviço CBV 395 2 Esse objetivo deve ser conservado constantemente em vista pelos pais e mestres cristãos. Não sabemos em que atividade nossos filhos irão servir. Poderão passar a vida no círculo do lar; podem-se empenhar nas carreiras comuns da vida, ou ir, como ensinadores do evangelho, para terras pagãs; todos serão, entretanto, semelhantemente chamados a ser missionários de Deus, ministros da misericórdia ao mundo. CBV 395 3 As crianças e os jovens, com seus talentos novos, sua energia e ânimo, suas vivas suscetibilidades, são amados por Deus, e Ele os deseja pôr em harmonia com as instrumentalidades divinas. Têm de obter educação que os auxilie a pôr-se ao lado de Cristo em desinteressado serviço. CBV 395 4 De todos os Seus filhos até ao fim do tempo, da mesma maneira que de Seus primeiros discípulos, Cristo disse: "Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo" (João 17:18), para serem representantes de Deus, para revelarem Seu Espírito, manifestarem Seu caráter, fazerem Sua obra. CBV 396 1 Nossos filhos acham-se, por assim dizer, na encruzilhada dos caminhos. De todos os lados, os incitamentos do mundo ao interesse e à condescendência consigo mesmos atraem-nos da vereda estabelecida para os remidos do Senhor. O ser sua vida uma bênção ou uma maldição, depende da escolha que fizerem. Transbordando de energia, ansiosos de provar suas aptidões ainda não experimentadas, precisam dar vazão a sua exuberância de vida. Eles serão ativos, ou para o bem, ou para o mal. CBV 396 2 A Palavra de Deus não reprime a atividade, mas guia-a retamente. Deus não pede aos jovens que tenham menos aspirações. Os elementos de caráter que tornam o homem verdadeiramente bem-sucedido e honrado entre os homens -- o irreprimível desejo de algum bem maior, a indomável vontade e tenaz aplicação, a perseverança incansável -- não devem ser desanimados. Pela graça de Deus, devem ser dirigidos para a consecução de objetivos tão mais elevados que meros interesses egoístas e mundanos, quanto os céus são mais altos do que a terra. CBV 396 3 Cumpre-nos a nós, como pais e como cristãos, imprimir a nossos filhos direção devida. Devem eles ser cuidadosa, sábia e ternamente guiados às veredas do serviço cristão. Temos para com Deus o solene compromisso de criar nossos filhos para Sua obra. Rodeá-los de influências que os induzam a escolher uma vida de serviço, e dar-lhes o devido preparo, eis nosso primeiro dever. CBV 396 4 "Deus amou... de tal maneira que deu" -- deu "o Seu Filho unigênito" a fim de que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna. João 3:16. "Cristo vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós." Efésios 5:2. Se amarmos, havemos de dar. "Não para ser servido, mas para servir" (Mateus 20:28), eis a grande lição que temos de aprender e ensinar. CBV 396 5 Seja a juventude impressionada com a idéia de que não pertence a si mesma. Pertence a Cristo. São a aquisição de Seu sangue, a reivindicação de Seu amor. Vivem porque Ele os guarda com Seu poder. Seu tempo, sua força e suas aptidões pertencem-Lhe, para serem desenvolvidas, exercitadas e empregadas para Ele. CBV 397 1 Depois dos seres angélicos, a família, formada à imagem de Deus, é a mais nobre de Suas obras. Ele deseja que se tornem tudo quanto lhes tem tornado possível ser, e que façam o melhor que possam com as faculdades de que os dotou. CBV 397 2 A vida é misteriosa e sagrada. É a manifestação do próprio Deus, fonte de toda a vida. Preciosas são as oportunidades que ela encerra, e devem ser zelosamente aproveitadas. Uma vez perdidas, desaparecem para sempre. CBV 397 3 Deus põe perante nós a eternidade, com suas realidades solenes, e concede-nos a posse de temas imortais, imperecíveis. Apresenta uma verdade valiosa, enobrecedora, a fim de que avancemos numa vereda segura e certa, na realização de um objetivo merecedor do fervoroso empenho de todas as nossas faculdades. CBV 397 4 Deus olha o interior da pequenina semente que Ele próprio criou, e nela vê encoberta a bela flor, o arbusto ou a grande e frondosa árvore. Assim vê Ele as possibilidades em toda criatura humana. Achamo-nos aqui para determinado fim. Deus nos deu o plano que tem para nossa vida, e deseja que alcancemos a mais alta norma de desenvolvimento. CBV 398 1 Deseja que cresçamos constantemente em santidade, felicidade e utilidade. Todos possuem aptidões que devem ser ensinados a considerar sagrados dons, a apreciar como dotes do Senhor, e empregar devidamente. Ele deseja que os jovens cultivem todas as faculdades de seu ser, exercitando ativamente cada uma delas. Deseja que desfrutem tudo que é útil e precioso nesta vida, que sejam bons e façam o bem, depositando um tesouro celeste para a vida futura. CBV 398 2 Devem ter a ambição de ser excelentes em tudo que é útil, elevado e nobre. Contemplem eles a Cristo como o modelo segundo o qual devem ser moldados. A santa ambição que Ele revelou em Sua vida devem eles nutrir -- a ambição de tornar o mundo melhor por eles nele terem vivido. Tal é a obra a que são chamados. Amplo Fundamento CBV 398 3 A mais elevada de todas as ciências é a de salvar almas. A maior obra a que podem aspirar criaturas humanas é a obra de atrair homens do pecado para a santidade. Para a realização desta obra, é mister lançarem-se sólidos fundamentos. É necessária uma educação adequada -- uma educação que exigirá dos pais e mestres tanta reflexão e esforço como não requer a mera instrução. Pede-se mais alguma coisa além da cultura do intelecto. A educação não se acha completa a menos que o corpo, a mente e o coração se achem igualmente educados. O caráter deve receber a devida disciplina, para seu inteiro e mais elevado desenvolvimento. Todas as faculdades da mente e do corpo devem ser desenvolvidas e devidamente exercitadas. É um dever cultivar e exercitar toda aptidão que nos tornará mais eficientes como obreiros de Deus. CBV 398 4 A verdadeira educação inclui todo o ser. Ela ensina o devido emprego do próprio eu. Habilita-nos a fazer o melhor uso do cérebro, ossos e músculos; do corpo, mente e coração. As faculdades do espírito são as mais elevadas potências; têm de governar o reino do corpo. Os apetites e paixões naturais devem ser sujeitos ao domínio da consciência e das afeições espirituais. Cristo Se acha à testa da humanidade, e Seu desígnio é conduzir-nos, em Seu serviço, a elevadas e santas veredas de pureza. Mediante a assombrosa operação de Sua graça, temos de nos tornar completos nEle. CBV 399 1 Jesus adquiriu Sua educação no lar. Sua mãe foi-Lhe a primeira professora humana. De seus lábios e dos rolos dos profetas, aprendeu Ele as coisas celestes. Vivia numa casa de camponeses, e fiel e alegremente desempenhou Sua parte nas responsabilidades domésticas. Aquele que fora o Comandante dos Céus era agora servo voluntário, filho amante e obediente. Aprendeu um ofício, e trabalhava com Suas próprias mãos na carpintaria com José. Nos trajes de um operário comum, caminhava pelas ruas da pequenina cidade, indo para Seu humilde serviço, e dele voltando. CBV 400 1 O povo daquela época avaliava as coisas pelas aparências exteriores. À medida que a religião declinara em poder, crescera em pompa. Os educadores de então buscavam impor respeito mediante exibição e ostentação. A vida de Jesus apresentava um frisante contraste com tudo isso. Ela demonstrava a falta de valor daquilo que os homens consideravam ser as coisas essenciais da vida. As escolas de Seu tempo, com sua maneira de engrandecer coisas insignificantes e amesquinhar as grandes coisas, não as procurou Ele. Sua educação foi recebida das fontes indicadas pelo Céu, do trabalho útil, do estudo das Escrituras, da Natureza e das experiências da vida -- os compêndios divinos, cheios de instruções para todos quantos neles põem mãos voluntárias, olhos atentos e coração entendido. CBV 400 2 "O Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Lucas 2:40. CBV 400 3 Assim preparado saiu para Sua missão, exercendo sobre os homens, em todos os momentos de Seu contato com eles, uma influência que beneficiava, um poder que transformava, influência e poder que o mundo jamais testemunhara. CBV 400 4 O lar é a primeira escola da criança, e é aí que se devem lançar as bases para uma vida de serviço. Estes princípios não devem ser ensinados meramente em teoria. Devem orientar toda a educação da vida. CBV 401 1 Desde bem cedo, deve-se ministrar à criança a lição da prestatividade. Logo que suas forças e a faculdade de raciocínio estejam suficientemente desenvolvidas, devem-se-lhe confiar deveres a desempenhar em casa. Deve ser estimulada a tentar auxiliar o pai e a mãe, estimulada a ser abnegada e a dominar-se a si mesma, a colocar a felicidade e o bem-estar dos outros acima dos seus, a estar atenta às oportunidades de animar e ajudar os irmãos, os companheiros, e a mostrar bondade para com os velhos, os doentes e os desditosos. Quanto mais profundamente o espírito de verdadeiro serviço penetrar o lar, tanto mais profundamente ele se desenvolverá na vida das crianças. Elas encontrarão prazer em servir e sacrificar-se pelo bem dos outros. A Obra da Escola CBV 401 2 A educação doméstica deve ser secundada pela obra da escola. O desenvolvimento de todo o ser -- físico, mental e espiritual -- e o ensino do serviço e sacrifício devem ser constantemente conservados em vista. CBV 401 3 Acima de qualquer outro meio, o serviço feito por amor de Cristo, nas pequeninas coisas da vida diária, tem o poder de moldar o caráter e orientar a vida no sentido do desinteressado serviço. Despertar esse espírito, estimulá-lo e orientá-lo devidamente, eis a obra dos pais e professores. Não lhes poderia ser confiada obra mais importante. O espírito de serviço é o que reina no Céu, e anjos hão de cooperar com todo esforço feito no intuito de o desenvolver e estimular. CBV 401 4 Essa educação deve basear-se na Palavra de Deus. Somente aí nos são apresentados seus princípios, em toda a sua plenitude. A Bíblia deve ser tomada como fundamento do estudo e do ensino. O conhecimento essencial é o conhecimento de Deus e dAquele que Ele enviou. CBV 402 1 Toda criança e todo jovem devem conhecer-se a si mesmos. Convém que compreendam a habitação física que Deus lhes deu, e as leis mediante as quais se mantêm com saúde. Todos devem ter base sólida nos ramos comuns de educação. E devem ser exercitados em indústrias que os tornem homens e mulheres de habilidade prática, aptos para os deveres da vida diária. A isso devem acrescentar-se conhecimentos e experiência prática em vários ramos de trabalho missionário. Aprender Ensinando CBV 402 2 Avance a juventude tão rapidamente e vá tão longe em adquirir conhecimentos quanto lhe seja possível. Seja o seu campo de estudos tão vasto quanto suas faculdades puderem abranger. E, à medida que aprendam, vão eles comunicando seus conhecimentos. É assim que a mente adquirirá disciplina e vigor. É o emprego que eles fazem de seus conhecimentos que determina o valor de sua educação. Gastar longo tempo em estudos, sem esforço algum para comunicar o que se adquire, demonstra-se muitas vezes um prejuízo em lugar de um auxílio ao real desenvolvimento. Tanto em casa como na escola, o esforço do estudante deve ser no sentido de aprender a estudar e a passar a outros os conhecimentos adquiridos. Seja qual for sua vocação, terá de ser durante toda a sua vida, tanto aluno como professor. Assim, poderá avançar continuamente, pondo em Deus a sua confiança, apegando-se Àquele que é infinito em sabedoria, que pode revelar os segredos ocultos durante séculos e resolver os mais difíceis problemas, para a mente que nEle crê. CBV 402 3 A Palavra de Deus salienta grandemente a influência das companhias, mesmo sobre homens e mulheres. Quão maior não será sua força sobre a mente e caráter em desenvolvimento, das crianças e dos jovens! Aqueles com quem andam, os princípios que adotam, os hábitos que formam decidirão a questão de sua utilidade aqui, e de seus interesses futuros e eternos. CBV 403 1 É um fato terrível, e que deve fazer tremer o coração dos pais, que em tantas escolas e colégios a que se mandam os jovens, em busca de cultura e disciplina intelectual, dominam influências que deturpam o caráter, desviam a mente dos verdadeiros objetivos da vida, e aviltam a moral. Mediante o contato com os irreligiosos, os amantes de prazeres e os corrompidos, muitíssimos jovens perdem a simplicidade e a pureza, a fé em Deus e o espírito de sacrifício que pais cristãos incentivaram e conservaram mediante cuidadosas instruções e fervorosas preces. CBV 403 2 Muitos dos que entram na escola com o intuito de preparar-se para algum ramo de serviço desinteressado absorvem-se em estudos seculares. Desperta-se o desejo de alcançar distinções nos estudos e honras no mundo. Perde-se de vista o desígnio para que entraram na escola e a vida é dedicada a ocupações egoístas e mundanas. E formam-se muitas vezes hábitos que arruínam a vida tanto para este mundo como para o por vir. CBV 403 3 Em geral, os homens e mulheres que possuem idéias largas, desígnios altruístas e nobres aspirações são aqueles em quem estas características foram desenvolvidas mediante a convivência que tiveram nos primeiros anos de sua existência. Em todo o Seu trato com os filhos de Israel, Deus insistiu com eles sobre a importância de velar pela companhia que seus filhos mantinham. Todos os regulamentos da vida civil, religiosa e social eram feitos tendo em vista a preservação dos filhos contra as companhias prejudiciais, familiarizando-os, desde os mais tenros anos, com os preceitos e princípios da Lei de Deus. A lição objetiva proporcionada por ocasião do nascimento da nação era de natureza a impressionar profundamente todos os corações. Antes do derradeiro e terrível juízo que sobreveio aos egípcios com a morte dos primogênitos, Deus ordenou a Seu povo que reunisse seus filhos na própria casa. A ombreira de cada porta foi assinalada com sangue, e dentro da proteção oferecida por este sinal deviam todos permanecer. Assim hoje, os pais que amam e temem a Deus têm de guardar seus filhos dentro do "vínculo do concerto" (Ezequiel 20:37) -- dentro da proteção daquelas sagradas influências que se tornaram possíveis mediante o sangue remidor de Cristo. CBV 404 1 Cristo disse, de Seus discípulos: "Dei-lhes a Tua Palavra, e ... não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo." João 17:14. CBV 404 2 "Não vos conformeis com este mundo", pede-nos Deus, "mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento." Romanos 12:2. CBV 404 3 "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos; ... e não toqueis nada imundo; ... e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14, 16-18. CBV 404 4 "Congregai os filhinhos." Joel 2:16. "... e lhes declare os estatutos de Deus e as Suas leis." Êxodo 18:16. CBV 404 5 "Assim, porão o Meu nome sobre os filhos de Israel, e Eu os abençoarei." Números 6:27. CBV 404 6 "E todos os povos da Terra verão que és chamado pelo nome do Senhor." Deuteronômio 28:10. CBV 404 7 "E estará o resto de Jacó no meio de muitos povos, Como orvalho do Senhor, Como chuvisco sobre a erva, Que não espera pelo homem, Nem aguarda filhos de homens." Miqueias 5:7. CBV 405 1 Somos contados como Israel. Todas as instruções dadas aos israelitas de outrora, relativamente à educação e preparo de seus filhos, todas as promessas de bênçãos mediante a obediência, dirigem-se a nós. CBV 405 2 A Palavra de Deus a nós é: "Abençoar-te-ei, ... e tu serás uma bênção." Gênesis 12:2. CBV 405 3 Cristo disse acerca dos primeiros discípulos e de todos os que houvessem de nEle crer mediante a palavra deles: "Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:22-23. CBV 405 4 Maravilhosas, maravilhosas palavras, quase além do alcance da fé! O Criador de todos os mundos ama os que se consagram ao Seu serviço da mesma maneira que ama a Seu Filho. Mesmo aqui, e já agora, Seu misericordioso favor nos é concedido nessa maravilhosa extensão. Ele nos conferiu a Luz e a Majestade do céu e com Ele nos doou todo o tesouro celeste. Assim como nos prometeu para a vida futura, concede-nos principescos dons nesta vida. Como objeto de Sua graça, deseja que desfrutemos tudo que nos enobrecerá e elevará o caráter. Ele espera infundir na juventude poder de cima, a fim de que possam permanecer sob a ensanguentada bandeira de Cristo, para trabalhar como Ele trabalhou a fim de dirigir as almas às veredas seguras, para colocar os pés de muitos sobre a Rocha dos séculos. CBV 405 5 Todos os que estão buscando trabalhar de acordo com os planos de educação de Deus hão de ter Sua graça mantenedora, Sua contínua presença, Seu poder protetor. A todos Ele diz: "Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo. ... Não te deixarei nem te desampararei." Josué 1:9 e 5. CBV 406 1 "Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus E para lá não tornam, Mas regam a terra e a fazem produzir, e brotar, E dar semente ao semeador, e pão ao que come, Assim será a Minha palavra que sair da Minha boca; Ela não voltará para Mim vazia; Antes, fará o que Me apraz E prosperará naquilo para que a enviei. Porque, com alegria, saireis E, em paz, sereis guiados; Os montes e os outeiros exclamarão de prazer perante a vossa face, E todas as árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro, crescerá a faia, E, em lugar da sarça, crescerá a murta; Isso será para o Senhor por nome, Por sinal eterno, que nunca se apagará." Isaías 55:10-13. CBV 406 2 Por todo o mundo a sociedade se acha em desordem, e uma transformação radical se faz necessária. A educação dada à juventude deve moldar toda a estrutura social. CBV 406 3 "E edificarão os lugares antigamente assolados, E restaurarão as desolações passadas, E renovarão as cidades assoladas, As desolações de muitas gerações. Mas vós sereis chamados 'ministros de nosso Deus'. ... E terão perpétua alegria. Porque Eu, o Senhor, amo a justiça." "Eu guiarei a obra deles em verdade E farei com eles uma aliança eterna. "A raça deles será ilustre entre as nações, E os seus descendentes, entre os povos; Todos quantos os virem reconhecerão Que eles são uma raça a quem Jeová abençoou. ... Porque, como a terra produz os seus renovos, E como o horto faz brotar as suas plantas, Assim o Senhor Jeová fará brotar a salvação E o louvor perante todas as nações." Isaías 61:4, 6-9 e 11 (Tradução de Noyes). ------------------------Capítulo 35 -- O verdadeiro conhecimento de Deus CBV 409 1 Como nosso Salvador, achamo-nos neste mundo para servir a Deus. Aqui nos achamos a fim de nos tornarmos semelhantes a Ele no caráter, revelando-O ao mundo mediante uma vida de serviço. Para sermos colaboradores Seus, para sermos semelhantes a Ele, e Lhe revelarmos o caráter, precisamos conhecê-Lo direito. Cumpre-nos conhecê-Lo tal como Ele Se revela a Si mesmo. CBV 409 2 O conhecimento de Deus é o fundamento de toda verdadeira educação e de todo serviço verdadeiro. É a única salvaguarda real contra a tentação. Por ele, unicamente, nos podemos tornar semelhantes a Deus no caráter. CBV 409 3 Esse é o conhecimento de que necessitam todos quantos estão trabalhando pelo reerguimento de seus semelhantes. Transformação de caráter, pureza de vida, eficiência no serviço, apego aos princípios corretos, tudo depende do justo conhecimento de Deus. Esse conhecimento é o preparo essencial tanto para esta como para a futura existência. CBV 409 4 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 9:10. CBV 409 5 Mediante o Seu conhecimento é-nos dado "tudo o que diz respeito à vida e piedade". 2 Pedro 1:3. CBV 410 1 "E a vida eterna é esta", disse Jesus, "que Te conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. CBV 410 2 "Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, Nem se glorie o forte na sua força; Não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: Em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, Que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; Porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23-24. CBV 410 3 Precisamos estudar as revelações que Deus tem feito de Si mesmo. CBV 410 4 "Ora, toma conhecimento com Ele, E terás paz: E assim te alcançará o bem. Ora, recebe da Sua boca a lei: E mete as Suas palavras no teu coração. ... E o Todo-poderoso Se fará teus tesouros. ... "Porque então te deleitarás no Todo-poderoso; E levantarás o teu rosto para Deus: Tu Lhe rogarás, e Ele te ouvirá, E pagarás os teus votos. E decretarás um negócio, E cumprir-se-á; E sobre os teus caminhos resplandecerá a luz. Quando te abaterem, então tu dirás: Haja exaltação! E Deus salvará o humilde." Jó 22:21-29, Versão Trinitariana. CBV 410 5 "Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas." Romanos 1:20. CBV 411 1 As coisas da Natureza que agora contemplamos não nos dão senão uma fraca idéia da glória do Éden. O pecado manchou a beleza da Terra; podem-se ver em tudo os vestígios da obra do mal. Todavia, permanece muita coisa bela. A Natureza testifica de que Alguém, infinito em poder, grande em bondade, misericórdia e amor, criou a Terra, enchendo-a de vida e alegria. Mesmo em seu estado defeituoso, todas as coisas revelam a mão-de-obra do Artista por excelência. Para onde quer que nos volvamos, podemos ouvir a voz de Deus, e ver testemunhos de Sua bondade. CBV 411 2 Desde o solene ribombar do trovão e o incessante bramir do velho oceano, aos festivos cânticos que fazem as florestas palpitantes de melodia, as milhares de vozes da Natureza entoam-Lhe os louvores. Na Terra e no mar e no espaço, com suas maravilhosas cores e matizes, variando em suntuoso contraste ou combinando-se em harmonia, nós Lhe contemplamos a glória. As montanhas eternas falam-nos de Seu poder. As árvores, agitando os verdes leques ao sol, e as flores em sua delicada beleza, apontam para seu Criador. O verde vivo, que atapeta a bronzeada terra, fala do cuidado de Deus para com a mais humilde de Suas criaturas. As profundezas do mar e as entranhas da terra revelam-Lhe os tesouros. Aquele que pôs as pérolas no oceano e a ametista e o crisólito entre as rochas é um amante do belo. O Sol que se ergue no firmamento é um representante dAquele que é a vida e a luz de todos quantos foram por Ele criados. Todo esplendor e beleza que adornam a Terra e abrilhantam os Céus falam de Deus. CBV 412 1 "Sua glória cobriu os Céus." Habacuque 3:3. CBV 412 2 "Cheia está a Terra das Tuas riquezas." Salmos 104:24. CBV 412 3 "Um dia faz declaração a outro dia, E uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, Ouvem-se as suas vozes Em toda a extensão da Terra, E as suas palavras, até ao fim do mundo." Salmos 19:2-4. CBV 412 4 Todas as coisas falam do Seu terno e paternal cuidado, e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos. CBV 413 1 A poderosa força que opera em toda a Natureza, e sustém todas as coisas, não é, como fazem parecer alguns homens de ciência, unicamente um princípio que tudo penetra, uma energia. Deus é Espírito; é, todavia, um Ser pessoal; pois como tal Se tem Ele revelado: CBV 413 2 "O SENHOR é verdadeiramente Deus; Ele é o Deus vivo e o Rei eterno; ... Os deuses que não fizeram os céus e a Terra Desaparecerão da Terra e de debaixo destes céus. "Não é semelhante a estes a porção de Jacó; Porque Ele é o Criador de todas as coisas. ... "Ele fez a Terra pelo Seu poder; Ele estabeleceu o mundo por Sua sabedoria E com a Sua inteligência estendeu os céus." Jeremias 10:10, 11, 16 e 12. A Natureza Não é Deus CBV 413 3 A mão-de-obra de Deus em a Natureza não é o próprio Deus em a Natureza. As coisas da Natureza são uma expressão do caráter e do poder de Deus; não devemos, porém, considerá-la como Deus. A habilidade artística das criaturas humanas produz obras muito belas, coisas que deleitam a vista; e essas coisas nos revelam algo de seu autor; a obra feita não é, no entanto, seu autor. Não é a obra, mas o obreiro, que é considerado digno de honra. Assim, ao passo que a Natureza é uma expressão do pensamento de Deus, não é a Natureza, mas o Deus da Natureza que deve ser exaltado. CBV 413 4 "Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do Senhor. ... Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra, E as alturas dos montes são Suas. Seu é o mar, pois Ele o fez, E as Suas mãos formaram a terra seca." Salmos 95:6, 4-5. CBV 414 1 "Procurai o que faz o Sete-estrelo e o Órion, E torna a sombra da noite em manhã, E escurece o dia como a noite." Amós 5:8. CBV 414 2 "É Ele o que forma os montes, e cria o vento, E declara ao homem qual é o seu pensamento." Amós 4:13. CBV 414 3 "Ele é o que edifica as Suas câmaras no céu, E a Sua abóbada fundou na Terra, E o que chama as águas do mar, E as derrama sobre a terra; O Senhor é o Seu nome." Amós 9:6. A Criação da Terra CBV 414 4 A obra da criação não pode ser explicada pela ciência. Que ciência pode explicar o mistério da vida? CBV 414 5 "Pela fé, entendemos que os mundos, pela Palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente." Hebreus 11:3. CBV 414 6 "Eu formo a luz e crio as trevas; ... Eu, o Senhor, faço todas essas coisas. ... Eu fiz a Terra e criei nela o homem; Eu o fiz; as Minhas mãos estenderam os céus E a todos os seus exércitos dei as Minhas ordens." Isaías 45:7 e 12. CBV 414 7 "Eu os chamarei, e aparecerão juntos." Isaías 48:13. CBV 414 8 Na criação da Terra, Deus não dependeu de matéria preexistente. "Falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." Salmos 33:9. Todas as coisas, materiais ou espirituais, apareceram diante do Senhor Jeová à Sua palavra, e foram criadas para Seu próprio desígnio. Os Céus e todo o seu exército, a Terra e tudo quanto nela há, vieram à existência pelo sopro de Sua boca. CBV 415 1 Na criação do homem, manifestou-se a atuação de um Deus pessoal. Quando Deus fizera o homem à Sua imagem, a forma humana era perfeita, mas jazia inanimada. Então um Deus pessoal, de existência própria, soprou naquela forma o fôlego da vida, e o homem tornou-se um ser vivo, inteligente. Todas as partes do seu organismo se puseram em ação. O coração, as artérias, as veias, a língua, as mãos, os pés, os sentidos, as faculdades da mente, tudo se pôs a funcionar, sendo todos submetidos a uma lei. O homem tornou-se alma vivente. Mediante Cristo, a Palavra, um Deus pessoal criou o homem, dotando-o de inteligência e poder. CBV 415 2 Nossa matéria não Lhe era oculta quando, em segredo, fomos formados; Seus olhos viram essa matéria ainda informe, e em Seu livro todos os nossos membros foram escritos, quando ainda nenhum deles havia. CBV 415 3 Deus designou que, acima de todas as ordens inferiores de seres, o homem, a coroa de Sua criação, exprimisse Seus pensamentos, e Lhe revelasse a glória. Mas o homem não se deve exaltar como Deus. CBV 415 4 "Celebrai com júbilo ao Senhor, ... Servi ao Senhor com alegria E apresentai-vos a Ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus; Foi Ele, e não nós, que nos fez povo Seu E ovelhas do Seu pasto. Entrai pelas portas dEle com louvor E em Seus átrios, com hinos; Louvai-O e bendizei o Seu nome." Salmos 100:1-4. CBV 415 5 "Exaltai ao Senhor, nosso Deus, E adorai-O no Seu santo monte, Porque o Senhor, nosso Deus, é santo." Salmos 99:9. CBV 416 1 Deus está continuamente ocupado em manter e empregar como servos as coisas que criou. Opera por meio das leis da Natureza, delas Se servindo como instrumentos Seus. Elas não agem por si mesmas. A Natureza, em sua obra, testifica da presença inteligente e da atividade de um Ser que opera em tudo segundo a Sua vontade. CBV 416 2 "Para sempre, ó Senhor, A Tua palavra permanece no Céu. A Tua fidelidade estende-se de geração em geração; Tu firmaste a Terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; Porque todas as coisas Te obedecem." Salmos 119:89-91. CBV 416 3 "Tudo o que o Senhor quis, Ele o fez, Nos céus e na Terra, nos mares e em todos os abismos." Salmos 135:6. CBV 416 4 "Mandou, e logo foram criados. E os confirmou para sempre E lhes deu uma lei que não ultrapassarão." Salmos 148:5-6. CBV 416 5 Não é por um poder a ela inerente que ano após ano a terra produz suas fartas colheitas, e continua sua marcha ao redor do Sol. A mão do Infinito está em perpétua operação, guiando este planeta. É o poder de Deus em contínuo exercício que mantém a Terra em equilíbrio em sua rotação. É Deus que faz o Sol se erguer nos céus. Abre as janelas do céu e dá a chuva. CBV 416 6 "Dá a neve como lã e Esparge a geada como cinza." Salmos 147:16. CBV 416 7 "Fazendo Ele soar a voz, logo há arruído de águas no céu, E sobem os vapores da extremidade da terra; Ele faz os relâmpagos para a chuva E faz sair o vento dos Seus tesouros." Jeremias 10:13. CBV 416 8 É pelo poder dEle que a vegetação floresce, que cada folha aparece, cada flor desabrocha, cada fruto se desenvolve. CBV 417 1 O mecanismo do corpo humano não pode ser plenamente compreendido; apresenta mistérios que desconcertam o mais inteligente. Não é em resultado de um mecanismo que, uma vez posto a funcionar, continua sua obra, que o pulso bate, e respiração se segue a respiração. Em Deus vivemos e nos movemos, e existimos. O coração palpitante, o pulso em seu ritmo, cada nervo e músculo do organismo vivo é mantido em ordem e atividade pelo poder de um Deus sempre presente. CBV 417 2 A Bíblia nos mostra Deus em Seu alto e santo lugar, não em um estado de inatividade, não em silêncio e solidão, mas circundado por miríades de miríades e milhares de milhares de seres santos, todos esperando por fazer a Sua vontade. Por meio desses mensageiros, Ele está em ativa comunicação com todas as partes de Seus domínios. Por Seu Espírito está presente em toda parte. Por meio de Seu Espírito e dos anjos, ministra aos filhos dos homens. CBV 417 3 Acima das distrações da Terra, Ele Se assenta entronizado; todas as coisas estão descobertas ao Seu exame divino; e de Sua grande e calma eternidade, Ele ordena aquilo que melhor parece a Sua providência. CBV 417 4 "Não é do homem o seu caminho, Nem do homem que caminha, o dirigir os seus passos." Jeremias 10:23. CBV 417 5 "Confia no Senhor de todo o teu coração. ... Reconhece-O em todos os teus caminhos, E Ele endireitará as tuas veredas." Provérbios 3:5-6. CBV 417 6 "Os olhos do Senhor estão sobre os que O temem, Sobre os que esperam na Sua misericórdia, Para livrar a sua almas da morte E para os conservar vivos na fome." Salmos 33:18. CBV 417 7 "Quão preciosa é, ó Deus, a Tua benignidade! ... Os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas." Salmos 36:7. CBV 417 8 "Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio E cuja esperança está posta no Senhor, seu Deus." Salmos 146:5. CBV 418 1 "A Terra, ó Senhor, está cheia da Tua benignidade." Salmos 119:64. CBV 418 2 Tu amas "a justiça e o juízo." Salmos 33:5. CBV 418 3 "Tu és a esperança de todas as extremidades da Terra E daqueles que estão longe sobre o mar; O que pela Sua força consolida os montes, Cingido de fortaleza; O que aplaca o ruído dos mares, ... O tumulto das nações. ... Tu fazes alegres as saídas da manhã e da tarde. ... Coroas o ano da Tua bondade, E as Tuas veredas destilam gordura." Salmos 65:5-8 e 11. CBV 418 4 "O Senhor sustenta a todos os que caem E levanta a todos os abatidos. Os olhos de todos esperam em Ti, E Tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a Tua mão E satisfazes os desejos de todos os viventes." Salmos 145:14-16. A Personalidade de Deus Revelada em Cristo CBV 418 5 Como Ser pessoal, Deus Se revelou em Seu Filho. O resplendor da glória do Pai, "a expressa imagem da Sua pessoa" (Hebreus 1:3), como um Salvador pessoal, Jesus veio ao mundo. Como um Salvador pessoal, subiu Ele ao Céu. Como um Salvador pessoal, Ele intercede nas cortes celestes. Perante o trono de Deus, intercede em nosso favor "Um semelhante ao Filho do homem". Apocalipse 1:13. CBV 419 1 Cristo, a luz do mundo, velou o ofuscante esplendor de Sua divindade, e veio viver como homem entre os homens, a fim de que eles pudessem, sem ser consumidos, vir a relacionar-se com seu Criador. Desde que o pecado trouxe separação entre o homem e Aquele que o fizera, homem algum viu, em qualquer tempo, a Deus, a não ser segundo Ele Se manifesta por intermédio de Cristo. CBV 419 2 "Eu e o Pai somos um", declarou Cristo. João 10:30. "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar." Mateus 11:27. CBV 419 3 Cristo veio para ensinar às criaturas humanas aquilo que Deus deseja que elas conheçam. Em cima nos Céus, na Terra, na vastidão do oceano, vemos a obra das mãos de Deus. Todas as coisas criadas testificam de Seu poder, Sua Sabedoria, Seu amor. Todavia não nos é possível, por meio das estrelas ou do oceano ou da catarata, aprender da personalidade de Deus o que nos é revelado em Cristo. CBV 419 4 Deus viu que era necessária uma mais clara revelação, tanto de Sua personalidade como de Seu caráter, do que a que nos é oferecida pela Natureza. Enviou Seu filho ao mundo para, tanto quanto a vista humana podia suportar, manifestar a natureza e os atributos do Deus invisível. Revelado aos Discípulos CBV 419 5 Estudemos as palavras proferidas por Cristo no cenáculo, na véspera de Sua crucifixão. Aproximava-se a hora de Seu julgamento, e Ele buscou confortar os discípulos, que deviam ser tão rigorosamente provados. CBV 419 6 "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. CBV 419 7 "Disse-Lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu Pai; e já desde agora O conheceis e O tendes visto. ... CBV 420 1 "Senhor, mostra-nos o Pai", disse Filipe, "o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras." João 14:1, 2, 5-10. CBV 420 2 Os discípulos ainda não compreendiam as palavras de Cristo quanto a Sua relação para com Deus. Muito do Seu ensino ainda lhes era obscuro. Cristo desejava que eles tivessem um mais claro, mais distinto conhecimento de Deus. CBV 420 3 "Disse-vos isso por parábolas", disse Ele; "chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai." João 16:25. CBV 420 4 Quando, no dia de Pentecoste, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, eles entenderam mais claramente as verdades que Jesus lhes dissera por parábolas. Muito dos ensinos que lhes haviam sido um mistério, tornou-se-lhes claro. Mas nem mesmo então receberam os discípulos o pleno cumprimento da promessa de Cristo. Receberam relativamente a Deus todo o conhecimento que lhes era possível suportar, mas o completo cumprimento da promessa de que Cristo lhes havia de mostrar plenamente o Pai estava por vir. Assim acontece hoje em dia. Nosso conhecimento de Deus é parcial e imperfeito. Quando o conflito terminar, e o Homem Cristo Jesus reconhecer perante o Pai os Seus fiéis obreiros, que num mundo de pecado dEle têm dado um verdadeiro testemunho, compreenderão eles claramente o que agora lhes é mistério. CBV 421 1 Cristo levou consigo para as cortes celestes a Sua glorificada humanidade. Aos que O recebem, Ele dá poder para se tornarem filhos de Deus, para que enfim possa recebê-los como Seus, para com Ele habitar por toda a eternidade. Se durante esta vida forem leais a Deus, afinal "verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome". Apocalipse 22:4. E qual é a felicidade do Céu, senão ver a Deus? Que maior alegria poderia sobrevir ao pecador salvo pela graça de Cristo do que contemplar o rosto de Deus, e conhecê-Lo como Pai? CBV 421 2 As Escrituras indicam claramente a relação entre Deus e Cristo, apresentando com igual clareza a personalidade e individualidade de cada um. CBV 421 3 "Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho. O qual, sendo... a expressa imagem da Sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-Se à destra da Majestade, nas alturas; feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu és Meu Filho, Hoje Te gerei? E outra vez: Eu Lhe serei por Pai, E Ele Me será por Filho?" Hebreus 1:1, 3-5. CBV 421 4 A personalidade do Pai e do Filho, bem como a unidade existente entre Eles, é apresentada no capítulo dezessete de João, na oração de Cristo por Seus discípulos: "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela Sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:20-21. CBV 422 1 A unidade que existe entre Cristo e Seus discípulos não anula a personalidade de nenhum. São um em desígnio, mente, em caráter, mas não em pessoa. É assim que Deus e Cristo são um. O Caráter de Deus Revelado em Cristo CBV 422 2 Tomando sobre Si a humanidade, Cristo veio ser um com a humanidade, e ao mesmo tempo revelar às pecadoras criaturas humanas o Pai celestial. Aquele que estivera na presença do Pai, desde o princípio, Aquele que era a expressa imagem do invisível Deus, era o único habilitado a revelar à humanidade o caráter divino. Em tudo Ele foi feito semelhante a Seus irmãos. Fez-Se carne, tal qual nós somos. Sentia fome e sede e fadiga. Era sustentado pelo alimento, e refrigerado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens; era, todavia, o imaculado Filho de Deus. Era um estrangeiro e peregrino na Terra -- estava no mundo, mas não era do mundo; tentado e provado como homens e mulheres são tentados e provados hoje, porém vivendo uma vida livre de pecado. Terno, compassivo, cheio de simpatia, sempre atencioso para com os outros, Ele representava o caráter de Deus, achando-Se continuamente empenhado em serviço para com o Senhor e o homem. CBV 423 1 "O Senhor Meu ungiu", disse Ele, "Para pregar boas novas aos mansos; Enviou-Me a restaurar os contritos de coração, A proclamar liberdade aos cativos", (Isaías 61:1) CBV 423 2 "A dar vista aos cegos" (Lucas 4:19) CBV 423 3 "A apregoar o ano aceitável do Senhor; ... A consolar todos os tristes." Isaías 61:2. CBV 423 4 "Amai a vossos inimigos", ordena-nos Ele; "bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus" (Mateus 5:44-45); "porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus." Lucas 6:35. "Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos." Mateus 5:45. "Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso." Lucas 6:36. CBV 423 5 "Pela terna misericórdia do nosso Deus, ... O Oriente do alto nos visitou, Para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra de morte, A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz." Lucas 1:78-79. A Glória da Cruz CBV 423 6 A revelação do amor de Deus para com os homens centraliza-se na cruz. A língua não pode exprimir Sua inteira significação, a pena é impotente para descrever, incapaz a mente humana de a penetrar. Olhando à cruz do Calvário, só nos é possível dizer: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. CBV 424 1 Cristo crucificado por nossos pecados, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo elevado ao alto, eis a ciência de salvação que temos de aprender e ensinar. Era Cristo CBV 424 2 "Sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz." Filipenses 2:6-8. CBV 424 3 "É Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus." Romanos 8:34. "Portanto, pode também salvar totalmente perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Hebreus 7:25. CBV 424 4 "Não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém Um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado." Hebreus 4:15. CBV 424 5 É mediante o dom de Cristo que recebemos todas as bênçãos. Por meio desse dom chega dia a dia até nós o fluxo incessante da bondade de Jeová. Toda flor, com seus delicados matizes e sua fragrância, é concedida para nossa satisfação por intermédio daquele Dom. O Sol e a Lua foram feitos por Ele. Não há nenhuma estrela, que embeleze o céu, que por Ele não haja sido criada. Cada gota de chuva a cair, cada raio de sol espargido sobre nosso ingrato mundo, testifica do amor de Deus em Cristo. Tudo nos é suprido através daquele inexprimível Dom, o Filho unigênito de Deus. Ele foi pregado na cruz a fim de que todas essas bênçãos pudessem fluir para a obra de Deus -- o homem. CBV 425 1 "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. CBV 425 2 "Não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, Nem com os olhos se viu um Deus além de Ti, Que trabalhe para aquele que nEle espera." Isaías 64:4. O Conhecimento que Transforma CBV 425 3 O conhecimento de Deus segundo a revelação dada em Cristo, eis o que devem ter todos quantos se salvam. É o conhecimento que opera transformação no caráter. Recebido, esse conhecimento recriará a alma à imagem de Deus. Comunicará a todo o ser um poder espiritual que é divino. CBV 425 4 "Todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem." 2 Coríntios 3:18. CBV 426 1 Falando da própria vida, o Salvador disse: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 15:10. "O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29. Deus pretende que os Seus seguidores sejam o que Jesus foi quando revestido da natureza humana. Cumpre-nos, em Sua força, viver a vida pura e nobre que o Salvador viveu. CBV 426 2 "Por causa disso", diz Paulo, "me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos Céus e na Terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:14-19. CBV 426 3 "Não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo." Colossences 1:9-11. CBV 426 4 É esse o conhecimento que Deus nos está convidando a receber, e ao pé do qual tudo mais é vaidade e nada. ------------------------Capítulo 36 -- O perigo do conhecimento especulativo CBV 427 1 Um dos maiores males que acompanham a busca do conhecimento, as pesquisas da ciência, é a disposição de exaltar o raciocínio humano acima de seu real valor e sua devida esfera. Muitos tentam julgar o Criador e Suas obras mediante o imperfeito conhecimento que possuem da ciência. Esforçam-se por determinar a natureza e os atributos e as prerrogativas de Deus, e condescendem com teorias especulativas com relação ao Infinito. Os que se entregam a esse ramo de estudo estão pisando terreno proibido. Suas pesquisas não produzirão resultados de valor, só podendo ser prosseguidas com perigo para a alma. CBV 427 2 Nossos primeiros pais foram induzidos ao pecado mediante a condescendência com o desejo de conhecimento que lhes fora vedado por Deus. Procurando adquirir esse conhecimento, perderam tudo quanto valia a pena possuir-se. Se Adão e Eva nunca houvessem tocado a árvore proibida, Deus lhes haveria comunicado conhecimento sobre o qual não haveria pousado qualquer maldição de pecado, conhecimento que lhes haveria trazido perpétua alegria. Tudo quanto eles obtiveram por dar ouvidos ao tentador foi o relacionarem-se com a ciência do pecado e seus resultados. Por sua desobediência, a humanidade foi afastada de Deus, e a Terra separada do Céu. CBV 428 1 Apliquemos a nós esta lição. O campo a que Satanás levou nossos primeiros pais é o mesmo a que ele está hoje em dia seduzindo os homens. Está inundando o mundo de aprazíveis fábulas. Por todos os meios ao seu alcance, tenta os homens a especular com relação a Deus. Busca assim impedi-los de obter a Seu respeito aquele conhecimento que é salvação. Teorias Panteístas CBV 428 2 Ensinos espiritualistas que minam a fé em Deus e em Sua Palavra estão atualmente penetrando as instituições educativas e as igrejas por toda parte. A teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a Natureza é aceita por muitos que professam crer nas Escrituras; mas, se bem que revestida de belas roupagens, essa teoria é perigosíssimo engano. Ela representa falsamente a Deus, sendo uma desonra para Sua grandeza e majestade. E tende por certo não somente a extraviar como a rebaixar os homens. As trevas são o seu elemento, a sensualidade a sua esfera. O resultado de aceitá-la é separação de Deus. E para a caída natureza humana isso resulta em ruína. CBV 428 3 Devido ao pecado, nossa condição não é natural, e deve ser sobrenatural o poder que nos restaure, do contrário, não tem valor. Existe unicamente um poder capaz de quebrar o domínio do mal no coração dos homens, e esse é o poder de Deus em Jesus Cristo. Unicamente por meio do sangue do Crucificado existe purificação do pecado. Sua graça, tão-somente, nos habilita a resistir e subjugar as tendências de nossa natureza caída. As teorias espiritualistas a respeito de Deus tornam Sua graça de nenhum efeito. Se Deus é uma essência que permeia toda a Natureza, habita por conseguinte em todos os homens; e, para atingir a santidade, o homem não tem senão que desenvolver o poder que está dentro dele mesmo. CBV 428 4 Seguidas até sua conclusão lógica, essas teorias assolam toda a dispensação cristã. Removem a necessidade da expiação, tornando o homem seu próprio salvador. Essas teorias acerca de Deus fazem de nenhum efeito a Sua Palavra, e os que as aceitam estão em maior risco de vir afinal a considerar a Bíblia inteira como uma ficção. Podem considerar a virtude como superior ao vício; havendo, porém, excluído a Deus de Sua devida posição de soberania, põem sua confiança no poder humano, o qual, sem Deus, é destituído de valor. A vontade humana, desajudada, não tem nenhum poder real para resistir ao mal e vencê-lo. As defesas da alma acham-se derribadas. O homem não tem barreiras contra o pecado. Uma vez rejeitadas as restrições da Palavra de Deus e de Seu Espírito, não sabemos a que profundezas uma pessoa pode imergir. CBV 429 1 "Toda Palavra de Deus é pura; Escudo é para os que confiam nEle. Nada acrescentes às Suas palavras, Para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso." Provérbios 30:5-6. CBV 429 2 "Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, E, com as cordas do seu pecado, será detido." Provérbios 5:22. Pesquisas dos Mistérios Divinos CBV 429 3 "As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre." Deuteronômio 29:29. A revelação que Deus de Si mesmo deu em Sua Palavra é para nosso estudo. Esta, podemos procurar compreender. Mas além disto não devemos penetrar. O mais elevado intelecto pode esforçar-se até à exaustão em conjeturas concernentes à natureza de Deus, mas infrutíferos serão os esforços. Esse problema não nos foi dado a solver. Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. Ninguém se deve entregar a especulações com referência a Sua natureza. A esse respeito, o silêncio é eloquente. O Onisciente está acima de discussão. CBV 429 4 Mesmo os anjos não tiveram permissão de partilhar nos conselhos entre o Pai e o Filho quando foi delineado o plano da salvação. E as criaturas humanas não se devem intrometer nos segredos do Altíssimo. Somos tão ignorantes acerca de Deus como criancinhas; mas, como criancinhas, é-nos dado amá-Lo e obedecer-Lhe. Em lugar de especular quanto a Sua natureza ou Suas prerrogativas, demos ouvidos às palavras que falou: CBV 430 1 "Porventura, alcançarás os caminhos de Deus Ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a Terra; E mais larga do que o mar." Jó 11:7-9. CBV 430 2 "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O homem não lhe conhece o valor; Não se acha na Terra dos viventes. O abismo diz: Não está em mim; E o mar diz: Ela não está comigo. Não se dará por ela ouro fino, Nem se pesará prata em câmbio dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, Nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela não se pode comparar o ouro ou o cristal; Nem se trocará por jóia de ouro fino. Ela faz esquecer o coral e as pérolas; Porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis. Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, Nem se pode comprar por ouro puro. De onde, pois, vem a sabedoria, E onde está o lugar da inteligência? A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. Deus entende o seu caminho, E Ele sabe o seu lugar. "Porque Ele vê as extremidades da Terra; E vê tudo o que há debaixo dos céus. Quando prescreveu uma lei para a chuva E caminho para o relâmpago dos trovões, Então, a viu e a manifestou; Estabeleceu-se e também a esquadrinhou. Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria E apartar-se do mal é a inteligência." Jó 28:12-20, 22-24, 26-28. CBV 431 1 Nem sondando os recessos da Terra, nem mediante vãos esforços para penetrar os mistérios do divino Ser, se encontra a sabedoria. Ela é antes encontrada no humilde recebimento da revelação que Lhe tem parecido bem conceder-nos, e na conformação da vida com a Sua vontade. CBV 431 2 Os homens de mais poderoso intelecto não podem compreender os mistérios de Jeová, segundo se revelam em a Natureza. A inspiração divina faz muitas perguntas que o mais profundo erudito não sabe responder. Essas perguntas não foram feitas para que as respondêssemos, mas para chamar nossa atenção para os profundos mistérios de Deus, e ensinar-nos a limitação de nossa sabedoria. No que nos rodeia na vida diária, existem muitas coisas além da compreensão de seres finitos. CBV 431 3 Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque não podem compreender o infinito poder pelo qual Ele Se revela. Mas Deus deve ser reconhecido, tanto pelo que não revela de Si mesmo como por aquilo que é franqueado à nossa limitada compreensão. Tanto na divina revelação como na Natureza, Ele deixou mistérios a fim de reclamar a nossa fé. Assim deve ser. Devemos estar sempre indagando, sempre pesquisando, sempre aprendendo, e resta todavia um infinito para o além. CBV 431 4 "Quem mediu com o seu punho as águas, E tomou a medida dos céus aos palmos, E recolheu em uma medida o pó da terra, E pesou os montes e os outeiros em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro O ensinou? Eis que as nações são consideradas por Ele como a gota dum balde E como o pó miúdo das balanças; Eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, Nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante Ele; Ele considera-as menos do que nada e como uma coisa vã. "A quem, pois, fareis semelhante a Deus Ou com que O comparareis? Porventura, não sabeis? Porventura, não ouvis? Ou desde o princípio se vos não notificou isso mesmo? Ou não atentastes para os fundamentos da Terra? Ele é o que está assentado sobre o globo da Terra, Cujos moradores são para Ele como gafanhotos; Ele é o que estende os céus como cortina E os desenrola como tenda para neles habitar; A quem pois Me fareis semelhante? ... Diz o Santo. Levantai ao alto os olhos E vede quem criou estas coisas, Quem produz por conta o seu exército, Quem a todas chama pelos seu nome; Por causa da grandeza das Suas forças e pela fortaleza do Seu poder, Nenhuma faltará. "Por que, pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O Meu caminho está encoberto ao Senhor, E o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, Não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, O Criador dos confins da Terra, Nem Se cansa, nem Se fatiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento." Isaías 40:12, 13-18, 21, 22, 25-28. CBV 432 1 Aprendamos, das revelações dadas pelo Espírito Santo a Seus profetas, a grandeza de nosso Deus. O profeta Isaías escreve: "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o Seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dEle; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. CBV 433 1 "Então, disse eu: Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! CBV 433 2 "Mas um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e purificado o teu pecado." Isaías 6:1-7. CBV 433 3 "Ninguém há semelhante a Ti, ó Senhor; Tu és grande, e grande é o Teu nome em força. Quem Te não temeria a Ti, ó Rei das nações?" Jeremias 10:6-7. CBV 433 4 "Senhor, Tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; De longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; E conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, Eis que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta E puseste sobre mim a Tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; Tão alta, que não a posso atingir." Salmos 139:1-6. CBV 433 5 "Grande é o nosso Senhor e de grande poder; o Seu entendimento é infinito." Salmos 147:5. CBV 433 6 "Os caminhos do homem estão perante os olhos do Senhor, e Ele aplana todas as suas carreiras." Provérbios 5:21. CBV 433 7 "Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em trevas; e com Ele mora a luz." Daniel 2:22. CBV 433 8 "Por Deus são conhecidas todas as Suas obras desde a eternidade." Atos 5:18. "Quem conheceu a mente do Senhor, ou quem foi Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu alguma coisa primeiro, e ser-lhe-á recompensada? Porque dEle, e por Ele, e para Ele são todas as coisas: a Ele seja dada a glória por todos os séculos." Romanos 11:34-36, Versão Trinitariana. CBV 434 1 "Ao Rei dos séculos, imortal, invisível" (1 Timóteo 1:17), "Aquele que tem, Ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno." 1 Timóteo 6:16. CBV 434 2 "Porventura, não vos espantará a Sua alteza? E não cairá sobre vós o Seu temor?" Jó 13:11. CBV 434 3 "Porventura, Deus não está na altura dos Céus? Olha para a altura das estrelas; quão elevadas estão!" Jó 22:12. CBV 434 4 "Porventura, têm número os Seus exércitos? E para quem não se levanta a Sua luz?" Jó 25:3. CBV 434 5 "Faz grandes coisas que nós não compreendemos. Porque à neve diz: Cai na terra; Como também ao aguaceiro e à Sua forte chuva. Ele sela as mãos de todo homem, Para que conheçam todos os homens a Sua obra. Também com a umidade carrega as grossas nuvens E esparge a nuvem da Sua luz. Então, ela, segundo o Seu prudente conselho, se espalha em roda, Para que faça tudo quanto lhe ordena Sobre a superfície do mundo habitável; Seja para correção, ou para a Sua terra, Ou para beneficência, que a faça vir. A isto, ... inclina os teus ouvidos; Atende e considera as maravilhas de Deus. Porventura, sabes tu como Deus as opera E faz resplandecer a luz da Sua nuvem? Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens E das maravilhas dAquele que é perfeito nos conhecimentos? Ou estendeste com Ele os céus, Que estão firmes como espelho fundido? Ensina-nos o que Lhe diremos; Porque nós nada poderemos pôr em boa ordem, por causa das trevas. E agora não se pode ver o Sol, que resplandece nos céus; "Mas, passando o vento e purificando-os, O esplendor de ouro vem do norte; Pois em Deus há uma tremenda majestade. Ao Todo-poderoso não podemos alcançar; Grande é em poder; Porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça. Por isso, O temem os homens." Jó 37:5-7, 11-16, 18, 19, 21-24. CBV 435 1 "Quem é como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas; Que Se curva para ver o que está nos céus e na Terra?" Salmos 113:5. CBV 435 2 "O Senhor tem o Seu caminho na tormenta e na tempestade, E as nuvens são o pó dos Seus pés." Naum 1:3. CBV 435 3 "Grande é o Senhor e muito digno de louvor; E a Sua grandeza, inescrutável. Uma geração louvará as Tuas obras à outra geração E anunciará as Tuas proezas. Falarei da magnificência gloriosa da Tua majestade E das Tuas obras maravilhosas. E se falará da força dos Teus feitos terríveis; E contarei a Tua grandeza. Publicarão abundantemente a memória da Tua grande bondade E cantarão a Tua justiça. "Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, E os Teus santos Te bendirão. Falarão da glória do Teu reino E relatarão o Teu poder, Para que façam saber aos filhos dos homens as Tuas proezas E a glória da magnificência do Teu reino. O Teu reino é um reino eterno; O Teu domínio estende-se a todas as gerações. A minha boca entoará o louvor do Senhor, E toda a carne louvará o Seu santo nome para todo o sempre." Salmos 145:3-7, 10-13, 21. CBV 435 4 À medida que aprendermos mais acerca de Deus e de nós mesmos, do que somos aos Seus olhos, havemos de temer e tremer diante dEle. Que os homens de hoje sejam advertidos pela sorte daqueles que, antigamente, presumiram permitindo-se liberdade com aquilo que Deus declara santo. Quando os israelitas se atreveram a abrir a arca, ao voltar ela da terra dos filisteus, sua irreverente ousadia foi assinaladamente punida. CBV 436 1 Considerai ainda o juízo que caiu sobre Uzá. Quando, no reinado de Davi, a arca ia sendo levada a Jerusalém, Uzá estendeu a mão para mantê-la firme. Por ousar tocar o símbolo da presença de Deus, foi ferido de morte instantânea. CBV 436 2 Na sarça ardente, quando Moisés, não reconhecendo a presença de Deus, dirigiu-se para contemplar a maravilhosa visão, foi dada a ordem: "Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. ... E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus." Êxodo 3:5-6. CBV 436 3 "Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã. E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o Sol era posto; e tomou uma das pedras, ... e a pôs por sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar. CBV 436 4 "E sonhou: e eis era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus, e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela e disse: CBV 436 5 "Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito. CBV 436 6 "Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos Céus." Gênesis 28:10-13, 15-17. CBV 437 1 No santuário do tabernáculo do deserto e do templo, que eram os símbolos terrestres da habitação de Deus, um aposento era sagrado por Sua presença. O véu bordado de querubins, à sua entrada, não devia ser erguido por nenhuma mão, com exceção de uma. Levantar aquele véu, e entrar, sem ser mandado, no sagrado mistério do santo dos santos, importava em morte. Pois acima do propiciatório repousava a glória do Santíssimo -- glória a que homem algum podia olhar e viver. No dia do ano que era designado para ministrar no lugar santíssimo, o sumo sacerdote, tremendo, entrava à presença de Deus, ao passo que nuvens de incenso velavam a seus olhos a glória. Por todo o pátio do templo silenciava tudo. Nenhum sacerdote ministrava no altar. A hoste de adoradores, curvados em silencioso respeito, orava implorando a misericórdia de Deus. CBV 438 1 "Tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. CBV 438 2 "O Senhor está no Seu santo templo; Cale-se diante dEle toda a Terra." Habacuque 2:20. CBV 438 3 "O Senhor reina; tremam as nações. Ele está entronizado entre os querubins; comova-se a Terra. O Senhor é grande em Sião E mais elevado que todas as nações. Louvem o Teu nome, grande e tremendo, Pois é santo." Salmos 99:1-3. CBV 438 4 "O trono do Senhor está nos Céus; Os Seus olhos estão atentos, E as Suas pálpebras provam os filhos dos homens." Salmos 11:4. CBV 438 5 "Olhara desde o alto do Seu santuário; Desde os Céus, o Senhor observou a Terra." Salmos 102:19. CBV 438 6 "Da Sua morada contempla Todos os moradores da Terra. Ele é o que forma o coração de todos eles, Que contempla todas as suas obras." Salmos 33:14-15. CBV 438 7 "Tema toda a Terra ao Senhor; Temam-nO todos os moradores do mundo." Salmos 33:8. CBV 438 8 O homem não pode, mediante pesquisas, achar a Deus. Ninguém, com mão presunçosa, busque erguer o véu que Lhe oculta a glória. "Insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!" Romanos 11:33. É uma prova de Sua misericórdia o ser oculto o Seu poder; pois erguer o véu que oculta a divina presença é morte. Nenhuma mente humana pode penetrar no retiro em que o Poderoso habita e opera. Unicamente aquilo que Ele acha por bem revelar podemos dEle compreender. A razão precisa reconhecer uma autoridade superior a ela. O coração e o intelecto precisam dobrar-se diante do grande Eu Sou. ------------------------Capítulo 37 -- O falso e o verdadeiro na educação CBV 439 1 O mentor intelectual na confederação do mal trabalha continuamente para manter afastadas as palavras de Deus, e apresentar as opiniões dos homens. Ele quer que não ouçamos a voz de Deus dizendo: "Este é o caminho; andai nele." Isaías 30:21. Mediante pervertidos processos educativos está ele fazendo o possível para obscurecer a luz celeste. CBV 439 2 Especulações filosóficas e pesquisas científicas em que Deus não é reconhecido estão tornando céticos a milhares. Nas escolas de hoje são cuidadosamente ensinadas e amplamente expostas as conclusões a que os doutos têm chegado em resultado de suas pesquisas científicas; por outro lado é francamente dada a impressão de que, se esses homens estão certos, não o pode estar a Bíblia. O ceticismo exerce atração sobre o espírito humano. A juventude nele vê uma independência que lhe seduz a imaginação, e é iludida. Satanás triunfa. Ele alimenta toda semente de dúvida lançada no coração juvenil. Faz com que ela cresça e dê frutos, e resulta em farta colheita de incredulidade. CBV 440 1 É por ser o coração humano tão inclinado ao mal que se torna tão perigoso semear o ceticismo nos espíritos jovens. Seja o que for que enfraqueça a fé em Deus, rouba a alma do poder de resistir à tentação. Remove a única salvaguarda real contra o pecado. Precisamos de escolas em que a juventude aprenda que a grandeza consiste em honrar a Deus mediante a revelação de Seu caráter na vida diária. Necessitamos aprender acerca de Deus por meio de Sua Palavra e obras, a fim de nossa vida poder cumprir o Seu desígnio. Autores Incrédulos CBV 440 2 Para educar-se, muitos julgam ser essencial estudar os escritos dos autores incrédulos, visto essas obras conterem muitas brilhantes gemas de pensamento. Quem foi, porém, o autor dessas jóias de pensamento? Deus, e unicamente Ele. É Ele a fonte de toda luz. Por que haveríamos então de vadear pela massa de erros contidos nas obras dos incrédulos, por amor de algumas verdades intelectuais, quando temos a verdade toda à nossa disposição? CBV 440 3 Como os homens que se acham em guerra com o governo de Deus chegam a ficar de posse da sabedoria que por vezes manifestam? O próprio Satanás foi educado nas cortes celestes, e tem o conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isto que o habilita a enganar. Mas, pelo fato de se haver Satanás revestido de roupagens de celeste esplendor, havemos de recebê-lo como anjo de luz? O tentador tem agentes, educados segundo seus métodos inspirados por seu espírito, e adaptados a sua obra. Cooperaremos nós com eles? Receberemos as obras desses instrumentos como essenciais à educação que desejamos obter? CBV 440 4 Se o tempo e os esforços despendidos em buscar aprender as luminosas idéias dos incrédulos fossem consagrados a estudar as preciosidades da Palavra de Deus, milhares dos que agora se acham assentados em trevas e sombras de morte se estariam regozijando na glória da Luz da vida. Saber Histórico e Teológico CBV 441 1 Muitos julgam ser essencial, como preparo para a obra cristã, adquirir amplos conhecimentos dos escritos históricos e teológicos. Supõem que esse conhecimento lhes será de utilidade no ensino do evangelho. Mas seu laborioso estudo das opiniões dos homens tende a enfraquecer-lhes o ministério, em vez de fortalecê-lo. Quando vejo bibliotecas cheias de alentados volumes de conhecimentos de História e Teologia, penso: Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? O sexto capítulo de João nos diz mais do que se pode encontrar em tais obras. Cristo diz: "Eu sou o pão da vida; Aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre. ... Aquele que crê em Mim tem a vida eterna. As palavras que Eu vos disse são Espírito e vida." João 6:35, 51, 47 e 63. CBV 441 2 Há um estudo de História que não é condenável. A história sagrada era um dos estudos das escolas dos profetas. No registro de Seu trato com as nações, foram delineadas as pegadas de Jeová. Assim hoje em dia cumpre-nos considerar Seu trato com as nações da Terra. Devemos ver na História o cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos de reforma, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito. CBV 442 1 Tal estudo proporcionará amplas e compreensivas visões da vida. Auxiliar-nos-á a entender alguma coisa de suas relações e dependências, quão maravilhosamente nos achamos ligados na grande fraternidade social e das nações, e em que grande medida a opressão e o aviltamento de um membro importam em prejuízo de todos. CBV 442 2 Mas a História como é comumente estudada ocupa-se com os feitos dos homens, suas vitórias nas batalhas, seu êxito na realização do poder e da grandeza. Perde-se de vista a atuação de Deus nos negócios dos homens. Poucos são os que estudam o desenvolvimento de Seu desígnio no reerguimento e queda das nações. CBV 442 3 E, em alto grau, a teologia, segundo é estudada e ensinada, não passa de um registro de especulações humanas, servindo apenas para escurecer "o conselho com palavras sem conhecimento". Jó 38:2. Com demasiada frequência o motivo de acumular esses muitos livros não é tanto o desejo de obter alimento para a mente e a alma, como a ambição de se relacionar com os filósofos e teólogos, o desejo de apresentar ao povo o cristianismo em termos e frases eruditos. CBV 442 4 Nem todos os livros escritos podem servir aos desígnios de uma vida santa. "Aprendei de Mim", disse o grande Mestre. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." Mateus 11:29. Vosso orgulho intelectual não vos ajudará em comunicar com as almas que estão perecendo por falta do pão da vida. Em vosso estudo desses livros, estais permitindo que eles tomem o lugar das lições práticas que devíeis estar aprendendo de Cristo. O povo não se alimenta com os resultados deste estudo. Bem pouco das pesquisas tão fatigantes para a mente proporciona qualquer coisa de valioso para alguém se tornar um bem-sucedido obreiro em favor de almas. CBV 443 1 O Salvador veio "evangelizar os pobres". Lucas 4:18. Em Seus ensinos empregava os termos mais simples e os mais singelos símbolos. E foi dito que "a grande multidão O ouvia de boa vontade". Marcos 12:37. Os que estão buscando fazer Sua obra neste tempo necessitam mais profunda visão das lições por Ele dadas. CBV 443 2 As palavras do Deus vivo constituem a mais elevada educação. Os que ministram ao povo precisam comer do pão da vida. Isso lhes dará vigor espiritual; estarão assim preparados para ajudar a todas as classes de gente. Os Clássicos CBV 443 3 Nos colégios e universidades, milhares de jovens consagram grande parte dos melhores anos da vida ao estudo do grego e do latim. E, enquanto se acham empenhados nesses estudos, a mente e o caráter são moldados segundo os maus sentimentos da literatura pagã, cuja leitura é em geral considerada parte essencial ao estudo dessas línguas. CBV 443 4 Os que estão familiarizados com os clássicos declaram que as tragédias gregas se acham repletas de incesto, homicídio, e sacrifícios humanos a deuses concupiscentes e vingativos. Incomparavelmente melhor seria para o mundo se a instrução obtida dessas fontes fosse dispensada. "Andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés?" Provérbios 6:28. "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém." Jó 14:4. Poderemos então esperar que a juventude desenvolva caráter cristão enquanto sua educação é moldada pelos ensinos daqueles que desafiam os princípios da Lei de Deus? CBV 444 1 Ao sacudirem de si as restrições e imergirem em descuidosos divertimentos, dissipação e vício, os estudantes não fazem mais que imitar aquilo que lhes é de contínuo apresentado à mente mediante esses estudos. Há carreiras em que é necessário o conhecimento do grego e do latim. Alguns precisam estudar essas línguas. Mas o conhecimento das mesmas requerido para fins úteis pode ser obtido sem o estudo de literatura corrupta e corruptora. CBV 444 2 E o conhecimento do grego e do latim não é necessário a muitos. O estudo das línguas mortas deve ser secundário às matérias que ensinam o devido uso de todas as faculdades físicas e mentais. É tolice os estudantes dedicarem o tempo à aquisição de conhecimentos de línguas mortas, ou de livros de quaisquer ramos, com prejuízo do preparo para os deveres práticos da vida. CBV 444 3 Que levam consigo os estudantes ao deixarem a escola? Para onde vão? Que terão de fazer? Possuirão eles o conhecimento que os habilitará a ensinar outros? Terão sido educados para serem verdadeiros pais e mães? Poderão colocar-se à frente de uma família como sábios instrutores? A única educação digna desse nome é a que leva rapazes e moças a se tornarem semelhantes a Cristo, que os habilita a se desempenhar das responsabilidades da vida e dirigir sua família. Tal educação não se adquire pelo estudo dos clássicos pagãos. A Literatura Sensacionalista CBV 444 4 Muitas das publicações hoje se acham repletas de histórias sensacionais, que estão educando os jovens na impiedade, e conduzindo-os ao caminho da perdição. Muitas crianças na idade são velhos no conhecimento do crime. São incitadas ao mal pelos contos que lêem. Ensaiam, na imaginação, os atos descritos, até que se lhes desperta a ambição de ver de que são capazes quanto a cometer crimes e escapar à pena. CBV 444 5 Para a viva imaginação das crianças e jovens, as cenas descritas em imaginárias revelações do futuro são realidades. Ao serem preditas revoluções e descrita toda sorte de acontecimentos que derribam as barreiras da lei e da restrição ao próprio eu, muitos se possuem do espírito dessas imaginações. São levados à prática de crimes ainda piores, se possível, que os descritos por esses escritores sensacionalistas. Mediante influências assim a sociedade está se desmoralizando. As sementes da anarquia são amplamente difundidas. Ninguém se maravilhe se a colheita de crimes é o fruto. CBV 445 1 Obras de romance, frívolos e provocantes contos, pouco menos ruinosos são ao leitor. Talvez o autor professe ensinar uma lição de moral, pode entretecer na obra sentimentos religiosos; frequentemente, porém, isso não serve senão para velar a loucura e a vileza que se acham no fundo. CBV 445 2 O mundo está inundado de livros repletos de erros sedutores. A juventude recebe como verdade aquilo que a Bíblia denuncia como falso, e amam e se apegam a enganos que importam em ruína para sua alma. CBV 445 3 Há obras de ficção que foram escritas com o objetivo de ensinar verdades ou expor algum grande mal. Algumas dessas obras têm feito bem. Têm, por outro lado, operado indizível dano. Encerram declarações e descrições altamente elaboradas, que despertam a imaginação e suscitam uma corrente de pensamentos repleta de perigo, especialmente para os jovens. As cenas descritas são repetidamente vividas em sua imaginação. Tais leituras incapacitam a mente para a utilidade, tornando-a inapta para os exercícios espirituais. Destroem o interesse na Bíblia. As coisas celestiais pouco lugar encontram nos pensamentos. À medida que a mente se demora nas cenas de impureza descritas, desperta-se a paixão, e o fim é o pecado. CBV 445 4 Mesmo a ficção que não contém nenhuma sugestão de impureza, e que visa ensinar excelentes princípios, é nociva. Anima o hábito da leitura apressada e superficial, unicamente pela história. Tende assim a destruir a faculdade de pensar com coerência e vigor; incapacita a alma para contemplação dos grandes problemas do dever e do destino. CBV 446 1 Alimentando o amor de mera distração, a leitura de ficção cria um desgosto pelos deveres práticos da vida. Por meio de seu poder estimulante e intoxicador, é frequente causa de enfermidades mentais e físicas. Muito desgraçado e negligenciado lar, muito inválido por toda a existência, muito interno de asilo de alienados, chegou a esse estado mediante o hábito da leitura de romances. CBV 446 2 Alega-se muitas vezes que, a fim de se desviar a juventude das leituras sensacionais e indignas, deveríamos proporcionar-lhes melhor espécie de leitura de ficção. Isso equivale a tentar a cura de um bêbado dando-lhe, em lugar de uísque ou aguardente, os intoxicantes mais brandos, como vinho, cerveja ou sidra. O uso desses animaria continuamente o desejo dos estimulantes mais fortes. A única segurança para os bêbados, bem como para o homem temperante, é a total abstinência. A mesma regra se aplica ao amante de ficção. Sua única segurança é a total abstinência. Mitos e Contos de Fadas CBV 446 3 Na educação das crianças e dos jovens, dá-se agora importante lugar aos contos de fadas, mitos e histórias imaginárias. Usam-se nas escolas livros desta natureza, e encontram-se também os mesmos em muitos lares. Como podem pais cristãos permitir que seus filhos usem livros tão cheios de mentiras? Quando as crianças pedem a explicação de histórias tão contrárias aos ensinos recebidos de seus pais, a resposta é que essas histórias não são verdadeiras; mas isso não dissipa os maus resultados de seu uso. As idéias apresentadas nesses livros desencaminham as crianças. Comunicam falsas idéias da vida, suscitando e nutrindo o desejo pelo irreal. CBV 447 1 O vasto uso desses livros em nossos dias é uma das astutas maquinações de Satanás. Ele está procurando desviar a mente, tanto de idosos como de jovens, da grande obra da formação do caráter. Pretende que nossas crianças e jovens sejam devastados pelos enganos destruidores da alma com que ele está enchendo o mundo. Portanto, busca desviar-lhes a mente da Palavra de Deus, impedindo-os assim de obter o conhecimento das verdades que os salvaguardariam. CBV 447 2 Nunca deveriam ser colocados nas mãos da infância e da juventude livros que contenham uma perversão da verdade. Não permitamos que nossos filhos, no próprio processo de adquirir educação, recebam idéias que se demonstrarão sementes de pecado. Se os de espírito amadurecido nada tiverem que ver com tais livros, achar-se-ão, mesmo eles, muito mais a salvo, e seu exemplo bem como sua influência do lado do correto tornaria muito menos difícil guardar a juventude da tentação. CBV 447 3 Temos abundância do que é real, do que é divino. Os que têm sede de conhecimento não precisam dirigir-se a fontes poluídas. Diz o Senhor: CBV 447 4 "Inclina o teu ouvido, e ouve as palavras dos sábios, E aplica o teu coração à Minha ciência. Para que a tua confiança esteja no Senhor, A ti tas faço saber hoje. ... Porventura, não te escrevi excelentes coisas Acerca de todo conselho e conhecimento, Para te fazer saber a certeza das palavras de verdade, Para que possas responder palavras de verdade aos que te enviarem?" Provérbios 22:17, 19-21. CBV 447 5 "Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, E pôs uma lei em Israel, E ordenou aos nossos pais Que a fizessem conhecer a seus filhos, ... Mostrando à geração futura os louvores do Senhor, Assim como a Sua força e as maravilhas que fez. Para que a geração vindoura a soubesse; Os filhos que nascessem se levantassem E as contassem a seus filhos; Para que pusessem em Deus a sua esperança." Salmos 78:5, 4, 6-7. CBV 448 1 "A bênção do Senhor é que enriquece; E não acrescenta dores." Provérbios 10:22. O Ensino de Cristo CBV 448 2 Assim também Cristo apresentou os princípios da verdade no evangelho. Podemos, em Seus ensinos, beber das puras correntes que brotam do trono de Deus. Cristo poderia haver comunicado aos homens conhecimentos que ultrapassariam a quaisquer revelações anteriores, deixando para trás todas as outras descobertas. Poderia haver descerrado mistério após mistério, e fazer concentrar em torno dessas maravilhosas revelações o ativo e diligente pensamento das sucessivas gerações até ao fim do tempo. Do ensino da ciência da salvação, não tirou um momento. Seu tempo, Suas faculdades e Sua vida só eram apreciadas e empregadas em prol da salvação das almas humanas. Ele viera buscar e salvar o que se tinha perdido, e não Se desviaria de Seu propósitos. Não permitiria que coisa alguma O distraísse. CBV 448 3 Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo limitavam-se às próprias necessidades que tinham na vida prática. Não satisfazia à curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras perguntas. Todas essas perguntas em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida. Encontravam cerrados todos os caminhos que não fossem aqueles que conduzem a Deus. Fechadas estavam todas as fontes, a não ser a da vida eterna. CBV 449 1 Nosso Salvador não animava ninguém a frequentar as escolas dos rabinos de Sua época, pelo fato de que a mente se corromperia com o continuamente repetido: "Dizem", ou: "Foi dito". Como, pois, devemos nós aceitar as instáveis palavras humanas como exaltada sabedoria, quando se encontra ao nosso alcance uma sabedoria maior e infalível? CBV 449 2 O que tenho visto das coisas eternas, bem como o que tenho testemunhado da fraqueza da humanidade, tem-me impressionado profundamente o espírito e influenciado a obra de minha vida. Nada vejo por que seja o homem louvado ou glorificado. Não vejo razão alguma para que as opiniões dos sábios mundanos e dos chamados grandes homens devam merecer confiança e ser exaltadas. Como podem aqueles que se acham destituídos de divina iluminação possuir idéias acertadas quanto aos planos e aos caminhos de Deus? Eles ou O negam inteiramente e passam por alto Sua existência, ou limitam-Lhe o poder segundo suas próprias finitas concepções. CBV 449 3 Prefiramos ser instruídos por Aquele que criou os céus e a Terra, que pôs por ordem as estrelas no firmamento, e ao Sol e à Lua designou a sua obra. CBV 449 4 É justo que a juventude sinta dever atingir o mais alto desenvolvimento das faculdades mentais. Não quereríamos restringir a educação a que Deus não pôs limites. Mas nossas realizações de nada valerão se não forem utilizadas para honra de Deus e bem da humanidade. CBV 449 5 Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação será prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aqueles outros que o habilitariam a ser útil, e o tornariam capaz de se desempenhar de suas responsabilidades. Um preparo prático é muito mais valioso que qualquer soma de teoria. Não é suficiente possuir conhecimentos. Precisamos ter habilidade para empregá-los devidamente. CBV 450 1 O tempo, os meios e o estudo que tantos gastam para obter uma educação relativamente inútil deviam ser consagrados em adquirir um preparo que os tornasse homens e mulheres práticos, aptos a assumir as responsabilidades da vida. Tal educação teria o mais alto valor. CBV 450 2 O que precisamos é de conhecimento que robusteça a mente e a alma, que nos torne homens e mulheres melhores. A educação do coração é de valor incomparavelmente maior que o mero saber dos livros. É bom, essencial mesmo, possuir conhecimento do mundo em que vivemos; mas se deixarmos a eternidade fora de nossas cogitações, sofreremos um fracasso de que jamais nos poderemos reabilitar. CBV 450 3 Um estudante pode consagrar todas as suas faculdades à aquisição de conhecimento; mas, a menos que possua conhecimento de Deus, a menos que obedeça às leis que lhe governam o ser, destruir-se-á. Mediante hábitos errôneos, perde a faculdade da apreciação de si mesmo; perde o domínio próprio. Não lhe é possível raciocinar acertadamente quanto ao que mais intimamente o interessa. É descuidado e irracional no tratamento da mente e do corpo. Mediante a negligência no cultivo dos justos princípios, arruína-se tanto para este mundo como para o futuro. CBV 450 4 Se a juventude compreendesse a própria fraqueza, buscaria em Deus a sua força. Se os jovens buscarem ser ensinados por Ele, se tornarão sábios em Sua sabedoria, a vida lhes será frutífera em bênçãos para o mundo. Se, porém, dedicarem a mente a mero estudo especulativo e mundano, separando-se assim de Deus, perderão tudo quanto enriquece a vida. ------------------------Capítulo 38 -- A importância de buscar o verdadeiro conhecimento CBV 451 1 Necessitamos entender mais claramente o que está em jogo no grande conflito em que nos achamos empenhados. Precisamos compreender com mais plenitude o valor das verdades da Palavra de Deus, e o perigo de permitir que nosso espírito seja delas desviado pelo grande enganador. CBV 451 2 O infinito valor do sacrifício requerido para nossa redenção revela que o pecado é um tremendo mal. Pelo pecado, perturba-se todo o organismo humano, a mente é pervertida, corrompida a imaginação. O pecado tem degradado as faculdades da alma. As tentações exteriores encontram eco no coração, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal. CBV 451 3 Como foi completo o sacrifício feito em nosso favor, assim deve ser a nossa restauração do aviltamento do pecado. Nenhum ato de impiedade será desculpado pela lei de Deus; injustiça alguma lhe pode escapar à condenação. A ética evangélica não reconhece nenhuma norma senão a perfeição do caráter divino. A vida de Cristo foi um perfeito cumprimento de todo preceito da lei. Ele disse: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 15:10. Sua vida é nosso exemplo de obediência e serviço. Somente Deus pode renovar o coração. "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:13. Mas é-nos ordenado: "Operai a vossa salvação com temor e tremor." Filipenses 2:12. A Obra que Exige Nosso Pensamento CBV 452 1 Não se podem endireitar os erros, nem operar reformas na conduta mediante alguns fracos e intermitentes esforços. A formação do caráter não é obra de um dia, nem de um ano, mas de uma existência. A luta pela conquista do eu, pela santidade e o Céu, é uma luta que se prolonga por toda a vida. Sem contínuo esforço e atividade constante, não pode haver progresso nem ganho da coroa da vitória. CBV 452 2 A mais vigorosa prova da queda do homem de uma mais elevada condição é o quanto lhe custa retroceder. O caminho de volta só pode ser conquistado por meio de renhida luta, palmo a palmo, hora a hora. Num momento, por uma ação precipitada, desprecavida, podemos lançar-nos sob o poder do mal; requer, porém, mais que um momento o quebrar as cadeias e atingir a uma vida mais santa. Pode-se formar o desígnio, começar a obra; sua realização, porém, requererá fadiga, tempo, perseverança, paciência e sacrifício. CBV 452 3 Não nos podemos permitir o agir por impulso. Não podemos estar despercebidos nem por um momento. Assaltados por inúmeras tentações, devemos resistir firmes, ou seremos vencidos. Se chegássemos ao fim da vida com nossa obra por fazer, isso importaria em perda eterna. CBV 452 4 A vida do apóstolo Paulo foi um constante conflito com o próprio eu. Ele disse: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. Sua vontade e seus desejos lutavam cada dia com o dever e a vontade de Deus. Em vez de seguir a inclinação, ele fazia a vontade de Deus, embora crucificando a própria natureza. CBV 453 1 Ao fim de sua vida de conflito, olhando para trás, às lutas e triunfos da mesma, pôde dizer: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia." 2 Timóteo 4:7-8. CBV 453 2 A vida cristã é uma batalha e uma marcha. Nesta guerra não há trégua; o esforço deve ser contínuo e perseverante. É assim fazendo que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás. A integridade cristã deve ser buscada com irresistível energia, e mantida com resoluta fixidez de propósito. CBV 453 3 Ninguém será levado para o alto sem árduo e perseverante esforço em prol de si mesmo. Todos têm de se empenhar por si nessa luta; nenhuma outra pessoa pode combater os nossos combates. Somos individualmente responsáveis pelos resultados do conflito; ainda que Noé, Jó e Daniel estivessem na Terra, não poderiam, por sua justiça, livrar nem filho nem filha. A Ciência a Ser Dominada CBV 453 4 Há uma ciência do cristianismo a ser dominada -- ciência tão mais profunda, vasta e alta que qualquer ciência humana, como os céus são mais elevados do que a Terra. A mente deve ser disciplinada, educada, exercitada; pois nos cumpre fazer serviço para Deus por maneiras que não se acham em harmonia com nossa inclinação inata. As tendências hereditárias e cultivadas para o mal devem ser vencidas. Muitas vezes, a educação e as práticas de toda uma existência devem ser rejeitadas para que a pessoa se possa tornar um aprendiz na escola de Cristo. Nosso coração deve ser educado em se firmar em Deus. Cumpre-nos formar hábitos de pensamento que nos habilitem a resistir à tentação. Devemos aprender a olhar para cima. Os princípios da Palavra de Deus -- princípios tão elevados como o céu e que abrangem a eternidade -- cumpre-nos compreendê-los em sua relação para com a nossa vida diária. Cada ato, cada palavra, cada pensamento deve estar de acordo com esses princípios. Tudo deve ser posto em harmonia com Cristo, e a Ele sujeito. CBV 454 1 As preciosas graças do Espírito Santo não se desenvolvem num momento. Ânimo, fortaleza, mansidão, fé e inabalável confiança no poder de Deus para salvar são adquiridos mediante a experiência de anos. Por uma vida de santo esforço e firme apego ao direito, devem os filhos de Deus selar seu destino. Não Há Tempo a Perder CBV 454 2 Não temos tempo a perder. Não sabemos quão presto nosso tempo de graça pode se encerrar. Quando muito, não teremos senão o curto espaço de uma existência aqui, e não sabemos quão breve a seta da morte pode nos ferir o coração. Não sabemos quão pronto seremos chamados a abandonar o mundo e todos os seus interesses. Estende-se diante de nós a eternidade. A cortina está a ponto de se erguer. Uns poucos anos apenas, e para todos os que ora são contados entre os vivos, sairá o decreto: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. CBV 454 3 Estamos nós preparados? Conhecemos a Deus, o Governador do Céu, o Legislador, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou ao mundo como Seu representante? Quando a obra de nossa vida terminar, estaremos aptos a dizer, como Cristo, nosso exemplo: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer. Manifestei o Teu nome"? João 17:4 e 6. CBV 454 4 Os anjos de Deus nos estão procurando atrair de nós mesmos e das coisas terrenas. Não os façais trabalhar em vão. CBV 455 1 As mentes que têm liberado as rédeas do pensamento precisam mudar. "Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:13-16. CBV 455 2 Os pensamentos devem se concentrar em Deus. Devemos exercer diligente esforço para vencer as más tendências do coração natural. Nossos esforços, nossa abnegação e perseverança devem ser proporcionais ao infinito valor do objetivo que perseguimos. Unicamente vencendo como Cristo venceu, havemos de alcançar a coroa da vida. A Necessidade de Auto-Renúncia CBV 455 3 O maior perigo do homem está em se enganar a si mesmo, em condescender com a presunção, separando-se assim de Deus, a fonte de sua força. A menos que sejam corrigidas pelo Santo Espírito de Deus, nossas tendências naturais encerram em si mesmas os germes da morte. A menos que nos ponhamos em uma ligação vital com Deus, não podemos resistir aos profanos efeitos da satisfação própria, do amor de nós mesmos e da tentação para pecar. CBV 455 4 Para que possamos receber auxílio de Cristo, devemos compreender nossa necessidade. Cumpre-nos conhecer-nos verdadeiramente. Unicamente ao que se reconhece pecador, pode Cristo salvar. Só quando vemos nosso inteiro desamparo e renunciamos a toda confiança própria, lançaremos mão do poder divino. CBV 456 5 Não é apenas no início da vida cristã que se deve fazer essa renúncia do eu. A cada passo de avanço em direção ao Céu, ela deve ser renovada. Todas as nossas boas obras são dependentes de um poder fora de nós; deve haver portanto um constante anelo do coração para Deus, uma contínua e fervorosa confissão de pecado, e humilhação da alma perante Ele. Cercam-nos perigos; e só estamos a salvo quando sentimos nossa fraqueza, e nos apegamos com a segurança da fé ao nosso poderoso Libertador. Fonte do Verdadeiro Conhecimento CBV 456 1 Devemos desviar-nos de mil assuntos que nos convidam a atenção. Há assuntos que nos consomem tempo e suscitam indagações, mas acabam em nada. Os mais elevados interesses exigem a acurada atenção e a energia que são tantas vezes dispensadas a coisas relativamente insignificantes. CBV 456 2 O aceitar teorias novas não traz em si nova vida à alma. Mesmo o relacionar-se com fatos e teorias importantes em si mesmos é de pouco valor a não ser que sejam postos em uso prático. Precisamos sentir nossa responsabilidade de proporcionar à própria alma alimento que nutra e incentive a vida espiritual. CBV 456 3 "Para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, E para inclinares o teu coração ao entendimento, Se como a prata a buscares E como a tesouros escondidos a procurares, Então, entenderás o temor do Senhor E acharás o conhecimento de Deus. Então, entenderás justiça, e juízo, E equidade, e todas as boas veredas. Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, E o conhecimento será suave à tua alma. O bom siso te guardará, E a inteligência te conservará." Provérbios 2:2, 4, 5, 9-11. CBV 456 4 A sabedoria "é árvore da vida para os que a seguram, E bem-aventurados são todos os que a retêm." Provérbios 3:18. CBV 456 5 A questão que devemos estudar é: "Qual é a verdade -- a verdade que deve ser acariciada, amada, honrada e obedecida?" Os adeptos da ciência têm ficado derrotados e abatidos quanto a seus esforços para encontrar a Deus. O que eles devem inquirir nestes dias é: "Qual é a verdade que nos habilitará a obter a salvação de nossa alma?" CBV 457 1 "Que pensais vós de Cristo?" -- eis a toda-importante questão. Vós O recebeis como um Salvador pessoal? A todos quantos O recebem, Ele dá poder de se tornarem filhos de Deus. CBV 457 2 Cristo revelou Deus a Seus discípulos de modo que lhes operou no coração uma obra especial, tal qual Ele deseja realizar em nosso coração. Muitos há que, detendo-se demasiadamente na teoria, têm perdido de vista o poder vivo do exemplo do Salvador. Deixaram de vê-Lo como o humilde e abnegado obreiro. O que eles necessitam é contemplar a Jesus. Necessitamos diariamente uma nova revelação de Sua presença. Cumpre-nos seguir-Lhe mais de perto o exemplo de renúncia e sacrifício. CBV 457 3 Carecemos da experiência possuída por Paulo ao escrever: "Estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. CBV 457 4 O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo expresso no caráter é uma exaltação superior a tudo mais que se estime na Terra e no Céu. É a suprema educação. É a chave que abre as portas da cidade celestial. Deus designa que todos quantos se revestem de Cristo possuam esse conhecimento. ------------------------Capítulo 39 -- O conhecimento recebido mediante a Palavra de Deus CBV 458 1 A Bíblia toda é uma revelação da glória de Deus em Cristo. Recebida, crida e obedecida, ela é o grande instrumento na transformação do caráter. É o grande estímulo, a constrangedora força que vivifica as faculdades físicas, mentais e espirituais, dando à existência a devida orientação. CBV 458 2 O motivo por que os jovens, e mesmo os de idade madura, são tão facilmente induzidos à tentação e ao pecado é não estudarem a Palavra de Deus, nem meditarem nela como devem. A falta de firme e decidida força de vontade que se manifesta na vida e no caráter é resultante de negligência das sagradas instruções da Palavra de Deus. Eles não dirigem, mediante diligente esforço, a mente àquilo que lhes inspiraria pensamentos puros, santos, desviando-a do que é impuro e falso. Há poucos que escolham a melhor parte, que, qual Maria, se assentem aos pés de Jesus, a fim de aprender do divino Mestre. Poucos entesouram Suas palavras no coração, e as praticam na vida. CBV 459 1 Recebidas, as verdades bíblicas elevarão a mente e a alma. Se a Palavra de Deus fosse apreciada como deveria ser, tanto os jovens como os idosos possuiriam uma retidão interior, uma firmeza de princípios que os habilitariam a resistir à tentação. CBV 459 2 Ensinem os homens e escrevam as preciosas coisas das Santas Escrituras. Sejam o pensamento, a aptidão, o penetrante exercício da potência cerebral empregados no estudo dos pensamentos de Deus. Não estudeis a filosofia das conjeturas humanas, mas a dAquele que é a verdade. Nenhuma outra literatura pode se comparar com esta em valor. CBV 460 1 A mente terrena não encontra prazer na contemplação da Palavra de Deus; mas, para a que foi renovada pelo Espírito Santo, irradiam da página sagrada divina beleza e luz celestial. Aquilo que, para o espírito terreno, era um deserto, à mente espiritual se torna uma terra de correntes vivas. CBV 460 2 O conhecimento de Deus segundo a revelação de Sua Palavra, eis o que deve ser dado a nossos filhos. Desde os primeiros lampejos da razão, eles devem ser postos em contato familiar com o nome e a vida de Jesus. As primeiras lições devem ensinar-lhes que Deus é seu Pai. Seu primeiro exercício, a obediência de amor. Reverente e ternamente lhes seja lida e repetida a Palavra de Deus, em porções apropriadas a sua compreensão e de molde a despertar o interesse. E, acima de tudo, fazei com que aprendam acerca de Seu amor segundo é revelado em Cristo, e a grande lição do mesmo: "Se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros." 1 João 4:11. CBV 460 3 Faça a juventude da Palavra de Deus o alimento do espírito e da alma. Torne-se a cruz de Cristo a ciência de toda educação, o centro de todo ensino e estudo. Seja ela introduzida na experiência diária da vida prática. Assim se tornará o Salvador para os jovens o companheiro e amigo de cada dia. Todo pensamento será levado cativo à obediência de Cristo. Como o apóstolo Paulo, deverão poder dizer: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14. CBV 461 1 Assim, mediante a fé, eles chegam a conhecer a Deus com um conhecimento experimental. Têm provado por si mesmos a realidade de Sua Palavra, a veracidade de Suas promessas. Têm provado, e visto que o Senhor é bom. CBV 461 2 O amado João tinha conhecimento adquirido pela própria experiência. Pôde testificar: "O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (porque a Vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada), o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 João 1:1-3. CBV 461 3 Assim cada qual é capaz de, mediante a própria experiência, confirmar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Ele pode testificar daquilo que por si mesmo tem visto e ouvido e sentido do poder de Cristo. Pode testificar: "Eu necessitava de auxílio, e o encontrei em Jesus. Toda necessidade foi suprida, satisfeita a fome de minha alma; a Bíblia é para mim a revelação de Cristo. Creio em Jesus porque Ele me é um divino Salvador. Creio na Bíblia porque achei nela a voz de Deus a minha alma." CBV 461 4 Aquele que adquiriu certo conhecimento de Deus e de Sua Palavra mediante a própria experiência acha-se apto a empenhar-se no estudo da ciência natural. Está escrito a respeito de Cristo: "NEle, estava a vida e a vida era a luz dos homens." João 1:4. Antes da entrada do pecado, Adão e Eva no Éden, estavam circundados por uma bela e resplandecente luz -- a luz de Deus. Essa luz iluminava tudo de que eles se aproximavam. Nada havia que lhes obscurecesse a percepção do caráter ou das obras de Deus. Quando, porém, cederam ao tentador, a luz se retirou deles. Perdendo as vestes da santidade, perderam a luz que havia iluminado a Natureza. Não mais a podiam ler direito. Não podiam discernir o caráter de Deus em Suas obras. Assim hoje, o homem não pode por si mesmo ler devidamente o ensino da Natureza. A menos que seja guiado por sabedoria divina, exalta-a e a suas leis acima do Deus que a criou. É por isso que as idéias meramente humanas quanto à ciência tantas vezes contradizem o ensino da Palavra de Deus. Mas, para os que recebem a luz da vida de Cristo, a Natureza novamente se ilumina. Na luz que se irradia da cruz, é-nos possível interpretar devidamente o ensino da Natureza. CBV 462 1 Aquele que conhece a Deus e a Sua Palavra por experiência pessoal tem uma firme fé na origem divina das Santas Escrituras. Tem provado que a Palavra de Deus é a verdade, e que a verdade não se pode nunca contradizer a si mesma. Não prova a Bíblia pelas idéias e a ciência humanas; submete-as, a estas, à prova da infalível norma. Sabe que, na verdadeira ciência, nada pode haver que esteja em contradição com o ensino da Palavra; uma vez que procedem ambas do mesmo Autor, a verdadeira compreensão delas demonstrará sua harmonia. Seja o que for, nos chamados ensinos científicos, que contradiga o testemunho da Palavra de Deus não passa de conjetura humana. CBV 462 2 A esse estudante, a pesquisa científica abrirá vastos campos de pensamentos e informações. Ao ele contemplar as coisas da Natureza, advém-lhe uma nova percepção da verdade. O livro da Natureza e a Palavra escrita derramam luz um sobre o outro. Ambos o fazem relacionar-se melhor com Deus, ensinando-lhe o que concerne ao Seu caráter e às leis por meio das quais Ele opera. CBV 462 3 A experiência do salmista pode ser obtida por todos mediante o recebimento da Palavra de Deus através da Natureza e da Revelação. Diz ele: CBV 463 1 "Tu, Senhor, me alegraste com os Teus feitos; Exultarei nas obras das Tuas mãos." Salmos 92:4. CBV 463 2 "A Tua misericórdia, Senhor, está nos céus, E a Tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens. A Tua justiça é como as grandes montanhas; Os Teus juízos são um grande abismo. ..." Salmos 36:5-6. CBV 463 3 "Quão preciosa é, ó Deus, a Tua benignidade! ... Os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas. ... E os farás beber da corrente das Tuas delícias; Porque em Ti está o manancial da vida; Na Tua luz veremos a luz." Salmos 36:7-9. CBV 463 4 "Bem-aventurados os que trilham caminhos retos E andam na lei do Senhor. Bem-aventurados os que guardam os Seus testemunhos E O buscam de todo o coração." Salmos 119:1-2. CBV 463 5 "Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra. Escolhi o caminho da verdade; Propus-me seguir os Teus juízos." Salmos 119:9, 30. CBV 463 6 "Escondi a Tua Palavra no meu coração, Para eu não pecar contra Ti. E andarei em liberdade, Pois busquei os Teus preceitos." Salmos 119:11, 45. CBV 463 7 "Desvenda os meus olhos, Para que veja as maravilhas da Tua lei. Também os Teus testemunhos são o meu prazer E os meus conselheiros. Melhor é para mim a lei da Tua boca Do que inúmeras riquezas em ouro ou prata." Salmos 119:18, 24, 72. CBV 463 8 "Oh! Quanto amo a Tua lei! É a minha meditação em todo o dia! Maravilhosos são os Teus testemunhos; Por isso, a minha alma os guarda. Os Teus estatutos têm sido os meus cânticos No lugar das minhas peregrinações." Salmos 119:97, 129, 54. CBV 463 9 "A Tua Palavra é muito pura; Por isso, o Teu servo a ama." Salmos 119:140. CBV 464 1 "A Tua Palavra é a verdade desde o princípio, E cada um dos Teus juízos dura para sempre." Salmos 119:160. CBV 464 2 "Viva a minha alma e louvar-Te-á; Ajudem-me os Teus juízos." Salmos 119:175. CBV 464 3 "Muita paz têm os que amam a Tua lei, E para eles não há tropeço." Salmos 119:165. CBV 464 4 "Senhor, tenho esperado na Tua salvação E tenho cumprido os Teus mandamentos. A minha alma tem observado os Teus testemunhos; Amo-os extremamente." Salmos 119:166-167. CBV 464 5 "A exposição das Tuas palavras dá luz E dá entendimento aos símplices. Tu, pelos Teus mandamentos, Me fazes mais sábio que meus inimigos, Pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, Porque medito nos Teus testemunhos. Sou mais prudente do que os velhos, Porque guardo os Teus preceitos. Pelos Teus testemunhos, alcancei entendimento; Pelo que aborreço todo falso caminho. Os Teus testemunhos tenho eu tomado por herança para sempre, Pois são o gozo do meu coração." Salmos 119:130, 98-100, 104, 111. Mais Claras Revelações de Deus CBV 464 6 Pertence-nos o privilégio de esforçar-nos por alcançar mais e mais claras revelações do caráter de Deus. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória" (Êxodo 33:18), o Senhor não o repreendeu, mas concedeu-lhe a petição. Declarou a Seu servo: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti." Êxodo 33:19. CBV 464 7 É o pecado que nos obscurece a mente e enfraquece as percepções. À medida que nosso coração é expurgado do mal, a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo, iluminando-Lhe a Palavra e refletindo-se na face da Natureza, declará-Lo-á mais e mais amplamente "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. CBV 465 1 Em Sua luz veremos a luz, até que a mente, o coração e a alma sejam transformados à imagem de Sua santidade. CBV 465 2 Para aqueles que assim lançam mão das divinas afirmações da Palavra de Deus, há maravilhosas possibilidades. Acham-se perante eles vastos campos de verdade, amplas fontes de poder. Revelar-se-ão coisas gloriosas. Tornar-se-ão manifestos privilégios e deveres de cuja presença na Bíblia eles nem sequer suspeitavam. Todos quantos trilham o caminho da humilde obediência, cumprindo Seu desígnio, conhecerão mais e mais dos oráculos de Deus. CBV 465 3 O estudante faça da Bíblia o seu guia, e fique firme ao lado dos princípios, e lhe é dado aspirar a qualquer altura. Todas as filosofias da natureza humana têm conduzido à confusão e vergonha quando Deus deixou de ser reconhecido como tudo em todos. Mas a preciosa fé inspirada por Deus comunica vigor e nobreza ao caráter. À medida que nos detemos sobre Sua bondade, Sua misericórdia e Seu amor, mais e mais clara será a percepção da verdade, mais elevado e santo será o desejo de pureza de coração e clareza de pensamento. A alma que permanece na pura atmosfera dos pensamentos santos, é transformada pela comunicação com Deus por meio do estudo de Sua Palavra. A verdade é tão ampla, de tão vasto alcance, tão profunda e larga, que se perde de vista o próprio eu. O coração é enternecido, rendendo-se à humildade, bondade e amor. CBV 466 1 E as faculdades naturais são ampliadas em virtude da santa obediência. Os estudantes podem sair do estudo da Palavra da vida com o espírito dilatado, elevado, enobrecido. Se, como Daniel, eles são ouvintes e praticantes da Palavra de Deus, podem, como ele, avançar em todos os ramos do saber. Sendo puros de mente, tornar-se-ão também mentalmente poderosos. Toda faculdade intelectual será vivificada. Poderão educar-se e disciplinar-se a si mesmos de tal maneira que todos dentro da esfera de sua influência hão de ver o que pode ser o homem, e o que pode realizar quando em ligação com o Deus de sabedoria e poder. Educação na Vida Eterna CBV 466 2 A obra de nossa existência aqui é um preparo para a vida eterna. A educação principiada na Terra não se completará nesta vida; prosseguirá por toda a eternidade -- sempre em progresso, sem nunca se completar. Mais e mais amplamente se revelarão a sabedoria e o amor de Deus no plano da redenção. Ao guiar Seus filhos às fontes das águas vivas, o Salvador lhes comunicará abundância de conhecimentos. E dia a dia as maravilhosas obras de Deus, as provas de Seu poder na criação e manutenção do Universo, desdobrar-se-ão perante seu espírito em uma nova beleza. À luz que irradia do trono, desaparecerão os mistérios, e a alma se encherá de espanto em face da simplicidade das coisas antes não compreendidas. CBV 466 3 Vemos agora por espelho, obscuramente; mas então, face a face; agora conhecemos em parte; mas então havemos de conhecer como também somos conhecidos. ------------------------Capítulo 40 -- Auxílio na vida diária CBV 469 1 Há uma eloquência mais poderosa do que a eloquência de meras palavras na tranquila e coerente vida do puro e verdadeiro cristão. O que o homem é tem mais influência do que o que ele diz. CBV 469 2 Os guardas que haviam sido enviados a Jesus voltaram dizendo que jamais homem algum tinha falado como Ele. Mas o segredo estava em que jamais homem algum tinha vivido como Ele viveu. Tivesse sido outra a Sua vida e não poderia ter falado como falou. Suas palavras traziam consigo força convincente, porque brotavam de um coração puro e santo, cheio de amor e simpatia, benevolência e verdade. CBV 469 3 É nosso caráter e experiência que determinam nossa influência sobre o próximo. A fim de convencer os outros acerca do poder da graça de Cristo, devemos ter experimentado o Seu poder em nosso próprio coração e vida. O Evangelho que apresentamos para a salvação das almas deve ser o Evangelho pelo qual nós mesmos sejamos salvos. Só por uma fé viva em Cristo como Salvador pessoal é que se torna possível fazer sentir nossa influência num mundo incrédulo. Se queremos retirar os pecadores da impetuosa corrente, devemos firmar os pés sobre a Rocha, Jesus Cristo. CBV 470 1 A divisa do cristianismo não é um sinal exterior; não consiste em trazer uma cruz ou coroa, mas sim em tudo o que revela a união do homem com Deus. Pelo poder da Sua graça manifestado na transformação do caráter, o mundo será convencido de que Deus enviou Seu Filho como Redentor. Nenhuma influência que possa rodear a alma tem mais poder do que a de uma vida abnegada. O mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável. A Disciplina da Prova CBV 470 2 Para viver tal vida, para exercer tal influência, requer-se, a cada passo, esforço, abnegação e disciplina. É porque assim não compreendem que muitos tão facilmente desanimam na vida cristã. Muitos que sinceramente consagram a vida ao serviço de Deus ficam surpresos e desiludidos ao encontrar-se, como nunca, rodeados de obstáculos e assediados por provas e perplexidades. Oram para que seu caráter se assemelhe ao de Cristo e se tornem aptos para a obra do Senhor, e contudo são postos em circunstâncias que parecem provocar toda a malícia de sua natureza. São-lhes reveladas faltas, de cuja existência jamais haviam suspeitado. Como o Israel de outrora, perguntam: "Se Deus nos conduz, por que nos sucedem todas estas coisas?" CBV 471 1 É justamente porque Deus os conduz que estas coisas lhes sucedem. As provas e obstáculos são os métodos de disciplina escolhidos pelo Senhor e as condições de bom êxito que nos apresenta. Ele, que lê o coração dos homens, conhece melhor do que eles mesmos o seu caráter. Vê que alguns têm faculdades e possibilidades que, bem dirigidas, podiam ser empregadas no avanço de Sua obra. Em Sua providência, Deus colocou estas pessoas em diferentes situações e variadas circunstâncias a fim de que possam descobrir, em seu caráter, defeitos que a eles próprios estavam ocultos. Dá-lhes oportunidade de corrigirem tais defeitos e de se tornarem aptos para O servir. Permite por vezes que o fogo da aflição os assalte, a fim de que sejam purificados. CBV 471 2 O fato de sermos chamados a suportar a prova mostra que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa de precioso que deseja desenvolver. Se nada visse em nós que pudesse glorificar Seu nome, não desperdiçaria tempo a depurar-nos. Não lança pedras sem valor na Sua fornalha. É o minério precioso que Ele depura. O ferreiro põe o ferro e aço no fogo, a fim de provar que qualidade de metais são. O Senhor permite que Seus eleitos sejam postos na fornalha da aflição para lhes provar a têmpera e ver se podem ser formados para a Sua obra. CBV 471 3 O oleiro toma o barro e molda-o segundo lhe apraz. Amassa-o e trabalha-o. Divide-o e volta a juntá-lo. Umedece-o e depois seca-o. Deixa-o em seguida durante algum tempo sem lhe tocar. Quando está perfeitamente maleável, prossegue na tarefa de fazer dele um vaso. Molda-o numa forma, e alisa-o e pule-o em volta. Seca-o ao sol e coze-o no forno. Torna-se então um vaso apto para servir. Do mesmo modo, o Supremo Artista deseja moldar-nos e formar-nos. E como o barro está nas mãos do oleiro, assim estamos nós em Suas mãos. Não procuremos fazer a obra do oleiro; compete-nos simplesmente deixar-nos moldar pelo Supremo Artífice. CBV 472 1 "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis." 1 Pedro 4:12-13. CBV 472 2 À plena luz do dia, e ouvindo a música de outras vozes, o pássaro engaiolado não aprenderá a canção que o dono procure ensinar-lhe. Aprende um fragmento desta, um trilo daquela, mas nunca uma melodia determinada e completa. Eis porém que o dono cobre a gaiola e a coloca onde o pássaro não ouvirá senão o canto que se lhe pretende ensinar. Nas trevas, o pássaro tenta, tenta de novo, modular aquele canto, até que por fim o entoa em perfeita melodia. Pode então sair o pássaro da obscuridade e voltar à luz: não esquecerá jamais a melodia que se lhe ensinou. É assim que Deus procede com os Seus filhos. Ele tem um canto para nos ensinar, e quando o houvermos aprendido no meio das sombras da aflição, poderemos cantá-lo para sempre. CBV 472 3 Muitos estão insatisfeitos com a sua profissão. Encontram-se talvez num meio incompatível; seu tempo é ocupado em trabalho vulgar, quando seriam, pensam eles, competentes para responsabilidades mais elevadas; frequentemente seus esforços parecem-lhes não apreciados ou estéreis; seu futuro é incerto. CBV 472 4 Lembremo-nos que nosso trabalho, ainda que o não tenhamos escolhido, deve ser aceito como tendo sido escolhido por Deus para nós. Seja ele agradável ou não, temos obrigações de cumprir o dever que se nos apresenta. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma." Eclesiastes 9:10. CBV 473 1 Se o Senhor deseja que levemos uma mensagem a Nínive, não Lhe será agradável que vamos a Jope ou a Cafarnaum. Ele tem motivos para nos enviar aonde nossos passos foram dirigidos. Talvez lá houvesse alguém em necessidade do auxílio que lhe poderíamos prestar. Ele que enviou Filipe ao ministro etíope, Pedro ao centurião romano, e a menina israelita em auxílio de Naamã, o capitão sírio, envia hoje homens, mulheres e jovens como Seus representantes àqueles que têm necessidade de ajuda e guia divinas. Os Planos de Deus São os Melhores CBV 473 2 Nossos planos nem sempre são os planos de Deus. Ele pode ver que vale mais para nós e para a Sua causa recusar nossas melhores intenções, como fez no caso de Davi. Mas de uma coisa podemos estar certos: é de que abençoará e empregará no avanço da Sua causa aqueles que sinceramente se consagram à Sua glória, com tudo o que possuem. Se vir que é melhor não atender os desejos, compensará a recusa dando-lhes provas do Seu amor e confiando-lhes outro serviço. CBV 473 3 Em Sua amorosa solicitude e interesse para conosco, Aquele que nos compreende melhor do que nós mesmos frequentemente Se recusa a permitir que procuremos egoistamente satisfazer nossa ambição. Não permite que passemos por alto os deveres simples, mas sagrados, que estão diante de nós. Muitas vezes, estes deveres proporcionam a educação essencial para nos preparar para uma obra mais elevada. Com frequência nossos planos são frustrados, a fim de que sejam cumpridos os planos que Deus tem para nós. CBV 473 4 Nunca somos chamados a fazer um sacrifício real para Deus. Pede que Lhe submetamos muitas coisas, mas fazendo-o não abandonamos senão o que nos impediria na marcha para o Céu. Mesmo quando chamados a abandonar coisas boas em si mesmas, podemos estar seguros de que Deus nos está assim preparando algum bem maior. CBV 474 1 Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas tem lugar entre as nossas maiores bênçãos. CBV 474 2 Devemos considerar como sagrado cada dever, ainda que humilde, porque faz parte do serviço de Deus. Nossa oração de cada dia devia ser: "Senhor, ajuda-me a fazer o melhor que possa. Ensina-me a fazer melhor trabalho. Dá-me energia e ânimo. Faze que eu manifeste na minha vida o amoroso serviço do Salvador." Uma Lição da Vida de Moisés CBV 474 3 Considerai a experiência de Moisés. A educação que recebera no Egito como neto do rei e futuro herdeiro do trono era esmerada. Nada se omitiu do que se imaginava poder fazê-lo um sábio, segundo a maneira pela qual os egípcios entendiam a sabedoria. Recebeu a mais elevada educação civil e militar. Sentia que estava perfeitamente preparado para a missão de libertar da escravidão a Israel. Mas Deus julgou doutra maneira. Sua providência destinou a Moisés quarenta anos de experiência no deserto como pastor de ovelhas. CBV 474 4 A educação que Moisés recebera no Egito foi-lhe de grande auxílio sob muitos pontos de vista; mas a preparação mais valiosa para o trabalho de sua vida foi a que recebeu quando empregado como pastor. Moisés tinha por natureza um espírito impetuoso. No Egito, como bem-sucedido chefe militar e favorito do rei e da nação, estava acostumado a receber louvor e adulação. Tinha atraído o povo para si. Esperava realizar por suas próprias forças a obra da libertação de Israel. Muito diferentes eram as lições que, como representante de Deus, devia receber. Conduzindo seus rebanhos pelas montanhas selvagens e pelos verdes pastos dos vales, aprendeu a fé, a mansidão, a paciência, humildade e abnegação. Aprendeu a cuidar dos fracos, tratar dos doentes, procurar os transviados, suportar os turbulentos, vigiar os cordeiros e alimentar os velhos e débeis. CBV 475 1 Nessa obra, Moisés era atraído para mais perto do Bom Pastor. Tornava-se intimamente unido ao Santo de Israel. Não projetou mais fazer uma grande obra. Procurava fielmente cumprir, como sob o olhar de Deus, a obra a ele confiada. Via a presença de Deus em tudo que o rodeava. A Natureza inteira lhe falava do Ser invisível. Reconhecia-O como Deus pessoal, e meditando sobre Seu caráter compenetrava-se mais e mais do sentimento de Sua presença. Encontrava refúgio nos braços eternos. CBV 475 2 Após essa experiência, Moisés ouviu a ordem do Céu para trocar o cajado de pastor pela vara da autoridade; deixar o rebanho de ovelhas e encarregar-se da condução de Israel. O divino mandato encontrou-o desconfiado de si próprio, tardo na fala, e tímido. Estava estupefato pelo sentimento da sua inaptidão para ser o porta-voz de Deus. Mas aceitou essa obra depondo inteira confiança no Senhor. A grandeza dessa missão pôs em exercício as mais altas faculdades de seu espírito. Deus abençoou a sua pronta obediência, e Moisés tornou-se eloquente, esperançoso e de espírito equilibrado, preparado para a maior obra jamais confiada aos homens. Dele foi escrito: "E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face." Deuteronômio 34:10. CBV 476 1 Os que têm a impressão de que seu trabalho não é apreciado e que desejam uma posição de maior responsabilidade considerem que: "Nem do Oriente, nem do Ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Deus é o Juiz; a um abate e a outro exalta." Salmos 75:6-7. Cada homem tem o seu lugar no plano eterno do Céu. Ocuparmos esse lugar, depende de nossa fidelidade em cooperar com Deus. CBV 476 2 Necessitamos evitar a compaixão de nós mesmos. Nunca alimenteis a impressão de que não sois estimados como deveríeis, que os vossos esforços não são apreciados e que o vosso trabalho é demasiado penoso. A lembrança de que Jesus sofreu por nós reduza ao silêncio todo o pensamento de murmuração. Somos tratados melhor do que foi nosso Senhor. "E procuras tu grandezas? Não as busques." Jeremias 45:5. O Senhor não dá lugar na Sua obra aos que têm maior desejo de alcançar a coroa do que de transportar a cruz. Deseja homens que pensem mais em cumprir o dever do que em receber recompensas -- homens que sejam mais amantes dos princípios do que de promoção. CBV 477 1 Os que são humildes, e fazem seu trabalho como diante de Deus, podem não ter tanta aparência como os que estão cheios de agitação e importância própria; mas seu trabalho vale mais. Muitas vezes, os que fazem grande demonstração chamam a atenção para si mesmos, interpondo-se entre os homens e Deus, e seu trabalho experimenta insucesso. "A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento. Exalta-a, e ela te exaltará; e, abraçando-a tu, ela te honrará." Provérbios 4:7-8. CBV 477 2 Porque não têm a determinação de se dominar e reformar, muitos tornam-se estereotipados numa errada maneira de agir. Mas não deve ser assim. Podem cultivar suas faculdades de maneira a produzirem a melhor espécie de trabalho, e então serão continuamente procurados. Serão apreciados segundo o seu valor. CBV 477 3 Se alguns são classificados para uma posição mais alta, o Senhor deporá o fardo, não apenas sobre eles mas sobre aqueles que o escolheram, que conhecem seu valor e que podem com conhecimento de causa incentivá-lo para a frente. São os que cumprem fielmente o trabalho que lhes é designado dia a dia que na ocasião oportuna ouvirão de Deus: "Sobe para mais alto." CBV 477 4 Enquanto os pastores estavam vigiando seus rebanhos nas colinas de Belém, os anjos do Céu visitaram-nos. Da mesma sorte hoje, enquanto o humilde trabalhador por Deus cumpre seu trabalho, os anjos de Deus estão ao seu lado, ouvindo suas palavras, notando o modo como seu trabalho é feito, para ver se podem ser confiadas às suas mãos responsabilidades mais amplas. CBV 477 5 Não é pelas riquezas, educação ou posição que Deus avalia os homens. Avalia-os pela sua pureza de intenção e formosura de caráter. Olha para averiguar em que medida possuem o Seu Espírito, e até que ponto sua vida revela semelhança com a Sua. Para ser grande no reino de Deus, é preciso ser como a criancinha, em humildade, simplicidade de fé e pureza de amor. CBV 478 1 "Bem sabeis", disse Cristo, "que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, seja vosso serviçal." Mateus 20:25-26. CBV 478 2 Entre todos os dons que o Céu pode conceder aos homens, a comunhão com Cristo em Seus sofrimentos é o que traz maior peso de esperança e mais elevada honra. Nem Enoque, que foi trasladado ao Céu, nem Elias, que subiu num carro de fogo, foram maiores nem mais honrados do que João Batista, que pereceu, sozinho, num cárcere. "A vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele." Filipenses 1:29. Planos para o Futuro CBV 478 3 Muitos são incapazes de fazer planos definidos para o futuro. Sua vida é incerta. Não podem discernir o termo dos acontecimentos, e isso enche-os por vezes de ansiedade e inquietação. Lembremo-nos de que a vida dos filhos de Deus no mundo é uma vida de peregrinos. Não temos sabedoria suficiente para planejar nossa vida. Não nos compete determinar o futuro. "Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia." Hebreus 11:8. CBV 479 1 Cristo, na Sua vida sobre a Terra, não fez planos para Si mesmo. Aceitou os planos de Deus a Seu respeito, e dia após dia o Pai lhos fazia conhecer. De tal maneira devíamos depender de Deus, que nossa vida pudesse ser a simples realização de Sua vontade. Confiando-Lhe nossos caminhos, Ele dirigirá nossos passos. CBV 479 2 Muitos, planejando um futuro brilhante, sofrem um desastre completo. Deixai que Deus faça os Seus planos para vós. Como criancinhas, confiai-vos à guia dAquele que "guarda os pés dos Seus santos". 1 Samuel 2:9. Deus não conduz jamais Seus filhos de maneira diferente da que eles escolheriam se pudessem ver o fim desde o princípio, e discernir a glória do propósito que estão realizando como Seus colaboradores. Salário CBV 479 3 Quando Cristo chamou os discípulos para O seguirem, não lhes ofereceu nenhuma perspectiva sedutora nesta vida. Não lhes fez promessas de ganho, nem de honras mundanas, e eles, por sua vez, nada estipularam quanto ao que haviam de receber. A Mateus, quando estava sentado na alfândega, o Salvador disse: "Segue-Me. E ele, deixando tudo, levantou-se e O Seguiu." Lucas 5:27-28. Mateus não pediu, antes de prestar seus serviços, um salário certo, igual à quantia recebida na sua precedente ocupação. Sem questionar nem hesitar, seguiu a Jesus. Bastava-lhe poder estar com o Salvador, a fim de ouvir Suas palavras e de se unir à Sua obra. CBV 480 1 O mesmo sucedera com os discípulos anteriormente chamados. Quando Jesus pediu a Pedro e seus companheiros que O seguissem, imediatamente abandonaram seus barcos e redes. Alguns desses discípulos tinham amigos que contavam com eles para a sua subsistência, mas, quando receberam o convite do Salvador, não hesitaram nem inquiriram: "Como viverei e sustentarei minha família?" Foram obedientes ao chamado; e quando mais tarde Jesus lhes perguntou: "Quando vos mandei sem bolsa, alforje ou sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Eles responderam: Nada." Lucas 22:35. CBV 480 2 Hoje o Salvador chama-nos para a Sua obra como chamou Mateus e João e Pedro. Se nosso coração estiver tocado pelo Seu amor, a questão da recompensa não será a mais importante para o nosso espírito. Regozijar-nos-emos por ser colaboradores de Cristo e não recearemos contar com Sua solicitude. Se fizermos de Deus a nossa força, teremos clara percepção do dever, e aspirações desinteressadas; nossa existência será movida por um nobre ideal, que nos levantará acima dos motivos sórdidos. Deus Proverá CBV 480 3 Muitos que professam seguir a Cristo têm um coração ansioso e inquieto porque receiam confiar-se a Deus. Não se entregam completamente a Ele, porque temem as consequências que tal entrega possa implicar. Enquanto não fizerem esta entrega, não podem encontrar paz. CBV 481 1 Há muitos cujo coração está oprimido sob o peso de cuidados, porque procuram fazer como o mundo. Escolheram seu serviço, aceitaram suas perplexidades, adotaram seus costumes. Assim, seu caráter é deformado e sua vida torna-se fatigante. As preocupações contínuas esgotam as forças da vida. Nosso Senhor deseja que se libertem deste jugo de escravidão. Convida-os a aceitar o Seu jugo, dizendo: "O Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:30. A inquietude é cega, e não pode discernir o futuro; mas Jesus vê o fim desde o princípio. Para cada dificuldade, tem já preparado um alívio: "Não negará bem algum aos que andam na retidão." Salmos 84:11. CBV 481 2 Nosso Pai celeste tem mil maneiras de nos prover as necessidades, das quais nada sabemos. Os que aceitam como princípio dar lugar supremo ao serviço de Deus verão desvanecidas as perplexidades e terão caminho plano diante de si. CBV 481 3 O cumprimento fiel dos deveres de hoje é a melhor preparação para as provas de amanhã. Não penseis em toda as dificuldades e cuidados de amanhã, ajuntando-os ao fardo de hoje. "Basta a cada dia o seu mal." Mateus 6:34. CBV 481 4 Tenhamos esperança e ânimo. O desânimo no serviço de Deus é pecaminoso e desarrazoado. Deus conhece as nossas necessidades. À onipotência de Rei dos reis, nosso fiel Deus une a amabilidade e solicitude de Bom Pastor. Seu poder é absoluto e constitui a garantia do seguro cumprimento de Suas promessas para todos os que nEle confiam. Há meios para remover toda a dificuldade, a fim de que os que O servem e respeitam as providências que Ele emprega possam receber auxílio. Seu amor sobrepuja qualquer outro amor, na proporção em que os céus são mais altos do que a Terra. Vela sobre Seus filhos com um amor que é incomensurável e eterno. CBV 482 1 Nos dias mais sombrios, quando as aparências se mostram mais adversas, tende fé em Deus. Está cumprindo Sua vontade, fazendo todo o bem em auxílio de Seu povo. A força dos que O amam e servem será renovada dia após dia. CBV 482 2 Pode e quer conceder a Seus servos todo o socorro de que carecem. Dar-lhes-á a sabedoria que suas variadas necessidades requerem. CBV 482 3 Escreveu o experimentado apóstolo Paulo: "E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte." 2 Coríntios 12:9-10. ------------------------Capítulo 41 -- Em contato com os outros CBV 483 1 Todas as relações sociais exigem o exercício do domínio próprio, paciência e simpatia. Diferimos tanto uns dos outros em disposições, hábitos e educação, que variam entre si nossas maneiras de ver as coisas. Julgamos diferentemente. Nossa compreensão da verdade, nossas idéias em relação à conduta de vida não são idênticas sob todos os pontos de vista. Não há duas pessoas cuja experiência seja igual em cada particular. As provas de uma não são as provas de outra. Os deveres que para uma se apresentam como leves são para outra mais difíceis e inquietantes. CBV 483 2 Tão fraca, ignorante e sujeita ao erro é a natureza humana que todos devemos ser cautelosos na maneira de julgar o próximo. Pouco sabemos da influência de nossos atos sobre a experiência dos outros. O que fazemos ou dizemos pode parecer-nos de pouca importância, quando, se nossos olhos se abrissem, veríamos que daí resultam as mais importantes consequências para o bem ou para o mal. Consideração Pelos que Têm Responsabilidades CBV 483 3 Muitas pessoas têm tão poucos encargos, seu coração tem experimentado tão pouco as angústias reais, sentido tão pouca perplexidade e preocupação em auxiliar o próximo, que não podem compreender o trabalho de quem tem verdadeira responsabilidade. São tão incapazes de apreciar seus trabalhos como a criança de compreender os cuidados e fadigas do preocupado pai. A criança admira-se dos temores e perplexidades do pai: parecem-lhe inúteis. Mas quando os anos de experiência forem acrescentados à sua vida, quando tiver de carregar as próprias responsabilidades, olhará de novo para a vida do pai, e compreenderá então o que outrora lhe era incompreensível. A amarga experiência deu-lhe o conhecimento. CBV 484 1 A obra de muitas pessoas que têm responsabilidades não é compreendida, não são apreciados seus trabalhos, enquanto a morte não os abate. Quando outros retomam as funções que eles exerciam, e enfrentam as dificuldades que eles encontraram, compreendem quanto a sua fé e coragem foram provadas. Muitas vezes perdem de vista, então, os erros que estavam tão prontos a censurar. A experiência ensina-lhes a simpatia. É Deus quem permite que os homens sejam colocados em posições de responsabilidade. Quando erram, tem poder para corrigi-los, ou para retirá-los do cargo que exercem. Devemos acautelar-nos de não tomar em nossas mãos o direito de julgar, que pertence a Deus. CBV 484 2 A conduta de Davi para com Saul contém uma lição. Por ordem de Deus, Saul foi ungido como rei de Israel. Devido à sua desobediência, o Senhor declarou que o reino lhe seria tirado, e contudo quão amável, atenciosa e paciente foi a conduta de Davi para com ele! Procurando Davi para lhe tirar a vida, Saul dirigiu-se para o deserto, e sozinho penetrou justamente na caverna em que Davi, com seus homens de guerra, estava escondido: "Então, os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem a teus olhos. ... E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor." 1 Samuel 24:4 e 6. Ordena-nos o Salvador: "Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:1-2. Lembrai-vos de que cedo o relato da vossa vida passará em revista diante de Deus. Lembrai-vos de que Ele disse: "És inescusável quando julgas, ó homem; ... pois tu, que julgas, fazes o mesmo." Romanos 2:1. Paciência Quando Ofendido CBV 485 1 Não podemos permitir que nosso espírito se irrite por algum mal real ou suposto que nos tenha sido feito. O inimigo que mais carecemos temer é o próprio eu. Nenhuma forma de vício tem efeito mais funesto sobre o caráter do que a paixão humana quando não está sob o domínio do Espírito Santo. Nenhuma vitória que possamos ganhar será tão preciosa como a vitória sobre nós mesmos. CBV 485 2 Não permitamos que nossa sensibilidade seja facilmente ferida. Devemos viver, não para vigiar sobre a nossa sensibilidade ou reputação, mas para salvar pessoas. Quando estamos interessados na salvação das pessoas, deixamos de pensar nas pequenas diferenças que possam levantar-se entre uns e outros na associação mútua. De qualquer sorte que os outros pensem de nós ou conosco procedam, nunca será necessário que perturbemos nossa comunhão com Cristo, nossa companhia com o Espírito. "Que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus." 1 Pedro 2:20. CBV 485 3 Não vos vingueis. Quanto puderdes, removei toda a causa de mal-entendido. Evitai a aparência do mal. Fazei o que estiver em vosso poder, sem comprometer os princípios, para conciliar o próximo. "Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta." Mateus 5:23-24. CBV 486 1 Se vos forem dirigidas palavras impacientes, nunca respondais no mesmo tom. Lembrai-vos de que "a resposta branda desvia o furor". Provérbios 15:1. Há um poder maravilhoso no silêncio. As palavras ditas em réplica a alguém encolerizado por vezes servem apenas para o exasperar. Mas se a cólera encontra o silêncio, e um espírito amável e paciente, em breve se esvai. CBV 486 2 Sob uma tempestade de palavras ferinas e acusadoras, conservai apoiado o espírito na Palavra de Deus. Que o espírito e o coração sejam repletos das promessas divinas. Se sois maltratados ou acusados injustamente, em vez de responder com cólera, repeti a vós mesmos as preciosas promessas: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem." Romanos 12:21. CBV 486 3 "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará. E Ele fará sobressair a tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia." Salmos 37:5-6. CBV 486 4 "Nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido." Lucas 12:2. CBV 486 5 "Fizeste com que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; mas trouxeste-nos a um lugar de abundância." Salmos 66:12. CBV 486 6 Somos inclinados a procurar junto de nossos semelhantes simpatia e ânimo, em vez de procurá-los em Jesus. Em Sua misericórdia e fidelidade, Deus permite muitas vezes que falhem aqueles em quem depositamos confiança, a fim de que possamos compreender quanto é insensato confiar nos homens e apoiar-nos na carne. Confiemos inteira, humilde e desinteressadamente em Deus. Ele conhece as tristezas que nos consomem no mais profundo do ser e que não podemos exprimir. Quando tudo nos parece escuro e inexplicável, lembremo-nos das palavras de Cristo: "O que Eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois." João 13:7. CBV 487 1 Estudai a história de José e de Daniel. O Senhor não impediu as maquinações dos homens que procuravam fazer-lhes mal; mas conduziu todos os planos para o bem de Seus servos, que no meio de provas e lutas mantiveram sua fé e lealdade. CBV 487 2 Enquanto estivermos no mundo, encontraremos influências adversas. Haverá provocações para ser provada a nossa têmpera; e é enfrentando-as com espírito reto que as virtudes cristãs são desenvolvidas. Se Cristo habitar em nós, seremos pacientes, bondosos e indulgentes, alegres no meio das contrariedades e irritações. Dia após dia, e ano após ano, vencer-nos-emos a nós próprios e cresceremos num nobre heroísmo. Tal é a tarefa que sobre nós impende; mas não pode ser cumprida sem o auxílio de Jesus, firme decisão, um alvo bem determinado, contínua vigilância e oração incessante. Cada um tem suas lutas pessoais a travar. Nem o próprio Deus pode tornar nosso caráter nobre e nossa vida útil, se não colaborarmos com Ele. Quem renuncia à luta perde a força e a alegria da vitória. CBV 487 3 Não precisamos guardar nosso próprio registro das provas e dificuldades, dos desgostos e tristezas. Todas essas coisas estão escritas nos livros, e o Céu tomará o cuidado delas. Enquanto relembramos as coisas desagradáveis, passam da memória muitas que são gratas à reflexão, como a misericordiosa bondade de Deus que nos rodeia a cada instante e o amor, de que os anjos se maravilham, com que deu Seu Filho para morrer por nós. Se como obreiros de Cristo sentis que tendes maiores cuidados e provas que os outros, lembrai-vos de que há para vós uma paz desconhecida dos que evitam estes fardos. Há conforto e alegria no serviço de Cristo. Mostremos ao mundo que não há insucesso na vida com Deus. CBV 488 1 Se vos não sentis satisfeitos e alegres, não faleis dos vossos sentimentos. Não anuvieis a vida dos outros. Uma religião fria e sombria jamais atrairá almas para Cristo. Afasta-as dEle, para as redes que Satanás lança aos pés dos transviados. Em vez de pensar em vossos desânimos, pensai na força de que podeis dispor em nome de Cristo. Que vossa imaginação se fixe nas coisas invisíveis. Que os pensamentos se dirijam para as evidências do grande amor de Deus por vós. A fé pode sofrer a prova, vencer a tentação, suportar o insucesso. Jesus vive como nosso advogado. Tudo o que nos assegura a Sua mediação nos pertence. CBV 488 2 Não pensais que Cristo aprecia quem vive inteiramente para Ele? Não pensais que visita os que, como o amado João no exílio, estão em lugares difíceis e penosos? Deus não permite que um de Seus devotados obreiros seja abandonado, a lutar sozinho contra forças superiores, e que seja vencido. Preserva, como jóia preciosa, todo aquele cuja vida está escondida com Cristo nEle. De cada um destes diz: Eu "te farei como um anel de selar; porque te escolhi." Ageu 2:23. CBV 488 3 Falai pois das promessas; falai do desejo que Jesus tem de abençoar. Ele não nos esquece nem um só instante. Quando, apesar das circunstâncias desagradáveis, repousamos confiadamente no Seu amor e mantemos nossa comunhão com Ele, o sentimento da Sua presença inspirará uma alegria profunda e tranquila. De Si disse Cristo: "Nada faço por Mim mesmo; mas falo como o Pai Me ensinou. E Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:28-29. CBV 488 4 A presença do Pai acompanhava a Cristo, e nada Lhe sucedia que o amor infinito não tivesse permitido para a bênção do mundo. Aí residia o Seu e o nosso motivo de conforto. Quem está imbuído do Espírito de Cristo habita em Cristo. Tudo o que lhe sucede vem do Salvador que o rodeia com Sua presença. Nada pode atingi-lo sem a permissão do Senhor. Todos os sofrimentos e desgostos, todas as tentações e provas, todas as nossas tristezas e pesares, todas as perseguições e privações, em suma, todas as coisas cooperam para nosso bem. Todas as experiências e circunstâncias são agentes benfazejos de Deus em nosso favor. CBV 489 1 Se temos a compreensão da paciência de Deus para conosco, não devemos ser achados a julgar ou a acusar ninguém. Quando Cristo vivia na Terra, quão surpresos ficariam os que O acompanhavam se, depois de familiarizados com Ele, Lhe ouvissem dizer uma palavra de acusação, crítica destrutiva ou impaciência. Não esqueçamos que aqueles que O amam devem reproduzi-Lo em Seu caráter. CBV 489 2 "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:10. "Não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção." 1 Pedro 3:9. CBV 489 3 O Senhor Jesus exige que reconheçamos os direitos de cada pessoa. Devem ser tomados em consideração seus direitos sociais e seus direitos como cristão. Todos devem ser tratados com amabilidade e delicadeza, como filhos e filhas de Deus. CBV 489 4 O cristianismo torna as pessoas bem-educadas. Cristo era cortês, mesmo com os Seus perseguidores; e os Seus verdadeiros seguidores devem manifestar o mesmo espírito. Olhai para Paulo, conduzido perante os magistrados. Seu discurso diante de Agripa é um exemplo de verdadeira cortesia, assim como de persuasiva eloquência. O Evangelho não ensina a polidez formalista corrente no mundo, mas a cortesia que deriva de um coração cheio de bondade. CBV 490 1 O mais meticuloso cultivo das propriedades externas da vida não é suficiente para limar toda a irritabilidade, aspereza nos juízos e inconveniência nas palavras. O verdadeiro refinamento não se revelará jamais, enquanto nos considerarmos a nós mesmos como o objeto supremo. O amor deve residir no coração. O cristão verdadeiro tira seus motivos de ação do profundo amor pelo Mestre. Do amor a Cristo brota o interesse abnegado por seus irmãos. O amor comunica a quem o possui graça, propriedade e elegância de porte. Ilumina-lhe a fisionomia e educa-lhe a voz; refina e eleva todo o ser. CBV 490 2 A vida compõe-se, principalmente, não de grandes sacrifícios, ações maravilhosas, mas de pequenas coisas. Na maior parte das vezes, é pelas pequenas coisas que parecem indignas de menção que grande bem ou mal é trazido à nossa vida. É pela falta de sucesso em suportar as provas a que somos sujeitos nas pequenas coisas, que se adquirem os maus hábitos e se deforma o caráter; e, quando nos assaltam as provas maiores, encontramo-nos desprevenidos. Só agindo por princípio nas provas da vida cotidiana, podemos adquirir energia para ficar firmes e fiéis nas mais perigosas e difíceis situações. CBV 490 3 Nunca estamos sós. Quer o escolhamos ou não, temos um companheiro. Lembrai-vos de que onde quer que estejais, façais o que fizerdes, Deus aí está. Nada do que se diz, faz ou pensa escapa à Sua atenção. Para cada palavra ou ação, tendes uma testemunha -- Deus, que é santo e odeia o pecado. Pensai sempre nisso antes de falardes ou agirdes. Como cristãos, sois membros da família real, filhos do Rei dos Céus. Não digais palavra alguma, não façais nenhuma ação que traga desonra ao "bom nome que sobre vós foi invocado". Tiago 2:7. CBV 491 1 Estudai cuidadosamente o caráter divino-humano, e inquiri constantemente: "Que faria Jesus em meu lugar?" Esta deve ser a medida do nosso dever. Não vos coloqueis desnecessariamente na companhia daqueles que, por suas astúcias, poderiam debilitar o vosso desejo de bem-fazer ou manchar a vossa consciência. Nada façais entre os estranhos, na rua, nos carros, em casa, que tenha a menor aparência de mal. Fazei cada dia alguma coisa para melhorar, embelezar e enobrecer a vida que Cristo resgatou com Seu próprio sangue. CBV 491 2 Agi sempre por princípio, nunca por impulso. Temperai a impetuosidade da vossa natureza pela doçura e bondade. Evitai toda a leviandade e frivolidade. Que nenhum vil gracejo escape de vossos lábios. Nem sequer aos pensamentos permitais correr a rédeas soltas. Devem ser dominados e conduzidos cativos à obediência de Cristo. Que eles estejam ocupados em coisas santas. Então, pela graça de Cristo, serão puros e verdadeiros. CBV 491 3 Necessitamos de ter um constante sentimento do poder enobrecedor dos pensamentos puros. É nos bons pensamentos que reside a única segurança para cada alma. O homem, "como imaginou na sua alma, assim é". Provérbios 23:7. A faculdade de se dominar desenvolve-se pelo exercício. O que a princípio parecia difícil torna-se fácil pela repetição constante, até que os retos pensamentos e ações acabam por ser habituais. Se quisermos, podemos afastar-nos de tudo o que é baixo e inferior, e elevar-nos para uma alta norma; podemos ser respeitados pelos homens e amados por Deus. CBV 492 1 Cultivai o hábito de falar bem do próximo. Detende-vos sobre as boas qualidades daqueles com quem estais associados, e olhai o menos possível para seus erros e fraquezas. CBV 492 2 Quando sois tentados a queixar-vos do que alguém disse ou fez, louvai alguma coisa na vida ou caráter dessa pessoa. Cultivai a gratidão. Louvai a Deus pelo Seu admirável amor em dar a Cristo para morrer por nós. Nada lucramos em pensar em nossas mágoas. Deus convida-nos a meditar na Sua misericórdia e no Seu amor incomparável, a fim de que sejamos inspirados com o louvor. CBV 492 3 Os trabalhadores ativos não têm tempo de se ocupar com as faltas do próximo. As faltas e fraquezas dos outros não fornecem alimento para a vossa vida. A maledicência é uma dupla maldição, que recai mais pesadamente sobre quem fala do que sobre quem ouve. Quem espalha as sementes da dissensão e discórdia colhe em sua própria alma os frutos mortais. O próprio ato de olhar para o mal nos outros desenvolve o mal em quem olha. Detendo-nos sobre as faltas do próximo, somos transformados na sua imagem. Mas contemplando Jesus, falando do Seu amor e da perfeição de Seu caráter, imprimimos em nós as Suas feições. Contemplando o alto ideal que Ele colocou diante de nós, subiremos a uma atmosfera santa e pura, que é a própria presença de Deus. Quando aí permanecemos, sairá de nós uma luz que irradia sobre todos os que estiverem em contato conosco. CBV 492 4 Em vez de criticar e condenar o próximo, dizei: "Devo trabalhar para minha própria salvação. Se coopero com Aquele que deseja salvar a minha alma, devo vigiar-me cuidadosamente, afastar de minha vida tudo o que é mau, vencer todo o defeito, tornar-me nova criatura em Cristo. Por isso, em lugar de enfraquecer os que lutam contra o mal, irei fortalecê-los com palavras animadoras." Somos demasiado indiferentes para com os outros. Esquecemos muitas vezes que nossos companheiros de trabalho têm necessidade de força e animação. Tende o cuidado de lhes assegurar vosso interesse e simpatia. Ajudai-os pela oração e fazei-lhes saber que orais por eles. CBV 493 1 Nem todos os que professam ser obreiros de Cristo são verdadeiros discípulos. Entre os que trazem Seu nome, e que são mesmo contados entre Seus obreiros, há alguns que não O representam no caráter. Não são governados pelos Seus princípios. Tais pessoas são muitas vezes causa de perplexidade e desânimo para os seus companheiros de trabalho que são novos na experiência cristã; mas ninguém tem necessidade de ser enganado. Cristo deu-nos um exemplo perfeito. Ordena-nos que O sigamos. CBV 493 2 Até ao fim dos tempos, haverá joio no meio do trigo. Quando os servos do pai de família, no zelo pela sua honra, lhe pediram autorização para arrancar o joio, ele disse: "Não; para que, ao colher o joio não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa." Mateus 13:29-30. CBV 493 3 Em Sua misericórdia e clemência, Deus suporta pacientemente os maus e até os hipócritas. Entre os apóstolos escolhidos de Cristo encontrava-se Judas, o traidor. Deverá, pois, ser causa de surpresa ou desânimo a existência de hipócritas entre os Seus obreiros de hoje? Se Ele, que penetrava nos corações, suportava quem bem sabia que O havia de trair, com que paciência não deveríamos nós suportar os que estão em falta! CBV 493 4 E nem todos, ainda dos que parecem mais culpados, são como Judas. Pedro, impetuoso, precipitado e cheio de confiança própria, aparentemente esteve em situação mais desvantajosa do que Judas. Foi mais vezes censurado pelo Salvador. Mas que vida de atividade e sacrifício foi a sua! Que testemunho deu do poder da graça de Deus! Tanto quanto pudermos, devemos ser para os outros o que Jesus era para Seus discípulos quando andava e falava com eles na Terra. CBV 493 5 Considerai-vos como missionários, antes de tudo, entre os vossos companheiros de trabalho. Requer-se por vezes muito tempo e canseiras para ganhar alguma alma para Cristo. E quando uma alma se afasta do pecado para a justiça, há alegria na presença dos anjos. Pensais que os espíritos angélicos que vigiam sobre estas almas estão satisfeitos ao ver com que indiferença elas são tratadas por alguns que pretendem ser cristãos? Se Jesus nos tratasse como muito frequentemente nos tratamos uns aos outros, quem de nós poderia salvar-se? CBV 494 1 Lembrai-vos que não podeis ler os corações. Não sabeis os motivos que determinaram as ações que desaprovais. Há muitos que não receberam uma educação correta; seu caráter está deformado, duro e nodoso, e parece torto em todos os sentidos. Mas a graça de Cristo pode transformá-lo. Nunca os ponhais de lado, nunca lhes tireis a coragem ou a esperança, dizendo: "Você desiludiu-me e não me esforçarei por ajudá-lo." Algumas palavras ditas precipitadamente sob o efeito de uma provocação -- exatamente o que pensamos que eles merecem -- podem partir as cordas da influência que teriam ligado seu coração ao nosso. CBV 494 2 A vida coerente, a paciência, a calma de espírito em face da provocação constitui sempre o argumento mais decisivo e o apelo mais solene. Se tivestes oportunidades e vantagens que não couberam em sorte aos outros, reconhecei esse privilégio, e sede sempre um mestre sábio, solícito e amável. CBV 494 3 A fim de obter na cera a impressão nítida e forte de um selo, não lho aplicais de uma maneira precipitada e violenta; colocais cuidadosamente o selo na cera mole, e lenta e firmemente fazeis sobre ele pressão, até que a cera tenha endurecido na forma desejada. Tratai da mesma forma com as almas humanas. A continuidade da influência cristã é o segredo de seu poder, e este depende da firmeza com que manifestais o caráter de Cristo. Ajudai os que erraram, contando as vossas experiências. Mostrai-lhes como, quando cometestes graves erros, a paciência, bondade e auxílio de vossos companheiros de trabalho vos deram coragem e esperança. CBV 495 1 Até ao Juízo, ignorareis a influência de uma conduta bondosa e prudente para com os incoerentes, desarrazoados e indignos. Quando deparamos com a ingratidão e traição daqueles em quem depositamos uma confiança sagrada, somos tentados a mostrar nosso ressentimento e indignação. É isso que o culpado espera e para que está preparado. Mas a bondosa paciência toma-o de surpresa, e muitas vezes desperta seus melhores impulsos, e faz-lhes nascer o desejo de uma vida mais nobre. CBV 495 2 "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo." Gálatas 6:1-2. CBV 495 3 Todos os que professam ser filhos de Deus deviam ter na mente que, como missionários, serão postos em contato com todas as classes de espírito. Há os corteses e os rudes, os humildes e os altivos, os religiosos e os céticos, os instruídos e os ignorantes, os ricos e os pobres. Esses diferentes espíritos não podem ser tratados da mesma maneira; todos porém carecem de bondade e simpatia. Pelo mútuo contato, nosso espírito devia tornar-se delicado e refinado. Dependemos uns dos outros, e estamos intimamente unidos pelos laços da fraternidade humana. CBV 496 1 É pelas relações sociais que a religião cristã entra em contato com o mundo. Cada homem ou mulher que recebeu a iluminação divina deve derramar luz na senda tenebrosa dos que não conhecem o melhor caminho. A influência social, santificada pelo Espírito de Cristo, deve desenvolver-se na condução de almas para o Salvador. Cristo não deve ser escondido no coração como um tesouro cobiçado, sagrado e doce, fruído exclusivamente pelo possuidor. Devemos ter Cristo em nós como uma fonte de água, que corre para a vida eterna, refrescando a todos os que entram em contato conosco. ------------------------Capítulo 42 -- Desenvolvimento e serviço CBV 497 1 A Vida cristã é mais importante do que muitos crêem. Não consiste somente em delicadeza, paciência, doçura e bondade. São essenciais estas graças; mas há também necessidade de coragem, força, energia e perseverança. O caminho que Cristo nos traça é um caminho estreito e exige abnegação. Para entrar nesse caminho, e passar pelas dificuldades e desânimos, requerem-se homens fortes. Força de Caráter CBV 497 2 Precisam-se de homens de fibra, homens que não estejam à espera de ver seu caminho aplanado e removidos todos os obstáculos; homens que alentem com zelo novo os desfalecidos esforços dos trabalhadores desanimados, e cujo coração esteja inflamado de amor cristão e cujas mãos sejam fortes para a obra do Senhor. CBV 497 3 Alguns dos que se entregam ao serviço missionário são fracos, sem energia, sem entusiasmo e facilmente desanimáveis. Falta-lhes a iniciativa. Não têm aqueles positivos traços de caráter que dão a força para fazer alguma coisa -- o espírito e energia que iluminam o entusiasmo. Aqueles que desejam o sucesso devem ser corajosos e otimistas. Devem cultivar não só as virtudes passivas, mas as ativas. Respondendo com doçura, para afastar a ira, devem possuir a coragem de um herói para resistir ao mal. Com a caridade que tudo suporta, carecem de força de caráter para que sua influência exerça um poder positivo. CBV 498 1 Algumas pessoas não têm firmeza de caráter. Seus planos e objetivos não têm uma forma definida, nem consistência. São de muito pouca utilidade prática no mundo. Esta fraqueza, indecisão e ineficácia deve ser vencida. Há no verdadeiro caráter cristão uma indomabilidade que não pode ser adaptada nem submetida por circunstâncias adversas. Devemos ter fibra moral, uma integridade que não ceda à lisonja, nem à corrupção, nem às ameaças. CBV 498 2 Deus deseja que aproveitemos todas as oportunidades de assegurar uma preparação para a Sua obra. Espera que Lhe submetamos todas as nossas energias, e conservemos o coração atento à sua santidade e responsabilidades terríveis. CBV 498 3 Muitos dos que são classificados para fazer um trabalho excelente obtêm pouco porque pouco empreendem. Muitos atravessam a vida como se não tivessem nenhum grande objetivo, nenhum ideal a atingir. Uma das razões por que tal sucede é avaliarem-se abaixo de seu valor real. Cristo pagou um infinito preço por nós, e deseja que nos mantenhamos à altura do preço que custamos. CBV 498 4 Não vos contenteis em atingir um ideal baixo. Não somos o que poderíamos ser e o que Deus quer que sejamos. Deus concedeu-nos faculdades de raciocínio, não para que fiquem inativas ou sejam pervertidas por ocupações terrenas e sórdidas, mas para que sejam desenvolvidas ao máximo, refinadas, santificadas, enobrecidas e empregadas no avanço dos interesses de Seu reino. CBV 498 5 Ninguém deve consentir em ser uma simples máquina, acionada pelo espírito de outro homem. Deus nos concedeu poder para pensar e agir, e é agindo com cuidado, pedindo-Lhe sabedoria, que podemos tornar-nos aptos a desempenhar posições de responsabilidade. Mantende-vos na personalidade que recebestes de Deus. Não sejais a sombra de outra pessoa. Esperai que o Senhor opere em vós, convosco e por vós. CBV 499 1 Nunca penseis que já aprendestes o suficiente, e que podeis afrouxar agora vossos esforços. O espírito cultivado é a medida do homem. Vossa educação deve continuar através da vida inteira; deveis aprender todos os dias, e pôr em prática os conhecimentos adquiridos. CBV 499 2 Lembrai-vos que em qualquer posição em que servirdes estais revelando motivos, desenvolvendo o caráter. Seja qual for vosso trabalho, fazei-o com exatidão, com diligência; vencei a inclinação de procurar uma ocupação fácil. CBV 499 3 O mesmo espírito e princípios que animam o trabalho de cada dia irão se manifestar através de toda a vida. Os que desejam apenas uma quantidade determinada de trabalho e um salário fixo, e que procuram encontrar um emprego exatamente adaptado às suas aptidões, sem a necessidade de se preocupar em adquirir novos conhecimentos e em aperfeiçoar-se, não são os que Deus chama a trabalhar em Sua causa. Os que procuram dar o menos possível de suas forças físicas, espirituais e morais não são os trabalhadores sobre quem derramará abundantes bênçãos. Seu exemplo é contagioso. O interesse próprio é seu móvel supremo. Os que necessitam ser vigiados e trabalham apenas quando cada dever lhes é especificado não pertencem ao número dos que serão chamados bons e fiéis. Precisam-se obreiros que manifestem energia, integridade, diligência, e que estejam prontos a colaborar no que seja necessário que façam. CBV 500 1 Muitos tornam-se inúteis fugindo a responsabilidades com receio de fracasso. Deixam assim de adquirir a educação que provém das lições da experiência, e que a leitura ou estudo e quaisquer outras vantagens ganhas não lhes podem dar. CBV 500 2 O homem pode moldar as circunstâncias, mas não deve permitir que as circunstâncias o moldem. Devemos aproveitá-las como instrumentos de trabalho; sujeitá-las, mas não deixar que elas nos sujeitem. CBV 500 3 Os homens de energia são aqueles que sofreram a oposição, o escárnio e os obstáculos. Pondo suas energias em ação, os obstáculos que encontram constituem para eles positivas bênçãos. Ganham confiança em si mesmos. Os conflitos e perplexidades provocam o exercício da confiança em Deus, e aquela firmeza que desenvolve a força. CBV 500 4 Cristo não fez um serviço limitado. Não mediu o trabalho por horas. Seu tempo, Seu coração, Sua alma e força foram dadas ao trabalho para o bem da humanidade. Passava os dias em trabalho fatigante; transcorria longas noites prostrado em oração, pedindo graça e paciência para poder fazer um trabalho mais amplo. Com fortes gemidos e lágrimas, dirigia Suas petições ao Céu, para que fosse fortalecida a Sua natureza humana, a fim de poder estar preparado a lutar contra o inimigo e fortalecido para cumprir a missão de melhorar a humanidade. Cristo disse aos Seus obreiros: "Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também." João 13:15. CBV 500 5 "O amor de Cristo nos constrange", dizia Paulo. 2 Coríntios 5:14. Tal era a norma que dirigia a sua conduta. Se alguma vez seu ardor no caminho do dever enfraquecia por momentos, um olhar para a cruz lhe fazia cingir de novo os rins do seu entendimento (Isaías 11:5), e o impelia no caminho da abnegação. Nos trabalhos pelos irmãos, contava com a manifestação de infinito amor do sacrifício de Cristo, com o seu poder de subjugar e convencer os corações. CBV 501 1 Quão vibrante e tocante é o apelo: "Já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis." 2 Coríntios 8:9. Sabeis a altura de que Ele desceu, a profundeza de humilhação a que Se sujeitou; Seus pés caminharam na senda do sacrifício, e não se apartaram dela até que deu Sua vida. Para Ele não houve descanso entre o trono do Céu e a cruz. Seu amor pelo homem levou-O a aceitar todas as indignidades e a suportar todos os abusos. CBV 501 2 Paulo admoesta-nos que "não atende cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros". Filipenses 2:4. Pede-nos que possuamos o sentimento "que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz". Filipenses 2:5-8. CBV 501 3 Paulo ansiava profundamente que a humilhação de Cristo fosse vista e compreendida. Estava convencido de que se os homens pudessem ser conduzidos a considerar o sacrifício estupendo feito pela Majestade do Céu, o egoísmo seria banido dos corações. O apóstolo se detém demoradamente sobre ponto após ponto, para que possamos compreender de alguma sorte a maravilhosa condescendência do Salvador a favor dos pecadores. Ele dirige primeiro a atenção para a posição que Jesus Cristo ocupava nos Céus, no seio do Pai; revela-O em seguida renunciando à Sua glória, sujeitando-Se voluntariamente às condições humildes da vida humana, assumindo as responsabilidades de servo, e tornando-Se obediente até à morte mais ignominiosa e revoltante e a mais penosa -- a morte de cruz. Podemos nós contemplar esta maravilhosa manifestação do amor de Deus sem gratidão e amor e o profundo sentimento do fato de que nos não pertencemos a nós próprios? Tal Mestre não deveria ser servido por motivos interesseiros e egoístas. CBV 502 1 Sabei, diz Pedro, "que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados". 1 Pedro 1:18. Oh, se isso bastasse para conseguir a salvação do homem, quão facilmente podia ter sido realizada por Aquele que disse: "Minha é a prata, e Meu é o ouro." Ageu 2:8. Mas o pecador não podia ser resgatado senão pelo sangue precioso do Filho de Deus. Aqueles que, deixando de apreciar este sacrifício maravilhoso, se eximem do serviço de Cristo, perecerão no seu egoísmo. Sinceridade de Propósito CBV 502 2 Na vida de Cristo, tudo era subordinado à Sua obra, à obra de redenção que Ele veio cumprir. A mesma consagração, renúncia e sacrifício, a mesma submissão às prescrições da Palavra de Deus, devem ser manifestadas em Seus discípulos. CBV 502 3 Todo o que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal ansiará pelo privilégio de servir a Deus. Contemplando o que o Céu fez por ele, seu coração enche-se de amor sem limites e de rendida gratidão. Está ansioso por manifestar seu reconhecimento, consagrando suas faculdades ao serviço de Deus. Suspira por mostrar amor a Cristo e aos Seus remidos. Ambiciona trabalhos, dificuldades, sacrifícios. CBV 502 4 O verdadeiro obreiro na causa de Deus fará o melhor, pois que assim fazendo pode glorificar seu Mestre. Procederá retamente a fim de respeitar as reivindicações de Deus. Esforçar-se-á por melhorar todas as suas faculdades. Cumprirá cada dever com os olhos em Deus. Seu único desejo será que Cristo possa receber homenagem e perfeito serviço. CBV 502 5 Há um quadro representando um boi parado entre um arado e um altar, com a seguinte inscrição: "Pronto para um ou para outro", pronto para o trabalho do campo ou para ser oferecido sobre o altar do sacrifício. Tal é a posição do verdadeiro filho de Deus -- pronto para ir aonde o dever o chama, negar-se a si mesmo, sacrificar-se pela causa do Redentor. ------------------------Capítulo 43 -- Uma experiência mais alta CBV 503 1 Necessitamos constantemente de uma revelação nova de Cristo, de uma experiência diária que ser harmonize com os Seus ensinos. Estão ao nosso alcance resultados altos e santos. Deus deseja que façamos contínuos progressos na ciência e na virtude. Sua lei é um eco de Sua própria voz, fazendo a todos o convite: "Subi mais alto. Sede santos, mais santos ainda." Cada dia podemos avançar no aperfeiçoamento do caráter cristão. CBV 503 2 Os que estão consagrados ao serviço do Mestre necessitam de uma experiência mais alta, profunda e ampla, que muitos nem sequer pensam ter. Muitas pessoas que são já membros da grande família de Deus pouco sabem do que quer dizer contemplar Sua glória, e ser mudadas de glória em glória. Muitos possuem uma vaga percepção da excelência de Cristo, e contudo seu coração palpita de alegria. Anseiam por um mais completo e profundo sentimento do amor do Salvador. Que eles nutram todas as aspirações da alma para Deus. O Espírito Santo trabalha aqueles que desejam ser trabalhados, molda os que desejam ser moldados, cinzela os que desejam ser cinzelados. Obtende por vós mesmos a cultura de pensamentos espirituais e santas comunhões. Não vistes ainda senão os primeiros raios do despontar da aurora de Sua glória. À medida que avançardes no conhecimento do Senhor, aprendereis que "a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito". Provérbios 4:18. CBV 504 1 "Tenho-vos dito isso", disse Cristo, "para que a Minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa." João 15:11. CBV 504 2 Jesus via sempre diante dEle o resultado da Sua missão. Sua vida terrena, tão cheia de trabalhos e sacrifícios, era iluminada pelo pensamento de que não seria em vão todo o Seu trabalho. Dando a vida pela vida dos homens, restauraria na humanidade a imagem de Deus. E havia de nos levantar do pó, reformar o caráter segundo o modelo de Seu próprio caráter, e torná-lo belo com Sua própria glória. CBV 504 3 Cristo viu os resultados do trabalho de Sua alma e ficou satisfeito. Olhou através da eternidade, e viu a felicidade daqueles que pela Sua humilhação haviam de receber o perdão e a vida eterna. Foi ferido pelas suas transgressões, moído pelas suas iniquidades. O castigo que lhes havia de trazer a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras seriam sarados. Ele ouvia as exclamações de júbilo dos remidos. Ouvia os resgatados cantando o cântico de Moisés e do Cordeiro. Ainda que devesse primeiro ser recebido o batismo de sangue, ainda que os pecados do mundo devessem pesar sobre a Sua alma inocente, ainda que a sombra de uma indescritível mágoa pairasse sobre Ele; por causa da alegria que O esperava, preferiu sofrer a cruz e desprezou a afronta. CBV 504 4 Todos os Seus seguidores devem participar dessa alegria. Por grande e gloriosa que seja a vida futura, nossa recompensa não é inteiramente reservada para o dia da libertação final. Mesmo na Terra, podemos pela fé entrar na alegria do Senhor. Como Moisés, devemos estar firmes como se víssemos o Invisível. CBV 504 5 Agora a Igreja é militante. Agora temos de enfrentar um mundo de trevas, quase inteiramente dado à idolatria. Mas está chegando o dia em que será travada a batalha e ganha a vitória. A vontade de Deus deve ser feita na Terra como o é nos Céus. As nações dos remidos não conhecerão outra lei senão a lei dos Céus. Constituirão todos uma família feliz e unida, revestida com as vestes de louvor e ações de graças -- as vestes da justiça de Cristo. Toda a Natureza, em sua arrebatadora formosura, oferecerá a Deus um tributo de louvor e adoração. O mundo será banhado com a luz do Céu. A luz da Lua será como a luz do Sol, e a luz do Sol será sete vezes maior do que é hoje. Os anos decorrerão na alegria. Sobre essa cena, as estrelas da manhã cantarão em uníssono, e os filhos de Deus exultarão de alegria, enquanto Deus e Cristo Se unirão proclamando: "Não haverá mais pecado nem morte." CBV 506 1 Estas visões da glória futura, cenas pintadas pela mão de Deus, devem ser amadas pelos Seus filhos. CBV 506 2 Detende-vos no limiar da eternidade, e escutai as alegres boas-vindas dadas àqueles que nesta vida cooperaram com Cristo, considerando como privilégio e honra sofrer por Sua causa. Com os anjos, eles lançam suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. ... Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apocalipse 5:12-13. CBV 506 3 Aí os remidos saúdam aqueles que os conduziram ao excelso Salvador. Unem-se no louvor dAquele que morreu para que os seres humanos pudessem fruir a vida que se mede com a de Deus. A luta está terminada. Estão no fim todas as tribulações e contendas. Cânticos de vitória reboam pelos Céus inteiros, enquanto os remidos permanecem em volta do trono de Deus. Todos entoam o jubiloso coro: "Digno é o Cordeiro, que foi morto" e que nos remiu para Deus. Apocalipse 5:12. CBV 507 1 "Olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro." Apocalipse 7:9-10. CBV 507 2 "Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima." Apocalipse 7:14-17. "E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas." Apocalipse 21:4. CBV 508 1 Necessitamos conservar constantemente diante de nós este quadro das coisas invisíveis. É assim que nos tornaremos aptos para atribuir um justo valor às coisas da eternidade e às do tempo. É assim que empregaremos nossas faculdades influenciando os outros para uma vida mais santa. No Monte com Deus CBV 508 2 "Sobe a Mim, ao monte", diz-nos Deus. Êxodo 24:12. A Moisés, antes de poder ser o instrumento de Deus na libertação de Israel, foram destinados quarenta anos de comunhão com Ele, na solidão das montanhas. Antes de levar a mensagem de Deus a Faraó, falou com o Anjo na sarça ardente. Antes de receber a lei de Deus como representante de Seu povo, foi chamado ao monte e contemplou a glória divina. Antes de executar justiça contra os idólatras, esteve escondido na fenda da rocha, e o Senhor lhe disse: "Eu... apregoarei o nome do Senhor diante de ti" (Êxodo 33:19), "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; ... que ao culpado não tem por inocente." Êxodo 34:6-7. Antes de abandonar, com a sua vida, a missão de condutor de Israel, chamou-o Deus ao cume do Pisga, e fez passar sob seus olhos a glória da terra prometida. CBV 508 3 Antes que os discípulos partissem para a sua missão, foram chamados ao monte com Jesus. Antes do poder e glória do Pentecoste, veio a noite de comunhão com o Salvador, o encontro num monte da Galiléia, a cena de despedida sobre o Monte das Oliveiras, com a promessa dos anjos, e os dias de oração e comunhão no cenáculo. CBV 509 1 Quando Jesus Se preparava para alguma grande prova ou para alguma obra importante, afastava-Se para a solidão dos montes, e passava a noite orando a Seu Pai. Uma noite de oração precedeu a consagração dos apóstolos e o sermão da montanha, a transfiguração, a agonia da sala do juízo e da cruz, e a glória da ressurreição. O Privilégio da Oração CBV 509 2 Nós também temos de ter um tempo para a meditação e oração, e para receber conforto espiritual. Não apreciamos como devíamos o poder e eficácia da oração. A oração e a fé farão o que nenhum poder da Terra conseguirá realizar. Raramente somos colocados duas vezes nas mesmas circunstâncias sob todos os pontos de vista. Experimentamos continuamente novas cenas e novas provas, onde a experiência passada não pode ser um guia suficiente. Temos de ter a luz perene que vem de Deus. CBV 509 3 Cristo envia sempre mensagens aos que estão atentos à Sua voz. Na noite da agonia, no Getsêmani, os discípulos adormecidos não ouviram a voz de Jesus. Tinham um sentimento obscuro da presença dos anjos, mas não se deram conta do poder e glória da cena. Devido ao seu torpor e sonolência, não receberam a evidência que lhes teria fortalecido a alma para as terríveis cenas que ocorreriam. Hoje, da mesma sorte, os que têm mais necessidade da instrução divina não a recebem, muitas vezes, porque não se põem em comunhão com o Céu. CBV 509 4 As tentações a que todos os dias estamos expostos fazem da oração uma necessidade. Os perigos nos assaltam em todo caminho. Os que procuram arrebatar os outros do vício e da ruína, estão particularmente expostos à tentação. Em constante contato com o mal, necessitam apegar-se fortemente a Deus, para não serem eles mesmos corrompidos. Breves e decisivos são os passos que conduzem os homens de um plano elevado e santo a um nível inferior. Num só momento, podem ser tomadas decisões que determinam o destino eterno. Uma fraqueza por vencer deixa o indivíduo desamparado. Um mau hábito, a que se não resistiu com firmeza, fortalecer-se-á em cadeias de aço, prendendo-o completamente. CBV 510 1 O motivo por que tantos são abandonados a si mesmos em lugares de tentação é não terem o Senhor constantemente diante dos olhos. Quando permitimos que nossa comunhão com Deus seja quebrada, ficamos sem defesa. Todos os bons objetivos e boas intenções que tenhais não vos tornarão aptos a resistir ao mal. Deveis ser homens e mulheres de oração. Vossas petições não devem ser débeis, ocasionais e apressadas, mas fervorosas, perseverantes e constantes. Para orar não é necessário que estejais sempre prostrados de joelhos. Cultivai o hábito de falar com o Salvador quando sós, quando estais caminhando e quando ocupados com os trabalhos diários. Que vosso coração se eleve de contínuo, em silêncio, pedindo auxílio, luz, força, conhecimento. Que cada respiração seja uma oração. CBV 511 1 Como obreiros de Deus, devemos atingir os homens onde eles estão, rodeados de trevas, atolados no vício, manchados pela corrupção. Mas, fixando os olhares sobre Aquele que é o nosso Sol e a nossa proteção, o mal que nos rodeia não manchará nossas vestes. Trabalhando para salvar as almas que estão prestes a perecer, não seremos envergonhados se pusermos confiança em Deus. Cristo no coração, Cristo na vida, eis a nossa segurança. A atmosfera de Sua presença encherá a alma de horror a tudo o que é mau. Nosso espírito pode de tal maneira identificar-se com o Seu, que seremos um com Ele em nossos pensamentos e intenções. CBV 511 2 Foi pela fé e oração que Jacó, de homem fraco e pecador, com o auxílio de Deus se tornou um príncipe. É assim que vos podeis tornar homens e mulheres de santo e alto ideal, de vida nobre, homens e mulheres que por motivo nenhum se deixarão transviar da verdade, do direito e da justiça. Sois assaltados por urgentes cuidados, responsabilidades e deveres, mas quanto mais difícil for vossa posição e mais pesadas vossas responsabilidades, tanto mais careceis de Jesus. CBV 511 3 É um erro grave negligenciar a adoração pública de Deus. Os privilégios do culto divino não devem ser considerados levianamente. Os que assistem aos doentes encontram-se muitas vezes impossibilitados de desfrutar desses privilégios, mas devem ser cuidadosos em não deixar de frequentar, sem razão plausível, a casa de oração. CBV 511 4 Na assistência aos doentes, mais do que em qualquer outra ocupação secular, o bom êxito depende do espírito de consagração e abnegação com que o trabalho é feito. Os que desempenham responsabilidades carecem de se colocar onde possam ser profundamente impressionados pelo Espírito de Deus. Mais do que ninguém, deveis ansiar pelo auxílio do Espírito Santo e pelo conhecimento de Deus, tanto mais quanto vossa posição de confiança é de maior responsabilidade que a dos outros. CBV 512 1 Nada é mais necessário em vossos trabalhos do que os resultados práticos da comunhão com Deus. Devemos mostrar, em nossa vida diária, que temos paz e descanso no Senhor. Essa paz no coração resplandecerá na fisionomia. Imprimirá à voz uma força persuasiva. A comunhão com Deus refletirá no caráter e na vida. Os homens conhecerão em nós, como nos primeiros discípulos, que estivemos com Jesus. Eis o que dá ao obreiro um poder que nada mais será capaz de lhe comunicar. Jamais devemos permitir ser privados de tal poder. CBV 512 2 Carecemos de viver uma dupla vida -- vida de pensamento e de ação, de silenciosa prece e infatigável trabalho. A energia recebida pela comunhão com Deus, unida ao ardente esforço de educar o espírito em hábitos ponderados e cautelosos, preparam para os deveres de cada dia, e conservam o espírito em paz em todas as circunstâncias, ainda as mais adversas. O Divino Conselheiro CBV 512 3 Quando estão em dificuldades, muitos pensam que devem apelar para algum amigo terrestre, contar-lhe suas perplexidades e pedir-lhe socorro. Sob circunstâncias difíceis, a descrença enche-lhes o coração, e o caminho parece sombrio. Contudo, ali está sempre a seu lado o poderoso e eterno Conselheiro convidando-os a depositar nEle sua confiança. Jesus, o que sobre Si levou nossos cuidados, diz-nos: "Vinde a Mim, e encontrareis descanso." Afastar-nos-emos dEle para recorrer a falíveis seres humanos, tão dependentes de Deus como nós próprios? CBV 513 1 Podeis sentir a imperfeição do vosso caráter e a insignificância das vossas capacidades, em comparação com a grandeza da obra. Mas, ainda que tivésseis a maior inteligência, isso não bastaria para vosso trabalho. "Sem Mim nada podereis fazer", diz nosso Senhor e Salvador. João 15:5. O resultado de tudo o que fazemos está nas mãos de Deus. Suceda o que suceder, deponde nEle uma confiança firme e perseverante. CBV 513 2 Em vossos negócios, nas amizades das horas de lazer, e na aliança matrimonial, que todas as relações sociais que tiverdes sejam empreendidas com fervorosa e humilde oração. Mostrareis assim que honrais a Deus e Deus vos honrará a vós. Orai quando estiverdes abatidos. Em ocasiões de desânimo, nada digais aos outros; não espalheis sombra no caminho do próximo; mas contai tudo a Jesus. Levantai as mãos em demanda de auxílio. Em vossa fraqueza apegai-vos à força infinita. Suplicai humildade, sabedoria, coragem, aumento de fé, para que possais ver luz na luz de Deus e rejubilar no Seu amor. Confiança CBV 513 3 Quando somos humildes e contritos, estamos onde Deus pode e quer manifestar-Se a nós. Ele Se agrada quando insistimos em que as graças e bênçãos passadas são razão para nos conceder bênçãos maiores. Ultrapassará as expectativas dos que inteiramente nEle confiam. O Senhor Jesus sabe bem o que Seus filhos precisam, quanto de divino poder consagrarão para o bem da humanidade, e Ele nos concede tudo o que empregarmos, beneficiando o próximo e enobrecendo nossa própria vida. CBV 513 4 Devemos ter menos confiança no que podemos por nós mesmos fazer, e mais confiança no que o Senhor para nós e por nós pode fazer. Não estais empenhados em vossa própria obra, mas sim na de Deus. Submetei-Lhe vossa vontade e vossos desígnios. Não façais uma única reserva, uma única contemporização com vós mesmos. Aprendei o que é ser livres em Cristo. CBV 514 1 A simples audição de sermões sábado após sábado, a leitura da Bíblia de ponta a ponta, ou sua explicação verso por verso, não nos aproveitará nem aos que nos ouvem, se não vivermos as verdades da Bíblia em nossa experiência habitual. O entendimento, a vontade e os afetos devem ser submetidos ao domínio da Palavra de Deus. Então, pela obra do Espírito Santo, os preceitos da Palavra se tornarão princípios de vida. CBV 514 2 Quando pedis ao Senhor que vos ajude, honrai o Salvador crendo que recebereis Sua bênção. Todo o poder e toda a sabedoria estão à nossa disposição. Nada mais temos a fazer do que pedir. CBV 514 3 Andai continuamente na luz de Deus. Meditai dia e noite no Seu caráter. Então vereis Sua beleza e exultareis em Sua bondade. Vosso coração se abrasará com o sentimento do Seu amor. Sereis erguidos, como se fôsseis transportados por braços eternos. Com o poder e luz que Deus concede, podeis compreender e realizar mais do que antes julgáveis possível. "Permanecei em Mim" CBV 514 4 Cristo diz-nos: "Permanecei em Mim, e Eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. ... Quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podereis fazer. Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado Meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos." João 15:4, 5, 7-8. CBV 514 5 "Como o Pai Me amou, também Eu vos amei a vós; permanecei no Meu amor." João 15:9. CBV 514 6 "Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda." João 15:16. CBV 516 1 "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo." Apocalipse 3:20. CBV 516 2 "Ao que vencer darei Eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." Apocalipse 2:17. CBV 516 3 "Ao que vencer... dar-lhe-ei a estrela da manhã" (Apocalipse 2:26 e 28), "e escreverei sobre ele o nome do Meu Deus e o nome da cidade do Meu Deus, ... e também o Meu novo nome." Apocalipse 3:12. "Uma Coisa Faço" CBV 516 4 Aquele que tem confiança em Deus estará apto a dizer com Paulo: "Posso todas as coisas nAquele que me fortalece." Filipenses 4:13. Quaisquer que tenham sido os erros ou insucessos do passado, podemos, com o auxílio de Deus, levantar-nos acima deles. Podemos dizer com o Apóstolo: CBV 516 5 "Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de Mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filipenses 3:13-14. ------------------------A Ciência do Bom Viver (condensado) CBVc 8 1 Capítulo 1 -- Nosso exemplo CBVc 12 1 Capítulo 2 -- Com a natureza e com Deus CBVc 16 1 Capítulo 3 -- O toque da fé CBVc 21 1 Capítulo 4 -- A cura da alma CBVc 28 1 Capítulo 5 -- Salvo para servir CBVc 34 1 Capítulo 6 -- A cooperação do divino com o humano CBVc 41 1 Capítulo 7 -- O médico é um educador CBVc 47 1 Capítulo 8 -- Ensinando e curando CBVc 56 1 Capítulo 9 -- Auxílio aos tentados CBVc 62 1 Capítulo 10 -- A obra em favor dos intemperantes CBVc 68 1 Capítulo 11 -- Os desempregados e os destituídos de lar CBVc 75 1 Capítulo 12 -- Os pobres desamparados CBVc 79 1 Capítulo 13 -- O ministério em favor dos ricos CBVc 84 1 Capítulo 14 -- No quarto do doente CBVc 87 1 Capítulo 15 -- Oração pelos doentes CBVc 92 1 Capítulo 16 -- O emprego de remédios CBVc 96 1 Capítulo 17 -- A cura mental CBVc 105 1 Capítulo 18 -- Em contato com a natureza CBVc 109 1 Capítulo 19 -- Higiene geral CBVc 113 1 Capítulo 20 -- Higiene entre os israelitas CBVc 118 1 Capítulo 21 -- Vestuário CBVc 123 1 Capítulo 22 -- O regime alimentar e a saúde CBVc 131 1 Capítulo 23 -- A carne como alimento CBVc 135 1 Capítulo 24 -- Extremos no regime CBVc 139 1 Capítulo 25 -- Estimulantes e narcóticos CBVc 144 1 Capítulo 26 -- O comércio de bebidas e a proibição CBVc 149 1 Capítulo 27 -- O ministério do lar CBVc 153 1 Capítulo 28 -- Fundamentos do lar CBVc 157 1 Capítulo 29 -- Escolha e preparo da moradia CBVc 161 1 Capítulo 30 -- A mãe CBVc 165 1 Capítulo 31 -- A criança CBVc 170 1 Capítulo 32 -- Influências do lar CBVc 174 1 Capítulo 33 -- A verdadeira educação CBVc 180 1 Capítulo 34 -- O conhecimento de Deus CBVc 188 1 Capítulo 35 -- O perigo do conhecimento especulativo CBVc 193 1 Capítulo 36 -- O falso e o verdadeiro na educação CBVc 200 1 Capítulo 37 -- Buscar o verdadeiro conhecimento CBVc 204 1 Capítulo 38 -- O conhecimento através da palavra de Deus CBVc 208 1 Capítulo 39 -- Auxílio na vida diária CBVc 215 1 Capítulo 40 -- Em contato com os outros CBVc 223 1 Capítulo 41 -- Desenvolvimento e serviço CBVc 227 1 Capítulo 42 -- Uma experiência elevada ------------------------Capítulo 1 -- Nosso exemplo CBVc 8 1 Nosso Senhor Jesus Cristo veio a este mundo como o infatigável servo das necessidades do homem. "Tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mateus 8:17), a fim de poder ajudar a todas as necessidades humanas. Veio para remover o fardo de doenças, misérias e pecado. Era Sua missão restaurar inteiramente os homens; veio trazer-lhes saúde, paz e perfeição de caráter. CBVc 8 2 Várias eram as circunstâncias e necessidades dos que Lhe suplicavam o auxílio, e nenhum dos que a Ele se chegavam saía desatendido. DEle emanava uma corrente de poder restaurador, ficando os homens física, mental e moralmente sãos. CBVc 8 3 A obra do Salvador não era restrita a qualquer tempo ou lugar. Sua compaixão desconhecia limites. Em tão larga escala realizava Ele Sua obra de curar e ensinar, que não havia na Palestina edifício grande o bastante para comportar as multidões que se aglomeravam ao Seu redor. Nas verdes encostas da Galiléia, nas estradas, à beira-mar, nas sinagogas e em todo lugar a que os doentes Lhe podiam ser levados, aí se encontrava Seu hospital. Em cada cidade, cada vila por que passava, punha as mãos sobre os doentes e os curava. Onde quer que houvesse corações prontos a receber-lhe a mensagem, Ele os confortava com a certeza do amor de Seu Pai celestial. Todo o dia ajudava aos que a Ele iam; à tardinha atendia aos que tinham que labutar durante o dia pelo sustento da família. CBVc 8 4 Jesus carregava o grande peso de responsabilidade da salvação dos homens. Ele sabia que, a menos que houvesse da parte da raça humana decidida mudança nos princípios e desígnios, tudo estaria perdido. Esse era o fardo de Sua alma, e ninguém podia avaliar o peso que sobre Ele repousava. Através da infância, juventude e varonilidade, andou sozinho. Todavia era um céu estar-se em Sua presença. Dia a dia enfrentava provas e tentações; dia a dia era posto em contato como mal, e testemunhava o poder do mesmo sobre aqueles a quem buscava abençoar e salvar. Não obstante, não vacilava nem ficava desanimado. CBVc 8 5 Em todas as coisas, punha Seus desejos em estrita obediência à Sua missão. Glorificava Sua vida por torná-la em tudo submissa à vontade do Seu Pai. Na Sua juventude, Sua mãe O encontrou na escola dos rabis e disse: "Filho, por que fizeste assim para conosco?" Lucas 2:48. Ele respondeu (e Sua resposta é a nota tônica de Sua obra vitalícia): "Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:49. CBVc 9 1 Sua vida foi de constante abnegação. Não possuía lar neste mundo, a não ser o que a bondade dos amigos Lhe preparava como peregrino. Ele veio viver em nosso favor a vida do mais pobre, e andar e trabalhar entre os necessitados e sofredores. Entrava e saía, não reconhecido nem honrado, diante do povo por quem tanto fizera. CBVc 9 2 Ele era sempre paciente e bem-disposto, e os aflitos O saudavam como a um mensageiro de vida e paz. Via as necessidades de homens e mulheres, crianças e jovens, e a todos dirigia o convite: "Vinde a Mim". Mateus 11:28. CBVc 9 3 Durante Seu ministério, Jesus dedicou mais tempo a curar os enfermos do que a pregar. Seus milagres testificavam da veracidade de Suas palavras, de que não veio a destruir, mas a salvar. Aonde quer que fosse, as novas de Sua misericórdia O precediam. Por onde havia passado, os que haviam sido alvo de Sua compaixão se regozijavam na saúde, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões ajuntavam-se em torno deles para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz havia sido o primeiro som ouvido por muitos, Seu nome o primeiro proferido, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não haveriam de amar a Jesus, e proclamar-Lhe o louvor? Ao passar por vilas e cidades, era como uma corrente vivificadora, difundindo vida e alegria. CBVc 9 4 "A terra de Zebulom e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia das nações, o povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; E aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou". Mateus 4:15, 16. CBVc 9 5 O Salvador tornava cada ato de cura uma ocasião para implantar princípios divinos na mente e na alma. Esse era o desígnio de Sua obra. Comunicava bênçãos terrestres, para que pudesse inclinar o coração dos homens ao recebimento do evangelho de Sua graça. CBVc 9 6 Cristo poderia ter ocupado o mais elevado lugar entre os mestres da nação judaica, mas preferiu levar o evangelho aos pobres. Ia de lugar a lugar, para que os que se achavam nos caminhos e atalhos pudessem ouvir as palavras da verdade. Na praia, nas encostas das montanhas, nas ruas da cidade, nas sinagogas, Sua voz se fazia ouvir explicando as Escrituras. Muitas vezes ensinava no pátio do templo, a fim de os gentios Lhe poderem ouvir as palavras. CBVc 9 7 Os ensinos de Cristo eram tão diferentes das explicações bíblicas feitas pelos escribas e fariseus que prendiam a atenção do povo. Os rabis apegavam-se à tradição, às teorias e especulações humanas. Muitas vezes, o que os homens haviam ensinado e escrito acerca das Escrituras era posto em lugar delas próprias. O tema dos ensinos de Cristo era a Palavra de Deus. Ele respondia aos inquiridores com um positivo "Está escrito" (Mateus 4:4), "Que diz a Escritura?" (Romanos 4:3), "Como lês?" Lucas 10:26. Em todas as oportunidades, despertando-se em um amigo ou adversário qualquer interesse, Ele apresentava a Palavra. Proclamava a mensagem evangélica de maneira clara e poderosa. Suas palavras derramavam abundante luz sobre os ensinos dos patriarcas e profetas, e as Escrituras chegavam aos homens como uma nova revelação. Nunca antes haviam Seus ouvintes percebido na Palavra de Deus tal profundeza de sentido. CBVc 10 1 Jamais houve um evangelista como Cristo. Ele era a majestade do Céu, mas humilhou-Se para tomar nossa natureza, a fim de chegar até ao homem na condição em que se achava. A todos, ricos e pobres, livres e servos, Cristo, o Mensageiro do concerto, trouxe as boas-novas de salvação. Sua fama como o grande Operador de curas espalhou-se por toda a Palestina. Os enfermos iam para os lugares por onde Ele devia passar, a fim de poderem encontrar auxílio. Iam também muitas criaturas ansiosas de Lhe ouvir as palavras e receber o toque de Sua mão. Assim ia de cidade em cidade, de vila em vila, pregando o evangelho e curando os enfermos -- o Rei da glória na humilde veste humana. CBVc 10 2 Assistia às grandes festas anuais da nação, e falava das coisas celestes às multidões absortas nas cerimônias exteriores, trazendo a eternidade ao alcance de sua visão. Dos celeiros da sabedoria tirava tesouros para todos. Falava-lhes em linguagem tão simples que não podiam deixar de entender. Por métodos inteiramente Seus, ajudava a todos quantos se achavam em aflição e dor. Com graça e cortesia, ajudava a alma enferma de pecado, levando-lhe saúde e vigor. CBVc 10 3 Príncipe dos mestres, buscava acesso ao povo por meio de suas mais familiares relações. Apresentava a verdade de maneira que daí em diante ela estaria sempre entretecida no espírito de Seus ouvintes com suas mais sagradas recordações e afetos. Ensinava-os de maneira que os fazia sentir quão perfeita era Sua identificação com os interesses e a felicidade deles. Suas instruções eram tão diretas, tão adequadas Suas ilustrações, Suas palavras tão cheias de simpatia e animação, que os ouvintes ficavam encantados. A simplicidade e sinceridade com que Se dirigia aos necessitados santificavam cada palavra. CBVc 10 4 Que vida atarefada levou Ele! Dia a dia podia ser visto entrando nas humildes habitações da miséria e da dor, dirigindo palavras de esperança aos abatidos, e de paz aos aflitos. Cheio de graça, sensível e clemente, andava erguendo os desfalecidos e confortando os tristes. Aonde quer que fosse, levava bênçãos. CBVc 10 5 Enquanto ajudava os pobres, Jesus estudava também os meios de atingir os ricos. Procurava travar relações com o rico e culto fariseu, o nobre judeu e a autoridade romana. Aceitava-lhes os convites, assistia a suas festas, tornava-Se familiar com os interesses e ocupações deles, a fim de obter acesso ao seu coração, e revelar-lhes as imperecíveis riquezas. CBVc 11 6 Cristo veio a este mundo para mostrar que, mediante o recebimento de poder do alto, o homem pode levar vida imaculada. Com incansável paciência e assistência compassiva, ia ao encontro dos homens nas suas necessidades. Pelo suave contato da graça, bania da alma o desassossego e a dúvida, transformando a inimizade em amor e a incredulidade em confiança. CBVc 11 1 Podia dizer a quem Lhe aprouvesse: "Segue-Me", e aquele a quem Se dirigia levantava-se e O seguia. Quebrava-se o encanto da fascinação do mundo. Ao som de Sua voz, fugia do coração o espírito de avidez e ambição, e os homens levantavam-se, libertos, para seguir o Salvador. CBVc 11 2 Serviço pessoal -- Cristo não negligenciava oportunidade alguma de proclamar o evangelho da salvação. Escutai Suas maravilhosas palavras àquela única mulher, de Samaria. Achava-Se sentado junto ao poço de Jacó, quando ela foi tirar água. Para surpresa dela, pediu-lhe um favor. "Dá-Me de beber", disse Ele. João 4:7. Queria uma bebida refrigerante, e desejava também abrir o caminho pelo qual lhe pudesse dar a água da vida. "Como", disse a mulher, "sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus e quem é O que te diz: Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva. [...] Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". João 4:9, 10, 13, 14. CBVc 11 3 Quanto interesse manifestou Cristo nessa única mulher! Quão fervorosas e eloqüentes foram Suas palavras! Ao ouvi-las, a mulher deixou seu cântaro e foi à cidade, dizendo aos amigos: "Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é este o Cristo?" João 4:29. Lemos que "muitos dos samaritanos daquela cidade creram nEle". João 4:39. E quem pode avaliar a influência que essas palavras exerceram para a salvação de pessoas nos anos que se passaram desde então? CBVc 11 4 Onde quer que os corações se abram para receber a verdade, Cristo está pronto a instruí-los. Revela-lhes o Pai, e o serviço aceitável Àquele que lê o coração. Para esses não usa Ele de parábolas. Diz-lhes como à mulher junto à fonte: "Eu o sou, Eu que falo contigo". João 4:26. ------------------------Capítulo 2 -- Com a natureza e com Deus CBVc 12 1 A vida do Salvador na Terra foi de comunhão com a natureza e com Deus. Nessa comunhão, Ele revelou-nos o segredo de uma vida de poder. CBVc 12 2 Jesus era trabalhador fervoroso e constante. Jamais existiu entre os homens alguém tão carregado de responsabilidades. Jamais outro conduziu tão pesado fardo das dores e pecados do mundo. Jamais outro labutou com um zelo tão consumidor de si próprio, pelo bem dos homens. Todavia, teve uma vida saudável. Física bem como espiritualmente, Ele era representado pelo cordeiro sacrifical, "imaculado e incontaminado". 1 Pedro 1:19. No corpo e na alma, era um exemplo do que Deus designava que fosse toda a humanidade por meio da obediência a Suas leis. CBVc 12 3 Quando se olhava para Jesus, via-se um rosto em que a divina compaixão se misturava com um poder consciente. Ele parecia circundado de uma atmosfera de vida espiritual. Suas maneiras eram suaves e despretensiosas, mas Ele impressionava as pessoas com um senso de poder que, embora oculto, não podia ser inteiramente dissimulado. CBVc 12 4 Durante Seu ministério, Ele foi continuamente perseguido por homens astutos e hipócritas, que Lhe buscavam a vida. Espias andavam nos Seus passos, espreitando-Lhe as palavras, para encontrar ocasião contra Ele. Os mais argutos e cultos espíritos da nação buscavam derrotá-Lo em debate. Nunca, porém, puderam conseguir qualquer vantagem. Tinham de retirar-se do campo, confundidos e envergonhados pelo humilde Mestre da Galiléia. O ensino de Cristo possuía uma novidade e um poder que os homens nunca tinham conhecido antes. Seus próprios inimigos eram forçados a confessar: "Nunca homem algum falou assim como este homem". João 7:46. CBVc 12 5 A infância de Jesus, passada na pobreza, não fora contaminada pelos hábitos artificiais de uma era corrupta. Trabalhando ao banco de carpinteiro, desempenhando as responsabilidades da vida doméstica, aprendendo as lições da obediência e da labuta, encontrava recreação entre as cenas da natureza, colhendo conhecimento enquanto buscava compreender os mistérios dessa natureza. Estudava a Palavra de Deus, e as horas de maior felicidade para Ele eram aquelas em que Se podia afastar do cenário de Seus labores e ir para o campo a meditar nos quietos vales, a entreter comunhão com Deus na encosta da montanha, ou entre as árvores da floresta. O alvorecer encontrava-O muitas vezes em algum lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Com cânticos saudava a luz da manhã. Com hinos de gratidão alegrava Suas horas de labor, e levava a alegria celeste ao cansado e ao abatido. CBVc 13 1 Durante Seu ministério, Jesus viveu em grande parte ao ar livre. Suas jornadas de um lugar para outro eram feitas a pé, e muito de Seu ensino foi ministrado ao ar livre também. Ao preparar os discípulos, Ele Se retirava muitas vezes da confusão da cidade para um lugar tranqüilo nos campos, mais em harmonia com as lições de simplicidade, fé e abnegação que lhes desejava ministrar. Foi sob as agasalhantes árvores da encosta da montanha, mas a pouca distância do Mar da Galiléia, que os doze foram chamados ao apostolado, e proferido o Sermão do Monte. CBVc 13 2 Cristo gostava de reunir o povo em torno de Si sob o azul dos céus, numa relvosa encosta, ou à margem de um lago. Ali, rodeado pelas obras por Ele próprio criadas, era-Lhe possível atrair-lhes a atenção das coisas artificiais para as naturais. No crescimento e desenvolvimento da natureza, eram revelados os princípios de Seu reino. Ao erguerem os homens o olhar para os montes de Deus, e contemplarem as maravilhosas obras de Sua mão, podiam aprender preciosas lições de verdade divina. Nos dias futuros, as lições do divino Mestre lhes seriam assim repetidas pelas coisas da natureza. O espírito seria elevado, e o coração encontraria descanso. CBVc 13 3 Aos discípulos que estavam ligados com Ele em Sua obra, Jesus dava muitas vezes licença por algum tempo, a fim de irem visitar a família e descansar; mas em vão se esforçavam eles por afastá-Lo de Seus labores. O dia todo atendia às multidões que iam ter com Ele e, ao anoitecer, ou bem cedo de manhã, retirava-Se para o santuário das montanhas em busca de comunhão com o Pai. CBVc 13 4 Muitas vezes o incessante trabalho e a luta com a inimizade e os falsos ensinos dos rabis O deixavam tão fatigado que Sua mãe e irmãos, e mesmo os discípulos, receavam que Sua vida fosse sacrificada. Mas, ao voltar das horas de oração que encerravam o atarefado dia, notavam-Lhe o aspecto sereno do rosto, o vigor, a vida e o poder de que todo o Seu ser parecia possuído. Das horas passadas a sós com Deus Ele saía, manhã após manhã, para levar aos homens a luz do Céu. CBVc 13 5 Foi justamente depois de voltarem da primeira viagem missionária que Jesus disse aos discípulos: "Vinde [...] à parte [...] e repousai um pouco." Os discípulos haviam voltado cheios de alegria por seu êxito como arautos do evangelho, quando os alcançaram as novas da morte de João Batista às mãos de Herodes. Foi para eles amarga tristeza e decepção. Jesus sabia que, deixando o Batista a morrer na prisão, provara severamente a fé dos discípulos. Com piedosa ternura, contemplou-lhes o semblante entristecido, manchado de lágrimas. Lágrimas umedeciam-Lhe também os olhos e a voz, ao dizer: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco". Marcos 6:31. CBVc 14 1 Próximo de Betsaida, na extremidade norte do Mar da Galiléia, havia uma solitária região, embelezada com o luxuriante verde da primavera, a qual oferecia convidativo retiro a Jesus e Seus discípulos. Para ali partiram, atravessando o lago em seu bote. Ali podiam descansar, afastados do tumulto da multidão. Ali podiam os discípulos escutar as palavras de Cristo, sem ser perturbados pelas réplicas e acusações dos fariseus. Ali também esperavam fruir um breve período de associação uns com os outros e com seu Senhor. CBVc 14 2 Pouco tempo apenas esteve Jesus sozinho com Seus amados, mas quão preciosos foram para eles aqueles momentos! Falaram juntos acerca da obra do evangelho e da possibilidade de tornarem sua tarefa mais eficaz quanto a alcançar o povo. Ao Jesus expor-lhes os tesouros da verdade, foram como que vitalizados por divino poder, e inspirados de esperança e coragem. CBVc 14 3 Mas dentro em pouco foi Ele novamente procurado pela multidão. Supondo que houvesse ido a Seu lugar habitual de retiro, o povo ali O seguiu. Foi frustrada Sua esperança de conseguir sequer uma hora de repouso. Mas, nas profundezas de Seu puro e compassivo coração, o bom Pastor das ovelhas só teve amor e piedade para com aquelas desassossegadas e sedentas. O dia todo ministrou-lhes às necessidades, e ao anoitecer os despediu para que voltassem a casa a descansar. CBVc 14 4 Numa vida inteiramente devotada ao bem dos outros, o Salvador achava necessário desviar-Se da incessante atividade e do contato com as necessidades humanas, a fim de buscar o retiro e a inteira comunhão com o Pai. Ao partirem as multidões que O haviam seguido, Ele vai para as montanhas, e ali, a sós com Deus, derrama a alma em oração por essas criaturas sofredoras, pecadoras e necessitadas. CBVc 14 5 Quando Jesus disse aos discípulos que a seara era grande, e poucos os obreiros, não insistiu quanto à necessidade de incessante lida, mas disse-lhes: "Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a Sua seara". Mateus 9:38. A Seus esgotados obreiros de hoje, da mesma maneira que aos primeiros discípulos, dirige Ele estas palavras de compaixão: "Vinde vós, aqui à parte, [...] e repousai um pouco". Marcos 6:31. CBVc 14 6 Todos quantos se acham sob as instruções de Deus precisam da hora tranqüila para comunhão com o próprio coração, com a natureza e com Deus. Neles se deve revelar uma vida não em harmonia com o mundo, seus costumes e práticas; é-lhes necessário experiência pessoal em obter o conhecimento da vontade de Deus. Devemos, individualmente, ouvi-Lo falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e, em sossego, esperamos diante dEle, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus. Ele nos manda: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus". Salmos 46:10. Este é o preparo eficaz para todo trabalho feito para o Senhor. Entre o vaivém da multidão e a tensão das intensas atividades da vida, aquele que é assim refrigerado será circundado de uma atmosfera de luz e de paz. Receberá nova dotação de resistência física e mental. Sua vida exalará uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens. ------------------------Capítulo 3 -- O toque da fé CBVc 16 1 Se eu tão-somente tocar a Sua veste, ficarei sã". Mateus 9:21. Foi uma pobre mulher que proferiu essas palavras -- uma mulher que por doze anos sofrera de doença que lhe tornara a vida um fardo. Gastara todos os seus recursos com médicos e remédios, apenas para ser desenganada. Ao ouvir, porém, falar no grande Médico, reviveram-lhe as esperanças. Pensou: "Se tão-somente eu me pudesse aproximar o bastante para falar-Lhe, havia de sarar." CBVc 16 2 Cristo estava a caminho para a casa de Jairo, o rabino judeu que Lhe rogara que fosse e curasse sua filha. Sua desolada súplica: "Minha filha está moribunda; rogo-Te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva" (Marcos 5:23) tocara o terno e compassivo coração de Cristo, e pôs-Se imediatamente a caminho com o príncipe para sua casa. CBVc 16 3 Avançavam lentamente, pois a multidão apertava a Cristo de todos os lados. Ao abrir caminho por entre a turba, o Salvador aproximou-Se do lugar em que se achava a enferma. Repetidamente buscou chegar perto dEle. Eis agora sua oportunidade. Ela não via um jeito de Lhe falar. Não buscaria entravar-Lhe a vagarosa marcha. Mas ouvira dizer que sobrevinha cura a um toque de Suas vestes; e, temendo perder o único ensejo de cura, forçou passagem para diante, dizendo consigo mesma: "Se eu tão-somente tocar a Sua veste, ficarei sã". Mateus 9:21. CBVc 16 4 Cristo sabia todos os seus pensamentos, e dirigia os passos em direção a ela. Compreendia-lhe a grande necessidade, e a estava ajudando a exercer fé. CBVc 16 5 Ao Ele passar, a mulher se adiantou e conseguiu tocar-lhe de leve na orla do vestido. No mesmo momento, percebeu que estava curada. Naquele único toque concentrara a fé de sua vida, e instantaneamente desapareceram-lhe a dor e a fraqueza. Sentiu no mesmo instante a comoção como de uma corrente elétrica que lhe perpassasse pelas fibras do ser. Sobreveio-lhe uma sensação de perfeita saúde. "Sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal". Marcos 5:29. CBVc 16 6 A agradecida mulher desejava exprimir sua gratidão ao poderoso Médico, que mais fizera por ela num único toque do que os doutores tinham feito em doze longos anos; mas não ousava. Com o coração cheio de reconhecimento, procurava subtrair-se à multidão. De repente, Jesus parou e, olhando em volta de Si, perguntou: "Quem é que Me tocou?" Lucas 8:45. CBVc 17 1 Olhando-O surpreendido, Pedro respondeu: "Mestre, a multidão Te aperta e Te oprime, e dizes: Quem é que Me tocou?" Lucas 8:45. "Alguém Me tocou", disse Jesus, "porque bem conheci que de Mim saiu virtude". Lucas 8:46. Ele podia distinguir o toque da fé do contato casual da multidão descuidosa. Alguém O tocara com um desígnio profundo, e recebera resposta. CBVc 17 2 Cristo não fez a pergunta por causa de Si mesmo. Tinha uma lição para o povo, para os discípulos e a mulher. Desejava inspirar esperança aos aflitos e mostrar que fora a fé que trouxera o poder restaurador. A confiança da mulher não devia ser passada por alto, sem comentário. Deus devia ser glorificado por sua grata confissão. Cristo desejava que ela compreendesse que Ele aprovava seu ato de fé. Não queria que se afastasse apenas com metade da bênção. Ela não devia ficar sem saber que Ele conhecia seu sofrimento, nem seu compassivo amor, e Sua aprovação à fé que depositara em Seu poder de salvar perfeitamente a todo que a Ele se dirige. CBVc 17 3 Olhando para a mulher, Cristo insistiu em saber quem O havia tocado. Vendo que era inútil ocultar-se, ela se adiantou tremendo, e prostrou-se a Seus pés. Com lágrimas de gratidão contou-Lhe, perante todo o povo, porque Lhe tocara nas vestes, e como havia sido imediatamente curada. Temia que seu ato em tocar-Lhe a vestimenta fosse uma presunção; mas nenhuma palavra de censura saiu dos lábios de Cristo. Só proferiu palavras de aprovação. Estas provinham de um coração de amor, cheio de simpatia pelo infortúnio. "Tem bom ânimo, filha", disse suavemente; "a tua fé te salvou; vai em paz". Lucas 8:48. Quão animadoras foram essas palavras para ela! Agora nenhum temor de haver ofendido lhe amargurou a alegria. CBVc 17 4 Aos curiosos da turba que se comprimia em volta de Jesus, não havia sido comunicado nenhum poder vital. Mas a sofredora mulher que Lhe tocara com fé recebera cura. Assim nas coisas espirituais difere o contato casual do toque da fé. Crer em Cristo meramente como o Salvador do mundo jamais trará cura à alma. A fé que é para salvação não é um simples assentimento à verdade do evangelho. Fé verdadeira é a que recebe a Cristo como Salvador pessoal. Deus deu Seu Filho unigênito, para que eu, crendo nEle, "não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Quando me aproximo de Cristo, segundo a Sua palavra, cumpre-me acreditar que recebo Sua graça salvadora. A vida que agora vivo, devo viver "na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim". Gálatas 2:20. CBVc 17 5 Muitos têm a fé como uma opinião. A fé salvadora é um acordo pelo qual os que recebem a Cristo se unem em concerto com Deus. Uma fé viva quer dizer aumento de vigor, segura confiança, pela qual, mediante a graça de Cristo, a alma se torna um poder vitorioso. CBVc 17 6 A fé é um conquistador mais poderoso do que a morte. Se o doente puder ser levado a fixar com fé os olhos no poderoso Médico, veremos maravilhosos resultados. Ela trará vida ao corpo e à alma. CBVc 18 1 Ao trabalhar em favor das vítimas de maus hábitos, em lugar de lhes apontar o desespero e a ruína para os quais se precipitam, fazei-os volver os olhos a Jesus. Fazei-os fixá-los nas glórias do celestial. Isso fará mais pela salvação do corpo e da alma do que farão todos os terrores da sepultura quando postos diante dos destituídos de força e, aparentemente, de esperanças. CBVc 18 2 "Sua misericórdia nos salvou" -- O servo de um centurião estava enfermo de paralisia. Entre os romanos, os servos eram escravos, comprados e vendidos nos mercados, e muitas vezes tratados rude e cruelmente; mas o centurião era ternamente afeiçoado a seu servo, e desejava grandemente seu restabelecimento. Acreditava que Jesus podia curá-lo. Não tinha visto o Salvador, mas as notícias que ouvira lhe haviam inspirado fé. Apesar do formalismo dos judeus, esse romano estava convencido de que a religião judaica era superior à dele. Já rompera as barreiras do preconceito e ódio nacionais que separavam o vencedor do povo vencido. Manifestara respeito pelo culto a Deus, e mostrara bondade para com os judeus como Seus adoradores. Nos ensinos de Cristo, segundo lhe haviam sido transmitidos, ele encontrara aquilo que satisfazia a necessidade da alma. Tudo quanto nele havia de espiritual correspondia às palavras do Salvador. Mas julgava-se indigno de se aproximar de Jesus, e apelou para os anciãos dos judeus para que apresentassem a petição em favor da cura de seu servo. CBVc 18 3 Os anciãos apresentaram o caso a Jesus, insistindo nas palavras: "É digno de que lhe concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga". Lucas 7:4, 5. CBVc 18 4 Mas, a caminho para a casa do centurião, Jesus recebe uma mensagem do próprio oficial aflito: "Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado". Lucas 7:6. CBVc 18 5 Todavia, o Salvador prossegue em Seu caminho, e o centurião vai em pessoa para completar a mensagem, dizendo: "Nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai; e ele vai; e a outro: Vem; e ele vem; e ao meu servo: Faze isto; e ele o faz". Lucas 7:7, 8. CBVc 18 6 "Eu represento o poder de Roma, e meus soldados reconhecem minha autoridade como suprema. Assim representas Tu o poder do infinito Deus, e todas as coisas criadas obedecem à Tua palavra. Podes ordenar à doença que se vá, e ela Te obedecerá. Fala somente uma palavra, e meu servo estará curado." CBVc 18 7 "Vai", disse Cristo, "e como creste te seja feito. E, naquela mesma hora, o seu criado sarou". Mateus 8:13. CBVc 18 8 Os anciãos judaicos haviam recomendado o centurião a Cristo por causa do favor mostrado a "nossa nação". "É digno...", disseram eles, "porque [...] ele mesmo nos edificou a sinagoga". Lucas 7:4, 5. Mas o centurião disse de si mesmo: "Não sou digno". Lucas 7:6. No entanto, ele não temeu pedir auxílio a Jesus. Não confiou ele em sua bondade, mas na misericórdia do Salvador. Seu único argumento era sua grande necessidade. CBVc 19 1 Da mesma maneira se pode aproximar de Cristo toda criatura humana. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou". Tito 3:5. Sentis que, por serdes pecador, não podeis esperar receber bênçãos de Deus? Lembrai-vos de que Cristo veio ao mundo para salvar pecadores. Nada temos que nos recomende a Deus; a alegação em que podemos insistir agora e sempre é nossa condição de inteiro desamparo, que torna uma necessidade Seu poder redentor. Renunciando a toda confiança em nós mesmos, podemos olhar a cruz do Calvário, e dizer:"O preço do resgate eu não o tenho, mas à Tua cruz prostrado me sustenho." CBVc 19 2 "Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê". Marcos 9:23. É a fé que nos liga ao Céu, e nos traz força para resistir aos poderes das trevas. Deus providenciou, em Cristo, meios para vencer todo mau traço de caráter, e resistir a toda tentação, por mais forte que seja. Mas muitos sentem que lhes falta fé, e assim permanecem afastados de Cristo. Que essas almas, em sua impotente indignidade, se lancem sobre a misericórdia de seu compassivo Salvador. Não olheis a vós mesmos, mas a Cristo. Aquele que curara os enfermos e expulsara demônios quando andava entre os homens, é ainda o mesmo poderoso Redentor. Agarrai, pois, Suas promessas como folhas da árvore da vida: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora". João 6:37. Ao irdes a Ele, crede que vos aceitará, porque vos tem prometido. Nunca podereis perecer enquanto assim fizerdes -- nunca. CBVc 19 3 "Deus prova o Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". Romanos 5:8. E "se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:31, 32. CBVc 19 4 "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" Romanos 8:38, 39. CBVc 19 5 Descanso -- Com ternura pedia ao fatigado povo: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma". Mateus 11:29. CBVc 19 6 Por essas palavras, Cristo Se dirigia a todos os seres humanos. Saibam-no eles ou não, todos se acham cansados e oprimidos. Todos estão vergados sob fardos que unicamente Cristo pode remover. O mais pesado fardo que levamos é o do pecado. Se fôssemos deixados a suportar-lhe o peso, ele nos esmagaria. Mas Aquele que era sem pecado tomou-nos o lugar. "O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos". Isaías 53:6. CBVc 20 1 Ele carregou o fardo de nossa culpa. Ele tomará o peso de nossos cansados ombros. Ele nos dará descanso. O fardo de cuidado e aflição, Ele o conduzirá também. Convida-nos a lançar sobre Ele toda a nossa solicitude; pois traz-nos sobre o coração. CBVc 20 2 O Irmão mais velho de nossa família acha-Se ao lado do trono eterno. Olha para toda pessoa que volve o rosto para Ele como o Salvador. Conhece por experiência as fraquezas da humanidade, nossas necessidades e onde está a força de nossas tentações; pois "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado". Hebreus 4:15. Está vigiando por ti, tremente filho de Deus. Estás tentado? Ele te livrará. Estás fraco? Ele te fortalecerá. És ignorante? Ele te esclarecerá. Estás ferido? Ele te há de curar. O Senhor "conta o número das estrelas", todavia "sara os quebrantados de coração, e liga-lhes as feridas". Salmos 147:4, 3. CBVc 20 3 Sejam quais forem vossas ansiedades e provações, exponde o caso perante o Senhor. Vosso espírito será fortalecido para a resistência. O caminho se abrirá para vos libertardes de todo embaraço e dificuldade. Quanto mais fraco e impotente vos reconhecerdes, tanto mais forte vos tornareis em Sua força. Quanto mais pesados os vossos fardos, tanto mais abençoado o descanso em os lançar sobre vosso Ajudador. CBVc 20 4 As circunstâncias podem separar amigos; as ondas desassossegadas do vasto mar podem rolar entre nós e eles. Mas nenhuma circunstância, distância alguma nos pode separar do Salvador. Estejamos onde estivermos, Ele Se acha à nossa mão direita para sustentar, manter, proteger e animar. Maior que o amor de uma mãe por seu filho, é o de Cristo por seus remidos. É nosso privilégio descansar em Seu amor; dizer: "Nele confiarei; pois deu a Sua vida por mim." CBVc 20 5 O amor humano pode mudar; mas o amor de Cristo não conhece variação. Quando a Ele clamamos por socorro, Sua mão está estendida para salvar. CBVc 20 6 "As montanhas se desviarão E os outeiros tremerão; Mas a Minha benignidade não se desviará de ti, E o concerto da Minha paz não mudará, Diz o Senhor, que Se compadece de ti" Isaías 54:10. ------------------------Capítulo 4 -- A cura da alma CBVc 21 1 Muitos dos que iam ter com Cristo em busca de auxílio, haviam trazido sobre si a enfermidade; todavia, Ele não Se recusava a curá-los. E quando a virtude que dEle provinha penetrava nessas pessoas, elas experimentavam a convicção do pecado, e muitos eram curados de sua enfermidade espiritual, bem como da doença física. CBVc 21 2 Entre esses estava o paralítico de Cafarnaum. Como o leproso, esse paralítico perdera toda esperança de restabelecimento. Sua doença era o resultado de uma vida pecaminosa, e seus sofrimentos eram amargurados pelo remorso. Em vão apelara para os fariseus e os doutores em busca de alívio; pronunciaram incurável o seu mal, declararam que havia de morrer sob a ira de Deus. CBVc 21 3 O paralítico imergira no desespero. Ouviu então contar as obras de Jesus. Outros, tão pecadores e desamparados como ele, haviam sido curados, e foi animado a crer que também ele o poderia ser, se fosse levado ao Salvador. Sua esperança quase se desvaneceu ao lembrar-se da causa de seu mal, todavia não podia rejeitar a possibilidade da cura. CBVc 21 4 Seu grande desejo era o alívio do grande fardo do pecado. Ansiava ver a Jesus, e receber a certeza do perdão e a paz com o Céu. Então estaria contente de viver ou morrer, segundo a vontade de Deus. CBVc 21 5 Não havia tempo a perder; sua carne consumida já apresentava indícios de morte. Suplicou aos amigos que o conduzissem em seu leito a Jesus, o que empreenderam satisfeitos. Tão compacta era, porém, a multidão que se aglomerara dentro e em volta da casa em que estava o Salvador, que era impossível ao doente e seus amigos chegarem até Ele, ou mesmo pôr-se-Lhe ao alcance da voz. Jesus estava ensinando na casa de Pedro. Segundo seu costume, os discípulos sentaram-se ao Seu redor, "e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém". Lucas 5:17. Muitos deles tinham ido como espiões, buscando acusação contra Jesus. Além destes apinhava-se a promíscua multidão, os fervorosos, os reverentes, os curiosos e os incrédulos. Achavam-se representadas diferentes nacionalidades e todos os graus sociais. "E a virtude do Senhor estava com Ele para curar". Lucas 5:17. O Espírito de vida pairava sobre a assembléia, mas os fariseus e os doutores não Lhe discerniam a presença. Não experimentavam nenhum sentimento de necessidade, e a cura não era para eles. "Encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos". Lucas 1:53. CBVc 22 1 Repetidamente procuraram os condutores do paralítico forçar caminho por entre a multidão, mas nulos eram seus esforços. O doente olhava em redor com inexprimível angústia. Como poderia ele abandonar a esperança quando tão perto estava o anelado auxílio? Por sugestão sua, os amigos o suspenderam para o telhado da casa e, abrindo o teto, baixaram-no aos pés de Jesus. CBVc 22 2 O discurso foi interrompido. O Salvador contemplou a dolorosa fisionomia, e viu os olhos súplices nEle cravados. Bem conhecia Ele o anelo daquela alma oprimida. Fora Cristo quem lhe infundira convicção à consciência quando ele ainda se achava na própria casa. Quando se arrependera de seus pecados, e crera no poder de Jesus para restaurá-lo, a misericórdia do Salvador lhe abençoara o coração. Jesus observava o desenvolver-se no primeiro tênue raio de fé a convicção de que Ele era o único auxílio do pecador, e a vira se fortalecer a cada esforço por chegar à Sua presença. Fora Cristo que atraíra o sofredor a Si. Agora, em palavras que soavam qual música aos ouvidos atentos do enfermo, o Salvador disse: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados". Mateus 9:2. CBVc 22 3 O peso da culpa cai da alma do doente. Não pode duvidar. As palavras de Cristo revelam Seu poder de ler o coração. Quem pode negar Seu poder de perdoar pecados? A esperança toma o lugar do desespero, e a alegria o do opressivo acabrunhamento. Desaparece o sofrimento físico do homem, e todo o seu ser se acha transformado. Sem mais nada pedir, repousa em tranqüilo silêncio, demasiado feliz para falar. CBVc 22 4 Com a respiração suspensa de interessados que estavam, muitos observavam cada gesto nesse estranho acontecimento. Muitos sentiam que as palavras de Cristo eram um convite para eles mesmos. Não eram eles enfermos da alma por causa do pecado? Não estavam ansiosos de ser libertados desse fardo? CBVc 22 5 Mas os fariseus, receosos de perder a influência para com o povo, diziam em seu coração: "Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Marcos 2:7. CBVc 22 6 Fixando neles o olhar, sob o qual se intimidaram e retrocederam, Jesus disse: "Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados", disse Ele voltando-Se para o paralítico: "Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa". Mateus 9:4-6. CBVc 22 7 Então aquele que havia sido levado num leito a Jesus pôs-se de pé com a elasticidade e a força de um jovem. E "tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos". Marcos 2:12. CBVc 22 8 Nada menos que poder criador exigia o restituir à saúde aquele decadente corpo. A mesma voz que comunicou vida ao homem criado do pó da terra infundira vida ao paralítico moribundo. E o mesmo poder que dera vida ao corpo renovara o coração. Aquele que, na criação, "falou, e tudo se fez", que "mandou, e logo tudo apareceu" ((Salmos 33:9), comunicara vida à alma morta em ofensas e pecados). A cura do corpo era uma evidência do poder que renovara o coração. Cristo mandou que o paralítico se erguesse e andasse, "para que saibais", disse Ele, "que o Filho do Homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados". Mateus 9:6. CBVc 23 1 O paralítico encontrou em Cristo tanto a cura da alma como a do corpo. Ele necessitava saúde da alma antes de poder apreciar a do corpo. Antes de poder ser curada a enfermidade física, Cristo precisava dar alívio à mente, e purificar a alma do pecado. Essa lição não deve ser passada por alto. Existem hoje milhares de pessoas a sofrer de doenças físicas, as quais, como o paralítico, estão ansiando a mensagem: "Perdoados te são os teus pecados". Mateus 9:2. O fardo do pecado, com seu desassossego e desejos não satisfeitos, é o fundamento de sua doença. Não podem encontrar alívio enquanto não forem ter com o Médico da alma. A paz que tão-somente Ele pode comunicar restituiria vigor à mente e saúde do corpo. CBVc 23 2 O efeito produzido no povo pela cura do paralítico foi como se o céu se houvesse aberto e revelado as glórias do mundo melhor. Ao passar por entre a multidão o homem que tinha sido curado, bendizendo a Deus a cada passo, e levando sua carga como se fossem penas, o povo recuava para lhe dar passagem e fitava-o com fisionomia cheia de respeito, murmurando suavemente entre si: "Hoje, vimos prodígios". Lucas 5:26. CBVc 23 3 Grande regozijo houve na casa do paralítico quando ele voltou para a família, levando com facilidade o leito em que fora penosamente conduzido dentre eles, pouco antes. Reuniram-se ao seu redor com lágrimas de alegria, mal ousando crer no que seus olhos viam. Ele ali estava no pleno vigor da varonilidade. Aqueles braços que antes estavam sem vida, achavam-se agora prontos a obedecer-lhe à vontade. A carne antes encolhida e arroxeada era agora fresca e rosada. Ele caminhava com passo firme e desembaraçado. Alegria e esperança achavam-se impressos em cada traço de seu rosto; e uma expressão de pureza e paz havia tomado o lugar dos vestígios do pecado e do sofrimento. Alegres ações de graças subiram daquele lar, e Deus foi glorificado por meio de Seu Filho, que restituíra a esperança ao destituído dela, e força ao abatido. Esse homem e sua família estavam prontos a dar a vida por Jesus. Nenhuma dúvida ofuscava sua fé; nenhuma descrença lhes prejudicava a fidelidade para com Aquele que lhes trouxera luz ao ensombrado lar. CBVc 23 4 "Não peques mais" -- Acabara a Festa dos Tabernáculos. Os sacerdotes e rabis em Jerusalém haviam sido logrados em suas tramas contra Jesus, e ao cair da noite "cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o Monte das Oliveiras". João 7:53-8:1. CBVc 23 5 Fugindo à agitação e confusão da cidade, às turbas ansiosas e aos traiçoeiros rabis, Jesus desviou-Se para o sossego dos bosques das oliveiras, onde podia estar a sós com Deus. De manhã cedo, porém, voltou ao templo; e, ajuntando-se o povo em torno dEle, sentou-Se e pôs-Se a ensinar. CBVc 24 1 Foi logo interrompido. Um grupo de fariseus e escribas aproximou-se dEle, arrastando consigo uma mulher possuída de terror, a quem, com veemência e dureza, acusavam de haver violado o sétimo mandamento. Empurrando-a para a presença de Jesus, disseram, com hipócrita manifestação de respeito: "Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando, e, na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?" João 8:4, 5. CBVc 24 2 Sua fingida reverência encobria uma trama astutamente urdida para Sua ruína. Se Jesus absolvesse a mulher, seria acusado de desprezar a lei de Moisés. Se a declarasse digna de morte, poderia ser acusado aos romanos como alguém que pretendia autoridade que unicamente a eles pertencia. CBVc 24 3 Jesus contemplou a cena -- a trêmula vítima em sua vergonha, a fisionomia dura dos dignitários, destituídos de simples piedade humana. Seu espírito de imaculada pureza como que recuou do espetáculo. Sem dar nenhum sinal de haver ouvido a pergunta, curvou-Se e, fixando os olhos no chão, pôs-Se a escrever na areia. CBVc 24 4 Impacientes com Sua demora e aparente indiferença, os acusadores aproximaram-se mais, insistindo em Lhe chamar a atenção para o assunto. Mas, quando seus olhos, seguindo os de Jesus, caíram no chão a Seus pés, suas vozes emudeceram. Ali, traçados diante deles, achavam-se os criminosos segredos da vida de cada um. CBVc 24 5 Erguendo-Se, e fixando os olhos nos astuciosos anciãos, Jesus disse: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela". João 8:7. E, inclinando-Se, continuou a escrever. CBVc 24 6 Ele não pusera de lado a lei mosaica, nem desrespeitara a autoridade romana. Os acusadores foram derrotados. Agora, havendo-lhes sido arrancadas as vestes de pretendida santidade, ali estavam, culpados e condenados, em presença da infinita pureza. Tremendo, não fosse a oculta iniqüidade de sua vida exposta perante a multidão, cabisbaixos, retiraram-se furtivamente, deixando sua vítima com o compassivo Salvador. CBVc 24 7 Jesus ergueu-Se e, olhando para a mulher, disse: "Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem Eu também te condeno; vai-te e não peques mais". João 8:10, 11. CBVc 24 8 A mulher estivera diante de Jesus toda encolhida de temor. Suas palavras: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela" (João 8:7), soaram-lhe aos ouvidos como uma sentença de morte. Ela não ousava erguer os olhos para o rosto do Salvador, mas esperava em silêncio sua condenação. Com espanto viu os acusadores retirarem-se mudos e confundidos; então, chegaram-lhe ao ouvido aquelas palavras de esperança: "Nem Eu também te condeno; vai-te e não peques mais". João 8:11. Enterneceu-se o coração, e atirando-se aos pés de Jesus, soluçou seu reconhecido amor, e com amargo pranto confessou seus pecados. CBVc 25 1 Isso foi para ela o começo de uma nova vida, uma vida de pureza e paz, devotada a Deus. No reerguimento dessa alma caída, Jesus realizou um milagre maior do que na cura da mais terrível doença; curou a doença espiritual que produz morte eterna. Esta arrependida mulher tornou-se um de Seus mais firmes seguidores. Com abnegado amor e devoção, mostrou seu reconhecimento pela perdoadora misericórdia de Jesus. Para essa desviada mulher não tinha o mundo senão desprezo e zombaria; mas Aquele que é sem pecado compadeceu-Se de sua fraqueza, e estendeu-lhe ajudadora mão. Enquanto os fariseus hipócritas acusavam, Jesus mandou-lhe: "Vai-te e não peques mais." CBVc 25 2 Jesus conhece as circunstâncias de toda pessoa. Quanto maior a culpa do pecador, tanto mais necessita ele do Salvador. Seu coração de divino amor e simpatia é atraído acima de tudo para aquele que se acha mais desesperadoramente enredado nos laços do inimigo. Com o próprio sangue assinou Ele a carta de emancipação da raça humana. CBVc 25 3 Jesus não deseja que fiquem desprotegidos ante às tentações de Satanás os que por tal preço foram adquiridos. Não deseja que sejamos vencidos e venhamos a perecer. Aquele que fechou a boca aos leões na cova, e andou com Seus fiéis por entre as chamas da fornalha, está igualmente disposto a trabalhar em nosso favor, a subjugar todo mal em nossa natureza. Hoje, está Ele ao altar da misericórdia, apresentando perante Deus as súplicas dos que Lhe desejam o auxílio. Não repele nenhuma criatura chorosa e arrependida. Perdoa abundantemente a todos quantos vão ter com Ele em busca de perdão e restauração. Ele não conta a ninguém tudo quanto poderia revelar, mas manda a toda alma tremente que tenha ânimo. Quem quiser pode apoderar-se da força de Deus, e fazer paz com Ele, e Ele fará paz. CBVc 25 4 Aqueles que se volvem para Ele em busca de refúgio, Jesus ergue acima das acusações e da contenda das línguas. Nem homem nem anjo mau algum podem comprometê-los. Cristo os liga a Sua própria natureza divino-humana. Eles se acham ao lado do grande Salvador, na luz que procede do trono de Deus. CBVc 25 5 O sangue de Jesus "purifica de todo pecado". 1 João 1:7. "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós". Romanos 8:33, 34. CBVc 25 6 Sobre os ventos e as ondas, e sobre homens possessos de demônios, mostrou Cristo que tinha absoluto poder. Aquele que fez emudecer a tempestade e acalmou o revoltoso mar comunicou paz a espíritos enlouquecidos e subjugados por Satanás. CBVc 25 7 Na sinagoga de Cafarnaum, estava Jesus falando sobre Sua missão de libertar os escravos do pecado. Foi interrompido por um urro de terror. Um louco precipitou-se para a frente, por entre o povo, gritando: "Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus". Marcos 1:24. CBVc 26 1 Jesus repreendeu o demônio, dizendo: "Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal". Lucas 4:35. CBVc 26 2 A causa da aflição desse homem se achava também em sua própria vida. Fora fascinado pelos prazeres do pecado, e pensara tornar a vida um grande carnaval. A intemperança e a frivolidade perverteram os nobres atributos de sua natureza, e Satanás tomou inteira posse dele. O remorso veio muito tarde. Quando ele teria sacrificado riqueza e prazer para reconquistar sua perdida varonilidade, tinha-se tornado impotente nas garras do maligno. CBVc 26 3 Na presença do Salvador foi despertado para ansiar a liberdade; mas o demônio resistia ao poder de Cristo. Quando o homem tentava apelar para Jesus em busca de socorro, o mau espírito pôs-lhe nos lábios as palavras, e ele gritou em angústia de temor. O endemoninhado compreendeu em parte achar-se em presença dAquele que o podia pôr em liberdade; mas quando tentou colocar-se ao alcance daquela poderosa mão, outra vontade o segurou; as palavras de outro foram por ele proferidas. CBVc 26 4 Foi terrível o combate entre o poder de Satanás e seu desejo de libertação. Parecia que o torturado homem devesse perder a vida na luta com o inimigo que fora a ruína de sua varonilidade. Mas o Salvador falou com autoridade e pôs livre o cativo. O homem que estivera possesso achava-se perante o povo maravilhado, na liberdade da posse de si mesmo. CBVc 26 5 Com voz de júbilo deu louvores a Deus pelo livramento. Os olhos que, ainda há pouco, fulguravam com o brilho da loucura, cintilavam agora de inteligência, e nadavam em lágrimas de reconhecimento. O povo emudecera de pasmo. Assim que recuperaram a palavra, exclamavam uns para os outros: "Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!" Marcos 1:27. CBVc 26 6 Hoje existem multidões tão verdadeiramente sob o poder dos maus espíritos como estava o endemoninhado de Cafarnaum. Todos aqueles que voluntariamente se apartam dos mandamentos de Deus estão-se colocando sob o domínio de Satanás. Muito homem brinca com o mal, julgando que o pode deixar quando lhe aprouver; mas é engodado mais e mais, até que se encontra dominado por uma vontade mais forte que a sua própria. Não pode escapar ao seu misterioso poder. Pecado secreto ou paixão dominante o pode reter cativo, tão impotente como se achava o endemoninhado de Cafarnaum. CBVc 26 7 Todavia, sua condição não é desesperadora. Deus não domina nossa mente sem nosso consentimento; mas toda pessoa é livre para escolher o poder que deseja domine sobre ela. Ninguém caiu tão baixo, ninguém há tão vil, que não possa encontrar libertação em Cristo. O endemoninhado, em lugar de oração, não podia proferir senão as palavras de Satanás; porém, o silencioso apelo do seu coração foi ouvido. Nenhum grito de uma alma em necessidade, mesmo sem ser enunciado em palavras, será desatendido. Os que concordam em entrar em concerto com Deus não são deixados entregues ao poder de Satanás ou à enfermidade de sua própria natureza. CBVc 27 1 "Tirar-se-ia a presa ao valente? Ou os presos justamente escapariam? [...] Assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a presa do tirano escapará; porque Eu contenderei com os que contendem contigo e os teus filhos Eu remirei". Isaías 49:24, 25. CBVc 27 2 Maravilhosa será a transformação operada naquele que, pela fé, abre a porta do coração ao Salvador. ------------------------Capítulo 5 -- Salvo para servir CBVc 28 1 Manhã, no Mar da Galiléia. Jesus e Seus discípulos chegaram à praia depois de uma noite tempestuosa sobre as águas, e a luz do sol nascente banha a terra e o mar como a bênção da paz. Ao saltarem na praia, porém, são recebidos por um espetáculo mais terrível que o mar agitado pela tempestade. De lugares ocultos por entre os túmulos, dois loucos precipitam-se sobre eles, como se os quisessem despedaçar. Pendem-lhes em volta restos de correntes que quebraram para escapar da prisão. Sua carne está dilacerada e sangrenta, os olhos brilham dentre o longo e emaranhado cabelo; o próprio aspecto humano parece haver-se neles apagado. Têm mais a aparência de animais selvagens que de homens. CBVc 28 2 Os discípulos e seus companheiros fogem aterrorizados; mas logo percebem que Jesus não Se acha entre eles, e voltam-se à Sua procura. Ele está no mesmo lugar em que O deixaram. Aquele que fizera silenciar a tempestade, que havia anteriormente enfrentado e vencido a Satanás, não foge diante desses demônios. Quando os homens, rangendo os dentes e espumando, se aproximam dEle, Jesus ergue aquela mão que, num gesto, impusera calma aos vagalhões, e eles não se podem aproximar mais. Estacam perante Ele, furiosos, mas impotentes. CBVc 28 3 Com autoridade ordena aos espíritos imundos que saiam deles. Os infelizes homens compreendem estar ali perto Alguém que os pode salvar dos atormentadores demônios. Caem aos pés do Salvador para suplicar misericórdia; mas, quando os lábios se abrem, os demônios falam por eles, bradando: "Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo?" Mateus 8:29. CBVc 28 4 Os maus espíritos são forçados a libertar suas vítimas, e aos possessos sobrevém uma transformação maravilhosa. A luz brilha em sua mente. Os olhos iluminam-se de inteligência. A fisionomia por tanto tempo desfigurada à semelhança de Satanás torna-se de repente branda, aquietam-se as mãos ensangüentadas, e os homens erguem a voz em louvores a Deus. CBVc 28 5 Entretanto os demônios, expulsos de sua humana habitação, entraram nos porcos, impelindo-os à destruição. Seus guardadores correm para anunciar o acontecido, e toda a população aflui ao encontro de Jesus. Os dois endemoninhados haviam sido o terror do lugar. Agora, esses homens estão vestidos e em seu perfeito juízo, sentados aos pés de Jesus escutando-Lhe as palavras, e glorificando o nome dAquele que os curara. Mas os que testemunham essa maravilhosa cena não se regozijam. O prejuízo dos porcos lhes parece de maior importância que a libertação desses cativos de Satanás. Em terror, aglomeram-se em volta de Jesus, rogando-Lhe que se aparte deles, no que os satisfaz, tomando imediatamente o barco para o outro lado. CBVc 29 1 Muito diferente é o sentir dos restaurados possessos. Eles desejam a companhia de seu libertador. Em Sua presença sentem-se seguros contra os demônios que lhes atormentaram a vida e arruinaram a varonilidade. Quando Jesus estava para entrar no barco, mantiveram-se bem próximo dEle e, ajoelhando aos Seus pés, rogam para ficar ao Seu lado, onde poderão ouvir Suas palavras. Mas Jesus lhes pede que vão para casa, e contem quão grandes coisas o Senhor fez por eles. CBVc 29 2 Ali estava uma obra para eles fazerem -- ir a um lar gentio, e contar as bênçãos que haviam recebido de Jesus. Duro lhes é separarem-se do Salvador. Grandes dificuldades os rodearão na convivência com seus conterrâneos pagãos. E o grande afastamento em que tinham vivido da sociedade parece incapacitá-los para esse trabalho. Mas, assim que Ele lhes indica o dever, estão prontos a obedecer-Lhe. CBVc 29 3 Não somente contaram em sua própria casa e na vizinhança o que dizia respeito a Jesus, mas foram por toda a Decápolis, declarando em toda parte Seu poder de salvar e, descrevendo como Ele os libertara dos demônios. CBVc 29 4 Embora o povo de Gergesa não tivesse recebido a Jesus, Ele não os entregou às trevas que haviam preferido. Quando Lhe pediram que os deixasse, não tinham ouvido Suas palavras. Ignoravam aquilo que estavam rejeitando. Enviou-lhes portanto a luz, e por meio daqueles a quem não se recusariam a escutar. CBVc 29 5 Ocasionando a destruição dos porcos, era desígnio de Satanás afastar o povo do Salvador, e impedir a pregação do evangelho naquela região. Mas esta própria ocorrência despertou o povo dali como nenhuma outra coisa poderia ter feito, e atraiu a atenção para Cristo. Conquanto o próprio Salvador partisse, ficaram os homens a quem Ele tinha curado como testemunhas de Seu poder. Aqueles que haviam sido instrumentos do príncipe das trevas tornaram-se condutores de luz, mensageiros do Filho de Deus. Quando Jesus voltou a Decápolis, o povo se aglomerou ao Seu redor, e por três dias milhares de pessoas de todos os arredores ouviram a mensagem de salvação. CBVc 29 6 Os dois endemoninhados restituídos à razão foram os primeiros missionários que Cristo enviou a ensinar o evangelho na região de Decápolis. Apenas pouco tempo haviam esses homens escutado Suas palavras. Nem um sermão de Seus lábios lhes havia caído nos ouvidos. Não podiam instruir o povo como os discípulos, que tinham estado diariamente com Cristo, eram capazes de fazer. Mas podiam contar o que sabiam; o que eles próprios viram e ouviram e sentiram do poder do Salvador. É isto que pode fazer todo aquele cujo coração foi tocado pela graça de Deus. É esse o testemunho que nosso Senhor requer, e por cuja falta está o mundo a perecer. CBVc 30 1 O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, os homens podem possuir semelhança de caráter com Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que demos testemunho de que Ele não pode ficar satisfeito enquanto todos quantos hão de aceitar a salvação não forem reivindicados e reintegrados em seus santos privilégios como Seus filhos e filhas. CBVc 30 2 Mesmo aqueles cujo procedimento Lhe tem sido mais ofensivo, Ele aceita plenamente. Quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, e envia-os ao campo dos desleais para proclamar Sua misericórdia. Almas que têm sido degradadas a instrumentos de Satanás são ainda, pelo poder de Cristo, transformadas em mensageiros de justiça, e mandadas a contar quão grandes coisas o Senhor fez por elas, e como teve compaixão delas. CBVc 30 3 Louvor para sempre -- Depois que a mulher de Cafarnaum fora curada pelo toque da fé, Jesus desejou que ela reconhecesse a bênção que recebera. Os dons que o evangelho oferece não são para uma pessoa deles se apoderar furtivamente, nem fruí-los em segredo. "Vós sois as Minhas testemunhas,diz o Senhor; Eu sou Deus". Isaías 43:12. CBVc 30 4 Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Cumpre-nos reconhecer Sua graça segundo foi dada a conhecer por intermédio dos santos homens da antiguidade; mas o que será mais eficaz é o testemunho de nossa própria experiência. Somos testemunhas de Deus ao revelarmos em nós mesmos a atuação de um poder que é divino. Cada indivíduo tem uma vida diversa da de todos os outros, e uma experiência que difere muito da deles. Deus deseja que nosso louvor ascenda a Ele, levando o cunho de nossa própria personalidade. Esses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando confirmados por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, eficaz para salvação dos pecadores. CBVc 30 5 É benefício para nós o conservarmos viva na memória cada dádiva de Deus. Por esse meio a fé é fortalecida para invocar e receber mais e mais. Há maior ânimo na mínima bênção que nós mesmos recebemos de Deus do que em todas as narrações que possamos ler da fé e experiência de outros. A alma que corresponde à graça de Deus será como um jardim regado. Sua saúde apressadamente brotará; sua luz brilhará nas trevas, e sobre ela se verá a glória do Senhor. CBVc 30 6 "De graça recebestes, de graça dai" -- O convite evangélico não deve ser limitado, e apresentado apenas a alguns escolhidos que, supomos, nos farão honra se o aceitarem. A mensagem deve ser dada a todos. Quando Deus abençoa Seus filhos, não é apenas por amor deles mesmos, mas do mundo. Quando nos confere Seus dons, é para que os multipliquemos transmitindo-os a outros. CBVc 31 1 A samaritana que conversou com Jesus junto ao poço de Jacó, mal achou o Salvador, levou outros a Ele. Mostrou-se mais eficiente missionária que os próprios discípulos. Esses nada viram em Samaria que indicasse ser ela um campo animador. Tinham os pensamentos fixos numa grande obra a ser efetuada no futuro. Não viram que mesmo junto deles estava uma colheita a fazer. Mas, por intermédio da mulher a quem desprezavam, toda uma cidade foi levada a ouvir Jesus. Ela levou imediatamente a luz a seus conterrâneos. CBVc 31 2 Essa mulher representa a operação de uma fé prática em Cristo. Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário. Assim que vem a conhecer o Salvador, deseja pôr os outros em contato com Ele. A santificadora verdade não pode ficar encerrada em seu coração. Aquele que bebe da água viva torna-se uma fonte de vida. O recipiente vem a ser um doador. A graça de Cristo na alma é como uma fonte no deserto, vertendo para refrigerar a todos, e fazendo com que os prestes a perecer tenham sede da água da vida. Fazendo esta obra, é recebida uma maior bênção do que se trabalhamos unicamente para nos beneficiar a nós mesmos. É trabalhando para disseminar as boas-novas de salvação que somos levados perto do Salvador. CBVc 31 3 Dos que recebem Sua graça, diz o Senhor: "E a elas e aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênção serão". Ezequiel 34:26. CBVc 31 4 "No último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-Se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre". João 7:37, 38. CBVc 31 5 Os que recebem devem comunicar a outros. De todas as direções vêm pedidos de auxílio. Deus roga aos homens que ministrem alegremente a seus semelhantes. Há coroas imortais a conquistar; temos a ganhar o reino do Céu; o mundo, a perecer na ignorância, tem de ser iluminado. CBVc 31 6 "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna". João 4:35, 36. CBVc 31 7 Por três anos, os discípulos tiveram diante deles o maravilhoso exemplo de Jesus. Dia a dia, andavam e falavam com Ele, ouvindo-Lhe as palavras de ânimo ao cansado e oprimido, e assistindo às manifestações de Seu poder em favor do doente e do aflito. Ao chegar o tempo em que devia deixá-los, deu-lhes graça e poder para levar avante Sua obra em Seu nome. Deviam irradiar a luz de Seu evangelho de amor e cura. E o Salvador prometeu que Sua presença estaria sempre com eles. Por meio do Espírito Santo Jesus estaria mesmo mais perto deles do que quando andava visivelmente entre os homens. CBVc 32 1 A obra que os discípulos fizeram, também nós devemos fazer. Todo cristão deve ser missionário. Cumpre-nos, em simpatia e compaixão, servir aos que necessitam de auxílio, buscando com abnegado zelo aliviar as misérias da humanidade sofredora. CBVc 32 2 Todos podem encontrar alguma coisa para fazer. Ninguém deve achar que não há lugar em que possa trabalhar por Cristo. O Salvador Se identifica com todo filho da humanidade. Para que nos pudéssemos tornar membros da família celeste, Ele Se fez membro da família da Terra. É o Filho do homem, e assim um irmão de todo filho e filha de Adão. Seus seguidores não devem se sentir separados do mundo que está a perecer em volta deles. Fazem parte da grande teia da humanidade, e o Céu os considera como irmãos dos pecadores da mesma maneira que dos santos. CBVc 32 3 Milhões e milhões de seres humanos, em enfermidades, ignorância e pecado, jamais ouviram sequer falar no amor de Cristo por eles. Fossem nossa posição e a sua invertidas, que desejaríamos que eles fizessem por nós? Tudo isso, o quanto estiver ao nosso alcance, devemos nós fazer por eles. A regra de vida de Cristo, segundo a qual todos nós devemos subsistir ou perecer no juízo, é: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós". Mateus 7:12. CBVc 32 4 Por tudo que nos confere vantagem sobre outros -- seja educação, seja refinamento, nobreza de caráter e instrução cristã, seja experiência religiosa -- achamo-nos em dívida para com os menos favorecidos; e, tanto quanto esteja em nosso poder, cumpre-nos servi-los. Se somos fortes, devemos apoiar as mãos dos fracos. CBVc 32 5 Anjos da glória, que vêem sempre a face do Pai do Céu, regozijam-se em servir aos Seus pequeninos. Os anjos se acham sempre presentes onde mais necessários são, ao lado dos que têm a mais dura batalha contra o próprio eu, e cujo ambiente é o mais desanimador. Fracas e trementes almas que têm muitos objetáveis traços de caráter são seu especial encargo. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante -- servir àqueles que se acham na miséria e são, em todos os aspectos, inferiores em caráter -- eis a obra dos puros e santos seres das cortes do alto. CBVc 32 6 Jesus não considerou o Céu um lugar desejável enquanto nós nos achávamos perdidos. Abandonou as cortes celestes por uma vida de ignomínia e insulto, e uma morte vergonhosa. Aquele que era rico do inapreciável tesouro do Céu, tornou-Se pobre, para que, por meio de Sua pobreza, nós nos pudéssemos enriquecer. Cumpre-nos seguir na senda por Ele trilhada. CBVc 32 7 Aquele que se torna um filho de Deus deve, daí em diante, considerar-se como um elo na cadeia descida para salvar o mundo, um com Cristo em Seu plano de misericórdia, indo com Ele a buscar e salvar o perdido. CBVc 32 8 Muitos acham que seria grande privilégio visitar o cenário da vida de Cristo na Terra, andar pelos lugares por Ele trilhados, contemplar o lago à margem do qual gostava de ensinar, e os montes e vales em que tantas vezes pousaram Seus olhos. Mas não necessitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum, ou a Betânia, para podermos andar nas pegadas de Jesus. Acharemos os vestígios dos Seus passos ao lado do leito do enfermo, nas favelas, nas apinhadas avenidas das grandes cidades e em todo lugar em que há corações humanos necessitados de consolação. CBVc 33 1 Temos de alimentar o faminto, vestir o nu, confortar o aflito e o sofredor. Devemos ajudar os que estão em desespero, e inspirar esperança aos destituídos dela. CBVc 33 2 O amor de Cristo, manifestado num ministério abnegado, será mais eficaz na reforma do malfeitor do que a espada ou o tribunal de justiça. Esses precisam incutir terror ao transgressor da lei, mas o amorável missionário pode fazer mais do que isso. Muitas vezes o coração que se endurece sob a reprovação, abranda-se ante o amor de Cristo. CBVc 33 3 O missionário não somente pode aliviar as doenças físicas, como pode conduzir o pecador ao grande Médico, o qual é capaz de curar a alma da lepra do pecado. Por intermédio de Seus servos designa Deus que os doentes, os desafortunados e os possessos de espíritos maus hão de escutar Sua voz. Por meio dos instrumentos humanos Ele deseja ser um Consolador como o mundo desconhece. CBVc 33 4 O Salvador deu a própria vida a fim de estabelecer uma igreja capaz de ajudar aos sofredores, aos aflitos, aos tentados. Um grupo de crentes pode ser pobre, destituído de educação e desconhecido; todavia em Cristo podem fazer uma obra no lar, no lugar em que vivem, e mesmo em terras afastadas; obras cujos resultados serão de alcance tão vasto como a eternidade. CBVc 33 5 Não menos que aos seguidores de Cristo outrora, são dirigidas aos de hoje essas palavras: "É-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações". Mateus 28:18, 19. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. CBVc 33 6 Também para nós é a promessa de Sua presença: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. CBVc 33 7 Hoje em dia, não afluem multidões de curiosos aos desertos a fim de ver e ouvir a Jesus. Sua voz não se faz ouvir nas movimentadas ruas. Não soa nos caminhos o grito: É Jesus de Nazaré que passa. Lucas 18:37. CBVc 33 8 Todavia essa palavra é verdadeira em nossos dias. Cristo passa por nossas ruas sem ser visto. Vem a nossos lares com mensagens de misericórdia. Ele acompanha a todos quantos estão buscando ministrar em Seu nome, a fim de com eles cooperar. Acha-Se entre nós para curar e abençoar, se O recebemos. CBVc 33 9 "Assim diz o Senhor: No tempo favorável, te ouvi e, no dia da salvação, te ajudei, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, para restaurares a Terra e lhe dares em herança as herdades assoladas; para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei". Isaías 49:8, 9. ------------------------Capítulo 6 -- A cooperação do divino com o humano CBVc 34 1 No ministério da cura, o médico tem de ser um cooperador de Cristo. CBVc 34 2 O Salvador assistia tanto à alma como ao corpo. O evangelho por Ele pregado era uma mensagem de vida espiritual e de restauração física. O libertamento do pecado e a cura da doença estavam ligados entre si. O mesmo ministério é confiado ao médico cristão. Ele deve se unir a Cristo no aliviar tanto as necessidades físicas como as espirituais de seus semelhantes. Cumpre-lhe ser para o enfermo um mensageiro de misericórdia, levando-lhe um remédio ao corpo doente e à alma enferma de pecado. CBVc 34 3 Cristo é a verdadeira cabeça da profissão médica. O Médico-chefe acha-Se ao lado de todo clínico que trabalha para aliviar os sofrimentos humanos. Ao mesmo tempo que emprega remédios naturais para a doença física, o médico deve encaminhar seus doentes Àquele que pode aliviar tanto os males da alma como os do corpo. Aquilo que os médicos só podem ajudar a fazer é realizado por Cristo. Eles se esforçam por auxiliar a operação da natureza na cura; quem cura é o próprio Cristo. O médico busca conservar a vida; Jesus a comunica. CBVc 34 4 A fonte da cura -- Em Seus milagres, o Salvador revela o poder que está continuamente operando em favor do homem, para manter e curar. Por intermédio de agentes naturais, Deus está operando dia a dia, hora a hora, momento a momento, para nos conservar em vida, construir e restaurar-nos. Quando qualquer parte do corpo sofre um dano, principia imediatamente um processo de cura; os agentes da natureza põem-se em operação para restaurar a saúde. Mas o poder que opera por intermédio seu é o poder de Deus. Todo poder comunicador de vida tem nEle sua origem. Quando alguém se restabelece de uma enfermidade, é Deus que o restaura. CBVc 34 5 Doença, sofrimento e morte são obra de um poder antagônico. Satanás é o destruidor; Deus, o restaurador. CBVc 34 6 As palavras dirigidas a Israel verificam-se hoje naqueles que recuperam a saúde do corpo ou da alma. "Eu sou o Senhor, que te sara". Êxodo 15:26. CBVc 34 7 O desejo de Deus para com toda criatura humana, exprime-se nas palavras: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma". 3 João 2. CBVc 35 1 "É Ele que perdoa todas as tuas iniqüidades e sara todas as tuas enfermidades; quem redime a tua vida da perdição e te coroa de benignidade e de misericórdia". Salmos 103:3, 4. CBVc 35 2 Quando Cristo curava a doença, advertia a muitos dos enfermos: "Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior". João 5:14. Assim Ele ensinava que haviam trazido sobre si mesmos a doença transgredindo as leis de Deus, e que a saúde podia ser preservada unicamente pela obediência. CBVc 35 3 O médico deve ensinar a seus pacientes que devem cooperar com Deus na obra de restauração. O médico tem uma compreensão sempre crescente de que a enfermidade é o resultado do pecado. Sabe que as leis da natureza são tão verdadeiramente divinas como os preceitos do decálogo, e que unicamente obedecendo-lhes podemos conservar ou recuperar a saúde. Ele vê sofrendo muitos em resultado de práticas nocivas, os quais poderiam ser restituídos à saúde caso fizessem o possível em benefício de sua própria cura. Precisam que se lhes ensine que toda prática destrutiva das energias físicas, mentais ou espirituais é pecado, e que a saúde tem de ser garantida por meio da obediência às leis estabelecidas por Deus para o bem da humanidade. CBVc 35 4 Quando um médico vê um doente sofrendo uma doença ocasionada por regime alimentar impróprio, ou outros hábitos errôneos, e todavia deixa de dizer-lhe isso, está fazendo um mal a seu semelhante. Bêbados, maníacos, os que se entregam a licenciosidade, todos apelam ao médico para que lhes declare positiva e claramente que o sofrimento é resultado do pecado. Os que compreendem os princípios da vida deviam ser zelosos em lutar para combater as causas das doenças. Vendo o contínuo conflito com a dor, trabalhando constantemente para aliviar o sofrimento, como pode o médico manter-se em silêncio? É ele benévolo e misericordioso se não ensina a estrita temperança como o remédio contra a doença? CBVc 35 5 Torne-se claro que o caminho dos mandamentos de Deus é a vereda da vida. Deus estabeleceu as leis da natureza, mas Suas leis não são arbitrárias exigências. Todo "Não farás", seja na lei física seja na moral, implica uma promessa. Se obedecemos, a bênção nos seguirá os passos. Deus nunca nos força a fazer o que é direito, mas nos procura salvar do mal e levar-nos ao bem. CBVc 35 6 Chame-se a atenção às leis ensinadas a Israel. Deus lhes deu definidas instruções quanto a seus hábitos de vida. Deu-lhes a conhecer as leis relativas tanto ao bem-estar físico como ao espiritual; e, sob a condição de obediência, assegurou-lhes: "E o Senhor de ti desviará toda enfermidade". Deuteronômio 7:15. "Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós". Deuteronômio 32:46. "Porque são vida para os que as acham e saúde para o seu corpo". Provérbios 4:22. CBVc 35 7 Deus deseja que alcancemos a norma de perfeição que o dom de Cristo nos tornou possível. Ele nos convida a fazer nossa escolha do direito, para nos ligarmos com os instrumentos celestes, adotarmos princípios que hão de restaurar em nós a imagem divina. Na palavra escrita e no grande livro da natureza, Ele revelou os princípios da vida. É nossa obra obter conhecimento desses princípios e, pela obediência, cooperar com Ele na restauração da saúde do corpo bem como da alma. CBVc 36 1 Os homens precisam saber que as bênçãos da obediência, em sua plenitude eles só podem fruir à medida que receberem a graça de Cristo. É Sua graça que dá ao homem poder para obedecer às leis de Deus. É isso que o habilita a quebrar as cadeias do mau hábito. Esse é o único poder que pode colocá-lo e conservá-lo firme no caminho do direito. CBVc 36 2 Quando o evangelho é recebido em sua pureza e poder, é uma cura para as doenças originadas pelo pecado. O Sol da Justiça ergue-Se "trazendo salvação nas Suas asas". Malaquias 4:2. Todos os recursos do mundo não podem curar um coração quebrantado, nem comunicar paz de espírito, nem remover o cuidado, nem banir a enfermidade. A fama, o engenho, o talento -- são todos impotentes para alegrar um coração dolorido ou restaurar uma vida arruinada. A vida de Deus na alma, eis a única esperança do homem. CBVc 36 3 O amor difundido por Cristo por todo o ser é um poder vitalizante. Todo órgão vital -- o cérebro, o coração, os nervos -- esse amor toca, transmitindo cura. Por ele são despertadas para a atividade as mais altas energias do ser. Liberta a alma da culpa e da dor, da ansiedade e do cuidado que consomem as forças vitais. Vêm com ele serenidade e compostura. Implanta na alma uma alegria que coisa alguma terrestre pode destruir -- a alegria no Espírito Santo -- alegria que comunica saúde e vida. CBVc 36 4 As palavras de nosso Salvador "Vinde a Mim, [...] e Eu vos aliviarei" (Mateus 11:28) são uma receita para a cura dos males físicos, mentais e espirituais. Embora os homens hajam trazido sobre si o sofrimento por causa de suas más ações, Ele os olha com piedade. NEle podem encontrar socorro. Grandes coisas fará por aqueles que nEle confiam. CBVc 36 5 Se bem que por séculos o pecado tenha estado a intensificar seu domínio sobre a raça humana, não obstante por meio de mentiras e artifícios Satanás haver lançado a negra sombra de sua interpretação sobre a Palavra de Deus, e feito os homens duvidarem de Sua bondade, a misericórdia e amor do Pai não têm cessado de fluir em abundantes torrentes para a Terra. Se os seres humanos abrissem as janelas da alma em direção ao Céu, apreciando as divinas dádivas, por elas penetraria uma onda de restauradora virtude. CBVc 37 6 O médico que deseja ser um aceitável colaborador de Cristo esforçar-se-á por se tornar eficiente em todos os ramos de seu trabalho. Estudará diligentemente, a fim de se habilitar para as responsabilidades de sua profissão e buscará com afinco atingir uma norma mais elevada, procurando crescente conhecimento, maior habilidade e mais profundo discernimento. Todo médico devia compreender que aquele que faz um trabalho fraco, ineficiente, está causando prejuízo não só ao doente, como também a seus colegas de profissão. O médico que se satisfaz com uma baixa norma de competência e conhecimento não somente amesquinha a profissão médica, mas desonra ao próprio Cristo, o Médico-chefe. CBVc 37 1 Os que se sentem inaptos para a obra médica devem escolher outra profissão. Os que são bem capazes de cuidar dos doentes, mas cuja educação e habilitações médicas são limitadas, fariam bem em empreender as partes mais humildes dessa obra, trabalhando fielmente como enfermeiros. Mediante paciente serviço sob a direção de hábeis médicos, poderão aprender continuamente, e aproveitando toda oportunidade de adquirir conhecimento tornar-se, a seu tempo, plenamente habilitados para realizar obra médica. Que os médicos mais jovens "cooperando também com Ele [o Médico-chefe]", [...] não recebam "a graça de Deus em vão, [...] não dando [...] escândalo em coisa alguma, para que o [...] ministério não seja censurado. Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo". 2 Coríntios 6:1, 3-4. CBVc 37 2 O desígnio de Deus a nosso respeito é que avancemos sempre em direção ascendente. O verdadeiro médico-missionário será um profissional de habilidade sempre maior. Talentosos médicos cristãos, possuindo superior capacidade profissional, deviam ser procurados, e animados a entrar para o serviço de Deus em lugares em que possam instruir e preparar outros para que se tornem médicos-missionários. CBVc 37 3 O médico deve reunir em sua alma a luz da Palavra de Deus. Deve fazer contínuo progresso na graça. Para ele, a religião não deve ser meramente uma influência entre outras. Tem de ser uma força que domine todas as outras. Deve agir por elevados e santos motivos -- motivos que são poderosos porque provêm dAquele que deu Sua vida para nos proporcionar poder a fim de vencer o mal. CBVc 37 4 Se o médico se esforçar fiel e diligentemente para se tornar eficiente em sua profissão, se ele se consagrar ao serviço de Cristo, e dedicar tempo para examinar o próprio coração, compreenderá a maneira de se apoderar dos mistérios de sua vocação sagrada. Poderá disciplinar-se e educar-se de tal modo, que todos os que se encontram dentro da esfera de sua influência verão a excelência da educação e da sabedoria obtidas por meio dAquele que Se acha ligado com o Deus de sabedoria e poder. CBVc 37 5 Em parte alguma é mais necessária uma íntima comunhão com Cristo do que na obra do médico. Aquele que queira realizar devidamente os deveres médicos deve viver, dia a dia, hora a hora, uma vida cristã. A vida do enfermo está nas mãos do médico. Um diagnóstico negligente, uma receita errada, num caso melindroso, ou um inábil movimento da mão, por um fio de cabelo sequer, numa operação, e uma vida pode ser sacrificada, uma alma lançada à eternidade. Que solene pensamento! Como é importante que o médico esteja sempre sob a direção do Médico divino! CBVc 38 1 O Salvador está disposto a ajudar a todos quantos O invoquem em busca de sabedoria e discernimento. E quem mais necessita de sabedoria e clareza de idéias do que o médico, de cujas decisões tanto depende? Que aquele que está procurando prolongar a vida olhe com fé em Cristo para que Ele lhe dirija cada movimento. O Salvador lhe dará tato e habilidade no lidar com os casos difíceis. CBVc 38 2 Maravilhosas são as oportunidades oferecidas aos guardiões dos enfermos. Em tudo quanto se faz para a restauração dos doentes, faça-se com que eles compreendam estar o médico procurando ajudá-los a cooperar com Deus no combate à doença. Levai-os a sentir que, em cada passo dado em harmonia com as leis de Deus, eles podem esperar o auxílio do poder divino. CBVc 38 3 Se crêem que o médico ama e teme a Deus, os doentes e sofredores terão muito mais confiança nele. Descansam em sua palavra. Experimentam um sentimento de segurança na presença e na direção desse médico. CBVc 38 4 Conhecendo o Senhor Jesus, é o privilégio do clínico cristão pedir em oração Sua presença no quarto do enfermo. Antes de efetuar uma operação melindrosa, peça o cirurgião o auxílio do grande Médico. Assegure ao paciente que Deus pode fazê-lo passar a salvo pelo problema, que em todos os tempos de aflição é Ele um seguro refúgio para os que nEle confiam. O médico que não pode fazer isso perde um caso após o outro que, do contrário, teriam sido salvos. Se ele pudesse proferir palavras que inspirassem fé no compassivo Salvador que sente cada pulsação de angústia, e Lhe pudesse apresentar em oração as necessidades da alma, a crise passaria freqüentemente com mais facilidade. CBVc 38 5 Unicamente Aquele que lê o coração pode saber com que tremor e terror consentem muitos pacientes numa operação às mãos de um médico. Compreendem o perigo em que se acham. Conquanto tenham confiança na competência do cirurgião, sabem que ele não é infalível. Ao verem, porém, o médico curvado em oração, pedindo o auxílio de Deus, são inspirados a confiar. Gratidão e confiança abrem-lhe o coração ao poder restaurador de Deus, as energias de todo o ser são possuídas de vigor, e as forças vitais triunfam. CBVc 38 6 Também ao médico a presença do Salvador é um elemento de força. Muitas vezes as responsabilidades e possibilidades de sua obra lhe trazem temor ao espírito. A febre da incerteza e do receio tornaria inábil sua mão. Mas a certeza de que o divino Conselheiro Se acha ao seu lado, a guiá-lo e sustê-lo, comunica serenidade e ânimo. O toque de Cristo na mão do médico traz-lhe vitalidade, calma, confiança e poder. CBVc 38 7 Tendo passado a salvo o momento da crise, e havendo perspectiva de êxito, sejam alguns momentos dedicados a orar com o paciente. Exprimi vosso reconhecimento pela vida que foi poupada. Ao brotarem dos lábios do paciente palavras de gratidão para com o médico, faça este que essa gratidão seja dirigida a Deus. Dizei-lhe que sua vida foi poupada porque ele se achava sob a proteção do Médico celestial. CBVc 39 1 O médico que segue essa orientação está conduzindo o doente para Aquele de quem depende a sua vida, Aquele que é capaz de salvar plenamente todos quantos a Ele se chegam. CBVc 39 2 Na obra do médico-missionário deve-se introduzir um profundo anseio por almas. Ao médico, da mesma maneira que ao pastor, é confiado o mais precioso depósito que já se entregou ao homem. Compreenda-o ele ou não, a todo médico é confiada a cura de almas. CBVc 39 3 Em sua obra de tratar com doença e morte, perdem os médicos freqüentemente de vista as solenes realidades da vida futura. Em seu ansioso esforço por afastar o perigo do corpo, esquecem o da alma. Aquele a quem estão ministrando pode estar-se desprendendo dos laços da vida. Estão-lhe fugindo as últimas oportunidades. Essa pessoa, o médico há de encontrar de novo no tribunal de Cristo. CBVc 39 4 Perdemos muitas vezes as mais preciosas bênçãos por negligenciar proferir uma palavra a seu tempo. Se não vigiarmos a áurea oportunidade, esta se perderá. Ao pé do enfermo, não se deve dizer nenhuma palavra relativa a credos ou pontos controvertidos. Que o sofredor seja encaminhado Àquele que está disposto a salvar a todos quantos a Ele vão ter com fé. Esforçai-vos zelosa e ternamente por ajudar a alma que paira entre a vida e a morte. CBVc 39 5 O médico que sabe ser Cristo seu Salvador pessoal, porque ele próprio foi conduzido ao Refúgio, sabe lidar com as almas trementes, culpadas, enfermas de pecado, que para ele se volvem em busca de auxílio. Sabe responder à pergunta: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos dos Apóstolos 16:30. Pode contar a história do amor do Redentor. Pode falar por experiência do poder do arrependimento e da fé. Em palavras simples e fervorosas, sabe apresentar a Deus em oração as necessidades da alma, e animar o doente a pedir também e aceitar a misericórdia do compassivo Salvador. Ao ministrar ele assim ao pé do leito do doente, esforçando-se por proferir palavras que levem auxílio e conforto, o Senhor opera com ele e por intermédio dele. Ao ser o espírito do sofredor encaminhado a Cristo, Sua paz enche-lhe o coração, e a saúde espiritual que lhe sobrevém é empregada como a mão ajudadora de Deus na restauração da saúde do corpo. CBVc 39 6 Ao atender um doente, muitas vezes o médico encontra oportunidade de confortar seus queridos. Enquanto eles permanecem à beira do leito do sofredor, sentindo-se impotentes para livrá-lo da agonia, seu coração se abranda. Muitas vezes a mágoa de outros ocultada é exposta ao médico. É então o ensejo de encaminhar esses aflitos Àquele que convidou cansados e oprimidos a irem a Ele. Pode-se fazer orações com eles e por eles, apresentando suas necessidades ao Aliviador de todos os infortúnios, o Suavizador de todas as dores. CBVc 40 1 As promessas de Deus -- O médico tem preciosas oportunidades para dirigir a atenção de seus doentes para as promessas da Palavra de Deus. Cumpre-lhe tirar do tesouro coisas novas e velhas, falando aqui e ali as ansiadas palavras de conforto e instrução. Torne o médico sua mente um tesouro de novos pensamentos. Estude diligentemente a Palavra de Deus, a fim de estar familiarizado com suas promessas. Aprenda a repetir as confortadoras palavras que Cristo proferiu durante Seu ministério terrestre, quando dava Suas lições e curava os enfermos. Deve falar das obras de cura realizadas por Cristo, de Sua ternura e Seu amor. Nunca negligencie o encaminhar a mente dos doentes para Cristo, o Médico por excelência. ------------------------Capítulo 7 -- O médico é um educador CBVc 41 1 O verdadeiro médico é um educador. Ele reconhece sua responsabilidade, não somente para com o doente que se acha sob seu cuidado imediato, mas também para com a coletividade no meio da qual vive. Ocupa o lugar de um guardião tanto da saúde física como da moral. É seu esforço, não somente conseguir métodos corretos no tratamento dos enfermos, mas incentivar hábitos sãos de vida, e disseminar o conhecimento dos retos princípios. CBVc 41 2 Educação nos princípios de saúde -- Nunca foram mais necessários os conhecimentos dos princípios de saúde do que o são na atualidade. Apesar dos maravilhosos progressos em tantos ramos relativos aos confortos e comodidades da vida, mesmo no que respeita a questões sanitárias e tratamento de doenças, é alarmante o declínio do vigor físico e do poder de resistência. Isso exige a atenção de todos quantos levam a sério o bem-estar de seus semelhantes. CBVc 41 3 Nossa civilização artificial está fomentando males que destroem os sãos princípios. Os costumes e as modas se acham em guerra com a natureza. As práticas a que eles obrigam, e as condescendências que fomentam, estão diminuindo rapidamente a resistência física e mental, e trazendo sobre a raça insuportável fardo. A intemperança e o crime, a doença e a miséria encontram-se por toda parte. CBVc 41 4 Muitos transgridem as leis de saúde devido à ignorância, e necessitam instruções. A maioria, porém, sabe melhor do que aquilo que pratica. Esses precisam ser impressionados quanto à importância de tornar o conhecimento que têm um guia de vida. O médico tem muitas oportunidades tanto de comunicar o conhecimento dos princípios de saúde como de mostrar a importância de pô-los em prática. Mediante as devidas instruções, muito pode fazer para corrigir males que estão produzindo indizível dano. CBVc 41 5 Um costume que está deitando bases a vasta soma de doenças e males mais sérios ainda é o livre uso de drogas venenosas. Quando atacados pela enfermidade, muitos não se darão ao trabalho de descobrir a causa do mal. Sua principal ansiedade é verem-se livres da dor e dos desconfortos. Recorrem portanto a panacéias, cujas reais propriedades eles mal conhecem, ou recorrem a um médico para neutralizar os efeitos de seu mau proceder, mas sem nenhuma idéia de mudar seus nocivos hábitos. Caso não sintam benefícios imediatos, experimentam outro remédio, e depois outro. Assim continua o mal. CBVc 42 1 O povo precisa que se lhes ensine que as drogas não curam as doenças. É verdade que elas por vezes proporcionam temporário alívio, e o paciente parece restabelecer-se em resultado de havê-las usado; isso acontece porque a natureza possui bastante força vital para expelir o veneno, e corrigir as condições ocasionadoras do mal. A saúde é recuperada a despeito da droga. Mas na maioria dos casos ela apenas muda a forma e o local da doença. Muitas vezes o efeito do veneno parece ser vencido por algum tempo, mas os resultados permanecem no organismo, operando posteriormente grande dano. CBVc 42 2 Com o uso de drogas venenosas, muitos trazem sobre si doença para toda a vida, e perdem-se muitos que poderiam ser salvos com o emprego de métodos naturais. Os venenos contidos em muitos dos chamados remédios formam hábitos e apetites que importam em ruína tanto para o corpo como para a alma. Muitos dos populares remédios patenteados, e mesmo algumas drogas receitadas por médicos, desempenham seu papel em deitar bases para o hábito da bebida, do ópio, da morfina, os quais são uma tão terrível maldição para a sociedade. CBVc 42 3 A única esperança de coisas melhores está na educação do povo nos verdadeiros princípios. Ensinem os médicos ao povo que o poder restaurador não se encontra em drogas, porém na natureza. A doença é um esforço da natureza para libertar o organismo de condições resultantes da violação das leis da saúde. Em caso de doença, convém verificar a causa. As condições insalubres devem ser mudadas, os maus hábitos corrigidos. Então se auxilia a natureza em seu esforço para expelir as impurezas e restabelecer as condições normais no organismo. CBVc 42 4 Remédios naturais -- Ar puro, luz solar, abstinência, repouso, exercício, regime conveniente, uso de água e confiança no poder divino -- eis os verdadeiros remédios. Toda pessoa deve possuir conhecimentos dos meios terapêuticos naturais, e da maneira de aplicá-los. É essencial tanto compreender os princípios envolvidos no tratamento do doente, como ter um preparo prático que habilite a empregar devidamente esse conhecimento. CBVc 42 5 O uso dos remédios naturais requer certo cuidado e esforço que muitos não estão dispostos a exercer. O processo da natureza para curar e construir é gradual, e isso parece vagaroso ao impaciente. Demanda sacrifício e abandono das nocivas condescendências. Mas no fim se verificará que a natureza, não sendo estorvada, faz seu trabalho sabiamente e bem. Aqueles que perseveram na obediência a suas leis, ganharão em saúde de corpo e de alma. CBVc 42 6 Bem pouca é a atenção dada em geral à conservação da saúde. É incomparavelmente melhor evitar a doença do que saber tratá-la uma vez contraída. CBVc 43 1 É o dever de toda pessoa, por amor de si mesma, e por amor da humanidade, instruir-se quanto às leis da vida, e a elas prestar conscienciosa obediência. Todos precisam familiarizar-se com esse organismo, o mais maravilhoso de todos, que é o corpo humano. Devem compreender as funções dos vários órgãos, e a dependência de uns para com os outros quanto ao são funcionamento de todos. Cumpre-lhes estudar a influência da mente sobre o corpo, e deste sobre aquela, e as leis pelas quais são eles regidos. CBVc 43 2 O preparo para a luta da vida -- Nunca será demais lembrar que a saúde não depende do acaso. É resultado da obediência da lei. Isso é reconhecido pelos competidores nos jogos atléticos e nas provas de resistência. Esses homens preparam-se da maneira mais cuidadosa. Submetem-se a um treino perfeito, e uma estrita disciplina. Todo hábito físico é cuidadosamente regulado. Sabem que a negligência, o excesso ou a indiferença, que enfraquecem ou prejudicam qualquer órgão ou função do corpo, resultariam na derrota certa. CBVc 43 3 Quão mais importante é tal cuidado para assegurar o êxito na luta da vida! Não são arremedos de batalhas, aquelas em que nos achamos empenhados. Estamos pelejando um combate do qual dependem resultados eternos. Temos inimigos invisíveis a enfrentar. Anjos maus estão se esforçando para obter o domínio sobre toda criatura humana. Tudo quanto prejudica a saúde não somente diminui o vigor físico como tende a enfraquecer as faculdades mentais e morais. A condescendência com qualquer prática nociva à saúde torna mais difícil a uma pessoa o discernir entre o bem e o mal, e daí mais difícil resistir ao mal. Aumenta o perigo de fracasso e derrota. CBVc 43 4 "Os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio." 1 Coríntios 9:24. Na luta em que nos achamos empenhados podem ganhar todos quantos se disciplinam a si mesmos pela obediência aos retos princípios. A prática desses princípios nos detalhes da vida é demasiado freqüente considerada como sem importância -- coisa muito trivial para exigir atenção. Mas em vista das conseqüências em jogo coisa alguma daquilo com que temos de tratar é insignificante. Toda ação lança seu peso na balança que determina a vitória ou a derrota da vida. O texto nos manda: "Correi de tal maneira que o alcanceis." 1 Coríntios 9:24. CBVc 43 5 Quanto a nossos primeiros pais, o desejo imoderado trouxe em resultado a perda do Éden. A temperança em todas as coisas tem mais que ver com nossa restauração no Éden, do que os homens o imaginam. CBVc 43 6 Indicando a renúncia praticada pelos competidores nos antigos jogos gregos, escreve o apóstolo Paulo: "Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha dalguma maneira a ficar reprovado". 1 Coríntios 9:25-27. CBVc 44 1 O progresso da reforma depende de um claro reconhecimento da verdade fundamental. Ao passo que, de um lado, espreita o perigo em uma estreita filosofia e numa rígida e fria ortodoxia, há, por outro lado, maior perigo num descuidado liberalismo. O fundamento de toda reforma estável é a Lei de Deus. Cumpre-nos apresentar em linhas distintas e claras a necessidade de obedecer a essa lei. Seus princípios devem ser mantidos perante o povo. Eles são tão eternos e inexoráveis como o próprio Deus. CBVc 44 2 Um dos mais deploráveis efeitos da apostasia original foi a perda do poder de domínio próprio por parte do homem. Unicamente à medida que esse poder é reconquistado pode haver real progresso. CBVc 44 3 O corpo é o único agente pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Daí o adversário dirigir suas tentações para o enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu êxito nesse ponto importa na entrega de todo o corpo ao mal. As tendências de nossa natureza física, a menos que estejam sob o domínio de um poder mais alto, hão de operar por certo ruína e morte. CBVc 44 4 O corpo tem de ser posto em sujeição. As mais elevadas faculdades do ser devem dominar. As paixões devem ser regidas pela vontade, e essa deve, por sua vez, achar-se sob a direção de Deus. A régia faculdade da razão, santificada pela graça divina, deve ter domínio em nossa vida. CBVc 44 5 As exigências de Deus devem impressionar a consciência. Homens e mulheres precisam ser despertados para o dever do império de si mesmos, para a necessidade da pureza, a liberdade de todo aviltante apetite e todo hábito contaminador. Precisam ser impressionados com o fato de que todas as suas faculdades de mente e corpo são dons de Deus, e destinam-se a ser preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço. CBVc 44 6 Naquele antigo ritual que era o evangelho em símbolo, nenhuma oferta defeituosa podia ser levada ao altar de Deus. O sacrifício que devia representar a Cristo tinha de ser sem mancha. A Palavra de Deus refere-se a isso como uma ilustração do que devem ser Seus filhos -- um "sacrifício vivo, santo", "irrepreensível", e "agradável a Deus". Romanos 12:1; Efésios 5:27. CBVc 44 7 À parte do poder divino, nenhuma reforma genuína pode ser efetuada. As barreiras humanas erguidas contra as tendências naturais e cultivadas não são mais que bancos de areia contra uma torrente. Enquanto a vida de Cristo não se torna um poder vitalizante em nossa vida, não nos é possível resistir às tentações que nos assaltam interior e exteriormente. CBVc 44 8 Cristo veio a este mundo e viveu a Lei de Deus, a fim de que o homem pudesse ter perfeito domínio sobre as naturais inclinações que corrompem a alma. Médico da alma e do corpo, Ele dá a vitória sobre as concupiscências em luta no íntimo. Proveu toda facilidade para que o homem possa possuir inteireza de caráter. CBVc 44 9 Quando uma pessoa se entrega a Cristo, seu espírito é posto sob o domínio da lei; mas é a lei real que proclama liberdade a todo cativo. Fazendo-se um com Cristo, o homem é tornado livre. A sujeição à vontade de Cristo significa restauração à perfeita varonilidade. CBVc 45 1 Obediência a Deus é liberdade do cativeiro do pecado, livramento das paixões e impulsos humanos. O homem pode ser vencedor de si mesmo, vencedor de suas inclinações, vencedor dos principados e potestades, e dos "príncipes das trevas deste século", e das "hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. CBVc 45 2 Em lugar algum são tais instruções mais necessárias, e em nenhum lugar produzem elas maior benefício que no lar. Os pais têm que ver com o próprio fundamento do hábito e do caráter. O movimento reformador deve começar por apresentar-lhes os princípios da Lei de Deus como influindo tanto sobre a saúde física como sobre a moral. Mostrai que a obediência à Palavra de Deus é nossa única salvaguarda contra os males que estão compelindo o mundo à destruição. Fazei clara a responsabilidade dos pais, não só quanto a si mesmos, mas quanto a seus filhos. Eles dão a esses filhos um exemplo, seja de obediência, seja de transgressão. Por seu exemplo e ensino, é decidido o destino de sua casa. Os filhos serão aquilo que os pais os fizerem. CBVc 45 3 Se os pais pudessem seguir o resultado de seu procedimento, e ver como, por seu exemplo e ensinos, perpetuam e aumentam o poder do pecado ou o da justiça, certamente se operaria uma mudança. Muitos se desviariam da tradição e do costume, e aceitariam os divinos princípios da vida. CBVc 45 4 O poder do exemplo -- O médico que ministra nos lares do povo, velando ao pé do leito dos doentes, aliviando-lhes a aflição, tirando-os das portas da morte, dirigindo palavras de esperança ao moribundo, conquista-lhes na confiança e nas afeições um lugar que a poucos outros é dado ocupar. Nem mesmo ao ministro do evangelho são concedidas tão grandes possibilidades, ou uma influência de tão vasto alcance. CBVc 45 5 O exemplo do médico, não menos que seu ensino, deve ser uma força positiva para o lado do direito. A causa da reforma exige homens e mulheres cuja maneira de viver seja uma ilustração do domínio de si mesmos. É nossa observância dos princípios que recomendamos que lhes dá peso. O mundo necessita de uma demonstração prática do que a graça de Deus pode fazer para restaurar aos homens sua perdida realeza, dando-lhes o governo de si mesmos. Não há nada de que o mundo tanto precise como do conhecimento do poder salvador do evangelho revelado em vidas semelhantes à de Cristo. CBVc 45 6 O médico é continuamente posto em contato com os que necessitam da força e da ânimo de um bom exemplo. Muitos são fracos em poder moral. Carecem de domínio próprio, e são facilmente presa da tentação. O médico só pode auxiliar a essas pessoas na medida em que revela na própria vida uma firmeza de princípios que o habilita a triunfar sobre todo hábito nocivo e toda contaminadora concupiscência. Em sua vida, deve ser notada a operação de um poder de origem divina. Se ele falha nisso, por mais vigorosas e convincentes que sejam suas palavras, sua influência se demonstrará nociva. CBVc 46 1 Muitos dos que procuram conselho e tratamento médico tornaram-se ruínas morais mediante seus próprios maus hábitos. Estão alquebrados e fracos, e feridos, sentindo a própria loucura e sua incapacidade para vencer. Esses nada deviam ter em seu ambiente que os incitasse a continuar nos pensamentos e sentimentos que os tornaram o que são. Necessitam respirar uma atmosfera de pureza, de nobres e elevados pensamentos. Quão terrível é a responsabilidade quando aqueles que lhes deviam dar um bom exemplo, são, eles próprios, escravos de maus hábitos, acrescentando, por sua influência, nova força à tentação! CBVc 46 2 O médico e a obra da temperança -- Buscam os cuidados do médico muitos que se estão arruinando, alma e corpo, pelo uso do fumo ou de bebidas intoxicantes. O médico fiel às suas responsabilidades, deve indicar a esses pacientes a causa de seus sofrimentos. Se ele próprio, porém, é fumante ou dado a tóxicos, que peso terão suas palavras? Com a consciência de condescender ele mesmo com isso, não hesitará em apontar o lugar da infecção na vida do doente? Enquanto ele próprio usar essas coisas, como poderá convencer o jovem de seus efeitos prejudiciais? CBVc 46 3 Quanto mais urgentes seus deveres e maiores suas responsabilidades, tanto maior necessidade tem o médico de poder divino. É mister salvar, das coisas temporais, tempo para meditar nas eternas. Deve resistir a um mundo usurpador, capaz de exercer sobre ele tamanha pressão que o separe da Fonte da resistência. Ele, mais que todos os outros homens, deve, por meio de oração e estudo das Escrituras, colocar-se sob a proteção de Deus. Cumpre-lhe viver em incessante comunhão com os princípios da verdade, da justiça e da misericórdia que revelam os atributos de Deus na alma. CBVc 46 4 Tal vida será um elemento de força na coletividade. Será uma barreira contra o mal, uma salvaguarda para o tentado, uma luz guiadora aos que, por entre dificuldades e desânimos, estão buscando o caminho verdadeiro. ------------------------Capítulo 8 -- Ensinando e curando CBVc 47 1 Quando Cristo enviou os doze discípulos em sua primeira viagem missionária, ordenou-lhes: "Indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai". Mateus 10:7, 8. CBVc 47 2 Aos setenta enviados mais tarde, Ele disse: "Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, [...] curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus". Lucas 10:8, 9. A presença e o poder de Cristo estava com eles, "e voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo Teu nome, até os demônios se nos sujeitam". Lucas 10:17. CBVc 47 3 Depois da ascensão de Cristo, foi continuada a mesma obra. As cenas de Seu próprio ministério foram repetidas. "Das cidades circunvizinhas" vinha uma multidão "a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais todos eram curados". Atos dos Apóstolos 5:16. CBVc 47 4 E os discípulos, "tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor". Marcos 16:20. "Descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, [...] pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, [...] e muitos paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade". Atos dos Apóstolos 8:5-8. CBVc 47 5 A obra dos discípulos -- Lucas, o autor do evangelho que tem seu nome, era médico-missionário. Ele é, nas Escrituras, chamado "o médico amado". Colossences 4:14. O apóstolo Paulo ouviu falar de sua habilidade como médico, e procurou-o como a alguém a quem o Senhor havia confiado uma obra especial. Obteve sua cooperação, e por algum tempo Lucas o acompanhou em suas viagens de um lugar para outro. Depois de certo tempo, Paulo deixou Lucas em Filipos, na Macedônia. Ali continuou ele a trabalhar por vários anos, tanto como médico, como na qualidade de ensinador do evangelho. Em sua obra médica, ministrava aos enfermos, e orava então para que o poder restaurador de Deus repousasse sobre os aflitos. Assim era o caminho aberto para a mensagem evangélica. O êxito de Lucas como médico conseguiu-lhe muitas oportunidades para pregar a Cristo entre os gentios. É o plano divino que trabalhemos como os discípulos fizeram. A cura física está ligada à incumbência evangélica. Na obra do evangelho, o ensino e a cura nunca se devem separar. CBVc 48 1 Era a tarefa dos discípulos disseminar o conhecimento do evangelho. Foi-lhes confiada a obra da proclamação, a todo o mundo, das boas-novas que Cristo trouxe aos homens. Essa obra, eles a realizaram pelo povo de seu tempo. A toda nação debaixo do céu foi levado o evangelho, numa única geração. CBVc 48 2 O dar o evangelho ao mundo é a obra que Deus confiou aos que professam Seu nome. Para o pecado e a miséria do mundo, é o evangelho o único antídoto. Tornar conhecida a toda a humanidade a mensagem da graça de Deus, eis a primeira obra dos que lhe conhecem o poder restaurador. CBVc 48 3 Quando Cristo enviou os discípulos com a mensagem evangélica, a fé em Deus e Sua Palavra havia quase desaparecido da Terra. Entre o povo judeu, que professava conhecer a Jeová, Sua Palavra havia sido posta à margem para dar lugar à tradição e às especulações humanas. A ambição egoísta, o amor da ostentação e a ganância do lucro absorviam os pensamentos dos homens. À medida que desaparecia a reverência para com Deus, fugia também a compaixão para com os homens. O egoísmo era o princípio dominante, e Satanás executava sua vontade na miséria e na degradação da humanidade. CBVc 48 4 Instrumentos satânicos tomavam posse dos homens. O corpo humano, feito para habitação de Deus, tornou-se morada de demônios. Os sentidos, os nervos e órgãos dos homens eram manejados por influências sobrenaturais na condescendência com as mais vis concupiscências. O próprio cunho dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. O semblante humano refletia a expressão das legiões do mal de que os próprios homens estavam possuídos. CBVc 48 5 Qual é a condição do mundo atualmente? Não é a fé na Bíblia hoje destruída tão eficazmente pela alta crítica e as especulações, como o era pela tradição e o rabinismo dos dias de Jesus? Não têm a ambição e a cobiça e o amor do prazer tão forte domínio no coração dos homens agora como possuíam então? No professo mundo cristão, mesmo nas professas igrejas de Cristo, quão poucos são regidos por princípios cristãos! Nos círculos comerciais, sociais, domésticos, e mesmo nos religiosos, quão poucos fazem dos ensinos de Cristo a regra do viver diário! Não é verdade que "a justiça se pôs longe, [...] a eqüidade não pode entrar. [...] E quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado"? Isaías 59:14, 15. CBVc 48 6 Vivemos em meio de uma epidemia de crime, diante da qual ficam estupefatos os homens pensantes e tementes a Deus em toda parte. A corrupção que predomina está além da descrição da pena humana. Cada dia traz novas revelações de conflitos políticos, de subornos e fraudes. Cada dia traz seu doloroso registro de violência e ilegalidade, de indiferença aos sofrimentos do próximo, de brutal e diabólica destruição de vidas humanas. Cada dia testifica do aumento da loucura, do assassínio, do suicídio. Quem pode duvidar que agentes satânicos se achem em operação entre os homens, numa atividade crescente, para perturbar e corromper a mente, contaminar e destruir o corpo? CBVc 49 1 E enquanto o mundo se acha cheio desses males, o evangelho é tantas vezes apresentado de maneira tão indiferente, que não produz senão uma fraca impressão na consciência ou vida das pessoas. Há por toda parte corações clamando por qualquer coisa que não possuem. Anelam um poder que lhes dê domínio sobre o pecado, um poder que os liberte da servidão do mal, que lhes proporcione saúde, vida e paz. Muitos dos que uma vez conheceram o poder da Palavra de Deus têm-se achado onde não há nenhum reconhecimento dEle, e anseiam pela divina presença. CBVc 49 2 O mundo necessita atualmente daquilo que tem sido necessário já há mil e novecentos anos -- a revelação de Cristo. É preciso uma grande obra de reforma, e é unicamente mediante a graça de Cristo que a obra de restauração física, mental e espiritual se pode efetuar. CBVc 49 3 Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: "Segue-Me". João 21:19. CBVc 49 4 É necessário pôr-se em íntimo contato com o povo mediante esforço pessoal. Se se empregasse menos tempo a pregar sermões, e mais fosse dedicado a serviço pessoal, maiores seriam os resultados que se veriam. Os pobres devem ser socorridos, cuidados os doentes, os aflitos e os que sofreram perdas confortados, instruídos os ignorantes e os inexperientes aconselhados. Cumpre-nos chorar com os que choram, e alegrar-nos com os que se alegram. Aliado ao poder de persuasão, ao poder da oração e ao poder do amor de Deus, esta obra jamais ficará sem frutos. CBVc 49 5 Devemos lembrar sempre que o objetivo da obra médico-missionária é encaminhar homens e mulheres enfermos de pecado ao Homem do Calvário, que tira os pecados do mundo. Contemplando-O, serão eles transformados à Sua imagem. Temos de animar os doentes e sofredores a olharem a Jesus, e viver. Mantenham os obreiros a Cristo, o grande Médico, constantemente diante daqueles a quem a doença física e espiritual levou ao desânimo. Encaminhai-os Àquele que é capaz de curar tanto a doença do corpo como a da alma. Falai-lhes dAquele que Se comove diante de suas enfermidades. Animai-os a se colocarem sob o cuidado do que deu Sua vida a fim de tornar possível que eles tenham a vida eterna. Falai de Seu amor; falai de Seu poder para salvar. CBVc 49 6 Eis o elevado dever e o precioso privilégio do médico-missionário. E o ministério pessoal prepara muitas vezes o caminho para isso. Deus utiliza nossos esforços para alcançar os corações e aliviar o sofrimento físico. CBVc 49 7 A obra médico-missionária é a pioneira do evangelho. No ministério da Palavra e na obra médico-missionária, deve o evangelho ser pregado e praticado. CBVc 49 8 Há, em quase todas as localidades, grande número de pessoas que não escutam a pregação da Palavra de Deus nem assistem aos cultos. Se elas tiverem de ser alcançadas pelo evangelho, este lhes há de ser levado em casa. Muitas vezes o socorro a suas necessidades físicas é o único caminho pelo qual essas pessoas podem ser abordadas. Enfermeiras-missionárias que tratam dos doentes e mitigam a aflição dos pobres encontrarão muitas oportunidades de orar com eles, ler-lhes a Palavra de Deus e falar do Salvador. Elas podem orar com os impotentes, destituídos de força de vontade para reger os apetites que a paixão tem degradado. Podem levar um raio de esperança à vida dos vencidos e desanimados. Seu abnegado amor, manifestado em atos de desinteressada bondade, tornará mais fácil a esses sofredores crerem no amor de Cristo. CBVc 50 1 Muitos não têm nenhuma fé em Deus, e perderam a confiança no homem. Mas apreciam os atos de simpatia e prestatividade. Ao verem uma pessoa, sem nenhum incentivo de louvor terrestre nem de compensação, ir a sua casa, ajudando ao doente, alimentando o faminto, vestindo o nu, confortando o triste e encaminhando-os ternamente a todos Àquele de cujo amor e piedade o obreiro humano não é senão um mensageiro -- ao verem isso, seu coração é tocado. Brota a gratidão. Ateia-se a fé. Vêem que Deus cuida deles, e ficam preparados para escutar ao ser-lhes aberta a Sua Palavra. CBVc 50 2 Seja nos campos de além-mar, seja em nosso país, todos os missionários, tanto homens como mulheres, conquistarão muito mais rapidamente acesso ao povo, e sentirão que sua utilidade aumentará grandemente, se forem aptos a ajudar aos doentes. As mulheres que vão como missionárias às terras pagãs poderão assim encontrar oportunidade de ensinar o evangelho às mulheres dessas terras, quando todas as outras portas de acesso se acharem fechadas. Todos os obreiros evangélicos devem saber fazer os simples tratamentos que tanto contribuem para aliviar a dor e remover a doença. CBVc 50 3 O ensino dos princípios de saúde -- Os obreiros evangélicos também devem ser capazes de dar instruções sobre os princípios do viver saudável. Há doenças por toda parte, e a maioria delas poderia ser prevenida pela atenção dispensada às leis da saúde. O povo precisa ver a influência dos princípios de saúde em seu bem-estar, tanto no que respeita a esta vida como à futura. Necessitam ser despertados quanto a sua responsabilidade para com a habitação humana adaptada pelo Criador para Sua morada, e acerca da qual Ele deseja que sejam mordomos fiéis. Precisam ser impressionados no que respeita à verdade contida nas palavras da Santa Escritura: "Vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo". 2 Coríntios 6:16. CBVc 50 4 Milhares necessitam e de bom grado receberiam instruções a respeito dos simples métodos de tratar os enfermos -- métodos que estão tomando o lugar das drogas venenosas. Grande é a necessidade existente de conhecimentos quanto à reforma dietética. Hábitos errôneos de alimentação, e o uso de comidas nocivas, são em grande parte responsáveis pela intemperança, o crime e a ruína que infelicitam o mundo. CBVc 51 1 Ensinando os princípios de saúde, mantende diante do povo o grande objetivo da reforma -- que seu desígnio é assegurar o mais alto desenvolvimento do corpo, da mente e da alma. Mostrai que as leis da natureza, sendo as Leis de Deus, são designadas para nosso bem; que a obediência às mesmas promove a felicidade nesta vida, e contribui no preparo para a vida por vir. CBVc 51 2 Levai o povo a estudar as manifestações do amor e da sabedoria de Deus nas obras da natureza. Levai-os a estudar esse maravilhoso organismo que é o corpo humano, e as leis que o regem. Os que percebem as evidências do amor de Deus, que compreendem alguma coisa da sabedoria e beneficência de Suas leis, e os resultados da obediência, virão a considerar seus deveres e obrigações sob um ponto de vista inteiramente diverso. Em vez de olhar a observância das leis da saúde como um sacrifício ou uma abnegação, considerá-la-ão, como em realidade é, uma inestimável bênção. CBVc 51 3 Todo obreiro evangélico deve sentir que o instruir o povo quanto aos princípios do viver saudável é uma parte do trabalho que lhe é designado. Grande é a necessidade dessa obra, e o mundo está aberto para ela. CBVc 51 4 Há, por toda parte, a tendência de substituir o esforço individual pela obra de organizações. A sabedoria humana tende à consolidação, à centralização, à edificação de grandes igrejas e instituições. Muitos deixam às instituições e organizações a obra da beneficência; eximem-se do contato com o mundo, e seu coração torna-se frio. Ficam absorvidos consigo mesmos e insensíveis à impressão. Morre no seu coração o amor que deve ser dedicado somente a Deus e às pessoas. CBVc 51 5 Cristo confia a Seus seguidores uma obra individual -- uma obra que não pode ser feita por procuração. O serviço aos pobres e enfermos, o anunciar o evangelho aos perdidos, não deve ser deixado para comissões ou para a caridade organizada. Responsabilidade individual, individual esforço e sacrifício pessoal são exigências evangélicas. CBVc 51 6 "Sai pelos caminhos e atalhos, e força-os a entrar", é a ordem de Cristo, "para que a Minha casa se encha". Lucas 14:23. Ele põe homens em contato com aqueles a quem eles buscam beneficiar. "Recolhas em casa os pobres desterrados", diz Ele. "Vendo o nu, o cubras". Isaías 58:7. "Imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão". Marcos 16:18. Por meio de contato direto, de ministério pessoal, devem as bênçãos do evangelho ser comunicadas. CBVc 51 7 Ao comunicar luz a Seu povo antigamente, Deus não operava exclusivamente por meio de uma classe. Daniel era um príncipe de Judá. Também Isaías era de linhagem real. Davi era um jovem pastor, Amós um vaqueiro, Zacarias um cativo de Babilônia, Eliseu um lavrador. O Senhor suscitava como representantes Seus a profetas e príncipes, nobres e plebeus, e ensinava-lhes as verdades a serem dadas ao mundo. CBVc 52 1 A todos quantos se tornam participantes de Sua graça, o Senhor indica uma obra em benefício de outros. Cumpre-nos estar, individualmente, em nosso posto, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim". Isaías 6:8. Sobre o ministro da Palavra, a enfermeira-missionária, o médico cristão, o cristão individualmente, seja ele comerciante ou fazendeiro, profissional ou mecânico -- sobre todos repousa a responsabilidade. É nossa obra revelar aos homens o evangelho de sua salvação. Toda empresa em que nos empenhemos deve ser um meio para esse fim. CBVc 52 2 Os que se entregam à obra que lhes é designada não somente serão uma bênção a outros, como hão de ser eles próprios abençoados. A consciência do dever bem cumprido exercerá uma influência reflexa sobre sua própria alma. O acabrunhado esquecerá seu acabrunhamento, o fraco se tornará forte, o ignorante inteligente, e todos encontrarão um infalível auxiliador nAquele que os chamou. CBVc 52 3 A igreja de Cristo está organizada para o serviço. Sua senha é servir. Seus membros são soldados em preparo para o conflito sob as ordens do Príncipe de sua salvação. Pastores, médicos e professores cristãos têm uma obra mais vasta do que muitos têm reconhecido. Não lhes cumpre somente servir ao povo, mas ensinar-lhes a servir. Não devem apenas dar instruções nos retos princípios, mas educar seus ouvintes a comunicar os mesmos princípios. A verdade que não é vivida, que não é comunicada, perde seu poder vivificante, sua virtude restauradora. Sua bênção só pode ser conservada à medida que é partilhada com outros. CBVc 52 4 Necessita ser quebrada a monotonia de nosso serviço para Deus. Todo membro de igreja deve empenhar-se em algum ramo de atividade para o Mestre. Alguns não podem fazer tanto como outros, mas cada um deve efetuar o máximo para repelir a onda de doenças e aflições que está avassalando o mundo. Muitos teriam boa vontade de trabalhar, se lhes ensinassem a começar. Necessitam ser instruídos e animados. CBVc 52 5 Toda igreja deve ser uma escola missionária para obreiros cristãos. Seus membros devem ser instruídos em dar estudos bíblicos, em dirigir e ensinar classes da Escola Sabatina, na melhor maneira de auxiliar os pobres e cuidar dos doentes, de trabalhar pelos não-convertidos. Deve haver cursos de saúde, de arte culinária, e classes em vários ramos de serviço no auxílio cristão. Não somente deve haver ensino, mas trabalho real, sob a direção de instrutores experientes. Que os mestres vão à frente no trabalho entre o povo, e outros, unindo-se a eles, aprenderão em seu exemplo. Um exemplo vale mais que muitos preceitos. CBVc 52 6 Cultivem todos as suas faculdades físicas e mentais ao máximo de sua capacidade, a fim de poderem trabalhar para Deus onde Sua providência os chamar. A mesma graça que veio de Cristo a Paulo e a Apolo, que os distinguiu por excelências espirituais, será hoje comunicada aos devotados missionários cristãos. Deus deseja que Seus filhos tenham inteligência e conhecimento, para que com infalível clareza e poder Sua glória seja revelada em nosso mundo. CBVc 53 1 Obreiros educados, sendo consagrados a Deus, podem prestar mais variados serviços e realizar uma obra mais vasta, do que os não educados. Sua disciplina mental dá-lhes vantagens. Mas os que não são dotados de grandes talentos nem muita instrução podem trabalhar aceitavelmente por outros. Deus Se servirá de homens que desejam ser usados. Não são as pessoas mais brilhantes ou talentosas aquelas cujo trabalho produz maiores e mais duradouros resultados. Necessitam-se homens e mulheres que ouviram uma mensagem do Céu. Os obreiros mais eficientes são os que atendem ao convite: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim". Mateus 11:29. CBVc 53 2 São missionários de coração, os que são necessários. Aquele cujo coração é tocado por Deus é cheio de um grande anseio por aqueles que nunca Lhe conheceram o amor. Sua condição os impressiona com um senso de infortúnio pessoal. Expondo a própria vida, vai como mensageiro enviado pelo Céu e por ele inspirado para efetuar uma obra em que os anjos podem cooperar. CBVc 53 3 Se aqueles a quem Deus confiou grandes talentos intelectuais empregam esses dons para fins egoístas, serão deixados, após um período de prova, a seguir seu próprio caminho. Deus tomará homens que não parecem tão prodigamente dotados, que não têm grande confiança em si mesmos, e tornará os fracos fortes, porque confiam que Ele fará em seu favor o que eles próprios não podem realizar. Deus aceitará o serviço prestado de todo o coração, e suprirá por Sua parte as deficiências. CBVc 53 4 O Senhor tem muitas vezes escolhido para Seus colaboradores homens que não tiveram oportunidade de obter senão limitada educação escolar. Esses homens têm aplicado as faculdades da maneira mais diligente, e o Senhor os tem recompensado pela fidelidade a Sua obra, pela laboriosidade, a sede de conhecimento. Ele lhes tem sido testemunha das lágrimas, ouvido suas orações. Como desceram Suas bênçãos sobre os cativos na corte de Babilônia, assim dará Ele sabedoria e conhecimento aos Seus obreiros de hoje. CBVc 53 5 Homens deficientes em instrução, humildes quanto à condição social, têm, mediante a graça de Cristo, sido por vezes admiravelmente bem-sucedidos em ganhar almas para Ele. O segredo de seu êxito consistia na confiança que depositavam em Deus. Aprendiam diariamente dAquele que é maravilhoso em conselho e forte em poder. CBVc 53 6 Tais obreiros devem ser animados. O Senhor os põe em contato com os de mais assinalada capacidade, a preencher as brechas deixadas por outros. Sua prontidão em ver o que é preciso fazer, em acudir aos que se acham em necessidade, suas bondosas palavras e ações, abrem portas de utilidade que de outro modo permaneceriam fechadas. Procuram de perto os que se acham em aflições, e a persuasiva influência de suas palavras tem poder de atrair a Deus muitas almas trementes. Sua obra mostra o que milhares de outros poderiam fazer, se tão-somente o quisessem. CBVc 54 1 Vida mais ampla -- Coisa alguma despertará tanto um abnegado zelo e dará amplitude e resistência ao caráter como empenhar-se em trabalho para benefício de outros. Muitos cristãos professos, ao procurarem as relações da igreja, não pensam senão em si mesmos. Desejam fruir a comunhão da igreja e os cuidados pastorais. Fazem-se membros de grandes e prósperas igrejas, e ficam satisfeitos com pouco fazer pelos outros. Por esta maneira, estão-se roubando a si mesmos as mais preciosas bênçãos. Muitos seriam beneficiados em sacrificar suas aprazíveis associações, conducentes ao comodismo. Necessitam ir aonde suas energias serão requeridas em trabalho cristão, e aprenderão a assumir as responsabilidades. CBVc 54 2 Árvores plantadas muito próximas não crescem fortes e vigorosas. O jardineiro as transplanta, a fim de terem espaço para se desenvolver. Idêntico processo beneficiaria a muitos dos membros de grandes igrejas. Precisam ser colocados onde suas energias serão chamadas ao ativo esforço cristão. Eles estão perdendo a espiritualidade, tornando-se raquíticos e ineficientes por falta de abnegado trabalho em favor de outros. Transplantados para algum campo missionário, tornar-se-iam fortes e vigorosos. CBVc 54 3 Mas ninguém precisa esperar até que seja chamado para um campo distante, para começar a ajudar a outros. Portas de serviço se acham abertas por toda parte. Acham-se por todo lado ao redor de nós os que necessitam de auxílio. A viúva, o órfão, o doente e o moribundo, o magoado, o abatido, o ignorante e o desprezado acham-se por onde quer que formos. CBVc 54 4 Devemos sentir ser nosso especial dever trabalhar pelos que se encontram em nossa vizinhança. Pensai como podereis melhor ir em socorro dos que não têm nenhum interesse nas coisas religiosas. Ao visitardes vossos amigos e vizinhos, mostrai interesse em seu bem-estar espiritual, da mesma maneira no que respeita ao temporal. Falai-lhes de Cristo como um Salvador que perdoa o pecado. Convidai os vizinhos para vossa casa, e lede-lhes partes da preciosa Bíblia, e de livros que lhes explicam as verdades. Convidai-os a se unirem convosco em cânticos e orações. Nessas pequeninas reuniões, o próprio Cristo estará presente, segundo prometeu, e os corações serão tocados pela Sua graça. CBVc 54 5 Os membros da igreja se devem educar em fazer essa obra. Ela é exatamente tão essencial como salvar as almas entenebrecidas dos países estrangeiros. Enquanto alguns se preocupam com almas distantes, experimentam muitos dos que se acham na própria pátria responsabilidade pelos que se encontram ao redor, trabalhando com igual diligência pela salvação deles. CBVc 54 6 Muitos lamentam estar vivendo uma vida monótona. Eles próprios podem tornar sua vida mais ativa e influente, se quiserem. Os que amam a Cristo de coração, entendimento e alma, e a seu próximo como a si mesmos, têm um campo vasto em que empregar sua capacidade e influência. CBVc 55 1 As pequenas oportunidades -- Ninguém passe por alto as pequenas oportunidades, esperando por uma obra maior. Talvez executásseis com êxito o trabalho pequeno, mas falhásseis redondamente ao tentar fazer um outro maior, e caísseis em desânimo. É fazendo segundo as vossas forças o que vos vem à mão que haveis de desenvolver capacidade para uma obra de mais vulto. Desprezando as oportunidades diárias, negligenciando as pequeninas coisas que se acham bem perto, é que muitos se tornam infrutíferos e secos. CBVc 55 2 Não dependais de ajuda humana. Olhai para além das criaturas humanas, Àquele que foi designado por Deus para levar os nossos pesares, as nossas penas, e satisfazer as nossas necessidades. Pegando ao Senhor em Sua Palavra, dai começo ao trabalho onde quer que o encontreis, e avançai com inabalável fé. É a fé na presença de Cristo que dá resistência e firmeza. Trabalhai com abnegado interesse, árduos esforços e perseverante energia. CBVc 55 3 Nos campos em que as condições são tão objetáveis e desanimadoras que muitos para lá não estão dispostos a ir, assinaladas mudanças se têm operado pelos esforços de obreiros prontos a se sacrificarem. Paciente e perseverantemente eles trabalharam, não confiando no poder humano, mas em Deus, e Sua graça os susteve. Quanto de bem foi assim realizado, jamais será conhecido neste mundo, mas benditos resultados se verão no grande porvir. ------------------------Capítulo 9 -- Auxílio aos tentados CBVc 56 1 Não foi porque nós O amássemos primeiro que Cristo nos amou; mas, "sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5:8), Ele morreu por nós). Não nos trata segundo os nossos merecimentos. Embora nossos pecados mereçam condenação, Ele não nos condena. Ano após ano, tem lidado com a nossa fraqueza e ignorância, com nossa ingratidão e extravios. Apesar desses desvios, nossa dureza de coração, nossa negligência de Sua santa Palavra, Sua mão ainda se acha estendida para nós. CBVc 56 2 A graça é um atributo de Deus, exercido para com as indignas criaturas humanas. Não a buscamos, porém ela foi enviada a procurar-nos. Deus Se regozija de conceder-nos Sua graça, não porque somos dignos, mas porque somos tão completamente indignos. Nosso único direito a Sua misericórdia é nossa grande necessidade. CBVc 56 3 O Senhor Deus, por intermédio de Jesus Cristo, estende o dia todo a mão num convite aos pecadores e caídos. A todos receberá. Dá as boas-vindas a todos. É Sua glória perdoar ao maior dos pecadores. Ele tomará a presa ao valente, libertará o cativo, tirará do fogo o tição. Baixará a áurea cadeia de Sua misericórdia às mais baixas profundezas da ruína humana, e erguerá a degradada alma, contaminada pelo pecado. CBVc 56 4 Toda criatura humana é objeto de amoroso interesse por parte dAquele que deu a vida a fim de reconduzir os homens a Deus. Almas culpadas e impotentes, sujeitas a ser destruídas pelos ardis e artes de Satanás, são cuidadas como a ovelha do rebanho o é pelo pastor. CBVc 56 5 O exemplo do Salvador deve ser a norma de nosso serviço pelo tentado e o errante. O mesmo interesse e ternura e longanimidade que Ele tem manifestado para conosco, nos cumpre mostrar para com os outros. "Como Eu vos amei a vós", diz Ele, "que também vós uns aos outros vos ameis". João 13:34. Se Cristo habita em nós, manifestaremos Seu abnegado amor para com todos com quem temos de tratar. Ao vermos homens e mulheres necessitados de simpatia e auxílio, não devemos indagar: "São eles dignos?", mas: "Como os poderei beneficiar?" CBVc 56 6 Ricos e pobres, elevados e humildes, livres e servos, todos são herança de Deus. Aquele que deu a vida para redimir os homens vê em toda criatura humana um valor que excede ao cálculo finito. Pelo mistério e glória da cruz, devemos discernir Sua estimativa do preço de uma alma. Quando assim fizermos, sentiremos que a criatura humana, embora degradada, custou demasiado para ser tratada com frieza e desdém. Compreenderemos a importância de trabalhar por nossos semelhantes, para que sejam exaltados ao trono de Deus. CBVc 57 1 A moeda perdida da parábola do Salvador, conquanto se achasse na sujeira e lixo, era ainda um pedaço de prata. Sua possuidora buscou-a porque era de valor. Assim toda pessoa, ainda que desvalorizada pelo pecado, é aos olhos de Deus considerada preciosa. Como a moeda trazia a imagem e inscrição do poder dominante, assim apresentava o homem na sua criação a imagem e inscrição de Deus. Embora estejam ao presente manchadas e obscurecidas pela influência do pecado, os traços dessa inscrição permanecem em cada pessoa. Deus deseja readquiri-la para reimprimir sobre ela Sua própria imagem em justiça e santidade. CBVc 57 2 Quão pouco nos ligamos com Cristo em simpatia naquilo que devia ser o mais forte laço de união entre nós e Ele -- a compaixão para com os depravados, culpados, sofredores, mortos em ofensas e pecados! A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado. Muitos pensam que estão representando a justiça de Deus, ao passo que deixam inteiramente de Lhe representar a ternura e o grande amor. Muitas vezes aqueles a quem eles tratam com severidade e rispidez se acham sob o jugo da tentação. Satanás está lutando com essas pessoas, e palavras ásperas, destituídas de simpatia, desanimam-nas, fazendo-as cair presa do poder do tentador. CBVc 57 3 Delicada coisa é o trato com a mente dos homens. Unicamente Aquele que conhece o coração sabe a maneira de levar o homem ao arrependimento. Só a Sua sabedoria nos pode dar êxito em alcançar os perdidos. Podeis erguer-vos inflexivelmente, pensando: "Sou mais santo do que tu", e não importa quão correto seja o vosso raciocínio ou quão verdadeiras as vossas palavras, elas jamais tocarão corações. O amor de Cristo, manifestado em palavras e atos, encontrará caminho à alma, quando a reiteração do preceito ou do argumento nada conseguiria. CBVc 57 4 Necessitamos mais da simpatia natural de Cristo; não somente simpatia pelos que se nos apresentam irrepreensíveis, mas pelas pobres almas sofredoras, em luta, que são muitas vezes achadas em falta, pecando e se arrependendo, sendo tentadas e vencidas de desânimo. Devemos dirigir-nos a nossos semelhantes tocados -- como nosso misericordioso Sumo Sacerdote -- pelo sentimento de suas enfermidades. CBVc 57 5 Eram os rejeitados, os publicanos e pecadores, os desprezados pelos povos, que Cristo chamava, e por Sua amorável bondade os compelia a aproximar-se dEle. A classe que Ele nunca favorecia era a daqueles que ficavam à parte na própria estima, e olhavam os outros de alto para baixo. CBVc 57 6 "Sai pelos caminhos e atalhos, e força-os a entrar", ordena-nos Cristo, "para que a Minha casa se encha". Lucas 14:23. Em obediência a esta palavra, devemos ir aos não-convertidos que se acham perto de nós, e aos que estão distantes. Os "publicanos e as meretrizes" (Mateus 21:31) devem ouvir o convite do Salvador. Por meio da bondade e da longanimidade de Seus mensageiros, o convite se torna um poder para erguer os que se acham imersos nas maiores profundezas do pecado. CBVc 58 1 Os motivos cristãos exigem que trabalhemos com um firme desígnio, um infatigável interesse e crescente insistência, por essas almas a quem Satanás está procurando destruir. Coisa alguma nos deve esfriar a fervorosa, anelante energia pela salvação dos perdidos. CBVc 58 2 Notai como através de toda a Palavra de Deus se manifesta o espírito de insistência, de implorar a homens e mulheres que se cheguem a Cristo. Devemo-nos apoderar de toda oportunidade, tanto em particular como em público, apresentando todo argumento, insistindo com razões de peso infinito para atrair homens ao Salvador. Com todas as nossas forças nos cumpre insistir com eles para que olhem a Jesus, e aceitem Sua vida de abnegação e sacrifício. Devemos mostrar que esperamos que eles dêem alegria ao coração de Cristo, usando todos os Seus dons para honra de seu nome. CBVc 58 3 Salvos por esperança -- "Em esperança, somos salvos". Romanos 8:24. Os caídos devem ser levados a sentir que não é demasiado tarde para serem íntegros. Cristo honrou o homem com Sua confiança, deixando-o então sob a vigilância de sua própria honra. Mesmo aqueles que haviam caído mais baixo, Ele tratava com respeito. Era para Cristo uma contínua dor o contato com a inimizade, a depravação e a impureza; nunca, porém, proferiu Ele uma expressão que mostrasse estarem as Suas sensibilidades chocadas ou ofendidos os Seus apurados gostos. Fossem quais fossem os maus hábitos, os fortes preconceitos ou as dominantes paixões das criaturas humanas, Ele as encarava a todas com piedosa ternura. Ao partilharmos de Seu Espírito, olharemos todos os homens como irmãos, com idênticas tentações e provas, caindo muitas vezes e lutando por se erguer novamente, combatendo contra o desânimo e as dificuldades, sedentos de simpatia e auxílio. Então nos aproximaremos deles de modo a não desanimá-los nem repeli-los, mas a despertar esperança em seu coração. Ao serem assim animados, poderão dizer em confiança: "Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz." Ele julgará "a minha causa" e executará "o meu direito". Ele trazer-me-á "à luz, e eu verei a Sua justiça". Miquéias 7:8, 9. Deus "da Sua morada contempla todos os moradores da Terra.Ele é que forma o coração de todos eles". Salmos 33:14, 15. CBVc 58 4 Ele nos manda, no trato com os tentados e errantes, olhar "por ti mesmo, para que não sejas também tentado". Gálatas 6:1. Com um senso de nossas próprias enfermidades, teremos compaixão das enfermidades dos outros. CBVc 58 5 "Quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?" 1 Coríntios 4:7. "Um só é o vosso Mestre, [...] e todos vós sois irmãos". Mateus 23:8. "Por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? [...] Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão". Romanos 14:10, 13. CBVc 59 1 É sempre humilhante ver seus próprios erros apontados. Ninguém deveria tornar a prova mais amarga por desnecessárias censuras. Ninguém já foi conquistado por meio de repreensão; mas muitos têm sido assim alienados, sendo levados a endurecer o coração contra as convicções. Um espírito brando, uma maneira suave e cativante, pode salvar o desviado, e encobrir uma multidão de pecados. CBVc 59 2 O apóstolo Paulo achou necessário reprovar o erro, mas quão cuidadosamente procurou ele mostrar que era um amigo para os extraviados! Quão ansiosamente lhes explicava o motivo de seu proceder! Fazia-os compreender que lhe doía o causar-lhes dor. Mostrava a simpatia e confiança que tinha para com os que estavam lutando por vencer. CBVc 59 3 "Em muita tribulação e angústia de coração, vos escrevi", disse ele, "com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho". 2 Coríntios 2:4. "Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido; [...] agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento. [...] Porque, quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio. [...] Por isso, fomos consolados". 2 Coríntios 7:8, 9, 11, 13. CBVc 59 4 "Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós". 2 Coríntios 7:16. "Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração". Filipenses 1:3-7. "Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados". Filipenses 4:1. "Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor." 1 Tessalonicenses 3:8. CBVc 59 5 Paulo escrevia a esses irmãos como a "santos em Cristo Jesus" (Filipenses 4:21); mas não estava escrevendo a pessoas de caráter perfeito. Escrevia-lhes como a homens e mulheres que estavam lutando contra a tentação, e se achavam em perigo de cair. Apontava-lhes "o Deus de paz" que "tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas". Assegurava-lhes que, "pelo sangue do concerto eterno" Ele os aperfeiçoaria "em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus". Hebreus 13:20, 21. CBVc 59 6 Quando uma pessoa em falta se torna consciente de seu erro, cuidai em não lhe destruir o respeito de si mesma. Não a desanimeis pela indiferença ou a desconfiança. Não digais: "Antes de lhe dar minha confiança, quero esperar para ver se ela persevera." Freqüentemente essa mesma desconfiança faz com que o tentado tropece. CBVc 60 1 Devemos esforçar-nos por compreender as fraquezas dos outros. Pouco sabemos nós das provas de coração daqueles que têm estado ligados em cadeias de trevas, a quem falta resolução e poder moral. Por demais lastimável é a condição daquele que sofre ao peso do remorso; é como uma pessoa aturdida, cambaleante, a afundar-se no pó. Não pode ver nada com clareza. A mente se acha obscurecida, não sabe que passo há de dar. Muita pobre alma é mal compreendida, mal apreciada, cheia de aflição e de angústia -- uma ovelha desgarrada, perdida. Não pode encontrar a Deus, e experimenta todavia intenso anseio de perdão e de paz. CBVc 60 2 Oh, não deixeis escapar nenhuma palavra que vá causar dor mais profunda ainda! À alma cansada de uma vida de pecado, mas não sabendo onde encontrar alívio, apresentai o compassivo Salvador. Tomai-a pela mão, erguei-a, dirigi-lhe palavras de ânimo e esperança. Ajudai-a a segurar a mão do Salvador. CBVc 60 3 Desanimamos muito facilmente com os que não correspondem imediatamente aos nossos esforços. Nunca devemos deixar de trabalhar por uma pessoa enquanto houver um raio de esperança. Os seres humanos custaram a nosso Redentor demasiado caro para serem levianamente abandonados ao poder do tentador. CBVc 60 4 Necessitamos colocar-nos a nós mesmos no lugar dos tentados. Considerai o poder da hereditariedade, a influência das más companhias e do ambiente, a força dos maus hábitos. Podemos nós admirar-nos de que, sob tais influências, muitos se degradem? Podemos admirar que sejam tardios em corresponder aos nossos esforços pelo seu reerguimento? CBVc 60 5 Muitas vezes, quando conquistados para o evangelho, aqueles que se afiguravam vulgares e não promissores, achar-se-ão entre os mais leais de seus adeptos e defensores. Não estão inteiramente corrompidos. Sob um desagradável exterior, há impulsos bons que podem ser atraídos. Sem a mão ajudadora, muitos há que nunca se haveriam de restabelecer, mas mediante esforço paciente e perseverante, podem ser levantados. Essas pessoas requerem ternas palavras, bondosa consideração, auxílio real. Necessitam aquela espécie de conselho que não extinguirá o débil raio de ânimo na alma. Considerem isso os obreiros que se põem em contato com elas. CBVc 60 6 Serão encontrados alguns cuja mente foi por tão longo tempo desacreditada que nunca na vida se tornarão aquilo que poderiam ter sido sob mais favoráveis circunstâncias. Mas os brilhantes raios do Sol da Justiça podem resplandecer na alma. É seu privilégio possuir aquela vida que se estende paralela à vida de Deus. Implantai-lhes na mente pensamentos que elevem e enobreçam. Que vossa vida lhes patenteie a diferença entre o vício e a pureza, as trevas e a luz. Leiam eles em vosso exemplo o que significa ser cristão. Cristo é capaz de levantar os maiores pecadores, colocando-os no estado em que serão reconhecidos como filhos de Deus, herdeiros com Cristo da herança imortal. CBVc 61 1 Pelo milagre da divina graça, muitos podem tornar-se aptos para uma vida de utilidade. Desprezados e abandonados, perderam por completo o ânimo; talvez pareçam insensíveis e indiferentes. Sob o ministério do Espírito Santo, todavia, a estupidez que faz parecer impossível seu reerguimento desaparecerá. A mente pesada, obscurecida, despertará. O escravo do pecado será posto em liberdade. O vício desaparecerá, será vencida a ignorância. Mediante a fé que opera por amor, o coração será purificado e a mente, iluminada. ------------------------Capítulo 10 -- A obra em favor dos intemperantes CBVc 62 1 Toda verdadeira reforma tem seu lugar na obra do evangelho, e tende ao reerguimento da alma a uma vida nova e mais nobre. A obra da temperança, especialmente, requer o apoio dos obreiros cristãos. Eles devem chamar a atenção para essa obra, tornando-a objeto de vivo interesse. Por toda parte devem apresentar ao povo os princípios da verdadeira temperança, e pedir assinaturas para o voto da mesma. Fervorosos esforços se devem fazer em favor dos que se acham escravizados aos maus hábitos. CBVc 62 2 Há por toda parte uma obra a ser feita por aqueles que caíram devido à intemperança. Entre as igrejas, as instituições religiosas, e lares supostamente cristãos, muitos jovens estão seguindo o caminho da ruína. Por hábitos de intemperança, trazem sobre si mesmos a enfermidade, e pela ganância de obter dinheiro para pecaminosas transigências, caem em práticas desonestas. Arruínam a saúde e o caráter. Alienados de Deus, rejeitados pela sociedade, essas pobres pessoas se sentem sem esperança tanto para esta vida como para outra, por vir. O coração dos pais fica quebrantado. As pessoas falam desses extraviados como casos sem esperança; assim não os considera Deus. Ele compreende todas as circunstâncias que os têm tornado o que são, e os contempla com piedade. Essa é uma classe que demanda auxílio. Nunca lhes deis ocasião de dizer: "Ninguém se importa comigo." CBVc 62 3 Acham-se entre as vítimas da intemperança indivíduos de todas as classes e profissões. Pessoas de elevada posição, de notáveis talentos, de grandes realizações, têm cedido aos apetites a ponto de se tornarem incapazes de resistir à tentação. Alguns, que eram antes possuidores de fortuna, encontram-se sem lar, sem amigos, em sofrimento e miséria, enfermidade e degradação. Perderam o domínio de si mesmos. A menos que uma mão ajudadora lhes seja estendida, hão de cair mais e mais baixo. Aliada a essa condescendência consigo mesmo se acha, não somente um pecado moral, mas uma doença física. CBVc 62 4 Muitas vezes, ao ajudar os intemperantes, devemos, como Cristo fazia tão freqüentemente, atender primeiro a suas condições físicas. Necessitam alimento e bebida saudáveis, não estimulantes, roupas limpas, oportunidades de manter o asseio físico. Necessitam ser rodeados de uma atmosfera de salutar e enobrecedora influência cristã. Deve-se prover em toda cidade um lugar em que os escravos dos maus hábitos possam receber auxílio para quebrar as cadeias que os prendem. A bebida forte é considerada por muitos o único consolo na aflição; mas não será preciso que seja assim, se, em lugar de desempenhar o papel do sacerdote e do levita, os professos cristãos seguirem o exemplo do bom samaritano. CBVc 63 1 Ao lidar com as vítimas da intemperança, cumpre-nos lembrar que não estamos tratando com pessoas de são juízo, mas com aqueles que, de momento, se acham sob o poder de um demônio. Sede pacientes e mansos. Não penseis na desagradável, repulsiva aparência, mas na preciosa vida para cuja redenção Cristo morreu. Ao despertar o bêbado para o sentimento de sua degradação, fazei quanto estiver ao vosso alcance para lhe mostrar que sois seu amigo. Não profirais uma palavra de censura ou de repugnância. É muito provável que a pobre pessoa se maldiga a si mesma. Ajudai-a a se erguer. Dirigi-lhe palavras que fortaleçam a fé. Procurai fortalecer todo bom traço em seu caráter. Ensinai-lhe a maneira de alcançar um nível mais elevado. Mostrai-lhe que é possível viver de modo a conquistar o respeito de seus semelhantes. Ajudai-a a ver o valor dos talentos que Deus lhe tem dado, mas que ela tem negligenciado desenvolver. CBVc 63 2 Embora se haja a vontade depravado e enfraquecido, existe para ela esperança em Cristo. Esse lhe despertará no coração mais elevados impulsos e desejos mais santos. Animai-a a apoderar-se da esperança que se lhe apresenta no evangelho. Abri a Bíblia ao tentado e lutador, lendo-lhes repetidamente as promessas de Deus. Essas promessas serão para ele como as folhas da árvore da vida. Continuai pacientemente em vossos esforços, até que, com reconhecida alegria, a trêmula mão se apegue à esperança da redenção em Cristo. CBVc 63 3 Deveis apegar-vos firmemente àqueles a quem buscais ajudar, do contrário jamais obtereis a vitória. Eles serão continuamente tentados para o mal. Serão repetidamente quase vencidos pelo intenso desejo da bebida forte; aqui e ali poderão cair; não cesseis, entretanto, por isso, os vossos esforços. CBVc 63 4 Eles decidiram fazer um esforço para viver para Cristo; sua força de vontade, porém, acha-se enfraquecida, e devem ser cuidadosamente guardados pelos que cuidam das almas como quem por elas têm de dar contas. Eles perderam sua varonilidade, que devem reconquistar. Muitos têm de lutar contra fortes tendências hereditárias para o mal. Fortes desejos não naturais, impulsos sensuais, eis a herança que por nascimento receberam. Contra os mesmos devem ser cuidadosamente guardados. Interior e exteriormente, estão o bem e o mal em luta pelo domínio. Os que nunca passaram por tais experiências não podem conhecer o quase avassalador poder do apetite, ou o feroz conflito entre os hábitos de condescendência consigo mesmo e a decisão de ser temperante em todas as coisas. Essa batalha deve ser travada uma e muitas vezes. CBVc 63 5 Muitos dos que são atraídos a Cristo não possuirão força moral para continuar a luta contra o apetite e a paixão. O obreiro não deve, no entanto, se desanimar por isso. São apenas os que foram salvos das maiores profundidades os que apostatam? CBVc 64 1 Lembrai-vos de que não trabalhais sozinhos. Anjos ministradores se unem em serviço a todo o sincero filho e filha de Deus. E Cristo é o restaurador. O grande Médico mesmo Se acha ao lado dos fiéis obreiros, dizendo à alma arrependida: "Filho, perdoados estão os teus pecados". Marcos 2:5. CBVc 64 2 Muitos serão os párias que se apoderarão da esperança que lhes é apresentada no evangelho, e entrarão no reino do Céu, ao passo que outros que foram beneficiados com grandes oportunidades e grande luz, que não aproveitaram, serão deixados nas trevas exteriores. CBVc 64 3 As vítimas de maus hábitos devem ser despertadas para a necessidade de fazer esforços por si mesmos. Outros podem desenvolver os mais fervorosos empenhos para erguê-los, a graça de Deus pode-lhes ser abundantemente oferecida, Cristo pode rogar, Seus anjos ministrar; tudo, porém, será em vão, a menos que eles próprios despertem para pelejar o combate em seu favor. CBVc 64 4 As últimas palavras de Davi a Salomão, então um jovem, e que ia em breve receber a coroa de Israel, foram: "Esforça-te, [...] e sê homem". 1 Reis 2:2. A todo filho da humanidade, candidato a uma coroa imortal, são dirigidas essas mesmas palavras pela inspiração. CBVc 64 5 Os habituados a satisfazer às tendências naturais devem ser levados a ver e a sentir que é mister grande renovação moral, se se querem tornar homens. Deus os convida a despertar e, na força de Cristo, reconquistar a varonilidade que Deus lhes dera, e que foi sacrificada em pecaminosas condescendências. CBVc 64 6 Sentindo o terrível poder da tentação, o arrastamento do desejo que leva à fraqueza, muito homem brada em desespero: "Não posso resistir ao mal." Dizei-lhe que ele pode, que ele precisa resistir. Poderá haver sido derrotado uma e outra vez, mas não é necessário que seja sempre assim. Ele é fraco em força moral, dominado por hábitos de uma vida de pecado. Suas promessas e resoluções são como cordas de areia. A consciência das promessas não cumpridas e dos violados votos enfraquece-lhe a confiança na própria sinceridade, fazendo com que ele sinta que Deus não o pode aceitar, nem cooperar com os seus esforços. Não precisa, entretanto, desesperar. CBVc 64 7 Os que põem em Cristo a confiança não devem ficar escravizados por nenhuma tendência ou hábito hereditário, ou cultivado. Em lugar de ficar subjugados em servidão à natureza inferior, devem reger todo apetite e paixão. Deus não nos deixou lutar com o mal em nossa própria, limitada força. Sejam quais forem nossas tendências herdadas ou cultivadas para o erro, podemos vencer, mediante o poder que Ele nos está disposto a comunicar. CBVc 64 8 Decepções e perigos -- Os que trabalham pelos caídos ficarão decepcionados com muitos que dão esperança de reforma. Muitos não farão senão uma superficial mudança em seus hábitos e maneiras de proceder. São movidos por impulso, e por algum tempo podem parecer reformados; mas não há verdadeira mudança de coração. Acariciam o mesmo amor-próprio, têm a mesma sede de prazeres vãos, o mesmo desejo de satisfação própria. Não têm conhecimento da obra da formação do caráter, e não se pode confiar neles como homens de princípios. Rebaixaram suas faculdades mentais e espirituais pela satisfação do apetite e da paixão, o que os enfraquece. São inconstantes e mutáveis. Seus impulsos tendem à sensualidade. Essas pessoas são muitas vezes uma fonte de perigo para outros. Sendo considerados como homens e mulheres reformados, confiam-se-lhes responsabilidades, e são colocados em posições em que sua influência corrompe os inocentes. CBVc 65 1 Mesmo os que estão buscando sinceramente reformar-se não se acham livres do perigo de cair. Precisam ser tratados com grande sabedoria e ternura. A tendência de lisonjear e exaltar os que foram salvos das maiores profundidades provoca por vezes sua ruína. O costume de convidar homens e mulheres para relatar em público os incidentes de sua vida de pecado é cheio de perigos, tanto para o que fala como para os que escutam. Demorar o pensamento em cenas de mal é corruptor para a mente e a alma. E o destaque em que se colocam os que são assim salvos é-lhes prejudicial. Muitos são levados a pensar que sua vida pecaminosa lhes confere certa distinção. São animados o amor da notoriedade e o espírito de confiança em si mesmo, os quais se demonstram fatais à alma. Unicamente desconfiando de si mesmos e confiando na misericórdia de Cristo podem eles subsistir. CBVc 65 2 Todos quantos dão provas de verdadeira conversão devem ser animados a trabalhar pelos outros. Que ninguém repila uma alma que deixa o serviço de Satanás pelo de Cristo. Quando uma pessoa dá demonstração de que o Espírito de Deus está lutando com ela, dai-lhe todo ânimo para entrar no serviço do Senhor. "E tende piedade de uns, usando de discernimento" Judas 22 (TT). Os que são sábios na sabedoria que vem de Deus verão almas necessitadas de auxílio, pessoas que se arrependeram sinceramente, mas que, sem animação, mal se atreveriam a firmar-se na esperança. O Senhor porá no coração de Seus servos receber com agrado essas criaturas trementes, arrependidas, para sua amorável convivência. Sejam quais forem seus pecados habituais, não importa quão baixo hajam elas caído, quando, em contrição se achegam a Cristo, Ele as recebe. Dai-lhes então alguma coisa a fazer para Ele. Se elas desejam trabalhar no reerguimento de outros do abismo da destruição de que elas próprias foram salvas, dai-lhes oportunidade. Ponde-as em contato com cristãos experientes, a fim de obterem vigor espiritual. Enchei-lhes o coração e as mãos de trabalho para o Mestre. CBVc 65 3 Quando a luz resplandece na alma, alguns dos que pareciam mais entregues ao pecado se tornarão obreiros de êxito em favor de pecadores da mesma espécie que eles antes foram. Mediante a fé em Cristo, alguns se erguerão a elevadas posições de serviço, e ser-lhes-ão confiadas responsabilidades na obra de salvar almas. Eles vêem onde reside sua fraqueza, compreendem a depravação de sua natureza. Conhecem a força do pecado, e do mau hábito. Avaliam sua incapacidade para vencer sem o auxílio de Cristo, e seu constante clamor é: "Sobre Ti lanço minha desamparada alma." CBVc 66 1 Esses podem ajudar a outros. Aquele que tem sido tentado e provado, cuja esperança havia quase desaparecido, mas foi salvo ouvindo a mensagem de amor, é capaz de entender a ciência de salvar almas. Aquele cujo coração está cheio de amor para com Cristo, por haver sido, ele mesmo, procurado pelo Salvador e trazido de volta ao redil, sabe ir em busca dos perdidos. Pode encaminhar os pecadores ao Cordeiro de Deus. Entregou-se sem reservas a Deus, e foi aceito no Amado. Foi segurada a mão que, em fraqueza, se estendeu num pedido de socorro. Pelo ministério dessas pessoas, muitos pródigos serão levados ao Pai. CBVc 66 2 Para toda alma em luta por se erguer de uma vida de pecado a uma de pureza, o grande elemento de poder reside no único nome "debaixo do céu", "dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos dos Apóstolos 4:12. "Se alguém tem sede" de tranqüilizadora esperança, de libertação de propensões pecaminosas, Cristo diz: "Venha a Mim e beba". João 7:37. O único remédio para o vício é a graça e o poder de Cristo. CBVc 66 3 As boas resoluções tomadas por alguém em suas próprias forças nada valem. Nem todos os votos do mundo quebrariam o poder do mau hábito. Homem algum nunca praticará a temperança em todas as coisas enquanto seu coração não estiver renovado pela graça divina. Não nos podemos guardar de pecar por um momento sequer. A cada instante dependemos de Deus. CBVc 66 4 A verdadeira reforma começa com a purificação da alma. Nosso trabalho com os caídos só logrará real êxito à medida que a graça de Cristo remodelar o caráter, e a alma for posta em viva ligação com Deus. CBVc 66 5 Cristo viveu uma vida de perfeita obediência à Lei de Deus, deixando nisto um exemplo perfeito a toda criatura humana. A vida que Ele viveu neste mundo, devemos nós viver, mediante Seu poder, e sob as Suas instruções. CBVc 66 6 Em nossa obra pelos caídos, cumpre gravar na mente e no coração deles as exigências da Lei de Deus e a necessidade de lealdade para com Ele. CBVc 66 7 Nunca deixeis de mostrar que existe assinalada diferença entre os que servem a Deus e os que O não servem. Deus é amor, mas não pode desculpar a voluntária desconsideração de Seus mandamentos. Os decretos de Seu governo são de tal ordem que o homem não escapa às conseqüências da deslealdade. Ele só pode honrar àqueles que O honram. A conduta do homem neste mundo decide seu eterno destino. Segundo houver semeado, assim ceifará. A causa será seguida do efeito. CBVc 66 8 Nada menos que a perfeita obediência pode satisfazer ao ideal que Deus requer. Ele não deixou Sua vontade indefinida. Não ordenou coisa alguma que não seja necessária a fim de pôr o homem em harmonia com Ele. Devemos encaminhar os pecadores a Seu ideal de caráter, e conduzi-los a Cristo, por cuja graça, unicamente, pode esse ideal ser atingido. CBVc 67 1 O Salvador tomou sobre Si as enfermidades humanas, e viveu uma vida sem pecado, a fim de os homens não terem nenhum temor de que, devido à fraqueza da natureza humana, eles não pudessem vencer. Cristo veio para nos tornar "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4), e Sua vida declara que a humanidade, unida à divindade, não comete pecado). CBVc 67 2 O Salvador venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Todas as tentações de Satanás, Cristo enfrentava com a Palavra de Deus. Confiando nas promessas divinas, recebia poder para obedecer aos mandamentos de Deus, e o tentador não podia alcançar vantagem. A toda tentação, Sua resposta era: "Está escrito." Assim Deus nos tem dado Sua Palavra para com ela resistirmos ao mal. Pertencem-nos grandíssimas e preciosas promessas, a fim de que por elas fiquemos "participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. CBVc 67 3 Dizei ao tentado que não olhe às circunstâncias, à fraqueza do próprio eu, ou ao poder da tentação, mas ao poder da Palavra de Deus. Toda a sua força nos pertence. "Escondi a Tua palavra no meu coração", diz o salmista, "para eu não pecar contra Ti". Salmos 119:11. "Pela palavra dos Teus lábios me guardei das veredas do destruidor." Salmos 17:4. CBVc 67 4 Falai ao povo de maneira a incutir ânimo; erguei-os a Deus em oração. Muitos dos que têm sido vencidos pela tentação são humilhados por seus fracassos, e sentem ser vão buscar aproximar-se de Deus; mas esse pensamento é sugestão do inimigo. Quando pecaram, e sentem que não podem orar, dizei-lhes que é então o momento de orar. Talvez se encontrem envergonhados, e profundamente humilhados; ao confessarem, porém os seus pecados, Aquele que é fiel e justo lhos perdoará, purificando-os de toda injustiça. CBVc 67 5 Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na realidade mais invencível, do que a alma que sente o seu nada, e confia inteiramente nos méritos do Salvador. Pela oração, pelo estudo de Sua Palavra, pela fé em Sua constante presença, a mais fraca das criaturas humanas pode viver em contato com o Cristo vivo, e Ele a segurará com mão que nunca a soltará. ------------------------Capítulo 11 -- Os desempregados e os destituídos de lar CBVc 68 1 Há homens e mulheres de grande coração, os quais meditam ansiosamente na situação dos pobres, e nos meios pelos quais possam ser aliviados. Um problema para o qual muitos estão buscando uma solução é como os desempregados e os que não têm lar podem ser ajudados em obter as bênçãos comuns da providência de Deus e viver a vida que Ele intentava que o homem vivesse. Mas não há muitos, mesmo entre educadores e estadistas, que compreendam as causas que se acham no fundo do atual estado da sociedade. Os que seguram as rédeas do governo são incapazes de resolver o problema da corrupção moral, da pobreza, da miséria e do crime crescente. Estão lutando em vão para colocar as operações comerciais em base mais segura. CBVc 68 2 Se os homens dessem mais atenção aos ensinos da Palavra de Deus, encontrariam uma solução a esses problemas que os desconcertam. Muito se poderia aprender do Antigo Testamento quanto à questão do trabalho e do alívio aos pobres. CBVc 68 3 Nos bairros pobres -- Há nas grandes cidades multidões que recebem menos cuidado e consideração do que os que são concedidos a mudos animais. Pensai nas famílias amontoadas como rebanhos em miseráveis cortiços, sombrios porões muitos deles, exalando umidade e imundícia. Nesses sórdidos lugares as crianças nascem, crescem e morrem. Nada vêem das belezas naturais que Deus criou para deleitar os sentidos e elevar a alma. Rotas e quase morrendo de fome, vivem elas entre o vício e a depravação, moldadas no caráter pela miséria e o pecado que as rodeia. As crianças só ouvem o nome de Deus de maneira profana. A linguagem suja, as imprecações e os insultos enchem-lhes os ouvidos. As exalações da bebida e do fumo, nocivos maus cheiros e degradação moral pervertem-lhes os sentidos. Assim se preparam multidões para se tornarem criminosos, inimigos da sociedade que os abandonou à miséria e à degradação. CBVc 68 4 Nem todos os pobres dos becos das cidades pertencem a essa classe. Homens e mulheres tementes a Deus têm sido levados aos extremos da pobreza por doença ou infortúnio, muitas vezes causados pelos desonestos planos dos que vivem à custa dos semelhantes. Muitos que são retos e bem-intencionados ficam pobres por falta de preparo profissional. Por ignorância, se acham inaptos para lutar com as dificuldades da vida. Levados a esmo para as cidades, são muitas vezes incapazes de achar emprego. Rodeados de cenas e sons de vício, são sujeitos a terríveis tentações. Associados e muitas vezes classificados com os viciados e os degradados, é somente por uma luta sobre-humana, um poder acima do finito, que podem ser preservados de cair no mesmo abismo. Muitos se apegam firmemente a sua integridade, preferindo sofrer a pecar. Esta classe, em especial, requer auxílio, simpatia e ânimo. CBVc 69 1 Se os pobres agora aglomerados nas cidades encontrassem habitações no campo, poderiam não somente ganhar a subsistência, mas encontrar a saúde e a felicidade que hoje desconhecem. Trabalho árduo, comida simples, estrita economia, muitas vezes durezas e privações, eis o que seria sua vida. Mas que bênçãos lhes seria deixar a cidade com suas atrações para o mal, sua agitação e crime, sua miséria e torpeza, para o sossego, a paz e pureza do campo! CBVc 69 2 Para muitos dos que residem nas cidades, sem ter um cantinho de relva verde em que pisar, que olham ano após ano para pátios imundos, becos estreitos, paredes e pavimentos de tijolo e céus nublados de poeira e fumaça -- pudessem eles ser levados a alguma região agrícola, circundada de verdes campinas, matas, colinas e riachos, os límpidos céus e o ar fresco e puro dos campos, isso lhes pareceria quase um paraíso. CBVc 69 3 Separados em grande parte do contato do homem e da dependência deles, afastados das máximas e costumes corruptores do mundo e de suas tentações, aproximar-se-iam mais do coração da natureza. A presença de Deus lhes seria mais real. Muitos aprenderiam a lição da confiança nEle. Mediante a natureza, ouviriam Sua voz comunicando-lhes paz e amor ao coração; e espírito e alma e corpo corresponderiam ao restaurador e vivificante poder. CBVc 69 4 Se hão de tornar-se um dia industriosos e independentes, muitos precisam de ter auxílio, encorajamento e instrução. Há multidões de famílias pobres pelas quais não se poderia fazer nenhum melhor trabalho missionário do que ajudá-las a se estabelecerem no campo, e aprenderem a tirar dele um meio de vida. CBVc 69 5 A necessidade de tal auxílio e instrução não se limita às cidades. Mesmo no campo, com todas as suas possibilidades quanto a uma vida melhor, multidões de pobres se acham em grande carência. Localidades inteiras estão destituídas de educação em assuntos industriais e higiênicos. Há famílias morando em choças, com mobília e vestuário deficientes, sem utensílios, sem livros, destituídos tanto de confortos como de meios de cultura. Almas embrutecidas, corpos fracos e mal formados, mostram os resultados da má hereditariedade e dos hábitos errôneos. Essas pessoas devem ser educadas principiando com os próprios fundamentos. Têm vivido uma vida frouxa, ociosa, corrupta, e precisam ser exercitadas nos hábitos corretos. CBVc 70 1 Como podem elas ser despertadas para a necessidade de melhoria? Como podem ser encaminhadas para um mais elevado ideal de vida? Como podem ser ajudadas a se erguer? Que se pode fazer onde domina a pobreza, tendo-se com ela de lutar a cada passo? O trabalho é certamente difícil. A necessária reforma jamais se efetuará, a menos que homens e mulheres sejam assistidos por um poder fora deles mesmos. É o desígnio de Deus que o rico e o pobre estejam intimamente ligados pelos laços da simpatia e da assistência mútua. Os que dispõem de meios, talentos e aptidões devem empregá-los para benefício de seus semelhantes. CBVc 70 2 Os agricultores cristãos podem fazer um verdadeiro trabalho missionário em ajudar os pobres a encontrar um lar no campo, e ensinar-lhes a lavrar o solo e torná-lo produtivo. Ensinai-os a servir-se dos instrumentos de agricultura, a cultivar as várias plantações, a formar pomares e cuidar deles. CBVc 70 3 Muitos dos que lavram o solo deixam de colher a devida retribuição por causa de sua negligência. Seus pomares não são devidamente cuidados, as sementes não são semeadas no tempo conveniente, e a obra de revolver a terra é feita de modo superficial. Seu mau êxito, lançam eles à conta da esterilidade do solo. Dá-se muitas vezes um falso testemunho ao condenar uma terra que, devidamente cultivada, havia de produzir fartos lucros. A estreiteza dos planos, o pequeno esforço desenvolvido, o pouco estudo feito quanto aos melhores processos, clamam em alta voz por uma reforma. CBVc 70 4 Ensinem-se os métodos apropriados a todos quantos estejam dispostos a aprender. Se alguns não gostam que lhes faleis de idéias avançadas, dai-lhes silenciosamente as lições. Cultivai do melhor modo vossa própria terra. Dirigi quando vos for possível uma palavra aos vizinhos, e deixai que a colheita fale eloqüentemente em favor dos bons métodos. Demonstrai o que se pode fazer com a terra, quando devidamente cultivada. CBVc 70 5 Deve-se dar atenção ao estabelecimento de várias indústrias, para que famílias pobres possam assim encontrar colocação. Carpinteiros, ferreiros, enfim todos quantos têm conhecimento de algum ramo de trabalho útil, devem sentir a responsabilidade de ensinar e ajudar o ignorante e o desempregado. CBVc 70 6 No serviço aos pobres há, para as mulheres, um vasto campo de utilidade, da mesma maneira que para os homens. A eficiente cozinheira, a dona-de-casa, a costureira, a enfermeira -- de todas elas é necessário auxílio. Ensinem-se os membros das famílias pobres a cozinhar, a costurar e remendar sua própria roupa, a tratar dos doentes, a cuidar devidamente da casa. Ensine-se aos meninos e às meninas alguma ocupação útil. CBVc 70 7 Famílias missionárias -- Necessitam-se famílias missionárias que se estabeleçam em lugares incultos. Que agricultores, financistas, construtores e os que são hábeis em várias artes e ofícios vão para os campos negligenciados para melhorar a terra, estabelecer indústrias, preparar lares modestos para si mesmos e ajudar a seus vizinhos. CBVc 71 1 Os lugares rústicos da natureza, os sítios selvagens, Deus tem tornado atrativos com a presença de coisas belas entre as não aprazíveis. Tal é a obra que somos chamados a fazer. Os próprios desertos da Terra, cujo aspecto parece destituído de atração, podem-se tornar como o jardim de Deus. "E naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro,E, dentre a escuridão e dentre as trevas, as verão os olhos dos cegos. E os mansos terão regozijo no Senhor;E os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel". Isaías 29:18, 19. CBVc 71 2 Dando instruções em atividades práticas, podemos muitas vezes ajudar os pobres da maneira mais eficaz. Em regra, os que não foram exercitados no trabalho não têm hábitos de laboriosidade, perseverança, economia e abnegação. Não sabem se dirigir. Freqüentemente, por falta de cuidado e são discernimento, há desperdícios que lhes manteriam a família com decência e conforto, fossem cuidadosa e economicamente empregados. "Abundância de mantimento há na lavoura do pobre, mas alguns há que se consomem por falta de juízo". Provérbios 13:23. CBVc 71 3 Podemos dar aos pobres, e prejudicá-los, ensinando-os a depender de outros. Tais dádivas animam o egoísmo e a inutilidade. Conduzem muitas vezes à ociosidade, ao desperdício e à intemperança. Homem algum que seja capaz de ganhar sua subsistência tem o direito de depender dos outros. O provérbio "O mundo me deve a manutenção" encerra a essência da mentira, da fraude e do roubo. O mundo não deve a subsistência a nenhum homem capaz de trabalhar e ganhar a vida por si mesmo. CBVc 71 4 A verdadeira caridade ajuda os homens a se ajudarem a si mesmos. Se alguém vem à nossa porta e pede alimento, não o devemos mandar embora com fome; sua pobreza pode ser o resultado de um infortúnio. Mas a verdadeira beneficência significa mais que simples dádivas. Importa num real interesse no bem-estar dos outros. Cumpre-nos buscar compreender as necessidades dos pobres e dos aflitos, e conceder-lhes o auxílio que mais benefício lhes proporcione. Dedicar pensamentos e tempo e esforço pessoal, custa muitíssimo mais que dar meramente dinheiro. Mas é a verdadeira caridade. CBVc 71 5 Os que são ensinados a ganhar o que recebem aprenderão mais prontamente a empregá-lo bem. E, aprendendo a depender de si próprios, estão adquirindo aquilo que não somente os tornará independentes, mas os habilitará a ajudar a outros. Ensinai a importância dos deveres da vida aos que estão desperdiçando suas oportunidades. Mostrai-lhes que a religião da Bíblia nunca torna os homens ociosos. Cristo sempre incentivou ao trabalho. "Por que estais ociosos todo o dia?" (Mateus 20:6), disse aos indolentes. "Convém que Eu faça as obras [...] enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. CBVc 71 6 É o privilégio de todos dar ao mundo, em sua vida de família, em seus costumes e práticas e ordem, um testemunho do que o evangelho pode fazer pelos que lhe obedecem. Cristo veio ao mundo para dar-nos um exemplo daquilo que nos podemos tornar. Espera que Seus seguidores sejam modelos de correção em todas as relações da vida. Deseja que o toque divino se manifeste nas coisas exteriores. CBVc 72 1 Nosso lar e os arredores devem ser uma lição prática, ensinando processos de aperfeiçoamento, de maneira que a atividade, o asseio, o bom gosto e o refinamento tomem o lugar da ociosidade, da falta de limpeza, da desordem e do que é grosseiro. Por nossa vida e exemplo, podemos ajudar outros a distinguir o que é repulsivo em seu caráter e ambiente, e com cortesia cristã podemos animar o aperfeiçoamento. Ao manifestarmos interesse neles, encontraremos oportunidade de lhes ensinar a empregar melhor suas energias. CBVc 72 2 Esperança e ânimo -- Nada podemos fazer sem ânimo e perseverança. Dirigi palavras de esperança e ânimo aos pobres e abatidos. Se necessário, dai-lhes provas palpáveis de vosso interesse, ajudando-os quando se encontram em apertos. Os que têm tido muitas vantagens devem lembrar-se de que eles ainda erram em muitas coisas, e que lhes é penoso quando seus erros são indicados, sendo-lhes apresentado um belo modelo do que devem ser. Lembrai-vos de que a bondade conseguirá mais que a censura. Ao procurardes ensinar os outros, agi de maneira que eles vejam que lhes desejais uma mais elevada norma, e estais dispostos a dar-lhes auxílio. Se em algumas coisas eles falham, não vos apresseis a condená-los. CBVc 72 3 Simplicidade, abnegação e economia, lições tão essenciais aos pobres, afiguram-se-lhes muitas vezes difíceis e indesejáveis. O exemplo e o espírito do mundo estão continuamente incitando e fomentando o orgulho, o amor da ostentação, condescendência consigo mesmo, prodigalidade e ociosidade. Esses males levam milhares à penúria, e impedem outros milhares de se erguerem da degradação e miséria. Os cristãos devem animar os pobres a resistir a essas influências. CBVc 72 4 As melhores coisas da vida -- Homens e mulheres mal têm começado a compreender o verdadeiro objetivo da vida. São atraídos pelo brilho e a ostentação. São ambiciosos de preeminência mundana. A esta se sacrificam os verdadeiros objetivos da vida. As melhores coisas da existência -- a simplicidade, a honestidade, a veracidade, a pureza e a integridade -- não se podem vender nem comprar. Elas são tão gratuitas para o ignorante como para o educado, para o humilde trabalhador como para o honrado estadista. Para todos proveu Deus prazeres que podem ser fruídos pelo rico e pelo pobre semelhantemente -- o prazer que se encontra no cultivo da pureza de pensamento e no desinteresse da ação, o prazer que provém de dirigir palavras de simpatia e praticar atos de bondade. Dos que tais serviços realizam, irradia a luz de Cristo para aclarar vidas obscurecidas por muitas sombras. CBVc 73 1 Ao mesmo tempo que ajudais o pobre nas coisas temporais, mantende sempre em vista suas necessidades espirituais. Que vossa própria vida testifique do poder mantenedor de Cristo. Que vosso caráter revele a elevada norma que todos podem atingir. Ensinai o evangelho em simples lições concretas. Que tudo com que tendes de lidar seja uma lição na formação do caráter. CBVc 73 2 Na humilde rotina do trabalho, os mais fracos, os mais obscuros, podem ser coobreiros de Deus, e ter o conforto de Sua presença e Sua mantenedora graça. Não lhes cabe afadigar-se com ansiosas preocupações e desnecessários cuidados. Trabalhem eles dia a dia, cumprindo fielmente a tarefa que a providência de Deus lhes designa, e Ele os terá sob Seu cuidado. Diz o Senhor: "Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus". Filipenses 4:6, 7. CBVc 73 3 O cuidado do Senhor envolve todas as Suas criaturas. Ele as ama a todas, e não faz diferença, a não ser que tem a mais terna piedade para com os que são chamados a suportar os mais pesados fardos da vida. Os filhos de Deus devem enfrentar provas e dificuldades. Mas devem aceitar sua situação com um espírito animoso, lembrando-se de que por tudo que o mundo lhes negligencia dar, o próprio Deus os indenizará com os melhores favores. CBVc 73 4 É quando chegamos a circunstâncias difíceis que Ele revela Seu poder e sabedoria em resposta à humilde oração. NEle confiai como um Deus que ouve e responde à oração. Ele Se vos revelará como Alguém capaz de socorrer em todas as emergências. Aquele que criou o homem, que lhe deu suas maravilhosas faculdades físicas, mentais e espirituais, não recusará aquilo que é necessário para manter a vida por Ele dada. Aquele que nos deu Sua Palavra -- as folhas da árvore da vida -- não reterá de nós o conhecimento da maneira de prover alimento a Seus necessitados filhos. CBVc 73 5 Como pode a sabedoria ser obtida por aquele que maneja o arado e tange os bois? Buscando-a como à prata, e procurando-a como a tesouros ocultos. "O seu Deus o ensina e o instrui acerca do que há de fazer". Isaías 28:26. "Até isto procede do Senhor dos Exércitos, porque é maravilhoso em conselho e grande em obra". Isaías 28:29. CBVc 73 6 Aquele que ensinou a Adão e Eva no Éden a guardar o jardim deseja instruir os homens hoje. Há sabedoria para o que conduz o arado e lança a semente. Deus abrirá caminhos de progresso diante dos que nEle confiam e Lhe obedecem. Marchem eles avante animosamente, confiando nEle quanto à satisfação de suas necessidades, segundo as riquezas de Sua bondade. CBVc 73 7 Aquele que alimentou a multidão com cinco pães e dois peixinhos é capaz de nos dar hoje o fruto de nossos labores. Aquele que disse aos pescadores da Galiléia: "Lançai as vossas redes para pescar" (Lucas 5:4), e que, ao obedecerem, encheu-lhes as redes até se romperem, deseja que Seu povo veja nisto uma prova do que fará por eles hoje em dia. O Deus que no deserto deu aos filhos de Israel o maná do Céu vive e reina ainda. Ele guiará Seu povo, e lhe dará habilidade e entendimento na obra que são chamados a realizar. Dará sabedoria aos que se esforçam para cumprir conscienciosa e inteligentemente o seu dever. Aquele que possui o mundo é rico em recursos, e há de abençoar a todo aquele que está buscando abençoar a outros. CBVc 74 1 Necessitamos olhar com fé ao alto. Não devemos ficar desanimados por causa de aparentes fracassos, nem desfalecidos com a tardança. Cumpre-nos trabalhar com ânimo, esperança e gratidão, crendo que a terra contém em seu seio ricos tesouros para o fiel obreiro recolher, depósitos mais preciosos que a prata ou o ouro. As montanhas e colinas estão mudando; a terra está ficando velha como um vestido; mas a bênção de Deus, que estende para Seu povo uma mesa no deserto, jamais cessará. ------------------------Capítulo 12 -- Os pobres desamparados CBVc 75 1 Quando se tem feito o que é possível para ajudar o pobre a se ajudar a si mesmo, restam ainda a viúva e o órfão, o velho, o inválido e o enfermo, os quais requerem simpatia e cuidado. Estes nunca deveriam ser negligenciados. São confiados pelo próprio Deus à misericórdia, ao amor e ao terno cuidado de todos a quem Ele constituiu mordomos. CBVc 75 2 A família da fé -- "Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé". Gálatas 6:10. CBVc 75 3 Em sentido especial, Cristo colocou sobre Sua igreja o dever de cuidar dos necessitados dentre seus próprios membros. Ele consente que Seus pobres se encontrem nos limites de todas as igrejas. Devem achar-se sempre entre nós, e Ele dá aos membros da igreja uma responsabilidade pessoal quanto a cuidar deles. CBVc 75 4 Como os membros de uma verdadeira família cuidam uns dos outros, tratando dos doentes, sustentando os fracos, ensinando os ignorantes, exercitando os inexperientes, assim cumpre aos que pertencem à "família da fé" atender aos seus necessitados e inválidos. Por nenhuma consideração deverão estes ser passados por alto. CBVc 75 5 Viúvas e órfãos -- As viúvas e os órfãos são objeto do cuidado especial de Deus. CBVc 75 6 "Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus no Seu lugar santo". Salmos 68:5. CBVc 75 7 "O teu Criador é o teu marido; Senhor dos Exércitos é o Seu nome; E o santo de Israel é o teu Redentor; Ele será chamado o Deus de toda a Terra". Isaías 54:5. CBVc 75 8 "Deixa os teus órfãos; Eu os guardarei em vida; E as tuas viúvas confiarão em Mim". Jeremias 49:11. CBVc 75 9 Muitos pais, quando chamados a separar-se de seus queridos, têm morrido descansando com fé nas promessas de Deus, de por eles velar. O Senhor provê quanto às viúvas e os órfãos, não por meio de um milagre, enviando-lhes maná do céu, não mandando corvos a lhes trazer alimento; mas por um milagre no coração humano, expelindo o egoísmo, e descerrando as fontes do amor cristão. Os aflitos e desolados, confia-os Ele a Seus seguidores como precioso depósito. Eles têm o mais forte direito às nossas simpatias. CBVc 76 1 Nos lares providos dos confortos da vida, nas despensas e celeiros cheios do fruto das abundantes colheitas, em armazéns abastecidos com os produtos do tear, e nos subterrâneos em que se armazenam a prata e o ouro, tem Deus suprido os meios para a manutenção desses necessitados. Ele nos roga que sejamos condutos de Sua bênção. CBVc 76 2 Muita mãe viúva, com seus filhos destituídos de pai, está se esforçando valorosamente para levar seu duplo fardo, trabalhando tantas vezes muito além de suas forças a fim de conservar consigo seus pequeninos e prover-lhes as necessidades. Pouco tempo tem ela para os educar e instruir, pouca oportunidade de os rodear de influências que lhes aclarem a vida. Ela necessita de ânimo, simpatia e auxílio positivo. CBVc 76 3 Deus nos pede que, na medida do possível, supramos para com essas crianças a falta do pai. Em vez de ficar à distância, queixando-nos de seus defeitos, e dos inconvenientes que possam causar, auxiliai-as por todos os modos possíveis. Buscai ajudar a mãe gasta de cuidados. Aliviai-lhe a carga. CBVc 76 4 Além disso, há a multidão de crianças inteiramente privadas da guia dos pais, e da influência de um lar cristão. Abram os cristãos o coração e o lar a esses desamparados. A obra a eles confiada por Deus como dever individual não deve ser passada a alguma instituição de caridade, ou deixada aos acasos da caridade do mundo. Se as crianças não têm parentes em condições de cuidar delas, provejam os membros da igreja um lar para essas crianças. Aquele que nos fez ordenou que fôssemos associados em famílias, e a natureza da criança se desenvolverá melhor na amorosa atmosfera de um lar cristão. CBVc 76 5 Muitos que não têm filhos próprios poderiam fazer uma boa obra cuidando dos filhos dos outros. Em lugar de dar atenção a animaizinhos mimados, prodigalizando afeição a mudas criaturas, dediquem suas atenções às criancinhas, cujo caráter podem moldar segundo a semelhança divina. Ponde vosso amor nos membros destituídos de lar da família humana. Vede quantas dessas crianças podeis criar na doutrina e admoestação do Senhor. Muitos seriam assim por sua vez beneficiados. CBVc 76 6 Os idosos -- Também os idosos necessitam da auxiliadora influência das famílias. Na casa de irmãos e irmãs em Cristo, é mais fácil haver para eles como que uma compensação da perda de seu próprio lar. Se animados a partilhar dos interesses e ocupações domésticos, isto os ajudará a sentir que não deixaram de ser úteis. Fazei-os sentir que seu auxílio é apreciado, que há ainda alguma coisa para fazerem em servir a outros, e isso lhes dará ânimo ao coração, ao mesmo tempo que comunicará interesse a sua vida. CBVc 76 7 O quanto possível, fazei com que aqueles cuja cabeça está alvejando e cujos passos trôpegos indicam que se vão avizinhando da sepultura permaneçam entre amigos e relações familiares. Que adorem entre aqueles que conheceram e amaram. Sejam cuidados por mãos amorosas e brandas. CBVc 77 1 Sempre que possível, deveria ser o privilégio dos membros de cada família atender a seus próprios parentes. Quando assim não se dá, a obra pertence à igreja, e deve ser considerada como um privilégio, da mesma maneira que um dever. Todos quantos possuem o espírito de Cristo terão uma terna consideração para com os fracos e os idosos. CBVc 77 2 A presença, em nosso lar, de um destes inválidos é uma preciosa oportunidade de cooperar com Cristo em Seu ministério de misericórdia, e desenvolver traços de caráter semelhantes aos Seus. Há uma bênção no convívio dos mais idosos com os mais jovens. Esses podem iluminar o coração e a vida dos idosos. Aqueles cujos laços da vida se estão enfraquecendo necessitam o benefício do contato com a esperança e a vivacidade da juventude. E os jovens podem ser auxiliados pela sabedoria e a experiência dos idosos. Sobretudo, eles precisam aprender a lição do abnegado ministério. A presença de um necessitado de simpatia, paciência e abnegado amor, seria uma inapreciável bênção para muitas famílias. Haveria de suavizar e refinar a vida doméstica, e despertar em idosos e jovens aquelas graças cristãs que os destacariam com uma divina beleza, e os enriqueceriam com os imperecíveis tesouros do Céu. CBVc 77 3 Muitos desprezam a economia, confundindo-a com a avareza e a mesquinhez. A economia, porém, harmoniza-se com a mais ampla liberalidade. Verdadeiramente, sem economia não pode existir real liberalidade. É preciso que poupemos, a fim de podermos dar. CBVc 77 4 Ninguém pode exercitar verdadeira beneficência sem abnegação. Unicamente por uma vida de simplicidade, de renúncia e estrita economia, nos é possível realizar a obra a nós designada como representantes de Cristo. O orgulho e a ambição mundanos precisam ser expelidos de nosso coração. Em toda a nossa obra, o princípio do desinteresse pessoal revelado na vida de Cristo tem de ser desenvolvido. Nas paredes de nossa casa, nos quadros, na mobília, devemos ler: Recolhe "em casa os pobres desterrados". Em nosso guarda-roupa, cumpre-nos ler: "Veste o nu." Na sala de jantar, na mesa coberta de abundante alimento, devemos ver traçado: Reparte "o teu pão com o faminto". Isaías 58:7. CBVc 77 5 Mil portas de utilidade se acham abertas perante nós. Lamentamos muitas vezes os escassos recursos disponíveis, mas, se os cristãos estivessem com inteiro fervor, poderiam multiplicar os recursos mil vezes. É o egoísmo, a condescendência com o próprio eu, que entravam o caminho a nossa utilidade. CBVc 77 6 Quantos recursos são gastos com artigos que são meros ídolos, coisas que absorvem pensamentos, tempo e energias que deviam ser empregadas para fins mais elevados! Quanto dinheiro é gasto em casas e móveis caros, em prazeres egoístas, comidas luxuosas e nocivas, em prejudiciais condescendências com o próprio eu! Quanto é esbanjado em dádivas que não beneficiam a ninguém! Em coisas desnecessárias, muitas vezes nocivas, estão professos cristãos hoje em dia gastando mais, muitas vezes mais, do que empregam em buscar salvar almas do tentador. CBVc 78 1 Muitos dos que professam ser cristãos gastam tanto no vestuário que nada têm para dar a fim de suprir as necessidades dos outros. Pensam que precisam ter custosos ornamentos e dispendiosa roupa, a despeito das necessidades dos que só com dificuldade podem conseguir o mais simples vestuário. CBVc 78 2 Minhas irmãs, se harmonizásseis vossa maneira de vestir com as regras dadas na Bíblia, teríeis abundância para auxiliar vossas irmãs mais pobres. Não teríeis apenas recursos, mas tempo. Muitas vezes é isso o mais necessário. Muitos há a quem poderíeis ajudar com as vossas sugestões, vosso tato e habilidade. Mostrai-lhes como podem vestir-se com simplicidade e ainda com bom gosto. Muitas mulheres permanecem fora da casa de Deus por causa de seus miseráveis, mal arranjados trajes se acharem em tão assinalado contraste com o vestuário das outras. Muitos espíritos sensíveis nutrem um sentimento de amarga humilhação e injustiça devido a esse contraste. E por causa disso muitos são levados a duvidar da realidade da religião e a endurecer o coração contra o evangelho. CBVc 78 3 Cristo nos manda: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca". João 6:12. Enquanto milhares perecem diariamente de fome, derramamento de sangue, incêndio e peste, convém a todo aquele que ama a seu semelhante cuidar em que nada se perca, que não seja desnecessariamente gasta coisa alguma com que pudesse beneficiar uma criatura humana. CBVc 78 4 É pecado desperdiçar nosso tempo; é pecado desperdiçar nossos pensamentos. Perdemos todo momento que dedicamos ao egoísmo. Se cada momento fosse devidamente avaliado e empregado do modo adequado, teríamos tempo para tudo que necessitamos fazer para nós mesmos ou para o mundo. No emprego do dinheiro, no uso do tempo, das energias, das oportunidades, volva-se cada cristão para Deus em busca de guia. "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada". Tiago 1:5. CBVc 78 5 "Dai, e ser-vos-á dado" -- "Fazei o bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus". Lucas 6:35. CBVc 78 6 "O que esconde os olhos terá muitas maldições"; mas "o que dá ao pobre não terá necessidade". Provérbios 28:27. CBVc 78 7 "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão". Lucas 6:38. ------------------------Capítulo 13 -- O ministério em favor dos ricos CBVc 79 1 Cornélio, o centurião romano, era homem de fortuna e de nobre nascimento. Ocupava uma posição de confiança e honra. Pagão pelo nascimento e pela educação, obtivera, mediante o contato com os judeus, certo conhecimento do verdadeiro Deus, e adorava-O, mostrando a sinceridade de sua fé pela compaixão para com os pobres. Ele dava "esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus". Atos dos Apóstolos 10:2. CBVc 79 2 Cornélio não tinha conhecimento do evangelho segundo fora revelado na vida e morte de Cristo, e Deus enviou-lhe uma mensagem diretamente do Céu, e por meio de outra mensagem dirigiu o apóstolo Pedro para que o visitasse e instruísse. Cornélio não se achava ligado à igreja judaica, e teria sido considerado pelos rabis pagão e imundo; mas Deus lia a sinceridade de seu coração, e enviou mensageiros de Seu trono para que se unissem a Seu servo na Terra a fim de que ensinasse o evangelho a este oficial romano. CBVc 79 3 Assim hoje em dia, Deus está buscando pessoas entre as de alta classe, da mesma maneira que entre as humildes. Muitos há, como Cornélio, homens a quem Ele deseja ligar a Sua igreja. As simpatias desses homens são para o povo do Senhor. Mas os laços que os ligam ao mundo os prendem firmemente. É preciso coragem moral para que esses homens se coloquem ao lado dos humildes. Esforços especiais se devem fazer por essas pessoas, que se acham em tão grande risco, devido às responsabilidades e à convivência que têm. CBVc 79 4 Muito se diz quanto ao nosso dever para com os pobres negligenciados; não se deveria dar alguma atenção aos negligenciados ricos? Muitos consideram essa classe um caso perdido, e pouco fazem para abrir os olhos daqueles que, cegos e ofuscados pelo falso brilho da glória terrena, perderam o cálculo da eternidade. Milhares de ricos têm baixado ao túmulo inadvertidos. Mas, por mais indiferentes que pareçam, muitos entre eles são almas oprimidas. "O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda". Eclesiastes 5:10. Aquele que diz ao ouro fino: "Tu és a minha confiança; [...] assim negaria a Deus, que está em cima". Jó 31:24, 28. "Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)". Salmos 49:7, 8. CBVc 80 1 As riquezas e as honras mundanas não podem satisfazer a alma. Muitos dentre os ricos anseiam por alguma divina certeza, alguma esperança espiritual. Muitos, anelam alguma coisa que lhes venha pôr termo à monotonia de uma vida sem objetivo. Muitos, em sua vida profissional, sentem a necessidade de alguma coisa que não possuem! Poucos entre eles vão à igreja; pois sentem que pouco benefício recebem. Os ensinos que recebem não lhes tocam o coração. Não lhes faremos, nós, nenhum apelo pessoal? CBVc 80 2 Entre as vítimas da necessidade e do pecado encontram-se aqueles que já possuíram fortuna outrora. Homens de várias carreiras e posições diversas na vida foram vencidos pelas corrupções do mundo, pelo uso da bebida forte, por se entregarem às concupiscências, e caíram sob a tentação. Ao passo que esses caídos requerem piedade e auxílio, não se deveria atender aos que ainda não desceram a essas profundidades, mas que estão pondo os pés na mesma estrada? CBVc 80 3 Milhares que ocupam posições de confiança e honra estão condescendendo com hábitos que significam ruína para o corpo e a alma. Ministros do evangelho, estadistas, escritores, homens de fortuna e de talento, homens de vasta capacidade comercial, de aptidões para ser úteis, encontram-se em perigo mortal, porque não reconhecem a necessidade do domínio de si mesmos em todas as coisas. É necessário que se lhes chame a atenção para os princípios de temperança, não por maneira estreita e arbitrária, mas à luz do grande desígnio de Deus para a humanidade. Pudessem os princípios da verdadeira temperança ser-lhes assim apresentados, e muitos dentre as classes mais elevadas haveriam de reconhecer seu valor e aceitá-los com sinceridade. CBVc 80 4 Deveríamos mostrar a essas pessoas os resultados das nocivas complacências em diminuir as energias físicas, mentais e morais. Ajudai-os a compreender sua responsabilidade como mordomos dos dons de Deus. Mostrai-lhes o bem que poderiam fazer com o dinheiro que agora gastam com aquilo que só mal lhes faz. Apresentai-lhes o compromisso de abstinência total, pedindo que o dinheiro que, de outro modo, eles gastariam em bebidas, fumo ou prazeres semelhantes seja consagrado a aliviar os pobres, enfermos, ou à educação de crianças e jovens de modo a serem úteis no mundo. Não seriam muitos os que se negassem a ouvir apelos semelhantes. CBVc 80 5 Há outro perigo a que os ricos se acham especialmente expostos, e aí está também um campo aberto ao médico-missionário. Multidões de pessoas prósperas no mundo que nunca desceram às formas comuns do vício, são ainda levadas à ruína mediante o amor das riquezas. O cálice mais difícil de conduzir não é o que se acha vazio, mas o que está cheio até às bordas. É este que de mais cuidadoso equilíbrio necessita. A aflição e adversidade trazem decepção e dor; mas é a prosperidade que mais perigo oferece à vida espiritual. CBVc 80 6 Os que estão sofrendo reveses são representados pela sarça que Moisés viu no deserto que, embora ardendo, não se consumia. O anjo do Senhor estava no meio da sarça. Assim, na perda e na aflição, o brilho da presença do Invisível se encontra conosco para nos confortar e suster. Freqüentemente solicitam-se orações para os que estão padecendo por doença ou adversidade; nossas orações são, entretanto, mais necessitadas pelos homens a quem foram confiadas prosperidade e influência. CBVc 81 1 No vale da humilhação, onde os homens sentem sua necessidade e confiam em que Deus lhes guiará os passos, há relativa segurança. Mas aqueles que se acham, por assim dizer, em elevados pináculos, e que, devido a sua posição, se julgam possuidores de grande sabedoria -- estes se encontram no maior perigo. A menos que esses homens tornem Deus a sua confiança, hão de por certo cair. CBVc 81 2 A Bíblia não condena ninguém por ser rico, uma vez que haja adquirido suas riquezas honestamente. Não o dinheiro, mas o amor do dinheiro é a raiz de todos os males. É Deus que dá aos homens poder para adquirir fortuna; e nas mãos daquele que agir como mordomo de Deus, empregando seus meios altruistamente, a fortuna é uma bênção -- tanto para seu possuidor como para o mundo. Muitos, porém, absorvidos em seus interesses nos tesouros mundanos, tornam-se insensíveis aos reclamos de Deus e às necessidades de seus semelhantes. Consideram sua riqueza como um meio de glorificarem a si mesmos. Acrescentam casa a casa, e terra a terra: enchem sua casa de luxo, enquanto tudo ao seu redor são seres humanos em miséria e crime, em enfermidade e morte. Aqueles que assim consagram sua existência ao serviço do próprio eu estão desenvolvendo em si mesmos não os atributos de Deus, mas os do maligno. CBVc 81 3 Esses homens estão necessitados do evangelho. Precisam desviar os olhos da vaidade das coisas materiais para a contemplação das preciosidades das imperecíveis riquezas. Necessitam aprender a alegria de dar, a bem-aventurança de ser colaborador de Deus. CBVc 81 4 O Senhor nos ordena: "Manda aos ricos deste mundo" que não confiem na "incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:17-19. CBVc 81 5 Não é por nenhum toque casual, acidental, que almas ricas, amantes do mundo, podem ser atraídas a Cristo. Essas pessoas são muitas vezes as de mais difícil acesso. É preciso em seu favor um esforço pessoal da parte de homens e mulheres dotados de espírito missionário, que não fracassem nem desanimem. CBVc 81 6 Alguns são especialmente habilitados a trabalhar nas classes mais elevadas. Estes devem buscar de Deus sabedoria para saber como alcançar essas pessoas, não somente para uma relação casual com elas, mas para, mediante esforço pessoal e fé viva, despertá-las para as necessidades da alma, levá-las ao conhecimento da verdade tal como é em Jesus. CBVc 82 1 Muitos supõem que, para se aproximar das classes mais altas, é preciso adotar uma maneira de vida e um método de trabalho que se harmonizem com seus fastidiosos gostos. Uma aparência de riqueza, custosos edifícios, caros vestidos, equipamentos e ambiente, conformidade com os costumes do mundo, o artificial polimento da sociedade da moda, cultura clássica, as graças da oratória, são considerados essenciais. Isso é um erro. O caminho dos métodos do mundo não é o caminho de Deus para alcançar as classes mais elevadas. O que na verdade os tocará é uma apresentação do evangelho de Cristo feita de modo coerente e isento de egoísmo. CBVc 82 2 A experiência do apóstolo Paulo ao defrontar-se com os filósofos de Atenas encerra uma lição para nós. Ao apresentar o evangelho no Areópago, Paulo enfrentou a lógica com a lógica, ciência com ciência, filosofia com filosofia. Os mais sábios de seus ouvintes ficaram atônitos e emudecidos. Suas palavras não podiam ser controvertidas. Pouco fruto, porém, produziu seu esforço. Poucos foram levados a aceitar o evangelho. Daí em diante Paulo adotou uma diversa maneira de trabalhar. Evitava os argumentos elaborados e as discussões de teorias e, em simplicidade, encaminhava homens e mulheres a Cristo como o Salvador dos pecadores. CBVc 82 3 Escrevendo aos coríntios acerca de sua obra entre eles, disse: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e Este crucificado. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus". 1 Coríntios 2:1, 2, 4, 5. CBVc 82 4 E ainda em sua epístola aos Romanos, ele diz: "Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego". Romanos 1:16. CBVc 82 5 Portem-se os que trabalham com as classes mais altas com verdadeira dignidade, lembrando-se de que os anjos são seus companheiros. Conservem eles o tesouro do espírito e do coração cheio de "Está escrito". Guardem na memória as preciosas palavras de Cristo. Elas devem ser apreciadas muito acima do ouro e da prata. CBVc 82 6 Cristo disse que seria mais fácil a um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus. No trabalho a fazer por essa classe, apresentar-se-ão muitos desânimos, muitas revelações pungentes terão lugar. Mas todas as coisas são possíveis com Deus. Ele pode e há de operar mediante instrumentos humanos na mente dos homens cuja vida tem sido consagrada a ganhar dinheiro. CBVc 82 7 Há milagres a se operarem na genuína conversão, milagres agora não discernidos. Os maiores homens da Terra não se encontram além do alcance de um Deus poderoso em maravilhas. Se aqueles que são Seus colaboradores cumprirem valorosa e fielmente o seu dever, Deus converterá homens que ocupam posições de responsabilidade, homens de intelecto e influência. Por meio do poder do Espírito Santo, muitos serão levados a aceitar os divinos princípios. CBVc 83 1 Quando se tornar claro que o Senhor espera que eles, como Seus representantes, aliviem a sofredora humanidade, muitos a isso corresponderão, dando de seus meios juntamente com a sua simpatia para o benefício dos pobres. À medida que sua mente é assim afastada dos próprios interesses egoístas, muitos se entregarão a Cristo. Com seus talentos de influência e meios, unir-se-ão de boa vontade à obra de beneficência com o humilde missionário que foi o instrumento de Deus em sua conversão. Pelo devido emprego de seus tesouros terrenos, ajuntarão para si "um tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói". Lucas 12:33. CBVc 83 2 Quando convertidos a Cristo, muitos se tornarão na mão de Deus instrumentos para trabalhar em favor de outros de sua classe. Sentirão ser-lhes confiada uma dispensação do evangelho para aqueles que fizeram deste mundo o seu tudo. O tempo e o dinheiro serão a Deus consagrados, devotados o talento e a influência à obra de ganhar almas para Cristo. CBVc 83 3 Unicamente a eternidade revelará o que tem sido realizado por esta espécie de ministério -- quantas almas, enfermas de dúvida e cansadas da mundanismo e do desassossego, têm sido levadas ao grande Restaurador, que anseia salvar perfeitamente a todos quantos a Eles se achegam. Cristo é um Salvador ressurgido e há salvação debaixo de Suas asas. ------------------------Capítulo 14 -- No quarto do doente CBVc 84 1 Os que tratam dos doentes devem compreender a importância da cuidadosa atenção às leis da saúde. Em parte alguma tem mais importância a obediência a estas leis do que no quarto do enfermo. Em caso nenhum a fidelidade às pequenas coisas, da parte dos assistentes, tem maiores conseqüências. Em casos de doença grave, a menor negligência, a mais ligeira falta de atenção às necessidades especiais ou perigos particulares do enfermo, toda a manifestação de temor, agitação ou impaciência, até uma falta de simpatia, pode fazer pender o fiel da balança que oscila entre a vida e a morte, e causar a descida à sepultura de um doente que de outra forma poderia ter sido curado. CBVc 84 2 A eficiência da enfermeira depende em grande parte do seu vigor físico. Quanto mais saudável, robusta, tanto mais estará apta a suportar a fadiga no tratamento do enfermo e a cumprir com bom êxito os seus deveres. Os que cuidam dos doentes devem prestar particular atenção ao regime alimentar, limpeza, ar puro e exercício. Precauções especiais da parte da família lhe permitirão também suportar as fadigas suplementares trazidas sobre ela e a auxiliar a evitar o contágio da doença. CBVc 84 3 Quando a doença é grave e exige dia e noite a presença da enfermeira, o trabalho deve ser partilhado ao menos por duas enfermeiras competentes, de forma que cada uma tenha a oportunidade de descansar e de fazer exercício ao ar livre. Isso é particularmente importante nos casos em que seja difícil assegurar abundância de ar puro no quarto do doente. Devido à falta de conhecimento da importância do ar puro, limita-se por vezes a ventilação, ficando com freqüência em perigo a vida do doente, como a dos que o tratam. CBVc 84 4 Se forem observadas precauções convenientes, não há necessidade de que doenças não contagiosas sejam contraídas por outros. Que os hábitos sejam corrigidos, e pelo asseio e ventilação conveniente guarde-se o quarto do doente livre de elementos venenosos. Em tais condições, o enfermo tem muito mais probabilidades de cura, e na maior parte dos casos tanto as enfermeiras como os membros da família estarão ao abrigo do contágio da doença. CBVc 84 5 Luz solar, ventilação e temperatura -- Para assegurar ao doente as mais favoráveis condições de cura, o quarto que ocupa deve ser amplo, iluminado e alegre, com os meios para uma ventilação perfeita. Escolher-se-á para quarto do enfermo o aposento da casa que melhor satisfaça esses requisitos. Muitas casas não oferecem condições para conveniente ventilação e é difícil consegui-la; mas tentem-se os possíveis esforços para permitir que o quarto do doente seja atravessado dia e noite por uma corrente de ar puro. Quanto possível deve manter-se uma temperatura igual. Para o efeito consulte-se o termômetro. Os que tratam do doente, sendo muitas vezes privados de sono ou despertados durante a noite para atender o paciente, são suscetíveis ao frio, e não serão bons juízes de uma temperatura saudável. CBVc 85 1 Dieta -- Parte importante dos deveres da enfermeira é o cuidado com a dieta do paciente. Não se permita que o doente sofra ou enfraqueça por falta de alimento, nem carregue em excesso os enfraquecidos órgãos da digestão. Tenha-se cuidado em preparar e servir comida agradável ao paladar, mas usando um sábio critério em a adaptar, tanto em quantidade como em qualidade, às necessidades do paciente. Em particular durante o tempo da convalescença, em que o apetite é vivo e os órgãos digestivos não recuperaram ainda suas forças, há grande perigo de prejuízo devido a erros de dieta. CBVc 85 2 Deveres dos assistentes -- As enfermeiras, e as pessoas que entram no quarto do doente, devem se dominar, ser calmas e animosas. Evite-se toda pressa, nervosismo ou confusão. As portas devem ser abertas e fechadas sem ruído e toda a casa deve estar tranqüila. Em casos de febre, necessita-se de especial atenção ao vir a crise e a febre estar baixando. É muitas vezes necessária uma constante vigilância. A ignorância, esquecimento e negligência causaram a morte de muitas pessoas que teriam vivido se houvessem recebido cuidado de uma enfermeira judiciosa e inteligente o devido cuidado. CBVc 85 3 As visitas aos doentes -- É uma bondade mal dirigida, uma falsa idéia de cortesia, que leva a visitar muito os enfermos. Os doentes que se encontram muito mal não devem receber visitas. A agitação que acompanha a recepção dos visitantes fatiga o enfermo numa ocasião em que tem a máxima necessidade de repouso e tranqüilidade. CBVc 85 4 Para o convalescente ou paciente que sofre de doença crônica constitui por vezes um prazer e um benefício saber que é lembrado com afeto; mas esta certeza transmitida por uma mensagem de simpatia ou por alguma pequena lembrança surtirão geralmente melhor efeito do que uma visita pessoal, e sem perigo de dano. CBVc 85 5 A enfermagem em instituições -- Em sanatórios e hospitais, onde as enfermeiras estão em relações constantes com grande número de doentes, requer-se um esforço decidido para se manterem sempre de bom humor e alegres, e manifestarem uma consideração inteligente em cada palavra e em cada ato. Nessas instituições é da máxima importância que as enfermeiras se esforcem por desempenhar seu trabalho com sabedoria e acerto. Necessitam lembrar-se constantemente de que no cumprimento dos seus deveres cotidianos estão servindo a Jesus Cristo. CBVc 86 1 Os doentes têm necessidade de que se lhes digam sábias palavras. As enfermeiras devem estudar a Bíblia diariamente, para que se possam habilitar a pronunciar palavras que iluminem e auxiliem o sofredor. Os anjos de Deus estão nos quartos onde tais doentes são tratados, e a atmosfera que rodeia a alma de quem dá o tratamento será pura e fragrante. Médicos e enfermeiras devem nutrir os princípios de Cristo. Suas virtudes se devem manifestar na vida dos mesmos. Então, mediante o que dizem e fazem, atrairão o doente ao Salvador. CBVc 86 2 Enquanto aplica o tratamento para restauração da saúde, a enfermeira cristã, de maneira agradável e com êxito, atrairá o espírito do paciente para Cristo, o médico da alma da mesma maneira que do corpo. Os pensamentos apresentados, um pouco aqui, um pouco ali, exercerão sua influência. As enfermeiras de mais idade não deverão perder ensejo favorável de chamar a atenção do doente para Cristo. Elas devem estar sempre preparadas para misturar a cura espiritual com a física. CBVc 86 3 Pela maneira mais bondosa e terna, cumpre às enfermeiras ensinar que aquele que se quer curar precisa deixar de transgredir a Lei de Deus. Necessita deixar de preferir uma vida de pecado. Deus não pode abençoar aquele que continua a trazer sobre si mesmo doença e sofrimento por uma voluntária violação das leis do Céu. Mas Cristo, mediante o Espírito Santo, vem, como um poder que cura, aos que deixam de fazer o mal e aprendem a praticar o bem. CBVc 86 4 Os que não possuem nenhum amor para com Deus hão de agir continuamente contra os melhores interesses da alma e do corpo. Mas os que despertam para a importância de viver em obediência a Deus neste mundo mau de agora serão voluntários em se apartar de todo hábito errôneo. Reconhecimento e amor lhes encherá o coração. Sabem que Cristo é seu amigo. Em muitos casos, a compreensão de possuir um tal amigo significa para os sofredores mais, em seu restabelecimento da doença, do que o melhor tratamento que se lhe possa aplicar. Mas ambos os ramos de ministério são essenciais. Devem andar de mãos dadas. ------------------------Capítulo 15 -- Oração pelos doentes CBVc 87 1 Diz a Escritura que os homens devem "orar sempre e nunca desfalecer" (Lucas 18:1); e, se há um tempo em que eles sintam sua necessidade de orar, é quando lhes faltam as forças, e a própria vida lhes parece fugir). Freqüentemente os que estão com saúde esquecem as maravilhosas misericórdias a eles feitas continuadamente, dia após dia, ano após ano, e não rendem a Deus tributo e louvor por Seus benefícios. Ao sobrevir a doença, porém, Ele é lembrado. Ao faltarem as forças humanas, sentem os homens a necessidade do auxílio divino. E nunca o nosso misericordioso Deus Se afasta da alma que para Ele em sinceridade se volve em busca de auxílio. Ele é nosso refúgio na enfermidade assim como na saúde. CBVc 87 2 Deus está hoje tão desejoso de restabelecer os doentes como quando o Espírito Santo proferiu estas palavras por intermédio do salmista. E Cristo é agora o mesmo compassivo médico que era durante Seu ministério terrestre. NEle há bálsamo curativo para toda doença, poder restaurador para toda enfermidade. Seus discípulos de nossos dias devem orar pelos doentes tão verdadeiramente como os de outrora. E seguir-se-ão as curas; pois "a oração da fé salvará o doente". Tiago 5:15. Temos o poder do Espírito Santo, a calma certeza da fé, de que podemos reivindicar as promessas de Deus. A promessa do Senhor: "Imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (Marcos 16:18), é tão digna de fé hoje como nos dias dos apóstolos. Ela apresenta o privilégio dos filhos de Deus, e nossa fé deve lançar mão de tudo quanto aí se encerra. Os servos de Cristo são os instrumentos de Sua operação, e por meio deles deseja exercer Seu poder de curar. É nossa obra apresentar o enfermo e sofredor a Deus, nos braços da fé. Devemos ensinar-lhes a crer no grande Médico. CBVc 87 3 O Salvador deseja que animemos os enfermos, os desesperançados, os aflitos a apegarem-se a Sua força. Mediante a fé e a oração, o quarto do doente pode se transformar numa Betel. Por palavras e atos, os médicos e as enfermeiras podem dizer, tão positivamente que não possa ser mal compreendido: "Deus está neste lugar" para salvar, e não para destruir. Cristo deseja manifestar Sua presença no quarto do doente, enchendo o coração dos médicos e enfermeiros com a doçura de Seu amor. Se a vida dos assistentes do enfermo é de maneira a Jesus os poder acompanhar ao leito dele, ao mesmo sobrevirá a convicção de que o compassivo Salvador está presente, e essa convicção por si só fará muito em benefício tanto de sua alma como do corpo. CBVc 88 1 E Deus ouve a oração. Cristo disse: "Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei". João 14:14. Noutro lugar, Ele diz: "Se alguém Me serve, [...] Meu Pai o honrará." João 12:26. Se vivemos em harmonia com Sua palavra, toda preciosa promessa dada por Ele em nós se cumprirá. Somos indignos de Sua misericórdia, mas, ao entregar-nos a Ele, recebe-nos. Ele operará em favor e por intermédio daqueles que O seguem. CBVc 88 2 Mas unicamente vivendo em obediência a Sua palavra podemos pedir o cumprimento das promessas que nos faz. O salmista diz: "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá". Salmos 66:18. Se Lhe prestamos apenas uma obediência parcial, com a metade do coração, Suas promessas não se cumprirão em nós. CBVc 88 3 Temos na Palavra de Deus instruções relativas à oração especial pelo restabelecimento de um doente. Mas tal oração é um ato soleníssimo, e não o devemos realizar sem atenta consideração. Em muitos casos de oração pela cura de um doente, o que se chama fé não é nada mais que presunção. CBVc 88 4 Muitas pessoas chamam sobre si a doença pela condescendência consigo mesmas. Não têm vivido segundo as leis naturais ou os princípios da estrita pureza. Outros têm desconsiderado as leis da saúde em seus hábitos de comer e beber, vestir ou trabalhar. Freqüentemente é alguma forma de vício a causa do enfraquecimento mental ou físico. Obtivessem essas pessoas a bênção da saúde, e muitas delas continuariam a seguir o mesmo rumo de descuidosa transgressão das leis naturais e espirituais de Deus, raciocinando que, se Ele as cura em resposta à oração, elas se acham em liberdade de prosseguir em suas práticas nocivas, condescendendo sem restrições com apetites pervertidos. Se Deus operasse um milagre para restaurar à saúde essas pessoas, estaria animando o pecado. CBVc 88 5 É trabalho perdido ensinar o povo a volver-se para Deus como Aquele que cura suas enfermidades, a menos que seja também ensinado a renunciar aos hábitos nocivos. Para que recebam Sua bênção em resposta à oração, devem cessar de fazer o mal e aprender a fazer o bem. Seu ambiente deve ser higiênico, corretos os seus hábitos de vida. Devem viver em harmonia com a Lei de Deus, tanto a natural como a espiritual. CBVc 88 6 A confissão dos pecados -- Deve-se tornar claro aos que desejam orações por seu restabelecimento que a violação da Lei de Deus, quer natural quer espiritual, é pecado, e que, a fim de receber Suas bênçãos, ele deve ser confessado e abandonado. CBVc 88 7 A Escritura nos ordena: "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis". Tiago 5:16. Ao que solicita orações, sejam apresentados pensamentos como este: "Nós não podemos ler o coração, nem conhecer os segredos de vossa vida. Estes são conhecidos unicamente por vós mesmos e por Deus. Se vos arrependeis de vossos pecados, é o vosso dever fazer confissão deles." O pecado de natureza particular deve ser confessado a Cristo, o único mediador entre Deus e o homem. Pois "se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". 1 João 2:1. Todo pecado é uma ofensa a Deus, e Lhe deve ser confessado por intermédio de Cristo. Todo pecado público, deve ser do mesmo modo publicamente confessado. A ofensa feita a um semelhante deve ser ajustada com a pessoa ofendida. Se alguém que deseja recuperar a saúde se acha culpado de maledicência, se semeou a discórdia no lar, na vizinhança ou na igreja, suscitando separação e dissensão, se por qualquer má prática induziu outros a pecar, essas coisas devem ser confessadas diante de Deus e perante os agravados. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar [...] e nos purificar de toda a injustiça". 1 João 1:9. CBVc 89 1 Havendo os erros sido endireitados, podemos apresentar as necessidades do enfermo ao Senhor com fé tranqüila, como Seu espírito nos indicar. Ele conhece cada indivíduo por nome, e cuida de cada um como se não houvesse na Terra nenhum outro por quem houvesse dado Seu bem-amado Filho. Por ser o amor de Deus tão grande e inalterável, o doente deve ser estimulado a confiar nEle e ficar esperançoso. Estar ansioso quanto a si mesmo tende a causar fraqueza e doença. Se eles se erguerem acima da depressão e da tristeza, será melhor sua perspectiva de restabelecimento; pois "os olhos do Senhor estão sobre [...] os que esperam na Sua misericórdia". Salmos 33:18. CBVc 89 2 Ao orar pelos doentes, cumpre lembrar que "não sabemos o que havemos de pedir como convém". Romanos 8:26. Não sabemos se a bênção que desejamos será para o bem ou não. Portanto, nossas orações devem incluir este pensamento: "Senhor, Tu conheces todo segredo da alma. Estás familiarizado com estas pessoas. Jesus, seu Advogado, deu a vida por elas. Seu amor por elas é maior do que é possível ser o nosso. Se, portanto, for para Tua glória e o bem dos aflitos, pedimos, em nome de Jesus, que sejam restituídas à saúde. Se não for da Tua vontade que se restaurem, rogamos-Te que a Tua graça as conforte e a Tua presença as sustenha em seus sofrimentos." CBVc 89 3 Deus conhece o fim desde o princípio. Conhece de perto o coração de todos os homens. Lê todo segredo da alma. Sabe se aqueles por quem se fazem as orações haviam ou não de resistir às provações que lhes sobreviriam, houvessem eles de viver. Sabe se sua vida seria uma bênção ou uma maldição para si mesmos e para o mundo. Esta é uma razão pela qual, ao mesmo tempo que apresentamos nossas petições com fervor, devemos dizer: "Todavia, não se faça a minha vontade, mas a Tua". Lucas 22:42. Jesus acrescentou estas palavras de submissão à sabedoria e vontade de Deus, quando, no jardim de Getsêmani, rogava: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice". Mateus 26:39. Se elas eram apropriadas para Ele, o Filho de Deus, quanto mais adequadas são nos lábios dos finitos e errantes mortais! CBVc 90 1 A atitude coerente é expor nossos desejos a nosso sábio Pai celeste e então, em perfeita segurança, tudo dEle confiar. Sabemos que Deus nos ouve se pedimos em harmonia com a Sua vontade. Mas insistir em nossas petições sem um espírito submisso não é direito; nossas orações devem tomar a forma, não de uma ordem, mas de uma intercessão. CBVc 90 2 Há casos em que o Senhor opera decididamente por Seu divino poder na restauração da saúde. Mas nem todos os doentes são sarados. Muitos são postos a dormir em Jesus. João, na ilha de Patmos, foi mandado escrever: "Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam". Apocalipse 14:13. Vemos por aí que, se as pessoas não forem restituídas à saúde, não devem ser por isso consideradas sem fé. CBVc 90 3 Todos nós desejamos respostas imediatas e diretas às nossas orações, e somos tentados a ficar desanimados quando a resposta é retardada ou vem por uma maneira que não esperávamos. Mas Deus é demasiado sábio e bom para atender nossas petições sempre justamente ao tempo e pela maneira que desejamos. Ele fará mais e melhor por nós do que realizar sempre os nossos desejos. E como podemos confiar em Sua sabedoria e Seu amor, não devemos pedir que nos conceda a nossa vontade, mas buscar identificar-nos com Seu desígnio, e cumpri-lo. Nossos desejos e interesses devem-se fundir com Sua vontade. Estas experiências que provam a fé são para nosso bem. Por elas se manifesta se nossa fé é verdadeira e sincera, repousando unicamente na Palavra de Deus, ou se depende de circunstâncias, sendo incerta e instável. A fé é revigorada pelo exercício. Devemos permitir que a paciência tenha a sua obra perfeita, lembrando-nos de que há preciosas promessas nas Escrituras para aqueles que esperam no Senhor. CBVc 90 4 Nem todos compreendem esses princípios. Muitos dos que buscam as restauradoras graças do Senhor pensam que devem ter uma resposta direta e imediata a suas orações, ou se não sua fé é falha. Por essa razão os que estão enfraquecidos pela doença precisam ser sabiamente aconselhados, para que procedam prudentemente. Eles não devem desatender ao seu dever para com os amigos que lhes sobreviverem, nem negligenciar o emprego dos agentes naturais. CBVc 90 5 Há muitas vezes perigo de erro nisto. Crendo que hão de ser curados em resposta à oração, alguns temem fazer qualquer coisa que possa indicar falta de fé. Mas não devem negligenciar o pôr em ordem os seus negócios como desejariam se esperassem ser tirados pela morte. Nem também temer proferir palavras de ânimo ou de conselho que estimariam dirigir aos seus amados na hora da partida. CBVc 90 6 Os que buscam a cura pela oração não devem negligenciar o emprego de remédios ao seu alcance. Não é uma negação da fé usar os remédios que Deus proveu para aliviar a dor e ajudar a natureza em sua obra de restauração. Não é nenhuma negação da fé cooperar com Deus, e colocar-se nas condições mais favoráveis para o restabelecimento. Deus pôs em nosso poder o obter conhecimento das leis da vida. Este conhecimento foi colocado ao nosso alcance para ser empregado. Devemos usar todo recurso para restauração da saúde, aproveitando-nos de todas as vantagens possíveis, agindo em harmonia com as leis naturais. Tendo orado pelo restabelecimento do doente, podemos trabalhar com muito maior energia ainda, agradecendo a Deus o termos o privilégio de cooperar com Ele, e pedindo-Lhe a bênção sobre os meios por Ele próprio fornecidos. CBVc 91 1 Temos a sanção da Palavra de Deus quanto ao uso de remédios. Ezequias, rei de Israel, estava doente, e um profeta de Deus levou-lhe a mensagem de que haveria de morrer. Ele clamou ao Senhor, e Este ouviu a Seu servo, e mandou-lhe dizer que lhe seriam acrescentados quinze anos de vida. Ora, uma palavra de Deus haveria curado instantaneamente a Ezequias; mas foram dadas indicações especiais: "Tomem uma pasta de figos e a ponham como emplasto sobre a chaga; e sarará". Isaías 38:21. CBVc 91 2 Certa ocasião, Cristo ungiu os olhos de um cego com terra, e mandou-lhe: "Vai, lava-te no tanque de Siloé. [...] Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo". João 9:7. A cura poderia ser operada unicamente pelo poder do grande Médico; todavia, Cristo fez uso de simples agentes da natureza. Conquanto Ele não favorecesse as medicações de drogas, sancionou o emprego de remédios simples e naturais. CBVc 91 3 Depois de orar pela restauração de um enfermo, seja qual for o desenlace do caso, não percamos a fé em Deus. Se formos chamados a sofrer a perda, aceitemos o amargo cálice, lembrando-nos de que é a mão de um Pai que no-lo chega aos lábios. Mas, sendo a saúde restituída, não se deveria esquecer que o objeto da misericordiosa cura se acha sob renovada obrigação para com o Criador. Quando os dez leprosos foram purificados, apenas um voltou em busca de Jesus para dar-Lhe glória. Que nenhum de nós seja como os inconsiderados nove, cujo coração ficou insensível diante da misericórdia de Deus. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação". Tiago 1:17. ------------------------Capítulo 16 -- O emprego de remédios CBVc 92 1 A doença nunca vem sem causa. O caminho é preparado, e a doença convidada, pela desconsideração para com as leis da saúde. Muitos sofrem em conseqüência da transgressão dos pais. Embora não sejam responsáveis pelo que seus pais fizeram, é no entanto seu dever procurar verificar o que é e o que não é violação das leis da saúde. Devem evitar os hábitos errôneos de seus pais, e mediante uma vida correta colocar-se em melhores condições. CBVc 92 2 O maior número, todavia, sofre devido a sua própria direção errônea. Desatendem aos princípios de saúde por seus hábitos de comer e beber, vestir e trabalhar. Sua transgressão das leis da natureza produz os infalíveis resultados; e, ao sobrevir-lhes a doença, muitos não atribuem seu sofrimento à verdadeira origem, mas murmuram contra Deus por causa de suas aflições. Mas Deus não é responsável pelo sofrimento que se segue ao menosprezo da lei natural. CBVc 92 3 Deus nos dotou com certa quantidade de força vital. Formou-nos também com órgãos adequados à manutenção das várias funções da vida, e designa que esses órgãos operem juntamente, em harmonia. Se preservamos cuidadosamente a força vital, mantendo o delicado mecanismo do corpo em ordem, o resultado é saúde; mas, se a força vital é esgotada muito rapidamente, o sistema nervoso toma emprestado de seus fundos de resistência a força necessária para o uso, e, quando um órgão é prejudicado, todos são afetados. A natureza sofre muito abuso sem aparente resistência; levanta-se então, fazendo decidido esforço para remover os efeitos do mau tratamento a que foi submetida. Seus esforços para corrigir estas condições manifestam-se muitas vezes em febre e várias outras formas de doença. CBVc 92 4 Remédios racionais -- Quando o abuso da saúde é levado tão longe que traz em resultado a enfermidade, o doente pode muitas vezes fazer por si mesmo o que ninguém mais pode fazer. A primeira coisa é verificar o verdadeiro caráter do mal, e então operar inteligentemente para remover a causa. Se a harmoniosa operação do organismo se desequilibrou por excesso de trabalho, de comida ou de outras irregularidades, não tenteis ajustar a desordem ajuntando uma carga de venenosos medicamentos. CBVc 92 5 A intemperança no comer é muitas vezes a causa da doença, e o que a natureza precisa mais é ser aliviada da indevida carga que lhe foi imposta. Em muitos casos de doença, o melhor remédio é o paciente jejuar por uma ou duas refeições, a fim de que os sobrecarregados órgãos digestivos tenham oportunidade de descansar. Um regime de frutas por alguns dias tem muitas vezes produzido grande benefício aos que trabalham com o cérebro. Muitas vezes um breve período de inteira abstinência de comida, seguido de alimento simples e moderadamente tomado, tem levado à cura por meio dos próprios esforços recuperadores da natureza. Um regime de abstinência por um ou dois meses, haveria de convencer a muitos sofredores que a vereda da abnegação é o caminho para a saúde. CBVc 93 1 O repouso como remédio -- Alguns se tornam doentes por excesso de trabalho. Para esses, o descanso, a libertação do cuidado e um regime reduzido são essenciais à restauração da saúde. Para os que estão mentalmente fatigados e nervosos devido a trabalho contínuo e restrita limitação de ambiente, uma visita ao campo, onde podem viver uma vida simples, livre de cuidado, pondo-se em íntimo contato com as coisas da natureza, será muito salutar. Vagar pelos campos e matas, apanhando flores, escutando os cânticos dos pássaros, fará por seu restabelecimento incomparavelmente mais que qualquer outro meio. CBVc 93 2 Na saúde e na doença, a água pura é uma das mais excelentes bênçãos do Céu. Foi a bebida provida por Deus para saciar a sede de homens e animais. Bebida abundantemente, ela ajuda a suprir as necessidades do organismo, e a natureza em resistir à doença. A aplicação externa da água é um dos mais fáceis e mais satisfatórios meios de regular a circulação do sangue. Um banho frio ou fresco é excelente tônico. O banho quente abre os poros, auxiliando assim na eliminação das impurezas. Tanto os banhos quentes como os neutros acalmam os nervos e equilibram a circulação. CBVc 93 3 Muitos há, porém, que nunca aprenderam por experiência os benéficos efeitos do devido uso da água, têm medo dela. Os tratamentos hidroterápicos não são apreciados como deviam ser, e aplicá-los bem requer trabalho que muitos não estão dispostos a realizar. Mas ninguém se devia sentir desculpado de ignorância ou indiferença neste assunto. Há muitas maneiras pelas quais a água pode ser aplicada para aliviar o sofrimento e combater a doença. Todos devem se tornar entendidos no emprego da mesma, nos simples tratamentos domésticos. As mães, especialmente, devem saber tratar de sua família, tanto na saúde como na enfermidade. CBVc 93 4 A atividade é uma lei de nosso ser. Todo órgão do corpo tem sua obra designada, de cujo desempenho depende seu desenvolvimento e vigor. A função normal de todos os órgãos dá resistência e vigor, ao passo que o não usá-los leva à decadência e à morte. Atai um braço suspenso, mesmo por poucas semanas, e depois soltai-o de suas ligaduras, e vereis que se acha mais fraco do que o que mantivestes em uso moderado durante o mesmo período. A inatividade produz o mesmo efeito sobre todo o sistema muscular. CBVc 94 1 A inatividade é prolífera causa de doenças. O exercício aviva e equilibra a circulação do sangue, mas na ociosidade o sangue não circula livremente, e não ocorrem as mudanças que nele se operam, e são tão necessárias à vida e à saúde. Também a pele se torna inativa. As impurezas não são eliminadas, como seriam se a circulação houvesse sido estimulada por vigoroso exercício, a pele conservada em condições saudáveis, e os pulmões alimentados com abundância de ar puro, renovado. Esse estado do organismo lança um duplo fardo sobre o sistema excretor, dando em resultado a doença. CBVc 94 2 Os inválidos não devem ser animados a ficar inativos. Se houver sobrecarga em qualquer sentido, o repouso total por algum tempo impedirá por vezes uma doença séria; mas no caso de inválidos crônicos, raramente é necessário suspender toda a atividade. CBVc 94 3 Os que se acham esgotados em virtude de trabalho mental devem repousar dos pensamentos fatigantes, mas não devem ser levados a crer que seja perigoso usar de algum modo as faculdades mentais. Muitos são inclinados a considerar seu estado pior do que na realidade é. Esse estado de espírito não é favorável à cura, e não deve ser animado. CBVc 94 4 Pastores, professores, alunos e outros obreiros intelectuais sofrem freqüentemente doenças provenientes de pesado esforço mental não atenuado pelo exercício físico. O que essas pessoas precisam é de uma vida mais ativa. Hábitos de estrita temperança no viver, ao lado do conveniente exercício, assegurariam vigor tanto físico como mental, dando capacidade de resistência a todos os obreiros que trabalham com o cérebro. CBVc 94 5 Os que sobrecarregaram suas forças físicas não devem ser animados a abandonar inteiramente o trabalho manual. Mas o trabalho físico para produzir os melhores resultados deve ser sistemático e aprazível. O exercício ao ar livre é o melhor; deve ser arranjado de maneira a revigorar pelo uso os órgãos que se têm enfraquecido; convém que o coração esteja posto nisto. O trabalho manual nunca deveria degenerar em esforço excessivo. CBVc 94 6 Quando os inválidos nada têm em que ocupar o tempo e a atenção, seus pensamentos se concentram em si mesmos, e tornam-se mórbidos e irritáveis. Muitas vezes se preocupam com o mal que sentem, a ponto de se julgarem muito pior do que na realidade estão, e inteiramente incapazes de fazer qualquer coisa. CBVc 94 7 Em todos esses casos, o bem orientado exercício físico se demonstraria eficaz remédio. Em alguns casos, ele é indispensável à restauração da saúde. A vontade acompanha o trabalho das mãos; e o que esses inválidos precisam é do despertamento da vontade. Quando esta se encontra adormecida, a imaginação torna-se anormal, e é impossível resistir à doença. CBVc 94 8 A inatividade é a maior desgraça que poderia sobrevir à maioria desses enfermos. Ocupação leve em trabalho útil, ao passo que não sobrecarrega a mente e o corpo, tem uma benéfica influência sobre ambos. Fortalece os músculos, promove melhor circulação, ao mesmo tempo que dá ao inválido a satisfação de saber que não é inteiramente inútil neste atarefado mundo. Talvez não seja capaz de fazer senão pouco a princípio, mas em breve verificará que suas forças aumentam, e pode proporcionalmente aumentar a quantidade de trabalho. CBVc 95 1 O exercício é salutar aos dispépticos, pois fortalece os órgãos da digestão. Empenhar-se em difícil estudo ou exercício físico violento imediatamente depois de comer impede o trabalho digestivo; mas um pequeno passeio depois da refeição, com a cabeça erguida e os ombros para trás, é de grande benefício. CBVc 95 2 Não obstante tudo quanto se diz e escreve sobre sua importância, existem ainda muitos que negligenciam o exercício físico. Muitos se tornam corpulentos porque o organismo está carregado; outros ficam magros e fracos por terem exaustas as forças vitais em dar conta de um excesso de comida. O fígado é sobrecarregado em seu esforço de limpar o sangue das impurezas, dando em resultado a doença. CBVc 95 3 Aqueles cujos hábitos são sedentários devem, quando o tempo permitir, fazer exercício ao ar livre todos os dias, de verão e de inverno. Caminhar é preferível a andar a cavalo ou de carro, pois movimenta mais músculos. Os pulmões são forçados a uma ação benéfica, uma vez que é impossível andar em passo rápido sem os dilatar. CBVc 95 4 Tal exercício seria, em muitos casos, melhor para a saúde do que remédios. Os médicos aconselham muitas vezes seus clientes a fazer uma viagem marítima, a ir a alguma estação de águas ou visitar diversos lugares em busca de mudança de ares, quando, na maioria dos casos, se eles comessem moderadamente, e fizessem animado e saudável exercício, recuperariam a saúde, economizando tempo e dinheiro. ------------------------Capítulo 17 -- A cura mental CBVc 96 1 Muito íntima é a relação que existe entre a mente e o corpo. Quando um é afetado, o outro se ressente. O estado da mente atua muito mais na saúde do que muitos julgam. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental. Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte. CBVc 96 2 A doença é muitas vezes produzida, e com freqüência grandemente agravada pela imaginação. Muitos que atravessam a vida como inválidos poderiam ser sãos, se tão-somente assim o pensassem. Muitos julgam que a mais leve exposição lhes ocasionará doença, e produzem-se os maus efeitos exatamente porque são esperados. Muitos morrem de doença de origem inteiramente imaginária. CBVc 96 3 O ânimo, a esperança, a fé, a simpatia e o amor promovem a saúde e prolongam a vida. Um espírito contente, animoso, é saúde para o corpo e força para a alma. "O coração alegre serve de bom remédio". Provérbios 17:22. CBVc 96 4 No tratamento do enfermo não se deveria esquecer o efeito da influência mental. Devidamente usada, essa influência proporciona um dos mais eficazes meios de combater a doença. CBVc 96 5 O domínio da mente -- Uma forma de cura mental existe, entretanto, que é um dos mais eficazes meios para o mal. Mediante essa chamada ciência, a mente de uns é submetida ao domínio de uma outra, de modo que a individualidade do mais fraco imerge na do espírito mais forte. Uma pessoa executa a vontade de outra. Pretende-se assim poder mudar o curso dos pensamentos, comunicar impulsos que promovem a saúde, e habilitar o doente a resistir e vencer a doença. CBVc 96 6 Esse método de cura tem sido empregado por pessoas que ignoravam sua natureza e tendências reais, e que acreditavam ser ele um modo de beneficiar os doentes. Mas a assim chamada ciência baseia-se em falsos princípios. É estranha à natureza e princípios de Cristo. Ela não conduz Àquele que é vida e salvação. Aquele que atrai as mentes para si leva-as a separar-se da verdadeira Fonte de sua força. CBVc 96 7 Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos. Ninguém deve fundir sua individualidade na de outrem. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus. Na dignidade da varonilidade que lhe foi dada pelo Senhor, deve ser por Ele próprio dirigido, e não por nenhuma inteligência humana. CBVc 97 1 Deus deseja pôr os homens em direta relação com Ele. Em todo o Seu trato com as criaturas, reconhece o princípio da responsabilidade individual. Busca estimular o senso da dependência pessoal, e impressioná-los com a necessidade de direção própria, isto é, individual. Deseja pôr o humano em ligação com o divino, a fim de que os homens sejam transformados à divina semelhança. Satanás trabalha para impedir este desígnio. Procura fomentar a confiança nos homens. Quando a mente é desviada de Deus, o tentador pode colocá-la sob seu domínio. Pode governar a humanidade. CBVc 97 2 A teoria de uma mente reger outra teve origem em Satanás, a fim de se introduzir como o obreiro principal, para pôr a filosofia humana onde se devia encontrar a divina. De todos os erros que estão encontrando aceitação entre cristãos professos, não há engano mais perigoso, nenhum mais propício a separar infalivelmente o homem de Deus do que esse. Por inocente que pareça, ao ser exercido sobre os pacientes, tende para sua destruição, e não para seu restabelecimento. Abre uma porta através da qual Satanás entrará para tomar posse tanto da mente que se entrega ao domínio de outra como da que a domina. CBVc 97 3 Terrível é o poder assim entregue a homens e mulheres maldosos. Que oportunidade proporciona isso aos que vivem de se aproveitar das fraquezas e tolices dos outros! Quantos, por meio do poder exercido sobre mentes fracas ou enfermas, encontrarão meio de satisfazer cobiçosas paixões ou ganâncias de lucro! CBVc 97 4 Existe alguma coisa melhor a fazermos do que dominar a humanidade pela humanidade. O médico deve educar o povo a volver o olhar do humano para o divino. Em lugar de ensinar o enfermo a confiar em criaturas humanas quanto à cura da alma e do corpo, deve dirigi-lo Àquele que é capaz de salvar perfeitamente a todos quantos a Ele se chegam. Aquele que fez a mente do homem sabe o que ela necessita. Unicamente Deus é quem pode curar. Aqueles que se acham doentes da mente e do corpo têm de ver em Cristo o restaurador. "Porque Eu vivo", diz Ele, "vós vivereis". João 14:19. Esta é a vida que nos cumpre apresentar aos doentes, dizendo-lhes que, se tiverem fé em Cristo como restaurador, se com Ele cooperarem, obedecendo às leis da saúde, e se esforçando por aperfeiçoar a santidade em Seu temor, Ele lhes comunicará Sua vida. Quando por essa maneira lhes apresentamos a Cristo, estamos transmitindo um poder e uma força de valor, porquanto vêm de cima. Esta é a verdadeira ciência da cura do corpo e da alma. CBVc 97 5 Simpatia -- Grande sabedoria é necessária no trato das doenças produzidas pela mente. Um coração dolorido, enfermo, um espírito desalentado, requerem um brando tratamento. Muitas vezes um problema doméstico está, como um câncer, corroendo até à própria alma, e enfraquecendo as forças vitais. Outras ocasiões é o caso do remorso pelo pecado minando o organismo e desequilibrando a mente. É mediante uma terna simpatia que esta classe de doentes pode ser beneficiada. O médico deve conquistar-lhes primeiro a confiança, encaminhando-os depois ao grande Restaurador. Se sua fé pode ser dirigida para o verdadeiro médico, e são capazes de confiar em que lhes tomou o caso nas mãos, isso trará alívio ao espírito, dando muitas vezes saúde ao corpo. CBVc 98 1 A simpatia e o tato se demonstrarão freqüentemente um maior benefício ao enfermo do que o mais hábil tratamento executado de modo frio, indiferente. Quando um médico se aproxima do leito de um doente com uma maneira desatenta e negligente, olha para o aflito com pouco interesse, dando por palavras ou atos a impressão de que o caso não requer muito cuidado, para deixar em seguida o paciente entregue a suas reflexões, esse médico causou ao doente positivo dano. A dúvida e o desânimo produzidos por sua indiferença neutralizarão muitas vezes o bom efeito dos remédios por ele prescritos. CBVc 98 2 Se os médicos se colocassem no lugar daquele cujo espírito se acha humilhado e cuja vontade está enfraquecida pelo sofrimento, que anela palavras de simpatia e segurança, estariam mais preparados para apreciar seus sentimentos. Quando o amor e a compaixão manifestados por Cristo para com o enfermo se misturam aos conhecimentos do médico, a própria presença deste será uma bênção. CBVc 98 3 A franqueza no trato com o doente lhe inspira confiança, demonstrando-se assim importante auxílio no restabelecimento. Médicos há que consideram sábia a medida de ocultar ao doente a natureza e causa da doença de que ele está sofrendo. Muitos, temendo chocar ou desanimar um paciente com a declaração da verdade, dão-lhe falsas esperanças de cura, permitindo mesmo que desça ao túmulo sem o advertir do perigo. Tudo isso é falta de sabedoria. Talvez nem sempre seja seguro, nem o melhor a fazer, explicar ao doente toda a extensão de seu perigo. Isso poderia alarmá-lo e viria a retardar ou mesmo impedir o restabelecimento. Nem pode toda a verdade ser dita àqueles cujos males são em grande parte imaginários. Muitas dessas pessoas são irrazoáveis, e não se habituaram a exercer o domínio de si mesmas. Têm fantasias peculiares, e imaginam muitas coisas irreais quanto a si mesmas e a outros. Para elas, essas coisas são verdadeiras, e os que delas cuidam devem manifestar constante bondade, paciência e tato incansáveis. Se fosse dita a esses doentes a verdade quanto a si mesmos, alguns se ofenderiam, e outros ficariam desanimados. CBVc 98 4 Cristo disse a Seus discípulos: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora". João 16:12. Mas, embora a verdade não possa ser dita inteiramente em todas as ocasiões, nunca é necessário nem justificável enganar. Nunca o médico ou a enfermeira devem descer à mentira. Aquele que assim faz coloca-se em posição em que Deus não pode com ele cooperar; e, perdendo a confiança de seus clientes, está desperdiçando um dos mais eficazes auxílios para a restauração. CBVc 99 1 O poder da vontade não é estimado como devia ser. Permaneça a vontade desperta e devidamente dirigida, e ela comunicará energia a todo o ser, sendo maravilhoso auxiliar na manutenção da saúde. Também é uma potência no tratar a doença. Exercida na devida direção, dominaria a imaginação, e seria poderoso meio de resistir e vencer tanto a doença da mente como a do corpo. Pelo exercício da força de vontade no se colocar na justa relação para com a existência, o enfermo muito pode fazer para cooperar com os esforços médicos em favor de seu restabelecimento. Há milhares que, se quiserem, poderão recuperar a saúde. O Senhor não quer que estejam doentes. Deseja que sejam sadios e felizes, e devem dirigir a mente no sentido de ficar bons. Muitas vezes, os inválidos podem resistir à doença, simplesmente recusando entregar-se às doenças e deixar-se ficar num estado de inatividade. Erguendo-se acima de suas dores e incômodos, empenhem-se em útil ocupação, adequada a suas forças. Por tal ocupação e o livre uso do ar e da luz do sol, muito inválido enfraquecido haveria de recuperar a saúde e as forças. CBVc 99 2 Princípios bíblicos de cura -- Há para os que desejam reconquistar ou manter a saúde uma lição nas palavras da Escritura: "Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito". Efésios 5:18. Não mediante a excitação ou o esquecimento produzido por estimulantes contrários à natureza e à saúde, não por meio da satisfação dos apetites inferiores e das paixões, se encontrará verdadeira cura ou refrigério para o corpo e a alma. Entre os enfermos muitos existem que estão sem Deus e sem esperança. Sofrem de desejos insatisfeitos, desordenadas paixões, e a condenação da própria consciência; estão-se desprendendo desta vida, e não têm nenhuma perspectiva quanto à por vir. Não esperem os assistentes dos enfermos beneficiá-los com o conceder-lhes frívolas e excitantes satisfações. Estas têm sido a ruína de sua vida. A alma faminta e sedenta continuará a ter fome e sede enquanto buscar encontrar aqui satisfações. Os que bebem da fonte do prazer egoísta estão enganados. Confundem o riso com a força, e uma vez passada a euforia, a inspiração termina, e são deixados entregues ao descontentamento e desânimo. CBVc 99 3 A permanente paz, o verdadeiro descanso do espírito, não têm senão uma Fonte. Foi desta que Cristo falou quando disse: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei". Mateus 11:28. "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize". João 14:27. Essa paz não é qualquer coisa que Ele dê à parte de Si mesmo. Ela está em Cristo, e só a podemos receber recebendo a Cristo. CBVc 100 1 Cristo é a fonte da vida. O que muitos necessitam é possuir dEle mais clara compreensão; precisam ser paciente, bondosa e fervorosamente ensinados quanto à maneira em que podem abrir inteiramente o ser às curativas forças celestes. Quando a luz solar do amor de Deus ilumina as mais escuras câmaras da alma, cessam o desassossego, a fadiga e o descontentamento, e satisfatórias alegrias virão dar vigor à mente, saúde e energia ao corpo. CBVc 100 2 Achamo-nos num mundo de sofrimento. Dificuldades, provações e dores nos aguardam em todo o percurso para o lar celeste. Muitos existem, porém, que tornam duplamente pesados os fardos da vida por estarem continuamente antecipando aflições. Se têm de enfrentar adversidade ou decepção, pensam que tudo se encaminha para a ruína, que sua situação é a mais dura de todas, que vão por certo cair em necessidade. Trazem assim sobre si o infortúnio, e lançam sombras sobre todos os que os rodeiam. A própria vida se lhes torna um fardo. Mas não precisa ser assim. Custará um decidido esforço o mudar a corrente de seus pensamentos. Mas a mudança se pode operar. Sua felicidade, tanto nesta vida como na futura, depende de que fixem a mente em coisas animadoras. Desviem-se eles do sombrio quadro, que é imaginário, voltando-se para os benefícios que Deus lhes tem espargido na estrada, e para além destes, aos invisíveis e eternos. CBVc 100 3 Para toda aprovação proveu Deus auxílio. Quando Israel, no deserto, chegou às águas amargas de Mara, Moisés clamou ao Senhor. Este não proveu nenhum remédio novo; chamou a atenção para o que lhes estava ao alcance. Um arbusto por Ele criado devia ser lançado na fonte para tornar a água pura e doce. Isto feito, o povo bebeu dela e refrigerou-se. Em toda provação, se O buscarmos, Cristo nos dará auxílio. Nossos olhos se abrirão para discernir as restauradoras promessas registradas em Sua Palavra. O Espírito Santo nos ensinará a apoderar-nos de toda bênção, que servirá de antídoto para o desgosto. Para toda amarga experiência havemos de encontrar um ramo restaurador. CBVc 100 4 Não devemos permitir que o futuro, com seus difíceis problemas, suas não satisfatórias perspectivas, façam nosso coração desfalecer, tremer-nos os joelhos, pender-nos as mãos. "[...] Se apodere da Minha força", diz o Poderoso, "e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo". Isaías 27:5. Os que submetem a vida a Sua direção e a Seu serviço, jamais se verão colocados numa posição para a qual Ele não haja tomado providências. Seja qual for nossa situação, se somos cumpridores de Sua Palavra, temos um Guia a nos dirigir o caminho, seja qual for nossa perplexidade, temos um seguro Conselheiro; seja qual for nossa tristeza, perda ou solidão, possuímos um Amigo cheio de compassivo interesse. CBVc 100 5 Se, em nossa ignorância, damos passos em falso, nosso Salvador não nos abandona. Nunca precisamos sentir que nos achamos sós. Temos anjos por companheiros. O Consolador que Cristo nos prometeu enviar em Seu nome permanece conosco. No caminho que conduz à cidade de Deus não há dificuldades que os que nEle confiam não possam vencer. Não existem perigos de que não lhes seja possível escapar. Não há uma tristeza, uma ofensa, uma fraqueza humana para a qual não haja Ele provido o remédio. CBVc 101 1 Ninguém tem necessidade de se abandonar ao desânimo e desespero. Satanás poderá se achegar a vós com a cruel sugestão: "Teu caso é desesperado. Não tem solução." Mas há para vós esperança em Cristo. Deus não nos manda vencer em nossas próprias forças. Pede-nos que nos acheguemos bem estreitamente a Ele. Sejam quais forem as dificuldades sob que labutemos, que nos façam vergar o corpo e a alma, Ele está à espera de nos libertar. CBVc 101 2 Aquele que tomou sobre Si a humanidade sabe compadecer-Se dos sofrimentos dela. Cristo não só conhece cada alma, suas necessidades e provações particulares, mas também sabe todas as circunstâncias que atritam e desconcertam o espírito. Sua mão se estende em piedosa ternura a todo filho em sofrimento. Os que mais sofrem, mais simpatia e piedade dEle recebem. Comove-Se com o sentimento de nossas enfermidades, e deseja que Lhe lancemos aos pés as perplexidades e aflições, deixando-as ali. CBVc 101 3 Não é sábio olhar-nos a nós mesmos, e estudar nossas emoções. Se assim fazemos, o inimigo apresentará dificuldades e tentações que enfraquecerão a fé e destruirão o ânimo. Estudar atentamente nossas emoções e dar curso aos sentimentos é entreter a dúvida, e enredar-nos em perplexidades. Devemos desviar os olhos do próprio eu para Jesus. CBVc 101 4 Quando sois assaltados pelas tentações, quando o cuidado, a perplexidade e as trevas parecem circundar vossa alma, olhai para o lugar em que pela última vez vistes a luz. Descansai no amor de Cristo, e sob Seu protetor cuidado. Quando o pecado luta pelo predomínio no coração, quando a culpa oprime a alma e sobrecarrega a consciência, quando a incredulidade obscurece a mente -- lembrai-vos de que a graça de Cristo é suficiente para subjugar o pecado e banir a escuridão. Entrando em comunhão com o Salvador, penetramos na região da paz. CBVc 101 5 As promessas de restauração CBVc 101 6 "O Senhor resgata a alma dos Seus servos, E nenhum dos que nEle confiam será condenado". Salmos 34:22. CBVc 101 7 "No temor do Senhor, há firme confiança, E Ele será um refúgio para Seus filhos". Provérbios 14:26. CBVc 101 8 "Sião diz: Já me desamparou o Senhor; O Senhor Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, Que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que, na palma das Minhas mãos, te tenho gravado." Isaías 49:14-16. CBVc 101 9 "Não temas, porque Eu sou contigo; Não te assombres, porque Eu sou o teu Deus; Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça". Isaías 41:10. CBVc 102 1 "Vós, a quem trouxe nos braços desde o ventre E levei desde a madre. E até à velhice Eu serei o mesmo E ainda até às cãs Eu vos trarei; Eu o fiz, e Eu vos levarei, E Eu vos trarei e vos guardarei" Isaías 46:3, 4. CBVc 102 2 Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e da alma do que um espírito de gratidão e louvor. É um positivo dever resistir à melancolia, às idéias e sentimentos de descontentamento -- dever tão grande como é orar. Se nos destinamos ao Céu, como poderemos ir qual bando de lamentadores, gemendo e queixando-nos por todo o caminho da casa de nosso Pai? CBVc 102 3 Os professos cristãos que se estão sempre queixando, e que parecem julgar que a alegria e a felicidade sejam um pecado, não possuem genuína religião. Os que encontram um funesto prazer em tudo que é melancolia no mundo natural; que preferem olhar às folhas mortas em vez de colher as belas flores vivas; que não vêem beleza nas elevações das grandes montanhas e nos vales revestidos de luxuriante verdor; que fecham os sentidos à jubilosa voz que lhes fala na natureza e é doce e harmoniosa ao ouvido atento -- estes não estão em Cristo. Estão colhendo para si mesmos tristezas e sombras, quando poderiam ter esplendor, o próprio Sol da Justiça surgindo-lhes no coração e trazendo saúde em Seus raios. CBVc 102 4 Freqüentemente vosso espírito se poderá nublar por causa do sofrimento. Não busqueis pensar então. Sabeis que Jesus vos ama. Ele compreende vossa fraqueza. Podeis fazer Sua vontade com o simples repousar em Seus braços. CBVc 102 5 É uma lei da natureza que nossas idéias e sentimentos sejam animados e fortalecidos ao lhes darmos expressão. Ao passo que as palavras exprimem pensamentos, é também verdade que estes seguem aquelas. Se exprimíssemos mais a nossa fé, mais nos regozijássemos nas bênçãos que sabemos possuir -- a grande misericórdia e o amor de Deus -- teríamos mais fé e maior alegria. Língua alguma pode traduzir, nenhuma mente conceber a bênção que resulta de apreciar a bondade e o amor de Deus. Mesmo na Terra podemos fruir alegria como uma fonte inesgotável, porque se nutre das correntes que emanam do trono de Deus. CBVc 102 6 Eduquemos, pois, o coração e os lábios a entoar o louvor de Deus por Seu incomparável amor. Eduquemos a alma a ser esperançosa, e a permanecer na luz que irradia da cruz do Calvário. Nunca devemos nos esquecer de que somos filhos do celeste Rei, filhos e filhas do Senhor dos Exércitos. É nosso privilégio manter um calmo repouso em Deus. CBVc 102 7 "E a paz de Deus, [...] domine em vossos corações; e sede agradecidos". Colossences 3:15. Esquecendo nossas próprias dificuldades e aflições, louvemos a Deus pela oportunidade de viver para glória de Seu nome. Que as novas bênçãos de cada dia nos despertem no coração louvor por esses testemunhos de Seu amoroso cuidado. Quando abris os olhos pela manhã, dai graças a Deus por vos haver guardado durante a noite. Agradecei-Lhe pela paz que tendes no coração. De manhã, ao meio-dia e à noite, qual suave perfume, ascenda ao Céu a vossa gratidão. CBVc 103 1 Quando alguém vos pergunta como vos sentis, não penseis em qualquer coisa triste para contar a fim de atrair simpatia. Não faleis de vossa falta de fé e de vossas aflições e sofrimentos. O tentador se deleita em ouvir palavras assim. Quando falais em assuntos sombrios, estais a glorificá-lo. Não nos devemos demorar no grande poder de Satanás para nos vencer. Entregamo-nos muitas vezes em suas mãos por falar no poder dele. Falemos ao contrário no grande poder de Deus para ligar aos Seus todos os nossos interesses. Falai do incomparável poder de Cristo, e de Sua glória. Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Os anjos de Deus, milhares de milhares, e miríades de miríades, são comissionados a ministrar aos que hão de herdar a salvação. Eles nos guardam do mal, e repelem os poderes das trevas que nos estão procurando destruir. Não temos nós motivo de ser a todo momento agradecidos, mesmo quando existem aparentes dificuldades em nosso caminho? CBVc 103 2 Cantar louvores -- Que o louvor e ações de graças sejam expressos em cânticos. Quando tentados, em lugar de dar expressão a nossos sentimentos, ergamos pela fé um hino de graças a Deus. CBVc 103 3 O canto é uma arma que podemos empregar sempre contra o desânimo. Ao abrirmos assim o coração à luz da presença do Salvador, teremos saúde e Sua bênção. CBVc 103 4 "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." 1 Tessalonicenses 5:18. Esta ordem é uma certeza de que mesmo as coisas que nos parecem ser adversas contribuirão para o nosso bem. Deus não nos mandaria ser agradecidos por aquilo que nos causasse dano. CBVc 103 5 "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; A quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; De quem me recearei? Salmos 27:1. CBVc 103 6 "No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; No oculto do Seu tabernáculo me esconderá. [...] Pelo que oferecerei sacrifício de júbilo no Seu tabernáculo; Cantarei, sim, cantarei louvores ao Senhor". Salmos 27:5, 6. CBVc 103 7 Um dos mais seguros impedimentos à restauração dos enfermos é o concentrarem a atenção em si mesmos. Muitos inválidos acham que todo o mundo lhes devia mostrar simpatia e dar auxílio, quando o que eles precisam é desviar a atenção de si mesmos e pensar nos outros, e deles cuidar. CBVc 103 8 Muitas vezes são solicitadas orações pelos aflitos, os tristes e desanimados, e isso é correto. Devemos rogar que Deus derrame luz na mente obscurecida, e conforte o coração magoado. Mas Deus só atende às orações em favor dos que se colocam no rumo de Suas bênçãos. Ao mesmo tempo que pedimos por esses aflitos, devemos estimulá-los a se esforçar por ajudar aos que se acham mais necessitados que eles. Dissipar-se-ão as trevas de seu próprio coração enquanto buscam auxiliar a outros. Ao buscarmos confortar nosso semelhante com o conforto com que nós mesmos somos confortados, a bênção nos é devolvida. CBVc 104 1 As boas ações são bênçãos duplas, beneficiando tanto o que pratica como o que é objeto da bondade. A consciência de proceder bem é um dos melhores medicamentos para corpos e mentes enfermos. Quando a mente está livre e satisfeita por um sentimento de dever cumprido e o prazer de proporcionar felicidade a outros, a animadora influência traz vida nova a todo o ser. CBVc 104 2 Que o inválido, em lugar de exigir constantemente simpatia, procure comunicá-la a outros. Que o fardo de vossa própria fraqueza, dor e aflição seja lançado sobre o compassivo Salvador. Abri o coração ao Seu amor, e deixai que este flua para os outros. Lembrai-vos de que todos têm provações duras de suportar, tentações difíceis de resistir, e está em vossas mãos fazer qualquer coisa para aliviar esses fardos. Exprimi gratidão pelas bênçãos que tendes; mostrai apreciação pelas atenções de que sois objeto. Mantende o coração cheio das preciosas promessas de Deus, a fim de que possais tirar desse tesouro palavras que sejam um conforto e vigor para outros. Isso vos circundará de uma atmosfera que será benéfica e enobrecedora. Seja vossa aspiração beneficiar os que vos rodeiam, e encontrareis sempre ocasião de ser úteis, tanto aos membros de vossa própria família, como aos outros. CBVc 104 3 Se os que estão padecendo má saúde esquecessem o próprio eu em seu interesse pelos demais; se cumprissem o mandamento do Senhor de ajudar aos mais necessitados que eles, haveriam de compreender a veracidade da profética promessa: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará". Isaías 58:8. ------------------------Capítulo 18 -- Em contato com a natureza CBVc 105 1 O Criador escolheu para nossos primeiros pais o ambiente que mais convinha a sua saúde e felicidade. Não os colocou num palácio, nem os rodeou dos adornos e luxos artificiais que tantos lutam hoje em dia por obter. Pô-los em íntimo contato com a natureza, em estrita comunhão com os santos seres celestiais. CBVc 105 2 No jardim que Deus preparou para servir de lar a Seus filhos, graciosos arbustos e flores delicadas saudavam por toda parte o olhar. Havia árvores de toda variedade, muitas delas carregadas de aromáticos e deliciosos frutos. Em seus ramos gorjeavam os pássaros seus cânticos de louvor. À sua sombra, livres de temor, brincavam juntas as criaturas da Terra. CBVc 105 3 Adão e Eva, em sua imaculada pureza, deleitavam-se nas cenas e nos sons do Éden. Deus lhes designara o trabalho no jardim -- "[...] o lavrar e o guardar". Gênesis 2:15. O trabalho de cada dia lhes trazia saúde e contentamento, e o feliz par saudava com alegria as visitas de seu Criador, quando, na viração do dia, andava e falava com eles. Diariamente lhes ensinava Deus Suas lições. CBVc 105 4 O plano de vida que o Senhor designara a nossos primeiros pais encerra lições para nós. Embora haja o pecado lançado suas sombras sobre a Terra, Deus deseja que Seus filhos encontrem deleite nas obras de Suas mãos. Quanto mais estritamente for seguido Seu plano de vida, tanto mais maravilhosamente operará Ele para restaurar a sofredora humanidade. O doente necessita ser posto em íntimo contato com a natureza. Uma vida ao ar livre, num ambiente natural, operaria maravilhas em favor de muitos inválidos, quase sem nenhuma esperança. CBVc 105 5 O rumor, a confusão e agitação das cidades, sua vida constrangida e artificial, são muito fatigantes e exaustivos para o doente. O ar, carregado de fumaça e pó, de gases venenosos e de germes de doenças, constitui um perigo para a vida. Os doentes se encerram, na maioria dos casos, dentro de quatro paredes, e chegam a sentir-se por assim dizer, prisioneiros em seu quarto. Ao olharem para fora, a vista encontra casas, calçadas, multidões apressadas, sem ter talvez uma nesga do céu azul ou da luz do sol, de relvas verdes, flores ou árvores. Assim contaminados, cismam em seus sofrimentos e dores, tornando-se presa dos próprios pensamentos tristes. CBVc 106 1 E para os que são fracos em poder moral, as cidades enxameiam de perigos. Nelas, os doentes que têm apetites não naturais a vencer se encontram continuamente expostos à tentação. Eles necessitam ser colocados em novos ambientes, onde haja novo rumo à corrente de seus pensamentos; precisam ser postos sob influências inteiramente diversas das que lhes infelicitaram a vida, e por algum tempo afastados de tudo que desvia de Deus, para uma atmosfera mais pura. CBVc 106 2 As instituições para o cuidado dos doentes seriam incomparavelmente mais bem-sucedidas se fossem situadas fora das cidades. O quanto possível, todos os que estão procurando recuperar a saúde se devem colocar num ambiente campestre, onde possam fruir os benefícios da vida ao ar livre. A natureza é o médico de Deus. O ar puro, a alegre luz solar, as belas flores e árvores, os belos pomares e vinhas e o exercício ao ar livre nessa atmosfera são transmissores de saúde -- o elixir da vida. CBVc 106 3 Os médicos e enfermeiras devem estimular os pacientes a estar demoradamente ao ar livre. A vida assim é o único remédio de que muitos inválidos necessitam. Possui maravilhoso poder para curar doenças causadas pelas irritações e excessos da vida moderna, vida que enfraquece e destrói as energias do corpo, da mente e da alma. CBVc 106 4 Quão aprazíveis, para os enfermos cansados da vida da cidade, do ofuscante clarão das muitas luzes e do ruído das ruas, são o sossego e a liberdade do campo! Com que sofreguidão se volvem eles para as cenas da natureza! Com que prazer se sentariam fora para fruir a luz solar e respirar o perfume das árvores e das flores! Há vivificantes propriedades no bálsamo do pinheiro, na fragrância do cedro e do abeto, e outras árvores têm também propriedades curadoras. CBVc 106 5 Em caso de doença crônica, nada influi mais para o restabelecimento da saúde e felicidade do que viver no meio das atraentes cenas do campo. Aí, os mais enfraquecidos enfermos podem sentar-se ou estar deitados à luz do sol ou à sombra das árvores. Basta-lhes levantar os olhos para verem sobre si a folhagem magnífica. Uma suave sensação de repouso e alívio os envolve quando ouvem o murmúrio da brisa. Os espíritos abatidos revivem. As forças que se esgotavam se refazem. Inconscientemente, o espírito inunda-se de paz, e o pulso febril torna-se mais calmo e regular. À medida que os doentes se fortalecem, vão-se aventurando a dar alguns passos para colher delicadas flores, preciosas mensageiras do amor de Deus à Sua família sofredora neste mundo. CBVc 106 6 Devem ser feitos planos a fim de conservar os doentes ao ar livre. Procurai alguma ocupação agradável e fácil para os que podem trabalhar. Fazei-lhes compreender quão agradável e salutar é este trabalho ao ar livre. Entusiasmai-os a encher os pulmões com ar puro. Ensinai-os a respirar fundo e a exercitar os músculos abdominais quando respiram e falam. Eis um hábito que lhes será de valor incalculável. CBVc 107 1 O exercício ao ar livre devia ser prescrito como necessidade vital. E para tal exercício nada há melhor do que o cultivo do solo. Dai aos pacientes canteiros a cultivar, ou fazei-os trabalhar no pomar ou na horta. Levando-os assim a deixar seus quartos e a passar o tempo ao ar livre, a cultivar flores ou a fazer algum outro trabalho leve e agradável, sua atenção será afastada de si mesmos e de seus sofrimentos. CBVc 107 2 Quanto mais o paciente puder ser conservado ao ar livre, de menos cuidados necessitará. Quanto mais agradável for o ambiente, mais se encherá de ânimo. Encerrado numa casa, embora elegantemente mobiliada, torna-se nervoso e sombrio. Rodeai-o das coisas da natureza, colocai-o onde possa ver desabrochar as flores e ouvir trinar os pássaros, e então seu coração cantará em uníssono com as canções das aves. O corpo e a alma experimentarão alívio. A inteligência despertará, a imaginação será estimulada, e preparado o espírito para apreciar a beleza da Palavra de Deus. CBVc 107 3 Na natureza os doentes sempre encontram algo com que afastar a atenção de si mesmos e dirigir seus pensamentos para Deus. Rodeados de Suas maravilhosas obras, seu espírito é elevado das coisas visíveis para as invisíveis. A formosura da natureza leva-os a pensar na pátria celeste, onde nada haverá para comprometer a beleza, corromper ou destruir, nem causar doença ou morte. CBVc 107 4 Extraiam os médicos e enfermeiras, das coisas da natureza, lições que façam conhecer a Deus. Chamem a atenção dos pacientes para Aquele cuja mão fez as majestosas árvores, a relva e as flores, levando-os a descobrir em cada botão e em cada flor uma expressão do amor de Deus pelos Seus filhos. Ele que tem cuidado das árvores e das flores cuidará também dos entes formados à Sua própria imagem. CBVc 107 5 Ao ar livre, no meio das coisas que Deus criou, respirando ar puro e sadio, falar-se-á melhor ao doente da vida nova em Cristo. Aí pode ser lida a Palavra de Deus, e a luz da justiça de Cristo brilhar em corações entenebrecidos pelo pecado. CBVc 107 6 É assim que homens e mulheres, necessitados de cura física e espiritual, podem ser postos em contato com aqueles cujas palavras e ações os atrairão para Cristo. Serão colocados sob a influência do grande Médico-Missionário, que pode curar tanto a alma como o corpo. Ouvirão a narrativa do amor do Salvador, do perdão gratuitamente concedido a todos os que dEle se aproximam confessando os pecados. CBVc 107 7 Sob tais influências, muito entes sofredores serão guiados para o caminho da vida. Os anjos do Céu cooperam com os instrumentos humanos, trazendo ânimo, esperança, alegria e paz aos corações dos enfermos e aflitos. Nessas condições, os doentes são duplamente abençoados, e muitos encontram a saúde. O passo hesitante retoma sua elasticidade, os olhos recuperam seu brilho. O desesperado adquire nova esperança. O rosto abatido ganha expressão de alegria. Os acentos lamentosos da voz dão lugar a acentos de júbilo e regozijo. CBVc 108 1 Recuperando a saúde física, homens e mulheres ficam mais aptos a exercer aquela fé em Cristo que assegura a saúde da alma. Há inexprimível paz, alegria e repouso na consciência dos pecados perdoados. A anuviada esperança do cristão resplandece com um brilho novo. Estas palavras exprimem a sua fé: "Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia". Salmos 46:1. "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam". Salmos 23:4. "Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor". Isaías 40:29. ------------------------Capítulo 19 -- Higiene geral CBVc 109 1 O conhecimento de que o homem deve ser um templo para Deus, uma morada para a revelação de Sua glória, deve ser o mais alto incentivo ao cuidado e desenvolvimento de nossas faculdades físicas. Terrível e maravilhosamente tem o Criador operado na estrutura humana, e nos ordena que a estudemos para lhe compreender as necessidades e fazermos nossa parte no preservá-la de dano e contaminação. CBVc 109 2 A circulação do sangue -- Para termos boa saúde, é necessário que tenhamos bom sangue; pois este é a corrente da vida. Ele repara os desgastes e nutre o corpo. Quando provido dos devidos elementos de alimentação e purificado e vitalizado pelo contato com o ar puro, leva a cada parte do organismo vida e vigor. Quanto mais perfeita a circulação, tanto melhor se realizará esse trabalho. CBVc 109 3 A cada pulsação do coração, o sangue deve fazer, rápida e facilmente, seu caminho a todas as partes do corpo. Sua circulação não deve ser estorvada por vestuários ou cintas apertadas, nem por deficiente agasalho dos membros. Seja o que for que prejudique a circulação, força o sangue a voltar aos órgãos vitais, congestionando-os. Dor de cabeça, tosse, palpitação, ou indigestão, eis muitas vezes os resultados. CBVc 109 4 A respiração -- Para possuir bom sangue, é preciso respirar bem. Plena e profunda inspiração de ar puro, que encha os pulmões de oxigênio, purifica o sangue. Isso comunica ao mesmo uma cor viva, enviando-o, qual corrente vitalizadora, a todas as partes do corpo. Uma boa respiração acalma os nervos, estimula o apetite e melhora a digestão, o que conduz a um sono profundo e restaurador. CBVc 109 5 Deve-se conceder aos pulmões a maior liberdade possível. Sua capacidade se desenvolve pela liberdade de ação; diminui, se eles são constrangidos e comprimidos. Daí os maus efeitos do hábito tão comum, especialmente em trabalhos sedentários, de ficar todo dobrado sobre a tarefa em mão. Nessa postura é impossível respirar profundamente. A respiração superficial torna-se em breve um hábito, e os pulmões perdem a capacidade de expansão. Idêntico efeito é produzido por qualquer constrição. Não se proporciona assim espaço suficiente à parte inferior do peito; os músculos abdominais, destinados a auxiliar na respiração, não desempenham plenamente seu papel, e os pulmões são restringidos em sua ação. CBVc 110 1 Assim é recebida uma deficiente provisão de oxigênio. O sangue move-se lentamente. Os resíduos, matéria venenosa que devia ser expelida nas exalações dos pulmões, são retidos, e o sangue se torna impuro. Não somente os pulmões, mas o estômago, o fígado e o cérebro são afetados. A pele torna-se pálida, é retardada a digestão; o coração fica deprimido; o cérebro nublado; confusos os pensamentos; baixam sombras sobre o espírito; todo o organismo se torna deprimido e inativo, e especialmente suscetível à doença. CBVc 110 2 Os pulmões estão de contínuo expelindo impurezas, e necessitam ser constantemente abastecidos de ar puro. O ar contaminado não proporciona a necessária provisão de oxigênio, e o sangue passa ao cérebro e aos outros órgãos sem o elemento vitalizador. Daí a necessidade de perfeita ventilação. Viver em aposentos fechados, mal arejados, onde o ar é sem vida e viciado, enfraquece todo o organismo. Este se torna particularmente sensível à influência do frio, e uma leve exposição leva à doença. É o viver muito fechadas, dentro de casa, que faz muitas mulheres pálidas e fracas. Respiram o mesmo ar repetidamente, até que ele se carrega de venenosos elementos expelidos pelos pulmões e os poros; e assim as impurezas são novamente levadas ao sangue. CBVc 110 3 Ventilação e luz solar -- Na construção de edifícios, seja para fins públicos seja para morada, devia-se tomar cuidado de providenciar quanto à boa ventilação e abundância de luz. As igrejas e salas de aula são muitas vezes deficientes a esse respeito. A negligência da ventilação apropriada é responsável por muita morosidade e sonolência que destrói o efeito de muitos sermões e torna fatigante e ineficaz o trabalho do professor. CBVc 110 4 O quanto possível, os prédios destinados a servir de morada devem ser situados em terreno alto e enxuto. Isso garantirá um lugar seco, prevenindo o perigo de doenças contraídas pela umidade e a podridão. Esse assunto é com demasiada freqüência considerado muito levemente. Saúde frágil, doenças sérias e muitas mortes são o resultado da umidade e da podridão de lugares baixos e com deficiente escoamento. CBVc 110 5 Na construção de casas é de especial importância assegurar perfeita ventilação e abundância de sol. Haja uma corrente de ar e quantidade de luz em cada aposento da casa. Os quartos de dormir devem ser colocados de maneira a terem ampla circulação de ar noite e dia. Nenhum aposento é apropriado para servir de dormitório, a menos que possa ser completamente aberto todos os dias ao ar e ao sol. Em muitos países, os quartos de dormir precisam ser aparelhados com aquecimento, para que fiquem completamente aquecidos e secos no tempo frio ou úmido. CBVc 110 6 O quarto dos hóspedes deve merecer cuidados iguais aos que se destinam a uso constante. Como os demais dormitórios, deve receber ar e sol, e ser aparelhado com meios de aquecimento, a fim de secar a umidade que geralmente se acumula num aposento que não é sempre usado. Quem quer que durma num quarto não banhado por sol, ou ocupe uma cama que não seja bem seca e arejada, o faz com risco da saúde, e muitas vezes da própria vida. CBVc 111 1 Ao construir sua casa, muitos tomam cuidadosas providências quanto às plantas e flores. A estufa ou a janela dedicada às mesmas é quente e ensolarada; pois sem calor, ar e sol, as plantas não poderiam existir e florescer. Se essas condições são necessárias à vida das plantas, quão mais necessárias são à nossa saúde e à de nossa família e hóspedes! CBVc 111 2 Se queremos que nosso lar seja a morada da saúde e da felicidade, devemos colocá-lo acima da poluição e neblinas das baixadas, dando livre entrada aos celestes elementos de vida. Dispensai as pesadas cortinas, abri as janelas e persianas, não permitais que trepadeiras, por mais belas que sejam, vos ensombrem as janelas, nem que nenhuma árvore fique tão próxima da casa que impeça a luz do sol de nela penetrar. Talvez essa luz desbote as cortinas e os tapetes, e manche os quadros; dará, porém, saudável vivacidade aos rostos das crianças. CBVc 111 3 Os que têm de atender a pessoas idosas devem lembrar que estas, especialmente, precisam de quartos quentes, confortáveis. O vigor declina à medida que avança a idade, deixando menos vitalidade para resistir às influências insalubres; daí a maior necessidade dos velhos, quanto a abundância de luz solar e de ar renovado e puro. CBVc 111 4 O escrupuloso asseio é indispensável tanto à saúde física como à mental. Impurezas são constantemente expelidas do corpo por meio da pele. Seus milhões de poros logo ficam obstruídos, a menos que se mantenham limpos mediante banhos freqüentes, e as impurezas que deviam sair pela pele se tornam mais uma sobrecarga aos outros órgãos eliminadores. CBVc 111 5 Muitas pessoas tirariam proveito de um banho frio ou tépido cada dia, pela manhã ou à noite. Em vez de tornar mais sujeito a resfriados, um banho devidamente tomado fortalece contra os mesmos, porque melhora a circulação; o sangue é levado à superfície, conseguindo-se que ele aflua mais fácil e regularmente às várias partes do organismo. A mente e o corpo são igualmente revigorados. Os músculos tornam-se mais flexíveis, mais vivo o intelecto. O banho é um calmante dos nervos. Ajuda os intestinos, o estômago e o fígado, dando saúde e energia a cada um, o que promove a digestão. CBVc 111 6 Também é importante que a roupa esteja sempre limpa. O vestuário usado absorve os resíduos expelidos pelos poros; não sendo freqüentemente mudado e lavado, serão as impurezas reabsorvidas. CBVc 111 7 Toda forma de desasseio tende à enfermidade. Microrganismos produtores de morte pululam nos recantos escuros e negligenciados, em apodrecidos detritos, na umidade, no mofo e bolor. Nada de verduras deterioradas ou montes de folhas secas se deve permitir que permaneça próximo de casa, poluindo e envenenando o ar. Coisa alguma suja ou estragada se deve tolerar dentro de casa. Em vilas e cidades consideradas perfeitamente salubres, tem-se verificado que muita epidemia de febre se tem originado de matéria em decomposição existente em redor da residência de algum negligente chefe de família. CBVc 112 1 Perfeito asseio, quantidade de sol, cuidadosa atenção às condições higiênicas em todos os detalhes da vida doméstica são essenciais à prevenção das doenças e ao contentamento e vigor dos habitantes do lar. ------------------------Capítulo 20 -- Higiene entre os israelitas CBVc 113 1 Nos ensinos dados por Deus a Israel, foi dispensada cuidadosa atenção à conservação da saúde. O povo que tinha saído da servidão, com os hábitos desasseados e nocivos que ela facilita, foram sujeitos ao mais rigoroso preparo no deserto, antes de entrar em Canaã. Foram-lhes ensinados princípios de saúde e impostas leis sanitárias. CBVc 113 2 A prevenção da doença -- Não somente em seu culto, mas em todos os assuntos da vida diária, era observada a distinção entre o limpo e o imundo. Todos quantos eram de algum modo postos em contato com doenças contagiosas ou contaminadoras, eram isolados do acampamento, não lhes sendo permitido voltar ali sem completa purificação tanto do corpo como das vestes. CBVc 113 3 No caso de uma pessoa atacada de uma doença contagiosa, eram dadas as seguintes instruções: "Toda cama em que se deitar [...] será imunda; e toda coisa sobre o que se assentar será imunda. E qualquer que tocar a sua cama lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E aquele que se assentar sobre aquilo em que se assentou [...] lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E aquele que tocar a carne [...] lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E qualquer que tocar em alguma coisa que estiver debaixo dele será imundo até à tarde; e aquele que a levar lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. Também todo aquele em quem [ele] tocar [...] sem haver lavado as suas mãos com água, lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até à tarde. E o vaso de barro em que tocar [...] será quebrado; porém todo vaso de madeira será lavado com água". Levítico 15:4-7-12. CBVc 113 4 A lei relativa à lepra também demonstra o rigor com que esses regulamentos deviam ser impostos: "Todos os dias em que a praga estiver nele [no leproso], será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será fora do arraial. Quando também em alguma veste houver praga de lepra, ou em veste de lã, ou em veste de linho, ou no fio urdido, ou no fio tecido, seja de linho, ou seja de lã, ou em pele, ou em qualquer obra de peles, [...] o sacerdote examinará a praga. [...] Se a praga se houver estendido na veste, ou no fio urdido, ou no fio tecido, ou na pele, para qualquer obra que for feita da pele, lepra roedora é; imundo está. Pelo que se queimará aquela veste, ou fio urdido, ou fio tecido de lã, ou de linho, ou de qualquer obra de peles, em que houver a praga, porque lepra roedora é; com fogo se queimará". Levítico 13:46-48; 50-52. CBVc 114 1 Da mesma maneira, se uma casa apresentava indícios de condições que não a tornavam garantida para habitação, era destruída. O sacerdote devia derribar "a casa, as suas pedras, e a sua madeira, como também todo o barro da casa; e se levará tudo para fora da cidade, a um lugar imundo. E o que entrar naquela casa, em qualquer dia em que estiver fechada, será imundo até à tarde. Também o que se deitar a dormir em tal casa lavará as suas vestes; e o que comer em tal casa lavará as suas vestes". Levítico 14:45-47. CBVc 114 2 Asseio -- A necessidade do asseio pessoal foi ensinada da maneira mais impressiva. Antes de se reunirem no Monte Sinai para ouvir a proclamação da lei pela voz de Deus, foi exigido do povo que se lavassem a si mesmos, e a suas roupas. Esta recomendação foi imposta sob pena de morte. Nenhuma impureza devia ser tolerada diante de Deus. CBVc 114 3 Durante a estada no deserto, os israelitas se achavam quase continuamente ao ar livre, onde as impurezas teriam efeito menos nocivo do que nos que vivem em casas fechadas. Mas era requerido o mais estrito asseio, tanto dentro como fora de suas tendas. Nenhum lixo devia ficar dentro ou em volta do acampamento. O Senhor disse: "O Senhor, teu Deus, anda no meio do teu arraial, para te livrar e entregar os teus inimigos diante de ti; pelo que o teu arraial será santo". Deuteronômio 23:14. CBVc 114 4 Regime -- A distinção entre o limpo e o imundo era feita em todos os assuntos de regime alimentar: "Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos. Fareis, pois, diferença entre os animais limpos e imundos e entre as aves imundas e as limpas; e a vossa alma não fareis abominável por causa dos animais, ou das aves, ou de tudo o que se arrasta sobre a terra, as quais coisas apartei de vós, para tê-las por imundas". Levítico 20:24, 25. CBVc 114 5 Muitos dos artigos de alimentação livremente comidos pelos pagãos que os rodeavam eram proibidos aos israelitas. Não era feita qualquer distinção arbitrária. As coisas proibidas eram nocivas. E o fato de serem declaradas imundas ensinava a lição de que as comidas prejudiciais são contaminadoras. Aquilo que corrompe o corpo tende a contaminar a alma. Incapacita o que o usa para a comunhão com Deus, torna-o inapto para serviço elevado e santo. CBVc 114 6 Na Terra Prometida, a disciplina começada no deserto continuou sob circunstâncias favoráveis à formação de bons hábitos. O povo não se aglomerava nas cidades, porém cada família possuía sua própria terra, garantindo a todos as saudáveis bênçãos da vida natural, não pervertida. CBVc 115 1 Quanto aos costumes cruéis, licenciosos dos cananeus que foram desapossados pelos israelitas, disse o Senhor: "E não andeis nos estatutos da gente que Eu lanço fora diante da vossa face, porque fizeram todas estas coisas; portanto, fui enfadado deles". Levítico 20:23. "Não meterás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim como ela". Deuteronômio 7:26. CBVc 115 2 Em todos os assuntos da vida diária, aos israelitas era ensinada a lição salientada pelo Espírito Santo: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo". 1 Coríntios 3:16, 17. CBVc 115 3 Regozijo -- "O coração alegre serve de bom remédio". Provérbios 17:22. Gratidão, regozijo, benignidade, confiança no amor e no cuidado de Deus -- eis as maiores salvaguardas da saúde. Elas deviam ser, para os israelitas, as notas predominantes da vida. CBVc 115 4 A viagem feita três vezes por ano para as festas anuais em Jerusalém e a estada de sete dias em cabanas, durante a festa dos tabernáculos, eram oportunidades para recreação ao ar livre e vida social. Essas festas eram ocasiões de regozijo, tornando-se mais doces e ternas pelo hospitaleiro acolhimento dispensado aos estrangeiros, aos levitas e aos pobres. CBVc 115 5 "E te alegrarás por todo o bem que o Senhor, teu Deus, te tem dado a ti e a tua casa, tu, e o levita, e o estrangeiro que está no meio de ti". Deuteronômio 26:11. CBVc 115 6 Assim, nos anos posteriores quando a Lei de Deus foi lida em Jerusalém aos cativos que voltaram de Babilônia, e o povo chorava por causa de suas transgressões, foram proferidas as graciosas palavras: "Não vos lamenteis. [...] Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força". Neemias 8:9, 10. CBVc 115 7 E foi publicado e anunciado "por todas as suas cidades e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte e trazei ramos de oliveiras, e ramos de zambujeiros, e ramos de murtas, e ramos de palmeiras, e ramos de árvores espessas, para fazer cabanas, como está escrito. Saiu, pois, o povo, e de tudo trouxeram, e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço, e nos seus pátios, e nos átrios da casa de Deus, e na praça da Porta das Águas, e na praça da Porta de Efraim. E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas e habitou nas cabanas; [...] e houve mui grande alegria". Neemias 8:15-17. CBVc 115 8 Deus deu a Israel instruções em todos os princípios essenciais à saúde física, bem como à moral, e foi com relação a esses princípios, da mesma maneira que aos da lei moral, que Ele lhes ordenou: "Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas". Deuteronômio 6:6-9. CBVc 116 1 "Quando teu filho te perguntar, pelo tempo adiante, dizendo: Quais são os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: [...] o Senhor nos ordenou que fizéssemos todos estes estatutos, para temer ao Senhor, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje". Deuteronômio 6:20, 21, 24. CBVc 116 2 Houvessem os israelitas obedecido às instruções recebidas, e aproveitado suas vantagens, e teriam sido para o mundo uma lição objetiva de saúde e prosperidade. Se, como um povo, houvessem vivido em harmonia com o plano de Deus, teriam sido preservados das doenças que afligiam outras nações. Haveriam, mais que qualquer outro povo, possuído resistência física e vigor intelectual. Teriam sido a mais poderosa nação da Terra. Deus disse: "Bendito serás mais do que todos os povos". Deuteronômio 7:14. CBVc 116 3 "E o Senhor, hoje, te fez dizer que Lhe serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao Senhor, teu Deus, como tem dito". Deuteronômio 26:18, 19. CBVc 116 4 "E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do Senhor, vosso Deus: Bendito serás tu na cidade e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais, e a criação das tuas vacas, e os rebanhos das tuas ovelhas. Bendito o teu cesto e a tua amassadeira. Bendito serás ao entrares e bendito serás ao saíres". Deuteronômio 28:2-6. CBVc 116 5 "O Senhor mandará que a bênção esteja contigo nos teus celeiros e em tudo que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o Senhor, teu Deus. O Senhor te confirmará para Si por povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andares nos Seus caminhos. E todos os povos da Terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e terão temor de ti. E o Senhor te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto da tua terra, sobre a terra que o Senhor jurou a teus pais te dar. O Senhor te abrirá o Seu bom tesouro, o Céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo e para abençoar toda a obra das tuas mãos. [...] E o Senhor te porá por cabeça e não por cauda; e só estarás em cima e não debaixo, quando obedeceres aos mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e fazer". Deuteronômio 28:8-13. CBVc 116 6 A Arão, o sumo sacerdote, e as seus filhos, foram dadas as orientações: CBVc 116 7 "Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes: CBVc 116 8 "O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o Seu rosto e te dê a paz. Assim, porão o Meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei". Números 6:23-27. CBVc 117 1 "A tua força será como os teus dias. Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus, que cavalga sobre os céus para a tua ajuda e, com a Sua alteza, sobre as mais altas nuvens! O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo de ti os braços eternos. [...] Israel, pois, habitará só e seguro, na terra da fonte de Jacó, na terra de cereal e de mosto; e os seus céus gotejarão orvalho. Bem-aventurado és tu, ó Israel! Quem é como tu, um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro e a espada da tua alteza?" Deuteronômio 33:25-29. CBVc 117 2 Os israelitas falharam no cumprimento do desígnio de Deus, deixando assim de receber as bênçãos que lhes teriam pertencido. Mas em José e Daniel, em Moisés e Eliseu, e em muitos outros, temos nobres exemplos dos resultados do verdadeiro plano de vida. Idêntica fidelidade hoje produzirá os mesmos frutos. Quanto a nós está escrito: CBVc 117 3 "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. ------------------------Capítulo 21 -- Vestuário CBVc 118 1 A Bíblia ensina modéstia no vestuário. "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto." 1 Timóteo 2:9. Isto proíbe ostentação nos vestidos, cores berrantes, profusa ornamentação. Tudo que tenha o objetivo de chamar a atenção para a pessoa, ou provocar admiração, está excluído do traje modesto recomendado pela Palavra de Deus. Nosso vestuário não deve ser dispendioso -- não "com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos". 1 Timóteo 2:9. CBVc 118 2 O dinheiro é um legado de Deus. Não nos pertence para gastá-lo na satisfação do orgulho ou da ambição. Nas mãos dos filhos de Deus é alimento para o faminto e roupas para o nu. É uma defesa para o oprimido, um meio de restituir a saúde ao enfermo, ou de pregar o evangelho ao pobre. Poderíeis levar felicidade a muitos corações mediante o sábio emprego dos recursos agora usados para exibição. Considerai a vida de Cristo. Estudai-Lhe o caráter, e sede participantes de Seu espírito de renúncia. CBVc 118 3 No professo mundo cristão gasta-se com jóias e vestidos desnecessariamente caros o que seria suficiente para alimentar todos os famintos e vestir todos os nus. A moda e a ostentação absorvem os meios que poderiam confortar os pobres e sofredores. Roubam ao mundo o evangelho do amor do Salvador. Definham as Missões. Multidões perecem por falta de ensino cristão. Ao pé de nossa porta e em terras estrangeiras, estão pagãos por instruir e salvar. Quando Deus carregou a terra de Suas bênçãos, e encheu os celeiros dos confortos da vida; quando nos tem tão abundantemente dado um salvador conhecimento de Sua verdade, que desculpa teremos nós de permitir que ascendam aos Céus os clamores das viúvas e dos órfãos, dos doentes e sofredores, dos ignorantes e perdidos? No dia de Deus, quando levados face a face com Aquele que deu a vida por esses necessitados, que desculpa terão os que estão a gastar tempo e dinheiro em satisfações que Deus proíbe? A tais pessoas não dirá Cristo: "Tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; [...] estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes"? Mateus 25:42, 43. CBVc 118 4 Mas nossas roupas, conquanto modestas e simples, devem ser de boa qualidade, de cores próprias, e adequadas ao uso. Devem ser escolhidas mais com vistas à durabilidade do que à aparência. Devem proporcionar agasalho e a devida proteção. A mulher prudente descrita nos Provérbios "não temerá, por causa da neve, porque toda a sua casa anda forrada de roupa dobrada". Provérbios 31:21. CBVc 119 1 Nosso vestuário deve ser asseado. O desasseio nesse sentido é nocivo à saúde, e portanto contaminador para o corpo e a alma. "Sois o templo de Deus. [...] Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá". 1 Coríntios 3:16, 17. CBVc 119 2 Sob qualquer aspecto, as roupas devem ser saudáveis. Acima de tudo, Deus quer que tenhamos saúde (3 João 2) -- saúde de corpo e de alma). E devemos ser coobreiros Seus tanto para a saúde de um como da outra. Ambas são promovidas pelo vestuário saudável. CBVc 119 3 Ele deve possuir a graça, a beleza, a conveniência da simplicidade natural. Cristo nos advertiu contra o orgulho da vida, mas não contra sua graça e beleza naturais. Apontou às flores do campo, aos lírios desabrochando em sua pureza, e disse: "Nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles". Mateus 6:29. Assim, pelas coisas da natureza, Cristo ilustra a beleza apreciada pelo Céu, a graça modesta, a simplicidade, a pureza, a propriedade que Lhe tornariam agradável nossa maneira de vestir. CBVc 119 4 Que contraste oferece isto com a fadiga, o desassossego, a falta de saúde e ruína que resultam do domínio da moda! Quão contrários aos princípios dados nas Escrituras são muitos dos modelos de roupa prescritos por ela! Pensai nos feitios que têm dominado nos últimos cem anos, ou mesmo nas últimas décadas. Quantos deles, quando não em moda, seriam declarados imodestos; quantos julgados inadequados para uma senhora distinta, temente a Deus, e que se preza! CBVc 119 5 O fazer mudanças no vestuário só por amor da moda não é aprovado pela Palavra de Deus. Modelos sempre variáveis e complicados, custosos adornos, esbanjam o tempo e o dinheiro dos ricos, estragando-lhes as energias da mente e da alma. Impõem às classes médias e mais pobres um pesado jugo. Muitos dos que mal podem ganhar a subsistência e, com modas simples, seriam capazes de fazer os próprios vestidos, são forçados a recorrer à costureira a fim de se vestir segundo à moda. Muita moça pobre, para ter um vestido de estilo, tem-se privado de agasalhadora roupa interna, pagando com a própria vida. Muitas outras, cobiçando a exibição e a elegância dos ricos, têm sido incitadas a caminhos desonestos e à vergonha. Muitos lares se têm privado de conforto, muitos homens têm sido arrastados à fraude ou à bancarrota, para satisfazer às extravagantes exigências da mulher e das filhas. CBVc 119 6 Muita mulher, forçada a fazer para si mesma ou para os filhos, as extravagantes roupas demandadas pela moda, vê-se condenada a incessante labuta. Muita mãe, com nervos tensos e trêmulos dedos, trabalha arduamente noite a dentro para ajuntar ao vestuário de seus filhos enfeites que nada contribuem para a saúde, o conforto ou a verdadeira beleza. Por amor da moda, ela sacrifica a saúde e a calma do espírito tão essenciais à conveniente direção de seus filhos. É negligenciada a cultura da mente e do coração. A alma fica atrofiada. CBVc 120 1 A mãe não tem tempo para estudar os princípios do desenvolvimento físico, de modo a saber cuidar da saúde dos filhos. Não tem tempo de ministrar-lhes às necessidades da mente e do espírito, nem para manifestar terna simpatia para com eles em suas pequenas decepções e provas, ou partilhar de seus interesses e empreendimentos. CBVc 120 2 Por assim dizer, logo que entram no mundo acham-se as crianças sujeitas à influência da moda. Ouvem mais de vestidos do que do Salvador. Vêem as mães consultando os figurinos com mais diligência do que a Bíblia. A exibição de vestidos é tratada como sendo mais importante que o desenvolvimento do caráter. Pais e filhos são privados daquilo que é melhor, mais doce e mais verdadeiro na vida. Por amor da moda, são roubados da preparação para a vida futura. CBVc 120 3 Foi o adversário de todo o bem que instigou à invenção das sempre mutáveis modas. Coisa alguma deseja ele tanto como ocasionar a Deus pesar e desonra mediante a miséria e a ruína dos seres humanos. Um dos meios por que ele o consegue mais eficazmente são as invenções da moda, que enfraquecem o corpo da mesma maneira que debilitam a mente e amesquinham a alma. CBVc 120 4 As mulheres são sujeitas a sérias enfermidades, e seus sofrimentos são grandemente aumentados por sua maneira de vestir. Em lugar de conservar a saúde para as emergências que certamente hão de vir, elas, por seus hábitos errôneos, sacrificam, muitas vezes, não somente a saúde, mas a vida, deixando a seus filhos um legado de sofrimento numa constituição arruinada, em hábitos pervertidos e numa falsa idéia da vida. CBVc 120 5 Uma das invenções extravagantes e nocivas da moda são as saias que varrem o chão. Desasseadas, desconfortáveis, inconvenientes, anti-higiênicas -- tudo isso e mais ainda se verifica quanto às saias que arrastam. São extravagantes, tanto pelo desperdício de material exigido como pelo desnecessário gasto, devido ao comprimento. E quem quer que tenha visto uma senhora com uma saia de cauda, mãos cheias de embrulhos, tentando subir ou descer uma escada, entrar num bonde, atravessar uma multidão, andar na chuva ou num enlameado caminho, não necessita outras provas de sua inconveniência e incômodo. CBVc 120 6 Outro sério dano é o usar saias de modo que seu peso recaia sobre os quadris. Esse excesso de peso, fazendo-se sentir sobre os órgãos internos, puxa-os para baixo, causando fraqueza do estômago, e uma sensação de lassitude, fazendo com que a pessoa que a traz se incline, o que mais ainda comprime os pulmões, tornando mais difícil a respiração correta. CBVc 120 7 Nos últimos anos, tem-se discutido tanto os perigos resultantes da compressão da cintura, que poucas pessoas os podem ignorar; todavia, tão grande é o poder da moda, que o mal continua. Por essa prática estão as senhoras e moças trazendo sobre si indizível dano. É essencial à saúde que o peito tenha margem para expandir-se à sua máxima plenitude, a fim de os pulmões poderem inspirar amplamente. Quando os pulmões são restringidos, é diminuída a quantidade de oxigênio que recebem. O sangue não é devidamente vivificado, e são retidos os resíduos, matéria venenosa que devia ser expelida pelos pulmões. Além disso, a circulação é dificultada; e os órgãos internos são por tal forma apertados e impelidos para fora do lugar que não podem realizar devidamente o seu trabalho. CBVc 121 1 Espartilhos apertados não melhoram a forma do corpo. Um dos principais elementos da beleza física é a simetria, a harmônica proporção de suas várias partes. E o modelo correto quanto ao desenvolvimento físico se pode encontrar não nos modelos exibidos pelos modistas franceses, mas no corpo humano desenvolvido segundo as leis de Deus na natureza. Ele é o autor de toda a beleza, e, unicamente ao nos conformarmos com Seus ideais havemos de aproximar-nos da verdadeira norma de beleza. CBVc 121 2 Outro mal fomentado pelo uso é a desigual distribuição do vestuário, de modo que, enquanto algumas partes do corpo estão mais agasalhadas do que precisam, outras se acham insuficientemente vestidas. Os pés e os membros, estando afastados dos órgãos vitais, devem ser especialmente protegidos do frio por suficiente roupa. É impossível desfrutar saúde quando as extremidades estão habitualmente frias; pois, se há pouco sangue nelas, terá de haver em excesso noutras partes do corpo. Saúde perfeita requer perfeita circulação; isso, porém, não se pode ter quando três ou quatro vezes mais agasalho é usado sobre o corpo, onde se encontram os órgãos vitais, do que nos membros. CBVc 121 3 Multidões de mulheres são nervosas e cheias de preocupações porque se privam do ar puro que lhes proporcionaria um sangue puro, e da liberdade de movimentos que impeliria o mesmo através das veias, dando-lhes vida, saúde e energia. Muitas mulheres têm se tornado inválidas confirmadas, quando poderiam haver fruído boa saúde, e muitas têm morrido de tuberculose e outras doenças, quando lhes teria sido possível viver o determinado termo da vida, houvessem elas se vestido de acordo com os princípios da saúde, fazendo abundante exercício ao ar livre. CBVc 121 4 A fim de prover-se do mais saudável vestuário, é preciso estudar cuidadosamente as necessidades de cada parte do corpo. O clima, o ambiente, as condições da saúde, a idade e as ocupações, tudo deve ser considerado. Cada peça de vestuário deve ser facilmente ajustada, não obstruindo nem a circulação do sangue, nem a livre, plena e natural respiração. Cada peça deve ser tão ampla que, ao erguer os braços, a roupa se erga correspondentemente. CBVc 121 5 As senhoras de saúde precária podem fazer muito em benefício próprio, vestindo-se e exercitando-se adequadamente. Quando vestidas de maneira correta a desfrutar o ar livre, façam elas aí exercício, a princípio com cautela, mas em progressiva quantidade, à medida que o puderem suportar. Assim fazendo, muitas poderiam recuperar a saúde, e viver de modo a desempenhar a sua parte na tarefa do mundo. CBVc 122 1 Independência da moda -- Em vez de tentarem cumprir as exigências da moda, tenham as mulheres a força moral de se vestirem saudável e singelamente. Em lugar de se entregar a uma verdadeira labuta, procure a esposa e mãe encontrar tempo para ler, para se manter bem informada, para ser uma companheira de seu marido, e se conservar em contato com a mente em desenvolvimento de seus filhos. Empregue ela sabiamente as oportunidades que tem agora de influenciar os seus queridos para aquela vida mais elevada. Tome tempo para tornar o querido Salvador um companheiro diário, um amigo familiar. Consagre tempo ao estudo de Sua Palavra, para levar as crianças aos campos, e aprender a conhecer a Deus mediante a beleza de Suas obras. CBVc 122 2 Mantenha-se ela animada e alegre. Em vez de passar todos os momentos num costurar sem fim, faça do serão um aprazível período social, uma reunião de família depois dos deveres do dia. Muito homem seria assim levado a preferir o convívio de seu lar, em vez de o clube e os bares. Muito menino seria guardado contra a rua e o bar da esquina. Muita menina seria salva de associações frívolas, que não levam a bom caminho. A influência do lar seria, tanto para os pais como para os filhos, aquilo que era o desígnio de Deus que fosse: uma bênção que se estendesse por toda a vida. ------------------------Capítulo 22 -- O regime alimentar e a saúde CBVc 123 1 Nosso corpo é formado pela comida que ingerimos. Há constante desgaste dos tecidos do corpo; todo movimento de qualquer órgão implica um desgaste, o qual é reparado por meio do alimento. Cada órgão do corpo requer sua parte de nutrição. O cérebro deve ser abastecido com sua porção; os ossos, os músculos e os nervos requerem a sua. Maravilhoso é o processo que transforma a comida em sangue, e se serve desse sangue para restaurar as várias partes do organismo; mas esse processo está prosseguindo continuamente, suprindo a vida e a força a cada nervo, cada músculo e tecido. CBVc 123 2 Escolha do alimento -- Deve-se escolher o alimento que melhor proveja os elementos necessitados para a edificação do organismo. Nessa escolha, o apetite não é um guia seguro. Mediante hábitos errôneos de comer, o apetite se tornou pervertido. Muitas vezes exige alimento que prejudica a saúde e a enfraquece em lugar de fortalecê-la. Não nos podemos guiar com segurança pelos hábitos da sociedade. A doença e o sofrimento que por toda parte dominam são em grande parte devidos a erros populares com referência ao regime alimentar. CBVc 123 3 A fim de saber quais são os melhores alimentos, devemos estudar o plano original de Deus para o regime do ser humano. Aquele que criou o homem e compreende suas necessidades designou a Adão o que devia comer: "Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente [...] e toda árvore em que há fruto de árvore que dá semente; ser-vos-ão para mantimento". Gênesis 1:29. Ao deixar o Éden para ganhar a subsistência lavrando a terra sob a maldição do pecado, o homem recebeu também permissão para comer a "erva do campo". Gênesis 3:18. CBVc 123 4 Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime dietético escolhido por nosso Criador. Esses alimentos, preparados da maneira mais simples e natural possível, são os mais saudáveis e nutritivos. Proporcionam uma força, uma resistência e vigor intelectual que não são promovidos por uma alimentação mais complexa e estimulante. CBVc 123 5 Mas nem todas as comidas saudáveis em si mesmas são igualmente adequadas a nossas necessidades em todas as circunstâncias. Deve haver cuidado na seleção do alimento. Nossa comida deve ser de acordo com a estação, o clima em que vivemos e a ocupação em que nos empregamos. Certas comidas apropriadas para uma estação ou um clima, não o são para outro. Assim, há diferentes comidas mais adequadas às pessoas segundo as várias ocupações. Muitas vezes, alimentos que podem ser usados com proveito por pessoas que se empenham em árduo labor físico não são próprios para as de trabalho sedentário, ou de intensa aplicação mental. Deus nos tem dado ampla variedade de comidas saudáveis, e cada pessoa deve escolher dentre elas aquelas que a experiência e o bom senso demonstram ser as mais convenientes às suas próprias necessidades. CBVc 124 1 As abundantes provisões de frutas, nozes e cereais da natureza são amplas; e de ano para ano os produtos de todas as terras são mais amplamente distribuídos por todos, devido às facilidades de transporte. Em resultado, muitos artigos de alimentação que, poucos anos atrás, eram considerados como luxos caros encontram-se agora ao alcance de todos, como gêneros diários. Este é especialmente o caso com frutas secas e em conservas. CBVc 124 2 As nozes e as receitas com elas preparadas estão-se tornando largamente usadas, substituindo os pratos de carne. Com as nozes se podem combinar cereais, frutas e alguns tubérculos, preparando pratos saudáveis e nutritivos. Deve-se cuidar, no entanto, em não usar grande proporção de nozes. Os que percebem os maus efeitos do uso das nozes talvez consigam afastar o mal mediante essa precaução. Convém lembrar, também, que algumas qualidades de nozes não são tão saudáveis como outras. As amêndoas são preferíveis aos amendoins, mas estes, em limitadas porções, usados conjuntamente com cereais, são nutritivos e digeríveis. CBVc 124 3 Quando devidamente preparadas, as azeitonas, como as nozes, substituem a manteiga e os alimentos cárneos. O azeite, ingerido na azeitona, é muito preferível à gordura animal. Atua como laxativo. Seu uso se verificará benéfico aos tuberculosos, sendo também medicinal para um estômago inflamado, irritado. CBVc 124 4 As pessoas que se têm habituado a um regime muito condimentado, altamente estimulante, têm um gosto não natural, e logo não podem apreciar o alimento simples. Levará tempo até que o gosto se torne natural, e o estômago se recupere do abuso sofrido. Mas os que perseveram no uso do alimento saudável, depois de algum tempo o acharão agradável ao paladar. Seu delicado e delicioso sabor será apreciado, e será ingerido com maior satisfação do que se pode encontrar em nocivas iguarias. E o estômago, numa condição saudável, não estimulado nem sobrecarregado, está apto a se desempenhar mais facilmente de sua tarefa. CBVc 124 5 A fim de manter a saúde, é necessária suficiente provisão de alimento bom e nutritivo. CBVc 124 6 Se planejarmos sabiamente, os artigos que promovem a boa saúde podem ser obtidos em quase todas as terras. Os vários artigos preparados de arroz, trigo, milho e aveia são enviados para toda parte, bem como feijões, ervilhas e lentilhas. Estes, juntamente com as frutas nacionais ou importadas, e a quantidade de verduras que dão em todas as localidades, oferecem oportunidade de escolher um regime dietético completo, sem o uso de alimentos cárneos. CBVc 125 1 Onde quer que haja frutas em abundância, deve-se preparar farta provisão para o inverno, conservando-as cozidas ou secas. As frutas pequenas, como morangos, amoras, groselhas e outras, podem dar com vantagem em muitos lugares onde são pouco usadas, sendo negligenciado o seu cultivo. CBVc 125 2 Para conservas domésticas, os vidros devem ser usados sempre que possível, de preferência às latas. É especialmente digno de atenção que as frutas a serem conservadas estejam em boas condições. Empregue-se pouco açúcar, e a fruta seja cozida apenas o necessário à sua preservação. Assim preparadas, são excelente substituto para as frutas frescas. CBVc 125 3 Onde quer que as frutas secas como passas, ameixas, maçãs, pêras, pêssegos e abricós se podem obter por moderado preço, verificar-se-á que se podem usar como artigos principais de regime, muito mais abundantemente do que se costuma fazer, com os melhores resultados para a saúde de todas as classes. CBVc 125 4 Não deve haver grande variedade em cada refeição, pois isso incita o excesso na alimentação, e produz má digestão. CBVc 125 5 Não é bom comer verduras e frutas na mesma refeição. Se a digestão é deficiente, o uso de ambas ocasionará, com freqüência, perturbação, incapacitando para o esforço mental. Melhor é usar as frutas numa refeição e as verduras em outra. CBVc 125 6 O cardápio deve ser variado. Os mesmos pratos, preparados da mesma maneira, não devem aparecer à mesa refeição após refeição, dia após dia. O alimento é tomado com mais prazer, e o organismo mais bem nutrido, quando é variado. CBVc 125 7 O preparo do alimento -- É pecado comer apenas para satisfazer o apetite, mas não se deve ser indiferente quanto à qualidade da alimentação, ou à maneira de a preparar. Se a refeição que comemos não é saborosa, o organismo não recebe tanta nutrição. O alimento deve ser cuidadosamente escolhido e preparado com inteligência e habilidade. CBVc 125 8 Em geral, usa-se demasiado açúcar no alimento. Bolos, pudins, massas folhadas, geléias e doces são causa ativa de má digestão. Especialmente nocivos são os cremes e pudins em que o leite, ovos e açúcar são os principais ingredientes. Deve-se evitar o uso abundante de leite e açúcar juntos. CBVc 125 9 O leite que se usa deve ser perfeitamente esterilizado; com esta precaução, há menos perigo de contrair doenças por seu uso. A manteiga é menos nociva quando comida no pão do que empregada na cozinha; mas, em regra, melhor é dispensá-la inteiramente. O queijo é ainda mais objetável; é totalmente impróprio como alimento. CBVc 126 1 [Nota: Os editores esclarecem que a referência "não inclui a ricota (coalhada escorrida) ou alimentos parecidos, que sempre foram reconhecidos pela autora como saudáveis". Consultando os depositários das publicações White, deles recebemos a mesma resposta que fora dada aos irmãos da Alemanha. Essa resposta foi dada de acordo com as instruções da própria irmã White, e seguindo o seu conselho a edição alemã reza: "O queijo forte, picante, não deve ser comido."] CBVc 126 2 A alimentação deficiente, mal cozida, estraga o sangue, por enfraquecer os órgãos que o preparam. Isso desarranja o organismo, trazendo doenças, com seu cortejo de nervos irritados e mau gênio. As vítimas da deficiência culinária contam-se aos milhares e dezenas de milhares. Sobre muitos túmulos se poderia gravar: "Morto devido à má cozinha"; "Morto por maus-tratos infligidos ao estômago." CBVc 126 3 É um sagrado dever para os que cozinham o saber preparar alimento saudável. Muitas almas se perdem em razão de um errôneo modo de preparar os alimentos. Exige reflexão e cuidado o fazer um bom pão; há, porém, mais religião num pão bem feito do que muitos pensam. Na verdade há poucas boas cozinheiras. As jovens entendem ser coisa servil cozinhar e fazer outros serviços domésticos; e, por isso, muitas jovens que se casam e têm cuidado de família pouca idéia possuem dos deveres que pesam sobre a esposa e mãe. CBVc 126 4 Cozinhar não é ciência desprezível, porém uma das mais essenciais na vida prática. É uma arte que todas as mulheres deviam aprender, devendo ser ensinada de um modo que beneficiasse às classes mais pobres. Fazer comida apetecível e ao mesmo tempo simples e nutritiva requer habilidade; pode no entanto ser feito. As cozinheiras devem saber preparar alimento de maneira simples e saudável, e de modo que seja mais apetecível e mais são, justo por causa de sua simplicidade. CBVc 126 5 Toda mulher que se encontra à frente de uma família e ainda não entende a arte da cozinha saudável deve decidir aprender aquilo que é tão essencial ao bem-estar de sua casa. Em muitos lugares, escolas de arte culinária saudável oferecem ensejo de uma pessoa se instruir nesse sentido. Aquela que não tem o auxílio de tais facilidades devia tomar instruções com uma boa cozinheira, perseverando em seus esforços por se aperfeiçoar até se tornar senhora da arte culinária. CBVc 126 6 É de vital importância a regularidade no comer. Deve haver tempo determinado para cada refeição. Nesta ocasião, coma cada um o que o organismo requer, e depois não tome nada mais até a próxima refeição. Muitas pessoas comem quando o organismo não sente necessidade de alimento, em intervalos irregulares e entre as refeições, porque não têm suficiente força de vontade para resistir à inclinação. Quando em viagem, alguns estão continuamente mordicando, se lhes chega ao alcance qualquer coisa de comer. Isso é muito nocivo. Se os viajantes comessem regularmente, um alimento simples e nutritivo, não experimentariam tão grande fadiga, nem sofreriam tanto enjôo. CBVc 127 1 Outro hábito prejudicial é o de tomar alimento exatamente antes de dormir. Pode-se haver tomado as refeições regulares, mas, por sentir-se uma sensação de fraqueza, ingere-se mais alimento. Mediante a condescendência, essa prática errônea se torna um hábito, e tantas vezes tão firmemente fixado que se julga impossível dormir sem comer. Em resultado de tomar ceias tardias, o processo digestivo é continuado através do período de repouso. Mas, embora o estômago trabalhe constantemente, sua função não é bem feita. O sono é mais vezes perturbado por sonhos desagradáveis, e pela manhã a pessoa acorda sem se haver descansado, e com pouco apetite para a refeição matinal. Quando nos deitamos para repousar, o estômago já devia ter concluído a sua obra, a fim de, como os demais órgãos do corpo, fruir repouso. Para as pessoas de hábitos sedentários, as ceias tarde da noite são particularmente nocivas. Para essas, as desordens criadas são geralmente o começo de doenças que findam na morte. CBVc 127 2 Em muitos casos, a fraqueza que leva a desejar alimento é sentida porque os órgãos digestivos foram muito sobrecarregados durante o dia. Depois de digerir uma refeição, os órgãos que se empenharam nesse trabalho precisam de repouso. Pelo menos cinco ou seis horas devem entremear as refeições; e a maior parte das pessoas que experimentarem esse plano verificará que duas refeições por dia são preferíveis a três. CBVc 127 3 Maneiras erradas de comer -- A comida não deve ser ingerida muito quente nem muito fria. Se está fria, as forças vitais do estômago são chamadas a fim de aquecê-la antes de ter começo o processo digestivo. Bebidas frias, pelo mesmo motivo, são prejudiciais. Por outro lado, o uso copioso de bebidas quentes é debilitante. Na verdade, quanto mais líquido for ingerido nas refeições, tanto mais difícil se tornará a digestão do alimento, pois o líquido precisa ser absorvido primeiro para que principie a digestão. Não useis sal em quantidade, evitai os picles e comidas condimentadas, servi-vos de abundância de frutas, e a irritação que requer tanta bebida nas refeições desaparecerá em grande parte. CBVc 127 4 A comida deve ser ingerida devagar, completamente mastigada. Isso é necessário para a saliva ser devidamente misturada com o alimento, e os sucos digestivos chamados à ação. CBVc 127 5 Outro mal sério é comer em ocasiões impróprias, como depois de violento ou excessivo exercício, quando uma pessoa se encontra exausta ou aquecida. Logo depois da comida, há forte demanda das energias nervosas; e, quando a mente ou o corpo é muito sobrecarregado justo antes ou logo depois de comer, prejudica-se a digestão. Quando uma pessoa está agitada, ansiosa ou apressada, é melhor não comer enquanto não descansar ou obtiver alívio. CBVc 128 1 O estômago está intimamente relacionado com o cérebro; e quando ele está doente, a força nervosa é chamada do cérebro em auxílio dos enfraquecidos órgãos digestivos. Sendo estas exigências demasiado freqüentes, o cérebro fica congestionado. Se este é constantemente sobrecarregado, e há falta de exercício físico, mesmo a comida simples deve ser tomada parcimoniosamente. Na hora da refeição, expulsai o cuidado e os pensamentos ansiosos; não estejais apressados, mas comei devagar e satisfeitos, o coração cheio de gratidão para com Deus por todas as Suas bênçãos. CBVc 128 2 Muitas pessoas que rejeitam a carne e outros pesados e nocivos artigos pensam que, porque sua comida é simples e sã, podem condescender com o apetite sem restrições, comendo excessivamente, por vezes até a gulodice. Isso é um erro. Os órgãos digestivos não devem ser sobrecarregados com uma quantidade ou qualidade de alimento que torne pesado ao organismo o digeri-lo. CBVc 128 3 O costume determina que a comida seja trazida para a mesa por pratos. Não sabendo o que vem depois, uma pessoa pode comer bastante de um prato que talvez não lhe seja o mais conveniente. Quando a última parte é apresentada, ela se arrisca muitas vezes a ultrapassar um pouco os limites, e aceita a tentadora sobremesa, o que, no entanto, não se lhe demonstra nada bom. Se toda a comida de uma refeição é posta na mesa ao princípio, a pessoa fica habilitada a fazer a melhor escolha. CBVc 128 4 Por vezes, o resultado do excesso de alimento é imediatamente sentido. Noutros casos, não há uma sensação de mal-estar; mas os órgãos digestivos perdem a força vital, e é solapada a base da resistência física. CBVc 128 5 Alimento em excesso pesa no organismo, produzindo um estado mórbido, febricitante. Chama uma indevida quantidade de sangue para o estômago, causando resfriamento nos membros e extremidades. Impõe pesada carga aos órgãos digestivos, e, quando os mesmos têm executado sua tarefa, resta uma sensação de desfalecimento e fraqueza. Pessoas que estão continuamente a comer em excesso chamam fome a essa sensação de esvaimento; é, porém, causado pelo estado de exaustão dos órgãos digestivos. Há por vezes torpor do cérebro, com indisposição para o esforço mental e físico. CBVc 128 6 Sentem-se esses desagradáveis sintomas porque a natureza realizou seu trabalho à custa de um desnecessário dispêndio de força vital, achando-se completamente exausta. O estômago está dizendo: "Dá-me repouso." Por parte de muitos, todavia, a fraqueza é interpretada como um pedido de mais alimento; de modo que, em lugar de conceder descanso ao estômago, lançam-lhe em cima outra carga. Em conseqüência, os órgãos digestivos se acham com freqüência gastos quando deviam se encontrar em condições de prestar bom serviço. CBVc 128 7 Não devemos preparar para o sábado mais liberal provisão de alimento, nem maior variedade que nos outros dias. Em lugar disso, a comida deve ser mais simples, e menos se deve comer, a fim de a mente estar mais clara e vigorosa para compreender as coisas espirituais. Um estômago abarrotado quer dizer um cérebro pesado. As mais preciosas palavras podem ser ouvidas e não apreciadas devido à mente estar confusa por uma alimentação imprópria. Comendo demais no sábado, muita gente faz mais do que julga para se tornar incapaz de receber o benefício de suas sagradas oportunidades. CBVc 129 1 Deve-se evitar cozinhar no sábado; não é por isso necessário comer frio. No tempo frio, a comida preparada no dia anterior deve ser aquecida. E as refeições, embora simples, sejam saborosas e atrativas. Especialmente nas famílias em que há crianças, é bom, aos sábados, qualquer coisa que seja considerada como um prato especial, coisa que a família não tenha todos os dias. CBVc 129 2 Onde tem havido condescendência com hábitos errôneos, não deve haver demora em reformá-los. Quando a dispepsia tem sido o resultado do mau trato infligido ao estômago, façam-se cuidadosos esforços para conservar o resto da resistência das forças vitais, afastando toda sobrecarga. Talvez o estômago nunca recupere inteiramente a saúde depois de longo tempo de mau trato; mas uma correta orientação no regime dietético poupará posterior debilidade, e muitos se recuperarão mais ou menos. Não é fácil prescrever regras que se adaptem a todos os casos; mas, atendendo aos sãos princípios no comer, podem-se operar grandes reformas, e a cozinheira não precisa labutar continuamente para tentar o apetite. CBVc 129 3 A sobriedade na alimentação é recompensada com vigor mental e moral; é também eficaz no domínio das paixões. O excessivo comer é especialmente prejudicial aos que são de temperamento indolente; estes devem comer frugalmente, e fazer bastante exercício físico. Existem homens e mulheres de excelentes aptidões naturais, que não realizam metade do que poderiam efetuar se exercessem domínio sobre si mesmos quanto a negar-se ao apetite. CBVc 129 4 Muitos escritores e oradores falham nesse ponto. Depois de comer à vontade, entregam-se a ocupações sedentárias, lendo, estudando ou escrevendo, não se dando nenhum tempo para exercício físico. Em conseqüência, é dificultado o livre fluxo dos pensamentos e das palavras. Não podem escrever nem falar com a intensidade e o vigor necessários para atingir o coração; seus esforços são fracos e infrutíferos. CBVc 129 5 Aqueles sobre quem impendem importantes responsabilidades, e sobretudo os que são guardas dos interesses espirituais, devem ser homens de viva sensibilidade e rápida percepção. Mais que os outros, devem eles ser temperantes no comer. Alimentos muito condimentados e sofisticados não deveriam ter lugar em sua mesa. CBVc 129 6 Todos os dias, homens que ocupam posição de responsabilidade têm de tomar decisões das quais dependem resultados de grande importância. É-lhes preciso com freqüência pensar rapidamente, e isso só pode ser feito com êxito pelos que observam estrita temperança. A mente se revigora sob o correto tratamento das faculdades físicas e mentais. Se a tensão não é demasiada, sobrevém renovado vigor a cada esforço. Mas com freqüência a obra dos que têm importantes planos a considerar e sérias decisões a tomar é afetada para mal em conseqüência de um regime impróprio. Um estômago perturbado produz um estado mental incerto e perturbado. Causa muitas vezes irritabilidade, aspereza ou injustiça. Muito plano que haveria sido uma bênção para o mundo tem sido posto à margem; muitas medidas injustas, opressivas e mesmo cruéis têm sido executadas em resultado de estados enfermos, resultantes de hábitos errôneos no comer. CBVc 130 1 Eis uma sugestão para todos quantos têm trabalho sedentário ou especialmente mental; experimentem-no os que tiverem suficiente força moral e domínio próprio: Comei em cada refeição apenas duas ou três espécies de alimento simples, não ingerindo mais do que o necessário para satisfazer a fome. Fazei exercício ativo todos os dias, e vede se não experimentais benefício. CBVc 130 2 Homens fortes, que se empenham em ativo trabalho físico, não são forçados a cuidar tanto no que respeita à qualidade e à quantidade do alimento, como as pessoas de hábitos sedentários; mas mesmo esses desfrutariam melhor saúde se usassem de domínio sobre si mesmos quanto ao comer e ao beber. CBVc 130 3 Alguns desejariam que se lhes prescrevesse uma regra exata para seu regime. Comem demais, e depois se lamentam, e ficam sempre a pensar no que comem e bebem. Não deve ser assim. Uma pessoa não pode ditar uma estrita regra para outra. Cada um deve exercer discernimento e domínio, agindo por princípio. CBVc 130 4 Nosso corpo é a possessão adquirida de Cristo, e não nos achamos na liberdade de fazer com ele o que nos apraz. Todos quantos compreendem as leis da saúde devem reconhecer sua obrigação de obedecer a essas leis, estabelecidas por Deus em nosso ser. A obediência às leis da saúde deve ser considerada questão de dever pessoal. Temos de sofrer os resultados da lei violada. Cumpre-nos responder individualmente a Deus por nossos hábitos e práticas. Portanto, a questão quanto a nós, não é: "Qual é o costume do mundo?", mas: "De que maneira eu, como indivíduo, tratarei a habitação que Deus me deu?" ------------------------Capítulo 23 -- A carne como alimento CBVc 131 1 O regime indicado ao homem no princípio não compreendia alimento animal. Não foi senão depois do dilúvio, quando tudo quanto era verde na Terra havia sido destruído, que o homem recebeu permissão para comer carne. CBVc 131 2 Escolhendo a comida do homem, no Éden, mostrou o Senhor qual era o melhor regime; na escolha feita para Israel, ensinou Ele a mesma lição. Tirou os israelitas do Egito, e empreendeu educá-los, a fim de serem um povo para Sua possessão própria. Desejava, por intermédio deles, abençoar e ensinar o mundo inteiro. Proveu-lhes o alimento mais adaptado ao Seu desígnio; não carne, mas o maná, "o pão do Céu". João 6:32. Foi unicamente devido a seu descontentamento e murmuração em torno das panelas de carne do Egito que lhes foi concedido alimento cárneo, e isso apenas por pouco tempo. Seu uso trouxe doença e morte a milhares. Apesar disso, um regime sem carne não foi nunca aceito de coração. Continuou a ser causa de descontentamento e murmuração, franca ou secreta, e não ficou permanente. CBVc 131 3 Quando se estabeleceram em Canaã, foi permitido aos israelitas o uso de alimento animal, mas com restrições cuidadosas, que tendiam a diminuir o mal. O uso da carne de porco era proibido, bem como de outros animais e aves e peixes cuja carne foi declarada imunda. Das carnes permitidas, era estritamente proibido comer a gordura e o sangue. CBVc 131 4 Só animais em boas condições de saúde podiam ser usados como alimento. Nenhum animal despedaçado, que morrera naturalmente, ou do qual o sangue não havia sido cuidadosamente tirado, podia servir de alimento. CBVc 131 5 Afastando-se do plano divinamente indicado para seu regime, sofreram os israelitas grande prejuízo. Desejaram um regime cárneo, e colheram-lhe os resultados. Não atingiram o ideal divino quanto ao seu caráter, nem cumpriram os desígnios de Deus. O Senhor "satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma". Salmos 106:15. Estimaram o terreno acima do espiritual, e a sagrada preeminência que Deus tinha o propósito de lhes dar não conseguiram eles obter. CBVc 131 6 Razões para rejeitar o alimento cárneo -- Os que se alimentam de carne não estão senão comendo cereais e verduras em segunda mão; pois o animal recebe destas coisas a nutrição que dá o crescimento. A vida que se achava no cereal e na verdura passa ao que os ingere. Nós a recebemos comendo a carne do animal. Quão melhor não é obtê-la diretamente, comendo aquilo que Deus proveu para nosso uso! CBVc 132 1 A carne nunca foi o melhor alimento; seu uso agora é, todavia, duplamente objetável, visto as doenças nos animais estarem crescendo com tanta rapidez. Os que comem alimentos cárneos mal sabem o que estão ingerindo. Freqüentemente, se pudessem ver os animais ainda vivos, e saber que espécie de carne estão comendo, iriam repelir enojados. O povo come continuamente carne cheia de micróbios de tuberculose e câncer. Assim são comunicadas essas e outras doenças. CBVc 132 2 Pululam parasitas nos tecidos do porco. Deste disse Deus: "Imundo vos será; não comereis da carne destes e não tocareis no seu cadáver". Deuteronômio 14:8. Essa ordem foi dada porque a carne do porco é imprópria para alimentação. Os porcos são limpadores públicos, e é esse o único emprego que lhes foi destinado. Nunca, sob nenhuma circunstância, devia sua carne ser ingerida por criaturas humanas. É impossível que a carne de qualquer criatura viva seja saudável, quando a imundícia é o seu elemento natural, e quando se alimenta de tudo quanto é detestável. CBVc 132 3 Muitas vezes são levados ao mercado e vendidos para alimento animais que se acham tão doentes que os donos receiam conservá-los por mais tempo. E alguns dos processos de engorda para venda produzem enfermidade. Excluídos da luz e do ar puro, respirando a atmosfera de imundos estábulos, engordando talvez com alimentos deteriorados, todo o organismo se acha contaminado com matéria imunda. CBVc 132 4 Os animais são muitas vezes transportados a longas distâncias e sujeitos a grandes sofrimentos para chegar ao mercado. Tirados dos verdes pastos e viajando por fatigantes quilômetros sobre cálidos e poentos caminhos, ou aglomerados em carros sujos, febris e exaustos, muitas vezes privados por muitas horas de alimento e água, as pobres criaturas são conduzidas para a morte a fim de que seres humanos se banqueteiem com seu cadáver. CBVc 132 5 Em muitos lugares os peixes ficam tão contaminados com a sujeira de que se nutrem que se tornam causa de doenças. Isso se verifica especialmente onde o peixe está em contato com os esgotos de grandes cidades. Peixes que se alimentam dessas matérias podem passar a grandes distâncias, sendo apanhados em lugares em que as águas são puras e boas. De modo que, ao serem usados como alimento, ocasionam doença e morte naqueles que nada suspeitam do perigo. CBVc 132 6 Os efeitos do regime cárneo podem não ser imediatamente experimentados; isto, porém, não é nenhuma prova de que não seja nocivo. A poucas pessoas se pode fazer ver que é a carne que ingerem o que lhes tem envenenado o sangue e ocasionado os sofrimentos. Muitos morrem de doenças inteiramente devidas ao uso da carne, ao passo que a verdadeira causa não é suspeitada nem por eles nem pelos outros. CBVc 133 1 Os males morais do regime cárneo não são menos assinalados do que os físicos. A comida de carne é prejudicial à saúde, e seja o que for que afete ao corpo tem seu efeito correspondente na mente e na alma. Pensai na crueldade que o regime cárneo envolve para com os animais, e seus efeitos sobre os que a infligem e nos que a observam. Como isso destrói a ternura com que devemos considerar as criaturas de Deus! CBVc 133 2 A inteligência apresentada por muitos mudos animais chega tão perto da inteligência humana que é um mistério. Os animais vêem e ouvem, amam, temem e sofrem. Eles se servem de seus órgãos muito mais fielmente do que muitos seres humanos dos seus. Manifestam simpatia e ternura para com seus companheiros de sofrimento. Muitos animais mostram pelos que deles cuidam uma afeição muito superior à que é manifestada por alguns membros da raça humana. Criam para com o homem apegos que se não rompem senão à custa de grandes sofrimentos de sua parte. CBVc 133 3 Que homem, dotado de um coração humano, havendo já cuidado de animais domésticos, poderia fitá-los nos olhos tão cheios de confiança e afeição, e entregá-los voluntariamente à faca do açougueiro? Como lhes poderia devorar a carne como um delicioso bocado? CBVc 133 4 É um erro supor que a força muscular depende do uso de alimento animal. As necessidades do organismo podem ser melhor supridas, e mais vigorosa saúde se pode desfrutar, deixando de usá-lo. Os cereais, com frutas, nozes e verduras contêm todas as propriedades nutritivas necessárias a formar um bom sangue. Esses elementos não são tão bem, ou tão plenamente supridos pelo regime cárneo. Houvesse o uso da carne sido essencial à saúde e à força, e o alimento animal haveria sido incluído no regime do homem desde o princípio. CBVc 133 5 Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança. CBVc 133 6 Quando se abandona a carne, deve-se substituí-la com uma variedade de cereais, nozes, verduras e frutas, os quais serão a um tempo nutritivos e apetitosos. Isso se necessita especialmente no caso de pessoas fracas, ou carregadas de contínuo labor. Em alguns países em que é comum a pobreza, é a carne o alimento mais barato. Sob estas circunstâncias, a mudança se efetuará sob maiores dificuldades; pode no entanto ser operada. Devemos, porém, considerar a situação do povo e o poder de um hábito de toda a vida, sendo cautelosos em não insistir indevidamente, mesmo quanto a idéias justas. Ninguém deve ser solicitado a fazer abruptamente a mudança. O lugar da carne deve ser preenchido com alimento são e pouco dispendioso. A esse respeito, muito depende da cozinheira. Com cuidado e habilidade se podem preparar pratos que sejam ao mesmo tempo nutritivos e saborosos, substituindo, em grande parte, o alimento cárneo. CBVc 134 1 Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, supri alimento bom, saudável, e a mudança se efetuará rapidamente, desaparecendo em breve a necessidade de carne. CBVc 134 2 Não é o tempo de todos dispensarem a carne da alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam antes à saudável e deliciosa alimentação dada ao homem no princípio, e a praticarem e ensinarem a seus filhos a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio. ------------------------Capítulo 24 -- Extremos no regime CBVc 135 1 Nem todos que professam crer na reforma dietética são realmente reformadores. Para muitas pessoas, a reforma consiste meramente em rejeitar certos artigos prejudiciais. Não compreendem claramente os princípios da saúde, e sua mesa, ainda carregada de iguarias nocivas, está longe de ser um exemplo da temperança e moderação cristãs. CBVc 135 2 Outra classe, em seu desejo de dar bom exemplo, vai para o extremo oposto. Alguns não podem obter os alimentos mais desejáveis, e, em lugar de usar aqueles que melhor lhes supririam a falta, adotam um regime pobre. Sua alimentação não fornece os elementos necessários para formar um bom sangue. A saúde sofre, é prejudicada a utilidade, e seu exemplo testifica mais contra a reforma dietética do que em seu favor. CBVc 135 3 Outros pensam que, uma vez que a saúde requer um regime simples, pouca atenção precisa ser dispensada à seleção ou preparo do alimento. Alguns se restringem a uma alimentação bem escassa, não tendo a variedade suficiente para suprir às necessidades do organismo, e em conseqüência sofrem. CBVc 135 4 Os que não têm senão parcial compreensão dos princípios da reforma são muitas vezes os mais rígidos, não somente em viver segundo suas próprias idéias, como em insistir nas mesmas para com a família e os vizinhos. O efeito dessas reformas erradas, tal como se manifesta em sua má saúde, e o esforço de incutir nos demais de qualquer maneira seus pontos de vista dão muitas idéias falsas da reforma dietética, levando outros a rejeitá-la inteiramente. CBVc 135 5 Os que entendem as leis da saúde e são governados por princípios fugirão dos extremos, tanto da condescendência como da restrição. Sua alimentação é escolhida não meramente para agradar o apetite, mas para fortalecimento do organismo. Procuram conservar todas as faculdades nas melhores condições para o mais elevado serviço a Deus e aos homens. O apetite acha-se sob o controle da razão e da consciência, e são recompensados com a saúde física e mental. Embora não insistam de modo impertinente em seus pontos de vista para os outros, seu exemplo é um testemunho em favor dos princípios corretos. Essas pessoas exercem vasta influência para o bem. CBVc 135 6 Há verdadeiro bom senso na reforma do regime. O assunto deve ser estudado de forma ampla e profunda. Ninguém deve criticar outros porque não estejam, em todas as coisas, agindo em harmonia com seu ponto de vista. É impossível estabelecer uma regra fixa para regular os hábitos de cada um, e ninguém se deve considerar critério para todos. Nem todos podem comer as mesmas coisas. Comidas apetecíveis e sãs para uma pessoa podem ser desagradáveis e mesmo nocivas para outra. Alguns não podem usar leite, ao passo que outros tiram bom proveito dele. Há pessoas que não conseguem digerir ervilhas e feijão; para outros, eles são saudáveis. Para uns, as preparações de cereais integrais são boas, enquanto outros não as podem ingerir. CBVc 136 1 Os que residem em países novos, ou em distritos pobres, onde são escassas as frutas e as nozes, não deviam ser incitados a excluir o leite e os ovos de seu regime dietético. É verdade que pessoas de físico forte e em quem as paixões são vigorosas precisam evitar o uso de comidas estimulantes. Especialmente nas famílias de crianças dadas a hábitos sensuais, os ovos não devem ser usados. Mas no caso de pessoas cujos órgãos produtores do sangue são fracos -- especialmente se não se podem obter outros alimentos que forneçam os elementos necessários -- leite e ovos não deviam ser de todo abandonados. Grande cuidado, no entanto, deve ser exercido para que o leite seja de vacas sãs, e da mesma maneira os ovos venham de aves sadias e bem alimentadas e cuidadas; e os ovos sejam preparados de modo a serem facilmente digeridos. CBVc 136 2 A reforma dietética deve ser progressiva. À medida que as doenças aumentam nos animais, o uso de leite e ovos se tornará cada vez menos livre de perigo. Deve-se fazer um esforço para os substituir com outras coisas que sejam saudáveis e pouco dispendiosas. O povo de toda parte deve ser ensinado a cozinhar sem leite e ovos, isso o quanto possível, fazendo não obstante comida saudável e gostosa. CBVc 136 3 O costume de comer apenas duas vezes por dia, em geral, demonstra-se benéfico à saúde; todavia, sob certas circunstâncias, talvez algumas pessoas tenham necessidade de uma terceira refeição. Esta, porém, deve ser muito leve, e de comida de fácil digestão. Bolachas de sal, ou pão torrado e fruta, ou bebida de cereal, eis os alimentos mais próprios para a refeição da noite. CBVc 136 4 Alguns andam continuamente ansiosos de que seu alimento, embora simples e são, lhes possa fazer mal. Seja-me permitido dizer a esses: Não penseis que vossa comida vos vai fazer mal; não penseis absolutamente nela. Comei segundo vosso melhor discernimento; e, havendo pedido ao Senhor que vos abençoe o alimento para revigorar o corpo, crede que Ele escuta a oração, e ficai descansados. CBVc 136 5 Se os princípios requerem de nós o rejeitar as coisas que irritam o estômago e desequilibram a saúde, devemos lembrar que um regime pobre enfraquece o sangue. Casos de doenças de mui difícil cura sobrevêm em resultado disso. O organismo não é suficientemente nutrido, sendo a conseqüência dispepsia e fraqueza geral. Os que seguem tal regime não são sempre a isso forçados pela pobreza, mas o escolhem levados pela ignorância ou a negligência, ou para seguir suas próprias idéias errôneas de reforma. CBVc 137 1 Deus não é honrado quando o corpo é negligenciado ou maltratado, ficando assim incapacitado para Seu serviço. Cuidar do corpo, proporcionando-lhe comida saborosa e revigorante, é um dos principais deveres dos pais de família. É muito melhor usar roupas e mobília menos caras do que restringir a provisão de alimento. CBVc 137 2 Algumas donas de casa economizam na mesa da família a fim de proporcionar dispendiosa hospedagem às visitas. Isso não é sábio. Deve haver maior simplicidade na hospedagem. Dê-se primeiro atenção às necessidades da família. CBVc 137 3 Uma economia destituída de sabedoria e os costumes artificiais impedem o exercício da hospitalidade onde é necessária e quando seria uma bênção. A quantidade regular de alimento deve ser de maneira que se possa receber de boa vontade o inesperado hóspede, sem sobrecarga para a dona-de-casa, com preparativos extras. CBVc 137 4 Todos devem aprender a maneira de comer, e de preparar o que comem. Os homens, bem como as mulheres, precisam entender do simples e saudável preparo do alimento. Seus negócios os chamam muitas vezes aonde não conseguem obter comida saudável; se possuem alguns conhecimentos da arte culinária, poderão então empregá-los bem. CBVc 137 5 Considerai cuidadosamente vosso regime. Estudai das causas para os efeitos. Cultivai o domínio de vós mesmos. Mantende o apetite sob o domínio da razão. Nunca abuseis do estômago, comendo excessivamente, mas não vos priveis da comida saudável e saborosa que a saúde exige. CBVc 137 6 As idéias acanhadas de alguns pseudo-reformadores têm sido um grande dano à causa da saúde. Os higienistas devem lembrar que a reforma dietética será julgada, em alto grau, pela mesa que eles provêem; e, em lugar de seguir uma orientação que a desacredite, devem de tal modo exemplificar os seus princípios que os recomendem aos espíritos sinceros. Há uma grande classe que se oporá a qualquer movimento reformador, por mais razoável, uma vez que imponha restrições ao apetite. Consultam o gosto em vez da razão, ou das leis da saúde. Por essa classe, todos quantos deixarem o batido caminho do costume, e advogarem uma reforma, serão considerados radicais, por mais coerente que seja a sua direção. A fim de que essas pessoas não tenham margem para a crítica, os higienistas não devem tentar ver quão diferentes podem eles ser dos outros, mas deles se aproximar o quanto possível, sem sacrifício de princípios. CBVc 137 7 Quando os que advogam a reforma de saúde vão aos extremos, não admira que muitos que consideram essas pessoas como representantes dos princípios da saúde rejeitem inteiramente a reforma. Esses extremos fazem freqüentemente mais mal dentro de pouco tempo do que se poderia desfazer em toda uma existência de vida coerente. CBVc 138 1 A reforma de saúde baseia-se em princípios amplos e de vasto alcance, e não a devemos amesquinhar com pontos de vista e práticas acanhados. Ninguém, todavia, deve permitir que a oposição, o ridículo ou o desejo de agradar ou influenciar a outros o desvie dos verdadeiros princípios ou o faça considerá-los levianamente. Os que são regidos por princípios serão firmes e decididos em colocar-se ao lado do direito; no entanto manifestarão, em todas as suas relações com outros, um espírito generoso e cristão, e verdadeiro comedimento. ------------------------Capítulo 25 -- Estimulantes e narcóticos CBVc 139 1 Sob a denominação de estimulantes e narcóticos se acha classificada grande variedade de artigos que, embora usados como comida ou bebida, irritam o estômago, envenenam o sangue e excitam os nervos. Seu uso é um verdadeiro mal. Muitos procuram a excitação dos estimulantes porque, no momento, são aprazíveis os resultados. Há sempre, porém, uma reação. O uso de estimulantes não naturais tende sempre ao excesso, sendo agente ativo em promover a degeneração e a ruína. CBVc 139 2 Condimentos -- Nesta época de pressa, quanto menos estimulante for a comida, melhor. Os condimentos são prejudiciais em sua natureza. A mostarda, a pimenta, as especiarias, os picles e coisas semelhantes irritam o estômago e tornam o sangue febril e impuro. O estado de inflamação do estômago do bêbado é muitas vezes pintado para ilustrar os efeitos das bebidas alcoólicas. Condição semelhante de inflamação é produzida pelo uso de condimentos irritantes. Dentro em pouco, a comida comum não satisfaz o apetite. O organismo sente necessidade de alguma coisa mais estimulante. CBVc 139 3 Chá e café -- O chá atua como estimulante, e, até certo grau, produz intoxicação. A ação do café, e de muitas outras bebidas populares, é idêntica. O primeiro efeito é estimulante. São agitados os nervos do estômago, que comunicam irritação ao cérebro, o qual, por sua vez, desperta para transmitir aumento de atividade ao coração, e uma fugaz energia a todo o organismo. Esquece-se a fadiga; parece aumentar a força. Estimula o intelecto, torna-se mais viva a imaginação. CBVc 139 4 Em virtude desses resultados, muitos julgam que seu chá ou café lhes faz grande benefício. Mas é um engano. Chá e café não nutrem o organismo. Seu efeito produz-se antes de haver tempo para ser digerido ou assimilado, e o que parece força não passa de excitação nervosa. Uma vez dissipada a influência do estimulante, abate-se a força não natural, sendo o resultado um grau correspondente de abatimento e fraqueza. CBVc 139 5 O uso continuado desses irritantes nervosos é seguido de dores de cabeça, insônia, palpitação, indigestão, tremores e muitos outros males, pois eles gastam a força vital. Os nervos fatigados necessitam repouso e sossego em lugar de estimulantes e hiperatividade. A natureza necessita de tempo para recuperar as exaustas energias. Quando suas forças são aguilhoadas pelo uso de estimulantes, conseguir-se-á mais durante algum tempo; mas, à medida que o organismo se enfraquece mediante o uso contínuo, torna-se gradualmente mais difícil erguer as energias ao desejado nível. A exigência de estimulantes se torna cada vez mais difícil de controlar, até que a vontade é vencida, parecendo não haver poder capaz de negar a satisfação do forte apetite contrário à natureza. São exigidos estimulantes mais fortes e ainda mais fortes, até que a natureza exausta já não pode corresponder. CBVc 140 1 O hábito do fumo -- O fumo é um veneno lento, perigoso, por demais maligno. Seja qual for a forma de utilização, atua na constituição; é o mais perigoso, porque seu efeito é lento, e a princípio por assim dizer imperceptível. Excita e depois paralisa os nervos. Debilita e obscurece o cérebro. Muitas vezes, ele afeta os nervos de maneira mais forte que a bebida intoxicante. É mais sutil, e seus efeitos são difíceis de desarraigar do organismo. Seu uso estimula a sede de bebidas fortes, lançando em muitos casos a base para o hábito das bebidas alcoólicas. CBVc 140 2 O uso do fumo é inconveniente, caro, sujo, contaminador para o que o tem e incômodo para os outros. Encontram-se por toda parte os seus devotos. Dificilmente passais por uma multidão sem que algum fumante vos solte no rosto uma baforada de seu hálito envenenado. É desagradável e pouco higiênico ficar num vagão ou numa sala em que a atmosfera esteja impregnada dos vapores da bebida ou do fumo. Embora os homens persistam em usar esses venenos para si mesmos, que direito têm eles de contaminar o ar que os outros devem respirar? CBVc 140 3 Nenhuma criatura humana necessita de fumo, mas há multidões perecendo por falta dos meios que, empregados como são, fazem mais mal do que se fossem desperdiçados. Não tendes estado a empregar mal os bens do Senhor? Não tendes sido culpados de roubo para com Deus e vossos semelhantes? Não sabeis que "não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus". 1 Coríntios 6:19, 20. CBVc 140 4 Bebidas intoxicantes -- "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio". Provérbios 20:1. "Para quem são os ais? Para quem, os pesares? Para quem, as pelejas? Para quem, as queixas? Para quem, as feridas sem causa? E para quem, os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando bebida misturada. Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No seu fim, morderá como a cobra e, como o basilisco, picará". Provérbios 23:29-32. CBVc 141 1 Nunca foi traçado pela pena humana mais vivo quadro do aviltamento e escravidão da vítima da bebida intoxicante. Escravizado, degradado, mesmo quando desperto para o sentimento de sua miséria, falta-lhe poder para romper as malhas; ainda a tornará "a buscá-la outra vez". Provérbios 23:35. CBVc 141 2 Não são necessários argumentos para mostrar os maus efeitos dos intoxicantes no bêbado. As embrutecidas ruínas da humanidade -- almas por quem Cristo morreu, e sobre as quais choram os anjos -- encontram-se por toda parte. São uma nódoa em nossa alardeada civilização. São a vergonha e a ruína e o perigo de toda Terra. CBVc 141 3 E quem pode pintar a miséria, a agonia, o desespero que se ocultam na casa do bêbado? Pensai na esposa, muitas vezes delicadamente criada, sensível, culta, refinada, ligada a uma criatura a quem a bebida transforma num beberrão ou num demônio. Pensai nas crianças, privadas dos confortos do lar, de educação, vivendo em terror daquele que devia ser o seu orgulho e a sua proteção, atiradas ao mundo, levando as marcas da vergonha, muitas vezes com a maldição hereditária da sede da bebida! CBVc 141 4 Pensai nos terríveis acidentes que ocorrem todos os dias por influência do álcool. Algum funcionário num trem de estrada de ferro negligencia atender a um sinal ou entende mal a uma ordem. O trem avança; dá-se um choque, e muitas vidas se perdem. Ou é um navio que encalha, e passageiros e tripulação encontram nas águas seu túmulo. Quando se investiga a questão, verifica-se que alguém, num posto de responsabilidade, se achava sob o efeito da bebida. Até que ponto pode uma pessoa condescender com o hábito da bebida, confiando-se lhe com segurança vidas humanas? Só merece essa confiança o que for totalmente abstêmio. CBVc 141 5 Os intoxicantes mais brandos -- As pessoas que herdaram o apetite dos estimulantes contrários à natureza não devem por modo nenhum ter vinho, cerveja ou sidra diante dos olhos ou ao seu alcance; pois isso lhes mantém a tentação continuamente adiante. Considerando inofensiva a sidra não fermentada, muitos não têm escrúpulos de a comprar à vontade. Mas só por pouco tempo ela se conserva não fermentada; começa depois a fermentação. O sabor picante que adquire então a torna ainda mais apetecível para muitos paladares, e ao seu adepto repugna reconhecer que ela fermentou. CBVc 141 6 Há perigo para a saúde mesmo no uso de sidra não fermentada, segundo é comumente produzida. Se o povo pudesse ver o que o microscópio revela quanto à sidra que compram, poucos estariam dispostos a ingeri-la. Freqüentemente os que fabricam sidra para o mercado não são cuidadosos quanto às condições da fruta empregada, sendo extraído o suco de maçãs bichadas e podres. Aqueles que não quereriam pensar em se servir de maçãs apodrecidas e envenenadas de outro jeito beberão sidra delas feita, considerando-a uma delícia; mas o microscópio mostra que mesmo quando fresca, saída da prensa, essa aprazível bebida é inteiramente imprópria para o consumo. [Nota: Quando essa declaração foi feita, em 1905, era prática comum fabricar sidra conforme a descrição da autora.] A intoxicação é produzida tão positivamente pelo vinho, cerveja e sidra, como pelas bebidas mais fortes. O uso delas suscita o gosto pelas outras, estabelecendo-se assim o hábito da bebida. O beber moderado é a escola em que os homens se educam para a carreira da embriaguez. Todavia, tão perigosa é a obra desses estimulantes mais brandos que a vítima entra no caminho da embriaguez antes de suspeitar o perigo em que se encontra. CBVc 142 1 Alguns que nunca são considerados realmente bêbados estão sempre sob a influência de intoxicantes brandos. São febris, de mente instável, desequilibrados. Imaginando-se seguros, vão mais e mais adiante, até que toda barreira é derribada, todo princípio sacrificado. São minadas as mais vigorosas resoluções, as mais elevadas considerações não são suficientes para manter o degradado apetite sob o controle da razão. CBVc 142 2 Em parte alguma sanciona a Bíblia o uso de vinho intoxicante. O vinho feito por Cristo da água, nas bodas de Caná, foi o puro suco da uva. Esse é o vinho novo que se "acha mosto em um cacho de uvas", de que a Escritura diz: "Não o desperdices, pois há bênção nele". Isaías 65:8. CBVc 142 3 Foi Cristo que, no Antigo Testamento, advertiu a Israel: "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio". Provérbios 20:1. Ele nunca proveu tal bebida. Satanás tenta o homem a transigir com aquilo que obscurece a razão e embota as percepções espirituais, mas Cristo nos ensina a pôr a natureza inferior em sujeição. Ele nunca põe diante do homem aquilo que lhe seria uma tentação. Toda a Sua vida foi um exemplo de abnegação. Foi para vencer o poder do apetite que, nos quarenta dias de jejum no deserto, Ele sofreu em nosso favor a mais rigorosa prova que a humanidade podia suportar. Foi Cristo que ordenou que João Batista não bebesse vinho nem bebida forte. Foi Ele que recomendou tal abstinência por parte da mulher de Manoá. Cristo não contradiz os próprios ensinos. O vinho não fermentado, que Ele forneceu para os convidados das bodas, era uma bebida saudável e refrigerante. Foi esse o vinho usado por nosso Salvador e Seus discípulos na primeira comunhão. É o vinho que se deve sempre usar na mesa da comunhão como símbolo do sangue do Salvador. O sacramento destina-se a ser refrigerante para a alma, e comunicador de vida. Com ele não deve estar ligada coisa alguma que sirva ao mal. CBVc 142 4 À luz de tudo quanto a Escritura, a natureza e a razão ensinam em relação ao uso de intoxicantes, como cristãos se podem empenhar em cultivar lúpulo para a fabricação de cerveja, ou na fabricação de vinho ou sidra, para venda? Se amam aos seus semelhantes como a si mesmos, como poderão auxiliar a pôr-lhes no caminho aquilo que lhes servirá de laço? CBVc 142 5 Muitas vezes, a intemperança começa no lar. Pelo uso de alimentos condimentados, não saudáveis, enfraquecem-se os órgãos digestivos, criando-se um desejo de comida ainda mais estimulante. Assim se educa o apetite a desejar continuamente alguma coisa mais forte. A exigência dessas substâncias torna-se mais freqüente e mais irresistível. O organismo enche-se mais ou menos de venenos, e, quanto mais debilitado se torna, tanto maior o desejo dessas coisas. Um passo dado na direção errada prepara o caminho para outro. Muitas pessoas que não seriam culpadas de pôr à mesa vinho ou bebida alcoólica de qualquer espécie enchê-la-ão de comidas que criam tal sede de bebida forte, que quase impossível é resistir à tentação. Os hábitos errôneos no comer e no beber destroem a saúde e preparam o caminho para a embriaguez. CBVc 143 1 Haveria em breve pouca necessidade de cruzadas antialcoólicas, se nos jovens, que formam e modelam a sociedade, se pudessem implantar retos princípios de temperança. Iniciem os pais uma cruzada contra a intemperança em seu próprio lar, nos princípios que ensinam os filhos a seguir desde a infância, e poderão esperar êxito. CBVc 143 2 Há trabalho para as mães no ajudarem os filhos a formar hábitos corretos e gostos puros. Educai o apetite; ensinai as crianças a abominarem os estimulantes. Criai vossos filhos de modo a formarem fibra moral para resistir ao mal que os circunda. Ensinai-lhes que não devem ser desviados pelos outros, nem ceder a fortes influências, mas sim influenciar a outros para o bem. CBVc 143 3 Deve ser mantido perante o povo que o justo equilíbrio das faculdades mentais e morais depende em alto grau da devida condição do sistema fisiológico. Todos os narcóticos e estimulantes não naturais que enfraquecem e degradam a natureza física tendem a abaixar o tono do intelecto e da moral. A intemperança jaz à base da depravação moral do mundo. Pela satisfação do apetite pervertido, perde o homem seu poder de resistir à tentação. CBVc 143 4 Os reformadores da temperança têm uma obra a fazer educando o povo nesse sentido. Ensinai-lhes que a saúde, o caráter e a própria vida são postos em perigo pelo uso de estimulantes que incitam as exaustas energias a uma ação antinatural, espasmódica. CBVc 143 5 Quanto ao chá, ao café, fumo e bebidas alcoólicas, a única atitude segura é não tocar, não provar, não manusear. A tendência do chá, café e bebidas semelhantes é no mesmo sentido que as bebidas alcoólicas e o fumo, e em alguns casos o hábito é tão difícil de vencer como é para um bêbado o abandonar os intoxicantes. Os que tentam deixar esses estimulantes sentirão por algum tempo sua falta, e sofrerão sem eles. Com persistência, porém, vencerão o forte desejo, e a falta deixará de se fazer sentir. A natureza talvez exija algum tempo até se recuperar do mau trato sofrido; dai-lhe, no entanto, uma oportunidade, e ela se reanimará, realizando nobremente e bem a sua tarefa. ------------------------Capítulo 26 -- O comércio de bebidas e a proibição CBVc 144 1 Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça e os seus aposentos sem direito; [...] que diz: Edificarei para mim uma casa espaçosa e aposentos largos, e lhe abre janelas, e está forrada de cedro e pintada de vermelhão. Reinarás tu, só porque te encerras em cedro? [...] Os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a tua avareza, e para o sangue inocente, a fim de derramá-lo, e para a opressão, e para a violência, a fim de levar isso a efeito". Jeremias 22:13-15, 17. CBVc 144 2 A obra do vendedor de bebidas -- Essa passagem apresenta a obra dos que fabricam e dos que vendem bebidas intoxicantes. Seu comércio quer dizer roubo. Pelo dinheiro que recebem, não dão eles nenhum valor equivalente. Cada centavo que ajuntam a seus lucros trouxe ao comprador uma maldição. CBVc 144 3 Com mão liberal tem Deus derramado Suas bênçãos sobre os homens. Fossem Suas dádivas sabiamente empregadas, quão pouco o mundo havia de conhecer de pobreza ou aflição! É a impiedade dos homens que Lhe transforma as bênçãos em maldição. É mediante a ganância de lucro e a concupiscência do apetite que os cereais e as frutas dadas para nossa manutenção se convertem em venenos que produzem miséria e ruína. CBVc 144 4 Todos os anos se consomem milhões e milhões de litros de bebidas intoxicantes. Milhões e milhões de dólares são gastos na compra da miséria, pobreza, enfermidade, degradação, concupiscência, crime e morte. Por amor do ganho, o vendedor de bebidas passa a suas vítimas aquilo que corrompe e destrói a mente e o corpo. Traz sobre a família do bêbado a pobreza e a ruína. CBVc 144 5 Morta a sua vítima, não cessam as cobranças do vendedor de álcool. Rouba a viúva, e leva os filhos à mendicidade. Não hesita em tirar da despojada família até o que é indispensável à vida, a fim de se pagar a conta do marido e pai. Os clamores das sofredoras crianças, as lágrimas da mãe angustiada, não servem senão para o exasperar. Que lhe importa se esses pobres coitados morrerem de fome? Que lhe importa se também eles forem compelidos à degradação e à ruína? Ele enriquece à custa do bocado daqueles a quem está arrastando à perdição. CBVc 144 6 Casas de prostituição, antros de vícios, tribunais criminais, prisões, casas de caridade, asilos de alienados, hospitais -- todos, em alto grau, se acham cheios em resultado da obra do vendedor de bebidas. Como a Babilônia mística do Apocalipse, ele está mercadejando com "corpos" e "almas de homens". Por trás do vendedor de bebidas está o grande destruidor de almas, e toda arte, que a Terra ou o inferno possa imaginar, é empregada para atrair as criaturas humanas para debaixo de seu poder. Na cidade e no campo, nos trens da estrada de ferro, nos grandes navios, nos lugares de comércio, nos salões de prazer, no dispensário médico, e mesmo na igreja, na sagrada mesa da comunhão, são lançadas suas armadilhas. Coisa alguma é esquecida a fim de criar e fomentar o desejo de intoxicantes. Em quase todas as esquinas, acha-se um bar, com suas luzes brilhantes, seus atrativos e animação, convidando o trabalhador, o rico ocioso e o incauto jovem. CBVc 145 1 Nos restaurantes particulares e lugares de recreio, oferecem-se, às senhoras, sob alguma designação aprazível, bebidas populares que são na verdade intoxicantes. Para os doentes e debilitados, há os largamente preconizados aperitivos, que consistem em grande parte de álcool. CBVc 145 2 Para despertar nas crianças o apetite de bebida, introduz-se o álcool em confeitos ou bombons. Esses são vendidos nas confeitarias. E por meio desses confeitos o vendedor de bebidas atrai para si as crianças. CBVc 145 3 Dia a dia, mês a mês, ano a ano, prossegue a obra. Pais e maridos e irmãos, o esteio, a esperança e o orgulho da nação, vão decididamente passando para os antros do traficante de bebidas para serem devolvidos desgraçados em ruínas. CBVc 145 4 Mais terrível ainda, a praga está ferindo o próprio coração do lar. Mais e mais estão as mulheres formando o hábito da bebida. Em muitas casas, estão crianças, mesmo na inocência e desamparo de seus primeiros dias, em perigo diário, devido à negligência, ao mau trato, à vileza de mães embriagadas. Filhos e filhas estão a crescer à sombra desse terrível mal. Quais as perspectivas para seu futuro, senão que venham a abismar-se ainda mais fundo que seus pais? CBVc 145 5 Das terras chamadas cristãs, é a praga levada às regiões da idolatria. Os pobres e ignorantes selvagens são ensinados a beber. Mesmo entre os pagãos, homens de inteligência reconhecem e protestam contra o álcool como veneno mortífero; em vão, porém, têm eles procurado proteger sua terra contra as devastações que ele traz. Povos civilizados forçam a entrada do fumo, do álcool e do ópio entre as nações pagãs. As desenfreadas paixões dos selvagens, estimuladas pelo álcool, arrastam-nos a uma degradação antes desconhecida, tornando-se empreendimento quase desesperado o envio de missionários a essas terras. CBVc 145 6 Mediante seu contato com os povos que lhes deviam ter dado o conhecimento de Deus, são os pagãos levados a vícios que têm causado a destruição de tribos e nações inteiras. E por isso, nos lugares obscurecidos da Terra, os homens das nações civilizadas são odiados. CBVc 146 1 A responsabilidade da igreja -- O interesse da bebida é um poder no mundo. Ele tem de seu lado as forças conjugadas do dinheiro, do hábito e do apetite. Seu poder faz-se sentir na própria igreja. Homens cujo dinheiro foi ganho, direta ou indiretamente, no tráfico das bebidas alcoólicas, são membros de igrejas, de boa reputação. Muitos deles dão liberalmente para as obras populares de caridade. Suas contribuições ajudam a manter os empreendimentos da igreja e a sustentar seus pastores. Impõem a consideração dispensada ao poder do dinheiro. As igrejas que aceitam tais membros estão virtualmente apoiando o comércio de bebidas. Com demasiada freqüência o pastor não tem a coragem de ficar ao lado do direito. Ele não declara ao povo o que Deus disse a respeito da obra do vendedor de bebidas. Falar claramente seria ofender a congregação, sacrificar a popularidade, perder o salário. CBVc 146 2 Acima do tribunal da igreja, porém, encontra-se o tribunal de Deus. Aquele que declarou ao primeiro assassino: "A voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra" (Gênesis 4:10), não aceitará para Seu altar as dádivas do traficante de bebidas). Sua ira se acende contra os que tentam cobrir a própria culpa com a capa da liberdade. Seu dinheiro é manchado de sangue. Está sobre ele uma maldição. CBVc 146 3 O bebedor é capaz de coisas melhores. Foi dotado de talentos com que possa honrar a Deus e beneficiar o mundo; mas seus semelhantes lhe puseram uma armadilha à alma, e edificam-se à custa de sua degradação. Vivem em luxo, ao passo que as pobres vítimas a quem têm roubado vivem na pobreza e na miséria. Mas Deus requererá isto da mão daquele que ajudou a precipitar o bêbado na ruína. Aquele que reina no Céu não tem perdido de vista a causa primária ou o derradeiro efeito da embriaguez. Aquele que cuida do pardal e veste a erva do campo não passará por alto os que foram formados à Sua imagem, comprados com Seu próprio sangue, não dando ouvidos ao seu clamor. Deus registra toda essa impiedade que perpetua o crime e a miséria. CBVc 146 4 O mundo e a igreja podem ter aprovação para o homem que adquiriu fortuna degradando a alma humana. Podem sorrir àquele por meio de quem homens são levados passo a passo mais baixo na vereda da vergonha e da degradação. Mas Deus observa tudo, dá em troca um justo juízo. O mercador de bebidas pode ser classificado pelo mundo como um bom comerciante; mas o Senhor diz: "Ai dele!" Ser-lhe-á imputado o desamparo, a miséria, o sofrimento trazido ao mundo pelo comércio de bebidas alcoólicas. Terá de responder pela necessidade e desgraça de mães e filhos que sofreram por falta de alimento, roupa e abrigo, e para quem foram sepultadas toda esperança e alegria. Terá de responder pelas almas que enviou não preparadas para a eternidade. E os que apóiam o mercador de bebidas nessa obra são participantes de sua culpa. A esses diz Deus: "As vossas mãos estão cheias de sangue". Isaías 1:15. CBVc 147 1 Proibição -- O homem que formou o hábito de usar intoxicantes encontra-se em situação desesperada. Tem o cérebro enfermo, enfraquecido o poder da vontade. No que respeita a qualquer poder de sua parte, é incontrolável o apetite da bebida para ele. Não se pode raciocinar com ele nem persuadi-lo à renúncia. Arrastada aos antros de vício, a pessoa que resolvera abandonar a bebida é novamente levada a empunhar o copo, e com o primeiro trago do intoxicante é vencida toda boa resolução, destruído qualquer vestígio de vontade. Uma prova da enlouquecedora bebida, e jazem desvanecidos todos os pensamentos quanto a seus resultados. É esquecida a desolada esposa. O viciado pai não mais se incomoda se os filhos estão com fome ou nus. Legalizando o tráfico, a lei empresta sua sanção a essa queda da alma, e recusa-se a deter o comércio que enche o mundo de males. CBVc 147 2 Deve isso continuar sempre? Hão de almas lutar sempre pela vitória tendo diante de si aberta a porta da tentação? Deverá a maldição da intemperança ficar para sempre como uma praga sobre o mundo civilizado? Deverá continuar a devastar, todos os anos, qual incêndio consumidor, a milhares de lares felizes? Quando um navio naufraga à vista da praia, o povo não fica em ociosa contemplação. Arriscam a vida no esforço de salvar homens e mulheres de encontrar a sepultura no mar. Quanto mais necessário não é o esforço para salvá-los da sorte de um alcoólatra! CBVc 147 3 Não são somente o bêbado e sua família os que se acham em perigo pela obra do comerciante de bebidas, nem é o peso do imposto o maior mal trazido por seu comércio à coletividade. Achamo-nos entretecidos na teia humana. O mal que sobrevém a qualquer parte da grande fraternidade humana põe a todos em perigo. CBVc 147 4 Muitas pessoas que, mediante o amor do lucro ou da comodidade, nada quereriam ter no restringir o comércio das bebidas, verificaram, demasiado tarde, que esse comércio tinha que ver com elas. Viu seus próprios filhos embrutecidos e arruinados. A anarquia anda a rédeas soltas. Corre risco a propriedade. A vida não está em segurança. Multiplicam-se os acidentes por terra e mar. Doenças que crescem nos antros da imundícia e da miséria abrem caminho até aos lares senhoriais e luxuosos. Os vícios fomentados pelos filhos da depravação e do crime infectam filhos e filhas de casas distintas e cultas. CBVc 147 5 Não existe pessoa a quem o tráfico das bebidas não ponha em risco. Não há homem que não deva, por sua própria segurança, pôr mãos à obra de o destruir. CBVc 147 6 Mais que quaisquer outras instituições que tenham de lidar apenas com interesses seculares, as câmaras legislativas e os tribunais de justiça se devem achar isentos da praga da intemperança. Governadores, senadores, deputados, juízes, homens que decretam e administram as leis de uma nação, homens que têm nas mãos a vida, a boa reputação e os bens de seus semelhantes devem ser homens de estrita temperança. Somente assim podem eles ter clara a mente para discriminar entre o bem e o mal. Só assim podem possuir firmeza de princípios e sabedoria para ministrar a justiça e mostrar misericórdia. Mas como reza o relatório? Quantos desses homens têm a mente nublada, confuso o senso do bem e do mal pela bebida forte! Quantas leis opressivas são decretadas, quantas pessoas inocentes condenadas à morte mediante a injustiça de legisladores, testemunhas, jurados, advogados e mesmo juízes dados à bebida! Muitos há "poderosos para beber vinho" e "homens forçosos para misturar bebida forte" (Isaías 5:22), "que ao mal chamam bem e ao bem, mal" (Isaías 5:20); que "justificam o ímpio por presentes e ao justo negam justiça!" Isaías 5:23. Desses tais diz Deus: CBVc 148 1 "Ai dos que... Como a língua de fogo consome a estopa, E a palha se desfaz pela chama, Assim será a sua raiz, como podridão, E a sua flor se esvaecerá como pó; Porquanto rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos E desprezaram a Palavra do Santo de Israel". Isaías 5:22, 24. CBVc 148 2 A honra de Deus, a estabilidade da nação, o bem-estar da coletividade, do lar e do indivíduo, exigem que se faça todo esforço por despertar o povo quanto ao mal da intemperança. Em breve haveremos de ver, como agora não vemos, o resultado desse terrível mal. Quem exercerá decidido esforço para deter a obra de destruição? Até aqui o conflito mal foi começado. Que se forme um exército para fazer cessar a venda das bebidas que encerram drogas capazes de enlouquecer os homens. Torne-se patente o perigo do comércio de bebidas, e crie-se um sentimento público de molde a exigir sua proibição. Dê-se aos homens enlouquecidos pelo álcool oportunidade de escaparem a seu cativeiro. Exija a voz da nação de seus legisladores que se ponha um termo a esse tráfico infame. ------------------------Capítulo 27 -- O ministério do lar CBVc 149 1 A restauração e reerguimento da humanidade começam no lar. A obra dos pais é a base de toda outra obra. A sociedade compõe-se de famílias, e é o que a façam os chefes de família. Do coração "procedem as saídas da vida" (Provérbios 4:23); e o coração da comunidade, da igreja e da nação é o lar. A felicidade da sociedade, o êxito da igreja e a prosperidade da nação dependem das influências domésticas. CBVc 149 2 A importância e as oportunidades da vida do lar ressaltam na vida de Jesus. Aquele que veio a este mundo para ser nosso exemplo e nosso Mestre passou trinta anos como membro de uma família em Nazaré. Pouco diz a Bíblia relativamente a esses trinta anos. Durante eles não houve milagres notáveis que chamassem a atenção do povo. Não houve multidões que seguissem ansiosas os passos do Senhor, ou que Lhe escutassem as palavras. E, não obstante, durante todos esses anos o Senhor levava a cabo Sua missão divina. Vivia como qualquer um de nós, tomando parte na vida doméstica, a cuja disciplina Se submetia, cumprindo os deveres da mesma, e tomando Sua parte nas responsabilidades. Sob a proteção do lar humilde, participando dos incidentes da sorte comum, "Jesus crescia em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens". Lucas 2:52. CBVc 149 3 Durante todos esses anos de retiro, a vida do Senhor fluía em torrentes de préstimo. Seu desprendimento e tolerância, Seu valor e fidelidade, Sua resistência à tentação, Sua nunca desmentida paz e Sua doce alegria eram um contínuo estímulo. Trazia ao lar um ambiente puro e doce, e Sua vida foi qual um fermento ativo entre os elementos da sociedade. Ninguém diria houvesse feito algum milagre; não obstante, dEle saía virtude e o poder restaurador e vivificante do amor para com os tentados, enfermos e abatidos. Desde tenra idade, e sem que Se tornasse intruso, desempenhava Suas tarefas entre os demais, de maneira que, ao começar o ministério público, muitos O escutaram com prazer. CBVc 149 4 Os primeiros anos da vida do Salvador são mais que um exemplo para a juventude. São uma lição, e deveriam ser um estímulo para todo pai. O círculo dos deveres para com a família e os vizinhos é o primeiro campo de ação para os que se querem empenhar na obra do levantamento moral de seus semelhantes. Não há um campo de ação mais importante do que o que foi designado aos fundadores e protetores do lar. Das obras, confiadas a seres humanos, nenhuma existe tão repleta de conseqüências de grande alcance, como a obra dos pais. CBVc 150 1 A juventude e a infância de hoje é que determinam o futuro da sociedade, e o que esses jovens e essas crianças hão de ser depende do lar. A falta de boa educação doméstica pode ser responsabilizada pela maior parte das enfermidades, de miséria e criminalidade que flagelam os homens. Se a vida doméstica fosse pura e verdadeira, se os filhos que saem do lar se achassem devidamente preparados para enfrentar as responsabilidades da vida e seus perigos, que transformação não experimentaria o mundo! CBVc 150 2 Realizam-se muitos esforços, gastam-se tempo, dinheiro e trabalho em proporções quase ilimitadas, em empresas e instituições destinadas à regeneração das vítimas dos maus hábitos. E ainda assim todos esses esforços se tornam insuficientes para enfrentar tão grandes necessidades. Quão insignificantes são os resultados! Quão poucos os que se regeneram para sempre! CBVc 150 3 Muitíssimos aspiram a uma vida melhor, mas falta-lhes valor e resolução para romper com os maus hábitos. Recuam ante a enormidade do esforço, das lutas e sacrifícios exigidos, e sua vida fracassa e malogra-se. Assim, mesmo os mais brilhantes, os de aspirações mais elevadas e faculdades mais nobres, aqueles que são dotados pela natureza e pela educação de maneira a ocupar cargos de confiança e responsabilidade, degradam-se e perdem-se para esta vida e para a vida por vir. CBVc 150 4 Para os que se emendam, que luta encarniçada para recuperar a perdida varonilidade! E durante toda a vida, com o organismo arruinado, a vontade vacilante, a inteligência embotada e a alma enfraquecida, muitos colhem o fruto do mal que semearam. Quanto mais não se poderia ter realizado se se houvesse enfrentado o mal desde o princípio! CBVc 150 5 Essa obra depende, em grande parte, dos pais. Nos esforços para deter os avanços da intemperança e de outros males que corroem como câncer o organismo social, se fosse concedida mais atenção à tarefa de ensinar aos pais a maneira de formar os hábitos e o caráter dos filhos, o resultado seria cem vezes mais benéfico. O hábito, força tão poderosa para o mal, pode ser transformado pelos pais em força para o bem. Têm de cuidar do rio desde a nascente, cumprindo-lhes dar ao mesmo uma boa direção. CBVc 150 6 É possível aos pais lançar as bases de uma vida sã e feliz para seus filhos. Podem fazer com que, ao deixarem o lar, eles possuam a força moral necessária para resistir à tentação, e valor e força para resolverem com êxito os problemas da vida. Podem inspirar-lhes o propósito, e desenvolver neles a faculdade de tornar sua vida uma honra para Deus e uma bênção para o mundo. Podem abrir retas veredas para seus pés, através de sol e sombra, até às gloriosas alturas celestes. CBVc 150 7 A missão do lar estende-se para além do círculo de seus membros. O lar cristão deve ser uma lição prática que ponha em relevo a excelência dos princípios verdadeiros da vida. Semelhante exemplo será no mundo uma força para o bem. Muito mais poderosa que qualquer sermão pregado é a influência de um verdadeiro lar, no coração e na vida. Ao deixarem um lar assim, os jovens ensinarão as lições que aí aprenderam. Por essa maneira, penetrarão em outros lares princípios mais nobres de vida, e uma influência regeneradora será sentida na sociedade. CBVc 151 1 Há muitos outros para quem nossa família pode se tornar uma bênção. Nossas recreações sociais não deveriam ser ditadas pelos costumes do mundo, mas pelo Espírito de Cristo, e pelos ensinos de Sua Palavra. Os israelitas, em todas as suas festas, admitiam os pobres, os estrangeiros e os levitas, os quais eram ao mesmo tempo ajudantes do sacerdote no santuário, mestres de religião e missionários. Todos esses eram considerados hóspedes do povo, recebendo hospitalidade durante as festas sociais e religiosas, e sendo atendidos carinhosamente em suas enfermidades e necessidades. A pessoas assim devemos acolher em nosso lar. Quanto esse acolhimento não alegraria e daria ânimo ao enfermeiro ou missionário, à mãe carregada de cuidados e trabalhos árduos, ou às pessoas fracas e idosas, que vivem muitas vezes sem lar, lutando com a pobreza e com tantos desalentos! CBVc 151 2 Nossas simpatias devem transbordar para além de nossa personalidade e do círculo de nossa família. Há preciosas oportunidades para os que desejam fazer de seu lar uma bênção para outros. A influência social é uma força maravilhosa. Se queremos, podemos valer-nos dela para auxiliar aqueles que nos rodeiam. CBVc 151 3 Nosso lar deve ser um refúgio para os jovens que sofrem tentações. Muitos há que se encontram na encruzilhada dos caminhos. Toda influência e impressão recebida determina a escolha do rumo de seu destino nesta vida e na porvir. O mal os atrai. Seus pontos de reunião são brilhantes e sedutores, e todos são aí muito bem recebidos. Em redor de nós há jovens sem família, ou cujos lares não exercem sobre eles uma força protetora nem enobrecedora, e eles se vêem arrastados para o mal. Encaminham-se para a ruína aos nossos olhos. CBVc 151 4 Esses jovens necessitam que se lhes estenda a mão da simpatia. Uma boa palavra dita com sinceridade e uma pequena atenção para com eles varrerão as nuvens da tentação que se amontoam sobre sua alma. A verdadeira expressão da simpatia filha do Céu tem o poder de abrir a porta do coração que necessita da fragrância de palavras cristãs, e do simples, delicado contato do espírito do amor de Cristo. Se quiséssemos dar provas de algum interesse pela juventude, convidá-la a nossa casa, e cercá-la aí de influências alentadoras e proveitosas, muitos jovens de boa vontade dirigiriam seus passos de acordo com a vontade de Deus. CBVc 151 5 Oportunidades da vida -- Curto é o tempo de que dispomos. Não podemos passar por este mundo mais de uma vez; tiremos pois, ao fazê-lo, o melhor proveito de nossa vida. A tarefa a que somos chamados não requer riquezas, posição social, nem grandes capacidades. O que se requer é um espírito bondoso e desprendido, e firmeza de propósito. Uma luz, por pequena que seja, se está sempre brilhando, pode servir para acender outras muitas. Nossa esfera de influência poderá parecer limitada, nossas capacidades diminutas, escassas as oportunidades, nossos recursos reduzidos; no entanto, se soubermos aproveitar fielmente as oportunidades de nossos lares, maravilhosas serão nossas possibilidades. Se abrirmos o coração e o lar aos divinos princípios da vida, poderemos ser condutos que levem correntes de força vivificante. De nosso lar fluirão rios de vida e de saúde, de beleza e fecundidade numa época como esta, em que tudo é desolação e esterilidade. ------------------------Capítulo 28 -- Fundamentos do lar CBVc 153 1 Aquele que deu Eva a Adão por companheira, operou Seu primeiro milagre numa festa de casamento. Na sala festiva em que amigos e parentes juntos se alegravam, Cristo começou Seu ministério público. Sancionou assim o matrimônio, reconhecendo-o como instituição por Ele mesmo estabelecida. Ordenou que homens e mulheres se unissem em santo matrimônio, para constituir famílias cujos membros, coroados de honra, fossem reconhecidos como membros da família celestial. CBVc 153 2 Cristo honrou a relação matrimonial tornando-a também símbolo da união entre Ele e os remidos. Ele próprio é o esposo; a esposa é a igreja, da qual diz: "Tu és toda formosa, amiga Minha, e em ti não há mancha". Cânticos 4:7. CBVc 153 3 Cristo "amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, [...] para a apresentar a Si mesmo [...] santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a sua própria mulher". Efésios 5:25-28. CBVc 153 4 O vínculo da família é o mais íntimo, o mais terno e sagrado de todos na Terra. Foi designado a ser uma bênção à humanidade. E assim o é sempre que se entre para o pacto matrimonial inteligentemente, no temor de Deus, e tomando em devida consideração as suas responsabilidades. CBVc 153 5 Os que pensam em casar-se devem tomar em conta qual será o caráter e a influência do lar que vão fundar. Ao tornarem-se pais, é-lhes confiado um santo legado. Deles depende em grande medida o bem-estar dos filhos neste mundo e sua felicidade no mundo por vir. Determinam, em grande extensão, a imagem física e a moral que os pequeninos recebem. E da qualidade do lar depende a condição da sociedade; o peso da influência de cada família concorrerá para fazer subir ou descer o prato da balança. CBVc 153 6 A escolha do companheiro para a vida deve ser feita de molde a melhor assegurar, aos pais e aos filhos, a felicidade física, mental e espiritual -- de maneira que habilite tanto os pais como os filhos a serem uma bênção aos semelhantes e uma honra ao Criador. CBVc 153 7 Antes de assumir as responsabilidades que o casamento envolve, devem os jovens ter na vida prática uma experiência que os prepare para os deveres e encargos do mesmo. Casamentos precoces não convêm. Relação tão importante como seja a do casamento, e tão vasta em seus resultados, não deve ser assumida precipitadamente, sem suficiente preparo, e antes de se acharem bem desenvolvidas as faculdades mentais e físicas. CBVc 154 1 Podem as partes não ter abastança, mas devem ter a bênção, muito maior, da saúde. E na maioria dos casos não convém grande diferença de idade. Da não observância desta regra poderá resultar sério prejuízo para a saúde da pessoa mais jovem. E muitas vezes os filhos são privados de força física e mental. Não podem receber de um idoso pai ou mãe o cuidado e a camaradagem que requer sua vida nova, e poderão ser pela morte privados do pai ou da mãe, exatamente quando mais precisavam de seu amor e guia. CBVc 154 2 Só em Cristo é que se pode com segurança entrar para o casamento. O amor humano deve fazer derivar do amor divino os seus laços mais íntimos. Só onde Cristo reina é que pode haver afeição profunda, verdadeira e altruísta. CBVc 154 3 É o amor um dom precioso, que recebemos de Jesus. A afeição pura e santa não é sentimento, mas princípio. Os que são movidos pelo amor verdadeiro não são irrazoáveis nem cegos. Ensinados pelo Espírito Santo, amam a Deus supremamente e ao próximo como a si mesmos. CBVc 154 4 Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção ao casamento caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura tanto neste mundo como no vindouro. O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar. CBVc 154 5 Se desfrutais a bênção de ter pais tementes a Deus, procurai deles conselhos. Abri-lhes vossas esperanças e planos, aprendei as lições que lhes ensinaram as experiências da vida, e poupar-se-vos-ão muitas dores. Sobretudo, fazei de Cristo vosso conselheiro. Estudai Sua Palavra com oração. CBVc 154 6 Sob essa guia, receba a jovem como companheiro vitalício tão-somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus. Procure o jovem, para lhe ficar ao lado, aquela que esteja habilitada a assumir a devida parte dos encargos da vida, cuja influência o enobreça e refine, fazendo-o feliz com seu amor. CBVc 154 7 "Do Senhor vem a mulher prudente". Provérbios 19:14. "O coração do seu marido está nela confiado. [...] Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida. Abre a boca com sabedoria, e a lei da beneficência está na sua língua. Olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça. Levantam-se seus filhos, e chamam-na bem-aventurada; como também seu marido, que a louva, dizendo: Muitas filhas agiram virtuosamente, mas tu a todas és superior". Provérbios 31:11, 12, 26-29. O que consegue tal esposa "acha uma coisa boa e alcançou a benevolência do Senhor". Provérbios 18:22. CBVc 154 8 Por mais cuidadosa e sabiamente que se tenha entrado no casamento, poucos casais se encontram completamente unidos ao realizar-se a cerimônia matrimonial. A real união dos dois em matrimônio é obra dos anos subseqüentes. CBVc 155 1 Quando o casal passa a enfrentar vida com sua carga de perplexidade e dificuldades desaparece o romance com o qual tantas vezes a imaginação reveste o casamento. Marido e mulher ficam conhecendo mutuamente o caráter, como não lhes era possível conhecê-lo em sua associação anterior. E este é um período realmente crítico de sua vida. A felicidade e utilidade de toda a sua vida futura dependem de seguirem agora o devido procedimento. Muitas vezes descobrem no outro fraquezas e defeitos insuspeitáveis; mas os corações que o amor uniu descobrirão também excelências até então desconhecidas. Que todos procurem descobrir as virtudes e não os defeitos. Muitas vezes é nossa própria atitude, a atmosfera que nos rodeia, o que determina aquilo que o outro nos revelará. Muitos há que consideram a expressão de amor como uma fraqueza, e mantêm uma reserva que repele aos outros. Este espírito detém a corrente de simpatia. Sendo reprimidos os generosos impulsos sociais, eles mirram, e o coração torna-se desolado e frio. Devemos precaver-nos contra este erro. O amor não pode existir por muito tempo sem se exprimir. Não permitais que o coração do que se acha ligado convosco pereça à míngua de bondade e simpatia. CBVc 155 2 Embora possam surgir dificuldades, perplexidades e desânimo, nem o marido nem a esposa abrigue o pensamento de que sua união é um erro ou uma decepção. Resolva cada qual ser para o outro tudo que é possível. Continuai as primeiras atenções. De todos os modos, anime um ao outro nas lutas da vida. Procure cada um promover a felicidade do outro. Haja amor mútuo, mútua paciência. Então, o casamento, em vez de ser o fim do amor, será como que o seu princípio. O calor da verdadeira amizade, o amor que liga coração a coração, é um antegozo das alegrias do Céu. CBVc 155 3 Há um círculo sagrado em torno de cada família, que deve ser preservado. Nenhuma outra pessoa tem o direito de entrar nesse círculo. Nem o marido nem a esposa permitam que outro partilhe das confidências que somente a eles pertencem. CBVc 155 4 Dê cada um amor, em vez de exigi-lo. Cultive aquilo que tem em si de mais nobre, e esteja pronto a reconhecer as boas qualidades do outro. É um admirável estímulo e satisfação saber alguém que é estimado. A simpatia e o respeito animam na luta em busca da perfeição, e o próprio amor cresce à medida que estimula a propósitos mais nobres. CBVc 155 5 Nem o marido nem a esposa deve imergir sua individualidade na do outro. Cada qual tem uma relação pessoal para com Deus; e a Ele cada um deve perguntar: "Que é direito?" "Que não é direito?" "Como posso cumprir melhor o propósito de minha vida?" Que a abundância de vosso afeto flua para Aquele que deu a vida por vós. Fazei com que Cristo seja o primeiro, o último e o melhor em todas as coisas. Ao aprofundar-se e fortalecer-se vosso amor para com Ele, vosso recíproco amor será purificado e fortalecido. CBVc 155 6 O espírito que Cristo manifesta para conosco é o que devem manifestar mutuamente os esposos. "E andai em amor, como também Cristo vos amou. [...] Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela". Efésios 5:2, 24, 25. CBVc 156 1 Nem o marido nem a esposa devem pensar em exercer governo arbitrário um sobre o outro. Não intentem impor um ao outro os seus desejos. Não é possível fazer isso e ao mesmo tempo reter o amor mútuo. Sede bondosos, pacientes, longânimos, corteses e cheios de consideração mútua. Pela graça de Deus podeis ter êxito em vos fazerdes mutuamente felizes, como prometestes no voto matrimonial. CBVc 156 2 Felicidade no serviço abnegado -- Lembrai-vos, porém, de que não encontrareis a felicidade encerrando-vos em vós mesmos, satisfeitos com entornar toda a vossa afeição um sobre o outro. Aproveitai toda oportunidade de contribuir para a felicidade dos que vos rodeiam. Lembrai-vos de que a verdadeira alegria só se encontra no serviço desinteressado. CBVc 156 3 A longanimidade e a abnegação assinalam as palavras e atos de todos quantos vivem vida nova em Cristo. Ao procurardes viver Sua vida, lutando por vencer o próprio eu e o egoísmo, e ajudar os outros em suas necessidades, alcançareis uma vitória após outra. Assim, vossa influência abençoará o mundo. CBVc 156 4 Homens e mulheres podem atingir o ideal de Deus a seu respeito, se tomarem a Cristo como seu ajudador. O que a sabedoria humana não pode fazer, Sua graça realizará pelos que a Ele se entregarem em amorosa confiança. Sua providência pode unir corações com laços de origem celestial. O amor não será mera troca de suaves e lisonjeiras palavras. O tear do Céu tece com trama e urdidura mais fina, porém mais firme, do que se pode tecer nos teares da Terra. O resultado não é um tecido débil, mas sim capaz de resistir a fadigas e provas. Coração unir-se-á a coração nos áureos vínculos de um amor que é perdurável. ------------------------Capítulo 29 -- Escolha e preparo da moradia CBVc 157 1 O evangelho é um grande simplificador dos problemas da vida. Suas instruções, quando atendidas, resolvem muita perplexidade e nos salvam de muitos erros. Ensina-nos a estimar as coisas em seu justo valor, e a dedicar o melhor de nosso esforço às de maior valia -- as que hão de permanecer. Precisam desta lição aqueles sobre quem repousa a responsabilidade de escolher o lar. Não devem deixar-se afastar do alvo mais elevado. Lembrem-se de que o lar da Terra deve ser o símbolo e o preparo para o do Céu. A vida é uma escola de preparo, na qual pais e filhos devem graduar-se para a escola superior das mansões de Deus. Ao procurar-se a localização para um lar, permita-se que esse propósito dirija a escolha. Não sejais dominados pelo desejo da riqueza, pelos ditames da moda ou os costumes da sociedade. Considerai o que melhor contribuirá para a simplicidade, pureza, saúde e valor real. CBVc 157 2 Em todo o mundo, as cidades estão se tornando viveiros de vícios. Por toda parte se vê e ouve o que é mau, e encontram-se estimulantes à sensualidade e ao desregramento. Avoluma-se incessantemente a onda da corrupção e do crime. Cada dia oferece um registro de violência: roubos, assassínios, suicídios e crimes inomináveis. CBVc 157 3 A vida nas cidades é falsa e artificial. A intensa paixão de ganhar dinheiro, o redemoinho da agitação e da corrida aos prazeres, a sede de ostentação, de luxo e extravagância, tudo são forças que, no que respeita à maioria da humanidade, desviam o espírito do verdadeiro desígnio da vida. Abrem a porta para milhares de males. Essas coisas exercem sobre a juventude uma força quase irresistível. CBVc 157 4 Uma das mais sutis e perigosas tentações que assaltam as crianças e jovens nas cidades é o amor dos prazeres. Numerosos são os dias feriados; jogos e corridas de cavalos arrastam milhares, e a onda de satisfação e prazer atrai-os para longe dos simples deveres da vida. O dinheiro que deveria haver sido economizado para melhores fins é desperdiçado em divertimentos. CBVc 157 5 Em razão de monopólios, sindicatos e greves, as condições da vida nas cidades estão-se tornando cada vez mais difíceis. Sérias aflições encontram-se perante nós; e sair das cidades se tornará uma necessidade para muitas famílias. CBVc 158 1 O ambiente material das cidades constitui muitas vezes um perigo para a saúde. O estar constantemente sujeito ao contato com doenças, o predomínio de ar poluído, água e alimento impuros, as habitações apinhadas, obscuras e insalubres, são alguns dos males a enfrentar. CBVc 158 2 Não era desígnio de Deus que o povo se aglomerasse nas cidades, se apinhasse em cortiços. Ele pôs, no princípio, nossos primeiros pais entre os belos quadros e sons em que deseja que nos regozijemos ainda hoje. Quanto mais chegarmos a estar em harmonia com o plano original de Deus, mais favorável será nossa posição para o restabelecimento e preservação da saúde. CBVc 158 3 Uma residência dispendiosa, mobília trabalhada, ostentação, luxo e conforto não proporcionam as condições essenciais a uma vida útil e feliz. Jesus veio ao mundo a fim de realizar a maior obra jamais efetuada entre os homens. Veio como embaixador de Deus, para nos mostrar a maneira de viver de modo a conseguir na vida os melhores resultados. Quais foram as condições escolhidas pelo Pai infinito para Seu Filho? Uma habitação isolada nas colinas da Galiléia; um lar mantido pelo trabalho honesto e respeitável; vida de simplicidade; luta diária com as dificuldades e provações; abnegação, economia e serviço paciente, feito com contentamento; a hora de estudo junto da mãe, com o rolo aberto das Escrituras; a serenidade da alvorada ou do crepúsculo no verdor do vale; o sagrado ministério da natureza; o estudo da criação e da providência; a comunhão da alma com Deus; tais foram as condições e oportunidades dos primeiros anos de vida de Jesus. CBVc 158 4 O mesmo acontece com a maioria dos melhores e mais nobres homens de todos os séculos. Lede a história de Abraão, Jacó, José, Moisés, Davi e Eliseu. Estudai a vida dos homens de épocas posteriores, que mais honrosamente ocuparam posições de confiança e responsabilidade, homens cuja influência foi mais eficaz no reerguimento do mundo. CBVc 158 5 Quantos deles não foram criados num lar campestre! Pouco conheciam de luxo. Não gastaram o tempo da juventude em diversões. Muitos deles foram obrigados a lutar com a pobreza e privações. Aprenderam primeiramente a trabalhar, e sua vida ativa ao ar livre deu-lhes elasticidade e vigor a todas as faculdades. Forçados a contar unicamente com os próprios recursos, aprenderam a combater as dificuldades, a vencer os obstáculos, e adquiriram ânimo e perseverança. Abrigados, por assim dizer, das más companhias, satisfaziam-se com os prazeres naturais, com uma camaradagem sã. Eram simples nos gostos e de hábitos moderados. Regiam-se por princípios, e cresciam puros, robustos e leais. Ao terem que dedicar-se a um meio de vida, levavam para esse trabalho vigor físico e mental, boa disposição de espírito, capacidade de conceber e executar planos, e firmeza para resistir ao mal, o que os tornava no mundo uma força positiva para o bem. CBVc 158 6 A melhor de todas as heranças que podeis legar a vossos filhos é o dom de um corpo sadio, mente sã e caráter nobre. Os que compreendem o que constitui o verdadeiro êxito da vida serão sábios em boa hora. Ao escolherem um lar, terão em vista os bens mais preciosos da vida. CBVc 159 1 Em vez de morar onde só se podem ver as obras dos homens, onde o que se vê e ouve freqüentemente sugere pensamentos maus, onde a balbúrdia e a confusão produzem fadiga e desassossego, ide para um lugar onde possais contemplar as obras de Deus. Buscai tranqüilidade de espírito na beleza, quietude e paz da natureza. Descanse o olhar nos campos verdejantes, nos bosques e colinas. Erguei os olhos ao céu azul, não obscurecido pelo pó e fumaça das cidades, e aspirai o ar celeste e revigorador. Ide para um lugar onde, separados das diversões e extravagâncias da vida de cidade, possais ser companheiros para vossos filhos, ensinando-os a conhecer a Deus mediante Suas obras, e preparando-os para uma vida íntegra e útil. CBVc 159 2 Simplicidade no mobiliário -- Nossos hábitos artificiais privam-nos de muitas bênçãos e alegrias, e incapacitam-nos para viver uma vida mais útil. Mobílias trabalhadas e custosas representam não somente um desperdício de dinheiro, mas daquilo que é mil vezes mais precioso. Elas trazem para a família pesado fardo de cuidados, labores e perplexidades. CBVc 159 3 Quais são as condições em muitos lares, mesmo onde os recursos são limitados, e o serviço doméstico recai principalmente sobre a mãe? Os melhores aposentos são mobiliados num estilo que excede as posses dos moradores, e inadequados às suas conveniências e capacidades de usufruí-los. Há tapetes caros, cadeiras entalhadas e ricamente estofadas, custosas tapeçarias. Mesas, saliências ou qualquer outro espaço adequado se acha apinhado de ornamentos, e as paredes tão cheias de quadros que a vista se cansa. E que quantidade de trabalho exige tudo isso para se manter em ordem, livre de pó! Esse trabalho e outros hábitos artificiais da família para se manter de conformidade com a moda exigem da mãe um trabalho interminável. CBVc 159 4 Em muitos lares, a esposa e mãe não tem tempo para ler e manter-se bem informada, nem para servir de companheira ao marido, ou estar em contato com a mente em desenvolvimento de seus filhos. Não há tempo para o precioso Salvador Se tornar um companheiro íntimo e querido. Ela imerge pouco a pouco unicamente na atividade doméstica, absorvendo suas forças, seu tempo e interesse nas coisas que perecem com o uso. Demasiado tarde, desperta para o fato de se achar quase uma estranha em sua própria casa. As preciosas oportunidades que lhe foram outrora concedidas para influenciar seus queridos para uma vida mais elevada, e que ela não soube aproveitar, passaram para sempre. CBVc 159 5 Resolvam as donas-de-casa viver de maneira mais sábia. Seja vosso primeiro objetivo tornar o lar aprazível. Cuidai em providenciar as facilidades que amenizam o trabalho e promovem a saúde e o conforto. Tomai providências para entreter os hóspedes que Cristo vos pede acolher bem, e dos quais diz: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes". Mateus 25:40. CBVc 160 1 Mobiliai vossa casa com móveis simples, com coisas que se possam manusear livremente, limpar com facilidade e substituir sem grande dispêndio. Com bom gosto, podeis tornar um lar simples atrativo e aprazível, se aí residirem o amor e o contentamento. CBVc 160 2 Belos arredores -- Deus ama o belo. Revestiu a Terra e o céu de beleza, e com alegria paternal contempla o deleite de Seus filhos nas coisas que criou. Ele deseja que circundemos nossas habitações com a beleza das coisas naturais. CBVc 160 3 Quase todos os moradores do campo, se bem que pobres, poderiam ter ao redor de suas moradas um pedaço de gramado, algumas árvores de sombra, arbustos floridos, ou flores fragrantes. E, muito mais que os adornos artificiais, contribuirão para a felicidade do lar. Trarão para a vida doméstica influência amenizante, aperfeiçoadora, robustecendo o amor da natureza, e atraindo mais os membros da família uns para os outros, e para Deus. ------------------------Capítulo 30 -- A mãe CBVc 161 1 O que são os pais, em grande parte, hão de ser os filhos. As condições físicas dos pais, suas disposições e apetites, suas tendências morais e mentais são, em maior ou menor grau, reproduzidas em seus filhos. CBVc 161 2 Quanto mais nobres os objetivos, mais elevados os dotes mentais e espirituais, e mais desenvolvidas as faculdades físicas dos pais, mais bem aparelhados para a vida se encontrarão os filhos. Cultivando a parte melhor de si mesmos, os pais exercem influência no moldar a sociedade e erguer as gerações futuras. CBVc 161 3 Os pais precisam compreender sua responsabilidade. O mundo está cheio de laços para os pés da juventude. Multidões são atraídas por uma vida de egoísmo e prazeres sensuais. Não podem discernir os perigos ocultos, ou o terrível fim da senda que se lhes afigura o caminho da felicidade. Mediante a condescendência com o apetite e a paixão, desperdiçam as energias, e milhões se arruínam tanto para este mundo como para o por vir. Os pais devem lembrar que os filhos hão de enfrentar estas tentações. Mesmo antes do nascimento da criança, deve começar o preparo que a habilitará a combater com êxito na luta contra o mal. CBVc 161 4 A responsabilidade repousa especialmente sobre a mãe. Ela, de cujo sangue a criança se nutre e se forma fisicamente, comunica-lhe também influências mentais e espirituais que tendem a formar-lhe a mente e o caráter. Foi Joquebede, a hebréia que, fervorosa na fé, não temeu "o mandamento do rei" (Hebreus 11:23), a mãe de Moisés, libertador de Israel. Foi Ana, a mulher de oração e espírito abnegado, inspirada pelo Céu, que deu à luz Samuel, a criança divinamente instruída, juiz incorruptível, fundador das escolas sagradas de Israel. Foi Isabel, a parenta e especial amiga de Maria de Nazaré, que gerou o precursor do Messias. CBVc 161 5 Temperança e domínio próprio -- É-nos ensinado nas Escrituras o cuidado com que a mãe deve vigiar seus hábitos de vida. Quando o Senhor quis levantar Sansão como libertador de Israel, "o anjo do Senhor" (Juízes 13:13) apareceu à mãe, dando-lhe instruções especiais com relação a seus hábitos, e também quanto ao cuidado da criança. "Agora, pois, não bebas vinho nem bebida forte e não comas coisa imunda". Juízes 13:7. CBVc 161 6 O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim. A mensagem enviada por um anjo de Deus, e duas vezes dada da maneira mais solene, mostra que isso merece nossa mais atenta consideração. CBVc 162 1 Nas palavras dirigidas à mãe hebréia, Deus fala a todas as mães de todas as épocas. "De tudo quanto Eu disse à mulher se guardará ela". Juízes 13:13. A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe. Seus apetites e paixões devem ser regidos por princípios. Existem coisas que lhe convém evitar, coisas a combater, se quer cumprir o desígnio de Deus a seu respeito ao dar-lhe um filho. Se antes do nascimento de seu filho, ela é condescendente consigo mesma, egoísta, impaciente e exigente, esses traços se refletirão na disposição da criança. Assim muitas crianças têm recebido como herança quase invencíveis tendências para o mal. CBVc 162 2 Mas se a mãe se firma, sem reservas, nos retos princípios, se é temperante e abnegada, bondosa, amável e esquecida de si mesma, ela pode transmitir ao filho os mesmos traços de caráter. Muito explícita foi a ordem que proibia o uso de vinho pela mãe. Cada gota de bebida forte por ela ingerida para satisfazer seu apetite põe em perigo a saúde física, mental e moral do filho, sendo um pecado direto contra seu Criador. CBVc 162 3 Muitos aconselham insistentemente que todo desejo da mãe seja satisfeito; assim, se ela deseja qualquer artigo de alimentação, mesmo nocivo, deve satisfazer plenamente o apetite. Tal método é falso e pernicioso. As necessidades físicas da mãe não devem de modo algum ser negligenciadas. Dela dependem duas vidas, e seus desejos devem ser bondosamente considerados, supridas generosamente suas necessidades. Mas neste tempo, mais que em qualquer outro, tanto no regime alimentar como em tudo mais, deve evitar qualquer coisa que possa enfraquecer-lhe o vigor físico ou mental. Pelo próprio mandamento de Deus, ela se encontra na mais solene obrigação de exercer domínio sobre si mesma. CBVc 162 4 Excesso de trabalho -- As forças da mãe devem ser carinhosamente nutridas. Em lugar de gastar suas preciosas energias em excessivo labor, seus cuidados e encargos devem ser diminuídos. Freqüentemente, o marido e pai desconhece as leis físicas de cuja compreensão depende a felicidade de sua família. Absorvido na luta pela subsistência, ou empenhado em adquirir fortuna e assoberbado de cuidados e perplexidades, ele consente que pesem sobre a mulher e mãe responsabilidades que lhe sobrecarregam as energias no período mais crítico, causando-lhe enfraquecimento e doença. CBVc 162 5 Muitos maridos e pais deveriam aprender uma útil lição do cuidado do fiel pastor. Jacó, sendo insistentemente convidado para fazer uma jornada penosa, respondeu: "Estes filhos são tenros e [...] tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se as afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá. [...] Eu irei como guia pouco a pouco, conforme o passo do gado que está diante da minha face e conforme o passo dos meninos". Gênesis 33:13, 14. CBVc 163 1 Na cansativa estrada da vida, que o esposo e pai guie "pouco a pouco", segundo a resistência de sua companheira de jornada. Em meio da ansiosa precipitação do mundo em busca de riqueza e poder, aprenda a deter os seus passos, a confortar e prestar apoio àquela que foi convidada para caminhar ao seu lado. CBVc 163 2 Boa disposição -- A mãe deve cultivar disposição alegre, contente e feliz. Todo esforço nesse sentido será abundantemente recompensado, tanto na boa condição física como no caráter de seus filhos. O espírito satisfeito promoverá a felicidade de sua família, melhorando em alto grau a saúde dela própria. CBVc 163 3 Ajude o marido à esposa, mediante a simpatia e constante afeto. Se ele a deseja conservar jovial e contente, de modo a ser no lar como um raio de sol, auxilie-a no fazer face às responsabilidades. Sua bondade e amorável cortesia serão para ela uma preciosa animação, e a felicidade que ele comunica lhe trará paz e alegria ao próprio coração. CBVc 163 4 O esposo e pai retraído, egoísta, despótico, não somente é infeliz, como lança sombras sobre todos os que o cercam em casa. Ele há de colher o resultado vendo a esposa desalentada e doentia, e os filhos manchados pelos desagradáveis traços de seu próprio caráter. CBVc 163 5 Se a mãe fica sem o cuidado e conforto que lhe devem ser proporcionados, se esgota suas forças em trabalho excessivo ou por ansiedade e tristeza, seus filhos ficam carentes da força vital, da elasticidade mental e da jovialidade que poderiam herdar. Muito melhor seria tornar a vida da mãe feliz e contente, pô-la ao abrigo de necessidades, trabalho fatigante e deprimentes cuidados, fazendo com que os filhos herdem boa constituição, e possam abrir caminho na vida por suas próprias forças e energias. CBVc 163 6 Grande é a responsabilidade posta sobre pais e mães, e a honra a eles conferida nesse fato de que devem ocupar o lugar de Deus para com os filhos. Seu caráter, vida diária e métodos de educação serão para os pequeninos a interpretação das palavras de Deus. Sua influência há de atrair ou alienar a confiança dos pequeninos seres nas promessas divinas. CBVc 163 7 O privilégio dos pais na educação dos filhos -- Felizes os pais cuja vida é um verdadeiro reflexo da divina, de modo que as promessas e mandamentos de Deus despertem na criança gratidão e reverência; os pais cuja ternura, justiça e longanimidade representam para a criança a longanimidade, a justiça e o amor de Deus; e que, ao ensinarem o filho a amá-los, a neles confiar e obedecer-lhes, estão ensinando-o a amar o Pai do Céu, a nEle confiar e obedecer-Lhe. Os pais que comunicam ao filho semelhante dom, dotam-no com um tesouro mais precioso que a riqueza de todos os séculos -- um tesouro perdurável como a eternidade. CBVc 163 8 Nos filhos confiados aos seus cuidados, tem cada mãe um sagrado encargo de Deus. "Toma este filho, esta filha", diz Ele; "educa-o para Mim; forma-lhe um caráter polido como um palácio, a fim de que brilhe nas cortes do Senhor para sempre." CBVc 164 1 O trabalho da mãe muitas vezes se afigura, aos seus próprios olhos, sem importância. Raras vezes é apreciado. Pouco sabem os outros de seus muitos cuidados e encargos. Seus dias são ocupados com uma série de pequeninos deveres, exigindo todos paciente esforço, domínio de si mesma, tato, sabedoria e abnegado amor; todavia, ela não pode se vangloriar do que fez como de algum importante feito. Fez apenas com que tudo corresse suavemente no lar; muitas vezes fatigada e perplexa, esforçou-se por falar bondosamente às crianças, mantê-las ocupadas e satisfeitas, guiar os pequeninos pés no caminho reto. Sente que nada fez. Assim não é, entretanto. Anjos do Céu observam a mãe, fatigada de cuidados, notando suas responsabilidades dia a dia. Seu nome pode não ser ouvido no mundo, acha-se, porém, escrito no livro da vida do Cordeiro. CBVc 164 2 A oportunidade da mãe -- Existe um Deus em cima no Céu, e a luz e glória do Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra pode se comparar à sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Não tem, como o escritor, de expressar um nobre pensamento em eloqüentes palavras, nem, como o músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio divino, gravar na alma humana a imagem de Deus. CBVc 164 3 A mãe que sabe apreciar isso há de considerar as oportunidades que se lhe oferecem como inestimáveis. Zelosamente, ela procurará, em seu próprio caráter e em seus métodos de educação, apresentar aos filhos o mais elevado ideal. Com zelo, paciência e ânimo, desenvolverá suas aptidões, de modo que empregue devidamente as mais altas faculdades de sua inteligência na educação dos filhos. Há de inquirir com sinceridade a cada passo: "Que disse Deus?" Estudará diligentemente Sua Palavra. Conservará os olhos fixos em Cristo, a fim de que sua vida diária, no humilde curso dos cuidados e deveres, seja um verdadeiro reflexo da única Vida verdadeira. ------------------------Capítulo 31 -- A criança CBVc 165 1 Não somente os hábitos da mãe, mas a educação da criança se achava incluída nas instruções dadas pelo anjo aos pais hebreus. Não bastava que Sansão, a criança que devia libertar Israel, devesse receber boa herança ao nascer. Esta deveria ser secundada por uma educação cuidadosa. Desde a infância, ele deveria ser exercitado em hábitos de estrita temperança. CBVc 165 2 Iguais instruções foram dadas no caso de João Batista. Antes do nascimento da criança, a mensagem enviada do Céu aos seus pais foi: "Terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo". Lucas 1:14, 15. CBVc 165 3 No registro celeste dos homens nobres, declarou o Salvador que nenhum existe maior que João Batista. A obra que lhe foi confiada não exigia somente energia física e resistência, mas as mais elevadas qualidades do espírito e da alma. Tão importante era exercitar o pequeno em hábitos sãos de vida para prepará-lo para essa obra que o mais elevado dos anjos foi enviado com uma mensagem de instrução aos seus pais. CBVc 165 4 As instruções dadas quanto às crianças hebréias, ensinam-nos que coisa alguma que afete a boa condição física dos pequeninos deve ser negligenciada. Coisa alguma é sem importância. Tudo quanto afeta a saúde do corpo tem sua influência sobre o intelecto e o caráter. CBVc 165 5 Nunca se pode acentuar demasiado a importância da educação ministrada à criança em seus primeiros anos de existência. As lições aprendidas, os hábitos formados durante os anos da infância, têm mais que ver com o caráter e a direção da vida do que todas as instruções e educação dos anos posteriores. CBVc 165 6 Os pais devem considerar isso. Eles precisam compreender os princípios que fundamentam o cuidado e a educação das crianças. Devem ser capazes de criá-las sadias física, espiritual e moralmente. Os pais devem estudar as leis da natureza. Cumpre-lhes familiarizar-se com o organismo humano. Devem conhecer as funções dos vários órgãos, suas relações e dependências mútuas. Devem estudar a relação entre as faculdades mentais e físicas, e as condições exigidas para a ação saudável de cada uma delas. Assumir as responsabilidades da paternidade sem esse preparo é um pecado. CBVc 166 1 Demasiado pouco se atende às causas que servem de base para a mortalidade, para a enfermidade e degenerescência que existem hoje em dia, mesmo nos países mais civilizados e favorecidos. A espécie humana está-se deteriorando. Mais de um terço dela morre na infância; dos que atingem a maturidade, grande é a quantidade dos que sofrem de qualquer forma de doença, e poucos são os que alcançam o limite da existência humana. [Nota: A afirmativa acerca da mortalidade infantil era correta no tempo em que foi escrita, (em 1905). Entretanto, a medicina moderna e o devido cuidado da criança reduziram grandemente a mortalidade.] CBVc 166 2 A maior parte dos males que trazem ruína e miséria à humanidade poderiam ser evitados, e a capacidade de assim fazer está especialmente com os pais. Não é uma "misteriosa providência" que tira as criancinhas. Deus não deseja que morram. Ele as dá aos pais a fim de serem preparadas para a utilidade aqui, e para o Céu, depois. Se pais e mães fizessem o que lhes fosse possível para transmitir aos filhos uma boa herança, e depois, mediante sábia direção, se esforçassem para remediar qualquer má condição inata, que mudança para melhor não testemunharia o mundo! CBVc 166 3 O cuidado da criança -- Quanto mais sossegada e simples for a vida da criança, mais favorável será, tanto para seu desenvolvimento físico como mental. A mãe deve buscar estar, em todas as ocasiões, serena, calma, e na inteira posse de si mesma. Muitas crianças são em extremo suscetíveis a provocações nervosas, e a maneira suave, sossegada da mãe terá influência calmante, que será de inapreciável benefício sobre elas. CBVc 166 4 As criancinhas precisam de calor, mas comete-se freqüentemente um erro, conservando-as em aposentos muito aquecidos, privados em alto grau do ar fresco. O costume de cobrir o rosto da criança enquanto dorme é prejudicial, uma vez que isso impede a livre respiração. CBVc 166 5 O nenê deve ser mantido ao abrigo de toda influência que tenda a enfraquecer ou envenenar-lhe o organismo. Dever-se-ia ter o mais escrupuloso cuidado em manter tudo que o cerca asseado e aprazível. Conquanto seja necessário proteger os pequeninos de repentinas e fortes mudanças de temperatura, convém cuidar para que, dormindo ou despertos, dia e noite, eles respirem ar puro e revigorante. CBVc 166 6 No preparo do guarda-roupa do nenê, deve ter-se em vista a conveniência, o conforto e a saúde, de preferência à moda e ao desejo de causar admiração. A mãe não deve desperdiçar tempo em bordados ou trabalhos de fantasias, para embelezar as pequeninas vestimentas, sobrecarregando-se assim de trabalho desnecessário, com detrimento de sua saúde e da do pequenino ser. Ela não deve se inclinar sobre costuras que exijam esforço fatigante dos olhos e dos nervos, numa época em que necessita de abundância de repouso e exercício agradável. Convém compreender sua obrigação de poupar as forças, de modo a poder suportar o que dela é exigido. CBVc 167 1 Se a roupa da criança reúne o calor, a proteção e o conforto, ficará excluída uma das principais causas de irritação e desassossego. O pequenino terá melhor saúde, e a mãe não achará tão pesado o cuidar dele. CBVc 167 2 Faixas apertadas impedem o funcionamento do coração e dos pulmões, devendo ser evitadas. Parte alguma do corpo deve jamais ficar mal-acomodada por meio de roupas que comprimam qualquer órgão, ou restrinjam sua liberdade de movimento. As roupas de toda criança devem ser bastante folgadas a fim de permitir a mais livre e ampla respiração, e arranjadas de maneira que os ombros lhes suportem o peso. CBVc 167 3 Em alguns países existe ainda o costume de deixar nus os ombros e os membros das crianças pequenas. Nunca será demais falar contra esse costume. Estando os membros muito afastados do centro da circulação, exigem maior agasalho do que as outras partes do corpo. As artérias que enviam o sangue para as extremidades são grandes, provendo quantidade de sangue suficiente para aquecer e nutrir. Mas, quando os membros ficam desabrigados, ou insuficientemente vestidos, as artérias e veias contraem-se, as partes mais sensíveis do corpo esfriam-se, e a circulação fica prejudicada. CBVc 167 4 Nas crianças em crescimento, todas as forças da natureza necessitam de toda a vantagem a fim de habilitá-las a aperfeiçoar a estrutura física. Se os membros ficarem insuficientemente abrigados, as crianças, e especialmente as meninas, não podem estar fora de casa, a não ser que a temperatura esteja amena. De maneira que são mantidas dentro de casa, por temor de resfriados. Se as crianças estiverem bem agasalhadas, ser-lhes-á benéfico fazerem exercícios ao ar livre, seja verão ou inverno. CBVc 167 5 As mães que desejam que seus filhos e filhas possuam o vigor da saúde devem vesti-los convenientemente, e animá-los a estar o mais possível ao ar livre, sempre que o tempo não seja impróprio. Serão precisos esforços para libertar-se das cadeias dos costumes, e vestir e educar os filhos tendo em vista a saúde; o resultado, porém, compensará largamente qualquer esforço nesse sentido. CBVc 167 6 O regime alimentar da criança -- O melhor alimento para o bebê é o que lhe foi provido pela natureza. Não deveria, sem necessidade, ser dele privado. É falta de coração eximir-se a mãe, por amor da comodidade ou de diversões sociais, da delicada tarefa de amamentar o filhinho. CBVc 167 7 A mãe que consente que seu filho seja amamentado por outra deve considerar bem os resultados que isso pode trazer. Em maior ou menor grau a ama comunica seu próprio temperamento à criança que amamenta. CBVc 167 8 Mal se pode apreciar devidamente a importância de habituar bem as crianças quanto a um são regime alimentar. As crianças devem aprender que têm de comer para viver, e não viver para comer. Esses hábitos devem começar a ser implantados já na criancinha de braço. Ela só deve tomar alimentos a intervalos regulares, e menos freqüentemente, à medida que vai tendo mais idade. Não convém dar-lhe doces, ou comidas dos adultos, que é incapaz de digerir. O cuidado e a regularidade na alimentação dos pequeninos não somente promove a saúde, tendendo assim a torná-los sossegados e mansos, mas lançará o fundamento para os hábitos que lhes serão uma bênção nos anos posteriores. CBVc 168 1 Ao saírem as crianças da primeira infância, deve-se exercer grande cuidado em educar-lhes os gostos e o apetite. Muitas vezes se lhes permite que comam o que preferem, e quando o entendam, sem se tomar em consideração a saúde. Os esforços e o dinheiro desperdiçados freqüentemente em petiscos levam as crianças a pensar que o primeiro objetivo na vida, o que maior soma de felicidade proporciona, é poder-se satisfazer o apetite. O resultado disso é a gula, vindo depois a doença, à qual se segue em geral o emprego de drogas envenenadoras. CBVc 168 2 Os pais devem educar o apetite dos filhos, não lhes permitindo também comerem coisas que prejudiquem a saúde. Mas, no esforço de regularizar-lhes a alimentação, devemos ser cuidadosos em não exigir dos filhos que comam coisas desagradáveis ao paladar, nem mais do que necessitam. As crianças têm direitos, têm preferências, e, quando forem razoáveis, devem ser respeitadas. CBVc 168 3 A regularidade nas refeições deve ser fielmente observada. Coisa alguma se deve comer entre elas, nada de doces, nozes, frutas, ou qualquer espécie de comida. A irregularidade na alimentação arruína a saúde dos órgãos digestivos, com detrimento da saúde em geral, e da alegria. E, quando as crianças chegam à mesa, não apetecem os alimentos sãos; desejam o que lhes é prejudicial. CBVc 168 4 As mães que satisfazem os desejos dos filhos com detrimento da saúde e de uma disposição feliz estão lançando sementes daninhas que hão de germinar e dar fruto. A condescendência consigo mesmos cresce com os pequenos, e tanto o vigor físico como o mental são por essa forma sacrificados. As mães que assim fazem ceifam com amargura a semente que semearam. Vêem os filhos crescerem, tanto mentalmente como no que respeita ao caráter, incapazes para desempenhar um papel nobre e útil na família e na sociedade. As faculdades espirituais, mentais e físicas sofrem sob a influência de uma alimentação não saudável. A consciência fica entorpecida, e diminui de suscetibilidade às boas impressões. CBVc 168 5 Ao passo que se ensinam as crianças a dominarem o apetite, e comerem segundo as leis da saúde, convém fazê-las compreender que se estão privando apenas daquilo que lhes seria prejudicial. Rejeitam coisas nocivas por outras melhores. Que a mesa seja convidativa e atraente, sendo provida das boas coisas que Deus tão generosamente nos proporcionou. Seja a hora da refeição um tempo alegre e feliz. E, ao desfrutarmos os dons que nos são concedidos, retribuamos com gratos louvores ao Doador. CBVc 168 6 O cuidado da criança na doença -- Em muitos casos, as doenças infantis têm sua origem nos erros cometidos na maneira de as cuidar. Irregularidade na alimentação, deficiência no vestuário nas tardes frias, falta de vigoroso exercício para manter o sangue em saudável circulação, ou falta de abundância de ar puro à purificação desse mesmo sangue, podem ser a causa da perturbação. Estudem os pais a fim de ver as causas da doença, e modifiquem então as más condições o mais depressa possível. CBVc 169 1 Todos os pais podem aprender muito sobre o cuidado, a prevenção e mesmo o tratamento das doenças. A mãe, especialmente, deve saber o que fazer nos casos comuns de doença na família. Deve saber a maneira de tratar o filho doente. Seu amor e percepção devem habilitá-la para prestar-lhe serviços que não deveriam ser confiados a mãos estranhas. CBVc 169 2 O estudo da fisiologia -- Os pais devem procurar interessar desde cedo os filhos no estudo da fisiologia, e ensinar-lhes seus simples princípios. Ensinar-lhes a preservar as faculdades físicas, mentais e espirituais, e empregar os dons de que são dotados, de maneira que sua vida se torne uma bênção para outros, e uma honra para Deus. Este conhecimento é inapreciável para a juventude. Ser instruídos nas coisas que dizem respeito à vida e à saúde é para eles mais importante do que o conhecimento de muitas das ciências ensinadas nas escolas. CBVc 169 3 Os pais devem viver mais para seus filhos, e menos para a sociedade. Estudai assuntos de saúde, e ponde em prática vossos conhecimentos. Ensinai vossos filhos a raciocinar da causa para o efeito. Ensinai-lhes que, se desejam ter saúde e felicidade, devem obedecer às leis da natureza. Ainda que não vejais aproveitamento tão rápido como desejaríeis, não desanimeis, mas continuai paciente e perseverantemente vossa obra. CBVc 169 4 Ensinai desde o berço vossos filhos a exercer a abnegação, o domínio de si mesmos. Ensinai-os a desfrutar as belezas da natureza e a exercitar sistematicamente as faculdades da mente e do corpo em ocupações úteis. Criai-os de modo a terem constituição sã e boa moral, disposição alegre e índole branda. Impressionai-lhes a tenra mente com a verdade de que não é o desígnio divino que vivamos meramente para satisfazer nossas inclinações atuais, mas para nosso bem final. Ensinai-lhes que ceder à tentação é fraqueza e impiedade; resistir-lhe, nobreza e varonilidade. Essas lições serão como sementes lançadas em boa terra, e produzirão frutos que farão a alegria de vosso coração. CBVc 169 5 Sobretudo, que os pais circundem os filhos de uma atmosfera de alegria, cortesia e amor. O lar onde o amor habita, e onde este se exprime em olhares, palavras e atos, é um lugar onde os anjos se deleitam em manifestar sua presença. CBVc 169 6 Pais, que o sol do amor, da alegria, do feliz contentamento penetre vosso coração, e que sua doce e alentadora influência domine em vosso lar. Manifestai espírito bondoso, tolerante; e incentivai o mesmo em vossos filhos, cultivando todas as graças que tornarão ditosa a vida de família. A atmosfera assim criada será para os filhos o que o ar e a luz do sol são para o mundo vegetal, promovendo saúde e vigor da mente e do corpo. ------------------------Capítulo 32 -- Influências do lar CBVc 170 1 O lar deve ser para as crianças o mais atrativo lugar do mundo, e sua maior atração deve ser a presença da mãe. As crianças têm natureza sensível e amorosa. Facilmente se consegue agradá-las, e facilmente também se sentem infelizes. Mediante uma disciplina branda, com palavras e atos amáveis, as mães podem unir os filhos ao seu coração. CBVc 170 2 As crianças gostam de ter companhia, e raramente se podem divertir sozinhas. Anseiam simpatia e ternura. O que lhes dá prazer, elas crêem que também o dá à mãe; e é natural que a ela se dirijam com suas pequeninas alegrias e pesares. A mãe não deve ferir-lhes o coraçãozinho tratando com indiferença essas coisas que, embora insignificantes para ela, são de grande importância para as crianças. A simpatia e aprovação que ela lhes dispensa são preciosas. Um olhar de aprovação e uma palavra de ânimo ou louvor, serão como um raio de sol em seu coraçãozinho tornando-as às vezes felizes o dia inteiro. CBVc 170 3 Em vez de mandar que os filhos se afastem dela, a fim de não ser molestada pelo barulho que fazem, ou perturbada por suas pequeninas necessidades, imagine a mãe algum divertimento ou trabalho leve, para entreter a mente e suas ativas mãozinhas. CBVc 170 4 Penetrando em seus sentimentos, dirigindo-lhes os brinquedos e as ocupações, a mãe conquistará a confiança dos filhos, podendo com mais eficácia corrigir-lhes os hábitos errôneos, ou combater-lhes as manifestações de egoísmo ou mau gênio. Uma palavra de advertência ou de reprovação, dita oportunamente, será de grande valor. Mediante paciente e vigilante amor, ela poderá dar à mente das crianças a verdadeira direção, nelas cultivando belos e atrativos traços de caráter. CBVc 170 5 As mães devem guardar-se de educar os pequenos de maneira a se tornarem dependentes, e absorvidos consigo mesmos. Nunca os leveis a cuidar que são o centro, e que tudo o mais deve girar em torno deles. Alguns pais dedicam demasiado tempo e atenção para distrair os filhos, mas estes devem ser acostumados a se divertirem a si próprios, a exercer seu próprio engenho e habilidade. Assim, aprenderão a estar satisfeitos com prazeres simples. Devem ser ensinados a sofrer animosamente seus pequeninos desapontamentos e provações. Em lugar de chamar a atenção para toda dorzinha ou insignificante ferimento, distraí-lhes a mente, ensinai-lhes a passar por alto esses aborrecimentos e pequenos mal-estares. Estudai maneiras a sugerir às crianças, pelas quais elas aprendam a preocupar-se com os outros. CBVc 171 1 Não se permita, porém, que elas sejam negligenciadas. Sobrecarregadas de muitos cuidados, as mães sentem que não podem às vezes dedicar tempo para instruir seus pequenos, e dispensar-lhes amor e simpatia. Lembrem-se elas, no entanto, de que, se os filhos não encontram nos pais e no lar aquilo que lhes satisfaz o desejo que experimentam de afeto e companheirismo, volvem-se para outras fontes, onde tanto a mente como o caráter podem perigar. CBVc 171 2 Por falta de tempo e de idéia, muita mãe recusa a seus filhos algum inocente prazer, enquanto os dedos atarefados e os fatigados olhos se empenham diligentemente em qualquer obra destinada a mero adorno, qualquer coisa que, na melhor hipótese, servirá unicamente para animar a vaidade e a extravagância em seu jovem coração. Ao aproximarem-se os filhos da adolescência, estas lições dão frutos em orgulho e ausência de valor moral. A mãe aflige-se com as faltas dos filhos, mas não compreende que a colheita que está tendo é o fruto da semente por ela própria plantada. CBVc 171 3 Algumas mães não são uniformes no tratamento de suas crianças. Têm às vezes condescendências que lhes são nocivas; e de outras vezes, recusam qualquer inocente satisfação que tornaria deveras felizes o coraçãozinho infantil. Assim fazendo, elas não imitam a Cristo; Ele amava as crianças; compreendia-lhes os sentimentos, e interessava-Se por elas, fosse em seus prazeres, fosse em suas provações. CBVc 171 4 A responsabilidade do pai -- O marido e pai é a cabeça da família. A esposa espera dele amor e interesse, bem como auxílio na educação dos filhos, e isso é justo. Os filhos pertencem-lhe, da mesma maneira que a ela, e sua felicidade também interessa a ele. Os filhos esperam do pai apoio e orientação; cumpre-lhe ter justa concepção da vida, e das influências e associações que devem rodear sua família; ele deve ser regido, acima de tudo, pelo amor e temor de Deus, e pelos ensinos de Sua Palavra, a fim de lhe ser possível guiar os pés dos filhos no caminho reto. CBVc 171 5 O pai é o legislador da família; e, como Abraão, deve fazer da Lei de Deus o governo de sua casa. Deus disse de Abraão: "Porque Eu tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa". Gênesis 18:19. Não haveria pecaminosa negligência em restringir o mal, nada de favoritismo fraco, imprudente, cheio de condescendência; nada de ceder sua convicção do dever aos reclamos de enganosa afeição. Abraão não somente dava a instrução devida, mas mantinha a autoridade de leis justas e retas. Deus nos deu regras para nossa direção. As crianças não devem ter permissão de desviar-se da segura vereda estabelecida na Palavra de Deus, para caminhos que levam a perigos, os quais se acham abertos de todos os lados. Bondosamente, mas com firmeza, com perseverante esforço secundado de oração, seus maus desejos devem ser refreados, reprimidas suas inclinações. CBVc 172 1 Cumpre ao pai fortalecer na família as austeras virtudes -- energia, integridade, honestidade, paciência, ânimo, diligência e utilidade prática. E o que exige de seus filhos deve ele mesmo praticar, ilustrando essas virtudes na própria conduta varonil. CBVc 172 2 Mas, pais, não desanimeis vossos filhos. Combinai o afeto com a autoridade, a bondade e simpatia com a firme restrição. Dedicai a vossos filhos algumas de vossas horas de lazer; relacionai-vos com eles; associai-vos com eles em seus trabalhos e brinquedos e captai-lhes a confiança. Cultivai a camaradagem com eles, especialmente os meninos. Tornar-vos-eis, assim, uma forte influência para o bem. CBVc 172 3 O pai deve fazer sua parte para tornar o lar feliz. Sejam quais forem seus cuidados e perplexidades nos negócios, não permita que estes ensombrem a família; deve penetrar em casa com sorrisos e palavras aprazíveis. CBVc 172 4 Em certo sentido, o pai é o sacerdote da família, depondo sobre seu altar o sacrifício matutino e vespertino. Mas a mulher e os filhos devem unir-se à oração e aos cânticos de louvor. Pela manhã, antes que saia de casa para o trabalho do dia, reúna ele os filhos em redor de si, e, curvando-se perante Deus, entregue-os ao Seu paternal cuidado. Passados os cuidados do dia, reúna-se a família para fazer uma prece de gratidão, e erguer hinos de louvor, em reconhecimento do divino cuidado no decorrer do mesmo. CBVc 172 5 Pais e mães, por mais prementes que sejam vossos afazeres, não deixeis de reunir vossa família em torno do altar de Deus. Pedi a guarda dos santos anjos em vosso lar. Lembrai-vos de que vossos queridos estão sujeitos a tentações. Aborrecimentos diários juncam a estrada tanto dos jovens como dos mais idosos. Os que querem viver vida paciente, amorável e satisfeita, devem orar. Somente obtendo constante auxílio de Deus podemos alcançar a vitória sobre o eu. CBVc 172 6 O lar deve ser um lugar onde o contentamento, a cortesia e o amor façam habitação; onde moram essas graças, aí residem a paz e felicidade. Podem invadi-lo as aflições, mas isso é a situação da humanidade. Que a paciência, a gratidão e o amor mantenham no coração a luz solar, seja embora o dia sempre nublado. Em tais lares os anjos de Deus habitam. CBVc 172 7 Estudem, o marido e a esposa, a felicidade mútua, nunca faltando as pequeninas cortesias e pequenos atos de bondade que alegram e iluminam a vida. Entre o marido e a esposa deve existir perfeita confiança. Juntos, devem considerar suas responsabilidades. Operar juntos pelo mais alto benefício de seus filhos. Jamais devem, em presença dos filhos, criticar-se mutuamente os planos, ou discutir a maneira de julgar um do outro. Tenha a mulher o cuidado de não tornar mais difícil a obra do marido pelos filhos. Apóie o marido as mãos da esposa, dando-lhe sábios conselhos, e afetuosa animação. CBVc 173 1 Não se deve permitir que se erga entre pais e filhos barreira alguma de frieza e reserva. Relacionem-se os pais com eles, buscando compreender-lhes os gostos e disposições, penetrando em seus sentimentos e discernindo o que lhes vai no coração. CBVc 173 2 Pais, deixai que vossos filhos vejam que os amais, e fareis tudo que estiver ao vosso alcance para torná-los felizes. Se assim fizerdes, as necessárias restrições que lhes impuserdes terão incomparavelmente mais peso em seu espírito. Governai vossos filhos com ternura e compaixão, lembrando que "os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai que está nos Céus". Mateus 18:10. Se quereis que os anjos façam por vossos filhos a obra de que Deus os incumbiu, cooperai com eles, fazendo a vossa parte. CBVc 173 3 Criadas sob a sábia e amorosa guia de um lar verdadeiro, as crianças não terão desejo de ausentar-se em busca de prazer e camaradagem. O espírito que prevalece no lar moldará seu caráter; formarão hábitos e princípios que serão uma forte defesa contra a tentação, quando deixarem o abrigo do lar e assumirem sua posição no mundo. CBVc 173 4 Tanto as crianças como os pais têm importantes deveres a cumprir no lar. Deve-se-lhes ensinar que constituem uma parte da organização do lar. São alimentados, vestidos, amados e cuidados; e devem corresponder a esses muitos favores, assumindo a parte que lhes cabe nas responsabilidades do lar, e trazendo toda a felicidade possível à família da qual são membros. CBVc 173 5 As crianças são às vezes tentadas a zangar-se quando lhes são feitas restrições; mas, mais tarde na vida, elas bendirão os pais pelo fiel cuidado e estrita vigilância que as guardou e guiou na idade da inexperiência. ------------------------Capítulo 33 -- A verdadeira educação CBVc 174 1 A verdadeira educação é um preparo missionário. Todo filho e filha de Deus é chamado a ser missionário; somos chamados ao serviço de Deus e de nossos semelhantes; e habilitar-nos para essa obra deve ser o objetivo de nossa educação. CBVc 174 2 Preparar para o serviço -- Esse objetivo deve ser conservado constantemente em vista pelos pais e mestres cristãos. Não sabemos em que atividade nossos filhos irão servir. Poderão passar a vida no círculo do lar; podem-se empenhar nas carreiras comuns da vida, ou ir, como ensinadores do evangelho, para terras pagãs; todos serão, entretanto, semelhantemente chamados a ser missionários de Deus, ministros da misericórdia ao mundo. CBVc 174 3 As crianças e os jovens, com seus talentos novos, sua energia e ânimo, suas vivas suscetibilidades, são amados por Deus, e Ele os deseja pôr em harmonia com os agentes divinos. Têm de obter educação que os auxilie a pôr-se ao lado de Cristo em desinteressado serviço. CBVc 174 4 De todos os Seus filhos até ao fim do tempo, da mesma maneira que de Seus primeiros discípulos, Cristo disse: "Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo" (João 17:18), para serem representantes de Deus, para revelarem Seu Espírito, manifestarem Seu caráter, fazerem Sua obra. CBVc 174 5 Nossos filhos acham-se, por assim dizer, na encruzilhada dos caminhos. De todos os lados, os incitamentos do mundo ao interesse e à condescendência consigo mesmos atraem-nos da vereda estabelecida para os remidos do Senhor. O ser sua vida uma bênção ou uma maldição, depende da escolha que fizerem. Transbordando de energia, ansiosos de provar suas aptidões ainda não experimentadas, precisam dar vazão a sua exuberância de vida. Eles serão ativos, ou para o bem, ou para o mal. CBVc 174 6 A Palavra de Deus não reprime a atividade, mas guia-a retamente. Deus não pede aos jovens que tenham menos aspirações. Os elementos de caráter que tornam o homem verdadeiramente bem-sucedido e honrado entre os homens -- o irreprimível desejo de algum bem maior, a indomável vontade e tenaz aplicação, a perseverança incansável -- não devem ser desanimados. Pela graça de Deus, devem ser dirigidos para a consecução de objetivos tão mais elevados que meros interesses egoístas e mundanos, quanto os céus são mais altos do que a terra. CBVc 175 1 Cumpre-nos a nós, como pais e como cristãos, imprimir a nossos filhos direção devida. Devem eles ser cuidadosa, sábia e ternamente guiados às veredas do serviço cristão. Temos para com Deus o solene compromisso de criar nossos filhos para Sua obra. Rodeá-los de influências que os induzam a escolher uma vida de serviço, e dar-lhes o devido preparo, eis nosso primeiro dever. CBVc 175 2 "Deus amou [...] de tal maneira que deu" -- deu "o Seu Filho unigênito" a fim de que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna. João 3:16. "Cristo vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós". Efésios 5:2. Se amarmos, havemos de dar. "Não para ser servido, mas para servir" (Mateus 20:28), eis a grande lição que temos de aprender e ensinar. CBVc 175 3 Seja a juventude impressionada com a idéia de que não pertence a si mesma. Pertence a Cristo. São a aquisição de Seu sangue, a reivindicação de Seu amor. Vivem porque Ele os guarda com Seu poder. Seu tempo, sua força e suas aptidões pertencem-Lhe, para serem desenvolvidas, exercitadas e empregadas para Ele. CBVc 175 4 Depois dos seres angélicos, a família, formada à imagem de Deus, é a mais nobre de Suas obras. Ele deseja que se tornem tudo quanto lhes tem tornado possível ser, e que façam o melhor que possam com as faculdades de que os dotou. CBVc 175 5 A vida é misteriosa e sagrada. É a manifestação do próprio Deus, fonte de toda a vida. Preciosas são as oportunidades que ela encerra, e devem ser zelosamente aproveitadas. Uma vez perdidas, desaparecem para sempre. CBVc 175 6 Deus põe perante nós a eternidade, com suas realidades solenes, e concede-nos a posse de temas imortais, imperecíveis. Apresenta uma verdade valiosa, enobrecedora, a fim de que avancemos numa vereda segura e certa, na realização de um objetivo merecedor do fervoroso empenho de todas as nossas faculdades. CBVc 175 7 Deus olha o interior da pequenina semente que Ele próprio criou, e nela vê encoberta a bela flor, o arbusto ou a grande e frondosa árvore. Assim vê Ele as possibilidades em toda criatura humana. Achamo-nos aqui para determinado fim. Deus nos deu o plano que tem para nossa vida, e deseja que alcancemos a mais alta norma de desenvolvimento. CBVc 175 8 Deseja que cresçamos constantemente em santidade, felicidade e utilidade. Todos possuem aptidões que devem ser ensinados a considerar sagrados dons, a apreciar como dotes do Senhor, e empregar devidamente. Ele deseja que os jovens cultivem todas as faculdades de seu ser, exercitando ativamente cada uma delas. Deseja que desfrutem tudo que é útil e precioso nesta vida, que sejam bons e façam o bem, depositando um tesouro celeste para a vida futura. CBVc 175 9 Devem ter a ambição de ser excelentes em tudo que é útil, elevado e nobre. Contemplem eles a Cristo como o modelo segundo o qual devem ser moldados. A santa ambição que Ele revelou em Sua vida devem eles nutrir -- a ambição de tornar o mundo melhor por eles nele terem vivido. Tal é a obra a que são chamados. CBVc 176 1 Amplo fundamento -- A mais elevada de todas as ciências é a de salvar almas. A maior obra a que podem aspirar criaturas humanas é a obra de atrair homens do pecado para a santidade. Para a realização desta obra, é importante que sejam lançados sólidos fundamentos. É necessária uma educação adequada -- uma educação que exigirá dos pais e mestres tanta reflexão e esforço como não requer a mera instrução. Pede-se mais alguma coisa além da cultura do intelecto. A educação não se acha completa a menos que o corpo, a mente e o coração se achem igualmente educados. O caráter deve receber a devida disciplina, para seu inteiro e mais elevado desenvolvimento. Todas as faculdades da mente e do corpo devem ser desenvolvidas e devidamente exercitadas. É um dever cultivar e exercitar toda aptidão que nos tornará mais eficientes como obreiros de Deus. CBVc 176 2 A verdadeira educação inclui todo o ser. Ela ensina o devido emprego do próprio eu. Habilita-nos a fazer o melhor uso do cérebro, ossos e músculos; do corpo, mente e coração. As faculdades do espírito são as mais elevadas potências; têm de governar o reino do corpo. Os apetites e paixões naturais devem ser sujeitos ao domínio da consciência e das afeições espirituais. Cristo Se acha à testa da humanidade, e Seu desígnio é conduzir-nos, em Seu serviço, a elevadas e santas veredas de pureza. Mediante a assombrosa operação de Sua graça, temos de nos tornar completos nEle. CBVc 176 3 Jesus adquiriu Sua educação no lar. Sua mãe foi-Lhe a primeira professora humana. De seus lábios e dos rolos dos profetas, aprendeu Ele as coisas celestes. Vivia numa casa de camponeses, e fiel e alegremente desempenhou Sua parte nas responsabilidades domésticas. Aquele que fora o Comandante dos Céus era agora servo voluntário, filho amante e obediente. Aprendeu um ofício, e trabalhava com Suas próprias mãos na carpintaria com José. Nos trajes de um operário comum, caminhava pelas ruas da pequenina cidade, indo para Seu humilde serviço, e dele voltando. CBVc 176 4 O povo daquela época avaliava as coisas pelas aparências exteriores. À medida que a religião declinara em poder, crescera em pompa. Os educadores de então buscavam impor respeito mediante exibição e ostentação. A vida de Jesus apresentava um frisante contraste com tudo isso. Ela demonstrava a falta de valor daquilo que os homens consideravam ser as coisas essenciais da vida. As escolas de Seu tempo, com sua maneira de engrandecer coisas insignificantes e amesquinhar as grandes coisas, não as procurou Ele. Sua educação foi recebida das fontes indicadas pelo Céu, do trabalho útil, do estudo das Escrituras, da natureza e das experiências da vida -- os compêndios divinos, cheios de instruções para todos quantos neles põem mãos voluntárias, olhos atentos e coração entendido. CBVc 177 1 "O Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele". Lucas 2:40. Assim preparado saiu para Sua missão, exercendo sobre os homens, em todos os momentos de Seu contato com eles, uma influência que beneficiava, um poder que transformava, influência e poder que o mundo jamais testemunhara. CBVc 177 2 O lar é a primeira escola da criança, e é aí que se devem lançar as bases para uma vida de serviço. Estes princípios não devem ser ensinados meramente em teoria. Devem orientar toda a educação da vida. CBVc 177 3 Desde bem cedo, deve-se ministrar à criança a lição da prestimosidade. Logo que suas forças e a faculdade de raciocínio estejam suficientemente desenvolvidas, devem-se-lhe confiar deveres a desempenhar em casa. Deve ser estimulada a tentar auxiliar o pai e a mãe, estimulada a ser abnegada e a dominar-se a si mesma, a colocar a felicidade e o bem-estar dos outros acima dos seus, a estar atenta às oportunidades de animar e ajudar os irmãos, os companheiros, e a mostrar bondade para com os velhos, os doentes e os desditosos. Quanto mais profundamente o espírito de verdadeiro serviço penetrar o lar, tanto mais profundamente ele se desenvolverá na vida das crianças. Elas encontrarão prazer em servir e sacrificar-se pelo bem dos outros. CBVc 177 4 A obra da escola -- A educação doméstica deve ser secundada pela obra da escola. O desenvolvimento de todo o ser -- físico, mental e espiritual -- e o ensino do serviço e sacrifício devem ser constantemente conservados em vista. CBVc 177 5 Acima de qualquer outro meio, o serviço feito por amor de Cristo, nas pequeninas coisas da vida diária, tem o poder de moldar o caráter e orientar a vida no sentido do desinteressado serviço. Despertar esse espírito, estimulá-lo e orientá-lo devidamente, eis a obra dos pais e professores. Não lhes poderia ser confiada obra mais importante. O espírito de serviço é o que reina no Céu, e anjos hão de cooperar com todo esforço feito no intuito de o desenvolver e estimular. CBVc 177 6 Essa educação deve basear-se na Palavra de Deus. Somente aí nos são apresentados seus princípios, em toda a sua plenitude. A Bíblia deve ser tomada como fundamento do estudo e do ensino. O conhecimento essencial é o conhecimento de Deus e dAquele que Ele enviou. CBVc 177 7 Toda criança e todo jovem devem conhecer-se a si mesmos. Convém que compreendam a habitação física que Deus lhes deu, e as leis mediante as quais se mantêm com saúde. Todos devem ter base sólida nos ramos comuns de educação. E devem ser exercitados em indústrias que os tornem homens e mulheres de habilidade prática, aptos para os deveres da vida diária. A isso devem acrescentar-se conhecimentos e experiência prática em vários ramos de trabalho missionário. CBVc 177 8 Aprender ensinando -- Avance a juventude tão rapidamente e vá tão longe em adquirir conhecimentos quanto lhe seja possível. Seja o seu campo de estudos tão vasto quanto suas faculdades puderem abranger. E, à medida que aprendam, vão eles comunicando seus conhecimentos. É assim que a mente adquirirá disciplina e vigor. É o emprego que eles fazem de seus conhecimentos que determina o valor de sua educação. Gastar longo tempo em estudos, sem esforço algum para comunicar o que se adquire, demonstra-se muitas vezes um prejuízo em lugar de um auxílio ao real desenvolvimento. Tanto em casa como na escola, o esforço do estudante deve ser no sentido de aprender a estudar e a passar a outros os conhecimentos adquiridos. Seja qual for sua vocação, terá de ser durante toda a sua vida, tanto aluno como professor. Assim, poderá avançar continuamente, pondo em Deus a sua confiança, apegando-se Àquele que é infinito em sabedoria, que pode revelar os segredos ocultos durante séculos e resolver os mais difíceis problemas, para a mente que nEle crê. CBVc 178 1 A Palavra de Deus salienta grandemente a influência das companhias, mesmo sobre homens e mulheres. Quão maior não será sua força sobre a mente e caráter em desenvolvimento, das crianças e dos jovens! Aqueles com quem andam, os princípios que adotam, os hábitos que formam decidirão a questão de sua utilidade aqui, e de seus interesses futuros e eternos. CBVc 178 2 É um fato terrível, e que deve fazer tremer o coração dos pais, que em tantas escolas e colégios a que se mandam os jovens, em busca de cultura e disciplina intelectual, dominam influências que deturpam o caráter, desviam a mente dos verdadeiros objetivos da vida, e aviltam a moral. Mediante o contato com os irreligiosos, os amantes de prazeres e os corrompidos, muitíssimos jovens perdem a simplicidade e a pureza, a fé em Deus e o espírito de sacrifício que pais cristãos incentivaram e conservaram mediante cuidadosas instruções e fervorosas preces. CBVc 178 3 Muitos dos que entram na escola com o intuito de preparar-se para algum ramo de serviço desinteressado absorvem-se em estudos seculares. Desperta-se o desejo de alcançar distinções nos estudos e honras no mundo. Perde-se de vista o desígnio para que entraram na escola e a vida é dedicada a ocupações egoístas e mundanas. E formam-se muitas vezes hábitos que arruínam a vida tanto para este mundo como para o futuro. CBVc 178 4 Em geral, os homens e mulheres que possuem idéias abertas, desígnios altruístas e nobres aspirações são aqueles em quem estas características foram desenvolvidas mediante a convivência que tiveram nos primeiros anos de sua existência. Em todo o Seu trato com os filhos de Israel, Deus insistiu com eles sobre a importância de velar pela companhia que seus filhos mantinham. Todos os regulamentos da vida civil, religiosa e social eram feitos tendo em vista a preservação dos filhos contra as companhias prejudiciais, familiarizando-os, desde os mais tenros anos, com os preceitos e princípios da Lei de Deus. A lição objetiva proporcionada por ocasião do nascimento da nação era de natureza a impressionar profundamente todos os corações. Antes do derradeiro e terrível juízo que sobreveio aos egípcios com a morte dos primogênitos, Deus ordenou a Seu povo que reunisse seus filhos na própria casa. A ombreira de cada porta foi assinalada com sangue, e dentro da proteção oferecida por este sinal deviam todos permanecer. Assim hoje, os pais que amam e temem a Deus têm de guardar seus filhos dentro do "vínculo do concerto" (Ezequiel 20:37) -- dentro da proteção daquelas sagradas influências que se tornaram possíveis mediante o sangue remidor de Cristo. CBVc 179 1 Todos os que estão buscando trabalhar de acordo com os planos de educação de Deus hão de ter Sua graça mantenedora, Sua contínua presença, Seu poder protetor. A todos Ele diz: "Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo. [...] Não te deixarei nem te desampararei". Josué 1:9, 5. ------------------------Capítulo 34 -- O conhecimento de Deus CBVc 180 1 Como nosso Salvador, achamo-nos neste mundo para servir a Deus. Aqui nos achamos a fim de nos tornarmos semelhantes a Ele no caráter, revelando-O ao mundo mediante uma vida de serviço. Para sermos colaboradores Seus, para sermos semelhantes a Ele, e Lhe revelarmos o caráter, precisamos conhecê-Lo direito. Cumpre-nos conhecê-Lo tal como Ele Se revela a Si mesmo. CBVc 180 2 O conhecimento de Deus é o fundamento de toda verdadeira educação e de todo serviço verdadeiro. É a única salvaguarda real contra a tentação. Por ele, unicamente, nos podemos tornar semelhantes a Deus no caráter. CBVc 180 3 Esse é o conhecimento de que necessitam todos quantos estão trabalhando pelo reerguimento de seus semelhantes. Transformação de caráter, pureza de vida, eficiência no serviço, apego aos princípios corretos, tudo depende do justo conhecimento de Deus. Esse conhecimento é o preparo essencial tanto para esta como para a futura existência. CBVc 180 4 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria". Provérbios 9:10. CBVc 180 5 Mediante o Seu conhecimento é-nos dado "tudo o que diz respeito à vida e piedade". 2 Pedro 1:3. CBVc 180 6 "E a vida eterna é esta", disse Jesus, "que Te conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste". João 17:3. CBVc 180 7 "Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas". Romanos 1:20. CBVc 180 8 As coisas da natureza que agora contemplamos não nos dão senão uma fraca idéia da glória do Éden. O pecado manchou a beleza da Terra; podem-se ver em tudo os vestígios da obra do mal. Todavia, permanece muita coisa bela. A natureza testifica de que Alguém, infinito em poder, grande em bondade, misericórdia e amor, criou a Terra, enchendo-a de vida e alegria. Mesmo em seu estado defeituoso, todas as coisas revelam a mão-de-obra do Artista por excelência. Para onde quer que nos volvamos, podemos ouvir a voz de Deus, e ver testemunhos de Sua bondade. CBVc 180 9 Desde o solene ribombar do trovão e o incessante bramir do velho oceano, aos festivos cânticos que fazem as florestas palpitantes de melodia, as milhares de vozes da natureza entoam-Lhe os louvores. Na Terra e no mar e no espaço, com suas maravilhosas cores e matizes, variando em suntuoso contraste ou combinando-se em harmonia, nós Lhe contemplamos a glória. As montanhas eternas falam-nos de Seu poder. As árvores, agitando os verdes leques ao sol, e as flores em sua delicada beleza, apontam para seu Criador. O verde vivo, que atapeta a bronzeada terra, fala do cuidado de Deus para com a mais humilde de Suas criaturas. As profundezas do mar e as entranhas da terra revelam-Lhe os tesouros. Aquele que pôs as pérolas no oceano e a ametista e o crisólito entre as rochas é um amante do belo. O Sol que se ergue no firmamento é um representante dAquele que é a vida e a luz de todos quantos foram por Ele criados. Todo esplendor e beleza que adornam a Terra e Abrilhantam os Céus falam de Deus. CBVc 181 1 "Sua glória cobriu os Céus". Hebreus 3:3. "Cheia está a Terra das Tuas riquezas". Salmos 104:24. CBVc 181 2 "Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da Terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo". Salmos 19:2-4. CBVc 181 3 Todas as coisas falam do Seu terno e paternal cuidado, e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos. CBVc 181 4 A natureza não é Deus -- A mão-de-obra de Deus em a natureza não é o próprio Deus em a natureza. As coisas da natureza são uma expressão do caráter e do poder de Deus; não devemos, porém, considerá-la como Deus. A habilidade artística das criaturas humanas produz obras muito belas, coisas que deleitam a vista; e essas coisas nos revelam algo de seu autor; a obra feita não é, no entanto, seu autor. Não é a obra, mas o obreiro, que é considerado digno de honra. Assim, ao passo que a natureza é uma expressão do pensamento de Deus, não é a natureza, mas o Deus da natureza que deve ser exaltado. CBVc 181 5 "Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do Senhor. [...] Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra, e as alturas dos montes são Suas. Seu é o mar, pois Ele o fez, e as Suas mãos formaram a terra seca". Salmos 95:6, 4, 5. CBVc 181 6 A criação da Terra -- A obra da criação não pode ser explicada pela ciência. Que ciência pode explicar o mistério da vida? CBVc 181 7 "Pela fé, entendemos que os mundos, pela Palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente". Hebreus 11:3. CBVc 181 8 "Eu formo a luz e crio as trevas; [...] Eu, o Senhor, faço todas essas coisas. [...] Eu fiz a Terra e criei nela o homem; Eu o fiz; as Minhas mãos estenderam os céus e a todos os seus exércitos dei as Minhas ordens". Isaías 45:7, 12. "Eu os chamarei, e aparecerão juntos." Isaías 48:13. CBVc 181 9 Na criação da Terra, Deus não dependeu de matéria preexistente. "Falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu". Salmos 33:9. Todas as coisas, materiais ou espirituais, apareceram diante do Senhor Jeová à Sua palavra, e foram criadas para Seu próprio desígnio. Os Céus e todo o seu exército, a Terra e tudo quanto nela há, vieram à existência pelo sopro de Sua boca. CBVc 182 1 Na criação do homem, manifestou-se a atuação de um Deus pessoal. Quando Deus fizera o homem à Sua imagem, a forma humana era perfeita, mas jazia inanimada. Então um Deus pessoal, de existência própria, soprou naquela forma o fôlego da vida, e o homem tornou-se um ser vivo, inteligente. Todas as partes do seu organismo se puseram em ação. O coração, as artérias, as veias, a língua, as mãos, os pés, os sentidos, as faculdades da mente, tudo se pôs a funcionar, sendo todos submetidos a uma lei. O homem tornou-se alma vivente. Mediante Cristo, a Palavra, um Deus pessoal criou o homem, dotando-o de inteligência e poder. CBVc 182 2 Nossa matéria não Lhe era oculta quando, em segredo, fomos formados; Seus olhos viram essa matéria ainda informe, e em Seu livro todos os nossos membros foram escritos, quando ainda nenhum deles havia. CBVc 182 3 Deus designou que, acima de todas as ordens inferiores de seres, o homem, a coroa de Sua criação, exprimisse Seus pensamentos, e Lhe revelasse a glória. Mas o homem não se deve exaltar como Deus. CBVc 182 4 "Celebrai com júbilo ao Senhor, [...] Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a Ele com canto. "Sabei que o Senhor é Deus; foi Ele, e não nós, que nos fez povo Seu e ovelhas do Seu pasto. "Entrai pelas portas dEle com louvor e em Seus átrios, com hinos; Louvai-O e bendizei o Seu nome". Salmos 100:1-4. CBVc 182 5 "Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e adorai-O no Seu santo monte, porque o Senhor, nosso Deus, é santo". Salmos 99:9. CBVc 182 6 Deus está continuamente ocupado em manter e empregar como servos as coisas que criou. Opera por meio das leis da natureza, delas Se servindo como instrumentos Seus. Elas não agem por si mesmas. A natureza, em sua obra, testifica da presença inteligente e da atividade de um Ser que opera em tudo segundo a Sua vontade. CBVc 182 7 "Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu. A Tua fidelidade estende-se de geração em geração; Tu firmaste a Terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas Te obedecem". Salmos 119:89-91. CBVc 182 8 Não é por um poder a ela inerente que ano após ano a terra produz suas fartas colheitas, e continua sua marcha ao redor do Sol. A mão do Infinito está em perpétua operação, guiando este planeta. É o poder de Deus em contínuo exercício que mantém a Terra em equilíbrio em sua rotação. É Deus que faz o Sol se erguer nos céus. Abre as janelas do céu e dá a chuva. CBVc 182 9 "Dá a neve como lã e Esparge a geada como cinza" Salmos 147:16. CBVc 182 10 "Fazendo Ele soar a voz, logo há arruído de águas no céu, E sobem os vapores da extremidade da terra; Ele faz os relâmpagos para a chuva E faz sair o vento dos Seus tesouros". Jeremias 10:13. CBVc 183 1 O mecanismo do corpo humano não pode ser plenamente compreendido; apresenta mistérios que desconcertam o mais inteligente. Não é em resultado de um mecanismo que, uma vez posto a funcionar, continua sua obra, que o pulso bate, e respiração se segue a respiração. Em Deus vivemos e nos movemos, e existimos. O coração palpitante, o pulso em seu ritmo, cada nervo e músculo do organismo vivo é mantido em ordem e atividade pelo poder de um Deus sempre presente. CBVc 183 2 A Bíblia nos mostra Deus em Seu alto e santo lugar, não em um estado de inatividade, não em silêncio e solidão, mas circundado por miríades de miríades e milhares de milhares de seres santos, todos esperando por fazer a Sua vontade. Por meio desses mensageiros, Ele está em ativa comunicação com todas as partes de Seus domínios. Por Seu Espírito está presente em toda parte. Por meio de Seu Espírito e dos anjos, ministra aos filhos dos homens. CBVc 183 3 Acima das perturbações da Terra, está Ele sentado em Seu trono; tudo está patente ao Seu exame; e de Sua grande e serena eternidade, ordena aquilo que melhor parece a Sua providência. CBVc 183 4 "Não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha, o dirigir os seus passos". Jeremias 10:23. CBVc 183 5 "Confia no Senhor de todo o teu coração. [...] Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas". Provérbios 3:5, 6. CBVc 183 6 "Os olhos do Senhor estão sobre os que O temem, sobre os que esperam na Sua misericórdia, para livrar a sua alma da morte e para os conservar vivos na fome". Salmos 33:18. CBVc 183 7 A personalidade de Deus revelada em Cristo -- Como Ser pessoal, Deus Se revelou em Seu Filho. O resplendor da glória do Pai, "a expressa imagem da Sua pessoa" (Hebreus 1:3), como um Salvador pessoal, Jesus veio ao mundo. Como um Salvador pessoal, subiu Ele ao Céu. Como um Salvador pessoal, Ele intercede nas cortes celestes. Perante o trono de Deus, intercede em nosso favor "Um semelhante ao Filho do homem". Apocalipse 1:13. CBVc 183 8 Cristo, a luz do mundo, velou o ofuscante esplendor de Sua divindade, e veio viver como homem entre os homens, a fim de que eles pudessem, sem ser consumidos, vir a relacionar-se com seu Criador. Desde que o pecado trouxe separação entre o homem e Aquele que o fizera, homem algum viu, em qualquer tempo, a Deus, a não ser segundo Ele Se manifesta por intermédio de Cristo. CBVc 183 9 "Eu e o Pai somos um", declarou Cristo. João 10:30. "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar". Mateus 11:27. CBVc 183 10 Cristo veio para ensinar às criaturas humanas aquilo que Deus deseja que elas conheçam. Em cima nos Céus, na Terra, na vastidão do oceano, vemos a obra das mãos de Deus. Todas as coisas criadas testificam de Seu poder, Sua Sabedoria, Seu amor. Todavia não nos é possível, por meio das estrelas ou do oceano ou da catarata, aprender da personalidade de Deus o que nos é revelado em Cristo. CBVc 184 1 Deus viu que era necessária uma mais clara revelação, tanto de Sua personalidade como de Seu caráter, do que a que nos é oferecida pela natureza. Enviou Seu filho ao mundo para, tanto quanto a vista humana podia suportar, manifestar a natureza e os atributos do Deus invisível. CBVc 184 2 Revelado aos discípulos -- Estudemos as palavras proferidas por Cristo no cenáculo, na véspera de Sua crucifixão. Aproximava-se a hora de Seu julgamento, e Ele buscou confortar os discípulos, que deviam ser tão rigorosamente provados. CBVc 184 3 "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar." "Disse-Lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu Pai; e já desde agora O conheceis e O tendes visto. [...] "Senhor, mostra-nos o Pai", disse Filipe, "o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras". João 14:1, 2, 5-10. CBVc 184 4 Os discípulos ainda não compreendiam as palavras de Cristo quanto a Sua relação para com Deus. Muito do Seu ensino ainda lhes era obscuro. Cristo desejava que eles tivessem um mais claro, mais distinto conhecimento de Deus. CBVc 184 5 "Disse-vos isso por parábolas", disse Ele; "chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai". João 16:25. CBVc 184 6 Quando, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, eles entenderam mais claramente as verdades que Jesus lhes dissera por parábolas. Muito dos ensinos que lhes haviam sido um mistério, tornou-se-lhes claro. Mas nem mesmo então receberam os discípulos o pleno cumprimento da promessa de Cristo. Receberam relativamente a Deus todo o conhecimento que lhes era possível suportar, mas o completo cumprimento da promessa de que Cristo lhes havia de mostrar plenamente o Pai estava por vir. Assim acontece hoje em dia. Nosso conhecimento de Deus é parcial e imperfeito. Quando o conflito terminar, e o Homem Cristo Jesus reconhecer perante o Pai os Seus fiéis obreiros, que num mundo de pecado dEle têm dado um verdadeiro testemunho, compreenderão eles claramente o que agora lhes é mistério. CBVc 185 1 Cristo levou consigo para as cortes celestes a Sua glorificada humanidade. Aos que O recebem, Ele dá poder para se tornarem filhos de Deus, para que enfim possa recebê-los como Seus, para com Ele habitar por toda a eternidade. Se durante esta vida forem leais a Deus, afinal "verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome". Apocalipse 22:4. E qual é a felicidade do Céu, senão ver a Deus? Que maior alegria poderia sobrevir ao pecador salvo pela graça de Cristo do que contemplar o rosto de Deus, e conhecê-Lo como Pai? CBVc 185 2 As Escrituras indicam claramente a relação entre Deus e Cristo, apresentando com igual clareza a personalidade e individualidade de cada um. CBVc 185 3 "Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho. O qual, sendo [...] a expressa imagem da Sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-Se à destra da Majestade, nas alturas; feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Porque a qual dos anjos disse jamais: Tu és Meu Filho, hoje Te gerei? E outra vez: Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho?" Hebreus 1:1, 3-5. CBVc 185 4 A personalidade do Pai e do Filho, bem como a unidade existente entre Eles, é apresentada no capítulo dezessete de João, na oração de Cristo por Seus discípulos: "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela Sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste". João 17:20, 21. CBVc 185 5 A unidade que existe entre Cristo e Seus discípulos não anula a personalidade de nenhum. São um em desígnio, mente, em caráter, mas não em pessoa. É assim que Deus e Cristo são um. CBVc 185 6 O caráter de Deus revelado em Cristo -- Tomando sobre Si a humanidade, Cristo veio ser um com a humanidade, e ao mesmo tempo revelar às pecadoras criaturas humanas o Pai celestial. Aquele que estivera na presença do Pai, desde o princípio, Aquele que era a expressa imagem do invisível Deus, era o único habilitado a revelar à humanidade o caráter divino. Em tudo Ele foi feito semelhante a Seus irmãos. Fez-Se carne, tal qual nós somos. Sentia fome e sede e fadiga. Era sustentado pelo alimento, e refrigerado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens; era, todavia, o imaculado Filho de Deus. Era um estrangeiro e peregrino na Terra -- estava no mundo, mas não era do mundo; tentado e provado como o são os homens e as mulheres de hoje, e vivendo não obstante uma vida isenta de pecado. Terno, compassivo, cheio de simpatia, sempre atencioso para com os outros, Ele representava o caráter de Deus, achando-Se continuamente empenhado em serviço para com o Senhor e o homem. CBVc 186 1 "O Senhor Meu ungiu", disse Ele, "Para pregar boas-novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos" Isaías 61:1. CBVc 186 2 "A dar vista aos cegos". Lucas 4:19. CBVc 186 3 "A apregoar o ano aceitável do Senhor; [...] "A consolar todos os tristes". Isaías 61:2. CBVc 186 4 "Amai a vossos inimigos", ordena-nos Ele; "bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus" (Mateus 5:44, 45); "porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus". Lucas 6:35. "Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos". Mateus 5:45. "Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso". Lucas 6:36. CBVc 186 5 "Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, [...] O Oriente do alto nos visitou, para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra de morte, a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz". Lucas 1:78, 79. CBVc 186 6 A glória da cruz -- A revelação do amor de Deus para com os homens centraliza-se na cruz. A língua não pode exprimir Sua inteira significação, a pena é impotente para descrever, incapaz a mente humana de a penetrar. Olhando à cruz do Calvário, só nos é possível dizer: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. CBVc 186 7 Cristo crucificado por nossos pecados, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo elevado ao alto, eis a ciência de salvação que temos de aprender e ensinar. CBVc 186 8 O conhecimento que transforma -- O conhecimento de Deus segundo a revelação dada em Cristo, eis o que devem ter todos quantos se salvam. É o conhecimento que opera transformação no caráter. Recebido, esse conhecimento recriará a alma à imagem de Deus. Comunicará a todo o ser um poder espiritual que é divino. CBVc 186 9 "Todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem." 2 Coríntios 3:18. CBVc 186 10 Falando da própria vida, o Salvador disse: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai". João 15:10. "O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada". João 8:29. Deus pretende que os Seus seguidores sejam o que Jesus foi quando revestido da natureza humana. Cumpre-nos, em Sua força, viver a vida pura e nobre que o Salvador viveu. CBVc 186 11 "Por causa disto", diz Paulo, "me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos Céus e na Terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus". Efésios 3:14-19. CBVc 187 1 "Não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo". Colossences 1:9-11. CBVc 187 2 É esse o conhecimento que Deus nos está convidando a receber, e ao pé do qual tudo mais é vaidade e nada. ------------------------Capítulo 35 -- O perigo do conhecimento especulativo CBVc 188 1 Um dos maiores males que acompanham a busca do conhecimento, as pesquisas da ciência, é a disposição de exaltar o raciocínio humano acima de seu real valor e sua devida esfera. Muitos tentam julgar o Criador e Suas obras mediante o imperfeito conhecimento que possuem da ciência. Esforçam-se por determinar a natureza e os atributos e as prerrogativas de Deus, e condescendem com teorias especulativas com relação ao Infinito. Os que se entregam a esse ramo de estudo estão pisando terreno proibido. Suas pesquisas não produzirão resultados de valor, só podendo ser prosseguidas com perigo para a alma. CBVc 188 2 Nossos primeiros pais foram induzidos ao pecado mediante a condescendência com o desejo de conhecimento que lhes fora vedado por Deus. Procurando adquirir esse conhecimento, perderam tudo quanto valia a pena possuir-se. Se Adão e Eva nunca houvessem tocado a árvore proibida, Deus lhes haveria comunicado conhecimento sobre o qual não haveria pousado qualquer maldição de pecado, conhecimento que lhes haveria trazido perpétua alegria. Tudo quanto eles obtiveram por dar ouvidos ao tentador foi o relacionarem-se com a ciência do pecado e seus resultados. Por sua desobediência, a humanidade foi afastada de Deus, e a Terra separada do Céu. CBVc 188 3 Apliquemos a nós esta lição. O campo a que Satanás levou nossos primeiros pais é o mesmo a que ele está hoje em dia seduzindo os homens. Está inundando o mundo de aprazíveis fábulas. Por todos os meios ao seu alcance, tenta os homens a especular com relação a Deus. Busca assim impedi-los de obter a Seu respeito aquele conhecimento que é salvação. CBVc 188 4 Teorias panteístas -- Ensinos espiritualistas que minam a fé em Deus e em Sua Palavra estão atualmente penetrando as instituições educativas e as igrejas por toda parte. A teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a natureza é aceita por muitos que professam crer nas Escrituras; mas, se bem que revestida de belas roupagens, essa teoria é perigosíssimo engano. Ela representa falsamente a Deus, sendo uma desonra para Sua grandeza e majestade. E tende por certo não somente a extraviar como a rebaixar os homens. As trevas são o seu elemento, a sensualidade a sua esfera. O resultado de aceitá-la é separação de Deus. E para a caída natureza humana isso resulta em ruína. CBVc 189 1 Devido ao pecado, nossa condição não é natural, e deve ser sobrenatural o poder que nos restaura, do contrário, não tem valor. Existe unicamente um poder capaz de quebrar o domínio do mal no coração dos homens, e esse é o poder de Deus em Jesus Cristo. Unicamente por meio do sangue do Crucificado existe purificação do pecado. Sua graça, tão-somente, nos habilita a resistir e subjugar as tendências de nossa natureza caída. As teorias espiritualistas a respeito de Deus tornam Sua graça de nenhum efeito. Se Deus é uma essência que permeia toda a natureza, habita por conseguinte em todos os homens; e, para atingir a santidade, o homem não tem senão que desenvolver o poder que está dentro dele mesmo. CBVc 189 2 Seguidas até sua conclusão lógica, essas teorias assolam toda a dispensação cristã. Removem a necessidade da expiação, tornando o homem seu próprio salvador. Essas teorias acerca de Deus fazem de nenhum efeito a Sua Palavra, e os que as aceitam estão em maior risco de vir afinal a considerar a Bíblia inteira como uma ficção. Podem considerar a virtude como superior ao vício; havendo, porém, excluído a Deus de Sua devida posição de soberania, põem sua confiança no poder humano, o qual, sem Deus, é destituído de valor. A vontade humana, desajudada, não tem nenhum poder real para resistir ao mal e vencê-lo. As defesas da alma acham-se derribadas. O homem não tem barreiras contra o pecado. Uma vez rejeitadas as restrições da Palavra de Deus e de Seu Espírito, não sabemos a que profundezas uma pessoa pode imergir. CBVc 189 3 "Toda Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nEle. Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso". Provérbios 30:5, 6. CBVc 189 4 "Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido". Provérbios 5:22. CBVc 189 5 Interesse nos mistérios divinos -- "As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre". Deuteronômio 29:29. A revelação que Deus de Si mesmo deu em Sua Palavra é para nosso estudo. Esta, podemos procurar compreender. Mas além disto não devemos penetrar. O mais elevado intelecto pode esforçar-se até à exaustão em conjeturas concernentes à natureza de Deus, mas infrutíferos serão os esforços. Esse problema não nos foi dado a solver. Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. Ninguém se deve entregar a especulações com referência a Sua natureza. A esse respeito, o silêncio é eloqüente. O Onisciente está acima de discussão. CBVc 190 1 Mesmo os anjos não tiveram permissão de partilhar nos conselhos entre o Pai e o Filho quando foi delineado o plano da salvação. E as criaturas humanas não se devem intrometer nos segredos do Altíssimo. Somos tão ignorantes acerca de Deus como criancinhas; mas, como criancinhas, é-nos dado amá-Lo e obedecer-Lhe. Em lugar de especular quanto a Sua natureza ou Suas prerrogativas, demos ouvidos às palavras que falou: CBVc 190 2 "Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a Terra; e mais larga do que o mar". Jó 11:7-9. CBVc 190 3 Nem sondando os recessos da Terra, nem mediante vãos esforços para penetrar os mistérios do divino Ser, se encontra a sabedoria. Ela é antes encontrada no humilde recebimento da revelação que Lhe tem parecido bem conceder-nos, e na conformação da vida com a Sua vontade. CBVc 190 4 Os homens de mais poderoso intelecto não podem compreender os mistérios de Jeová, segundo se revelam em a natureza. A inspiração divina faz muitas perguntas que o mais profundo erudito não sabe responder. Essas perguntas não foram feitas para que as respondêssemos, mas para chamar nossa atenção para os profundos mistérios de Deus, e ensinar-nos a limitação de nossa sabedoria. No que nos rodeia na vida diária, existem muitas coisas além da compreensão de seres finitos. CBVc 190 5 Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque não podem compreender o infinito poder pelo qual Ele Se revela. Mas Deus deve ser reconhecido, tanto pelo que não revela de Si mesmo como por aquilo que é franqueado à nossa limitada compreensão. Tanto na divina revelação como na natureza, Ele deixou mistérios a fim de reclamar a nossa fé. Assim deve ser. Devemos estar sempre indagando, sempre pesquisando, sempre aprendendo, e resta todavia um infinito para o além. CBVc 190 6 "Por que, pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: o Meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da Terra, nem Se cansa, nem Se fatiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento". Isaías 40:25-28. CBVc 190 7 Aprendamos, das revelações dadas pelo Espírito Santo a Seus profetas, a grandeza de nosso Deus. Escreve o profeta Isaías: "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o Seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dEle; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. CBVc 191 1 "Então, disse eu: Ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! CBVc 191 2 "Mas um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado". Isaías 6:1-7. CBVc 191 3 À medida que aprendermos mais acerca de Deus e de nós mesmos, do que somos aos Seus olhos, havemos de temer e tremer diante dEle. Que os homens de hoje sejam advertidos pela situação daqueles que, antigamente, presumiram permitindo-se liberdade com aquilo que Deus declara santo. Quando os israelitas se atreveram a abrir a arca, ao voltar ela da terra dos filisteus, sua irreverente ousadia foi assinaladamente punida. CBVc 191 4 Considerai ainda o juízo que caiu sobre Uzá. Quando, no reinado de Davi, a arca ia sendo levada a Jerusalém, Uzá estendeu a mão para mantê-la firme. Por ousar tocar o símbolo da presença de Deus, foi ferido de morte instantânea. CBVc 191 5 Na sarça ardente, quando Moisés, não reconhecendo a presença de Deus, dirigiu-se para contemplar a maravilhosa visão, foi dada a ordem: "Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. [...] E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus". Êxodo 3:5, 6. CBVc 191 6 "Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã. E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o Sol era posto; e tomou uma das pedras, [...] e a pôs por sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus, e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela e disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito. Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos Céus". Gênesis 28:10-13, 15-17. CBVc 191 7 No santuário do tabernáculo do deserto e do templo, que eram os símbolos terrestres da habitação de Deus, um aposento era sagrado por Sua presença. O véu bordado de querubins, à sua entrada, não devia ser erguido por nenhuma mão, com exceção de uma. Levantar aquele véu, e entrar, sem ser mandado, no sagrado mistério do santo dos santos, importava em morte. Pois acima do propiciatório repousava a glória do Santíssimo -- glória a que homem algum podia olhar e viver. No dia do ano que era designado para ministrar no lugar santíssimo, o sumo sacerdote, tremendo, entrava à presença de Deus, ao passo que nuvens de incenso velavam a seus olhos a glória. Por todo o pátio do templo silenciava tudo. Nenhum sacerdote ministrava no altar. A hoste de adoradores, curvados em silencioso respeito, orava implorando a misericórdia de Deus. CBVc 192 1 "Tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. "O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra". Habacuque 2:20. CBVc 192 2 O homem não pode, mediante pesquisas, achar a Deus. Ninguém, com mão presunçosa, busque erguer o véu que Lhe oculta a glória. "Insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!" Romanos 11:33. É uma prova de Sua misericórdia o ser oculto o Seu poder; pois erguer o véu que oculta a divina presença é morte. Nenhuma mente humana pode penetrar no retiro em que o Poderoso habita e opera. Unicamente aquilo que Ele acha por bem revelar podemos dEle compreender. A razão precisa reconhecer uma autoridade superior a ela. O coração e o intelecto precisam dobrar-se diante do grande Eu Sou. ------------------------Capítulo 36 -- O falso e o verdadeiro na educação CBVc 193 1 O mentor intelectual na confederação do mal trabalha continuamente para manter afastadas as palavras de Deus, e apresentar as opiniões dos homens. Ele quer que não ouçamos a voz de Deus dizendo: "Este é o caminho; andai nele". Isaías 30:21. Mediante pervertidos processos educativos está ele fazendo o possível para obscurecer a luz celeste. CBVc 193 2 Especulações filosóficas e pesquisas científicas em que Deus não é reconhecido estão tornando céticos a milhares. Nas escolas de hoje são cuidadosamente ensinadas e amplamente expostas as conclusões a que os doutos têm chegado em resultado de suas pesquisas científicas; por outro lado é francamente dada a impressão de que, se esses homens estão certos, não o pode estar a Bíblia. O ceticismo exerce atração sobre o espírito humano. A juventude nele vê uma independência que lhe seduz a imaginação, e é iludida. Satanás triunfa. Ele alimenta toda semente de dúvida lançada no coração juvenil. Faz com que ela cresça e dê frutos, e resulta em farta colheita de incredulidade. CBVc 193 3 É por ser o coração humano tão inclinado ao mal que se torna tão perigoso semear o ceticismo nos espíritos jovens. Seja o que for que enfraqueça a fé em Deus, rouba a alma do poder de resistir à tentação. Remove a única salvaguarda real contra o pecado. Precisamos de escolas em que a juventude aprenda que a grandeza consiste em honrar a Deus mediante a revelação de Seu caráter na vida diária. Necessitamos aprender acerca de Deus por meio de Sua Palavra e obras, a fim de nossa vida poder cumprir o Seu desígnio. CBVc 193 4 Autores incrédulos -- Para educar-se, muitos julgam ser essencial estudar os escritos dos autores incrédulos, visto essas obras conterem muitas brilhantes gemas de pensamento. Quem foi, porém, o autor dessas jóias de pensamento? Deus, e unicamente Ele. É Ele a fonte de toda luz. Por que haveríamos então de vadear pela massa de erros contidos nas obras dos incrédulos, por amor de algumas verdades intelectuais, quando temos a verdade toda à nossa disposição? CBVc 193 5 Como os homens que se acham em guerra com o governo de Deus chegam a ficar de posse da sabedoria que por vezes manifestam? O próprio Satanás foi educado nas cortes celestes, e tem o conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isto que o habilita a enganar. Mas, pelo fato de se haver Satanás revestido de roupagens de celeste esplendor, havemos de recebê-lo como anjo de luz? O tentador tem agentes, educados segundo seus métodos inspirados por seu espírito, e adaptados a sua obra. Cooperaremos nós com eles? Receberemos as obras desses instrumentos como essenciais à educação que desejamos obter? CBVc 194 1 Se o tempo e os esforços gastos em tentar aprender as luminosas idéias dos incrédulos fossem consagrados a estudar as preciosidades da Palavra de Deus, milhares dos que agora se acham assentados em trevas e sombras de morte se estariam regozijando na glória da Luz da vida. CBVc 194 2 Saber histórico e teológico -- Muitos julgam ser essencial, como preparo para a obra cristã, adquirir amplos conhecimentos dos escritos históricos e teológicos. Supõem que esse conhecimento lhes será de utilidade no ensino do evangelho. Mas seu laborioso estudo das opiniões dos homens tende a enfraquecer-lhes o ministério, em vez de fortalecê-lo. Quando vejo bibliotecas cheias de alentados volumes de conhecimentos de História e Teologia, penso: Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? O sexto capítulo de João nos diz mais do que se pode encontrar em tais obras. Cristo diz: "Eu sou o pão da vida; Aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre. [...] Aquele que crê em Mim tem a vida eterna. As palavras que Eu vos disse são Espírito e vida". João 6:35, 51, 47, 63. CBVc 194 3 Há um estudo de História que não é condenável. A história sagrada era um dos estudos das escolas dos profetas. No registro de Seu trato com as nações, foram delineadas as pegadas de Jeová. Assim hoje em dia cumpre-nos considerar Seu trato com as nações da Terra. Devemos ver na História o cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos de reforma, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito. CBVc 194 4 Tal estudo proporcionará amplas e compreensivas visões da vida. Auxiliar-nos-á a entender alguma coisa de suas relações e dependências, quão maravilhosamente nos achamos ligados na grande fraternidade social e das nações, e em que grande medida a opressão e o aviltamento de um membro importam em prejuízo de todos. CBVc 194 5 Mas a História como é comumente estudada ocupa-se com os feitos dos homens, suas vitórias nas batalhas, seu êxito na realização do poder e da grandeza. Perde-se de vista a atuação de Deus nos negócios dos homens. Poucos são os que estudam o desenvolvimento de Seu desígnio no reerguimento e queda das nações. CBVc 195 1 E, em alto grau, a teologia, segundo é estudada e ensinada, não passa de um registro de especulações humanas, servindo apenas para escurecer "o conselho com palavras sem conhecimento". Jó 38:2. Com demasiada freqüência o motivo de acumular esses muitos livros não é tanto o desejo de obter alimento para a mente e a alma, como a ambição de se relacionar com os filósofos e teólogos, o desejo de apresentar ao povo o cristianismo em termos e frases eruditos. CBVc 195 2 Nem todos os livros escritos podem servir aos desígnios de uma vida santa. "Aprendei de Mim", disse o grande Mestre. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração". Mateus 11:29. Vosso orgulho intelectual não vos ajudará em comunicar com as almas que estão perecendo por falta do pão da vida. Em vosso estudo desses livros, estais permitindo que eles tomem o lugar das lições práticas que devíeis estar aprendendo de Cristo. O povo não se alimenta com os resultados deste estudo. Bem pouco das pesquisas tão fatigantes para a mente proporciona qualquer coisa de valioso para alguém se tornar um bem-sucedido obreiro em favor da salvação. CBVc 195 3 O Salvador veio "evangelizar os pobres". Lucas 4:18. Em Seus ensinos empregava os termos mais simples e os mais singelos símbolos. E foi dito que "a grande multidão O ouvia de boa vontade". Marcos 12:37. Os que estão buscando fazer Sua obra neste tempo necessitam mais profunda visão das lições por Ele dadas. CBVc 195 4 As palavras do Deus vivo constituem a mais elevada educação. Os que ministram ao povo precisam comer do pão da vida. Isso lhes dará vigor espiritual; estarão assim preparados para ajudar a todas as classes de gente. CBVc 195 5 A literatura sensacionalista -- Muitas das publicações hoje se acham repletas de histórias sensacionais, que estão educando os jovens na impiedade, e conduzindo-os ao caminho da perdição. Muitas crianças na idade são velhos no conhecimento do crime. São incitadas ao mal pelos contos que lêem. Ensaiam, na imaginação, os atos descritos, até que se lhes desperta a ambição de ver de que são capazes quanto a cometer crimes e escapar à pena. CBVc 195 6 Para a viva imaginação das crianças e jovens, as cenas descritas em imaginárias revelações do futuro são realidades. Ao serem preditas revoluções e descrita toda forma de acontecimentos que derribam as barreiras da lei e da restrição ao próprio eu, muitos se possuem do espírito dessas imaginações. São levados à prática de crimes ainda piores, se possível, que os descritos por esses escritores sensacionalistas. Mediante influências assim a sociedade está se desmoralizando. As sementes da anarquia são amplamente difundidas. Ninguém se maravilhe se a colheita de crimes é o fruto. CBVc 195 7 Obras de romance, frívolos e provocantes contos, pouco menos ruinosos são ao leitor. Talvez o autor professe ensinar uma lição de moral, pode entretecer na obra sentimentos religiosos; freqüentemente, porém, isso não serve senão para velar a loucura e a vileza que se acham no fundo. CBVc 196 1 O mundo está inundado de livros repletos de erros sedutores. A juventude recebe como verdade aquilo que a Bíblia denuncia como falso, e amam e se apegam a enganos que importam em ruína para sua salvação. CBVc 196 2 Há obras de ficção que foram escritas com o objetivo de ensinar verdades ou expor algum grande mal. Algumas dessas obras têm feito bem. Têm, por outro lado, operado indizível dano. Encerram declarações e descrições altamente elaboradas, que despertam a imaginação e suscitam uma corrente de pensamentos repleta de perigo, especialmente para os jovens. As cenas descritas são repetidamente vividas em sua imaginação. Tais leituras incapacitam a mente para a utilidade, tornando-a inapta para os exercícios espirituais. Destroem o interesse na Bíblia. As coisas celestiais pouco lugar encontram nos pensamentos. À medida que a mente se demora nas cenas de impureza descritas, desperta-se a paixão, e o fim é o pecado. CBVc 196 3 Mesmo a ficção que não contém nenhuma sugestão de impureza, e que visa ensinar excelentes princípios, é nociva. Anima o hábito da leitura apressada e superficial, unicamente pela história. Tende assim a destruir a faculdade de pensar com coerência e vigor; incapacita a alma para contemplação dos grandes problemas do dever e do destino. CBVc 196 4 Alimentando o amor de mera distração, a leitura de ficção cria um desgosto pelos deveres práticos da vida. Por meio de seu poder estimulante e intoxicador, é freqüente causa de enfermidades mentais e físicas. Muito desgraçado e negligenciado lar, muito inválido por toda a existência, muito interno de asilo de alienados, chegou a esse estado mediante o hábito da leitura de romances. CBVc 196 5 Alega-se muitas vezes que, a fim de se desviar a juventude das leituras sensacionais e indignas, deveríamos proporcionar-lhes melhor espécie de leitura de ficção. Isso equivale a tentar a cura de um bêbado dando-lhe, em lugar de uísque ou aguardente, os intoxicantes mais brandos, como vinho, cerveja ou sidra. O uso desses animaria continuamente o desejo dos estimulantes mais fortes. A única segurança para os bêbados, bem como para o homem temperante, é a total abstinência. A mesma regra se aplica ao amante de ficção. Sua única segurança é a total abstinência. CBVc 196 6 Mitos e contos de fadas -- Na educação das crianças e dos jovens, dá-se agora importante lugar aos contos de fadas, mitos e histórias imaginárias. Usam-se nas escolas livros desta natureza, e encontram-se também os mesmos em muitos lares. Como podem pais cristãos permitir que seus filhos usem livros tão cheios de mentiras? Quando as crianças pedem a explicação de histórias tão contrárias aos ensinos recebidos de seus pais, a resposta é que essas histórias não são verdadeiras; mas isso não dissipa os maus resultados de seu uso. As idéias apresentadas nesses livros desencaminham as crianças. Comunicam falsas idéias da vida, suscitando e nutrindo o desejo pelo irreal. CBVc 197 1 O vasto uso desses livros em nossos dias é um dos astutos planos de Satanás. Ele está procurando desviar a mente, tanto de idosos como de jovens, da grande obra da formação do caráter. Pretende que nossas crianças e jovens sejam devastados pelos enganos destruidores da alma com que ele está enchendo o mundo. Portanto, busca desviar-lhes a mente da Palavra de Deus, impedindo-os assim de obter o conhecimento das verdades que os salvaguardariam. CBVc 197 2 Nunca deveriam ser colocados nas mãos da infância e da juventude livros que contenham uma perversão da verdade. Não permitamos que nossos filhos, no próprio processo de adquirir educação, recebam idéias que se demonstrarão sementes de pecado. Se os de espírito amadurecido nada tiverem que ver com tais livros, achar-se-ão, mesmo eles, muito mais a salvo, e seu exemplo bem como sua influência do lado do correto tornaria muito menos difícil guardar a juventude da tentação. CBVc 197 3 Temos abundância do que é real, do que é divino. Os que têm sede de conhecimento não precisam dirigir-se a fontes poluídas. Diz o Senhor: CBVc 197 4 "Inclina o teu ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o teu coração à Minha ciência. Para que a tua confiança esteja no Senhor, a ti tas faço saber hoje. [...] "Porventura, não te escrevi excelentes coisas acerca de todo conselho e conhecimento, para te fazer saber a certeza das palavras de verdade, para que possas responder palavras de verdade aos que te enviarem?" Provérbios 22:17, 19-21. CBVc 197 5 O ensino de Cristo -- Assim também Cristo apresentou os princípios da verdade no evangelho. Podemos, em Seus ensinos, beber das puras correntes que brotam do trono de Deus. Cristo poderia haver comunicado aos homens conhecimentos que ultrapassariam a quaisquer revelações anteriores, deixando para trás todas as outras descobertas. Poderia haver descerrado mistério após mistério, e fazer concentrar em torno dessas maravilhosas revelações o ativo e diligente pensamento das sucessivas gerações até ao fim do tempo. Do ensino da ciência da salvação, não tirou um momento. Seu tempo, Suas faculdades e Sua vida só eram apreciadas e empregadas em prol da salvação das almas humanas. Ele viera buscar e salvar o que se tinha perdido, e não Se desviaria de Seu propósitos. Não permitiria que coisa alguma O distraísse. CBVc 197 6 Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo limitavam-se às próprias necessidades que tinham na vida prática. Não satisfazia à curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras perguntas. Todas essas perguntas em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida. Encontravam cerrados todos os caminhos que não fossem aqueles que conduzem a Deus. Fechadas estavam todas as fontes, a não ser a da vida eterna. CBVc 198 1 Nosso Salvador não animava ninguém a freqüentar as escolas dos rabinos de Sua época, pelo fato de que a mente se corromperia com o continuamente repetido: "Dizem", ou: "Foi dito". Como, pois, devemos nós aceitar as instáveis palavras humanas como exaltada sabedoria, quando se encontra ao nosso alcance uma sabedoria maior e infalível? CBVc 198 2 O que tenho visto das coisas eternas, bem como o que tenho testemunhado da fraqueza da humanidade, tem-me impressionado profundamente o espírito e influenciado a obra de minha vida. Nada vejo por que seja o homem louvado ou glorificado. Não vejo razão alguma para que as opiniões dos sábios mundanos e dos chamados grandes homens devam merecer confiança e ser exaltadas. Como podem aqueles que se acham destituídos de divina iluminação possuir idéias acertadas quanto aos planos e aos caminhos de Deus? Eles ou O negam inteiramente e passam por alto Sua existência, ou limitam-Lhe o poder segundo suas próprias finitas concepções. CBVc 198 3 Prefiramos ser instruídos por Aquele que criou os céus e a Terra, que pôs por ordem as estrelas no firmamento, e ao Sol e à Lua designou a sua obra. CBVc 198 4 É justo que a juventude sinta dever atingir o mais alto desenvolvimento das faculdades mentais. Não quereríamos restringir a educação a que Deus não pôs limites. Mas nossas realizações de nada valerão se não forem utilizadas para honra de Deus e bem da humanidade. CBVc 198 5 Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação será prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aqueles outros que o habilitariam a ser útil, e o tornariam capaz de se desempenhar de suas responsabilidades. Um preparo prático é muito mais valioso que qualquer soma de teoria. Não é suficiente possuir conhecimentos. Precisamos ter habilidade para empregá-los devidamente. CBVc 198 6 O tempo, os meios e o estudo que tantos gastam para obter uma educação relativamente inútil deviam ser consagrados em adquirir um preparo que os tornasse homens e mulheres práticos, aptos a assumir as responsabilidades da vida. Tal educação teria o mais alto valor. CBVc 198 7 O que precisamos é de conhecimento que robusteça a mente e a alma, que nos torne homens e mulheres melhores. A educação do coração é de valor incomparavelmente maior que o mero saber dos livros. É bom, essencial mesmo, possuir conhecimento do mundo em que vivemos; mas se deixarmos a eternidade fora de nossas cogitações, sofreremos um fracasso de que jamais nos poderemos reabilitar. CBVc 198 8 Um estudante pode consagrar todas as suas faculdades à aquisição de conhecimento; mas, a menos que possua conhecimento de Deus, a menos que obedeça às leis que lhe governam o ser, destruir-se-á. Mediante hábitos errôneos, perde a faculdade da apreciação de si mesmo; perde o domínio próprio. Não lhe é possível raciocinar acertadamente quanto ao que mais intimamente o interessa. É descuidado e irracional no tratamento da mente e do corpo. Mediante a negligência no cultivo dos justos princípios, arruína-se tanto para este mundo como para o futuro. CBVc 199 1 Se a juventude compreendesse a própria fraqueza, buscaria em Deus a sua força. Se os jovens buscarem ser ensinados por Ele, se tornarão sábios em Sua sabedoria, a vida lhes será frutífera em bênçãos para o mundo. Se, porém, dedicarem a mente a mero estudo especulativo e mundano, separando-se assim de Deus, perderão tudo quanto enriquece a vida. ------------------------Capítulo 37 -- Buscar o verdadeiro conhecimento CBVc 200 1 Necessitamos entender mais claramente o que está em jogo no grande conflito em que nos achamos empenhados. Precisamos compreender com mais plenitude o valor das verdades da Palavra de Deus, e o perigo de permitir que nosso espírito seja delas desviado pelo grande enganador. CBVc 200 2 O infinito valor do sacrifício requerido para nossa redenção revela que o pecado é um tremendo mal. Pelo pecado, perturba-se todo o organismo humano, a mente é pervertida, corrompida a imaginação. O pecado tem degradado as faculdades da alma. As tentações exteriores encontram eco no coração, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal. CBVc 200 3 Como foi completo o sacrifício feito em nosso favor, assim deve ser a nossa restauração do aviltamento do pecado. Nenhum ato de impiedade será desculpado pela lei de Deus; injustiça alguma lhe pode escapar à condenação. A ética evangélica não reconhece nenhuma norma senão a perfeição do caráter divino. A vida de Cristo foi um perfeito cumprimento de todo preceito da lei. Ele disse: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai". João 15:10. Sua vida é nosso exemplo de obediência e serviço. Somente Deus pode renovar o coração. "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:13. Mas é-nos ordenado: "Operai a vossa salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. CBVc 200 4 A obra que exige nossa atenção -- Não se podem endireitar os erros, nem operar reformas na conduta mediante alguns fracos e intermitentes esforços. A formação do caráter não é obra de um dia, nem de um ano, mas de uma existência. A luta pela conquista do eu, pela santidade e o Céu, é uma luta que se prolonga por toda a vida. Sem contínuo esforço e atividade constante, não pode haver progresso nem ganho da coroa da vitória. CBVc 200 5 A mais vigorosa prova da queda do homem de uma mais elevada condição é o quanto lhe custa retroceder. O caminho de volta só pode ser conquistado por meio de renhida luta, palmo a palmo, hora a hora. Num momento, por uma ação precipitada, desprecavida, podemos lançar-nos sob o poder do mal; requer, porém, mais que um momento o quebrar as cadeias e atingir a uma vida mais santa. Pode-se formar o desígnio, começar a obra; sua realização, porém, requererá fadiga, tempo, perseverança, paciência e sacrifício. CBVc 201 1 Não nos podemos permitir o agir por impulso. Não podemos estar despercebidos nem por um momento. Assaltados por inúmeras tentações, devemos resistir firmes, ou seremos vencidos. Se chegássemos ao fim da vida com nossa obra por fazer, isso importaria em perda eterna. CBVc 201 2 A vida do apóstolo Paulo foi um constante conflito com o próprio eu. Ele disse: "Cada dia morro". 1 Coríntios 15:31. Sua vontade e seus desejos lutavam cada dia com o dever e a vontade de Deus. Em vez de seguir a inclinação, ele fazia a vontade de Deus, embora crucificando a própria natureza. CBVc 201 3 Ao fim de sua vida de conflito, olhando para trás, às lutas e triunfos da mesma, pôde dizer: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia". 2 Timóteo 4:7, 8. CBVc 201 4 A vida cristã é uma batalha e uma marcha. Nesta guerra não há trégua; o esforço deve ser contínuo e perseverante. É assim fazendo que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás. A integridade cristã deve ser buscada com irresistível energia, e mantida com resoluta fixidez de propósito. CBVc 201 5 Ninguém será levado para o alto sem árduo e perseverante esforço em prol de si mesmo. Todos têm de se empenhar por si nessa luta; nenhuma outra pessoa pode combater os nossos combates. Somos individualmente responsáveis pelos resultados do conflito; ainda que Noé, Jó e Daniel estivessem na Terra, não poderiam, por sua justiça, livrar nem filho nem filha. CBVc 201 6 A ciência a ser dominada -- Há uma ciência do cristianismo a ser dominada -- ciência tão mais profunda, vasta e alta que qualquer ciência humana, como os céus são mais elevados do que a Terra. A mente deve ser disciplinada, educada, exercitada; pois nos cumpre fazer serviço para Deus por maneiras que não se acham em harmonia com nossa inclinação inata. As tendências hereditárias e cultivadas para o mal devem ser vencidas. Muitas vezes, a educação e as práticas de toda uma existência devem ser rejeitadas para que a pessoa se possa tornar um aprendiz na escola de Cristo. Nosso coração deve ser educado em se firmar em Deus. Cumpre-nos formar hábitos de pensamento que nos habilitem a resistir à tentação. Devemos aprender a olhar para cima. Os princípios da Palavra de Deus -- princípios tão elevados como o céu e que abrangem a eternidade -- cumpre-nos compreendê-los em sua relação para com a nossa vida diária. Cada ato, cada palavra, cada pensamento deve estar de acordo com esses princípios. Tudo deve ser posto em harmonia com Cristo, e a Ele sujeito. CBVc 201 7 As preciosas graças do Espírito Santo não se desenvolvem num momento. Ânimo, fortaleza, mansidão, fé e inabalável confiança no poder de Deus para salvar são adquiridos mediante a experiência de anos. Por uma vida de santo esforço e firme apego ao direito, devem os filhos de Deus selar seu destino. CBVc 202 1 Não há tempo a perder -- Não temos tempo a perder. Não sabemos quão presto nosso tempo de graça pode se encerrar. Quando muito, não teremos senão o curto espaço de uma existência aqui, e não sabemos quão breve a seta da morte pode nos ferir o coração. Não sabemos quão pronto seremos chamados a abandonar o mundo e todos os seus interesses. Estende-se diante de nós a eternidade. A cortina está a ponto de se erguer. Uns poucos anos apenas, e para todos os que ora são contados entre os vivos, sairá o decreto: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda". Apocalipse 22:11. CBVc 202 2 Estamos nós preparados? Conhecemos a Deus, o Governador do Céu, o Legislador, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou ao mundo como Seu representante? Quando a obra de nossa vida terminar, estaremos aptos a dizer, como Cristo, nosso exemplo: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer. Manifestei o Teu nome"? João 17:4, 6. CBVc 202 3 Os anjos de Deus nos estão procurando atrair de nós mesmos e das coisas terrenas. Não os façais trabalhar em vão. CBVc 202 4 As mentes que têm liberado as rédeas do pensamento precisam mudar. "Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo". 1 Pedro 1:13-16. CBVc 202 5 Os pensamentos devem se concentrar em Deus. Devemos exercer diligente esforço para vencer as más tendências do coração natural. Nossos esforços, nossa abnegação e perseverança devem ser proporcionais ao infinito valor do objetivo que perseguimos. Unicamente vencendo como Cristo venceu, havemos de alcançar a coroa da vida. CBVc 202 6 A necessidade de renúncia -- O maior perigo do homem está em enganar a si mesmo, em condescender com a presunção, separando-se assim de Deus, a fonte de sua força. A menos que sejam corrigidas pelo Santo Espírito de Deus, nossas tendências naturais encerram em si mesmas os germes da morte. A menos que nos ponhamos em uma ligação vital com Deus, não podemos resistir aos profanos efeitos da satisfação própria, do amor de nós mesmos e da tentação para pecar. CBVc 202 7 Para que possamos receber auxílio de Cristo, devemos compreender nossa necessidade. Cumpre-nos conhecer-nos verdadeiramente. Unicamente ao que se reconhece pecador, pode Cristo salvar. Só quando vemos nosso inteiro desamparo e renunciamos a toda confiança própria, lançaremos mão do poder divino. CBVc 203 1 Não é apenas no início da vida cristã que se deve fazer essa renúncia. A cada passo de avanço em direção ao Céu, ela deve ser renovada. Todas as nossas boas obras são dependentes de um poder fora de nós; deve haver portanto um constante anelo do coração para Deus, uma contínua e fervorosa confissão de pecado, e humilhação da alma perante Ele. Cercam-nos perigos; e só estamos a salvo quando sentimos nossa fraqueza, e nos apegamos com a segurança da fé ao nosso poderoso Libertador. CBVc 203 2 Fonte do verdadeiro conhecimento -- Devemos desviar-nos de mil assuntos que nos convidam a atenção. Há assuntos que nos consomem tempo e suscitam indagações, mas acabam em nada. Os mais elevados interesses exigem a acurada atenção e a energia que são tantas vezes dispensadas a coisas relativamente insignificantes. CBVc 203 3 O aceitar teorias novas não traz em si nova vida à alma. Mesmo o relacionar-se com fatos e teorias importantes em si mesmos é de pouco valor a não ser que sejam postos em uso prático. Precisamos sentir nossa responsabilidade de proporcionar à própria alma alimento que nutra e incentive a vida espiritual. CBVc 203 4 A questão que devemos estudar é: "Qual é a verdade -- a verdade que deve ser acariciada, amada, honrada e obedecida?" Os adeptos da ciência têm ficado derrotados e abatidos quanto a seus esforços para encontrar a Deus. O que eles devem inquirir nestes dias é: "Qual é a verdade que nos habilitará a obter a salvação?" CBVc 203 5 "Que pensais vós de Cristo?" -- eis a toda-importante questão. Vós O recebeis como um Salvador pessoal? A todos quantos O recebem, Ele dá poder de se tornarem filhos de Deus. CBVc 203 6 Cristo revelou Deus a Seus discípulos de modo que lhes operou no coração uma obra especial, tal qual Ele deseja realizar em nosso coração. Muitos há que, detendo-se demasiadamente na teoria, têm perdido de vista o poder vivo do exemplo do Salvador. Deixaram de vê-Lo como o humilde e abnegado obreiro. O que eles necessitam é contemplar a Jesus. Necessitamos diariamente uma nova revelação de Sua presença. Cumpre-nos seguir-Lhe mais de perto o exemplo de renúncia e sacrifício. CBVc 203 7 Carecemos da experiência possuída por Paulo ao escrever: "Estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim". Gálatas 2:20. CBVc 203 8 O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo expresso no caráter é uma exaltação superior a tudo mais que se estime na Terra e no Céu. É a suprema educação. É a chave que abre as portas da cidade celestial. Deus designa que todos quantos se revestem de Cristo possuam esse conhecimento. ------------------------Capítulo 38 -- O conhecimento através da palavra de Deus CBVc 204 1 A Bíblia toda é uma revelação da glória de Deus em Cristo. Recebida, crida e obedecida, ela é o grande instrumento na transformação do caráter. É o grande estímulo, a constrangedora força que vivifica as faculdades físicas, mentais e espirituais, dando à existência a devida orientação. CBVc 204 2 O motivo por que os jovens, e mesmo os de idade madura, são tão facilmente induzidos à tentação e ao pecado é não estudarem a Palavra de Deus, nem meditarem nela como devem. A falta de firme e decidida força de vontade que se manifesta na vida e no caráter é resultante de negligência das sagradas instruções da Palavra de Deus. Eles não dirigem, mediante diligente esforço, a mente àquilo que lhes inspiraria pensamentos puros, santos, desviando-a do que é impuro e falso. Há poucos que escolham a melhor parte, que, qual Maria, se assentem aos pés de Jesus, a fim de aprender do divino Mestre. Poucos entesouram Suas palavras no coração, e as praticam na vida. CBVc 204 3 Recebidas, as verdades bíblicas elevarão a mente e a alma. Se a Palavra de Deus fosse apreciada como deveria ser, tanto os jovens como os idosos possuiriam uma retidão interior, uma firmeza de princípios que os habilitariam a resistir à tentação. CBVc 204 4 Ensinem os homens e escrevam as preciosas coisas das Santas Escrituras. Sejam o pensamento, a aptidão, o penetrante exercício da potência cerebral empregados no estudo dos pensamentos de Deus. Não estudeis a filosofia das conjeturas humanas, mas a dAquele que é a verdade. Nenhuma outra literatura pode se comparar com esta em valor. CBVc 204 5 A mente terrena não encontra prazer na contemplação da Palavra de Deus; mas, para a que foi renovada pelo Espírito Santo, irradiam da página sagrada divina beleza e luz celestial. Aquilo que, para a mente terrena, era um deserto, à mente espiritual se torna uma terra de correntes vivas. CBVc 204 6 O conhecimento de Deus segundo a revelação de Sua Palavra, eis o que deve ser dado a nossos filhos. Desde os primeiros lampejos da razão, eles devem ser postos em contato familiar com o nome e a vida de Jesus. As primeiras lições devem ensinar-lhes que Deus é seu Pai. Seu primeiro exercício, a obediência de amor. Reverente e ternamente lhes seja lida e repetida a Palavra de Deus, em porções apropriadas a sua compreensão e de molde a despertar o interesse. E, acima de tudo, fazei com que aprendam acerca de Seu amor segundo é revelado em Cristo, e a grande lição do mesmo: "Se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros". 1 João 4:11. CBVc 205 1 Faça a juventude da Palavra de Deus o alimento do espírito e da alma. Torne-se a cruz de Cristo a ciência de toda educação, o centro de todo ensino e estudo. Seja ela introduzida na experiência diária da vida prática. Assim se tornará o Salvador para os jovens o companheiro e amigo de cada dia. Todo pensamento será levado cativo à obediência de Cristo. Como o apóstolo Paulo, deverão poder dizer: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo". Gálatas 6:14. CBVc 205 2 Assim, mediante a fé, eles chegam a conhecer a Deus com um conhecimento experimental. Têm provado por si mesmos a realidade de Sua Palavra, a veracidade de Suas promessas. Têm provado, e visto que o Senhor é bom. CBVc 205 3 O amado João tinha conhecimento adquirido pela própria experiência. Pôde testificar: "O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (porque a Vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada), o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo". 1 João 1:1-3. CBVc 205 4 Assim cada qual é capaz de, mediante a própria experiência, confirmar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Ele pode testificar daquilo que por si mesmo tem visto e ouvido e sentido do poder de Cristo. Pode testificar: "Eu necessitava de auxílio, e o encontrei em Jesus. Toda necessidade foi suprida, satisfeita a fome de minha alma; a Bíblia é para mim a revelação de Cristo. Creio em Jesus porque Ele me é um divino Salvador. Creio na Bíblia porque achei nela a voz de Deus a minha alma." CBVc 205 5 Aquele que adquiriu certo conhecimento de Deus e de Sua Palavra mediante a própria experiência acha-se apto a empenhar-se no estudo da ciência natural. Está escrito a respeito de Cristo: "NEle, estava a vida e a vida era a luz dos homens". João 1:4. Antes da entrada do pecado, Adão e Eva no Éden, estavam circundados por uma bela e resplandecente luz -- a luz de Deus. Essa luz iluminava tudo de que eles se aproximavam. Nada havia que lhes obscurecesse a percepção do caráter ou das obras de Deus. Quando, porém, cederam ao tentador, a luz se retirou deles. Perdendo as vestes da santidade, perderam a luz que havia iluminado a natureza. Não mais a podiam ler direito. Não podiam discernir o caráter de Deus em Suas obras. Assim hoje, o homem não pode por si mesmo ler devidamente o ensino da natureza. A menos que seja guiado por sabedoria divina, exalta-a e a suas leis acima do Deus que a criou. É por isso que as idéias meramente humanas quanto à ciência tantas vezes contradizem o ensino da Palavra de Deus. Mas, para os que recebem a luz da vida de Cristo, a natureza novamente se ilumina. Na luz que se irradia da cruz, podemos interpretar devidamente o ensino da natureza. CBVc 206 1 Aquele que conhece a Deus e a Sua Palavra por experiência pessoal tem uma firme fé na origem divina das Santas Escrituras. Tem provado que a Palavra de Deus é a verdade, e que a verdade não se pode nunca contradizer a si mesma. Não prova a Bíblia pelas idéias e a ciência humanas; submete-as, a estas, à prova da infalível norma. Sabe que, na verdadeira ciência, nada pode haver que esteja em contradição com o ensino da Palavra; uma vez que procedem ambas do mesmo Autor, a verdadeira compreensão delas demonstrará sua harmonia. Seja o que for, nos chamados ensinos científicos, que contradiga o testemunho da Palavra de Deus não passa de conjetura humana. CBVc 206 2 A esse estudante, a pesquisa científica abrirá vastos campos de pensamentos e informações. Ao ele contemplar as coisas da natureza, advém-lhe uma nova percepção da verdade. O livro da natureza e a Palavra escrita derramam luz um sobre o outro. Ambos o fazem relacionar-se melhor com Deus, ensinando-lhe o que concerne ao Seu caráter e às leis por meio das quais Ele opera. CBVc 206 3 A experiência do salmista pode ser obtida por todos mediante o recebimento da Palavra de Deus através da natureza e da Revelação. Diz ele: CBVc 206 4 "Tu, Senhor, me alegraste com os Teus feitos; exultarei nas obras das Tuas mãos". Salmos 92:4. CBVc 206 5 "A Tua misericórdia, Senhor, está nos céus, e a Tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens. A Tua justiça é como as grandes montanhas; os Teus juízos são um grande abismo". Salmos 36:5, 6. CBVc 206 6 "Quão preciosa é, ó Deus, a Tua benignidade! [...] Os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas. [...] E os farás beber da corrente das Tuas delícias; porque em Ti está o manancial da vida; Na Tua luz veremos a luz". Salmos 36:7-9. CBVc 206 7 Mais claras revelações de Deus -- Pertence-nos o privilégio de esforçar-nos por alcançar mais e mais claras revelações do caráter de Deus. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória" (Êxodo 33:18), o Senhor não o repreendeu, mas concedeu-lhe a petição. Declarou a Seu servo: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti". Êxodo 33:19. CBVc 206 8 É o pecado que nos obscurece a mente e enfraquece as percepções. À medida que nosso coração é limpo do mal, a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo, iluminando a Palavra e refletindo-se na face da natureza, declarará mais e mais amplamente "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. CBVc 207 1 Em Sua luz veremos a luz, até que a mente, o coração e a alma sejam transformados à imagem de Sua santidade. CBVc 207 2 Para aqueles que assim lançam mão das divinas afirmações da Palavra de Deus, há maravilhosas possibilidades. Acham-se perante eles vastos campos de verdade, amplas fontes de poder. Revelar-se-ão coisas gloriosas. Tornar-se-ão manifestos privilégios e deveres de cuja presença na Bíblia eles nem sequer suspeitavam. Todos quantos trilham o caminho da humilde obediência, cumprindo Seu desígnio, conhecerão mais e mais dos oráculos de Deus. CBVc 207 3 O estudante faça da Bíblia o seu guia, e fique firme ao lado dos princípios, e lhe é dado aspirar a qualquer altura. Todas as filosofias da natureza humana têm conduzido à confusão e vergonha quando Deus deixou de ser reconhecido como tudo em todos. Mas a preciosa fé inspirada por Deus comunica vigor e nobreza ao caráter. À medida que nos detemos sobre Sua bondade, Sua misericórdia e Seu amor, mais e mais clara será a percepção da verdade, mais elevado e santo será o desejo de pureza de coração e clareza de pensamento. A alma que permanece na pura atmosfera dos pensamentos santos, é transformada pela comunicação com Deus por meio do estudo de Sua Palavra. A verdade é tão ampla, de tão vasto alcance, tão profunda e larga, que se perde de vista o próprio eu. O coração é enternecido, rendendo-se à humildade, bondade e amor. CBVc 207 4 E as faculdades naturais são ampliadas em virtude da santa obediência. Os estudantes podem sair do estudo da Palavra da vida com o espírito expandido, elevado, enobrecido. Se, como Daniel, eles são ouvintes e praticantes da Palavra de Deus, podem, como ele, avançar em todos os ramos do saber. Sendo puros de coração, tornar-se-ão também mentalmente poderosos. Toda faculdade intelectual será vivificada. Poderão educar-se e disciplinar-se a si mesmos de tal maneira que todos dentro da esfera de sua influência hão de ver o que pode ser o homem, e o que pode realizar quando em ligação com o Deus de sabedoria e poder. CBVc 207 5 Educação na vida eterna -- A obra de nossa existência aqui é um preparo para a vida eterna. A educação principiada na Terra não se completará nesta vida; prosseguirá por toda a eternidade -- sempre em progresso, sem nunca se completar. Mais e mais amplamente se revelarão a sabedoria e o amor de Deus no plano da redenção. Ao guiar Seus filhos às fontes das águas vivas, o Salvador lhes comunicará abundância de conhecimentos. E dia a dia as maravilhosas obras de Deus, as provas de Seu poder na criação e manutenção do Universo, desdobrar-se-ão perante seu espírito em uma nova beleza. À luz que irradia do trono, desaparecerão os mistérios, e a alma se encherá de espanto em face da simplicidade das coisas antes não compreendidas. CBVc 207 6 Vemos agora por espelho, obscuramente; mas então, face a face; agora conhecemos em parte; mas então havemos de conhecer como também somos conhecidos. ------------------------Capítulo 39 -- Auxílio na vida diária CBVc 208 1 Há uma eloqüência mais poderosa do que a eloqüência de meras palavras na tranqüila e coerente vida do puro e verdadeiro cristão. O que o homem é tem mais influência do que o que ele diz. CBVc 208 2 Os guardas que haviam sido enviados a Jesus voltaram dizendo que jamais homem algum tinha falado como Ele. Mas o segredo estava em que jamais homem algum tinha vivido como Ele viveu. Tivesse sido outra a Sua vida e não poderia ter falado como falou. Suas palavras traziam consigo força convincente, porque brotavam de um coração puro e santo, cheio de amor e simpatia, benevolência e verdade. CBVc 208 3 É nosso caráter e experiência que determinam nossa influência sobre o próximo. A fim de convencer os outros acerca do poder da graça de Cristo, devemos ter experimentado o Seu poder em nosso próprio coração e vida. O Evangelho que apresentamos para a salvação das almas deve ser o Evangelho pelo qual nós mesmos sejamos salvos. Só por uma fé viva em Cristo como Salvador pessoal é que se torna possível fazer sentir nossa influência num mundo incrédulo. Se queremos retirar os pecadores da impetuosa corrente, devemos firmar os pés sobre a Rocha, Jesus Cristo. CBVc 208 4 A marca do cristianismo não é um sinal exterior; não consiste em trazer uma cruz ou coroa, mas sim em tudo o que revela a união do homem com Deus. Pelo poder da Sua graça manifestado na transformação do caráter, o mundo será convencido de que Deus enviou Seu Filho como Redentor. Nenhuma influência que possa rodear a alma tem mais poder do que a de uma vida abnegada. O mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável. CBVc 208 5 A disciplina da prova -- Para viver tal vida, para exercer tal influência, requer-se, a cada passo, esforço, abnegação e disciplina. É porque assim não compreendem que muitos tão facilmente desanimam na vida cristã. Muitos que sinceramente consagram a vida ao serviço de Deus ficam surpresos e desiludidos ao encontrar-se, como nunca, rodeados de obstáculos e assediados por provas e perplexidades. Oram para que seu caráter se assemelhe ao de Cristo e se tornem aptos para a obra do Senhor, e contudo são postos em circunstâncias que parecem provocar toda a malícia de sua natureza. São-lhes reveladas faltas, de cuja existência jamais haviam suspeitado. Como o Israel de outrora, perguntam: "Se Deus nos conduz, por que nos sucedem todas estas coisas?" CBVc 209 1 É justamente porque Deus os conduz que estas coisas lhes sucedem. As provas e obstáculos são os métodos de disciplina escolhidos pelo Senhor e as condições de bom êxito que nos apresenta. Ele, que lê o coração dos homens, conhece melhor do que eles mesmos o seu caráter. Vê que alguns têm faculdades e possibilidades que, bem dirigidas, podiam ser empregadas no avanço de Sua obra. Em Sua providência, Deus colocou estas pessoas em diferentes situações e variadas circunstâncias a fim de que possam descobrir, em seu caráter, defeitos que a eles próprios estavam ocultos. Dá-lhes oportunidade de corrigirem tais defeitos e de se tornarem aptos para O servir. Permite por vezes que o fogo da aflição os assalte, a fim de que sejam purificados. CBVc 209 2 O fato de sermos chamados a suportar a prova mostra que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa de precioso que deseja desenvolver. Se nada visse em nós que pudesse glorificar Seu nome, não desperdiçaria tempo a depurar-nos. Não lança pedras sem valor na Sua fornalha. É o minério precioso que Ele depura. O ferreiro põe o ferro e aço no fogo, a fim de provar que qualidade de metais são. O Senhor permite que Seus eleitos sejam postos na fornalha da aflição para lhes provar a têmpera e ver se podem ser formados para a Sua obra. CBVc 209 3 O oleiro toma o barro e molda-o segundo lhe apraz. Amassa-o e trabalha-o. Divide-o e volta a juntá-lo. Umedece-o e depois seca-o. Deixa-o em seguida durante algum tempo sem lhe tocar. Quando está perfeitamente maleável, prossegue na tarefa de fazer dele um vaso. Molda-o numa forma, e alisa-o e pule-o em volta. Seca-o ao sol e coze-o no forno. Torna-se então um vaso apto para servir. Do mesmo modo, o Supremo Artista deseja moldar-nos e formar-nos. E como o barro está nas mãos do oleiro, assim estamos nós em Suas mãos. Não procuremos fazer a obra do oleiro; compete-nos simplesmente deixar-nos moldar pelo Supremo Artífice. CBVc 209 4 "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis". 1 Pedro 4:12, 13. CBVc 209 5 À plena luz do dia, e ouvindo a música de outras vozes, o pássaro engaiolado não aprenderá a canção que o dono procure ensinar-lhe. Aprende um fragmento desta, um trilo daquela, mas nunca uma melodia determinada e completa. Eis porém que o dono cobre a gaiola e a coloca onde o pássaro não ouvirá senão o canto que se lhe pretende ensinar. Nas trevas, o pássaro tenta, tenta de novo, modular aquele canto, até que por fim o entoa em perfeita melodia. Pode então sair o pássaro da obscuridade e voltar à luz: não esquecerá jamais a melodia que se lhe ensinou. É assim que Deus procede com os Seus filhos. Ele tem um canto para nos ensinar, e quando o houvermos aprendido no meio das sombras da aflição, poderemos cantá-lo para sempre. CBVc 210 1 Muitos estão insatisfeitos com a sua profissão. Encontram-se talvez num meio incompatível; seu tempo é ocupado em trabalho vulgar, quando seriam, pensam eles, competentes para responsabilidades mais elevadas; por vezes seus esforços parecem-lhes não apreciados ou estéreis; e o futuro apresenta-se-lhes incerto. CBVc 210 2 Lembremo-nos que nosso trabalho, ainda que o não tenhamos escolhido, deve ser aceito como tendo sido escolhido por Deus para nós. Seja ele agradável ou não, temos obrigações de cumprir o dever que se nos apresenta. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma". Eclesiastes 9:10. CBVc 210 3 Se o Senhor deseja que levemos uma mensagem a Nínive, não Lhe será agradável que vamos a Jope ou a Cafarnaum. Ele tem motivos para nos enviar aonde nossos passos foram dirigidos. Talvez lá houvesse alguém em necessidade do auxílio que lhe poderíamos prestar. Ele que enviou Filipe ao ministro etíope, Pedro ao centurião romano, e a menina israelita em auxílio de Naamã, o capitão sírio, envia hoje homens, mulheres e jovens como Seus representantes àqueles que têm necessidade de ajuda e guia divinas. CBVc 210 4 Os planos de Deus são os melhores -- Nossos planos nem sempre são os planos de Deus. Ele pode ver que vale mais para nós e para a Sua causa recusar nossas melhores intenções, como fez no caso de Davi. Mas de uma coisa podemos estar certos: é de que abençoará e empregará no avanço da Sua causa aqueles que sinceramente se consagram à Sua glória, com tudo o que possuem. Se vir que é melhor não atender os desejos, compensará a recusa dando-lhes provas do Seu amor e confiando-lhes outro serviço. CBVc 210 5 Em Sua amorosa solicitude e interesse para conosco, Aquele que nos compreende melhor do que nós mesmos frequentemente Se recusa a permitir que procuremos egoistamente satisfazer nossa ambição. Não permite que passemos por alto os deveres simples, mas sagrados, que estão diante de nós. Muitas vezes, estes deveres proporcionam a educação essencial para nos preparar para uma obra mais elevada. Com frequência nossos planos são frustrados, a fim de que sejam cumpridos os planos que Deus tem para nós. CBVc 210 6 Nunca somos chamados a fazer um sacrifício real para Deus. Pede que Lhe submetamos muitas coisas, mas fazendo-o não abandonamos senão o que nos impediria na marcha para o Céu. Mesmo quando chamados a abandonar coisas boas em si mesmas, podemos estar seguros de que Deus nos está assim preparando algum bem maior. CBVc 210 7 Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre as nossas maiores bênçãos. CBVc 210 8 Devemos considerar como sagrado cada dever, ainda que humilde, porque faz parte do serviço de Deus. Nossa oração de cada dia devia ser: "Senhor, ajuda-me a fazer o melhor que possa. Ensina-me a fazer melhor trabalho. Dá-me energia e ânimo. Faze que eu manifeste na minha vida o amoroso serviço do Salvador." CBVc 211 1 Uma lição da vida de Moisés -- Considerai a experiência de Moisés. A educação que recebera no Egito como neto do rei e futuro herdeiro do trono era esmerada. Nada se omitiu do que se imaginava poder fazê-lo um sábio, segundo a maneira pela qual os egípcios entendiam a sabedoria. Recebeu a mais elevada educação civil e militar. Sentia que estava perfeitamente preparado para a missão de libertar da escravidão a Israel. Mas Deus julgou doutra maneira. Sua providência destinou a Moisés quarenta anos de experiência no deserto como pastor de ovelhas. CBVc 211 2 A educação que Moisés recebera no Egito foi-lhe de grande auxílio sob muitos pontos de vista; mas a preparação mais valiosa para o trabalho de sua vida foi a que recebeu quando empregado como pastor. Moisés tinha por natureza um espírito impetuoso. No Egito, como bem-sucedido chefe militar e favorito do rei e da nação, estava acostumado a receber louvor e adulação. Tinha atraído o povo para si. Esperava realizar por suas próprias forças a obra da libertação de Israel. Muito diferentes eram as lições que, como representante de Deus, devia receber. Conduzindo seus rebanhos pelas montanhas selvagens e pelos verdes pastos dos vales, aprendeu a fé, a mansidão, a paciência, humildade e abnegação. Aprendeu a cuidar dos fracos, tratar dos doentes, procurar os transviados, suportar os turbulentos, vigiar os cordeiros e alimentar os velhos e frágeis. CBVc 211 3 Nessa obra, Moisés era atraído para mais perto do Bom Pastor. Tornava-se intimamente unido ao Santo de Israel. Não projetou mais fazer uma grande obra. Procurava fielmente cumprir, como sob o olhar de Deus, a obra a ele confiada. Via a presença de Deus em tudo que o rodeava. A natureza inteira lhe falava do Ser invisível. Reconhecia-O como Deus pessoal, e meditando sobre Seu caráter compenetrava-se mais e mais do sentimento de Sua presença. Encontrava refúgio nos braços eternos. CBVc 211 4 Após essa experiência, Moisés ouviu a ordem do Céu para trocar o cajado de pastor pela vara da autoridade; deixar o rebanho de ovelhas e encarregar-se da condução de Israel. O divino mandato encontrou-o desconfiado de si próprio, tardo na fala, e tímido. Estava estupefato pelo sentimento da sua inaptidão para ser o porta-voz de Deus. Mas aceitou essa obra depondo inteira confiança no Senhor. A grandeza dessa missão pôs em exercício as mais altas faculdades de seu espírito. Deus abençoou a sua pronta obediência, e Moisés tornou-se eloqüente, esperançoso e de espírito equilibrado, preparado para a maior obra jamais confiada aos homens. Dele foi escrito: "E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face". Deuteronômio 34:10. CBVc 212 1 Os que têm a impressão de que seu trabalho não é apreciado e que desejam uma posição de maior responsabilidade considerem que: "Nem do Oriente, nem do Ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Deus é o Juiz; a um abate e a outro exalta". Salmos 75:6, 7. Cada homem tem o seu lugar no plano eterno do Céu. Ocuparmos esse lugar, depende de nossa fidelidade em cooperar com Deus. CBVc 212 2 Necessitamos evitar a compaixão de nós mesmos. Nunca alimenteis a impressão de que não sois estimados como deveríeis, que os vossos esforços não são apreciados e que o vosso trabalho é demasiado penoso. A lembrança de que Jesus sofreu por nós reduza ao silêncio todo o pensamento de murmuração. Somos tratados melhor do que foi nosso Senhor. "E procuras tu grandezas? Não as busques". Jeremias 45:5. O Senhor não dá lugar na Sua obra aos que têm maior desejo de alcançar a coroa do que de transportar a cruz. Deseja homens que pensem mais em cumprir o dever do que em receber recompensas -- homens que sejam mais amantes dos princípios do que de promoção. CBVc 212 3 Os que são humildes, e fazem seu trabalho como diante de Deus, podem não ter tanta aparência como os que estão cheios de agitação e importância própria; mas seu trabalho vale mais. Muitas vezes, os que fazem grande demonstração chamam a atenção para si mesmos, interpondo-se entre os homens e Deus, e seu trabalho experimenta insucesso. "A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento. Exalta-a, e ela te exaltará; e, abraçando-a tu, ela te honrará". Provérbios 4:7, 8. CBVc 212 4 Porque não têm a determinação de se dominar e reformar, muitos tornam-se estereotipados numa errada maneira de agir. Mas não deve ser assim. Podem cultivar suas faculdades de maneira a produzirem a melhor espécie de trabalho, e então serão continuamente procurados. Serão apreciados segundo o seu valor. CBVc 212 5 Se alguns são classificados para uma posição mais alta, o Senhor deporá o fardo, não apenas sobre eles mas sobre aqueles que o escolheram, que conhecem seu valor e que podem com conhecimento de causa incentivá-lo para a frente. São os que cumprem fielmente o trabalho que lhes é designado dia a dia que na ocasião oportuna ouvirão de Deus: "Sobe para mais alto." CBVc 212 6 Enquanto os pastores estavam vigiando seus rebanhos nas colinas de Belém, os anjos do Céu visitaram-nos. Da mesma sorte hoje, enquanto o humilde trabalhador por Deus cumpre seu trabalho, os anjos de Deus estão ao seu lado, ouvindo suas palavras, notando o modo como seu trabalho é feito, para ver se podem ser confiadas às suas mãos responsabilidades mais amplas. CBVc 212 7 Não é pelas riquezas, educação ou posição que Deus avalia os homens. Avalia-os pela sua pureza de intenção e formosura de caráter. Olha para averiguar em que medida possuem o Seu Espírito, e até que ponto sua vida revela semelhança com a Sua. Para ser grande no reino de Deus, é preciso ser como a criancinha, em humildade, simplicidade de fé e pureza de amor. CBVc 213 1 "Bem sabeis", disse Cristo, "que pelos príncipes dos gentios são estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, seja vosso serviçal". Mateus 20:25, 26. CBVc 213 2 Entre todos os dons que o Céu pode conceder aos homens, a comunhão com Cristo em Seus sofrimentos é o que traz maior peso de esperança e mais elevada honra. Nem Enoque, que foi trasladado ao Céu, nem Elias, que subiu num carro de fogo, foram maiores nem mais honrados do que João Batista, que pereceu, sozinho, num cárcere. "A vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele". Filipenses 1:29. CBVc 213 3 A recompensa -- Quando Cristo chamou os discípulos para O seguirem, não lhes ofereceu nenhuma perspectiva sedutora nesta vida. Não lhes fez promessas de ganho, nem de honras mundanas, e eles, por sua vez, nada estipularam quanto ao que haviam de receber. A Mateus, quando estava sentado na alfândega, o Salvador disse: "Segue-Me. E ele, deixando tudo, levantou-se e O Seguiu". Lucas 5:27, 28. Mateus não pediu, antes de prestar seus serviços, um salário certo, igual à quantia recebida na sua precedente ocupação. Sem questionar nem hesitar, seguiu a Jesus. Bastava-lhe poder estar com o Salvador, a fim de ouvir Suas palavras e de se unir à Sua obra. CBVc 213 4 O mesmo sucedera com os discípulos anteriormente chamados. Quando Jesus pediu a Pedro e seus companheiros que O seguissem, imediatamente abandonaram seus barcos e redes. Alguns desses discípulos tinham amigos que contavam com eles para a sua subsistência, mas, quando receberam o convite do Salvador, não hesitaram nem inquiriram: "Como viverei e sustentarei minha família?" Foram obedientes ao chamado; e quando mais tarde Jesus lhes perguntou: "Quando vos mandei sem bolsa, alforje ou sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Eles responderam: Nada". Lucas 22:35. CBVc 213 5 Hoje o Salvador chama-nos para a Sua obra como chamou Mateus e João e Pedro. Se nosso coração estiver tocado pelo Seu amor, a questão da recompensa não será a mais importante para o nosso espírito. Regozijar-nos-emos por ser colaboradores de Cristo e não recearemos contar com Sua solicitude. Se fizermos de Deus a nossa força, teremos clara percepção do dever, e aspirações desinteressadas; nossa existência será movida por um nobre ideal, que nos levantará acima dos motivos sórdidos. CBVc 213 6 Deus proverá -- Muitos que professam seguir a Cristo têm um coração ansioso e inquieto porque receiam confiar-se a Deus. Não se entregam completamente a Ele, porque temem as conseqüências que tal entrega possa implicar. Enquanto não fizerem esta entrega, não podem encontrar paz. CBVc 214 1 Há muitos cujo coração está oprimido sob o peso de cuidados, porque procuram fazer como o mundo. Escolheram seu serviço, aceitaram suas perplexidades, adotaram seus costumes. Assim, seu caráter é deformado e sua vida torna-se fatigante. As preocupações contínuas esgotam as forças da vida. Nosso Senhor deseja que se libertem deste jugo de escravidão. Convida-os a aceitar o Seu jugo, dizendo: "O Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve". Mateus 11:30. A inquietude é cega, e não pode discernir o futuro; mas Jesus vê o fim desde o princípio. Para cada dificuldade, tem já preparado um alívio: "Não negará bem algum aos que andam na retidão". Salmos 84:11. CBVc 214 2 Nosso Pai celeste tem mil maneiras de nos prover as necessidades, das quais nada sabemos. Os que aceitam como princípio dar lugar supremo ao serviço de Deus verão desvanecidas as perplexidades e terão caminho plano diante de si. ------------------------Capítulo 40 -- Em contato com os outros CBVc 215 1 Todas as relações sociais exigem o exercício do domínio próprio, paciência e simpatia. Diferimos tanto uns dos outros em disposições, hábitos e educação, que variam entre si nossas maneiras de ver as coisas. Julgamos diferentemente. Nossa compreensão da verdade, nossas idéias em relação à conduta de vida não são idênticas sob todos os pontos de vista. Não há duas pessoas cuja experiência seja igual em cada particular. As provas de uma não são as provas de outra. Os deveres que para uma se apresentam como leves são para outra mais difíceis e inquietantes. CBVc 215 2 Tão fraca, ignorante e sujeita ao erro é a natureza humana que todos devemos ser cautelosos na maneira de julgar o próximo. Pouco sabemos da influência de nossos atos sobre a experiência dos outros. O que fazemos ou dizemos pode parecer-nos de pouca importância, quando, se nossos olhos se abrissem, veríamos que daí resultam as mais importantes conseqüências para o bem ou para o mal. CBVc 215 3 Consideração pelos que têm responsabilidades -- Muitas pessoas têm tão poucos encargos, seu coração tem experimentado tão pouco as angústias reais, sentido tão pouca perplexidade e preocupação em auxiliar o próximo, que não podem compreender o trabalho de quem tem verdadeira responsabilidade. São tão incapazes de apreciar seus trabalhos como a criança de compreender os cuidados e fadigas do preocupado pai. A criança admira-se dos temores e perplexidades do pai: parecem-lhe inúteis. Mas quando os anos de experiência forem acrescentados à sua vida, quando tiver de carregar as próprias responsabilidades, olhará de novo para a vida do pai, e compreenderá então o que outrora lhe era incompreensível. A amarga experiência deu-lhe o conhecimento. CBVc 215 4 A obra de muitas pessoas que têm responsabilidades não é compreendida, não são apreciados seus trabalhos, enquanto a morte não os abate. Quando outros retomam as funções que eles exerciam, e enfrentam as dificuldades que eles encontraram, compreendem quanto a sua fé e coragem foram provadas. Muitas vezes perdem de vista, então, os erros que estavam tão prontos a censurar. A experiência ensina-lhes a simpatia. É Deus quem permite que os homens sejam colocados em posições de responsabilidade. Quando erram, tem poder para corrigi-los, ou para retirá-los do cargo que exercem. Devemos acautelar-nos de não tomar em nossas mãos o direito de julgar, que pertence a Deus. CBVc 216 1 A conduta de Davi para com Saul contém uma lição. Por ordem de Deus, Saul foi ungido como rei de Israel. Devido à sua desobediência, o Senhor declarou que o reino lhe seria tirado, e contudo quão amável, atenciosa e paciente foi a conduta de Davi para com ele! Procurando Davi para lhe tirar a vida, Saul dirigiu-se para o deserto, e sozinho penetrou justamente na caverna em que Davi, com seus homens de guerra, estava escondido: "Então, os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem a teus olhos. [...] E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor". 1 Samuel 24:4, 6. Ordena-nos o Salvador: "Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós". Mateus 7:1, 2. Lembrai-vos de que cedo o relato da vossa vida passará em revista diante de Deus. Lembrai-vos de que Ele disse: "És inescusável quando julgas, ó homem; [...] pois tu, que julgas, fazes o mesmo". Romanos 2:1. CBVc 216 2 Paciência quando ofendido -- Não podemos permitir que nosso espírito se irrite por algum mal real ou suposto que nos tenha sido feito. O inimigo que mais carecemos temer é o próprio eu. Nenhuma forma de vício tem efeito mais funesto sobre o caráter do que a paixão humana quando não está sob o domínio do Espírito Santo. Nenhuma vitória que possamos ganhar será tão preciosa como a vitória sobre nós mesmos. CBVc 216 3 Não permitamos que nossa sensibilidade seja facilmente ferida. Devemos viver, não para vigiar sobre a nossa sensibilidade ou reputação, mas para salvar almas. Quando estamos interessados na salvação das pessoas, deixamos de pensar nas pequenas diferenças que possam levantar-se entre uns e outros na associação mútua. De qualquer modo que os outros pensem de nós ou conosco procedam, nunca será necessário que perturbemos nossa comunhão com Cristo, nossa companhia com o Espírito. "Que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus". 1 Pedro 2:20. CBVc 216 4 Não vos vingueis. Quanto puderdes, removei toda a causa de mal-entendido. Evitai a aparência do mal. Fazei o que estiver em vosso poder, sem comprometer os princípios, para conciliar o próximo. "Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta". Mateus 5:23, 24. CBVc 216 5 Se vos forem dirigidas palavras impacientes, nunca respondais no mesmo tom. Lembrai-vos de que "a resposta branda desvia o furor". Provérbios 15:1. Há um poder maravilhoso no silêncio. As palavras ditas em réplica a alguém encolerizado por vezes servem apenas para o exasperar. Mas se a cólera encontra o silêncio, e um espírito amável e paciente, em breve se esvai. CBVc 217 1 Sob uma tempestade de palavras ferinas e acusadoras, conservai apoiado o espírito na Palavra de Deus. Que o espírito e o coração sejam repletos das promessas divinas. Se sois maltratados ou acusados injustamente, em vez de responder com cólera, repeti a vós mesmos as preciosas promessas: "Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem". Romanos 12:21. CBVc 217 2 "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará. E Ele fará sobressair a tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia". Salmos 37:5, 6. CBVc 217 3 "Nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido". Lucas 12:2. CBVc 217 4 "Fizeste com que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; mas trouxeste-nos a um lugar de abundância". Salmos 66:12. CBVc 217 5 Somos inclinados a procurar junto de nossos semelhantes simpatia e ânimo, em vez de procurá-los em Jesus. Em Sua misericórdia e fidelidade, Deus permite muitas vezes que falhem aqueles em quem depositamos confiança, a fim de que possamos compreender quanto é insensato confiar nos homens e apoiar-nos na carne. Confiemos inteira, humilde e desinteressadamente em Deus. Ele conhece as tristezas que nos consomem no mais profundo do ser e que não podemos exprimir. Quando tudo nos parece escuro e inexplicável, lembremo-nos das palavras de Cristo: "O que Eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois". João 13:7. CBVc 217 6 Estudai a história de José e de Daniel. O Senhor não impediu as armadilhas dos homens que procuravam fazer-lhes mal; mas conduziu todos os planos para o bem de Seus servos, que no meio de provas e lutas mantiveram sua fé e lealdade. CBVc 217 7 Enquanto estivermos no mundo, encontraremos influências adversas. Haverá provocações para ser provada a nossa têmpera; e é enfrentando-as com espírito reto que as virtudes cristãs são desenvolvidas. Se Cristo habitar em nós, seremos pacientes, bondosos e indulgentes, alegres no meio das contrariedades e irritações. Dia após dia, e ano após ano, vencer-nos-emos a nós próprios e cresceremos num nobre heroísmo. Tal é a tarefa que sobre nós impende; mas não pode ser cumprida sem o auxílio de Jesus, firme decisão, um alvo bem determinado, contínua vigilância e oração incessante. Cada um tem suas lutas pessoais a travar. Nem o próprio Deus pode tornar nosso caráter nobre e nossa vida útil, se não colaborarmos com Ele. Quem renuncia à luta perde a força e a alegria da vitória. CBVc 217 8 Não precisamos guardar nosso próprio registro das provas e dificuldades, dos desgostos e tristezas. Todas essas coisas estão escritas nos livros, e o Céu tomará o cuidado delas. Enquanto relembramos as coisas desagradáveis, passam da memória muitas que são gratas à reflexão, como a misericordiosa bondade de Deus que nos rodeia a cada instante e o amor, de que os anjos se maravilham, com que deu Seu Filho para morrer por nós. Se como obreiros de Cristo sentis que tendes maiores cuidados e provas que os outros, lembrai-vos de que há para vós uma paz desconhecida dos que evitam estes fardos. Há conforto e alegria no serviço de Cristo. Mostremos ao mundo que não há insucesso na vida com Deus. CBVc 218 1 "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros". Romanos 12:10. "Não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção". 1 Pedro 3:9. CBVc 218 2 O Senhor Jesus exige que reconheçamos os direitos de cada pessoa. Devem ser tomados em consideração seus direitos sociais e seus direitos como cristão. Todos devem ser tratados com amabilidade e delicadeza, como filhos e filhas de Deus. CBVc 218 3 O cristianismo torna as pessoas bem-educadas. Cristo era cortês, mesmo com os Seus perseguidores; e os Seus verdadeiros seguidores devem manifestar o mesmo espírito. Olhai para Paulo, conduzido perante os magistrados. Seu discurso diante de Agripa é um exemplo de verdadeira cortesia, assim como de persuasiva eloqüência. O Evangelho não ensina a polidez formalista corrente no mundo, mas a cortesia que deriva de um coração cheio de bondade. CBVc 218 4 O mais meticuloso cultivo das propriedades externas da vida não é suficiente para limar toda a irritabilidade, aspereza nos juízos e inconveniência nas palavras. O verdadeiro refinamento não se revelará jamais, enquanto nos considerarmos a nós mesmos como o objeto supremo. O amor deve residir no coração. O cristão verdadeiro tira seus motivos de ação do profundo amor pelo Mestre. Do amor a Cristo brota o interesse abnegado por seus irmãos. O amor comunica a quem o possui graça, propriedade e elegância de porte. Ilumina-lhe a fisionomia e educa-lhe a voz; refina e eleva todo o ser. CBVc 218 5 A vida compõe-se, principalmente, não de grandes sacrifícios, ações maravilhosas, mas de pequenas coisas. Na maior parte das vezes, é pelas pequenas coisas que parecem indignas de menção que grande bem ou mal é trazido à nossa vida. É pela falta de sucesso em suportar as provas a que somos sujeitos nas pequenas coisas, que se adquirem os maus hábitos e se deforma o caráter; e, quando nos assaltam as provas maiores, encontramo-nos desprevenidos. Só agindo por princípio nas provas da vida cotidiana, podemos adquirir energia para ficar firmes e fiéis nas mais perigosas e difíceis situações. CBVc 218 6 Nunca estamos sós. Quer o escolhamos ou não, temos um companheiro. Lembrai-vos de que onde quer que estejais, façais o que fizerdes, Deus aí está. Nada do que se diz, faz ou pensa escapa à Sua atenção. Para cada palavra ou ação, tendes uma testemunha -- Deus, que é santo e odeia o pecado. Pensai sempre nisso antes de falardes ou agirdes. Como cristãos, sois membros da família real, filhos do Rei dos Céus. Não digais palavra alguma, não façais nenhuma ação que traga desonra ao "bom nome que sobre vós foi invocado". Tiago 2:7. CBVc 219 1 Estudai cuidadosamente o caráter divino-humano, e inquiri constantemente: "Que faria Jesus em meu lugar?" Esta deve ser a medida do nosso dever. Não vos coloqueis desnecessariamente na companhia daqueles que, por suas astúcias, poderiam debilitar o vosso desejo de bem-fazer ou manchar a vossa consciência. Nada façais entre os estranhos, na rua, nos carros, em casa, que tenha a menor aparência de mal. Fazei cada dia alguma coisa para melhorar, embelezar e enobrecer a vida que Cristo resgatou com Seu próprio sangue. CBVc 219 2 Agi sempre por princípio, nunca por impulso. Temperai a impetuosidade da vossa natureza pela doçura e bondade. Evitai toda a leviandade e frivolidade. Que nenhum vil gracejo escape de vossos lábios. Nem sequer aos pensamentos permitais correr a rédeas soltas. Devem ser dominados e conduzidos cativos à obediência de Cristo. Que eles estejam ocupados em coisas santas. Então, pela graça de Cristo, serão puros e verdadeiros. CBVc 219 3 Necessitamos de ter um constante sentimento do poder enobrecedor dos pensamentos puros. É nos bons pensamentos que reside a única segurança para cada alma. O homem, "como imaginou na sua alma, assim é". Provérbios 23:7. A faculdade de se dominar desenvolve-se pelo exercício. O que a princípio parecia difícil torna-se fácil pela repetição constante, até que os retos pensamentos e ações acabam por ser habituais. Se quisermos, podemos afastar-nos de tudo o que é baixo e inferior, e elevar-nos para uma alta norma; podemos ser respeitados pelos homens e amados por Deus. CBVc 219 4 Cultivai o hábito de falar bem do próximo. Detende-vos sobre as boas qualidades daqueles com quem estais associados, e olhai o menos possível para seus erros e fraquezas. CBVc 219 5 Quando sois tentados a queixar-vos do que alguém disse ou fez, louvai alguma coisa na vida ou caráter dessa pessoa. Cultivai a gratidão. Louvai a Deus pelo Seu admirável amor em dar a Cristo para morrer por nós. Nada lucramos em pensar em nossas mágoas. Deus convida-nos a meditar na Sua misericórdia e no Seu amor incomparável, a fim de que sejamos inspirados com o louvor. CBVc 219 6 Os trabalhadores ativos não têm tempo de se ocupar com as faltas do próximo. As faltas e fraquezas dos outros não fornecem alimento para a vossa vida. A maledicência é uma dupla maldição, que recai mais pesadamente sobre quem fala do que sobre quem ouve. Quem espalha as sementes da dissensão e discórdia colhe em sua própria alma os frutos mortais. O próprio ato de olhar para o mal nos outros desenvolve o mal em quem olha. Detendo-nos sobre as faltas do próximo, somos transformados na sua imagem. Mas contemplando Jesus, falando do Seu amor e da perfeição de Seu caráter, imprimimos em nós as Suas feições. Contemplando o alto ideal que Ele colocou diante de nós, subiremos a uma atmosfera santa e pura, que é a própria presença de Deus. Quando aí permanecemos, sairá de nós uma luz que irradia sobre todos os que estiverem em contato conosco. CBVc 220 1 Em vez de criticar e condenar o próximo, dizei: "Devo trabalhar para minha própria salvação. Se coopero com Aquele que deseja salvar a minha alma, devo vigiar-me cuidadosamente, afastar de minha vida tudo o que é mau, vencer todo o defeito, tornar-me nova criatura em Cristo. Por isso, em lugar de enfraquecer os que lutam contra o mal, irei fortalecê-los com palavras animadoras." Somos demasiado indiferentes para com os outros. Esquecemos muitas vezes que nossos companheiros de trabalho têm necessidade de força e animação. Tende o cuidado de lhes assegurar vosso interesse e simpatia. Ajudai-os pela oração e fazei-lhes saber que orais por eles. CBVc 220 2 Nem todos os que professam ser obreiros de Cristo são verdadeiros discípulos. Entre os que trazem Seu nome, e que são mesmo contados entre Seus obreiros, há alguns que não O representam no caráter. Não são governados pelos Seus princípios. Tais pessoas são muitas vezes causa de perplexidade e desânimo para os seus companheiros de trabalho que são novos na experiência cristã; mas ninguém tem necessidade de ser enganado. Cristo deu-nos um exemplo perfeito. Ordena-nos que O sigamos. CBVc 220 3 Até ao fim dos tempos, haverá joio no meio do trigo. Quando os servos do pai de família, no zelo pela sua honra, lhe pediram autorização para arrancar o joio, ele disse: "Não; para que, ao colher o joio não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa". Mateus 13:29, 30. CBVc 220 4 Em Sua misericórdia e clemência, Deus suporta pacientemente os maus e até os hipócritas. Entre os apóstolos escolhidos de Cristo encontrava-se Judas, o traidor. Deverá, pois, ser causa de surpresa ou desânimo a existência de hipócritas entre os Seus obreiros de hoje? Se Ele, que penetrava nos corações, suportava quem bem sabia que O havia de trair, com que paciência não deveríamos nós suportar os que estão em falta! CBVc 220 5 E nem todos, ainda dos que parecem mais culpados, são como Judas. Pedro, impetuoso, precipitado e cheio de confiança própria, aparentemente esteve em situação mais desvantajosa do que Judas. Foi mais vezes censurado pelo Salvador. Mas que vida de atividade e sacrifício foi a sua! Que testemunho deu do poder da graça de Deus! Tanto quanto pudermos, devemos ser para os outros o que Jesus era para Seus discípulos quando andava e falava com eles na Terra. CBVc 220 6 Considerai-vos como missionários, antes de tudo, entre os vossos companheiros de trabalho. Requer-se por vezes muito tempo e canseiras para ganhar alguma alma para Cristo. E quando uma alma se afasta do pecado para a justiça, há alegria na presença dos anjos. Pensais que os espíritos angélicos que vigiam sobre estas almas estão satisfeitos ao ver com que indiferença elas são tratadas por alguns que pretendem ser cristãos? Se Jesus nos tratasse como muito freqüentemente nos tratamos uns aos outros, quem de nós poderia salvar-se? CBVc 221 1 Lembrai-vos que não podeis ler os corações. Não sabeis os motivos que determinaram as ações que desaprovais. Há muitos que não receberam uma educação correta; seu caráter está deformado, duro e nodoso, e parece torto em todos os sentidos. Mas a graça de Cristo pode transformá-lo. Nunca os ponhais de lado, nunca lhes tireis a coragem ou a esperança, dizendo: "Você desiludiu-me e não me esforçarei por ajudá-lo." Algumas palavras ditas precipitadamente sob o efeito de uma provocação -- exatamente o que pensamos que eles merecem -- podem partir as cordas da influência que teriam ligado seu coração ao nosso. CBVc 221 2 A vida coerente, a paciência, a calma de espírito em face da provocação constitui sempre o argumento mais decisivo e o apelo mais solene. Se tivestes oportunidades e vantagens que não couberam em sorte aos outros, reconhecei esse privilégio, e sede sempre um mestre sábio, solícito e amável. CBVc 221 3 A fim de obter na cera a impressão nítida e forte de um selo, não lho aplicais de uma maneira precipitada e violenta; colocais cuidadosamente o selo na cera mole, e lenta e firmemente fazeis sobre ele pressão, até que a cera tenha endurecido na forma desejada. Tratai da mesma forma com as almas humanas. A continuidade da influência cristã é o segredo de seu poder, e este depende da firmeza com que manifestais o caráter de Cristo. Ajudai os que erraram, contando as vossas experiências. Mostrai-lhes como, quando cometestes graves erros, a paciência, bondade e auxílio de vossos companheiros de trabalho vos deram coragem e esperança. CBVc 221 4 Até ao Juízo, ignorareis a influência de uma conduta bondosa e prudente para com os incoerentes, desarrazoados e indignos. Quando deparamos com a ingratidão e traição daqueles em quem depositamos uma confiança sagrada, somos tentados a mostrar nosso ressentimento e indignação. É isso que o culpado espera e para que está preparado. Mas a bondosa paciência toma-o de surpresa, e muitas vezes desperta seus melhores impulsos, e faz-lhes nascer o desejo de uma vida mais nobre. CBVc 221 5 "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo". Gálatas 6:1, 2. CBVc 221 6 Todos os que professam ser filhos de Deus devem ter sempre em mente que, em suas atividades, são missionários colocados em contato com os mais variados tipos de pessoas. Há corteses e rudes, humildes e orgulhosas, religiosas e céticas, confiantes e desconfiadas, liberais e avarentas, puras e corruptas, instruídas e ignorantes, ricas e pobres. Essas diferentes pessoas não podem ser tratadas da mesma maneira; todas porém carecem de bondade e simpatia. Pelo mútuo contato, nosso espírito deveria tornar-se delicado e refinado. Dependemos uns dos outros, e estamos intimamente unidos pelos laços da fraternidade humana. É pelas relações sociais que a religião cristã entra em contato com o mundo. Cada homem ou mulher que recebeu a iluminação divina deve derramar luz na senda tenebrosa dos que não conhecem o melhor caminho. A influência social, santificada pelo Espírito de Cristo, deve desenvolver-se na condução de almas para o Salvador. Cristo não deve ser escondido no coração como um tesouro cobiçado, sagrado e doce, fruído exclusivamente pelo possuidor. Devemos ter Cristo em nós como uma fonte de água, que corre para a vida eterna, refrescando a todos os que entram em contato conosco. ------------------------Capítulo 41 -- Desenvolvimento e serviço CBVc 223 1 A vida cristã é mais importante do que muitos crêem. Não consiste somente em delicadeza, paciência, doçura e bondade. São essenciais estas graças; mas há também necessidade de coragem, força, energia e perseverança. O caminho que Cristo nos traça é um caminho estreito e exige abnegação. Para entrar nesse caminho, e passar pelas dificuldades e desânimos, requerem-se homens fortes. CBVc 223 2 Força de caráter -- Precisam-se de homens de fibra, homens que não estejam à espera de ver seu caminho aplanado e removidos todos os obstáculos; homens que alentem com zelo novo os desfalecidos esforços dos trabalhadores desanimados, e cujo coração esteja inflamado de amor cristão e cujas mãos sejam fortes para a obra do Senhor. CBVc 223 3 Alguns dos que se entregam ao serviço missionário são fracos, sem energia, sem entusiasmo e facilmente desanimáveis. Falta-lhes a iniciativa. Não têm aqueles positivos traços de caráter que dão a força para fazer alguma coisa -- o espírito e energia que iluminam o entusiasmo. Aqueles que desejam o sucesso devem ser corajosos e otimistas. Devem cultivar não só as virtudes passivas, mas as ativas. Respondendo com doçura, para afastar a ira, devem possuir a coragem de um herói para resistir ao mal. Com a caridade que tudo suporta, carecem de força de caráter para que sua influência exerça um poder positivo. CBVc 223 4 Algumas pessoas não têm firmeza de caráter. Seus planos e objetivos não têm uma forma definida, nem consistência. São de muito pouca utilidade prática no mundo. Esta fraqueza, indecisão e ineficácia deve ser vencida. Há no verdadeiro caráter cristão uma indomabilidade que não pode ser adaptada nem submetida por circunstâncias adversas. Devemos ter fibra moral, uma integridade que não ceda à lisonja, nem à corrupção, nem às ameaças. CBVc 223 5 Deus deseja que aproveitemos todas as oportunidades de assegurar uma preparação para a Sua obra. Espera que Lhe submetamos todas as nossas energias, e conservemos o coração atento à sua santidade e responsabilidades terríveis. CBVc 223 6 Muitos dos que são classificados para fazer um trabalho excelente obtêm pouco porque pouco empreendem. Muitos atravessam a vida como se não tivessem nenhum grande objetivo, nenhum ideal a atingir. Uma das razões por que tal sucede é avaliarem-se abaixo de seu valor real. Cristo pagou um infinito preço por nós, e deseja que nos mantenhamos à altura do preço que custamos. CBVc 224 1 Não vos contenteis em atingir um ideal baixo. Não somos o que poderíamos ser e o que Deus quer que sejamos. Deus concedeu-nos faculdades de raciocínio, não para que fiquem inativas ou sejam pervertidas por ocupações terrenas e sórdidas, mas para que sejam desenvolvidas ao máximo, refinadas, santificadas, enobrecidas e empregadas no avanço dos interesses de Seu reino. CBVc 224 2 Ninguém deve consentir em ser uma simples máquina, acionada pelo espírito de outro homem. Deus nos concedeu poder para pensar e agir, e é agindo com cuidado, pedindo-Lhe sabedoria, que podemos tornar-nos aptos a desempenhar posições de responsabilidade. Mantende-vos na personalidade que recebestes de Deus. Não sejais a sombra de outra pessoa. Esperai que o Senhor opere em vós, convosco e por vós. CBVc 224 3 Nunca penseis que já aprendestes o suficiente, e que podeis afrouxar agora vossos esforços. O espírito cultivado é a medida do homem. Vossa educação deve continuar através da vida inteira; deveis aprender todos os dias, e pôr em prática os conhecimentos adquiridos. CBVc 224 4 Lembrai-vos que em qualquer posição em que servirdes estais revelando motivos, desenvolvendo o caráter. Seja qual for vosso trabalho, fazei-o com exatidão, com diligência; vencei a inclinação de procurar uma ocupação fácil. CBVc 224 5 O mesmo espírito e princípios que animam o trabalho de cada dia irão se manifestar através de toda a vida. Os que desejam apenas uma quantidade determinada de trabalho e um salário fixo, e que procuram encontrar um emprego exatamente adaptado às suas aptidões, sem a necessidade de se preocupar em adquirir novos conhecimentos e em aperfeiçoar-se, não são os que Deus chama a trabalhar em Sua causa. Os que procuram dar o menos possível de suas forças físicas, espirituais e morais não são os trabalhadores sobre quem derramará abundantes bênçãos. Seu exemplo é contagioso. O interesse próprio é seu móvel supremo. Os que necessitam ser vigiados e trabalham apenas quando cada dever lhes é especificado não pertencem ao número dos que serão chamados bons e fiéis. Precisam-se obreiros que manifestem energia, integridade, diligência, e que estejam prontos a colaborar no que seja necessário que façam. CBVc 224 6 Muitos tornam-se inúteis fugindo a responsabilidades com receio de insucesso. Deixam assim de adquirir a educação que provém das lições da experiência, e que a leitura ou estudo e quaisquer outras vantagens ganhas não lhes podem dar. CBVc 224 7 O homem pode moldar as circunstâncias, mas não deve permitir que as circunstâncias o moldem. Devemos aproveitá-las como instrumentos de trabalho; sujeitá-las, mas não deixar que elas nos sujeitem. CBVc 225 1 Os homens de energia são aqueles que sofreram oposição, escárnio e obstáculos. Pondo suas energias em ação, os obstáculos que encontram constituem para eles positivas bênçãos. Ganham confiança em si mesmos. CBVc 225 2 Os conflitos e perplexidades provocam o exercício da confiança em Deus, e aquela firmeza que desenvolve a força. Cristo não fez um serviço limitado. Não mediu o trabalho por horas. Seu tempo, Seu coração, Sua alma e força foram dadas ao trabalho para o bem da humanidade. Passava os dias em trabalho fatigante; transcorria longas noites prostrado em oração, pedindo graça e paciência para poder fazer um trabalho mais amplo. Com fortes gemidos e lágrimas, dirigia Suas petições ao Céu, para que fosse fortalecida a Sua natureza humana, a fim de poder estar preparado a lutar contra o inimigo e fortalecido para cumprir a missão de melhorar a humanidade. Cristo disse aos Seus obreiros: "Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também". João 13:15. CBVc 225 3 "O amor de Cristo nos constrange", dizia Paulo. 2 Coríntios 5:14. Tal era a norma que dirigia a sua conduta. Se alguma vez seu ardor no caminho do dever enfraquecia por momentos, um olhar para a cruz lhe fazia cingir de novo os rins do seu entendimento (Isaías 11:5), e o impelia no caminho da abnegação. Nos trabalhos pelos irmãos, contava com a manifestação de infinito amor do sacrifício de Cristo, com o seu poder de subjugar e convencer os corações. CBVc 225 4 Quão vibrante e tocante é o apelo: "Já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis". 2 Coríntios 8:9. Sabeis a altura de que Ele desceu, a profundeza de humilhação a que Se sujeitou; Seus pés caminharam na senda do sacrifício, e não se apartaram dela até que deu Sua vida. Para Ele não houve descanso entre o trono do Céu e a cruz. Seu amor pelo homem levou-O a aceitar todas as indignidades e a suportar todos os abusos. CBVc 225 5 Paulo admoesta-nos: "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros". Filipenses 2:4. Pede-nos que possuamos o sentimento "que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz". Filipenses 2:5-8. CBVc 225 6 Paulo ansiava profundamente que a humilhação de Cristo fosse vista e compreendida. Estava convencido de que se os homens pudessem ser conduzidos a considerar o sacrifício estupendo feito pela Majestade do Céu, o egoísmo seria banido dos corações. O apóstolo se detém demoradamente sobre ponto após ponto, para que possamos compreender de alguma forma a maravilhosa condescendência do Salvador a favor dos pecadores. Ele dirige primeiro a atenção para a posição que Jesus Cristo ocupava nos Céus, no seio do Pai; revela-O em seguida renunciando à Sua glória, sujeitando-Se voluntariamente às condições humildes da vida humana, assumindo as responsabilidades de servo, e tornando-Se obediente até à morte mais ignominiosa e revoltante e a mais penosa -- a morte de cruz. Podemos nós contemplar esta maravilhosa manifestação do amor de Deus sem gratidão e amor e o profundo sentimento do fato de que nos não pertencemos a nós próprios? Tal Mestre não deveria ser servido por motivos interesseiros e egoístas. CBVc 226 1 Sabei, diz Pedro, "que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados". 1 Pedro 1:18. Oh, se isso bastasse para conseguir a salvação do homem, quão facilmente podia ter sido realizada por Aquele que disse: "Minha é a prata, e Meu é o ouro". Ageu 2:8. Mas o pecador não podia ser resgatado senão pelo sangue precioso do Filho de Deus. Aqueles que, deixando de apreciar este sacrifício maravilhoso, se eximem do serviço de Cristo, perecerão no seu egoísmo. CBVc 226 2 Sinceridade de propósito -- Na vida de Cristo, tudo era subordinado à Sua obra, à obra de redenção que Ele veio cumprir. A mesma consagração, renúncia e sacrifício, a mesma submissão às prescrições da Palavra de Deus, devem ser manifestadas em Seus discípulos. CBVc 226 3 Todo o que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal ansiará pelo privilégio de servir a Deus. Contemplando o que o Céu fez por ele, seu coração enche-se de amor sem limites e de rendida gratidão. Está ansioso por manifestar seu reconhecimento, consagrando suas faculdades ao serviço de Deus. Suspira por mostrar amor a Cristo e aos Seus remidos. Ambiciona trabalhos, dificuldades, sacrifícios. CBVc 226 4 O verdadeiro obreiro na causa de Deus fará o melhor, pois que assim fazendo pode glorificar seu Mestre. Procederá retamente a fim de respeitar as reivindicações de Deus. Esforçar-se-á por melhorar todas as suas faculdades. Cumprirá cada dever com os olhos em Deus. Seu único desejo será que Cristo possa receber homenagem e perfeito serviço. CBVc 226 5 Há um quadro representando um boi parado entre um arado e um altar, com a seguinte inscrição: "Pronto para um ou para outro", pronto para o trabalho do campo ou para ser oferecido sobre o altar do sacrifício. Tal é a posição do verdadeiro filho de Deus -- pronto para ir aonde o dever o chama, negar-se a si mesmo, sacrificar-se pela causa do Redentor. ------------------------Capítulo 42 -- Uma experiência elevada CBVc 227 1 Necessitamos constantemente de uma revelação nova de Cristo, de uma experiência diária que ser harmonize com os Seus ensinos. Estão ao nosso alcance resultados altos e santos. Deus deseja que façamos contínuos progressos na ciência e na virtude. Sua lei é um eco de Sua própria voz, fazendo a todos o convite: "Subi mais alto. Sede santos, mais santos ainda." Cada dia podemos avançar no aperfeiçoamento do caráter cristão. CBVc 227 2 Os que estão consagrados ao serviço do Mestre necessitam de uma experiência mais alta, profunda e ampla, que muitos nem sequer pensam ter. Muitas pessoas que são já membros da grande família de Deus pouco sabem do que quer dizer contemplar Sua glória, e ser mudadas de glória em glória. Muitos possuem uma vaga percepção da excelência de Cristo, e contudo seu coração palpita de alegria. Anseiam por um mais completo e profundo sentimento do amor do Salvador. Que eles nutram todas as aspirações da alma para Deus. O Espírito Santo trabalha aqueles que desejam ser trabalhados, molda os que desejam ser moldados, cinzela os que desejam ser cinzelados. Obtende por vós mesmos a cultura de pensamentos espirituais e santas comunhões. Não vistes ainda senão os primeiros raios do despontar da aurora de Sua glória. À medida que avançardes no conhecimento do Senhor, aprendereis que "a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito". Provérbios 4:18. CBVc 227 3 "Tenho-os dito isso", disse Cristo, "para que a Minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa". João 15:11. CBVc 227 4 Jesus via sempre diante dEle o resultado da Sua missão. Sua vida terrena, tão cheia de trabalhos e sacrifícios, era iluminada pelo pensamento de que não seria em vão todo o Seu trabalho. Dando a vida pela vida dos homens, restauraria na humanidade a imagem de Deus. E havia de nos levantar do pó, reformar o caráter segundo o modelo de Seu próprio caráter, e torná-lo belo com Sua própria glória. CBVc 227 5 Cristo viu os resultados do trabalho de Sua alma e ficou satisfeito. Olhou através da eternidade, e viu a felicidade daqueles que pela Sua humilhação haviam de receber o perdão e a vida eterna. Foi ferido pelas suas transgressões, moído pelas suas iniqüidades. O castigo que lhes havia de trazer a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras seriam sarados. Ele ouvia as exclamações de júbilo dos remidos. Ouvia os resgatados cantando o cântico de Moisés e do Cordeiro. Ainda que devesse primeiro ser recebido o batismo de sangue, ainda que os pecados do mundo devessem pesar sobre a Sua alma inocente, ainda que a sombra de uma indescritível mágoa pairasse sobre Ele; por causa da alegria que O esperava, preferiu sofrer a cruz e desprezou a afronta. CBVc 228 1 Todos os Seus seguidores devem participar dessa alegria. Por grande e gloriosa que seja a vida futura, nossa recompensa não é inteiramente reservada para o dia da libertação final. Mesmo na Terra, podemos pela fé entrar na alegria do Senhor. Como Moisés, devemos estar firmes como se víssemos o Invisível. CBVc 228 2 Agora a Igreja é militante. Agora temos de enfrentar um mundo de trevas, quase inteiramente dado à idolatria. Mas está chegando o dia em que será travada a batalha e ganha a vitória. A vontade de Deus deve ser feita na Terra como o é nos Céus. As nações dos remidos não conhecerão outra lei senão a lei dos Céus. Todos serão uma família unida e feliz, revestida com as vestes de louvor e ações de graças -- as vestes da justiça de Cristo. Toda a natureza, em sua incomparável formosura, oferecerá a Deus um tributo de louvor e adoração. O mundo será banhado com a luz do Céu. A luz da Lua será como a luz do Sol, e a luz do Sol será sete vezes maior do que é hoje. Os anos decorrerão na alegria. Sobre essa cena, as estrelas da manhã cantarão em uníssono, e os filhos de Deus exultarão de alegria, enquanto Deus e Cristo Se unirão proclamando: "Não haverá mais pecado nem morte." Apocalipse 21:4. CBVc 228 3 Estas visões da glória futura, cenas pintadas pela mão de Deus, devem ser amadas pelos Seus filhos. CBVc 228 4 Detende-vos no limiar da eternidade, e escutai as alegres boas-vindas dadas àqueles que nesta vida cooperaram com Cristo, considerando como privilégio e honra sofrer por Sua causa. Com os anjos, eles lançam suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. [...] Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Apocalipse 5:12, 13. CBVc 228 5 Aí os remidos saúdam aqueles que os conduziram ao excelso Salvador. Unem-se no louvor dAquele que morreu para que os seres humanos pudessem fruir a vida que se mede com a de Deus. O conflito está terminado. As tribulações e lutas chegaram ao fim. Cânticos de vitória enchem todo o Céu, enquanto os remidos permanecem em volta do trono de Deus. Todos entoam o jubiloso coro: "Digno é o Cordeiro, que foi morto" (Apocalipse 5:12) e que nos remiu para Deus. CBVc 228 6 "Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro". Apocalipse 7:9, 10. CBVc 229 1 "Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima". Apocalipse 7:14-17. "E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas". Apocalipse 21:4. CBVc 229 2 Necessitamos conservar constantemente diante de nós este quadro das coisas invisíveis. É assim que nos tornaremos aptos para atribuir um justo valor às coisas da eternidade e às do tempo. É assim que empregaremos nossas faculdades influenciando os outros para uma vida mais santa. CBVc 229 3 No monte com Deus -- "Sobe a Mim, ao monte", diz-nos Deus. Êxodo 24:12. A Moisés, antes de poder ser o instrumento de Deus na libertação de Israel, foram destinados quarenta anos de comunhão com Ele, na solidão das montanhas. Antes de levar a mensagem de Deus a Faraó, falou com o Anjo na sarça ardente. Antes de receber a lei de Deus como representante de Seu povo, foi chamado ao monte e contemplou a glória divina. Antes de executar justiça contra os idólatras, esteve escondido na fenda da rocha, e o Senhor lhe disse: "Eu [...] apregoarei o nome do Senhor diante de ti" (Êxodo 33:19), "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; [...] que ao culpado não tem por inocente". Êxodo 34:6, 7. Antes de abandonar, com a sua vida, a missão de condutor de Israel, chamou-o Deus ao cume do Pisga, e fez passar sob seus olhos a glória da terra prometida. CBVc 229 4 Antes que os discípulos partissem para a sua missão, foram chamados ao monte com Jesus. Antes do poder e glória do Pentecoste, veio a noite de comunhão com o Salvador, o encontro num monte da Galiléia, a cena de despedida sobre o Monte das Oliveiras, com a promessa dos anjos, e os dias de oração e comunhão no cenáculo. CBVc 229 5 Quando Jesus Se preparava para alguma grande prova ou para alguma obra importante, afastava-Se para a solidão dos montes, e passava a noite orando a Seu Pai. Uma noite de oração precedeu a consagração dos apóstolos e o sermão da montanha, a transfiguração, a agonia da sala do juízo e da cruz, e a glória da ressurreição. CBVc 229 6 O privilégio da oração -- Nós também temos de ter um tempo para a meditação e oração, e para receber conforto espiritual. Não apreciamos como devíamos o poder e eficácia da oração. A oração e a fé farão o que nenhum poder da Terra conseguirá realizar. Raramente somos colocados duas vezes nas mesmas circunstâncias sob todos os pontos de vista. Experimentamos continuamente novas cenas e novas provas, onde a experiência passada não pode ser um guia suficiente. Temos de ter a luz perene que vem de Deus. CBVc 230 1 Cristo envia sempre mensagens aos que estão atentos à Sua voz. Na noite da agonia, no Getsêmani, os discípulos adormecidos não ouviram a voz de Jesus. Tinham um sentimento obscuro da presença dos anjos, mas não se deram conta do poder e glória da cena. Devido ao seu torpor e sonolência, não receberam a evidência que lhes teria fortalecido a alma para as terríveis cenas que ocorreriam. Hoje, da mesma forma, os que têm mais necessidade da instrução divina não a recebem, muitas vezes, porque não se põem em comunhão com o Céu. CBVc 230 2 As tentações a que todos os dias estamos expostos fazem da oração uma necessidade. Os perigos nos assaltam em todo caminho. Os que procuram arrebatar os outros do vício e da ruína, estão particularmente expostos à tentação. Em constante contato com o mal, necessitam apegar-se fortemente a Deus, para não serem eles mesmos corrompidos. Breves e decisivos são os passos que conduzem os homens de um plano elevado e santo a um nível inferior. Num só momento, podem ser tomadas decisões que determinam o destino eterno. Uma fraqueza por vencer deixa o indivíduo desamparado. Um mau hábito, a que se não resistiu com firmeza, fortalecer-se-á em cadeias de aço, prendendo-o completamente. CBVc 230 3 O motivo por que tantos são abandonados a si mesmos em lugares de tentação é não terem o Senhor constantemente diante dos olhos. Quando permitimos que nossa comunhão com Deus seja quebrada, ficamos sem defesa. Todos os bons objetivos e boas intenções que tenhais não vos tornarão aptos a resistir ao mal. Deveis ser homens e mulheres de oração. Vossas petições não devem ser débeis, ocasionais e apressadas, mas fervorosas, perseverantes e constantes. Para orar não é necessário que estejais sempre prostrados de joelhos. Cultivai o hábito de falar com o Salvador quando sós, quando estais caminhando e quando ocupados com os trabalhos diários. Que vosso coração se eleve de contínuo, em silêncio, pedindo auxílio, luz, força, conhecimento. Que cada respiração seja uma oração. CBVc 230 4 Como obreiros de Deus, devemos atingir os homens onde eles estão, rodeados de trevas, atolados no vício, manchados pela corrupção. Mas, fixando os olhares sobre Aquele que é o nosso Sol e a nossa proteção, o mal que nos rodeia não manchará nossas vestes. Trabalhando para salvar as almas que estão prestes a perecer, não seremos envergonhados se pusermos confiança em Deus. Cristo no coração, Cristo na vida, eis a nossa segurança. A atmosfera de Sua presença encherá a alma de horror a tudo o que é mau. Nosso espírito pode de tal maneira identificar-se com o Seu, que seremos um com Ele em nossos pensamentos e intenções. CBVc 231 1 Foi pela fé e oração que Jacó, de homem fraco e pecador, com o auxílio de Deus se tornou um príncipe. É assim que vos podeis tornar homens e mulheres de santo e alto ideal, de vida nobre, homens e mulheres que por motivo nenhum se deixarão transviar da verdade, do direito e da justiça. Sois assaltados por urgentes cuidados, responsabilidades e deveres, mas quanto mais difícil for vossa posição e mais pesadas vossas responsabilidades, tanto mais careceis de Jesus. CBVc 231 2 É um erro grave negligenciar a adoração pública de Deus. Os privilégios do culto divino não devem ser considerados levianamente. Os que assistem aos doentes encontram-se muitas vezes impossibilitados de desfrutar desses privilégios, mas devem ser cuidadosos em não deixar de freqüentar, sem razão plausível, a casa de oração. Na assistência aos doentes, mais do que em qualquer outra ocupação secular, o bom êxito depende do espírito de consagração e abnegação com que o trabalho é feito. Os que desempenham responsabilidades carecem de se colocar onde possam ser profundamente impressionados pelo Espírito de Deus. Mais do que ninguém, deveis ansiar pelo auxílio do Espírito Santo e pelo conhecimento de Deus, tanto mais quanto vossa posição de confiança é de maior responsabilidade que a dos outros. Nada é mais necessário em vossos trabalhos do que os resultados práticos da comunhão com Deus. Devemos mostrar, em nossa vida diária, que temos paz e descanso no Senhor. Essa paz no coração resplandecerá na fisionomia. Imprimirá à voz uma força persuasiva. A comunhão com Deus refletirá no caráter e na vida. Os homens conhecerão em nós, como nos primeiros discípulos, que estivemos com Jesus. Eis o que dá ao obreiro um poder que nada mais será capaz de lhe comunicar. Jamais devemos permitir ser privados de tal poder. Carecemos de viver uma dupla vida -- vida de pensamento e de ação, de silenciosa prece e infatigável trabalho. A energia recebida pela comunhão com Deus, unida ao ardente esforço de educar o espírito em hábitos ponderados e cautelosos, preparam para os deveres de cada dia, e conservam o espírito em paz em todas as circunstâncias, ainda as mais adversas. CBVc 231 3 O divino conselheiro -- Quando estão em dificuldades, muitos pensam que devem apelar para algum amigo terrestre, contar-lhe suas perplexidades e pedir-lhe socorro. Sob circunstâncias difíceis, a descrença enche-lhes o coração, e o caminho parece sombrio. Contudo, ali está sempre a seu lado o poderoso e eterno Conselheiro convidando-os a depositar nEle sua confiança. Jesus, o que sobre Si levou nossos cuidados, diz-nos: "Vinde a Mim, e encontrareis descanso." Afastar-nos-emos dEle para recorrer a falíveis seres humanos, tão dependentes de Deus como nós próprios? CBVc 231 4 Podeis sentir a imperfeição do vosso caráter e a insignificância das vossas capacidades, em comparação com a grandeza da obra. Mas, ainda que tivésseis a maior inteligência, isso não bastaria para vosso trabalho. "Sem Mim nada podereis fazer", diz nosso Senhor e Salvador. João 15:5. O resultado de tudo o que fazemos está nas mãos de Deus. Suceda o que suceder, deponde nEle uma confiança firme e perseverante. CBVc 232 1 Em vossos negócios, nas amizades das horas de lazer, e no casamento, que todas as relações sociais que tiverdes sejam empreendidas com fervorosa e humilde oração. Mostrareis assim que honrais a Deus e Deus vos honrará a vós. Orai quando estiverdes abatidos. Em ocasiões de desânimo, nada digais aos outros; não espalheis sombra no caminho do próximo; mas contai tudo a Jesus. Levantai as mãos em demanda de auxílio. Em vossa fraqueza apegai-vos à força infinita. Suplicai humildade, sabedoria, coragem, aumento de fé, para que possais ver luz na luz de Deus e rejubilar no Seu amor. CBVc 232 2 Confiança -- Quando somos humildes e contritos, estamos onde Deus pode e quer manifestar-Se a nós. Ele Se agrada quando insistimos em que as graças e bênçãos passadas são razão para nos conceder bênçãos maiores. Ultrapassará as expectativas dos que inteiramente nEle confiam. O Senhor Jesus sabe bem o que Seus filhos precisam, quanto de divino poder consagrarão para o bem da humanidade, e Ele nos concede tudo o que empregarmos, beneficiando o próximo e enobrecendo nossa própria vida. CBVc 232 3 Devemos ter menos confiança no que podemos por nós mesmos fazer, e mais confiança no que o Senhor para nós e por nós pode fazer. Não estais empenhados em vossa própria obra, mas sim na de Deus. Submetei-Lhe vossa vontade e vossos desígnios. Não façais uma única reserva, uma única contemporização com vós mesmos. Aprendei o que é ser livres em Cristo. CBVc 232 4 A simples audição de sermões sábado após sábado, a leitura da Bíblia de ponta a ponta, ou sua explicação verso por verso, não nos aproveitará nem aos que nos ouvem, se não vivermos as verdades da Bíblia em nossa experiência habitual. O entendimento, a vontade e os afetos devem ser submetidos ao domínio da Palavra de Deus. Então, pela obra do Espírito Santo, os preceitos da Palavra se tornarão princípios de vida. CBVc 232 5 Quando pedis ao Senhor que vos ajude, honrai o Salvador crendo que recebereis Sua bênção. Todo o poder e toda a sabedoria estão à nossa disposição. Nada mais temos a fazer do que pedir. CBVc 232 6 Andai continuamente na luz de Deus. Meditai dia e noite no Seu caráter. Então vereis Sua beleza e exultareis em Sua bondade. Vosso coração se abrasará com o sentimento do Seu amor. Sereis erguidos, como se fôsseis transportados por braços eternos. Com o poder e luz que Deus concede, podeis compreender e realizar mais do que antes julgáveis possível. ------------------------Caminho a Cristo CC 9 1 Capítulo 1 -- O cuidado de Deus CC 17 1 Capítulo 2 -- A ponte sobre o abismo CC 23 1 Capítulo 3 -- Mudança de rumo CC 37 1 Capítulo 4 -- Abra o coração a Deus CC 43 1 Capítulo 5 -- Consagração CC 49 1 Capítulo 6 -- Um direito seu CC 57 1 Capítulo 7 -- A obediência é um privilégio CC 67 1 Capítulo 8 -- Crescimento em Cristo CC 77 1 Capítulo 9 -- Atividade e vida CC 85 1 Capítulo 10 -- O Deus que eu conheço CC 93 1 Capítulo 11 -- O privilégio de falar com Deus CC 105 1 Capítulo 12 -- Expulse a dúvida CC 115 1 Capítulo 13 -- Regozijo no Senhor ------------------------Capítulo 1 — O cuidado de Deus CC 9 1 A natureza e a Revelação, ambas dão testemunho do amor de Deus. Nosso Pai celeste é a fonte de vida, de sabedoria e de felicidade. Contemplai as belas e maravilhosas obras da natureza. Considerai a sua admirável adaptação às necessidades e à felicidade, não só do homem, mas de todas as criaturas viventes. O sol e a chuva, que alegram e refrigeram a terra; as colinas, e mares e planícies — tudo nos fala do amor de quem tudo criou. É Deus quem supre as necessidades cotidianas de todas as Suas criaturas, como tão belamente o exprime o salmista nestas palavras: CC 9 2 "Os olhos de todos esperam em Ti, E Tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a mão E satisfazes os desejos de todos os viventes." Salmos 145:15-16. CC 9 3 Deus criou o homem perfeitamente santo e feliz; e a formosa Terra, ao sair das mãos do Criador, não apresentava nenhum vestígio de decadência ou sombra de maldição. Foi a transgressão da lei de Deus -- a lei do amor -- que trouxe sofrimento e morte. Contudo, mesmo em meio dos sofrimentos que resultam do pecado, revela-se ainda o amor de Deus. Está escrito que Deus amaldiçoou a Terra por causa do homem. Gênesis 3:17. Os espinhos e cardos -- as dificuldades e provações que tornam a vida cheia de trabalhos e cuidados -- foram designados para o seu bem, constituindo no plano de Deus uma parte da escola necessária para seu reerguimento da ruína e degradação que o pecado operou. O mundo, embora caído, não é todo tristeza e miséria. Na própria natureza há mensagens de esperança e conforto. Há flores sobre os cardos, e os espinhos acham-se cobertos de rosas. CC 10 1 "Deus é amor" (1 João 4:8), está escrito sobre cada botão que desabrocha, sobre cada haste de erva que brota. Os amáveis passarinhos, a encher de música o ar, com seus alegres trinos; as flores de delicados matizes, em sua perfeição, impregnando os ares de perfume; as altaneiras árvores da floresta, com sua luxuriante ramagem de um verde vivo -- todos testificam da terna e paternal solicitude de nosso Deus, e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos. CC 10 2 A Palavra de Deus revela o Seu caráter. Ele mesmo proclamou Seu infinito amor e misericórdia. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória", o Senhor respondeu: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti." Êxodo 33:18-19. Essa é a Sua glória. Ele passou diante de Moisés, e proclamou: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado" (Êxodo 34:6-7), Ele é "longânimo e grande em benignidade" (Jonas 4:2), "porque tem prazer na benignidade". Miqueias 7:18. CC 10 3 Deus ligou a Si nosso coração por inúmeras provas no Céu e na Terra. Pelas obras da natureza, e os mais profundos e ternos laços terrestres que pode imaginar o coração humano, procurou Ele revelar-Se a nós. No entanto, estas coisas só muito imperfeitamente representam o Seu amor. Não obstante todas essas provas, o inimigo do bem cegou o espírito dos homens, de maneira que foram levados a olhar a Deus com temor, considerando-O severo e inexorável. Satanás levou o homem a imaginar Deus como um Ser cujo principal atributo fosse a justiça severa -- um rigoroso juiz, e credor exigente e cruel. Representou o Criador como um ser que espreita desconfiado, procurando discernir os erros e pecados dos homens, para que possa trazer juízos sobre eles. Foi para dissipar essa negra sombra, revelando ao mundo o infinito amor de Deus, que Jesus baixou para viver entre os homens. CC 11 1 O Filho de Deus veio do Céu para revelar o Pai. "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, Este O fez conhecer." João 1:18. "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar." Mateus 11:27. Quando um dos discípulos fez o pedido: "Senhor, mostra-nos o Pai", Jesus respondeu: "Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" João 14:8-9. CC 11 2 Descrevendo a Sua missão terrestre, disse Jesus: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos." Lucas 4:18-19. Essa foi a Sua obra. Andava fazendo o bem, curando os oprimidos por Satanás. Havia aldeias inteiras onde não existia mais nenhuma casa em que se ouvissem lamentos de enfermo, porque Jesus por elas passara e lhes curara os doentes. Sua obra dava testemunho de Sua unção divina. Amor, misericórdia e compaixão se patenteavam em cada ato de Sua vida. Seu coração anelava com terna simpatia pelos filhos dos homens. Revestiu-Se da natureza humana para poder atingir as necessidades do homem. Os mais pobres e humildes não receavam aproximar-se dele. Mesmo as criancinhas para Ele se sentiam atraídas. Gostavam de subir-Lhe aos joelhos e contemplar-Lhe o rosto pensativo, que refletia bondade e amor. CC 12 1 Jesus não suprimia da verdade uma palavra que fosse, mas sempre a proferia com amor. Em Seu convívio com o povo exercia o maior tato, dispensando-lhes atenta e bondosa consideração. Não era nunca rude; jamais pronunciava desnecessariamente uma palavra severa; nunca motivava dores desnecessárias a uma alma sensível. Não censurava as fraquezas humanas. Dizia a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a injustiça; mas o pranto transparecia em Sua voz quando proferia Suas fulminantes repreensões. Chorou sobre Jerusalém, a cidade que amava, e que recusava recebê-Lo a Ele que era o caminho, a verdade e a vida. Haviam-nO rejeitado, a Ele que era o Salvador, mas olhava-os com ternura e compaixão. Sua vida foi de abnegação e solícito cuidado pelos outros. Toda alma era preciosa aos Seus olhos. Se bem que sempre Se conduzisse com divina dignidade, inclinava-Se com a mais terna simpatia a cada membro da família de Deus. Via em todos os homens almas caídas, cuja salvação constituía o objeto de Sua missão. CC 12 2 Tal é o caráter de Cristo, revelado em Sua vida. Tal é também o caráter de Deus. É do coração do Pai que as torrentes da compaixão divina, manifestas em Cristo, fluem para os filhos dos homens. Jesus, o terno, compassivo Salvador, era Deus manifestado na carne. 1 Timóteo 3:16. CC 13 1 Foi para nos remir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Tornou-Se um Varão de dores, para que pudéssemos tornar-nos participantes das alegrias eternas. Deus permitiu que Seu Filho amado, cheio de graça e verdade, viesse de um mundo de indescritível glória para outro mareado e corrupto pelo pecado e obscurecido pela sombra da morte e da maldição. Consentiu em que Ele deixasse Seu amoroso seio e a adoração dos anjos, para sofrer a ignomínia, a injúria, a humilhação, o ódio e a morte. "O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados." Isaías 53:5. Ei-Lo no deserto, no Getsêmani, sobre a cruz! O imaculado Filho de Deus tomou sobre Si o fardo do pecado. Ele, que fora Um com Deus, sentiu na alma a terrível separação que o pecado causa entre Deus e o homem. Foi o que Lhe arrancou dos lábios o brado de angústia: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. Foi o peso do pecado, a sensação de sua terrível enormidade e da separação por ele causada entre Deus e a alma, que quebrantaram o coração do Filho de Deus. CC 13 2 Mas este grande sacrifício não foi feito para engendrar no coração do Pai o amor para com o homem, nem para dispô-Lo a salvá-lo. Não, não! "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. O Pai nos ama, não em virtude da grande propiciação; mas sim proveu a propiciação porque nos ama. Cristo foi o instrumento pelo qual Ele pôde entornar sobre um mundo caído o Seu infinito amor. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." 2 Coríntios 5:19. Sofreu juntamente com Seu Filho. Na agonia do Getsêmani, na morte sobre o Calvário, o coração do infinito Amor pagou o preço de nossa redenção. CC 14 1 Disse Jesus: "Por isso, o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la." João 10:17. Isto é: Meu Pai tanto vos amou, que mais ainda Me ama a Mim por dar a Minha vida a fim de vos redimir. Tornando-Me vosso Substituto e Penhor, entregando Minha vida, tomando sobre Mim vossas fraquezas e transgressões, sou muito amado de Meu Pai; porque em virtude de Meu sacrifício Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, "justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. CC 14 2 Ninguém senão o Filho de Deus poderia efetuar nossa redenção; pois unicamente Aquele que estivera no seio do Pai é que O podia revelar. Só Ele, que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus, podia manifestá-lo. Nada menos que o infinito sacrifício efetuado por Cristo em favor do homem caído, é que podia exprimir o amor do Pai pela humanidade perdida. CC 14 3 "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Ele O deu, não somente para que vivesse entre os homens, tomasse sobre Si os seus pecados, e morresse em sacrifício por eles; deu-O à raça caída. Cristo devia identificar-Se com os interesses e necessidades da humanidade. Ele, que era um com Deus, ligou-Se aos filhos dos homens por laços que nunca se romperão. Jesus "não Se envergonha de lhes chamar irmãos". Hebreus 2:11. Ele é nosso sacrifício, nosso Advogado, nosso Irmão, apresentando nossa forma humana perante o trono do Pai, achando-Se, através dos séculos eternos, unido à raça que Ele -- o Filho do homem -- redimiu. E tudo isto para que o homem pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado, a fim de que refletisse o amor de Deus e participasse da alegria da santidade. CC 15 1 O preço pago por nossa redenção, o infinito sacrifício de nosso Pai celestial em entregar Seu Filho para morrer por nós, deveria inspirar-nos idéias elevadas sobre o que nos podemos tornar por meio de Cristo. Quando o inspirado apóstolo João contemplou a altura, a profundidade e a amplidão do amor do Pai para com a raça perdida, foi possuído de um espírito de adoração e reverência; e, não podendo encontrar linguagem apropriada para exprimir a grandeza e ternura desse amor, chamou para ele a atenção do mundo. "Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Em que grande valor é tido o homem! Pela transgressão tornam-se os filhos dos homens sujeitos a Satanás. Pela fé no sacrifício expiatório de Cristo, os filhos de Adão podem voltar a ser filhos de Deus. Assumindo a natureza humana, Cristo elevou a humanidade. Os homens caídos são colocados na posição em que, mediante a conexão com Cristo, podem na verdade tornar-se dignos do nome de "filhos de Deus". CC 15 2 Tal amor é incomparável. Filhos do celeste Rei! Preciosa promessa! Tema para a mais profunda meditação! O inigualável amor de Deus por um mundo que O não amou! Este pensamento exerce um poder subjugante sobre a alma e leva cativo o entendimento à vontade de Deus. Quanto mais estudarmos o caráter divino à luz que vem da cruz, tanto mais veremos a misericórdia, a ternura e o perdão aliados à eqüidade e à justiça, e tanto mais claro discerniremos as inumeráveis provas de um amor que é infinito, e de uma terna compaixão que sobrepuja o amor anelante de uma mãe para com o filho extraviado. ------------------------Capítulo 2 -- A ponte sobre o abismo CC 17 1 O homem foi originariamente dotado de nobres faculdades e de um espírito bem equilibrado. Era um ser perfeito, e estava em harmonia com Deus. Seus pensamentos eram puros, santos os seus intentos. Mas pela desobediência, suas faculdades foram pervertidas, e o egoísmo tomou o lugar do amor. Sua natureza tornou-se tão enfraquecida pela transgressão que lhe era impossível, em sua própria força, resistir ao poder do mal. Fez-se cativo de Satanás, e assim teria permanecido para sempre se Deus não tivesse intervindo de modo especial. Era desígnio do tentador frustrar o plano divino quanto à criação do homem, e encher a Terra de miséria e desolação. E todo este mal ele apontava como conseqüência da criação do homem por Deus. CC 17 2 Em seu estado de inocência mantinha o homem feliz comunhão com Aquele "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Colossences 2:3. Depois de pecar, porém, já não podia encontrar alegria na santidade, e procurou esconder-se da presença de Deus. Tal é ainda hoje o estado do coração não convertido. Não está em harmonia com Deus e não encontra prazer na comunhão com Ele. O pecador não poderia sentir-se feliz na presença de Deus; esquivar-se-ia ao contato dos seres santos. Se lhe fosse permitido entrar no Céu, este nenhuma alegria lhe proporcionaria. O espírito de abnegado amor que ali reina -- onde cada coração reflete o Infinito Amor -- não encontraria eco em sua alma. Seus pensamentos, seus interesses, seus motivos seriam bem diferentes dos que animam os imaculados habitantes dali. Seria uma nota discordante na melodia celeste. O Céu ser-lhe-ia um lugar de suplícios; almejaria ocultar-se daquele que ali é luz e centro de todas as alegrias. Não é um decreto arbitrário da parte de Deus que veda o Céu aos ímpios; estes são excluídos por sua própria inaptidão para dele participar. A glória de Deus ser-lhes-ia um fogo consumidor. Prefeririam a destruição, para serem escondidos da face dAquele que morreu para os redimir. CC 18 1 É-nos impossível, por nós mesmos, escapar ao abismo do pecado em que estamos mergulhados. Nosso coração é ímpio, e não o podemos transformar. "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!" Jó 14:4. "A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." Romanos 8:7. A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm sua devida esfera de ação, mas neste caso são impotentes. Poderão levar a um procedimento exteriormente correto, mas não podem mudar o coração; são incapazes de purificar as fontes da vida. É preciso um poder que opere interiormente, uma nova vida que proceda do alto, antes que os homens possam substituir o pecado pela santidade. Esse poder é Cristo. Sua graça, unicamente, é que pode avivar as amortecidas faculdades da alma, e atraí-la a Deus, à santidade. CC 18 2 Disse o Salvador: "Aquele que não nascer de novo"- não receber um novo coração, novos desejos, propósitos e motivos, que conduzem a uma nova vida -- "não pode ver o reino de Deus." João 3:3. A idéia de que basta desenvolver o bem que por natureza existe no homem, é um erro fatal. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." 1 Coríntios 2:14. "Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo." João 3:7. Acerca de Cristo diz a Escritura: "Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens" (João 1:4), e "nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos." Atos 4:12. CC 19 1 Não basta percebermos a benignidade de Deus, vermos a benevolência, a ternura paternal de Seu caráter. Não basta reconhecermos a sabedoria e justiça de Sua lei, e que ela se baseia sobre o eterno princípio do amor. Paulo, o apóstolo, reconheceu tudo isto quando exclamou: "Consinto com a lei, que é boa." "A lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom." Acrescentou, porém, na amargura de sua íntima angústia e desespero: "Mas eu sou carnal, vendido sob o pecado." Romanos 7:16, 12-14. Ansiava a pureza, a justiça, as quais era impotente para alcançar por si mesmo e exclamou: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. Tal é o brado que tem subido de corações oprimidos, em todas as terras e em todos os tempos. Para todos só existe uma resposta: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. CC 19 2 Muitas são as imagens pelas quais o Espírito de Deus tem procurado ilustrar esta verdade e torná-la clara às almas que suspiram por serem libertas do peso da culpa. Quando, depois de seu pecado de enganar a Esaú, Jacó fugiu do lar paterno, ficou abatido pela consciência da culpa. Solitário e desterrado como se achava, separado de tudo o que lhe havia tornado preciosa a vida, o pensamento que, acima de todos os outros, lhe oprimia a alma, era o temor de que seu pecado o alienara de Deus, e de que fora rejeitado pelo Céu. Com tristeza, deitou-se para repousar sobre a terra nua, tendo em volta de si apenas os solitários outeiros, e sobre si o céu resplandecente de estrelas. Quando dormia, estranha luz lhe feriu a vista: eis que, do plano que estava deitado, amplos e sombreados degraus pareciam erguer-se até às próprias portas do Céu, e sobre eles anjos de Deus subiam e desciam; enquanto, da glória acima, ouviu a voz de Deus em uma mensagem de conforto e esperança. Assim foi revelado a Jacó o que lhe podia satisfazer a necessidade e anseios da alma -- um Salvador. Com alegria e gratidão viu revelado um meio pelo qual ele, pecador, poderia ser restituído à comunhão com Deus. A mística escada de seu sonho representava Jesus, o único meio de comunicação entre Deus e o homem. CC 20 1 É este o mesmo quadro ao qual Se referiu Cristo em Sua palestra com Natanael, quando disse: "Vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem." João 1:51. Apostatando, o homem alienou-se de Deus; a Terra foi separada do Céu. Através do abismo existente entre eles, não podia haver comunicação. Mas por Cristo a Terra foi de novo ligada ao Céu. Com Seus próprios méritos, Cristo lançou uma ponte através do abismo que o pecado cavara, de maneira que os anjos ministradores podem manter comunhão com o homem. Cristo une o homem caído, em sua fraqueza e desamparo, à Fonte de infinito poder. CC 21 1 Em vão sonham os homens com o progresso; frustrados são todos os empenhos para o enobrecimento da humanidade, se passam por alto a única fonte de esperança e auxílio para a raça caída. "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito" (Tiago 1:17) vêm de Deus. Não há verdadeira excelência de caráter fora dele. A única senda que conduz a Deus é Cristo. Diz Ele: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." João 14:6. CC 21 2 O coração de Deus anseia por Seus filhos terrestres com amor mais forte que a morte. Entregando Seu Filho, nesse único Dom derramou sobre nós todo o Céu. A vida, morte e intercessão do Salvador, o ministério dos anjos, o pleitear do Espírito, o Pai operando acima de tudo e por tudo, o interesse incessante dos seres celestiais -- tudo se empenha em favor da redenção do homem. CC 21 3 Oh! consideremos o maravilhoso sacrifício que foi feito por nós! Procuremos avaliar o esforço e energia que o Céu dedica para reivindicar os perdidos e reconduzi-los ao lar paterno. Motivos mais fortes e instrumentos mais poderosos não poderiam jamais ser postos em operação; as excelentes recompensas de fazer o bem, a alegria do Céu, a sociedade dos anjos, a comunhão e o amor de Deus e Seu Filho, o enobrecimento e dilatação de todas as nossas faculdades através dos séculos da eternidade -- acaso não são, estes, poderosos incentivos e encorajamentos para nos impelir a consagrar ao nosso Criador e Redentor os mais amantes serviços do coração? CC 21 4 E, por outro lado, os juízos divinos pronunciados contra o pecado, a inevitável retribuição, a degradação do nosso caráter e o final aniquilamento, são-nos apresentados na Palavra de Deus a fim de nos advertir contra o serviço de Satanás. CC 22 1 Não deveríamos considerar a misericórdia divina? Que mais poderia Deus fazer? Relacionemo-nos, pois, devidamente com Aquele que nos amou com maravilhoso amor. Prevaleçamo-nos dos meios que nos foram providos, para sermos transformados à Sua semelhança e restaurados à comunhão com os anjos ministradores, à harmonia e comunhão com o Pai e o Filho. ------------------------Capítulo 3 -- Mudança de rumo CC 23 1 Como pode alguém ser justo diante de Deus? Como pode o pecador ser justificado? É unicamente por meio de Cristo que podemos ser postos em harmonia com Deus, com a santidade; mas como devemos chegar a Cristo? Muitos fazem hoje a mesma pergunta que fez a multidão no dia de Pentecoste, quando, convencidos do pecado, clamaram: "Que faremos?" Atos 2:37. A primeira palavra da resposta de Pedro foi: "Arrependei-vos." Atos 2:38. Noutra ocasião, logo depois, disse: "Arrependei-vos, ... e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados." Atos 3:19. CC 23 2 O arrependimento compreende tristeza pelo pecado e afastamento do mesmo. Não renunciaremos ao pecado enquanto não reconhecermos a sua malignidade; enquanto dele não nos afastarmos sinceramente, não haverá em nós uma mudança real da vida. CC 23 3 Muitos há que não compreendem a verdadeira natureza do arrependimento. Multidões de pessoas se entristecem pelos seus pecados, efetuando mesmo exteriormente uma reforma, porque receiam que seu mau procedimento lhes traga sofrimentos. Mas não é este o arrependimento segundo o sentido que lhe dá a Bíblia. Lamentam antes os sofrimentos, do que o próprio pecado. Tal foi a tristeza de Esaú quando viu que perdera para sempre o direito da primogenitura. Balaão, aterrado à vista do anjo que se lhe pusera no caminho com a espada alçada, reconheceu seu pecado porque temia que devesse perder a vida; não teve, porém, genuíno arrependimento do pecado, nem mudança de propósito ou aborrecimento do mal. Judas Iscariotes, depois de haver traído seu Senhor, exclamou: "Pequei, traindo sangue inocente." Mateus 27:4. CC 24 1 A confissão foi arrancada de sua alma culpada, por uma horrível consciência de condenação e temerosa expectação do juízo. As conseqüências que o aguardavam enchiam-no de terror; mas não houve em sua alma uma profunda e dolorosa tristeza por haver traído o imaculado Filho de Deus e negado o Santo de Israel. Faraó, quando sofria sob os juízos de Deus, reconheceu seu pecado, para escapar a castigos posteriores; mas voltava a desafiar o Céu apenas suspensas as pragas. Todos esses lamentaram as conseqüências do pecado, mas não se entristeceram pelo próprio pecado. CC 24 2 Quando, porém, o coração cede à influência do Espírito de Deus, a consciência é despertada, e o pecador discerne alguma coisa da profundeza e santidade da lei de Deus, base de Seu governo no Céu e na Terra. A "luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo" (João 1:9), ilumina também os secretos escaninhos da alma, e as coisas ocultas das trevas se põem a descoberto. A convicção se apodera do espírito e da alma. O pecador tem então uma intuição da justiça de Jeová e experimenta horror ante a idéia de aparecer, em sua própria culpa e impureza, perante o Perscrutador dos corações. Vê o amor de Deus, a beleza da santidade, a exaltação da pureza; anseia por ser purificado e reintegrado na comunhão do Céu. CC 24 3 A oração de Davi, depois de sua queda, ilustra a natureza da verdadeira tristeza pelo pecado. Seu arrependimento foi sincero e profundo. Não fez nenhum empenho por atenuar a culpa; nenhum desejo de escapar ao juízo que o ameaçava lhe inspirou a oração. Reconheceu a enormidade de sua transgressão; viu a contaminação de sua alma; aborreceu o pecado. Não suplicava unicamente o perdão, mas também um coração puro. Anelava a alegria da santidade -- ser reintegrado na harmonia e comunhão com Deus. Era esta a linguagem de sua alma: CC 25 1 "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano." Salmos 32:1-2. CC 25 2 "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; Apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da Tua presença e não retires de mim o Teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da Tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, E a minha língua louvará altamente a Tua justiça." Salmos 51:1, 3, 7, 10-12, 14. CC 25 3 Arrependimento como esse, está além de nossas forças realizar; só é obtido por meio de Cristo, que subiu ao alto e deu dons aos homens. Exatamente aqui está o ponto em que muitos erram, sendo por isso privados de receber o auxílio que Cristo lhes desejava conceder. Pensam que não podem chegar a Cristo sem primeiro arrepender-se e que é o arrependimento que os prepara para o perdão de seus pecados. É certo que o arrependimento precede o perdão dos pecados, pois unicamente o coração quebrantado e contrito é que sente a necessidade de um Salvador. Mas terá o pecador de esperar até que se tenha arrependido, antes de poder chegar-se a Jesus? Deve fazer-se do arrependimento um obstáculo entre o pecador e o Salvador? CC 26 1 A Bíblia não ensina que o pecador tenha de arrepender-se antes de poder aceitar o convite de Cristo: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. É a virtude que emana de Cristo, que conduz ao genuíno arrependimento. Pedro elucidou este ponto em sua declaração aos israelitas, dizendo: "Deus, com a Sua destra, O elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados." Atos 5:31. Assim como não podemos alcançar perdão sem Cristo, também não podemos arrepender-nos sem que o Espírito de Cristo nos desperte a consciência. CC 26 2 Cristo é a fonte de todo bom impulso. Ele unicamente, é capaz de implantar no coração a inimizade contra o pecado. Todo desejo de verdade e pureza, toda convicção de nossa própria pecaminosidade, é uma evidência de que Seu Espírito está operando em nosso coração. CC 26 3 Jesus disse: "Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. Cristo tem de revelar-Se ao pecador como o Salvador morto pelos pecados do mundo; e, ao contemplarmos o Cordeiro de Deus sobre a cruz do Calvário, começa a desdobrar-se ao nosso espírito o mistério da redenção, e a bondade de Deus nos leva ao arrependimento. Morrendo pelos pecadores, Cristo manifestou um amor que é incompreensível; e esse amor, ao ser contemplado pelo pecador, abranda-lhe o coração, impressiona-lhe o espírito e inspira-lhe à alma contrição. CC 27 1 É verdade que os homens às vezes se envergonham de seus caminhos pecaminosos e renunciam a alguns de seus maus hábitos, antes de estar conscientes de que estão sendo atraídos a Cristo. Quando quer, porém, que façam um esforço para reformar-se, movidos do desejo sincero de proceder bem, é sempre o poder de Cristo que os está atraindo. Uma influência para eles desconhecida lhes opera na alma, despertando-lhes a consciência, e sua vida exterior emenda-se. E quando Cristo os atrai, levando-os a olhar à Sua cruz, para contemplar Aquele que os seus pecados ali cravaram, o mandamento desperta na consciência. É-lhes revelada a pecaminosidade de sua vida, o pecado que se acha arraigado em sua alma. Começam a compreender alguma coisa da justiça de Cristo, e exclamam: "Que é o pecado, que devesse exigir tão grande sacrifício pela redenção de sua vítima? Acaso se fez preciso todo esse amor, todo esse sofrimento, toda essa humilhação, para que não perecêssemos mas tivéssemos vida eterna?" CC 27 2 Poderá o pecador resistir a esse amor; poderá recusar-se a ser atraído para Cristo. Se, porém, não se opuser, será levado para Ele. O conhecimento do plano da salvação levá-lo-á ao pé da cruz, arrependido de seus pecados, que causaram os sofrimentos do amado Filho de Deus. CC 28 1 O mesmo poder divino que opera nas coisas da natureza, fala ao coração dos homens, neles criando um desejo inexprimível de algo que não possuem. As coisas do mundo não podem satisfazer aos seus anseios. O Espírito de Deus insta com eles a fim de que só busquem aquelas que, unicamente, podem proporcionar paz e descanso -- a graça de Cristo, a alegria da santidade. Por influências visíveis e invisíveis, nosso Salvador está a operar constantemente, para atrair o espírito dos homens dos prazeres do pecado, que não satisfazem, para as infinitas bênçãos que nele podem possuir. A todas essas almas, que em vão buscam mitigar a sede nas rotas cisternas deste mundo, dirige-se a mensagem divina: "Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. CC 28 2 Vós, que suspirais por alguma coisa melhor do que as que este mundo oferece, reconhecei nesse anelo a voz de Deus à vossa alma. Pedi-Lhe que vos dê arrependimento, que vos revele a Cristo em Seu infinito amor, Sua perfeita pureza. Na vida do Salvador exemplificaram-se perfeitamente os princípios da lei de Deus -- amor a Deus e ao homem. Benevolência, amor abnegado, eram a vida de Sua alma. É quando O contemplamos, quando a luz de nosso Salvador incide sobre nós, que vemos a pecaminosidade de nosso coração. CC 28 3 É possível que nos tenhamos lisonjeado, como o fez Nicodemos, com a idéia de que nossa vida tem sido justa, nosso caráter moral reto, julgando não termos necessidade de humilhar perante Deus o coração, como um pecador vulgar. Mas quando a luz de Cristo nos ilumina a alma, vemos quão impuros somos; discernimos o egoísmo dos nossos motivos, nossa inimizade contra Deus, que têm maculado todos os atos de nossa vida. Reconheceremos então que nossa própria justiça é na verdade como trapos imundos, e unicamente o sangue de Cristo nos pode lavar da mancha do pecado e renovar-nos o coração à Sua semelhança. CC 29 1 Um raio da glória divina, um vislumbre da pureza de Cristo que nos penetre na alma, tornará dolorosamente visível toda mancha do pecado, pondo a descoberto a deformidade e defeitos do caráter humano. Torna patentes os desejos profanos, a infidelidade do coração, a impureza dos lábios. Os atos de deslealdade do pecador, invalidando a lei de Deus, expõem-se-lhe à vista e seu espírito se abate e aflige sob a influência perscrutadora do Espírito de Deus. Aborrece-se a si mesmo ao contemplar o puro, imaculado caráter de Cristo. CC 29 2 Quando o profeta Daniel contemplou a glória que cercava o mensageiro celeste que lhe foi enviado, ficou dominado de um sentimento de sua própria fraqueza e imperfeição. Descrevendo o efeito da cena maravilhosa, diz ele: "Não ficou força em mim; e transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma." Daniel 10:8. A alma assim comovida odiará seu egoísmo, aborrecerá seu amor-próprio e buscará, pela justiça de Cristo, a pureza de coração que está em harmonia com a lei de Deus e o caráter de Cristo. CC 29 3 Diz Paulo que "segundo a justiça que há na lei" no que respeita aos atos exteriores -- ele era "irrepreensível" (Filipenses 3:6), quando, porém, chegou a discernir o caráter espiritual da lei, reconheceu-se pecador. Julgado pela letra da lei, segundo os homens a aplicam à vida exterior, havia-se afastado do pecado; mas quando olhou as profundezas dos santos preceitos e se viu a si próprio como o via Deus, prostrou-se, humilde, e confessou a culpa. Diz ele: "Eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri." Romanos 7:9. Quando viu a natureza espiritual da lei, o pecado se lhe apresentou em toda a sua verdadeira hediondez e desvaneceu-se-lhe o amor-próprio. CC 30 1 Deus não considera todos os pecados igualmente graves; há aos Seus olhos, como aos do homem, gradações de culpa; por mais insignificante, porém, que este ou aquele mau ato possa parecer aos olhos humanos, pecado algum é pequeno à vista de Deus. O juízo do homem é parcial, imperfeito; mas Deus avalia todas as coisas como são na realidade. O bêbado é desprezado, e diz-se-lhe que seu pecado o excluirá do Céu; ao passo que o orgulho, o egoísmo e a cobiça muitas vezes não são reprovados. No entanto, esses são pecados especialmente ofensivos a Deus, pois são contrários à benevolência de Seu caráter e àquele desinteressado amor que é a própria atmosfera do Universo não caído. A pessoa que cai em algum pecado grosseiro sente, talvez, sua vergonha e miséria, e sua necessidade da graça de Cristo; mas o orgulho não sente necessidade alguma, e assim fecha o coração a Cristo e às infinitas bênçãos que veio dar. CC 30 2 O pobre publicano que orava: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" (Lucas 18:13) considerava-se homem muito ímpio, e outros assim o consideravam também; mas sentia a sua necessidade e, arcando ao peso da culpa e da vergonha, veio perante Deus, pedindo-Lhe misericórdia. Seu coração estava aberto para que o Espírito de Deus ali fizesse Sua obra de graça e o libertasse do poder do pecado. A oração jactanciosa e plena de justiça própria do fariseu, revelou que tinha o coração fechado à influência do Santo Espírito. Pela distância em que se achava de Deus, não percebia sua própria corrupção, em contraste com a perfeição da santidade divina. Não sentia necessidade de coisa alguma, e coisa alguma recebeu. CC 31 1 Quando virdes vossa pecaminosidade, não espereis até que vos tenhais melhorado. Quantos há que julgam não ser suficientemente bons para ir a Cristo! Tendes esperança de tornar-vos melhor mediante vossos próprios esforços? "Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal." Jeremias 13:23. Só em Deus é que há socorro para nós. Não devemos esperar persuasões mais fortes, melhores oportunidades ou um temperamento mais santo. De nós mesmos nada podemos fazer. Temos de ir a Cristo exatamente como nos achamos. CC 31 2 Mas ninguém se iluda com o pensamento de que Deus, em Seu grande amor e misericórdia, salvará ainda mesmo os que Lhe rejeitam a graça. A tremenda malignidade do pecado só pode ser avaliada em face da cruz. Se os homens insistem em que Deus é bom demais para rejeitar o pecador, olhem eles ao Calvário. Foi por não haver outro meio de salvar o homem, e por ser impossível, sem esse sacrifício, escapar o gênero humano ao poder corruptor do pecado, e ser restaurado à comunhão com seres santos -- impossível tornarem-se os homens de novo participantes da vida espiritual -- foi por isso que Cristo tomou sobre Si a culpa dos desobedientes e sofreu em lugar dos pecadores. O amor, sofrimento e morte do Filho de Deus atestam a terrível enormidade do pecado e revelam que não há escape de seu poder, nem esperança da vida mais elevada, senão pela submissão da alma a Cristo. CC 32 1 O impenitente escusa-se às vezes, dizendo, de professos cristãos: "Sou tão bom como eles. Não são mais abnegados, nem mais sóbrios ou circunspectos em sua conduta, do que eu. Amam os prazeres e são condescendentes consigo mesmos, da mesma maneira que eu." Tornam assim as faltas dos outros uma desculpa para a sua própria negligência do dever. Mas os pecados e defeitos alheios não escusam a pessoa alguma, pois o Senhor não nos deu um modelo falível e humano. O imaculado Filho de Deus é que nos foi dado para Exemplo, e os que se queixam do mau procedimento de professos cristãos são justamente os que deveriam apresentar melhor vida e mais nobre exemplo. Se têm tão elevado conceito do que deve ser o cristão, não será tanto maior o seu próprio pecado? Sabem o que é justo, todavia se recusam a fazê-lo. CC 32 2 Guardai-vos da procrastinação! Não adieis a obra de abandonar vossos pecados e buscar, por Jesus, a pureza de coração. Nisto é que milhares e milhares têm errado, para sua perda eterna. Não me demorarei aqui sobre a brevidade e incerteza da vida; mas há um terrível perigo -- perigo que não é compreendido suficientemente -- em adiar atender à voz suplicante do Santo Espírito de Deus, preferindo viver em pecado -- pois isto é o que é, na verdade, esse retardamento. Só com risco de infinita perda é que podemos condescender com o pecado, por pequenino que seja. O que nós não vencermos, vencer-nos-á a nós, operando a nossa destruição. CC 33 1 Adão e Eva persuadiram-se de que, de questão tão insignificante como fosse comer do fruto proibido, não poderiam resultar tão terríveis conseqüências como as de que Deus os avisara. Mas essa questão insignificante constituía uma transgressão da imutável e santa lei divina, e separou o homem de Deus, abrindo os diques da morte e trazendo sobre o mundo misérias indizíveis. Século após século tem subido da Terra um contínuo grito de lamento, e toda criação geme aflita, em resultado da desobediência do homem. O próprio Céu sentiu os efeitos de sua rebelião contra Deus. O Calvário aí está como um monumento do estupendo sacrifício exigido para expiar a transgressão da lei divina. Não consideremos o pecado coisa trivial. CC 33 2 Cada ato de transgressão, cada negligência ou rejeição da graça de Cristo, recai sobre vós mesmos; endurece o coração, deprava a vontade, entorpece o entendimento, tornando-vos não só menos inclinados a ceder à terna súplica do Santo Espírito de Deus, como também menos capazes de o fazer. CC 33 3 Muitos tranqüilizam a consciência perturbada, com o pensamento de que poderão mudar o seu ímpio procedimento quando bem o quiserem; que podem acolher levianamente o convite da misericórdia e, contudo, não deixar de serem impressionados repetidamente. Julgam que, depois de haverem desprezado o Espírito da graça, depois de haverem posto sua influência do lado de Satanás, em um momento de terrível aflição poderão mudar sua vida. Mas isto não é tão fácil. A experiência, a educação de toda uma vida moldou o caráter de tal maneira que poucos há que então desejam receber a imagem de Jesus. CC 34 1 Um mau traço de caráter que seja, um só desejo pecaminoso, acariciado persistentemente, acabará neutralizando todo o poder do evangelho. Toda condescendência pecaminosa fortalece a aversão da alma para com Deus. O homem que manifesta uma incredulidade obstinada ou uma estulta indiferença para com a verdade divina, está apenas colhendo aquilo que ele mesmo semeou. Em toda a Bíblia não existe advertência mais terrível contra o brincar com o mal do que as palavras do sábio, de que o pecador "com as cordas do seu pecado, será detido". Provérbios 5:22. CC 34 2 Cristo está pronto para libertar-nos do pecado, mas não força a vontade; e se pela persistente transgressão a própria vontade estiver inteiramente inclinada ao mal, e não desejarmos ser libertados, não querendo aceitar a Sua graça, que mais poderá Ele fazer? Nós mesmos nos destruímos, por nossa deliberada rejeição de Seu amor. "Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação." 2 Coríntios 6:2. "Se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração." Hebreus 3:7-8. CC 34 3 "O homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1 Samuel 16:7), esse coração humano com suas emoções de alegria e tristeza em conflito; coração volúvel e extraviado, que serve de habitação a tanta impureza e engano. Ele lhe conhece os motivos, seus próprios intentos e propósitos. Ide a Ele com vossa alma toda manchada como se acha. Como o salmista, abri de par em par suas câmaras aos olhos que tudo vêem, exclamando: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno." Salmos 139:23-24. CC 35 1 Muitos adotam uma religião intelectual, uma forma de piedade, sem que seja purificado o coração. Seja vossa prece: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto." Salmos 51:10. Tratai sinceramente com vossa alma. Sede fervorosos e constantes, como se estivesse em jogo vossa vida mortal. Esta é uma questão que tem de ser resolvida entre Deus e vossa alma, e resolvida para a eternidade. Uma esperança, meramente suposta, demonstrar-se-á vossa ruína. CC 35 2 Estudai, com oração, a palavra divina. Ela vos apresenta, na lei de Deus e na vida de Cristo, os grandes princípios da santidade, "sem a qual ninguém verá o Senhor". Hebreus 12:14. Convence do pecado; revela claramente o caminho da salvação. Dai-lhe ouvidos, como à voz de Deus falando a vossa alma. CC 35 3 Ao verdes a enormidade do pecado, ao vos verdes a vós mesmos tais quais sois, não vos entregueis ao desespero. Foi para salvar a pecadores que Cristo veio. Não somos nós os que devemos reconciliar a Deus conosco, mas -- ó maravilhoso amor! -- Deus em Cristo está "reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. Está procurando atrair, por Seu terno amor, o coração de Seus filhos erradios. Nenhum pai terrestre poderia ser tão paciente com as faltas e erros de seus filhos como o é Deus com os que busca salvar. Ninguém poderia instar mais ternamente com o transgressor. Jamais lábios humanos dirigiram ao extraviado súplicas mais ternas do que Ele. Todas as Suas promessas, Suas admoestações, não são senão suspiros de um amor inexprimível. CC 35 4 Quando Satanás se chega a vós para vos dizer que sois grande pecador, erguei os olhos ao vosso Redentor, e falai de Seus méritos. O que vos ajudará é olhar para Sua luz. Reconhecei vossos pecados, mas dizei ao inimigo que "Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores" (1 Timóteo 1:15), e que por Seu inefável amor podereis ser salvos. Jesus dirigiu a Simão uma pergunta acerca de dois devedores. Um devia ao seu senhor uma soma pequena, e o outro uma importância muito grande; mas perdoou a dívida a ambos. Cristo perguntou então a Simão qual dos devedores mais amaria ao seu senhor. Simão respondeu: "Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou." Lucas 7:43. Fomos grandes pecadores, mas Cristo morreu para que fôssemos perdoados. Os méritos de Seu sacrifício são suficientes para serem apresentados ao Pai em nosso favor. Aqueles a quem mais perdoou mais O hão de amar, e mais próximos de Seu trono se hão de achar, para O louvar por Seu grande amor e infinito sacrifício. É quando mais plenamente compreendemos o amor de Deus, que melhor reconhecemos a malignidade do pecado. Quando reconhecermos a extensão do cabo que para nós foi descido, quando compreendermos alguma coisa do infinito sacrifício que Cristo fez em nosso favor, o coração se desfará em ternura e contrição. ------------------------Capítulo 4 -- Abra o coração a Deus CC 37 1 "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia." Provérbios 28:13. CC 37 2 As condições para obter misericórdia de Deus são simples, justas e razoáveis. O Senhor não requer de nós atos penosos a fim de que alcancemos o perdão dos pecados. Não precisamos empreender longas e cansativas peregrinações, nem praticar duras penitências a fim de recomendar nossa alma ao Deus do Céu ou expiar nossas transgressões; mas o que confessa os seus pecados e os deixa, alcançará misericórdia. CC 37 3 Diz o apóstolo: "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis." Tiago 5:16. Confessai vossos pecados a Deus, que é o único que os pode perdoar, e vossas faltas uns aos outros. Se ofendestes a vosso amigo ou vizinho, deveis reconhecer vossa culpa, e é seu dever perdoar-vos plenamente. Deveis buscar então o perdão de Deus, porque o irmão a quem feristes é propriedade de Deus e, ofendendo-o, pecastes contra seu Criador e Redentor. O caso será levado perante o único Mediador verdadeiro, nosso grande Sumo Sacerdote, que "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado", e que Se compadece "das nossas fraquezas" (Hebreus 4:15), sendo apto para purificar-nos de toda mancha de iniqüidade. CC 37 4 Os que não humilharam ainda a alma perante Deus, reconhecendo sua culpa, não cumpriram ainda a primeira condição de aceitabilidade. Se não experimentamos ainda aquele arrependimento do qual não há arrepender-se, e não confessamos os nossos pecados, com verdadeira humilhação de alma e contrição de espírito, aborrecendo nossa iniqüidade, nunca procuramos verdadeiramente o perdão dos pecados; e se nunca buscamos a paz de Deus, nunca a encontramos. A única razão por que não temos a remissão dos pecados passados, é não estarmos dispostos a humilhar o coração e cumprir as condições apresentadas pela Palavra da verdade. Acerca deste assunto são-nos dadas explícitas instruções. A confissão de pecados, quer pública quer privada, deve ser de coração, expressa francamente. Não deve ser obtida do pecador à força de insistência. Não deve ser feita de maneira negligente ou folgazã, nem extorquida dos que não reconhecem o abominável caráter do pecado. A confissão que é o desafogo do íntimo da alma, achará o caminho ao Deus de infinita piedade. Diz o salmista: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito." Salmos 34:18. CC 38 1 A confissão verdadeira tem sempre caráter específico e faz distinção de pecados. Estes podem ser de natureza que devam ser apresentados a Deus unicamente; podem ser faltas que devam ser confessadas a pessoas que por elas foram ofendidas; ou podem ser de caráter público, devendo então ser confessados com a mesma publicidade. Toda confissão, porém, deve ser definida e sem rodeios, reconhecendo justamente os pecados dos quais sois culpados. CC 38 2 Nos dias de Samuel os israelitas apartaram-se de Deus. Estavam sofrendo as conseqüências do pecado, pois haviam perdido a fé em Deus, deixado de reconhecer Seu poder e sabedoria para governar a nação, perdido a confiança em Sua capacidade de defender e reivindicar Sua causa. Volveram costas ao grande Rei do Universo, desejando ser governados como as nações ao seu redor. Para encontrar paz fizeram esta definida confissão: "A todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei." 1 Samuel 12:19. Importava que confessassem justamente o pecado do qual tinham sido convencidos. A ingratidão oprimia-lhes a alma, separando-os de Deus. CC 39 1 A confissão não será aceitável a Deus sem o sincero arrependimento e reforma. É preciso que haja decisivas mudanças na vida; tudo que seja ofensivo a Deus tem de ser renunciado. Este será o resultado da genuína tristeza pelo pecado. A obra que nos cumpre fazer de nossa parte, é-nos apresentada claramente: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos e cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas." Isaías 1:16-17. "Restituindo esse ímpio o penhor, pagando o furtado, andando nos estatutos da vida e não praticando iniqüidade, certamente viverá, não morrerá." Ezequiel 33:15. Paulo diz, falando da obra do arrependimento: "Quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio." 2 Coríntios 7:11. CC 40 1 Quando o pecado embota as percepções morais, o transgressor já não discerne os defeitos de seu caráter, nem reconhece a enormidade do mal que cometeu; e a menos que se renda ao poder persuasivo do Espírito Santo, permanece em parcial cegueira quanto aos seus pecados. Suas confissões não são sinceras e ferventes. A cada reconhecimento de seu pecado acrescenta uma desculpa em justificação de seu procedimento, declarando que se não fossem certas circunstâncias, não teria praticado este ou aquele ato, pelo qual está sendo reprovado. CC 40 2 Depois de haverem Adão e Eva comido do fruto proibido, ficaram cheios de um sentimento de vergonha e terror. A princípio seu único pensamento era como desculpar seu pecado e escapar à temida sentença de morte. Quando o Senhor os interrogou acerca de seu pecado, Adão respondeu, lançando a culpa em parte sobre Deus e em parte sobre a companheira: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi." A mulher lançou a culpa sobre a serpente, dizendo: "A serpente me enganou, e eu comi." Gênesis 3:12-13. Por que fizeste a serpente? Por que lhe permitiste entrar no jardim? Estas eram as perguntas que transpareciam das palavras com que procurava desculpar seu pecado, lançando, assim, sobre Deus a responsabilidade de sua queda. O espírito de justificação própria originou-se no pai da mentira, e tem sido manifestado por todos os filhos e filhas de Adão. Confissões desta ordem não são inspiradas pelo Espírito divino, e não são aceitáveis a Deus. O arrependimento verdadeiro levará o homem a suportar ele mesmo sua culpa e reconhecê-la sem engano nem hipocrisia. Como o pobre publicano, que nem ao menos os olhos ousava erguer ao céu, clamará: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" (Lucas 18:13) e os que reconhecerem sua culpa serão justificados, pois Jesus apresenta Seu sangue em favor da alma arrependida. CC 41 1 Os exemplos que a Palavra de Deus nos apresenta de genuíno arrependimento e humilhação revelam um espírito de confissão em que não há escusa do pecado, nem tentativa de justificação própria. Paulo não procurava desculpar-se; pintava seus pecados nas cores mais negras, não procurando atenuar sua culpa. Diz ele: "Encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui." Atos 26:10-11. Não hesita em declarar que "Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". 1 Timóteo 1:15. CC 41 2 O coração humilde e contrito, rendido pelo arrependimento genuíno, apreciará algo do amor de Deus e do preço do Calvário; e, como um filho confessa sua transgressão a um amante pai, assim trará o verdadeiro penitente todos os seus pecados perante Deus. E está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 João 1:9. ------------------------Capítulo 5 -- Consagração CC 43 1 A promessa de Deus é: "Buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração." Jeremias 29:13. CC 43 2 O coração inteiro tem de render-se a Deus, ou do contrário não se poderá jamais operar a transformação pela qual é restaurada em nós a Sua semelhança. Por natureza estamos alienados de Deus. O Espírito Santo descreve nossa condição em palavras como estas: "Mortos em ofensas e pecados" (Efésios 2:1); "toda a cabeça está enferma, e todo o coração, fraco", "não há nele coisa sã." Isaías 1:5-6. Somos retidos nos laços de Satanás, "em cuja vontade" (2 Timóteo 2:26) estamos presos. Deus deseja curar-nos, libertar-nos. Mas como isto requer uma completa transformação, uma renovação de nossa natureza toda, é necessário rendermo-nos inteiramente a Ele. CC 43 3 A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer luta; mas a alma tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada em santidade. CC 43 4 O governo de Deus não é, como Satanás nos quer fazer parecer, fundado sobre uma submissão cega, um domínio irrazoável. Ele apela para o intelecto e a consciência. "Vinde, pois, e arrazoemos" (Isaías 1:18) é o convite do Criador aos seres que formou. Deus não força a vontade de Suas criaturas. Não pode aceitar homenagem que não seja prestada voluntária e inteligentemente. Uma submissão meramente forçada impediria todo verdadeiro desenvolvimento do espírito ou do caráter; tornaria o homem simples máquina. Não é este o propósito do Criador. Ele deseja que o homem, a obra prima de Seu poder criador, atinja o desenvolvimento mais elevado possível. Propõe-nos a altura da bênção à qual nos deseja levar, por meio de Sua graça. Convida-nos a entregar-nos a Ele, a fim de que possa efetuar em nós a Sua vontade. A nós compete escolher se queremos ser libertados da escravidão do pecado, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. CC 44 1 Entregando-nos a Deus, temos necessariamente de renunciar a tudo que dEle nos separe. Por isso diz o Salvador: "Qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser Meu discípulo." Lucas 14:33. Tudo que afaste de Deus o coração, tem de ser renunciado. Mamom é o ídolo de muitos. O amor do dinheiro, a ambição de fortuna, é a cadeia de ouro que os liga a Satanás. Fama e honras mundanas são idolatradas por outros. Uma vida de comodidade egoísta, isenta de responsabilidade, constitui o ídolo de outros. Mas estas cadeias escravizadoras têm de ser partidas. Não podemos pertencer metade ao Senhor e metade ao mundo. Não somos filhos de Deus a menos que o sejamos totalmente. CC 44 2 Há os que professam servir a Deus, ao mesmo tempo que confiam em seus próprios esforços para obedecer à Sua lei, formar um caráter reto e alcançar a salvação. Seu coração não é movido por uma intuição profunda do amor de Cristo, mas procuram cumprir os deveres da vida cristã como uma exigência de Deus a fim de alcançarem o Céu. Semelhante religião nada vale. Quando Cristo habita o coração, a alma de tal modo se encherá de Seu amor e da alegria da comunhão com Ele, que a Ele se apegará; e em Sua contemplação será esquecido o próprio eu. O amor de Cristo será a mola das ações. Os que se sentem constrangidos pelo amor de Deus, não perguntam quão pouco deverão dar para satisfazer às exigências de Deus; não indagam qual a mais baixa norma, mas aspiram à perfeita conformidade com a vontade de seu Redentor. Com um sincero desejo renunciam a tudo, manifestando um interesse proporcional ao valor do objeto que buscam. Uma profissão de Cristo sem este profundo amor, é mero palavreado, formalidade vã, pesada e desagradável tarefa. CC 45 1 Julgais ser sacrifício demasiado, entregar tudo a Cristo? Dirigi-vos a pergunta: "Que entregou Cristo por mim?" O Filho de Deus deu tudo -- vida, amor e sofrimento -- por nossa redenção. E será possível que nós, objeto indigno de tão grande amor, Lhe queiramos reter nosso coração? Cada momento de nossa vida temos sido participantes das bênçãos de sua graça, e por esta mesma razão não podemos compreender plenamente as profundezas da ignorância e miséria das quais fomos salvos. Podemos acaso olhar para Aquele a quem nossos pecados traspassaram e, todavia, estar dispostos a menosprezar todo o Seu amor e sacrifício? Em vista da infinita humilhação do Senhor da glória, haveremos nós de murmurar por não podermos entrar na vida senão à custa de conflitos e humilhação própria? CC 45 2 Muito coração orgulhoso indaga: "Por que me devo arrepender e humilhar antes de poder ter a certeza de minha aceitação por parte de Deus?" Aponto-vos a Cristo. Era inocente e, mais que isso, era o Príncipe do Céu; mas por amor do homem Se fez pecado em lugar do gênero humano. "Foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre Si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu." Isaías 53:12. CC 46 1 Entretanto, a que renunciamos nós, ainda que renunciemos a tudo? -- A um coração poluído pelo pecado, para que Jesus o purifique, lavando-o em Seu próprio sangue, e o salve por Seu inefável amor. E ainda os homens acham difícil renunciar a tudo! Envergonho-me de o ouvir, acanho-me de o escrever! CC 46 2 Deus não exige que renunciemos a coisa alguma cuja conservação nos seja de proveito. Em tudo que faz, tem em vista o bem-estar de Seus filhos. Oxalá todos os que não aceitaram a Cristo reconhecessem que Ele tem algo incomparavelmente melhor para lhes oferecer, do que o que eles mesmos buscam. O homem pratica o maior dano e injustiça a sua própria alma, quando pensa e age contrariamente à vontade de Deus. Nenhuma felicidade legítima pode ser encontrada no caminho proibido por Aquele que sabe o que é melhor e vela pelo bem de Suas criaturas. O caminho do pecado é de miséria e destruição. CC 46 3 É erro entreter o pensamento de que Deus Se agrada de ver Seus filhos sofrerem. Todo o Céu se interessa na felicidade do homem. Nosso Pai celeste não impede a nenhuma de Suas criaturas o acesso aos caminhos dos prazeres. Os apelos divinos tão-somente nos exortam a abster-nos dos prazeres que sobre nós trariam sofrimentos e desilusões, e nos fechariam as portas da felicidade e do Céu. O Redentor do mundo aceita os homens tais como são, com todas as suas necessidades, imperfeições e fraquezas; e Ele não só purifica do pecado e concede redenção pelo Seu sangue, como também satisfaz aos anseios do coração de todos os que consentem em tomar o Seu jugo e carregar o Seu fardo. É seu propósito comunicar paz e descanso a todos os que a Ele vão em busca do pão da vida. Não requer de nós senão o cumprimento dos deveres que guiarão nossos passos às alturas da bem-aventurança, as quais os desobedientes jamais atingirão. A verdadeira, a feliz vida da alma é ter Cristo no coração, Ele que é a Esperança da glória. CC 47 1 Muitos indagam: "Como devo eu fazer a entrega do próprio eu a Deus?" Desejais entregar-vos a Ele, mas sois faltos de poder moral, escravos da dúvida e dirigidos pelos hábitos de vossa vida de pecado. Vossas promessas e resoluções são como palavras escritas na areia. Não podeis dominar os pensamentos, os impulsos, as afeições. O conhecimento de vossas promessas violadas e dos votos não cumpridos, enfraquece a confiança em vossa própria sinceridade, levando-vos a julgar que Deus não vos pode aceitar; mas não precisais desesperar. O que deveis compreender é a verdadeira força da vontade. Esta é o poder que governa a natureza do homem, o poder da decisão ou de escolha. Tudo depende da reta ação da vontade. O poder da escolha deu-o Deus ao homem; a ele compete exercê-lo. Não podeis mudar vosso coração, não podeis por vós mesmos consagrar a Deus as vossas afeições; mas podeis escolher servi-Lo. Podeis dar-Lhe a vossa vontade; Ele então operará em vós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade. Desse modo toda a vossa natureza será levada sob o domínio do Espírito de Cristo; vossas afeições centralizar-se-ão nEle; vossos pensamentos estarão em harmonia com Ele. CC 47 2 O desejo de bondade e santidade é, em si mesmo louvável; de nada, porém, valerão essas virtudes, se ficarem somente no desejo. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos. Não chegam ao ponto de render a vontade a Deus. Não escolhem agora ser cristãos. CC 48 1 Mediante o conveniente exercício da vontade, pode operar-se em vossa vida uma mudança completa. Entregando a Cristo o vosso querer, aliai-vos com o poder que está acima de todos os principados e potestades. Tereis força do alto para estar firmes e, assim, pela constante entrega a Deus, sereis habilitados a viver a nova vida, a vida da fé. ------------------------Capítulo 6 -- Um direito seu CC 49 1 À medida que vossa consciência foi sendo despertada pelo Espírito Santo, vistes algo da malignidade do pecado, de seu poder, sua culpa, sua miséria; e o olhais com aversão. Sentis que o pecado vos separou de Deus, que estais cativos do poder do mal. Quanto mais lutais por escapar a ele, tanto mais reconheceis vossa impotência. Vossos motivos são impuros; impuro é vosso coração. Vedes que vossa vida tem sido repleta de egoísmo e pecado. Almejais então o perdão, a pureza, a liberdade. Harmonia com Deus, Sua semelhança -- que podeis fazer para alcançá-las? CC 49 2 Paz, eis vossa necessidade -- o perdão, a paz e o amor celestes em vossa alma. O dinheiro não a pode comprar, não a consegue a inteligência, nem a sabedoria a alcança. Mas Deus vo-la oferece como um dom, "sem dinheiro e sem preço". Isaías 55:1. Ela vos pertence: basta que estendais a mão e a apanheis. Diz o Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã." Isaías 1:18. "E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo." Ezequiel 36:26. CC 49 3 Confessastes vossos pecados e de coração a eles renunciastes. Resolvestes entregar-vos a Deus. Ide, pois, a Ele e pedi-Lhe que vos lave de vossos pecados e vos dê um coração novo. Crede então que o fará, porque assim prometeu. Esta é a lição que Jesus ensinou quando aqui na Terra: que o dom que Deus nos promete, devemos crer que o recebemos, e será nosso. Jesus curava aos homens suas enfermidades, quando tinham fé em Seu poder; ajudava-os nas coisas que viam, inspirando-lhes assim confiança nEle quanto às coisas que não viam -- levando-os a crer em Seu poder de perdoar pecados. Foi o que afirmou claramente ao curar o paralítico: "Para que saibais que o Filho do homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados -- disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa." Mateus 9:6. O mesmo diz também João evangelista, falando dos milagres de Cristo: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome." João 20:31. CC 50 1 Do singelo relato bíblico da maneira em que Jesus curava os doentes, podemos aprender alguma coisa acerca do modo em que devemos crer nEle para obter o perdão dos pecados. Voltemos ao caso do paralítico de Betesda. O pobre enfermo estava inválido; havia trinta e oito anos que não fizera uso dos membros. No entanto, Jesus lhe ordenou: "Levanta-te, toma a tua cama e vai." Mateus 9:6. O doente poderia ter dito: "Senhor, se quiseres curar-me, obedecerei à Tua palavra." Mas não; creu na palavra de Cristo, creu que fora curado, e fez imediatamente o esforço; decidiu andar, e andou. Agiu sob a palavra de Cristo, e Deus lhe concedeu a força. Estava são. CC 51 1 De igual modo sois vós um pecador. Não podeis expiar vossos pecados do passado, nem podeis mudar vosso coração e tornar-vos santo. Mas Deus promete fazer tudo isto por vós, mediante Cristo. Vós credes nesta promessa. Confessai os vossos pecados e entregai-vos a Deus. Vós quereis servi-Lo. Tão depressa isto fazeis, Deus cumpre Sua palavra para convosco. Se credes na promessa -- credes que estais perdoado e purificado -- Deus supre o fato: sois curado, exatamente como Cristo conferiu ao paralítico poder para caminhar quando o homem creu que estava curado. Assim é se o credes. CC 51 2 Não espereis até que sintais que estais curado, mas dizei: "Creio-o; assim é, não porque eu o sinta, mas porque Deus o prometeu." CC 51 3 Diz Jesus: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Marcos 11:24. Esta promessa tem uma condição; que oremos segundo a vontade de Deus. Mas é vontade de Deus purificar-nos do pecado, tornar-nos Seus filhos e habilitar-nos a viver uma vida santa. Podemos, pois, pedir essas bênçãos, crer que as havemos de receber e agradecer a Deus havê-las já recebido. É nosso privilégio ir a Jesus e sermos purificados, e apresentar-nos perante a lei sem pejo nem remorso. "Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito." Romanos 8:1. CC 51 4 Doravante não sois mais de vós mesmos; fostes comprados por preço. "Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados... mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado." 1 Pedro 1:18-19. Por este simples ato de crer em Deus, o Espírito Santo gerou em vosso coração uma nova vida. Sois agora uma criança nascida na família de Deus, e Ele vos ama como ama a Seu próprio Filho. CC 52 1 Agora que vos entregastes a Jesus, não torneis atrás; não vos furteis a Ele, mas dizei, dia a dia: "Pertenço a Cristo; a Ele me entreguei"; e rogai-Lhe que vos dê Seu Espírito e vos guarde por Sua graça. Do mesmo modo que vos tornastes filho de Deus entregando-vos a Ele e nEle crendo, assim também deveis nEle viver. Diz o apóstolo: "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle." Colossences 2:6. CC 52 2 Julgam alguns que têm de submeter-se a uma prova e demonstrar primeiro ao Senhor que estão reformados, antes de poder pedir Sua bênção. Mas podem invocar a bênção de Deus agora mesmo. Necessitam de Sua graça, do Espírito de Cristo, que lhes ajude as fraquezas; do contrário, não poderão resistir ao mal. Jesus estima que a Ele nos cheguemos tais como somos, pecaminosos, desamparados, dependentes. Podemos ir a Ele com todas as nossas fraquezas, leviandade e pecaminosidade, e rojar-nos arrependidos aos Seus pés. É Seu prazer estreitar-nos em Seus braços de amor, atar nossas feridas, purificar-nos de toda a impureza. CC 52 3 Aqui é onde milhares erram: não crêem que Jesus lhes perdoe pessoalmente, individualmente. Não pegam a Deus em Sua palavra. É privilégio de todos os que cumprem as condições, saber por si mesmos que o perdão é oferecido amplamente para todo pecado. Abandonai a suspeita de que as promessas de Deus não se referem a vós. Elas são para todo transgressor arrependido. Força e graça foram providas por meio de Cristo, sendo levadas pelos anjos ministradores a toda alma crente. Ninguém é tão pecaminoso que não possa encontrar força, pureza e justiça em Jesus, que por ele morreu. Cristo está desejoso de tirar-lhes as vestes manchadas e poluídas pelo pecado, e vestir-lhes os trajes brancos da justiça; Ele lhes ordena viver, e não morrer. CC 53 1 Deus não trata conosco da mesma maneira em que homens finitos tratam uns com os outros. Seus pensamentos são pensamentos de misericórdia, amor e terna compaixão. Diz Ele: "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:7. "Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados, como a nuvem." Isaías 44:22. CC 53 2 "Não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei." Ezequiel 18:32. Satanás está pronto para nos subtrair as benditas promessas de Deus. Deseja arrebatar da alma toda centelha de esperança e todo raio de luz; mas não lhe deveis permitir fazê-lo. Não deis ouvido ao tentador, mas dizei: "Jesus morreu para que eu pudesse viver. Ele me ama e não quer que eu pereça. Tenho um compassivo Pai celeste; e, conquanto tenha abusado de Seu amor e dissipado as bênçãos que me concedeu, levantar-me-ei, e irei a meu Pai, e direi: 'Pai, pequei contra o Céu e perante Ti. Já não sou digno de ser chamado Teu filho; faze-me como um dos Teus trabalhadores.'" A parábola vos diz como será recebido o transviado: "Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou." Lucas 15:18-20. CC 54 1 Mas mesmo esta parábola, terna e comovedora como é, não consegue exprimir a infinita compaixão do Pai celestial. O Senhor declara por Seu profeta: "Com amor eterno te amei; também com amorável benignidade te atraí." Jeremias 31:3. Enquanto o pecador está ainda distante da casa paterna, esbanjando os seus bens em terra estranha, o coração do Pai anela por ele; e cada desejo de voltar a Deus despertado na alma, não é senão o terno instar de Seu Espírito, solicitando, suplicando, atraindo o extraviado para o amante coração paterno. CC 54 2 Tendo perante vós as ricas promessas da Bíblia, podeis ainda dar lugar à dúvida? Podeis supor que, quando o pobre pecador almeja voltar e anseia abandonar os seus pecados, o Senhor lhe impeça, severamente, prostrar-se arrependido aos Seus pés? Longe de nós tais pensamentos! Nada poderia ser mais prejudicial a vossa alma do que entreter tal conceito de nosso Pai celestial. Ele odeia o pecado mas ama o pecador, e deu-Se a Si mesmo na pessoa de Cristo, a fim de que todos os que quisessem pudessem ser salvos e desfrutar a bem-aventurança eterna no reino da glória. Que linguagem mais convincente ou mais terna poderia ter sido empregada do que essa que Ele escolheu para exprimir Seu amor para conosco? Diz Ele: "Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti." Isaías 49:15. CC 54 3 Olhai para cima, vós que duvidais e tremeis, pois Jesus vive para fazer intercessão por nós. Agradecei a Deus o dom de Seu Filho amado, e orai para que Ele não tenha, para vós, morrido em vão. O Espírito convida-vos hoje. Vinde a Jesus de todo o vosso coração, e podereis rogar Sua bênção. CC 55 1 Ao lerdes as promessas, lembrai-vos de que são a expressão de amor e misericórdia indizíveis. O grande coração de Amor infinito inclina-Se para o pecador com ilimitada compaixão. "Temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas." Efésios 1:7. Sim, tão-somente crede que Deus é vossa ajuda. Ele quer restaurar no homem Sua imagem moral. À medida que dEle vos aproximardes, em arrependimento e confissão, Ele Se aproximará de vós, com misericórdia e perdão. ------------------------Capítulo 7 -- A obediência é um privilégio CC 57 1 "Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." 2 Coríntios 5:17. CC 57 2 Pode alguém não ser capaz de dizer exatamente a ocasião ou lugar de sua conversão, nem seguir toda a cadeia de circunstâncias no seu processo; mas isto não prova que essa pessoa não seja convertida. Cristo disse a Nicodemos: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." João 3:8. Como o vento, que é invisível, mas cujos efeitos se podem claramente ver e sentir, assim é o Espírito de Deus em Sua obra no coração humano. Essa virtude regeneradora que nenhum olho humano pode ver, gera na alma uma vida nova; cria um novo ser, à imagem de Deus. Conquanto a obra do Espírito seja silenciosa e imperceptível, seus efeitos são manifestos. Se o coração foi renovado pelo Espírito de Deus, a vida dará testemunho desse fato. Se bem que nada possamos fazer para mudar o coração ou pôr-nos em harmonia com Deus; se bem que não devamos absolutamente confiar em nós mesmos ou em nossas boas obras, nossa vida revelará se a graça de Deus está habitando em nós. Ver-se-á mudança no caráter, nos hábitos e atividades. Será claro e positivo o contraste entre o que foram e o que são. O caráter se revela, não por boas ou más ações ocasionais, mas pela tendência das palavras e atos costumeiros. CC 58 1 É verdade que pode haver um modo de proceder exteriormente correto, sem o poder regenerador de Cristo. O amor da influência e o desejo da estima alheia poderão determinar uma vida bem ordenada. O respeito próprio poderá levar-nos a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta poderá praticar ações generosas. Por que meios, pois, poderemos determinar de que lado nos achamos? CC 58 2 Quem possui nosso coração? Com quem estão nossos pensamentos? Sobre quem gostamos de conversar? Quem é o objeto de nossas mais calorosas afeições e nossas melhores energias? Se somos de Cristo, nossos pensamentos com Ele estarão, e nEle se concentrarão as nossas mais doces meditações. Tudo que temos e somos a Ele será consagrado. Almejaremos trazer a Sua imagem, possuir Seu Espírito, cumprir Sua vontade e agradar-Lhe em todas as coisas. CC 58 3 Os que se tornaram novas criaturas em Cristo Jesus, produzirão os frutos do Espírito -- "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Gálatas 5:22-23. Não se conformarão por mais tempo com as concupiscências anteriores, mas pela fé do Filho de Deus seguirão as Suas pisadas, refletir-Lhe-ão o caráter e se purificarão, assim como Ele é puro. As coisas que outrora aborreciam, agora amam; e aquilo que outrora amavam, aborrecem agora. O orgulhoso e presunçoso torna-se manso e humilde de coração. O vanglorioso e arrogante torna-se circunspecto e moderado. O bêbado torna-se sóbrio e o viciado, puro. Os vãos costumes e modas do mundo são renunciados. O cristão buscará, não o "enfeite... exterior", mas "o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:3-4. CC 59 1 Não há evidência de genuíno arrependimento, a menos que se opere a reforma. Restituindo o penhor, devolvendo aquilo que roubara, confessando os pecados e amando a Deus e ao próximo, pode o pecador estar certo de que passou da morte para a vida. CC 59 2 Quando, como seres pecaminosos e sujeitos ao erro, chegamos a Cristo e nos tornamos participantes de Sua graça perdoadora, surge o amor em nosso coração. Todo peso se torna leve; pois é suave o jugo que Cristo impõe. O dever torna-se deleite, o sacrifício prazer. O caminho que dantes parecia envolto em trevas, torna-se iluminado pelos raios do Sol da Justiça. CC 59 3 A amabilidade do caráter de Cristo se manifestará em Seus seguidores. Era Seu deleite fazer a vontade de Deus. Amor a Deus, zelo por Sua glória, era o motivo dominante na vida de nosso Salvador. O amor embelezava e enobrecia todos os Seus atos. O amor vem de Deus. O coração não consagrado não o pode originar nem produzir. Encontra-se unicamente no coração em que reina Jesus. "Nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro." 1 João 4:19, Bras. No coração renovado pela graça divina, o amor é o princípio da ação. Modifica o caráter, governa os impulsos, domina as paixões, subjuga a inimizade e enobrece as afeições. Este amor, abrigado na alma, ameniza a vida e espalha ao redor uma influência enobrecedora. CC 59 4 Há dois erros contra os quais os filhos de Deus -- particularmente os que só há pouco vieram a confiar em Sua graça -- devem, especialmente, precaver-se. O primeiro, do qual já tratamos, é o de tomar em consideração as suas próprias obras, confiando em qualquer coisa que possam fazer, a fim de pôr-se em harmonia com Deus. Aquele que procura tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo que o homem possa fazer sem Cristo, está poluído de egoísmo e pecado. É unicamente a graça de Cristo, pela fé, que nos pode tornar santos. CC 60 1 O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isente o homem da observância da lei de Deus; que, visto como só pela fé é que nos tornamos participantes da graça de Cristo, nossas obras nada têm que ver com nossa redenção. CC 60 2 Mas notai aqui que a obediência não é mera aquiescência externa, mas sim o serviço de amor. A lei de Deus é uma expressão de Sua própria natureza; é uma corporificação do grande princípio do amor, sendo, daí o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. Se nosso coração é renovado à semelhança de Deus, se o amor divino é implantado na alma, não será então praticado na vida a lei de Deus? Implantado no coração o princípio do amor, renovado o homem segundo a imagem dAquele que o criou, cumpre-se a promessa do novo concerto: "Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em seus entendimentos." Hebreus 10:16. E se a lei está escrita no coração, não moldará ela a vida? A obediência -- nosso serviço e aliança de amor -- é o verdadeiro sinal de discipulado. Assim diz a Escritura: "Porque esta é a caridade [ou amor] de Deus: que guardemos os Seus mandamentos." 1 João 5:3. "Aquele que diz: Eu conheço-O e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade." 1 João 2:4. É a fé, e ela só, que, em vez de dispensar-nos da obediência, nos torna participantes da graça de Cristo, a qual nos habilita a prestar obediência. CC 61 1 Não ganhamos a salvação por nossa obediência; Pois a salvação é dom gratuito de Deus, e que obtemos pela fé. Mas a obediência é fruto da fé. "Bem sabeis que Ele Se manifestou para tirar os nossos pecados; e nEle não há pecado. Qualquer que permanece nEle não peca: qualquer que peca não O viu nem O conheceu". 1 João 3:5-6. Aí é que está a verdadeira prova. Se habitamos em Cristo, se o amor de Deus habita em nós, nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossas ações estão em harmonia com a vontade de Deus tal como se expressa nos preceitos de Sua santa lei. "Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como Ele é justo." 1 João 3:7. A justiça está definida no padrão da santa lei de Deus, expressa nos dez preceitos dados no Sinai. CC 61 2 A chamada fé em Cristo que professa desobrigar os homens da obediência a Deus, não é fé, mas presunção. "Pela graça sois salvos, por meio da fé." Efésios 2:8. Mas "a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma". Tiago 2:17. Jesus disse de Si mesmo, antes de descer à Terra: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. E justamente antes de ascender para o Céu, declarou: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e permaneço no Seu amor." João 15:10. Diz a Escritura: "Nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:3-6. "Pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas." 1 Pedro 2:21. CC 62 1 A condição de vida eterna é hoje justamente a mesma que sempre foi -- exatamente a mesma que foi no paraíso, antes da queda de nossos primeiros pais -- perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça. Se a vida eterna fosse concedida sob qualquer condição inferior a essa, correria perigo a felicidade do Universo todo. Estaria aberto o caminho para que o pecado, com todo o seu cortejo de infortúnios e misérias, se imortalizasse. CC 62 2 Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de o fazer e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus. Mas Cristo nos proveu um meio de escape. Viveu na Terra em meio de provas e tentações como as que nos sobrevêm a nós. Viveu uma vida sem pecado. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos tirar os pecados e dar-nos Sua justiça. Se vos entregardes a Ele e O aceitardes como vosso Salvador, sereis então, por pecaminosa que tenha sido vossa vida, considerados justos por Sua causa. O caráter de Cristo substituirá o vosso caráter, e sereis aceitos diante de Deus exatamente como se não houvésseis pecado. CC 62 3 E ainda mais, Cristo mudará o coração. Nele habitará, pela fé. Pela fé e contínua submissão de vossa vontade a Cristo, deveis manter essa ligação com Ele; e enquanto isso fizerdes, Ele operará em vós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade. Podereis então dizer: "A vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. Disse Jesus a Seus discípulos: "Não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós." Mateus 10:20. Assim, atuando Cristo em vós, manifestareis o mesmo espírito e praticareis as mesmas obras -- obras de justiça e obediência. CC 63 1 Nada temos, pois, em nós mesmos, de que nos possamos orgulhar. Não temos nenhum motivo para exaltação própria. Nosso único motivo de esperança está na justiça de Cristo a nós imputada, e naquela operada pelo Seu Espírito em nós e através de nós. CC 63 2 Quando falamos em fé, devemos ter presente uma distinção. Existe uma espécie de crença que é inteiramente diversa da fé. A existência e poder de Deus, a veracidade de Sua palavra, são fatos que mesmo Satanás e seus exércitos não podem sinceramente negar. Diz a Bíblia que "também os demônios o crêem e estremecem" (Tiago 2:19); mas isto não é fé. Onde existe não só a crença na Palavra de Deus, mas também uma submissão à Sua vontade; onde o coração se Lhe acha rendido e as afeições nele concentradas, aí existe fé -- a fé que opera por amor e purifica a alma. Por esta fé o coração é renovado à imagem de Deus. E o coração que em seu estado irregenerado não era sujeito à lei de Deus, agora se deleita em Seus santos preceitos, exclamando com o salmista: "Oh! quanto amo a Tua lei! É a minha meditação em todo o dia!" Salmos 119:97. E cumpre-se a justiça da lei em nós, os que não andamos "segundo a carne, mas segundo o espírito". Romanos 8:1. CC 64 1 Há os que já experimentaram o amor perdoador de Cristo, e que desejam realmente ser filhos de Deus, contudo reconhecem que seu caráter é imperfeito, sua vida faltosa, e chegam a ponto de duvidar se seu coração foi renovado pelo Espírito Santo. A esses eu desejaria dizer: Não recueis, em desespero. Muitas vezes, teremos de prostrar-nos e chorar aos pés de Jesus, por causa de nossas faltas e erros; mas não nos devemos desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos repelidos, nem abandonados ou rejeitados por Deus. Não; Cristo está à destra de Deus, fazendo intercessão por nós. Diz o amado João: "Estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. E não esqueçais as palavras de Cristo: "O mesmo Pai vos ama." João 16:27. Ele deseja atrair-vos de novo a Si, e ver refletidas em vós Sua pureza e santidade. E se tão-somente vos renderdes a Ele, Aquele que em vós começou a boa obra há de continuá-la até o dia de Jesus Cristo. Orai com mais fervor; crede mais plenamente. À medida que formos desconfiando de nosso próprio poder, confiemos mais no poder de nosso Redentor, e haveremos de louvá-Lo, a Ele que é a saúde da nossa face. CC 64 2 Quanto mais perto vos chegardes de Jesus, tanto mais cheio de faltas parecereis aos vossos olhos; porque vossa visão será mais clara e vossas imperfeições se verão em amplo e vivo contraste com Sua natureza perfeita. Isto é prova de que os enganos de Satanás perderam seu poder; que a influência vivificante do Espírito de Deus está a despertar-vos. CC 65 1 Não pode habitar um amor profundo e arraigado no coração daquele que não reconhece sua pecaminosidade. A alma transformada pela graça de Cristo admirará o Seu caráter divino; se, porém, não reconhecemos nossa própria deformidade moral, é isto uma prova inequívoca de que não obtivemos uma visão da beleza e excelência de Cristo. CC 65 2 Quanto menos virmos em nós mesmos digno de estima, tanto mais havemos de ver digno de estima na infinita pureza e amabilidade de nosso Salvador. A vista de nossa pecaminosidade impele-nos para Ele, que é capaz de perdoar; e quando a alma, reconhecendo o seu desamparo, anseia por Cristo, Ele Se revelará em poder. Quanto mais a sensação de nossa necessidade nos impelir para Ele e para a Palavra de Deus, tanto mais exaltada visão teremos de Seu caráter, e tanto mais plenamente refletiremos a Sua imagem. ------------------------Capítulo 8 -- Crescimento em Cristo CC 67 1 A transformação do coração, pela qual nos tornamos filhos de Deus, é na Bíblia chamada nascimento. É também comparada à germinação da boa semente lançada pelo lavrador. De igual maneira, os que acabam de converter-se a Cristo, devem, "como meninos novamente nascidos" (1 Pedro 2:2), crescer (Efésios 4:15) até à estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. Ou, como a boa semente lançada no campo, devem crescer e produzir fruto. Isaías diz que serão chamados "árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado". Isaías 61:3. Assim, da vida natural tiram-se ilustrações que nos ajudam a melhor compreender as misteriosas verdades da vida espiritual. CC 67 2 Toda a Ciência e habilidade do homem não são capazes de produzir vida no menor objeto da natureza. É unicamente mediante a vida que o próprio Deus comunicou, que a planta ou o animal vivem. Assim é unicamente mediante a vida de Deus, que se gera no coração dos homens a vida espiritual. A menos que o homem nasça "de novo" (João 3:3) [ou do alto, como dizem outras versões], não pode ser participante da vida que Cristo veio trazer. CC 67 3 Como se dá com a vida, assim com o crescimento. É Deus quem faz o botão tornar-se flor e a flor fruto. É por Seu poder que a semente se desenvolve, "primeiro, a erva, depois, a espiga, e por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. E o profeta Oséias diz, referindo-se a Israel, que ele "florescerá como o lírio. ... Serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide." Oseias 14:5-7. E Jesus nos diz: "Considerai os lírios, como eles crescem." Lucas 12:27. As plantas e flores não crescem em virtude de seu próprio cuidado, ansiedade ou esforço, mas pelo recebimento daquilo que Deus forneceu para lhes servir à vida. A criança não pode, por qualquer ansiedade ou poder próprio, aumentar sua estatura. Do mesmo modo não podeis vós, por vossa própria ansiedade ou esforço, conseguir crescimento espiritual. A planta e a criança crescem recebendo do seu ambiente aquilo que lhes serve à vida -- ar, luz do Sol e alimento. O que esses dons da natureza são para o animal e a planta, é Cristo para os que nEle confiam. É-lhes "luz perpétua" (Isaías 60:19), Sol e Escudo. Salmos 84:11. Será "para Israel, como orvalho". Oseias 14:5. "Descerá como a chuva sobre a erva ceifada." Salmos 72:6. É Ele a água viva, "o pão de Deus... que desce do Céu e dá vida ao mundo". João 6:33. CC 68 1 No dom incomparável de Seu Filho, Deus envolveu o mundo todo numa atmosfera de graça, tão real como o ar que circula ao redor do globo. Todos os que respirarem esta atmosfera vivificante hão de viver e crescer até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo Jesus. CC 68 2 Como a flor se volve para o Sol, para que os seus brilhantes raios a ajudem a desenvolver a beleza e simetria, assim devemos nós volver-nos para o Sol da justiça, a fim de que a luz do Céu incida sobre nós e nosso caráter seja desenvolvido à semelhança de Cristo. CC 68 3 Jesus ensina isso mesmo quando diz: "Estai em Mim, e Eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. ... Sem Mim nada podereis fazer." João 15:4-5. Sois justamente tão dependentes de Cristo, para viver uma vida santa, como a vara é dependente do tronco para crescer e dar fruto. Separados dEle não tendes vida. Não tendes poder algum para resistir à tentação ou crescer em graça e santidade. Permanecendo nEle, florescereis. Derivando dEle a vossa vida, não haveis de murchar nem ser estéreis. Sereis como árvore plantada junto a ribeiros de água. CC 69 1 Muitos têm a idéia de que devem fazer sozinhos parte do trabalho. Confiaram em Cristo para o perdão dos pecados, mas agora procuram por seus próprios esforços viver retamente. Mas qualquer esforço como este terá de fracassar. Diz Jesus: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Nosso crescimento na graça, nossa felicidade, nossa utilidade -- tudo depende de nossa união com Cristo. É pela comunhão com Ele, todo dia, toda hora -- permanecendo nEle -- que devemos crescer na graça. Ele é não somente o Autor mas também o Consumador de nossa fé. É Cristo primeiro, por último e sempre. Deve estar conosco, não só ao princípio e ao fim de nossa carreira, mas a cada passo do caminho. Diz Davi: "Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que Ele está à minha mão direita, nunca vacilarei." Salmos 16:8. CC 69 2 Perguntais: "Como permanecerei em Cristo?" Do mesmo modo em que O recebestes a princípio. "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle." Colossences 2:6. "O justo viverá da fé." Hebreus 10:38. Vós vos entregastes a Deus, para serdes inteiramente Seus, para O servirdes e Lhe obedecerdes, e aceitastes a Cristo como vosso Salvador. Não pudestes vós mesmos expiar os vossos pecados ou mudar vosso coração; mas tendo-vos entregue a Deus, crestes que Ele, por amor de Cristo, fez tudo isto por vós. Pela fé viestes a pertencer a Cristo, pela fé deveis nEle crescer -- dando e recebendo. Deveis dar tudo -- vosso coração, vossa vontade, vosso serviço -- dar-vos, a vós mesmos, a Ele, para Lhe obedecerdes em tudo o que de vós requer; e deveis receber tudo -- Cristo, a plenitude de todas as bênçãos, para habitar em vosso coração, para ser vossa força, vossa justiça, vosso ajudador constante -- a fim de vos dar poder para obedecerdes. CC 70 1 Consagrai-vos a Deus pela manhã; fazei disto vossa primeira tarefa. Seja vossa oração: "Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que toda a minha obra se faça em Ti." Esta é uma questão diária. Cada manhã consagrai-vos a Deus para esse dia. Submetei-Lhe todos os vossos planos, para que se executem ou deixem de se executar, conforme o indique a Sua providência. Assim dia a dia podereis entregar às mãos de Deus a vossa vida, e assim ela se moldará mais e mais segundo a vida de Cristo. CC 70 2 A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas deve existir uma constante, serena confiança. Vossa esperança não está em vós mesmos; está em Cristo. Vossa fraqueza se acha unida à Sua força, vossa ignorância à Sua sabedoria, vossa fragilidade ao Seu eterno poder. Não deveis, pois, olhar para vós mesmos, nem permitir que o pensamento demore no próprio eu, mas olhai para Cristo. Que o pensamento demore em Seu amor, na formosura e perfeição de Seu caráter. Cristo em Sua abnegação, Cristo em Sua humilhação, Cristo em Sua pureza e santidade, Cristo em Seu incomparável amor -- este é o tema para a contemplação da alma. É amando-O, imitando-O, confiando inteiramente nEle, que haveis de ser transformados na Sua semelhança. CC 71 1 Diz Jesus: "Permanecei em Mim." Estas palavras dão idéia de repouso, firmeza, confiança. Outra vez Ele convida: "Vinde a Mim, ... e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:28-29. As palavras do salmista exprimem o mesmo pensamento: "Descansa no Senhor e espera nEle." Salmos 37:7. E Isaías dá a certeza: "No sossego e na confiança, estaria a vossa força." Isaías 30:15. Este descanso não se encontra na inatividade; pois que no convite do Salvador a promessa de descanso está unida ao chamado para o trabalho: "Tomai sobre vós o Meu jugo, ... e encontrareis descanso." Mateus 11:29. O coração que mais plenamente descansa em Cristo será o mais zeloso e ativo no labor por Ele. CC 71 2 Quando o pensamento se concentra no próprio eu, é afastado de Cristo, a fonte de vigor e vida. Por isso é constante empenho de Satanás conservar a atenção desviada do Salvador, e evitar assim a união e comunhão da alma com Cristo. Os prazeres do mundo, os cuidados, perplexidades e pesares da vida, as faltas alheias, ou nossas próprias faltas e imperfeições -- para uma destas coisas ou todas elas procurará ele distrair a atenção. Não vos deixeis desviar por seus artifícios. Muitos que são realmente conscienciosos, e que desejam viver para Deus, são por ele muitas vezes levados a demorar o pensamento em suas próprias faltas e fraquezas, e assim, afastando-os de Cristo, esperam alcançar a vitória. Não devemos fazer de nós mesmos o centro, nutrindo ansiedade e temor quanto à nossa salvação. Tudo isto desvia a alma da Fonte de nosso poder. Confiai a Deus a preservação de vossa alma, e nEle esperai. Falai e pensai em Jesus. Que o próprio eu se perca nEle. Ponde de parte a dúvida; despedi vossos temores. Dizei com o apóstolo Paulo: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. Repousai em Deus. Ele é capaz de guardar aquilo que Lhe confiastes. Se vos abandonardes em Suas mãos, Ele vos tornará mais que vencedores por Aquele que vos amou. CC 72 1 Quando tomou sobre Si a natureza humana, Cristo ligou a Si a humanidade por um vínculo de amor que jamais pode ser partido por qualquer poder, a não ser a escolha do próprio homem. Satanás apresentará constantemente engodos, para nos induzir a romper esse laço -- escolher separar-nos de Cristo. É aqui que temos necessidade de vigiar, lutar, orar, para que nada nos seduza a escolher outro senhor; pois que estamos sempre na liberdade de o fazer. Mas conservemos os olhos fitos em Jesus, e Ele nos preservará. Olhando para Jesus estamos seguros. Coisa alguma nos poderá arrebatar de Sua mão. Contemplando-O constantemente, seremos "transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor". 2 Coríntios 3:18. CC 72 2 Foi assim que os primeiros discípulos alcançaram a semelhança com o amado Salvador. Quando ouviram as palavras de Jesus, sentiram a necessidade que tinham dEle. Buscaram-nO, acharam-nO, seguiram-nO. Estavam com Ele em casa, à mesa, no aposento particular, no campo. Associavam-se a Ele como discípulos com seu mestre, de Seus lábios recebendo diariamente lições de santa verdade. Olhavam para Ele, como servos para seu senhor, a fim de saber quais os seus deveres. Esses discípulos eram homens sujeitos "às mesmas paixões que nós". Tiago 5:17. Tinham de travar contra o pecado a mesma luta que nós. Necessitavam da mesma graça para viver vida santa. CC 73 1 Mesmo João, o discípulo amado, aquele que mais plenamente refletia a semelhança do Salvador, não possuía naturalmente aquele caráter amável. Era não somente presumido e ambicioso de honras, mas impetuoso e ressentido quando o ofendiam. Quando, porém, lhe foi manifestado o caráter dAquele que é Divino, viu sua própria deficiência e humilhou-se ante esse conhecimento. A fortaleza e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e a mansidão que contemplava na vida diária do Filho de Deus, encheram-lhe a alma de admiração e amor. Dia a dia seu coração era atraído a Cristo, até perder de vista a si próprio, pelo amor ao Mestre. Seu temperamento ressentido e ambicioso cedeu ao poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito Santo renovou-lhe o coração. O poder do amor de Cristo operou a transformação do caráter. Este é o resultado certo da união com Jesus. Quando Cristo habita o coração, transforma-se toda a natureza. O Espírito de Cristo, Seu amor, abranda o coração, subjuga a alma e ergue os pensamentos e desejos para Deus e para o Céu. CC 73 2 Quando Cristo ascendeu para o Céu, Seus seguidores continuaram ainda a sentir-Lhe a presença. Era uma presença pessoal, cheia de amor e luz. Jesus, o Salvador, que com eles havia andado, falado e orado, que lhes inspirara esperança e conforto ao coração, fora levado ao Céu, quando Seus lábios proferiam ainda a mensagem de paz; e, enquanto a nuvem de anjos O recebia, vieram até eles os acentos de Sua voz: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Ascendera ao Céu em forma humana. Sabiam que estava perante o trono de Deus, ainda como Amigo e Salvador seu; que Sua simpatia não se havia alterado; que continuava identificado com a sofredora humanidade. Estava apresentando perante Deus os méritos de Seu próprio precioso sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, em lembrança do preço que pagara por Seus remidos. Sabiam que ascendera ao Céu a fim de lhes preparar lugar, e que voltaria e os levaria para Si. CC 74 1 Quando se reuniam, depois da ascensão, estavam ansiosos por apresentar as suas petições ao Pai, em nome de Jesus. Com solene reverência se prostravam em oração, repetindo a promessa: "Tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora, nada pedistes em Meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra." João 16:23-24. Estendiam cada vez mais alto a mão da fé, com o poderoso argumento: "É Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Romanos 8:34. E o Pentecoste lhes trouxe a presença do Consolador, do qual Cristo dissera: "estará em vós". João 14:17. E dissera mais: "Digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá, porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-Lo-ei." João 16:7. Daí por diante, por meio do Espírito, Cristo habitaria continuamente no coração de Seus filhos. Sua união com Ele era mais íntima do que quando estava pessoalmente com eles. A luz, o amor e poder do Cristo que neles habitava se refletiam em sua vida, de maneira que os homens, vendo-os, se maravilhavam; "e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus". Atos 4:13. CC 75 1 Tudo o que Cristo foi para os primeiros discípulos, deseja ser para Seus filhos hoje; pois naquela última oração, rodeado do pequeno grupo de discípulos, disse: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim." João 17:20. CC 75 2 Jesus orou por nós, pedindo que fôssemos um com Ele, assim como Ele é um com o Pai. Que união é esta! Disse o Salvador, de Si mesmo: "O Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma" (João 5:19); "o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras." João 14:10. Habitando, pois, Cristo em nosso coração, operará, em nós "tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:13. Trabalharemos como Ele trabalhou; manifestaremos o mesmo espírito. E assim, amando-O e nEle permanecendo, havemos de crescer "em tudo nAquele que é a cabeça, Cristo". Efésios 4:15. ------------------------Capítulo 9 -- Atividade e vida CC 77 1 Deus é a fonte de vida, luz e felicidade para todo o Universo. Como raios de luz de Sol, como correntes de água irrompendo de fonte viva, assim dEle dimanam bênçãos para todas as Suas criaturas. E onde quer que a vida de Deus se encontre no coração dos homens, derramar-se-á em amor e bênçãos aos outros. CC 77 2 A alegria de nosso Salvador estava no reerguimento e redenção dos homens caídos. Para isso fazer, não teve por preciosa a própria vida, mas suportou a cruz, desprezando a afronta. Assim também os anjos estão sempre empenhados em trabalhar pela felicidade dos outros. Esta é sua alegria. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante -- ajudar aos desgraçados que em todos os sentidos lhes são inferiores no caráter e na posição -- é a obra dos anjos imaculados. O espírito do abnegado amor de Cristo é o espírito que domina no Céu, e é a própria essência de suas delícias. É este o espírito que os seguidores de Cristo hão de possuir e a obra que hão de fazer. CC 77 3 Quando o amor de Cristo é abrigado no coração, ele, como o suave perfume, não pode ocultar-se. Sua santa influência será sentida por todos aqueles com quem entramos em contato. O espírito de Cristo no coração é qual fonte no deserto, que ali corre para refrigerar a todos, despertando nas almas moribundas o anseio de sorver da água da vida. CC 77 4 O amor que tivermos a Jesus se manifestará no desejo de trabalhar como Ele trabalhou, para bênção e reerguimento da humanidade. Levará o amor, ternura e simpatia para com todas as criaturas de nosso Pai celeste. CC 78 1 A vida do Salvador no mundo não foi uma vida de comodidade e dedicação ao próprio eu; ao contrário, labutava com esforço persistente, fervoroso e incansável pela salvação da humanidade perdida. Desde a manjedoura até o Calvário trilhou a senda da abnegação, não procurando eximir-Se a tarefas árduas, penosas viagens e exaustivos cuidados e labores. Disse Ele: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos." Mateus 20:28. Era este o único e grande objetivo de Sua vida. Tudo mais era secundário e subalterno. Sua comida e bebida consistia em fazer a vontade de Deus e consumar a Sua obra. O próprio eu e o interesse próprio não tinham parte alguma em Seu trabalho. CC 78 2 Assim os que são participantes da graça de Cristo estarão prontos para fazer qualquer sacrifício a fim de que outros pelos quais Ele morreu participem do dom celestial. Farão tudo que está em seu poder para tornar o mundo melhor por sua estada nele. Tal espírito é o legítimo produto de uma alma verdadeiramente convertida. Tão depressa uma pessoa se chegue para Cristo, nasce-lhe no coração o desejo de revelar aos outros que precioso amigo encontrou em Jesus; a salvadora e santificante verdade não lhe pode ficar encerrada no coração. Se nos achamos revestidos da justiça de Cristo, e cheios da alegria proveniente da habitação de Seu Espírito em nós, não nos será possível calar-nos. Se provamos e vimos que o Senhor é bom, teremos alguma coisa a dizer. Como Filipe ao encontrar o Salvador, convidaremos outros para chegarem a Ele. Procuraremos apresentar-lhes os atrativos de Cristo e as realidades nunca vistas do mundo por vir. Haverá um desejo intenso de trilhar o caminho no qual Cristo andou. Sentiremos um sincero anseio de que os que nos rodeiam possam contemplar "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. CC 79 1 E o esforço no sentido de abençoar aos outros reverterá em bênçãos para nós mesmos. Foi este o propósito de Deus dando-nos uma parte a desempenhar no plano da redenção. Concedeu aos homens o privilégio de tornarem-se participantes da natureza divina e de, por sua vez, difundir bênçãos aos seus semelhantes. Esta é a mais elevada honra, a maior alegria que Deus pode conferir ao homem. Os que assim se tornam participantes da obra de amor são os que para mais perto de seu Criador são conduzidos. CC 79 2 Deus poderia ter confiado aos anjos celestiais a mensagem do evangelho e toda a obra de amoroso ministério. Poderia ter empregado outros meios para realizar o Seu propósito. Mas em Seu infinito amor preferiu tornar-nos cooperadores Seus, de Cristo e dos anjos, a fim de que pudéssemos participar da bênção, da alegria e do reerguimento espiritual que resultam desse abnegado ministério. CC 79 3 Pela comunhão dos sofrimentos de Cristo somos levados a uma relação de intimidade com Ele. Cada ato de renúncia própria em benefício de outros, robustece o espírito de beneficência no coração do beneficiador, ligando-o mais estreitamente ao Redentor do mundo, o qual, "sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis". 2 Coríntios 8:9. E é só à medida que assim cumprirmos o propósito divino de nossa criação, que a vida nos poderá ser uma bênção. CC 80 1 Se vos puserdes a trabalhar como Cristo determina que Seus discípulos o façam, e conquistar almas para Ele, sentireis a necessidade de uma experiência mais profunda e um maior conhecimento das coisas divinas, e tereis fome e sede de justiça. Instareis com Deus, e vossa fé se fortalecerá e vossa alma beberá livremente da fonte da salvação. As oposições e provações que encontrardes vos impelirão para a Bíblia e para a oração. Crescereis na graça e no conhecimento de Cristo e desenvolvereis uma rica experiência. CC 80 2 O espírito de abnegado amor pelos outros proporciona ao caráter profundeza, estabilidade e formosura cristã, e traz paz e felicidade ao seu possuidor. As aspirações são enobrecidas. Não haverá lugar para a preguiça ou egoísmo. Os que desse modo exercitarem as graças cristãs hão de crescer e tornar-se fortes para o trabalho de Deus. Terão claras percepções espirituais, fé constante, e crescente, e maior poder na oração. O Espírito de Deus, operando em seu espírito, despertará as sagradas harmonias da alma, em resposta ao contato divino. Os que assim dedicarem esforços abnegados ao bem de outros estão, certissimamente, operando sua própria salvação. CC 80 3 O único modo de crescer na graça é fazer desinteressadamente a obra que Cristo nos ordenou fazer -- empenhar-nos, na medida de nossa capacidade, em ajudar e abençoar os que carecem do auxílio que lhes podemos dar. A força se desenvolve pelo exercício; a atividade é a própria condição de vida. Os que procuram manter a vida cristã aceitando passivamente as bênçãos que lhes são oferecidas pelos meios da graça nada fazendo por Cristo, estão simplesmente procurando comer para viver, sem trabalhar. No mundo espiritual, assim como no mundo natural, isso resulta sempre em degeneração e ruína. O homem que se recusasse a servir-se de seus membros, em breve perderia a faculdade de usá-los. Assim o cristão que não exercita as faculdades que Deus lhe deu, não só deixa de crescer em Cristo, como também perde a força que já possuía. CC 81 1 A igreja de Cristo é o agente designado por Deus para a salvação dos homens. Sua missão é levar o evangelho ao mundo. E essa obrigação repousa sobre todos os cristãos. Cada um, na medida de seus talentos e oportunidades, deve cumprir a comissão do Salvador. O amor de Cristo, revelado a nós, torna-nos devedores a todos os que O não conhecem. Deus nos outorgou luz, não para nosso proveito exclusivo, mas para que a derramássemos sobre eles. CC 81 2 Se os seguidores de Cristo estivessem sempre alerta ao chamado do dever, milhares estariam proclamando o evangelho em países gentios onde hoje só existe um. E todos os que se não empenhassem pessoalmente nessa obra, haveriam de sustentá-la com os seus recursos, sua simpatia e suas orações. E muito maior quantidade de zeloso trabalho se faria nos países cristãos. CC 81 3 Não precisamos ir aos países pagãos, nem mesmo deixar o estreito âmbito de nosso lar, se é ali que está nosso dever, a fim de trabalhar para Cristo. Podemos fazê-lo no lar, na igreja, entre os nossos amigos e com quem entretemos relações comerciais. CC 81 4 A maior parte da vida de nosso Salvador, passou-a Ele em paciente labor na oficina de carpinteiro em Nazaré. Anjos ministradores assistiam o Senhor da vida quando caminhava ao lado dos camponeses e jornaleiros, sem ser reconhecido nem honrado. Cumpria tão fielmente Sua missão quando trabalhava em Seu humilde ofício como quando curava os doentes ou andava sobre as ondas tempestuosas do mar da Galiléia. Assim podemos nós, nos mais humildes deveres e ínfimas posições da vida, andar e trabalhar com Jesus. CC 82 1 Diz o apóstolo: "Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado." 1 Coríntios 7:24. O comerciante pode dirigir os seus negócios de modo a glorificar seu Senhor por sua fidelidade. Se é fiel seguidor de Cristo, levará sua religião para tudo que faz, revelando aos homens o espírito de Cristo. O operário pode ser diligente e fiel representante dAquele que labutava em trabalhos humildes, entre as montanhas da Galiléia. Todo que adota o nome de Cristo deve trabalhar de tal modo que os outros, vendo suas boas obras, sejam levados a glorificar seu Criador e Redentor. CC 82 2 Muitos se têm escusado de pôr os seus dons ao serviço de Cristo, pelo motivo de haver outros que possuem dons e vantagens superiores. Tem prevalecido a opinião de que só dos possuidores de talentos especiais requer Deus que consagrem suas habilidades ao Seu serviço. Têm muitos a idéia de que os talentos só são concedidos a uma classe privilegiada, com exclusão das outras, os quais, naturalmente, não são convidados a participar nem dos trabalhos nem das recompensas. Não é isto, porém, o que se acha representado na parábola. Quando o dono da casa chamou seus servos, deu a cada um a sua obra. CC 82 3 Possuídos de um espírito amoroso, poderemos cumprir "como ao Senhor" mesmo os mais humildes deveres da vida. Colossences 3:23. Se o amor de Deus está no coração, será manifesto na vida. O suave perfume de Cristo nos circundará, e nossa influência será de molde a enobrecer e abençoar. CC 83 1 Não deveis esperar grandes ocasiões ou habilitações extraordinárias para então trabalhardes por Deus. Não vos deveis incomodar com o que o mundo pense de vós. Se vossa vida diária é testemunha da pureza e sinceridade de vossa fé, e os outros estão convencidos de que desejais ajudá-los, vossos esforços não se perderão totalmente. CC 83 2 Os mais humildes e mais pobres dentre os discípulos de Jesus, podem ser uma bênção aos outros. Talvez não tenham consciência de estar realizando algum bem especial, mas por sua inconsciente influência poderão dar origem a ondas de bênçãos que se irão alargando e aprofundando, mesmo que nunca venham eles a saber dos benditos resultados, a não ser no dia da recompensa final. Não percebem nem sabem que estão realizando grande bem. Não se requer deles que se preocupem com o sucesso. O que têm de fazer é simplesmente prosseguir tranqüilos, realizando fielmente a obra que a providência de Deus lhes designa, e sua vida não será em vão. Seu próprio ser irá se desenvolver cada vez mais à semelhança de Cristo; tornam-se mensageiros de Deus nesta vida, e desse modo estão se habilitando para a obra mais elevada e a felicidade verdadeira da vida por vir. ------------------------Capítulo 10 -- O Deus que eu conheço CC 85 1 Muitas são as maneiras pelas quais Deus procura revelar-Se a nós e pôr-nos em comunhão com Ele. A natureza fala sem cessar aos nossos sentidos. O coração aberto é impressionado com o amor e a glória de Deus manifestados nas obras de Suas mãos. O ouvido atento ouve e compreende as comunicações de Deus pelos objetos da natureza. Os verdejantes campos, as árvores altaneiras, os botões e as flores, a nuvem que passa, a chuva, o rumorejante regato, as glórias do firmamento, tudo nos fala ao coração, convidando-nos a familiarizar-nos com Aquele que os criou a todos. CC 85 2 Nosso Salvador ligava Suas preciosas lições às coisas da natureza. As árvores, os pássaros, as flores dos vales, as colinas, os lagos, o belo firmamento, assim como os incidentes e o ambiente da vida diária, tudo ligava-o Ele às palavras de verdade, para que Suas lições fossem assim muitas vezes trazidas à memória, mesmo em meio dos absorventes cuidados da trabalhosa vida humana. CC 85 3 Deus deseja que Seus filhos apreciem as Suas obras e se deleitem na singela e serena formosura com que adornou nosso lar terrestre. Ama o belo e, acima de tudo que é exteriormente atraente, ama a beleza de caráter; deseja que cultivemos a pureza e a simplicidade, as mudas graças das flores. CC 85 4 Se tão-somente estivermos atentos, as obras de Deus nos ensinarão preciosas lições de obediência e confiança. Desde as estrelas, que em seu trajeto pelos espaços percorrem século após século a rota invisível que lhes é designada, até o ínfimo átomo, todas as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustenta todas as coisas que criou. Aquele que mantém os inumeráveis mundos através da imensidade, ao mesmo tempo cuida das necessidades do pequeno pardal que, confiante, solta o seu humilde gorjeio. Quando os homens saem para o seu labor diário, assim como quando se acham entregues à oração; quando repousam à noite, e quando se erguem de manhã; quando o rico se banqueteia em seu palácio, ou quando o pobre reúne seus filhos em torno da mesa escassa, sobre cada um o Pai celeste vigia com ternura. Nenhuma lágrima é vertida sem que Deus a note. Não há sorriso que Ele não perceba. CC 86 1 Se tão-somente crêssemos isto plenamente, desvanecer-se-iam todas as ansiedades inúteis. Nossa vida não estaria tão cheia de decepções como agora; pois tudo, quer grande quer pequeno, seria confiado às mãos de Deus, que Se não embaraça com a multiplicidade dos cuidados, nem é dominado por seu peso. Havíamos de desfrutar então um repouso de alma ao qual muitos têm sido por muito tempo alheios. CC 86 2 Enquanto vos deleitais nas atraentes belezas da Terra, pensai no mundo por vir, o qual não conhecerá jamais a mancha do pecado e morte; onde a face da natureza não mais apresentará as sombras da maldição. Representai-vos na imaginação o lar dos remidos, e lembrai-vos de que ele será mais glorioso do que o pode pintar vossa mais brilhante imaginação. Nos variados dons de Deus em a natureza só discernimos o mais pálido vislumbre de Sua glória. Está escrito: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. CC 87 1 Poetas e naturalistas têm muito que dizer acerca da natureza; mas é o cristão quem mais sabe apreciar as belezas da Terra, porque reconhece a obra de seu Pai, e percebe Seu amor em cada flor, arbusto ou árvore. Ninguém pode apreciar plenamente a significação de montes e vales, rios e lagos, se não os olha como uma expressão do amor de Deus ao homem. CC 87 2 Deus nos fala por meio de Suas operações providenciais, e pela influência de Seu Espírito sobre o coração. Em nossas circunstâncias e ambiente, nas mudanças que diariamente se realizam ao nosso redor, podemos encontrar preciosas lições, se nosso coração está aberto para discerni-las. O salmista, narrando a obra da providência de Deus, diz: "A Terra está cheia da bondade do Senhor." Salmos 33:5. "Quem é sábio observe estas coisas e considere atentamente as benignidades do Senhor." Salmos 107:43. CC 87 3 Deus nos fala a nós por Sua Palavra. Aí temos em linhas mais claras a revelação de Seu caráter, de Seu procedimento com os homens, e da grande obra de redenção. Aí está aberta perante nós a história de patriarcas e profetas e outros homens santos da antiguidade. Eram homens sujeitos "às mesmas paixões que nós". Tiago 5:17. Vemos como lutavam com abatimentos iguais aos nossos, como caíam sob tentações como também nós o temos feito, e contudo de novo se animavam e venciam pela graça de Deus; e considerando esses exemplos, ficamos animados em nossas lutas por conseguir a justiça. Ao lermos acerca das preciosas experiências que lhes foram concedidas, da luz, amor e bênção que lhes foi dado desfrutar, e da obra que realizaram pela graça que lhes foi dada, o mesmo espírito que os inspirava acende em nosso coração uma chama de santa emulação e um desejo de ser semelhantes a eles no caráter, e de, como eles, andar com Deus. CC 88 1 Disse Jesus acerca das Escrituras do Antigo Testamento -- e quanto mais é isto verdade do Novo! -- "São elas que de Mim testificam" (João 5:39), -- dEle que é o Redentor. Aquele em quem se centralizam nossas esperanças de vida eterna. Sim, a Bíblia toda fala de Cristo. Desde o primeiro relatório da criação -- pois "sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:3) -- até à promessa final: "Eis que cedo venho" (Apocalipse 22:12) lemos acerca de Suas obras e ouvimos a Sua voz. Se desejais familiarizar-vos com o Salvador, estudai as Santas Escrituras. CC 88 2 Enchei o coração todo com as palavras de Deus. São elas a água viva, a mitigar vossa sede ardente. São o pão vivo do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." João 6:53. E Ele mesmo explica essa declaração, dizendo: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. Nosso corpo é formado pelo que comemos e bebemos; e como se dá na economia natural, assim também na espiritual; é aquilo em que meditamos, que dará força e vigor à nossa natureza espiritual. CC 88 3 O tema da redenção é tema que os próprios anjos desejam penetrar; será a ciência e o cântico dos remidos através dos séculos da eternidade. Não é ele digno de atenta consideração e estudo agora? A infinita misericórdia e amor de Jesus, o sacrifício feito por Ele em nosso favor, demandam a mais séria e solene reflexão. Devemos demorar o pensamento no caráter de nosso amado Redentor e Intercessor. Devemos meditar na missão dAquele que veio salvar Seu povo, dos seus pecados. Ao contemplarmos assim os temas celestiais, nossa fé e amor se fortalecerão, e nossas orações serão cada vez mais aceitáveis a Deus, porque a elas se misturarão cada vez mais a fé e o amor. Serão inteligentes e fervorosas. Haverá mais constante confiança em Jesus, e uma diária e viva experiência em Seu poder de salvar perfeitamente a todos os que por Ele se chegam a Deus. CC 89 1 Ao meditarmos nas perfeições do Salvador, havemos de desejar ser transformados por completo, e renovados na imagem de Sua pureza. A alma terá fome e sede de tornar-se semelhante Àquele a quem adoramos. Quanto mais nossos pensamentos se demorarem em Cristo, tanto mais falaremos dEle aos outros e O representaremos perante o mundo. CC 89 2 A Bíblia não foi escrita para os doutos unicamente. Ao contrário, destina-se ao povo comum. As grandes verdades indispensáveis para a salvação, nela se acham reveladas com a clareza da luz meridiana; e ninguém errará nem perderá o caminho a não ser os que seguirem seu próprio juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada. CC 89 3 Não devemos aceitar o testemunho de nenhum homem quanto ao que ensinam as Escrituras, mas sim estudar por nós mesmos as palavras de Deus. Se permitirmos que outros pensem por nós, nossas próprias energias e habilidades adquiridas se atrofiarão. As nobres faculdades do espírito podem, pela falta de exercício sobre temas dignos de sua concentração, ficar tão debilitadas que percam a capacidade de apanhar a profunda significação da Palavra de Deus. O espírito se ampliará se for empregado em pesquisar a relação dos assuntos da Bíblia, comparando passagem com passagem e coisas espirituais com coisas espirituais. CC 90 1 Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão poderoso para elevar os pensamentos, para dar vigor às faculdades, como as amplas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como devera ser, os homens teriam uma largueza de espírito, uma nobreza de caráter e firmeza de propósito que raro se vêem nesses tempos. CC 90 2 Bem pouco benefício, porém, se tira de uma leitura apressada das Escrituras. Poder-se-á ler a Bíblia inteira e contudo deixar de reconhecer-lhe a beleza ou compreender-lhe o sentido profundo e oculto. Uma passagem que se estude até que seu sentido seja claro ao espírito e evidente sua relação para com o plano da salvação, é de maior valor do que a leitura de muitos capítulos sem ter em vista nenhum propósito definido e sem adquirir nenhuma instrução positiva. Levai convosco a Bíblia. Quando tiverdes oportunidade, lede-a; fixai as passagens na memória. Mesmo enquanto estais a andar pela rua, podeis ler uma passagem e meditar sobre ela, fixando-a assim. CC 90 3 Não conseguiremos sabedoria sem fervorosa atenção e estudo acompanhado de oração. Algumas porções da Escritura são, efetivamente, tão claras que não podem ser mal compreendidas; mas outras há cujo sentido não está sobre a superfície, de modo que possa ser apanhado de relance. É preciso comparar passagem com passagem. Tem de haver cuidadoso estudo e reflexão acompanhada de orações. E tal estudo será ricamente compensado. Como o mineiro descobre veios de precioso metal sob a superfície da terra, assim aquele que buscar perseverantemente a Palavra de Deus como a tesouros escondidos, encontrará verdades do mais alto valor, as quais se acham ocultas à vista do pesquisador descuidado. As palavras inspiradas, meditadas no coração, serão como torrentes que brotam da fonte da vida. CC 91 1 Nunca deve a Bíblia ser estudada sem oração. Antes de abrir suas páginas, devemos pedir a iluminação do Espírito Santo, e ser-nos-á dada. Quando Natanael veio a Jesus, o Salvador exclamou: "Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo." Natanael volveu: "De onde me conheces Tu?" E Jesus respondeu: "Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu estando tu debaixo da figueira." João 1:47-48. E Jesus ver-nos-á também nos lugares secretos de oração, se dEle buscarmos a luz para saber qual a verdade. Anjos do mundo da luz assistirão àqueles que, em humildade de coração, buscarem a guia divina. CC 91 2 O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. É sua missão apresentar a Cristo, a pureza de Sua justiça e a grande salvação que por Ele nos pertence. Jesus disse: "Ele... há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar." João 16:14. O Espírito de verdade é o único mestre eficaz da verdade divina. Quanto não deve Deus ter estimado a raça humana, para que desse o Seu Filho a fim de por ela morrer, e designasse o Seu Espírito para ser o mestre e constante guia do homem! ------------------------Capítulo 11 -- O privilégio de falar com Deus CC 93 1 Deus nos fala pela natureza e pela Revelação, pela Sua providência e pelo influxo de Seu Espírito. Isto, porém, não basta; precisamos também derramar perante Ele nosso coração. Para ter vida e energia espirituais, cumpre estarmos em real comunhão com nosso Pai celestial. Podem nossos pensamentos dirigir-se para Ele; podemos meditar sobre Suas obras, Suas misericórdias, Suas bênçãos; mas isto não é, no sentido mais amplo, comungar com Ele. Para entreter comunhão com Deus, é preciso que tenhamos alguma coisa que Lhe dizer acerca de nossa vida. CC 93 2 A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo. Não que seja necessário, a fim de tornar conhecido a Deus o que somos; mas sim para nos habilitar a recebê-Lo. A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele. CC 93 3 Quando Jesus andou na Terra, ensinou a Seus discípulos como deviam orar. Instruiu-os a apresentar suas necessidades cotidianas a Deus, e lançar sobre Ele todos os seus cuidados. E a certeza que lhes deu, de que suas petições seriam ouvidas, constitui também para nós uma certeza. CC 93 4 Jesus mesmo, enquanto andava entre os homens, muitas vezes Se entregava à oração. Nosso Salvador identificou-Se com nossas necessidades e fraquezas, tornando-Se um suplicante, um solicitador junto de Seu Pai, para buscar dEle novos suprimentos de força, a fim de que pudesse sair revigorado para os deveres e provações. Ele é nosso exemplo em todas as coisas. É um irmão em nossas fraquezas, pois "como nós, em tudo foi tentado" (Hebreus 4:15); mas, sem pecado como era, Sua natureza recuava do mal; suportou lutas e agonias de alma num mundo de pecado. Sua humanidade tornou-Lhe a oração uma necessidade, e privilégio. Encontrava conforto e alegria na comunhão com o Pai. E se o Salvador dos homens, o Filho de Deus, sentia a necessidade de orar, quanto mais devemos nós, débeis e pecaminosos mortais que somos, sentir a necessidade de fervente e constante oração! CC 94 1 Nosso Pai celestial está desejoso de derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É nosso privilégio beber livremente da fonte de Seu ilimitado amor. Como é de admirar, pois, que oremos tão pouco! Deus está pronto para ouvir a oração sincera do mais humilde de Seus filhos, e contudo há tanta manifesta relutância de nossa parte, para tornar conhecidas a Deus nossas necessidades! Que pensarão os anjos do Céu, a respeito dos pobres e desamparados seres humanos, sujeitos à tentação, quando o coração de Deus, pleno de infinito amor, se inclina anelante para eles, pronto para lhes dar mais do que sabem pedir ou pensar, e contudo oram tão pouco, e tão pouca fé exercem! Os anjos têm prazer em prostrar-se perante Deus; deleitam-se em estar em Sua presença. Consideram a comunhão com Deus como seu mais alto privilégio; e contudo os filhos da Terra, que tanto precisam do auxílio que só Deus pode dar parecem satisfeitos com andar sem a luz de Seu Espírito, a companhia de Sua presença. CC 94 2 As trevas do maligno envolvem os que negligenciam a oração. As sutis tentações do inimigo os incitam ao pecado; e tudo isso por não fazerem uso do privilégio da oração, que Deus lhes conferiu. Por que deveriam os filhos e filhas de Deus ser tão relutantes em orar, quando a oração é a chave nas mãos da fé para abrir o celeiro do Céu, onde se acham armazenados os ilimitados recursos da Onipotência? Sem oração constante e diligente vigilância, estamos em perigo de tornar-nos descuidosos e desviar-nos do caminho verdadeiro. O adversário procura continuamente obstruir o caminho para o trono da graça, para que não obtenhamos, pela súplica fervorosa e fé, graça e poder para resistir à tentação. CC 95 1 Há certas condições sob as quais podemos esperar que Deus ouça nossas orações e a elas atenda. Uma das primeiras delas é sentirmos nossa necessidade de Seu auxílio. Ele prometeu: "Derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca." Isaías 44:3. Os que têm fome e sede de justiça, que anelam a Deus, podem estar certos de que serão satisfeitos. O coração tem de estar aberto à influência do Espírito; ao contrário não pode ser obtida a bênção de Deus. CC 95 2 Nossa grande necessidade é ela mesma um argumento, e intercede muito eloqüentemente em nosso favor. Temos, porém, de buscar ao Senhor a fim de que faça essas coisas por nós. Diz Ele: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mateus 7:7. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. CC 95 3 Se atendemos ainda à iniqüidade em nosso coração, se nos apegarmos a algum pecado consciente, o Senhor não nos ouvirá; mas a oração da alma penitente e contrita será sempre aceita. Depois de termos reparado todas as faltas de que temos consciência, poderemos crer que Deus atenderá às nossas petições. Nossos próprios méritos jamais nos recomendarão ao favor de Deus; é o mérito de Cristo que nos salvará, Seu sangue é que nos purificará; nós, porém, temos uma obra a fazer para cumprir as condições da aceitação. CC 96 1 Outro elemento da oração perseverante é a fé. "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam." Hebreus 11:6. Jesus disse a Seus discípulos: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Marcos 11:24. Cremos em Sua palavra? CC 96 2 A certeza que Ele nos dá é ampla, ilimitada; e fiel é Aquele que prometeu. Se não recebemos exatamente as coisas que pedimos e ao tempo desejado, devemos não obstante crer que o Senhor nos ouve, e que atenderá às nossas orações. Somos tão falíveis e curtos de vistas que às vezes pedimos coisas que não nos seriam uma bênção, e nosso Pai celestial amorosamente nos atende às orações dando-nos aquilo que é para o nosso maior bem -- aquilo que nós mesmos desejaríamos se com vistas divinamente iluminada, pudéssemos ver todas as coisas tais como elas são na realidade. Quando nossas orações ficam aparentemente indeferidas, devemos apegar-nos à promessa; pois virá por certo a ocasião de serem atendidas, e receberemos a bênção de que mais carecemos. Mas pretender que a oração seja sempre atendida exatamente do modo e no sentido particular que desejamos, é presunção. Deus é muito sábio para errar, e bom demais para reter qualquer benefício dos que andam sinceramente. Não receeis, pois, confiar nEle, ainda que não vejais a resposta imediata às vossas orações. Apoiai-vos em Sua segura promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mateus 7:7. CC 96 3 Se tomarmos conselho com as nossas dúvidas e temores, ou procurarmos solver tudo que não podemos compreender claramente, antes de ter fé, as perplexidades tão-somente aumentarão e se complicarão. Mas se chegarmos a Deus convencidos de nosso desamparo e dependência, tais quais somos, e com humilde e confiante fé fizermos conhecidas nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, e o qual tudo vê na criação, governando a todas as coisas por Sua vontade e palavra, Ele pode atender e atenderá ao nosso clamor, e fará a luz brilhar em nosso coração. Pela oração sincera somos postos em ligação com a mente do Infinito. Não temos, no mesmo momento, evidência notável de que a face do nosso Redentor se inclina sobre nós em compaixão e amor; mas é realmente assim. Podemos não sentir Seu contato visível, mas Sua mão está sobre nós em amor e compassiva ternura. CC 97 1 Quando chegamos a pedir misericórdia e bênçãos de Deus, devemos fazê-lo tendo no coração um espírito de amor e perdão. Como poderemos orar: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Mateus 6:12), e não obstante alimentar um espírito de irreconciliação? Se esperamos que nossas orações sejam atendidas, devemos perdoar aos outros do mesmo modo e na mesma medida em que esperamos ser perdoados. CC 97 2 A perseverança na oração é também uma condição para ser ela atendida. Devemos orar sempre, se quisermos crescer na fé e experiência. "Perseverai em oração, velando nela com ação de graças". Colossences 4:2. Pedro exorta os crentes: "Sede sóbrios e vigiai em oração." 1 Pedro 4:7. Paulo instrui: "As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus." Filipenses 4:6. Mas vós, amados, diz Judas, "orando no Espírito Santo, conservai a vós mesmos na caridade de Deus." Judas 1:20-21. A oração incessante é a união ininterrupta da alma com Deus, de maneira que a vida de Deus flui para nossa vida; e de nossa vida refluem para Deus a pureza e santidade. CC 98 1 Há necessidade de diligência na oração; que coisa alguma dela vos detenha. Fazei todos os esforços para conservar aberta a comunhão entre Jesus e vossa própria alma. Procurai toda oportunidade para irdes aonde se costuma fazer oração. Os que estão realmente buscando a comunhão com Deus, serão vistos nas reuniões de oração, fiéis ao seu dever, e atentos e ansiosos por colher todos os benefícios que possam lograr. Aproveitarão todas as oportunidades de colocar-se onde possam receber raios de luz do Céu. CC 98 2 Temos que orar em família; e sobretudo não devemos negligenciar a oração secreta, pois ela é a vida da alma. É impossível a alma prosperar enquanto é negligenciada a oração. A oração familiar e a oração pública não bastam. Em solidão, abra-se a alma às vistas perscrutadoras de Deus. A oração secreta só deve ser ouvida por Ele -- o Deus que ouve as orações. Nenhum ouvido curioso deve partilhar dessas petições em que a alma assim depõe o seu fardo. Na oração secreta a alma está livre das influências do ambiente, livre da agitação. Calmamente, mas com fervor, busca a Deus. Suave e permanente será a influência que emana dAquele que vê o secreto, e cujo ouvido está aberto para ouvir a prece que vem do coração. Pela fé calma e singela a alma entretém comunhão com Deus e absorve raios de luz divina que a devem fortalecer e suster no conflito contra Satanás. Deus é nossa fortaleza. CC 98 3 Orai em vosso aposento particular; e enquanto seguis vossos afazeres diários, elevai muitas vezes o coração a Deus. Era assim que Enoque andava com Deus. Essas orações silenciosas sobem para o trono da graça qual precioso incenso. Satanás não pode vencer aquele cujo coração deste modo se firma em Deus. CC 99 1 Não há tempo nem lugar impróprios para erguer a Deus uma prece. Nada há que nos possa impedir de alçar o coração no espírito de oração sincera. Entre as turbas de transeuntes na rua, em meio de uma transação comercial, podemos elevar a Deus um pedido, rogando a direção divina, como fez Neemias quando apresentou seu pedido perante o rei Artaxerxes. Onde quer que nos encontremos podemos entreter comunhão íntima com Deus. Devemos ter constantemente aberta a porta do coração, erguendo sempre a Jesus o convite para vir habitar nossa alma, como hóspede celestial. CC 99 2 Ainda que nos achemos numa atmosfera maculada e corrupta, não lhe somos forçados a respirar os miasmas, mas podemos viver no puro ambiente do Céu. Podemos cerrar todas as portas a imaginações impuras e pensamentos profanos, erguendo nossa alma à presença de Deus por meio de sincera oração. Aquele cujo coração se acha aberto para receber o auxílio e a bênção de Deus, há de viver numa atmosfera mais santa que a da Terra, tendo constante comunhão com o Céu. CC 99 3 Precisamos ter acerca de Jesus uma visão mais nítida, bem como mais ampla compreensão do valor das realidades eternas. O coração dos filhos de Deus se tem de encher de beleza e santidade; e para que assim seja devemos procurar a divina revelação das coisas celestiais. CC 99 4 Que nossa alma se dilate e eleve, a fim de que Deus nos possa proporcionar um hausto da atmosfera celeste. Podemo-nos conservar tão achegados a Deus que, em cada inesperada provação, nossos pensamentos para Ele se volvam tão naturalmente como a flor se volta para o Sol. CC 100 1 Exponde continuamente ao Senhor vossas necessidades, alegrias, pesares, cuidados e temores. Não O podeis sobrecarregar; não O podeis fatigar. Aquele que conta os cabelos de vossa cabeça, não é indiferente as necessidades de Seus filhos. "Porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tiago 5:11. Seu coração amorável se comove ante as nossas tristezas, ante a nossa expressão delas. Levai-Lhe tudo quanto vos causa perplexidade. Coisa alguma é demasiado grande para Ele, pois sustém os mundos e rege o Universo. Nada do que de algum modo se relacione com a nossa paz é tão insignificante que o não observe. Não há em nossa vida nenhum capítulo demasiado obscuro para que o possa ler; perplexidade alguma por demais intrincada para que a possa resolver. Nenhuma calamidade poderá sobrevir ao mais humilde de Seus filhos, ansiedade alguma lhe atormentar a alma, nenhuma alegria possuí-lo, nenhuma prece sincera escapar-lhe dos lábios, sem que seja observada por nosso Pai celeste, ou sem que Lhe atraia o imediato interesse. Ele "sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas". Salmos 147:3. As relações entre Deus e cada pessoa são tão particulares e íntimas, como se não existisse nenhuma outra por quem Ele houvesse dado Seu bem-amado Filho. CC 100 2 Jesus disse: "Pedireis em Meu nome, e não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai, pois o mesmo Pai vos ama." João 16:26-27. "Eu vos escolhi a vós... a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda." João 15:16. Orar em nome de Jesus, porém, é mais do que simplesmente mencionar-Lhe o nome no começo e fim da oração. É orar segundo o sentimento e o espírito de Jesus, ao mesmo tempo que Lhe cremos nas promessas, descansamos em Sua graça, e fazemos Suas obras. CC 101 1 Deus não pretende que nos tornemos eremitas ou monges, que nos afastemos do mundo, a fim de nos consagrar a práticas de piedade. Nossa vida deve ser tal como foi a de Cristo -- dividir-se entre o monte da oração, e o convívio das multidões. Aquele que não faz senão orar, ou em breve deixará de o fazer, ou suas orações se tornarão formais e rotineiras. Quando os homens se retiram da convivência de seus semelhantes, da esfera dos deveres cristãos, deixando de levar sua cruz, quando deixam de trabalhar zelosamente pelo Mestre, que com tanto zelo por eles trabalhou, privam-se do objetivo essencial da oração, deixando de ser estimulados às devoções, suas preces se tornam pessoais e egoístas. Não podem orar a respeito das necessidades humanas, ou da edificação do reino de Cristo, suplicando forças para o trabalho. CC 101 2 É para nosso prejuízo que nos privamos do privilégio de nos reunir uns com os outros para nos fortalecer e animar mutuamente ao serviço do Senhor. As verdades de Sua Palavra perdem seu vigor e importância para o nosso espírito. O coração deixa de ser iluminado e comovido por sua santificadora influência, e declinamos na espiritualidade. Perdemos muito, em nossas relações como cristãos, devido à falta de simpatia de uns para com os outros. Aquele que se fecha consigo mesmo, não está preenchendo o lugar a que o Senhor o designou. O devido cultivo dos traços sociais de nossa natureza, leva-nos a ter simpatia pelos outros, sendo um meio de nos desenvolver e tornar mais fortes para o serviço de Deus. CC 101 3 Se os cristãos entretivessem convivência, falando entre si do amor de Deus e das preciosas verdades da redenção, seu próprio coração seria refrigerado, ao mesmo tempo que levariam refrigério uns aos outros. Devemos aprender diariamente de nosso Pai celeste, alcançando nova experiência de Sua graça; desejaremos então falar acerca de Seu amor e, assim fazendo, nosso próprio coração crescerá em ânimo e fervor. CC 102 1 Se pensássemos e falássemos mais em Jesus, e menos em nós mesmos teríamos muito mais de Sua presença. Se pensássemos em Deus ao menos tantas vezes quantas vemos Suas demonstrações de cuidado por nós, havíamos de tê-Lo sempre em mente, deleitando-nos em falar a Seu respeito e em louvá-Lo. Falamos sobre as coisas temporais, porque nelas nos interessamos. Falamos em nossos amigos, porque lhes temos amor; com eles compartilhamos as dores e alegrias. Temos, no entanto, razões infinitamente maiores para amar a Deus, do que aos nossos amigos terrestres; e deveria ser a coisa mais natural do mundo dar-Lhe o primeiro lugar em nossos pensamentos, falar de Sua bondade e de Seu poder. Ao conceder-nos tão ricos dons, não era Seu desígnio que estes nos absorvessem por tal forma a mente e o coração, que nada nos restasse para Lhe dar; eles nos devem, ao contrário, fazer lembrar sempre dEle, ligando-nos com laços de amor e gratidão a nosso celeste Benfeitor. Vivemos muito apegados à Terra. Ergamos o olhar para a porta aberta do santuário em cima, onde a luz da glória de Deus resplandece na face de Cristo, o qual "pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus". Hebreus 7:25. CC 102 2 Devemos louvar mais a Deus "pela Sua bondade e pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens". Salmos 107:8. Nossas devoções não deviam consistir só em pedir e receber. Não pensemos sempre em nossas necessidades, sem nunca nos ocuparmos com os benefícios recebidos. Não oramos demasiado, mas somos ainda mais econômicos em nossas ações de graças. Estamos a receber continuamente as misericórdias de Deus e, no entanto, quão pouco Lhe exprimimos nosso reconhecimento, quão pouco O louvamos pelo que por nós tem feito! CC 103 1 O Senhor ordenou antigamente a Israel, quando se reuniam para Seu culto: "Ali comereis perante o Senhor, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que poreis a vossa mão, vós e as vossas casas, no que te abençoar o Senhor teu Deus." Deuteronômio 12:7. Aquilo que fazemos para glória de Deus, deve ser feito com alegria, hinos de louvor e ações de graças, não com tristeza e aspecto sombrio. CC 103 2 Nosso Deus é um terno e misericordioso Pai. Seu serviço não deve ser considerado como um exercício penoso e entristecedor. Deve ser uma honra adorar o Senhor e tomar parte em Sua obra. Deus não quer que Seus filhos, para quem preparou uma tão grande salvação, procedam como se Ele fosse um duro e exigente feitor. E seu melhor amigo, e espera que, quando O adorem, possa estar com eles, para os abençoar e confortar, enchendo-lhes o coração de alegria e amor. O Senhor deseja que Seus filhos encontrem conforto em Seu serviço, achando mais prazer que fadiga em Sua obra. Deseja que aqueles que O buscam para Lhe render adoração, levem consigo preciosos pensamentos acerca de Seu cuidado e amor, a fim de poderem ser animados em todas as ocupações da vida diária, e disporem de graça para lidar sincera e fielmente em todas as coisas. CC 103 3 Precisamos congregar-nos em torno da cruz. Cristo, e Ele crucificado, eis o que deve constituir o tema de nossas meditações, de nossas conversas, e de nossas mais gratas emoções. Devemos conservar em mente todas as bênçãos que recebemos de Deus e, ao compreendermos o grande amor que nos tem, havemos de nos sentir atraídos a confiar tudo às mãos que foram por nós cravadas na cruz. CC 104 1 A alma pode ascender para mais perto do Céu nas asas do louvor. Deus é adorado com hinos e músicas nas cortes celestes, e, ao exprimir-Lhe a nossa gratidão, estamo-nos aproximando do culto que Lhe é prestado pelas hostes celestes. "Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará." Salmos 50:23. Cheguemos, pois, com reverente alegria a nosso Criador, com "ações de graças e voz de melodia". Isaías 51:3. ------------------------Capítulo 12 -- Expulse a dúvida CC 105 1 Muitos há, especialmente dos que são novos na vida cristã, que são por vezes perturbados por céticas sugestões. Há na Bíblia muitas coisas que não podem explicar, nem mesmo compreender, e Satanás delas se serve para abalar-lhes a fé nas Escrituras como revelação de Deus. E perguntam: "Como hei de saber qual é o caminho verdadeiro? Se a Bíblia é na verdade, a Palavra de Deus, como poderei libertar-me dessas dúvidas e perplexidades?" CC 105 2 O Senhor nunca exige que creiamos em alguma coisa sem nos dar suficientes provas sobre que fundamentemos nossa fé. Sua existência, Seu caráter, a veracidade de Sua Palavra, baseiam-se todos em testemunhos que falam à nossa razão; e esses testemunhos são abundantes. Todavia Deus não afasta a possibilidade da dúvida. Nossa fé deve repousar sobre evidências, e não em demonstrações. Os que quiserem duvidar, hão de encontrar oportunidade; ao passo que os que desejam realmente conhecer a verdade, encontrarão abundantes provas em que basear sua fé. CC 105 3 Impossível é, a mentes finitas, compreender o caráter e as obras do Infinito em toda a sua plenitude. Ao mais esclarecido entendimento, ao espírito mais altamente educado, esse santo Ser tem de permanecer sempre envolto em mistério. "Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber?" Jó 11:7-8. CC 106 1 O apóstolo Paulo exclama: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!" Romanos 11:33. Mas se bem que "nuvens e obscuridade" estejam ao redor dEle, "justiça e juízo são a base do Seu trono". Salmos 97:2. Nossa compreensão de Sua conduta conosco, e dos motivos que O regem, podem ir ao ponto de discernir amor e misericórdia ilimitados, unidos a um infinito poder. Podemos compreender de Seus desígnios o necessário ao nosso bem; e quanto ao mais, devemos confiar ainda nAquele cuja mão é onipotente, e cujo coração está repleto de amor. CC 106 2 A Palavra de Deus, como o caráter de seu divino Autor, apresenta mistérios que não podem ser nunca perfeitamente compreendidos por criaturas finitas. A entrada do pecado no mundo, a encarnação de Cristo, a regeneração, a ressurreição, e muitos outros assuntos apresentados na Bíblia, são mistérios demasiado profundos para serem explicados, ou mesmo cabalmente compreendidos pelo espírito humano. Não temos, porém, motivos de duvidar da Palavra de Deus pelo fato de não podemos compreender todos os mistérios de Sua providência. Estamos, no mundo natural, continuamente cercados de mistérios que não podemos penetrar. Mesmo as mais simples formas de vida apresentam problemas que o mais sábio dos filósofos é impotente para explicar. Encontram-se por toda parte maravilhas que escapam à nossa percepção. Deveríamos, então, surpreender-nos ao verificar que no mundo espiritual existem também mistérios que não podemos sondar? Toda a dificuldade jaz na debilidade e estreiteza do espírito humano. Deu-nos Deus nas Escrituras suficientes provas de Seu caráter divino, e não devemos duvidar de Sua Palavra pelo fato de não podermos penetrar todos os mistérios de Sua providência. CC 107 1 Diz o apóstolo Pedro que há nas Escrituras "pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem... para sua própria perdição". 2 Pedro 3:16. As dificuldades das Escrituras têm sido insistentemente apresentadas pelos céticos como um argumento contra elas; longe disso, porém, essas dificuldades constituem poderosa evidência de sua divina inspiração. Se elas não contivessem a respeito do Senhor senão o que podemos facilmente compreender; se Sua grandeza e majestade pudessem ser apreendidas por espíritos finitos, então a Bíblia não apresentaria as insofismáveis credenciais de autoridade divina. A própria grandeza e mistério dos temas expostos, deveriam inspirar fé nos mesmos, como sendo a Palavra de Deus. CC 107 2 A Bíblia revela a verdade de maneira tão simples, e com tão perfeita adaptação às necessidades e anseios do coração humano, que tem inspirado admiração e encanto aos espíritos mais cultos, ao mesmo tempo que habilita o humilde e ignorante a discernir o caminho da salvação. Não obstante, essas verdades singelamente declaradas se prendem a assuntos tão elevados, de tão vasto alcance, tão infinitamente além da capacidade de compreensão humana, que não as podemos aceitar senão por haverem sido declaradas por Deus. Assim se nos expõe o plano da salvação, de maneira que toda pessoa possa ver os passos que lhe cumpre dar em arrependimento para com Deus e fé para com nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de salvar-se pela maneira indicada por Deus; todavia, sob essas verdades, tão facilmente compreendidas, jazem mistérios que são o esconderijo de Sua glória -- mistérios que se acham para além do alcance de nosso espírito em suas indagações, inspirando, no entanto, reverência e fé ao sincero pesquisador da verdade. Quanto mais ele pesquisa a Bíblia, tanto mais profunda se torna sua convicção de que ela é a Palavra do Deus vivo, e a razão humana dobra-se perante a majestade da divina revelação. CC 108 1 Reconhecer que nos não é possível compreender plenamente as grandes verdades da Bíblia, é simplesmente admitir que a mente finita é incapaz de abranger o infinito; que o homem, com seu limitado conhecimento humano, não pode entender os desígnios do Onisciente. CC 108 2 Não podendo sondar-Lhe todos os mistérios, o cético e o infiel rejeitam a Palavra de Deus; e nem todos os que professam crer na Bíblia estão isentos de perigo a esse respeito. Diz o apóstolo: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo." Hebreus 3:12. É justo examinar cuidadosamente os ensinos da Bíblia, e descobrir "as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10) até onde nos são reveladas nas Escrituras. Ao passo que "as coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; ... as reveladas são para nós". Deuteronômio 29:29. A obra de Satanás, entretanto, é perverter as faculdades indagadoras do espírito. À consideração da verdade bíblica mistura-se um certo orgulho, de maneira que o homem fica impaciente, e sente-se vencido se não pode explicar todas as partes da Escritura a seu contento. É-lhe demasiado humilhante reconhecer que não compreende a Palavra Inspirada. Não está disposto a esperar pacientemente até que ao Senhor pareça conveniente revelar-lhe a verdade. Acha que sua sabedoria humana, desajudada, é suficiente para o habilitar a entender as Escrituras e, não o conseguindo, nega-lhe virtualmente a autoridade. É verdade que muitas teorias e doutrinas que o povo julga derivadas da Bíblia, não se baseiam em seus ensinos, sendo em realidade contrárias ao teor geral da inspiração. Essas coisas têm sido causa de dúvida e perplexidade para muitos espíritos. Sua responsabilidade, no entanto, não cabe à Palavra de Deus, mas ao haverem sido pervertidas pelo homem. CC 109 1 Caso fosse possível a seres criados atingir à plena compreensão de Deus e Suas obras, então, havendo chegado a esse ponto, não haveria para eles nada mais a descobrir quanto à verdade, nenhum progresso no conhecimento, nenhum desenvolvimento de espírito ou coração. Deus deixaria de ser supremo; e o homem, havendo atingido o limite do conhecimento e das realizações, cessaria de progredir. Graças a Deus que não é assim. Ele é infinito; nEle se acham "todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Colossenses 2:3. E por toda a eternidade os homens podem continuar sempre a examinar, a aprender, sem nunca esgotar os tesouros de Sua sabedoria, bondade e poder. CC 109 2 É desígnio de Deus que, mesmo nesta vida, as verdades de Sua Palavra se vão sempre desdobrando perante Seu povo. Só há um meio de obter esse conhecimento. Só nos é possível chegar a compreender a Palavra de Deus mediante a iluminação do Espírito pelo qual ela foi dada. "Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus." 1 Coríntios 2:11-10. E a promessa do Salvador a Seus seguidores foi: "Quando vier aquele Espírito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade... porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar." João 16:13-14. CC 110 1 Deus deseja que o homem exercite suas faculdades de raciocínio; e o estudo da Bíblia robustecerá e elevará o espírito como nenhum outro. Convém, entretanto, acautelar-nos contra o deificar a razão, a qual está sujeita à fraqueza e enfermidade humanas. Caso não queiramos que as Escrituras se fechem ao nosso entendimento, de modo que as mais claras verdades deixem de ser compreendidas, devemos ter a simplicidade e a fé de uma criancinha, estar dispostos a aprender, buscando o auxílio do Espírito Santo. A consciência do poder e da sabedoria de Deus, e de nossa incapacidade para Lhe compreender a grandeza, deve inspirar-nos humildade, e devemos abrir Sua Palavra com reverência, como se entrássemos a Sua presença, com santo temor. Ao lermos a Bíblia, a razão deve reconhecer uma autoridade superior a si própria, e o coração e a inteligência se devem curvar perante o grande EU SOU. CC 110 2 Muitas coisas há, aparentemente difíceis ou obscuras, que Deus tornará claras e simples aos que assim procuram compreendê-las. Sem a direção do Espírito Santo, porém, estamos continuamente sujeitos a torcer as Escrituras ou a interpretá-las mal. Muitas vezes a leitura da Bíblia fica sem proveito, e em muitos casos é mesmo nociva. Quando se abre a Palavra de Deus sem reverência nem oração; quando os pensamentos e as afeições não se concentram em Deus, ou não se acham em harmonia com Sua vontade, a mente fica obscurecida por dúvidas; e o ceticismo se robustece com o próprio estudo da Bíblia. O inimigo se apodera das idéias, e sugere interpretações incorretas. Sempre que os homens não buscam, por palavras e atos, estar em harmonia com Deus, então, por mais preparados que sejam, estão sujeitos a errar na compreensão das Escrituras, e não é seguro confiar em suas explicações. Os que se volvem às Escrituras para encontrar incoerências, não possuem conhecimento espiritual. Com visão transtornada, encontrarão muitos motivos de dúvida e incredulidade em coisas na verdade claras e simples. CC 111 1 Por mais que o disfarcem, a verdadeira causa da incredulidade é, em muitos casos, o amor do pecado. Os ensinos e restrições da Palavra de Deus não agradam ao coração orgulhoso, amante do pecado, e os que não se sentem dispostos a obedecer-lhe aos preceitos, estão prontos a pôr-lhe em dúvida a autoridade. A fim de chegar à verdade é mister que em nós exista um sincero desejo de conhecê-la, e um coração voluntário para obedecer-lhe. E todos quantos, com este espírito, se põem a estudar a Bíblia, encontrarão abundantes provas de que ela é a Palavra de Deus, e poderão obter quanto a suas verdades uma compreensão que os tornará sábios para a salvação. CC 111 2 Cristo disse: "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, esse conhecerá a respeito da doutrina." João 7:17 (VT). Em vez de discutir e sofismar acerca daquilo que não entendeis, atentai para a luz que já possuís, e haveis de receber ainda mais. Cumpri, pela graça de Cristo, todo dever patente ao vosso entendimento, e sereis habilitados a compreender e cumprir aqueles sobre que ainda tendes dúvidas. CC 111 3 Há uma prova que está ao alcance de todos -- tanto do mais culto, como do mais iletrado -- e esta é a da experiência. Deus nos convida a verificar por nós mesmos a veracidade de Sua Palavra, a fidelidade de Suas promessas. Ele nos convida: "Provai e vede que o Senhor é bom." Salmos 34:8. Em lugar de confiar nas palavras de outros, devemos provar por nós mesmos. Ele afirma: "Pedi, e recebereis." João 16:24. Suas promessas serão cumpridas. Nunca falharam; isso jamais acontecerá. E à medida que nos aproximamos mais de Jesus, e nos regozijamos na plenitude de Seu amor, nossas dúvidas e obscuridades hão de desaparecer ante a luz de Sua presença. CC 112 1 Diz o apóstolo Paulo que Deus "nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor". Colossences 1:13. E todo aquele que passou da morte para a vida é capaz de confirmar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Pode testificar: "Necessitava de auxílio, e encontrei-o em Jesus. Toda necessidade foi suprida, a fome de minha alma foi satisfeita; e agora a Bíblia é para mim a revelação de Jesus Cristo. Perguntais por que creio em Jesus. -- Porque é para mim um divino Salvador. Por que creio na Bíblia? -- Porque achei que ela é a voz de Deus falando à minha alma." Podemos ter em nós mesmos o testemunho de que a Bíblia é verdadeira, de que Cristo é o Filho de Deus. Sabemos que não temos estado a seguir fábulas artificialmente compostas. CC 112 2 Pedro exortava os irmãos a crescer "na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". 2 Pedro 3:18. Quando o povo de Deus está crescendo na graça, vai constantemente obtendo uma compreensão mais clara de Sua Palavra. Descobrirão nova luz e beleza em suas sagradas verdades. Isto se tem verificado na história da igreja em todos os séculos, e assim há de continuar, até o fim. "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. CC 112 3 Pela fé, podemos olhar ao porvir, e apegar-nos à promessa de Deus quanto ao desenvolvimento intelectual, unindo as faculdades humanas às divinas, e pondo toda capacidade da alma em direto contato com a Fonte da luz. Podemos alegrar-nos no fato de que, tudo que nos tem causado perplexidade nas providências de Deus, nos ficará patente, então; coisas difíceis de compreender, hão de ser explicadas; e onde nossa mente finita só descobria confusão e truncados desígnios, veremos a mais perfeita e bela harmonia. Nós "agora, vemos [a Deus] por espelho em enigma, mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido." 1 Coríntios 13:12. ------------------------Capítulo 13 -- Regozijo no Senhor CC 115 1 Os filhos de Deus são chamados a ser representantes de Cristo, manifestando a bondade e a misericórdia do Senhor. Como Cristo nos revelou a nós o verdadeiro caráter do Pai, assim temos de manifestar Cristo ao mundo, o qual Lhe desconhece o terno e compassivo amor. "Assim como Tu Me enviaste ao mundo", disse Jesus, "também Eu os enviei ao mundo... para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:18-21. "Eu neles, e Tu em Mim... para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim." João 17:23. O apóstolo Paulo diz aos discípulos de Jesus: "É manifesto que vós sois a carta de Cristo... conhecida e lida por todos os homens." 2 Coríntios 3:3-2. Em cada um de Seus filhos Jesus envia uma carta ao mundo. Se sois seguidores de Cristo, Ele manda por vosso intermédio uma carta à família, à cidade, à rua em que residis. Habitando em vós, Jesus deseja falar ao coração dos que não se acham relacionados com Ele. Talvez não leiam a Bíblia, ou não escutem a voz que lhes fala de suas páginas; não vêem o amor de Deus manifestado em Suas obras. Se sois, porém, um fiel representante de Jesus, talvez por meio de vós sejam induzidos a compreender algo de Sua bondade, sendo atraídos a amá-Lo e servi-Lo. CC 115 2 Os cristãos são postos como luminares no caminho para o Céu. Cumpre-lhes refletir sobre o mundo a luz que de Cristo sobre eles incide. Sua vida e caráter devem ser de molde a que outros possam obter por seu intermédio uma justa concepção de Cristo e Seu serviço. CC 116 1 Se representamos a Cristo, faremos com que Seu serviço apareça atrativo, como na realidade o é. Cristãos que acumulam sombras e tristezas em sua alma, que murmuram e se queixam, estão dando aos outros uma falsa idéia de Deus e da vida cristã. Dão a impressão de que Deus não Se compraz em que Seus filhos sejam felizes, dando assim um falso testemunho de nosso Pai celestial. CC 116 2 Satanás exulta quando pode levar os filhos de Deus à incredulidade e ao desalento. Deleita-se em ver-nos desconfiando de Deus, duvidando de Sua boa vontade e poder de salvar-nos. Apraz-lhe fazer-nos pensar que as providências do Senhor visam a prejudicar-nos. É a obra de Satanás representar o Senhor como falto de compaixão e piedade. Deturpa a verdade a Seu respeito. Enche a imaginação de idéias errôneas relativamente a Deus e, em vez de fixarmos a mente na verdade quanto a nosso Pai celeste, muitas vezes a demoramos nas falsidades de Satanás, e desonramos a Deus desconfiando dEle, e contra Ele murmurando. Satanás busca sempre tornar a vida religiosa sombria. Deseja que se nos afigure trabalhosa e difícil; e, quando o crente, em sua vida, faz aparecer sua religião sob esse aspecto, está, por sua incredulidade, confirmando a mentira de Satanás. CC 116 3 Muitos através da estrada da vida, pensam demasiado em seus erros e faltas e decepções, ficando com o coração cheio de amargura e desalento. Durante minha estada na Europa, certa irmã que assim fazia, achando-se profundamente acabrunhada, escreveu-me pedindo uma palavra de animação. Na noite seguinte à leitura de sua carta sonhei que me achava num jardim, e alguém que parecia o dono do mesmo me ia conduzindo por ele. Eu apanhava as flores e fruía-lhes o aroma, quando essa irmã, que ia a meu lado, me chamou a atenção para alguns feios cardos que lhe embaraçavam o caminho. Ali estava ela, lamentando-se e afligindo-se. Não andava pelo caminho, em seguimento do guia, mas ia por entre os espinhos e cardos. "Oh!" lamentava ela, "que pena que este belo jardim esteja assim tão feio por causa dos espinhos?" Então, o guia disse: "Não te importes com os espinhos, pois só te podem magoar. Colhe as rosas, os lírios e os cravos." CC 117 1 Acaso não tendes tido quadros luminosos em vossa vida? Não haveis experimentado preciosos momentos, em que vosso coração pulsou de alegria à influência do Espírito de Deus? Volvendo o olhar aos capítulos de vossa passada existência, não encontrais algumas páginas aprazíveis? Acaso as promessas de Deus, quais flores fragrantes, não crescem a cada passo na vereda que trilhais? E não permitireis que sua beleza e suavidade vos encham de alegria o coração? CC 117 2 Os cardos e espinhos não servirão senão para vos ferir e magoar; e se os não colheis senão a eles, apresentando-os aos demais, não estais vós, sobre desdenhar a bondade de Deus, impedindo que os que vos rodeiam palmilhem a vereda da vida? CC 117 3 Não é sábio ajuntar todas as penosas recordações da vida passada -- injustiças e decepções -- e falar tanto sobre elas e lamentá-las tanto, que nos sintamos esmagados pelo desânimo. Uma alma desalentada acha-se rodeada de trevas, excluindo a luz de Deus de si própria, e lançando sombras sobre o caminho dos outros. CC 118 1 Graças a Deus pelos quadros luminosos que nos tem apresentado! Enfeixemos todas as benditas promessas de Seu amor, a fim de sobre elas poder deter continuamente o olhar. O Filho de Deus, deixando o trono do Pai, revestindo Sua divindade com a natureza humana a fim de vir resgatar o homem do poder de Satanás; o triunfo que obteve em nosso favor, abrindo ao homem a porta do Céu, revelando aos olhos humanos a câmara onde a Divindade manifesta Sua glória; a raça caída erguida do abismo da ruína em que o pecado a submergira, e novamente posta em ligação com o infinito Deus, e depois de resistir à divina prova mediante a fé em seu Redentor, revestida da justiça de Cristo, e exaltada a Seu trono -- eis os quadros que o Senhor deseja que contemplemos. CC 118 2 Quando nos inclinamos a duvidar do amor de Deus, a desconfiar de Suas promessas, nós O desonramos e ofendemos a Seu Santo Espírito. Quais seriam os sentimentos de uma mãe cujos filhos estivessem sempre a se queixar dela, como se ela os não quisesse ver felizes, quando o esforço de toda sua existência era o seu bem estar, e proporcionar-lhes conforto? Suponhamos que duvidassem de seu amor; isso lhe havia por certo de partir o coração. Como se sentiria qualquer pai se os filhos procedessem de tal maneira para com ele? E como nos há de considerar nosso Pai celeste quando duvidamos do amor que nos tem -- esse amor que O levou a dar Seu Filho unigênito, a fim de que pudéssemos viver? Escreve o apóstolo: "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. Todavia, quantos, por ações se não por palavras, estão dizendo: "O Senhor não diz isto quanto a mim. Talvez ame a outros, mas a mim, não." CC 119 1 Tudo isso prejudica a vossa própria alma; pois toda palavra de dúvida por vós proferida, é um convite às tentações de Satanás; isso robustecerá em vós a tendência para duvidar, afastando os anjos ministradores. Quando sois tentados por Satanás, não deixeis escapar nem uma palavra de dúvida, nenhuma palavra sombria. Se preferirdes abrir a porta às suas sugestões, a mente se vos encherá de desconfiança e questões rebeldes. Se externardes vossos sentimentos, toda dúvida que manifestardes não somente terá sua reação sobre vós mesmos, mas será uma semente que germinará e dará fruto na vida dos outros; e talvez se torne impossível destruir a influência de vossas palavras. Possivelmente vos recobrareis dos assaltos do tentador e de seus ardis, mas outros, que hajam sido dominados por vossa influência, talvez não se possam libertar das dúvidas que lhe sugeristes. Como é importante que só saia de nossos lábios aquilo que promova vida e força espirituais! CC 119 2 Os anjos estão atentos para ouvir a espécie do testemunho que estais dando ao mundo quanto a vosso divino Mestre. Que a vossa conversação tenha por objeto Aquele que vive para interceder por vós perante o Pai. Ao pegardes na mão de um amigo, esteja em vossos lábios e coração um louvor a Deus. Isso há de atrair seus pensamentos para Jesus. CC 119 3 Todos passam por provações, por desgostos duros de suportar, por tentações difíceis de resistir. Não conteis vossas aflições a vossos semelhantes, também mortais, mas levai tudo a Deus em oração. Tomai como regra nunca proferir uma palavra de dúvida ou de desânimo. Está em vós fazer muito para iluminar a existência de outros; para lhes fortalecer os esforços, mediante palavras de esperança e santa alegria. CC 120 1 Há muita alma valorosa terrivelmente assaltada por tentações, prestes a desfalecer no conflito com o próprio eu e os poderes do mal. Não desalenteis essa alma em sua penosa luta. Animai-a com palavras de valor e esperança, que a incitem a perseverar no caminho. Assim irradiará, por meio de vós, a luz de Cristo. "Nenhum de nós vive para Si." Romanos 14:7. Pela influência que inconscientemente exercemos, outros se podem animar e fortalecer, ou ficar desanimados e alienados de Cristo e da verdade. CC 120 2 Muitos há que possuem uma errônea idéia da vida e do caráter de Cristo. Pensam que Ele era destituído de calor e animação, que era sério, áspero, melancólico. Em muitos casos, toda a experiência religiosa recebe dessa maneira de ver um sombrio colorido. CC 120 3 Diz-se muitas vezes que Jesus chorou, mas jamais foi visto a sorrir. Nosso Salvador foi, efetivamente, um Varão de dores, experimentado nos trabalhos, pois abria o coração a todos os sofrimentos humanos. Mas, se bem que Sua vida fosse cheia de abnegação e ensombrada por dores e cuidados, Seu espírito não se abatia. Sua fisionomia não apresentava a expressão do desgosto ou do descontentamento, mas sempre de inalterável serenidade. Seu coração era uma fonte de vida; e onde quer que fosse, levava descanso e paz, contentamento e alegria. CC 120 4 Nosso Salvador era profundamente sério e intensamente zeloso, mas nunca sombrio ou enfadado. A vida dos que O imitam revestir-se-á toda de fervorosos propósitos; experimentarão um profundo sentimento de sua responsabilidade. A leviandade será reprimida; não apresentará ruidosa alegria, nem gracejos de mau gosto. Entretanto, a religião de Jesus proporciona abundância de paz. Não extingue o brilho da alegria; não restringe a felicidade, nem tolda a fisionomia radiante e sorridente. Cristo não veio para ser servido, mas para servir; e uma vez que Seu amor nos domine o coração, havemos de seguir-Lhe o exemplo. CC 121 1 Enquanto deixarmos predominar na lembrança os atos desagradáveis e injustos de outros, parecer-nos-á impossível amá-los como Cristo nos ama; se, porém, nossos pensamentos se fixam no extraordinário amor e piedade de Cristo para conosco, esse mesmo espírito irradiará de nós para os nossos semelhantes. Cumpre-nos amar e respeitar uns aos outros, não obstante as faltas e imperfeições que não podemos, malgrado nosso, deixar de notar neles. Necessitamos cultivar a humildade e a desconfiança de nós mesmos, bem como paciente benevolência para com as faltas do próximo. Isso destruirá em nós todo o mesquinho egoísmo, tornando-nos magnânimos e generosos. CC 121 2 Diz o salmista: "Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na Terra e, verdadeiramente, serás alimentado." Salmos 37:3. Confia no Senhor. Cada dia tem suas preocupações, seus cuidados e perplexidades; e ao encontrar-nos, uns com os outros, como nos sentimos inclinados a falar de nossas dificuldades e provações! Damos lugar a tantas aflições emprestadas, condescendemos com tantos temores, damos expressão a um tal fardo de ansiedades, que se poderia supor que não possuímos um Salvador compassivo e amante, pronto a ouvir todas as nossas petições, e a ser-nos um auxílio bem presente em todas as nossas necessidades. CC 121 3 Pessoas há que andam sempre em temor, e buscando aflições. Cercam-nas dia a dia as provas do amor de Deus; desfrutam diariamente as liberalidades de Sua Providência. Não atentam, entretanto, para as bênçãos presentes. Sua mente ocupa-se continuamente com alguma coisa desagradável, cuja ocorrência receiam; ou então é qualquer coisa real que, embora pequenina, as torna cegas aos muitos motivos que têm para serem agradecidas. As dificuldades que enfrentam, em vez de as impelir para Deus, única fonte de auxílio que possuem, separam-nas dEle, pois suscitam desassossego e queixumes. CC 122 1 Acaso fazemos bem em ser assim incrédulos? Por que havíamos de ser ingratos e desconfiados? Jesus é nosso amigo; todo o Céu se acha interessado em nosso bem-estar. Não devemos permitir que as perplexidades e cuidados diários nos aflijam a mente e nos turbem o semblante. Se assim fazemos, havemos de ter sempre algum motivo para amofinações e aborrecimentos. Não devemos dar lugar a uma solicitude que não serve senão para atribular-nos e consumir-nos, sem nos ajudar a sofrer nossas provas. CC 122 2 Talvez vos sobrevenham perplexidades nos negócios, as perspectivas se tornem cada vez mais sombrias, estejais ameaçados de uma perda. Não vos desanimeis, entretanto; lançai sobre o Senhor vossos cuidados, e permanece calmo e satisfeito. Suplicai sabedoria para dirigir vossos negócios prudentemente, evitando assim o prejuízo e o desastre. Fazei tudo que vos estiver ao alcance a fim de promover resultados favoráveis. Jesus prometeu Seu auxílio, mas não dispensa os nossos esforços. Quando, descansando em nosso Ajudador, houverdes feito tudo que está ao vosso alcance, aceitai alegremente os resultados. CC 122 3 Não é a vontade de Deus que Seu povo ande vergado ao peso dos cuidados. Todavia, o Salvador não nos engana. Não nos diz: "Não temais; vossa estrada é livre de perigos." Ele sabe que há provações e perigos, e é sincero conosco. Não Se propõe tirar Seu povo de um mundo de males e pecados, mas indica-nos infalível refúgio. Sua oração em favor dos discípulos, foi: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal." João 17:15. No mundo, diz Ele, "tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo." João 16:33. CC 123 1 No Sermão do Monte, Cristo ensinou aos discípulos preciosas lições quanto à necessidade de confiar em Deus. Essas lições visavam a animar Seus filhos através de todos os séculos, e chegaram até nós plenas de ensinos e conforto. O Salvador apontou a Seus seguidores as aves do céu, modulando suas canções de louvor, livres de cuidados, pois "não semeiam, nem segam". E, no entanto, o grande Pai lhes supre as necessidades. Pergunta o Salvador: "Não tendes vós muito mais valor do que elas?" Mateus 6:26. O grande Provedor dos homens e animais abre as mãos e supre a necessidade de todas as Suas criaturas. Não reputa as aves do céu inferiores ao Seu cuidado. Não lhes põe o alimento no bico, mas toma providências para lhes satisfazer as necessidades. Cumpre-lhes apanhar as sementes que para elas espalha. Têm de preparar o material para o ninhozinho. Precisam de alimentar os filhotes. E saem ao seu trabalho cantando, pois "vosso Pai celestial as alimenta". E "não tendes vós muito mais valor do que elas?" Não tendes vós como adoradores inteligentes e espirituais, mais valor do que as aves do céu? Não há de o Autor de nosso ser, o Conservador de nossa existência, Aquele que nos formou à Sua própria e divina imagem, não há de Ele prover as nossas necessidades, se tão somente nele confiarmos? CC 123 2 Cristo apresentou a Seus discípulos as flores do campo crescendo profusamente, resplandecendo na singela beleza com que o Pai celeste as dotou, como testemunho de Seu amor aos homens. Disse Ele: "Olhai para os lírios do campo, como eles crescem." Mateus 6:28. A beleza e simplicidade dessas flores naturais, sobrepujam em muito o esplendor de Salomão. Os mais suntuosos adornos criados pelos primores da arte, não se podem comparar com a graça natural e a magnífica beleza das flores criadas por Deus. Jesus pergunta: "Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?" Mateus 6:30. Se Deus, o divino Artista, dá às singelas flores que num dia perecem, suas suaves e variegadas cores, quão maior não será o cuidado por Ele dedicado aos que foram criados à Sua própria imagem? Esta lição de Cristo é uma repreensão à ansiedade, às perplexidades e à dúvida do coração falto de fé. CC 124 1 O Senhor deseja ver felizes todos os Seus filhos, em paz e obediência. Diz Jesus: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27. "Tenho-vos dito isso para que a Minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa." João 15:11. CC 124 2 A felicidade que se busca por motivos egoístas, fora do caminho do dever, é volúvel, caprichosa e transitória; dissipa-se, deixando na alma uma sensação de isolamento e pesar; no serviço de Deus, porém, há satisfação e alegria. O cristão não tem de andar por veredas incertas; não é abandonado a vãos desgostos e decepções. Ainda que não nos sejam dados os prazeres desta vida, podemos, não obstante, sentir-nos felizes por esperar a vida por vir. CC 125 1 Mas mesmo aqui podem os cristãos fruir a alegria da comunhão com Cristo; é-lhes dado possuir a luz do Seu amor, o perpétuo conforto de Sua presença. Cada passo da vida nos pode levar mais perto de Jesus, pode-nos trazer uma mais profunda experiência de Seu amor, conduzindo-nos um passo mais próximo do bendito lar de paz. Não rejeitemos, pois, nossa confiança, mas tenhamos firme certeza, mais firme que nunca. "Até aqui nos ajudou o Senhor" (1 Samuel 7:12), e nos ajudará até o fim. Olhemos aos marcos miliários, que nos recordam o que o Senhor tem feito para nos confortar e salvar da mão do destruidor. Conservemos sempre vivas na memória todas as ternas misericórdias que Deus tem tido para conosco -- as lágrimas por Ele enxugadas, as dores que suavizou, as ansiedades que desvaneceu, os temores que dissipou, as necessidades que supriu, as bênçãos que concedeu -- e fortalecemo-nos assim para tudo quanto nos aguarda no restante de nossa peregrinação. CC 125 2 Não podemos senão esperar novas perplexidades na luta que está para vir, mas podemos fixar a vista no passado, da mesma maneira que no futuro, e dizer: "Até aqui nos ajudou o Senhor." 1 Samuel 7:12. "E a tua força será como os teus dias." Deuteronômio 33:25. As provações não excederão às forças que nos serão dadas para as suportar. Empreendamos, pois, nossa tarefa onde quer que a encontremos, crendo que, seja o que for que sobrevier, ser-nos-á concedida a força proporcional à provação. CC 125 3 E afinal abrir-se-ão as portas do Céu para dar entrada aos filhos de Deus, e dos lábios do Rei da glória brotarão as palavras que lhes soarão aos ouvidos qual música inefável: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mateus 25:34. CC 126 1 Então os remidos receberão as boas-vindas às moradas que Jesus lhes está preparando. Então seus companheiros não serão mais as criaturas vis da Terra mentirosos, idólatras, impuros e incrédulos; mas conviverão com os que venceram a Satanás e, por meio da graça divina, formaram um caráter perfeito. Toda tendência pecaminosa, toda imperfeição que aqui os aflige, terá sido removida pelo sangue de Cristo, e a excelência e o resplendor de Sua glória, que sobrepuja em muito ao brilho do Sol, a eles se comunicam. E deles se irradia a beleza moral e perfeição de Seu caráter, de valor incomparavelmente superior à glória externa. Acham-se irrepreensíveis perante o grande trono branco, compartilhando a dignidade e os privilégios dos anjos. CC 126 2 Em vista da gloriosa herança que lhe poderá pertencer, "que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26. Ainda que seja pobre, possui todavia em si mesmo uma riqueza e uma dignidade que o mundo não pode conceder. A alma redimida e purificada do pecado, com todas as suas nobres faculdades consagradas ao serviço de Deus, é de inexcedível valor; e há alegria no Céu, na presença de Deus e dos santos anjos, sobre uma alma resgatada -- alegria que se exprime em cânticos de santo triunfo. ------------------------Caminho a Cristo (nova edição) CCn 9 1 Capítulo 1 -- O amor de Deus CCn 13 1 Capítulo 2 -- A ponte sobre o abismo CCn 17 1 Capítulo 3 -- Mudança de rumo CCn 25 1 Capítulo 4 -- Abra o coração a Deus CCn 29 1 Capítulo 5 -- O desejo de ser bom CCn 33 1 Capítulo 6 -- A conquista da paz CCn 37 1 Capítulo 7 -- O teste da obediência CCn 43 1 Capítulo 8 -- O crescimento espiritual CCn 49 1 Capítulo 9 -- O prazer de testemunhar CCn 53 1 Capítulo 10 -- O conhecimento de Deus CCn 59 1 Capítulo 11 -- O privilégio de falar com Deus CCn 67 1 Capítulo 12 -- A certeza da vitória CCn 73 1 Capítulo 13 -- Alegria no Senhor ------------------------Capítulo 1 -- O amor de Deus CCn 9 1 A natureza e a revelação dão testemunho do amor de Deus. Nosso Pai celestial é a fonte de vida, sabedoria e felicidade. Olhe para as coisas maravilhosas e lindas que há na natureza. Observe como, de forma surpreendente, elas se adaptam às necessidades das pessoas e de todos os seres criados. O brilho do sol e a chuva, que alegram e refrescam o solo, as colinas, os mares, as planícies, tudo isso fala-nos do amor do Criador. É Deus quem supre as necessidades diárias de todas as Suas criaturas. Nas bonitas palavras do salmista: "Em Ti esperam os olhos de todos, e Tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente". Salmos 145:15, 16. CCn 9 2 Deus fez o homem perfeito, santo e feliz; a Terra, ao sair da mão do Criador, não mostrava qualquer sinal de degeneração, nem sombra da maldição. Foi a transgressão da lei de Deus -- a lei do amor -- que trouxe a dor e a morte. Entretanto, mesmo em meio ao sofrimento resultante do pecado, o amor de Deus é revelado. Está escrito que Deus amaldiçoou a Terra por causa do homem. Gênesis 3:17. Os espinhos e as ervas daninhas -- as dificuldades e provações que tornam a vida tão cansativa e cheia de preocupações -- foram designados para o bem do ser humano, como parte do preparo necessário no plano de Deus para erguê-lo da ruína e degradação causadas pelo pecado. O mundo, embora caído, não se resume a tristeza e miséria. Na própria natureza existem mensagens de esperança e conforto. Flores crescem no mato e espinhos são cobertos pelas rosas. CCn 9 3 "Deus é amor" está escrito em cada botão de flor que se abre e em cada folha que cresce no campo. Os belos pássaros, que alegram o ar com seus alegres cantos, as flores, perfeitas e delicadamente coloridas, que perfumam o ar, as árvores frondosas da floresta, com sua exuberante e viçosa folhagem -- tudo dá testemunho do cuidado paternal do nosso Deus e do desejo que Ele tem de tornar os Seus filhos felizes. CCn 9 4 A Palavra de Deus revela o Seu caráter. Ele mesmo declarou o Seu infinito amor e misericórdia. Quando Moisés rogou que Deus lhe mostrasse Sua glória, o Senhor respondeu: "Farei passar toda a Minha bondade diante de ti". Êxodo 33:18, 19. Essa é a Sua glória. Quando o Senhor passou diante de Moisés, ele clamou: "Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado". Êxodo 34:6, 7. Ele é "tardio em irar-Se, e grande em benignidade" (Jonas 4:2) "porque tem prazer na misericórdia". Miquéias 7:18. CCn 10 1 Deus uniu nosso coração a Ele por meio de incontáveis provas no céu e na Terra. Através das coisas da natureza e dos mais profundos e ternos laços que o coração humano pode conhecer, Deus procura revelar-Se para nós. Embora de maneira imperfeita, isso representa o Seu amor. Apesar de todas essas evidências, o inimigo do bem cegou o entendimento das pessoas, de modo que elas passaram a olhar para Deus com medo e a considerá-Lo inflexível e incapaz de perdoar. Satanás levou o ser humano a pensar que Deus é um ser cujo principal atributo é a justiça severa, como se Ele fosse um juiz austero, um credor duro e implacável. Ele retratou o Criador como um ser que fica vigiando desconfiado, buscando erros e falhas nas pessoas para que possa condená-las. Foi para remover essa sombra escura e revelar ao mundo o infinito amor de Deus que Jesus veio viver com a humanidade. CCn 10 2 O Filho de Deus veio do Céu para revelar o Pai. "Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou". João 1:18. "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Mateus 11:27. Quando um dos discípulos pediu: "Senhor, mostra-nos o Pai", Jesus respondeu: "Há tanto tempo estou convosco, e não Me tens conhecido? Quem Me vê a Mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" João 14:8, 9. CCn 10 3 Ao descrever Sua missão na Terra, Jesus disse: "O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18. Essa foi Sua obra. Ele saía fazendo o bem e curando todos os que estavam oprimidos por Satanás. Havia vilas inteiras onde não se ouvia sequer uma queixa de doença, pois Ele ali passara e curara todos os enfermos. Sua obra era evidência da unção divina. Amor, misericórdia e compaixão estavam presentes em cada ato de Sua vida. Seu coração se comovia em meiga simpatia para com as pessoas. Ele assumiu a natureza humana para que pudesse ir ao encontro de cada necessidade do ser humano. Os mais pobres e humildes não temiam aproximar-se dEle. Até as criancinhas eram atraídas para Ele. Elas gostavam muito de sentar-se no Seu colo e olhar para aquele rosto sereno, bondoso, cheio de amor. CCn 10 4 Jesus não suprimia sequer uma palavra da verdade, mas falava sempre com amor. Ele tinha tato e prestava bondosa atenção ao interagir com as pessoas. Nunca Se mostrava rude, jamais pronunciava uma palavra severa sem necessidade e evitava causar dor desnecessária a uma pessoa sensível. Ele não censurava a fraqueza humana. Falava a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a iniqüidade; mas Suas repreensões rigorosas eram sempre proferidas com lágrimas e tristeza. Chorou por Jerusalém, a cidade que Ele amava, a qual se recusou a receber Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Os líderes rejeitaram o Salvador, mas Ele os considerava com meiga compaixão. Sua vida foi de abnegação e repleta de cuidado pelos outros. Cada pessoa era preciosa aos Seus olhos. Embora sempre Se apresentasse com divina dignidade, inclinava-Se com amorosa simpatia para atender a cada membro da família de Deus. Ele via em todos os homens seres caídos, cuja salvação era o objetivo de Sua missão. CCn 11 1 Assim é o caráter de Cristo, como foi revelado em Sua vida. Esse também é o caráter de Deus. Do coração do Pai é que brotavam as torrentes da divina compaixão manifestada em Cristo, fluindo até alcançar os filhos dos homens. Jesus, o meigo e compassivo Salvador, era Deus "manifestado na carne". 1 Timóteo 3:16. CCn 11 2 Foi para nos redimir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Ele tornou-se um "Homem de dores" para que pudéssemos participar das alegrias eternas. Deus permitiu que o Seu Filho amado, cheio de graça e verdade, deixasse um mundo de glória indescritível e viesse para um mundo corrompido e maculado pelo pecado, escurecido pelas sombras da morte e da maldição. Ele permitiu que Jesus deixasse Sua amorosa companhia e a adoração dos anjos para sofrer a vergonha, os insultos, a humilhação, o ódio e a morte. "O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados". Isaías 53:5. Ei-Lo no deserto, no Getsêmani e na cruz! O imaculado Filho de Deus tomou sobre Si o fardo do pecado. Aquele que havia sido um com Deus sentiu de perto a terrível separação que o pecado causa entre Deus e o homem. Isso fez com que um grito de agonia saísse dos Seus lábios: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. Foi o peso do pecado, a noção de quão terrível ele é e a separação que causa entre Deus e o ser humano -- foi isso que quebrantou o coração do Filho de Deus. CCn 11 3 Mas esse enorme sacrifício não foi feito para despertar no coração do Pai o amor pelo ser humano, nem para fazer com que Ele Se dispusesse a salvá-lo. Não! "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito". João 3:16. O Pai nos ama, não por causa da grande propiciação; mas Ele proveu a propiciação porque nos ama. Cristo foi o meio pelo qual Ele pôde derramar o Seu amor infinito sobre o mundo caído. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. Deus sofreu junto com Seu Filho. Na agonia do Getsêmani, na morte no Calvário, o coração do Amor Infinito pagou o preço da nossa redenção. CCn 11 4 Jesus disse: "Por isso, o Pai Me ama, porque Eu dou a Minha vida para a reassumir". João 10:17. Isto é, "Meu Pai tanto amou você, que mais ainda Me ama por Eu ter dado Minha vida para a sua redenção. Ao tornar-Me o seu Substituto, dando a Minha vida e assumindo sua dívida e sua transgressão, sou amado pelo Meu Pai; por causa do Meu sacrifício, Deus pode ser justo e, mesmo assim, o Justificador daquele que crê em Jesus." CCn 12 1 Ninguém mais, a não ser o Filho de Deus, poderia realizar nossa redenção, pois somente Aquele que estava junto do Pai é que O poderia revelar. Somente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus poderia manifestar esse amor. Nada menos do que o infinito sacrifício feito por Cristo em favor da humanidade caída poderia expressar o amor do Pai pelos perdidos. CCn 12 2 "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito". João 3:16. Ele O entregou não apenas para que vivesse entre a humanidade, levasse seus pecados e morresse em seu lugar. Ele O entregou para a raça caída. Cristo devia identificar-Se com os interesses e necessidades da humanidade. Aquele que era um com Deus Se uniu com as pessoas através de laços que jamais serão quebrados. Jesus não "Se envergonha de lhes chamar irmãos". Hebreus 2:11. Ele é nosso Sacrifício, nosso Advogado, nosso Irmão, tomando a forma humana diante do trono do Pai, e por toda a eternidade estará ligado à raça que redimiu. Ele Se tornou o Filho do homem. Tudo isso para que o ser humano pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado para refletir o amor de Deus e compartilhar a alegria da santidade. CCn 12 3 O preço pago por nossa redenção, o sacrifício infinito do nosso Pai celestial ao dar o Seu Filho para morrer por nós, deveria dar-nos uma elevada concepção sobre o que deveríamos tornar-nos através de Cristo. Ao contemplar a altura, a profundidade e a largura do amor do Pai pela raça a perecer, o inspirado apóstolo João encheu-se de um sentimento de adoração e reverência. Incapaz de encontrar uma linguagem apropriada para expressar a grandeza e a ternura desse amor, ele conclamou o mundo a também contemplá-lo. "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus". 1 João 3:1. Isso confere um enorme valor aos seres humanos! Por meio da transgressão, as pessoas tornam-se súditas de Satanás. Por meio da fé no sacrifício expiatório de Cristo, os filhos de Adão podem tornar-se filhos de Deus. Assumindo a natureza humana, Cristo eleva a humanidade. Os seres humanos caídos estão colocados em um lugar onde, através da conexão com Cristo, podem verdadeiramente tornar-se dignos de ser chamados de "filhos de Deus." CCn 12 4 Um amor assim não tem paralelo. Filhos do Rei celestial! Essa é uma promessa preciosa, um tema para a mais profunda meditação! O incomparável amor de Deus por um mundo que não O amou! Esse pensamento tem um poder capaz de dominar a alma e de tornar a mente cativa da vontade de Deus. Quanto mais estudamos o caráter divino à luz da cruz, mais vemos misericórdia, bondade e perdão mesclados com eqüidade e justiça, e mais claramente discernimos as inúmeras evidências de um amor que é infinito e de uma compaixão capaz de superar a afeição de uma mãe pelo filho rebelde. ------------------------Capítulo 2 -- A ponte sobre o abismo CCn 13 1 O homem foi originalmente dotado de nobres faculdades e de uma mente equilibrada. Era um ser perfeito e estava em harmonia com Deus. Seus pensamentos eram puros e seus desejos eram santos. Mas, por causa da desobediência, sua mente se tornou pervertida e o egoísmo suplantou o amor. Por causa da transgressão, sua natureza tornou-se tão enfraquecida que ele, por sua própria força, não mais conseguia resistir ao poder do mal. Ele foi feito cativo por Satanás, e assim teria permanecido para sempre se não houvesse a intervenção especial de Deus. Era propósito do tentador frustrar o plano divino da criação do homem e encher a Terra de miséria e sofrimento. Ele atribuiria todos esses males à obra de Deus ao criar o homem. CCn 13 2 Antes de pecar, o homem mantinha uma alegre comunhão com Aquele "em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos". Colossences 2:3. Mas depois do pecado já não encontrava alegria na santidade, e procurava esconder-se da presença de Deus. Esta ainda é a condição do coração não renovado. Ele não está em harmonia com Deus, nem demonstra satisfação em relacionar-se com Ele. O pecador não consegue ficar feliz na presença de Deus e evita a companhia dos seres santos. Se lhe fosse permitido entrar no Céu, nem lá haveria felicidade para o pecador. O espírito de amor altruísta que domina ali -- onde cada coração reflete o infinito Amor -- não despertaria o menor interesse em seu coração. Seus pensamentos, interesses e motivos seriam distintos daqueles que caracterizam os habitantes sem pecado que ali estão. Ele seria uma nota dissonante na música celestial. Para ele, o Céu seria um lugar de tortura; e desejaria esconder-se dAquele que ali é luz e fonte de toda alegria. Não é um decreto arbitrário de Deus que exclui os ímpios do Céu; eles ficam do lado de fora por se sentirem inadequados na companhia dos santos. Para eles, a glória de Deus seria um fogo consumidor. Prefeririam que logo viesse a destruição para que não tivessem de enfrentar o encontro com Aquele que morreu para redimi-los. CCn 13 3 Por nós mesmos, é impossível escapar do abismo de pecado em que estamos afundados. Nosso coração é mau e não podemos mudá-lo. "Quem da imundície poderá tirar coisa pura? Ninguém!". Jó 14:4. "O pendor da carne é inimizade contra Deus". Romanos 8:7. A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todas essas coisas têm sua importância, mas nesse caso não têm poder para mudar a situação. Podem até produzir um comportamento aparentemente correto, mas não transformar o coração nem purificar as fontes da vida. É preciso que haja um poder que opere no interior, uma vida nova vinda de cima, para que o homem passe do estado pecaminoso para a santidade. Esse poder é Cristo. Somente Sua graça poderá vitalizar as inertes faculdades espirituais e atrair a pessoa para Deus, para a santidade. CCn 14 1 O Salvador disse: "Se alguém não nascer de novo", a menos que receba um coração novo, novos desejos, propósitos e motivos, e passe a viver uma vida nova, "não pode ver o reino de Deus". João 3:3. A idéia de que é preciso apenas desenvolver o bem que existe naturalmente dentro da pessoa é um engano fatal. "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. "Não te admires de Eu te dizer: importa-vos nascer de novo". João 3:7. Está escrito acerca de Cristo: "A vida estava nEle, e a vida era a luz dos homens". João 1:4. Ele é o único "nome dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos". Atos 4:12. CCn 14 2 Não basta perceber o compassivo amor de Deus, enxergar a benevolência e a bondade paternal do Seu caráter. Não basta discernir a sabedoria e a justiça da Sua lei para ver que ela está alicerçada sobre o eterno princípio do amor. O apóstolo Paulo viu tudo isso quando exclamou: "Consinto com a lei, que é boa." "A lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom." Mas, em desespero, acrescentou com o coração amargurado: "Sou carnal, vendido à escravidão do pecado". Romanos 7:16, 12, 14. Ele anelava a pureza, a justiça, coisas que, por si mesmo, não tinha forças para alcançar, e clamou: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. Esse é o clamor que vem de corações atribulados em todas as terras e em todas as épocas. Para todos, existe apenas uma resposta: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!". João 1:29. CCn 14 3 São muitas as imagens pelas quais o Espírito de Deus tem procurado ilustrar esta verdade, deixando-a clara para as pessoas que desejam livrar-se do pesado fardo da culpa. Quando Jacó fugiu da casa do seu pai, depois de ter pecado enganando Esaú, ficou abatido pelo sentimento de culpa. Solitário e desterrado, separado de todos os seus queridos, o pensamento que lhe doía no coração acima de todos os demais era o temor de que o seu pecado o tivesse separado de Deus e fosse abandonado pelo Céu. Com tristeza, deitou-se no chão para descansar. Ao seu redor havia somente as colinas. Acima, nada mais que as estrelas do céu. Enquanto dormia, uma luz estranha iluminou sua vista. Subitamente, do lugar onde se deitara, viu grandes degraus sombrios que pareciam erguer-se até os portais do Céu. Sobre eles, anjos de Deus subiam e desciam. Das gloriosas alturas, ouviu-se a voz divina numa mensagem de conforto e esperança. Dessa maneira é que foi revelado a Jacó aquilo que poderia suprir a necessidade e o desejo de seu coração -- um Salvador. Com alegria e gratidão, ele viu a revelação da maneira pela qual ele, um pecador, poderia voltar à comunhão com Deus. A mística escada do seu sonho representava Jesus, o único meio de comunicação entre Deus e o homem. CCn 15 1 Essa é a mesma imagem que Cristo utilizou em sua conversa com Natanael, quando disse: "Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem". João 1:51. Por causa do pecado, as pessoas ficaram alienadas de Deus; a Terra ficou separada do Céu. Por causa do abismo que se abriu, deixou de haver comunhão entre Deus e as pessoas. Mas, por meio de Cristo, a Terra está outra vez ligada ao Céu. Com os Seus próprios méritos, Cristo estabeleceu uma ponte sobre o abismo criado pelo pecado, de modo que os anjos podem manter a comunicação com a humanidade. Cristo faz a conexão entre a humanidade caída, fraca e desamparada e a fonte do poder infinito. Serão vãos os sonhos de progresso do homem, como serão destituídos de sentido todos os esforços para enobrecer a humanidade se ela negligenciar a única Fonte de esperança. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito" (Tiago 1:17) vem de Deus. Não existe verdadeira excelência de caráter fora dEle. O único caminho para Deus é através de Cristo. Ele diz: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim". João 14:6. CCn 15 2 O coração de Deus ama os Seus filhos com um amor mais forte do que a morte. Ao dar Seu Filho, Ele derramou sobre nós todo o Céu em apenas uma dádiva. A vida, a morte e a intercessão do Salvador, o ministério dos anjos, os rogos do Espírito, a obra do Pai operando acima de tudo e por tudo, o incessante interesse dos seres celestiais -- tudo está sendo empregado em favor da redenção da humanidade. CCn 15 3 Contemplemos o precioso sacrifício que foi feito por nós! Esforcemo-nos para apreciar o valor do empenho e da energia que o Céu está dispensando para buscar os perdidos e levá-los de volta para a casa do Pai. Motivos mais fortes e instrumentos mais poderosos não poderiam existir. As grandiosas recompensas de fazer o bem, as alegrias do Céu, a companhia dos anjos, a comunhão e o amor de Deus e do Seu Filho, o enobrecimento e a extensão de todas as nossas forças através da eternidade -- não seria tudo isso um grande incentivo para que desejássemos consagrar nosso coração em amorável serviço ao nosso Criador e Redentor? CCn 15 4 Por outro lado, os julgamentos de Deus pronunciados contra o pecado, a inevitável retribuição, a degradação do nosso caráter e a destruição final são apresentados na Palavra de Deus para alertar-nos contra o servir a Satanás. CCn 15 5 Não deveríamos, então, ter em grande consideração a misericórdia de Deus? O que mais poderia Ele fazer? Busquemos, pois, relacionar-nos com Aquele que nos amou com maravilhoso amor. Utilizemos os meios que nos foram dados para que sejamos transformados à Sua semelhança e restaurados à comunhão com os anjos ministradores e à harmonia e comunhão com o Pai e o Filho. ------------------------Capítulo 3 -- Mudança de rumo CCn 17 1 Como pode alguém ser considerado justo diante de Deus? Como pode o pecador ser justificado? Somente por meio de Cristo podemos ter harmonia com Deus e com a santidade; mas como chegar a Cristo? Muitos fazem a mesma pergunta que outros fizeram no dia do Pentecostes, quando, convencidos do pecado, exclamaram: "Que faremos?" A primeira palavra da resposta dada por Pedro foi: "Arrependei-vos". Atos 2:37, 38. Em outra ocasião, logo depois disso, ele disse: "Arrependei-vos [...] para serem cancelados os vossos pecados". Atos 3:19. CCn 17 2 O arrependimento inclui a tristeza pelo pecado e o afastamento dele. Não abandonaremos o pecado enquanto não reconhecermos quão perigoso ele é. E enquanto não nos afastarmos sinceramente do pecado não haverá mudança real em nossa vida. CCn 17 3 Muitas pessoas não compreendem a verdadeira natureza do arrependimento. Lamentam seus pecados e até procuram fazer alguma mudança na sua forma de viver por medo de que seus erros lhes causem maiores sofrimentos. Mas isso não é arrependimento, no sentido bíblico. Essas pessoas querem evitar o sofrimento, mas não o próprio pecado. CCn 17 4 Esse foi o tipo de tristeza de Esaú, quando viu que o direito de primogenitura estava perdido para sempre. Balaão, aterrorizado pelo anjo que bloqueava seu caminho com uma espada na mão, chegou a reconhecer sua culpa com medo de morrer; mas não teve um arrependimento genuíno, nem manifestou mudança de propósito ou vontade de abandonar o pecado. Judas Iscariotes, depois de trair seu Senhor, exclamou: "Pequei, traindo sangue inocente". Mateus 27:4. CCn 17 5 A confissão brotou de uma mente culpada por um terrível senso de condenação e pelo temor do julgamento que o aguardava. As conseqüências o enchiam de pavor, mas não havia uma tristeza profunda, nem um coração quebrantado por haver traído o imaculado Filho de Deus e negado o Santo de Israel. Faraó, quando sofreu os juízos de Deus, reconheceu seu pecado apenas para livrar-se de maiores castigos, mas voltou a desafiar o Céu assim que as pragas foram suspensas. Todos esses lamentaram os resultados do pecado, mas não se entristeceram pelo próprio pecado. CCn 17 6 Quando o coração permite que o Espírito de Deus o influencie, a consciência é despertada, e o pecador começa a discernir a profundidade e santidade da lei de Deus, que é o alicerce do Seu governo no Céu e na Terra. A "luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem" (João 1:9) chega também aos segredos do coração, e as coisas que estão escondidas são reveladas. Um senso de culpa apodera-se da mente e do coração dessa pessoa. Ela passa a sentir a justiça de Jeová, e experimenta um sentimento de horror, em sua própria culpa e impureza, diante do Deus que conhece tudo o que vai dentro do coração. Vê o amor de Deus, a beleza da santidade, a alegria da pureza, e deseja ser purificada e ver restaurada sua comunhão com o Céu. CCn 18 1 A oração de Davi após sua queda ilustra a natureza da verdadeira tristeza pelo pecado. Seu arrependimento foi sincero e profundo. Não houve esforço para minimizar sua culpa. Sua oração não foi inspirada pelo desejo de escapar do julgamento que o ameaçava. Davi tomou consciência da grandeza da sua transgressão, viu a contaminação da sua mente e passou a aborrecer o pecado. Ele não orou somente pelo perdão, mas para ter o coração purificado. Ele passou a anelar a alegria da santidade e a restauração da harmonia e da comunhão com Deus. Assim ele se expressou: CCn 18 2 "Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo pecado é coberto. CCn 18 3 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniqüidade e em cujo espírito não há dolo". Salmos 32:1, 2. CCn 18 4 "Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; e, segundo a multidão das Tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. [...] CCn 18 5 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. [...] CCn 18 6 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. [...] CCn 18 7 Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. CCn 18 8 Não me repulses da Tua presença, nem me retires o Teu Santo Espírito. CCn 18 9 Restitui-me a alegria da Tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. [...] CCn 18 10 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a Tua justiça". Salmos 51:1-14. CCn 18 11 Um arrependimento como esse está além do nosso alcance; somente podemos obtê-lo em Cristo, Aquele que subiu ao Céu e concedeu dons aos homens. É precisamente nesse ponto que muitos erram, e deixam de receber o auxílio que Cristo quer lhes dar. Eles acham que não podem ir a Cristo sem que primeiro se arrependam, e que o arrependimento lhes prepara o caminho para o perdão de seus pecados. É verdade que o arrependimento precede o perdão dos pecados, pois somente o coração quebrantado e contrito sentirá a necessidade de um Salvador. Mas será que o pecador deve esperar até que tenha se arrependido para ir a Jesus? Será que o arrependimento tem que ser um obstáculo entre o pecador e o Salvador? CCn 19 1 A Bíblia não ensina que o pecador precisa arrepender-se antes de atender o convite de Cristo: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei". Mateus 11:28. É a virtude que vem de Cristo que conduz ao verdadeiro arrependimento. Pedro esclareceu o assunto em sua declaração aos israelitas ao dizer: "Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados". Atos dos Apóstolos 5:31. Não podemos arrepender-nos sem que o Espírito de Cristo nos desperte a consciência para o fato de que, sem Cristo, não podemos ser perdoados. CCn 19 2 Cristo é a fonte de cada impulso correto. Ele é o único que pode implantar no coração a inimizade contra o pecado. Todo desejo pela verdade e pureza, toda convicção da nossa pecaminosidade é uma evidência de que Seu Espírito está atuando em nosso coração. CCn 19 3 Jesus disse: "E Eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo". João 12:32. Cristo deve ser revelado ao pecador como o Salvador que morreu pelos pecados do mundo. Ao contemplarmos o Cordeiro de Deus na cruz do Calvário, o mistério da redenção começa a ser revelado em nossa mente, e a bondade de Deus nos leva ao arrependimento. Cristo manifestou um amor que está além da nossa compreensão. Esse amor enternece o coração do pecador, impressiona-lhe a mente e o leva à contrição. CCn 19 4 É verdade que as pessoas às vezes se envergonham dos seus pecados, e abandonam alguns dos seus maus hábitos antes mesmo de perceberem que estão sendo atraídas para Cristo. Quando, porém, elas se esforçam para mudar, como resultado de um desejo sincero de fazer o que é certo, é o poder de Cristo que as está atraindo. Uma influência que elas desconhecem atua sobre sua mente. A consciência é despertada e seu procedimento é reformado. Quando Cristo as atrai, levando-as a olhar para a Sua cruz e contemplar Aquele a quem seus pecados transpassaram, o mandamento penetra a consciência. Aparecem diante dos seus olhos a pecaminosidade da sua vida e o pecado arraigado em sua mente. Essas pessoas começam a perceber a justiça de Cristo e exclamam: "Afinal, o que é o pecado, para que tão grande sacrifício fosse exigido para a redenção da sua vítima? Era necessário todo esse amor, todo esse sofrimento, toda essa humilhação, para que não perecêssemos, mas tivéssemos vida eterna?" CCn 19 5 O pecador pode resistir a esse amor, pode recusar a deixar-se atrair para Cristo; mas, se não resistir, será atraído para Jesus. O conhecimento do plano da salvação o conduzirá aos pés da cruz em arrependimento pelos seus pecados, os quais causaram os sofrimentos do amado Filho de Deus. CCn 19 6 A mesma mente divina que opera na natureza fala ao coração das pessoas e cria nelas um irresistível desejo de obter algo que não possuem. As coisas do mundo não as satisfazem mais. O Espírito de Deus insiste com elas para que busquem aquilo que de fato pode trazer paz e descanso -- a graça de Cristo e a alegria da santidade. Através de influências visíveis e invisíveis, nosso Salvador está constantemente agindo para atrair a mente das pessoas dos prazeres ilusórios do pecado para as bênçãos infinitas que, por meio dEle, podem alcançar. Para aqueles que estão tentando matar sua sede com a poluição deste mundo é dada a mensagem: "Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida". Apocalipse 22:17. CCn 20 1 Você que tem no coração o desejo de obter algo melhor do que aquilo que o mundo pode dar, reconheça nessa necessidade a voz de Deus falando à sua mente. Peça que Ele lhe conceda o arrependimento e que lhe revele Cristo em Seu infinito amor e perfeita pureza. Na vida do Salvador, os princípios da lei de Deus -- amar a Deus e ao próximo -- foram perfeitamente exemplificados. A benevolência e o amor altruísta eram a razão da Sua vida. Quando contemplamos o Salvador, e Sua luz nos ilumina, é que podemos ver a pecaminosidade do nosso coração. CCn 20 2 Pode ser que, tal como Nicodemos, nos orgulhemos em dizer que temos vivido de maneira justa, que a nossa conduta moral é correta e, assim, pensar que não precisamos humilhar o coração diante de Deus como um pecador comum. Mas, quando a luz que vem de Cristo brilha em nosso coração, passamos a ver como somos impuros; discernimos nossos motivos egoístas, nossa inimizade contra Deus, que tem manchado cada ato da nossa vida. Só então reconheceremos que nossa justiça é na verdade igual a trapos sujos, e que somente o sangue de Cristo pode limpar-nos da impureza do pecado e renovar nosso coração à Sua semelhança. CCn 20 3 Um simples raio da glória de Deus, um lampejo da pureza de Cristo que penetre no coração torna dolorosamente visível cada mancha impura, e revela claramente a deformidade e os defeitos do caráter humano. Os desejos não santificados, a infidelidade do coração e a impureza dos lábios ficam evidentes. Os atos de deslealdade e de desrespeito à lei de Deus são expostos. Sob a influência perscrutadora do Espírito Santo, o coração do pecador é atingido, e ele fica aflito. O pecador se torna completamente perturbado e insatisfeito ao ver o puro e imaculado caráter de Cristo. CCn 20 4 Quando contemplou a glória que cercava o mensageiro celestial que lhe fora enviado, o profeta Daniel ficou prostrado ao reconhecer a própria debilidade e imperfeição. Descrevendo o efeito daquela cena maravilhosa, ele disse: "Não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma". Daniel 10:8. O coração tocado dessa maneira passa a odiar seu egoísmo e amor-próprio. A solução que resta é, através da justiça de Cristo, buscar a pureza de coração que está em harmonia com a lei de Deus e o caráter de Cristo. CCn 20 5 Paulo disse que "quanto à justiça que há na lei", naquilo que dizia respeito aos atos exteriores, ele era "irrepreensível" (Filipenses 3:6); mas, quando discerniu o caráter espiritual da lei, ele reconheceu que era um pecador. Julgado pela letra da lei, conforme as pessoas a aplicam à vida exterior, ele se considerava sem pecado; mas, ao olhar para as profundezas dos santos mandamentos e ver-se como Deus o via, prostrou-se humildemente e confessou sua culpa. Ele disse: "Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri". Romanos 7:9. Quando ele compreendeu a natureza espiritual da lei, o pecado apareceu em sua verdadeira dimensão, e sua auto-estima desapareceu. CCn 21 1 Deus não considera igualmente graves todos os pecados. Há diferentes gradações de culpa, tanto aos olhos de Deus quanto aos humanos. Todavia, por mais insignificante que esta ou aquela transgressão possa parecer aos olhos humanos, nenhum pecado é pequeno aos olhos de Deus. O julgamento do homem é parcial e imperfeito, mas Deus vê todas as coisas como realmente são. Desprezamos o alcoólatra, e dizemos-lhe que o seu vício vai excluí-lo do Céu, enquanto o orgulho, o egoísmo e a cobiça geralmente não são condenados. Mas esses pecados são especialmente ofensivos diante de Deus, pois contrariam a benevolência do Seu caráter e o amor desinteressado que compõe a própria atmosfera do universo onde o pecado não entrou. Aquele que comete um pecado grave pode se sentir envergonhado e necessitado da graça de Cristo. O orgulhoso, porém, não sente essa necessidade; por isso, fecha o coração para Cristo e as bênçãos infinitas que Ele veio conceder. CCn 21 2 O pobre publicano que orou: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" (Lucas 18:13) se considerava uma pessoa ímpia, e era assim que os outros também o viam. Mas ele sentia sua necessidade e, com seu fardo de culpa e vergonha, aproximou-se de Deus rogando por Sua misericórdia. Seu coração abriu-se para que o Espírito de Deus ali operasse, livrando-o do poder do pecado. A oração soberba e cheia de justiça própria do fariseu demonstrou que seu coração estava fechado para a influência do Espírito Santo. Por causa desse distanciamento de Deus, ele não podia perceber que sua impureza contrastava com a perfeição da natureza divina. Como não sentia necessidade, nada recebeu. CCn 21 3 Se você vê sua pecaminosidade, não espere tornar-se melhor. Muitas pessoas pensam que não são suficientemente boas para aproximar-se de Cristo. Você acha que vai se tornar uma pessoa melhor por seus próprios esforços? "Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal". Jeremias 13:23. Somente em Deus há ajuda. Não devemos esperar por persuasões mais contundentes, nem por melhores oportunidades, nem por um caráter mais santificado. Por nós mesmos, nada podemos fazer. Devemos ir a Cristo do jeito que estamos. CCn 21 4 Não nos enganemos, porém, com o pensamento de que Deus, em Seu grande amor e misericórdia, salvará até mesmo os que rejeitam Sua graça. O tremendo caráter maligno do pecado somente pode ser avaliado diante da cruz. Se alguém insiste em dizer Deus é bom demais para rejeitar o pecador, é porque não olhou para o Calvário. Foi por não haver outra maneira pela qual a humanidade pudesse ser salva que Cristo tomou sobre Si a culpa do desobediente e, em seu lugar, sofreu a morte. Pois sem sacrifício era impossível para o ser humano escapar do poder contaminador do pecado e ser restaurado à comunhão com os seres santos, como também era impossível que se tornasse participante da vida espiritual. O amor, o sofrimento e a morte do Filho de Deus dão testemunho da terrível enormidade do pecado e declaram não haver escape do seu poder nem esperança de uma vida melhor, a não ser através da entrega do coração a Cristo. CCn 22 1 O pecador impenitente às vezes tenta justificar-se dizendo a respeito de professos cristãos: "Sou tão bom quanto eles. Esses aí não são mais bondosos nem mais corretos em seu modo de viver do que eu. Eles gostam dos prazeres e são tão condescendentes quanto eu." Dessa maneira, o pecador faz das falhas dos outros uma desculpa para negligenciar seu dever. Mas os pecados e as falhas dos outros não servem como desculpa para pessoa alguma, pois o Senhor não nos deu um modelo humano imperfeito. O imaculado Filho de Deus foi dado como exemplo, e os que se queixam de mau procedimento dos professos cristãos são os mesmos que deveriam mostrar uma vida melhor e exemplos mais nobres. Se eles têm uma idéia tão clara sobre o que significa ser um cristão, não seria ainda maior seu pecado? Eles sabem o que é certo, mas não querem pôr em prática. CCn 22 2 Cuidado com os adiamentos! Não deixe para depois a decisão de abandonar seus pecados e buscar a pureza de coração através de Jesus. É nesse ponto que milhares têm errado, e se perderão para sempre. Não vou me demorar aqui sobre a brevidade e as incertezas da vida. Mas há um perigo terrível -- e não suficientemente compreendido -- em adiar o atender ao chamado do Espírito Santo, preferindo permanecer no pecado, pois é isso que acontece quando esse adiamento ocorre. O pecado, por menor que possa parecer, implica risco de perda da vida eterna. Aquilo que não vencermos acabará por nos vencer, e causará a nossa destruição. CCn 22 3 Adão e Eva se convenceram de que comer o fruto proibido era algo tão insignificante que não poderia causar as terríveis conseqüências declaradas por Deus. Mas essa desobediência desconsiderada era a transgressão da imutável e santa lei de Deus, e resultou em separar o homem de Deus, permitindo a entrada da morte e trazendo sobre o mundo todo tipo de sofrimento. Século após século, tem-se ouvido um contínuo lamento sobre a Terra, e toda a criação geme e agoniza de dor por causa da desobediência do ser humano. O próprio Céu sentiu os efeitos da rebelião contra Deus. O Calvário tornou-se um monumento do enorme sacrifício necessário para expiar a transgressão da lei divina. Não consideremos o pecado uma coisa banal. CCn 23 1 Cada ato de transgressão, cada negligência ou rejeição da graça de Cristo cai sobre você mesmo, endurecendo o coração, tornando a vontade depravada, entorpecendo o entendimento e deixando-o cada vez menos sensível ao chamado do Espírito Santo de Deus. CCn 23 2 Muitos estão calando uma consciência perturbada com o pensamento de que podem mudar sua maneira errada de ser quando quiserem. Pensam que podem brincar com o convite de misericórdia e continuar sendo impressionados por repetidas vezes e que, depois de terem desprezado o Espírito da graça, depois de terem se colocado ao lado de Satanás, ainda poderão mudar seu modo de agir em algum momento de terrível aflição. Mas não é assim tão fácil. A experiência, a educação de toda uma vida molda o caráter de tal maneira que poucos desejam receber a imagem de Jesus em sua mente. CCn 23 3 Até mesmo um mau traço de caráter, um desejo pecaminoso cultivado, poderá neutralizar o poder do evangelho. Qualquer tolerância com o pecado fortalecerá a inimizade da pessoa contra Deus. Aquele que persistir na infidelidade ou permanecer indiferente à verdade divina colherá o que plantou. Em toda a Bíblia não há um alerta mais assustador contra a leviandade em relação ao pecado do que as palavras de Salomão quanto ao perverso: "As suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido". Provérbios 5:22. CCn 23 4 Cristo está pronto para nos libertar do pecado, mas Ele não faz isso contra a nossa vontade. Se, por causa da transgressão persistente, a própria vontade ficar inteiramente inclinada para o mal e passarmos a não ter mais o desejo de ficar livres, se a vontade não aceitar Sua graça, o que mais Ele poderá fazer? Destruímos a nós mesmos pela insistente rejeição ao Seu amor. "Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação". 2 Coríntios 6:2. "Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração". Hebreus 3:7, 8. "O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" -- o coração humano, com suas emoções de alegria e tristeza sempre conflitantes; o coração volúvel e sem rumo, onde reside tanta impureza e tantos enganos. 1 Samuel 16:7. Ele conhece suas razões, intenções e propósitos. Vá até Ele com seu coração manchado, do jeito que se encontra agora. Como o salmista, abra os compartimentos do coração para o olho que tudo vê, e diga: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno". Salmos 139:23, 24. CCn 23 5 Muitos adotam uma religião intelectual, com aparência de piedade, mas seu coração não está purificado. Seja esta a nossa oração: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável". Salmos 51:10. Trate a si mesmo com sinceridade. Seja tão sincero e tão persistente quanto você seria se sua vida estivesse em perigo. Essa é uma questão com implicações eternas que só será resolvida entre Deus e você. Uma frágil esperança pode arruinar a sua vida. CCn 24 1 Estude a Palavra de Deus com oração. Ao mostrar a lei de Deus e a vida de Cristo, essa palavra apresenta os grandes princípios da santidade sem os quais "ninguém verá o Senhor". Hebreus 12:14. Ela convence do pecado e revela com clareza o caminho da salvação. Escute-a como sendo a voz de Deus falando ao seu coração. CCn 24 2 Ao ver a enormidade do pecado, ao ver-se como você realmente é, não fique desesperado. Foi para salvar os pecadores que Cristo veio. Não temos que reconciliar Deus conosco, mas -- que amor maravilhoso! -- Deus, em Cristo, está "reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. Através do Seu terno amor, Ele está procurando conquistar o coração dos Seus filhos extraviados. Nenhum pai deste mundo é tão paciente com as falhas e os erros dos seus filhos como Deus é com aqueles a quem Ele quer salvar. Ninguém insiste tão amorosamente com o transgressor. Lábios humanos jamais pronunciaram palavras tão carinhosas com o extraviado como Ele pronunciou. Todas as Suas promessas e admoestações são manifestações de um amor indescritível. CCn 24 3 Quando Satanás diz que você é um grande pecador, olhe para o Redentor e fale de Seus méritos. Reconheça o seu pecado, mas diga para o inimigo que "Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores" e que você pode ser salvo por Seu incomparável amor. 1 Timóteo 1:15. Jesus fez uma pergunta sobre dois devedores para Simão. Um deles devia uma pequena quantia de dinheiro ao seu senhor; o outro, uma soma elevada. O senhor perdoou a dívida dos dois, e Cristo perguntou a Simão qual dos dois devedores amou mais o seu senhor. Simão respondeu: "Aquele a quem mais perdoou". Lucas 7:43. Somos grandes pecadores, mas Cristo morreu para que pudéssemos ser perdoados. Os méritos do Seu sacrifício são suficientes para que Ele Se apresente diante do Pai em nosso lugar. Aqueles a quem Ele mais perdoou O amarão mais e ficarão mais próximo do Seu trono para louvá-Lo por Seu grande amor e infinito sacrifício. Só então poderemos compreender totalmente o amor de Deus e a iniqüidade do pecado. Quando virmos o comprimento da corda que foi lançada até nós, quando compreendermos algo do infinito sacrifício que Cristo fez em nosso lugar, o coração se encherá de ternura e contrição. ------------------------Capítulo 4 -- Abra o coração a Deus CCn 25 1 O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia". Provérbios 28:13. As condições para obter a misericórdia de Deus são simples, justas e razoáveis. O Senhor não requer que façamos algo difícil para que tenhamos o perdão dos nossos pecados. Não precisamos fazer longas e cansativas peregrinações, nem pagar dolorosas penitências com o objetivo de encomendar nossa alma ao Deus do Céu, ou para expiar nossa transgressão; mas aquele que confessar e deixar seu pecado alcançará misericórdia. CCn 25 2 Diz o apóstolo: "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados". Tiago 5:16. Confesse seus pecados a Deus, o único que pode perdoá-los, e as faltas uns aos outros. Se você ofendeu um amigo ou vizinho, deve reconhecer seu erro, e ele tem o dever de perdoar-lhe. Você deverá, então, buscar o perdão de Deus, pois a pessoa ofendida é propriedade de Deus e, ao magoá-la, você pecou contra o Criador e Redentor. O caso é levado ao único verdadeiro Mediador, nosso grande Sumo Sacerdote, que "foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" e quem pode "compadecer-Se das nossas fraquezas", o qual tem condições de purificar-nos de toda mancha de iniqüidade. Hebreus 4:15. CCn 25 3 Os que não se humilharam diante de Deus, reconhecendo sua culpa, ainda não cumpriram a primeira condição para que sejam aceitos. Se ainda não experimentamos o arrependimento completo e definitivo e não confessamos nosso pecado com verdadeira humildade e espírito quebrantado, aborrecendo nossa iniqüidade, não estamos buscando o perdão dos nossos pecados com sinceridade. E, procedendo assim, jamais encontraremos a paz de Deus. A única razão para não termos nossos pecados perdoados é não estarmos dispostos a humilhar o coração e a aceitar as condições da Palavra da verdade. As instruções a respeito desta questão são bem claras: A confissão do pecado, seja ele público ou oculto, deve ser feita de maneira franca e sincera. O pecador não deve ser forçado a confessar. Também não deve ser feita de maneira displicente e descuidada, nem exigida daqueles que não reconhecem o terrível caráter do pecado. A confissão que é o desafogar do coração é a que chega até o Deus da infinita misericórdia. Diz o salmista: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido". Salmos 34:18. CCn 26 1 A confissão verdadeira sempre tem um caráter específico e reconhece cada pecado em particular. Esses pecados podem ser do tipo que devem ser levados unicamente a Deus; podem ser erros que precisam ser confessados àqueles que sofreram a ofensa; ou podem ter um caráter público, devendo, então, ser confessados em público. Mas toda confissão deve ser objetiva e direta, reconhecendo os pecados dos quais somos culpados. CCn 26 2 Nos dias de Samuel, os israelitas se afastaram de Deus. Eles sofreram as conseqüências do pecado, pois perderam a fé em Deus, a capacidade de discernir o Seu poder e sabedoria para governar a nação, a confiança na Sua habilidade de defender e vindicar Sua causa. Eles voltaram as costas para o grande Rei do Universo e quiseram ser governados como as demais nações. Antes de encontrar a paz, fizeram a seguinte confissão: "A todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei". 1 Samuel 12:19. O pecado do qual haviam sido convencidos teve que ser confessado. A ingratidão lhes oprimia o coração e os separava de Deus. CCn 26 3 A confissão não é aceitável a Deus sem sincero arrependimento e reforma. É preciso que haja mudanças decisivas na vida; tudo o que for ofensivo a Deus deve ser afastado. Isso será o resultado de uma genuína tristeza pelo pecado. A obra que devemos realizar está claramente diante de nós: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas". Isaías 1:16, 17. "[Se] restituir o perverso o penhor, e pagar o furtado, e andar nos estatutos da vida, e não praticar a iniqüidade, certamente, viverá; não morrerá". Ezequiel 33:15. CCn 26 4 Paulo diz, ao falar da obra do arrependimento: "Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita [desejo de ver a justiça feita]! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto". 2 Coríntios 7:11. CCn 26 5 Quando o pecado amortece as percepções morais, o transgressor não discerne os defeitos do seu caráter, nem percebe a enormidade do mal cometido. A menos que aceite o poder persuasivo do Espírito Santo, ele permanece parcialmente cego em relação ao seu pecado. Suas confissões não são sinceras nem verdadeiras. A cada culpa reconhecida, acrescenta um pedido de desculpas pelo que fez, declarando que, não fosse pelas circunstâncias, não teria praticado esse ou aquele ato pelo qual está sendo reprovado. CCn 26 6 Depois que Adão e Eva comeram o fruto proibido, ficaram envergonhados e aterrorizados. Seu primeiro pensamento foi sobre como desculpar seu pecado para poder escapar da temida sentença de morte. Quando o Senhor perguntou sobre o pecado, Adão colocou a culpa parcialmente em Deus e parcialmente em sua companheira: "A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi." A mulher colocou a culpa na serpente, dizendo: "A serpente me enganou, e eu comi". Gênesis 3:12, 13. Por que o Senhor fez a serpente? Por que permitiu que ela entrasse no Jardim do Éden? Eram perguntas que apresentavam desculpas para o seu pecado, colocando em Deus a responsabilidade pela queda deles. O espírito de auto-justificação surgiu com o pai da mentira e tem sido exibido por todos os filhos e filhas de Adão. Confissões dessa espécie não são inspiradas pelo Espírito divino e não serão aceitas por Deus. O verdadeiro arrependimento leva as pessoas a assumir sua culpa e reconhecê-la sem justificativas nem hipocrisia. Como o pobre publicano, que sequer erguia o olhar para o Céu, elas clamarão: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador." Os que reconhecerem sua culpa serão justificados, pois Jesus apresenta Seu sangue em favor da pessoa arrependida. CCn 27 1 Os exemplos de arrependimento genuíno encontrados na Palavra de Deus revelam um espírito de confissão no qual não há desculpa para o pecado nem tentativas de auto-justificação. Paulo não ficou na defensiva; ele pintava seu pecado com as cores mais escuras, sem tentar minimizar sua culpa. Ele disse: "Encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra esses dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia". Atos dos Apóstolos 26:10, 11. Ele não hesitou em declarar que "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal". 1 Timóteo 1:15. CCn 27 2 O coração quebrantado e humilde, subjugado pelo arrependimento genuíno, demonstra apreciação pelo amor de Deus e pelo preço pago no Calvário; e, como um filho confessa suas faltas a um pai amoroso, assim o pecador verdadeiramente arrependido traz seus pecados diante de Deus. Como está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça". 1 João 1:9. ------------------------Capítulo 5 -- O desejo de ser bom CCn 29 1 A promessa de Deus é: "Buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração". Jeremias 29:13. O coração deve ser entregue a Deus, ou jamais será operada em nós a mudança para restaurar-nos à Sua semelhança. Estamos, por natureza, alienados de Deus. O Espírito Santo descreve nossa condição em palavras como estas: "Mortos nos vossos delitos" (Efésios 2:1); "toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo" "não há nele coisa sã". Isaías 1:5, 6. Estamos retidos nos laços de Satanás, "tendo sido feitos cativos por ele para [cumprirmos] a sua vontade". 2 Timóteo 2:26. Deus deseja nos curar e nos libertar. Como isso requer completa transformação e uma renovação da nossa natureza, devemos nos entregar inteiramente a Ele. CCn 29 2 A luta contra o eu é a maior de todas as batalhas. A renúncia do eu, a sujeição de tudo à vontade de Deus, requer uma luta; mas a pessoa deve se submeter a Deus antes de ser renovada em santidade. CCn 29 3 Ao contrário do que Satanás quer que pensemos, o governo de Deus não é baseado na submissão cega, no domínio sem razão. Ele apela para o intelecto e para a consciência. "Vinde, pois, e arrazoemos" (Isaías 1:18) é o convite que Ele faz para os seres que criou. Deus não força a vontade de Suas criaturas. Ele não pode aceitar uma homenagem que não seja uma oferta voluntária e inteligente. Uma submissão meramente forçada não permitiria o desenvolvimento da mente e do caráter; transformaria o homem em máquina. Não é esse o propósito do Criador. Ele deseja que o homem, a obra-prima do Seu poder criador, alcance o mais elevado desenvolvimento. Diante de nós estão as maiores bênçãos que, através de Sua graça, Ele quer nos outorgar. Ele nos convida a entregar-nos a Ele a fim de que possa cumprir em nós Sua vontade. Resta-nos escolher se queremos ficar livres da escravidão do pecado para partilhar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. CCn 30 4 Entregando-nos a Deus, temos necessariamente que renunciar a tudo que nos separa dEle. Por isso, Ele diz: "Todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser Meu discípulo". Lucas 14:33. Tudo que afasta nosso coração de Deus deve ser abandonado. O dinheiro é o ídolo de muitos. O amor ao dinheiro e o desejo de possuir riquezas são a corrente de ouro que os prende a Satanás. Há outros que idolatram a fama e a honra humana. A vida de comodidade egoísta e sem responsabilidades também funciona como um ídolo para outras pessoas. Mas essas amarras que escravizam devem ser cortadas. Não podemos ser metade do Senhor e metade do mundo. Não somos filhos de Deus a menos que o sejamos completa e inteiramente. CCn 30 1 Existem aqueles que dizem servir a Deus, embora se apóiem nos próprios esforços para obedecer à Sua lei, formar um caráter perfeito e conseguir a salvação. Sem uma intuição profunda do amor de Deus para mover esses corações, buscam cumprir os deveres da vida cristã como se isso fosse uma exigência de Deus para alcançar o Céu. Uma religião assim não tem valor. Quando Cristo habita no coração, a pessoa se sente tão repleta de Seu amor e da alegria da comunhão com Ele que se torna cada vez mais apegada a Ele. Ao contemplá-Lo, o próprio eu é esquecido. O amor a Cristo é a motivação certa para a ação. Os que sentem o amor de Deus não perguntam qual é o mínimo que podem fazer para cumprir os requerimentos de Deus; não perguntam qual é a norma mais baixa, mas o seu desejo é andar em total harmonia com a vontade do Redentor. Com sinceridade, renunciam a tudo e manifestam um interesse proporcional ao valor do objeto que buscam. Dizer ser cristão sem sentir esse amor profundo é falar de maneira vazia, formal e extremamente penosa. Você julga ser um sacrifício muito grande renunciar a tudo por Cristo? Faça a si mesmo esta pergunta: "O que Cristo deu por mim?" O Filho de Deus deu tudo -- vida, amor e sofrimento -- para nossa redenção. Será possível que nós, os indignos objetos de tão grande amor, não queiramos entregar-Lhe inteiramente o coração? Durante toda a nossa vida temos sido participantes das bênçãos da Sua graça e, por essa razão, não conseguimos perceber plenamente a extensão da ignorância e miséria de onde fomos salvos. Seremos capazes de olhar para Aquele a quem nossos pecados perfuraram e ainda menosprezar todo Seu amor e sacrifício? Contemplando a infinita humilhação do Senhor da glória, iremos ainda reclamar por não poder ganhar a vida eterna, senão à custa de conflitos e humilhação própria? CCn 30 2 Diante da pergunta de muitas pessoas cheias de orgulho: "Por que preciso me arrepender e me humilhar, antes de ter a certeza de que sou aceito por Deus?", eu aponto para Cristo. Ele era sem pecado e, mais que isso, era o Príncipe do Céu; mas, em favor do ser humano, fez-Se pecado em seu lugar. "Foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre Si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu". Isaías 53:12. CCn 30 3 Mas o que mesmo estamos renunciando, quando renunciamos a tudo? Estamos nos livrando de um coração contaminado pelo pecado, entregando-o para que Jesus o purifique, lavando-o com Seu sangue, e o salve pelo Seu amor incomparável. Apesar disso, alguns ainda acham difícil renunciar a tudo! Envergonho-me de ouvir falar isso, e de escrevê-lo. CCn 30 4 Deus não pede que renunciemos a coisa alguma que traga benefícios para nós. Em tudo o que faz, Ele tem em vista o bem-estar dos Seus filhos. Quisera eu que todos os que não aceitaram a Cristo pudessem perceber que Ele tem coisas incomparavelmente melhores para oferecer do que aquilo que estão por si mesmos buscando. O ser humano provoca os maiores males e a maior injustiça para consigo mesmo quando pensa e age contrariamente à vontade de Deus. Nenhuma felicidade verdadeira existe no caminho proibido por Aquele que sabe o que é melhor e quer o bem das Suas criaturas. O caminho da transgressão só leva à miséria e destruição. CCn 31 1 É um erro pensar que Deus tem prazer no sofrimento dos Seus filhos. Todo o Céu está interessado na felicidade do ser humano. Nosso Pai celestial não impede que qualquer de Suas criaturas experimente momentos de alegria. O que Deus pede é que sejam evitadas as concessões que podem trazer sofrimento e decepções, e podem fechar a porta da felicidade e do Céu. O Redentor do mundo aceita as pessoas como são, com todas as suas necessidades, imperfeições e fraquezas. Ele não só purifica do pecado e concede redenção pelo Seu sangue, como também satisfaz aos anseios do coração daqueles que consentem em carregar o Seu fardo e tomar o Seu jugo. Seu propósito é dar paz e descanso a todos os que vão a Ele em busca do pão da vida. Ele requer apenas que cumpramos os deveres que nos guiarão às alturas da bem-aventurança, às quais os desobedientes jamais poderão alcançar. A verdadeira felicidade é ter Cristo, a esperança de glória, no coração. CCn 31 2 Muitos perguntam: "Como devo fazer a entrega do próprio eu a Deus?" Você deseja entregar-se a Ele, mas não tem força moral, é escravo da dúvida e controlado pelos hábitos da sua vida de pecado. Suas promessas e resoluções são como palavras escritas na areia. Você não consegue controlar os pensamentos, impulsos e afeições. O conhecimento das suas promessas não cumpridas e dos votos violados enfraquece sua confiança na própria sinceridade, fazendo que você pense que Deus não pode aceitá-lo. Mas você não precisa se desesperar. Só precisa compreender a verdadeira força da vontade. Este é o poder que governa a natureza do homem: o poder de decidir, escolher. Tudo depende da ação correta da vontade. O poder de escolha que Deus deu ao ser humano deve ser exercitado. Você não pode mudar o próprio coração, nem, por si mesmo, entregar suas afeições para Deus; mas pode escolher servir a Deus. Você pode dar-Lhe sua vontade. Ele então operará em você o querer e o fazer, segundo Sua graça. Desse modo, toda sua natureza estará sob o controle do Espírito de Cristo; suas afeições ficarão centralizadas nEle, e seus pensamentos estarão em harmonia com Ele. CCn 31 3 É correto desejar ser bom e viver uma vida santificada. Mas nada disso tem valor se ficar apenas no desejo. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos. Eles não chegam ao ponto de entregar sua vontade a Deus. Não escolhem agora ser cristãos. CCn 32 1 Através do correto exercício da vontade, uma transformação completa pode ocorrer em sua vida. Entregando a vontade a Cristo, você se une com o poder que está acima de todos os outros. Obterá força do alto para permanecer firme e, pela constante entrega a Deus, será capacitado para viver a nova vida, a vida da fé. ------------------------Capítulo 6 -- A conquista da paz CCn 33 1 À medida que sua consciência é despertada pelo Espírito Santo, você pode compreender um pouco da malignidade do pecado, seu poder, sua culpa, sua miséria, e então passa a aborrecê-lo. Você sente que o pecado separou você de Deus, e que está cativo do poder do mal. Quanto mais luta para escapar, mais percebe sua incapacidade de vencer. Seus motivos são impuros; seu coração, também. Você vê que sua vida está repleta de egoísmo e pecado. Você quer ser perdoado, purificado, libertado. Como, então, obter harmonia com Deus e semelhança com Ele? CCn 33 2 Paz é o que você precisa -- o perdão, a paz e o amor do Céu no coração. O dinheiro não pode comprá-la, a inteligência e a sabedoria não conseguem alcançá-la. Pelos próprios esforços, você não pode esperar obtê-la. Mas Deus a oferece como um presente, "sem dinheiro e sem preço". Isaías 55:1. É sua a decisão de estender a mão e recebê-la. O Senhor diz: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã". Isaías 1:18. "Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo". Ezequiel 36:26. CCn 33 3 Você confessou seus pecados e, de coração, afastou-se deles. Resolveu entregar-se a Deus. Agora, vá a Ele e peça-Lhe que lave seus pecados e lhe dê um coração novo. Creia, então, que Ele assim o fará, porque assim o prometeu. Esta é a lição que Jesus Cristo ensinou quando esteve na Terra: que devemos crer que receberemos a dádiva que Deus nos prometeu, e que ela é nossa. Jesus curou as pessoas das suas enfermidades quando elas manifestaram fé em Seu poder. Ele as ajudava naquilo que não podiam enxergar, inspirando-as a nEle confiar quanto às coisas que não podiam ver -- levando-as a crer no Seu poder de perdoar os pecados. Foi o que disse claramente ao curar o paralítico: "Para que saibais que o Filho do homem tem sobre a Terra autoridade para perdoar pecados -- disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa". Mateus 9:6. João, o evangelista, diz o mesmo ao falar sobre os milagres de Cristo: "Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome". João 20:31. CCn 33 4 Com a simples narrativa sobre como Jesus curou os enfermos podemos aprender a crer que Ele pode perdoar os pecados. Voltemos à história do paralítico do tanque de Betesda. O pobre sofredor encontrava-se desamparado; por 38 anos, não havia usado os seus membros. Jesus ordenou-lhe: "Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa." Aquele paralítico poderia ter dito: "Senhor, se quiseres me curar, obedecerei à Tua palavra." Mas não foi assim; ele creu na palavra de Deus, creu que havia sido curado e imediatamente levantou-se; decidiu que andaria, e andou. Ele agiu de acordo com a palavra de Cristo, e Deus lhe concedeu a força. Estava curado. CCn 34 1 Da mesma forma, você é um pecador. Não pode expiar seus pecados do passado, nem mudar o seu coração e se tornar um santo. Mas Deus promete fazer tudo isso por você, através de Cristo. Você crê nessa promessa. Em seguida, confessa seus pecados e entrega-se a Deus. Você deseja servi-Lo. Ao fazer isso, Deus certamente cumprirá Sua palavra. Se você crê na promessa -- crê que está perdoado e purificado -- Deus supre o que falta. Você é curado da mesma maneira como Cristo deu a força para o paralítico andar, quando ele creu que estava curado. Assim é, se você crê. CCn 34 2 Não espere sentir que você está curado, mas diga: "Eu creio, e assim é, não porque eu o sinta, mas porque Deus prometeu." Jesus diz: "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco". Marcos 11:24. Há uma condição para o cumprimento dessa promessa -- que oremos de acordo com a vontade de Deus. E a vontade de Deus é nos purificar do pecado, tornar-nos Seus filhos e capacitar-nos para viver uma vida de santidade. Podemos, então, pedir essas bênçãos, crer que as recebemos e agradecer por tê-las recebido. É nosso privilégio ir a Jesus, ser purificados e apresentar-nos diante da lei sem qualquer vergonha ou remorso. "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Romanos 8:1. CCn 34 3 Daqui por diante, você já não pertence a si mesmo; você foi comprado por um preço. "Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, [...] mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo". 1 Pedro 1:18, 19. Por meio desse ato simples de crer em Deus, o Espírito Santo gerou uma nova vida em seu coração. Agora você é uma criança nascida na família de Deus, e Ele ama você como ama o Seu Filho. CCn 34 4 Agora que você se entregou a Jesus, não volte atrás, nem se afaste dEle, mas repita diariamente: "Sou de Jesus Cristo; a Ele me entreguei." Peça-Lhe que conceda a você Seu Espírito e que o sustente com Sua graça. Da mesma maneira que se tornou um filho de Deus quando creu nEle e a Ele se entregou, assim também você deve viver nEle. Diz o apóstolo: "Como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle". Colossences 2:6. CCn 34 5 Alguns parecem pensar que precisam passar por uma prova, e assim demonstrar ao Senhor que estão transformados, antes de poder pedir Sua bênção. Mas eles podem pedir essa bênção agora mesmo. Eles precisam de Sua graça, o Espírito de Cristo, para ajudá-los em suas fraquezas, ou não poderão resistir ao mal. Jesus deseja que nos cheguemos a Ele como estamos, pecaminosos, desamparados e dependentes. Devemos ir com todas nossas fraquezas, leviandades e pecaminosidade, e, arrependidos, lançar-nos a Seus pés. Ele Se alegra ao envolver-nos em Seus braços de amor, curar nossas feridas e purificar-nos de toda impureza. CCn 35 1 É nesse ponto que milhares fracassam; não crêem que Jesus lhes perdoa pessoalmente e de forma individual. Não põem à prova o que Deus diz. É privilégio de todos os que aceitam as condições verificar, por si mesmos, que o perdão é oferecido amplamente para cada pecado. Afaste qualquer suspeita de que as promessas de Deus não são para você. Elas são direcionadas a cada transgressor que se arrepende. Força e graça foram dadas por meio de Cristo para serem levadas por anjos ministradores a todo aquele que crê. Ninguém é tão pecador que não possa encontrar força, pureza e justiça em Jesus, que por todos morreu. Ele anela livrar os pecadores de suas vestes manchadas e poluídas pelo pecado, e vestir neles as vestes brancas da justiça. Ele insiste para que vivam, e não morram. CCn 35 2 Deus não trata conosco como os seres humanos tratam uns aos outros. Seus pensamentos são de misericórdia, amor e terna compaixão. Ele diz: "Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que Se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar." "Desfaço as tuas transgressões como a névoa e os teus pecados, como a nuvem". Isaías 55:7; 44:22. "Não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertei-vos e vivei". Ezequiel 18:32. CCn 35 3 Satanás está pronto para nos roubar as benditas promessas de Deus. Ele quer arrebatar do coração cada lampejo de esperança e todo raio de luz; mas você não deve permitir que ele faça isso. Não dê ouvidos ao tentador, mas diga: "Jesus morreu para que eu pudesse viver. Ele me ama e não quer que eu pereça. Tenho um Pai celestial compassivo; embora eu tenha abusado do Seu amor e negligenciado as bênçãos que me deu, vou levantar-me para ir ao Pai e dizer-Lhe: 'Pequei contra o Céu e diante de Ti; já não sou digno de ser chamado Teu filho; trata-me como um dos Teus servos.'" A parábola nos mostra como será recebido aquele que se perdeu: "Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou". Lucas 15:18-20. CCn 35 4 Mesmo essa parábola, por mais terna e comovedora que possa ser, não consegue expressar a infinita compaixão do Pai celestial. O Senhor declara através do Seu profeta: "Com amor eterno Eu te amei; por isso, com benignidade te atraí". Jeremias 31:3. Enquanto o pecador ainda está distante da casa do Pai, esbanjando seus bens em uma terra estranha, o coração do Pai o quer de volta; e cada desejo de retornar para Deus, despertado no coração, não é outra coisa senão a terna voz do Seu Espírito, suplicando, insistindo, atraindo o transviado para o coração cheio de amor do Pai. CCn 36 1 Mesmo tendo perante você as ricas promessas da Bíblia, ainda é capaz de duvidar? Ou você imagina que, quando um pobre pecador deseja voltar e abandonar seus pecados, o Senhor, com severidade, o impede de prostrar-se, arrependido, aos Seus pés? Longe de nós pensarmos assim! Nada pode nos prejudicar mais do que ter um conceito assim do nosso Pai celestial. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador. Ele entregou-Se, na pessoa de Cristo, para que todos pudessem ser salvos e desfrutar as bem-aventuranças eternas no reino de glória. Que outra linguagem mais forte e mais carinhosa poderia ser empregada em lugar da que Ele escolheu para expressar o Seu amor por nós? Ele declara: "Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti". Isaías 49:15. CCn 36 2 Olhe para cima, você que está em dúvida e com medo; pois Jesus vive para fazer intercessão por nós. Dê graças a Deus pelo dom do Seu Filho amado e ore para que Ele não tenha morrido em vão. O Espírito está convidando você hoje: Venha para Jesus de todo o coração, e poderá pedir as Suas bênçãos. CCn 36 3 Ao ler as promessas, lembre-se de que elas são uma expressão de amor e misericórdia indescritíveis. O grande coração do Amor Infinito volta-se para o pecador com ilimitada compaixão. Em Jesus Cristo, "temos a redenção, pelo Seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça". Efésios 1:7. Sim, apenas creia que Deus é o seu auxiliador. Ele quer restaurar Sua imagem moral no ser humano. À medida que você aproximar-se de Deus com arrependimento e confissão, Ele Se aproximará de você com misericórdia e perdão. ------------------------Capítulo 7 -- O teste da obediência CCn 37 1 Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas". 2 Coríntios 5:17. Uma pessoa pode não ser capaz de dizer o momento e o lugar exatos, nem descrever todas as circunstâncias do processo de conversão; mas isso não prova que ela não seja convertida. Cristo disse para Nicodemos: "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito". João 3:8. Como o vento, que é invisível, embora seus efeitos sejam claramente vistos e sentidos, assim também é o Espírito de Deus em Sua obra no coração humano. Esse poder regenerador, o qual nenhum olho humano pode ver, gera uma nova vida e cria um novo ser à imagem de Deus. CCn 37 2 Embora a obra do Espírito seja silenciosa e imperceptível, seus efeitos podem ser vistos. Se o coração foi renovado pelo Espírito de Deus, a vida dará testemunho disso. Apesar de nada podermos fazer para mudar o coração e entrar em harmonia com Deus, mesmo que não devamos em absoluto confiar em nós mesmos, nem em nossas boas ações, a vida vai revelar se a graça de Deus habita em nós. Uma mudança será notada no caráter, hábitos e propósitos. Será claro e decisivo o contraste entre o que eram antes e o que são agora. O caráter é revelado não por boas obras nem por erros ocasionais, mas pela tendência que palavras e atos costumeiros revelam. CCn 37 3 É verdade que pode haver uma aparência de retidão, mesmo sem o poder renovador de Cristo. O desejo de ter influência e de ser estimado pelos outros pode levar a uma vida bem ordenada. O respeito próprio pode nos fazer evitar a aparência do mal. Um coração egoísta pode promover atos generosos. De que maneira, então, vamos demonstrar de que lado estamos? CCn 37 4 Quem domina nosso coração? Em quem estão nossos pensamentos? Acerca de quem gostamos de conversar? Quem é o alvo da nossa calorosa afeição e do melhor da nossa energia? Se somos de Cristo, sempre estaremos pensando nEle; nossos mais doces pensamentos nEle se concentrarão. Tudo o que temos e somos será consagrado a Ele. Teremos o desejo de refletir Sua imagem, possuir Seu Espírito, fazer Sua vontade e agradá-Lo em todas as coisas. CCn 37 5 Aqueles que se tornarem novas criaturas em Jesus Cristo produzirão os frutos do Espírito: "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Gálatas 5:22, 23. Não mais se comportarão de acordo com as antigas paixões, mas, pela fé no Filho de Deus, seguirão os Seus passos, refletirão o Seu caráter e se tornarão puros assim como Ele é puro. As coisas que antes detestavam, agora amam; as coisas que antes amavam, agora aborrecem. O orgulhoso e arrogante torna-se manso e dócil. O vaidoso e altivo torna-se humilde e modesto. O alcoólatra deixa a bebida; o viciado torna-se puro. As modas e os costumes mundanos são postos de lado. O cristão não buscará o "adorno exterior", mas o "homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo". 1 Pedro 3:3, 4. CCn 38 1 Não haverá evidências de genuíno arrependimento a menos que ele promova uma reforma. Se confirmar o que foi prometido, devolver o que foi roubado, confessar seus pecados e amar a Deus e ao próximo, o pecador pode estar certo de que passou da morte para a vida. CCn 38 2 Quando vamos a Cristo, mesmo sendo seres pecadores e cheios de erros, tornamo-nos participantes da Sua graça perdoadora, e o amor brota em nosso coração. Os fardos tornam-se leves, pois o jugo que Cristo impõe é suave. O dever torna-se um deleite, e o sacrifício, um prazer. O caminho que antes parecia coberto de trevas torna-se iluminado pelo Sol da Justiça. CCn 38 3 O amoroso caráter de Cristo será visto em Seus seguidores. Ele Se deleitava em fazer a vontade de Deus. O amor a Deus, o verdadeiro zelo por Sua glória, era o poder controlador da vida do nosso Salvador. O amor embelezava e enobrecia Suas ações. O amor faz parte da natureza divina. O coração não consagrado não pode produzi-lo. O amor pode ser encontrado apenas no coração onde Jesus reina. "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro". 1 João 4:19. No coração renovado pela graça divina, o amor é o que motiva a ação. Ele modifica o caráter, controla a paixão, supera a inimizade e torna mais nobres as afeições. Esse amor ameniza os rigores da vida e exerce uma influência das mais positivas sobre todos que estiverem por perto. CCn 38 4 Há dois erros que os filhos de Deus -- em particular aqueles que há pouco passaram a confiar em Sua graça -- precisam especialmente evitar. O primeiro, já mencionado, é o de se reportar às próprias obras e confiar naquilo que podem realizar para ficar em harmonia com Deus. Aquele que procura tornar-se santo buscando, por meio das próprias obras, guardar a lei está tentando algo impossível. Tudo o que o ser humano possa fazer sem Cristo está poluído pelo egoísmo e o pecado. Somente a graça de Cristo, por meio da fé, pode nos santificar. CCn 38 5 O erro oposto, e não menos perigoso, é acreditar que Cristo isenta a pessoa de guardar a lei de Deus; que, considerando que somente pela fé nos tornamos participantes da graça de Cristo, nossas obras nada têm a ver com nossa redenção. CCn 39 1 Mas note que a obediência não é uma mera concordância externa e sim uma conseqüência do amor. A lei de Deus é uma expressão da natureza divina; é uma personificação do grande princípio do amor e, por isso, o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra. Se nosso coração for renovado à semelhança de Deus, se o amor divino estiver nele implantado, é claro que viveremos em obediência à lei de Deus. Quando o princípio do amor domina o coração, quando o homem é renovado segundo a imagem dAquele que o criou, a promessa do novo concerto é cumprida: "Porei no seu coração as Minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei". Hebreus 10:16. E se a lei estiver escrita no coração, claramente ela moldará a vida. A obediência -- nosso serviço e compromisso de amor -- é o verdadeiro sinal do discipulado. Diz a Escritura: "Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos". 1 João 5:3. "Aquele que diz: Eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade". 1 João 2:4. Em vez de dispensar as pessoas da obediência, é a fé -- e somente a fé -- que nos faz participantes da graça de Cristo, capacitando-nos a obedecer. CCn 39 2 Não ganhamos a salvação por nossa obediência, pois a salvação é um dom gratuito de Deus que recebemos pela fé. Mas a obediência é o fruto da fé. "Sabeis que também Ele Se manifestou para tirar os pecados, e nEle não existe pecado. Todo aquele que permanece nEle não vive pecando; todo aquele que vive pecando não O viu, nem O conheceu". 1 João 3:5, 6. Aqui está a verdadeira prova. Se estivermos em Cristo, se o amor de Deus habitar em nós, nossos sentimentos, pensamentos, propósitos e ações estarão em harmonia com a vontade de Deus expressa nos preceitos de Sua santa lei. "Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como Ele é justo". 1 João 3:7. A justiça está definida pelo padrão da santa lei de Deus, como está expressa nos dez preceitos dados no Sinai. CCn 39 3 A suposta fé em Cristo que leva a pessoa a se esquivar da obrigação de obedecer a Deus não é fé, mas presunção. "Pela graça sois salvos, mediante a fé". Efésios 2:8. Entretanto, "a fé, se não tiver obras, por si só está morta". Tiago 2:17. Jesus Cristo disse acerca de Si mesmo, antes de vir à Terra: "Agrada-Me fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; dentro do Meu coração, está a Tua lei". Salmos 40:8. E antes de subir ao Céu, Ele declarou: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e no Seu amor permaneço". João 15:10. Diz a Escritura: "Sabemos que O temos conhecido por isto: se guardamos os Seus mandamentos. [...] Aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar assim como Ele andou". 1 João 2:3-6. "Pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os Seus passos". 1 Pedro 2:21. CCn 39 4 A condição para a vida eterna ainda é a mesma que sempre foi: perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça, exatamente como era no Paraíso, antes da queda de nossos primeiros pais. Se a vida eterna nos fosse concedida sob qualquer condição inferior a essa, a felicidade de todo o Universo estaria correndo perigo. Estaria aberto o caminho para que o pecado com toda a sua miséria se perpetuasse. CCn 40 1 Antes da queda, Adão podia apresentar um caráter justo, mediante a obediência à lei de Deus. Mas ele fracassou e, por causa do seu pecado, nossa natureza se acha decaída e não podemos, por nós mesmos, alcançar a justiça. Pelo fato de sermos pecadores, profanos, somos incapazes de obedecer perfeitamente à santa lei. Não possuímos em nós mesmos a justiça necessária para satisfazer as exigências da lei de Deus. Mas Cristo providenciou uma solução. Ele viveu na Terra em meio a provas e tentações iguais às que temos de enfrentar. E viveu sem pecar. Morreu por nós, e agora Se oferece para tirar-nos os pecados e dar-nos Sua justiça. Ao entregar-se a Ele, aceitando-O como seu Salvador, você, por causa dEle, será considerado justo, não importa quão pecaminosa possa ter sido a sua vida. O caráter de Cristo substituirá o seu caráter, e você será aceito diante de Deus como se não houvesse pecado. CCn 40 2 Além de tudo isso, Cristo transformará o seu coração; e ali, pela fé, Ele vai habitar. Por meio da fé e de uma contínua submissão de sua vontade a Ele, você deve manter essa ligação com Cristo. Assim fazendo, Ele operará em você o querer e o fazer, segundo a Sua vontade. Você poderá dizer: "Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim". Gálatas 2:20. Assim disse Jesus aos Seus discípulos: "Não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós". Mateus 10:20. Assim, através de Cristo, você manifestará o mesmo espírito e as mesmas boas obras -- obras de justiça e obediência. Portanto, nada temos pelo que nos vangloriar, nenhum motivo para exaltação própria. Nossa única razão para a esperança está na justiça de Cristo que nos é imputada, como resultado da obra do Espírito Santo, o qual atua em nós e por nosso intermédio. CCn 40 3 Quando falamos em fé, devemos ter em mente que existe uma distinção. Existe uma espécie de crença que é totalmente diferente da fé. A existência e o poder de Deus, a veracidade de Sua Palavra, são fatos que nem Satanás e suas hostes podem sinceramente negar. A Bíblia diz que "os demônios crêem e tremem". Tiago 2:19. Mas isso não é fé. Onde existe não só a crença na Palavra de Deus, mas também uma submissão da vontade a Ele; onde o coração é entregue e as afeições são nEle concentradas, aí existe fé -- uma fé que opera por meio do amor e que purifica o coração. Mediante esta fé, o coração é renovado à imagem de Deus. E o coração que, em seu estado não regenerado, não se submete à lei de Deus, nem o consegue, agora alegra-se nos Seus santos preceitos, e exclama como o salmista: "Quanto amo a Tua lei! É a minha meditação, todo o dia!". Salmos 119:97. E a justiça da lei se cumpre em nós, "que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito". Romanos 8:4. CCn 41 1 Há os que já conheceram o poder perdoador de Cristo e que realmente desejam ser filhos de Deus, mas percebem que seu caráter é imperfeito, sua vida cheia de faltas, e chegam a duvidar se o seu coração já foi renovado pelo Espírito Santo. Gostaria de dizer para esses que não recuem em desespero. Muitas vezes, teremos que nos prostrar e chorar aos pés de Jesus por causa de nossas faltas e erros, mas não devemos desanimar. Mesmo se formos vencidos pelo inimigo, não seremos rejeitados nem abandonados por Deus. Não; Cristo está à destra de Deus, também intercedendo por nós. Diz o amado João: "Estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo". 1 João 2:1. E não nos esqueçamos das palavras de Cristo: "O próprio Pai vos ama". João 16:27. Ele deseja atraí-lo para Si, para que você possa ver Sua própria pureza e santidade refletidas em você. E se você se entregar, Aquele que começou em você a boa obra há de continuá-la até o dia de Jesus Cristo. Ore com mais fervor; creia mais plenamente. Deixemos de confiar em nossa própria força e passemos a confiar no poder do nosso Redentor. Então, louvaremos Aquele que é o vigor da nossa face. CCn 41 2 Quanto mais perto você estiver de Jesus, mas cheio de faltas se sentirá a seus próprios olhos, pois sua visão ficará mais clara, e suas imperfeições serão vistas em amplo e distinto contraste com a natureza perfeita de Cristo. Isso é prova de que os enganos de Satanás perderam seu poder, e que a influência vivificante do Espírito de Deus está lhe despertando. CCn 41 3 Quem não reconhece a própria pecaminosidade não consegue desenvolver um amor mais profundo por Jesus. A pessoa que é transformada pela graça de Cristo passará a admirar Seu caráter divino; mas o fato de não enxergar a própria deformidade moral é uma inequívoca evidência de que não tivemos uma visão da beleza e da excelência de Cristo. CCn 41 4 Quanto menos enxergarmos as próprias qualidades, tanto mais veremos a infinita pureza e a bondade do nosso Salvador. A percepção de nossa pecaminosidade nos conduz Àquele que pode, de fato, perdoar. E quando uma pessoa, ao perceber o seu desamparo, busca a Cristo, Ele revela-Se de maneira poderosa. Quanto mais percebermos nossa necessidade de chegar-nos a Ele e à Sua palavra, mais elevada será a visão que teremos de Seu caráter, e mais plenamente refletiremos Sua imagem. ------------------------Capítulo 8 -- O crescimento espiritual CCn 43 1 A transformação do coração, pela qual nos tornamos filhos de Deus, é chamada na Bíblia de novo nascimento. Também é comparada com a germinação da boa semente plantada pelo lavrador. Da mesma maneira, os que se converteram a Cristo devem, "como crianças recém-nascidas" (1 Pedro 2:2), crescer até a estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. Efésios 4:15. Como a boa semente plantada no campo, eles devem crescer e produzir fruto. Isaías diz que se chamarão "carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a Sua glória". Isaías 61:3. Essas ilustrações extraídas da natureza nos ajudam a entender melhor as profundas verdades da vida espiritual. CCn 43 2 Nem mesmo toda a sabedoria e habilidades do ser humano poderão produzir vida no menor objeto da natureza. É somente através da vida concedida pelo próprio Deus que uma planta ou um animal pode viver. Assim, é somente através da vida que vem de Deus que a vida espiritual é gerada no coração humano. A menos que uma pessoa nasça "de novo" (João 3:3), não poderá tornar-se participante da vida que Cristo veio dar. CCn 43 3 Como ocorre com a vida, assim acontece com o crescimento. É Deus quem faz o botão tornar-se flor e a flor, fruto. É pelo Seu poder que a semente se desenvolve, "primeiro a erva, depois, a espiga e, por fim, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. O profeta Oséias diz que Israel "florescerá como o lírio". Eles "serão vivificados como o cereal e florescerão como a vide". Oséias 14:5, 7. E Jesus nos convida a observar os lírios. Lucas 12:27. As plantas e flores não crescem pelo seu próprio cuidado, ansiedade ou esforço, mas por receberem aquilo que Deus fornece para lhes dar vida. A criança não pode, por um desejo ou poder próprio, aumentar sua estatura. Nem você tem como garantir seu crescimento espiritual por meio da sua vontade ou poder. A planta e as crianças crescem recebendo do seu ambiente aquilo que é necessário para a vida -- ar, luz do sol e alimento. O que esses dons da natureza representam para os animais e as plantas, também Cristo representa para os que confiam nEle. Ele é sua "luz perpétua" (Isaías 60:19), seu "sol e escudo". Salmos 84:11. Ele será "para Israel como orvalho". Oséias 14:5. Será "como chuva que desce sobre a campina ceifada". Salmos 72:6. Ele é a água viva, "o pão de Deus [...] que desce do céu e dá vida ao mundo". João 6:33. CCn 44 1 No incomparável dom do Seu Filho, Deus envolveu o mundo inteiro com uma atmosfera de graça tão real como o ar que circunda o globo. Todos os que escolherem respirar essa atmosfera vivificadora viverão e crescerão, alcançando a estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. CCn 44 2 Assim como a flor volta-se para o sol, para que seus brilhantes raios possam ajudá-la a aperfeiçoar sua beleza e simetria, assim devemos volver-nos para o Sol da Justiça, para que a luz do Céu brilhe sobre nós e nosso caráter seja desenvolvido à semelhança de Cristo. CCn 44 3 Jesus ensina a mesma coisa ao dizer: "Permanecei em Mim, e Eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em Mim. [...] Sem Mim nada podeis fazer". João 15:4, 5. Para viver uma vida santificada, você é tão dependente de Cristo como o ramo depende do tronco para crescer e frutificar. Separado de Cristo, você não tem vida. Não tem poder para resistir à tentação ou crescer na graça e na santidade. Permanecendo nEle, você vai florescer. Se sua vida estiver ligada a Ele, você não murchará nem deixará de produzir frutos. Será como uma árvore plantada junto a fontes de águas. CCn 44 4 Muitos pensam que devem fazer sozinhos uma parte do trabalho. Confiaram em Cristo para obter o perdão de seus pecados, mas agora procuram viver retamente através de seus próprios esforços. Mas esse esforço é em vão. Jesus diz: "Sem Mim nada podeis fazer." Nosso crescimento na graça, nossa alegria, nossa utilidade -- tudo depende de nossa união com Cristo. É pela comunhão com Ele, todo dia, toda hora, permanecendo nEle, que crescemos na graça. Ele não é somente o Autor, mas também o Consumador da nossa fé. Cristo deve ser o primeiro e o último. Ele deve estar conosco não apenas no começo e no fim da nossa carreira, mas a cada passo do caminho. Davi disse: "O Senhor, tenho-O sempre à minha presença; estando Ele à minha direita, não serei abalado". Salmos 16:8. CCn 44 5 Você pergunta: "Como posso permanecer em Cristo?" Da mesma maneira como você O recebeu a princípio. "Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle". Colossences 2:6. "O [...] justo viverá pela fé". Hebreus 10:38. Você se entregou a Deus para pertencer inteiramente a Ele, para servi-Lo e obedecer-Lhe, como também aceitou Cristo como seu Salvador. Você não pode, por si mesmo, redimir-se dos próprios pecados ou transformar seu coração; mas entregando-se a Deus, você crê que Ele, por amor de Cristo, fez tudo isso por você. Pela fé, você passou a ser de Cristo, e pela fé, deve nEle crescer -- dando e recebendo. Você tem de entregar-Lhe tudo -- o coração, a vontade, a disposição de servir. Deve dar-se, enfim, a si mesmo para então obedecer a todos os Seus mandamentos. Você receberá tudo -- Cristo, a plenitude de todas as bênçãos, para habitar em seu coração, ser sua força, justiça e esperança eterna -- para que tenha o poder necessário para obedecer. CCn 45 1 Consagre-se a Deus pela manhã; faça disso a sua primeira atividade. E ore: "Toma-me, ó Senhor, para ser Teu inteiramente. Deponho todos os meus planos a Teus pés. Usa-me hoje para o Teu serviço. Fica comigo, e que tudo o que eu fizer seja operado por Ti." Essa é uma questão diária. Cada manhã consagre-se a Deus para aquele dia. Entregue-Lhe todos os seus planos para saber se devem ser levados avante ou não, de acordo com o que Sua providência indicar. Assim, dia após dia, você poderá entregar sua vida nas mãos de Deus, e ela será cada vez mais moldada segundo a vida de Cristo. CCn 45 2 A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas deve existir uma confiança constante e tranqüila. Sua esperança não está em si mesmo, mas em Cristo. Sua fraqueza está ligada à Sua força; sua ignorância, à Sua sabedoria; sua fragilidade, ao Seu eterno poder. Por isso, não olhe para você mesmo. Não permita que seus pensamentos fiquem centralizados no próprio eu, mas olhe para Cristo. Pense em Seu amor, Sua beleza e na perfeição do Seu caráter. Cristo em Sua abnegação, Cristo em Sua humilhação, Cristo em Sua pureza e santidade, Cristo em Seu incomparável amor -- esse é o tema para sua meditação. E ao amá-Lo, imitá-Lo e depender inteiramente dEle é que você se transforma à Sua semelhança. CCn 45 3 Jesus disse: "Permanecei em Mim." Essas palavras transmitem a idéia de descanso, estabilidade e confiança. Outra vez Ele convida: "Vinde a Mim, [...] e Eu vos aliviarei". Mateus 11:28. As palavras do salmista expressam o mesmo pensamento: "Descansa no Senhor e espera nEle". Salmos 37:7. E Isaías dá a certeza: "Na tranqüilidade e na confiança, [está] a vossa força". Isaías 30:15. Este descanso não está na inatividade, pois no convite do Senhor a promessa de descanso vem junto com um chamado ao trabalho: "Tomai sobre vós o Meu jugo [...] e achareis descanso". Mateus 11:29. O coração que descansa de maneira plena em Deus será o mais empenhado no trabalho ativo por Ele. CCn 45 4 Quando os pensamentos estão concentrados no próprio eu, eles afastam-se de Cristo, a fonte de vida e poder. Por isso, Satanás empenha-se em fazer com que as pessoas desviem o pensamento do Salvador, evitando a união e a comunhão do ser humano com Cristo. Os prazeres do mundo, as preocupações, perplexidades e tristezas da vida, as falhas dos outros, ou as próprias falhas e imperfeições -- todas essas coisas são por ele utilizadas para desviar o pensamento do Salvador. Não se deixe enganar por esses ardis. Muitas pessoas que são realmente conscienciosas, e que desejam viver para Deus, também são por ele levadas a pensar nas próprias faltas e fraquezas. Assim fazendo, ele consegue separá-las de Cristo e obter a vitória. Não devemos fazer de nós mesmos o centro, dando lugar à ansiedade e ao medo de não sermos salvos. Tudo isso afasta o coração da fonte de nossa força. Fale de Jesus; pense nEle. Que o próprio eu se perca nEle. Afaste toda dúvida; esqueça seus temores. Como o apóstolo Paulo, diga: "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim". Gálatas 2:20. Descanse em Deus. Ele pode guardar aquilo que você Lhe confiou. Colocando-se em Suas mãos, Ele fará com que você seja mais do que vencedor por Aquele que o amou. CCn 46 1 Quando Se revestiu da natureza humana, Cristo ligou a Si a humanidade com um laço de amor que nunca pode ser desfeito por poder algum, exceto a escolha do próprio homem. Satanás sempre estará tentando nos seduzir para desfazermos esse laço, escolhendo separar-nos de Cristo. É aqui que precisamos vigiar, lutar e orar, para que nada nos induza a escolher outro mestre; pois seremos sempre livres para assim fazer. Mas fixemos nossos olhos em Cristo e Ele nos preservará. Se olharmos para Jesus, estaremos a salvo. Nada pode arrancar-nos de Sua mão. Contemplando-O constantemente, "somos transformados, de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito". 2 Coríntios 3:18. CCn 46 2 Foi dessa maneira que os primeiros discípulos alcançaram a semelhança com o amado Salvador. Quando ouviram as palavras de Jesus, esses discípulos sentiram a necessidade que tinham dEle. Eles O buscaram, O encontraram e O seguiram. Estavam com Jesus em casa, à mesa, nos aposentos mais reservados e no campo. Estavam com Ele como alunos e seu professor, recebendo diariamente de Seus lábios lições da santa verdade. Olhavam para Ele como servos para seu senhor, para saber o que tinham a fazer. Esses discípulos eram homens sujeitos "aos mesmos sentimentos" que temos. Tiago 5:17. Como nós, também tinham que lutar contra o pecado. Precisavam da mesma graça para viver uma vida santificada. CCn 46 3 Mesmo João, o discípulo amado, aquele que melhor refletiu a semelhança do Salvador, não possuía naturalmente esse caráter amável. Não somente era arrogante e ambicioso por honras, como também era impetuoso e ressentido ao ser ofendido. Mas ao manifestar-se o caráter do que é Divino, ele viu sua deficiência e, reconhecendo isso, humilhou-se. A força e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e a mansidão que contemplava na vida diária do Filho de Deus enchiam sua alma de admiração e amor. Dia após dia, o seu coração era atraído para Cristo, até perder de vista a si próprio, por amor ao Seu mestre. Seu temperamento ressentido e ambicioso deu lugar ao poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito Santo renovou seu coração. O poder do amor de Cristo operou a transformação do seu caráter. Esse é o resultado da união com Jesus. Quando Cristo habita o coração, toda a natureza é transformada. O Espírito de Cristo e Seu amor abrandam o coração, subjuga a alma e eleva os pensamentos e desejos para Deus e o Céu. CCn 46 4 Quando Cristo subiu ao Céu, Seus seguidores ainda sentiam Sua presença. Era uma presença pessoal, cheia de amor e luz. Jesus, o Salvador, Aquele que andara, falara e orara com eles, que lhes trouxera palavras de esperança e conforto ao coração, estava sendo levado para o Céu. Ao subir, Seus lábios ainda proferiam a mensagem de paz. Enquanto uma nuvem de anjos O recebia, os discípulos ouviam o som da Sua voz: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século". Mateus 28:20. Ele subiu ao Céu em forma humana. Os discípulos sabiam que Ele estava diante do trono de Deus ainda como seu Amigo e Salvador. Sabiam que Sua simpatia ainda era a mesma e que ainda Se identificava com o sofrimento da humanidade. Ele estava apresentando diante de Deus os méritos do Seu precioso sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, em memória do preço que pagou por Seus remidos. Sabiam que Ele subira ao Céu para preparar um lugar para eles, e que viria outra vez para levá-los para Si. CCn 47 1 Ao reunirem-se depois da ascensão, eles estavam ansiosos por apresentar suas petições para o Pai em nome de Jesus. Reverentemente, prostraram-se em oração, repetindo a promessa: "Se pedirdes alguma coisa ao Pai, Ele vo-la concederá em Meu nome. Até agora nada tendes pedido em Meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa". João 16:23, 24. Os discípulos erguiam cada vez mais alto a mão da fé, apresentando o poderoso argumento: "É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós". Romanos 8:34. E o Pentecostes trouxe a presença do Consolador, de quem Cristo disse: Ele "estará em vós". João 14:17. Mais tarde, Ele disse: "Convém que Eu vá, porque, se Eu não for, o Consolador não virá para vós outros". João 16:7. Daí por diante, por meio do Espírito, Cristo habitaria continuamente no coração de Seus filhos. Sua união com Ele passou a ser então mais íntima do que quando Ele estava pessoalmente com eles. A luz, o amor e o poder do Cristo que habitava neles se refletiam em sua vida, de modo que as pessoas, ao vê-los, "admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus". Atos dos Apóstolos 4:13. CCn 47 2 Tudo o que Cristo era para os discípulos, Ele deseja ser para os Seus filhos hoje; pois na última oração, com o pequeno grupo de discípulos ao Seu redor, Ele disse: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da sua palavra". João 17:20. CCn 47 3 Jesus orou por nós, pedindo para que pudéssemos ser um com Ele, assim como Ele é um com o Pai. Que união extraordinária! Disse o Salvador a respeito de Si mesmo: "O Filho nada pode fazer de Si mesmo"; "o Pai, que permanece em Mim, faz as Suas obras". João 5:19; 14:10. Assim, se Cristo habitar em nosso coração, Ele operará em nós "tanto o querer como o realizar". Filipenses 2:13. Trabalharemos como Ele trabalhou; manifestaremos o mesmo espírito. E assim, amando-O e nEle habitando, "cresçamos em tudo nAquele que é a cabeça, Cristo". Efésios 4:15. ------------------------Capítulo 9 -- O prazer de testemunhar CCn 49 1 Deus é a fonte de vida, luz e alegria do Universo. Como raios de luz solar, como correntes de água jorrando de uma fonte viva, assim as bênçãos que procedem de Deus alcançam a todas as criaturas. E onde quer que a vida de Deus se encontre no coração das pessoas, ela atingirá outros com amor e bênção. CCn 49 2 A alegria do nosso Salvador está em erguer e redimir homens e mulheres que caíram. Para isso, Ele desprezou a própria vida, suportou a cruz e a humilhação. Assim também os anjos estão empenhados em proporcionar felicidade para as pessoas. Nisso eles se alegram. Aquilo que corações egoístas considerariam um serviço humilhante -- ajudar os desgraçados que, em todos os sentidos, são inferiores a eles no caráter e na posição -- é a tarefa dos santos anjos. O espírito do amor abnegado de Cristo é o espírito que existe no Céu e a essência da alegria que existe ali. Esse é o espírito que os seguidores de Cristo deverão possuir para fazer a obra que lhes está confiada. CCn 49 3 Quando o amor de Cristo está no coração, como um bom perfume, ele não pode ficar escondido. Sua santa influência é sentida por todos os que entram em contato com ele. O espírito de Cristo no coração é como uma fonte no deserto que, com suas águas, refrigera todos, e desperta naqueles que estão prestes a perecer o desejo de beber da água da vida. CCn 49 4 O amor por Jesus será demonstrado através do desejo de trabalhar como Ele trabalhou para abençoar e erguer a humanidade. Ele fará com que sintamos amor, ternura e simpatia para com todas as criaturas do Pai celestial. CCn 49 5 A vida do Salvador na Terra não foi de comodidade e dedicação aos próprios interesses; pelo contrário, ele atuava com persistente e fervoroso esforço pela salvação da humanidade perdida. Da manjedoura até o Calvário, Ele trilhou o caminho da abnegação, enfrentando tarefas árduas, viagens cansativas e exaustivas preocupações. Ele disse: "O Filho do homem [...] não veio para ser servido, mas para servir". Mateus 20:28. Esse era o único e grande objetivo de Sua vida. Tudo o mais eram secundário e menos importante. Sua comida e Sua bebida eram fazer a vontade de Deus e terminar Sua obra. A satisfação do próprio eu e o interesse em Si mesmo não faziam parte dos Seus objetivos. CCn 49 6 Assim também, os participantes da graça de Cristo estarão prontos para qualquer sacrifício, para que outros por quem Ele morreu possam receber esse dom celestial. Eles farão tudo o que puderem para transformar o mundo num lugar melhor para que nele todos possam viver. Esse espírito é o legítimo resultado de um coração verdadeiramente convertido. Tão logo uma pessoa aceita a Cristo, em seu coração nasce um desejo de apresentar aos outros o precioso amigo que encontrou em Jesus Cristo; a verdade salvadora e santificadora não pode ficar escondida em seu coração. Se estivermos revestidos da justiça de Cristo e cheios da alegria que o Seu Espírito produz, será impossível nos contermos. Se já provamos e vimos que o Senhor é bom, teremos alguma coisa a dizer. Como Felipe, ao encontrarmos o Salvador, convidaremos outros para a Sua presença. Procuraremos apresentar-lhes os atrativos de Cristo e as realidades do mundo por vir, as quais ninguém ainda viu. Haverá um intenso desejo de seguir pelo caminho que Jesus andou. Haverá um fervoroso anseio de que aqueles ao nosso redor possam contemplar "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. CCn 50 1 O esforço para levar bênçãos aos outros redundará em bênçãos sobre nós mesmos. Esse foi o propósito de Deus ao dar-nos uma parte para ser desempenhada no plano da redenção. Ele concedeu ao ser humano o privilégio de tornar-se participante da natureza divina e de compartilhar as bênçãos com seus semelhantes. Essa é a honra mais elevada e a maior das alegrias que Deus pode conceder ao ser humano. Os que se tornam, desse modo, participantes de manifestações de amor são levados para mais perto de seu criador. CCn 50 2 Deus poderia ter confiado aos anjos celestiais a mensagem do evangelho e todo o trabalho de ministrar amor. Poderia ter empregado outros meios para cumprir Seu propósito. Mas, em Seu infinito amor, Ele preferiu tornar-nos cooperadores Seus, juntamente com Cristo e os anjos, para que pudéssemos partilhar das bênçãos, da alegria e do enlevo espiritual que resultam desse ministério altruísta. CCn 50 3 Ao meditarmos nos sofrimentos de Cristo, passamos a manter uma maior proximidade dEle. Cada ato de renúncia própria pelo bem dos outros fortalece o espírito de beneficência no coração do doador, ligando-o mais estreitamente ao Redentor do mundo, o qual, "sendo rico, Se fez pobre por amor de vós, para que, pela Sua pobreza, vos tornásseis ricos". 2 Coríntios 8:9. À medida que cumprimos o propósito divino ao nos criar é que a vida se torna uma bênção para nós. CCn 50 4 Se você agir como Cristo determinou a Seus discípulos, e levar outras pessoas até Ele, sentirá a necessidade de uma experiência ainda mais profunda e de um conhecimento maior das coisas divinas. Você terá fome e sede da justiça. Rogará a Deus, e sua fé será fortalecida. Com grande interesse, beberá da fonte da salvação. A oposição e as provações que encontrar o conduzirão para a Bíblia e a oração. Você crescerá na graça e no conhecimento de Cristo e desenvolverá uma rica experiência. CCn 51 1 O espírito de trabalho desinteressado pelos outros proporciona profundidade, estabilidade e amabilidade cristã ao caráter, trazendo paz e felicidade ao que o possui. As aspirações são as mais elevadas. Não há lugar para a preguiça ou egoísmo. Os que desse modo exercitam as graças cristãs crescerão e se tornarão fortes para trabalhar para Deus. Terão uma percepção espiritual mais clara, fé constante e crescente, e um poder cada vez maior na oração. O Espírito de Deus atuando em seu coração desperta as sagradas harmonias da alma em resposta ao toque divino. Os que se dedicam ao esforço desinteressado pelo bem dos outros estarão, certamente, contribuindo para a própria salvação. CCn 51 2 A única maneira de crescer na graça é fazer, de maneira desinteressada, o próprio trabalho que Cristo nos ordenou -- empenhar-nos na medida da nossa habilidade em ajudar e abençoar os que precisam do auxílio que podemos dar. A força se desenvolve pelo exercício; a atividade é uma condição para a sobrevivência. Os que procuram manter a vida cristã aceitando passivamente as bênçãos concedidas por meio da graça, e nada fazem por Cristo, estão simplesmente tentando viver apenas do alimento, sem exercitar-se. E no mundo espiritual, como também no material, isso sempre resulta em degeneração e ruína. Uma pessoa que se recusa a exercitar seus membros em breve perderá a capacidade de usá-los. Da mesma maneira, o cristão que não exercitar os poderes dados por Deus não somente deixará de crescer em Cristo, como também perderá a força que já adquiriu. CCn 51 3 A igreja de Cristo é a agência designada para a salvação do ser humano. Sua missão é levar o evangelho ao mundo. E essa obrigação repousa sobre os ombros de todos os cristãos. Todos, na medida do seu talento e das oportunidades que lhes são dadas, devem cumprir a ordem do Salvador. O amor de Cristo a nós revelado nos torna devedores a todos que não O conhecem. Deus nos deu luz não apenas para que a retivéssemos conosco, mas para que a espalhássemos sobre eles. CCn 51 4 Se os seguidores de Cristo estivessem atentos para os seus deveres, onde hoje há apenas um, haveria milhares proclamando o evangelho nos países não-cristãos. Todos os que não estivessem envolvidos pessoalmente com o trabalho iriam sustentá-lo com seus meios, sua simpatia e suas orações. E nos países cristãos haveria muito mais trabalho dedicado em favor das pessoas. CCn 51 5 Não precisamos ir aos países mais distantes, nem mesmo deixar o estreito círculo familiar, se ali for o lugar em que devemos cumprir nosso dever, a fim de testemunhar de Cristo. Podemos fazer isso dentro do círculo familiar, na igreja, entre aqueles com quem nos relacionamos e com quem temos relações comerciais. CCn 51 6 Nosso Salvador passou a maior parte de Sua vida na Terra trabalhando pacientemente na carpintaria em Nazaré. Anjos ministradores assistiam o Senhor da vida enquanto Ele andava lado a lado com camponeses e trabalhadores, sem que ninguém O reconhecesse ou honrasse. Ele cumpria tão fielmente Sua missão tanto ao trabalhar em Seu humilde ofício quanto ao curar os enfermos ou andar sobre as ondas do tempestuoso mar da Galiléia. Assim, nas posições mais simples e humildes da vida, também devemos andar e trabalhar como Jesus. CCn 52 1 Diz o apóstolo: "Cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado". 1 Coríntios 7:24. O homem de negócios pode conduzir suas transações comerciais de maneira a glorificar o seu Mestre por causa da sua fidelidade. Se for um verdadeiro seguidor de Cristo, mostrará sua religião em tudo que fizer e revelará para as pessoas o espírito de Cristo. O operário pode ser um representante diligente e fiel dAquele que fazia trabalhos humildes entre as colinas da Galiléia. Todo aquele que leva o nome de Cristo deve trabalhar de tal modo que os outros, ao verem suas boas obras, possam ser levados a glorificar o Criador e Redentor. CCn 52 2 Muitos têm se recusado a dedicar seus dons ao serviço de Cristo porque outros possuem dons e vantagens superiores. Tem prevalecido a opinião de que apenas aos que têm talentos especiais se requer que consagrem suas habilidades para o serviço de Deus. Muitos até acham que os talentos são dados apenas a certas classes favorecidas, em detrimento de outros que, naturalmente, não são chamados para participar nem dos trabalhos nem das recompensas. Mas não é isso que está representado na parábola. Quando o senhor da casa chamou seus servos, ele deu a cada um o seu trabalho. CCn 52 3 Com espírito amável podemos desempenhar até as tarefas mais humildes "como para o Senhor". Colossences 3:23. Se o amor de Deus estiver no coração, ele se manifestará na vida. O suave perfume de Cristo nos envolverá e nossa influência será para o enlevo e bênção dos que nos cercam. CCn 52 4 Você não deve esperar ocasiões especiais ou desejar ter habilidades extraordinárias antes de ir trabalhar para Deus. Não precisa preocupar-se com o que o mundo pensará de você. Se a sua vida diária for um testemunho da pureza e sinceridade de sua fé e se os outros estiverem convencidos de que você deseja o bem deles, seus esforços não serão em vão. CCn 52 5 Os mais humildes e mais pobres dos discípulos de Jesus podem ser uma bênção para outros. Eles podem nem perceber que estão fazendo o bem, mas por sua influência, ainda que inconsciente, podem iniciar ondas de bênçãos que irão se alargando e se aprofundando. Os abençoados resultados podem também não ser reconhecidos até o dia da recompensa final. Nem notam que estão fazendo alguma coisa grande. Não devem ainda ficar ansiosos por obter sucesso. Precisam apenas prosseguir adiante tranqüilamente, fazendo o trabalho que a providência de Deus lhes determine, e sua vida não terá sido em vão. Sua experiência e realização crescerão cada vez mais à semelhança de Cristo; são colaboradores de Deus nesta vida e, por essa razão, estão preparados para a obra mais elevada e a verdadeira felicidade da vida por vir. ------------------------Capítulo 10 -- O conhecimento de Deus CCn 53 1 São muitas as maneiras com que Deus está procurando revelar-Se para nós e colocar-nos em comunhão com Ele. Sem cessar, a natureza fala aos nossos sentidos. O coração aberto será impressionado pelo amor e glória de Deus revelados através das obras de Suas mãos. O ouvido atento pode ouvir e entender os comunicados de Deus através das coisas da natureza. Os campos verdejantes, as árvores frondosas, as flores em botão, as nuvens passageiras, a chuva, o córrego sussurrante, as glórias dos Céus, tudo isso fala ao nosso coração e nos convida a conhecer Aquele que tudo criou. CCn 53 2 Nosso Salvador enriquecia Seus preciosos ensinos com coisas da natureza. As árvores, os pássaros, as flores dos vales, as colinas, os lagos e o lindo céu, bem como os incidentes e o ambiente da vida diária, tinham conexão com as palavras da verdade, de modo que Suas lições pudessem sempre ser lembradas, mesmo em meio às preocupações e cuidados da vida. CCn 53 3 Deus queria que Seus filhos apreciassem Suas obras e que se deleitassem na beleza simples e tranqüila com a qual Ele enfeitou nosso lar terrestre. Ele é um amante do que é belo e, acima daquilo que é exteriormente atrativo, Ele ama a beleza do caráter; e deseja que cultivemos a pureza e a simplicidade, como a beleza singela das flores. CCn 53 4 Basta que estejamos atentos, e as obras criadas por Deus nos ensinarão lições preciosas de obediência e confiança. Desde as estrelas que, em seus inexplicáveis trajetos através do espaço, percorrem, século após século, os caminhos a elas designados, até o minúsculo átomo, as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustenta tudo o que criou. Aquele que mantém os incontáveis mundos através da imensidão do Universo também Se preocupa com as necessidades do pequeno pardal que, sem qualquer temor, eleva seus humildes gorjeios. Quando as pessoas saem para trabalhar, quando se entregam à oração, quando se deitam à noite para dormir e quando se levantam pela manhã; quando o rico dá uma festa em sua mansão ou quando o pobre reúne seus filhos em volta de uma mesa escassa, em qualquer situação, o Pai celestial observa com ternura cada um dos Seus filhos. Nenhuma lágrima é derramada sem que Deus saiba. Não há sorriso que Ele não perceba. CCn 54 1 Se acreditássemos plenamente nisso, todas as ansiedades indevidas desapareceriam. Nossa vida não seria cheia de decepções como agora, pois todas as coisas, grandes ou pequenas, seriam entregues nas mãos de Deus, e Ele não fica perplexo por múltiplas preocupações, nem subjugado por seu peso. Poderíamos, então, desfrutar o descanso que muitos de nós, já faz muito, não encontramos. CCn 54 2 Enquanto nos deleitamos com as atraentes belezas da Terra, pensemos no mundo por vir, no qual jamais entrarão o pecado e a morte; onde a natureza nunca mais exibirá uma sombra da maldição. Imagine-se no lar dos que foram salvos, e lembre-se de que ele será mais glorioso do que a mais brilhante imaginação possa retratar. Nos variados dons de Deus vistos na natureza, vemos apenas um tênue fulgor de Sua glória. Está escrito: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam". 1 Coríntios 2:9. CCn 54 3 Poetas e cientistas têm muito a dizer sobre a natureza, mas são os cristãos que melhor apreciam as belezas que há na Terra, pois reconhecem a obra do Pai e percebem Seu amor em uma flor, em um arbusto ou uma árvore. Ninguém pode apreciar plenamente o significado da colina e do vale, do rio e do mar se não os contemplar como uma expressão do amor de Deus pelo ser humano. CCn 54 4 Deus nos fala através de Suas obras providenciais e da influência do Seu Espírito sobre o coração. Nas circunstâncias que enfrentamos, no ambiente em que vivemos e nas mudanças que ocorrem diariamente à nossa volta, podemos encontrar lições preciosas se nosso coração estiver aberto para discerni-las. O salmista, ao descrever o trabalho da providência divina, diz: "A terra está cheia da bondade do Senhor". Salmos 33:5. "Quem é sábio atente para essas coisas e considere as misericórdias do Senhor". Salmos 107:43. CCn 54 5 Deus nos fala por meio de Sua Palavra. É ali que encontramos em linhas mais claras a revelação do Seu caráter, da Sua maneira de tratar as pessoas e da grande obra da redenção. Ali, diante de nós, está a história dos patriarcas, dos profetas e de outros homens santos da antiguidade. Eram homens sujeitos "aos mesmos sentimentos". Tiago 5:17. Vemos que eles, assim como nós, lutaram com situações desanimadoras; vemos como caíram em tentação da mesma forma que também caímos e, no entanto, levantaram-se e venceram mediante a graça de Deus. Ao vermos esses exemplos, nos animamos em nossa luta para alcançar a justiça. Ao lermos sobre as preciosas experiências que lhes foram concedidas; a luz, o amor e as bênçãos que desfrutavam, e o trabalho efetuado através da graça que lhes era dada, o espírito que os inspirava acende em nosso coração uma chama que inspira em nós o desejo de sermos semelhantes a eles no caráter e de andarmos com Deus como eles andaram. CCn 55 1 Disse Jesus Cristo a respeito do Antigo Testamento -- e quanto mais isso é verdade a respeito do Novo -- que testificava sobre Ele, o Redentor, Aquele em quem está depositada nossa esperança de vida eterna. João 5:39. Sim, toda a Bíblia fala de Cristo. Desde o primeiro registro da criação -- pois "sem Ele, nada do que foi feito se fez" (João 1:3), até a promessa final, "Eis que venho sem demora" (Apocalipse 22:12) -- lemos sobre Suas obras e ouvimos Sua voz. Se você quiser conhecer o Salvador, estude as Santas Escrituras, a Bíblia. CCn 55 2 Encha o seu coração com as palavras de Deus. Elas são a água viva que irá saciar a sua sede. Elas são o pão vivo que vem do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o Seu sangue, não tendes vida em vós mesmos". João 6:53. De Si mesmo, Ele diz: "As palavras que Eu vos tenho dito são espírito e são vida". João 6:63. Nosso corpo é formado por aquilo que comemos e bebemos. Como acontece na vida física, assim também ocorre na vida espiritual: é aquilo em que meditamos que dará graça e força a nossa natureza espiritual. CCn 55 3 A redenção é um tema que os anjos apreciam estudar; e será a ciência e o cântico dos remidos através dos séculos infindáveis da eternidade. Não seria esse um assunto digno de cuidadoso estudo desde agora? A infinita misericórdia e amor de Jesus e o sacrifício feito em nosso favor requerem a reflexão mais séria e solene. Devemos dedicar tempo para pensar no caráter do nosso querido Redentor e Intercessor. Devemos meditar sobre a missão dAquele que veio salvar Seu povo de seus pecados. Ao meditarmos sobre temas celestiais, nossa fé e amor ficarão fortalecidos; nossas orações serão mais aceitáveis a Deus, pois estarão cada vez mais misturadas com fé e amor. Elas serão inteligentes e fervorosas. Haverá uma confiança mais constante em Jesus e uma experiência diária e viva com o Seu poder capaz de salvar todos os que vão a Deus por meio dEle. CCn 55 4 Ao meditarmos na perfeição do Salvador, desejaremos ser inteiramente transformados e renovados à imagem da Sua pureza. Teremos fome e sede de nos tornar iguais Àquele a quem adoramos. Quanto mais nossos pensamentos estiverem centralizados em Cristo, mais falaremos dEle para os outros e mais O representaremos perante o mundo. CCn 55 5 A Bíblia não foi escrita apenas para os eruditos; pelo contrário, destina-se às pessoas comuns. As grandes verdades necessárias para a salvação são apresentadas com a clareza do sol do meio-dia; ninguém errará nem se perderá no caminho, exceto os que seguirem seus próprios julgamentos, em vez da vontade revelada de Deus. CCn 55 6 Não devemos aceitar o testemunho de homem algum quanto aos ensinamentos das Escrituras, mas devemos estudar por nós mesmos as palavras de Deus. Se permitirmos que outros pensem por nós, nossa energia e as habilidades que adquirimos se atrofiarão. Os poderes nobres da mente poderão ficar tão debilitados pela falta de exercício nos temas que mereçam concentração que poderão perder a capacidade de compreender o profundo significado da Palavra de Deus. A mente se expandirá se for empregada para verificar como os assuntos da Bíblia se relacionam entre si, e na comparação de passagem com passagem e de coisas espirituais com coisas espirituais. CCn 56 1 Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum livro é tão capaz de elevar nossos pensamentos e dar vigor às faculdades como as grandiosas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como deveria ser, as pessoas teriam uma mente mais esclarecida, um caráter mais nobre e firmeza de propósito, coisas raramente vistas nos dias de hoje. CCn 56 2 É muito pequeno o benefício que se tira de uma leitura apressada da Bíblia. Pode-se ler a Bíblia inteira sem que se veja sua beleza ou se compreenda sua profundidade, nem seus significados escondidos. Tem mais valor uma passagem estudada até que seu significado fique claro, e sua relação com o plano da salvação se torne evidente, do que percorrer os olhos por vários capítulos sem um propósito definido e sem que se obtenha alguma instrução. Esteja sempre com sua Bíblia. Leia-a sempre que tiver oportunidade; decore as passagens. Mesmo andando pelas ruas, você pode ler uma passagem e meditar sobre ela, fixando-a na mente. CCn 56 3 Não podemos obter sabedoria sem fervorosa atenção e estudo acompanhado de oração. Algumas partes da Escritura são, efetivamente, bastante fáceis de entender, mas há outras cujo significado não está na superfície, de modo que possam ser entendidas na primeira leitura. As passagens devem ser comparadas umas com as outras. Deve haver cuidadosa pesquisa, reflexão e oração. Um estudo assim será ricamente recompensado. Como o garimpeiro que descobre veios de metais preciosos escondidos sob a superfície da terra, também aquele que, com perseverança, busca a palavra de Deus como se procurasse um tesouro escondido encontra verdades de grande valor, as quais estão escondidas daqueles que pesquisam de maneira descuidada. As palavras inspiradas, quando abrigadas no coração, serão como correntes jorrando da fonte da vida. CCn 56 4 A Bíblia nunca deveria ser estudada sem oração. Antes de abrir suas páginas, devemos pedir a iluminação do Espírito Santo, e a receberemos. Quando Natanael foi a Jesus, o Salvador exclamou: "Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!" Natanael perguntou: "Donde me conheces?" Ao que Jesus respondeu: "Antes de Filipe te chamar, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira". João 1:47, 48. Jesus nos verá também nos lugares secretos de oração se nEle buscarmos a luz que nos fará ver a verdade. Anjos de luz estarão com aqueles que, com humildade, buscarem orientação divina. CCn 56 5 O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. Sua missão é apresentar Cristo, a pureza da Sua justiça e a grande salvação que temos por meio dEle. Diz Jesus: "Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar". João 16:14. O Espírito de verdade é o único mestre eficaz da verdade divina. Quanto não deve Deus estimar a raça humana, a ponto de dar Seu Filho para morrer em seu lugar e designar Seu Espírito para ser seu mestre e guia constante! ------------------------Capítulo 11 -- O privilégio de falar com Deus CCn 59 1 É através da natureza, da revelação, de Sua providência e da influência do Seu Espírito que Deus nos fala. Mas isso não é suficiente; precisamos também entregar-Lhe o nosso coração. A fim de que tenhamos vida e energia espiritual, devemos ter uma relação viva com nosso Pai celestial. Podemos ter nossa mente atraída para Ele; podemos meditar em Suas obras, Sua misericórdia, Suas bênçãos; em um sentido mais amplo, todavia, isso não é comungar com Ele. Para comungar com Deus, devemos ter alguma coisa para dizer-Lhe a respeito da nossa vida. CCn 59 2 A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo. Não que isso seja necessário para que Deus saiba quem somos, mas para nos habilitar a recebê-Lo. A oração não faz Deus descer até nós, mas eleva-nos a Ele. CCn 59 3 Quando esteve na Terra, Jesus ensinou Seus discípulos a orar. Ele os instruiu a apresentar suas necessidades diárias perante Deus, e a lançar sobre Ele todas as suas preocupações. A certeza que lhes deu de que suas petições seriam ouvidas nos é dada também. CCn 59 4 O próprio Jesus, quando esteve na Terra, estava em constante oração. O Salvador identificou-Se com nossas necessidades e fraquezas, a ponto de tornar-Se um suplicante, buscando no Pai novos suprimentos de força, a fim de que pudesse sair fortalecido para enfrentar Seus deveres e provações. Ele é nosso exemplo em todas as coisas. É um irmão em nossas fraquezas, pois "como nós, em tudo foi tentado", mas sendo Aquele que nunca pecou, Sua natureza repelia o mal. Ele suportava as lutas e torturas de um mundo cheio de pecado. Sua humanidade fez da oração uma necessidade e um privilégio. Encontrava conforto e alegria na comunhão com o Pai. E se o Salvador da raça humana, o Filho de Deus, sentia a necessidade de oração, quanto mais deveriam frágeis e mortais pecadores sentir a necessidade de constante e fervorosa oração. CCn 59 5 Nosso Pai celestial deseja derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É nosso privilégio beber em grande medida da fonte de amor ilimitado. É surpreendente notar que oramos tão pouco! Deus está pronto e sempre disposto a ouvir a oração sincera do mais humilde de Seus filhos, e, apesar disso, há tanta relutância da nossa parte para levar-Lhe nossas necessidades. O que pensarão os anjos celestiais desses pobres homens e mulheres, seres sujeitos à tentação, quando o coração de Deus, infinito em amor, inclina-se para eles, pronto a dar-lhes mais do que podem pedir ou pensar, e eles oram tão pouco e têm uma fé tão pequenina? Os anjos se comprazem em prostrar-se diante de Deus e ficar perto dEle. Eles consideram a comunhão com Deus sua maior alegria. Contudo, os habitantes da Terra, que tanto precisam da ajuda que somente Deus pode dar, parecem satisfeitos em andar sem a luz do Seu Espírito e a companhia de Sua presença. CCn 60 1 As trevas do maligno envolvem os que negligenciam a oração. As tentações sussurradas pelo inimigo os levam a pecar; e tudo isso porque não se utilizam dos privilégios que Deus lhes deu, os quais advêm da oração. Por que deveriam os filhos e filhas de Deus ser relutantes em orar, quando a oração é a chave nas mãos do crente para abrir os depósitos do Céu, onde estão armazenados os ilimitados recursos da Onipotência? Sem oração constante e perseverante vigilância, corremos o risco de ficar cada vez mais descuidados, e de desviar-nos do caminho reto. O adversário procura continuamente obstruir o caminho para o trono de misericórdia para que não obtenhamos, por meio da súplica e fé, graça e poder para resistir à tentação. CCn 60 2 Existem certas condições para que possamos esperar que Deus ouça e responda nossas orações. Uma das primeiras é sentir nossa necessidade do Seu auxílio. Ele prometeu: "Derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca". Isaías 44:3. Os que têm fome e sede de justiça, os que anseiam por Deus, podem estar certos de que serão satisfeitos. O coração deve abrir-se à influência do Espírito, ou não receberá as bênçãos de Deus. CCn 60 3 Nossa grande necessidade é, por si mesma, um argumento, e intercede eloqüentemente em nosso favor. Mas é necessário que busquemos ao Senhor para que Ele faça essas coisas por nós. Ele diz: "Pedi, e dar-se-vos-á". Mateus 7:7. E "Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. CCn 60 4 Se mantivermos iniqüidade em nosso coração, se nos apegarmos a algum pecado de maneira consciente, o Senhor não nos ouvirá; mas a oração que vem do coração arrependido e contrito será sempre aceita. Quando todas as faltas conhecidas forem corrigidas, podemos acreditar que Deus responderá nossos pedidos. Nossos próprios méritos jamais nos recomendarão ao favor de Deus; é o mérito de Jesus que nos salvará, Seu sangue é que nos purificará. Uma parte, todavia, temos que desempenhar para cumprir as condições da aceitação. CCn 60 5 Outro elemento da oração perseverante é a fé. "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que O buscam". Hebreus 11:6. Disse Jesus aos Seus discípulos: "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco". Marcos 11:24. Aceitamos verdadeiramente essa oferta? CCn 61 1 A certeza é ampla e ilimitada. Aquele que prometeu é fiel. Se não recebemos as coisas que pedimos, e no tempo desejado, é porque ainda não cremos que o Senhor ouve e responde nossas orações. Temos tantas falhas, somos tão míopes, que às vezes pedimos coisas que não serão bênçãos para nós, e nosso Pai celestial, por amar-nos, responde nossas orações dando-nos aquilo que será para o nosso maior bem -- aquilo que nós mesmos desejaríamos, se nossa visão fosse divinamente iluminada e pudéssemos ver todas as coisas como elas realmente são. Quando nossas orações parecem não ter resposta, devemos apegar-nos à promessa, pois o momento da resposta chegará e receberemos a bênção de que mais necessitamos. Entretanto, dizer que a oração sempre será respondida do jeito que desejamos é presunção. Deus é demasiadamente sábio para errar e extremamente bom para deixar de conceder o melhor aos que andam em retidão. Por isso, não tenha medo de confiar nEle, mesmo que não veja resposta imediata para suas orações. Apóie-se sobre Sua fiel promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á." CCn 61 2 Se dermos lugar a nossas dúvidas e medos, ou tentarmos resolver tudo aquilo que não vemos claramente, antes de ter fé, as perplexidades apenas aumentarão e se aprofundarão. Mas se nos voltarmos para Deus tal como somos, convencidos do nosso desamparo e dependência; se, com humildade e confiante fé, levarmos nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, que tudo vê em Sua criação e que tudo governa por Sua vontade e palavra, então Ele atenderá nosso clamor e fará com que Sua luz brilhe em nosso coração. Por meio da oração sincera, somos ligados com a mente do Infinito. Pode ser que não vejamos as fortes evidências ao contemplarmos o rosto do nosso Redentor, ao Ele curvar-Se sobre nós em compaixão e amor, mas é isso que realmente acontece. Podemos não sentir o Seu toque, mas Sua mão compassiva e amorosa está sobre nós. CCn 61 3 Quando vamos a Deus para pedir-Lhe misericórdia e bênçãos, devemos ter um espírito de amor e perdão em nosso coração. Como podemos orar "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores" (Mateus 6:12), se alimentamos um espírito incapaz de perdoar? Se esperamos que nossas orações sejam ouvidas, devemos perdoar os outros da mesma maneira que esperamos ser perdoados. CCn 61 4 Perseverar em oração é a condição para receber. Devemos orar sempre, se quisermos crescer em nossa fé e experiência. Devemos ser perseverantes na oração (Romanos 12:12) e vigiar "com ações de graças". Colossences 4:2. Pedro exorta os crentes a serem "sóbrios a bem das vossas orações". 1 Pedro 4:7. Paulo orienta: "Sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça". Filipenses 4:6. "Vós, porém, amados", diz Judas, "orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus". Judas 20, 21. A oração incessante é a inquebrantável união da alma com Deus, para que a vida que vem de Deus flua para a nossa vida; e, da nossa vida, pureza e santidade fluam de volta para Deus. CCn 62 1 É necessário que sejamos diligentes em orar; não permita que nada o atrapalhe. Faça todo esforço para manter ativa a comunhão entre Jesus e o seu próprio coração. Aproveite todas as oportunidades para ir aonde se costuma orar. Os que estão realmente buscando comungar com Deus serão vistos em reuniões de oração, fiéis ao seu dever, fervorosos e ansiosos para colher todos os benefícios possíveis. Aperfeiçoarão cada oportunidade de colocar-se onde possam receber os raios de luz do Céu. CCn 62 2 Devemos orar em família, mas, acima de tudo, não devemos negligenciar a oração secreta, pois é ela que sustenta nossa vida espiritual. É impossível que a espiritualidade de uma pessoa floresça se a oração for negligenciada. Não basta orar em família e em público. Sozinho, abra o coração aos olhos perscrutadores de Deus. A oração secreta deve ser ouvida unicamente por Ele -- Aquele que ouve toda oração. Nenhum ouvido curioso deve receber o fardo dessas preces. Na oração secreta, a mente fica livre das influências do ambiente, livre da agitação. De uma maneira calma, embora fervorosa, você poderá buscar a Deus. A influência que vem dAquele que vê em segredo será suave e constante. Seu ouvido está aberto para ouvir a prece que vem do coração. Pela fé simples e serena, a mente entra em comunhão com Deus, e reúne os raios da luz divina para dar-lhe forças e sustentá-lo no conflito contra Satanás. Deus é nossa fortaleza. CCn 62 3 Ore em seu aposento particular. Durante os seus afazeres diários, deixe que o coração se eleve a Deus. Era assim que Enoque andava com Deus. Essas orações silenciosas sobem como precioso incenso até o trono da graça. Satanás não pode vencer aquele cujo coração está arraigado em Deus. CCn 62 4 Não há tempo nem lugares impróprios para apresentar uma petição a Deus. Nada há que possa impedir-nos de elevar o coração no espírito de uma oração sincera. Na rua, em meio à multidão, numa reunião de negócios, podemos elevar uma prece a Deus pedindo orientação divina, assim como fez Neemias ao apresentar sua solicitação perante o rei Artaxerxes. Um ambiente adequado à comunhão pode ser encontrado onde quer que estejamos. Devemos manter continuamente aberta a porta de nosso coração e pedir que Jesus venha habitá-lo como nosso hóspede celestial. CCn 62 5 Embora possa haver uma atmosfera maculada e corrupta ao nosso redor, não temos que respirar seus odores fétidos. Em vez disso, podemos viver no ar puro do Céu. Poderemos fechar a porta para a imaginação impura e os pensamentos não santificados se levarmos nosso coração à presença de Deus por meio da oração sincera. Aqueles cujo coração estiver aberto para receber o apoio e a bênção de Deus andarão em uma atmosfera mais santa do que a da Terra e manterão comunhão constante com o Céu. CCn 63 1 Necessitamos ter uma visão mais clara de Jesus e uma compreensão mais ampla do valor das realidades eternas. A beleza da santidade deve encher o coração dos filhos de Deus. Para conseguirmos isso, devemos buscar as divinas revelações das coisas celestiais. CCn 63 2 Que o nosso coração se abra e se eleve; que Deus possa propiciar-nos um vislumbre da atmosfera celestial. Devemos manter-nos tão perto de Deus que, em cada provação inesperada, nossos pensamentos se voltem para Ele tão naturalmente quanto a flor se volta para o Sol. CCn 63 3 Leve suas necessidades, alegrias, tristezas, preocupações e temores a Deus. Você não conseguirá sobrecarregá-Lo, nem deixá-Lo cansado. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça não é indiferente às necessidades de Seus filhos. "O Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo". Tiago 5:11. Seu coração cheio de amor se enternece com nossas tristezas, até mesmo quando as pronunciamos. Entregue a Ele todas as coisas que perturbam sua mente. Coisa alguma é grande demais para que Ele não possa suportar, pois é Ele quem mantém os mundos e governa o Universo. Nada daquilo que, de alguma forma, diz respeito a nossa paz é pequeno demais para que Ele não note. Não há um só capítulo da nossa existência que seja demasiado escuro para que Ele não possa ler, nem dificuldade alguma tão complicada que não possa resolver. Nenhuma calamidade poderá sobrevir ao mais humilde dos Seus filhos, ansiedade alguma que lhe perturbe a alma, nenhuma alegria que possa ter, nenhuma oração sincera que lhe escape dos lábios, sem que seja observada pelo Pai celestial, ou sem que Lhe desperte imediato interesse. "O Senhor [...] sara os de coração quebrantado e lhes pensa as feridas". Salmos 147:2, 3. As relações entre Deus e cada pessoa são tão particulares e plenas que é como se não houvesse nenhuma outra por quem tivesse dado Seu Filho amado. CCn 63 4 Jesus disse: "Pedireis em Meu nome; e não vos digo que rogarei ao Pai por vós. Porque o próprio Pai vos ama." "Eu vos escolhi a vós outros [...] a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda". João 16:26, 27; 15:16. Orar em nome de Jesus, todavia, é mais do que simplesmente mencionar esse nome no começo e no fim da oração. É orar segundo a mente e o espírito de Jesus, crendo em Suas promessas, confiando em Sua graça e fazendo Suas obras. CCn 63 5 Deus não espera que nos tornemos eremitas ou monges e que nos isolemos do mundo a fim de tornar-nos interessados em atos de adoração. Nossa vida deve ser igual à de Cristo, nos dividindo entre o monte da oração e o contato com as multidões. Aquele que nada faz além de orar em breve abandonará essa prática; suas orações acabarão se tornando uma formalidade rotineira. Quando as pessoas se afastam da vida em sociedade e ficam distantes da esfera do dever cristão, deixando de levar sua cruz; quando deixam de trabalhar de maneira dedicada pelo Mestre, Aquele que por elas Se entregou, acabam perdendo o objetivo essencial da oração e o estímulo à devoção. Suas orações se tornam pessoais e egoístas. Não conseguem orar em favor das necessidades dos outros nem pelo estabelecimento do reino de Cristo. CCn 64 1 Sofremos uma perda quando negligenciamos o privilégio de reunir-nos para fortalecer e animar uns aos outros no serviço de Deus. As verdades da Sua Palavra perdem o atrativo e a importância para nossa mente. Nosso coração deixa de ser iluminado e comovido por Sua influência santificadora, e nossa espiritualidade declina. Perdemos muito em nossas relações como cristãos por falta de simpatia um pelos outros. Aquele que se fecha em si mesmo não está preenchendo a posição designada por Deus. O cultivo adequado dos elementos sociais de nossa natureza desenvolve a simpatia de uns em relação aos outros e é uma maneira de nos fazer crescer e fortalecer-nos para o serviço de Deus. CCn 64 2 Se os cristãos estivessem unidos e falassem uns com os outros sobre o amor de Deus e as preciosas verdades da redenção, seu coração seria renovado e ajudariam uns aos outros. Devemos aprender diariamente de nosso Pai celestial, e dEle sempre obter uma nova experiência de Sua graça; só então desejaremos falar de Seu amor. Ao assim fazermos, nosso próprio coração ficará confortado e animado. Se pensarmos e falarmos mais de Jesus, e menos do próprio eu, teremos muito mais de Sua presença conosco. CCn 64 3 Se pensássemos em Deus tantas vezes quantas percebemos as evidências de Seu cuidado por nós, O teríamos sempre em nossos pensamentos e nos deleitaríamos em falar dEle e em louvá-Lo. Falamos de coisas materiais porque nisso temos interesse. Falamos de nossos amigos, pois os amamos; com eles partilhamos nossas alegrias e tristezas. Temos, no entanto, razões muito maiores para amar mais a Deus do que aos nossos amigos terrestres. Deveria ser a coisa mais natural do mundo fazer dEle o primeiro em todos os nossos pensamentos, falar de Sua bondade e contar aos outros do Seu poder. Os ricos dons que Ele derramou sobre nós não deveriam absorver nossos pensamentos nem tampouco nosso amor, de modo que nada tivéssemos para dedicar a Deus. Esses dons devem constantemente fazer com que nos lembremos dEle, ligando-nos com laços de amor e gratidão ao nosso celestial Benfeitor. Estamos por demais arraigados a esta Terra. Levantemos nosso olhar para a porta aberta do santuário celestial, onde a luz da glória de Deus resplandece na face de Cristo, que "pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus". Hebreus 7:25. CCn 64 4 Precisamos louvar mais a Deus "por Sua bondade e por Suas maravilhas para com os filhos dos homens". Salmos 107:8. Nossas atividades devocionais não deveriam se resumir a pedir e receber. Não pensemos apenas naquilo que precisamos, e nunca nos benefícios que recebemos. Não oramos muito, mas somos ainda mais econômicos em dar graças. Estamos continuamente recebendo as misericórdias divinas e, no entanto, quão pouca gratidão expressamos, quão pouco O louvamos pelo que fez por nós. CCn 65 1 Deus instruiu o povo de Israel, no passado, ao se reunir para o culto ao Senhor: "Lá, comereis perante o Senhor, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o Senhor, vosso Deus". Deuteronômio 12:7. Aquilo que é feito para a glória de Deus deve ser feito com alegria, cânticos de louvor e ações de graça, não com tristeza e aspecto sombrio. CCn 65 2 Nosso Deus é um Pai amoroso e misericordioso. Os cultos a Ele dedicados não deveriam ser vistos como uma atividade triste e cansativa. Louvar ao Senhor e desempenhar uma parte em Sua obra devem ser um prazer. Deus não quer que Seus filhos, para quem proveu tão grande salvação, ajam como se Ele fosse um chefe duro e exigente. Ele é seu melhor amigo, e deseja relacionar-Se com Seus filhos quando vão adorá-Lo para abençoá-los, confortá-los e encher seu coração de alegria e amor. O Senhor deseja que Seus filhos encontrem conforto ao servi-Lo, e mais prazer do que dificuldades em Seu trabalho. Ele deseja que aqueles que O adoram levem consigo os preciosos pensamentos sobre Seu cuidado e amor, para que possam estar animados em todas as ocupações da vida diária, e recebam a graça necessária para lidar sincera e fielmente com todas as coisas. CCn 65 3 Precisamos reunir-nos em torno da cruz. O Cristo crucificado deve ser o tema de nossas meditações, de nossas conversas, e de nossas mais alegres emoções. Devemos ter em mente cada bênção que recebemos de Deus. Ao percebermos Seu grande amor, devemos estar dispostos a confiar tudo nas mãos que foram, por nós, cravadas na cruz. CCn 65 4 Nas asas do louvor, o coração pode elevar-se para mais perto do Céu. Deus é adorado com cânticos e música nas cortes celestiais. Ao expressarmos nossa gratidão, estamos nos aproximando do culto das hostes celestiais. "O que Me oferece sacrifício de ações de graças, esse Me glorificará". Salmos 50:23. Cheguemos, pois, com reverente alegria perante nosso Criador, e com "ações de graça e som de música". Isaías 51:3. ------------------------Capítulo 12 -- A certeza da vitória CCn 67 1 Muitas pessoas, especialmente aquelas que ainda são novas na vida cristã, por vezes ficam perturbadas por dúvidas. Existem na Bíblia muitas coisas que elas não conseguem explicar e nem mesmo entender, e Satanás as utiliza para abalar sua fé nas Escrituras como revelação de Deus. Elas perguntam: "Como saberei qual é o caminho certo? Se a Bíblia é, na verdade, a Palavra de Deus, como poderei livrar-me destas dúvidas e perplexidades?" CCn 67 2 Deus nunca pede que creiamos sem que nos dê suficientes provas sobre as quais possamos alicerçar nossa fé. Sua existência, Seu caráter e a veracidade de Sua Palavra se baseiam em testemunhos que falam à nossa razão; e esses testemunhos são numerosos. Apesar disso, Deus nunca removeu a possibilidade de dúvida. Nossa fé deve se basear em evidências, não em demonstrações. Os que desejam duvidar terão a oportunidade de fazê-lo, enquanto os que realmente desejam conhecer a verdade poderão encontrar muitas provas onde apoiar sua fé. CCn 67 3 É impossível para mentes finitas entender de maneira plena o caráter das obras dAquele que é Infinito. Para o intelecto mais esclarecido e a mente mais educada, o santo Ser ainda será um mistério. "Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber?" Jó 11:7, 8. CCn 67 4 O apóstolo Paulo exclama: "Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!". Romanos 11:33. Mas, embora nuvens e escuridão O rodeiem, "justiça e juízo são a base do Seu trono". Salmos 97:2. Ao compreendermos Sua conduta para conosco e os motivos que O levam a agir, podemos ser levados a reconhecer amor e misericórdia sem limites, unidos a um infinito poder. Podemos entender Seus propósitos na medida do necessário, e para o nosso próprio bem. Quanto ao mais, devemos confiar na onipotente mão e no coração repleto de amor. CCn 67 5 A Palavra de Deus, assim como o caráter do seu divino Autor, apresenta mistérios que jamais poderão ser plenamente compreendidos por seres finitos. A entrada do pecado no mundo, a encarnação de Cristo, a regeneração, a ressurreição e muitos outros assuntos apresentados na Bíblia são mistérios por demais profundos para a mente humana explicar ou mesmo entender plenamente. Não temos, porém, razões para duvidar da Palavra de Deus, pois não entendemos os mistérios de Sua providência. No mundo natural, somos constantemente cercados de mistérios que não conseguimos desvendar. Mesmo as formas mais simples de vida apresentam um problema que o mais sábio dos filósofos é incapaz de explicar. Por toda parte há maravilhas que estão além da nossa compreensão. Deveríamos, então, nos surpreender ao vermos que no mundo espiritual também existem mistérios que não podemos desvendar? A dificuldade está na debilidade e na pequenez da mente humana. Deus nos deu, nas Escrituras, provas suficientes do seu caráter divino, e não devemos duvidar da Sua Palavra pelo fato de não podermos compreender todos os mistérios de Sua providência. CCn 68 1 O apóstolo Pedro diz que existem nas Escrituras "certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam [...] para a própria destruição deles". 2 Pedro 3:16. As dificuldades das Escrituras têm sido apresentadas pelos céticos como um argumento contra a Bíblia; longe disso, todavia, elas constituem uma forte evidência de sua inspiração divina. Se elas apenas apresentassem uma descrição do Senhor que pudéssemos facilmente entender; se a Sua grandeza e majestade pudessem ser compreendidas pela finita mente humana, então a Bíblia não teria as inequívocas credenciais da autoridade divina. A própria grandeza e mistério dos temas ali apresentados devem inspirar no leitor a crença de que ela é a Palavra de Deus. CCn 68 2 A Bíblia revela a verdade de uma maneira tão simples, e se adapta tanto às necessidades e anseios do coração humano que, ao mesmo tempo em que deixa os mais inteligentes surpresos e admirados, também capacita humildes e ignorantes a discernir o caminho para a salvação. Apesar disso, essas verdades apresentadas de maneira simples se relacionam com assuntos tão elevados e de alcance tão vasto, tão infinitamente além da capacidade de compreensão humana, que podemos aceitá-las somente porque foi o próprio Deus quem as declarou. É assim que o plano da redenção é posto diante de nós -- para que todos possam ver os passos que devem dar em arrependimento para com Deus e fé para com nosso Senhor Jesus Cristo, para que possam ser salvos pela maneira indicada por Deus. Sob essas verdades tão facilmente compreendidas, encontram-se mistérios que são o esconderijo de Sua glória -- mistérios que vão além da capacidade de compreensão da mente humana, mas que inspiram aquele que, com sinceridade, busca a verdade com reverência e fé. Quanto mais ele estuda a Bíblia, mais profunda é sua convicção de que ela é a palavra do Deus vivo, e a razão humana se dobra perante a majestade da revelação divina. CCn 68 3 Ao reconhecermos que não podemos compreender plenamente as grandes verdades da Bíblia, estamos apenas admitindo que uma mente finita é inadequada para entender o infinito, e que o homem, com seu conhecimento limitado, não pode compreender os propósitos do Onisciente. CCn 69 1 Por não poderem discernir todos os seus mistérios, o cético e o infiel rejeitam a Palavra de Deus. Nem todos os que dizem crer na Bíblia estão livres do perigo, nesse ponto. Diz o apóstolo: "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo". Hebreus 3:12. É correto estudar detidamente os ensinamentos da Bíblia e pesquisar "as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10) até onde nos são reveladas na Escritura. Embora "as coisas encobertas" pertençam ao Senhor, as coisas reveladas "nos pertencem". Deuteronômio 29:29. O objetivo de Satanás, todavia, é perverter a capacidade investigadora da mente. Mescla-se um certo orgulho com o estudo da verdade bíblica, de modo que a pessoa sente-se impaciente e fracassada se não puder explicar, como gostaria, cada parte da Escritura. Para ela, é muito humilhante reconhecer que não entende as palavras inspiradas. Não está disposta a esperar pacientemente até que Deus ache conveniente revelar-lhe a verdade. Acredita que sua sabedoria humana é suficiente para capacitá-la a compreender a Escritura, sem necessidade de ajuda. Ao fracassar, nega-lhe a autoridade. É verdade que muitas teorias e doutrinas populares que, supostamente, derivam da Bíblia não se fundamentam em seus ensinos, sendo, na realidade, contrárias ao que se aceita como inspiração. Isso tem sido uma causa de dúvida e confusão para muitas pessoas. Não se pode, entretanto, atribuir a causa disso à Palavra de Deus, mas sim ao fato de ter sido pervertida pelo homem. CCn 69 2 Se fosse possível para os seres criados atingir o pleno entendimento de Deus e de Suas obras, então, tendo chegado a esse ponto, não haveria para eles outras descobertas sobre a verdade, nenhum crescimento no saber, nem tampouco um maior desenvolvimento da mente e do coração. Deus deixaria de ser Supremo; o homem, havendo chegado ao limite do conhecimento e de suas realizações, deixaria de avançar. Graças a Deus que não é assim. Deus é infinito; nEle estão "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento". Colossences 2:3. Por toda a eternidade o ser humano poderá pesquisar e aprender, e nunca irá exaurir os tesouros da Sua sabedoria, bondade e poder. CCn 69 3 Deus deseja que, mesmo nesta vida, as verdades de Sua Palavra sejam reveladas para o Seu povo. Existe apenas uma maneira de se conseguir esse conhecimento. Somente por meio da iluminação do Espírito através do qual a Palavra foi dada é que podemos atingir um entendimento da Palavra de Deus. CCn 69 4 "As coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus"; "porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus". 1 Coríntios 2:11, 10. E a promessa do Salvador para os Seus seguidores foi: "Quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade"; Ele "há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar". João 16:13, 14. CCn 70 1 Deus deseja que o homem exercite o raciocínio; como nenhum outro, o estudo da Bíblia fortalece e aumenta a capacidade da mente. Devemos cuidar, entretanto, para não endeusar a razão, pois ela está sujeita às fraquezas e enfermidades humanas. Se não quisermos que as Escrituras estejam veladas ao nosso entendimento, sem que possamos compreender suas mais simples verdades, é preciso que tenhamos a simplicidade e a fé de uma criança, estando dispostos a aprender e a rogar pelo auxílio do Espírito Santo. A consciência do poder e da sabedoria de Deus, bem como da nossa incapacidade de compreender Sua grandeza, deve promover em nós um espírito de humildade. Devemos abrir Sua palavra com reverência, como se estivéssemos em Sua presença. Ao lermos a Bíblia, a razão deve reconhecer uma autoridade superior a si própria, e o coração e a inteligência devem se curvar perante o grande EU SOU. CCn 70 2 Existem muitas coisas aparentemente difíceis ou obscuras, as quais Deus tornará claras e simples aos que busquem entendê-las. Sem a orientação do Espírito Santo, porém, estaremos continuamente sujeitos a distorcer as Escrituras ou a interpretá-las erroneamente. Muitas vezes, lê-se a Bíblia sem que haja qualquer proveito. Em muitos casos, essa leitura é até perniciosa. Quando a Palavra de Deus é aberta sem reverência e oração, quando os pensamentos e as afeições não estão centralizados em Deus nem em harmonia com Sua vontade, a mente fica obscurecida pelas dúvidas. O próprio estudo da Bíblia fortalece o ceticismo. O inimigo apodera-se dos pensamentos e sugere interpretações incorretas. Sempre que os homens não buscam, por palavras e atos, estar em harmonia com Deus, por mais preparados que sejam, estão sempre sujeitos a errar em sua compreensão das Escrituras. Não é seguro confiar em suas explicações. Os que abrem as Escrituras para encontrar discrepâncias não têm conhecimento espiritual. Com sua visão distorcida, verão muitas razões para dúvida e descrença em coisas que são realmente claras e simples. CCn 70 3 Por mais que disfarcem, a verdadeira causa para a dúvida e o ceticismo é, na maioria das vezes, o amor ao pecado. Os ensinos e as restrições da Palavra de Deus não agradam ao coração orgulhoso e amante do pecado, e os que não estão dispostos a obedecer a seus preceitos são os primeiros a duvidar de sua autoridade. A fim de chegar à verdade, devemos ter um desejo sincero de conhecer a verdade. O coração tem que estar disposto a obedecer-lhe. Todos os que, com esse espírito, estudarem a Bíblia encontrarão abundantes evidências de que ela é a Palavra de Deus, e poderão obter uma compreensão de suas verdades que os tornará sábios para a salvação. CCn 70 4 Cristo disse: "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina". João 7:17. Em vez de discutir e especular a respeito de coisas que você não entende, deixe que brilhe a luz que já lhe foi dada, e você receberá mais luz. Pela graça de Cristo, desempenhe os deveres que já conhece, e será capacitado a entender e a desempenhar aqueles sobre os quais ainda tem dúvida. CCn 71 1 Há uma prova que está ao alcance de todos, desde o mais culto ao mais iletrado -- a prova da experiência. Deus nos convida a provar por nós mesmos a realidade da Sua Palavra e a verdade de Suas promessas. Ele nos convida: "Provai e vede que o Senhor é bom". Salmos 34:8. Em vez de depender da palavra de outra pessoa, devemos provar por nós mesmos. Ele declara: "Pedi, e recebereis". João 16:24. Suas promessas serão cumpridas. Nunca falharam e jamais falharão. À medida que nos aproximarmos de Jesus e nos alegrarmos na plenitude do Seu amor, nossas dúvidas e incertezas desaparecerão à luz de Sua presença. CCn 71 2 O apóstolo Paulo diz que Deus "nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor". Colossences 1:13. E todo aquele que passou da morte para a vida é capaz de certificar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Pode dar seu testemunho: "Precisei de ajuda, e a encontrei em Jesus. Todas as minhas necessidades foram supridas, minha fome espiritual foi satisfeita; agora, a Bíblia é, para mim, a revelação de Jesus Cristo. Você pergunta por que creio em Jesus? Eu respondo: Porque Ele é meu divino Salvador. Por que creio na Bíblia? Porque descobri que ela é a voz de Deus falando ao meu coração." Podemos ter em nós mesmos o testemunho de que a Bíblia é verdadeira e de que Cristo é o Filho de Deus. Sabemos que não temos seguido fábulas recheadas de falsidades. CCn 71 3 Pedro recomendou aos irmãos que crescessem "na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". 2 Pedro 3:18. Na medida em que o povo de Deus estiver crescendo na graça, obterá de maneira constante uma compreensão mais clara da Sua Palavra. Discernirá nova luz e beleza em suas verdades sagradas. Isso tem sido verdade na história da igreja em todas as épocas, e assim será até o fim. "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito". Provérbios 4:18. CCn 71 4 Pela fé, podemos olhar para o que ainda há de vir, e vislumbrar a promessa de Deus quanto ao desenvolvimento intelectual, unindo as faculdades humanas às divinas, e pondo todas as habilidades em contato direto com a Fonte da luz. Podemos alegrar-nos porque tudo aquilo que tenha restado confuso nas providências de Deus será esclarecido. As coisas difíceis de entender terão uma explicação. Onde nossa mente via apenas confusão e propósitos desconexos, veremos a harmonia mais perfeita e bela. "Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido". 1 Coríntios 13:12. ------------------------Capítulo 13 -- Alegria no Senhor CCn 73 1 Os filhos de Deus são chamados para serem representantes de Cristo, manifestando a bondade e a misericórdia do Senhor. Assim como Jesus nos revelou o verdadeiro caráter do Pai, nós também devemos revelar Cristo a um mundo que não conhece Seu amor terno e compassivo. "Assim como Tu Me enviaste ao mundo", disse Jesus, "também Eu os enviei ao mundo." "Eu neles, e Tu em Mim [...] para que o mundo conheça que Tu Me enviaste". João 17:18, 23. CCn 73 2 O apóstolo Paulo disse aos discípulos de Jesus que eles eram "manifestos como carta de Cristo [...] conhecida e lida por todos os homens". 2 Coríntios 3:3, 2. Por intermédio de cada um de Seus filhos, Jesus envia uma carta ao mundo. Se você é um seguidor de Cristo, Ele envia por seu intermédio uma carta para a sua família, para o bairro e a rua em que você mora. Ao habitar em você, Jesus deseja falar ao coração daquelas pessoas que ainda não O conhecem. Talvez elas não leiam a Bíblia ou não ouçam a voz que fala através de suas páginas; não vêem o amor de Deus revelado em Suas obras. Mas, se você for um verdadeiro representante de Jesus, é possível que, por seu intermédio, elas sejam levadas a ter um vislumbre de Sua bondade, e sejam atraídas para amá-Lo e servi-Lo. CCn 73 3 Os cristãos são colocados como portadores de luz no caminho para o Céu. Eles devem refletir para o mundo a luz que brilha sobre eles, a qual vem de Cristo. Sua vida e caráter devem fazer com que as pessoas tenham a correta concepção de Cristo e Seu serviço. CCn 73 4 Se de fato representamos a Cristo, faremos com que Seu serviço se mostre mais atrativo, como na realidade é. Cristãos que enchem o coração de tristezas e pesares, e que vivem se queixando e se lamuriando, passam aos outros uma idéia falsa de Deus e da vida cristã. Dão a impressão de que Deus não Se agrada em ver Seus filhos felizes, apresentando assim um falso testemunho a respeito de nosso Pai celestial. CCn 73 5 Satanás exulta quando pode levar os filhos de Deus à incredulidade e ao desânimo. Deleita-se ao vê-los desconfiar de Deus e duvidar de Sua vontade e poder para salvar-nos. Encontra satisfação em fazer-nos pensar que o Senhor, com Suas providências, quer nos prejudicar. Seu objetivo é representar o Senhor como alguém sem nenhuma compaixão nem piedade. Ele deturpa a verdade a Seu respeito. Enche nossa imaginação com idéias falsas sobre Deus. Em vez de aceitarmos a verdade a respeito de nosso Pai celestial, muitas vezes fixamos nossa mente nas falsidades de Satanás. Dessa maneira, desonramos a Deus por não confiar nEle e contra Ele murmurar. Satanás está sempre buscando tornar sombria a vida religiosa. Seu desejo é fazer com que ela pareça trabalhosa e difícil. Quando o cristão apresenta essa visão da religião em sua vida, ele está confirmando, através de sua incredulidade, a falsidade de Satanás. CCn 74 1 Muitos, através da estrada da vida, têm o pensamento focalizado em seus erros, fracassos e desapontamentos, e assim enchem o coração de pesares e desânimo. Quando estive na Europa, uma irmã que agia dessa forma, e se achava muito angustiada, escreveu-me pedindo uma palavra de ânimo. Na noite seguinte à leitura dessa carta, sonhei que estava em um jardim, e aquele que parecia ser o proprietário do jardim me conduzia por ele. Eu apanhava flores e desfrutava de seu perfume quando aquela irmã, que caminhava ao meu lado, chamou minha atenção para alguns espinheiros que lhe atrapalhavam o caminho. Ali estava ela lamuriando-se e queixando-se. Não andava nas trilhas, seguindo nosso guia, mas caminhava entre os espinhos e cardos. "Ah!", lamentava ela, "não é uma pena que este lindo jardim esteja estragado pelos espinhos?" Então, o guia disse: "Não dê importância aos espinhos, pois eles vão acabar lhe ferindo. Apanhe as rosas, os lírios e os cravos." CCn 74 2 Não haverá alguns pontos brilhantes em sua experiência? Não terá experimentado preciosos momentos em que seu coração saltou de alegria em resposta ao Espírito de Deus? Ao olhar os capítulos da sua experiência de vida, será que você não vê algumas páginas agradáveis? Acaso não são as promessas de Deus como flores perfumosas que crescem a cada passo do seu caminho? Por que não deixar que sua beleza e suavidade encham seu coração de alegria? CCn 74 3 Os espinhos e cardos servem apenas para ferir e magoar. Se é isso que você colhe e apresenta aos outros, não estará, dessa maneira, desdenhando da bondade de Deus e impedindo os que estão ao seu redor de andar no caminho para a vida? CCn 74 4 Não há sabedoria em juntar todas as lembranças desagradáveis do passado -- suas injustiças e decepções -- e ficar se lamentando e falando sobre elas até que se sinta esmagado pelo desânimo. Uma pessoa desanimada acha-se envolta em trevas, impedindo assim que a luz de Deus brilhe sobre ela, ao mesmo tempo em que lança uma sombra sobre o caminho dos outros. CCn 74 5 Graças a Deus pelos refulgentes quadros com que nos presenteou. Juntemos todas as benditas promessas do Seu amor para que possamos contemplá-las continuamente. Estes são os quadros que Deus quer que contemplemos: o Filho de Deus deixando o trono do Seu Pai, tendo Sua natureza divina revestida com a natureza humana para que pudesse resgatar o homem do poder de Satanás; Seu triunfo em nosso favor, abrindo para o homem a porta do Céu e revelando aos olhos humanos o aposento onde a Divindade revela Sua glória; a raça caída tirada do abismo de ruína em que o pecado a lançou e novamente colocada em ligação com o Deus infinito, tendo, pela fé em nosso Redentor, passado pelo teste divino, sendo revestida da justiça de Cristo e exaltada ao Seu trono. CCn 75 1 Quando parecemos duvidar do amor de Deus e desconfiar de Suas promessas, nós O desonramos e entristecemos o Seu Santo Espírito. Como se sentiria uma mãe se os seus filhos estivessem sempre se queixando dela, como se ela não quisesse o seu bem, quando todos os esforços de sua vida têm como objetivo atender seus interesses e prover-lhes conforto? Suponha que eles assim duvidassem de seu amor. Certamente, isso lhe partiria o coração. Como se sentiria qualquer pai ao ser tratado dessa forma por seus filhos? E como nos verá o Pai celestial quando duvidamos do Seu amor para conosco, amor que O levou a dar Seu Filho unigênito para que pudéssemos ter vida? O apóstolo escreveu: "Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. Entretanto, quantos há que, por meio de seu modo de agir ou por suas palavras, estão dizendo: "Não é para mim que o Senhor diz isso. Talvez ame outros, mas não a mim." CCn 75 2 Tudo isso prejudica a você, pois toda palavra de dúvida que pronuncia é um convite para as tentações de Satanás. Elas fortalecem sua tendência de duvidar e afastam de você os anjos ministradores. Ao ser tentado por Satanás, não deixe escapar uma só palavra sombria ou que expresse dúvida. Se você escolher abrir a porta para as sugestões do inimigo, sua mente se encherá de desconfiança e de questionamentos rebeldes. Se falar de seus sentimentos, cada dúvida que externar não somente influenciará a você mesmo, como também será uma semente que germinará e frutificará na vida dos demais. Talvez seja impossível neutralizar a influência de suas palavras. Você mesmo pode recuperar-se das tentações e dos ardis de Satanás, mas os outros, aqueles que tenham sofrido a sua influência, podem não ter oportunidade de livrar-se das dúvidas que você sugeriu. Como é importante que falemos somente aquilo que promove força espiritual e vida! CCn 75 3 Os anjos estão atentos para ouvir a espécie de relatório que você está mostrando ao mundo acerca do Mestre celestial. Que o tema da sua conversa seja Aquele que vive para fazer intercessão por você perante o Pai. Ao dar a mão a um amigo, que o louvor a Deus esteja em seus lábios e no coração. Isso conduzirá os pensamentos desse amigo para Jesus. CCn 75 4 Todos nós temos provações, pesares para suportar e tentações difíceis de resistir. Não conte para simples mortais suas dificuldades; leve-as a Deus em oração. Estabeleça como regra nunca pronunciar uma só palavra de dúvida ou desânimo. Você pode fazer muito para iluminar a vida de outros e fortalecer seus esforços através de palavras de esperança e de santo entusiasmo. CCn 76 1 Há muitas pessoas de coragem que se encontram dolorosamente opressas pela tentação, prestes a cair no conflito com o próprio eu e com as forças do mal. Não as desencoraje nessa luta tão árdua. Anime-as com palavras de encorajamento e esperança que as incentivem a permanecer no caminho. Desse modo, a luz de Cristo poderá resplandecer através de você. "Nenhum de nós vive para si mesmo". Romanos 14:7. Por meio de sua inconsciente influência, outros podem ser motivados e fortalecidos, ou podem desanimar e alienar-se de Cristo e da verdade. CCn 76 2 Há muitos que têm uma idéia errônea sobre a vida e o caráter de Cristo. Pensam que Ele era desprovido de calor e animação, que era sério, severo e triste. Em muitos casos, a experiência religiosa é pintada dessa maneira sombria. CCn 76 3 Com freqüência, comenta-se que Jesus chorou, mas nunca O viram sorrindo. Nosso Salvador era, de fato, um Homem de dores, ciente do que é padecer, pois abriu o coração a todos os sofrimentos humanos. Embora sua vida fosse cheia de abnegação e marcada pela dor e pelas preocupações, Seu espírito não se abatia. Sua fisionomia não expressava desgosto ou descontentamento, mas sempre demonstrava uma paz serena. Seu coração era uma fonte de vida. Onde quer que fosse, levava descanso e paz, alegria e contentamento. CCn 76 4 Nosso Salvador era profundamente sério e intensamente zeloso, mas nunca sombrio ou entediado. A vida dos que O imitam deve ser plena de fervorosos propósitos. Eles exibirão um profundo senso de responsabilidade. Não darão lugar à leviandade, nem à alegria espalhafatosa, nem às grosserias. É a religião de Jesus que proporciona a perfeita paz. Ela não apaga a luz da alegria, não restringe o entusiasmo nem oculta um rosto radiante e sorridente. Cristo não veio para ser servido, mas para servir. Quando Seu amor está entronizado em nosso coração, seguimos o Seu exemplo. CCn 76 5 Se mantivermos em nossa mente a lembrança dos atos desagradáveis e injustos dos outros, pensaremos ser impossível amá-los como Cristo nos amou. Mas, se nossos pensamentos estiverem focalizados no maravilhoso amor e na misericórdia de Cristo por nós, esse mesmo espírito irradiará para os outros. Devemos amar e respeitar os outros, a despeito das falhas e imperfeições que não podemos deixar de notar. Devemos cultivar a humildade e desconfiar de nós mesmos. Devemos ter paciência com as faltas dos outros. Isso destruirá o egoísmo e nos dará um coração longânimo e generoso. CCn 76 6 Diz o salmista: "Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade". Salmos 37:3. "Confia no Senhor." Cada dia tem seus fardos, preocupações e dificuldades. Quando nos encontramos, prontamente começamos a falar sobre nossas dificuldades e provações. São tantos os problemas emprestados, tantos os medos abrigados, tantas as ansiedades expressadas, que nem parece que temos um Salvador misericordioso e amoroso, pronto a ouvir todas as nossas petições e a ser auxílio bem presente em tempo de necessidade. CCn 77 1 Algumas pessoas estão sempre com medo e envolvidas por dificuldades. A cada dia são cercadas de evidências do amor de Deus e desfrutam das riquezas de Sua providência, mas não estão atentas para as bênçãos presentes. Têm a mente voltada continuamente para as coisas desagradáveis que temem lhes sobrevir. Talvez até haja alguma dificuldade que, embora pequena, não permita que vejam as muitas coisas pelas quais devem ser gratas. As dificuldades que encontram, em vez de levar-lhes a Deus, sua única fonte de auxílio, os separam dEle, pois provocam inquietação e queixas. CCn 77 2 Acaso nos faz bem ser assim, incrédulos? Por que deveríamos ser ingratos e desconfiados? Jesus Cristo é nosso amigo; o Céu inteiro está interessado em nosso bem-estar. Não devemos permitir que as perplexidades e preocupações da vida diária nos obscureçam a mente e nos fechem o semblante. Se assim fizermos, teremos sempre alguma coisa a incomodar-nos e estressar-nos. Não devemos dar lugar à ansiedade, que nos deixa tristes e sem energia, e em nada nos ajuda a enfrentar as provações. Talvez seus negócios lhe causem preocupações e suas perspectivas sejam cada vez mais negativas. Pode ser que você esteja à beira da falência. Não desanime; entregue a Deus suas preocupações e permaneça calmo e animado. Ore pedindo sabedoria para administrar seus negócios de maneira prudente e, assim, evitar o prejuízo e o desastre. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para produzir resultados favoráveis. Jesus promete Seu auxílio, mas não dispensa nossos esforços. Quando houver feito o melhor possível -- e depois de entregar suas preocupações a Deus -- aceite, de bom grado, os resultados. CCn 77 3 Não é da vontade de Deus que Seu povo ande curvado pelo peso das preocupações. Apesar disso, o Senhor não nos engana. Ele não nos diz: "Não tenha medo, pois não existe perigo algum em seu caminho." Ele sabe que há provações e perigos, e é sincero conosco. Não propõe tirar Seu povo de um mundo de pecado e maldade, mas indica-lhe um refúgio infalível. Sua oração pelos discípulos foi: "Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal". João 17:15. "No mundo", diz Ele, "passais por aflições; mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo". João 16:33. CCn 77 4 No Sermão do Monte, Cristo ensinou a Seus discípulos lições preciosas acerca da necessidade de confiar em Deus. Essas lições foram dadas para animar os filhos de Deus através de todos os séculos, chegando até os dias atuais repletas de orientações e conforto. O Salvador apontou aos Seus seguidores as aves do céu, entoando seus gorjeios de louvor, totalmente alheias às preocupações, pois "não semeiam, não colhem". E o grande Pai supre suas necessidades. O Salvador pergunta: "Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?" Mateus 6:26. O grande Provedor dos homens e animais abre Sua mão e supre as necessidades de todas as Suas criaturas. As aves do céu não Lhe passam despercebidas. Não chega a colocar-lhes o alimento no bico, mas toma as providências necessárias para seu sustento. Elas têm que apanhar os grãos que Ele espalhou. Precisam preparar o material para construir o seu pequeno ninho. Precisam alimentar os filhotinhos. E, cantando, saem para suas tarefas, pois o "Pai celeste as sustenta". E "não valeis vós muito mais do que as aves?" Não tem você, como adorador inteligente e espiritual, mais valor do que as aves do céu? Não irá o Autor da nossa existência, o Preservador da nossa vida, Aquele que nos formou à Sua própria e divina imagem suprir nossas necessidades, se apenas confiarmos nEle? CCn 78 1 Cristo apontou aos Seus discípulos as flores do campo. Elas cresciam em grande quantidade, resplandecentes na beleza simples concedida por Deus, sendo uma expressão do Seu amor para com o homem. "Considerai como crescem os lírios do campo". Mateus 6:28. A beleza e simplicidade dessas flores naturais em muito superam o esplendor de Salomão. A vestimenta mais luxuosa confeccionada pelo mais hábil estilista não se compara à graça natural e radiante beleza das flores criadas por Deus. Jesus pergunta: "Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?" Mateus 6:30. Se Deus, o divino Artista, dá às simples flores, que num dia perecem, as mais delicadas e variadas cores, não teria muito mais cuidado com aqueles que à Sua imagem são criados? A lição de Cristo é uma repreensão à ansiedade, à perplexidade e dúvida que existem no coração onde não há fé. CCn 78 2 O Senhor deseja que todos os Seus filhos e filhas sejam felizes, obedientes e tenham paz. Jesus diz: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize". João 14:27. "Tenho-vos dito essas coisas para que o Meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo". João 15:11. CCn 78 3 A felicidade que se busca por motivos egoístas, fora da trilha do dever, é desequilibrada, falsa e transitória. Ela passa, deixando o coração cheio de solidão e tristeza. No entanto, há alegria e satisfação no serviço de Deus, pois o cristão não é deixado nas incertezas do caminho nem abandonado aos desgostos e decepções. Mesmo sem participar dos prazeres desta vida, podemos ficar alegres ao contemplar a vida por vir. CCn 78 4 Mesmo aqui na Terra, os cristãos podem sentir a alegria da comunhão com Cristo; podem ter a luz do Seu amor e o perpétuo conforto da Sua presença. Cada passo na vida pode levar-nos para mais perto de Jesus, dar-nos uma experiência mais profunda com o Seu amor e colocar-nos um passo mais perto do bendito lar de paz. Não abandonemos, portanto, nossa confiança, mas estejamos firmes, mais firmes do que nunca. "Até aqui nos ajudou o Senhor" (1 Samuel 7:12), e Ele nos ajudará até o fim. Olhemos para os monumentais pilares que nos fazem lembrar daquilo que o Senhor tem feito para confortar-nos e salvar-nos da mão do destruidor. Recordemo-nos das misericórdias que Deus tem-nos mostrado -- as lágrimas que Ele enxugou, as dores que suavizou, as ansiedades que aliviou, os temores que dissipou, as necessidades que supriu, as bênçãos que derramou. Dessa maneira, Ele nos fortalece para tudo o que se colocar à nossa frente no que resta da nossa jornada. CCn 79 1 Não há como evitar novas perplexidades no iminente conflito, mas podemos olhar para o que passou, bem como para o que ainda está por vir, e dizer: "Até aqui nos ajudou o Senhor." "Como os teus dias, durará a tua paz". Deuteronômio 33:25. As provações não serão maiores que as forças dadas a nós para suportá-las. CCn 79 2 E, ao chegar aquele dia, os portões do Céu se abrirão para receber os filhos de Deus. Dos lábios do Rei da glória se fará ouvir a mais extraordinária das músicas: "Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo". Mateus 25:34. CCn 79 3 Então, com alegria, os remidos serão recebidos no lar que Jesus lhes preparou. Ali, não terão a companhia de pessoas vis, de mentirosos, idólatras, impuros ou incrédulos, mas se associarão com os que venceram Satanás e, mediante a graça divina, formaram um caráter perfeito. Cada tendência pecaminosa e cada imperfeição que aqui os aflige serão removidas pelo sangue de Cristo; a excelência e brilho de Sua glória, a qual excede o brilho do sol, a eles serão comunicados. A beleza moral e a perfeição de Seu caráter, cujo valor é incomparavelmente superior à glória externa, brilham através deles. Encontram-se irrepreensíveis perante o grande trono branco, compartilhando a dignidade e o privilégio dos anjos. CCn 79 4 Em vista da gloriosa herança que poderá pertencer-lhe, "que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" Mateus 16:26. Ainda que seja pobre, possui em si mesmo uma riqueza e dignidade que o mundo jamais poderá oferecer. A pessoa redimida e purificada do pecado, com todas as suas nobres faculdades dedicadas ao serviço de Deus, é de inestimável valor. Há alegria no Céu, na presença de Deus e dos santos anjos, quando um pecador é resgatado, e essa alegria é expressa em cânticos de santo triunfo. ------------------------O Desejado de Todas as Nações DTN 9 1 Capítulo 1 -- "Deus conosco" DTN 15 1 Capítulo 2 -- O povo escolhido DTN 18 1 Capítulo 3 -- "A plenitude dos tempos" DTN 23 0 Capítulo 4 -- "Hoje vos nasceu o Salvador" DTN 27 0 Capítulo 5 -- A dedicação DTN 33 0 Capítulo 6 -- "Vimos a sua estrela" DTN 39 0 Capítulo 7 -- Em criança DTN 45 0 Capítulo 8 -- A visita pascoal DTN 51 1 Capítulo 9 -- Dias de luta DTN 57 0 Capítulo 10 -- A voz do deserto DTN 66 0 Capítulo 11 -- O batismo DTN 70 0 Capítulo 12 -- A tentação DTN 78 0 Capítulo 13 -- A vitória DTN 83 0 Capítulo 14 -- "Achamos o Messias" DTN 92 0 Capítulo 15 -- Nas bodas DTN 100 0 Capítulo 16 -- Em seu templo DTN 109 0 Capítulo 17 -- Nicodemos DTN 116 0 Capítulo 18 -- "É necessário que ele cresça" DTN 120 0 Capítulo 19 -- Junto ao poço de Jacó DTN 129 0 Capítulo 20 -- "Se não virdes sinais e milagres" DTN 133 0 Capítulo 21 -- Betesda e o Sinédrio DTN 144 0 Capítulo 22 -- Prisão e morte de João Batista DTN 154 1 Capítulo 23 -- "O reino de Deus está próximo" DTN 158 0 Capítulo 24 -- "Não é este o filho do carpinteiro?" DTN 164 0 Capítulo 25 -- O chamado à beira-mar DTN 169 1 Capítulo 26 -- Em Cafarnaum DTN 177 0 Capítulo 27 -- "Podes tornar-me limpo" DTN 185 0 Capítulo 28 -- Levi Mateus DTN 192 1 Capítulo 29 -- O Sábado DTN 198 0 Capítulo 30 -- "Nomeou doze" DTN 204 0 Capítulo 31 -- O sermão da montanha DTN 217 0 Capítulo 32 -- O centurião DTN 221 0 Capítulo 33 -- Quem são meus irmãos? DTN 227 0 Capítulo 34 -- O convite DTN 231 0 Capítulo 35 -- "Cala-te, aquieta-te" DTN 238 0 Capítulo 36 -- O toque da fé DTN 242 0 Capítulo 37 -- Os primeiros evangelistas DTN 250 0 Capítulo 38 -- "Vinde e repousai um pouco" DTN 254 0 Capítulo 39 -- "Dai-lhes vós de comer" DTN 260 0 Capítulo 40 -- Uma noite no lago DTN 265 0 Capítulo 41 -- A crise na Galiléia DTN 275 0 Capítulo 42 -- Tradição DTN 279 0 Capítulo 43 -- Barreiras derrubadas DTN 283 0 Capítulo 44 -- O verdadeiro sinal DTN 288 0 Capítulo 45 -- A previsão da cruz DTN 296 0 Capítulo 46 -- A transfiguração DTN 300 0 Capítulo 47 -- "Nada vos será impossível" DTN 304 0 Capítulo 48 -- Quem é o maior DTN 313 0 Capítulo 49 -- Na festa dos tabernáculos DTN 319 0 Capítulo 50 -- Por entre laços DTN 326 0 Capítulo 51 -- "A luz da vida" DTN 337 0 Capítulo 52 -- O divino pastor DTN 342 0 Capítulo 53 -- A última jornada da Galiléia DTN 350 0 Capítulo 54 -- O bom samaritano DTN 355 0 Capítulo 55 -- Não com aparência exterior DTN 359 0 Capítulo 56 -- "Deixai vir a mim os pequeninos" DTN 363 0 Capítulo 57 -- "Uma coisa te falta" DTN 367 0 Capítulo 58 -- "Lázaro, sai para fora" DTN 377 0 Capítulo 59 -- Os sacerdotes tramam DTN 382 0 Capítulo 60 -- A lei do novo reino DTN 386 0 Capítulo 61 -- Zaqueu DTN 390 0 Capítulo 62 -- O banquete em casa de Simão DTN 399 0 Capítulo 63 -- "Eis que o teu rei virá" DTN 406 0 Capítulo 64 -- Um povo condenado DTN 412 0 Capítulo 65 -- O templo novamente purificado DTN 422 0 Capítulo 66 -- Conflito DTN 429 0 Capítulo 67 -- Ais sobre os fariseus DTN 438 0 Capítulo 68 -- No pátio DTN 443 0 Capítulo 69 -- O Monte das Oliveiras DTN 451 0 Capítulo 70 -- "Um destes meus pequeninos irmãos" DTN 455 0 Capítulo 71 -- Servo dos servos DTN 462 0 Capítulo 72 -- "Em memória de mim" DTN 469 0 Capítulo 73 -- "Não se turbe o vosso coração" DTN 484 0 Capítulo 74 -- Getsêmani DTN 492 0 Capítulo 75 -- Perante Anás e o tribunal de Caifás DTN 504 1 Capítulo 76 -- Judas DTN 510 0 Capítulo 77 -- Na sala de julgamento de Pilatos DTN 524 0 Capítulo 78 -- O Calvário DTN 537 1 Capítulo 79 -- "Está consumado" DTN 543 1 Capítulo 80 -- No sepulcro de José DTN 552 0 Capítulo 81 -- "O Senhor ressuscitou" DTN 557 0 Capítulo 82 -- "Por que choras?" DTN 562 0 Capítulo 83 -- A viagem para Emaús DTN 566 0 Capítulo 84 -- "Paz seja convosco" DTN 571 0 Capítulo 85 -- Mais uma vez à beira-mar DTN 577 0 Capítulo 86 -- "Ide, ensinai a todas as nações" DTN 587 0 Capítulo 87 -- "Para meu Pai e vosso Pai" ------------------------Capítulo 1 -- "Deus conosco" DTN 9 1 Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: "Deus conosco)". Mateus 1:23. O brilho do "conhecimento da glória de Deus" vê-se "na face de Jesus Cristo". Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era "a imagem de Deus", a imagem de Sua grandeza e majestade, "o resplendor de Sua glória". Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio à Terra entenebrecida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser "Deus conosco". Portanto, a Seu respeito foi profetizado: "Será o Seu nome Emanuel". Isaías 7:14. DTN 9 2 Vindo habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. Ele era a Palavra de Deus -- o pensamento de Deus tornado audível. Em Sua oração pelos discípulos, diz: "Eu lhes fiz conhecer o Teu nome" -- misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade -- "para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja". João 17:23. Mas não somente a Seus filhos nascidos na Terra era feita essa revelação. Nosso pequenino mundo é o livro de estudo do Universo. O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o mistério do amor que redime, é o tema para que "os anjos desejam bem atentar", e será seu estudo através dos séculos sem fim. Mas os seres remidos e os não caídos encontrarão na cruz de Cristo sua ciência e seu cântico. Ver-se-á que a glória que resplandece na face de Jesus Cristo é a glória do abnegado amor. À luz do Calvário se patenteará que a lei do amor que renuncia é a lei da vida para a Terra e o Céu; que o amor que "não busca os seus interesses" (1 Coríntios 13:5) tem sua fonte no coração de Deus; e que no manso e humilde Jesus se manifesta o caráter dAquele que habita na luz inacessível ao homem. DTN 9 3 No princípio, Deus Se manifestava em todas as obras da criação. Foi Cristo que estendeu os céus, e lançou os fundamentos da Terra. Foi Sua mão que suspendeu os mundos no espaço e deu forma às flores do campo. "Ele converteu o mar em terra firme". Salmos 66:6. "Seu é o mar, pois Ele o fez". Salmos 95:5. Foi Ele quem encheu a Terra de beleza, e de cânticos o ar. E sobre todas as coisas na terra, no ar e no firmamento, escreveu a mensagem do amor do Pai. DTN 9 4 Ora, o pecado manchou a perfeita obra de Deus, todavia permanecem os traços de Sua mão. Mesmo agora todas as coisas criadas declaram a glória de Sua excelência. Não há nada, a não ser o coração egoísta do homem, que viva para si. Nenhum pássaro que fende os ares, nenhum animal que se move sobre a terra, deixa de servir a qualquer outra vida. Folha alguma da floresta, nem humilde haste de erva é sem utilidade. Toda árvore, arbusto e folha exalam aquele elemento de vida sem o qual nenhum homem ou animal poderia existir; e animal e homem servem, por sua vez, à vida da folha, do arbusto e da árvore. As flores exalam sua fragrância e desdobram sua beleza em bênção ao mundo. O Sol derrama sua luz para alegrar a mil mundos. O próprio oceano, a origem de todas as nossas fontes, recebe as correntes de toda a terra, mas recebe para dar. Os vapores que lhe ascendem ao seio caem em chuveiros para regar a terra a fim de que ela produza e floresça. DTN 10 1 Os anjos da glória acham seu prazer em dar -- dar amor e infatigável cuidado a almas caídas e contaminadas. Seres celestiais buscam conquistar o coração dos homens; trazem a este mundo obscurecido a luz das cortes em cima; mediante um ministério amável e paciente operam no espírito humano, para levar os perdidos a uma união com Cristo, mais íntima do que eles próprios podem avaliar. DTN 10 2 Volvendo-nos, porém, de todas as representações secundárias, contemplamos Deus em Cristo. Olhando para Jesus, vemos que a glória de nosso Deus é dar. "Nada faço por Mim mesmo" (João 8:28), disse Cristo; "o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai". João 6:57. "Eu não busco a Minha glória" (João 8:50), mas "a dAquele que Me enviou". João 7:18. Manifesta-se nestas palavras o grande princípio que é a lei da vida para o Universo. Todas as coisas Cristo recebeu de Deus, mas recebeu-as para dar. Assim nas cortes celestes, em Seu ministério por todos os seres criados: através do amado Filho, flui para todos a vida do Pai; por meio do Filho ela volve em louvor e jubiloso serviço, uma onda de amor, à grande Fonte de tudo. E assim, através de Cristo, completa-se o circuito da beneficência, representando o caráter do grande Doador, a lei da vida. DTN 10 3 No próprio Céu foi quebrantada essa lei. O pecado originou-se na busca dos próprios interesses. Lúcifer, o querubim cobridor, desejou ser o primeiro no Céu. Procurou dominar os seres celestes, afastá-los de seu Criador, e receber-lhes, ele próprio, as homenagens. Portanto, apresentou falsamente a Deus, atribuindo-Lhe o desejo de exaltação própria. Tentou revestir o amorável Criador com suas próprias más características. Assim enganou os anjos. Assim enganou os homens. Levou-os a duvidar da palavra de Deus, e a desconfiar de Sua bondade. Como o Senhor seja um Deus de justiça e terrível majestade, Satanás os fez considerá-Lo como severo e inclemente. Assim arrastou os homens a se unirem com ele em rebelião contra Deus, e as trevas da miséria baixaram sobre o mundo. DTN 10 4 A Terra obscureceu-se devido à má compreensão de Deus. Para que as tristes sombras se pudessem iluminar, para que o mundo pudesse volver ao Criador, era preciso que se derribasse o poder enganador de Satanás. Isso não se podia fazer pela força. O exercício da força é contrário aos princípios do governo de Deus; Ele deseja unicamente o serviço de amor; e o amor não se pode impor; não pode ser conquistado pela força ou pela autoridade. Só o amor desperta o amor. Conhecer a Deus é amá-Lo; Seu caráter deve ser manifestado em contraste com o de Satanás. Essa obra, unicamente um Ser, em todo o Universo, era capaz de realizar. Somente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus, podia torná-lo conhecido. Sobre a negra noite do mundo, devia erguer-Se o Sol da Justiça, trazendo salvação "sob as Suas asas". Malaquias 4:2. DTN 11 1 O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Foi a revelação "do mistério que desde tempos eternos esteve oculto". Romanos 16:25. Foi um desdobramento dos princípios que têm sido, desde os séculos da eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princípio, Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência. Tão grande era Seu amor pelo mundo, que concertou entregar Seu Filho unigênito "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. DTN 11 2 Lúcifer dissera: "Subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. [...] Serei semelhante ao Altíssimo". Isaías 14:13, 14. Mas Cristo, "sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens". Filipenses 2:6, 7. DTN 11 3 Foi um sacrifício voluntário. Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai. Poderia haver retido a glória do Céu, e as homenagens dos anjos. Mas preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai, e descer do trono do Universo, a fim de trazer luz aos entenebrecidos, e vida aos que estavam quase a perecer. DTN 11 4 Cerca de dois mil anos atrás, ouviu-se no Céu uma voz de misteriosa significação, saída do trono de Deus: "Eis aqui venho." "Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste. [...] Eis aqui venho (no rolo do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade". Hebreus 10:5-7. Nestas palavras anuncia-se o cumprimento do desígnio que estivera oculto desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo, e a encarnar. Diz Ele: "Corpo Me preparaste." Houvesse aparecido com a glória que possuía com o Pai antes que o mundo existisse, e não teríamos podido resistir à luz de Sua presença. Para que a pudéssemos contemplar e não ser destruídos, a manifestação de Sua glória foi velada. Sua divindade ocultou-se na humanidade -- a glória invisível na visível forma humana. DTN 11 5 Esse grande desígnio havia sido representado em tipos e símbolos. A sarça ardente em que Cristo apareceu a Moisés, revelava Deus. O símbolo escolhido para representação da Divindade foi um humilde arbusto que, aparentemente, não tinha nenhuma atração. Abrigou, porém, o Infinito. O Deus todo-misericordioso velou Sua glória num símbolo por demais humilde, para que Moisés pudesse olhar para ela e viver. Assim na coluna de nuvem de dia e na de fogo à noite, Deus Se comunicava com Israel, revelando aos homens Sua vontade e proporcionando-lhes graça. A glória de Deus era restringida, e Sua majestade velada, para que a fraca visão de homens finitos a pudesse contemplar. Da mesma maneira Cristo devia vir no "corpo abatido" (Filipenses 3:21), "semelhante aos homens". Aos olhos do mundo, não possuía beleza para que O desejassem; e não obstante era o encarnado Deus, a luz do Céu na Terra. Sua glória estava encoberta, Sua grandeza e majestade ocultas, para que pudesse atrair a Si os tentados e sofredores. DTN 12 1 Deus ordenou a Moisés acerca de Israel: "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8), e habitou no santuário, no meio de Seu povo. Durante toda a fatigante peregrinação deles no deserto, o símbolo de Sua presença os acompanhou. Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e vida divinos. "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". João 1:14. DTN 12 2 Desde que Cristo veio habitar entre nós, sabemos que Deus está relacionado com as nossas provações, e Se compadece de nossas dores. Todo filho e filha de Adão pode compreender que nosso Criador é o amigo dos pecadores. Pois em toda doutrina de graça, toda promessa de alegria, todo ato de amor, toda atração divina apresentada na vida do Salvador na Terra, vemos "Deus conosco". Mateus 1:23. DTN 12 3 Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. A queda de nossos primeiros pais, com toda a miséria resultante, ele atribui ao Criador, levando os homens a olharem a Deus como autor do pecado, do sofrimento e da morte. Jesus devia patentear esse engano. Como um de nós, cumpria-Lhe dar exemplo de obediência. Para isso tomou sobre Si a nossa natureza, e passou por nossas provas. "Convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos". Hebreus 2:17. Se tivéssemos de sofrer qualquer coisa que Cristo não houvesse suportado, Satanás havia de apresentar o poder de Deus como nos sendo insuficiente. DTN 12 4 Portanto, Jesus "como nós, em tudo foi tentado". Hebreus 4:15. Sofreu toda provação a que estamos sujeitos. E não exerceu em Seu próprio proveito poder algum que nos não seja abundantemente facultado. Como homem, enfrentou a tentação, e venceu-a no poder que Lhe foi dado por Deus. Diz Ele: "Deleito Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração". Salmos 40:8. Enquanto andava fazendo o bem e curando a todos os aflitos do diabo, patenteava aos homens o caráter da lei de Deus, e a natureza de Seu serviço. Sua vida testifica ser possível obedecermos também à lei de Deus. DTN 13 1 Por Sua humanidade, Cristo estava em contato com a humanidade; por Sua divindade, firma-Se no trono de Deus. Como Filho do homem, deu-nos um exemplo de obediência; como Filho de Deus, dá-nos poder para obedecer. Foi Cristo que, do monte Horebe, falou a Moisés, dizendo: "Eu Sou o Que Sou. [...] Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós". Êxodo 3:14. Foi esse o penhor da libertação de Israel. Assim, quando Ele veio "semelhante aos homens", declarou ser o EU SOU. O Infante de Belém, o manso e humilde Salvador, é Deus manifestado "em carne". 1 Timóteo 3:16. A nós nos diz: "Eu Sou o Bom Pastor". João 10:11. "Eu Sou o Pão Vivo". João 6:51. "Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida". João 14:6. "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra". Mateus 28:18. Eu Sou a certeza da promessa. Sou Eu, não temais. "Deus conosco" é a certeza de nossa libertação do pecado, a segurança de nosso poder para obedecer à lei do Céu. DTN 13 2 Baixando a tomar sobre Si a humanidade, Cristo revelou um caráter exatamente oposto ao de Satanás. Desceu, porém, ainda mais baixo na escala da humilhação. "Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz". Filipenses 2:8. Como o sumo sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes pontificais, e oficiava no vestuário de linho branco, do sacerdote comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifício, sendo Ele mesmo o sacerdote e a vítima. "Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele". Isaías 53:5. DTN 13 3 Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. "Pelas Suas pisaduras fomos sarados". Isaías 53:5. DTN 13 4 Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado. Era o intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito". João 3:16. Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana. Esse é o penhor de que Deus cumprirá Sua palavra. "Um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros". Isaías 9:6. Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando a mesma ao mais alto Céu. É o "Filho do homem", que partilha do trono do Universo. É o "Filho do homem", cujo nome será "Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz". Isaías 9:6. O EU SOU é o Árbitro entre Deus e a humanidade, pondo a mão sobre ambos. Aquele que é "santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores" (Hebreus 7:26), "não Se envergonha de nos chamar irmãos". Hebreus 2:11. Em Cristo se acham ligadas a família da Terra e a do Céu. Cristo glorificado é nosso irmão. O Céu Se acha abrigado na humanidade, e esta envolvida no seio do Infinito Amor. DTN 14 1 Diz Deus de Seu povo: "Como as pedras de uma coroa eles serão exaltados na sua Terra. Porque, quão grande é a Sua bondade! E quão grande é a Sua formosura!" Zacarias 9:16, 17. A exaltação dos remidos será um eterno testemunho da misericórdia de Deus. Ele há de "mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus". Efésios 2:7. "Para que [...] a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor". Efésios 3:10, 11. DTN 14 2 Por meio da obra redentora de Cristo, o governo de Deus fica justificado. O Onipotente é dado a conhecer como o Deus de amor. As acusações de Satanás são refutadas, e revelado seu caráter. A rebelião não se levantará segunda vez. O pecado jamais poderá entrar novamente no Universo. Todos estarão por todos os séculos garantidos contra a apostasia. Mediante o sacrifício feito pelo amor, os habitantes da Terra e do Céu se acham ligados a seu Criador por laços de indissolúvel união. DTN 14 3 A obra da redenção será completa. Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus. A Terra, o próprio campo que Satanás reclama como seu, será não apenas redimida, mas exaltada. Nosso pequenino mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu -- aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, "com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus". Apocalipse 21:4. E através dos séculos infindos, enquanto os remidos andam na luz do Senhor, hão de louvá-Lo por Seu inefável Dom -- Emanuel, "Deus Conosco". ------------------------Capítulo 2 -- O povo escolhido DTN 15 1 Por mais de mil anos aguardara o povo judeu a vinda do Salvador. Nesse acontecimento fundamentara suas mais gloriosas esperanças. No cântico e na profecia, no ritual do templo e nas orações domésticas, haviam envolvido o Seu nome. Entretanto, por ocasião de Sua vinda, não O conheceram. O Bem-Amado do Céu foi para eles "como raiz duma terra seca"; não tinha "parecer nem formosura" (Isaías 53:2); e não Lhe viam beleza nenhuma para que O desejassem. "Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam". João 1:11. DTN 15 2 Todavia Deus escolhera a Israel. Ele o chamara para conservar entre os homens o conhecimento de Sua lei, e dos símbolos e profecias que apontavam ao Salvador. Desejava que fosse como fonte de salvação para o mundo. O que Abraão fora na terra de sua peregrinação, o que fora José no Egito e Daniel nas cortes de Babilônia, devia ser o povo hebreu entre as nações. Cumpria-lhe revelar Deus aos homens. DTN 15 3 Na vocação de Abraão, Deus dissera: "Abençoar-te-ei, [...] e tu serás uma bênção [...] e em ti serão benditas todas as famílias da Terra". Gênesis 12:2, 3. O mesmo ensino foi repetido pelos profetas. Ainda depois de Israel haver sido arruinado por guerras e cativeiros, pertencia-lhe a promessa: "Então os restos de Jacó estarão no meio de muitos povos, como um orvalho que vem do Senhor, e como gotas de água que caem sobre a erva, sem dependerem de ninguém, e sem esperarem nada dos filhos dos homens". Miquéias 5:7. A respeito do templo de Jerusalém, o Senhor declarou por intermédio de Isaías: "Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Isaías 56:7. DTN 15 4 Mas os israelitas fixaram suas esperanças em mundanas grandezas. Desde o tempo de sua entrada na terra de Canaã, apartaram-se dos mandamentos de Deus e seguiram os caminhos dos gentios. Era em vão que Deus enviava advertências por Seus profetas. Em vão sofriam eles o castigo da opressão gentílica. Toda reforma era seguida de mais profunda apostasia. DTN 15 5 Houvessem os filhos de Israel sido leais ao Senhor, e Ele teria podido cumprir Seu desígnio, honrando-os e exaltando-os. Houvessem andado nos caminhos da obediência, e tê-los-ia exaltado "sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória". Deuteronômio 26:19. "Todos os povos da Terra verão que és chamado pelo nome do Senhor", disse Moisés; "e terão temor de ti". Deuteronômio 28:10. "Os povos [...] ouvindo todos estes preceitos" dirão: "Eis um povo sábio e inteligente, uma nação grande". Deuteronômio 4:6. Devido a sua infidelidade, porém, o desígnio de Deus só pôde ser executado através de contínua adversidade e humilhação. DTN 16 1 Foram levados em sujeição a Babilônia, e espalhados pelas terras dos pagãos. Em aflição renovaram muitos sua fidelidade ao concerto de Deus. Enquanto penduravam suas harpas nos salgueiros, e lamentavam o santo templo posto em ruínas, a luz da verdade brilhava por meio deles, e difundia-se entre as nações o conhecimento de Deus. O pagânico sistema de sacrifícios era uma perversão do sistema que Deus indicara; e muitos dos sinceros observadores dos ritos pagãos aprenderam dos hebreus o significado do serviço divinamente ordenado, apoderando-se, com fé, da promessa do Redentor. DTN 16 2 Muitos dos exilados sofreram perseguição. Não poucos perderam a vida em virtude de sua recusa de violar o sábado e observar as festividades pagãs. Quando idólatras se levantaram para esmagar a verdade, o Senhor levou Seus servos à presença de reis e governadores, para que estes e seu povo pudessem receber a luz. Repetidamente os maiores reis foram levados a proclamar a supremacia do Deus a quem seus cativos hebreus adoravam. DTN 16 3 Mediante o cativeiro de Babilônia, os israelitas foram realmente curados do culto de imagens de escultura. Durante os séculos que se seguiram, sofreram opressão de seus inimigos gentios, até que se firmou neles a convicção de que sua prosperidade dependia da obediência prestada à lei de Deus. Mas com muitos deles a obediência não era motivada pelo amor. Tinham motivo egoísta. Prestavam a Deus um serviço exterior como meio de atingir a grandeza nacional. Não se tornaram a luz do mundo, mas excluíram-se do mundo a fim de fugir à tentação da idolatria. Nas instruções dadas a Moisés, Deus estabeleceu restrições à associação deles com os idólatras; estes ensinos, porém, haviam sido mal interpretados. Visavam preservá-los contra as práticas dos gentios. Mas foram usados para estabelecer uma parede de separação entre Israel e todas as outras nações. Os judeus consideravam Jerusalém como seu Céu, e tinham reais ciúmes de que Deus mostrasse misericórdia aos gentios. DTN 16 4 Depois da volta de Babilônia, foi dispensada muita atenção ao ensino religioso. Ergueram-se por todo o país sinagogas, nas quais a lei era exposta pelos sacerdotes e escribas. E estabeleceram-se escolas que, ao par das artes e ciências, professavam ensinar os princípios da justiça. Esses agentes perverteram-se, porém. Durante o cativeiro, muitos do povo haviam adquirido idéias e costumes pagãos, os quais foram introduzidos em seu culto. Conformaram-se, em muitos aspectos, com as práticas dos idólatras. DTN 16 5 À medida que se apartavam de Deus, os judeus perderam de vista em grande parte os ensinos do serviço ritual. Esse serviço fora instituído pelo próprio Cristo. Era, em cada uma de suas partes, um símbolo dEle; e mostrara-se cheio de vitalidade e beleza espiritual. Mas os judeus perderam a vida espiritual de suas cerimônias, apegando-se às formas mortas. Confiavam nos sacrifícios e ordenanças em si mesmos, em lugar de descansar nAquele a quem apontavam. A fim de suprir o que haviam perdido, os sacerdotes e rabis multiplicavam exigências por sua conta; e quanto mais rígidos se tornavam, menos manifestavam o amor de Deus. Mediam sua santidade pela multidão de cerimônias, ao passo que tinham o coração cheio de orgulho e hipocrisia. DTN 17 1 Com todas as suas minuciosas e enfadonhas imposições, era impossível guardar a lei. Os que desejavam servir a Deus, e procuravam observar os preceitos dos rabinos, arrastavam um pesado fardo. Não podiam encontrar sossego das acusações de uma consciência turbada. Assim operava Satanás para desanimar o povo, rebaixar sua concepção do caráter de Deus, e levar ao desprezo a fé de Israel. Esperava estabelecer a pretensão que manifestara quando de sua rebelião no Céu -- que as reivindicações de Deus eram injustas, e não podiam ser obedecidas. Mesmo Israel, declara ele, não guardava a lei. DTN 17 2 Ao passo que os israelitas desejavam o advento do Messias, não tinham um reto conceito da missão que Ele vinha desempenhar. Não buscavam redenção do pecado, mas libertação dos romanos. Olhavam o Messias por vir como um conquistador, para quebrar a força do que os oprimia, e exaltar Israel ao domínio universal. Assim estava preparado o caminho para rejeitarem o Salvador. DTN 17 3 Ao tempo do nascimento de Cristo, a nação estava irritada sob o governo de seus dominadores estrangeiros, e atormentada por lutas internas. Fora permitido aos judeus manterem a forma de um governo separado; mas coisa alguma podia disfarçar o fato de se acharem sob o jugo romano, ou reconciliá-los com a restrição de seu poder. Os romanos pretendiam o direito de indicar ou destituir o sumo sacerdote, e o cargo era muitas vezes obtido pela fraude, o suborno e até pelo homicídio. Assim o sacerdócio se tornava mais e mais corrupto. Todavia os sacerdotes ainda ostentavam grande poder, e o empregavam para fins egoístas e mercenários. O povo estava sujeito a suas desapiedadas exigências, e era também pesadamente onerado pelos romanos. Esse estado de coisas causava geral descontentamento. Os levantes populares eram freqüentes. A ganância e a violência, a desconfiança e apatia espiritual estavam corroendo o próprio âmago da nação. DTN 17 4 O ódio dos romanos, bem como o orgulho nacional e espiritual, levaram os judeus a apegar-se ainda rigorosamente a suas formas de culto. Os sacerdotes tentavam manter reputação de santidade mediante escrupulosa atenção às cerimônias religiosas. O povo, em seu estado de trevas e opressão, e os príncipes, sedentos de poder, ansiavam a vinda dAquele que havia de vencer seus inimigos e restaurar o reino a Israel. Eles tinham estudado as profecias, mas sem percepção espiritual. Esqueciam, portanto, os textos que apontavam à humilhação do primeiro advento de Cristo, e aplicavam mal os que falavam da glória do segundo. O orgulho lhes obscurecia a visão. Interpretavam a profecia segundo seus desejos egoístas. ------------------------Capítulo 3 -- "A plenitude dos tempos" DTN 18 1 Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho [...] para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos". Gálatas 4:4, 5. DTN 18 2 A vinda do Salvador foi predita no Éden. Quando Adão e Eva ouviram pela primeira vez a promessa, aguardavam-lhe o pronto cumprimento. Saudaram alegremente seu primogênito, na esperança de que fosse o Libertador. Mas o cumprimento da promessa demorava. Aqueles que primeiro a receberam, morreram sem o ver. Desde os dias de Enoque, a promessa foi repetida por meio de patriarcas e profetas, mantendo viva a esperança de Seu aparecimento, e todavia Ele não vinha. A profecia de Daniel revelou o tempo de Seu advento, mas nem todos interpretavam corretamente a mensagem. Século após século se passou; cessaram as vozes dos profetas. A mão do opressor era pesada sobre Israel, e muitos estavam dispostos a exclamar: "Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda a visão". Ezequiel 12:22. DTN 18 3 Mas, como as estrelas no vasto circuito de sua indicada órbita, os desígnios de Deus não conhecem adiantamento nem tardança. Mediante os símbolos da grande escuridão e do forno fumegante, Deus revelara a Abraão a servidão de Israel no Egito, e declarara que o tempo de peregrinação deles seria de quatrocentos anos. "Sairão depois com grandes riquezas". Gênesis 15:14. Contra essa palavra, todo o poder do orgulhoso império de Faraó batalhou em vão. "Naquele mesmo dia", indicado na promessa divina, "todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito". Êxodo 12:41. Assim, nos divinos conselhos fora determinada a hora da vinda de Cristo. Quando o grande relógio do tempo indicou aquela hora, Jesus nasceu em Belém. DTN 18 4 "Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho." A Providência havia dirigido os movimentos das nações, e a onda do impulso e influência humanos, até que o mundo se achasse maduro para a vinda do Libertador. As nações estavam unidas sob o mesmo governo. Falava-se vastamente uma língua, a qual era por toda parte reconhecida como a língua da literatura. De todas as terras os judeus da dispersão reuniam-se em Jerusalém para as festas anuais. Ao voltarem para os lugares de sua peregrinação, podiam espalhar por todo o mundo as novas da vinda do Messias. DTN 19 1 Por essa época, os sistemas pagãos iam perdendo o domínio sobre o povo. Os homens estavam cansados de aparências e fábulas. Ansiavam uma religião capaz de satisfazer a alma. Conquanto a luz da verdade parecesse afastada dos homens, havia almas ansiosas de luz, cheias de perplexidade e dor. Tinham sede do conhecimento do Deus vivo, da certeza de uma vida para além da morte. DTN 19 2 À medida que Israel se havia separado de Deus, sua fé se enfraquecera, e a esperança deixara, por assim dizer, de iluminar o futuro. As palavras dos profetas eram incompreendidas. Para a massa do povo, a morte era um terrível mistério; para além, a incerteza e as sombras. Não era só o pranto das mães de Belém, mas o clamor do grande coração da humanidade, que chegou ao profeta através dos séculos -- a voz ouvida em Ramá, "lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque já não existem". Mateus 2:18. Na "região da sombra da morte", sentavam-se os homens sem consolação. Com olhares ansiosos, aguardavam a vinda do Libertador, quando as trevas seriam dispersas, e claro se tornaria o mistério do futuro. DTN 19 3 Fora da nação judaica houve homens que predisseram o aparecimento de um instrutor. Esses homens andavam em busca da verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de inspiração. Um após outro, quais estrelas num céu enegrecido, haviam-se erguido esses mestres. Suas palavras de profecia despertaram a esperança no coração de milhares, no mundo gentio. DTN 19 4 Fazia séculos que as Escrituras haviam sido traduzidas para o grego, então vastamente falado no império romano. Os judeus estavam espalhados por toda parte, e sua expectação da vinda do Messias era, até certo ponto, partilhada pelos gentios. Entre aqueles a quem os judeus classificavam de pagãos, encontravam-se homens que possuíam melhor compreensão das profecias da Escritura relativas ao Messias, do que os mestres de Israel. Alguns O esperavam como Libertador do pecado. Filósofos esforçavam-se por estudar a fundo o mistério da organização dos hebreus. A hipocrisia destes, porém, impedia a disseminação da luz. Com o fito de manter a separação entre eles e as outras nações, não se dispunham a comunicar o conhecimento que ainda possuíam quanto ao serviço simbólico. Era preciso que viesse o verdadeiro Intérprete. Aquele a quem todos esses tipos prefiguravam, devia explicar o sentido dos mesmos. DTN 19 5 Por meio da natureza, de figuras e símbolos, de patriarcas e profetas, Deus falara ao mundo. As lições deviam ser dadas à humanidade na linguagem da própria humanidade. O Mensageiro do concerto devia falar. Sua voz devia ser ouvida em Seu próprio templo. Cristo tinha de vir para proferir palavras que fossem clara e positivamente compreendidas. Ele, o autor da verdade, devia separá-la da palha das expressões humanas, que a haviam tornado de nenhum efeito. Os princípios do governo de Deus e o plano da redenção, deviam ficar claramente definidos. As lições do Antigo Testamento precisavam ser plenamente apresentadas aos homens. DTN 20 1 Havia entre os judeus ainda algumas almas firmes, descendentes daquela santa linhagem através da qual fora conservado o conhecimento de Deus. Estes acalentavam a esperança da promessa feita aos pais. Fortaleciam a fé repousando na certeza dada por intermédio de Moisés: "O Senhor vosso Deus vos suscitará um profeta dentre vossos irmãos, semelhante a mim: a Este ouvireis em tudo que vos disser". Atos dos Apóstolos 3:22. E novamente liam como o Senhor havia de ungir Alguém "para pregar boas-novas aos mansos", "restaurar os contritos de coração", "proclamar liberdade aos cativos", e apregoar "o ano aceitável do Senhor". Isaías 61:1, 2. Liam como Ele havia de estabelecer "a justiça sobre a Terra", como as ilhas aguardariam a "Sua doutrina", (Isaías 42:4) como os gentios andariam à Sua luz, e os reis ao resplendor que Lhe nascera. Isaías 60:3. DTN 20 2 As últimas palavras de Jacó os enchiam de esperança: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló". Gênesis 49:10. O enfraquecido poder de Israel testemunhava que a vinda do Messias estava às portas. A profecia de Daniel pintava a glória do Seu reino sobre um domínio que sucederia a todos os impérios terrestres; e disse o profeta: "subsistirá para sempre". Daniel 2:44. Ao passo que poucos entendiam a natureza da missão de Cristo, era geral a expectativa de um poderoso príncipe que havia de estabelecer seu reino em Israel, e que viria como um libertador para as nações. DTN 20 3 Chegara a plenitude dos tempos. A humanidade, tornando-se mais degradada através dos séculos de transgressão, pedia a vinda do Redentor. Satanás estivera em operação para tornar intransponível o abismo entre a Terra e o Céu. Por suas falsidades tornara os homens atrevidos no pecado. Era seu desígnio esgotar a paciência de Deus, e extinguir-Lhe o amor para com os homens, de maneira que Ele abandonasse o mundo à satânica jurisdição. DTN 20 4 Satanás estava procurando vedar ao homem o conhecimento de Deus, desviar-lhe a atenção do templo divino, e estabelecer seu próprio reino. Dir-se-ia coroada de êxito sua luta pela supremacia. É verdade, que, em toda geração, Deus tem Seus instrumentos. Mesmo entre os gentios, havia homens por meio dos quais Cristo estava operando para elevar o povo de seu pecado e degradação. Mas esses homens eram desprezados e aborrecidos. Muitos deles haviam sofrido morte violenta. A escura sombra que Satanás lançara sobre o mundo, tornara-se cada vez mais densa. DTN 20 5 Por meio do paganismo, Satanás desviara por séculos os homens de Deus; mas conseguira seu grande triunfo ao perverter a fé de Israel. Contemplando e adorando suas próprias concepções, os gentios haviam perdido o conhecimento de Deus, tornando-se mais e mais corruptos. O mesmo se deu com Israel. O princípio de que o homem se pode salvar por suas próprias obras, e que está na base de toda religião pagã, tornara-se também o princípio da religião judaica. Implantara-o Satanás. Onde quer que seja mantido, os homens não têm barreira contra o pecado. DTN 21 1 A mensagem de salvação é comunicada aos homens por intermédio de instrumentos humanos. Mas os judeus haviam procurado monopolizar a verdade, que é a vida eterna. Entesouraram o vivo maná, que se corrompera. A religião que tinham buscado guardar só para si, tornara-se um tropeço. Roubavam a Deus de Sua glória, e prejudicavam o mundo por uma falsificação do evangelho. Haviam recusado entregar-se a Deus para a salvação do mundo, e tornaram-se instrumento de Satanás para sua destruição. DTN 21 2 O povo a quem Deus chamara para ser a coluna e fundamento da verdade, transformara-se em representante de Satanás. Faziam a obra que este queria que fizessem, seguindo uma conduta em que apresentavam mal o caráter de Deus, fazendo com que o mundo O considerasse um tirano. Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista a significação do serviço que realizavam. Deixaram de olhar, para além do símbolo, àquilo que ele significava. Apresentando as ofertas sacrificais, eram como atores num palco. As ordenanças que o próprio Deus indicara, tinham-se tornado o meio de cegar o espírito e endurecer o coração. Deus não poderia fazer nada mais pelo homem por meio desses veículos. Todo o sistema devia ser banido. DTN 21 3 O engano do pecado atingira sua culminância. Todos os meios para depravar a alma dos homens haviam sido postos em operação. Contemplando o mundo, o Filho de Deus viu sofrimento e miséria. Viu, com piedade, como os homens se tinham tornado vítimas da crueldade satânica. Olhou compassivamente para os que estavam sendo corrompidos, mortos, perdidos. Estes tinham escolhido um dominador que os jungia a seu carro como cativos. Confundidos e enganados, avançavam, em sombria procissão rumo à ruína eterna -- para a morte em que não há nenhuma esperança de vida, para a noite que não tem alvorecer. Agentes satânicos estavam incorporados com os homens. O corpo de criaturas humanas, feito para habitação de Deus, tornara-se morada de demônios. Os sentidos, os nervos, as paixões, os órgãos dos homens eram por agentes sobrenaturais levados a condescender com a concupiscência mais vil. O próprio selo dos demônios se achava impresso na fisionomia dos homens. Esta refletia a expressão das legiões do mal de que se achavam possessos. Eis a perspectiva contemplada pelo Redentor do mundo. Que espetáculo para a Infinita Pureza! DTN 21 4 O pecado se tornara uma ciência, e era o vício consagrado como parte da religião. A rebelião deitara fundas raízes na alma, e violenta era a hostilidade do homem contra o Céu. Ficara demonstrado perante o Universo que, separada de Deus, a humanidade não se poderia erguer. Novo elemento de vida e poder tinha de ser comunicado por Aquele que fizera o mundo. DTN 22 1 Com intenso interesse, os mundos não caídos observavam para ver Jeová levantar-Se e assolar os habitantes da Terra. E, fizesse Deus assim, Satanás estaria pronto a executar seu plano de conquistar a aliança dos seres celestiais. Declarara ele que os princípios de Deus tornavam impossível o perdão. Houvesse o mundo sido destruído, e teria pretendido serem justas as suas acusações. Estava disposto a lançar a culpa sobre o Senhor, e estender sua rebelião pelos mundos em cima. Em lugar de destruir o mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar. Embora se pudessem, por toda parte do desgarrado domínio, ver corrupção e desafio, foi provido um meio para resgatá-lo. Justo no momento da crise, quando Satanás parecia prestes a triunfar, veio o Filho de Deus com a embaixada da graça divina. Através de todos os séculos, de todas as horas, o amor de Deus se havia exercido para com a raça caída. Não obstante a perversidade dos homens, os sinais da misericórdia tinham sido constantemente manifestados. E, ao chegar à plenitude dos tempos, a Divindade era glorificada derramando sobre o mundo um dilúvio de graça vivificadora, o qual nunca seria impedido nem retido enquanto o plano da salvação não se houvesse consumado. DTN 22 2 Satanás rejubilava por haver conseguido rebaixar a imagem de Deus na humanidade. Então veio Cristo, a fim de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo, pode remodelar o caráter arruinado pelo pecado. Veio para expelir os demônios que haviam dominado a vontade. Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o modelo de Seu divino caráter, embelezando-o com Sua própria glória. ------------------------Capítulo 4 -- "Hoje vos nasceu o Salvador" DTN 23 0 Este capítulo é baseado em Lucas 2:1-20. DTN 23 1 O Rei da Glória muito Se humilhou ao revestir-Se da humanidade. Rude e ingrato foi o Seu ambiente terrestre. Sua glória foi velada, para que a majestade de Sua aparência exterior não se tornasse objeto de atração. Esquivava-Se a toda exibição exterior. DTN 23 2 Riquezas, honras terrestres e humana grandeza nunca poderão salvar uma alma da morte; Jesus Se propôs que nenhuma atração de natureza terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade celeste devia atrair os que O seguissem. O caráter do Messias fora desde há muito predito na profecia, e era Seu desejo que os homens O aceitassem em razão do testemunho da Palavra de Deus. DTN 23 3 Os anjos maravilharam-se ante o glorioso plano da redenção. Observavam a ver de que maneira o povo de Deus receberia Seu Filho, revestido da humanidade. Anjos foram à terra do povo escolhido. Outras nações estavam embebidas com fábulas, e adorando falsos deuses. À terra onde se revelara a glória de Deus, e brilhara a luz da profecia, foram os anjos. Dirigiram-se invisíveis a Jerusalém, aos designados expositores dos Sagrados Oráculos, e ministros da casa de Deus. Já a Zacarias, enquanto ministrava perante o altar, fora anunciada a proximidade da vinda de Cristo. Já nascido estava o precursor, havendo sua missão sido atestada por milagres e profecias. As novas de Seu nascimento e o maravilhoso significado de Sua missão tinham sido amplamente divulgados. Todavia, Jerusalém não se estava preparando para receber o Redentor. DTN 23 4 Com pasmo viram os mensageiros celestiais a indiferença do povo a quem Deus chamara para comunicar ao mundo a luz da sagrada verdade. A nação judaica fora conservada como testemunho de que Cristo havia de nascer da semente de Abraão e da linhagem de Davi; no entanto, não sabiam que Sua vinda se achava agora às portas. No templo, o sacrifício matutino e vespertino apontava diariamente ao Cordeiro de Deus; entretanto, nem mesmo ali havia qualquer preparação para O receber. Os sacerdotes e doutores da nação ignoravam que o maior acontecimento dos séculos estava prestes a ocorrer. Proferiam suas orações destituídas de sentido, e realizavam os ritos do culto para serem vistos pelos homens, mas em sua luta por riquezas e honras mundanas, não estavam preparados para a revelação do Messias. A mesma indiferença penetrava a terra de Israel. Corações egoístas e absorvidos pelo mundo, ficavam impassíveis ante o júbilo que comovia o Céu. Apenas alguns estavam ansiando contemplar o Invisível. A esses foi enviada a embaixada do Céu. DTN 24 1 Anjos assistiam José e Maria enquanto viajavam de seu lar, em Nazaré, à cidade de Davi. O decreto de Roma Imperial acerca do alistamento dos povos de seu vasto domínio, estendera-se aos habitantes das montanhas da Galiléia. Como outrora Ciro fora chamado ao trono do império do mundo a fim de libertar os cativos do Senhor, assim César Augusto se tornara o instrumento para a realização do desígnio de Deus em levar a mãe de Jesus a Belém. Ela é da linhagem de Davi, e o Filho de Davi deve nascer na sua cidade. De Belém dissera o profeta: "De ti é que Me há de sair Aquele que há de reinar em Israel, e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade". Miquéias 5:2. Mas na cidade de sua real linhagem, José e Maria não são reconhecidos nem honrados. Fatigados e sem lar, atravessam toda a extensão da estreita rua, da porta da cidade ao extremo oriental desta, buscando em vão um lugar de pousada para a noite. Não há lugar para eles na apinhada hospedaria. Num rústico rancho em que se abrigam os animais, encontram afinal refúgio, e ali nasce o Redentor do mundo. DTN 24 2 Os homens não o sabem, mas as novas enchem o Céu de regozijo. Com mais profundo e mais terno interesse os santos seres do mundo da luz são atraídos para a Terra. Todo o mundo se ilumina à presença do Redentor. Sobre as colinas de Belém acha-se reunida inumerável multidão de anjos. Esperam o sinal para declarar as alegres novas ao mundo. Houvessem os guias de Israel sido fiéis ao depósito que se lhes confiara, e teriam partilhado da alegria de anunciar o nascimento de Jesus. Mas assim foram passados por alto. DTN 24 3 Deus declara: "Derramarei águas sobre o sedento e rios sobre a terra seca" (Isaías 44:3 "Aos justos nasce luz das trevas". Salmos 112:4. Os brilhantes raios, que descem do trono de Deus, iluminarão os que andam em busca de luz e a aceitam com alegria. DTN 24 4 Nos campos em que o jovem Davi guardara seus rebanhos, havia ainda pastores vigiando durante a noite. Nas horas caladas, conversavam entre si acerca do prometido Salvador, e oravam pela vinda do Rei ao trono de Davi. "E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor". Lucas 2:9-11. DTN 24 5 A essas palavras, visões de glória encheram a mente dos pastores que as escutavam. Chegara a Israel o Libertador! Poder, exaltação, triunfo, acham-se associados à Sua vinda. O anjo, porém, deve prepará-los para reconhecerem o Salvador na pobreza e na humilhação. "Isto vos será por sinal", diz ele: "Achareis o Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura". Lucas 2:12. DTN 25 1 O celestial mensageiro acalmara-lhes os temores. Dissera-lhes como poderiam encontrar Jesus. Com terna consideração para com sua humana fraqueza, dera-lhes tempo para se habituarem à radiação divina. Então, o júbilo e a glória não se puderam por mais tempo ocultar. Toda a planície se iluminou com a resplandecência das hostes de Deus. A Terra emudeceu, e o Céu inclinou-se para escutar o cântico: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens". Lucas 2:14. DTN 25 2 Quem dera que a família humana pudesse hoje reconhecer este cântico! A declaração então feita, a nota vibrada então, avolumar-se-á até ao fim do tempo, e ressoará até aos extremos da Terra. Quando se erguer o Sol da Justiça, trazendo salvação sob Suas asas, esse cântico há de ecoar pela voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, dizendo: "Aleluia, pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina". Apocalipse 19:6. DTN 25 3 Ao desaparecerem os anjos, dissipou-se a luz, e mais uma vez cobriram as sombras da noite as colinas de Belém. A mais gloriosa cena que olhos humanos já contemplaram, permaneceu, no entanto, na memória dos pastores. "E depois que os anjos se retiraram deles para o Céu, os pastores diziam entre si: Vamos até Belém, e vejamos o que é que lá sucedeu, e o que é que o Senhor nos manifestou. E foram com grande pressa; e encontraram Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura". Lucas 2:15, 16. DTN 25 4 Partindo com grande alegria, divulgaram as coisas que tinham visto e ouvido. "E todos os que o ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam. Mas Maria guardou todas estas coisas, conferindo-as em seu coração. E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus". Lucas 2:18-20. Não se acham o Céu e a Terra mais distanciados hoje do que ao tempo em que os pastores ouviram o cântico dos anjos. A humanidade é hoje objeto da solicitude celeste da mesma maneira que o era quando homens comuns, ocupando posições ordinárias, se encontravam à luz do dia com anjos, e falavam com os mensageiros nas vinhas e nos campos. Enquanto nos movemos em nossos afazeres comuns, podemos ter bem perto o Céu. Anjos das cortes no alto assistirão os passos dos que vão e vêm às ordens de Deus. DTN 25 5 A história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as "profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus". Romanos 11:33. Maravilhamo-nos do sacrifício do Salvador em permutar o trono do Céu pela manjedoura, e a companhia dos anjos que O adoravam pela dos animais da estrebaria. O orgulho e presunção humanos ficam repreendidos em Sua presença. Todavia, esse passo não era senão o princípio de Sua maravilhosa condescendência. Teria sido uma quase infinita humilhação para o Filho de Deus, revestir-Se da natureza humana mesmo quando Adão permanecia em seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da operação da grande lei da hereditariedade. O que estes resultados foram, manifesta-se na história de Seus ancestrais terrestres. Veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos o exemplo de uma vida impecável. DTN 26 1 Satanás aborrecera a Cristo no Céu, por causa de Sua posição nas cortes de Deus. Mais O aborreceu ainda quando se sentiu ele próprio destronado. Odiou Aquele que Se empenhou em redimir uma raça de pecadores. Não obstante, ao mundo em que Satanás pretendia domínio, permitiu Deus que viesse Seu Filho, impotente criancinha, sujeito à fraqueza da humanidade. Permitiu que enfrentasse os perigos da vida em comum com toda a alma humana, combatesse o combate como qualquer filho da humanidade o tem de fazer, com risco de fracasso e ruína eterna. DTN 26 2 O coração do pai humano compadece-se do filho. Olha a fisionomia do pequenino, e treme ante a idéia dos perigos da vida. Anela proteger seu querido do poder de Satanás, guardá-lo da tentação e do conflito. Para enfrentar mais amargo conflito e mais terrível risco Deus deu Seu Filho unigênito, para que a vereda da vida fosse assegurada aos nossos pequeninos. "Nisto está o amor." Maravilhai-vos, ó céus! e assombrai-vos, ó Terra! ------------------------Capítulo 5 -- A dedicação DTN 27 0 Este capítulo é baseado em Lucas 2:21-38. DTN 27 1 Cerca de quarenta dias depois do nascimento de Cristo, José e Maria levaram-nO a Jerusalém, para O apresentar ao Senhor, e oferecer sacrifício. Isso estava de acordo com a lei judaica e, como substituto do homem, Cristo Se devia conformar com a lei em todos os particulares. Já havia sido submetido ao rito da circuncisão, como penhor de Sua submissão à lei. DTN 27 2 Como oferta da parte da mãe, a lei exigia um cordeiro de um ano para holocausto, e um pombinho novo ou uma rola como oferta pelo pecado. Mas a lei prescrevia que, se os pais fossem demasiado pobres para levar um cordeiro, seria aceito um par de rolas ou dois pombinhos, um para holocausto, e outro como oferta pelo pecado. DTN 27 3 As ofertas apresentadas ao Senhor deviam ser sem mancha. Representavam a Cristo, de onde se conclui evidentemente que Jesus era isento de deformidade física. Era o "cordeiro imaculado e sem contaminação". 1 Pedro 1:19. Sua estrutura física não era maculada por qualquer defeito; o corpo era robusto e sadio. E, durante toda a vida, viveu em conformidade com as leis da natureza. Física assim como espiritualmente, Jesus foi um exemplo do que Deus designava que fosse toda a humanidade, mediante a obediência a Suas leis. DTN 27 4 A dedicação do primogênito teve sua origem nos primitivos tempos. Deus prometera dar o Primogênito do Céu para salvar os pecadores. Este dom devia ser reconhecido em todas as famílias pela consagração do primogênito. Devia ser consagrado ao sacerdócio, como representante de Cristo entre os homens. DTN 27 5 Na libertação de Israel do Egito, a dedicação do primogênito foi novamente ordenada. Quando os filhos de Israel estavam em servidão aos egípcios, o Senhor instruiu Moisés a ir ter com Faraó, rei do Egito, dizendo: "Assim diz o Senhor: Israel é Meu Filho, Meu primogênito. E Eu te tenho dito: Deixa ir o Meu filho, para que Me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que Eu matarei a teu filho, o teu primogênito". Êxodo 4:22, 23. DTN 27 6 Moisés entregou sua mensagem; mas a resposta do orgulhoso rei, foi: "Quem é o Senhor, para que eu obedeça à Sua voz, e deixe ir Israel? Não conheço o Senhor, e não deixarei ir Israel". Êxodo 5:2. O Senhor operou em favor de Seu povo por meio de sinais e maravilhas, enviando terríveis juízos sobre Faraó. Por fim, o anjo destruidor foi incumbido de matar o primogênito do homem e dos animais entre os egípcios. A fim de que os israelitas fossem poupados, receberam instruções para pôr nas ombreiras da porta de sua casa o sangue de um cordeiro imolado. Cada casa devia ser marcada, para que, quando o anjo viesse, em sua missão de morte, passasse por sobre a dos israelitas. DTN 28 1 Depois de enviar este juízo sobre o Egito, o Senhor disse a Moisés: "Santifica-Me todo o primogênito [...] de homens e de animais; porque Meu é". Êxodo 13:2. "Desde o dia em que feri a todo o primogênito na terra do Egito, santifiquei para Mim todo o primogênito em Israel, desde o homem até ao animal; Meus serão; Eu sou o Senhor". Números 3:13. Depois que o serviço do tabernáculo foi estabelecido, o Senhor escolheu a tribo de Levi em lugar do primogênito de todo o Israel, para ministrar no santuário. Entretanto, esses primogênitos deviam continuar a ser considerados como pertencendo ao Senhor, devendo ser reavidos por meio de resgate. DTN 28 2 Assim a lei para apresentação do primogênito se tornava particularmente significativa. Ao mesmo tempo que era uma comemoração do maravilhoso libertamento dos filhos de Israel, prefigurava um livramento maior, a ser operado pelo unigênito Filho de Deus. Como o sangue espargido nos umbrais da porta havia salvo o primogênito de Israel, assim o sangue de Cristo tem poder de salvar o mundo. DTN 28 3 Que significação, logo, se acha ligada à apresentação de Cristo! Mas o sacerdote não enxergou através do véu; não leu o mistério além. A apresentação de crianças era cena comum. Diariamente o sacerdote recebia o dinheiro da redenção, ao serem as criancinhas apresentadas ao Senhor. Cotidianamente seguia a rotina de sua obra, prestando pouca atenção aos pais ou às crianças, a não ser que notasse qualquer indício de fortuna ou elevada posição dos primeiros. José e Maria eram pobres; e, ao trazerem seu filho, o sacerdote viu unicamente um homem e uma mulher trajados à moda galiléia, e no mais humilde vestuário. Nada havia em sua aparência que atraísse a atenção, e a oferta que apresentaram era a das classes mais pobres. DTN 28 4 O sacerdote fez a cerimônia de seu serviço oficial. Tomou a criança nos braços, e ergueu-a perante o altar. Depois de a devolver à mãe, inscreveu o nome "Jesus" na lista dos primogênitos. Mal pensava ele, enquanto a criança lhe repousava nos braços, que era a Majestade do Céu, o Rei da Glória. Não pensou o sacerdote que essa criança era Aquele de quem Moisés escrevera: "O Senhor vosso Deus vos suscitará um Profeta dentre vossos irmãos, semelhante a mim; a Este ouvireis em tudo o que vos disser". Atos dos Apóstolos 3:22. Não pensou que essa criança era Aquele cuja glória Moisés rogara ver. Mas Alguém maior do que Moisés Se achava nos braços do sacerdote; e, ao inscrever o nome do menino, inscrevia o dAquele que era o fundamento de toda a dispensação judaica. Aquele nome devia ser sua sentença de morte; pois o sistema de sacrifícios e ofertas estava envelhecendo; o tipo havia quase atingido o antítipo, a sombra ao corpo. DTN 29 1 O Shekinah [presença visível de Deus] se afastara do santuário, mas no Menino de Belém encontrava-se, velada, a glória ante a qual se curvam os anjos. Essa inconsciente criancinha era a Semente prometida, a quem apontava o primeiro altar, construído à porta do Éden. Este era Siló, o doador de paz. Fora Ele que Se declarara a Moisés como o EU SOU. Fora Ele quem, na coluna de fumo e fogo, servira de guia a Israel. Este era Aquele sobre quem os videntes haviam predito. Era o Desejado de todas as nações, a Raiz e a Geração de Davi, a Resplandecente Estrela da Manhã. O nome dAquele impotente Menino, inscrito nos registros de Israel, declarando-O nosso irmão, era a esperança da caída humanidade. A Criança por quem fora pago o resgate era Aquele que devia pagar o resgate pelos pecados do mundo. Era Ele o verdadeiro "sumo Sacerdote sobre a casa de Deus" (Hebreus 10:21), a cabeça de "um sacerdócio perpétuo", (Hebreus 7:24) o intercessor "à destra da Majestade nas alturas". Hebreus 1:3. DTN 29 2 As coisas espirituais se discernem espiritualmente. No templo, o Filho de Deus foi consagrado à obra que viera fazer. O sacerdote olhou-O como o teria feito a qualquer outra criança. Mas, se bem que não visse nem sentisse nada de extraordinário, o ato de Deus em dar Seu Filho ao mundo não ficou despercebido. Essa ocasião não passou sem que Cristo fosse de algum modo reconhecido. "Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a Consolação d'Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor". Lucas 2:25, 26. DTN 29 3 Ao entrar Simeão no templo, vê uma família apresentando o primogênito ante o sacerdote. Sua aparência revela pobreza; mas Simeão compreende as advertências do Espírito, e é profundamente impressionado quanto a ser o menino que está sendo apresentado ao Senhor, a Consolação de Israel, Aquele que anelava ver. Ao surpreendido sacerdote, Simeão parece um homem enlevado. A criança fora devolvida a Maria, e ele a toma nos braços e a apresenta a Deus, enquanto sua alma é possuída de uma alegria que nunca dantes experimentara. Ao levantar o Salvador para o céu, diz: "Agora, Senhor, despedes em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; pois já os meus olhos viram a Tua salvação, a qual Tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para alumiar as nações, e para glória de Teu povo Israel". Lucas 2:29-32. DTN 29 4 O espírito de profecia estava sobre este homem de Deus, e enquanto José e Maria ali permaneciam, admirando-se de suas palavras, ele os abençoou, e disse a Maria: "Eis que Este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado; (e uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações". Lucas 2:35, 36. DTN 30 1 Também Ana, uma profetisa, entrou e confirmou o testemunho de Simeão a respeito de Cristo. Ao falar Simeão, seu rosto iluminou-se com a glória de Deus, e ela derramou suas sinceras ações de graças por lhe haver sido permitido contemplar o Cristo do Senhor. DTN 30 2 Esses humildes adoradores não haviam estudado em vão as profecias. Mas os que ocupavam posições de príncipes e sacerdotes em Israel, conquanto tivessem igualmente diante de si as preciosas declarações dos profetas, não estavam andando no caminho do Senhor, e seus olhos não se achavam abertos para contemplar a Luz da vida. DTN 30 3 Assim é ainda. Acontecimentos nos quais a atenção de todo o Céu se acha concentrada, não são discernidos, sua ocorrência passa despercebida pelos guias religiosos e os adoradores na casa de Deus. Os homens reconhecem Cristo na História, ao passo que se desviam do Cristo vivo. Cristo em Sua Palavra, convidando ao sacrifício, no pobre e sofredor que implora auxílio, na causa justa que envolve pobreza e fadiga e censuras, nestas coisas Ele não é hoje mais prontamente recebido do que o foi mil e novecentos anos atrás. DTN 30 4 Maria ponderou a vasta e profunda profecia de Simeão. Ao olhar para a criança que tinha nos braços, e relembrar as palavras dos pastores de Belém, enchia-se de grata alegria e iluminada esperança. As palavras de Simeão trouxeram-lhe à mente as proféticas declarações de Isaías: "Brotará um Rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um Renovo frutificará. E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. [...] E a justiça será o cinto dos Seus lombos". Isaías 11:1-5. "O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. [...] Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz". Isaías 9:2-6. DTN 30 5 No entanto, Maria não compreendia a missão de Cristo. Simeão profetizara dEle como uma luz para os gentios, bem como uma glória para Israel. Assim o anjo anunciara Seu nascimento como novas de grande alegria para todos os povos. Deus estava procurando corrigir a estreita concepção judaica da obra do Messias. Desejava que os homens O olhassem, não somente como o libertador de Israel, mas como o Redentor do mundo. Muitos anos, porém, deviam passar antes de a própria mãe de Jesus poder compreender Sua missão. DTN 31 6 Maria esperava o reino do Messias no trono de Davi, mas não via o batismo de sofrimento pelo qual esse trono devia ser conquistado. Por meio de Simeão revelava-se que o Messias não teria no mundo um caminho livre de obstáculos. Nas palavras dirigidas a Maria: "Uma espada traspassará também a tua própria alma", Deus, em Sua compassiva misericórdia, dá à mãe de Jesus uma indicação da angústia que já por amor dEle começara a suportar. DTN 31 1 "Eis que Este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado", dissera Simeão. Teriam de cair os que se quisessem erguer novamente. Precisamos cair sobre a Rocha e despedaçar-nos, antes de poder ser elevados em Cristo. O eu tem de ser destronado, abatido o orgulho, se queremos conhecer a glória do reino espiritual. Os judeus não queriam aceitar a honra que se obtém por meio da humilhação. Não receberam, portanto, o Redentor. Ele foi um sinal contra o qual se falaria. DTN 31 2 "Para que se manifestem os pensamentos de muitos corações". Lucas 2:35. A luz da vida do Salvador, o coração de todos, desde o Criador ao príncipe das trevas, é manifestado. Satanás tem representado a Deus como egoísta e opressor, como pretendendo tudo e não dando nada, como reclamando o serviço de Suas criaturas para Sua própria glória, e não fazendo nenhum sacrifício em favor delas. Mas o dom de Cristo revela o coração do Pai. Ele testifica que os pensamentos de Deus a nosso respeito são "pensamentos de paz, e não de mal". Jeremias 29:11. Declara que, ao passo que o ódio de Deus para com o pecado é forte como a morte, Seu amor para com o pecador é ainda mais forte do que a morte. Havendo empreendido nossa redenção, não poupará coisa alguma, por cara que Lhe seja, se necessário for à finalização de Sua obra. Nenhuma verdade essencial à nossa salvação é retida, nenhum milagre de misericórdia negligenciado, nenhum instrumento divino deixado de ser posto em ação. Os favores amontoam-se aos favores, as dádivas acrescentam-se às dádivas. Todo o tesouro do Céu se acha franqueado àqueles que Ele busca salvar. Havendo coletado as riquezas do Universo, e aberto os recursos do infinito poder, entrega tudo nas mãos de Cristo, e diz: Tudo isso é para o homem. Serve-Te de tudo isso para lhe provar que não há amor maior que o Meu na Terra e no Céu. Sua maior felicidade se achará em Me amar ele a Mim. DTN 31 3 Na cruz do Calvário, o amor e o egoísmo encontraram-se face a face. Ali teve lugar sua suprema manifestação. Cristo vivera unicamente para confortar e beneficiar, e, ao levá-Lo à morte, Satanás manifestou a malignidade de seu ódio contra Deus. Tornou evidente que o real desígnio de sua rebelião, era destronar o Senhor, e destruir Aquele por meio de quem o Seu amor se manifestava. DTN 31 4 Pela vida e morte de Cristo, também os pensamentos dos homens são trazidos à luz. Da manjedoura à cruz, a vida do Salvador foi um convite à entrega, e à participação no sofrimento. Revelou o desígnio dos homens. Jesus veio com a verdade do Céu, e todos quantos ouviam a voz do Espírito Santo foram atraídos a Ele. Os adoradores do próprio eu pertenciam ao reino de Satanás. Em sua atitude em relação a Cristo, todos manifestariam de que lado se achavam. E assim todos passam sobre si mesmos o julgamento. DTN 32 1 No dia do juízo final, toda alma perdida compreenderá a natureza de sua rejeição da verdade. A cruz será apresentada, e sua real significação será vista por todo espírito que foi cegado pela transgressão. Ante a visão do Calvário com sua misteriosa Vítima, achar-se-ão condenados os pecadores. Toda falsa desculpa será banida. A apostasia humana aparecerá em seu odioso caráter. Os homens verão o que foi sua escolha. Toda questão de verdade e de erro, na longa controvérsia, terá então sido esclarecida. No juízo do Universo, Deus ficará isento de culpa pela existência ou continuação do mal. Será demonstrado que os decretos divinos não são cúmplices do pecado. Não havia defeito no governo de Deus, nenhum motivo de desafeto. Quando os pensamentos de todos os corações forem revelados, tanto os leais como os rebeldes se unirão em declarar: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos. Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? [...] Porque os Teus juízos são manifestos". Apocalipse 15:3, 4. ------------------------Capítulo 6 -- "Vimos a sua estrela" DTN 33 0 Este capítulo é baseado em Mateus 2. DTN 33 1 Tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está Aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a Sua estrela no Oriente, e viemos a adorá-Lo". Mateus 2:1, 2. DTN 33 2 Os magos do Oriente eram filósofos. Faziam parte de uma grande e influente classe que incluía homens de nobre nascimento, bem como muitos dos ricos e sábios de sua nação. Entre estes se achavam muitos que abusavam da credulidade do povo. Outros eram homens justos, que estudavam as indicações da Providência na natureza, sendo honrados por sua integridade e sabedoria. Desses eram os magos que foram em busca de Jesus. DTN 33 3 A luz de Deus está sempre brilhando entre as trevas do paganismo. Ao estudarem esses magos o céu estrelado, procurando sondar os mistérios ocultos em seus luminosos caminhos, viram a glória do Criador. Buscando mais claro entendimento, voltaram-se para as Escrituras dos hebreus. Guardados como tesouro havia, em sua própria terra, escritos proféticos, que prediziam a vinda de um mestre divino. Balaão pertencia aos magos, conquanto fosse em tempos profeta de Deus; pelo Espírito Santo predissera a prosperidade de Israel, e o aparecimento do Messias; e suas profecias haviam sido conservadas, de século em século, pela tradição. No Antigo Testamento, porém, a vinda do Salvador era mais claramente revelada. Os magos souberam, com alegria, que Seu advento estava próximo, e que todo o mundo se encheria do conhecimento da glória do Senhor. DTN 33 4 Viram os magos uma luz misteriosa nos céus, naquela noite em que a glória de Deus inundara as colinas de Belém. Ao dissipar-se a luz, surgiu uma luminosa estrela que permaneceu no céu. Não era uma estrela fixa, nem um planeta, e o fenômeno despertou o mais vivo interesse. Aquela estrela era um longínquo grupo de anjos resplandecentes, mas isso os sábios ignoravam. Tiveram, todavia, a impressão de que aquela estrela tinha para eles significado especial. Consultaram sacerdotes e filósofos, e examinaram os rolos dos antigos registros. A profecia de Balaão declarara: "Uma Estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel". Números 24:17. Teria acaso sido enviada essa singular estrela como precursora do Prometido? Os magos acolheram com agrado a luz da verdade enviada pelo Céu; agora era sobre eles derramada em mais luminosos raios. Foram instruídos em sonhos a ir em busca do recém-nascido Príncipe. DTN 34 1 Como Abraão, pela fé, saíra em obediência ao chamado de Deus, "sem saber para onde ia" (Hebreus 11:8); como, pela fé Israel seguira a coluna de nuvem até à terra prometida, assim esses gentios saíram à procura do prometido Salvador. Esse país oriental era rico em coisas preciosas, e os magos não se puseram a caminho de mãos vazias. Era costume, a príncipes ou outras personagens de categoria, oferecer presentes como ato de homenagem, e os mais ricos dons proporcionados por aquela região foram levados em oferta Àquele em quem haviam de ser benditas todas as famílias da Terra. Era necessário viajar de noite, a fim de não perderem de vista a estrela; mas os viajantes entretinham as horas proferindo ditos tradicionais e profecias a respeito dAquele a quem buscavam. Em toda parada que faziam para repouso, examinavam as profecias; e neles se aprofundava a convicção de que eram divinamente guiados. Enquanto, como sinal exterior, tinham diante de si a estrela, sentiam interiormente o testemunho do Espírito Santo, que lhes impressionava o coração, inspirando-lhes também esperança. Se bem que longa, a viagem foi feita com alegria. DTN 34 2 Chegam à terra de Israel, e descem o monte das Oliveiras, tendo à vista Jerusalém, quando eis que a estrela que lhes servira de guia por todo o fatigante caminho detém-se por sobre o templo, desvanecendo-se, depois de algum tempo, aos seus olhos. Ansiosos, dirigem os passos para diante, esperando confiantemente que o nascimento do Messias fosse o jubiloso assunto de todas as bocas. São, porém, vãs suas pesquisas. Entretanto na santa cidade, dirigem-se ao templo. Para seu espanto, não encontram ninguém que parecesse saber do recém-nascido Rei. Suas perguntas não despertavam expressões de alegria, mas antes de surpresa e temor, não isentos de desprezo. DTN 34 3 Os sacerdotes repetem as tradições. Exaltam sua própria religião e piedade, ao passo que acusam os gregos e romanos como maiores pagãos e pecadores que todos os outros. Os magos não são idólatras, e aos olhos de Deus ocupam lugar muito acima desses, Seus professos adoradores; todavia, são considerados pelos judeus como gentios. Mesmo entre os designados depositários dos Santos Oráculos, suas ansiosas perguntas não fazem vibrar nenhuma corda de simpatia. DTN 34 4 A chegada dos magos foi prontamente divulgada por toda Jerusalém. Sua estranha mensagem criou entre o povo uma agitação que penetrou no palácio do rei Herodes. O astuto edomita foi despertado ante a notícia de um possível rival. Inúmeros assassínios lhe haviam manchado o caminho ao trono. Sendo de sangue estrangeiro, era odiado pelo povo sobre quem governava. Sua única segurança era o favor de Roma. Esse novo Príncipe, no entanto, tinha mais elevado título. Nascera para o reino. DTN 34 5 Herodes suspeitou que os sacerdotes estivessem tramando com os estrangeiros para despertar um tumulto popular, destronando-o. Ocultou, no entanto, sua desconfiança, decidido a malograr-lhes os planos por maior astúcia. Convocando os principais dos sacerdotes e os escribas, interrogou-os quanto aos ensinos dos livros sagrados com relação ao lugar do nascimento do Messias. Essa indagação do usurpador do trono, e o ser feita a instâncias de estrangeiros, espicaçou o orgulho dos mestres judeus. A indiferença com que se voltaram para os rolos da profecia, irritou o ciumento tirano. Julgou que estavam buscando ocultar seu conhecimento do assunto. Com uma autoridade que não ousaram desatender, ordenou-lhes que fizessem atenta investigação e declarassem o lugar do nascimento do esperado Rei. "E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta: "E tu Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar Meu povo de Israel". Mateus 2:6. DTN 35 1 Herodes convidou então os magos a uma entrevista particular. Rugia-lhe no coração uma tempestade de ira e temor, mas manteve um exterior sereno, e recebeu cortesmente os estrangeiros. Indagou em que tempo aparecera a estrela, e professou saudar com alegria a notícia do nascimento de Cristo. Pediu a seus hóspedes: "Perguntai diligentemente pelo Menino, e quando O achardes, participai-mo, para que também eu vá e O adore." Assim falando, despediu-os, para que seguissem seu caminho a Belém. DTN 35 2 Os sacerdotes e anciãos de Jerusalém não eram tão ignorantes a respeito do nascimento de Cristo como se faziam. A notícia da visita dos anjos aos pastores fora levada a Jerusalém, mas os rabis a tinham recebido como pouco digna de atenção. Eles próprios poderiam haver encontrado Jesus, e estado preparados para conduzir os magos ao lugar em que nascera; ao invés disso, porém, foram eles que lhes vieram chamar a atenção para o nascimento do Messias. "Onde está Aquele que é nascido Rei dos judeus?" perguntaram; "porque vimos a Sua estrela no Oriente, e viemos adorá-Lo". Mateus 2:2. DTN 35 3 Então o orgulho e a inveja cerraram a porta à luz. Fossem acreditadas as notícias trazidas pelos pastores e os magos, e teriam colocado os sacerdotes e rabinos numa posição nada invejável, destituindo-os de suas pretensões a exponentes da verdade de Deus. Estes doutos mestres não desceriam a ser instruídos por aqueles a quem classificavam de gentios. Não poderia ser, diziam, que Deus os passasse por alto, para Se comunicar com pastores ignorantes ou incircuncisos pagãos. Resolveram mostrar desprezo pelas notícias que estavam agitando o rei Herodes e toda Jerusalém. Nem mesmo iriam a Belém, a ver se estas coisas eram assim. E levaram o povo a considerar o interesse em Jesus como despertamento fanático. Aí começou a rejeição de Cristo pelos sacerdotes e rabis. Daí cresceu seu orgulho e obstinação até se tornar em decidido ódio contra o Salvador. Enquanto Deus abria a porta aos gentios, estavam os chefes judeus fechando-a a si mesmos. DTN 36 1 Sozinhos partiram os magos de Jerusalém. Caíam as sombras da noite quando saíram das portas, mas, para sua grande alegria viram novamente a estrela, e foram guiados a Belém. Não tinham, como os pastores, recebido comunicação quanto ao humilde estado da Criança. Depois da longa jornada, ficaram decepcionados com a indiferença dos chefes judeus, e deixaram Jerusalém menos confiantes do que nela penetraram. Em Belém, não encontraram nenhuma guarda real a proteger o recém-nascido Rei. Não havia a assisti-Lo nenhum dos grandes da Terra. Jesus estava deitado numa manjedoura. Os pais, iletrados camponeses, eram Seus únicos guardas. Poderia ser Este Aquele de quem estava escrito que havia de restaurar "as tribos de Jacó", e tornar a "trazer os remanescentes de Israel"; que seria "luz para os gentios", e "salvação [...] até à extremidade da Terra"? Isaías 49:6. DTN 36 2 "E, entrando na casa, acharam o Menino com Maria, Sua mãe, e, prostrando-se, O adoraram". Mateus 2:11. Através da humilde aparência exterior de Jesus, reconheceram a presença da Divindade. Deram-Lhe o coração como a seu Salvador, apresentando então suas dádivas -- "ouro, incenso e mirra". Que fé a sua! Como do centurião romano, mais tarde, poder-se-ia haver dito dos magos do Oriente: "Nem mesmo em Israel encontrei tanta fé". Mateus 8:10. DTN 36 3 Os magos não haviam penetrado os desígnios de Herodes para com Jesus. Satisfeito o objetivo de sua viagem, prepararam-se para regressar a Jerusalém, na intenção de o pôr ao fato do êxito que haviam tido. Em sonho, porém, recebem a divina mensagem de não ter mais comunicações com ele. E, desviando-se de Jerusalém, partem para sua terra por outro caminho. DTN 36 4 De igual maneira, recebeu José aviso de fugir para o Egito com Maria e a criança. E o anjo disse: "E demora-te lá até que eu te diga: porque Herodes há de procurar o Menino para O matar". Mateus 2:13. José obedeceu sem demora, pondo-se de viagem à noite, para maior segurança. DTN 36 5 Por meio dos magos, Deus chamara a atenção da nação judaica para o nascimento de Seu Filho. Suas indagações em Jerusalém, o despertar do interesse popular, e o próprio ciúme de Herodes, que forçou a atenção dos sacerdotes e rabis, dirigiu os espíritos para as profecias relativas ao Messias, e ao grande acontecimento que acabava de ocorrer. DTN 36 6 Satanás empenhava-se em dissipar do mundo a luz divina, e pôs em jogo sua máxima astúcia para destruir o Salvador. Mas Aquele que não dorme nem tosqueneja, velava por Seu amado Filho. Aquele que fizera chover maná do Céu para Israel, e alimentara Elias em tempo de fome, providenciou em terra pagã um refúgio para Maria e o menino Jesus. E, mediante as dádivas dos magos de um país gentílico, supriu o Senhor os meios para a viagem ao Egito, e a estadia em terra estranha. DTN 37 1 Os magos estiveram entre os primeiros a saudar o Redentor. Foi a sua a primeira dádiva a Lhe ser posta aos pés. E por meio daquela dádiva, que privilégio em servir tiveram eles! Deus Se deleita em honrar a oferta de um coração que ama, dando-lhe a mais alta eficiência em Seu serviço. Se dermos o coração a Jesus, trar-Lhe-emos também as nossas dádivas. Nosso ouro e prata, nossas mais preciosas posses terrestres, nossos mais elevados dotes mentais e espirituais ser-Lhe-ão inteiramente consagrados, a Ele que nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós. DTN 37 2 Em Jerusalém, Herodes aguardava impaciente a volta dos magos. Como passasse o tempo, e não aparecessem, despertaram-se nele suspeitas. A má vontade dos rabis em indicar o lugar do nascimento do Messias, parecia mostrar que lhe haviam penetrado o desígnio e que os magos se tinham propositadamente esquivado. Esse pensamento o enraiveceu. Falhara a astúcia, mas restava-lhe o recurso da força. Faria desse Rei-criança um exemplo. Aqueles insolentes judeus haviam de ver o que podiam esperar de suas tentativas de colocar um rei no trono. DTN 37 3 Imediatamente foram enviados soldados a Belém, com ordem de matar todas as crianças de dois anos e para baixo. Os sossegados lares da cidade de Davi presenciaram aquelas cenas de horror que, seiscentos anos antes, haviam sido reveladas ao profeta. "Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto; Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque já não existem". Mateus 2:18. DTN 37 4 Essa calamidade trouxeram os judeus sobre si mesmos. Houvessem estado nos caminhos da fidelidade e da humildade perante Deus, e Ele haveria, de maneira assinalada, tornado sem efeito para eles a ira do rei. Mas separaram-se de Deus por seus pecados, e rejeitaram o Espírito Santo, que lhes era a única proteção. Não estudaram as Escrituras com o desejo de se conformarem com a vontade de Deus. Buscaram as profecias que podiam ser interpretadas para sua exaltação, e mostraram que o Senhor desprezava as outras nações. Jactavam-se orgulhosamente de que o Messias havia de vir como rei, conquistando Seus inimigos e esmagando os gentios em Sua indignação. Assim haviam despertado o ódio dos governadores. Mediante a maneira por que desfiguravam a missão de Cristo, Satanás intentara tramar a destruição do Salvador; ao invés disso, porém, ela lhes caiu sobre a própria cabeça. DTN 37 5 Esse ato de crueldade foi um dos últimos que entenebreceu o reinado de Herodes. Pouco depois da matança dos inocentes, foi ele próprio obrigado a submeter-se àquela condenação que ninguém pode desviar. Teve morte terrível. DTN 37 6 José, que ainda se achava no Egito, foi então solicitado por um anjo de Deus a voltar para a terra de Israel. Considerando Jesus como o herdeiro de Davi, José desejava estabelecer residência em Belém; ouvindo, porém, que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai, receou que o desígnio do pai contra Cristo pudesse ser executado pelo filho. De todos os filhos de Herodes, era Arquelau o que mais se lhe assemelhava em caráter. Já sua sucessão no governo fora assinalada por um tumulto em Jerusalém, e o morticínio de milhares de judeus pelas guardas romanas. DTN 38 1 Novamente foi José encaminhado para um lugar de segurança. Voltou para Nazaré, sua residência anterior, e ali, por cerca de trinta anos viveu Jesus, "para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno". Mateus 2:23. A Galiléia estava sob o domínio de um filho de Herodes, mas tinha uma mistura muito maior de habitantes estrangeiros do que a Judéia. Havia assim muito menos interesse nas questões que diziam respeito especialmente aos judeus, e os justos direitos de Jesus corriam menos riscos de despertar os ciúmes dos que estavam no poder. DTN 38 2 Tal foi a recepção feita ao Salvador ao vir à Terra. Parecia não haver nenhum lugar de repouso ou segurança para o infante Redentor. Deus não podia confiar Seu amado Filho aos homens, nem mesmo enquanto levava avante Sua obra em benefício da salvação deles. Comissionou anjos para assisti-Lo e protegê-Lo até que cumprisse Sua missão na Terra, e morresse às mãos daqueles a quem viera salvar. ------------------------Capítulo 7 -- Em criança DTN 39 0 Este capítulo é baseado em Lucas 2:39, 40. DTN 39 1 A infância e juventude de Jesus foram passadas numa pequenina aldeia montanhesa. Não haveria lugar na Terra que não se tivesse honrado por Sua presença. Os palácios reais ter-se-iam sentido privilegiados em O receber como hóspede. Mas Ele passou pelos lares afortunados, pelas cortes da realeza e pelas famosas sedes do saber, para fazer de Seu lar a obscura e desprezada Nazaré. DTN 39 2 Maravilhoso em sua significação é o breve relatório da primeira parte de Sua vida: "E o Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele". Lucas 2:40. DTN 39 3 À luz da presença de Seu Pai, crescia "Jesus em sabedoria e em estatura, e em graça para com Deus e os homens". Lucas 2:52. Seu espírito era ativo e penetrante, com uma reflexão e sabedoria além de Sua idade. Também o caráter era belo na harmonia que apresentava. As faculdades da mente e do corpo desenvolviam-se gradualmente, segundo as leis da infância. DTN 39 4 Jesus revelava, como criança, disposição singularmente amável. Aquelas mãos cheias de boa vontade estavam sempre prontas para servir a outros. Manifestava uma paciência que coisa alguma conseguia perturbar, e uma veracidade nunca disposta a sacrificar a integridade. Firme como a rocha em questões de princípios, Sua vida revelava a graça da abnegada cortesia. DTN 39 5 Com profunda solicitude observava a mãe de Jesus o desenvolvimento das faculdades da Criança, e contemplava o cunho de perfeição em Seu caráter. Era com deleite que procurava animar aquele espírito inteligente, de fácil apreensão. Por meio do Espírito Santo recebia sabedoria para cooperar com os instrumentos celestiais, no desenvolvimento dessa Criança que só tinha a Deus por Pai. DTN 39 6 Desde os primitivos tempos, os fiéis em Israel haviam dado muita atenção à educação da juventude. O Senhor dera instruções quanto a ensinar-se as crianças desde a mais tenra idade, acerca de Sua bondade e grandeza, especialmente segundo estas se revelam em Sua lei, e se demonstram na história de Israel. Cânticos, orações e lições das Escrituras deviam ser adaptados à mente que se ia abrindo. Os pais e mães deviam instruir os filhos em que a lei de Deus é a expressão de Seu caráter, e que, ao receberem os princípios da lei no coração, a Sua imagem era gravada no espírito e na mente. Muito do ensino era feito oralmente; mas os jovens aprendiam também a ler os escritos dos hebreus, e os rolos de pergaminho das Escrituras do Antigo Testamento eram franqueados a seu estudo. DTN 40 1 Ao tempo de Cristo, a vila ou cidade que não providenciava quanto à instrução religiosa da mocidade, era considerada sob a maldição de Deus. Todavia, o ensino se tornara formal. A tradição havia em alto grau sobrepujado as Escrituras. A verdadeira educação teria levado os jovens a "que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar". Atos dos Apóstolos 17:27. Mas os mestres judeus davam atenção a questões cerimoniais. A mente era sobrecarregada com matéria sem valor para o que a aprendia, e que não seria reconhecida na escola superior das cortes do alto. A experiência obtida mediante a aceitação individual da Palavra de Deus, não tinha lugar no sistema educativo. Absorvido na rotina das coisas exteriores, o estudante não encontrava horas de sossego para estar com Deus. Não Lhe escutava a voz falando ao coração. Em sua procura de conhecimentos, desviava-se da Fonte de sabedoria. Os grandes elementos do serviço de Deus eram negligenciados, obscurecidos os princípios da lei. O que se considerava como educação superior constituía o maior obstáculo ao verdadeiro desenvolvimento. Sob a influência dos rabis, as faculdades dos jovens eram reprimidas. Seu espírito se tornava constrangido e estreito. DTN 40 2 O menino Jesus não Se instruía nas escolas das sinagogas. Sua mãe foi Seu primeiro mestre humano. Dos lábios dela e dos rolos dos profetas, aprendeu as coisas celestiais. As próprias palavras por Ele ditas a Moisés para Israel, eram-Lhe agora ensinadas aos joelhos de Sua mãe. Ao avançar da infância para a juventude, não procurou as escolas dos rabis. Não necessitava da educação obtida de tais fontes; pois Deus Lhe servia de instrutor. DTN 40 3 A pergunta feita durante o ministério do Salvador: "Como sabe Este letras, não as tendo aprendido?" (João 7:15) não quer dizer que Jesus não soubesse ler, mas simplesmente que não recebera instrução dos rabinos. Uma vez que Ele obteve conhecimento como o podemos fazer, Sua familiarização com as Escrituras mostra quão diligentemente os primeiros anos de Sua vida foram consagrados ao estudo da Palavra de Deus. E perante Ele estendia-se a grande biblioteca das obras criadas por Deus. Aquele que fizera todas as coisas, estudou as lições que Sua própria mão escrevera na Terra e no mar e no céu. Desviados dos profanos métodos do mundo, adquiriu da natureza acumulados conhecimentos científicos. Estudava a vida das plantas e dos animais bem como a dos homens. Desde a mais tenra idade, possuía-O um único desígnio: vivia para beneficiar os outros. Para isso encontrava recursos na natureza; novas idéias de meios e modos brotavam-Lhe na mente, ao estudar a vida das plantas e dos animais. Procurava continuamente tirar, das coisas visíveis, ilustrações pelas quais pudesse apresentar os vivos oráculos de Deus. As parábolas pelas quais, durante Seu ministério, gostava de ensinar lições acerca da verdade, mostram quão aberto Lhe estava o espírito às influências da natureza, e como colhera do ambiente que O cercava na vida diária, os ensinos espirituais. DTN 41 1 Assim se revelava a Jesus o significado da palavra e das obras de Deus, ao buscar compreender a razão das coisas. Os seres celestiais serviam-Lhe de assistentes, e cultivava santos pensamentos e comunhão. Desde os primeiros clarões da inteligência, foi sempre crescendo em graça espiritual e no conhecimento da verdade. DTN 41 2 Toda criança pode adquirir conhecimento como Jesus o adquiriu. Ao procurarmos relacionar-nos com nosso Pai celestial através de Sua Palavra, anjos se achegarão a nós, nossa mente será fortalecida, nosso caráter elevado e apurado. Tornar-nos-emos mais semelhantes a nosso Salvador. E, ao contemplarmos o que é belo e grande na natureza, nossas afeições crescem para com Deus. Ao mesmo tempo que o espírito se enche de reverente respeito, a mente se fortalece ao pôr-se em contato com o Infinito por meio de Suas obras. A comunhão com Deus, mediante a oração, desenvolve as faculdades mentais e morais, e as espirituais se robustecem ao cultivarmos pensamentos sobre assuntos espirituais. DTN 41 3 A vida de Jesus estava em harmonia com Deus. Enquanto criança, pensava e falava como criança; mas nenhum traço de pecado desfigurava nEle a imagem divina. Não ficou, no entanto, isento de tentação. Os habitantes de Nazaré eram proverbiais por sua impiedade. O mau conceito em que eram geralmente tidos, revela-se na pergunta de Natanael: "Pode vir alguma coisa boa de Nazaré"? João 1:46. Jesus foi colocado num lugar em que Seu caráter seria provado. Era-Lhe necessário estar sempre em guarda, a fim de conservar Sua pureza. Estava sujeito a todos os conflitos que nós outros temos de enfrentar, para que nos pudesse servir de exemplo na infância, na juventude, na idade adulta. DTN 41 4 Satanás era infatigável em seus esforços para vencer a Criança de Nazaré. Desde Seus primeiros anos Jesus era guardado por anjos celestiais, todavia Sua vida foi uma longa luta contra os poderes das trevas. Que houvesse de existir na Terra uma vida isenta da contaminação do mal, era uma ofensa e perplexidade para o príncipe das trevas. Não houve meio que não tentasse para enredar Jesus. Nenhum dos filhos dos homens será jamais chamado a viver uma vida santa em meio de tão renhido conflito com a tentação como nosso Salvador. DTN 41 5 Os pais de Jesus eram pobres, e dependentes de sua tarefa diária. Ele estava familiarizado com a pobreza, a abnegação, as privações. Essa experiência serviu-Lhe de salvaguarda. Em Sua laboriosa vida não havia momentos ociosos para convidar a tentação. Nenhuma hora vaga abria a porta às companhias corruptoras. Tanto quanto possível, cerrava a porta ao tentador. Ganho ou prazer, aplauso ou reprovação, não O podiam levar a condescender com uma ação má. Era prudente para discernir o mal, e forte para a ele resistir. DTN 42 1 Foi Cristo o único Ser livre de pecado, que já existiu na Terra; todavia, viveu por quase trinta anos entre os ímpios habitantes de Nazaré. Este fato é uma repreensão aos que fazem depender de lugar, fortuna ou prosperidade o viver uma vida irrepreensível. Tentação, pobreza, adversidade, eis justamente a disciplina necessária para o desenvolvimento da pureza e firmeza. DTN 42 2 Jesus viveu num lar de camponeses, e desempenhou fiel e alegremente Sua parte em suportar as responsabilidades da vida doméstica. Fora o Comandante do Céu, e anjos se tinham deleitado em Lhe cumprir as ordens; era agora um voluntário Servo, um Filho amorável e obediente. Aprendeu um ofício, e trabalhava com as próprias mãos na oficina de carpintaria de José. Nos simples trajes de operário comum, caminhava pelas ruas da pequenina cidade, indo e voltando em Seu humilde labor. Não empregava o poder divino de que dispunha para aliviar os próprios fardos ou diminuir o trabalho. DTN 42 3 À medida que Jesus trabalhava na infância e na juventude, mente e físico se Lhe desenvolviam. Não empregava descuidadamente as forças físicas, mas de maneira a conservá-las sãs, a fim de fazer o melhor trabalho possível em todos os sentidos. Não queria ser deficiente, nem mesmo no manejo dos instrumentos de trabalho. Era perfeito como operário, da mesma maneira que o era no caráter. Pelo exemplo, ensinou que nos cumpre ser produtivos, que nosso trabalho deve ser executado com exatidão e esmero, tornando-se assim honroso. O exercício que ensina as mãos a serem úteis, e educa os jovens em fazer sua parte quanto às responsabilidades da vida, comunica robustez física, e desenvolve todas as faculdades. Todos devem procurar fazer alguma coisa que lhes seja útil, ou de auxílio a outros. Deus designou o trabalho como uma bênção, e somente o trabalhador diligente encontra a verdadeira glória e alegria da vida. A aprovação de Deus repousa com amável confiança sobre as crianças e jovens que desempenham alegremente sua parte nos deveres da família, partilhando as responsabilidades do pai e da mãe. Tais filhos sairão de casa para ser úteis membros da sociedade. DTN 42 4 Através de Sua existência terrestre, Jesus foi um ativo e constante trabalhador. Esperava muito resultado; muito empreendia, portanto. Depois de iniciar o ministério, disse: "Convém que Eu faça as obras dAquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. Jesus não Se esquivava a cuidados e responsabilidades, como fazem muitos que professam ser Seus seguidores. É porque procuram furtar-se a essa disciplina que tantos são fracos e ineficientes. Podem possuir preciosos e amáveis traços, mas são sem fibra e quase inúteis quando há dificuldade a enfrentar e obstáculos a transpor. A positividade e energia, a solidez e resistência de caráter manifestadas em Cristo, tem de se desenvolver em nós, mediante a mesma disciplina que Ele suportou. E caber-nos-á a mesma graça por Ele recebida. DTN 43 1 Enquanto viveu entre os homens, nosso Salvador participou da sorte dos pobres. Conhecia por experiência seus cuidados e asperezas, e podia confortar e animar a todos os humildes obreiros. Os que possuem verdadeira concepção dos ensinos de Sua vida, não pensarão nunca que se deva fazer distinção de classes, que os ricos devam ser honrados de preferência aos pobres dignos. DTN 43 2 Jesus punha em Seu trabalho alegria e tato. Muita paciência e espiritualidade se requerem para introduzir a religião bíblica na vida familiar e na oficina, suportar a tensão dos negócios do mundo, e todavia conservar as vistas unicamente voltadas para a glória de Deus. Aí é que Jesus foi um auxiliador. Nunca estava tão cheio de cuidados do mundo que não tivesse tempo para pensar nas coisas de cima. Exprimia freqüentemente o contentamento que Lhe ia no coração, cantando salmos e hinos celestiais. Muitas vezes ouviam os moradores de Nazaré Sua voz erguer-se em louvor e ações de graças a Deus. Entretinha em cânticos comunhão com o Céu; e quando os companheiros se queixavam da fadiga do trabalho, eram animados pela doce melodia de Seus lábios. Dir-se-ia que Seu louvor banisse os anjos maus, e, como incenso, enchesse de fragrância o lugar em que Se achava. O espírito dos ouvintes era afastado de seu terreno exílio, para o lar celestial. DTN 43 3 Jesus era fonte de vivificante misericórdia para o mundo; e durante todos aqueles retirados anos de Nazaré, Sua vida fluía em correntes de simpatia e ternura. Os velhos, os sofredores, os oprimidos de pecado, as crianças a brincar em sua inocente alegria, as criaturas dos bosques, os pacientes animais de carga -- todos se sentiam mais felizes por Sua presença. Aquele cuja palavra poderosa sustinha os mundos, detinha-Se para aliviar um pássaro ferido. Nada havia para Ele indigno de Sua atenção, coisa alguma a que desdenhasse prestar auxílio. DTN 43 4 Assim, à medida que Se desenvolvia em sabedoria e estatura, crescia Jesus em graça para com Deus e os homens. Atraía a simpatia de todos os corações, mediante a capacidade que revelava de Se compadecer de todos. A atmosfera de esperança e valor que O circundava, tornava-O uma bênção em todo lar. Muitas vezes na sinagoga, aos sábados, era convidado para ler a lição dos profetas, e o coração dos ouvintes fremia, pois nova luz brilhava nas palavras familiares dos textos sagrados. DTN 43 5 Não obstante, Jesus fugia à ostentação. Durante todos os anos de Sua residência em Nazaré, não fez exibição de Seu miraculoso poder. Não buscou altas posições, nem pretendeu nenhum título. Sua vida quieta e simples, e mesmo o silêncio das Escrituras a respeito dos primeiros anos de Sua vida, ensinam importante lição. Quanto mais simples e tranqüila a vida de uma criança -- quanto mais livre de estimulação artificial e quanto mais em harmonia com a natureza -- tanto mais favorável é ela ao vigor físico e mental, e à robustez espiritual. DTN 44 1 Jesus é nosso exemplo. Muitos há que se detêm com interesse sobre o período de Seu ministério público, enquanto passam por alto os ensinos de Seus primeiros anos. É, porém, na vida doméstica que Ele é o modelo de todas as crianças e jovens. O Salvador condescendeu em ser pobre, para poder ensinar quão intimamente podemos nós, em uma vida humilde, andar com Deus. Viveu para agradar, honrar e glorificar o Pai nas coisas comuns da vida. Sua obra começou por consagrar o humilde ofício do operário que labuta para ganhar o pão cotidiano. Quando trabalhava ao banco de carpinteiro, fazia tanto a obra de Deus, como quando operava milagres em favor da multidão. E todo jovem que segue o exemplo de Cristo na fidelidade e obediência em Seu humilde lar, pode reclamar aquelas palavras proferidas a respeito dEle, pelo Pai, por intermédio do Espírito Santo: "Eis aqui o Meu Servo a quem sustenho, o Meu Eleito, em quem se compraz a Minha alma". Isaías 42:1. ------------------------Capítulo 8 -- A visita pascoal DTN 45 0 Este capítulo é baseado em Lucas 2:41-51. DTN 45 1 Entre os judeus, os doze anos eram a linha divisória entre a infância e a juventude. Ao completar esta idade, um menino hebreu era considerado filho da lei, e também filho de Deus. Eram-lhe dadas especiais oportunidades para instruções religiosas, e esperava-se que participasse das festas e observâncias sagradas. Foi em harmonia com esse costume, que Jesus fez em Sua meninice a visita pascoal a Jerusalém. Como todos os israelitas devotos, José e Maria iam todos os anos assistir à Páscoa; e quando Jesus havia atingido a necessária idade, levaram-no consigo. DTN 45 2 Havia três festividades anuais -- a Páscoa, o Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos -- festas em que todos os homens de Israel tinham ordem de comparecer perante o Senhor em Jerusalém. Destas, era a Páscoa a mais concorrida. Havia presentes muitos de todos os países por onde os judeus tinham sido espalhados. De todas as partes da Palestina, vinham os adoradores em grande número. A viagem da Galiléia levava diversos dias, e os viajantes reuniam-se em grandes grupos, já pela companhia, já pela proteção. As mulheres e os homens de idade viajavam em bois e asnos, pelos acidentados e pedregosos caminhos. Os homens mais fortes e os jovens viajavam a pé. O tempo da Páscoa era o fim de Março ou começo de Abril, e toda a terra estava adornada de flores, alegrada com os cânticos dos pássaros. Por todo o caminho, encontravam-se lugares memoráveis na história de Israel, e pais e mães contavam aos filhos as maravilhas que Deus operara por Seu povo, nos séculos passados. Entretinham a jornada com cânticos e música e quando, afinal, se avistavam as torres de Jerusalém, todas as vozes se juntavam nos triunfantes cânticos: DTN 45 3 "Os nossos pés estão dentro de tuas portas, ó Jerusalém ... DTN 45 4 Haja a paz dentro dos teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios". Salmos 122:2, 7. DTN 45 5 A observância da Páscoa começou com o nascimento da nação hebraica. Na última noite de sua servidão no Egito, quando não havia sinal de libertação, Deus lhes ordenou que se preparassem para um imediato livramento. Advertira Faraó do juízo final sobre os egípcios, e deu aos hebreus instruções para reunirem suas famílias dentro das próprias casas. Havendo aspergido as ombreiras e vergas da porta com o sangue do cordeiro imolado, deviam comer o cordeiro, assado, com pão sem fermento, e ervas amargas. "Assim pois o comereis", disse Ele: "os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do Senhor". Êxodo 12:11. À meia-noite, todos os primogênitos dos egípcios foram mortos. Então o rei enviou a Israel a mensagem: "Levantai-vos, saí do meio do meu povo [...] e ide, servi ao Senhor, como tendes dito". Êxodo 12:31. Os hebreus saíram do Egito como nação independente. O Senhor ordenara que a Páscoa fosse observada anualmente. "E", disse Ele, "quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? vós lhes direis: É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios". Êxodo 12:27. Assim, de geração em geração devia ser narrada a história desse maravilhoso livramento. DTN 46 1 A Páscoa era seguida pela festa dos sete dias de pães asmos. No segundo dia da festa, os primeiros frutos da colheita anual, um molho de cevada, eram apresentados ao Senhor. Todas as cerimônias da festa eram símbolos da obra de Cristo. A libertação de Israel do Egito era uma lição objetiva da redenção, que a Páscoa se destinava a conservar na memória. O cordeiro imolado, o pão asmo, o molho dos primeiros frutos, representavam o Salvador. DTN 46 2 Para a maioria das pessoas, ao tempo de Cristo, a observância dessa festa degenerara em mera formalidade. Qual, porém, sua significação para o Filho de Deus?! DTN 46 3 Pela primeira vez, contemplou o menino Jesus o templo. Viu os sacerdotes de vestes brancas, realizando seu solene ministério. Viu a ensangüentada vítima sobre o altar do sacrifício. Com os adoradores, inclinou-Se em oração, enquanto ascendia perante Deus a nuvem de incenso. Testemunhou os impressivos ritos da cerimônia pascoal. Dia a dia, observava mais claramente a significação dos mesmos. Cada ato parecia estar ligado a Sua própria vida. No íntimo acordavam-se-Lhe novos impulsos. Silencioso e absorto, parecia estudar a solução de um grande problema. O mistério de Sua missão desvendava-se ao Salvador. DTN 46 4 Enlevado pela contemplação dessas cenas, não permaneceu ao lado dos pais. Buscou estar sozinho. Ao terminarem as cerimônias pascoais, demorou-Se ainda no pátio do templo; e, ao partirem os adoradores de Jerusalém, Jesus foi deixado ali. Nessa visita a Jerusalém, os pais de Jesus desejavam pô-Lo em contato com os grandes mestres de Israel. Conquanto fosse obediente em todos os particulares à Palavra de Deus, não Se conformava com os ritos e usos dos rabis. José e Maria esperavam que fosse levado a reverenciar os doutos rabinos, e a atender mais diligentemente a suas exigências. Mas Jesus, no templo, fora instruído por Deus. Aquilo que recebera, começou imediatamente a comunicar. DTN 46 5 Naquela época, um aposento ligado ao templo estava sendo ocupado por uma escola sagrada, à maneira das escolas dos profetas. Ali se reuniam mestres de destaque, com os alunos, e ali foi ter o menino Jesus. Sentando-Se aos pés desses homens sérios e doutos, ouvia-lhes as instruções. Como pessoa que busca saber, interrogava esses mestres relativamente às profecias, e a acontecimentos que estavam então ocorrendo e indicavam o advento do Messias. DTN 47 1 Jesus Se apresentou como pessoa sedenta de conhecimento de Deus. Suas perguntas eram sugestivas de profundas verdades que havia muito jaziam obscurecidas, e eram, todavia, vitais para a salvação das pessoas. Ao mesmo tempo que revelavam quão limitado e superficial era o conhecimento dos sábios, cada pergunta punha perante eles uma lição divina, e apresentava a verdade sob novo aspecto. Falavam os rabis da maravilhosa elevação que a vinda do Messias havia de trazer à nação judaica; mas Jesus apresentava a profecia de Isaías, e perguntava-lhes o sentido daqueles textos que indicavam o sofrimento e a morte do Cordeiro de Deus. DTN 47 2 Os doutores voltavam-se para Ele com perguntas, e pasmavam de Suas respostas. Com a humildade de criança, repetia as palavras da Escritura, dando-lhes profundeza de sentido que os sábios não haviam alcançado. Seguidos, os traços da verdade por Ele indicados teriam operado uma reforma na religião da época. Ter-se-ia despertado profundo interesse nas coisas espirituais; e quando Jesus começasse Seu ministério, muitos estariam preparados para O receber. DTN 47 3 Os rabis sabiam que Jesus não havia sido instruído em suas escolas; no entanto, Seu conhecimento das profecias excedia em muito o deles próprios. Nesse refletido Rapazinho galileu divisaram grandes promessas. Desejaram angariá-Lo como aluno, a fim de que Se tornasse mestre em Israel. Queriam encarregar-se de Sua educação, convencidos de que um espírito tão original devia ser educado sob sua direção. DTN 47 4 As palavras de Jesus lhes moveram o coração como este nunca o havia sido por palavras de lábios humanos. Deus estava procurando comunicar luz àqueles guias em Israel, e servia-Se do único meio pelo qual poderiam ser atingidos. Em seu orgulho, teriam desdenhado a hipótese de receber instruções de quem quer que fosse. Se houvesse parecido que Jesus procurava ensiná-los, desdenhariam ouvi-Lo. Mas lisonjeavam-se com a idéia de que O estavam ensinando a Ele ou, pelo menos, examinando Seu conhecimento das Escrituras. A modéstia juvenil e a graça de Jesus lhes desarmava os preconceitos. Inconscientemente, seu espírito abriu-se à Palavra de Deus, e o Espírito Santo lhes falou ao coração. DTN 47 5 Não puderam deixar de ver que sua expectação com respeito ao Messias, não tinha o apoio da profecia; mas não queriam renunciar as teorias que lhes tinham lisonjeado a ambição. Não admitiam haver compreendido mal as Escrituras que pretendiam ensinar. Interrogaram-se uns aos outros: Como tem esse rapaz conhecimento, não havendo nunca aprendido? A luz estava brilhando nas trevas; mas "as trevas não a compreenderam". João 1:5. DTN 48 1 Entretanto, José e Maria achavam-se em grande perplexidade e aflição. Na partida de Jerusalém, haviam perdido de vista a Jesus, e não sabiam que Se demorara atrás. O país era então densamente povoado, e muito grandes as caravanas dos galileus. Havia muita confusão quando deixaram a cidade. Pelo caminho, o prazer de viajar com os amigos e conhecidos absorveu-lhes a atenção, e não Lhe perceberam a ausência até que chegou a noite. Então, ao pararem para o repouso, sentiram falta das prestimosas mãos de seu filho. Julgando que estivesse com os companheiros, não haviam sentido ansiedade. Jovem como era, nEle confiavam inteiramente, esperando que, quando necessário, estaria pronto a auxiliá-los, antecipando-lhes as necessidades, como sempre fizera. Agora, porém, se suscitaram temores. Procuraram-nO entre os que os acompanhavam, mas em vão. Tremendo, lembraram-se de como Herodes O buscara destruir em Sua infância. Negros pressentimentos lhes encheram o coração. Faziam-se a si mesmos amargas recriminações. DTN 48 2 Voltando a Jerusalém, prosseguiram suas buscas. No dia seguinte, ao misturarem-se com os adoradores no templo, uma voz familiar lhes chamou a atenção. Não a podiam confundir; nenhuma outra era como a Sua, tão séria e grave, não obstante tão melodiosa. DTN 48 3 Na escola dos rabinos, encontraram Jesus. Regozijando-se, embora, não puderam esquecer seu desgosto e ansiedade. Tendo-O novamente consigo, disse a mãe, em palavras que envolviam uma reprovação: "Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que Teu pai e eu ansiosos Te procurávamos." "Por que é que Me procuráveis? Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:48, 49. E, como parecessem não compreender Suas palavras, apontou para cima. Havia em Seu rosto uma luz que os levou a meditar. A divindade estava irradiando através da humanidade. Encontrando-O no templo, haviam escutado o que se passava entre Ele e os rabis, e ficaram admirados de Suas perguntas e respostas. Suas palavras despertaram uma corrente de idéias que nunca mais seriam esquecidas. DTN 48 4 E a resposta que lhes dera encerrava uma lição. "Não sabeis", dissera Ele, "que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Jesus estava empenhado na obra para cumprimento da qual viera a este mundo; mas José e Maria haviam negligenciado a sua. Grande honra lhes conferira Deus em confiar-lhes Seu Filho. Santos anjos tinham dirigido a José, a fim de proteger a vida de Jesus. Mas, por um dia inteiro haviam perdido de vista Aquele a quem não deviam ter esquecido nem por um momento. E, ao ser-lhes aliviada a ansiedade, não se censuraram a si mesmos, mas lançaram sobre Ele a culpa. DTN 48 5 Era natural que os pais de Jesus O considerassem como seu próprio filho. Estava diariamente com eles, em muitos aspectos Sua vida era como a das outras crianças, e era-lhes difícil compreender ser Ele o Filho de Deus. Estavam em risco de deixar de apreciar a bênção a eles concedida pela presença do Redentor do mundo. O desgosto de se haverem separado dEle, e a branda reprovação contida em Suas palavras, visavam impressioná-los quanto à santidade do depósito que lhes fora confiado. DTN 49 1 Na resposta dada a Sua mãe, Jesus mostrou pela primeira vez que compreendia Sua relação para com Deus. Antes de Seu nascimento o anjo dissera a Maria: "Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi Seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó". Lucas 1:32, 33. Aquelas palavras, Maria ponderara em seu coração; no entanto, ao passo que acreditava que Seu filho havia de ser o Salvador de Israel, não Lhe compreendia a missão. Agora, não Lhe entendeu as palavras; mas sabia que negara Seu parentesco com José, e declarara Sua filiação de Deus. DTN 49 2 Jesus não deixara de respeitar Sua relação para com os pais terrestres. Voltou de Jerusalém com eles, e ajudou-os em sua vida de labor. Ocultava o mistério de Sua missão, esperando submisso o tempo designado para iniciar Sua obra. Durante dezoito anos, depois de haver reconhecido ser o Filho de Deus, reconheceu também os laços que O ligavam ao lar de Nazaré, e cumpriu os deveres de filho, irmão, amigo e cidadão. DTN 49 3 Ao ser-Lhe Sua missão revelada no templo, Jesus Se esquivou ao contato da multidão. Desejava voltar de Jerusalém quietamente, com os que sabiam o segredo de Sua existência. Mediante a cerimônia pascoal, Deus estava procurando desviar Seu povo dos cuidados terrenos que tinham, e fazê-lo lembrar a maravilhosa obra que fizera em sua libertação do Egito. Desejava que vissem nessa obra uma promessa de libertação do pecado. Como o sangue do cordeiro morto protegera os lares de Israel, assim lhes salvaria o sangue de Cristo; mas eles só se podiam salvar por meio de Cristo, apoderando-se, pela fé, de Sua vida, como sendo deles mesmos. Só havia virtude no simbólico cerimonial, ao serem os adoradores por ele dirigidos a Cristo como seu Salvador pessoal. Deus desejava que fossem levados a estudar a missão de Cristo, e sobre ela meditar com oração. Ao partirem de Jerusalém, as multidões, no entanto, o despertar da viagem e a comunicação social absorviam freqüentemente a atenção deles, e era esquecido o cerimonial que acabavam de testemunhar. O Salvador não foi atraído para a companhia deles. DTN 49 4 Ao voltarem José e Maria de Jerusalém sozinhos com Jesus, Ele esperava dirigir-lhes a atenção às profecias concernentes aos sofrimentos do Salvador. Sobre o Calvário, procurou aliviar a dor de Sua mãe. Estava agora pensando nela. Maria tinha que testemunhar Sua última agonia, e Jesus desejava que ela compreendesse Sua missão, a fim de fortalecer-se para resistir, quando a espada lhe houvesse de traspassar o coração. Como Jesus estivera separado dela, e por três dias O procurara aflita, assim, quando fosse oferecido pelos pecados do mundo, estaria novamente perdido para ela três dias. E ao ressurgir Ele do sepulcro, sua tristeza se transformaria outra vez em júbilo. Mas quão melhor teria ela suportado a angústia da morte do Filho, se houvesse compreendido as Escrituras para as quais Ele lhe procurava agora volver os pensamentos! DTN 50 1 Se José e Maria houvessem firmado a mente em Deus, mediante meditação e oração, teriam avaliado a santidade do depósito que lhes era confiado, e não teriam perdido de vista a Jesus. Pela negligência de um dia perderam o Salvador; custou-lhes, porém, três dias de ansiosas buscas o tornar a encontrá-Lo. O mesmo quanto a nós; por conversas ociosas, por maledicência ou negligência da oração, podemos perder num dia a presença do Salvador, e talvez leve muitos dias de dolorosa busca o tornar a achá-Lo, e reconquistar a paz que perdemos. DTN 50 2 Em nossas relações uns com os outros, devemos estar atentos para não perder a Jesus, continuando o caminho sem nos advertir de que Ele não Se acha conosco. Quando nos absorvemos em coisas mundanas, de maneira que não temos um pensamento para Aquele em quem se concentra nossa esperança de vida eterna, separamo-nos de Jesus e dos anjos celestiais. Esses santos seres não podem permanecer onde a presença do Salvador não é desejada, e Sua ausência não é sentida. Eis porque tantas vezes se faz sentir o desânimo entre os professos seguidores de Cristo. DTN 50 3 Muitos assistem a cultos e são refrigerados e confortados pela Palavra de Deus; mas, devido à negligência da meditação, vigilância e orações, perdem a bênção, sentindo-se mais vazios do que antes de a receberem. Sentem freqüentemente que Deus os tem tratado duramente. Não vêem que a falta está com eles mesmos. Separando-se de Jesus, afugentaram a luz da Sua presença. DTN 50 4 Faria muito bem para nós passar diariamente uma hora refletindo sobre a vida de Jesus. Deveríamos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de aprender ao pé da cruz a lição de arrependimento e humilhação. DTN 50 5 Ao comunicarmos uns com os outros, podemos ser, mutuamente, uma bênção. Se somos de Cristo, nossos mais gratos pensamentos serão em torno dEle. Teremos prazer em falar a Seu respeito; e ao falarmos uns aos outros em Seu amor, nosso coração será abrandado por influências divinas. Contemplando a beleza de Seu caráter, seremos "transformados de glória em glória na mesma imagem". 2 Coríntios 3:18. ------------------------Capítulo 9 -- Dias de luta DTN 51 1 Desde os mais tenros anos, a criança judia era rodeada das exigências dos rabinos. Rígidas regras se prescreviam para cada ato até as mais pequeninas minúcias da vida. Sob a direção dos mestres das sinagogas, os jovens eram instruídos nos inúmeros regulamentos que, como israelitas ortodoxos, se esperava que observassem. Jesus, porém, não Se interessava nessas coisas. Desde a infância agia independentemente das leis dos rabinos. As Escrituras do Antigo Testamento eram Seu constante estudo, e as palavras "Assim diz o Senhor", Lhe estavam sempre nos lábios. DTN 51 2 À medida que as condições do povo começaram a ser patentes ao Seu espírito, viu que as exigências da sociedade e as de Deus se achavam em constante conflito. Os homens se estavam afastando da Palavra de Deus, e exaltando teorias de sua própria invenção. Observavam ritos tradicionais que nenhuma virtude possuíam. Seu culto era simples rotina de cerimônias; as sagradas verdades que se destinavam a ensinar, achavam-se ocultas aos adoradores. Via Jesus que, em seus cultos destituídos de fé, não encontravam paz. Não conheciam a liberdade de espírito que lhes adviria de servir a Deus em verdade. Jesus viera para ensinar a significação do culto de Deus, e não podia sancionar a mistura de exigências humanas com os divinos preceitos. Não atacava os preceitos ou práticas dos doutos mestres; mas quando O reprovavam por Seus próprios hábitos simples, apresentava a Palavra de Deus em justificação de Sua conduta. DTN 51 3 Por todos os meios brandos e submissos, procurava Jesus agradar àqueles com quem estava em contato. Por ser tão amável, nunca estorvando a ninguém, os escribas e anciãos julgavam que seria facilmente influenciado por seus ensinos. Insistiam com Ele para que aceitasse as máximas e tradições que haviam sido transmitidas dos antigos rabis, mas Jesus pedia para as mesmas a autorização da Santa Escritura. Estava pronto a ouvir toda palavra que sai da boca de Deus; não podia, entretanto, obedecer às invenções dos homens. Parecia conhecer as Escrituras de princípio a fim, e apresentava-as em sua verdadeira significação. Os rabis envergonhavam-se de ser ensinados por uma criança. Pretendiam ser seu ofício explicar as Escrituras, e a Ele competia aceitar-lhes as interpretações. Indignavam-se de que Se pusesse em oposição à palavra deles. DTN 51 4 Sabiam os rabinos que nenhuma autoridade se podia encontrar nas Escrituras para suas tradições. Compreendiam que, em entendimento espiritual, Jesus Se achava muito além deles. Zangavam-se, no entanto, porque não lhes obedecia aos ditames. Não podendo convencê-Lo, buscaram José e Maria, expondo-lhes Sua atitude de insubmissão. Assim sofreu Ele repreensão e censura. DTN 52 1 Desde pequeno, começara Jesus a agir por Si na formação de Seu caráter, e nem mesmo o respeito e o amor aos pais O podiam desviar de obedecer à Palavra de Deus. "Está escrito", era Sua razão para cada ato que destoasse dos costumes domésticos. A influência dos rabinos, porém, tornou-Lhe amarga a vida. Mesmo na mocidade teve que aprender a dura lição do silêncio e da paciência no sofrimento. DTN 52 2 Seus irmãos, como eram chamados os filhos de José, tomavam o lado dos rabinos. Insistiam em que a tradição deveria ser atendida, como se fossem ordens divinas. Consideravam até os preceitos dos homens como mais altos que a Palavra de Deus, e ficavam sobremaneira aborrecidos com a clara penetração de Jesus em distinguir entre o falso e o verdadeiro. Sua estrita obediência à lei de Deus, condenavam como obstinação. Ficavam surpreendidos do conhecimento e sabedoria que revelava em Suas respostas aos rabis. Sabiam que não recebera instruções dos sábios e, no entanto, não podiam deixar de ver que era para eles um instrutor. Reconheciam que Sua educação era de mais alta ordem que a deles próprios. Não discerniam, entretanto, que havia tido acesso à árvore da vida, fonte de saber para eles desconhecida. DTN 52 3 Cristo não tinha espírito de exclusivismo, e escandalizara especialmente os fariseus por Se afastar a esse respeito de seus rígidos regulamentos. Encontrara os domínios da religião cercados de alta muralha de exclusivismo, como assunto demasiado santo para a vida diária. Esses muros de divisão, Ele os derribou. Em Seu trato com os homens, não indagava: Qual é seu credo? a que igreja pertence? Exercia Seu poder de beneficiar em favor de todos os que necessitassem de auxílio. Em lugar de fechar-Se numa cela de eremita a fim de mostrar Seu caráter celestial, trabalhava fervorosamente pela humanidade. Incutia o princípio de não consistir a religião bíblica em mortificações corporais. Ensinava que a religião pura e incontaminada não se deve manifestar apenas em determinados tempos e ocasiões especiais. Em todos os tempos e lugares demonstrava amorável interesse pelos homens, irradiando em torno a luz de uma animosa piedade. Tudo isso era uma censura aos fariseus. Mostrava que a religião não consiste em egoísmo, e que sua mórbida dedicação ao interesse pessoal estava longe de ser verdadeira piedade. Isso despertara a inimizade deles para com Jesus, de modo a buscarem forçá-Lo a conformar-Se com seus regulamentos. DTN 52 4 Jesus trabalhava para aliviar todo caso de sofrimento que via. Pouco dinheiro tinha para dar, mas privava-Se muitas vezes de alimento, a fim de diminuir a necessidade dos que pareciam mais carecidos que Ele. Seus irmãos sentiam que Sua influência ia longe em anular a deles. Era dotado de tato que nenhum deles possuía, nem desejava obter. Quando falavam asperamente aos pobres e degradados, Jesus procurava exatamente aqueles seres, dirigindo-lhes palavras de animação. Aos que estavam em necessidade, oferecia um copo de água fria e punha-lhes no regaço Sua própria refeição. Aliviando-lhes os sofrimentos, as verdades que ensinava eram associadas a esses atos de misericórdia, sendo assim fixadas na memória. DTN 53 1 Tudo isso desgostava os irmãos. Sendo mais velhos que Jesus, achavam que Ele devia estar sob sua direção. Acusavam-nO de Se julgar superior a eles, e O reprovavam por Se colocar acima dos mestres, e dos sacerdotes e príncipes do povo. Muitas vezes O ameaçavam e procuravam intimidá-Lo; mas Ele seguia avante, tomando por guia as Escrituras. DTN 53 2 Jesus amava Seus irmãos e os tratava com incansável bondade, mas eles tinham-Lhe ciúmes, manifestando a mais decidida incredulidade e desdém. Não Lhe podiam entender o procedimento. Grandes eram as contradições que se manifestavam em Jesus. Filho de Deus, era no entanto impotente criança. Criador dos mundos, a Terra era possessão Sua, e todavia cada passo de Sua existência foi assinalado pela pobreza. Possuía dignidade e individualidade inteiramente isentas de orgulho terreno ou presunção; não lutava por grandeza mundana e achava-se contente até na mais humilde posição. Isso irritava os irmãos. Não podiam explicar Sua constante serenidade sob provação e privações. Não sabiam que, por amor de nós, Se tornara pobre, para que "pela Sua pobreza enriquecêssemos". 2 Coríntios 8:9. Não compreendiam melhor o mistério de Sua missão, do que os amigos de Jó entendiam sua humilhação e sofrimentos. DTN 53 3 Jesus era mal compreendido dos irmãos, em virtude de não Se assemelhar a eles. Sua norma não era a deles. Olhando aos homens via-os afastados de Deus, sem o poder divino em sua vida. As formas de religião que observavam, não lhes podiam transformar o caráter. Dizimavam a "hortelã, o endro e o cominho", mas omitiam "o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé". Mateus 23:23. O exemplo de Jesus era-lhes contínua irritação. Não aborrecia Ele senão uma coisa no mundo, e isso era o pecado. Não podia testemunhar uma ação injusta, sem uma dor que Lhe não era possível disfarçar. Entre os formalistas, cuja aparência de santidade ocultava o amor do pecado, e um caráter em que o zelo da glória de Deus constituía a suprema preocupação, era flagrante o contraste. Como a vida de Jesus condenasse o mal, encontrava Ele oposição, tanto em casa como fora. Sua abnegação e integridade eram comentadas zombeteiramente. Sua paciência e bondade, classificavam-nas como covardia. DTN 53 4 Da amargura que cabe em sorte à humanidade, não houve quinhão que Jesus não provasse. Não faltou quem procurasse lançar sobre Ele desprezo por causa de Seu nascimento, e mesmo na infância teve de enfrentar olhares desdenhosos e ruins murmurações. Houvesse respondido com uma palavra ou olhar impaciente, houvesse cedido aos irmãos em um único ato errado que fosse, e teria fracassado em ser exemplo perfeito. Tivesse admitido haver uma desculpa para o pecado, e Satanás triunfaria, ficando o mundo perdido. Foi por isso que o tentador trabalhou para tornar-Lhe a vida o mais probante possível, a fim de que fosse levado a pecar. DTN 54 1 Para cada tentação, porém, tinha uma única resposta: "Está escrito". Raramente censurava qualquer mau procedimento dos irmãos, mas tinha uma palavra de Deus para lhes dirigir. Era freqüentemente acusado de covardia por negar-Se a unir-se-lhes em algum ato proibido; Sua resposta, no entanto, era: Está escrito: "O temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é a inteligência". Jó 28:28. DTN 54 2 Alguns havia que O buscavam, sentindo-se em paz em Sua presença; muitos, no entanto, O evitavam, pois se sentiam reprovados por Sua vida imaculada. Os jovens companheiros insistiam em que fizesse como eles. Jesus era inteligente e animoso; gostavam de Sua companhia, e aceitavam-Lhe as prontas sugestões; mas impacientavam-se com Seus escrúpulos, e declaravam-nO estrito e rígido. Jesus respondia: Está escrito: "Como purificará o mancebo o seu caminho? observando-o conforme a Tua palavra". "Escondi a Tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti". Salmos 119:9, 11. DTN 54 3 Perguntavam-Lhe muitas vezes: Por que Te aplicas a ser tão singular, tão diferente de todos nós? Está escrito, dizia Ele: "Bem-aventurados os que trilham caminhos retos, e andam na lei do Senhor. Bem-aventurados os que guardam os Seus testemunhos, e O buscam de todo o coração. E não praticam iniqüidade, mas andam em Seus caminhos". Salmos 119:1-3. DTN 54 4 Quando interrogado acerca do motivo por que não tomava parte no frívolos passatempos dos jovens de Nazaré, dizia: Está escrito: "Folgo mais com o caminho dos Teus testemunhos, do que com todas as riquezas. Em Teus preceitos meditarei, e olharei para os Teus caminhos. Recrear-me-ei nos Teus estatutos: não me esquecerei da Tua palavra". Salmos 119:14-16. DTN 54 5 Jesus não contendia por Seus direitos. Muitas vezes, por ser voluntário e não Se queixar, Seu trabalho era tornado desnecessariamente penoso. No entanto, não fracassava nem ficava desanimado. Vivia acima dessas dificuldades, como à luz da face de Deus. Não Se vingava, quando rudemente tratado, mas sofria com paciência o insulto. DTN 54 6 Repetidamente Lhe era perguntado: Por que Te submetes a tão maligno tratamento, até de Teus irmãos? Está escrito, dizia: "Filho Meu, não te esqueças da Minha lei e o teu coração guarde os Meus mandamentos. Porque eles aumentarão os teus dias, e te acrescentarão anos de vida e paz. Não te desamparem a benignidade e a fidelidade: ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração. E acharás graça e bom entendimento aos olhos de Deus e dos homens". Provérbios 3:1-4. DTN 55 1 Desde a ocasião em que os pais de Jesus O acharam no templo, Seu modo de agir foi para eles mistério. Ele não entrava em discussão, todavia o exemplo que dava era uma lição constante. Parecia como pessoa separada. Sua felicidade encontrava-se nas horas em que estava a sós com Deus e a natureza. Sempre que Lhe era concedido esse privilégio, afastava-Se do cenário de Seus labores, e ia para o campo, a meditar nos verdes vales, a entreter comunhão com Deus na encosta da montanha ou entre as árvores da floresta. O alvorecer freqüentemente O encontrava em qualquer lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Dessas horas quietas voltava para casa, a fim de retomar Seus deveres e dar exemplos de paciente labor. DTN 55 2 A vida de Cristo foi assinalada pelo respeito e o amor à Sua mãe. Maria acreditava em seu coração que a santa Criança dela nascida, era o tão longamente prometido Messias; não ousava, entretanto, exprimir essa fé. Foi, através de sua existência terrestre, uma partilhadora dos sofrimentos do Filho. Com dor testemunhava as provações que Lhe sobrevinham na infância e juventude. Por justificar o que sabia ser direito em Seu procedimento, via-se ela própria em situações difíceis. Considerava as relações domésticas, e a terna solicitude da mãe em torno dos filhos, de vital importância na formação do caráter. Os filhos e filhas de José sabiam isto e, prevalecendo-se de sua ansiedade, procuravam corrigir as atitudes de Jesus segundo norma deles. DTN 55 3 Maria argumentava muitas vezes com Jesus, e insistia em que se conformasse com os usos dos rabis. Ele, porém, não podia ser persuadido a mudar Seus hábitos de contemplar as obras de Deus e buscar aliviar os sofrimentos dos homens ou mesmo dos mudos animais. Quando os sacerdotes e mestres solicitavam o auxílio de Maria em dirigir Jesus, ficava grandemente perturbada; o coração tranqüilizava-se-lhe, porém, quando Ele lhe apresentava as declarações das Escrituras em apoio de Seu proceder. DTN 55 4 Por vezes ela vacilava entre Jesus e Seus irmãos, que não criam ser Ele o Enviado de Deus; no entanto, abundantes eram as provas de ser divino o Seu caráter. Ela O via sacrificar-Se pelo bem dos outros. Sua presença criava em casa uma atmosfera mais pura, e Sua vida era como um fermento operando entre os elementos da sociedade. Puro e incontaminado, andava entre os excluídos, os rudes, os descorteses; entre injustos publicanos, ímpios samaritanos, soldados pagãos, rústicos camponeses e a multidão mista. Dirigia aqui e ali uma palavra de simpatia, ao ver criaturas fatigadas, vergadas ao peso de duras cargas. Partilhava de seus fardos, e revelava-lhes as lições que aprendera da natureza acerca do amor, da benevolência e bondade de Deus. DTN 55 5 Ensinava todos a se considerarem dotados de preciosos talentos, os quais, se devidamente empregados, lhes adquiririam riquezas eternas. Extirpava da vida toda vaidade, ensinando também, pelo próprio exemplo, que cada momento de tempo se acha carregado de resultados eternos; que deve ser apreciado como um tesouro, e empregado para fins santos. Não considerava ninguém indigno, mas buscava aplicar a todos o remédio salvador. Em qualquer companhia que Se encontrasse, apresentava uma lição adequada ao tempo e às circunstâncias. Buscava inspirar a esperança nos mais ásperos e menos prometedores, dando-lhes a certeza de que se poderiam tornar irrepreensíveis e inocentes, adquirindo caráter que demonstraria serem eles filhos de Deus. Encontrava freqüentemente pessoas que viviam sob o poder de Satanás, e não possuíam forças para romper-lhe as malhas. A essas pessoas desanimadas, enfermas, tentadas e caídas, Jesus costumava dirigir palavras da mais terna compaixão, palavras cuja necessidade era sentida, e que podiam ser apreciadas. Outros deparava Ele que se achavam empenhados em renhida luta contra o adversário. A esses animava a perseverar, assegurando-lhes que haviam de vencer; pois tinham a seu lado anjos de Deus, que lhes dariam a vitória. Aqueles a quem assim ajudava convenciam-se de que havia Alguém em quem podiam confiar plenamente. Ele não trairia os segredos que Lhe desafogassem nos compassivos ouvidos. DTN 56 1 Jesus era o médico do corpo, da mesma maneira que o era do espírito. Interessava-Se em todos os aspectos de sofrimento que se Lhe apresentavam, e proporcionava alívio a todos, havendo em Suas palavras o efeito de um bálsamo suavizador. Ninguém podia dizer que houvesse operado um milagre; mas virtude -- o poder curativo do amor -- dEle saía para os enfermos e aflitos. Assim, de maneira discreta, trabalhava pelo povo já desde a infância. E foi por isso que, ao começar Seu ministério público, tantos havia que O escutavam alegremente. DTN 56 2 Apesar disso, Jesus atravessou sozinho a infância, a adolescência e juventude. Em Sua pureza e fidelidade, pisou sozinho o lagar, e do povo ninguém havia com Ele. Carregou o tremendo peso da responsabilidade pela salvação dos homens. Sabia que, a menos que houvesse decidida mudança nos princípios e desígnios da raça humana, todos estariam perdidos. Isso era o peso de Seu coração, e ninguém podia avaliar a carga que sobre Ele repousava. Cheio de ardente propósito, realizou o objetivo de Sua vida, a fim de servir de luz aos homens. ------------------------Capítulo 10 -- A voz do deserto DTN 57 0 Este capítulo é baseado em Lucas 1:5-23, 57-80; 3:1-18; Marcos 1:1-8. DTN 57 1 Dentre os fiéis de Israel, que desde longo tempo esperavam a vinda do Messias, surgiu o precursor de Cristo. O idoso sacerdote Zacarias e Sua esposa Isabel eram "ambos justos perante Deus"; (Lucas 1:6) e em sua vida tranqüila e santa, brilhava a luz da fé como uma estrela entre as trevas daqueles dias maus. A esse piedoso par foi dada a promessa de um filho, o qual havia de "ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos". Lucas 1:76. DTN 57 2 Zacarias habitava nas "montanhas da Judéia", mas fora a Jerusalém, para ministrar por uma semana no templo, serviço requerido duas vezes por ano dos sacerdotes de todas as turmas. "E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem de sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer incenso". Lucas 1:8, 9. DTN 57 3 Achava-se ele diante do altar de ouro, no lugar santo do santuário. A nuvem de incenso ascendia perante Deus, com as orações de Israel. Súbito, sentiu-se consciente da presença divina. Um anjo do Senhor achava-se "em pé, à direita do altar do incenso". Lucas 1:11. A posição do anjo era uma indicação de favor, mas Zacarias não reparou nisso. Por muitos anos orara pela vinda do Redentor; agora o Céu enviara seu mensageiro para anunciar que essas orações estavam prestes a ser atendidas; a misericórdia de Deus, porém, parecia-lhe demasiadamente grande para ele acreditar. Encheu-se de temor e condenação própria. DTN 57 4 Foi, no entanto, saudado com a alegre promessa: "Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João; e terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento. Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo. [...] E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá adiante dEle no espírito de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos; com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois já sou velho, e minha mulher avançada em idade". Lucas 1:13-18. DTN 57 5 Zacarias bem sabia como fora dado a Abraão um filho em sua velhice, porque ele crera fiel Aquele que prometera. Por um momento, porém, o velho sacerdote volvera os pensamentos para a fraqueza da humanidade. Esqueceu-se de que Deus é capaz de cumprir aquilo que promete. Que contraste entre essa incredulidade, e a fé simples e infantil de Maria, a donzela de Nazaré, cuja resposta ao maravilhoso anúncio do anjo, foi: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra". Lucas 1:38. DTN 58 1 O nascimento de um filho a Zacarias, como o do filho de Abraão, e o de Maria, visava ensinar uma grande verdade espiritual, verdade que somos tardios em aprender e prontos a esquecer. Somos por nós mesmos incapazes de fazer qualquer bem; mas o que não somos capazes de fazer, o poder de Deus há de operar em toda pessoa submissa e crente. Por meio da fé foi dado o filho da promessa. Mediante a fé é gerada a vida espiritual, e somos habilitados a realizar as obras da justiça. DTN 58 2 À pergunta de Zacarias, disse o anjo: "Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas". Lucas 1:19. Quinhentos anos antes, Gabriel dera a conhecer a Daniel o período profético que se devia estender até à vinda de Cristo. O conhecimento de que o fim desse período estava próximo, movera a Zacarias a orar pelo advento do Redentor. Agora, o próprio mensageiro por meio de quem a profecia fora dada, viera anunciar o seu cumprimento. DTN 58 3 As palavras do anjo: "Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus", mostram que ocupa posição de elevada honra, nas cortes celestiais. Quando viera com uma mensagem para Daniel, dissera: "Ninguém há que se esforce comigo contra aqueles, a não ser Miguel [Cristo], vosso príncipe". Daniel 10:21. De Gabriel, diz o Salvador em Apocalipse: "Pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a João Seu servo". Apocalipse 1:1. E a João o anjo declarou: "Eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas". Apocalipse 22:9. Maravilhoso pensamento -- que o anjo que ocupa, em honra, o lugar logo abaixo do Filho de Deus, é o escolhido para revelar os desígnios de Deus a homens pecadores. DTN 58 4 Zacarias exprimira dúvida quanto às palavras do anjo. Não falaria outra vez enquanto elas não se cumprissem. "Eis", disse o anjo, "que ficarás mudo [...] até ao dia em que estas coisas aconteçam". Lucas 1:20. Era dever do sacerdote, nesse serviço, orar pelo perdão dos pecados públicos e nacionais, e pela vinda do Messias; quando, porém, Zacarias tentou fazer isso, não podia emitir uma palavra. DTN 58 5 Saindo para abençoar o povo, "falava por acenos, e ficou mudo". Haviam-no esperado muito, e começado a temer que houvesse sido ferido pelo juízo de Deus. Mas ao sair do lugar santo, seu rosto resplandecia com a glória de Deus, "e entenderam que tinha visto alguma visão no templo". Zacarias comunicou-lhes o que vira e ouvira; e "terminados os dias de seu ministério, voltou para sua casa". Lucas 1:22, 23. DTN 58 6 Pouco depois do nascimento da prometida criança, a língua do pai se desprendeu, "e falava, louvando a Deus. E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas todas estas coisas. E todos os que as ouviam as conservavam em seus corações dizendo: Quem será pois esse menino?" Lucas 1:64-66. Tudo isso tendia a chamar a atenção para a vinda do Messias, ao qual João devia preparar o caminho. DTN 59 1 O Espírito Santo repousou sobre Zacarias, e ele profetizou, por estas belas palavras, a missão de seu filho: DTN 59 2 "E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os Seus caminhos; para dar ao Seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados; pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o Oriente do alto nos visitou; para alumiar aos que estão assentados em trevas e sombra de morte; a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz". Lucas 1:76-79. DTN 59 3 "E o menino crescia, e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel". Lucas 1:80. Antes do nascimento de João, o anjo dissera: "Será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo". Lucas 1:15. Deus chamara o filho de Zacarias para uma grande obra, a maior já confiada a homens. A fim de cumprir essa obra, precisava de que o Senhor com ele cooperasse. E o Espírito de Deus seria com ele, caso desse ouvidos às instruções do anjo. DTN 59 4 João devia ir como mensageiro de Jeová, para levar aos homens a luz de Deus. Devia imprimir-lhes nova direção aos pensamentos. Devia impressioná-los com a santidade dos reclamos divinos, e sua necessidade da perfeita justiça de Deus. Esse mensageiro tem que ser santo. Precisa ser um templo para a presença do Espírito de Deus. A fim de cumprir sua missão, deve ter sã constituição física, bem como resistência mental e espiritual. Era, portanto, necessário que regesse os apetites e paixões. Deveria ser por forma tal capaz de dominar suas faculdades, que pudesse estar entre os homens, tão inabalável ante as circunstâncias ambientes, como as rochas e montanhas do deserto. DTN 59 5 Ao tempo de João Batista, a cobiça das riquezas e o amor do luxo e da ostentação se haviam alastrado. Os prazeres sensuais, banquetes e bebidas, estavam causando moléstias e degeneração física, amortecendo as percepções espirituais, e insensibilizando ao pecado. João devia assumir a posição de reformador. Por sua vida abstinente e simplicidade de vestuário, devia constituir uma repreensão para sua época. Daí as instruções dadas aos pais de João -- uma lição de temperança dada por um anjo do trono do Céu. DTN 59 6 Na infância e mocidade, o caráter é extremamente impressionável. Deve ser adquirido então o domínio próprio. Exercem-se, no círculo de família, ao redor da mesa, influências cujos resultados são duradouros como a eternidade. Acima de quaisquer dotes naturais, os hábitos estabelecidos nos primeiros anos decidem se a pessoa será vitoriosa ou vencida na batalha da vida. A juventude é o tempo da semeadura. Determina o caráter da colheita, para esta vida e para a outra. DTN 60 1 Como profeta, João devia "converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes às prudência dos justos; com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto". Preparando o caminho para o primeiro advento de Cristo, era representante dos que têm que preparar um povo para a segunda vinda de nosso Senhor. O mundo está entregue à condescendência com as próprias inclinações. Está cheio de erros e fábulas. Multiplicam-se os ardis de Satanás para a destruição. Todos quantos querem aperfeiçoar a santidade no temor de Deus, têm que aprender as lições da temperança e do domínio próprio. Os apetites e paixões devem ser mantidos em sujeição às mais elevadas faculdades do espírito. Esta autodisciplina é essencial àquela resistência mental e visão espiritual que nos habilitarão para compreender e praticar as sagradas verdades da Palavra de Deus. É por esta razão que a temperança tem seu lugar na obra de preparação para a segunda vinda de Cristo. DTN 60 2 Segundo a ordem natural, o filho de Zacarias teria sido educado para o sacerdócio. A educação das escolas dos rabis, no entanto, tê-lo-ia incapacitado para sua obra. Deus não o mandou aos mestres de teologia para aprender a interpretar as Escrituras. Chamou-o ao deserto, a fim de aprender acerca da natureza, e do Deus da natureza. DTN 60 3 Foi numa região isolada que encontrou seu lar, em meio de despidas colinas, ásperos barrancos e cavernas das rochas. Preferiu, porém, renunciar às diversões e luxos da vida pela rigorosa disciplina do deserto. Ali, o ambiente era propício aos hábitos de simplicidade e abnegação. Não perturbado pela agitação do mundo, poderia estudar as lições da natureza, da revelação e da Providência. As palavras do anjo a Zacarias haviam sido muitas vezes repetidas a João por seus piedosos pais. Desde a infância fora-lhe conservada diante dos olhos a missão a ele confiada e aceitara o sagrado depósito. Para ele, a solidão do deserto era um convidativo lugar de escape da sociedade quase geralmente contaminada de suspeita, incredulidade e impureza. Desconfiava de suas forças para resistir à tentação, e fugia do constante contato com o pecado, não viesse a perder o sentimento de sua inexcedível culpabilidade. DTN 60 4 Dedicado a Deus como nazireu desde o nascimento, fez por si mesmo o voto de uma consagração de toda a vida. Vestia-se como os antigos profetas, duma túnica de pêlo de camelo, presa por um cinto de couro. Comia "gafanhotos e mel silvestre", achados no deserto, e bebia a água pura que vinha das montanhas. DTN 60 5 A vida de João não era, entretanto, passada em ociosidade, em ascética tristeza, em isolamento egoísta. Ia de tempos a tempos misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes chegar ao coração com a mensagem do Céu. Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava preparar-se para a obra de sua vida. Se bem que habitando no deserto, não estava livre de tentações. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder. DTN 61 1 João encontrou no deserto sua escola e santuário. Qual Moisés entre as montanhas de Midiã, era circundado da presença de Deus, e das demonstrações de Seu poder. Não teve, como o grande líder de Israel, a sorte de habitar entre a solene majestade da solidão das montanhas; achavam-se, porém, diante dele as alturas de Moabe, além do Jordão, a falar-lhe dAquele que firmara os montes, cingindo-os de fortaleza. O triste e terrível aspecto da natureza no deserto em que morava, pintava vivamente o estado de Israel. A frutífera vinha do Senhor, tornara-se em desolada ruína. Sobre o deserto, no entanto, curvava-se o céu luminoso e belo. As nuvens que se acumulavam, com o negror da tempestade, eram aureoladas pelo arco-íris da promessa. Assim, por sobre a degradação de Israel, brilhava a prometida glória do reino do Messias. As nuvens da ira eram emparelhadas pelo arco-íris do Seu misericordioso concerto. DTN 61 2 Sozinho, no silêncio da noite, lia a promessa feita por Deus a Abraão, de uma semente tão inumerável como as estrelas. A luz da aurora, dourando as montanhas de Moabe, falava-lhe dAquele que havia de ser "como a luz da manhã quando sai o Sol, da manhã sem nuvens". 2 Samuel 23:4. E no brilho do meio-dia via o esplendor de Sua revelação, quando "a glória do Senhor" se manifestar, "e toda carne juntamente" a vir. Isaías 40:5. DTN 61 3 Num misto de respeito e regozijo, examinava nos rolos dos profetas as revelações da vinda do Messias -- a Semente prometida que haveria de esmagar a cabeça da serpente; Siló, "o doador da paz", que deveria aparecer antes de um rei deixar de reinar sobre o trono de Davi. Agora chegara o tempo. No palácio do monte de Sião senta-se um governador romano. Segundo a firme palavra do Senhor, o Cristo já nascera. DTN 61 4 As arrebatadas descrições da glória do Redentor por Isaías, eram dia e noite objeto de estudo de sua parte -- o Rebento do tronco de Jessé; um Rei que reinará em justiça, julgando "com eqüidade os mansos da Terra" (Isaías 11:4); "um refúgio contra a tempestade, [...] a sombra de uma grande rocha em terra sedenta" (Isaías 32:2); Israel não mais sendo chamado "Desamparada", nem sua terra "Assolada", mas chamado pelo Senhor "o Meu Prazer", e Sua terra "Desposada". Isaías 62:4. O coração do solitário exilado enchia-se de gloriosa visão. DTN 62 1 Contemplou o Rei em Sua beleza, e o próprio eu foi esquecido. Via a majestade da santidade, e sentiu-se ineficiente e indigno. Estava disposto a ir como mensageiro do Céu, não atemorizado pelo humano, pois contemplara o Divino. Podia ficar ereto e destemido em presença de governantes terrestres, porque se prostrara diante do Rei dos reis. DTN 62 2 João não compreendia plenamente a natureza do reino do Messias. Esperava que Israel fosse libertado de seus inimigos nacionais; mas a vinda de um Rei em justiça, e o estabelecimento de Israel como nação santa, era o grande objetivo de sua esperança. Assim acreditava se viesse a cumprir a profecia dada em seu nascimento. "Para [...] lembrar-Se do Seu santo concerto, [...] Que, libertados da mão de nossos inimigos, O serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante Ele, todos os dias de nossa vida". DTN 62 3 Via seu povo enganado, satisfeito consigo mesmo e adormecido em pecados. Anelava despertá-los para vida mais santa. A mensagem que Deus lhe dera, destinava-se a acordá-los da letargia, e fazê-los tremer por sua grande iniqüidade. Antes de a semente do evangelho poder encontrar guarida, o solo do coração deveria ser revolvido. Antes de lhes ser possível buscar cura em Jesus, precisavam ser despertados para o perigo que corriam em razão das feridas do pecado. DTN 62 4 Deus não manda mensageiros para lisonjear o pecador. Não transmite mensagem de paz para embalar os não santificados numa segurança fatal. Depõe pesados fardos sobre a consciência do malfeitor, e penetra o coração com as setas da convicção. Os anjos ministradores apresentam-lhe os terríveis juízos de Deus para aprofundar o sentimento da necessidade, e instigar ao brado: "Que devo fazer para me salvar?" Então a mão que humilhou até o pó, ergue o penitente. A voz que repreendeu o pecado, e expôs à vergonha o orgulho e a ambição, indaga com a mais terna simpatia: "Que queres que te faça?" DTN 62 5 Ao começar o ministério do Batista, a nação achava-se em estado de agitação e descontentamento próximos da revolta. Com a remoção de Arquelau, a Judéia fora posta sob o domínio de Roma. A tirania e extorsão dos governadores romanos, e seus decididos esforços para introduzir símbolos e costumes gentílicos, atearam a revolta, extinta com sangue de milhares dos mais valorosos de Israel. Tudo isso intensificara o ódio nacional contra Roma, e aumentara os anseios de libertação de seu poder. DTN 62 6 Entre a discórdia e o conflito, ouviu-se uma voz do deserto, voz vibrante e severa, sim, mas plena de esperança: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus". Com novo e estranho poder sacudia o povo. Os profetas haviam predito a vinda de Cristo como um acontecimento que se achava em futuro muito distante, mas eis ali o aviso de que estava às portas. O singular aspecto de João fazia a mente dos ouvintes reportar-se aos antigos videntes. Nas maneiras e no vestuário, assemelhava-se ao profeta Elias. Com o espírito e poder deste, denunciava a corrupção nacional, e repreendia os pecados dominantes. Suas palavras eram claras, incisivas, convincentes. Muitos acreditavam que fosse um dos profetas ressuscitado. Toda a nação se comoveu. Multidões afluíam ao deserto. DTN 63 1 João proclamava a vinda do Messias, e chamava o povo ao arrependimento. Como símbolo da purificação do pecado, batizava-os nas águas do Jordão. Assim, por uma significativa lição prática, declarava que os que pretendiam ser o povo escolhido de Deus estavam contaminados pelo pecado, e sem purificação de coração e vida, não poderiam ter parte no reino do Messias. DTN 63 2 Príncipes e rabis, soldados, publicanos e camponeses iam ouvir o profeta. Alarmou-os por algum tempo a solene advertência de Deus. Muitos foram levados ao arrependimento, e receberam o batismo. Pessoas de todas as categorias submeteram-se às exigências do Batista, a fim de participar do reino que anunciava. DTN 63 3 Muitos dos escribas e fariseus foram ter com ele, confessando os pecados e pedindo o batismo. Haviam-se exaltado como sendo melhores que os outros homens, levando o povo a ter alta opinião acerca de sua piedade; agora, os criminosos segredos de sua vida eram revelados. Mas João foi impressionado pelo Espírito Santo quando a não terem, muitos desses homens, real convicção do pecado. Eram oportunistas. Esperavam, como amigos do profeta, obter favor diante do Príncipe que haveria de vir. E, recebendo o batismo das mãos desse popular e jovem mestre, pensava fortalecer sua influência para com o povo. DTN 63 4 João os enfrentou com a fulminante pergunta: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi pois frutos dignos de arrependimento; e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão". Mateus 3:7-9. DTN 63 5 Os judeus haviam compreendido mal a promessa de Deus, de dispensar para sempre Seu favor a Israel: "Assim diz o Senhor, que dá o Sol para luz do dia, e as ordenanças da Lua e das estrelas para luz da noite, que fende o mar, e faz bramir as suas ondas; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome. Se se desviarem essas ordenanças de diante de Mim, diz o Senhor, deixará também a semente de Israel de ser uma nação diante de Mim para sempre. Assim disse o Senhor: Se puderem ser medidos os céus para cima, e sondados os fundamentos da Terra para baixo, também Eu rejeitarei toda a semente de Israel por tudo quanto fizeram, diz o Senhor". Jeremias 31:35-37. Os judeus olhavam a sua descendência natural de Abraão, como lhes dando direito a esta promessa. Deixavam de atender, porém, às condições que Deus estipulara. Antes de dar a promessa dissera: "Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração, e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. [...] Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados". Jeremias 31:33, 34. DTN 64 1 A um povo em cujo coração Sua lei está escrita, é assegurado o favor de Deus. São um com Deus. Mas os judeus se haviam dEle separado. Em razão de seus pecados, estavam sofrendo sob Seus juízos. Era essa a causa de estarem escravizados a uma nação pagã. O espírito deles estava obscurecido pela transgressão, e por lhes haver o Senhor em tempos anteriores mostrado tão grande favor, desculpavam seus pecados. Lisonjeavam-se de ser melhores que os outros homens, e merecedores de Suas bênçãos. DTN 64 2 Estas coisas "estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos". 1 Coríntios 10:11. Quantas vezes interpretamos mal as bênçãos de Deus, e nos lisonjeamos de ser favorecidos em virtude de alguma bondade que haja em nós! Deus não pode fazer por nós aquilo que almeja. Seus dons, empregamo-los para nos aumentar a satisfação pessoal, e nos endurecer o coração em incredulidade e pecado. DTN 64 3 João declarava aos mestres de Israel que seu orgulho, egoísmo e crueldade demonstravam serem eles uma raça de víboras, uma terrível maldição para o povo, em vez de filhos do justo e obediente Abraão. Em vista da luz que haviam recebido de Deus, eram ainda piores que os gentios, a quem se sentiam tão superiores. Haviam-se esquecido da rocha de onde foram cortados, e da caverna do poço de onde foram cavados. Deus não dependia deles para cumprimento de Seu desígnio. Como chamara a Abraão dentre um povo gentio, assim poderia chamar outros a Seu serviço. O coração destes poderia parecer agora tão morto como as pedras do deserto, mas o Espírito de Deus o poderia vivificar para fazer Sua vontade, e receber o cumprimento da promessa. DTN 64 4 "E também", disse o profeta, "já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo". Mateus 3:10. Não por seu nome, mas por seus frutos, é determinado o valor de uma árvore. Se o fruto é sem valor, o nome não pode salvar a árvore da destruição. João declarou aos judeus que sua aceitação diante de Deus era decidida por seu caráter e vida. A declaração de nada valia. Se sua vida e caráter não estivessem em harmonia com a lei de Deus, não eram seu povo. DTN 64 5 Sob a influência das penetrantes palavras de João, os ouvintes sentiam-se convictos. Chegavam-se a ele com a interrogação: "Que faremos pois?" Ele respondia: "Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira". Lucas 3:10, 11. E advertia os publicanos contra a injustiça, e os soldados contra a violência. DTN 64 6 Todos quantos se houvessem de tornar súditos do reino de Cristo, tinham que dar demonstrações de fé e arrependimento. Bondade, honestidade e fidelidade se manifestariam na vida dessas pessoas. Ajudariam os necessitados, e levariam a Deus suas ofertas. Defenderiam os desamparados, dando exemplo de virtude e compaixão. Assim os seguidores de Cristo darão provas do poder transformador do Espírito Santo. Revelar-se-ão na vida diária justiça, misericórdia e amor de Deus. Do contrário, são como palha, que se lança ao fogo. DTN 65 1 "Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento", disse João, "mas Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo". Mateus 3:11. O profeta Isaías declarara que o Senhor purificaria o Seu povo de suas iniqüidades "com o espírito de justiça, e com o espírito de ardor". Isaías 4:4. As palavras do Senhor a Israel, eram: "E porei contra ti a Minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza". Isaías 1:25. Para o pecado, onde quer que se encontre, "nosso Deus é um fogo consumidor". Hebreus 12:29. O Espírito de Deus consumirá pecado em todos quantos se submeterem a Seu poder. Se os homens, porém, se apegarem ao pecado, ficarão com ele identificados. Então a glória de Deus, que destrói o pecado, tem que destruí-los. Depois de sua noite de luta com o anjo, Jacó exclamou: "Tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva". Gênesis 32:30. Jacó fora culpado de um grande pecado em sua conduta para com Esaú; mas arrependera-se. Sua transgressão fora perdoada, e seu pecado purificado; podia, portanto, suportar a revelação da presença de Deus. Mas sempre que os homens chegaram à presença dEle, enquanto voluntariamente nutrindo o mal, foram destruídos. Por ocasião do segundo advento de Cristo, os ímpios hão de ser consumidos "pelo assopro da Sua boca", e aniquilados "pelo resplendor da Sua vinda". 2 Tessalonicenses 2:8. A luz da glória de Deus, que comunica vida aos justos, matará os ímpios. DTN 65 2 No tempo de João Batista, Cristo estava prestes a Se manifestar como o revelador do caráter de Deus. Sua própria presença tornaria aos homens manifesto o seu pecado. Somente em virtude da boa vontade da parte deles para serem purificados do pecado, podiam entrar em comunhão com Jesus. Só os puros de coração podiam permanecer em Sua presença. DTN 65 3 Assim declarava o Batista a mensagem de Deus a Israel. Muitos deram ouvidos a suas instruções. Muitos sacrificaram tudo, a fim de obedecer. Multidões seguiam a esse novo mestre de um lugar para outro, e não poucos nutriam a esperança de que fosse o Messias. Mas, vendo João o povo voltar-se para ele, buscava todas as oportunidades de encaminhar-lhes a fé para Aquele que haveria de vir. ------------------------Capítulo 11 -- O batismo DTN 66 0 Este capítulo é baseado em Mateus 3:13-17; Marcos 1:9-11; Lucas 3:21, 22. DTN 66 1 Por toda a Galiléia se espalharam as novas do profeta do deserto, e de sua maravilhosa mensagem. Esta chegou até aos camponeses das mais remotas cidades da montanha e aos pescadores da praia, encontrando, nesses corações simples e sinceros, a mais genuína aceitação. Em Nazaré repercutiu na oficina de carpintaria que fora de José, e houve Alguém que reconhecesse o chamado. Seu tempo chegara. Afastando-Se de Seu diário labor, despediu-Se de Sua mãe, e seguiu os passos dos compatriotas que afluíam em multidões ao Jordão. DTN 66 2 Jesus e João Batista eram primos, e intimamente relacionados pelas circunstâncias de Seu nascimento; todavia, não haviam tido nenhuma comunicação direta um com o outro. A vida de Jesus fora passada em Nazaré, na Galiléia; a de João, no deserto da Judéia. Em ambiente grandemente diverso, tinham vivido separados, e não se haviam comunicado entre si. A Providência assim o determinara. Não se devia dar lugar à acusação de haverem conspirado para apoiarem mutuamente suas pretensões. DTN 66 3 João tinha conhecimento dos fatos que haviam assinalado o nascimento de Jesus. Ouvira falar da visita que, em Sua infância, fizera a Jerusalém, e do que se passara na escola dos rabinos. Sabia da existência sem pecado que vivera, e cria ser Ele o Messias; mas não tinha disso positiva certeza. O fato de haver Jesus permanecido tantos anos em obscuridade, não dando especial indício de Sua missão, deu lugar a dúvidas quanto a ser na verdade o Prometido. O Batista, no entanto, esperava com fé confiante, acreditando que, ao tempo designado pelo próprio Deus, tudo se haveria de esclarecer. Fora-lhe revelado que o Messias procuraria de suas mãos o batismo, e seria então dado um sinal de Seu caráter divino. Assim seria habilitado para apresentá-Lo ao povo. DTN 66 4 Quando Jesus foi para ser batizado, João nEle reconheceu pureza de caráter que nunca divisara em homem algum. A própria atmosfera de Sua presença era santa e inspirava respeito. Entre as multidões que se haviam congregado em torno dele no Jordão, ouvira João tristes histórias de crime, e encontrara pessoas curvadas ao fardo de milhares de pecados; nunca, entretanto, estivera em contato com um ser humano de quem brotasse tão divina influência. Tudo isso estava em harmonia com o que lhe fora revelado acerca do Messias. No entanto, esquivou-se a fazer o pedido de Jesus. Como poderia ele, pecador, batizar o Inocente? E por que haveria Aquele que não necessitava de arrependimento, de submeter-Se a um rito que era uma confissão de culpa a ser lavada? DTN 67 1 Ao pedir Jesus, o batismo, João recusou, exclamando: "Eu careço de ser batizado por Ti, e vens Tu a mim?" Com firme, se bem que branda autoridade, Jesus respondeu: "Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça". E João, cedendo, desceu com o Salvador ao Jordão, sepultando-O nas águas. "E logo que saiu da água" Jesus "viu os céus abertos, e o Espírito, que como pomba descia sobre Ele". Mateus 3:14, 15. DTN 67 2 Jesus não recebeu o batismo como confissão de pecado de Sua própria parte. Identificou-Se com os pecadores, dando os passos que nos cumpre dar. A vida de sofrimento e paciente perseverança que viveu depois do batismo, foi também um exemplo para nós. DTN 67 3 Ao sair da água, Jesus Se inclinou em oração à margem do rio. Nova e importante fase abria-se diante dEle. Entrava agora, em mais amplo círculo, no conflito de Sua vida. Conquanto fosse o Príncipe da Paz, Sua vida devia ser como o desembainhar de uma espada. O reino que viera estabelecer, era oposto daquilo que os judeus desejavam. Aquele que era o fundamento do ritual e da organização de Israel, seria considerado seu inimigo e destruidor. Aquele que proclamara a lei sobre o Sinai, seria condenado como transgressor. O que viera derribar o poder de Satanás, seria acusado como Belzebu. Ninguém na Terra O compreendera, e ainda em Seu ministério devia andar sozinho. Durante Sua existência, nem a mãe nem os irmãos Lhe tinham compreendido a missão. Os próprios discípulos não O entendiam. Habitara na eterna luz, sendo um com Deus, mas Sua vida na Terra devia ser vivida em solidão. DTN 67 4 Como um conosco, cumpria-Lhe suportar o fardo de nossa culpa e aflição. O Inocente devia sentir a vergonha do pecado. O Amigo da paz tinha que habitar entre a luta, a verdade com a mentira, a pureza com a vileza. Todo pecado, toda discórdia, toda contaminadora concupiscência trazida pela transgressão, Lhe era uma tortura para o espírito. DTN 67 5 Sozinho devia trilhar a vereda; sozinho carregaria o fardo. Sobre Aquele que abrira mão de Sua glória, e aceitara a fraqueza da humanidade, devia repousar a redenção do mundo. Viu e sentiu tudo isso; firme, porém, permaneceu o Seu desígnio. De Seu braço dependia a salvação da raça caída, e Ele estendeu a mão para agarrar a do Onipotente Amor. DTN 67 6 O olhar do Salvador parece penetrar o Céu, ao derramar a alma em oração. Bem sabe como o pecado endureceu o coração dos homens, e como lhes será difícil discernir Sua missão, e aceitar o dom da salvação eterna. Suplica ao Pai poder para vencer a incredulidade deles, quebrar as cadeias com que Satanás os escravizou, a derrotar, em seu benefício, o destruidor. Pede o testemunho de que Deus aceite a humanidade na pessoa de Seu Filho. DTN 67 7 Nunca antes haviam os anjos ouvido tal oração. Anseiam trazer a Seu amado Capitão uma mensagem de certeza e conforto. Mas não; o próprio Pai responderá à petição do Filho. Diretamente do trono são enviados os raios de Sua glória. Abrem-se os céus, e sobre a cabeça do Salvador desce a forma de uma pomba da mais pura luz -- fiel emblema dEle, o Manso e Humilde. DTN 68 1 Entre a multidão à beira do Jordão, poucos, além do Batista, divisaram essa visão celeste. Entretanto, a solenidade da divina presença repousou sobre a assembléia. O povo ficou silencioso, a contemplar a Cristo. Seu vulto achava-se banhado pela luz que circunda sem cessar o trono de Deus. Seu rosto erguido estava glorificado como nunca dantes tinham visto um rosto de homem. Dos céus abertos, ouviu-se uma voz, dizendo: "Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo". Mateus 3:17. DTN 68 2 Essas palavras de confirmação foram proferidas para inspirar a fé naqueles que testemunhavam a cena, e fortalecer o Salvador para Sua missão. Não obstante os pecados de um mundo criminoso serem postos sobre Cristo, não obstante a humilhação de tomar sobre Si nossa natureza decaída, a voz declarou ser Ele o Filho do Eterno. DTN 68 3 João ficara profundamente comovido ao ver Jesus curvado como suplicante, rogando com lágrimas a aprovação do Pai. Ao ser Ele envolto na glória de Deus, e ouvir-se a voz do Céu, reconheceu o Batista o sinal que lhe fora prometido por Deus. Sabia ter batizado o Redentor do mundo. O Espírito Santo repousou sobre ele, e, estendendo a mão, apontou para Jesus e exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. DTN 68 4 Ninguém, entre os ouvintes, nem mesmo o que as proferira, discerniu a importância dessas palavras: "O Cordeiro de Deus". Sobre o monte Moriá, ouvira Abraão a pergunta do filho: "Meu pai! onde está o cordeiro para o holocausto?" O pai respondera: "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho". Gênesis 22:7, 8. E no cordeiro divinamente provido em lugar de Isaque, Abraão viu um símbolo dAquele que havia de morrer pelos pecados dos homens. Por intermédio de Isaías, o Espírito Santo, servindo-Se dessa ilustração, profetizou do Salvador: "Como um cordeiro foi levado ao matadouro", "o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos" (Isaías 53:7, 6); mas o povo de Israel não compreendera a lição. Muitos deles consideravam as ofertas sacrificais muito semelhantes à maneira por que os gentios olhavam a seus sacrifícios -- como dádivas pelas quais tornavam propícia a Divindade. Deus desejava ensinar-lhes que de Seu próprio amor provinha a dádiva que os reconciliava com Ele. DTN 68 5 E as palavras dirigidas a Jesus no Jordão: "Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo", abrangem a humanidade. Deus falou a Jesus como nosso representante. Com todos os nossos pecados e fraquezas, não somos rejeitados como indignos. Deus "nos fez agradáveis a Si no Amado". Efésios 1:6. A glória que repousou sobre Cristo é um penhor do amor de Deus para conosco. Indica-nos o poder da oração -- como a voz humana pode chegar aos ouvidos de Deus, e nossas petições podem achar aceitação nas cortes celestiais. Em razão do pecado, a Terra foi separada do Céu e alienada de sua comunhão; mas Jesus a ligou novamente com a esfera da glória. Seu amor circundou o homem e atingiu o mais alto Céu. A luz que se projetou das portas abertas sobre a cabeça de nosso Salvador, incidirá sobre nós ao pedirmos auxílio para resistir à tentação. A voz que falou a Cristo, diz a todo crente: "Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo". DTN 69 1 "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele". 1 João 3:2. Nosso Redentor abriu o caminho, de maneira que o mais pecador, necessitado, opresso e desprezado pode achar acesso ao Pai. Todos podem ter um lar nas mansões que Jesus foi preparar. "Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre e ninguém fecha; e fecha e ninguém abre; [...] eis que diante de ti tenho posto uma porta aberta, e ninguém a pode fechar". Apocalipse 3:7, 8. ------------------------Capítulo 12 -- A tentação DTN 70 0 Este capítulo é baseado em Mateus 4:1-11; Marcos 1:12, 13; Lucas 4:1-13. DTN 70 1 E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto". Lucas 4:1. As palavras de Marcos são ainda mais significativas. Diz ele: "E logo o Espírito O impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras". Marcos 1:12, 13. "E naqueles dias não comeu coisa alguma". Lucas 4:2. DTN 70 2 Quando Jesus foi levado ao deserto para ser tentado, foi levado pelo Espírito de Deus. Não O convidou a tentação. Foi para o deserto para estar sozinho, a fim de considerar Sua missão e obra. Por jejum e oração Se devia fortalecer para a sangrenta vereda que Lhe cumpria trilhar. Mas Satanás sabia que Jesus fora para o deserto, e julgou ser essa a melhor ocasião de se Lhe aproximar. DTN 70 3 Importante era, para o mundo, o resultado em jogo no conflito entre o Príncipe da Luz e o líder do reino das trevas. Depois de tentar o homem a pecar, Satanás reclamou a Terra como sua, e intitulou-se príncipe deste mundo. Havendo levado os pais de nossa raça à semelhança com sua própria natureza, julgou estabelecer aqui seu império. Declarou que os homens o haviam escolhido como seu soberano. Através de seu domínio sobre os homens, adquiriu império sobre o mundo. Cristo viera para desmentir a pretensão de Satanás. Como Filho do homem, o Salvador permaneceria leal a Deus. Assim se provaria que Satanás não havia adquirido inteiro domínio sobre a raça humana, e que sua pretensão ao mundo era falsa. Todos quantos desejassem libertação de seu poder, seriam postos em liberdade. O domínio perdido por Adão em conseqüência do pecado, seria restaurado. DTN 70 4 Desde a declaração feita à serpente no Éden: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a sua semente e a tua semente" (Gênesis 3:15), Satanás ficara sabendo que não manteria absoluto controle do mundo. Manifestava-se nos homens a operação de um poder que contrabalançaria seu domínio. Fundamente interessado, observava ele os sacrifícios oferecidos por Adão e seus filhos. Discernia nessas cerimônias um símbolo de comunhão entre a Terra e o Céu. Aplicou-se a interceptar essa comunhão. Desfigurou a Deus, e deu falsa interpretação aos ritos que apontavam ao Salvador. Os homens foram levados a temer a Deus como um Ser que Se deleitasse na destruição deles. Os sacrifícios que deveriam haver revelado Seu amor, eram oferecidos apenas para Lhe acalmar a ira. Satanás despertava as más paixões dos homens, a fim de firmar sobre eles o poder. Quando foi dada a Palavra escrita de Deus, Satanás estudou as profecias concernentes ao advento do Salvador. De geração a geração operou no intuito de cegar o povo para essas profecias, de modo a rejeitarem a Cristo em Sua vinda. DTN 71 1 Por ocasião do nascimento de Jesus, Satanás compreendeu que viera Alguém, divinamente comissionado, para lhe disputar o domínio. Tremeu, ante a mensagem dos anjos que atestava a autoridade do recém-nascido Rei. Satanás bem sabia a posição ocupada por Cristo no Céu, como o Amado do Pai. Que o Filho de Deus viesse à Terra como homem, encheu-o de assombro e apreensão. Não podia penetrar o mistério desse grande sacrifício. Seu coração egoísta não compreendia tal amor pela iludida raça. A glória e a paz do Céu, e a alegria da comunhão com Deus, não eram senão fracamente percebidas pelos homens; mas bem as conhecia Lúcifer, o querubim cobridor. Desde que perdera o Céu, estava decidido a vingar-se levando outros a partilhar de sua queda. Isso faria ele induzindo-os a desvalorizar as coisas celestiais, e a pôr o coração nas terrestres. DTN 71 2 Não sem obstáculos, devia o Comandante celestial conquistar a humanidade para Seu reino. Desde criancinha, em Belém foi continuamente assaltado pelo maligno. A imagem de Deus era manifesta em Cristo, e, nos conselhos de Satanás, se decidiu que fosse vencido. Não viera ainda ao mundo algum ser humano que escapasse ao poder do enganador. Foram-Lhe soltas no encalço as forças da confederação do mal, empenhando-se contra Ele, no intuito de, se possível, vencê-Lo. DTN 71 3 Quando do batismo de Cristo, Satanás achava-se entre os espectadores. Viu a glória do Pai cobrir o Filho. Ouviu a voz de Jeová testificando da divindade de Jesus. Desde o pecado de Adão, estivera a raça humana cortada da direta comunhão com Deus; a comunicação entre o Céu e a Terra fizera-se por meio de Cristo; mas agora, que Jesus viera "em semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3), o próprio Pai falou. Dantes, comunicara-Se com a humanidade por intermédio de Cristo; fazia-o agora em Cristo. Satanás esperara que, devido ao aborrecimento de Deus pelo pecado, se daria eterna separação entre o Céu e a Terra. Era, no entanto, agora manifesto que a ligação entre Deus e o homem fora restaurada. DTN 71 4 Satanás viu que, ou venceria, ou seria vencido. Os resultados do conflito envolviam demasiado para ser ele confiado aos anjos confederados. Ele próprio devia dirigir em pessoa o conflito. Todas as forças da apostasia se puseram a postos contra o Filho de Deus. Cristo Se tornou o alvo de todas as armas do mal. DTN 71 5 Muitos há que não consideram esse conflito entre Cristo e Satanás como tendo relação especial com sua própria vida; pouco interesse tem para eles. Mas, essa luta repete-se nos domínios de cada coração. Ninguém abandona jamais as fileiras do mal para o serviço de Deus, sem enfrentar os assaltos de Satanás. As sedutoras sugestões a que Cristo resistiu, foram as mesmas que tão difícil achamos vencer. A pressão que exerciam sobre Ele era tanto maior, quanto Seu caráter era superior ao nosso. Com o terrível peso dos pecados do mundo sobre Si, Cristo suportou a prova quanto ao apetite, o amor do mundo e da ostentação, que induz à presunção. Foram essas as tentações que derrotaram Adão e Eva, e tão prontamente nos vencem. DTN 72 1 Satanás apontara o pecado de Adão como prova de que a lei de Deus era injusta, e não podia ser obedecida. Cristo devia redimir, em nossa humanidade, a falha de Adão. Quando este fora vencido pelo tentador entretanto, não tinha sobre si nenhum dos efeitos do pecado. Encontrava-se na pujança da perfeita varonilidade, possuindo o pleno vigor da mente e do corpo. Achava-se circundado das glórias do Éden, e em comunicação diária com seres celestiais. Não foi assim quanto a Jesus, quando penetrou no deserto para confrontar-Se com Satanás. Por quatro mil anos a raça estivera a decrescer em forças físicas, vigor mental e moral; e Cristo tomou sobre Si as fraquezas da humanidade degenerada. Unicamente assim podia salvar o homem das profundezas de sua degradação. DTN 72 2 Pretendem muitos que era impossível Cristo ser vencido pela tentação. Neste caso, não teria sido colocado na posição de Adão; não poderia haver obtido a vitória que aquele deixara de ganhar. Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, então Ele não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanidade com todas as contingências da mesma. Tomou a natureza do homem com a possibilidade de ceder à tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Ele não tenha sofrido. DTN 72 3 Para Cristo, como para o santo par no Éden, foi o apetite o terreno da primeira grande tentação. Exatamente onde começara a ruína, deveria começar a obra de nossa redenção. Como, pela condescendência com o apetite, caíra Adão, assim, pela negação do mesmo, devia Cristo vencer. "E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a Ele o tentador, disse: Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus". Mateus 4:2-4. DTN 72 4 Do tempo de Adão ao de Cristo, a condescendência própria havia aumentado o poder dos apetites e paixões, tendo eles domínio quase ilimitado. Os homens se haviam aviltado e ficado doentes, sendo-lhes, de si mesmos, impossível vencer. Cristo venceu em favor do homem, pela resistência à severíssima prova. Exercitou, por amor de nós, um autodomínio mais forte que a fome e a morte. E nessa vitória estavam envolvidos outros resultados que entram em todos os nossos conflitos com o poder das trevas. DTN 73 1 Quando Jesus chegou ao deserto, estava rodeado da glória do Pai. Absorto em comunhão com Deus, foi erguido acima da fraqueza humana. Mas a glória afastou-se, e Ele foi deixado a lutar com a tentação. Ela O apertava a todo instante. Sua natureza humana recuava do conflito que O aguardava. Durante quarenta dias, jejuou e orou. Fraco e emagrecido pela fome, macilento e extenuado pela angústia mental, "o Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens". Isaías 52:14. Era então a oportunidade de Satanás. Julgou poder agora vencer a Cristo. DTN 73 2 Eis que foi ter com o Salvador, como em resposta a Suas orações, disfarçado num anjo do Céu. Pretendia ter uma missão de Deus, declarar que o jejum de Cristo chegara ao termo. Como Deus enviara um anjo para deter a mão de Abraão de oferecer Isaque, assim, satisfeito com a prontidão de Cristo para entrar na sangrenta vereda, o Pai mandara um anjo para O libertar; era essa a mensagem trazida a Jesus. O Salvador desfalecia de fome, ambicionava o alimento, quando Satanás O assaltou de repente. Apontando para as pedras que juncavam o deserto, e tinham a aparência de pães, disse o tentador: "Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães". Mateus 4:3. DTN 73 3 Conquanto aparecesse como um anjo de luz, essas primeiras palavras traíam-lhe o caráter. "Se Tu és o Filho de Deus". Aí está a insinuação de desconfiança. Desse Jesus ouvidos à sugestão de Satanás, e seria isso uma aceitação da dúvida. O tentador planeja vencer a Cristo pelo mesmo processo tão bem-sucedido quanto à raça humana ao princípio. Com que astúcia se aproximara Satanás de Eva no Éden! "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" Gênesis 3:1. Até aí eram verdadeiras as palavras do tentador; na maneira de as proferir, porém, havia disfarçado desprezo pelas palavras de Deus. Havia encoberta negação, uma dúvida da veracidade divina. Satanás procurara infundir no espírito de Eva a idéia de que Deus não faria aquilo que dissera; que a retenção de tão belo fruto era uma contradição de Seu amor e compaixão para com o homem. Da mesma maneira procura agora o tentador inspirar a Cristo seus próprios sentimentos. "Se Tu és o Filho de Deus." As palavras traduzem a mordacidade de seu espírito. Há no tom de sua voz uma expressão de completa incredulidade. Trataria Deus assim a Seu Filho? Deixá-Lo-ia no deserto com as feras, sem alimento, sem companheiros, sem conforto? Insinua que Deus nunca intentaria que Seu Filho Se achasse em tal condição. "Se Tu és o Filho de Deus", mostra Teu poder, mitigando a fome que Te oprime. Manda que esta pedra se torne em pão. DTN 73 4 As palavras do Céu: "Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo" (Mateus 3:17), soavam ainda aos ouvidos de Satanás. Mas ele estava decidido a fazer Cristo descrer desse testemunho. A Palavra de Deus era a segurança de Cristo quanto à divindade de Sua missão. Viera viver como homem entre os homens, e era a palavra que declarava Sua ligação com o Céu. Era o desígnio de Satanás fazê-Lo duvidar dessa palavra. Se a confiança de Cristo em Deus fosse abalada, Satanás sabia que lhe caberia a vitória no conflito. Poderia derrotar Jesus. Esperava que, sob o império do acabrunhamento e de extrema fome, Cristo perdesse a fé em Seu Pai, e operasse um milagre em Seu benefício. Houvesse Ele feito isso, e ter-se-ia frustrado o plano da salvação. DTN 74 1 Quando o Filho de Deus e Satanás, pela primeira vez, se defrontaram em conflito, era Cristo o comandante das hostes celestiais; e Satanás, o cabeça da rebelião no Céu, fora dali expulso. Agora, dir-se-ia haverem-se invertido as condições, e o adversário explorou o mais possível sua suposta vantagem. Um dos mais poderosos anjos, disse ele, fora banido do Céu. A aparência de Jesus indicava ser Ele aquele anjo caído, abandonado de Deus, e desamparado dos homens. Um ser divino devia ser capaz de comprovar sua pretensão mediante um milagre; "se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães". Mateus 4:3. Tal ato de poder criador, insiste o maligno, seria conclusiva prova de divindade. Isso poria termo à contenda. DTN 74 2 Não foi sem luta que Jesus pôde escutar em silêncio o arquienganador. O Filho de Deus, no entanto, não devia provar Sua divindade a Satanás, ou explicar-lhe a causa de Sua humilhação. Atendendo às exigências do rebelde, não se conseguiria coisa alguma para o bem do homem ou a glória de Deus. Houvesse Cristo concordado com as sugestões do inimigo, e Satanás teria dito ainda: "Mostra-me um sinal, para que eu creia que és o Filho de Deus". A prova teria sido inútil para quebrar o poder da rebelião no coração dele. E Cristo não devia exercer poder divino em Seu próprio benefício. Viera para sofrer a prova como nos cumpre a nós fazer, deixando-nos um exemplo de fé e submissão. Nem aí, nem em qualquer ocasião, em Sua vida terrestre, operou ele um milagre em Seu favor. Suas maravilhosas obras foram todas para o bem dos outros. Se bem que Cristo reconhecesse Satanás desde o princípio, não foi incitado a entrar com ele em discussão. Fortalecido com a lembrança da voz do Céu, descansou no amor de Seu Pai. Não parlamentaria com a tentação. DTN 74 3 Jesus enfrentou Satanás com as palavras da Escritura. "Está escrito" (Mateus 4:4), disse Ele. Em toda tentação, Sua arma de guerra era a Palavra de Deus. Satanás exigia de Jesus um milagre, como prova de Sua divindade. Mas alguma coisa maior que todos os milagres -- uma firme confiança num "assim diz o Senhor", era o irrefutável testemunho. Enquanto Cristo Se mantivesse nessa atitude, o tentador nenhuma vantagem poderia obter. DTN 74 4 Era nas ocasiões de maior fraqueza que assaltavam a Cristo as mais cruéis tentações. Assim pensava Satanás prevalecer. Por esse método obtivera a vitória sobre os homens. Quando a resistência desfalecia, a força de vontade se debilitava e a fé deixava de repousar em Deus, então eram vencidos os que se haviam valorosamente mantido ao lado direito. Moisés achava-se fatigado pelos quarenta anos da peregrinação de Israel, quando, por um momento, sua fé deixou de se apoiar no infinito poder. Fracassou exatamente no limiar da terra prometida. O mesmo quanto a Elias, que se mantivera diante do rei Acabe; que enfrentara toda a nação de Israel, com os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal a sua frente. Depois daquele terrível dia sobre o Carmelo, em que os falsos profetas haviam sido mortos, e o povo declarara sua fidelidade a Deus, Elias fugiu para salvar a vida diante das ameaças da idólatra Jezabel. DTN 75 1 Assim se tem Satanás aproveitado da fraqueza da humanidade. E continuará a operar deste modo. Sempre que uma pessoa se encontra rodeada de nuvens, perplexa pelas circunstâncias, ou aflita pela pobreza e a infelicidade, Satanás se acha a postos para tentar e aborrecer. Ataca nossos pontos fracos de caráter. Procura abalar nossa confiança em Deus, que permite existirem tais condições. Somos tentados a desconfiar de Deus, pôr em dúvida Seu amor. Freqüentemente o tentador vem a nós como foi a Cristo, apresentando nossas fraquezas e enfermidades. Espera desanimar-nos, e romper nossa ligação com Deus. Então está seguro de sua presa. Se o enfrentássemos como Jesus fez, haveríamos de escapar a muita derrota. Parlamentando com o inimigo, damos-lhe vantagem. DTN 75 2 Quando Cristo disse ao tentador: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus", repetiu as palavras que, mais de mil e quatrocentos anos atrás, Ele dissera a Israel: "O Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, [...] e te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem". Deuteronômio 8:2, 3. No deserto, quando falharam todos os meios de subsistência, Deus enviou a Seu povo maná do Céu; e foi-lhe dada suficiente e constante provisão. Essa providência visava a ensinar-lhes que, enquanto confiassem em Deus, e andassem em Seus caminhos, Ele os não abandonaria. O Salvador pôs agora em prática a lição que dera a Israel. Pela Palavra de Deus, fora prestado socorro às hostes hebraicas, e pela palavra seria ele concedido a Jesus. Ele aguardava o tempo designado por Deus, para O socorrer. Achava-Se no deserto em obediência a Deus, e não obteria alimento por seguir as sugestões de Satanás. Em presença do expectante Universo, testificou Ele ser menor desgraça sofrer seja o que for, do que afastar-se de qualquer modo da vontade de Deus. DTN 75 3 "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus". Mateus 4:4. Muitas vezes o seguidor de Cristo é colocado em situação em que não lhe é possível servir a Deus e continuar seus empreendimentos mundanos. Talvez pareça que a obediência a qualquer claro reclamo da parte de Deus o privará dos meios de subsistência. Satanás quer fazê-lo crer que deve sacrificar as convicções de sua consciência. Mas a única coisa no mundo em que podemos repousar é a Palavra de Deus. "Buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". Mateus 6:33. Mesmo nesta vida não nos é proveitoso apartar-nos da vontade de nosso Pai no Céu. Quando aprendermos o poder de Sua palavra, não seguiremos as sugestões de Satanás para obter alimento ou salvar a vida. Nossa única preocupação será: Qual é o mandamento de Deus? Qual Sua promessa? Sabendo isso, obedeceremos ao primeiro, e confiaremos na segunda. DTN 76 1 Na última grande batalha do conflito com Satanás, os que são leais a Deus hão de ser privados de todo apoio terreno. Por se recusarem a violar-Lhe a lei em obediência a poderes terrestres, ser-lhes-á proibido comprar ou vender. Será afinal decretada a morte deles. Apocalipse 13:11-17. Ao obediente, porém, é dada a promessa: "Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas são certas". Isaías 33:16. Por essa promessa viverão os filhos de Deus. Quando a Terra estiver assolada pela fome, serão alimentados. "Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão". Salmos 37:19. Daquele tempo de angústia prediz o profeta Habacuque, e suas palavras exprimem a fé da igreja: "Portanto ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas; todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação". Hebreus 3:17, 18. DTN 76 2 De todas as lições a serem aprendidas da primeira grande tentação de nosso Senhor, nenhuma é mais importante do que a que diz respeito ao controle dos apetites e paixões. Em todos os séculos, as tentações mais atraentes à natureza física têm sido mais bem-sucedidas em corromper e degradar a humanidade. Satanás opera por meio da intemperança para destruir as faculdades mentais e morais concedidas por Deus ao homem como inapreciável dom. Assim se torna impossível ao homem apreciar as coisas de valor eterno. Através de condescendências sensuais, busca ele apagar todo traço de semelhança com Deus. DTN 76 3 As irrefreadas satisfações da inclinação natural e a conseqüente enfermidade e degradação que existiam ao tempo do primeiro advento de Cristo, dominarão de novo, com intensidade agravada, antes de Sua segunda vinda. Cristo declara que as condições do mundo serão como nos dias anteriores ao dilúvio, e como em Sodoma e Gomorra. Todas as imaginações dos pensamentos do coração serão más continuamente. Vivemos mesmo ao limiar daquele terrível tempo, e a nós convém a lição do jejum do Salvador. Unicamente pela inexprimível angústia suportada por Cristo podemos avaliar o mal da irrefreada satisfação própria. Seu exemplo nos declara que nossa única esperança de vida eterna, é manter os apetites e paixões sob sujeição à vontade de Deus. DTN 77 1 Em nossa própria força, é-nos impossível escapar aos clamores de nossa natureza caída. Satanás trar-nos-á tentações por esse lado. Cristo sabia que o inimigo viria a toda criatura humana, para se aproveitar da fraqueza hereditária e, por suas falsas insinuações, enredar todos cuja confiança não se firma em Deus. E, passando pelo terreno que devemos atravessar, nosso Senhor nos preparou o caminho para a vitória. Não é de Sua vontade que fiquemos desvantajosamente colocados no conflito com Satanás. Não quer que fiquemos intimidados nem desfalecidos pelos assaltos da serpente. "Tende bom ânimo", diz Ele, "Eu venci o mundo". João 16:33. DTN 77 2 O que está lutando contra o poder do apetite olhe ao Salvador, no deserto da tentação. Veja-O em Sua angústia na cruz, ao exclamar: "Tenho sede"! João 19:28. Ele resistiu a tudo quanto nos é possível suportar. Sua vitória é nossa. DTN 77 3 Jesus repousava na sabedoria e força de Seu Pai celeste. Declara: "O Senhor Jeová Me ajuda, pelo que Me não confundo; [...] e sei que não serei confundido. Eis que o Senhor Jeová Me ajuda." Mostrando Seu próprio exemplo, diz-nos: "Quem há entre vós que tema ao Senhor? [...] Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o Seu Deus". Isaías 50:7, 9, 10. DTN 77 4 "Vem o príncipe do mundo", disse Jesus; "ele nada tem em Mim". João 14:30. Nada havia nEle que correspondesse aos sofismas de Satanás. Ele não consentia com o pecado. Nem por um pensamento cedia à tentação. O mesmo se pode dar conosco. A humanidade de Cristo estava unida à divindade; estava habilitado para o conflito, mediante a presença interior do Espírito Santo. E veio para nos tornar participantes da natureza divina. Enquanto a Ele estivermos ligados pela fé, o pecado não mais terá domínio sobre nós. Deus nos toma a mão da fé, e a leva a apoderar-se firmemente da divindade de Cristo, a fim de atingirmos a perfeição de caráter. DTN 77 5 E a maneira por que isso se realiza, Cristo no-la mostrou. Por que meio venceu no conflito contra Satanás? -- Pela Palavra de Deus. Unicamente pela Palavra pôde resistir à tentação. "Está escrito", dizia. E são-nos dadas "grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo". 2 Pedro 1:4. Toda promessa da Palavra de Deus nos pertence. "De tudo que sai da boca de Deus" havemos de viver. Quando assaltados pela tentação, não olheis às circunstâncias, ou à fraqueza do próprio eu, mas ao poder da Palavra. Pertence-vos toda a sua força. "Escondi a Tua Palavra no meu coração", diz o Salmista, "para eu não pecar contra Ti". Salmos 119:11. "Pela Palavra dos Teus lábios me guardei das veredas do destruidor". Salmos 17:4. ------------------------Capítulo 13 -- A vitória DTN 78 0 Este capítulo é baseado em Mateus 4:5-11; Marcos 1:12, 13; Lucas 4:5-13. DTN 78 1 Então o diabo O transportou à cidade santa, e colocou-O sobre o pináculo do templo, e disse-Lhe: Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo; porque está escrito: Que aos Seus anjos dará ordem a Teu respeito; e tomar-Te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra". Mateus 4:5, 6. DTN 78 2 Julga Satanás haver agora enfrentado Jesus mesmo em Seu terreno. O próprio astuto inimigo apresenta palavras procedentes da boca de Deus. Parece ainda um anjo de luz, e mostra claramente estar familiarizado com as Escrituras, entendendo a significação do que está escrito. Como Jesus usara anteriormente a Palavra de Deus para apoiar Sua fé, o tentador agora a emprega para corroborar seu engano. Pretende ter estado apenas provando a fidelidade de Jesus, louvando-Lhe agora a firmeza. Como o Salvador manifestou confiança em Deus, Satanás insiste com Ele para que dê outro testemunho de Sua fé. DTN 78 3 Mas novamente a tentação é introduzida com a insinuação de desconfiança: "Se Tu és o Filho de Deus". Mateus 4:6. Cristo foi tentado a responder ao "se"; absteve-Se, porém, da mais leve aceitação da dúvida. Não poria em risco Sua vida para dar a Satanás uma prova. DTN 78 4 O tentador pensava aproveitar-se da humanidade de Cristo, e incitou-O à presunção. Mas ao passo que pode instigar, não lhe é possível forçar ao pecado. Disse a Jesus: "Lança-Te de aqui abaixo", sabendo que O não podia lançar; pois Deus Se interporia para livrá-Lo. Tampouco poderia o inimigo forçar Jesus a Se lançar. A menos que Cristo consentisse na tentação, não poderia ser vencido. Nem todo o poder da Terra ou do inferno O poderia forçar no mínimo que fosse a Se apartar da vontade de Seu Pai. DTN 78 5 O tentador jamais nos poderá compelir a praticar o mal. Não pode dominar as mentes, a menos que se submetam a seu controle. A vontade tem que consentir, a fé largar sua segurança em Cristo, antes que Satanás possa exercer domínio sobre nós. Mas todo desejo pecaminoso que nutrimos lhe proporciona um palmo de terreno. Todo ponto em que deixamos de satisfazer à norma divina, é uma porta aberta pela qual pode entrar para nos tentar destruir. E todo fracasso ou derrota de nossa parte, dá-lhe ocasião de acusar a Cristo. DTN 78 6 Quando Satanás citou a promessa: "Aos Seus anjos dará ordem a Teu respeito" (Mateus 4:6), omitiu as palavras: "para Te guardarem em todos os Teus caminhos" (Salmos 91:11); isto é, em todos os caminhos da escolha de Deus. Jesus recusou sair da vereda da obediência. Conquanto manifestasse perfeita confiança em Seu Pai, não Se colocaria, sem que isso Lhe fosse ordenado, em situação que tornasse necessária a interposição do Pai para O salvar da morte. Não forçaria a Providência a vir em Seu socorro, deixando assim de dar ao homem um exemplo de confiança e submissão. DTN 79 1 Jesus declarou a Satanás: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus". Mateus 4:7. Essas palavras foram ditas por Moisés aos filhos de Israel, quando tinham sede no deserto, e pediram que Moisés lhes desse água, exclamando: "Está o Senhor no meio de nós, ou não?" Êxodo 17:7. Deus operara maravilhas por eles; todavia, em aflição, dEle duvidaram, e exigiram demonstrações de que estava com eles. Procuraram, em sua incredulidade, pô-Lo à prova. E Satanás estava incitando Cristo a fazer a mesma coisa. Deus já tinha testificado que Cristo era Seu Filho; pedir agora sinal de ser Ele o Filho de Deus, seria pôr à prova a Palavra divina -- tentando-O. E dar-se-ia o mesmo quanto a pedir o que Deus não havia prometido. Manifestaria desconfiança, e estaria realmente provando-O ou tentando-O. Não devemos apresentar ao Senhor nossas petições para provar se Ele cumpre Sua palavra, mas porque as cumpre; não para provar que Ele nos ama, mas porque nos ama. "Sem fé é impossível agradar-Lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam". Hebreus 11:6. DTN 79 2 Mas a fé não é de maneira nenhuma aliada à presunção. Somente o que tem verdadeira fé está garantido contra a presunção. Pois presunção é a falsificação da fé, operada por Satanás. A fé reclama as promessas de Deus, e produz frutos de obediência. A presunção também reclama as promessas, mas serve-se delas como fez Satanás, para desculpar a transgressão. A fé teria levado nossos primeiros pais a confiar no amor de Deus, e obedecer-Lhe aos mandamentos. A presunção os levou a transgredir-Lhe a lei, crendo que Seu grande amor os salvaria da conseqüência de seu pecado. Não é ter fé pretender o favor do Céu, sem cumprir as condições sob as quais é concedida a misericórdia. A fé genuína baseia-se nas promessas e providências das Escrituras. DTN 79 3 Muitas vezes quando Satanás falhou em incitar desconfiança, consegue êxito em nos levar à presunção. Se consegue pôr-nos desnecessariamente no caminho da tentação, sabe que tem a vitória. Deus há de guardar todos quantos andam no caminho da obediência; apartar-se dela, porém, é arriscar-se no terreno de Satanás. Aí cairemos por certo. O Salvador nos ordena: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação". Marcos 14:38. A meditação e a oração nos guardariam de nos precipitar, sem ser solicitados, ao encontro do perigo, e seríamos assim salvos de muitas derrotas. DTN 79 4 Entretanto, não devemos perder o ânimo quando assaltados pela tentação. Freqüentemente, quando colocados em situação probante, duvidamos de que tenhamos sido guiados pelo Espírito de Deus. Foi, no entanto, a guia do Espírito que dirigiu Jesus para o deserto, para ser tentado por Satanás. Quando Deus nos leva à provação, tem um desígnio a realizar, para nosso bem. Jesus não presumiu das promessas de Deus, indo sem que Lhe fosse ordenado, ao encontro da tentação, nem Se entregou ao acabrunhamento quando ela Lhe sobreveio. Tampouco o devemos nós fazer. "Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar". Ele diz: "Oferece a Deus sacrifício de louvor, e paga ao Altíssimo os teus votos. E invoca-Me no dia da angústia: Eu te livrarei, e tu Me glorificarás". Salmos 50:14, 15. DTN 80 1 Jesus saiu vitorioso da segunda tentação, e então Satanás se manifesta em seu verdadeiro caráter. Não se apresenta, todavia, como aquele horrível monstro de pés de cabra e asas de morcego. Embora decaído, é um poderoso anjo. Declara-se o chefe da rebelião, e o deus deste mundo. DTN 80 2 Colocando Jesus sobre uma alta montanha, fez com que todos os reinos do mundo, em toda a sua glória, passassem, em vista panorâmica, diante dEle. A luz do Sol projeta-se sobre cidades cheias de templos, palácios de mármore, campos férteis e vinhas carregadas de frutos. Os vestígios do mal estavam ocultos. Os olhos de Jesus, cercados ultimamente de tanta tristeza e desolação, contemplam agora uma cena de inexcedível beleza e prosperidade. Ouve então a voz do tentador: "Dar-Te-ei a Ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero; portanto, se Tu me adorares, tudo será Teu". Lucas 4:6, 7. DTN 80 3 A missão de Cristo só se podia cumprir através de sofrimento. Achava-se diante dEle uma existência de dores, privações, lutas e morte ignominiosa. Cumpria-Lhe carregar sobre Si os pecados de todo o mundo. Tinha que sofrer a separação do amor do Pai. Ora, o tentador oferecia entregar-Lhe o poder que usurpara. Cristo poderia livrar-Se do terrível futuro mediante o reconhecimento da supremacia de Satanás. Fazer isso, porém, era renunciar à vitória no grande conflito. Fora por buscar exaltar-se acima do Filho de Deus, que Satanás pecara no Céu. Prevalecesse ele agora, e seria isso a vitória da rebelião. DTN 80 4 Quando Satanás declarou a Cristo: O reino e a glória do mundo me foram entregues, e dou-os a quem quero, disse o que só em parte era verdade, e disse-o para servir a seu intuito de enganar. O domínio dele, arrebatara-o de Adão, mas este era o representante do Criador. Não era, pois, um governador independente. A Terra pertence a Deus, e Ele confiou ao Filho todas as coisas. Adão devia reinar em sujeição a Cristo. Ao atraiçoar Adão sua soberania, entregando-a às mãos de Satanás, Cristo permaneceu ainda, de direito, o Rei. Assim disse o Senhor ao rei Nabucodonosor: "O Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens; e os dá a quem quer". Daniel 4:17. Satanás só pode exercer sua usurpada autoridade segundo Deus lho permita. DTN 81 1 Quando o tentador ofereceu a Cristo o reino e a glória do mundo, estava propondo que Ele renunciasse à verdadeira soberania do mesmo e mantivesse domínio em sujeição a Satanás. Era este o mesmo domínio em que os judeus fundavam as esperanças. Desejavam o reino deste mundo. Houvesse Cristo consentido em oferecer-lhes tal reino, com alegria tê-Lo-iam recebido. Mas a maldição do pecado, com todas as suas misérias pesaria sobre esse reino. Cristo declarou ao tentador: "Vai-te, Satanás; porque está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele servirás". Mateus 4:10. DTN 81 2 Os reinos deste mundo eram oferecidos a Cristo por aquele que se revoltara no Céu, com o fim de comprar-Lhe a homenagem aos princípios do mal; mas Ele não seria comprado; viera para estabelecer o reino da justiça, e não renunciaria a Seu desígnio. Com a mesma tentação aproxima-se Satanás dos homens, e tem aí mais êxito do que obteve com Jesus. Oferece-lhes o reino deste mundo, sob a condição de lhe reconhecerem a supremacia. Exige que sacrifiquem a integridade, desatendam à consciência, condescendam com o egoísmo. Cristo lhes pede que busquem primeiro o reino de Deus, e Sua justiça, mas o inimigo põe-se-lhes ao lado, e diz: "Seja qual for a verdade sobre a vida eterna, para conseguir êxito neste mundo, precisas servir-me. Tenho nas mãos teu bem-estar. Posso dar-te riquezas, prazeres, honra e felicidade. Dá ouvidos a meu conselho. Não te deixes levar por extravagantes idéias de honestidade ou abnegação. Prepararei o caminho adiante de ti". Assim são enganadas multidões. Consentem em viver para o serviço do próprio eu, e Satanás fica satisfeito. Enquanto os seduz com a esperança do domínio do mundo, ganha-lhes domínio sobre a mente. Oferece aquilo que não lhe pertence conceder, e que há de ser em breve dele arrebatado. Despoja-os, entretanto, fraudulosamente, de seu título à herança de filhos de Deus. DTN 81 3 Satanás pôs em dúvida a filiação divina de Cristo. Na maneira por que foi sumariamente despedido, teve a irrefutável prova. A divindade irradiou através da humanidade sofredora. Satanás foi impotente para resistir à ordem. Torcendo-se de humilhação e raiva, foi forçado a retirar-se da presença do Redentor do mundo. A vitória de Cristo fora tão completa, como o tinha sido o fracasso de Adão. DTN 81 4 Assim podemos resistir à tentação, e forçar Satanás a retirar-se de nós. Jesus obteve a vitória por meio da submissão e fé em Deus, e diz-nos mediante o apóstolo: "Sujeitai-vos pois a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós". Tiago 4:7, 8. Não nos podemos salvar do poder do tentador; ele venceu a humanidade, e quando tentamos resistir em nossa própria força, tornamo-nos presa de seus ardis; mas "torre forte é o nome do Senhor; para ela correrá o justo, e estará em alto retiro". Provérbios 18:10. Satanás treme e foge diante da mais débil pessoa que se refugia nesse nome poderoso. DTN 82 1 Havendo partido o adversário, Jesus caiu exausto por terra, cobrindo-Lhe o rosto a palidez da morte. Os anjos do Céu haviam testemunhado o conflito, contemplando seu amado Capitão enquanto passava por inexprimíveis sofrimentos para nos abrir a nós um meio de escape. Resistira à prova -- prova maior do que jamais seremos chamados a suportar. Os anjos serviram então ao Filho de Deus, enquanto jazia como moribundo. Foi fortalecido com alimento, confortado com a mensagem do amor do Pai, e com a certeza de que todo o Céu triunfara com Sua vitória. Reanimado, Seu grande coração dilatou-se em simpatia para com o homem, e saiu para completar a obra que iniciara; para não descansar enquanto o inimigo não estivesse vencido, e nossa caída raça redimida. DTN 82 2 Jamais poderá o preço de nossa redenção ser avaliado enquanto os remidos não estiverem com o Redentor ante o trono de Deus. Então, ao irromperem as glórias do lar eterno em nossos arrebatados sentidos, lembrar-nos-emos de que Jesus abandonou tudo isso por nós, que Ele não somente Se tornou um exilado das cortes celestiais, mas enfrentou por nós o risco da derrota e eterna perdição. Então, lançar-Lhe-emos aos pés nossas coroas, erguendo o cântico: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória e ações de graças". Apocalipse 5:12. ------------------------Capítulo 14 -- "Achamos o Messias" DTN 83 0 Este capítulo é baseado em João 1:19-51. DTN 83 1 João Batista estava agora pregando e batizando em Betábara, além do Jordão. Não longe desse lugar detivera Deus o curso do rio até que Israel houvesse passado. A pouca distância dali fora derribada a fortaleza de Jericó pelos exércitos celestiais. A memória desses acontecimentos foi por esse tempo reavivada, comunicando vivo interesse à mensagem do Batista. Aquele que operara tão maravilhosamente nos séculos passados, não manifestaria novamente Seu poder em prol da libertação de Israel? Tal era o pensamento que agitava o coração dos que se aglomeravam diariamente às margens do Jordão. DTN 83 2 A pregação de João exercera tão profunda influência sobre o povo, que chamara a atenção das autoridades religiosas. O perigo de uma insurreição fez com que todo ajuntamento popular fosse considerado com suspeita por parte dos romanos, e tudo que indicasse um levante do povo despertava os temores dos governadores judeus. João não reconhecera a autoridade do Sinédrio em buscar a sanção do mesmo para sua obra; e reprovava príncipes e povo, fariseus e saduceus semelhantemente. No entanto, o povo o seguia ardorosamente. O interesse em sua obra parecia aumentar de contínuo. Conquanto João não condescendesse com eles, o Sinédrio considerava que, como mestre público, se achava sob sua jurisdição. DTN 83 3 Essa organização era constituída de membros escolhidos dentre o sacerdócio, e dos principais e doutores da nação. O sumo sacerdote era em geral o presidente. Todos os seus membros deviam ser homens avançados em anos, se bem que não velhos; homens de saber, não somente versados na religião e história hebraicas, mas em conhecimentos gerais. Deviam ser isentos de defeito físico, casados, e pais, a fim de serem mais aptos que outros a ser humanos e compreensivos. Reuniam-se num aposento ligado ao templo de Jerusalém. Nos tempos da independência dos judeus, o Sinédrio era o supremo tribunal da nação, possuindo autoridade secular, da mesma maneira que eclesiástica. Conquanto agora subordinado aos governadores romanos, exercia ainda forte influência, tanto em assuntos civis como religiosos. DTN 83 4 O Sinédrio não podia razoavelmente adiar uma investigação na obra do Batista. Havia alguns que se recordavam da revelação feita a Zacarias no templo e da profecia do pai, que indicava ser a criança o precursor do Messias. Em meio dos tumultos e mudanças de trinta anos, essas coisas haviam sido em grande parte esquecidas. Eram agora relembradas pelo despertar em torno do ministério de João Batista. DTN 84 1 Passara-se muito tempo desde que Israel tivera um profeta, desde que se testemunhara uma reforma como a que se operava agora. A exigência quanto à confissão do pecado parecia nova e assustadora. Muitos dentre os guias não iam ouvir os apelos e censuras de João, não viessem a ser levados a revelar os segredos da própria vida. Todavia, a pregação dele era um positivo anúncio do Messias. Era bem conhecido que as setenta semanas da profecia de Daniel, abrangendo a vinda do Messias, se achavam quase no fim; e todos estavam ansiosos por partilhar daquela era de glória nacional, então esperada. Tal era o entusiasmo popular, que o Sinédrio seria em breve forçado a rejeitar, ou a sancionar a obra de João. A influência deles sobre o povo já decrescia. Estava-se tornando uma questão séria, a maneira por que manteriam sua posição. Na esperança de chegar a qualquer resultado, enviaram ao Jordão uma delegação de sacerdotes e levitas, a fim de conferenciarem com o novo mestre. DTN 84 2 Ao aproximarem-se os delegados, estava reunida uma multidão, ouvindo-lhe a palavra. Com ar de autoridade destinado a impressionar o povo e inspirar a deferência do profeta, chegaram os altivos rabis. Com um movimento de respeito, quase de temor, a multidão abriu passagem. No orgulho da posição e do poder, os grandes homens, com ricas vestimentas, postaram-se perante o profeta no deserto. DTN 84 3 "Quem és tu?" indagaram. DTN 84 4 Sabendo o pensamento deles, João respondeu: "Eu não sou o Cristo". DTN 84 5 "Então quê? És tu Elias?" DTN 84 6 "Não sou". DTN 84 7 "És tu profeta?" DTN 84 8 "Não". DTN 84 9 "Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes tu de ti mesmo?" DTN 84 10 "Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías". João 1:19-23. DTN 84 11 A escritura a que João se referiu é aquela bela profecia de Isaías: "Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus. Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que já a sua malícia é acabada, que a sua iniqüidade está expiada. [...] Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor: endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo vale será exaltado, e todo monte e todo outeiro serão abatidos: e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda carne juntamente verá". Isaías 40:1-5. DTN 84 12 Antigamente, quando um rei jornadeava pelas partes menos freqüentadas de seu domínio, um grupo de homens era enviado à frente do carro real, para aplainar os lugares acidentados, encher as depressões, a fim de o rei poder viajar com segurança, e sem obstáculos. Esse costume é empregado pelo profeta para ilustrar a obra do evangelho. "Todo vale será exaltado, e todo o monte e todo outeiro serão abatidos". Isaías 40:4. Quando o Espírito de Deus, com Seu maravilhoso poder vivificante, toca o coração, abate o orgulho humano. Prazeres, posições e poder mundanos aparecem como sem valor. "Os conselhos e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus" (2 Coríntios 10:5) são derribados; todo pensamento é levado cativo "à obediência de Cristo". Então, a humildade e o abnegado amor, tão pouco apreciados entre os homens, são exaltados como as únicas coisas de valor. Esta é a obra do evangelho, do qual a de João era uma parte. DTN 85 1 Os rabis continuaram suas interrogações: "Por que batizas pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?" João 1:25. As palavras "o profeta" referiam-se a Moisés. Os judeus inclinavam-se a crer que Moisés ressuscitaria, e seria levado para o Céu. Não sabiam que já fora ressuscitado. Quando o Batista começara o ministério, muitos pensaram que talvez fosse o profeta Moisés, ressuscitado; pois parecia possuir inteiro conhecimento das profecias e da história de Israel. DTN 85 2 Acreditava-se também que, antes da vinda do Messias, Elias apareceria pessoalmente. Essa esperança enfrentou João em sua negativa; suas palavras tinham, porém, mais profundo sentido. Jesus disse posteriormente, referindo-Se a João: "Se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir". Mateus 11:14. João veio no espírito e poder de Elias, para fazer uma obra idêntica à daquele profeta. Houvessem-no recebido os judeus, e ela teria sido realizada em favor deles. Mas não lhe receberam a mensagem. Para eles João não foi Elias. Não podia realizar em seu benefício a missão que viera cumprir. DTN 85 3 Muitos dos que se achavam reunidos no Jordão, haviam estado presentes quando do batismo de Jesus; o sinal dado, porém, não fora manifesto senão a poucos dentre eles. Durante os precedentes meses do ministério do Batista, muitos se tinham recusado a atender ao chamado ao arrependimento. Haviam assim endurecido o coração e entenebrecido o entendimento. Quando o Céu deu testemunho de Jesus, no Seu batismo, não o perceberam. Os olhos que nunca se haviam volvido com fé para Aquele que é invisível, não contemplaram a revelação da glória de Deus; os ouvidos que lhe tinham escutado a voz, não ouviram as palavras de testemunho. O mesmo se dá agora. Freqüentemente a presença de Cristo e dos anjos ministradores se manifesta nas assembléias do povo e, no entanto, muitos há que o não sabem. Nada percebem de extraordinário. A alguns, porém, é revelada a presença do Salvador. Paz e alegria lhes animam o coração. São confortados, animados, abençoados. DTN 85 4 Os emissários de Jerusalém haviam perguntado a João: "Por que batizas?" (João 1:25) e esperavam a resposta. Subitamente, ao percorrer seu olhar a multidão, arderam-se-lhe os olhos, a fisionomia iluminou-se, o ser inteiro foi-lhe agitado de profunda emoção. Estendendo a mão, exclamou: "Eu batizo com água; mas no meio de vós está Alguém a quem vós não conheceis. Este é Aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca". João 1:26, 27. DTN 86 1 Era positiva e inequívoca a mensagem a ser levada de volta ao Sinédrio. As palavras de João não se podiam aplicar a nenhum outro senão ao longamente Prometido. O Messias Se achava entre eles! Sacerdotes e principais olharam em torno, com assombro, na esperança de descobrir Aquele de quem João falara. Ele, porém, não era distinguível entre a multidão. DTN 86 2 Quando, por ocasião do batismo de Jesus, João O designara como o Cordeiro de Deus, nova luz foi projetada sobre a obra do Messias. O espírito do profeta foi dirigido às palavras de Isaías: "Como um cordeiro foi levado ao matadouro". Isaías 53:7. Durante as semanas seguintes, João estudou, com novo interesse, as profecias e os ensinos quanto ao serviço sacrifical. Não distinguia claramente os dois aspectos da obra de Cristo -- como vítima sofredora e vitorioso Rei -- mas viu que Sua vinda tinha significação mais profunda do que lhe haviam percebido os sacerdotes ou o povo. Ao ver Cristo entre a multidão, de volta do deserto, esperou confiantemente que Ele desse ao povo um sinal de Seu verdadeiro caráter. Aguardava quase com impaciência ouvir o Salvador declarar Sua missão; no entanto nenhuma palavra foi proferida, não foi dado nenhum sinal. Jesus não correspondeu ao anúncio do Batista a Seu respeito, mas misturou-Se com os discípulos de João, não dando nenhum testemunho visível de Sua obra especial, nem tomando nenhuma providência para Se fazer notado. DTN 86 3 No dia seguinte, João viu Jesus, que para ele Se dirigia. Com a glória de Deus a repousar sobre ele, João estende a mão, declarando: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é Aquele do qual eu disse: Após mim vem um Varão que foi antes de mim;... e eu não O conhecia; mas, para que fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água. [...] Vi o Espírito descer do céu como uma pomba, e repousar sobre Ele. E eu não O conhecia, mas O que me mandou a batizar com água, Esse me disse: Sobre Aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele repousar, Esse é O que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que Este é o Filho de Deus". João 1:29-34. DTN 86 4 Era esse o Cristo? Com respeito e curiosidade olhou o povo Àquele de quem se acabava de declarar ser o Filho de Deus. Haviam sido profundamente comovidos pelas palavras de João. Ele lhes falara em nome de Deus. Tinham-no escutado dia a dia, ao reprovar-lhes os pecados, e de dia para dia neles se fortalecera a convicção de ser ele enviado pelo Céu. Mas quem era Esse, maior que João Batista? Não havia em Seu trajar coisa alguma que indicasse posição. Era, na aparência, um personagem simples, vestido, como eles, nos humildes trajes dos pobres. DTN 87 1 Havia entre a multidão alguns que, por ocasião do batismo de Cristo, tinham testemunhado a glória divina, e ouvido a voz de Deus. Desde então, porém, mudara grandemente a aparência do Salvador. Em Seu batismo, tinham-Lhe visto o semblante transfigurado à luz do Céu; agora, pálido, esgotado, emagrecido, ninguém O reconhecera senão o profeta João. DTN 87 2 Ao olhar o povo para Ele, no entanto, viram uma fisionomia em que se uniam a divina compaixão e o poder consciente. Toda a expressão do olhar, todo traço do semblante, assinalava-se pela humildade, e exprimia indizível amor. Parecia circundado duma atmosfera de influência espiritual. Ao passo que Suas maneiras eram suaves e despretensiosas, imprimia nos homens um sentimento de poder que, embora oculto, não podia inteiramente velar. Era esse Aquele por quem Israel tão longamente esperava? DTN 87 3 Jesus veio em pobreza e humildade, para que pudesse ser nosso exemplo, ao mesmo tempo que nosso Redentor. Houvesse aparecido com pompa real, e como poderia ter ensinado a humildade? como poderia haver apresentado tão incisivas verdades como as do sermão da montanha? Onde estaria a esperança dos humildes da vida, houvesse Jesus vindo habitar como rei entre os homens? DTN 87 4 Para a multidão, no entanto, parecia impossível que Aquele que era designado por João Se pudesse relacionar com suas elevadas antecipações. Assim, muitos ficaram decepcionados e grandemente perplexos. DTN 87 5 As palavras que os sacerdotes e rabis tanto desejavam ouvir, de que Jesus havia de restaurar então o reino a Israel, não foram proferidas. Por um rei assim haviam eles esperado ansiosamente; tal rei estavam prontos a receber. Mas um que buscasse estabelecer-lhes no coração um reino de justiça e paz, não aceitariam. DTN 87 6 No dia seguinte, enquanto dois discípulos estavam ao seu lado, João viu novamente Jesus entre o povo. O rosto do profeta iluminou-se outra vez com a glória do Invisível, ao exclamar: "Eis aqui o Cordeiro de Deus". Estas palavras fizeram pulsar o coração dos discípulos. Não as compreenderam plenamente. Que significaria o nome que João Lhe dera -- "o Cordeiro de Deus"? O próprio João não as explicara. DTN 87 7 Deixando João, foram em busca de Jesus. Um deles era André, o irmão de Simão; o outro, João evangelista. Foram estes os primeiros discípulos de Jesus. Movidos de irresistível impulso, seguiram a Jesus -- ansiosos de falar-Lhe, todavia respeitosos e em silêncio, abismados na assombrosa significação da idéia: "É esse o Messias?" DTN 87 8 Jesus sabia que os discípulos O estavam seguindo. Eram as primícias de Seu ministério, e o coração do divino Mestre alegrou-se ao corresponderem essas pessoas a Sua graça. No entanto, voltando-Se, perguntou apenas: "Que buscais?" João 1:38. Queria deixá-los em liberdade de voltar atrás, ou de falar de seus desejos. DTN 88 1 De um único desígnio tinham eles consciência. Uma só era a presença que lhes enchia o pensamento. Exclamaram: "Rabi, onde moras?" João 1:38. Numa breve entrevista à beira do caminho, não podiam receber aquilo por que ansiavam. Desejavam estar a sós com Jesus, sentar-se-Lhe aos pés e ouvir-Lhe as palavras. Ele lhes disse: "Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com Ele aquele dia". João 1:39. DTN 88 2 Houvessem João e André possuído o incrédulo espírito dos sacerdotes e principais, e não se teriam encontrado como discípulos aos pés de Jesus. Teriam dEle se aproximado como críticos, para Lhe julgar as palavras. Muitos cerram assim a porta às mais preciosas oportunidades. Assim não fizeram esses primeiros discípulos. Haviam atendido ao chamado do Espírito Santo na pregação de João Batista. Então reconheceram a voz do Mestre celestial. As palavras de Jesus foram para eles cheias de novidade, verdade e beleza. Divina luz foi projetada sobre o ensino das Escrituras do Antigo Testamento. Os complexos temas da verdade apareceram sob nova luz. DTN 88 3 É contrição, fé e amor que habilitam a mente a receber sabedoria do Céu. Fé que opera por amor é a chave do conhecimento, e todo que ama "conhece a Deus". 1 João 4:7. DTN 88 4 O discípulo João era homem de fervorosa e profunda afeição, ardente, se bem que contemplativo. Começara a discernir a glória de Cristo -- não a pompa mundana e o poder que fora ensinado a esperar, mas "a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". João 1:14. Absorveu-se na contemplação do assombroso tema. DTN 88 5 André buscou comunicar o júbilo que lhe enchia o coração. Indo à procura de Simão, seu irmão, exclamou: "Achamos o Messias". João 1:41. Simão não esperou segundo convite. Também ele ouvira a pregação de João Batista, e apressou-se em ir ter com o Salvador. Os olhos de Jesus pousaram nele, lendo-lhe o caráter e a história. Sua natureza impulsiva, o coração amorável e compassivo, a ambição e confiança próprias, a história de sua queda e arrependimento, seus labores e a morte de mártir -- o Salvador leu tudo, e disse: "Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (quer quer dizer Pedro). "No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-Me". João 1:42, 43. Filipe obedeceu à ordem, tornando-se também, desde logo, obreiro de Cristo. DTN 88 6 Filipe chamou a Natanael. Este se encontrava entre a multidão quando o Batista designara Jesus como o Cordeiro de Deus. Ao olhar Natanael para Jesus, ficou decepcionado. Poderia esse homem que apresentava os vestígios da labuta e da pobreza, ser o Messias? Entretanto, não se podia decidir a rejeitar a Jesus; pois a mensagem do Batista lhe infundira convicção. DTN 88 7 Ao tempo em que Filipe o chamou, Natanael se havia retirado para um bosque sossegado, a fim de meditar sobre o anúncio de João, e as profecias concernentes ao Messias. Orou para que se Aquele que João anunciara fosse o libertador, isso lhe fosse dado a conhecer, e o Espírito Santo repousou sobre ele com a certeza de que Deus visitara Seu povo, levantando-lhes um poder salvador. Filipe sabia que seu amigo estava examinando as profecias, e enquanto Natanael orava sob uma figueira, descobriu-lhe o retiro. Muitas vezes haviam orado juntos nesse isolado lugar, ocultos pela folhagem. DTN 89 1 A mensagem: "Havemos achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas", pareceu a Natanael uma resposta direta a sua oração. Mas Filipe tinha ainda fé vacilante. Acrescentou, duvidoso: "Jesus de Nazaré, filho de José". João 1:45. Novamente surgiu o preconceito no coração de Natanael. Exclamou: "Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?" João 1:46. DTN 89 2 Filipe não entrou em discussão. Disse: "Vem, e vê. Jesus viu Natanael vir ter com Ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo"! João 1:46, 47. Surpreendido, exclamou Natanael: "De onde me conheces Tu? Jesus respondeu, e disse: Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu, estando tu debaixo da figueira". João 1:48. DTN 89 3 Foi suficiente. O divino Espírito que dera testemunho a Natanael em sua solitária oração sob a figueira, falou-lhe agora nas palavras de Jesus. Conquanto em dúvida, e de algum modo cedendo ao preconceito, Natanael fora ter com Cristo, possuído do sincero anelo de conhecer a verdade, e agora seu desejo foi satisfeito. Sua fé foi além da daquele que o levara a Jesus. Respondeu: "Rabi, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel". João 1:49. DTN 89 4 Se Natanael houvesse confiado na direção dos rabis, nunca haveria encontrado a Jesus. Foi vendo e julgando por si mesmo, que se tornou discípulo. Assim acontece no caso de muitos hoje em dia, a quem o preconceito impede de aceitar o bem. Quão diverso seria o resultado, viessem eles e vissem! DTN 89 5 Enquanto confiar na guia da autoridade humana, ninguém chegará a um salvador conhecimento da verdade. Como Natanael, necessitamos estudar por nós mesmos a Palavra de Deus, e orar pela iluminação do Espírito Santo. Aquele que viu Natanael debaixo da figueira, ver-nos-á no lugar secreto da oração. Anjos do mundo da luz acham-se ao pé daqueles que, em humildade, buscam a guia divina. DTN 89 6 Com a vocação de João, André e Simão, Filipe e Natanael, começou o fundamento da igreja cristã. João dirigiu dois de seus discípulos a Cristo. Então, um deles, André, achou a seu irmão, e chamou-o para o Salvador. Foi logo chamado Filipe, e este foi em busca de Natanael. Esses exemplos nos devem ensinar a importância do esforço pessoal, de fazer apelos diretos a nossos parentes, amigos e vizinhos. Existem pessoas que, durante uma existência, têm professado estar relacionadas com Cristo, e todavia nunca fizeram um esforço pessoal para levar uma pessoa sequer ao Salvador. Deixam todo o trabalho ao ministro. Este pode ser apto para sua vocação, mas não lhe é possível fazer aquilo que Deus deixou aos membros da igreja. DTN 90 1 Muitos há que necessitam do serviço de amoráveis corações cristãos. Têm-se imergido na ruína muitos que poderiam ter sido salvos, houvessem seus vizinhos, homens e mulheres comuns, se esforçado em benefício deles. Muitos há à espera de que alguém se lhes dirija pessoalmente. Na própria família, na vizinhança, na cidade em que residimos, há trabalho para fazermos como missionários de Cristo. Se somos cristãos, essa obra será nosso deleite. Mal está uma pessoa convertida, nasce dentro dela o desejo de tornar conhecido a outros que precioso amigo encontrou em Jesus. A salvadora e santificadora verdade não lhe pode ficar fechada no coração. DTN 90 2 Todos quantos se consagram a Deus, podem ser portadores de luz. Deus os torna instrumentos Seus para comunicar a outros as riquezas de Sua graça. Sua promessa é: "E a elas, e aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênçãos serão". Ezequiel 34:26. DTN 90 3 Filipe disse a Natanael: "Vem, e vê". João 1:46. Não lhe pediu que aceitasse outro testemunho, mas que fosse a Cristo por si mesmo. Agora, que Jesus subiu ao Céu, Seus discípulos são Seus representantes entre os homens, e um dos meios mais eficazes de conquistar almas para Ele, é exemplificar-Lhe o caráter na vida diária. Nossa influência sobre outros não depende tanto do que dizemos, mas do que somos. Os homens podem combater ou desafiar a nossa lógica, podem resistir a nossos apelos; mas a vida de amor desinteressado é um argumento que não pode ser contradito. A vida coerente, caracterizada pela mansidão de Cristo, é uma força no mundo. DTN 90 4 O ensino de Cristo era o resultado de firme convicção e experiência, e os que dEle aprendem se tornam mestres de uma ordem divina. A Palavra de Deus falada por uma pessoa santificada por ela, tem poder comunicador de vida, que a torna atrativa aos que a escutam, convencendo-os de que é uma divina realidade. Quando alguém recebeu a verdade em amor, isso se tornará manifesto na persuasão de suas maneiras e nos tons de sua voz. Torna conhecido o que ele próprio ouviu, viu e manuseou da palavra da vida, a fim de outros poderem partilhar com ele mediante o conhecimento de Cristo. Seu testemunho, de lábios tocados com a brasa viva do altar, é verdade para o coração apto a receber, e opera a santificação do caráter. DTN 90 5 E aquele que procura comunicar luz aos outros, será ele próprio abençoado. "Chuvas de bênçãos serão." "O que regar também será regado". Provérbios 11:25. Deus poderia haver realizado Seu desígnio de salvar pecadores sem o nosso auxílio; mas a fim de desenvolvermos caráter semelhante ao de Cristo, é-nos preciso partilhar de Sua obra. A fim de participar da alegria dEle -- a alegria de ver pessoas redimidas por Seu sacrifício -- devemos tomar parte em Seus labores para redenção delas. DTN 91 1 A primeira expressão de fé da parte de Natanael, soou como música aos ouvidos de Jesus. E Ele "respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás". O Salvador antecipava com alegria Sua obra de pregar boas-novas aos mansos, restaurar os contritos de coração e proclamar liberdade aos cativos de Satanás. Ao pensamento das preciosas bênçãos que trouxera aos homens, Jesus acrescentou: "Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem". João 1:50, 51. DTN 91 2 Com isso, Cristo virtualmente diz: nas margens do Jordão os céus se abriram, e o Espírito desceu como pomba sobre Mim. Aquela cena não era senão um testemunho de que Eu sou o Filho de Deus. Se crerdes em Mim como tal, vossa fé será vivificada. Vereis que os céus se acham abertos, e nunca se hão de fechar. Eu os abri a vós. Os anjos de Deus estão subindo, levando as orações dos necessitados e aflitos ao Pai em cima, e descendo, trazendo bênçãos e esperança, ânimo, auxílio e vida aos filhos dos homens. DTN 91 3 Os anjos de Deus estão sempre indo da Terra ao Céu e do Céu à Terra. Os milagres de Cristo pelos aflitos e sofredores, foram operados pelo poder de Deus através do ministério dos anjos. E é por meio de Cristo, pelo ministério de Seus mensageiros celestiais, que toda bênção nos advém de Deus. Tomando sobre Si a humanidade, nosso Salvador une Seus interesses aos dos caídos filhos de Adão, ao passo que mediante Sua divindade, lança mão do trono de Deus. E assim Cristo é o mediador da comunicação dos homens com Deus, e de Deus com os homens. ------------------------Capítulo 15 -- Nas bodas DTN 92 0 Este capítulo é baseado em João 2:1-11. DTN 92 1 Jesus não começou Seu ministério por alguma grande obra perante o Sinédrio em Jerusalém. Numa reunião familiar, em pequenina vila galiléia, foi manifestado Seu poder para aumentar a alegria das bodas. Assim mostrou Sua simpatia para com os homens, e desejo de lhes proporcionar felicidade. Tentado, no deserto, bebera Ele próprio o cálice da aflição. Dali saíra para oferecer aos homens uma taça de graças celestiais, mediante Sua bênção que santificaria as relações da vida humana. DTN 92 2 Do Jordão, voltara Jesus à Galiléia. Devia haver um casamento em Caná, pequena vila não distante de Nazaré; os noivos eram parentes de José e Maria; e, sabedor dessa reunião de família, Jesus Se dirigiu a Caná, sendo com os discípulos convidado para a festa. DTN 92 3 Aí Se encontrou novamente com Sua mãe, de quem estivera separado por algum tempo. Maria ouvira falar na manifestação às margens do Jordão, quando do batismo dEle. As novas foram levadas a Nazaré, evocando novamente em seu espírito as cenas que por tantos anos ocultara no coração. Como todo o Israel, Maria fora profundamente comovida pela missão de João Batista. Bem se lembrava ela da profecia feita em seu nascimento. A ligação dele com Jesus, avivava-lhe novamente as esperanças. Mas também lhe haviam chegado notícias da misteriosa retirada de Jesus para o deserto, e sentia-se opressa por aflitivos pressentimentos. Desde o dia em que ouvira o anúncio do anjo, no lar de Nazaré, entesourara Maria todo sinal de que Jesus era o Messias. Sua doce e abnegada existência assegurava-lhe que Ele não podia ser outro senão o Enviado de Deus. Todavia, também lhe sobrevinham dúvidas e decepções, e ela anelara o tempo em que Sua glória se houvesse de manifestar. A morte a separara de José, que com ela partilhara do mistério do nascimento de Jesus. Não havia agora ninguém mais a quem pudesse confiar suas esperanças e temores. Os dois meses anteriores tinham sido muito dolorosos. Fora separada de Jesus, em cuja simpatia encontrava conforto; ponderava as palavras de Simeão: "Uma espada traspassará também a tua própria alma" (Lucas 2:35); recordava os três dias de angústia quando julgava Jesus para sempre perdido para ela; e era com ansiedade de coração que Lhe aguardava o regresso. DTN 92 4 Por ocasião das bodas, encontrou-O, o mesmo Filho terno e serviçal. No entanto, não era o mesmo. Seu semblante mudara. Apresentava os vestígios da luta do deserto, e uma nova expressão de dignidade e poder testificava de Sua celestial missão. Achava-Se com Ele um grupo de homens moços, cujos olhos O seguiam com reverência, e que Lhe chamavam Mestre. Esses companheiros contaram a Maria o que tinham visto e ouvido por ocasião do batismo, e em outras partes. E concluíram declarando: "Havemos achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas". João 1:45. DTN 93 1 Ao reunirem-se os convidados, muitos pareciam preocupados com algum assunto de interesse absorvente. Um contido despertar domina a assistência. Pequenos grupos conversam entre si em tom vivo mas dominado, lançando olhares indagadores para o Filho de Maria. Ao ouvir esta o testemunho dos discípulos quanto a Jesus, alegrara-se com a certeza de não haverem sido vãs suas tão longamente acariciadas esperanças. Entretanto, teria ela sido mais que humana, não se lhe houvesse misturado a essa santa alegria um traço do natural orgulho de mãe amorosa. Ao ver os muitos olhares voltados para Jesus, anelava que Ele demonstrasse aos assistentes ser realmente o Honrado de Deus. Esperava que houvesse oportunidade de Ele operar um milagre diante deles. DTN 93 2 Era costume, naqueles tempos, que as festas de casamento continuassem por vários dias. Verificou-se nessa ocasião, antes do fim da festa, haver-se esgotado a provisão de vinho. Isso causou muita perplexidade e desgosto. Era coisa fora do comum dispensar o vinho em ocasiões festivas, e a ausência do mesmo pareceria indicar falta de hospitalidade. Como parenta dos noivos, Maria ajudara nos preparativos da festa, e falou agora a Jesus, dizendo: "Não têm vinho". Essas palavras eram uma sugestão de que Ele poderia suprir a necessidade. Mas Jesus respondeu: "Mulher, que tenho eu contigo? ainda não é chegada a Minha hora". João 2:3, 4. DTN 93 3 Essa resposta, abrupta como nos possa parecer, não exprimia frieza nem descortesia. A maneira de o Salvador Se dirigir a Sua mãe, estava em harmonia com os costumes orientais. Era empregada para com pessoas a quem se desejava mostrar respeito. Todo ato da vida terrestre de Cristo estava em harmonia com o preceito dado por Ele próprio: "Honra a teu pai e a tua mãe". Êxodo 20:12. Na cruz, em Seu último ato de ternura para com Sua mãe, Jesus dirigiu-Se a ela da mesma maneira, ao confiá-la ao cuidado do mais amado discípulo. Tanto na festa nupcial como ao pé da cruz, o amor expresso no tom, no olhar e na maneira, era o intérprete de Sua palavras. DTN 93 4 Em Sua visita ao templo, na infância, ao desvendar-se diante dEle o mistério de Sua obra, Cristo dissera a Maria: "Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:49. Essas palavras ferem a nota tônica de toda a Sua vida e ministério. Tudo estava subordinado a Sua obra, a grande obra de redenção para cujo cumprimento viera ao mundo. Agora, repetiu a lição. Havia risco de Maria olhar a suas relações com Jesus como lhe dando sobre Ele especial direito, bem como o de, até certo ponto, O dirigir em Sua missão. Ele lhe fora por trinta anos Filho obediente e amoroso, e Seu amor não mudara; agora, porém, Lhe cumpria tratar da obra do Pai. Como Filho do Altíssimo, e Salvador do mundo, laço algum terrestre O deve afastar de Sua missão, ou influenciar-Lhe o procedimento. Deve estar livre para fazer a vontade de Deus. Essa lição destina-se também a nós. Os direitos de Deus são superiores mesmo aos laços das relações humanas. Nenhuma atração terrestre nos deve desviar os pés da vereda que Ele nos manda trilhar. DTN 94 1 A única esperança de redenção para nossa caída raça, está em Cristo; Maria só podia encontrar salvação mediante o Cordeiro de Deus. Não possuía em si mesma nenhum mérito. Seu parentesco com Jesus não a colocava para com Ele em posição diversa, espiritualmente, da de qualquer outro ser humano. Isso se acha indicado nas palavras do Salvador. Ele torna clara a distinção entre Sua relação para com ela como Filho do homem, e Filho de Deus. O laço de parentesco entre eles não a coloca, de maneira alguma, em pé de igualdade com Ele. DTN 94 2 As palavras: "Ainda não é chegada a Minha hora", indicam que todo ato da vida de Cristo na Terra era cumprimento do plano que existira desde os dias da eternidade. Antes de vir à Terra, o plano jazia perante Ele, perfeito em todos os seus detalhes. Ao andar entre os homens, porém, era guiado passo a passo pela vontade do Pai. Não hesitava em agir no tempo designado. Com a mesma submissão, esperava até que houvesse chegado a oportunidade. DTN 94 3 Ao dizer a Maria que Sua hora ainda não chegara, respondia Jesus ao inexpresso pensamento dela -- à expectativa que, juntamente com seu povo, ela acariciara. Maria esperava que Ele Se revelasse como o Messias, e tomasse o trono de Israel. Mas o tempo não havia chegado. Não como Rei, mas como Homem de dores, e experimentado nos trabalhos, aceitara Jesus a sorte da humanidade. DTN 94 4 Mas se bem que Sua mãe não possuísse conceito exato da missão de Cristo, nEle confiava implicitamente. A essa fé correspondeu Jesus. Foi para honrar a confiança de Maria, e fortalecer a fé dos discípulos, que realizou o primeiro milagre. Os discípulos haveriam de encontrar muitas e grandes tentações para a incredulidade. Para eles, as profecias haviam tornado claro, indiscutível, que Jesus era o Messias. Esperavam que os guias religiosos O recebessem com confiança ainda maior que a deles próprios. Declararam entre o povo as maravilhosas obras de Cristo e sua própria confiança na missão dEle, mas pasmaram e sentiram-se cruelmente decepcionados pela incredulidade, o preconceito profundamente arraigado e a inimizade para com Jesus, manifestados pelos sacerdotes e rabis. Os primeiros milagres do Salvador fortaleceram os discípulos para enfrentar a oposição. DTN 95 1 Sem se desconcertar absolutamente com as palavras de Jesus, Maria disse aos que serviam à mesa: "Fazei tudo quando Ele vos disser". João 2:5. Assim fez ela o que podia para preparar o caminho para a obra de Cristo. DTN 95 2 Ao lado da entrada estavam seis grandes talhas de pedra, e Jesus pediu aos servos que as enchessem d'água. Assim foi feito. Então, como o vinho era necessário para uso imediato, disse: "Tirai agora, e levai ao mestre-sala". João 2:8. Em lugar da água com que haviam sido cheias as talhas, saiu vinho dali. Nem o mestre-sala nem os convidados, em geral, tinham percebido que a provisão de vinho se acabara. Provando o que os servos levaram, o mestre-sala achou-o superior a qualquer vinho que já tivesse provado, e muito diverso do que fora servido ao princípio da festa. Voltando-se para o noivo, disse: "Todo homem põe primeiro o vinho bom, e quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho". João 2:10. DTN 95 3 Como os homens servem primeiro o vinho melhor, e depois o inferior, assim faz o mundo com seus dons. O que ele oferece pode agradar aos olhos e fascinar os sentido, mas se demonstra incapaz de satisfazer. O vinho se transforma em amargura, o espírito folgazão em tristeza. Aquilo que começara com cânticos e alegria, termina em fadiga e desgosto. Os dons de Cristo, porém, são sempre novos e sãos. A bênção que provêm não deixa nunca de proporcionar satisfação e alegria. Cada nova dádiva aumenta a capacidade do que a recebe para apreciar e fruir as maravilhas do Senhor. Ele dá por graça. Não pode haver falta na provisão. Se permaneceis nEle, o fato de receberdes hoje um rico dom, garante a recepção amanhã, de um mais precioso ainda. As palavras de Cristo a Natanael exprimem a lei do trato de Deus com os filhos da fé. Com cada nova revelação de Seu amor, declara Ele ao coração que a recebe: "Crês? coisas maiores do que estas verás". João 1:50. DTN 95 4 O dom de Cristo à festa nupcial, era um símbolo. A água representa o batismo em Sua morte; o vinho, o derramamento de Seu sangue pelos pecados do mundo. A água para encher as talhas foi levada por mãos humanas, mas unicamente a palavra de Cristo podia comunicar-lhe a virtude doadora de vida. O mesmo quanto aos ritos que indicam a morte do Salvador. Unicamente pelo poder de Cristo, operando pela fé, é que têm eficácia para nutrir a espiritualidade. DTN 95 5 A palavra de Cristo forneceu ampla provisão para a festa. Da mesma maneira abundante é a provisão de Sua graça para apagar as iniqüidades dos homens, e renovar e suster a alma. DTN 95 6 Na primeira festa a que assistiu com os discípulos, Jesus lhes deu o cálice que simbolizava Sua obra pela salvação deles. Na última ceia, tornou a dá-lo, na instituição do sagrado rito pelo qual Sua morte deve ser anunciada "até que venha". 1 Coríntios 11:26. E a tristeza dos discípulos ao separar-se de seu Senhor, foi confortada com a promessa da reunião, pois Ele disse: "Desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai". Mateus 26:29. DTN 96 1 O vinho provido por Cristo para a festa, e o que Ele deu aos discípulos como símbolo de Seu próprio sangue, era o puro suco de uva. A esse se refere o profeta Isaías quando fala do novo vinho "num cacho", e diz: "Não o desperdices, pois há bênção nele". Isaías 65:8. DTN 96 2 Fora Cristo que, no Antigo Testamento, dera aviso a Israel: "O vinho é escarnecedor e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio". Provérbios 20:1. Ele nunca proveu tal bebida. Satanás tenta os homens à condescendência com apetites que lhes obscurecem a razão e entorpecem as percepções espirituais, mas Cristo nos ensina a subjugar a natureza inferior. Toda a Sua vida foi um exemplo de abnegação. Para vencer o poder do apetite, sofreu em nosso favor a mais dura prova que a humanidade poderia suportar. Foi Cristo que deu instruções para que João Batista não bebesse vinho nem bebida forte. Fora Ele que dera a mesma prescrição à mulher de Manoá. E proferiu uma maldição sobre o homem que chegasse a taça aos lábios do próximo. Cristo não contradiz Seus próprios ensinos. O vinho não fermentado que proveu para os seus convidados das bodas, era uma bebida sã e refrigerante. Seu efeito havia de pôr o gosto em harmonia com um apetite sadio. DTN 96 3 Como os convidados, na festa, notassem a qualidade do vinho, fizeram-se indagações que levaram os servos a narrar o milagre. Os convivas ficaram, por algum tempo, demasiado surpreendidos para pensar nAquele que realizara a maravilhosa obra. Quando afinal O procuraram, verificou-se que Se retirara tão quieto, que nem os próprios discípulos haviam percebido. DTN 96 4 A atenção dos presentes voltou-se então para os discípulos. Tiveram pela primeira vez a oportunidade de reconhecer-lhes a fé em Jesus. Contaram eles o que tinham visto e ouvido no Jordão, e acendeu-se em muitos corações a esperança de haver Deus despertado um libertador para Seu povo. As novas do milagre espalharam-se por toda aquela região, e foram levadas a Jerusalém. Com novo interesse, examinaram os sacerdotes e anciãos as profecias que indicavam a vinda de Cristo. Havia ansioso desejo de saber a missão desse novo mestre, que, de maneira tão despretensiosa, aparecia entre o povo. DTN 96 5 O ministério de Cristo contrastava com o dos anciãos judeus. O cuidado deles, quanto à tradição e ao formalismo, destruíra toda verdadeira liberdade de pensamento e ação. Viviam em contínuo medo de contaminação. Para evitar contato com o "imundo", mantinham-se separados, não só dos gentios, mas da maior parte de seu próprio povo, não procurando beneficiá-lo, nem ganhar-lhe a amizade. Por considerar sempre essas coisas, haviam impedido o desenvolvimento do próprio espírito e estreitado a esfera de sua existência. Seu exemplo animava o egoísmo e a intolerância em todas as classes do povo. DTN 97 1 Jesus começou Sua obra de reforma, pondo-Se em íntima simpatia com a humanidade. Ao passo que mostrava a maior reverência para com a lei de Deus, censurava a pretensa piedade dos fariseus, e tentava libertar o povo dos regulamentos absurdos que o acorrentavam. Procurava derribar as barreiras que separavam as diversas classes sociais, a fim de unir os homens como filhos de uma só família. Sua presença nas bodas visava um passo na efetuação desse desígnio. DTN 97 2 Deus dera a João Batista instruções para habitar no deserto, a fim de protegê-lo contra a influência dos sacerdotes e rabis, e prepará-lo para uma missão especial. A austeridade e isolamento de sua vida, porém, não eram um exemplo para o povo. O próprio João não ordenara a seus ouvintes que abandonassem seus anteriores deveres. Pediu-lhes que dessem demonstração de arrependimento pela fidelidade a Deus, no lugar em que Ele os chamara. DTN 97 3 Jesus reprovava a condescendência própria em todas as suas formas, todavia era de natureza sociável. Aceitava a hospitalidade de todas as classes, visitando a casa de ricos e pobres, instruídos e ignorantes, procurando elevar-lhes os pensamentos das coisas comuns da vida, para as espirituais e eternas. Não consentia com o desperdício, e nem uma sombra de mundana leviandade Lhe manchou a conduta; todavia, achava prazer em cenas de inocente felicidade, e sancionava, com Sua presença, as reuniões sociais. Um casamento judaico era ocasião impressionante, e sua alegria não desagradava ao Filho do homem. Assistindo a essa festa, honrou Jesus o casamento como instituição divina. DTN 97 4 Tanto no Antigo como no Novo Testamento, as relações conjugais são empregadas para representar a terna e sagrada união que existe entre Cristo e Seu povo. Ao espírito de Jesus, a alegria das bodas apontava ao regozijo daquele dia em que levará Sua esposa para o lar do Pai, e os remidos juntamente com o Redentor se assentarão para a ceia das bodas do Cordeiro. Diz Ele: "Como o noivo se alegra da noiva, assim Se alegrará de ti o Teu Deus." "Nunca mais te chamarão desamparada [...] mas chamar-te-ão: O Meu prazer está nela; [...] porque o Senhor Se agrada de ti". Isaías 62:5, 4. "Ele Se deleitará em ti com alegria; calar-Se-á por Seu amor, regozijar-Se-á em ti com júbilo". Sofonias 3:17. Ao ser concedida ao apóstolo João uma visão das coisas celestiais, escreveu ele: "E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia: pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina. Regozijemos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou." "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro". Apocalipse 19:6, 7, 9. DTN 97 5 Jesus via em cada ser humano alguém a quem devia ser feito o chamado para Seu reino. Aproximava-Se do coração do povo, misturando-Se com ele como alguém que lhe desejava o bem-estar. Procurava-o nas ruas públicas, nas casas particulares, nos barcos, na sinagoga, às margens do lago e nas festas nupciais. Ia-lhe ao encontro em suas ocupações diárias, e manifestava interesse em seus negócios seculares. Levava Suas instruções às famílias, pondo-as assim, no próprio lar, sob a influência de Sua divina presença. A poderosa simpatia pessoal que dEle emanava, conquistava os corações. Retirava-Se muitas vezes para as montanhas, a fim de orar a sós, mas isso era um preparo para Seu labor entre os homens, na vida ativa. Desses períodos volvia para aliviar o enfermo, instruir o ignorante, e quebrar as cadeias aos cativos de Satanás. DTN 98 1 Jesus preparava os discípulos pelo contato pessoal e a associação. Ensinava-os, às vezes, sentado entre eles na encosta da montanha; outras, às margens do lago, ou caminhando em sua companhia, revelava-lhes os mistérios do reino de Deus. Não pregava, como fazem os homens hoje em dia. Sempre que os corações se achassem abertos para receber a divina mensagem, desdobrava as verdades do caminho da salvação. Não ordenava a Seus discípulos que fizessem isso ou aquilo, mas dizia: "Segue-Me". Nas jornadas através de campos e cidades, levava-os consigo, para que vissem como ensinava o povo. Vinculava-lhes os interesses aos Seus próprios, e eles se Lhe uniam na obra. DTN 98 2 O exemplo de Cristo de ligar-Se aos interesses da humanidade deve ser seguido por todos quantos pregam Sua palavra, e todos quantos receberam o evangelho de Sua graça. Não devemos renunciar à comunhão social. Não nos devemos retirar dos outros. A fim de atingir todas as classes, precisamos ir ter com elas. Raramente nos virão procurar de moto próprio. Não somente do púlpito é tocado o coração dos homens pela verdade divina. Outro campo de labor existe, mais humilde, talvez, mas igualmente prometedor. Encontra-se no lar do humilde, e na mansão do grande; na mesa hospitaleira, e em reuniões de inocente entretenimento. DTN 98 3 Como discípulos de Cristo, não nos misturemos com o mundo por mero gosto do prazer, para unir-nos a eles na tolice. Tais associações só podem trazer prejuízo. Nunca devemos sancionar o pecado por nossas palavras, ou ações, nosso silêncio ou nossa presença. Aonde quer que formos, devemos levar conosco Jesus, e revelar a outros que precioso é nosso Salvador. Os que buscam esconder sua religião, porém, ocultando-a dentro de muros de pedra, perdem valiosas oportunidades de fazer bem. Por meio das relações sociais, o cristianismo se põe em contato com o mundo. Todo o que recebeu divina iluminação, deve lançar luz sobre o caminho dos que não conhecem a Luz da vida. DTN 98 4 Todos nos devemos tornar testemunhas de Jesus. O poder social, santificado pela graça de Cristo, deve ser aperfeiçoado em atrair pessoas para o Salvador. Demos a conhecer ao mundo que não nos achamos absorvidos egoistamente em nossos próprios interesses, mas desejamos que os outros participem das bênçãos e privilégios que gozamos. Mostremos-lhes que nossa religião não nos torna faltos de simpatia nem exigentes. Que todos quantos professam haver encontrado a Cristo, sirvam, como Ele fez, ao bem dos homens. DTN 99 1 Nunca deveríamos dar ao mundo a falsa impressão de que os cristãos são uma gente triste, descontente. Se nossos olhos estiverem fixos em Jesus, veremos um compassivo Redentor, e havemos de receber luz de Seu semblante. Onde quer que reine o Seu Espírito, aí habita paz. E haverá alegria também, pois há uma calma e santa confiança em Deus. DTN 99 2 Cristo Se compraz em Seus seguidores, quando mostram que, embora humanos, compartilham da natureza divina. Não são estátuas, mas homens e mulheres animados. Seu coração, refrigerado pela graça divina, abre-se e expande-se ao Sol da Justiça. A luz que sobre eles incide, refletem-na sobre outros em obras iluminadas pelo amor de Cristo. ------------------------Capítulo 16 -- Em seu templo DTN 100 0 Este capítulo é baseado em João 2:12-22. DTN 100 1 Depois disto desceu a Cafarnaum, Ele, e Sua mãe, e Seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém". João 2:12, 13. DTN 100 2 Nessa jornada, uniu-Se Jesus a um grande grupo que ia de caminho para a capital. Ainda não havia anunciado publicamente Sua missão, e misturava-Se despercebido com o povo. Nessas ocasiões, a vinda do Messias, a que o ministério de João dera tanta preeminência, era muitas vezes o tema de conversação. Com vivo entusiasmo consideravam a esperança da grandeza nacional. Jesus sabia que essa esperança haveria de sofrer decepção, pois baseava-se em uma falsa compreensão das Escrituras. Com profundo zelo explicava Ele as profecias, e procurava despertar os homens para mais acurado estudo da Palavra de Deus. DTN 100 3 Os guias judaicos haviam instruído o povo de que em Jerusalém deviam ser ensinados quanto ao culto a Deus. Ali, durante a semana da Páscoa, se reuniam em grande número, vindos de todas as partes da Palestina, e mesmo de terras distantes. Os pátios do templo enchiam-se de uma multidão promíscua. Muitos não podiam levar consigo os sacrifícios que deviam ser oferecidos em símbolo do grande Sacrifício. Para comodidade destes, compravam-se e vendiam-se animais no pátio exterior do templo. Ali se reunia toda espécie de gente para comprar suas ofertas. Ali se trocava todo o dinheiro estrangeiro pela moeda do santuário. DTN 100 4 Todo judeu tinha por dever pagar anualmente meio siclo como "resgate da sua alma" (Êxodo 30:12-16); e o dinheiro assim obtido era empregado para manutenção do templo. Além disso, levavam-se grandes somas, como ofertas voluntárias, para serem depositadas no tesouro do templo. E exigia-se que todo dinheiro estrangeiro fosse trocado por uma moeda chamada o siclo do templo, a qual era aceita para o serviço do santuário. A troca do dinheiro dava lugar a fraude e extorsão, havendo descaído em desonroso tráfico, fonte de lucros para os sacerdotes. DTN 100 5 Os mercadores exigiam preços exorbitantes pelos animais vendidos, e dividiam o proveito com os sacerdotes e principais, que enriqueciam assim à custa do povo. Ensinara-se aos adoradores que, se não oferecessem sacrifícios, as bênçãos de Deus não repousariam sobre seus filhos e sua terra. Assim era garantido elevado preço pelos animais; porque, depois de vir de tão longe, o povo não queria voltar para casa sem realizar o ato de devoção que ali o levara. DTN 101 1 Grande era o número de sacrifícios oferecidos por ocasião da Páscoa, e avultadas as vendas no templo. A conseqüente confusão dava a idéia de uma ruidosa feira de gado, e não do sagrado templo de Deus. Ali se podiam ouvir ásperos ajustes de compras, o mugir do gado, o balir de ovelhas, o arrulho de pombos, de mistura com o tinir de moedas e violentas discussões. Tão grande era a confusão, que os sacerdotes eram perturbados, e as palavras dirigidas ao Altíssimo, afogadas pelo tumulto que invadia o templo. Os judeus orgulhavam-se extremamente de sua piedade. Regozijavam-se por causa de seu templo, e reputavam blasfêmia uma palavra proferida em desmerecimento do mesmo; eram muito rigorosos quanto à execução das cerimônias com ele relacionadas; o amor do dinheiro, porém, desfazia todos os escrúpulos. Mal se apercebiam de quão longe tinham sido levados do original desígnio do serviço instituído pelo próprio Deus. DTN 101 2 Quando o Senhor descera sobre o monte Sinai, o lugar fora consagrado por Sua presença. Moisés recebeu ordens de pôr limites em volta do monte e santificá-lo, e a palavra do Senhor se fez ouvir em advertência: "Guardai-vos que não subais ao monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte certamente morrerá. Nenhuma mão tocará nele, porque certamente será apedrejado ou flechado; quer seja animal, quer seja homem, não viverá". Êxodo 19:12, 13. Assim foi ensinada a lição de que sempre que Deus manifesta Sua presença, o lugar é santo. As dependências do templo de Deus deviam ser consideradas sagradas. Na luta pelo ganho, porém, tudo isso se perdeu de vista. DTN 101 3 Os sacerdotes e principais, chamados para ser representantes de Deus perante a nação, deviam ter corrigido os abusos do pátio do templo. Deviam haver dado ao povo um exemplo de integridade e compaixão. Em lugar de cuidar do próprio proveito, deviam ter considerado a situação e as necessidades dos adoradores, e estado prontos a ajudar os que não podiam comprar os sacrifícios exigidos. Mas assim não fizeram. A avareza lhes endurecera o coração. DTN 101 4 Iam a essa festa pessoas que se achavam em sofrimento, em necessidade, em aflição. O cego, o coxo, o surdo, ali se achavam. Alguns eram levados em leitos. Iam muitos demasiado pobres para comprar a mais humilde oferta para o Senhor, pobres demais mesmo para comprar o alimento com que saciassem a própria fome. Estes ficavam grandemente desanimados com as declarações dos sacerdotes. Os sacerdotes gloriavam-se de sua piedade; pretendiam ser os guardas do povo; eram no entanto, faltos de simpatia e compaixão. O pobre, o doente, o moribundo, em vão suplicavam favor. Seus sofrimentos não despertavam piedade no coração dos sacerdotes. DTN 102 1 Ao penetrar Jesus no templo, abrangeu toda a cena. Viu as desonestas transações. Viu a aflição do pobre, que julgava que, sem derramar sangue, não havia perdão para seus pecados. Viu o pátio exterior do Seu templo convertido em lugar de comércio profano. O sagrado recinto transformara-se em vasta praça de câmbio. DTN 102 2 Cristo viu que era necessário fazer alguma coisa. Numerosas eram as cerimônias exigidas do povo, sem a devida instrução quanto ao sentido das mesmas. Os adoradores ofereciam seus sacrifícios, sem compreender que eram símbolos do único Sacrifício perfeito. E entre eles, não reconhecido nem honrado, achava-Se Aquele a quem prefiguravam todos os seus cultos. Ele dera instruções quanto às ofertas. Compreendia-lhes o valor simbólico, e via que estavam agora pervertidas e mal interpretadas. O culto espiritual estava desaparecendo rapidamente. Nenhum laço ligava os sacerdotes e principais ao seu Deus. A obra de Cristo era estabelecer um culto totalmente diverso. DTN 102 3 Enquanto ali, de pé, nos degraus do pátio do templo, Cristo abrangeu com penetrante visão, a cena que estava perante Ele. Seu olhar profético penetra o futuro, e vê, não somente anos, mas séculos e gerações. Vê como sacerdotes e principais despojam o necessitado de seu direito, e proíbem que o evangelho seja pregado ao pobre. Vê como o amor de Deus seria ocultado aos pecadores, e os homens fariam de Sua graça mercadoria. Ao contemplar a cena, exprimem-se-Lhe na fisionomia indignação, autoridade e poder. A atenção do povo é para Ele atraída. Voltam-se para Ele os olhares dos que se acham empenhados no profano comércio. Não podem dEle despregar os olhos. Sentem-se que esse Homem lhes lê os mais íntimos pensamentos, e lhes descobre os ocultos motivos. Alguns tentam esconder o rosto, como se suas más ações lhes estivessem escritas no semblante, para serem perscrutadas por aqueles olhos penetrantes. DTN 102 4 Silencia o tumulto. O som do tráfico e dos ajustes cessa. O silêncio torna-se penoso. Apodera-se da assembléia um sentimento de respeito. É como se estivessem citados perante o tribunal de Deus, para responder por seus atos. Olhando para Cristo, vêem a divindade irradiando através do invólucro humano. A Majestade do Céu está como o Juiz há de estar no último dia -- não circundado agora da glória que O acompanhará então, mas com o mesmo poder de ler a mente. Seu olhar percorre rapidamente a multidão, abrangendo cada indivíduo. Seu vulto parece elevar-se acima deles, em imponente dignidade, e uma luz divina ilumina-Lhe o semblante. Fala, e Sua clara, retumbante voz -- a mesma que, do Sinai, proclamara a lei que sacerdotes e principais ora transgridem -- ouve-se ecoar através das arcadas do templo: "Tirai daqui estes, e não façais da casa de Meu Pai casa de venda". João 2:16. DTN 102 5 Descendo silenciosamente, e erguendo o açoite de cordéis apanhado ao entrar no recinto, manda aos vendedores que se afastem das dependências do templo. Com zelo e severidade nunca dantes por Ele manifestados, derruba as mesas dos cambistas. Rola a moeda, ressoando fortemente no mármore do chão. Ninguém Lhe pretende questionar a autoridade. Ninguém ousa deter-se para apanhar o mal-adquirido ganho. Jesus não lhes bate com o açoite de cordéis, mas aquele simples açoite parece, em Suas mãos, terrível como uma espada flamejante. Oficiais do templo, sacerdotes, corretores e mercadores de gado, com suas ovelhas e bois, saem precipitadamente do lugar, com o único pensamento de escapar à condenação de Sua presença. DTN 103 1 Um pânico percorre pela multidão, que se sente ofuscada por Sua divindade. Gritos de terror escapam-se de centenas de lábios desmaiados. Os próprios discípulos tremem. São abalados pelas palavras e maneiras de Jesus, tão diversas de Sua atitude habitual. Lembram-se de que está escrito a Seu respeito. "O zelo da Tua casa Me devorou". Salmos 69:9. Dentro em pouco a tumultuosa turba com as mercadorias é removida para longe do templo do Senhor. Os pátios ficam livres do comércio profano, e sobre a cena de confusão baixam silêncio e solenidade profundos. A presença do Senhor, que outrora santificara o monte, tornou agora sagrado o templo erigido em Sua honra. DTN 103 2 Com a purificação do templo, anunciou Jesus Sua missão como Messias. Aquele templo, erigido, para morada divina, destinava-se a ser uma lição objetiva para Israel e o mundo. Desde os séculos eternos era o desígnio de Deus que todos os seres criados, desde os luminosos e santos serafins até ao homem, fossem um templo para morada do Criador. Devido ao pecado, a humanidade cessou de ser o templo de Deus. Obscurecido e contaminado pelo pecado, o coração do homem não mais revelava a glória da Divindade. Pela encarnação do Filho de Deus, porém, cumpriu-se o desígnio do Céu. Deus habita na humanidade, e mediante a salvadora graça, o coração humano se torna novamente um templo. DTN 103 3 O Senhor tinha em vista que o templo de Jerusalém fosse um testemunho contínuo do elevado destino franqueado a todas as pessoas. Os judeus, no entanto, não haviam compreendido a significação do edifício de que tanto se orgulhavam. Não se entregavam como templos santos para o divino Espírito. Os pátios do templo de Jerusalém, cheios do tumulto de um tráfico profano, representavam com exatidão o templo da alma, contaminado por paixões sensuais e pensamentos profanos. Purificando o templo dos compradores e vendilhões mundanos, Jesus anunciou Sua missão de limpar a pessoa da contaminação do pecado -- dos desejos terrenos, das ambições egoístas, dos maus hábitos que a corrompem. "De repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? porque Ele será como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata". Malaquias 3:1-3. "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo". 1 Coríntios 3:16, 17. DTN 104 1 Homem algum pode de si mesmo expulsar a turba má que tomou posse do coração. Unicamente Cristo pode purificar o templo da alma. Não forçará, porém, a entrada. Não vem ao templo do coração como ao de outrora; mas diz: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa". Apocalipse 3:20. Ele virá, não somente por um dia; pois diz: "Neles habitarei, e entre eles andarei: [...] e eles serão o Meu povo". 2 Coríntios 6:16. "Subjugará as nossas iniqüidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar". Miquéias 7:19. Sua presença purificará e santificará a alma, de maneira que ela seja um santo templo para o Senhor, e uma "morada de Deus em Espírito". Efésios 2:21, 22. DTN 104 2 Dominados de terror, os sacerdotes e os principais haviam fugido do pátio do templo, e do olhar penetrante que lhes lia o coração. Em sua fuga, encontraram-se com outros que iam para o templo, e pediram-lhes que voltassem, contando-lhes o que tinham visto e ouvido. Cristo olhava para os homens a fugir, em compassiva piedade pelo temor deles, e por sua ignorância do que constituísse o verdadeiro culto. Viu, nessa cena, simbolizada a dispersão de todo o povo judeu por causa de sua maldade e impenitência. DTN 104 3 E por que fugiam do templo os sacerdotes? Por que não defenderam sua posição? Aquele que lhes ordenava que se fossem era o filho de um carpinteiro, um pobre galileu, sem posição nem poder terrestre. Por que Lhe não resistiram? Por que deixaram o tão mal-adquirido ganho, e fugiram ao mando de uma pessoa de tão humilde aparência? DTN 104 4 Cristo falava com a autoridade de um rei, e em Seu aspecto, e no tom de Sua voz havia alguma coisa a que eles não podiam resistir. À voz de comando compreenderam, como nunca dantes, sua verdadeira posição de hipócritas e roubadores. Quando a divindade irradiou através da humanidade, não viram apenas indignação na fisionomia de Cristo; perceberam o significado de Suas palavras. Sentiram-se como perante o trono do eterno Juiz, tendo sobre si Sua sentença para este século e a eternidade. Por algum tempo, ficaram convencidos de que Cristo era profeta; e muitos acreditaram ser o Messias. O Espírito Santo, como num relâmpago, lhes fez acudir à mente palavras dos profetas com respeito a Cristo. Render-se-iam a esta convicção? DTN 104 5 Arrepender-se, não o queriam eles. Sabiam que se haviam despertado as simpatias de Cristo para com os pobres. Sabiam-se culpados de extorsão em seu trato com o povo. Como Cristo lhes penetrasse os pensamentos, aborreceram-nO. Sua pública repreensão humilhava-lhes o orgulho, e tinham ciúmes da crescente influência que ia conquistando entre o povo. Decidiram intimidá-Lo a declarar com que autoridade os expulsara, e quem Lha conferira. DTN 105 1 Lenta e refletidamente, mas com ódio no coração, voltaram ao templo. Que mudança, porém, se operara durante sua ausência! Ao fugirem, haviam ficado atrás os pobres; e estes contemplavam agora a Jesus, cujo semblante exprimia amor e simpatia. Com olhos marejados de lágrimas, dizia às trêmulas criaturas que O cercavam: Não temas; Eu te livrarei, e tu Me glorificarás. Para isso vim ao mundo. DTN 105 2 O povo comprimia-se diante dEle, dirigindo-Lhe insistentes e lastimosos apelos. Mestre, abençoa-me! Seus ouvidos escutavam a todo clamor. Com uma compaixão maior que a de uma terna mãe, inclinava-Se para os sofredores. Todos eram objeto de Sua atenção. Cada um era curado de qualquer moléstia que tivesse. Os mudos abriam os lábios em louvor; os cegos contemplavam o rosto de seu Restaurador. Alegrava-se o coração dos enfermos. DTN 105 3 Ao passo que os sacerdotes e oficiais do templo testemunhavam essa grande obra, que revelação não era para eles o que lhes chegava aos ouvidos! O povo contava a história de seus padecimentos, das frustradas esperanças, dos dolorosos dias e noites insones. Quando a última centelha de esperança parecia extinta, Cristo os curara. O fardo era pesado, dizia um, mas encontrei um Ajudador. Ele é o Cristo de Deus, e devotarei minha vida a Seu serviço. Pais diziam aos filhos: Ele te salvou a vida; levanta a tua voz e bendize-O. A voz das crianças e a dos jovens, pais e mães, amigos e espectadores uniam-se em louvor. Esperança e alegria enchiam-lhes o coração. O espírito possuía-se de paz. Eram restaurados na mente e no corpo, e voltavam para casa proclamando por toda parte o incomparável amor de Jesus. DTN 105 4 Na crucifixão, os que assim foram curados não se uniram à turba vil que exclamava: "Crucifica-O, crucifica-O". Suas simpatias eram para Jesus; pois Lhe haviam sentido a grande compaixão e o maravilhoso poder. Sabiam que era seu Salvador; pois lhes dera saúde física e espiritual. Escutaram as pregações dos apóstolos, e a entrada da Palavra de Deus em seu coração lhes dera entendimento. Tornaram-se instrumentos da misericórdia de Deus, de Sua salvação. DTN 105 5 A multidão que fugira do templo, passado algum tempo, foi voltando devagar. Haviam-se recobrado em parte do terror que deles se apoderara, mas suas fisionomias exprimiam irresolução e timidez. Olhavam com pasmo as obras de Jesus, e ficavam convencidos de que nEle tinham cumprimento as profecias concernentes ao Messias. O pecado de profanação do templo cabia, em grande parte, aos sacerdotes. Fora por arranjos da parte deles que o pátio se transformara em mercado. O povo era relativamente inocente. Foi impressionado pela divina autoridade de Jesus; mas para ele a influência dos sacerdotes e principais era suprema. Estes consideravam a missão de Cristo como uma inovação, e punham em dúvida Seu direito de interferir naquilo que era permitido por autoridades do templo. Ofenderam-se por haver sido interrompido o comércio, e sufocaram as convicções originadas pelo Espírito Santo. DTN 106 1 Mais que quaisquer outros, deviam os sacerdotes e principais ter visto que Jesus era o ungido do Senhor; pois tinham nas próprias mãos os rolos que Lhe descreviam a missão, e sabiam que a purificação do templo era uma manifestação de poder sobre-humano. A despeito de aborrecerem a Jesus, não se podiam eximir ao pensamento de que fosse um profeta enviado por Deus, para restaurar a santidade do templo. Com uma deferência nascida desse temor, a Ele se dirigiram com a indagação: "Que sinal nos mostras para fazeres isto?" João 2:18. DTN 106 2 Jesus lhes mostrara um sinal. Fazendo com que a luz brilhasse no coração deles, e realizando em sua presença as obras que o Messias devia efetuar, dera convincentes provas de Seu caráter. Ora, ao pedirem um sinal, respondeu-lhes por meio de uma parábola, mostrando que lhes lia a malevolência, e via a que ponto esta os levaria. "Derribai este templo", disse, "e em três dias o levantarei". João 2:19. DTN 106 3 Essas palavras encerravam um duplo sentido. Ele não Se referia somente à destruição do templo judaico e do culto, mas a Sua própria morte -- a destruição do templo de Seu corpo. Esta os judeus estavam já tramando. Quando os sacerdotes e principais voltaram ao templo, haviam-se proposto matar Jesus, livrando-se assim do perturbador. Ao apresentar-lhes Ele seus desígnios, porém, não O compreenderam. Tomaram-Lhe as palavras como se aplicando ao templo de Jerusalém, e exclamaram com indignação: "Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e Tu o levantarás em três dias?" Acharam então que Jesus lhes justificara a incredulidade, e confirmaram sua rejeição dEle. DTN 106 4 Não era intenção de Jesus que Suas palavras fossem compreendidas no momento pelos incrédulos judeus, nem mesmo pelos discípulos. Sabia que seriam torcidas pelos inimigos, e voltadas contra Ele próprio. Em Seu julgamento, seriam apresentadas como acusação, sendo-Lhe, no Calvário, arremessadas como insulto. Explicá-las, no entretanto, seria dar a conhecer aos discípulos Seus sofrimentos, trazendo sobre eles uma dor que ainda não estavam aptos a suportar. E uma exposição delas seria desvendar prematuramente aos judeus o resultado de seus preconceitos e incredulidade. Já tinham entrado num caminho em que deliberadamente haviam de prosseguir, até que Ele fosse levado como ovelha ao matadouro. DTN 106 5 Foi por amor dos que haviam de crer em Cristo que essas palavras foram proferidas. Ele sabia que seriam repetidas. Pronunciadas por ocasião da Páscoa, seriam levadas aos ouvidos de milhares, e a todas as partes do mundo. Depois de Ele haver ressuscitado dos mortos, o sentido delas se tornaria claro. Para muitos, seriam conclusiva prova de Sua divindade. DTN 107 1 Devido a sua treva espiritual, os próprios discípulos de Jesus deixaram muitas vezes de Lhe compreender as lições. Muitas delas se tornaram claras, porém, em vista de acontecimentos posteriores. Quando Jesus já não andava com eles, Suas palavras lhes serviam de esteio ao coração. DTN 107 2 No que se referia ao templo de Jerusalém, as palavras do Salvador: "Derribai este templo, e em três dias o levantarei", tinham mais profundo sentido do que o apreendido pelos ouvintes. Cristo era o fundamento e a vida do templo. Os cultos deste eram típicos do sacrifício do Filho de Deus. O sacerdócio fora estabelecido para representar o caráter mediador e a obra de Cristo. Todo o plano do culto sacrifical era uma representação da morte do Salvador para redimir o mundo. Não haveria eficácia nessas ofertas, quando o grande acontecimento a que por séculos haviam apontado, se viesse a consumar. DTN 107 3 Uma vez que toda a ordem ritual era simbólica de Cristo, não tinha valor sem Ele. Quando os judeus selaram sua rejeição de Cristo, entregando-O à morte, rejeitaram tudo quanto dava significação ao templo e seus cultos. Sua santidade desaparecera. Estava condenado à destruição. Daquele dia em diante, as ofertas sacrificais e o serviço com elas relacionado eram destituídos de significado. Como a oferta de Caim, não exprimiam fé no Salvador. Condenando Cristo à morte, os judeus destruíram virtualmente seu templo. Quando Cristo foi crucificado, o véu interior do templo se rasgou em dois de alto a baixo, significando que o grande sacrifício final fora feito, e que o sistema de ofertas sacrificais cessara para sempre. DTN 107 4 "Em três dias o levantarei". Por ocasião da morte do Salvador as potências das trevas pareciam prevalecer, e exultaram em sua vitória. Do fendido sepulcro de José, porém, saiu Jesus vitorioso. "Despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo". Colossences 2:15. Pela virtude de Sua morte e ressurreição, tornou-Se o ministro do "verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Hebreus 8:2. Foram homens que erigiram o tabernáculo judaico; homens construíram o templo; o santuário de cima, porém, do qual o terrestre era o símbolo, não foi construído por nenhum arquiteto humano. "Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, assentar-Se-á, e dominará no Seu trono". Zacarias 6:12, 13. DTN 107 5 O serviço sacrifical que apontara a Cristo passou, mas os olhos dos homens voltaram-se para o sacrifício verdadeiro pelos pecados do mundo. O sacerdócio terrestre terminou; mas nós olhamos a Jesus, o ministro do novo concerto, e "ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel". Hebreus 12:24. "O caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo, [...] mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, [...] mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção". Hebreus 9:8-12. DTN 108 1 "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Hebreus 7:25. Conquanto o serviço houvesse de ser transferido do templo terrestre ao celestial; embora o santuário e nosso grande Sumo Sacerdote fossem invisíveis aos olhos humanos, todavia os discípulos não sofreriam com isso nenhum detrimento. Não experimentariam nenhuma falha em sua comunhão, nem enfraquecimento de poder devido à ausência do Salvador. Enquanto Cristo ministra no santuário em cima, continua a ser, por meio de Seu Espírito, o ministro da igreja na Terra. Ausente de nossos olhos, cumpre-se, entretanto, a promessa que nos deu ao partir: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. Conquanto delegue Seu poder a ministros inferiores, Sua vitalizante presença permanece ainda em Sua igreja. DTN 108 2 "Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus [...] retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-Se de nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno". Hebreus 4:14-16. ------------------------Capítulo 17 -- Nicodemos DTN 109 0 Este capítulo é baseado em João 3:1-17. DTN 109 1 Nicodemos ocupava posição de alta confiança na nação judaica. Possuía esmerada educação, e era dotado de talentos acima do comum, sendo igualmente membro honrado do conselho nacional. Fora, juntamente com outros, agitado pelos ensinos de Jesus. Se bem que rico, instruído e honrado, sentira-se estranhamente atraído pelo humilde Nazareno. As lições saídas dos lábios do Salvador o haviam impressionado grandemente, e desejara conhecer mais acerca dessas maravilhosas verdades. DTN 109 2 A manifestação de autoridade por parte de Cristo, na purificação do templo, despertara nos sacerdotes e principais decidido ódio. Temiam o poder desse Estranho. Tal ousadia da parte de um obscuro galileu, não era coisa que se tolerasse. Determinaram acabar com Sua obra. Mas nem todos concordavam com isso. Alguns havia que temiam opor-se a uma pessoa tão evidentemente dirigida pelo Espírito de Deus. Lembravam-se de como profetas haviam sido mortos por terem repreendido os pecados dos guias de Israel. Sabiam que a servidão dos judeus a um povo pagão era o resultado de sua obstinação em rejeitar as repreensões de Deus. Temiam que, conspirando contra Jesus, os sacerdotes e principais estivessem seguindo os passos de seus antepassados, e trouxessem sobre a nação novas calamidades. Nicodemos partilhara desses sentimentos. Num concílio do Sinédrio, em que fora considerada a atitude a tomar para com Jesus, aconselhara cautela e moderação. Insistira em que, se Jesus Se achava na verdade investido de autoridade por Deus, seria perigoso rejeitar-Lhe as advertências. Os sacerdotes não haviam ousado desprezar esse conselho, e, temporariamente, não tomaram medidas abertas contra o Salvador. DTN 109 3 Desde que ouvira Jesus, Nicodemos estudara ansiosamente as profecias relativas ao Messias; e quanto mais procurara, tanto mais forte era sua convicção de que este era Aquele que havia de vir. Ele, como muitos outros em Israel, sentira-se grandemente aflito com a profanação do templo. Fora testemunha ocular da cena da expulsão dos vendedores e compradores por Jesus; presenciara a maravilhosa manifestação de poder divino; vira o Salvador receber os pobres e curar os enfermos; vira-lhes a expressão de alegria, e escutara-lhes as palavras de louvor; e não podia duvidar de que Jesus de Nazaré era o Enviado de Deus. DTN 109 4 Desejava grandemente uma entrevista com Jesus, mas recuava ante a idéia de O procurar abertamente. Seria demasiado humilhante, para um príncipe judeu, reconhecer-se em afinidade com um mestre ainda tão pouco conhecido. E chegasse sua visita ao conhecimento do Sinédrio, isso lhe atrairia o desprezo e as acusações do mesmo. Decidiu-se por uma entrevista em segredo, desculpando-se com a idéia de que, fosse ele abertamente, outros lhe poderiam seguir o exemplo. Sabendo, depois de indagar especialmente, o lugar de retiro do Salvador, no Monte das Oliveiras, esperou até que a cidade silenciasse no sono, indo então em busca dEle. DTN 110 1 Em presença de Cristo, experimentou Nicodemos uma estranha timidez, que se esforçou por ocultar sob um ar de compostura e dignidade. "Rabi", disse ele, "bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que Tu fazes, se Deus não for com ele". João 3:2. Esperava, falando dos raros dons de Cristo como mestre, bem como de Seu maravilhoso poder de operar milagres, preparar o terreno para a entrevista que pretendia. Suas palavras visavam exprimir e despertar confiança; na realidade, porém, exprimiam incredulidade. Não reconheceu Jesus como o Messias, mas apenas como um mestre enviado por Deus. DTN 110 2 Em vez de agradecer essa saudação, Jesus fixou os olhos no visitante, como se lhe estivesse lendo o coração. Em Sua infinita sabedoria viu diante de Si um indagador da verdade. Sabia o objetivo dessa visita e, no desejo de aprofundar a convicção já existente no espírito do ouvinte, foi diretamente ao ponto, dizendo solene, mas bondosamente: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". João 3:3. DTN 110 3 Nicodemos fora ter com o Senhor pensando em entrar com Ele em discussão, mas Jesus expôs-lhe os princípios fundamentais da verdade. Disse a Nicodemos: Não é tanto de conhecimento teórico que precisas, mas de regeneração espiritual. Não necessitas satisfazer tua curiosidade, mas ter um novo coração. É necessário que recebas nova vida de cima, antes de te ser possível apreciar as coisas celestiais. Antes que se verifique essa mudança, tornando novas todas as coisas, nenhum salvador proveito tem para ti o discutir comigo Minha autoridade ou missão. DTN 110 4 Nicodemos ouvira a pregação de João Batista quanto ao arrependimento e ao batismo, e indicando ao povo Aquele que havia de batizar com o Espírito Santo. Ele próprio sentira haver falta de espiritualidade entre os judeus, que, em grande parte, eram dominados pela hipocrisia e a mundana ambição. Tinha esperado um melhor estado de coisas por ocasião da vinda do Messias. Todavia, a perscrutadora mensagem do Batista deixara de nele operar a convicção do pecado. Fariseu estrito, orgulhava-se de suas boas obras. Era largamente estimado por sua beneficência e liberalidade na manutenção do serviço do templo, e sentia-se certo do favor de Deus. Ficou assustado ante a idéia de um reino demasiado puro para ele ver em seu estado atual. DTN 111 1 A figura do novo nascimento, empregada por Jesus, não deixava de ser familiar a Nicodemos. Os conversos do paganismo à fé de Israel eram muitas vezes comparados a crianças recém-nascidas. Portanto, devia ter percebido que as palavras de Cristo não se destinavam a ser tomadas em sentido literal. Em virtude de seu nascimento como israelita, entretanto, considerava-se seguro de um lugar no reino de Deus. Achava não precisar de nenhuma mudança. Daí sua surpresa ante as palavras do Salvador. Ficou irritado por sua íntima aplicação a si próprio. O orgulho do fariseu lutava contra o sincero desejo do pesquisador da verdade. Admirava-se de que Jesus lhe falasse da maneira por que falou, não respeitando sua posição de príncipe em Israel. DTN 111 2 Colhido de improviso, respondeu a Cristo em palavras plenas de ironia: "Como pode um homem nascer, sendo velho?" João 3:4. Como muitos outros, quando uma incisiva verdade lhes fere a consciência, revelou o fato de que o homem natural não recebe as coisas que são do Espírito de Deus. Não há nele nada que corresponda às coisas espirituais; pois estas se discernem espiritualmente. DTN 111 3 Mas o Salvador não enfrentou argumento com argumento. Erguendo a mão em solene e calma dignidade, acentuou a verdade com mais firmeza: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus". João 3:5. Nicodemos sabia que Jesus Se referia aí ao batismo de água, e à renovação da mente pelo Espírito de Deus. Ficou convencido de achar-se na presença dAquele que João Batista predissera. DTN 111 4 Jesus continuou: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito". João 3:6. O coração, por natureza, é mau, e "quem do imundo tirará o puro? Ninguém". Jó 14:4. Invenção alguma humana pode encontrar o remédio para a alma pecadora. "A inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser". Romanos 8:7. "Do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias". Mateus 15:19. A fonte do coração se deve purificar para que a corrente se possa tornar pura. Aquele que se esforça para alcançar o Céu por suas próprias obras em observar a lei, está tentando o impossível. Não há segurança para uma pessoa que tenha religião meramente legal, uma forma de piedade. A vida cristã não é uma modificação ou melhoramento da antiga, mas uma transformação da natureza. Tem lugar a morte do eu e do pecado, e uma vida toda nova. Essa mudança só se pode efetuar mediante a eficaz operação do Espírito Santo. DTN 111 5 Nicodemos continuava perplexo, e Jesus empregou o vento para ilustrar o que desejava dizer: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito". João 3:8. DTN 111 6 Ouve-se o vento por entre os ramos das árvores, fazendo sussurrar as folhas e as flores; é todavia invisível, e homem algum sabe de onde ele vem, nem para onde vai. O mesmo se dá quanto à operação do Espírito Santo no ser humano. Como os movimentos do vento, não pode ser explicada. Talvez uma pessoa não seja capaz de dizer o tempo ou o lugar exatos de sua conversão, nem delinear todas as circunstâncias no processo da mesma; isso, porém, não prova não estar ela convertida. Mediante um agente tão invisível como o vento, está Cristo continuamente operando no coração. Pouco a pouco, sem que o objeto dessa obra tenha talvez consciência do fato, produzem-se impressões que tendem a atrair a mente para Cristo. Estas se podem causar meditando nEle, lendo as Escrituras, ou ouvindo a palavra do pregador. De repente, ao chegar o Espírito com mais direto apelo, a pessoa entrega-se alegremente a Jesus. Isso é chamado por muitos uma conversão repentina; é, no entanto, o resultado de longo processo de conquista efetuado pelo Espírito de Deus -- processo paciente e prolongado. DTN 112 1 Se bem que o vento seja invisível, seus efeitos são vistos e sentidos. Assim a obra do Espírito sobre a pessoa revelar-se-á em cada ato daquele que lhe experimentou o poder salvador. Quando o Espírito de Deus toma posse do coração, transforma a vida. Os pensamentos pecaminosos são afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade, a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante reflete a luz do Céu. Ninguém vê a mão que suspende o fardo, nem a luz que desce das cortes celestiais. A bênção vem quando, pela fé, a pessoa se entrega a Deus. Então, aquele poder que olho algum pode discernir, cria um novo ser à imagem de Deus. DTN 112 2 É impossível à mente finita compreender a obra da redenção. Seu mistério excede ao conhecimento humano; todavia, aquele que passa da morte para a vida percebe que é uma divina realidade. O começo da redenção, podemos conhecê-lo aqui, mediante uma experiência pessoal. Seus resultados estendem-se através da eternidade. DTN 112 3 Enquanto Jesus falava, alguns raios da verdade penetraram no espírito do príncipe. A enternecedora, subjugante influência do Espírito Santo impressionou-lhe o coração. Todavia, não compreendeu plenamente as palavras do Salvador. Não ficou tão impressionado com a necessidade do novo nascimento, como acerca da maneira por que esse se havia de realizar. Admirado, disse: "Como pode ser isso?" DTN 112 4 "Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?" perguntou Jesus. Indubitavelmente uma pessoa a quem era confiada a instrução religiosa do povo, não devia ser ignorante de verdades de tanta importância. Suas palavras encerravam a lição de que, em lugar de sentir-se irritado com as positivas palavras da verdade, Nicodemos deveria ter de si mesmo opinião muito humilde, em vista de sua ignorância espiritual. Não obstante, Cristo falava com tão solene dignidade, e tanto o olhar como a inflexão da voz exprimiam tão sincero amor, que Nicodemos não se ofendeu ao compreender sua humilhante condição. DTN 113 1 Mas ao explicar Jesus que Sua missão na Terra era estabelecer um reino espiritual e não temporal, Seu ouvinte sentiu-se perturbado. Vendo isso, Jesus acrescentou: "Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" João 3:12. Se Nicodemos não podia receber os ensinos de Cristo, que ilustravam a obra da graça no coração, como entender a natureza de Seu glorioso reino celestial? Não discernindo a natureza da obra de Cristo na Terra, não poderia compreender Sua obra no Céu. DTN 113 2 Os judeus que Jesus expulsara do templo, pretendiam ser filhos de Abraão, mas fugiram da presença do Salvador, porque não podiam suportar a glória de Deus que nEle se manifestava. Revelaram assim não se achar, pela graça de Deus, habilitados a participar dos sagrados cultos do templo. Eram zelosos em manter uma aparência de piedade, mas negligenciavam a santidade do coração. Ao passo que eram zelosos defensores da letra da lei, violavam-lhe constantemente o espírito. Sua grande necessidade era aquela mesma mudança que Cristo estivera explicando a Nicodemos -- um novo nascimento moral, uma limpeza do pecado e renovação do conhecimento e da santidade. DTN 113 3 Não havia desculpa para a cegueira de Israel quanto à obra da regeneração. Pela inspiração do Espírito Santo, escrevera Isaías: "Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapos de imundícia". Isaías 64:6. Davi suplicara: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto". Salmos 51:10. E, por meio de Ezequiel, fora dada a promessa: "E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos, e guardeis os Meus juízos, e os observeis". Ezequiel 36:26, 27. DTN 113 4 Nicodemos lera essas passagens com o espírito obscurecido; agora, porém, começava a compreender-lhes a significação. Via que a mais rígida obediência à simples letra da lei, no que respeitava à vida exterior, não poderia habilitar homem algum para entrar no reino do Céu. No conceito dos homens, sua vida fora justa e digna de honra; em presença de Cristo, no entanto, sentia que seu coração era impuro, sua vida destituída de santidade. DTN 113 5 Nicodemos estava sendo atraído para Cristo. Ao explicar-lhe o Salvador o que dizia respeito ao novo nascimento, anelava experimentar essa mudança em si mesmo. Por que meio poderia isso realizar-se? Jesus respondeu à não formulada pergunta: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. DTN 113 6 Ali estava um terreno familiar a Nicodemos. O símbolo da serpente levantada tornou-lhe clara a missão do Salvador. Quando o povo de Israel estava perecendo da picada das serpentes ardentes, Deus instruíra Moisés para fazer uma serpente de metal, e colocá-la no alto, em meio da congregação. Fora então anunciado no acampamento que todos os que olhassem para a serpente, viveriam. Bem sabia o povo que, em si mesma, não possuía ela poder algum para os ajudar. Era um símbolo de Cristo. Como a imagem feita à semelhança das serpentes destruidoras era erguida para cura deles, assim Alguém nascido "em semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3), havia de lhes ser Redentor. Muitos dos israelitas olhavam o serviço sacrifical como possuindo em si mesmo virtude para os libertar do pecado. Deus lhes desejava ensinar que esse serviço não tinha mais valor que aquela serpente de metal. Visava a dirigir-lhes o espírito para o Salvador. Fosse para a cura de suas feridas, fosse para o perdão dos pecados, não podiam fazer por si mesmos coisa alguma, se não mostrar sua fé no Dom de Deus. Cumpria-lhes olhar, e viver. DTN 114 1 Os que haviam sido mordidos pelas serpentes poderiam haver demorado a olhar. Poderiam ter posto em dúvida a eficácia daquele símbolo metálico. Poderiam haver pedido uma explicação científica. Nenhuma explicação lhes era dada, porém. Deviam aceitar a palavra que Deus lhes dirigia através de Moisés. Recusar-se a olhar, era morrer. DTN 114 2 Não é por meio de debates e discussões que a mente é iluminada. Devemos olhar e viver. Nicodemos recebeu a lição, e levou-a consigo. Examinou as Escrituras de maneira nova, não para a discussão de uma teoria, mas a fim de receber a vida eterna. Começou a ver o reino de Deus, ao submeter-se à direção do Espírito Santo. DTN 114 3 Milhares existem, hoje em dia, que necessitam da mesma verdade ensinada a Nicodemos mediante a serpente levantada. Confiam em sua obediência à lei de Deus para se recomendarem a seu favor. Quando são solicitados a olhar a Jesus, e a crer que Ele os salva apenas pela Sua graça, exclamam: "Como pode ser isso?" DTN 114 4 Como Nicodemos, devemos estar prontos a entrar na vida pela mesma maneira que o maior dos pecadores. Além de Cristo "nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos dos Apóstolos 4:12. Mediante a fé, recebemos a graça de Deus; mas a fé não é nosso Salvador. Ela não obtém nada. É a mão que se apega a Cristo e se apodera de Seus méritos, o remédio contra o pecado. E nem sequer nos podemos arrepender sem o auxílio do Espírito de Deus. Diz a Escritura de Cristo: "Deus com a Sua destra O elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados". Atos dos Apóstolos 5:31. O arrependimento vem de Cristo, tão seguramente como vem o perdão. DTN 114 5 Como, então, nos havemos de salvar? -- "Como Moisés levantou a serpente no deserto", assim foi levantado o Filho do homem, e todo aquele que tem sido enganado e mordido pela serpente, pode olhar e viver. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. A luz que irradia da cruz revela o amor de Deus. Seu amor atrai-nos a Ele mesmo. Se não resistirmos a essa atração, seremos levados ao pé da cruz em arrependimento pelos pecados que crucificaram o Salvador. Então o Espírito de Deus, mediante a fé, produz uma nova vida. Os pensamentos e desejos são postos em obediência à vontade de Cristo. O coração, o espírito, são novamente criados à imagem dAquele que opera em nós para sujeitar a Si mesmo todas as coisas. Então a lei de Deus é escrita na mente e no coração, e podemos dizer com Cristo: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu". Salmos 40:8. DTN 115 1 Na entrevista com Nicodemos, Jesus desdobrou o plano da salvação, e Sua missão no mundo. Em nenhum de Seus posteriores discursos explicou tão plenamente, passo por passo, a obra necessária ao coração de todo aquele que quisesse herdar o reino do Céu. No próprio início de Seu ministério, abriu a verdade a um membro do Sinédrio, ao espírito mais apto a receber, a um designado mestre do povo. Os guias de Israel, porém, não receberam de bom grado a luz. Nicodemos ocultou a verdade no coração, e por três anos pouco foi, aparentemente, o fruto. DTN 115 2 Jesus, porém, conhecia o solo em que lançara a semente. As palavras dirigidas à noite a um ouvinte, na solitária montanha, não foram perdidas. Durante algum tempo, Nicodemos não reconheceu publicamente a Cristo, mas observava-Lhe a vida, e ponderava-Lhe os ensinos. Repetidamente, no conselho do Sinédrio, frustrou os planos dos sacerdotes para O destruir. Quando, afinal, Jesus foi erguido na cruz, Nicodemos relembrou o ensino no Olivete: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. A luz daquela secreta entrevista iluminou a cruz do Calvário, e Nicodemos viu em Jesus o Redentor do mundo. DTN 115 3 Depois da ascensão do Senhor, quando os discípulos foram dispersos pela perseguição, Nicodemos tomou ousadamente a dianteira. Empregou sua fortuna na manutenção da igreja infante, que os judeus haviam esperado fosse extirpada com a morte de Cristo. No tempo de perigo aquele que tão cauteloso e duvidoso fora, mostrou-se firme como a rocha, animando a fé dos discípulos, e fornecendo meios para levar avante a obra do evangelho. Foi desdenhado e perseguido pelos que lhe haviam tributado reverência em outros tempos. Tornou-se pobre em bens deste mundo; todavia, não vacilou na fé que tivera seu início naquela conferência noturna com Jesus. DTN 115 4 Nicodemos relatou a João a história daquela entrevista, e por sua pena foi ela registrada para instrução de milhões. As verdades aí ensinadas são tão importantes hoje em dia como naquela solene noite, na sombria montanha, quando o príncipe judeu foi aprender, com o humilde Mestre da Galiléia, o caminho da vida. ------------------------Capítulo 18 -- "É necessário que ele cresça" DTN 116 0 Este capítulo é baseado em João 3:22-36. DTN 116 1 Durante algum tempo, a influência do Batista sobre a nação fora maior que a de seus principais, sacerdotes e príncipes. Houvesse ele se anunciado como Messias, e fomentado um levante contra Roma, sacerdotes e povo se teriam reunido em torno de seu estandarte. Todas as atenções que falam à ambição dos mundanos conquistadores, Satanás se apressara em dispensar a João Batista. Mas, tendo embora diante de si as provas de seu poder, permanecera firme em recusar o deslumbrante preço do suborno. As atenções nele fixadas, encaminhara para Outro. DTN 116 2 Agora, via a onda de popularidade a desviar-se de si para o Salvador. Dia a dia, diminuíam as multidões em torno dele. Quando Jesus foi de Jerusalém à região adjacente ao Jordão, o povo aglomerou-se para O ouvir. Diariamente, crescia-Lhe o número dos discípulos. Muitos iam em busca de batismo, e conquanto o próprio Cristo não batizasse, sancionava a ministração dessa ordenança pelos discípulos. Punha assim o selo sobre a missão do Seu precursor. Os discípulos de João, porém, olhavam com ciúmes a crescente popularidade de Jesus. Estavam prontos a criticar-Lhe a obra, e não tardou muito que se lhes deparasse ocasião. Surgiu entre eles e os judeus uma questão quanto ao batismo, se este servia para purificar do pecado; afirmavam que o batismo de Jesus diferia essencialmente do de João. Em breve, travaram discussão com os discípulos de Cristo acerca das palavras próprias para serem usadas no batismo e, afinal, quanto ao direito deles de batizar. DTN 116 3 Os discípulos de João foram ter com ele com suas queixas, dizendo: "Rabi, Aquele que estava contigo além do Jordão, do qual Tu deste testemunho, ei-Lo batizando, e todos vão ter com Ele". João 3:26. Por meio dessas palavras, tentou Satanás a João. Conquanto a missão deste parecesse prestes a concluir-se, ser-lhe-ia ainda possível prejudicar a obra de Cristo. Houvesse ele se doído por si mesmo, ou expressado desgosto ou decepção, por ser sobrepujado, e estariam lançadas as sementes da dissensão, incitados o ciúme e a inveja, tornando-se sério obstáculo ao progresso do evangelho. DTN 116 4 João tinha por natureza as faltas e fraquezas comuns à humanidade, mas o toque do amor divino o transformara. Pairava numa atmosfera não contaminada pelo egoísmo e a ambição, e muito acima do miasma do ciúme. Não manifestou nenhuma condescendência com o descontentamento de seus discípulos, mas mostrou quão claramente compreendia suas relações com o Messias, e a alegria com que saudava Aquele para quem preparara o caminho. DTN 117 1 Disse ele: "O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do Céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dEle. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo". João 3:27-29. João apresentou-se como o amigo que serviu de mensageiro entre os noivos, preparando o caminho para o enlace. Quando o esposo houvesse recebido a esposa, estava cumprida a missão do amigo. Ele se regozijaria na felicidade daqueles cuja união promovera. Assim João fora convidado a encaminhar o povo a Jesus, e seu prazer era testemunhar o êxito da obra do Salvador. Disse ele: "Assim pois já este meu gozo está cumprido. É necessário que Ele cresça e que eu diminua." DTN 117 2 Olhando com fé ao Redentor, João erguera-se às alturas da abnegação. Não buscava atrair os homens a si mesmo, mas erguer-lhes o pensamento mais e mais alto, até que repousasse no Cordeiro de Deus. Ele próprio não passara de uma voz, um clamor no deserto. Agora, aceitava com alegria o silêncio e a obscuridade, para que os olhos de todos se pudessem voltar para a Luz da vida. DTN 117 3 Os que são fiéis à vocação de mensageiros de Deus, não buscarão honra para si mesmos. O amor do próprio eu será absorvido pelo amor a Cristo. Nenhuma rivalidade manchará a preciosa causa do evangelho. Reconhecerão que sua obra é proclamar, como João Batista: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Exaltarão a Jesus, e com Ele será a humanidade exaltada. "Assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos". Isaías 57:15. DTN 117 4 O coração do profeta, vazio de si mesmo, encheu-se da luz do divino. Ao testificar da glória do Salvador, suas palavras eram quase iguais às do próprio Cristo em Sua entrevista com Nicodemos. João disse: "Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do Céu é sobre todos. [...] Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não Lhe dá Deus o Espírito por medida". João 3:31, 34. Cristo pôde dizer: "Não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai que Me enviou". João 5:30. DEle é dito: "Amaste a justiça e aborreceste a iniqüidade; por isso Deus, o Teu Deus, Te ungiu com óleo de alegria mais do que a Teus companheiros". Hebreus 1:9. O Pai não Lhe dá "o Espírito por medida". DTN 117 5 O mesmo se dá quanto aos seguidores de Cristo. Só podemos receber da luz do Céu, à medida que formos voluntários em nos esvaziar do próprio eu. Não podemos discernir o caráter de Deus, ou aceitar a Cristo pela fé, a menos que consintamos em levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo. A todos quantos assim fazem, é o Espírito Santo dado sem medida. Em Cristo "habita corporalmente toda a plenitude da divindade; e estais perfeitos nEle". Colossences 2:9, 10. DTN 118 1 Os discípulos de João haviam declarado que todos iam ter com Cristo; mas com mais clara visão, João disse: "Ninguém aceita o Seu testemunho" (João 3:32) assim, poucos eram os que estavam prontos a aceitá-Lo como Salvador do pecado. Mas "aquele que aceitou o Seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro". "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna". Nenhuma necessidade de discussão quanto a se o batismo de Cristo, ou o de João, purificava do pecado. É a graça de Cristo que dá vida ao ser humano. Separado de Cristo, o batismo, como qualquer outro serviço, é uma forma sem valor. "Aquele que não crê no Filho não verá a vida". João 3:33, 36. DTN 118 2 O êxito da obra de Cristo, recebido pelo Batista com tanta alegria, foi também anunciado às autoridades em Jerusalém. Os sacerdotes e rabis haviam tido ciúmes da influência de João, ao verem o povo deixando as sinagogas e afluindo ao deserto; mas ali estava Alguém que possuía ainda maior poder de atrair as multidões. Aqueles guias de Israel não estavam dispostos a dizer como João: "É necessário que Ele cresça e que eu diminua". João 3:30. Ergueram-se com nova determinação de pôr termo à obra que estava afastando deles o povo. DTN 118 3 Jesus sabia que eles não poupariam esforços para criar divisão entre Seus discípulos e os de João. Sabia que se estava preparando a tempestade que arrebataria um dos maiores profetas já dados ao mundo. Desejando evitar toda ocasião de mal-entendido ou dissensão, interrompeu calmamente Seus labores, e retirou-Se para a Galiléia. Nós igualmente, conquanto leais à verdade, devemos procurar evitar tudo quanto possa levar à discórdia ou má compreensão. Pois sempre que estas surgem, trazem em resultado perda de almas. Quando quer que apareçam circunstâncias que ameacem divisão, cumpre-nos seguir o exemplo de Jesus e de João Batista. DTN 118 4 João fora chamado para dirigir uma obra de reforma. Em razão disto, seus discípulos corriam o risco de fixar nele a atenção, julgando que o êxito da obra dependia de seus labores, e perdendo de vista o fato de ser ele mero instrumento por meio do qual Deus havia operado. A obra de João não era, todavia, suficiente para lançar as bases da igreja cristã. Havendo cumprido sua missão, fazia-se necessário outra obra, que seu testemunho não poderia realizar. Seus discípulos não percebiam isso. Ao verem Cristo chegar para tomar posse da obra, enciumaram-se e ficaram descontentes. DTN 119 1 Os mesmos perigos existem ainda. Deus chama um homem para fazer certa obra; e ao havê-la ele conduzido até ao ponto para o qual se acha habilitado, o Senhor introduz outros, para levá-la mais adiante. Como os discípulos de João, porém, muitos sentem que o sucesso da obra depende do primeiro obreiro. Fixa-se a atenção sobre o humano em lugar de concentrar no divino, introduz-se o ciúme, e a obra de Deus é manchada. Aquele que é assim indevidamente honrado sofre a tentação de nutrir a confiança no próprio eu. Não compreende sua dependência de Deus. O povo é ensinado a descansar no homem, quanto à guia, e caem assim em erro, sendo desviados de Deus. DTN 119 2 A obra do Senhor não deve receber a imagem e a inscrição do homem. De tempos a tempos Ele introduz aí instrumentos diversos, mediante os quais melhor se pode cumprir o Seu desígnio. Felizes os que de boa vontade se submetem à humilhação do próprio eu, dizendo juntamente com João: "É necessário que Ele cresça e que eu diminua". ------------------------Capítulo 19 -- Junto ao poço de Jacó DTN 120 0 Este capítulo é baseado em João 4:1-42. DTN 120 1 De caminho para a Galiléia, passou Jesus por Samaria. Era meio-dia quando chegou ao belo vale de Siquém. À entrada desse vale, achava-se o poço de Jacó. Fatigado da jornada, sentou-Se ali para descansar enquanto os discípulos iam à cidade comprar alimento. DTN 120 2 Judeus e samaritanos eram obstinados inimigos, evitando tanto quanto possível todo trato uns com os outros. Negociar com os samaritanos, em caso de necessidade, era na verdade reputado lícito pelos rabis; qualquer contato social com eles, porém, era condenado. Um judeu não tomava emprestado nem recebia obséquios de um samaritano, nem mesmo um pedaço de pão ou um copo de água. Comprando comida, os discípulos estavam agindo em harmonia com o costume da nação. Além disso não iam, entretanto. Pedir um favor de um samaritano, ou buscar por qualquer maneira beneficiá-lo, não entrava nas cogitações nem mesmo dos discípulos de Cristo. DTN 120 3 Ao sentar-Se à beira do poço, Jesus desfalecia de fome e de sede. Longa fora a jornada desde a manhã, e agora dardejavam sobre Ele os raios do Sol de meio-dia. A sede era-Lhe acrescida ao pensamento da fresca e refrigerante água ali tão perto, e todavia inacessível, para Ele; pois não tinha corda nem cântaro, e fundo era o poço. Cabia-Lhe a sorte da humanidade, e esperou que viesse alguém para tirá-la. DTN 120 4 Aproximou-se uma mulher de Samaria e, como inconsciente da presença dEle, encheu de água o cântaro. Ao voltar-se para ir embora, Jesus lhe pediu de beber. Um favor como esse nenhum oriental recusaria. No Oriente, a água era chamada "o dom de Deus". Dar de beber a um sedento viajante era considerado tão sagrado dever, que os árabes do deserto se desviariam do caminho a fim de o cumprir. O ódio existente entre judeus e samaritanos impedia a mulher de oferecer um obséquio a Jesus; o Salvador, porém, buscava a chave para esse coração, e com o tato nascido do divino amor, pediu, não ofereceu um favor. O oferecimento de uma gentileza poderia haver sido rejeitado; a confiança, no entanto, desperta confiança. O Rei do Céu chegou a essa desprezada pessoa, pedindo um serviço de suas mãos. Aquele que fizera o oceano, que rege as águas do grande abismo, e abre as fontes e rios da terra, repousou de Sua fadiga junto ao poço de Jacó, e esteve na dependência da bondade de uma estranha até quanto à dádiva de um pouco de água. DTN 121 1 A mulher viu que Jesus era judeu. Em sua surpresa, esqueceu-se de satisfazer-Lhe o pedido, mas procurou indagar a razão do mesmo. "Como é", disse ela, "que sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?" DTN 121 2 Jesus respondeu: "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz -- Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva". João 4:9, 10. Tu te admiras de que te pedisse mesmo um tão pequenino favor, como um pouco de água do poço aos nossos pés. Houvesse tu Me pedido a Mim, e Eu te haveria dado de beber da água da vida eterna. DTN 121 3 A mulher não compreendera as palavras de Cristo, mas sentiu-lhes a solene importância. Sua atitude leve, gracejadora, começou a mudar. Supondo que Jesus falasse do poço que lhes estava em frente, disse: "Senhor, Tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois tens a água viva? És Tu maior que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele?" João 4:11, 12. Ela via diante de si apenas um sedento viajante, exausto e poento. Comparou-O, em seu espírito, com o honrado patriarca Jacó. Alimentava o sentimento, tão natural, de que nenhum outro poço poderia ser igual àquele que fora legado pelos pais. Olhava atrás, aos pais, e ao futuro, à vinda do Messias, ao passo que a Esperança desses antepassados, o próprio Messias, estava ao seu lado, e ela O não conhecia. Quantas pessoas sedentas se acham hoje junto à fonte viva, e olham todavia a distância, em busca das fontes da vida! "Não digas em teu coração: Quem subirá ao Céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo). Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, tornar a trazer dentre os mortos a Cristo). [...] A Palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração. [...] Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo". Romanos 10:6-9. DTN 121 4 Jesus não respondeu imediatamente à pergunta a Seu respeito, mas com solene seriedade disse: "Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna". João 4:13, 14. DTN 121 5 Aquele que busca matar a sede nas fontes deste mundo, beberá apenas para tornar a ter sede. Por toda parte estão os homens descontentes. Anseiam qualquer coisa que lhes supra a necessidade espiritual. Unicamente Um lhes pode satisfazer essa necessidade. O que o mundo necessita é Cristo, "o Desejado de todas as nações". A divina graça que só Ele pode comunicar, é uma água viva, purificadora, refrigerante e revigoradora. DTN 121 6 Jesus não queria dar a idéia de que um único gole da água da vida bastasse ao que a recebe. O que experimenta o amor de Cristo, anelará continuamente mais; mas não busca nenhuma outra coisa. As riquezas, honras e prazeres do mundo, não o atraem. O contínuo grito de sua alma, é: "Mais de Ti". E Aquele que revela à alma suas necessidades, está à espera, para lhe saciar a fome e a sede. Falharão todo recurso e dependência humanos. As cisternas esvaziar-se-ão, os poços se hão de secar; nosso Redentor, porém, é uma fonte inesgotável. Podemos beber, e beber mais, e sempre encontraremos novo abastecimento. Aquele em quem Cristo habita, tem em si mesmo a fonte da bênção -- "uma fonte de água que salte para a vida eterna". João 4:14. Dessa fonte poderá tirar forças e graça suficientes para todas as suas necessidades. DTN 122 1 Ao falar Jesus da água viva, a mulher O olhou com atenta curiosidade. Ele lhe despertara o interesse, e incitara o desejo de receber o dom de que falava. Percebia não ser à água do poço de Jacó que Se referia; pois dessa usava ela continuamente, bebendo, e tendo novamente sede. "Senhor", disse ela, "dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la". João 4:15. DTN 122 2 Jesus mudou então abruptamente a conversa. Antes que essa pessoa pudesse receber o dom que Ele ansiava conceder-lhe, seria preciso que fosse levada a reconhecer seu pecado e seu Salvador. Disse-lhe Ele: "Vai, chama o teu marido, e vem cá". Ela respondeu: "Não tenho marido". Assim esperava evitar qualquer interrogação nesse sentido. Mas o Salvador continuou: "Disseste bem: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade". João 4:16-18. DTN 122 3 A ouvinte tremeu. Misteriosa mão estava voltando as páginas de sua vida, apresentando aquilo que esperava manter sempre oculto. Quem era Esse que podia ler-lhe os segredos da vida? Acudiram-lhe pensamentos da eternidade, do juízo futuro, quando tudo que é agora oculto será revelado. A esse clarão, despertou a consciência. DTN 122 4 Não podia negar nada; mas buscou escapar a qualquer menção de um assunto tão indesejado. Com profunda reverência, disse: "Senhor, vejo que és profeta". João 4:19. Então, esperando abafar a convicção, voltou-se para pontos de controvérsia religiosa. Se Este fosse profeta, certamente lhe poderia dar instruções a respeito desses assuntos tão longamente discutidos. DTN 122 5 Pacientemente Jesus permitiu que ela dirigisse a conversa à sua vontade. Espreitava, entretanto, o ensejo de fazer penetrar-lhe a verdade no coração. "Nossos pais adoraram neste monte", disse ela, "e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar". João 4:20. Achava-se mesmo à vista o monte Gerizim. Seu templo estava demolido, e só o altar restava. O lugar de culto havia sido motivo de rivalidade entre judeus e samaritanos. Alguns dos ancestrais dos últimos pertenceram outrora a Israel; devido a seus pecados, porém, o Senhor permitira que fossem subjugados por uma nação idólatra. Durante muitas gerações haviam estado misturados com adoradores de ídolos, cuja religião lhes contaminara gradualmente a sua. Verdade é que afirmavam que seus ídolos se destinavam apenas a lembrar-lhes o Deus vivo, o Soberano do Universo; não obstante, o povo era levado a reverenciar as imagens de escultura. DTN 123 1 Quando o templo de Jerusalém fora reconstruído, nos dias de Esdras, os samaritanos desejaram unir-se aos judeus nessa ereção. Este privilégio lhes foi negado, e amarga animosidade suscitou-se entre os dois povos. Os samaritanos construíram um templo rival no monte Gerizim. Ali adoravam segundo o ritual mosaico, conquanto não renunciassem inteiramente à idolatria. Mas sobrevieram-lhes desastres, seu templo foi destruído pelos inimigos, e pareciam achar-se sob maldição; apegavam-se, todavia, a suas tradições e formas de culto. Não queriam reconhecer o templo de Jerusalém como a casa de Deus, nem admitir que a religião dos judeus era superior à sua. DTN 123 2 Respondendo à mulher, Jesus disse: "Crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus". João 4:21, 22. Jesus mostrara ser isento do preconceito judaico contra os samaritanos. Agora procurava derribar o mesmo preconceito da parte desta samaritana contra os judeus. Ao mesmo tempo que aludia à corrupção da fé dos samaritanos pela idolatria, declarou que as grandes verdades da redenção haviam sido confiadas aos judeus, e que dentre eles devia aparecer o Messias. Nos Sagrados Escritos tinham clara apresentação do caráter de Deus e dos princípios de Seu governo. Jesus Se colocou juntamente com os judeus, como sendo aqueles a quem o Senhor outorgara conhecimento a Seu respeito. DTN 123 3 Era Seu desejo erguer os pensamentos de Sua ouvinte acima de questões de formas, cerimônias e controvérsias. "A hora vem", disse, "e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade". João 4:23, 24. DTN 123 4 Aí se declara a mesma verdade que Jesus expusera a Nicodemos, quando disse: "Aquele que não nascer de novo [de cima, diz outra versão], não pode ver o reino de Deus". João 3:3. Não por procurar um monte santo ou um templo sagrado, são os homens postos em comunhão com o Céu. Religião não é limitar-se a formas e cerimônias exteriores. A religião que vem de Deus é a única que leva a Ele. Para O servirmos devidamente, é necessário nascermos do divino Espírito. Isso purificará o coração e renovará a mente, dando-nos nova capacidade para conhecer e amar a Deus. Comunicar-nos-á voluntária obediência a todos os Seus reclamos. Esse é o verdadeiro culto. É o fruto da operação do Espírito Santo. É pelo Espírito que toda prece sincera é ditada, e tal prece é aceitável a Deus. Onde quer que a alma se dilate em busca de Deus, aí é manifesta a obra do Espírito, e Deus Se revelará a essa pessoa. A tais adoradores ele busca. Espera recebê-los, e torná-los Seus filhos e filhas. DTN 124 1 Enquanto a mulher falava com Jesus, foi impressionada por Suas palavras. Nunca ouvira esses sentimentos expressos por parte dos sacerdotes de seu povo ou dos judeus. Ao ser-lhe exposta sua vida passada, tornara-se cônscia de sua grande necessidade. Percebera a sede de sua alma que as águas do poço de Sicar jamais poderiam saciar. Coisa alguma de tudo com que estivera em contato até então, a despertara para mais elevada necessidade. Jesus a convencera de que lia os segredos de sua vida; sentiu, entretanto, que Ele era seu amigo, compadecendo-Se dela e amando-a. Se bem que a própria pureza que dEle emanava lhe condenasse o pecado, não proferia palavra alguma de acusação, mas falara de Sua graça, que lhe podia renovar a mente. Nela se começou a formar a convicção acerca de Seu caráter. Surgiu-lhe no espírito a indagação: "Não poderia Este ser o tão longamente esperado Messias?" Disse-Lhe: "Eu sei que o Messias (que Se chama o Cristo) vem; quando Ele vier, nos anunciará tudo". Jesus respondeu: "Eu o sou, Eu que falo contigo". João 4:25, 26. DTN 124 2 Ao ouvir a mulher estas palavras, a fé brotou-lhe no coração. Aceitou a maravilhosa comunicação dos lábios do divino Mestre. DTN 124 3 Essa mulher encontrava-se em disposição de espírito capaz de apreciar. Estava pronta para receber a mais excelente revelação, pois interessava-se nas Escrituras, e o Espírito Santo lhe estivera preparando a mente para a recepção de maior luz. Estudara a promessa do Antigo Testamento: "O Senhor teu Deus te despertará um profeta do meio de ti, e de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis". Deuteronômio 18:15. Anelava compreender esta profecia. A luz já lhe estava brilhando no espírito. A água da vida, a vida espiritual que Cristo dá a toda alma sedenta, começara a brotar-lhe no coração. O Espírito do Senhor trabalhava nela. DTN 124 4 A positiva declaração de Cristo a essa mulher, não podia ter sido feita aos fariseus, cheios de justiça própria. Era muito mais reservado quando falava com eles. Aquilo que fora retido aos judeus, e que os discípulos haviam recebido recomendação de guardar em segredo, foi a ela revelado. Jesus viu que ela empregaria seu conhecimento em levar outros a partilhar de Sua graça. DTN 124 5 Ao voltarem os discípulos de seu mandado, ficaram surpreendidos de encontrar o Mestre falando com a mulher. Não tomara o refrigerante gole que desejara, nem Se deteve para comer o alimento trazido pelos discípulos. Havendo-se retirado a mulher, insistiram em que comesse. Viram-nO silencioso, absorto, como em meditação. O semblante irradiava-Lhe, e temeram interromper Sua comunhão com o Céu. Sabiam, no entanto, que estava desfalecido e fatigado, e julgaram seu dever lembrar-Lhe Sua necessidade física. Jesus lhes reconheceu o amorável interesse, e disse: "Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis". João 4:32. DTN 125 1 Os discípulos cogitaram quem Lhe poderia ter trazido alimento; Ele porém, explicou: "A Minha comida é fazer a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua obra". João 4:34. Como Suas palavras à mulher lhe houvessem despertado a consciência, Jesus regozijou-Se. Viu-a bebendo a água da vida, e Sua própria fome e sede foram mitigadas. O cumprimento da missão para cujo desempenho deixara o Céu, fortalecia o Salvador para Seus labores, sobrepondo-O às necessidades humanas. Ministrar a uma alma faminta e sedenta da verdade era-Lhe mais grato que comer ou beber. Constituía um conforto, um refrigério para Ele. A beneficência era a vida de Sua alma. DTN 125 2 Nosso Redentor tem sede de reconhecimento. Tem fome da simpatia e do amor daqueles que comprou com Seu próprio sangue. Anela com inexprimível desejo que venham a Ele e tenham vida. Como a mãe espreita o sorriso de reconhecimento de seu filhinho, o qual lhe revela o alvorecer da inteligência, assim está Cristo atento à expressão de grato amor que revela haver começado a vida espiritual naquele ser. DTN 125 3 A mulher enchera-se de alegria ao escutar as palavras de Cristo. A maravilhosa revelação fora quase demasiado forte para ela. Deixando o cântaro, voltou à cidade, para levar a outros a mensagem. Jesus sabia porque ela se fora. O cântaro esquecido revelava eloqüentemente o efeito de Suas palavras. O veemente desejo de seu coração era obter a água da vida; e olvidou seu objetivo em ir ao poço, esquecendo a sede do Salvador, que se propusera satisfazer. Coração transbordante de alegria, apressou-se em ir comunicar a outros a preciosa luz que recebera. DTN 125 4 "Vinde e vede um Homem que me disse tudo quanto tenho feito", disse ela aos homens da cidade. "Porventura, não é este o Cristo?" João 4:29. Suas palavras tocaram o coração deles. Havia em sua fisionomia expressão nova, uma transformação em todo o seu aspecto. Despertou-se-lhes o interesse em ver a Jesus. "Saíram pois da cidade, e foram ter com Ele". João 4:29, 30. DTN 125 5 Jesus, ainda sentado à borda do poço, pôs-Se a olhar para os campos de trigo que se estendiam diante dEle, seu delicado verdor banhado pelos dourados raios do Sol. Chamando a atenção dos discípulos para a cena, serviu-Se dela como de um símbolo: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa." E olhava, enquanto assim dizia, aos grupos que se vinham dirigindo ao poço. Faltavam quatro meses para a ceifa do cereal; havia, entretanto, uma colheita pronta para o ceifeiro. DTN 125 6 "O que ceifa", disse, "recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem. Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa". João 4:35-37. Aí indica Jesus o sagrado serviço que devem a Deus os que recebem o evangelho. Cumpre-lhes ser instrumentos vivos em Suas mãos. Ele lhes exige o serviço individual. E quer semeemos ou ceifemos, trabalhamos para Deus. Um espalha a semente; outro ajunta na ceifa; e tanto o semeador como o ceifeiro recebem galardão. Regozijam-se ambos na recompensa do seu labor. DTN 126 1 Jesus disse aos discípulos: "Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho". João 4:38. O Salvador antecipa aqui a grande colheita do dia de Pentecostes. Os discípulos não deviam considerá-la como resultado dos próprios esforços. Entravam no trabalho de outros homens. Desde a queda de Adão, Cristo estivera sempre a confiar a semente da Palavra a Seus escolhidos servos, para ser semeada nos corações humanos. E uma invisível influência, sim, uma força onipotente, operava silenciosa, mas eficazmente para produzir a colheita. O orvalho, a chuva e o Sol da graça de Deus haviam sido dados para refrescar e nutrir a semente da verdade. Cristo estava prestes a regar a semente com Seu próprio sangue. Seus discípulos tinham o privilégio de ser coobreiros dEle e dos santos homens da antiguidade. Pelo derramamento do Espírito Santo, no Pentecostes, milhares se haviam de converter em um dia. Isso era o resultado da semente lançada por Cristo, a colheita de Seu labor. DTN 126 2 Nas palavras dirigidas à mulher à borda do poço, fora lançada boa semente, e quão rapidamente se obteve a colheita! Os samaritanos vieram a ouvir Jesus, e nEle creram. Aglomerando-se ali em torno dEle, assediaram-nO com perguntas, recebendo ansiosamente Suas explicações de muitas coisas que para eles haviam sido obscuras. Escutando-O, suas perplexidades se começaram a desvanecer. Eram como um povo em meio de grande treva, seguindo um súbito raio de luz, até chegarem à claridade do dia. Mas não se satisfizeram com essa breve entrevista. Ansiavam ouvir mais, e dar a seus amigos também oportunidade de ouvir esse maravilhoso Mestre. Convidaram-nO a ir a sua cidade, pedindo-Lhe que ficasse com eles. Durante dois dias deteve-Se em Samaria, e muitos mais creram nEle. DTN 126 3 Os fariseus desprezavam a simplicidade de Jesus. Passavam-Lhe por alto os milagres, e pediam-Lhe um sinal de que era o Filho de Deus. Os samaritanos, porém, não pediram sinal, e Jesus não operou nenhum milagre entre eles, a não ser a revelação dos segredos da vida da mulher, junto ao poço. Entretanto, muitos O receberam. Em sua nova alegria, disseram à mulher: "Já não é pelo teu dito que nós cremos, porque nós mesmos O temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo". João 4:42. DTN 126 4 Os samaritanos criam que o Messias havia de vir como o Redentor não só dos judeus, mas do mundo. O Espírito Santo dEle predissera, por meio de Moisés, como um profeta enviado por Deus. Por intermédio de Jacó fora declarado que a Ele se congregariam os povos; e de Abraão, que nEle seriam benditas todas as nações da Terra. Nessas escrituras baseavam os samaritanos sua fé no Messias. O fato de haverem os judeus interpretado mal os últimos profetas, atribuindo ao primeiro advento a glória da segunda vinda de Cristo, levara os samaritanos a desprezar todos os sagrados escritos, com exceção dos que foram dados por meio de Moisés. Ao demolir, porém, o Salvador, essas falsas interpretações, muitos aceitaram as últimas profecias e as palavras do próprio Cristo com relação ao reino de Deus. DTN 127 1 Jesus começara a derrubar a parede de separação entre os judeus e os gentios, e a pregar salvação a todo o mundo. Conquanto judeu, misturava-Se sem restrições com os samaritanos, anulando os costumes farisaicos de Sua nação. Apesar de seus preconceitos, aceitou a hospitalidade desse povo desprezado. Dormiu sob seu teto, comeu com eles à mesa -- partilhando do alimento preparado e servido por suas mãos -- ensinou em suas ruas, e tratou-os com a máxima bondade e cortesia. DTN 127 2 No templo de Jerusalém havia apenas uma baixa parede divisória entre o pátio exterior e as outras dependências do sagrado edifício. Viam-se nessa parede inscrições em diferentes línguas, declarando que ninguém, a não ser os judeus, podia ultrapassar esses limites. Houvesse um gentio ousado penetrar no interior, teria profanado o templo, e o pagaria com a vida. Mas Jesus, o originador do templo e de seu serviço, atraía a Si os gentios pelo laço da simpatia humana, ao passo que Sua divina graça lhes trazia a salvação que os judeus rejeitavam. DTN 127 3 A permanência de Jesus em Samaria destinava-se a ser uma bênção para os discípulos, ainda sob a influência do fanatismo judaico. Julgavam que, para serem leais a sua nação, era preciso que nutrissem inimizade contra os samaritanos. Admiravam-se da conduta de Jesus. Não se podiam recusar a seguir-Lhe o exemplo, e durante os dois dias passados em Samaria, a fidelidade para com Ele lhes manteve em sujeição os preconceitos; todavia, no coração, continuavam irreconciliados. Foram tardios em aprender que seu desprezo e ódio devia dar lugar à piedade e à simpatia. Após a ascensão do Senhor, porém, Suas lições foram recordadas por eles, assumindo novo significado. Depois do derramamento do Espírito Santo, relembraram o olhar do Salvador, Suas palavras, o respeito e a ternura de Seu trato para com esses desprezados estrangeiros. Quando Pedro foi pregar em Samaria, pôs em seu trabalho o mesmo espírito. Quando João foi chamado a Éfeso e a Esmirna, lembrou-se do incidente de Siquém, e encheu-se de gratidão para com o divino Mestre, que prevendo as dificuldades que haviam de enfrentar, lhes proporcionara auxílio com Seu próprio exemplo. DTN 127 4 O Salvador continua ainda a fazer a mesma obra que realizou quando ofereceu água da vida à mulher de Samaria. Os que se chamam Seus seguidores, podem desprezar e evitar os excluídos da sociedade; circunstância alguma de nascimento ou nacionalidade, porém, nenhuma condição de vida, pode desviar Seu amor dos filhos dos homens. A toda pessoa, embora pecadora, Jesus diz: Se Me pedisses, Eu te daria água viva. DTN 128 1 O convite evangélico não deve ser amesquinhado, e apresentado apenas a uns poucos escolhidos, que, supomos, nos farão honra caso o aceitem. A mensagem deve ser dada a todos. Onde quer que haja corações abertos para receber a verdade, Cristo está pronto a instruí-los. Revela-lhes o Pai, e o culto aceitável Àquele que lê os corações. Para esses não emprega nenhuma parábola. Como à mulher junto ao poço, Ele lhe diz: "Eu sou, Eu que falo contigo". João 4:26. DTN 128 2 Quando Jesus Se sentou para descansar à beira do poço de Jacó, havia chegado da Judéia, onde Seu ministério pouco fruto produzira. Fora rejeitado pelos sacerdotes e rabis, e os próprios que professavam ser Seus discípulos, deixaram de perceber-Lhe o divino caráter. Achava-Se desfalecido e fatigado; não negligenciou, no entanto, a oportunidade de falar a uma única mulher, conquanto fosse uma estranha, inimiga de Israel, e vivendo abertamente em pecado. DTN 128 3 O Salvador não esperava que se reunissem congregações. Começava muitas vezes Suas lições tendo apenas poucas pessoas em volta de Si; mas, um a um, os transeuntes paravam para escutar, até que uma multidão, maravilhada, e respeitosa ficava a ouvir as palavras de Deus através do Mestre, enviado do Céu. O obreiro de Cristo não deve julgar que não pode falar a poucos ouvintes com o mesmo fervor com que o faz a um maior auditório. Poderá haver uma única pessoa a escutar a mensagem; quem poderá, entretanto, dizer até onde se estenderá sua influência? Pouca importância, mesmo para os discípulos, parecia ter essa mulher de Samaria, para o Salvador gastar com ela Seu tempo. Ele, porém, raciocinou mais fervorosa e eloqüentemente com ela, do que com reis, conselheiros ou sumos sacerdotes. As lições por Ele dadas àquela mulher têm sido repetidas até aos mais afastados recantos do mundo. DTN 128 4 Assim que encontrou o Salvador, a samaritana levou outros a Ele. Demonstrou-se mais eficiente missionária, que os próprios discípulos. Estes nada viram em Samaria indicativo de um campo promissor. Tinham os olhos fixos numa grande obra a ser feita futuramente. Não viram que exatamente em torno deles havia uma colheita a fazer. Por meio da mulher que haviam desprezado, porém, toda uma cidade foi levada a ouvir o Salvador. Ela transmitiu imediatamente a luz a seus concidadãos. DTN 128 5 Essa mulher representa a operação de uma fé prática em Cristo. Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário. Aquele que bebe da água viva, faz-se fonte de vida. O depositário torna-se doador. A graça de Cristo no coração é uma vertente no deserto, fluindo para refrigério de todos, e tornando os que estão quase a perecer, ansiosos de beber da água da vida. ------------------------Capítulo 20 -- "Se não virdes sinais e milagres" DTN 129 0 Este capítulo é baseado em João 4:43-54. DTN 129 1 Os galileus que voltaram da páscoa levaram a notícia das maravilhosas obras de Jesus. A maneira por que os dignitários em Jerusalém Lhe haviam julgado a ação, abria-Lhe caminho para a Galiléia. Muitos dentre o povo lamentavam os abusos no templo, e a ambição e arrogância dos sacerdotes. Esperavam que esse homem, que fizera fugir os principais, houvesse de ser o esperado Libertador. E agora chegavam notícias que pareciam confirmar suas esperanças. Contava-se que o profeta Se havia declarado o Messias. DTN 129 2 O povo de Nazaré, no entanto, não cria nEle. Por isso Jesus não visitou Nazaré em Sua passagem para Caná. O Salvador declarara aos discípulos que um profeta não tem honra na sua própria terra. Os homens estimam o caráter segundo aquilo que eles próprios são capazes de apreciar. Os de espírito estreito e mundano julgavam a Cristo por Seu humilde nascimento, Seu traje modesto e o meio de vida em que labutara. Não eram capazes de apreciar a pureza daquele espírito isento de qualquer mancha de pecado. DTN 129 3 As novas da volta de Jesus a Caná divulgaram-se em breve por toda a Galiléia, levando esperança aos aflitos e sofredores. Em Cafarnaum, as notícias atraíram a atenção de um nobre judeu, oficial ao serviço do rei. Um filho desse nobre estava sofrendo de moléstia aparentemente incurável. Os médicos o haviam desenganado; ao ouvir o pai falar de Jesus, porém, decidiu rogar-Lhe auxílio. A criança estava muito mal e, temia-se não viveria até seu regresso; mas o nobre achou que devia ir pessoalmente apresentar sua petição. Esperava que a súplica de um pai havia de despertar a compaixão do grande Médico. DTN 129 4 Chegando a Caná, encontrou grande multidão rodeando a Jesus. Coração ansioso, procurou abrir caminho até à presença do Salvador. Ao ver apenas um homem simplesmente vestido, poento e exausto da viagem, vacilou-lhe a fé. Duvidou que esse Homem pudesse realizar o que viera pedir-Lhe; obteve, no entanto, uma entrevista com Jesus, expôs-Lhe o objetivo de sua presença, e rogou ao Salvador que O acompanhasse a casa. Mas Jesus já conhecia essa dor. Antes que o nobre houvesse partido de casa, vira-lhe o Salvador a aflição. DTN 130 1 Sabia, também, que o pai estabelecera, em seu espírito, condições quanto a crer em Jesus. A menos que sua petição fosse atendida, não O havia de aceitar como o Messias. Enquanto o oficial esperava, nessa agonia de quem se acha suspenso, Jesus disse: "Se não virdes sinais e milagres, não crereis". João 4:48. DTN 130 2 Não obstante todas as provas de que Jesus era o Cristo, o suplicante decidira fazer do deferimento de seu pedido uma condição para nEle crer. O Salvador comparava essa incredulidade com a fé singela dos samaritanos, que não haviam solicitado qualquer milagre, sinal nenhum. Sua palavra, o sempre presente testemunho de Sua divindade, tinha convincente poder, que lhes tocara o coração. Jesus doía-Se de que Seu próprio povo, a quem haviam sido confiados os sagrados oráculos, deixasse de ouvir a voz de Deus a falar-lhes por intermédio de Seu Filho. DTN 130 3 No entanto, o nobre possuía certo grau de fé; pois viera pedir aquilo que se lhe afigurava a mais preciosa de todas as bênçãos. Jesus tinha um dom ainda maior para conceder. Desejava, não somente curar a criança, mas tornar o nobre e sua casa participantes das bênçãos da salvação, e acender uma luz em Cafarnaum, que se devia tornar em breve o cenário de Seus próprios labores. O nobre devia compreender primeiro, no entanto, sua própria necessidade, para que pudesse desejar a graça de Cristo. Esse nobre representava muitos de sua própria nação. Interessavam-se em Jesus por motivos egoístas. Esperavam receber por meio de Seu poder qualquer benefício particular e faziam depender sua fé da obtenção desse favor temporal; ignoravam, porém, sua enfermidade espiritual, e não viam a necessidade que tinham da graça divina. DTN 130 4 Como um jato de luz, as palavras do Salvador ao nobre lhe desnudaram o próprio coração. Viu que seus motivos em buscar a Jesus eram egoístas. Sua vacilante fé apareceu-lhe em seu verdadeiro caráter. Em profunda aflição, compreendeu que sua incredulidade poderia custar a vida do filho. Conheceu que estava em presença dAquele que lia os pensamentos, e a quem tudo era possível. Em angustiosa súplica, clamou: "Senhor, desce antes que meu filho morra!" João 4:49. Sua fé apoderou-se de Cristo, como a de Jacó, quando, lutando com o anjo, exclamara: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares". Gênesis 32:26. DTN 130 5 Como Jacó, prevaleceu. O Salvador não pode recusar o pedido de uma pessoa que a Ele se apega, alegando sua grande necessidade. "Vai", disse: "o teu filho vive". João 4:50. O nobre deixou a presença do Salvador com uma paz e alegria que nunca antes experimentara. Não somente crera que seu filho seria restabelecido, mas com firme confiança esperou em Cristo como o Redentor. DTN 130 6 Na mesma hora os que velavam a criança moribunda, no lar de Cafarnaum, notaram uma súbita e misteriosa mudança. Erguera-se do semblante do doentinho a sombra da morte. O rubor da febre cedera lugar ao suave brilho da saúde que voltava. Os mortiços olhos iluminaram-se de inteligência, e as forças voltaram ao débil e emagrecido organismo. Nenhum vestígio da moléstia permaneceu na criança. A carne ardente de febre tornara-se tenra e fresca, imergindo o pequeno em sono tranqüilo. A febre o deixara mesmo durante o calor do dia. A família pasmou, e grande foi o regozijo. DTN 131 1 Caná não distava muito de Cafarnaum, de modo que o oficial poderia haver chegado a casa na tarde do dia em que estivera com Jesus; mas não se apressou na jornada de regresso. Só na manhã seguinte chegou a Cafarnaum. Que chegada, aquela! Ao partir em busca de Jesus, tinha o coração opresso de dor. O brilho do Sol afigurava-se-lhe cruel, uma ironia o cântico dos pássaros. Agora, quão diversos eram os seus sentimentos! Dir-se-ia que toda a natureza se revestira de novo aspecto. Novos são os olhos com que contempla o que o rodeia. Enquanto, no sossego das horas matinais, prosseguia em sua jornada, afigurava-se-lhe que toda a natureza o acompanhava num louvor a Deus. Estando ainda a alguma distância de casa, servos lhe saíram ao encontro, ansiosos de lhe sossegar a alma que acreditavam suspensa. Nenhuma surpresa mostra, entretanto, em face das novas que lhe trazem, mas, com profundeza de interesse que não podem compreender indaga a que horas a criança melhorara. Respondem: "Ontem à sétima hora a febre o deixou." Na mesma hora em que a fé se apegara à afirmação: "Teu filho vive", o divino amor tocara a moribunda criança. DTN 131 2 O pai corre pressuroso a saudar o filho. João 4:52, 51. Aperta-o de encontro ao coração, como a alguém arrebatado à morte, e dá repentinamente graças a Deus por essa maravilhosa restauração. DTN 131 3 O nobre desejava conhecer mais de Cristo. Ao ouvir-Lhe posteriormente os ensinos, ele e todos os de sua casa se tornaram Seus discípulos. Sua dor foi santificada, para conversão de toda a família. Divulgaram-se as novas do milagre; e em Cafarnaum, onde tantas de Suas poderosas obras foram realizadas, foi preparado o caminho para o ministério pessoal de Cristo. DTN 131 4 Aquele que abençoou o nobre de Cafarnaum está igualmente desejoso de nos abençoar a nós. Como o aflito pai, no entanto, somos muitas vezes levados a buscar a Jesus pelo desejo de algum bem terrestre; e da obtenção de nossas petições fazemos depender nossa confiança em Seu amor. O Salvador anela dar-nos maiores bênçãos do que Lhe pedimos; e retarda o deferimento de nossos pedidos, a fim de mostrar-nos o mal que existe em nosso coração, e nossa profunda necessidade de Sua graça. Deseja que renunciemos ao egoísmo que nos leva a buscá-Lo. Confessando nosso desamparo e necessidade, cumpre-nos confiar-nos inteiramente a Seu amor. DTN 131 5 O nobre queria ver atendida a sua oração antes de crer; teve, porém, de aceitar a palavra de Jesus, de que seu pedido era satisfeito, e a bênção concedida. Cumpre-nos também a nós aprender esta lição. Não porque vejamos ou sintamos que Deus nos ouve, devemos nós crer. Temos de Lhe confiar nas promessas. Quando a Ele nos chegamos com fé, toda súplica penetra o coração de Deus. Tendo pedido Suas bênçãos, devemos crer que as recebemos, e dar-Lhe graças porque as temos recebido. Então, vamos ao cumprimento de nossos deveres, certos de que a bênção terá lugar quando mais dela necessitarmos. Quando houvermos aprendido a assim fazer, saberemos que nossas orações são atendidas. Deus fará por nós "muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos", "segundo as riquezas da Sua glória" (Efésios 3:20, 16) e "segundo a operação da força do Seu poder". Efésios 1:19. ------------------------Capítulo 21 -- Betesda e o Sinédrio DTN 133 0 Este capítulo é baseado em João 5. DTN 133 1 Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia grande multidão de enfermos; cegos, mancos, e paralíticos, esperando o movimento das águas". João 5:2, 3. Em certo tempo as águas desse tanque eram agitadas, e acreditava-se comumente que isso era o resultado de poder sobrenatural, e que aquele que primeiro descesse a elas depois de haverem sido movidas, ficaria curado de qualquer enfermidade que tivesse. Centenas de sofredores afluíam ao local; tão grande, porém, era a multidão quando a água era agitada, que todos se precipitavam para diante, atropelando homens, mulheres e crianças mais fracos que eles. Muitos não se podiam aproximar do tanque. Muitos dos que conseguiam até ali chegar, morriam à beira dele. Haviam-se construído em torno do mesmo abrigos para proteção dos doentes contra o calor do dia e frio da noite. Alguns havia que passavam a noite nesses alpendres, arrastando-se para a beira do tanque dia a dia, numa vã esperança de cura. DTN 133 2 Jesus Se achava de novo em Jerusalém. Sozinho, em aparente meditação ou oração, chegou ao tanque. Viu os míseros sofredores à espreita daquilo que julgavam sua única oportunidade de cura. Ansiou exercer Seu poder restaurador, e curar cada um daqueles enfermos. Mas era sábado. Multidões se dirigiam ao templo para o culto, e Ele sabia que esse ato de cura havia de despertar por tal modo o preconceito dos judeus que Lhe interromperiam a obra. DTN 133 3 Mas o Salvador viu um caso de suprema miséria. Tratava-se de um homem que fora paralítico por trinta e oito anos. Sua enfermidade era, em grande parte, resultado de seu próprio pecado, sendo considerada um juízo de Deus. Sozinho e sem amigos, sentindo-se excluído da misericórdia de Deus, o enfermo passara longos anos de miséria. Ao tempo em que se esperava o movimento das águas, os que se compadeciam de seu desamparo o conduziam aos alpendres. No momento propício, porém, ninguém havia que o ajudasse a entrar na água. Vira o movimento das águas, mas nunca lhe fora possível chegar além da beira do tanque. Outros, mais fortes que ele, imergiam primeiro. Não podia competir com a turba egoísta e pronta a apoderar-se da vantagem. Seus persistentes esforços em direção desse único objetivo, bem como a ansiedade e as contínuas decepções nesse sentido, estavam-lhe consumindo rapidamente as restantes energias. DTN 134 1 O enfermo jazia em sua esteira, quando, dirigindo casualmente a fronte para olhar ao tanque, eis que um terno e compassivo semblante se achava inclinado por sobre ele, e prenderam-lhe a atenção as palavras: "Queres ficar são?" João 5:6. A esperança brotou-lhe no coração. Sentiu que, de qualquer modo, ia ser ajudado. Em breve, porém, desvaneceu-se-lhe o brilho de animação. Lembrou-se de quantas vezes experimentara chegar ao tanque, e tinha agora pouca probabilidade de viver até que a água fosse novamente agitada. Voltou-se fatigado, dizendo: "Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim". João 5:7. DTN 134 2 Jesus não pediu a esse sofredor que tivesse fé nEle. Diz simplesmente: "Levanta-te, toma a tua cama, e anda". João 5:8. A fé do homem, todavia, apodera-se daquelas palavras. Cada nervo e músculo vibra de nova vida, e a energia da saúde enche-lhe os membros paralisados. Sem duvidar, determina-se a obedecer à ordem de Cristo, e todos os músculos obedecem-lhe à vontade. Pondo-se repentinamente de pé, sente-se um homem no exercício de suas atividades. DTN 134 3 Jesus não lhe dera nenhuma certeza de auxílio divino. O homem se podia haver detido a duvidar, perdendo a única oportunidade de cura. Creu, porém, na Palavra de Cristo, e agindo sobre ela, recebeu a força. DTN 134 4 Por meio da mesma fé podemos receber cura espiritual. Fomos, pelo pecado, separados da vida de Deus. Temos a alma paralítica. Não somos, por nós mesmos, mais capazes de viver vida santa, do que o era aquele homem de andar. Muitos há que compreendem a própria impotência, e anseiam aquela vida espiritual que os porá em harmonia com Deus; estão vãmente lutando por obtê-la. Em desespero, clamam: "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo dessa morte!" Romanos 7:24. Que essas pessoas acabrunhadas, lutadoras, olhem para cima. O Salvador inclina-Se sobre a aquisição de Seu sangue, dizendo com inexprimível ternura e piedade: "Queres ficar são?" Pede-vos que vos levanteis com saúde e paz. Não espereis sentir que estais são. Crede-Lhe na Palavra, e será cumprida. Ponde a vontade do lado de Cristo. Desejai servi-Lo e, agindo sobre Sua Palavra, recebereis força. Seja qual for a má prática, a dominante paixão que, devido à longa condescendência, acorrenta alma e corpo, Cristo é capaz de libertar, e anseia fazê-lo. Comunica vida à pessoa morta em ofensas. Efésios 2:1. Porá em liberdade o cativo preso pela fraqueza, o infortúnio e as cadeias do pecado. DTN 134 5 O restabelecido paralítico curvou-se para apanhar seu leito, que era apenas uma esteira e um cobertor e, ao endireitar-se novamente com uma sensação de deleite, olhou em volta à procura de seu Libertador; mas Jesus desaparecera entre a multidão. O homem temeu não O reconhecer, se O tornasse a encontrar. Ao ir apressado o seu caminho, com passo firme, desembaraçado, louvando a Deus e regozijando-se no vigor que acabava de obter, encontrou vários dos fariseus, e contou-lhes imediatamente sua cura. Surpreendeu-se da frieza com que lhe ouviam a história. DTN 135 1 De sobrancelhas carregadas, interromperam-no, perguntando-lhe por que estava conduzindo seu leito no sábado. Lembraram-lhe severamente que não era lícito conduzir fardos no dia do Senhor. Em sua alegria, o homem esquecera-se de que era sábado; todavia não sentiu nenhuma condenação por obedecer ao mandado de uma Pessoa que tinha poder de Deus. Respondeu ousadamente: "Aquele que me curou, Ele próprio disse: Toma a tua cama, e anda". João 5:11. Perguntaram quem havia feito isso, mas o homem não lhes sabia dizer. Esses principais bem sabiam que unicamente Um Se mostrara capaz de realizar esse milagre; mas queriam prova direta de que era Jesus, a fim de O poderem condenar como violador do sábado. Em seu juízo, não somente havia quebrado a lei em curar o enfermo no sábado, mas cometera sacrilégio em lhe mandar que levasse a cama. DTN 135 2 Por tal forma haviam os judeus pervertido a lei, que a tornavam um jugo de servidão. Suas exigências destituídas de significado eram um provérbio entre as outras nações. Especialmente havia o sábado sido cercado de toda espécie de restrições destituídas de senso. Não lhes era um deleite o santo dia do Senhor, digno de honra. Os escribas e fariseus lhe tinham tornado a observância intolerável fardo. Ao judeu não era permitido acender fogo, nem mesmo uma vela no sábado. Conseqüentemente, o povo dependia dos gentios quanto a muitos serviços que seus regulamentos proibiam que fizessem para si mesmos. Não refletiam que, se essas ações eram pecaminosas, os que empregavam outros para as praticar eram tão culpados como se as houvessem praticado eles próprios. Julgavam que a salvação se restringia aos judeus, e sendo a condição dos outros já desesperada, não se poderia tornar pior. Mas Deus não deu mandamentos que não possam ser obedecidos por todos. Suas leis não sancionam quaisquer restrições irrazoáveis ou egoístas. DTN 135 3 Jesus encontrou no templo o homem que fora curado. Este viera trazer uma oferta pelo pecado, e também uma de ações de graças pela grande bênção recebida. Encontrando-o entre os adoradores, Jesus deu-Se a conhecer, com a advertência: "Eis que já estás são; não peques mais, para que não te aconteça alguma coisa pior". João 5:14. DTN 135 4 O enfermo restaurado regozijou-se extremamente por encontrar seu Libertador. Ignorando a inimizade que existia contra Jesus, disse aos fariseus que o haviam interrogado, que era este O que o curara. "Por esta causa os judeus perseguiam a Jesus, e procuravam matá-Lo porque fazia estas coisas no sábado". João 5:16. DTN 135 5 Jesus foi levado perante o Sinédrio para responder à acusação de violador do sábado. Houvessem os judeus sido a esse tempo uma nação independente, e tal acusação lhes teria servido ao desígnio de O condenar à morte. Sua sujeição aos romanos impediu isso. Os judeus não tinham poder para infligir pena de morte, e as acusações apresentadas contra Cristo não tinham peso num tribunal romano. Outros objetivos existiam, entretanto, que esperavam conseguir. Não obstante seus esforços para anular-Lhe a obra, Cristo estava adquirindo, mesmo em Jerusalém, influência superior à deles próprios. Multidões que se não interessavam nas arengas dos rabis, eram atraídas por Seus ensinos. Podiam-Lhe compreender as palavras, e seu coração era aquecido e confortado. Ele falava de Deus, não como de vingativo juiz, mas de um terno pai, e revelar Sua imagem como refletida num espelho. Suas palavras eram como bálsamo para o espírito magoado. Tanto pelas palavras como pelas obras de misericórdia, estava Ele derribando o opressivo poder das velhas tradições e mandamentos de homens, e apresentando o amor de Deus em sua inesgotável plenitude. DTN 136 1 Numa das primeiras profecias concernentes a Cristo, está escrito: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos". Gênesis 49:10. O povo se estava congregando a Cristo. Os corações simpatizantes da multidão aceitavam lições de amor e beneficência, ao invés das rígidas cerimônias exigidas pelos sacerdotes. Não se houvessem sacerdotes e rabis interposto, e Seus ensinos teriam operado uma reforma tal como nunca foi testemunhada pelo mundo. A fim de conservar o poder, no entanto, determinaram esses guias derribar a influência de Jesus. Sua citação perante o Sinédrio, e uma aberta condenação de Seus ensinos, contribuiriam para a efetuação desse desígnio; pois o povo nutria ainda grande reverência por seus guias religiosos. Quem quer que ousasse condenar as exigências dos rabinos, ou tentasse aliviar os fardos postos por eles sobre o povo, era considerado culpado, não somente de blasfêmia, mas de traição. Nisso baseavam os rabis sua esperança de despertar suspeitas contra Cristo. Representavam-nO como procurando subverter os costumes estabelecidos, causando assim divisão entre o povo, e preparando o caminho para a completa subjugação dos romanos. DTN 136 2 Mas os planos cuja execução esses rabis estavam elaborando tão zelosamente, originaram-se em outro conselho, que não o do Sinédrio. Depois de haver fracassado em seu desígnio de vencer a Cristo no deserto, arregimentara Satanás suas forças para se Lhe opor ao ministério, obstando, se possível Sua obra. Aquilo que não conseguira realizar por esforço pessoal, direto, decidira efetuar por meio de estratégia. Tão depressa se retirara do conflito no deserto, em concílio com os anjos seus confederados amadureceu os planos para cegar ainda mais o espírito do povo judeu, a fim de não reconhecerem seu Redentor. Planejou operar por meio de seus agentes humanos do mundo religioso, imbuindo-os de sua própria inimizade contra o Campeão da verdade. Levá-los-ia a rejeitar a Cristo e a tornar-Lhe a vida o mais amarga possível, esperando desanimá-Lo em Sua missão. E os guias de Israel tornaram-se os instrumentos de Satanás em combater o Salvador. DTN 137 1 Jesus viera para engrandecer a lei, e a tornar gloriosa. Isaías 42:21. Não haveria de lhe diminuir a dignidade, mas exaltá-la. Diz a Escritura: "Não desfalecerá, nem Se apressará, até que estabeleça na Terra o juízo". Isaías 42:4. Ele viera para libertar o sábado daquelas enfadonhas exigências que o haviam tornado uma maldição em vez de bênção. DTN 137 2 Por isso escolhera o sábado para nele realizar a cura de Betesda. Poderia haver curado o enfermo igualmente em qualquer outro dia da semana; ou simplesmente tê-lo curado, sem lhe dizer que levasse a cama. Isto, porém, não Lhe teria proporcionado a oportunidade que desejava. Um sábio desígnio guiava todos os atos de Cristo na Terra. Tudo quanto fazia era em si mesmo importante, bem como na lição que comunicava. Escolheu, entre os sofredores que se achavam junto ao tanque, o pior caso, para aí exercer Seu poder de cura, e pediu ao homem que levasse a cama através da cidade, a fim de publicar a grande obra de que fora objeto. Isso daria lugar à questão do que era ou não era lícito fazer no sábado, e abriria o caminho para Ele condenar as restrições dos judeus quanto ao dia do Senhor, declarando vãs suas tradições. DTN 137 3 Jesus lhes afirmou que a obra de aliviar os aflitos estava em harmonia com a lei do sábado. Estava em harmonia com os anjos de Deus que estão sempre descendo e subindo entre o Céu e a Terra para servir à humanidade sofredora. Jesus declarou: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também". João 5:17. Todos os dias são de Deus, para neles se executar Seus planos para com a raça humana. Fosse a interpretação dos judeus razoável, então o Senhor estaria em falta, visto ser Seu trabalho que vivifica e mantém toda criatura vivente desde que lançou os fundamentos da Terra; então Aquele que declarou boa a sua obra, e instituiu o sábado para comemorar-lhe o acabamento, deveria acabar com Seu labor e deter a incessante rotina do Universo. DTN 137 4 Deveria Deus impedir o Sol de cumprir sua missão no sábado, obstar seus fecundos raios de aquecer a Terra e nutrir a vegetação? Deveriam os sistemas planetários quedar imóveis durante aquele santo dia? Ordenaria às fontes que se abstivessem de regar os campos e as florestas, mandaria às ondas do mar que detivessem seu incessante fluir e refluir? Deveriam o trigo e o milho deixar de crescer, e o maturante cacho adiar seu belo colorido? Não hão de as árvores florescer, nem desabrochar as flores no sábado? DTN 137 5 Fora assim, e deixariam os homens de ter os frutos da terra, e as bênçãos que tornam desejável a vida. A natureza deve continuar seu invariável curso. Deus não poderia por um momento deter Sua mão, do contrário o homem desfaleceria e viria a morrer. E o homem também tem nesse dia uma obra a realizar. Devem-se atender às necessidades da vida, cuidar dos doentes, suprir as faltas dos necessitados. Não será tido por inocente o que negligenciar aliviar o sofrimento no sábado. O santo dia de repouso de Deus foi feito para o homem, e os atos de misericórdia se acham em perfeita harmonia com seu desígnio. Deus não deseja que Suas criaturas sofram uma hora de dor que possa ser aliviada no sábado, ou noutro dia qualquer. DTN 138 1 As solicitações para com Deus são ainda maiores no sábado do que nos outros dias. Seu povo deixa então a ocupação ordinária, e passa mais tempo em meditação e culto. Pedem-Lhe mais favores no sábado, que noutros dias. Exigem-Lhe a atenção de modo especial. Anelam Suas mais preciosas bênçãos. Deus não espera que o sábado passe para lhes conceder esses pedidos. A obra no Céu não cessa nunca, e o homem não deve descansar de fazer o bem. O sábado não se destina a ser um período de inútil inatividade. A lei proíbe trabalho secular no dia de repouso do Senhor; o labor que constitui o ganha-pão, deve cessar; nenhum trabalho que vise prazer ou proveito mundanos, é lícito nesse dia; mas como Deus cessou Seu labor de criar e repousou ao sábado, e o abençoou, assim deve o homem deixar as ocupações da vida diária, e devotar essas sagradas horas a um saudável repouso, ao culto e a boas obras. O ato de Cristo em curar o enfermo estava de perfeito acordo com a lei. Era uma obra que honrava o sábado. DTN 138 2 Jesus afirmou ter direitos iguais aos de Deus, ao fazer uma obra da mesma maneira sagrada, e do mesmo caráter daquela em que Se empenhava o Pai no Céu. Mas os fariseus ficaram ainda mais exasperados. Ele não somente quebrantara a lei, segundo seu modo de ver, mas dizendo que "Deus era Seu próprio Pai", declarara ser igual a Deus. DTN 138 3 Toda a nação judaica chamava a Deus seu Pai, de maneira que se não deveriam ter assim enfurecido se Cristo Se colocara na mesma relação para com Ele. Mas acusaram-nO de blasfêmia, mostrando que compreendiam fazer Ele essa reivindicação no mais alto sentido. DTN 138 4 Esses adversários de Cristo não tinham argumentos com que enfrentar as verdades que lhes fazia penetrar na consciência. Não podiam senão citar seus costumes e tradições, e estes pareciam fracos e nulos quando comparados com os argumentos que Jesus tirava da Palavra de Deus e da vida natural! Houvessem os rabis experimentado qualquer desejo de receber a luz, e se teriam convencido de que Cristo dizia a verdade. Evitavam, porém, os pontos que apresentavam com referência ao sábado, e procuraram incitar ódio contra Ele, por declarar ser igual a Deus. A fúria dos líderes não conhecia limites. Não houvessem temido o povo, e os sacerdotes e rabis teriam matado a Jesus ali mesmo. Mas o sentimento popular em Seu favor era forte. Muitos reconheciam em Cristo o amigo que lhes curara as moléstias e confortara as dores, e justificavam-nO em curar o doente de Betesda. De modo que os guias se viram obrigados, de momento, a restringir seu ódio. DTN 139 1 Jesus repeliu a acusação de blasfêmia. Minha autoridade, disse, para fazer a obra de que Me acusais, é o ser Eu o Filho de Deus, um com Ele em natureza, em vontade e em desígnio. Em todas as Suas obras de criação e providência, Eu coopero com Deus. O "Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai." Os sacerdotes e rabis estavam repreendendo o Filho de Deus pela própria obra para cuja realização fora enviado ao mundo. Por seus pecados, haviam-se separado de Deus e estavam, em seu orgulho, agindo independentemente dEle. Sentiam-se suficientes para tudo, e não percebiam a necessidade de mais alta sabedoria para lhes dirigir os atos. Mas o Filho de Deus era submisso à vontade de Seu Pai, e dependente de Seu poder. Tão plenamente vazio do próprio eu era Jesus, que não elaborava planos para Si mesmo. Aceitava os que Deus fazia a Seu respeito, e o Pai os desdobrava dia a dia. Assim devemos nós confiar em Deus, para que nossa vida seja uma simples operação de Sua vontade. DTN 139 2 Quando Moisés estava para construir o santuário como lugar de habitação de Deus, recebeu instruções para fazer tudo segundo o modelo que lhe fora mostrado no monte. Moisés era todo zeloso para fazer a obra de Deus; os homens mais talentosos e hábeis lhe estavam ao lado para realizar suas sugestões. No entanto, não devia fazer uma campainha, uma romã, uma borla, uma franja, uma cortina ou qualquer vaso do santuário, que não fosse segundo o modelo mostrado. Deus o chamara ao monte e lhe revelara as coisas celestiais. O Senhor o cobrira com Sua glória, a fim de que pudesse ver o modelo, e segundo ele foram feitas todas as coisas. Assim a Israel, a quem desejava tornar Seu lugar de habitação, revelara Seu glorioso ideal de caráter. O modelo lhes fora mostrado no monte, quando a lei havia sido dada no Sinai, e o Senhor passara perante Moisés, proclamando: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão e o pecado". Êxodo 34:6, 7. DTN 139 3 Israel preferira seus próprios caminhos. Não haviam edificado segundo o modelo; mas Cristo, o verdadeiro templo para habitação de Deus, moldara cada detalhe de Sua vida terrestre em harmonia com o ideal divino. Disse Ele: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração". Salmos 40:8. Assim nosso caráter deve ser formado para "morada de Deus em Espírito". Efésios 2:22. E cumpre-nos fazer "tudo conforme o modelo", isto é, Aquele que "padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas". 1 Pedro 2:21. DTN 139 4 As palavras de Cristo nos ensinam que nos devemos considerar inseparavelmente ligados a nosso Pai celestial. Seja qual for nossa posição, dependemos de Deus, que enfeixa em Suas mãos todos os destinos. Ele nos designou nossa obra, e nos dotou de faculdades e meios para ela. Enquanto submetermos a vontade à Sua, e confiarmos em Sua força e sabedoria, seremos guiados por caminhos seguros, para realizar a parte que nos cabe em Seu grande plano. Aquele, porém, que confia em sua própria sabedoria e poder, se está separando de Deus. Em vez de trabalhar em harmonia com Cristo, cumpre o desígnio do inimigo de Deus e dos homens. DTN 140 1 O Salvador continuou: "Tudo quanto Ele faz, o Filho o faz igualmente. [...] Assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer". João 5:19, 21. Os saduceus afirmavam que não havia ressurreição do corpo; mas Jesus lhes diz que uma das maiores obras de Seu Pai é ressuscitar os mortos, e que Ele próprio possui poder de fazer a mesma obra. "Vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão". João 5:25. Os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos. Cristo declara que mesmo agora o poder que dá vida aos mortos se encontra entre eles, e eles hão de testemunhar-lhe a manifestação. É esse mesmo poder de ressuscitar que dá vida à pessoa morta "em ofensas e pecados". Efésios 2:1. Esse espírito de vida em Cristo Jesus, a "virtude da Sua ressurreição" (Filipenses 3:10), liberta os homens "da lei do pecado e da morte". Romanos 8:2. O domínio do mal é despedaçado e, pela fé, a mente é guardada do pecado. Aquele que abre o coração ao Espírito de Cristo, torna-se participante daquele grande poder que lhe fará o corpo ressurgir do sepulcro. DTN 140 2 O humilde Nazareno afirma Sua real nobreza. Ergue-se acima da humanidade, atira de Si o disfarce do pecado e da injúria, e revela-Se -- o Honrado dos anjos, o Filho de Deus, Um com o Criador do Universo. Seus ouvintes ficam fascinados. Homem algum já falou palavras como as Suas, nem se portou com tão régia majestade. Seus discursos são claros e positivos, declarando plenamente Sua missão, e o dever do mundo: "O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que O enviou. [...] Porque, como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em Si mesmo. E deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem". João 5:22-27. DTN 140 3 Os sacerdotes e principais haviam-se arvorado em juízes, para condenar a obra de Cristo, mas Ele Se declarou juiz deles próprios, e de toda a Terra. O mundo foi confiado a Cristo, e por Seu intermédio tem vindo toda bênção de Deus à raça caída. Era o Redentor, tanto antes como depois da encarnação. Assim que existiu o pecado; houve um Salvador. Ele tem dado luz e vida a todos, e em harmonia com a medida da luz concedida, será cada um julgado. E aquele que tem comunicado a luz, que tem acompanhado a alma com as mais ternas súplicas, buscando atraí-la do pecado para a santidade, é ao mesmo tempo seu Advogado e Juiz. Desde o início do grande conflito no Céu, Satanás tem mantido sua causa por meio de engano; e Cristo tem trabalhado no sentido de lhe revelar as tramas, e derribar-lhe o poder. É Aquele que Se tem oposto ao enganador e, no decorrer de todos os séculos, Se tem empenhado por arrebatar os cativos de seu poder, que julgará cada pessoa. DTN 141 1 E Deus "deu-Lhe poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem". Como Ele tenha provado as próprias fezes do cálice da aflição e tentação humanas, e compreenda as fragilidades e pecados dos homens; como tenha, em nosso favor, resistido vitoriosamente às tentações de Satanás, e lidará justa e ternamente com as pessoas para cuja salvação derramou o próprio sangue -- o Filho do homem é indicado para exercer o juízo. DTN 141 2 A missão de Cristo, porém, não era julgar, mas salvar. "Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele". João 3:17. E perante o Sinédrio Jesus declarou: "Quem ouve a Minha Palavra, e crê nAquele que Me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida". João 5:24. DTN 141 3 Pedindo a Seus ouvintes que não se maravilhassem, Cristo desenrolou diante deles, em visão ainda mais ampla, o mistério do futuro: "Vem a hora", disse, "em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação". João 5:28, 29. DTN 141 4 Essa certeza da vida futura era a que Israel há tanto aguardara, e esperava receber por ocasião do advento do Messias. Sobre eles estava a resplandecer a única luz que pode iluminar as sombras da sepultura. A obstinação, porém, é cega. Jesus violara as tradições dos judeus, e desprezara-lhes a autoridade, e eles não queriam crer. DTN 141 5 O tempo, o local, a ocasião, a intensidade dos sentimentos que animavam a assembléia, tudo se combinou para tornar mais impressivas as palavras de Jesus perante o Sinédrio. As mais altas autoridades religiosas da nação estavam procurando tirar a vida Àquele que Se declarava o restaurador de Israel. O Senhor do sábado era citado perante um tribunal terrestre, para responder à acusação de quebrantar a lei sabática. Ao declarar Ele tão intrepidamente Sua missão, Seus juízes contemplaram-nO espantados e enfurecidos; Suas palavras, todavia, eram irrespondíveis. Não O podiam condenar. Recusava aos sacerdotes e rabis o direito de interrogar acerca de Sua obra, ou nela interferir. Não estavam revestidos dessa autoridade. Suas pretensões baseavam-se no próprio orgulho e arrogância. Ele Se recusava a reconhecer-Se culpado de suas acusações, ou ser catequizado por ele. DTN 142 1 Em lugar de Se desculpar do ato de que se queixavam, ou explicar o próprio desígnio em assim fazer, Jesus Se voltou contra os líderes, e o acusado tornou-Se acusador. Repreendeu-os pela sua dureza de coração e ignorância das Escrituras. Declarou que tinham rejeitado a Palavra de Deus, da mesma maneira que o haviam feito Àquele a quem Deus enviara. "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam". João 5:39. DTN 142 2 Em toda página, seja história, preceito ou profecia, irradia nas Escrituras do Antigo Testamento a glória do Filho de Deus. Em tudo quanto encerrava de instituição divina, todo o judaísmo era uma encadeada profecia do evangelho. De Cristo "dão testemunho todos os profetas". Atos dos Apóstolos 10:43. Desde a promessa feita a Adão, descendo pela linha patriarcal e a dispensação legal, a gloriosa luz celeste tornou claras as pegadas do Redentor. Os viventes contemplaram a Estrela de Belém, o Siló por vir, ao passarem diante deles, em misteriosa procissão, os acontecimentos futuros. Em cada sacrifício, mostrava-se a morte de Cristo. Em cada nuvem de incenso, ascendia Sua justiça. Seu nome ressoava com cada trombeta de jubileu. No tremendo mistério do santo dos santos habitava Sua glória. DTN 142 3 Os judeus estavam de posse das Escrituras, e supunham que, no mero conhecimento que delas possuíam, tinham a vida eterna. Jesus, porém, disse: "A Sua Palavra não permanece em vós". João 5:38. Havendo rejeitado a Cristo em Sua Palavra, rejeitaram-nO em pessoa. "Não quereis vir a Mim", disse Ele, "para terdes vida". João 5:40. DTN 142 4 Os guias judaicos tinham estudado os ensinos dos profetas a respeito do reino do Messias; haviam-no feito, porém, não com o sincero desejo de conhecer a verdade, mas com o desígnio de encontrar provas para apoiar suas ambiciosas esperanças. Vindo Cristo de maneira contrária a sua expectativa, não O quiseram receber; e para se justificarem, procuravam demonstrar que era enganador. Uma vez postos os pés nesse caminho, fácil era a Satanás fortalecer-lhes a oposição a Cristo. As próprias palavras que deveriam ter sido recebidas como testemunho de Sua divindade, foram contra Ele interpretadas. Assim tornaram a verdade de Deus em mentira, e quanto mais diretamente lhes falava o Salvador em Suas obras de misericórdia, tanto mais decididos ficavam para resistir à luz. DTN 142 5 Jesus disse: "Eu não recebo glória dos homens". João 5:41. Não era a influência do Sinédrio, não era sua sanção que Ele desejava. Não podia receber honra alguma da aprovação deles. Achava-Se revestido de honra e autoridade do Céu. Houvesse-a Ele desejado, e anjos Lhe teriam vindo render homenagem; o Pai teria outra vez testificado de Sua divindade. Mas, por amor deles próprios, por amor da nação que representavam, desejava que os guias judaicos Lhe distinguissem o caráter, e recebessem as bênçãos que lhes viera trazer. DTN 142 6 "Eu vim em nome de Meu Pai, e não Me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis". João 5:43. Jesus veio pela autoridade de Deus, apresentando-Lhe a imagem, cumprindo Sua Palavra e buscando-Lhe a glória; todavia, não foi aceito pelos guias de Israel; mas quando outros viessem, assumindo o caráter de Cristo, embora movidos por sua própria vontade e buscando a própria glória, estes seriam recebidos. E por quê? -- Porque o que busca a própria glória, fala ao desejo de exaltação própria nos outros. A tais estímulos, corresponderiam os judeus. Receberiam o falso mestre, porque lhes lisonjearia o orgulho pela sanção de suas acariciadas opiniões e tradições. Os ensinos de Cristo, porém, não tinham afinidades com suas idéias. Eram espirituais e exigiam o sacrifício do eu; não O receberiam, portanto. Não estavam relacionados com Deus, e Sua voz, por intermédio de Cristo, era para eles a de um estranho. DTN 143 1 Não se repete o mesmo em nossos dias? Não há muitos, mesmo guias religiosos, que estão endurecendo o coração contra o Espírito Santo, tornando impossível a si mesmos o reconhecer a voz de Deus? Não estão rejeitando a Palavra de Deus, a fim de conservar as próprias tradições? DTN 143 2 "Se vós crêsseis em Moisés", disse Jesus, "creríeis em Mim; porque de Mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas Minhas palavras?" João 5:46. Fora Cristo que falara a Israel por meio de Moisés. Houvessem eles ouvido a voz divina que falara por intermédio de seu grande guia, e a teriam reconhecido nos ensinos de Cristo. Houvessem crido em Moisés, e teriam acreditado nAquele de quem ele escrevera. DTN 143 3 Jesus sabia que os sacerdotes e rabis estavam decididos a tirar-Lhe a vida; todavia, expôs-lhes claramente Sua unidade com o Pai, e Sua relação para com o Mundo. Viram que a oposição que Lhe moviam não tinha desculpa; todavia, seu ódio assassino não se extinguiu. Deles se apoderou o temor ao testemunhar o convincente poder que Lhe acompanhava o ministério, mas resistiram a Seus apelos, encerrando-se em trevas. DTN 143 4 Fracassaram assinaladamente em derribar a autoridade de Jesus ou dEle alienar o respeito e a atenção do povo, do qual muitos ficaram convencidos por Suas palavras. Os próprios líderes se haviam sentido sob profunda condenação ao apresentar-lhes à consciência sua culpa; todavia, isso apenas os instigou mais amargamente contra Ele. Estavam decididos a tirar-Lhe a vida. Enviaram por todo o país mensageiros a advertir o povo contra Jesus, como impostor. Mandaram-se espias para O observar e relatar o que dizia ou fazia. O precioso Salvador achava-Se agora, sem dúvida nenhuma, sob a sombra da cruz. ------------------------Capítulo 22 -- Prisão e morte de João Batista DTN 144 0 Este capítulo é baseado em Mateus 11:1-11; 14:1-11; Marcos 6:17-28; Lucas 7:19-28. DTN 144 1 João Batista fora o primeiro a anunciar o reino de Cristo, e foi também o primeiro a sofrer. As paredes de uma cela na prisão separavam-no agora da liberdade do deserto e das vastas multidões suspensas de suas palavras. Estava prisioneiro na fortaleza de Herodes Antipas. Grande parte do ministério de João Batista tivera lugar no território leste do Jordão, o qual se achava sob o domínio de Antipas. O próprio Herodes escutara as pregações de João. O dissoluto rei tremera ante o chamado ao arrependimento. "Herodes temia a João, sabendo que era varão justo; [...] e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boamente o ouvia". Marcos 6:20. João portou-se fielmente para com ele, acusando-o por sua iníqua aliança com Herodias, mulher de seu irmão. Por algum tempo Herodes procurou fracamente quebrar a cadeia de concupiscência que o ligava; mas Herodias prendeu-o mais firmemente em suas redes, e vingou-se de Batista, induzindo Herodes a lançá-lo na prisão. DTN 144 2 A vida de João fora de ativo labor, e as sombras e a inatividade da prisão pesavam fortemente sobre ele. Ao passar semana após semana, sem trazer nenhuma mudança, o acabrunhamento e a dúvida se foram sutilmente apoderando dele. Seus discípulos não o abandonaram. Era-lhes permitida entrada na prisão; levaram-lhe notícias das obras de Jesus, e disseram-lhe como o povo se estava aglomerando em torno dEle. Mas indagavam por que, se esse novo mestre era o Messias, nada fazia para que João fosse solto? Como podia Ele permitir que Seu fiel precursor fosse privado da liberdade e talvez da vida? DTN 144 3 Essas perguntas não deixaram de produzir efeito. Dúvidas que, do contrário, nunca teriam sido suscitadas, foram então sugeridas a João. Satanás regozijou-se em ouvir as palavras desses discípulos, e ver como elas quebrantaram o coração do mensageiro do Senhor. Oh! quantas vezes os que se julgam amigos de um homem bom, e anseiam mostrar sua fidelidade para com ele, se demonstram os mais perigosos inimigos! Quantas vezes, em lugar de lhe fortalecer a fé, suas palavras deprimem e desanimam! DTN 144 4 Como os discípulos do Salvador, João Batista não compreendia a natureza do reino de Cristo. Esperava que Jesus tomasse o trono de Davi; e, ao passar o tempo, e o Salvador não reclamar nenhuma autoridade real, João ficou perplexo e turbado. Declarara ao povo que, a fim de o caminho ser preparado diante do Senhor, a profecia de Isaías devia ser cumprida, os montes e os outeiros se deviam abaixar, endireitar os caminhos tortuosos, e os lugares ásperos ser aplainados. Esperava que as elevações do orgulho e do poder humanos fossem derribadas. Apresentara o Messias como Aquele cuja pá estava em Sua mão, e que limparia inteiramente Sua eira, ajuntaria o trigo no celeiro, e queimaria a palha com fogo que não se apagaria. Como o profeta Elias, em cujo espírito e poder ele próprio viera a Israel, esperava que o Senhor Se revelasse como um Deus que responde por fogo. DTN 145 1 O Batista fora, em sua missão, um destemido reprovador da iniqüidade, tanto nos lugares elevados como nos humildes. Ousara enfrentar o rei Herodes com a positiva repreensão do pecado. Não tivera a vida por preciosa, contanto que cumprisse a missão que lhe fora designada. E agora, de sua prisão, aguardava que o Leão da tribo de Judá abatesse o orgulho do opressor, e libertasse o pobre e o que clamava. Mas Jesus parecia contentar-Se com reunir discípulos em volta de Si, curar e ensinar o povo. Comia à mesa dos publicanos, ao passo que dia a dia mais pesado se tornava o jugo romano sobre Israel, o rei Herodes e a vil amante faziam sua vontade, e o clamor do pobre e sofredor subia ao Céu. DTN 145 2 Ao profeta do deserto tudo isso se afigurava um mistério além de sua penetração. Havia horas em que os cochichos dos demônios lhe torturavam o espírito, e a sombra de um terrível temor, dele se apoderava. Poder-se-ia dar que o longamente esperado Libertador ainda não houvesse aparecido? Então, que significaria a mensagem que ele próprio fora compelido a anunciar? João sentira-se cruelmente decepcionado com o resultado de sua missão. Esperara que a mensagem de Deus tivesse o mesmo efeito que produzira a leitura da lei nos dias de Josias (2 Crônicas 34) e de Esdras (Neemias 8, 9); que se seguiria uma profunda obra de arrependimento e volta ao Senhor. Ao êxito dessa obra, toda a sua existência fora sacrificada. Havia isso sido em vão? DTN 145 3 João sentiu-se perturbado por ver que, pelo amor que lhe tinham, seus discípulos estavam nutrindo incredulidade a respeito de Jesus. Teria acaso sido infrutífero seu trabalho em favor deles? Teria sido infiel em sua missão, para ser agora excluído do labor? Se o Libertador tinha aparecido, e João se provara fiel a sua vocação, não havia Jesus de derribar agora o poder do opressor e libertar Seu arauto? DTN 145 4 Mas o Batista não abandonou sua fé em Cristo. A lembrança da voz do Céu e da pomba que descera, da imaculada pureza de Jesus, do poder do Espírito Santo que sobre ele próprio repousara ao encontrar-se em presença do Salvador, e do testemunho das escrituras proféticas -- tudo testificava de que Jesus de Nazaré era o Prometido. DTN 146 1 João não queria discutir suas dúvidas e ansiedades com os companheiros. Decidiu enviar mensageiros a indagar de Jesus. Isso confiou a dois de seus discípulos, esperando que uma entrevista com o Salvador lhes confirmaria a fé, e traria certeza a seus irmãos. João ansiava uma palavra de Cristo, proferida diretamente a ele. DTN 146 2 Os discípulos foram ter com Jesus, levando sua mensagem: "És Tu Aquele que havia de vir, ou esperamos outro?" Mateus 11:3. DTN 146 3 Quão pouco o espaço decorrido desde que o Batista apontara a Jesus, e proclamara: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", "Este era Aquele de quem eu dizia: O que vem depois de mim é antes de mim!" João 1:29, 27. E agora, pergunta: "És Tu Aquele que havia de vir?" Isso era profundamente cruel e decepcionante para a natureza humana. Se João, o fiel precursor, deixava de discernir a missão de Cristo, que se poderia esperar da interesseira multidão? DTN 146 4 O Salvador não respondeu imediatamente à pergunta dos discípulos. Enquanto eles ficavam por ali, admirados de Seu silêncio, os enfermos e aflitos iam ter com Ele para ser curados. Os cegos iam às apalpadelas, abrindo caminho entre a multidão; doentes de todas as classes, alguns buscando conseguir por si mesmos passagem, outros conduzidos pelos amigos, comprimiam-se, todos ansiosos de chegar à presença de Jesus. A voz do poderoso Médico penetrava o ouvido surdo. Uma palavra, um toque de Sua mão, abria os olhos cegos à contemplação da luz do dia, das cenas da natureza, do rosto dos amigos e do semblante do Libertador. Jesus repreendia a moléstia e expulsava a febre. Sua voz chegava aos ouvidos dos moribundos e erguiam-se com saúde e vigor. Paralisados possessos obedeciam-Lhe a voz, desaparecia-lhes a loucura, e O adoravam. Ao mesmo tempo que lhes curava as doenças, ensinava o povo. Os pobres camponeses e trabalhadores evitados pelos rabis como imundos, rodeavam-nO de perto, e Ele lhes dizia as palavras de vida eterna. DTN 146 5 Assim se passou o dia, os discípulos de João vendo e ouvindo tudo. Por fim Jesus os chamou a Si, pediu-lhes que fossem, e dissessem a João o que haviam testemunhado, acrescentando: "Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim." A prova de Sua divindade mostrava-se na adaptação da mesma às necessidades da humanidade sofredora. Sua glória revelava-se na complacência que tinha para com nossa baixa condição. DTN 146 6 Os discípulos levaram a mensagem, e foi o suficiente. João recordou a predição concernente ao Messias: "O Senhor Me ungiu, para pregar boas-novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor". Isaías 61:1, 2. As obras de Cristo não somente manifestavam que Ele era o Messias, mas mostravam a maneira por que Seu reino havia de ser estabelecido. A João revelara-se a mesma verdade que se desvendara a Elias no deserto: "um grande e forte vento [...] fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo" (1 Reis 19:11, 12); e depois do fogo o Senhor falou ao profeta por uma voz mansa e delicada. Assim Jesus devia fazer Sua obra, não com o choque das armas, nem a subversão de tronos e reinos, mas falando ao coração dos homens por uma vida de misericórdia e sacrifício. DTN 147 1 O princípio da própria vida do Batista, a abnegação, era o princípio do reino do Messias. João bem sabia quão estranho era tudo isso aos princípios e esperanças dos guias de Israel. Aquilo que para ele era convincente testemunho da divindade de Cristo, não seria prova nenhuma para eles. Estavam aguardando um Messias que não fora prometido. João viu que a missão do Salvador só podia receber deles ódio e condenação. Ele, o precursor, não estava senão bebendo do cálice que o próprio Cristo havia de esgotar até às fezes. DTN 147 2 As palavras do Salvador: "Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim", eram uma branda repreensão a João. Não foi em vão para ele. Compreendendo mais claramente agora a natureza da missão de Cristo, entregou-se a Deus para a vida e para a morte, segundo melhor conviesse aos interesses da causa que amava. DTN 147 3 Depois da partida dos mensageiros, Jesus falou ao povo a respeito de João. O coração do Salvador dilatou-se em simpatia para com a fiel testemunha agora sepultada na prisão de Herodes. Não deixaria que o povo concluísse que Deus havia abandonado João, ou que sua fé falecera no dia da prova. "Que fostes ver no deserto?" disse, "uma cana agitada pelo vento?" Mateus 11:7. DTN 147 4 As altas canas que cresciam ao lado do Jordão, agitando-se a cada brisa, eram apropriadas representações dos rabis que se haviam constituído críticos e juízes da missão do Batista. Eles pendiam nesta e naquela direção, segundo os ventos da opinião popular. Não se queriam humilhar para receber a penetrante mensagem do Batista, todavia por temor do povo não tinham ousado opor-se abertamente a sua obra. O mensageiro de Deus, porém, não era de espírito assim covarde. As multidões reunidas em torno de Cristo tinham testemunhado a obra de João. Haviam-lhe escutado a destemida repreensão do pecado. Aos fariseus cheios de justiça própria, aos sacerdotes saduceus, ao rei Herodes e sua corte, príncipes e soldados, publicanos e camponeses, a todos falara João com igual franqueza. Não era uma cana trêmula, agitada pelos ventos do louvor ou preconceitos humanos. Na prisão, foi, em sua lealdade para com o Senhor e seu zelo pela justiça, o mesmo que ao pregar a mensagem de Deus no deserto. Em sua fidelidade aos princípios, era firme como a rocha. DTN 148 1 Jesus continuou: "Sim, que fostes ver? um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão na casa dos reis". Mateus 11:8. João fora chamado a reprovar os pecados e excessos de seu tempo, e seu singelo vestuário e vida abnegada estavam em harmonia com seu caráter e missão. Ricos trajes e os luxos da vida não constituem a porção dos servos de Deus, mas dos que residem "nas casas dos reis", os dominadores deste mundo, aos quais pertencem seu poder e riquezas. Jesus desejava chamar a atenção para o contraste existente entre o vestuário de João, e o que era usado pelos sacerdotes e líderes. Esses oficiais paramentavam-se com ricas vestimentas e dispendiosos ornamentos. Amavam a ostentação, e esperavam deslumbrar o povo, impondo assim mais consideração. Estavam mais ansiosos de conquistar a admiração dos homens, do que de obter a pureza íntima, que tem a aprovação de Deus. Mostravam assim que sua lealdade não era para com Deus, mas com o reino deste mundo. DTN 148 2 "Mas então que fostes ver?" disse Jesus; "um profeta? sim, vos digo Eu, e muito mais do que profeta; porque é este de quem está escrito: "Eis que diante da Tua face envio o Meu anjo, que preparará diante de Ti o Teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista". Mateus 11:9-11. No anúncio feito a Zacarias, antes do nascimento de João, o anjo declarara: "Será grande diante do Senhor". Lucas 1:15. Que, em face da maneira de avaliar do Céu, constitui a grandeza? Não o que o mundo considera como tal; não riqueza, nem posição, nem nobreza de linhagem, nem dons intelectuais considerados em si mesmos. Se grandeza intelectual, à parte de qualquer consideração mais elevada, é digna de honra, então Satanás merece nossa homenagem, que suas faculdades intelectuais nenhum homem já igualou. Mas, quando pervertido para o serviço do próprio eu, quanto maior o dom, tanto maior maldição se torna. Valor moral, eis o que é estimado por Deus. Amor e pureza são os atributos que mais aprecia. João era grande aos olhos do Senhor quando, em presença dos emissários do Sinédrio, diante do povo e perante seus próprios discípulos, se absteve de buscar honra para si, mas encaminhou todos para Jesus como o Prometido. Sua desinteressada alegria no ministério de Cristo, apresenta o mais elevado tipo de nobreza já revelado em homem. DTN 148 3 O testemunho dado a seu respeito, depois de morto, pelos que o ouviram testificar de Jesus, foi: "João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse dEste era verdade". João 10:41. Não foi concedido ao Batista fazer cair fogo do Céu, ou ressuscitar um morto, como fizera Elias, ou empunhar a vara do poder de Moisés em nome de Deus. Foi enviado para anunciar o advento do Salvador, e chamar o povo a preparar-se para Sua vinda. Tão fielmente cumpriu ele sua missão, que, ao recordar o povo o que lhes ensinara a respeito de Jesus, podiam dizer: "Tudo quanto João disse dEste era verdade." Um testemunho assim todo discípulo de Cristo é chamado a dar de seu Mestre. DTN 149 1 Como precursor do Messias, João era "muito mais do que profeta". Pois ao passo que os profetas haviam visto de longe o advento de Cristo, a João foi dado contemplá-Lo, ouvir do Céu o testemunho de Sua messianidade, e apresentá-Lo a Israel como o Enviado de Deus. Todavia, Jesus disse: "Aquele que é o menor no reino dos Céus é maior do que ele". Mateus 11:11. DTN 149 2 O profeta João foi o elo que ligou as duas dispensações. Como representante de Deus, apresentou-se para mostrar a relação da lei e dos profetas para com a dispensação cristã. Era a luz menor, que havia de ser seguida por outra maior. A mente de João era iluminada pelo Espírito Santo, a fim de que projetasse luz sobre seu povo; nenhuma outra luz, porém, nunca brilhou nem jamais brilhará tão claramente sobre os caídos homens, como a que emanou dos ensinos e exemplos de Jesus. Cristo e Sua missão, segundo eram tipificados nos sacrifícios simbólicos, não foram compreendidos senão muito vagamente. O próprio João não entendera plenamente a vida futura e imortal mediante o Salvador. DTN 149 3 Exceto a alegria que João encontrara em sua missão, sua existência foi de dores. Raras vezes fora sua voz ouvida a não ser no deserto. O isolamento foi a sorte que lhe coube. E não lhe foi dado ver os frutos de seus labores. Não teve o privilégio de estar com Cristo, e testemunhar a manifestação de poder divino que acompanhava a maior luz. Não lhe foi concedido ver o cego utilizando a visão, o enfermo restabelecido e o morto ressuscitado. Não contemplou a luz que irradiava de cada palavra de Cristo, derramando glória sobre as promessas da profecia. O menor discípulo que viu as poderosas obras de Cristo, e Lhe ouviu as palavras, foi, nesse sentido, mais altamente privilegiado que João Batista e, portanto, diz-se ter sido maior do que ele. DTN 149 4 Através das vastas multidões que haviam escutado as pregações de João, sua fama espalhara-se pela terra. Profundo era o interesse sentido quanto ao resultado de sua prisão. Mas sua vida irrepreensível, e o forte sentimento público em seu favor levavam a crer que nenhuma medida violenta seria tomada contra ele. DTN 149 5 Herodes acreditava que João era profeta de Deus, e tinha toda a intenção de o pôr em liberdade. Adiava, porém, seu desígnio, por temor de Herodias. DTN 149 6 Herodias sabia que, por meios diretos, nunca poderia obter o consentimento de Herodes para a morte de João, e resolveu realizar seu intento por meio de estratagema. No dia do aniversário do rei, devia ser oferecida uma festa aos funcionários do Estado e aos nobres da corte. Haveria banquete e bebedice. Herodes ficaria assim sem o natural controle, podendo ser então influenciado segundo a vontade dela. DTN 150 1 Ao chegar o grande dia, e estar o rei se banqueteando e bebendo com seus grandes, Herodias mandou sua filha à sala do banquete para dançar a fim de entreter os convivas. Salomé estava no viço da juventude, e sua voluptuosa beleza cativou os sentidos dos nobres comensais. Não era costume que as senhoras da corte aparecessem nessas festividades, e foi prestada a Herodes lisonjeira homenagem, quando essa filha de sacerdotes e príncipes de Israel dançou para entretenimento de seus convidados. DTN 150 2 O rei estava perturbado pelo vinho. A razão foi destronada e a paixão tomou o comando. Viu unicamente a sala de prazer, com os divertidos hóspedes, a mesa do banquete, o vinho cintilante, o brilho das luzes e a jovem que dançava diante dele. No impulso do momento, desejou fazer qualquer exibição que o exaltasse diante dos grandes do reino. Com juramento, prometeu dar à filha de Herodias fosse o que fosse que ela pedisse, até mesmo a metade do reino. DTN 150 3 Salomé correu para a mãe, a fim de saber o que devia pedir. A resposta estava pronta -- a cabeça de João Batista. Salomé desconhecia a sede de vingança que havia no coração da mãe, e recuou ante a idéia de apresentar esse pedido; a decisão de Herodias prevaleceu, porém. A menina voltou com a terrível petição: "Dá-me aqui num prato a cabeça de João Batista". Mateus 14:8. DTN 150 4 Herodes ficou atônito e confundido. Cessou a ruidosa festa, e um sinistro silêncio baixou sobre a cena de orgia. O rei sentiu-se tomado de horror ante a idéia de tirar a vida de João. No entanto, sua palavra estava empenhada, e não queria parecer inconstante ou precipitado. O juramento fora feito em honra dos hóspedes, e se um deles houvesse proferido uma palavra contra o cumprimento da promessa, de boa vontade teria poupado o profeta. Deu-lhes oportunidade de falar em favor do preso. Eles haviam caminhado longas distâncias para ouvir a pregação de João, e sabiam ser ele homem isento de crime, e servo de Deus. Mas, conquanto chocados com o pedido da jovem, estavam demasiado embrutecidos para fazer qualquer objeção. Voz alguma se ergueu para salvar a vida do mensageiro do Céu. Estes homens ocupavam altas posições de confiança na nação, e sobre eles pesavam sérias responsabilidades; tinham-se, no entanto, entregue a comer e a beber até que os sentidos lhes ficaram embotados. Transtornou-se-lhes o cérebro com a estonteante cena de música e dança, e a consciência jazia adormecida. Com seu silêncio, proferiram a sentença de morte contra o profeta de Deus, para satisfazer a vingança de uma mulher depravada. DTN 150 5 Herodes em vão esperou para ser libertado do juramento; então, relutantemente, ordenou a execução do profeta. Em breve a cabeça do Batista foi levada perante o rei e os hóspedes. Selados estavam para sempre aqueles lábios que fielmente advertiram Herodes para se desviar da vida de pecado. Nunca mais se ouviria aquela voz, chamando os homens ao arrependimento. A orgia de uma noite custaria a vida de um dos maiores profetas. DTN 151 1 Oh! quantas vezes tem a vida de um inocente sido sacrificada em razão da intemperança dos que deviam ter sido os guardas da justiça! Aquele que leva aos lábios a taça intoxicante, torna-se responsável por toda injustiça que possa cometer sob sua embrutecedora influência. Entorpecendo os sentidos, torna a si mesmo impossível julgar serenamente ou ter clara percepção do direito e do erro. Abre a Satanás o caminho para operar por meio dele em oprimir e destruir o inocente. "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio". Provérbios 20:1. É por isso que "o juízo se tornou atrás, [...] e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado". Isaías 59:14, 15. Aqueles que têm jurisdição sobre a vida de seus semelhantes, deveriam ser considerados culpados de um crime quando se entregam à intemperança. Todos quantos executam as leis, devem ser observadores das mesmas. Cumpre-lhes ser homens de domínio próprio. Precisam ter inteiro controle sobre suas faculdades físicas, mentais e morais, a fim de possuírem vigor intelectual e elevado senso de justiça. DTN 151 2 A cabeça de João Batista foi levada a Herodias, que a recebeu com infernal satisfação. Exultou em sua vingança, e lisonjeou-se de que não mais a consciência de Herodes seria perturbada. Nenhuma felicidade, porém, lhe adveio de seu pecado. Seu nome tornou-se notório e aborrecido, ao passo que Herodes foi mais atormentado pelo remorso do que o havia sido pelas advertências do profeta. A influência dos ensinos de João não emudeceu; ela se devia estender a cada geração até ao fim dos séculos. DTN 151 3 O pecado de Herodes estava sempre diante dele. Buscava constantemente alívio às acusações da consciência culpada. Sua confiança em João ficou inabalável. Ao recordar-lhe a vida de abnegação, seus solenes e fervorosos apelos, seu são juízo no conselho, e lembrar então de como morrera, Herodes não podia encontrar sossego. Empenhado nos negócios do Estado, recebendo honras dos homens, apresentava rosto sorridente e aspecto de dignidade, ao passo que ocultava o coração ansioso, sempre oprimido pelo temor de que pesava sobre ele uma maldição. DTN 151 4 Herodes ficara profundamente impressionado pelas palavras de João, de que não se pode ocultar coisa alguma a Deus. Estava convencido de que Ele Se acha presente em todo lugar, que testemunhara a orgia na sala do banquete, ouvira a ordem de degolar a João, e vira Herodias exultante, e os insultos que proferira para a decapitada cabeça de seu reprovador. E muitas coisas que Herodes ouvira dos lábios do profeta falavam-lhe agora à consciência mais distintamente do que fizera a pregação no deserto. DTN 151 5 Quando Herodes ouviu falar das obras de Cristo, sentiu-se imensamente perturbado. Pensou que Deus ressuscitara a João, e o enviara ainda com mais poder para condenar o pecado. Vivia em constante temor de que João vingasse sua morte condenando-o, a ele e a sua casa. Herodes estava ceifando aquilo que Deus declarara ser o resultado do pecado -- "coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma. E a tua vida como suspensa estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria vida. Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a noite! E à tarde dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo de teu coração, com que pasmarás, e pelo que verás com os teus olhos". Deuteronômio 28:65-67. Os próprios pensamentos do pecador são seus acusadores; e não pode haver mais penetrante tortura que os aguilhões da consciência culpada, que não lhe dá repouso nem de dia nem de noite. DTN 152 1 Para muitos espíritos, um profundo mistério envolve a sorte de João Batista. Indagam porque teria sido deixado a definhar-se e perecer na prisão. O mistério dessa escura providência, nossa visão humana não pode penetrar; não poderá, no entanto, nunca abalar nossa confiança em Deus, quando nos lembramos de que João nada mais foi do que um participante dos sofrimentos de Cristo. Todos quantos O seguem hão de cingir a coroa do sacrifício. Serão indubitavelmente malcompreendidos pelos egoístas, e se tornarão alvo dos ferozes assaltos de Satanás. Esse princípio de abnegação é que seu reino se propôs destruir, e guerreá-lo-á onde quer que se manifeste. DTN 152 2 A infância, juventude e idade adulta de João caracterizam-se pela firmeza e poder moral. Quando sua voz se fizera ouvir no deserto, dizendo: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas" (Mateus 3:3), Satanás temeu pela segurança de seu reino. A culpabilidade do pecado era revelada de tal maneira, que os homens tremiam. Foi despedaçado o poder de Satanás sobre muitos que lhe haviam estado sob o controle. Ele fora incansável em procurar afastar o Batista de uma vida de incondicional submissão a Deus; fracassara, porém. E fracassara igualmente quanto a Jesus. Na tentação do deserto, Satanás fora derrotado, e grande havia sido seu furor. Decidira agora causar dor a Cristo, ferindo a João. Àquele a quem não conseguia instigar ao pecado, havia de causar sofrimento. DTN 152 3 Jesus não Se interpôs para livrar Seu servo. Sabia que João havia de suportar a prova. De boa vontade teria o Salvador ido ter com João, para, com Sua presença, aclarar-lhe as sombras do cárcere. Mas não Se devia colocar nas mãos dos inimigos e pôr em perigo Sua própria missão. Com prazer teria libertado Seu fiel servo. Mas por amor de milhares que haveriam em anos posteriores, de passar da prisão para a morte, João devia beber o cálice do martírio. Ao haverem os seguidores de Jesus de definhar em solitárias celas, ou perecer pela espada, e pela tortura, ou na fogueira, aparentemente abandonados de Deus e do homem, que esteio não lhes seria ao coração o pensamento de que João Batista, de cuja fidelidade o próprio Cristo dera testemunho, passara por idêntica experiência! DTN 153 1 Foi permitido a Satanás abreviar a vida terrena do mensageiro de Deus; mas aquela vida que "está escondida com Cristo em Deus" (Colossences 3:3), o destruidor não podia atingir. Exultou por haver ocasionado aflição a Jesus, mas fracassara em vencer a João. A morte em si mesma apenas o colocara para sempre além do poder da tentação. Nessa contenda Satanás estava revelando o próprio caráter. Manifestou, em presença do expectante Universo, sua inimizade para com Deus e o homem. DTN 153 2 Conquanto nenhum miraculoso livramento fosse proporcionado a João, ele não fora abandonado. Tivera sempre a companhia dos anjos celestiais, que lhe abriram as profecias concernentes a Cristo, e as preciosas promessas da Escritura. Estas foram seu sustentáculo, como haviam de ser do povo de Deus nos séculos por vir. A João Batista, como aos que vieram depois dele, foi dada a segurança: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. DTN 153 3 Deus nunca dirige Seus filhos de maneira diversa daquela por que eles próprios haveriam de preferir ser guiados, se pudessem ver o fim desde o princípio, e perscrutar a glória do desígnio que estão realizando como colaboradores Seus. Nem Enoque, que foi trasladado ao Céu, nem Elias, que ascendeu num carro de fogo, foi maior ou mais honrado do que João Batista, que pereceu sozinho na prisão. "A vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele". Filipenses 1:29. E de todos os dons que o Céu pode conceder aos homens, a participação com Cristo em Seus sofrimentos é o mais importante depósito e a mais elevada honra. ------------------------Capítulo 23 -- "O reino de Deus está próximo" DTN 154 1 Veio Jesus para Galiléia, pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho". Marcos 1:14, 15. DTN 154 2 A vinda do Messias anunciara-se primeiramente na Judéia. No templo de Jerusalém, fora predito a Zacarias o nascimento do precursor, enquanto aquele ministrava perante o altar. Nas montanhas de Belém, os anjos proclamaram o nascimento de Jesus. Os magos foram a Jerusalém em busca dEle. Simeão e Ana testificaram no templo de Sua divindade. "Jerusalém e toda a Judéia" ouviram a pregação de João Batista; e os emissários do Sinédrio, juntamente com a multidão, escutaram seu testemunho quanto a Jesus. Na Judéia, Cristo recebera os primeiros discípulos. Ali tivera lugar grande parte do princípio de Seu ministério inicial. A irradiação de Sua divindade na purificação do templo, Seus milagres de cura, e as lições da verdade divina que Lhe caíram dos lábios, tudo proclamava aquilo que, depois da cura de Betesda, Ele declarara perante o Sinédrio -- Sua filiação do Eterno. DTN 154 3 Houvessem os guias de Israel recebido a Cristo, e Ele os teria honrado como mensageiros Seus para levar o evangelho ao mundo. Foi-lhes dada, primeiramente a eles, a oportunidade de se tornarem arautos do reino e da graça de Deus. Mas Israel não conheceu o tempo de sua visitação. Os ciúmes e desconfianças dos chefes judaicos maturaram em ódio aberto, e o coração do povo se desviou de Jesus. DTN 154 4 O Sinédrio rejeitara a mensagem de Cristo, e intentava matá-Lo; portanto, Jesus partiu de Jerusalém, afastou-Se dos sacerdotes, do templo, dos guias religiosos, do povo que fora instruído na lei, e voltou-Se para outra classe, para proclamar Sua mensagem, e remir os que haviam de levar o evangelho a todas as nações. DTN 154 5 Como a luz e a vida dos homens foi rejeitada pelas autoridades eclesiásticas nos dias de Cristo, assim tem sido rejeitada em todas as subseqüentes gerações. Freqüentemente se tem repetido a história da retirada de Cristo da Judéia. Quando os reformadores pregavam a Palavra de Deus, não tinham idéia alguma de se separar da igreja estabelecida; os guias religiosos, porém, não toleravam a luz, e os que a conduziam eram forçados a buscar outra classe, a qual estava ansiosa da verdade. Em nossos dias, poucos dos professos seguidores da Reforma são atuados pelo espírito da mesma. Poucos estão à escuta da voz de Deus, e prontos a aceitar a verdade, seja qual for a maneira por que se apresente. Muitas vezes os que seguem os passos dos reformadores são forçados a retirar-se da igreja que amam, a fim de declarar o positivo ensino da Palavra de Deus. E muitas vezes os que estão à procura da luz são, pelos mesmos ensinos, obrigados a deixar a igreja de seus pais, a fim de prestar obediência. DTN 155 1 O povo da Galiléia era desprezado pelos rabis de Jerusalém como rústico e ignorante; apresentava, todavia, campo mais favorável à obra do Salvador. Eram mais fervorosos e sinceros; estavam menos sob a influência da hipocrisia; tinham mais aberto o espírito à recepção da verdade. Indo para a Galiléia, não estava Jesus procurando exclusão ou isolamento. A província era a esse tempo habitada por numerosa população, com muito maior mistura de gente de outras nações do que se encontrava na Judéia. DTN 155 2 Ao viajar Jesus pela Galiléia ensinando e curando, multidões a Ele se juntavam das cidades e vilas. Muitas vezes Se via obrigado a ocultar-Se do povo. O entusiasmo subia a tal ponto, que se tornavam necessárias precauções, não fossem despertados os receios das autoridades romanas quanto a qualquer insurreição. Nunca antes houvera um período assim para o mundo. O Céu baixara aos homens. Almas famintas e sedentas que haviam longamente esperado a redenção de Israel, deleitavam-se agora na graça de um misericordioso Salvador. DTN 155 3 A nota predominante da pregação de Cristo, era: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho". Marcos 1:15. Assim a mensagem evangélica, segundo era anunciada pelo próprio Salvador, baseava-se nas profecias. O "tempo" que declarava estar cumprido, era o período de que o anjo Gabriel falara a Daniel. "Setenta semanas", dissera o anjo, "estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos". Daniel 9:24. Um dia, profeticamente, representa um ano. Números 14:34; Ezequiel 4:6. As setenta semanas, ou quatrocentos e noventa dias, representam quatrocentos e noventa anos. É dado um ponto de partida para esse período: "Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas" (Daniel 9:25), sessenta e nove semanas, ou quatrocentos e oitenta e três anos. A ordem para restaurar e edificar Jerusalém, confirmada pelo decreto de Artaxerxes Longímano (Esdras 6:14; 7:1), entrou em vigor no outono de 457 a.C. Daí, quatrocentos e oitenta e três anos estendem-se ao outono de 27 d.C. Segundo predição dos profetas, esse período devia chegar ao Messias, o Ungido. No ano 27, Jesus recebeu, em Seu batismo, a unção do Espírito Santo, e pouco depois começou Seu ministério. Foi então proclamada a mensagem: "O tempo está cumprido." DTN 156 1 Então, disse o anjo: "Ele firmará um concerto com muitos por uma semana [sete anos]." Durante sete anos depois de começar o Salvador Seu ministério, o evangelho devia ser pregado especialmente aos judeus; três anos e meio, pelo próprio Cristo, e depois, pelos apóstolos. "Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares". Daniel 9:27. Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário. Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e significação do serviço sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício terrestre e a oblação. DTN 156 2 A semana -- sete anos -- terminou em 34 d.C. Então, pelo apedrejamento de Estêvão, os judeus selaram afinal sua rejeição do evangelho; os discípulos espalhados pela perseguição "iam por toda parte, anunciando a Palavra" (Atos dos Apóstolos 8:4), e pouco depois, Saulo, o perseguidor, se converteu e tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios. DTN 156 3 O tempo da vinda de Cristo, Sua unção pelo Espírito Santo, Sua morte, e a pregação do evangelho aos gentios, foram definidamente indicados. O povo judeu teve o privilégio de compreender essas profecias e reconhecer seu cumprimento na missão de Jesus. Cristo insistia com Seus discípulos quanto à importância do estudo profético. Referindo-Se à profecia dada a Daniel acerca do tempo deles, disse: "Quem lê, entenda". Mateus 24:15. Depois de Sua ressurreição, explicou aos discípulos, começando por "todos os profetas", "o que dEle se achava em todas as Escrituras". Lucas 24:27. O Salvador falara por intermédio de todos os profetas. "O Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir". 1 Pedro 1:11. DTN 156 4 Foi Gabriel, o anjo que ocupa a posição imediata ao Filho de Deus, que veio com a divina mensagem a Daniel. Foi Gabriel "Seu anjo", que Cristo enviou a revelar o futuro ao amado João; e é proferida uma bênção sobre os que lêem e ouvem as palavras da profecia, e observam as coisas ali escritas. Apocalipse 1:3. DTN 156 5 "O Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas." Ao passo que "as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus" (Amós 3:7), "as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre". Deuteronômio 29:29. Deus nos tem dado essas coisas, e Sua bênção acompanhará o estudo reverente das escrituras proféticas, apoiado de oração. DTN 156 6 Como a mensagem do primeiro advento de Cristo anunciava o reino de Sua graça, assim a de Sua segunda vinda anuncia o reino de Sua glória. E a segunda, como a primeira mensagem, acha-se baseada nas profecias. As palavras do anjo a Daniel, com relação aos últimos dias, deviam ser compreendidas no tempo do fim. A esse tempo, "muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará". "Os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão". Daniel 12:4, 10. O próprio Salvador deu sinais de Sua vinda, e diz: "Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto." "E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." "Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem". Lucas 21:31, 34, 36. DTN 157 1 Chegamos ao período predito nessas passagens. É chegado o tempo do fim, as visões dos profetas acham-se reveladas, e suas solenes advertências nos mostram a vinda de nosso Senhor em glória como próxima, às portas. DTN 157 2 Os judeus interpretaram e aplicaram mal a Palavra de Deus, e não conheceram o tempo de sua visitação. Os anos do ministério de Cristo e Seus apóstolos -- os últimos anos de graça para o povo escolhido -- passaram-nos tramando a destruição dos mensageiros do Senhor. Terrestres ambições os absorviam, e o oferecimento do reino espiritual foi-lhes feito em vão. Assim hoje o reino deste mundo absorve os pensamentos dos homens, e não observam o veloz cumprimento das profecias e os indícios do rápido aproximar do reino de Deus. DTN 157 3 "Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas." Se bem que não saibamos a hora da volta de nosso Senhor, podemos conhecer quando está perto. "Não durmamos pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios". 1 Tessalonicenses 5:4-6. ------------------------Capítulo 24 -- "Não é este o filho do carpinteiro?" DTN 158 0 Este capítulo é baseado em Lucas 4:16-30. DTN 158 1 Por sobre os luminosos dias do ministério de Cristo na Galiléia, paira uma sombra. O povo de Nazaré O rejeitou. "Não é Este o filho de José?" Lucas 4:22. DTN 158 2 Durante a infância e a juventude, Jesus adorara entre Seus irmãos, na sinagoga de Nazaré. Desde o início de Seu ministério, estivera ausente deles, mas não ignoravam o que Lhe acontecia. Ao aparecer novamente em seu meio, o interesse e expectação deles subiu ao mais alto grau. Ali estavam as figuras e fisionomias familiares, que conhecera na infância. Ali estava Sua mãe, Seus irmãos, e todos os olhos se voltaram para Ele quando entrou na sinagoga, no sábado, tomando lugar entre os adoradores. DTN 158 3 No culto regular diário, o ancião lia dos profetas, e exortava o povo a esperar ainda por Aquele que havia de vir, o qual introduziria um glorioso reino e baniria toda a opressão. Ele buscava animar os ouvintes pela repetição dos testemunhos de que o advento do Messias estava próximo. Descrevia a glória de Sua vinda, salientando sempre o pensamento de que apareceria à testa de exércitos para libertar Israel. DTN 158 4 Quando um rabi se achava presente na sinagoga, esperava-se que dirigisse o sermão, e qualquer israelita podia fazer a leitura dos profetas. Nesse sábado, Jesus foi convidado a tomar parte no serviço. "Levantou-Se para ler, e foi-lhe dado o livro do profeta Isaías". Lucas 4:16, 17. O texto lido por Ele era interpretado como se referindo ao Messias: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-Se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nEle. [...] E todos Lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da Sua boca". Lucas 4:18-20, 22. DTN 158 5 Jesus Se postou diante do povo como vivo expositor das profecias concernentes a Si próprio. Explicando as palavras que lera, falou do Messias, como de um libertador dos oprimidos e dos cativos, médico dos aflitos, restaurador de vista aos cegos e revelador da luz da verdade ao mundo. Sua maneira impressiva e a maravilhosa significação de Suas palavras arrebataram os ouvintes com um poder nunca antes por eles experimentado. A corrente de influência divina derribou todas as barreiras; viram, qual Moisés, o Invisível. Sendo seu coração movido pelo Espírito Santo, respondiam com fervorosos améns e louvores ao Senhor. DTN 159 1 Mas quando Jesus anunciou: "Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos" (Lucas 4:21), foram de repente levados a pensar em si mesmos, e nas declarações dAquele que lhes dirigia a Palavra. Eles, israelitas, filhos de Abraão, haviam sido representados como em servidão. Tinha-Se-lhes dirigido como presos a serem libertados do poder do mal; como em trevas e necessitados da luz da verdade. Seu orgulho ficou ofendido, despertaram-se-lhes os temores. As palavras de Jesus indicavam que Sua obra por eles havia de ser de todo diversa do que desejavam. Seus atos deviam ser intimamente examinados. Não obstante sua exatidão nas cerimônias exteriores, recuaram da inspeção daqueles puros, penetrantes olhos. DTN 159 2 Quem é esse Jesus? indagaram. Aquele que reclamara para Si a glória do Messias, era o filho de um carpinteiro e trabalhara no ofício com José, Seu pai. Tinham-nO visto labutando acima e abaixo das colinas, conheciam-Lhe os irmãos e as irmãs, bem como Sua vida e labores. Haviam-Lhe acompanhado o desenvolvimento da infância à mocidade, e desta à varonilidade. Conquanto Sua vida houvesse sido sem mancha, não queriam crer que fosse o Prometido. DTN 159 3 Que contraste entre Seu ensino a respeito do novo reino e o que tinham ouvido dos anciãos! Jesus nada dissera quanto a libertá-los dos romanos. Tinham ouvido falar de Seus milagres, e esperaram que Seu poder fosse exercido para proveito deles; não tinham visto, porém, nenhum indício nesse sentido. DTN 159 4 Ao abrirem a porta à dúvida, o coração endureceu-se-lhes tanto mais quanto se havia por momentos abrandado. Satanás decidira que os olhos cegos não se abririam naquele dia, nem almas cativas seriam postas em liberdade. Com intensa energia, operou para os confirmar na incredulidade. Não fizeram caso do sinal já dado, quando haviam sido comovidos pela convicção de que era seu Redentor que Se lhes estava dirigindo. DTN 159 5 Jesus lhes ofereceu então um testemunho de Sua divindade, revelando-lhes os íntimos pensamentos. "Sem dúvida Me direis este provérbio: Médico, cura-Te a Ti mesmo; faze também aqui na Tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum. E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro". Lucas 4:23-27. DTN 160 1 Por essa referência à vida dos profetas, Jesus foi ao encontro das dúvidas de Seus ouvintes. Aos servos a quem Deus escolhera, não tinha sido permitido trabalhar por um povo de coração duro e incrédulo. Mas os que tinham coração para sentir e fé para crer, foram especialmente favorecidos com testemunhos de Seu poder, por meio dos profetas. Nos tempos de Elias, Israel se desviara de Deus. Apegavam-se a seus pecados, e rejeitaram as advertências do Espírito por meio dos mensageiros do Senhor. Assim se separaram dos condutos, por onde lhes podiam vir as bênçãos divinas. O Senhor passou por alto os lares de Israel, procurando refúgio para Seu servo numa terra pagã, junto a uma mulher que não pertencia ao povo escolhido. Essa mulher, porém, foi favorecida por haver seguido a luz que tinha, e o coração abriu-se-lhe à maior luz que Deus lhe enviou por intermédio de Seu profeta. DTN 160 2 Foi pela mesma razão que, nos dias de Eliseu, os leprosos de Israel foram passados por alto. Mas Naamã, um nobre pagão, fora fiel a suas convicções do que era direito, e sentira sua grande necessidade de auxílio. Achava-se em condições de receber os dons da graça de Deus. Não somente foi curado da lepra, mas abençoado com o conhecimento do verdadeiro Deus. DTN 160 3 Nossa posição diante de Deus depende, não da quantidade de luz que temos recebido, mas do uso que fazemos da que possuímos. Assim, mesmo o pagão que prefere o direito, na proporção em que lhe é possível distingui-lo, acha-se em condições mais favoráveis do que os que têm grande luz e professam servir a Deus, mas desatendem a essa luz, e por sua vida diária contradizem sua profissão de fé. DTN 160 4 As palavras de Jesus a Seus ouvintes na sinagoga foram um golpe na raiz de sua justiça própria, impressionando-os com a atroz verdade de que se haviam separado de Deus, e perdido o direito de ser Seu povo. Cada palavra cortava como faca, ao ser-lhes apresentada sua verdadeira condição. Zombavam agora da fé que, a princípio, Jesus lhes inspirara. Não admitiriam que Aquele que surgira da pobreza e da humildade fosse mais que um homem comum. DTN 160 5 Sua incredulidade gerou a malignidade. Satanás os dominou e, irados, clamaram contra o Salvador. Haviam-se desviado dAquele cuja missão era curar e restaurar; manifestaram então os atributos do destruidor. DTN 160 6 Quando Jesus Se referiu às bênçãos dadas aos gentios, o feroz orgulho nacional de Seus ouvintes despertou, e Suas palavras foram sufocadas num tumulto de vozes. Este povo se orgulhava de observar a lei; mas agora que seus preconceitos foram ofendidos, estavam dispostos a cometer homicídio. A assembléia levantou-se e, lançando mãos de Jesus, expulsaram-nO da sinagoga e da cidade. Todos pareciam ansiosos de O destruir. Impeliram-nO para o alto de um precipício, intentando atirá-Lo dali. Gritos e maldições enchiam o espaço. Alguns Lhe atiravam pedras quando, de súbito, desapareceu do meio deles. Os mensageiros celestes que haviam estado a Seu lado na sinagoga, permaneciam com Ele no meio daquela turba enfurecida. Rodearam-nO, isolando-O dos inimigos, e levaram-nO a um lugar seguro. DTN 161 1 Assim protegeram os anjos a Ló, conduzindo-o a salvo para fora de Sodoma. Assim defenderam a Eliseu na pequena cidade da montanha. Quando os montes que o circundavam estavam cheios de cavalos e carros do rei da Síria, e do seu grande exército, Eliseu viu as encostas mais próximas cobertas dos exércitos de Deus -- cavalos e carros de fogo em torno do servo do Senhor. DTN 161 2 Assim, em todas as épocas os anjos têm estado perto dos fiéis seguidores de Cristo. A grande confederação do mal acha-se aparelhada contra todos os que querem vencer; mas Cristo quer que olhemos às coisas invisíveis, aos exércitos celestes acampados em torno de todos quantos amam a Deus, para os livrar. De que perigos, visíveis e invisíveis, temos sido protegidos mediante a intervenção de anjos, jamais saberemos até que, à luz da eternidade, as providências de Deus nos sejam reveladas. Saberemos então que toda a família celestial estava interessada na família aqui de baixo, e que mensageiros do trono de Deus dia a dia nos assistiram os passos. DTN 161 3 Quando Jesus, na sinagoga, leu a profecia, deteve-Se antes da final especificação relativa à obra do Messias. Havendo lido as palavras: "A apregoar o ano aceitável do Senhor", omitiu a frase: "e o dia da vingança do nosso Deus". Isaías 61:2. Isto era tão exato como o princípio da profecia e, por Seu silêncio, Jesus não negou a verdade. Mas essa última expressão era aquela em que Seus ouvintes gostavam de pensar, e desejavam ver cumprida. Clamavam juízos contra os pagãos, não discernindo que sua própria culpa era ainda maior que a deles. Achavam-se eles próprios em profunda necessidade daquela misericórdia que recusavam aos gentios. Aquele dia na sinagoga, em que Jesus Se ergueu entre eles, era sua oportunidade de aceitar o chamado do Céu. Aquele que "tem prazer na benignidade" (Miquéias 7:18) de bom grado os teria salvo da ruína que seus pecados estavam a convidar. DTN 161 4 Não sem mais um chamado ao arrependimento podia Ele abandoná-los. Para o fim de Seu ministério na Galiléia, tornou a visitar a terra de Sua meninice. Depois de haver sido aí rejeitado, a fama de Suas pregações e milagres encheram a Terra. Ninguém podia agora negar que possuía poder sobre-humano. O povo de Nazaré sabia que Ele andava fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos de Satanás. Havia em torno deles aldeias inteiras em que não se ouvia um gemido de enfermo em casa alguma, pois Ele passara entre eles e lhes curara todas as enfermidades. A benignidade, revelada em todo ato de Sua vida, dava testemunho de Sua divina unção. DTN 162 1 Ao ouvirem-Lhe novamente a Palavra, os nazarenos foram movidos pelo divino Espírito. Mas mesmo então, não queriam admitir que esse Homem, que fora criado entre eles, fosse diverso, ou maior que eles próprios. Ainda eram inflamados pela amarga recordação de que, ao mesmo tempo que afirmava ser Ele próprio o Prometido, lhes havia na verdade recusado um lugar em Israel; pois lhes mostrara serem menos dignos do favor de Deus do que um homem e uma mulher pagãos. Daí, embora indagassem: "De onde veio a Este a sabedoria, e estas maravilhas?" não O queriam receber como o Cristo de Deus. Devido à incredulidade deles, o Salvador não pôde operar muitos milagres. Apenas uns poucos corações se abriram a Sua bênção, e, relutantemente, partiu, para nunca mais voltar. DTN 162 2 A incredulidade uma vez acariciada continuou a dominar os homens de Nazaré. Assim imperou ela no Sinédrio e na nação. Para os sacerdotes e o povo, a primeira rejeição da demonstração do poder do Espírito Santo foi o começo do fim. Para mostrar que sua primeira resistência era justa, continuaram sempre, posteriormente, a contestar as palavras de Cristo. Sua rejeição do Espírito atingiu o auge na cruz do Calvário, na destruição de sua cidade, na dispersão do povo aos quatro ventos. DTN 162 3 Oh! como Cristo anelava abrir a Israel os preciosos tesouros da verdade! Mas tal era sua cegueira espiritual que se tornava impossível revelar-lhes as verdades concernentes ao Seu reino. Apegavam-se a seu credo e a suas cerimônias inúteis, quando a verdade do Céu aguardava ser por eles aceita. Gastavam o dinheiro em palha e cascas, quando tinham ao seu alcance o pão da vida. Por que não iam à Palavra de Deus e indagavam diligentemente, a ver se estavam em erro? As Escrituras do Antigo Testamento declaravam positivamente cada detalhe do ministério de Cristo, e repetidamente Ele citava os profetas e declarava: "Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos." Houvessem eles procurado sinceramente as Escrituras, provando suas teorias pela Palavra de Deus, e Jesus não teria precisado chorar por sua impenitência. Não teria necessitado declarar: "Eis que a vossa casa se vos deixará deserta". Lucas 13:35. Deveriam estar familiarizados com as provas de Sua messianidade, e a calamidade que lançou em ruínas sua orgulhosa cidade poderia ter sido desviada. Mas o espírito dos judeus se estreitara por seu irrazoável fanatismo. As lições de Cristo revelavam-lhes as deficiências de caráter, e requeriam arrependimento. Se eles Lhe aceitassem os ensinos, teriam de mudar de hábitos, e suas acariciadas esperanças deviam ser abandonadas. Para serem honrados pelo Céu, deviam sacrificar a honra dos homens. Se obedecessem às palavras desse novo Rabi, tinham de ir de encontro às opiniões dos pensadores e mestres da época. DTN 162 4 A verdade era impopular nos dias de Cristo. É impopular em nossos dias. Tem-no sido sempre, desde que Satanás despertou no homem, no princípio, o desagrado por ela, mediante a apresentação de fábulas que induziram à exaltação própria. Não encontramos hoje teorias e doutrinas que não têm fundamento na Palavra de Deus? Os homens a elas se apegam tão tenazmente, como os judeus às suas tradições. DTN 163 1 Os guias judaicos estavam cheios de orgulho espiritual. Seu desejo de glorificação própria manifestava-se mesmo no serviço do santuário. Amavam os melhores assentos na sinagoga. Amavam as saudações nas praças, e satisfaziam-se com a publicação de seus títulos por lábios de homens. À medida que declinava a verdadeira piedade, tornavam-se mais zelosos de suas tradições e cerimônias. DTN 163 2 Em vista de terem o entendimento obscurecido pelo preconceito egoísta, não podiam harmonizar o poder das convincentes palavras de Cristo com a humildade de Sua vida. Não apreciavam o fato de que a verdadeira grandeza dispensa a ostentação. A pobreza desse Homem parecia inteiramente em desacordo com Sua afirmação de ser o Messias. Cogitavam: Se Ele é o que pretende, por que é tão modesto? Se estava satisfeito de não ter a força das armas, que seria da nação deles? Como poderiam o poder e a glória tão longamente antecipados, trazer as nações em submissão à cidade dos judeus? Não haviam os sacerdotes ensinado que Israel devia exercer domínio sobre a Terra? E seria possível que os grandes mestres religiosos laborassem em erro? DTN 163 3 Mas não foi apenas a ausência de glória exterior na vida de Jesus que levou os judeus a rejeitá-Lo. Ele era a personificação da pureza, e eles eram impuros. Ele vivia entre os homens como exemplo de imaculada integridade. Sua vida irrepreensível projetava luz sobre o coração deles. Sua sinceridade lhes revelava a insinceridade. Ela manifestava o vazio de sua pretensa piedade, e mostrava-lhes a iniqüidade em seu odioso caráter. Essa luz era mal recebida. DTN 163 4 Se Cristo houvesse chamado a atenção para os fariseus, e lhes exaltasse o saber e a piedade, tê-Lo-iam saudado com alegria. Mas quando lhes falou do reino do Céu como uma dispensação de misericórdia a toda a humanidade, estava a apresentar um aspecto da religião que eles não suportavam. Seu próprio exemplo e ensino nunca haviam sido de molde a tornar desejável o serviço de Deus. Ao verem Jesus dando atenção àqueles mesmos que odiavam e repeliam, isso lhes incitava as piores paixões no coração orgulhoso. Não obstante sua vanglória de que, sob o "Leão da tribo de Judá" (Apocalipse 5:5) Israel seria exaltado à preeminência sobre todas as nações, teriam podido sofrer a decepção de suas ambiciosas esperanças, de preferência a suportar a reprovação de Cristo a seus pecados, e a repreensão que sentiam mesmo pela presença de Sua pureza. ------------------------Capítulo 25 -- O chamado à beira-mar DTN 164 0 Este capítulo é baseado em Mateus 4:18-22; Marcos 1:16-20; Lucas 5:1-11. DTN 164 1 Raiava o dia sobre o Mar da Galiléia. Os discípulos, fatigados por uma noite de infrutífero labor, achavam-se ainda em seus barcos, no lago. Jesus viera passar uma hora de calma à beira-mar. Esperava, pela manhãzinha, fruir um período de sossego da multidão que O acompanhava dia a dia. Mas em breve começou o povo a aglomerar-se em torno dEle. Seu número cresceu rapidamente, de maneira que Se sentia comprimido de todos os lados. Entretanto, os discípulos haviam vindo para terra. A fim de escapar à pressão da massa, Jesus entrou no barco de Pedro, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da praia. Daí Jesus podia ser visto e ouvido melhor por todos e, do barco, ensinava à multidão na praia. DTN 164 2 Que cena aquela que se oferecia à contemplação dos anjos! Seu glorioso Comandante, sentado num barco de pescador, jogado de um lado para outro pelas desassossegadas ondas, e proclamando as boas-novas de salvação ao povo atento, que se comprimia até à beira da água! Aquele que era o Honrado do Céu estava declarando os grandes princípios do Seu reino ao ar livre, ao povo comum. E, no entanto, não teria podido ter cenário mais adaptado aos seus labores. O lago, as montanhas, os vastos campos, a luz a inundar a terra, tudo Lhe oferecia ilustrações aos ensinos, de modo a gravá-los nos espíritos. E nenhuma lição de Cristo foi infrutífera. Toda mensagem de Seus lábios foi atingir a alguma alma como a Palavra da vida eterna. DTN 164 3 A cada momento crescia a multidão na praia. Homens de idade a apoiar-se em seus bordões, robustos camponeses das colinas, pescadores do lago, comerciantes e rabis, ricos e instruídos, velhos e jovens, trazendo seus enfermos e sofredores, apertavam-se para ouvir as palavras do divino Mestre. Essas cenas haviam contemplado antecipadamente os profetas, e escreveram: "A terra de Zebulom e a terra de Naftali; [...] junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz". Isaías 9:1, 2. DTN 164 4 Além da multidão da praia de Genesaré, tinha Jesus, em Seu sermão junto ao mar, outros auditórios em mente. Olhando através dos séculos, viu Seus fiéis no cárcere e no tribunal, em tentação, isolamento e dor. Toda cena de alegria e de luta e perplexidade se achava aberta perante Ele. Nas palavras proferidas aos que estavam reunidos ao Seu redor, falava também a essas outras pessoas as próprias palavras que chegariam até elas com uma mensagem de esperança na provação, de conforto na dor, de celeste luz em meio das trevas. Por meio do Espírito Santo, aquela voz que falava do barco de pescador, no Mar da Galiléia, far-se-ia ouvir comunicando paz a corações humanos até à consumação dos séculos. DTN 165 1 Findo o discurso, Jesus voltou-Se para Pedro, e pediu-lhe que se fizesse ao mar alto, e lançasse as redes para pescar. Mas Pedro estava desanimado. Toda a noite não apanhara coisa alguma. Durante as solitárias horas, pensara na sorte de João Batista, definhando sozinho na prisão. Pensara na perspectiva diante de Jesus e Seus seguidores, no mau êxito da missão na Judéia, e na maldade dos sacerdotes e rabis. Sua própria ocupação lhe falhava; e, ao olhar às redes vazias, o futuro afigurava-se-lhe sombrio e desanimador. "Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a Tua Palavra, lançarei a rede". Lucas 5:5. DTN 165 2 A noite era o único tempo propício para pescar com redes nas claras águas do lago. Depois de labutar a noite inteira sem resultado, parecia inútil lançar a rede de dia; Jesus, porém, dera a ordem, e o amor por seu Mestre levou os discípulos a obedecer. Simão e seu irmão deitaram juntos a rede. Ao tentarem recolhê-la, tão grande era a quantidade de peixes apanhados, que começou a romper-se. Foram forçados a chamar Tiago e João em seu auxílio. E havendo recolhido o conteúdo, tão grande era a carga em ambos os barcos, que se viram ameaçados de ir a pique. DTN 165 3 Mas Pedro não cuidava agora de barcos e carregamentos. Esse milagre, acima de todos quantos havia presenciado, foi-lhe uma manifestação de poder divino. Viu em Jesus Alguém que tinha toda a natureza sob Seu comando. A presença da divindade revelou-lhe a própria ausência de santidade. Amor por seu Mestre, vergonha de sua incredulidade, gratidão pela complacência de Cristo e, sobretudo, o sentimento de sua impureza em presença da pureza infinita, tudo o subjugou. Enquanto os companheiros punham em segurança o conteúdo da rede, Pedro caiu aos pés do Salvador, exclamando: "Senhor, ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador". Lucas 5:8. DTN 165 4 Fora a mesma presença da santidade divina que fizera o profeta Daniel cair como morto perante o anjo do Senhor. Disse ele: "Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma". Daniel 10:8. Assim quando Isaías viu a glória do Senhor, exclamou: "Ai de mim, que vou perecendo! porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" Isaías 6:5. A humanidade com sua fraqueza e pecado, fora posta em contraste com a perfeição da divindade, e ele se sentiu inteiramente deficiente e falto de santidade. Assim tem sido com todos quantos alcançaram uma visão da grandeza e majestade de Deus. DTN 166 1 Pedro exclamou: "Ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador"; todavia, apegou-se aos pés de Jesus, sentindo que dEle não se podia separar. O Salvador respondeu: "Não temas; de agora em diante serás pescador de homens". Lucas 5:10. Foi depois de Isaías haver contemplado a santidade de Deus e sua própria indignidade, que lhe foi confiada a mensagem divina. Foi depois de Pedro haver sido levado à renúncia de si mesmo e à dependência do poder divino, que recebeu o chamado para sua obra por Cristo. DTN 166 2 Até então nenhum dos discípulos se havia inteiramente unido a Jesus como colaborador Seu. Tinham testemunhado muitos de Seus milagres e Lhe escutado os ensinos; não haviam, porém, abandonado de todo sua anterior ocupação. O encarceramento de João Batista lhes fora a todos amarga decepção. Se tal devia ser o resultado da missão do profeta pouca esperança podiam ter quanto a seu Mestre, com todos os guias religiosos unidos contra Ele. Sob essas circunstâncias, era-lhes um alívio tornar por algum tempo à sua pesca. Mas agora Jesus os convidava a abandonar a vida anterior, unindo aos dEle os seus interesses. Pedro aceitara o chamado. Ao chegar à praia, Jesus pediu aos outros três discípulos: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens." Imediatamente deixaram tudo e O seguiram. DTN 166 3 Antes de lhes pedir que abandonassem as redes e barcos, Jesus lhes dera a certeza de que Deus lhes supriria as necessidades. O serviço do barco de Pedro para a obra do evangelho, fora abundantemente pago. Aquele que é "rico para com todos os que O invocam" (Romanos 10:12), disse: "Dai, e ser-vos á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando". Lucas 6:38. Nessa medida havia Ele recompensado o serviço dos discípulos. E todo sacrifício, feito em Seu serviço, será recompensado segundo "as abundantes riquezas da Sua graça". DTN 166 4 Durante aquela triste noite no lago, enquanto separados de Cristo, os discípulos foram duramente premidos pela incredulidade, e cansaram-se num infrutífero labor. Sua presença, porém, lhes ateou a fé, e trouxe-lhes alegria e bom êxito. O mesmo se dá conosco; separados de Cristo, nosso trabalho não dá fruto, e fácil se torna desconfiar e murmurar. Quando Ele está perto, porém, e trabalhamos sob Sua direção, regozijamo-nos nas demonstrações de Seu poder. É a obra de Satanás desanimar a pessoa; a de Cristo é inspirar fé e esperança. DTN 166 5 A mais profunda lição que o milagre ensinou aos discípulos, é também uma lição para nós -- que Aquele cuja palavra pôde apanhar os peixes do mar, podia igualmente impressionar corações humanos, atraindo-os com as cordas de Seu amor, de maneira que Seus servos se tornassem "pescadores de homens". DTN 166 6 Eram humildes e ignorantes, aqueles pescadores da Galiléia; mas Cristo, a luz do mundo, era sobejamente capaz de habilitá-los para a posição a que os chamara. O Salvador não desprezava a educação; pois, quando regida pelo amor de Deus e consagrada a Seu serviço, a cultura intelectual é uma bênção. Mas Ele passou por alto os sábios de Seu tempo, porque eram tão cheios de confiança em si mesmos, que não podiam simpatizar com a humanidade sofredora, e tornar-se colaboradores do Homem de Nazaré. Em sua hipocrisia, desdenhavam ser instruídos por Cristo. O Senhor Jesus procura a cooperação dos que se tornem desimpedidos condutos para comunicação de Sua graça. A primeira coisa a ser aprendida por todos os que desejam tornar-se coobreiros de Deus é a desconfiança de si mesmos; acham-se então preparados para lhes ser comunicado o caráter de Cristo. Este não se adquire por meio de educação recebida nas mais competentes escolas. É unicamente fruto da sabedoria obtida do divino Mestre. DTN 167 1 Jesus escolheu homens ignorantes, porque não haviam sido instruídos nas tradições e errôneos costumes de seu tempo. Eram dotados de natural capacidade, humildes e dóceis -- homens a quem podia educar para Sua obra. Há, nas ocupações comuns da vida, muitos homens que seguem a rotina dos labores diários, inconscientes de possuírem faculdades que, exercitadas, os ergueriam à altura dos mais honrados homens do mundo. Requer-se o toque de uma hábil mão para despertar essas faculdades adormecidas. Foram esses os homens que Jesus chamou para colaboradores, e deu-lhes a vantagem da convivência com Ele. Nunca tiveram os grandes homens do mundo um mestre assim. Ao saírem os discípulos do preparo ministrado pelo Salvador, já não eram mais ignorantes e incultos. Haviam-se tornado como Ele no espírito e no caráter, e os homens conheciam que haviam estado com Jesus. DTN 167 2 A mais elevada obra da educação não é comunicar conhecimentos, meramente, mas aquela vitalizante energia recebida mediante o contato de espírito com espírito, de pessoa com pessoa. Somente vida gera vida. Que privilégio, pois, foi o deles, por três anos em contato com aquela divina vida de onde tem provindo todo impulso doador de vida que tem abençoado o mundo! João, o discípulo amado, mais que todos os seus companheiros, entregou-se ao influxo daquela assombrosa existência. Diz ele: "A vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada". 1 João 1:2. "Todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça". João 1:16. DTN 167 3 Não havia, nos apóstolos de nosso Senhor, coisa alguma que lhes trouxesse glória. Era evidente que o êxito de seus esforços se devia unicamente a Deus. A vida desses homens, o caráter que desenvolveram, e a poderosa obra por Deus operada por intermédio deles, são testemunhos do que fará por todos quantos forem dóceis e obedientes. DTN 168 1 Aquele que mais ama a Cristo, maior soma de bem fará. Não há limites à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o próprio eu, oferece margem à operação do Espírito Santo na pessoa, e vive uma vida de inteira consagração a Deus. Caso os homens suportem a necessária disciplina, sem queixume ou desfalecimento pelo caminho, Deus os ensinará a cada hora, a cada dia. Anseia revelar Sua graça. Remova Seu povo os obstáculos, e Ele derramará as águas da salvação em torrentes, mediante os condutos humanos. Se os homens de condição humilde fossem animados a fazer todo o bem ao seu alcance, não houvesse sobre eles mãos repressivas a refrear-lhes o zelo, e haveria uma centena de obreiros de Cristo onde temos agora apenas um. DTN 168 2 Deus toma os homens tais quais são, e educa-os para Seu serviço, uma vez que se entreguem a Ele. O Espírito de Deus, recebido na mente, vivificar-lhes-á todas as faculdades. Sob a direção do Espírito Santo, o intelecto que se consagra sem reservas a Deus desenvolve-se harmonicamente, e é fortalecido para compreender e cumprir o que Deus requer. O caráter fraco e vacilante muda-se em outro forte e firme. A devoção contínua estabelece uma relação tão íntima entre Jesus e Seu discípulo, que o cristão se torna como Ele em espírito e caráter. Mediante ligação com Cristo terá visão mais clara e ampla. O discernimento se tornará mais penetrante, mais equilibrado o juízo. Aquele que anela ser de utilidade a Cristo é tão vivificado pelo vitalizante poder do Sol da Justiça, que é habilitado a produzir muito fruto para glória de Deus. DTN 168 3 Homens da mais elevada educação em ciências e artes, têm aprendido preciosas lições de cristãos de condição humilde, classificados pelo mundo como ignorantes. Mas esses obscuros discípulos haviam recebido educação na mais alta das escolas. Tinham-se sentado aos pés dAquele que falava "como nunca homem algum falou". João 7:46. ------------------------Capítulo 26 -- Em Cafarnaum DTN 169 1 Jesus parava em Cafarnaum entre Suas viagens de um lugar para outro, e ela chegou a ser conhecida por "Sua cidade". Ficava na praia do Mar da Galiléia, e próximo às bordas da bela planície de Genesaré, se não realmente nela. DTN 169 2 A profunda depressão do lago dá à planície que lhe margeia as praias o aprazível clima do Sul. Ali floresciam, nos dias de Cristo, a palmeira e a oliveira, ali havia pomares e vinhas, campos verdejantes e belas flores em rica exuberância, tudo regado por correntes vivas, que brotavam das rochas. As praias do lago, e as colinas que as circundavam a pequena distância, achavam-se pontilhadas de cidades e vilas. O lago era coberto de barcos de pesca. Havia por toda parte a agitação da vida em sua atividade e realizações. DTN 169 3 Cafarnaum adaptava-se bem a servir de centro à obra do Salvador. Achando-se na estrada de Damasco a Jerusalém e ao Egito, e ao Mar Mediterrâneo, era uma grande via de comunicação. Gente de muitas terras passava pela cidade, ou ali parava para descansar em seu jornadear para lá e para cá. Aqui podia Jesus encontrar-Se com todas as nações e todas as classes, o rico e o grande, como o pobre e o humilde, e Suas lições seriam levadas a outros países e a muitos lares. Estimular-se-ia assim o exame das profecias, seria atraída a atenção para o Salvador, e Sua missão apresentada ao mundo. DTN 169 4 Não obstante a ação do Sinédrio contra Jesus, o povo aguardava ansiosamente o desenvolvimento de Sua missão. Todo o Céu estava palpitante de interesse. Anjos Lhe preparavam caminho ao ministério, movendo o coração dos homens e atraindo-os ao Salvador. DTN 169 5 O filho do nobre, a quem Jesus curara, era em Cafarnaum uma testemunha de Seu poder. E o oficial da corte e sua casa testificavam alegremente de sua fé. Ao saber-se que o próprio Mestre Se achava entre eles, toda a cidade se agitou. Multidões eram atraídas à Sua presença. No sábado o povo afluía à sinagoga de tal maneira que grande número tinha de voltar, por não conseguir entrada. DTN 169 6 Todos quantos ouviam o Salvador "admiravam a Sua doutrina, porque a Sua palavra era com autoridade". Lucas 4:32. Ensinava-os "como tendo autoridade; e não como os escribas". Mateus 7:29. Os ensinos dos escribas e anciãos eram frios e formais, como uma lição aprendida de cor. Para eles, a Palavra de Deus não possuía nenhum poder vital. Seus ensinos eram substituídos pelas idéias e tradições deles próprios. Na costumada rotina do culto, professavam explicar a lei, mas nenhuma inspiração de Deus lhes comovia o coração ou de seus ouvintes. DTN 170 1 Jesus nada tinha que ver com as várias dissensões existentes entre os judeus. Sua obra era apresentar a verdade. Suas palavras derramavam uma torrente de luz sobre os ensinos dos patriarcas e profetas, e as Escrituras chegavam aos homens como uma nova revelação. Nunca antes haviam Seus ouvintes percebido tal profundeza de sentido na Palavra de Deus. DTN 170 2 Jesus abordava o povo no mesmo terreno em que se encontrava, como alguém que lhes conhecia de perto as perplexidades. Tornava bela a verdade, apresentando-a da maneira mais positiva e simples. Sua linguagem era pura, refinada e clara como a água de uma fonte. A voz era como música aos ouvidos que haviam escutado o monótono tom dos rabis. Mas se bem que fosse simples o ensino, falava como alguém que tem autoridade. Essa característica punha Seu ensino em contraste com o de todos os outros. Os rabis falavam duvidosos e hesitantes, como se as Escrituras pudessem ser interpretadas significando uma coisa ou exatamente o contrário. Os ouvintes eram diariamente possuídos de uma incerteza cada vez maior. Mas Jesus ensinava as Escrituras como de indubitável autoridade. Fosse qual fosse o assunto, era apresentado com poder, como se Suas Palavras não pudessem sofrer contestação. DTN 170 3 Todavia, era mais fervoroso do que veemente. Falava como alguém que tem definido propósito a cumprir. Estava apresentando as realidades do mundo eterno. Em todos os temas, Deus era revelado. Jesus procurava quebrar o encantamento da cega preocupação que mantém os homens absorvidos com o terrestre, colocava as coisas desta vida em sua verdadeira relação, como subordinadas às de interesse eterno; não lhes passava, contudo, por alto a importância. Ensinava que o Céu e a Terra se achavam ligados, e que o conhecimento da divina verdade prepara melhor os homens para o cumprimento dos deveres da vida diária. Falava como uma pessoa familiarizada com o Céu, cônscia de Suas relações com Deus, e todavia reconhecendo Sua unidade com cada membro da família humana. DTN 170 4 Suas mensagens de misericórdia variavam, a fim de ajustar-se ao Seu auditório. Sabia "dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado" (Isaías 50:4); pois nos lábios Lhe era derramada a graça, a fim de que transmitisse aos homens, pela mais atrativa maneira, os tesouros da verdade. Possuía tato para Se aproximar do espírito mais cheio de preconceitos, surpreendendo-o com ilustrações que lhe prendiam a atenção. Por intermédio da imaginação, chegava-lhes à mente. Suas ilustrações eram tiradas das coisas da vida diária, e, conquanto simples, encerravam admirável profundeza de sentido. As aves do céu, os lírios do campo, a semente, o pastor e as ovelhas -- com essas coisas ilustrava Cristo a verdade imortal; e sempre, posteriormente, quando Seus ouvintes viam essas coisas da natureza, elas Lhe evocavam as palavras. As ilustrações de Cristo repetiam-Lhe continuamente as lições. DTN 171 1 Cristo nunca lisonjeava os homens. Não dizia o que lhes fosse exaltar as fantasias e imaginações, nem os louvava pelas invenções inteligentes; mas pensadores profundos, livres de preconceito, recebiam-Lhe os ensinos, e verificavam que estes lhes punham à prova a sabedoria. Maravilhavam-se ante a verdade espiritual expressa na mais simples linguagem. Os mais altamente instruídos ficavam encantados com Suas palavras, e os incultos tiravam sempre delas benefício. Tinha uma mensagem para os iletrados; e levava os próprios gentios a compreender que tinha para eles uma mensagem. DTN 171 2 Sua terna compaixão caía como um toque de saúde nos corações cansados e aflitos. Mesmo entre a turbulência de inimigos furiosos, era circundado por uma atmosfera de paz. A beleza de Seu semblante, a amabilidade de Seu caráter e, sobretudo, o amor expresso no olhar e na voz, atraíam para Ele todos quantos não estavam endurecidos na incredulidade. Não fora o espírito suave, cheio de simpatia, refletindo-se em cada olhar e palavra, e Ele não teria atraído as grandes congregações que atraiu. Os aflitos que iam ter com Ele, sentiam que ligava com os próprios, o interesse deles, como um terno e fiel amigo, e desejavam conhecer mais das verdades que ensinava. O Céu era trazido perto. Anelavam permanecer diante dEle, para terem sempre consigo o conforto de Sua presença. DTN 171 3 Jesus observava com profundo interesse as mutações na fisionomia dos ouvintes. Os rostos que exprimiam interesse e prazer, davam-Lhe grande satisfação. Ao penetrarem as setas da verdade na mente, rompendo as barreiras do egoísmo, e operando a contrição e finalmente o reconhecimento, o Salvador alegrava-Se. Quando Seus olhos percorriam a multidão dos ouvintes, e reconhecia entre eles os rostos que já vira anteriormente, Seu semblante iluminava-se de alegria. Via neles candidatos, em perspectiva, a súditos do Seu reino. Quando a verdade, dita com clareza, tocava algum acariciado ídolo, observava a mudança de fisionomia, o olhar frio, de repulsa, que mostrava não ser a luz bem-recebida. Quando via homens recusarem a mensagem de paz, isso Lhe traspassava o coração. DTN 171 4 Falava Jesus na sinagoga acerca do reino que viera estabelecer, e de Sua missão de libertar os cativos de Satanás. Foi interrompido por um agudo grito de terror. Um louco precipitou-se dentre o povo para a frente, exclamando: "Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus". Lucas 4:34. DTN 171 5 Tudo era agora confusão e alarme. A atenção do povo se desviou de Cristo, e Suas palavras não foram escutadas. Tal era o desígnio de Satanás em levar a vítima à sinagoga. Mas Jesus repreendeu o demônio, dizendo: "Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal". Lucas 4:35. DTN 172 1 A mente desse mísero sofredor fora entenebrecida por Satanás, mas, em presença do Salvador, um raio de luz lhe penetrara as trevas. Foi despertado, e ansiou a libertação do domínio do maligno; mas o demônio resistia ao poder de Cristo. Quando o homem tentou apelar para Cristo em busca de auxílio, o espírito mau pôs-lhe nos lábios as palavras, e ele gritou em angústia de temor. O possesso compreendia em parte achar-se em presença de Alguém que o podia libertar; mas, ao tentar chegar ao alcance daquela poderosa mão, outra vontade o segurou; outras palavras encontraram expressão por meio dele. Terrível era o conflito entre o poder de Satanás e seu próprio desejo de libertação. DTN 172 2 Aquele que vencera Satanás no deserto da tentação, foi novamente colocado face a face com Seu adversário. O demônio exercia todo o poder para reter o domínio sobre a vítima. Perder terreno aqui, seria dar a Jesus uma vitória. Dir-se-ia que o torturado homem devesse perder a vida na luta com o inimigo que fora a ruína de seu vigor varonil. Mas o Salvador falou com autoridade, e libertou o cativo. O homem que estivera possesso ali se achava perante o povo admirado, feliz na liberdade da posse de si mesmo. O próprio demônio testificara do poder do Salvador. DTN 172 3 O homem louvou a Deus por seu livramento. Os olhos que havia pouco tanto tinham chispado sob a chama da loucura, brilhavam agora de inteligência, e inundavam-se de lágrimas de gratidão. O povo estava mudo de espanto. Assim que recobraram a fala, exclamavam uns para os outros: "Que palavra é esta? que nova doutrina é esta? pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!" Marcos 1:27. DTN 172 4 A causa oculta da aflição que tornara esse homem um terrível espetáculo a seus amigos e um fardo para si mesmo, achava-se em sua própria vida. Fora fascinado pelos prazeres do pecado, e pensara fazer da própria vida um grande carnaval. Não sonhava em se tornar um terror para o mundo, e uma vergonha para a família. Julgou poder gastar o tempo em extravagâncias inocentes. Uma vez no declive, porém, resvalou rapidamente. A intemperança e a frivolidade perverteram-lhe os nobres atributos da natureza, e Satanás tomou sobre ele inteiro domínio. DTN 172 5 Demasiado tarde veio o remorso. Quando quis sacrificar fortuna e prazer para readquirir a perdida varonilidade, tornara-se incapaz nas garras do maligno. Colocara-se no terreno do inimigo, e Satanás tomara posse de todas as suas faculdades. O tentador o seduzira com muitas representações encantadoras; uma vez que o desgraçado se achava em seu poder, no entanto, tornara-se infatigável em sua crueldade, e terrível em suas iradas visitações. Assim será com todos quantos condescendem com o mal; o fascinante prazer do princípio de sua carreira termina nas trevas do desespero ou na loucura de uma mente arruinada. DTN 173 1 O mesmo espírito mau que tentara a Cristo no deserto e, possuía o louco de Cafarnaum, dominava os incrédulos judeus. Para com eles, porém, assumia ar de piedade, buscando enganá-los quanto aos motivos que tinham em rejeitar o Salvador. Sua condição era mais desesperadora que a do endemoninhado; pois não sentiam necessidade de Cristo, sendo assim mantidos seguros sob o poder de Satanás. DTN 173 2 O período do ministério pessoal de Cristo entre os homens foi o tempo de maior atividade das forças do reino das trevas. Durante séculos, Satanás e seus anjos haviam estado procurando controlar o corpo e a mente dos homens, para trazer sobre eles pecados e sofrimentos; depois, acusara a Deus de toda essa miséria. Jesus estava revelando aos homens o caráter de Deus. Estava a despedaçar o poder de Satanás, libertando-lhe os cativos. Nova vida e amor do Céu moviam o coração dos homens, e o príncipe do mal despertou para contender pela supremacia de seu reino. Satanás convocou todas as suas forças, e a cada passo combatia a obra de Cristo. DTN 173 3 Assim será na grande batalha final do conflito entre a justiça e o pecado. Ao passo que nova vida e luz e poder descem do alto sobre os discípulos de Cristo, uma vida nova está brotando de baixo, e revigorando os instrumentos de Satanás. A intensidade se está apoderando de todo elemento terrestre. Com uma sutileza adquirida através de séculos de conflito, o príncipe do mal opera disfarçadamente. Aparece vestido como anjo de luz, e multidões estão "dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios". 1 Timóteo 4:1. DTN 173 4 Nos dias de Cristo os guias e mestres de Israel eram impotentes para resistir a Satanás. Negligenciavam o único meio pelo qual se podiam opor aos maus espíritos. Foi pela Palavra de Deus que Cristo venceu o maligno. Os guias de Israel professavam ser expositores da Palavra de Deus, mas haviam-na estudado apenas para apoiar suas tradições, e impor suas observâncias de origem humana. Haviam, por suas interpretações, feito com que ela exprimisse sentimentos que Deus nunca tivera em mente. Suas místicas apresentações tornavam indistinto aquilo que Ele fizera claro. Disputavam sobre insignificantes questões de técnica, e negavam por assim dizer as verdades essenciais. Assim, difundia-se amplamente a infidelidade. Roubavam à Palavra de Deus a sua força, e os espíritos maus operavam à vontade. DTN 173 5 A história se está repetindo. Tendo a Bíblia aberta diante de si, e professando respeitar-lhe os ensinos, muitos dos guias religiosos de nossa época estão destruindo a fé nela como Palavra de Deus. Ocupam-se em dissecar a Palavra, e estabelecer as próprias opiniões acima de suas declarações positivas. A Palavra de Deus perde, em suas mãos, o poder regenerador. É por isso que a incredulidade campeia, e reina a iniqüidade. DTN 174 1 Depois de minar a fé na Bíblia, Satanás encaminha os homens a outras fontes em busca de luz e poder. Assim se insinua ele. Os que se desviam dos claros ensinos da Escritura, e do poder convincente do Espírito Santo de Deus, estão convidando o domínio dos demônios. A crítica e as especulações concernentes às Escrituras, têm aberto o caminho ao espiritismo e à teosofia -- essas formas modernas do antigo paganismo -- para conseguir firmar-se mesmo nas professas igrejas de nosso Senhor Jesus Cristo. DTN 174 2 Lado a lado com a pregação do evangelho, acham-se a operar forças que não são senão médiuns de espíritos de mentira. Muito homem se intromete com elas por mera curiosidade, mas vendo demonstrações de forças sobre-humanas, é fascinado a ir sempre mais adiante, até que fica dominado por uma vontade mais forte que a sua própria. Não lhe pode escapar ao misterioso poder. DTN 174 3 São derrubadas as defesas da mente. Não tem barreira contra o pecado. Uma vez que as restrições da Palavra de Deus e de Seu Espírito são rejeitadas, homem algum pode saber a que profundezas de degradação é capaz de imergir. Um pecado secreto ou paixão dominadora o pode reter cativo tão impotente como era o endemoninhado de Cafarnaum. Todavia, seu estado não é desesperador. DTN 174 4 O meio por que podemos vencer o maligno, é aquele pelo qual Cristo venceu -- o poder da Palavra. Deus não nos rege a mente sem nosso consentimento; mas se desejamos conhecer e fazer Sua vontade, pertence-nos a promessa: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". João 8:32. "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina". João 7:17. Mediante a fé nessas promessas, todo homem poderá ser libertado dos ardis do erro e do domínio do pecado. DTN 174 5 Todo homem é livre para escolher que poder o regerá. Ninguém caiu tão fundo, ninguém é tão vil, que não possa encontrar libertação em Cristo. O endemoninhado, em lugar de uma oração, só pôde proferir as palavras de Satanás; todavia, foi ouvido o mudo apelo do coração. Nenhum grito de uma pessoa em necessidade, embora deixe de ser expresso em palavras, ficará desatendido. Os que consentirem em entrar com o Deus do Céu num concerto, não serão deixados entregues ao poder de Satanás, ou às fraquezas de sua própria natureza. São convidados pelo Salvador: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo". Isaías 27:5. Os espíritos das trevas hão de combater pela pessoa que uma vez lhes caiu sob o domínio, mas anjos de Deus hão de contender por aqueles com predominante poder. Diz o Senhor: "Tirar-se-ia a presa ao valente? Ou escapariam os legalmente presos? [...] Assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a presa do tirano escapará; porque Eu contenderei com os que contendem contigo, e os teus filhos Eu remirei". Isaías 49:24, 25. DTN 174 6 Enquanto todos na sinagoga ainda se achavam sob o domínio do espanto, Jesus retirou-Se para a casa de Pedro, a fim de repousar um pouco. Mas também ali baixara uma sombra. A mãe da esposa de Pedro jazia enferma, presa de "muita febre". Jesus repreendeu a moléstia, e a doente ergueu-se, e atendeu às necessidades do Mestre e dos discípulos. DTN 175 1 Por toda Cafarnaum, logo se espalharam as novas da obra de Cristo. O povo, por temor dos rabis, não ousou ir em busca de cura durante o sábado; mas assim que o Sol se ocultou no horizonte, notou-se grande agitação. Das casas de famílias, das lojas, das praças, afluíam os habitantes para a humilde morada em que Jesus Se abrigara. Os enfermos eram levados em leitos, ou apoiados em bordões, ou ajudados por amigos arrastavam-se debilmente à presença do Salvador. DTN 175 2 Durante horas a fio vinham e voltavam; pois ninguém sabia se o dia seguinte ainda encontraria o Médico entre eles. Nunca antes fora Cafarnaum espetáculo de um dia como esse. O espaço enchia-se de vozes de triunfo e aclamações pela libertação. O Salvador regozijava-Se no regozijo que produzira. Ao testemunhar os sofrimentos dos que tinham ido ter com Ele, o coração movera-se-Lhe de simpatia e alegrou-Se em Seu poder de restaurá-los à saúde e felicidade. DTN 175 3 Enquanto o último enfermo não foi curado, Jesus não cessou de trabalhar. Ia alta a noite quando a multidão partiu e o silêncio baixou sobre o lar de Simão. Passara o longo dia, cheio de atividades, e Jesus procurou repouso. Mas, estando a cidade ainda imersa no sono, o Salvador "levantando-Se alta madrugada, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava". DTN 175 4 Assim se passavam os dias na vida terrestre de Jesus. Muitas vezes despedia os discípulos, a fim de visitarem o lar e repousar; mas resistia-lhes brandamente aos esforços para O afastar de Seus labores. O dia todo labutava Ele, ensinando o ignorante, curando o enfermo, dando vista ao cego, alimentando a multidão; e na vigília da noite, ou cedo de manhã, saía para o santuário das montanhas, em busca de comunhão com Seu Pai. Passava por vezes a noite inteira a orar e meditar, voltando ao raiar do dia ao Seu trabalho entre o povo. DTN 175 5 De manhã cedo, Pedro e os companheiros foram ter com Jesus, dizendo que já o povo de Cafarnaum O procurava. Os discípulos tinham ficado amargamente decepcionados com a recepção que Cristo tivera até então. As autoridades de Jerusalém O estavam buscando matar; Seus próprios concidadãos Lhe tinham tentado tirar a vida; mas em Cafarnaum era Ele recebido com jubiloso entusiasmo, e as esperanças dos discípulos se reanimaram. Talvez que, entre os galileus amantes de liberdade, se houvessem de achar os sustentáculos do novo reino. Com surpresa, porém, ouviram as Palavras de Cristo: "É necessário que Eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado." Na agitação que então dominava em Cafarnaum, havia perigo de que se perdesse de vista o objetivo de Sua missão. Jesus não ficava satisfeito de chamar a atenção meramente como operador de maravilhas ou médico de enfermidades físicas. Buscava atrair os homens a Si como seu Salvador. Ao passo que o povo estava ansioso de crer que Ele viera como rei, para estabelecer um reino terrestre, Jesus desejava desviar-lhes o espírito do terreno para o espiritual. O simples êxito mundano estorvaria Sua obra. DTN 176 1 E a admiração da descuidosa turba desagradava-Lhe ao espírito. Em Sua vida não cabia nenhum amor-próprio. A homenagem que o mundo presta à posição, à riqueza, ou ao talento, era coisa estranha ao Filho do homem. Nenhum dos processos empregados pelos homens para conseguir a obediência ou impor respeito, era usado por Jesus. Séculos antes de Seu nascimento, fora dEle profetizado: "Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade produzirá o juízo; não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo". Isaías 42:2-4. DTN 176 2 Os fariseus procuravam distinção mediante seu escrupuloso cerimonialismo, e a ostentação de seu culto e caridades. Mostravam zelo pela religião, fazendo dela o tema de discussões. Em voz alta e longas eram as disputas entre as seitas opostas, e não era coisa incomum ouvirem-se na rua vozes de zangadas contendas da parte de instruídos doutores da lei. DTN 176 3 Assinalado contraste com tudo isso oferecia a vida de Jesus. Nela, nenhuma ruidosa discussão, nenhuma ostentação de culto, nenhum ato visando a aplausos foi jamais testemunhado. Cristo estava escondido em Deus, e Deus era revelado no caráter de Seu Filho. Era a essa revelação que Jesus desejava fosse dirigido o espírito do povo, e rendidas suas homenagens. DTN 176 4 O Sol da Justiça não rompeu sobre o mundo em esplendor, para deslumbrar os sentidos com Sua glória. Está escrito a respeito de Cristo: "Como a alva será a Sua saída". Oséias 6:3. Calma e suavemente surge o dia na Terra, dissipando as sombras das trevas, e despertando o mundo para a vida. Assim Se ergueu o Sol da Justiça "com a cura nas Suas asas" (Malaquias 4:2 (TT). ------------------------Capítulo 27 -- "Podes tornar-me limpo" DTN 177 0 Este capítulo é baseado em Mateus 8:2-4; 9:1-8, 32-34; Marcos 1:40-45; 2:1-12; Lucas 5:12-28. DTN 177 1 De todas as doenças conhecidas no Oriente, era a lepra a mais temida. Seu caráter incurável e contagioso, o terrível efeito sobre as vítimas, enchiam de temor os mais valorosos. Entre os judeus, era considerada um juízo sobre o pecado, sendo por isso chamada: "o açoite", "o dedo de Deus". Profundamente arraigada, mortal, era tida como símbolo do pecado. A lei ritual declarava imundo o leproso. Como pessoa já morta, era excluído das habitações dos homens. Tudo que tocava ficava imundo. O ar era poluído por seu hálito. Uma pessoa suspeita dessa moléstia, devia-se apresentar aos sacerdotes, que tinham de examinar e decidir o caso. Sendo declarado leproso, era separado da família, isolado da congregação de Israel, e condenado a conviver unicamente com os aflitos de idêntico mal. A lei era inflexível em suas exigências. Os próprios reis e principais não estavam isentos. Um rei atacado dessa terrível moléstia, tinha de renunciar ao cetro e fugir da sociedade. DTN 177 2 Separado de amigos e parentes, devia o leproso sofrer a maldição de sua enfermidade. Era obrigado a publicar a própria desgraça, a rasgar os vestidos, a fazer soar o alarme, advertindo todos para fugirem de sua contaminadora presença. O grito "impuro! impuro!" soltado em lamentosos tons pelo pobre exilado, era um sinal ouvido com temor e aversão. DTN 177 3 Na região do ministério de Cristo, havia muitos desses sofredores, e as novas de Sua obra chegaram até eles, suscitando um lampejo de esperança. Mas desde os dias do profeta Eliseu, nunca se ouvira falar de coisa tal como a cura de uma pessoa atacada dessa moléstia. Não ousavam esperar que Jesus fizesse em seu benefício aquilo que nunca realizara por homem algum. Houve, entretanto, alguém em cujo coração a fé começou a brotar. Mas não sabia como se aproximar de Jesus. Excluído como estava do contato dos semelhantes, como se haveria de apresentar ao Médico? E cogitou se Cristo o curaria a ele. Deter-Se-ia para atender a uma pessoa que se julgava estar sofrendo sob o juízo de Deus? Não haveria de, à semelhança dos fariseus, e mesmo dos médicos, proferir sobre ele uma maldição, advertindo-o a que fugisse da morada dos homens? Pensava em tudo quanto lhe fora dito de Jesus. Nenhum dos que Lhe buscavam o auxílio fora repelido. O infeliz decidiu procurar o Salvador. Embora excluído das cidades, podia ser que acontecesse atravessar-Lhe o caminho em algum atalho das montanhas, ou encontrá-Lo enquanto ensinava fora das cidades. Grandes eram as dificuldades, mas constituía essa sua única esperança. DTN 178 1 O leproso é guiado ao Salvador. Jesus está ensinando à margem do lago, e o povo reunido ao Seu redor. Ficando a distância, apanha algumas palavras dos lábios de Jesus. Observa-O a colocar as mãos sobre os enfermos. Vê o coxo, o cego, o paralítico e os que estavam a perecer de várias moléstias, erguerem-se com saúde, louvando a Deus por seu livramento. A fé se lhe fortalece no coração. Aproxima-se mais e mais ainda da multidão reunida. As restrições que lhe são impostas, a segurança do povo e o temor com que todos o olhavam, tudo foi esquecido. Pensa tão-somente na bendita esperança da cura. DTN 178 2 Esse doente oferece um repugnante espetáculo. A moléstia fizera terríveis incursões, e é horrível ver-se-lhe o corpo em decomposição. Ao avistá-lo, o povo recua apavorado. Comprimem-se uns contra os outros, a fim de escapar-lhe ao contato. Alguns tentam impedi-lo de se aproximar de Jesus, mas em vão. Ele não os vê nem os ouve. Suas expressões de repugnância não o atingem. Vê unicamente o Filho de Deus. Não escuta senão a voz que comunica vida ao moribundo. Avançando para Jesus, atira-se-Lhe aos pés com o grito: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo." DTN 178 3 Jesus replicou: "Quero: sê limpo". Mateus 8:2, 3. E pôs-lhe a mão em cima. Operou-se imediatamente uma transformação no leproso. Sua carne tornou-se sã, os nervos sensíveis, firmes os músculos. A aspereza e escamosidade peculiares à lepra, desapareceram, sendo substituídas por suave colorido, como o da pele de uma saudável criança. DTN 178 4 Jesus recomendou ao homem que não divulgasse a obra que realizara, mas fosse imediatamente apresentar-se com uma oferta no templo. Essa oferta não podia ser aceita enquanto os sacerdotes não examinassem o homem, declarando-o inteiramente livre da moléstia. Embora de má vontade para realizar esse serviço, não se podiam eximir ao exame e decisão do caso. DTN 178 5 As palavras da Escritura mostram com que força Cristo advertiu o homem quanto à necessidade de silêncio e ação pronta. "E advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho". Marcos 1:43, 44. Houvessem os sacerdotes sabido os fatos concernentes à cura do leproso, e seu ódio para com Cristo os teria levado a dar sentença desonesta. Jesus queria que o homem se apresentasse no templo antes que qualquer rumor acerca do milagre chegasse aos ouvidos deles. Assim se poderia obter uma decisão imparcial, sendo ao leproso purificado permitido mais uma vez unir-se com a família e os amigos. DTN 178 6 Tinha Cristo ainda outros intuitos ao recomendar silêncio ao homem. O Salvador sabia que Seus inimigos estavam sempre buscando limitar-Lhe a obra, e desviar dEle o povo. Sabia que, se a cura do leproso fosse propalada, outras vítimas dessa terrível doença haviam de aglomerar-se em volta dEle, e então ergueriam o brado de que o povo se contaminaria pelo contato com elas. Muitos dos leprosos não empregariam o dom da saúde de modo a torná-la uma bênção para si mesmos e para outros. E, atraindo a Si os leprosos, acusá-Lo-iam de estar violando as restrições da lei ritual. E assim seria prejudicada Sua obra quanto à pregação do evangelho. DTN 179 1 O acontecimento justificava a advertência de Cristo. Uma multidão de gente presenciara a cura do leproso, e estavam ansiosos de ouvir a decisão dos sacerdotes. Quando o homem voltou para os amigos, grande foi o despertamento. Não obstante a precaução de Jesus, o homem não fez esforço nenhum para ocultar a cura. Na verdade, impossível teria sido escondê-la, mas o leproso divulgou-a. Imaginando que era somente a modéstia de Jesus que ditara essa restrição, saiu proclamando o poder desse grande Restaurador. Não compreendia que toda manifestação dessa espécie tornava os sacerdotes e anciãos mais decididos a eliminar a Jesus. O homem restaurado sentia ser deveras preciosa a graça da saúde. Regozijou-se no vigor da varonilidade, e no ser restituído à família e à sociedade, e julgava ser impossível abster-se de dar glória ao Médico que o curara. Esse seu ato, porém, de divulgar o caso, deu em resultado prejuízo para a obra do Salvador. Fez com que o povo se aglomerasse em torno dEle em tal multidão, que foi forçado a interromper por algum tempo Suas atividades. DTN 179 2 Todo ato do ministério de Cristo era de vasto alcance em seus desígnios. Envolvia mais do que o ato em si mesmo parecia encerrar. Foi o que se deu no caso do leproso. Ao passo que Jesus ministrava a todos quantos iam ter com Ele, anelava beneficiar os que não iam. Ao mesmo tempo que atraía os gentios e os samaritanos, almejava chegar aos sacerdotes e aos mestres excluídos pelos preconceitos e tradições. Não deixou de tentar meio algum pelo qual pudessem ser alcançados. Ao enviar o leproso aos sacerdotes, proporcionou-lhes o testemunho calculado a desarmar-lhes os preconceitos. DTN 179 3 Haviam os fariseus declarado que os ensinos de Cristo eram contrários à lei dada por Deus mediante Moisés; mas Suas instruções ao leproso purificado, de apresentar uma oferta segundo a lei, refutavam essa acusação. Era suficiente testemunho para todos quantos estivessem dispostos a convencer-se. DTN 179 4 Os dirigentes, em Jerusalém, tinham enviado espias a fim de procurar qualquer pretexto para matar a Cristo. Ele respondeu apresentando-lhes uma prova de Seu amor pela humanidade, Seu respeito pela lei, e o poder que tinha de libertar do pecado e da morte. Assim lhes deu testemunho: "Deram-Me mal pelo bem, e ódio pelo Meu amor". Salmos 109:5. Aquele que deu no monte o preceito: "Amai os vossos inimigos" (Mateus 5:44), exemplificou Ele próprio o princípio, não tornando "mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo". 1 Pedro 3:9. DTN 180 1 Os mesmos sacerdotes que haviam condenado o leproso ao banimento, atestaram-lhe a cura. Essa sentença, proferida e registrada publicamente, constituía firme testemunho em favor de Cristo. E ao ser o homem reintegrado, sadio, na congregação de Israel, sob a afirmação dos próprios sacerdotes de que não havia nele vestígio da moléstia, tornou-se vivo testemunho de seu Benfeitor. Apresentou alegremente a oferta, e engrandeceu o nome de Jesus. Os sacerdotes estavam convencidos do divino poder do Salvador. Foi-lhes dada a oportunidade de conhecer a verdade e serem beneficiados pela luz. Rejeitada, ela passaria, para nunca mais voltar. Muitos rejeitaram a luz; ela não foi, todavia, dada em vão. Foram tocados muitos corações que, por algum tempo, não deram disso sinal. Durante a vida do Salvador, Sua missão parecia despertar pouca correspondência de amor da parte dos sacerdotes e mestres; depois de Sua ascensão, porém, "grande parte dos sacerdotes obedecia à fé". Atos dos Apóstolos 6:7. DTN 180 2 A obra de Cristo em purificar o leproso de sua terrível doença, é uma ilustração de Sua obra em libertar a pessoa do pecado. O homem que foi ter com Jesus estava cheio de lepra. O mortal veneno da moléstia penetrara-lhe todo o corpo. Os discípulos procuraram impedir o Mestre de o tocar; pois aquele que tocava num leproso, tornava-se por sua vez imundo. Pondo a mão sobre o doente, porém, Jesus não sofreu nenhuma contaminação. Seu contato comunicou poder vitalizante. Foi purificada a lepra. O mesmo se dá quanto à lepra do pecado -- profundamente arraigada, mortal e impossível de ser purificada por poder humano. "Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, e inchaços, e chagas podres". Isaías 1:5, 6. Mas Jesus, vindo habitar na humanidade, não recebe nenhuma contaminação. Sua presença tem virtude que cura o pecador. Quem quer que Lhe caia de joelhos aos pés, dizendo com fé: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo", ouvirá a resposta: "Quero: sê limpo". Mateus 8:2, 3. DTN 180 3 Em alguns casos de cura, Jesus não concedeu imediatamente a bênção buscada. No caso da lepra, todavia, tão depressa foi feito o apelo, seguiu-se a promessa. Quando pedimos bênçãos terrestres, a resposta a nossa oração talvez seja retardada, ou Deus nos dê outra coisa que não aquilo que pedimos; não assim, porém, quando pedimos livramento do pecado. É Sua vontade limpar-nos dele, tornar-nos Seus filhos, e habilitar-nos a viver uma vida santa. Cristo "Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai". Gálatas 1:4. E "esta é a confiança que temos nEle, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos". 1 João 5:14, 15. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça". 1 João 1:9. DTN 181 1 Na cura do paralítico de Cafarnaum, Cristo tornou a ensinar a mesma verdade. Foi para manifestar Seu poder de perdoar pecados, que o milagre se realizou. E a cura do paralítico também ilustra outras preciosas verdades. É plena de esperança e animação, e do ponto de vista de sua relação para com os astutos fariseus, encerra igualmente uma advertência. DTN 181 2 Como o leproso, esse paralítico perdera toda a esperança de restabelecimento. Sua doença era resultado de uma vida pecaminosa, e seus sofrimentos amargurados pelo remorso. Por muito tempo apelara para os fariseus e os doutores, esperando alívio do sofrimento mental e físico. Mas eles friamente o declaravam incurável, abandonando-o à ira de Deus. Os fariseus consideravam a doença como testemunho do desagrado divino, e mantinham-se a distância do enfermo e do necessitado. Todavia, muitas vezes esses próprios que se exaltavam como santos, eram mais culpados que as vítimas que condenavam. DTN 181 3 O paralítico achava-se de todo impotente e, não vendo nenhuma perspectiva de auxílio de qualquer lado, caíra no desespero. Ouvira então falar das maravilhosas obras de Jesus. Foi-lhe dito que outros, tão pecadores e desamparados como ele, haviam sido curados; até mesmo leprosos tinham sido purificados. E os amigos que relatavam essas coisas animavam-no a crer que também ele poderia ser curado, caso fosse conduzido a Jesus. Desfaleceu-se-lhe, no entanto, a esperança ao lembrar-se da maneira por que lhe sobreviera a enfermidade. Temeu que o imaculado médico não o tolerasse em Sua presença. DTN 181 4 Não era, entretanto, o restabelecimento físico, que desejava tanto, mas o alívio ao fardo do pecado. Se pudesse ver a Jesus, e receber a certeza do perdão e a paz com o Céu, estaria contente de viver ou morrer, segundo a vontade de Deus. O grito do moribundo, era: Oh! se eu pudesse chegar à Sua presença! Não havia tempo a perder; já sua consumida carne começava a mostrar indícios de decomposição. Rogou aos amigos que o conduzissem em seu leito a Jesus, o que empreenderam de boa vontade. Tão compacta, porém, era a multidão que se apinhara dentro e nos arredores da casa em que Se achava o Salvador, que impossível foi ao doente e aos amigos ir até Ele, ou mesmo chegar-Lhe ao alcance da voz. DTN 181 5 Jesus estava ensinando na casa de Pedro. Segundo seu costume, os discípulos sentaram-se-Lhe bem próximo, em torno, e "estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia e da Judéia, e de Jerusalém". Estes tinham ido como espias, buscando motivo de acusação contra Jesus. Além desses oficiais, apinhava-se a multidão mista -- os sinceros, os reverentes, os curiosos e os incrédulos. Nacionalidades diversas, e todos os graus sociais se achavam representados. "E a virtude do Senhor estava com Ele para curar." O Espírito de vida pairava por sobre a assembléia, mas fariseus e doutores não Lhe discerniam a presença. Não experimentavam nenhum sentimento de necessidade, e a cura não era para eles. "Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos". Lucas 1:53. DTN 182 1 Repetidamente procuraram os condutores do paralítico abrir caminho por entre a multidão, mas em vão. O enfermo olhava em derredor de si com indizível angústia. Quando o tão ansiado socorro tão perto estava, como poderia renunciar à esperança? Por sugestão sua, os amigos o levaram ao telhado e, abrindo um buraco no teto, baixaram-no aos pés de Jesus. O discurso foi interrompido. O Salvador contemplou o doloroso semblante, e viu os suplicantes olhos fixos nEle. Compreendeu; tinha atraído a Si aquele perplexo e duvidoso espírito. Enquanto o paralítico ainda se achava em casa, o Salvador infundira-lhe convicção na consciência. Quando se arrependera de seus pecados, e crera no poder de Jesus para o curar, as vitalizantes misericórdias do Salvador haviam começado a beneficiar-lhe o anelante coração. Jesus observara o primeiro lampejo de fé transformar-se em crença de que Ele era o único auxílio do pecador, e vira-o tornar-se mais e mais forte a cada novo esforço para chegar a Sua presença. DTN 182 2 Agora, em palavras que soaram qual música aos ouvidos do enfermo, o Salvador disse: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados". Mateus 9:2. DTN 182 3 O fardo de desespero cai da mente do doente; repousa-lhe no espírito a paz do perdão, brilhando-lhe no semblante. O sofrimento físico desaparece, e todo o seu ser é transformado. O impotente paralítico estava curados perdoado o culpado pecador! DTN 182 4 Em fé singela aceitou as palavras de Jesus como o favor de uma nova vida. Não insiste em nenhum outro pedido, mas permanece em jubiloso silêncio, demasiado feliz para se exprimir em palavras. A luz do Céu irradiava-lhe da fisionomia, e o povo contemplava a cena com assombro. DTN 182 5 Os rabis haviam esperado ansiosamente a ver que faria Jesus com esse caso. Lembravam-se de como o homem apelara para eles, em busca de auxílio, e lhe tinham recusado esperança ou simpatia. Não satisfeitos com isso, haviam declarado que estava sofrendo a maldição de Deus por causa de seus pecados. Tudo isso lhes acudiu novamente à lembrança ao verem o enfermo diante de si. Observaram o interesse com que todos contemplavam a cena, e experimentaram terrível temor de perder a influência sobre o povo. DTN 182 6 Esses dignitários não trocaram palavras, mas olhando-se leram no rosto uns dos outros o mesmo pensamento de que alguma coisa se devia fazer para deter a onda dos sentimentos. Jesus declarara que os pecados do paralítico estavam perdoados. Os fariseus tomaram essas palavras como blasfêmia, e conceberam a idéia de apresentá-las como pecado digno de morte. Disseram em seu coração: "Ele blasfema; quem pode perdoar pecados senão só Deus?" Mateus 9:3. DTN 183 1 Fixando sobre eles o olhar, sob o qual se acovardaram e recuaram, disse Jesus: "Por que pensais mal em vossos corações? Pois qual é mais fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na Terra autoridade para perdoar pecados", disse então ao paralítico: "Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa". Mateus 9:4-6. DTN 183 2 Então aquele que fora levado a Cristo num leito, pôs-se de pé num salto, com a elasticidade e o vigor da juventude. A vitalizante seiva agita-se-lhe nas veias. Cada órgão de seu corpo rompe em súbita atividade. As cores da saúde sucedem à palidez da morte próxima. "E levantou-se, e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos". Marcos 2:12. DTN 183 3 Oh! maravilhoso amor de Cristo, inclinando-se para curar o culpado e o aflito! A Divindade compadecendo-Se dos males da sofredora humanidade, e suavizando-os! Oh! maravilhoso poder assim manifestado aos olhos dos filhos dos homens! Quem pode duvidar da mensagem de salvação? Quem pode menosprezar as misericórdias de tão compassivo Redentor? DTN 183 4 Nada menos que poder criador era necessário para restituir a saúde àquele decadente corpo. A mesma voz que comunicou vida ao homem criado do pó da terra, transmitiu-a ao moribundo paralítico. E o mesmo poder que dera vida ao corpo, renovara-lhe o coração. Aquele que, na criação, "falou, e tudo se fez", "mandou, e logo tudo apareceu" (Salmos 33:9) comunicara vida à pessoa morta em ofensas e pecados. A cura do corpo era um testemunho do poder que renovara o coração. Cristo pediu ao paralítico que se erguesse e andasse, "para que saibais", disse Ele, "que o Filho do homem tem na Terra poder para perdoar pecados". Marcos 2:10. DTN 183 5 O paralítico encontrou em Cristo cura tanto para o corpo como para o espírito. A cura espiritual foi seguida da restauração física. Essa lição não devia ser desatendida. Existem hoje milhares de vítimas de sofrimentos físicos, os quais, como o paralítico, estão anelando a mensagem: "Perdoados estão os teus pecados." O fardo do pecado, com seu desassossego e insatisfeitos desejos, é o fundamento de suas doenças. Não podem encontrar alívio, enquanto não forem ter com o grande Médico. A paz que unicamente Ele pode dar, comunicar vigor à mente e saúde ao corpo. DTN 183 6 Jesus veio para "desfazer as obras do diabo". 1 João 3:8. "NEle estava a vida" (João 1:4) e Ele diz: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância". João 10:10. Jesus é "espírito vivificante". 1 Coríntios 15:45. E possui ainda o mesmo poder vitalizante que tinha quando na Terra curava o doente, e assegurava o perdão ao pecador. "Perdoa todas as tuas iniqüidades", "sara todas as tuas enfermidades". Salmos 103:3. DTN 184 1 O efeito produzido sobre o povo pela cura do paralítico, foi como se o Céu se houvesse aberto, revelando as glórias do mundo melhor. Ao passar o homem curado por entre a multidão, bendizendo a Deus a cada passo, e levando sua carga como se fosse uma pena, o povo recuava para lhe dar passagem e presa de assombro fitavam-no, falando entre si brandamente em segredo: "Hoje vimos prodígios." DTN 184 2 Os fariseus estavam mudos de espanto, e esmagados pela derrota. Viram que não havia aí lugar para seu ciúme despertar a multidão. A maravilhosa obra vista no homem que fora entregue à ira de Deus impressionara por tal forma o povo que naquele momento os rabis foram esquecidos. Viram que Cristo possuía um poder que tinham atribuído unicamente a Deus; todavia, a suave dignidade de Sua atitude apresentava assinalado contraste com o porte altivo deles. Ficaram desconcertados e confundidos, reconhecendo, mas não confessando, a presença de um Ser superior. Quanto mais forte era a evidência de que Jesus tinha poder na Terra para perdoar pecados, tanto mais firmemente se entrincheiravam na incredulidade. Da casa de Pedro, onde tinham assistido ao restabelecimento do paralítico por Sua palavra, saíram para formular novos planos, a fim de reduzir ao silêncio o Filho de Deus. DTN 184 3 A enfermidade física, se bem que maligna e fundamente arraigada, foi afastada pelo poder de Cristo; a enfermidade espiritual, porém, firmou o império sobre os que fecharam os olhos à luz. A lepra e a paralisia não eram tão terríveis quanto a hipocrisia e a incredulidade. DTN 184 4 Na casa do paralítico restaurado foi grande o regozijo quando ele voltou para a família, conduzindo com facilidade o leito em que, pouco antes, fora vagarosamente levado de perto deles. Reuniram-se-lhe em torno com lágrimas de alegria, mal ousando crer no que seus olhos viam. Ali estava ele em sua presença, no pleno vigor da varonilidade. Os braços que tinham visto sem vida, estavam prontos a obedecer imediatamente a sua vontade. A carne, contraída e arroxeada, achava-se agora rosada e fresca. Caminhava com passo firme e desembaraçado. A alegria e a esperança achavam-se-lhe impressas em cada linha do rosto; e uma expressão de pureza e paz havia substituído os vestígios do pecado e do sofrimento. Daquele lar ascenderam jubilosas ações de graças, e Deus foi glorificado por meio do Filho, que restituíra a esperança ao abatido e força ao aflito. Esse homem e sua família estavam dispostos a dar a vida por Jesus. Nenhuma dúvida lhes enfraquecia a fé, nenhuma incredulidade lhes maculava a lealdade para com Aquele que lhes levara luz ao ensombrado lar. ------------------------Capítulo 28 -- Levi Mateus DTN 185 0 Este capítulo é baseado em Mateus 9:9-17; Marcos 2:14-22; Lucas 5:27-39. DTN 185 1 Dos funcionários romanos na Palestina, nenhum era mais odiado que o publicano. O fato de serem os impostos ordenados por um poder estrangeiro, era contínuo motivo de irritação para os judeus, lembrança que era da perda de sua independência. E os cobradores de impostos além de instrumentos da opressão romana, eram extorsionários em seu próprio proveito, enriquecendo-se à custa do povo. Um judeu que aceitasse esse ofício das mãos dos romanos era considerado traidor da honra nacional. Desprezado como apóstata, classificavam-no entre os mais vis da sociedade. DTN 185 2 A essa classe pertencia Levi Mateus, o qual, depois dos quatro discípulos na praia de Genesaré, foi o seguinte a ser chamado para o serviço de Cristo. Os fariseus haviam julgado Mateus segundo seu emprego, mas Jesus viu nesse homem uma pessoa aberta à recepção da verdade. Mateus escutara os ensinos do Salvador. Ao revelar-lhe o convincente Espírito de Deus sua pecaminosidade, anelou buscar auxílio em Cristo; estava, porém, habituado ao exclusivismo dos rabis, e não tinha nenhuma idéia de que esse grande Mestre houvesse de fazer caso dele. DTN 185 3 Um dia, achando-se sentado na alfândega, viu o publicano a Jesus, que Se aproximava. Grande foi sua surpresa ao ouvir as palavras que lhe foram dirigidas: "Segue-Me." Mateus "deixando tudo, levantou-se e O seguiu". Lucas 5:27, 28. Não houve nenhuma hesitação, nenhuma dúvida, nenhum pensamento para o lucrativo negócio a ser trocado pela pobreza e as privações. Era-lhe suficiente o estar com Jesus, ouvir-Lhe as palavras e a Ele unir-se em Sua obra. DTN 185 4 O mesmo se deu com os discípulos anteriormente chamados. Quando Jesus pediu a Pedro e a seus companheiros que O seguissem, eles deixaram imediatamente os barcos e as redes. Alguns desses discípulos tinham queridos cuja manutenção deles dependia; ao receberem, porém, o convite do Salvador, não hesitaram nem inquiriram: "Como hei de viver, e sustentar minha família?" Obedeceram ao chamado; e quando, posteriormente, Jesus lhes perguntou: "Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa?" puderam responder: "Nada". Lucas 22:35. DTN 185 5 A Mateus em sua riqueza, como a André e Pedro em sua pobreza, a mesma prova foi apresentada; a mesma consagração foi feita por cada um. No momento do êxito, quando as redes estavam cheias de peixe, e mais fortes eram os impulsos do viver anterior, Jesus pediu aos discípulos junto ao mar que abandonassem tudo pela obra do evangelho. Assim toda pessoa é provada quanto a seu mais forte desejo -- se bens temporais, se a companhia de Cristo. DTN 186 1 O princípio é sempre de caráter exigente. Homem algum pode ser bem-sucedido no serviço de Deus, a menos que nele ponha inteiro o coração, e considere todas as coisas por perda pela excelência do conhecimento de Cristo. Ninguém que faça qualquer reserva pode ser discípulo de Cristo, e muito menos Seu colaborador. Quando os homens apreciam a grande salvação, o espírito de sacrifício observado na vida de Cristo ver-se-á na sua. Por onde quer que Ele os guie, acompanhá-Lo-ão contentes. DTN 186 2 A vocação de Mateus para ser um dos discípulos de Cristo, despertou grande indignação. Que um mestre de religião escolhesse um publicano como um de seus imediatos assistentes, era uma ofensa contra os costumes religiosos, sociais e nacionais. Procurando estimular os preconceitos do povo, os fariseus esperavam voltar a corrente dos sentimentos populares contra Jesus. DTN 186 3 Criou-se entre os publicanos amplo interesse. Seu coração foi atraído para o divino Mestre. Na alegria de seu novo discipulado, desejou Mateus levar seus antigos companheiros a Jesus. Fez, portanto, um banquete em sua casa, reunindo os parentes e amigos. Não somente publicanos foram incluídos, mas muitos outros de duvidosa reputação, proscritos por seus mais escrupulosos vizinhos. DTN 186 4 A festa foi oferecida em honra de Jesus, e Este não hesitou em aceitar a gentileza. Bem sabia que isso daria motivo de escândalo ao partido dos fariseus, comprometendo-O também aos olhos do povo. Nenhuma questão de política, entretanto, podia influenciar-Lhe os movimentos. Para Ele, as distinções exteriores não tinham valor. O que Lhe falava ao coração era a sede pela água da vida. DTN 186 5 Jesus Se sentou como hóspede honrado à mesa dos publicanos, mostrando, por Sua simpatia e amabilidade social, reconhecer a dignidade humana; e os homens anelavam tornar-se dignos de Sua confiança. As palavras de Seus lábios caíam no sedento coração deles com um bendito e vivificante poder. Despertavam-se novos impulsos, e a esses excluídos da sociedade abriu-se a possibilidade de uma nova vida. DTN 186 6 Em reuniões como essa, não poucos foram impressionados pelos ensinos do Salvador, os quais não O reconheceram senão depois de Sua ascensão. Quando o Espírito Santo foi derramado, e três mil se converteram num dia, houve entre eles muitos que tinham ouvido primeiramente a verdade à mesa dos publicanos, e alguns desses se tornaram mensageiros do evangelho. Ao próprio Mateus, o exemplo de Jesus na festa era uma lição constante. O desprezado publicano, tornou-se um dos mais devotados evangelistas, seguindo, em seu ministério, bem de perto, os passos do Mestre. DTN 187 1 Quando os rabis ouviram falar da presença de Jesus na festa de Mateus, apoderaram-se da oportunidade de O acusar. Procuraram, porém, operar por intermédio dos discípulos. Buscando despertar-lhes os preconceitos, esperavam separá-los do Mestre. Era sua política, acusar Cristo perante os discípulos, e estes perante Cristo, alvejando onde lhes parecia mais fácil ferir. Tem sido essa a maneira por que Satanás tem operado sempre, desde a desarmonia no Céu; e todos quantos procuram causar discórdia e separação são atuados por seu espírito. DTN 187 2 "Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?" indagaram os invejosos rabis. Mateus 9:11. Jesus não esperou que os discípulos respondessem à acusação, mas replicou Ele próprio: "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento". Mateus 9:12, 13. Os fariseus pretendiam ser espiritualmente sãos e portanto, não necessitados de médico, ao passo que consideravam os publicanos e gentios como perecendo das moléstias espirituais. Não era, pois, Sua obra, como médico, procurar a própria classe que Lhe necessitava o auxílio? DTN 187 3 Conquanto os fariseus presumissem tanto de si, encontravam-se na verdade em piores condições que aqueles a quem desprezavam. Os publicanos eram menos hipócritas e presunçosos, estando assim mais aptos a receber a influência da verdade. Jesus disse aos rabis: "Ide, [...] e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício". Mateus 9:13. Mostrou assim que, ao passo que pretendiam ser expositores da Palavra de Deus, lhe ignoravam por completo o espírito. DTN 187 4 Os fariseus calaram-se por algum tempo, mas apenas se tornaram mais decididos em sua inimizade. Procuraram em seguida os discípulos de João Batista, e buscaram pô-los contra o Salvador. Esses fariseus não haviam aceito a missão do Batista. Apontaram-lhe escarnecedoramente à vida de abstinência, aos hábitos simples, à vestimenta ordinária, e o declararam fanático. Como lhes denunciasse a hipocrisia, resistiram-lhe às palavras, e procuraram suscitar o povo contra ele. O Espírito de Deus movera o coração desses escarnecedores, convencendo-os do pecado; mas rejeitaram o conselho de Deus, e declararam que João estava possesso do diabo. DTN 187 5 Ora, quando Jesus veio, misturando-Se com o povo, comendo e bebendo à mesa deles, acusaram-nO de comilão e beberrão. Os próprios que faziam essas acusações, eram culpados. Como Deus é mal representado, e revestido por Satanás de seus próprios atributos, assim os mensageiros do Senhor eram desfigurados por esses homens maldosos. DTN 187 6 Os fariseus não consideravam que Jesus comia e bebia com os publicanos e pecadores, a fim de levar a luz do Céu aos que se sentavam em trevas. Não queriam ver que toda palavra proferida pelo divino Mestre era uma semente viva que germinaria e daria fruto para a glória de Deus. Estavam decididos a não aceitar a luz; e, conquanto se houvessem oposto à missão do Batista, prontificavam-se agora a cortejar a amizade dos discípulos, esperando ganhar-lhes a cooperação contra Jesus. Faziam parecer que Ele estava anulando as antigas tradições; e comparavam a austera piedade do Batista com a maneira de Jesus em banquetear-Se com publicanos e pecadores. DTN 188 1 Os discípulos de João achavam-se por essa época em grande aflição. Foi antes de sua visita a Jesus, com a mensagem de João. Seu amado mestre encontrava-se no cárcere, e eles passavam os dias em tristeza. E Jesus não estava fazendo nenhum esforço para libertar João, e parecia mesmo lançar descrédito sobre seus ensinos. Se João fora enviado por Deus por que seguiam Jesus e os discípulos caminho tão diverso? Os discípulos de João não tinham clara compreensão da obra de Cristo; pensaram que talvez houvesse algum fundamento para as acusações dos fariseus. Observavam muitas das regras prescritas pelos rabis, e esperavam mesmo ser justificados pelas obras da lei. O jejum era observado pelos judeus como ato meritório, e os mais rígidos dentre eles jejuavam duas vezes por semana. Os fariseus e os discípulos de João estavam jejuando, quando os últimos foram ter com Jesus, com a interrogação: "Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os Teus discípulos não jejuam?" Mateus 9:14. DTN 188 2 Muito ternamente lhes respondeu Jesus. Não procurou corrigir-lhes a errônea concepção acerca do jejum, mas apenas fazê-los ver com justeza Sua missão. E fê-lo empregando a mesma imagem de que se servira o próprio Batista em seu testemunho de Jesus. João dissera: "Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim pois já este meu gozo está cumprido". João 3:29. Os discípulos de João não podiam deixar de recordar essas palavras do mestre, quando, tomando a ilustração, Jesus disse: "Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo?" Marcos 2:18. DTN 188 3 O Príncipe do Céu estava entre Seu povo. O maior dom de Deus fora concedido ao mundo. Regozijo para os pobres; pois Cristo viera torná-los herdeiros de Seu reino. Regozijo para os ricos; pois lhes ensinaria a obter as riquezas eternas. Regozijo aos ignorantes; torná-los-ia sábios para a salvação. Regozijo aos instruídos; desvendar-lhes-ia mistérios mais profundos do que os que já haviam penetrado; verdades ocultas desde a fundação do mundo seriam reveladas aos homens, mediante a missão do Salvador. DTN 188 4 João Batista rejubilara ao ver o Salvador. Que ocasião de regozijo não tinham os discípulos, a quem cabia o privilégio de andar e falar com a Majestade do Céu! Não era esse o tempo de lamentarem e jejuarem. Deviam abrir o coração para receber a luz de Sua glória, para que, por sua vez, projetassem a luz sobre os que estavam sentados nas trevas e sombras da morte. DTN 188 5 Belo era o quadro que evocavam as palavras de Cristo; sobre ele, no entanto, pairava pesada sombra, que unicamente Seus olhos distinguiam. "Dias, porém, virão", disse Ele, "em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão". Mateus 9:15. Quando vissem seu Senhor traído e crucificado, os discípulos se afligiriam e jejuariam. Nas últimas palavras que lhes dirigia no cenáculo, dissera: "Um pouco e não Me vereis; e outra vez um pouco, e ver-Me-eis." "Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria". João 16:19, 20. DTN 189 1 Quando Ele ressurgisse do sepulcro, a tristeza deles se converteria em alegria. Depois de Sua ascensão devia estar pessoalmente ausente; mas por meio do Consolador, achar-Se-ia ainda com eles, e não deviam passar o tempo em lamentações. Isso era o que Satanás queria. Desejava que dessem ao mundo a impressão de haver sido iludidos e decepcionados; mas deviam, pela fé, contemplar o santuário em cima, onde Jesus estava ministrando em favor deles; deviam abrir o coração ao Espírito Santo, Seu representante, e regozijar-se na luz de Sua presença. Todavia, sobreviriam dias de tentação e prova, em que seriam postos em conflito com as autoridades do mundo, e os chefes do reino das trevas; quando Cristo não estivesse pessoalmente com eles, e deixassem de perceber o Consolador, então seria mais próprio jejuarem. DTN 189 2 Os fariseus procuravam exaltar-se pela rigorosa observância de formas, ao passo que tinham o coração cheio de inveja e contenda. "Eis", diz a Escritura, "que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor?" Isaías 58:4, 5. DTN 189 3 O verdadeiro jejum não é um serviço meramente formal. A Escritura descreve o jejum preferido por Deus: "que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo [...] que deixes livres os quebrantados [ou oprimidos] e despedaces todo o jugo [...]" "abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita". Isaías 58:6, 10. Aí se expõe o próprio espírito e caráter da obra de Cristo. Toda a Sua vida foi um sacrifício pela salvação do mundo. Quer jejuando no deserto da tentação, quer comendo com os publicanos no banquete de Mateus, estava dando a vida pela redenção dos perdidos. Não em ociosas lamentações, em simples humilhação do corpo e multidão de sacrifícios, está o verdadeiro espírito de devoção, mas revela-se na entrega do próprio eu em voluntário serviço para Deus e o homem. DTN 189 4 Continuando Sua resposta aos discípulos de João, Jesus disse uma parábola: "Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho". Lucas 5:36. A mensagem do Batista não devia ser entremeada com a tradição e a superstição. Uma tentativa de misturar as pretensões dos fariseus com a devoção de João, só tornaria mais evidente a rotura em ambas. DTN 190 1 Nem podiam os princípios do ensino de Cristo ser unidos com as formas do farisaísmo. Cristo não cobriria a rotura feita pelos ensinos de João. Tornaria mais distinta a separação ente o velho e o novo. Jesus ilustrou posteriormente este fato, dizendo: "Ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão". Lucas 5:37. Os odres de couro usados como vasos para guardar o vinho novo, ficavam depois de algum tempo secos e quebradiços, fazendo-se então imprestáveis para tornar a servir ao mesmo fim. Por meio dessa ilustração familiar, Jesus apresentou a condição dos guias judaicos. Sacerdotes, escribas e principais se haviam fixado numa rotina de cerimônias e tradições. Contraíra-se-lhes o coração como os odres de couro a que Ele os comparara. Ao passo que se satisfaziam com uma religião legal, era-lhes impossível tornar-se depositários das vivas verdades do Céu. Julgavam a própria justiça como suficiente, e não desejavam que um novo elemento fosse introduzido em sua religião. Não aceitavam a boa vontade de Deus para com os homens como qualquer coisa à parte deles próprios. Relacionavam-na com méritos que possuíam por causa de suas boas obras. A fé que opera por amor e purifica a alma, não podia encontrar união com a religião dos fariseus, feita de cerimônias e injunções de homens. O esforço de ligar os ensinos de Jesus com a religião estabelecida, seria em vão. A verdade vital de Deus, qual vinho em fermentação, estragaria os velhos, apodrecidos odres das tradições farisaicas. DTN 190 2 Os fariseus julgavam-se demasiado sábios para necessitar instruções, demasiado justos para precisar salvação, muito altamente honrados para carecer da honra que de Cristo vem. O Salvador deles Se desviou em busca de outros que recebessem a mensagem do Céu. Nos ignorantes pescadores, no publicano na alfândega, na mulher de Samaria, no povo comum que O escutava de boa vontade, encontrou Ele Seus novos odres para o vinho novo. Os instrumentos a serem usados na obra evangélica, são as pessoas que recebem com alegria a luz a elas enviada por Deus. São esses Seus instrumentos para a comunicação do conhecimento da verdade ao mundo. Se, mediante a graça de Cristo, Seu povo se torna odres novos, Ele os encherá de vinho novo. DTN 190 3 O ensino de Cristo, conquanto representado pelo vinho novo, não era uma nova doutrina, mas a revelação daquilo que fora ensinado desde o princípio. Mas para os fariseus a verdade perdera sua original significação e beleza. Para eles, os ensinos de Cristo eram, em quase todos os aspectos, novos; e não eram reconhecidos nem confessados. DTN 190 4 Jesus mostrou o poder dos falsos ensinos para destruir a capacidade de apreciar e desejar a verdade. "Ninguém", disse Ele, "tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho". Lucas 5:39. Toda a verdade dada ao mundo por meio de patriarcas e profetas, resplandeceu com nova beleza nas palavras de Cristo. Mas os escribas e fariseus não tinham nenhum desejo quanto ao precioso vinho novo. Enquanto não se esvaziassem das velhas tradições, costumes e práticas, não tinham, na mente e no coração, lugar para os ensinos de Cristo. Apegavam-se às formas mortas, e desviavam-se da verdade viva e do poder de Deus. DTN 191 1 Foi isso que se demonstrou a ruína dos judeus, e será a de muitas pessoas em nossos próprios dias. Há milhares a cometer o mesmo erro dos fariseus a quem Cristo reprovou no banquete de Mateus. Em lugar de abandonar certa idéia nutrida, ou rejeitar algum ídolo de opinião, muitos recusam a verdade descida do Pai da luz. Confiam em si mesmos, e dependem da própria sabedoria, e não compreendem sua pobreza espiritual. Insistem em ser salvos por alguma maneira em que realizem alguma obra importante. Quando vêem que não há nenhum modo de introduzirem o eu na obra, rejeitam a salvação provida. DTN 191 2 Uma religião legal nunca poderá conduzir pessoas a Cristo; pois é destituída de amor e de Cristo. Jejuar ou orar quando imbuídos de um espírito de justificação própria, é uma abominação aos olhos de Deus. A solene assembléia para o culto, a rotina das cerimônias religiosas, a humilhação externa, o sacrifício imposto, mostram que o que pratica essas coisas se considera justo, e com títulos ao Céu, mas tudo é engano. Nossas próprias obras jamais poderão comprar a salvação. DTN 191 3 Como foi nos dias de Cristo, assim se dá agora; os fariseus não conhecem sua necessidade espiritual. A eles se dirige a mensagem: "como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego e nu; aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestidos brancos para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez". Apocalipse 3:17, 18. Fé e amor são o ouro provado no fogo. Mas no caso de muitos se obscureceu o brilho do ouro, e perdeu-se o tesouro precioso. A justiça de Cristo é para eles um vestido sem uso, uma fonte intata. A esses é dito: "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te pois de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti verei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres". Apocalipse 2:4, 5. DTN 191 4 "Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus". Salmos 51:17. O homem se deve esvaziar do próprio eu, antes de ser, no mais amplo sentido, um crente em Jesus. Quando se renuncia ao eu, então o Senhor pode tornar o homem uma nova criatura. Novos odres podem conter o vinho novo. O amor de Cristo há de animar o crente de uma vida nova. Naquele que contempla o autor e consumador de nossa fé, o caráter de Cristo se há de manifestar. ------------------------Capítulo 29 -- O Sábado DTN 192 1 O sábado foi santificado na criação. Instituído para o homem, teve sua origem quando "as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. Pairava sobre o mundo a paz; pois a Terra estava em harmonia com o Céu. "Viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom" (Gênesis 1:31); e Ele repousou na alegria de Sua concluída obra. DTN 192 2 Como houvesse repousado no sábado, "abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou" (Gênesis 2:3) -- separou-o para uso santo. Deu-o a Adão como dia de repouso. Era uma lembrança da obra da criação, e assim, um sinal do poder de Deus e de Seu amor. Diz a Escritura: "Fez lembradas as Suas maravilhas". Salmos 111:4. As "coisas que estão criadas" declaram "as Suas coisas invisíveis, desde a fundação do mundo," "tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade". Romanos 1:20. DTN 192 3 Todas as coisas foram criadas pelo Filho de Deus. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus. [...] Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez". João 1:1-3. E uma vez que o sábado é uma lembrança da obra da criação, é um testemunho do amor e do poder de Cristo. DTN 192 4 O sábado chama para a natureza nossos pensamentos, e põe-nos em comunhão com o Criador. No canto do pássaro, no sussurro das árvores e na música do mar, podemos ouvir ainda Sua voz, a voz que falava com Adão no Éden, pela viração do dia. E ao Lhe contemplarmos o poder na natureza, encontramos conforto, pois a palavra que criou todas as coisas, é a mesma que comunica vida. Aquele "que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". 2 Coríntios 4:6. DTN 192 5 Foi esse pensamento que despertou o cântico: "Tu, Senhor, me alegraste com os Teus feitos; exultarei nas obras das Tuas mãos. Quão grandes são, Senhor, as Tuas obras. Mui profundos são os Teus pensamentos". Salmos 92:4, 5. DTN 192 6 E o Espírito Santo declara, por intermédio do profeta Isaías: "A quem pois fareis semelhante a Deus? ou com que O comparareis? [...] Porventura não sabeis? porventura não ouvis? ou desde o princípio se vos não notificou isto mesmo? ou não atentastes para os fundamentos da Terra? Ele é o que está assentado sobre o globo da Terra, cujos moradores são para Ele como gafanhotos; Ele é o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda, para neles habitar. [...] A quem pois Me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas, quem produz por conta o Seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará. Por que pois dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga? [...] Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor". Isaías 40:18-29. "Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça". Isaías 41:10. "Olhai para Mim, e sereis salvos, vós todos os termos da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro". Isaías 45:22. Eis a mensagem escrita na natureza, e que o sábado se destina a conservar na memória. Quando o Senhor pediu a Israel que Lhe santificasse os sábados, disse: "Servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus". Ezequiel 20:20. DTN 193 1 O sábado estava incluído na lei dada no Sinai; mas não foi então que primeiro se tornou conhecido como dia de descanso. O povo de Israel tinha disso conhecimento antes de chegarem ao Sinai. No caminho para aí, o sábado era guardado. Quando alguns o profanaram, o Senhor os repreendeu, dizendo: "Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?" Êxodo 16:28. DTN 193 2 O sábado não se destinava meramente a Israel, mas ao mundo. Fora tornado conhecido ao homem no Éden, e, como os demais preceitos do decálogo, é de imutável obrigatoriedade. Dessa lei de que o quarto mandamento é uma parte, declara Cristo: "Até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido". Mateus 5:18. Enquanto céus e Terra durarem, continuará o sábado como sinal do poder do Criador. E quando o Éden florescer novamente na Terra, o santo e divino dia de repouso será honrado por todos debaixo do Sol. "Desde um sábado até ao outro", os habitantes da glorificada nova Terra irão "adorar perante Mim, diz o Senhor". Isaías 66:23. DTN 193 3 Nenhuma outra das instituições dadas aos judeus tendia a distingui-los tão completamente das nações circunvizinhas, como o sábado. Era intenção do Senhor que sua observância os designasse como adoradores Seus. Seria um sinal de sua separação da idolatria, e ligação com o verdadeiro Deus. Mas a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser eles próprios santos. Devem, pela fé, tornar-se participantes da justiça de Cristo. Quando foi dado a Israel o mandamento: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar" (Êxodo 20:8), o Senhor lhes disse também: "E ser-Me-eis homens santos". Êxodo 22:31. Só assim poderia o sábado distinguir Israel como os adoradores de Deus. DTN 193 4 Ao se apartarem os judeus do Senhor, e deixarem de tornar a justiça de Cristo sua pela fé, o sábado perdeu para eles sua significação. Satanás estava procurando exaltar-se e afastar os homens de Cristo, e trabalhou para perverter o sábado, pois é o sinal do poder de Cristo. Os guias judaicos cumpriram a vontade de Satanás, rodeando o divino dia de repouso de enfadonhas exigências. Nos dias de Cristo, tão pervertido se tornara o sábado, que sua observância refletia o caráter de homens egoístas e arbitrários, em lugar de o fazer ao caráter do amorável Pai celeste. Virtualmente os rabis representavam a Deus como dando leis que os homens não podiam obedecer. Levavam o povo a olhar a Deus como tirano, e a pensar que a observância do sábado, segundo Ele a exigia, tornava os homens duros de coração e cruéis. Competia a Cristo a obra de esclarecer essas mal-entendidas concepções. Embora os rabis O seguissem com impiedosa hostilidade, Ele nem sequer parecia conformar-Se com o que requeriam, mas ia avante, guardando o sábado segundo a lei divina. DTN 194 1 Um sábado, ao voltarem Jesus e os discípulos do local do culto, passaram por uma seara madura. Jesus continuara Seu trabalho até tarde e, ao passarem pelos campos, os discípulos começaram a apanhar espigas e a comer os grãos depois de esfregá-los nas mãos. Em qualquer outro dia, esse ato não teria despertado nenhum comentário, pois uma pessoa que passasse por uma seara, ou pomar, ou vinha, tinha liberdade de colher o que lhe apetecesse comer. Deuteronômio 23:24, 25. Mas, fazer isso no sábado, era considerado um ato de profanação. Não somente era o apanhar a espiga uma espécie de ceifa, como o esfregá-la nas mãos uma espécie de debulha. Assim, na opinião dos rabis, havia dupla ofensa. DTN 194 2 Os espias queixaram-se imediatamente a Jesus, dizendo: "Vês? por que fazem no sábado o que não é lícito?" Quando acusado de pisar o sábado, em Betesda, Jesus Se defendeu, afirmando Sua filiação de Deus e declarando que operava em harmonia com o Pai. Agora, que eram acusados Seus discípulos, cita aos acusadores exemplos do Antigo Testamento, atos praticados no sábado pelos que estavam ao serviço de Deus. DTN 194 3 Os mestres judaicos orgulhavam-se de seu conhecimento das Escrituras, e na resposta do Salvador havia indireta censura a sua ignorância das sagradas letras. "Nunca lestes", disse Ele, "o que fez Davi quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e tomou os pães da proposição, [...] os quais não é lícito comer senão só aos sacerdotes?" Lucas 6:3, 4. "E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado". Marcos 2:27, 28. "Não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa? Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo." "O Filho do homem até do sábado é Senhor. Mateus 12:5, 6. DTN 194 4 Se era lícito a Davi satisfazer a fome comendo do pão que fora separado para um fim santo, então era lícito aos discípulos prover a sua necessidade colhendo umas espigas nas sagradas horas do sábado. Demais, os sacerdotes no templo realizavam maior trabalho no sábado que em outros dias. O mesmo trabalho, feito em negócios seculares, seria pecado, mas a obra dos sacerdotes era realizada no serviço de Deus. Estavam praticando os ritos que apontavam ao poder redentor de Cristo, e seu trabalho achava-se em harmonia com o desígnio do sábado. Agora, porém, viera o próprio Cristo. Os discípulos, fazendo a obra de Cristo, estavam empenhados no serviço de Deus, e o que era necessário à realização dessa obra, era direito fazer no dia de sábado. DTN 195 1 Cristo queria ensinar, aos discípulos e aos inimigos, que o serviço de Deus está acima de tudo. O objetivo da obra de Deus, neste mundo, é a redenção do homem; portanto, tudo quanto é necessário que se faça no sábado no cumprimento dessa obra, está em harmonia com a lei do sábado. Jesus coroou então Seu argumento, declarando-Se "Senhor do sábado" -- Alguém que estava acima de qualquer dúvida, acima de toda lei. Esse eterno Juiz absolve de culpa os discípulos, apelando para os próprios estatutos de cuja violação são acusados. DTN 195 2 Jesus não deixou passar a questão com uma simples repreensão aos inimigos. Declarou que, em sua cegueira, se haviam enganado quanto ao desígnio do sábado. Disse: "Se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes". Mateus 12:7. Os muitos ritos deles, destituídos de coração, não podiam suprir a falta daquela verdadeira integridade e terno amor que há de para sempre caracterizar o genuíno adorador de Deus. DTN 195 3 Cristo reiterou ainda a verdade de que os sacrifícios eram, em si mesmos, destituídos de valor. Eram um meio, e não um fim. Seu objetivo era dirigir os homens ao Salvador, levando-os assim em harmonia com Deus. É o serviço de amor que Deus aprecia. Quando falta esse, a mera rotina da cerimônia é-Lhe ofensiva. O mesmo quanto ao sábado. Visava este pôr os homens em comunhão com o Senhor; quando, porém, o espírito estava absorvido com enfadonhos ritos, o objetivo do sábado era contrariado. Sua observância meramente exterior, era um escárnio. DTN 195 4 Outro sábado, ao entrar Jesus na sinagoga, viu aí um homem cuja mão era mirrada. Os fariseus O observavam, ansiosos de ver o que faria. Bem sabia o Salvador que, curando no sábado, seria considerado transgressor, mas não hesitou em derribar o muro das exigências tradicionais que atravancavam o sábado. Jesus pediu ao enfermo que se adiantasse, perguntando então: "É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar?" Era uma máxima entre os judeus que deixar de fazer o bem, havendo oportunidade para isso, era fazer mal; negligenciar salvar a vida, era matar. Assim Jesus os atacou com suas próprias armas. E eles calaram-se. "E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-Se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, sã como a outra". Marcos 3:4, 5. DTN 195 5 Quando interrogado: "É lícito curar no sábado?" Jesus respondeu: "Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados". Mateus 12:10-12. DTN 196 1 Os espias não ousaram responder a Jesus em presença da multidão, por temor de se envolverem em dificuldades. Sabiam que Ele dissera a verdade. De preferência a violar suas tradições, deixariam um homem sofrer, ao passo que socorreriam um animal por causa do prejuízo para o possuidor, caso fosse o mesmo negligenciado. Assim, maior era o cuidado que manifestavam por um animal, que por um homem, criado à imagem divina. Isso ilustra a operação de todas as religiões falsas. Criam no homem o desejo de se exaltar acima de Deus, mas o resultado é degradá-lo abaixo do animal. Toda religião que combate a soberania de Deus, despoja o homem da glória que lhe pertencia na criação e lhe deve ser restituída em Cristo. Toda religião falsa ensina seus adeptos a serem descuidosos para com as necessidades, sofrimentos e direitos humanos. O evangelho dá alto valor à humanidade, como resgate do sangue de Cristo, e ensina uma terna solicitude pelas necessidades e misérias do homem. O Senhor diz: "Farei que um homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir". Isaías 13:12. DTN 196 2 Quando Jesus Se voltou para os fariseus com a pergunta se era lícito no dia de sábado fazer bem ou mal, salvar ou matar, pôs-lhes diante os próprios maus desígnios deles. Estavam-Lhe dando caça à vida com ódio amargo, ao passo que Ele salvava a vida e trazia felicidade às multidões. Seria melhor matar no sábado, como estavam planejando, do que curar o aflito, como fizera Ele? Seria mais justo ter o homicídio no coração durante o santo dia de Deus, que amor para com todos os homens -- amor que se exprime em atos de misericórdia? DTN 196 3 Na cura da mão mirrada, Jesus condenou o costume dos judeus, e colocou o quarto mandamento no lugar que Deus lhe destinara. "É [...] lícito fazer bem nos sábados", declarou Ele. Pondo à margem as absurdas restrições dos judeus, Cristo honrou o sábado, ao passo que os que dEle se queixavam estavam desonrando o santo dia de Deus. DTN 196 4 Os que afirmam que Cristo aboliu a lei, ensinam que Ele violou o sábado e justificou os discípulos em assim fazer. Colocam-se assim na mesma atitude que tomaram os astutos judeus. Contradizem dessa maneira o testemunho do próprio Cristo, que declarou: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e permaneço no Seu amor". João 15:10. Nem o Salvador nem Seus seguidores violaram a lei do sábado. Cristo era um vivo representante da lei. Nenhuma transgressão de seus santos preceitos se encontrou em Sua vida. Olhando a uma nação de testemunhas ansiosas por uma oportunidade para O condenar, pôde dizer, sem contradição: "Quem dentre vós Me convence de pecado?" João 8:46. DTN 196 5 O Salvador não viera para pôr de parte o que os patriarcas e profetas haviam falado; pois Ele próprio falara por intermédio desses representantes. Todas as verdades da Palavra de Deus tinham vindo dEle. Mas essas inapreciáveis jóias haviam sido postas em falsos engastes. Sua preciosa luz fora aplicada a servir ao erro. Deus queria que fossem tiradas desses engastes de erro, e recolocadas nos da verdade. Essa obra unicamente uma divina mão podia realizar. Por sua ligação com o erro, a verdade tinha estado ao serviço da causa do inimigo de Deus e do homem. Cristo viera colocá-la em condições de glorificar a Deus, e operar a salvação da humanidade. DTN 197 1 "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado", disse Jesus. Marcos 2:27. As instituições estabelecidas por Deus são para benefício da humanidade. "Tudo isso é por amor de vós". 2 Coríntios 4:15. "Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso. E vós de Cristo, e Cristo de Deus. 1 Coríntios 3:22, 23. A lei dos Dez Mandamentos, da qual o sábado é uma parte, Deus deu a Seu povo como uma bênção. "O Senhor nos ordenou", disse Moisés, "que fizéssemos todos esses estatutos, para temer ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida". Deuteronômio 6:24. E, por intermédio do salmista, foi dada a Israel a mensagem: "Servi ao Senhor com alegria; e apresentai-vos a Ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus: foi Ele, e não nós que nos fez povo Seu e ovelhas do Seu pasto. Entrai pelas portas dEle com louvor, e em Seus átrios com hinos". Salmos 100:2-4. E o Senhor declara acerca de todos quantos "guardarem o sábado, não o profanando: [...] os levarei ao Meu santo monte, e os festejarei na Minha casa de oração". Isaías 56:6, 7. DTN 197 2 "Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor." Essas palavras acham-se repletas de instrução e conforto. Por haver o sábado sido feito para o homem, é o dia do Senhor. Pertence a Cristo. Pois "todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez". João 1:3. Uma vez que Ele fez todas as coisas, fez também o sábado. Este foi por Ele posto à parte como lembrança da criação. Mostra-O como Criador tanto como Santificador. Declara que Aquele que criou todas as coisas no Céu e na Terra, e por quem todas as coisas se mantêm unidas, é a cabeça da igreja, e que por Seu poder somos reconciliados com Deus. Pois, falando de Israel, disse: "Também lhes dei os Meus sábados, para que servissem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica" (Ezequiel 20:12) -- os torna santos. Portanto, o sábado é um sinal do poder de Cristo para nos fazer santos. E é dado a todos quantos Cristo santifica. Como sinal de Seu poder santificador, o sábado é dado a todos quantos, por meio de Cristo, se tornam parte do Israel de Deus. DTN 197 3 E o Senhor diz: "Se desviares o teu pé de profanar o sábado, e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra, [...] então te deleitarás no Senhor". Isaías 58:13, 14. A todos quantos recebem o sábado como sinal do poder criador e redentor de Cristo, ele será um deleite. Vendo nele Cristo, nEle se deleitam. O sábado lhes aponta as obras da criação, como testemunho de Seu grande poder em redimir. Ao passo que evoca a perdida paz edênica, fala da paz restaurada por meio do Salvador. E tudo na natureza Lhe repete o convite: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei". Mateus 11:28. ------------------------Capítulo 30 -- "Nomeou doze" DTN 198 0 Este capítulo é baseado em Marcos 3:13-19; 6:12-16. DTN 198 1 E subiu ao monte, e chamou para Si os que Ele quis; e vieram a Ele. E nomeou doze para que estivessem com Ele e os mandasse a pregar". Marcos 3:13, 14. DTN 198 2 Foi sob as protetoras árvores da encosta da montanha, pouco distante do mar da Galiléia, que Jesus chamou os doze para o apostolado e proferiu o sermão do monte. Os campos e as colinas eram os Seus retiros favoritos, e muitos de Seus ensinos foram ministrados sob a abóbada celeste, de preferência a templos ou sinagogas. Sinagoga nenhuma poderia haver comportado as multidões que O seguiam; mas não foi somente por essa razão que preferiu ensinar nos campos e bosques. Jesus amava as cenas da natureza. Para Ele, todo quieto retiro era um sagrado templo. DTN 198 3 Fora sob as árvores do Éden que os primeiros habitantes da Terra encontraram seu santuário. Ali Se comunicara Cristo com o pai da humanidade. Quando banidos do paraíso, nossos primeiros pais ainda adoraram nos campos e bosques, e ali os procurava Cristo com o evangelho de Sua graça. Fora Cristo que falara com Abraão sob os carvalhais do Manre; com Isaque, quando saía orar no campo à tardinha; com Jacó nas colinas de Betel; com Moisés nas montanhas de Midiã; e com o jovem Davi, quando apascentava os rebanhos. Fora por instruções de Cristo que, por quinze séculos, os hebreus haviam deixado suas habitações durante uma semana todos os anos, vivendo em cabanas feitas de ramos verdes "de formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores espessas, e salgueiros de ribeiras". Levítico 23:40. DTN 198 4 Preparando Seus discípulos, Jesus buscou de preferência afastar-Se da confusão da cidade para o sossego dos campos e colinas, como estando mais em harmonia com as lições de abnegação que lhes desejava ensinar. E durante Seu ministério apreciava reunir o povo em torno de Si, sob o céu azul, em alguma relvosa encosta, ou na praia do lago. Ali, circundado pelas obras de Sua própria criação, podia dirigir o pensamento dos ouvintes do artificial para o natural. No crescimento e desenvolvimento da natureza, revelavam-se os princípios de Seu reino. Ao erguerem os homens o olhar para as montanhas de Deus, contemplando as maravilhosas obras de Suas mãos, poderiam aprender preciosas lições de verdade divina. Os ensinos de Cristo ser-lhes-iam repetidos nas cenas da natureza. O mesmo acontece com os que se dirigem aos campos com Cristo no coração. Sentir-se-ão circundados de santa influência. As coisas da natureza evocavam as parábolas de nosso Senhor, e repetem-Lhe os conselhos. Pela comunhão com Deus na natureza, eleva-se o espírito e o coração encontra paz. DTN 199 1 O primeiro passo devia ser dado agora na organização da igreja que, após a partida de Cristo, O devia representar na Terra. Não tinham a sua disposição nenhum custoso templo, mas o Salvador conduziu os discípulos ao retiro que amava, e no espírito dos mesmos ficaram para sempre ligados os sagrados incidentes daquele dia com a beleza das montanhas, do vale e do mar. DTN 199 2 Jesus chamara os discípulos para que os pudesse enviar como testemunhas Suas, a fim de contarem ao mundo o que dEle tinham visto e ouvido. Seu encargo era o mais importante a que já haviam sido chamados seres humanos, sendo-lhe superior apenas o do próprio Cristo. Deviam ser coobreiros de Deus na salvação do mundo. Como no Antigo Testamento os doze patriarcas ocupam o lugar de representantes de Israel, assim os doze apóstolos deviam servir de representantes da igreja evangélica. DTN 199 3 O Salvador conhecia o caráter dos homens que escolhera; todas as suas fraquezas e erros Lhe eram patentes; sabia os perigos por que deviam passar, a responsabilidade que devia pesar sobre eles; e o coração afligiu-se-Lhe por esses escolhidos. Sozinho sobre a montanha junto ao Mar da Galiléia, passou a noite inteira em oração pelos discípulos, enquanto eles mesmos dormiam ao pé do monte. Aos primeiros clarões da aurora, chamou-os para junto de Si; pois tinha alguma coisa importante a lhes comunicar. DTN 199 4 Esses discípulos tinham estado por algum tempo unidos a Jesus em labor ativo. João e Tiago, André e Pedro, com Filipe e Natanael, e Mateus, estiveram mais intimamente ligados a Ele do que os outros, e testemunharam mais de Seus milagres. Pedro, Tiago e João estavam ainda em convívio mais íntimo com Ele. Achavam-se quase continuamente ao Seu lado, presenciando-Lhe os milagres e ouvindo-Lhe as palavras. João achegava-se a Ele em intimidade maior ainda, de maneira que se distingue como aquele a quem Jesus amava. O Salvador os amava a todos, mas João era o espírito mais apto a receber-Lhe a influência. Era mais jovem que os outros, e com mais infantil confiança abria a Cristo o coração. DTN 199 5 Chegou assim a uma afinidade maior com Jesus, e por intermédio dele foram comunicados a Seu povo os mais profundos ensinos espirituais do Salvador. DTN 199 6 À testa de um dos grupos em que são divididos os apóstolos, acha-se o nome de Filipe. Foi ele o primeiro discípulo a quem Jesus dirigiu a positiva ordem: "Segue-Me." Filipe era de Betsaida, a cidade de André e Pedro. Escutara a pregação de João Batista, e ouvira-o anunciar que Cristo era o Cordeiro de Deus. Filipe era um sincero indagador da verdade, mas tardio de coração para crer. Conquanto se houvesse unido a Cristo, a comunicação que a Seu respeito fizera a Natanael, mostra que não estava inteiramente convencido da divindade de Jesus. Conquanto Cristo houvesse sido proclamado, pela voz do Céu, como o Filho de Deus, para Filipe era "Jesus de Nazaré, filho de José". João 1:45. DTN 200 1 De outra vez, quando foram alimentados os cinco mil, revelou-se a falta de fé de Filipe. Foi para prová-lo que Jesus perguntou: "Onde compraremos pão, para estes comerem?" A resposta de Filipe foi de incredulidade: "Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um pouco". João 6:5, 7. Jesus Se magoou. Embora Filipe tivesse visto Suas obras e experimentado Seu poder, não tinha fé. Quando os gregos interrogaram Filipe acerca de Jesus, não se aproveitou da oportunidade para apresentá-los ao Salvador, mas foi ter com André. Mais tarde, naquelas últimas horas antes da crucifixão, as palavras de Filipe foram de molde a desanimar a fé. Quando Tomé disse a Jesus: "Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?" o Salvador respondeu: "Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida. [...] Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu Pai." De Filipe partiu a resposta de incredulidade: "Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta". João 14:5-8. Tão tardio de coração, tão fraco na fé era aquele discípulo que por três anos estivera com Jesus. DTN 200 2 Em feliz contraste com a incredulidade de Filipe, estava a infantil confiança de Natanael. Era homem de natureza intensamente fervorosa; homem cuja fé se apoderava das realidades invisíveis. Todavia, Filipe foi aluno na escola de Cristo, e o divino Mestre lidou pacientemente com sua incredulidade e espírito tardio. Quando o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, Filipe tornou-se um mestre segundo as normas divinas. Sabia de que falava, e ensinava com uma certeza que levava convicção aos ouvintes. DTN 200 3 Enquanto Jesus estava preparando os discípulos para sua ordenação, um que não fora chamado se esforçou para ser contado entre eles. Foi Judas Iscariotes, que professava ser seguidor de Cristo. Adiantou-se então, solicitando um lugar nesse círculo mais íntimo de discípulos. Com grande veemência e aparente sinceridade, declarou: "Senhor, seguir-Te-ei para onde quer que fores." Jesus nem o repeliu, nem o acolheu com mostras de agrado, mas proferiu apenas as tristes palavras: "As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça". Mateus 8:19, 20. Judas acreditava que Jesus fosse o Messias; e, ao unir-se aos discípulos, esperava assegurar para si alta posição no novo reino. Essa esperança quis Jesus tirar com a declaração de Sua pobreza. DTN 200 4 Os discípulos estavam ansiosos por que Judas fosse contado entre eles. Tinha imponente aparência, era dotado de perspicácia e habilidade executiva, e eles o recomendaram a Jesus como pessoa que Lhe seria de grande utilidade na obra. Surpreenderam-se de que o recebesse tão friamente. DTN 200 5 Os discípulos tinham ficado muito decepcionados de que Jesus não houvesse buscado obter a cooperação dos guias de Israel. Achavam que era erro não consolidar Sua causa com o apoio desses homens de influência. Houvesse Ele repelido a Judas, e teriam, em seu íntimo, posto em dúvida a sabedoria do Mestre. A história posterior de Judas revelar-lhes-ia o perigo de permitir qualquer consideração mundana influir no julgar a capacidade de homens para a obra de Deus. A cooperação de homens como os que os discípulos estavam ansiosos por conseguir teria entregue a obra nas mãos dos piores inimigos. DTN 201 1 Todavia, quando Judas se uniu aos discípulos, não era insensível à beleza do caráter de Cristo. Sentia a influência daquele poder divino que atraía pecadores ao Salvador. Aquele que não viera quebrar a cana trilhada nem apagar o fumegante pavio, não repeliria essa pessoa enquanto nela houvesse um único desejo que a atraísse para a luz. O Salvador lia o coração de Judas; sabia as profundezas de iniqüidade a que, se o não livrasse a graça de Deus, havia ele de imergir. Ligando a Si esse homem, colocou-o numa posição em que poderia ser dia a dia posto em contato com as torrentes de Seu próprio abnegado amor. Abrisse ele o coração a Cristo, e a graça divina baniria o demônio do egoísmo, e mesmo Judas se poderia tornar um súdito do reino de Deus. DTN 201 2 Deus toma os homens tais como são, com os elementos humanos de seu caráter, e os prepara para Seu serviço, caso queiram ser disciplinados e dEle aprender. Não são escolhidos por serem perfeitos, mas apesar de suas imperfeições, para que, pelo conhecimento e observância da verdade, mediante a graça de Cristo, se possam transformar à Sua imagem. DTN 201 3 Judas teve as mesmas oportunidades que os outros discípulos. Escutou as mesmas preciosas lições. Mas a observância da verdade, exigida por Cristo, estava em desarmonia com os desejos e desígnios de Judas, e este não queria ceder suas idéias a fim de receber sabedoria do Céu. DTN 201 4 Quão ternamente tratou o Salvador àquele que havia de ser Seu traidor! Em Seus ensinos, demorava-Se sobre os princípios de generosidade que feriam pela raiz a cobiça. Apresentava diante de Judas o odioso caráter da ganância, e muitas vezes compreendeu o discípulo que seu caráter fora descrito, apontado seu pecado; mas não queria confessar e abandonar sua injustiça. Era cheio de presunção e, em lugar de resistir à tentação, continuava em suas práticas fraudulentas. Cristo estava diante dele, exemplo vivo do que se devia tornar, caso colhesse o benefício da mediação e ministério divinos; mas lição após lição caiu desentendida aos ouvidos de Judas. DTN 201 5 Jesus não lhe passou, por sua cobiça, nenhuma repreensão de molde a ferir, mas com divina paciência lidou com esse homem faltoso, mesmo quando lhe demonstrava que lia em seu coração como num livro aberto. Apresentou-lhe os mais altos incentivos para proceder retamente; e, rejeitando a luz do Céu, Judas não teria desculpa. DTN 201 6 Ao invés de andar na luz, Judas preferiu conservar seus defeitos. Maus desejos, vingativas paixões, sombrios e maus pensamentos eram nutridos, até que Satanás tomou inteiro domínio sobre o homem. Judas tornou-se um representante do inimigo de Cristo. DTN 202 1 Quando ele se pôs em contato com Jesus, tinha alguns preciosos traços de caráter que se poderiam haver tornado uma bênção para a igreja. Houvesse ele estado disposto a tomar o jugo de Cristo, e ter-se-ia contado entre os principais apóstolos; mas endureceu o coração quando lhe eram apontados os defeitos, e, orgulhosa e rebeldemente, preferiu suas próprias ambições egoístas, incapacitando-se assim para a obra que Deus lhe teria dado a fazer. DTN 202 2 Todos os discípulos tinham sérias falhas de caráter quando Jesus os chamou ao Seu serviço. O próprio João, que chegou a ter mais íntimo convívio com o Manso e Humilde, não era de si mesmo dócil e submisso. Ele e seu irmão foram chamados "filhos do trovão". Marcos 3:17. Durante o tempo em que viveram com Jesus, todo menosprezo a Ele mostrado lhes despertava a indignação e a combatividade. Mau gênio, vingança, espírito de crítica, tudo se encontrava no discípulo amado. Era orgulhoso e ambicioso de ser o primeiro no reino de Deus. Mas dia a dia, em contraste com seu próprio espírito violento, contemplava a ternura e longanimidade de Jesus, e aprendia-Lhe as lições de humildade e paciência. Abriu o coração à divina influência, e tornou-se, não somente ouvinte, mas cumpridor das palavras do Mestre. O próprio eu escondeu-se em Cristo. Aprendeu a levar o jugo de Jesus, a suportar-Lhe o fardo. DTN 202 3 Jesus reprovava Seus discípulos, advertia-os e avisava-os; mas João e seus irmãos não O deixavam; preferiam a Jesus, apesar das reprovações. O Salvador não Se afastava deles por causa de suas fraquezas e erros. Continuaram até ao fim a partilhar-Lhe as provações e aprender as lições de Sua vida. Contemplando a Cristo, transformaram-se no caráter. DTN 202 4 Os apóstolos diferiam largamente em hábitos e disposição. Havia o publicano Levi Mateus e o ardente zelote Simão, o intransigente inimigo da autoridade romana; o generoso e impulsivo Pedro, e Judas, de vil espírito; Tomé, leal, se bem que tímido e temeroso; Filipe, tardio de coração e inclinado à dúvida, e os ambiciosos e francos filhos de Zebedeu, com seus irmãos. Estes foram reunidos, com suas diferentes faltas, todos com herdadas e cultivadas tendências para o mal; mas, em Cristo e por meio dEle, deviam fazer parte da família de Deus, aprendendo a tornar-se um na fé, na doutrina, no espírito. Teriam suas provas, suas ofensas mútuas, suas divergências de opinião; mas enquanto Cristo habitasse no coração, não poderia haver discórdia. Seu amor levaria ao amor de uns pelos outros; as lições do Mestre conduziriam à harmonização de todas as diferenças, pondo os discípulos em unidade, até que fossem de um mesmo espírito, de um mesmo parecer. Cristo é o grande centro, e eles se deveriam aproximar uns dos outros exatamente na proporção em que se aproximassem do centro. DTN 202 5 Quando Cristo concluiu as instruções aos discípulos, reuniu em torno de Si o pequeno grupo, bem achegados a Ele e, ajoelhando no meio deles e pondo-lhes as mãos sobre a cabeça, fez uma oração consagrando-os à Sua sagrada obra. Assim foram os discípulos do Senhor ordenados para o ministério evangélico. DTN 203 1 Cristo não escolheu, para Seus representantes entre os homens, anjos que nunca pecaram, mas seres humanos, homens semelhantes em paixões àqueles a quem buscavam salvar. Cristo tomou sobre Si a humanidade, a fim de chegar à humanidade. A divindade necessitava da humanidade; pois era necessário tanto o divino como o humano para trazer salvação ao mundo. A divindade necessitava da humanidade, a fim de que esta proporcionasse meio de comunicação entre Deus e o homem. O mesmo se dá com os servos e mensageiros de Cristo. O homem necessita de um poder fora e acima dele, para restaurá-lo à semelhança com Deus e habilitá-lo a fazer Sua obra; isso, porém, não faz com que o instrumento humano deixe de ser essencial. A humanidade apodera-se do poder divino, Cristo habita no coração pela fé; e, por meio da cooperação com o divino, o poder do homem torna-se eficiente para o bem. DTN 203 2 Aquele que chamou os pescadores da Galiléia, chama ainda homens ao Seu serviço. E está tão disposto a manifestar por nosso intermédio o Seu poder, como por meio dos primeiros discípulos. Imperfeitos e pecadores como possamos ser, o Senhor estende-nos o oferecimento da comunhão com Ele, do aprendizado com Cristo. Convida-nos a colocar-nos sob as instruções divinas, para que, unindo-nos a Cristo, possamos realizar as obras de Deus. DTN 203 3 "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós". 2 Coríntios 4:7. Foi por isso que a pregação do evangelho foi confiada a homens falíveis e não aos anjos. É manifesto que o poder que opera através das fraquezas da humanidade é o poder de Deus; e somos assim animados a crer que o poder que auxilia a outros, tão fracos como nós, nos pode ajudar a nós. E os que se acham rodeados de fraqueza, devem "compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados". Hebreus 5:2. Havendo eles próprios estado em perigo, acham-se familiarizados com os riscos e dificuldades do caminho, e por esse motivo são chamados a esforçar-se por outros em perigo idêntico. Pessoas existem perplexas pela dúvida, opressas pelas fraquezas, débeis na fé, incapazes de apegar-se ao Invisível; mas um amigo a quem podem ver, indo ter com eles em lugar de Cristo, pode ser um elo para firmar-lhes a trêmula fé no Filho de Deus. DTN 203 4 Devemos ser coobreiros dos anjos celestes em apresentar Jesus ao mundo. Com quase impaciente ansiedade esperam os anjos nossa cooperação; pois o homem deve ser o instrumento para comunicar com o homem. E, quando nos entregamos a Cristo numa consagração completa, os anjos se alegram de poderem falar por meio de nossa voz, para revelar o amor de Deus. ------------------------Capítulo 31 -- O sermão da montanha DTN 204 0 Este capítulo é baseado em Mateus 5-7. DTN 204 1 Raramente reunia Cristo os discípulos a sós com Ele, para Lhe receberem a palavra. Não escolhia para auditório apenas os que conheciam o caminho da vida. Era Sua obra pôr-Se em contato com as multidões que se achavam em ignorância e erro. Dava as lições da verdade segundo estas podiam atingir os obscurecidos entendimentos. Ele próprio era a Verdade, lombos cingidos e mãos sempre estendidas para abençoar, buscando, com palavras de advertência, súplica e animação, erguer a todos quantos iam ter com Ele. DTN 204 2 O sermão da montanha, conquanto dirigido especialmente para os discípulos, foi proferido aos ouvidos da multidão. Após a ordenação dos apóstolos, Jesus foi com eles para a praia do mar. Ali, de manhã cedo, começara o povo a se reunir. Além das costumadas multidões das cidades da Galiléia, havia gente da Judéia e da própria Jerusalém; da Peréia, de Decápolis, da Iduméia, para o sul da Judéia; e de Tiro, e Sidom, as cidades fenícias da costa do Mediterrâneo. "Ouvindo quão grandes coisas fazia" (Marcos 3:8), "tinham vindo para O ouvir, e serem curados das suas enfermidades. [...] Porque saía dEle virtude, e curava a todos". Lucas 6:17-19. DTN 204 3 A estreita praia não oferecia espaço ao alcance de Sua voz para todos quantos O desejavam ouvir, e Jesus os conduziu de volta à encosta da montanha. Chegando a um espaço plano, que proporcionava aprazível lugar de reunião para vasto auditório, sentou-Se Ele próprio na relva, e os discípulos e a multidão seguiram-Lhe o exemplo. DTN 204 4 O lugar dos discípulos era sempre próximo a Jesus. O povo comprimia-se constantemente em torno dEle, mas os discípulos entendiam que seu lugar junto do Mestre não devia ser tomado pela multidão. Sentaram-se-Lhe bem próximo, de modo a não perder nenhuma palavra de Suas instruções. Eram ouvintes atentos, ansiosos por compreender as verdades que teriam de dar a conhecer em todas as terras em todos os séculos. DTN 204 5 Com a impressão de que podiam esperar qualquer coisa acima do comum, apertaram-se todos em volta do Mestre. Acreditavam que o reino seria em breve estabelecido, e em vista dos acontecimentos daquela manhã, convenceram-se de que seria feita alguma declaração a esse respeito. Também a multidão estava em atitude de expectativa, e a ansiedade das fisionomias atestava o profundo interesse. Ao sentar-se o povo na verdejante encosta, aguardando as palavras do divino Mestre, tinham o coração cheio de pensamentos quanto à glória futura. Havia escribas e fariseus que esperavam o dia em que lhes seria dado domínio sobre os odiados romanos, e possuíssem as riquezas do grande império do mundo. Os pobres camponeses e pescadores esperavam ouvir a certeza de que suas míseras choças, o escasso alimento, a vida de árduo labutar e o temor da necessidade, deviam ser trocados por mansões onde reinassem abundância e dias de sossego. Em lugar da ordinária vestimenta que os abrigava de dia, e do cobertor que os agasalhava à noite, esperavam, Cristo lhes daria os ricos e custosos trajes de seus conquistadores. Todos os corações fremiam à orgulhosa esperança de que Israel seria em breve honrado ante as nações como os escolhidos do Senhor, e Jerusalém exaltada como a sede do reino universal. DTN 205 1 Cristo decepcionou essa esperança de mundana grandeza. No sermão do monte, procurou desfazer a obra da falsa educação, dando a Seus ouvintes conceito exato de Seu reino, bem como de Seu próprio caráter. Não atacou, todavia, diretamente os erros do povo. Via as misérias do mundo em razão do pecado, mas não lhes apresentou um quadro vivo de sua desgraça. Ensinou-lhes alguma coisa infinitamente melhor do que haviam conhecido. Sem lhes combater as idéias acerca do reino de Deus, disse-lhes as condições de entrada ali, deixando-os tirar suas próprias conclusões quanto à natureza do mesmo. As verdades que ensinou não são menos importantes para nós que para a multidão que O seguia. Não menos do que eles necessitamos nós de aprender os princípios fundamentais do reino de Deus. DTN 205 2 As primeiras palavras de Cristo ao povo, no monte, foram de bênção. Bem-aventurados, disse, são os que reconhecem sua pobreza espiritual, e sentem sua necessidade de redenção. O evangelho deve ser pregado ao pobre. Não ao espiritualmente orgulhoso, o que pretende ser rico e de nada necessitar, é ele revelado, mas aos humildes e contritos. Uma única fonte fora aberta para o pecado, uma fonte para os pobres de espírito. DTN 205 3 O coração orgulhoso esforça-se por alcançar a salvação; mas tanto o nosso título ao Céu, como nossa adequação para ele, encontram-se na justiça de Cristo. O Senhor nada pode fazer para a restauração do homem enquanto ele, convicto de sua própria fraqueza e despido de toda presunção, não se entrega à guia divina. Pode então receber o dom que Deus está à espera de conceder. Coisa alguma é recusada à alma que sente a própria necessidade. Ela tem ilimitado acesso Àquele em quem habita a plenitude. "Porque assim diz o Alto e Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos". Isaías 57:15. DTN 205 4 "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados." Por essas palavras Cristo não ensina que o chorar em si mesmo tenha poder para remover a culpa do pecado. Não sanciona a suposta ou voluntária humildade. O choro a que Se refere, não consiste em melancolia e lamentação. Ao passo que nos afligimos por causa do pecado, cumpre-nos regozijar-nos no precioso privilégio de ser filhos de Deus. DTN 206 1 Entristecemo-nos muitas vezes, porque nossas más ações nos trazem desagradáveis conseqüências; mas isso não é arrependimento. A verdadeira tristeza pelo pecado é o resultado da operação do Espírito Santo. Este revela a ingratidão da pessoa que menosprezou e ofendeu o Salvador, levando-nos contritos ao pé da cruz. Por todo pecado é Jesus novamente ferido (Hebreus 6:6); e ao olharmos Àquele a quem traspassamos, choramos as transgressões que Lhe trouxeram angústia. Tal pranto levará à renúncia do pecado. DTN 206 2 Os mundanos talvez considerem esse choro uma fraqueza; mas é a força que liga o penitente ao Infinito com laços que se não podem romper. Mostra que os anjos de Deus estão outra vez trazendo à pessoa as graças perdidas mediante a dureza de coração e as transgressões. As lágrimas do penitente não são senão as gotas de chuva que precedem o sol da santidade. Esse sol prenuncia o regozijo que será uma viva fonte no coração. "Somente reconhece a tua iniqüidade: que contra o Senhor teu Deus transgrediste"; "e não farei cair a Minha ira sobre vós; porque benigno sou, diz o Senhor". Jeremias 3:13, 12. "Acerca dos tristes de Sião" determinou Ele dar-lhes "ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito quebrantado". Isaías 61:3. DTN 206 3 E também para os que choram em provação e dor, existe conforto. A amargura do desgosto e da humilhação é preferível às satisfações do pecado. Por meio da aflição revela-nos Deus os lugares infeccionados em nosso caráter, para que, por Sua graça, possamos vencer nossas faltas. Desconhecidos capítulos que nos dizem respeito são-nos patenteados, e sobrevém a prova, a ver se aceitamos a repreensão e o conselho de Deus. Quando provados, não nos devemos afligir e impacientar. Não nos devemos rebelar, ou buscar fugir à mão de Cristo. O correto é humilhar o coração perante Deus. Os caminhos do Senhor são obscuros ao que procura ver as coisas sob um aspecto agradável para si mesmo. Afiguram-se sombrios e destituídos de alegria à nossa natureza humana. Mas os caminhos do Senhor são de misericórdia, e o fim é salvação. Elias não sabia o que estava fazendo quando disse, no deserto que bastava de viver, e orou pedindo a morte. O Senhor, em Sua misericórdia, não lhe pegou na palavra. Havia ainda uma grande obra a ser realizada por Elias; e, concluída essa obra, não devia ele perecer desanimado e só no deserto. Tampouco lhe caberia descer ao pó da morte, mas à ascensão gloriosa, com o cortejo dos carros celestiais, para o trono do alto. DTN 206 4 Eis a palavra de Deus para os aflitos: "Eu vejo os seus caminhos, e os sararei; também os guiarei, e lhes tornarei a dar consolações, e aos seus pranteadores". Isaías 57:18. "E tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e transformarei em regozijo a sua tristeza". Jeremias 31:13. DTN 207 1 "Bem-aventurados os mansos". Mateus 5:5. As dificuldades que temos de enfrentar podem ser muito diminuídas por aquela mansidão que se esconde em Cristo. Se possuirmos a humildade de nosso Mestre, sobrepor-nos-emos aos menosprezos, às repulsas, aos aborrecimentos a que estamos diariamente expostos, e estes deixarão de nos lançar sombra sobre o espírito. A mais elevada prova de nobreza num cristão é o domínio de si mesmo. Aquele que, em face de maus-tratos ou de crueldade, deixa de manter espírito calmo e confiante, rouba a Deus de Seu direito de nele revelar Sua própria perfeição de caráter. Humildade de coração é a força que dá vitória aos seguidores de Cristo; é o penhor de sua ligação com as cortes do alto. DTN 207 2 "Ainda que o Senhor é excelso, atenta para o humilde". Salmos 138:6. Os que manifestam o manso e humilde espírito de Cristo são ternamente considerados por Deus. Podem ser olhados com desdém pelo mundo, mas são de grande valor aos Seus olhos. Não somente os sábios, os grandes, e caritativos, obterão passaporte para as cortes celestes; não somente o atarefado obreiro, cheio de zelo e atividade. Não; o pobre de espírito, que ambiciona a presença permanente de Cristo, o humilde de coração, cujo mais alto anelo é fazer a vontade de Deus -- estes receberão uma entrada abundante. Achar-se-ão entre os que lavaram suas vestiduras e as branquearam no sangue do Cordeiro. "Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra". Apocalipse 7:15. DTN 207 3 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça". Mateus 5:6. O sentimento da própria indignidade levará o coração a ter fome e sede de justiça, e esse desejo não será decepcionado. Os que dão lugar a Jesus no coração, compreender-Lhe-ão o amor. Todos quantos anseiam ter semelhança de caráter com Deus, serão satisfeitos. O Espírito Santo nunca deixa sem assistência a alma que está olhando a Cristo. Ele toma do que é de Cristo, e mostra-lho. Se o olhar se mantiver fixo em Jesus, a obra do Espírito não cessa, até que a alma esteja conforme a Sua imagem. O puro elemento do amor dará expansão à alma, comunicando-lhe capacidade para altas consecuções, para maior conhecimento das coisas celestes, de maneira que ela não fique aquém da plenitude. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos." DTN 207 4 O misericordioso encontrará misericórdia, e o puro de coração verá a Deus. Todo pensamento impuro contamina a alma, enfraquece o senso moral, e tende a apagar as impressões do Espírito Santo. Diminui a visão espiritual, de modo que os homens não podem ver a Deus. O Senhor pode perdoar o arrependido pecador, e perdoa; embora perdoada, porém, a alma fica prejudicada. Toda impureza de linguagem ou de pensamento deve ser evitada por aquele que quer possuir clara percepção da verdade espiritual. DTN 208 1 As palavras de Cristo, todavia, abrangem mais que a isenção da impureza sensual, mais que a ausência daquela contaminação cerimonial que os judeus tão rigorosamente evitavam. O egoísmo nos impede de ver a Deus. O espírito interesseiro julga a Deus igual a si mesmo. Até que tenhamos renunciado a isso, não podemos compreender Aquele que é amor. Unicamente o coração abnegado, o humilde e fiel de espírito, verá a Deus como "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. DTN 208 2 "Bem-aventurados os pacificadores." A paz de Cristo provém da verdade. É harmonia com Deus. O mundo está em inimizade com a lei de Deus; os pecadores acham-se em inimizade com seu Criador; e, em resultado, em inimizade uns com os outros. Mas o salmista declara: "Muita paz têm os que amam a Tua lei, e para eles não há tropeço". Salmos 119:65. Os homens não podem fabricar a paz. Os projetos humanos para purificação e reerguimento dos indivíduos ou da sociedade, deixarão de produzir a paz, visto como não atingem o coração. O único poder capaz de criar ou perpetuar a verdadeira paz, é a graça de Cristo. Quando esta é implantada no coração, expele as más paixões que causam luta e dissensão. "Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta" (Isaías 55:13); e a vida deserta "exultará e florescerá como a rosa". Isaías 35:1. DTN 208 3 As multidões surpreendiam-se ante esses ensinos, tão diversos dos preceitos e exemplos dos fariseus. O povo chegara a pensar que a felicidade consistia na posse das coisas deste mundo, e que a fama e honra dos homens eram muito de se cobiçar. Era muito grato alguém ser chamado "Rabi", e ser exaltado como sábio e religioso, vendo suas virtudes exibidas perante o público. Isso devia ser considerado a suprema felicidade. Mas, perante aquela numerosa multidão, Jesus declarou que o lucro terrestre era toda a recompensa que essas pessoas haviam de obter. Falava com segurança, e um convincente poder apoiava-Lhe as palavras. O povo emudeceu, sendo tomado de um sentimento de temor. Olhavam-se uns aos outros, duvidosos. Quem dentre eles se salvaria, fossem verdadeiros os ensinos desse homem? Muitos estavam convencidos de que esse notável Mestre era movido pelo Espírito de Deus, e divinos eram os sentimentos por Ele manifestados. DTN 208 4 Depois de explicar em que consistia a verdadeira felicidade, e como pode ser obtida, Jesus indicou mais definidamente os deveres de Seus discípulos, como mestres escolhidos por Deus para levar outros ao caminho da justiça e da vida eterna. Sabia que haveriam de ser muitas vezes decepcionados e sofrer desânimos, que enfrentariam decidida oposição, seriam insultados e rejeitado o seu testemunho. Bem sabia Ele que, no cumprimento de sua missão, os humildes homens que tão atentos Lhe escutavam as palavras haviam de sofrer calúnias, torturas, prisões e morte, e continuou: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós". Mateus 5:10-12. DTN 209 1 O mundo ama o pecado, e aborrece a justiça, e foi essa a causa de sua hostilidade para com Jesus. Todos quantos recusam Seu infinito amor, acharão o cristianismo um elemento perturbador. A luz de Cristo afasta as trevas que lhes cobrem os pecados, patenteando-se a necessidade de reforma. Ao passo que os que se submetem à influência do Espírito Santo começam a lutar consigo mesmos, os que se apegam ao pecado combatem contra a verdade e seus representantes. DTN 209 2 Assim se cria o conflito, e os seguidores de Cristo são acusados de perturbadores do povo. Mas é a união com Deus que lhes atrai a inimizade do mundo. Levam a injúria de Cristo. Estão palmilhando a senda trilhada pelos mais nobres da Terra. Não com pesar, mas com regozijo, devem enfrentar as perseguições. Cada ardente prova é um instrumento de Deus para sua purificação. Cada uma delas os está preparando para sua obra de colaboradores Seus. Cada conflito tem seu lugar na grande batalha em busca da justiça, e ajuntará uma alegria ao seu final triunfo. Tendo isso em vista, a prova de sua fé e paciência será de bom grado aceita, em vez de temida e evitada. Ansiosos por cumprir sua obrigação para com o mundo, fixando seu desejo na aprovação de Deus, Seus servos têm de cumprir cada dever, a despeito do temor dos homens ou de seu favor. DTN 209 3 "Vós sois o sal da terra" (Mateus 5:13), disse Jesus. Não vos aparteis do mundo, a fim de escapar à perseguição. Deveis permanecer entre os homens, para que o sabor do amor divino seja como sal a preservar o mundo da corrupção. DTN 209 4 Corações que correspondem à influência do Espírito Santo, são condutos por onde fluem as bênçãos divinas. Fossem os servos de Deus tirados da Terra, e Seu Espírito retirado dentre os homens, este mundo seria entregue à desolação e destruição, o fruto do domínio de Satanás. Conquanto os ímpios não o saibam, devem até mesmo as bênçãos desta vida, à presença do povo de Deus no mundo, esse povo que desprezam e oprimem. Mas se os cristãos o são apenas de nome, são como o sal que perdeu o sabor. Não exercem nenhuma influência para bem no mundo. São, pela falsa representação de Deus, piores que os incrédulos. DTN 209 5 "Vós sois a luz do mundo". Mateus 5:14. Os judeus pensavam limitar os benefícios da salvação a seu próprio povo; mas Jesus mostrou-lhes que a salvação é como a luz do Sol. Pertence ao mundo. A religião da Bíblia não deve ser confinada dentro da capa de um livro, ou entre as paredes de uma igreja, nem ser manifestada acidentalmente, para nosso proveito, sendo então posta de novo à margem. Cumpre santificar a vida diária, manifestar-se em toda transação de negócio, e em todas a relações sociais. DTN 210 1 O verdadeiro caráter não se molda exteriormente; irradia do interior. Se desejamos dirigir outros na vereda da justiça, os princípios da eqüidade devem ser entronizados na própria alma. Nossa profissão de fé pode proclamar a teoria da religião, mas é a piedade que revela a palavra da verdade. A vida coerente, a santa conversação, a inabalável integridade, o espírito ativo e beneficente, o piedoso exemplo -- eis os condutos pelos quais a luz é comunicada ao mundo. DTN 210 2 Jesus não demorara nas especificações da lei, mas não permitiu que Seus ouvintes concluíssem que viera pôr de parte suas reivindicações. Sabia que havia espiões prontos a pegarem toda palavra susceptível de ser torcida para servir ao próprio desígnio. Sabia dos preconceitos que existiam no espírito de muitos de Seus ouvintes, e não disse coisa alguma para lhes perturbar a fé na religião e instituições que lhes foram entregues por intermédio de Moisés. O mesmo Cristo dera tanto a lei moral, como a cerimonial. Não viera destruir a confiança em Suas próprias instruções. Era por causa de Sua grande reverência pela lei e os profetas, que procurava fazer uma brecha no muro de exigências tradicionais que cercava os judeus. Conquanto pusesse de lado suas falsas interpretações da lei, guardava cuidadosamente Seus discípulos de abandonarem as vitais verdades confiadas aos hebreus. DTN 210 3 Os fariseus se orgulhavam da obediência que prestavam à lei; sabiam, todavia, tão pouco de seus princípios pela prática diária, que para eles as palavras do Salvador soavam qual heresia. Ao sacudir o entulho sob que a verdade estivera soterrada, julgavam que estava varrendo a própria verdade. Murmuravam uns para os outros que estava menosprezando a lei. Jesus leu-lhes os pensamentos, e respondeu aos mesmos, dizendo: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir". Mateus 5:17. Aí refuta Jesus a acusação dos fariseus. Sua missão para o mundo é reivindicar os sagrados direitos da lei que O acusam de violar. Se a lei de Deus pudesse haver sido mudada ou anulada, então Cristo não teria necessitado sofrer as conseqüências de nossa transgressão. Ele veio para explicar a relação da lei para com o homem, e exemplificar-lhe os preceitos mediante Sua própria vida de obediência. DTN 210 4 Deus nos deu Seus santos preceitos, porque ama a humanidade. Para proteger-nos dos resultados da transgressão, revela os princípios da justiça. A lei é uma expressão do pensamento divino; quando recebida em Cristo, torna-se nosso pensamento. Ergue-nos acima do poder dos desejos e tendências naturais, acima das tentações que induzem ao pecado. Deus quer que sejamos felizes, e deu-nos os preceitos da lei para que obedecendo-lhes, possamos ter alegria. Quando, por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos cantaram: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14), estavam declarando os princípios da lei que viera engrandecer e tornar gloriosa. DTN 211 1 Quando a lei foi proclamada do Sinai, Deus tornou conhecida aos homens a santidade de Seu caráter a fim de que, por contraste, pudessem ver sua própria pecaminosidade. A lei foi dada para os convencer do pecado, e revelar-lhes sua necessidade de um Salvador. Assim o faria, à medida que seus princípios fossem aplicados ao coração pelo Espírito Santo. Esta obra deve ela fazer ainda. Na vida de Cristo se tornam patentes os princípios da lei; e, ao tocar o Espírito Santo de Deus o coração, ao revelar a luz de Cristo aos homens a necessidade que têm de Seu sangue purificador e de Sua justificadora justiça, a lei é ainda um instrumento em nos levar a Cristo para sermos justificados pela fé. "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma". Salmos 19:7. DTN 211 2 "Até que o céu e a Terra passem", disse Jesus, "nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido". Mateus 5:18. O Sol que brilha no céu, a sólida Terra sobre que habitamos, são testemunhas de Deus, de que Sua lei é imutável e eterna. Ainda que passem, perdurarão os divinos preceitos. "É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei". Lucas 16:17. O sistema de tipos que apontavam para Cristo como o Cordeiro de Deus, devia ser abolido por ocasião de Sua morte; mas os preceitos do decálogo são tão imutáveis como o trono de Deus. DTN 211 3 Uma vez que "a lei do Senhor é perfeita", qualquer mudança dela deve ser um mal. Os que desobedecem aos mandamentos de Deus, e ensinam outros a fazer assim, são condenados por Cristo. A vida de obediência do Salvador manteve as reivindicações da lei; provou que a lei pode ser observada pela humanidade, e mostrou a excelência de caráter que a obediência havia de desenvolver. Todos quantos obedecem como Ele fez, estão semelhantemente declarando que a lei é "santa, justa e boa". Romanos 7:12. Por outro lado, todos quantos transgridem os mandamentos divinos, estão apoiando a pretensão de Satanás de que a lei é injusta, e não pode ser obedecida. Apóiam assim os enganos do grande adversário, e desonram a Deus. São filhos do maligno, o qual foi o primeiro rebelde contra a lei do Senhor. Admiti-los no Céu, seria aí introduzir novamente elementos de discórdia e rebelião, e pôr em risco o bem-estar do Universo. Ninguém que voluntariamente despreze um princípio da lei entrará no Céu. DTN 211 4 Os rabis consideravam sua justiça um passaporte para o Céu; mas Jesus declarou-a insuficiente e indigna. As cerimônias exteriores e um teórico conhecimento da verdade constituíam justiça farisaica. Os rabis pretendiam ser santos por meio de seus próprios esforços em guardar a lei; mas suas obras haviam divorciado a justiça da religião. Conquanto fossem extremamente escrupulosos nas observâncias rituais, sua vida era imoral e falsificada. Sua chamada justiça nunca poderia penetrar no reino do Céu. DTN 212 1 O maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação da alma. Não produz os frutos de justiça. Uma cuidadosa consideração pelo que é classificado verdade teológica, acompanha freqüentemente o ódio pela verdade genuína, segundo se manifesta na vida. Os mais tristes capítulos da História acham-se repletos do registro de crimes cometidos por fanáticos adeptos de religiões. Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão, e vangloriavam-se de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. Julgavam-se os maiores religiosos do mundo, mas sua chamada ortodoxia os levou a crucificar o Senhor da glória. DTN 212 2 O mesmo perigo existe ainda. Muitos se têm na conta de cristãos, simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. Não introduziram, porém, a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a santificação da verdade. Os homens podem professar fé na verdade; mas, se ela não os torna sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo. DTN 212 3 A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos, à medida que têm fé em Deus, e mantêm vital ligação com Ele. Então a verdadeira piedade lhes elevará os pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizam com a interior pureza cristã. As cerimônias exigidas no serviço de Deus não são nesse caso ritos destituídos de sentido, como os dos fariseus hipócritas. DTN 212 4 Jesus toma separadamente os mandamentos, e expõe-lhes a profundidade e a largura das reivindicações. Em lugar de remover um jota de sua força, mostra quão vasto é o alcance de seus princípios, e expõe o erro fatal dos judeus em sua ostentação exterior de obediência. Declara que, pelo mau pensamento ou o cobiçoso olhar, é transgredida a lei divina. Uma pessoa que se torna participante da mínima injustiça, está violando a lei e degradando sua própria natureza moral. O homicídio existe primeiro na mente. Aquele que dá ao ódio um lugar no coração, está pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são aborrecíveis a Deus. DTN 212 5 Os judeus cultivavam um espírito de vingança. Em seu ódio aos romanos, proferiam duras acusações e agradavam ao maligno pela manifestação de seus atributos. Estavam assim se preparando para praticar as terríveis ações a que ele os levou. Não havia, na vida religiosa dos fariseus, nada que recomendasse a piedade aos olhos dos gentios. Jesus declarou-lhes que se não enganassem com a idéia de poderem revoltar-se no coração contra seus opressores, e acariciar o anseio de vingar-se de suas injustiças. DTN 213 1 É verdade que há uma indignação justificável, mesmo nos seguidores de Cristo. Quando vêem que Deus é desonrado, e Seu serviço exposto ao descrédito; quando vêem o inocente opresso, uma justa indignação agita a alma. Tal ira, nascida da sensibilidade moral, não é pecado. Mas os que, a qualquer suposta provocação, se sentem em liberdade de condescender com a zanga ou o ressentimento, estão abrindo o coração a Satanás. Amargura e animosidade devem ser banidas da alma, se queremos estar em harmonia com o Céu. DTN 213 2 O Salvador vai além disso. Diz Ele: "Se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta". Mateus 5:23, 24. Muitos são zelosos nos cultos, ao passo que entre eles e seus irmãos existem lamentáveis diferenças, as quais poderiam harmonizar. Deus exige que façam tudo ao seu alcance para restaurar a concórdia. Antes que isso façam, não lhes pode aceitar a adoração. O dever do cristão a esse respeito é claramente indicado. DTN 213 3 Deus derrama Suas bênçãos sobre todos. "Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos." É "benigno até para com os ingratos e maus". Lucas 6:35. Pede-nos que sejamos semelhantes a Ele. "Bendizei os que vos maldizem", disse Jesus: "Fazei bem aos que vos odeiam,... para que sejais filhos do vosso Pai que está nos Céus". Mateus 5:44. Eis os princípios da lei, e são as fontes da vida. DTN 213 4 O ideal de Deus para Seus filhos é mais alto do que pode alcançar o pensamento humano. "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus". Mateus 5:48. Este mandamento é uma promessa. O plano da redenção visa ao nosso completo libertamento do poder de Satanás. Cristo separa sempre do pecado a alma contrita. Veio para destruir as obras do diabo, e tomou providências para que o Espírito Santo fosse comunicado a toda alma arrependida, para guardá-la de pecar. DTN 213 5 A influência do tentador não deve ser considerada desculpa para qualquer má ação. Satanás rejubila quando ouve os professos seguidores de Cristo apresentarem desculpas quanto à sua deformidade de caráter. São essas escusas que levam ao pecado. Não há desculpas para pecar. Uma santa disposição, uma vida cristã, são acessíveis a todo filho de Deus, arrependido e crente. DTN 213 6 O ideal do caráter cristão, é a semelhança com Cristo. Como o Filho do homem foi perfeito em Sua vida, assim devem Seus seguidores ser perfeitos na sua. Jesus foi em todas as coisas feito semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se carne, da mesma maneira que nós. Tinha fome, sede e fadiga. Sustentava-Se com alimento e refrigerava-Se pelo sono. Era Deus em carne. Ele compartilhou da sorte do homem; não obstante, foi o imaculado Filho de Deus. Seu caráter deve ser o nosso. Diz o Senhor dos que nEle crêem: "Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo". 2 Coríntios 6:16. DTN 214 1 Cristo é a escada que Jacó viu, tendo a base na Terra, e o topo chegando à porta do Céu, ao próprio limiar da glória. Se aquela escada houvesse deixado de chegar à Terra, por um único degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que, revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer. Feito "em semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3), viveu uma vida isenta de pecado. Agora, por Sua divindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se liga a nós. Manda-nos que, pela fé nEle, atinjamos à glória do caráter de Deus. Portanto, devemos ser perfeitos, assim como "é perfeito vosso Pai que está nos Céus". Mateus 5:48. DTN 214 2 Jesus mostrara em que consiste a justiça, e indicara Deus como fonte da mesma. Voltou-Se então para os deveres práticos. Em dar esmolas, orar, jejuar, disse Ele, que nada seja feito com o intuito de atrair atenção ou louvores para o próprio eu. Dai em sinceridade, para benefício do pobre sofredor. Na oração, comungue a alma com Deus. Ao jejuar, não andeis cabisbaixos, a mente ocupada com vós mesmos. O coração do fariseu é um solo árido e inútil, em que nenhuma semente de vida divina pode crescer. Aquele que mais completamente se entrega a Deus, é que mais aceitável serviço Lhe presta. Pois, mediante a comunhão com Ele, os homens se tornam coobreiros Seus em manifestar-Lhe o caráter na humanidade. DTN 214 3 A adoração prestada em sinceridade de coração tem grande recompensa. "Teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente". Mateus 6:6. Pela vida que vivemos mediante a graça de Cristo, forma-se o caráter. A beleza original começa a ser restaurada na alma. São comunicados os atributos do caráter de Cristo, começando a refletir-se a imagem do Divino. A fisionomia dos homens e mulheres que andam e trabalham com Deus, exprime a paz do Céu. São circundados da atmosfera celeste. Para essas pessoas começou o reino de Deus. Possuem a alegria de Cristo, a satisfação de ser uma bênção à humanidade. Têm a honra de ser aceitos para o serviço do Mestre; é-lhes confiado o fazer Sua obra em Seu nome. DTN 214 4 "Ninguém pode servir a dois senhores." Não podemos servir a Deus com coração dividido. A influência da religião bíblica não é uma influência entre outras: tem de ser suprema, penetrando em todas as outras e dominando-as. Não deverá ser uma pincelada dando aqui e ali cor a uma tela, mas encher a vida toda, como se a mesma tela fosse imergida na tinta até que cada fio houvesse tomado profundo e firme colorido. DTN 215 1 "De sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso". Mateus 6:22. Pureza e firmeza de propósito são condições para receber luz de Deus. Aquele que deseja conhecer a verdade, deve estar disposto a aceitar tudo que ela mostra. Não pode ter nenhuma transigência com o erro. Estar vacilante e morno para com a verdade, é preferir as trevas do erro e o engano de Satanás. DTN 215 2 Os métodos mundanos e os retos princípios da justiça não se misturam imperceptivelmente, como as cores do arco-íris. Há entre eles, traçada pelo eterno Deus, vasta e distinta linha divisória. A semelhança de Cristo ressalta tão marcadamente em contraste com a de Satanás, como o meio-dia em face da meia-noite. E unicamente os que vivem a vida de Cristo, são coobreiros Seus. Se um pecado é nutrido na alma, ou uma prática errônea conservada na vida, todo o ser é contaminado. O homem torna-se instrumento de injustiça. DTN 215 3 Todos quantos escolheram o serviço de Deus, devem descansar em Seu cuidado. Cristo apontou os pássaros voando no espaço, as flores no campo, pedindo a Seus ouvintes que considerassem essas criaturas de Deus. "Não tendes vós muito mais valor do que elas?" (Mateus 6:26) disse Ele. A medida da atenção divina concedida a qualquer criatura, é proporcional a sua posição na escala dos seres. A pequenina andorinha é velada pela Providência. As flores do campo, a relva que atapeta o solo, partilham da atenção e cuidado do Pai celeste. O grande Artista, o Artista-Mestre, teve pensamentos para os lírios, fazendo-os tão bonitos que ultrapassam a glória de Salomão. Quanto mais cuida Ele do homem, a imagem e glória divinas! Anela ver Seus filhos revelarem um caráter à Sua semelhança. Como a luz solar comunica às flores seus múltiplos e delicados matizes, assim transmite Ele à alma a beleza de Seu próprio caráter. DTN 215 4 Todos quantos preferem o reino de Cristo -- reino de amor e justiça e paz -- colocando os interesses do mesmo acima de todos os outros, acham-se ligados ao mundo do alto, e pertencem-lhes todas as bênçãos necessárias a esta vida. No livro da providência de Deus, o volume da vida, a cada um de nós é dada uma página. Essa página contém cada particularidade de nossa história; até os cabelos da cabeça estão contados. Os filhos de Deus nunca Lhe estão ausentes do pensamento. DTN 215 5 "Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã." Devemos seguir a Cristo dia a dia. Deus não provê auxílio para amanhã. Não dá a Seus filhos imediatamente todas as instruções para a jornada da vida, para que não fiquem confundidos. Diz-lhes apenas quanto possam conservar na memória e realizar. A força e a sabedoria comunicadas destinam-se à emergência do momento. "Se algum de vós tem falta de sabedoria" -- para o dia de hoje -- "peça a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada". Tiago 1:5. DTN 216 1 Não julgueis, para que não sejais julgados." Não vos julgueis melhores que outros homens, nem vos arvoreis em juízes seus. Uma vez que não vos é dado discernir os motivos, sois incapazes de julgar um ao outro. Ao criticá-lo, estais-vos sentenciando a vós mesmos; pois mostrais ter parte com Satanás, o acusador dos irmãos. O Senhor diz: "Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos". 2 Coríntios 13:5. Eis nossa tarefa. "Se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados". 1 Coríntios 11:31. DTN 216 2 A boa árvore produzirá bom fruto. Se o fruto for de sabor desagradável e sem valor, a árvore é má. Assim o fruto dado na vida testifica das condições do coração e da excelência do caráter. As boas obras jamais poderão comprar a salvação; são, porém, um indício da fé que opera por amor e purifica a alma. E se bem que a recompensa eterna não seja concedida em virtude de nossos méritos, será todavia em proporção à obra realizada por meio da graça de Cristo. DTN 216 3 Cristo apresentou assim os princípios de Seu reino, e mostrou serem eles a grande norma da vida. Para fazer gravar melhor a lição, dá um exemplo. Não vos basta, diz Ele, ouvirdes Minhas palavras. Cumpre-vos, pela obediência, torná-las o fundamento de vosso caráter. O próprio eu não passa de areia movediça. Se edificardes sobre teorias e invenções humanas, vossa casa ruirá. Pelos ventos da tentação, pelas tempestades das provas, será varrida. Mas estes princípios que vos dei permanecerão. Recebei-Me; edificai sobre Minhas palavras. DTN 216 4 "Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha". Mateus 7:24, 25. ------------------------Capítulo 32 -- O centurião DTN 217 0 Este capítulo é baseado em Mateus 8:5-13; Lucas 7:1-11. DTN 217 1 Cristo dissera ao nobre cujo filho curara: "Se não virdes sinais e milagres, não crereis". João 4:48. Doía-Lhe que Sua própria nação exigisse esses sinais exteriores de Sua messianidade. De quando em quando, maravilhara-Se da incredulidade deles. Igualmente, porém, Se admirou da fé do centurião que foi ter com Ele. O centurião não pôs em dúvida o poder do Salvador. Nem sequer pediu que fosse em pessoa realizar o milagre. "Dize somente uma palavra", disse ele, "e o meu criado sarará". Mateus 8:8. DTN 217 2 O servo do centurião fora acometido de paralisia, e estava às portas da morte. Entre os romanos, os servos eram escravos, comprados e vendidos nas praças, maltratados e vítimas de crueldades; mas o centurião era ternamente afeiçoado a seu servo, e com ardor desejava seu restabelecimento. Acreditava que Jesus o poderia curar. Nunca vira o Salvador, mas as notícias que lhe chegaram aos ouvidos lhe inspiraram fé. Não obstante o formalismo dos judeus, esse romano estava convencido de que a religião deles era superior a sua. Já rompera as barreiras de preconceitos e ódios nacionais que separavam os conquistadores do povo conquistado. Manifestara respeito pelo serviço divino, e bondade para com os judeus, como Seus adoradores. Nos ensinos de Cristo, segundo lhe haviam sido comunicados, encontrara aquilo que satisfazia às necessidades da alma. Tudo quanto havia de espiritual dentro dele, correspondera às palavras do Salvador. Sentira-se, porém, indigno de chegar à presença de Jesus e apelara para os anciãos dos judeus, a fim de fazerem o pedido quanto à cura do servo. Estavam relacionados com o grande Mestre, e saberiam, pensava, aproximar-se dEle de maneira a Lhe conseguir o favor. DTN 217 3 Ao entrar Jesus em Cafarnaum, foi-Lhe ao encontro uma delegação de anciãos, os quais Lhe falaram do desejo do oficial. Insistiram em que era digno de que lhe concedesse isto, porque, diziam: "ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga". Lucas 7:5. DTN 217 4 Jesus partiu imediatamente para a casa do oficial; mas, premido pela multidão, avançava devagar. As novas de Sua vinda O precederam, e o centurião, em sua desconfiança dos próprios méritos, enviou-Lhe a mensagem: "Senhor, não Te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado". Lucas 7:6. Mas o Salvador continuou andando, e o centurião, ousando afinal aproximar-se dEle, completou a mensagem, dizendo: "Nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque eu também sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: Vai; e ele vai; e a outro: Vem; e ele vem; e ao meu servo: Faze isto; e ele o faz". Lucas 7:7, 8. Como eu represento o poder de Roma, e meus soldados reconhecem minha autoridade como suprema, assim Tu representas o poder do infinito Deus, e todas as coisas criadas obedecem à Tua palavra. Podes ordenar à doença que saia, e ela Te obedecerá. Podes chamar Teus mensageiros celestiais, e comunicarão virtude vivificadora. Fala tão-somente uma palavra, e o meu criado sarará. DTN 218 1 "E, ouvindo isto Jesus, maravilhou-Se dele, e, voltando-Se, disse à multidão que O seguia: Digo-vos que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé". Lucas 7:9. E ao centurião, disse: "Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou". Mateus 8:13. DTN 218 2 Os anciãos judeus que haviam recomendado o centurião a Cristo, tinham mostrado quão longe estavam de possuir o espírito do evangelho. Não reconheciam que nossa grande necessidade é nosso único título à misericórdia divina. Em sua justiça própria, louvaram o centurião por causa do favor que manifestara para com "nossa nação". Mas o centurião disse de si mesmo: "Não sou digno." Seu coração fora tocado pela graça de Cristo. Viu a própria indignidade; não temia, no entanto, pedir auxílio. Não confiava na própria bondade; o argumento que apresentava era sua grande necessidade. Sua fé apegou-se a Cristo em Seu verdadeiro caráter. Não cria nEle apenas como operador de milagres, mas como o amigo e salvador da humanidade. DTN 218 3 É assim que todo pecador, se deve aproximar de Cristo. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou". Tito 3:5. Quando Satanás vos diz que sois pecador, e não podeis esperar receber bênçãos de Deus, dizei-lhe que Cristo veio ao mundo para salvar pecadores. Nada temos que nos recomende a Deus; mas a justificação em que podemos insistir agora e sempre, é nossa condição de completo desamparo, o qual torna uma necessidade Seu poder redentor. Renunciando a toda confiança própria, podemos olhar à cruz do Calvário e dizer: "O preço do resgate eu não o tenho; à Tua cruz prostrado me sustenho." DTN 218 4 Os judeus haviam sido instruídos desde a infância, quanto à obra do Messias. Pertenciam-lhes as inspiradas declarações dos patriarcas e profetas, bem como o simbólico ensino do serviço sacrifical. Haviam, porém, desprezado a luz; e agora nada viam em Jesus de desejável. Mas o centurião, nascido no paganismo, educado na idolatria de Roma imperial, instruído como soldado, aparentemente separado da vida espiritual pela educação e o ambiente, e ainda mais excluído pelo fanatismo dos judeus, e pelo desprezo de seus patrícios pelo povo de Israel -- esse homem distinguiu a verdade a que eram cegos os filhos de Abraão. Não esperou para ver se os próprios judeus receberiam Aquele que Se dizia o seu Messias. Ao brilhar sobre ele "a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo" (João 1:9), havia, embora afastado, discernido a glória do Filho de Deus. DTN 219 1 Para Jesus este foi um penhor da obra que o evangelho havia de realizar entre os gentios. Com alegria, antecipou a reunião de almas de todas as nações ao Seu reino. Com profunda tristeza, descreveu aos judeus o resultado da rejeição de Sua graça por parte deles: "Eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos Céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes." Ai! quantos ainda se estão preparando para a mesma fatal decepção! Enquanto almas mergulhadas nas trevas do paganismo Lhe aceitam a graça, quantos há em terras cristãs, sobre os quais a luz resplandece apenas para ser rejeitada! DTN 219 2 A uns trinta quilômetros de Cafarnaum, num planalto com vistas sobre a vasta e bela planície de Esdraelom, achava-se a vila de Naim, e para ali dirigiu Jesus em seguida os Seus passos. Muitos dos discípulos e outros se achavam com Ele, e pelo caminho vinha o povo, ansiando ouvir-Lhe palavras de amor e compaixão, trazendo-Lhe os doentes para que os curasse, e sempre com a esperança de que Aquele que empunhava tão assombroso poder Se manifestaria como Rei de Israel. Uma multidão apinhava-se-Lhe em torno, embaraçando-Lhe os passos, e alegre e esperançoso era o cortejo que O seguia pelo pedregoso trilho rumo à porta da cidade montanhesa. DTN 219 3 Ao aproximarem-se, vêem um cortejo fúnebre que saía da porta. Dirige-se lentamente ao local do enterro. Num esquife aberto, em frente, jaz o morto, e em volta os pranteadores, enchendo os ares de lamentosos gritos. Todo o povo da cidade parecia haver-se ajuntado para manifestar seu respeito pelo morto, e simpatia para com a enlutada família. DTN 219 4 Era um espetáculo de molde a despertar a compaixão. O falecido era filho único de sua mãe, e esta uma viúva. A solitária aflita acompanhava à sepultura seu único sustentáculo e conforto terrestre. "Vendo-a, o Senhor moveu-Se de íntima compaixão por ela." Caminhando a pobre mãe, olhos cegados pelo pranto, sem reparar em Sua presença, Ele Se lhe chegou bem perto, dizendo suavemente: "Não chores". Lucas 7:13. Cristo estava prestes a transformar-lhe a dor em alegria; não pôde, no entanto, eximir-se a essa expressão de terna simpatia. DTN 219 5 "Chegando-Se, tocou o esquife"; nem mesmo o contato com um morto Lhe podia comunicar qualquer contaminação. Os condutores detiveram-se; cessaram as lamentações dos pranteadores. Os dois acompanhamentos reuniram-se em torno do ataúde, esperando contra todas as expectativas. Ali estava Alguém que banira a enfermidade e vencera demônios; estaria também a morte sujeita a Seu poder? DTN 219 6 Em voz clara, cheia de autoridade, são proferidas as palavras: "Jovem, eu te mando: Levanta-te". Lucas 7:14. Aquela voz penetra nos ouvidos do morto. O jovem abre os olhos. Jesus o toma pela mão, e o ergue. Seu olhar pousa naquela que lhe chorava ao lado, e mãe e filho unem-se num longo, estreito, jubiloso abraço. A multidão, silenciosa, contempla a cena, como fascinada. "E de todos se apoderou o temor." Mudos e reverentes permaneceram por algum tempo, como em presença do próprio Deus. Depois "glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o Seu povo". A procissão fúnebre volveu a Naim como um cortejo triunfal. "E correu dEle esta fama por toda a Judéia e por toda a terra circunvizinha". Lucas 7:16, 17. DTN 220 1 Aquele que Se achava ao lado da desolada mãe à porta de Naim, vela ao pé de todo enlutado, à beira de um esquife. É tocado de simpatia por nossa dor. Seu coração, que amava e se compadecia, é de imutável ternura. Sua palavra, que chamava os mortos à vida, não é de maneira nenhuma hoje menos eficaz do que ao dirigir-se ao jovem de Naim. Diz Ele: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra". Mateus 28:18. Esse poder não diminui pelo espaço dos anos, nem se esgota pela incessante atividade de Sua excessiva graça. A todos quantos crêem, continua a ser um Salvador vivo. DTN 220 2 Jesus transformou a dor da mãe em alegria, quando lhe devolveu o filho; todavia, o jovem foi simplesmente chamado a esta vida, para lhe suportar as penas, as labutas e perigos, tendo de passar novamente pelo poder da morte. O pesar pelos mortos, porém, Ele conforta com a mensagem de infinita esperança: "Eu sou [...] o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. [...] E tenho as chaves da morte e do inferno". Apocalipse 1:18. "Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão". Hebreus 2:14, 15. DTN 220 3 Satanás não pode reter os mortos em seu poder quando o Filho de Deus lhes ordena que vivam. Não pode manter em morte espiritual uma alma que, com fé, recebe a poderosa palavra de Cristo. Deus está dizendo a todos quantos se acham mortos em pecado: "Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos". Efésios 5:14. Essa palavra é vida eterna. Como a palavra de Deus, que ordenou ao primeiro homem viver, dá-nos ainda vida; como a de Cristo: "Jovem, eu te mando: Levanta-te", deu a vida ao jovem de Naim, assim essa frase "Levanta-te dentre os mortos", é vida para a alma que a recebe. Deus "nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor". Colossences 1:13. Tudo nos é oferecido em Sua palavra. Se recebemos a palavra, temos a libertação. DTN 220 4 E "se o Espírito dAquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita". Romanos 8:11. "O mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor". 1 Tessalonicenses 4:16, 17. Tais são as palavras de conforto com que Ele nos manda consolar-nos uns aos outros. ------------------------Capítulo 33 -- Quem são meus irmãos? DTN 221 0 Este capítulo é baseado em Mateus 12:22-50; Marcos 3:20-35. DTN 221 1 Os filhos de José longe estavam de ter simpatia pela obra de Jesus. As notícias que lhes chegavam aos ouvidos acerca de Sua vida e trabalhos, enchiam-nos de surpresa e terror. Ouviram que dedicava noites inteiras à oração, que durante o dia era oprimido por grande quantidade de gente, e não Se permitia sequer o tempo necessário para comer. Os amigos achavam que Se estava consumindo por Seu incessante labor; não podiam explicar a atitude que tinha para com os fariseus, e alguns havia que receavam pelo equilíbrio de Sua razão. DTN 221 2 Isso chegou aos ouvidos de Seus irmãos, bem como a acusação dos fariseus de que Ele expulsava demônios pelo poder de Satanás. Sentiram vivamente a vergonha que lhes sobrevinha devido a seu parentesco com Jesus. Sabiam que tumulto Suas palavras e obras ocasionavam, e não somente se alarmavam com as ousadas declarações dEle, mas ficavam indignados com a acusação que fazia aos escribas e fariseus. Resolveram persuadi-Lo ou constrangê-Lo a deixar esse método de trabalhar, e induziram Maria a unir-se a eles, pensando que, em vista de Seu amor por ela, poderia conseguir levá-Lo a maior prudência. DTN 221 3 Fora justamente antes disso que Jesus operara pela segunda vez o milagre de curar um possesso, cego e mudo, e os fariseus haviam renovado a acusação: "Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios". Mateus 9:34. Cristo disse-lhes positivamente que em atribuir a obra do Espírito Santo a Satanás, estavam-se separando da fonte de bênçãos. Os que tivessem falado contra o próprio Cristo, não Lhe discernindo o caráter divino, poderiam receber perdão; pois mediante o Espírito Santo poderiam ser levados a ver seu erro e arrepender-se. Seja qual for o pecado, se a alma se arrepende e crê, a culpa é lavada no sangue de Cristo; mas aquele que rejeita a obra do Espírito Santo, assume uma posição que impede o acesso ao arrependimento e à fé. É pelo Espírito que Deus opera no coração; quando o homem rejeita voluntariamente o mesmo, e declara que é de Satanás, corta o conduto por onde Deus Se pode comunicar com ele. Quando o Espírito é afinal rejeitado, nada mais pode Deus fazer pela pessoa. DTN 221 4 Os fariseus a quem Cristo dirigiu essa advertência, não acreditavam eles próprios, na acusação que lançaram contra Ele. Não havia nenhum daqueles dignitários que se não sentisse atraído para o Salvador. Tinham ouvido a voz do Espírito no próprio coração, declarando ser Ele o Ungido de Israel, e insistindo em que se confessassem Seus discípulos. À luz de Sua presença, haviam compreendido a própria falta de santidade, e anelado uma justiça que não podiam criar. Mas, depois de O haverem rejeitado, seria excessivamente humilhante recebê-Lo como o Messias. Tendo posto o pé na vereda da incredulidade, eram demasiado orgulhosos para confessar seu erro. E para evitar reconhecer a verdade, tentavam com desesperada violência contestar os ensinos do Salvador. A prova de Seu poder e misericórdia os exasperava. Não podiam impedir que o Salvador operasse milagres, não Lhe podiam silenciar os ensinos; fizeram, porém, tudo quanto puderam para O apresentar sob um falso aspecto, e torcer-Lhe as palavras. No entanto, o convincente Espírito de Deus os seguia, e tiveram de construir muitas barreiras para Lhe resistir ao poder. A mais poderosa força que se possa fazer atuar sobre corações humanos, estava lutando com eles mas não se queriam render. DTN 222 1 Não é Deus que cega os homens ou lhes endurece o coração. Envia-lhes luz para lhes corrigir os erros e guiá-los por veredas seguras; é pela rejeição dessa luz que os olhos cegam e o coração se endurece. Muitas vezes o processo é gradual e quase imperceptível. A luz chega até à alma por meio da Palavra de Deus, de Seus servos, ou diretamente por Seu Espírito; mas quando um raio de luz é rejeitado, dá-se o parcial entorpecimento das percepções espirituais, e a segunda revelação da luz é menos claramente discernida. Assim aumenta a treva, até que se faz noite na alma. Assim se dera com esses guias judeus. Estavam convencidos de ser Cristo assistido por um poder divino, mas a fim de resistir à verdade, atribuíam a obra do Espírito Santo a Satanás. Procedendo desse modo, escolhiam deliberadamente o engano; renderam-se a Satanás, e daí em diante foram regidos por seu poder. DTN 222 2 Intimamente ligada à advertência de Cristo acerca do pecado contra o Espírito Santo, encontra-se a que é dada contra as palavras ociosas e más. As palavras são um indício do que se acha no coração. "Da abundância do seu coração fala a boca." Mas as palavras são mais que um indício do caráter; têm poder de reagir sobre o caráter. Os homens são influenciados por suas próprias palavras. Muitas vezes, levados por momentâneo impulso, instigados por Satanás, dão expressão ao ciúme ou às más suspeitas, exprimindo aquilo em que não crêem realmente; essa expressão, porém, reage sobre os pensamentos. São enganados pelas próprias palavras, e chegam a crer verdade aquilo que disseram por instigação de Satanás. Uma vez tendo expressado uma opinião ou decisão, são muitas vezes demasiado orgulhosos para a retratar, e tentam provar acharem-se com a razão, até que chegam a crer ser realmente assim. É perigoso emitir uma palavra de dúvida, perigoso questionar e criticar a luz divina. O hábito de descuidosa e irreverente crítica, reage sobre o caráter, fomentando irreverência e incredulidade. Muito homem condescendente com esse hábito assim tem prosseguido, inconsciente do perigo, até chegar ao ponto de criticar e rejeitar a obra do Espírito Santo. Jesus disse: "De toda palavra ociosa que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras será condenado". Mateus 12:36, 37. DTN 223 1 Dirigiu então uma advertência aos que foram impressionados por Suas palavras, que O ouviram de boa vontade, mas não se entregaram para habitação do Espírito Santo. Não é só pela resistência, mas pela negligência que a alma é destruída. "Quando o espírito imundo tem saído do homem", disse Jesus, "anda por lugares áridos, buscando repouso, e não encontra. Então diz: Voltarei para a minha casa de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali". Mateus 12:44, 45. DTN 223 2 Muitos havia nos dias de Cristo, e os há atualmente, sobre quem o domínio de Satanás por algum tempo parecia ter cessado; mediante a graça de Deus, foram libertados dos maus espíritos que exerciam domínio sobre a alma. Regozijavam-se no amor de Deus; mas, como os ouvintes do terreno pedregoso da parábola, não permaneceram em Seu amor. Não se entregaram diariamente a Deus, para que Cristo habitasse no coração; e quando o mau espírito voltou, "com outros sete espíritos piores do que ele", foram inteiramente dominados pelo poder do mal. DTN 223 3 Quando a pessoa se rende inteiramente a Cristo, novo poder toma posse do coração. Opera-se uma mudança que o homem não pode absolutamente operar por si mesmo. É uma obra sobrenatural introduzindo um sobrenatural elemento na natureza humana. A alma que se rende a Cristo, torna-se Sua fortaleza, mantida por Ele num revoltoso mundo, e é Seu desígnio que nenhuma autoridade seja aí conhecida senão a Sua. Uma alma assim guardada pelos seres celestes, é inexpugnável aos assaltos de Satanás. Mas a menos que nos entreguemos ao domínio de Cristo, seremos governados pelo maligno. Temos inevitavelmente de estar sob o domínio de um ou de outro dos dois grandes poderes em conflito pela supremacia do mundo. Não é necessário que escolhamos deliberadamente o serviço do reino das trevas para cair-lhe sob o poder. Basta negligenciarmos fazer aliança com o reino da luz. Se não cooperarmos com os instrumentos celestes, Satanás tomará posse do coração e torná-lo-á morada sua. A única defesa contra o mal, é Cristo habitar no coração mediante a fé em Sua justiça. A menos que nos unamos vitalmente a Deus, nunca poderemos resistir aos não santificados efeitos do amor-próprio, da condescendência com nós mesmos e da tentação para pecar. Podemos deixar muitos hábitos maus, podemos por tempos separar-nos de Satanás; mas sem uma ligação vital com Deus pela entrega de nós mesmos a Ele momento a momento, seremos vencidos. Sem conhecimento pessoal com Cristo e constante comunhão ficamos submetidos ao inimigo, e havemos afinal de fazer-lhe a vontade. DTN 224 1 "E o último estado desse homem é pior do que o primeiro." Assim, disse Jesus, "acontecerá também a esta geração má". Mateus 12:45. Ninguém há tão endurecido, como os que desdenharam o convite da misericórdia, e menosprezaram o Espírito da graça. A mais comum manifestação do pecado contra o Espírito Santo, é o desprezar persistentemente o convite do Céu para se arrepender. Todo passo na rejeição de Cristo é um passo no sentido de rejeitar a salvação, e para o pecado contra o Espírito Santo. DTN 224 2 Rejeitando a Cristo, o povo judeu cometeu o pecado imperdoável; e, recusando o convite da misericórdia, podemos cometer o mesmo erro; insultamos o Príncipe da vida, e O expomos à vergonha perante a sinagoga de Satanás e em face do Universo celeste, quando recusamos ouvir-Lhe os mensageiros, dando em vez disso atenção aos instrumentos de Satanás, que querem arrebatar de Cristo a alma. Enquanto uma pessoa fizer isso, não pode achar esperança de perdão, perdendo por fim todo desejo de se reconciliar com Deus. DTN 224 3 Enquanto Jesus estava ainda ensinando o povo, os discípulos trouxeram a notícia de que Sua mãe e Seus irmãos estavam fora, e desejavam vê-Lo. Sabia o que lhes ia no coração, e "respondendo, disse ao que Lhe falara: Quem é Minha mãe? e quem são Meus irmãos? E, estendendo a Sua mão para os Seus discípulos, disse: Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de Meu Pai que está nos Céus, este é Meu irmão, e irmã e mãe". Mateus 12:48-50. DTN 224 4 Todos os que recebessem a Cristo pela fé, estar-Lhe-iam ligados por um laço mais íntimo que os de parentesco humano. Tornar-se-iam um com Ele, como Ele era um com o Pai. Crendo em Suas palavras e praticando-as, Sua mãe Lhe estava mais próxima e salvadoramente ligada, do que por meio do parentesco natural. Seus irmãos não receberiam nenhum benefício de sua relação com Ele, a menos que O aceitassem como Salvador pessoal. DTN 224 5 Que apoio teria Cristo encontrado em Seus parentes terrestres, houvessem eles crido nEle como enviado do Céu, e com Ele cooperado na obra de Deus! Sua incredulidade lançou uma sombra sobre a vida terrena de Jesus. Foi uma parte da amargura daquele cálice de aflição que esgotou por nós. DTN 224 6 A inimizade ateada no coração humano contra o evangelho, experimentou-a vivamente o Filho de Deus, e foi-Lhe mais penosa no próprio lar; pois tinha o coração cheio de bondade e amor, e apreciava a terna consideração nas relações de família. Seus irmãos desejavam que cedesse às idéias deles, quando esse proceder teria estado inteiramente em desarmonia com Sua divina missão. Achavam que Ele necessitava de seus conselhos. Julgavam-nO sob seu ponto de vista humano, e pensavam que, se falasse apenas coisas aceitáveis aos escribas e fariseus, evitaria a desagradável controvérsia que Suas palavras suscitavam. Consideravam de Sua parte uma exorbitância, pretender divina autoridade, e colocar-Se perante os rabis como reprovador de seus pecados. Sabiam que os fariseus estavam buscando ocasião de O acusar, e achavam que lhes dera suficiente ocasião. DTN 225 1 Com o limitado alcance, não podiam calcular a missão que viera cumprir e, portanto, não eram capazes de simpatizar com Ele em Suas provações. Suas palavras rudes, destituídas de apreço, mostravam que não tinham a verdadeira percepção de Seu caráter, e não discerniam que o divino se confundia com o humano. Viam-nO freqüentemente cheio de pesar; mas, em vez de O confortar, seu espírito e palavras apenas Lhe magoavam o coração. Sua natureza sensível era torturada, mal-entendidos os motivos que O impeliam, mal compreendida a Sua obra. DTN 225 2 Seus irmãos apresentavam muitas vezes a filosofia dos fariseus, batida e mofada pelo tempo, e ousavam pensar que podiam ensinar Àquele que compreendia toda a verdade e entendia todos os mistérios. Condenavam francamente o que não podiam compreender. Suas censuras eram-Lhe vivas provações, e Sua alma consumia-se e enchia-se de aflição. Professavam fé em Deus, e O julgavam estar reivindicando quando O tinham ao próprio lado em carne, e não O conheciam. DTN 225 3 Essas coisas tornaram espinhosa a vereda que Jesus devia trilhar. Tão penosos Lhe eram os mal-entendidos no próprio lar, que experimentou alívio em ir para onde os mesmos não existiam. Um lar havia que Ele gostava de visitar -- o de Lázaro, Maria e Marta; pois na atmosfera de fé e amor Seu espírito tinha repouso. Ninguém, entretanto, havia no mundo capaz de compreender-Lhe a divina missão, ou saber a responsabilidade que sobre Ele pesava pelo bem da humanidade. Muitas vezes só podia encontrar conforto em isolar-Se, e comungar com Seu Pai celestial. DTN 225 4 Os que são chamados a sofrer por amor de Cristo, que têm de suportar injustos conceitos e desconfianças, mesmo no próprio seio da família, podem encontrar conforto no pensamento de haver Jesus sofrido o mesmo. Ele é tocado de compaixão por eles. Convida-os a serem Seus companheiros, e a buscar alívio onde Ele próprio o encontrava -- na comunhão com o Pai. DTN 225 5 Os que aceitam a Cristo como seu Salvador pessoal, não são deixados órfãos, suportando sozinhos as provações da vida. Ele os recebe como membros da família celeste; pede-lhes que chamem Pai a Seu próprio Pai. São Seus "pequeninos", caros ao coração de Deus, a Ele ligados por ternos e indissolúveis laços. Tem por eles inexcedível ternura, sobrepujando tanto a que nosso pai e nossa mãe sentiam por nós mesmos em nosso desamparo como o divino ultrapassa o humano. DTN 226 1 Uma bela ilustração das relações de Cristo para com Seu povo, encontra-se nas leis dadas a Israel. Quando, em virtude da pobreza, um hebreu se via forçado a abrir mão de seu patrimônio, e a vender-se como escravo, o dever de resgatá-lo a eles e a sua herança, recaía no parente mais chegado. Levítico 25:25, 47-49; Rute 2:20. Assim a obra de nos redimir a nós e a nossa herança, perdida por causa do pecado, recaiu sobre Aquele que nos é "parente chegado". Foi para resgatar-nos que Ele Se tornou nosso parente. Mais achegado que o pai, mãe, irmão, amigo ou noivo é o Senhor nosso Salvador. "Não temas", diz Ele, "porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu." "Desde que tu te fizeste digno de honra diante de Meus olhos, e glorioso, Eu te amei; e entregarei os homens por ti, e os povos pela tua vida". Isaías 43:1, 4. DTN 226 2 Cristo ama os seres celestiais, que Lhe circundam o trono; mas quem explicará o grande amor com que nos tem amado? Não o podemos compreender, mas podemos sabê-lo real em nossa própria vida. E se mantemos para com Ele relações de parentesco, com que ternura devemos olhar os que são irmãos e irmãs de nosso Senhor! Não devemos estar prontos a reconhecer as responsabilidades de nosso divino parentesco? Adotados na família de Deus, não devemos honrar a nosso Pai e nossos parentes? ------------------------Capítulo 34 -- O convite DTN 227 0 Este capítulo é baseado em Mateus 12:28-30. DTN 227 1 Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei". Mateus 11:28. Essas palavras de conforto foram dirigidas à multidão que seguia a Jesus. O Salvador dissera que unicamente por meio dEle poderiam os homens receber o conhecimento de Deus. Falara de Seus discípulos como daqueles a quem fora confiado o conhecimento de coisas celestiais. Mas não deixou que ninguém se sentisse excluído de Seu cuidado e amor. Todos quantos estão cansados e oprimidos, podem-se chegar a Ele. DTN 227 2 Os escribas e os fariseus, com sua meticulosa atenção às formas religiosas, sentiam a falta de qualquer coisa que ritos de penitência nunca podiam satisfazer. Os publicanos e pecadores podiam pretender estar satisfeitos com o sensual e o terrestre, mas tinham no coração a desconfiança e o temor. Jesus olhava aos aflitos e oprimidos de coração, aqueles cujas esperanças pereciam, e que buscavam aquietar em meio das alegrias terrestres os anseios de sua alma, e os convidava todos a nEle buscar alívio. DTN 227 3 Ordenava ternamente aos cansados: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas". Mateus 11:29. Nessas palavras, fala Cristo a todos os seres humanos. Saibam-no eles ou não, todos estão cansados e oprimidos. Todos se acham vergados ao peso de fardos que só Cristo pode remover. O mais pesado dos fardos que levamos é o pecado. Fôssemos deixados a suportar esse peso, e ele nos esmagaria. Mas o Inocente tomou o nosso lugar. "O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos". Isaías 53:6. Ele carregou o peso de nossa culpa. Ele tomará o fardo de nossos cansados ombros. Dar-nos-á descanso. Também o peso do cuidado e da dor Ele tomará sobre Si. Convida-nos a lançar sobre Ele toda a nossa solicitude; pois nos traz no coração. DTN 227 4 O Irmão mais velho de nossa família acha-Se ao lado do trono eterno. Olha a toda alma que se volve para Ele como o Salvador. Conhece por experiência as fraquezas da humanidade, nossas necessidades e onde está a força de nossas tentações; pois foi tentado em todos os pontos, como nós, e todavia sem pecado. Está velando sobre ti, tremente filho de Deus. Estás tentado? Ele te livrará. Estás fraco? Ele te fortalecerá. És ignorante? Ele te esclarecerá. Estás ferido? Ele te há de curar. O Senhor "conta o número das estrelas", todavia "sara os quebrantados de coração, e liga-lhes as feridas" Salmos 147:4, 3. "Vinde a Mim", eis Seu convite. Sejam quais forem vossas ansiedades e provações, exponde o caso perante o Senhor. Vosso espírito será fortalecido para a resistência. O caminho se abrirá para vos libertardes de todo embaraço e dificuldade. Quanto mais fraco e impotente vos reconhecerdes, tanto mais forte vos tornareis em Sua força. Quanto mais pesados os vossos fardos, tanto mais abençoado o descanso em os lançar sobre vosso Ajudador. O descanso que Jesus oferece depende de condições, mas estas são plenamente especificadas. São condições que todos podem cumprir. Ele nos diz como podemos obter Seu descanso. DTN 228 1 "Tomai sobre vós o Meu jugo", diz Jesus. O jugo é um instrumento de serviço. O gado é posto ao jugo para trabalhar, e o jugo é essencial ao seu trabalho eficiente. Por essa ilustração, Cristo nos ensina que somos chamados ao serviço enquanto a vida durar. Temos de tomar sobre nós o Seu jugo, a fim de sermos coobreiros Seus. DTN 228 2 O jugo que liga ao serviço, é a lei de Deus. A grande lei de amor revelada no Éden, proclamada no Sinai, e, no novo concerto, escrita no coração, é o que liga o obreiro humano à vontade de Deus. Se fôssemos entregues a nossas próprias inclinações, para ir justo aonde nos levasse nossa vontade, iríamos cair nas fileiras de Satanás, e tornar-nos possuidores de seus atributos. Portanto, Deus nos restringe à Sua vontade, que é elevada, nobre e enobrecedora. Deseja que empreendamos paciente e sabiamente os deveres do serviço. Esse jugo do serviço, levou-o o próprio Cristo na humanidade. Disse Ele: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração". Salmos 40:8. "Eu desci do Céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade dAquele que Me enviou". João 6:38. Amor para com Deus, zelo pela Sua glória, e amor pela humanidade caída trouxeram Jesus à Terra para sofrer e morrer. Foi esse o poder que Lhe regeu a vida. Esse é o princípio que nos manda adotar. DTN 228 3 Muitos há cujo coração geme sob o fardo do cuidado, porque procuram atingir a norma do mundo. Preferiram-lhe o serviço, aceitaram-lhe as perplexidades, adotaram-lhe os costumes. Assim, é manchado o seu caráter, e seu viver se torna uma fadiga. Para satisfazer a ambição e os desejos mundanos, ferem a consciência e trazem sobre si mesmos um fardo adicional de remorso. A contínua ansiedade está consumindo as energias vitais. Nosso Senhor deseja que ponham de lado esse jugo de servidão. Convida-os a aceitar o Seu jugo; e diz: "Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve". Mateus 11:30. Manda-lhes que busquem primeiro o reino de Deus e Sua justiça, e promete que todas as coisas necessárias a esta vida lhes serão acrescentadas. A ansiedade é cega, e não pode discernir o futuro; mas Jesus vê o fim desde o começo. Em toda dificuldade tem Ele um meio preparado para trazer alívio. Nosso Pai celestial tem mil modos de providenciar em nosso favor, modos de que nada sabemos. Os que aceitam como único princípio tornar o serviço e a honra de Deus o supremo objetivo, hão de ver desvanecidas as perplexidades, e uma estrada plana diante de seus pés. DTN 229 1 "Aprendei de Mim", diz Jesus, "que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas." Temos de entrar para a escola de Cristo, a fim de aprender dEle mansidão e humildade. Redenção é o processo pelo qual a alma é preparada para o Céu. Esse preparo implica conhecer a Cristo. Significa emancipação de idéias, hábitos e práticas adquiridos na escola do príncipe das trevas. A alma se deve libertar de tudo que se opõe à lealdade para com Deus. DTN 229 2 No coração de Cristo, onde reinava perfeita harmonia com Deus, havia paz perfeita. Nunca Se exaltou por aplauso, nem ficou abatido por censuras ou decepções. Entre as maiores oposições e o mais cruel tratamento, ainda Ele estava de bom ânimo. Mas muitos que professam ser Seus seguidores, têm o coração ansioso e turbado, porque temem confiar-se a Deus. Não Lhe fazem uma entrega completa; pois recuam das conseqüências que essa entrega possa envolver. A menos que o façam, não podem encontrar paz. DTN 229 3 É o amor de si mesmo que traz desassossego. Quando somos nascidos de cima, haverá em nós o mesmo espírito que havia em Jesus, o espírito que O levou a humilhar-Se para que fôssemos salvos. Então, não andaremos em busca do lugar mais alto. Desejaremos sentar-nos junto de Cristo, e dEle aprender. Compreenderemos que o valor de nossa obra não consiste em fazer ostentação e ruído no mundo, ou em ser zeloso e ativo em nossas próprias forças. O valor de nossa obra é proporcional à comunicação do Espírito Santo. A confiança em Deus traz mais santas qualidades de espírito, de modo que na paciência possuamos nossa alma. DTN 229 4 O jugo é posto sobre os bois a fim de ajudá-los a puxar o peso, aliviando-o. O mesmo se dá com o jugo de Cristo. Quando o nosso querer for absorvido pela vontade de Deus, e nos servirmos de Seus dons para beneficiar os outros, leve nos parecerá o fardo da vida. Aquele que trilha o caminho dos mandamentos de Deus, anda em companhia de Cristo, e em Seu amor encontra paz o coração. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que agora me faças saber o Teu caminho, e conhecer-Te-ei", o Senhor lhe respondeu: "Irá a Minha presença contigo para te fazer descansar". Êxodo 33:13, 14. E por intermédio dos profetas foi dada a mensagem: "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas". Jeremias 6:16. E Ele diz: "Ah! se tivesses dado ouvido aos Meus mandamentos! então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar". Isaías 48:18. DTN 229 5 Os que se apegam à palavra de Cristo, e entregam a alma a Sua guarda, e a vida a Seu dispor, encontrarão paz e sossego. Coisa alguma no mundo os pode entristecer, quando Jesus os alegra com Sua presença. Na perfeita conformidade há descanso perfeito. O Senhor diz: "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti". Isaías 26:3. Nossa vida pode parecer um emaranhado; mas ao confiarmos ao sábio Obreiro-Mestre, Ele tirará dali o padrão de vida e caráter que O glorifique. E esse caráter que exprime a glória -- o caráter -- de Cristo, será aceito no Paraíso de Deus. Uma renovada raça andará com Ele de vestidos brancos, pois disso são dignos. DTN 230 1 Quando por meio de Jesus, entramos no repouso, o Céu começa aqui. Atendemos-Lhe ao convite: Vinde, aprendei de Mim; e assim fazendo começamos a vida eterna. O Céu é um contínuo aproximar-se de Deus por intermédio de Cristo. Quanto mais tempo estivermos no céu da bem-aventurança, tanto mais e sempre mais de glória nos será manifestado; e quanto mais conhecermos a Deus, tanto mais intensa será nossa felicidade. Ao andarmos com Jesus nesta vida, podemos encher-nos de Seu amor, satisfazer-nos de Sua presença. Tudo quanto a natureza humana é capaz de suportar, é-nos dado receber aqui. Mas que é isso comparado ao porvir? Ali "estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu santo templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima". Apocalipse 7:15-17. ------------------------Capítulo 35 -- "Cala-te, aquieta-te" DTN 231 0 Este capítulo é baseado em Mateus 8:23-34; Marcos 4:35-41; 5:1-20; Lucas 8:22-39. DTN 231 1 Fora um dia farto de acontecimentos na vida de Jesus. Junto ao Mar da Galiléia, propusera Suas primeiras parábolas, por meio de ilustrações familiares, expondo novamente ao povo a natureza de Seu reino, e a maneira por que devia ser estabelecido. DTN 231 2 Comparara Ele Sua obra à do semeador; o desenvolvimento de Seu reino à semente da mostarda e ao efeito do fermento na medida de farinha. A grande separação final dos justos e os ímpios, descrevera-a nas parábolas do trigo e do joio e da rede de pescar. A inexcedível preciosidade das verdades que ensinava, tinha sido ilustrada pelo tesouro escondido e a pérola de grande preço, ao passo que, na parábola do pai de família, ensinara aos discípulos a maneira de trabalhar como representantes Seus. DTN 231 3 Todo o dia estivera Ele ensinando e curando; e, ao baixar a tarde, ainda as multidões se achavam aglomeradas ao Seu redor. Ajudara dia a dia a essas massas, mal Se detendo para tomar alimento ou ter algum repouso. A crítica perversa e as calúnias com que os fariseus constantemente O perseguiam, tornava-Lhe o trabalho muito mais árduo e fatigante; e agora, o fim do dia O encontrava tão extenuado, que decidiu buscar refúgio em algum lugar solitário, do outro lado do lago. DTN 231 4 A costa oriental de Genesaré não era desabitada, pois havia aldeias aqui e ali à margem do lago; era, no entanto, uma desolada região, em confronto com a parte ocidental. A população aí era mais de pagãos que de judeus, e tinha pouca comunicação com a Galiléia. Oferecia assim o retiro que Ele buscava, e convidando os discípulos, para lá Se dirigiu. DTN 231 5 Tendo despedido a multidão, tomaram-nO eles no barco mesmo "assim como estava", e afastaram-se rapidamente. Não haviam, porém, de partir sós. Havia outros barquinhos de pesca ali por perto, na praia, os quais se encheram em breve de gente que seguiu a Jesus, ansiosa de vê-Lo e ouvi-Lo ainda. DTN 231 6 O Salvador desafogou-Se enfim do aperto da multidão e, vencido pela fadiga e a fome, deitou-se na popa do barco, adormecendo em seguida. A tarde fora calma e aprazível, e espelhava-se por todo o lago a tranqüilidade; de súbito, porém, sombrias nuvens cobriram o céu, o vento soprou rijo das gargantas das montanhas sobre a costa oriental, rebentando sobre o lago violenta tempestade. DTN 231 7 Pusera-se o Sol, e a escuridão da noite baixou por sobre o tormentoso mar. As ondas, furiosamente açoitadas pelos ululantes ventos, sacudiam com violência o barco dos discípulos, ameaçando submergi-lo. Aqueles intrépidos pescadores haviam passado a vida no lago, e guiado a salvo a embarcação em meio de muita tormenta; agora, porém, sua resistência e habilidade nada valiam. Achavam-se impotentes nas garras da tempestade, e sentiram desampará-los a esperança ao ver o barco a inundar-se. DTN 232 1 Absorvidos nos esforços de se salvar, haviam esquecido a presença de Jesus ali no barco. Enfim, vendo nulos os seus esforços, e nada menos que a morte diante de si, lembraram por ordem de quem haviam empreendido a travessia do lago. Jesus era sua única esperança. Em seu desamparo e desespero, exclamaram: "Mestre, Mestre!" Mas a densa treva O ocultava aos olhos deles. Suas vozes eram abafadas pelo rugido da tempestade, e nenhuma resposta se ouviu. A dúvida e o temor os assaltaram. Havê-los-ia Jesus abandonado? Seria Aquele que vencera a enfermidade e os demônios, e até mesmo a morte, impotente para ajudar os discípulos? Havê-los-ia acaso esquecido em sua aflição? DTN 232 2 E chamaram novamente, mas nenhuma resposta, a não ser o irado uivar do vento. Eis que o barco já vai a afundar. Um momento, e parece que serão tragados pelas revoltosas águas. DTN 232 3 De repente, o clarão de um relâmpago penetra as trevas, e vêem Jesus adormecido, imperturbado pelo tumulto. Surpreendidos, exclamaram em desespero: "Mestre, não se Te dá que pereçamos?" Marcos 4:38. Como pode Ele repousar assim tão serenamente, enquanto se encontram em perigo, lutando contra a morte? DTN 232 4 Seus gritos despertam Jesus. Ao vê-Lo à luz do relâmpago, notam-Lhe no rosto uma celeste paz; lêem-Lhe no olhar o esquecimento de Si mesmo, um terno amor e, corações voltados para Ele, exclamam: "Senhor, salva-nos, que perecemos." DTN 232 5 Nunca soltou uma alma aquele brado em vão. Ao empunharem os discípulos os remos, tentando um último esforço, ergue-Se Jesus. Está em meio dos discípulos, enquanto a tempestade ruge, as ondas rebentam por sobre eles, e o relâmpago vem iluminar-Lhe o semblante. Ergue a mão, tantas vezes ocupada em atos de misericórdia, e diz ao irado mar: "Cala-te, aquieta-te". Marcos 4:39. DTN 232 6 Cessa a tormenta. As ondas entram em repouso. As nuvens dispersam-se, e brilham as estrelas. O barco descansa sobre o mar sereno. Volvendo-se então para os discípulos, Jesus pergunta, magoado: "Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?" DTN 232 7 Os discípulos emudeceram. Nem mesmo Pedro tentou exprimir o assombro que lhe enchia o coração. Os barcos que partiram seguindo a Jesus, achavam-se no mesmo perigo que o dos discípulos. Terror e desespero apoderem-se dos tripulantes; a ordem de Jesus, porém, trouxera sossego à cena de tumulto. A fúria da tempestade levara os barcos a mais próxima vizinhança, e todos os que havia a bordo testemunharam o milagre. Na paz que se seguiu, foi esquecido o temor. O povo segredava entre si: "Que Homem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem?" DTN 233 1 Quando Jesus foi despertado para enfrentar a tempestade, estava em perfeita paz. Nenhum indício de temor na fisionomia ou olhar, pois receio algum havia em Seu coração. Contudo, não era na posse da força onipotente que Ele descansava. Não era como o "Senhor da Terra, do mar e do Céu" que repousava em sossego. Esse poder, depusera-o Ele, e diz: "Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma". João 5:30. Confiava no poder de Seu Pai. Foi pela fé -- no amor e cuidado de Deus -- que Jesus repousou, e o poder que impôs silêncio à tempestade, foi o poder de Deus. DTN 233 2 Como Jesus descansou pela fé no cuidado do Pai, assim devemos repousar no de nosso Salvador. Houvessem os discípulos confiado nEle, e ter-se-iam conservado calmos. Seu temor, no tempo do perigo, revelava-lhes a incredulidade. Em seu esforço para se salvarem, esqueceram a Jesus; e foi apenas quando, desesperando de si mesmos, se voltaram para Ele, que os pôde socorrer. DTN 233 3 Quantas vezes se repete em nós a experiência dos discípulos Quando as tempestades das tentações se levantam, e fuzilam os terríveis relâmpagos, e as ondas se avolumam por sobre nossa cabeça, sozinhos combatemos contra a tormenta, esquecendo-nos de que existe Alguém que nos pode valer. Confiamos em nossa própria força até que nos foge a esperança, e vemo-nos quase a perecer. Lembramo-nos então de Jesus, e se O invocarmos para nos salvar, não o faremos em vão. Embora nos reprove magoado a incredulidade e a confiança em nós mesmos, nunca deixa de nos conceder o auxílio de que necessitamos. Seja em terra ou no mar, se, temos no coração o Salvador, nada há a temer. A fé viva no Redentor serena o mar da vida, e Ele nos guardará do perigo pela maneira que sabe ser a melhor. DTN 233 4 Outra lição espiritual há neste milagre de acalmar a tempestade. A vida de todo homem testifica da veracidade das palavras da Escritura: "Os ímpios são como o mar bravo, que se não pode aquietar. [...] Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz". Isaías 57:20, 21. O pecado destruiu-nos a paz. E enquanto o eu não é subjugado, não podemos encontrar repouso. As paixões dominantes do coração, poder algum humano pode sujeitar. Somos aí tão impotentes, quanto os discípulos para acalmar a esbravejante tempestade. Mas Aquele que mandou aquietarem-se as ondas da Galiléia, proferiu para cada alma a palavra de paz. Por mais furiosa que seja a tormenta, os que para Jesus se volverem com o grito: "Senhor, salva-nos", encontrarão livramento. Sua graça, que reconcilia a alma com Deus, acaba com a luta da paixão humana, e em Seu amor encontra paz o coração. "Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as ondas. Então se alegram com a bonança; e Ele assim os leva ao porto desejado". Salmos 107:29, 30. "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." "E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça repouso e segurança, para sempre". Romanos 5:1; Isaías 32:17. DTN 234 1 De manhã cedo o Salvador e Seus companheiros chegaram à praia, e a luz do Sol nascente banhava a terra como bênção de paz. Mas assim que pisaram a terra, deparou-se-lhes uma cena ainda mais terrível que a fúria da tempestade. De um lugar oculto, entre os sepulcros, dois loucos avançaram sobre eles, como se os quisessem despedaçar. Pendiam-lhes pedaços de cadeias que haviam partido para fugir à prisão. Tinham a carne dilacerada e sangrando nos lugares em que se haviam ferido com pedras agudas. Brilhavam-lhes os olhos por entre os longos e emaranhados cabelos; como que se apagara neles a própria semelhança humana, pela presença dos demônios que os possuíam, parecendo mais feras que criaturas humanas. DTN 234 2 Os discípulos e seus companheiros fugiram aterrorizados; notaram, porém, depois, que Jesus não Se achava com eles, e voltaram em Sua procura. Encontrava-Se onde O tinham deixado. Aquele que acalmara a tempestade, que enfrentara anteriormente a Satanás, vencendo-o, não fugiu em presença desses demônios. Quando os homens, rangendo os dentes e espumando, dEle se aproximaram, Jesus ergueu a mão que acenara às ondas impondo silêncio, e os homens não se puderam aproximar mais. Quedaram furiosos, mas impotentes diante dEle. DTN 234 3 Ordenou com autoridade aos espíritos imundos que saíssem deles. Suas palavras penetraram no espírito entenebrecido dos desventurados. Percebiam, fracamente, estar ali Alguém capaz de salvá-los dos demônios atormentadores. Caíram aos pés do Salvador para O adorar; mas, ao abrirem-se-lhes os lábios para suplicar-Lhe a misericórdia, os demônios falaram por eles, gritando fortemente: "Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-Te que não me atormentes." DTN 234 4 Jesus indagou: "Qual é o teu nome?" E a resposta foi: "Legião é o meu nome, porque somos muitos." Servindo-se dos atormentados homens como meio de comunicação, rogaram a Jesus que os não enviasse para longe daquela região. Sobre uma montanha, não muito distante, pastava grande manada de porcos. Os demônios pediram que se lhes permitisse entrar nos mesmos, e Jesus o consentiu. Da manada subitamente se apoderou o pânico. Precipitaram-se loucamente penhasco abaixo e, incapaz de se deterem ao chegar à praia, imergiram no mar, ali perecendo. DTN 234 5 Enquanto isso, maravilhosa mudança se operara nos possessos. Fizera-se-lhes luz no cérebro. Brilharam-lhes os olhos de inteligência. A fisionomia, por tanto tempo mudada à semelhança de Satanás, tornara-se repentinamente branda, tranqüilas as ensangüentadas mãos, e louvaram alegremente a Deus por sua libertação. DTN 235 1 Dos penhascos, os guardadores dos porcos tudo presenciaram, e correram a contá-lo aos patrões e a todo o povo. Surpreendida e atemorizada, afluía toda a população ao encontro de Jesus. Os dois possessos haviam sido o terror da região. Ninguém se sentia seguro ao passar por onde estavam, pois avançavam em cima de todo viajante com fúria de demônios. Agora, esses homens achavam-se vestidos e em perfeito juízo, sentados junto de Jesus, ouvindo-Lhe as palavras e glorificando o nome dAquele que os curara. Mas o povo que testemunhou essa admirável cena não se regozijou. A perda dos porcos afigurava-se-lhes de maior importância que a libertação desses cativos de Satanás. DTN 235 2 Fora por misericórdia para com os donos desses animais, que Jesus permitira lhes sobreviesse o prejuízo. Achavam-se absorvidos em coisas terrestres, e não se importavam com os grandes interesses da vida espiritual. Cristo desejava quebrar o encanto da indiferença egoísta, a fim de Lhe poderem aceitar a graça. Mas o desgosto e a indignação pela perda temporal cegou-os à misericórdia do Salvador. DTN 235 3 A manifestação do poder sobrenatural despertou as superstições do povo, despertando-lhes os temores. Novas calamidades seguir-se-iam, se conservassem entre si esse Estranho. Suspeitaram de ruína econômica, e decidiram livrar-se de Sua presença. Os que atravessaram o lago com Jesus contaram tudo quanto sucedera na noite anterior; seu perigo na tempestade, e de como o vento e o mar se haviam aquietado. Suas palavras, porém, não produziram efeito. Aterrorizado, o povo aglomerava-se em volta de Jesus, pedindo-Lhe que Se afastasse deles, e concordou, tomando imediatamente o barco para a outra margem. DTN 235 4 O povo de Gergesa tinha diante de si o vivo testemunho do poder e misericórdia de Cristo. Viam os homens a quem fora restituída a razão; mas atemorizavam-se tanto com o risco para seus interesses terrestres, que Aquele que vencera perante seus olhos o príncipe das trevas foi tratado como intruso, e o Dom do Céu despedido de suas portas. Não temos a oportunidade de nos desviar da pessoa de Cristo como aconteceu aos gergesenos; há, porém, ainda muitos que Lhe recusam obedecer a palavra, por isso que a obediência representaria o sacrifício de algum interesse mundano. Para que Sua presença não ocasione perda financeira, rejeitam-Lhe muitos a graça e afugentam de si o Seu Espírito. DTN 235 5 Muito diverso, todavia, foi o sentimento dos restabelecidos endemoninhados. Desejavam a companhia de seu Libertador. Em Sua presença, sentiam-se seguros contra os demônios que lhes haviam atormentado a existência e arruinado a varonilidade. Quando Jesus ia para tomar o barco, mantiveram-se bem perto dEle, ajoelharam-se-Lhe aos pés, e rogaram que os deixasse estar sempre ao Seu lado, para que sempre O pudessem ouvir. Mas Jesus lhes mandou que fossem para casa e contassem quão grandes coisas o Senhor fizera por eles. DTN 236 1 Ali estava para eles uma obra a realizar -- ir para um lar pagão, e contar as bênçãos que haviam recebido de Jesus. Foi-lhes duro separar-se do Salvador. Grandes dificuldades os rodeariam, por certo, no convívio com seus patrícios pagãos. E seu longo isolamento da sociedade parecia torná-los inaptos para a obra que Ele lhes indicara. Mas assim que Jesus lhes apontou o dever, prontificaram-se a cumpri-lo. Não somente à sua casa e aos vizinhos falaram acerca de Jesus; mas foram através de Decápolis, declarando por toda parte Seu poder de salvar, e descrevendo como os libertara dos demônios. Assim fazendo, era maior a bênção que recebiam do que se, para seu próprio benefício apenas houvessem permanecido em Sua presença. É em trabalhar para difundir as boas-novas de salvação, que somos levados para perto do Salvador. DTN 236 2 Os dois curados possessos foram os primeiros missionários enviados por Cristo a pregar o evangelho na região de Decápolis. Só por poucos momentos tinham esses homens tido o privilégio de escutar os ensinos de Cristo. Nem um dos sermões de Seus lábios lhes caíra jamais ao ouvido. Não podiam ensinar o povo, como os discípulos, que se achavam diariamente com Cristo, estavam no caso de fazer. Apresentavam, porém, em si mesmos o testemunho de que Jesus era o Messias. Podiam dizer o que sabiam; o que eles próprios tinham visto e ouvido, e experimentado do poder de Cristo. É o que a todo aquele cujo coração foi tocado pela graça de Deus, é dado fazer. João, o discípulo amado, escreveu: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida [...] o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos". 1 João 1:1-3. Como testemunhas de Cristo, cumpre-nos dizer o que sabemos, o que nós mesmos temos visto e ouvido e sentido. Se estivemos a seguir a Jesus passo a passo, havemos de ter qualquer coisa bem positiva a contar acerca da maneira por que nos tem conduzido. Podemos dizer como Lhe temos provado as promessas e as achado fiéis. Podemos dar testemunho do que temos conhecido da graça de Cristo. É esse o testemunho que nosso Senhor pede de nós, e por falta do qual está o mundo a perecer. DTN 236 3 Embora o povo de Gergesa não houvesse recebido a Jesus, Ele não os abandonou às trevas que tinham preferido. Quando lhes pediram que Se afastasse deles, não Lhe tinham ouvido a palavra. Ignoravam o que estavam rejeitando. Portanto, Ele lhes tornou a enviar a luz, e por intermédio daqueles a quem não recusariam ouvir. DTN 236 4 Ocasionando a destruição dos porcos, era desígnio de Satanás desviar o povo do Salvador, e impedir a pregação do evangelho naquela região. Esse próprio acontecimento, no entanto, despertou todo o país como nenhuma outra coisa o poderia ter feito, atraindo a atenção para Cristo. Embora o próprio Salvador partisse, permaneceram os homens curados, como testemunhas de Seu poder. Os que haviam sido instrumentos do príncipe das trevas, tornaram-se condutos de luz, mensageiros do Filho de Deus. Os homens maravilhavam-se ao ouvir as assombrosas novas. Abriu-se naquela região uma porta ao evangelho. Quando Jesus voltou a Decápolis, o povo aglomerou-se ao Seu redor, e durante três dias, não somente os habitantes de uma cidade, mas milhares de toda a região circunvizinha, escutaram a mensagem da salvação. O próprio poder dos demônios está sob o domínio de nosso Salvador, e a operação do mal é sujeitada para o bem. DTN 237 1 O encontro com os endemoninhados de Gergesa foi uma lição para os discípulos. Mostrou as profundezas de degradação a que Satanás está procurando arrastar toda a raça humana e a missão de Cristo, de libertar os homens de seu poder. Aqueles míseros seres, habitando entre os sepulcros, possuídos de demônios, escravizados a desenfreadas paixões e repugnantes concupiscências, representam o que se tornaria a humanidade se fosse abandonada à jurisdição de Satanás. A influência de Satanás é constantemente exercida sobre os homens para perturbar os sentidos, dominar a mente para o mal, incitar à violência e ao crime. Enfraquece o corpo, obscurece o intelecto e corrompe a alma. Sempre que os homens rejeitam o convite do Salvador, estão-se entregando a Satanás. Em todos os estados da vida -- no lar, nos negócios e mesmo na igreja -- há multidões fazendo assim hoje em dia. É por isso que a violência e o crime se têm alastrado na Terra, e a treva moral, como um sudário, envolve a habitação dos homens. Por meio de suas sedutoras tentações, o maligno conduz os homens a males cada vez piores, até que o resultado seja a depravação e a ruína. A única salvaguarda contra seu poder encontra-se na presença de Jesus. Em face dos homens e dos anjos, foi Satanás revelado como inimigo e destruidor da humanidade; Cristo, como seu amigo e libertador. Seu Espírito desenvolverá no homem tudo quanto enobreça o caráter e dignifique a natureza. Ele edificará o homem para a glória de Deus, tanto no corpo, como na alma e no espírito. "Pois Deus não vos deu o espírito de timidez, mas de força, de amor, e de prudência". 2 Timóteo 1:7. Ele nos chamou para alcançarmos "a glória" -- o caráter -- "de nosso Senhor Jesus Cristo"; chamou-nos para ser "conformes à imagem de Seu Filho". 2 Tessalonicenses 2:14; Romanos 8:29. DTN 237 2 E pessoas que têm sido degradadas a instrumentos de Satanás, são ainda, mediante o poder de Cristo, transformadas em mensageiras da justiça, e enviadas pelo Filho de Deus a contar quão "grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti". ------------------------Capítulo 36 -- O toque da fé DTN 238 0 Este capítulo é baseado em Mateus 9:18-26; Marcos 5:21-43; Lucas 8:40-56. DTN 238 1 Voltando de Gergesa à costa ocidental, Jesus encontrou uma multidão para O receber, e saudaram-nO com alegria. Permaneceu por algum tempo nas proximidades do lago, ensinando e curando, dirigindo-Se em seguida à casa de Levi Mateus, para encontrar-Se com os publicanos no banquete. Ali O achou Jairo, príncipe da sinagoga. DTN 238 2 Esse chefe judeu foi ter com Jesus em grande aflição, e atirou-se-Lhe aos pés, exclamando: "Minha filha está moribunda; rogo-Te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare, e viva." DTN 238 3 Jesus partiu imediatamente com o príncipe. Conquanto os discípulos houvessem testemunhado tantas de Suas obras de misericórdia, surpreenderam-se com Sua condescendência para com a súplica desse altivo rabi; acompanharam, contudo, ao Mestre e o povo os seguiu, ansioso e expectante. Não era longe a casa do príncipe, mas Jesus e Seus companheiros avançaram lentamente, pois a turba O comprimia de todos os lados. O ansioso pai impacientava-se com a demora; Jesus, porém, compadecendo-Se do povo, detinha-Se aqui e ali para aliviar algum sofrimento, ou confortar um coração turbado. DTN 238 4 Quando ainda em caminho, um mensageiro chegou abrindo passagem por entre a multidão, levando a Jairo a notícia do falecimento da filha, e dizendo ser inútil incomodar mais o Mestre. As palavras foram ouvidas por Jesus. "Não temas", disse Ele; "crê somente, e será salva." DTN 238 5 Jairo achegou-se mais para o Salvador, e juntos apressaram-se para a casa dele. Já os pranteadores e os tocadores de flauta ali estavam, enchendo os ares com seus clamores. A presença da multidão e o tumulto feriram o espírito de Jesus. Procurou fazê-los silenciar, dizendo: "Por que vos alvoroçais e chorais? a menina não está morta, mas dorme." Eles se indignaram ante as palavras do Estranho. Tinham visto a menina nos braços da morte, e riram-se desdenhosamente dEle. Pedindo a todos que deixassem a casa, Jesus levou consigo o pai e a mãe da menina, e os três discípulos, Pedro, Tiago e João, e juntos entraram na câmara mortuária. DTN 238 6 Jesus aproximou-Se do leito, e tomando a mão da menina na Sua, proferiu brandamente, na linguagem familiar de sua casa, as palavras: "Menina, a ti te digo, levanta-te." DTN 238 7 Um tremor perpassou-lhe instantaneamente pelo corpo inanimado. Volveram as pulsações da vida. Os lábios descerraram-se num sorriso. Os olhos abriram-se como se despertasse do sono, e a menina olhou admirada ao grupo que a rodeava. Ergueu-se e os pais estreitaram-na, chorando de alegria. DTN 239 1 De caminho para a casa do príncipe, Jesus encontrara, entre a multidão, uma pobre mulher que, por doze anos, sofrera de um mal que lhe tornava um fardo a existência. Consumira todos os seus recursos com médicos e remédios, para ser afinal declarada incurável. Reviveu-lhe, porém, a esperança, ao ouvir falar das curas operadas por Cristo. Teve a certeza de que se tão-somente pudesse ir ter com Ele, havia de recobrar a saúde. Fraca e sofrendo chegou à beira-mar, onde Ele estava ensinando, e tentou romper a multidão, mas em vão. Novamente O seguiu da casa de Levi Mateus, mas foi-lhe outra vez impossível chegar até Ele. Começara a desesperar quando, abrindo caminho por entre o povo, Ele chegou perto de onde ela se achava. DTN 239 2 Ali estava a áurea oportunidade. Achava-se em presença do grande Médico! Em meio da confusão, porém, não Lhe podia falar, nem vê-Lo senão de relance. Temendo perder seu único ensejo de cura, forcejou por adiantar-se, dizendo de si para si: "Se eu tão-somente tocar o Seu vestido, ficarei sã". Mateus 9:21. Quando Ele ia passando, ela avançou, conseguindo tocar-Lhe, de leve, na orla do vestido. No mesmo instante, todavia, sentiu que estava sã. Concentrara-se, naquele único toque, toda a fé de sua vida e, num momento, a doença e a fraqueza deram lugar ao vigor da perfeita saúde. DTN 239 3 Cheia de gratidão, buscou retirar-se dentre o povo; mas Jesus deteve-Se de repente, e o povo parou com Ele. Voltou-Se e, numa voz distintamente ouvida acima do burburinho da multidão, indagou: "Quem é que Me tocou?" Lucas 8:45. O povo respondeu a essa pergunta com uma expressão de surpresa. Impelido de todos os lados, rudemente comprimido daqui e dali, como Ele estava, parecia essa uma estranha interrogação. DTN 239 4 Pedro, sempre pronto a falar, disse: "Mestre, a multidão Te aperta e Te oprime, e dizes: Quem é que Me tocou?" Jesus respondeu: "Alguém Me tocou, porque bem conheci que de Mim saiu virtude." O Salvador podia distinguir o toque da fé, do casual contato da turba descuidosa. Essa confiança não devia passar sem comentário. Queria dirigir à humilde mulher palavras de conforto, que lhe serviriam de fonte de alegria -- palavras que seriam uma bênção aos Seus seguidores até ao fim dos séculos. DTN 239 5 Olhando para a mulher, Jesus insistiu em saber quem O tocara. Vendo ela que era inútil querer ocultar-se, adiantou-se tremendo e lançou-se-Lhe aos pés. Com lágrimas de gratidão, contou a história de seus sofrimentos e como encontrara alívio. Jesus disse brandamente: "Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz". Lucas 8:48. Ele não deu nenhum ensejo para que a superstição pretendesse haver virtude curadora no simples toque de Suas vestes. Não fora pelo contato exterior com Ele, mas por meio da fé que se firmava em Seu poder divino, que se operara a cura. DTN 240 1 A turba admirada que se comprimia em torno de Jesus, não sentira nenhum acréscimo de poder vital. Mas, quando a sofredora mulher estendeu a mão para tocá-Lo, crendo que se restabeleceria, experimentou a vivificadora virtude. Assim nas coisas espirituais. Falar de religião de maneira casual, orar sem ter a alma faminta e viva fé, nada aproveita. A fé nominal em Cristo, que O aceita apenas como o Salvador do mundo, não pode nunca trazer cura à alma. A fé que opera salvação, não é mero assentimento espiritual à verdade. Aquele que espera inteiro conhecimento antes de exercer fé, não pode receber bênção de Deus. Não basta crer no que se diz acerca de Cristo; devemos crer nEle. A única fé que nos beneficiará, é a que O abraça como Salvador pessoal; que se apropria de Seus méritos. Muitos têm a fé como uma opinião. A fé salvadora é um ajuste pelo qual aqueles que recebem a Cristo se unem a Deus em concerto. Fé genuína é vida. Uma fé viva significa acréscimo de vigor, segura confiança pela qual a alma se torna uma força vitoriosa. DTN 240 2 Após a cura da mulher, Jesus desejava que ela reconhecesse a bênção que recebera. Os dons oferecidos pelo evangelho não devem ser adquiridos às furtadelas, nem fruídos em segredo. Assim o Senhor nos chama a confessar Sua bondade. "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus". Isaías 43:12. DTN 240 3 Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Temos de reconhecer-Lhe a graça segundo nos é dada a conhecer através dos santos homens da antiguidade; mas o que será mais eficaz é o testemunho de nossa própria experiência. Somos testemunhas de Deus ao revelar em nós mesmos a atuação de um poder que é divino. Cada indivíduo tem uma vida diversa da de todos os outros, uma experiência que difere essencialmente da sua. Deus deseja que nosso louvor a Ele ascenda, com o cunho de nossa própria individualidade. Esses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando confirmados por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, eficaz para a salvação. DTN 240 4 Quando os dez leprosos foram ter com Jesus, em busca de cura, Ele lhes ordenou que fossem, e se mostrassem ao sacerdote. No caminho, foram purificados, mas unicamente um voltou atrás para Lhe dar glória. Os outros seguiram seu caminho, esquecendo Aquele que os pusera sãos. Quantos estão ainda fazendo a mesma coisa! O Senhor opera continuamente em benefício da humanidade. Está sem cessar concedendo Suas dádivas. Ergue o enfermo do leito em que sofre, livra os homens de perigos a eles invisíveis, envia anjos celestes para os salvar de calamidades, guardá-los de "peste que ande na escuridão" e de "mortandade que assole ao meio-dia" (Salmos 91:6); mas os corações não são impressionados. Ele entregou todas as riquezas do Céu para os redimir, e todavia andam alheios ao Seu grande amor. Por sua falta de reconhecimento, cerram o coração à graça divina. Como a planta do deserto, não sabem quando vem o bem, e sua alma habita os endurecidos lugares da terra árida. DTN 241 1 É para nosso próprio benefício que conservamos sempre vívidos na memória todos os dons divinos. Assim se robustece a fé para pedir e receber mais e mais. Há mais animação para nós na menor bênção que nós mesmos recebemos de Deus, do que em todas as narrações que possamos ler acerca da fé e experiência de outros. A alma que corresponde à graça de Deus, será como jardim regado. Sua saúde brotará apressadamente; sua luz rompeu nas trevas, e a glória do Senhor se verá sobre ela. Lembremos, pois, a amorável bondade do Senhor e a multidão de Suas ternas misericórdias. Como o povo de Israel, empilhemos nossas pedras de testemunho, e sobre elas inscrevamos a preciosa história do que Deus tem feito por nós. E, ao recordarmos Seu trato para conosco em nosso peregrinar, corações enternecidos de gratidão, declaremos: "Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o Seu povo". Salmos 116:12-14. ------------------------Capítulo 37 -- Os primeiros evangelistas DTN 242 0 Este capítulo é baseado em Mateus 10; Marcos 6:7-11; Lucas 9:1-6. DTN 242 1 Os apóstolos eram membros da família de Jesus, e haviam-nO acompanhado em Suas jornadas a pé através da Galiléia. Tinham compartilhado de Suas labutas e fadigas. Haviam-Lhe escutado os discursos, andado e conversado com o Filho de Deus, e de Suas instruções diárias tinham aprendido a trabalhar pela elevação da humanidade. Ao atender Jesus às vastas multidões que se Lhe aglomeravam em torno, os discípulos O assistiam, ansiosos de Lhe obedecer às ordens e aliviar-Lhe o trabalho. Ajudavam a pôr em ordem o povo, a levar os enfermos ao Salvador, e a promover o conforto de todos. Observavam os ouvintes interessados, explicavam-lhes as Escrituras, e trabalhavam por várias maneiras para seu benefício espiritual. Ensinavam o que tinham aprendido de Jesus, e obtinham dia a dia rica experiência. Necessitavam, porém, adquiri-la também no trabalho sozinhos. Careciam ainda de muita instrução, grande paciência e ternura. Agora, enquanto Se achava em pessoa com eles, para indicar-lhes os erros e aconselhá-los e corrigi-los, enviou-os o Salvador como Seus representantes. DTN 242 2 Enquanto tinham estado com Ele, muitas vezes ficaram os discípulos desconcertados pelos ensinos dos sacerdotes e fariseus, mas tinham levado suas perplexidades a Jesus. Este lhes expusera as verdades escriturísticas em contraste com a tradição. Assim lhes havia fortalecido a confiança na palavra de Deus, libertando-os também em grande parte do temor dos rabis, e de sua escravidão à tradição. No preparo dos discípulos, o exemplo do Salvador fora muito mais eficaz que só por si qualquer doutrina. Ao serem separados dEle, todo olhar e palavra e entonação lhes acudia à memória. Muitas vezes, quando em conflito com os inimigos do evangelho, repetiam-Lhe as palavras e, ao verem o efeito produzido sobre o povo, muito se regozijavam. DTN 242 3 Chamando os doze para junto de Si, Jesus ordenou-lhes que fossem dois a dois pelas cidades e aldeias. Nenhum foi mandado sozinho, mas irmão em companhia de irmão, amigo ao lado de amigo. Assim se poderiam auxiliar e animar mutuamente, aconselhando-se entre si, e orando um com o outro, a força de um suprindo a fraqueza do outro. Da mesma maneira enviou Ele posteriormente os setenta. Era o desígnio do Salvador que os mensageiros do evangelho assim se associassem. Teria muito mais êxito a obra evangélica em nossos dias, fosse esse exemplo mais estritamente seguido. DTN 243 1 A mensagem dos discípulos era a mesma de João Batista e do próprio Cristo: "É chegado o reino de Deus." Não deviam entrar com o povo em discussão quanto a ser ou não ser Jesus de Nazaré o Messias; mas deviam fazer, em Seu nome, as mesmas obras de misericórdia que Ele realizara. Ele lhes ordenou: "curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: de graça recebestes, de graça dai." DTN 243 2 Durante Seu ministério, Jesus empregou mais tempo em curar os doentes, do que em pregar. Seus milagres testificavam a veracidade de Suas palavras, de que não viera destruir, mas salvar. Sua justiça ia adiante dEle, e a glória do Senhor servia-Lhe de retaguarda. Aonde quer que fosse, precedia-O a fama de Sua misericórdia. Por onde havia passado, regozijavam-se na saúde os que tinham sido objeto de Sua compaixão, e experimentavam as forças recém-adquiridas. Multidões se lhes apinhavam em torno para ouvir de seus lábios as obras que o Senhor realizara. Sua voz foi o primeiro som que muitos ouviram, Seu nome a primeira palavra que proferiram, Seu rosto o primeiro que contemplaram. Por que não amariam a Jesus, proclamando-Lhe o louvor? Ao passar Ele pelas cidades e aldeias, era como uma corrente vital, difundindo vida e alegria por onde quer que fosse. DTN 243 3 Os seguidores de Cristo devem trabalhar como Ele o fez. Cumpre-nos alimentar os famintos, vestir os nus e confortar os doentes e aflitos. Devemos ajudar aos que estão em desespero, e inspirar esperança aos desanimados. E a nós também se cumprirá a promessa: "A tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda". Isaías 58:8. O amor de Cristo, manifestado em abnegado serviço pelos outros, será mais eficaz em reformar os malfeitores, do que a espada ou os tribunais de justiça. Estes são necessários para incutir terror aos transgressores, mas o amorável missionário pode fazer mais do que isto. Muitas vezes o coração se endurece sob a repreensão; mas se abrandará sob a influência do amor de Cristo. O missionário não somente pode aliviar os incômodos físicos, mas conduzir o pecador ao grande Médico, o qual é capaz de purificar a alma da lepra do pecado. É desígnio de Deus que, mediante Seus servos, os doentes, os desafortunados, os possuídos de espíritos maus, Lhe ouçam a voz. Deseja, mediante Seus instrumentos humanos, ser um Confortador tal como o mundo não conhece. DTN 243 4 Em sua primeira viagem missionária, os discípulos deviam ir apenas às "ovelhas perdidas da casa de Israel". Houvessem pregado então o evangelho aos gentios ou aos samaritanos, e teriam perdido a influência para com os judeus. Despertando os preconceitos dos fariseus, ter-se-iam envolvido em conflitos que os haveriam desanimado no princípio de seus labores. Mesmo os apóstolos eram tardios em compreender que o evangelho devia ser levado a todas as nações. Enquanto eles próprios não fossem capazes de apreender esta verdade, não se achavam preparados para trabalhar pelos gentios. Se os judeus recebessem o evangelho, Deus intentava fazê-los Seus mensageiros aos gentios. Eram, portanto, eles os que primeiro deviam ouvir a mensagem salvadora. DTN 244 1 Por todo o campo de trabalho de Cristo havia almas despertas para as próprias necessidades, famintas e sequiosas da verdade. Chegara o tempo de enviar as boas-novas de Seu amor a esses anelantes corações. A todos esses deviam os discípulos ir como representantes Seus. Os crentes seriam assim levados a considerá-los mestres divinamente designados, e quando o Salvador lhes fosse tirado, não seriam deixados sem instrutores. DTN 244 2 Nessa primeira viagem, os discípulos só deviam ir aos lugares em que Jesus já estivera antes, e onde fizera amigos. Seus preparativos de viagem deviam ser os mais simples. Não deviam permitir que coisa alguma lhes distraísse o espírito de sua grande obra, nem de maneira nenhuma despertar oposição e fechar a porta a trabalho posterior. Não deviam adotar o vestuário dos mestres religiosos, nem usar no traje coisa alguma que os houvesse de distinguir dos humildes camponeses. Não lhes convinha entrar nas sinagogas e convocar o povo para serviço público; seu esforço devia-se desenvolver no trabalho feito de casa em casa. Não deviam perder tempo em inúteis saudações, nem indo de casa em casa se hospedar. Mas convinha que aceitassem em todo o lugar a hospitalidade dos que eram dignos, os que os receberiam de coração, como hospedando ao próprio Cristo. Cumpria-lhes entrar na morada com a bela saudação: "Paz seja nesta casa". Lucas 10:5. Essa casa seria abençoada por suas orações, seus hinos de louvor, e o estudo das Escrituras no círculo familiar. DTN 244 3 Esses discípulos deviam ser arautos da verdade, para preparar o caminho ao Mestre. A mensagem que deviam levar, era a palavra da vida eterna, e o destino dos homens dependia da aceitação ou rejeição da mesma. Para impressionar o povo com sua solenidade, Jesus ordenou aos discípulos: "Se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade." DTN 244 4 Então o olhar do Salvador penetra o futuro; contempla os mais vastos campos em que, depois de Sua morte, os discípulos têm de testificar dEle. Seu olhar profético abrange a experiência de Seus servos através de todos os séculos, até que Ele venha pela segunda vez. Mostra a Seus seguidores o conflito que hão de encontrar; revela o caráter e plano da batalha. Desenrola perante eles os perigos que terão de enfrentar, a abnegação que lhes será necessária. Deseja que calculem o custo, a fim de não serem tomados de surpresa pelo inimigo. Sua luta não tem de ser travada contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, "contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. Têm de contender contra forças sobrenaturais, mas é-lhes assegurado sobrenatural auxílio. Todos os espíritos celestes se acham nesse exército. E mais que anjos estão nas fileiras. O Espírito Santo, o representante do Capitão do exército do Senhor, desce para dirigir a batalha. Muitas podem ser nossas fraquezas, pecados e erros graves; mas a graça de Deus é para todos quantos a buscam em contrição. O poder da Onipotência acha-se empenhado em favor dos que confiam em Deus. DTN 245 1 "Eis", disse Jesus, "que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas." Cristo mesmo nunca suprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor. Exercia o máximo tato e cuidadosa, benévola atenção em Seu trato com o povo. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa, não ocasionou nunca sem motivo uma dor a uma alma sensível. Não censurava a fraqueza humana. Denunciava sem temor a hipocrisia, a incredulidade e a iniqüidade, mas tinha lágrimas na voz quando emitia Suas esmagadoras repreensões. Chorou sobre Jerusalém, a cidade amada, que O recusava receber a Ele, o Caminho, a Verdade e a Vida. Rejeitaram-nO a Ele, o Salvador, mas olhava-os com piedosa ternura, e com tão profunda dor, que Lhe partiu o coração. Toda alma era preciosa aos Seus olhos. Conquanto Se portasse sempre com divina dignidade, inclinava-Se com a mais terna consideração para todo membro da família de Deus. Via em todos os homens almas caídas que era Sua missão salvar. DTN 245 2 Os servos de Cristo não devem agir segundo os naturais ditames do coração. Precisam de íntima comunhão com Deus a fim de que, sob provocação, o próprio eu não sobressaia, e despejem uma torrente de palavras inconvenientes, palavras que não são como o orvalho ou como a chuva suave que refrigera as ressequidas plantas. É isto que Satanás quer que façam, pois são esses os seus métodos. É o dragão que está irado; é o espírito de Satanás que se revela em zanga e acusação. Mas aos servos de Deus cumpre ser Seus representantes. Ele quer que usem apenas a moeda corrente no Céu, a verdade que Lhe apresenta a imagem e inscrição. O poder com que têm de vencer o mal, é o poder de Cristo. A glória dEle, a sua força. Devem fixar os olhos em Sua beleza de caráter. Podem então apresentar o evangelho com divino tato e suavidade. E o espírito que se conserva manso em face da provocação, dirá mais em favor da verdade, do que o fará qualquer argumento, por mais vigoroso que seja. DTN 245 3 Os que são lançados em conflito com os inimigos da verdade, têm de enfrentar, não somente homens, mas Satanás e seus instrumentos. Lembrem-se eles das palavras do Salvador. "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos". Lucas 10:3. Descansem no amor de Deus, e o espírito permanecerá calmo, mesmo quando pessoalmente maltratados. O Senhor os revestirá de divina armadura. Seu santo Espírito há de influenciar a mente e o coração, de modo que a voz não se lhes assemelhe ao uivo dos lobos. DTN 246 1 Continuando as instruções aos discípulos, Jesus disse: "Acautelai-vos, porém, dos homens." Não deviam pôr implícita confiança naqueles que não conheciam a Deus, revelando-lhes seus desígnios; pois isso daria vantagem aos instrumentos de Satanás. As invenções humanas fazem muitas vezes malograr os planos de Deus. Os que constroem o templo do Senhor, devem fazê-lo em harmonia com o modelo mostrado no monte -- a semelhança divina. Deus é desonrado e o evangelho traído, quando Seus servos confiam no conselho de homens que não se acham sob a direção do Espírito Santo. A sabedoria mundana é loucura diante de Deus. Os que nela se apoiarem, hão de com certeza errar. DTN 246 2 "Eles vos entregarão aos Sinédrios,... e sereis até conduzidos à presença dos governadores e dos reis por causa de Mim, para lhes servir de testemunho a eles e aos gentios." A perseguição difundirá a luz. Os servos de Cristo serão conduzidos perante os grandes do mundo, os quais, a não ser assim, talvez nunca ouvissem o evangelho. A verdade tem sido desfigurada diante desses homens. Têm ouvido falsas acusações a respeito da fé dos discípulos de Cristo. Muitas vezes, a única maneira em que podem chegar ao conhecimento de seu verdadeiro caráter, é o testemunho dos que são levados a julgamento por causa de sua fé. Sob interrogatório, é-lhes exigido responder, e seus juízes têm de escutar o testemunho apresentado. A graça de Deus será concedida a Seus servos, para que possam fazer face à emergência. "Naquela mesma hora", disse Jesus, "vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós." Ao iluminar o Espírito de Deus a mente de Seus servos, a verdade será apresentada em seu divino poder e preciosidade. Os que rejeitam a verdade se erguerão para acusar e oprimir os discípulos. Mas em presença de preconceito e sofrimento, e mesmo da morte, cumpre aos filhos do Senhor revelar a mansidão de seu divino Exemplo. Assim se verá o contraste entre os instrumentos de Satanás e os representantes de Cristo. O Salvador será erguido perante os governadores e o povo. DTN 246 3 Os discípulos não foram revestidos da coragem e fortaleza dos mártires, senão quando essa graça se tornou necessária. Então se cumpriu a promessa do Salvador. Quando Pedro e João testificaram perante o conselho do Sinédrio, os homens "se maravilharam; e tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus". Atos dos Apóstolos 4:13. Acerca de Estêvão, acha-se escrito que "todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo". Os homens "não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava". Atos dos Apóstolos 6:15, 10. E Paulo, escrevendo a respeito de seu próprio julgamento na corte dos Césares, diz: "Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. [...] Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão". 2 Timóteo 4:16, 17. DTN 247 1 Os servos de Cristo não deviam preparar determinado discurso para apresentar, quando levados a juízo. Sua preparação devia ser feita dia a dia, entesourando as preciosas verdades da Palavra de Deus, e robustecendo a própria fé mediante a oração. Quando levados a julgamento, o Espírito Santo lhes traria à memória as próprias verdades que fossem necessárias. DTN 247 2 Um diário e sincero esforço para conhecer a Deus, e Jesus Cristo, a quem Ele enviou, traria poder e eficiência à alma. O conhecimento obtido por meio de diligente exame das Escrituras, seria trazido, qual relâmpago, a iluminar a memória no momento oportuno. Mas se alguém houvesse negligenciado relacionar-se com as palavras de Cristo, se nunca houvesse experimentado o poder da graça na provação, não poderia esperar que o Espírito Santo lhe trouxesse à lembrança as Suas palavras. Deviam servir diariamente a Deus com não dividida afeição, e então confiar nEle. DTN 247 3 Tão amarga era a inimizade contra o evangelho, que mesmo os mais ternos laços terrestres seriam desconsiderados. Os discípulos de Cristo seriam entregues à morte pelos membros da própria família. "E odiados de todos sereis por causa do Meu nome", acrescentou Ele; "mas aquele que perseverar até ao fim será salvo". Marcos 13:13. Advertiu-os, porém, a que não se expusessem desnecessariamente à perseguição. Ele próprio deixou muitas vezes um campo de labor em busca de outro, a fim de escapar dos que Lhe procuravam a vida. Quando rejeitado em Nazaré, e Seus próprios concidadãos tentavam matá-Lo, Ele desceu a Cafarnaum, e aí o povo se admirou de Seus ensinos; "porque a Sua palavra era com autoridade". Lucas 4:32. Assim, Seus servos não se deveriam desanimar diante da perseguição, mas procurar um lugar onde pudessem trabalhar ainda pela salvação das pessoas. DTN 247 4 O servo não é mais que seu senhor. O Príncipe do Céu foi chamado Belzebu, e Seus discípulos serão da mesma maneira apresentados sob um falso aspecto. Seja qual for o perigo, porém, os seguidores de Cristo devem confessar seus princípios. Devem desdenhar a dissimulação. Não podem permanecer sem se expor até se certificarem de estar a salvo ao confessar a verdade. São colocados como atalaias, para advertir os homens contra o perigo em que estão. A verdade recebida de Cristo deve ser comunicada franca e abertamente a todos. Jesus disse: "O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados." DTN 247 5 O próprio Jesus jamais comprou a paz mediante transigências. O coração transbordava-Lhe de amor por toda a raça humana, mas nunca era condescendente para com seus pecados. Era muito amigo deles para permanecer em silêncio, enquanto prosseguiam numa direção que seria a sua ruína -- daqueles que Ele comprara com o próprio sangue. Trabalhava para que o homem fosse leal para consigo mesmo, leal para com seus mais altos e eternos interesses. Os servos de Cristo são chamados a realizar a mesma obra, e devem estar apercebidos para que, buscando evitar desarmonia, não transijam contra a verdade. Devem seguir "as coisas que servem para a paz" (Romanos 14:19); mas a verdadeira paz jamais será obtida com transigência de princípios. E ninguém pode ser fiel aos princípios sem despertar oposição. Um cristianismo espiritual sofrerá oposição da parte dos filhos da desobediência. Mas Jesus recomendou aos discípulos: "Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma." Os que são fiéis a Deus não têm a temer o poder dos homens nem a inimizade de Satanás. Em Cristo lhes está garantida a vida eterna. Seu único temor deve ser atraiçoar a verdade, traindo assim a confiança com que Deus os honrou. DTN 248 1 É obra de Satanás encher o coração dos homens de dúvida. Leva-os a considerar a Deus um severo Juiz. Tenta-os a pecar, e depois a julgar-se demasiado vis para se aproximarem de seu Pai Celestial ou inspirar-Lhe piedade. O Senhor compreende tudo isso. Jesus garante a Seus discípulos a simpatia de Deus para com eles em suas necessidades e fraquezas. Nenhum suspiro se desprende, nenhuma dor é sentida, desgosto algum magoa a alma, sem que sua vibração se faça sentir no coração do Pai. DTN 248 2 A Bíblia apresenta-nos Deus em Seu alto e santo lugar, não em estado de inatividade, não em silêncio e isolamento, mas rodeado de milhares de milhares e milhões de milhões de seres santos, todos à espera para Lhe cumprir a vontade. Por meios que não nos é dado discernir, acha-Se Ele em ativa comunicação com todas as partes de Seu domínio. É, porém, neste mundo minúsculo, nas almas para cuja salvação deu Seu Filho unigênito, que se centraliza o Seu interesse, bem como o de todo o Céu. Deus Se inclina de Seu trono para escutar o clamor do oprimido. A toda sincera súplica, responde: "Eis-Me aqui." Ergue o aflito e o oprimido. Em todas as nossas aflições, é Ele afligido também. Em toda tentação e em toda prova, o anjo de Sua face perto está para livrar. DTN 248 3 Nem mesmo um passarinho cai por terra sem o conhecimento do Pai. O ódio de Satanás contra Deus o leva a odiar todo objeto de amor do Salvador. Busca manchar a obra de Deus, e deleita-se em destruir até as mudas criaturas. É unicamente mediante o protetor cuidado de Deus que os pássaros são conservados para alegrar-nos com seus cânticos de júbilo. Ele não os esquece, nem aos menores passarinhos. "Não temais pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos." DTN 248 4 Jesus continua: Se Me confessardes diante dos homens, Eu vos confessarei diante de Deus e dos santos anjos. Tendes de Me servir de testemunhas na Terra, condutos por onde Minha graça possa fluir para cura do mundo. Assim, serei vosso representante no Céu. O Pai não vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha revestidos de Minha perfeição. Sou o meio pelo qual as bênçãos do Céu descerão a vós. E todo aquele que Me confessa, partilhando Meu sacrifício pelos perdidos, será confessado como participante na glória e alegria dos salvos. DTN 249 1 O que confessar a Cristo, tem de O possuir em si. Não pode comunicar aquilo que não recebeu. Os discípulos poderiam discorrer fluentemente acerca de doutrinas, poderiam repetir as palavras do próprio Cristo; mas a menos que possuíssem mansidão e amor cristãos, não O estariam confessando. Um espírito contrário ao de Cristo, negá-Lo-ia, fosse qual fosse a profissão de fé. Os homens podem negar a Cristo pela maledicência, por conversas destituídas de senso, por palavras inverídicas ou descorteses. Podem negá-Lo esquivando-se às responsabilidades da vida, pela busca dos prazeres pecaminosos. Podem negá-Lo conformando-se com o mundo, por uma conduta indelicada, pelo amor das próprias opiniões, pela justificação própria, por nutrir dúvidas, por ansiedades desnecessárias, e por deixar-se estar em sombras. Por todas essas coisas declaram não ter consigo a Cristo. E "qualquer que Me negar diante dos homens", diz Ele, "Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus". DTN 249 2 O Salvador declarou a Seus discípulos que não esperassem que a inimizade do mundo para com o evangelho fosse vencida, e sua oposição deixasse de existir depois de algum tempo. Disse: "Não vim trazer paz, mas espada." Esse suscitar de conflitos não é efeito do evangelho, mas o resultado da oposição que lhe é movida. De todas as perseguições a mais dura de sofrer é a discórdia no lar, o afastamento dos mais queridos entes da Terra. Mas Jesus declara: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após Mim, não é digno de Mim." DTN 249 3 A missão dos servos de Cristo é uma elevada honra, um sagrado depósito. "Quem vos recebe", diz Ele, "a Mim Me recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou." Nenhum ato de bondade para com eles deixa de ser reconhecido e galardoado. E no mesmo reconhecimento inclui Ele os mais fracos e humildes da família de Deus: "E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos" -- os que são quais crianças na fé e no conhecimento de Cristo -- "em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão." DTN 249 4 Assim terminou o Salvador Suas instruções. Em nome de Cristo, saíram os doze escolhidos, como Ele mesmo fizera, a "evangelizar os pobres,... a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável ao Senhor". Lucas 4:18, 19. ------------------------Capítulo 38 -- "Vinde e repousai um pouco" DTN 250 0 Este capítulo é baseado em Mateus 14:1, 2, 12, 13; Marcos 6:30-32; Lucas 9:7-10. DTN 250 1 Volvendo de sua viagem, "os apóstolos ajuntaram-se a Jesus, e contaram-Lhe tudo, tanto o que tinham feito, como o que tinham ensinado. E Ele lhes disse: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco. Pois havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer". DTN 250 2 Os discípulos foram ter com Jesus e Lhe contaram tudo. Sua intimidade com Ele os animava a expor-Lhe os incidentes favoráveis e os desfavoráveis que lhes sucediam; sua alegria ao ver os resultados de seus labores, e a tristeza que sentiam em face dos fracassos, das faltas e fraquezas de sua parte. Haviam cometido erros em sua primeira obra como evangelistas, e ao falarem com franqueza dessas coisas a Cristo, notou Ele que necessitavam de muitas instruções. Viu, também, que se haviam fatigado em seus labores e necessitavam repousar. DTN 250 3 Onde estavam, porém, não lhes era possível o necessário sossego; "pois havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer". O povo aglomerava-se após Jesus, ansioso por ser curado e ouvir-Lhe a palavra. Muitos se sentiam atraídos para Ele; pois lhes parecia a fonte de todas as bênçãos. Muitos dos que então se apinhavam em torno de Cristo para receber a preciosa graça da saúde, aceitavam-nO como seu Salvador. Muitos outros, atemorizados então de O confessar, por causa dos fariseus, se converteram por ocasião da descida do Espírito Santo, e, perante os irados sacerdotes e principais, reconheceram-nO como o Filho de Deus. DTN 250 4 Agora, porém, Cristo ansiava um retiro, para que pudesse estar com os discípulos; tinha muito que dizer-lhes. Em seu labor, passaram pela prova da luta e enfrentaram oposição em suas várias formas. Até então haviam consultado a Cristo em tudo; tinham, porém, estado sós por algum tempo e ficado por vezes muito perplexos quanto ao que deviam fazer. Tinham recebido muita animação em sua obra, pois Cristo os não enviara sem o Seu Espírito, e pela fé nEle operaram muitos milagres; necessitavam, todavia, alimentar-se agora do pão da vida. Precisavam retirar-se para um lugar solitário, onde pudessem estar em comunhão com Jesus e receber instruções quanto à sua obra futura. DTN 250 5 "E Ele disse-lhes: Vinde vós aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco." Cristo é cheio de ternura e compaixão para com todos os que se acham ao Seu serviço. Queria mostrar aos discípulos que Deus não exige sacrifício, mas misericórdia. Eles haviam posto toda a alma no trabalho em favor do povo, e isso lhes estava esgotando as energias físicas e mentais. Cumpria-lhes descansar. DTN 251 1 Como os discípulos houvessem visto o êxito de seus labores, estavam em risco de atribuir a honra a si mesmos, em risco de nutrir orgulho espiritual, caindo assim sob as tentações de Satanás. Achava-se diante deles uma grande obra, e antes de tudo deviam aprender que sua força não se encontrava neles mesmos, mas em Deus. Qual Moisés no deserto do Sinai, qual Davi entre os montes da Judéia e Elias junto à fonte de Querite, necessitavam os discípulos pôr-se à parte das cenas de sua atarefada atividade, para comungar com Cristo, com a natureza e com o próprio coração. DTN 251 2 Enquanto os discípulos haviam estado ausentes em sua viagem missionária, Jesus visitara outras cidades e aldeias, pregando o evangelho do reino. Foi mais ou menos por esse tempo que Ele recebeu a notícia da morte do Batista. Esse acontecimento apresentou-Lhe vivamente a idéia do fim a que Seus passos O conduziam. As nuvens adensavam-se em torno da vereda que percorria. Sacerdotes e rabinos espreitavam para tramar-Lhe a morte, espias Lhe rondavam os passos, e multiplicavam-se por toda parte as conspirações para cavar-Lhe a ruína. A notícia da pregação dos apóstolos através da Galiléia chegara a Herodes, chamando-lhe a atenção para Jesus e Sua obra. "Este é João Batista", disse; "ressuscitou dos mortos"; e exprimiu o desejo de ver a Jesus. Herodes estava em contínuo temor de que se tramasse secretamente uma revolução com o intuito de o destronar e sacudir o jugo romano da nação judaica. Entre o povo, lavrava o espírito de descontentamento e insurreição. Era evidente que o trabalho público de Cristo na Galiléia não podia continuar por muito tempo. Aproximavam-se as cenas de Seu sofrimento, e Ele desejava estar por algum tempo retirado do bulício da multidão. DTN 251 3 Consternados, haviam os discípulos de João levado a sepultar seu mutilado corpo. Depois, "foram anunciá-lo a Jesus". Esses discípulos tiveram inveja de Cristo, quando Este parecia estar atraindo a Si os que seguiam a João. Juntaram-se aos fariseus em acusá-Lo, quando Ele Se sentara com os publicanos no banquete de Mateus. Puseram em dúvida a divindade de Sua missão, por não haver Ele libertado o Batista. Agora, porém, morto seu mestre, e anelando eles consolo em sua grande dor, e guia quanto a sua obra futura, foram ter com Jesus, unindo aos Seus os interesses deles. Também necessitavam de um período de sossego para comunhão com o Salvador. DTN 251 4 Próximo a Betsaida, na extremidade norte do lago, havia um lugar solitário, então embelezado pelo verdor da primavera, o qual oferecia convidativo refúgio a Jesus e aos discípulos. Para ali partiram eles, fazendo de barco a travessia do lago. Ali estariam distantes do trânsito das ruas e do burburinho e agitação da cidade. As próprias cenas da natureza, por si mesmas, já constituíam um descanso, uma aprazível variação para os sentidos. Ali poderiam escutar as palavras de Cristo sem ouvir zangadas interrupções, réplicas e acusações de escribas e fariseus. Podiam ali fruir breve período de precioso convívio na companhia de seu Senhor. DTN 252 1 O repouso que Cristo e os discípulos fizeram, não era uma complacência consigo mesmos. O tempo que passaram afastados, não foi consagrado à busca do prazer. Falavam entre si a respeito da obra de Deus, e da possibilidade de torná-la mais eficiente. Os discípulos tinham estado com Cristo e podiam compreendê-Lo; para eles não precisava o Mestre falar em parábolas. Ele lhes corrigia os erros, e os esclarecia quanto à devida maneira de se aproximarem do povo. Abria-lhes mais plenamente, a eles, os preciosos tesouros da verdade divina. Eram revigorados pelo poder divino, e animados de esperança e coragem. DTN 252 2 Embora Jesus tivesse poder de operar milagres e houvesse outorgado aos discípulos o mesmo poder, dirigiu Seus extenuados servos a um lugar à parte, no campo, para ali descansarem. Quando disse que a seara era grande, e poucos os obreiros, não acentuou para os discípulos a necessidade de incessante labuta, mas disse: "Rogai pois ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a Sua seara". Mateus 9:38. Deus designou a cada um a sua obra, segundo a sua capacidade (Efésios 4:11-13), e não pretendia que uns poucos ficassem sobrecarregados de responsabilidades, enquanto outros não têm nenhum fardo, nenhuma angústia. DTN 252 3 As compassivas palavras de Cristo dirigem-se hoje aos obreiros, da mesma maneira que aos discípulos outrora. "Vinde vós, aqui à parte [...] e repousai um pouco", diz aos que se acham fatigados e esgotados. Não é sábio estar sempre sob a tensão do trabalho e da agitação, mesmo em atender às necessidades espirituais dos homens; pois por essa maneira é negligenciada a piedade pessoal, ao mesmo tempo que se sobrecarregam as energias mentais, espirituais e físicas. Exige-se abnegação dos discípulos de Cristo, e são precisos sacrifícios; convém, todavia, cuidar para que, mediante seu excesso de zelo, Satanás não se aproveite da fragilidade humana e seja prejudicada a obra de Deus. DTN 252 4 Na opinião dos rabinos, o mais alto grau da religião mostrava-se por contínua e ruidosa atividade. Dependiam de alguma prática exterior para mostrar sua superior piedade. Separavam assim sua alma de Deus, apoiando-se em presunção. O mesmo perigo existe ainda hoje. À medida que aumenta a atividade, e os homens são bem-sucedidos em realizar alguma obra para Deus, há risco de confiar em planos e métodos humanos. Vem a tendência de orar menos e ter menos fé. Como os discípulos, arriscamo-nos a perder de vista nossa dependência de Deus, e fazer de nossa atividade um salvador. Necessitamos olhar continuamente a Jesus, compreendendo que é Seu poder que realiza a obra. Conquanto devamos trabalhar ativamente pela salvação dos perdidos, cumpre-nos também consagrar tempo à meditação, à oração e ao estudo da Palavra de Deus. Unicamente o trabalho realizado com muita oração e santificado pelos méritos de Cristo, demonstrar-se-á afinal haver sido eficaz. DTN 252 5 Nenhuma outra vida já foi tão assoberbada de trabalho e responsabilidade como a de Jesus; todavia, quantas vezes estava Ele em oração! Quão constante, Sua comunhão com o Pai! Repetidamente, na história de Sua vida terrestre, se encontram registros como esses: "E, levantando-Se de manhã muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava." "Ajuntava-se muita gente para O ouvir, e para ser por Ele curada das suas enfermidades. Porém Ele retirava-Se para os desertos, e ali orava." "E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus". Marcos 1:35; Lucas 5:15, 16; Lucas 6:12. DTN 253 1 Numa vida toda dedicada ao bem dos outros, o Salvador achou necessário afastar-Se dos lugares movimentados e da multidão que O acompanhava, dia a dia. Precisava retirar-Se de uma vida de incessante atividade e contato com as necessidades humanas, para buscar sossego e ininterrupta comunhão com o Pai. Como uma pessoa identificada conosco, participante de nossas necessidades e fraquezas, dependia inteiramente de Deus, e no lugar oculto de oração buscava força divina, a fim de poder sair fortalecido para o dever e provação. Num mundo de pecado, Jesus suportou lutas e torturas de alma. Em comunhão com Deus, podia aliviar as dores que O esmagavam. Ali encontrava conforto e alegria. DTN 253 2 Em Cristo, o grito da raça humana chegava até ao Pai de infinita piedade. Como homem, suplicava ao trono de Deus, até que Sua humanidade fosse de tal modo carregada com a corrente celestial, que pudesse estabelecer ligação entre a humanidade e a divindade. Mediante contínua comunhão recebia vida de Deus, de maneira a poder comunicar vida ao mundo. Sua experiência deve ser a nossa. DTN 253 3 "Vinde vós aqui à parte", convida-nos Ele. Marcos 6:31. Déssemos nós ouvidos às Suas palavras, e seríamos mais fortes e mais úteis. Os discípulos buscaram a Jesus e Lhe contaram tudo; e Ele os animou e instruiu. Se dedicássemos hoje tempo a ir ter com Jesus e contar-Lhe nossas necessidades, não seríamos decepcionados; Ele estaria à nossa mão direita para nos ajudar. Precisamos de mais simplicidade, mais confiança em nosso Salvador. Aquele cujo nome é "Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz"; Aquele de quem se acha escrito: "O principado está sobre os Seus ombros", é o Maravilhoso Conselheiro. Somos convidados a pedir-Lhe sabedoria. Ele "a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto". Isaías 9:6; Tiago 1:5. DTN 253 4 Em todos quantos se acham sob a direção de Deus, deve-se ver uma vida que não se harmonize com o mundo, seus costumes ou práticas; e todos têm de ter experiência pessoal na obtenção do conhecimento da vontade divina. Precisamos ouvir individualmente Sua voz a nos falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e em sossego esperamos perante Ele, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus. Ele nos manda: "Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus". Salmos 46:10. Somente assim se pode encontrar o verdadeiro descanso. E é essa a preparação eficaz para todo trabalho que se faz para Deus. Por entre a turba apressada e a tensão das febris atividades da vida, a alma que assim se refrigera será circundada por uma atmosfera de luz e paz. A vida exalará fragrância, e há de revelar um divino poder que atinge o coração dos homens. ------------------------Capítulo 39 -- "Dai-lhes vós de comer" DTN 254 0 Este capítulo é baseado em Mateus 14:13-21; Marcos 6:32-44; Lucas 9:10-17; João 6:1-13. DTN 254 1 Cristo Se retirara com os discípulos para um lugar isolado, mas breve foi interrompido esse período de tranqüilo sossego. Os discípulos julgavam haver-se afastado para um lugar onde não seriam perturbados; mas assim que a multidão sentiu falta do divino Mestre, indagaram: "Onde está Ele?" Alguns dentre eles notaram a direção tomada por Cristo e Seus discípulos. Muitos foram por terra encontrá-los, enquanto outros os seguiram de barco através do lago. Estava próxima a Páscoa e de perto e de longe grupos de peregrinos, de viagem para Jerusalém, juntavam-se para ver Jesus. Outros se lhes reuniram, até que se achavam congregadas umas cinco mil pessoas, além de mulheres e crianças. Antes de Cristo chegar à praia, já uma multidão O estava aguardando. Mas Ele desembarcou sem ser por ela notado, passando algum tempo à parte com os discípulos. DTN 254 2 Da encosta, contemplou Ele a ondulante multidão, e o coração moveu-se-Lhe de simpatia. Embora interrompido, prejudicado em Seu repouso, não ficou impaciente. Ao observar o povo que vinha, vinha sempre, viu uma necessidade ainda maior a demandar-Lhe a atenção. Teve compaixão deles, "porque eram como ovelhas que não têm pastor". Deixando Seu retiro, encontrou um lugar apropriado, onde os podia atender. Não recebiam nenhum auxílio dos sacerdotes e principais; mas as vivificantes águas da vida brotavam de Cristo, ao ensinar às turbas o caminho da salvação. DTN 254 3 O povo escutava as palavras da vida, tão abundantemente brotadas dos lábios do Filho de Deus. Ouvia as graciosas palavras, tão simples e claras, que eram como o bálsamo de Gileade para sua alma. A cura de Sua mão divina trazia alegria e vida aos moribundos, e conforto e saúde aos que padeciam de moléstias. O dia afigurava-se-lhes o Céu na Terra, e ficaram inteiramente inconscientes do tempo que fazia desde que tinham comido qualquer coisa. DTN 254 4 Afinal, o dia estava a morrer. O Sol descia no Ocidente, e todavia o povo se deixava ficar. Jesus trabalhara o dia inteiro sem alimento nem repouso. Estava pálido de fadiga e fome, e os discípulos rogaram-Lhe que cessasse o labor. Não Se podia, porém, fugir à multidão que O comprimia. DTN 254 5 Os discípulos, por fim, foram ter com Ele dizendo que, por amor do próprio povo, devia ele ser despedido. Muitos tinham vindo de longe, DTN 255 1 e nada haviam comido desde a manhã. Nas cidades e aldeias vizinhas poderiam comprar alimento. Mas Jesus disse: "Dai-lhes vós de comer"; e depois, voltando-Se para Filipe, perguntou: "Onde compraremos pão para estes comerem?" isto disse Ele para provar a fé do discípulo. Filipe olhou para o oceano de cabeças, e concluiu que seria impossível prover alimento para satisfazer a necessidade de tão numeroso povo. Respondeu que duzentos dinheiros de pão não seriam suficientes para se dividirem entre eles, de modo que cada um recebesse um pouco. Jesus indagou quanto alimento se encontraria entre a multidão. "Está aqui um rapaz", disse André, "que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?" Jesus ordenou que os mesmos Lhe fossem trazidos. Pediu então aos discípulos que fizessem o povo assentar-se na relva, em grupos de cinqüenta ou de cem, para manter a ordem, e todos poderem ver o que Ele estava para realizar. Feito isto, Jesus tomou os alimentos, "e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos Seus discípulos para os porem diante da multidão". "E comeram todos, e ficaram fartos, e levantaram doze cestos de pedaços de pão e de peixe." DTN 255 2 Aquele que ensinou ao povo o meio de conseguir a paz e a felicidade, era tão solícito por suas necessidades materiais como pelas espirituais. O povo estava cansado e fraco. Havia mães com criancinhas nos braços, e pequenos pendurados às saias. Muitos tinham permanecido de pé por horas. Haviam estado tão intensamente interessados nas palavras de Cristo, que nem uma vez pensaram em sentar-se e era tão grande a multidão que havia perigo de pisarem-se uns aos outros. Jesus lhes deu oportunidade de descansar, mandando-os sentar-se. Havia no lugar muita relva, e todos podiam repousar confortavelmente. DTN 255 3 Cristo nunca operou um milagre, senão para satisfazer uma necessidade real, e todo milagre era de molde a dirigir o povo à árvore da vida, cujas folhas são para cura das nações. A simples refeição passada em torno, pela mão dos discípulos, encerra todo um tesouro e lições. Era um modesto artigo, o que se proporcionou; os peixes e os pães de cevada eram o alimento diário dos pescadores dos arredores do Mar da Galiléia. Cristo poderia haver exibido diante do povo um rico banquete, mas a comida preparada para a mera satisfação do apetite não teria transmitido nenhuma lição para benefício deles. Jesus lhes ensinou nesta lição que as naturais provisões de Deus para o homem foram pervertidas. E nunca se deliciou alguém com os luxuosos banquetes preparados para satisfação do pervertido gosto, como esse povo fruiu o descanso e a simples refeição proporcionada por Cristo, tão longe de habitações humanas. DTN 255 4 Se os homens fossem hoje em dia simples em seus hábitos, vivendo em harmonia com as leis da natureza, como faziam Adão e Eva no princípio, haveria abundante provisão para as necessidades da família humana. Haveria menos necessidades imaginárias, e mais oportunidades de trabalhar em harmonia com os desígnios de Deus. Mas o egoísmo e a condescendência com os gostos naturais têm trazido pecado e miséria ao mundo, por excesso de um lado e carência de outro. DTN 256 1 Jesus não procurava atrair a Si o povo mediante a satisfação do desejo de luxo. Àquela grande massa, fatigada e faminta depois de longo e emocionante dia, a singela refeição era uma prova, não somente de Seu poder, mas do terno cuidado que tinha para com eles quanto às necessidades comuns da vida. O Salvador não prometeu a Seus seguidores os luxos do mundo; sua manutenção pode ser simples e mesmo escassa; sua sorte se pode limitar à pobreza; mas Sua palavra está empenhada quanto à satisfação das necessidades deles, e Jesus promete aquilo que é incomparavelmente melhor que os bens terrestres -- o permanente conforto de Sua presença. DTN 256 2 Alimentando os cinco mil, Jesus ergue o véu do mundo da natureza e manifesta o poder em contínuo exercício para nosso bem. Na produção da colheita da Terra, Deus opera diário milagre. Realiza-se, mediante agentes naturais, a mesma obra que se efetuou na alimentação da massa. O homem prepara o solo e lança a semente, mas é a vida de Deus que faz com que ela germine. É a chuva, o ar, o sol de Deus que a levam a frutificar -- "primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. É Deus quem alimenta cada dia milhões, dos campos de colheita da Terra. Os homens são chamados a cooperar com Ele no cuidado do cereal e no preparo do pão e, por causa disso, perdem de vista a ação divina. Não Lhe dão a glória devida a Seu santo nome. A operação de Seu poder é atribuída a causas naturais, ou a agentes humanos. O homem é glorificado em lugar de Deus, e Seus graciosos dons pervertidos para empregos egoístas, transformados em maldição em lugar de bênção. Deus está procurando mudar tudo isso. Deseja que nossas adormecidas percepções despertem para discernir sua compassiva bondade, e glorificá-Lo pela operação de Seu poder. Deseja que o reconheçamos em Seus dons, a fim de que estes sejam, segundo o intentava, uma bênção para nós. Era para cumprir esse desígnio que se realizavam os milagres de Cristo. DTN 256 3 Depois de alimentada a multidão, havia ainda abundância de comida. Mas Aquele que dispunha de todos os recursos do infinito poder, disse: "Recolhei os pedaços que sobejaram para que nada se perca." Essas palavras significam mais do que pôr o pão nos cestos. A lição era dupla. Coisa alguma se deve perder. Não devemos deixar escapar nenhuma vantagem temporal. Não devemos negligenciar nada que possa beneficiar um ser humano. Reúna-se tudo que diminua a necessidade dos famintos da Terra. E o mesmo cuidado deve presidir às coisas espirituais. Ao serem recolhidos os cestos de fragmentos, o povo pensou em seus queridos em casa. Queriam que participassem do pão que Cristo abençoara. O conteúdo dos cestos foi distribuído entre a ansiosa turba, sendo levado em todas as direções ao redor. Assim os que se tinham achado no banquete deviam levar a outros o pão que desce do Céu, para satisfazer a fome da alma. Cumpria-lhes repetir o que haviam aprendido das maravilhosas coisas de Deus. Coisa alguma se devia perder. Nenhuma palavra que dizia respeito a sua salvação eterna devia cair inútil. DTN 257 1 O milagre dos pães ensina uma lição de confiança em Deus. Quando Cristo alimentou os cinco mil, o alimento não se achava ali à mão. Aparentemente, Ele não tinha recursos ao Seu dispor. Ali estava, com cinco mil homens, além de mulheres e crianças, num lugar deserto. Não convidara a grande multidão a segui-Lo, tinham ido sem convite ou ordem; mas Ele sabia que, depois de haverem escutado por tão longo tempo as Suas instruções, haviam de sentir-se famintos e desfalecidos; pois partilhava com o povo da necessidade de alimento. Achavam-se distantes de casa, e a noite estava às portas. Muitos deles se achavam sem recursos para comprar comida. Aquele que por amor deles jejuara quarenta dias no deserto, não deixaria que voltassem em jejum para casa. A providência de Deus colocara Jesus onde Ele estava; e de Seu Pai celestial esperou quanto aos meios para suprir a necessidade. DTN 257 2 Quando postos em condições difíceis, devemos esperar em Deus. Cumpre-nos exercer sabedoria e juízo em todo ato da vida, a fim de que, por movimentos descuidados, não nos exponhamos à provação. Não nos devemos pôr em dificuldades, negligenciando os meios providos por Deus e empregando mal as faculdades que nos deu. Os obreiros de Cristo devem obedecer implicitamente Suas instruções. A obra é de Deus e, se queremos beneficiar a outros, é necessário seguir-Lhe os planos. O próprio eu não se pode tornar um centro; o eu não pode receber honra. Se planejarmos segundo nossas próprias idéias, o Senhor nos abandonará a nossos erros. Quando, porém, havendo seguido Sua guia, somos colocados em situação difícil, Ele nos livrará. Não nos devemos entregar ao desânimo, mas, em toda emergência, cumpre-nos buscar auxílio dAquele que possui à Sua disposição infinitos recursos. Seremos muitas vezes rodeados de circunstâncias difíceis e então, com a mais plena confiança em Deus, devemos esperar firmemente. Ele guardará toda alma que se vê em perplexidade por buscar seguir os caminhos do Senhor. DTN 257 3 Cristo, por intermédio do profeta, mandou que: "Repartas o teu pão com o faminto", e fartes "a alma aflita"; "vendo o nu o cubras", e "recolhas em casa os pobres desterrados". Isaías 58:7-10. Ordenou-nos: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura". Marcos 16:15. Quantas vezes, porém, nosso coração sucumbe e falha-nos a fé, ao vermos quão grande é a necessidade, quão limitados os meios em nossas mãos! Como André, ao olhar aos cinco pães de cevada e os dois peixinhos, exclamamos: "Que é isso para tantos?" João 6:9. Hesitamos freqüentemente, não dispostos a dar tudo o que temos, temendo gastar e ser gastos por outros. Mas Jesus nos manda: "Dai-lhes vós de comer". Mateus 14:16. Sua ordem é uma promessa; e em seu apoio está o mesmo poder que alimentou a multidão junto ao mar. DTN 258 1 No ato de Cristo, de suprir as necessidades materiais de uma faminta massa de povo, está envolvida profunda lição espiritual para todos os Seus obreiros. Cristo recebeu do Pai; passou-o aos discípulos; eles o entregaram à multidão; e o povo uns aos outros. Assim todos quantos se acham ligados a Cristo devem receber dEle o Pão da vida, o alimento celestial, e passá-lo a outros. DTN 258 2 Com plena confiança em Deus, Jesus tomou a pequena provisão de pães; e se bem que não houvesse senão uma porção pequenina para Sua própria família de discípulos, não os convidou a comer, mas começou a lhos distribuir, ordenando que servissem ao povo. O alimento multiplicava-se-Lhe nas mãos; e as mãos dos discípulos, estendendo-se para Cristo -- o próprio Pão da Vida -- nunca ficavam vazias. O diminuto suprimento foi suficiente para todos. Depois de haver sido satisfeita a necessidade do povo, as sobras foram recolhidas, e Cristo e os discípulos comeram juntos da preciosa comida, fornecida pelo Céu. DTN 258 3 Os discípulos foram o meio de comunicação entre Cristo e o povo. Isso deve ser uma grande animação para os discípulos dEle hoje em dia. Cristo é o grande centro, a fonte de toda força. DEle devem os discípulos receber a provisão. Os mais inteligentes, os mais bem-dotados espiritualmente, só podem comunicar, à medida que recebem. Não podem, de si mesmos, suprir coisa alguma às necessidades da alma. Só podemos transmitir aquilo que recebemos de Cristo; e só o podemos receber à medida que o comunicamos aos outros. À proporção que continuamos a dar, continuamos a receber; e quanto mais dermos, tanto mais havemos de receber. Assim estaremos de contínuo crendo, confiando, recebendo e transmitindo. DTN 258 4 A obra da edificação do reino de Cristo irá avante, se bem que, segundo todas as aparências, caminhe devagar, e as impossibilidades pareçam testificar contra o seu progresso. A obra é de Deus, e Ele fornecerá meios e enviará auxiliares, sinceros e fervorosos discípulos, cujas mãos também estarão cheias de alimento para as famintas multidões. Deus não Se esquece dos que trabalham com amor para levar a palavra da vida a almas quase a perecer, as quais, por sua vez, buscam alimento para outros famintos. DTN 258 5 Há, em nossa obra para Deus, risco de confiar demasiado no que pode fazer o homem, com seus talentos e capacidade. Perdemos assim de vista o Obreiro-Mestre. Muito freqüentemente o obreiro de Cristo deixa de compreender sua responsabilidade pessoal. Acha-se em perigo de eximir-se a seus encargos, fazendo-os recair sobre organizações, em lugar de apoiar-se nAquele que é a fonte de toda a força. Grande erro é confiar em sabedoria humana, ou em números, na obra de Deus. O trabalho bem-sucedido para Cristo, não depende tanto de números ou de talentos, como da pureza de desígnio, da genuína simplicidade, da fervorosa e confiante fé. Devem-se assumir as responsabilidades pessoais, empreender os deveres pessoais e fazer esforços pessoais em favor dos que não conhecem a Cristo. Em lugar de transferir vossa responsabilidade para alguém que julgais mais bem-dotado que vós, trabalhai segundo vossas aptidões. DTN 259 1 Ao erguer-se em vosso coração a pergunta: "Onde compraremos pão, para estes comerem?" não permitais que vossa resposta seja no sentido da incredulidade. Quando os discípulos ouviram a ordem de Cristo: "Dai-lhes vós de comer", todas as dificuldades lhes acudiram à mente. Perguntaram: Iremos nós às aldeias comprar comida? Assim hoje, quando o povo está carecido do pão da vida, os filhos do Senhor indagam: Mandaremos buscar alguém de longe, para vir alimentá-los? Mas que disse Cristo? -- "Mandai assentar os homens"; e os alimentou ali. Assim, quando vos achais rodeados de almas necessitadas, sabei que Cristo aí está. Comungai com Ele. Trazei os vossos pães de cevada a Jesus. DTN 259 2 Os meios de que dispomos talvez não pareçam suficientes para a obra; mas, se avançarmos com fé, crendo no todo-suficiente poder de Deus, abundantes recursos se nos oferecerão. Se a obra é de Deus, Ele próprio proverá os meios para sua realização. Recompensará a sincera e simples confiança nEle. O pouco que é sábia e economicamente empregado no serviço do Senhor do Céu, aumentará no próprio ato de ser comunicado. Nas mãos de Cristo permaneceu, sem minguar, a escassa provisão, até que todos se saciassem. Se nos dirigimos à Fonte de toda força, estendidas as mãos da fé para receber, seremos sustidos em nosso trabalho, mesmo nas mais difíceis circunstâncias, e habilitados a dar a outros o pão da vida. DTN 259 3 O Senhor diz: "Dai, e ser-vos-á dado." "O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. [...] E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: "Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre". Lucas 6:38. "Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus". 2 Coríntios 9:6-11. ------------------------Capítulo 40 -- Uma noite no lago DTN 260 0 Este capítulo é baseado em Mateus 14:22-33; Marcos 6:45-52; João 6:14-21. DTN 260 1 Sentado na relva da planície, ao crepúsculo de uma tarde de primavera, o povo comeu do alimento que Cristo provera. As palavras por eles ouvidas, naquele dia, soaram-lhes aos ouvidos como a voz de Deus. As obras de cura que presenciaram eram tais, que só o poder divino as poderia realizar. Mas o milagre dos pães tocou a todos naquela vasta multidão. Todos participaram de seus benefícios. Nos dias de Moisés, Deus alimentara Israel com o maná no deserto; e quem era este que os alimentara naquele dia, senão Aquele de quem Moisés tinha profetizado? Poder algum humano poderia criar, de cinco pães de cevada e dois peixinhos, alimento bastante para saciar milhares de criaturas famintas. E disseram uns aos outros: "Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo." DTN 260 2 Durante todo o dia essa convicção se robustecera. Aquele ato, que tudo coroou, é a afirmação de que o longamente esperado Libertador Se acha entre eles. As esperanças do povo vão subindo de ponto. É este Aquele que há de tornar a Judéia um paraíso terrestre, uma terra que mana leite e mel. Pode satisfazer todo desejo. Pode derribar o poder dos odiados romanos. Pode libertar Judá e Jerusalém. Pode curar os soldados feridos na batalha. Abastecer exércitos inteiros de alimento. Conquistar as nações, e dar a Israel o domínio longamente ambicionado. DTN 260 3 Em seu entusiasmo, o povo estava disposto a coroá-Lo imediatamente Rei. Vêem que Ele não faz nenhum esforço para atrair a atenção ou conquistar honras para Si. A esse respeito, difere essencialmente dos sacerdotes e principais, e temem que não venha nunca a reclamar Seus direitos ao trono de Davi. Consultando-se entre si, concordaram em apoderar-se dEle por força, e proclamá-Lo rei de Israel. Os discípulos unem-se à multidão em declarar que o trono de Davi é a legítima herança de seu Mestre. É a modéstia de Cristo, dizem, que O faz recusar essa honra. Que o povo exalte seu Libertador. Que os arrogantes sacerdotes e principais sejam forçados a honrar Aquele que vem revestido de autoridade divina. DTN 260 4 Tomam ansiosamente providências para executar seu desígnio; mas Jesus vê o que está em andamento e compreende, como eles não o podem fazer, o resultado desse movimento. Mesmo então estavam os sacerdotes e principais a Lhe buscar a vida. Acusavam-nO de desviar deles o povo. Violência e insurreição seguir-se-iam a qualquer esforço para O colocar no trono, e prejudicar-se-ia a obra do reino espiritual. O plano deveria ser impedido sem demora. Chamando os discípulos, Jesus ordena-lhes que tomem o barco e voltem imediatamente para Cafarnaum, deixando-O para despedir a multidão. DTN 261 1 Nunca antes uma ordem de Cristo parecera tão impossível de cumprir. Os discípulos haviam esperado muito tempo por um movimento popular para colocar Jesus no trono; não podiam suportar a idéia de que todo esse entusiasmo viesse a dar em nada. As multidões que estavam congregando para assistir à Páscoa, achavam-se ansiosas por ver o novo profeta. A seus seguidores esta se afigurava a oportunidade áurea de estabelecer seu amado Mestre no trono de Israel. No ardor dessa nova ambição, duro lhes era afastar-se e deixarem Jesus sozinho naquela desolada praia. Protestaram contra essa medida; mas Jesus falou então com uma autoridade que nunca antes assumira para com eles. Sabiam que seria inútil qualquer oposição de sua parte, e, silenciosos, dirigiram-se para o mar. DTN 261 2 Cristo manda então à massa que se disperse; e tão incisiva é Sua maneira, que não Lhe ousam desobedecer. As palavras de exaltação e louvor morrem-lhes nos lábios. No próprio ato de avançar para dEle se apoderarem, são-lhes detidos os passos, e o alegre e ansioso olhar amortece-lhes no semblante. Há naquela multidão homens de espírito vigoroso e firme determinação; o régio porte de Jesus, porém, e Suas breves e serenas palavras de ordem, aquietam o tumulto, frustrando-lhes os desígnios. NEle reconhecem poder superior a toda terrena autoridade, e, sem uma réplica, submetem-se. DTN 261 3 Quando a sós, Jesus "subiu ao monte para orar à parte". Durante horas continuou a suplicar perante Deus. Não por Si mesmo, mas pelos homens, eram aquelas orações. Rogava poder para revelar aos mesmos o divino caráter de Sua missão, a fim de que Satanás não lhes cegasse o entendimento e pervertesse o juízo. O Salvador sabia que Seus dias de ministério pessoal na Terra em breve chegariam ao termo, e que poucos O receberiam como seu Redentor. Em angústia e lutas de alma, orava pelos discípulos. Haviam de ser duramente provados. Suas esperanças, tão longamente acariciadas, baseadas numa ilusão popular haviam de lhes trazer a mais dolorosa e humilhante decepção. Em lugar de Sua exaltação ao trono de Davi, haveriam de testemunhar-Lhe a crucifixão. Essa deveria, na verdade ser Sua coroação. No entanto, não o percebiam e, em conseqüência, grandes seriam as tentações a sobrevirem-lhes, as quais difícil lhes seria reconhecer como tentações. Sem o Espírito Santo para iluminar a mente e ampliar a compreensão, a fé dos discípulos faleceria. Penoso era a Jesus ver que o conceito deles quanto a Seu reino se limitasse, em tão grande parte, ao engrandecimento e honra mundanos. Oprimia-O o peso da preocupação por eles, e derramava Suas súplicas com amarga angústia e lágrimas. DTN 262 1 Os discípulos não partiram imediatamente, segundo as instruções de Jesus. Esperaram algum tempo, na expectativa de que Ele Se lhes viesse juntar. Ao verem, porém, que as trevas se adensavam rapidamente, "entrando no barco, passaram o mar em direção a Cafarnaum". Com o coração insatisfeito, deixaram a Jesus, mais impacientes com Ele do que nunca, desde que O tinham reconhecido como Seu Senhor. Murmuravam por não lhes haver sido permitido proclamá-Lo rei. Acusavam-se por terem tão prontamente submetido às Suas ordens. Raciocinavam que, houvessem sido mais persistentes, e teriam talvez conseguido o seu desígnio. DTN 262 2 A incredulidade se estava apoderando de seu espírito e coração. Cegava-os o amor da honra. Sabiam que Jesus era odiado pelos fariseus, e estavam ansiosos por vê-Lo exaltado como pensavam que devia ser. Estarem ligados a um mestre que podia operar tão grandes milagres, e ainda serem injuriados como enganadores, era provação que mal podiam suportar. Deveriam ser sempre considerados seguidores de um falso profeta? Não haveria Cristo nunca de afirmar Sua autoridade como rei? Por que não havia Ele, que possuía tal poder, de revelar-Se em Seu verdadeiro caráter e tornar-lhes a eles o caminho menos penoso? Por que não salvara João Batista de uma morte violenta? Assim raciocinavam os discípulos, até que trouxeram sobre si mesmos grande treva espiritual. Perguntavam: Poderia ser Jesus um impostor, como afirmavam os fariseus? DTN 262 3 Os discípulos haviam testemunhado naquele dia as maravilhosas obras de Cristo. Dir-se-ia que o Céu baixara à Terra. A lembrança daquele dia precioso, glorioso, devera tê-los enchido de fé e esperança. Houvessem, da abundância de seu coração, estado a conversar entre si a respeito dessas coisas, e não teriam caído em tentação. Sua decepção, porém, lhes absorvera os pensamentos. Esqueceram-se das palavras de Cristo: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." Foram horas de grandes bênçãos para os discípulos, aquelas, mas tudo esqueceram. Achavam-se em meio das turbadas águas. Tinham os pensamentos tempestuosos e desarrazoados, e o Senhor lhes deu alguma coisa mais para lhes afligir a alma e ocupar a mente. Deus assim faz muitas vezes, quando os homens criam preocupações e aflições para si mesmos. Os discípulos não tinham necessidade de criar perturbação. Já se avizinhava o perigo. DTN 262 4 Violenta tempestade se viera imperceptivelmente aproximando deles, e não estavam preparados para ela. Era um súbito contraste, pois o dia fora perfeito; e, quando o vento soprou sobre eles, atemorizaram-se. Esqueceram o aborrecimento, a incredulidade e impaciência. Todos trabalharam para impedir que o barco fosse a pique. Era pequena a distância, por mar, de Betsaida para o ponto em que esperavam encontrar-se com Jesus, e com um tempo normal não levava senão poucas horas; agora, porém, eram tangidos cada vez mais longe do local que buscavam. Até a quarta vigília da noite, lutaram com os remos. Então, deram-se por perdidos. O mar, tempestuoso, imerso em trevas, fizera-os sentir seu desamparo, e anelavam a presença de seu Senhor. DTN 263 1 Jesus não os esquecera. O Vigia vira, da praia, aqueles homens possuídos de temor, em luta com a tempestade. Nem por um momento perdeu de vista aos discípulos. Com a mais profunda solicitude acompanhavam Seus olhos o barco, sacudido pela tempestade, com sua preciosa carga; pois esses homens deviam ser a luz do mundo. Como a mãe amorosa a velar o filho, assim cuidava dos discípulos o compassivo Mestre. Rendidos os corações, acalmadas as ambições profanas, e pedindo eles humildemente auxílio, este lhes foi dado. DTN 263 2 No momento em que se julgavam perdidos, o clarão de um relâmpago revela-lhes um misterioso vulto que deles se aproxima, vindo sobre as águas. Não sabem, todavia, que é Jesus. Consideram um inimigo, Aquele que os vinha ajudar. Apodera-se deles o terror. Afrouxam-se as mãos que haviam empunhado o remo com pulso de ferro. O barco ondula ao sabor das ondas; os olhares acham-se voltados para essa visão de um homem a caminhar sobre as alvacentas vagas do mar todo espumejante. DTN 263 3 Julgam-nO um fantasma a lhes anunciar a ruína, e gritam atemorizados. Jesus avança como se lhes quisesse passar adiante; reconhecem-nO, porém, e clamam por socorro. Seu amado Mestre volve-Se, Sua voz acalma-lhes os temores: "Tende bom ânimo; sou Eu, não temais." DTN 263 4 Logo que puderam acreditar no assombroso fato, Pedro ficou como fora de si de alegria. Como se ainda mal pudesse crer, exclamou: "Senhor se és Tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E Ele disse: Vem." DTN 263 5 Olhando para Jesus, Pedro caminha firmemente; como satisfeito consigo mesmo, porém, volta-se para os companheiros no barco, desviando os olhos do Salvador. O vento ruge. As ondas encapelam-se, alterosas, e interpõem-se exatamente entre ele e o Mestre; e ele teme. Por um momento, Cristo fica-lhe oculto, e sua fé desfalece. Começa a afundar. Mas ao passo que as ondas prenunciam morte, Pedro ergue os olhos para Jesus e brada: "Senhor, salva-me!" Jesus segura imediatamente a estendida mão, dizendo: "Homem de pequena fé, por que duvidaste?" DTN 263 6 Andando lado a lado, a mão de Pedro na do Mestre, entraram juntos no barco. Mas Pedro estava agora rendido e silencioso. Nenhuma razão tinha de se vangloriar sobre os companheiros, pois por causa da incredulidade e da exaltação quase perdera a vida. Ao desviar de Cristo o olhar, foi-se-lhe o pé, e ei-lo a submergir-se. DTN 263 7 Quantas vezes, ao sobrevir-nos aflição, fazemos como Pedro! Olhamos para as ondas, em lugar de manter os olhos fixos no Salvador. Os pés vacilam, e as orgulhosas águas passam por sobre nossa alma. Jesus não disse a Pedro que fosse ter com Ele para que perecesse; não nos chama a segui-Lo, para depois nos abandonar. "Não temas", diz-nos; "porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu. Quando passares pelas águas, estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque Eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador". Isaías 43:1-3. DTN 264 1 Jesus lia o caráter dos discípulos. Sabia quão dolorosamente seria provada a sua fé. Nesse incidente no mar, desejava mostrar a Pedro sua própria fraqueza -- que sua segurança dependia constantemente do poder divino. Em meio das tempestades da tentação, só podia andar em segurança, quando, desconfiando inteiramente de si mesmo, descansasse no Salvador. Era no ponto que mais forte se julgava, que Pedro era fraco; e enquanto não discernisse sua fraqueza, não poderia compreender quanto necessitava de confiar em Cristo. Houvesse aprendido a lição que Jesus lhe buscou ensinar naquele incidente no lago, e não teria fracassado quando a grande prova lhe sobreveio. DTN 264 2 Dia a dia instrui Deus a Seus filhos. Pelas circunstâncias da vida diária, prepara-os para a parte que têm de desempenhar naquele mais vasto cenário que Sua providência lhes designou. É o resultado de sua diária prova que determina a vitória ou derrota deles na grande crise da vida. DTN 264 3 Os que deixam de compreender sua contínua dependência de Deus, serão vencidos pela tentação. Podemos entender agora que nosso pé se acha firme e jamais seremos abalados. Podemos dizer com confiança: "Eu sei em quem tenho crido; coisa alguma pode abalar minha confiança em Deus e Sua Palavra." Mas Satanás está planejando aproveitar-se de nossos traços de caráter hereditários e cultivados, e cegar-nos os olhos para nossas necessidades e defeitos. Unicamente compreendendo a própria fraqueza e olhando firmemente para Jesus, podemos caminhar com segurança. DTN 264 4 Tão depressa tomou Jesus lugar no barco, o vento cessou, "e logo o barco chegou à terra para onde iam". A noite de horror foi seguida pelo raiar da aurora. Os discípulos e outros que se achavam no barco, inclinaram-se aos pés de Jesus, corações agradecidos, dizendo: "És verdadeiramente o Filho de Deus." ------------------------Capítulo 41 -- A crise na Galiléia DTN 265 0 Este capítulo é baseado em João 6:22-71. DTN 265 1 Quando Cristo proibiu o povo de O proclamar rei, reconheceu haver chegado a um ponto decisivo em Sua história. Multidões que hoje O desejavam exaltar ao trono, dEle se desviariam amanhã. A decepção de suas ambições egoístas, transformar-lhes-ia o amor em ódio, e os louvores em maldições. Sabendo isso embora, nenhuma medida tomou para evitar a crise. Desde o princípio, não acenara a Seus seguidores com nenhuma esperança de recompensas terrestres. A um que viera desejando ser Seu discípulo, dissera: "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça". Mateus 8:20. Se os homens pudessem haver obtido Cristo e o mundo, multidões Lhe haveriam oferecido seu apoio; tal serviço, porém, não poderia Ele aceitar. Dos que agora se achavam ligados a Ele, muitos havia que tinham sido atraídos pela esperança de um reino terrestre. Estes deveriam ser desenganados. O ensino profundamente espiritual no milagre dos pães não fora compreendido. Deveria ser tornado claro. E essa nova revelação traria consigo mais rigorosa prova. DTN 265 2 O milagre dos pães foi divulgado por toda parte, e no dia seguinte, bem cedo, o povo afluía a Betsaida para ver a Jesus. Vinham em grande número, por terra e por mar. Os que O deixaram na noite anterior, voltavam esperando encontrá-Lo ainda ali; pois não houvera nenhum barco em que tivesse podido atravessar para o outro lado. Suas buscas, porém, foram infrutíferas, e muitos regressaram a Cafarnaum, buscando-O sempre. DTN 265 3 Entretanto, chegara Ele a Genesaré, após um dia de ausência. Logo que se soube de Sua chegada, "correndo toda terra em redor, começaram a trazer em leitos, aonde quer que sabiam que Ele estava, os que se achavam enfermos". Marcos 6:55. Algum tempo depois foi Ele à sinagoga, e aí O acharam os que vieram de Betsaida. Ouviram dos discípulos como atravessara o mar. A fúria da tempestade, as muitas horas de infrutíferos esforços remando contra ventos adversos, o aparecimento de Cristo andando sobre as águas, os temores despertados, Suas palavras de tranqüilização, a aventura de Pedro e as conseqüências da mesma, bem como a súbita cessação da tempestade e o aportar do barco, tudo foi fielmente narrado à maravilhada multidão. Não contentes com isso, muitos ainda se reuniram em torno de Jesus indagando: "Rabi, quando chegaste aqui?" Esperavam receber, de Seus próprios lábios, uma segunda narração do milagre. DTN 266 1 Jesus não lhes satisfez a curiosidade. Disse tristemente: "Na verdade vos digo que Me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes." Não O buscavam por nenhum motivo digno; mas, como foram alimentados com os pães, esperavam receber ainda bênçãos temporais unindo-se a Ele. O Senhor lhes ordenou: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna." Não busqueis meramente benefícios materiais. Não seja vosso primeiro esforço o prover o necessário à vida atual, mas buscai o alimento espiritual, isto é, a sabedoria que permanece para a vida eterna. Isso apenas o Filho de Deus pode dar; "porque a Este o Pai, Deus, O selou". DTN 266 2 Por um momento, despertou-se o interesse dos ouvintes. Exclamaram: "Que faremos, para executarmos as obras de Deus?" Tinham estado a realizar muitas e enfadonhas obras, a fim de se recomendar perante Deus; e estavam prontos a ouvir qualquer nova observância pela qual pudessem obter maior mérito. Sua pergunta significativa: Que faremos para merecer o Céu? Qual o preço que nos é exigido para alcançar a vida por vir? DTN 266 3 "Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais nAquele que Ele enviou." O preço do Céu é Jesus. O caminho para o Céu é a fé no "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. DTN 266 4 Mas o povo não queria receber esta declaração de divina verdade. Jesus fizera a própria obra que a profecia predissera que o Messias havia de fazer; mas eles não testemunharam o que suas esperanças egoístas imaginaram como a Sua obra. Cristo, na verdade, alimentara um dia a multidão com os pães de cevada; nos dias de Moisés, porém, Israel fora por quarenta anos sustentado com maná, e do Messias muito maiores eram as bênçãos esperadas. Seus corações descontentes indagavam porque, se Jesus podia realizar tão assombrosas obras como as que tinham presenciado, não podia dar saúde, força e riqueza a todo o Seu povo, libertá-lo de seus opressores, e exaltá-lo ao poder e à honra. O fato de Ele pretender ser o Enviado de Deus, e todavia recusar ser rei de Israel, era um mistério que não podiam penetrar. Sua recusa foi mal-interpretada. Muitos concluíram que não ousava afirmar Seus direitos, porque Ele próprio duvidava do divino caráter de Sua missão. Abriram assim o coração à incredulidade, e a semente que Satanás lançara deu fruto segundo sua espécie em mal-entendido e deserção. DTN 266 5 Então, meio zombeteiramente, um rabi perguntou: "Que sinal pois fazes Tu, para que o vejamos, e creiamos em Ti? Que operas Tu? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do Céu." DTN 266 6 Os judeus honravam a Moisés como doador do maná, rendendo louvor ao instrumento e perdendo de vista Aquele por quem a obra fora operada. Seus pais tinham murmurado contra Moisés, e posto em dúvida e negado sua missão divina. Agora, no mesmo espírito, os filhos rejeitaram Aquele que lhes apresentava a mensagem de Deus. "Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do Céu; mas Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu." O doador do maná ali estava entre eles. Fora o próprio Cristo que conduzira os hebreus através do deserto, e os alimentara diariamente com o pão do Céu. Esse alimento era uma figura do verdadeiro pão do Céu. O Espírito insuflador de vida, brotando da infinita plenitude de Deus, eis o verdadeiro maná. Jesus disse: "O pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá vida ao mundo." DTN 267 1 Pensando ainda que era à comida temporal que Jesus Se referia, alguns dos ouvintes exclamaram: "Senhor, dá-nos sempre desse pão." Jesus falou então abertamente: "Eu sou o pão da vida." DTN 267 2 A figura empregada por Cristo era familiar aos judeus. Moisés, por inspiração do Espírito Santo, dissera: "O homem não viverá só de pão, mas [...] de tudo o que sai da boca do Senhor." E o profeta Jeremias escrevera: "Achando-se as Tuas palavras, logo as comi, e a Tua palavra foi para mim o gozo do meu coração". Deuteronômio 8:3; Jeremias 15:16. Os próprios rabinos costumavam dizer que o comer do pão, em seu sentido espiritual, era o estudo da lei e a prática das boas obras; e dizia-se muitas vezes que, na vinda do Messias, todo o Israel seria alimentado. O ensino dos profetas tornava clara a profunda lição espiritual no milagre dos pães. Essa lição estava Cristo procurando patentear aos Seus ouvintes na sinagoga. Houvessem entendido as Escrituras, e teriam compreendido Suas palavras quando disse: "Eu sou o pão da vida." Apenas na véspera a grande multidão, faminta e cansada, se alimentara do pão por Ele dado. Como daquele pão tinham recebido força física e refrigério, assim poderiam receber de Cristo vigor espiritual para a vida eterna. "Aquele que vem a Mim não terá fome, e quem crê em Mim nunca terá sede." Mas acrescentou: "Vós Me vistes, e contudo não credes." DTN 267 3 Tinham visto Cristo pelo testemunho do Espírito Santo, pela revelação de Deus a sua alma. As vivas evidências de Seu poder estiveram perante eles dia após dia; mas pediam ainda outro sinal. Houvesse este sido dado, e permaneceriam tão incrédulos como antes. Se não se convenciam pelo que tinham visto e ouvido, inútil seria mandar-lhes mais obras maravilhosas. A incredulidade encontrará sempre desculpa para a dúvida, e raciocinará negativamente sobre a mais positiva prova. DTN 267 4 Novamente apelou Cristo para aqueles corações obstinados. "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora." Todo aquele que O recebesse com fé, disse Ele, havia de ter a vida eterna. Nenhum se podia perder. Não havia necessidade de os fariseus e os saduceus discutirem quanto à vida futura. Não mais precisariam os homens prantear, em desesperado desgosto, a morte dos queridos. "E a vontade dAquele que Me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho, e crê nEle, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia." DTN 268 1 Mas os guias do povo se ofenderam, e "diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como pois diz Ele: Desci do Céu?" Procuravam suscitar preconceito, referindo-se escarnecedoramente à humilde origem de Jesus. Com desdém aludiam a Sua vida como operário galileu, e a Sua família como sendo pobre e humilde. As pretensões desse iletrado Carpinteiro, diziam, eram indignas de atenção. E, em razão de Seu misterioso nascimento, insinuavam que era de duvidosa paternidade, apresentando assim as circunstâncias humanas desse nascimento como uma mancha em Sua história. DTN 268 2 Jesus não tentava explicar o mistério de Seu nascimento. Não respondeu às perguntas quanto a ter descido do Céu, como não dera resposta quanto à travessia que fizera do mar. Não chamava a atenção para os milagres que Lhe assinalavam a vida. Tornara-Se, voluntariamente, de nenhuma reputação, e tomara sobre Si a forma de servo. Suas palavras e ações, porém, revelavam-Lhe o caráter. Todos cujo coração se abria à divina iluminação, reconheceriam nEle "o unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". João 1:14. DTN 268 3 O preconceito dos fariseus ia mais fundo do que o pareciam indicar suas perguntas; tinha suas raízes na perversidade do coração deles. Toda palavra ou ato de Jesus lhes despertava antagonismo; pois o espírito que nutriam não poderia encontrar nEle nenhum eco. DTN 268 4 "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai que Me enviou o não trouxer; e Eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo Aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a Mim." Ninguém virá jamais a Cristo, senão os que correspondem à atração do amor do Pai. Mas Deus está atraindo todos os corações para Si, e unicamente os que Lhe resistem aos apelos se recusam a vir a Cristo. DTN 268 5 Com as palavras: "Serão todos ensinados por Deus", Jesus referia-Se à profecia de Isaías: "E todos os seus filhos serão discípulos do Senhor; e a paz dos teus filhos será abundante". Isaías 54:13. Essa passagem aplicavam os judeus a si mesmos. Vangloriavam-se de que Deus era seu Mestre. Mas Jesus mostrou quão vã era esta pretensão; pois disse: "Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a Mim." Só por meio de Cristo podiam obter um conhecimento do Pai. A humanidade não resistiria à visão de Sua glória. Os que tinham aprendido de Deus, haviam estado escutando a voz de Seu Filho, e em Jesus de Nazaré reconheceriam Aquele que, através da natureza e da revelação, dera a conhecer o Pai. DTN 268 6 "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida eterna." Por intermédio do amado João, que escutou essas palavras, o Espírito Santo declarou às igrejas: "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida". 1 João 5:11, 12. E Jesus disse: "Eu o ressuscitarei no último dia." Cristo tornou-Se uma mesma carne conosco, a fim de nos podermos tornar um espírito com Ele. É em virtude dessa união que havemos de ressurgir do sepulcro -- não somente como manifestação do poder de Cristo, mas porque, mediante a fé, Sua vida se tornou nossa. Os que vêem a Cristo em Seu verdadeiro caráter, e O recebem no coração, têm vida eterna. É por meio do Espírito que Cristo habita em nós; e o Espírito de Deus, recebido no coração pela fé, é o princípio da vida eterna. DTN 269 1 O povo chamara a atenção de Cristo para o maná que seus pais comeram no deserto, como se o proporcionar aquele alimento fosse um maior milagre do que o que fora realizado por Jesus; mas Ele mostra-lhes quão insignificante era aquele dom em comparação com as bênçãos que lhes viera conceder. O maná só podia manter a existência terrena; não impedia a aproximação da morte, nem garantia a imortalidade; mas o pão do Céu nutria a alma para a vida eterna. O Salvador disse: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do Céu; para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre." A esta figura acrescenta Cristo outra. Somente morrendo, podia Ele comunicar vida aos homens, e nas palavras que seguem, aponta Sua morte como o meio de salvação. Diz Ele: "E o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo." DTN 269 2 Os judeus estavam para celebrar a páscoa em Jerusalém, em comemoração da noite da libertação de Israel, quando o anjo destruidor feriu os lares egípcios. No cordeiro pascoal Deus desejava que vissem o Cordeiro de Deus, e mediante o símbolo recebessem Aquele que Se deu pela vida do mundo. Mas os judeus tinham chegado a dar toda a importância ao símbolo, enquanto passavam por alto sua significação. Não discerniam o corpo do Senhor. A mesma verdade simbolizada na cerimônia pascoal, foi ensinada nas palavras de Cristo. Mas ficaram ainda por perceber. DTN 269 3 Então os rabinos exclamaram, irados: "Como nos pode dar Este a Sua carne a comer?" Fingiram compreender-Lhe as palavras no mesmo sentido literal que lhes dera Nicodemos quando perguntara: "Como pode um homem nascer, sendo velho?" João 3:4. Compreendiam, até certo ponto, o que Jesus queria dizer, mas não estavam dispostos a reconhecê-Lo. Torcendo-Lhe as palavras, esperavam indispor o povo contra Ele. Cristo não suavizou Sua simbólica representação. Reiterou a verdade em linguagem ainda mais vigorosa: "Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele." DTN 269 4 Comer a carne e beber o sangue de Cristo é recebê-Lo como Salvador pessoal, crendo que Ele perdoa nossos pecados, e nEle estamos completos. É contemplando o Seu amor, detendo-nos sobre ele, sorvendo-o, que nos havemos de tornar participantes de Sua natureza. O que a comida é para o corpo, deve ser Cristo para a alma. O alimento não nos aproveita se o não ingerimos; a menos que se torne parte de nosso corpo. Da mesma maneira Cristo fica sem valor para nós, se O não conhecemos como Salvador pessoal. Um conhecimento teórico não nos fará bem nenhum. Precisamos alimentar-nos dEle, recebê-Lo no coração, de modo que Sua vida se torne nossa vida. Seu amor, Sua graça, devem ser assimilados. DTN 270 1 Mesmo essas figuras, porém, deixam de apresentar o privilégio da relação do crente para com Cristo. Jesus disse: "Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim." Como o Filho de Deus vivia pela fé no Pai, assim devemos nós viver pela fé em Cristo. Tão plenamente estava Cristo submetido à vontade de Deus, que unicamente o Pai aparecia em Sua vida. Embora tentado em todos os pontos como nós, manteve-Se diante do mundo imaculado do mal que O rodeava. Assim também nós devemos vencer como Cristo venceu. DTN 270 2 Sois seguidor de Cristo? Então tudo quanto se acha escrito a respeito da vida espiritual está escrito para vós, e pode ser alcançado mediante vossa união com Cristo. Esmorece o vosso zelo? Esfria o primeiro amor? Aceitai novamente o oferecido amor de Cristo. Comei-Lhe da carne, bebei-Lhe do sangue e vos tornareis um com o Pai e com o Filho. DTN 270 3 Os incrédulos judeus recusaram ver nas palavras do Salvador qualquer significação que não fosse a mais literal. Pela lei cerimonial, eram proibidos de provar sangue, e deram agora à linguagem de Cristo o sentido de um sacrilégio, disputando entre si sobre Suas expressões. Muitos, mesmo dos discípulos, disseram: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?" DTN 270 4 O Salvador respondeu-lhes: "Isto vos escandaliza? Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são Espírito e vida." DTN 270 5 A vida de Cristo, que dá vida ao mundo, acha-se em Sua palavra. Era por Sua palavra que Cristo curava a moléstia e expulsava os demônios; por Sua palavra acalmava o mar, e ressuscitava os mortos; e o povo dava testemunho de que Sua palavra tinha poder. Ele falava a palavra de Deus, como o fizera por intermédio de todos os profetas e instruidores do Antigo Testamento. Toda a Bíblia é uma manifestação de Cristo, e o Salvador desejava fixar a fé de Seus seguidores na palavra. Quando Sua presença visível fosse retirada, a palavra devia ser sua fonte de poder. Como seu Mestre, deviam viver "de toda a palavra que sai da boca de Deus". Mateus 4:4. DTN 270 6 Como a vida física se mantém pela comida, assim é a espiritual mantida pela Palavra de Deus. E toda alma deve receber, por si própria, vida da Palavra de Deus. Como temos de comer por nós mesmos a fim de receber nutrição, assim devemos receber a palavra por nós mesmos. Não a haveremos de obter simplesmente por meio de outra pessoa cumpre-nos estudar cuidadosamente a Bíblia, pedindo a Deus o auxílio do Espírito Santo, para que possamos compreender a Palavra. Devemos tomar um versículo, e concentrar a mente na tarefa de averiguar o pensamento nele posto por Deus para nós. Convém demorar-se sobre esse pensamento até que nos apoderemos dele, e saibamos "o que diz o Senhor". DTN 271 1 Em Suas promessas e advertências, Jesus Se dirige a mim. Tanto amou Deus ao mundo, que deu o Seu Filho unigênito, para que eu, crendo, não pereça, mas tenha a vida eterna. As experiências relatadas na Palavra de Deus devem ser minhas experiências. Oração e promessa, preceitos e advertências, pertencem-me. "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim". Gálatas 2:20. À medida que a fé assim recebe e assimila os princípios da verdade, tornam-se eles parte do próprio ser, e a força motriz da vida. A palavra de Deus, recebida na alma, molda os pensamentos, e entra no desenvolvimento do caráter. DTN 271 2 Olhando sempre a Jesus com os olhos da fé, seremos fortalecidos. Deus fará as mais preciosas revelações a Seu povo faminto e sequioso. Verificarão que Cristo é um Salvador pessoal. Ao alimentarem-se de Sua palavra, acharão que ela é espírito e vida. A palavra destrói a natureza carnal, terrena, e comunica nova vida em Cristo Jesus. O Espírito Santo vem ter com a alma como Consolador. Pela transformadora influência de Sua graça, a imagem de Deus se reproduz no discípulo; torna-se uma nova criatura. O amor toma o lugar do ódio, e o coração adquire a semelhança divina. É isto que significa viver "de toda a palavra que sai da boca de Deus". Isto é comer o Pão que desce do Céu. DTN 271 3 Cristo declarara uma sagrada e eterna verdade com respeito às relações entre Ele e Seus seguidores. Conhecia o caráter dos que se diziam Seus discípulos, e Suas palavras provavam-lhes a fé. Declarou que deviam crer e agir segundo Seus ensinos. Todos quantos O recebessem haviam de participar de Sua natureza, e ser amoldados ao caráter dEle. Isso envolvia a renúncia de suas acariciadas ambições. Exigia completa entrega de si mesmos a Jesus. Eram chamados ao sacrifício, à mansidão e humildade de coração. Deviam andar na estreita vereda trilhada pelo Homem do Calvário, se queriam compartilhar do dom da vida e da glória do Céu. DTN 271 4 A prova era demasiado grande. Diminuiu o entusiasmo dos que O tinham querido arrebatar para fazer rei. Este discurso na sinagoga, diziam, abrira-lhes os olhos. Agora estavam desenganados. Em seu espírito, as palavras dEle eram uma positiva confissão de que não era o Messias e nenhuma recompensa terrestre poderia provir de se unirem a Ele. Haviam saudado o poder que possuía de operar milagres; estavam ansiosos de ser libertados de doenças e sofrimentos; não se poderiam, porém, concordar com Sua vida de abnegação. Não se importavam com o misterioso reino espiritual de que falava. O insincero, o egoísta que O tinha buscado, não mais O desejou. Se não consagrava Seu poder e influência a obter sua libertação dos romanos, não queriam ter nada com Ele. DTN 272 1 Jesus lhes disse francamente: "Há alguns de vós que não crêem"; acrescentando: "Por isso Eu vos disse que ninguém pode vir a Mim, se por Meu Pai lhe não for concedido." Desejava fazê-los compreender que, se não eram atraídos para Ele, era porque seu coração não estava aberto ao Espírito Santo. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. É pela fé que a alma contempla a glória de Jesus. Essa glória está oculta até que, por meio do Espírito Santo, a fé é ateada no coração. DTN 272 2 Em vista da pública reprovação de sua incredulidade, esses discípulos ficaram ainda mais alienados de Jesus. Sentiram-se grandemente desgostosos, e desejando ferir o Salvador e agradar à malevolência dos fariseus, voltaram-Lhe as costas, deixando-O desdenhosamente. Tinham feito sua escolha -- tomaram a forma sem o espírito, o invólucro sem o grão. Sua decisão nunca mais foi revogada; pois não mais andaram com Jesus. DTN 272 3 "Em Sua mão tem a pá, e limpará a Sua eira, e recolherá no celeiro o Seu trigo". Mateus 3:12. Este foi um dos períodos de expurgação. Pelas palavras da verdade, estava a palha sendo separada do trigo. Como eles fossem demasiado vãos e justos aos próprios olhos para receber reprovação, demasiado amantes do mundo para aceitar uma vida de humilhação, muitos se desviaram de Jesus. Muitos estão ainda a fazer o mesmo. Pessoas são hoje provadas como o foram aqueles discípulos na sinagoga de Cafarnaum. Quando a verdade impressiona o coração, vêem que sua vida não se acha em harmonia com a vontade divina. Vêem a necessidade de inteira mudança em si mesmos; não estão, porém, dispostos a empreender a obra de renúncia. Zangam-se, portanto, quando são descobertos os seus pecados. Retiram-se ofendidos, da mesma maneira que os discípulos de Jesus se afastaram, murmurando: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?" DTN 272 4 O louvor e a lisonja lhes seria agradável ao ouvido; a verdade, porém, é mal recebida; não a podem ouvir. Quando as turbas seguem, e as multidões são alimentadas, e se ouvem os gritos de triunfo, sua voz eleva-se em louvor; mas quando o Espírito de Deus lhes revela o pecado, e os convida a deixá-lo, volvem as costas à verdade e não mais andam com Jesus. DTN 272 5 Ao desviarem-se de Cristo aqueles discípulos descontentes, espírito diverso deles se apoderou. Não podiam ver nada de atraente nAquele que antes tanto lhes interessava. Procuraram os Seus inimigos, pois estavam em harmonia com o espírito e obra deles. Interpretaram mal Suas palavras, falsificaram-Lhe as declarações e impugnaram-Lhe os motivos. Apoiavam a própria atitude aproveitando tudo que pudesse ser voltado contra Ele; e tal indignação foi suscitada por essas falsas informações, que Sua vida ficou em perigo. DTN 273 1 De pronto essas notícias se divulgaram -- que segundo Sua própria confissão, Jesus de Nazaré não era o Messias. E assim a corrente popular voltou-se contra Ele na Galiléia da mesma maneira que, no ano anterior, se voltara na Judéia. Ai de Israel! Rejeitaram seu Salvador, porque anelavam um conquistador que lhes proporcionasse poder temporal. Queriam a comida que perece, e não a que permanece para a vida eterna. DTN 273 2 Condoído, viu Jesus os que haviam sido Seus discípulos afastarem-se dEle, a Vida e a Luz dos homens. A consciência de que Sua compaixão não era apreciada, nem Seu amor reconhecido, de que Sua misericórdia era desprezada e rejeitada Sua salvação, enchia-O de inexprimível dor. Foram acontecimentos como esses que O tornaram um Varão de dores, experimentado nos trabalhos. DTN 273 3 Sem tentar opor-Se aos que partiam, Jesus volveu-Se para os doze, e disse: "Quereis vós também retirar-vos?" Pedro replicou: "Senhor, para quem iremos nós?" "Tu tens as palavras da vida eterna", acrescentou. "E nós temos crido e conhecido que Tu és o Cristo, o Filho de Deus." DTN 273 4 "Para quem iremos nós?" Os mestres de Israel eram escravos do formalismo. Os fariseus e saduceus andavam em contínuas disputas. Deixar Jesus era cair entre discutidores obstinados de ritos e cerimônias, e ambiciosos que buscavam a própria glória. Os discípulos haviam encontrado mais paz e alegria desde que tinham aceitado a Cristo, do que em toda a sua vida anterior. Como voltariam para os que haviam desdenhado e perseguido o Amigo dos pecadores? Por muito tempo aguardaram o Messias; agora Ele viera, e não se podiam afastar de Sua presença para ir àqueles que estavam procurando tirar-Lhe a vida, e os tinham perseguido por se tornarem seguidores Seus. DTN 273 5 "Para quem iremos nós?" Não dos ensinos de Cristo, de Suas lições de amor e misericórdia, para as trevas de incredulidade, a perversidade do mundo. Ao passo que o Salvador era abandonado por muitos que Lhe haviam testemunhado as maravilhosas obras, Pedro exprimia a fé dos discípulos: "Tu és o Cristo". O próprio pensamento de perder esta âncora de sua alma, enchia-os de temor e pesar. Ser privado de um Salvador, era andar flutuando em escuro e tormentoso mar. DTN 273 6 Muitas das palavras e atos de Jesus parecem misteriosos a mentes finitas; mas cada palavra e ato Seu tinha definido propósito na obra de nossa redenção; cada um era calculado a produzir seus próprios resultados. Se fôssemos capazes de entender-Lhe os desígnios, todos pareceriam importantes, completos, e em harmonia com Sua missão. DTN 273 7 Conquanto não possamos compreender agora as obras e caminhos de Deus, é-nos possível discernir-Lhe o grande amor, o qual se acha à base de todo o Seu trato com os homens. Aquele que vive próximo a Jesus compreenderá muito do mistério da piedade. Reconhecerá a misericórdia que dá a repreensão, que prova o caráter e traz à luz o desígnio do coração. DTN 274 1 Quando Jesus apresentou a probante verdade que deu lugar a tantos discípulos Seus voltarem atrás, sabia qual o resultado de Suas palavras; tinha, porém, um desígnio misericordioso a cumprir. Previu que, na hora da tentação, cada um de Seus amados discípulos seria rigorosamente provado. Sua agonia no Getsêmani, Sua traição e crucifixão, seriam para eles situações por demais difíceis. Se não houvessem sido anteriormente provados, muitos que eram atuados por motivos meramente egoístas, estariam ligados com eles. Quando seu Senhor fosse condenado na sala do tribunal; quando a multidão que O saudara como rei O ridicularizasse e injuriasse; quando a escarnecedora turba clamasse: "Crucifica-O!" -- quando suas terrenas ambições fossem decepcionadas, esses interesseiros, renunciando a sua fidelidade a Jesus, teriam ocasionado aos discípulos mais amarga e opressiva dor, em acréscimo ao pesar e decepção sofridos com a ruína de suas mais caras esperanças. Naquela hora de trevas, o exemplo dos que dEle se desviassem poderia arrastar a outros com eles. Mas Jesus provocou essa crise quando, pela Sua presença, ainda poderia fortalecer a fé de Seus verdadeiros seguidores. DTN 274 2 Compassivo Redentor que, conhecendo plenamente a condenação que O aguardava, aplainava ternamente o caminho aos discípulos, preparando-os para a prova de sua vida e fortalecendo-os para a provação final! ------------------------Capítulo 42 -- Tradição DTN 275 0 Este capítulo é baseado em Mateus 15:1-20; Marcos 7:1-23. DTN 275 1 Os escribas e fariseus, esperando ver Jesus por ocasião da páscoa, armaram-Lhe uma cilada. Jesus, porém, conhecendo-lhes o desígnio, absteve-Se dessa reunião. "Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus." Como Ele não fosse para onde eles estavam, foram eles ter com Jesus. Por algum tempo, parecia que o povo da Galiléia O havia de aceitar como o Messias, derribando-se o poder da hierarquia naquela região. A missão dos doze, indicando a extensão da obra de Cristo e pondo os discípulos mais francamente em conflito com os rabis, despertara novamente os ciúmes dos guias em Jerusalém. Os espias por eles enviados a Cafarnaum, no princípio de Seu ministério, os quais procuraram firmar contra Ele a acusação de violador do sábado, foram confundidos; mas os rabinos tentavam executar o seu propósito. Agora, outra delegação foi enviada para vigiar-Lhe os movimentos e encontrar contra Ele algum motivo de acusação. DTN 275 2 Como anteriormente, esse motivo de queixa foi Sua desconsideração pelos preceitos tradicionais que atravancavam a lei de Deus. Estes se destinavam professadamente a preservar a observância da mesma, mas eram considerados mais sagrados que a própria lei. Quando em colisão com os mandamentos dados no Sinai, dava-se preferência aos preceitos rabínicos. DTN 275 3 Entre as observâncias mais tenazmente acentuadas, achava-se a da purificação cerimonial. A negligência das formalidades observadas antes de comer, era considerada odioso pecado, que devia ser punido tanto neste mundo como no futuro; e julgava-se também uma virtude destruir o transgressor. DTN 275 4 As regras concernentes à purificação eram inúmeras. Os anos da existência mal dariam para uma pessoa as aprender todas. A vida dos que procuravam observar as exigências dos rabinos era uma longa luta contra a contaminação cerimonial, uma interminável série de abluções e purificações. Enquanto o povo se ocupava de insignificantes distinções e observâncias não exigidas por Deus, sua atenção se afastava dos grandes princípios de Sua lei. DTN 275 5 Cristo e os discípulos não observavam essas abluções cerimoniais, e os espias tomaram essa negligência como pretexto para acusá-los. Não atacaram, entretanto, a Cristo diretamente, mas a Ele se dirigiram criticando os discípulos. Em presença da multidão, disseram: "Por que transgridem os Teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão." DTN 276 1 Sempre que a mensagem de verdade se apresenta às almas com especial poder, Satanás suscita seus instrumentos para disputarem sobre qualquer ponto de somenos importância. Procura assim desviar a atenção do verdadeiro assunto. Quando quer que se comece uma boa obra, há pessoas prontas a suscitar discussões sobre formas e detalhes de técnica, para desviar as mentes das realidades vivas. Quando parece que Deus está prestes a operar de maneira especial em benefício de Seu povo, não se empenhe este em disputas que só trarão ruína de almas. Os pontos que mais nos interessam, são: Creio eu com salvadora fé no Filho de Deus? Está minha vida em harmonia com a lei divina? "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida." "E nisto sabemos que O conhecemos: se guardamos os Seus mandamentos". João 3:36; 1 João 2:3. DTN 276 2 Jesus não fez tentativa alguma para justificar a Si ou aos discípulos. Não Se referiu às acusações que Lhe eram feitas, mas começou a mostrar o espírito que movia esses ardorosos defensores de ritos humanos. Deu-lhes um exemplo do que estavam repetidamente fazendo, e tinham feito mesmo antes de ir procurá-Lo. "Bem invalidais o mandamento de Deus", disse Ele, "para guardardes a vossa tradição. Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e quem maldisser, ou o pai ou a mãe, morrerá de morte. Porém, vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor"; "esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe". Punham de parte o quinto mandamento como não sendo de nenhuma importância, mas eram por demais exatos em executar a tradição dos anciãos. Ensinavam ao povo que a dedicação de sua propriedade ao templo era um dever mais sagrado que o próprio sustento dos pais; e que, por maior que fossem a necessidade, seria sacrilégio dar ao pai ou à mãe qualquer parte do que fora assim consagrado. Um filho desobediente só tinha que proferir a palavra "Corbã" acerca de seus bens, dedicando-os assim a Deus, e podê-los-ia conservar enquanto vivesse, e por sua morte ficariam pertencendo ao serviço do templo. Estava assim, tanto em vida como na morte, na liberdade de desonrar e prejudicar os pais, sob a capa de pretendida devoção a Deus. DTN 276 3 Nunca, por palavra ou ato, diminuiu Jesus a obrigação do homem de apresentar dádivas e ofertas a Deus. Fora Cristo que dera todas as instruções da lei quanto a dízimos e ofertas. Quando na Terra, louvou a mulher pobre que deu ao tesouro do templo tudo que tinha. Mas o aparente zelo dos sacerdotes e rabis, era um fingimento para acobertar seu desejo de se engrandecerem. O povo era enganado por eles. Estava suportando pesados encargos que Deus lhe não impusera. Os próprios discípulos de Cristo não estavam libertos, inteiramente, do jugo sobre eles posto pelos preconceitos herdados e pela autoridade dos rabinos. Manifestando agora o verdadeiro espírito desses rabis, buscava Cristo livrar da escravidão da tradição todos quantos na verdade desejassem servir a Deus. DTN 277 1 "Hipócritas", disse Ele dirigindo-Se aos espias, "bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-Me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens." As palavras de Cristo eram uma acusação a todo o sistema de farisaísmo. Declarou que, pondo suas próprias exigências acima dos preceitos divinos, os rabis se estavam colocando acima de Deus. DTN 277 2 Os delegados de Jerusalém encheram-se de raiva. Não podiam acusar a Cristo de transgressor da lei dada no Sinai, pois Ele falava como defensor da mesma, contra as tradições deles. Os grandes preceitos da lei, apresentados por Ele, apareciam em chocante contraste com as insignificantes regras de origem humana. DTN 277 3 Ao povo, e depois, mais plenamente, aos discípulos, Jesus explicou que a contaminação não procede do exterior, mas do interior. Pureza e impureza pertencem à alma. É o mau ato, a palavra ou o pensamento mau, a transgressão da lei de Deus, não a negligência de cerimônias externas criadas pelo homem, o que contamina. DTN 277 4 Os discípulos notaram a cólera dos espias, ao serem expostos seus falsos ensinos. Viram os olhares zangados e ouviram as palavras, meio murmuradas, de descontentamento e vingança. Esquecendo quantas vezes Cristo dera provas de ler os corações como um livro aberto, disseram-Lhe o efeito de Suas palavras. Esperando que Ele acalmasse os enraivecidos magistrados, observaram a Jesus: "Sabes que os fariseus, ouvindo essas palavras, se escandalizaram?" DTN 277 5 Respondeu Ele: "Toda a planta, que Meu Pai celestial não plantou, será arrancada." Os costumes e tradições tão altamente considerados pelos rabis, eram deste mundo, não do Céu. Por maior que fosse sua autoridade para com o povo, não podiam resistir à prova da parte de Deus. Toda invenção humana que tem substituído os mandamentos de Deus, demonstrar-se-á sem valor naquele dia em que "Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom quer seja mau". Eclesiastes 12:14. DTN 277 6 Não cessou ainda a substituição dos preceitos de Deus pelos dos homens. Mesmo entre os crentes acham-se instituições e costumes que não têm melhor fundamento que as tradições dos Pais. Essas instituições, baseadas em autoridade meramente humana, têm suplantado as de indicação divina. Os homens se apegam a suas tradições, e reverenciam seus costumes, nutrindo ódio contra os que lhes procuram mostrar que estão em erro. Nesta época, quando somos mandados chamar a atenção para os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, vemos a mesma inimizade que se manifestava nos dias de Cristo. Acerca do povo remanescente de Deus, está escrito: "E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto de sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 12:17. DTN 278 1 Mas "toda a planta, que Meu Pai celestial não plantou, será arrancada". Em lugar da autoridade dos chamados Pais da Igreja, Deus nos pede aceitar a palavra do Pai eterno, o Senhor do Céu e da Terra. Aí somente se encontra a verdade sem mistura de erro. Davi disse: "Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque medito nos Teus testemunhos. Sou mais prudente do que os velhos; porque guardo os Teus preceitos". Salmos 119:99, 100. Que todos os que aceitam a autoridade humana, os costumes da igreja ou as tradições dos Pais, atendam à advertência envolvida nas palavras de Cristo: "Em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens." ------------------------Capítulo 43 -- Barreiras derrubadas DTN 279 0 Este capítulo é baseado em Mateus 15:21-28; Marcos 7:24-30. DTN 279 1 Depois do encontro com os fariseus, retirou-Se Jesus de Cafarnaum e, atravessando a Galiléia, dirigiu-Se para a região montanhosa das fronteiras da Fenícia. Olhando para o oeste, avistava, estendendo-se pelas planícies embaixo, as antigas cidades de Tiro e Sidom, com os templos pagãos, os magnificentes palácios e mercados, e os portos cheios de embarcações. Além, achava-se a extensão azul do Mediterrâneo, por sobre o qual os mensageiros do evangelho deveriam levar as boas-novas aos centros do grande império do mundo. Mas ainda não era o tempo. A obra que se achava diante dEle agora, era preparar os discípulos para a missão que lhes seria confiada. Ao buscar essa região, esperava Ele encontrar o retiro que não conseguira obter em Betsaida. Todavia, não era esse o único desígnio que tinha ao empreender essa viagem. DTN 279 2 "Eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada." O povo dessa região pertencia à antiga raça cananéia. Eram idólatras, e desprezados e odiados pelos judeus. A essa classe pertencia a mulher que foi ter então com Jesus. Era pagã, sendo portanto excluída das vantagens dia a dia gozadas pelos judeus. Residiam entre os fenícios muitos judeus, e a notícia da obra de Cristo penetrara nessa região. Alguns dentre o povo Lhe ouviram as palavras e testemunharam as maravilhosas obras que realizava. Essa mulher ouvira falar do profeta que, dizia-se curava toda espécie de doenças. Ao ser informada de Seu poder, nasceu-lhe a esperança no coração. Inspirada pelo amor materno, decidiu apresentar-Lhe o caso de sua filha. Tinha o firme desígnio de levar sua aflição a Jesus. Este devia curar-lhe a filha. Ela buscara auxílio dos deuses pagãos, mas não obtivera melhoras. E por vezes era tentada a pensar: Que poderá fazer por mim esse Mestre judaico? Mas fora-lhe dito: Ele cura toda espécie de doenças, sejam ricos ou pobres os que Lhe vão pedir ajuda. Decidiu não perder sua única esperança. DTN 279 3 Cristo conhecia a situação dessa mulher. Sabia que O anelava ver, e colocara-Se-lhe no caminho. Mitigando-lhe a dor, poderia dar viva representação do que pretendia ensinar. Para esse fim levara os discípulos àquele lugar. Desejava que vissem a ignorância existente em aldeias e cidades vizinhas da terra de Israel. O povo a quem se dera todo o ensejo de compreender a verdade, desconhecia as necessidades dos que os rodeavam. Esforço algum se fazia para ajudar as almas em trevas. O muro de separação, criado pelo orgulho judaico, impedia os próprios discípulos de se compadecerem do mundo pagão. Cumpria, porém, quebrar essas barreiras. DTN 280 1 Cristo não atendeu imediatamente à súplica da mulher. Recebeu essa representante de uma raça desprezada, como o teriam feito os próprios judeus. Assim procedendo, era Seu intuito impressionar os discípulos quanto à maneira fria e insensível com que os judeus tratariam um caso assim, ilustrando-o com o acolhimento dispensado à mulher; e quanto ao modo compassivo por que desejava que tratassem com essas aflições, segundo o exemplificou na atenção que posteriormente lhe deu ao pedido. DTN 280 2 Mas embora Jesus não respondesse, a mulher não perdeu a fé. Passando Ele, como se a não ouvisse, seguiu-O, continuando em suas súplicas. Aborrecidos com sua importunação, os discípulos pediram a Jesus que a despedisse. Viram que o Mestre a tratava com indiferença e daí julgaram que os preconceitos dos judeus contra os cananeus Lhe agradavam. Aquele a quem a mulher dirigia seus rogos, porém, era um compassivo Salvador e, em resposta ao pedido dos discípulos, disse Jesus: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel." Se bem que essa resposta parecesse em harmonia com o preconceito dos judeus, era uma tácita reprovação aos discípulos, o que vieram a compreender posteriormente, como a lembrar-lhes o que lhes dissera muitas vezes -- que Ele viera ao mundo para salvar a todos quantos O aceitassem. DTN 280 3 Com crescente ardor insistia a mulher em sua necessidade, inclinando-se aos pés de Cristo e clamando: "Senhor, socorre-me!" Aparentemente ainda lhe desprezando as súplicas, segundo o insensível preconceito judaico, respondeu Jesus: "Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos." Com isso afirmava, por assim dizer, que não era justo desperdiçar com os estrangeiros e inimigos de Israel as bênçãos trazidas ao favorecido povo de Deus. Esta resposta teria desanimado inteiramente qualquer suplicante menos fervoroso. Mas a mulher viu que chegara sua oportunidade. Sob a aparente recusa de Cristo, viu a compaixão que Ele não podia dissimular. "Sim, Senhor", respondeu ela, "mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores." Enquanto os filhos da casa comem à mesa paterna, os cães não são deixados sem alimento. Têm direito às migalhas que caem da mesa abundantemente provida. Assim, se bem que muitas fossem as bênçãos concedidas a Israel, não haveria também uma para ela? Era considerada como um cão; não teria então também o direito de um cão a uma migalha de Sua generosidade? DTN 280 4 Jesus acabava de partir de Seu campo de labor, porque os escribas e fariseus estavam procurando tirar-Lhe a vida. Murmuravam e queixavam-se. Manifestavam incredulidade e azedume, e recusavam a salvação tão abundantemente a eles oferecida. Aqui encontra Cristo uma criatura de uma classe infeliz e desprezada, não favorecida com a luz da Palavra de Deus; todavia, submete-se imediatamente à divina influência de Cristo, e tem fé implícita em Seu poder de lhe garantir o favor que suplica. Pede as migalhas que caem da mesa do Senhor. Se lhe for dado o privilégio de um cão, está disposta a ser como tal considerada. Não a influencia nenhum preconceito ou orgulho nacional ou religioso, e reconhece imediatamente Jesus como o Redentor, e capaz de fazer tudo quanto Lhe pede. DTN 281 1 O Salvador fica satisfeito. Provou-lhe a fé nEle. Por Seu trato com ela, mostrou que aquela que era tida como rejeitada de Israel, não mais é estranha, mas uma filha na família de Deus. Como filha, tem o privilégio de partilhar das dádivas do Pai. Cristo assegura-lhe então o que pede, e conclui a lição dada aos discípulos. Voltando-se para ela com olhar de compaixão e amor, diz: "Ó mulher! grande é a tua fé: seja isso feito para contigo como tu desejas." E desde aquela hora a sua filha ficou sã. Não mais o demônio a perturbou. A mulher partiu reconhecendo o Salvador, e contente com a certeza da resposta ao seu pedido. DTN 281 2 Foi esse o único milagre que Jesus operou, quando nessa viagem. Fora para a realização desse ato que Ele Se dirigira às fronteiras de Tiro e Sidom. Desejava dar alívio à aflita mulher, deixando ao mesmo tempo, em Sua obra, um exemplo de misericórdia para com a filha de um povo desprezado, para benefício dos discípulos quando não mais estivesse com eles. Desejava levá-los a sair da exclusividade judaica, interessando-se em trabalhar por outros além do próprio povo. DTN 281 3 Jesus anelava desvendar os profundos mistérios da verdade ocultos por séculos, de que os gentios deviam ser co-herdeiros com os judeus, e "participantes da promessa em Cristo pelo evangelho". Efésios 3:6. Esta verdade os discípulos foram tardios em apreender, e o divino Mestre deu-lhes lição após lição. Recompensando a fé do centurião em Cafarnaum, e pregando o evangelho aos habitantes de Sicar, já dera provas de que não participava da intolerância dos judeus. Mas os samaritanos tinham algum conhecimento de Deus; e o centurião mostrara bondade para com Israel. Agora, Jesus pôs os discípulos em contato com uma pagã que consideravam, como qualquer outro membro de seu povo, sem nenhum direito a esperar o Seu favor. Queria dar um exemplo de como uma pessoa nessas condições devia ser tratada. Os discípulos haviam pensado que Ele distribuía muito liberalmente os dons de Sua graça. Mostraria que Seu amor não devia limitar-se a qualquer povo ou nação. DTN 281 4 Quando Ele disse: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel", declarou a verdade; e ajudando à cananéia, estava cumprindo Sua missão. Esta mulher era uma das ovelhas perdidas que Israel devia ter salvo. Era a obra que lhes fora indicada, e por eles negligenciada, que Cristo estava cumprindo. DTN 281 5 Esse ato abriu o espírito dos discípulos mais amplamente para o labor que se achava diante deles, entre os gentios. Viram um vasto campo de utilidade fora da Judéia. Viram almas suportando dores ignoradas pelos mais altamente favorecidos. Entre os que tinham sido ensinados a desprezar, achavam-se almas ansiosas do auxílio do poderoso Médico, famintos da luz da verdade, tão abundantemente dada aos judeus. DTN 282 1 Mais tarde, quando os judeus mais persistentemente se desviaram dos discípulos por declararem que Jesus é o Salvador do mundo, e quando a parede divisória entre judeus e gentios foi derribada pela morte de Cristo, esta lição e outras semelhantes que indicavam não ser o trabalho evangélico restringido por costumes ou nacionalidades, tiveram sobre os representantes de Cristo poderosa influência em Lhes dirigir os labores. DTN 282 2 A visita do Salvador à Fenícia e o milagre aí realizado, tinham ainda mais largo desígnio. Não somente pela mulher aflita, nem mesmo pelos discípulos e os que lhes recebessem os serviços, foi feita essa obra, mas também "para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus; para que, crendo, tenhais vida em Seu nome". João 20:31. As mesmas influências que separavam os homens de Cristo dezenove séculos atrás, acham-se hoje em dia em operação. O espírito que ergueu a parede separatória entre judeus e gentios, está ainda em atividade. O orgulho e o preconceito têm construído fortes muros de separação entre as diferentes classes de homens. Cristo e Sua missão têm sido desfigurados, e multidões sentem-se virtualmente excluídas do ministério do evangelho. Não sintam elas, porém, que se acham excluídas de Cristo. Não há barreiras que o homem ou Satanás possa levantar, que a fé não seja capaz de atravessar. DTN 282 3 Com fé, atirou-se a mulher fenícia contra as barreiras que se tinham elevado entre judeus e gentios. Apesar de não ser animada, a despeito das aparências que a poderiam ter levado a duvidar, confiou no amor do Salvador. É assim que Cristo deseja que nEle confiemos. As bênçãos da salvação destinam-se a toda alma. Coisa alguma, a não ser sua própria escolha, pode impedir qualquer homem de tornar-se participante da promessa dada em Cristo, pelo evangelho. DTN 282 4 Qualquer discriminação é aborrecível a Deus. É-Lhe desconhecida qualquer coisa dessa natureza. Aos Seus olhos, a alma de todos os homens é de igual valor. "De um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites de Sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós." Sem distinção de idade ou categoria, de nacionalidade ou de privilégio religioso, são todos convidados a ir a Ele e viver. "Todo aquele que nEle crer não será confundido. Porquanto não há diferença." "Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre." "O rico e o pobre se encontraram; a todos os fez o Senhor." "O mesmo é o Senhor de todos os que O invocam." "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". Atos dos Apóstolos 17:26, 27; Gálatas 3:28; Provérbios 22:2; Romanos 10:11-13. ------------------------Capítulo 44 -- O verdadeiro sinal DTN 283 0 Este capítulo é baseado em Mateus 15:29-39; 16:1-12; Marcos 7:31-37; 8:1-21. DTN 283 1 E Ele, tornando a sair dos termos de Tiro e de Sidom, foi até ao Mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis". Marcos 7:31. Fora na região de Decápolis que haviam sido curados os endemoninhados de Gergesa. Ali o povo, alarmado com a destruição dos porcos, constrangera Jesus a retirar-Se dentre eles. Escutara, porém, os mensageiros por Ele deixados atrás de Si, e despertara-se o desejo de vê-Lo. Ao chegar outra vez àquela região, muito povo se reuniu em torno dEle, e foi-Lhe levado um homem surdo e gago. Jesus não curou o homem com uma só palavra, como de costume. Tomando-o à parte de entre a multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua; olhando para o Céu, suspirou ao pensamento dos ouvidos que se não abriam à verdade, das línguas que se recusavam a reconhecê-Lo como o Redentor. À palavra: "Abre-te", foi restituída ao homem a fala e, desatendendo à recomendação de o não dizer a ninguém, ele propalou por toda parte a história de sua cura. DTN 283 2 Jesus subiu a uma montanha, e para ali afluiu a multidão, reunindo-se-Lhe ao redor, trazendo os enfermos e coxos, e depondo-os aos Seus pés. Ele os curou a todos; e o povo, pagão como era, glorificou ao Deus de Israel. Por três dias continuou a se aglomerar em torno do Salvador, dormindo à noite ao ar livre, e durante o dia comprimindo-se ansiosamente para ouvir as palavras de Cristo, e testemunhar Suas obras. Ao fim de três dias, acabaram-se os alimentos que tinham. Jesus não os queria despedir com fome, e chamou os discípulos para que lhes dessem alimento. Novamente manifestaram sua incredulidade. Viram em Betsaida como, com a bênção de Cristo, o pouco que tinham dera para alimentar a multidão; todavia, não Lhe foram levar agora a pequena provisão, confiando em Seu poder para multiplicá-la, a fim de alimentar o povo faminto. Demais, os que Ele alimentara em Betsaida, eram judeus; estes eram gentios e pagãos. O preconceito judaico era ainda forte no coração dos discípulos, e responderam a Jesus: "De onde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto?" Marcos 8:4. Obedientes à Sua palavra, no entanto, trouxeram-Lhe o que havia -- sete pães e uns poucos de peixinhos. A multidão foi alimentada, ficando sete grandes cestos cheios das sobras. Quatro mil homens, além de mulheres e crianças, foram assim revigorados, e Jesus os despediu cheios de alegria e reconhecimento. DTN 283 3 Tomando então um barco em companhia dos discípulos, dirigiu-Se a Magdala, do outro lado do lago, no extremo sul da planície de Genesaré. Nas fronteiras de Tiro e Sidom, fora Seu espírito refrigerado pela sincera confiança da mulher siro-fenícia. O povo pagão de Decápolis O recebera com alegria. Agora, ao desembarcar mais uma vez na Galiléia, onde se realizara a maior parte de Suas obras de misericórdia, e tiveram lugar os Seus ensinos, foi Ele recebido com desdenhosa incredulidade. DTN 284 1 A uma delegação de fariseus, unira-se uma representação de ricos e altivos saduceus, o partido dos sacerdotes, dos céticos e aristocratas da nação. As duas seitas haviam estado em feroz inimizade. Os saduceus cortejavam o favor do poder dominante, a fim de manter a própria posição e autoridade. Os fariseus, por outro lado, fomentavam o ódio popular contra os romanos, ansiando o tempo em que lhes fosse dado sacudir de si o jugo do vencedor. Mas fariseus e saduceus uniram-se agora contra Cristo. Os semelhantes atraem-se; onde quer que exista um mal, liga-se com o mal para destruição do bem. DTN 284 2 Fariseus e saduceus foram então em busca de Cristo, pedindo um sinal do Céu. Quando, nos dias de Josué, Israel saiu à batalha com os cananeus em Bete-Horom, o Sol, se detivera, à ordem do chefe, até que fosse conseguida a vitória; e muitas idênticas maravilhas se tinham operado na história deles. Um sinal assim foi solicitado de Jesus. Esses sinais não eram, todavia, aquilo de que os judeus necessitavam. Nenhuma prova meramente externa lhes seria proveitosa. O que precisavam, não era iluminação intelectual, mas renovação espiritual. DTN 284 3 "Hipócritas", disse Jesus, "sabeis diferençar a face do céu" -- estudando o céu, podiam predizer o tempo -- "e não conheceis os sinais dos tempos?" (Mateus 16:3) palavras de Cristo, proferidas com o poder do Espírito Santo que os convencia do pecado, eram o sinal dado por Deus para salvação deles. E sinais vindos diretamente do Céu foram, concedidos para atestar a missão de Cristo. O canto dos anjos para os pastores, a estrela que guiara os magos, a pomba e a voz do Céu em Seu batismo, eram testemunhas em favor dEle. DTN 284 4 "E suspirando profundamente em Seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal?" "Nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas". Mateus 16:4. Como Jonas estivera três dias e três noites no ventre da baleia, havia Cristo de estar o mesmo tempo "no seio da terra". E como a pregação de Jonas fora o sinal para os ninivitas, assim o era a de Cristo para Sua geração. Mas que contraste na recepção da palavra! O povo da grande nação pagã tremera ao ouvir a advertência de Deus. Reis e nobres se humilharam; os elevados e os humildes clamaram juntamente ao Deus do Céu, e Sua misericórdia lhes foi assegurada. "Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração", disse Cristo, "e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas". Mateus 12:40, 41. DTN 285 1 Cada milagre operado por Cristo, foi um sinal de Sua divindade. Estava fazendo a própria obra predita acerca do Messias; mas para os fariseus estas obras de misericórdia eram um positivo escândalo. Os guias judaicos olhavam com cruel indiferença aos sofrimentos humanos. Em muitos casos, seu egoísmo e opressão haviam causado a dor que Jesus aliviava. Assim, Seus milagres eram um opróbrio para eles. DTN 285 2 O que levava os judeus a rejeitarem a obra do Salvador, era a mais alta demonstração de Seu caráter divino. A maior significação de Seus milagres manifesta-se no fato de serem feitos para benefício da humanidade. A mais alta prova de que veio de Deus, é revelar Sua vida o caráter divino. Ele fez as obras e falou as palavras de Deus. Tal vida é o maior de todos os milagres. DTN 285 3 Quando se apresenta em nossa época a mensagem da verdade, há muitos que, como os judeus, exclamam: "Mostrai-nos um sinal. Operai-nos um milagre." Cristo não operou nenhum milagre a pedido dos fariseus. Não fizera milagre algum no deserto, em resposta às insinuações de Satanás. Não nos comunica poder para nos vindicarmos a nós mesmos ou satisfazer às exigências da incredulidade e do orgulho. Mas o evangelho não deixa de mostrar o sinal de sua origem divina. Não é um milagre que nos possamos libertar do cativeiro de Satanás? A inimizade contra Satanás não é natural ao coração humano; é implantada pela graça de Deus. Quando a pessoa que era dominada por uma vontade obstinada e má é posta em liberdade, e se entrega de todo o coração à influência dos celestiais instrumentos de Deus, opera-se um milagre; assim também quando um homem esteve sob o poder de forte ilusão, e chega a compreender a verdade moral. Toda vez que uma alma se converte, e aprende a amar a Deus e guardar-Lhe os mandamentos, cumpre-se a promessa por Ele feita: "E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo". Ezequiel 36:26. A mudança do coração humano, a transformação do caráter, é um milagre que revela um Salvador sempre vivo, operando para salvar almas. Uma vida coerente em Cristo, é grande milagre. Na pregação da Palavra de Deus, o sinal que se devia manifestar então e sempre, é a presença do Espírito Santo a fim de tornar a palavra uma força regeneradora para os que a ouvem. Esta é a testemunha de Deus perante o mundo, quanto à divina missão de Seu Filho. DTN 285 4 Os que desejavam um sinal da parte de Jesus estavam com o coração tão endurecido na incredulidade que não Lhe discerniam no caráter a semelhança de Deus. Não viam que Sua missão se achava em harmonia com as Escrituras. Na parábola do rico e Lázaro, Jesus disse aos fariseus: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite". Lucas 16:31. Nenhum sinal dado no céu ou na terra os beneficiaria. DTN 285 5 Jesus suspirou "profundamente em Seu espírito" e, voltando-Se do grupo de fariseus, tornou a entrar no bote com os discípulos. Em doloroso silêncio, atravessaram de novo o lago. Não voltaram, entretanto, ao lugar que haviam deixado, mas tomaram a direção de Betsaida, próximo à qual foram alimentados os cinco mil. Chegando ao ponto mais distante, do outro lado, Jesus disse: "Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus". Mateus 16:6. Os judeus estavam habituados, desde os dias de Moisés, a tirar de casa o fermento, por ocasião da Páscoa, e tinham sido assim ensinados a considerá-lo como símbolo do pecado. Todavia, os discípulos deixaram de compreender Jesus. Em sua súbita partida de Magdala, esqueceram-se de prover-se de pão, tendo consigo apenas um. Entenderam que Cristo Se referia a essa circunstância, advertindo-os a não comprar pão de um fariseu ou saduceu. Sua falta de fé e de visão espiritual levaram-nos, muitas vezes, a semelhante má compreensão de Suas palavras. Então Jesus os reprovou por pensarem que Aquele que alimentara milhares com uns poucos peixes e pães de cevada, poderia, naquela solene advertência, referir-Se meramente à comida temporal. Havia perigo de que o astuto raciocínio dos fariseus e saduceus levedasse os discípulos com incredulidade, levando-os a considerar levianamente as obras de Cristo. DTN 286 1 Os discípulos pensavam que o Mestre devia ter atendido ao pedido de um sinal do céu. Acreditavam que Ele era plenamente capaz de o fazer, e que um sinal assim reduziria a silêncio os inimigos. Não discerniam a hipocrisia desses fingidos. DTN 286 2 Meses mais tarde, "ajuntando-se [...] muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros", Jesus repetiu o mesmo ensino. "Começou a dizer aos discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia". Lucas 12:1. DTN 286 3 O fermento posto na farinha opera imperceptivelmente, mudando toda a massa, segundo sua natureza. Assim, se à hipocrisia se permitir lugar no coração, penetra o caráter e a vida. Um exemplo frisante da hipocrisia dos fariseus, Cristo já censurara condenando o costume do "Corbã", pelo qual a negligência do dever filial se ocultava sob uma pretensa liberalidade para com o templo. Os escribas e fariseus estavam insinuando princípios enganadores. Disfarçavam a verdadeira tendência de suas doutrinas, e aproveitavam toda ocasião de as instilar artificiosamente no espírito dos ouvintes. Esses falsos princípios, uma vez aceitos, operavam como fermento na massa, nela penetrando e transformando-lhe o caráter. Era esse ensino enganoso que tornava tão difícil ao povo o receber as palavras de Cristo. DTN 286 4 As mesmas influências estão operando hoje em dia mediante os que buscam explicar de tal modo a lei de Deus, que a fazem conformar-se com suas práticas. Esta classe não ataca abertamente a lei, mas expõe teorias especulativas que lhe minam os princípios. Explicam-na de maneira a lhe destruir a força. DTN 287 1 A hipocrisia dos fariseus era o produto do egoísmo. A glorificação deles próprios, eis o objetivo de sua vida. Era isso que os levava a perverter e aplicar mal as Escrituras, e os cegava ao desígnio da missão de Cristo. Esse mal sutil, os próprios discípulos de Cristo se achavam em risco de alimentar. Os que se haviam contado como seguidores de Jesus, mas não tinham deixado tudo a fim de se tornar Seus discípulos, eram em grande parte influenciados pelos raciocínios dos fariseus. Achavam-se muitas vezes vacilantes entre a fé e a incredulidade, e não discerniam os tesouros de sabedoria ocultos em Cristo. Os próprios discípulos, conquanto exteriormente a tudo houvessem renunciado por amor de Jesus, não tinham, no coração, deixado de buscar grandes coisas para si mesmos. Era esse espírito que motivara a discussão de quem seria o maior. Era isso que se interpunha entre eles e Cristo, fazendo-os tão apáticos para com Sua missão de sacrifício, tão tardios em compreender o mistério da redenção. Como o fermento, se deixado a completar sua obra, produzirá corrupção e ruína, assim o espírito de egoísmo, sendo nutrido, causará completa ruína. DTN 287 2 Entre os seguidores de nosso Senhor em nossos dias, como outrora, quão disseminado se acha esse pecado sutil e enganador! Quantas vezes nosso serviço a Cristo, nossa comunhão uns com os outros, não são manchados pelo oculto desejo de exaltar o próprio eu! Quão pronto o pensamento de se congratular consigo mesmo, e o anelo da aprovação humana! É o amor do próprio eu, o desejo de um caminho mais fácil do que o que nos é designado por Deus, que leva à substituição dos divinos preceitos por teorias e tradições humanas. Aos Seus próprios discípulos, dirige-se a advertência de Cristo: "Adverti e acautelai-vos do fermento dos fariseus". Mateus 16:6. DTN 287 3 A religião de Cristo é a própria sinceridade. Zelo pela glória de Deus, eis o motivo implantado pelo Espírito Santo; e unicamente a eficaz operação do Espírito pode implantar esse motivo. O poder de Deus, somente, pode expulsar o egoísmo e a hipocrisia. Essa mudança é o sinal de Sua operação. Quando a fé que aceitamos destrói o egoísmo e o fingimento, quando nos leva a buscar a glória de Deus e não a nossa, podemos saber que é da devida espécie. "Pai, glorifica o Teu nome" (João 12:28), era a nota tônica da vida de Cristo e, se O seguirmos, essa será a nota predominante em nossa vida. Ele nos manda "andar como Ele andou"; e "nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos". 1 João 2:6, 3. ------------------------Capítulo 45 -- A previsão da cruz DTN 288 0 Este capítulo é baseado em Mateus 16:13-28; Marcos 8:27-38; Lucas 9:18-27. DTN 288 1 A obra de Cristo na Terra aproximava-se rapidamente de seu termo. Perante Ele, em vívido contorno, desdobravam-se as cenas para onde tendiam Seus passos. Mesmo antes de Se revestir da humanidade, vira toda a extensão da estrada que devia trilhar, a fim de salvar o que se havia perdido. Toda angústia que Lhe dilacerou o coração, todo insulto atirado a Sua fronte, toda privação que foi chamado a suportar -- tudo Lhe foi exposto antes de deixar de lado a coroa e as vestes reais, e descer do trono para revestir Sua divindade com humanidade. A vereda que se estendia da manjedoura ao Calvário, estava toda diante de Seus olhos. Conhecia a angústia que dEle se havia de apoderar. Sabia tudo e, todavia, disse: "Eis aqui venho; no rolo do Livro está escrito de Mim: Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração". Salmos 40:7, 8. DTN 288 2 Via sempre diante de Si o resultado de Sua missão. Sua vida terrestre, tão cheia de fadiga e sacrifício, era alegrada pela perspectiva de que todo o Seu trabalho não seria em vão. Dando a própria vida pela vida dos homens, reconquistaria o mundo à lealdade para com Deus. Conquanto devesse primeiro receber o batismo de sangue; embora os pecados do mundo Lhe devessem pesar sobre a alma inocente; se bem que a sombra de indizível aflição sobre Ele impendesse; todavia, pelo gozo que Lhe estava proposto, preferiu sofrer a cruz e desprezar a afronta. DTN 288 3 Dos escolhidos companheiros de Seu ministério essas cenas, a Ele patenteadas, se achavam ainda ocultas; perto estava, porém, o tempo em que Lhe deviam testemunhar a agonia. Deviam ver Aquele a quem amavam e em quem confiavam, entregue às mãos dos inimigos e pendurado à cruz do Calvário. Em breve os deixaria Ele, para enfrentarem o mundo sem o conforto de Sua presença visível. Jesus sabia quão duramente os perseguiriam o ódio e a incredulidade, e desejava prepará-los para as provações. DTN 288 4 Jesus e os discípulos haviam então chegado a uma das cidades nas cercanias de Cesaréia de Filipe. Encontravam-se além dos limites da Galiléia, numa região em que predominava a idolatria. Ali os discípulos foram afastados da dominante influência do judaísmo, sendo postos em mais íntimo contato com o culto pagão. Em torno deles se achavam representadas formas de superstição que existiam em todas as partes do mundo. Jesus desejava que a visão dessas coisas os levasse a sentir a própria responsabilidade para com os pagãos. Durante Sua estada nessa região, buscou abster-se de ensinar o povo, dedicando-Se mais plenamente aos discípulos. DTN 289 1 Estava para lhes dizer os sofrimentos que O aguardavam. Antes disso, porém, afastou-Se sozinho e orou para que seus corações estivessem preparados para receber-Lhe as palavras. Depois de reunir-Se a eles, não lhes comunicou imediatamente aquilo que lhes desejava participar. Antes de fazê-lo, ofereceu-lhes o ensejo de confessar sua fé nEle, a fim de se fortalecerem para a próxima provação. Perguntou-lhes: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?" Mateus 16:13. DTN 289 2 Com pesar foram os discípulos forçados a admitir que Israel deixara de reconhecer seu Messias. Alguns, na verdade, ao Lhe verem os milagres, haviam declarado que Ele era o Filho de Davi. As multidões que foram alimentadas em Betsaida, desejaram proclamá-Lo rei de Israel. Muitos estavam dispostos a aceitá-Lo como profeta; não criam, porém, que fosse o Messias. DTN 289 3 Jesus formulou agora uma segunda pergunta, com respeito aos próprios discípulos: "E vós, quem dizeis que Eu sou?" Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Mateus 16:15, 16. DTN 289 4 Desde o princípio Pedro crera que Jesus era o Messias. Muitos outros que foram convencidos pela pregação de João Batista, e aceitaram a Cristo, começaram a duvidar da missão de João quando ele foi preso e morto; e agora duvidavam de que Jesus era o Messias, a quem há tanto tinham aguardado. Muitos dos discípulos que haviam esperado ardentemente que Jesus tomasse Seu lugar no trono de Davi, deixaram-nO ao perceber que Ele não tinha essa intenção. Mas Pedro e seus companheiros não se desviaram de sua fidelidade. A vacilante atitude dos que ontem louvavam e hoje condenavam, não destruiu a fé dos verdadeiros seguidores do Salvador. Pedro declarou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Mateus 16:16. Não esperou que honras reais coroassem seu Senhor, mas aceitou-O em Sua humilhação. DTN 289 5 Pedro exprimia a fé dos doze. Todavia, os discípulos estavam ainda longe de compreender a missão de Cristo. A oposição e calúnias dos sacerdotes e escribas, se bem que os não pudessem desviar de Cristo, ocasionavam-lhes não obstante grande perplexidade. Não viam claramente seu caminho. A influência da primeira educação, o ensino dos rabis, o poder da tradição, ainda lhes interceptavam a visão da verdade. De tempos em tempos, brilhavam sobre eles preciosos raios de luz emanados do Salvador, todavia estavam muitas vezes como quem tateia em meio de trevas. Nesse dia, porém, antes de se verem frente a frente com a grande prova de sua fé, o Espírito Santo repousou sobre eles com poder. Por algum tempo, desviaram-se-lhes os olhos das "coisas que se vêem" para a contemplação das "que se não vêem". 2 Coríntios 4:18. Sob a aparência humana, distinguiram a glória do Filho de Deus. DTN 290 1 Jesus respondeu a Pedro, dizendo: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas Meu Pai que está no Céu". Mateus 16:17. DTN 290 2 A verdade confessada por Pedro é o fundamento da fé do crente. É aquilo que o próprio Cristo declarou ser a vida eterna. A posse desse conhecimento, no entanto, não oferece motivo para nos glorificarmos a nós mesmos. Não fora por meio de sabedoria ou bondade do próprio Pedro, que ele lhe havia sido revelado. De si mesma, não pode a humanidade nunca chegar ao conhecimento do divino. "Como as alturas dos Céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno, que poderás tu saber?" Jó 11:8. Unicamente o Espírito de adoção nos pode revelar as coisas profundas de Deus, as quais "o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem". "Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus". 1 Coríntios 2:9, 10. O segredo do Senhor é para os que O temem" (Salmos 25:14); e o fato de Pedro ter discernido a glória de Cristo era uma prova de que fora ensinado "por Deus". João 6:45. Ah! na verdade "bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue". Mateus 16:17. DTN 290 3 Jesus continuou: "Pois também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Mateus 16:18. A palavra Pedro significa pedra -- uma pedra movediça. Pedro não era a rocha sobre que a igreja estava fundada. As portas do inferno prevaleceram contra ele quando negou seu Senhor com imprecações e juramentos. A igreja foi edificada sobre Alguém contra o qual as portas do inferno não podiam prevalecer. DTN 290 4 Séculos antes do advento do Salvador, Moisés apontara à Rocha da Salvação de Israel. Deuteronômio 32:4. O salmista cantara "a Rocha da minha fortaleza". Salmos 62:7. Isaías escrevera: "Assim diz o Senhor Jeová: Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada". Isaías 28:16. O próprio Pedro, escrevendo por inspiração, aplica essa profecia a Jesus. Diz ele: "Se é que já provastes que o Senhor é benigno: e chegando-vos para Ele -- pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual". 1 Pedro 2:3-5. DTN 290 5 "Ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo". 1 Coríntios 3:11. Sobre esta pedra", disse Jesus, "edificarei a Minha igreja". Mateus 16:18. Na presença de Deus e de todos os entes celestiais, em presença do invisível exército do inferno, Cristo fundou a Sua igreja sobre a Rocha viva. A Rocha é Ele próprio -- Seu próprio corpo, quebrantado e ferido por nós. Contra a igreja edificada sobre este fundamento, não prevalecerão as portas do inferno. DTN 291 1 Quão fraca parecia a igreja, quando Cristo proferiu estas palavras! Havia apenas um punhado de crentes, contra os quais se dirigiria todo o poder dos demônios e dos homens maus; todavia, os seguidores de Cristo não deveriam temer. Edificados sobre a Rocha de sua fortaleza, não poderiam ser vencidos. DTN 291 2 Durante seis mil anos tem a fé edificado sobre Cristo. Por seis mil anos as inundações e tempestades da ira satânica têm batido de encontro à Rocha de nossa salvação; ela, porém, permanece inabalável. DTN 291 3 Pedro expressara a verdade que é o fundamento da fé da igreja, e Jesus o honrou então como o representante do inteiro corpo de crentes. Disse: "Eu te darei as chaves do reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus". Mateus 16:19. DTN 291 4 "As chaves do reino dos Céus" são as palavras de Cristo. Todas as palavras da Santa Escritura são dEle e acham-se aqui incluídas. Estas palavras têm poder para abrir e fechar os Céus. Declaram as condições sob que os homens são recebidos ou rejeitados. Assim, a obra dos que pregam a Palavra de Deus é um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. Sua missão acha-se repleta de resultados eternos. DTN 291 5 O Salvador não confiou a obra do evangelho a Pedro, individualmente. Noutra ocasião, mais tarde, repetindo as palavras dirigidas a Pedro, aplicou-as diretamente à igreja. E o mesmo, em essência, foi dito também aos doze como representantes do corpo de crentes. Se Jesus houvesse delegado qualquer autoridade especial a um dos discípulos, de preferência aos outros, não os encontraríamos tantas vezes questionando acerca de quem seria o maior. Ter-se-iam submetido ao desejo do Mestre e honrado aquele que Ele escolhera. DTN 291 6 Em vez de apontar um para cabeça, Cristo disse aos discípulos: "Não queirais ser chamados Rabi"; "nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo". Mateus 23:8, 10. DTN 291 7 "Cristo é a cabeça de todo varão". 1 Coríntios 11:3. Deus, que pôs todas as coisas sob os pés do Salvador, "sobre todas as coisas O constituiu como cabeça da igreja, que é o Seu corpo, a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos". Efésios 1:22, 23. A igreja é edificada tendo Cristo como seu fundamento; deve obedecer a Cristo como sua cabeça. Não tem de confiar em homem, ou ser por homem controlada. Muitos pretendem que uma posição de confiança na igreja lhes dá autoridade para ditar o que outros hão de crer e fazer. Essa pretensão não é sancionada por Deus. O Salvador declara: "Todos vós sois irmãos." Todos estão expostos à tentação e sujeitos ao erro. Em nenhum ser finito podemos confiar quanto à direção. A Rocha da fé é a presença viva de Cristo na igreja. Nela pode confiar o mais débil, e os que mais fortes se julgam se demonstrarão os mais fracos, a não ser que façam de Cristo Sua eficiência. "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço". Jeremias 17:5. O Senhor "é a Rocha, cuja obra é perfeita". Deuteronômio 32:4. "Bem-aventurados todos aqueles que nEle confiam". Salmos 2:12. DTN 292 1 Depois da confissão de Pedro, Jesus recomendou aos discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Cristo. Esta recomendação foi feita por causa da decidida oposição dos escribas e fariseus. Mas ainda, o povo, e até mesmo os discípulos, tinham tão falso conceito do Messias, que um anúncio público do Mesmo não lhes daria idéia exata de Seu caráter e de Sua obra. Mas dia a dia Ele Se lhes estava revelando como o Salvador, e assim desejava dar-lhes uma genuína concepção de Si mesmo como o Messias. DTN 292 2 Os discípulos ainda esperavam que Cristo reinasse como príncipe temporal. Conquanto Ele houvesse por tanto tempo ocultado Seu desígnio, acreditavam que não permaneceria para sempre na pobreza e obscuridade; aproximava-se o tempo em que estabeleceria o Seu reino. Que o ódio dos sacerdotes e rabis jamais arrefecesse, que Cristo houvesse de ser rejeitado por Sua própria nação, condenado como enganador e crucificado como malfeitor -- este pensamento nunca os discípulos abrigaram. Mas vinha chegando a hora do poder das trevas, e Jesus precisava revelar aos discípulos o conflito que se achava diante deles. Estava triste, antecipando a prova. DTN 292 3 Até então, abstivera-Se de dar-lhes a conhecer qualquer coisa relativamente a Seus sofrimentos e morte. Em Sua conversação com Nicodemos, dissera: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. Mas os discípulos não ouviram isso e, ouvissem-no embora, não o haveriam compreendido. Agora, porém, estiveram com Jesus, ouvindo-Lhe as palavras, testemunhando-Lhe as obras, até que, não obstante a humildade de Seu ambiente, e a oposição dos sacerdotes e do povo, foram capazes de se unir a Pedro no testemunho: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." Chegou então o momento para correr o véu que ocultava o futuro. "Desde então começou Jesus a mostrar aos discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia". Mateus 16:21. DTN 292 4 Mudos de angústia e espanto escutaram os discípulos. Cristo aceitara o reconhecimento, por parte de Pedro, de Sua filiação de Deus; e agora Suas palavras, indicativas dos sofrimentos e da morte que O aguardavam, pareciam incompreensíveis. Pedro não se pôde conter. Tomando o Mestre à parte, como a querer subtraí-Lo à impendente condenação, exclamou: "Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso". Mateus 16:22. DTN 293 1 Pedro amava seu Senhor; mas Jesus não o louvou por assim manifestar o desejo de O proteger contra o sofrimento. As palavras de Pedro não eram de molde a ajudar e consolar Jesus na grande prova que estava diante dEle. Não estavam em harmonia com o desígnio de Deus, de graça para com o mundo perdido, nem a lição de sacrifício que Jesus viera ensinar com Seu próprio exemplo. Pedro não desejava ver a cruz na obra de Cristo. A impressão que suas palavras haviam de causar, era inteiramente contrária à que Cristo desejava produzir no espírito de Seus seguidores, e o Salvador foi compelido a proferir uma das mais severas repreensões que já Lhe caíram dos lábios: "Para trás de Mim, Satanás, que Me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens". Mateus 16:23. DTN 293 2 Satanás buscava desanimar a Jesus e desviá-Lo de Sua missão; e Pedro, em seu cego amor, estava sendo o porta-voz da tentação. O príncipe das trevas fora o autor do pensamento. Por trás daquele impulsivo apelo, achava-se sua instigação. No deserto Satanás oferecera a Cristo o domínio do mundo, sob a condição de abandonar a vereda da humilhação e do sacrifício. Apresentava agora a mesma tentação ao discípulo de Cristo. Estava procurando fazer Pedro fixar o olhar na glória terrestre, para que não visse a cruz a que o Salvador lhe desejava atrair os olhos. E, por intermédio de Pedro, Satanás novamente insistia na tentação contra Jesus. Mas Ele não lhe deu ouvidos; pensava no discípulo. Satanás interpusera-se entre Pedro e seu Mestre, para que o coração do discípulo não fosse tocado ante a visão da humilhação de Cristo por ele. As palavras de Cristo foram dirigidas, não a Pedro, mas àquele que o estava tentando separar do Redentor. "Para trás de Mim, Satanás". Mateus 16:23. Não te continues a interpor entre Mim e Meu errado servo. Deixa-Me estar face a face com Pedro, para que lhe possa revelar o ministério do Meu amor. DTN 293 3 Foi para Pedro uma lição amarga, lição que não aprendeu senão vagarosamente, essa de que a estrada de Jesus na Terra se estendia através de agonias e humilhações. O discípulo recuava da comunhão com o Senhor nos sofrimentos. Mas no ardor da fornalha havia ele de descobrir-lhe as bênçãos. Muito tempo depois, quando sua figura ativa se achava curvada ao peso dos anos e labores, escreveu: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis". 1 Pedro 4:12, 13. DTN 293 4 Jesus explicou então aos discípulos que Sua própria vida de abnegação era um exemplo do que a deles deveria ser. Chamando para junto de Si os discípulos e o povo que O estivera rodeando, disse: "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me". Mateus 16:24. A cruz estava associada ao poder de Roma. Era o instrumento da mais cruel e humilhante forma de morte. Exigia-se dos mais vis criminosos que levassem a cruz ao lugar da execução; e muitas vezes, quando lhe iam colocar nos ombros, resistiam com desesperada violência, até que fossem subjugados e o instrumento de tortura sobre eles posto. Mas Jesus pedia a Seus seguidores que tomassem a cruz e a conduzissem após Ele. Para os discípulos, Suas palavras, conquanto imperfeitamente compreendidas, indicavam que se deviam submeter à mais profunda humilhação -- submeter-se mesmo à morte por amor de Cristo. Nenhuma entrega mais completa poderiam haver expresso as palavras do Salvador. Mas tudo isto aceitara por eles. Jesus não reputou o Céu um lugar desejável, enquanto nos achávamos perdidos. Deixou as cortes celestes por uma vida de vitupério e insultos, e uma ignominiosa morte. Aquele que era rico nos apreciáveis tesouros celestes, tornou-Se pobre, a fim de, pela Sua pobreza, nos tornarmos ricos. Cumpre-nos seguir a vereda por Ele trilhada. DTN 294 1 Amor às pessoas por que Cristo morreu, significa a crucifixão do próprio eu. Aquele que é filho de Deus deve, daí em diante, considerar-se um elo na cadeia baixada para salvar o mundo, um com Cristo em Seu plano de misericórdia, indo com Ele em busca dos perdidos para os salvar. O cristão deve sempre ter presente que se consagrou a Deus, e que seu caráter deve revelar Cristo perante o mundo. O espírito de sacrifício, a simpatia, o amor manifestados na vida de Cristo, devem reaparecer na existência do obreiro de Deus. DTN 294 2 "Aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de Mim e do evangelho, esse a salvará". Mateus 16:25. Egoísmo é morte. Nenhum órgão do corpo poderia viver, se limitasse a si próprio os seus serviços. O coração, deixando de enviar o sangue vital à mão e à cabeça, perderia rapidamente a força. Como nosso sangue, assim é o amor de Cristo difundido por toda parte através de Seu corpo místico. Somos membros uns dos outros, e a alma que se recusa a dar perecerá. E "que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro", disse Jesus, "se perder a sua alma? ou que dará o homem em recompensa de sua alma?" Mateus 16:26. DTN 294 3 Para além da pobreza e humilhação do presente, apontava Ele aos discípulos Sua vinda em glória, não no esplendor de um trono terrestre, mas com a glória de Deus e as hostes do Céu. E então, disse Ele, "dará a cada um segundo as suas obras". E, para animá-los, fez a promessa: "Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no Seu reino". Mateus 16:27, 28. Mas os discípulos não compreenderam Suas palavras. A glória parecia muito distante. Tinham os olhos fixos na visão mais próxima -- a vida terrena de pobreza, humilhação e sofrimento. Deverá ser abandonada sua brilhante expectativa do reino do Messias? Não deveriam eles ver seu Senhor exaltado ao trono de Davi? Seria possível que Cristo devesse viver como humilde peregrino, sem lar, devendo ser desprezado, rejeitado e condenado à morte? O coração confrangeu-se-lhes de tristeza, pois amavam o Mestre. Também a dúvida lhes assaltava o espírito, pois parecia incompreensível que o Filho de Deus houvesse de estar sujeito a tão cruel humilhação. Cogitavam por que haveria Ele de ir a Jerusalém enfrentar o tratamento que lhes dissera havia de receber ali. Como Se poderia resignar a tal sorte, e deixá-los entregues a uma treva mais densa que aquela em que tateavam antes que Se lhes revelasse? DTN 295 1 Na região de Cesaréia de Filipe, raciocinavam os discípulos, Cristo Se achava fora do alcance de Herodes e Caifás. Nada tinha a temer do ódio dos judeus, nem do poder dos romanos. Por que não trabalhar ali, a distância dos fariseus? Por que necessitaria de Se entregar à morte? Se Lhe cumpria morrer, então como era que Seu reino se devia estabelecer tão firmemente que as portas do inferno não prevaleceriam contra ele? Para os discípulos isto era na verdade um mistério. DTN 295 2 Estavam então viajando ao longo da costa do Mar de Galiléia, em direção à cidade em que todas as suas esperanças haveriam de ser esmagadas. Não ousavam objetar a Cristo, mas falavam entre si em voz baixa e triste, a respeito do que seria o futuro. Mesmo por entre suas interrogações, apegavam-se à idéia de que qualquer circunstância imprevista poderia desviar a condenação que parecia aguardar a seu Senhor. Assim, durante seis longos e sombrios dias, se entristeceram e duvidaram, esperaram e temeram. ------------------------Capítulo 46 -- A transfiguração DTN 296 0 Este capítulo é baseado em Mateus 17:1-8; Marcos 9:2-8; Lucas 9:28-36. DTN 296 1 Vai baixando a noite, quando Jesus chama para junto de Si três de Seus discípulos -- Pedro, Tiago e João -- e os conduz através dos campos e, por acidentada vereda, a uma deserta encosta de montanha. O Salvador e os discípulos tinham passado o dia viajando e ensinando, e a subida da encosta lhes acrescenta a fadiga. Cristo aliviara o fardo do espírito e do corpo de muitos sofredores; fizera-lhes passar no enfraquecido organismo a corrente da vida; Ele próprio, no entanto, também Se acha sujeito às contingências humanas, e, como os discípulos, cansa-Se com a ascensão. DTN 296 2 A luz do Sol poente paira ainda no cimo da montanha, dourando com sua esmaecente glória o trilho que percorrem. Mas em breve se dissipa a claridade nos montes e nos vales, o Sol oculta-se por trás do horizonte ocidental, e os solitários viajantes se acham envoltos nas trevas da noite. As sombras que os rodeiam condizem com a tristeza de Sua alma, em torno da qual se aglomeram e condensam as nuvens. DTN 296 3 Os discípulos não ousam perguntar a Cristo aonde vai, nem para que fim. Ele tem muitas vezes passado noites inteiras nas montanhas, em oração. Aquele cujas mãos formaram montes e vales, Se encontra em meio da natureza e goza-lhe a tranqüilidade. Os discípulos O seguem; cogitam, todavia, por que motivo os conduziria o Mestre por essa afadigante subida quando estavam cansados e Ele próprio Se achava necessitado de repouso. DTN 296 4 Afinal, Cristo lhes diz que não precisam ir mais adiante. Afastando-Se um pouco deles, o Homem de dores derrama Suas súplicas com grande clamor e lágrimas. Roga força para resistir à prova em favor da humanidade. Precisa, Ele próprio, de apoiar-Se com renovado vigor à Onipotência, pois só assim pode contemplar o futuro. E desafoga os anseios de Seu coração quanto aos discípulos, para que, na hora do poder das trevas, sua fé não desfaleça. Cai espesso o orvalho sobre o curvado corpo, mas Ele o não sente. Adensam-se as sombras da noite ao Seu redor, mas não lhes atende ao negror. Assim se passam vagarosamente as horas. A princípio, os discípulos unem as próprias preces às Suas, com sincera devoção; algum tempo depois, porém, são vencidos de cansaço, e mesmo esforçando-se por conservar o interesse, ei-los adormecidos. Jesus lhes falara de Seus sofrimentos; levara-os consigo para que se Lhe unissem em oração; está mesmo então a interceder por eles. DTN 297 1 O Salvador notara a tristeza dos discípulos, e desejara amenizar-lhes a mágoa, com a certeza de que sua fé não fora vã. Nem todos, mesmo dentre os doze, podem receber a revelação que lhes deseja fazer. Unicamente os três que Lhe hão de testemunhar a angústia no Getsêmani foram escolhidos para estar com Ele no monte. Agora, a nota predominante de Sua prece é que lhes seja dada uma manifestação da glória que Ele tinha com o Pai antes que o mundo existisse, que Seu reino seja revelado a olhos humanos e que os discípulos sejam fortalecidos pela contemplação do mesmo. Roga que testemunhem uma manifestação de Sua divindade que, na hora de Sua suprema agonia, os conforte com o conhecimento de que Ele é com certeza o Filho de Deus, e que Sua ignominiosa morte é uma parte do plano da redenção. DTN 297 2 Sua oração é ouvida. Ao achar-Se curvado em humildade sobre o pedregoso solo, o céu repentinamente se abre, descerram-se de par em par as portas de ouro da cidade de Deus, e uma santa irradiação baixa sobre o monte, envolvendo a figura do Salvador. A divindade interior irrompe através da humanidade, encontrando-Se com a glória vinda de cima. Erguendo-Se da prostrada posição em que Se achava, Cristo apresenta-Se em divina majestade. Desaparecera a agonia da alma. Seu semblante resplandece agora "como o Sol", e Seus vestidos são "brancos como a luz". DTN 297 3 Os discípulos, despertando, contemplam a inundação de glória que ilumina o monte. Com temor e espanto, fitam a radiosa figura do Mestre. Ao poderem resistir à assombrosa luz, vêem que Cristo não Se encontra só. Ao Seu lado acham-se dois seres celestiais, entretidos em íntima conversa com Ele. São Moisés, que falara com Deus sobre o Sinai; e Elias, a quem foi concedido o alto privilégio -- outorgado unicamente a mais outro dos filhos de Adão -- de não passar sob o poder da morte. DTN 297 4 Sobre o Pisga, quinze séculos atrás, estivera Moisés em contemplação da terra da promessa. Mas, por causa de seu pecado em Meribá, não lhe fora dado ali entrar. Não devia ter a alegria de introduzir as hostes de Israel na herança de seus pais. Foi-lhe recusada sua angustiosa súplica: "Rogo-Te que me deixes passar, para que veja esta boa terra que está dalém do Jordão; esta boa montanha e o Líbano!" Deuteronômio 3:25. Deve-lhe ser negada a esperança que por quarenta anos aclarara as sombras das vagueações do deserto. Uma sepultura nesse deserto, eis o objetivo daqueles anos de labuta e opressivo cuidado. Mas Aquele "que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos" (Efésios 3:20), assim atendera à súplica de Seu servo. Moisés passou sob o domínio da morte, mas não devia permanecer na sepultura. O próprio Cristo o chamou à vida. Satanás, o tentador, reclamara o corpo de Moisés por causa de seu pecado; mas Cristo, o Salvador o tirara da tumba. Judas 9. DTN 297 5 Moisés, sobre o monte da transfiguração, era um testemunho da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Representava os que sairão do sepulcro na ressurreição dos justos. Elias, que fora trasladado ao Céu sem ver a morte, representava os que se hão de achar vivos na Terra por ocasião da segunda vinda de Cristo, e que serão "transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta"; quando "isto que é mortal se revestir da imortalidade" e "isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade". 1 Coríntios 15:51-53. Jesus estava revestido da luz do Céu, como há de aparecer quando vier a "segunda vez, sem pecado [...] para salvação". Hebreus 9:28. Pois virá "na glória de Seu Pai, com os santos anjos". Marcos 8:38. Cumpriu-se então a promessa do Salvador aos discípulos. Sobre o monte, foi representado em miniatura o futuro reino da glória -- Cristo, o Rei, Moisés como representante dos santos ressuscitados, e Elias dos trasladados. DTN 298 1 Os discípulos ainda não compreendem a cena; mas regozijam-se de que o paciente Mestre, o Manso e Humilde, que tem vagueado para cá e para lá como desamparado peregrino, seja honrado pelos favorecidos do Céu. Crêem que Elias veio para anunciar o reino do Messias, e que o domínio de Cristo está prestes a se estabelecer na Terra. A lembrança de seu temor e decepção, querem eles banir para sempre. Ali, onde se revela a glória de Deus, desejam demorar-se. Pedro exclama: "Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três cabanas, uma para Ti, outra para Moisés, e outra para Elias." Os discípulos estão confiantes que Moisés e Elias foram enviados para proteger seu Mestre, e estabelecer-Lhe a autoridade de rei. DTN 298 2 Antes da coroa, no entanto, é preciso que venha a cruz. Não a consagração de Cristo como rei, mas a morte a verificar-se em Jerusalém, é objeto da conferência deles com Jesus. Levando a fraqueza da humanidade e oprimido com a dor e o pecado da mesma, andava Jesus, sozinho, por entre os homens. À medida que sobre Ele se adensavam as trevas da vindoura provação, Seu espírito se sentia isolado, num mundo que O não conhecia. Mesmo os Seus amados discípulos, absorvidos com sua própria dúvida, pesares e ambiciosas esperanças, não tinham compreendido o mistério de Sua missão. Ele vivera na comunhão e no amor do Céu; no mundo que Ele próprio criara, no entanto, encontrava-Se solitário. Então enviara o Céu seus mensageiros a Jesus; não anjos, mas homens que suportaram sofrimentos e tristezas, e estavam aptos a sentir com o Salvador na prova de Sua existência terrestre. Moisés e Elias foram colaboradores de Cristo. Partilharam de Seus anseios em torno da salvação dos homens. Moisés intercedera por Israel: "Agora pois perdoa o seu pecado, se não risca-me, peço-Te do Teu Livro, que tens escrito". Êxodo 32:32. Elias conhecera a solidão de espírito quando, por três anos e meio de fome, suportara o peso do ódio e da miséria da nação. Sozinho, mantivera-se na defesa de Deus sobre o monte Carmelo. Sozinho fugira para o deserto em angústia e desespero. Esses homens, escolhidos de preferência a todos os anjos que rodeiam o trono, tinham vindo a conversar com Jesus acerca das cenas de Seu sofrimento, e confortá-Lo com a certeza da simpatia do Céu. A esperança do mundo, a salvação de toda criatura humana, eis o assunto de sua entrevista. DTN 299 1 Por haverem sido vencidos pelo sono, os discípulos pouco ouviram do que se passara entre Cristo e os mensageiros celestiais. Deixando de vigiar e orar, não receberam o que Deus lhes desejava dar -- o conhecimento dos sofrimentos de Jesus e da glória que se havia de seguir. Perderam a bênção que lhes teria cabido, houvessem eles participado de Seu sacrifício. Tardios de coração eram esses discípulos, tão pouco sabendo apreciar o tesouro com que o Céu os buscava enriquecer! DTN 299 2 Receberam, contudo, grande luz. Foi-lhes assegurado que todo o Céu sabia do pecado da nação judaica em rejeitar a Cristo. Foi-lhes proporcionado mais claro conhecimento da obra do Redentor. Viram com os próprios olhos e com os próprios ouvidos ouviram coisas que estavam além da compreensão do homem. Eram "testemunhas oculares da Sua majestade" (2 Pedro 1:16) e reconheciam que Jesus era de fato o Messias, de quem haviam testificado patriarcas e profetas, e que como tal O aceitava o Universo celeste. DTN 299 3 Estando ainda a contemplar a cena sobre o monte, "eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o Meu amado Filho, em quem Me comprazo; escutai-O". Mateus 17:5. Ao contemplarem a nuvem gloriosa, mais resplandecente do que aquela que ia adiante das tribos de Israel no deserto; ao ouvirem a voz de Deus falando em terrível majestade, fazendo tremer a montanha, os discípulos caíram por terra. Ali permaneceram prostrados, o rosto oculto, até que Jesus Se aproximou e os tocou, dissipando os temores com Sua conhecida voz: "Levantai-vos, e não tenhais medo". Mateus 17:7. Aventurando-se a erguer os olhos, viram que a glória celestial se dissipara, e as figuras de Moisés e Elias haviam desaparecido. Estavam no monte, a sós com Jesus. ------------------------Capítulo 47 -- "Nada vos será impossível" DTN 300 0 Este capítulo é baseado em Mateus 17:9-21; Marcos 9:9-29; Lucas 9:37-45. DTN 300 1 Toda a noite fora passada no monte; e, ao nascer do Sol, Jesus e os discípulos desceram para a planície. Absorvidos em seus pensamentos, os discípulos estavam silenciosos e possuídos de respeito. Nem mesmo Pedro tinha uma palavra a dizer. De boa vontade se teriam detido naquele santo lugar que fora tocado pela luz celestial, e onde o Filho de Deus manifestara Sua glória; mas havia trabalho a fazer pelo povo, que já andava por toda parte à procura de Jesus. DTN 300 2 Um grande grupo se ajuntara ao pé do monte, ali conduzidos pelos discípulos que tinham ficado atrás, mas que sabiam para onde Jesus Se retirara. Ao aproximar-Se o Salvador recomendou aos três companheiros que guardassem silêncio acerca do que tinham presenciado, dizendo: "A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos". Mateus 17:9. A revelação feita aos discípulos devia ser ponderada em seus corações, não ser publicada. Relatá-la às multidões apenas despertaria o ridículo, ou ociosa admiração. E mesmo os nove apóstolos não entenderiam a cena até depois que Cristo houvesse ressuscitado. Quão tardos de compreensão eram mesmo os três discípulos favorecidos, vê-se pelo fato de que, não obstante tudo quanto Cristo dissera acerca do que O aguardava, indagavam entre si o que queria dizer ressuscitar dentre os mortos. Todavia, não pediram explicações a Jesus. Suas palavras a respeito do futuro os tinham enchido de tristeza; não procuraram nenhuma revelação posterior daquilo que de bom grado acreditariam nunca havia de acontecer. DTN 300 3 Ao avistar Jesus, o povo que se achava na planície correu-Lhe ao encontro, saudando-O com expressões de reverência e alegria. Todavia, com Sua rápida visão, percebeu que se achavam em grande perplexidade. Os discípulos pareciam perturbados. Acabara de verificar-se uma ocorrência que lhes causara cruel decepção e os humilhara também. DTN 300 4 Enquanto esperavam, ao pé do monte, chegara um pai trazendo-lhes o filho, a fim de ser libertado de um espírito mudo, que o atormentava. Aos discípulos fora conferida autoridade sobre os espíritos imundos, para os expulsar, quando Jesus enviara os doze a pregar pela Galiléia. Ao saírem fortes na fé, os maus espíritos lhes haviam obedecido à palavra. Agora, tinham ordenado em nome de Cristo que o espírito atormentador deixasse a vítima; mas o demônio simplesmente escarnecera deles por uma nova exibição de seu poder. Os discípulos, incapazes de compreender o motivo de sua derrota, sentiram estar desonrando a si mesmos e ao Mestre. E havia entre a turba escribas que exploraram o melhor possível essa oportunidade para os humilhar. Aproximando-se dos discípulos, apertaram-nos com perguntas, tentando provar que eles e Seu Mestre eram enganadores. Ali estava, diziam triunfantemente os rabis, um mau espírito que nem os discípulos nem o próprio Cristo poderiam vencer. O povo inclina-se a tomar o partido dos escribas, e um espírito de desprezo e desdém penetrou a multidão. DTN 301 1 De repente, porém, cessaram as acusações. Avistaram Jesus e os três discípulos que se aproximavam e, numa rápida reviravolta de sentimentos, o povo se voltou para ir-lhes ao encontro. A noite de comunhão com a glória celestial deixara traços no semblante do Salvador e de Seus companheiros. Iluminava-lhes a fisionomia uma luz que encheu de reverente espanto os que os olhavam. Os escribas recuaram atemorizados, enquanto o povo saudava a Jesus. DTN 301 2 Como se houvera presenciado tudo que ocorrera, o Salvador chegou ao cenário do conflito e, fixando o olhar nos escribas, indagou: "Que é que discutis com eles?" Marcos 9:16. DTN 301 3 Mas as vozes, tão ousadas e desafiadoras antes, emudeceram agora. Fizera-se silêncio em todo o grupo. Então o aflito pai abriu caminho por entre o povo, e, caindo aos pés de Jesus, desabafou a história de sua tribulação e desapontamento. DTN 301 4 "Mestre", disse, "trouxe-Te o meu filho, que tem um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, despedaça-O, [...] e eu disse aos Teus discípulos que o expulsasse, e não puderam". Marcos 9:17, 18. DTN 301 5 Jesus correu os olhos em torno, sobre a multidão tomada de espanto, os fingidos escribas e os perplexos discípulos. Leu em cada coração a incredulidade; e, em voz repassada de tristeza, exclamou: "Ó geração incrédula! até quando estarei convosco?" Pediu então ao consternado pai: "Traze-Me cá o teu filho". Lucas 9:41. DTN 301 6 O menino foi levado e, quando os olhos do Salvador pousaram sobre ele, o mau espírito lançou-o por terra em convulsões de agonia. Ali estava no chão a revolver-se e espumar, soltando guinchos que não pareciam humanos. DTN 301 7 Novamente se defrontaram, no campo de batalha, o Príncipe da vida e o príncipe dos poderes das trevas -- Cristo em cumprimento de Sua missão de "apregoar liberdade aos cativos,... pôr em liberdade os oprimidos" (Lucas 4:18), Satanás procurando segurar a vítima sob seu domínio. Anjos de luz e hostes de anjos maus, invisíveis, comprimiam-se para presenciar o conflito. Por um momento Jesus permitiu ao mau espírito que ostentasse seu poder, para que os espectadores pudessem compreender a libertação prestes a operar-se. DTN 301 8 A multidão olhava sustendo a respiração, o pai numa angústia de esperança e temor. Jesus perguntou: "Quanto tempo há que lhe sucede isto?" Marcos 9:21. O pai contou a história de longos anos de sofrimento, e depois, como se não pudesse mais suportar, exclamou: "Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos." "Se Tu podes". Marcos 9:22, 23. Mesmo então o pai punha em dúvida o poder de Cristo. DTN 302 1 Jesus responde: "Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê". Marcos 9:23. Não há falta de poder da parte de Cristo; a cura do filho depende da fé do pai. Com uma explosão de lágrimas, compreendendo a própria fraqueza, o pai lança-se sobre a misericórdia de Cristo, com o brado: "Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade". Marcos 9:24. DTN 302 2 Jesus volta-Se para o sofredor, e diz: "Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno: sai dele, e não entres mais nele". Marcos 9:25. Ouve-se um grito, há uma angustiosa luta. O demônio, ao sair, parece a ponto de arrebatar a vida a sua vítima. Então o rapaz fica imóvel, e aparentemente sem vida. A multidão murmura: "Está morto." Mas Jesus o toma pela mão e, erguendo-o, apresenta-o ao pai, perfeitamente são de espírito e de corpo. Pai e filho louvam o nome de seu Libertador. A multidão pasma "da majestade de Deus", ao passo que os escribas, derrotados e humilhados, afastam-se de mau humor. DTN 302 3 "Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos". Marcos 9:22. Quanta alma oprimida pelo pecado tem repetido esta súplica! E a todos responde o compassivo Salvador: "Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê". Marcos 9:23. É a fé que nos liga ao Céu, e nos traz força para resistir aos poderes das trevas. Deus providenciou, em Cristo, meios para vencer todo mau traço de caráter, e resistir a toda tentação, por mais forte que seja. Mas muitos sentem que lhes falta a fé, e assim permanecem afastados de Cristo. Que essas almas, em sua impotente indignidade, se lancem sobre a misericórdia de seu compassivo Salvador. Não olheis para vós mesmos, mas para Cristo. Aquele que curava os doentes e expulsava os demônios, quando andava entre os homens, é ainda hoje o mesmo poderoso Redentor. A fé vem pela palavra de Deus. Apegai-vos, pois, a Sua promessa: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora". João 6:37. Lançai-vos a Seus pés, com o clamor: "Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade". Marcos 9:24. Não podeis perecer nunca, enquanto assim fizerdes -- nunca. Dentro de um breve intervalo de tempo, contemplaram os favorecidos discípulos o extremo da glória e da humilhação. Viram a humanidade como transfigurada à imagem de Deus, e como rebaixada à semelhança de Satanás. Da montanha onde conversou com os mensageiros celestiais, e foi proclamado Filho de Deus pela voz saída da radiante glória, viram Jesus descer para enfrentar aquele tão desolador e revoltante espetáculo -- o jovem lunático, com a fisionomia contorcida, rangendo os dentes e em espasmos de agonia que poder algum humano podia aliviar. E esse poderoso Redentor, que havia poucas horas apenas Se achava glorificado perante os maravilhados discípulos, desce para erguer a vítima de Satanás do pó em que se contorce e, em saúde de espírito e de corpo, o restitui a seu pai e ao seu lar. DTN 303 4 Era uma lição objetiva da redenção -- o Divino descendo da glória do Pai para salvar o perdido. Representava também a missão dos discípulos. Não somente no cimo da montanha com Jesus, em horas de iluminação espiritual, se deve passar a vida dos servos de Cristo. Há para eles trabalho a fazer na planície. Almas a quem Satanás tem escravizado, estão à espera da palavra de fé e oração que os tornará livres. DTN 303 1 Os nove discípulos estavam ainda ponderando no duro fracasso que lhes sobreviera; e, ao verem-se mais uma vez a sós com Jesus, perguntaram: "Por que não pudemos nós expulsá-lo?" Jesus lhes respondeu: "Por causa de vossa pouca fé; porque em verdade vos digo, que se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá -- e há de passar; e nada vos será impossível. Mas esta espécie de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum". Mateus 17:19-21. Sua incredulidade, que lhes vedava ter mais profunda simpatia para com Cristo, e a desatenção com que olhavam a sagrada obra a eles confiada, tinham causado o fracasso no conflito com os poderes das trevas. DTN 303 2 As palavras de Cristo com respeito a Sua morte, haviam produzido tristeza e dúvida. E a escolha dos três discípulos para acompanharem Jesus ao monte despertara os ciúmes dos nove. Em vez de robustecer a fé pela oração e meditação das palavras de Cristo, demoraram-se em seus desânimos e agravos pessoais. Foi nesse estado de sombras que empreenderam o conflito com Satanás. DTN 303 3 Para serem bem-sucedidos num combate assim, precisavam pôr mãos à obra com espírito diverso. Sua fé devia ser fortalecida por fervorosa oração e jejum, e humilhação da alma. Deviam esvaziar-se de si mesmos e encher-se com o Espírito e o poder de Deus. Somente a súplica fervente, perseverante a Deus, feita com fé -- fé que leva a esperar com inteira confiança nEle, consagrando-se sem reservas a Sua obra -- pode ser eficaz para trazer aos homens o auxílio do Espírito Santo na batalha contra os principados e as potestades, os príncipes das trevas deste século, as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. DTN 303 4 "Se tiverdes fé como um grão de mostarda", disse Jesus, "direis a este monte: Passa daqui para acolá -- e há de passar". Mateus 17:20. Se bem que o grão de mostarda seja tão pequeno, encerra aquele mesmo misterioso princípio vital que produz o crescimento na mais altaneira árvore. Ao lançar-se na terra a semente da mostarda, o minúsculo germe aproveita todo elemento provido por Deus para sua nutrição e desenvolve-se rapidamente, num crescimento vigoroso. Se tendes fé como essa, haveis de lançar mão da Palavra de Deus e de todos os meios eficazes por Ele designados. Assim se robustecerá a vossa fé, trazendo em vosso auxílio o poder do Céu. Os obstáculos amontoados por Satanás através de vosso caminho, conquanto pareçam intransponíveis como as montanhas eternas, desaparecerão em face da exigência da fé. "Nada vos será impossível". Mateus 17:20. ------------------------Capítulo 48 -- Quem é o maior DTN 304 0 Este capítulo é baseado em Mateus 17:22-27; 18:1-20; Marcos 9:30-50; Lucas 9:46-48. DTN 304 1 Voltando a Cafarnaum, Jesus não procurou os bem conhecidos lugares em que havia ensinado o povo, mas, tranqüilo, buscou com os discípulos a casa que Lhe devia servir temporariamente de lar. Durante o resto de Sua permanência na Galiléia, era Seu intuito instruir os discípulos de preferência a trabalhar em favor das multidões. DTN 304 2 Na viagem pela Galiléia, tentara Cristo outra vez preparar o espírito dos discípulos para as cenas que O aguardavam. Disse-lhes que devia ir a Jerusalém para ser morto e ressuscitar. E acrescentou a estranha e solene comunicação de que devia ser entregue nas mãos dos inimigos. Nem ainda então compreenderam os discípulos as Suas palavras. Embora os envolvesse a sombra de uma grande tristeza, ainda em seu coração encontrou lugar o espírito de rivalidade. Discutiram entre si qual seria considerado maior no reino. Essa contenda, pensaram eles ocultar de Jesus, e não procuraram, como de costume, achegar-se para mais perto dEle, mas demoraram-se atrás, de modo que Ele lhes ia na dianteira quando entraram em Cafarnaum. Jesus leu-lhes os pensamentos, e ansiou aconselhá-los e instruí-los. Esperou, porém, para isso, uma hora de sossego quando os corações estivessem abertos para Lhe receber as palavras. DTN 304 3 Pouco depois de haverem chegado à cidade, o coletor do tributo do templo foi ter com Pedro, fazendo a pergunta: "O vosso Mestre não paga as didracmas?" Mateus 17:24. Esse tributo não era uma taxa civil, mas uma contribuição religiosa, exigida de todo judeu, anualmente, para manutenção do templo. A recusa de pagar o tributo seria considerada como deslealdade ao templo -- segundo o conceito dos rabis, um gravíssimo pecado. A atitude do Salvador para com as leis dos rabis, e Suas positivas reprovações aos defensores da tradição, proporcionaram pretexto para a acusação de estar Ele procurando deitar por terra o serviço do templo. Agora, os inimigos viram um ensejo de lançar descrédito sobre Ele. No coletor dos tributos encontraram um ponto aliado. DTN 304 4 Pedro viu na pergunta do dito funcionário uma insinuação quanto à lealdade de Cristo ao templo. Zeloso da honra do Mestre, respondeu precipitadamente, sem O consultar, que Jesus pagaria o tributo. DTN 304 5 Mas Pedro não compreendeu senão em parte o intuito do que o interrogava. Havia algumas classes consideradas isentas do pagamento do tributo. No tempo de Moisés, quando os levitas foram separados para o serviço do santuário, não lhes foi dada herança entre o povo. O Senhor disse: "Levi com seus irmãos não têm parte na herança; o Senhor é a sua herança". Deuteronômio 10:9. Nos dias de Cristo, os sacerdotes e levitas eram ainda tidos como especialmente consagrados ao templo, não lhes sendo exigida a contribuição anual para a manutenção do mesmo. Também os profetas estavam isentos desse pagamento. Requerendo tributo de Jesus, os rabis punham à margem Seus direitos como profeta e mestre, e tratavam-nO como uma pessoa comum. A recusa de Sua parte, de pagar o tributo, seria apresentada como deslealdade ao templo; ao passo que, por outro lado, o pagamento do mesmo seria tomado como justificação de O rejeitarem como profeta. DTN 305 1 Havia pouco tempo, apenas, Pedro reconhecera Jesus como o Filho de Deus; mas deixara nesse caso de salientar o caráter divino do Mestre. Por sua resposta ao coletor, de que Jesus havia de pagar o tributo, sancionara, virtualmente, o falso conceito que os sacerdotes e principais estavam procurando generalizar a Seu respeito. DTN 305 2 Ao entrar Pedro em casa, o Salvador não fez referência ao que sucedera, mas perguntou: "Que te parece, Simão? de quem cobram os reis da Terra os tributos, ou o censo? Dos seus filhos, ou dos alheios?" Pedro respondeu: "Dos alheios." E Jesus disse: "Logo, estão livres os filhos". Mateus 17:25, 26. Ao passo que o povo de um país é obrigado a pagar imposto para manutenção de seu rei, os filhos do próprio rei ficam livres. Assim de Israel, o professo povo de Deus, era exigido que mantivesse Seu serviço; mas Jesus, o Filho de Deus, não estava sob tal obrigação. Se os sacerdotes e levitas estavam isentos, em virtude de sua ligação com o templo, quanto mais Aquele para quem o templo era a casa de Seu Pai! DTN 305 3 Se Jesus houvesse pago o tributo sem protestar, teria, virtualmente, reconhecido a justiça da reclamação, tendo assim negado Sua divindade. Mas ao passo que viu ser bom satisfazer à exigência, negou o direito sobre que esta se pretendia basear. Provendo o necessário para pagamento do tributo, deu Ele o testemunho de Seu caráter divino. Foi demonstrado que Ele era um com Deus e, portanto, não Se achava sob tributo, como um simples súdito do reino. DTN 305 4 "Vai ao mar", disse Ele a Pedro, "lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por Mim e por ti". Mateus 17:27. DTN 305 5 Conquanto houvesse revestido Sua divindade com a humanidade, revelou, nesse milagre, a Sua glória. Era evidente ser Este Aquele que, por meio de Davi, declara: "Porque Meu é todo animal da selva, e as alimárias sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e Minhas são todas as feras do campo. Se Eu tivesse fome, não to diria, pois Meu é o mundo e a sua plenitude". Salmos 50:10-12. DTN 305 6 Conquanto Jesus tornasse claro não Se achar sob obrigação de pagar o tributo, não entrou em discussão com os judeus a respeito do assunto; pois teriam interpretado mal Suas palavras, virando-as contra Ele. Para não escandalizá-los por não dar o tributo, fez aquilo que não Lhe poderia com justiça ser exigido. Essa lição deveria ser de grande valor para os discípulos. Notáveis mudanças se haveriam de em breve operar nas relações deles para com o serviço do templo, e Cristo os ensinou a não se colocarem, desnecessariamente, em antagonismo com a ordem estabelecida. Deveriam, o quanto possível, evitar dar ocasião a que sua fé fosse mal-interpretada. Conquanto os cristãos não devam sacrificar um único princípio da verdade, cumpre-lhes evitar debates sempre que isso seja possível. DTN 306 1 Quando Cristo e os discípulos se achavam a sós em casa, enquanto Pedro se dirigira ao mar, Jesus chamou os outros a Si e perguntou: "Que estáveis vós discutindo pelo caminho?" Marcos 9:33. A presença de Jesus e Sua pergunta fizeram a questão aparecer-lhes num aspecto inteiramente diverso daquele em que a tinham considerado quando questionavam pelo caminho. A vergonha e um sentimento de condenação própria fê-los emudecer. Jesus lhes dissera que havia de morrer por amor deles, e sua egoísta ambição achava-se em doloroso contraste com o abnegado amor dEle. DTN 306 2 Quando Jesus lhes disse que havia de ser condenado à morte e ressurgir dos mortos, buscava atraí-los a uma conversação a respeito da grande prova de fé por que haviam de passar. Houvessem os discípulos estado prontos a receber o que Ele lhes desejava comunicar, e ter-se-iam poupado a atroz angústia e desespero. Suas palavras lhes teriam levado consolo na hora de se verem privados dEle, cheios de decepção. Mas se bem que lhes houvesse falado tão claramente acerca do que O aguardava, a menção de Sua próxima ida a Jerusalém lhes suscitou novamente as esperanças de que o reino estava para ser estabelecido. Isto levara à questão quanto a quem deveria ocupar os mais altos lugares. Voltando Pedro do mar, contaram-lhe os discípulos a pergunta do Salvador, e por fim alguém se animou a perguntar a Jesus: "Quem é o maior no reino dos Céus?" DTN 306 3 O Salvador reuniu os discípulos em torno de Si, e disse-lhes: "Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos". Marcos 9:35. Havia nestas palavras uma solenidade e impressividade que os discípulos estavam longe de compreender. O que Cristo discernia não podiam ver. Não compreendiam a natureza de Seu reino, e esta ignorância era a causa aparente de sua contenda. A causa real, porém, jazia mais fundo. Explicando a natureza de Seu reino, Cristo acalmaria temporariamente a questão; isto, no entanto, não teria tocado no motivo básico. Mesmo depois de haverem recebido o mais pleno conhecimento, ter-se-ia renovado a dificuldade a qualquer questão de precedência. Assim sobreviria ruína à igreja de Cristo depois de Sua partida. A luta pelo mais alto lugar era a operação do mesmo espírito que dera origem à grande controvérsia nos mundos de cima, e trouxera a Cristo do Céu para morrer. Diante dEle surgiu a visão de Lúcifer, o "filho da alva", sobrepujando em glória a todos os anjos que rodeavam o trono, e ligado pelos mais íntimos laços ao Filho de Deus. Lúcifer dissera: "Serei semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:12, 14); e o desejo de exaltação própria levara conflito às cortes celestiais, e banira uma multidão das hostes de Deus. Houvesse na verdade Lúcifer desejado ser semelhante ao Altíssimo, e nunca teria perdido o lugar que lhe fora designado no Céu; pois o espírito do Altíssimo manifesta-se em abnegado ministério. DTN 307 1 Lúcifer desejava o poder de Deus, mas não o Seu caráter. Buscava para si mesmo o mais alto lugar, e toda criatura que é movida por seu espírito fará o mesmo. Assim serão inevitáveis a separação, a discórdia e a contenda. O domínio torna-se o prêmio do mais forte. O reino de Satanás é um reino de força; cada indivíduo considera todos os outros como obstáculo no caminho de seu próprio progresso, ou um degrau sobre o qual pode subir para chegar a uma posição mais elevada. DTN 307 2 Enquanto Lúcifer reputava o ser igual a Deus uma coisa de que se devesse apoderar, Cristo, o Exaltado, "aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz". Filipenses 2:7, 8. Agora a cruz se achava justamente diante dEle; e Seus próprios discípulos estavam tão cheios de interesse egoísta -- o próprio princípio do reino de Satanás -- que não lhes era possível encher-se de compassivo interesse para com seu Senhor, ou mesmo compreendê-Lo ao falar de Sua humilhação por eles. DTN 307 3 Mui ternamente, mas com solene acento, Jesus procurou corrigir o mal. Mostrou qual o princípio que domina no reino do Céu, e em que consiste a verdadeira grandeza, segundo a estimativa das normas do alto. Os que eram atuados por orgulho e amor de distinções, estavam pensando em si mesmos e nas recompensas que deveriam obter, em vez de cuidar em como devolver a Deus os benefícios recebidos. Eles não teriam lugar no reino do Céu, pois achavam-se identificados com as fileiras de Satanás. DTN 307 4 "Diante da honra vai a humildade". Provérbios 15:33. Para ocupar um elevado cargo diante dos homens, o Céu escolhe o obreiro que, como João Batista, assume posição humilde diante de Deus. O mais infantil dos discípulos é o mais eficiente no trabalho para Deus. Os seres celestes podem cooperar com aquele que procura não se exaltar, mas salvar almas. Aquele que mais profundamente sente sua necessidade de auxílio divino, há de pedi-lo; e o Espírito Santo lhe dará vislumbres de Jesus que lhe fortalecerão e elevarão a alma. Da comunhão com Cristo sairá ele para trabalhar pelos que estão perecendo em seus pecados. Está ungido para sua missão; e é bem- sucedido onde muitos instruídos e intelectualmente sábios fracassariam. DTN 308 1 Mas quando os homens se exaltam, sentindo que são uma necessidade para o êxito do grande plano de Deus, o Senhor faz com que sejam postos de lado. Torna-se evidente que o Senhor não depende deles. A obra não se detém por causa de seu afastamento da mesma, mas vai avante com maior poder. DTN 308 2 Não bastava aos discípulos de Jesus o serem instruídos quanto à natureza de Seu reino. O que necessitavam era uma mudança de coração que os pusesse em harmonia com seus princípios. Chamando a Si uma criancinha, Jesus a colocou no meio deles; e, envolvendo ternamente o pequenino nos braços, disse: "Em verdade vos digo que, se vos não converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos Céus". Mateus 18:3. A simplicidade, o esquecimento de si mesma e o confiante amor de uma criancinha, são os atributos estimados pelo Céu. São essas as características da verdadeira grandeza. DTN 308 3 Jesus tornou a explicar aos discípulos que Seu reino não se caracteriza por terrena dignidade e ostentação. Junto a Jesus esquecem-se todas estas distinções. O rico e o pobre, o instruído e o ignorante se encontram, sem nenhuma idéia de classe ou mundana preeminência. Todos se aproximam como almas compradas por sangue, igualmente dependentes dAquele que as redimiu para Deus. DTN 308 4 A alma sincera e contrita é preciosa diante de Deus. Ele coloca o Seu sinete sobre os homens, não por posição, não por fortuna, não por sua grandeza intelectual, mas pela sua unidade com Cristo. O Senhor da glória fica satisfeito com aqueles que são mansos e humildes de coração. "Também me deste o escudo da Tua salvação: [...] e a Tua mansidão" -- como elemento no caráter humano -- "me engrandeceu". Salmos 18:35. DTN 308 5 "Qualquer que receber um destes meninos em Meu nome", disse Jesus, "a Mim Me recebe; e qualquer que a Mim Me receber, recebe, não a Mim, mas ao que Me enviou". Marcos 9:37. "Assim diz o Senhor: O Céu é o Meu trono, e a Terra o escabelo dos Meus pés:... mas eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito, e que treme da Minha palavra". Isaías 66:1, 2. DTN 308 6 As palavras do Salvador despertaram nos discípulos um sentimento de desconfiança de si mesmos. Ninguém fora especialmente apontado na resposta; mas João foi levado a duvidar de que em certo caso sua atitude fora correta. Com espírito de criança, expôs a questão a Jesus. "Mestre", disse ele, "vimos um que em Teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue". Lucas 9:49. DTN 308 7 Tiago e João pensaram que, opondo-se a esse homem, tinham tido em vista a honra de seu Senhor; começaram a ver que tiveram ciúmes da sua própria. Reconheceram seu erro e aceitaram a reprovação de Jesus: "Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagres em Meu nome e possa logo falar mal de Mim". Marcos 9:39. Pessoa alguma que se mostrasse de algum modo amiga de Cristo, devia ser repelida. Muitos havia que tinham sido profundamente movidos pelo caráter e a obra de Cristo, e cujo coração se estava abrindo para Ele com fé; e os discípulos, que não podiam ler os motivos, deviam ter cuidado em não desanimar essas almas. Quando Jesus não mais Se achasse pessoalmente com eles, e a obra fosse deixada em suas mãos, não deviam ceder a um espírito estreito, exclusivista, mas manifestar a larga simpatia que tinham visto em seu Mestre. DTN 309 1 O fato de uma pessoa não se conformar em tudo com nossas próprias idéias e opiniões, não nos justifica proibir-lhe o trabalhar para Deus. Cristo é o grande Mestre; não nos compete julgar ou ordenar, mas deve cada um sentar-se com humildade aos pés de Jesus e dEle aprender. Toda alma que Deus tornou voluntária, é um instrumento por onde Cristo revelará Seu amor cheio de perdão. Quão cuidadosos devemos ser para não desanimar um dos que transmitem a luz de Deus, interceptando assim os raios que Ele queria fazer brilhar no mundo! DTN 309 2 A aspereza e a frieza manifestadas por um discípulo para com uma pessoa a quem Cristo estava atraindo -- um ato como o que João praticara ao proibir alguém de operar milagres em nome de Cristo -- poderia dar em resultado o encaminhar aquela criatura para a senda do inimigo, ocasionando a ruína de uma alma. De preferência a fazer alguém isso, disse Jesus: "Melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha e se submergisse na profundeza do mar." E acrescentou: "Se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno". Marcos 9:42-44. DTN 309 3 Por que essa veemente linguagem, a cujo vigor nenhuma outra pode exceder? Porque "o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido". Mateus 18:11. Hão de Seus discípulos mostrar menos consideração pela alma de seus semelhantes do que manifestou a Majestade do Céu? Cada alma custou um infinito preço, e quão terrível é o pecado de desviar uma alma de Cristo, de maneira que para ela hajam sido em vão o amor, a humilhação e agonia do Salvador! DTN 309 4 "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos." O mundo, inspirado por Satanás, há de sem falta opor-se aos seguidores de Cristo e procurar destruir-lhes a fé; mas ai daquele que tomou o nome de Cristo, e é todavia encontrado a fazer essa obra! Nosso Senhor é exposto à injúria pelos que pretendem servi-Lo, mas Lhe representam mal o caráter; e multidões são enganadas e induzidas a falsas veredas. DTN 309 5 Qualquer hábito ou prática conducente ao pecado, capaz de trazer desonra sobre Cristo, convém ser posto de lado, seja qual for o sacrifício. Aquilo que desonra a Deus, não pode ser benéfico à alma. A bênção do Céu não pode seguir qualquer homem no violar os eternos princípios do direito. E um pecado alimentado é suficiente para operar a degradação do caráter e desencaminhar a outros. Se o pé ou a mão seriam cortados, ou mesmo arrancado o olho, para salvar o corpo da morte, quanto mais zelosos deveríamos ser em lançar fora o pecado, que traz a condenação eterna! DTN 310 1 No serviço ritual, era adicionado o sal a todo sacrifício. Isto, como a oferta de incenso, significava que unicamente a justiça de Cristo poderia ser aceitável a Deus. Referindo-Se a esse costume, disse Jesus: "Cada sacrifício será salgado com sal." "Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros". Marcos 9:50. Todos quantos se quiserem apresentar a si mesmos como "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Romanos 12:1), devem receber o sal salvador -- a justiça de nosso Redentor. Tornam-se então "o sal da terra" (Mateus 5:13), restringindo o mal entre os homens, como o sal preserva da corrupção. Mas se o sal perdeu o sabor, se existe apenas uma profissão de piedade, sem o amor de Cristo, não há poder para o bem. A vida não pode exercer salvadora influência no mundo. Vossa energia e eficiência em edificar o Meu reino, diz Jesus, dependem de receberdes de Meu Espírito. Deveis ser participantes de Minha graça, a fim de ser um cheiro de vida para vida. Então, não haverá rivalidade, nem interesses egoístas, nem desejo de obter o lugar mais elevado. Haveis de ter aquele amor que não busca o que é propriamente seu, mas o bem de outros. DTN 310 2 Que o pecador arrependido fixe os olhos sobre "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29); e, contemplando, é transformado. Seu temor transmuda-se em alegria, suas dúvidas em esperanças. Surge a gratidão. Abranda-se a alma empedernida. Uma onda de amor inunda a alma. Cristo é nele uma fonte que salta para a vida eterna. Quando vemos a Jesus, um Homem de dores e familiarizado com os trabalhos, esforçando-Se por salvar os perdidos, rejeitado, escarnecido, expulso de cidade em cidade, até que se cumprisse Sua missão; quando O contemplamos no Getsêmani, suando grandes gotas de sangue, e na cruz, morrendo em agonia -- quando vemos isto, não mais o próprio eu clama por atenções. Olhando a Jesus, envergonhamo-nos de nossa frieza, nossa letargia, nosso espírito interesseiro. Estaremos dispostos a ser qualquer coisa e a não ser nada, contanto que façamos um serviço de amor para o Mestre. Regozijar-nos-emos em levar a cruz após Cristo, suportar a prova, a vergonha ou a perseguição por amor dEle. DTN 310 3 "Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos". Romanos 15:1. Nenhuma pessoa que creia em Cristo, embora seja fraca a sua fé, e seus passos vacilantes como os de uma criancinha, deve ser desconsiderada. Por tudo que nos confere vantagem sobre outros -- seja educação e refinamento, seja nobreza de caráter, educação cristã ou experiência religiosa -- achamo-nos em dívida para com os menos favorecidos; e, o quanto estiver ao nosso alcance, cumpre-nos ajudá-los. Se somos fortes, devemos sustentar as mãos do fraco. Anjos de glória, que contemplam continuamente a face do Pai no Céu, regozijam-se em servir aos Seus pequeninos. Almas trementes, com muitos objetáveis traços de caráter, são seu particular encargo. Os anjos se acham sempre presentes onde mais necessários são, ao lado dos que têm a mais dura batalha a combater contra o próprio eu, e cujo ambiente é o mais desanimador. E neste ministério hão de cooperar os verdadeiros seguidores de Cristo. DTN 311 1 Se um desses pequeninos for vencido, e cometer uma falta contra vós, é vosso trabalho então buscar restaurá-lo. Não espereis que ele faça o primeiro esforço para a reconciliação. "Que vos parece?" disse Jesus. "Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou? E, se porventura a acha, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que não se desgarraram. Assim também não é vontade de vosso Pai que está nos Céus, que um destes pequeninos se perca". Mateus 18:12-14. DTN 311 2 Em espírito de mansidão, "olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado" (Gálatas 6:1), vai ter com o que está em falta, e "repreende-o entre ti e ele só". Mateus 18:15. Não o exponhas à vergonha, contando sua falta aos outros, nem desonres a Cristo tornando público o pecado ou o erro de uma pessoa que Lhe usa o nome. Muitas vezes, a verdade deve ser francamente dita ao que está em erro; ele deve ser levado a ver esse erro, para que se emende. Mas não te compete julgar nem condenar. Não faças tentativas de justificação própria. Sejam todos os teus esforços no sentido de o restabelecer. Exige o mais delicado tato, a mais fina sensibilidade, o tratamento das feridas da alma. Unicamente o amor emanado da Vítima do Calvário pode aí ser eficaz. Trate o irmão com piedosa ternura o outro irmão, sabendo que, se for bem-sucedido, "salvará da morte uma alma", e "cobrirá uma multidão de pecados". Tiago 5:20. DTN 311 3 Mas mesmo esse esforço poderá ser infrutífero. Então, disse Jesus, "leva ainda contigo um ou dois". Mateus 18:16. Talvez sua influência unida prevaleça onde a do primeiro fora mal-sucedida. Não sendo partes na questão, estarão mais aptos a agir com imparcialidade, e isso dará a sua opinião mais peso diante do que se acha em falta. DTN 311 4 Se ele não os atender, então, e só então, o assunto deve ser levado perante o inteiro corpo de crentes. Que os membros da igreja, como representantes de Cristo, se unam em oração e amoráveis súplicas para que o ofensor seja restaurado. O Espírito Santo falará por meio de Seus servos, pleiteando com o errante para voltar para Deus. O apóstolo Paulo, falando por inspiração, diz: "Como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus". 2 Coríntios 5:20. Aquele que rejeita esta unida tentativa, rompeu o laço que o ligava a Cristo, separando-se assim da sociedade da igreja. Daí em diante, disse Jesus, "considera-o como um gentio e publicano". Mas a ele não se deve olhar como separado da misericórdia de Deus. Não seja desprezado ou negligenciado por seus antigos irmãos, mas tratado com ternura e compaixão, como uma das ovelhas perdidas a quem Cristo ainda está buscando trazer para o aprisco. DTN 312 1 As instruções de Cristo quanto ao tratamento dos transviados repetem, de maneira mais específica, o ensino dado a Israel por intermédio de Moisés: "Não aborrecerás a teu irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás sobre ti o pecado por causa dele". Levítico 19:17. Isto é, se alguém negligencia o dever que lhe é imposto por Cristo, de procurar restabelecer os que se acham em erro e pecado, torna-se participante do pecado. Somos tão responsáveis por males que poderíamos haver reprimido, como se fôssemos nós mesmos culpados da ação. DTN 312 2 Mas é ao que procedeu mal mesmo que nos cumpre apresentar o erro. Não devemos fazer disso assunto de comentários e críticas entre nós; nem mesmo depois de isso haver sido comunicado à igreja, achamo-nos na liberdade de o repetir aos outros. O conhecimento das faltas dos cristãos só servirá de pedra de tropeço para o mundo incrédulo; e, demorando-nos sobre essas coisas, só nos fazemos mal; pois é pela contemplação que somos transformados. Ao procurarmos corrigir os erros de um irmão, o Espírito de Cristo nos levará a resguardá-lo quanto possível até da crítica dos próprios irmãos, quanto mais de censura do mundo incrédulo. Nós mesmos somos falíveis, e necessitamos da piedade e do perdão de Cristo, e da mesma maneira que desejamos que nos trate, pede-nos que nos tratemos uns aos outros. DTN 312 3 "Tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu". Mateus 18:18. Estais agindo como embaixadores do Céu e os resultados de vossa obra são para a eternidade. DTN 312 4 Não temos, porém, de tomar sozinhos esta grande responsabilidade. Onde quer que Sua Palavra seja obedecida com sinceridade de coração, aí habita Cristo. Ele não somente Se acha presente nas assembléias da igreja, mas onde quer que discípulos, por poucos que sejam, se reúnam em Seu nome, ali também estará. E diz: "Se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos Céus". Mateus 18:19. DTN 312 5 Jesus diz: "Meu Pai, que está nos Céus", como a lembrar os discípulos de que, enquanto por Sua humanidade Ele Se lhes acha ligado, participante das provações deles, e compadecendo-Se deles em seus sofrimentos, por Sua divindade está em comunicação com o trono do Infinito. Maravilhosa certeza! Os seres celestes unem-se aos homens em simpatia e trabalho pela salvação daquilo que se havia perdido. E todo o poder do Céu é posto ao lado da habilidade humana para atrair pessoas a Cristo. ------------------------Capítulo 49 -- Na festa dos tabernáculos DTN 313 0 Este capítulo é baseado em João 7:1-15; 37-39. DTN 313 1 Três vezes por ano era exigido dos judeus reunirem-se em Jerusalém para fins religiosos. Envolto na coluna de nuvem, o invisível Guia de Israel dera instruções quanto a esses cultos. Durante o cativeiro dos judeus, eles não puderam ser observados; mas ao ser o povo restabelecido em seu próprio país, recomeçara a observância dessas comemorações. Era o desígnio de Deus que esses aniversários O trouxessem à mente do povo. Com poucas exceções, porém, os sacerdotes e guias da nação haviam perdido de vista esse objetivo. Aquele que ordenara essas assembléias nacionais e lhes compreendia o significado, testemunhava a deturpação das mesmas. DTN 313 2 A festa dos tabernáculos era a reunião final do ano. Era desígnio de Deus que, por essa ocasião, o povo refletisse em Sua bondade e misericórdia. Toda a Terra estivera sob Sua direção, recebendo Suas bênçãos. Dia e noite permanecera sobre ela o Seu cuidado. O Sol e a chuva tinham feito com que o solo produzisse frutos. Dos vales e planícies da Palestina, tinha sido recolhido o cereal. Apanhadas as azeitonas, armazenara-se o precioso azeite. A palmeira tinha oferecido sua contribuição. Os viçosos cachos da videira haviam sido comprimidos no lagar. DTN 313 3 A festa continuava por sete dias, e para celebração da mesma, os habitantes da Palestina, bem como muitos de outras terras, deixavam sua casa e iam ter a Jerusalém. Iam de toda parte, levando consigo um testemunho do regozijo que os animava. Velhos e moços, ricos e pobres, todos levavam alguma dádiva como tributo de gratidão Àquele que lhes coroara o ano com Sua bondade, e lhes dera a abundância. Tudo quanto podia alegrar a vista e dar expressão ao contentamento geral, era levado das matas; a cidade apresentava o aspecto de uma linda floresta. DTN 313 4 Essa festa não era somente a ação de graças pela colheita, mas uma celebração do protetor cuidado de Deus sobre Israel no deserto. Para comemorar sua vida em tendas, os israelitas durante a festa habitavam em cabanas ou tabernáculos de ramos verdes. Essas cabanas eram erguidas nas ruas, nos pátios do templo, ou nos telhados das casas. As colinas e vales em torno de Jerusalém achavam-se também bordados com essas habitações de folhas, e repletas de gente. DTN 313 5 Com hinos sagrados e ações de graças, celebravam os adoradores essa ocasião. Pouco antes da festa vinha o dia da expiação; quando, depois de confessados os pecados, se declarava o povo em paz com o Céu. Assim se preparava o caminho para o regozijo da festa. "Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque a Sua benignidade é para sempre" (Salmos 106:1), eram as palavras que se erguiam triunfalmente, ao passo que toda espécie de música, de mistura com aclamações de hosanas, acompanhavam o unido canto. O templo era o centro da alegria geral. Ali se achava a pompa das cerimônias sacrificais. Ali, enfileirados de ambos os lados da escada de branco mármore do sagrado edifício, dirigia o coro dos levitas o serviço de cântico. A multidão dos adoradores, agitando ramos de palma e murta, unia sua voz aos acordes e repetia o coro; e, novamente, a melodia era cantada por vozes próximas e distantes, até que as circundantes colinas ressoavam todas o louvor. DTN 314 1 À noite, o templo e o pátio brilhavam pelas luzes artificiais. A música, o agitar dos ramos de palmeira, os alegres hosanas, o grande ajuntamento de povo sobre o qual se espargia a luz irradiada das lanternas suspensas, os paramentos dos sacerdotes e a majestade das cerimônias, combinavam-se para tornar a cena profundamente impressiva aos espectadores. No entanto, a mais impressionante cerimônia da festa, que mais júbilo produzia, era a que comemorava o acontecimento da peregrinação no deserto. DTN 314 2 Aos primeiros raios da aurora, os sacerdotes faziam soar longa e penetrantemente as trombetas de prata, e as trombetas em resposta e as alegres aclamações do povo de suas cabanas, ecoando por montes e vales, saudavam o dia da festa. Então o sacerdote tirava das correntes do Cedrom um vaso de água e, erguendo-o, enquanto as trombetas soavam, subia ao compasso da música, os amplos degraus do templo, com andar lento e cadenciado, cantando entretanto: "Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém". Salmos 122:2. DTN 314 3 Levava o cântaro ao altar, que ocupava posição central no pátio dos sacerdotes. Ali se achavam duas bacias de prata, tendo um sacerdote junto de cada uma. A ânfora de água era despejada numa, e uma de vinho, noutra; e o conteúdo de ambas corria por um tubo que ia dar no Cedrom e ter ao Mar Morto. Essa apresentação de água consagrada representava a fonte que, ao mando de Deus, brotara da rocha para saciar a sede dos filhos de Israel. Então, irrompiam os jubilosos acentos: "Eis que o Senhor Jeová é a minha força e o meu cântico"; "com alegria tirareis águas das fontes da salvação". Isaías 12:2, 3. DTN 314 4 Quando os filhos de José faziam seus preparativos para assistir à festa dos tabernáculos, viram que Cristo não dava nenhum passo que Lhe indicasse a intenção de a ela assistir. Observavam-nO com ansiedade. Desde a cura de Betesda, Ele não concorrera mais às reuniões nacionais. Para evitar inúteis conflitos com os chefes em Jerusalém, restringira Seus labores à Galiléia. Seu aparente desprezo das grandes assembléias religiosas e a inimizade para com Ele manifestada pelos sacerdotes e rabis, eram causa de perplexidade para os que O rodeavam, mesmo os próprios discípulos e parentes. Acentuara em Seus ensinos as bênçãos da obediência à lei de Deus e, não obstante, parecia Ele próprio ser indiferente ao serviço divinamente estabelecido. O misturar-Se com publicanos e outros de má reputação, Seu menosprezo pelas observâncias dos rabis e a liberdade com que punha de lado as exigências tradicionais quanto ao sábado, tudo parecendo colocá-Lo em antagonismo com as autoridades religiosas, despertava muita indagação. Seus irmãos pensavam ser um erro de Sua parte alienar de Si os grandes e doutos da nação. Achavam que esses homens deviam ter razão, e que era erro de Jesus colocar-Se em oposição aos mesmos. Tinham, porém, testemunhado Sua vida irrepreensível e, conquanto não se classificassem entre Seus discípulos, haviam sido profundamente impressionados por Suas obras. A popularidade dEle na Galiléia aprazia-lhes às ambições; ainda esperavam que desse um testemunho de poder que levasse os fariseus a ver que era o que pretendia ser. Que seria se Ele fosse o Messias, o Príncipe de Israel! Nutriam esse pensamento com grande satisfação. DTN 315 1 Tão ansiosos estavam a esse respeito, que insistiram com Cristo em que fosse a Jerusalém. "Sai daqui", disseram, "e vai para a Judéia, para que também os Teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça alguma coisa em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-Te ao mundo". João 7:3, 4. O "se" manifestava dúvida e incredulidade. Atribuíam a Cristo fraqueza e covardia. Se Ele sabia ser o Messias, por que essa estranha reserva e inação? Se possuía na verdade esse poder, por que não ir ousadamente a Jerusalém e afirmar Seus direitos? Por que não realizar em Jerusalém as maravilhosas obras que dEle se contavam na Galiléia? Não Te ocultes em retiradas províncias, diziam, fazendo Tuas poderosas obras em benefício de ignorantes camponeses e pescadores. Apresenta-Te na capital, conquista o apoio dos sacerdotes e principais, e une a nação no estabelecimento do novo reino. DTN 315 2 Os irmãos de Jesus raciocinavam, partindo do motivo egoísta tantas vezes encontrado no coração dos ambiciosos de ostentação. Este espírito era que predominava no mundo. Escandalizavam-se porque, em vez de buscar um trono temporal, Cristo declarava ser o pão da vida. Ficaram decepcionados quando tantos de Seus discípulos O abandonaram. Eles próprios desviaram-se dEle para escapar à cruz de terem de reconhecer o que Suas obras revelam -- que era o Enviado de Deus. DTN 315 3 "Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o Meu tempo, mas o vosso tempo sempre está pronto. O mundo não vos pode aborrecer, mas ele Me aborrece a Mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. Subi vós a esta festa; porque ainda o Meu tempo não está cumprido. E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia". João 7:6-9. Seus irmãos Lhe haviam falado em tom de autoridade, ditando o caminho que devia seguir. Ele lhes devolveu a censura, classificando-os, não com Seus abnegados discípulos, mas com o mundo. "O mundo não vos pode aborrecer", disse Ele, "mas ele Me aborrece a Mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más". João 7:7. O mundo não aborrece os que se lhe assemelham no espírito; louva-os como seus. DTN 316 1 O mundo, para Cristo, não era um lugar de comodidade nem engrandecimento do próprio eu. Ele não estava à espreita da oportunidade de tomar seu poder e glória. O mundo não Lhe oferecia esse prêmio. Era simplesmente o lugar a que Seu Pai O enviara. Ele fora dado pela vida do mundo, para executar o grande plano da redenção. Estava realizando Sua obra em favor da raça caída. Mas não devia ser presunçoso, nem Se precipitar no perigo, nem apressar a crise. Cada acontecimento em Sua obra tinha sua hora determinada. Cumpria-Lhe esperar pacientemente. Sabia que havia de ser objeto do ódio do mundo; sabia que Sua obra Lhe traria em resultado a morte; mas expor-Se antecipadamente não seria a vontade de Seu Pai. DTN 316 2 De Jerusalém, espalhara-se a notícia dos milagres de Cristo por onde quer que os judeus se tivessem dispersado; e se bem que, por muitos meses, houvesse estado ausente das festas, não diminuíra o interesse nEle. De todas as partes do mundo, tinham ido à festa dos tabernáculos na esperança de O ver. No começo da festa, fizeram-se muitas indagações a respeito dEle. Os fariseus e principais esperavam que Ele fosse, na esperança de um ensejo para O condenar. E investigavam, ansiosos: "Onde está Ele?" (João 7:11) mas ninguém o sabia. Era Ele o pensamento predominante em todas as mentes. Por temor dos sacerdotes e principais, ninguém ousava reconhecê-Lo como Messias; no entanto, havia por toda parte, em torno dEle, pacíficas mas fervorosas discussões. Muitos O defendiam como um Enviado de Deus, ao passo que outros O acusavam como enganador do povo. DTN 316 3 Entretanto, Jesus chegara tranqüilamente a Jerusalém. Escolhera para viajar um caminho não freqüentado, a fim de evitar os viajantes que de todas as partes se dirigiam à cidade. Houvesse Ele Se reunido a qualquer das caravanas que iam à festa, e teria atraído sobre Si a atenção ao entrar na cidade, e uma demonstração popular em Seu favor teria levantado contra Ele as autoridades. Foi por isso que preferiu fazer sozinho a viagem. DTN 316 4 No meio da festa, quando chegara ao auge o interesse a Seu respeito, penetrou no templo em presença da multidão. Devido a Sua ausência na solenidade insistira-se em que Ele não ousava colocar-Se em poder dos sacerdotes e principais. À Sua presença, todos se surpreenderam. Houve um silêncio geral. Todos se admiravam da dignidade e coragem de Sua atitude, em meio de poderosos inimigos sedentos de Sua vida. DTN 316 5 Tornando assim o centro de atração daquela vasta assembléia, Jesus Se lhes dirigiu como nenhum homem o fizera jamais. Suas palavras revelavam um conhecimento das leis e instituições de Israel, do serviço sacrifical e dos ensinos dos profetas, incomparavelmente superior ao dos sacerdotes e rabis. Abriu passagem através das barreiras do formalismo e das tradições. As cenas da vida futura pareciam desenroladas diante dEle. Como alguém que contemplava o invisível, falou, com positiva autoridade, acerca do terreno e do celestial, do humano e do divino. Suas palavras eram claríssimas e convincentes; e outra vez como em Cafarnaum, o povo ficou atônito de Sua doutrina; "porque a Sua palavra era com autoridade". Lucas 4:32. Sob uma série de parábolas, advertiu Seus ouvintes da calamidade que seguiria a todo aquele que rejeitasse as bênçãos que viera trazer-lhes. Havia-lhes dado todas as provas possíveis de que viera de Deus, e fizera todos os esforços possíveis para os levar ao arrependimento. Não queria ser rejeitado e assassinado por Sua própria nação, caso a pudesse salvar da culpa de tal ato. DTN 317 1 Todos se maravilhavam de Seu conhecimento da lei e das profecias; e transmitia-se de uns para os outros a pergunta: "Como sabe Este letras, não as tendo aprendido?" João 7:15. Ninguém era considerado apto para ser mestre religioso, a menos que houvesse estudado nas escolas dos rabinos, e tanto Jesus como João Batista foram representados como ignorantes, porque não receberam esse preparo. Os que os ouviam se espantavam do conhecimento que tinham das Escrituras, "não as tendo aprendido". Dos homens, é verdade que não o tinham; mas o Deus do Céu era seu mestre, e dEle receberam a mais elevada espécie de sabedoria. DTN 317 2 Quando Jesus falava no pátio do templo, o povo achava-se como fascinado. Os próprios que mais violentos eram contra Ele, sentiram-se impotentes para Lhe fazer qualquer mal. No momento, todos os outros interesses eram esquecidos. DTN 317 3 Dia após dia ensinou Ele ao povo, até o último, "o grande dia da festa". A manhã desse dia encontrou a multidão fatigada do longo período de festividades. De repente, Jesus ergueu a voz, em acentos que retumbaram através dos pátios do templo: "Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão de seu ventre". João 7:37. O estado do povo tornou esse apelo deveras eficaz. Estiveram eles empenhados em contínua cena de pompa e festividade, os olhos ofuscados com luzes e cores, e os ouvidos deleitados com a mais preciosa música; nada, porém, houvera em toda essa série de cerimônias para satisfazer as necessidades do espírito, nada para saciar a sede da alma por aquilo que é imperecível. Jesus os convidava a ir beber da nascente da vida, daquela que se tornaria neles uma fonte que salta para a vida eterna. DTN 317 4 O sacerdote havia, naquela manhã, realizado a cerimônia que comemorava o ferir da rocha no deserto. Essa rocha era um símbolo dAquele que, por Sua morte, havia de fazer com que brotassem vivas correntes de salvação para todos os sedentos. As palavras de Cristo eram a água da vida. Ali, em presença da reunida multidão, Ele Se pôs à tarde para ser ferido, a fim de que água da vida pudesse brotar para o mundo. Ferindo a Cristo, Satanás pensava destruir o Príncipe da vida; mas da ferida rocha correu água viva. Ao falar Jesus assim ao povo, o coração deste pulsou com estranho respeito, e muitos estavam dispostos a exclamar, como a mulher de Samaria: "Dá-me dessa água, para que não mais tenha sede." DTN 318 1 Jesus conhecia as necessidades da alma. Pompas, riquezas e honras não podem satisfazer o coração. "Se alguém tem sede, venha a Mim". João 7:37. O rico, o pobre, o elevado, o humilde, são igualmente bem-vindos. Ele promete aliviar os espíritos preocupados, confortar os tristes e dar esperança aos acabrunhados. Muitos dos que ouviram a Jesus estavam a prantear desvanecidas esperanças, muitos nutriam algum desgosto oculto, muitos ainda procuravam satisfazer seus inquietos anseios com as coisas do mundo e o louvor dos homens; mas, obtido tudo, verificavam haver labutado para alcançar nada mais que uma cisterna rota, na qual se não podiam saciar. Por entre o brilho das festivas cenas, estavam descontentes e tristes. Aquele súbito brado: "Se alguém tem sede", despertou-os de sua dolorosa meditação, e ao escutarem as palavras que se seguiram, seu espírito reviveu com nova esperança. O Espírito Santo apresentou-lhes o símbolo até que viram nele o oferecimento do inapreciável dom da salvação. DTN 318 2 O brado de Cristo à alma sedenta ecoa ainda, e apela para nós com poder ainda maior do que aos que o ouviram no templo, naquele último dia da festa. A fonte está aberta para todos. Aos cansados e exaustos, oferecem-se os refrigerantes goles da vida eterna. Jesus clama ainda: "Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba." "Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida". Apocalipse 22:17. "Aquele que beber da água que Eu lhe der, nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna". João 4:14. ------------------------Capítulo 50 -- Por entre laços DTN 319 0 Este capítulo é baseado em João 7:16-36; 8:1-11. DTN 319 1 Todo o tempo que Jesus passou em Jerusalém, foi vigiado de perto por espias. Dia a dia eram tentados novos ardis para reduzi-Lo ao silêncio. Os sacerdotes e principais estavam à espreita para O enlaçar. Faziam planos para detê-Lo por violência. Mas isto não era tudo. Queriam humilhar diante do povo esse Rabi galileu. DTN 319 2 No primeiro dia de Seu aparecimento na festa, haviam-se dirigido a Ele, perguntando com que autoridade ensinava. Queriam desviar a atenção que convergia para Ele, para a questão do direito que tinha de ensinar e, assim, para a importância e autoridade deles próprios. DTN 319 3 "A Minha doutrina não é Minha", disse Jesus, "mas dAquele que Me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se Eu falo de Mim mesmo". João 7:16, 17. Jesus enfrentava a esses fingidos, não respondendo ao seu ardil, mas revelando a verdade vital à salvação da alma. A percepção e apreço da verdade, disse Ele, depende menos da mente, que do coração. A verdade deve ser recebida na alma; exige a homenagem da vontade. Se a verdade pudesse ser submetida unicamente à razão, o orgulho não serviria de obstáculo à recepção da mesma. Mas deve ser recebida mediante o operar da graça no coração; e sua recepção depende da renúncia de todo pecado que o Espírito de Deus revela. As vantagens do homem para obter o conhecimento da verdade, por grandes que sejam, não lhe aproveitarão coisa alguma, a menos que o coração esteja aberto para receber a mesma verdade, e haja conscienciosa renúncia de todo hábito e prática opostos a seus princípios. Aos que assim se entregam a Deus, tendo sincero desejo de conhecer e fazer-Lhe a vontade, a verdade se revela como o poder divino para a salvação. Esses serão capazes de distinguir entre o que fala por Deus, e o que fala de si mesmo. Os fariseus não puseram sua vontade ao lado da vontade divina. Não buscavam conhecer a verdade, mas procuravam uma desculpa para a ela se esquivar; Cristo mostrou que era por isso que não Lhe entendiam os ensinos. DTN 319 4 Deu então uma prova pela qual o verdadeiro mestre devia ser distinguido do enganador: "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas o que busca a glória dAquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça". João 7:18. O que busca a sua própria glória está falando apenas de si mesmo. O espírito de interesse egoísta trai sua origem. Mas Cristo buscava a glória de Deus. Falava as palavras de Deus. Tal era o testemunho de Sua autoridade como mestre da verdade eterna. DTN 320 1 Cristo deu aos rabis uma prova de Sua divindade, mostrando que lia o coração deles. Sempre, desde a cura de Betesda, vinham tramando Sua morte. Estavam assim quebrantando a lei que professavam defender. "Não vos deu Moisés a lei?" disse Ele, "e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-Me?" João 7:19. DTN 320 2 Como relâmpago, essas palavras revelaram aos rabis o abismo de ruína em que estavam a ponto de imergir. Sentiram-se, por um instante, cheios de terror. Viram achar-se em luta com o poder infinito. Mas não queriam ser advertidos. A fim de manter sua influência sobre o povo, era preciso ocultar os desígnios homicidas que tinham. Fugindo à pergunta de Jesus, exclamaram: "Tens demônio; quem procura matar-Te?" João 7:20. Insinuavam que as maravilhosas obras de Jesus eram incitadas por um mau espírito. DTN 320 3 A essa insinuação, Cristo não deu ouvidos. Continuou a demonstrar que Sua obra de cura, em Betesda, estava em harmonia com a lei do sábado, e justificava-Se pela interpretação dada pelos próprios judeus à lei. Disse Ele: "Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão [...] no sábado circuncidais um homem". João 7:22. Segundo a lei, toda criança devia ser circuncidada ao oitavo dia. Se o tempo designado caísse no sábado, o rito devia contudo ser cumprido. Quanto mais deve estar em harmonia com o espírito da lei curar "de todo um homem" (João 7:23) no sábado? E advertiu-os a não julgar "segundo as aparências", mas "segundo a reta verdade". João 7:24. Os principais emudeceram; e muitos dentre o povo exclamaram: "Não é Este o que procuram matar? e ei-Lo aí está falando abertamente e nada Lhe dizem. Porventura sabem verdadeiramente os príncipes que Este é o Cristo?" João 7:25, 26. DTN 320 4 Muitos, dentre os ouvintes de Cristo, moradores em Jerusalém, não ignoravam as tramas dos principais contra Ele, e por uma força irresistível sentiram-se atraídos para Jesus. Assaltava-os a convicção de que Ele era o Filho de Deus. Mas Satanás achava-se pronto a sugerir dúvidas; e para isso estava o caminho preparado pelas próprias idéias errôneas que tinham quanto ao Messias e Sua vinda. Acreditava-se em geral que Cristo havia de nascer em Belém, mas depois de algum tempo desapareceria e, à Sua segunda aparição, ninguém saberia de onde Ele vinha. Não poucos sustentavam que o Messias não teria nenhum parentesco natural com a humanidade. E devido ao conceito popular de a glória do Messias não se cumprir em Jesus de Nazaré, muitos deram ouvidos à sugestão: "Todavia bem sabemos de onde Este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde Ele é". João 7:27. DTN 320 5 Ao assim vacilarem entre a dúvida e a fé, Jesus lhes descobriu os pensamentos e lhes respondeu: "Vós conheceis-Me, e sabeis de onde sou; e Eu não vim de Mim mesmo, mas Aquele que Me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis". João 7:28. Pretendiam saber qual deveria ser a origem de Cristo, mas achavam-se em completa ignorância da mesma. Houvessem vivido em harmonia com a vontade de Deus, e teriam conhecido Seu Filho quando Este Se lhes manifestou. DTN 321 1 Os ouvintes não podiam deixar de entender as palavras de Cristo. Eram, claramente, uma repetição do que pretendera em presença do Sinédrio, muitos meses atrás, quando Se declarara o Filho de Deus. Como os principais haviam então procurado tramar-Lhe a morte, assim tentavam agora apoderar-se dEle; foram impedidos, porém, por invisível poder, que lhes pôs limite à fúria, dizendo-lhes: Até aí irás, e não mais adiante. DTN 321 2 Entre o povo muitos creram nEle e diziam: "Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que Este tem feito?" João 7:31. Os chefes dos fariseus, que observavam ansiosamente a marcha dos acontecimentos, notaram as expressões de simpatia entre a multidão. Correndo para o chefe dos sacerdotes, formularam seus planos para O prenderem. Combinaram, entretanto, apoderar-se dEle quando estivesse só; pois não ousavam prendê-Lo em presença do povo. Outra vez tornou Jesus manifesto que lhes lia o desígnio. "Ainda um pouco de tempo estou convosco", disse Jesus, "e depois vou para Aquele que Me enviou. Vós Me buscareis, e não Me achareis; e onde Eu estou, vós não podeis vir". João 7:33, 34. Em breve encontraria um refrigério para além do escárnio e do ódio deles. Subiria ao Pai, para ser novamente o Adorado dos anjos; e ali jamais poderiam chegar Seus assassinos. DTN 321 3 Os rabinos, zombeteiramente, disseram: "Para onde irá Este, que O não acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos?" João 7:35. Mal pensavam esses fingidos que, em suas escarnecedoras palavras, descreviam a missão de Cristo! Todo o dia estendera Ele as mãos a um povo rebelde e contradizente; no entanto, seria achado pelos que O não buscavam; a um povo que não perguntava por Ele, seria manifestado. Romanos 10:20, 21. DTN 321 4 Muitos que estavam convencidos de que Jesus era o Filho de Deus, foram transviados pelo falso raciocínio dos sacerdotes e rabis. Esses mestres haviam repetido, com grande efeito, as profecias referentes ao Messias, de que Ele há de "reinar no Monte de Sião e em Jerusalém; e então perante os Seus anciãos haverá glória" (Isaías 24:23); que "há de dominar de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra". Salmos 72:8. Faziam então comparações desdenhosas entre a glória aí descrita e a humilde aparência de Jesus. As próprias palavras da profecia eram pervertidas de modo a sancionar o erro. Houvesse o povo, com sinceridade, estudado a palavra por si mesmo, e não se teria transviado. O capítulo sessenta e um de Isaías testifica que Cristo havia de fazer a própria obra que realizou. O capítulo cinqüenta e três apresenta Sua rejeição e sofrimentos no mundo, e o cinqüenta e nove descreve o caráter dos sacerdotes e rabinos. DTN 322 1 Deus não força os homens a abandonarem sua incredulidade. Acham-se perante eles a luz e as trevas, a verdade e o erro. Cumpre-lhes decidir qual aceitarão. O espírito humano é dotado da faculdade de discriminar entre a verdade e o erro. É o desígnio de Deus que não se decidam por impulso, mas pelo peso da evidência, comparando cuidadosamente escritura com escritura. Houvessem os judeus posto à margem seus preconceitos, e comparado as profecias escritas com os fatos que caracterizavam a vida de Jesus, e teriam percebido uma bela harmonia entre as profecias e seu cumprimento na vida e ministério do humilde Galileu. DTN 322 2 Muitos, hoje em dia, se acham enganados da mesma forma que o estavam os judeus. Os mestres religiosos lêem as Escrituras à luz de seu próprio entendimento e das tradições; e o povo não examina a Bíblia por si mesmo, nem julga por si o que é a verdade; mas renuncia a seu próprio juízo e confia sua salvação aos guias. A pregação e ensino de Sua Palavra é um dos meios ordenados por Deus para difusão da luz; mas devemos submeter o ensino de todo homem à prova da Escritura. Quem quer que estude a Bíblia com oração, desejando conhecer a verdade a fim de obedecer-lhe, receberá divina iluminação. Esse compreenderá as Escrituras. "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá." DTN 322 3 No último dia da festa, os oficiais enviados pelos sacerdotes e principais para prenderem a Jesus, voltaram sem Ele. Foram raivosamente interrogados: "Por que O não trouxestes?" Com solene expressão, responderam: "Nunca homem algum falou assim como este Homem". João 7:45, 46. DTN 322 4 Endurecidos como se achavam seus corações, abrandaram-se às palavras dEle. Enquanto Jesus estava falando no pátio do templo, haviam vagueado ali por perto, a fim de descobrir qualquer coisa que pudesse ser voltada contra Ele. Escutando-O, porém, esqueceram o objetivo para o qual ali os tinham enviado. Ficaram como arrebatados. Cristo revelou-Se-lhes à alma. Viram aquilo que sacerdotes e principais não queriam ver -- a humanidade inundada com a glória da divindade. Voltaram, tão cheios desse pensamento, tão impressionados por Suas palavras, que ante a pergunta: "Por que O não trouxestes?" só puderam replicar: "Nunca homem algum falou assim como este Homem." DTN 322 5 Os sacerdotes e principais, ao acharem-se a princípio na presença de Cristo, experimentaram a mesma convicção. Comovera-se-lhes profundamente o coração, possuindo-os o pensamento: "Nunca homem algum falou assim como este Homem." Mas sufocaram a convicção do Espírito Santo. Agora, enfurecidos por serem os próprios instrumentos da lei influenciados pelo odiado Galileu, exclamaram: "Também vós fostes enganados? Creu nEle porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita". João 7:47-49. DTN 322 6 Aqueles aos quais é pregada a mensagem da verdade, raras vezes perguntam se ela é verdadeira, mas sim: "Por quem é ela defendida?" Multidões a avaliam pelo número dos que a aceitam; e faz-se ainda a pergunta: "Creu qualquer dos homens eruditos ou dos guias religiosos?" Os homens não são hoje em dia mais favoráveis à verdadeira piedade, do que nos dias de Cristo. Acham-se com o mesmo intento em busca dos bens terrestres, com negligência das riquezas eternas; e não é um argumento contra a verdade que grande número de pessoas não estejam dispostas a aceitá-la, ou que ela não seja recebida pelos grandes do mundo, ou mesmo pelos guias religiosos. DTN 323 1 Novamente os sacerdotes e principais procuraram combinar planos para o aprisionamento de Jesus. Insistiam em que, fosse Ele por mais tempo deixado em liberdade, desviaria o povo dos chefes estabelecidos, e o único meio seguro era fazê-Lo emudecer quanto antes. No maior calor de sua discussão, foram repentinamente detidos. Nicodemos perguntou: "Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?" Fez-se silêncio na assembléia. As palavras de Nicodemos penetraram-lhes na consciência. Não podiam condenar um homem que não fora ouvido. Não foi, entanto, só por esse motivo que os altivos príncipes permaneceram em silêncio, fixando aquele que ousara falar em favor da justiça. Ficaram surpreendidos e enfadados de que um dentre eles houvesse sido tão impressionado pelo caráter de Jesus, que emitisse uma palavra em Sua defesa. Recobrando-se de seu espanto, dirigiram-se a Nicodemos com picante sarcasmo: "És tu também da Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu". João 7:52. DTN 323 2 Todavia, o protesto deu em resultado a cessação dos movimentos do conselho. Os principais não podiam executar seu desígnio e condenar a Jesus sem um exame. Momentaneamente derrotados, "cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o Monte das Oliveiras". João 7:53-8:1. DTN 323 3 Da agitação e burburinho da cidade, das turbas ansiosas e dos rabinos traidores, desviou-Se Jesus para o sossego do olival, onde podia encontrar-Se a sós com Deus. De manhã cedo, porém, regressou ao templo e, reunindo-se-Lhe o povo em volta, sentou-Se e pôs-Se a ensiná-los. DTN 323 4 Foi em breve interrompido. Aproximou-se dEle um grupo de fariseus e escribas, arrastando consigo uma aterrorizada mulher, a qual, com duras e veementes vozes, acusavam de ter violado o sétimo mandamento. Havendo-a empurrado para a presença de Jesus, disseram-Lhe com hipócrita manifestação de respeito: "Na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?" João 8:5. DTN 323 5 Sua fingida reverência ocultava um laço fundamente armado para Sua ruína. Lançaram mão dessa oportunidade para garantir-Lhe a condenação, julgando que, fosse qual fosse a decisão que Ele desse, haviam de achar ocasião de acusá-Lo. Se absolvesse a mulher, seria acusado de desprezar a lei de Moisés. Se Ele a declarasse digna de morte seria denunciado aos romanos como assumindo autoridade que só a eles pertencia. DTN 324 1 Jesus contemplou um momento a cena -- a trêmula vítima em sua vergonha, os mal-encarados dignitários, destituídos da própria simpatia humana. Seu espírito de imaculada pureza recuou do espetáculo. Bem sabia para que fim fora levado esse caso. Lia o coração, e conhecia o caráter e a história da vida de cada um dos que se achavam em Sua presença. Esses pretensos guardas da justiça haviam, eles próprios, induzido a vítima ao pecado, a fim de prepararem uma armadilha para Jesus. Sem dar nenhum indício de lhes haver escutado a pergunta, inclinou-Se e, fixando no chão o olhar, começou a escrever na terra. DTN 324 2 Impacientes ante Sua demora e aparente indiferença, os acusadores aproximaram-se, insistindo em Lhe atrair a atenção sobre o assunto. Ao seguirem, porém, com a vista, o olhar de Jesus, fixaram-na na areia aos Seus pés, e transmudou-se-lhes o semblante. Ali, traçados perante eles, achavam-se os criminosos segredos de sua própria vida. O povo, olhando, reparou na súbita mudança de expressão e adiantou-se, para descobrir o que estavam eles olhando com tal espanto e vergonha. DTN 324 3 Com toda a sua professada reverência pela lei, esses rabis, ao trazerem a acusação contra a mulher, estavam desatendendo às exigências da mesma. Era dever do marido mover ação contra ela, e as partes culpadas deviam ser igualmente punidas. A ação dos acusadores era de todo carecida de autorização. Entretanto, Jesus os rebateu com as próprias armas deles. A lei especificava que, nas mortes por apedrejamento, as testemunhas do caso fossem as primeiras a lançar a pedra. Erguendo-Se, então, e fixando os olhos nos anciãos autores da trama, disse Jesus: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela". João 8:7. E, inclinando-Se, continuou a escrever no chão. DTN 324 4 Não pusera de lado a lei dada por Moisés, nem fora de encontro à autoridade de Roma. Os acusadores haviam sido derrotados. Então, rotas as vestes da pretendida santidade, ficaram, culpados e condenados, em presença da infinita pureza. Tremeram de que as ocultas iniqüidades de sua vida fossem expostas à multidão; e um a um, cabisbaixos e confusos, foram-se afastando silenciosos, deixando a vítima com o compassivo Salvador. DTN 324 5 Jesus Se ergueu e, olhando para a mulher, disse: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? e ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem Eu também te condeno: Vai-te, e não peques mais". João 8:10, 11. DTN 324 6 A mulher estivera toda curvada, possuída de temor diante de Jesus. Suas palavras: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela", haviam-lhe soado qual sentença de morte. Não ousava levantar os olhos para o rosto do Salvador, mas aguardava em silêncio a condenação. Atônita, viu os acusadores partirem mudos e confundidos; então, chegaram-lhe aos ouvidos as palavras de esperança: "Nem Eu também te condeno; vai-te, e não peques mais". João 8:11. Comoveu-se-lhe o coração, e ela se atirou aos pés de Jesus, soluçando em seu reconhecido amor e confessando com amargo pranto os seus pecados. DTN 325 1 Isso foi para ela o início de uma nova vida, vida de pureza e paz, devotada ao serviço de Deus. No reerguimento dessa alma caída, operou Jesus um milagre maior do que na cura da mais grave enfermidade física; curou a moléstia espiritual que traz a morte eterna. Essa arrependida mulher tornou-se um de Seus mais firmes seguidores. Com abnegado amor e devoção, retribuiu-Lhe a perdoadora misericórdia. DTN 325 2 Em Seu ato de perdoar a essa mulher e animá-la a viver vida melhor, resplandece na beleza da perfeita Justiça o caráter de Jesus. Conquanto não use de paliativos com o pecado, nem diminua o sentimento da culpa, procura não condenar, mas salvar. O mundo não tinha senão desprezo e zombaria para essa transviada mulher; mas Jesus profere palavras de conforto e esperança. O Inocente Se compadece da fraqueza da pecadora, e estende-lhe a mão pronta a ajudar. Ao passo que os fariseus hipócritas denunciam, Jesus lhe recomenda: "Vai-te, e não peques mais". João 8:11. DTN 325 3 Não é seguidor de Cristo aquele que, desviando os olhos, se afasta do transviado, deixando-o sem advertência prosseguir em sua degradante carreira. Os que são mais prontos a acusar a outros, e zelosos em os levar à justiça, são freqüentemente em sua própria vida mais culpados que eles. Os homens aborrecem o pecador, ao passo que amam o pecado. Cristo aborrece o pecado, mas ama o pecador. Será esse o espírito de todos quantos O seguem. O amor cristão é tardio em censurar, pronto a perceber o arrependimento, pronto a perdoar, a animar, a pôr o transviado na vereda da santidade e a nela firmar-lhe os pés. ------------------------Capítulo 51 -- "A luz da vida" DTN 326 0 Este capítulo é baseado em João 8:12-59; 9. DTN 326 1 Falou-lhes pois Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida". João 8:12. Ao falar essas palavras, estava Jesus no pátio do templo, especialmente relacionado com as cerimônias religiosas da festa dos tabernáculos. No centro desse pátio erguiam-se dois altos pilares sustentando suportes de lâmpadas, de grandes dimensões. Depois do sacrifício da tarde, acendiam-se todas as lâmpadas, que derramavam luz sobre Jerusalém. Essa cerimônia comemorava a coluna luminosa que guiara Israel no deserto, e era também considerada como apontando para a vinda do Messias. À noitinha, quando se acendiam as lâmpadas, o pátio apresentava uma cena de grande regozijo. Homens de cabelos brancos, os sacerdotes do templo e os príncipes do povo, uniam-se em festivas danças ao som dos instrumentos e dos cantos dos levitas. DTN 326 2 Na iluminação de Jerusalém, o povo exprimia sua esperança da vinda do Messias, para espalhar Sua luz sobre Israel. Para Jesus, porém, tinha a cena mais ampla significação. Como as irradiantes lâmpadas do templo iluminavam tudo em derredor, assim Cristo, a fonte da luz espiritual, ilumina as trevas do mundo. Todavia, o símbolo era imperfeito. Aquela grande luz que Sua própria mão pusera no céu era uma representação mais fiel da glória de Sua missão. DTN 326 3 Era de manhã; o Sol acabava de erguer-se sobre o Monte das Oliveiras, e seus raios incidiam com ofuscante claridade no mármore dos palácios, fazendo rebrilhar o ouro das paredes do templo, quando Jesus, apontando-o, disse: "Eu sou a luz do mundo". João 8:12. DTN 326 4 Muito posteriormente, foram essas palavras repetidas, por alguém que as ouvira, nesta sublime passagem: "NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam." "Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo". João 1:4, 5, 9. E muito depois de Cristo haver ascendido ao Céu, Pedro também, escrevendo sob a iluminação do Espírito divino, evocou o símbolo empregado por Cristo: "E temos mui firme a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vossos corações". 2 Pedro 1:19. DTN 326 5 Na manifestação de Deus a Seu povo, a luz fora sempre um símbolo de Sua presença. À ordem da palavra criadora, no princípio, a luz brilhara das trevas. Estivera velada na coluna de nuvens de dia, e na de fogo à noite, conduzindo os vastos exércitos de Israel. Resplandecera com terrível majestade em volta do Senhor, no Monte Sinai. Repousava sobre o propiciatório no tabernáculo. Enchera o templo de Salomão, ao ser dedicado. Nas colinas de Belém, quando os anjos trouxeram a mensagem de redenção aos pastores de vigia, brilhara a luz. DTN 327 1 Deus é luz; e nas palavras: "Eu sou a luz do mundo", Cristo declarou Sua unidade com Deus e Sua relação para com toda a família humana. Fora Ele que, no princípio, fizera com que "das trevas resplandecesse a luz". 2 Coríntios 4:6. Ele é a luz do Sol, e da Lua, e das estrelas. Era Ele a luz espiritual que, em símbolo e tipo e profecia, brilhara sobre Israel. Mas não somente para a nação judaica fora dada essa luz. Como os raios solares penetram até aos mais afastados recantos da Terra, assim a luz do Sol da Justiça resplandece sobre todos. DTN 327 2 "Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo." O mundo tem tido seus grandes ensinadores, homens de cérebro gigantesco e dotados de admirável capacidade de investigação, homens cujas declarações têm estimulado o pensamento e aberto à visão vastos campos de conhecimento; e esses homens têm sido honrados como guias e benfeitores de sua raça. Alguém existe, porém, que os supera a todos. "A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus." "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, Esse O fez conhecer". João 1:12, 18. Podemos seguir os passos dos grandes homens do mundo até aonde se estende o registro da história humana; a Luz, porém, existia antes deles. Como a Lua e as estrelas de nosso sistema solar brilham pelo reflexo da luz do Sol, assim, no que há de verdadeiro em seus ensinos, refletem os grandes pensadores do mundo os raios do Sol da Justiça. Toda jóia de pensamento, todo lampejo de intelecto, provém da luz do mundo. Ouvimos muito, hoje em dia, acerca da "educação superior". A verdadeira "educação superior" é a comunicada por Aquele "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Colossences 2:3. "NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens". João 1:4. "Quem Me segue não andará em trevas", disse Jesus, "mas terá a luz da vida." DTN 327 3 Com as palavras "Eu sou a luz do mundo" (João 8:12), Jesus Se declarou o Messias. O velho Simeão, no templo em que Jesus ora ensinava, falara dEle como "Luz para alumiar as nações, e para glória de Teu povo Israel". Lucas 2:32. Por essas palavras, aplicava a Ele uma profecia familiar a todo o Israel. Por intermédio do profeta Isaías, o Espírito Santo declarara: "Pouco é que sejas o Meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os guardados de Israel; também Te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra". Isaías 49:6. Esta profecia era geralmente compreendida como se referindo ao Messias, e quando Jesus disse: "Eu sou a luz do mundo", o povo não podia deixar de reconhecer que Ele Se declarava o Prometido. DTN 328 1 Para os fariseus e principais, essa afirmação afigurava-se arrogante presunção. Que um homem como eles próprios tivesse essas pretensões, não podiam eles tolerar. Aparentando passar por alto Suas palavras, perguntaram: "Quem és Tu?" Intentavam forçá-Lo a declarar-Se o Cristo. Sua aparência e obra estavam em tanto desacordo com a expectativa do povo que, segundo criam Seus astutos inimigos, uma declaração positiva de Sua parte como Messias, daria lugar a que Ele fosse rejeitado como impostor. DTN 328 2 Mas à pergunta deles: "Quem és Tu", Jesus replicou: "Isso mesmo que já desde o princípio vos disse". João 8:25, 26. O que revelara em Suas palavras, manifestava-se também em Seu caráter. Ele era a personificação das verdades que ensinava. "Nada faço por Mim mesmo; mas falo como o Pai Me ensinou. E Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada". João 8:28, 29. Ele não tentou provar Sua messianidade, mas mostrou Sua unidade com Deus. Se o espírito deles houvesse estado aberto ao amor divino, teriam recebido a Jesus. DTN 328 3 Entre os ouvintes, muitos foram para Ele atraídos com fé, e a estes Jesus disse: "Se vós permanecerdes na Minha palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". João 8:31, 32. DTN 328 4 Essas palavras ofenderam os fariseus. Passaram por alto a longa sujeição de seu povo a um jugo estrangeiro, e exclamaram, zangados: "Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?" João 8:33. Jesus olhou a esses homens, escravos da malignidade, cujos pensamentos iam após vinganças, e respondeu com tristeza: "Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado". João 8:34. Eles se achavam na pior espécie de servidão -- governados pelo espírito do mal. DTN 328 5 Toda pessoa que recusa entregar-se a Deus, acha-se sob o domínio de outro poder. Não pertence a si mesma. Pode falar de liberdade, mas está na mais vil servidão. Não lhe é permitido ver a beleza da verdade, pois sua mente se encontra sob o poder de Satanás. Enquanto se lisonjeia de seguir os ditames de seu próprio discernimento, obedece à vontade do príncipe das trevas. Cristo veio quebrar as algemas da escravidão do pecado para a alma. "Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." "A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus" nos liberta "da lei do pecado e da morte". Romanos 8:2. DTN 328 6 Não há constrangimento na obra da redenção. Não se exerce nenhuma força externa. Sob a influência do Espírito de Deus, o homem é deixado livre para escolher a quem há de servir. Na mudança que se opera quando a alma se entrega a Cristo, há o mais alto senso de liberdade. A expulsão do pecado é ato da própria alma. Na verdade, não possuímos capacidade para livrar-nos do poder de Satanás; mas quando desejamos ser libertos do pecado e, em nossa grande necessidade, clamamos por um poder fora de nós e a nós superior, as faculdades da alma são revestidas da divina energia do Espírito Santo, e obedecem aos ditames da vontade no cumprir o querer de Deus. DTN 329 1 A única condição em que é possível o libertamento do homem, é tornar-se ele um com Cristo. "A verdade vos libertará" (João 8:32); e Cristo é a verdade. O pecado só pode triunfar, enfraquecendo a mente e destruindo a liberdade da alma. A sujeição a Deus é restauração do próprio ser -- da verdadeira glória e dignidade do homem. A lei divina, à qual somos postos em sujeição, é a "lei da liberdade". Tiago 2:12. DTN 329 2 Os fariseus haviam declarado ser filhos de Abraão. Jesus lhes disse que essa pretensão só podia ser assegurada mediante a prática das obras de Abraão. Os verdadeiros filhos de Abraão viveram, como ele próprio vivera, uma vida de obediência a Deus. Não buscariam matar Aquele que estava falando a verdade que Lhe fora dada por Deus. Conspirando contra Cristo, os rabis não estavam fazendo as obras de Abraão. Não tinha nenhum valor a simples descendência natural de Abraão. Sem ter com ele ligação espiritual, a qual se manifestaria em possuir o mesmo espírito, e fazer as mesmas obras, não eram seus filhos. DTN 329 3 Este princípio se relaciona com igual peso a uma questão longamente agitada no mundo cristão -- a da sucessão apostólica. A descendência de Abraão demonstrava-se não por nome e linhagem, mas pela semelhança de caráter. Assim a sucessão apostólica não se baseia na transmissão de autoridade eclesiástica, mas nas relações espirituais. Uma vida influenciada pelo espírito dos apóstolos, a crença e ensino da verdade por eles ensinada, eis a verdadeira prova da sucessão apostólica. Isto é que constitui os homens sucessores dos primeiros mestres do evangelho. DTN 329 4 Jesus negou que os judeus fossem filhos de Abraão. Disse: "Vós fazeis as obras de vosso pai." Em zombaria, responderam: "Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus". João 8:41. Estas palavras, em alusão às circunstâncias de Seu nascimento, foram atiradas como uma estocada contra Cristo, em presença dos que começavam a nEle crer. Jesus não deu ouvidos à baixa insinuação, mas disse: "Se Deus fosse o vosso Pai, certamente Me amaríeis, pois que Eu saí, e vim de Deus". João 8:42. DTN 329 5 As obras deles testificavam de suas relações com aquele que era mentiroso e assassino. "Vós tendes por pai ao diabo", disse Jesus, "e quereis satisfazer os desejos de vosso pai: ele foi homicida desde o princípio, não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. [...] Mas porque Eu vos digo a verdade, não Me credes". João 8:44-46. O fato de Jesus falar a verdade, e isso com convicção, era motivo de não ser recebido pelos chefes judeus. Era a verdade que escandalizava esses homens cheios de justiça própria. A verdade expunha a falácia do erro; condenava-lhes o ensino e a prática, e era mal-recebida. Preferiam fechar os olhos à verdade a humilhar-se e confessar que tinham estado em erro. Não amavam a verdade. Não a desejavam, embora fosse a verdade. DTN 330 1 "Quem dentre vós Me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?" João 8:46. Dia a dia, durante três anos, os inimigos de Cristo O haviam seguido, procurando encontrar uma mancha em Seu caráter. Satanás e toda a confederação do mal O tinham procurado vencer; mas coisa alguma nEle acharam de que se pudessem aproveitar. Os próprios demônios eram forçados a confessar: "Bem sei quem és: o Santo de Deus". Marcos 1:24. Jesus vivia a lei aos olhos do Céu, dos mundos não caídos e dos homens pecadores. Diante dos anjos, dos homens e dos demônios, havia Ele proferido, sem ser contestado, palavras que, partidas de quaisquer outros lábios, teriam sido uma blasfêmia: "Eu faço sempre o que Lhe agrada." DTN 330 2 O fato de, embora não podendo encontrar pecado em Cristo, os judeus O rejeitarem, provava que eles próprios não tinham nenhuma ligação com Deus. Não reconheciam Sua voz na mensagem de Seu Filho. Pensavam estar julgando a Jesus; rejeitando-O, porém, estavam-se condenando. "Quem é de Deus", disse Jesus, "escuta as palavras de Deus; por isso vós não escutais, porque não sois de Deus". João 8:47. DTN 330 3 A lição é verdadeira em todos os tempos. Muito homem que se deleita em usar de evasivas, em criticar, em buscar qualquer coisa questionável na Palavra de Deus, julga estar assim dando provas de independência de espírito e argúcia. Supõe estar julgando a Bíblia, quando, na verdade, está julgando a si mesmo. Torna notória sua incapacidade para apreciar verdades de origem celestial, que abrangem a eternidade. Em face da grande montanha da justiça de Deus, seu espírito não se sente possuído de respeito. Ocupa-se em procurar gravetos e palhinhas, traindo assim uma natureza acanhada e terrena, um coração que está perdendo rapidamente sua capacidade de apreciar a Deus. Aquele cujo coração correspondeu ao divino toque, andará em busca daquilo que lhe aumentará o conhecimento de Deus, e há de apurar e enobrecer o caráter. Como a flor se volve para o Sol, a fim de que os brilhantes raios lhe imprimam seu matiz em belos coloridos, assim se voltará a alma para o Sol da Justiça, para que a luz celestial lhes embeleze o caráter com as graças do caráter de Cristo. DTN 330 4 Jesus continuou, traçando um flagrante contraste entre a posição dos judeus e a de Abraão: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se". João 8:56. DTN 330 5 Abraão desejara grandemente ver o prometido Salvador. Fazia as mais fervorosas orações para que lhe fosse dado contemplar o Messias antes de Sua morte. E viu a Cristo. Foi-lhe concedida uma luz sobrenatural, e ele reconheceu o divino caráter de Cristo. Viu o Seu dia e alegrou-se. Foi-lhe dada uma visão do divino sacrifício pelo pecado. Desse sacrifício tinha ele uma ilustração no que se passara consigo mesmo. Fora-lhe dada a ordem: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e oferece-o [...] em holocausto". Gênesis 22:2. Sobre o altar do sacrifício, depôs ele o filho da promessa, o filho em quem se concentravam suas esperanças. Então, enquanto estava ao pé do altar com o cutelo erguido para obedecer a Deus, ouviu uma voz do Céu, que dizia: "Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único". Gênesis 22:12. Essa terrível prova foi imposta a Abraão, a fim de poder ver o dia de Cristo e compreender o grande amor de Deus para com o mundo, tão grande que, para erguê-lo da degradação, entregou Seu único Filho a tão vergonhosa morte. DTN 331 1 Abraão aprendeu de Deus a maior lição que já foi dada a um mortal. Foi atendida sua oração para ver a Cristo antes de morrer. Contemplou-O; viu tudo quanto um mortal pode ver, e ao mesmo tempo subsistir. Fazendo uma inteira entrega, habilitou-se a compreender a visão de Cristo, que lhe fora concedida. Foi-lhe mostrado que, ao dar Seu Filho unigênito para salvar os pecadores da ruína eterna, Deus estava fazendo um sacrifício maior e mais admirável do que o homem jamais poderia fazer. DTN 331 2 A experiência de Abraão respondia à pergunta: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos? com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil ribeiros de azeite? darei o meu primogênito pela minha transgressão? o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?" Miquéias 6:6, 7. Nas palavras de Abraão: "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho" (Gênesis 22:8), e na provisão feita por Deus de um sacrifício em lugar de Isaque, declarou-se que homem algum poderia fazer expiação por si mesmo. O sistema pagão de sacrifício era inteiramente inaceitável a Deus. Pai nenhum devia oferecer o filho ou a filha por oferta do pecado. Unicamente o Filho de Deus pode tomar sobre Si a culpa do mundo. DTN 331 3 Por meio de seu próprio sofrimento, Abraão foi habilitado a contemplar a missão de sacrifício do Salvador. Mas Israel não quis compreender aquilo que lhes era tão desagradável ao coração orgulhoso. As palavras de Cristo com referência a Abraão não tiveram para Seus ouvintes nenhum significado profundo. Os fariseus não viram nelas senão novo pretexto para seus ardis. Retorquiram zombeteiramente, como se quisessem provar que Jesus era um desequilibrado: "Ainda não tens cinqüenta anos, e viste a Abraão?" DTN 331 4 Com solene dignidade, respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse Eu Sou". João 8:58. DTN 332 1 Fez-se silêncio na vasta assembléia. O nome de Deus, dado a Moisés para exprimir a idéia da presença eterna, fora reclamado como Seu pelo Rabi da Galiléia. Declarara-Se Aquele que tem existência própria, Aquele que fora prometido a Israel, "cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Miquéias 5:2. DTN 332 2 Novamente os sacerdotes e rabinos clamaram contra Jesus como blasfemo. O afirmar Ele ser um com Deus, incitara-os antes a tirar-Lhe a vida e, poucos meses mais tarde, declararam abertamente: "Não Te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo Tu homem, Te fazes Deus a Ti mesmo". João 10:33. Porque Ele era e confessava ser o Filho de Deus, intentavam matá-Lo. Então, muitos dentre o povo, pondo-se do lado dos sacerdotes e rabinos, apanharam pedras para Lhe atirarem. "Jesus ocultou-Se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim Se retirou". João 8:59. DTN 332 3 A Luz estava brilhando nas trevas; mas "as trevas não a compreenderam". João 1:5. "E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os Seus discípulos Lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestasse nele as obras de Deus. [...] Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo". João 9:1, 2, 6, 7. DTN 332 4 Geralmente, acreditavam os judeus que o pecado é punido nesta vida. Toda enfermidade era considerada como o castigo de qualquer mau procedimento, fosse da própria pessoa, fosse de seus pais. É verdade que todo sofrimento é resultado da transgressão da lei divina, mas esta verdade fora pervertida. Satanás, o autor do pecado e de todas as suas conseqüências, levara os homens a considerarem a doença e a morte como procedentes de Deus -- como castigos arbitrariamente infligidos por causa do pecado. Daí, aquele sobre quem caíra grande aflição ou calamidade, sofria além disso o ser olhado como grande pecador. DTN 332 5 Assim estava preparado o caminho para os judeus rejeitarem a Jesus. Aquele que "tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores", era considerado pelos judeus como "aflito, ferido de Deus, e oprimido"; e dEle escondiam o rosto. Isaías 53:4, 3. DTN 332 6 Deus dera uma lição destinada a evitar isso. A história de Jó mostrara que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre ele para fins misericordiosos. Mas Israel não entendera a lição. O mesmo erro pelo qual Deus reprovara os amigos de Jó, repetiu-se nos judeus em sua rejeição de Cristo. DTN 332 7 A crença dos judeus a respeito da relação existente entre o pecado e o sofrimento, partilhavam-na os discípulos de Cristo. Procurando corrigir-lhes o erro, não explicou a causa da aflição do homem, mas disse-lhes qual seria o resultado. Em virtude da mesma, manifestar-se-iam as obras de Deus. "Enquanto estou no mundo", disse Ele, "sou a luz do mundo". João 9:5. Havendo então untado os olhos do cego, mandou-o lavar-se no tanque de Siloé e foi restaurada a vista do homem. Assim respondeu Jesus, de maneira prática, a pergunta dos discípulos, como costumava fazer com as que Lhe eram dirigidas por curiosidade. Os discípulos não eram chamados a discutir o fato de quem tinha ou não tinha pecado, mas a entender o poder e a misericórdia de Deus em dar vista ao cego. Era claro que não havia poder de curar no lodo, ou no tanque em que o cego foi mandado lavar-se, mas que a virtude residia em Cristo. DTN 333 1 Os fariseus não podiam deixar de espantar-se com a cura. Todavia, mais do que nunca, encheram-se de ódio; pois o milagre se realizara no sábado. DTN 333 2 Os vizinhos do jovem, e os que o conheciam antes, quando cego, diziam: "Não é este aquele que estava assentado e mendigava?" João 9:8. Olhavam-no duvidosos, porque, depois que os olhos lhe foram abertos, se lhe mudara a fisionomia, e animara-se, e parecia outro homem. A pergunta corria de uns para outros. Alguns diziam: "É este"; outros: "Parece-se com ele." Mas o que recebera a grande bênção pôs termo à questão dizendo: "Sou eu". João 9:9. Falou-lhes então de Jesus, contando-lhes como o curara, e eles perguntaram: "Onde está Ele?" Respondeu: "Não sei". João 9:12. DTN 333 3 Levaram-no então perante o conselho dos fariseus. Novamente foi interrogado o homem acerca da maneira por que recebera a vista. "Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo. Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado". João 9:15, 16. Os fariseus esperavam fazer Jesus parecer um pecador, não sendo assim o Messias. Não sabiam que fora Aquele que fizera o sábado e conhecia todas as obrigações para com o mesmo, quem curara o cego. Aparentavam admirável zelo pela observância do sábado e, no entanto, estavam planejando matar nesse mesmo dia. Muitos, porém, foram grandemente agitados ao ouvir esse milagre, e ficaram convencidos de que Aquele que abrira os olhos do cego não era um homem comum. Em resposta à acusação de ser Jesus um pecador por não guardar o sábado, disseram: "Como pode um homem pecador fazer tais sinais?" DTN 333 4 Outra vez apelaram os rabinos para o cego: "Tu que dizes dAquele que te abriu os olhos? E ele respondeu: Que é profeta". João 9:16, 17. Os fariseus declararam então que ele não nascera cego nem recebera a vista. Chamaram seus pais e perguntaram-lhes: "É este o vosso filho que vós dizeis ter nascido cego?" João 9:17. DTN 333 5 Ali estava o próprio homem, afirmando que nascera cego e que a vista lhe fora restaurada; mas os fariseus preferiam negar a prova de seus próprios sentidos, a admitir que se achavam em erro. Tão poderoso é o preconceito, tão tortuosa a justiça farisaica! DTN 334 1 Restava ainda uma esperança aos fariseus -- intimidar os pais do homem. Com aparente sinceridade, disseram: "Como pois vê agora?" Os pais temiam comprometer-se; pois se declarara que quem quer que reconhecesse Jesus como o Cristo, seria "expulso da sinagoga" (João 9:19, 22); isto é, excluído da sinagoga por trinta dias. Durante esse período, nenhuma criança poderia ser circuncidada, nem morto pranteado, na casa do ofensor. A sentença era considerada grande calamidade; e, se deixasse de produzir arrependimento, seguir-se-ia uma pena muito mais rigorosa. A grande obra, em favor de seu filho, levara a convicção aos pais, todavia responderam: "Sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego; mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe tenha aberto os olhos, não sabemos; tem idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará por si mesmo". João 9:20, 21. Esquivaram-se assim a toda responsabilidade, passando-a ao filho; pois não ousavam confessar a Cristo. DTN 334 2 O dilema em que se achavam os fariseus, suas perguntas e preconceitos, sua incredulidade em face dos fatos desse caso, estavam abrindo os olhos da multidão, especialmente do povo comum. Jesus operara freqüentemente Seus milagres em plena rua, e Sua obra era sempre de molde a aliviar sofrimentos. A pergunta em muitos espíritos, era: Faria Deus tão poderosas obras por meio de um impostor, como afirmavam os fariseus ser Jesus? O conflito estava-se tornando muito acalorado de parte a parte. DTN 334 3 Os fariseus viram que estavam dando publicidade à obra realizada por Jesus. Não podiam negar o milagre. O cego estava cheio de alegria e reconhecimento; contemplava as maravilhosas obras da natureza e deleitava-se ante a beleza da Terra e do firmamento. Contava francamente o caso, e de novo o procuraram fazer calar, dizendo: "Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador." Isto é: Não tornes a dizer que este homem te deu a vista; foi Deus que o fez. DTN 334 4 O cego respondeu: "Se é pecador, não sei; uma coisa sei, e é que, havendo eu sido cego, agora vejo". João 9:24, 25. DTN 334 5 Então tornaram a interrogá-lo: "Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?" João 9:26. Com muitas palavras o procuraram confundir, a fim de que se julgasse iludido. Satanás e seus maus anjos estavam do lado dos fariseus, e uniram suas energias e sutilezas ao raciocínio dos homens, para neutralizar a influência de Cristo. Enfraqueceram as convicções que já se aprofundavam em muitos espíritos. Anjos de Deus estavam também a campo, a fim de fortalecer o homem cuja vista fora restaurada. DTN 334 6 Os fariseus não compreendiam que tinham de tratar com algum outro além do ignorante homem que nascera cego; não conheciam Aquele com quem se achavam em conflito. Luz divina brilhou nos recessos da alma do cego. Enquanto esses hipócritas procuravam fazê-lo descrer, Deus o ajudou a mostrar, pelo vigor e precisão das respostas, que não seria enlaçado. Respondeu: "Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também Seus discípulos? Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dEle sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés. Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas Este não sabemos de onde é". João 9:27-29. DTN 335 1 O Senhor Jesus sabia a provação por que o homem estava passando, e deu-lhe graça e expressão de modo que se tornou uma testemunha em Seu favor. Respondeu ele aos fariseus, em palavras que constituíam incisiva censura a seus interrogadores. Pretendiam ser os expositores das Escrituras, os guias religiosos da nação; e, todavia, ali estava Alguém realizando milagres, e eles confessavam ignorar tanto a fonte do poder que Ele tinha, como Seu caráter e títulos. "Nisto pois está a maravilha", disse o homem, "que vós não sabeis de onde Ele é, e me abrisse os olhos; ora nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a Sua vontade, a esse ouve. Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se Este não fosse de Deus, nada poderia fazer". João 9:30-33. DTN 335 2 O homem havia enfrentado seus inquiridores com as próprias armas por eles manejadas. Seu raciocínio era irrefutável. Os fariseus estavam pasmados e calaram-se -- estupefatos diante de suas precisas e decididas palavras. Por alguns momentos houve silêncio. Depois, os sacerdotes e rabinos, de sobrecenho carregado, apanharam e aconchegaram a si as vestes, como a temer contaminação do contato com ele; sacudindo o pó dos pés, atiraram-lhe as acusadoras palavras: "Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós?" João 9:34. E excomungaram-no. Jesus ouviu o que acontecera; e, encontrando-o pouco depois, disse: "Crês tu no Filho de Deus?" João 9:35. DTN 335 3 Pela primeira vez contemplou o cego o rosto de seu Restaurador. Ante o conselho vira seus pais turbados e perplexos; olhara a severa fisionomia dos rabinos; agora seus olhos descansavam sobre o amorável e sereno semblante de Jesus. Com grande dificuldade, já O reconhecera como Delegado do poder divino; agora lhe foi concedida maior revelação. DTN 335 4 Ante à pergunta do Salvador: "Crês tu no Filho de Deus?" o cego replicou, perguntando: "Quem é Ele, Senhor, para que nEle creia?" E Jesus disse: "Tu já O tens visto, e é Aquele que fala contigo". João 9:35, 37. O homem lançou-se aos pés do Salvador, em adoração. Não somente lhe fora restaurada a visão natural, mas haviam-lhe sido abertos os olhos do entendimento. Cristo lhe fora revelado à alma, e ele O recebeu como o Enviado de Deus. DTN 335 5 Próximo, reunira-se um grupo de fariseus, e a vista deles trouxe à mente de Jesus o contraste sempre manifesto no efeito de Suas palavras e obras. Disse Ele: "Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem sejam cegos". João 9:39. Cristo veio abrir os olhos cegos, dar luz aos que se assentam nas trevas. Declarara ser a luz do mundo, e o milagre operado confirmava Sua missão. O povo que contemplou o Salvador em Seu primeiro advento, foi favorecido com mais ampla manifestação da divina presença do que o mundo nunca antes fruíra. O conhecimento de Deus foi mais perfeitamente revelado. Mas por essa mesma revelação estavam sendo julgados os homens. Seu caráter era provado, decidido o seu destino. DTN 336 1 A manifestação de poder divino que dera ao cego tanto a vista natural como a do espírito, deixara os fariseus em trevas ainda mais densas. Alguns de Seus ouvintes, sentindo que as palavras de Cristo se aplicavam a eles, indagaram: "Também nós somos cegos?" Jesus respondeu: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece". João 9:40, 41. Se Deus vos tivesse tornado impossível ver a verdade, vossa ignorância não envolveria nenhuma culpa. "Mas [...] agora dizeis: Vemos." Julgais-vos capazes de ver, e rejeitais os meios mediante os quais, unicamente, poderíeis receber a vista. A todos quantos compreendiam sua necessidade, Cristo viera com ilimitado auxílio. Mas os fariseus não confessavam necessidade alguma; recusavam-se a ir a Cristo, e por isso foram deixados em cegueira -- uma cegueira de que eles próprios eram culpados. Jesus disse: "Vosso pecado permanece." ------------------------Capítulo 52 -- O divino pastor DTN 337 0 Este capítulo é baseado em João 10:1-30. DTN 337 1 Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a Sua vida pelas ovelhas." "Eu sou o bom Pastor, e conheço as Minhas ovelhas, e das Minhas sou conhecido. Assim como o Pai Me conhece a Mim, também Eu conheço o Pai, e dou a Minha vida pelas ovelhas". João 10:11, 14, 15. DTN 337 2 Mais uma vez Jesus achou acesso ao espírito dos ouvintes, mediante as cenas a eles familiares. Comparara a influência do Espírito à água pura e refrigerante. Representara-Se como a luz, fonte de vida e alegria para a natureza e o homem. Agora, num belo quadro pastoral, apresenta Suas relações com os que nEle crêem. Cena alguma era mais familiar aos ouvintes do que esta, e as palavras de Cristo ligaram-na para sempre a Ele. Nunca poderiam os discípulos contemplar os pastores cuidando dos rebanhos, sem recordar a lição do Salvador. Veriam Cristo em cada fiel pastor. Ver-se-iam em cada rebanho desajudado e dependente. DTN 337 3 Essa imagem, aplicara o profeta Isaías à missão de Cristo, nas confortadoras palavras: "Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe tu a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. [...] Como pastor apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço". Isaías 40:9-11. Davi cantara: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará". Salmos 23:1. E, por intermédio de Ezequiel, declarara o Espírito Santo: "E levantarei sobre elas um só Pastor, e Ele as apascentará"; "a perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrantada ligarei, e a enferma fortalecerei". "E farei com elas um concerto de paz." "E não servirão mais de rapina aos gentios, [...] e habitarão seguramente, e ninguém haverá que as espante". Ezequiel 34:23, 16, 25, 28. DTN 337 4 Cristo aplicou essas profecias a Si mesmo, e mostrou o contraste entre Seu caráter e o dos guias de Israel. Os fariseus acabavam de expulsar uma ovelha do redil, por haver ousado testificar do poder de Cristo. Excluíram uma alma a quem o verdadeiro Pastor estava atraindo para Si. Nisto se mostraram ignorantes da obra a eles confiada, e indignos do legado que lhes fora entregue como pastores do rebanho. Jesus lhes apresentou então o contraste entre eles e o bom Pastor, e declarou-Se o verdadeiro guarda do rebanho de Deus. Antes disso, entretanto, falou de Si mesmo sob outro símbolo. DTN 338 1 Disse: "Aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas". João 10:1. Os fariseus não compreenderam que essas palavras eram proferidas contra eles. Ao raciocinarem em seu coração quanto ao sentido das mesmas, Jesus lhes disse claramente: "Eu sou a porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância". João 10:9, 10. DTN 338 2 Jesus é a porta do redil de Deus. Por essa porta acharam entrada todos os Seus filhos, desde os mais antigos tempos. Em Jesus, segundo é mostrado em tipos, prefigurados em símbolos, manifestado nas revelações dos profetas, patenteado nas lições dadas aos discípulos e nos milagres operados em favor dos filhos dos homens, têm eles contemplado "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29), e por meio dEle são introduzidos no aprisco de Sua graça. Muitos têm vindo apresentando outros objetos à fé do mundo; têm-se imaginado cerimônias e sistemas pelos quais os homens esperam receber a justificação e a paz com Deus, encontrando assim entrada para Seu redil. Mas a única porta é Cristo, e todos quantos têm interposto qualquer coisa para tomar o lugar dEle, todos quantos têm buscado entrar no aprisco por qualquer outro modo, são ladrões e salteadores. DTN 338 3 Os fariseus não entraram pela porta. Subiram ao aprisco por outro meio que não Cristo, e não estavam realizando a obra do verdadeiro pastor. Os sacerdotes e principais, os escribas e fariseus, destruíam as pastagens vivas, e corrompiam as fontes da água da vida. Fielmente descreve a palavra inspirada esses falsos pastores: "A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, [...] mas dominastes sobre elas com rigor e dureza". Ezequiel 34:4. DTN 338 4 Em todos os séculos, filósofos e mestres têm apresentado ao mundo teorias para satisfazer as necessidades espirituais. Todas as nações pagãs têm tido seus grandes mestres e sistemas religiosos, oferecendo outros meios de redenção fora de Cristo, desviando os olhos dos homens da face do Pai e enchendo-os de temor dAquele que só lhes tem dado bênçãos. A tendência de sua obra é roubar a Deus do que Lhe pertence, tanto pela criação como pela redenção. E esses falsos mestres roubam igualmente os homens. Milhões de criaturas humanas acham-se presas a falsas religiões, na escravidão de um temor servil, de estulta indiferença, trabalhando como animais de carga, destituídos de esperança, alegria ou inspiração aqui, e tendo apenas um néscio temor do além. É unicamente o evangelho da graça de Deus que pode erguer a alma. A contemplação de Seu amor, manifestado em Seu Filho, comoverá o coração e despertará as energias da alma como nenhuma outra coisa o poderia fazer. Cristo veio para restaurar na humanidade a imagem divina; e quem quer que dEle desviar os homens, afasta-os da fonte do verdadeiro desenvolvimento, defraudando-os da esperança, do desígnio e da glória da vida. É ladrão e salteador. DTN 339 1 "Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas". João 10:2. Cristo é tanto a porta como o pastor. Entra por Si mesmo. É mediante Seu próprio sacrifício que Se torna pastor das ovelhas. "A Este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a Sua voz, e chama pelo nome às Suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as Suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas O seguem, porque conhecem a Sua voz". João 10:3, 4. DTN 339 2 De todos os animais, é a ovelha o mais tímido e destituído de elementos de defesa, e no Oriente o cuidado do pastor por seu rebanho é infatigável e incessante. Antigamente, como hoje, pouca segurança existia fora das cidades muradas. Ladrões das tribos errantes das fronteiras, ou animais de rapina saindo dos covis nas rochas, ficavam à espreita para cair em cima do rebanho. O pastor velava seu depósito, sabendo que o fazia com risco da própria vida. Jacó, que guardava os rebanhos de Labão nos pastos de Harã, descrevendo seu infatigável labor, disse: "De dia me consumia o calor, e de noite a geada; e o meu sono foi-se dos meus olhos". Gênesis 31:40. E foi quando velava o rebanho de seu pai, que o jovem Davi, desarmado, enfrentou o leão e o urso, salvando-lhes dos dentes o roubado cordeirinho. DTN 339 3 Ao conduzir o pastor seu rebanho pedregosas colinas acima, através de florestas e barrancos abruptos, a relvosos recantos à margem da corrente; ao vigiá-lo sobre as montanhas através da noite silenciosa, protegendo-o contra os ladrões, cuidando ternamente da enferma e da fraca, sua vida se chega a identificar com a das ovelhas. Um forte e terno apego o liga aos objetos de seu cuidado. Por grande que seja o rebanho, o pastor conhece cada ovelha. Cada uma tem seu nome, e a ele atende, ao chamado do pastor. DTN 339 4 Como o pastor terrestre conhece as ovelhas, assim o divino Pastor conhece o Seu rebanho, espalhado por todo o mundo. "Vós pois, ó ovelhas Minhas, ovelhas do Meu pasto: homens sois, mas Eu sou o vosso Deus, diz o Senhor Jeová". Ezequiel 34:31. Afirma Jesus: "Chamei-te pelo teu nome, tu é Meu". Isaías 32:1. "Nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado". Isaías 49:16. DTN 339 5 Jesus nos conhece individualmente, e comove-Se ante nossas fraquezas. Conhece-nos a todos por nome. Sabe até a casa em que moramos, o nome de cada um dos moradores. Tem por vezes dado instruções a Seus servos para irem a determinada rua, em certa cidade, a uma casa designada, a fim de encontrar uma de Suas ovelhas. DTN 339 6 Cada alma é tão perfeitamente conhecida a Jesus, como se fora ela a única por quem o Salvador houvesse morrido. As dores de cada uma Lhe tocam o coração. O grito de socorro chega-Lhe ao ouvido. Veio para atrair a Si todos os homens. Ordena-lhes: "Segue-Me", e Seu Espírito lhes comove a alma, atraindo-os para Ele. Muitos recusam ser atraídos. Jesus sabe quem são. Sabe igualmente quais os que Lhe escutam de boa vontade ao chamado, e estão prontos a colocar-se sob Seu pastoral cuidado. Diz Ele: "As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu conheço-as, e elas Me seguem." Cuida de cada uma, como se não houvesse nenhuma outra na face da Terra. DTN 340 1 "Chama pelo nome as Suas ovelhas, e as traz para fora. E, [...] as ovelhas O seguem, porque conhecem a Sua voz". João 10:3, 4. O pastor oriental não tange as ovelhas. Não se vale da força nem do temor; mas, indo na frente, chama-as. Elas lhe conhecem a voz e obedecem ao chamado. Assim faz o Pastor-Salvador com Suas ovelhas. Diz a Escritura: "Guiaste o Teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e de Arão". Salmos 77:20. Por intermédio do profeta, declara Jesus: "Com amor eterno te amei, também com amorável benignidade te atraí". Jeremias 31:3. Não força ninguém a segui-Lo. "Atrai-os com cordas humanas, com cordas de amor". Oséias 11:4. DTN 340 2 Não é o temor do castigo, ou a esperança da recompensa eterna, que leva os discípulos de Cristo a segui-Lo. Contemplam o incomparável amor do Salvador revelado em Sua peregrinação na Terra, da manjedoura de Belém à cruz do Calvário, e essa visão dEle atrai, abranda e subjuga o coração. O amor desperta na alma dos que O contemplam. Ouvem-Lhe a voz e seguem-nO. DTN 340 3 Como o pastor vai adiante das ovelhas, enfrentando primeiro o perigo do caminho, assim faz Jesus com Seu povo. "E, quando tira para fora as Suas ovelhas, vai adiante delas". João 10:4. O caminho para o Céu é consagrado pelas pegadas do Salvador. A vereda pode ser íngreme e acidentada, mas Jesus por ela passou; Seus pés calcaram os cruéis espinhos, a fim de tornar mais fácil o trilho para nós. Todo fardo que somos chamados a suportar, levou-o Ele próprio. DTN 340 4 Conquanto agora tenha ascendido à presença de Deus e compartilhe o trono do Universo, Jesus não perdeu nada de Sua compassiva natureza. O mesmo coração terno, pleno de simpatia, encontra-se hoje aberto a todas as misérias da humanidade. A mão ferida estende-se agora para abençoar ainda mais abundantemente os Seus que estão no mundo. "E nunca hão de perecer, e ninguém pode arrebatá-las da Minha mão." A alma que se entregou a Cristo é mais preciosa a Seus olhos do que todo o mundo. O Salvador teria passado pela agonia do Calvário para que uma única alma fosse salva no Seu reino. Jamais abandonará uma pessoa por quem morreu. A menos que Seus seguidores O queiram deixar, Ele os há de segurar firmemente. DTN 340 5 Em meio de todas as nossas provações, temos um infalível Ajudador. Não nos deixa lutar sozinhos com a tentação, combater o mal, e ser afinal esmagados ao peso dos fardos e das dores. Conquanto Se ache agora oculto aos olhos mortais, o ouvido da fé pode-Lhe ouvir a voz, dizendo: Não temas; Eu estou contigo. "Eu sou [...] o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre". Apocalipse 1:18. Suportei as vossas dores, experimentei as vossas lutas, enfrentei as vossas tentações. Conheço as vossas lágrimas; também Eu chorei. Aqueles pesares demasiado profundos para serem desafogados em algum ouvido humano, Eu os conheço. Não penseis que estais perdidos e abandonados. Ainda que vossa dor não encontre eco em nenhum coração na Terra, olhai para Mim e vivei. "As montanhas se desviarão, e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se apartará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti". Isaías 54:10. DTN 341 1 Por mais que um pastor ame a suas ovelhas, ama ainda mais a seus próprios filhos e filhas. Jesus não é somente nosso pastor; é nosso "eterno Pai". E Ele diz: "Conheço as Minhas ovelhas, e das Minhas sou conhecido. Assim como o Pai Me conhece a Mim, também Eu conheço o Pai." Que declaração esta! É Ele o Filho unigênito, Aquele que Se acha no seio do Pai, Aquele que Deus declarou ser "o Varão que é o Meu companheiro" (Zacarias 13:7), e apresenta a união entre Ele e o eterno Deus como figura da que existe entre Ele e Seus filhos na Terra! DTN 341 2 Porque somos o dom de Seu Pai, e o galardão de Sua obra, Jesus nos ama. Ama-nos como filhos Seus. Leitor, Ele te ama. O próprio Céu não pode conceder nada maior, nada melhor. Portanto, confia. DTN 341 3 Jesus pensava em todas as almas da Terra que eram transviadas por falsos pastores. Aquelas a quem desejava congregar como ovelhas de Seu pasto, estavam espalhadas entre lobos, e Ele disse: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também Me convém agregar estas, e elas ouvirão a Minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor". João 10:16. DTN 341 4 "Por isto o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la". João 10:17. Isto é: Tanto Meu Pai vos amou, que Me ama ainda mais por Eu dar Minha vida para vos redimir. Tornando-Me vosso substituto e penhor, por entregar a Minha vida, por tomar vossas dívidas, vossas transgressões, torno-Me mais querido a Meu Pai. DTN 341 5 "Dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém Ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la". João 10:18. Conquanto como membro da família humana fosse mortal, como Deus era Ele a fonte da vida para o mundo. Poderia haver detido os passos da morte e recusado ficar sob seu domínio; mas voluntariamente entregou a vida, a fim de poder trazer à luz a vida e a imortalidade. Suportou o pecado do mundo, sofreu-lhe a maldição, entregou a vida em sacrifício, para que o homem não morresse eternamente. "Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; [...] Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pela Suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos". Isaías 53:4-6. ------------------------Capítulo 53 -- A última jornada da Galiléia DTN 342 0 Este capítulo é baseado em Lucas 9:51-56; 10:1-24. DTN 342 1 À medida que se aproximava o termo do ministério de Cristo, operava-se uma mudança em Sua maneira de trabalhar. Até então procurava evitar agitação e publicidade. Recusara as homenagens do povo, e passara rapidamente de um lugar a outro, quando o entusiasmo popular em seu favor parecia exceder os limites do domínio. Repetidamente recomendara que ninguém declarasse ser Ele o Cristo. DTN 342 2 Ao tempo da festa dos tabernáculos, Sua viagem para Jerusalém fora feita com rapidez e sigilo. Quando solicitado por Seus irmãos a Se apresentar publicamente como o Messias, respondera: "Ainda não é chegado o Meu tempo". João 7:6. Fez o caminho para Jerusalém sem ser observado, e na cidade penetrou sem Se anunciar, não recebendo honras da multidão. Assim não se deu, porém, quando de Sua última viagem. Em razão da malícia dos sacerdotes e rabinos, deixara Jerusalém por algum tempo. Mas agora Se dispôs a voltar, jornadeando publicamente, numa viagem cheia de rodeios, e precedida de anúncios de Sua aproximação como nunca antes fizera. Ia avançando para a cena de Seu grande sacrifício, e para este devia ser dirigida a atenção do povo. DTN 342 3 "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado". João 3:14. Como os olhos de todo Israel foram dirigidos à serpente erguida, o símbolo designado para cura deles, assim devem todos os olhares serem atraídos a Cristo, o sacrifício que trouxe salvação ao mundo perdido. DTN 342 4 Fora o falso conceito da obra do Messias e a falta de fé no divino caráter de Jesus, que levaram Seus irmãos a solicitar que Se apresentasse publicamente ao povo na festa dos tabernáculos. Agora, em idêntico espírito, os discípulos quiseram impedir que Ele fizesse essa viagem a Jerusalém. Lembravam-se de Suas palavras quanto ao que Lhe sobreviria ali, conheciam a mortal hostilidade dos guias religiosos e de bom grado haveriam dissuadido seu Mestre de ir lá. DTN 342 5 Dolorosa coisa era para o coração de Jesus, avançar em Seu caminho a despeito dos temores, decepções e incredulidade dos amados discípulos. Duro era conduzi-los à angústia e desespero que os aguardavam em Jerusalém. E Satanás estava a postos para forçar suas tentações sobre o Filho do homem. Por que iria agora a Jerusalém, a uma morte certa? Por toda parte, ao Seu redor, estavam almas famintas do pão da vida. Por todo lado, almas sofredoras a esperar-Lhe a palavra de cura. A obra a ser operada pelo evangelho de Sua graça apenas começara. E Ele Se achava em pleno vigor da primavera da varonilidade. Por que não ir aos vastos campos do mundo com as palavras de Sua graça, o toque de Seu poder de curar? Por que não Se dar a alegria de conceder luz e satisfação aos entenebrecidos e sofredores milhões de criaturas? Por que deixar a colheita aos discípulos, tão fracos na fé, tão pesados de entendimento, tão tardios para agir? Por que enfrentar a morte agora, e deixar a obra ainda em sua infância? O inimigo que no deserto se defrontara com Cristo, assaltou-O então com cruéis e sutis tentações. Houvesse Jesus cedido por um instante, houvesse mudado Sua orientação no mínimo particular para salvar a Si mesmo, e os instrumentos de Satanás haveriam triunfado, ficando o mundo perdido. DTN 343 1 Mas Jesus "manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém". A única lei de Sua vida era a vontade de Seu Pai. Na visita ao templo, em Sua meninice, dissera a Maria: "Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:49. Em Caná, quando Maria desejou que Ele manifestasse o poder miraculoso que possuía, Sua resposta foi: "Ainda não é chegada a Minha hora". João 2:4. Com as mesmas palavras respondeu a Seus irmãos, quando insistiram em que fosse à festa. Mas no grande plano de Deus fora designada a hora para que Ele Se desse em oferta pelos pecados dos homens, e essa hora estava prestes a soar. Ele não fracassaria nem vacilaria. Seus passos se dirigem a Jerusalém, onde Seus inimigos há muito planejam tirar-Lhe a vida; agora, Ele a deporá. Assentou firmemente o propósito de ir ao encontro da perseguição, da negação, rejeição e condenação e morte. DTN 343 2 E "mandou mensageiros diante da Sua face; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para Lhe prepararem pousada". Lucas 9:52. Mas o povo recusou recebê-Lo, porque estava de caminho para Jerusalém. Isso eles interpretaram como uma preferência de Cristo pelos judeus, a quem aborreciam com ódio intenso. Houvesse Ele vindo para restaurar o templo e o culto do Monte Gerizim, e tê-Lo-iam de boa vontade acolhido; mais ia para Jerusalém, e não Lhe dispensariam nenhuma hospitalidade. Mal percebiam que estavam repelindo de suas portas o melhor dom do Céu! Jesus convidava os homens a recebê-Lo, pedia-lhes favores a fim de Se aproximar deles, para lhes conferir as mais ricas bênçãos. Todo favor a Ele concedido, galardoava com uma bênção mais preciosa. Mas tudo se perdeu para os samaritanos, devido a seu preconceito e fanatismo. DTN 343 3 Tiago e João, mensageiros de Cristo, ficaram muito ressentidos ante o insulto feito a seu Senhor. Encheram-se de indignação por verem-nO tão rudemente tratado pelos samaritanos, a quem estava honrando com Sua presença. Não havia muito, estiveram com Ele no monte da transfiguração e O viram glorificado por Deus, e honrado por Moisés e Elias. Esta manifesta desonra da parte dos samaritanos não devia, pensavam, ser passada por alto, sem assinalado castigo. DTN 344 1 Indo ter com Cristo, relataram-Lhe as palavras dos habitantes da aldeia, dizendo que haviam recusado até oferecer-Lhe pousada para a noite. Pensavam que Lhe tinha sido feita grave ofensa e, avistando a distância o Monte Carmelo, onde Elias matara os falsos profetas, disseram: "Senhor, queres que digamos que desça fogo do Céu e os consuma, como Elias também fez?" Ficaram surpreendidos de ver que Jesus Se magoava com as palavras deles, e ainda mais ao ouvirem-Lhe a censura: "Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las". Lucas 9:55, 56. E foi para outra aldeia. DTN 344 2 Não faz parte da missão de Cristo obrigar os homens a recebê-Lo. Satanás, e homens movidos por seu espírito, é que buscam forçar a consciência. Sob pretendido zelo pela justiça, homens aliados a anjos maus infligem sofrimento aos semelhantes, a fim de os converter a suas idéias religiosas; mas Cristo está sempre mostrando misericórdia, sempre procurando conquistar mediante a revelação de Seu amor. Não pode admitir rival na alma, nem aceita serviço parcial; mas deseja apenas o serviço voluntário, a espontânea entrega do coração constrangido pelo amor. Não há mais conclusiva prova de possuirmos o espírito de Satanás, do que a disposição de causar dano e destruir aos que não apreciam nossa obra, ou procedem em contrário a nossas idéias. DTN 344 3 Toda criatura humana é, corpo, alma e espírito, propriedade de Deus. Cristo morreu para redimir a todos. Coisa alguma pode ser mais ofensiva ao Senhor do que, através do fanatismo religioso, os homens causarem sofrimento aos que são o preço do sangue do Salvador. DTN 344 4 "E, levantando-Se dali, foi para os termos da Judéia, além do Jordão, e a multidão se reuniu em torno dEle; e tornou a ensiná-los". Marcos 10:1. Parte considerável dos últimos meses do ministério de Cristo foi passada na Peréia, província "além do Jordão", de quem vem da Judéia. Ali a multidão se aglomerava aos Seus passos, como nos primeiros tempos de Seu ministério na Galiléia, e foram repetidos muitos de Seus anteriores ensinos. DTN 344 5 Como enviara os doze, assim designou "ainda outros setenta, e mandou-os adiante da Sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares onde Ele havia de ir". Esses discípulos haviam estado por algum tempo com Ele, preparando-se para sua obra. Ao serem os doze enviados em sua primeira missão à parte, outros discípulos acompanharam Jesus pela Galiléia. Tinham tido assim o privilégio da íntima associação com Ele, e Suas instruções pessoais. Agora, esse maior número também devia ser enviado separadamente em missão. DTN 345 1 As instruções transmitidas aos setenta, eram idênticas às comunicadas aos doze; mas a ordem dada aos doze, de não entrar em cidade de gentios ou de samaritanos, não foi repetida aos setenta. Embora Cristo houvesse sido repelido pelos samaritanos, permaneceu inalterável Seu amor para com eles. Quando os setenta foram, em Seu nome, visitaram antes de tudo as cidades de Samaria. DTN 345 2 A visita do próprio Salvador a Samaria, e, mais tarde, o elogio do bom samaritano, e a reconhecida alegria do leproso, aquele que fora o único, dentre os dez, a voltar para agradecer a Cristo, foram fatos muito significativos para os discípulos. A lição penetrou-lhes fundo na alma. Na comissão que lhes deu exatamente antes de Sua ascensão, Jesus mencionou Samaria juntamente com Jerusalém e a Judéia, como sendo os lugares onde deviam ir primeiramente pregar o evangelho. Esta comissão, Seus ensinos os prepararam para cumprir. Quando, em nome de Seu Mestre, foram a Samaria, encontraram o povo pronto a recebê-los. Os samaritanos tinham ouvido falar nas palavras de louvor e nas obras de misericórdia concedidas por Cristo a homens de sua nação. Viram que, não obstante o rude tratamento que Lhe deram, Ele só tinha pensamentos de amor a seu respeito, e seu coração foi conquistado. Depois de Sua ascensão, receberam bem os mensageiros do Salvador, e os discípulos recolheram uma preciosa colheita dentre os que outrora haviam sido seus mais obstinados inimigos. "A cana trilhada não quebrará nem apagará o pavio que fumega; em verdade produzirá o juízo". Isaías 42:3. "E no Seu nome os gentios esperarão". Mateus 12:21. DTN 345 3 Ao enviar os setenta, Jesus lhes recomendou, como fizera aos doze, não impor sua presença onde não fossem bem acolhidos. "Em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem", disse, "saindo por suas ruas, dizei: Até o pó, que da vossa cidade se nos apegou, sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o reino de Deus é chegado a vós". Lucas 10:8, 10, 11. Não deviam proceder assim por motivos de ressentimento ou de dignidade ferida, mas para mostrar quão ofensivo é recusar a mensagem do Senhor ou Seus mensageiros. Rejeitar os servos do Senhor é rejeitar o próprio Cristo. DTN 345 4 "E digo-vos", acrescentou Jesus, "que mais tolerância haverá naquele dia para Sodoma do que para aquela cidade". Lucas 10:12. Então Seus pensamentos se volveram para as cidades galiléias onde se realizara tão grande parte de Seu ministério. Em acentos de profunda tristeza, exclamou: "Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida que, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido. Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor no juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, serás levantada até ao Céu? até ao inferno serás abatida". Lucas 10:13-15. DTN 345 5 Àquelas ativas cidades junto ao Mar da Galiléia, haviam sido abundantemente oferecidas as mais preciosas bênçãos do Céu. Dia após dia, o Príncipe da vida entrara e saíra entre elas. A glória de Deus, que profetas e reis anelaram ver, brilhara sobre as multidões que se aglomeravam após o Salvador. Todavia, rejeitaram o Dom celestial. DTN 346 1 Com grande ostentação de prudência, haviam os rabinos advertido o povo contra a recepção das novas doutrinas ensinadas por esse novo Mestre; pois Suas teorias e costumes eram contrários aos ensinos dos Pais. O povo deu crédito ao que ensinavam os sacerdotes e fariseus, de preferência a buscar entender por si mesmos a Palavra de Deus. Honravam aos sacerdotes e principais de preferência a Deus, e rejeitavam a verdade para poderem guardar as próprias tradições. Muitos foram impressionados e quase persuadidos; não agiram, porém, segundo suas convicções, e não se contaram do lado de Cristo. Satanás apresentou suas tentações, até que a luz pareceu como as trevas. Assim muitos rejeitaram a verdade que se teria demonstrado ser a sua salvação. DTN 346 2 Diz a Testemunha Verdadeira: "Eis que estou à porta, e bato". Apocalipse 3:20. Toda advertência, reprovação e súplica, transmitida pela Palavra de Deus ou por Seus mensageiros, é uma batida na porta do coração. É a voz de Jesus que solicita entrada. A cada toque não atendido, torna-se mais fraca a disposição para abrir. A impressão do Espírito Santo que é hoje rejeitada, não será tão forte amanhã. O coração torna-se menos impressionável, e cai numa perigosa inconsciência da brevidade da vida e da grande eternidade além. Nossa condenação no Juízo não será resultado de havermos estado em erro, mas do fato de termos negligenciado as oportunidades enviadas pelo Céu, para conhecer a verdade. DTN 346 3 Como os apóstolos, os setenta receberam dons sobrenaturais como selo de sua missão. Quando sua obra estava completa, voltaram com alegria, dizendo: "Senhor, pelo Teu nome, até os demônios se nos sujeitam." Jesus respondeu: "Eu via Satanás, como raio, cair do Céu". Lucas 10:18. DTN 346 4 Ao espírito de Jesus apresentaram-se as cenas do passado e do futuro. Contemplou Lúcifer, ao ser no princípio expulso dos lugares celestiais. Viu antecipadamente as cenas de Sua própria agonia, quando, perante todos os mundos, havia de revelar-se o caráter do enganador. Ouviu o brado: "Está consumado" (João 19:30), anunciando estar para sempre assegurada a redenção da raça perdida e achar-se eternamente a salvo das acusações, enganos e pretensões de Satanás. DTN 346 5 Para além da cruz do Calvário, com sua angústia e opróbrio, contemplou Jesus o grande dia final, quando o príncipe das potestades do ar encontrará sua destruição na Terra tão longamente desfigurada por sua rebelião. Jesus contemplou a obra do mal para sempre finda, e a paz de Deus enchendo o Céu e a Terra. DTN 346 6 Daí em diante os seguidores de Cristo haviam de olhar a Satanás como inimigo vencido. Na cruz havia de alcançar a vitória por eles; essa vitória queria Jesus que aceitassem como deles mesmos. "Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum". Lucas 10:19. DTN 347 1 A onipotente força do Espírito Santo é a defesa de toda alma contrita. A ninguém que, em arrependimento e fé, haja invocado Sua proteção, permitirá Cristo que caia sob o poder do inimigo. O Salvador Se acha ao lado de Suas criaturas tentadas e provadas. Com Ele não pode haver coisa como fracasso, perda, impossibilidade ou derrota; podemos fazer todas as coisas por meio dAquele que nos fortalece. Ao sobrevirem as tentações e provas, não espereis até haverdes ajustado todas as dificuldades, mas olhai a Jesus, vosso ajudador. DTN 347 2 Há cristãos que falam demais sobre o poder de Satanás. Pensam em seu adversário, oram a seu respeito, falam nele, e ele avulta mais e mais em sua imaginação. É certo que Satanás é um ser poderoso; mas, graças a Deus, temos um forte Salvador, que expulsou do Céu o maligno. Satanás regozija-se quando lhe engrandecemos a força. Por que não falar em Jesus? Por que não exaltar Seu poder e Seu amor? DTN 347 3 O arco-íris da promessa, que circunda o trono no alto, é um perpétuo testemunho de que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Ele testifica perante o Universo que Deus nunca abandonará Seu povo na luta com o mal. Enquanto durar o próprio trono de Deus, é para nós uma garantia de força e proteção. DTN 347 4 Jesus acrescentou: "Mas não vos alegreis por que se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos Céus". Lucas 10:20. Não vos regozijeis na posse do poder, para que não olvideis vossa dependência de Deus. Vigiai, não se dê o caso de vos achardes possuídos de confiança em vós mesmos, nem trabalheis em vossas próprias forças, em vez de o fazer no espírito e poder de vosso Mestre. O eu está sempre pronto a tomar a honra, caso seja seguido de qualquer êxito. O eu lisonjeia-se e exalta-se, e não se faz sobre os outros espíritos a impressão de que Deus é tudo em todos. Diz o apóstolo Paulo: "Quando estou fraco então sou forte". 2 Coríntios 12:10. Quando temos a compreensão de nossa fraqueza, aprendemos a confiar num poder que nos não é inerente. Coisa alguma pode exercer sobre o coração tão poderoso domínio, como o permanente sentimento de nossa responsabilidade para com Deus. Coisa alguma atinge tão plenamente aos mais íntimos motivos de conduta, como o sentimento do amor perdoador de Cristo. Temos de pôr-nos em contato com Deus, então seremos possuídos de Seu Espírito Santo, que nos habilita a pôr-nos em contato com nossos semelhantes. Regozijai-vos, pois, de que, por meio de Cristo, vos tenhais ligado a Deus, vos tenhais tornado membros da família celestial. Enquanto puserdes os olhos para além de vós mesmos, haveis de experimentar contínuo sentimento da fraqueza da humanidade. Quanto menos acariciardes o próprio eu, tanto mais distinta e ampla se tornará vossa compreensão da excelência de vosso Salvador. Quanto mais intimamente vos relacionardes com a fonte da luz e do poder, tanto mais abundante a luz que sobre vós incidirá, e maior o poder com que haveis de trabalhar para Deus. Regozijai-vos de ser um com Deus, um com Cristo, e com toda a família do Céu. DTN 348 1 Ao escutarem os setenta as palavras de Cristo, o Espírito Santo lhes estava impressionando a mente com realidades vivas, e escrevendo a verdade na tábua do coração. Embora rodeados pelo povo, achavam-se como que isolados com Deus. DTN 348 2 Sabendo que haviam recebido a inspiração daquela hora, "alegrou-Se Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, que escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim Te aprouve. Tudo por Meu Pai Me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem que é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar". Lucas 10:21, 22. DTN 348 3 Os homens honrados neste mundo, os chamados grandes e sábios, com toda a sua alardeada sabedoria, não podiam compreender o caráter de Cristo. Julgavam-nO segundo as aparências exteriores, segundo a humilhação que Lhe sobreveio como criatura humana. Mas a pescadores e publicanos fora concedido ver o Invisível. Os próprios discípulos deixaram de compreender tudo quanto Jesus lhes desejava revelar; mas de quando em quando, ao entregarem-se ao poder do Espírito Santo, sua mente era iluminada. Percebiam que o poderoso Deus, revestido da humanidade, Se achava entre eles. Jesus regozijava-Se de que, embora os sábios e inteligentes não possuíssem esse conhecimento, houvesse ele sido revelado a esses humildes homens. Freqüentemente, ao apresentar as Escrituras do Antigo Testamento e mostrar sua aplicação a Ele próprio e a Sua obra de expiação, haviam sido despertados por Seu Espírito e erguidos à atmosfera celestial. Tinham, das verdades espirituais de que falavam os profetas, uma compreensão mais clara do que possuíam os próprios que originalmente as escreveram. Daí em diante, poderiam ler as Escrituras do Antigo Testamento não segundo as doutrinas dos escribas e fariseus, não como declarações de sábios já mortos, mas como uma nova revelação vinda de Deus. Contemplavam Aquele "que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis porque habita convosco, e estará em vós". João 14:17. DTN 348 4 A única maneira por que podemos obter mais perfeita compreensão da verdade, é conservar o coração brando e submisso ao Espírito de Cristo. A alma deve ser purificada da vaidade e do orgulho, esvaziada de tudo quanto a tem dominado, e Cristo entronizado no interior. A ciência humana é demasiado limitada para compreender a expiação. O plano da redenção é de tão vasto alcance que a filosofia não o pode explicar. Permanecerá para sempre um mistério que o mais profundo raciocínio não logra aprofundar. Não é possível explicar a ciência da salvação; pode-se, no entanto, conhecê-la pela experiência; unicamente aquele que vê a própria pecaminosidade é capaz de discernir a preciosidade do Salvador. DTN 349 1 Repletas de instruções foram as lições dadas por Cristo, enquanto caminhavam lentamente da Galiléia para Jerusalém. O povo escutava ansiosamente Suas palavras. Na Peréia como na Galiléia, a população estava menos sob a influência do fanatismo judaico que na Judéia, e Seus ensinos encontraram mais acolhimento no coração deles. DTN 349 2 Foi durante esses últimos meses do ministério de Cristo, que proferiu muitas de Suas parábolas. Os sacerdotes e rabis O perseguiam com amargura cada vez maior, e Ele velava em símbolos as advertências que lhes dirigia. Eles não se podiam enganar quanto à Sua intenção, mas também não Lhe podiam encontrar nas palavras coisa alguma em que basear uma acusação contra Ele. Na parábola do fariseu e do publicano, a presunçosa oração: "Ó Deus, graças Te dou, porque eu não sou como os demais homens", ficou em frisante contraste com a contrita súplica: "Tem misericórdia de mim, pecador". Lucas 18:11, 13. Assim repreendia Cristo a hipocrisia dos judeus. E sob a figura da figueira estéril e da grande ceia, predisse a condenação prestes a cair sobre o impenitente povo. Os que haviam desdenhosamente rejeitado o convite ao banquete evangélico, ouviram-Lhe as palavras de advertência: "Eu vos digo que nenhum daqueles varões que foram convidados provará a Minha ceia". Lucas 14:24. DTN 349 3 Muito preciosas foram as instruções dadas aos discípulos. A parábola da viúva importuna e do amigo que pedia pão à meia-noite, deu novo vigor a Suas palavras: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á". Lucas 11:9. E muitas vezes sua vacilante fé se fortaleceu pela lembrança de que Cristo dissera: "E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça". Lucas 18:7, 8. DTN 349 4 Cristo repetiu a bela parábola da ovelha desgarrada. E desenvolveu ainda mais sua lição, ao proferir a da moeda perdida e do filho pródigo. A força dessas lições, os discípulos não podiam então apreciar plenamente; depois do derramamento do Espírito Santo, porém, ao verem a colheita de gentios e a invejosa ira dos judeus, entenderam melhor a lição do filho pródigo e puderam colher o resultado das palavras de Cristo: "Era justo alegrarmo-nos e folgarmos"; "porque este Meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado". Lucas 15:32, 24. E ao saírem em nome do Mestre, enfrentando o opróbrio, a pobreza e a perseguição, fortaleceram muitas vezes a alma repetindo o que lhes recomendara, quando nessa última jornada: "Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração". Lucas 12:32-34. ------------------------Capítulo 54 -- O bom samaritano DTN 350 0 Este capítulo é baseado em Lucas 10:25-37. DTN 350 1 Na história do bom samaritano, ilustra Cristo a natureza da verdadeira religião. Mostra que consiste, não em sistemas, credos ou ritos, mas no cumprimento de atos de amor, no proporcionar aos outros o maior bem, na genuína bondade. DTN 350 2 Enquanto Cristo ensinava o povo, "eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-O, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Lucas 10:25. Respiração suspensa, esperou o vasto auditório a resposta. Os sacerdotes e rabis haviam pensado enredar Jesus com essa pergunta do doutor da lei. O Salvador, porém, não entrou em discussão. Fez com que o próprio doutor respondesse a si mesmo. "Que está escrito na lei?" disse Ele. "Como lês?" Lucas 10:26. Os judeus ainda acusavam Jesus de menosprezo para com a lei dada no Sinai; mas Ele fez sentir que a salvação depende da observância dos mandamentos divinos. DTN 350 3 Disse o doutor: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo." Disse Jesus: "Respondeste bem; faze isso, e viverás". Lucas 10:27, 28. DTN 350 4 O doutor da lei não estava satisfeito com a atitude e as obras dos fariseus. Estivera estudando as Escrituras com o desejo de aprender-lhes a verdadeira significação. Tinha interesse vital no assunto, e, em sinceridade, indagara: "Que farei?" Em sua resposta quanto às reivindicações da lei, passara por sobre toda a massa de preceitos cerimoniais e rituais. Não lhes atribuiu valor, mas apresentou os dois grandes princípios de que dependem toda a lei e os profetas. O merecer essa resposta o louvor de Cristo, colocou o Salvador em terreno vantajoso para com os rabis. Não O podiam condenar por sancionar o que fora afirmado por um expositor da lei. DTN 350 5 "Faze isso, e viverás", disse Jesus. Apresentou a lei como uma unidade divina, e ensinou nessa lição não ser possível guardar um preceito e transgredir outro; pois o mesmo princípio os liga a todos. O destino do homem será determinado por sua obediência a toda a lei. Amor supremo para com Deus e imparcial amor para com os homens, eis os princípios a serem desenvolvidos na vida. DTN 350 6 O doutor achou-se um transgressor da lei. Sentiu-se convicto, em face das penetrantes palavras de Cristo. A justiça da lei, que pretendia compreender, não a praticara. Não manifestara amor para com seus semelhantes. Era necessário haver arrependimento; em lugar disso, porém, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, procurou demonstrar quão difícil de ser cumprido é o mandamento. Esperava assim pôr-se em guarda contra a convicção e justificar-se perante o povo. As palavras do Salvador haviam mostrado a inutilidade de sua pergunta, visto ser ele capaz de a ela responder por si mesmo. Todavia, formulou ainda outra: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29. DTN 351 1 Entre os judeus, essa questão dava lugar a infindáveis disputas. Não tinham dúvidas quanto aos gentios e samaritanos; esses eram estranhos e inimigos. Mas como fazer a distinção entre os de seu próprio povo e as várias classes sociais? A quem deveriam os sacerdotes, os rabis, os anciãos, considerar como seu próximo? Passavam a vida numa série de cerimônias para se purificarem. O contato com a multidão ignorante e descuidada, ensinavam eles, ocasionava contaminação. E o remover esta, exigiria esforço enfadonho. Deveriam considerar os "imundos" seu próximo? DTN 351 2 Uma vez mais Se eximiu Jesus à discussão. Não denunciou a hipocrisia dos que O estavam espreitando para O condenar. Mas, mediante uma singela história, apresentou aos ouvintes tal quadro do transbordamento do amor de origem celestial, que tocou os corações e arrancou do doutor da lei a confissão da verdade. DTN 351 3 O meio de dissipar as trevas, é admitir a luz. O melhor meio de tratar com o erro, é apresentar a verdade. É a manifestação do amor de Deus, que torna evidente a deformidade e o pecado do coração concentrado em si mesmo. DTN 351 4 "Descia um homem de Jerusalém para Jericó", disse Jesus, "e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e vendo-o, passou de largo". Lucas 10:30-32. Isso não era uma cena imaginária, mas uma ocorrência verídica, que se sabia ser tal qual era apresentada. O sacerdote e o levita que tinham passado de largo, encontravam-se entre o grupo que escutava as palavras de Cristo. DTN 351 5 Jornadeando de Jerusalém para Jericó, o viajante tinha de passar por um trecho deserto da Judéia. O caminho descia por entre abruptos e pedregosos barrancos, e era infestado de ladrões, sendo freqüentemente cena de violências. Aí foi o viajante atacado, despojado de tudo quanto levava de valor, ferido e machucado, sendo deixado meio-morto à beira do caminho. Enquanto assim jazia, passou o sacerdote por aquele caminho; mas apenas deitou um rápido olhar ao pobre ferido. Apareceu em seguida o levita. Curioso de saber o que acontecera, deteve-se e contemplou a vítima. Sentiu a convicção do que devia fazer; não era, porém, um dever agradável. Desejaria não haver passado por aquele caminho, de modo a não ter visto o ferido. Persuadiu-se de que nada tinha com o caso. DTN 351 6 Ambos esses homens ocupavam postos sagrados, e professavam expor as Escrituras. Pertenciam à classe especialmente escolhida para servir de representantes de Deus perante o povo. Deviam "compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados" (Hebreus 5:2), para que pudessem levar os homens a compreender o grande amor de Deus para com a humanidade. A obra que haviam sido chamados a fazer, era a mesma que Jesus descrevera como Sua, quando dissera: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados de coração e apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18. DTN 352 1 Os anjos de Deus contemplam a aflição de Sua família na Terra, estão preparados para cooperar com os homens em aliviar a opressão e o sofrimento. Em Sua providência, Deus levara o sacerdote e o levita a passarem pelo caminho onde jazia a vítima dos ladrões, a fim de verem a necessidade que tinha de misericórdia e auxílio. Todo o Céu observava, para ver se o coração desses homens seria tocado de piedade pela desgraça humana. O Salvador era Aquele que instruíra os hebreus no deserto; da coluna de nuvem e de fogo, ensinara uma lição bem diversa daquela que o povo ora recebia de seus sacerdotes e mestres. As misericordiosas providências da lei estendiam-se até aos animais inferiores, que não são capazes de exprimir em palavras suas necessidades e sofrimentos. Por intermédio de Moisés foram dadas aos filhos de Israel instruções nesse sentido: "Se encontrares o boi de teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires o asno daquele que te aborrece deitado debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás juntamente com ele". Êxodo 23:4, 5. Mas no homem ferido pelos ladrões apresentou Jesus o caso de um irmão em sofrimento. Quanto mais deveria o coração deles ter-se possuído de piedade por aquele do que por um animal de carga! Fora-lhes dada por meio de Moisés a mensagem de que o Senhor seu Deus, "o Deus grande, poderoso e terrível", "faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro". Portanto, ordenou: "Pelo que amareis o estrangeiro". Deuteronômio 10:17-19. "Amá-lo-ás como a ti mesmo". Levítico 19:34. DTN 352 2 Jó dissera: "O estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante". Jó 31:32. E quando os dois anjos, em aparência de homens, foram a Sodoma, Ló inclinou-se por terra e disse: "Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite". Gênesis 19:2. Com todas essas lições estavam os sacerdotes e levitas familiarizados, mas não as introduziram na vida prática. Educados na escola do fanatismo social, haviam-se tornado egoístas, estreitos e exclusivistas. Ao olharem para o homem ferido, não podiam dizer se pertencia a sua nação. Pensaram que talvez fosse samaritano e desviaram-se. DTN 352 3 Em sua ação, segundo descrita por Cristo, não viu o doutor da lei coisa alguma contrária ao que lhe fora ensinado quanto às reivindicações da lei. Outra cena, porém, foi então apresentada: DTN 353 1 Certo samaritano, indo de viagem, chegou onde se achava a vítima e, ao vê-la, moveu-se de compaixão por ela. Não indagou se o estranho era judeu ou gentio. Fosse ele judeu, bem sabia o samaritano que, invertidas as posições, o homem lhe cuspiria no rosto e passaria desdenhosamente. Mas nem por isso hesitou. Não considerou que ele próprio se achava em perigo de assalto, se se demorasse naquele local. Bastou-lhe o fato de estar ali uma criatura humana em necessidade e sofrimento. Tirou o próprio vestuário, para cobri-lo. O óleo e o vinho, provisão para sua viagem, empregou-os para curar e refrigerar o ferido. Colocou-o em sua cavalgadura, e pôs-se a caminho devagar, a passo brando, de modo que o estranho não fosse sacudido, aumentando-se-lhe assim os sofrimentos. Conduziu-o a uma hospedaria, cuidou dele durante a noite, velando-o carinhosamente. Pela manhã, como o doente houvesse melhorado, o samaritano ousou seguir viagem. Antes de fazê-lo, porém, pô-lo sob os cuidados do hospedeiro, pagou as despesas e deixou um depósito em seu favor; não satisfeito com isso ainda, tomou providências para qualquer necessidade eventual, dizendo ao hospedeiro: "cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar". Lucas 10:35. DTN 353 2 Concluída a história, Jesus fixou o doutor da lei com um olhar que lhe parecia ler a alma, e disse: "Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?" Lucas 10:36. DTN 353 3 O doutor nem ainda então quis tomar nos lábios o nome samaritano, e respondeu: "O que usou de misericórdia para com ele." Jesus disse: "Vai, e faze da mesma maneira". Lucas 10:37. DTN 353 4 Assim a pergunta: "Quem é o meu próximo?" ficou para sempre respondida. Cristo mostrou que nosso próximo não quer dizer simplesmente alguém de nossa igreja ou da mesma fé. Não tem que ver com distinção de raça, cor, ou classe. Nosso próximo é todo aquele que necessita de nosso auxílio. Nosso próximo é toda alma que se acha ferida e quebrantada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus. DTN 353 5 Na história do bom samaritano, Jesus ofereceu uma descrição de Si mesmo e de Sua missão. O homem fora enganado, ferido, despojado e arruinado por Satanás, sendo deixado a perecer; o Salvador, porém, teve compaixão de nosso estado de desamparo. Deixou Sua glória, para vir em nosso socorro. Achou-nos quase a morrer, e tomou-nos ao Seu cuidado. Curou-nos as feridas. Cobriu-nos com Sua veste de justiça. Proveu-nos um seguro abrigo, e tomou, a Sua própria custa, plenas providências em nosso favor. Morreu para nos resgatar. Mostrando Seu próprio exemplo, diz a Seus seguidores: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros". João 15:17. "Como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis". João 13:34. DTN 353 6 A pergunta do doutor da lei a Jesus, fora: "Que farei?" E Jesus, reconhecendo o amor para com Deus e os homens como a súmula da justiça, respondera: "Faze isso, e viverás." O samaritano obedecera aos ditames de um coração bondoso e amorável, demonstrando-se assim um observador da lei. Cristo recomendou ao doutor: "Vai, e faze da mesma maneira." Fazer, e não meramente dizer, eis o que se espera dos filhos de Deus. "Aquele que diz que está nEle, também deve andar como Ele andou". 1 João 2:6. DTN 354 1 Essa lição não é menos necessária hoje no mundo, do que ao ser proferida pelos lábios de Jesus. Egoísmo e fria formalidade têm quase extinguido o fogo do amor, dissipando as graças que seriam por assim dizer a fragrância do caráter. Muitos dos que professam Seu nome, deixaram de considerar o fato de que os cristãos têm de representar a Cristo. A menos que haja sacrifício prático em bem de outros, no círculo da família, na vizinhança, na igreja e onde quer que estejamos, não seremos cristãos, seja qual for a nossa profissão. DTN 354 2 Cristo ligou Seus interesses aos da humanidade, e pede-nos que nos identifiquemos com Ele em prol da salvação dela. "De graça recebestes", diz Ele, "de graça dai". Mateus 10:8. O pecado é o maior de todos os males, e cumpre-nos apiedar-nos do pecador e ajudá-lo. Muitos há que erram, e sentem sua vergonha e loucura. Estão sedentos de palavras de animação. Pensam em suas faltas e erros a ponto de serem quase arrastados ao desespero. Não devemos negligenciar essas almas. Se somos cristãos, não passaremos de largo, mantendo-nos o mais distante possível daqueles mesmos que mais necessidade têm de nosso auxílio. Ao vermos criaturas humanas em aflição, seja devido a infortúnio, seja por causa de pecado, não digamos nunca: Não tenho nada com isso. DTN 354 3 "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão". Gálatas 6:1. Fazei, pela fé e pela oração, recuar o poder do inimigo. Proferi palavras de fé e de ânimo, que serão como bálsamo eficaz para os quebrantados e feridos. Muitos, muitos têm desfalecido e perdido o ânimo na luta da vida, quando uma bondosa palavra de estímulo os haveria revigorado. Nunca devemos passar por uma alma sofredora, sem buscar comunicar-lhe do conforto com que nós mesmos somos por Deus confortados. DTN 354 4 Tudo isso não é senão um cumprimento do princípio da lei -- o princípio ilustrado na história do bom samaritano, e manifesto na vida de Jesus. Seu caráter revela a verdadeira significação da lei, e mostra o que quer dizer amar a nosso semelhante como a nós mesmos. E quando os filhos de Deus manifestam misericórdia, bondade e amor para com todos os homens, também eles estão dando testemunho do caráter dos estatutos do Céu. Estão testificando que "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma". Salmos 19:7. E quem quer que deixar de manifestar esse amor está transgredindo a lei que professa reverenciar. Pois o espírito que manifestamos para com nossos irmãos, declara qual nosso espírito para com Deus. O amor de Deus no coração é a única fonte de amor para com o nosso semelhante. "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?" Amados, "se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeita a Sua caridade". 1 João 4:20, 12. ------------------------Capítulo 55 -- Não com aparência exterior DTN 355 0 Este capítulo é baseado em Lucas 17:20-22. DTN 355 1 Alguns dos fariseus se chegaram a Jesus, perguntando quando "havia de vir o reino de Deus". Lucas 17:20. Mais de três anos se tinham passado, desde que João Batista dera a mensagem que, qual toque de clarim, soara através da Terra: "É chegado o reino dos Céus". Mateus 3:2. E até então esses fariseus não tinham visto indicação alguma do estabelecimento do reino. Muitos dos que haviam rejeitado a João, e a cada passo se opunham a Jesus, insinuavam que Sua missão fracassara. DTN 355 2 Jesus respondeu: "O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está dentro de vós". Lucas 17:20, 21. O reino de Deus começa no coração. Não busqueis, aqui e ali, manifestações de poder terrestre para assinalar-lhe a vinda. DTN 355 3 "Dias virão", disse Ele, voltando-Se para os discípulos, "em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis". Lucas 17:22. Por não ser acompanhada de esplendor mundano, correis o risco de não discernir a glória de Minha missão. Não compreendeis quão grande é vosso privilégio atual em ter entre vós, se bem que velado pela humanidade, Aquele que é a vida e a luz dos homens. Dias virão em que volvereis atrás o olhar, saudosos das oportunidades que ora fruís de andar e falar com o Filho de Deus. DTN 355 4 Por causa de seu espírito egoísta e terreno, os próprios discípulos de Jesus não podiam compreender a glória espiritual que lhes buscava revelar. Não foi senão depois da ascensão de Cristo para Seu Pai, e do derramamento do Espírito Santo sobre os crentes, que os discípulos apreciaram plenamente o caráter e a missão do Salvador. Depois de receberem o batismo do Espírito, começaram a perceber que estiveram na presença do próprio Senhor da glória. À medida que as declarações de Cristo lhes eram trazidas à memória, seu espírito abria-se para compreender as profecias e entender os milagres que operara. As maravilhas de Sua vida passavam por diante deles, e eram como que despertados de um sonho. Percebiam que "o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade". João 1:14. Cristo viera realmente de Deus a um mundo pecaminoso para salvar os caídos filhos e filhas de Adão. Os discípulos eram então, aos seus próprios olhos, de muito menos importância do que antes de haverem reconhecido isso. Nunca se cansavam de repetir Suas palavras e obras. Suas lições, as quais não haviam compreendido senão imperfeitamente, acudiam-lhes agora como nova revelação. As Escrituras afiguravam-se-lhes um novo livro. DTN 356 1 Ao examinarem os discípulos as profecias que testificavam de Cristo, eram postos em comunhão com a Divindade, e aprendiam dAquele que ascendera ao Céu para completar a obra que iniciara na Terra. Reconheciam que nEle habitava sabedoria que nenhuma criatura humana, a não ser ajudada por meios divinos, poderia compreender. Necessitavam o auxílio dAquele que reis, profetas e justos haviam predito. Liam e reliam, surpreendidos os proféticos esboços de Seu caráter e obra. Quão imperfeitamente haviam compreendido as passagens proféticas! Quão tardios tinham sido em assimilar as grandes verdades que testificavam de Cristo! Contemplando-O em Sua humilhação, quando andava entre os homens, não penetraram o mistério de Sua encarnação, a dualidade de Sua natureza. Seus olhos estavam empanados, de maneira que não reconheciam plenamente a divindade na humanidade. Depois de serem iluminados pelo Espírito Santo, porém, como O desejavam tornar a ver e ficar-Lhe aos pés! Como almejavam poder chegar-se a Ele, e pedir-Lhe a explicação das passagens escriturísticas que não compreendiam! Quão atentos Lhe haveriam de escutar as palavras! Que quereria Cristo dizer com a frase: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora"? João 16:12. Quão ansiosos se sentiam de conhecer tudo! Doía-lhes que sua fé tivesse sido tão fraca, que suas idéias houvessem estado tão distantes do alvo, que houvessem faltado tanto em compreender a realidade. DTN 356 2 Fora por Deus enviado um mensageiro para proclamar a vinda de Cristo, e chamar a atenção do povo judeu e do mundo para Sua missão, a fim de que os homens se preparassem para recebê-Lo. O maravilhoso Personagem anunciado por João estivera entre eles por mais de trinta anos, e não O tinham na verdade conhecido como Aquele que era enviado por Deus. O remorso apoderou-se dos discípulos por haverem permitido que a incredulidade dominante lhes levedasse as opiniões e obscurecesse o entendimento. A Luz deste tenebroso mundo brilhara por entre a escuridão, e eles deixaram de perceber de onde lhe provinham os raios. Perguntavam a si mesmos porque havia seguido uma direção que tornara necessário a Cristo reprová-los. Repetiam freqüentemente Suas conversas e diziam: Por que permitimos que considerações terrestres e a oposição dos sacerdotes e rabis nos confundissem os sentidos, de modo a não compreendermos que Alguém maior que Moisés Se achava entre nós, que nos estava instruindo Alguém mais sábio que Salomão? Quão pesados os nossos ouvidos! Quão pobre nosso entendimento! DTN 357 1 Tomé não quis acreditar, enquanto não pusesse o dedo na ferida feita pelos soldados romanos. Pedro O negara em Sua humilhação e rejeição. Essas penosas lembranças apresentavam-se diante deles em nítidos traços. Tinham estado com Ele, mas não O conheceram nem apreciaram. Como, no entanto, tudo isso lhes comovia agora o coração, ao reconhecerem a própria incredulidade! DTN 357 2 Quando sacerdotes e principais se combinavam contra eles, quando eram levados perante conselhos e lançados em prisões, os seguidores de Cristo regozijavam-se "de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus". Atos dos Apóstolos 5:41. Alegravam-se de provar, perante homens e anjos, que reconheciam a glória de Cristo e preferiam segui-Lo, perdessem embora tudo o mais. DTN 357 3 Tão verdadeiro é agora como nos dias dos apóstolos, que sem a iluminação do Espírito divino, a humanidade não pode discernir a glória de Cristo. A verdade e a obra de Deus não são apreciadas por cristãos amantes do mundo e transigentes. Não por caminhos fáceis, de honras terrenas ou de conformidade com o mundo, encontram-se os seguidores do Mestre. Estão muito além, nas veredas da labuta, da humilhação e da injúria, nas primeiras linhas da batalha "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. E agora, como nos dias de Cristo, são incompreendidos, vituperados e oprimidos pelos sacerdotes e fariseus de seu tempo. DTN 357 4 O reino de Deus não vem com aparência exterior. O evangelho da graça de Deus, com seu espírito de abnegação, não se pode nunca harmonizar com o do mundo. Os dois princípios são antagônicos. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. DTN 357 5 Mas hoje, no mundo religioso, existem multidões que, segundo crêem, trabalham pelo estabelecimento do reino de Cristo como um domínio terrestre e temporal. Desejam tornar nosso Senhor o governador dos reinos deste mundo, o governador em seus tribunais e acampamentos, em suas câmaras legislativas, seus palácios e centros de negócios. Esperam que Ele governe por meio de decretos, reforçados por autoridade humana. Uma vez que Cristo não Se encontra aqui pessoalmente, eles próprios empreenderão agir em Seu lugar, para executar as leis de Seu reino. O estabelecimento de tal reino era o que desejavam os judeus ao tempo de Cristo. Teriam recebido Jesus, houvesse Ele estado disposto a estabelecer um domínio temporal, impor o que consideravam como sendo leis de Deus, e fazê-los os expositores de Sua vontade e os instrumentos de Sua autoridade. Mas Ele disse: "O Meu reino não é deste mundo". João 18:36. Não quis aceitar o trono terrestre. DTN 358 1 O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos -- extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o coração. DTN 358 2 Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembléias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo. "A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do varão, mas de Deus". João 1:12, 13. Aí está o único poder capaz de erguer a humanidade. E o instrumento humano para a realização dessa obra é o ensino e a observância da Palavra de Deus. DTN 358 3 Quando o apóstolo Paulo começou seu ministério em Corinto, populosa, rica e ímpia cidade, poluída pelos revoltantes vícios do paganismo, disse: "Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado". 1 Coríntios 2:2. Escrevendo posteriormente a alguns que foram corrompidos pelos mais vis pecados, pôde dizer: "Mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito de nosso Deus". 1 Coríntios 6:11. "Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo". 1 Coríntios 1:4. DTN 358 4 Hoje, como no tempo de Cristo, a obra do reino de Deus não se acha a cargo dos que reclamam o reconhecimento e apoio dos dominadores terrestres e das leis humanas, mas dos que estão declarando ao povo, em Seu nome, as verdades espirituais que operarão, nos que as recebem, a experiência de Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim". Gálatas 2:20. Então eles trabalharão, como Paulo, em benefício dos homens. Disse ele: "De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus". 2 Coríntios 5:20. ------------------------Capítulo 56 -- "Deixai vir a mim os pequeninos" DTN 359 0 Este capítulo é baseado em Mateus 19:13-15; Marcos 10:13-16; Lucas 18:15-17. DTN 359 1 Jesus sempre gostou de crianças. Aceitava-lhes a infantil simpatia, e seu amor franco, sem afetação. O grato louvor de seus lábios puros era qual música aos Seus ouvidos, e refrigerava-Lhe o espírito quando opresso pelo contato com homens astutos e hipócritas. Aonde quer que fosse o Salvador, a benevolência de Seu semblante, Sua maneira suave e bondosa conquistavam a confiança dos pequeninos. DTN 359 2 Era costume entre os judeus levar as crianças a qualquer rabino, para que lhes impusesse as mãos, abençoando-as; mas os discípulos do Salvador julgavam Sua obra demasiado importante para ser assim interrompida. Quando as mães foram ter com Jesus, levando as criancinhas, olharam-nas eles com desagrado. Julgaram essas crianças demasiado pequenas para tirar proveito de sua visita a Jesus, e concluíram que Ele Se desgostaria com sua presença. Foi com eles, entretanto, que Jesus ficou descontente. Compreendia o cuidado e a preocupação das mães que estavam buscando educar os filhos segundo a Palavra de Deus. Ouvira-lhes as orações. Ele próprio as atraíra a Sua presença. DTN 359 3 Uma mãe, com o filhinho, deixara a casa para ir em busca de Jesus. De caminho, comunicou a uma vizinha o seu desígnio, e esta quis que Jesus lhe abençoasse os filhos. Assim várias mães se reuniram, levando seus pequeninos. Alguns já haviam passado a primeira infância, entrando para a meninice ou para a adolescência. Ao darem as mães a conhecer seu desejo, Jesus ouviu com simpatia o tímido, lacrimoso pedido. Mas esperou para ver como os discípulos as tratariam. Ao vê-los mandar embora as mães, julgando aprazer-Lhe, mostrou-lhes o erro em que estavam, dizendo: "Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus". Lucas 18:16. Tomou nos braços as crianças, pôs-lhes as mãos sobre a cabeça, e deu-lhes as bênçãos em busca das quais tinham vindo. DTN 359 4 As mães ficaram confortadas. Voltaram para casa fortalecidas e felizes pelas palavras de Cristo. Foram animadas a tomar seus encargos com nova satisfação, e a trabalhar esperançosas por seus filhos. As mães de hoje devem receber-Lhe as palavras com a mesma fé. Cristo é agora tão verdadeiramente um Salvador pessoal, como quando vivia como homem entre os homens. É tão realmente o ajudador das mães em nossos tempos, como quando tomava os pequeninos nos braços, na Judéia. Os filhos de nossos lares são tanto o preço de Seu sangue, quanto as crianças de outrora. DTN 360 1 Jesus conhece as preocupações íntimas de cada mãe. Aquele cuja mãe lutou com a pobreza e a privação, simpatiza com toda mãe em seus labores. Aquele que empreendeu uma longa viagem para aliviar o ansioso coração de uma cananéia, fará outro tanto pelas mães hoje em dia. Aquele que devolveu à viúva de Naim seu unigênito, e que, em agonia na cruz Se lembrou de Sua própria mãe, comove-Se ainda hoje pela dor materna. Em todo pesar e em toda necessidade, dará conforto e auxílio. DTN 360 2 Vão as mães ter com Jesus, apresentando-Lhe suas perplexidades. Encontrarão suficiente graça para as ajudar na educação dos filhos. As portas acham-se abertas a toda mãe que desejar depor seus fardos aos pés do Salvador. Aquele que disse: "Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais", convida ainda as mães a conduzirem os pequeninos para serem por Ele abençoados. Mesmo o nenê nos braços maternos pode permanecer como sob a sombra do Onipotente, mediante a fé de uma mãe que ora. João Batista foi cheio do Espírito Santo desde seu nascimento. Se vivemos em comunhão com Deus, também nós podemos esperar que o Espírito divino molde nossos pequenos já desde os primeiros momentos. DTN 360 3 Nos meninos que foram postos em contato com Ele, viu Jesus os homens e mulheres que haviam de ser herdeiros de Sua graça e súditos do Seu reino, e alguns dos quais se tornariam mártires por amor dEle. Sabia que essas crianças haviam de ouvi-Lo e aceitá-Lo como seu Redentor muito mais facilmente do que o fariam os adultos, muitos dos quais eram os sábios segundo o mundo e os endurecidos. Em Seus ensinos, descia ao nível delas. Ele, a Majestade do Céu, não desdenhava responder-lhes às perguntas e simplificar Suas importantes lições, para lhes atingir a infantil compreensão. Implantava no espírito delas as sementes da verdade, que haveriam de brotar nos anos vindouros, dando frutos para a vida eterna. DTN 360 4 É ainda verdade que as crianças são as pessoas mais susceptíveis aos ensinos do evangelho; seu coração acha-se aberto às influências divinas, e forte para reter as lições recebidas. Os pequeninos podem ser cristãos, tendo uma experiência em harmonia com seus anos. Precisam ser educados nas coisas espirituais, e os pais devem proporcionar-lhes todas as vantagens, para que formem caráter segundo a semelhança do de Cristo. DTN 360 5 Os pais e as mães devem considerar os filhos como os membros mais novos da família do Senhor, a eles confiados para que os eduquem para o Céu. As lições que nós mesmos aprendemos de Cristo, devemos transmitir a nossas crianças, de maneira a poderem ser compreendidas pelas tenras mentes infantis, revelando-lhes pouco a pouco a beleza dos princípios do Céu. Assim o lar cristão se torna uma escola, em que os pais servem de mestres auxiliares, ao passo que o próprio Cristo é o principal instrutor. DTN 361 1 Trabalhando em favor da conversão de nossos filhos, não devemos buscar violentas emoções como testemunho de convicção do pecado. Nem é necessário saber o tempo exato em que se convertem. Devemos ensiná-los a levar seus pecados a Jesus, pedindo-Lhe perdão e crendo que Ele perdoa e os recebe, assim como recebeu as crianças quando Se achava pessoalmente na Terra. DTN 361 2 Quando a mãe ensina os filhos a lhe obedecerem porque a amam, está ensinando as primeiras lições na vida cristã. O amor da mãe representa para a criança o amor de Cristo, e os pequenos que confiam em sua mãe e lhe obedecem, estão aprendendo a confiar no Salvador e obedecer-Lhe. DTN 361 3 Jesus era o modelo das crianças, e também o exemplo dos pais. Falava como quem tem autoridade, e Sua palavra tinha poder; todavia, em todo o Seu trato com homens rudes e violentos, nunca empregou uma expressão desagradável ou descortês. A graça de Cristo no coração comunicará uma dignidade de origem celestial, o senso do que é próprio. Suavizará toda aspereza e subjugará tudo quanto é rude e destituído de bondade. Levará os pais a tratarem os filhos como a seres inteligentes, como eles próprios queriam ser tratados. DTN 361 4 Pais, na educação de vossos filhos, estudai cuidadosamente as lições dadas por Deus na natureza. Se quisésseis ajeitar um cravo, uma rosa ou lírio, de que maneira o havíeis de fazer? Perguntai ao jardineiro por que processo ele faz com que cada ramo e folha floresça tão belamente, e se desenvolva em simetria e beleza. Dir-vos-á que não foi absolutamente por um trato rude, nenhum esforço violento, pois isso não faria senão partir as delicadas hastes. Foi mediante pequeninas atenções, freqüentemente repetidas. Umedecia o solo e protegia as plantas em desenvolvimento, dos ventos fortes e do sol escaldante, e Deus as fez crescer e florescer, com delicada beleza. Segui, no trato com vossos filhos, os métodos do jardineiro. Por meio de toques suaves, de serviço amorável, procurai amoldar-lhes o caráter segundo o modelo de Cristo. DTN 361 5 Animai a expressão de amor para com Deus e uns com os outros. A causa de haver tantos homens e mulheres endurecidos no mundo, é que a verdadeira afeição tem sido considerada fraqueza, sendo cerceada e reprimida. A parte melhor da natureza dessas pessoas foi sufocada na infância; e a menos que a luz do divino amor lhes abrande o frio egoísmo, para sempre arruinada estará sua felicidade. Se queremos que nossos filhos possuam o suave espírito de Jesus, e a simpatia que os anjos por nós manifestam, devemos incentivar os generosos e amoráveis impulsos da infância. DTN 361 6 Ensinai as crianças a ver Cristo na natureza. Levai-as ao ar livre, à sombra das nobres árvores do quintal; e em todas as maravilhosas obras da criação ensinai-as a ver uma expressão de Seu amor. Ensinai-lhes que Ele fez as leis que regem todas as coisas vivas, que fez leis também para nós, e que elas visam a nossa felicidade e alegria. Não as fatigueis com longas orações e exortações tediosas, mas mediante as lições objetivas da natureza, ensinai-lhes a obediência à lei de Deus. DTN 362 1 Ao lhes conquistardes a confiança em vós como seguidores de Cristo, fácil vos será fazê-las aprender as lições quanto ao grande amor com que Ele nos amou. Ao procurardes tornar claras as verdades concernentes à salvação, e encaminhar as crianças a Cristo como Salvador pessoal, os anjos estarão ao vosso lado. O Senhor dará aos pais e às mães graça para interessar os pequeninos na preciosa história do Infante de Belém, que é na verdade a esperança do mundo. DTN 362 2 Quando Jesus disse aos discípulos que não impedissem as crianças de ir ter com Ele, falava a todos os Seus seguidores em todos os tempos -- aos oficiais da igreja, aos ministros, auxiliares e todos os cristãos. Jesus está atraindo as crianças, e ordena-nos: "Deixai vir a Mim os pequeninos" (Lucas 18:16), como se quisesse dizer: Eles virão, se os não impedirdes. DTN 362 3 Não deixeis que vosso caráter não cristão represente mal a Jesus. Não conserveis os pequeninos longe dEle pela vossa frieza e aspereza. Nunca lhes deis motivos de pensar que o Céu não será um lugar aprazível para eles, se ali estiverdes. Não faleis de religião como qualquer coisa que as crianças não podem compreender, nem procedais como se não se esperasse que elas aceitem a Cristo em sua meninice. Não lhes deis a falsa impressão de que a religião de Cristo é de tristeza e que, ao se achegarem ao Salvador, devem abandonar tudo quanto torna a vida aprazível. DTN 362 4 Ao operar o Espírito Santo no coração dos pequenos, apoiemos-Lhe a obra. Ensinai-lhes que o Salvador os está chamando, que coisa alguma Lhe poderá dar mais prazer do que se Lhe entregarem eles no desabrochar e no vigor da vida. DTN 362 5 O Salvador contempla com infinita ternura as almas que comprou com Seu próprio sangue. São a reivindicação de Seu amor. Olha-as com inexprimível anelo. Seu coração estende-se, não somente para as crianças bem-comportadas, mas para as que têm, por herança, traços objetáveis de caráter. Muitos pais não compreendem quanto são responsáveis por esses traços em seus filhos. Não possuem a ternura e a sabedoria necessárias para tratar com os errantes a quem fizeram o que são. Mas Jesus olha essas crianças com piedade. Ele segue da causa para o efeito. DTN 362 6 O obreiro cristão pode ser o instrumento de Cristo em atrair essas crianças para o Salvador. Com sabedoria e tato pode ligá-las ao próprio coração, dar-lhes ânimo e esperança, e por meio da graça de Cristo transformar-lhes o caráter, de sorte que delas se possa dizer: "Dos tais é o reino de Deus." ------------------------Capítulo 57 -- "Uma coisa te falta" DTN 363 0 Este capítulo é baseado em Mateus 19:16-22; Marcos 10:17-22; Lucas 18:18-23. DTN 363 1 E pondo-Se a caminho, correu para Ele um homem, o qual se ajoelhou diante dEle, e Lhe perguntou: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Marcos 10:17. O jovem que fez essa pergunta era príncipe. Tinha grandes haveres e ocupava posição de responsabilidade. Vira o amor que Cristo manifestara para com as crianças que Lhe foram levadas; viu quão ternamente as recebera e tomara nos braços, e o coração encheu-se-lhes de amor para com o Salvador. Sentiu o desejo de ser Seu discípulo. Tão profundamente movido foi, que, ao seguir Cristo Seu caminho, correu após Ele e, ajoelhando-se-Lhe aos pés, dirigiu com sinceridade e fervor a pergunta tão importante para sua alma e a de toda criatura humana: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" DTN 363 2 "Por que Me chamas bom?" disse Jesus, "ninguém há bom senão um, que é Deus". Marcos 10:18. Jesus desejava provar a sinceridade do príncipe, e verificar em que sentido O considerava bom. Compreenderia ele que Aquele a quem falava era o Filho de Deus? Qual o verdadeiro sentimento de seu coração? DTN 363 3 Esse príncipe tinha em alta conta sua própria justiça. Não pensava, na verdade, que faltasse em qualquer coisa; contudo, não estava de todo satisfeito. Sentia a falta de algo que não possuía. Não poderia Jesus abençoá-lo assim como fizera às criancinhas, e satisfazer-lhe a necessidade espiritual? DTN 363 4 Em resposta a essa pergunta, Jesus lhe disse que a obediência aos mandamentos de Deus era necessária se ele queria obter a vida eterna; e citou vários dos mandamentos que mostram os deveres do homem para com seus semelhantes. A resposta do jovem foi positiva: "Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?" Marcos 10:20. DTN 363 5 Cristo contemplou o moço, como a ler-lhe a vida e a sondar-lhe o caráter. Amou-o e ansiou dar-lhe aquela paz, graça e alegria que lhe haviam de mudar essencialmente o caráter. "Falta-te uma coisa", disse; "vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me". Marcos 10:21. DTN 363 6 Cristo foi atraído para esse jovem. Sabia ser ele sincero em sua declaração: "Tudo isso guardei desde a minha mocidade." O Redentor almejou criar nele aquele discernimento que o habilitaria a ver a necessidade da devoção da alma e da bondade cristã. Anelou ver-lhe um coração humilde e contrito, consciente do supremo amor a ser dedicado a Deus, e ocultando a própria deficiência na perfeição de Cristo. DTN 364 1 Jesus viu nesse príncipe exatamente o auxílio de que necessitava, caso se viesse a tornar Seu cooperador na obra da salvação. Se se colocasse sob a direção de Cristo, seria uma força para o bem. O príncipe poderia, de maneira notável, haver representado o Salvador; pois era dotado de qualidades que, uma vez unido a Jesus, o habilitariam a tornar-se uma força divina entre os homens. Cristo, lendo-lhe o caráter, o amou. No coração do moço estava desabrochando o amor para com Cristo; pois amor suscita amor. Jesus anelou vê-lo como coobreiro Seu. Ansiou torná-lo semelhante a Si próprio, um espelho em que se refletisse a semelhança divina. Anelou desenvolver-lhe a excelência do caráter e santificá-lo para o serviço do Mestre. Houvesse esse príncipe se entregado então a Cristo, e teria crescido na atmosfera de Sua presença. Houvesse feito essa escolha, e quão diferente teria sido seu futuro! DTN 364 2 "Falta-te uma coisa", disse Jesus. "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me". Marcos 10:21. Cristo leu no coração do príncipe. Uma só coisa lhe faltava, mas essa era um princípio vital. Carecia do amor de Deus na alma. Essa falta, a menos que fosse suprida, demonstrar-se-ia fatal para ele; toda a sua natureza se corromperia. Com a condescendência, fortalecer-se-ia o egoísmo. Para que recebesse o amor de Deus, deveria ser subjugado seu supremo amor do próprio eu. DTN 364 3 Cristo submeteu esse homem a uma prova. Chamou-o a escolher entre o tesouro celestial e a mundana grandeza. Era-lhe assegurado o tesouro celeste, caso seguisse a Cristo. Devia, porém, render o próprio eu; entregar a vontade à direção de Cristo. A própria santidade de Deus foi-lhe oferecida. Tinha o privilégio de tornar-se filho de Deus e co-herdeiro de Cristo no tesouro celestial. Mas devia tomar a cruz, e seguir o Salvador na vereda da abnegação. DTN 364 4 As palavras de Jesus ao príncipe representavam em verdade o convite: "Escolhei hoje a quem sirvais". Josué 24:15. A escolha foi deixada ao seu arbítrio. Jesus estava sequioso de sua conversão. Mostrara-lhe o foco infeccioso no caráter, e com que profundo interesse observava o resultado, ao pesar o jovem a proposta! Se decidisse seguir a Cristo, deveria em tudo obedecer-Lhe as palavras. Deveria dar as costas a seus ambiciosos projetos. Com que vivo, ansioso anelo, com que sede da alma, contemplava o Salvador o moço, esperando que cedesse ao convite do Espírito Santo! DTN 364 5 Cristo apresentou os únicos termos que poderiam colocar o príncipe em condições de aperfeiçoar o caráter cristão. Suas palavras eram palavras de sabedoria, conquanto parecessem severas e exigentes. Aceitá-las e obedecer-lhes era a única esperança de salvação para o jovem. Sua elevada posição e os bens que possuía, estavam exercendo em seu caráter uma sutil influência para o mal. Se acariciados, suplantariam Deus em suas afeições. Reter do Senhor pouco ou muito, era conservar aquilo que lhe diminuiria a força e a eficiência moral; pois se as coisas deste mundo são nutridas, embora incertas e sem valor, tornar-se-ão de todo absorventes. DTN 365 1 O príncipe foi pronto em discernir o que as palavras de Cristo envolviam, e ficou triste. Houvesse compreendido o valor do dom oferecido, e desde logo se teria alistado entre os seguidores de Cristo. Era membro do honrado conselho dos judeus, e Satanás o estava tentando com lisonjeiras perspectivas quanto ao futuro. Queria o tesouro celestial, mas desejava igualmente as vantagens temporais que as riquezas lhe trariam. Entristeceu-se de que existissem essas condições; queria a vida eterna, mas não estava disposto a fazer o sacrifício. O custo da vida eterna afigurou-se-lhe demasiado grande e retirou-se triste; "porque possuía muitas propriedades". Marcos 10:22. DTN 365 2 Sua afirmação de haver observado a lei divina era um engano. Mostrou que as riquezas eram seu ídolo. Não podia guardar os mandamentos de Deus, enquanto o mundo ocupasse o primeiro lugar em suas afeições. Amava os dons divinos mais que o próprio Doador. Cristo oferecera ao jovem a convivência com Ele. "Segue-Me", disse. Mas o Salvador não era tanto para ele como seu próprio nome entre os homens, ou os bens que possuía. Renunciar ao tesouro terrestre, que era visível, pelo celestial, que não podia ver, era arriscar demasiado. Recusou o oferecimento da vida eterna, e foi embora, e haveria o mundo, daí em diante, de receber sempre o seu culto. Milhares estão passando por essa prova, pesando Cristo contra o mundo; e muitos são os que escolhem o mundo. Como o jovem príncipe, retiram-se do Salvador, dizendo em seu coração: Não quero que esse homem seja meu guia. DTN 365 3 O trato de Cristo para com o jovem é apresentado como lição objetiva. Deus nos deu a regra de conduta que cada um de Seus servos deve seguir. É obediência a Sua lei, não somente a obediência formal, mas a que penetra na vida e se demonstra no caráter. Deus estabeleceu Sua norma de caráter para todos os que se quiserem tornar súditos de Seu reino. Unicamente os que se tornarem coobreiros de Cristo, só os que disserem: Senhor, tudo quanto possuo e sou, Te pertence, serão reconhecidos como filhos e filhas de Deus. Todos devem considerar o que significa desejar o Céu, e todavia voltar as costas em face das condições estabelecidas. Pensai no que significa dizer "Não" a Cristo. O príncipe disse: Não, não Te posso dar tudo. Diremos o mesmo? O Salvador Se oferece para participar conosco na obra que Deus nos deu a fazer. Propõe servir-Se dos meios que Deus nos deu, para levar avante Sua obra no mundo. Unicamente por essa maneira nos pode Ele salvar. DTN 365 4 Os bens do príncipe lhe foram confiados para que se demonstrasse um fiel mordomo; devia servir-se desses bens para benefício dos necessitados. Assim hoje Deus confia haveres aos homens, talentos e oportunidades, a fim de que sejam instrumentos Seus no ajudar os pobres e sofredores. Aquele que emprega os dons que lhe foram confiados segundo os desígnios divinos, torna-se coobreiro do Salvador. Conquista almas para Cristo, porque é representante de Seu caráter. DTN 366 1 Para os que, como o jovem príncipe, ocupam altas posições de confiança e têm grandes riquezas, talvez se afigure demasiado grande o sacrifício de abandonar tudo a fim de seguir a Cristo. Mas esta é a regra de conduta para todos quantos quiserem tornar-se Seus discípulos. Coisa alguma menos que obediência pode ser aceita. A entrega do próprio eu é a essência dos ensinos de Cristo. É por vezes apresentada em linguagem que se afigura autoritária, porque não há outro modo de salvar homens senão cortar fora as coisas que, mantidas, aviltarão todo o ser. DTN 366 2 Quando os seguidores de Cristo Lhe devolvem o que Lhe é devido, estão acumulando tesouro que lhes será entregue quando ouvirem as palavras: "Bem está, bom e fiel servo [...] entra no gozo do teu Senhor". Mateus 25:23. "O qual pelo gozo que Lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus". Hebreus 12:2. A alegria de ver pessoas redimidas, eternamente salvas, eis a recompensa de todos os que assentam os pés nas pegadas dAquele que disse: "Segue-Me." ------------------------Capítulo 58 -- "Lázaro, sai para fora" DTN 367 0 Este capítulo é baseado em Lucas 10:38-42; João 11:1-44. DTN 367 1 Entre os mais firmes discípulos de Cristo, achava-se Lázaro de Betânia. Desde o primeiro encontro que tiveram, havia sido forte sua fé em Cristo; profundo era o amor que Lhe dedicava, e muito o amava o Salvador. Foi em benefício de Lázaro que se realizou o maior dos milagres de Cristo. O Salvador beneficiava a todos quantos Lhe buscavam o auxílio. Ama toda a família humana; mas liga-Se a alguns por laços especialmente ternos. Seu coração estava unido por forte vínculo de afeição à família de Betânia, e por um membro dela foi realizada a mais maravilhosa de Suas obras. DTN 367 2 No lar de Lázaro encontrara Jesus muitas vezes repouso. O Salvador não tinha lar próprio; dependia da hospitalidade de amigos e discípulos; e freqüentemente, quando cansado, sequioso de companhia humana, alegrara-Se de poder escapar para esse pacífico ambiente de família, longe das suspeitas e invejas dos raivosos fariseus. Ali recebia sincero acolhimento, pura e santa amizade. Ali podia falar com simplicidade e liberdade perfeitas, sabendo que Suas palavras seriam compreendidas e entesouradas. DTN 367 3 Nosso Salvador apreciava um lar tranqüilo e ouvintes interessados. Anelava a ternura, a cortesia e o afeto humanos. Os que recebiam a celestial instrução que sempre estava pronto a comunicar, eram grandemente abençoados. Ao seguirem-nO as multidões através dos campos, desvendava-lhes as belezas do mundo natural. Procurava abrir-lhes os olhos do entendimento, a fim de verem como a mão divina sustém os mundos. A fim de despertar apreço pela bondade e benevolência divinas, chamava a atenção dos ouvintes para o orvalho a cair de manso, a branda chuva e o resplendente Sol, dados igualmente aos bons e aos maus. Desejava que os homens compreendessem mais perfeitamente o cuidado que Deus dispensa aos instrumentos humanos por Ele criados. A multidão, porém, era tardia em ouvir, e no lar de Betânia Cristo encontrava repouso do fatigante conflito da vida pública. Descerrava ali, perante um auditório apto a apreciar, o volume da Providência. Nessas palestras íntimas, desdobrava a Seus ouvintes o que não tentava dizer à multidão mista. A Seus amigos, não necessitava falar por parábolas. DTN 367 4 Ao dar Cristo Suas admiráveis lições, Maria sentava-se-Lhe aos pés, ouvinte atenta e reverente. Certa vez, Marta, perplexa com o cuidado de preparar a refeição, foi ter com Cristo, dizendo: "Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude". Lucas 10:40. Isto foi por ocasião da primeira visita de Cristo a Betânia. O Salvador e os discípulos haviam feito a pé a fatigante viagem de Jericó até lá. Marta anelava proporcionar-lhes conforto e, em sua ansiedade, esqueceu a gentileza devida ao Hóspede. Jesus lhe respondeu branda e pacientemente: "Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada". Lucas 10:41, 42. Maria estava enriquecendo o espírito com as preciosas palavras caídas dos lábios do Salvador, palavras mais valiosas para ela do que as mais magníficas jóias da Terra. DTN 368 1 A "uma só" coisa que Marta necessitava, era espírito calmo, devoto, mais profundo anseio de conhecimento da vida futura, imortal, e as graças necessárias ao progresso espiritual. Precisava de menos ansiedade em torno das coisas que passam, e mais pelas que permanecem para sempre. Jesus quer ensinar Seus filhos a se apoderarem de toda oportunidade de adquirir o conhecimento que os tornará sábios para a salvação. A causa de Cristo requer obreiros cuidadosos e enérgicos. Existe vasto campo para as Martas, com seu zelo no culto ativo. Sentem-se elas primeiro, porém, com Maria aos pés de Jesus. Sejam a diligência, prontidão e energia santificadas pela graça de Cristo; então a vida será uma invencível força para o bem. DTN 368 2 A dor penetrou no pacífico lar em que Jesus descansara. Lázaro foi acometido de repentina moléstia, e as irmãs mandaram em busca do Salvador, dizendo: "Senhor, eis que está enfermo aquele que Tu amas". João 11:3. Viram a violência do mal que atacara o irmão, mas sabiam que Jesus Se demonstrara capaz de curar toda espécie de doenças. Acreditavam que delas Se compadeceria em sua aflição; não puseram, pois, maior empenho em que viesse imediatamente, mas enviaram apenas a confiante mensagem: "Eis que está enfermo aquele que Tu amas." Julgavam que atenderia imediatamente a esse apelo e Se acharia com elas assim que Lhe fosse possível. Ansiosas, aguardavam uma palavra de Jesus. Enquanto restou em seu irmão uma centelha de vida, oraram, e esperaram pelo Mestre. Mas o mensageiro voltou sem Ele. Trouxe, todavia, o recado: "Esta enfermidade não é para morte" (João 11:4), e elas se apegaram à esperança de que Lázaro viveria. Buscavam com ternura dirigir palavras de esperança e animação ao quase inconsciente enfermo. Quando Lázaro morreu, ficaram cruelmente decepcionadas; sentiam-se, porém, sustidas pela graça de Cristo, e isso as guardou de lançar qualquer censura ao Salvador. DTN 368 3 Quando Cristo ouviu a notícia, os discípulos julgaram que a recebera friamente. Não manifestou o pesar que esperavam. Olhando para eles, disse: "Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus seja glorificado por ela." Por dois dias Se demorou no lugar em que Se achava. Essa demora era um mistério para os discípulos. Que conforto Sua presença seria para a aflita família! pensavam. Era bem conhecida dos discípulos Sua grande afeição pela família de Betânia, e surpreenderam-se de que Ele não atendesse à triste mensagem: "Eis que está enfermo aquele que Tu amas." DTN 369 1 Durante os dois dias, Cristo parecia haver alijado da mente a notícia; pois não falava em Lázaro. Os discípulos lembraram-se de João Batista, o precursor de Jesus. Haviam-se admirado de que, com o poder de que dispunha para operar milagres maravilhosos, Cristo houvesse permitido que João definhasse no cárcere e morresse de morte violenta. Possuindo tal poder, por que não salvara a vida de João? Essa pergunta fora muitas vezes feita pelos fariseus, que a apresentavam como irrefutável argumento contra a afirmação de Cristo, de ser o Filho de Deus. O Salvador advertira os discípulos de provações, perdas e perseguições. Abandoná-los-ia na provação? Alguns cogitaram se se haviam enganado a respeito de Sua missão. Todos ficaram profundamente perturbados. DTN 369 2 Depois de esperar dois dias, disse Jesus aos discípulos: "Vamos outra vez para a Judéia". João 11:7. Os discípulos reflexionavam por que, se Jesus ia para a Judéia, esperara dois dias? Mas a ansiedade por Cristo e por eles próprios tomou então o primeiro plano no espírito deles. Não podiam ver senão perigos no passo que Ele ia dar. "Rabi", disseram, "ainda agora os judeus procuravam apedrejar-Te, e tornas para lá? Jesus respondeu: Não há doze horas no dia?" Acho-Me sob a direção de Meu Pai; enquanto fizer Sua vontade, Minha vida está segura. As doze horas do Meu dia ainda não findaram. Entrei em suas últimas horas; mas enquanto restar algumas delas, acho-Me a salvo. DTN 369 3 "Se alguém andar de dia", continuou, "não tropeça, porque vê a luz deste mundo." Aquele que faz a vontade de Deus, que anda no caminho por Ele indicado, não pode tropeçar nem cair. A luz do Espírito de Deus, a guiá-lo, dá-lhe clara percepção de seu dever, conduzindo-o direito até ao fim de sua obra. "Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz." Aquele que anda em caminho de sua própria escolha, ao qual Deus não o chamou, tropeçará. Para esse o dia se torna em noite, e onde quer que esteja, não se acha seguro. DTN 369 4 "Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono." "Lázaro, o nosso amigo, dorme". João 11:9-11. Que tocantes essas palavras! quão repassadas de simpatia! Ao pensamento do perigo que seu Mestre ia correr indo a Jerusalém, os discípulos quase esqueceram a enlutada família de Betânia. Tal, porém, não se dera com Cristo. Os discípulos sentiram-se repreendidos. Tinham ficado decepcionados por Cristo não atender mais prontamente à mensagem. Foram tentados a pensar que não possuía por Lázaro e suas irmãs a terna afeição que Lhe atribuíam, do contrário Se teria apressado a ir com o mensageiro. Mas as palavras: "Lázaro, o nosso amigo, dorme", despertaram-lhes os devidos sentimentos. Convenceram-se de que Jesus não esquecera os amigos em aflição. DTN 370 1 "Disseram pois os Seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono". João 11:12, 13. Cristo apresenta a morte, para Seus filhos crentes, como um sono. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, e até que soe a última trombeta, os que morrem dormirão nEle. DTN 370 2 Então Jesus lhes disse claramente: "Lázaro está morto; e folgo, por amor de vós de que Eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele". João 11:14, 15. Tomé não podia ver senão morte reservada a seu Mestre, caso fosse para a Judéia; mas encheu-se de ânimo, e disse aos outros discípulos: "Vamos nós também, para morrermos com Ele". João 11:16. Ele conhecia o ódio dos judeus para com Cristo. Era desígnio deles tramar-Lhe a morte, mas não alcançaram esse objetivo, porque Lhe restava ainda algum do tempo que Lhe estava determinado. Durante esse tempo, Jesus tinha a guarda dos anjos celestiais, e mesmo nas regiões da Judéia, onde os rabis estavam tramando a maneira de se apoderar dEle e entregá-Lo à morte, mal algum Lhe poderia sobrevir. DTN 370 3 Os discípulos maravilharam-se às palavras de Cristo, quando disse: "Lázaro está morto; e folgo [...] que Eu lá não estivesse". João 11:14, 15. Esquivar-Se-ia o Salvador, por Sua própria vontade, do lar de Seus amigos em sofrimento? Aparentemente. Maria, Marta e o moribundo Lázaro foram deixados sós. Mas não estavam sós. Cristo testemunhou toda a cena e, depois da morte de Lázaro, Sua graça susteve as desoladas irmãs. Jesus testemunhou a dor de seus despedaçados corações, ao lutar o irmão contra o poderoso inimigo -- a morte. Sentiu todo o transe da agonia, quando disse aos discípulos: "Lázaro o nosso amigo, dorme." Mas Cristo não tinha somente os amados de Betânia em quem pensar; o preparo de Seus discípulos exigia-Lhe a consideração. Deviam ser Seus representantes perante o mundo, para que a bênção do Pai a todos pudesse abranger. Por amor deles permitiu que Lázaro morresse. Houvesse-o Ele restabelecido à saúde, e não se teria realizado o milagre que é a mais positiva prova de Seu caráter divino. DTN 370 4 Se Cristo Se achara no quarto do doente, este não teria morrido; pois Satanás nenhum poder sobre ele exerceria. A morte não alvejaria a Lázaro com seu dardo, em presença do Doador da vida. Portanto, Cristo Se conservou distante. Consentiu que o maligno exercesse seu poder, a fim de o fazer recuar como um inimigo vencido. Permitiu que Lázaro passasse pelo poder da morte; e as consternadas irmãs viram seu amado ser deposto no sepulcro. Cristo sabia que ao contemplarem o rosto inanimado do irmão, severa seria a prova de sua fé no Redentor. Mas sabia que, em virtude da luta por que estavam então passando essa fé resplandeceria com brilho incomparavelmente maior. Sofreu cada transe da dor que padeceram. Não os amava menos, pelo fato de demorar-Se; mas sabia que por elas, por Lázaro, por Ele próprio e os discípulos, deveria ser obtida uma vitória. DTN 371 1 "Por amor de vós", "para que acrediteis." A todos quantos estão buscando sentir a mão guiadora de Deus, o momento do maior desânimo é justamente aquele em que mais perto está o divino auxílio. Olharão para trás com reconhecimento, à parte mais sombria do caminho que percorreram. "Assim sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos". 2 Pedro 2:9. De toda tentação e de toda prova, tirá-los-á Ele com mais firme fé e mais rica experiência. DTN 371 2 Retardando Sua ida para junto de Lázaro, tinha Cristo um desígnio de misericórdia para com os que O não receberam. Demorou-Se para que, erguendo Lázaro dos mortos, pudesse dar a Seu incrédulo, obstinado povo, outra prova de que era na verdade "a ressurreição e a vida". Custava-Lhe renunciar a toda esperança quanto ao povo, as pobres, extraviadas ovelhas da casa de Israel. Partia-se-Lhe o coração por causa da sua impenitência. Determinou, em Sua misericórdia, dar mais uma prova de que era o Restaurador, Aquele que, unicamente, podia trazer à luz a vida e a imortalidade. Havia de ser um testemunho que os sacerdotes não pudessem torcer. Foi essa a causa de Sua demora em ir a Betânia. Esse milagre, a coroa dos milagres do Salvador -- a ressurreição de Lázaro -- devia pôr o selo de Deus em Sua obra e em Sua reivindicação à divindade. DTN 371 3 Na jornada para Betânia, Jesus, segundo o Seu costume, socorreu os enfermos e necessitados. Ao chegar à cidade, mandou às irmãs um mensageiro com as novas de Sua chegada. Cristo não entrou imediatamente em casa, mas ficou num lugar retirado, próximo ao caminho. A grande demonstração que os judeus costumavam fazer por ocasião da morte de parentes e amigos, não se coadunava com o espírito de Cristo. Ouviu os sons das lamentações dos pranteadores assalariados, e não desejava encontrar-Se com as irmãs nessa cena de confusão. Entre os pranteadores amigos, achavam-se parentes da família, alguns dos quais ocupavam posições de responsabilidade em Jerusalém. Encontravam-se entre eles os mais rancorosos inimigos de Cristo. Este lhes conhecia os desígnios, e daí não Se deu imediatamente a conhecer. DTN 371 4 A mensagem foi transmitida a Marta tão discretamente, que outros no quarto não a ouviram. Absorta em seu pesar, Maria não escutou as palavras. Erguendo-se de pronto, Marta saiu ao encontro do Senhor, mas, pensando que ela fora ao sepulcro de Lázaro, Maria deixou-se ficar em silêncio com a sua mágoa, sem fazer nenhum rumor. DTN 371 5 Marta apressou-se em ir ter com Jesus, o coração agitado por desencontradas emoções. Em Seu expressivo rosto, leu ela a mesma ternura e amor que nEle sempre vira. Sua confiança nEle permaneceu intata, mas lembrou-se de seu bem-amado irmão, a quem também Jesus amara. Num misto de desgosto nascente, por Cristo não ter vindo antes, e de esperança de que ainda agora faria qualquer coisa para as confortar, exclamou: "Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!" João 11:21. Repetidas vezes, por entre o tumulto dos pranteadores, haviam as irmãs feito essa exclamação. DTN 372 1 Com humana e divina piedade, contemplou Jesus seu dolorido e fatigado rosto. Marta não mostrava desejos de narrar o acontecido; tudo se exprimiu nas patéticas palavras: "Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!" Fitando o amorável semblante, acrescentou: "Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus To concederá". João 11:21, 22. DTN 372 2 Jesus lhe animou a fé, dizendo: "Teu irmão há de ressuscitar". João 11:23. Sua resposta não visava a inspirar a expectativa de uma mudança imediata. Conduziu os pensamentos de Marta para além da restauração presente de seu irmão, fixando-os na ressurreição dos justos. Assim fez para que visse, na ressurreição de Lázaro, o penhor da de todos os justos mortos e a certeza de que se realizaria pelo poder do Salvador. DTN 372 3 Marta respondeu: "Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia". João 11:24. Ainda procurando dar a verdadeira direção à sua fé, Jesus declarou: "Eu sou a ressurreição e a vida." Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. "Quem tem o Filho tem a vida". 1 João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente. "Quem crê em Mim", disse Jesus, "ainda que esteja morto viverá; e todo aquele que vive, e crê em Mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" João 11:25, 26. Cristo olha aqui ao tempo de Sua segunda vinda. Então os justos mortos ressuscitarão incorruptíveis, e os vivos serão trasladados para o Céu, sem ver a morte. O milagre que Cristo estava prestes a realizar, em ressuscitar a Lázaro dos mortos, representaria a ressurreição de todos os justos mortos. Por Suas palavras e obras, declarou-Se o Autor da ressurreição. Aquele que estava, Ele próprio, prestes a morrer na cruz, retinha as chaves da morte, vencedor do sepulcro, e afirmou Seu direito e poder de dar vida eterna. DTN 372 4 Às palavras do Salvador: "Crês tu?" Marta respondeu: "Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo". João 11:27. Ela não compreendia em toda a sua significação as palavras proferidas por Cristo, mas confessou sua fé na divindade dEle, e sua confiança em que Ele era capaz de efetuar qualquer coisa que Lhe aprouvesse. DTN 372 5 "E, dito isto, partiu e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e chama-te". João 11:28. Ela comunicou sua mensagem o mais reservadamente possível; pois os sacerdotes e principais estavam preparados para prender Jesus quando se oferecesse oportunidade. O clamor dos pranteadores impediu que suas palavras fossem ouvidas. DTN 373 1 Ao receber a comunicação, Maria ergueu-se apressadamente, e com expressão ansiosa, deixou a sala. Julgando que ela fora à sepultura para chorar, os pranteadores seguiram-na. Ao chegar ao local em que Jesus a esperava, ajoelhou-se-Lhe aos pés, e disse com lábios trêmulos: "Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido". João 11:21. Eram-lhe penosos os gritos dos pranteadores; pois ela desejava trocar algumas tranqüilas palavras só com Jesus. Mas conhecia a inveja e o ciúme que alguns dos presentes contra Ele nutriam no coração, e absteve-se de exprimir-Lhe plenamente a sua mágoa. DTN 373 2 "Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-Se muito em espírito, e perturbou-Se". João 11:33. Lia o coração de todos os que ali estavam reunidos. Viu que da parte de muitos, não passava de simulação o que apresentavam como demonstração de pesar. Sabia que alguns no grupo, manifestando agora hipócrita tristeza, estariam sem muita demora, planejando a morte, não somente do poderoso Operador de Milagres, mas daquele que estava para ser ressuscitado. Cristo lhes poderia haver arrancado o manto de fingido pesar. Conteve, porém, Sua justa indignação. As palavras que poderia, com toda verdade, haver proferido, calou-as por amor do querido ser a Seus pés ajoelhado em dor, e que realmente nEle acreditava. DTN 373 3 "Onde o pusestes?" perguntou. "Disseram-Lhe: Senhor, vem e vê". João 11:34. Juntos, dirigiram-se para o sepulcro. Foi uma cena dolorosa. Lázaro fora muito amado, e as irmãs por ele choravam, despedaçado o coração, ao passo que os que haviam sido amigos seus, misturavam as lágrimas com as das desoladas irmãs. Em face dessa aflição humana e de que os amigos consternados pranteavam o morto, enquanto o Salvador do mundo ali Se achava -- "Jesus chorou". João 11:35. Se bem que fosse o Filho de Deus, revestira-Se, no entanto, da natureza humana e comoveu-Se com a humana dor. Seu terno, compassivo coração está sempre pronto a compadecer-se perante o sofrimento. Chora com os que choram, e alegra-Se com os que se alegram. DTN 373 4 Não foi, porém, simplesmente pela simpatia humana para com Maria e Marta, que Jesus chorou. Havia em Suas lágrimas uma dor tão acima da simples mágoa humana, como o Céu se acha acima da Terra. Cristo não chorou por Lázaro; pois estava para o chamar do sepulcro. Chorou porque muitos dos que ora pranteavam a Lázaro haviam de em breve tramar a morte dAquele que era a ressurreição e a vida. Quão incapazes se achavam, no entanto, os incrédulos judeus de interpretar devidamente Suas lágrimas! Alguns, que não conseguiam enxergar senão as circunstâncias exteriores da cena que perante Ele estava, como causa de Sua tristeza, disseram baixinho: "Vede como o amava!" Outros, procurando lançar a semente da incredulidade no coração dos presentes, disseram, irônicos: "Não podia Ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?" João 11:36, 37. Se estava no poder de Cristo salvar a Lázaro, por que, então, o deixou morrer? DTN 374 1 Com profética visão, percebeu Cristo a inimizade dos fariseus e dos saduceus. Sabia que Lhe estavam premeditando a morte. Não ignorava que alguns dos que tão cheios de aparente simpatia se mostravam, em breve fechariam contra si mesmos a porta da esperança e os portais da cidade de Deus. Em Sua humilhação e crucifixão estava para verificar-se uma cena que daria em resultado a destruição de Jerusalém, e então ninguém lamentaria os mortos. O juízo que estava para cair sobre Jerusalém foi perante Ele claramente delineado. Contemplou Jerusalém cercada pelas legiões romanas. Viu que muitos dos que agora choravam por Lázaro morreriam no cerco da cidade, e não haveria esperança em sua morte. DTN 374 2 Não foi somente pela cena que se desenrolava a Seus olhos, que Cristo chorou. Pesava sobre Ele a dor dos séculos. Viu os terríveis efeitos da transgressão da lei divina. Viu que, na história do mundo, a começar com a morte de Abel, fora incessante o conflito entre o bem e o mal. Lançando o olhar através dos séculos por vir, viu o sofrimento e a dor, as lágrimas e a morte que caberiam em sorte aos homens. Seu coração pungiu-se pelas penas da família humana de todos os tempos e em todas as terras. Pesavam-Lhe fortemente sobre a alma as misérias da pecadora raça, e rompeu-se-Lhe a fonte das lágrimas no anelo de lhes aliviar todas as aflições. DTN 374 3 "Jesus pois, movendo-Se outra vez muito em Si mesmo, veio ao sepulcro." Lázaro fora depositado numa cova na rocha, sendo colocado na porta um bloco de pedra. "Tirai a pedra" (João 11:38, 39), disse Cristo. Julgando que desejasse apenas ver o morto, Marta objetou, dizendo que o corpo fora enterrado havia quatro dias, tendo já começado o processo de decomposição. Essa afirmativa, feita antes de Lázaro ressuscitar, não deixou margem a que os inimigos de Cristo dissessem que houvera fraude. Anteriormente, haviam os fariseus espalhado falsas afirmações em torno das mais maravilhosas manifestações do poder de Deus. Ao ressuscitar Cristo a filha de Jairo, dissera: "A menina não está morta, mas dorme". Marcos 5:39. Como houvesse estado doente apenas pouco tempo, e fora ressuscitada imediatamente depois da morte, os fariseus afirmaram que a criança não estava morta; que o próprio Cristo dissera que ela dormia. Procuraram fazer crer que Jesus não podia curar moléstias, que Seus milagres não passavam de mistificação. Nesse caso, porém, ninguém podia negar que Lázaro estivesse morto. DTN 374 4 Quando o Senhor está para realizar uma obra, Satanás instiga alguém a fazer objeções. "Tirai a pedra", disse Cristo. Tanto quanto possível, preparai o caminho para Minha obra. Manifestou-se, porém, a natureza positiva e pretensiosa de Marta. Não desejava que o corpo em decomposição fosse apresentado aos olhares dos outros. O coração humano é tardio em compreender as palavras de Cristo, e a fé de Marta não apreendera o verdadeiro sentido de Sua promessa. DTN 375 1 Cristo reprovou a Marta, mas Suas palavras foram proferidas com a máxima brandura. "Não te hei dito que, se creres verás a glória de Deus?" João 11:40. Por que duvidas de Meu poder? Por que arrazoas em contradição às Minhas ordens? Tens a Minha palavra. Se creres, verás a glória de Deus. Impossibilidades naturais não podem impedir a obra do Onipotente. Ceticismo e incredulidade não são humildade. A crença implícita na palavra de Cristo, eis a verdadeira humildade, a verdadeira entrega de si mesmo. DTN 375 2 "Tirai a pedra". João 11:39. Cristo podia ter ordenado à pedra que se deslocasse por si mesma, e ela Lhe teria obedecido à voz. Poderia ter mandado aos anjos que se Lhe achavam ao lado, que fizessem isso. Ao Seu mando, mãos invisíveis teriam removido a pedra. Mas ela devia ser retirada por mãos humanas. Assim queria Cristo mostrar que a humanidade tem de cooperar com a divindade. O que o poder humano pode fazer, o divino não é solicitado a realizar. Deus não dispensa o auxílio humano. Fortalece-o, cooperando com ele, ao servir-se das faculdades e aptidões que lhe foram dadas. DTN 375 3 A ordem é obedecida. Retiram a pedra. Faz-se tudo pública e propositadamente. Dá-se a todos a oportunidade de ver que nenhuma fraude é praticada. Ali jaz o corpo de Lázaro no sepulcro da rocha, no frio e na mudez da morte. Silenciam os lamentos dos pranteadores. Surpreso, em expectação, reúne-se o grupo em torno do sepulcro, esperando o que se vai seguir. DTN 375 4 Cristo, sereno, Se acha de pé ante a tumba. Paira sobre todos os presentes uma santa solenidade. Cristo Se aproxima do sepulcro. Erguendo os olhos ao Céu, diz: "Pai, graças Te dou por Me haveres ouvido". João 11:41. Não muito tempo antes disso, os inimigos de Jesus O haviam acusado de blasfêmia, pegando em pedras para Lhe atirar por afirmar Ele ser o Filho de Deus. Acusavam-nO de operar milagres pelo poder de Satanás. Mas aqui Cristo chama a Deus Seu Pai, e com perfeita confiança, declara ser o Filho de Deus. DTN 375 5 Em tudo quanto fazia, Cristo cooperava com o Pai. Tinha sempre o cuidado de tornar claro que não agia independentemente; era pela fé e a oração que Ele realizava Seus milagres. Cristo desejava que todos soubessem Suas relações para com o Pai. "Pai", disse, "graças Te dou, por Me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas Eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que Tu Me enviaste". João 11:41, 42. Ali aos discípulos e ao povo devia ser proporcionada a mais convincente prova com respeito à relação existente entre Cristo e Deus. Devia-lhes ser mostrado que a afirmação de Cristo não era um engano. DTN 376 1 "E tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora". João 11:43. Sua voz, clara e penetrante, soa aos ouvidos do morto. Ao falar, a divindade irrompe através da humanidade. Em Seu rosto, iluminado pela glória de Deus, vê o povo a certeza de Seu poder. Todos os olhos se acham fixos na entrada do sepulcro. Todos os ouvidos, atentos ao mais leve som. Com intenso e doloroso interesse, aguardam todos a prova da divindade de Cristo, o testemunho que há de comprovar Sua declaração de ser o Filho de Deus, ou para sempre extinguir a esperança. DTN 376 2 Há um ruído na silenciosa tumba, e o que estivera morto aparece à entrada da mesma. Seus movimentos são impedidos pela mortalha em que está envolto, e Cristo diz à estupefata assistência: "Desatai-o, e deixai-o ir." Mais uma vez lhes é mostrado que o obreiro humano deve cooperar com Deus. A humanidade deve trabalhar pela humanidade. Lázaro é desligado e aparece ao grupo, não como uma pessoa emagrecida pela doença, membros débeis e vacilantes, mas como um homem na primavera da vida, no vigor de nobre varonilidade. Brilham-lhe os olhos de inteligência e de amor para com o Salvador. Lança-se em adoração aos pés de Jesus. DTN 376 3 Os espectadores ficam, a princípio, mudos de espanto. Segue-se depois uma inexprimível cena de regozijo e louvor. As irmãs recebem como um dom de Deus o irmão que lhes é devolvido, e, com lágrimas de júbilo, exprimem entrecortadamente sua gratidão ao Salvador. Mas, enquanto o irmão, as irmãs e os amigos se regozijam nessa reunião, Jesus Se retira da cena. Ao procurarem o Doador da vida, já não O encontram. ------------------------Capítulo 59 -- Os sacerdotes tramam DTN 377 0 Este capítulo é baseado em João 11:47-54. DTN 377 1 Betânia ficava tão perto de Jerusalém, que as notícias da ressurreição de Lázaro foram dentro em pouco levadas à cidade. Por intermédio de espias que tinham testemunhado o milagre, os príncipes judaicos para logo ficaram de posse dos fatos. Convocou-se imediatamente uma reunião no Sinédrio para decidir o que se deveria fazer. Cristo tornara agora plenamente manifesto Seu domínio sobre a morte e a sepultura. Aquele poderoso milagre era a suprema prova dada por Deus aos homens, de que Ele enviara Seu Filho ao mundo para sua salvação. Era uma demonstração de poder divino suficiente para convencer todo espírito que se achasse sob o controle da razão e de uma consciência esclarecida. Muitos dos que assistiram à ressurreição de Lázaro, foram levados a crer em Jesus. O ódio dos sacerdotes por Ele, no entanto, intensificou-se com isso. Haviam rejeitado todos os sinais menores de Sua divindade, e não ficaram senão enfurecidos ante esse novo milagre. O morto fora ressuscitado em pleno dia, e perante multidão de testemunhas. Nenhum artifício poderia explicar essa demonstração. E exatamente por isso se tornou mais implacável ainda a inimizade dos sacerdotes. Mais que nunca estavam decididos a pôr termo à obra de Cristo. DTN 377 2 Os saduceus, conquanto não fossem favoráveis a Cristo, não se mostravam tão malignos para com Ele como os fariseus. Seu ódio não era tão feroz. Agora, porém, ficaram inteiramente alarmados. Não criam na ressurreição dos mortos. Engendrando a falsamente chamada ciência, haviam raciocinado que seria impossível vivificar um morto. Mas, por algumas palavras de Cristo, fora deitada por terra a sua teoria. Revelava-se assim sua ignorância, tanto das Escrituras como do poder de Deus. Não viam possibilidade de remover a impressão causada no povo pelo milagre. Como poderiam ser os homens desviados dAquele que prevalecera em arrebatar ao sepulcro o morto? Puseram-se em circulação mentirosas versões, mas não se podia negar o milagre, e como lhe contrabalançar o efeito, não o sabiam eles. Até então, não haviam os saduceus animado o plano de condenar Cristo à morte. Mas depois da ressurreição de Lázaro assentaram que só por Sua morte poderiam deter Suas destemidas acusações contra eles. DTN 377 3 Os fariseus acreditavam na ressurreição, e não podiam deixar de ver que esse milagre era uma prova de que Se achava entre eles o Messias. Mas tinham-se sempre oposto à obra de Jesus. Desde o princípio O aborreceram por lhes expor as pretensões hipócritas. Removera a capa de rigorosos ritos sob que se ocultava sua deformidade moral. A religião pura, por Ele ensinada, condenara-lhes a vazia profissão de piedade. Tinham sede de se vingar dEle por Suas incisivas repreensões. Haviam tentado provocá-Lo a dizer ou fazer qualquer coisa que lhes proporcionasse ocasião de O condenar. Várias vezes quiseram apedrejá-Lo mas, Ele Se retirara calmamente, e haviam-nO perdido de vista. DTN 378 1 Os milagres por Ele operados no sábado, foram todos para alívio dos aflitos, mas os fariseus procuraram condená-Lo como transgressor do sábado. Buscaram incitar contra Ele os herodianos. Apresentavam Jesus como querendo estabelecer um reino rival, e consultavam com eles como O haviam de matar. Para incitar os romanos contra Jesus, faziam parecer que tentasse subverter-lhes a autoridade. Tentaram todos os pretextos para cercear-Lhe a influência sobre o povo. Mas até então suas tentativas haviam sido derrotadas. As multidões que testemunhavam Suas obras de misericórdia e Lhe ouviam os puros e santos ensinos, sabiam que estes não eram atos e palavras de um violador do sábado ou de um blasfemo. Os próprios oficiais enviados pelos fariseus foram tão influenciados por Suas palavras que não puderam deitar nEle as mãos. Em desespero, os judeus afinal decretaram que todo aquele que professasse fé em Jesus, fosse expulso da sinagoga. DTN 378 2 Assim, quando os sacerdotes, os príncipes e anciãos se reuniram em consulta, era seu deliberado propósito fazer silenciar Aquele que realizava obras tão maravilhosas que causavam a admiração de todos. Os fariseus e saduceus uniram-se mais que nunca. Separados até ali, unificaram-se em sua oposição a Cristo. Em concílios anteriores, Nicodemos e José impediram a condenação de Jesus, e por isso não foram então convidados. Achavam-se presentes nesse concílio outros homens influentes que criam em Jesus, mas sua influência não prevaleceu absolutamente contra os malignos fariseus. DTN 378 3 Todavia, os membros do conselho não estavam todos de acordo. O Sinédrio não era, por esse tempo, uma assembléia legal. Existia apenas por tolerância. Alguns dentre eles punham em dúvida a conveniência da condenação de Cristo à morte. Temiam que isso despertasse uma insurreição entre o povo, fazendo com que os romanos negassem posteriormente certos favores ao sacerdócio e lhes retirassem o poder que ainda mantinham. Os saduceus uniam-se no ódio contra Jesus; todavia, inclinavam-se à prudência nos passos a dar, temendo que os romanos os privassem de sua elevada posição. DTN 378 4 Nesse conselho, reunido para planejar a morte de Cristo, achava-Se presente a Testemunha que ouvira as jactanciosas palavras de Nabucodonosor, que testemunhara o idólatra festim de Belsazar, que presenciara, em Nazaré, a declaração de Cristo, de ser o Ungido. Essa Testemunha impressionava então os príncipes quanto à obra que estavam realizando. Acontecimentos da vida de Cristo ergueram-se diante deles com uma nitidez que os alarmou. Lembraram-se da cena do templo, quando Jesus, então criança de doze anos, Se achava perante os instruídos doutores da lei, fazendo-lhes perguntas à vista das quais ficavam admirados. O milagre ora realizado dava testemunho de que Jesus, não era senão o Filho de Deus. Qual relâmpago, surgiram-lhes no espírito, em seu verdadeiro significado, as Escrituras do Antigo Testamento com relação a Cristo. Perplexos e turbados, indagaram os príncipes: "Que faremos?" Houve divisão no concílio. Sob a impressão do Espírito Santo, os sacerdotes e príncipes não puderam banir a convicção de estar combatendo contra Deus. DTN 379 1 Ao achar-se o concílio no auge da perplexidade, ergueu-se Caifás, o sumo sacerdote. Caifás era homem orgulhoso e cruel, dominador e intolerante. Havia entre suas ligações de famílias, saduceus orgulhosos, ousados, resolutos, cheios de ambição e crueldade, o que ocultavam sob o manto de pretendida justiça. Caifás estudara as profecias, e conquanto ignorante de sua real significação, declarou com grande segurança e autoridade: "Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação". João 11:49, 50. Ainda que Jesus fosse inocente, insistia o sumo sacerdote, devia ser afastado do caminho. Ele era perturbador, arrastando o povo após Si e diminuindo a autoridade dos principais. Era apenas um; melhor seria morrer Ele que enfraquecer-se a autoridade dos príncipes. Se o povo perdesse a confiança em seus chefes, estaria destruído o poder nacional. Caifás argumentava que, depois desse milagre, os seguidores de Cristo seriam capazes de revoltar-se. Virão então os romanos, disse ele, e fecharão nosso templo e abolirão nossas leis, destruindo-nos como nação. Que vale a vida desse galileu, quando comparada com a do povo? Se Ele é um obstáculo ao bem-estar de Israel, não é prestar a Deus um serviço, removê-Lo daí? É melhor que um homem pereça, do que ser destruída toda a nação. DTN 379 2 Declarando que um homem devia morrer pelo povo, mostrava Caifás certo conhecimento das profecias, se bem que muito limitado. João, porém, ao narrar esta cena, toma a profecia, apresentando seu vasto e profundo significado. Diz: "E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus, que andavam dispersos". João 11:52. Quão cegamente reconhecia o soberbo Caifás a missão do Salvador! DTN 379 3 Nos lábios de Caifás, tornava-se mentira essa preciosíssima verdade. A política por ele defendida baseava-se num princípio tomado emprestado ao paganismo. Entre os gentios, a vaga consciência de que alguém devia morrer pela humanidade, levara à oferta de sacrifícios humanos. Assim propunha Caifás, pelo sacrifício de Cristo, salvar o povo culpado, não da transgressão, mas na transgressão, a fim de que pudessem continuar em pecado. E por seu raciocínio pensava reduzir ao silêncio os que ousavam dizer que até então coisa alguma digna de morte se achara em Jesus. DTN 380 1 Nesse conselho experimentaram os inimigos de Cristo profunda convicção. O Espírito Santo lhes impressionara a mente. Mas Satanás esforçou-se por conquistar o domínio sobre ela. Insistiu em lhes pôr diante as ofensas que haviam sofrido por causa de Cristo. Quão pouco honrara Ele sua justiça! Apresentava uma justiça incomparavelmente superior, a qual deviam possuir todos quantos quisessem ser filhos de Deus. Sem dar nenhuma atenção a suas formalidades e cerimônias, animara o pecador a dirigir-se diretamente a Deus como a um misericordioso Pai, e a falar-Lhe de suas necessidades. Assim, na opinião deles, Jesus pusera à margem o sacerdócio. Recusara-Se a reconhecer a teologia das escolas dos rabis. Expusera as más práticas dos sacerdotes, e danificara de maneira irreparável sua influência. Prejudicara o efeito de suas máximas e tradições, declarando que, a despeito de tornarem estritamente obrigatória a lei ritual, faziam vã a lei divina. Tudo isso Satanás lhes apresentou então ao espírito. DTN 380 2 O diabo disse-lhes que, a fim de manterem sua autoridade, precisavam matar a Jesus. Seguiram esse conselho. O fato de que pudessem perder então o poder que exerciam era, julgavam, motivo suficiente para chegar a uma decisão. Com exceção de alguns que não ousaram manifestar suas idéias, o Sinédrio recebeu as palavras de Caifás como palavras de Deus. O concílio sentiu-se aliviado; cessou a contenda. Resolveram condenar Cristo à morte na primeira oportunidade favorável. Rejeitando a prova da divindade de Jesus, encerraram-se esses sacerdotes e príncipes em trevas impenetráveis. Ficaram inteiramente sob o domínio de Satanás, para ser por ele precipitados no abismo da eterna ruína. Todavia, tal era o engano deles, que se sentiam bem satisfeitos consigo mesmos. Consideravam-se patriotas em busca da salvação nacional. DTN 380 3 Não obstante, temia o Sinédrio tomar medidas enérgicas contra Jesus, não se exaltasse o povo, e a violência contra Ele premeditada viesse a cair sobre eles próprios. Por isso retardou o conselho a execução da sentença que proferira. O Salvador compreendeu a trama dos sacerdotes. Sabia que ansiavam removê-Lo e em breve se realizaria seu propósito. Não Lhe competia, no entanto, precipitar a crise, e retirou-Se daquela região, levando consigo os discípulos. Assim, por Seu próprio exemplo reforçava Jesus as instruções que a eles dera: "Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra". Mateus 10:23. Havia um vasto campo em que trabalhar pela salvação de almas, e, a menos que o exigisse a lealdade para com Ele, não deveriam os servos do Senhor arriscar a vida. DTN 381 4 Jesus dera então ao mundo três anos de público labor. Achava-se diante deles Seu exemplo de abnegação e desinteressada beneficência. Era de todos conhecido Sua vida de pureza, sofrimento e devoção. Todavia, esse breve período de três anos era o máximo que o mundo podia suportar a presença do Redentor. DTN 381 1 Sua vida fora de perseguição e insulto. Expulso de Belém por um rei invejoso, rejeitado por Seu próprio povo em Nazaré, condenado sem causa à morte em Jerusalém, Jesus, com Seus poucos seguidores fiéis, encontrou temporário asilo numa cidade estranha. Aquele que sempre era tocado pela miséria humana, que curava os enfermos, restituía a vista aos cegos, o ouvido aos surdos e a fala aos mudos; que alimentava os famintos e confortava os contristados, foi expulso dentre o povo por cuja salvação trabalhara. Aquele que caminhara sobre ondas revoltas, e com uma palavra impusera silêncio ao seu furioso bramido, que expulsara demônios que, ao saírem, O reconheciam como o Filho de Deus; que interrompera o sono dos mortos, que prendia milhares por Suas palavras de sabedoria, não pôde alcançar o coração dos que estavam cegos pelos preconceitos e o ódio e obstinadamente rejeitavam a luz. ------------------------Capítulo 60 -- A lei do novo reino DTN 382 0 Este capítulo é baseado em Mateus 20:20-28; Marcos 10:32-45; Lucas 18:31-34. DTN 382 1 Aproximava-se o tempo da Páscoa, e novamente Se dirigiu Jesus para Jerusalém. Reinava em Seu coração a paz de uma perfeita unidade com a vontade do Pai, e com passo decidido avançava para o lugar do sacrifício. Dos discípulos, porém, apoderava-se um sentimento de mistério, de dúvida e temor. O Salvador "ia adiante deles. E eles maravilhavam-se, e seguiam-nO atemorizados". Marcos 10:32. DTN 382 2 Novamente chamou Cristo os doze para junto de Si e, mais positivamente que nunca, revelou-lhes Sua entrega e Seus sofrimentos. "Eis", disse Ele, "que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito; pois há de ser entregue às gentes, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-O açoitado, O matarão; e ao terceiro dia ressuscitará. E eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia". Lucas 18:31-34. DTN 382 3 Não haviam eles exatamente antes disso proclamado por toda parte: "O reino de Deus está às portas"? Não afirmara o próprio Cristo que muitos se assentariam com Abraão e Isaque e Jacó no reino de Deus? Não prometera a todo aquele que houvesse abandonado tudo por amor dEle, cem vezes mais nesta vida, e parte no Seu reino? E não dera aos doze a promessa especial de posições de alta honra em Seu reino -- sentarem-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel? Ainda agora dissera que haveriam de cumprir-se todas as coisas escritas nos profetas a Seu respeito. E não tinham eles predito a glória do reino do Messias? Em face desses pensamentos, pareciam vagas e obscuras Suas palavras acerca da traição, perseguição e morte. Fossem quais fossem as dificuldades que sobreviessem, acreditavam que o reino se haveria de estabelecer em breve. DTN 382 4 João, o filho de Zebedeu, fora um dos dois primeiros discípulos que haviam seguido a Jesus. Ele e seu irmão Tiago tinham feito parte do primeiro grupo que tudo deixara por Seu serviço. Com prazer abandonaram o lar e os amigos para estar com Ele; com Ele andaram e conversaram, estiveram com Ele na intimidade da casa e nas assembléias públicas. Ele lhes aquietara os temores, libertara-os dos perigos, aliviara-lhes os sofrimentos, confortara-os nos dissabores, e com paciência e bondade os instruíra, até que seu coração parecia ligado ao dEle e, no ardor de seu afeto, desejavam estar mais achegados a Ele em Seu reino. Em todas as oportunidades João procurava lugar junto do Salvador, e Tiago desejava ser honrado com uma ligação igualmente íntima com Ele. DTN 383 1 Sua mãe era seguidora de Cristo e servira-O liberalmente com seus meios. Em seu amor e ambição maternos, cobiçava para eles o mais honroso lugar no novo reino. Animou-os, assim, a fazer o pedido. DTN 383 2 Mãe e filhos dirigiram-se juntos a Jesus, solicitando uma graça que seu coração decididamente anelava. "Que quereis que vos faça?" perguntou Ele. A mãe respondeu: "Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à Tua direita e outro à Tua esquerda, no Teu reino". Mateus 20:21. DTN 383 3 Jesus Se mostra bondoso para com eles, não repreendendo seu egoísmo em procurar preferências sobre os outros irmãos. Ele lhes lê o coração, sabe a profundeza de sua afeição por Ele. Seu amor não é um afeto meramente humano; conquanto manchado pela influência do humano instrumento, é o transbordar da fonte de Seu próprio amor redentor. Ele não repreenderá, mas aprofundará e purificará. Disse: "Podeis vós beber o cálice que Eu hei de beber, e ser batizado com o batismo com que Eu sou batizado?" Mateus 20:22. Lembram-se de Suas misteriosas palavras indicando provação e sofrimento, todavia respondem confiantemente: "Podemos." Reputariam a mais elevada honra, o demonstrar sua lealdade em compartilhar tudo quanto houvesse de sobrevir a seu Senhor. DTN 383 4 "Em verdade, vós bebereis o cálice que Eu hei de beber, e sereis batizados com o batismo com que Eu sou batizado", disse; diante dEle achava-se uma cruz em lugar de um trono, e dois malfeitores como companheiros, um à direita e outro à esquerda. João e Tiago haviam de partilhar dos sofrimentos de seu Mestre; um, o primeiro dos irmãos a perecer à espada; o outro, o que mais longamente havia de suportar a fadiga, o opróbrio e a perseguição. DTN 383 5 "Mas o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda", continuou, "não Me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem Meu Pai o tem preparado". Mateus 20:23. No reino de Deus, não se obtêm posições por favoritismo. Não são alcançadas nem recebidas por uma concessão arbitrária. São o resultado do caráter. O trono e a coroa são os penhores de uma condição atingida; são os testemunhos da vitória sobre o próprio eu, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. DTN 383 6 Muito posteriormente, quando o discípulo chegara à identificação com Cristo, através da participação dos Seus sofrimentos, o Senhor revelou a João as condições de mais proximidade no Seu reino. "Ao que vencer", disse Cristo, "lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." "A quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, [...] e escreverei sobre ele o Meu nome". Apocalipse 3:21, 12. Assim escreveu o apóstolo Paulo: "Já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo de minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia". 2 Timóteo 4:6-8. DTN 384 1 Mais perto de Cristo estará aquele que, na Terra, mais profundamente sorveu do espírito de Seu abnegado amor -- amor que "não se ensoberbece, [...] não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal" (1 Coríntios 13:4, 5) -- amor que move o discípulo, como fazia ao Senhor, a dar tudo, a viver, trabalhar e sacrificar-se, até à própria morte, pela salvação da humanidade. Este espírito foi manifestado na vida de Paulo. Disse ele: "Para mim o viver é Cristo"; pois sua vida revelava Cristo aos homens; "e o morrer é ganho" -- ganho para Cristo; a própria morte tornaria patente o poder de Sua graça, e atrairia almas para Ele. "Cristo será [...] engrandecido no meu corpo", disse ele, "seja pela vida, seja pela morte". Filipenses 1:21, 20. DTN 384 2 Quando os dez ouviram do pedido de Tiago e João, ficaram muito desgostosos. O mais elevado lugar no reino era exatamente o que cada um deles buscava para si mesmo, e zangaram-se porque os dois discípulos lhes houvessem obtido aparente vantagem. DTN 384 3 Novamente o conflito acerca de quem deveria ser o maior estava a ponto de se renovar, quando Jesus, chamando-os a Si, disse aos indignados discípulos: "Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; mas entre vós não será assim." DTN 384 4 Nos reinos do mundo, a posição implicava em engrandecimento próprio. Supunha-se que o povo existia para benefício das classes dominantes. Influência, fortuna, educação eram outros tantos meios de empolgar as massas para proveito dos dirigentes. As classes mais altas deviam pensar, decidir, gozar e dominar; às mais humildes cumpria obedecer e servir. A religião, como tudo mais, era uma questão de autoridade. Do povo esperava-se que acreditasse e procedesse segundo a direção de seus superiores. O direito do homem como homem -- pensar e agir por si mesmo -- era inteiramente postergado. DTN 384 5 Cristo estava estabelecendo um reino sobre princípios diversos. Chamava os homens, não à autoridade, mas ao serviço, os fortes a sofrer as fraquezas dos fracos. Poder, posição, talento, educação colocavam seus possuidores sob maior dever de servir aos semelhantes. Ainda ao mais humilde dos discípulos de Cristo, é dito: "Tudo isso é por amor de vós". 2 Coríntios 4:15. DTN 384 6 "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos". Mateus 20:28. Entre Seus discípulos, Cristo era em todos os sentidos Aquele sobre quem repousavam os cuidados e responsabilidades. Partilhava da pobreza deles, exercia abnegação em seu benefício, ia adiante deles para lhes aplainar os mais ásperos caminhos e deveria consumar em breve Sua obra terrestre, entregando a própria vida. O princípio sobre que Ele agia deve atuar nos membros da igreja, que é Seu corpo. O plano e a base da salvação são amor. No reino de Cristo, são maiores os que seguem o exemplo por Ele dado e procedem como pastores de Seu rebanho. DTN 385 1 As palavras de Paulo revelam a verdadeira dignidade e honra da vida cristã: "Sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos" (1 Coríntios 9:19), "não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar". 1 Coríntios 10:33. DTN 385 2 Em questões de consciência, a alma deve ser deixada livre. Ninguém deve controlar o espírito de outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever. Deus dá a toda alma liberdade de pensar, e seguir suas próprias convicções. "Cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus". Romanos 14:12. Ninguém tem direito de imergir sua individualidade na de outro. Em tudo quanto envolve princípios, "cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo". Romanos 14:5. No reino de Cristo não há nenhuma orgulhosa opressão, nenhuma obrigatoriedade de costumes. Os anjos do Céu não vêm à Terra para mandar, e exigir homenagens, mas como mensageiros da misericórdia, a fim de cooperar com os homens em erguer a humanidade. DTN 385 3 Os princípios e as próprias palavras do ensino do Salvador permaneceram, em sua divina beleza, na memória do discípulo amado. Até seus últimos dias, a preocupação do testemunho do apóstolo às igrejas, era: "Esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros." "Conhecemos a caridade nisto: que Ele deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos". 1 João 3:11, 16. DTN 385 4 Era esse o espírito que dominava a igreja primitiva. Depois do derramamento do Espírito Santo, "era um o coração e a alma dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria". "Nem havia entre eles necessitado algum." "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça". Atos dos Apóstolos 4:32, 34, 33. ------------------------Capítulo 61 -- Zaqueu DTN 386 0 Este capítulo é baseado em Lucas 19:1-10. DTN 386 1 De caminho para Jerusalém, "tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando". Lucas 19:1. A poucos quilômetros do Jordão, da banda ocidental do vale que se estendia daí numa planície, descansava a cidade em meio de verdura tropical e luxuriante beleza. Com as palmeiras e preciosos jardins regados por fontes naturais, brilhava qual esmeralda no engaste das calcárias colinas e desolados barrancos que se interpunham entre Jerusalém e a cidade da planície. DTN 386 2 Muitas caravanas, de caminho para a festa, passavam por Jericó. Sua chegada era sempre um momento de alegria. Agora, porém, mais profundo interesse agitava o povo. Sabia-se achar-Se entre a multidão o Rabi galileu que, não havia muito, ressuscitara Lázaro; e conquanto abundassem os murmúrios quanto às conspirações dos sacerdotes, estavam as multidões ansiosas de Lhe render homenagens. DTN 386 3 Jericó era uma das cidades outrora separadas para os sacerdotes, e por essa época grande número deles tinha aí sua residência. Mas a cidade possuía também uma população de caráter inteiramente diverso. Era um grande centro de comércio, e os oficiais romanos e os soldados, com estrangeiros de todos os pontos, aí se achavam, ao passo que a coletoria da alfândega a tornava morada de muitos publicanos. DTN 386 4 "Chefe dos publicanos", Zaqueu era israelita, e detestado de seus patrícios. Sua posição e fortuna eram o prêmio de uma carreira que aborreciam, e considerada sinônimo de injustiça e extorsão. Todavia, o rico funcionário da alfândega não era de todo endurecido homem do mundo que parecia. Sob a aparência de mundanidade e orgulho, achava-se um coração susceptível às influências divinas. Zaqueu ouvira falar de Jesus. Espalhara-se por toda parte a fama dAquele que Se conduzira bondosa e cortesmente para com as classes proscritas. Despertou-se nesse chefe de publicanos o anelo de uma vida melhor. A poucos quilômetros apenas de Jericó, pregara João Batista no Jordão, e Zaqueu ouvira falar do chamado ao arrependimento. A instrução aos publicanos: "Não peçais mais do que o que vos está ordenado" (Lucas 3:13), conquanto aparentemente desatendida, impressionara-lhe o espírito. Conhecia as Escrituras, e estava convencido de que era injusto seu proceder. Agora, ouvindo as palavras que diziam provir do grande Mestre, sentiu-se pecador aos olhos de Deus. Todavia, o que ouvira dizer de Jesus acendeu-lhe a esperança no coração. Arrependimento e reforma da vida eram possíveis mesmo para ele; não fora acaso publicano um dos mais dignos discípulos do Mestre? Zaqueu começou imediatamente a obedecer à convicção que dele tomara posse, e a fazer restituição àqueles a quem prejudicara. DTN 387 1 Começara já a volver atrás, quando soaram em Jericó as novas de que Jesus vinha entrando na cidade. Zaqueu decidiu vê-Lo. Principiava a compreender quão amargos são os frutos do pecado, e quão difícil é a senda daquele que busca voltar de uma carreira de erros. Ser mal compreendido, enfrentar a suspeita e a desconfiança no esforço de corrigir seus erros, dura coisa era de sofrer. O chefe de publicanos anelava contemplar o rosto dAquele cujas palavras lhe infundiram esperança ao coração. DTN 387 2 Estavam apinhadas as ruas e Zaqueu, que era de pequena estatura, nada podia ver por sobre as cabeças do povo. Ninguém lhe queria abrir caminho; assim, correndo um pouco adiante da multidão, chegou a uma copada figueira à beira da estrada, e o rico cobrador de impostos subiu, sentando-se entre os galhos, de modo a poder ver o cortejo ao passar embaixo. A multidão aproxima-se, vai passando, e Zaqueu investiga com ansioso olhar, em busca da figura que almejava ver. DTN 387 3 Por sobre o clamor dos sacerdotes e rabis e as aclamações da turba, chegou ao coração de Jesus a expressão do mudo desejo daquele chefe de publicanos. De súbito, mesmo embaixo da figueira, um grupo estaca, os de diante e os de trás detêm-se e Alguém cujo olhar parecia ler a alma, ergue os olhos para a figueira. Quase duvidando dos próprios sentidos, o homem que ali estava na árvore ouve as palavras: "Zaqueu, desce depressa, porque hoje Me convém pousar em tua casa". Lucas 19:5. DTN 387 4 A multidão abre alas, e Zaqueu, caminhando como quem sonha, serve de guia para sua residência. Mas os rabinos contemplam isto de semblante carregado, murmurando descontentes e zombeteiros, "que entrara para ser hóspede de um homem pecador". Lucas 19:7. DTN 387 5 Zaqueu ficou abismado, num deslumbramento, e silencioso em face do amor e da condescendência de Cristo em rebaixar-Se até ele, tão indigno. Então o amor e a lealdade para com o Mestre que acabava de achar, lhe descerraram os lábios. Resolveu fazer pública sua confissão e arrependimento. DTN 387 6 Em presença da multidão, "levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado". Lucas 19:8. "E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão". Lucas 19:9. DTN 387 7 Quando o jovem rico se retirara de Jesus, maravilharam-se os discípulos de ouvir o Mestre dizer: "Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!" Exclamaram uns para os outros: "Quem poderá pois salvar-se?" Marcos 10:24, 26. Agora, tinham uma demonstração das palavras de Cristo: "As coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus". Lucas 18:27. Viram como, por meio da graça divina, um rico podia entrar no reino. DTN 388 1 Antes de Zaqueu ter contemplado o rosto de Cristo, começara a fazer aquilo que tornava manifesto ter ele arrependimento sincero. Antes de ser acusado pelos homens, confessara seu pecado. Submetera-se à convicção do Espírito Santo e começara a cumprir o ensino das palavras escritas para o antigo Israel, bem como para nós mesmos. Dissera o Senhor havia muito: "Quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino, para que viva contigo. Não tomarás dele usura, nem ganho; mas do teu Deus terás temor, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com usura, nem lhe darás o teu manjar por interesse." "Ninguém pois oprima ao seu próximo; mas terás temor do teu Deus". Levítico 25:35-37, 17. Estas palavras foram proferidas pelo próprio Cristo quando envolto na coluna de nuvem, e a primeira resposta de Zaqueu ao amor de Cristo era manifestar compaixão para com o pobre e o sofredor. DTN 388 2 Havia entre os publicanos um convênio, de modo que podiam oprimir o povo e apoiar-se uns aos outros em suas práticas fraudulentas. Em sua extorsão, praticavam o que se tornara costume quase geral. Os próprios sacerdotes e rabinos que os desprezavam, eram culpados de se enriquecer por meios desonestos, sob o manto de seu sagrado ofício. Mas tão depressa se submeteu o publicano à influência do Espírito Santo, lançou de sua vida todo proceder contrário à integridade. DTN 388 3 Não é genuíno nenhum arrependimento que não opere a reforma. A justiça de Cristo não é uma capa para encobrir pecados não confessados e não abandonados; é um princípio de vida que transforma o caráter e rege a conduta. Santidade é integridade para com Deus; é a inteira entrega da alma e da vida para habitação dos princípios do Céu. DTN 388 4 O cristão deve representar perante o mundo, nos negócios de sua vida, a maneira por que o Senhor Se conduzira em empreendimentos desse gênero. Em toda transação deve ele patentear que Deus é seu mestre. "Santidade ao Senhor" deve-se achar escrito nos diários e razões, nas escrituras, recibos e letras de câmbio. Os que professam ser seguidores de Cristo, e são injustos nos tratos, estão dando falso testemunho do caráter de um Deus santo, justo e misericordioso. Toda pessoa convertida, como Zaqueu, marca a entrada de Cristo no coração pelo abandono das práticas injustas que lhe assinalaram a vida. Como o chefe dos publicanos, dará provas de sua sinceridade fazendo restituição. O Senhor diz: "Restituindo esse ímpio o penhor, pagando o furtado, andando nos estatutos da vida, e não praticando iniqüidade, [...] de todos os seus pecados com que pecou não se fará memória contra ele: [...] certamente viverá". Ezequiel 33:15, 16. DTN 389 1 Se prejudicamos outros por qualquer injusta transação, se nos aproveitamos de alguém num negócio, ou defraudamos qualquer pessoa, ainda que sob a proteção da lei, devemos confessar nossa injustiça e fazer restituição tanto quanto esteja ao nosso alcance. Cumpre-nos restituir, não somente o que tiramos, mas tudo quanto se teria acumulado, se posto em justo e sábio emprego durante o tempo que se achou em nosso poder. DTN 389 2 A Zaqueu, disse o Salvador: "Hoje veio a salvação a esta casa". Lucas 19:9. Não somente foi o próprio Zaqueu abençoado, mas toda a casa com ele. Jesus foi ao seu lar, para dar-lhe lições sobre a verdade e instruir sua família nas coisas do reino. Tinham estado excluídos das sinagogas pelo desprezo dos rabis e adoradores; mas agora, como os mais favorecidos dentre as famílias de Jericó, reuniram-se em seu próprio lar, em torno do divino Mestre, e ouviram por si mesmos as palavras da vida. DTN 389 3 É quando se recebe Cristo como Salvador pessoal, que sobrevém salvação à alma. Zaqueu recebera a Jesus não somente como a um hóspede de passagem em sua casa, mas como Alguém que vinha habitar no templo da alma. Os escribas e fariseus o acusavam de pecador, murmuraram contra Cristo por Se hospedar sob seu teto, mas o Senhor o reconheceu como filho de Abraão. Pois "os que são da fé são filhos de Abraão". Gálatas 3:7. ------------------------Capítulo 62 -- O banquete em casa de Simão DTN 390 0 Este capítulo é baseado em Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-11; Lucas 7:36-50; João 11:55-57; 12:1-11. DTN 390 1 Simão de Betânia era considerado discípulo de Jesus. Era um dos poucos fariseus que se unira abertamente aos Seus seguidores. Reconhecia-O como mestre e acalentava esperanças que fosse o Messias, mas não O aceitara como Salvador. Seu caráter não estava transformado; permaneciam sem mudança seus princípios. DTN 390 2 Simão fora curado de lepra, e isso é que o atraíra a Jesus. Desejara mostrar sua gratidão e, na última visita de Cristo a Betânia, ofereceu um banquete ao Salvador e a Seus discípulos. Esta festa reuniu muitos dos judeus. Havia por esse tempo grande agitação em Jerusalém. Cristo e Sua missão estavam atraindo mais atenção do que nunca. Os que tinham ido à festa, observavam-Lhe atentamente os movimentos, e alguns com olhos hostis. DTN 390 3 O Salvador chegara a Betânia apenas seis dias antes da páscoa, e, como de costume, buscara repouso em casa de Lázaro. As multidões de viajantes que se dirigiam rumo à cidade, divulgaram as novas de que Ele estava a caminho para Jerusalém, e descansaria o sábado em Betânia. Havia entre o povo grande entusiasmo. Muitos afluíam a Betânia, alguns por simpatia para com Jesus, e outros por curiosidade de ver a pessoa que fora ressuscitada dos mortos. DTN 390 4 Muitos esperavam ouvir de Lázaro uma história maravilhosa das cenas testemunhadas depois da morte. Surpreendiam-se de que ele não lhes contasse coisa alguma. Não tinha nada para contar a respeito. Declara a inspiração: "Os mortos não sabem coisa nenhuma. [...] O seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram". Eclesiastes 9:5, 6. Mas Lázaro tinha um maravilhoso testemunho a dar com respeito à obra de Cristo. Para esse fim fora ressuscitado. Com segurança e poder, declarava que Jesus era o Filho de Deus. DTN 390 5 As notícias levadas para Jerusalém pelos que visitavam Betânia aumentavam a agitação. O povo estava ansioso de ver e ouvir a Jesus. Havia uma geral interrogação -- se Lázaro O acompanharia a Jerusalém e se o Profeta seria coroado rei durante a Páscoa. Os sacerdotes e príncipes viram que seu domínio sobre o povo continuava a enfraquecer, e mais amargo se tornava seu ódio contra Jesus. Mal podiam esperar a oportunidade de O tirar de seu caminho para sempre. À medida que o tempo passava, começaram a temer que afinal talvez não fosse a Jerusalém. Lembravam-se de quantas vezes lhe frustrara os desígnios assassinos, e temiam que lhes houvesse lido os pensamentos contra Ele e permanecesse ausente. Mal podiam ocultar sua ansiedade, e indagavam entre si: "Que vos parece? Não virá à festa?" João 11:56. DTN 391 1 Foi convocado o concílio dos sacerdotes e fariseus. Desde a ressurreição de Lázaro, aumentara tanto a simpatia do povo para com Jesus, que seria perigoso lançar mão dEle abertamente. Assim decidiram as autoridades prendê-Lo em segredo, e efetuar o julgamento o mais silenciosamente possível. Esperavam que ao se tornar isso conhecido, a inconstante onda da opinião pública se voltaria a seu favor. DTN 391 2 Assim se propuseram a destruir Jesus. Mas enquanto Lázaro existisse, sabiam os sacerdotes e rabis que não se achavam em segurança. A própria existência de um homem que por quatro dias estivera no sepulcro e fora ressuscitado por uma palavra de Jesus, causaria cedo ou tarde uma reação. O povo se vingaria de seus guias por tirarem a vida Àquele que fora capaz de realizar esse milagre. O Sinédrio decidiu, portanto, que Lázaro também deveria morrer. A tal ponto a inveja e os preconceitos levam seus escravos. O ódio e a incredulidade dos guias judaicos haviam crescido até dispô-los a tirar a vida de uma pessoa a quem o infinito poder salvara do sepulcro. DTN 391 3 Enquanto se tramava em Jerusalém essa conspiração, Jesus e Seus amigos eram convidados à festa de Simão. À mesa achava-Se Jesus, tendo a um lado Simão, a quem curara de repugnante moléstia, e do outro Lázaro, a quem ressuscitara. Marta servia à mesa, mas Maria escutava ansiosamente toda palavra que caía dos lábios de Jesus. Em Sua misericórdia perdoara Jesus os seus pecados, chamara do sepulcro seu bem-amado irmão, e a alma de Maria estava cheia de reconhecimento. Ouvira Jesus falar de Sua morte próxima e, em seu profundo amor e tristeza, almejara honrá-Lo. Com grande sacrifício para si, comprara um vaso de alabastro de "ungüento de nardo puro, de muito preço" (João 12:3) para com ele ungir-Lhe o corpo. Mas agora muitos diziam que Ele estava para ser coroado rei. Seu pesar transformou-se em alegria, e ansiava ser a primeira a honrar a seu Senhor. Quebrando o vaso de ungüento, derramou o conteúdo sobre a cabeça e os pés de Jesus, e depois, enquanto de joelhos chorava umedecendo-os com lágrimas, enxugava-os com os longos cabelos soltos. DTN 391 4 Buscara não ser observada, e seus movimentos poderiam passar desapercebidos, mas o ungüento encheu a sala de odor, declarando a todos os presentes a ação dela. Judas contemplou a mesma com grande desagrado. Em vez de esperar o que diria Cristo sobre o assunto, começou a murmurar suas recriminações aos que lhe ficavam mais próximos, censurando-O por tolerar esse desperdício. Fez astutamente insinuações de molde a produzir descontentamento. DTN 392 1 Judas era tesoureiro dos discípulos, e de seu pequeno depósito subtraíra às escondidas para o próprio uso, limitando assim a uma insignificância os recursos dos discípulos. Ansiava colocar na bolsa tudo quanto pudesse obter. Dos meios desta bolsa muitas vezes se tirava para socorro dos pobres; e quando se comprava qualquer coisa que Judas não julgava essencial, dizia: Por que esse desperdício? por que o preço disso não se pôs na bolsa que tenho para os pobres? Ora, o ato de Maria achava-se em tão frisante contraste com o seu egoísmo, que o colocava em situação vergonhosa; e, segundo o seu costume, procurou apresentar um motivo digno à objeção que fazia a sua oferenda. Voltando-se para os discípulos, disse: "Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava". João 12:5, 6. Judas não tinha coração para os pobres. Houvessem vendido o ungüento de Maria, caísse o lucro em seu poder, e não teriam os pobres recebido benefício. DTN 392 2 Judas tinha em alto conceito sua habilidade administrativa. Julgava-se, como financista, muito superior aos condiscípulos e levara-os a considerá-lo da mesma maneira. Conquistara-lhes a confiança, e exercia sobre eles grande influência. Sua professada simpatia pelos pobres os enganou; e a astuta insinuação que fez os levou a olhar com desconfiança a dedicação de Maria. E em volta da mesa passou a murmuração: "Para que é este desperdício? Pois este ungüento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres". Mateus 26:8, 9. DTN 392 3 Maria ouviu as palavras de crítica. O coração tremeu-lhe no peito. Temeu que a irmã a repreendesse por seu desperdício. Talvez o Mestre também a julgasse imprevidente. Sem se justificar ou apresentar desculpa, estava para se esquivar dali, quando se ouviu a voz de Seu Senhor: "Deixai-a, por que a molestais?" Viu que ela estava embaraçada e aflita. Sabia que nesse ato de serviço exprimira gratidão pelo perdão de seus pecados, e acalmou-lhe o espírito. Erguendo a voz acima dos murmúrios da crítica, disse: "Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a Mim nem sempre Me tendes. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o Meu corpo para a sepultura". Marcos 14:6-8. DTN 392 4 A fragrante oferenda que Maria pensara prodigalizar ao corpo inanimado do Salvador, vazou-a ela sobre Ele vivo. No sepultamento, seu aprazível odor não poderia impregnar senão o túmulo; agora, alegrou-Lhe o coração com a certeza de sua fé e amor. José de Arimatéia e Nicodemos não ofereceram suas dádivas de amor a Jesus em vida. Com amargo pranto levaram suas custosas especiarias ao frio e inconsciente corpo. As mulheres que levaram especiarias ao sepulcro, em vão o fizeram, pois verificaram ter Ele ressuscitado. Mas Maria, extravasando o seu amor sobre o Salvador enquanto Ele tinha conhecimento da dedicação dela, estava-O preparando para Seu sepultamento. E, ao baixar à treva de Sua grande prova, levou consigo a lembrança desse ato, penhor do amor que Seus remidos Lhe votariam para sempre. DTN 393 1 Muitos há que levam aos mortos preciosos dons. De pé, ao lado da querida figura para sempre silenciosa, proferem abundantes palavras de amor. Ternura, apreço, dedicação, tudo é prodigalizado àquele que já não vê nem ouve. Houvessem essas palavras sido ditas quando o fatigado espírito tanto delas necessitava; quando o ouvido as apreenderia e o coração as podia sentir, quão precioso teria sido o seu perfume! DTN 393 2 Maria não sabia toda a significação de seu ato de amor. Não podia responder a seus acusadores. Não saberia explicar por que escolhera aquela ocasião para ungir a Jesus. O Espírito Santo planejara por ela, e ela Lhe obedecera às sugestões. A inspiração não se detém para dar o motivo. Presença invisível, fala ela à mente e à alma, e move o coração para agir. Ela é sua própria justificação. DTN 393 3 Cristo explicou a Maria o significado de seu ato, e com isso deu mais do que recebera. "Ora, derramando este perfume sobre o Meu corpo", disse Ele, "ela o fez para o Meu sepultamento". Mateus 26:12. Como o vaso de alabastro foi quebrado, e encheu toda a casa com sua fragrância, assim Cristo havia de morrer e Seu corpo ser quebrantado; mas Ele Se ergueria da tumba, e o perfume de Sua vida havia de encher a Terra. "Cristo nos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta de sacrifício a Deus, em cheiro suave". Efésios 5:2. DTN 393 4 "Em verdade vos digo", declarou Cristo, "que, em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória". Marcos 14:9. Contemplando o futuro, o Salvador falou com segurança a respeito de Seu evangelho. Ele devia ser pregado por todo o mundo. E onde quer que se estendesse o evangelho, a oferenda de Maria havia de espargir sua fragrância, e por sua ação espontânea seriam abençoados outros corações. Erguer-se-iam e cairiam impérios; seriam esquecidos nomes de reis e conquistadores; mas o feito dessa mulher seria imortalizado nas páginas da História Sagrada. Enquanto o tempo durasse, aquele partido vaso de alabastro contaria a história do abundante amor de Deus a uma raça caída. DTN 393 5 O ato de Maria achava-se em assinalado contraste com o que Judas estava para praticar. Que incisiva lição poderia ter Cristo dado àquele que lançara a semente da crítica e do mau juízo na mente dos discípulos! Com quanta justiça poderia o acusador haver sido acusado! Aquele que lê os motivos de cada alma, e entende toda ação, poderia haver aberto, aos olhos dos convivas da festa, sombrios capítulos da vida de Judas. Poderia ter sido patenteada a vã pretensão em que o traidor baseava suas palavras; pois, em vez de compadecer-se dos pobres, roubava-os do dinheiro que se destinava a socorrê-los. Poderia haver sido despertada indignação contra ele por sua opressão à viúva, ao órfão e ao jornaleiro. Houvesse, porém, Jesus desmascarado Judas, isso teria sido apresentado como causa da traição. E, se bem que acusado de ladrão, Judas teria captado simpatia, mesmo entre os discípulos. O Salvador não o repreendeu, e evitou assim dar-lhe desculpa para a traição. DTN 394 1 O olhar que Jesus lhe lançou, no entanto, convenceu a Judas de que o Salvador lhe penetrara a hipocrisia, e lera seu baixo, desprezível caráter. E louvando Maria, tão severamente reprovada, Cristo repreendera a Judas. Antes disso, o Salvador nunca lhe fizera uma censura direta. Agora, a reprimenda irritou-lhe o coração. Decidiu vingar-se. Da ceia, saiu diretamente para o palácio do sumo sacerdote, onde encontrou reunido o conselho, e ofereceu-se para lhes entregar Jesus nas mãos. DTN 394 2 Os sacerdotes se regozijaram. A esses guias de Israel fora concedido o privilégio de receber a Jesus como Salvador, sem dinheiro e sem preço. Mas recusaram o precioso dom a eles oferecido no mais terno espírito de constrangedora afeição. Recusaram aceitar aquela salvação que é mais valiosa do que o ouro, e compraram seu Senhor por trinta moedas de prata. DTN 394 3 Judas condescendera com a avareza até que ela lhe dominara todos os bons traços de caráter. Invejou a dádiva feita a Jesus. Seu coração queimou de inveja de que o Salvador fosse objeto de uma oferenda digna dos reis da Terra. Por uma quantia muito inferior a do vaso de ungüento, traiu a seu Senhor. DTN 394 4 Os discípulos não eram como Judas. Amavam o Salvador. Não Lhe apreciavam, entretanto, o elevado caráter. Houvessem compreendido o que fizera por eles, e teriam sentido que coisa alguma que Lhe fosse oferecida era desperdiçada. Os magos do Oriente, que tão pouco sabiam a respeito de Jesus, haviam mostrado mais verdadeiro apreço da honra que Lhe era devida. Levaram preciosas dádivas ao Salvador, e diante dEle se inclinaram em homenagem, quando era ainda um simples Bebê deitado na manjedoura. DTN 394 5 Cristo dá valor aos atos de sincera cortesia. Quando qualquer Lhe prestava um favor, com celestial delicadeza Ele o abençoava. Não recusava a mais singela flor arrancada pela mão de uma criança e a Ele oferecida com amor. Aceitava as ofertas dos pequeninos, e abençoava os doadores inscrevendo-lhes o nome no livro da vida. A unção feita por Maria acha-se nas Escrituras, mencionada como distintivo das outras Marias. Atos de amor e reverência para com Jesus são uma demonstração de fé nEle como Filho de Deus. E o Espírito Santo menciona como testemunho de lealdade para com Cristo: "Se lavou os pés aos santos, se socorreu os aflitos, se praticou toda boa obra". 1 Timóteo 5:10. DTN 394 6 Cristo Se deleitava no sincero desejo de Maria de fazer a vontade de Seu Senhor. Aceitava a riqueza do puro afeto que Seus discípulos não compreendiam, não queriam compreender. O desejo que Maria tinha de prestar esse serviço a seu Senhor era para Ele de mais valor que todos os preciosos ungüentos da Terra, pois exprimia seu apreço pelo Redentor do mundo. Era o amor de Cristo que a constrangia. Enchia-lhe a alma a incomparável excelência do caráter de Cristo. Aquele ungüento era símbolo do coração da doadora. Era demonstração exterior de um amor nutrido por correntes celestiais e que chegara a ponto de extravasamento. DTN 395 1 A obra de Maria era exatamente a lição que os discípulos necessitavam, para mostrar-lhes que seriam aprazíveis a Cristo as expressões de amor por parte deles. Jesus fora-lhes tudo e não percebiam que em breve seriam privados de Sua presença, que dentro em pouco não lhes seria dado oferecer-Lhe nenhum sinal de reconhecimento por Seu grande amor. A solidão de Cristo, separado das cortes celestiais, vivendo a vida da humanidade, nunca a compreenderam nem apreciaram devidamente os discípulos. Foi muitas vezes magoado, porque não Lhe dispensavam aquilo que deles deveria ter recebido. Sabia que, estivessem sob a influência dos anjos celestiais que O acompanhavam, também haviam de considerar que nenhuma dádiva era de suficiente valor para exprimir o espiritual afeto do coração. DTN 395 2 Seu conhecimento posterior deu-lhes o verdadeiro sentimento quanto às muitas coisas que poderiam ter feito para Jesus, exprimindo o amor e o reconhecimento de seu coração, enquanto Lhe estavam ao lado. Quando não mais Jesus Se achava entre eles, e se sentiam na verdade como ovelhas sem pastor, começavam a ver como poderiam ter manifestado para com Ele atenções que Lhe teriam alegrado o coração. Não mais então censuraram a Maria, mas a si mesmos. Oh! se lhes fosse dado retirar sua crítica, e apresentarem os pobres como mais dignos da oferenda do que Jesus! Sentiram vivamente a reprovação, ao tirarem da cruz o ferido corpo de seu Senhor. DTN 395 3 A mesma falta se manifesta hoje, em nosso mundo. Poucos somente apreciam o que Cristo é para eles. Fizessem-no, no entanto, e o grande amor de Maria seria expressado, a unção liberalmente feita. Não seria considerado desperdício o custoso ungüento. Coisa alguma se consideraria demasiado preciosa para Cristo, nenhuma abnegação nem sacrifício grande demais para ser suportado por amor dEle. DTN 395 4 As palavras proferidas em indignação: "Por que é este desperdício?" (Mateus 26:8) recordaram vividamente a Cristo o maior sacrifício já feito -- o dom de Si mesmo como propiciação por um mundo perdido. O Senhor seria tão generoso para com a família humana, que não se poderia dizer que Lhe era possível fazer mais. No dom de Jesus, Deus deu todo o Céu. Sob o ponto de vista humano, esse sacrifício era um espantoso desperdício. Para o raciocínio humano todo o plano de salvação é um desperdício de misericórdias e recursos. Encontramos por toda parte abnegação e sacrifício feito com toda a alma. Bem podem as hostes celestiais contemplar, com assombro, a família humana que recusa ser erguida e enriquecida com o ilimitado amor expresso em Cristo. Bem podem elas exclamar: por que este grande desperdício? DTN 396 1 Mas a expiação por um mundo perdido devia ser plena, abundante, completa. A oferenda de Cristo foi inexcedivelmente abundante para abranger toda alma que Deus criou. Não se podia restringir, de modo a não exceder o número dos que haviam de aceitar o grande Dom. Nem todos os homens são salvos; todavia, o plano da salvação não é um desperdício pelo fato de não realizar tudo que foi provido por sua liberalidade. Há o suficiente, e ainda sobra. DTN 396 2 Simão, o hospedeiro, fora influenciado pela crítica de Judas à dádiva de Maria, e surpreendeu-se do procedimento de Jesus. Seu orgulho farisaico ofendeu-se. Sabia que muitos de seus hóspedes estavam olhando a Jesus com desconfiança e desagrado. Simão disse no seu interior: "Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que Lhe tocou, pois é uma pecadora". Lucas 7:39. DTN 396 3 Curando Simão da lepra, Cristo o salvara de uma morte em vida. Mas agora Simão duvidava se o Salvador era profeta. Por Cristo permitir que essa mulher dEle se aproximasse, por não a desprezar como alguém cujos pecados são demasiado grandes para serem perdoados, por não mostrar que compreendia haver ela caído, Simão foi tentado a pensar que Ele não era profeta. Jesus nada sabe dessa mulher, tão pródiga em demonstrações, pensou ele, ou não lhe permitiria que O tocasse. DTN 396 4 Foi, porém, a ignorância de Simão acerca de Deus e de Cristo que o levou a assim pensar. Não compreendeu que o Filho de Deus deve agir à maneira divina, compassiva, terna e misericordiosamente. A maneira de Simão era não fazer caso do penitente serviço de Maria. Seu ato de beijar os pés de Cristo e ungir-Lhos com o ungüento foi exasperante para seu coração endurecido. Pensou que se Cristo fosse profeta, reconheceria os pecadores e os repreenderia. DTN 396 5 A esse inexpresso pensamento, respondeu o Salvador: "Simão, uma coisa tenho a dizer-te. [...] Um certo credor tinha dois devedores; um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. E, não tendo ele com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize pois: qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E Ele lhe disse: Julgaste bem". Lucas 7:40-43. DTN 396 6 Como fizera Natã com Davi, Cristo ocultou Seu bem atirado golpe sob o véu de uma parábola. Lançou sobre o hospedeiro a responsabilidade de proferir a própria sentença. Simão induzira ao pecado a mulher que ora desprezava. Fora por ele profundamente prejudicada. Pelos dois devedores da parábola, eram representados Simão e a mulher. Jesus não intentava ensinar que diferentes graus de obrigação houvessem de ser sentidos pelas duas pessoas, pois cada uma tinha um débito de gratidão que nunca se poderia solver. Mas Simão se julgava mais justo que Maria, e Jesus desejava fazer-lhe ver quão grande era na verdade a sua culpa. Queria mostrar-lhe que seu pecado era maior que o dela, tão maior, como um débito de quinhentos dinheiros é superior a uma dívida de cinqüenta. DTN 397 1 Simão começou então a ver-se sob um novo aspecto. Observou como Maria era considerada por Alguém que era mais que profeta. Notou que, com o penetrante olhar profético, Cristo lhe lera o amorável e devotado coração. A vergonha apoderou-se dele, e percebeu achar-se em presença de Alguém que lhe era superior. DTN 397 2 "Entrei em tua casa", continuou Cristo, "e não Me deste água para os pés"; mas com lágrimas de arrependimento originadas no amor, Maria lavou-Me os pés e enxugou-os com os próprios cabelos. "Não Me deste ósculo, mas esta mulher" a quem tu desprezas, "desde que entrou, não tem cessado de Me beijar os pés". Lucas 7:44, 45. Cristo contava as oportunidades que Simão tivera de manifestar seu amor pelo Senhor, e o apreço pelo que fora feito por ele. Claramente, se bem que com delicada polidez, o Salvador assegurou a Seus discípulos que o coração se Lhe magoa quando Seus filhos se descuidam de manifestar gratidão para com Ele por palavras e atos de amor. DTN 397 3 O Perscrutador do coração lera os motivos que deram lugar ao ato de Maria, e viu também o espírito que instigara as palavras de Simão. "Vês tu esta mulher?" disse-lhe. É uma pecadora. Digo-te "que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama". Lucas 7:47. DTN 397 4 A frieza de Simão e sua negligência para com o Salvador mostravam quão pouco apreciava a bênção que recebera. Julgava honrar a Jesus, convidando-O à sua casa. Mas viu-se então como na realidade era. Enquanto pensara ler seu Hóspede, Este o estivera lendo a ele. Viu quão justo era o juízo de Cristo a seu respeito. Sua justiça fora um vestido de farisaísmo. Desprezara a compaixão de Jesus. Não O reconhecera como representante de Deus. Ao passo que Maria era uma pecadora perdoada, ele era um não perdoado pecador. A rigorosa regra de justiça que quisera impor contra ela, condenava-o a ele próprio. DTN 397 5 Simão foi tocado pela bondade de Jesus em não o repreender abertamente diante dos hóspedes. Não fora tratado como desejara que Maria o fosse. Viu que Jesus não desejava expor sua culpa diante dos outros, mas buscava, por uma exata exposição do fato, convencer-lhe o espírito e por piedosa bondade vencer-lhe o coração. Uma severa acusação haveria endurecido Simão contra o arrependimento, mas a paciente admoestação o convenceu de seu erro. Viu a magnitude do débito que tinha para com seu Senhor. Seu orgulho humilhou-se, ele se arrependeu, e o altivo fariseu tornou-se um humilde e abnegado discípulo. DTN 398 1 Maria fora considerada grande pecadora, mas Cristo sabia as circunstâncias que lhe tinham moldado a vida. Poderia ter acabado com sua esperança, mas não o fez. Fora Ele que a erguera do desespero e da ruína. Sete vezes ouvira ela Sua repreensão aos demônios que lhe dominavam o coração e a mente. Ouvira-Lhe o forte clamor ao Pai em benefício dela. Sabia quão ofensivo é o pecado à Sua imaculada pureza, e em Sua força vencera. DTN 398 2 Quando, aos olhos humanos, seu caso parecia desesperado, Cristo viu em Maria aptidões para o bem. Viu os melhores traços de seu caráter. O plano da redenção dotou a humanidade de grandes possibilidades, e em Maria se deviam as mesmas realizar. Mediante Sua graça, tornou-se participante da natureza divina. Aquela que caíra e cuja mente fora habitação de demônios, chegara bem perto do Salvador em associação e serviço. Foi Maria que se assentou aos pés de Jesus e dEle aprendeu. Foi ela que Lhe derramou na cabeça o precioso ungüento, e banhou os pés com as próprias lágrimas. Achou-se ao pé da cruz e O seguiu ao sepulcro. Foi a primeira junto ao sepulcro, depois da ressurreição. A primeira a proclamar o Salvador ressuscitado. DTN 398 3 Jesus conhece as circunstâncias de toda alma. Podeis dizer: Sou pecador, muito pecador. Talvez o sejais; mas quanto pior fordes, tanto mais necessitais de Jesus. Ele não repele nenhuma criatura que chora, contrita. Não diz a ninguém tudo quanto poderia revelar, mas manda a toda alma tremente que tenha ânimo. Perdoará abundantemente todos quantos a Ele forem em busca de perdão e restauração. DTN 398 4 Cristo poderia comissionar os anjos do Céu para derramar as taças de Sua ira sobre nosso mundo, a fim de destruir a todos quantos estão cheios de ódio contra Deus. Poderia apagar essa mancha negra do Seu Universo. Mas assim não faz. Acha-Se hoje ante o altar de incenso, apresentando perante Deus as orações dos que desejam Seu auxílio. DTN 398 5 A pessoa que a Ele se volve em busca de refúgio, Cristo erguerá acima da acusação e da contenda das línguas. Nenhum homem ou anjo mau pode incriminar a essas almas. Cristo as liga a Sua própria natureza humano-divina. Acham-se ao lado dAquele que tomou sobre Si os pecados, na luz que procede do trono divino. "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós". Romanos 8:33, 34. ------------------------Capítulo 63 -- "Eis que o teu rei virá" DTN 399 0 Este capítulo é baseado em Mateus 21:1-11; Marcos 11:1-10; Lucas 19:29-44; João 12:12-19. DTN 399 1 Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu Rei virá a ti, justo e Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta". Zacarias 9:9. DTN 399 2 Quinhentos anos antes do nascimento de Cristo, o profeta Zacarias assim predisse a vinda do Rei de Israel. Essa profecia devia então cumprir-se. Aquele que por tanto tempo recusara honras reais, vem agora a Jerusalém como o prometido herdeiro do trono de Davi. DTN 399 3 Foi no primeiro dia da semana que Jesus fez Sua entrada triunfal em Jerusalém. Multidões que haviam afluído a vê-Lo em Betânia, acompanharam-nO, ansiosos de Lhe testemunhar a recepção. Muita gente se achava a caminho de Jerusalém para celebrar a páscoa, e uniu-se à multidão que acompanhava Jesus. Toda a natureza parecia regozijar-se. As árvores estavam verdejantes, e as flores espargiam pelo ar um delicado aroma. O povo achava-se animado de nova vida e alegria. Surgia mais uma vez a esperança do novo reino. DTN 399 4 Determinado entrar a cavalo em Jerusalém, Jesus mandara dois dos discípulos buscarem para Ele uma jumenta e seu asninho. Por ocasião de Seu nascimento, o Salvador dependeu da hospitalidade de estranhos. A manjedoura em que esteve, foi um lugar de descanso emprestado. Agora, se bem que Seu seja todo o gado sobre milhares de colinas, depende da bondade de um estranho quanto a um animal em que entrar em Jerusalém como Rei. Novamente, porém, se manifesta Sua divindade, mesmo nas mínimas instruções dadas aos discípulos para o desempenho desse mandado. Como predissera, foi prontamente satisfeito o pedido: "O Senhor precisa deles". Mateus 21:3. Jesus preferiu servir-Se do asninho em que nenhum homem jamais montara. Com alegre entusiasmo, estenderam os discípulos suas vestes sobre o animal e sobre ele sentaram o Mestre. Até então Jesus sempre viajara a pé, e a princípio os discípulos se admiraram de que agora preferisse montar. Mas a esperança lhes raiou no coração ao jubiloso pensamento de que Ele estava para entrar na capital, proclamar-Se Rei, e firmar Seu poder real. Ao irem cumprir as ordens recebidas, comunicaram sua alegre esperança aos amigos de Jesus, e a agitação espalhou-se por toda parte, fazendo com que subisse de ponto a expectação do povo. DTN 399 5 Cristo estava seguindo o costume judaico nas entradas reais. O animal que montava era o mesmo cavalgado pelos reis de Israel, e a profecia predissera que assim viria o Messias a Seu reino. Logo que Ele Se sentou no jumentinho, um grande grito de triunfo atroou nos ares. A multidão aclamou-O como o Messias, seu Rei. Jesus aceitou agora a homenagem que nunca antes permitira, e os discípulos consideraram isso como prova de que suas alegres esperanças se realizariam, vendo-O estabelecido no trono. O povo ficou convencido de aproximar-se a hora de sua emancipação. Em pensamento viram os exércitos romanos expulsos de Jerusalém, e Israel mais uma vez nação independente. Todos estavam contentes e despertos; disputavam entre si o render-Lhe honras. Não podiam exibir pompas e esplendores, mas prestaram-Lhe o culto de corações felizes. Não lhes era possível presenteá-Lo com dádivas custosas, mas estendiam as vestes exteriores à guisa de tapete em Seu caminho, e também espalharam ramos de oliveira e palmas por onde devia passar. Não podiam abrir o cortejo triunfal com bandeiras reais, mas cortavam ramos de palmeira, os emblemas de vitória da natureza, e os agitavam no ar com altas aclamações e hosanas. DTN 400 1 À medida que avançavam, aumentava sempre o povo com a reunião dos que tinham ouvido da vinda de Jesus e se apressavam a tomar parte no acompanhamento. Os espectadores continuamente se misturavam à turba, perguntando: Quem é Este? Que quer dizer toda essa agitação? Todos tinham ouvido falar de Jesus, e esperavam que fosse a Jerusalém; mas sabiam que até então Ele Se esquivara a qualquer esforço para O colocar no trono e ficavam muito surpreendidos de saber que este era Ele. Cogitavam que teria operado essa grande mudança nAquele que dissera que Seu reino não era deste mundo. DTN 400 2 Suas perguntas são abafadas por um grito de triunfo. Este é aqui e ali repetido pela turba despertada, acompanhado pelos mais distantes, e ecoado pelos montes e vales. E depois acresce a comitiva pelas massas vindas de Jerusalém. Das multidões reunidas para assistir à páscoa, milhares saem ao encontro de Jesus. Saúdam-nO com o agitar das palmas e cânticos sagrados. Os sacerdotes fazem soar, no templo, a trombeta para o serviço da tarde, mas poucos atendem, e os príncipes, alarmados, dizem entre si: "Eis que toda a gente vai após Ele". João 12:19. DTN 400 3 Nunca antes, em Sua vida terrestre, permitira Jesus essa demonstração. Previa claramente o resultado. Levá-Lo-ia à cruz. Era, porém, Seu desígnio apresentar-Se assim publicamente como Redentor. Desejava chamar a atenção para o sacrifício que Lhe devia coroar a missão para com o mundo caído. Enquanto o povo estava reunido em Jerusalém para a celebração da páscoa, Ele, o Cordeiro de Deus, representado pelos sacrifícios simbólicos, voluntariamente Se pôs de parte como oblação. Seria necessário que Sua igreja, em todos os sucessivos séculos, fizesse de Sua morte pelos pecados do mundo assunto de profunda reflexão e estudo. Todos os fatos com ela relacionados deviam verificar-se de maneira a ficarem acima de qualquer dúvida. Era preciso, pois, que os olhos de todo o povo fossem então dirigidos para Ele; os acontecimentos que precederam Seu grande sacrifício deviam ser de molde a chamar a atenção para o próprio sacrifício. Depois de uma demonstração como a que acompanhou Sua entrada em Jerusalém, todos os olhos Lhe seguiram a rápida marcha para a cena final. DTN 401 1 Os acontecimentos relacionados com essa entrada triunfal constituiriam assunto de todas as bocas, e tornariam Jesus objeto das cogitações de todos os espíritos. Depois de Sua crucifixão, muitos recordariam estes fatos relacionados com Seu julgamento e morte. Seriam levados a pesquisar os escritos dos profetas e convencer-se-iam de que Jesus era o Messias; e multiplicar-se-iam em todas as terras os conversos à fé. DTN 401 2 Nessa triunfante cena de Sua vida terrestre, o Salvador poderia haver aparecido escoltado por anjos celestiais e anunciado pela trombeta de Deus; essa demonstração, no entanto, teria sido contrária ao desígnio de Sua missão, contrária à lei que Lhe governara a vida. Permaneceu fiel à sorte humilde que aceitara. Devia levar o fardo da humanidade até haver dado a vida pela vida do mundo. DTN 401 3 Esse dia, que se afigurava aos discípulos o mais glorioso de sua vida, ter-se-ia toldado de sombrias nuvens, soubessem eles que a cena de regozijo não era senão um prelúdio aos sofrimentos e à morte do Mestre. Embora Ele lhes houvesse repetidas vezes falado do sacrifício que certamente O aguardava, no alegre triunfo presente esqueceram Suas dolorosas palavras, e anteciparam-Lhe o próspero reino no trono de Davi. DTN 401 4 Novos acréscimos se iam fazendo continuamente à procissão, e com poucas exceções, todos quantos a ela se juntavam eram possuídos pelo entusiasmo do momento, avolumando os hosanas que ecoavam de monte em monte, de vale em vale. Subiam continuamente as aclamações: "Hosana ao Filho de Davi; bendito O que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!" Marcos 11:9, 10. DTN 401 5 Nunca antes vira o mundo um cortejo triunfal como esse. Não se assemelhava ao dos famosos conquistadores da Terra. Não fazia parte daquela cena nenhuma comitiva de lamentosos cativos, como troféus da bravura real. Achavam-se em torno do Salvador os gloriosos troféus de Seus serviços de amor pelo homem caído. Estavam os cativos a quem resgatara do poder de Satanás, louvando a Deus por sua libertação. Os cegos a quem restituíra a vista, abriam a marcha. Os mudos cuja língua soltara, entoavam os mais altos hosanas. Saltavam de alegria os coxos por Ele curados, sendo os mais ativos em quebrar os ramos de palmeira e agitá-los diante do Salvador. As viúvas e os órfãos exaltavam o nome de Jesus pelos atos de misericórdia que lhes dispensara. Os leprosos a quem purificara, estendiam na estrada as vestes incontaminadas, ao mesmo tempo que O saudavam como Rei da glória. Aqueles a quem Sua voz despertara do sono da morte, tomavam parte no cortejo. Lázaro, cujo corpo provara a corrupção no sepulcro, mas que então se regozijava na força da varonilidade gloriosa, conduzia o animal que Jesus montava. DTN 401 6 Muitos fariseus testemunhavam a cena e, ardendo de inveja e malignidade, buscavam desviar a corrente dos sentimentos populares. Com toda a sua autoridade tentaram impor silêncio ao povo; mas seus apelos e ameaças não faziam senão aumentar o entusiasmo. Temeram que essa multidão, na força de seu número, fizesse Jesus rei. Como último recurso, avançaram por entre a turba até onde estava o Salvador, e abordaram-nO com palavras de censura e ameaça: "Mestre, repreende os Teus discípulos". Lucas 19:39. Declararam não serem lícitas tão ruidosas manifestações, nem permitidas pelas autoridades. Foram, porém, reduzidos ao silêncio pela réplica de Jesus: "Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão". Lucas 19:40. Aquela cena de triunfo era designada pelo próprio Deus. Fora predita pelo profeta, e o homem era impotente para impedir os Seus desígnios. Houvesse o homem deixado de executar Seu plano, e Ele teria comunicado voz às inanimadas pedras, que saudariam Seu Filho com aclamações de louvor. Ao retirarem-se os mudos fariseus, foram proferidas por centenas de vozes as palavras de Zacarias: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu Rei virá a ti, justo e salvador, pobre, e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta". Zacarias 9:9. DTN 402 1 Quando o cortejo chegou ao cimo da colina e estava para descer para a cidade, Jesus deteve-Se, e toda a multidão com Ele. Perante eles se descortinava Jerusalém em toda a sua glória, nesse momento banhada à luz do Sol poente. O templo atraiu todos os olhares. Em majestosa suntuosidade erguia-se ele acima de todos os outros edifícios, parecendo apontar para o Céu, como a dirigir o povo ao único e verdadeiro Deus. O templo fora, durante muito tempo, a glória e o orgulho da nação judaica. Também os romanos se orgulhavam de sua magnificência. Um rei designado pelos romanos se unira aos judeus para o restaurar e embelezar, e o imperador de Roma o enriquecera com suas dádivas. Sua firme estrutura, riqueza e magnificência o haviam tornado uma das maravilhas do mundo. DTN 402 2 Enquanto o Sol no Ocidente tingia e dourava o Céu, o resplendor de sua glória iluminava o puro e alvo mármore das paredes do templo, pondo-lhe cintilações nas áureas colunas. Do alto do monte onde Jesus parou com Seus seguidores, apresentava ele a aparência de maciça estrutura de neve, marchetado de capitéis de ouro. À entrada do templo achava-se uma videira de ouro e prata, com verdes folhagens e maciços cachos de uvas, executados pelos mais hábeis artistas. Esse desenho representava Israel como uma próspera vinha. O ouro, a prata e verde vivo eram combinados com raro gosto e consumada maestria; enlaçando graciosamente os alvos e luzentes pilares, agarrando-se com as brilhantes gavinhas a seus dourados ornamentos, refletia o esplendor do Sol poente, resplandecendo como se o Céu lhe houvera emprestado a sua glória. DTN 402 3 Jesus contempla a cena, e a multidão silencia suas aclamações, encantada com a súbita visão de beleza. Todos os olhos se volvem para o Salvador, esperando ver-Lhe no semblante a admiração por eles próprios experimentada. Ao contrário, no entanto, percebem-Lhe uma nuvem de tristeza. Surpreendem-se, decepcionam-se ao ver-Lhe os olhos marejados de lágrimas e o corpo oscilar como a árvore agitada pela tempestade, enquanto uma angustiosa queixa Lhe brota dos trêmulos lábios, como irrompendo das profundezas de um coração partido. Que cena aquela que se oferecia à contemplação dos anjos! Seu bem-amado Comandante em lágrimas de angústia! Que visão para a alegre turba que, com gritos de triunfo e agitar de palmas O escoltava à gloriosa cidade, onde -- esperavam com ardor -- iria Ele em breve reinar! Jesus chorara ao pé do sepulcro de Lázaro, mas fora numa divina mágoa de simpatia para com a humana dor. Esta súbita tristeza, porém, era qual nota de lamento em meio de um grande coro triunfal. Por entre uma cena de regozijo, em que todos Lhe tributavam homenagens, o Rei de Israel Se debulhava em lágrimas; não as silenciosas lágrimas da alegria, mas pranto e gemidos de inexprimível angústia. A turba sentiu-se repentinamente tomada de tristeza. Emudeceram-lhes as aclamações. Muitos choraram, possuídos de simpatia por um pesar que não podiam compreender. DTN 403 1 As lágrimas de Jesus não eram a antecipação de Seus próprios sofrimentos. Mesmo diante dEle achava-se o Getsêmani, onde em breve O envolveria o horror de uma grande treva. Estava à vista também a porta das ovelhas, pela qual, durante séculos, haviam sido conduzidos os animais destinados às ofertas sacrificais. Essa porta presto se abriria para Ele, o grande Cordeiro de Deus, a cujo sacrifício pelos pecados do mundo apontavam todas essas ofertas. Perto estava o Calvário, cenário de Sua próxima agonia. No entanto, não foi por causa desses pontos a lembrarem-Lhe a cruel morte que o Redentor chorou e gemeu em angústia de espírito. Não era uma dor egoísta, a Sua. O pensamento de Sua própria agonia não intimidava aquela nobre Alma pronta para o sacrifício. Foi a vista de Jerusalém que pungiu o coração de Jesus -- Jerusalém, que rejeitara o Filho de Deus e Lhe desdenhara o amor, que recusara ser convencida por Seus poderosos milagres e estava prestes a tirar-Lhe a vida. Viu o que ela era, em sua culpa de rejeitar o Redentor, e o que poderia ter sido caso O houvesse aceitado a Ele, o único a poder-lhe curar a ferida. Viera para salvá-la; como poderia a ela renunciar? DTN 403 2 Israel fora um povo favorecido; Deus fizera de seu templo a Sua habitação; era "formoso de sítio, e alegria de toda a Terra". Salmos 48:2. Aí se achava o registro de mais de mil anos do protetor cuidado e terno amor de Cristo, como de um pai tratando com um filho único. Naquele templo emitiram os profetas suas solenes advertências. Ali foram agitados os ardentes incensários, enquanto o incenso, de mistura com as orações dos adoradores, ascendera para Deus. Ali fluíra o sangue dos animais, tipo do sangue de Cristo. Ali manifestara Jeová sua glória sobre o propiciatório. Ali oficiaram os sacerdotes, e a pompa do símbolo e da cerimônia havia continuado por séculos. Tudo isso, porém, devia ter um fim. DTN 403 3 Jesus ergueu a mão -- aquela mão que tantas vezes beneficiara os enfermos e sofredores -- e movendo-a na direção da condenada cidade, em entrecortadas frases de dor, exclamou: "Ah! se tu soubesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence!" Lucas 19:42. Aí Se deteve o Salvador e deixou por dizer qual seria a condição de Jerusalém, houvesse ela aceito o auxílio que Deus lhe desejava dar -- o dom de Seu bem-amado Filho. Se Jerusalém houvesse sabido o que era seu privilégio saber, e dado ouvidos à luz que o Céu lhe enviara, teria permanecido de pé no orgulho de sua prosperidade, rainha de reinos, livre na força do poder dado por seu Deus. Não teria havido soldados armados às suas portas, nem bandeiras romanas tremulando de seus muros. O glorioso destino que felicitaria Jerusalém, houvesse ela aceito o Redentor, surgiu aos olhos do Filho de Deus. Viu que, por meio dEle, seria ela curada de sua grave enfermidade, libertada da escravidão e estabelecida como a poderosa metrópole da Terra. De suas muralhas partiria a pomba da paz, em direção de todas as nações. Seria ela o diadema de glória do mundo. DTN 404 1 Mas a brilhante visão do que poderia haver sido Jerusalém se desvanece aos olhos do Salvador. Compreende o que ela é então, sob o jugo romano, sob o desagrado de Deus, condenada ao Seu juízo retribuidor. Reata o fio de Sua lamentação: "Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas, e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação". Lucas 19:42-44. DTN 404 2 Cristo veio para salvar Jerusalém com seus filhos; mas o orgulho farisaico, a hipocrisia, a inveja e a maldade O impediram de realizar Seu desígnio. Jesus sabia a terrível retribuição com que seria visitada a condenada cidade. Viu Jerusalém cercada de exércitos, os sitiados habitantes levados à fome e à morte, mães alimentando-se do corpo morto dos próprios filhos, e tanto pais como filhos arrebatando um ao outro o último pedaço de pão, destruída a afeição natural pelas corrosivas angústias da fome. Viu que a obstinação dos judeus, segundo se evidenciava no rejeitar da salvação por Ele oferecida, os levaria também a recusar submissão aos exércitos invasores. Contemplou o Calvário, no qual havia de ser erguido, tão densamente coalhado de cruzes como de árvores uma floresta. Viu os infelizes habitantes sofrendo em instrumentos de tortura e mediante crucifixão, destruídos os belos palácios, o templo em ruínas, e de seus maciços muros nem uma pedra deixada sobre outra, enquanto a cidade era arada como um campo. Bem podia o Salvador chorar em face de tão terrível cena! DTN 404 3 Jerusalém fora a filha de Seus cuidados, e como um terno pai pranteia um filho extraviado, assim chorava Jesus sobre a bem-amada cidade. Como posso renunciar a ti? Como te posso ver votada à destruição? Deverei deixar-te encher o cálice de tua iniqüidade? Uma alma é de tanto valor que, em comparação com ela, os mundos desmerecem até à insignificância; mas ali estava toda uma nação para se perder! Quando o Sol, em declínio rápido se ocultasse no céu ocidental, terminaria o dia de graça de Jerusalém. Quando a comitiva se detinha no cimo do Olivete, não era ainda demasiado tarde para Jerusalém se arrepender. O anjo da misericórdia dobrava então as asas para descer do áureo trono, a fim de dar lugar à justiça e ao juízo prestes a vir. Mas o grande coração amorável de Cristo intercedia ainda por Jerusalém, que Lhe escarnecera as misericórdias, desprezando as advertências, e estava a ponto de mergulhar as mãos em Seu sangue. Se tão-somente Jerusalém se arrependesse, não seria ainda demasiado tarde. Enquanto os últimos raios do Sol poente pairavam sobre o templo, as torres e cúpulas, não a levaria algum anjo bom ao amor do Salvador, desviando-lhe a condenação? Formosa e ímpia cidade, que apedrejara os profetas, que rejeitara o Filho de Deus, que por sua impenitência se prendia em cadeias de servidão -- seu dia de graça estava quase passado! DTN 405 1 Todavia, novamente o Espírito de Deus fala a Jerusalém. Antes do fim do dia é dado outro testemunho em favor de Cristo. Ergue-se a voz desse testemunho, em correspondência com o chamado de um passado profético. Se Jerusalém atender ao chamado, se receber o Salvador que lhe está entrando pelas portas, poderá ainda ser salva. DTN 405 2 Aos ouvidos dos guias, em Jerusalém, chegam as notícias de que Jesus Se aproxima da cidade, com grande ajuntamento de povo. Mas eles não têm bom acolhimento para oferecer ao Filho de Deus. Saem-Lhe ao encontro com temor, esperando dispersar a turba. Quando o cortejo está para descer o Monte das Oliveiras, é interceptado pelos principais. Indagam a causa do tumultuoso regozijo. Ao perguntarem: "Quem é Este?" os discípulos possuídos de inspiração, respondem. Em eloqüentes acentos, repetem as profecias concernentes a Cristo: DTN 405 3 Adão vos dirá: É a semente da mulher que há de esmagar a cabeça da serpente. DTN 405 4 Perguntai a Abraão, ele vos afirmará: "É Melquisedeque, Rei de Salém" (Gênesis 14:18), Rei de Paz. DTN 405 5 Dir-vos-á Jacó: É Siló, da tribo de Judá. DTN 405 6 Isaías vos declarará: "Emanuel" (Isaías 7:14), "Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz". Isaías 9:6. DTN 405 7 Jeremias vos há de afirmar: O Renovo de Davi, "o Senhor, Justiça Nossa". Jeremias 23:6. DTN 405 8 Afirmar-vos-á Daniel: É o Messias. DTN 405 9 Oséias vos dirá: É "o Senhor, o Deus dos Exércitos; o Senhor é o Seu memorial". Oséias 12:5. DTN 405 10 Exclamará João Batista: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. DTN 405 11 O grande Jeová proclamou de Seu trono: "Este é o Meu Filho amado". Mateus 3:17. DTN 405 12 Nós, Seus discípulos, declaramos: Este é Jesus, o Messias, o Príncipe da vida, o Redentor do mundo. DTN 405 13 E o príncipe das potestades das trevas O reconhece, dizendo: "Bem sei quem és: o Santo de Deus". Marcos 1:24. ------------------------Capítulo 64 -- Um povo condenado DTN 406 0 Este capítulo é baseado em Marcos 11:11-14; Mateus 21:17-19. DTN 406 1 A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém foi um imperfeito símbolo da Sua vinda nas nuvens do céu com poder e glória, por entre as aclamações dos anjos e o regozijo dos santos. Então, cumprir-se-ão as palavras de Cristo aos fariseus: "Desde agora Me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor". Mateus 23:39. Em visão profética, foi mostrado a Zacarias aquele dia de triunfo final; e ele viu também a condenação dos que, no primeiro advento, rejeitaram a Cristo: "E olharão para Mim, a quem traspassaram; e O prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por Ele, como se chora amargamente pelo primogênito". Zacarias 12:10. Esta cena anteviu Cristo quando contemplou a cidade e chorou sobre ela. Na ruína temporal de Jerusalém viu Ele a final destruição daquele povo que era culpado do sangue do Filho de Deus. DTN 406 2 Os discípulos notavam o ódio dos judeus para com Cristo, mas não viam ainda até aonde ele os levaria. Não compreendiam ainda a verdadeira condição de Israel, nem entendiam a retribuição que estava impendente sobre Jerusalém. Isto lhes revelou Cristo mediante significativa lição prática. DTN 406 3 O último apelo a Jerusalém fora em vão. Os sacerdotes e principais tinham ouvido a voz profética do passado ecoando através da multidão, em resposta à pergunta: "Quem é Este?" mas não a aceitaram como sendo a voz da inspiração. Irados, confundidos, procuraram fazer silenciar o povo. Havia oficiais romanos entre a turba, e os inimigos de Jesus O denunciaram aos mesmos como chefe de uma rebelião. Apresentaram-nO como estando para Se apoderar do templo, e dominar como rei de Jerusalém. DTN 406 4 Mas a voz calma de Jesus fez por momentos silenciar a multidão clamorosa, enquanto declarava não ter vindo estabelecer um reino temporal; havia de subir em breve a Seu Pai, e Seus acusadores não mais O veriam, até que volvesse em glória. Então, demasiado tarde para sua salvação, O reconheceriam. Estas palavras, proferiu-as Jesus com tristeza e vigor singulares. Os funcionários romanos foram reduzidos ao silêncio. Ainda que estranhos à divina influência, comoveu-se-lhes o coração como nunca antes. No calmo e solene rosto de Jesus, leram amor, benevolência e serena dignidade. Foram possuídos de uma simpatia que não podiam compreender. Ao invés de prender a Jesus, sentiram-se mais inclinados a render-Lhe homenagem. Voltando-se para os sacerdotes e principais, acusaram-nos de criar o distúrbio. Esses chefes, envergonhados e derrotados, viraram-se para o povo com suas queixas e questionaram, zangados, uns com os outros. DTN 407 1 Entretanto, passou Jesus despercebidamente para o templo. Tudo ali estava tranqüilo, pois a cena sobre o Olivete para lá atraíra o povo. Por breve espaço demorou-Se Jesus no templo, olhando-o dolorosamente. Depois, retirou-Se com os discípulos e voltou para Betânia. Quando o povo O procurou para colocá-Lo no trono, não O pôde achar. DTN 407 2 Toda a noite passou Jesus em oração, e pela manhã, tornou a ir ao templo. No caminho encontrou um figueiral. Tinha fome, "e vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos". Marcos 11:13. DTN 407 3 Não era estação de figos maduros, senão em certas localidades; e nas montanhas das cercanias de Jerusalém podia-se na verdade dizer: "Não era tempo de figos". Marcos 11:13. No pomar a que Jesus chegou, porém, uma árvore parecia adiantada a todas as demais. Estava já coberta de folhas. A natureza da figueira é que, antes de se abrirem as folhas, apareça o fruto. Portanto, essa árvore cheia de folhagem era uma promessa de bem desenvolvidos frutos. Sua aparência, porém, era enganosa. Depois de procurar entre os ramos, dos mais baixos aos mais altos, Jesus "não achou senão folhas". Era uma massa de pretensiosa folhagem, nada mais. DTN 407 4 Cristo proferiu contra ela uma maldição, para que secasse. "Nunca mais coma alguém fruto de ti", disse Ele. Na manhã seguinte, quando Ele e os discípulos se achavam outra vez a caminho para a cidade, os ressequidos ramos e as folhas caídas atraíram-lhes a atenção. "Mestre", disse Pedro, "eis que a figueira que Tu amaldiçoaste, se secou". Marcos 11:21. DTN 407 5 O ato de Cristo em amaldiçoar a figueira, surpreendera os discípulos. Parecia-lhes diverso de Suas maneiras e obras. Muitas vezes O tinham ouvido dizer que viera, não para condenar o mundo, mas para que por meio dEle o mundo se pudesse salvar. Lembravam-se de Suas palavras: "O Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las". Lucas 9:56. Suas maravilhosas obras foram realizadas para restaurar, nunca para destruir. Os discípulos O haviam conhecido unicamente como o Restaurador, o Médico. Esse ato era único. Qual seria seu desígnio? indagaram. DTN 407 6 Deus "tem prazer na benignidade". Miquéias 7:18. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tomo prazer na morte do ímpio". Ezequiel 33:11. Para Ele a obra de destruição e acusação é uma "estranha obra" (Isaías 28:21), Trad. Figueiredo. Mas é em misericórdia e amor que ergue o véu do futuro, e revela aos homens os resultados de um caminho de pecado. DTN 407 7 A maldição da figueira foi uma parábola viva. Aquela árvore estéril, ostentando sua pretensiosa folhagem ao próprio rosto de Cristo, era um símbolo da nação judaica. O Salvador desejava tornar claras aos Seus discípulos a causa e a certeza da condenação de Israel. Para esse fim como que investiu a árvore de qualidades morais, e tornou-a expositora da verdade divina. Os judeus distinguiam-se de todas as outras nações, professando fidelidade para com Deus. Haviam sido especialmente favorecidos por Ele, e pretendiam ser mais justos que todos os outros povos. Mas estavam corrompidos pelo amor do mundo e a avareza. Jactanciavam-se de seu conhecimento, mas eram ignorantes das reivindicações divinas, e cheios de hipocrisia. Como a árvore estéril, estendiam os pretensiosos ramos para o alto, luxuriantes na aparência, belos à vista, mas não dando "senão folhas". A religião judaica, com o magnificente templo, os altares sagrados, os sacerdotes mitrados e cerimônias impressionantes, era na verdade bela na aparência exterior; faltavam-lhe, porém, humildade, amor e beneficência. DTN 408 1 Todas as árvores do figueiral se achavam destituídas de fruto; as que não ostentavam folhas, no entanto, não suscitavam esperanças, não causando assim decepção. Essas árvores representavam os gentios. Eram tão destituídos de piedade como os judeus; mas não tinham professado servir a Deus. Não mostravam vangloriosas pretensões de bondade. Eram cegos às obras e caminhos divinos. Para eles não chegara ainda o tempo dos figos. Esperavam um dia que lhes trouxesse luz e esperança. Os judeus, que haviam recebido maiores bênçãos de Deus, eram responsáveis por seus abusos dos mesmos dons. Os privilégios de que se jactanciavam, só lhes acrescentavam a culpa. DTN 408 2 Jesus Se aproximara da figueira com fome, em busca de alimento. Assim chegou Ele a Israel, ansioso de neles encontrar os frutos da justiça. Prodigalizara-lhes Seus dons, a fim de que dessem frutos para benefício do mundo. Toda oportunidade, todo privilégio lhes fora assegurado, e em troca buscara a simpatia e a cooperação deles em Sua obra de graça. Anelava achar neles espírito de sacrifício e compaixão, zelo de Deus e profunda ansiedade de alma pela salvação de seus semelhantes. Houvessem eles guardado a lei divina, e teriam realizado a mesma obra abnegada feita por Cristo. Mas o amor para com Deus e os homens foi eclipsado pelo orgulho e a presunção. Trouxeram ruína sobre si mesmos, por se recusarem a servir aos outros. Os tesouros da verdade que lhes foram confiados, não os deram eles ao mundo. Na figueira estéril poderiam ler tanto o seu pecado como o seu castigo. Seca à maldição do Salvador, apresentando-se queimada, ressequida desde as raízes, a figueira mostrava o que seria o povo de Israel quando dele fosse retirada a graça divina. Recusando-se a comunicar bênção, não mais a receberiam. "A tua perdição, ó Israel", diz o Senhor, "toda vem de ti". Oséias 13:9. DTN 408 3 A advertência é para todos os tempos. O ato de Cristo em amaldiçoar a árvore que Seu próprio poder criara, fica como aviso para todas as igrejas e todos os cristãos. Ninguém pode viver a lei divina sem servir aos outros. Mas há muitos que não vivem segundo a misericordiosa, abnegada vida de Cristo. Alguns que se julgam excelentes cristãos não compreendem o que significa o serviço para Deus. Seus planos e cogitações têm por fim agradar a si mesmos. Agem sempre com referência a si próprios. O tempo só é de valor para eles quando podem ajuntar para si mesmos. Em todos os negócios da vida, é esse o seu objetivo. Trabalham não para os outros, mas para si mesmos. Deus os criou para viverem num mundo onde deve ser executado serviço altruísta. Era Seu desígnio que ajudassem a seus semelhantes por todos os modos possíveis. Mas é tão grande o eu que não podem ver nenhuma outra coisa. Não se põem em contato com a humanidade. Os que assim vivem para si, são como a figueira, toda presunção, mas sem frutos. Observam as formas de culto, mas sem arrependimento nem fé. Em profissão, honram a lei divina, mas faltam na obediência. Dizem, mas não fazem. Na sentença proferida contra a figueira, demonstra Cristo quão aborrecível é a Seus olhos essa vã pretensão. Diz Ele que o pecador declarado é menos culpado do que o que professa servir a Deus, mas não produz fruto para Sua glória. DTN 409 1 A parábola da figueira, dita antes da visita de Cristo a Jerusalém, ligava-se diretamente à lição por Ele ensinada no amaldiçoar a árvore sem fruto. O jardineiro intercedeu pela árvore estéril da parábola: "Deixa-a este ano, até que eu a escave e esterque; e, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar." Maior cuidado seria concedido à árvore estéril. Teria todas as vantagens. Mas se permanecesse infrutífera, coisa alguma a salvaria da destruição. Na parábola não foi predito o resultado da obra do jardineiro. Dependia do povo a quem eram dirigidas as palavras de Cristo. Os judeus eram representados pela árvore estéril, e com eles ficava a decisão de seu destino eterno. Foram-lhes concedidas as vantagens que o Céu lhes podia dar, mas não aproveitaram as crescentes bênçãos. Pelo ato de Cristo em amaldiçoar a figueira estéril, mostrou-se o resultado. Determinaram eles sua própria destruição. DTN 409 2 Por mais de um milênio abusara a nação judaica da misericórdia de Deus e atraíra Seus juízos. Rejeitaram-Lhe as advertências e mataram-Lhe os profetas. Por esses pecados tornou-se responsável o povo do tempo de Cristo, seguindo o mesmo caminho. Na rejeição de suas presentes misericórdias e advertências, residia a culpa daquela geração. Com as cadeias que a nação estivera por séculos a forjar, o povo do tempo de Cristo prendera a si mesmo. DTN 409 3 Em todos os séculos se concede aos homens seu período de luz e privilégios, um tempo de prova, em que se podem reconciliar com Deus. Há, porém, um limite a essa graça. A misericórdia pode interceder por anos e ser negligenciada e rejeitada; vem, porém, o tempo em que essa misericórdia faz sua última súplica. O coração torna-se tão endurecido que cessa de atender ao Espírito Santo de Deus. Então a suave, atraente voz não mais suplica ao pecador, e cessam as reprovações e advertências. DTN 410 1 Chegara aquele dia para Jerusalém. Jesus chorou em agonia sobre a condenada cidade, mas não a podia livrar. Esgotaria todos os recursos. Rejeitando o Espírito de Deus, Israel rejeitara o único meio de auxílio. Nenhum outro poder havia pelo qual pudesse ser libertado. DTN 410 2 A nação judaica era um símbolo do povo de todos os séculos, que desdenha os rogos do Infinito Amor. As lágrimas de Cristo, ao chorar sobre Jerusalém, foram derramadas pelos pecados de todos os tempos. Nos juízos proferidos contra Israel, os que rejeitam as reprovações e advertências do Santo Espírito de Deus podem ler sua própria condenação. DTN 410 3 Há nesta geração muitos que estão trilhando o mesmo caminho dos incrédulos judeus. Testemunharam as manifestações do poder de Deus; o Espírito Santo lhes falou ao coração; apegam-se, porém, a sua incredulidade e resistência. Deus lhes envia advertências e repreensões, mas não querem confessar seus erros, e rejeitam-Lhe a mensagem e o mensageiro. Os próprios meios que Ele emprega para sua restauração, tornam-se para eles em pedra de tropeço. DTN 410 4 Os profetas de Deus eram aborrecidos pelo apóstata Israel, porque por intermédio deles se revelavam seus pecados ocultos. Acabe considerava Elias inimigo, porque o profeta era fiel em repreender as secretas iniqüidades do rei. Assim hoje o servo de Cristo, o reprovador do pecado, encontra desdém e repulsas. A verdade bíblica, a religião de Cristo, luta contra uma forte corrente de impureza moral. O preconceito é mesmo mais forte no coração dos homens agora do que nos dias de Jesus. Ele, Cristo, não realizou as expectações dos homens; sua vida foi uma repreensão aos pecados deles, e O rejeitaram. Assim hoje a verdade da Palavra de Deus não se harmoniza com as práticas dos homens, com sua inclinação natural, e milhares lhe rejeitam a luz. Os homens, instigados por Satanás, lançam dúvidas sobre a Palavra de Deus e procuram exercer seu independente juízo. Preferem as trevas à luz, mas fazem-no com perigo para a própria alma. Os que sofismavam às palavras de Cristo, encontravam cada vez mais motivo para sofismar, até que se desviaram da Verdade e da Vida. Assim é agora. Deus não Se propõe a remover toda objeção que o coração carnal possa trazer contra Sua verdade. Aos que recusam os preciosos raios da luz que haviam de iluminar as trevas, os mistérios da Palavra de Deus permanecerão para sempre mistérios. Deles é oculta a verdade. Caminham cegamente, e ignoram a ruína que se acha perante eles. DTN 410 5 Do alto do Olivete, Cristo contemplou o mundo em todos os séculos, e Suas palavras são aplicáveis a toda a alma que desdenha as súplicas da divina misericórdia. Desdenhador de Seu amor, Ele hoje Se dirige a ti. És tu, tu mesmo que deves conhecer as coisas que pertencem à tua paz. Cristo está vertendo amargas lágrimas por ti, que não tens lágrimas para verter por ti mesmo. Já se manifesta em ti aquela fatal dureza de coração que destruiu os fariseus. E toda prova da graça divina, todo raio de divina luz, ou está abrandando e subjugando a alma, ou confirmando-a em sua desesperada impenitência. DTN 411 1 Cristo previu que Jerusalém permaneceria endurecida e impenitente; entretanto, toda a culpa, todas as conseqüências da rejeitada misericórdia, jaziam-lhe à própria porta. Assim se dará com toda alma que segue a mesma orientação. O Senhor declara: "A tua perdição, ó Israel, toda vem de ti". Oséias 13:9. "Ouve tu, ó Terra! Eis que Eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seus pensamentos; porque não estão atentos às Minhas palavras, e rejeitam a Minha lei". Jeremias 6:10. ------------------------Capítulo 65 -- O templo novamente purificado DTN 412 0 Este capítulo é baseado em Mateus 21:12-16, 23-46; Marcos 11:15-19, 27-33; 12:1-12; Lucas 19:45-48; 20:1-19. DTN 412 1 No princípio de Seu ministério, Cristo expulsara do templo os que o manchavam por seu profano tráfico; e Sua atitude severa e divina enchera de terror o coração dos astutos comerciantes. Ao fim de Sua missão, foi Ele outra vez ao templo e encontrou-o de novo profanado como antes. As condições eram ainda piores. O pátio do templo estava como um vasto curral de gado. Com os berros dos animais e o agudo tinir das moedas, misturava-se o som de iradas altercações entre os traficantes, e ouviam-se entre eles vozes de homens no sagrado ofício. Os dignitários do templo empenhavam-se, eles próprios, em comprar e vender, e trocar dinheiro. Tão completamente se achavam dominados pela cobiça de lucro que, aos olhos de Deus, não eram melhores que ladrões. DTN 412 2 Pouco percebiam os sacerdotes e principais a solenidade da obra que lhes cumpria realizar. Em toda páscoa e festa dos tabernáculos, milhares de animais eram mortos, e seu sangue recolhido pelos sacerdotes e derramado sobre o altar. Os judeus familiarizaram-se com a oferta de sangue e quase perderam de vista o fato de ser o pecado o que tornava necessário todo esse derramamento de sangue de animais. Não discerniam que isso prefigurava o sangue do querido Filho de Deus, que seria derramado pela vida do mundo, e que pela oferta de sacrifícios deviam os homens ser levados ao crucificado Redentor. DTN 412 3 Jesus olhava as inocentes vítimas do sacrifício, e via como os judeus haviam tornado essas grandes convocações cenas de derramamento de sangue e de crueldade. Em lugar de humilde arrependimento pelo pecado, multiplicaram o sacrifício de animais, como se Deus pudesse ser honrado por um serviço destituído de coração. Os sacerdotes e principais endureceram a alma pelo egoísmo e a avareza. Os próprios símbolos que indicavam o Cordeiro de Deus, haviam eles transformado num meio de ganho. Assim, aos olhos do povo fora destruída, em grande parte, a santidade do serviço sacrifical. Despertou-se a indignação de Jesus; sabia que Seu sangue, tão próximo a ser vertido pelos pecados do mundo, seria tão pouco apreciado pelos sacerdotes e anciãos, como o dos animais, que derramavam incessantemente. DTN 412 4 Contra tais práticas falara Cristo por meio dos profetas. Dissera Samuel: "Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à Palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor é do que a gordura de carneiros". 1 Samuel 15:22. E Isaías, vendo em visão profética a apostasia dos judeus, a eles se dirigiu como príncipes de Sodoma e Gomorra: "Ouvi a Palavra do Senhor, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, ó povo de Gomorra. De que Me serve a Mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e de gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue dos bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes diante de Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar os Meus átrios?" "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos; cessai de fazer mal; aprendei a fazer bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas". Isaías 1:10-12, 16, 17. DTN 413 1 Aquele mesmo que dera essas profecias, repetia agora, pela última vez, a advertência. Em cumprimento da profecia, o povo proclamara Jesus rei de Israel. Ele lhes recebera as homenagens, e aceitara a posição de rei. Nesse caráter devia agir. Sabia que seriam nulos Seus esforços para reformar um sacerdócio corrompido; não obstante, essa obra precisava ser feita; tinha de ser dada a um povo incrédulo a prova de Sua divina missão. DTN 413 2 Novamente o penetrante olhar de Jesus percorreu o profanado pátio do templo. Todos os olhares estavam voltados para Ele. Sacerdotes e principais, fariseus e gentios, olhavam com surpresa e respeito para Aquele que Se achava diante deles com a majestade do Rei do Céu. A divindade irrompeu da humanidade, revestindo Cristo de uma dignidade e glória que jamais manifestara. Os que se achavam mais próximos dEle afastaram-se o mais que lhes permitia a multidão. Não fosse a presença de alguns de Seus discípulos, e o Salvador Se encontraria como isolado. Todos os sons cessaram. Parecia insuportável o profundo silêncio. Cristo falou com um poder que dominou o povo como uma forte tempestade: "Está escrito: A Minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores". Lucas 19:46. Sua voz soou como trombeta através do templo. O desagrado de Sua fisionomia assemelhava-se a um fogo consumidor. Com autoridade, ordenou: "Tirai daqui estes." DTN 413 3 Três anos antes, os dirigentes do templo haviam-se envergonhado de sua fuga à ordem de Jesus. Sempre se admiraram depois, de seus temores e de sua obediência sem réplica a um simples, humilde homem. Julgaram ser impossível repetir-se a humilhante submissão. Ficaram, todavia, ainda mais aterrados agora que antes e mais apressados em obedecer-Lhe à ordem. Não houve ninguém que ousasse questionar-Lhe a autoridade. Sacerdotes e comerciantes fugiram-Lhe da presença, tangendo adiante o gado. DTN 413 4 Ao saírem do templo, encontraram no caminho uma multidão que trazia os enfermos, indagando pelo grande Médico. As notícias dadas pelos que fugiam, fizeram com que alguns desses voltassem atrás. Temiam encontrar Alguém tão poderoso, cujo simples olhar afugentara de Sua presença os sacerdotes e principais. O maior número, porém, avançou por entre a multidão apressada, ansiosos de encontrar Aquele que era sua única esperança. Ao fugir do templo a multidão, muitos ficaram atrás. A esses se reuniram então os recém-vindos. Novamente o pátio do templo se encheu de doentes e moribundos, e mais uma vez, Jesus os socorreu. DTN 414 1 Depois de algum tempo, os sacerdotes e líderes se aventuraram a voltar ao templo. Acalmado o pânico, sentiram-se presa de ansiedade quanto ao que iria Jesus fazer em seguida. Esperavam que tomasse o trono de Davi. Voltando silenciosamente ao templo, ouviram vozes de homens e mulheres e crianças louvando a Deus. Ao entrar, ficaram paralisados diante da maravilhosa cena. Viram os enfermos curados, os cegos restaurados à vista, os surdos ouvindo, e os coxos saltando de prazer. As crianças superavam os demais no regozijo. Jesus lhes curara as moléstias; enlaçara-as nos braços, recebera-lhes os beijos de reconhecido afeto, e algumas delas haviam adormecido em Seu peito, ao ensinar Ele a multidão. Agora, com alegres vozes, os pequenos Lhe entoavam o louvor. Repetiam os hosanas da véspera, e triunfalmente agitavam palmas diante do Salvador. O templo ecoava e reecoava às suas aclamações: "Bendito o que vem em nome do Senhor"! Salmos 118:26. "Eis que o teu Rei virá a ti, justo e Salvador!" Zacarias 9:9. "Hosana ao Filho de Davi!" DTN 414 2 O som dessas felizes, irreprimidas vozes foi uma ofensa para os dirigentes do templo. Decidiram-se a fazer calar essas demonstrações. Disseram ao povo que a casa de Deus era profanada pelos pés das crianças e suas aclamações de júbilo. Verificando que suas palavras não causavam impressão no povo, voltaram-se os sacerdotes para Cristo: "Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?" Mateus 21:16. Predissera a profecia que Cristo seria proclamado rei, e essa palavra se devia cumprir. Os sacerdotes e principais de Israel recusaram anunciar Sua glória, e Deus moveu as crianças para Lhe servirem de testemunhas. Silenciassem as vozes infantis, e os próprios pilares do templo entoariam o louvor do Salvador. DTN 414 3 Os fariseus ficaram inteiramente perplexos e desconcertados. Alguém que não podiam intimidar, achava-Se com a direção. Jesus tomara Sua posição de guarda do templo. Nunca antes assumira essa régia autoridade. Nunca antes haviam Suas palavras e ações possuído tão grande poder. Fizera maravilhosas obras por toda Jerusalém, mas nunca antes por maneira tão solene e impressiva. Em presença do povo que Lhe testemunhara as maravilhosas obras, os sacerdotes e principais não ousavam hostilizá-Lo abertamente. Conquanto zangados e confundidos por Sua resposta, não foram capazes de fazer qualquer coisa mais naquele dia. DTN 415 1 Na manhã seguinte, o Sinédrio considerou novamente a atitude que devia tomar para com Jesus. Três anos antes, tinham pedido um sinal de Sua messianidade. Desde então realizara Ele poderosas obras por toda a Terra. Curara os enfermos, alimentara miraculosamente milhares de pessoas, caminhara sobre as ondas, e Sua palavra impusera calma ao revoltado mar. Repetidamente lera o coração dos homens como um livro aberto; expulsara demônios e ressuscitara mortos. Os principais tinham diante de si as provas de Sua messianidade. Decidiram então não pedir nenhum sinal de Sua autoridade, mas tirar dEle qualquer confissão ou declaração que O pudessem condenar. DTN 415 2 Dirigindo-se ao templo, onde Ele estava ensinando, puseram-se a interrogá-Lo: "Com que autoridade fazes isto? e quem Te deu tal autoridade?" Mateus 21:23. Esperavam que Ele declarasse proceder de Deus Sua autoridade. Essa afirmação intentavam negar. Mas Jesus os enfrentou com outra interrogação, aparentemente ligada a assunto diverso, e tornou Sua resposta dependente da que eles dessem a essa pergunta. "O batismo de João", disse Ele, "de onde era? Do Céu, ou dos homens?" Mateus 21:25. DTN 415 3 Viram os sacerdotes encontrar-se diante de um dilema do qual nenhum sofisma os podia livrar. Se dissessem que o batismo de João era do Céu, tornar-se-ia patente sua incoerência. Cristo diria: Então por que não o crestes? João testificara de Cristo: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Se os sacerdotes acreditassem no testemunho de João, como poderiam negar a messianidade de Cristo? Se declarassem sua crença real, de que o ministério de João era dos homens, trariam sobre si mesmos uma tempestade de indignação; pois o povo acreditava que João era profeta. DTN 415 4 Com vivo interesse aguardava o povo a decisão. Sabia que os sacerdotes haviam professado aceitar o ministério de João, e esperavam que reconhecessem indiscutivelmente que fora enviado por Deus. Mas depois de conferenciarem em segredo entre si, decidiram não se comprometer. Professando hipocritamente ignorância, disseram: "Não sabemos." "Nem Eu vos digo com que autoridade faço isto" (Mateus 21:27), disse Jesus. DTN 415 5 Escribas, sacerdotes e principais ficaram todos em silêncio. Confundidos e decepcionados, quedaram cabisbaixos, não ousando insistir em interrogar a Cristo. Por sua covardia e indecisão haviam, em grande medida, perdido o respeito do povo, que se achava então ao lado, divertido de ver derrotados esses orgulhosos homens, cheios de justiça própria. DTN 415 6 Todas essas palavras e atos de Cristo eram importantes, e sua influência devia ser experimentada em grau sempre crescente depois de Sua crucifixão e ascensão. Muitos dos que tinham esperado ansiosamente o resultado da pergunta de Jesus, afinal se tornariam discípulos Seus, havendo sido pela primeira vez atraídos a Ele naquele dia cheio de acontecimentos. A cena do pátio do templo nunca mais se apagaria da memória deles. Era assinalado o contraste entre Jesus e o sumo sacerdote, quando juntos falavam. O orgulhoso dignitário do templo estava trajado de ricas e custosas vestimentas. Tinha na cabeça uma brilhante tiara. Seu porte era majestoso, os cabelos e a longa barba prateados pela idade. Sua aparência enchia de respeito os que o viam. Perante essa augusta personagem, achava-Se a Majestade do Céu, sem adorno ou ostentação. Tinha nas vestes os vestígios das jornadas; Seu rosto era pálido e exprimia paciente tristeza; todavia, nEle se estampavam dignidade e benevolência em estranho contraste com o ar orgulhoso, presunçoso e irado do sumo sacerdote. Muitos dos que testemunhavam as palavras e atos de Jesus no templo, entronizaram-nO daí em diante no coração como profeta de Deus. À medida, porém, que o sentimento popular se voltava em favor de Jesus, o ódio dos sacerdotes crescia para com Ele. A sabedoria com que Se esquivava aos laços que Lhe armavam aos pés, sendo uma nova evidência de Sua divindade, acrescentava combustível a sua ira. DTN 416 1 Em Sua discussão com os rabis, não era propósito de Cristo humilhar os oponentes. Não Se alegrava em vê-los em situação difícil. Tinha importante lição a ensinar. Mortificara os inimigos, permitindo que se vissem emaranhados na própria rede que para Ele haviam preparado. Sua confessada ignorância com respeito ao caráter do batismo de João, proporcionou-Lhe oportunidade de falar e aproveitou-a, apresentando-lhes sua verdadeira situação e ajuntando uma advertência às muitas que já fizera. DTN 416 2 "Mas que vos parece?" disse Ele. "Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?" Mateus 21:28-31. DTN 416 3 Essa súbita pergunta tirou Seus ouvintes de sua habitual posição de guarda. Haviam acompanhado atentamente a parábola, e então responderam imediatamente: "O primeiro." Fixando neles o firme olhar, respondeu Jesus em tom severo e solene: "Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram diante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer". Mateus 21:31, 32. DTN 416 4 Os sacerdotes e principais não podiam deixar de dar resposta correta à pergunta de Cristo, e assim obteve Ele sua opinião em favor do primeiro filho. Este filho representava os publicanos, os que eram desprezados e odiados pelos fariseus. Os publicanos haviam sido inteiramente imorais. Tinham sido na verdade transgressores da lei de Deus, mostrando em sua vida absoluta resistência às Suas reivindicações. Eram ingratos e profanos; ao ser-lhes dito que fossem trabalhar na vinha do Senhor, recusaram desdenhosamente. Mas ao vir João, pregando o arrependimento e o batismo, os publicanos receberam a mensagem e foram batizados. DTN 417 1 O segundo filho representava os dirigentes da nação judaica. Alguns fariseus se tinham arrependido, recebendo o batismo de João; mas os dirigentes não quiseram reconhecer que ele viera de Deus. Suas advertências e acusações não os levaram a uma reforma. "Rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele." Trataram desdenhosamente sua mensagem. Como o segundo filho que, quando chamado, disse: "Eu vou, senhor", mas não foi, os sacerdotes e principais professaram obediência, mas agiram em sentido contrário. Faziam grandes profissões de piedade, pretendiam estar obedecendo à lei divina, mas prestavam apenas uma falsa obediência. Os publicanos eram acusados e amaldiçoados pelos fariseus como incrédulos; mas mostraram por sua fé e obras que iam para o reino do Céu antes daqueles homens cheios de justiça própria, aos quais fora dada grande luz, mas cujas obras não correspondiam a sua profissão de piedade. DTN 417 2 Os sacerdotes e principais não tinham vontade de suportar essas penetrantes verdades; ficaram calados, entretanto, na esperança de que Jesus dissesse qualquer coisa que pudessem voltar contra Ele; mas tinham de suportar ainda mais. DTN 417 3 "Ouvi ainda outra parábola", disse Cristo. "Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha, circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe. E, chegando o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos. E os lavradores, apoderando-se dos servos, feriram um, mataram outro, e apedrejaram outro. Depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo; e, por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito ao meu filho. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram. Quando pois vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?" Mateus 21:33-40. DTN 417 4 Jesus Se dirigiu a todo o povo presente; mas os sacerdotes e principais responderam. "Dará afrontosa morte aos maus", disseram, "e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos". Mateus 21:41. Os que assim falavam não perceberam, a princípio, a aplicação da parábola, mas viram depois haver proferido a própria condenação. Na parábola, o pai de família representava Deus, a vinha a nação judaica, e o valado a lei divina que lhes servia de proteção. A torre era um símbolo do templo. O dono da vinha fizera tudo que era para prosperidade da mesma. "Que mais se podia fazer à Minha vinha", diz Ele, "que lhe não tenha feito?" Isaías 5:4. Assim foi representado o incessante cuidado de Deus para com Israel. E como os lavradores deviam devolver ao pai de família a devida proporção de frutos da vinha, assim o povo de Deus O devia honrar por uma vida em correspondência com os sagrados privilégios que tinham. Mas, como os lavradores mataram os servos que o senhor lhes enviara em busca de frutos, assim os judeus fizeram morrer os profetas que Deus mandara para os chamar ao arrependimento. Mensageiro após mensageiro fora morto. Até aí a aplicação da parábola não podia ser posta em dúvida, e no que se seguiu não foi menos clara. No amado filho a quem o senhor da vinha afinal mandara a seus desobedientes servos, e de quem se apoderaram para matar, viram os sacerdotes e principais uma distinta figura de Jesus e a sorte que sobre Ele impendia. Já estavam planejando tirar a vida Àquele a quem o Pai lhes enviara em um último apelo. Na retribuição infligida aos ingratos lavradores, estava descrita a sorte dos que haviam de condenar Cristo à morte. DTN 418 1 Olhando-os com piedade, continuou o Salvador: "Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó". Mateus 21:42-44. DTN 418 2 Essa profecia repetiram os judeus muitas vezes nas sinagogas, aplicando-a ao Messias que havia de vir. Cristo era a pedra de esquina da dispensação judaica, e de todo o plano da salvação. Essa pedra fundamental os edificadores judaicos, os sacerdotes e príncipes de Israel, estavam agora rejeitando. O Salvador chamou-lhes a atenção para as profecias que lhes mostrariam seu perigo. Buscou, por todos os meios possíveis, mostrar-lhes claramente a natureza do ato que estavam para praticar. DTN 418 3 E Suas palavras tinham outro desígnio. Ao fazer a pergunta: "Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?" (Mateus 21:40) era intuito de Cristo que os fariseus respondessem como fizeram. Tinha em vista que eles mesmos se condenassem. Suas advertências, deixando de despertá-los para o arrependimento, selar-lhes-iam a condenação, e Ele queria que vissem que eles próprios haviam trazido sobre si a ruína. Intentava mostrar-lhes a justiça de Deus em retirar-lhes os privilégios nacionais, o que já começara e terminaria, não somente na destruição do templo e da cidade, mas na dispersão da nação. DTN 418 4 Os ouvintes reconheceram a advertência. Não obstante, porém, a sentença que eles mesmos haviam proferido, os sacerdotes e príncipes estavam prontos a completar o quadro, dizendo: "Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo." "E, pretendendo prendê-Lo, recearam o povo" (Mateus 21:46), porque o sentimento público era a favor de Cristo. DTN 418 5 Citando a profecia da pedra rejeitada, referia-Se Cristo a uma ocorrência verdadeira da história de Israel. O incidente relacionava-se com a edificação do primeiro templo. Conquanto tivesse especial aplicação ao tempo do primeiro advento de Cristo, devendo ter tocado com poder especial aos judeus, encerra também uma lição para nós. Ao ser erigido o templo de Salomão, as imensas pedras para as paredes e os fundamentos foram inteiramente preparadas na pedreira; depois de serem levadas para o local da construção, nenhum instrumento devia ser nelas empregado; os obreiros só tinham que as colocar em posição. Fora trazida para ser empregada nos fundamentos uma pedra de dimensões extraordinárias, e de singular feitio; mas os construtores não conseguiam achar lugar para ela e não a queriam aceitar. Era-lhes um estorvo, jazendo para ali, sem utilidade. Por muito tempo assim ficou como pedra rejeitada. Mas, ao chegarem os edificadores à ocasião de colocar a pedra angular, procuraram por muito tempo uma de tamanho e resistência suficientes e do devido formato, para ocupar aquele lugar e suportar o grande peso que sobre ela repousaria. Fizessem uma imprudente escolha para esse importante lugar, e estaria em risco a segurança de todo o edifício. Deveriam encontrar uma pedra capaz de resistir à influência do Sol, da geada e da tempestade. Várias pedras foram escolhidas, diversas vezes, mas, sob a pressão de imensos pesos, haviam-se despedaçado. Outras não puderam suportar a prova das súbitas mudanças atmosféricas. Afinal, a atenção dos construtores foi atraída para a pedra por tanto tempo rejeitada. Ficara exposta ao ar, ao Sol e à tempestade, sem apresentar a mais leve fenda. Os edificadores examinaram essa pedra. Suportara todas as provas, menos uma. Se pudesse resistir à prova de vigorosa pressão, decidir-se-iam a aceitá-la para pedra angular. Foi feita a prova. A pedra foi aceita, levada para o lugar que lhe era designado, verificando-se a ele ajustar-se perfeitamente. Em profética visão, foi mostrado a Isaías que essa pedra era um símbolo de Cristo. Diz ele: DTN 419 1 "Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor, e seja Ele o vosso assombro. Então Ele vos será santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e de rocha de escândalo, às duas casas de Israel; de laço e rede aos moradores de Jerusalém. E muitos dentre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados e presos". Isaías 8:13-15. Levado em visão adiante, ao primeiro advento, é mostrado ao profeta que Cristo devia sofrer provas e experiências das quais era um símbolo o que se fizera à pedra de esquina do templo de Salomão. "Portanto assim diz o Senhor Jeová: Eis que ponho em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crê não se apresse". Isaías 28:16. DTN 419 2 Com infinita sabedoria, escolheu Deus a pedra fundamental, e a colocou Ele mesmo. Chamou-a "firme". O mundo inteiro pode depor sobre ela seus fardos e pesares; pode suportá-los a todos. Com perfeita segurança podem edificar sobre ela. Cristo é uma "pedra já provada". Aqueles que nEle confiam, Ele nunca decepcionará. Suportou todas as provas. Resistiu à pressão da culpa de Adão e da de sua posteridade, e saiu mais que vencedor dos poderes do mal. Tem suportado os fardos sobre Ele lançados por todo pecador arrependido. Em Cristo tem encontrado alívio o coração culpado. Ele é o firme fundamento. Todos quantos fazem dEle sua confiança, descansam em segurança perfeita. DTN 420 1 Na profecia de Isaías, declara-se que Cristo é tanto o firme fundamento como uma pedra de tropeço. O apóstolo Pedro, escrevendo sob inspiração do Espírito Santo, mostra claramente para quem Cristo é uma pedra de esquina, e para quem é rocha de escândalo: DTN 420 2 "Se é que já provastes que o Senhor é benigno: e, chegando-vos para Ele -- pedra viva, reprovada, na verdade pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós, também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Pelo que também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que crerdes, é preciosa, mas para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram essa foi a principal da esquina; e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na Palavra, sendo desobedientes". 1 Pedro 2:3-8. DTN 420 3 Para os que crêem, Cristo é o firme fundamento. São eles que caem sobre a Rocha e se despedaçam. A submissão a Cristo e a fé nEle são aqui representadas. Cair sobre a Rocha e despedaçar-se, é renunciar a nossa própria justiça e ir a Cristo com a humildade de uma criança, arrependidos de nossas transgressões e crendo em Seu amor perdoador. E assim também é pela fé e a obediência que edificamos sobre Cristo como nosso fundamento. DTN 420 4 Sobre essa pedra viva podem edificar semelhantemente judeus e gentios. Este é o único fundamento sobre que podemos com segurança edificar. É suficientemente largo para todos, e forte bastante para sustentar o peso e o fardo do mundo inteiro. E pela ligação com Cristo, a pedra viva, todos quantos edificam sobre esse fundamento se tornam pedras vivas. Muitas pessoas são lavradas, polidas e embelezadas por seus próprios esforços; não podem, no entanto, tornar-se "pedras vivas", porque não estão ligadas a Cristo. Sem essa ligação, homem algum se pode salvar. Sem a vida de Cristo em nós, não podemos resistir às tempestades das tentações. Nossa segurança eterna depende de edificarmos sobre o firme fundamento. Multidões se encontram hoje em dia edificando sobre fundamento não provado. Ao cair a chuva, e soprarem os ventos, e as enchentes sobrevirem, sua casa cairá, porque não está fundada sobre a Rocha eterna, a principal pedra de esquina -- Cristo Jesus. DTN 420 5 "Para aqueles que tropeçam na Palavra, sendo desobedientes", Cristo é uma rocha de escândalo. Mas "a pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo". Como a pedra rejeitada, Cristo, em Sua missão terrestre suportara desdém e maus-tratos. Foi "desprezado, e o mais indigno dentre os homens; homem de dores, e experimentado nos trabalhos: [...] era desprezado, e não fizemos dEle caso algum". Isaías 53:3. Mas aproximava-se o tempo em que Ele seria glorificado. Pela ressurreição dentre os mortos, seria "declarado Filho de Deus em poder". Romanos 1:4. Em Sua segunda vinda, seria revelado como Senhor do Céu e da Terra. Os que se achavam então prestes a crucificá-Lo, reconheceriam Sua grandeza. Perante o Universo, a pedra rejeitada Se tornaria a principal pedra de esquina. DTN 421 1 "E aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó." O povo que rejeitou a Cristo, teria de ver em breve destruídas sua cidade e nação. Sua glória seria despedaçada, espalhada como o pó diante do vento. E que foi que destruiu os judeus? Foi a rocha que, houvessem eles edificado sobre ela, teria sido sua segurança. Foi a bondade divina desprezada, a justiça maltratada, e menosprezada Sua misericórdia. Os homens deliberaram opor-se a Deus, e tudo quanto teria servido para sua salvação foi voltado para sua destruição. Tudo quanto Deus ordenara para vida, acharam ser para morte. Na crucifixão de Cristo pelos judeus, estava envolvida a destruição de Jerusalém. O sangue derramado sobre o Calvário, foi o peso que os fez abismar na ruína para este mundo e o mundo por vir. Assim será no grande dia final, quando o juízo cair sobre os que rejeitam a graça divina. Cristo, para eles a pedra de escândalo, aparecer-lhes-á então como vingadora montanha. A glória de Seu rosto, que para os justos é vida, será para os ímpios um fogo consumidor. Por causa do amor rejeitado, da graça desprezada, será destruído o pecador. DTN 421 2 Mediante muitas ilustrações e repetidas advertências, Jesus mostrou qual seria o resultado, para os israelitas, de rejeitar o Filho de Deus. Nessas palavras, dirigia-Se a todos, em todos os séculos, que se recusam a recebê-Lo como Redentor. Todas as advertências são para eles. O templo profanado, o filho desobediente, os falsos lavradores, os edificadores desdenhosos, têm seu paralelo na experiência de todo pecador. A menos que este se arrependa, sobrevir-lhe-á a condenação prefigurada por aqueles. ------------------------Capítulo 66 -- Conflito DTN 422 0 Este capítulo é baseado em Mateus 22:15-46; Marcos 12:13-40; Lucas 20:20-47. DTN 422 1 Os sacerdotes e príncipes ouviram em silêncio as incisivas repreensões de Cristo. Não Lhe podiam refutar as acusações. Mas só ficaram ainda mais decididos a armar-Lhe ciladas; e com esse desígnio, enviaram-Lhe espias, "que se fingissem justos, para O apanharem nalguma palavra, e O entregarem à jurisdição e poder do presidente". Lucas 20:20. Não mandaram os velhos fariseus a quem Jesus encontrara muitas vezes, mas jovens, que eram ardentes e zelosos, e os quais, pensavam, Cristo não conhecia. Estes foram acompanhados por certos herodianos, que deviam ouvir as palavras de Cristo, a fim de poderem testificar contra Ele em julgamento. Os fariseus e os herodianos haviam sido obstinados inimigos, mas estavam agora unidos na inimizade para com Cristo. DTN 422 2 Os fariseus sempre se tinham sentido irritados com a cobrança do tributo por parte dos romanos. Sustentavam que o pagamento do tributo era contrário à lei divina. Viram então ensejo de armar uma cilada a Jesus. Os espias foram ter com Ele e, com aparente sinceridade, como desejando conhecer seu dever, disseram: "Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não?" Lucas 20:21, 22. DTN 422 3 Houvessem sido sinceras as palavras: "Nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente", e teriam sido uma confissão admirável. Mas foram ditas para enganar; não obstante, seu testemunho era verdadeiro. Os fariseus sabiam que Cristo dizia e falava o que era reto, e por seu próprio testemunho serão eles julgados. DTN 422 4 Os que propunham a pergunta a Cristo, julgavam haver disfarçado suficientemente seu desígnio; mas Jesus leu-lhes o coração como um livro aberto, e sondou-lhes a hipocrisia. "Por que Me tentais?" disse Ele; dando-lhes assim, por mostrar que lhes lia o oculto intento, um sinal que não tinham pedido. Mais confusos ainda ficaram quando acrescentou: "Mostrai-Me uma moeda." Trouxeram-Lha, e Ele lhes perguntou: "De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César." Apontando a inscrição na moeda, disse Jesus: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Lucas 20:23-25. DTN 422 5 Os espias haviam esperado que Jesus respondesse diretamente à pergunta, de uma ou de outra maneira. Se Ele dissesse: Não é lícito dar tributo a César, seria levado às autoridades romanas, e preso por incitar rebelião. No caso de declarar lícito pagar o tributo, porém, intentavam acusá-Lo perante o povo como contrário à lei divina. Sentiram-se então confusos e derrotados. Frustraram-se-lhes os planos. A maneira sumária por que fora assentada a questão por eles proposta, deixou-os sem ter que dizer. DTN 423 1 A resposta de Cristo não foi uma evasiva, mas uma réplica sincera. Segurando a moeda romana sobre que se achavam inscritos o nome e a imagem de César, declarou que, uma vez que estavam vivendo sob a proteção do poder romano, deviam prestar àquele poder o apoio que lhes exigia, enquanto isso não estivesse em oposição a um mais elevado dever. Mas, conquanto pacificamente sujeitos às leis da Terra, deviam em todos os tempos manter primeiramente lealdade para com Deus. DTN 423 2 As palavras do Salvador: "Dai [...] a Deus o que é de Deus" (Lucas 20:25), foram uma severa repreensão aos intrigantes judeus. Houvessem cumprido fielmente suas obrigações para com Deus, e não teriam chegado a ser uma nação falida, subjugada a uma potência estrangeira. Nenhuma insígnia romana haveria tremulado sobre Jerusalém, nenhuma sentinela romana lhe jazeria às portas, nem romano governo teria reinado dentro de seus muros. A nação judaica estava então pagando a pena de sua apostasia de Deus. DTN 423 3 Ao ouvirem os fariseus a resposta de Cristo, "maravilharam-se e, deixando-O, se retiraram". Mateus 22:22. Ele lhes censurara a hipocrisia e presunção e, assim fazendo, expressara um grande princípio, princípio que define claramente os limites do dever do homem para com o governo civil, e seu dever para com Deus. Para muitos espíritos, ficara assentada uma aflitiva questão. Depois disso, apegaram-se para sempre ao justo princípio. E conquanto muitos se retirassem mal-satisfeitos, viram que o princípio fundamental da questão fora claramente apresentado, e maravilharam-se do vasto alcance do discernimento de Cristo. DTN 423 4 Tão logo os fariseus se calaram, os saduceus surgiram com suas astutas interrogações. Os dois partidos achavam-se em oposição amarga. Os fariseus eram rígidos adeptos da tradição. Meticulosos nas cerimônias exteriores, diligentes em abluções, jejuns e longas orações, exibiam-se no dar esmolas. Mas Cristo declarou que eles tornavam vã a lei divina, pelo ensino de mandamentos de homens como doutrinas. Como classe, eram fanáticos e hipócritas; havia, no entanto, entre eles pessoas de genuína piedade, que aceitaram os ensinos de Cristo e se tornaram discípulos Seus. Os saduceus rejeitavam as tradições dos fariseus. Professavam crer a maior parte das Escrituras, e considerá-las como regra de conduta; eram, por assim dizer, céticos e materialistas. DTN 423 5 Os saduceus negavam a existência dos anjos, a ressurreição dos mortos e a doutrina da vida futura, com suas recompensas e castigos. Em tudo isso, diferiam dos fariseus. A ressurreição, especialmente, constituía assunto de debates entre esses dois partidos. Os fariseus haviam sido firmes adeptos da ressurreição, mas nessas discussões seus pontos de vista a respeito da vida futura tornaram-se confusos. A morte viera a ser para eles inexplicável mistério. Sua incapacidade para enfrentar os argumentos dos saduceus dava lugar a contínua irritação. Das discussões entre as duas facções resultavam de ordinário zangadas disputas, deixando-os mais distanciados que antes. DTN 424 1 Os saduceus ficavam, em número, muito abaixo de seus oponentes, e não mantinham tão forte domínio sobre o povo comum; mas muitos deles eram ricos e possuíam a influência proporcionada pela fortuna. Em suas fileiras achavam-se incluídos os sacerdotes na sua maior parte, e dentre eles era em geral escolhido o sumo sacerdote. Isso acontecia, entretanto, com a expressa estipulação de não salientarem suas céticas opiniões. Em razão do número e da popularidade dos fariseus, era necessário aos saduceus condescender exteriormente com suas doutrinas ao exercerem qualquer ofício sacerdotal; mas o próprio fato de serem elegíveis para esses cargos emprestava força a seus erros. DTN 424 2 Os saduceus rejeitaram os ensinos de Jesus; Ele era animado por um espírito que não queriam reconhecer tal como se manifestava; e Seus ensinos quanto a Deus e à vida futura contradiziam-lhes as teorias. Acreditavam em Deus como o único ser superior ao homem; mas argumentavam que uma providência que tudo rege e uma previsão divina privariam o homem da liberdade moral, degradando-o à posição de um escravo. Era crença deles que, criando o homem, Deus o deixara livre para dirigir sua própria vida e moldar os acontecimentos do mundo; que o destino deles estava em suas próprias mãos. Negavam que o Espírito de Deus opera por meio dos esforços humanos ou de meios naturais. Todavia, mantinham ainda a opinião de que, pelo devido emprego das faculdades naturais, podia o homem elevar-se e esclarecer-se; que, por meio de rigorosas e austeras práticas, sua vida se podia purificar. DTN 424 3 Suas idéias de Deus moldavam-lhes o caráter. Como, segundo seu ponto de vista, Ele não Se interessava no homem, tinham pouca consideração uns para com os outros; pouca também era a união entre eles. Recusando-se a aceitar a influência do Espírito Santo sobre a conduta humana, faltava-lhes na vida Seu poder. Como o restante dos judeus, vangloriavam-se muito de seu direito de nascimento como filhos de Abraão e de sua estrita aderência às reivindicações da lei; mas do verdadeiro espírito da lei, da fé e da benevolência de Abraão, eram destituídos. Suas simpatias naturais estavam encerradas num estreito âmbito. Acreditavam possível a todo homem adquirir os confortos e bênçãos da vida; e o coração não se lhes comovia diante das necessidades e sofrimentos dos outros. Viviam para si mesmos. DTN 425 1 Por Suas palavras e ações, testificava Cristo de um poder divino que produz resultados sobrenaturais, de uma vida futura além do presente, de Deus como Pai dos filhos dos homens, sempre cuidadoso por seus interesses reais. Revelava a operação do poder divino numa beneficência e compaixão que repreendiam a exclusividade egoísta dos saduceus. Ensinava que, tanto para o bem temporal do homem como para o eterno, Deus opera no coração pelo Espírito Santo. Mostrava o erro de confiar no poder humano para aquela transformação de caráter que só pode ser operada pelo Espírito de Deus. DTN 425 2 Esse ensino estavam os saduceus dispostos a desacreditar. Procurando entrar em debate com Jesus, estavam confiantes de Lhe prejudicar o crédito, ainda que não pudessem conseguir Sua condenação. Foi a ressurreição o assunto sobre que preferiram interrogá-Lo. Concordasse Jesus com eles, e isso daria ainda mais motivo de escândalo aos fariseus. Diferisse Ele, e ridicularizar-Lhe-iam os ensinos. DTN 425 3 Os saduceus arrazoavam que, se o corpo havia de compor-se, em seu estado imortal, das mesmas partículas de matéria que no estado mortal, então ao ressuscitar devia possuir carne e sangue, e retomar no mundo eterno a vida interrompida aqui na Terra. Nesse caso, concluíam, as relações terrenas continuariam, marido e mulher estariam juntos, realizar-se-iam casamentos, e todas as coisas prosseguiriam da mesma maneira que antes da morte, sendo as fraquezas e paixões desta vida perpetuadas na vida por vir. DTN 425 4 Em resposta a suas perguntas, Jesus ergueu o véu da vida futura. "Na ressurreição", disse Ele, "nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no Céu". Mateus 22:30. Mostrou que os saduceus estavam errados em sua crença. Eram falsas suas premissas. "Errais", acrescentou, "não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus". Mateus 22:29. Não os acusou, como fizera aos fariseus, de hipocrisia, mas de erro de crença. DTN 425 5 Os saduceus haviam-se lisonjeado de seguirem as Escrituras mais estritamente que todos os outros homens. Mas Jesus mostrou que não lhe haviam compreendido o verdadeiro sentido. Esse conhecimento devia penetrar na alma, mediante a iluminação do Espírito Santo. Sua ignorância das Escrituras e do poder de Deus, declarou Ele ser a causa da confusão de sua fé e das trevas de sua mente. Estavam procurando pôr os mistérios de Deus no âmbito de seu limitado raciocínio. Cristo os chamou a abrir a mente às sagradas verdades que dilatariam e robusteceriam o entendimento. Milhares de criaturas se tornam incrédulas, porque sua mente finita não pode compreender os mistérios divinos. Não podem explicar a maravilhosa manifestação do poder divino em Suas providências, portanto rejeitam as demonstrações desse poder, atribuindo-o a agentes naturais que menos ainda podem compreender. A única chave para os mistérios que nos circundam, é reconhecer em todos eles a presença e o poder divinos. Os homens necessitam reconhecer a Deus como Criador do Universo. Alguém que tudo ordena e executa tudo. Necessitam de mais larga visão de Seu caráter, e do mistério de Seus agentes. DTN 426 1 Cristo declarou a Seus ouvintes que, se não houvesse ressurreição de mortos, as Escrituras em que professavam crer de nenhum proveito seriam. Disse: "E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos". Mateus 22:31, 32. Deus considera as coisas que não são como se fossem. Vê o fim desde o começo, e contempla o resultado de Sua obra como se ela já estivesse acabada. Os preciosos mortos, desde Adão aos últimos santos que morrerem, hão de ouvir a voz do Filho de Deus, e sairão dos sepulcros para a vida imortal. Deus será o seu Deus, e eles serão o Seu povo. Haverá íntima e terna relação entre Deus e os santos ressuscitados. Essa condição, antecipada em Seu desígnio, contempla como se já existisse. Os mortos vivem para Ele. DTN 426 2 Os saduceus foram reduzidos ao silêncio pelas palavras de Cristo. Não Lhe podiam responder. Nem uma palavra fora proferida de que se pudessem aproveitar no mínimo que fosse para Sua condenação. Seus adversários não haviam conseguido nada senão o desprezo do povo. DTN 426 3 Os fariseus, entretanto, não desistiram de O forçar a dizer qualquer coisa que pudessem empregar contra Ele. Influenciaram certo escriba instruído para perguntar a Jesus qual dos dez mandamentos da lei era de maior importância. DTN 426 4 Haviam os fariseus exaltado os primeiros quatro preceitos, que indicam o dever do homem para com o Criador, como sendo de muito mais conseqüências que os outros seis, que definem o dever do homem para com seus semelhantes. Em resultado, falharam grandemente em matéria de piedade prática. Jesus mostrara ao povo sua grande deficiência e ensinara a necessidade de boas obras, declarando que a árvore se conhece por seus frutos. Por esse motivo fora acusado de exaltar os últimos seis mandamentos acima dos quatro primeiros. DTN 426 5 O doutor da lei aproximou-se de Jesus com uma pergunta franca: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" A resposta de Cristo é positiva e vigorosa: "O primeiro de todos os mandamentos, é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás pois ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento." O segundo é semelhante ao primeiro, disse Cristo; pois emana dele: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." "Desses dois mandamentos depende toda a lei e os profetas". Marcos 12;28-30. DTN 427 1 Os primeiros quatro dos dez mandamentos resumem-se num grande preceito: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração." Os últimos seis estão incluídos no outro: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Mateus 12:31. Ambos estes mandamentos são uma expressão do princípio do amor. Não se pode guardar o primeiro e violar o segundo, nem se pode observar o segundo enquanto se transgride o primeiro. Quando Deus ocupa o lugar que Lhe é devido no trono do coração, será dado ao próximo o lugar que lhe pertence. Amá-lo-emos como a nós mesmos. E só quando amamos a Deus de maneira suprema, é possível amar o nosso semelhante com imparcialidade. DTN 427 2 E uma vez que todos os mandamentos se resumem no amor a Deus e ao homem, segue-se que nenhum preceito pode ser violado sem se transgredir este princípio. Assim ensinou Cristo a Seus ouvintes que a lei divina não se constitui de muitos preceitos separados, alguns dos quais são de grande importância ao passo que outros são menos importantes, podendo ser impunemente passados por alto. Nosso Senhor apresenta os primeiros quatro e os últimos seis mandamentos como um todo divino, e ensina que o amor a Deus se revelará pela obediência a todos os Seus mandamentos. DTN 427 3 O escriba que interrogara Jesus era bem versado na lei, e admirou-se de Suas palavras. Não esperava que Ele manifestasse tão profundo e completo conhecimento das Escrituras. Obtivera uma visão mais ampla dos princípios básicos dos sagrados preceitos. Em presença dos sacerdotes e principais congregados, reconheceu sinceramente haver Cristo dado à lei a justa interpretação, dizendo: DTN 427 4 "Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dEle; e que amá-Lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios". Marcos 12:32, 33. DTN 427 5 A sabedoria da resposta de Cristo convencera o escriba. Sabia consistir a religião judaica mais em cerimônias exteriores que em piedade interior. Sentia de certo modo a inutilidade de ofertas meramente cerimoniais e do derramamento de sangue para expiação do pecado, quando destituído de fé. Amor e obediência para com Deus, e desinteressada consideração para com o homem, pareciam-lhe de mais valor que todos esses ritos. A prontidão desse homem para reconhecer a exatidão do raciocínio de Cristo, e sua decidida e imediata resposta perante o povo, manifestavam um espírito inteiramente diferente do dos sacerdotes e príncipes. O coração de Jesus moveu-se de piedade para com o sincero escriba que ousara enfrentar os sobrecenhos dos sacerdotes e as ameaças dos príncipes, para declarar as convicções de seu coração. "E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus". Marcos 12:34. DTN 428 1 O escriba estava próximo do reino de Deus, porque reconhecia que atos de justiça Lhe são mais aceitáveis do que holocaustos e sacrifícios. Mas devia reconhecer o divino caráter de Cristo e, mediante a fé nEle, receber o poder para realizar as obras de justiça. O serviço ritual não era de nenhum valor, a menos que fosse ligado a Cristo por uma fé viva. Mesmo a lei moral falha em seu desígnio, a menos que seja entendida em sua relação para com o Salvador. Cristo mostrara repetidamente que a lei de Seu Pai encerrava alguma coisa mais profunda que simples dogmáticos mandamentos. Acha-se encarnado na lei o mesmo princípio revelado no evangelho. A lei indica o dever do homem e mostra-lhe sua culpa. A Cristo deve ele olhar, em busca de perdão e poder para cumprir o que a lei ordena. DTN 428 2 Os fariseus haviam-se reunido mais próximo de Jesus, ao responder à indagação do escriba. Voltando-Se então, dirigiu-lhes Ele uma pergunta: "Que pensais vós de Cristo? De quem é Filho?" Essa interrogação destinava-se a provar sua crença no Messias -- mostrar se O consideravam simplesmente um homem ou Filho de Deus. Um coro de vozes respondeu: "De Davi". Mateus 22:42. Era esse o título que a profecia dera ao Messias. Ao revelar Jesus Sua divindade mediante os poderosos milagres que operava, curando os doentes e ressuscitando os mortos, o povo indagava entre si: "Não é este o Filho de Davi?" A mulher siro-fenícia, o cego Bartimeu e muitos outros a Ele haviam clamado por socorro: "Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!" Mateus 15:22. Quando cavalgava para entrar em Jerusalém, fora saudado com a jubilosa aclamação: "Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor". Mateus 21:9. E as criancinhas, no templo, fizeram ecoar naquele dia o alegre tributo. Mas muitos dos que chamavam Jesus Filho de Davi não reconheciam Sua divindade. Não compreendiam que o Filho de Davi era também o Filho de Deus. DTN 428 3 Em resposta à declaração de que Cristo era o Filho de Davi, disse Jesus: "Como é então que Davi, em Espírito [o Espírito de inspiração de Deus] Lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à Minha direita, até que Eu ponha os Teus inimigos por escabelo de Teus pés? Se Davi pois Lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-Lhe uma palavra: nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-Lo". Mateus 22:43-46. ------------------------Capítulo 67 -- Ais sobre os fariseus DTN 429 0 Este capítulo é baseado em Mateus 23; Marcos 12:41-44; Lucas 20:45-47; 21:1-4. DTN 429 1 Era o último dia em que Cristo ensinava no templo. Das vastas multidões que se reuniam em Jerusalém, a atenção toda era atraída para Ele; o povo que se apinhara nos pátios do templo, acompanhara o debate que se verificara, apanhando cada palavra que Lhe caíra dos lábios. Nunca antes fora testemunhada uma cena igual. Ali Se achava o jovem Galileu, não ostentando nenhuma honra terrena nem nenhuma insígnia real. Ao redor dEle achavam-se sacerdotes em seus ricos paramentos, príncipes com as vestes e insígnias indicadoras de sua alta posição, e escribas segurando rolos, aos quais faziam freqüentes referências. Jesus permanecia entre eles sereno, com a dignidade de um rei. Como alguém que se acha revestido de celeste autoridade, olhava imperturbável Seus adversários, os quais Lhe haviam rejeitado e desprezado os ensinos, e tinham-Lhe sede à vida. Haviam-nO assaltado em grande número, mas foram vãos seus planos para O enredarem e condenarem. Repto após repto tivera Ele de enfrentar, apresentando a pura, luminosa verdade em contraste com as trevas e os erros dos sacerdotes e fariseus. Expusera perante esses guias seu verdadeiro estado, e a retribuição que se seguiria infalivelmente à persistência em suas más ações. A advertência fora dada fielmente. Contudo, outra obra restava a Cristo. Outro desígnio se devia ainda cumprir. DTN 429 2 O interesse do povo em Cristo e Sua obra crescera constantemente. Estavam encantados com Seus ensinos, mas, por outro lado, grandemente perplexos. Haviam respeitado os sacerdotes e rabis por sua inteligência e aparente piedade. Em todos os assuntos religiosos, sempre tinham rendido implícita obediência à autoridade deles. Todavia, agora viam esses homens procurando desacreditar Jesus, Mestre cuja virtude e conhecimento brilhavam mais a cada novo assalto. Olhando para as abaixadas frontes dos sacerdotes e anciãos, aí viam derrota e confusão. Admiravam-se de que os principais não cressem em Jesus, quando Seus ensinos eram tão claros e simples. E não sabiam que direção haviam eles próprios de tomar. Com viva ansiedade, observavam os movimentos daqueles cujos conselhos sempre tinham seguido. DTN 429 3 Nas parábolas ditas por Cristo, era Seu desígnio tanto advertir os guias, como instruir o povo que desejava ser ensinado. Havia, porém, necessidade de falar ainda mais claramente. Devido a sua reverência pela tradição e sua fé cega num sacerdócio corrompido, achava-se o povo escravizado. Essas cadeias, devia Cristo quebrar. Era preciso expor mais plenamente o caráter dos sacerdotes, principais e fariseus. DTN 430 1 "Na cadeira de Moisés", disse ele, "estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam". Mateus 23:2, 3. Os escribas e fariseus pretendiam achar-se investidos de divina autoridade idêntica à de Moisés. Arrogavam-se seu lugar como expositores da lei e juízes do povo. Como tais, exigiam do mesmo a mais completa deferência e submissão. Jesus mandou que Seus ouvintes fizessem aquilo que os rabis ensinassem de acordo com a lei, mas não lhes seguissem o exemplo. Eles próprios não praticavam o que ensinavam. DTN 430 2 E ensinavam muito que era contrário às Escrituras. Disse Jesus: "Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los". Mateus 23:4. Os fariseus impunham uma multidão de regulamentos, com base na tradição, os quais restringiam irrazoavelmente a liberdade pessoal. E certas porções da lei explicavam de maneira a impor ao povo observância que eles próprios, secretamente, passavam por alto, e das quais, quando convinha aos seus desígnios, pretendiam na verdade estar isentos. DTN 430 3 Fazer ostentação de sua piedade, eis seu constante objetivo. Coisa alguma era considerada demasiado sagrada para servir a esse fim. Deus dissera a Moisés com referência a Suas ordenanças: "Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por testeira entre os teus olhos". Deuteronômio 6:8. Essas palavras têm profunda significação. À medida que a Palavra de Deus é meditada e posta em prática, o homem todo é enobrecido. Num trato justo e misericordioso, as mãos revelarão, como um selo, os princípios da lei divina. Conservar-se-ão limpas de suborno, e de tudo quanto é corrompido e enganoso. Serão ativas em obras de amor e compaixão. Os olhos, dirigidos para um nobre fito, serão limpos e leais. O semblante expressivo, o eloqüente olhar, testificarão do irrepreensível caráter daquele que ama e honra a Palavra divina. Pelos judeus dos dias de Cristo, porém, todas estas coisas não eram discernidas. O mandamento dado a Moisés fora interpretado no sentido de que os preceitos da Escritura deviam ser usados sobre o corpo. Eram, portanto, escritos em tiras de pergaminho e presos, muito ostensivamente, em torno da cabeça e dos pulsos. Isso, porém, não fazia com que a lei de Deus se firmasse mais na mente e no coração. Esses pergaminhos eram usados meramente como insígnias, para chamar a atenção. Supunha-se que davam aos que os usavam um ar de devoção que imporia reverência ao povo. Jesus desferiu um golpe nessa vã pretensão: DTN 431 4 "Fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas de seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias, e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens -- Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na Terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos Céus. Nem vos chameis mestres, porque só um é o vosso Mestre, que é o Cristo". Mateus 23:5-10. Em palavras assim positivas revelou o Salvador as ambições egoístas que sempre buscavam lugar e poder, exibindo uma fictícia humildade, enquanto o coração estava cheio de avareza e inveja. Ao serem as pessoas convidadas a um banquete, colocavam-se os convivas segundo sua posição, e aqueles a quem se concedia o mais honroso lugar, eram objeto de maiores atenções e favores especiais. Os fariseus sempre estavam manejando para assegurar-se essas honras. Esse costume Jesus censurou. DTN 431 1 Reprovou também a vaidosa ostentação de cobiçar o título de rabi, ou de mestre. Esse título, declarou, não pertencia a homens, mas ao Cristo. Sacerdotes, escribas e príncipes, expositores e ministradores da lei, eram todos irmãos, filhos do mesmo Pai. Jesus ensinou positivamente o povo a não dar a nenhum homem um título de honra que indicasse possuir ele domínio sobre sua consciência ou sua fé. DTN 431 2 Se Cristo Se encontrasse hoje na Terra, rodeado pelos que usam o título de "Reverendo", "Reverendíssimo", não repetiria Suas palavras: "Nem vos chameis, mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo"? Mateus 23:10. A Escritura declara a respeito de Deus: "Santo e tremendo ['reverendo' dizem outras versões] é o Seu nome". Salmos 111:9. A que ser humano cabe esse título? Quão pouco revela o homem da sabedoria e da justiça que o mesmo indica! Quantos dos que aceitam esse título estão representando mal o nome e o caráter de Deus! Ai, quantas vezes se têm a ambição mundana, o despotismo e os mais baixos pecados escondido sob as bordadas vestes de um elevado e santo cargo! O Salvador continuou: DTN 431 3 "Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado". Mateus 23:11, 12. Repetidamente ensinara Cristo que a verdadeira grandeza se mede pelo valor moral. Na estimativa celeste, a grandeza de caráter consiste em viver para o bem-estar de nossos semelhantes, em praticar obras de amor e de misericórdia. Cristo, o Rei da Glória, foi servo do homem caído. DTN 431 4 "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!" disse Jesus, "pois que fechais aos homens o reino dos Céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando". Mateus 23:13. Pervertendo as Escrituras, os sacerdotes e doutores da lei cegavam o espírito dos que, de outro modo, teriam recebido conhecimento do reino de Cristo, e aquela vida interior, divina, essencial à verdadeira santidade. DTN 431 5 "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo". Mateus 23:14. Os fariseus tinham grande influência sobre o povo, e disso se aproveitavam para servir os próprios interesses. Conquistavam a confiança de piedosas viúvas, e então lhes apresentavam, como seu dever, consagrar sua propriedade a fins religiosos. Havendo conseguido domínio sobre seus bens, os astutos calculistas empregavam-nos para seu próprio benefício. Para encobrir sua desonestidade, faziam longas orações em público, e grande ostentação de piedade. Essa hipocrisia Cristo declarou que lhes traria maior condenação. A mesma repreensão recai hoje sobre muitos que fazem grande profissão de piedade. Sua vida é manchada de avareza e egoísmo, e todavia lançam sobre tudo isso um manto de aparente pureza, e assim por algum tempo enganam os semelhantes. Mas não podem enganar a Deus. Ele lê todo desígnio do coração, e julgará todo homem segundo as suas ações. DTN 432 1 Cristo condenou fartamente os abusos, mas teve cuidado de não diminuir a obrigação. Repreendeu o egoísmo que extorquia e dava má aplicação às dádivas da viúva. Ao mesmo tempo louvou a viúva que trouxe sua oferta para o tesouro do Senhor. O abuso que praticava o homem com a dádiva, não podia desviar da doadora a bênção divina. DTN 432 2 Jesus estava no pátio onde se achava a arca do tesouro, e observava os que ali iam depositar as ofertas. Muitos dos ricos levavam grandes somas, que apresentavam com grande ostentação. Jesus os contemplava tristemente, mas não fez comentário algum acerca de suas liberais ofertas. Num momento, Sua fisionomia iluminou-se ao ver uma pobre viúva aproximar-se hesitante, como receosa de ser observada. Enquanto os ricos e altivos se apressavam para depor suas dádivas, ela se retraía, como se mal ousasse adiantar-se. Todavia, anelava fazer qualquer coisa, por pequenina que fosse, pela causa que amava. Contemplou a dádiva que tinha na mão. Era demasiado pequena em comparação com as ofertas dos que a rodeavam; ali estava, no entanto, tudo quanto possuía. Espreitando o ensejo, deitou apressadamente suas duas moedinhas, e virou-se para se afastar, ligeira. Ao fazê-lo, porém, encontrou o olhar de Jesus, cravado nela. DTN 432 3 O Salvador chamou a Si os discípulos, e convidou-os a notar a pobreza da viúva. Então soaram aos ouvidos dela Suas palavras de louvor: "Em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva". Lucas 21:3. Lágrimas de alegria lhe encheram os olhos, ao ver que seu ato era compreendido e apreciado. Muitos tê-la-iam aconselhado a guardar seu escasso recurso para o próprio uso; dado às mãos dos bem nutridos sacerdotes, perder-se-ia de vista entre os muitos custosos dons levados ao tesouro. Mas Jesus entendeu-lhe o motivo. Ela cria que o serviço do templo era indicado por Deus, e estava ansiosa por fazer tudo que lhe era possível para sua manutenção. Fez o que pôde e sua ação serviria de monumento a sua memória, através dos tempos, e alegria na eternidade. O coração acompanhou-lhe a dádiva; seu valor foi estimado, não pela importância da moeda, mas pelo amor para com Deus e o interesse para com Sua obra, que a motivaram. DTN 433 1 Jesus disse da viúva pobre: Ela "lançou mais do que todos". Lucas 21:3. Os ricos deram de sua abundância, muitos deles para serem vistos e honrados pelos homens. Seus grandes donativos não os privaram de nenhum conforto, nem mesmo do luxo; não tinham exigido nenhum sacrifício que pudesse ser comparado, em valor, com as moedas da viúva. DTN 433 2 É o motivo que dá sentido às nossas ações, assinalando-as com ignomínia ou elevado valor moral. Não são as grandes coisas que todos os olhos vêem e toda língua louva, que Deus considera mais preciosas. Os pequenos deveres cumpridos com contentamento, as pequeninas dádivas que não fazem vista, e podem parecer destituídas de valor aos olhos humanos, ocupam muitas vezes diante de Deus o mais alto lugar. Um coração de fé e amor é mais precioso para Deus que os mais custosos dons. A viúva pobre deu sua subsistência para fazer o pouco que fez. Privou-se de alimento para oferecer aquelas duas moedinhas à causa que amava. E fê-lo com fé, sabendo que seu Pai Celestial não passaria por alto sua grande necessidade. Foi esse espírito abnegado e essa infantil fé que atraiu o louvor do Senhor. DTN 433 3 Existem entre os pobres muitos que anelam manifestar gratidão para com Deus por Sua graça e verdade. Desejam ardentemente tomar parte, com seus irmãos mais prósperos, na manutenção de Seu serviço. Essas almas não devem ser repelidas. Permita-se-lhes pôr suas moedas no banco do Céu. Dadas com o coração cheio de amor para com Deus, essas ninharias aparentes tornam-se dádivas consagradas, inapreciáveis ofertas que Deus aprova e abençoa. DTN 433 4 Quando Jesus disse da viúva pobre: Ela "lançou mais do que todos" (Lucas 21:3), Suas palavras eram verdadeiras, não somente quanto ao motivo, mas no que respeita aos resultados da oferta. As "duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante" têm trazido ao tesouro do Senhor uma quantia muito superior às contribuições daqueles ricos judeus. A influência daquela pequenina oferta tem sido como um rio, pequeno ao começo, mas que se amplia e aprofunda à medida que corre através dos séculos. Tem contribuído por mil maneiras para alívio dos pobres e disseminação do evangelho. Seu exemplo de sacrifício tem agido e tornado a agir sobre milhares de corações em todas as terras e em todos os séculos. Tem sido como um apelo dirigido a ricos e pobres, e as dádivas destes avolumaram o valor da oferta da viúva. A bênção divina sobre as suas moedas, tem feito delas fonte de grandes resultados. Assim quanto a todo dom oferecido e todo ato realizado com sincero desejo de promover a glória de Deus. Liga-se aos desígnios do Onipotente. Seus resultados para o bem não podem ser calculados por homem algum. DTN 434 1 O Salvador continuou Suas acusações aos escribas e fariseus: "Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar, isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta?" Mateus 23:16-19. Os sacerdotes interpretavam as reivindicações divinas segundo sua própria norma falsa e estreita. Presumiam fazer justas diferenças quanto à relativa culpa de vários pecados, passando levemente por alto alguns, e tratando outros, talvez de menos conseqüência, como imperdoáveis. Por considerações monetárias desculpavam pessoas de seus votos. E por grandes somas de dinheiro passavam por alto graves crimes. Ao mesmo tempo esses sacerdotes e príncipes, em outros casos, proferiam severo juízo por ofensas triviais. DTN 434 2 "Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas". Mateus 23:23. Nessas palavras Cristo torna a condenar o abuso das obrigações sagradas. Não põe de lado a própria obrigação. O sistema do dízimo foi ordenado por Deus, e havia sido observado desde os primitivos tempos. Abraão, o pai dos fiéis, deu dízimo de tudo quanto possuía. Os príncipes judaicos reconheciam a obrigação de dizimar, e isso era justo; mas não deixavam o povo manter suas próprias convicções do dever. Estabeleciam-se regras arbitrárias para todos os casos. As exigências se haviam tornado tão complicadas, que era impossível cumpri-las. Ninguém sabia quando havia satisfeito suas obrigações. Segundo fora dado por Deus, o sistema era justo e razoável; mas os sacerdotes e rabis o tinham transformado em carga enfadonha. DTN 434 3 Tudo quanto Deus ordena, é de importância. Cristo reconhecia como dever o dar o dízimo; mas mostrou que isso não podia desculpar a negligência de outros deveres. Os fariseus eram muito exatos em dizimar ervas da horta, tais como hortelã, endro e cominho; isso pouco lhes custava, dando-lhes reputação de exatidão e santidade. Ao mesmo tempo suas inúteis restrições oprimiam o povo e destruíam o respeito pelo sagrado sistema designado por Deus. Ocupavam a mente dos homens com insignificantes distinções, e desviavam-lhes a atenção das verdades essenciais. Negligenciavam-se os assuntos de mais peso da lei, justiça, misericórdia e verdade. "Deveis, porém, fazer estas coisas", disse Cristo, "e não omitir aquelas". Mateus 23:23. DTN 434 4 Outras leis foram semelhantemente pervertidas pelos rabis. Nas instruções dadas por intermédio de Moisés, era proibido comer qualquer coisa imunda. O uso da carne de porco, e da carne de certos outros animais, era proibido, como sendo de molde a encher o sangue de impurezas e abreviar a vida. Mas os fariseus não deixaram essas restrições como Deus as ordenara. Foram a extremos injustificáveis. Entre outras coisas, tinha o povo que coar toda a água de uso, não contivesse ela o mais pequenino inseto, o qual poderia ser classificado entre os animais imundos. Jesus, comparando essas fúteis práticas com a magnitude de seus pecados reais, disse aos fariseus: "Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo". Mateus 23:24. DTN 435 1 "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia". Mateus 23:27. Como os branqueados sepulcros, belamente ornamentados ocultavam os putrefatos restos no interior, assim a aparente santidade dos sacerdotes e príncipes escondia iniqüidade. Jesus continuou: DTN 435 2 "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas". Mateus 23:29-31. Para mostrar sua estima pelos profetas mortos, os judeus eram muito zelosos em embelezar-lhes os sepulcros; mas não aproveitavam seus ensinos, nem davam ouvidos às suas reprovações. DTN 435 3 Nos dias de Cristo nutria-se uma supersticiosa consideração para com os túmulos dos mortos, e prodigalizavam-se grandes somas no adorno dos mesmos. Aos olhos de Deus isso era idolatria. Em sua indevida consideração para com os mortos, os homens mostravam não amar a Deus sobre tudo, e ao próximo como a si mesmos. A mesma idolatria está sendo hoje levada bem longe. Muitos são culpados de negligenciar as viúvas e os órfãos, os doentes e os pobres, a fim de construírem custosos monumentos para os mortos. Tempo, dinheiro e trabalho são abundantemente gastos com esse fim, ao passo que os deveres para com os vivos -- deveres positivamente ordenados por Cristo -- são deixados por cumprir. DTN 435 4 Os fariseus construíam os sepulcros dos profetas, e os adornavam, e diziam uns para os outros: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos a eles para derramar o sangue dos servos de Deus. Ao mesmo tempo estavam planejando tirar a vida de Seu Filho. Isso nos deve servir de lição. Deve-nos abrir os olhos ao poder de Satanás para enganar a mente que se desvia da luz da verdade. Muitos seguem nas pegadas dos fariseus. Reverenciam os que morreram por sua fé. Admiram-se da cegueira dos judeus em rejeitar a Cristo. Houvéssemos vivido em Seu tempo, declaram, e com prazer Lhe receberíamos os ensinos; nunca teríamos tomado parte no crime dos que rejeitaram o Salvador. Mas quando a obediência a Deus requer abnegação e humilhação, essas mesmas pessoas abafam suas convicções e recusam obediência. Assim manifestam o mesmo espírito que os fariseus a quem Cristo condenou. DTN 436 1 Mal avaliavam os judeus a terrível responsabilidade envolvida na rejeição de Cristo. Desde o tempo em que foi derramado o primeiro sangue inocente, quando o justo Abel caiu pela mão de Caim, repetira-se a mesma história com progressiva culpa. Em todos os séculos haviam profetas erguido a voz contra os pecados dos reis, autoridades e povo, dizendo as palavras que Deus lhes dera e obedecendo à Sua vontade com perigo da própria vida. De geração para geração se estivera acumulando uma terrível punição contra os rejeitadores da luz e da verdade. Essa os inimigos de Cristo estavam então atraindo sobre as próprias cabeças. O pecado dos sacerdotes e principais era maior que o de qualquer geração anterior. Por sua rejeição do Salvador, estavam-se tornando responsáveis pelo sangue de todos os justos mortos desde Abel até Cristo. Estavam prestes a fazer transbordar sua taça de iniqüidade. E dentro em pouco lhes seria ela derramada sobre a cabeça em juízo de retribuição. Disso os advertiu Jesus: DTN 436 2 "Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a Terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração". Mateus 23:35, 36. DTN 436 3 Os escribas e fariseus que escutavam Jesus, sabiam que Suas palavras eram verdadeiras. Sabiam como fora morto o profeta Zacarias. Enquanto as palavras de advertência vindas de Deus se achavam em seus lábios, uma fúria satânica apoderou-se do rei apóstata e, por sua ordem, foi morto o profeta. Seu sangue assinalara as pedras do próprio pátio do templo, e não pôde ser apagado; ali ficou para dar testemunho contra o apóstata Israel. Enquanto o templo existisse, ali estaria a mancha daquele sangue justo, clamando a Deus vingança. Ao referir-Se Jesus a esses terríveis pecados, um arrepio de horror passou pela multidão. DTN 436 4 Antevendo o futuro, declarou Jesus que a impenitência dos judeus e sua intolerância para com os servos do Senhor seriam futuramente as mesmas do passado: DTN 436 5 "Portanto, eis que Eu vos envio profetas, sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade". Mateus 23:34. Profetas e sábios, cheios de fé e do Espírito Santo -- Estêvão, Tiago e muitos outros -- seriam condenados e mortos. Com a mão erguida para o Céu e uma luz divina a circundá-Lo, Cristo falou como juiz aos que se achavam diante dEle. Sua voz, tantas vezes ouvida em suavidade e súplica, fazia-se agora ouvir em censura e condenação. Os ouvintes tremeram. Jamais se havia de apagar a impressão produzida por Suas palavras e Seu olhar. DTN 436 6 A indignação de Cristo era contra a hipocrisia, os crassos pecados pelos quais os homens estavam destruindo a própria alma, enganando o povo e desonrando a Deus. No enganador raciocínio dos sacerdotes e principais, distinguia Ele a operação de forças satânicas. Viva e penetrante fora Sua acusação do pecado; mas não proferiu palavras de vingança. Tinha uma santa indignação contra o príncipe das trevas; mas não manifestava nenhuma irritação. Assim o cristão que vive em harmonia com Deus, possuindo os suaves atributos do amor e da misericórdia, experimentará uma justa indignação contra o pecado; mas não se tomará de paixão para injuriar os que injuriam. Mesmo enfrentando os que se acham movidos pelas forças de baixo para manter a falsidade, em Cristo conservará ele ainda a calma e o domínio de si mesmo. DTN 437 1 No semblante do Filho de Deus estampava-se divina piedade ao deitar Ele um demorado olhar ao templo, e depois, aos ouvintes. Numa voz agitada por profunda angústia de coração e amargas lágrimas, Ele exclamou: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Mateus 23:37. É a luta da separação. Na lamentação de Cristo, extravasava o próprio coração de Deus. É o misterioso adeus do longânimo amor da Divindade. DTN 437 2 Fariseus e saduceus igualmente emudeceram. Jesus chamou Seus discípulos, e preparou-Se para deixar o templo, não como um vencido e forçado a retirar-se da presença dos adversários, mas como alguém cuja obra está concluída. Retirou-Se do conflito, vencedor. DTN 437 3 As gemas de verdade caídas dos lábios de Cristo, naquele dia memorável, foram entesouradas em muitos corações. Para eles começou uma nova corrente de pensamentos, aspirações novas foram despertadas, e teve início uma nova época. Depois da crucifixão e ressurreição de Cristo, estas pessoas foram para a frente, e cumpriram sua divina missão com uma sabedoria e zelo correspondentes à grandeza da obra. Deram uma mensagem que falava aos corações dos homens, enfraquecendo as velhas superstições que haviam por muito tempo feito definhar a vida de milhares. Em face de seu testemunho, as teorias e filosofias humanas tornaram-se quais ociosas fábulas. Poderosos foram os resultados que emanaram das palavras do Salvador àquela turba admirada e cheia de temor, no templo de Jerusalém. DTN 437 4 Mas Israel, como nação, divorciara-se de Deus. Os ramos naturais da oliveira foram quebrados. Olhando pela última vez para o interior do templo, Jesus disse em patética lamentação: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; porque Eu vos digo que desde agora não Me vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor". Mateus 23:38, 39. Até então Ele chamara o templo a casa de Seu Pai; mas agora, ao sair o Filho de Deus de entre aquelas paredes, a presença de Deus seria para sempre retirada do templo construído para Sua glória. Daí em diante suas cerimônias seriam destituídas de sentido, uma zombaria seus cultos. ------------------------Capítulo 68 -- No pátio DTN 438 0 Este capítulo é baseado em João 12:20-42. DTN 438 1 Ora havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa. Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: "Senhor, queríamos ver a Jesus. Filipe foi dizê-lo a André, e então André e Filipe o disseram a Jesus". João 12:20, 21. DTN 438 2 Por esse tempo a obra de Jesus apresentava o aspecto de pungente derrota. Ele saíra vitorioso da contenda com os sacerdotes e fariseus, mas era evidente que nunca seria recebido por eles como o Messias. Chegara a separação final. Para Seus discípulos, o caso parecia desesperado. Mas Cristo aproximava-Se da consumação de Sua obra. O grande acontecimento, de interesse, não somente para a nação judaica, mas para o mundo inteiro, estava prestes a se realizar. Ao ouvir Cristo o ansioso pedido: "Queríamos ver a Jesus" ecoando o sequioso clamor do mundo, iluminou-se-Lhe o semblante, e disse: "É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado". João 12:23. Na súplica dos gregos viu Ele um penhor dos resultados de Seu grande sacrifício. DTN 438 3 Esses homens foram do Ocidente para encontrar o Salvador ao fim de Sua vida, como os magos tinham vindo do Oriente, ao começo. Ao tempo do nascimento de Cristo, os judeus estavam tão embebidos com as próprias ambições e planos, que não sabiam de Seu primeiro advento. Os magos de uma terra pagã foram à manjedoura com suas dádivas, para adorar o Salvador. Assim esses gregos, representando as nações, tribos e povos do mundo, foram ter com Jesus. Assim o povo de todas as terras e de todos os séculos seria atraído pela cruz do Salvador. E assim "muitos virão do Oriente e do Ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos Céus". Mateus 8:11. DTN 438 4 Os gregos tinham ouvido falar da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Alguns supuseram, e propalaram, que Ele expulsara do templo os sacerdotes e principais, e havia de tomar posse do trono de Davi, dominando como rei de Israel. Os gregos anelavam conhecer a verdade quanto a Sua missão. "Queríamos ver a Jesus", disseram eles. Seu desejo foi satisfeito. Ao receber a petição, achava-Se Jesus naquela parte interna do templo da qual eram excluídos todos os que não fossem judeus, mas saiu ao pátio para receber os gregos, e teve com eles uma entrevista em pessoa. DTN 438 5 Chegara a hora da glorificação de Cristo. Ele Se achava à sombra da cruz, e o pedido dos gregos mostrou-Lhe que o sacrifício que estava para fazer traria muitos filhos e filhas a Deus. Sabia que os gregos O haviam de ver em breve numa posição que mal sonhavam agora. Vê-Lo-iam colocado ao lado de Barrabás, ladrão e assassino, cuja liberdade seria preferida à do Filho de Deus. Ouviriam o povo, inspirado pelos sacerdotes e principais, fazer sua escolha. E à pergunta: "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?" a resposta dada: "Seja crucificado". Mateus 27:22. Jesus sabia que, fazendo essa propiciação pelos pecados dos homens, Seu reino seria aperfeiçoado, e se estenderia pelo mundo. Ele operaria como Restaurador, e Seu Espírito havia de prevalecer. Olhou, por um momento, futuro adiante, e ouviu as vozes que proclamavam em toda parte da Terra: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Viu nesses estrangeiros as primícias de uma grande colheita, quando a parede divisória entre judeus e gentios fosse derribada, e todas as nações, línguas e povos ouvissem a mensagem de salvação. A antecipação desse fato, a consumação de Suas esperanças, acham-se expressas nas palavras: "É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado." O caminho pelo qual essa glorificação se havia de operar, porém, não estava nunca ausente do espírito de Cristo. A reunião dos gentios devia seguir Sua morte próxima. Unicamente por Sua morte podia o mundo ser salvo. Como um grão de trigo, o Filho do homem devia ser deitado no solo e morrer, e ser enterrado fora das vistas; mas havia de viver outra vez. DTN 439 1 Cristo apresentou Seu futuro, ilustrando-o com coisas da natureza, para que os discípulos compreendessem. O verdadeiro resultado de Sua missão havia de ser atingido por Sua morte. "Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto". João 12:24. Quando o grão de trigo cai no solo e morre, germina, e dá fruto. Assim a morte de Cristo daria em resultado frutos para o reino de Deus. Em harmonia com a lei do reino vegetal, a vida havia de ser o resultado de Sua morte. DTN 439 2 Os que lavram o solo têm sempre diante de si essa ilustração. De ano para ano conservam seu abastecimento de cereais, por assim dizer, atirando fora a melhor parte. Por algum tempo deve ela estar oculta na cova, sendo cuidada pelo Senhor. Então aparece a haste, depois a espiga, e depois o grão na mesma. Mas esse desenvolvimento não pode ter lugar a menos que o grão seja enterrado fora das vistas, oculto, e, segundo todas as aparências, perdido. DTN 439 3 A semente enterrada no solo produz frutos e esse é por sua vez plantado. Assim se multiplica a colheita. Da mesma maneira a morte de Cristo na cruz do Calvário produzirá fruto para a vida eterna. A contemplação desse sacrifício será a glória dos que, como fruto do mesmo, viverão através dos séculos eternos. DTN 439 4 O grão de trigo que conserva a própria vida não produz frutos. Permanece sozinho. Cristo poderia, se preferisse, salvar-Se da morte. Mas, fizesse-o, e permaneceria só. Não poderia levar filhos e filhas a Deus. Unicamente entregando a própria vida, podia Ele comunicar vida à humanidade. Só caindo no solo para morrer Se poderia tornar a semente daquela vasta colheita -- a grande multidão redimida para Deus dentre toda nação, e tribo, e língua e povo. DTN 440 1 A essa verdade liga Cristo a lição de sacrifício que todos devem aprender: "Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem neste mundo aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna". João 12:25. Todos quantos desejam produzir frutos como coobreiros de Cristo, devem cair primeiro no solo e morrer. A vida deve ser lançada na cova da necessidade do mundo. O amor-próprio, o próprio interesse, devem perecer. E a lei do sacrifício é a lei da conservação da vida. O lavrador conserva seus cereais lançando-os fora, por assim dizer. O mesmo quanto à vida humana. Dar é viver. A vida que há de ser conservada, é a que se dá abundantemente em serviço para Deus e o homem. Aqueles que sacrificam a existência por amor de Cristo neste mundo, conservá-la-ão para a vida eterna. DTN 440 2 A vida gasta para o próprio eu, é como o grão que se come. Desaparece, mas não há aumento. Junte o homem para si tudo quanto pode; viva, pense e faça planos para o próprio proveito; sua vida passará, no entanto, e ele nada terá. A lei do serviço do próprio eu, é a lei da destruição de si mesmo. DTN 440 3 "Se alguém Me serve", disse Jesus, "Siga-Me, e, onde Eu estiver, ali estará também o Meu servo. E, se alguém Me servir, Meu Pai o honrará". João 12:26. Todos quantos carregaram com Cristo a cruz do sacrifício, partilharão com Ele de Sua glória. A alegria de Cristo, em Sua humilhação e dor, era que Seus discípulos fossem glorificados com Ele. Eles são o fruto de Seu sacrifício. A formação, neles, de Seu próprio caráter e espírito, eis Sua recompensa, e será por toda a eternidade a Sua alegria. Esta alegria eles, os discípulos, partilharão com Ele, ao ser visto em outros corações e outras vidas o fruto de seus labores e sacrifícios. São coobreiros de Cristo, e o Pai os honrará como honra Seu Filho. DTN 440 4 A mensagem dos gregos, prenunciando, como fazia, a reunião dos gentios, trouxe à mente de Jesus Sua inteira missão. A obra da redenção passou por diante dEle, desde o tempo em que, no Céu, foi elaborado o plano, até à morte, tão próxima agora. Uma misteriosa nuvem pareceu envolver o Filho de Deus. Sua sombra foi sentida pelos que O rodeavam. Ele quedou absorto em Seus pensamentos. Rompeu por fim o silêncio com as dolorosas palavras: "Agora a Minha alma está perturbada; e que direi Eu? Pai, salva-Me desta hora". João 12:27. Antecipadamente bebia Cristo o cálice da amargura. Sua humanidade recuava da hora do abandono, quando, segundo todas as aparências, seria desamparado pelo próprio Deus, quando todos O veriam castigado, ferido de Deus, e aflito. Recuava de ser exposto publicamente, de ser tratado como o pior dos criminosos, e da desonra e ignominiosa morte. Um pressentimento de Seu conflito com os poderes das trevas, um sentimento do horrível fardo da transgressão humana, e da ira do Pai por causa do pecado, fez com que o espírito de Jesus desfalecesse, estampando-se-Lhe no rosto a palidez da morte. DTN 441 1 Veio então a divina submissão à vontade do Pai. "Mas para isto vim a esta hora", disse. "Pai, glorifica o Teu nome". João 12:27, 28. Unicamente mediante a morte de Cristo poderia ser vencido o reino de Satanás. Unicamente assim poderia ser o homem redimido, e Deus glorificado. Jesus consentiu na agonia, aceitou o sacrifício. A Majestade do Céu consentiu em sofrer como O que levou sobre Si o pecado. "Pai, glorifica o Teu nome", disse Ele. Ao proferir Cristo estas palavras veio, da nuvem que Lhe pairava sobre a cabeça, a resposta: "Já O tenho glorificado, e outra vez O glorificarei". João 12:28. Toda a vida de Cristo, da manjedoura ao tempo em que estas palavras foram proferidas, havia glorificado a Deus; e na provação que se avizinhava, Seus sofrimentos divino-humanos haviam de, na verdade, glorificar o nome de Seu Pai. DTN 441 2 Ao ser ouvida a voz, um clarão irrompeu da nuvem, circundando a Cristo, como se os braços do Poder Infinito se atirassem em torno dEle qual muralha de fogo. Com espanto e terror contemplou o povo esta cena. Ninguém ousou falar. Lábios cerrados e respiração suspensa, quedaram todos, olhos fixos em Jesus. Dado o testemunho do Pai, ergueu-se a nuvem dispersando-se no céu. Por então cessara a comunhão visível entre o Pai e o Filho. DTN 441 3 "Ora, a multidão que ali estava, e que a tinha ouvido, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo Lhe falou". João 12:29. Mas os indagadores gregos viram a nuvem, ouviram a voz, compreenderam-lhe o sentido, e discerniram na verdade a Cristo; foi-lhes revelado como o Enviado de Deus. DTN 441 4 A voz de Deus se fizera ouvir no batismo de Jesus, ao princípio de Seu ministério, e outra vez no monte da transfiguração. Agora, ao fim desse ministério, era ouvida pela terceira vez, por maior número de pessoas, e sob circunstâncias especiais. Jesus acabara de proferir as mais solenes verdades a respeito da condição dos judeus. Fizera Seu último apelo, e pronunciara-lhes a condenação. Então pôs Deus o selo na missão de Seu Filho. Reconheceu Aquele a quem Israel rejeitara. "Não veio esta voz por amor de Mim", disse Jesus, "mas por amor de vós". João 12:30. Era a prova suprema de Sua messianidade, o sinal, da parte do Pai, de que Jesus falara a verdade, e era o Filho de Deus. DTN 441 5 "Agora é o juiz deste mundo", continuou Cristo; "agora será expulso o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim. E dizia isto significando de que morte havia de morrer". João 12:31-33. Esta é a crise do mundo. Se Me torno a propiciação pelos pecados dos homens, o mundo será iluminado. O domínio de Satanás sobre as almas dos homens será despedaçado. A desfigurada imagem de Deus será restaurada na humanidade, e uma família de crentes santos herdará afinal o lar celestial. Este é o resultado da morte de Cristo. O Salvador perde-Se na contemplação da cena de triunfo ante Ele evocada. A cruz, a cruel, ignominiosa cruz, com todos os horrores que a cercam, Ele a vê resplendente de glória. DTN 442 1 Mas a obra da redenção humana não resume tudo quanto é realizado pela cruz. O amor de Deus manifesta-se ao Universo. São refutadas as acusações que Satanás fez contra Deus. O príncipe deste mundo é expulso. É para sempre removida a mancha que ele atirou sobre o Céu. Os anjos, da mesma maneira que os homens, são atraídos para o Redentor. "E Eu, quando for levantado da Terra", disse, "todos atrairei a Mim.". João 12:32. DTN 442 2 Muita gente estava aglomerada em volta de Cristo ao proferir Ele estas palavras, e um disse: "Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes Tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? Disse-lhe pois Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo; andai enquanto tendes luz, para que as trevas vos não apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz". João 12:34-36. DTN 442 3 "E ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nEle". João 12:37. Eles perguntaram uma vez ao Salvador: "Que sinal pois fazes Tu, para que o vejamos, e creiamos em Ti?" João 6:30. Inúmeros sinais haviam sido dados; mas eles fecharam os olhos e endureceram o coração. Agora, que o próprio Pai falara, e não podiam mais pedir sinais, recusaram ainda crer. DTN 442 4 "Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nEle; mas não o confessaram por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga". João 12:42. Amavam mais o louvor dos homens do que a aprovação de Deus. Para se livrarem de censura e vergonha, negaram a Cristo, e rejeitaram a oferta da vida eterna. E quantos, através de todos os séculos, têm feito assim! A estes se aplicam todas as palavras de advertência dadas por Cristo: "Quem ama a sua vida perdê-la-á." "Quem Me rejeitar a Mim", disse Jesus, "e não receber as Minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia". João 12:48. DTN 442 5 Ai dos que não conheceram o tempo de sua visitação! Lenta e dolorosamente deixou Cristo para sempre os limites do templo. ------------------------Capítulo 69 -- O Monte das Oliveiras DTN 443 0 Este capítulo é baseado em Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21:5-38. DTN 443 1 As palavras de Cristo aos sacerdotes e principais: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (Mateus 23:38), encheram-lhes de terror o coração. Afetaram indiferença, mas ficou sempre a voltar-lhes ao pensamento uma pergunta quanto à importância dessas palavras. Parecia ameaçá-los invisível perigo. Poder-se-ia dar que o magnífico templo, glória da nação, devesse tornar-se em breve um montão de ruínas? Os pressentimentos de mal eram partilhados pelos discípulos, e esperavam ansiosos uma declaração mais definida de Jesus. Ao saírem com Ele do templo, chamaram-Lhe a atenção para a estrutura e beleza do mesmo. Suas pedras eram do mais puro mármore, de perfeita brancura, e algumas delas de dimensões quase fabulosas. Uma parte da parede resistira ao cerco do exército de Nabucodonosor. No perfeito acabamento de sua alvenaria, dir-se-ia um sólido bloco de pedra tirado inteiro da pedreira. Como essas poderosas paredes pudessem ser derribadas, não compreendiam os discípulos. DTN 443 2 Ao ser a atenção de Cristo chamada para a magnificência do templo, quais não terão sido os pensamentos inexpressos daquele Rejeitado?! A visão que tinha perante Si era na verdade bela, mas Ele disse com tristeza: Eu vejo tudo isso. Os edifícios são realmente maravilhosos. Vós apontais essas paredes como sendo aparentemente indestrutíveis; escutai, porém, as Minhas palavras: Dia virá em que "não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada". Mateus 24:2. DTN 443 3 As palavras de Cristo foram proferidas aos ouvidos de grande número de pessoas; mas quando Ele Se achava só, sentado sobre o Monte das Oliveiras, Pedro, João, Tiago e André foram ter com Ele. "Dize-nos", perguntaram, "quando serão essas coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?" Mateus 24:3. Jesus não respondeu aos discípulos falando em separado da destruição de Jerusalém e do grande dia de Sua vinda. Misturou a descrição dos dois acontecimentos. Houvesse desenrolado perante os discípulos os eventos futuros segundo Ele os via, e não teriam podido suportar esse espetáculo. Por misericórdia com eles, Jesus misturou a descrição das duas grandes crises, deixando aos discípulos o procurar por si mesmos a significação. Ao referir-Se à destruição de Jerusalém, Suas palavras proféticas estenderam-se para além daquele acontecimento, à conflagração final do dia em que o Senhor Se levantará do Seu lugar para punir o mundo por sua iniqüidade, quando a Terra descobrirá seu sangue, e não mais encobrirá seus mortos. Todo esse discurso foi dado, não para os discípulos somente, mas para os que haveriam de viver nas últimas cenas da história terrestre. DTN 444 1 Voltando-Se para os discípulos, Cristo disse: "Acautelai-vos, que ninguém vos engane; porque muitos virão em Meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos". Mateus 24:4, 5. Muitos falsos messias apareceriam, pretendendo operar milagres, e dizendo chegado o tempo do livramento da nação judaica. Esses desviariam a muitos. As palavras de Cristo cumpriram-se. Entre Sua morte e o cerco de Jerusalém, apareceram muitos falsos messias. Mas essa advertência foi dada também aos que vivem nesta época do mundo. Os mesmos enganos praticados anteriormente à destruição de Jerusalém, têm sido postos em prática através dos séculos, e sê-lo-ão de novo. DTN 444 2 "E ouvireis de guerras e rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, por que é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim". Mateus 24:6. Antes da destruição de Jerusalém, os homens lutavam pela supremacia. Foram mortos imperadores. Os que se julgavam sucessores ao trono eram assassinados. Houve guerras e rumores de guerras. "É mister que tudo isso aconteça", disse Cristo, "mas ainda não é o fim [da nação judaica como nação]. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores". Mateus 24:7, 8. Cristo disse: Ao verem os rabis estes sinais, hão de declarar que são juízos de Deus sobre as nações por manterem em servidão Seu povo escolhido. Dirão que essas coisas são indícios da vinda do Messias. Não vos enganeis; elas são o princípio de Seus juízos. O povo tem olhado para si mesmo. Não se têm arrependido e convertido para que Eu os cure. Os sinais que eles apresentam como indícios de sua libertação do jugo, são sinais de sua destruição. DTN 444 3 "Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do Meu nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão". Mateus 24:9, 10. Tudo isso sofreram os cristãos. Pais e mães traíram os próprios filhos. Filhos traíram os pais. Amigos entregaram amigos ao Sinédrio. Os perseguidores realizaram seu desígnio matando Estêvão, Tiago e outros cristãos. DTN 444 4 Por meio de Seus servos, deu Deus a última oportunidade ao povo judeu de se arrepender. Mediante Suas testemunhas manifestou-Se Ele, em suas prisões, em seus julgamentos, em seus encarceramentos. Todavia seus juízes pronunciaram contra eles a sentença de morte. Eram homens de quem o mundo não era digno e, matando-os, os judeus crucificavam de novo ao Filho de Deus. Assim será outra vez. As autoridades farão leis para restringir a liberdade religiosa. Arrogar-se-ão o direito que só a Deus pertence. Pensarão que podem forçar a consciência, que só Deus deve reger. Mesmo agora estão começando; esta obra continuarão a levar avante até chegarem a um limite que não podem transpor. Deus Se interporá em favor de Seu povo leal, observador dos mandamentos. DTN 445 1 Em todas as ocasiões em que tem lugar a perseguição, aqueles que a testemunham tomam decisões, seja em favor de Cristo, seja contra Ele. Os que manifestam simpatia pelos que são injustamente condenados, mostram seu apego a Cristo. Outros se escandalizam por que os princípios da verdade ferem diretamente suas práticas. Muitos tropeçam e caem, apostatando da fé que uma vez defenderam. Os que se retratam em tempo de prova, hão de, por amor da própria segurança, dar falso testemunho, e trair a seus irmãos. Cristo nos advertiu disso, para que não ficássemos surpreendidos com a conduta desnatural, cruel, dos que rejeitam a luz. DTN 445 2 Cristo deu a Seus discípulos um sinal da ruína a sobrevir a Jerusalém, e disse-lhes como haveriam de escapar: "Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e, os que nos campos, não entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas". Lucas 21:20-22. Esse aviso foi dado para ser seguido quarenta anos depois, na destruição de Jerusalém. Os cristãos obedeceram à advertência, e nenhum deles pereceu no cerco da cidade. DTN 445 3 "E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado" (Mateus 24:20), disse Cristo. Aquele que fez o sábado não o aboliu, cravando-o na cruz. O sábado não foi anulado por Sua morte. Quarenta anos depois da crucifixão, devia ainda ser mantido sagrado. Durante quarenta anos deviam os discípulos orar para que sua fuga não caísse no sábado. DTN 445 4 Da destruição de Jerusalém, passou Cristo rapidamente ao maior evento, o último elo na cadeia da história terrestre -- a vinda do Filho de Deus em majestade e glória. Entre estes dois acontecimentos, jaziam abertos aos olhos de Cristo longos séculos de trevas, séculos assinalados para sua igreja por sangue e lágrimas e agonia. A contemplação dessas cenas não podiam então os discípulos suportar, e Jesus passou-as com breve menção. "Porque haverá então grande aflição", disse, "como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tão pouco haverá. E, se aqueles dias não fossem abreviados nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias". Mateus 24:21, 22. Por mais de mil anos, perseguições como o mundo nunca antes presenciara, sobreviriam aos seguidores de Cristo. Milhões e milhões de Suas fiéis testemunhas haveriam de ser mortas. Não se houvesse estendido a mão de Deus, para preservar Seu povo, e todos teriam perecido. "Mas por causa dos escolhidos", disse Ele, "serão abreviados aqueles dias." DTN 445 5 Depois, em linguagem inequívoca, nosso Senhor fala de Sua segunda vinda, e dá advertência de perigos que hão de preceder Seu advento ao mundo. "Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que Eu vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Eis que Ele está no deserto, não saiais; eis que Ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem". Mateus 24:23-27. Como um dos sinais da destruição de Jerusalém, Cristo havia dito: "E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos." Ergueram-se falsos profetas, enganando o povo, e levando grande número ao deserto. Mágicos e exorcistas, pretendendo miraculoso poder, arrastaram o povo após si, às solidões das montanhas. Mas esta profecia foi dada também para os últimos dias. Este sinal é indício do segundo advento. Mesmo agora falsos cristos e falsos profetas exibem sinais e maravilhas para seduzir Seus discípulos. Não ouvimos nós o grito: "Eis que Ele está no deserto"? Não tem milhares ido ao deserto, na esperança de encontrar a Cristo? E de milhares de reuniões onde os homens professam ter comunicação com espíritos dos que se foram, não vem o brado: "Eis que Ele está no interior da casa [nas câmaras, dizem outras versões]"? É exatamente o que pretende o espiritismo. Mas que diz Cristo? -- "Não acrediteis. Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem." DTN 446 1 O Salvador dá sinais de Sua vinda e, mais que isto, fixa o tempo em que aparecerão os primeiros desses sinais: "E logo depois da aflição daqueles dias, o Sol escurecerá, e a Lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu, o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da Terra se lamentarão, e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus". Mateus 24:29-31. DTN 446 2 Ao fim da grande perseguição papal, declarou Cristo, o Sol se escureceria, e a Lua não daria sua luz. Em seguida, cairiam as estrelas do céu. E Ele diz: "Aprendei pois esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que Ele está próximo às portas". Mateus 24:32, 33. DTN 446 3 Cristo deu sinais de Sua vinda. Declara que podemos conhecer quando Ele está perto, às portas. Ele diz daqueles que vêem estas coisas: "Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam". Mateus 24:34. Estes sinais apareceram. Agora sabemos com certeza que a vinda do Senhor está às portas. "O céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar". Mateus 24:35. DTN 447 1 Cristo virá com nuvens e grande glória. Uma multidão de luminosos anjos O acompanhará. Ele virá para ressuscitar os mortos, e transformar os santos vivos de glória em glória. Virá honrar os que O amaram e guardaram Seus mandamentos, e levá-los para Si. Não os esqueceu, nem a Sua promessa. Unir-se-á de novo a cadeia da família. Ao contemplarmos nossos mortos, podemos pensar na manhã em que a trombeta de Deus soará, e "os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados". 1 Coríntios 15:52. Mais um pouco, e veremos o Rei em Sua formosura. Mais um pouco, e Ele enxugará toda lágrima de nossos olhos. Um pouco mais, e nos apresentará "irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória". Judas 24. Por conseguinte, ao dar Ele os sinais de Sua vinda, disse: "Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima, e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima". Lucas 21:28. DTN 447 2 Mas o dia e hora de Sua vinda não foram revelados. Jesus declarou positivamente a Seus discípulos que Ele próprio não podia dar a conhecer o dia ou a hora de Sua segunda vinda. Houvesse estado na liberdade de revelar isto, que necessidade teria então de os exortar a uma constante vigilância? Alguns há que pretendem conhecer o próprio dia e hora do aparecimento do Senhor. Muito zelosos são eles em delinear o futuro. Mas o Senhor os advertiu a sair desse terreno. O tempo exato da segunda vinda do Filho do homem é mistério de Deus. DTN 447 3 Cristo continua indicando as condições do mundo por ocasião de Sua vinda: "E como foi nos dias de Noé, assim será também na vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos -- assim será também a vinda do Filho do homem". Mateus 24:37-39. Cristo não apresenta aí um milênio temporal, mil anos em que todos se hão de preparar para a eternidade. Diz-nos que, como foi nos dias de Noé, assim será quando o Filho do homem vier outra vez. DTN 447 4 Como foi nos dias de Noé? -- "Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente". Gênesis 6:5. Os habitantes do mundo antediluviano desviaram-se de Jeová, recusando fazer Sua santa vontade. Seguiram após sua profana imaginação e pervertidas idéias. Foi por causa de sua impiedade que foram destruídos; e atualmente o mundo está seguindo a mesma marcha. Não apresenta nenhum lisonjeiro indício de glória milenial. Os transgressores da lei de Deus estão enchendo a Terra de impiedade. Suas apostas, suas corridas de cavalos, jogo, dissipação, costumes cheios de concupiscências, paixões irrefreadas, estão rapidamente enchendo o mundo de violência. DTN 447 5 Na profecia da destruição de Jerusalém, Cristo disse: "Por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim". Mateus 24:12-14. Esta profecia terá outra vez seu cumprimento. A abundante iniqüidade daquela época encontra seu paralelo nesta geração. Assim será quanto à predição referente à pregação do evangelho. Antes da queda de Jerusalém, Paulo, escrevendo sob inspiração do Espírito Santo, declarou que o evangelho fora pregado a "toda a criatura que há debaixo do Céu". Colossences 1:23. Assim agora, antes da vinda do Filho do homem, o evangelho eterno tem que ser pregado a "toda nação, e tribo, e língua, e povo". Apocalipse 14:6, 14. Deus "tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo". Atos dos Apóstolos 17:31. Cristo nos diz quando terá lugar aquele dia. Ele não diz que todo o mundo se converterá, mas que "este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim". Mateus 24:14. Dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta de nosso Senhor. Não nos cabe apenas aguardar, mas apressar o dia de Deus. 2 Pedro 3:12. Houvesse a igreja de Cristo feito a obra que lhe era designada, como Ele ordenou, o mundo inteiro haveria sido antes advertido, e o Senhor Jesus teria vindo à Terra em poder e grande glória. DTN 448 1 Depois de dar os sinais de Sua vinda, Cristo disse: "Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto". Lucas 21:31. "Olhai, vigiai e orai". Marcos 13:33. Deus sempre tem dado aos homens advertência dos juízos por vir. Aqueles que tiveram fé na mensagem por Ele enviada para seu tempo, e agiram segundo sua fé, em obediência aos Seus mandamentos, escaparam aos juízos que caíram sobre os desobedientes e incrédulos. A Noé veio a palavra: "Entra tu e toda a tua casa na arca, porque te hei visto justo diante de Mim". Gênesis 7:1. Noé obedeceu, e foi salvo. A Ló foi enviada a mensagem: "Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade". Gênesis 19:14. Ló colocou-se sob a guarda dos mensageiros celestes, e foi salvo. Assim os discípulos de Cristo tiveram aviso da destruição de Jerusalém. Os que estavam alerta quanto ao sinal da próxima ruína, e fugiram da cidade, escaparam à destruição. Assim agora estamos dando aviso da segunda vinda de Cristo e da destruição impendente sobre o mundo. Os que ouvirem a advertência, serão salvos. DTN 448 2 Como não sabemos o tempo exato de Sua vinda, somos advertidos a vigiar. "Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando!" Lucas 12:37, 42. Os que vigiam, à espera da vinda do Senhor, não aguardam em ociosa expectativa. A expectação da vinda do Senhor fará os homens temerem-nO, bem como aos Seus juízos contra a transgressão. Deve despertá-los para o grande pecado de Lhe rejeitar os oferecimentos de misericórdia. Os que aguardam o Senhor, purificam a alma pela obediência da verdade. Com a vigilante espera, combinam ativo serviço. Como sabem que o Senhor está às portas, seu zelo é avivado para cooperar com as forças divinas para salvação de almas. Estes são os sábios e fiéis servos que dão "o sustento a seu tempo" à casa do Senhor. Estão declarando a verdade especialmente aplicável a este tempo. Como Enoque, Noé, Abraão e Moisés, cada um declarou a verdade para seu tempo, assim hão de os servos de Cristo agora dar a especial advertência para sua geração. DTN 449 1 Mas Cristo apresenta outra classe: "Porém, se aquele mau servo disser consigo: O meu Senhor tarde virá; e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, virá o Senhor daquele servo num dia em que O não espera". Mateus 24:48-50. DTN 449 2 O mau servo diz em seu coração: "O meu Senhor tarde virá." Não diz que Cristo não virá. Não zomba da idéia de Sua segunda vinda. Mas, em seu coração e por suas ações e palavras declara que a vinda do Senhor demora. Afasta da mente dos outros a convicção de que o Senhor presto virá. Sua influência leva os homens a uma presunçosa, negligente demora. São confirmados em sua mundanidade e torpor. Paixões terrestres, pensamentos corruptos tomam posse da mente. O mau servo come e bebe com os bêbados, une-se com o mundo na busca do prazer. Espanca seus conservos, acusando e condenando aqueles que são fiéis a seu Mestre. Mistura-se com o mundo. Sendo semelhantes, crescem ambos na transgressão. É uma assimilação terrível. É colhido no laço juntamente com o mundo. "Virá o senhor daquele servo [...] à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas". Mateus 24:50, 51. DTN 449 3 "E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei". Apocalipse 3:3. O advento de Cristo surpreenderá os falsos mestres. Eles estão dizendo: "Paz e segurança." Como os sacerdotes e mestres antes da queda de Jerusalém, assim esperam eles que a igreja goze de prosperidade e glória terrenas. Os sinais dos tempos, eles interpretam como prognóstico dessas coisas. Mas, que diz a Palavra inspirada? -- "Então lhes sobrevirá repentina destruição". 1 Tessalonicenses 5:3. Como um laço virá o dia de Deus sobre toda a Terra, sobre todos os que fazem deste mundo sua pátria. Ele virá sobre eles como um ladrão. DTN 449 4 O mundo, cheio de rixas, repleto de ímpios prazeres, acha-se adormecido, adormecido em segurança carnal. Os homens estão retardando a vinda do Senhor. Riem das advertências. Ouve-se a arrogância: "Todas as coisas continuam como desde o princípio da criação". 2 Pedro 3:4. "O dia de amanhã será como este, e ainda maior e mais famoso". Isaías 56:12. Aprofundar-nos-emos no amor do prazer. Mas Cristo diz: "Eis que venho como ladrão". Apocalipse 16:15. Ao mesmo tempo que o mundo está perguntando zombeteiramente: "Onde está a promessa da Sua vinda?" (2 Pedro 3:4) estão-se cumprindo os sinais. Enquanto eles gritam: "Paz e segurança", aproxima-se repentina destruição. Quando o escarnecedor, o rejeitador da verdade, se tem tornado presunçoso; quando a rotina do trabalho nos vários ramos de ganhar dinheiro é prosseguida sem consideração para com princípios; quando o estudante está ansiosamente buscando o conhecimento de tudo menos a Bíblia, Cristo vem como ladrão. DTN 450 1 Tudo no mundo está em agitação. Os sinais dos tempos são cheios de sinais. Os acontecimentos por vir projetam sua sombra diante de si. O Espírito de Deus está sendo retirado da Terra, e calamidade segue-se a calamidade em terra e mar. Há tempestades, terremotos, incêndios, inundações, homicídios de toda espécie. Quem pode ler o futuro? Onde está a segurança? Não há certeza em coisa alguma humana ou terrena. Os homens se estão rapidamente enfileirando sob a bandeira de sua escolha. Aguardam desassossegadamente os movimentos de seus chefes. Há os que estão esperando, vigiando e trabalhando pela vinda de nosso Senhor. Outra classe cerra fileiras sob a chefia do primeiro e grande apóstata. Poucos crêem de alma e coração que temos um inferno a evitar e um Céu a alcançar. DTN 450 2 A crise aproxima-se furtiva e gradualmente de nós. O Sol brilha no firmamento, fazendo seu ordinário percurso, e os céus declaram ainda a glória de Deus. Os homens ainda comem, bebem, plantam e edificam, casam e dão-se em casamento. Os comerciantes continuam a vender e comprar. Os homens se empurram uns aos outros, contendem pelas mais altas posições. Os amantes de prazer aglomeram-se ainda nos teatros, nas corridas de cavalo, nos antros de jogo. São dominados pelo maior excitamento, todavia o tempo de graça aproxima-se rapidamente do fim, e todo caso está para ser eternamente decidido. Satanás vê que seu tempo é curto. Tem posto em operação todas as suas forças a fim de os homens serem enganados, seduzidos, ocupados e enlaçados até que o dia da graça se haja findado, e a porta da misericórdia esteja para sempre fechada. DTN 450 3 Através dos séculos, chegam até nós as solenes palavras de advertência de nosso Senhor, no Monte das Oliveiras: "E olhai por vós mesmos, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." "Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem". Lucas 21:34, 36. ------------------------Capítulo 70 -- "Um destes meus pequeninos irmãos" DTN 451 0 Este capítulo é baseado em Mateus 25:31-46. DTN 451 1 E quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns dos outros". Mateus 25:31, 32. Assim descreveu Cristo aos discípulos, no Monte das Oliveiras, as cenas do grande dia do Juízo. E apresentou sua decisão como girando em torno de um ponto. Quando as nações se reunirem diante dEle, não haverá senão duas classes, e seu destino eterno será determinado pelo que houverem feito ou negligenciado fazer por Ele na pessoa dos pobres e sofredores. DTN 451 2 Naquele dia, Cristo não apresentará aos homens a grande obra que Ele fez em seu benefício, ao dar a própria vida pela redenção deles. Apresenta a fiel obra que fizeram por Ele. Aos que põe à Sua direita, dirá: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me". Mateus 25:34-36. Mas aqueles a quem Cristo louva, não sabem que O tinham servido a Ele. À sua perplexa interrogação, responde: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes". Mateus 25:40. DTN 451 3 Jesus dissera aos discípulos que seriam aborrecidos por todos os homens, perseguidos e aflitos. Muitos seriam expulsos de seu lar, e reduzidos à pobreza. Muitos estariam em aflição por motivo de doenças e privações. Muitos seriam lançados na prisão. A todos quantos abandonaram amigos ou casa por amor dEle, prometera Jesus nesta vida cem vezes tanto. Agora deu certeza de uma bênção especial a todos quantos servissem a seus irmãos. Em todos quantos sofrem por causa do Meu nome, disse, haveis de reconhecer-Me a Mim. Como Me serviríeis a Mim, assim os deveis servir a eles. Esta é a prova de que sois Meus discípulos. DTN 451 4 Todos quantos nasceram na família celestial, são em sentido especial irmãos de nosso Senhor. O amor de Cristo liga os membros de Sua família, e onde quer que esse amor se manifeste, aí se revela a relação divina. "Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus". 1 João 4:7. DTN 451 5 Aqueles que Cristo louva no Juízo, talvez tenham conhecido pouco de teologia, mas nutriram Seus princípios. Mediante a influência do Divino Espírito, foram uma bênção para os que os cercavam. Mesmo entre os gentios existem pessoas que têm cultivado o espírito de bondade; antes de lhes haverem caído aos ouvidos as palavras de vida, acolheram com simpatia os missionários, servindo-os mesmo com perigo da própria vida. Há, entre os gentios, pessoas que servem a Deus ignorantemente, a quem a luz nunca foi levada por instrumentos humanos; todavia não perecerão. Conquanto ignorantes da lei escrita de Deus, ouviram Sua voz a falar-lhes por meio da natureza, e fizeram aquilo que a lei requeria. Suas obras testificam que o Espírito Santo lhes tocou o coração, e são reconhecidos como filhos de Deus. DTN 452 1 Quão surpreendidos e jubilosos ficarão os humildes dentre as nações, e dentre os pagãos, de ouvir dos lábios do Salvador: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes"! Mateus 25:40. Quão alegre ficará o coração do Infinito amor quando Seus seguidores erguerem para Ele o olhar, em surpresa e regozijo ante Suas palavras de aprovação! DTN 452 2 Mas o amor de Cristo não se restringe a uma classe. Ele Se identifica com todo filho da raça humana. Para fazermos parte da família celestial, tornou-Se membro da família humana. É o Filho do homem, e assim um irmão de todo filho e filha de Adão. Seus seguidores não se devem sentir separados do mundo que perece em seu redor. São uma parte da grande teia da humanidade; e o Céu os considera irmãos dos pecadores da mesma maneira que dos santos. Os caídos, os errantes e os pecadores são todos envolvidos pelo amor de Cristo; e toda boa ação praticada para erguer uma alma caída, todo ato de misericórdia, é aceito como feito a Ele próprio. DTN 452 3 Os anjos celestiais são enviados para servir os que hão de herdar a salvação. Não sabemos agora quem são eles; ainda não é manifesto quem vencerá e participará da herança dos santos na luz; mas anjos do Céu estão atravessando a Terra de alto a baixo, de lado a lado, buscando confortar os tristes, proteger os que estão em perigo, conquistar o coração dos homens para Cristo. Ninguém é negligenciado ou deixado à margem. Deus não faz acepção de pessoas, e tem igual cuidado pelas almas que criou. DTN 452 4 Ao abrirdes a porta aos necessitados e sofredores de Cristo, estais acolhendo anjos invisíveis. Convidais a companhia de seres celestiais. Eles trazem uma sagrada atmosfera de alegria e paz. Vêm com louvores nos lábios, e uma nota correspondente se ouve no Céu. Todo ato de misericórdia promove música ali. O Pai, em Seu trono, conta os abnegados obreiros entre Seus mais preciosos tesouros. DTN 452 5 Os que estão à esquerda de Cristo, os que O negligenciaram na pessoa dos pobres e sofredores, estavam inconscientes de sua culpa. Satanás os cegara; não perceberam o que deviam a seus irmãos. Estiveram absorvidos consigo mesmos, e não cuidaram das necessidades dos outros. DTN 452 6 Deus deu aos ricos fortuna para que socorram e confortem Seus filhos sofredores; mas demasiadas vezes são indiferentes às privações dos demais. Sentem-se superiores a seus irmãos pobres. Não se colocam no lugar deles. Não compreendem suas tentações e lutas, e a misericórdia extingue-se-lhes no coração. Em custosas habitações e esplêndidas igrejas, os ricos excluem-se dos pobres, e os meios dados por Deus, para beneficiar os necessitados, são gastos em ostentação, orgulho e egoísmo. Os pobres são diariamente roubados quanto à educação que deviam ter a respeito das ternas misericórdias de Deus; pois Ele tomou amplas providências para que fossem confortados com o indispensável à vida. São forçados a sofrer a pobreza que limita a existência, sendo muitas vezes tentados a ficar invejosos, ciumentos e cheios de ruins suspeitas. Os que não sofreram, por sua parte, a pressão das necessidades, freqüentemente tratam os pobres com menosprezo, fazendo-lhes sentir que são considerados indigentes. DTN 453 1 Mas Cristo contempla tudo isso e diz: Fui Eu que tive fome e sede. Fui Eu que andei como estrangeiro. Fui Eu o enfermo. Eu que estive na prisão. Enquanto vos banqueteáveis em vossa rica mesa, Eu Me achava faminto na choupana ou no desabrigo das ruas. Ao vos encontrardes à vontade em vossa luxuosa habitação, Eu não tinha onde reclinar a cabeça. Quando apinháveis o guarda-roupa de ricos trajes, Eu Me achava destituído de tudo. Ao irdes em busca de prazeres, Eu definhava na prisão. DTN 453 2 Quando distribuístes a escassa provisão de pão ao pobre faminto, quando destes aquelas insuficientes roupas para o abrigar da cortante geada, lembrastes acaso que o estáveis dando ao Senhor da glória? Todos os dias de vossa vida Eu Me achava perto de vós na pessoa desses aflitos, mas não Me buscastes. Não vos tornastes Meus companheiros. Não vos conheço. DTN 453 3 Muitos pensam que seria grande privilégio visitar os cenários da vida de Cristo na Terra, andar pelos lugares por Ele trilhados, contemplar o lago à margem do qual gostava de ensinar, as montanhas e vales em que Seus olhos tantas vezes pousaram. Mas não necessitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas junto ao leito dos doentes, nas choças da pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos em Seus passos. DTN 453 4 Todos podem encontrar qualquer coisa para fazer. "Os pobres sempre os tendes convosco" (João 12:8), disse Jesus, e ninguém deve julgar que não haja lugar onde possa trabalhar para Ele. Milhões e milhões de almas quase a perecer, ligadas em cadeias de ignorância e pecado, nunca ouviram tal coisa como seja o amor de Cristo por eles. Invertidas as condições, que desejaríamos que fizessem por nós? Tudo isso, o quanto estiver ao nosso alcance, achamo-nos na mais solene obrigação de fazer por eles. A regra de vida dada por Cristo, aquela pela qual cada um de nós deve subsistir ou cair no Juízo, é: "Tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós". Mateus 7:12. DTN 454 1 O Salvador deu Sua preciosa vida, a fim de estabelecer uma igreja capaz de cuidar de almas aflitas e tentadas. Um grupo de crentes pode ser pobre, sem instrução, desconhecido; todavia, estando em Cristo, pode fazer no lar, na vizinhança, na igreja, e mesmo nas regiões distantes, uma obra cujos resultados serão de alcance eterno. DTN 454 2 É porque essa obra é negligenciada, que tantos jovens discípulos nunca avançam além do simples alfabeto da experiência cristã. A luz que resplandeceu em seu próprio coração quando Jesus lhes disse: "Perdoados te são os teus pecados" (Mateus 9:2), deveriam conservar viva mediante o auxílio prestado a outros em necessidade. A irrequieta energia, tantas vezes fonte de perigo para os jovens, poderia ser encaminhada de maneira que fluísse em correntes de bênção. O próprio eu seria esquecido na diligente obra para bem de outros. DTN 454 3 Os que servem os outros, serão servidos pelo Sumo Pastor. Eles próprios beberão da água viva e ficarão satisfeitos. Não anelarão diversões excitantes, ou uma mudança de vida. O grande objeto de interesse será: como salvar almas quase a perecer. O intercâmbio social será proveitoso. O amor do Redentor ligará os corações em unidade. DTN 454 4 Quando compreendemos que somos coobreiros de Deus, Suas promessas não serão proferidas com indiferença. Elas arderão em nossa alma e inflamar-se-ão em nossos lábios. A Moisés, quando chamado a servir a um povo ignorante, indisciplinado e rebelde, foi feita por Deus a promessa: "Irá a Minha presença contigo para te fazer descansar". Êxodo 33:14. E Ele disse: "Certamente Eu serei contigo". Êxodo 3:12. Essa promessa pertence a todos quantos trabalham em lugar de Cristo, em favor de Seus aflitos e sofredores. DTN 454 5 O amor aos homens é a manifestação do amor de Deus em direção à Terra. Foi para implantar esse amor, fazer-nos filhos de uma família, que o Rei da Glória Se tornou um conosco. E quando se cumprirem as palavras que disse ao partir: "Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei" (João 15:12); quando amarmos o mundo assim como Ele o amou, então Sua missão por nós está cumprida. Estamos aptos para o Céu; pois o temos no coração. DTN 454 6 Mas "se faltares de livrar aos que são levados à morte, e arrastados à matança; se disseres: Eis que não soubemos isso: Não é assim que Aquele que pondera os corações, Esse o entende? e que Aquele que conserva a tua alma, Esse o sabe? Ele também retribuiu ao homem segundo a sua obra" (Provérbios 24:11, 12), Trad. Trinitariana. No grande dia do Juízo, os que não trabalharam para Cristo, que andaram ao sabor dos ventos, só pensando em si, cuidando de si, serão postos pelo Juiz de toda a Terra com os que fizeram o mal. Receberão a mesma condenação. DTN 454 7 A toda alma é confiado um depósito. De cada um pedirá contas o Sumo Pastor: "Onde está o rebanho que se te deu, e as ovelhas da tua glória?" E: "que dirás quando Ele te visitar?" Jeremias 13:20, 21. ------------------------Capítulo 71 -- Servo dos servos DTN 455 0 Este capítulo é baseado em Lucas 22:7-18, 24; João 13:1-17. DTN 455 1 No cenáculo de uma morada de Jerusalém, achava-Se Cristo à mesa com os discípulos. Tinham-se reunido para celebrar a páscoa. O Salvador desejava celebrar essa festa a sós com os doze. Sabia que era chegada a Sua hora; Ele próprio era o verdadeiro Cordeiro pascoal, e no dia em que se comia a páscoa, devia Ele ser sacrificado. Estava prestes a beber o cálice da ira; devia logo receber o final batismo do sofrimento. Algumas horas tranqüilas Lhe restavam, porém, e essas deviam ser empregadas em benefício dos amados discípulos. DTN 455 2 Toda a vida de Cristo fora de abnegado serviço. "Não [...] para ser servido, mas para servir" (Mateus 20:28), fora a lição de cada ato Seu. Mas ainda os discípulos não haviam aprendido a lição. Nessa última ceia pascoal, Jesus repetiu Seus ensinos mediante uma ilustração que os gravou para sempre na mente e no coração deles. DTN 455 3 As entrevistas de Jesus com os discípulos eram geralmente períodos de calma alegria, altamente apreciados por todos eles. As ceias pascoais haviam sido cenas de especial interesse; mas nessa ocasião Jesus estava perturbado. Tinha o coração oprimido, e havia uma sombra a toldar-Lhe o semblante. Ao encontrar-Se com os discípulos no cenáculo, perceberam eles que qualquer coisa Lhe pesava fortemente no espírito, e conquanto não conhecessem a causa, possuíram-se de piedoso interesse por Sua dor. DTN 455 4 Enquanto se achavam reunidos ao redor da mesa, disse Ele em tom de tocante tristeza: "Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus". Lucas 22:15, 16. DTN 455 5 Cristo sabia que chegara o tempo de partir deste mundo, e ir para o Pai. E havendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Achava-Se agora na sombra da cruz, e a dor torturava-Lhe o coração. Sabia que seria abandonado na hora de ser entregue. Sabia que, pelo mais humilhante processo a que se submetiam os criminosos, seria condenado à morte. Conhecia a ingratidão e crueldade daqueles a quem viera salvar. Sabia quão grande o sacrifício que devia fazer, e para quantos seria ele em vão. Sabendo tudo quanto se achava diante de Si, poderia ser naturalmente esmagado ao pensamento da própria humilhação e sofrimento. Mas olhou aos doze, os quais estiveram com Ele como Seus mesmos, e que, depois de Sua vergonha e dor, e passados os dolorosos maus-tratos, seriam deixados a lutar no mundo. O pensamento do que Ele próprio deveria sofrer estava sempre relacionado com os discípulos em Seu espírito. Não pensava em Si mesmo. O cuidado por eles era o que predominava em Sua mente. DTN 456 1 Nessa última noite em que estava com os discípulos, Jesus tinha muito a dizer-lhes. Estivessem eles preparados para receber o que lhes almejava comunicar, e teriam sido poupados a desoladora angústia, a decepção e incredulidade. Mas Jesus viu que não podiam suportar o que lhes tinha a dizer. Ao olhar-lhes o rosto, as palavras de advertência e conforto estacaram-Lhe nos lábios. Passaram-se momentos em silêncio. Parecia que Jesus esperava. Os discípulos não se sentiam à vontade. O compassivo interesse despertado pelo pesar de Cristo parecia haver-se dissipado. Suas dolorosas palavras, indicando os próprios sofrimentos, pouca impressão produziram. Os olhares que trocavam entre si, traduziam ciúmes e rivalidade. DTN 456 2 Havia "entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior". Essa rivalidade, manifestada na presença de Cristo, O entristeceu e magoou. Apegavam-se os discípulos a sua idéia favorita de que Cristo firmaria Seu poder, e tomaria Seu posto no trono de Davi. E no coração cada um continuava a anelar a posição mais elevada no reino. Haviam-estimado a si mesmos e uns aos outros, e em lugar de considerar seus irmãos mais dignos, colocavam-se em primeiro lugar. O pedido de Tiago e João, de se assentarem à direita e à esquerda do trono de Cristo, despertara a indignação dos outros. O terem os dois irmãos tido a presunção de pedir a mais alta posição despertara por tal forma os dez, que havia ameaça de alheamento. Pensaram que eram mal julgados, que sua fidelidade e seus talentos não eram apreciados. Judas era o mais rigoroso contra Tiago e João. DTN 456 3 Quando os discípulos entraram na sala da ceia, tinham o coração cheio de ressentimentos. Judas apressou-se a tomar lugar junto de Cristo, à esquerda; João estava à direita. Se houvesse lugar mais elevado, Judas estava decidido a ocupá-lo, e esse lugar, julgava-se, era junto de Cristo. E Judas era um traidor. DTN 456 4 Surgira outra causa de dissensão. Numa festa, era costume que um servo lavasse os pés aos hóspedes, e nessa ocasião se fizeram preparativos para esse serviço. O jarro, a bacia e a toalha ali estavam, prontos para a lavagem dos pés; não havia nenhum servo presente, porém, e cabia aos discípulos fazer isso. Mas cada um deles, cedendo ao orgulho ferido, resolveu não desempenhar a parte de servo. Todos manifestaram total desinteresse, parecendo inconscientes de haver qualquer coisa para fazerem. Por seu silêncio, recusavam-se a humilhar-se. DTN 456 5 Como havia Cristo de levar essas pobres almas a um ponto em que Satanás não obtivesse sobre elas decidida vitória? Como poderia mostrar que uma simples profissão de discipulado não os tornava discípulos, nem lhes garantia um lugar no reino? Como lhes mostraria que é o amoroso serviço, a verdadeira humildade, que constitui a genuína grandeza? Como haveria Ele de acender amor no coração deles, e habilitá-los a compreender aquilo que lhes ansiava dizer? DTN 457 1 Os discípulos não fizeram nenhum gesto no sentido de se servirem uns aos outros. Jesus esperou por algum tempo a ver o que fariam. Então Ele, o divino Mestre, Se ergueu da mesa. Pondo de lado a veste exterior, que Lhe poderia estorvar os movimentos, tomou uma toalha e cingiu-Se. Com surpreendido interesse olhavam os discípulos, esperando em silêncio ver o que se ia seguir. "Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido". João 13:5. Esta ação abriu os olhos deles. Profunda vergonha e humilhação os possuiu. Entenderam a muda repreensão, e viram-se sob um aspecto inteiramente novo. DTN 457 2 Assim exprimiu Cristo Seu amor pelos discípulos. O espírito egoísta que os animava, encheu-O de pesar, mas não entrou em discussão com eles a respeito do caso. Deu-lhes em vez disso um exemplo que nunca esqueceriam. Seu amor a eles não se alterava nem esfriava facilmente. Sabia que o Pai entregara todas as coisas em Suas mãos, e que viera de Deus e ia para Deus. Tinha plena consciência de Sua divindade; mas pusera de lado a coroa real e as régias vestimentas, e tomara a forma de servo. Um dos últimos atos de Sua vida na Terra foi cingir-Se como servo, e desempenhar a parte de servo. DTN 457 3 Antes da páscoa, Judas se encontrara pela segunda vez com os sacerdotes e escribas, fechando o acordo de entregar Jesus em suas mãos. Todavia misturou-se depois com os discípulos como se fosse inocente de qualquer mal, interessando-se no preparo da festa. Os discípulos nada sabiam do desígnio de Judas. Unicamente Jesus podia ler-lhe o segredo. Não obstante, não o expôs. Jesus estava sequioso de sua alma. Sentia-Se por ele tão oprimido como por Jerusalém, quando chorara sobre a condenada cidade. Seu coração bradava: "Como posso renunciar a ti?" O empolgante poder daquele amor foi sentido por Judas. Quando as mãos do Salvador estavam lavando aqueles empoeirados pés, e enxugando-os com a toalha, o coração de Judas comoveu-se intensamente com o impulso de confessar no mesmo instante e ali mesmo o seu pecado. Mas não se queria humilhar. Endureceu o coração contra o arrependimento, e os velhos impulsos, no momento postos de lado, dominaram-no novamente. Judas escandalizou-se então com o ato de Cristo, de lavar os pés dos discípulos. Se Jesus assim Se humilhava, pensou, não podia ser o Rei de Israel. Estava destruída toda esperança de honra mundana num reino temporal. Judas ficou convencido de que nada tinha a ganhar por seguir a Cristo. Depois de O ver rebaixar a Si mesmo, segundo pensava, confirmou-se em seu propósito de negar a Cristo e confessar-se enganado. Foi possuído por um demônio, e resolveu completar a obra que concordara em fazer, entregando seu Senhor. DTN 458 1 Escolhendo sua posição à mesa, Judas procurara colocar-se em primeiro lugar, e Cristo, como servo, servira-o primeiro. João, para com quem Judas sentira tão grande amargura, foi deixado para o fim. Mas João não tomou isso como repreensão ou menosprezo. Observando os discípulos a ação de Cristo, sentiram-se sobremaneira comovidos. Ao chegar a vez de Pedro, exclamou ele com espanto: "Senhor, Tu lavas-me os pés a mim?" A condescendência de Cristo quebrantou-lhe o coração. Encheu-se de vergonha, ao pensar que um dos discípulos não estava fazendo esse serviço. "O que Eu faço", disse Cristo, "não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois". João 13:7. Pedro não podia suportar ver seu Senhor, que Ele acreditava ser o Filho de Deus, fazendo o papel de um servo. Todo o seu ser ergueu-se em protesto contra essa humilhação. Não compreendia que para isso viera Cristo ao mundo. Com grande veemência, exclamou: "Nunca me lavarás os pés". João 13:8. DTN 458 2 Solenemente disse Cristo a Pedro: "Se Eu te não lavar, não tens parte comigo." O serviço que Pedro recusava, era símbolo de uma purificação mais elevada. Cristo viera para lavar o coração da mancha do pecado. Recusando deixar Cristo lavar-lhe os pés, Pedro estava recusando a purificação superior incluída na mais humilde. Estava na verdade rejeitando seu Senhor. Não é humilhante para o Mestre permitirmos-Lhe que trabalhe para nossa purificação. A verdadeira humildade é receber com coração agradecido qualquer providência tomada em nosso favor, e prestar fervoroso serviço a Cristo. DTN 458 3 Às palavras: "Se Eu te não lavar, não tens parte comigo", Pedro subjugou seu orgulho e vontade própria. Não podia suportar a idéia de separar-se de Cristo; isto teria sido para ele a morte. "Não só os meus pés", disse, "mas também as mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo". João 13:9, 10. DTN 458 4 Essas palavras querem dizer mais que a limpeza do corpo. Cristo está falando ainda da mais alta purificação, ilustrada pela menor. Aquele que viera do banho, estava limpo, mas os pés calçados de sandálias logo se encheram de pó, e necessitavam novamente de ser lavados. Assim Pedro e seus irmãos tinham sido lavados na grande fonte aberta para o pecado e a impureza. Cristo os reconhecia como Seus. Mas a tentação os levara ao mal, e necessitavam ainda de Sua graça purificadora. Quando Jesus Se cingira com a toalha para lhes lavar o pó dos pés, desejava, por aquele mesmo ato, lavar-lhes do coração a discórdia, o ciúme e o orgulho. Isso era de muito mais importância que a lavagem de seus empoeirados pés. Com o espírito que então os animava, nenhum deles estava preparado para a comunhão com Cristo. Enquanto não fossem levados a um estado de humildade e amor, não estavam preparados para participar na ceia pascoal, ou tomar parte na cerimônia comemorativa que Cristo estava para instituir. Seu coração devia ser limpo. O orgulho e o interesse egoísta criaram dissensão e ódio, mas tudo isso lavou Cristo ao lavar-lhes os pés. Operou-se uma mudança de sentimentos. Olhando para eles, Jesus podia dizer: "Vós estais limpos". João 13:10. Agora havia união de coração, amor de um para com o outro. Tornaram-se humildes e dóceis. Com exceção de Judas, cada um estava disposto a conceder ao outro o mais alto lugar. Então, com coração submisso e grato, estavam aptos a receber as palavras de Cristo. DTN 459 1 Como Pedro e seus irmãos, também nós fomos lavados no sangue de Cristo; todavia muitas vezes, pelo contato com o mal, a pureza do coração é maculada. Devemos chegar a Cristo em busca de Sua purificadora graça. Pedro recuou ante a idéia de pôr em contato com as mãos de Seu Senhor e Mestre os pés menos limpos; mas quantas vezes pomos nosso coração pecaminoso, poluído, em contato com o coração de Cristo Quão ofensivo para Ele é nosso mau gênio, nossa vaidade e orgulho. Não obstante devemos levar-Lhe todas as nossas fraquezas e contaminação. Unicamente Ele nos pode lavar e deixar limpos. Não estamos preparados para a comunhão com Ele, a menos que sejamos limpos por Sua eficácia. DTN 459 2 Jesus disse aos discípulos: "Vós estais limpos, mas não todos". João 13:10. Ele lavara os pés de Judas, que, porém, não Lhe entregara o coração. Este não estava purificado. Judas não se submetera a Cristo. DTN 459 3 Depois de haver lavado os pés dos discípulos, tomou Suas vestes e, sentando-Se outra vez, disse-lhes: "Entendeis o que vos tenho feito? Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu o sou. Ora se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque vos dei o exemplo, para que, como vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou". João 13:12-14. DTN 459 4 Cristo queria que Seus discípulos entendessem que, se bem que Ele lhes houvesse lavado os pés, isto em nada Lhe diminuía a dignidade. "Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu sou". João 13:13. E, sendo tão infinitamente superior, Ele comunicou graça e significação a esse serviço. Ninguém tão exaltado como Cristo, e todavia abaixou-Se até ao mais humilde dever. Para que Seu povo não fosse extraviado pelo egoísmo que habita no coração natural, e se fortaleça com o servir ao próprio eu, Cristo mesmo estabeleceu o exemplo da humildade. Não deixaria esse grande assunto a cargo do homem. De tanta conseqüência o considerava, que Ele próprio, igual a Deus, fez o papel de servo para com Seus discípulos. Enquanto eles contendiam pela mais alta posição, Aquele diante de quem todo joelho se dobrará, a quem os anjos da glória reputam uma honra servir, curvou-Se para lavar os pés daqueles que Lhe chamavam Senhor. Lavou os pés de Seu traidor. DTN 459 5 Em Sua vida e ensinos, Cristo deu um perfeito exemplo do abnegado ministério que tem sua origem em Deus. Deus não vive para Si. Criando o mundo, mantendo todas as coisas, Ele está constantemente ministrando em benefício de outros. "Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Mateus 5:45. Esse ideal de ministério confiou Deus a Seu Filho. A Jesus foi dado pôr-Se como cabeça da humanidade, para que por Seu exemplo pudesse ensinar o que significa servir. Toda a Sua vida esteve sob a lei do serviço. Serviu a todos, a todos ajudou. Assim viveu Ele a lei de Deus, e por Seu exemplo mostrou como podemos obedecer à mesma. DTN 460 1 Repetidamente procurara Jesus estabelecer este princípio entre os discípulos. Quando Tiago e João pediram para ser postos em destaque, disse: "Todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal". Mateus 20:26. Em Meu reino não tem lugar o princípio de preferência ou supremacia. A grandeza única é a grandeza da humildade. A única distinção baseia-se na dedicação ao serviço dos outros. DTN 460 2 Depois, havendo lavado os pés aos discípulos, Ele disse: "Eu vos dei o exemplo, para que como Eu vos fiz, façais vós também". João 13:15. Nestas palavras Cristo não somente estava ordenando a prática da hospitalidade. Queria significar mais do que a lavagem dos pés dos hóspedes para tirar-lhes o pó dos caminhos. Cristo estava aí instituindo um culto. Pelo ato de nosso Senhor, esta cerimônia humilhante tornou-se uma ordenança consagrada. Devia ser observada pelos discípulos, a fim de poderem conservar sempre em mente Suas lições de humildade e serviço. DTN 460 3 Essa ordenança é o preparo designado por Cristo para o serviço sacramental. Enquanto o orgulho, desinteligência e luta por superioridade forem nutridos, o coração não pode entrar em associação com Cristo. Não estamos preparados para receber a comunhão de Seu corpo e de Seu sangue. Por isso Jesus indicou que se observasse primeiramente a comemoração de Sua humilhação. DTN 460 4 Ao chegarem a esta ordenança, os filhos de Deus devem evocar as palavras do Senhor da vida e da glória: "Entendeis o que vos tenho feito? Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque Eu o sou. Ora se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes". João 13:16, 17. Existe no homem a disposição de se estimar em mais alta conta do que a seu irmão, de trabalhar para si mesmo, de procurar o mais alto lugar; e muitas vezes isso dá em resultado ruins suspeitas e amargura de espírito. A ordenança que precede à ceia do Senhor, deve remover esses desentendimentos, tirar o homem de seu egoísmo, fazê-lo baixar de seus tacões de exaltação própria à humildade de coração que o levará a servir a seu irmão. DTN 460 5 O santo Vigia do Céu acha-Se presente nesses períodos para torná-los uma ocasião de exame de consciência, de convicção de pecado, e de bendita segurança de pecados perdoados. Cristo, na plenitude de Sua graça, acha-Se aí para mudar a corrente dos pensamentos que têm seguido direções egoístas. O Espírito Santo aviva as sensibilidades dos que seguem o exemplo de seu Senhor. Ao ser lembrada a humilhação do Salvador por nós, pensamento liga-se a pensamento; evoca-se uma cadeia de lembranças, a recordação da grande bondade de Deus e do favor e ternura dos amigos terrestres. Bênçãos esquecidas, misericórdias de que se abusou, bondades menosprezadas são trazidas à memória. Patenteiam-se raízes de amargura que expulsaram a preciosa planta do amor. São trazidos à lembrança defeitos de caráter, negligência de deveres, ingratidão para com Deus, frieza para com nossos irmãos. O pecado é visto sob o aspecto por que o vê o próprio Deus. Nossos pensamentos não são de complacência com nós mesmos, mas de severa censura ao próprio eu, e de humilhação. Fortalece-se a mente para derribar toda barreira que tem causado separação. O pensar e falar mal são postos de lado. São confessados os pecados, e perdoados. Penetra na alma a subjugante graça de Cristo, e Seu amor liga os corações numa bendita unidade. DTN 461 1 Ao ser assim aprendida a lição do serviço preparatório, desperta-se o desejo de uma vida espiritual mais elevada. A esse desejo atenderá o divino Vigia. A alma será elevada. Podemos participar da comunhão com a consciência do perdão dos pecados. A luz da justiça de Cristo encherá as câmaras da mente e o templo da alma. Contemplamos "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". João 1:29. DTN 461 2 A todos quantos recebem o espírito deste serviço, ele nunca se poderá tornar uma simples cerimônia. Sua constante lição será: "Servi-vos uns aos outros pela caridade". Gálatas 5:13. Ao lavar os pés aos discípulos, Cristo deu nova prova de que estaria disposto a fazer qualquer serviço, por mais humilde que fosse, que os tornasse co-herdeiros Seus da fortuna eterna do tesouro celeste. Seus discípulos, ao realizarem o mesmo rito, penhoram-se para servir de igual maneira aos seus irmãos. Sempre que essa ordenança é devidamente celebrada, os filhos de Deus são levados a uma santa relação uns para com os outros, para se ajudar e beneficiar mutuamente. Comprometem-se a dar a vida a um desinteressado ministério. E isto não somente uns pelos outros. Seu campo de labor é tão vasto como era o de Seu Mestre. O mundo está cheio de pessoas necessitadas de nosso ministério. Os pobres, os ignorantes, os desamparados, acham-se por toda parte. Aqueles que comungaram com Cristo no cenáculo, sairão para servir como Ele serviu. DTN 461 3 Jesus, o que era servido por todos, veio a tornar-Se Servo de todos. E porque ministrou a todos, por todos há de ser novamente servido e honrado. E os que quiserem partilhar de Seus divinos atributos, participando com Ele da alegria de ver almas redimidas, devem seguir-Lhe o exemplo de abnegado ministério. DTN 461 4 Tudo isso estava compreendido nas palavras de Cristo: "Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também". João 13:15. Esse era o intuito do serviço por Ele estabelecido. E Ele diz: "Se sabeis estas coisas", se sabeis o desígnio de Suas lições, "bem-aventurados sois se as fizerdes." ------------------------Capítulo 72 -- "Em memória de mim" DTN 462 0 Este capítulo é baseado em Mateus 26:20-29; Marcos 14:17-25; Lucas 22:14-23; João 13:18-30. DTN 462 1 O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de Mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no Meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de Mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha". 1 Coríntios 11:23-26. DTN 462 2 Cristo Se achava no ponto de transição entre dois sistemas e suas duas grandes festas. Ele, o imaculado Cordeiro de Deus, estava para Se apresentar como oferta pelo pecado, e queria assim levar a termo o sistema de símbolos e cerimônias que por quatro mil anos apontara à Sua morte. Ao comer a páscoa com Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar Seu grande sacrifício. Passaria para sempre a festa nacional dos judeus. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado por Seus seguidores em todas as terras e por todos os séculos. DTN 462 3 A páscoa fora instituída para comemorar a libertação de Israel da servidão egípcia. Deus ordenara que, de ano em ano, quando os filhos perguntassem a significação desta ordenança, a história desse acontecimento fosse repetida. Assim o maravilhoso livramento se conservaria vivo na memória de todos. A ordenança da ceia do Senhor foi dada para comemorar a grande libertação operada em resultado da morte de Cristo. Até que Ele venha a segunda vez em poder e glória, há de ser celebrada esta ordenança. É o meio pelo qual Sua grande obra em nosso favor deve ser conservada viva em nossa memória. DTN 462 4 Ao tempo de sua libertação do Egito, os filhos de Israel comeram a ceia pascoal de pé, lombos cingidos, e com o cajado na mão, prontos para a viagem. A maneira em que celebraram essa ordenança estava em harmonia com sua condição; pois estavam para ser mandados sair da terra do Egito, e deviam começar uma penosa e difícil jornada através do deserto. Ao tempo de Cristo, porém o estado de coisas havia mudado. Não estavam agora para ser mandados sair de um país estrangeiro, mas eram habitantes de sua própria pátria. Em harmonia com o descanso que lhes fora dado, o povo tomava então parte na ceia pascoal em posição reclinada. Colocavam-se leitos ou divãs ao redor da mesa, e os convivas, reclinados neles, descansando no braço esquerdo, tinham livre a mão direita para servir-se. Nesta posição, um comensal podia reclinar a cabeça no peito do outro que lhe ficava imediato. E os pés, saindo da extremidade do leito, podiam ser lavados por alguém que passasse pelo lado exterior do círculo. DTN 463 1 Cristo está ainda à mesa em que fora posta a ceia pascoal. Acham-se diante dEle os pães asmos usados no período da páscoa. O vinho pascoal, livre de fermento, está sobre a mesa. Estes emblemas Cristo emprega para representar Seu próprio irrepreensível sacrifício. Coisa alguma corrompida por fermentação, símbolo do pecado e da morte, podia representar "o Cordeiro imaculado e incontaminado". 1 Pedro 1:19. DTN 463 2 "E quando comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o Meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai". Mateus 26:26-29. DTN 463 3 Judas, o traidor, achava-se presente à cerimônia sacramental. Ele recebeu de Jesus os emblemas de Seu corpo partido e de Seu derramado sangue. Ouviu as palavras: "Fazei isto em memória de Mim". 1 Coríntios 11:25. E ali, sentado na própria presença do Cordeiro de Deus, o traidor alimentava seus negros desígnios, e acariciava seus vingativos pensamentos. DTN 463 4 No lava-pés, Cristo dera convincente prova de que compreendia o caráter de Judas. "Nem todos estais limpos" (João 13:11), dissera. Essas palavras convenceram o falso discípulo de que Cristo lhe lia o secreto desígnio. Agora Jesus falou mais claramente. Enquanto estavam sentados à mesa, Ele disse, olhando para os discípulos: "Não falo de todos vós; Eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra Mim o seu calcanhar". João 13:18. DTN 463 5 Mesmo então os discípulos não suspeitaram de Judas. Mas viram que Cristo parecia grandemente perturbado. Baixou sobre todos uma nuvem, a advertência de qualquer terrível calamidade, cuja natureza não percebiam. Enquanto comiam em silêncio, Jesus disse: "Na verdade, na verdade vos digo que um de vós Me há de trair". João 13:21. A essas palavras, foram tomados de espanto e consternação. Não podiam compreender como qualquer deles pudesse agir traiçoeiramente com seu divino Mestre. Por que motivo O haveriam de trair? E entregá-Lo a quem? Que coração poderia conceber um tal desígnio? Por certo nenhum dos doze favorecidos, que foram privilegiados acima de todos os demais em ouvir os Seus ensinos, que partilharam de Seu admirável amor, e por quem Ele tivera tão grande consideração, pondo-os em íntima comunhão consigo! DTN 463 6 Ao ponderarem a importância de Suas palavras, e lembrarem quão verdadeiras eram Suas declarações, apoderaram-se deles a desconfiança de si mesmos e o temor. Começaram a examinar o próprio coração, a ver se nele se haveria abrigado um pensamento contra seu Mestre. Com a mais dolorosa emoção, um após outro indagou: "Porventura sou eu, Senhor?" Mas Judas guardava silêncio. Em profunda aflição, João indagou por fim: "Senhor, quem é?" E Jesus respondeu: "O que mete comigo a mão no prato, esse Me há de trair. Em verdade o Filho do homem vai, como acerca dEle está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido". Mateus 26:21-24. Os discípulos haviam perscrutado atentamente o rosto uns dos outros, enquanto indagavam: "Porventura sou eu, Senhor?" E depois o silêncio de Judas atraiu para ele todos os olhares. Por entre a confusão de perguntas e expressões de espanto, Judas não ouvira as palavras de Jesus em resposta à pergunta de João. Mas então, para fugir à investigação dos discípulos, perguntou, como eles haviam feito: "Porventura sou eu, Rabi?" Jesus respondeu solenemente: "Tu o disseste". Mateus 26:25. DTN 464 1 Surpreendido e confuso ao ser exposto seu desígnio, Judas ergueu-se, apressado, para deixar a sala. "Disse pois Jesus: O que fazes, fá-lo depressa. [...] E tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite". João 13:27, 30. Noite se fez para o traidor ao sair ele da presença de Cristo, para as trevas exteriores. DTN 464 2 Até dar esse passo, Judas não passara os limites da possibilidade de arrependimento. Mas quando saiu da presença de seu Senhor e de seus condiscípulos, fora tomada a decisão final. Ultrapassara os termos. DTN 464 3 Admirável fora a longanimidade de Jesus no trato para com essa alma tentada. Coisa alguma que pudesse salvar Judas, deixara de ser feita. Depois de ele haver por duas vezes tratado entregar seu Senhor, deu-lhe ainda Jesus oportunidade de arrependimento. Lendo o secreto intento do coração traidor, Cristo lhe deu a última, final prova de Sua divindade. Isto foi para o falso discípulo a última chamada ao arrependimento. Não se poupou nenhum apelo que o coração divino-humano de Cristo pudesse fazer. As ondas de misericórdia, repelidas pelo obstinado orgulho, volviam em mais poderoso volume de subjugante amor. Mas se bem que surpreendido e alarmado ante a descoberta de sua culpa, Judas apenas se tornou mais determinado. Da ceia sacramental saiu para completar sua obra de traição. DTN 464 4 Ao proferir o ai sobre Judas, Cristo tinha também um desígnio misericordioso para com Seus discípulos. Deu-lhes assim a suprema demonstração de Sua messianidade. "Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou". João 13:19. Houvesse Jesus permanecido em silêncio, em aparente ignorância do que Lhe havia de sobrevir, os discípulos teriam podido pensar que seu Mestre não possuía divina previsão, e se teriam surpreendido, ficando entregues às mãos da turba assassina. Um ano antes Jesus dissera aos discípulos que Ele escolhera doze, e que um era diabo. Agora, as palavras a Judas, mostrando que sua traição era plenamente conhecida por seu Mestre, fortaleceria a fé dos verdadeiros seguidores de Cristo durante Sua humilhação. E quando Judas chegasse ao seu terrível fim, lembrar-se-iam do ai que Jesus proferira sobre o traidor. DTN 465 1 E o Salvador tinha ainda outro intuito. Não privara de Seu ministério àquele que sabia ser um traidor. Os discípulos não haviam entendido Suas palavras quando dissera, no lava-pés: "Vós estais limpos, mas não todos" (João 13:10), nem mesmo quando, à mesa, declarara: "O que come o pão comigo, levantou contra Mim o seu calcanhar". João 13:11, 18. Mais tarde, porém, quando o sentido disso ficasse claro, eles teriam motivo para considerar a paciência e misericórdia de Deus para com o que mais gravemente pecara. DTN 465 2 Se bem que Jesus conhecesse Judas desde o princípio, lavou-lhe os pés. E o traidor teve o privilégio de unir-se com Cristo na participação do sacramento. Um longânimo Salvador empregou todo incentivo para o pecador O receber, arrepender-se e ser purificado da contaminação do pecado. Esse exemplo nos é dado a nós. Quando supomos que alguém está em erro e pecado, não nos devemos apartar dele. Não devemos, por nenhuma indiferente separação deixá-lo presa da tentação, ou empurrá-lo para o terreno de Satanás. Esse não é método de Cristo. Foi porque os discípulos estavam em erro e falta que Ele lhes lavou os pés, e todos, com exceção de um dos doze, foram assim levados ao arrependimento. DTN 465 3 O exemplo de Cristo proíbe exclusão da ceia do Senhor. Verdade é que o pecado aberto exclui o culpado. Isto ensina plenamente o Espírito Santo. 1 Coríntios 5:11. Além disso, porém, ninguém deve julgar. Deus não deixou aos homens dizer quem se apresentará nessas ocasiões. Pois quem pode ler o coração? Quem é capaz de distinguir o joio do trigo? "Examine-se pois o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice." Pois "qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor". "Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor". 1 Coríntios 11:28, 27, 29. DTN 465 4 Quando os crentes se reúnem para celebrar as ordenanças, acham-se presentes mensageiros invisíveis aos olhos humanos. Talvez haja um Judas no grupo, e se assim for, mensageiros do príncipe das trevas ali estão, pois acompanham a todo que recusa ser regido pelo Espírito Santo. Anjos celestes também ali se encontram. Esses invisíveis visitantes se acham presentes em toda ocasião como essa. Podem entrar pessoas que não são, no íntimo, servos da verdade e da santidade, mas que desejem tomar parte no serviço. Não devem ser proibidas. Acham-se ali testemunhas que estavam presentes quando Jesus lavou os pés dos discípulos e de Judas. Olhos mais que humanos contemplam a cena. DTN 465 5 Por Seu Santo Espírito, Cristo ali está para pôr o selo a Sua ordenança. Está ali para convencer e abrandar o coração. Nem um olhar, nem um pensamento de arrependimento escapa a Sua observação. Pelo coração contrito, quebrantado espera Ele. Tudo está preparado para a recepção daquela alma. Aquele que lavou os pés de Judas, anseia lavar todo coração da mancha do pecado. DTN 466 1 Ninguém deve se excluir da comunhão por estar presente, talvez, alguém que seja indigno. Todo discípulo é chamado a participar publicamente, e dar assim testemunho de que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal. É nessas ocasiões, indicadas por Ele mesmo, que Cristo Se encontra com Seu povo, e os revigora por Sua presença. Corações e mãos indignos podem mesmo dirigir a ordenança; todavia Cristo ali Se encontra para ministrar a Seus filhos. Todos quantos ali chegam com a fé baseada nEle, serão grandemente abençoados. Todos quantos negligenciam esses períodos de divino privilégio, sofrerão prejuízo. Deles se poderia quase dizer: "Nem todos estais limpos". João 13:11. DTN 466 2 Participando com os discípulos do pão e do vinho, Cristo Se empenhou para com eles, como seu Redentor. Confiou-lhes o novo concerto, pelo qual todos os que O recebem se tornam filhos de Deus, e co-herdeiros de Cristo. Por esse concerto pertencia-lhes toda bênção que o Céu podia conceder para esta vida e a futura. Esse ato de concerto devia ser ratificado com o sangue de Cristo. E a ministração do sacramento havia de conservar diante dos discípulos o infinito sacrifício feito por cada um deles individualmente, como parte do grande todo da caída humanidade. DTN 466 3 Mas o momento da comunhão não deve ser um período de tristeza. Não é esse o seu desígnio. Ao reunirem-se os discípulos do Senhor em torno de Sua mesa, não devem lembrar e lamentar suas deficiências. Não se devem demorar em sua passada vida religiosa, seja ela de molde a elevar ou a deprimir. Não tragam à memória as diferenças existentes entre si e seus irmãos. A cerimônia preparatória abrangeu tudo isso. O exame próprio, a confissão do pecado, a reconciliação dos desentendimentos, tudo já foi feito. Agora, chegam para se encontrar com Cristo. Não devem permanecer à sombra da cruz, mas à sua luz salvadora. Abram a alma aos brilhantes raios do Sol da Justiça. Corações limpos pelo preciosíssimo sangue de Cristo, na plena consciência de Sua presença, se bem que invisível, devem-Lhe ouvir as palavras: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá". João 14:27. DTN 466 4 Nosso Senhor diz: Sob a convicção do pecado, lembrai-vos de que morri por vós. Quando opressos, perseguidos e aflitos, por Minha causa e a do evangelho, lembrai-vos de Meu amor, tão grande que por vós dei a Minha vida. Quando vossos deveres vos parecem duros e severos, e demasiado pesados os vossos encargos, lembrai-vos de que por amor de vós suportei a cruz, desprezando a vergonha. Quando vosso coração recua ante a dolorosa prova, lembrai-vos de que vosso Redentor vive para interceder por vós. DTN 466 5 A santa ceia aponta à segunda vinda de Cristo. Foi destinada a conservar viva essa esperança na mente dos discípulos. Sempre que se reuniam para comemorar Sua morte, contavam como Ele, "tomando o cálice, e dando graças, deu-lhes, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até aquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai". Mateus 26:27-29. Nas tribulações, encontravam conforto na esperança da volta de seu Senhor. Indizivelmente precioso era para eles o pensamento: "Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha". 1 Coríntios 11:26. DTN 467 1 Essas são as coisas que nunca devemos esquecer. O amor de Jesus com Seu subjugante poder, deve ser mantido vivo em nossa memória. Cristo instituiu este serviço para que ele nos falasse aos sentidos acerca do amor de Deus, expresso em nosso favor. Não pode haver união entre nossa alma e Deus, senão por meio de Cristo. A união e o amor entre irmão e irmão devem ser cimentados e feitos eternos pelo amor de Jesus. E nada menos que a morte de Cristo podia tornar eficaz o Seu amor por nós. É unicamente por causa de Sua morte, que podemos esperar com alegria Sua segunda vinda. Seu sacrifício é o centro de nossa esperança. Nele nos cumpre fixar a nossa fé. DTN 467 2 As ordenanças que indicam a humilhação e sofrimento de nosso Senhor, são demasiado consideradas como uma forma. Foram, porém, instituídas para um fim. Nossos sentidos precisam ser vivificados para se apoderarem do mistério da piedade. É o privilégio de todos compreender, muito mais do que fazemos, os sofrimentos expiatórios de Cristo. "Como Moisés levantou a serpente no deserto", assim foi o Filho do homem levantado, "para que todo aquele que nEle crê não pereça mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. À cruz do Calvário, apresentando um Salvador a morrer, devemos nós olhar. Nossos interesses eternos exigem que mostremos fé em Cristo. DTN 467 3 Disse nosso Salvador: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. [...] Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida". João 6:53-55. Isso é verdade quanto à nossa natureza física. Mesmo esta vida terrestre devemos à morte de Cristo. O pão que comemos, é o preço de Seu corpo quebrantado. A água que bebemos é comprada com Seu derramado sangue. Nunca alguém, seja santo ou pecador, toma seu alimento diário, que não seja nutrido pelo corpo e o sangue de Cristo. A cruz do Calvário acha-se estampada em cada pão. Reflete-se em toda fonte de água. Tudo isso ensinou Cristo ao indicar os emblemas de Seu grande sacrifício. A luz irradiada daquele serviço de comunhão no cenáculo torna sagradas as provisões de nossa vida diária. A mesa familiar torna-se como a mesa do Senhor, e cada refeição um sacramento. DTN 467 4 E quão mais verdadeiras são as palavras de Cristo quanto a nossa natureza espiritual! Declara Ele: "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna." É recebendo a vida por nós derramada na cruz do Calvário, que podemos viver a vida de santidade. E essa vida transmite-se-nos ao receber Sua palavra, fazendo as coisas que Ele ordenou. Tornamo-nos então um com Ele. "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim". João 6:54, 56, 57. Esta escritura aplica-se, em sentido especial, à santa comunhão. Quando a fé contempla o grande sacrifício de nosso Senhor, a alma assimila a vida espiritual de Cristo. Essa alma receberá vigor espiritual de cada comunhão. O serviço forma uma viva conexão pela qual o crente é ligado a Cristo, e assim ao Pai. Isso forma, em especial sentido, uma união entre os dependentes seres humanos, e Deus. DTN 468 1 Ao recebermos o pão e o vinho simbolizando o corpo partido de Cristo e Seu sangue derramado, unimo-nos, pela imaginação, à cena da comunhão no cenáculo. Afigura-se-nos estar atravessando o jardim consagrado pela agonia dAquele que levou sobre Si os pecados do mundo. Testemunhamos a luta mediante a qual foi obtida nossa reconciliação com Deus. Cristo crucificado apresenta-Se entre nós. DTN 468 2 Contemplando o crucificado Redentor, compreendemos mais plenamente a magnitude e significação do sacrifício feito pela Majestade do Céu. O plano da salvação glorifica-se aos nossos olhos, e a idéia do Calvário desperta vivas e sagradas emoções em nossa alma. No coração e nos lábios achar-se-ão louvores a Deus e ao Cordeiro; pois o orgulho e o culto de si mesmo não podem crescer na alma que conserva sempre vivas na memória as cenas do Calvário. DTN 468 3 Aquele que contempla o incomparável amor do Salvador, será elevado no pensamento, purificado no coração, transformado no caráter. Sairá para servir de luz ao mundo, para refletir, em certa medida, este misterioso amor. Quanto mais contemplarmos a cruz de Cristo, tanto mais adotaremos a linguagem do apóstolo quando disse: "Mas longe esteja de mim gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". Gálatas 6:14. ------------------------Capítulo 73 -- "Não se turbe o vosso coração" DTN 469 0 Este capítulo é baseado em João 13:31-38; 14-17. DTN 469 1 Olhando a Seus discípulos com divino amor e a mais terna simpatia, Cristo disse: "Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nEle". João 13:31. Judas deixara o cenáculo, e Cristo Se achava só com os onze. Estava para falar-lhes de Sua próxima separação deles; antes de fazê-lo, porém, salientou o grande objetivo de Sua missão, que Ele mantinha sempre diante de Si. Sua recompensa era que toda a Sua humilhação e sofrimento glorificassem o nome de Seu Pai. Para aí encaminha Ele primeiramente os pensamentos dos discípulos. DTN 469 2 Então, dirigindo-Se a eles com a carinhosa expressão "Filhinhos", disse: "ainda por um pouco estou convosco. Vós Me buscareis, e, como tinha dito aos judeus: para onde Eu vou não podeis vós ir; Eu vo-lo digo também agora". João 13:33. DTN 469 3 Os discípulos não se podiam regozijar ouvindo isto. Caiu sobre eles temor. Comprimiram-se em torno de Jesus. Seu Amo e Senhor, seu amado Mestre e Amigo, oh -- era-lhes mais precioso do que a própria vida. A Ele se haviam dirigido em busca de auxílio em todas as suas perplexidades, de conforto em suas tristezas e decepções. E agora os ia deixar, solitário e dependente grupo! Sombrios foram os pressentimentos que lhes encheram o coração. DTN 469 4 Mas as palavras que lhes dirigiu o Salvador foram cheias de esperança. Sabia que seriam assaltados pelo inimigo, e que os ardis de Satanás são mais bem-sucedidos contra os que se acham deprimidos pelas dificuldades. Dirigiu-os, portanto, das "coisas que se vêem" às "que se não vêem". 2 Coríntios 4:18. Fê-los voltarem os pensamentos do exílio terrestre ao celeste lar. DTN 469 5 "Não se turbe o vosso coração", disse; "credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho". João 14:1-4. Por amor de vós vim ao mundo. Estou trabalhando em vosso benefício. Quando Me for, continuarei ainda a trabalhar fervorosamente por vós. Vim ao mundo para revelar-Me a vós, para que pudésseis crer. Vou para o Pai para cooperar com Ele em vosso favor. O objetivo da partida de Jesus era o contrário daquilo que temiam os discípulos. Não significava uma separação definitiva. Ia preparar-lhes lugar, para que pudesse voltar, e recebê-los junto de Si. Enquanto lhes estava construindo mansões, eles deviam formar caráter à semelhança divina. DTN 470 1 Ainda os discípulos estavam perplexos. Tomé, sempre turbado por dúvidas, disse: "Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhes Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu Pai; e já desde agora O conheceis e O tendes visto." João 14:5-7. DTN 470 2 Não há muitos caminhos para o Céu. Não pode cada um escolher o seu. Cristo diz: "Eu sou o caminho. [...] Ninguém vem a Meu Pai, senão por Mim." João 14:6. DTN 470 3 Desde que foi pregado o primeiro sermão evangélico, quando no Éden se declarou que a semente da mulher havia de esmagar a cabeça da serpente, Cristo fora exaltado como o caminho, a verdade e a vida. Ele era o caminho ao tempo em que Adão vivia, quando Abel apresentava a Deus o sangue do cordeiro morto, representando o sangue do Redentor. Cristo foi o caminho pelo qual se salvaram patriarcas e profetas. Ele é o único caminho pelo qual podemos ter acesso a Deus. DTN 470 4 "Se vós Me conhecêsseis a Mim", disse Cristo, "também conheceríeis a Meu Pai; e já desde agora O conheceis e O tendes visto." Mas nem então os discípulos compreenderam. "Senhor, mostra-nos o Pai", exclamou Filipe, "o que nos basta." DTN 470 5 Admirado de sua falta de compreensão, Cristo perguntou com dolorosa surpresa: "Estou há tanto tempo convosco e não Me tendes conhecido, Filipe?" Será possível que não vejas o Pai nas obras que Ele faz por Meu intermédio? Não crês que vim testificar do Pai? "Como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" "Quem Me vê a Mim vê o Pai". João 14:7-9. Cristo não deixara de ser Deus ao tornar-Se homem. Conquanto Se houvesse humilhado até à humanidade, pertencia-Lhe ainda a divindade. Unicamente Cristo podia representar o Pai perante a humanidade, e essa representação haviam os discípulos tido o privilégio de contemplar por mais de três anos. DTN 470 6 "Crede-Me que estou no Pai, e o Pai em Mim; crede-Me, ao menos, por causa das mesmas obras". João 14:11. Sua fé podia repousar segura no testemunho dado nas obras de Cristo, obras que homem algum, de si mesmo, já realizou, nem poderia nunca realizar. Elas testificavam de Sua divindade. Por meio dEle Se revelara o Pai. DTN 470 7 Se os discípulos cressem nessa vital ligação entre o Pai e o Filho, a fé os não abandonaria ao verem os sofrimentos e a morte de Cristo para salvar o mundo a perecer. Jesus os estava buscando levar, de seu baixo nível de fé, à experiência a que poderiam atingir, compreendessem na verdade o que Ele era -- Deus em carne. Desejava que vissem dever sua fé conduzi-los acima, a Deus, ali permanecendo. Quão fervorosa e perseverantemente buscava nosso compassivo Salvador preparar os discípulos para a tempestade de tentação que os sacudiria em breve! Queria tê-los escondido com Ele em Deus. DTN 471 1 Enquanto Cristo proferia estas palavras, a glória de Deus Lhe irradiava do semblante, e todos os presentes experimentaram um sagrado respeito ao escutar, com enlevada atenção, as Suas palavras. Seu coração foi mais decididamente arrastado para Ele; e ao serem atraídos para Cristo em maior amor, foram atraídos uns para os outros. Sentiram que o Céu estava muito próximo, e que as palavras que escutavam era uma mensagem a eles enviada por seu Pai celestial. DTN 471 2 "Na verdade, na verdade vos digo", continuou Cristo, "que aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço". João 14:12. O Salvador estava profundamente ansioso por que Seus discípulos compreendessem para que fim Sua divindade estava unida à humanidade. Ele veio ao mundo para manifestar a glória de Deus, a fim de que o homem fosse erguido por Seu poder restaurador. Deus Se revelou nEle, para que Se pudesse manifestar neles. Jesus não revelou qualidades, nem exerceu poderes que os homens não possam possuir mediante a fé nEle. Sua perfeita humanidade é a que todos os Seus seguidores podem possuir, se forem sujeitos a Deus como Ele o foi. DTN 471 3 "E as fará maiores do que estas; porque Eu vou para Meu Pai." Por estas palavras Cristo não queria dizer que as obras dos discípulos seriam de um mais exaltado caráter que as Suas, mas que seriam de maior extensão. Ele não Se refere meramente à operação de milagres, mas a tudo quanto se realiza sob a operação do Espírito Santo. DTN 471 4 Depois da ascensão do Senhor, os discípulos compreenderam o cumprimento de Sua promessa. As cenas da crucifixão, ressurreição e ascensão de Cristo foram para eles vivas realidades. Viram que as profecias se haviam cumprido literalmente. Examinaram as Escrituras, e aceitaram-lhes o ensino com fé e segurança anteriormente desconhecidas. Sabiam que o divino Mestre era tudo quanto afirmava ser. Ao contarem o que haviam experimentado, e exaltarem o amor de Deus, o coração dos homens abrandava-se e rendia-se, e multidões criam em Jesus. DTN 471 5 A promessa do Salvador a Seus discípulos, é uma promessa a Sua igreja até ao fim dos séculos. Não era o desígnio de Deus que Seu maravilhoso plano para redimir os homens realizasse apenas insignificantes resultados. Todos quantos se puserem ao trabalho, não confiando no que eles próprios possam fazer, mas no que Deus por eles e por intermédio deles possa realizar, hão de certamente ver o cumprimento de Sua promessa. "E as fará maiores do que estas", declara Ele, "porque Eu vou para Meu Pai." DTN 471 6 Até então os discípulos não estavam familiarizados com os ilimitados recursos e poder do Salvador. Disse-lhes Ele: "Até agora nada pedistes em Meu nome". João 16:24. Explicou que o segredo de seu êxito estaria em pedir forças e graça em Seu nome. Ele estaria diante do Pai para fazer a petição por eles. A prece do humilde suplicante, apresenta-a como Seu próprio desejo em favor daquela alma. Toda sincera oração é ouvida no Céu. Talvez não seja expressa fluentemente; mas se nela estiver o coração, ascenderá ao santuário em que Jesus ministra, e Ele a apresentará ao Pai sem uma palavra desalinhada, sem uma dificuldade de enunciação, bela e fragrante com o incenso de Sua própria perfeição. DTN 472 1 O caminho da sinceridade e integridade não é isento de obstáculos, mas em cada dificuldade devemos ver um chamado à oração. Não existe nenhum vivente dotado de qualquer poder que não o haja recebido de Deus, e a fonte de onde ele vem está aberta ao mais fraco dos seres humanos. "Tudo quanto pedirdes em Meu nome", disse Jesus, "Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei". João 14:13, 14. DTN 472 2 "Em Meu nome" ordenou Jesus aos discípulos que orassem. No nome de Cristo Seus seguidores devem subsistir diante de Deus. Graças ao valor do sacrifício feito por eles, são estimados aos olhos do Senhor. Em virtude da imputada justiça de Cristo, são reputados preciosos. Por amor de Cristo o Senhor perdoa aos que O temem. Não vê neles a vileza do pecador. Neles reconhece a semelhança de Seu Filho, em quem eles crêem. DTN 472 3 O Senhor fica decepcionado quando Seu povo se estima como de pouco valor. Deseja que Sua escolhida herança se avalie segundo o preço que Ele lhe deu. Deus a queria, do contrário não enviaria Seu Filho em tão dispendiosa missão de a redimir. Tem para eles uma utilidade, e agrada-Se muito quando Lhe fazem os maiores pedidos, a fim de que Lhe glorifiquem o nome. Podem esperar grandes coisas, se têm fé em Suas promessas. DTN 472 4 Mas orar em nome de Cristo significa muito. Quer dizer que havemos de aceitar-Lhe o caráter, manifestar-Lhe o espírito e fazer Suas obras. A promessa do Salvador é dada sob condição. "Se Me amardes", diz, "guardareis os Meus mandamentos". João 14:15. Ele salva os homens, não em pecado, mas do pecado; e os que O amam manifestarão seu amor pela obediência. DTN 472 5 Toda a verdadeira obediência vem do coração. Deste procedia também a de Cristo. E se consentirmos, Ele por tal forma Se identificará com os nossos pensamentos e ideais, dirigirá nosso coração e espírito em tanta conformidade com o Seu querer, que, obedecendo-Lhe, não estaremos senão seguindo nossos próprios impulsos. A vontade, refinada, santificada, encontrará seu mais elevado deleite em fazer o Seu serviço. Quando conhecermos a Deus como nos é dado o privilégio de O conhecer, nossa vida será de contínua obediência. Mediante o apreço do caráter de Cristo, por meio da comunhão com Deus, o pecado se nos tornará aborrecível. DTN 472 6 Como Cristo viveu a lei na humanidade, assim podemos fazer, se nos apegarmos ao Forte em busca de força. Mas não devemos pôr a responsabilidade de nosso dever sobre outros, e esperar que eles nos digam o que fazer. Não podemos depender da humanidade quanto a conselhos. O Senhor nos ensinará nosso dever com tanta boa vontade como o faz a qualquer outro. Se a Ele nos achegarmos com fé, transmitir-nos-á pessoalmente os Seus mistérios. Nosso coração arderá muitas vezes dentro de nós ao aproximar-Se Alguém para comungar conosco como fez com Enoque. Os que decidem não fazer, em qualquer sentido, coisa alguma que desagrade a Deus, depois de Lhe apresentarem seu caso saberão a orientação que hão de tomar. E não receberão unicamente sabedoria, mas força. Ser-lhes-á comunicado poder para a obediência e para o serviço, assim como Cristo prometeu. Tudo quanto foi dado a Cristo -- "todas as coisas" para suprir as necessidades dos homens caídos -- foi-Lhe dado como Cabeça e Representante da humanidade. E "qualquer coisa que Lhe pedirmos, dEle a receberemos; porque guardamos os Seus mandamentos, e fazemos o que é agradável à Sua vista". 1 João 3:22. DTN 473 1 Antes de Se oferecer como a vítima sacrifical, Cristo buscou o mais essencial e completo dom para outorgar a Seus seguidores, um dom que lhes poria ao alcance os ilimitados recursos da graça. "Eu rogarei ao Pai", disse, "e Ele vos dará outro Consolador para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós". João 14:16-18. DTN 473 2 Antes disso, o Espírito havia estado no mundo; desde o próprio início da obra de redenção Ele estivera atuando no coração dos homens. Mas enquanto Cristo estava na Terra, os discípulos não tinham desejado nenhum outro auxiliador. Não seria senão depois que fossem privados de Sua presença, que experimentariam a necessidade do Espírito, e então Ele havia de vir. DTN 473 3 O Espírito Santo é o representante de Cristo, mas despojado da personalidade humana, e dela independente. Limitado pela humanidade, Cristo não poderia estar em toda parte em pessoa. Era, portanto, do interesse deles que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra. Ninguém poderia ter então vantagem devido a sua situação ou seu contato pessoal com Cristo. Pelo Espírito, o Salvador seria acessível a todos. Nesse sentido, estaria mais perto deles do que se não subisse ao alto. DTN 473 4 "Aquele que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele". João 14:21. Jesus lia o futuro de Seus discípulos. Via um ser levado ao cadafalso, outro à cruz, um terceiro exilado entre os solitários rochedos do mar, outros ainda perseguidos e mortos. Animou-os com a promessa de que, em toda provação estaria com eles. Aquela promessa não perdeu nada de sua força. O Senhor conhece tudo a respeito de Seus fiéis servos que, por amor dEle, jazem numa prisão, ou são banidos para ilhas solitárias. Conforta-os com Sua presença. Quando por amor da verdade o crente comparece à barra de injustos tribunais, Cristo se encontra a seu lado. Toda injúria que cai sobre eles, cai sobre Cristo. Ele é condenado outra vez, na pessoa de Seus discípulos. Quando uma pessoa se acha entre as paredes de um cárcere, Cristo lhe arrebata o coração com Seu amor. Quando alguém sofre a morte por Sua causa, Ele diz: "Eu sou [...] o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. [...] E tenho as chaves da morte e do inferno". Apocalipse 1:18. A vida que por Mim é sacrificada, conserva-se para a glória eterna. DTN 474 1 Em todos os tempos e lugares, em todas as dores e aflições, quando a perspectiva se afigura sombria e cheio de perplexidade o futuro, e nos sentimos desamparados e sós, o Consolador será enviado em resposta à oração da fé. As circunstâncias podem-nos separar de todos os amigos terrestres; nenhuma, porém, nem mesmo a distância, nos pode separar do celeste Consolador. Onde quer que estejamos, aonde quer que vamos, Ele Se encontra sempre à nossa direita, para apoiar, suster, erguer e animar. DTN 474 2 Os discípulos ainda deixaram de compreender as palavras de Cristo em seu sentido espiritual, e novamente Ele lhes explicou sua significação. Pelo Espírito, disse, manifestar-Se-ia a eles. "Aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas". João 14:26. Não mais haveis de dizer: Não posso compreender. Não mais vereis por um espelho, imperfeitamente. Sereis capazes "de compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento". Efésios 3:18, 19. DTN 474 3 Os discípulos deviam dar testemunho da vida e obra de Cristo. Por meio de suas palavras, Ele falaria a todo o povo na face da Terra. Mas na humilhação e morte de Cristo deviam eles sofrer grande prova e decepção. Para que, depois, Sua palavra pudesse ser exata, Jesus prometeu que o Consolador os faria "lembrar de tudo quanto vos tenho dito". DTN 474 4 "Ainda tenho muito que voz dizer", continuou Ele, "mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar". João 16:12-14. Jesus desvendara a Seus discípulos uma vasta porção da verdade. Mas era-lhes demasiado difícil manterem Suas lições, separadas das tradições e máximas dos escribas e fariseus. Tinham sido ensinados a receber os ensinos dos rabis como a própria voz de Deus, e isso ainda exercia domínio sobre seu espírito, moldando-lhes os sentimentos. Idéias terrenas, coisas temporais, ocupavam ainda amplo espaço em seus pensamentos. Não entendiam a natureza espiritual do reino de Cristo, embora Ele lho houvesse tantas vezes explicado. A mente se lhes tinha tornado confusa. Não compreendiam o valor das Escrituras apresentadas por Cristo. Dir-se-iam perdidas muitas de Suas lições para eles. Jesus viu que não apreendiam o verdadeiro sentido de Suas palavras. Prometeu compassivamente que o Espírito Santo lhes havia de trazer essas palavras à memória. E deixara por dizer muitas coisas que os discípulos não compreendiam. A essas também o Espírito lhes abriria o entendimento, para que apreciassem as coisas celestiais. "Quando vier aquele Espírito de Verdade", disse Jesus, "Ele vos guiará em toda a verdade". João 16:13. DTN 475 1 O Consolador é chamado "o Espírito de verdade". Sua obra é definir e manter a verdade. Ele primeiro habita o coração como o Espírito de verdade, e torna-Se assim o Consolador. Há conforto e paz na verdade, mas nenhuma paz ou conforto real se pode achar na falsidade. É por meio de falsas teorias e tradições que Satanás adquire seu domínio sobre a mente. Encaminhando os homens para falsas normas, deforma o caráter. Por intermédio das Escrituras o Espírito Santo fala à mente, e grava a verdade no coração. Assim expõe o erro, expelindo-o da alma. É pelo Espírito de verdade, operando pela Palavra de Deus, que Cristo submete a Si Seu povo escolhido. DTN 475 2 Descrevendo aos discípulos a obra oficial do Espírito Santo, Jesus procurou inspirar-lhes a alegria e esperança que Lhe animavam o próprio coração. Regozijava-Se Ele pelas abundantes medidas que providenciara para auxílio de Sua igreja. O Espírito Santo era o mais alto dos dons que Ele podia solicitar do Pai para exaltação de Seu povo. Ia ser dado como agente de regeneração, sem o qual o sacrifício de Cristo de nenhum proveito teria sido. O poder do mal se estivera fortalecendo por séculos, e alarmante era a submissão dos homens a esse cativeiro satânico. Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa operação da terceira pessoa da Divindade, a qual viria, não com energia modificada, mas na plenitude do divino poder. É o Espírito que torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo. É por meio do Espírito que o coração é purificado. Por Ele torna-se o crente participante da natureza divina. Cristo deu Seu Espírito como um poder divino para vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal, e gravar Seu próprio caráter em Sua igreja. DTN 475 3 Disse Jesus a respeito do Espírito: "Ele Me glorificará." O Salvador veio glorificar o Pai pela demonstração de Seu amor; assim o Espírito havia de glorificar a Cristo, revelando ao mundo a Sua graça. A própria imagem de Deus tem de ser reproduzida na humanidade. A honra de Deus, a honra de Cristo, acha-se envolvida no aperfeiçoamento do caráter de Seu povo. DTN 475 4 "E quando Ele [o Espírito de verdade] vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo". João 16:8. A pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a contínua presença e ajuda do Espírito Santo. Este é o único Mestre eficaz da verdade divina. Unicamente quando a verdade chega ao coração acompanhada pelo Espírito, vivificará a consciência e transformará a vida. Uma pessoa pode ser capaz de apresentar a letra da Palavra de Deus, pode estar familiarizada com todos os seus mandamentos e promessas; mas a menos que o Espírito Santo impressione o coração com a verdade, alma alguma cairá sobre a Rocha e se despedaçará. A mais esmerada educação, as maiores vantagens, não podem tornar uma pessoa um veículo de luz sem a cooperação do Espírito de Deus. A semeadura da semente evangélica não terá êxito algum a menos que essa semente seja vivificada pelo orvalho do Céu. Antes de ser escrito um livro do Novo Testamento, antes de ser pregado qualquer sermão depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos em oração. Então seus inimigos deram o testemunho: "Enchestes Jerusalém desta vossa doutrina". Atos dos Apóstolos 5:28. DTN 476 1 Cristo prometeu o dom do Espírito Santo a Sua igreja, e essa promessa nos pertence, da mesma maneira que aos primeiros discípulos. Mas, como todas as outras promessas, é dada sob condições. Muitos há que crêem e professam reclamar a promessa do Senhor; falam acerca de Cristo e acerca do Espírito Santo, e todavia não recebem benefício. Não entregam a vida para ser guiada e regida pelas forças divinas. Não podemos usar o Espírito Santo. Ele é que deve servir-Se de nós. Mediante o Espírito opera Deus em Seu povo "tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:13. Mas muitos não se submeterão a isto. Querem dirigir a si mesmos. É por isso que não recebem o celeste dom. Unicamente aos que esperam humildemente em Deus, que estão atentos à Sua guia e graça, é concedido o Espírito. O poder de Deus aguarda que O peçam e O recebam. Essa prometida bênção, reclamada pela fé, traz após si todas as outras bênçãos. É concedida segundo as riquezas da graça de Cristo, e Ele está pronto a suprir toda alma segundo sua capacidade para receber. DTN 476 2 Em Seu discurso aos discípulos, Jesus não fez nenhuma triste alusão a Seus próprios sofrimentos e morte. Foi de paz Seu último legado a eles. Disse: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração nem se atemorize". João 14:27. DTN 476 3 Antes de deixar o cenáculo, o Salvador dirigiu os discípulos num hino de louvor. Sua voz se fez ouvir, não nos acentos de uma dolorosa lamentação, mas nas jubilosas notas da aleluia pascoal: "Louvai ao Senhor, todas as nações, louvai-O todos os povos. Porque a Sua benignidade é grande para conosco, e a verdade do Senhor é para sempre. Louvai ao Senhor". Salmos 117. DTN 476 4 Depois do hino, saíram. Atravessaram as ruas, saindo pela porta da cidade em direção do monte das Oliveiras. Lentamente caminhavam, preocupado cada um com seus próprios pensamentos. Ao começarem a descer para o monte, Jesus disse, num tom de profunda tristeza: "Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim; porque está escrito: Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão". Mateus 26:31. Os discípulos escutaram contristados e possuídos de espanto. Lembravam-se de como, na sinagoga de Cafarnaum, quando Cristo falara de Si mesmo como o pão da vida, muitos se escandalizaram, afastando-se dEle. Os doze, porém, não se tinham mostrado infiéis. Pedro, falando por seus irmãos, declarara sua lealdade a Cristo. Então o Salvador dissera: "Não vos escolhi a vós os doze? e um de vós é um diabo". João 6:70. No cenáculo Jesus dissera que um dos doze O havia de trair, e que Pedro O negaria. Mas agora Suas palavras os incluíam a todos. DTN 477 1 Então se fez ouvir a voz de Pedro protestando veemente: "Ainda que todos se escandalizem, nunca porém, eu". No cenáculo, declarara: "Por Ti darei a minha vida." Jesus o advertira de que naquela mesma noite negaria seu Salvador. Agora Cristo repete a advertência: "Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes Me negarás." Mas Pedro apenas "disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum Te negarei. E da mesma maneira diziam todos também". Marcos 14:29, 30, 31. Em sua confiança de si mesmos, negaram a repetida declaração dAquele que é Onisciente. Não estavam preparados para a prova; quando a tentação os assaltasse, compreenderiam a própria fraqueza. DTN 477 2 Quando Pedro disse que seguiria seu Senhor à prisão e à morte, era sincero em cada palavra proferida; mas não conhecia a si mesmo. Ocultos em seu coração havia elementos de mal que as circunstâncias fariam germinar. A menos que ele fosse levado à consciência de seu perigo, esses elementos se demonstrariam sua eterna ruína. O Salvador viu nele um amor-próprio e segurança que sobrepujariam mesmo o amor de Cristo. Em sua vida se revelara muito de enfermidade, pecado não mortificado, descuido de espírito, gênio não santificado e temeridade para entrar em tentação. A solene advertência de Cristo era um chamado a exame de coração. Pedro necessitava desconfiar de si mesmo, e ter maior fé em Cristo. Houvesse ele recebido com humildade a advertência, e teria recorrido ao Pastor do rebanho para que guardasse Sua ovelha. Quando, no mar da Galiléia, se achava prestes a submergir, clamara: "Senhor, salva-me!" Mateus 14:30. Então a mão de Cristo se estendera para segurar a sua. Assim agora, se clamasse a Jesus: Salva-me de mim mesmo teria sido guardado. Pedro sentiu, porém, que lhe faltavam com a confiança, e julgou isso cruel. Estava já ofendido, e mais persistente se tornou na confiança própria. DTN 477 3 Jesus contempla compassivamente os discípulos. Não os pode salvar da provação, mas não os deixa sem conforto. Assegura-lhes que há de quebrar as cadeias do sepulcro, e que Seu amor por eles não falhará. "Mas, depois de Eu ressuscitar", diz, "irei adiante de vós para a Galiléia". Mateus 26:32. Antes que O negassem, receberam a certeza do perdão. Depois de Sua morte e ressurreição, sabiam achar-se perdoados, e ser caros ao coração de Cristo. DTN 478 1 Jesus e os discípulos estavam a caminho para o Getsêmani, ao pé do monte Olivete, retirado lugar que Ele visitara muitas vezes para meditar e orar. O Salvador estivera expondo aos discípulos a missão que O trouxera ao mundo, e a relação espiritual que deveriam manter para com Ele. Ilustra em seguida a lição. A Lua esparge sua clara luz, revelando-Lhe uma florescente videira. Atraindo para ela a atenção dos discípulos, emprega-a como símbolo. DTN 478 2 "Eu sou a Videira verdadeira", diz Ele. Em vez de escolher a graciosa palmeira, o altaneiro cedro, ou o vigoroso carvalho, Jesus toma a videira com suas gavinhas para representar a Si mesmo. A palmeira, o cedro e o carvalho mantêm-se de pé por si sós. Não exigem apoio. Mas a videira se entrelaça na grade, e assim cresce em direção do céu. Assim Cristo, em Sua humanidade, dependia do poder divino. "Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma" (João 5:30), declarou Ele. DTN 478 3 "Eu sou a Videira verdadeira." Os judeus haviam sempre considerado a videira como a mais nobre das plantas, e uma imagem de tudo quanto é poderoso, excelente e frutífero. Israel fora representado por uma videira plantada pelo Senhor na terra prometida. Os judeus baseavam sua esperança de salvação em sua ligação com Israel. Mas Jesus diz: Eu sou a Videira verdadeira. Não penseis que, devido à ligação com Israel, podeis tornar-vos participantes da vida de Deus, e herdeiros de Sua promessa. Unicamente por Mim é recebida a vida espiritual. DTN 478 4 "Eu sou a Videira verdadeira, e Meu Pai é o Lavrador". João 15:1. Nos montes da Palestina plantou nosso Pai celestial esta boa Videira, e Ele próprio era o Lavrador. Muitos foram atraídos pela beleza dessa Videira, reconhecendo-Lhe a origem celeste. Mas aos guias de Israel Ele parecia como uma raiz de terra seca. Tomaram a planta e esmagaram-na, pisando-a sob os pés profanos. Sua idéia era destruí-la para sempre. Mas o celeste Lavrador nunca perdeu de vista a Sua planta. Quando os homens pensavam que a tinham matado, Ele a tomou e plantou-a do outro lado do muro. O tronco não mais devia ser visível. Estava oculto dos cruéis assaltos dos homens. Mas os ramos da Videira pendiam por sobre o muro. Eles a deviam representar. Por meio deles ainda se poderiam unir enxertos à Videira. Destes se obtiveram frutos. Houve uma colheita, da qual aproveitaram os transeuntes. DTN 478 5 "Eu sou a Videira, vós as varas" (João 15:5), disse Cristo aos discípulos. Embora estivesse para ser afastado deles, sua união espiritual com Ele devia permanecer imutável. A ligação dos ramos com a videira, disse, representa a relação que deveis manter comigo. O renovo é enxertado na videira viva e, fibra por fibra, veia por veia, imerge no tronco. A vida da videira torna-se a vida do ramo. Assim a alma morta em ofensas e pecados recebe vida mediante a ligação com Cristo. Pela fé nEle como Salvador pessoal, forma-se esta união. O pecador une a sua fraqueza à força de Cristo, seu vazio à plenitude dEle, sua fragilidade à perdurável resistência do Salvador. Assim ele possui a mente de Cristo. Sua humanidade tocou a nossa e nossa humanidade tocou a divindade. Assim, pela operação do Espírito Santo, o homem torna-se participante da natureza divina. É aceito no Amado. DTN 479 1 Uma vez formada, esta união com Cristo deve ser mantida. Disse Cristo: "Estai em Mim, e Eu em vós: como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim". João 15:4. Isto não é um contato casual, ora sim ora não. O ramo torna-se uma parte da videira viva. A comunicação de vida, força e fertilidade da raiz aos ramos é livre e constante. Separado da videira, o ramo não pode viver. Tampouco, disse Jesus, podeis vós viver separados de Mim. A vida que de Mim recebestes só pode ser conservada por meio de contínua comunhão. Sem Mim não podeis vencer um só pecado, ou resistir a uma única tentação. DTN 479 2 "Estai em Mim, e Eu em vós." Permanecer em Cristo significa receber constantemente de Seu Espírito, uma vida de inteira entrega a Seu serviço. As vias de comunicação entre o homem e seu Deus devem achar-se de contínuo desimpedidas. Como o ramo tira sem cessar a seiva da videira viva, assim nos devemos apegar a Cristo, e dEle receber, pela fé, a força e perfeição de Seu próprio caráter. DTN 479 3 A raiz, por meio dos galhos, envia a nutrição aos mais afastados ramos. Assim comunica Jesus a todo crente a corrente do vigor espiritual. Enquanto a alma estiver unida a Cristo, não há perigo de que seque ou se corrompa. DTN 479 4 A vida da videira manifestar-se-á em fragrantes frutos nos ramos. "Quem está em Mim", disse Jesus, "e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer". João 15;5. Quando vivemos pela fé no Filho de Deus, os frutos do Espírito se manifestarão em nossa vida; nenhum faltará. DTN 479 5 "Meu Pai é o Lavrador. Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira". João 15:1, 2. Conquanto o enxerto esteja externamente unido à videira, pode não haver nenhuma ligação vital. Então não haverá crescimento ou fertilidade. Assim pode haver uma aparente conexão com Cristo, sem uma real união com Ele pela fé. Uma profissão de religião introduz os homens na igreja, mas o caráter e a conduta mostram se eles se acham em ligação com Cristo. Se não dão frutos, são falsas varas. Sua separação de Cristo envolve uma ruína tão completa como a que é representada pela vara seca. "Se alguém não estiver em Mim", disse Cristo, "será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem". João 15:6. DTN 479 6 "E limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto". João 15:2. Dos doze escolhidos que haviam seguido a Jesus, um, como ramo seco, estava para ser tirado; o resto devia passar pelo podão de amarga prova. Com solene ternura, Jesus explicou o desígnio do lavrador. A poda ocasionará dor, mas é o Pai que aplica o podão. Ele não trabalha com mão impensada nem coração indiferente. Há ramos que se arrastam pelo chão; estes devem ser soltos dos pontos de apoio da terra, a que se apegam as tenras gavinhas. Devem estender-se em direção ao céu, para encontrar em Deus seu sustentáculo. A excessiva folhagem que tira ao fruto a corrente vital, tem de ser podada; cortado, o excesso de ramos, a fim de dar lugar aos saneadores raios do Sol da Justiça. O lavrador corta os rebentos prejudiciais, para que o fruto seja mais rico e abundante. DTN 480 1 "Nisto é glorificado Meu Pai", disse Jesus, "que deis muito fruto". João 15:8. Deus deseja manifestar por meio de vós a santidade, a beneficência, a compaixão de Seu próprio caráter. Todavia o Salvador não ordena aos discípulos que se atropelem para produzir frutos. Diz-lhes que permaneçam nEle. "Se vós estiverdes em Mim", diz, "e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito". João 15:7. É por meio da Palavra que Cristo habita em Seus seguidores. Esta é a mesma vital união representada por comer Sua carne e beber Seu sangue. As palavras de Cristo são espírito e vida. Recebendo-as, recebeis a vida da Videira. Viveis "de toda a palavra que sai da boca de Deus". Mateus 4:4. A vida de Cristo em vós produz os mesmos frutos que nEle. Vivendo em Cristo, aderindo a Ele, por Ele sustentados, e dEle tirando a nutrição, dareis frutos segundo a Sua semelhança. DTN 480 2 Nessa última reunião de Jesus com Seus discípulos, o grande desejo por Ele manifestado em seu favor, foi de que se amassem uns aos outros como Ele mesmo os amara. Falou-lhes repetidamente a esse respeito. "O Meu mandamento é este", disse por diversas vezes, "que vos ameis uns aos outros". João 15:12. Foi mesmo a primeira recomendação que lhes fez ao achar-Se a sós com eles no cenáculo: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis". João 13:34. Para os discípulos, este foi um novo mandamento; pois eles não haviam amado uns aos outros como Cristo os amara. Ele viu que novas idéias e impulsos os deviam dominar; que novos princípios tinham de ser por eles seguidos; por meio de Sua vida e morte, deviam receber uma nova concepção do amor. O mandamento de se amarem uns aos outros tinha uma nova significação em face de Seu sacrifício. Toda a obra da graça é um contínuo serviço de amor, de abnegação, de esforço com sacrifício. Durante cada hora da peregrinação de Cristo na Terra, o amor de Deus dEle brotava em irreprimíveis correntes. Todos quantos são possuídos de Seu espírito, hão de amar como Ele amou. O mesmo princípio que atuava em Cristo, há de atuar neles em todo o seu trato uns com os outros. DTN 480 3 Esse amor é o testemunho de seu discipulado. "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos", disse Jesus, "se vos amardes uns aos outros". João 13:35. Quando os homens se ligam entre si, não pela força do interesse pessoal, mas pelo amor, mostram a operação de uma influência que é superior a toda influência humana. Onde existe esta unidade, é evidente que a imagem de Deus está sendo restaurada na humanidade, que foi implantada nova vida. Mostra que há na natureza divina poder para deter os sobrenaturais agentes do mal, e que a graça de Deus subjuga o egoísmo inerente ao coração natural. DTN 481 1 Esse amor manifestado na igreja, há de por certo incitar a ira de Satanás. Cristo não estabelece para Seus discípulos um caminho fácil. "Se o mundo vos aborrece", diz Ele, "sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que Me enviou". João 15:18-21. O evangelho deve ser levado avante por ativa luta, em meio de oposição, perigo, prejuízo e sofrimento. Mas os que fazem esta obra estão apenas seguindo os passos do Mestre. DTN 481 2 Como Redentor do mundo, Cristo foi constantemente confrontado por aparentes fracassos. Ele, o Mensageiro da misericórdia ao nosso mundo, pouco parecia fazer da obra que anelava realizar em erguer e salvar. Satânicas influências estavam sempre operando para Lhe obstar o caminho. Mas Ele não Se desanimava. Através da profecia de Isaías, declara: "Em vão tenho trabalhado, inútil e vã mente gastei as Minhas forças; todavia o Meu direito está perante o Senhor, e o Meu galardão perante o Meu Deus. [...] Israel se deixou ajuntar; contudo aos olhos do Senhor serei glorificado, e o Meu Deus será a Minha força." É a Cristo que é feita a promessa: "Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o Santo, à alma desprezada, ao que as nações abominam. [...] Assim diz o Senhor: [...] Te guardarei, e Te darei por concerto do povo, para restaurares a Terra, e lhes dares em herança as herdades assoladas; para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei. [...] Nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o Sol os afligirá; porque o que Se compadece deles os guiará, e os levará mansamente aos mananciais". Isaías 49:4, 5, 7-10. DTN 481 3 Nessa palavra repousava Jesus, e não deu lugar a Satanás. Quando estavam para ser dados os últimos passos na humilhação de Cristo, quando Sua alma estava sendo envolvida pela mais profunda aflição, Ele disse aos discípulos: "... se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim". João 14:30. "O príncipe deste mundo está julgado". João 16:11. "Agora será expulso". João 12:31. Com profética visão, Cristo traçou as cenas a terem lugar em Seu último e grande conflito. Sabia que, quando exclamasse: "Está consumado" (João 19:30), todo o Céu havia de triunfar. Seu ouvido colheria a distante música e os brados de vitória nas cortes celestes. Sabia que havia de soar então o dobre a finados do império de Satanás, e o nome de Cristo seria anunciado de mundo em mundo por todo o Universo. DTN 482 1 Cristo regozijava-Se de poder fazer mais em benefício de Seus seguidores, do que eles seriam capazes de pedir ou pensar. Falava com segurança, sabendo que fora dado, já antes da fundação do mundo, um onipotente decreto. Sabia que a verdade, armada com a onipotência do Espírito Santo, havia de vencer na contenda com o mal; e a ensangüentada bandeira flutuaria triunfalmente sobre Seus seguidores. Sabia que a vida de Seus confiantes discípulos seria como a Sua, uma série de ininterruptas vitórias, que aqui não pareceriam sê-lo, mas reconhecidas como tais no grande porvir. DTN 482 2 "Tenho-vos dito isto", disse, "para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo". João 16:33. Cristo não falhou, nem Lhe faleceu o ânimo, e Seus seguidores têm de manifestar uma fé de natureza assim resistente. Cumpre-lhes viver como Ele viveu, e trabalhar como Ele trabalhou, pois nEle confiam como o grande Obreiro-Mestre. Valor, energia e perseverança devem eles possuir. Conquanto aparentes impossibilidades lhes entravem o caminho, por Sua graça hão de ir avante. Em lugar de deplorar as dificuldades, são convidados a transpô-las. Não devem desesperar de coisa alguma, mas esperar tudo. Com a áurea cadeia de Seu incomparável amor, tem-nos Cristo ligado ao trono de Deus. É Seu desígnio que lhes pertença a mais alta influência do Universo, influência que emana da fonte de todo o poder. Têm de ter força para resistir ao mal, força que nem a Terra, nem a morte, nem o inferno podem dominar; força que os habilitará a vencer como Cristo venceu. DTN 482 3 É intuito de Cristo que a ordem celeste, o celeste plano de governo e a divina harmonia celeste, sejam representadas em Sua igreja na Terra. Assim é Ele glorificado em Seu povo. Por meio deles, o Sol da Justiça resplandecerá sobre o mundo com não empanado brilho. Cristo deu a Sua igreja amplas faculdades, de modo a poder receber abundantes retribuições de glória da parte de Sua remida, comprada possessão. Concedeu a Seu povo capacidade e bênçãos para que representassem Sua própria suficiência. A igreja, dotada com a justiça de Cristo, é Sua depositária, nela se devendo revelar as riquezas de Sua misericórdia, Sua graça em plena e final manifestação. Cristo considera Seu povo, em sua pureza e perfeição, como a recompensa de Sua humilhação, e o suplemento de Sua glória -- sendo Ele mesmo o grande Centro, de quem toda a glória irradia. DTN 482 4 Com fortes, esperançosas palavras concluiu o Salvador Suas instruções. Depois vazou a opressão de Sua alma em oração pelos discípulos. Erguendo os olhos ao céu, disse: "Pai, é chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que também o Teu Filho Te glorifique a Ti; assim como Lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos Lhe deste. E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". João 17:1-3. DTN 483 1 Cristo concluíra a obra que Lhe fora dada a fazer. Glorificara a Deus na Terra. Manifestara o nome do Pai. Reunira os que haviam de continuar Sua obra entre os homens. E disse: "E, neles, Eu sou glorificado". João 17:10. "E Eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um assim como Nós." "E não rogo somente por eles, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, [...] Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:11, 20, 23. DTN 483 2 Assim, na linguagem de quem possui autoridade divina, Cristo entrega Sua igreja eleita nos braços do Pai. Como consagrado sumo sacerdote, intercede por Seu povo. Como fiel pastor, reúne Seu rebanho à sombra do Todo-poderoso, no forte e seguro refúgio. Quanto a Si, aguarda-O a última batalha com Satanás, e Ele sai a enfrentá-la. ------------------------Capítulo 74 -- Getsêmani DTN 484 0 Este capítulo é baseado em Mateus 26:36-56; Marcos 14:32-50; Lucas 22:39-53; João 18:1-12. DTN 484 1 Em companhia dos discípulos, fez o Salvador vagarosamente o caminho para o jardim de Getsêmani. A Lua pascoal, clara e cheia, brilhava num céu sem nuvens. Silenciara a cidade de tendas de peregrinos. DTN 484 2 Jesus estivera conversando animadamente com os discípulos, instruindo-os; mas ao aproximar-Se do Getsêmani, tornou-Se estranhamente mudo. Muitas vezes lá estivera, para meditar e orar; mas nunca com o coração tão cheio de tristeza como nessa noite de Sua última agonia. Durante Sua vida na Terra, andara à luz da presença de Deus. Quando em conflito com homens que eram inspirados pelo próprio espírito de Satanás, podia dizer: "Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada". João 8:29. Agora, porém, parecia excluído da luz da mantenedora presença de Deus. Era então contado entre os transgressores. Devia suportar a culpa da humanidade caída. Sobre Aquele que não conheceu pecado, devia pesar a iniqüidade da raça caída. Tão terrível Lhe parece o pecado, tão grande o peso da culpa que deve levar sobre Si, que é tentado a temer que ele O separe para sempre do amor do Pai. Sentindo quão terrível é a ira de Deus contra a transgressão, exclama: "A Minha alma está profundamente triste até à morte". Marcos 14:34. DTN 484 3 Ao aproximarem-se do jardim, os discípulos notaram a mudança que se operara em seu Mestre. Nunca antes O tinham visto tão indizivelmente triste e silencioso. À medida que avançava, mais se aprofundava essa estranha tristeza; todavia, não ousavam interrogá-Lo quanto a causa da mesma. Seu corpo cambaleava como se estivesse prestes a cair. Ao chegar ao jardim, os discípulos, ansiosos, procuraram o lugar habitual do retiro do Mestre, para que Ele pudesse descansar. Cada passo que dava agora, fazia-o com extremo esforço. Gemia alto, como sob a opressão de terrível fardo. Por duas vezes os companheiros O sustiveram, do contrário teria tombado por terra. DTN 484 4 Próximo à entrada do horto, Jesus deixou todos os discípulos, com exceção de três, pedindo-lhes que orassem por si mesmos e por Ele. Em companhia de Pedro, Tiago e João, penetrou nos mais retirados recessos do mesmo horto. Esses três discípulos eram os mais íntimos companheiros de Cristo. Contemplaram-Lhe a glória no monte da transfiguração; viram Moisés e Elias conversando com Ele; ouviram a voz do Céu; agora, em Sua grande luta, Cristo os desejava ter perto de Si. Muitas vezes passaram a noite ao Seu lado nesse retiro. Nessas ocasiões, depois de um período de vigília e oração, costumavam dormir imperturbados a pequena distância do Mestre, até que os despertava pela manhã, para irem novamente ao trabalho. Agora, porém, desejava que passassem a noite com Ele em oração. No entanto, não podia admitir que nem mesmo eles testemunhassem a agonia que devia suportar. "Ficai aqui", disse-lhes, "e velai comigo". Mateus 26:38. DTN 485 1 Foi a uma pequena distância deles -- não tão afastado que O não pudessem ver e ouvir -- e caiu prostrado por terra. Sentia que, pelo pecado, estava sendo separado do Pai. O abismo era tão largo, tão escuro, tão profundo, que Seu espírito tremeu diante dele. Para escapar a essa agonia, não deve exercer Seu poder divino. Como homem, cumpre-Lhe sofrer as conseqüências do pecado do homem. Como homem, deve suportar a ira divina contra a transgressão. DTN 485 2 Cristo Se achava então em atitude diversa daquela em que sempre estivera. Seus sofrimentos podem melhor ser descritos nas palavras do profeta: "Ó espada, ergue-te contra o Meu Pastor e contra o varão que é Meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos". Zacarias 13:7. Como substituto e refém do pecador, estava Cristo sofrendo sob a justiça divina. Viu o que significa justiça. Até então, fora como um intercessor por outros; agora, ansiava alguém que por Ele intercedesse. DTN 485 3 Ao sentir Cristo interrompida Sua unidade com o Pai, temia que, em Sua natureza humana, não fosse capaz de resistir ao vindouro conflito com os poderes das trevas. No deserto da tentação, estivera em jogo o destino da raça humana. Cristo saíra então vitorioso. Agora viera o tentador para a última e tremenda luta. Para isso se preparara ele durante os três anos de ministério de Cristo. Tudo estava em jogo para ele. Falhasse aqui, e estava perdida sua esperança de domínio; os reinos do mundo tornar-se-iam afinal possessão de Cristo; ele próprio seria derrotado e expulso. Mas se Cristo pudesse ser vencido, a Terra se tornaria para sempre o reino de Satanás, e a raça humana estaria perpetuamente em seu poder. Com os resultados do conflito perante Si, a alma de Cristo Se encheu de terror da separação de Deus. Satanás dizia-Lhe que, se Se tornasse o penhor de um mundo pecaminoso, seria eterna a separação. Ele Se identificaria com o reino de Satanás, e nunca mais seria um com Deus. DTN 485 4 E que se lucraria com esse sacrifício? Quão desesperadas pareciam a culpa e a ingratidão humanas! Satanás apertava o Redentor, apresentando a situação justamente em seus piores aspectos: "A nação que pretende achar-se acima de todas as outras quanto às vantagens temporais e espirituais, rejeitou-Te. Procuram destruir-Te, a Ti, fundamento, centro e selo das promessas que lhes foram feitas como povo particular. Um de Teus próprios discípulos, que tem ouvido Tuas instruções e sido um dos de mais destaque nas atividades da igreja, trair-Te-á. Um de Teus mais zelosos seguidores Te há de negar. Todos Te abandonarão." Cristo repeliu esse pensamento com todo Seu ser. Que aqueles a quem empreendera salvar, aqueles a quem tanto amava, se unissem aos tramas de Satanás -- isto Lhe traspassava a alma. Terrível era o conflito. Media-se pela culpa da nação, de Seus acusadores e traidor, pela culpa de um mundo imerso na impiedade. Os pecados dos homens pesavam duramente sobre Cristo, e esmagava-Lhe a alma o sentimento da ira divina. DTN 486 1 Contemplai-O considerando o preço a ser pago pela alma humana. Em Sua agonia, apega-Se ao solo frio, como a impedir de ser levado para longe de Deus. O enregelante orvalho da noite cai-Lhe sobre o corpo curvado, mas não atenta para isso. De Seus pálidos lábios irrompe o amargo brado: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice." Mas mesmo então acrescenta: "Todavia não como Eu quero, mas como Tu queres". Mateus 26:39. DTN 486 2 O coração humano anseia simpatia no sofrimento. Esse anseio, experimentou-o Cristo até ao mais profundo de Seu ser. Na suprema angústia de Sua alma, foi ter com os discípulos, com o aflitivo desejo de ouvir algumas palavras reconfortantes daqueles a quem tantas vezes concedera bênçãos e conforto, e protegera na dor e na aflição. Aquele que para eles tivera sempre expressões de simpatia, sofria agora sobre-humana dor, e almejava saber que estavam orando por Ele e por si mesmos. Quão negra se Lhe afigurava a malignidade do pecado! Terrível foi a tentação de deixar que a raça humana sofresse as conseqüências de sua própria culpa, e ficasse Ele inocente diante de Deus. Se tão-somente soubesse que os discípulos compreendiam e avaliavam isso, seria fortalecido. Erguendo-Se num doloroso esforço, dirigiu-Se cambaleante ao lugar onde deixara os companheiros. Mas "achou-os adormecidos". Mateus 26:40. Houvesse-os encontrado em oração, e ter-Se-ia sentido aliviado. Estivessem buscando refúgio em Deus, para que as forças satânicas não prevalecessem sobre eles, e Jesus Se teria sentido confortado por sua firme fé. Mas não deram ouvidos à repetida advertência: "Vigiai e orai". Mateus 26:41. A princípio ficaram perturbados ao ver o Mestre, de ordinário tão calmo e de tanta compostura, lutando com uma dor que estava além da compreensão. Tinham orado enquanto ouviram os grandes clamores do Sofredor. Não pretendiam abandonar seu Senhor, mas pareciam paralisados por um torpor que teriam sacudido de si, caso houvessem continuado a rogar a Deus. Não compreendiam a necessidade de vigilância e fervorosa súplica, a fim de resistir à tentação. DTN 486 3 Mesmo antes de Se dirigir para o horto, Jesus dissera aos discípulos: "Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim." Haviam-Lhe assegurado firmemente que O acompanhariam à prisão e à morte. E o pobre, presunçoso Pedro acrescentara: "Ainda que todos se escandalizem em Ti, eu nunca me escandalizarei". Marcos 14:27, 29. Mas os discípulos confiavam em si mesmos. Não olharam para o poderoso Ajudador, como Cristo os aconselhara a fazer. Assim, quando o Salvador Se encontrava em mais necessidade das simpatias e orações deles, foram achados dormindo. Mesmo Pedro dormia. DTN 486 4 E João, o amorável discípulo que se reclinara ao peito de Jesus, estava adormecido. Certamente o amor de João por seu Mestre o deveria ter mantido desperto. Suas fervorosas orações se deveriam ter misturado às do amado Salvador, no momento de Sua suprema aflição. O Redentor passara noites inteiras orando pelos discípulos, para que sua fé não desfalecesse. Fizesse Jesus agora a Tiago e a João a pergunta que uma vez lhes dirigira: "Podeis vós beber o cálice que Eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que Eu sou batizado?" e eles não teriam ousado responder: "Podemos". Mateus 20:22. DTN 487 1 Os discípulos acordaram à voz de Jesus, porém mal O conheceram, tão mudado estava Seu semblante pela angústia. Dirigindo-Se a Pedro, disse Jesus: "Simão, dormes? Não podes vigiar uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca". Marcos 14:37, 38. A fraqueza dos discípulos despertou a simpatia de Jesus. Temia que não fossem capazes de resistir à prova que lhes sobreviria em Sua entrega e morte. Não os reprovou, mas disse: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Mesmo em Sua grande agonia, buscava desculpar-lhes a fraqueza. "O espírito na verdade está pronto", disse, "mas a carne é fraca." Novamente foi o Filho de Deus tomado de sobre-humana aflição e, desfalecido e exausto, arrastou-Se outra vez para o lugar de Sua luta anterior. Seu sofrimento era ainda maior que antes. Ao sobrevir-Lhe a agonia da alma, "Seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão". Lucas 22:44. Os ciprestes e as palmeiras foram as silenciosas testemunhas de Sua angústia. Dos folhudos ramos caía denso orvalho sobre Seu corpo prostrado, como se a natureza chorasse sobre seu Autor sozinho em luta contra os poderes das trevas. DTN 487 2 Pouco tempo antes, Jesus Se mostrara qual vigoroso cedro, resistindo à tempestade da oposição que desencadeava contra Ele sua fúria. Vontades obstinadas e corações cheios de maldade e sutileza, em vão lutaram para O confundir e oprimir. Apresentara-Se em divina majestade, como o Filho de Deus. Agora era como uma cana açoitada e pendida por furiosa tempestade. Vencedor, aproximara-Se da consumação de Sua obra, havendo conquistado a cada passo a vitória sobre os poderes das trevas. Como já glorificado, afirmara ter unidade com Deus. Com firmes acentos entoara Seus cânticos de louvor. Dirigira aos discípulos palavras de ânimo e ternura. Agora chegara a hora do poder das trevas. Agora se Lhe ouvia a voz no silêncio da noite, não em notas de triunfo, mas plena de humana angústia. As palavras do Salvador foram levadas aos ouvidos dos entorpecidos discípulos: "Meu Pai, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade". Mateus 26:42. DTN 487 3 O primeiro impulso dos discípulos foi ir ter com Ele; mas pedira-lhes que ficassem ali, velando em oração. Quando Jesus chegou a eles, achou-os ainda adormecidos. De novo sentira Ele o anseio da companhia, de algumas palavras dos discípulos, que trouxessem alívio e quebrassem o encanto das trevas que quase O venciam. Mas seus olhos estavam carregados; "e não sabiam que responder-Lhe". Marcos 14:40. Sua presença os despertou. Viram-Lhe o rosto manchado com o suor sanguinolento da agonia, e encheram-se de temor. Sua angústia mental, não a podiam compreender. "O Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o dos outros filhos dos homens". Isaías 52:14. DTN 488 1 Voltando, Jesus tornou a procurar o Seu retiro, caindo prostrado, vencido pelo horror de uma grande treva. A humanidade do Filho de Deus tremia naquela probante hora. Não orava agora pelos discípulos, para que a fé deles não desfalecesse, mas por Sua própria alma assediada de tentação e angústia. O tremendo momento chegara -- aquele momento que decidiria o destino do mundo. Na balança oscilava a sorte da humanidade. Cristo ainda podia, mesmo então, recusar beber o cálice reservado ao homem culpado. Ainda não era demasiado tarde. Poderia enxugar da fronte o suor de sangue, e deixar perecer o homem em sua iniqüidade. Poderia dizer: Receba o pecador o castigo de seu pecado, e Eu voltarei a Meu Pai. Beberá o Filho de Deus o amargo cálice da humilhação e da agonia? Sofrerá o Inocente as conseqüências da maldição do pecado, para salvar o criminoso? Trêmulas caem as palavras dos pálidos lábios de Jesus: "Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade". Mateus 26:42. DTN 488 2 Três vezes proferiu essa oração. Três vezes recuou Sua humanidade do último, supremo sacrifício. Surge, porém, então, a história da raça humana diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores da lei, se deixados, têm de perecer. Vê o desamparo do homem. Vê o poder do pecado. As misérias e os ais do mundo condenado erguem-se ante Ele. Contempla-lhe a sorte iminente, e decide-Se. Salvará o homem custe o que custar de Sua parte. Aceita Seu batismo de sangue, para que, por meio dEle, milhões de almas a perecer obtenham a vida eterna. Deixou as cortes celestiais, onde tudo é pureza, felicidade e glória para salvar a única ovelha perdida, o único mundo caído pela transgressão. E não Se desviará de Sua missão. Tornar-Se-á a propiciação de uma raça que quis pecar. Sua prece agora respira apenas submissão: "Se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade". Mateus 26:42. DTN 488 3 Havendo tomado a decisão, cai moribundo no solo do qual Se erguera parcialmente. Onde se achavam então os discípulos, para pôr ternamente as mãos sob a cabeça do desfalecido Mestre, e banhar aquela fronte, na verdade mais desfigurada que a dos outros filhos dos homens? O Salvador pisou sozinho o lagar, e do povo nenhum com Ele havia. DTN 488 4 Mas Deus sofria com Seu Filho. Anjos contemplavam a agonia do Salvador. Viam seu Senhor circundado de legiões das forças satânicas, Sua natureza vergada ao peso de misterioso pavor que todo O fazia tremer. Houve silêncio no Céu. Nenhuma harpa soava. Pudessem os mortais ter testemunhado o assombro das hostes angélicas quando, em silenciosa dor, observavam o Pai retirando de Seu bem-amado Filho os raios de luz, amor e glória, e melhor compreenderiam quão ofensivo é aos Seus olhos o pecado. DTN 489 1 Os mundos não caídos e os anjos celestiais vigiavam com intenso interesse o conflito que se aproximava do desfecho. Satanás e suas hostes do mal, as legiões da apostasia, seguiam muito atentamente essa grande crise na obra da redenção. Os poderes do bem e do mal aguardavam para ver qual a resposta que seria dada à oração de Cristo -- três vezes repetida. Os anjos anelavam trazer alívio ao divino Sofredor, mas isso não podia ser. Nenhum meio de escape havia para o Filho de Deus. Nessa horrível crise, quando tudo estava em jogo, quando o misterioso cálice tremia nas mãos do Sofredor, abriu-se o Céu, surgiu uma luz por entre a tempestuosa treva da hora da crise, e o poderoso anjo que se acha na presença de Deus, ocupando a posição da qual Satanás caíra, veio para junto de Cristo. O anjo não veio para tomar-Lhe o cálice das mãos, mas para fortalecê-Lo a fim de que o bebesse, com a certeza do amor do Pai. Veio para dar força ao divino-humano Suplicante. Ele Lhe apontou os Céus abertos, falando-Lhe das almas que seriam salvas em resultado de Seus sofrimentos. Afirmou-Lhe que Seu Pai é maior e mais poderoso que Satanás, que Sua morte redundaria na sua inteira derrota, e que o reino deste mundo seria dado aos santos do Altíssimo. Disse-Lhe que Ele veria o trabalho de Sua alma, e ficaria satisfeito, pois contemplaria uma multidão de membros da família humana salvos, eternamente salvos. DTN 489 2 A agonia de Cristo não cessou, mas Sua depressão e desânimo O deixaram. A tempestade não amainou de maneira alguma, mas Aquele que dela era objeto estava fortalecido para lhe enfrentar a fúria. Saiu calmo e sereno. Uma paz celestial pairava-Lhe no rosto manchado de sangue. Suportara aquilo que criatura alguma humana jamais poderia sofrer; pois provara os sofrimentos da morte por todos os homens. DTN 489 3 Os adormecidos discípulos foram subitamente despertados pela luz que circundava o Salvador. Viram o anjo inclinado sobre o prostrado Mestre. Viram-no erguer a cabeça do Salvador sobre seu seio, e apontar para o Céu. Ouviram-lhe a voz, qual música suave, proferindo palavras de conforto e esperança. Os discípulos recordaram a cena do monte da transfiguração. Lembraram a glória que, no templo, envolvera a Jesus, e a voz de Deus, que falara da nuvem. Agora se revelava aquela mesma glória, e não tiveram mais temor pelo Mestre. Ele Se achava sob o cuidado de Deus; um poderoso anjo fora enviado para O proteger. Novamente os discípulos, em sua fadiga, cedem àquele estranho torpor que os domina. Novamente Jesus vai os encontrar adormecidos. Contemplando-os dolorosamente, diz Ele: "Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores." DTN 489 4 Mesmo ao proferir essas palavras, ouviu as pisadas da turba que vinha em Sua procura, e disse: "Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que Me trai". Mateus 26:45, 46. DTN 490 1 Nenhum vestígio de Sua recente agonia se podia divisar ao adiantar-Se Jesus para enfrentar o traidor. Achando-Se à frente dos discípulos, disse: "A quem buscais?" Responderam: "A Jesus Nazareno." Jesus disse: "Sou Eu". João 18:4-6. Ao serem proferidas essas palavras, o anjo que há pouco estivera confortando a Jesus interpôs-se entre Ele e a multidão. Uma luz divina iluminou o rosto do Salvador, e uma como que pomba pairou sobre Ele. Em presença dessa divina glória, a turba assassina não pôde permanecer um momento. Cambalearam em recuo. Sacerdotes, anciãos, soldados e o próprio Judas caíram como mortos por terra. DTN 490 2 O anjo retirou-se, e dissipou-se a luz. Jesus tivera oportunidade de escapar, mas permaneceu, calmo e senhor de Si. Como pessoa glorificada, ficou em meio daquele bando endurecido, agora prostrado e impotente a Seus pés. Os discípulos contemplavam tudo silenciosos, com admiração e respeitoso temor. DTN 490 3 Rapidamente, porém, mudou a cena. A turba ergueu-se. Os soldados romanos, os sacerdotes e Judas reuniram-se em redor de Cristo. Pareciam envergonhados de sua fraqueza, e receosos de que Ele ainda escapasse. Novamente fez o Redentor a pergunta: "A quem buscais?" Tinham tido a prova de que Aquele que Se achava diante deles era o Filho de Deus, mas não se queriam convencer. À pergunta: "A quem buscais?" tornaram a responder: "A Jesus Nazareno." O Salvador disse então: "Já vos disse que sou Eu; se pois Me buscais a Mim, deixai ir estes" (João 18:7, 8) -- e apontou aos discípulos. Sabia quão fraca era a fé deles, e buscou protegê-los contra a tentação e a prova. Por eles estava pronto a Se sacrificar. DTN 490 4 Judas, o traidor, não esqueceu a parte que devia desempenhar. Quando a turba penetrou no horto, fora ele que a conduzira, seguido de perto pelo sumo sacerdote. Aos perseguidores de Jesus dera um sinal, dizendo: "O que eu beijar é esse; prendei-O". Mateus 26:48. Pretende então não ter parte nenhuma com eles. Achegando-se a Jesus, toma-Lhe a mão como um amigo familiar. Com as palavras: "Eu Te saúdo, Rabi", ele O beija repetidamente e parece chorar, como sentindo com Ele o perigo que corria. DTN 490 5 Jesus lhe diz: "Amigo, a que vieste?" Mateus 26:50. A voz tremia-Lhe de dor, ao acrescentar: "Judas, com um beijo traís o Filho do homem?" Lucas 22:48. Esse apelo deveria ter despertado a consciência do traidor, e tocado seu obstinado coração; mas a honra, a fidelidade e a brandura humana o haviam abandonado. Permaneceu ousado e em desafio, não mostrando nenhuma disposição de abrandar-se. Entregara-se a Satanás, e não tinha poder para lhe resistir. Jesus não recusou o beijo do traidor. DTN 490 6 A massa tornou-se ousada, ao ver Judas tocar a pessoa dAquele que tão pouco antes fora glorificado diante de seus olhos. Apoderaram-se, pois, de Jesus e começaram a atar aquelas preciosas mãos que sempre se haviam empregado em fazer bem. DTN 491 1 Os discípulos haviam julgado que o Mestre não sofreria ser aprisionado. Pois o mesmo poder que fizera com que os da turba caíssem como mortos, mantê-los-ia impotentes até que Jesus e Seus companheiros escapassem. Ficaram decepcionados e indignados, ao verem as cordas trazidas para ligar as mãos dAquele a quem amavam. Em sua indignação, Pedro puxou precipitadamente da espada e procurou defender o Mestre, mas apenas cortou uma orelha do servo do sumo sacerdote. Quando Jesus viu o que fora feito, soltou as mãos -- ainda que firmemente presas pelos soldados romanos -- e dizendo: "Deixai-os; basta" (Lucas 22:51), tocou a orelha, e esta sarou instantaneamente. Disse então a Pedro: "Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão. Ou pensas tu que Eu não poderia agora orar a Meu Pai, e que Ele não Me daria mais de doze legiões de anjos?" (Mateus 26:52, 53) -- uma legião em lugar de cada um dos discípulos. Oh! por que, pensaram os discípulos, não Se salva Ele e a nós? Respondendo a seu pensamento não expresso, acrescentou: "Como pois se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?" Mateus 26:54. "Não beberei Eu o cálice que o Pai Me deu?" DTN 491 2 A dignidade oficial dos guias judaicos não os impediu de se unirem à perseguição de Jesus. Sua prisão era coisa demasiado importante para ser confiada a subordinados; os astutos sacerdotes e anciãos se juntaram à polícia do templo e à plebe, para seguir Judas ao Getsêmani. Que companhia para aqueles dignitários se lhe unirem -- uma turba ávida de excitação e armada com toda espécie de instrumentos, como para perseguir um animal selvagem! DTN 491 3 Voltando-se para os sacerdotes e anciãos, Cristo neles fixou o penetrante olhar. As palavras que Ele proferiu, jamais as esqueceriam, enquanto vivessem. Foram como setas agudas do Todo-poderoso. Com dignidade, disse: Saístes contra Mim como para um ladrão ou salteador, com espadas e varapaus. Todos os dias Me assentava, ensinando no templo. Tínheis oportunidade de deitar-Me as mãos, e nada fizestes. A noite é mais adequada para vossa obra. "Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas". Lucas 22:53. DTN 491 4 Os discípulos ficaram aterrorizados, ao ver que Jesus permitia que O prendessem e ligassem. Escandalizaram-se de que Ele suportasse essa humilhação, feita a Si e a eles. Não Lhe podiam entender a conduta, e censuraram-nO por Se submeter à turba. Em sua indignação e temor, Pedro propôs que se salvassem. Seguindo essa sugestão, "todos os discípulos, deixando-O, fugiram". Mas Cristo predissera essa deserção. "Eis que chega a hora", dissera, "e já se aproxima, em que vós sereis dispersos, cada um para sua parte, e Me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo". João 16:32. ------------------------Capítulo 75 -- Perante Anás e o tribunal de Caifás DTN 492 0 Este capítulo é baseado em Mateus 26:57-75; 27:1; Marcos 14:53-72; 15:1; Lucas 22:54-71; João 18:13-27. DTN 492 1 Através do ribeiro de Cedrom, de hortos, olivais e das silenciosas ruas da cidade adormecida, levaram precipitadamente a Jesus. Passava de meia-noite, e os gritos de vaia da turba que O seguia, irrompiam, agudos, no silêncio do espaço. O Salvador estava manietado e vigiado de perto, e movia-Se dolorosamente. Em ansiosa pressa, porém, marchavam com Ele os que O haviam prendido, rumo ao palácio de Anás, ex-sumo sacerdote. DTN 492 2 Anás era o líder da família sacerdotal em exercício, e, em deferência para com sua idade, era reconhecido pelo povo como sumo sacerdote. Buscava-se e cumpria-se seu conselho como a voz de Deus. Ele devia ver primeiro a Jesus, cativo do poder sacerdotal. Devia estar presente ao interrogatório do Prisioneiro, por temor de que o menos experimentado Caifás deixasse de assegurar o objetivo por que trabalhavam. Seu artifício, astúcia e sutileza deviam ser empregados nessa ocasião; pois a condenação de Cristo devia de qualquer maneira ser conseguida. DTN 492 3 Cristo devia ser julgado formalmente perante o Sinédrio; mas perante Anás foi submetido a um julgamento preliminar. Sob o governo romano, o Sinédrio não podia executar a sentença de morte. Só podia interrogar um prisioneiro, e dar a sentença para ser ratificada pelas autoridades romanas. Era, portanto, preciso apresentar contra Cristo acusações que fossem consideradas criminosas pelos romanos. Também era preciso achar uma acusação que O condenasse aos olhos dos judeus. Não poucos entre os sacerdotes e príncipes ficaram convencidos, pelos ensinos de Cristo; unicamente o temor da excomunhão os impedira de confessá-Lo. Os sacerdotes bem se lembravam da pergunta de Nicodemos: "Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?" João 7:51. Essa pergunta interrompera na ocasião o conselho, e estorvara-lhes os planos. José de Arimatéia e Nicodemos não foram então chamados, mas havia outros que talvez ousassem falar em favor da justiça. O julgamento devia ser dirigido de maneira a unir contra Cristo os membros do Sinédrio. Duas acusações desejavam os sacerdotes manter. Se se pudesse provar que Jesus era blasfemo, seria condenado pelos judeus. Se culpado de sedição, isso garantiria a condenação por parte dos romanos. A segunda acusação procurou Anás estabelecer em primeiro lugar. Interrogou a Cristo quanto a Seus discípulos e Suas doutrinas, esperando que o Prisioneiro dissesse qualquer coisa que lhe fornecesse base para agir. Pensava tirar alguma declaração, provando que Ele estava procurando fundar uma sociedade secreta, com o intuito de estabelecer um novo reino. Então os sacerdotes O poderiam entregar aos romanos como perturbador da paz e cabeça de insurreição. DTN 493 1 Cristo lia claramente os desígnios do sacerdote. Como se lesse no mais íntimo da alma do que O interrogava, negou que houvesse entre Ele e Seus seguidores qualquer união secreta, ou que os reunisse em segredo e nas trevas para ocultar Seus desígnios. Não tinha segredos quanto a Seus intuitos ou doutrinas. "Eu falei abertamente ao mundo", respondeu Ele; "Eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se ajuntam, e nada disse em oculto". João 18:20. DTN 493 2 O Salvador punha em contraste Sua maneira de agir, com os métodos de Seus acusadores. Durante meses O perseguiram, procurando enlaçá-Lo e levá-Lo perante um tribunal secreto, onde poderiam obter por falso juramento o que era impossível conseguir por meios justos. Agora levavam a efeito seus desígnios. A prisão à meia-noite por meio de uma turba, as zombarias e maus-tratos antes de Ele ser condenado, ou sequer acusado, era a maneira de eles procederem, não a Sua. O ato que praticavam era uma violação da lei. Suas próprias leis declaravam que um homem devia ser tratado como inocente até se provar culpado. Em face de seus próprios regulamentos, eram os sacerdotes condenados. DTN 493 3 Voltando-Se para aquele que O interrogava, disse Jesus: "Para que Me perguntas a Mim?" Não haviam os sacerdotes e príncipes enviado espias para Lhe observar os movimentos, e relatar cada palavra Sua? Não estiveram estes presentes em todas as reuniões do povo, levando aos sacerdotes informações de tudo quanto fazia e dizia? "Pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei", replicou Jesus; "eis que eles sabem o que Eu lhes tenho dito". João 18:21. DTN 493 4 Anás emudeceu diante da firmeza da resposta. Temendo que Jesus fizesse alguma alusão a seu procedimento, que ele preferia manter encoberto, nada mais Lhe disse nesse momento. Um de seus servidores, cheio de indignação ao ver Anás calar-se, bateu no rosto de Jesus, dizendo: "Assim respondes ao sumo sacerdote?" DTN 493 5 Cristo replicou calmamente: "Se falei mal, dá testemunho do mal; e, se bem, por que Me feres?" João 18:22, 23. Não proferiu ardentes palavras de represália. Sua calma resposta proveio de um coração imaculado, paciente e brando, que não se irritava. DTN 493 6 Cristo sofria vivamente sob maus-tratos e insultos. Nas mãos dos seres que criara, e pelos quais estava fazendo imenso sacrifício, recebeu toda espécie de opróbrios. E sofreu proporcionalmente à perfeição de Sua santidade e ao Seu ódio pelo pecado. Seu julgamento por homens que agiam como demônios era-Lhe um sacrifício sem fim. Achar-Se rodeado de criaturas humanas sob o domínio de Satanás, era-Lhe revoltante. E sabia que, num momento, por uma irradiação súbita de Seu divino poder, poderia reduzir a pó Seus cruéis atormentadores. Isso tornava a provação mais dura de sofrer. DTN 494 1 Os judeus aguardavam um Messias que Se revelasse com demonstrações exteriores. Esperavam que Ele, por um raio de avassaladora vontade, mudasse a corrente dos pensamentos dos homens, forçando-os a reconhecer-Lhe a supremacia. Assim, acreditavam, devia Ele firmar a própria exaltação e satisfazer suas ambiciosas esperanças. Assim, quando Cristo era tratado com desprezo, sobrevinha-Lhe forte tentação de manifestar Seu caráter divino. Por uma palavra, um olhar, poderia compelir os perseguidores a confessar que era Senhor sobre reis e príncipes, sacerdotes e templo. Mas cumpria-Lhe a difícil tarefa de ater-Se à posição que escolhera como sendo um com a humanidade. DTN 494 2 Os anjos do Céu testemunhavam todo movimento contra Seu amado Comandante. Ansiavam por libertar Cristo. Sob a direção divina os anjos são todo-poderosos. Uma ocasião, em obediência à ordem de Cristo mataram numa noite cento e oitenta e cinco mil homens do exército assírio. Quão facilmente poderiam os anjos, que contemplavam a vergonhosa cena do julgamento de Cristo, haver demonstrado sua indignação consumindo os adversários de Deus! Mas não eram mandados fazer isso. Aquele que poderia haver condenado Seus inimigos à morte, sofreu-lhes a crueldade. O amor para com o Pai, Seu compromisso, assumido desde a fundação do mundo, de tomar sobre Si o pecado, levaram-nO a suportar sem um queixume o rude tratamento daqueles que viera salvar. Era parte de Sua missão sofrer, em Sua humanidade, todos os motejos e abusos que sobre Ele fossem acumulados. A única esperança do homem residia nessa submissão de Cristo a tudo quando pudesse sofrer das mãos e do coração humano. DTN 494 3 Nada dissera Cristo que pudesse dar ganho de causa a Seus acusadores; todavia, ligaram-nO, para significar que estava condenado. Cumpria, no entanto, haver uma simulação de justiça. Era necessário que houvesse a forma de um julgamento legal. Este as autoridades estavam decididas a apressar. Sabiam a consideração em que Jesus era tido pelo povo, e temiam que, fosse a prisão divulgada, talvez tentassem o libertamento. E ainda, se o julgamento e a execução não fossem efetuados imediatamente, haveria uma semana de adiamento em virtude da celebração da páscoa. Isso poderia frustrar-lhes os planos. Para assegurar a condenação de Jesus, muito dependiam do clamor da turba, composta em grande parte da escória de Jerusalém. Houvesse uma semana de delonga, e enfraqueceria a agitação, sendo possível surgir uma reação. A melhor parte do povo seria levantada a favor de Cristo; muitos se apresentariam com testemunhos em prol de Sua reivindicação, expondo as poderosas obras que fizera. Isso incitaria a indignação popular contra o Sinédrio. Seus processos seriam condenados, e Jesus posto em liberdade, para receber novas homenagens das multidões. Os sacerdotes e príncipes resolveram, pois, que, antes de seus desígnios serem conhecidos, Jesus fosse entregue nas mãos dos romanos. DTN 495 1 Antes de tudo, porém, era preciso encontrar uma acusação. Até então nada haviam conseguido. Anás ordenou que Jesus fosse conduzido a Caifás. Este pertencia aos saduceus, alguns dos quais eram agora os mais furiosos inimigos de Jesus. Ele próprio, conquanto lhe faltasse força de caráter, era positivamente tão severo, sem coração e inescrupuloso como Anás. Não haveria meios que não empregasse para destruir a Jesus. Era então de manhã bem cedo, ainda muito escuro; à luz de tochas e lanternas, o armado bando, com o Prisioneiro, pôs-se a caminho para o palácio do sumo sacerdote. Ali, enquanto se reuniam os membros do Sinédrio, Anás e Caifás tornaram a interrogar Jesus, mas sem êxito. DTN 495 2 Quando o conselho se ajuntara no tribunal, Caifás tomou seu lugar como presidente. De ambos os lados se achavam os juízes, e os que eram especialmente interessados no julgamento. Os soldados romanos estavam postados na plataforma abaixo do trono. Aos pés do mesmo, achava-Se Jesus. Sobre Ele se fixavam os olhares de toda a multidão. Intensa era a agitação. Ele só dentre a multidão estava calmo e sereno. A própria atmosfera que O rodeava parecia impregnada de santa influência. DTN 495 3 Caifás considerava Jesus como rival. A ansiedade do povo por ouvir o Salvador, e sua aparente prontidão para Lhe aceitar os ensinos, suscitaram os terríveis ciúmes do sumo sacerdote. Contemplando agora, porém, o Prisioneiro, ele foi tomado de admiração pela nobreza e dignidade de Seu porte. Sobreveio-lhe a convicção de que esse homem tinha parentesco divino. Logo a seguir baniu desdenhosamente essa idéia. Sua voz se fez ouvir imediatamente em tons zombeteiros e altivos, exigindo que Jesus operasse diante deles um de Seus poderosos milagres. Mas suas palavras caíram aos ouvidos do Salvador como se as não tivera escutado. O povo comparava a conduta desperta e maligna de Anás e Caifás com a serena, majestosa atitude de Jesus. No próprio espírito daquela endurecida multidão, surgiu a pergunta: Terá esse homem de aspecto divino que ser condenado como criminoso? DTN 495 4 Percebendo a influência que se estava exercendo, Caifás apressou o julgamento. Os inimigos de Jesus achavam-se em grande perplexidade. Estavam resolvidos a firmar Sua condenação, mas como consegui-lo, não o sabiam. Os membros do conselho estavam divididos entre fariseus e saduceus. Renhida animosidade e contenda reinava entre eles; não ousavam abordar certos pontos disputados, por temor de briga. Com poucas palavras poderia Cristo haver despertado os preconceitos de uns contra os outros, e teria assim desviado de Si a ira deles. Bem o sabia Caifás, e desejava evitar uma contenda. Havia numerosas testemunhas para provar que Cristo acusara os sacerdotes e escribas, que lhes chamara hipócritas e homicidas; mas esse testemunho, não era conveniente apresentar. Em suas cortantes disputas contra os fariseus, haviam-se os saduceus servido de idêntica linguagem. E tal testemunho não teria nenhuma força diante dos romanos, que estavam eles mesmos desgostosos com as pretensões dos fariseus. Havia abundantes provas de que Jesus desprezara a tradição dos judeus, e falara irreverentemente de muitas de suas ordenanças; mas quanto às tradições, fariseus e saduceus estavam de arma em riste entre si; e também essa prova nenhum peso teria quanto aos romanos. Os inimigos de Cristo não ousavam acusá-Lo de transgressor do sábado, para que um exame não revelasse o caráter de Sua obra. Fossem Seus milagres de cura trazidos à luz, e estaria derrotado o objetivo dos sacerdotes. DTN 496 1 Subornaram-se falsas testemunhas para acusarem a Jesus de incitar rebelião e buscar estabelecer um governo separado. Mas seus testemunhos se demonstraram vagos e contraditórios. Ao serem interrogados, falsearam suas próprias declarações. DTN 496 2 No princípio de Seu ministério, dissera Cristo: "Derribai este templo, e em três dias o levantarei." Na figurada linguagem da profecia, predissera assim Sua própria morte e ressurreição. "Ele falava do templo de Seu corpo". João 2:19, 21. Essas palavras compreenderam os judeus em seu sentido literal, como se referindo ao templo de Jerusalém. De tudo quanto Cristo dissera, não podiam os sacerdotes encontrar nada de que se servir contra Ele, a não ser isso. Torcendo essas palavras, esperavam tomar vantagem. Os romanos tinham-se empenhado em reconstruir e embelezar o templo, e dele muito se orgulhavam; qualquer desprezo a ele manifestado, incitar-lhes-ia certamente a indignação. Nisso tanto romanos como judeus, fariseus e saduceus estavam em harmonia; pois todos tinham o templo em grande veneração. A esse respeito, encontraram-se duas testemunhas cuja declaração não era contraditória como as das outras. Uma delas, que fora subornada para acusar Jesus, declarou: "Este disse: Eu posso derribar o templo de Deus e reedificá-lo em três dias." Assim eram desfiguradas as palavras de Cristo. Se fossem relatadas tais quais Ele as proferira, não teriam eles conseguido Sua condenação, nem mesmo por meio do Sinédrio. Fosse Jesus um simples homem, como os judeus pretendiam, Sua declaração haveria apenas indicado um espírito irrazoável, jactancioso, mas não poderia ter sido considerada blasfêmia. Mesmo torcidas pelas falsas testemunhas, essas palavras nada continham que pudesse ser olhado pelos romanos como crime digno de morte. DTN 496 3 Pacientemente escutava Jesus os contraditórios testemunhos. Nem uma palavra proferia em defesa própria. Por fim os acusadores viram-se emaranhados, confusos e enfurecidos. O julgamento não avançava: dir-se-ia que suas tramas iam fracassar. Caifás estava desesperado. Restava um único recurso; Cristo devia ser forçado a condenar a Si mesmo. O sumo sacerdote ergueu-se da cadeira de juiz, fisionomia transtornada pela paixão, indicando pela voz e as maneiras que, estivesse em seu poder, e abateria o Preso que se achava diante dele. "Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra Ti?" (Mateus 26:62) exclamou. DTN 497 1 Jesus guardou silêncio. "Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os Seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca". Isaías 53:7. DTN 497 2 Por fim Caifás, erguendo para o Céu a mão direita, dirigiu-se a Jesus na forma de um solene juramento: "Conjuro-Te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus". Mateus 26:63. DTN 497 3 Em face desse apelo não podia Cristo permanecer silencioso. Havia tempo de ficar mudo e tempo de falar. Não falara antes que fosse diretamente interrogado. Sabia que responder agora era tornar certa Sua morte. Mas o apelo era feito pela mais alta autoridade reconhecida da nação, e em nome do Altíssimo. Cristo não deixaria de mostrar o devido respeito pela lei. Mais ainda, Sua própria relação para com o Pai era invocada. Precisa declarar plenamente Seu caráter e missão. Dissera aos discípulos: "Qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos Céus". Mateus 10:32. Agora, pelo próprio exemplo, repetiu a lição. DTN 497 4 Todos os ouvidos se inclinaram para escutar, e todos os olhos se fixaram em Seu rosto, ao responder: "Tu o disseste." Uma luz celeste parecia iluminar-Lhe o pálido semblante, ao acrescentar: "Digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu". Mateus 26:64. DTN 497 5 Por um momento a divindade de Cristo irrompeu através do invólucro humano. O sumo sacerdote recuou diante do penetrante olhar do Salvador. Aquele olhar parecia ler-lhe os pensamentos ocultos, e arder-lhe no coração. Nunca, no resto de sua vida, esqueceu aquele perscrutador olhar do perseguido Filho de Deus. DTN 497 6 "Vereis em breve", disse Jesus, "o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu." Nessas palavras, apresentou Cristo o reverso da cena que então ocorria. Ele, o Senhor da vida e da glória, estaria sentado à destra de Deus. Seria o juiz de toda a Terra, e de Suas decisões não haveria apelação. Então tudo que estava oculto seria trazido à luz da presença divina, e o juízo feito sobre cada homem segundo as suas obras. DTN 497 7 As palavras de Cristo sobressaltaram o sumo sacerdote. A idéia de que haveria uma ressurreição de mortos, quando todos se achariam diante do tribunal de Deus, para ser recompensados segundo as suas obras, era um pensamento aterrador para Caifás. Ele não desejava crer que, no futuro, receberia sentença segundo as suas ações. Acudiram-lhe à mente, como um panorama, as cenas do juízo final. Por um momento viu o terrível espetáculo das sepulturas dando os seus mortos, com os segredos que eles esperavam estarem para sempre ocultos. Sentiu-se por um momento como à presença do eterno Juiz, cujo olhar, que vê todas as coisas, estava a ler-lhe a alma, trazendo à luz mistérios que supunha ocultos com os mortos. DTN 498 1 A cena desapareceu da visão do sacerdote. As palavras de Cristo o espicaçavam vivamente, a ele, o saduceu. Caifás negara a doutrina da ressurreição, do juízo e da vida futura. Ficou então enlouquecido por uma fúria satânica. Esse Homem, um preso diante dele, havia de atacar suas mais acariciadas teorias? Rasgando os vestidos, para que o povo visse o pretenso horror que experimentava, exigiu que, sem posteriores preliminares, fosse o Preso condenado por blasfêmia. "Para que precisamos ainda de testemunhas?" disse ele; "Eis que bem ouvistes agora a Sua blasfêmia. Que vos parece?" Mateus 26:65, 66. E todos O condenaram. DTN 498 2 A convicção, de mistura com a paixão, levou Caifás a agir como fez. Estava furioso consigo mesmo por crer nas palavras de Cristo e, em lugar de rasgar o coração sob um profundo sentimento da verdade e confessar ser Jesus o Messias, rasgou as vestes sacerdotais, em decidida resistência. Esse ato era de profunda significação. Mal compreendia Caifás o seu sentido. Nesse ato, realizado para influenciar os juízes e garantir a condenação de Cristo, condenara o sumo sacerdote a si mesmo. Pela lei divina estava desqualificado para o sacerdócio. Proferira sobre si mesmo a sentença de morte. DTN 498 3 O sumo sacerdote não devia rasgar as vestes. Pela lei levítica, isto era proibido sob pena de morte. Em circunstância alguma, em nenhuma ocasião, devia o sacerdote rasgar os vestidos. Era costume entre os judeus rasgar as vestes por morte de amigos, mas esse costume não deviam os sacerdotes observar. Por Cristo fora dada a Moisés ordem expressa sobre isto. Levítico 10:6. DTN 498 4 Tudo que era usado pelo sacerdote devia ser de uma só peça, e isento de defeito. Por aquelas belas vestes oficiais estava representado o caráter do grande protótipo, Jesus Cristo. Nada senão a perfeição, no vestuário e na atitude, na palavra e no espírito, podia ser aceitável a Deus. Ele é santo, e Sua glória e perfeição devem ser representadas pelo serviço terrestre. Coisa alguma senão a perfeição poderia representar devidamente a santidade do serviço celestial. Os homens finitos poderiam rasgar o próprio coração, mostrando espírito arrependido e humilde. Isso seria distinguido por Deus. Mas nenhum rasgão deveria ser feito no vestido sacerdotal, pois isso mancharia a representação das coisas celestiais. O sumo sacerdote que ousasse apresentar-se em sagrado ofício e empenhar-se no serviço do santuário, com as vestes rasgadas, era considerado como se tendo separado de Deus. Rasgando-as, excluíra a si mesmo de ser um personagem representativo. Não mais era aceito por Deus como sacerdote, em ofício. Essa maneira de agir de Caifás mostrava a paixão humana, a humana imperfeição. DTN 499 1 Rasgando as vestes, tornou Caifás de nenhum efeito a lei divina, para seguir a tradição dos homens. Uma lei de feitura humana estipulava que, em caso de blasfêmia, podia o sacerdote rasgar o vestido em horror pelo pecado, e ficar sem culpa. Assim era a lei divina anulada pelas dos homens. DTN 499 2 Cada ato do sumo sacerdote era observado com interesse pelo povo; e Caifás pensou causar efeito exibindo sua piedade. Nesse ato, porém, destinado a servir de acusação a Cristo, estava ultrajando Aquele de quem Deus dissera: "O Meu nome está nEle". Êxodo 23:21. Ele próprio estava blasfemando. Achando-se sob a condenação de Deus, proferiu sentença contra Cristo como blasfemo. DTN 499 3 Quando Caifás rasgou as vestes, esse ato significou o lugar que, para com Deus, os judeus ocupariam daí em diante, como nação. O povo outrora favorecido por Deus estava-se separando dEle, e se tornando rapidamente um povo rejeitado por Deus. Quando, sobre a cruz, Cristo exclamou: "Está consumado" (João 19:30), e o véu do templo se rasgou em dois, o Santo Vigia declarou que o povo judeu rejeitara Aquele que era o protótipo de todos os seus tipos, a substância de todas as suas sombras. Israel se divorciara de Deus. Bem podia então Caifás rasgar as vestes oficiais, que indicavam pretender ele ser representante do grande Sumo Sacerdote; pois não mais tinham elas qualquer significação para ele ou para o povo. Bem podia o sumo sacerdote rasgar as vestes em horror por si mesmo e pela nação. DTN 499 4 O Sinédrio declarara Jesus digno de morte; mas era contrário à nação judaica julgar um preso de noite. Numa condenação legal, coisa alguma se poderia fazer senão à luz do dia, e em plena sessão do conselho. Não obstante, o Salvador foi tratado então como criminoso condenado, e entregue para ser maltratado pelos mais baixos e vis da espécie humana. O palácio do sumo sacerdote circundava um pátio aberto, onde se haviam reunido os soldados e a multidão. Através desse pátio foi Jesus levado para a sala da guarda, encontrando de todo lado zombarias por Sua declaração de ser o Filho de Deus. Suas próprias palavras: "assentado à direita do Poder", "vindo sobre as nuvens do céu" (Mateus 26:64), eram escarnecedoramente repetidas. Enquanto Se achava na sala da guarda, esperando Seu julgamento legal, não foi protegido. A plebe ignorante vira a crueldade com que Ele fora tratado perante o concílio, aproveitando-se assim para manifestar todos os satânicos elementos de sua natureza. A própria nobreza e divindade de Cristo os provocara à fúria. Sua mansidão, inocência e paciência majestosas enchiam-nos de um ódio de satânica origem. A misericórdia e a justiça foram calcadas a pés. Nunca foi um criminoso tratado tão desumanamente como o foi o Filho de Deus. DTN 499 5 Mais viva angústia, no entanto, dilacerou o coração de Jesus; o golpe que mais profunda dor Lhe infligiu, não o poderia vibrar mão alguma inimiga. Enquanto Ele suportava, perante Caifás, a farsa de um julgamento, fora negado por um dos discípulos. DTN 500 1 Depois de abandonarem o Mestre no horto, dois dos discípulos ousaram seguir, a distância, a turba que levara Jesus preso. Esses discípulos eram Pedro e João. Os sacerdotes reconheceram João como bem conhecido discípulo de Jesus, e deram-lhe entrada na sala, esperando que, ao testemunhar a humilhação de seu guia, desdenharia ele a idéia de ser uma pessoa assim o Filho de Deus. João falou em favor de Pedro, conseguindo entrada para ele também. DTN 500 2 No pátio fora feito um fogo; pois era a hora mais fria da noite, mesmo antes do amanhecer. Um grupo estava reunido perto do fogo, e Pedro tomou presunçosamente lugar no mesmo. Não desejava ser reconhecido como discípulo de Cristo. Misturando-se descuidosamente com a multidão, esperava ser tomado por algum dos que levaram Jesus para a sala. DTN 500 3 Ao incidir, porém, a luz no rosto de Pedro, a porteira lançou-lhe um penetrante olhar. Notara que ele tinha entrado com João, observara-lhe na fisionomia o abatimento e pensou que poderia ser um discípulo de Cristo. Ela era uma das servas da casa de Caifás, e estava curiosa. Disse a Pedro: "Não és também um dos Seus discípulos?" Pedro sobressaltou-se e ficou confuso; instantaneamente se fixaram nele os olhares do grupo. Fingiu não a compreender, mas ela insistiu e disse aos que a rodeavam que esse homem estava com Jesus. Pedro sentiu-se forçado a replicar e disse, zangado: "Mulher, não O conheço". Lucas 22:57. Foi a primeira negação, e imediatamente o galo cantou. DTN 500 4 Ó! Pedro tão depressa envergonhado de teu Mestre! tão pronto a negar a teu Senhor! DTN 500 5 O discípulo João, entrando na sala do julgamento, não buscou ocultar ser seguidor de Jesus. Não se misturou com o rude grupo que estava injuriando o Mestre. Não foi interrogado; pois não assumiu um falso caráter, tornando-se assim objeto de suspeita. Procurou um canto retirado, ao abrigo dos olhares da multidão, mas o mais próximo possível de Jesus. Ali podia ver e ouvir tudo que ocorresse no julgamento de seu Senhor. DTN 500 6 Pedro não pretendia dar a conhecer sua verdadeira identidade. Ao assumir ar de indiferença, colocara-se no terreno do inimigo, tornando-se fácil presa da tentação. Houvesse ele sido chamado a combater por seu Mestre, e teria sido um corajoso soldado; ao ser, porém, apontado pelo dedo do escárnio, demonstrou-se covarde. Muitos que não recuam diante da luta ativa por seu Senhor, são, em face do ridículo, levados a negar sua fé. Associando-se com aqueles a quem deviam evitar, colocam-se no caminho da tentação. Convidam o inimigo a tentá-los, e são levados a dizer e fazer coisas de que, sob outras circunstâncias, nunca se tornariam culpados. O discípulo de Cristo que, em nossos dias, disfarça sua fé por temor de sofrimento ou ignomínia, nega a seu Senhor tão realmente como o fez Pedro na sala do julgamento. DTN 501 1 Pedro procurou não manifestar interesse no julgamento do Mestre, mas tinha o coração confrangido de dor ao ouvir as cruéis zombarias e ver os maus-tratos que Ele estava sofrendo. Mais ainda, estava surpreendido e irritado de que Jesus assim Se humilhasse a Si e a Seus seguidores, submetendo-Se a esse tratamento. A fim de ocultar o que na verdade sentia, procurou unir-se aos perseguidores de Jesus em seus intempestivos gracejos. Seu aspecto, no entanto, não era natural. Estava representando uma mentira, e conquanto procurasse falar despreocupadamente, não podia suster expressões de indignação ante os abusos acumulados contra o Mestre. DTN 501 2 Pela segunda vez foi a atenção chamada para ele, sendo novamente acusado de ser seguidor de Jesus. Declarou então, com juramento: "Não conheço tal homem." Outra oportunidade lhe foi dada ainda. Passara-se uma hora, quando um dos servos do sumo sacerdote, sendo parente próximo do homem cuja orelha Pedro cortara, lhe perguntou: "Não te vi eu no horto com Ele?" "Também este verdadeiramente estava com Ele, pois também é galileu." "Tua fala te denuncia." Diante disso Pedro se exaltou. Os discípulos de Jesus eram notados pela pureza da linguagem, e para enganar bem a seus interlocutores e justificar o aspecto que assumira, Pedro negou então ao Mestre com imprecação e juramento. Novamente o galo cantou. Pedro o ouviu então e lembrou as palavras de Jesus: "Antes que o galo cante duas vezes, três vezes Me negarás". Marcos 14:30. DTN 501 3 Quando os degradantes juramentos acabavam de sair dos lábios de Pedro e o penetrante canto do galo lhe ressoava ainda no ouvido, o Salvador voltou-Se dos severos juízes, olhando em cheio ao pobre discípulo. Ao mesmo tempo os olhos de Pedro eram atraídos para o Mestre. Naquele suave semblante leu ele profunda piedade e tristeza; nenhuma irritação, porém, se via ali. DTN 501 4 A vista daquele rosto pálido e sofredor, daqueles trêmulos lábios, daquele olhar compassivo e cheio de perdão, penetrou-lhe a alma como uma seta. Despertou-se a consciência. Ativou-se a memória. Pedro recordou sua promessa de poucas horas antes, de que havia de ir com seu Senhor à prisão e à morte. Lembrou-se de seu desgosto quando, no cenáculo, Ele lhe dissera que havia de negar seu Senhor três vezes naquela noite. Pedro acabava mesmo de declarar que não conhecia a Jesus, mas compreendia agora com amarga dor quão bem o Senhor o conhecia e quão exatamente lhe lera o coração, cuja falsidade nem ele próprio conhecia. DTN 501 5 Acudiram-lhe recordações em tropel. A terna misericórdia do Salvador, Sua bondade e longanimidade, Sua brandura e paciência para com os errantes discípulos -- tudo lhe veio à memória. Lembrou a advertência: "Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça". Lucas 23:31, 32. Refletiu com horror em sua própria ingratidão, falsidade, perjúrio. Olhou uma vez mais para o Mestre, e viu sacrílega mão levantada para Lhe bater na face. Incapaz de suportar por mais tempo a cena, precipitou-se, coração quebrantado, para fora da sala. DTN 502 1 E avançou, pela solidão e a treva, sem saber nem cuidar para onde. Encontrou-se, enfim, no Getsêmani. A cena de poucas horas antes acudiu-lhe vivamente à memória. O rosto sofredor de Jesus, manchado de sanguinolento suor e convulsionado pela agonia, surgiu diante dele. Lembrou-se com atroz remorso que Ele chorara e Se angustiara sozinho em oração, ao passo que os que se Lhe deviam ter unido naquela probante hora estavam adormecidos. Lembrou-Lhe a solene recomendação: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação". Mateus 26:41. Testemunhou novamente a cena na sala do julgamento. Foi-lhe tortura ao coração a sangrar, saber que ajuntara o maior peso à humilhação e pesar do Salvador. No próprio lugar em que Jesus derramara a alma em agonia perante o Pai, Pedro caiu sobre o rosto e desejou morrer. DTN 502 2 Fora por dormir quando Jesus lhe recomendara vigiar e orar, que Pedro preparara o caminho para seu grande pecado. Todos os discípulos, dormindo na hora crítica, sofreram grande dano. Cristo sabia a cruel prova por que eles haviam de passar. Sabia como Satanás havia de agir para lhes paralisar os sentidos, a fim de se acharem desapercebidos para a prova. Fora por isso que lhes dera aviso. Houvessem aquelas horas no horto sido passadas em vigília e oração, e Pedro não teria ficado dependente de suas débeis forças. Não teria negado a seu Senhor. Houvessem os discípulos velado com Cristo em Sua agonia, e estariam preparados para Lhe contemplar os sofrimentos na cruz. Teriam compreendido, até certo ponto, a natureza de Sua avassaladora angústia. Teriam podido recordar-Lhe as palavras predizendo os sofrimentos, a morte e a ressurreição. Entre as sombras da mais probante hora, alguns raios de esperança teriam aclarado as trevas e lhes sustido a fé. DTN 502 3 Assim que se fez dia, o Sinédrio tornou a reunir-se, e outra vez foi Jesus levado à sala do conselho. Declarara-Se Filho de Deus, e tinham feito Suas palavras uma acusação contra Ele. Mas não O podiam condenar por isso, pois muitos deles não se achavam presentes à sessão da noite, e não Lhe tinham ouvido as palavras. E sabiam que o tribunal romano não veria nelas coisa alguma digna de morte. Mas se eles todos Lhe pudessem ouvir dos próprios lábios repetidas aquelas palavras, talvez conseguissem seu objetivo. Sua reivindicação ao messiado, poderiam interpretar como pretensão política, sediciosa. DTN 502 4 "És Tu o Cristo?" perguntaram, "dize-no-lo." Mas Cristo permaneceu silencioso. Continuaram a importuná-Lo com perguntas. Por fim, com doloroso, comovedor acento, respondeu: "Se vo-lo disser, não o crereis; e também, se vos perguntar não Me respondereis, nem Me soltareis." Mas para que ficassem sem desculpa, ajuntou a solene advertência: "Desde agora o Filho do homem Se assentará à direita do poder de Deus." DTN 503 1 "Logo, és Tu o Filho de Deus?" perguntaram todos a uma voz. Disse-lhes Ele: "Vós dizeis que Eu sou." Exclamaram: "De que mais testemunho necessitamos? pois nós mesmos o ouvimos de Sua boca". Lucas 22:67-71. DTN 503 2 E assim, pela terceira condenação das autoridades judaicas, Jesus devia morrer. Tudo quanto se fazia então necessário, pensavam, era que os romanos ratificassem a condenação, e Lho entregassem nas mãos. DTN 503 3 Ocorreu então a terceira cena de maus-tratos e zombaria, pior ainda do que a que fora recebida da plebe ignorante. Fez-se isso na própria presença dos sacerdotes e principais, e com a sanção deles. Todo sentimento de simpatia humana lhes desaparecera do coração. Se eram francos os seus argumentos e não Lhe conseguiam abafar a voz, tinham outras armas, as mesmas usadas em todos os séculos para fazer calar os hereges -- sofrimentos, violência e morte. DTN 503 4 Ao ser proferida pelos juízes a condenação de Jesus, uma fúria satânica apoderou-se do povo. Os gritos assemelhavam-se ao rugido de feras. A multidão precipitou-se para Jesus, bradando: É culpado, seja morto! Não fossem os soldados romanos, e Jesus não teria vivido para ser pregado na cruz do Calvário. Teria sido despedaçado perante os juízes, não houvesse a autoridade romana interferido, restringindo, pela força das armas, a violência da turba. DTN 503 5 Pagãos indignaram-se ante o brutal tratamento infligido a uma pessoa contra quem coisa alguma fora provada. Os oficiais romanos declararam que os judeus, sentenciando a Jesus, estavam infringindo o poder romano, e que era mesmo contra a lei judaica condenar um homem sobre seu próprio testemunho. Essa intervenção produziu momentâneo amainar nos acontecimentos; mas os guias judeus estavam mortos tanto para a piedade como para a vergonha. DTN 503 6 Os sacerdotes e os principais esqueceram a dignidade de seu cargo, e maltrataram o Filho de Deus com vis epítetos. Escarneceram dEle por causa de Sua filiação. Declararam que Sua presunção em Se proclamar o Messias, tornava-O merecedor da mais ignominiosa morte. Os mais dissolutos homens empenharam-se em infames maus-tratos contra o Salvador. Foi-Lhe jogado à cabeça um pano velho, e Seus perseguidores batiam-Lhe no rosto, dizendo: "Profetiza-nos, Cristo, quem é o que Te bateu?" Lucas 22:64. Ao ser tirado o pano, um pobre infeliz cuspiu-Lhe no rosto. DTN 503 7 Os anjos de Deus registraram fielmente todo insultuoso olhar, palavra e ato contra seu bem-amado Comandante. Um dia, os homens vis que zombaram de Cristo e Lhe cuspiram no pálido e sereno rosto, hão de vê-Lo em Sua glória, resplandecendo mais brilhante que o Sol. ------------------------Capítulo 76 -- Judas DTN 504 1 A história de Judas apresenta o triste fim de uma vida que poderia ter sido honrada por Deus. Houvesse Judas morrido antes de sua última viagem a Jerusalém, e teria sido considerado digno de um lugar entre os doze, e cuja falta muito se faria sentir. A aversão que o tem acompanhado através dos séculos não teria existido, não fossem os atributos revelados ao fim de sua história. Havia, porém, um desígnio em ser seu caráter exposto perante o mundo. Seria uma advertência para todos quantos, como ele, traíssem sagrados depósitos. DTN 504 2 Pouco antes da páscoa, Judas renovara seu trato com os sacerdotes para entregar Jesus. Combinou-se então que o Salvador fosse aprisionado, imediatamente, no retiro aonde costumava ir para orar e meditar. Desde a festa em casa de Simão tivera Judas oportunidade de refletir no ato que concordara praticar, mas seu propósito ficou imutável. Por trinta moedas de prata -- o preço de um escravo -- vendeu o Senhor da glória para a ignomínia e a morte. DTN 504 3 Judas tinha naturalmente grande amor ao dinheiro; mas não fora sempre bastante corrupto para praticar um ato como esse. Alimentara o mau espírito de avareza até que se lhe tornara o motivo dominante na vida. O amor de Mamom sobrepujara o amor de Cristo. Tornando-se escravo de um vício, entregou-se a Satanás, para ser impelido a toda extensão do pecado. DTN 504 4 Judas unira-se aos discípulos, quando as multidões seguiam a Cristo. Os ensinos do Salvador lhes tocavam o coração enquanto, suspensos de Seus lábios, escutavam o que dizia na sinagoga, à margem do lago, sobre o monte. Judas via os doentes, os coxos, os cegos aglomerarem-se em torno de Jesus, vindos de aldeias e cidades. Via os moribundos que Lhe depunham aos pés. Testemunhava as poderosas obras do Salvador, na cura dos enfermos, na expulsão de demônios, na ressurreição de mortos. Experimentava em si mesmo o testemunho do poder de Cristo. Reconhecia serem Seus ensinos superiores a tudo quanto ouvira anteriormente. Amava o grande Mestre, e anelava estar com Ele. Tivera desejo de ser transformado no caráter e na vida, e esperava experimentar isso mediante sua ligação com Jesus. O Salvador não repelira Judas. Dera-lhe lugar entre os doze. Confiou-lhe a obra de evangelista. Dotou-o de poder para curar os doentes e expulsar os demônios. Mas Judas não chegou ao ponto de render-se inteiramente a Cristo. Não renunciou as suas ambições terrenas, nem a Seu amor ao dinheiro. Ao passo que aceitava a posição de ministro de Cristo, não se colocou no divino molde. Achava que podia reter seus próprios juízos e opiniões, e cultivou a disposição de criticar e acusar. DTN 505 1 Judas era altamente considerado pelos discípulos, e exercia sobre eles grande influência. Tinha em elevada estima as próprias aptidões, e considerava seus irmãos como muito inferiores a si, no discernimento e na capacidade. Não viam suas oportunidades, pensava, nem se aproveitavam das circunstâncias. A igreja nunca prosperaria tendo como guias homens de vistas assim curtas. Pedro era impetuoso; agia sem consideração. João, que entesourava as verdades caídas dos lábios de Cristo, era olhado por Judas como um fraco financista. Mateus, cujo preparo lhe ensinara a ser exato em tudo, era tão meticuloso em questões de honestidade e estava sempre pensando nas palavras de Cristo, absorvendo-se com elas por tal forma que, segundo o juízo de Judas, não era de confiar que fosse capaz de agir com argúcia e vasto alcance nos negócios. Assim passava Judas em revista todos os discípulos, e lisonjeava-se de que a igreja se veria muitas vezes em perplexidades e apuros, não fora sua habilidade como administrador. Considerava-se o capaz, o inexcedível. Era, em sua própria estima, uma honra para a causa, e como tal se apresentava sempre. DTN 505 2 Judas estava cego para a fraqueza de seu caráter, e Cristo o colocou onde pudesse ter oportunidade de ver e corrigir isso. Como tesoureiro dos discípulos, era chamado a providenciar quanto às pequeninas necessidades do grupozinho, e a suprir as faltas dos pobres. Quando, no cenáculo, Jesus lhe disse: "O que fazes, fá-lo depressa" (João 13:27), pensaram os discípulos que Ele lhe pedira que comprasse o que era preciso para a festa, ou que desse qualquer coisa aos pobres. Servindo aos outros, Judas poderia haver desenvolvido espírito abnegado. Mas ao passo que ouvia diariamente as lições de Cristo e Lhe testemunhava a vida isenta de egoísmo, Judas condescendia com sua disposição cobiçosa. As pequenas quantias que lhe chegavam às mãos eram uma tentação contínua. Muitas vezes, ao prestar qualquer serviçozinho a Cristo, ou dedicar tempo a fins religiosos, remunerava-se à custa desses poucos fundos. Esses pretextos serviam a seus olhos de escusa para a ação que praticava; perante Deus, porém, era ladrão. DTN 505 3 A tantas vezes repetida declaração de Cristo de que Seu reino não era deste mundo, irritava Judas. Estabelecera um limite de espera à obra de Jesus. Em seus cálculos, João Batista devia ser libertado da prisão. Mas eis que foi permitido ser ele degolado. E Jesus, em vez de afirmar seu direito real e vingar a morte de João, retirou-Se com os discípulos para um lugar no campo. Judas queria uma luta mais agressiva. Pensava que, se Jesus não impedisse os discípulos de executar os próprios planos, a obra seria mais bem-sucedida. Observava a crescente inimizade dos guias judaicos, e viu seus desafios desprezados quando pediram a Cristo um sinal do Céu. Abriu-se-lhe o coração à incredulidade, e o inimigo forneceu pensamentos de dúvida e rebelião. Por que Jesus Se demorava tanto em coisas desanimadoras? Por que predizia provas e perseguições para Si mesmo e para os discípulos? A perspectiva de um lugar de honra levara Judas a desposar a causa de Cristo. Viriam suas esperanças a ser decepcionadas? Judas não chegara à conclusão de que Jesus não fosse o Filho de Deus; mas estava duvidando e procurando alguma explicação para Suas poderosas obras. DTN 506 1 Não obstante os próprios ensinos do Salvador, Judas estava continuamente fomentando a idéia de que Ele havia de governar como Rei em Jerusalém. Na alimentação dos cinco mil, procurou promover isso. Nessa ocasião Judas ajudou na distribuição do alimento à multidão faminta. Teve oportunidade de ver o benefício que estava em seu poder fazer aos outros. Experimentou a satisfação que sempre acompanha o serviço para Deus. Auxiliou a levar a Jesus os enfermos dentre a multidão. Viu que alívio, que alegria e satisfação sobrevêm ao coração humano mediante o poder de curar do Restaurador. Poderia ter compreendido os métodos de Cristo. Mas cegavam-no seus desejos egoístas. Judas foi o primeiro a aproveitar-se do entusiasmo despertado pelo milagre dos pães. Foi ele que arquitetou o plano de apoderar-se de Cristo à força e fazê-Lo rei. Altas eram suas esperanças. Amarga sua decepção. DTN 506 2 O discurso de Cristo na sinagoga a respeito do pão da vida, foi a crise na vida de Judas. Ouviu as palavras: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos". João 6:53. Viu que Cristo oferecia bens espirituais em vez de terrenos. Julgava enxergar longe, e pensou poder ver que Jesus não teria honras, e não poderia conceder altas posições a Seus seguidores. Decidiu não se unir a Cristo tão intimamente que não se pudesse retirar. Vigiaria. E assim fez. DTN 506 3 Daquele tempo em diante, exprimia dúvidas que confundiam os discípulos. Introduzia controvérsias e extraviados sentimentos, empregando os argumentos apresentados pelos escribas e fariseus contra as reivindicações de Cristo. Todas as pequenas e grandes aflições e contrariedades, as dificuldades e aparentes obstáculos ao avançamento do evangelho, Judas interpretava como testemunhos contra sua veracidade. Apresentava textos da Escritura que não tinham nenhuma ligação com as verdades que Cristo estava expondo. Essas passagens, separadas de seu contexto, deixavam os discípulos perplexos, acrescentando o desânimo que os assaltava de contínuo. Todavia, tudo isso era feito por Judas de maneira a parecer que era consciencioso. E ao passo que os discípulos estavam em busca de provas que confirmassem as palavras do grande Mestre, Judas, quase imperceptivelmente, os queria levar para outro rumo. Assim, de modo muito religioso e aparentemente sábio, estava apresentando as coisas sob aspecto diverso daquele em que Cristo as expusera, e emprestando a Suas palavras um sentido que Ele não lhes dera. Suas sugestões estavam sempre despertando desejos ambiciosos de vantagens temporais, desviando assim os discípulos dos importantes assuntos que deveriam ter considerado. A dissensão quanto a qual deles devia ser o maior, era geralmente despertada por Judas. DTN 507 1 Quando Jesus apresentou ao jovem rico as condições do discipulado, Judas ficou desgostoso. Pensou que se cometera um erro. Se homens como esse rico príncipe se unissem aos crentes, ajudariam a manter a causa de Cristo. Se ao menos ele, Judas, fosse admitido como conselheiro, pensava, poderia sugerir muitos planos para prosperidade da pequenina igreja. Seus princípios e métodos haviam de diferir um tanto dos de Cristo, mas nessas coisas se julgava mais sábio do que Jesus. DTN 507 2 Em tudo quanto Cristo dizia aos discípulos, havia qualquer coisa com a qual, no coração, Judas não concordava. Sob sua influência fazia rápidos progressos o fermento da deslealdade. Os discípulos não percebiam em tudo isso o verdadeiro agente; mas Jesus via que Satanás estava comunicando a Judas os seus atributos, e abrindo assim um conduto mediante o qual viria a influenciar os outros discípulos. Isso declarara Cristo um ano antes da traição. "Não os escolhi a vós os doze?" disse Ele, "um de vós é um diabo". João 6:70. DTN 507 3 Todavia, Judas não fazia oposição aberta, nem parecia duvidar das lições do Salvador. Não murmurou exteriormente até o tempo da festa em casa de Simão. Quando Maria ungiu os pés do Salvador, Judas manifestou sua disposição cobiçosa. Ante a reprovação de Jesus, o espírito pareceu tornar-se-lhe em fel. Orgulho ferido e desejo de vingança romperam as barreiras, e dominou-o a ganância com que por tanto tempo condescendera. Será essa a experiência de todo aquele que persistir em contemporizar com o pecado. Os elementos de depravação a que não se resiste, ou que não são vencidos, correspondem à tentação de Satanás, e a alma é levada cativa à sua vontade. DTN 507 4 Mas Judas ainda não estava de todo endurecido. Mesmo depois de se ter duas vezes comprometido a trair seu Salvador, havia oportunidade de arrependimento. À ceia pascoal Jesus provou Sua divindade, ao revelar os desígnios do traidor. Incluiu ternamente a Judas no serviço prestado aos discípulos. Mas o último apelo de amor foi desatendido. Então o caso de Judas ficou decidido, e os pés que Jesus lavou saíram para ir fazer a obra do traidor. DTN 507 5 Judas raciocinava que, se Jesus devia ser crucificado, o acontecimento se havia de dar. Seu próprio ato em trair o Salvador não mudaria o resultado. Se Jesus não devia morrer, isso apenas O forçaria a Se livrar. Fosse como fosse, Judas lucraria alguma coisa por sua traição. Julgava haver feito um inteligente negócio em trair seu Senhor. DTN 507 6 Judas não acreditava, entretanto, que Cristo Se deixasse prender. Traindo-O, intentava dar-Lhe uma lição. Pretendia desempenhar um papel, que daí em diante, tornaria o Salvador cuidadoso quanto a tratá-lo com o devido respeito. Mas Judas não sabia que estava entregando Cristo à morte. Quantas vezes, ao ensinar o Salvador por parábolas, não ficaram os escribas e fariseus arrebatados com Suas vivas ilustrações! Quantas vezes proferiram a sentença contra si mesmos! Freqüentemente, ao penetrar-lhes a verdade no coração, se encheram de cólera e pegaram em pedras para Lhe atirarem; mas uma e outra vez Ele escapara. Já que Se esquivara a tantas armadilhas, pensava Judas, não havia por certo de permitir agora ser aprisionado. DTN 508 1 Judas decidiu pôr a questão à prova. Se Jesus era na verdade o Messias, o povo, por quem Ele tanto fizera, reunir-se-Lhe-ia em torno e O proclamaria rei. Isso viria fixar muitos espíritos então na incerteza. Judas teria a honra de haver colocado o rei no trono de Davi. E esse ato lhe asseguraria a primeira posição, depois de Cristo, no novo reino. DTN 508 2 O falso discípulo representou seu papel em trair a Jesus. No horto, quando disse aos guias da turba: "O que eu beijar, é Esse; prendei-O" (Mateus 26:48), acreditava plenamente que Cristo escaparia das mãos deles. Então, se o censurassem, poderia dizer: Não vos disse que O prendêsseis? DTN 508 3 Judas viu os aprisionadores de Cristo, agindo sobre suas palavras, ligarem-nO firmemente. Viu, com espanto, que o Salvador suportava que O levassem. Seguiu-O ansiosamente do horto ao julgamento perante os príncipes judaicos. A cada movimento, esperava que Ele surpreendesse os inimigos, apresentando-Se diante deles como Filho de Deus e reduzindo a nada todos os seus tramas e poder. Mas, à medida que passava hora após hora, e Jesus Se submetia a todos os maus-tratos sobre Ele acumulados, apoderou-se do traidor o terrível temor de que tivesse vendido seu Mestre para a morte. DTN 508 4 Ao aproximar-se o julgamento do fim, não mais podia Judas suportar a tortura de sua consciência culpada. De súbito soou pela sala uma voz rouca, que produziu em todos os corações uma reação de terror: Ele é inocente; poupa-O, ó Caifás! DTN 508 5 Viu-se então a alta figura de Judas, comprimindo-se por entre a sobressaltada multidão. Tinha o rosto pálido e decomposto, e borbulhavam-lhe na fronte grandes gotas de suor. Precipitando-se para o trono do juízo, atirou perante o sumo sacerdote as moedas de prata, preço de sua traição a seu Senhor. Agarrando ansiosamente as vestes de Caifás, implorou-lhe que soltasse Jesus, declarando que Ele nada fizera digno de morte. Caifás repeliu-o zangado, mas ficou confuso e não sabia que dizer. Revelara-se a perfídia dos sacerdotes. Era evidente que tinham subornado o discípulo para trair o Mestre. DTN 508 6 "Pequei", gritou Judas, "traindo o sangue inocente." Mas o sumo sacerdote, readquirindo o domínio de si mesmo, respondeu desdenhosamente: "Que nos importa? Isso é contigo". Mateus 27:4. Os sacerdotes tinham estado dispostos a fazer de Judas seu instrumento; desprezaram-lhe, porém, a baixeza. Ao volver para eles com sua confissão, desdenharam-no. DTN 509 1 Judas lançou-se então aos pés de Jesus, reconhecendo-O como o Filho de Deus e suplicando-Lhe que livrasse a Si mesmo. O Salvador não repreendeu o traidor. Sabia que Judas não se arrependera; sua confissão era tirada à força de uma alma culpada por um terrível sentimento de condenação e expectativa de juízo, mas não sentia profundo e quebrantador pesar por haver traído o imaculado Filho de Deus, e negado o Santo de Israel. Todavia, Jesus não proferiu nenhuma palavra de condenação. Olhou piedosamente para Judas, dizendo: "Para esta hora vim Eu ao mundo". João 18:37. DTN 509 2 Um murmúrio de surpresa passou pelo auditório. Viram com espanto a paciência de Cristo para com o traidor. Novamente os empolgou a convicção de que esse Homem era mais que um mortal. Se era o Filho de Deus, porém, perguntavam, por que não Se libertava das cadeias e triunfava sobre Seus acusadores? DTN 509 3 Judas viu que suas súplicas eram em vão e precipitou-se da sala, exclamando: É tarde! É tarde! Sentiu que não poderia viver para ver Jesus crucificado e, em desespero, foi enforcar-se. DTN 509 4 Mais tarde, naquele mesmo dia, a caminho da sala de Pilatos para o Calvário, houve uma interrupção nos gritos e zombaria da turba ímpia que levava Jesus ao lugar da crucifixão. Ao passarem por local retirado, viram ao pé de uma árvore, sem vida, o corpo de Judas. Era uma cena horripilante. Seu peso rompera a corda em que se pendurara à árvore. Ao cair, rebentara-se-lhe terrivelmente o corpo, e cães o estavam agora devorando. Seus restos foram imediatamente enterrados e ocultos às vistas; houve, porém, menos escárnios entre a turba e muitos rostos pálidos revelavam os pensamentos interiores. A retribuição parecia visitar já os que eram culpados do sangue de Jesus. ------------------------Capítulo 77 -- Na sala de julgamento de Pilatos DTN 510 0 Este capítulo é baseado em Mateus 27:2, 11-31; Marcos 15:1-20; Lucas 23:1-25; João 18:28-40; 19:1-16. DTN 510 1 Na sala de julgamento de Pilatos, o governador romano, acha-Se Cristo, atado como um preso. Em torno dEle está a guarda de soldados, e a sala enche-se rapidamente de espectadores. Logo fora da entrada encontram-se os juízes do Sinédrio, sacerdotes, príncipes, anciãos e povo. DTN 510 2 Depois de condenar a Jesus, o conselho do Sinédrio fora ter com Pilatos, a fim de obter a confirmação da sentença e sua execução. Mas esses oficiais judeus não queriam entrar no tribunal romano. Segundo sua lei cerimonial, ficariam assim contaminados e, portanto, impedidos de tomar parte na festa da páscoa. Não viam, em sua cegueira, que o ódio assassino lhes contaminava o coração. Não viam que Cristo era o verdadeiro cordeiro pascoal e que, uma vez que O rejeitaram, para eles perdera a grande festa sua significação. DTN 510 3 Ao ser o Salvador levado para o tribunal, não foi com bons olhos que Pilatos O contemplou. O governador romano fora chamado à pressa de sua câmara, e decidiu fazer o trabalho o mais rapidamente possível. Estava preparado para tratar o Preso com o rigor do magistrado. Assumindo a mais severa expressão, voltou-se para ver que espécie de homem tinha de interrogar, por causa do qual fora assim tão cedo despertado de seu repouso. Sabia que havia de ser alguém a quem as autoridades judaicas estavam ansiosas por ver julgado e punido quanto antes. DTN 510 4 Pilatos olhou para o homem que guardava Jesus, e depois seu olhar pousou perscrutadoramente no mesmo Jesus. Tivera de tratar com todas as espécies de criminosos; mas nunca antes fora levado a sua presença um homem com tais traços de bondade e nobreza. Não via em Seu semblante nenhum vestígio de culpa, nenhuma expressão de temor, nada de ousadia ou desafiadora atitude. Viu um homem de aspecto calmo e digno, cujo rosto não apresentava os estigmas do criminoso, mas o cunho do Céu. DTN 510 5 O aspecto de Cristo produziu favorável impressão em Pilatos. Foi despertado o lado melhor de sua natureza. Ouvira falar de Jesus e Suas obras. Sua esposa contara-lhe alguma coisa dos maravilhosos feitos realizados pelo Profeta galileu, que curara os doentes e ressuscitara os mortos. Agora, como se fora um sonho, isso se reavivou na memória de Pilatos. Recordou boatos que ouvira de várias fontes. Decidiu indagar dos judeus quais suas acusações contra o Preso. DTN 511 1 Quem é esse Homem, e para que O trouxestes? disse ele. Que acusações trazeis contra Ele? Os judeus ficaram desconcertados. Sabendo que não lhes era possível comprovar as acusações que tinham contra Cristo, não desejavam um interrogatório público. Disseram que era um enganador chamado Jesus de Nazaré. DTN 511 2 Novamente perguntou Pilatos: "Que acusações trazeis contra este Homem?" João 18:29. Os sacerdotes não lhe responderam à pergunta, mas, em palavras que manifestavam sua irritação, disseram: "Se Este não fosse malfeitor, não To entregaríamos". João 18:30. Quando os que compõem o Sinédrio, os primeiros homens da nação, te trazem um homem que julgam digno de morte, haverá necessidade de pedir uma acusação contra ele? Esperavam impressionar Pilatos com o sentimento da importância deles, levando-o assim a concordar ao seu pedido sem muitos preliminares. Estavam ansiosos por ver ratificada a sentença; pois sabiam que o povo que testemunhara as maravilhosas obras de Cristo poderia contar uma história muito diversa da invenção que agora repetiam. DTN 511 3 Os sacerdotes pensavam que, com o fraco e vacilante Pilatos, poderiam sem dificuldade executar seus planos. Anteriormente, assinara, precipitado, sentenças de morte, condenando homens que sabiam não serem dignos disso. Em sua estimação, de pouca importância era a vida de um preso; se inocente ou culpado, não era de especial conseqüência. Os sacerdotes esperavam que Pilatos infligisse agora a pena de morte a Jesus, sem O ouvir. Isso pediram como favor por ocasião de sua grande festa nacional. DTN 511 4 Havia, porém, no Preso qualquer coisa que inibiu Pilatos de assim proceder. Não ousou fazê-lo. Leu o desígnio dos sacerdotes. Lembrou-se de como, não fazia muito, Jesus ressuscitara a Lázaro, um homem que estivera morto por quatro dias; e decidiu saber, antes de assinar a sentença de condenação, quais eram as acusações contra Ele, e se podiam ser provadas. DTN 511 5 Se vosso juízo é suficiente, disse ele, por que trazeis a mim o Preso? "Levai-O vós, e julgai-O segundo a vossa lei". João 18:31. Assim apertados, os sacerdotes disseram que já haviam sentenciado a Jesus, mas que era preciso a sentença de Pilatos para dar validade a sua condenação. Qual é vossa sentença? perguntou Pilatos. A de morte, responderam, mas não nos é lícito condenar ninguém à morte. Pediram a Pilatos que aceitasse a palavra deles quanto à culpabilidade de Cristo, e cumprisse a sentença que haviam dado. Tomariam a responsabilidade do resultado. DTN 511 6 Pilatos não era juiz justo ou consciencioso; mas fraco como era em poder moral, recusou conceder essa petição. Não condenaria Jesus enquanto não fosse apresentada acusação contra Ele. DTN 511 7 Os sacerdotes encontravam-se num dilema. Viam que deviam encobrir sua hipocrisia sob o mais espesso véu. Não deviam permitir a impressão de que Cristo fora preso por motivos religiosos. Fosse isso apresentado como razão, e seu procedimento não teria nenhum valor para com Pilatos. Precisavam fazer parecer que Jesus estava trabalhando contra a lei comum; então poderia ser castigado como ofensor político. Tumultos e insurreições contra o governo romano surgiam de contínuo entre os judeus. Os romanos haviam procedido muito rigorosamente para com essas revoltas, e estavam sempre alerta para reprimir qualquer coisa que pudesse levar a uma insurreição. DTN 512 1 Havia poucos dias apenas os fariseus tinham procurado enredar Cristo com a pergunta: "É-nos lícito dar tributo a César ou não?" Mateus 22:17. Mas Cristo lhes revelara a hipocrisia. Os romanos que se achavam presentes assistiram ao fracasso completo dos intrigantes, e seu desconcerto ante a resposta: "Dai pois a César o que é de César". Lucas 20:22-25. DTN 512 2 Agora os sacerdotes pensaram fazer parecer que, nessa ocasião, Cristo ensinara segundo esperavam que Ele ensinasse. Em seu apuro, chamaram falsas testemunhas para os ajudar, "e começaram a acusá-Lo, dizendo: Havemos achado Este, pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que Ele mesmo é Cristo, o rei". Três acusações, cada uma destituída de fundamento. Os sacerdotes sabiam isso, mas estavam dispostos a jurar falso, contanto que conseguissem seu objetivo. DTN 512 3 Pilatos penetrou-lhes o desígnio. Não acreditou que o Preso houvesse conspirado contra o governo. Seu aspecto manso e humilde estava totalmente em desacordo com essa acusação. Pilatos convenceu-se de que se urdira artificioso trama contra um Inocente que embaraçava o caminho dos dignitários judeus. Volvendo-se para Jesus perguntou: "Tu és o rei dos judeus?" O Salvador respondeu: "Tu o dizes". Marcos 15:2. E ao falar Ele, Sua fisionomia iluminou-se como se um raio de Sol sobre ela incidisse. DTN 512 4 Ao ouvirem-Lhe a resposta, Caifás e os que com ele estavam chamaram Pilatos como testemunha de que Jesus concordara com o crime de que O acusavam. Com ruidosos brados, sacerdotes, escribas e príncipes exigiram que fosse sentenciado à morte. Os gritos foram repetidos pela turba, fazendo-se um barulho ensurdecedor. Pilatos ficou confundido. Vendo que Jesus não dava nenhuma resposta a Seus acusadores, disse-Lhe Pilatos: "Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra Ti. Mas Jesus nada mais respondeu". Marcos 15:4, 5. DTN 512 5 De pé por trás de Pilatos, à vista de todo o pátio, ouvia Cristo os insultos; mas não respondeu nem uma palavra a todas as falsas acusações contra Ele feitas. Toda a Sua atitude dava prova da inocência consciente. Ficou inabalável em face da fúria das ondas que se Lhe quebravam em torno. Era como se os violentos ímpetos da ira, erguendo-se mais e mais alto, como as vagas do clamoroso oceano, se despedaçassem ao Seu redor sem O tocar, no entanto. Ficou mudo, mas eloqüente era o Seu silêncio. Era como se o homem exterior fosse iluminado por uma luz provinda do interior. DTN 513 1 Pilatos estava admirado de Seu porte. Despreza esse Homem os acontecimentos, por que não Se importa de salvar a vida? perguntava a si mesmo. Contemplando Jesus a suportar insultos e zombarias sem represália, sentiu que Ele não podia ser tão injusto como estavam sendo os sacerdotes que clamavam. Esperando obter dEle a verdade e escapar ao tumulto, Pilatos tomou Jesus à parte e tornou a interrogá-Lo: "Tu és o Rei dos judeus?" Marcos 15:2. DTN 513 2 Jesus não respondeu diretamente a essa pergunta. Sabia que o Espírito Santo estava lutando com Pilatos, e deu-lhe oportunidade de reconhecer a própria convicção. "Tu dizes isto de ti mesmo", perguntou, "ou disseram-to outros de Mim?". João 18:34. Isto é, era a acusação dos sacerdotes, ou o desejo de receber luz de Cristo, que motivava a pergunta de Pilatos? Pilatos compreendeu a intenção de Jesus; mas surgiu o orgulho em seu coração. Não queria reconhecer a convicção que o assaltava. "Porventura sou eu judeu?" disse. "A Tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-Te a mim; que fizeste?" João 18:35. DTN 513 3 Passara a oportunidade áurea de Pilatos. Todavia, Jesus não o deixou ainda sem luz. Conquanto não respondesse diretamente à pergunta de Pilatos, declarou abertamente a própria missão. Deu a entender a Pilatos que não buscava um trono terrestre. DTN 513 4 "O Meu reino não é deste mundo", disse Ele, "se o Meu reino fosse deste mundo, pelejariam os Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o Meu reino não é daqui. Disse-Lhe Pilatos: Logo Tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que Eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz". João 18:36, 37. DTN 513 5 Cristo afirmou que Sua palavra era em si mesma uma chave que revelaria o mistério aos que estivessem preparados para recebê-Lo. Ela possuía em si um poder que a recomendava, e isso era o segredo da ampliação de Seu reino de verdade. Desejava que Pilatos compreendesse que unicamente recebendo a verdade e dela se apoderando, poderia ser restaurada sua arruinada natureza. DTN 513 6 Pilatos teve desejo de conhecer a verdade. Seu espírito estava confundido. Apegou-se ansioso às palavras do Salvador, e o coração agitou-se-lhe num grande anelo de saber o que ela era realmente, e como a poderia obter. "Que é a verdade?" indagou. Mas não esperou a resposta. O tumulto lá fora lembrou-lhe os interesses do momento; pois os sacerdotes clamavam por ação imediata. Saindo para onde estavam os judeus, declarou com veemência: "Não acho nEle crime algum". João 18:38. DTN 513 7 Essas palavras de um juiz pagão foram uma demolidora repreensão à perfídia e falsidade dos príncipes de Israel, que acusavam o Salvador. Ao ouvirem os sacerdotes e anciãos isso de Pilatos, sua decepção e cólera não tiveram limites. Haviam tramado e esperado longamente essa oportunidade. Ao verem a perspectiva de Jesus ser solto, pareciam prontos a despedaçá-Lo. Acusavam Pilatos em altas vozes, e ameaçaram-no com a censura do governo romano. Culparam-no de não querer condenar a Jesus que, afirmavam, Se erguera contra César. DTN 514 1 Ouviram-se então vozes iradas, declarando que a sediciosa influência de Jesus era bem conhecida por todo o país. Diziam os sacerdotes: "Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui". Lucas 23:5. DTN 514 2 Por essa altura, não tinha Pilatos nenhuma idéia de condenar Jesus. Sabia que os judeus O haviam acusado, movidos por ódio e preconceitos. Sabia qual era seu dever. A justiça exigia que Jesus fosse imediatamente solto. Mas Pilatos temia a má vontade do povo. Recusasse ele entregar-lhes Jesus, erguer-se-ia um tumulto, e isso ele temia enfrentar. Ao ouvir que Cristo era da Galiléia, decidiu mandá-Lo a Herodes, governador daquela província, o qual se achava então em Jerusalém. Com esse procedimento pensava transferir a responsabilidade do julgamento para Herodes. Julgou também que era boa oportunidade de pacificar uma velha questão existente entre ele e Herodes. E assim aconteceu. Os dois magistrados tornaram-se amigos depois do julgamento do Salvador. DTN 514 3 Pilatos entregou novamente Jesus aos soldados e, por entre os escárnios e insultos da massa, foi Ele atropeladamente conduzido ao tribunal de Herodes. "E Herodes quando viu a Jesus, alegrou-se muito." Nunca se encontrara com o Salvador, mas "havia muito que desejava vê-Lo, por ter ouvido dEle muitas coisas, e esperava que Lhe veria fazer algum sinal". Lucas 23:8. Esse Herodes era aquele cujas mãos estavam manchadas do sangue de João Batista. Ao ouvir falar de Jesus, a princípio ficou aterrorizado e disse: "Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos" (Marcos 6:16); "por isso estas maravilhas operam nele". Mateus 14:2. Todavia Herodes desejava ver a Jesus. Havia agora oportunidade de salvar a vida desse profeta, e o rei esperou banir para sempre de sua memória aquela cabeça sangrenta a ele levada num prato. Desejava também satisfazer sua curiosidade e pensava que, se oferecesse a Jesus alguma perspectiva de libertação, faria qualquer coisa que Lhe fosse solicitada. DTN 514 4 Um grande grupo de sacerdotes e anciãos acompanhara Cristo a Herodes. E ao ser o Salvador introduzido, esses dignitários, falando todos com agitação, insistiram em suas acusações contra Ele. Mas Herodes pouca atenção lhes deu. Impôs silêncio, desejando ensejo de interrogar a Cristo. Ordenou que soltassem as cadeias de Jesus, repreendendo ao mesmo tempo Seus inimigos de O atarem rudemente. Olhando compassivamente o sereno rosto do Redentor do mundo, nEle leu unicamente sabedoria e pureza. Da mesma maneira que Pilatos, ficou convencido de que Cristo fora acusado por malignidade e inveja. DTN 514 5 Herodes interrogou a Cristo com muitas palavras, mas o Salvador Se manteve em profundo silêncio. Ao mando do rei, foram introduzidos decrépitos e mancos, sendo ordenado a Cristo que provasse Suas reivindicações pela operação de um milagre. Afirmam que podes curar os enfermos, disse-Lhe Herodes. Estou ansioso por ver que Tua grande fama não é mentira. Jesus não respondeu, e o rei continuou a insistir: Se podes operar milagres por outros, faze-os agora para Teu próprio bem, e isso Te servirá para um bom desígnio. Outra vez ordenou: Mostra-nos um sinal de que possuis o poder que a fama Te tem atribuído. Mas Cristo era como alguém que não visse nem ouvisse. O Filho de Deus tomara sobre Si a natureza humana. Devia agir como o tem de fazer o homem em idênticas circunstâncias. Portanto, não operaria um milagre para Se poupar à dor e à humilhação que o homem deve sofrer, quando colocado em condições semelhantes. DTN 515 1 Herodes prometeu que, se Jesus realizasse algum milagre em sua presença, seria solto. Os acusadores dEle eram testemunhas oculares das poderosas obras feitas por Seu poder. Tinham-nO ouvido ordenar à sepultura que desse os mortos. Viram-nos sair em obediência à Sua voz. Apoderou-se deles o temor, não operasse Jesus agora um milagre. De tudo, o que mais temiam, era uma manifestação de Seu poder. Essa manifestação se demonstraria um golpe mortal para seus planos, e talvez lhes custasse a vida. Outra vez sacerdotes e príncipes, em grande ansiedade, insistiram em suas acusações contra Ele. Elevando a voz, declararam: É um traidor, um blasfemo. Opera milagres por meio do poder que Lhe é dado por Belzebu, o príncipe dos demônios. A sala tornou-se cenário de confusão, uns gritando uma coisa, outros, outra. DTN 515 2 A consciência de Herodes estava agora muito menos sensível do que quando tremera de horror ante o pedido de Herodias, para que lhe desse a cabeça de João Batista. Durante algum tempo sentira os agudos espinhos do remorso por seu terrível ato; mas suas percepções morais se tinham rebaixado mais e mais em razão de sua vida licenciosa. Tinha agora tão endurecido o coração, que podia mesmo gabar-se do castigo infligido a João por ousar reprová-lo. E ameaçou então a Jesus, declarando repentinamente que tinha poder para libertá-Lo e para condená-Lo. Nenhum indício da parte de Jesus dava, entretanto, a compreender que Ele ouvisse uma palavra. DTN 515 3 Herodes irritou-se por esse silêncio. Parecia indicar completa indiferença por sua autoridade. Para o vão e pomposo rei, teria sido menos ofensiva uma franca censura, do que ser assim passado por alto. De novo ameaçou, irado, a Jesus, que permaneceu impassível e mudo. DTN 515 4 A missão de Cristo neste mundo não era satisfazer ociosas curiosidades. Veio para curar os quebrantados de coração. Pudesse Ele ter proferido qualquer palavra para sarar as feridas das almas enfermas de pecado, e não guardaria silêncio. Não tinha, no entanto, palavras para os que não fariam senão pisar a verdade com seus profanos pés. DTN 515 5 Cristo poderia ter dirigido a Herodes palavras que penetrariam nos ouvidos do endurecido rei. Podê-lo-ia haver sacudido com temor e tremor pela exposição de toda a iniqüidade de sua vida, e do horror de seu próximo fim. Mas o silêncio de Cristo era a mais severa repreensão que lhe poderia ter ministrado. Herodes rejeitara a verdade que lhe fora anunciada pelo maior dos profetas, e nenhuma outra mensagem havia de receber. Nem uma palavra tinha para ele a Majestade do Céu. Aqueles ouvidos sempre abertos para os lamentos humanos, não tinham lugar para as ordens de Herodes. Aqueles olhos sempre fixos no pecador arrependido, com um amor cheio de piedade, e de perdão, não tinham nenhum olhar para conceder a Herodes. Aqueles lábios que emitiram a mais impressiva verdade, que em acentos da mais terna súplica pleitearam com o mais pecador e mais degradado, cerraram-se para o soberbo rei que não sentia necessidade de um Salvador. DTN 516 1 O rosto de Herodes se ensombrou de paixão. Voltando-se para a turba, acusou, encolerizado, a Jesus de impostor. E depois, para Ele: se não deres prova de Tua pretensão, entregar-Te-ei aos soldados e ao povo. Talvez sejam bem-sucedidos em Te fazer falar. Se és um impostor, a morte por suas mãos é a única coisa que mereces; se és o Filho de Deus, salva-Te a Ti mesmo operando um milagre. DTN 516 2 Mal se proferiram essas palavras, e fez-se uma arremetida para Cristo. Como animais ferozes precipitou-se a multidão para sua presa. Jesus foi arrastado de um lado para outro, unindo-se Herodes à turba em buscar humilhar o Filho de Deus. Não se houvessem interposto os soldados romanos, repelindo para trás a massa enfurecida, e o Salvador teria sido feito em pedaços. DTN 516 3 "Herodes, com os seus soldados, desprezou-O, e, escarnecendo dEle, vestiu-O de uma roupa resplandecente". Lucas 23:11. Os soldados romanos juntaram-se nesses ultrajes. Tudo quanto ímpios, corruptos soldados, ajudados por Herodes e os dignitários judeus podiam instigar, foi acumulado sobre o Salvador. Todavia, não perdeu Sua divina paciência. DTN 516 4 Os perseguidores de Cristo tentaram medir-Lhe o caráter pelo deles próprios; tinham-nO figurado tão vil como eles. Mas por trás de toda a presente aparência introduziu-se, malgrado seu, outra cena -- cena que eles hão de ver um dia em toda a sua glória. Houve alguns que tremeram na presença de Cristo. Enquanto a rude multidão se inclinava diante dEle em zombaria, alguns que se adiantaram para esse fim recuaram, aterrorizados e mudos. Herodes ficou convicto. Os últimos raios de misericordiosa luz incidiam sobre seu coração endurecido pelo pecado. Sentiu que Este não era um homem comum; pois a divindade irradiara através da humanidade. Ao mesmo tempo que Cristo estava cercado de escarnecedores, adúlteros e homicidas, Herodes sentiu estar contemplando, um Deus sobre Seu trono. DTN 516 5 Endurecido como estava, não ousou Herodes ratificar a condenação de Cristo. Desejava livrar-se da terrível responsabilidade, e mandou Jesus de volta para o tribunal romano. DTN 516 6 Pilatos ficou decepcionado e muito desgostoso. Quando os judeus voltaram com o Preso, perguntou-lhes impaciente o que queriam que ele fizesse. Lembrou-lhes que já interrogara Jesus, e não achara nEle crime algum; disse-lhes que tinham trazido queixas contra Ele, mas não eram capazes de provar uma única. Mandara Jesus a Herodes, o tetrarca da Galiléia e compatriota seu, mas também ele não encontrara nEle coisa alguma digna de morte. "Castigá-Lo-ei pois", disse Pilatos, "e soltá-Lo-ei". Lucas 23:16. DTN 517 1 Aí mostrou Pilatos sua fraqueza. Declarara que Jesus era inocente e, no entanto, estava disposto a fazê-lo açoitar para pacificar os acusadores. Sacrificaria a justiça e o princípio, a fim de contemporizar com a turba. Isso o colocou desvantajosamente. A turba contou com sua indecisão, e clamou tanto mais pela vida do Preso. Se a princípio Pilatos houvesse ficado firme, recusando-se a condenar um homem que considerava inocente, teria quebrado a fatal cadeia que o ligaria em remorso e culpa enquanto vivesse. Houvesse posto em ação suas convicções do direito, e os judeus não teriam ousado ditar-lhe a conduta. Cristo teria sido morto, mas a culpa não repousaria sobre ele. Mas Pilatos dera passo após passo na violação de sua consciência. Escusara-se a julgar com justiça e eqüidade, e viu-se agora quase impotente nas mãos dos sacerdotes e príncipes. Sua vacilação e indecisão foram a ruína dele. DTN 517 2 Mesmo então Pilatos não foi deixado a agir às cegas. Uma mensagem de Deus o advertiu do que estava para cometer. Em resposta às orações de Cristo, a esposa de Pilatos foi visitada por um anjo do Céu, e vira em sonho o Salvador, e com Ele conversara. A mulher de Pilatos não era judia, mas ao olhar a Jesus, durante o sonho, não tivera dúvidas de Seu caráter e missão. Sabia ser Ele o Príncipe de Deus. Contemplou-O em julgamento no tribunal. Viu-Lhe as mãos estreitamente ligadas como as de um criminoso. Viu Herodes e seus soldados praticando sua terrível ação. Ouviu os sacerdotes e príncipes, cheios de inveja e perversidade, acusando furiosamente. Ouviu as palavras: "Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer". João 19:7. Viu Pilatos entregar Jesus aos açoites, depois de haver declarado: "Não acho nEle crime algum." Ouviu a condenação pronunciada por Pilatos, e viu-o entregar Cristo a Seus matadores. Viu a cruz erguida no Calvário. Viu a Terra envolta em trevas, e ouviu o misterioso brado: "Está consumado". João 19:30. Ainda outra cena se lhe deparou ao olhar. Viu Cristo sentado sobre uma grande nuvem branca, enquanto a Terra vacilava no espaço, e Seus assassinos fugiam da presença de Sua glória. Com um grito de terror despertou ela, e escreveu imediatamente a Pilatos palavras de advertência. DTN 517 3 Enquanto Pilatos hesitava quanto ao que havia de fazer, um mensageiro, abrindo apressadamente caminho por entre a multidão, passou-lhe uma carta de sua esposa, que dizia: "Não entres na questão deste justo, porque num sonho muito sofri por causa dEle". Mateus 27:19. DTN 518 1 Pilatos empalideceu. Estava confundido ante suas próprias contraditórias emoções. Mas enquanto demorava, os sacerdotes e príncipes inflamavam ainda mais o espírito do povo. Pilatos foi forçado a agir. Lembrou-se então de um costume que poderia trazer o libertamento de Jesus. Era uso, por ocasião dessa festa, soltar algum preso segundo a escolha do povo. Costume de invenção pagã, não havia sombra de justiça nesse proceder, mas era sobremaneira apreciado pelos judeus. As autoridades romanas tinham preso por esse tempo um homem de nome Barrabás, que se achava com sentença de morte. Esse homem afirmara ser o Messias. Pretendia autoridade para estabelecer uma nova ordem de coisas, para emendar o mundo. Sob uma ilusão satânica, pretendia que tudo quanto pudesse obter por furtos e assaltos era seu. Por meios diabólicos realizara coisas admiráveis, conseguira seguidores no meio do povo e despertara sedição contra o governo romano. Sob a capa de entusiasmo religioso, era um endurecido e consumado vilão, dado à rebelião e à crueldade. Oferecendo ao povo escolha entre esse homem e o inocente Salvador, Pilatos julgava despertar-lhes o sentimento da justiça. Esperava conquistar-lhes a simpatia para Jesus, em oposição aos sacerdotes e príncipes. Assim, voltando-se para a multidão, disse com grande ardor: "Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus chamado Cristo?" DTN 518 2 Como um urro de animais ferozes, veio a resposta da turba: Solta Barrabás! E avolumava-se mais e mais o clamor: Barrabás! Barrabás! Pensando que o povo talvez não houvesse compreendido a pergunta, Pilatos exclamou outra vez: "Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?" Mas eles clamaram novamente: "Fora daqui com Este, e solta-nos Barrabás!" "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?" indagou Pilatos. De novo a multidão encapelada rugiu como demônios. Os próprios demônios, em forma humana, achavam-se na turba, e que se poderia esperar, senão a resposta: "Seja crucificado"? Mateus 27:22. DTN 518 3 Pilatos turbou-se. Não julgara que os acontecimentos chegassem a esse ponto. Recuava de entregar um homem inocente à mais ignominiosa e cruel das mortes que se poderia infligir a alguém. Após haver cessado o bramido das vozes, voltou-se para o povo, dizendo: "Mas que mal fez Ele?" O caso chegara, no entanto, além de argumentação. Não eram provas da inocência de Cristo o que queriam, mas Sua condenação. DTN 518 4 Pilatos tentou ainda salvá-Lo. Disse-lhes pela terceira vez: "Mas que mal fez?" A só menção de soltá-Lo, porém, despertou o povo a um frenesi dez vezes maior. "Crucifica-O, crucifica-O!", clamavam. Mais e mais se avolumava a tempestade a que dera motivo a indecisão de Pilatos. DTN 518 5 Desfalecido de fadiga e coberto de ferimentos, Jesus foi levado, sendo açoitado à vista da multidão. "E os soldados O levaram dentro à sala que é a de audiência, e convocaram toda a coorte; e vestiram-nO de púrpura e tomando uma coroa de espinhos, Lha puseram na cabeça. E começaram a saudá-Lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus. E [...] cuspiram nEle, e, postos de joelhos, O adoraram". Mateus 27:27-31. Por vezes, mão perversa arrebatava a cana que Lhe fora posta na mão, e batia na coroa que Ele tinha na fronte, fazendo enterrarem-se-Lhe os espinhos nas fontes, e o sangue gotejar-Lhe pelo rosto e a barba. DTN 519 1 Maravilha-te, ó Céu! e pasma tu, ó Terra! Contemplai o opressor e o Oprimido. Uma turba enfurecida rodeia o Salvador do mundo. Escárnios e zombarias misturam-se com as baixas imprecações de blasfêmia. Seu humilde nascimento e modesta vida são comentados pela turba insensível. Sua declaração de ser o Filho de Deus é ridicularizada, e o gracejo vulgar e a insultuosa zombaria passam de boca em boca. DTN 519 2 Satanás dirigia a cruel massa nos maus-tratos ao Salvador. Era seu desígnio provocá-Lo, se possível, à represália, ou levá-Lo a realizar um milagre para Se libertar, frustrando assim o plano da salvação. Uma mancha sobre Sua vida humana, uma falha de Sua humildade para resistir à terrível prova, e o Cordeiro de Deus teria sido uma oferta imperfeita, um fracasso para a redenção do homem. Mas Aquele que, por uma ordem, poderia trazer em Seu auxílio a hoste celestial -- Aquele que, ante uma súbita irradiação de Sua divina majestade, poderia haver afugentado de Sua face aquela turba aterrada -- Se submeteu com perfeita calma aos mais vis insultos e ultrajes. DTN 519 3 Os inimigos de Cristo tinham pedido um milagre como prova de Sua divindade. Tiveram testemunho muito maior do que haviam buscado. Assim como a crueldade de Seus torturadores os degradava abaixo da humanidade, dando-lhes a semelhança de Satanás, a mansidão e paciência de Jesus O exaltavam acima da humanidade, demonstrando Seu parentesco com Deus. Sua humilhação era o penhor de Sua exaltação. As gotas de sangue de agonia que Lhe corriam das fontes feridas pelo rosto e a barba, eram o penhor de Sua unção com "óleo de alegria" (Hebreus 1:9), como nosso grande Sumo Sacerdote. DTN 519 4 Grande foi a ira de Satanás, ao ver que todos os maus-tratos infligidos ao Salvador não Lhe forçaram os lábios a soltar uma só queixa. Embora houvesse tomado sobre Si a natureza humana, era sustido por uma força divina, e não Se apartou num só ponto da vontade do Pai. DTN 519 5 Quando Pilatos entregou Jesus para ser açoitado e escarnecido, julgou despertar a piedade da multidão. Teve esperança de que achassem suficiente esse castigo. Mesmo a malignidade dos sacerdotes, pensava, ficaria então satisfeita. Com penetrante percepção, viram os judeus a fraqueza de assim punir um homem que fora declarado inocente. Sabiam que Pilatos estava procurando salvar a vida do Preso, e decidiram que Jesus não fosse solto. Para nos agradar e satisfazer, Pilatos O açoitou, pensaram, e se apertarmos a questão até um resultado definido, conseguiremos com certeza nosso intento. DTN 519 6 Pilatos mandou então buscar Barrabás para o pátio. Apresentou depois os dois presos um ao lado do outro, e, apontando ao Salvador, disse em tom solene: "Eis Aqui o Homem". João 19:5. "Eis aqui vo-Lo trago fora, para que saibais que não acho nEle crime algum". João 19:4. DTN 520 1 Ali estava o Filho de Deus, com as vestes da zombaria e a coroa de espinhos. Despido até à cintura, as costas mostravam-Lhe os longos e cruéis vergões, de onde corria o sangue abundantemente. Tinha o rosto manchado de sangue, e apresentava os sinais da exaustão e dor; nunca, no entanto, parecera mais belo. O semblante do Salvador não se desfigurou diante dos inimigos. Cada traço exprimia brandura e resignação, e a mais terna piedade para com os cruéis inimigos. Não havia em Sua atitude nenhuma fraqueza covarde, mas a resistência e dignidade da longanimidade. Chocante era o contraste no preso ao Seu lado. Cada linha da fisionomia de Barrabás proclamava o endurecido criminoso que era. O contraste foi manifesto a todos os espectadores. Alguns dentre eles choravam. Ao olharem a Jesus, o coração encheu-se-lhes de simpatia. Mesmo os sacerdotes e principais convenceram-se de que Ele era tudo quanto dizia ser. DTN 520 2 Os soldados romanos que rodeavam Cristo não estavam todos endurecidos; alguns Lhe fixavam ansiosamente o semblante, em busca de um sinal de que Ele era um personagem criminoso e de temer. De quando em quando, voltavam-se e deitavam um olhar de desprezo a Barrabás. Não era preciso grande perspicácia para adivinhar o que lhe ia no íntimo. Outra vez olhavam Aquele que estava sendo julgado. Contemplavam o divino Sofredor com sentimentos de profunda piedade. A silenciosa submissão de Cristo gravou-lhes a cena no espírito, para nunca mais se apagar enquanto não reconhecessem nEle o Cristo, ou, rejeitando-O, decidissem o próprio destino. DTN 520 3 Pilatos estava cheio de espanto diante da paciência do Salvador, que não articulava uma queixa. Não duvidava de que a vista desse Homem, em contraste com Barrabás, movesse a simpatia dos judeus. Não compreendia, porém, o fanático ódio dos sacerdotes contra Aquele que, como a luz do mundo, lhes tornara manifestos as trevas e o erro. Incitaram a turba a uma fúria louca, e de novo os sacerdotes, príncipes e povo ergueram aquele tremendo brado: "Crucifica-O, crucifica-O!" Perdendo por fim toda a paciência ante sua irracional crueldade, Pilatos gritou em desespero: "Tomai-O vós e crucificai-O; porque eu nenhum crime acho nEle". João 19:6. DTN 520 4 O governador romano, embora familiarizado com cenas cruéis, moveu-se de simpatia para com o paciente Preso que, condenado e açoitado, com a fronte a sangrar e laceradas as costas, mantinha ainda o porte de um rei sobre o trono. Mas os sacerdotes declaram: "Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus". João 19:7. DTN 520 5 Pilatos sobressaltou-se. Não possuía nenhuma idéia exata de Cristo e Sua missão; mas tinha uma vaga fé em Deus e em seres superiores à humanidade. Um pensamento que lhe passara anteriormente pelo cérebro, tomou agora feição definida. Cogitava se não seria um Ser divino o que estava perante ele, revestido da púrpura da zombaria, e coroado de espinhos. DTN 521 1 Voltou novamente ao tribunal, e disse a Jesus: "De onde és Tu?" João 19:9. Mas Jesus não lhe deu resposta alguma. O Salvador falara francamente a Pilatos, explicando a própria missão como testemunha da verdade. Pilatos desprezara a luz. Abusara do alto posto de juiz, submetendo seus princípios e sua autoridade às exigências da turba. Jesus não tinha mais luz para ele. Mortificado com Seu silêncio, disse Pilatos altivamente: "Não me falas a mim? não sabes Tu que tenho poder para Te crucificar e tenho poder para Te soltar?" DTN 521 2 Respondeu Jesus: "Nenhum poder terias contra Mim, se de cima te não fosse dado; mas aquele que Me entregou a ti maior pecado tem". João 19:10, 11. DTN 521 3 Assim o piedoso Salvador, em meio de Seus intensos sofrimentos e dor, desculpou o quanto possível o ato do governador romano que O entregou para ser crucificado. Que cena esta, para ser transmitida ao mundo de século em século! Que luz projeta sobre o caráter dAquele que é o Juiz de toda a Terra! DTN 521 4 "Aquele que Me entregou a ti", disse Jesus, "maior pecado tem". João 19:11. Com estas palavras referia-Se Cristo a Caifás que, como sumo sacerdote, representava a nação judaica. Esta conhecia os princípios que governavam as autoridades romanas. Tivera luz nas profecias que testificavam de Cristo, bem como nos próprios ensinos e milagres dEle. Os juízes judaicos receberam inequívocas provas da divindade dAquele a quem condenavam à morte. E segundo a luz que tinham, seriam julgados. DTN 521 5 A maior culpa e mais grave responsabilidade, pesava sobre os que ocupavam os mais altos postos na nação, os depositários das sagradas verdades que estavam vilmente traindo. Pilatos, Herodes e os soldados romanos, ignoravam, relativamente, o que dizia respeito a Jesus. Pensavam agradar aos sacerdotes e príncipes, maltratando-O. Não tinham a luz que a nação judaica recebera em tanta abundância. Houvesse essa luz sido dada aos soldados, e não teriam tratado a Cristo tão cruelmente como o fizeram. DTN 521 6 Outra vez propôs Pilatos soltar o Salvador. "Mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas Este, não és amigo de César". João 19:12. Assim pretendiam esses hipócritas ser zelosos da autoridade de César. De todos os adversários do governo romano, eram os judeus os mais terríveis. Quando lhes era dado fazê-lo com segurança, mostravam-se os mais tirânicos em impor suas exigências nacionais e religiosas; em querendo, porém, executar qualquer cruel desígnio, exaltava o poder de César. Para consumar o aniquilamento de Jesus, eram capazes de professar lealdade ao governo estrangeiro que odiavam. DTN 521 7 "Qualquer que se faz rei é contra o César", continuaram. Isso era tocar num ponto fraco de Pilatos. Ele estava suspeito ao governo romano, e sabia que tal notícia constituía a ruína para si. Sabia que se os judeus fossem contrariados, sua cólera se voltaria contra ele. Não recuariam diante de coisa nenhuma para realizar sua vingança. Tinha diante de si o exemplo na persistência com que buscavam a vida dAquele a quem aborreciam sem causa. DTN 522 1 Pilatos assentou-se então no tribunal, no assento do juiz, e tornou a apresentar Jesus ao povo, dizendo: "Eis aqui o vosso Rei." De novo se fez ouvir o furioso brado: "Tira, tira, crucifica-O." Numa voz que se podia ouvir até longe, Pilatos perguntou: "Hei de crucificar o vosso Rei?" Mas de profanos e blasfemos lábios partiram as palavras: "Não temos rei, senão o César". João 19:15. DTN 522 2 Escolhendo assim um governo pagão, apartara-se a nação judaica da teocracia. Rejeitara a Deus como rei. Não tinha, daí em diante, mais libertador. Não tinha rei senão o César. A isso os sacerdotes e doutores levaram o povo. Por isso, bem como pelos terríveis resultados que se seguiram, eram eles responsáveis. O pecado de uma nação e sua ruína, eram devidos aos guias religiosos. DTN 522 3 "Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste Justo: considerai isso". Mateus 27:24. Com temor e um sentimento de condenação própria, olhou Pilatos ao Salvador. No vasto oceano de rostos levantados, unicamente o Seu estava sereno. Parecia brilhar-Lhe em torno da cabeça uma suave luz. Pilatos disse consigo mesmo: Ele é um Deus. Virando-se para a multidão, declarou: Estou limpo de Seu sangue. Tomai-O vós e crucificai-O. Mas notai isto, sacerdotes e príncipes: Eu O declaro justo. Que Aquele que Ele diz ser Seu Pai vos julgue a vós e não a mim pela obra deste dia. Depois, para Jesus: Perdoa-me esta ação; não Te posso salvar. E fazendo açoitá-Lo, entregou-O para ser crucificado. DTN 522 4 Pilatos anelava libertar a Jesus. Viu, porém, que não podia fazer isso e conservar ainda sua posição e honra. De preferência a perder seu poder no mundo, escolheu sacrificar uma vida inocente. Quantos há que, para escapar a um prejuízo ou sofrimento, de igual modo sacrificam o princípio! A consciência e o dever apontam um caminho, e o interesse egoísta indica outro. A corrente dirige-se vigorosamente para o lado errado, e aquele que transige com o mal é arrebatado para a espessa treva da culpa. DTN 522 5 Pilatos cedeu às exigências da turba. A arriscar sua posição, preferiu entregar Jesus para ser crucificado. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu alto posto e, aguilhoado pelo remorso e o orgulho ferido, pôs termo à própria vida não muito depois da crucifixão de Cristo. Assim todos quantos transigem com o pecado só conseguirão tristeza e ruína. "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Provérbios 14:12. Quando Pilatos se declarou inocente do sangue de Cristo, Caifás respondeu DTN 522 6 desafiadoramente: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos". Mateus 27:25. As tremendas palavras foram repetidas pelos sacerdotes e príncipes; e ecoadas pela turba, num bramir não humano de vozes. Toda a multidão respondeu, dizendo: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos." DTN 523 1 O povo de Israel fizera sua escolha. Apontando a Jesus, dissera: "Fora daqui com Este, e solta-nos Barrabás." Este, ladrão e homicida, representava Satanás. Cristo era o representante de Deus. Cristo fora rejeitado; Barrabás, preferido. Barrabás teriam eles. Fazendo sua escolha, aceitaram aquele que desde o princípio, fora mentiroso e homicida. Satanás era seu guia. Como nação, seguir-lhe-iam os ditames. Fariam suas obras. Teriam de suportar-lhe o domínio. O povo que escolheu Barrabás, em vez de Cristo, havia de sentir a crueldade de Barrabás enquanto o tempo durasse. DTN 523 2 Olhando ao ferido Cordeiro de Deus, os judeus exclamaram: "O Seu sangue seja sobre nós e sobre nossos filhos". Mateus 27:25. Aquele espantoso brado subiu ao trono de Deus. Aquela sentença pronunciada contra si mesmos, foi escrita no Céu. Foi ouvida aquela súplica. O sangue do Filho de Deus tornou-se perpétua maldição sobre seus filhos e os filhos de seus filhos. DTN 523 3 Terrivelmente se cumpriu isso na destruição de Jerusalém. Terrivelmente se tem manifestado na condição do povo judeu durante todos estes séculos -- um ramo cortado da videira, um morto e estéril ramo para ser colhido e lançado no fogo. De terra para terra através do mundo, de século em século mortos, mortos em ofensas e pecados! DTN 523 4 Terrivelmente será aquela súplica atendida no grande dia do Juízo. Quando Cristo volver de novo à Terra, não como Preso rodeado pela plebe, hão de vê-Lo os homens. Hão de vê-Lo então como o Rei do Céu. Cristo virá em Sua própria glória, na glória do Pai e na dos santos anjos. Milhares de milhares de anjos, os belos e triunfantes filhos de Deus, possuindo extrema formosura e glória, hão de acompanhá-Lo. Então Se assentará no trono de Sua glória, e diante dEle se congregarão as nações. Então todo olho O verá, e também os que O traspassaram. Em lugar de uma coroa de espinhos, terá uma de glória -- uma coroa dentro de outra. Em lugar do velho vestido real de púrpura, trajará vestes do mais puro branco, "tais como nenhum lavandeiro sobre a Terra os poderia branquear". Marcos 9:3. E nas vestes e na Sua coxa estará escrito um nome: "Rei dos reis, e Senhor dos senhores". Apocalipse 19:16. Os que dEle zombaram e O feriram, ali estarão. Os sacerdotes e príncipes contemplarão novamente a cena do tribunal. Cada circunstância há de aparecer diante deles, como se escrita com letras de fogo. Então os que rogaram: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos" (Mateus 27:25) receberão a resposta a sua súplica. Então o mundo inteiro saberá e compreenderá. Perceberão a quem eles, pobres, fracos e finitos seres humanos estiveram a combater. Em terrível agonia e horror hão de clamar às montanhas e às rochas: "Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:16, 17. ------------------------Capítulo 78 -- O Calvário DTN 524 0 Este capítulo é baseado em Mateus 27:31-53; Marcos 14:20-38; Lucas 23:26-46; João 19:16-30. DTN 524 1 E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram". Lucas 23:33. "Para santificar o povo pelo Seu próprio sangue", Cristo "padeceu fora da porta". Hebreus 13:12. Pela transgressão da lei divina, Adão e Eva foram banidos do Éden. Cristo, nosso substituto, devia sofrer fora dos limites de Jerusalém. Ele morreu fora da porta, onde eram executados malfeitores e homicidas. Plenas de sentido são as palavras: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós". Gálatas 3:13. DTN 524 2 Uma vasta multidão seguiu a Jesus do tribunal ao Calvário. As novas de Sua condenação se espalharam por toda Jerusalém, e gente de todas as classes e de todas as categorias afluíam ao lugar da crucifixão. Os sacerdotes e principais haviam-se comprometido, caso Jesus lhes fosse entregue, a não molestar Seus seguidores; e os discípulos da cidade e dos arredores uniram-se à multidão que acompanhava o Salvador. DTN 524 3 Ao passar Jesus a porta do pátio de Pilatos, a cruz preparada para Barrabás foi-lhe deposta nos feridos, sangrentos ombros. Dois companheiros de Barrabás deviam sofrer a morte ao mesmo tempo que Jesus, e sobre eles também foi posta a cruz. A carga do Salvador era demasiado pesada para o estado de fraqueza e sofrimento em que Se achava. Desde a ceia pascoal com os discípulos, não tomara Ele nenhum alimento, nem bebera. Angustiara-Se no jardim do Getsêmani em conflito com as forças satânicas. Suportara a agonia da traição, e vira os discípulos abandonarem-nO e fugir. Fora levado a Anás, depois a Caifás e em seguida a Pilatos. De Pilatos fora mandado para Herodes, e reenviado a Pilatos. De um insulto para outro, de uma a outra zombaria, duas vezes torturado por açoites -- toda aquela noite fora uma sucessão de cenas de molde a provar até ao máximo uma alma de homem. Cristo não fracassara. Não proferira palavra alguma que não visasse a glória de Deus. Através de toda a ignominiosa farsa de julgamento, portara-Se com firmeza e dignidade. Mas quando após ser açoitado pela segunda vez, a cruz Lhe foi posta sobre os ombros, a natureza humana não mais podia suportar. Caiu desmaiado sob o fardo. DTN 524 4 A multidão que seguia o Salvador viu Seus fracos, vacilantes passos, mas não manifestou compaixão. Insultaram-nO e injuriaram-nO por não poder conduzir a pesada cruz. De novo Lhe foi posto em cima o fardo, e outra vez caiu desmaiado por terra. Viram os perseguidores que Lhe era impossível levar mais adiante aquele peso. Não sabiam onde encontrar alguém que quisesse transportar a humilhante carga. Os próprios judeus não o podiam fazer, pois a contaminação os impediria de observar a páscoa. Ninguém, mesmo dentre a turba que O acompanhava, quereria rebaixar-se e carregar a cruz. DTN 525 1 Por essa ocasião um estranho, Simão, cireneu, chegando do campo, encontra-se com o cortejo. Ouve as zombarias e a linguagem baixa da turba; ouve as palavras desdenhosamente repetidas: Abri caminho para o Rei dos judeus! Detém-se espantado com a cena; e, ao exprimir ele compaixão, agarram-no e lhe põem nos ombros a cruz. DTN 525 2 Simão ouvira falar de Jesus. Seus filhos criam no Salvador, mas ele próprio não era discípulo. O conduzir a cruz ao Calvário foi-lhe uma bênção e, posteriormente, mostrou-se sempre grato por essa providência. Isso o levou a tomar sobre si a cruz de Cristo por sua própria escolha, suportando-lhe sempre animosamente o peso. DTN 525 3 Não poucas mulheres se acham na multidão que segue à Sua morte cruel Aquele que não foi condenado. Sua atenção fixa-se em Jesus. Algumas O tinham visto antes. Outras Lhe levaram doentes e sofredores. Outras ainda foram, elas mesmas, curadas por Ele. Relata-se então a história das cenas que ocorreram. Elas se admiram do ódio da turba para com Aquele por quem o coração se lhes comove quase a ponto de partir-se. E não obstante a ação da enfurecida massa, e as coléricas palavras dos sacerdotes e principais, essas mulheres exprimem o compassivo interesse que as possui. Ao cair Jesus desfalecido sob a cruz, irrompem em lamentoso pranto. DTN 525 4 Foi isso unicamente que atraiu a atenção de Cristo. Embora em meio de tanto sofrimento, enquanto suportava os pecados do mundo, não era indiferente à expressão de dor. Com terna simpatia contemplou essas mulheres. Não eram crentes nEle; sabia que não O estavam lamentando como um enviado de Deus, mas movidas por sentimentos de piedade humana. Não lhes desprezava a simpatia, mas esta Lhe despertou no coração outra, mais profunda ainda, para com elas mesmas. "Filhas de Jerusalém", disse Ele, "não choreis por Mim, mas chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos". Lucas 23:28. Do espetáculo que tinha diante de Si, alongou Jesus o olhar ao tempo da destruição de Jerusalém. Naquela terrível cena, muitas das que estavam chorando agora por Ele, haveriam de perecer com seus filhos. DTN 525 5 Da queda de Jerusalém passaram os pensamentos de Jesus a um mais amplo juízo. Na destruição da impenitente cidade viu Ele um símbolo da final destruição a sobrevir ao mundo. Disse: "Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?" Lucas 23:30, 31. Pelo madeiro verde, Jesus Se representava, o inocente Redentor. Deus permitiu que Sua ira contra a transgressão caísse sobre Seu amado Filho. Devia ser crucificado pelos pecados dos homens. Que sofrimento, então, havia de suportar o pecador que continuasse na transgressão? Todos os impenitentes e incrédulos teriam de conhecer uma dor e miséria que a língua é impotente para exprimir. DTN 526 1 Da multidão que acompanhava o Salvador ao Calvário, muitos O haviam seguido com jubilosas hosanas e agitando palmas, enquanto marchava triunfalmente para Jerusalém. Mas não poucos dos que então Lhe entoaram louvores porque era popular assim fazer, avolumavam agora o clamor: "Crucifica-O, crucifica-O"! Lucas 23:21. Quando Jesus cavalgava o jumento em direção de Jerusalém, as esperanças dos discípulos subiram ao mais alto grau. Tinham-se-Lhe aglomerado em torno, sentindo ser elevada honra estar ligados a Ele. Agora, em Sua humilhação, seguiam-nO a distância. Estavam possuídos de pesar e curvados ante o malogro de suas esperanças. Como se verificavam as palavras de Cristo: "Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim; porque está escrito: Ferirei o Pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão". Mateus 26:31. DTN 526 2 Chegando ao lugar da execução, os presos foram ligados ao instrumento da tortura. Os dois ladrões lutaram às mãos dos que os puseram na cruz; Jesus, porém, nenhuma resistência opôs. A mãe de Jesus, apoiada por João, o discípulo amado, seguira seu Filho ao Calvário. Vira-O desmaiar sob o peso do madeiro, e anelara suster com a mão aquela cabeça ferida, banhar aquela fronte que um dia se lhe reclinara no seio. Não lhe era, no entanto, concedido esse triste privilégio. Ela, como os discípulos, acalentava ainda a esperança de que Jesus manifestasse Seu poder e Se livrasse dos inimigos. Mais uma vez seu coração desfaleceria, ao evocar as palavras em que lhe haviam sido preditas as próprias cenas que se estavam desenrolando então. Enquanto os ladrões eram amarrados à cruz, ela observava em angustiosa suspensão. Haveria de Aquele que dera vida aos mortos, sofrer o ser Ele próprio crucificado? Suportaria o Filho de Deus o ser tão cruelmente morto? Deveria ela renunciar a sua fé de que Jesus era o Messias? Deveria testemunhar-Lhe a vergonha e a dor, sem ter sequer o consolo de servi-Lo em Sua aflição? Viu-Lhe as mãos estendidas sobre a cruz; foram trazidos o martelo e os pregos, e, ao serem estes cravados na tenra carne, os discípulos, fundamente comovidos, levaram da cruel cena o corpo desfalecido da mãe de Jesus. DTN 526 3 O Salvador não murmurou uma queixa. O rosto permaneceu-Lhe calmo e sereno, mas grandes gotas de suor borbulhavam-Lhe na fronte. Nenhuma mão piedosa a enxugar-Lhe do rosto o suor da morte, nem palavras de simpatia e inabalável fidelidade para Lhe confortar o coração humano. Enquanto os soldados executavam a terrível obra, Jesus orava pelos inimigos: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Lucas 23:34. Seu pensamento passou da dor própria ao pecado dos que O perseguiam, e à terrível retribuição que lhes caberia. Nenhuma maldição invocou sobre os soldados que O estavam tratando tão rudemente. Nenhuma vingança pediu contra os sacerdotes e príncipes que contemplavam com maligna satisfação o cumprimento de seu desígnio. Cristo Se apiedou deles em sua ignorância e culpa. Só exalou uma súplica por seu perdão -- "porque não sabem o que fazem". DTN 527 1 Soubessem eles que estavam torturando Aquele que viera salvar da eterna ruína a raça pecadora, e ter-se-iam possuído de remorso e horror. Sua ignorância, porém, não lhes tirava a culpa; pois era seu privilégio conhecer e aceitar a Jesus como seu Salvador. Alguns deles veriam ainda o seu pecado, e arrepender-se-iam e se converteriam. Alguns, por sua impenitência, tornariam, a seu respeito, uma impossibilidade o deferimento da súplica de Jesus. Todavia, assim mesmo o desígnio de Deus tinha seu cumprimento. Jesus estava adquirindo o direito de Se tornar o advogado dos homens na presença do Pai. DTN 527 2 Aquela oração de Cristo por Seus inimigos abrangia o mundo inteiro. Envolvia todo pecador que já vivera ou viria ainda a viver, desde o começo do mundo, até ao fim dos séculos. Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus. A todos é gratuitamente oferecido o perdão. "Quem quiser" pode ter paz com Deus, e herdar a vida eterna. DTN 527 3 Assim que Jesus foi pregado à cruz, ergueram-na homens vigorosos, sendo com grande violência atirada dentro do lugar para ela preparado. Isso produziu a mais intensa agonia ao Filho de Deus. Pilatos escreveu então uma inscrição em hebraico, grego e latim, colocando-a no madeiro, por sobre a cabeça de Jesus. Rezava: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus." Essa inscrição irritou os judeus. Haviam gritado no pátio de Pilatos: "Crucifica-O"! "Não temos rei senão o César". João 19:15. Tinham declarado que, quem quer que reconhecesse outro rei, era traidor. Pilatos escreveu o sentimento que haviam expresso. Nenhuma ofensa era mencionada, a não ser que Jesus era Rei dos Judeus. A inscrição era um virtual reconhecimento da fidelidade dos judeus ao poder romano. Declarava que qualquer que pretendesse ser Rei de Israel, seria por eles julgado digno de morte. Os sacerdotes se haviam enganado. Quando estavam tramando a morte de Cristo, Caifás declarara conveniente que um homem morresse pela nação. Agora se revelava sua hipocrisia. A fim de eliminar a Cristo, prontificaram-se a sacrificar a própria existência nacional. DTN 527 4 Os sacerdotes viram o que tinham feito, e pediram a Pilatos que mudasse a inscrição. Disseram: "Não escrevas Rei dos Judeus; mas que Ele disse: Sou Rei dos Judeus." Mas Pilatos estava indignado contra si mesmo por causa de sua anterior fraqueza, e desprezou inteiramente os invejosos e astutos sacerdotes e príncipes. Respondeu friamente: "O que escrevi, escrevi". João 19:21, 22. DTN 527 5 Um poder mais alto que Pilatos ou os judeus dirigia a colocação daquela inscrição por sobre a cabeça de Jesus. Na providência divina, devia ela despertar reflexão e o exame das Escrituras. O lugar em que Cristo estava crucificado achava-se próximo da cidade. Milhares de pessoas de todas as terras se encontravam em Jerusalém naquele tempo, e a inscrição que declarava Jesus de Nazaré o Messias lhes chamaria a atenção. Era uma verdade palpitante, transcrita por mão guiada por Deus. DTN 528 1 Nos sofrimentos de Cristo sobre a cruz, cumpriu-se a profecia. Séculos antes da crucifixão, predissera o Salvador o tratamento que havia de receber. Dissera: "Pois Me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores Me cercou, transpassaram-Me as mãos e os pés. Poderia contar todos os Meus ossos; eles Me vêem e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sortes sobre a Minha túnica". Salmos 22:16-18. A profecia quanto a Suas vestes cumpriu-se sem conselho nem interferência de amigos ou inimigos do Crucificado. Aos soldados que O puseram na cruz, foram dados os Seus vestidos. Cristo ouviu a altercação dos homens, enquanto os dividiam entre si. Sua túnica era tecida de alto a baixo, sem costuras, e disseram: "Não a rasguemos, mas lancemos sorte sobre ela, para ver de quem será." DTN 528 2 Em outra profecia declarou o Salvador: "Afrontas Me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre". Salmos 69:20, 21. Aos que padeciam morte de cruz, era permitido ministrar uma poção entorpecente, para amortecer a sensação de dor. Essa foi oferecida a Jesus; mas, havendo-a provado, recusou-a. Não aceitaria nada que Lhe obscurecesse a mente. Sua fé devia ater-se firmemente a Deus. Essa era Sua única força. Obscurecer a mente era oferecer vantagem a Satanás. DTN 528 3 Os inimigos de Jesus descarregaram sobre Ele sua cólera, enquanto pendia da cruz. Sacerdotes, príncipes e escribas uniram-se à turba em zombar do moribundo Salvador. No batismo e na transfiguração, a voz de Deus se fizera ouvir, proclamando Cristo Seu Filho. Outra vez justamente antes de ser Cristo traído, o Pai falara, testificando de Sua divindade. Agora, porém, muda permanecia a voz do Céu. Nenhum testemunho se ouviu em favor de Cristo. Sozinho sofreu maus-tratos e escárnios da parte dos ímpios. DTN 528 4 "Se és Filho de Deus", diziam, "desce da cruz." "Salve-Se a Si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus." No deserto da tentação, declarara Satanás: "Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães." "Se Tu és o Filho de Deus, lança-Te de aqui abaixo" -- do pináculo do templo. Mateus 4:3, 6. E Satanás com seus anjos, em forma humana, achava-se presente ao pé da cruz. O arquiinimigo e suas hostes cooperavam com os sacerdotes e príncipes. Os mestres do povo haviam estimulado a turba ignorante a pronunciar julgamento contra um homem a quem muitos dentre ela nem sequer tinham visto, até serem solicitados a dar testemunho contra Ele. Sacerdotes, príncipes, fariseus e a endurecida plebe coligavam-se num satânico frenesi. Os guias religiosos se uniram a Satanás e a seus anjos. Cumpriam-lhes as ordens. DTN 529 1 Jesus, sofrendo e moribundo, ouvia cada palavra, ao declararem os sacerdotes: "Salvou os outros, e não pode salvar-Se a Si mesmo. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que O vejamos e acreditemos". Mateus 27:42, 43. Cristo poderia haver descido da cruz. Mas foi porque Ele não salvou a Si mesmo que o pecador tem esperança de perdão e favor para com Deus. DTN 529 2 Em seu escárnio do Salvador, os que professavam ser os expoentes das profecias repetiam as próprias palavras que a inspiração predissera que profeririam nessa ocasião. Em sua cegueira, no entanto, não viam estar cumprindo a profecia. Aqueles que, em chacota, diziam as palavras: "Confiou em Deus; livre-O agora, se O ama; porque disse: Sou Filho de Deus", mal pensavam que seu testemunho havia de ressoar através dos séculos. Mas se bem que proferidas em escárnio, essas palavras levaram homens a pesquisar as Escrituras como nunca antes tinham feito. Sábios ouviram, examinaram, ponderaram e oraram. Alguns houve que não descansaram enquanto não viram, comparando texto com texto, o sentido da missão de Cristo. Nunca houvera, anteriormente, tão geral conhecimento de Jesus como quando Ele pendia do madeiro. No coração de muitos que contemplavam a cena da crucifixão e ouviram as palavras de Cristo, estava resplandecendo a luz da verdade. DTN 529 3 A Cristo, em Sua agonia na cruz, sobreveio um raio de conforto. Foi a súplica do ladrão arrependido. Ambos os homens que estavam crucificados com Jesus, a princípio O injuriaram; e um deles, sob os sofrimentos, tornara-se cada vez mais desesperado e provocante. Assim não foi, porém, com o companheiro. Este não era um criminoso endurecido; extraviara-se por más companhias, mas era menos culpado que muitos dos que ali se achavam ao pé da cruz, injuriando o Salvador. Vira e ouvira Jesus, e ficara convencido, por Seus ensinos, mas dEle fora desviado pelos sacerdotes e príncipes. Procurando abafar a convicção, imergira mais e mais fundo no pecado, até que foi preso, julgado como criminoso e condenado a morrer na cruz. No tribunal e a caminho para o Calvário, estivera em companhia de Jesus. Ouvira Pilatos declarar: "Não acho nEle crime algum". João 19:4. Notara-Lhe o porte divino, e Seu piedoso perdão aos que O atormentavam. Na cruz, vê os muitos grandes doutores religiosos estenderem desdenhosamente a língua, e ridicularizarem o Senhor Jesus. Vê o menear das cabeças. Ouve a ultrajante linguagem repetida por seu companheiro de culpa. "Se Tu és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo, e a nós". Lucas 23:39. Ouve, entre os transeuntes, muitos a defenderem Jesus. Ouve-os repetindo-Lhe as palavras, narrando-Lhe as obras. Volve-lhe a convicção de que Este é o Cristo. Voltando-se para seu companheiro no crime, diz: "Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?" Lucas 23:40. Os ladrões moribundos não mais têm a temer os homens. Mas um deles é assaltado pela convicção de que há um Deus a temer, um futuro a fazê-lo tremer. E agora, todo poluído pelo pecado como se acha, a história de sua vida está a findar. "E nós, na verdade, com justiça", geme ele, "porque recebemos o que nossos feitos mereciam; mas Este nenhum mal fez". Lucas 23:41. DTN 530 1 Não há questão agora. Não há dúvidas, nem censuras também. Quando condenado por seu crime, o ladrão ficara possuído de desânimo e desespero; mas pensamentos estranhos, ternos, surgem agora. Evoca tudo quanto ouvira de Jesus, como Ele curara os doentes e perdoara os pecados. Ouvira as palavras dos que nEle criam e O seguiram em pranto. Vira e lera o título por sobre a cabeça do Salvador. Ouvira-o repetido pelos que passavam, alguns com lábios tristes e trêmulos, outros com gracejos e zombarias. O Espírito Santo ilumina-lhe a mente, e pouco a pouco se liga a cadeia das provas. Em Jesus ferido, zombado e pendente da cruz, vê o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Num misto de esperança e de agonia em sua voz, a desamparada, moribunda alma atira-se sobre o agonizante Salvador. "Senhor, lembra-Te de mim, quando vieres no Teu reino" (Lucas 23:42, Trad. Trinitariana). DTN 530 2 A resposta veio pronta. Suave e melodioso o acento, cheias de amor, de compaixão e de poder as palavras: "Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso". Lucas 23:43. DTN 530 3 Por longas horas de agonia, injúrias e escárnios caíram aos ouvidos de Jesus. Pendente da cruz, ouve ainda em volta o som das zombarias e maldições. Coração anelante, estivera atento a ver se ouvia alguma expressão de fé da parte dos discípulos. E ouvira apenas as lamentosas palavras: "Nós esperávamos que fosse Ele o que remisse a Israel". Lucas 24:21. Quão grata foi, pois, ao Salvador a declaração de fé e amor do ladrão prestes a morrer! Enquanto os dirigentes judeus negam a Jesus e Seus próprios discípulos duvidam de Sua divindade, o pobre ladrão, no limiar da eternidade, Lhe chama Senhor. Muitos estavam dispostos a chamá-Lo Senhor quando operava milagres, e depois de haver ressurgido do sepulcro; ninguém, no entanto, O reconheceu enquanto, moribundo, pendia da cruz, a não ser o ladrão arrependido, salvo à hora undécima. DTN 530 4 Os espectadores ouviram as palavras do ladrão, quando chamou Senhor a Jesus. O tom do arrependido despertou-lhes a atenção. Aqueles que, ao pé da cruz, questionaram pelas vestes de Cristo e lançaram sortes sobre a túnica, pararam para escutar. Emudeceram as vozes iradas. Com a respiração suspensa, olhavam para Cristo e esperaram a resposta daqueles lábios já quase sem vida. DTN 530 5 Ao proferir Ele as palavras de promessa, brilhante, vívido clarão penetrou a escura nuvem que parecia envolver a cruz. Ao ladrão contrito sobreveio a perfeita paz da aceitação de Deus. Em Sua humilhação, era Cristo glorificado. Aquele que, a todos os outros olhos, parecia vencido, era o Vencedor. Foi reconhecido como O que leva os pecados. Os homens podem exercer poder sobre Seu corpo humano. Podem-Lhe ferir as santas fontes com a coroa de espinhos. Podem despojá-Lo das vestes e contender sobre a divisão das mesmas. Não O podem, porém, privar do poder de perdoar pecados. Morrendo, dá testemunho em favor de Sua divindade e da glória do Pai. Seu ouvido não está agravado para que não possa ouvir, nem sua mão encurtada para não poder salvar. É Seu direito salvar perfeitamente a todos quantos se chegam a Deus por Ele. DTN 531 1 Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso. Cristo não prometeu que o ladrão estaria com Ele no Paraíso naquele dia. Ele próprio não foi naquele dia para o Paraíso. Dormiu no sepulcro e, na manhã da ressurreição, disse: "Ainda não subi para Meu Pai". João 20:17. Mas no dia da crucifixão, o dia da aparente derrota e treva, foi feita a promessa. "Hoje", enquanto morria na cruz como malfeitor, Cristo dava ao pobre pecador a certeza: "Tu estarás comigo no Paraíso." DTN 531 2 Os ladrões crucificados com Jesus foram colocados "um de cada lado, e Jesus no meio". Isso foi feito por instrução dos sacerdotes e principais. A posição de Cristo entre os ladrões indicava ser Ele o maior criminoso dos três. Assim se cumpriu a escritura: "Foi contado com os transgressores". Isaías 53:12. A inteira significação de seu ato, porém, não viram os sacerdotes. Como Jesus crucificado com os ladrões, foi posto "no meio", assim foi Sua cruz colocada no meio de um mundo a perecer no pecado. E as perdoadoras palavras dirigidas ao ladrão arrependido, fizeram brilhar uma luz que brilhará até aos remotos cantos da Terra. DTN 531 3 Com espanto contemplavam os anjos o infinito amor de Jesus, que, sofrendo a mais intensa agonia física e mental, pensava apenas nos outros e animava a arrependida alma a crer. Em Sua humilhação, dirigira-Se, como profeta, às filhas de Jerusalém; como sacerdote e advogado, intercedera com o Pai pelo perdão de Seus assassinos; como amorável Salvador perdoara os pecados do arrependido ladrão. DTN 531 4 Enquanto o olhar de Jesus vagueava pela multidão que O cercava, uma figura Lhe prendeu a atenção. Ao pé da cruz se achava Sua mãe, apoiada pelo discípulo João. Ela não podia suportar permanecer longe de seu Filho; e João, sabendo que o fim se aproximava, trouxera-a de novo para perto da cruz. Na hora de Sua morte, Cristo lembrou-Se de Sua mãe. Olhando-lhe o rosto abatido pela dor, e depois a João, disse, dirigindo-Se a ela: "Mulher, eis aí o teu filho"; e depois a João: "Eis aí tua mãe". João 19:26, 27. João entendeu as palavras de Cristo, e aceitou o encargo. Levou imediatamente Maria para sua casa, e daquela hora em diante dela cuidou ternamente. Ó piedoso, amorável Salvador! por entre toda a Sua dor física e mental angústia, teve solícito cuidado para com Sua mãe! Não possuía dinheiro com que lhe provesse o conforto; achava-Se, porém, entronizado na alma de João, e entregou-lhe Sua mãe como precioso legado. Assim providenciou para ela aquilo de que mais necessitava -- a terna simpatia de alguém que a amava porque ela amava a Jesus. E, acolhendo-a como santo legado, estava João recebendo grande bênção. Ela lhe era uma contínua recordação de seu querido Mestre. DTN 532 1 O perfeito exemplo do amor filial de Cristo resplandece com não esmaecido brilho por entre a neblina dos séculos. Durante cerca de trinta anos Jesus, por Sua labuta diária, ajudara nas responsabilidades domésticas. E agora, mesmo em Sua última agonia, Se lembra de providenciar em favor de Sua mãe viúva e aflita. O mesmo espírito se manifestará em todo discípulo de nosso Senhor. Os que seguem a Cristo sentirão ser uma parte de sua religião respeitar os pais e prover-lhes as necessidades. O pai e a mãe nunca deixarão de receber, do coração em que se abriga o amor de Cristo, solícito cuidado e terna simpatia. DTN 532 2 E agora, estava a morrer o Senhor da glória, o Resgate da raça. Entregando a preciosa vida, não foi Cristo sustido por triunfante alegria. Tudo eram opressivas sombras. Não era o temor da morte que O oprimia. Nem a dor e a ignomínia da cruz Lhe causavam a inexprimível angústia. Cristo foi o príncipe dos sofredores; mas Seu sofrimento provinha do senso da malignidade do pecado, o conhecimento de que, mediante a familiaridade com o mal, o homem se tornara cego à enormidade do mesmo. Cristo viu quão profundo é o domínio do pecado no coração humano, quão poucos estariam dispostos a romper com seu poder. Sabia que, sem o auxílio divino, a humanidade devia perecer, e via multidões perecerem ao alcance de abundante auxílio. DTN 532 3 Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniqüidade de nós todos. Foi contado como transgressor, a fim de que nos redimisse da condenação da lei. A culpa de todo descendente de Adão pesava-Lhe sobre a alma. A ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniqüidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. Toda a Sua vida anunciara Cristo ao mundo caído as boas-novas da misericórdia do Pai, de Seu amor cheio de perdão. A salvação para o maior pecador, fora Seu tema. Mas agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia a dor física. DTN 532 4 Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus. O Salvador não podia enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício por parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus, que Sua separação houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de experimentar o pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça culpada. Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como substituto do homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o coração do Filho de Deus. DTN 533 1 Com assombro presenciara os anjos a desesperada agonia do Salvador. As hostes do Céu velaram o rosto, do terrível espetáculo. A inanimada natureza exprimiu sua simpatia para com seu insultado e moribundo Autor. O Sol recusou contemplar a espantosa cena. Seus raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia, quando, de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um sudário, envolveu a cruz. "Houve trevas em toda a Terra até à hora nona". Marcos 15:33. Não houve eclipse ou outra qualquer causa natural para essa escuridão, tão espessa como a da meia-noite sem luar nem estrelas. Foi miraculoso testemunho dado por Deus, para que se pudesse confirmar a fé das vindouras gerações. DTN 533 2 Naquela densa treva ocultava-Se a presença de Deus. Ele faz da treva o Seu pavilhão, e esconde Sua glória dos olhos humanos. Deus e Seus santos anjos estavam ao pé da cruz. O Pai estava com o Filho. Sua presença, no entanto, não foi revelada. Houvesse Sua glória irrompido da nuvem, e todo espectador humano teria sido morto. E naquela tremenda hora não devia Cristo ser confortado com a presença do Pai. Pisou sozinho o lagar, e dos povos nenhum havia com Ele. DTN 533 3 Na espessa escuridão, velou Deus a final agonia humana de Seu Filho. Todos quantos viram Cristo em Seu sofrimento, convenceram-se de Sua divindade. Aquele rosto, uma vez contemplado pela humanidade, não seria nunca mais esquecido. Como a fisionomia de Caim lhe exprimia a culpa de homicida, assim o semblante de Cristo revelava inocência, serenidade, benevolência -- a imagem de Deus. Mas Seus acusadores não queriam dar atenção ao cunho celestial. Durante longas horas de agonia fora Cristo contemplado pela escarnecedora multidão. Agora, ocultou-O misericordiosamente o manto divino. DTN 533 4 Parecia haver baixado sobre o Calvário um silêncio sepulcral. Inominável terror apoderou-se da multidão que circundava a cruz. As maldições e injúrias cessaram a meio das frases iniciadas. Homens, mulheres e crianças caíram prostrados por terra. De quando em quando irradiavam da nuvem vívidos clarões, mostrando a cruz e o crucificado Redentor. Sacerdotes, príncipes, escribas, executores bem como a turba, todos pensavam haver chegado o momento de sua retribuição. Depois de algum tempo, murmuravam alguns que Jesus desceria agora da cruz. Tentavam outros, às apalpadelas, achar o caminho de volta para a cidade, batendo no peito e lamentando de temor. DTN 534 1 À hora nona, ergueu-se a treva de sobre o povo, mas continuou a envolver o Salvador. Era um símbolo da agonia e do horror que pesavam sobre o coração dEle. Olho algum podia penetrar a escuridão que rodeava a cruz, e ninguém podia sondar a sombra mais profunda ainda que envolvia a sofredora alma de Cristo. Os furiosos relâmpagos pareciam dirigidos contra Ele ali pendente da cruz. Então Jesus clamou com grande voz: "Eli, Eli, lamá sabactâni? que traduzido, é: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Marcos 15:34. Ao baixarem sobre o Salvador as trevas exteriores, muitas vozes exclamaram: "A vingança do Céu está sobre Ele. Os raios da ira divina são contra Ele lançados, porque pretendeu ser Filho de Deus." Muitos dos que nEle criam, ouviram-Lhe o desesperado grito. E abandonou-os a esperança. Se Deus desamparara a Jesus, em quem podiam confiar Seus seguidores? DTN 534 2 Quando as trevas se ergueram do opresso espírito de Cristo, reavivou-se-Lhe o sentido do sofrimento físico, e disse: "Tenho sede". João 19:28. Um dos soldados romanos, tocado de piedade, ao contemplar os lábios ressequidos, tomou uma esponja, numa haste de hissopo, e, imergindo-a numa vasilha de vinagre, ofereceu-a a Jesus. Mas os sacerdotes zombavam-Lhe da agonia. Enquanto as trevas cobriam a Terra, encheram-se de temor; dissipado este, porém voltou-lhes o medo de que Jesus lhes escapasse ainda. Interpretaram mal Suas palavras: "Eli, Eli, lamá sabactâni". Mateus 27:46. Com amargo desprezo e escárnio, disseram: "Este chama por Elias." Recusaram a última oportunidade de aliviar-Lhe os sofrimentos. "Deixa", disseram, "vejamos se Elias vem livrá-Lo". Mateus 27:47, 49. DTN 534 3 O imaculado Filho de Deus pendia da cruz, a carne lacerada pelos açoites; aquelas mãos tantas vezes estendidas para abençoar, pregadas ao lenho; aqueles pés tão incansáveis em serviço de amor, cravados no madeiro; a régia cabeça ferida pela coroa de espinhos; aqueles trêmulos lábios entreabertos para deixar escapar um grito de dor. E tudo quanto sofreu -- as gotas de sangue a Lhe correr da fronte, das mãos e dos pés, a agonia que Lhe atormentou o corpo, e a indizível angústia que Lhe encheu a alma ao ocultar-se dEle a face do Pai -- tudo fala a cada filho da família humana, declarando: É por ti que o Filho de Deus consente em carregar esse fardo de culpa; por ti Ele destrói o domínio da morte, e abre as portas do Paraíso. Aquele que impôs calma às ondas revoltas, e caminhou por sobre as espumejantes vagas, que fez tremerem os demônios e fugir a doença, que abriu os olhos cegos e chamou os mortos à vida -- ofereceu-Se na cruz em sacrifício, e tudo isso por amor de ti. Ele, o que leva sobre Si os pecados, sofre a ira da justiça divina, e torna-Se mesmo pecado por amor de ti. DTN 534 4 Silenciosos, aguardavam os espectadores o fim da terrível cena. O Sol saíra, mas a cruz continuava circundada de trevas. Sacerdotes e príncipes olhavam em direção de Jerusalém; e eis que a espessa nuvem pousara sobre a cidade e as planícies da Judéia. O Sol da Justiça, a Luz do mundo, retirava Seus raios da outrora favorecida cidade de Jerusalém. Os terríveis relâmpagos da ira divina dirigiam-se contra a malfadada cidade. DTN 535 1 De repente, ergueu-se de sobre a cruz a sombra, e em tons claros, como de trombeta, tons que pareciam ressoar por toda a criação, bradou Jesus: "Está consumado". João 19:30. "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito". Lucas 23:46. Uma luz envolveu a cruz, e o rosto do Salvador brilhou com uma glória semelhante à do Sol. Pendendo então a cabeça sobre o peito, expirou. DTN 535 2 Em meio da horrível escuridão, aparentemente abandonado por Deus, sofrera Cristo as piores conseqüências da miséria humana. Durante aquelas horas pavorosas, apoiara-Se às provas que anteriormente Lhe haviam sido dadas quanto à aceitação de Seu Pai. Estava familiarizado com o caráter de Deus; compreendia-Lhe a justiça, a misericórdia e o grande amor. Descansava, pela fé nAquele a quem Se deleitara sempre em obedecer. E à medida que em submissão Se confiava a Deus, o sentimento da perda do favor do Pai se desvanecia. Pela fé, saiu Cristo vitorioso. DTN 535 3 Jamais testemunhara a Terra uma cena assim. A multidão permanecia paralisada e, respiração suspensa, fitava o Salvador. Baixaram novamente as trevas sobre a Terra, e um surdo ruído, como de forte trovão, se fez ouvir. Seguiu-se violento terremoto. As pessoas foram atiradas umas sobre as outras, amontoadamente. Estabeleceu-se a mais completa desordem e consternação. Partiram-se ao meio os rochedos nas montanhas vizinhas, rolando fragorosamente para as planícies. Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para fora das covas. Dir-se-ia estar a criação desfazendo-se em átomos. Sacerdotes, príncipes, soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam prostrados por terra. DTN 535 4 Ao irromper dos lábios de Cristo o grande brado: "Está consumado" (João 19:30), oficiavam os sacerdotes no templo. Era a hora do sacrifício da tarde. O cordeiro, que representava Cristo, fora levado para ser morto. Trajando o significativo e belo vestuário, estava o sacerdote com o cutelo erguido, qual Abraão quando prestes a matar o filho. Vivamente interessado, o povo acompanhava a cena. Mas eis que a Terra treme e vacila; pois o próprio Senhor Se aproxima. Com ruído rompe-se de alto a baixo o véu interior do templo, rasgado por mão invisível, expondo aos olhares da multidão um lugar antes pleno da presença divina. Ali habitara o shekinah. Ali manifestara Deus Sua glória sobre o propiciatório. Ninguém, senão o sumo sacerdote, jamais erguera o véu que separava esse compartimento do resto do templo. Nele penetrava uma vez por ano, para fazer expiação pelos pecados do povo. Mas eis que esse véu é rasgado em dois. O santíssimo do santuário terrestre não mais é um lugar sagrado. DTN 535 5 Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a vítima; mas o cutelo cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa. O tipo encontrara o antítipo por ocasião da morte do Filho de Deus. Foi feito o grande sacrifício. Acha-se aberto o caminho para o santíssimo. Um novo, vivo caminho está para todos preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita humanidade esperar a chegada do sumo sacerdote. Daí em diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e Advogado no Céu dos Céus. Era como se uma voz viva houvesse dito aos adoradores: Agora têm fim todos os sacrifícios e ofertas pelo pecado. O Filho de Deus veio, segundo a Sua palavra: "Eis aqui venho (no princípio do Livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade". Hebreus 10:7. "Por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção". Hebreus 9:12. ------------------------Capítulo 79 -- "Está consumado" DTN 537 1 Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito, exclamou: "Está consumado". João 19:30. Ganhara a batalha. Sua destra e Seu santo braço Lhe alcançaram a vitória. Como Vencedor, firmou Sua bandeira nas alturas eternas. Que alegria entre os anjos! Todo o Céu triunfou na vitória do Salvador. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino estava perdido. DTN 537 2 Para os anjos e os mundos não caídos, o brado: "Está consumado" teve profunda significação. Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção. Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo. DTN 537 3 Até à morte de Jesus, o caráter de Satanás não fora ainda claramente revelado aos anjos e mundos não caídos. O arqui-apóstata se revestira por tal forma de engano, que mesmo os santos seres não lhe compreenderam os princípios. Não viram claramente a natureza de sua rebelião. DTN 537 4 Era um ser admirável de poder e glória o que se pusera em oposição a Deus. De Lúcifer, diz o Senhor: "Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura". Ezequiel 28:12. Lúcifer fora o querubim cobridor. Estivera à luz da presença divina. Fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos. Depois de pecar, seu poder de enganar tornou-se consumado, e mais difícil o descobrir-lhe o caráter, em virtude da exaltada posição que mantivera junto do Pai. DTN 537 5 Deus poderia haver destruído Satanás e seus adeptos tão facilmente, como se pode atirar um seixo à terra; assim não fez, porém. A rebelião não seria vencida pela força. Poder compulsor só se encontra sob o governo de Satanás. Os princípios do Senhor não são dessa ordem. Sua autoridade baseia-se na bondade, na misericórdia e no amor; e a apresentação desses princípios é o meio a ser empregado. O governo de Deus é moral, e verdade e amor devem ser o poder predominante. DTN 537 6 Era desígnio divino colocar as coisas numa base de segurança eterna, sendo decidido nos conselhos celestiais que se concedesse tempo a Satanás para desenvolver os seus princípios, o fundamento de seu sistema de governo. Pretendera serem os mesmos superiores aos princípios divinos. Deu-se tempo para que os princípios de Satanás operassem, a fim de serem vistos pelo Universo celestial. DTN 538 1 Satanás induziu o homem ao pecado, e o plano de redenção entrou em vigor. Por quatro mil anos, esteve Cristo trabalhando pelo reerguimento do homem, e Satanás por sua ruína e degradação. E o Universo celestial contemplava tudo. DTN 538 2 Ao vir Jesus ao mundo, o poder de Satanás voltou-se contra Ele. Desde o tempo em que aqui apareceu, como a Criancinha de Belém, manobrou o usurpador para promover Sua destruição. Por todos os meios possíveis, procurou impedir Jesus de desenvolver infância perfeita, imaculada varonilidade, um ministério santo e sacrifício irrepreensível. Foi derrotado, porém. Não pôde levar Jesus a pecar. Não O conseguiu desanimar, ou desviá-Lo da obra para cuja realização viera ao mundo. Do deserto ao Calvário, foi açoitado pela tempestade da ira de Satanás, mas quanto mais impiedosa era ela, tanto mais firme Se apegava o Filho de Deus à mão de Seu Pai, avançando na ensangüentada vereda. Todos os esforços de Satanás para oprimi-Lo e vencê-Lo, só faziam ressaltar, mais nitidamente, a pureza de Seu caráter. DTN 538 3 Todo o Céu, bem como os não caídos mundos, foram testemunhas do conflito. Com que profundo interesse seguiram as cenas finais da luta! Viram o Salvador penetrar no horto do Getsêmani, a alma vergando sob o horror de uma grande treva. Ouviram-Lhe o doloroso grito: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice". Mateus 26:39. À medida que dEle era retirada a presença do Pai, viram-nO aflito por uma dor mais atroz que a da grande e última luta com a morte. Suor de sangue irrompeu-Lhe dos poros, gotejando no chão. Por três vezes foi-Lhe arrancada dos lábios a súplica de livramento. Não mais pôde o Céu suportar a cena, e um mensageiro de conforto foi enviado ao Filho de Deus. DTN 538 4 O Céu viu a Vítima entregue às mãos da turba homicida, e, com zombaria e violência, impelida à pressa de um a outro tribunal. Ouviu os escárnios dos perseguidores por causa de Seu humilde nascimento. Ouviu a negação por entre juras e imprecações da parte de um de Seus mais amados discípulos. Viu a frenética obra de Satanás, e seu poder sobre o coração dos homens. Oh! terrível cena! o Salvador aprisionado à meia-noite no Getsêmani, arrastado daqui para ali, de um palácio a um tribunal, citado duas vezes perante sacerdotes, duas perante o Sinédrio, duas perante Pilatos, e uma diante de Herodes, escarnecido, açoitado, condenado e conduzido fora para ser crucificado, carregando o pesado fardo da cruz, por entre os lamentos das filhas de Jerusalém e as zombarias da gentalha! DTN 538 5 Com dor e espanto contemplou o Céu a Cristo pendente da cruz, o sangue a correr-Lhe das fontes feridas, tendo na testa o sanguinolento suor. O sangue caía-Lhe, gota a gota, das mãos e dos pés, sobre a rocha perfurada para encaixar a cruz. As feridas abertas pelos cravos aumentavam ao peso que o corpo fazia sobre as mãos. Sua difícil respiração tornava-se mais rápida e profunda, à medida que Sua alma arquejava sob o fardo dos pecados do mundo. Todo o Céu se encheu de assombro quando, em meio de Seus terríveis sofrimentos, Cristo ergueu a oração: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Lucas 23:34. E, no entanto, ali estavam homens formados à imagem de Deus, unidos para esmagar a vida de Seu unigênito Filho. Que cena para o universo celeste! DTN 539 1 Os principados e os poderes das trevas estavam congregados em torno da cruz, lançando no coração dos homens a diabólica sombra de incredulidade. Quando Deus criou esses seres para estar diante de seu trono, eram belos e gloriosos. Sua formosura e santidade estavam em harmonia com a exaltada posição que ocupavam. Enriquecidos com a sabedoria de Deus, cingiam-se com a armadura celestial. Eram os ministros de Jeová. Quem poderia, no entanto, reconhecer nos anjos caídos os gloriosos serafins que outrora ministravam nas cortes celestiais? DTN 539 2 Instrumentos satânicos coligaram-se com homens maus em levar o povo a crer que Cristo era o maior dos pecadores, e torná-Lo objeto de abominação. Os que escarneciam de Cristo, enquanto pendia da cruz, estavam possuídos do espírito do primeiro grande rebelde. Ele os enchia de vis e aborrecíveis expressões. Inspirava-lhes as zombarias. Com tudo isso, porém, nada ganhou. DTN 539 3 Houvesse-se podido achar um só pecado em Cristo, tivesse Ele num particular que fosse cedido a Satanás para escapar à horrível tortura, e o inimigo de Deus e do homem teria triunfado. Cristo inclinou a cabeça e expirou, mas manteve firme a Sua fé em Deus, e a Sua submissão a Ele. "E ouvi uma grande voz no Céu, que dizia: Agora chegada está a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do Seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derribado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite". Apocalipse 12:10. DTN 539 4 Satanás viu que estava desmascarado. Sua administração foi exposta perante os anjos não caídos e o Universo celestial. Revelara-se um homicida. Derramando o sangue do Filho de Deus, desarraigou-se Satanás das simpatias dos seres celestiais. Daí em diante sua obra seria restrita. Qualquer que fosse a atitude que tomasse, não mais podia esperar os anjos ao virem das cortes celestiais, nem perante eles acusar os irmãos de Cristo de terem vestes de trevas e contaminação de pecado. Estavam rotos os últimos laços de simpatia entre Satanás e o mundo celestial. DTN 539 5 Todavia, Satanás não foi então destruído. Os anjos não perceberam, nem mesmo aí, tudo quanto se achava envolvido no grande conflito. Os princípios em jogo deviam ser mais plenamente revelados. E por amor do homem, devia continuar a existência de Satanás. O homem, bem como os anjos, devia ver o contraste entre o Príncipe da Luz e o das trevas. Cumpria-lhes escolher a quem servir. DTN 539 6 No início do grande conflito, declarara Satanás que a lei divina não podia ser obedecida, que a justiça era incompatível com a misericórdia, e que, fosse a lei violada, impossível seria ao pecador ser perdoado. Cada pecado devia receber seu castigo, argumentava Satanás; e se Deus abrandasse o castigo do pecado, não seria um Deus de verdade e justiça. Quando o homem violou a lei divina, e Lhe desprezou a vontade, Satanás exultou. Estava provado, declarou, que a lei não podia ser obedecida; o homem não podia ser perdoado. Por haver sido banido do Céu, depois da rebelião, pretendia que a raça humana devesse ser para sempre excluída do favor divino. O Senhor não podia ser justo, argumentava, e ainda mostrar misericórdia ao pecador. DTN 540 1 Mas mesmo como pecador, achava-se o homem, para com Deus, em posição diversa da de Satanás. Lúcifer pecara, no Céu, em face da glória divina. A ele, como a nenhum outro ser criado, se revelou o amor de Deus. Compreendendo o caráter do Senhor, conhecendo-Lhe a bondade, preferiu Satanás seguir sua própria vontade independente e egoísta. Essa escolha foi decisiva. Nada mais havia que Deus pudesse fazer para o salvar. O homem, porém, foi enganado; obscureceu-se-lhe o espírito pelo sofisma de Satanás. A altura e a profundidade do amor divino, não as conhecia o homem. Para ele, havia esperança no conhecimento do amor de Deus. Contemplando-Lhe o caráter, podia ser novamente atraído para Ele. DTN 540 2 Por meio de Jesus, foi a misericórdia divina manifesta aos homens; a misericórdia, no entanto, não pôs de parte a justiça. A lei revela os atributos do caráter de Deus, e nem um jota ou til da mesma se podia mudar, para ir ao encontro do homem em seu estado caído. Deus não mudou Sua lei, mas sacrificou-Se em Cristo, para redenção do homem. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. DTN 540 3 A lei requer justiça -- vida justa, caráter perfeito; e isso não tem o homem para dar. Não pode satisfazer as reivindicações da santa lei divina. Mas Cristo, vindo à Terra como homem, viveu vida santa, e desenvolveu caráter perfeito. Estes oferece Ele como dom gratuito a todos quantos o queiram receber. Sua vida substitui a dos homens. Assim obtêm remissão de pecados passados, mediante a paciência de Deus. Mais que isso, Cristo lhes comunica os atributos divinos. Forma o caráter humano segundo a semelhança do caráter de Deus, uma esplêndida estrutura de força e beleza espirituais. Assim, a própria justiça da lei se cumpre no crente em Cristo. Deus pode ser "justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. DTN 540 4 O amor de Deus tem-se expressado tanto em Sua justiça como em Sua misericórdia. A justiça é o fundamento de Seu trono, e o fruto de Seu amor. Era o desígnio de Satanás divorciar a misericórdia da verdade e da justiça. Buscou provar que a justiça da lei divina é um inimigo da paz. Mas Cristo mostrou que, no plano divino, elas estão indissoluvelmente unidas; uma não pode existir sem a outra. "A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". Salmos 85:10. DTN 541 1 Por Sua vida e morte, provou Cristo que a justiça divina não destrói a misericórdia, mas que o pecado pode ser perdoado, e que a lei é justa, sendo possível obedecer-lhe perfeitamente. As acusações de Satanás foram refutadas. Deus dera ao homem inequívoca prova de amor. DTN 541 2 Outro engano devia ser então apresentado. Satanás declarou que a misericórdia destruía a justiça, que a morte de Cristo anulava a lei do Pai. Fosse possível ser a lei mudada ou anulada, então não era necessário Cristo ter morrido. Anular a lei, porém, seria imortalizar a transgressão e colocar o mundo sob o domínio de Satanás. Foi porque a lei é imutável, porque o homem só se pode salvar mediante a obediência a seus preceitos, que Jesus foi erguido na cruz. Todavia, os próprios meios por que Cristo estabeleceu a lei, foram apresentados por Satanás como destruindo-a. A esse respeito sobrevirá o último conflito da grande luta entre Cristo e Satanás. DTN 541 3 O ser defeituosa a lei pronunciada pela própria voz divina, o haverem sido certas especificações postas à margem, eis a pretensão apresentada agora por Satanás. É o último grande engano que ele há de trazer sobre o mundo. Não necessita atacar toda a lei; se pode levar os homens a desrespeitar um só preceito, está conseguido seu objetivo. Pois "qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos". Tiago 2:10. Consentindo em transgredir um preceito, são os homens colocados sob o poder de Satanás. Substituindo a lei divina pela humana, procurará Satanás dominar o mundo. Essa obra é predita em profecia. Acerca do grande poder apóstata que é representante de Satanás, acha-se declarado: "Proferirá palavras contra o Altíssimo e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão". Daniel 7:25. DTN 541 4 Os homens hão de certamente estabelecer suas leis para anular as de Deus. Procurarão obrigar a consciência de outros, e, em seu zelo para impor essas leis, oprimirão os semelhantes. DTN 541 5 A guerra contra a lei divina, começada no Céu, continuará até ao fim do tempo. Todo homem será provado. Obediência ou desobediência, eis a questão a ser assentada por todo o mundo. Todos serão chamados a escolher entre a lei divina e as humanas. Aí se traçará a linha divisória. Não existirão senão duas classes. Todo caráter será plenamente desenvolvido; e todos mostrarão se escolheram o lado da lealdade ou o da rebelião. DTN 541 6 Então virá o fim. Deus reivindicará Sua lei e livrará Seu povo. Satanás e todos quantos se lhe houverem unido em rebelião serão extirpados. O pecado e os pecadores perecerão, raiz e ramos (Malaquias 4:1) -- Satanás a raiz, e seus seguidores os ramos. Cumprir-se-á a palavra dirigida ao príncipe do mal: "Pois que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus, [...] te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas. [...] Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre". Ezequiel 28:6-19. Então "o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá" (Salmos 37:10); "e serão como se nunca tivessem sido". Obadias 16. DTN 542 1 Isso não é um ato de poder arbitrário da parte de Deus. Os que Lhe rejeitavam a misericórdia ceifarão aquilo que semearam. Deus é a fonte da vida; e quando alguém escolhe o serviço do pecado, separa-se de Deus, desligando-se assim da vida. Ele está "separado da vida de Deus". Efésios 4:18. Cristo diz: "Todos os que Me aborrecem amam a morte". Provérbios 8:36. Deus lhe dá existência por algum tempo, a fim de poderem desenvolver seu caráter e revelar seus princípios. Feito isso, receberão os resultados de sua própria escolha. Por uma vida de rebelião, Satanás e todos quantos a ele se unem colocam-se em tanta desarmonia com Deus, que Sua própria presença lhes é um fogo consumidor. A glória dAquele que é amor os destruirá. DTN 542 2 Ao princípio do grande conflito, os anjos não entendiam isso. Houvesse sido deixado que Satanás e seus anjos colhessem os plenos frutos de seu pecado, e teriam perecido; mas não se patentearia aos seres celestiais ser isso o inevitável resultado do pecado. Uma dúvida acerca da bondade divina haveria permanecido em seu espírito, qual ruim semente, para produzir seu mortal fruto de pecado e miséria. DTN 542 3 Não será, porém, assim, ao findar o grande conflito. Então, havendo-se completado o plano da redenção, o caráter de Deus é revelado a todos os seres inteligentes. Os preceitos de Sua lei são vistos como perfeitos e imutáveis. Então o pecado terá patenteado sua natureza, Satanás o seu caráter. Então o extermínio do pecado reivindicará o amor de Deus, e estabelecerá Sua honra perante um Universo de seres que se deleitam em fazer Sua vontade, e em cujo coração está a Sua lei. DTN 542 4 Bem podiam, pois, os anjos se regozijar ao contemplarem a cruz do Salvador; pois embora não compreendessem ainda tudo, sabiam que a destruição do pecado e de Satanás fora para sempre assegurada, que a redenção do homem era certa e que o Universo estava para sempre a salvo. O próprio Cristo compreendeu plenamente os resultados do sacrifício feito no Calvário. A tudo isto olhava Ele quando exclamou na cruz: "Está consumado". João 19:30. ------------------------Capítulo 80 -- No sepulcro de José DTN 543 1 Jesus descansou, afinal. Findara o longo dia de vergonha e tortura. Ao introduzirem os últimos raios do sol poente o dia do sábado, o Filho de Deus estava em repouso, no sepulcro de José. Concluída Sua obra, as mãos cruzadas em paz, descansava durante as sagradas horas do sábado. DTN 543 2 No princípio, o Pai e o Filho repousaram no sábado após Sua obra de criação. Quando "os céus, e a Terra e todo o seu exército foram acabados" (Gênesis 2:1), o Criador e todos os seres celestiais se regozijaram na contemplação da gloriosa cena. "As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. Agora Jesus descansava da obra de redenção; e se bem que houvesse dor entre os que O amavam na Terra, reinou contudo alegria no Céu. Gloriosa era aos olhos dos seres celestiais a perspectiva do futuro. Uma criação restaurada, a raça redimida que, havendo vencido o pecado, nunca mais poderia cair -- eis o resultado visto por Deus e os anjos, da obra consumada por Cristo. Com esta cena se acha para sempre ligado o dia em que Jesus descansou. Pois Sua "obra é perfeita" (Deuteronômio 32:4); e "tudo quanto Deus faz durará eternamente". Eclesiastes 3:14. Quando se der a "restauração de todas as coisas, as quais Deus falou por boca dos Seus santos profetas, desde o princípio do mundo" (Atos dos Apóstolos 3:21, Trad. Figueiredo), o sábado da criação, o dia em que Jesus esteve em repouso no sepulcro de José, será ainda um dia de descanso e regozijo. O Céu e a Terra se unirão em louvor, quando, "desde um sábado até ao outro" (Isaías 66:23), as nações dos salvos se inclinarem em jubiloso culto a Deus e o Cordeiro. DTN 543 3 Nos acontecimentos finais do dia da crucifixão, foi dada nova prova de cumprimento da profecia, e novo testemunho da divindade de Cristo. Quando a treva se erguera de sobre a cruz, e o Salvador soltara Seu brado agonizante, ouviu-se imediatamente outra voz, dizendo: "Verdadeiramente este era o Filho de Deus". Lucas 23:47. DTN 543 4 Essas palavras não foram murmuradas em segredo. Todos os olhos se volveram a ver de onde provinham. Quem falara? Fora o centurião, o soldado romano. A divina paciência do Salvador, e Sua súbita morte, com o grito de vitória nos lábios, impressionara esse pagão. No ferido, quebrantado corpo pendente da cruz, reconheceu o centurião a figura do Filho de Deus. Não pôde deixar de confessar sua fé. Assim foi novamente dada a prova de que nosso Redentor devia ver o trabalho de Sua alma. No mesmo dia de Sua morte, três homens, diferindo largamente entre si, declaravam sua fé -- o que comandava a guarda romana, o que conduzira a cruz do Salvador e o que morrera na cruz, ao Seu lado. DTN 544 1 Ao aproximar-se a noite, um silêncio estranho pairou sobre o Calvário. A multidão dispersou-se, e muitos volveram a Jerusalém com espírito bem diverso do que tinham pela manhã. Muitos haviam afluído à crucifixão por curiosidade, e não por ódio para com Cristo. Contudo, acreditavam nas acusações dos sacerdotes e olhavam-nO como malfeitor. Sob uma agitação fora do natural, uniram-se à turba em injuriá-Lo. Quando, porém, a Terra foi envolta em trevas, e se sentiram acusados pela própria consciência, acharam-se culpados de uma grande injustiça. Nenhum gracejo ou riso de escárnio se ouviu em meio daquela terrível escuridão; e, dissipada ela, fizeram o caminho de volta a casa em solene silêncio. Estavam convencidos de que as acusações dos sacerdotes eram falsas, de que Jesus não era nenhum impostor; e algumas semanas mais tarde, quando Pedro pregou no dia de Pentecostes, achavam-se entre os milhares que se converteram a Cristo. DTN 544 2 Mas os guias judaicos não se mudaram pelos acontecimentos que haviam presenciado. Não arrefecera seu ódio para com Jesus. A treva que cobria a Terra durante a crucifixão, não era mais densa que a que ainda envolvia o espírito dos sacerdotes e principais. Em Seu nascimento, a estrela conhecera a Cristo e guiara os magos à manjedoura onde jazia. As hostes celestiais conheceram-nO e entoaram-Lhe o louvor por sobre as planícies de Belém. Conhecera-Lhe o mar a voz e obedecera a Sua ordem. A doença e a morte reconheceram-Lhe a autoridade, entregando-Lhe sua presa. O Sol O conhecera e, à vista de Sua agonia e morte, ocultara a face luminosa. Conheceram-nO as rochas, e fenderam-se, fragmentando-se ao Seu brado. A natureza inanimada conhecera a Cristo, e dera testemunho de Sua divindade. Mas os sacerdotes e príncipes de Israel não conheceram o Filho de Deus. DTN 544 3 Todavia, esses sacerdotes e príncipes não estavam tranqüilos. Levaram a cabo seu desígnio de matar a Jesus; não experimentavam, no entanto, a sensação da vitória que esperavam. Mesmo na hora de seu aparente triunfo, assaltavam-nos dúvidas quanto ao que viria depois. Ouviram o brado: "Está consumado". João 19:30. "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito". Lucas 23:46. Viram as rochas fenderem-se, sentiram o forte terremoto e estavam desassossegados, inquietos. DTN 544 4 Tinham invejado a influência de Cristo para com o povo, enquanto vivo; sentiam o mesmo ainda depois de Ele morto. Temiam mais, muito mais o Cristo morto do que haviam temido o Cristo vivo. Receavam que a atenção do povo fosse atraída ainda para os acontecimentos que acompanhavam a crucifixão. Temiam os resultados da obra daquele dia. Por coisa alguma queriam que Seu corpo permanecesse na cruz, durante o sábado. Este se vinha aproximando, e seria uma violação de sua santidade o ficarem os corpos pendentes da cruz. Assim, servindo-se disso como pretexto, os principais judeus solicitaram de Pilatos que se apressasse a morte das vítimas, e seus corpos fossem tirados antes do pôr-do-sol. DTN 545 1 Pilatos tinha tão pouca vontade como eles de que o corpo de Jesus ficasse na cruz. Obtido seu consentimento, quebraram as pernas dos dois ladrões para lhes apressar a morte; mas verificaram estar Jesus já morto. Os rudes soldados abrandaram-se pelo que ouviram e testemunharam de Cristo, e abstiveram-se de Lhe quebrar os membros. Assim, na oferta do Cordeiro de Deus cumpriu-se a lei da páscoa: "Dela nada deixarão até à manhã, e dela não quebrarão osso algum; segundo todo o estatuto da páscoa a celebrarão". Números 9:12. DTN 545 2 Os sacerdotes e principais surpreenderam-se ao verificar que Jesus já estava morto. A morte pela cruz constituía processo vagaroso; difícil era determinar quando cessara a vida. Nunca se ouvira que alguém morrera dentro de seis horas de crucifixão. Os sacerdotes desejavam certificar-se da morte de Jesus, e, por sugestão deles, um soldado atirou uma lança ao lado do Salvador. Da ferida assim feita saíram duas copiosas e distintas correntes, uma de sangue, outra de água. Isso foi observado por todos os espectadores, e João declara a ocorrência de maneira bem positiva. Diz ele: "Um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. E aquele que o viu testificou, e seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais. Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos Seus ossos será quebrado. E outra vez diz a Escritura: Verão Aquele que traspassaram". João 19:34-37. DTN 545 3 Depois da ressurreição, os sacerdotes e principais puseram em circulação o boato de que Cristo não morrera na cruz, que apenas desmaiara e revivera posteriormente. Outro boato afirmava que não era um corpo real, de carne e osso, mas a semelhança de um corpo, o que fora posto no sepulcro. A ação dos soldados romanos contesta essas falsidades. Não Lhe quebraram as pernas, porque Ele já estava morto. Para satisfazer os sacerdotes, furaram-Lhe o lado. Não se houvesse já extinguido a vida, e isso teria ocasionado imediatamente a morte. DTN 545 4 Não foi, porém, a lança atirada, não foi a dor da crucifixão, que produziu a morte de Jesus. Aquele grito soltado "com grande voz" (Lucas 23:46) no momento da morte, a corrente de sangue e água que Lhe fluiu do lado, demonstravam que Ele morreu pela ruptura do coração. Partiu-se-Lhe o coração pela angústia mental. Foi morto pelo pecado do mundo. DTN 545 5 Com a morte de Cristo, pereceram as esperanças dos discípulos. Olhavam-Lhe as cerradas pálpebras e a cabeça pendida, o cabelo empastado de sangue, as mãos e os pés traspassados, e indescritível era a angústia que sentiam. Até ao fim não acreditavam que Ele morresse; mal podiam crer que estivesse realmente morto. Esmagados pela dor, não recordavam Suas palavras, a predizer essa mesma cena. Coisa alguma de quanto dissera lhes dava então conforto. Viam unicamente a cruz e a ensangüentada vítima. O futuro afigurava-se-lhes negro e desesperador. Sua fé em Jesus morrera; nunca, porém, haviam amado tanto a seu Senhor. Nunca Lhe haviam antes assim compreendido o valor, e a necessidade que tinham da presença dEle. DTN 546 1 Mesmo morto, o corpo de Cristo era muito precioso aos discípulos. Anelavam fazer-Lhe honroso sepultamento, mas não sabiam como o haviam de realizar. O crime que dera lugar à condenação de Cristo era traição ao governo romano, e as pessoas mortas por essa ofensa deviam ser sepultadas num terreno especialmente provido para os criminosos. O discípulo João, e as mulheres da Galiléia, haviam permanecido ao pé da cruz. Não podiam deixar o corpo de seu Senhor nas insensíveis mãos dos soldados, e enterrado num desonrosa sepultura. No entanto, não o podiam impedir. Não lhes era possível obter favores das autoridades judaicas, e nenhuma influência tinham junto de Pilatos. DTN 546 2 Nessa emergência, José de Arimatéia e Nicodemos vieram em auxílio dos discípulos. Ambos eram membros do Sinédrio e tinham relações com Pilatos. Ambos ricos e influentes, decidiram que o corpo de Jesus teria sepultamento condigno. DTN 546 3 José foi ousadamente a Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pela primeira vez, ouviu Pilatos que Jesus estava na verdade morto. Contraditórias notícias haviam-lhe chegado aos ouvidos quanto aos acontecimentos concernentes à crucifixão, mas ocultaram-lhe propositalmente a morte de Cristo. Pilatos fora prevenido pelos sacerdotes e principais contra algum engano da parte dos discípulos de Jesus em relação ao Seu corpo. Ouvindo o pedido de José, mandou, portanto, chamar o centurião de serviço junto à cruz, e soube com certeza da morte de Cristo. Dele colheu também a narração das cenas do Calvário, confirmando o testemunho de José. DTN 546 4 O pedido de José foi satisfeito. Enquanto João estava aflito quanto ao sepultamento do Mestre, voltou ele com a ordem de Pilatos acerca do corpo de Cristo; e Nicodemos chegou trazendo uma custosa mistura de mirra e aloés, de cerca de cem libras de peso, para Seu embalsamento. Ao mais honrado em Jerusalém, não se poderia haver demonstrado mais respeito na morte. Os discípulos surpreenderam-se de ver esses ricos príncipes tão interessados como eles próprios no sepultamento do Senhor. DTN 546 5 Nem José nem Nicodemos haviam aceito abertamente o Salvador enquanto vivera. Sabiam que esse passo os excluiria do Sinédrio, e esperavam protegê-Lo por sua influência nos conselhos. Por algum tempo, pareceu haverem sido bem-sucedidos; mas os astutos sacerdotes, vendo como favoreciam a Cristo, embargaram-lhes os planos. Em sua ausência, fora Jesus condenado e entregue para ser crucificado. Agora, que estava morto, não mais ocultaram sua afeição para com Ele. Enquanto os discípulos temiam mostrar-se abertamente como Seus seguidores, José e Nicodemos foram ousadamente em seu auxílio. O concurso desses homens ricos e honrados era muito oportuno. Era-lhes dado fazer pelo Mestre morto o que se tornava impossível aos pobres discípulos; e sua riqueza e influência os protegia, em grande parte, da malignidade dos sacerdotes e principais. DTN 547 1 Delicada e reverentemente, removeram eles do madeiro, com as próprias mãos, o corpo de Jesus. Corriam-lhes lágrimas de compaixão, ao contemplarem-Lhe o ferido e lacerado corpo. José possuía um sepulcro novo, talhado numa rocha. Reservava-o para si mesmo, mas ficava próximo do Calvário, e preparou-o então para Jesus. O corpo, com as especiarias trazidas por Nicodemos, foi cuidadosamente envolto num lençol de linho, e o Redentor levado à sepultura. Aí, os três discípulos compuseram-Lhe os mutilados membros, e cruzaram-Lhe as mãos feridas sobre o inanimado peito. As mulheres galiléias foram ver se se fizera tudo quanto se podia fazer pelo corpo sem vida do amado Mestre. Viram então que fora rolada a pesada pedra para a entrada do sepulcro, e o Salvador deixado a repousar. As mulheres foram as últimas ao pé da cruz, e as últimas também a deixar o sepulcro. Enquanto baixavam as sombras da noite, Maria Madalena e as outras Marias demoravam-se ainda em torno do lugar em que descansava o Senhor, derramando lágrimas de dor pela sorte dAquele a quem amavam. "E, voltando elas [...] no sábado repousaram, conforme o mandamento". Lucas 23:56. DTN 547 2 Aquele seria um inesquecível sábado para os tristes discípulos, e também para os sacerdotes, os príncipes, os escribas e o povo. Ao pôr-do-sol do dia de preparação, soaram as trombetas, anunciando o começo do sábado. A páscoa foi observada como fora por séculos, ao passo que Aquele a quem ela apontava havia sido morto por mãos ímpias e jazia no sepulcro de José. No sábado, os átrios do templo encheram-se de adoradores. O sumo sacerdote, vindo do Gólgota, ali estava, esplendidamente vestido com os trajes sacerdotais. Sacerdotes de alvos turbantes, em plena atividade, cumpriam seus deveres. Mas alguns dos presentes não se achavam tranqüilos, ao oferecer-se pelo pecado o sangue de bezerros e bodes. Não estavam conscientes de que o tipo encontrara o antítipo, de que um infinito sacrifício fora feito pelos pecados do mundo. Não sabiam que não mais havia valor no desempenho do serviço ritual. Mas nunca antes fora aquela cerimônia testemunhada com tão contraditórios sentimentos. As trombetas e os instrumentos de música, bem como as vozes dos cantores, eram tão altos e claros como de costume. Mas dir-se-ia estar tudo possuído de um sentimento de estranheza. Um após outro indagava de um singular acontecimento que ocorrera. Até então o santíssimo fora guardado impenetrável. Mas agora se achava exposto aos olhares de todos. O pesado véu de tapeçaria, feito de puro linho, e belamente trabalhado em ouro, escarlate e púrpura, fora rasgado de alto a baixo. O lugar em que Jeová Se encontrara com o sumo sacerdote, para comunicar Sua glória, o lugar que fora a sagrada câmara de audiência de Deus, jazia aberto a todos os olhos -- não mais reconhecido pelo Senhor. Com sombrios pressentimentos ministravam os sacerdotes diante do altar. O haver sido exposto o sagrado mistério do lugar santíssimo os enchia de medo de uma calamidade por vir. DTN 548 1 Muitos espíritos ocupavam-se com pensamentos despertados pela cena do Calvário. Da crucifixão à ressurreição, muitos olhos insones estiveram constantemente examinando as profecias, alguns para compreender o inteiro significado da festa que então celebravam, outros para procurar provas de que Jesus não era aquilo que pretendia; outros ainda, corações tristes, buscavam testemunho de que Ele era o verdadeiro Messias. Embora indagassem levados por diferentes motivos, convenceram-se todos da mesma verdade -- que se cumprira a profecia nos acontecimentos dos últimos dias, e que o Crucificado era o Redentor do mundo. Muitos que, naquela ocasião, tomaram parte do serviço, nunca mais se uniram aos ritos pascoais. Muitos, mesmo dentre os sacerdotes, ficaram convencidos do verdadeiro caráter de Jesus. Suas pesquisas das profecias não foram em vão, e depois de Sua ressurreição reconheceram-nO como o Filho de Deus. DTN 548 2 Nicodemos, ao ver Cristo erguido na cruz, lembrou-se das palavras que Ele proferira à noite, no Monte das Oliveiras: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. Naquele sábado, enquanto Jesus Se achava no sepulcro, Nicodemos teve ensejo de refletir. Uma luz mais clara iluminou-lhe o espírito, e as palavras que Jesus lhe dirigira não continuaram mais um mistério para ele. Sentiu haver perdido muito por não se ter ligado ao Salvador enquanto vivera. Recordou então os acontecimentos do Calvário. A súplica de Cristo por Seus assassinos, e a resposta que dera ao pedido do ladrão moribundo, tocaram a alma do douto membro do conselho. Contemplou de novo o Salvador em Sua agonia; tornou a ouvir o último grito: "Está consumado" (João 19:30), proferido como palavras de um vencedor. Viu novamente a terra cambaleando, os Céus entenebrecidos, o véu rasgado, as rochas fendidas, e sua fé para sempre se estabeleceu. O mesmo acontecimento que destruiu a esperança dos discípulos, convenceu José e Nicodemos da divindade de Jesus. Seus temores foram vencidos pela coragem de uma firme, inabalável fé. DTN 548 3 Jamais Cristo atraíra a atenção do povo como quando jazia no túmulo. Como de costume, levaram os doentes e sofredores para os átrios do templo, indagando: Quem nos pode informar acerca de Jesus de Nazaré? Muitos vieram de longe para encontrar Aquele que curava os enfermos e ressuscitava os mortos. De todos os lados, ouvia-se o clamor: Queremos Cristo, o Médico. Nessa ocasião, examinavam os sacerdotes os suspeitos de lepra. Muitos eram forçados a ouvir seu marido, sua esposa ou filhos serem declarados leprosos, e condenados a sair do abrigo de seu lar e de sob o cuidado dos queridos, para advertir os estranhos com o lamentoso grito: "Imundo! imundo!" As mãos amigas de Jesus de Nazaré, que nunca se recusaram ao toque comunicador de cura ao repugnante leproso, achavam-se cruzadas sobre o próprio peito. Os lábios que lhes respondiam às petições com as confortadoras palavras: "Quero, sê limpo" (Mateus 8:3), estavam agora mudos. Muitos apelavam para os principais dos sacerdotes e os príncipes em busca de simpatia e auxílio, mas em vão. Aparentemente, estavam decididos a ter outra vez entre si o Cristo vivo. Com persistente ansiedade, indagavam por Ele. Não queriam ser mandados embora. Mas eram expulsos dos átrios do templo, e foram postados soldados às portas para deter a multidão que chegava com os doentes e moribundos, solicitando entrada. DTN 549 1 Os sofredores que tinham ido para ser curados pelo Salvador, sucumbiam ante a decepção. As ruas estavam cheias de lamentos. Os doentes pereciam à míngua do toque vivificante de Jesus. Médicos eram consultados em vão; não havia eficiência como a dAquele que jazia no túmulo de José. DTN 549 2 Os lamentos dos que sofriam levaram a milhares à convicção de que se fora do mundo uma grande luz. Sem Cristo, a Terra era sombra e escuridão. Muitos daqueles cuja voz havia avolumado o grito de "Crucifica-O, crucifica-O" (Lucas 23:21), compreendiam agora a calamidade que lhes sobreviera, e teriam com igual veemência clamado -- Dá-nos Jesus! -- houvesse Ele estado ainda vivo. DTN 549 3 Quando o povo soube que Jesus fora morto pelos sacerdotes, fez indagações quanto a Sua morte. Os pormenores de Seu julgamento foram o mais possível conservados em segredo; mas durante o tempo em que Ele permaneceu no sepulcro Seu nome andava em milhares de lábios, e notícias de Seu irrisório julgamento, e da desumanidade dos sacerdotes e principais circulavam por toda parte. Por homens de inteligência foram esses sacerdotes e príncipes convidados a explicar as profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias, e enquanto procuravam forjar qualquer falsidade em resposta, ficaram como loucos. As profecias que indicavam os sofrimentos e a morte de Cristo, não podiam explicar, e muitos indagadores se convenceram de que as Escrituras se haviam cumprido. DTN 549 4 A vingança que os sacerdotes julgaram seria tão doce, já lhes era amarga. Sabiam que estavam enfrentando a severa censura do povo e que os próprios a quem influenciaram contra Jesus se sentiam agora horrorizados com a vergonhosa obra que haviam feito. Esses sacerdotes procuraram crer que Jesus era enganador; mas em vão. Alguns deles estiveram ao pé da sepultura de Lázaro e viram o morto chamado novamente à vida. Tremeram de temor de que Cristo ressuscitasse por Sua vez, e tornasse a aparecer diante deles. Haviam-nO ouvido declarar que tinha poder para dar Sua vida, e para tornar a tomá-la. Lembravam-se de que dissera: "Derribai este templo, e em três dias o levantarei". João 2:19. Judas declarara-lhes as palavras ditas por Ele aos discípulos, durante a última viagem para Jerusalém: "Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e condená-Lo-ão à morte. E O entregarão aos gentios para que dEle escarneçam, e O açoitem e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará". Mateus 20:18, 19. Ao ouvirem essas palavras, zombaram e ridicularizaram. Agora, porém, se lembravam de que até ali se haviam cumprido as predições de Cristo. Afirmara que ressuscitaria ao terceiro dia, e quem poderia dizer que isso também não se cumpriria? Desejavam expulsar esses pensamentos, mas não podiam. Como seu pai, o diabo, creram e tremeram. DTN 550 1 Agora, que passara o frenesi da agitação, a imagem de Cristo, malgrado seu, acudia-lhes sempre ao espírito. Viam-nO sereno e sem um queixume perante os inimigos, sofrendo sem murmurar as zombarias e maus-tratos. Ocorriam-lhes todos os acontecimentos de Seu julgamento e crucifixão, com uma empolgante convicção de que Ele era o Filho de Deus. Pensavam que poderia a qualquer momento apresentar-Se diante deles, o Acusado tornando-se acusador, o Condenado a condenar, o Morto a exigir justiça na morte de Seus assassinos. DTN 550 2 Pouco puderam repousar no sábado. Embora não transpusessem o limiar de um gentio por temor de contaminação, tiveram no entanto, um conselho quanto ao corpo de Cristo. A morte e o sepulcro deviam guardar Aquele a quem crucificaram. "Reuniram-se os príncipes dos sacerdotes em casa de Pilatos, dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Manda pois que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia, não se dê o caso que os Seus discípulos vão de noite, e O furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e assim o último erro será pior do que o primeiro. E disse-lhes Pilatos: Tendes a guarda; ide, guardai-O como entenderdes". Mateus 27:62-65. DTN 550 3 Os sacerdotes deram ordens para ser guardado o sepulcro. Uma grande pedra fora colocada diante da entrada. Através dessa pedra, puseram cordas, prendendo as extremidades à sólida rocha e selando-as com o selo romano. A pedra não podia ser removida sem quebrar o selo. Uma guarda de cem soldados foi então colocada em volta do sepulcro, para impedir que alguém tentasse contra sua segurança. Os sacerdotes fizeram o que puderam para manter o corpo de Cristo onde fora posto. Foi fechado com tanta segurança em Seu túmulo, como se nele devesse permanecer para sempre. DTN 551 1 Assim se aconselhavam e faziam planos fracas criaturas. Mal percebiam esses homicidas a inutilidade de seus esforços. Por seu proceder, no entanto. Deus foi glorificado. Os próprios esforços, feitos para impedir a ressurreição de Cristo, são os mais convincentes argumentos em prová-la. Quanto maior o número de soldados colocados ao redor do sepulcro, tanto mais vigoroso o testemunho de que Ele ressurgira. Centenas de anos antes da morte de Cristo, o Espírito Santo declarara por intermédio do salmista: "Por que se amotinam as gentes, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da Terra se levantam, e os príncipes juntos se mancomunam contra o Senhor e contra o Seu Ungido. [...] Aquele que habita no Céu Se rirá; o Senhor zombará deles". Salmos 2:1-4. As guardas e as armas romanas foram impotentes para limitar o Senhor da Vida dentro do túmulo. Aproximava-se a hora de Sua libertação. ------------------------Capítulo 81 -- "O Senhor ressuscitou" DTN 552 0 Este capítulo é baseado em Mateus 28:2-4, 11-15. DTN 552 1 Lentamente passara a noite do primeiro dia da semana. Havia soado a hora mais escura, exatamente antes do raiar da aurora. Cristo continuava prisioneiro em Seu estreito sepulcro. A grande pedra estava em seu lugar; intato, o selo romano; a guarda, de sentinela. Vigias invisíveis ali estavam também. Hostes de anjos maus se achavam reunidas em torno daquele lugar. Houvesse sido possível, e o príncipe das trevas, com seu exército de apóstatas, teria mantido para sempre fechado o túmulo que guardava o Filho de Deus. Uma hoste celeste, porém, circundava o sepulcro. Anjos magníficos em poder o guardavam, esperando o momento de saudar o Príncipe da Vida. DTN 552 2 "E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do Céu, chegou". Mateus 28:2. Vestido com a armadura de Deus, deixou este anjo as cortes celestiais. Os brilhantes raios da glória divina o precediam, iluminando-lhe o caminho. "E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco como a neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos". Mateus 28:3, 4. DTN 552 3 Onde está, sacerdotes e príncipes, o poder de vossa guarda? -- Bravos soldados que nunca se atemorizaram diante do poder humano, são agora como cativos aprisionados sem espada nem lança. O rosto que contemplam não é o de um guerreiro mortal; é a face do mais poderoso das hostes do Senhor. Este mensageiro é o que ocupa a posição da qual caiu Satanás. Fora aquele que nas colinas de Belém proclamara o nascimento de Cristo. A terra treme à sua aproximação, fogem as hostes das trevas, e enquanto ele rola a pedra, dir-se-ia que o Céu baixara à Terra. Os soldados o vêem removendo a pedra como se fora um seixo, e ouvem-no exclamar: Filho de Deus, ressurge! Teu Pai Te chama. Vêem Jesus sair do sepulcro, e ouvem-nO proclamar sobre o túmulo aberto: "Eu sou a ressurreição e a vida." Ao ressurgir Ele em majestade e glória, a hoste angélica se prostra perante o Redentor, em adoração, saudando-O com hinos de louvor. DTN 552 4 Um terremoto assinalara a hora em que Jesus depusera a vida; outro terremoto indicou o momento em que a retomou em triunfo. Aquele que vencera a morte, e a sepultura, saiu do túmulo com o passo do vencedor, por entre o cambalear da terra, o fuzilar dos relâmpagos e o ribombar dos trovões. Quando vier novamente à Terra, comoverá "não só a Terra, senão também o céu". Hebreus 12:26. "De todo vacilará a Terra como o bêbado, e será movida e removida como a choça". Isaías 24:20. "E os céus se enrolarão como um livro" (Isaías 34:4); "os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há se queimarão". 2 Pedro 3:10. "Mas o Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel". Joel 3:16. DTN 553 1 Ao morrer Jesus, tinham os soldados visto a Terra envolta em trevas ao meio-dia; ao ressurgir, porém, viram o resplendor dos anjos iluminar a noite, e ouviram os habitantes do Céu cantarem com grande alegria e triunfo: "Tu venceste Satanás e os poderes das trevas; Tu tragaste a morte na vitória" DTN 553 2 Cristo saiu do sepulcro glorificado, e a guarda romana O contemplou. Seus olhos fixaram-se no rosto dAquele a quem, havia tão pouco, tinham escarnecido e ridicularizado. Neste Ser glorificado, viram o Prisioneiro que tinham contemplado no tribunal, Aquele para quem haviam tecido uma coroa de espinhos. Era Aquele que, sem resistência, estivera em presença de Pilatos e de Herodes, o corpo lacerado pelos cruéis açoites. Era Aquele que fora pregado na cruz, para quem os sacerdotes e os príncipes, cheios de satisfação própria, haviam sacudido a cabeça, dizendo: "Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se". Mateus 27:42. Era Aquele que fora deposto no sepulcro novo de José. O decreto do Céu libertara o Cativo. Montanhas amontoadas sobre montanhas em cima de Seu túmulo, não O poderiam haver impedido de sair. DTN 553 3 À vista dos anjos e do Salvador glorificado, os guardas romanos desmaiaram e ficaram como mortos. Quando a comitiva celeste foi oculta a seus olhos, eles se ergueram e, tão rápido como lhes permitiram os trêmulos membros, encaminharam-se para a porta do horto. Cambaleando como bêbados, precipitaram-se para a cidade, dando as maravilhosas novas àqueles com quem se encontravam. Iam em busca de Pilatos, mas sua narração foi levada às autoridades judaicas, e os principais dos sacerdotes e os príncipes mandaram-nos buscar primeiro à sua presença. Estranho era o aspecto daqueles soldados. Tremendo de temor, faces desmaiadas, testificaram da ressurreição de Cristo. Disseram tudo, exatamente como tinham visto; não haviam tido tempo de pensar ou falar qualquer coisa que não fosse a verdade. Com doloroso acento, disseram: Foi o Filho de Deus que foi crucificado; ouvimos um anjo proclamá-Lo a Majestade do Céu, o Rei da glória. DTN 553 4 O rosto dos sacerdotes estava como o de um morto. Caifás tentou falar. Moveram-se-lhe os lábios, mas não conseguiram emitir nenhum som. Os soldados estavam para deixar a sala do conselho, quando os deteve uma voz. DTN 553 5 Caifás conseguira falar, por fim: "Esperai, esperai", disse. "Não digais a ninguém o que vistes." Uma mentirosa história foi então posta na boca dos soldados. "Dizei: Vieram de noite os Seus discípulos e, dormindo nós, O furtaram". Mateus 28:13. Aí se enganaram os sacerdotes. Como poderiam os soldados dizer que os discípulos tinham furtado o corpo enquanto eles dormiam? Se dormiam, como podiam saber? E, houvessem os discípulos provadamente roubado o corpo de Cristo, não teriam os sacerdotes sido os primeiros a condená-los? Ou, caso houvessem as sentinelas dormido junto ao sepulcro, não teriam os sacerdotes se apressado a acusá-los a Pilatos? DTN 554 1 Os soldados horrorizaram-se ao pensamento de trazerem sobre si mesmos a acusação de dormirem em seu posto. Era este um delito castigado com a morte. Deveriam dar um falso testemunho enganando o povo, e pondo em perigo a própria vida? Não tinham feito com toda vigilância sua fatigante guarda? Como suportariam a prova, mesmo por amor do dinheiro, se juravam falso contra si próprios? DTN 554 2 A fim de impor silêncio ao testemunho que temiam, os sacerdotes prometeram salvaguardar os soldados, dizendo que Pilatos quereria tampouco como eles próprios que aquela notícia circulasse. Os soldados romanos venderam sua integridade aos judeus por dinheiro. Chegaram à presença dos sacerdotes carregados com a mais assustadora mensagem de verdade; saíram com uma carga de dinheiro, e tendo na língua uma falsa história para eles forjada pelos sacerdotes. DTN 554 3 Entretanto, a notícia da ressurreição de Cristo fora levada a Pilatos. Se bem que este houvesse sido responsável por entregar a Jesus à morte, estava relativamente descuidoso. Embora tivesse condenado o Salvador contra a vontade, e com sentimento de compaixão, não experimentara ainda verdadeiro pesar. Aterrado, fechara-se agora em casa, decidido a não ver ninguém. Os sacerdotes, porém, abrindo caminho até sua presença, contaram a história que haviam inventado, e pediram-lhe que passasse por alto a negligência do dever por parte das sentinelas. Antes de assim fazer, ele próprio interrogou particularmente os guardas. Estes, temendo pela própria segurança, não ousaram ocultar nada, e Pilatos tirou deles a narração de tudo quanto ocorrera. Não levou adiante a questão, mas desde aquele dia não houve mais paz para ele. DTN 554 4 Quando Jesus foi posto no sepulcro, Satanás triunfou. Ousou esperar que o Salvador não retomaria novamente a vida. Reclamava o corpo do Senhor, e pôs sua guarda em torno do túmulo, procurando manter Cristo prisioneiro. Ficou furioso quando seus anjos fugiram diante do celeste mensageiro. Ao ver Cristo sair em triunfo compreendeu que seu reino chegaria a termo, e que ele devia morrer afinal. DTN 554 5 Matando Cristo, os sacerdotes se tinham tornado instrumentos de Satanás. Achavam-se agora inteiramente em seu poder. Estavam emaranhados numa teia da qual não viam escape, senão continuando sua guerra contra Cristo. Ao ouvirem a notícia de Sua ressurreição, temeram a ira do povo. Recearam que a própria vida corresse perigo. A única esperança para eles, era provar ser Cristo um impostor, negando haver ressuscitado. Subornaram os soldados e conseguiram o silêncio de Pilatos. Espalharam por perto e por longe sua mentirosa história. Testemunhas havia, porém, a quem não podiam reduzir ao silêncio. Muitos tinham ouvido falar do testemunho dos soldados quanto à ressurreição de Cristo. E alguns dos mortos ressuscitados com Jesus apareceram a muitos, declarando que Ele ressurgira. Foi levada aos sacerdotes a notícia de pessoas que tinham visto esses ressuscitados, ouvindo o testemunho deles. Os sacerdotes e os principais estavam em contínuo terror, não acontecesse que, ao andar pelas ruas, ou no interior das próprias casas, se viessem a encontrar face a face com Jesus. Sentiam que não havia segurança para eles. Ferrolhos e traves não passavam de frágil proteção contra o Filho de Deus. De dia e de noite achava-se diante deles aquela horrível cena do tribunal, quando clamaram: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos". Mateus 27:25. Nunca mais se lhes havia de apagar da memória aquela cena. Jamais desceria sobre eles um sono tranqüilo. DTN 555 1 Quando foi ouvida no túmulo de Cristo a voz do poderoso anjo, dizendo: "Teu Pai Te chama", o Salvador saiu do sepulcro pela vida que havia em Si mesmo. Provou-se então a verdade de Suas palavras: "Dou a Minha vida para tornar a tomá-la. [...] Tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la". João 10:17, 18. Então se cumpriu a profecia que fizera aos sacerdotes e príncipes: "Derribai este templo, e em três dias o levantarei". João 2:19. DTN 555 2 Sobre o fendido sepulcro de José, Cristo proclamara triunfante: "Eu sou a ressurreição e a vida." Essas palavras só podiam ser proferidas pela Divindade. Todos os seres criados vivem pela vontade e poder de Deus. São dependentes depositários da vida de Deus. Do mais alto serafim ao mais humilde dos seres vivos, todos são providos da Fonte da vida. Unicamente Aquele que é um com Deus, podia dizer: "Tenho poder para a dar [a vida], e poder para tornar a tomá-la". João 10:18. Em Sua divindade possuía Cristo o poder de quebrar as algemas da morte. DTN 555 3 Cristo ressurgiu dos mortos como as primícias dos que dormem. Era representado pelo molho movido, e Sua ressurreição teve lugar no próprio dia em que o mesmo devia ser apresentado perante o Senhor. Por mais de mil anos esta simbólica cerimônia fora realizada. Das searas colhiam-se as primeiras espigas de grãos maduros, e quando o povo subia a Jerusalém, por ocasião da páscoa, o molho das primícias era movido como uma oferta de ações de graças perante o Senhor. Enquanto essa oferenda não fosse apresentada, a foice não podia ser metida aos cereais, nem estes ser reunidos em molhos. O molho dedicado a Deus representava a colheita. Assim Cristo, as primícias, representava a grande colheita espiritual para o reino de Deus. Sua ressurreição é o tipo e o penhor da ressurreição de todos os justos mortos. "Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele". 1 Tessalonicenses 4:14. DTN 555 4 Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. DTN 555 5 Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna. Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor. DTN 556 1 Esses entraram na cidade e apareceram a muitos, declarando: Cristo ressurgiu dos mortos, e nós ressurgimos com Ele. Assim foi imortalizada a sagrada verdade da ressurreição. Os ressurgidos santos deram testemunho da veracidade das palavras: "Os Teus falecidos viverão; juntamente com o Meu cadáver eles se levantarão." Sua ressurreição era um símile do cumprimento da profecia: "Acordai, e gritai jubilando, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é um orvalho de ervas; e a Terra dará de si os defuntos" (Isaías 26:19, Trad. Trinitariana). DTN 556 2 Para o crente, Cristo é a ressurreição e a vida. Em nosso Salvador é restaurada a vida que se perdera mediante o pecado; pois Ele possui vida em Si mesmo, para vivificar a quem quer. Acha-Se investido do direito de conceder a imortalidade. A vida que Ele depusera como homem, Ele reassumiu e concedeu aos homens. Disse Ele: "Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância". João 10:10. "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna". João 4:14. "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia". João 6:54. DTN 556 3 Para o crente a morte não é senão de pouca importância. Cristo fala dela como se fora de pouco valor. "Se alguém guardar a Minha palavra, nunca verá a morte", "nunca provará a morte". João 8:51, 52. Para o cristão a morte não é mais que um sono, um momento de silêncio e escuridão. A vida está escondida com Cristo em Deus, e "quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória". Colossences 3:4. DTN 556 4 A voz que bradou da cruz: "Está consumado" (João 19:30), foi ouvida entre os mortos. Penetrou as paredes dos sepulcros, ordenando aos que dormiam que despertassem. Assim será quando a voz de Cristo for ouvida do céu. Ela penetrará as sepulturas e abrirá os túmulos, e os mortos em Cristo ressurgirão. Na ressurreição do Salvador, algumas tumbas foram abertas, mas em Sua segunda vinda todos os queridos mortos Lhe ouvirão a voz, saindo para uma vida gloriosa, imortal. O mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, erguerá Sua igreja, glorificando-a com Ele, acima de todos os principados, de todas as potestades, acima de todo nome que se nomeia, não somente neste mundo mas também no mundo por vir. ------------------------Capítulo 82 -- "Por que choras?" DTN 557 0 Este capítulo é baseado em Mateus 28:1, 5-8; Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-18. DTN 557 1 As mulheres que estiveram ao pé da cruz de Cristo esperaram, atentas, que passassem as horas de sábado. No primeiro dia da semana, muito cedo, fizeram o caminho para o sepulcro, levando consigo preciosas especiarias para ungirem o corpo do Salvador. Não pensavam em Sua ressurreição. Pusera-se o sol de suas esperanças e fizera-se noite em seu coração. Enquanto caminhavam, relembravam entre si as obras de misericórdia realizadas por Cristo, bem como Suas palavras de conforto. Não lembravam, entretanto, as que proferira: "Outra vez vos verei". João 16:22. DTN 557 2 Ignorantes do que se passava mesmo então, aproximaram-se do horto, dizendo: "Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?" Mateus 16:3. Sabiam não lhes ser possível afastá-la, todavia continuaram para diante. E eis que os céus se iluminaram de repente com uma glória que não provinha do Sol nascente. A terra tremeu. Elas viram que a pedra fora removida. O sepulcro estava vazio. DTN 557 3 As mulheres que foram ao sepulcro, não partiram todas do mesmo lugar. Maria Madalena foi a primeira a chegar ao local; e ao ver que a pedra fora retirada, correu para anunciá-lo aos discípulos. Entrementes, chegaram as outras mulheres. Havia uma luz em volta do sepulcro, mas o corpo de Jesus não se achava ali. Enquanto andavam em torno, viram de repente não se encontrarem sós. Um jovem de vestes brilhantes estava sentado junto ao túmulo. Era o anjo que rolara a pedra. Tomara a forma humana, a fim de não atemorizar essas discípulas de Jesus. Todavia, brilhava-lhe ainda em torno a glória celestial, e as mulheres temeram. Voltaram-se para fugir, mas as palavras do anjo lhes detiveram os passos. "Não tenhais medo", disse ele; "pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar em que o Senhor jazia. Ide pois, imediatamente, e dizei aos Seus discípulos que já ressuscitou dos mortos". Mateus 28:5-7. De novo olharam elas para o sepulcro, e tornaram a ouvir as maravilhosas novas. Outro anjo, em forma humana, ali está, e diz: "Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite". Lucas 24:5-7. DTN 557 4 Ressuscitou! Ressuscitou! As mulheres repetem e tornam a repetir as palavras. Não há, pois, necessidade de especiarias para unção. O Salvador está vivo, e não morto. Recordaram-se então de que, falando em Sua morte, Ele dissera que ressurgiria. Que dia é este para o mundo! Apressadas, afastam-se as mulheres do sepulcro e "com temor e grande alegria, correram a anunciá-lo aos Seus discípulos". Mateus 28:8. DTN 558 1 Maria não ouvira as boas-novas. Foi ter com Pedro e João, levando a dolorosa mensagem: "Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram". João 20:13. Os discípulos correram para o túmulo, e acharam ser como Maria dissera. Viram o sudário e o lenço, mas não acharam o Senhor. Havia, no entanto, mesmo ali o testemunho de Sua ressurreição. As roupas do sepultamento não estavam atiradas com negligência, a um lado, mas cuidadosamente dobradas, cada uma num lugar à parte. João "viu, e creu". Ainda não compreendia a escritura que dizia dever Cristo ressuscitar dos mortos; mas lembrou-se então das palavras do Salvador, predizendo Sua ressurreição. DTN 558 2 Fora o próprio Cristo que colocara com tanto cuidado as roupas com que O sepultaram. Quando o poderoso anjo baixara ao sepulcro, uniu-se-lhe outro que estivera com seu grupo, montando guarda ao corpo do Senhor. Enquanto o anjo do Céu removeu a pedra, o outro entrou no sepulcro e desembaraçou o corpo de Jesus de seu invólucro. Foram, porém, as próprias mãos do Salvador que dobraram cada peça, pondo-as em seu lugar. Ao Seu olhar, que guia semelhantemente a estrela e o átomo, nada há sem importância. Ordem e perfeição se manifestam em toda a Sua obra. DTN 558 3 Maria acompanhara João e Pedro ao sepulcro; quando voltaram a Jerusalém, ela permaneceu. Contemplando a tumba vazia, o coração encheu-se-lhe de dor. Olhando para dentro, viu os dois anjos, um à cabeceira, outro aos pés do lugar em que Jesus jazera. "Mulher, por que choras?" perguntaram-lhe. "Porque levaram o meu Senhor", disse ela, "e não sei onde O puseram". João 20:13. DTN 558 4 Então ela se voltou para se afastar, mesmo dos anjos, pensando em encontrar alguém que lhe dissesse o que fora feito com o corpo de Jesus. Outra voz a ela se dirigiu: "Mulher, por que choras? Quem buscas?" Através das lágrimas que lhe empanavam os olhos, Maria viu a figura de um homem e, pensando que fosse o hortelão, disse: "Senhor, se tu O levaste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei." Se o sepulcro desse rico era julgado um lugar de sepultamento demasiado honroso para Jesus, ela própria proveria um local para Ele. Havia um sepulcro que a voz do próprio Jesus deixara vago, aquele em que Lázaro jazera. Não poderia ela achar ali uma sepultura para seu Senhor? Sentiu que cuidar desse precioso corpo crucificado ser-lhe-ia uma grande consolação em sua mágoa. DTN 558 5 Mas então, em Sua voz familiar, lhe diz Jesus: "Maria!" Agora sabia que não era um estranho que se dirigia a ela e, voltando-se, viu diante de si o Cristo vivo. Em sua alegria, esqueceu que Ele fora crucificado. Saltando para Ele, como para abraçar-Lhe os pés, disse ela: "Raboni". João 20:16. Cristo, porém, ergueu a mão, dizendo: Não Me detenhas, "porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai para Meus irmãos, e dize-lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus". João 20:17. E Maria pôs-se a caminho para ir ter com os discípulos, com a jubilosa mensagem. DTN 559 1 Jesus recusou receber a homenagem de Seu povo até haver obtido a certeza de estar Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e ouviu do próprio Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens fora ampla, de que por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna. O Pai ratificou o concerto feito com Cristo, de que receberia os homens arrependidos e obedientes, e os amaria mesmo como ama a Seu Filho. Cristo devia completar Sua obra, e cumprir Sua promessa de que "o varão será mais precioso que o ouro, e o homem sê-lo-á mais que o ouro acrisolado" (Isaías 13:12, Trad. Figueiredo). Todo o poder no Céu e na Terra foi dado ao Príncipe da Vida, e Ele voltou para Seus seguidores num mundo de pecado, a fim de lhes comunicar Seu poder e glória. DTN 559 2 Enquanto o Salvador Se achava na presença de Deus, recebendo dons para Sua igreja, pensavam os discípulos no sepulcro vazio, e lamentavam-se e choravam. O dia em que todo o Céu vibrava de alegria, era para os discípulos de incerteza, confusão e perplexidade. Sua incredulidade no testemunho levado pelas mulheres é uma prova de quão baixo lhes caíra a fé. As notícias da ressurreição de Cristo eram tão diversas do que haviam antecipado, que as não podiam crer. Eram demasiado boas para serem verdade, pensavam. Haviam ouvido tanto das doutrinas e das chamadas científicas teorias dos fariseus, que era vaga a impressão produzida no espírito deles quanto à ressurreição. Mal sabiam o que podia significar a ressurreição dos mortos. Eram incapazes de conceber o grande fato. DTN 559 3 "Ide", disseram os anjos às mulheres, "dizei a Seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis, como Ele vos disse". Mateus 28:7. Esses anjos estiveram com Cristo, como guardas, durante Sua existência terrestre. Testemunharam-Lhe o julgamento e a crucifixão. Ouviram Suas palavras aos discípulos. Isso se demonstrava por sua mensagem aos mesmos, e os deveria haver convencido da veracidade do que lhes era transmitido. Essas palavras só poderiam provir dos mensageiros de seu Senhor ressuscitado. DTN 559 4 "Dizei a Seus discípulos, e a Pedro", disseram os anjos. Desde a morte de Cristo, Pedro se achava sucumbido pelo remorso. Sua vergonhosa negação de seu Senhor, e o olhar de amor e de angústia do Salvador achavam-se sempre diante dele. De todos os discípulos, fora o que mais pungentemente sofrera. A Pedro é dada a certeza de que seu arrependimento fora aceito e seu pecado perdoado. É mencionado nominalmente. DTN 559 5 "Dizei a Seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis". Marcos 16:7. Todos os discípulos haviam abandonado a Jesus, e o chamado para se encontrarem com Ele outra vez os inclui a todos. Ele não os rejeitou. Quando Maria Madalena lhes disse que vira o Senhor, repetiu o convite para o encontro na Galiléia. E pela terceira vez lhes foi enviada a mensagem. Depois de haver ascendido ao Pai, Jesus apareceu às outras mulheres, dizendo: "Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os Seus pés, e O adoraram. Então Jesus lhes disse: Não temais; ide dizer a Meus irmãos que vão a Galiléia, e lá Me verão". Mateus 28:10. DTN 560 1 A primeira obra de Cristo na Terra, depois de Sua ressurreição, foi convencer os discípulos de Seu inalterável amor e terna solicitude para com eles. Para lhes dar testemunho de que era seu Salvador vivo, de que quebrara as cadeias do túmulo, e não mais podia ser retido pelo inimigo, a morte; para revelar que tinha o mesmo coração de amor de quando andava com eles como seu amado Mestre, apareceu-lhes por várias vezes. Queria estreitar ainda mais em torno deles os laços de amor. Ide, dizei a Meus irmãos, disse Ele, que Me encontrem na Galiléia. DTN 560 2 Ao ouvirem essa combinação, feita de maneira tão positiva, os discípulos começaram a pensar nas palavras de Cristo, predizendo-lhes Sua ressurreição. Mesmo então, no entanto, não se regozijaram. Não podiam expulsar de si as dúvidas e perplexidades. Mesmo quando as mulheres declararam haver visto o Senhor, os discípulos não queriam crer. Julgavam-nas sob a influência de uma ilusão. DTN 560 3 Parecia que se acumulava aflição sobre aflição. No sexto dia da semana tinham presenciado a morte do Mestre; no primeiro dia da semana seguinte, viram-se privados de Seu corpo, e eram acusados de O haver roubado para enganar o povo. Desesperavam de poder desfazer as falsas impressões que ganhavam terreno contra eles. Temiam a inimizade dos sacerdotes e a ira do povo. Anelavam a presença de Jesus, que os ajudara em toda perplexidade. DTN 560 4 Repetiam muitas vezes as palavras: "E nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel". Lucas 24:21. Sentindo-se tão sós e tão repassados de dor, lembraram as Suas palavras: "Se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?" Lucas 23:31. Reuniram-se no cenáculo e fecharam bem as portas, sabendo que a sorte de seu amado Mestre poderia a qualquer momento ser a deles mesmos. DTN 560 5 E todo esse tempo se poderiam estar regozijando no conhecimento de um Salvador ressuscitado! No horto, Maria estivera chorando, quando Jesus Se achava mesmo junto dela. Tão cegados tinha os olhos pelas lágrimas, que O não distinguira. E o coração dos discípulos estava tão cheio de pesar, que não creram na mensagem do anjo, nem nas palavras do próprio Cristo. DTN 560 6 Quantos estão a fazer ainda o que fizeram esses discípulos! Quantos se fazem eco do desalentado lamento de Maria: "Levaram o Senhor, [...] e não sabemos onde O puseram!" A quantos se poderiam dirigir as palavras do Senhor: "Por que choras? Quem buscas?" João 20:13, 15. Ele lhes está tão próximo, mas seus olhos cegados pelo pranto O não distinguem. Fala-lhes, mas não compreendem. DTN 561 1 Oh! que a pendida cabeça se erguesse, que os olhos se abrissem para vê-Lo, que os ouvidos Lhe escutassem a voz! "Ide pois, imediatamente, e dizei aos Seus discípulos que já ressuscitou". Mateus 28:7. Convidai-os a olhar, não ao sepulcro novo de José, fechado com uma grande pedra, e selado com o selo romano. Cristo não está ali. Não olheis ao sepulcro vazio. Não vos lamenteis como os que se acham sem esperança e desamparados. Jesus vive, e porque Ele vive, nós também viveremos. De corações agradecidos, de lábios tocados com o fogo sagrado, ressoe o alegre cântico: Cristo ressurgiu! Ele vive para fazer intercessão por nós. Apegai-vos a essa esperança, e ela vos firmará a alma qual âncora segura e provada. Crede, e vereis a glória de Deus. ------------------------Capítulo 83 -- A viagem para Emaús DTN 562 0 Este capítulo é baseado em Lucas 24:13-33. DTN 562 1 Ao entardecer do dia da ressurreição, dois dos discípulos se achavam no caminho de Emaús, pequena aldeia a cerca de doze quilômetros de Jerusalém. Esses discípulos não haviam desempenhado papel saliente na obra de Cristo, mas eram crentes fervorosos nEle. Tinham ido à cidade para celebrar a páscoa, e estavam muito perplexos com os acontecimentos ocorridos havia pouco. Tinham ouvido as notícias da manhã com respeito à remoção do corpo de Jesus do sepulcro, bem como a narração das mulheres que viram os anjos e encontraram a Jesus. Voltavam agora para casa, a fim de meditar e orar. Seguiam tristemente o caminho, ao crepúsculo, falando sobre as cenas do julgamento e da crucifixão. Nunca antes se haviam sentido tão desalentados. Destituídos de esperança e de fé, caminhavam à sombra da cruz. DTN 562 2 Não haviam andado muito quando se lhes juntou um Estranho, mas tão absorvidos se achavam em sua negra decepção que não O observaram muito. Continuaram em sua conversa, externando os pensamentos de seu coração. Raciocinavam sobre as lições que Cristo lhes dera e que pareciam incapazes de compreender. Enquanto falavam sobre os acontecimentos que se haviam desenrolado, Jesus anelava consolá-los. Testemunhara-lhes a dor; compreendera as contraditórias idéias que lhes traziam à mente o pensamento: pode esse Homem que consentiu em que assim O humilhassem, ser o Cristo? Irreprimível era sua dor, e choravam. Jesus sabia que o coração deles Lhe estava unido pelo amor, e almejava enxugar-lhes as lágrimas, e enchê-los de alegria e contentamento. Devia, porém, dar-lhes lições que nunca haveriam de esquecer. "Ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes? E, respondendo um cujo nome era Cléopas, disse: És Tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?" Lucas 24:17, 18. Contaram-Lhe sua decepção quanto a Seu Mestre, "varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo"; mas "os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes", disseram, "O entregaram à condenação de morte, e O crucificaram". Coração ferido pela decepção, lábios trêmulos, ajuntaram: "E nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram". Lucas 24:19-21. DTN 562 3 É estranho que os discípulos não se lembrassem das palavras de Cristo, e não compreendessem que Ele predissera os acontecimentos que se desenrolaram. Não percebiam que a última parte de Sua predição se verificaria do mesmo modo que a primeira, e que ao terceiro dia Ele ressuscitaria. Esta era a parte que deviam ter recordado. Os sacerdotes e os príncipes não o esqueceram. No dia "depois da preparação, reuniram-se os príncipes dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos, dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei". Mateus 27:62, 63. Mas os discípulos não lembraram essas palavras. DTN 563 1 "E Ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na Sua glória?" Lucas 24:25, 26. Os discípulos cogitavam quem poderia ser esse Estranho, que lhes penetrava a alma e falava com tal calor, ternura e simpatia, e ao mesmo tempo com tanta esperança. Pela primeira vez, depois de Cristo haver sido entregue, começaram a sentir-se esperançosos. Olhavam muitas vezes, cheios de interesse, para seu Companheiro e pensavam que Suas palavras eram exatamente as que Cristo haveria dito. Estavam cheios de pasmo, e o coração começou a pulsar-lhes com jubilosa expectativa. DTN 563 2 Começando com Moisés, o próprio Alfa da história bíblica, Cristo expôs em todas as Escrituras as coisas que Lhe diziam respeito. Houvesse primeiro Se manifestado a eles, e seu coração teria ficado satisfeito. Na plenitude de seu regozijo não teriam ambicionado nada mais. Mas era-lhes necessário compreender os testemunhos dados a respeito dEle pelos símbolos e profecias do Antigo Testamento. Sobre estes devia estabelecer-se sua fé. Cristo não operou nenhum milagre para os convencer, mas foi Seu primeiro trabalho o explicar-lhes as Escrituras. Haviam considerado Sua morte a ruína de todas as suas esperanças. Agora Ele lhes mostrou pelos profetas que ali se achava a mais vigorosa prova de sua fé. DTN 563 3 Ensinando esses discípulos, mostrou Jesus a importância do Antigo Testamento como testemunha de Sua missão. Muitos professos cristãos desprezam hoje aquela porção das Escrituras, pretendendo não ter mais utilidade. Não é isto, porém, ensino de Cristo. Tão alto o estimava, que disse certa vez: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite". Lucas 16:31. DTN 563 4 É a voz de Cristo que fala através dos patriarcas e profetas desde os tempos de Adão até às cenas finais deste mundo. O Salvador é tão claramente revelado no Antigo Testamento como no Novo. É a luz do passado profético que apresenta a vida de Cristo e os ensinos do Novo Testamento de maneira clara e bela. Os milagres de Cristo são uma prova de Sua divindade; mas uma prova mais forte ainda de que Ele é o Redentor do mundo, encontra-se comparando as profecias do Antigo Testamento com a história do Novo. DTN 564 1 Com provas tiradas da profecia, deu Cristo aos discípulos uma idéia correta do que Ele devia ser na humanidade. A expectativa deles, de um Messias que devia tomar Seu trono e o régio poder segundo os desejos dos homens, os desorientara. Isso interferia com a devida apreensão de Sua descida da mais elevada à mais baixa posição que se podia ocupar. Cristo desejava que as idéias de Seus discípulos fossem puras e verdadeiras em todos os sentidos. Deviam compreender, tanto quanto possível, o que se relacionava com o cálice de sofrimento que Lhe fora aquinhoado. Mostrou-lhes que o tremendo conflito que ainda não podiam compreender, era o cumprimento do concerto feito antes de serem postos os fundamentos do mundo. Cristo devia morrer, como deve morrer todo transgressor da lei, se continuar em pecado. Tudo isso devia ocorrer, mas não devia terminar em derrota, e sim numa gloriosa e eterna vitória. Jesus lhes disse que cumpria fazer todo esforço para salvar o mundo do pecado. Seus seguidores deviam viver como Ele viveu, e trabalhar como Ele trabalhou, com intenso, perseverante esforço. DTN 564 2 Assim discursou Jesus para os discípulos, abrindo-lhes a mente para compreenderem as Escrituras. Os discípulos estavam fatigados, mas a conversação não esmoreceu. Palavras de vida e segurança caíam dos lábios do Salvador. Mas ainda os olhos deles estavam fechados. Ao falar-lhes da ruína de Jerusalém, olharam com lágrimas para a condenada cidade. Mal suspeitavam ainda, no entanto, quem era seu companheiro de viagem. Não pensavam que o objeto de sua conversação ia ali caminhando ao lado deles; pois Cristo Se referia como se fosse outra pessoa. Pensavam que era um dos que tinham ido assistir à grande festa, e regressava agora para casa. Jesus andava tão cautelosamente como eles sobre as rudes pedras, parando de quando em quando com eles para descansar um pouco. Assim prosseguiam pela montanhosa estrada, ao passo que Aquele que em breve tomaria Seu lugar à direita de Deus, e que podia dizer: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra" (Mateus 28:18), caminhava ao seu lado. DTN 564 3 Enquanto andavam, o Sol baixara e, antes de os viajantes chegarem a seu destino, já os trabalhadores nos campos haviam deixado o labor. Quando os discípulos estavam para entrar em casa, o Estranho pareceu como se fosse continuar a viagem. Mas os discípulos sentiram-se atraídos para Ele. Desejavam ouvi-Lo mais. "Fica conosco", disseram. Ele não parecia disposto a aceitar-lhes o convite, mas insistiram, dizendo: "Já é tarde, e já declinou o dia." Cristo concordou com esse rogo, e "entrou para ficar com eles". Lucas 24:29. DTN 564 4 Houvessem os discípulos deixado de insistir no convite, e não teriam ficado sabendo que seu Companheiro de viagem era o Senhor ressuscitado. Cristo nunca força a Sua companhia junto de ninguém. Interessa-Se pelos que dEle necessitam. Com prazer penetra no mais modesto lar, e anima o mais humilde coração. Mas se os homens são demasiado indiferentes para pensar no Hóspede celestial, ou pedir-Lhe que neles habite, Ele passa. Assim sofrem muitos grande perda. Não conhecem a Cristo mais que os discípulos, enquanto Ele lhes caminhava ao lado. DTN 565 1 A simples refeição da noite, composta de pão, é prontamente preparada. É colocada diante do Hóspede, que tomou assento à cabeceira da mesa. Estende então as mãos para abençoar o alimento. Os discípulos recuam assombrados. Seu Companheiro estende as mãos exatamente da mesma maneira como o fazia o Mestre. Olham outra vez, e eis que Lhe vêem nas mãos os sinais dos cravos. Ambos exclamam imediatamente: É o Senhor Jesus! Ressuscitou dos mortos! DTN 565 2 Erguem-se para lançar-se-Lhe aos pés em adoração, mas Ele desaparece diante de seus olhos. Contemplando o lugar que fora ocupado por Aquele cujo corpo estivera havia pouco no sepulcro, dizem um para o outro: "Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?" Lucas 24:32. DTN 565 3 Mas com essas grandes novas a comunicar, não se podiam sentar e conversar. Desapareceram-lhes a fadiga e a fome. Deixam a refeição intata e, cheios de alegria, põem-se imediatamente a caminho outra vez pela mesma estrada por onde tinham vindo, apressando-se para dar as alvissareiras novas aos discípulos na cidade. Em alguns lugares o caminho não é seguro, mas sobem pelas partes íngremes, escorregando na lisura das rochas. Não vêem, não sabem que estão sendo protegidos por Aquele que com eles viajara pelo mesmo caminho. Tendo na mão o cajado de peregrino, avançam sempre, desejando ir mais depressa do que ousam fazê-lo. Perdem o trilho, mas tornam a encontrá-lo. Correndo aqui, tropeçando acolá, vão sempre para a frente, tendo bem próximo ao lado, por todo o caminho, o invisível Companheiro. DTN 565 4 A noite é escura, mas resplandece sobre eles o Sol da Justiça. Salta-lhes de alegria o coração. Parecem estar em um mundo novo. Cristo é um Salvador vivo. Não mais O pranteiam como morto. Cristo ressurgiu -- repetem uma e muitas vezes. Esta é a mensagem que vão levar aos outros contristados. Necessitam contar-lhes a maravilhosa história do caminho de Emaús. Precisam dizer-lhes quem Se lhes uniu no caminho. Levam consigo a maior de todas as mensagens anunciadas ao mundo, uma mensagem de boas-novas de que dependem as esperanças da raça humana para o tempo e a eternidade. ------------------------Capítulo 84 -- "Paz seja convosco" DTN 566 0 Este capítulo é baseado em Lucas 24:33-48; João 20:19-29. DTN 566 1 Chegando a Jerusalém, os dois discípulos entram pela porta oriental, aberta à noite em ocasião de festas. As casas estão escuras e silenciosas, mas os viajantes seguem seu caminho por entre as estreitas ruas, à luz da Lua que vem surgindo. Vão ao cenáculo, onde Jesus passara as primeiras horas da última noite, antes de Sua morte. Ali sabem que hão de encontrar a seus irmãos. Tarde embora, sabem que os discípulos não dormirão, enquanto não tiverem a certeza do que aconteceu ao corpo de seu Senhor. Encontram a porta da câmara fechada a trave, por segurança. Batem pedindo entrada, mas nenhuma resposta. Tudo quieto. Dão então seu nome. A porta é cautelosamente aberta, eles entram, e Outro, invisível, entra com eles. Novamente é trancada a porta, para evitar espias. DTN 566 2 Os viajantes encontram-se todos num estado de surpresa. As vozes dos presentes irrompem em ações de graças e louvores, dizendo: "Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão". Lucas 24:34. Então os dois viajantes, ofegando em razão da pressa com que tinham feito a jornada, contam a maravilhosa história de como Jesus lhes aparecera. Apenas a terminam, enquanto alguns declaram não o poder crer, por ser demasiado bom para ser verdade, eis que outra Pessoa Se acha perante eles. Todos os olhos se fixam no Estranho. Ninguém batera, pedindo entrada. Nenhuma pisada fora ouvida. Os discípulos sobressaltam-se e cogitam que quererá isso dizer. Ouvem então uma voz que não é outra senão a do Mestre. Claras e distintas soam-Lhe as palavras saídas de Seus lábios: "Paz seja convosco." DTN 566 3 "E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E Ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? vede as Minhas mãos e Meus pés, que sou Eu mesmo; apalpai-Me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés". Lucas 24:36-40. DTN 566 4 Olham às mãos e aos pés feridos pelos cruéis cravos. Reconhecem-Lhe a voz, diversa de qualquer outra que já tenham ouvido. "E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e estando maravilhados, disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-Lhe parte de um peixe assado, e um favo de mel. O que Ele tomou e comeu diante deles". Lucas 24:41, 42. "De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor." A fé e o júbilo substituíram a incredulidade e, possuídos de sentimentos que as palavras não logram exprimir, reconheceram e confessaram seu Salvador ressuscitado. DTN 567 1 Por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos anunciaram: Paz na Terra, e boa vontade para com os homens. E agora, em Sua primeira aparição aos discípulos, depois de ressurgido, o Salvador a eles Se dirige com as benditas palavras: "Paz seja convosco". Lucas 24:36. DTN 567 2 Jesus está sempre pronto a comunicar paz às almas carregadas de dúvidas e temores. Espera que Lhe abramos a porta do coração, convidando: Fica conosco. Ele diz: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo". Apocalipse 3:20. DTN 567 3 A ressurreição de Cristo foi um modelo da final ressurreição de todos quantos nEle dormem. O semblante do Salvador ressuscitado, Sua maneira, Sua linguagem, tudo era familiar aos discípulos. Como Jesus ressurgiu dos mortos, assim hão de ressuscitar os que nEle dormem. Reconheceremos os nossos amigos, da mesma maneira que os discípulos a Jesus. Talvez hajam sido deformados, doentes, desfigurados nesta vida mortal, ressurgindo em plena saúde e formosura; no entanto, no corpo glorificado, será perfeitamente mantida a identidade. Então conheceremos assim como também somos conhecidos. 1 Coríntios 13:12. No rosto, glorioso da luz que irradia da face de Cristo, reconheceremos os traços daqueles que amamos. DTN 567 4 Quando Jesus Se encontrou com os discípulos, relembrou-lhes as palavras que lhes dissera antes de Sua morte, de que se deviam cumprir todas as coisas que a Seu respeito estavam escritas na lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos. "Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos; e em Seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas". Lucas 24:46-48. DTN 567 5 Os discípulos começaram a perceber a natureza e a extensão de sua obra. Deviam proclamar ao mundo as maravilhosas verdades que Cristo lhes confiara. Os acontecimentos de Sua vida, morte e ressurreição, as profecias que indicavam esses acontecimentos, a santidade da lei divina, os mistérios do plano da salvação, o poder de Jesus para remissão dos pecados -- de todas essas coisas eram eles testemunhas, e deviam dá-las a conhecer ao mundo. Deviam proclamar o evangelho de paz e salvação, mediante o arrependimento e o poder do Salvador. DTN 567 6 "E havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e aqueles a quem retiverdes lhes são retidos". João 20:22, 23. O Espírito Santo não Se manifestara ainda plenamente; pois Cristo ainda não fora glorificado. A mais abundante comunicação do Espírito não se verificou senão depois da ascensão de Cristo. Enquanto não houvesse sido recebido, os discípulos não podiam cumprir a missão de pregar o evangelho ao mundo. Mas o Espírito foi agora dado para um fim especial. Antes de os discípulos poderem cumprir seus deveres oficiais em relação com a igreja, Cristo soprou sobre eles Seu Espírito. Estava-lhes confiando um santíssimo legado, e desejava impressioná-los com o fato de que, sem o Espírito Santo, não se podia realizar esta obra. DTN 568 1 O Espírito Santo é o sopro da vida espiritual na alma. A comunicação do Espírito é a transmissão da vida de Cristo. Reveste o que O recebe com os atributos de Cristo. Unicamente os que são assim ensinados por Deus, os que possuem a operação interior do Espírito, e em cuja vida se manifesta a vida de Cristo, devem-se colocar como homens representativos, para servir em favor da igreja. DTN 568 2 "Aqueles a quem perdoardes os pecados", disse-lhes Cristo, "são perdoados; e aqueles a quem os retiverdes lhes são retidos". João 20:23. Cristo não dá aqui permissão, para qualquer homem julgar a outros. No Sermão do Monte, Ele proíbe fazê-lo. É a prerrogativa de Deus. Sobre a igreja em sua qualidade de corpo organizado, porém, Ele coloca uma responsabilidade para com os membros individuais. A igreja tem o dever, para com os que caem em pecado, de advertir, instruir e, se possível, restaurar. "Que [...] redarguas, repreendas, exortes", diz o Senhor, "com toda a longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:2. Lidai fielmente com os que fazem mal. Adverti toda alma que se acha em perigo. Não deixeis que ninguém se engane. Chamai o pecado pelo seu verdadeiro nome. Declarai o que Deus disse com relação à mentira, à transgressão do sábado, ao roubo, à idolatria e a todos os outros males. "Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus". Gálatas 5:21. Se eles persistirem no pecado, o juízo que haveis declarado segundo a Palavra de Deus é sobre eles proferido no Céu. Preferindo pecar, renunciam a Cristo; a igreja deve mostrar que não sanciona seus atos, do contrário ela própria desonra ao Senhor. Deve dizer a respeito do pecado o mesmo que declara o Senhor. Deve tratar com ele segundo as instruções divinas, e sua ação é ratificada no Céu. Aquele que desdenha a autoridade da igreja, despreza a do próprio Cristo. DTN 568 3 Há, porém, na questão, um aspecto mais feliz. "Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados". João 20:23. Seja, acima de tudo, conservado este pensamento. No trabalho em prol dos que se acham em erro, dirigi todo olhar para Cristo. Tenham os pastores terno cuidado pelo rebanho do pasto do Senhor. Falem ao extraviado da perdoadora misericórdia do Salvador. Animem o pecador a arrepender-se e a crer nAquele que pode perdoar. Declarem, sobre a autoridade da palavra de Deus: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça". 1 João 1:9. Todos quantos se arrependem têm a afirmação: "Tornará a apiedar-Se de nós; subjugará as nossas iniqüidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar". Miquéias 7:19. DTN 569 1 Seja o arrependimento do pecador aceito pela igreja com coração agradecido. Conduza-se o arrependido da treva da incredulidade para a luz da fé e da justiça. Coloque-se sua trêmula mão na amorável mão de Jesus. Tal remissão é ratificada no Céu. DTN 569 2 Unicamente nesse sentido tem a igreja poder de absolver o pecador. DTN 569 3 A remissão dos pecados só pode ser obtida por meio dos méritos de Cristo. A nenhum homem, a nenhum corpo de homens, é dado o poder de libertar da culpa a alma. Cristo encarrega Seus discípulos de pregar a remissão dos pecados em Seu nome entre todas as nações; eles próprios, porém, não foram dotados do poder de tirar uma só mancha de pecado. O nome de Jesus é "debaixo do Céu" o único que "há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos dos Apóstolos 4:12. DTN 569 4 Quando Jesus Se encontrou pela primeira vez com os discípulos no cenáculo, Tomé não se achava com eles. Ouviu a narração dos outros, e teve abundantes provas de que Jesus tinha ressuscitado; mas a tristeza e a incredulidade enchiam-lhe o coração. Ao ouvir os discípulos contarem as maravilhosas manifestações do ressurgido Salvador, isso apenas o levou a imergir em mais profundo desespero. Se Jesus tivesse realmente ressuscitado dos mortos, não havia mais esperança de um literal reino terrestre. E feria sua vaidade pensar que o Mestre Se revelasse a todos os discípulos menos a ele. Estava decidido a não crer, e por uma semana inteira aninhou aqueles infelizes pensamentos, que pareciam tanto mais sombrios quando contrastavam com a esperança e a fé dos irmãos. DTN 569 5 Durante esse tempo, declarava repetidamente: "Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei". João 20:25. Não queria ver através dos olhos dos irmãos, nem exercer fé dependente do testemunho deles. Amava ardentemente ao Senhor, mas permitira que ciúme e incredulidade lhe tomassem posse da mente e do coração. DTN 569 6 Vários discípulos fizeram, então, do familiar cenáculo, sua habitação temporária, e à noite todos, com exceção de Tomé, aí se reuniam. Uma noite, decidiu reunir-se com os demais. Não obstante sua incredulidade, tinha uma vaga esperança de que as boas-novas fossem verdadeiras. Enquanto os discípulos tomavam a refeição da tarde, conversavam acerca dos testemunhos que Jesus lhes dera nas profecias. "Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-Se no meio, e disse: Paz seja convosco". João 20:26. DTN 569 7 Voltando-Se para Tomé, disse: "Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; e chega a tua mão, e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente". João 20:27. Essas palavras mostravam que Ele conhecia os pensamentos e as palavras de Tomé. O duvidoso discípulo sabia que nenhum dos companheiros vira a Jesus, havia uma semana. Não podiam ter contado ao Mestre sua incredulidade. Reconheceu como seu Senhor Aquele que Se achava diante dele. Não desejou mais provas. O coração saltou-lhe de alegria, e lançou-se aos pés de Jesus, exclamando: "Senhor meu, e Deus meu!" João 20:28. DTN 570 1 Jesus lhe aceitou o reconhecimento, mas reprovou brandamente sua incredulidade: "Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram". João 20:29. A fé de Tomé teria sido mais agradável a Cristo, se ele tivesse sido pronto a crer pelo testemunho de seus irmãos. Seguisse hoje o mundo o exemplo de Tomé, e ninguém haveria de crer para salvação; pois todos quantos recebem a Cristo devem fazê-lo mediante o testemunho de outros. DTN 570 2 Muitos que são dados à dúvida se desculpam dizendo que, se lhes fosse apresentada a prova que Tomé teve de seus companheiros, creriam. Não compreendem estes que eles têm, não somente essa prova, mas muito mais. Muitos que, à semelhança de Tomé, esperam que desapareça todo motivo de dúvida, nunca hão de realizar seu desejo. Confirmam-se gradualmente na incredulidade. Os que se educam a olhar para o lado sombrio, a murmurar e queixar-se, não sabem o que fazem. Estão lançando as sementes da dúvida, e terão também uma colheita de dúvidas a ceifar. Num tempo em que a fé e a confiança são de todo essenciais, muitos se encontrarão assim impotentes para esperar e crer. DTN 570 3 Na Sua maneira de tratar com Tomé, Jesus deu uma lição para Seus seguidores. Seu exemplo nos mostra como devemos tratar aqueles cuja fé é fraca, e põem suas dúvidas em destaque. Jesus não esmagou a Tomé com censuras, nem entrou com ele em discussão. Revelou-Se ao duvidoso. Tomé fora muito irrazoável em ditar as condições de sua fé, mas Jesus, por Seu generoso amor e consideração, derribou todas as barreiras. Raramente se vence a incredulidade pela discussão. Antes isso como que a põe em guarda, encontrando novo apoio e desculpa. Mas revele-Se Jesus, em Seu amor e misericórdia, como o Salvador crucificado e, de muitos lábios antes contrários, ouvir-se-á a frase de reconhecimento, proferida por Tomé: "Senhor meu, e Deus meu!" João 20:28. ------------------------Capítulo 85 -- Mais uma vez à beira-mar DTN 571 0 Este capítulo é baseado em João 21:1-22. DTN 571 1 Jesus indicara aos discípulos um encontro na Galiléia; e logo depois da semana da Páscoa, para ali dirigiram os passos. Sua ausência de Jerusalém durante a festa, seria interpretada como desafeto e heresia, de modo que ficaram até o fim; acabada que foi, porém, voltaram-se alegremente para sua terra, ao encontro do Salvador, segundo as instruções dEle recebidas. DTN 571 2 Sete dos discípulos iam em grupo. Trajavam as humildes vestes de pescador; eram pobres em bens do mundo, mas ricos no conhecimento e observância da verdade, o que à vista do Céu, os colocava na mais alta posição como mestres. Não haviam estudado nas escolas dos profetas, mas por três anos foram instruídos pelo maior educador que o mundo já conheceu. Sob Suas instruções se tornaram elevados, inteligentes, enobrecidos, instrumentos mediante os quais os homens poderiam ser conduzidos ao conhecimento da verdade. DTN 571 3 Grande parte do tempo do ministério de Cristo fora passado próximo ao Mar da Galiléia. Ao se reunirem os discípulos num lugar onde parecia que não haviam de ser perturbados, acharam-se rodeados de recordações de Jesus e de Suas poderosas obras. Nesse mar, quando o coração deles estava cheio de terror, e a terrível tempestade os precipitava para a destruição, caminhara Jesus por cima das ondas, a fim de os livrar. Ali fora a tempestade acalmada à Sua voz. Ao alcance da vista estava a praia em que mais de dez mil pessoas foram alimentadas com alguns pães e uns peixinhos. Não muito distante estava Cafarnaum, testemunha de tantos milagres. E ao espraiarem os discípulos o olhar por todo esse cenário, enchia-se-lhes a mente de palavras e atos do Salvador. DTN 571 4 A tarde estava agradável, e Pedro, que ainda sentia muito de seu antigo amor por barcos e pesca, propôs que se fizessem ao mar e atirassem as redes. Todos se prontificaram a seguir-lhe o exemplo; estavam necessitados de alimento e de roupa, o que seria suprido com o resultado de uma bem-sucedida noite de pesca. Assim se afastaram nos botes, mas nada apanharam. Toda a noite labutaram, mas sem resultado. Durante fatigantes horas, falaram sobre o Senhor ausente e relembraram os admiráveis acontecimentos que presenciaram em Seu ministério à beira-mar. Interrogaram-se quanto ao próprio futuro, e se entristeceram ante as perspectivas. DTN 572 1 Todo esse tempo, um solitário Observador, na praia, os acompanhava com a vista, ao passo que Ele próprio Se achava invisível. Por fim raiou a manhã. O barco estava apenas a pouca distância da terra, e os discípulos viram de pé na praia um Estranho que os abordou com a pergunta: "Filhos, tendes alguma coisa de comer?" Quando responderam: "Não", "Ele lhes disse: Lançai a rede para a banda direita do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes". João 21:5, 6. DTN 572 2 João reconheceu o Estranho e exclamou para Pedro: "É o Senhor." Pedro ficou tão arrebatado, tão alegre, que em sua ansiedade se lançou à água e dentro em pouco se encontrou ao lado do Mestre. Os outros discípulos vieram no bote, puxando a rede com os peixes. "Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão". João 21:9. DTN 572 3 Estavam demasiado surpresos para perguntar de onde viera o fogo e a comida. "Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes". João 21:10. Pedro correu para a rede que ele lançara, e ajudou os irmãos a arrastá-la para a praia. Depois de tudo pronto, Jesus convidou os discípulos para comer. Partiu o alimento e o dividiu entre eles, sendo conhecido e reconhecido por todos os sete. O milagre feito na encosta da montanha, para alimentar os cinco mil, acudiu-lhes à memória; mas estavam tomados de misterioso respeito e, em silêncio, contemplavam o Salvador ressuscitado. DTN 572 4 Recordavam vivamente a cena junto ao mar, quando Jesus lhes ordenara que O seguissem. Lembraram-se de como, ao Seu mando, se haviam feito ao mar alto e lançado a rede, e a pesca fora tão abundante que a enchera a ponto de romper-se. Então Jesus os convidara a deixar os barcos de pesca e lhes prometera torná-los pescadores de homens. Fora para trazer-lhes esta cena à lembrança e aprofundar-lhes a impressão, que Ele tornara a realizar o milagre. Seu ato era uma renovação da comissão confiada aos discípulos. Isso lhes mostrava que a morte de seu Mestre não lhes diminuíra a obrigação para com a obra que lhes designara. Embora houvessem de ser privados de Sua companhia em pessoa, e dos meios de subsistência providos por sua antiga ocupação, o Salvador ressuscitado cuidaria deles ainda. Enquanto estivessem fazendo Sua obra, Ele providenciaria quanto às suas necessidades. E Jesus tinha um desígnio em ordenar-lhes que deitassem a rede do lado direito do barco. Daquele lado estava Ele, na praia. Era o lado da fé. Se trabalhassem em ligação com Jesus -- combinando-se Seu divino poder com o esforço humano deles -- não deixariam de ter êxito. DTN 572 5 Outra lição tinha Cristo a ensinar, a qual dizia respeito especialmente a Pedro. A negação do Senhor por parte do mesmo era um vergonhoso contraste com sua anterior profissão de lealdade. Ele desonrara a Cristo e incorrera na desconfiança dos irmãos. Estes pensavam que Pedro não teria permissão de ocupar sua posição anterior entre eles, e ele próprio sentia haver perdido o direito ao depósito que lhe fora confiado. Antes de ser chamado a retomar sua obra apostólica, devia dar, perante todos eles, testemunho de seu arrependimento. Sem isso, seu pecado, embora dele se houvesse arrependido, poderia destruir-lhe a influência como ministro de Cristo. O Salvador deu-lhe oportunidade de reconquistar a confiança dos irmãos e, tanto quanto possível, afastar a mancha que trouxera sobre o evangelho. DTN 573 1 Aí se dá uma lição a todos os seguidores de Cristo. O evangelho não transige com o mal. Não pode desculpar o pecado. Os pecados secretos devem em segredo ser confessados a Deus; mas o pecado público requer pública confissão. A vergonha do discípulo de Cristo é lançada sobre Cristo. Faz com que Satanás triunfe e tropecem as almas vacilantes. Dando provas de arrependimento, deve o discípulo remover a injúria, tanto quanto esteja ao seu alcance. DTN 573 2 Enquanto Cristo e os discípulos comiam juntos à beira-mar, perguntou o Salvador a Pedro, referindo-Se a seus irmãos: "Simão, filho de Jonas, amas-Me mais do que estes?" Pedro declarara: "Ainda que todos se escandalizem em Ti, eu nunca me escandalizarei". Mateus 26:33. Agora, porém, ele se deu mais verdadeira estimação: "Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo", disse. Nenhuma veemente afirmação de que seu amor é maior que o dos irmãos. Não exprime a própria opinião quanto à dedicação que tem. Apela para Aquele que lê todos os motivos do coração, a fim de que julgue sua sinceridade -- "Tu sabes que Te amo". E Jesus lhe recomenda: "Apascenta os Meus cordeiros". João 21:15. DTN 573 3 De novo aplicou Jesus a prova a Pedro, repetindo as palavras anteriores: "Simão, filho de Jonas, amas-Me?" Desta vez não perguntou a Pedro se O amava mais do que seus irmãos. A segunda resposta foi idêntica à primeira, livre de exageros: "Sim, Senhor; Tu sabes que Te amo." Jesus lhe disse: "Apascenta as Minhas ovelhas." Uma vez mais o Salvador fez a probante pergunta: "Simão, filho de Jonas, amas-Me?" Pedro se entristeceu; julgou que Cristo duvidasse de seu amor. Sabia que seu Senhor tinha motivo para dele desconfiar e, com dor, respondeu: "Senhor, tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo." Outra vez Jesus lhe disse: "Apascenta as Minhas ovelhas". João 21:16, 17. DTN 573 4 Três vezes negara Pedro abertamente o Senhor, e três vezes tirou Jesus dele a certeza de seu amor e lealdade, insistindo naquela penetrante pergunta, seta aguda ao seu ferido coração. Jesus revelou perante os discípulos reunidos a profundeza do arrependimento de Pedro, e mostrou quão completamente humilhado se achava o discípulo outrora jactancioso. DTN 573 5 Pedro era naturalmente ousado e impulsivo, e Satanás se aproveitara dessas características para o derrotar. Mesmo antes da queda de Pedro, Jesus lhe dissera: "Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos". Lucas 22:31, 32. Chegara então esse tempo, e era evidente a transformação de Pedro. As incisivas, penetrantes perguntas do Senhor não provocaram réplica ousada, presunçosa; e, em virtude de sua humilhação e arrependimento, Pedro estava mais bem preparado do que nunca para agir como pastor junto ao rebanho. DTN 574 1 A primeira obra que Cristo confiara a Pedro, ao restaurá-lo ao ministério, foi apascentar os cordeiros. Era essa uma tarefa em que Pedro pouca experiência tinha. Requeria grande cuidado e ternura, muita paciência e perseverança. Ela o chamava a servir aos mais novos na fé, a ensinar os ignorantes, a abrir-lhes as Escrituras e a educá-los para a utilidade no serviço de Cristo. Até então, Pedro não estava apto para fazer isso, nem mesmo para compreender a importância desse trabalho. Mas esta foi a obra a que Cristo então o chamou. Para isso o preparara sua própria experiência de sofrimento e arrependimento. DTN 574 2 Antes de sua queda, Pedro estava sempre falando desavisadamente, levado pelo impulso do momento. Sempre pronto a corrigir os outros, exprimia os próprios pensamentos, antes de ter idéia clara a respeito de si mesmo ou do que ia dizer. O Pedro convertido, porém, era bem diverso. Conservava o antigo fervor, mas a graça de Cristo lhe regulava o zelo. Não mais era impetuoso, confiante em si mesmo, presumido, mas calmo, dominado e dócil. Podia então alimentar tanto os cordeiros como as ovelhas do rebanho de Cristo. DTN 574 3 A maneira de o Salvador proceder para com Pedro encerrava uma lição para ele e para seus irmãos. Ensinava-lhes a tratar o transgressor com paciência, simpatia e amor pleno de perdão. Embora Pedro houvesse negado a seu Senhor, o amor que Ele lhe tinha nunca esmoreceu. Amor assim deve o subpastor sentir pelas ovelhas e cordeiros confiados ao seu cuidado. Lembrando sua própria fraqueza e fracasso, Pedro devia tratar com o rebanho tão ternamente como o fizera Cristo com ele. DTN 574 4 A pergunta dirigida a Pedro por Cristo era significativa. Ele mencionou apenas uma condição de discipulado e serviço. "Amas-Me?" disse Ele. É esta a qualificação essencial. Ainda que Pedro possuísse todas as outras, sem o amor de Cristo, não podia ser um fiel pastor do rebanho do Senhor. Conhecimento, liberalidade, eloqüência, gratidão e zelo são todos auxiliares na boa obra; mas sem o amor de Jesus no coração, a obra do ministro cristão é um fracasso. DTN 574 5 Jesus caminhava sozinho com Pedro, pois havia alguma coisa que lhe desejava comunicar a ele só. Antes de Sua morte, tinha-lhe dito: "Para onde Eu vou não podes agora seguir-Me, mas depois Me seguirás." A isso replicara Pedro: "Por que não posso seguir-Te agora? Por ti darei a minha vida". João 13:36, 37. Ao falar assim, mal sabia a que alturas e profundidades o havia Cristo de conduzir. Pedro fracassara ao sobrevir a prova, mas outra vez lhe seria dado ensejo de demonstrar seu amor por Cristo. A fim de que se fortalecesse para a prova suprema de sua fé, o Salvador desvendou-lhe o seu futuro. Disse-lhe que, depois de viver vida de utilidade, quando os anos se fizessem sentir em suas forças, haveria então realmente de seguir a seu Senhor. Jesus disse: "Quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias: mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos; e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras. E disse isto significando com que morte havia ele de glorificar a Deus". João 21:18, 19. DTN 575 1 Assim deu Jesus a conhecer a Pedro a própria maneira de sua morte; predisse mesmo o estender de suas mãos sobre a cruz. Outra vez disse ao discípulo: "Segue-Me." Pedro não ficou desanimado pela revelação. Estava pronto a sofrer qualquer espécie de morte por seu Senhor. DTN 575 2 Até então Pedro conhecera a Cristo segundo a carne, como muitos O conhecem hoje; mas não mais deveria estar assim limitado. Não O conhecia como antes, em sua convivência com Ele na humanidade. Amara-O como homem, como mestre enviado pelo Céu; amava-O agora como Deus. Estivera a aprender a lição de que para ele Cristo era tudo em todos. Agora estava preparado para partilhar da missão de seu Senhor, missão de sacrifício. Quando, afinal, o levaram à cruz, foi, por solicitação sua, crucificado de cabeça para baixo. Julgava demasiada honra sofrer pela mesma maneira que seu Mestre. DTN 575 3 Para Pedro, as palavras "Segue-Me", foram cheias de ensino. Não somente para sua morte, mas para cada passo de sua vida, era dada essa lição. Até então, Pedro fora inclinado a agir independentemente. Tinha procurado fazer projetos para a obra de Deus, em lugar de esperar para seguir o plano divino. Nada poderia ele lucrar, no entanto, por antecipar-se ao Senhor. Jesus ordenara-lhe: "Segue-Me." Não corras adiante de Mim. Então não terás de enfrentar sozinho as hostes de Satanás. Deixa-Me ir na tua frente, e não serás vencido pelo inimigo. DTN 575 4 Enquanto Pedro caminhava ao lado de Jesus, viu que João os seguia. Apoderou-se dele o desejo de conhecer o futuro daquele, e "disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se Eu quero que ele fique até que Eu venha, que te importa a ti? Segue-Me tu". João 21:20, 22. Pedro devia ter considerado que seu Senhor lhe revelaria tudo quanto lhe fosse melhor conhecer. É dever de cada um seguir a Cristo, sem indevida ansiedade quanto ao trabalho designado a outros. Ao dizer a respeito de João: "Se Eu quero que ele fique até que Eu venha", Cristo não afirmou de maneira alguma que esse discípulo havia de viver até à segunda vinda do Senhor. Afirmou simplesmente Seu supremo poder, e que mesmo que Ele quisesse que tal fosse assim, isso de maneira alguma deveria afetar a obra de Pedro. O futuro tanto de João como de Pedro estava nas mãos de seu Senhor. Obediência em O seguir, eis o dever exigido de cada um. DTN 576 1 Quantos hoje em dia são como Pedro! Interessam-se nos negócios dos outros, ficam ansiosos por conhecer-lhes o dever, ao passo que estão em perigo de negligenciar o seu próprio. É nossa obra olhar a Cristo e segui-Lo. Veremos erros na vida dos outros, e defeitos em seu caráter. A humanidade está circundada de fraquezas. Em Cristo, porém, acharemos perfeição. Olhando para Ele seremos transformados. DTN 576 2 João viveu até avançada velhice. Testemunhou a destruição de Jerusalém, e a ruína do majestoso templo -- símbolo da ruína final do mundo. Até seus últimos dias seguiu João bem de perto ao Senhor. A nota predominante de seu testemunho à igreja, era: "Amados, amemo-nos uns aos outros"; "quem está em caridade está em Deus, e Deus nele". 1 João 4:7, 16. DTN 576 3 Pedro fora restaurado em seu apostolado, mas a honra e a autoridade que recebera de Cristo não lhe outorgaram supremacia sobre seus irmãos. Isso tornara Jesus claro quando, em resposta à pergunta dele: "E deste que será?" dissera: "Que te importa a ti? Segue-Me tu". João 21:23. Pedro não foi honrado como cabeça da igreja. O favor que Cristo lhe mostrara em perdoar-lhe a apostasia e confiar-lhe o apascentar do rebanho, e a fidelidade do próprio Pedro em seguir a Cristo, granjearam-lhe a confiança dos irmãos. Tinha muita influência na igreja. Mas a lição que Cristo lhe ensinara junto ao Mar da Galiléia, Pedro a manteve consigo no decorrer de toda a vida. Escrevendo sob inspiração do Espírito Santo às igrejas, disse: DTN 576 4 "Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória". 1 Pedro 5:1-4. ------------------------Capítulo 86 -- "Ide, ensinai a todas as nações" DTN 577 0 Este capítulo é baseado em Mateus 28:16-20. DTN 577 1 Achando-Se a um passo de Seu trono celestial, deu Cristo aos discípulos a comissão. "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra", disse Ele. "Portanto ide, ensinai todas as nações". Mateus 28:18, 19. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura". Marcos 16:15. Várias vezes foram as palavras repetidas, a fim de que os discípulos lhes apreendessem o significado. Sobre todos os habitantes da Terra, elevados e humildes, ricos e pobres, devia a luz do Céu resplandecer em claros, poderosos raios. Os discípulos deviam ser colaboradores de seu Redentor na obra de salvar o mundo. DTN 577 2 A comissão fora dada aos doze quando Cristo Se encontrara com eles no cenáculo; devia, porém, ser transmitida agora a um maior número. Em uma montanha da Galiléia se realizou uma reunião na qual se congregaram todos os crentes que podiam ser convocados. Para essa reunião, o próprio Cristo, antes de Sua morte, designara o tempo e o lugar. O anjo, no sepulcro, relembrara os discípulos de Sua promessa de os encontrar na Galiléia. A promessa foi repetida aos crentes reunidos em Jerusalém durante a semana da Páscoa, e por intermédio destes chegara a muitos outros, isolados, que pranteavam a morte de seu Senhor. Com vivo interesse aguardavam todos esse encontro. Dirigiram-se ao lugar de reunião por desvios, chegando ali de várias direções, a fim de evitar as suspeitas dos ciumentos judeus. Chegaram cheios de antecipações, falando entre si calorosamente das novas que lhes haviam sido transmitidas acerca de Cristo. DTN 577 3 Ao tempo designado, cerca de quinhentos crentes estavam reunidos em pequenos grupos na encosta da montanha, ansiosos por saber tudo quanto fosse possível colher dos que tinham visto Jesus depois da ressurreição. Os discípulos passavam de grupo em grupo, dizendo tudo quanto haviam visto e ouvido do Salvador, e raciocinando sobre as Escrituras, como Ele fizera com eles. Tomé contava de novo a história de sua incredulidade, e dizia como se lhe haviam dissipado as dúvidas. De súbito, achou-Se Jesus no meio deles. Ninguém podia dizer de onde nem como viera. Muitos dos presentes nunca O tinham visto; em Suas mãos e pés, porém, divisaram os sinais da crucifixão; Seu semblante era como a face de Deus, e quando O viram, adoraram-nO. DTN 578 1 Alguns, porém, duvidaram. Assim será sempre. Há os que acham difícil exercer fé e se colocam do lado da dúvida. Estes perdem muito por causa de sua incredulidade. DTN 578 2 Foi essa a única entrevista que Jesus teve com muitos dos crentes, depois de Sua crucifixão. Chegou e falou-lhes, dizendo: "É-Me dado todo o poder, no Céu e na Terra." Os discípulos O haviam adorado antes de Ele falar; mas Suas palavras, proferidas por lábios que haviam estado selados pela morte, os comoveram com poder particular. Ele era agora o Salvador ressuscitado. Muitos deles O haviam visto exercer poder na cura de doentes e dominar instrumentos satânicos. Acreditavam que possuía poder para estabelecer Seu reino em Jerusalém, poder para dominar toda oposição, poder sobre os elementos da natureza. Fizera emudecer as águas revoltas; caminhara por cima das espumejantes vagas; erguera para a vida os mortos. Agora declarava que Lhe era dado "todo o poder". Suas palavras levaram a mente dos ouvintes acima das coisas terrenas e temporais, às celestiais e eternas. Foram erguidos à mais elevada concepção de Sua dignidade e glória. DTN 578 3 As palavras de Cristo, na encosta da montanha, foram o anúncio de que Seu sacrifício em favor do homem era pleno, completo. As condições para a expiação haviam sido cumpridas; realizara-se a obra para que Ele viera a este mundo. Achava-Se a caminho para o trono de Deus, a fim de ser honrado pelos anjos, os principados e as potestades. Entrara em Sua obra mediadora. Revestido de ilimitada autoridade, dera aos discípulos a comissão: "Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:19, 20. DTN 578 4 Os judeus foram feitos depositários da sagrada verdade; o farisaísmo, porém, os tornara os mais exclusivistas, os mais fanáticos de toda a raça humana. Tudo que dizia respeito aos sacerdotes e aos príncipes -- seu vestuário, seus costumes, suas cerimônias, e tradições -- tudo os tornava inaptos para ser a luz do mundo. Consideravam-se, a nação judaica, como sendo o mundo. Mas Cristo comissionou Seus discípulos a proclamarem uma fé e um culto que nada encerravam de segregação ou nacionalismo; uma fé que se adaptaria a todos os povos, todas as nações, todas as classes de homens. DTN 579 5 Antes de deixar os discípulos, Cristo declarou positivamente a natureza de Seu reino. Trouxe-lhes à memória o que lhes disse anteriormente a respeito do mesmo. Disse-lhes não ser desígnio Seu estabelecer no mundo um reino temporal, mas sim espiritual. Não havia de governar como rei terrestre no trono de Davi. De novo lhes abriu as Escrituras, mostrando que tudo por que Ele passara fora ordenado no Céu, nos conselhos entre Seu Pai e Ele próprio. Tudo fora predito por homens inspirados pelo Espírito Santo. Disse-lhes: Vedes que tudo quanto vos revelei acerca de Minha rejeição como o Messias, veio a cumprir-se. Verificou-se tudo quanto disse a respeito da humilhação que Eu devia suportar e da morte de que devia morrer. Ao terceiro dia, ressuscitei. Examinai mais diligentemente as Escrituras e vereis que, em todas essas coisas, se cumpriram as especificações da profecia a Meu respeito. DTN 579 1 Cristo ordenou aos discípulos que fizessem a obra que lhes deixara nas mãos, começando em Jerusalém. Jerusalém fora o cenário de Sua alarmante condescendência para com a raça humana. Lá sofrera Ele, sendo rejeitado e condenado. A terra da Judéia era Seu berço. Ali, revestido da humanidade, andara com os homens, e poucos haviam discernido quão perto o Céu chegara da Terra, quando Jesus Se achava entre eles. Em Jerusalém devia começar a obra dos discípulos. DTN 579 2 Em vista de tudo quanto Cristo ali sofrera e do não apreciado trabalho que realizara, os discípulos poderiam ter pedido um campo mais prometedor; não fizeram, entretanto, essa petição. O próprio terreno em que Ele espalhara a semente da verdade devia ser cultivado pelos discípulos, e a semente brotaria, produzindo abundante colheita. Em sua obra, teriam os discípulos de sofrer perseguição por causa do ciúme e o ódio dos judeus; mas isso fora suportado pelo Mestre, e não deviam dela fugir. As primeiras ofertas de misericórdia, cumpria apresentá-las aos assassinos do Salvador. DTN 579 3 E existiam em Jerusalém muitos que tinham crido secretamente em Jesus, e muitos que haviam sido iludidos pelos sacerdotes e os príncipes. Também a estes devia o evangelho ser apresentado. Deviam ser chamados ao arrependimento. Cumpria patentear a admirável verdade de que unicamente por meio de Cristo se poderia obter remissão de pecados. Enquanto toda Jerusalém estava agitada com os emocionantes acontecimentos das últimas semanas, a pregação do evangelho causaria a mais profunda impressão. DTN 579 4 Mas a obra não pararia aí. Dever-se-ia estender aos remotos confins da Terra. Cristo dissera aos discípulos: Fostes testemunhas de Minha vida de sacrifício em favor do mundo. Presenciastes Meus labores por Israel. Embora não quisessem vir a Mim para ter vida, se bem que sacerdotes e principais Me tivessem feito o que lhes aprouve, embora Me rejeitassem segundo a predição das Escrituras, terão ainda outra oportunidade de aceitar o Filho de Deus. Vistes que a todos quantos vêm a Mim, confessando os pecados, Eu os aceito livremente. Aquele que vem a Mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. Todos quantos quiserem, serão reconciliados com Deus e receberão vida eterna. A vós, Meus discípulos, confio esta mensagem de misericórdia. Seja anunciada primeiro a Israel, e depois a todas as nações, línguas e povos. Proclame-se a judeus e gentios. Todos quantos crerem, serão reunidos em uma igreja. DTN 580 1 Mediante o dom do Espírito Santo, receberiam os discípulos maravilhoso poder. Seu testemunho seria confirmado por sinais e maravilhas. Seriam operados milagres, não somente pelos apóstolos, mas também pelos que lhes recebessem a mensagem. Disse Jesus: "Em Meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão". Marcos 16:17, 18. DTN 580 2 Naquela época era muitas vezes empregado o envenenamento. Homens sem escrúpulos não hesitavam em afastar, por essa maneira, os que estavam no caminho de suas ambições. Jesus sabia que a vida dos discípulos seria assim posta em perigo. Muitos julgariam estar servindo a Deus ao matar Suas testemunhas. Portanto, prometeu protegê-los contra esses perigos. DTN 580 3 Os discípulos deviam ter o mesmo poder que Cristo possuía para curar "todas as enfermidades e moléstias entre o povo". Curando em Seu nome as doenças do corpo, davam testemunho de Seu poder para a cura da alma. Mateus 4:23. E um novo dom foi então prometido. Deviam pregar entre outras nações, e receberiam poder de falar outras línguas. Os apóstolos e seus cooperadores eram homens iletrados, todavia mediante o derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes, sua linguagem, fosse no próprio idioma ou num estrangeiro, tornou-se pura, simples e correta, tanto nas palavras como na pronúncia. DTN 580 4 Assim deu Cristo aos discípulos sua missão. Tomou plenas medidas para a seqüência da obra, assumindo Ele próprio a responsabilidade do êxito da mesma. Enquanto Lhe obedecessem à palavra e trabalhassem em ligação com Ele, não poderiam falhar. Ide a todas as nações, ordenou-lhes. Ide às mais longínquas partes do globo habitado, mas sabei que Minha presença ali Se achará. Trabalhai com fé e confiança, pois nunca virá tempo em que Eu vos abandone. DTN 580 5 A comissão do Salvador aos discípulos incluía todos os crentes. Abrange todos os crentes em Cristo até ao fim dos séculos. É um erro fatal supor que a obra de salvar almas depende apenas do pastor ordenado. Todos a quem veio a celestial inspiração, são depositários do evangelho. Todos quantos recebem a vida de Cristo são mandados trabalhar pela salvação de seus semelhantes. Para essa obra foi estabelecida a igreja, e todos quantos tomam sobre si os seus sagrados votos, comprometem-se, assim, a ser coobreiros de Cristo. DTN 580 6 "O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: vem". Apocalipse 22:17. Todo aquele que ouve deve repetir o convite. Seja qual for a vocação de uma pessoa na vida, seu primeiro interesse deve ser ganhar almas para Cristo. Talvez ela não seja capaz de falar às congregações; pode, no entanto, trabalhar em favor dos indivíduos. Pode comunicar-lhes as instruções recebidas do Senhor. O ministério não consiste apenas em pregar. Exercem-no os que aliviam os doentes e os sofredores, ajudam os necessitados, dirigem palavras de conforto aos desanimados e aos de pouca fé. Por perto e por longe encontram-se almas vergadas ao peso de um sentimento de culpa. Não são as penas, as labutas, a pobreza que degradam a humanidade. É a culpa, o mau proceder. Isso traz desassossego e descontentamento. Cristo quer que Seus servos ajudem as almas enfermas de pecado. DTN 581 1 Os discípulos deviam começar sua obra onde se achavam. O mais duro campo, o menos prometedor, não devia ser passado por alto. Cumpre, assim, a cada um dos obreiros de Cristo começar onde está. Em nossa própria família pode haver almas sequiosas de simpatia, famintas do pão da vida. Talvez haja crianças a serem educadas para Cristo. Há pagãos às nossas próprias portas. Façamos fielmente a obra que nos fica mais próxima. Depois, estendamos nossos esforços tão longe quanto a mão de Deus no-la indicar. A obra de muitos parecerá ser restringida pelas circunstâncias; mas seja onde for, se executada com fé e diligência, far-se-á sentir até às mais remotas partes da Terra. Quando Cristo estava no mundo, Sua obra parecia limitada a um estreito campo; no entanto multidões de todas as terras ouviram-Lhe a mensagem. Deus Se serve muitas vezes dos mais simples meios para produzir os maiores resultados. É Seu plano que cada parte de Sua obra dependa de outra parte, como uma roda dentro de outra, funcionando todas em harmonia. O mais humilde obreiro, movido pelo Espírito Santo, poderá tocar cordas invisíveis, cujas vibrações hão de soar até aos confins da Terra e produzir melodias através dos séculos eternos. DTN 581 2 Mas cumpre não perder de vista a ordem: "Ide por todo o mundo". Marcos 16:15. Somos chamados a erguer os olhos para as terras distantes. Cristo derruba o muro divisório, os separadores preconceitos de nacionalidade, ensinando amor por toda a família humana. Ergue os homens do estreito círculo que o egoísmo lhes prescreve; apaga todas as fronteiras territoriais e as artificiais distinções de classe. Não faz diferença entre vizinhos e estranhos, amigos e inimigos. Ensina-nos a olhar a toda alma necessitada como nosso irmão, e o mundo como nosso campo. DTN 581 3 Quando o Salvador disse: "Ide, ensinai todas as nações", disse também: "Estes sinais seguirão aos que crerem: Em Meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão". Marcos 16:17, 18. A promessa é tão vasta como a comissão. Não que todos os dons sejam comunicados a cada crente. O Espírito reparte "particularmente a cada um como quer". 1 Coríntios 12:11. Mas os dons do Espírito são prometidos a todo crente segundo sua necessidade para a obra do Senhor. A promessa é, hoje, exatamente tão categórica e digna de confiança, como nos dias dos apóstolos. "Estes sinais seguirão aos que creram". Marcos 16:17. Este é o privilégio dos filhos de Deus, e a fé deve lançar mão de tudo quanto é possível possuir como apoio. DTN 582 1 "Porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão." Este mundo é um vasto hospital, mas Cristo veio curar os enfermos, proclamar liberdade aos cativos de Satanás. Era em Si mesmo saúde e vigor. Comunicava Sua vida aos doentes, aos aflitos, aos possessos de demônios. Não repelia ninguém que viesse receber Seu poder vivificador. Sabia que os que Lhe pediam auxílio haviam trazido sobre si mesmos a doença; todavia, não Se recusava a curá-los. E quando a virtude provinda de Cristo penetrava nessas pobres almas, sentiam a convicção do pecado, e muitos eram curados de suas enfermidades espirituais, bem como das do corpo. O evangelho possui ainda o mesmo poder, e por que não deveríamos testemunhar hoje idênticos resultados? DTN 582 2 Cristo sente as misérias de todo sofredor. Quando os espíritos maus arruínam o organismo humano, Cristo sente essa ruína. Quando a febre consome a corrente vital, Ele sente a agonia. E está tão disposto a curar o enfermo hoje, como quando Se achava em pessoa na Terra. Os servos de Cristo são Seus representantes, instrumentos pelos quais opera. Ele deseja, por intermédio dos mesmos, exercer Seu poder de curar. DTN 582 3 Na maneira por que o Salvador curava, havia lições para os discípulos. Uma ocasião, ungiu com terra os olhos de um cego, dizendo-lhe: "Vai, lava-te no tanque de Siloé. [...] Foi pois, e lavou-se, e voltou vendo". João 9:7. A cura só se podia operar pelo poder do grande Médico; todavia, Cristo fez uso dos simples agentes da natureza. Conquanto não recomendasse as medicações compostas de drogas, sancionou o emprego de remédios simples e naturais. DTN 582 4 A muitos dos aflitos que foram curados, disse Cristo: "Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior". João 5:14. Assim ensinou que a doença é o resultado da violação das leis de Deus, tanto naturais como espirituais. Não existiria no mundo a grande miséria que há, se tão-somente os homens vivessem em harmonia com o plano do Criador. DTN 582 5 Cristo fora o guia e mestre do antigo Israel, e ensinara-lhe que a saúde é o prêmio da obediência às leis divinas. O grande Médico que curava os doentes da Palestina, falara a Seu povo da coluna de nuvem, dizendo-lhe o que devia fazer, e o que Deus faria por ele. "Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus", disse, "e obrares o que é reto diante de Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre os egípcios; porque Eu sou o Senhor que te sara". Êxodo 15:26. Cristo deu a Israel definidas instruções acerca de seus hábitos de vida, e assegurou-lhe: "E o Senhor de ti desviará toda a enfermidade". Deuteronômio 7:15. Quando cumpriam as condições, verificavam-se as promessas. "Entre as suas tribos não houve um só enfermo". Salmos 105:37. DTN 583 1 Essas lições são para nós. Há condições que devem ser observadas por todos os que queiram conservar a saúde. Cumpre aprenderem todos quais são essas condições. Deus não Se agrada da ignorância com respeito a Suas leis, sejam naturais, sejam espirituais. Devemos ser coobreiros Seus, para restauração da saúde do corpo bem como do espírito. DTN 583 2 E devemos ensinar os outros a conservar e a recuperar a saúde. Empregar para os doentes os remédios providos por Deus na natureza, bem como encaminhá-los Àquele que, unicamente, pode restaurar. É nossa obra apresentar os doentes e sofredores a Cristo, nos braços de nossa fé. Devemos ensinar-lhes a crer no grande Médico. Lançar mão de Sua promessa, e orar pela manifestação de Seu poder. A própria essência do evangelho é restauração, e o Salvador quer que induzamos os enfermos, os desamparados e os aflitos a se apoderarem de Sua força. DTN 583 3 O poder do amor estava em todas as curas de Cristo, e unicamente participando desse amor, pela fé, podemos ser instrumentos para Sua obra. Se negligenciamos pôr-nos em divina ligação com Cristo, a corrente de energia vitalizante não pode fluir em abundantes torrentes de nós para o povo. Houve lugares em que o próprio Salvador não pôde realizar muitas obras poderosas, devido à incredulidade. Assim agora a incredulidade separa a igreja de seu divino Ajudador. Fraco é seu apego às realidades eternas. Por sua falta de fé, fica Deus decepcionado, e é roubado de Sua glória. DTN 583 4 É fazendo a obra de Cristo que a igreja tem a promessa de Sua presença. Ide, ensinai a todas as nações, disse Ele; "e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. Tomar o Seu jugo é uma das primeiras condições para receber-Lhe o poder. A própria vida da igreja depende de sua fidelidade em cumprir a comissão do Senhor. Certo, negligenciar essa obra é convidar a fraqueza e a decadência espirituais. Onde não há ativo trabalho em benefício de outros, o amor diminui e definha a fé. DTN 583 5 É intento de Cristo que Seus ministros sejam educadores da igreja na obra evangélica. Cumpre-lhes ensinar o povo a buscar e salvar os perdidos. É esta, porém, a obra que estão fazendo? Ai! quantos estão porfiando por avivar a centelha da vida numa igreja quase a perecer! Quantas igrejas são cuidadas como ovelhas enfermas, pelos que deviam estar buscando a ovelha perdida! E todo o tempo milhões e milhões estão perecendo sem Cristo. DTN 583 6 O amor divino moveu-se a suas insondáveis profundidades em favor dos homens, e os anjos maravilham-se de ver nos objetos de tão grande amor uma gratidão meramente superficial. Os anjos pasmam de quão limitada é a apreciação que o homem tem do amor de Deus. O Céu se indigna ante a negligência manifestada para com a alma dos homens. Queremos saber como Cristo o considera? Como sentiria um pai, uma mãe, soubessem eles que, estando seu filho perdido no frio e na neve, fora desdenhado e deixado a perecer pelos que o poderiam haver salvado? Não ficariam terrivelmente ofendidos, furiosamente indignados? Não os acusariam com uma ira tão ardente como suas lágrimas, tão intensa como seu amor? Os sofrimentos de cada homem são os sofrimentos de um filho de Deus, e os que não estendem a mão em socorro de seus semelhantes quase a perecer, provocam-Lhe a justa ira. Esta é a ira do Cordeiro. Aos que professam ser companheiros de Cristo, e todavia se têm mostrado indiferentes às necessidades dos semelhantes, declarará Ele no grande dia do Juízo: "Não sei de onde vós sois; apartai-vos de Mim, vós todos os que praticais a iniqüidade". Lucas 13:27. DTN 584 1 Na comissão dada aos discípulos, Cristo não somente lhes delineou a obra, mas deu-lhes a mensagem. Ensinai o povo, disse, "a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado". Os discípulos deviam ensinar o que Cristo ensinara. O que Ele falara, não só em pessoa, mas através de todos os profetas e mestres do Antigo Testamento, aí se inclui. É excluído o ensino humano. Não há lugar para a tradição, para as teorias e conclusões dos homens, nem para a legislação da igreja. Nenhuma das leis ordenadas por autoridade eclesiástica se acha incluída na comissão. Nenhuma dessas têm os servos de Cristo de ensinar. "A lei e os profetas" com a narração de Suas próprias palavras e atos, eis os tesouros confiados aos discípulos para serem dados ao mundo. O nome de Cristo é-lhes senha, distintivo, traço de união, autoridade para seu modo de proceder, bem como fonte de êxito. Coisa alguma que não traga a assinatura dEle há de ser reconhecida em Seu reino. DTN 584 2 O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus deseja que os que recebem Sua graça sejam testemunhas do poder da mesma. Aceita francamente aqueles cuja maneira de proceder mais ofensiva Lhe tem sido; quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, coloca-os nos mais altos postos de confiança e envia-os ao acampamento dos desleais, para Lhe proclamar a ilimitada misericórdia. Quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, podem os homens possuir caráter semelhante ao de Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que testifiquemos de que Ele não pode ficar satisfeito, enquanto a raça humana não for reavida e reintegrada em seus santos privilégios de filhos e filhas de Deus. DTN 584 3 Em Cristo se resumem a ternura do pastor, a afeição do pai e a incomparável graça do compassivo Salvador. Apresenta Suas bênçãos nos mais fascinantes termos. Não Se contenta apenas em anunciar essas bênçãos; oferece-as da maneira mais atrativa, para despertar o desejo de as possuir. Assim devem Seus servos apresentar as riquezas da glória do inexprimível Dom. O maravilhoso amor de Cristo abrandará e subjugará os corações, quando a simples reiteração de doutrinas nada conseguiria. "Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus." "Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe tu a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. [...] Como pastor apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço". Isaías 40:1, 9-11. Falai ao povo dAquele que "traz a bandeira entre dez mil", e que é "totalmente desejável". Cânticos 5:10, 16. As palavras, meramente, não o podem dizer. Seja refletido no caráter e manifestado na vida. Cristo posa para ser retratado em cada discípulo. A todos predestinou Deus para serem "conformes à imagem de Seu Filho". Romanos 8:29. Em cada um se tem de manifestar ao mundo o longânimo amor de Cristo, Sua santidade, mansidão, misericórdia e verdade. DTN 585 1 Os primeiros discípulos saíram pregando a Palavra. Eles revelaram Cristo em sua vida. E o Senhor andava com eles, "confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram". Marcos 16:20. Estes discípulos se prepararam para a obra. Antes do dia de Pentecostes se reuniram e tiraram dentre eles todas as desinteligências. Estavam de um mesmo sentimento. Acreditavam na promessa de Cristo, de que a bênção seria dada, e oravam com fé. Não pediam a bênção apenas para si; estavam preocupados com a responsabilidade quanto à salvação de almas. O evangelho devia ser levado até aos confins da Terra, e eles reclamavam a doação do poder que Cristo prometera. Foi então que o Espírito Santo foi derramado, e milhares se converteram num dia. DTN 585 2 Assim pode ser agora. Em vez das especulações dos homens, seja pregada a Palavra de Deus. Tirem os cristãos do meio deles as dissensões, e entreguem-se a Deus para salvação dos perdidos. Peçam a bênção com fé, e ela há de vir. O derramamento do Espírito, nos dias apostólicos, foi a "chuva temporã" (Joel 2:23), e glorioso foi o resultado. Mas a "chuva serôdia" será mais abundante. DTN 585 3 Todos quantos consagram a Deus alma, corpo e espírito, estarão constantemente recebendo nova dotação de poder físico e mental. As inesgotáveis provisões do Céu acham-se à sua disposição. Cristo lhes dá o alento de Seu próprio espírito, a vida de Sua própria vida. O Espírito Santo desenvolve Suas mais elevadas energias para operarem no coração e na mente. A graça divina amplia-lhes e multiplica-lhes as faculdades, e toda perfeição da divina natureza lhes acode em auxílio na obra de salvar almas. Mediante a cooperação com Cristo, são completos nEle e, em sua fraqueza humana, habilitados a realizar os feitos da Onipotência. DTN 585 4 O Salvador anela manifestar Sua graça e estampar Seu caráter no mundo inteiro. Este é Sua comprada possessão, e deseja tornar as pessoas livres, puras e santas. Embora Satanás trabalhe para impedir esse desígnio, mediante o sangue derramado pelo mundo, há triunfos a serem realizados, triunfos que trarão glória a Deus e ao Cordeiro. Cristo não Se manifestará enquanto a vitória não for completa, e Ele vir "o trabalho de Sua alma". Isaías 53:11. Todas as nações da Terra ouvirão o evangelho de Sua graça. Nem todos a receberão; mas "uma semente O servirá; falará do Senhor de geração em geração". Salmos 22:30. "E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o Céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Daniel 7:27), e "a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar". Isaías 11:9. "Então temerão o nome do Senhor desde o poente, e a Sua glória desde o nascente do Sol". Isaías 59:19. DTN 586 1 "Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! [...] exultai juntamente, desertos [...] porque o Senhor consolou o Seu povo. [...] O Senhor desnudou o Seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus". Isaías 52:7-10. ------------------------Capítulo 87 -- "Para meu Pai e vosso Pai" DTN 587 0 Este capítulo é baseado em Lucas 24:50-53; Atos 1:9-12. DTN 587 1 Chegou o momento de Cristo ascender ao trono do Pai. Estava prestes a voltar para as cortes celestiais, como divino vencedor, levando consigo os troféus da vitória. Antes de Sua morte, declarara ao Pai: "Eu acabei a obra que Tu Me encarregaste que fizesse" (João 17:4, Trad. Figueiredo). Depois de Sua ressurreição, demorou-Se na Terra por algum tempo, a fim de que os discípulos ficassem familiarizados com Ele em Seu corpo ressurgido e glorificado. Agora estava pronto para as despedidas. Tornara autêntico o fato de que era um Salvador vivo. Os discípulos não necessitavam mais de relacioná-Lo com o sepulcro. Podiam pensar nEle como glorificado perante o Universo celestial. DTN 587 2 Como local de Sua ascensão, escolheu Jesus aquele tantas vezes consagrado por Sua presença, enquanto habitava entre os homens. Não o Monte Sião, o lugar da cidade de Davi, não o Monte Moriá, sítio do templo, deviam ser assim honrados. Ali fora Jesus escarnecido e rejeitado. Ali as ondas de misericórdia, voltando ainda em mais poderosa vaga de amor, foram devolvidas por corações duros como as pedras. Dali Jesus, fatigado e oprimido de coração, saíra em busca de descanso no Monte das Oliveiras. O santo shekinah, partindo do primeiro templo, pousara sobre a montanha oriental, como se relutasse em abandonar a escolhida cidade; assim estava Cristo sobre o Olivete, contemplando com o coração anelante a Jerusalém. Os bosques e depressões da montanha haviam sido consagrados por Suas orações e lágrimas. Essas mesmas encostas ecoaram as triunfantes aclamações da multidão que O proclamava rei. Na descida desse monte encontrara Ele um lar em companhia de Lázaro, em Betânia. No Jardim de Getsêmani, ao sopé do Olivete, orara e Se angustiara sozinho. Desse monte devia ascender ao Céu. No cume do mesmo pousarão Seus pés quando vier outra vez. Não como varão de dores, mas como glorioso e triunfante rei estará sobre o Monte das Oliveiras, enquanto as aleluias dos hebreus se misturarão com os hosanas dos gentios, e as vozes dos remidos, qual poderosa hoste, hão de avolumar-se na aclamação: "Coroai-O Senhor de todos." DTN 587 3 Com os onze discípulos, dirige-Se Jesus agora para o monte. Ao passarem pela porta de Jerusalém, muitos olhares curiosos seguem o pequeno grupo, chefiado por Aquele que, poucas semanas antes, fora condenado pelos principais, e crucificado. Não sabiam os discípulos que essa seria sua última entrevista com o Mestre. Jesus passou o tempo em conversa com eles, repetindo as anteriores instruções. Ao aproximarem-se de Getsêmani, Ele guardou silêncio, a fim de que se lembrassem das lições que lhes dera na noite de Sua grande agonia. Olhou outra vez para a videira pela qual representara a união de Sua igreja consigo e com o Pai; repetiu as verdades que então desdobrara. Tudo quanto O rodeava eram recordações de Seu não retribuído amor. Os próprios discípulos, que tão caros Lhe eram ao coração, na hora de Sua humilhação O vituperaram e abandonaram. DTN 588 1 Por trinta e três anos peregrinara Cristo na Terra; suportara-lhe o desdém, o insulto e a zombaria; fora rejeitado e crucificado. Agora, quando prestes a ascender para Seu trono de glória -- ao repassar as ingratidões do povo que viera salvar -- não retiraria dele Sua simpatia e amor? Não se concentrariam Seus afetos naquele reino onde era apreciado e onde imaculados anjos esperavam Suas ordens para as cumprir? -- Não; eis Sua promessa aos amados que deixa na Terra: "Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. DTN 588 2 Chegando ao Monte das Oliveiras, Jesus vai abrindo o caminho até o cume, à vizinhança de Betânia. Ali Se detém, e os discípulos reúnem-se-Lhe em torno. Raios de luz parecem irradiar-Lhe do semblante, enquanto os contempla amorosamente. Não lhes lança em rosto suas faltas e fracassos; as últimas palavras que lhes chegam aos ouvidos, vindas dos lábios do Senhor, são da mais profunda ternura. Com as mãos estendidas numa bênção, e como numa firme promessa de Seu protetor cuidado, ascende Jesus lentamente dentre eles, atraído para o Céu por um poder mais forte que qualquer atração terrestre. Ao subir mais e mais, os assombrados discípulos, numa tensão visual, buscam um último vislumbre de seu Senhor assunto. Uma nuvem de glória O oculta aos seus olhos; e ao recebê-Lo o carro da nuvem de anjos, soam-lhes ainda aos ouvidos as palavras: "Eis que Eu estou convosco todo os dias, até à consumação dos séculos". Mateus 28:20. A flutuar veio baixando até eles, ao mesmo tempo, a mais suave e mais jubilosa música produzida pelo coro angélico. DTN 588 3 Enquanto os discípulos continuam a olhar para cima ouvem, qual música maviosa, vozes que se lhes dirigem. Voltam-se e vêem dois anjos em forma humana, os quais lhes falam, dizendo: "Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir". Atos dos Apóstolos 1:11. DTN 588 4 Esses anjos eram do grupo que estivera esperando numa nuvem brilhante, para acompanhar Jesus à morada celestial. Os mais exaltados, dentre a multidão angélica, eram os dois que foram ao sepulcro na ressurreição de Cristo e com Ele estiveram durante Sua vida na Terra. Ardente era o desejo com que o Céu aguardava o fim de Sua estada num mundo manchado pela maldição do pecado. Chegara agora a ocasião de o Universo celestial receber o seu Rei. Não ansiaram os dois anjos unir-se à multidão que saudava a Jesus? Em simpatia e amor pelos que Ele deixara, porém, ficaram para os confortar. "Não são porventura todos espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?" Hebreus 1:14. DTN 589 1 Cristo ascendera ao Céu na forma humana. Os discípulos viram a nuvem recebê-Lo. O mesmo Jesus que andara, e falara e orara com eles; Aquele que partira com eles o pão; que com eles estivera nos botes, no lago; e que fizeram com eles, naquele mesmo dia, a penosa subida do Olivete -- o mesmo Jesus fora agora para partilhar do trono do Pai. E os anjos lhes asseguraram que Aquele mesmo que viram subir ao Céu, voltaria outra vez assim como subira. Virá "com as nuvens, e todo o olho O verá". Apocalipse 1:7. "Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão". 1 Tessalonicenses 4:16. "Quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória". Mateus 25:31. Então se cumprirá a promessa do próprio Senhor aos discípulos. "Se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também". João 14:3. Bem podiam os discípulos se regozijar na esperança da vinda do Senhor. DTN 589 2 Quando voltaram a Jerusalém, o povo olhava para eles com espanto. Pensava-se que, depois do julgamento e crucifixão de Cristo, se mostrariam abatidos e envergonhados. Seus inimigos esperavam ver-lhes no rosto uma expressão de tristeza e derrota. Ao invés disso, havia simplesmente alegria e triunfo. Sua fisionomia era iluminada por uma felicidade que não provinha da Terra. Não lamentavam malogradas esperanças, mas estavam cheios de louvor e ações de graças a Deus. Com regozijo contavam a maravilhosa história da ressurreição de Cristo e de Sua ascensão ao Céu, e seu testemunho foi recebido por muitos. DTN 589 3 Não mais tinham os discípulos qualquer desconfiança do futuro. Sabiam que Jesus estava no Céu e que continuavam a ser o objeto de Seu compassivo interesse. Sabiam que tinham um amigo junto ao trono de Deus e estavam ansiosos por apresentar ao Pai suas petições em nome de Jesus. Em solene respeito curvavam-se em oração, repetindo a firme Promessa: "Tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em Meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra". João 16:23, 24. Estenderam mais e mais alto a mão da fé, com o poderoso argumento: "Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós". Romanos 8:34. E o Pentecostes lhes trouxe plenitude de alegria na presença do Consolador, exatamente como Cristo prometera. DTN 590 1 Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva. DTN 590 2 Ao aproximar-se da cidade de Deus, cantam, como em desafio, os anjos que compõem o séquito: DTN 590 3 "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória"! DTN 590 4 Jubilosamente respondem as sentinelas de guarda: "Quem é este Rei da Glória?" DTN 590 5 Isto dizem elas, não porque não saibam quem Ele é, mas porque querem ouvir a resposta de exaltado louvor: "O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória"! DTN 590 6 Novamente se faz ouvir o desafio: "Quem é este Rei da Glória?" pois os anjos nunca se cansam de ouvir o Seu nome ser exaltado. E os anjos da escolta respondem: "O Senhor dos Exércitos; Ele é o Rei da Glória!" Salmos 24:7-10. DTN 590 7 Então se abrem de par em par as portas da cidade de Deus, e a angélica multidão entra por elas, enquanto a música prorrompe em arrebatadora melodia. DTN 590 8 Ali está o trono, e ao seu redor, o arco-íris da promessa. Ali estão querubins e serafins. Os comandantes das hostes celestiais, os filhos de Deus, os representantes dos mundos não caídos, acham-se congregados. O conselho celestial, perante o qual Lúcifer acusara a Deus e a Seu Filho, os representantes daqueles reinos imaculados sobre os quais Satanás pensara estabelecer seu domínio -- todos ali estão para dar as boas-vindas ao Redentor. Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar seu Rei. DTN 590 9 Mas Ele os detém com um gesto. Ainda não. Não pode receber a coroa de glória e as vestes reais. Entra à presença do Pai. Mostra a fronte ferida, o atingido flanco, os dilacerados pés; ergue as mãos que apresentam os vestígios dos cravos. Aponta para os sinais de Seu triunfo; apresenta a Deus o molho movido, aqueles ressuscitados com Ele como representantes da grande multidão que há de sair do sepulcro por ocasião de Sua segunda vinda. Aproxima-Se do Pai, em quem há alegria a cada pecador que se arrepende; que sobre ele Se regozija com júbilo. Antes que os fundamentos da Terra fossem lançados, o Pai e o Filho Se haviam unido num concerto para redimir o homem, se ele fosse vencido por Satanás. Haviam-Se dado as mãos, num solene compromisso de que Cristo Se tornaria o fiador da raça humana. Esse compromisso cumprira Cristo. Quando, sobre a cruz soltara o brado: "Está consumado" (João 19:30), dirigira-Se ao Pai. O pacto fora plenamente satisfeito. Agora Ele declara: "Pai, está consumado. Fiz, ó Meu Deus, a Tua vontade. Concluí a obra da redenção. Se a Tua justiça está satisfeita, 'quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo'". João 17:24. DTN 591 1 Ouve-se a voz de Deus proclamando que a justiça está satisfeita. Está vencido Satanás. Os filhos de Cristo, que lutam e se afadigam na Terra, são "agradáveis [...] no Amado". Efésios 1:6. Perante os anjos celestiais e os representantes dos mundos não caídos, são declarados justificados. Onde Ele está, ali estará a Sua igreja. "A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". Salmos 85:10. Os braços do Pai circundam o Filho, e é dada a ordem: "E todos os anjos de Deus O adorem". Hebreus 1:6. DTN 591 2 Com inexprimível alegria, governadores, principados e potestades reconhecem a supremacia do Príncipe da Vida. A hoste dos anjos prostra-se perante Ele, ao passo que enche todas as cortes celestiais a alegre aclamação: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças"! Apocalipse 5:12. DTN 591 3 Hinos de triunfo misturam-se com a música das harpas angélicas, de maneira que o Céu parece transbordar de júbilo e louvor. O amor venceu. Achou-se a perdida. O Céu ressoa com altissonantes vozes que proclamam: "Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Apocalipse 5:13. DTN 591 4 Daquela cena de alegria celestial, chega até nós na Terra, o eco das maravilhosas palavras do próprio Cristo: "Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus". João 20:17. A família no Céu e a família na Terra, são uma só. Para nosso bem subiu nosso Senhor, para nosso bem Ele vive. "Portanto pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Hebreus 7:25. ------------------------Educação Ed 7 1 Prefácio Ed 13 0 Capítulo 1 -- Fonte e Objetivo da Verdadeira Educação Ed 20 0 Capítulo 2 -- A Escola do Éden Ed 23 0 Capítulo 3 -- A Ciência do Bem e do Mal Ed 28 0 Capítulo 4 -- Como se Relaciona a Educação com a Redenção Ed 33 0 Capítulo 5 -- A Educação de Israel Ed 45 0 Capítulo 6 -- As Escolas dos Profetas Ed 51 0 Capítulo 7 -- Vida de Grandes Homens Ed 73 0 Capítulo 8 -- O Mestre Enviado de Deus Ed 84 0 Capítulo 9 -- Uma Ilustração de Seus Métodos Ed 99 0 Capítulo 10 -- Deus na Natureza Ed 102 0 Capítulo 11 -- Lições de Vida Ed 113 0 Capítulo 12 -- Outras Lições Objetivas Ed 123 0 Capítulo 13 -- Cultura Mental e Espiritual Ed 128 0 Capítulo 14 -- A Ciência e a Bíblia Ed 135 0 Capítulo 15 -- Princípios e métodos comerciais Ed 146 0 Capítulo 16 -- Biografias bíblicas Ed 159 0 Capítulo 17 -- Poesias e cânticos Ed 169 0 Capítulo 18 -- Mistérios da Bíblia Ed 173 0 Capítulo 19 -- História e Profecia Ed 185 0 Capítulo 20 -- Ensino e Estudo da Bíblia Ed 195 0 Capítulo 21 -- Estudos de Fisiologia Ed 202 0 Capítulo 22 -- Temperança e Dietética Ed 207 0 Capítulo 23 -- Recreação Ed 214 0 Capítulo 24 -- Educação Manual Ed 225 0 Capítulo 25 -- Educação e Caráter Ed 230 0 Capítulo 26 -- Métodos de Ensino Ed 240 0 Capítulo 27 -- Comportamento Ed 246 0 Capítulo 28 -- Relação do Vestuário para com a Educação Ed 250 0 Capítulo 29 -- O Sábado Ed 253 0 Capítulo 30 -- Fé e Oração Ed 262 0 Capítulo 31 -- O Trabalho Vitalício Ed 275 0 Capítulo 32 -- Preparação Ed 283 0 Capítulo 33 -- Cooperação Ed 287 0 Capítulo 34 -- Disciplina Ed 301 0 Capítulo 35 -- A Escola do Além ------------------------Prefácio Ed 7 1 É muito raro que um livro dedicado ao assunto da educação seja lido tão amplamente, ou resista tão bem à prova dos tempos em constante mutação, como tem sucedido com esta obra que agora se apresenta neste novo formato padrão. Os princípios fundamentais claramente revelados neste volume tornaram-no, por diversas décadas, o manual de dezenas de milhares de pais e professores. Presentemente, para aumentar ainda mais sua ampla distribuição e leitura, ele é publicado como um dos volumes da Biblioteca do Lar Cristão, mas sem alterações no fraseado ou na paginação. Ed 7 2 Toda pessoa tem de enfrentar as realidades práticas da vida -- suas oportunidades, suas responsabilidades, suas derrotas e seus triunfos. Como ela encarará essas experiências, e se haverá de tornar-se senhora ou vítima das circunstâncias, depende em grande parte de sua preparação para enfrentá-las -- sua educação. Ed 7 3 A verdadeira educação é bem definida como o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades -- o cabal e adequado preparo para esta vida e para a futura vida eterna. É nos primeiros anos no lar e nas atividades escolares convencionais que se desenvolve a mente, que se estabelece um padrão de vida e que se forma o caráter. Ed 7 4 Discernindo atiladamente os valores relativos e duradouros do que constitui a verdadeira educação no mais lato sentido, a autora deste livro indica o caminho para a sua realização. É claramente delineada uma educação em que as faculdades mentais são desenvolvidas de maneira conveniente. É salientada uma educação em que as mãos sejam adestradas em ocupações úteis. É intensamente recomendada uma educação que reconheça a Deus como a fonte de toda sabedoria e compreensão. Ed 7 5 O objetivo impelente da autora em seus numerosos escritos sobre o assunto da educação era que os jovens no limiar da existência estivessem preparados para assumir seu lugar como bons cidadãos, bem habilitados para as experiências práticas da vida, plenamente desenvolvidos no sentido físico, tementes a Deus, de caráter impoluto e de coração fiel aos princípios. Este volume é a obra preeminente nesse grupo de escritos em que são expostos princípios essenciais à compreensão dos que orientam a juventude no lar e na escola. Ed 8 1 A autora destas páginas foi uma amiga de rapazes e moças. Esteve por muitos anos em íntimo contato com instituições de ensino e achava-se bem familiarizada com os problemas dos jovens que se preparavam para o trabalho de sua vida. Acima de tudo, porém, ela era dotada de conhecimento e habilidade fora do comum, como escritora e oradora. Ed 8 2 Tendo que ver com grandiosos princípios orientadores, e não com pormenores do currículo ou com os méritos de sistemas educacionais divergentes, a influência deste volume tem sido de âmbito mundial, com edições publicadas em diversas das principais línguas de outros continentes. Que esta nova edição dissemine ainda mais extensamente os grandiosos princípios da educação do caráter, é a ardente esperança dos publicadores e dos. Depositários das Publicações de Ellen G. White. Primeiros princípios Ed 8 3 "Refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória." ------------------------Capítulo 1 -- Fonte e objetivo da verdadeira educação Ed 13 0 "A ciência do santo é a prudência." "Une-te, pois, a Ele." Ed 13 1 Nossas idéias acerca da educação têm sido demasiadamente acanhadas. Há a necessidade de um escopo mais amplo, de um objetivo mais elevado. A verdadeira educação significa mais do que a prossecução de um certo curso de estudos. Significa mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para o gozo do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro. Ed 13 2 A fonte de semelhante educação é apresentada nestas palavras das Escrituras Sagradas, referentes ao Ser infinito: NEle "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria". Colossences 2:3. "Conselho e entendimento tem Ele." Jó 12:13. Ed 13 3 O mundo tem tido seus grandes ensinadores, homens de poderoso intelecto e vasto poder investigativo, homens cujas palavras têm estimulado o pensamento e revelado extensos campos ao saber; tais homens têm sido honrados como guias e benfeitores do gênero humano; há, porém, Alguém que Se acha acima deles. Podemos delinear a série dos ensinadores do mundo, no passado, até ao ponto a que atingem os registros da História; a Luz, porém, existiu antes deles. Assim como a Lua e as estrelas do nosso sistema planetário resplandecem pela luz refletida do Sol, assim também os grandes pensadores do mundo, tanto quanto são verdadeiros os seus ensinos, refletem os raios do Sol da Justiça. Cada raio de pensamento, cada lampejo do intelecto, procede da Luz do mundo. Ed 14 1 Muito se fala presentemente acerca da natureza e importância de uma "educação superior". A verdadeira "educação superior" é transmitida por Aquele com quem estão a "sabedoria e a força" (Jó 12:13) e de cuja boca "vem o conhecimento e o entendimento". Provérbios 2:6. Ed 14 2 Todo o saber e desenvolvimento real têm sua fonte no conhecimento de Deus. Para onde quer que nos volvamos, seja para o mundo físico, intelectual ou espiritual; no que quer que contemplemos, afora a mancha do pecado, revela-se este conhecimento. Qualquer que seja o ramo de investigação a que procedamos com um sincero propósito de chegar à verdade, somos postos em contato com a Inteligência invisível e poderosa que opera em tudo e através de tudo. A mente humana é colocada em comunhão com a mente divina, o finito com o Infinito. O efeito de tal comunhão sobre o corpo, o espírito e a alma, está além de toda estimativa. Ed 14 3 Encontra-se nesta comunhão a mais elevada educação. É o próprio método de Deus para o desenvolvimento. "Une-te, pois, a Ele" (Jó 22:21), é Sua mensagem à humanidade. O método esboçado nestas palavras foi o seguido na educação do pai de nossa raça. Era assim que Deus instruía a Adão quando se achava no santo Éden, na glória de sua varonilidade impecável. Ed 14 4 A fim de compreendermos o que se acha envolvido na obra da educação, necessitamos considerar tanto a natureza do homem como o propósito de Deus ao criá-lo. Precisamos também considerar a mudança na condição do homem em virtude da entrada do conhecimento do mal, e o plano de Deus para ainda cumprir Seu glorioso propósito na educação da raça humana. Ed 15 1 Quando Adão saiu das mãos do Criador, trazia ele em sua natureza física, intelectual e espiritual, a semelhança de seu Criador. "Deus criou o homem a Sua imagem" (Gênesis 1:27), e era Seu intento que quanto mais o homem vivesse tanto mais plenamente revelasse esta imagem, refletindo mais completamente a glória do Criador. Todas as suas faculdades eram passíveis de desenvolvimento; sua capacidade e vigor deveriam aumentar continuamente. Vasto era o alvo oferecido a seu exercício, e glorioso o campo aberto à sua pesquisa. Os mistérios do universo visível -- "as maravilhas dAquele que é perfeito nos conhecimentos" (Jó 37:16) convidavam o homem ao estudo. Aquela comunhão com Seu criador, face a face e toda íntima, era o seu alto privilégio. Houvesse ele permanecido fiel a Deus, e tudo isto teria sido seu para sempre. Através dos séculos infindáveis, teria ele continuado a obter novos tesouros de conhecimentos, a descobrir novas fontes de felicidade e a alcançar concepções cada vez mais claras da sabedoria, do poder e do amor de Deus. Mais e mais amplamente teria ele cumprido o objetivo de sua criação, mais e mais teria ele refletido a glória do Criador. Ed 15 2 Pela desobediência, porém, isto se perdeu. Com o pecado a semelhança divina se deslustrou, obliterando-se quase. Enfraqueceu-se a capacidade física do homem e sua capacidade mental diminuiu; ofuscou-se-lhe a visão espiritual. Tornou-se sujeito à morte. Todavia, a raça humana não foi deixada sem esperança. Por infinito amor e misericórdia foi concebido o plano da salvação, concedendo-se um tempo de graça. Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação -- tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida. Ed 16 1 O amor, base da criação e redenção, é o fundamento da educação verdadeira. Isto se evidencia na lei que Deus deu como guia da vida. O primeiro e grande mandamento é: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento." Lucas 10:27. Amá-Lo a Ele -- Ser infinito e onisciente -- de toda a força, entendimento e coração, implica o mais alto desenvolvimento de todas as capacidades. Significa que, no ser todo -- corpo, espírito e alma -- deve a imagem de Deus ser restaurada. Ed 16 2 Semelhantemente ao primeiro é o segundo mandamento: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. A lei do amor pede a consagração do corpo, espírito e alma ao serviço de Deus e de nossos semelhantes. E este serviço, ao mesmo tempo que faz de nós uma bênção aos outros, traz sobre nós mesmos as maiores bênçãos. A abnegação é a base de todo o verdadeiro desenvolvimento. Por intermédio do serviço abnegado recebemos a mais alta cultura de cada faculdade. Duma maneira cada vez mais plena nos tornamos participantes da natureza divina. Somos habilitados para o Céu, pois o recebemos em nosso coração. Ed 16 3 Desde que Deus é a fonte de todo o verdadeiro conhecimento, é, como temos visto, o principal objetivo da educação dirigir a mente à revelação que Ele faz de Si próprio. Adão e Eva adquiriam o saber mediante a comunhão direta com Deus, e acerca dEle aprendiam por meio de Suas obras. Todas as coisas criadas, na sua perfeição original eram uma expressão do pensamento de Deus. Para Adão e Eva a Natureza estava repleta de sabedoria divina. Pela transgressão, porém, o homem ficou privado de aprender de Deus mediante a comunhão direta, e, em grande parte, mediante as Suas obras. A Terra, corrompida e maculada pelo pecado, não reflete senão palidamente a glória do Criador. É verdade que Suas lições objetivas não se obliteraram. Em cada página do grande livro de Suas obras criadas ainda se podem notar os traços de Sua escrita. A Natureza ainda fala de seu Criador. Todavia, estas revelações são parciais e imperfeitas. E em nosso decaído estado, com faculdades enfraquecidas e visão restrita, somos incapazes de as interpretar corretamente. Necessitamos da revelação mais ampla que de Si mesmo Deus nos outorgou em Sua Palavra escrita. Ed 17 1 As Escrituras Sagradas são a perfeita norma da verdade, e como tal, a elas se deve dar o mais alto lugar na educação. Para se obter uma educação digna deste nome devemos receber um conhecimento de Deus, o Criador, e de Cristo, o Redentor, como se acham revelados na Palavra Sagrada. Ed 17 2 Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador -- a individualidade -- faculdade esta de pensar e agir. Os homens nos quais se desenvolve esta faculdade, são os que arrostam responsabilidades, que são os dirigentes nos empreendimentos e que influenciam nos caracteres. É a obra da verdadeira educação desenvolver esta faculdade, adestrar os jovens para que sejam pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem. Em vez de limitar o seu estudo ao que os homens têm dito ou escrito, sejam os estudantes encaminhados às fontes da verdade, aos vastos campos abertos a pesquisas na Natureza e na revelação. Que contemplem os grandes fatos do dever e do destino, e a mente expandir-se-á e fortalecer-se-á. Em vez de educados fracotes, as instituições de ensino poderão produzir homens fortes para pensar e agir, homens que sejam senhores e não escravos das circunstâncias, homens que possuam amplidão de espírito, clareza de pensamento, e coragem nas suas convicções. Ed 18 1 Uma educação assim provê mais do que disciplina mental; provê mais do que adestramento físico. Fortalece o caráter de modo que a verdade e a retidão não são sacrificadas ao desejo egoísta ou ambição mundana. Fortifica a mente contra o mal. Em vez de qualquer paixão dominante torna-se um poder para a destruição, todo motivo e desejo é posto em harmonia com os grandes princípios do que é reto. Ao meditar-se sobre a perfeição do caráter de Deus a mente se renova, e a alma é restaurada a Sua imagem. Ed 18 2 Como poderia a educação ser superior a isto? O que se poderia igualar ao seu valor? Ed 18 3 "Não se dará por ela ouro fino, Nem se pesará prata em câmbio dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, Nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; Nem se trocará por jóia de ouro fino. Ela faz esquecer o coral e as pérolas; Porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis." Jó 28:15-18. Ed 18 4 Mais elevado do que o sumo pensamento humano pode atingir, é o ideal de Deus para com Seus filhos. A santidade, ou seja, a semelhança com Deus, é o alvo a ser atingido. À frente do estudante existe aberta a senda de um contínuo progresso. Ele tem um objetivo a realizar, uma norma a alcançar, os quais incluem tudo que é bom, puro e nobre. Ele progredirá tão depressa, e tanto, quanto for possível em cada ramo do verdadeiro conhecimento. Mas seus esforços se dirigirão a objetos tanto mais elevados que os meros interesses egoístas e temporais quanto os céus se acham mais alto do que a Terra. Ed 19 1 Aquele que coopera com o propósito divino em transmitir à juventude o conhecimento de Deus, e em lhes moldar o caráter em harmonia com o Seu, realiza uma elevada e nobre obra. Suscitando o desejo de atingir o ideal de Deus, apresenta uma educação que é tão alta como o céu e tão extensa como o Universo; uma educação que não poderá completar-se nesta vida, mas que se prolongará na vindoura; educação que garante ao estudante eficiente sua promoção da escola preparatória da Terra para o curso superior -- a escola celestial. ------------------------Capítulo 2 -- A escola do Éden Ed 20 0 "Bem-aventurado o homem que acha sabedoria." Ed 20 1 O método de educação instituído ao princípio do mundo deveria ser para o homem o modelo durante todo o tempo subseqüente. Como ilustração de seus princípios, foi estabelecida uma escola-modelo no Éden, o lar de nossos primeiros pais. O Jardim do Éden era a sala de aulas; a Natureza, o compêndio; o próprio Criador, o instrutor; e os pais da família humana, os alunos. Ed 20 2 Criados para serem a "imagem e glória de Deus", Adão e Eva tinham obtido prerrogativas que os faziam bem dignos de seu alto destino. Dotados de formas graciosas e simétricas, de aspecto regular e belo, o rosto resplandecendo com o rubor da saúde e a luz da alegria e esperança, apresentavam eles em sua aparência exterior a semelhança dAquele que os criara. Esta semelhança não se manifestava apenas na natureza física. Todas as faculdades do espírito e da alma refletiam a glória do Criador. Favorecidos com elevados dotes espirituais e mentais, Adão e Eva foram feitos um pouco menores do que os anjos (Hebreus 2:7), para que não somente pudessem discernir as maravilhas do universo visível, mas também compreender as responsabilidades e obrigações morais. Ed 20 3 "E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do oriente; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para alimento; e a árvore da vida no meio do jardim." Gênesis 2:8, 9. Ali, por entre as belas cenas da Natureza não afetada pelo pecado, nossos primeiros pais deviam receber sua educação. Ed 21 1 Em Seu interesse em prol de Seus filhos, nosso Pai celestial dirigia pessoalmente sua educação. Muitas vezes eram eles visitados por Seus mensageiros, os santos anjos, e deles recebiam conselho e instrução. Outras vezes, caminhando pelo jardim com a fresca do dia, ouviam a voz de Deus, e face a face entretinham comunhão com o Eterno. Seus pensamentos em relação a eles eram "pensamentos de paz, e não de mal". Jeremias 29:11. Todo o seu propósito visava o maior bem deles. Ed 21 2 Aos cuidados de Adão e Eva foi confiado o jardim, "para o lavrar e o guardar". Gênesis 2:15. Conquanto fossem ricos em tudo que o Possuidor do Universo pudesse proporcionar, não deveriam estar ociosos. Foi-lhes designada uma útil ocupação, como uma bênção, para fortalecer-lhes o corpo, expandir a mente e desenvolver o caráter. Ed 21 3 O livro da Natureza, que estendia suas lições vivas diante deles, ministrava uma fonte inesgotável de instrução e deleite. Em cada folha da floresta, ou pedra das montanhas, em cada estrela brilhante, na terra, no mar e no céu, estava escrito o nome de Deus. Tanto com a criação animada como com a inanimada ou seja, com a folha, flor e árvore, e com todos os viventes desde o leviatã das águas até ao animálculo em um raio de luz, entretinham os habitantes do Éden conversa, coligindo de cada um o segredo de seu viver. A glória de Deus nos céus, os incontáveis mundos nas suas sistemáticas revoluções, o "equilíbrio das grossas nuvens" (Jó 37:16), os mistérios da luz e do som, do dia e da noite -- tudo era objeto para estudo, aos alunos da primeira escola terrestre. Ed 22 1 As leis e as operações da Natureza, e os grandes e exatos princípios que governam o universo espiritual, eram-lhes abertos à mente pelo Autor infinito de todas as coisas. Na "iluminação do conhecimento da glória de Deus" (2 Coríntios 4:6), suas faculdades mentais e espirituais se desenvolviam, e tinham eles a realização dos mais elevados prazeres de sua existência santa. Ed 22 2 Ao sair das mãos do Criador, não somente o Jardim do Éden mas a Terra toda era eminentemente bela. Mancha alguma do pecado, nem sombra de morte, deslustravam a linda criação. A glória de Deus cobria "os céus, e a Terra encheu-se de Seu louvor." "As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam." Habacuque 3:3; Jó 38:7. Assim, a Terra era um emblema apropriado dAquele que é "grande em beneficência e verdade" (Êxodo 34:6); bem como um estudo adequado aos que foram feitos à Sua imagem. O Jardim do Éden era uma representação do que Deus desejava se tornasse a Terra toda; e era Seu intuito que à medida que a família humana se tornasse mais numerosa, estabelecesse outros lares e escolas semelhantes à que Ele havia dado. Desta maneira, com o correr do tempo, a Terra toda seria ocupada com lares e escolas em que as palavras e obras de Deus seriam estudadas e onde os estudantes mais e mais ficariam em condições de refletir pelos séculos sem fim a luz do conhecimento de Sua glória. ------------------------Capítulo 3 -- A ciência do bem e do mal Ed 23 0 "E como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, o seu coração insensato se obscureceu." Ed 23 1 Posto que fossem criados inocentes e santos, nossos primeiros pais não foram colocados fora da possibilidade de fazer o mal. Deus poderia tê-los criado sem a faculdade de transgredir Suas ordens, mas em tal caso não poderia haver desenvolvimento de caráter; serviriam a Deus não voluntariamente, mas constrangidos. Portanto Ele lhes deu o poder da escolha, a saber, o poder de prestar ou não obediência. E antes que pudessem receber, em sua plenitude, as bênçãos que Ele lhes desejava transmitir, seu amor e fidelidade deveriam ser provados. Ed 23 2 No Jardim do Éden estava "a árvore da ciência do bem e do mal. ... E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás." Gênesis 2:9-17. Era a vontade de Deus que Adão e Eva não conhecessem o mal. A ciência do bem lhes havia sido dada livremente; mas o conhecimento do mal -- o pecado e seus resultados, o trabalho fatigante, os cuidados, as decepções e a aflição, a dor e a morte -- foi-lhes amorosamente vedado. Ed 23 3 Enquanto Deus procurava o bem do homem, Satanás procurava a sua ruína. Quando Eva, desatendendo ao aviso do Senhor relativo à árvore proibida, se arriscou a aproximar-se dela, entrou em contato com seu adversário. Tendo-se despertado seu interesse e curiosidade, Satanás prosseguiu negando a palavra de Deus e insinuando a desconfiança em Sua sabedoria e bondade. À declaração da mulher relativa à árvore da ciência -- "Disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais" -- replicou o tentador: "Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:3-5. Ed 24 1 Satanás queria fazer parecer como se este conhecimento do bem de mistura com o mal fosse uma bênção, e que, proibindo-lhes tomar do fruto da árvore, Deus os estivesse privando de um grande benefício. Ele insistia em que fora por causa de suas maravilhosas propriedades para comunicar sabedoria e poder, que Deus lhes havia proibido prová-lo; que Ele estava assim procurando impedi-los de atingir um desenvolvimento mais nobre e encontrar maior felicidade. Declarou que ele mesmo havia comido do fruto proibido, e como resultado adquirira o poder da fala; e que se dele comessem também, alcançariam uma esfera de existência mais elevada e entrariam em um campo mais vasto de conhecimentos. Ed 24 2 Conquanto declarasse Satanás ter recebido grande benefício, comendo da árvore proibida, não deixou transparecer que pela transgressão tinha sido ele expulso do Céu. Ali se encontrava a falsidade, tão oculta sob a capa da verdade aparente que Eva absorta, lisonjeada, iludida, não percebeu o engano. Cobiçou o que Deus havia proibido; desconfiou de Sua sabedoria. Repeliu a fé, a chave do saber. Ed 25 1 Quando Eva viu "que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu". Era agradável ao paladar, e enquanto comia, pareceu-lhe sentir um poder vivificador, e imaginou-se entrando em uma superior condição de existência. Havendo já transgredido, tornou-se tentadora a seu marido, e "ele comeu". Gênesis 3:6. Ed 25 2 "Abrir-se-ão os vossos olhos", disse o inimigo, "e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:5. Abriram-se-lhes em verdade os olhos, mas quão triste foi! O conhecimento do mal, a maldição do pecado, foi tudo o que ganharam os transgressores. O fruto nada tinha propriamente de venenoso, e o pecado não consistiu meramente em ceder ao apetite. Foi a desconfiança da bondade de Deus, descrença em Sua palavra, e a rejeição de Sua autoridade que tornaram nossos primeiros pais transgressores, e que trouxeram a este mundo o conhecimento do mal. Foi isto que abriu a porta para todas as espécies de falsidades e erros. Ed 25 3 O homem perdeu tudo porque preferira ouvir ao enganador em vez de Àquele que é a verdade, que unicamente tem o entendimento. Por misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa, e entorpecidas suas faculdades mentais e espirituais. Não mais poderia apreciar o bem que Deus tão livremente havia outorgado. Ed 25 4 Adão e Eva tinham escolhido a ciência do mal; e se em algum tempo recuperassem o lugar que haviam perdido, deveriam fazê-lo sob as condições desfavoráveis que sobre si tinham acarretado. Não mais deveriam habitar o Éden, pois em sua perfeição não lhes poderia ensinar as lições cuja aprendizagem agora lhes era essencial. Com indizível tristeza despediram-se daquele belo ambiente, e saíram para habitar na terra onde repousava a maldição do pecado. Ed 26 1 A Adão disse Deus: "Porquanto deste ouvido à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias de tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá, e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás." Gênesis 3:17-19. Ed 26 2 Se bem que a terra estivesse maculada pela maldição, a Natureza devia ainda ser o compêndio do homem. Não poderia agora representar apenas bondade; pois o mal se achava presente em toda parte, manchando a terra, o mar e o ar, com seu contato corruptor. Onde se encontrara escrito apenas o caráter de Deus, o conhecimento do bem, agora se achava também escrito o caráter de Satanás, a ciência do mal. Pela Natureza, que agora revelava o conhecimento do bem e do mal, devia o homem ser continuamente advertido quanto aos resultados do pecado. Ed 26 3 No tombar da flor e no cair da folha, Adão e sua companheira testemunhavam os primeiros sinais da decadência. Vinha-lhes à mente, de maneira vívida, o fato cruel de que todas as criaturas vivas deveriam morrer. Mesmo o ar, de que dependia a sua vida, continha os germes da morte. Ed 26 4 Continuamente se lembravam também de seu domínio perdido. Entre os seres inferiores, Adão se achara como rei, e enquanto permaneceu fiel a Deus, toda a Natureza reconheceu o seu governo; mas, transgredindo ele, foi despojado deste domínio. O espírito de rebelião a que ele próprio havia dado entrada, estendeu-se por toda a criação animal. Destarte, não somente a vida do homem, mas a natureza dos animais, as árvores da floresta, a relva do campo, o próprio ar que ele respirava, tudo apresentava a triste lição da ciência do mal. Ed 27 1 Entretanto o homem não ficou abandonado aos resultados do mal que havia escolhido. Na sentença pronunciada sobre Satanás era já sugerida uma redenção. "Porei inimizade entre ti e a mulher", disse Deus, "e entre a tua semente e a sua semente. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gênesis 3:15. Esta sentença proferida aos ouvidos de nossos primeiros pais, era-lhes uma promessa. Antes de ouvirem acerca dos espinhos e cardos, de trabalhos e tristezas que deveriam ser o seu quinhão, ou do pó a que deveriam voltar, ouviram palavras que não poderiam deixar de lhes dar esperança. Tudo que se havia perdido, rendendo-se a Satanás, poderia ser recuperado por meio de Cristo. Ed 27 2 O mesmo nos é sugerido também pela Natureza. Apesar de maculada pelo pecado, ela fala não somente da criação mas também da redenção. Posto que a terra testifique da maldição, com sinais evidentes de decadência, é ainda rica e bela nos indícios de um poder que confere vida. As árvores lançam suas folhas apenas para se vestirem de folhagem mais vicejante; as flores morrem, para brotar com nova beleza; e em cada manifestação do poder criador existe a segurança de que podemos de novo ser criados em "justiça e santidade". Efésios 4:24. Assim as próprias coisas e operações da Natureza que tão vividamente nos trazem ao espírito nossa grande perda, tornam-se mensageiros da esperança. Ed 27 3 Até onde se estenda o mal, é ouvida a voz de nosso Pai, ordenando a Seus filhos que vejam nos resultados daquele a natureza do pecado, admoestando-os a esquecer o mal, e convidando-os a receber o bem. ------------------------Capítulo 4 -- Como se relaciona a educação com a redenção Ed 28 0 "A iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo." Ed 28 1 Pelo pecado o homem ficou separado de Deus. Não fosse o plano da redenção, a eterna separação de Deus e as trevas de uma noite infinda seriam a sua sorte. Mediante o sacrifício do Salvador possibilitou-se nova comunhão com Deus. Não podemos pessoalmente chegar à Sua presença; em nossos pecados não podemos olhar a Sua face; mas podemos contemplá-Lo e com Ele ter comunhão em Jesus, o Salvador. "A iluminação do conhecimento da glória de Deus" é revelada "na face de Jesus Cristo." Deus está "em Cristo, reconciliando consigo o mundo." 2 Coríntios 4:6; 5:19. Ed 28 2 "O Verbo Se fez carne e habitou entre nós, ... cheio de graça e verdade." "NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens." João 1:14; 1:4. A vida e a morte de Cristo -- preço de nossa redenção -- não somente são para nós promessa e garantia de vida, não somente são os meios de se nos abrirem novamente os tesouros da sabedoria; eles são uma revelação de Seu caráter; mais ampla, mais elevado do que a possuía mesmo o par santo do Éden. Ed 28 3 E ao mesmo tempo em que Cristo revela o Céu ao homem, a vida que Ele transmite abre o coração do homem ao Céu. O pecado não somente nos exclui de Deus, mas também destrói na alma humana tanto o desejo como a capacidade de O conhecer. É a missão de Cristo desfazer toda esta obra do mal. As faculdades da alma, paralisadas pelo pecado, a mente obscurecida, a vontade pervertida, tem Ele poder para fortalecer e restaurar. Ele nos abre as riquezas do Universo, e por Ele nos é comunicada a capacidade de discernirmos estes tesouros e deles nos apoderarmos. Ed 29 1 Cristo é a luz "que alumia a todo homem que vem ao mundo". João 1:9. Assim como por meio de Cristo todo ser humano tem vida, também por meio dEle cada alma recebe algum raio de luz divina. Existe em cada coração não somente poder intelectual, mas espiritual -- percepção do que é reto, anelo de bondade. Mas contra estes princípios há um poder contendor, antagônico. O resultado de comer da árvore da ciência do bem e do mal, é manifesto na experiência de todo homem. Há em sua natureza um pendor para o mal, uma força à qual, sem auxílio, não poderá ele resistir. Para opor resistência a esta força, para atingir aquele ideal que no íntimo de sua alma ele aceita como o único digno, não pode encontrar auxílio senão em um poder. Esse poder é Cristo. A cooperação com esse poder é a maior necessidade do homem. Em todo esforço educativo não deveria esta cooperação ser o mais alto objetivo? Ed 29 2 O verdadeiro ensinador não se satisfaz com trabalho de segunda ordem. Não se contenta com encaminhar seus estudantes a um padrão mais baixo do que o mais elevado que lhes é possível atingir. Não pode contentar-se com lhes comunicar apenas conhecimentos técnicos, fazendo deles meramente hábeis contabilistas, destros artistas, prósperos homens de negócio. E sua ambição incutir-lhes os princípios da verdade, obediência, honra, integridade, pureza -- princípios que deles farão uma força positiva para a estabilidade e o erguimento da sociedade. Ele quer que eles, acima de tudo mais, aprendam a grande lição da vida sobre o trabalho altruísta. Ed 30 1 Estes princípios se tornam um poder vivo para moldar o caráter, mediante a familiarização da alma com Cristo, mediante a aceitação de Sua sabedoria como guia, Seu poder como força para o coração e a vida. Efetuada esta união, o estudante terá encontrado a Fonte da sabedoria. Terá ao seu alcance o poder de realizar em si próprio os seus mais nobres ideais. Pertencem-lhe as oportunidades de obter a mais elevada educação para os fins da vida neste mundo. E no preparo ganho aqui, ele se está iniciando naquele curso que abrange a eternidade. Ed 30 2 No mais alto sentido, a obra da educação e da redenção são uma; pois, na educação, como na redenção, "ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." "Foi do agrado do Pai que toda a plenitude nEle habitasse." 1 Coríntios 3:11; Colossences 1:19. Ed 30 3 Sob condições mudadas, a verdadeira educação ainda se conforma com o plano do Criador, o plano da escola edênica. Adão e Eva recebiam instrução pela direta comunhão com Deus; nós contemplamos "a iluminação do conhecimento de Sua glória" na face de Cristo. Ed 30 4 Os grandes princípios de educação são imutáveis. "Permanecem firmes para sempre" (Salmos 111:8), visto que são os princípios do caráter de Deus. Deve ser o primeiro esforço do professor e seu constante objetivo auxiliar o estudante a compreender estes princípios e entrar com Cristo naquela relação especial que fará daqueles princípios uma força diretriz na vida. O professor que aceita este objetivo é em verdade um cooperador de Cristo, um coobreiro de Deus. Ilustrações Ed 30 5 "Tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito." ------------------------Capítulo 5 -- A educação de Israel Ed 33 0 "Trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho." Ed 33 1 O método de educação estabelecido no Éden centralizava-se na família. Adão era o "filho de Deus", e era de seu Pai que os filhos do Altíssimo recebiam instrução. Tinham, no mais estrito sentido, uma escola familiar. Ed 33 2 No plano divino de educação, adaptado às condições do homem após a queda, Cristo ocupa o lugar de representante do Pai, como o elo conectivo entre Deus e o homem; Ele é o grande ensinador da humanidade. E Ele ordenou que os homens e mulheres fossem Seus representantes. A família era a escola, e os pais os professores. Ed 33 3 A educação centralizada na família era a que prevalecia nos dias dos patriarcas. Deus provia às escolas assim estabelecidas as mais favoráveis condições para o desenvolvimento do caráter. O povo que estava sob Sua direção ainda prosseguia com o plano de vida que Ele havia designado no princípio. Os que se afastavam de Deus construíam para si mesmos cidades, e, congregando-se nelas, gloriavam-se no esplendor, no luxo e no vício, que fazem das cidades de hoje o orgulho e a maldição do mundo. Mas os homens que se ativeram aos divinos princípios de vida, moravam entre os campos e colinas. Eram cultivadores do solo e guardas de rebanhos; e nessa vida livre, independente, com suas oportunidades para o trabalho, estudo e meditação, aprendiam acerca de Deus e ensinavam os filhos a respeito de Suas obras e caminhos. Ed 34 1 Tal foi o método de educação que Deus desejava estabelecer em Israel. Mas, quando os tirou do Egito, poucos havia entre os israelitas, preparados para serem coobreiros dEle, no ensino dos filhos. Os próprios pais necessitavam de instrução e disciplina. Vítimas de prolongada escravidão, eram ignorantes, indisciplinados e degradados. Pouco conhecimento tinham de Deus e pouca fé nEle. Estavam confundidos com falsos ensinos e corrompidos pelo seu demorado contato com o paganismo. Deus quis levantá-los a um nível moral superior; e para tal fim procurou dar-lhes o conhecimento de Si próprio. Ed 34 2 No trato com os errantes no deserto, em suas marchas de um para outro lado, expostos à fome, à sede e ao cansaço, em perigos de adversários gentios, e na manifestação de Sua providência em seu socorro, Deus procurava fortalecer-lhes a fé, revelando-lhes o poder que continuamente operava para seu bem. E havendo-os ensinado a confiar em Seu amor e poder, era Seu intuito pôr diante deles, nos preceitos de Sua lei, a norma de caráter que, pela Sua graça, desejava alcançassem. Ed 34 3 Preciosas foram as lições ensinadas a Israel durante sua permanência no Sinai. Foi este um período de preparo especial para a herança de Canaã. E o ambiente, ali, era favorável para o cumprimento do propósito de Deus. No cume do Sinai, sobranceiro à planície em que o povo espalhava suas tendas, repousava a coluna de nuvem que tinha sido o guia em sua jornada. Como coluna de fogo à noite, assegurava-lhes a proteção divina; e, enquanto se achavam entregues ao sono, o pão do Céu mansamente caía sobre o acampamento. Em todos os lados, elevações vastas, escabrosas, em sua grandeza solene, falavam de duração e majestade eternas. O homem era levado a reconhecer sua ignorância e fraqueza na presença dAquele que "pesou os montes e os outeiros em balanças". Isaías 40:12. Ali, pela manifestação de Sua glória, Deus procurou impressionar Israel com a santidade de Seu caráter e mandamentos, e a extrema culpabilidade da transgressão. Ed 35 1 O povo, porém, era tardio para compreender a lição. Acostumados como tinham estado no Egito com as representações materiais da Divindade, e estas da mais degradante natureza, era-lhes difícil conceber a existência ou o caráter do Ser invisível. Condoendo-Se de sua fraqueza, Deus lhes deu um símbolo de Sua presença. "E Me farão um santuário", disse Ele, "e habitarei no meio deles." Êxodo 25:8. Ed 35 2 Na construção do santuário como a morada de Deus, Moisés foi instruído a fazer tudo segundo o modelo das coisas no Céu. Deus o chamou ao monte e revelou-lhe as coisas celestiais; e o tabernáculo foi, em todos os seus pertences, modelado à semelhança delas. Ed 35 3 Assim também revelou Ele o Seu glorioso ideal de caráter a Israel, de que Ele desejava fazer Sua morada. A norma deste caráter foi-lhes mostrada no monte, ao ser do Sinai dada a lei, e quando passou Deus diante de Moisés e este proclamou: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade." Êxodo 34:6. Ed 36 1 Mas por si mesmos eram eles incapazes de atingir este ideal. Aquela revelação no Sinai apenas poderia impressioná-los com sua necessidade e incapacidade. O tabernáculo, com os seus serviços de sacrifícios, deveria ensinar outra lição -- a lição do perdão do pecado e do poder de obediência para a vida, mediante o Salvador. Ed 36 2 Por meio de Cristo deveria cumprir-se o propósito de que era um símbolo o tabernáculo -- aquela construção gloriosa, com suas paredes de ouro luzente refletindo em matizes do arco-íris as cortinas bordadas de querubins; a fragrância do incenso, sempre a queimar, a invadir tudo; os sacerdotes vestidos de branco imaculado, e no profundo mistério do compartimento interior, acima do propiciatório, entre as figuras de anjos prostrados em adoração, a glória do Santíssimo. Em tudo Deus desejava que Seu povo lesse o Seu propósito para com a alma humana. Era o mesmo propósito muito mais tarde apresentado pelo apóstolo Paulo, falando pelo Espírito Santo: Ed 36 3 "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." 1 Coríntios 3:16, 17. Ed 36 4 Grande foi a honra e o privilégio concedidos a Israel na edificação do santuário; e grande também foi a responsabilidade. Uma estrutura de extraordinário esplendor, exigindo para a sua construção os mais custosos materiais e as maiores aptidões artísticas, devia ser erigida no deserto, por um povo apenas escapado da escravidão. Parecia uma tarefa estupenda. Mas Aquele que havia dado o plano da construção, empenhou-Se em cooperar com os construtores. Ed 36 5 "Falou o Senhor a Moisés, dizendo: Eis que Eu tenho chamado por nome a Bezaleel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria e de entendimento, e de ciência, em todo o artifício. ... E eis que Eu tenho posto com ele a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todo aquele que é sábio de coração para que façam tudo o que te tenho ordenado." Êxodo 31:1-6. Ed 37 1 Que escola industrial era aquela no deserto, tendo como instrutores a Cristo e os Seus anjos! Ed 37 2 No preparo do santuário e seus móveis todo o povo devia cooperar. Havia ocupação para o cérebro e para as mãos. Exigia-se uma grande variedade de material, e todos foram convidados a contribuir conforme a boa vontade de seu coração. Ed 37 3 Desta maneira, pelo trabalho e ofertas eram ensinados a cooperar com Deus e uns com os outros. E também deviam cooperar na preparação do edifício espiritual -- o templo de Deus na alma. Ed 37 4 Desde o início da jornada ao sair do Egito, tinham-se-lhes dado lições para o seu preparo e disciplina. Mesmo antes de deixarem o Egito, tinha-se levado a efeito uma organização temporária, e o povo foi distribuído em grupos, sob chefes designados. No Sinai completaram-se os arranjos para a organização. A ordem tão saliente-mente ostentada em todas as obras de Deus, manifestava-se na economia hebréia. Deus era o centro da autoridade e do governo. Moisés, como Seu representante, devia em Seu nome administrar as leis. Então vinha o conselho dos setenta, os sacerdotes, e os príncipes, e sob estes "capitães de milhares, e capitães de cem, e capitães de cinqüenta, e capitães de dez" (Números 11:16, 17; Deuteronômio 1:15); e, finalmente, oficiais designados para fins especiais. O acampamento foi arranjado em perfeita ordem, ficando no centro o tabernáculo -- a morada de Deus -- e em redor dele as tendas dos sacerdotes e levitas. Além destas, cada tribo acampava ao lado de seu próprio estandarte. Ed 38 1 Foi posto em vigor um regulamento sanitário completo. Este foi prescrito ao povo, não simplesmente como necessário à saúde, senão também como condição de conservar entre eles a presença dAquele que é santo. Pela autoridade divina Moisés lhes declarou: "O Senhor teu Deus anda no meio de teu arraial, para te livrar, ... pelo que o teu arraial será santo." Deuteronômio 23:14. Ed 38 2 A educação dos israelitas incluía todos os seus hábitos de vida. Tudo que dizia respeito a seu bem-estar foi objeto da solicitude divina, e constituiu assunto da divina legislação. Mesmo na provisão de seu alimento, Deus procurou o seu maior benefício. O maná com que Ele os alimentava no deserto, era de natureza a promover força física, mental e moral. Posto que muitos deles se rebelassem contra as restrições em seu regime, e desejassem voltar aos dias em que, diziam eles, "estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar" (Êxodo 16:3), a sabedoria da escolha de Deus foi-lhes mostrada de uma maneira que não poderiam contradizer. Apesar das agruras de sua vida no deserto, ninguém havia fraco em todas as suas tribos. Ed 38 3 Em todas as suas jornadas, a arca que continha a lei de Deus devia ficar à frente do séquito. O lugar para se acamparem era indicado pela descida da coluna de nuvem. Enquanto a nuvem permanecia sobre o tabernáculo, ali se demoravam. Quando ela se levantava, prosseguiam viagem. Tanto a parada como a partida se assinalavam por uma chamada solene. "Era pois que, partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-Te, Senhor, e dissipados sejam os Teus inimigos. ... E, pousando ela, dizia: Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel." Números 10:35, 36. Ed 39 1 Enquanto o povo viajava pelo deserto, muitas lições preciosas se lhes fixavam na mente por meio de cânticos. Na ocasião em que se livraram do exército de Faraó, toda a hoste de Israel participou do canto de triunfo. Ao longe, pelo deserto e pelo mar, ecoava o festivo estribilho, e as montanhas repercutiam as modulações de louvor: "Cantai ao Senhor, porque sumamente Se exaltou." Êxodo 15:21. Muitas vezes na jornada se repetia este cântico, animando os corações e acendendo a fé nos viajantes peregrinos. Os mandamentos, conforme foram dados no Sinai, com promessas de favor de Deus e referências às Suas maravilhosas obras em seu livramento, foram por direção divina expressos em cântico, e cantados ao som de música instrumental, sendo devidamente acompanhados pelo povo. Ed 39 2 Assim, elevavam-se seus pensamentos acima das provações e dificuldades do caminho; abrandava-se, acalmava-se aquele espírito inquieto e turbulento; implantavam-se os princípios da verdade na memória; e fortalecia-se a fé. A ação combinada ensinava ordem e unidade, e o povo era levado a um contato mais íntimo com Deus e uns com outros. Ed 39 3 Relativamente ao trato de Deus para com o povo de Israel durante os quarenta anos da peregrinação no deserto, Moisés declarou: "Como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus" "para te humilhar, e te tentar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos ou não." Deuteronômio 8:5, 2. Ed 39 4 "Achou-o na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina de Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho." Deuteronômio 32:10-12. Ed 40 1 "Porque Se lembrou de Sua santa palavra, e de Abraão, Seu servo. E tirou dali o Seu povo com alegria, e os Seus escolhidos com regozijo. E deu-lhes as terras das nações, e herdaram o trabalho dos povos; para que guardassem os Seus preceitos, e observassem as Suas leis." Salmos 105:42-45. Ed 40 2 Deus cercou Israel com todas as facilidades, proporcionou-lhe todos os privilégios, para que eles se tornassem uma honra a Seu nome e uma bênção às nações circunvizinhas. Se seguissem o caminho da obediência, prometeu exaltá-los "sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória". "E todos os povos da terra", disse Ele, "verão que és chamado pelo nome do Senhor, e terão temor de ti." As nações que ouvirem todos estes estatutos dirão: "Este grande povo só é gente sábia e entendida." Deuteronômio 26:19; 28:10; 4:6. Ed 40 3 Nas leis confiadas a Israel, deu-se instrução explícita concernente à educação. A Moisés, no Sinai, Deus Se tinha revelado como "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. Estes princípios, incorporados em Sua lei, deviam os pais e mães em Israel ensinar a seus filhos. Moisés, por direção divina, declarou-lhes: "E estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te." Deuteronômio 6:6, 7. Ed 41 1 Não como uma teoria árida deviam ser ensinadas estas coisas. Aqueles que desejam comunicar verdade, devem por sua vez praticar seus princípios. Apenas refletindo o caráter de Deus na retidão, nobreza e abnegação de sua vida, poderão eles impressionar os outros. Ed 41 2 A verdadeira educação não consiste em forçar a instrução a um espírito não preparado e indócil. As faculdades mentais deverão ser despertadas, e o interesse suscitado. E isto o método divino de ensinar havia tomado em consideração. Aquele que criou a mente e estabeleceu suas leis, providenciou para o seu desenvolvimento de acordo com aquelas leis. No lar e no santuário, mediante as coisas da Natureza e da arte, no trabalho e nas festas, na construção sagrada e pedras comemorativas, por meio de métodos, ritos e símbolos inumeráveis, deu Deus a Israel lições que ilustravam Seus princípios e preservavam a memória de Suas maravilhosas obras. Então, quando surgiam perguntas, a instrução que era dada impressionava o espírito e o coração. Ed 41 3 Nos arranjos para a educação do povo escolhido manifesta-se o fato de que a vida centralizada em Deus é uma vida de perfeição. Cada necessidade que Ele implantou, providencia para que seja satisfeita; cada faculdade comunicada, procura Ele desenvolver. Ed 41 4 Como o Autor de toda a beleza, sendo Ele próprio amante do belo, Deus proveu o necessário para satisfazer em Seus filhos o amor do belo. Também providenciou para as suas necessidades sociais, para a associação amável e edificante, que tanto faz para que se cultive a simpatia e se ilumine e dulcifique a vida. Ed 41 5 Como meio de educação desempenhavam lugar importante as festas de Israel. Na vida usual, a família era tanto a escola como a igreja, sendo os pais os instrutores nos assuntos seculares e religiosos. Mas três vezes no ano designavam-se ocasiões para reunião social e culto. Primeiramente em Silo, e depois em Jerusalém, tinham lugar estas reuniões. Apenas dos pais e dos filhos exigia-se que estivessem presentes; mas ninguém desejava perder a oportunidade das festas, e, tanto quanto possível, a casa toda assistia a elas; e com eles, como participantes de sua hospitalidade, achavam-se os estrangeiros, os levitas e os pobres. Ed 42 1 A viagem a Jerusalém, daquela maneira simples, patriarcal, por entre as belezas da primavera, as opulências do verão, ou a glória de um outono amadurecido, era um deleite. Com ofertas de gratidão vinham eles, desde o varão de cabelos brancos até a criancinha, a fim de se encontrarem com Deus em Sua santa habitação. Enquanto viajavam, as experiências do passado, as histórias que tanto velhos como jovens ainda amam tanto, eram de novo contadas às crianças hebréias. Eram cantados os cânticos que os haviam encorajado na peregrinação no deserto. Os mandamentos de Deus eram entoados em cantochão e, em combinação com as abençoadas influências da Natureza e da amável associação humana, fixavam-se para sempre na memória de muita criança e jovem. Ed 42 2 As cerimônias testemunhadas em Jerusalém em conexão com o culto pascoal -- a assembléia noturna, os homens com seus lombos cingidos, pés calçados e bordão nas mãos; a refeição apressada, o cordeiro, os pães asmos, as ervas amargosas, a repetição da história do sangue aspergido, em solene silêncio; o anjo da morte, e a grande marcha para a saída da terra do cativeiro -- tudo era de molde a estimular a imaginação e impressionar o espírito. Ed 42 3 A Festa dos Tabernáculos, ou da colheita, com suas ofertas dos pomares e campos, seus acampamentos durante uma semana em cabanas de ramos, suas reuniões sociais, seu sagrado culto comemorativo, e com a generosa hospitalidade aos obreiros de Deus, ou seja aos levitas do santuário, e a Seus filhos, os estrangeiros e os pobres, reerguia todos os espíritos em gratidão para com Aquele que tinha coroado o ano da Sua beneficência e cujas veredas distilam gordura. Ed 43 1 Em cada ano era totalmente ocupado um mês desta maneira, pelo israelita devoto. Era um período isento de cuidados e trabalho e quase inteiramente dedicado, no mais estrito sentido, aos fins da educação. Ed 43 2 Distribuindo a herança a Seu povo, era o intento de Deus ensinar-lhes, e por meio deles ao povo das gerações vindouras, princípios corretos a respeito da posse da terra. A terra de Canaã foi dividida entre o povo todo, excetuando-se apenas os levitas, como ministros do santuário. Conquanto qualquer um pudesse por algum tempo dispor de suas posses, não poderia transferir a herança de seus filhos. Ficava na liberdade de redimi-la em qualquer tempo que o pudesse fazer. Perdoavam-se as dívidas em cada sétimo ano, e no qüinquagésimo, ou o ano do jubileu, toda propriedade territorial voltava ao seu dono original. Assim toda família estava garantida em suas posses, e havia uma salvaguarda contra os extremos ou da riqueza ou da pobreza. Ed 43 3 Pela distribuição da terra entre o povo, Deus lhes proveu, como fizera aos moradores do Éden, a ocupação mais favorável ao desenvolvimento -- o cuidado das plantas e animais. Uma providência mais vasta em prol da educação era a interrupção do trabalho agrícola cada sétimo ano, ficando as terras abandonadas, sendo deixados aos pobres os seus produtos espontâneos. Destarte se oferecia oportunidade para mais dilatado estudo, comunhão social e culto, bem como para o exercício da beneficência, tantas vezes excluída pelos cuidados e trabalhos da vida. Ed 44 1 Fossem observados no mundo hoje os princípios das leis de Deus relativas à distribuição da propriedade, e quão diferente não seria a condição do povo! A observância de tais princípios evitaria os terríveis males que em todos os tempos têm resultado da opressão dos pobres pelos ricos e do ódio aos ricos pelos pobres. Ao mesmo tempo que poderia impedir a acumulação de grandes riquezas, tenderia a evitar a ignorância e degradação de dezenas de milhares, cuja servidão mal paga, é exigida para a formação daquelas fortunas colossais. Auxiliaria a solução pacífica dos problemas que ora ameaçam encher o mundo com anarquia e mortandade. Ed 44 2 A consagração a Deus de um décimo de toda a renda, quer fosse dos pomares quer dos campos, dos rebanhos ou do trabalho mental e manual; a dedicação de um segundo dízimo para o auxílio dos pobres e outros fins de benevolência, tendia a conservar vívida diante do povo a verdade de que Deus é o possuidor de todas as coisas, e a oportunidade deles para serem portadores de Suas bênçãos. Era um ensino adaptado a extirpar toda a estreiteza egoísta, e cultivar largueza e nobreza de caráter. Ed 44 3 O conhecimento de Deus, a companhia dEle no estudo e no trabalho, a Sua semelhança no caráter, deviam ser a fonte, os meios e objetivo da educação de Israel -- educação comunicada por Deus aos pais, e por estes dada aos filhos. ------------------------Capítulo 6 -- As escolas dos profetas Ed 45 0 "Postos serão no meio, entre os teus pés, cada um receberá das tuas palavras." Ed 45 1 Todas as vezes que em Israel foi posto em prática o plano divino de educação, seus resultados testificaram de seu Autor. Mas em muitíssimos lares o ensino designado pelo Céu bem como os caracteres por ele desenvolvidos, eram igualmente raros. O plano de Deus não se cumpriu senão parcial e imperfeitamente. Pela incredulidade e desconsideração às orientações do Senhor, os israelitas cercaram-se de tentações que poucos tinham poder para resistir. Estabelecendo-se em Canaã, "não destruíram os povos como o Senhor lhes dissera. Antes se misturaram com as nações, e aprenderam as suas obras. E serviram os seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço". "O seu coração não era reto com Deus, nem foram fiéis ao Seu concerto. Mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniqüidade, e não os destruiu; antes muitas vezes desviou deles a Sua cólera. ... Porque Se lembrou de que eram carne, um vento que passa e não volta." Salmos 106:34-36; 78:37-39. Pais e mães em Israel tornaram-se indiferentes às obrigações para com Deus, indiferentes às obrigações para com os filhos. Pela infidelidade no lar, influências idólatras fora, muitos dos jovens hebreus recebiam uma educação que diferia grandemente da que Deus projetara para eles. Aprenderam os caminhos dos gentios. Ed 46 1 Para defrontar este mal crescente, Deus providenciou outros meios como auxílio aos pais na obra da educação. Desde os primeiros tempos, os profetas eram reconhecidos como ensinadores divinamente designados. Na mais alta acepção da palavra, o profeta era alguém que falava por direta inspiração, comunicando ao povo as mensagens que recebera de Deus. Mas esse nome também era dado àqueles que, embora não fossem diretamente inspirados, eram divinamente chamados para instruir o povo nas palavras e caminhos de Deus. Para a preparação de tal classe de ensinadores, Samuel, pela direção do Senhor, estabeleceu as escolas dos profetas. Ed 46 2 Estas escolas se destinavam a servir como uma barreira contra a corrupção prevalecente, a fim de prover à necessidade intelectual e espiritual da juventude, e promover a prosperidade da nação, dotando-a de homens habilitados para agir no temor de Deus como dirigentes e conselheiros. Para tal fim, Samuel reuniu grupos de moços piedosos, inteligentes e estudiosos. Foram eles chamados os filhos dos profetas. Enquanto estudavam a palavra e as obras de Deus, Seu poder vivificante despertavam-lhes as energias da mente e da alma, e os estudantes recebiam sabedoria do alto. Os instrutores não só eram versados na verdade divina, mas tinham pessoalmente gozado comunhão com Deus, e obtido concessão especial de Seu Espírito. Desfrutavam o respeito e a confiança do povo, tanto pelo seu saber como pela sua piedade. No tempo de Samuel havia duas destas escolas -- uma em Ramá, a terra natal do profeta, e outra em Quiriate-Jearim. Em tempos posteriores outras foram estabelecidas. Ed 47 1 Os alunos destas escolas mantinham-se com o seu próprio trabalho de cultivar o solo, ou com alguma ocupação mecânica. Em Israel não se considerava isso estranho ou degradante; na verdade, considerava-se pecado permitir que as crianças crescessem na ignorância do trabalho útil. Todo jovem, fossem seus pais ricos ou pobres, era instruído em algum ofício. Mesmo que devesse ser educado para os misteres sagrados, um conhecimento da vida prática era considerado essencial à maior utilidade. Muitos dos professores também se mantinham pelo trabalho manual. Ed 47 2 Tanto nas escolas como nos lares, grande parte do ensino era oral; todavia os jovens também aprendiam a ler os escritos hebraicos, e os rolos de pergaminho das escrituras do Antigo Testamento eram abertos ao seu estudo. Os principais assuntos nos estudos destas escolas eram a lei de Deus, com as instruções dadas a Moisés, história sagrada, música sacra e poesia. Nos registros da história sagrada acompanhavam-se os passos de Jeová. Eram referidas as grandes verdades apresentadas pelos tipos no serviço do santuário, e a fé apegava-se ao objeto central de todo aquele sistema cerimonial -- o Cordeiro de Deus que deveria tirar o pecado do mundo. Alimentava-se um espírito de devoção. Não somente se ensinava aos estudantes o dever da oração, mas eram eles ensinados a orar, a aproximar-se de seu Criador e ter fé nEle, compreender os ensinos de Seu Espírito, e aos mesmos obedecer. O intelecto santificado tirava do tesouro de Deus coisas novas e velhas, e o Espírito divino era manifesto na profecia e no cântico sagrado. Ed 47 3 Estas escolas se demonstraram um dos meios mais eficazes para promover aquela justiça que "exalta as nações". Provérbios 14:34. Muito auxiliaram a lançar os fundamentos da maravilhosa prosperidade que distinguiu os reinos de Davi e Salomão. Ed 48 1 Os princípios ensinados nas escolas dos profetas eram os mesmos que modelavam o caráter de Davi e orientavam sua vida. A palavra de Deus era o seu instrutor. "Pelos Teus mandamentos", disse ele, "alcancei entendimento. ... Inclinei o meu coração a guardar os Teus estatutos." Salmos 119:104-112. Foi por isso que, ao ser em sua juventude chamado ao trono por Deus, declarou o Senhor ser ele "varão conforme Meu coração". Atos dos Apóstolos 13:22. Ed 48 2 Vêem-se também no princípio da vida de Salomão os resultados do método divino de educação. Salomão em sua mocidade fez para si a mesma escolha que fizera Davi. Acima de todo o bem terrestre ele pediu do Senhor um coração sábio e entendido. E o Senhor lhe deu não somente aquilo que pedira, mas também o que não solicitara -- riquezas e honras. A capacidade de seu entendimento, a extensão de seu saber, a glória de seu reino, tornaram-se a maravilha do mundo. Ed 48 3 Nos reinos de Davi e Salomão, Israel atingiu o apogeu de sua grandeza. Cumprira-se a promessa feita a Abraão e repetida por intermédio de Moisés: "Se diligentemente guardardes todos estes mandamentos, que vos ordeno para os guardardes, amando ao Senhor vosso Deus, andando em todos os Seus caminhos, e a Ele vos achegardes, também o Senhor de diante de vós lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até o mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém subsistirá diante de vós." Deuteronômio 11:22-25. Ed 48 4 Mas no meio da prosperidade, emboscava-se o perigo. O pecado dos últimos anos de Davi, conquanto arrependido sinceramente e dolorosamente castigado, acoroçoou o povo na transgressão dos mandamentos de Deus. E a vida de Salomão, depois de uma manhã de tão grandes promessas, obscureceu-se na apostasia. O desejo de poderio político e engrandecimento próprio determinou a aliança com nações gentílicas. A prata de Társis e o ouro de Ofir eram procurados com sacrifício da integridade, e atraiçoamento de santos legados. A associação com idólatras e casamento com mulheres gentias corromperam sua fé. As barreiras que Deus erigira para a segurança de Seu povo, foram assim derribadas, e Salomão entregou-se ao culto dos falsos deuses. No cume do Monte das Oliveiras, defrontando o templo de Jeová, erigiram-se gigantescas imagens e altares para o culto das divindades gentílicas. Repelindo a aliança com Deus, Salomão perdeu o domínio de si mesmo. Embotou-se sua delicada sensibilidade. Mudou-se aquele espírito consciencioso e polido do início de seu reino. Orgulho, ambição, esbanjamento, condescendências, produziram frutos de crueldade e extorsão. Aquele que tinha sido um governante justo, compassivo e temente a Deus, tornou-se tirano e opressor. Aquele que, na dedicação do templo, havia orado para que o coração de seu povo fosse integralmente dado ao Senhor, tornou-se o seu sedutor. Salomão desonrou-se, desonrou a Israel e desonrou a Deus. Ed 49 1 A nação, de que ele tinha sido o orgulho, acompanhou-o. Apesar de que se arrependesse mais tarde, seu arrependimento não evitou que colhessem o mal que havia semeado. A disciplina e o ensino que Deus designara a Israel, fariam com que eles, em toda a sua maneira de viver, diferissem do povo de outras nações. Esta peculiaridade, que deveria ser considerada como privilégio e bênção especiais, foi mal recebida por eles. A simplicidade e moderação, essenciais para o mais alto desenvolvimento, procuraram substituir pela pompa e condescendência própria dos povos pagãos. Serem como todas as nações era a sua ambição. 1 Samuel 8:5. O plano divino para a educação foi posto de lado, e espoliada a autoridade de Deus. Ed 50 1 Com a rejeição dos caminhos de Deus e sua substituição pelos dos homens, começou a subversão nacional de Israel. E assim continuou até que o povo judeu se tornou presa das mesmas nações cujas práticas haviam escolhido seguir. Ed 50 2 Como nação, os filhos de Israel não conseguiram receber os benefícios que Deus desejava dar-lhes. Não souberam apreciar o Seu propósito nem cooperar em sua execução. Mas, conquanto indivíduos e povos possam assim separar-se dEle, Seu propósito para os que nEle confiam é inalterável: "Tudo quando Deus faz durará eternamente." Eclesiastes 3:14. Ed 50 3 Conquanto haja diferentes graus de desenvolvimento e manifestações diversas de Seu poder para atender às necessidades dos homens nas várias épocas, a obra de Deus em todo o tempo é a mesma. O Mestre é o mesmo. O caráter de Deus e Seu plano são os mesmos. Com Ele "não há mudança nem sombra de variação". Tiago 1:17. Ed 50 4 As experiências de Israel foram registradas para nosso ensino. "Tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins do séculos." 1 Coríntios 10:11. Para nós, bem como para o Israel antigo, o êxito na educação depende da fidelidade em executar o plano do Criador. A união com os princípios da Palavra de Deus trar-nos-á tão grandes bênçãos como teria trazido ao povo hebreu. ------------------------Capítulo 7 -- Vida de grandes homens Ed 51 0 "O fruto do justo é árvore de vida." Ed 51 1 A história sagrada apresenta muitas ilustrações dos resultados da verdadeira educação. Apresenta muitos nobres exemplos de homens cujo caráter foi formado sob direção divina; homens cuja vida foi uma bênção a seus semelhantes, e que estiveram no mundo como representantes de Deus. Entre estes se acham José e Daniel, Moisés, Elias e Paulo -- os maiores estadistas, o mais sábio legislador, um dos mais fiéis reformadores, e o mais ilustre instrutor que o mundo já conheceu, com exceção dAquele que falou como nenhum outro. Ed 51 2 No princípio de sua vida, exatamente quando passavam da juventude para a varonilidade, José e Daniel foram separados de seus lares, e levados como cativos a países pagãos. José esteve sujeito especialmente às tentações que acompanham grandes mudanças na sorte. Na casa paterna, uma criança mimada; na casa de Potifar, escravo, depois confidente e companheiro; homem de negócios, educado pelo estudo, observação e contato com os homens; no calabouço de Faraó, prisioneiro do Estado, condenado injustamente, sem esperança de reivindicação ou perspectiva de libertamento; chamado em uma grande crise para dirigir a nação -- que o habilitou a preservar sua integridade? Ed 51 3 Ninguém pode ficar em uma altura preeminente sem correr perigo. Assim como a tempestade deixa intacta a flor do vale e desarraiga a árvore no topo das montanhas, as terríveis tentações que deixam ilesos os humildes da vida, assaltam os que se acham nos altos postos de êxito e honras. José, porém, suportou a prova da adversidade, e da prosperidade, de modo semelhante. A mesma fidelidade que manifestou nos palácios de Faraó, manifestou na cela do prisioneiro. Ed 52 1 Em sua meninice, a José havia sido ensinado o amor e temor de Deus. Muitas vezes, na tenda de seu pai, sob as estrelas da Síria, contava-se-lhe a história da visão noturna de Betel, da escada do Céu à Terra e dos anjos que por ela desciam e subiam, e dAquele que do trono, no alto, Se revelou a Jacó. Fora-lhe contada a história do conflito ao lado do Jaboque, quando, renunciando a pecados acariciados, Jacó se tornou conquistador e recebeu o título de príncipe com Deus. Ed 52 2 A vida pura e simples de José, como um pastorzinho guiando os rebanhos de seu pai, favorecera o desenvolvimento não só da capacidade física mas também da mental. Em comunhão com Deus por meio da Natureza e do estudo das grandes verdades transmitidas como um sagrado legado de pai a filho, adquiriu ele vigor mental e firmeza de princípios. Ed 52 3 No momento crítico de sua vida, quando fazia aquela terrível viagem do lar de sua infância em Canaã, para o cativeiro que o esperava no Egito, olhando pela última vez as colinas que ocultavam as tendas de sua parentela, José lembrou-se do Deus de seu pai. Recordou-se das lições da infância e sua alma fremiu com a resolução de mostrar-se verdadeiro -- agindo sempre como convém a um súdito do Rei celestial. Ed 52 4 Na amargurada vida de estrangeiro e escravo, entre as cenas e os ruídos do vício e das seduções do culto pagão, culto este cercado de todas as atrações de riquezas, cultura e pompas da realeza, José permaneceu firme. Tinha aprendido a lição da obediência ao dever. A fidelidade em todas as situações, desde as mais humildes até as mais exaltadas, adestrou toda a sua capacidade para o mais elevado serviço. Ed 53 1 Na ocasião em que ele fora chamado à corte de Faraó, o Egito era a maior das nações. Em civilização, arte, saber, era inigualado. Através de um período de máxima dificuldade e perigo, José administrou os negócios do reino; e isto fez de maneira a captar a confiança do rei e do povo. Faraó fez dele "senhor de sua casa, e governador de toda a sua fazenda, para a seu gosto sujeitar os seus príncipes, e instruir os seus anciãos". Salmos 105:21, 22. Ed 53 2 A Bíblia nos apresenta o segredo da vida de José. Jacó, na bênção pronunciada sobre seus filhos, assim falou, em palavras de divino poder e beleza, daquele dentre eles que mais amava: Ed 53 3 "José é um ramo frutífero, Ramo frutífero junto à fonte; Seus ramos correm sobre o muro. Os flecheiros lhe deram amargura, E o flecharam e aborreceram. O seu arco, porém, susteve-se no forte, E os braços de suas mãos foram fortalecidos Pelas mãos do Valente de Jacó ... Pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, E pelo Todo-poderoso, o qual te abençoará, Com bênçãos dos Céus de cima, Com bênçãos do abismo que está debaixo. ... As bênçãos de teu pai excederão As bênçãos de meus pais, Até à extremidade dos outeiros eternos; Elas estarão sobre a cabeça de José, E sobre o alto da cabeça do que foi separado De seus irmãos." Gênesis 49:22-26. Ed 54 1 Lealdade para com Deus, fé no Invisível -- foram a âncora de José. Nisto se encontrava o segredo de seu poder. "Os braços de suas mãos foram fortalecidos Ed 54 2 Pelas mãos do Valente de Jacó." Daniel, um embaixador do céu Ed 54 3 Daniel e seus companheiros, em Babilônia, foram aparentemente mais favorecidos da sorte, em sua juventude, do que o foi José, nos primeiros anos de sua vida no Egito; não obstante, estiveram sujeitos a provas de caráter quase tão severas como as suas. Vindo de seu lar judeu, de relativa simplicidade, estes jovens da linhagem real foram transportados à mais magnificente das cidades, para a corte de seu maior monarca, e separados a fim de ser instruídos para o serviço especial do rei. Fortes eram as tentações que os cercavam naquela corte corrupta e luxuosa. O fato de que eles, os adoradores de Jeová, eram cativos em Babilônia; de que os vasos da casa de Deus tinham sido postos no templo dos deuses de Babilônia; de que o próprio rei de Israel era um prisioneiro nas mãos dos babilônios, era jactanciosamente citado pelos vitoriosos como evidência de que sua religião e costumes eram superiores aos dos hebreus. Sob tais circunstâncias, e por meio das próprias humilhações ocasionadas pelo afastamento de Israel dos mandamentos de Deus, Ele apresentou a Babilônia evidências de Sua supremacia, da santidade de Seus mandos, e do resultado certo da obediência. E este testemunho Ele deu -- como unicamente poderia ter dado -- por meio daqueles que ainda mantinham firme sua fidelidade. Ed 54 4 A Daniel e seus companheiros, logo ao princípio de sua carreira, sobreveio uma prova decisiva. A ordem de que seu alimento deveria ser suprido da mesa do rei foi uma expressão do favor real, bem como de sua solicitude pelo bem-estar deles. Mas, sendo uma parte oferecida aos ídolos, o alimento da mesa real era consagrado à idolatria; e, participando da munificência do rei, estes jovens seriam considerados como se estivessem unindo sua homenagem aos falsos deuses. Sua fidelidade para com Jeová proibia-lhes participar de tal homenagem. Tampouco ousavam eles arriscar-se aos efeitos enervantes do luxo e dissipação sobre o desenvolvimento físico, intelectual e espiritual. Ed 55 1 Daniel e seus companheiros tinham sido fielmente instruídos nos princípios da Palavra de Deus. Haviam aprendido a sacrificar o terrestre pelo espiritual, a buscar o mais alto bem. E colheram a recompensa. Seus hábitos de temperança e seu senso de responsabilidade como representantes de Deus, reclamavam o mais nobre desenvolvimento das faculdades do corpo, da mente e da alma. Ao terminar o seu preparo, sendo examinados com outros candidatos às honras do reino, "não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael, e Azarias". Daniel 1:19. Ed 55 2 Na corte de Babilônia estavam reunidos representantes de todos os países, homens dos melhores talentos, dos mais abundantemente favorecidos com dons naturais, e possuidores da mais alta cultura que o mundo poderia conferir; no entanto, entre todos eles os cativos hebreus não tinham igual. Na força física e na beleza, no vigor mental e preparo literário, não tinham rival. "E em toda a matéria de sabedoria, e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o reino." Daniel 1:20. Ed 55 3 Inabalável em sua aliança para com Deus, intransigente no domínio de si próprio, a nobre dignidade e delicada deferência de Daniel ganharam para ele em sua mocidade o "favor e terno amor" do oficial gentio a cargo do qual ele se achava. Os mesmos característicos assinalaram a sua vida. Rapidamente galgou ele a posição de primeiro-ministro do reino. Durante o império de sucessivos monarcas, a queda da nação e o estabelecimento de um reino rival, tais eram a sua sabedoria e qualidades de estadista, tão perfeitos o seu tato, cortesia e genuína bondade de coração, combinados com a fidelidade aos princípios, que mesmo seus inimigos eram obrigados a confessar que "não podiam achar ocasião ou culpa alguma, porque ele era fiel". Daniel 6:4. Ed 56 1 Apegando-se Daniel a Deus com inabalável confiança, o espírito de poder profético veio sobre ele. Sendo honrado pelos homens com as responsabilidades da corte e os segredos do reino, honrado foi por Deus como Seu embaixador, bem como instruído a ler os mistérios dos séculos vindouros. Monarcas pagãos, mediante a associação com o representante do Céu, foram constrangidos a reconhecer o Deus de Daniel. "Certamente", declarou Nabucodonosor, "o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos." E Dario em sua proclamação "a todos os povos, nações e gente de diferentes línguas, que moram em toda a Terra", exaltou o "Deus de Daniel" como "o Deus vivo e para sempre permanente, e o Seu reino não se pode destruir"; que "livra e salva, e opera sinais e maravilhas no céu e na Terra". Daniel 2:47; 6:25-27. Homens fiéis e honestos Ed 56 2 Pela sua sabedoria e justiça, pela pureza e benevolência de sua vida diária, pela sua dedicação aos interesses do povo -- e este era idólatra -- José e Daniel mostraram-se fiéis aos princípios de sua primeira educação, fiéis para com Aquele de quem eram os representantes. A tais homens, tanto no Egito como em Babilônia, a nação toda honrou; e neles, um povo pagão, assim como todas as nações com que entretiveram relações, contemplaram uma ilustração da bondade e beneficência de Deus, uma imagem do amor de Cristo. Ed 57 1 Que considerável obra foi a que executaram estes nobres hebreus durante sua vida! Quão pouco sonhariam eles com seu alto destino, ao se despedirem do lar de sua meninice! Fiéis e firmes, entregaram-se à direção divina, de maneira que por intermédio deles Deus pôde cumprir o Seu propósito. Ed 57 2 As mesmas grandiosas verdades que foram reveladas por estes homens, Deus deseja revelar por meio dos jovens e crianças de hoje. A história de José e Daniel é uma ilustração daquilo que Ele fará pelos que se entregam a Ele, e que de todo o coração procuram cumprir o Seu propósito. Ed 57 3 A maior necessidade do mundo é a de homens -- homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus. Ed 57 4 Mas um caráter tal não é obra do acaso; nem se deve a favores e concessões especiais da Providência. Um caráter nobre é o resultado da disciplina própria, da sujeição da natureza inferior pela superior -- a renúncia do eu para o serviço de amor a Deus e ao homem. Ed 57 5 Os jovens precisam ser impressionados com a verdade de que seus dotes não são deles próprios. Força, tempo, intelecto -- não são senão tesouros emprestados. Pertencem a Deus; e deve ser a decisão de todo jovem pô-los no mais elevado uso. O jovem é um ramo do qual Deus espera fruto; um mordomo cujo capital deve crescer; uma luz para iluminar as trevas do mundo. Ed 58 1 Cada jovem, cada criança, tem uma obra a fazer para honra de Deus e erguimento da humanidade. Eliseu, fiel em coisas pequenas Ed 58 2 Os primeiros anos da vida do profeta Eliseu passaram-se na quietude da vida campesina, sob ensino de Deus e da Natureza, e na disciplina do trabalho útil. Em um tempo de quase universal apostasia, a casa de seu pai estava entre o número dos que não haviam dobrado os joelhos a Baal. Na sua casa Deus era honrado, e a fidelidade ao dever era regra da vida diária. Ed 58 3 Filho de um abastado fazendeiro, Eliseu havia assumido o trabalho que mais perto estava. Conquanto possuísse capacidade para ser um dirigente entre os homens, recebeu ensino nos deveres usuais da vida. A fim de dirigir sabiamente, ele devia aprender a obedecer. Pela fidelidade nas coisas pequenas, preparou-se para os encargos maiores. Ed 58 4 Dotado de espírito meigo e gentil, possuía Eliseu também energia e firmeza. Acariciava o amor e temor de Deus, e na humilde rotina do trabalho diário adquiria força de propósito e nobreza de caráter, crescendo na graça e no conhecimento divinos. Enquanto cooperava com seu pai nos deveres domésticos, aprendia a cooperar com Deus. Ed 58 5 O chamado profético veio a Eliseu, quando com os servos de seu pai arava o campo. Quando Elias, divinamente guiado na procura de um sucessor, lançou sua capa sobre os ombros de Eliseu, reconheceu este moço aquele chamado e lhe obedeceu. Ele "seguiu a Elias, e o servia". 1 Reis 19:21. Não era uma grande obra a que se requeria a princípio de Eliseu; deveres usuais ainda constituía a sua disciplina. Fala-se dele como o que despejava água nas mãos de Elias, seu senhor. Como ajudante pessoal do profeta, continuou a mostrar-se fiel nas coisas pequenas, enquanto com um propósito cada dia mais firme se dedicava à missão a ele designada por Deus. Ed 59 1 Ao ser chamado, sua resolução foi provada. Ao volver-se para acompanhar a Elias, recebeu ordem do profeta para voltar para casa. Ele devia avaliar por si as dificuldades -- decidir-se a aceitar ou rejeitar o chamado. Eliseu, porém, compreendeu o valor de sua oportunidade. Por nenhuma vantagem mundana desprezaria ele a oportunidade de se tornar mensageiro de Deus, ou sacrificar o privilégio da associação com o Seu servo. Ed 59 2 À medida que passava o tempo, e Elias se preparava para a trasladação, Eliseu se aprontava para se tornar seu sucessor. E de novo sua fé e resolução foram provadas. Acompanhando a Elias em seu trabalho do costume, e sabendo a mudança que logo ocorreria, era em cada lugar convidado pelo profeta para voltar. "Fica-te aqui, porque o Senhor me enviou a Betel", disse Elias. Mas, nos seus primeiros trabalhos de guiar o arado, Eliseu tinha aprendido a não fracassar nem desanimar; e agora que ele havia posto a mão ao arado para os deveres de outra natureza, não se desviaria de seu propósito. Tantas vezes quantas lhe era feito o convite para voltar, sua resposta era: "Vive o Senhor, e vive a tua alma, que te não deixarei." 2 Reis 2:2. Ed 59 3 "E assim ambos foram juntos. ... E eles ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou a sua capa, e a dobrou, e feriu as águas, as quais se dividiram para as duas bandas; e passaram ambos em seco. Sucedeu pois que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim. E disse: Coisa dura pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará. E sucedeu que indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao Céu num redemoinho. Ed 60 1 "O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, travando dos seus vestidos, os rasgou em duas partes. Também levantou a capa de Elias, que lhe caíra; e voltou-se e parou à borda do Jordão. E tomou a capa de Elias, que lhe caíra, e feriu as águas e disse: Onde está o Senhor, Deus de Elias? Então feriu as águas, e se dividiram elas para uma e outra banda; e Eliseu passou. Vendo-o pois os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra." 2 Reis 2:6-15. Ed 60 2 Desde então Eliseu ficou em lugar de Elias. E aquele que fora fiel no mínimo, mostrou-se também fiel no muito. Ed 60 3 Elias, homem dotado de poder, tinha sido o instrumento de Deus na subversão de males gigantescos. Fora derribada a idolatria que, mantida por Acabe e pela gentílica Jezabel, havia seduzido a nação. Os profetas de Baal tinham sido mortos. Todo o povo de Israel tinha sido profundamente abalado, e muitos estavam voltando ao culto de Deus. Como sucessor de Elias era necessário alguém que por meio de instrução cuidadosa e paciente pudesse guiar Israel nos caminhos seguros. Para tal trabalho o primitivo ensino de Eliseu, sob a direção de Deus, o havia preparado. Ed 61 1 A lição é para todos. Ninguém pode saber qual haja de ser o propósito de Deus em Sua disciplina; mas todos podem estar certos de que a fidelidade nas pequenas coisas é a evidência do preparo para maiores responsabilidades. Cada ato da vida é uma revelação do caráter, e somente aquele que nos menores deveres se mostre "obreiro que não tem de que se envergonhar" (2 Timóteo 2:15), será honrado por Deus com encargos de mais responsabilidade. Moisés, poderoso pela fé Ed 61 2 Mais jovem que José ou Daniel era Moisés quando foi removido do protetor cuidado do lar de sua infância; não obstante, as mesmas influências que haviam moldado a vida daqueles, tinham já modelado a sua. Apenas doze anos passara ele com os parentes hebreus; mas durante estes anos lançou-se o fundamento de sua grandeza; lançara-o a mão de alguém que não deixou nome memorável. Ed 61 3 Joquebede era mulher e escrava. Sua porção na vida era humilde e seus encargos pesados. Mas, com exceção de Maria de Nazaré, por intermédio de nenhuma outra mulher recebeu o mundo maior bênção. Sabendo que seu filho logo deveria sair de sob seus cuidados, para passar aos daqueles que não conheciam a Deus, da maneira mais fervorosa se esforçou ela por unir a sua alma ao Céu. Procurou implantar em seu coração amor e lealdade para com Deus. E fielmente cumpriu este trabalho. Aqueles princípios da verdade que eram a preocupação do ensino de sua mãe e a lição de sua vida, nenhuma influência posterior poderia induzir Moisés a renunciar. Ed 62 1 Do humilde lar em Gósen, o filho de Joquebede passou ao palácio dos Faraós, à princesa egípcia, e por meio desta veio a ser bem recebido como filho amado e acariciado. Nas escolas do Egito, Moisés recebeu o mais alto preparo civil e militar. De grande atração pessoal, distinto na aparência e estatura, de espírito culto e porte principesco, e de fama como chefe militar, tornou-se o orgulho da nação. O rei do Egito também era membro do sacerdócio; e Moisés, apesar de se recusar a participar do culto pagão, era iniciado em todos os mistérios da religião egípcia. Sendo ainda nessa época o Egito a mais poderosa e mais altamente civilizada das nações, Moisés como seu provável soberano era herdeiro das mais altas honras que este mundo podia conferir. Sua escolha, porém, foi mais nobre. Por amor da honra de Deus e livramento de Seu povo oprimido, Moisés sacrificou as honras do Egito. Então, de maneira especial, Deus empreendeu sua educação. Ed 62 2 Moisés ainda não estava preparado para a obra de sua vida. Tinha ainda de aprender a lição de confiança no poder divino. Ele havia compreendido mal o propósito de Deus. Era sua esperança libertar Israel pela força das armas. Para isto arriscou tudo e fracassou. Derrotado e decepcionado, tornou-se fugitivo e exilado em terra estranha. Ed 62 3 Nos desertos de Midiã, Moisés passou quarenta anos como pastor de ovelhas. Aparentemente afastado para sempre da missão de sua vida, estava recebendo a disciplina essencial para o seu cumprimento. A sabedoria para governar uma multidão ignorante e indisciplinada deveria ser ganha pelo domínio de si próprio. No cuidado das ovelhas e dos tenros cordeiros deveria obter a experiência que faria dele fiel e longânimo pastor para Israel. Para que pudesse tornar-se um representante de Deus, deveria dEle aprender. Ed 63 1 As influências que o haviam cercado no Egito, a afeição de sua mãe adotiva, sua própria posição como neto do rei, o luxo e o vício que o seduziam de dez mil maneiras; o refinamento, subtileza e misticismo de uma religião falsa, tinham produzido certa impressão em seu espírito e caráter. Na rude simplicidade do deserto tudo isto desapareceu. Ed 63 2 Na solene majestade da solidão das montanhas, Moisés estava a sós com Deus. Em toda parte estava escrito o nome do Criador. Moisés parecia achar-se em Sua presença, e protegido por Seu poder. Ali a sua presunção foi afugentada. Na presença do Ser infinito ele se compenetrou de quão fraco, quão ineficiente e quão curto de vista é o homem. Ed 63 3 Ali Moisés adquiriu aquilo que o acompanhou durante os anos de sua vida trabalhosa e sobrecarregada de cuidados -- a intuição da presença pessoal do Ser divino. Não olhava meramente através dos séculos para Cristo a manifestar-Se em carne; via a Cristo acompanhando o exército de Israel em todas as suas viagens. Quando era mal compreendido, ou difamadas suas ações, ou quando tinha de suportar a ignomínia e o insulto, e enfrentar o perigo e a morte, estava ele habilitado a resistir "como vendo o Invisível". Hebreus 11:27. Ed 63 4 Moisés não pensava simplesmente acerca de Deus; ele via a Deus. Deus era a constante visão diante dele. Nunca perdeu de vista a Sua face. Ed 63 5 Para Moisés, a fé não era uma conjectura, era a realidade. Ele cria que Deus dirigia sua vida em particular, e em todos os seus detalhes ele O reconhecia. Para obter a força a fim de resistir a todas as tentações, confiava nEle. A grande obra que lhe era confiada, desejava fazê-la Ed 63 6 com o maior êxito possível, e pôs sua confiança toda no poder divino. Sentiu sua necessidade de auxílio, pediu-o, adquiriu-o pela fé, e saiu na certeza de manter a força. Ed 64 1 Tal foi a experiência que Moisés alcançou com os quarenta anos de preparo no deserto. Para comunicar tal experiência, a Sabedoria Infinita não considerou demasiado longo o período nem excessivamente grande o preço. Ed 64 2 Os resultados daquele preparo, e das lições então ensinadas, ligam-se intimamente, não só à história de Israel, mas a tudo que desde aquele tempo até hoje tem contribuído para o progresso do mundo. O mais elevado testemunho da grandeza de Moisés, ou seja, o juízo feito de sua vida pela Inspiração, é: "Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara." Deuteronômio 34:10. Paulo, alegre no serviço Ed 64 3 Com a fé e experiência dos discípulos galileus que haviam feito companhia a Jesus, encontraram-se reunidos na obra do evangelho o indômito vigor e o poder intelectual de um rabi de Jerusalém. Cidadão romano, nascido numa cidade gentílica, e judeu não somente por descendência mas por ensinos recebidos em toda sua vida, por patriotismo e religião; educado em Jerusalém pelo mais eminente dos rabis, e instruído em todas as leis e tradições dos pais, Saulo de Tarso participava no maior grau do orgulho e dos preconceitos de sua nação. Ainda jovem, tornou-se honrado membro do Sinédrio. Era considerado homem promissor, zeloso defensor da antiga fé. Ed 64 4 Nas escolas teológicas da Judéia, a Palavra de Deus tinha sido preterida pelas especulações humanas; tinha sido privada de seu poder pelas interpretações e tradições dos rabis. Exaltação própria, amor ao domínio, cioso exclusivismo, fanatismo e orgulho desdenhoso, eram os princípios e motivos que regiam estes ensinadores. Ed 65 1 Os rabis gloriavam-se em sua superioridade não somente sobre o povo de outras nações, mas também sobre a multidão de seu próprio país. Com ódio feroz a seus opressores romanos, acariciavam a resolução de recuperar pela força das armas sua supremacia nacional. Aos seguidores de Jesus, cuja mensagem de paz era tão contrária a seus ambiciosos planos, odiaram e mataram. Nesta perseguição, Saulo era um dos atores mais atrozes e implacáveis. Ed 65 2 Nas escolas militares do Egito, foi ensinada a Moisés a lei da força, e tão fortemente se apegou este ensino a seu caráter que foram precisos quarenta anos de quietação e comunhão com Deus e a Natureza para habilitá-lo à chefia de Israel pela lei do amor. A mesma lição Paulo teve de aprender. Ed 65 3 Às portas de Damasco a visão do Crucificado mudou todo o curso de sua vida. O perseguidor tornou-se discípulo, o mestre, aluno. Os dias de trevas passados em solidão em Damasco foram como anos em sua experiência. As Escrituras do Antigo Testamento, entesouradas em sua memória, foram o seu estudo, e Cristo o seu mestre. Para ele também a solidão da Natureza se tornou uma escola. Para o deserto da Arábia foi ele, a fim de estudar ali as Escrituras e aprender acerca de Deus. Esvaziou a alma dos preconceitos e tradições que lhe haviam moldado a vida e recebeu instruções da Fonte da verdade. Ed 65 4 Sua vida posterior foi inspirada unicamente pelo princípio do sacrifício de si mesmo -- o ministério do amor. "Eu sou devedor", disse ele, "tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." "O amor de Cristo nos constrange." Romanos 1:14; 2 Coríntios 5:14. Ed 66 1 Como o maior dos ensinadores humanos, Paulo aceitava os mais humildes deveres assim como os mais elevados. Reconhecia a necessidade do trabalho tanto para as mãos como para a mente, e trabalhava num ofício para a manutenção própria. Prosseguia com seu ofício de fazer tendas ao mesmo tempo que diariamente pregava o evangelho nos grandes centros da civilização. "Estas mãos me serviram", disse ele, ao despedir-se dos anciãos de Éfeso, "para o que me era necessário a mim e aos que estão comigo." Atos dos Apóstolos 20:34. Ed 66 2 Conquanto possuísse altos dotes intelectuais, a vida de Paulo revelava o poder de uma sabedoria mais rara. Princípios do mais profundo alcance, princípios a respeito dos quais os maiores espíritos do seu tempo eram ignorantes, desdobravam-se em seus ensinos e exemplificavam-se em sua vida. Ele possuía a maior de todas as sabedorias -- a que proporciona prontidão para discernir e simpatia de coração, e que põe o homem em contato com os homens, e o habilita a suscitar sua melhor natureza e inspirá-los a uma vida mais elevada. Ed 66 3 Escute-lhe as palavras diante dos listranos pagãos, quando ele os dirige a Deus, revelado em a Natureza, fonte de todo o bem, "dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações". Atos dos Apóstolos 14:17. Ed 66 4 Veja-o na masmorra em Filipos, onde apesar de ter o corpo dolorido pelas torturas, seu cântico de louvor quebrava o silêncio da meia-noite. Depois que o terremoto abre as portas da prisão, sua voz é de novo ouvida em palavras de ânimo ao carcereiro pagão: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos" (Atos dos Apóstolos 16:28) -- cada um em seu lugar, constrangido pela presença de um companheiro de prisão. E o carcereiro, convicto da realidade daquela fé que sustinha a Paulo, inquire acerca do caminho da salvação, e com toda a sua casa se une ao grupo perseguido dos discípulos de Cristo. Ed 67 1 Veja Paulo em Atenas perante o conselho do Areópago, defrontando ciência com ciência, lógica com lógica, filosofia com filosofia. Note como, com aquele tato oriundo do amor divino, aponta a Jeová como o "Deus desconhecido", ao qual os seus ouvintes têm ignorantemente adorado; e com palavras citadas de um poeta deles mesmos, descreve-O como um Pai de quem eles próprios são filhos. Ouça-o, naquela época de castas em que os direitos do homem, como tal, não eram absolutamente reconhecidos, a apresentar a grande verdade da fraternidade humana, declarando que Deus "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre a face da Terra". Então mostra como, à maneira de um fio de ouro, se desenrola o propósito divino da graça e misericórdia através de todo o trato de Deus com o homem. Ele determinou "os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem o Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós". Atos dos Apóstolos 17:23, 26, 27. Ed 67 2 Ouça-o na corte de Festo, quando o rei Agripa, convencido da verdade do evangelho, exclama: "Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão." Com que gentil cortesia, apontando para a sua cadeia, Paulo responde: "Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias." Atos dos Apóstolos 26:28, 29. Ed 67 3 Assim passou a vida, como a descreve em suas próprias palavras -- "em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos, em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez." 2 Coríntios 11:26, 27. Ed 68 1 "Somos injuriados", disse ele, "e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos"; "como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo". 1 Coríntios 4:12, 13; 2 Coríntios 6:10. Ed 68 2 Encontrava ele a alegria no servir; e ao terminar a vida de trabalho, olhando para trás às lutas e triunfos, podia dizer: "Combati o bom combate." 2 Timóteo 4:7. Ed 68 3 Estas histórias são de interesse vital. A ninguém são elas de maior importância do que aos jovens. Moisés renunciou a um reino em perspectiva; Paulo, às vantagens da riqueza e honra entre seu povo, para levarem uma vida de pesados encargos no serviço de Deus. A muitas pessoas a vida destes homens parece ser de renúncia e sacrifício. Foi realmente assim? Moisés considerava o vitupério de Cristo maiores riquezas do que os tesouros do Egito. Ele assim considerava porque assim era. Paulo declarou: "O que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo." Filipenses 3:7, 8. Ele estava satisfeito com sua escolha. Ed 68 4 A Moisés era oferecido o palácio dos Faraós e o trono do monarca; mas os prazeres pecaminosos que fazem com que os homens se esqueçam de Deus, prevaleciam naquelas cortes senhoris, e em lugar deles escolheu "riquezas duráveis e justiça". Provérbios 8:18. Em vez de se ligar às grandezas do Egito, preferiu unir a vida ao propósito divino. Em vez de dar leis ao Egito, por direção divina deu-as ao mundo. Tornou-se o instrumento de Deus em transmitir ao homem aqueles princípios que são a salvaguarda tanto do lar como da sociedade, e que são a pedra fundamental da prosperidade das nações -- princípios hoje reconhecidos pelos maiores homens do mundo como o fundamento de tudo que é melhor nos governos humanos. Ed 69 1 A grandeza do Egito jaz no pó. Passaram-se seu poderio e civilização. Mas a obra de Moisés jamais poderá perecer. Os grandes princípios de justiça para estabelecer os quais ele viveu, são eternos. Ed 69 2 A vida de Moisés, de trabalhos e de cuidados que pesavam sobre o coração, foi iluminada com a presença dAquele que "traz a bandeira, entre dez mil", e é "totalmente desejável". Cantares 5:10, 16. Com Cristo na peregrinação do deserto, com Cristo no monte da transfiguração, com Cristo nas cortes celestiais, foi a sua vida abençoada na Terra e honrada no Céu. Ed 69 3 Paulo também era em seus múltiplos labores protegido pelo poder mantenedor de Sua presença. "Posso todas as coisas", disse ele, "nAquele que me fortalece." "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?... Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra coisa nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor." Filipenses 4:13; Romanos 8:35-39. Ed 70 1 Havia, contudo, uma alegria futura para a qual Paulo olhava como a recompensa de seus trabalhos -- a mesma alegria por causa da qual Cristo suportou a cruz e desdenhou a ignomínia -- alegria esta de ver o fruto de Seu trabalho. "Qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória?" escreveu ele aos conversos de Tessalônica. "Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? Na verdade vós sois a nossa glória e gozo." 1 Tessalonicenses 2:19, 20. Ed 70 2 Quem poderá calcular os resultados dos trabalhos de Paulo, para o mundo? De todas estas benéficas influências que aliviam o sofrimento, que confortam a tristeza, que restringem o mal, que erguem a vida de sua condição egoísta e sensual, e a glorificam com a esperança da imortalidade, quanto se deve aos trabalhos de Paulo e de seus cooperadores, quando, com o evangelho do Filho de Deus, fizeram sua silenciosa viagem da Ásia às praias da Europa? Ed 70 3 O que não valerá a uma vida o ter sido o instrumento de Deus em pôr em ação tais influências abençoadoras? O que não valerá na eternidade testemunhar os resultados de um tal trabalho? O mestre dos mestres Ed 70 4 "Nunca homem algum falou assim como este Homem." ------------------------Capítulo 8 -- O mestre enviado de Deus Ed 73 0 "Considerai pois Aquele." Ed 73 1 "E o Seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz." Isaías 9:6. Ed 73 2 No Mestre enviado de Deus, o Céu deu aos homens o que de melhor e maior possuía. Aquele que tomara parte nos conselhos do Altíssimo, que habitara no íntimo do santuário do Eterno, foi o escolhido para, em pessoa, revelar à humanidade o conhecimento de Deus. Ed 73 3 Todo raio de luz divina que já atingiu o nosso mundo decaído, foi comunicado por meio de Cristo. É Ele que tem falado por intermédio de todos os que, em todos os tempos, têm declarado a Palavra de Deus ao homem. Toda a excelência manifestada nas maiores e mais nobres almas da Terra, era reflexo dEle. A pureza e beneficência de José; a fé, mansidão, longanimidade de Moisés; a firmeza de Elias, a nobre integridade e firmeza de Daniel, o ardor e sacrifício próprio de Paulo, o poder mental e espiritual manifesto em todos estes homens e em todos os outros que viveram sobre a Terra, não foram senão centelhas procedentes do resplendor de Sua glória. NEle se encontrara o perfeito ideal. Ed 73 4 A fim de revelar este ideal como o único verdadeiro modelo a ser atingido; a fim de mostrar o que todo ser humano poderia tornar-se; o que mediante a habitação da divindade na humanidade se tornaria todos os que O recebessem -- para isso veio Cristo ao mundo. Veio para mostrar como os homens devem ser ensinados conforme convém a filhos de Deus; como devem praticar na Terra os princípios do Céu e viver a vida celestial. Ed 74 1 O maior dom de Deus foi concedido a fim de satisfazer a maior necessidade do homem. A luz apareceu quando as trevas do mundo eram mais intensas. Por meio dos falsos ensinos, a mente dos homens por muito tempo andara desviada de Deus. No sistema de educação que então prevalecia, a filosofia humana havia tomado o lugar da revelação divina. Em vez da norma de verdade conferida pelo Céu, os homens haviam aceitado outra, de sua própria criação. Tinham-se desviado da Luz da vida para caminhar nas fagulhas que eles haviam acendido. Ed 74 2 Tendo-se separado de Deus, e confiando unicamente no poder da humanidade, sua força não era senão fraqueza. Mesmo as normas estabelecidas por eles próprios, eram incapazes de atingir. A falta da verdadeira excelência era suprida pela aparência e profissão. A semelhança tomou o lugar da realidade. Ed 74 3 De tempos em tempos levantavam-se mestres que apontavam aos homens a Fonte da verdade. Enunciavam-se princípios retos, e vidas humanas testemunhavam de seu poder. Mas tais esforços não produziam impressão duradoura. Havia breve repressão na corrente do mal, mas o seu curso decadente não estacionava. Os reformadores foram como luzes a brilhar nas trevas; mas eles não as puderam repelir. O mundo amou "mais as trevas do que a luz". João 3:19. Ed 74 4 Quando Cristo veio à Terra, a humanidade parecia estar rapidamente atingindo seu ponto mais degradante. Os próprios fundamentos da sociedade estavam minados. A vida se tornara falsa e artificial. Os judeus, destituídos do poder da Palavra de Deus, davam ao mundo tradições e especulações que obscureciam a mente e amorteciam a alma. A adoração de Deus, "em espírito e verdade", tinha sido suplantada pela glorificação dos homens em uma rotina infindável de cerimônias de criação humana. Pelo mundo todo, os sistemas todos de religião estavam perdendo seu poder sobre a mente e a alma. Desgostosos com as fábulas e falsidades, e procurando abafar o pensamento, os homens volviam à incredulidade e ao materialismo. Deixando de contar com a eternidade, viviam para o presente. Ed 75 1 Como deixassem de admitir as coisas divinas, deixaram de tomar em consideração as humanas. Verdade, honra, integridade, confiança, compaixão, estavam abandonando a Terra. Ganância implacável e ambição absorvente davam origem a uma desconfiança universal. A idéia do dever, da obrigação da força para com a fraqueza, da dignidade e direitos humanos, era posta de lado como um sonho ou uma fábula. O povo comum era considerado como bestas de carga, ou como instrumentos e degraus para que subissem os ambiciosos. Riqueza e poderio, comodidade e condescendência própria, eram procurados como o melhor dos bens. Caracterizavam a época a degenerescência física, o torpor mental e a morte espiritual. Ed 75 2 Assim como as más paixões e os maus propósitos dos homens baniram a Deus de seus pensamentos, também o esquecimento dEle os inclinou mais fortemente para o mal. O coração, amando o pecado, imputou a Deus os seus atributos, e tal concepção fortaleceu o poder do pecado. Propensos à satisfação própria, chegaram os homens a considerar a Deus tal como eles mesmos, a saber, como um Ser cujo objetivo fosse a glorificação própria, cujas ordenanças se acomodassem a Seu próprio prazer; Ser este pelo qual fossem os homens elevados ou rebaixados, conforme favorecessem ou impedissem ao Seu propósito egoísta. As classes inferiores consideravam o Ser supremo mal diferindo de seus opressores, sobrepujando-os apenas no poder. Por tais idéias se modelava toda forma de religião. Cada uma delas consistia num sistema de exação. Por meio de dádivas e cerimônias, os adoradores procuravam tornar propícia a Divindade, a fim de se assegurarem de Seu favor para seus próprios fins. Tal religião, não tendo poder sobre o coração e a consciência, não poderia deixar de ser senão uma rotina de formalidades, de que se cansavam os homens, e de que anelavam libertar-se, exceto naquilo que lhes aproveitasse. Assim o mal, sem restrições, tornava-se mais forte, enquanto o apreço e o desejo do bem diminuíam. Os homens perderam a imagem de Deus, e receberam o estigma do poder diabólico pelo qual eram dirigidos. O mundo todo estava-se tornando uma fossa de corrupção. Ed 76 1 Havia apenas uma esperança para a raça humana: a de que fosse lançado um novo fermento naquela massa de elementos discordantes e corruptores; de que se trouxesse à humanidade o poder de uma nova vida; de que o conhecimento de Deus fosse restaurado no mundo. Ed 76 2 Cristo veio para restaurar este conhecimento. Veio para remover o falso ensino pelo qual os que pretendiam conhecer a Deus O haviam representado de uma maneira errônea. Veio para manifestar a natureza de Sua lei, para revelar em Seu próprio caráter a beleza da santidade. Ed 76 3 Cristo veio ao mundo com um amor que se fora acrescendo durante a eternidade. Varrendo aquelas exações que tinham atravancado a lei de Deus, mostrou Ele que esta é uma lei de amor, uma expressão da bondade divina. Mostrou que na obediência a seus princípios se acha envolvida a felicidade da humanidade, e com ela a estabilidade, o próprio fundamento e arcabouço da sociedade humana. Ed 76 4 Longe de fazer exigências arbitrárias, a lei de Deus é dada ao homem como um amparo e escudo. Quem quer que aceite seus princípios achar-se-á preservado do mal. A fidelidade para com Deus compreende a fidelidade para com o homem. Assim a lei resguarda os direitos, a individualidade, de cada ser humano. Ela restringe da opressão os que estão em posição superior, e da desobediência os que se acham em posição subordinada. Garante o bem-estar do homem, tanto neste mundo como no vindouro. Ao que obedece é o penhor da vida eterna; pois exprime os princípios que permanecem para sempre. Ed 77 1 Cristo veio para demonstrar o valor dos princípios divinos, revelando o seu poder na regeneração da humanidade. Veio para ensinar como estes princípios devem ser desenvolvidos e aplicados. Ed 77 2 Para o povo daquela época, o valor de todas as coisas era determinado pela aparência exterior. À medida que aumentara em pompa, a religião declinara em eficácia. Os educadores de então procuravam impor-se ao respeito pelo aparato e ostentação. Com tudo isto a vida de Jesus apresentava assinalado contraste. Sua vida demonstrou a inutilidade das coisas que os homens consideravam como as essenciais na vida. Nascido no mais rude ambiente, participando do lar e passadio de um camponês, da ocupação de operário, vivendo vida de obscuridade, identificando-Se com os labutadores desconhecidos do mundo, seguiu Jesus, entre tais condições e ambiente, o plano divino da educação. As escolas de Seu tempo, que engrandeciam as pequenas coisas e amesquinhavam as grandes, Ele as não procurou. Sua educação foi adquirida diretamente das fontes indicadas pelo Céu: do trabalho útil, do estudo das Escrituras e da Natureza, e da experiência da vida -- compêndios divinos, cheios de instruções a todos os que lhes trazem mãos voluntárias, olhos que vêem e coração entendido. Ed 78 1 "E o Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Lucas 2:40. Ed 78 2 Assim preparado saiu para Sua missão, exercendo no Seu contato com os homens, a cada momento, benéfica influência e poder transformador, como jamais havia testemunhado o mundo. Ed 78 3 Aquele que procura transformar a humanidade deve compreender ele próprio a humanidade. Unicamente pela simpatia, fé e amor podem os homens ser atingidos e enobrecidos. Neste ponto Cristo Se revela o Mestre por excelência; de todos os que viveram sobre a Terra, somente Ele tem perfeita compreensão da alma humana. Ed 78 4 "Não temos um sumo sacerdote" -- máximo mestre, pois os sacerdotes eram mestres -- "não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado." Hebreus 4:15. Ed 78 5 "Naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados." Hebreus 2:18. Ed 78 6 Cristo somente teve experiência de todas as tristezas e tentações que recaem sobre os seres humanos. Jamais outro nascido de mulher foi tão terrivelmente assediado pela tentação; jamais outro suportou fardo tão pesado dos pecados e das dores do mundo. Nunca houve outro cujas simpatias fossem tão amplas e ternas. Como participante em todas as experiências da humanidade, Ele poderia não somente condoer-Se dos que se acham sobrecarregados, tentados e em lutas, mas partilhar-lhes os sofrimentos. Ed 78 7 Em conformidade com o que Ele ensinava, vivia. "Eu vos dei o exemplo, disse Ele a Seus discípulos, para que, como Eu vos fiz, façais vós também." "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 13:15; 15:10. Assim, em Sua vida, as palavras de Cristo tiveram perfeita ilustração e apoio. E mais do que isto: Ele era aquilo que ensinava. Suas palavras eram a expressão não somente da experiência de Sua própria vida, mas de Seu próprio caráter. Não somente ensinava Ele a verdade, mas era a verdade. Era isto que Lhe dava poder aos ensinos. Ed 79 1 Cristo reprovava com fidelidade. Jamais viveu alguém que odiasse tanto o mal; ou alguém que o condenasse tão destemidamente. A todas as coisas falsas e vis, Sua própria presença era uma reprovação. À luz de Sua pureza os homens se viam impuros, e medíocres e falsos os objetivos de sua vida. Não obstante, Ele os atraía. Aquele que criara o homem, compreendia o valor da humanidade. Condenava o mal como o inimigo daqueles que procurava abençoar e salvar. Em cada ser humano, apesar de decaído, contemplava um filho de Deus, ou alguém que poderia ser restaurado aos privilégios de seu parentesco divino. Ed 79 2 "Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele." João 3:17. Olhando aos homens em seu sofrimento e degradação, Cristo entrevia lugar para esperança onde apenas apareciam desespero e ruína. Onde quer que se sentisse a percepção de uma necessidade, ali via Ele oportunidade para reerguimento. As almas tentadas, derrotadas, que se sentiam perdidas, prontas a perecer, Ele defrontava, não com acusações mas com bênçãos. Ed 79 3 As bem-aventuranças foram a Sua saudação à família humana toda. Olhando para a vasta multidão reunida para ouvir o Sermão da Montanha, parecia Ele por momentos haver-Se esquecido de que não estava no Céu, e empregou a saudação usual no mundo da luz. De Seus lábios manaram bênçãos como o jorro de uma fonte há muito fechada. Ed 79 4 Desviando-Se dos ambiciosos e bem-favorecidos deste mundo, declarou serem bem-aventurados os que, embora grandes as suas necessidades, recebessem Sua luz e amor. Aos pobres de espírito, aos tristes, aos perseguidos, estendeu os braços, dizendo: "Vinde a Mim, ... Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. Ed 80 1 Em cada ser humano Ele divisava infinitas possibilidades. Via os homens como poderiam ser, transfigurados por Sua graça -- "na graça do Senhor nosso Deus". Salmos 90:17. Olhando para eles com esperança, inspirava-lhes esperança. Encontrando-os com confiança, inspirava-lhes confiança. Revelando em Si mesmo o verdadeiro ideal do homem, despertava para a consecução deste ideal tanto o desejo como a fé. Em Sua presença as almas desprezadas e caídas compreendiam que ainda eram homens, e anelavam mostrar-se dignas de Seu olhar. Em muitos corações que pareciam mortos para as coisas santas, despertavam-se novos impulsos. A muito desesperançado abriu-se a possibilidade de uma nova vida. Ed 80 2 Cristo ligou os homens ao Seu coração pelos laços da dedicação e do amor; e pelos mesmos laços ligou-os a seus semelhantes. Para Ele o amor era a vida, e a vida era o serviço em prol de outrem. "De graça recebestes", disse Ele, "de graça dai." Mateus 10:8. Ed 80 3 Não foi somente na cruz que Cristo Se sacrificou pela humanidade. À medida que andava fazendo o bem (Atos dos Apóstolos 10:38), a experiência de cada dia era um transvasar de Sua vida. De uma maneira apenas poderia Ele manter uma vida tal. Jesus vivia na dependência de Deus e em comunhão com Ele. Ao lugar secreto do Altíssimo, à sombra do Todo-poderoso, os homens de quando em quando se refugiam; habitam ali por algum tempo, e o resultado se patenteia nas boas ações; então sua fé falta, interrompe-se a comunhão, e se desmerece a obra daquela vida. A vida de Jesus, porém, foi de constante confiança, mantida por uma comunhão contínua; e Seu serviço em prol do Céu e da Terra foi sem falhas ou defeitos. Ed 80 4 Como homem, implorava ao trono de Deus, de maneira que Sua humanidade veio a saturar-se da corrente celeste que ligava a humanidade com a divindade. Recebendo vida de Deus, comunicava-a aos homens. Ed 81 1 "Nunca homem algum falou assim como este homem." João 7:46. Isto seria verdade em relação a Cristo, tivesse Ele falado apenas sobre o mundo físico e intelectual, ou meramente em assuntos teóricos e especulativo. Poderia Ele ter revelado mistérios que requereriam séculos de trabalho e estudo para serem penetrados. Poderia ter feito sugestões nos ramos científicos, as quais até o final do tempo proporcionariam nutrição ao pensamento, e estímulo às invenções. Mas Ele não fez isto. Nada disse para satisfazer a curiosidade, ou estimular ambição egoísta. Não tratou de teorias abstratas, mas do que é essencial ao desenvolvimento do caráter, e daquilo que alarga a capacidade do homem para conhecer a Deus e aumenta seu poder para fazer o bem. Falou daquelas verdades que se referem à conduta da vida, e que unem o homem com a eternidade. Ed 81 2 Em vez de dirigir o povo ao estudo das teorias humanas a respeito de Deus, Sua Palavra ou Suas obras, ensinava-os a contemplá-Lo, conforme Se acha Ele manifestado em Suas obras, em Sua Palavra e em Suas providências. Punha-lhes a mente em contato com a mente do Infinito. Ed 81 3 As pessoas "admiravam a Sua doutrina, porque a Sua palavra era com autoridade". Lucas 4:32. Nunca dantes falou alguém com tal poder para despertar o pensamento, acender aspirações, suscitar todas as capacidades do corpo, espírito e alma. Ed 81 4 O ensino de Cristo, assim como Suas simpatias, abrangia o mundo. Jamais poderá haver uma circunstância na vida, um momento crítico na experiência humana, que não tenha sido antecipado em Seu ensino, e para os quais seus princípios não tinham uma lição. Príncipe dos ensinadores, serão Suas palavras reconhecidas como um guia para os Seus cooperadores até o fim do tempo. Ed 82 1 Para Ele o presente e o futuro, o próximo e o distante, eram um. Tinha em vista as necessidades de toda a humanidade. Perante Seus olhos espirituais estendiam-se todas as cenas do esforço e consecução humana, de tentações e conflitos, de perplexidades e perigo. Todos os corações, lares, prazeres, alegrias e aspirações eram conhecidos dEle. Ed 82 2 Ele falava não somente por toda a humanidade, mas a toda a humanidade. À criancinha, nas alegrias da manhã da vida; ao ansioso e inquieto coração do jovem; aos homens na força dos anos, suportando o peso das responsabilidades e cuidados; ao idoso em sua fraqueza e cansaço, a todos, enfim, era levada Sua mensagem, sim, a todos os filhos da humanidade, em todos os países e em todas as épocas. Ed 82 3 Em Seu ensino abrangiam-se coisas temporais e eternas, coisas visíveis em sua relação com as invisíveis, incidentes passageiros da vida usual e as questões solenes da vida por vir. Ed 82 4 As coisas desta vida colocava-as Ele em sua verdadeira relação, como subordinadas que são às de interesse eterno; mas não ignorava sua importância. Ensinava que o Céu e a Terra estão ligados um ao outro, e que o conhecimento da verdade divina prepara melhor o homem para cumprir os deveres da vida diária. Ed 82 5 Para Ele nada havia sem um determinado fim. Os jogos infantis, o trabalho dos homens, os prazeres, cuidados e dores da vida -- tudo eram meios que conduziam a um determinado fim, a saber, a revelação de Deus para o erguimento da humanidade. Ed 82 6 De Seus lábios a Palavra de Deus era recebida no coração dos homens, com novo poder e nova significação. Seus ensinos faziam com que as coisas da criação se apresentassem sob uma nova luz. Sobre a face da Natureza de novo repousavam raios daquele fulgor que o pecado havia banido. Em todos os fatos e experiências da vida revelavam-se uma lição divina e a possibilidade de divina companhia. Novamente Deus habitava sobre a Terra; corações humanos se tornavam cônscios de Sua presença; o mundo era circundado por Seu amor. O Céu desceu aos homens. Seus corações reconheceram em Cristo Aquele que lhes abrira a ciência da eternidade: Ed 83 1 "Emanuel, ... Deus conosco." Ed 83 2 Todo verdadeiro trabalho educativo encontra seu centro no Mestre enviado de Deus. De Sua obra hoje, precisamente como da que estabeleceu há mil e oitocentos anos*, fala o Salvador nestes termos: Ed 83 3 "Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo." Ed 83 4 "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim." Apocalipse 1:17; 21:6. Ed 83 5 Na presença de tal Ensinador, de tais oportunidades para educação divina, é mais que loucura procurar educação fora dEle, quer dizer, procurar ser sábio desviado da Sabedoria, querer ser verdadeiro ao mesmo tempo em que se rejeita a Verdade, procurar iluminação fora da Luz, e existência sem a Vida, enfim, deixar a Fonte das águas vivas e cavar cisternas rotas que não podem fornecer água. Ed 83 6 Eis que Ele ainda convida: "Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão dele." "A água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna." João 7:37, 38; 4:14. ------------------------Capítulo 9 -- Uma ilustração de seus métodos Ed 84 0 "Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste." Ed 84 1 A ilustração mais completa dos métodos de Cristo como ensinador, encontra-se no Seu preparo dos doze primeiros discípulos. Sobre estes homens deviam repousar pesadas responsabilidades. Escolhera-os como homens a quem Ele poderia infundir Seu Espírito e que poderiam ficar habilitados a levar avante Sua obra na Terra, quando Ele a deixasse. A eles, mais do que a todos os outros, proporcionou as vantagens de Sua companhia. Mediante associação pessoal, produziu nestes colaboradores escolhidos a impressão dEle próprio. "A vida foi manifestada", disse João, o discípulo amado, "e nós a vimos, e testificamos dela." 1 João 1:2. Ed 84 2 Somente por meio daquela comunhão -- do espírito com o espírito e do coração com o coração, do humano com o divino -- se pode comunicar a energia vitalizadora que a verdadeira educação tem por objetivo comunicar. É unicamente a vida que pode produzir vida. Ed 84 3 No ensino de Seus discípulos, o Salvador seguiu o sistema de educação estabelecida ao princípio. Os primeiros doze escolhidos, juntamente com alguns poucos outros que mediante o auxílio às suas necessidades tinham de quando em quando ligação com eles, formavam a família de Jesus. Achavam-se com Ele em casa, à mesa, em particular, no campo. Acompanhavam-nO em Suas viagens, participavam de Suas provações e agruras, e tanto quanto lhes era possível participavam de Seu trabalho. Ed 85 1 Às vezes Ele os ensinava enquanto juntos se assentavam ao lado das montanhas; outras, junto ao mar ou do barco do pescador, e ainda outras vezes enquanto andavam pelo caminho. Sempre que falava à multidão, os discípulos formavam a roda mais achegada. Comprimiam-se ao lado dEle, para que nada perdessem de Suas instruções. Eram ouvintes atentos, ávidos de compreender as verdades que deviam ensinar em todas as terras e a todas as épocas. Ed 85 2 Os primeiros discípulos de Jesus foram escolhidos entre as classes do povo comum. Eram homens humildes e iletrados, aqueles pescadores da Galiléia; homens sem escola nos conhecimentos e costumes dos rabis, mas adestrados na disciplina severa do trabalho e das agruras. Eram homens de habilidade natural e espírito dócil; homens que poderiam ser instruídos e moldados para a obra do Salvador. Nas ocupações usuais da vida, há muitos lutadores percorrendo pacientemente a rotina de suas tarefas diárias, inconscientes das faculdades latentes que, despertadas à ação, colocá-los-iam entre os grandes dirigentes do mundo. Tais foram os homens chamados pelo Salvador para serem Seus coobreiros. Tiveram eles as vantagens de três anos de ensino pelo maior Educador que este mundo já conheceu. Ed 85 3 Nestes primeiros discípulos notava-se uma assinalada diversidade. Deviam ser os ensinadores do mundo, e representavam amplamente vários tipos de caráter. Havia Levi Mateus, o publicano, chamado de uma vida de atividade em negócios e subserviência a Roma; Simão, o zelador, o intransigente adversário da autoridade imperial; o impetuoso, presunçoso e ardoroso Pedro, com André, seu irmão; Judas, o judeu, polido, capaz e de impulsos medíocres; Filipe e Tomé, fiéis e fervorosos, conquanto tardios de coração para crer; Tiago, o moço, e Judas, de menos preeminência entre os irmãos, mas homens de energia, positivos tanto em suas faltas como em suas virtudes; Natanael, filho da sinceridade e da confiança; e os ambiciosos e amoráveis filhos de Zebedeu. Ed 86 1 A fim de levarem avante, com êxito, a obra a que foram chamados, estes discípulos, diferindo tão grandemente em seus característicos naturais, em preparo e hábitos de vida, necessitavam chegar à unidade de sentimento, pensamento e ação. Era o objetivo de Cristo conseguir esta unidade. Para tal fim, procurou Ele trazê-los à unidade consigo. A grave preocupação em Seu trabalho por eles exprime-se em Sua oração ao Pai -- "para que todos sejam um, como Tu, ó Pai o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, ... para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:21-23. O poder transformador de Cristo Ed 86 2 Dos doze discípulos, quatro deviam desempenhar papel saliente, cada um em um ramo distinto. Na preparação para tal, Cristo os ensinou, prevendo tudo. Tiago, destinado a próxima morte à espada; João, o que dentre os irmãos por mais tempo devia seguir seu Mestre nos trabalhos e perseguições; Pedro, o pioneiro em transpor as barreiras dos séculos e ensinar ao mundo gentio; e Judas, capaz de ascendência sobre seus irmãos, no serviço, e não obstante alimentando em sua alma propósitos cujos frutos ele mal sonhava -- eram todos estes o objeto da maior solicitude de Cristo, e os que recebiam as Suas mais freqüentes e cuidadosas instruções. Ed 87 1 Pedro, Tiago e João procuravam toda oportunidade de entrar em íntimo contato com seu Mestre, e seu desejo era satisfeito. Dentre os doze, sua relação para com Ele era mais íntima. João poderia satisfazer-se apenas com uma intimidade ainda maior, e isto ele obteve. Naquela primeira conversa ao lado do Jordão, quando André, tendo ouvido a Jesus, correu a chamar seu irmão, João estava sentado em silêncio, extasiado na meditação de maravilhosos assuntos. Seguiu o Salvador, sempre como um ouvinte ávido e embevecido. Entretanto, o caráter de João não era irrepreensível. Ele não era um entusiasta gentil, sonhador. Ele e seu irmão foram chamados "filhos do trovão". Marcos 3:17. João era orgulhoso, ambicioso e de espírito combativo; mas por sob tudo isto o divino Mestre divisou o coração ardente, sincero e amante. Jesus censurou-lhe o egoísmo, frustrou-lhe as ambições, provou-lhe a fé. Revelou-lhe, porém, aquilo por que sua alma anelava -- a beleza da santidade, Seu próprio amor transformador. Disse Ele: "Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste." João 17:6. Ed 87 2 A natureza de João anelava amor, simpatia e companhia. Ele se achegava a Jesus, sentava-se a Seu lado, recostava-se-Lhe ao peito. Assim como a flor sorve o orvalho e a luz, bebia ele da luz e vida divinas. Contemplou o Salvador em adoração e amor, até que a semelhança de Cristo e comunhão com Ele se tornaram seu único desejo, e em seu caráter se refletiu o caráter do Mestre. Ed 87 3 "Vede", disse ele, "quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo nos não conhece; porque O não conhece a Ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:1-3. Da fraqueza para a força Ed 88 1 A história de nenhum dos discípulos ilustra melhor o método de ensino de Cristo do que a de Pedro. Ousado, agressivo, confiante em si mesmo, rápido em compreender e disposto a agir, pronto para a desforra, mas generoso ao perdoar, Pedro muitas vezes errou e outras tantas foi reprovado. Nem por isso foram sua fervorosa lealdade e dedicação para com Cristo reconhecidas e elogiadas de maneira menos positiva. Pacientemente, e com a faculdade de discernir própria do amor, o Salvador tratava com Seu impetuoso discípulo, procurando reprimir-lhe a confiança própria e ensinar-lhe a humildade, obediência e confiança. Ed 88 2 Mas apenas em parte foi a lição aprendida. A segurança própria não se desarraigou. Ed 88 3 Muitas vezes Jesus, com peso no coração, procurava revelar aos discípulos as cenas de Seu julgamento e sofrimentos. Seus olhos, porém, estavam velados. Esta notícia era mal recebida, e eles não viam. A compaixão de si mesmo, que recuava diante da associação com Cristo em Seus sofrimentos, determinou a súplica de Pedro: "Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isto." Mateus 16:22. Suas palavras exprimiam o pensamento e sentir dos doze. Ed 88 4 Assim prosseguiam, enquanto a crise se aproximava; e, jactanciosos, contenciosos, distribuíam antecipadamente as honras reais, e não sonhavam com a cruz. Ed 88 5 A experiência de Pedro continha uma lição para todos eles. Para a confiança em si mesmo, a prova é a derrota. Os inevitáveis resultados do mal, ainda não abandonado, Cristo não os podia obstar. Mas assim como Sua mão se estendera para salvar, quando as ondas estavam a ponto de arrebatar a Pedro, assim o Seu amor se estendeu para o seu livramento quando as profundas águas lhe rolaram sobre a alma. Repetidas vezes, à borda da ruína, as palavras de jactância de Pedro o trouxeram mais e mais próximo da extremidade. Repetidas vezes fizera-lhe o aviso de que ele negaria conhecê-Lo. Lucas 22:34. Foi o coração angustiado e amante do discípulo que proferiu esta confissão: "Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte" (Lucas 22:33); e Aquele que lê os corações deu a Pedro a mensagem, então pouco apreciada, mas que nas trevas prestes a cair lançaria um raio de esperança: "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos." Lucas 22:31, 32. Ed 89 1 Quando no tribunal as palavras de negação foram proferidas; e quando o amor e a lealdade de Pedro, despertados pelo olhar de piedade, amor e tristeza do Salvador, o fizeram sair para o jardim onde Cristo havia chorado e orado; e quando suas lágrimas de remorso caíam sobre o solo que fora umedecido com as gotas de sangue de Sua agonia, então as palavras do Salvador -- "Roguei por ti, ... quando te converteres, confirma teus irmãos" -- foram-lhe um arrimo para a alma. Cristo, conquanto previsse o seu pecado, não o abandonara ao desespero. Ed 89 2 Se o olhar de Jesus, lançado sobre ele, houvesse expressado condenação em lugar de piedade; se ao predizer o pecado tivesse Ele deixado de falar em esperança, quão densas não teriam sido as trevas que cobririam a Pedro! Quão irreprimível o desespero daquela alma torturada! Naquela hora de angústia e de desgosto de si próprio, que poderia detê-lo de ir pelo caminho trilhado por Judas? Ed 90 1 Aquele que não poderia poupar a Seu discípulo a angústia, não o deixou só em sua amargura. Seu amor não falha nem abandona. Ed 90 2 Os seres humanos, naturalmente propensos ao mal, inclinam-se a tratar severamente com os que são tentados e erram. Não podem ler o coração, não conhecem suas lutas e dores. Necessitam aprender acerca daquela censura inspirada no amor, do golpe que fere para curar, da admoestação que traduz esperança. Ed 90 3 Não foi João, aquele que com Ele vigiou no tribunal, que esteve ao lado de Sua cruz, e que dentre os doze foi o primeiro a chegar ao túmulo -- não foi João, mas Pedro, o que pessoalmente foi mencionado na primeira mensagem enviada por Cristo aos discípulos, depois de Sua ressurreição. "Dizei a Seus discípulos e a Pedro", disse o anjo, "que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis." Marcos 16:7. Ed 90 4 Na última reunião de Cristo com os discípulos junto ao mar, Pedro, provado pela pergunta feita três vezes -- "Amas-Me" foi restabelecido em seu lugar entre os doze. Foi-lhe indicado Seu trabalho; ele devia alimentar o rebanho do Senhor. Então, como Sua última instrução pessoal, Jesus ordenou-lhe: "Segue-Me tu." João 21:17, 22. Ed 90 5 Agora ele podia apreciar essas palavras. A lição que Cristo dera, quando pôs uma criancinha no meio dos discípulos, e lhes ordenou que se tornassem semelhantes a ela, Pedro podia compreender melhor. Conhecendo mais completamente não só a sua própria fraqueza como o poder de Cristo, estava pronto para confiar e obedecer. Em Sua força poderia seguir o Mestre. Ed 90 6 E ao findar sua experiência de trabalho e sacrifício, o discípulo que fora tão tardio para divisar a cruz, considerava como uma alegria render sua vida pelo evangelho, compreendendo tão-somente que, para ele, que havia negado ao Senhor, morrer da mesma maneira que seu Mestre era uma honra demasiado grande. Ed 91 1 A transformação de Pedro, foi um milagre da ternura divina. É uma lição, para a vida toda, àqueles que procuram seguir as pegadas do Mestre dos mestres. Uma lição de amor Ed 91 2 Jesus reprovava Seus discípulos, admoestava-os e avisava-os; mas João e Pedro, e seus irmãos, não O deixaram. Apesar das exprobrações, preferiram estar com Jesus. E o Salvador, nem por causa de seus erros Se afastou deles. Ele recebe os homens tais como são, com todas as suas faltas e fraquezas, e prepara-os para o Seu serviço, se desejarem ser discípulos e ensinados por Ele. Ed 91 3 Havia, porém, um dentre os doze, a quem Cristo não dirigiu palavra alguma de reprovação direta, até muito próximo do final de Sua obra. Ed 91 4 Com Judas um elemento de antagonismo se introduzira entre os discípulos. Ligando-se a Jesus, havia ele atendido à atração de Seu caráter e vida. Havia sinceramente desejado uma mudança em si, e contara experimentar esta perfeita união com Cristo. Mas este desejo não se tornou predominante. Aquilo que o dirigia era a esperança de benefício próprio no reino mundano que esperava Cristo estabelecesse. Posto que reconhecesse o poder do amor divino de Cristo, Judas não se rendeu à sua supremacia. Continuou a alimentar seus próprios juízos e opiniões, sua disposição para criticar e condenar. Os motivos e ações de Cristo, muitas vezes tão acima de seu entendimento, excitavam dúvida e desaprovação; e suas próprias contestações e cobiça insinuavam-se nos discípulos. Muitas de suas contendas pela supremacia, e muito de seu descontentamento pelos métodos de Cristo, originavam-se com Judas. Ed 92 1 Jesus, vendo que mostrar-se antagônico dava como resultado endurecer-se o coração, abstinha-Se de conflito direto. A estreiteza egoísta da vida de Judas, Cristo procurou curar pelo contato com Seu próprio amor abnegado. Em Seus ensinos desdobrava princípios que feriam pela raiz as ambições egoístas do discípulo. Dava assim lições após lições, e muitas vezes Judas compreendeu que seu caráter fora retratado, e indicado seu pecado; mas não quis ceder. Ed 92 2 Resistindo aos esforços da misericórdia, o impulso do mal adquiriu finalmente o domínio. Judas, irado pela devida reprovação, e desesperado pela decepção que tivera com seus sonhos de ambição, entregou o coração ao demônio da avidez, e decidiu a traição de seu Mestre. Da sala da Páscoa; da alegria da presença de Cristo, e da luz da esperança imortal, saiu ele para a sua nefanda obra -- nas trevas exteriores, onde não havia esperança. Ed 92 3 "Bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que O havia de entregar." João 6:24. Contudo, sabendo todas estas coisas, não retivera Seus esforços misericordiosos ou ações de amor. Ed 92 4 Vendo o perigo de Judas, trouxera-o para junto de Si, naquele grupo mais íntimo de Seus discípulos escolhidos e em quem confiava. Dia após dia, quando o fardo jazia pesadamente sobre Seu coração, suportara a dor do contínuo contato com aquele espírito obstinado, desconfiado e entregue a maus pensamentos; Ele havia testemunhado esse espírito e trabalhara para combater entre Seus discípulos aquele antagonismo contínuo, secreto e sutil. E tudo isto fizera para que nenhuma influência salvadora possível faltasse àquela alma em perigo! Ed 93 1 "As muitas águas não poderiam apagar este amor, Nem os rios afogá-lo." "O amor é forte como a morte." Cantares 8:7, 6. Ed 93 2 Tanto quanto diz respeito ao próprio Judas, a obra de amor, efetuada por Cristo, tinha sido sem proveito. Não assim, porém, no que se refere a seus condiscípulos. Para eles foi uma lição de influência para a vida toda. Para sempre Seus exemplos de ternura e longanimidade lhes moldariam as relações com os que são tentados e que erram. E continha outras lições. Na ordenação dos doze, haviam desejado grandemente que Judas fosse um de seu número; e tinham contado com seu ingresso como um fato muito prometedor ao grupo apostólico. Ele tinha estado mais em contato com o mundo do que eles; era um homem de boas maneiras, de discernimento e habilidade para dirigir e, fazendo uma alta apreciação de suas próprias qualidades, levara os discípulos a terem-no na mesma conta. Mas os métodos que ele desejava introduzir na obra de Cristo baseavam-se em princípios mundanos e eram dirigidos por mundanos expedientes. Esperavam adquirir o reconhecimento e honra mundanos pela obtenção do reino deste mundo. A atuação destes desejos na vida de Judas, auxiliou os discípulos a compreenderem o antagonismo entre o princípio do engrandecimento próprio e o da humildade e abnegação de Cristo -- princípio este do reino espiritual. No destino de Judas viram eles o fim a que propende o servir a si próprio. Ed 93 3 Para com estes discípulos a missão de Cristo finalmente cumpriu seu objetivo. Pouco a pouco Seu exemplo e lições de abnegação lhes modelaram o caráter. Sua morte lhes destruiu a esperança de grandeza mundana. A queda de Pedro, a apostasia de Judas, e a própria falta deles ao abandonarem a Cristo em Sua angústia e perigo, acabou com sua presunção. Viram a sua própria fraqueza; viram algo da grandeza da obra a eles confiada; sentiram a necessidade de serem guiados a cada passo por seu Mestre. Ed 94 1 Souberam que Sua presença pessoal não mais seria com eles, e reconheceram como nunca dantes o valor das oportunidades que tinham tido de andar e falar com o Enviado de Deus. Não haviam apreciado ou compreendido muitas das Suas lições, quando foram dadas; agora desejavam lembrá-las e de novo ouvir Suas palavras. Com que alegria relembravam Sua afirmação: Ed 94 2 "Convém que Eu vá; porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas se Eu for, enviar-vo-Lo-ei." "Tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer." E o "Consolador, ... que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito". João 16:7; 15:15; 14:26. Ed 94 3 "Tudo quanto o Pai tem é Meu." "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade. ... Há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar." João 16:15, 13, 14. Ed 94 4 Os discípulos tinham visto a Cristo ascender dentre eles no Monte das Oliveiras. E quando os Céus O receberam, veio-lhes a promessa feita à Sua partida: "Eis que Eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Ed 95 1 Sabiam ser ainda objeto de Suas simpatias. Sabiam que tinham um representante, um advogado, no trono de Deus. Em nome de Jesus apresentavam as petições, repetindo Sua promessa: "Tudo quanto pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo há de dar." João 16:23. Ed 95 2 Mais e mais alto estendiam eles a mão da fé, com o poderoso argumento: "É Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Romanos 8:34. Ed 95 3 Fiel à Sua promessa, o Divino Ser, exaltado nas cortes celestiais, comunicava de Sua plenitude aos Seus seguidores na Terra. Sua entronização à destra de Deus assinalou-se pelo derramamento do Espírito Santo sobre Seus discípulos. Ed 95 4 Pela obra de Cristo estes discípulos foram levados a sentir sua necessidade do Espírito; pelo ensino do Espírito, receberam seu preparo final, e saíram para a obra de sua vida. Ed 95 5 Não mais eram eles ignorantes e sem cultura. Não mais eram um grupo de unidades independentes ou de elementos discordantes e em conflito. Não mais depositavam as esperanças em grandezas mundanas. Eram unânimes, e de um mesmo espírito e alma. Cristo lhes enchia os pensamentos. O avançamento de Seu reino era o objetivo deles. Em espírito e caráter tinham-se tornado semelhantes a seu Mestre; e os homens "tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus". Atos dos Apóstolos 4:13. Ed 95 6 Houve então uma revelação da glória de Cristo, como jamais fora testemunhada pelos mortais. Multidões que Lhe haviam aviltado o nome e desprezado o poder, confessavam-se discípulos do Crucificado. Pela cooperação do Espírito divino, os trabalhos daqueles humildes homens que Cristo havia escolhido, abalaram o mundo. A toda nação, sob o céu, foi levado o evangelho, em uma só geração. Ed 96 1 O mesmo Espírito que em Seu lugar foi enviado para ser o instrutor de Seus primeiros coobreiros, Cristo comissionou para ser o instrutor de Seus coobreiros hoje. "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20), é Sua promessa. Ed 96 2 A presença do mesmo Guia na obra educativa hoje, produzirá os mesmos resultados que antigamente. Tal é o fim a que propende a verdadeira educação; tal é a obra que Deus deseja ela cumpra. Ensino da natureza Ed 96 3 "Considera as maravilhas... dAquele que é perfeito nos conhecimentos." ------------------------Capítulo 10 -- Deus na natureza Ed 99 0 "A Sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do Seu louvor." Ed 99 1 Em todas as coisas criadas vêem-se os sinais da Divindade. A Natureza testifica de Deus. A mente sensível, levada em contato com o milagre e mistério do Universo, não poderá deixar de reconhecer a operação do poder infinito. Não é pela sua própria energia inerente que a Terra produz suas dádivas, e ano após ano continua seu movimento em redor do Sol. Uma mão invisível guia os planetas em seu giro pelos céus. Uma vida misteriosa invade toda a Natureza -- vida que sustenta os inumeráveis mundos através da imensidade toda. Encontra-se ela no ser microscópico que flutua na brisa do verão; é ela que dirige o vôo das andorinhas, e alimenta as pipilantes avezinhas de rapina; é ela que faz com que os botões floresçam, e as flores frutifiquem. Ed 99 2 O mesmo poder que mantém a Natureza, opera também no homem. As mesmas grandes leis que guiam tanto a estrela como o átomo, dirigem a vida humana. As leis que presidem à ação do coração, regulando o fluxo da corrente da vida no corpo, são as leis da Inteligência todo-poderosa, as quais presidem às funções da alma. DEle procede toda a vida. Unicamente em harmonia com Ele poderá ser achada a verdadeira esfera daquelas funções. Para todas as coisas de Sua criação, a condição é a mesma: uma vida que se mantém pela recepção da vida de Deus, uma vida exercida de acordo com a vontade do Criador. Transgredir Sua lei, física, mental ou moral, corresponde a colocar-se o transgressor fora da harmonia do Universo, ou introduzir discórdia, anarquia e ruína. Ed 100 1 Para aquele que assim aprende a interpretar seus ensinos, toda a Natureza se ilumina; o mundo é um compêndio, e a vida uma escola. A unidade do homem com a Natureza e com Deus, o domínio universal da lei, os resultados da transgressão, não podem deixar de impressionar o espírito e moldar o caráter. Ed 100 2 Essas lições, nossos filhos necessitam aprender. Para a criancinha, ainda incapaz de aprender pela página impressa, ou tomar parte nos trabalhos de uma sala de aulas, a Natureza apresenta uma fonte infalível de instrução e deleite. O coração que ainda não se acha endurecido pelo contato com o mal, está pronto a reconhecer aquela Presença que penetra todas as coisas criadas. O ouvido, ainda não ensurdecido pelo clamor do mundo, está atento à Voz que fala pelas manifestações da Natureza. E para os mais velhos, que necessitam continuamente desta silenciosa lembrança das coisas espirituais e eternas, as lições tiradas da Natureza não serão uma fonte inferior de prazer e instrução. Como os moradores do Éden aprendiam nas páginas da Natureza, como Moisés discernia os traços da escrita de Deus nas planícies e montanhas da Arábia, e o menino Jesus nas colinas de Nazaré, assim poderão os filhos de hoje aprender acerca dEle. O invisível acha-se ilustrado pelo visível. Sobre todas as coisas na Terra, desde a árvore mais altaneira da floresta até ao líquen que se apega ao rochedo, desde o oceano ilimitado até a mais tênue concha na praia, poderão eles contemplar a imagem e inscrição de Deus. Ed 100 3 Tanto quanto possível, seja a criança, desde os mais tenros anos, colocada onde este maravilhoso compêndio possa abrir-se diante dela. Que possa ela contemplar as cenas gloriosas desenhadas pelo Artista-mestre sobre a tela mutável dos Céus; que se familiarize com as maravilhas da terra e do mar; que observe os mistérios que se vão revelando nas estações em contínua sucessão, e em todas as Suas obras aprenda acerca do Criador. Ed 101 1 De nenhuma outra maneira poderá o fundamento de uma verdadeira educação ser lançado tão firmemente, tão seguramente. Todavia, a própria criança, quando em contato com a Natureza, terá motivos para perplexidade. Não poderá deixar de reconhecer a operação de forças antagônicas. Aqui é que a Natureza necessita de um intérprete. Olhando para o mal, manifesto mesmo no mundo natural, todos têm a mesma triste lição a aprender: "Um inimigo é quem fez isso." Mateus 13:28. Ed 101 2 Apenas à luz que resplandece do Calvário, pode o ensino da Natureza ser aprendido corretamente. Por meio da história de Belém e da cruz mostre-se quão bom é vencer o mal, e como cada bênção que nos vem é um dom da redenção. Ed 101 3 Na sarça e no espinho, nos cardos e no joio, acha-se representado o mal que macula e deslustra. No pássaro canoro e na florescência, na chuva e no raio de sol, na brisa e no orvalho brando, em miríades de coisas na Natureza, desde o carvalho da floresta até à violeta que floresce à sua raiz, vê-se o amor que restaura. A Natureza ainda nos fala da bondade de Deus. Ed 101 4 "Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal." Jeremias 29:11. Esta é a mensagem que, sob a luz da cruz, se pode ler em toda a face da Natureza. Os céus declaram Sua glória e a terra está cheia de Suas riquezas. ------------------------Capítulo 11 -- Lições de vida Ed 102 0 "Fala com a terra, e ela to ensinará." Ed 102 1 O grande Ensinador levou Seus ouvintes em contato com a Natureza, para que pudessem ouvir a voz que fala em todas as coisas criadas; e, abrandando-se-lhes o coração e tornando-se-lhes impressionável a mente, auxiliava-os a interpretar o ensino espiritual das cenas sobre as quais repousavam seus olhos. As parábolas, por meio das quais gostava de ensinar lições de verdade, mostram quão aberto era o Seu espírito às influências da Natureza, e como Ele Se deleitava em coligir do ambiente da vida diária ensinos espirituais. Ed 102 2 Os pássaros no ar, os lírios do campo, o semeador e a semente, o pastor e as ovelhas -- eis com que Cristo ilustrou verdades imortais. Ele tirou também ilustrações dos acontecimentos da vida, e fatos da experiência particular aos ouvintes: o fermento, o tesouro escondido, a pérola, a rede de pescar, a moeda perdida, o filho pródigo, a casa sobre a rocha e sobre a areia. Em Seus ensinos havia algo para interessar a todo espírito, para apelar a todo coração. Assim, a lida diária, em vez de ser mera rotina de labutas, despojada de pensamentos elevados, iluminava-se e erguia-se pelas constantes lembranças de coisas espirituais e invisíveis. Ed 102 3 Dessa maneira devemos ensinar. Que aprendam as crianças a ver em a Natureza uma expressão do amor e da sabedoria de Deus; que o pensamento a respeito dEle se entrelace com pássaros, flores e árvores; que todas as coisas visíveis se tornem para elas os intérpretes do invisível, e todos os acontecimentos da vida sejam os meios para o ensino divino. Ed 103 1 Aprendendo elas assim as lições que há em todas as coisas criadas, e em todas as experiências da vida, mostrai que as mesmas leis que dirigem as coisas na Natureza e os fatos da vida são as que nos governam; que foram dadas para o nosso bem, e que unicamente na obediência às mesmas podemos encontrar a verdadeira felicidade e êxito. A lei do serviço Ed 103 2 Todas as coisas, tanto no Céu como na Terra, declaram que a grande lei da vida é a lei do serviço em prol de outrem. O Pai infinito atende à vida de todo ser vivente. Cristo veio à Terra "como Aquele que serve". Lucas 22:27. Os anjos são "espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação". Hebreus 1:14. A mesma lei do serviço está escrita sobre todas as coisas na Natureza. Os pássaros do ar, as bestas do campo, as árvores da floresta, as folhas, as flores, o Sol no céu e as estrelas luzentes, tudo tem seu mistério. O lago e o oceano, o rio e as fontes, cada um tira para dar. Ed 103 3 À medida que todas as coisas assim contribuem para a vida do mundo, também garantem a sua própria. "Dai, e ser-vos-á dado" (Lucas 6:38) -- é a lição não menos seguramente escrita na Natureza do que nas páginas das Escrituras Sagradas. Ed 103 4 Assim como os vales e planícies abrem passagem às correntes das montanhas para atingirem o mar, aquilo que eles proporcionam é restituído centuplicadamente. A corrente que segue murmurando pelo seu caminho, deixa atrás de si seus dons de beleza e frutificação. Através dos campos, despidos e queimados sob o calor do verão, uma linha de verdura assinala o curso do rio; cada bela árvore, cada botão, cada flor, constitui uma testemunha das recompensas que a graça de Deus decreta a todos os que se tornam seus condutores ao mundo. Semeando com fé Ed 104 1 Dentre as lições quase inumeráveis ensinadas pelos vários processos do crescimento, algumas das mais preciosas são apresentadas na parábola do Salvador, sobre a semente. Contém lições para velhos e moços. Ed 104 2 "O reino de Deus é assim como se um homem lanças-se semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga." Marcos 4:26-28. Ed 104 3 A semente tem em si mesma um princípio germinativo, princípio este que o próprio Deus implantou; entretanto, abandonada a si mesma, ela não teria poder para germinar. O homem tem sua parte a desempenhar no produzir o crescimento da semente; mas há um ponto além do qual ele nada pode fazer. Deve confiar em Alguém que uniu a sementeira e a ceifa por laços maravilhosos de Seu próprio poder onipotente. Ed 104 4 Há vida na semente, há poder no solo; mas, a menos que o poder infinito se exerça dia e noite, a semente nada nos devolverá. As chuvas devem refrescar os campos sedentos; o Sol deve comunicar calor; a eletricidade deve ser levada à semente sepultada. A vida que o Criador implantou, somente Ele a pode despertar. Cada semente brota, cada planta se desenvolve pelo poder de Deus. Ed 104 5 "A semente é a Palavra de Deus." "Como a terra produz os seus renovos, e como o horto faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor." Lucas 8:11; Isaías 61:11. Semelhantemente às coisas naturais, dá-se com a semeadura das coisas espirituais; provém de Deus o poder que, só, é capaz de produzir a vida. Ed 105 1 Trabalho de fé é o do semeador. O mistério da germinação e crescimento da semente ele não pode compreender; mas tem confiança nos poderes pelos quais Deus faz com que a vegetação floresça. Lança a semente, esperando recuperá-la multiplicadamente em uma abundante messe. Assim devem os pais e professores trabalhar, na expectativa de uma ceifa da semente que semeiam. Ed 105 2 Durante algum tempo a boa semente pode permanecer sem ser notada no coração, não oferecendo evidência alguma de que haja criado raízes; mas depois, sendo a alma bafejada pelo Espírito de Deus, a semente oculta brota, e finalmente produz fruto. No trabalho de nossa vida não sabemos o que prosperará, se isto ou aquilo. Não nos toca a nós decidir esta questão. "Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão." Eclesiastes 11:6. O grande concerto de Deus declara que "enquanto a terra durar, sementeira e sega, ... não cessarão". Gênesis 8:22. Na confiança desta promessa o agricultor lavra e semeia. Não menos confiantemente devemos nós, na semeadura espiritual, trabalhar, esperando em Sua afirmação: "Assim será a palavra que sair da Minha boca; ela não voltará para Mim vazia, antes fará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei." "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo seus molhos." Isaías 55:11; Salmos 126:6. Ed 105 3 A germinação da semente representa o começo da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma figura do desenvolvimento do caráter. Não pode haver vida sem crescimento. A planta ou deve crescer ou morrer. Assim como o seu crescimento é silencioso e imperceptível, mas contínuo, assim é o crescimento do caráter. Nossa vida pode ser perfeita em cada estágio de seu desenvolvimento; contudo, se o propósito de Deus para conosco se cumpre, haverá constante progresso. Ed 106 1 A planta cresce, recebendo aquilo que Deus proveu para o sustento de sua vida. Da mesma forma o crescimento espiritual é alcançado pela cooperação do poder divino. Assim como a planta cria raízes no solo, devemos nós criar raízes em Cristo. Assim como a planta recebe a luz solar, o orvalho e a chuva, devemos nós receber o Espírito Santo. Se nosso coração permanecer em Cristo, Ele virá para nós "como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra". Como o Sol da Justiça, Ele surgirá sobre nós com salvação "debaixo de Suas asas". Cresceremos "como o lírio". Seremos "vivificados como o trigo", e cresceremos "como a vide". Oséias 6:3; Malaquias 4:2; Oséias 14:5, 7. Ed 106 2 O trigo desenvolve-se, "primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. O objetivo do lavrador ao semear a semente e cultivar a planta, é a produção do grão -- pão para o faminto e semente para as futuras ceifas. Semelhantemente o Lavrador divino espera a colheita. Ele procura reproduzir-Se no coração e vida de Seus seguidores, para que por meio destes possa reproduzir-Se em outros corações e vidas. Ed 106 3 O desenvolvimento gradual das plantas desde a semente, é uma lição objetiva na educação das crianças. Há "primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. Aquele que deu esta parábola, criou a minúscula semente, deu-lhe propriedades vitais e determinou as leis que governam seu desenvolvimento. E as verdades ensinadas pela parábola foram uma realidade em Sua própria vida. Ele, a Majestade dos Céus, o Rei da glória, tornou-Se um recém-nascido em Belém, e por algum tempo representou a indefesa criancinha sob os cuidados da mãe. Na infância falou e agiu como criança, honrando Seus pais, satisfazendo-lhes os desejos de modo a ajudá-los. Desde o raiar de Sua inteligência, porém, esteve Ele constantemente a crescer em graça e conhecimento da verdade. Ed 107 1 Pais e professores devem ter por fim cultivar as tendências da juventude, de tal maneira que em cada estágio da vida possa representar a beleza apropriada àquele período, a desdobrar-se naturalmente, como fazem as plantas no jardim. Ed 107 2 Os pequeninos devem ser educados com uma simplicidade infantil. Devem ser ensinados a estar contentes com os pequenos e úteis deveres e com os prazeres e experiências próprias de sua idade. As crianças correspondem à erva da parábola, e a erva tem uma beleza toda peculiar. As crianças não devem ser forçadas a uma maturidade precoce, mas tanto quanto possível devem reter viço e graça de seus tenros anos. Quanto mais calma e simples a vida da criança, isto é, mais livre de excitações artificiais e mais de acordo com a Natureza, mais favorável é para o vigor físico e mental e para a força espiritual. Ed 107 3 No milagre do Salvador ao alimentar cinco mil pessoas ilustra-se a operação do poder de Deus na produção da messe. Jesus afasta o véu do mundo natural e revela a energia criadora que constantemente se exerce para o nosso bem. Multiplicando a semente lançada ao solo, Aquele que multiplicou os pães Se acha todos os dias operando um milagre. É por meio de um milagre que Ele alimenta constantemente a milhões pelos campos amadurecidos para a ceifa, que se encontram na Terra. Os homens são convocados a cooperar com Ele no cuidado das sementes e preparo do pão, e por causa disto perdem de vista o poder divino. A operação de Seu poder é atribuída a causas naturais ou à instrumentalidade humana, e muitíssimas vezes Seus dons são pervertidos para fins egoístas, tornando-se maldição em vez de bênção. Deus procura mudar tudo isto. Deseja que nossos sentidos embotados se avivem para discernirmos Sua benévola misericórdia, a fim de que Seus dons nos sejam a bênção a que Ele os destinou. Ed 108 1 É a palavra de Deus, comunicação de Sua vida, o que dá vida à semente; e daquela vida nos tornamos participantes, comendo o grão. Deus deseja que possamos discernir isto; deseja que mesmo ao recebermos nosso pão cotidiano, possamos reconhecer Seu poder, e sejamos levados a uma associação mais íntima com Ele. Ed 108 2 Em virtude das leis de Deus em a Natureza, os efeitos seguem as causas com certeza invariável. A colheita testifica da semeadura. Nisto não se admitem simulações. Os homens podem enganar seus semelhantes, e receber louvor e recompensa pelos serviços que não prestaram. Mas quanto à Natureza não poderá haver engano. Contra o lavrador infiel a ceifa profere sentença condenatória. E no mais alto sentido isto é verdade também no mundo espiritual. É na aparência e não na realidade que o mal é bem-sucedido. O menino vadio que foge da escola, o jovem preguiçoso em seus estudos, o balconista ou aprendiz que deixa de servir aos interesses de seu patrão, o homem que em qualquer negócio ou profissão é infiel para com as suas mais altas responsabilidades, pode lisonjear-se de que esteja a adquirir vantagens enquanto o mal estiver oculto. De fato, nada ganha com isto, antes se está defraudando a si próprio. A ceifa da vida é o caráter, e é este que determina o destino tanto para esta como para a vida futura. Ed 109 1 A ceifa é uma reprodução das sementes semeadas. Cada semente produz fruto "segundo a sua espécie". Assim é com os traços de caráter que acariciamos. Egoísmo, amor-próprio, presunção, condescendência própria, reproduzem-se, e o fim é miséria e ruína. "O que semeia na carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna." Gálatas 6:8. Amor, simpatia, bondade, produzem frutos de bênçãos, colheita esta que é imperecível. Ed 109 2 Na colheita, a semente é multiplicada. Um simples grão de trigo, multiplicado por semeaduras repetidas, cobriria um país inteiro com molhos dourados. Tão dilatada poderá ser a influência de uma simples vida, ou mesmo de um simples ato. Ed 109 3 Quantas ações de amor, através dos longos séculos, têm resultado da memória daquele vaso de alabastro quebrado para a unção de Cristo! Quão inumeráveis dádivas têm trazido para a causa do Salvador aquela contribuição feita por uma pobre viúva desconhecida, contribuição de "duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante"! Marcos 12:42. Vida pela morte Ed 109 4 A lição da semeadura ensina a liberalidade. "O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará." 2 Coríntios 9:6. Ed 109 5 Diz o Senhor: "Bem-aventurados vós os que semeais sobre todas as águas." Isaías 32:20. Semear sobre todas as águas significa dar onde quer que nosso auxílio seja necessário. Isto não levará à pobreza. "O que semeia em abundância, em abundância também ceifará." O semeador multiplica suas sementes, lançando-as. Assim, aumentamos nossas bênçãos, comunicando-as. A promessa de Deus garante a necessária suficiência para que possamos continuar a dar. Ed 110 1 Mais do que isto: quando comunicamos as bênçãos desta vida, a gratidão dos que as recebem prepara-lhes o coração para receberem verdades espirituais, e produz-se uma ceifa para a vida eterna. Ed 110 2 Pelo lançamento da semente ao solo, o Salvador representa Seu sacrifício por nós. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer", disse Ele, "fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto." João 12:24. Unicamente pelo sacrifício de Cristo -- a Semente -- poderia produzir-se fruto para o reino de Deus. De acordo com a lei do reino vegetal, a vida é o resultado de Sua morte. Ed 110 3 Assim é com todos os que produzem frutos como coobreiros de Cristo: o amor e interesse próprios devem perecer, a vida deve ser lançada nos sulcos da necessidade do mundo. A lei do sacrifício próprio é a lei da preservação de si mesmo. O lavrador conserva o seu grão lançando-o fora, por assim dizer. Semelhantemente, a vida que se dá livremente ao serviço de Deus e do homem, é a que será preservada. Ed 110 4 A semente morre para expandir-se em nova vida. Nisto se nos ensina a lição de ressurreição. De corpo humano deposto na sepultura para se desfazer, diz Deus: "Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor". 1 Coríntios 15:42, 43. Ed 111 1 Procurando os pais e professores ensinar estas lições, este trabalho deve tornar-se prático. Que as próprias crianças preparem o terreno e semeiem a semente. Enquanto trabalham, o pai ou o professor pode explicar o jardim do coração, com a boa ou má semente ali semeada, e mostrar que, como o jardim deve ser preparado para a semente natural, assim deve o coração ser preparado para a semente da verdade. Ao ser a semente lançada no solo, poderão ensinar a lição da morte de Cristo; e ao surgir a erva, a verdade da ressurreição. Crescendo a planta, continuar-se-á a fazer a correspondência entre a semeadura natural e a espiritual. Ed 111 2 De maneira semelhante devem ser instruídos os jovens. Do cultivo do solo, podem-se aprender constantemente lições. Ninguém se estabelece em um trecho de terra inculta com a expectativa de que de pronto ela forneça uma colheita. Deve-se empregar no preparo do solo um trabalho diligente, perseverante, bem como na semeadura e cultura da plantação. Semelhantemente deverá ser na semeadura espiritual. O jardim do coração deve ser cultivado. O terreno deve ser lavrado pelo arrependimento. As plantas daninhas que abafam o bom grão, devem ser desarraigadas. Assim como o solo de que se apoderaram os espinhos só se pode readquirir mediante trabalho diligente, assim as más tendências do coração só se podem vencer por um esforço decidido em nome e no poder de Cristo. Ed 111 3 No cultivo do solo o obreiro ponderado descobrirá que se apresentam diante dele tesouros de que pouco suspeitava. Ninguém poderá ser bem-sucedido na agricultura ou na jardinagem, sem a devida atenção às leis envolvidas nestes trabalhos. Devem ser estudadas as necessidades especiais de cada variedade de planta. Variedades diferentes requerem solo e cultura diferentes; e conformidade com as leis que regem cada uma dessas variedades é a condição para o êxito. A atenção exigida na transplantação, para que nem mesmo uma radícula fique comprimida ou mal colocada; o cuidado das plantinhas, a poda e a rega, o abrigo da geada à noite, e do sol ao dia; a remoção das plantas daninhas, das doenças, e pragas de insetos; a disposição geral -- todo esse trabalho não somente ensina lições importantes relativas ao desenvolvimento do caráter, mas é em si mesmo um meio para aquele desenvolvimento. O cultivo da cautela, paciência, atenção aos detalhes, obediência às leis, transmite um ensino muitíssimo essencial. O contato constante com o mistério da vida e o encanto da Natureza, bem como a ternura suscitada com o servir a estas belas coisas da criação de Deus, propendem a despertar o espírito, purificar e elevar o caráter; e as lições ensinadas preparam o obreiro para tratar com mais êxito com outras mentes. ------------------------Capítulo 12 -- Outras lições objetivas Ed 113 0 "Quem é sábio observe estas coisas, e considere atentamente as benignidades do Senhor." Ed 113 1 O poder restaurador de Deus encontra-se por toda a Natureza. Se uma árvore é cortada, se um ser humano se fere ou fratura um osso, imediatamente a Natureza começa a reparar o dano. Mesmo antes que exista a necessidade, os agentes de cura se encontram de prontidão; e logo que uma parte se acha ferida, toda a energia se aplica ao trabalho da restauração. Assim é no domínio das coisas espirituais. Antes que o pecado criasse a necessidade, Deus providenciara o remédio. Cada alma que cede à tentação, torna-se ferida, magoada pelo adversário; mas onde quer que haja pecado, há um Salvador. É a obra de Cristo "curar os quebrantados de coração", "apregoar liberdade aos cativos, ... pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18. Ed 113 2 Devemos cooperar nesta obra. "Se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, ... encaminhai o tal." Gálatas 6:1. A palavra aqui traduzida "encaminhar" significa colocar no lugar, como se faz com um osso deslocado. Quão sugestiva é esta figura! Aquele que cai em erro ou pecado, coloca-se fora do lugar em relação a tudo que o cerca. Pode compenetrar-se de seu erro, e encher-se de remorso; mas não pode restabelecer-se a si mesmo. Está em confusão e perplexidade, vencido e desamparado. Deverá ser reclamado, curado e restabelecido. "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal." Unicamente o amor que emana do coração de Cristo, pode curar. Unicamente Aquele, em quem flui aquele amor, assim como faz a seiva na árvore e o sangue no corpo, poderá restaurar a alma ferida. Ed 114 1 O poder do amor possui força maravilhosa, porquanto é divino. A resposta branda "desvia o furor", a caridade é "sofredora, é benigna"; a caridade "cobre uma multidão de pecados" (Provérbios 15:1; 1 Coríntios 13:4; 1 Pedro 4:8) -- sim, se aprendêssemos nestas lições, quão grande não seria o poder para curar de que seríamos dotados! Como se transformaria a vida, e a Terra se tornaria a própria semelhança e antegozo do Céu! Ed 114 2 Estas preciosas lições podem ser tão singelamente ensinadas que sejam compreendidas mesmo pelas criancinhas. O coração da criança é terno e facilmente impressionável; e, se nós, os que somos mais idosos nos tornamos "como meninos" (Mateus 18:3), e se aprendemos a simplicidade, mansidão e o terno amor do Salvador, não encontramos dificuldades em tocar o coração dos pequenos, e ensinar-lhes o restaurador ministério do amor. Ed 114 3 A perfeição existe tanto nas menores como nas maiores obras de Deus. A mão que sustém os mundos no espaço, é a que modela as flores do campo. Examinai ao microscópio as menores e mais comuns das flores que ficam ao lado do caminho, e notai em todas as suas partes delicada beleza e perfeição. Da mesma maneira a verdadeira excelência pode ser encontrada na menor faina. As tarefas mais comuns, exercidas com amorosa fidelidade, são belas à vista de Deus. Uma atenção conscienciosa para com as pequenas coisas fará de nós coobreiros Seus e conquistar-nos-á a aprovação dAquele que tudo vê e sabe. Ed 115 1 O arco-íris, estendendo pelo céu a sua luz, é um sinal do "concerto eterno entre Deus e toda a alma vivente". Gênesis 9:16. E o arco-íris, em redor do trono nos Céus, é também para os filhos de Deus um sinal de Seu concerto de paz. Ed 115 2 Assim como o arco nas nuvens resulta da união da luz solar e da chuva, o arco acima do trono de Deus representa a união de Sua misericórdia e justiça. Deus diz à alma pecadora, mas arrependida: Vive; "já achei resgate". Jó 33:24. Ed 115 3 "Jurei que as águas de Noé não inundariam mais a Terra; assim jurei que não Me irarei mais contra ti, nem te repreenderei. Porque as montanhas se desviarão e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti." Isaías 54:9, 10. A mensagem das estrelas Ed 115 4 As estrelas também têm uma mensagem de bom ânimo para cada ser humano. Naquelas horas que sobrevêm a todos, nas quais desfalece o coração, e a tentação nos oprime rudemente; nas quais os obstáculos parecem insuperáveis, impossíveis de consecução os objetivos da vida, e suas lisonjeiras promessas semelhantes às maçãs de Sodoma, onde, então, se poderá encontrar ânimo e firmeza como naquela lição que Deus nos ordena aprender das estrelas em seu curso imperturbável? Ed 115 5 "Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas, quem produz por conta o seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza de Seu poder, nenhuma faltará. Por que pois dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra nem Se cansa nem Se fatiga? não há esquadrinhação do Seu entendimento. Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor." "Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." "Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, que Eu te ajudo." Isaías 40:26-29; 41:10, 13. Ed 116 1 A palmeira, batida pelo sol causticante e pela terrível tempestade de areia, permanece verde, florescente e frutífera no meio do deserto. Suas raízes são alimentadas por fontes vivas. Sua verde coroa é avistada ao longe sobre a planície ressequida e desolada; e o viajante, pronto a morrer, força os passos vacilantes para a sombra fresca e a vivificante água. Ed 116 2 A árvore do deserto é um símbolo daquilo que é intento de Deus seja neste mundo a vida de Seus filhos. Devem guiar às fontes vivas as almas sedentas, cheias de inquietação e prontas a perecer no deserto do pecado. Devem mostrar a seus semelhantes Aquele que faz o convite: "Se alguém tem sede, venha a Mim e beba." João 7:37. O vasto e profundo rio, que oferece caminho ao tráfego e viagens dos povos, é tido na conta de um benefício ao mundo inteiro; mas que dizer dos regatozinhos que auxiliam a formar aquele nobre rio? Se não fossem eles, o rio desapareceria. A sua própria existência depende deles. Semelhantemente, homens há que, chamados a dirigir alguma grande obra, são honrados Ed 116 3 como se o êxito fosse devido a eles, tão-somente; mas esse êxito exigiu a fiel cooperação de quase inumeráveis obreiros mais humildes, obreiros de quem o mundo nada conhece. Trabalhos que não recebem louvores ou reconhecimento de outrem, são a sorte que toca à maior parte dos que mourejam no mundo. E muitos se enchem de descontentamento com tal sorte. Têm a impressão de que sua vida não é aproveitada. Mas o regatozinho que segue silenciosamente através de bosques e prados, levando saúde, fertilidade e beleza, é tão útil em sua marcha como o grande rio. Contribuindo para a vida do rio, auxilia-o a conseguir aquilo que, só, jamais poderia ter conseguido. Ed 117 1 Desta lição muitos necessitam. O talento é por demais idolatrado, e cobiçadas excessivamente as posições. Muitos há que nada fazem a menos que sejam reconhecidos como dirigentes; muitos são os que, não recebendo louvores, não têm interesse no trabalho. O que precisamos aprender é fidelidade em fazer o maior uso das faculdades e oportunidades que temos, e ter contentamento na parte que o Céu nos designou. Lições de confiança Ed 117 2 "Pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves do céu, e elas to farão saber; ... até os peixes do mar to contarão." "Vai ter com a formiga, ... olha para os seus caminhos." "Olhai para as aves." "Considerai os corvos." Jó 12:7, 8; Provérbios 6:6; Mateus 6:26; Lucas 12:24. Ed 117 3 Não devemos meramente falar às crianças a respeito dessas criaturas de Deus. Os próprios animais devem ser seus professores. As formigas nos ensinam lições de paciente operosidade, perseverança em superar obstáculos, providência para o futuro. E os pássaros são ensinadores da suave lição da confiança. Nosso Pai celestial lhes provê alimento; mas devem eles recolhê-lo, construir o ninho e criar a prole. A cada instante se acham expostos a inimigos que procuram destruí-los. Entretanto, quão animosamente prosseguem com seu trabalho! quão repletos de alegria são os seus pequenos hinos! Ed 118 1 Quão bela é a descrição que o salmista faz do cuidado de Deus pelas criaturas dos bosques: Ed 118 2 "Os altos montes são um refúgio para as cabras monteses, E as rochas para os coelhos." Salmos 104:18. Ed 118 3 Ele envia as fontes a correrem por entre as colinas, onde os pássaros têm sua habitação, "cantando entre os ramos". Salmos 104:12. Todas as criaturas dos bosques e colinas fazem parte de Sua grande família. Abre Sua mão e satisfaz "os desejos de todos os viventes". Salmos 145:16. Ed 118 4 A águia dos Alpes é algumas vezes derribada pela tempestade nos estreitos desfiladeiros das montanhas. A esta poderosa ave das florestas rodeiam nuvens tempestuosas, cujas negras massas a separam dos píncaros batidos de sol em que ela estabeleceu o lar. Parecem infrutíferos seus esforços para escapar. Bate aqui e acolá, açoitando o ar com as fortes asas, e despertando, com seus guinchos, ecos nas montanhas. Finalmente, com uma nota de triunfo, arremessa-se para cima e, cortando as nuvens, de novo se acha na clara luz solar, com a escuridão e tempestade muito abaixo. Igualmente nos podemos achar rodeados de dificuldades, desânimo e trevas. Cercam-nos falsidade, calamidades, injustiças. Há nuvens que não podemos dissipar. Batemo-nos debalde com as circunstâncias. Há um meio de salvamento, e apenas um. Cerração e neblina cercam a terra; para além das nuvens resplandece a luz de Deus. Para a luz de Sua presença podemos ascender com as asas da fé. Ed 119 1 Muitas são as lições que assim se podem aprender. A de confiança, pela árvore que, crescendo sozinha na planície ou ao lado da montanha, penetra profundamente suas raízes na terra, e sua força vigorosa desafia a tempestade. A lição do poder exercido pelas primeiras influências, temo-la no tronco nodoso e informe, arqueado quando era um renovo, ao qual nenhum poder terrestre poderá restaurar a perdida simetria. O segredo de uma vida santa aprende-se do lírio aquático, que à tona de alguma poça viscosa, rodeado de ervas ruins e imundícies, penetra suas canaliculadas radículas nas puras areias abaixo e, dali derivando sua vida, ergue à luz as fragrantes flores, em pureza imaculada. Ed 119 2 Destarte, enquanto as crianças e jovens obtêm conhecimento dos fatos por meio de professores e compêndios, aprendam por si mesmos a tirar lições e discernir verdades. Nos seus trabalhos de jardinagem, interroguem-nos sobre o que aprendem com o cuidado das suas plantas. Olhando eles para uma bela paisagem, perguntem-lhes por que Deus vestiu os campos e os bosques com tais matizes formosos e variados. Por que não foi tudo colorido com um fusco sombrio? Quando colherem flores, façam-nos pensar por que Ele nos poupou estas belezas que evadiram do Éden. Ensinem-nos a observar por toda parte na Natureza as manifestas evidências do pensamento de Deus para conosco, e a maravilhosa adaptação de todas as coisas à nossa necessidade e felicidade. Ed 119 3 Somente aquele que reconhece na Natureza a obra de seu Pai, e que na riqueza e beleza da Terra lê a Sua escrita, é que aprende as mais profundas lições das coisas da Natureza, e recebe seu mais elevado auxílio. Só poderá apreciar amplamente a significação das colinas e vales, rios e mares, aquele que olhar para eles como a expressão do pensamento de Deus, como uma revelação do Criador. Ed 120 1 Muitas ilustrações da Natureza são empregadas pelos escritores da Bíblia; e, observando nós as coisas do mundo natural, habilitamo-nos, sob a guia do Espírito Santo, para compreender mais amplamente as lições da Palavra de Deus. É assim que a Natureza se torna uma chave do tesouro da Palavra. Ed 120 2 Devem-se animar as crianças a buscar na Natureza objetos que ilustrem os ensinos da Bíblia, e estudar nesta os símiles tirados daquela. Devem procurar, tanto na Natureza como na Escritura Sagrada, todos os objetos que representem a Cristo, e também os que Ele empregou para ilustrar a verdade. Desta maneira poderão aprender a vê-Lo na árvore e na videira, no lírio e na rosa, no Sol e na estrela. Poderão aprender a ouvir a Sua voz no canto das aves, no sussurro das árvores, no retumbante trovão, na música do mar. E todos os objetos na Natureza repetir-lhes-ão Suas preciosas lições. Ed 120 3 Aos que assim se familiarizam com Cristo, a Terra jamais será um lugar solitário e desolado. Será a casa de seu Pai, repleta da presença dAquele que uma vez habitou entre os homens. A Bíblia como agente educador Ed 120 4 "Quando caminhares, isso te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo." ------------------------Capítulo 13 -- Cultura mental e espiritual Ed 123 0 "Pelo conhecimento se encherão as câmaras de todas as substâncias preciosas e deleitáveis." Ed 123 1 É lei de Deus que a força, tanto para o espírito e a alma como para o corpo, se adquira por meio do esforço. É o exercício que desenvolve. De acordo com esta lei, Deus proveu em Sua Palavra os meios para o desenvolvimento mental e espiritual. Ed 123 2 A Bíblia contém todos os princípios que os homens necessitam compreender a fim de se habilitarem tanto para esta vida como para a futura. E tais princípios podem ser compreendidos por todos. Quem quer que possua espírito capaz de apreciar seus ensinos, não poderia ler uma simples passagem da Bíblia sem adquirir dela algum conceito auxiliador. Todavia, os mais valiosos ensinos da Bíblia não serão obtidos com um estudo ocasional ou fragmentado. Seu grande conjunto de verdades não é apresentado de modo a ser descoberto pelo leitor apressado ou descuidoso. Muitos de seus tesouros jazem muito abaixo da superfície, e só se podem obter por uma pesquisa diligente e contínuo esforço. As verdades que irão perfazer o grande todo, devem ser pesquisadas e reunidas "um pouco aqui, um pouco ali". Isaías 28:10. Ed 123 3 Quando assim descobertas e reunidas, notar-se-á que se adaptam perfeitamente umas às outras. Cada evangelho é um suplemento dos outros, cada profecia uma explicação de outra, cada verdade um desenvolvimento de alguma outra. Os símbolos da economia judaica são esclarecidos pelo evangelho. Cada princípio tem na Palavra de Deus seu lugar, cada fato sua significação. E a estrutura completa, em seu plano e execução, dá testemunho do seu Autor. Mente alguma poderia conceber ou moldar tal estrutura, a não ser a que possui o Ente infinito. Ed 124 1 Pesquisando as várias partes e estudando as relações entre elas existentes, são chamadas a uma intensa atividade, as mais altas faculdades da mente humana. Ninguém poderá empenhar-se em tal estudo, sem desenvolver poder mental. Ed 124 2 E não somente na pesquisa e reunião da verdade consiste o valor mental do estudo da Bíblia. Também consiste no esforço exigido para se apreenderem os temas apresentados. O espírito ocupado unicamente com coisas comuns, torna-se acanhado e enfraquecido. Nunca trabalhando para compreender grandiosas e profundas verdades, depois de algum tempo perde a faculdade de crescer. Como salvaguarda contra esta degenerescência, e como estímulo ao desenvolvimento, nada se poderá igualar ao estudo da Palavra de Deus. Como meio para o preparo intelectual, a Bíblia é mais eficiente do que qualquer outro livro, ou todos os outros livros reunidos. A grandeza de seus temas, a nobre simplicidade de suas declarações, a beleza de suas imagens, despertam e elevam os pensamentos como nada mais o faz. Nenhum outro estudo poderá transmitir tal poder mental como o faz o esforço para se compreenderem as verdades estupendas da revelação. A mente, elevada assim em contato com os pensamentos do Infinito, não poderá deixar de expandir-se e fortalecer-se. Ed 124 3 Maior ainda é o poder da Bíblia no desenvolvimento da natureza espiritual. O homem, criado para a associação com Deus, apenas em tal associação poderia encontrar sua vida e desenvolvimento reais. Criado para encontrar em Deus suas mais altas alegrias, em nada mais poderá achar o que aquieta os anelos do coração e satisfaz a fome e sede da alma. Aquele que com espírito sincero e dócil estuda a Palavra de Deus, procurando compreender as suas verdades, será levado em contato com seu Autor; e, a menos que não o queira, não haverá limites às possibilidades para o seu desenvolvimento. Ed 125 1 Em sua vasta série de estilos e assuntos, a Bíblia tem algo para interessar a todo espírito e apelar a cada coração. Encontram-se em suas páginas as mais antigas histórias, as mais fiéis biografias, princípios governamentais para a orientação de Estados, para a direção do lar, princípios estes que a sabedoria humana jamais igualou. Contém a mais profunda filosofia, a poesia mais doce e sublime, mais apaixonada e patética. Os escritos da Bíblia são de um valor incomensuravelmente acima das produções de qualquer autor humano, mesmo considerados sob este ponto de vista; mas de um escopo infinitamente mais amplo, de valor infinitamente maior, são eles sob o ponto de vista de sua relação para com o grandioso pensamento central. Encarado à luz deste conceito, cada tópico tem nova significação. Nas verdades mais singelamente referidas, acham-se envolvidos princípios que são tão altos como o céu e abrangem a eternidade. Ed 125 2 O tema central da Bíblia, o tema em redor do qual giram todos os outros no livro, é o plano da redenção, a restauração da imagem de Deus na alma humana. Desde a primeira sugestão de esperança na sentença pronunciada no Éden, até àquela última gloriosa promessa do Apocalipse -- "verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome" (Apocalipse 22:4) -- o empenho de cada livro e passagem da Bíblia é o desdobramento deste maravilhoso tema -- o erguimento do homem, ou seja, o poder de Deus "que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo". 1 Coríntios 15:57. Ed 126 1 Aquele que apreende este pensamento tem diante de si um campo infinito para estudo. Possui a chave que lhe abrirá todo o tesouro da Palavra de Deus. Ed 126 2 A ciência da redenção é a ciência de todas as ciências; a ciência que constitui o estudo dos anjos e de todos os seres dos mundos não caídos; a ciência que ocupa a atenção de nosso Senhor e Salvador; ciência que se acha incluída no propósito originado na mente do Infinito, propósito este que "desde tempos eternos esteve oculto" (Romanos 16:25); ciência, enfim, que será o estudo dos remidos de Deus através dos séculos infindáveis. É este o mais elevado estudo em que é possível ao homem ocupar-se. Como nenhum outro estudo, avivará a mente e enobrecerá a alma. Ed 126 3 "A excelência da sabedoria é que ela dá vida ao seu possuidor." "As palavras que Eu vos disse", declarou Jesus, "são espírito e vida." "A vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Eclesiastes 7:12; João 6:63; 17:3. Ed 126 4 A energia criadora que trouxe à existência os mundos, está na Palavra de Deus. Esta Palavra comunica poder, gera vida. Cada ordenança é uma promessa; aceita voluntariamente, recebida na alma, traz consigo a vida do Ser infinito. Transforma a natureza, cria de novo a alma à imagem de Deus. Ed 126 5 A vida assim comunicada é de maneira idêntica mantida. "De toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4) viverá o homem. Ed 126 6 A mente e a alma são constituídas por aquilo de que se alimentam; fica a nosso cargo decidir com que se alimentem. Está dentro das possibilidades de qualquer, escolher os tópicos que ocuparão os pensamentos e moldarão o caráter. Em relação a todo ser humano privilegiado pelo acesso às Escrituras, diz Deus: "Escrevi para eles as grandezas da Minha lei." "Clama a Mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes." Oséias 8:12; Jeremias 33:3. Ed 127 1 Com a Palavra de Deus nas mãos, todo ser humano, qualquer que seja sua sorte na vida, pode ter a companhia que preferir. Nas suas páginas pode entreter conversa com o que há de mais nobre e melhor da raça humana, e ouvir a voz do Eterno, ao falar Ele com os homens. Ao estudar e meditar os temas, para os quais "os anjos desejam bem atentar" (1 Pedro 1:12), pode ter a companhia destes. Pode seguir os passos do Mestre celestial, e ouvir as Suas palavras, como quando Ele ensinava nas montanhas, nas planícies e no mar. Pode neste mundo habitar em atmosfera celestial, comunicando aos tristes e tentados da Terra pensamentos de esperança e santidade, vindo ele próprio a ficar em uma associação mais e mais íntima com o Ser invisível, semelhantemente àquele da antiguidade que andou com Deus, aproximando-se mais e mais do limiar do mundo eterno, e isto até que se abram os portais e ele ali entre. Não se achará ali como estranho. As vozes que o saudarem são as daqueles seres santos que, invisíveis, foram na Terra seus companheiros, vozes que ele aqui aprendeu a distinguir e amar. Aquele que pela Palavra de Deus viveu em associação com o Céu, encontrar-se-á à vontade na companhia dos entes celestiais. ------------------------Capítulo 14 -- A ciência e a Bíblia Ed 128 0 "Quem não entende por todas estas coisas que a mão do Senhor fez isto?" Ed 128 1 Visto como o livro da Natureza e o da revelação apresentam indícios da mesma mente superior, não podem eles deixar de estar em harmonia mútua. Por métodos diferentes em diversas línguas, dão testemunho das mesmas grandes verdades. A ciência está sempre a descobrir novas maravilhas; mas nada traz de suas pesquisas que, corretamente compreendido, esteja em conflito com a revelação divina. O livro da Natureza e a palavra escrita lançam luz um sobre o outro. Familiarizam-nos com Deus, ensinando-nos algo das leis por cujo meio Ele opera. Ed 128 2 Inferências erroneamente tiradas dos fatos observados na Natureza têm, entretanto, dado lugar a supostas divergências entre a ciência e a revelação; e nos esforços para restabelecer a harmonia, tem-se adotado interpretações das Escrituras que solapam e destroem a força da Palavra de Deus. Tem-se pensado que a geologia contradiga a interpretação literal do relatório mosaico da criação. Pretende-se que milhões de anos fossem necessários para que a Terra evolvesse do caos; e com o fim de acomodar a Bíblia a esta suposta revelação da ciência, supõe-se que os dias da criação fossem períodos vastos, indefinidos, abrangendo milhares ou mesmo milhões de anos. Ed 129 1 Tal conclusão é absolutamente infundada. O relato bíblico está em harmonia consigo mesmo e com o ensino da Natureza. Relativamente ao primeiro dia empregado na obra da criação, há o seguinte registro: "E foi a tarde e a manhã o dia primeiro." Gênesis 1:5. E substancialmente o mesmo é dito de cada um dos seis primeiros dias da semana da criação. Declara a Inspiração que cada um desses períodos foi um dia formado de tarde [isto é, noite] e manhã, como todos os dias desde aquele tempo. Em relação à obra da própria criação diz o testemunho divino: "Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." Salmos 33:9. Para Aquele que assim poderia evocar à existência inumeráveis mundos, quanto tempo seria necessário para fazer surgir a Terra do caos? Deveríamos, a fim de dar explicação às Suas obras, fazer violência à Sua palavra? Ed 129 2 É verdade que vestígios encontrados na terra testificam da existência do homem, animais e plantas muito maiores do que os que hoje se conhecem. Tais são considerados como a prova da existência da vida vegetal e animal anterior ao tempo referido no relato mosaico. Mas com referência a estas coisas a história bíblica fornece ampla explicação. Antes do dilúvio o desenvolvimento da vida vegetal e animal era superior ao que desde então se conhece. Por ocasião do dilúvio fragmentou-se a superfície da Terra, notáveis mudanças ocorreram, e na remodelação da crosta terrestre foram preservadas muitas evidências da vida previamente existente. As vastas florestas sepultadas na terra no tempo do dilúvio, e desde então transformadas em carvão, formam os extensos territórios carboníferos, e fazem o suprimento de óleos que servem ao nosso conforto e comodidade hoje. Estas coisas, ao serem trazidas à luz, são testemunhas a testificarem silenciosamente da verdade da Palavra de Deus. Ed 130 1 Em afinidade com a teoria relativa à evolução da Terra, há aquela que atribui a evolução do homem, a coroa gloriosa da criação, a uma linha ascendente de germes, moluscos e quadrúpedes. Ed 130 2 Considerando as oportunidades do homem para a pesquisa, bem como quão breve é a sua vida, limitada sua esfera de ação, restrita sua visão, freqüentes e grandes seus erros nas conclusões especialmente relativas aos fatos julgados anteriores à história bíblica; considerando quantas vezes as supostas deduções da ciência são revistas ou rejeitadas, bem como com que prontidão os admitidos períodos de desenvolvimento da Terra são de tempos em tempos aumentados ou diminuídos em milhões de anos, e como as teorias sustentadas por diferentes cientistas se acham em conflito entre si -- deveremos nós, para ter o privilégio de delinear nossa descendência pelos germes, moluscos e macacos, consentir em rejeitar a declaração da Escritura Sagrada, tão grandiosa em sua simplicidade: "Criou Deus o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou"? Gênesis 1:27. Deveremos rejeitar aquele relato genealógico -- mais nobre do que qualquer que zelosamente se conserve nas cortes reais: "Sete de Adão, e Adão de Deus"? Lucas 3:38. Ed 130 3 Corretamente entendidas, tanto as revelações da ciência como as experiências da vida se acham em harmonia com o testemunho das Escrituras relativo à constante operação de Deus na Natureza. Ed 130 4 No hino registrado por Neemias, cantavam os levitas: "Tu só és Senhor, Tu fizeste o céu, o Céu dos céus, e todo o seu exército; a Terra e tudo quanto nela há; os mares e tudo quanto neles há; e Tu os guardas em vida a todos." Números 9:6. Ed 130 5 No que diz respeito à Terra, declaram as Escrituras ter-se completado a obra da criação. As Suas obras estavam "acabadas desde a fundação do mundo". Hebreus 4:3. O poder de Deus, porém, ainda se exerce na manutenção das coisas de Sua criação. Não é porque o mecanismo uma vez posto em movimento continue a agir por sua própria energia inerente que o pulso bate, e uma respiração se segue a outra. Cada respiração, cada pulsar do coração, é uma evidência do cuidado dAquele em quem vivemos, nos movemos e temos existência. Desde o menor inseto até ao homem, toda criatura vivente depende diariamente de Sua providência. Ed 131 1 "Todos esperam de Ti, ... Dando-lho Tu, eles o recolhem; Abres a Tua mão, e enchem-se de bens. Escondes o Teu rosto, e ficam perturbados; Se lhes tiras a respiração, morrem, E voltam para o seu pó. Envias o Teu Espírito, e são criados, E assim renovas a face da Terra." Salmos 104:27-30. Ed 131 2 "O norte estende sobre o vazio; Suspende a Terra sobre o nada. Prende as águas em densas nuvens, E a nuvem não se rasga debaixo delas... Marcou um limite à superfície das águas em redor, Até os confins da luz e das trevas." Ed 131 3 As colunas do céu tremem, E se espantam da Sua ameaça. Com a Sua força fende o mar, ... Pelo Seu Espírito ornou os céus; A Sua mão formou a serpente enroscadiça. Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; E quão pouco é o que temos ouvido dEle! Quem, pois, entenderia o trovão do Seu poder?" Jó 26:7-14. Ed 131 4 "O Senhor tem o Seu caminho na tormenta, e na tempestade, E as nuvens são o pó dos Seus pés." Naum 1:3. Ed 131 5 A poderosa força que opera em toda a Natureza e a todas as coisas sustém, não é, como alguns homens de ciência pretendem, meramente um princípio que tudo invade, ou uma energia a atuar. Deus é espírito; não obstante é Ele um ser pessoal, visto que o homem foi feito à Sua imagem. Como Ser pessoal, Deus Se revelou em Seu Filho. Jesus, o resplendor da glória do Pai, e "expressa imagem de Sua pessoa" (Hebreus 1:3), encontrou-Se na Terra sob a forma de homem. Como Salvador pessoal veio Ele ao mundo. Como Salvador pessoal ascendeu aos Céus. Como Salvador pessoal intercede nas cortes celestiais. Diante do trono de Deus ministra a nosso favor "Um como o Filho do homem". Daniel 7:13. Ed 132 1 O apóstolo Paulo, escrevendo pelo Espírito Santo, declara acerca de Cristo: "Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele." Colossences 1:16, 17. A mão que sustém os mundos no espaço, a mão que conserva em seu ordenado arranjo e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a que na cruz foi pregada por nós. Ed 132 2 A grandeza de Deus é-nos incompreensível. "O trono do Senhor está nos Céus" (Salmos 11:4); não obstante, pelo Seu Espírito Santo, está Ele presente em toda parte. Tem conhecimento íntimo de todas as obras de Suas mãos e interesse pessoal em todas elas. Ed 132 3 "Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas; Que Se curva, para ver o que está nos céus e na Terra!" Ed 132 4 "Para onde me irei do Teu Espírito, Ou para onde fugirei da Tua face? Se subir ao Céu, Tu aí estás; Se fizer no Seol a minha cama, eis que Tu ali estás também." Ed 132 5 "Se tomar as asas da alva, Se habitar nas extremidades do mar, Até ali a Tua mão me guiará E a Tua destra me susterá." Salmos 113:5, 6; 139:7-10. Ed 132 6 "Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; De longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar, E conheces todos os meus caminhos... Tu me cercaste em volta, E puseste sobre mim a Tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; Tão alta que não a posso atingir." Salmos 139:2-6. Ed 133 1 Foi o Criador de todas as coisas que ordenou a maravilhosa adaptação dos meios ao fim, e do suprimento às necessidades. Foi Ele que no mundo material proveu para que todo o desejo implantado devesse ser satisfeito. Foi Ele que criou a alma humana, com sua capacidade para saber e amar. E Ele não é por natureza de molde a deixar não satisfeitos os anelos da alma. Nenhum princípio intangível, nenhuma essência impessoal ou simples abstração poderia satisfazer às necessidades e anelos dos seres humanos nesta vida de lutas com o pecado, tristeza e dor. Não basta crermos na lei e na força, em coisas que não têm piedade ou nunca ouvem o brado por auxílio. Precisamos saber acerca de um braço todo-poderoso que nos manterá, e de um Amigo infinito que tem piedade de nós. Necessitamos de nos agarrar a u'a mão aquecida pelo amor, confiar em um coração cheio de ternura. E efetivamente assim Deus Se revelou em Sua Palavra. Ed 133 2 Aquele que mais profundamente estudar os mistérios da Natureza, mais plenamente se compenetrará de sua própria ignorância e fraqueza. Compreenderá que existem profundidades e alturas que não poderá atingir, segredos que não poderá penetrar, e vastos campos de verdades jazendo diante de si, não penetrados. Dispor-se-á a dizer com Newton: "Pareço-me com a criança na praia, procurando seixos e conchas, enquanto o grande oceano da verdade jaz por descobrir diante de mim." Ed 134 1 Os mais profundos estudantes da ciência são constrangidos a reconhecer na Natureza a operação de um poder infinito. Ora, para a razão humana, destituída de auxílio, o ensino da Natureza não poderá deixar de ser senão contraditório e enganador. Unicamente à luz da revelação poderá ele ser interpretado corretamente. "Pela fé entendemos." Hebreus 11:3. Ed 134 2 "No princípio ... Deus." Gênesis 1:1. Aqui somente poderá o espírito, em suas ávidas interrogações, encontrar repouso, voando como a pomba para a arca. Acima, abaixo, além -- habita o Amor infinito, criando todas as coisas para cumprirem "o desejo da Sua bondade". 2 Tessalonicenses 1:11. Ed 134 3 "As suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade,... se vêem pelas coisas que estão criadas." Romanos 1:20. Mas o seu testemunho poderá ser compreendido apenas mediante o auxílio do Mestre divino. "Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus." 1 Coríntios 2:11. Ed 134 4 "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade." João 16:13. Exclusivamente pelo auxílio daquele Espírito que no princípio "Se movia sobre a face das águas", pelo auxílio daquela Palavra pela qual "todas as coisas foram feitas", e daquela "luz verdadeira que alumia a todo o homem que vem ao mundo", pode o testemunho da ciência ser corretamente interpretado. Apenas sob sua orientação se podem discernir suas mais profundas verdades. Ed 134 5 Unicamente sob a direção do Onisciente, habilitar-nos-emos a meditar segundo os Seus pensamentos, no estudo de Suas obras. ------------------------Capítulo 15 -- Princípios e métodos comerciais Ed 135 0 "Quem anda em sinceridade, anda seguro." Ed 135 1 Não há nenhum ramo de negócio lícito, para o qual a Bíblia não conceda um preparo essencial. Seus princípios de diligência, honestidade, economia, temperança e pureza, são o segredo do verdadeiro êxito. Tais princípios, como os apresenta o livro dos Provérbios, constituem um tesouro de sabedoria prática. Onde poderá o negociante, o artífice, o dirigente de homens em qualquer ramo de negócios, encontrar melhores máximas para si próprio ou para seus empregados do que as que se encontram nestas palavras do sábio: Ed 135 2 "Viste a um homem diligente na sua obra? perante reis será posto; não será posto perante os de baixa sorte." Provérbios 22:29. Ed 135 3 "Em todo o trabalho há proveito, mas a palavra dos lábios só encaminha para a pobreza." Provérbios 14:23. Ed 135 4 "A alma do preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança." "O beberrão e o comilão cairão em pobreza; e a sonolência faz trazer os vestidos rotos." Provérbios 13:4; 23:21. Ed 135 5 "O que anda maldizendo descobre o segredo; pelo que com o que afaga com seus lábios não te entremetas." Provérbios 20:19. Ed 135 6 "Retém as suas palavras o que possui o conhecimento", mas "todo o tolo se entremete nelas". Provérbios 17:27; 20:3. Ed 136 1 "Não entres na vereda dos ímpios"; "andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés?" Provérbios 4:14; 6:28. Ed 136 2 "Anda com os sábios e serás sábio." Provérbios 13:20. Ed 136 3 "O homem que tem muitos amigos pode congratular-se." Provérbios 18:24. Ed 136 4 Todo o ciclo de nossas obrigações de uns para com os outros, é compreendido naquelas palavras de Cristo: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. Ed 136 5 Quantos homens poderiam ter evitado o malogro e ruína financeiros, se atendessem às admoestações tantas vezes repetidas e encarecidas nas Escrituras: Ed 136 6 "O que se apressa a enriquecer não ficará sem castigo." Provérbios 28:20. Ed 136 7 "A fazenda que procede da vaidade diminuirá, mas quem a ajunta pelo trabalho terá aumento." Provérbios 13:11. Ed 136 8 "Trabalhar por ajuntar tesouro com língua falsa é uma vaidade, e aqueles que a isso são impelidos buscam a morte." Provérbios 21:6. Ed 136 9 "O que toma emprestado é servo do que empresta." Provérbios 22:7. Ed 136 10 "Decerto sofrerá severamente aquele que fica por fiador do estranho; mas o que aborrece a fiança estará seguro." Provérbios 11:15. Ed 136 11 "Não removas os limites antigos, nem entres nas herdades dos órfãos, porque o seu Redentor é forte; Ele pleiteará a sua causa contra ti." "O que oprime ao pobre para se engrandecer a si, ou o que dá ao rico, certamente empobrecerá." "O que faz uma cova nela cairá; e o que revolve a pedra, esta sobre ele rolará." Provérbios 23:10, 11; 22:16; 26:27. Ed 137 1 Tais são princípios que dizem respeito ao bem-estar da sociedade, e das associações tanto seculares como religiosas. São estes princípios que dão segurança à propriedade e à vida. Tudo que contribui para que a confiança e a cooperação sejam possíveis, deve o mundo à lei de Deus, conforme se acha em Sua Palavra e ainda se encontra delineada, em traços muitas vezes obscuros e quase obliterados, no coração dos homens. Ed 137 2 As palavras do salmista: "Melhor é para mim a lei da Tua boca do que inúmeras riquezas em ouro ou prata" (Salmos 119:72) declaram aquilo que é verdadeiro além de outro ponto de vista que não o religioso. Declaram uma verdade absoluta, e que é reconhecida no mundo comercial. Mesmo nesta época de paixão pela aquisição do dinheiro, em que a concorrência é grande e os métodos tão pouco escrupulosos, ainda se reconhece amplamente que, para um jovem que se inicia na vida, a integridade, a diligência, a temperança, a pureza e a economia constituem um melhor capital do que qualquer quantidade de simples dinheiro. Ed 137 3 No entanto, mesmo daqueles que apreciam o valor destas qualidades e admitem a Bíblia como sua fonte, poucos há que reconheçam o princípio de que dependem. Ed 137 4 Aquilo que se acha na base da integridade comercial e do verdadeiro êxito, é o reconhecimento da propriedade de Deus. O Criador de todas as coisas, delas é o proprietário original. Somos Seus mordomos. Tudo que temos foi confiado por Ele, para ser usado de acordo com Sua direção. Ed 137 5 Esta é uma obrigação que repousa sobre todo ser humano. Afeta toda esfera da atividade humana. Quer o reconheçamos quer não, somos despenseiros, supridos por Deus com talentos e facilidade, e colocados no mundo para realizar uma obra indicada por Ele. Ed 138 1 A cada homem é dada "a sua obra" (Marcos 13:34) -- a obra para a qual o adaptam suas capacidades e que resultará no maior benefício a si próprio e a seus semelhantes, e na maior honra a Deus. Ed 138 2 Assim é que nossas ocupações ou vocação são uma parte do grande plano de Deus e, tanto quanto são realizadas de acordo com Sua vontade, Ele próprio Se responsabiliza pelos resultados. Como "cooperadores de Deus" (1 Coríntios 3:9) nossa parte consiste em uma conformidade fiel com Suas orientações. De maneira que não há lugar para ansiosos cuidados. Requer-se diligência, fidelidade, responsabilidade, economia e discrição. Toda faculdade deve ser exercitada na sua mais alta possibilidade. A confiança deverá ser, porém, não no desfecho feliz de nossos esforços, mas na promessa de Deus. A palavra que alimentou Israel no deserto e sustentou Elias durante o tempo da fome, tem o mesmo poder hoje. "Não andeis pois inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?... Buscai primeiro o reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:31-33. Ed 138 3 Aquele que dá ao homem a capacidade de adquirir riqueza, deu, juntamente com este dom, uma obrigação. De tudo que adquirimos Ele exige determinada porção. O dízimo é do Senhor. "Todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores", "as dízimas das vacas e ovelhas, são santas ao Senhor." Levítico 27:30, 32. O voto feito por Jacó em Betel mostra a extensão da obrigação. "De tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo", disse ele. Gênesis 28:22. Ed 138 4 "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro" (Malaquias 3:10), é a ordem de Deus. Não se apela para a gratidão ou generosidade. É uma questão de simples honestidade. O dízimo é do Senhor; e Ele nos ordena que Lhe devolvamos aquilo que é Seu. Ed 139 1 "Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel." 1 Coríntios 4:2. Se a honestidade é um princípio essencial nos negócios da vida, não deveríamos reconhecer nossa obrigação para com Deus, obrigação esta que se acha na base de todas as outras? Ed 139 2 De acordo com as condições de nossa mordomia, temos obrigação não somente para com Deus mas também para com o homem. Todo ser humano deve os dons da vida ao infinito amor do Redentor. Alimento, roupa e abrigo, bem como o corpo, o espírito e a alma, tudo são aquisição de Seu sangue. Pelo dever de gratidão e serviço, assim imposto, Cristo nos ligou a nossos semelhantes. Ele nos ordena: "Servi-vos uns aos outros." Gálatas 5:13. "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. Ed 139 3 "Eu sou devedor", disse Paulo, "tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes". Romanos 1:14. Assim também nós. Em virtude de tudo que tornou nossa vida mais abençoada do que a dos outros, achamo-nos colocados em obrigação para com todo ser humano a quem podemos beneficiar. Ed 139 4 Estas verdades não se destinam mais ao gabinete particular do que ao escritório comercial. Os bens que manuseamos não são nossos propriamente, e jamais se poderia, sem más conseqüências, perder de vista este fato. Não somos senão despenseiros, e do desempenho de nossa obrigação para com Deus e o homem, depende tanto o bem-estar de nossos semelhantes como nosso próprio destino nesta vida e na vindoura. Ed 139 5 "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda." "Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás." "A alma generosa engordará, e o que regar também será regado." Provérbios 11:24; Eclesiastes 11:1; Provérbios 11:25. Ed 140 1 "Não te canses para enriqueceres. ... Porventura fitarás os teus olhos naquilo que não é nada? porque certamente isso se fará asas e voará ao céu como a águia." Provérbios 23:4, 5. Ed 140 2 "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo." Lucas 6:38. Ed 140 3 "Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares." Provérbios 3:9, 10. Ed 140 4 "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril. ... E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa." Malaquias 3:10-12. Ed 140 5 "Se andardes nos Meus estatutos, e guardardes os Meus mandamentos, e os fizerdes, então Eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo, e a terra dará a sua novidade, e a árvore do campo dará o seu fruto; e a debulha se vos chegará à vindima, e a vindima se chegará à sementeira; e comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa terra. Também darei paz na terra,... e não haverá quem vos espante." Levítico 26:3-6. Ed 141 1 "Praticai o que é reto, ajudai o oprimido, fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas." "Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na terra, e Tu não o entregarás à vontade de seus inimigos." "Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e Ele lhe pagará o seu benefício." Isaías 1:17; Salmos 41:1, 2; Provérbios 19:17. Ed 141 2 Aquele que aplica desta maneira os seus bens, acumula um duplo tesouro. Além daquilo que, embora sabiamente aproveitado, terá finalmente de deixar, estará ele acumulando uma riqueza para a eternidade, a saber, o tesouro de caráter que é a posse mais valiosa da Terra e do Céu. Honestidade nas transações comerciais Ed 141 3 "O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão." Salmos 37:18, 19. Ed 141 4 "Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração; ... aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda"; "o que arremessa para longe de si o ganho de opressões; o que sacode das suas mãos todo o presente; ... e fecha os seus olhos para não ver o mal; este habitará nas alturas; ... o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os teus olhos verão o Rei na Sua formosura, e verão a terra que está longe." Salmos 15:2-4; Isaías 33:15-17. Ed 142 1 Deus dá em Sua Palavra a descrição de um homem próspero, cuja vida foi, na mais exata acepção da palavra, um êxito, homem este que tanto o Céu como a Terra se deleitavam em honrar. Jó mesmo diz acerca de sua experiência: Ed 142 2 "Como era nos dias da minha mocidade, Quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; Quando o Todo-poderoso ainda estava comigo, E os meus meninos em redor de mim. ... Quando saía para a porta da cidade, E na praça fazia preparar a minha cadeira, Os moços me viam e se escondiam, E os idosos se levantavam e se punham em pé; Os príncipes continham as suas palavras, E punham a mão sobre a sua boca; A voz dos chefes se escondia. ... Ed 142 3 "Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; Vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; Porque eu livrava o miserável, que clamava, Como também o órfão que não tinha quem o socorresse. Ed 142 4 "A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, E eu fazia que rejubilasse o coração da viúva Cobria-me de justiça, e ela me servia de vestido; Como manto e diadema era o meu juízo. Eu era o olho do cego, E os pés do coxo; Dos necessitados era pai E as causas, de que eu não tinha conhecimento, inquiria com diligência." Ed 142 5 "O estrangeiro não passava a noite na rua; As minhas portas abria ao viandante." Ed 142 6 "Ouvindo-me esperavam,... E não faziam abater a luz do meu rosto; Se eu escolhia o seu caminho, assentava-me como chefe, E habitava como rei entre as suas tropas, Como aquele que consola os que pranteiam." Jó 29:4-16; 31:32; 29:21-25. Ed 142 7 "A bênção do Senhor é que enriquece, e não acrescenta dores." Provérbios 10:22. Ed 143 1 "Riquezas e honras estão comigo; sim, riquezas duráveis e justiça." Provérbios 8:18. Ed 143 2 A Bíblia mostra também o resultado do afastamento dos retos princípios em nosso trato, não somente com Deus, mas igualmente no de uns para com outros. Àqueles a quem foram confiados os Seus dons, mas que são indiferentes às Suas exigências, diz Deus: Ed 143 3 "Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos. Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis mas não vos saciais; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado. ... Olhastes para muito, mas eis que alcançastes pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, Eu lhe assoprei." "Depois daquele tempo, veio alguém a um monte de vinte medidas, e havia somente dez; vindo ao lagar para tirar cinqüenta, havia somente vinte." "Por que causa? disse o Senhor dos exércitos. Por causa da Minha casa, que está deserta." "Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais, e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas." "Por isso retêm os céus o seu orvalho, e a terra retém os seus frutos." Ageu 1:5-9; 2:16; Malaquias 3:8; Ageu 1:10. Ed 143 4 "Portanto, visto que pisais o pobre,... edificareis casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantareis, mas não bebereis do seu vinho." "O Senhor mandará sobre ti a maldição, a turbação e a perdição em tudo em que puseres a tua mão." "Teus filhos e tuas filhas serão dados a outro povo, os teus olhos o verão, e após deles desfalecerão todo o dia; porém não haverá poder na tua mão." Amós 5:11; Deuteronômio 28:20, 32. Ed 143 5 "Aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim se fará um insensato." Jeremias 17:11. Ed 144 1 Os cálculos de cada negócio, os pormenores de cada transação passam pelo exame de auditores invisíveis, agentes dAquele que nunca transige com a injustiça, nem abona o mal, nem passa por alto o erro. Ed 144 2 "Se vires em alguma província opressão de pobres, e a violência em lugar do juízo e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que mais alto é do que os altos para isso atenta." "Não há trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que obram a iniqüidade." Eclesiastes 5:8; Jó 34:22. Ed 144 3 "Erguem a sua boca contra os Céus,... e dizem: Como o sabe Deus? ou há conhecimento no Altíssimo? Estas coisas tens feito", diz Deus, "e Eu Me calei; pensavas que era como tu; mas Eu te argüirei, e, em sua ordem, tudo porei diante dos teus olhos." Salmos 73:9, 11; 50:21. Ed 144 4 "E outra vez levantei os meus olhos e olhei, e vi um rolo voante. ... Esta é a maldição que sairá pela face de toda a Terra; porque qualquer que furtar, será desarraigado, conforme a maldição de um lado; e qualquer que jurar falsamente, será desarraigado, conforme a maldição do outro lado. Eu a trarei, disse o Senhor dos exércitos, e a farei entrar na casa do ladrão, e na casa do que jurar falsamente pelo Meu nome; e pernoitará no meio da sua casa, e a consumirá a ela com a sua madeira e com as suas pedras." Zacarias 5:1-4. Ed 144 5 Contra todo malfeitor a lei de Deus profere condenação. Pode ele deixar de atender àquela voz, pode procurar fazer silenciar o seu aviso, mas em vão. Ela o acompanha. Faz-se ouvir. Destrói-lhe a paz. Desatendida, persegue-o até à sepultura. Dá testemunho contra ele no juízo. Qual fogo, inextinguível, consumirá finalmente corpo e alma. Ed 145 1 "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" Marcos 8:36, 37. Ed 145 2 Esta é uma questão que exige consideração por parte de todo pai, professor e estudante, todo ser humano, jovem ou velho. Não pode ser integral ou completo nenhum projeto de negócios ou plano para a vida que apenas compreenda os breves anos da existência presente, e não tome providências para o interminável futuro. Que se ensinem os jovens a tomar em consideração a eternidade. Sejam ensinados a escolher princípios e buscar possessões que sejam duradouros, a acumular para si aquele "tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói"; a adquirir para si amigos "com as riquezas da injustiça", para que quando estas faltarem, aqueles os possam receber "nos tabernáculos eternos". Lucas 12:33; 16:9. Ed 145 3 Todos os que fazem isto estão efetuando a melhor preparação possível para a vida neste mundo. Ninguém poderá acumular tesouro no Céu sem que venha por isso mesmo a ver sua vida na Terra enriquecida e enobrecida. Ed 145 4 "A piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir." 1 Timóteo 4:8. ------------------------Capítulo 16 -- Biografias bíblicas Ed 146 0 "Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, da fraqueza tiraram forças." Ed 146 1 Para fins educativos, nenhuma parte da Bíblia é de maior valor do que as suas biografias. Estas diferem de todas as outras, visto serem absolutamente fiéis. É impossível a qualquer espírito finito interpretar corretamente, em tudo, os feitos de outrem. Ninguém, a não ser Aquele que lê o coração, que pode divisar a fonte secreta dos intuitos e das ações, poderá com verdade absoluta delinear o caráter, ou dar uma descrição fiel de uma vida humana. Unicamente na Palavra de Deus se encontra tal esboço biográfico. Ed 146 2 Nenhuma verdade a Bíblia ensina mais claramente do que aquela segundo a qual o que fazemos é o resultado do que somos. Em grande parte, as experiências da vida são o fruto de nossos próprios pensamentos e ações. Ed 146 3 "A maldição sem causa não virá." Provérbios 26:2. Ed 146 4 "Dizei aos justos que bem lhes irá: ... Ai do ímpio! mal lhe irá, porque a recompensa das Suas mãos se lhe dará." Isaías 3:10, 11. Ed 146 5 "Ouve tu, ó Terra! Eis que Eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seus pensamentos." Jeremias 6:19. Ed 146 6 Terrível é esta verdade, e profundamente deve ela ser gravada em nosso espírito. Cada ação se reflete sobre aquele que a pratica. Jamais um ser humano pode deixar de reconhecer, nos males que lhe infelicitam a vida, os frutos daquilo que ele próprio semeou. Contudo, mesmo assim, não nos achamos sem esperança. Ed 147 1 Para adquirir o direito de primogenitura que já lhe pertencia pela promessa de Deus, Jacó recorreu à fraude, e colheu os frutos do ódio de seu irmão. Durante vinte anos de exílio foi ele próprio lesado e defraudado, e finalmente forçado a procurar segurança na fuga; e colheu uma segunda messe, visto que as falhas de seu próprio caráter foram vistas a reproduzir-se em seus filhos, sendo que tudo isto nada mais era senão um fidelíssimo quadro das retribuições da vida humana. Ed 147 2 Deus, porém, diz: "Para sempre não contenderei, nem continuamente Me indignarei; porque o espírito perante a Minha face se enfraqueceria, e as almas que Eu fiz. Pela iniqüidade da sua avareza Me indignei, e os feri; escondi-Me, e indignei-Me; mas, rebeldes, seguiram o caminho do seu coração. Eu vejo os seus caminhos, e os sararei; também os guiarei, e lhes tornarei a dar consolações e aos seus pranteadores. ... Paz, paz, para os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e Eu os sararei." Isaías 57:16-19. Ed 147 3 Jacó, em sua angústia, não desesperou. Havia-se arrependido e se esforçara por expiar a falta cometida para com seu irmão. E ao ser pela ira de Esaú ameaçado de morte, procurou o auxílio de Deus. "Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou." "E abençoou-o ali." Oséias 12:4; Gênesis 32:29. Na força de Seu poder o que fora perdoado se levantou, não mais como o suplantador, mas como príncipe diante de Deus. Não ganhara simplesmente o livramento de seu irmão ofendido, mas o seu próprio. Quebrara-se o poder do mal em sua própria natureza; havia-se-lhe transformado o caráter. Ed 147 4 Ao crepúsculo houve luz. Jacó, revendo a história de sua vida, reconheceu o poder mantenedor de Deus -- aquele "Deus que me sustentou, desde que eu nasci até este dia, o Anjo que me livrou de todo o mal". Gênesis 48:15, 16. Ed 148 1 A mesma experiência se repete na história dos filhos de Jacó: o pecado operando a retribuição, e o arrependimento produzindo fruto de justiça para a vida. Ed 148 2 Deus não anula as Suas leis. Ele não age contrariamente às mesmas. Não desfaz a obra do pecado. Mas Ele transforma. Mediante Sua graça a maldição resulta em bênçãos. Ed 148 3 Dos filhos de Jacó, Levi foi um dos mais cruéis e vingativos, um dos mais culpados no traiçoeiro assassínio dos siquemitas. Os característicos de Levi, refletindo em seus descendentes, acarretaram-lhes o decreto de Deus: "Eu os dividirei em Jacó, e os espalharei em Israel." Gênesis 49:7. O arrependimento, porém, operou a reforma; e pela sua fidelidade para com Deus em meio da apostasia de outras tribos, a maldição se transformara em um sinal da mais alta honra. Ed 148 4 "O Senhor separou a tribo de Levi, para levar a arca do concerto do Senhor, para estar diante do Senhor, para O servir, e para abençoar em Seu nome." "Meu concerto com ele foi de vida e de paz, e lhas dei para que Me temesse, e Me temeu. ... Andou comigo em paz e em retidão, e apartou a muitos da iniqüidade." Deuteronômio 10:8; Malaquias 2:5, 6. Ed 148 5 Os que foram designados para ministros do santuário, os levitas, não receberam herança em terras; habitavam juntos em cidades separadas para o seu uso, e recebiam seu sustento dos dízimos, donativos e ofertas dedicados ao serviço de Deus. Eram os ensinadores do povo, hóspedes em todas as suas festividades, e em toda parte honrados como os servos e representantes de Deus. À nação toda fora dada esta ordem: "Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra." "Levi com seus irmãos não têm parte na herança; o Senhor é a sua herança." Deuteronômio 12:19; 10:9. À conquista pela fé Ed 149 1 A verdade de que o homem "é tal quais são os seus pensamentos" (Provérbios 23:7, TB), encontra outra ilustração na experiência de Israel. Nas fronteiras de Canaã, os espias, ao voltarem de pesquisar o país, apresentaram seu relatório. A beleza e fertilidade da terra foram perdidas de vista pelos receios das dificuldades que obstavam sua ocupação. As cidades muradas até ao céu, os gigantes guerreiros, os carros de ferro, faziam desfalecer-se-lhes a fé. Não tomando a Deus em conta, a multidão ecoou a decisão dos espias descrentes: "Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." Números 13:31. Suas palavras mostraram-se verdadeiras. Não eram capazes de avançar, e despenderam a vida no deserto. Ed 149 2 Entretanto, dois dentre os doze que examinaram a terra, raciocinavam de modo diverso. "Certamente prevaleceremos contra ela" (Números 13:30) -- insistiam eles, considerando a promessa de Deus superior a gigantes, cidades muradas e carros de ferro. Para eles a Sua palavra era verdadeira. Posto que participassem com seus irmãos da peregrinação de quarenta anos, Calebe e Josué entraram na terra da promessa. Tão animoso de coração como quando com as hostes do Senhor saíra do Egito, Calebe pediu e recebeu como seu quinhão a fortaleza dos gigantes. Na força divina expulsou os cananeus. Os vinhedos e olivais onde haviam pisado os seus pés, tornaram-se sua possessão. Ao passo que os covardes e rebeldes pereceram no deserto, os homens de fé comeram das uvas de Escol. Ed 150 1 Verdade alguma apresenta a Bíblia em mais clara luz do que haver perigo em nos desviarmos do que é reto uma única vez que seja, perigo este, tanto para o que faz o mal como para todos os que são atingidos pela influência do mesmo. O exemplo tem uma força maravilhosa; e quando posto do lado das más tendências da nossa natureza, torna-se quase irresistível. Ed 150 2 O mais forte baluarte do vício em nosso mundo não é a vida iníqua do pecador declarado ou do degradado proscrito; é a vida que parece virtuosa, honrada e nobre, mas em que se alimenta um pecado ou se acaricia um vício. Para a alma que se acha lutando secretamente contra alguma enorme tentação, tremendo nas bordas mesmo do precipício, tal exemplo é um dos mais poderosos incentivos ao pecado. Aquele que, dotado de altas concepções da vida, verdade e honra, transgride, não obstante, voluntariamente um preceito da santa lei de Deus, perverte seus nobres dons, tornando-os chamarizes ao pecado. Gênio, talento, simpatia, mesmo ações generosas e benévolas, podem assim tornar-se engodos de Satanás para levar almas ao precipício da ruína. Ed 150 3 Aí está porque Deus deu tantos exemplos, apresentando os resultados de mesmo um só ato errado. Desde a triste história daquele único pecado que trouxe ao mundo a morte e nossas desgraças todas, juntamente com a perda do Éden, até o relato que há daquele que por trinta moedas de prata vendeu o Senhor da glória, a biografia bíblica está repleta destes exemplos, ali colocados como faróis de advertência nos atalhos que desviam do caminho da vida. Ed 150 4 Há também advertência em notarmos os resultados que se seguiram quando mesmo uma única vez alguém cedeu à fraqueza e erro humano -- o fruto de abandonar a fé. Ed 151 1 Em virtude de uma falha de sua fé, Elias interrompeu a obra de sua vida. Pesado fora o encargo que havia arrostado em prol de Israel; fiéis tinham sido suas admoestações contra a idolatria nacional; e profunda foi sua solicitude quando durante três e meio anos de fome vigiara e observara à espera de algum indício de arrependimento. Ele sozinho permaneceu do lado de Deus no Monte Carmelo. Pelo poder da fé a idolatria foi derribada, e a abençoada chuva testificou dos aguaceiros de bênçãos que aguardavam o momento de serem derramados sobre Israel. Então em seu cansaço e fraqueza fugiu de diante das ameaças de Jezabel, e sozinho no deserto pediu a morte. Falhara sua fé. A obra que tinha começado, não deveria ele terminar. Deus lhe ordenou ungir outro para ser profeta em seu lugar. Ed 151 2 Mas Deus havia notado o sincero serviço de Seu servo. Elias não devia perecer em desânimo e na solidão do deserto. Não lhe caberia descer ao túmulo, mas ascender com os anjos de Deus para a presença de Sua glória. Ed 151 3 Estes registros biográficos declaram o que todo ser humano um dia compreenderá, a saber: que o pecado só poderá acarretar vergonha e perdas; que a incredulidade significa fracasso; mas que a misericórdia de Deus atinge as maiores profundezas, e que a fé ergue a alma penitente para participar da adoção de filhos de Deus. A disciplina do sofrimento Ed 151 4 Todos os que neste mundo prestam verdadeiro serviço a Deus e ao homem, recebem um preparo prévio na escola das aflições. Quanto mais pesado for o encargo e mais elevado o serviço, maior será a prova e mais severa a disciplina. Ed 151 5 Estude as experiências de José e Moisés, de Daniel e Davi. Compare o princípio da história de Davi com a de Salomão, e considere os resultados. Ed 152 1 Davi, em sua juventude esteve intimamente ligado a Saul, e sua permanência na corte e ligação com a casa do rei deram-lhe profundo conhecimento dos cuidados, tristezas e perplexidades ocultas pelo esplendor e pompa da realeza. Viu de quão pouca valia é a glória humana para trazer paz à alma. E foi com alívio e satisfação que da corte real voltou aos apriscos e rebanhos. Ed 152 2 Quando, compelido pelos zelos de Saul, era um fugitivo no deserto, Davi, privado do apoio humano, amparou-se mais pesadamente em Deus. A incerteza e desassossego da vida no deserto, seus incessantes perigos, a necessidade de fugas freqüentes, o caráter dos homens que a ele se reuniam: "todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso" (1 Samuel 22:2) -- tudo isto tornava muito necessária uma severa disciplina própria. Estas experiências despertaram e desenvolveram capacidade para lidar com os homens, simpatia para com os oprimidos e ódio à injustiça. Durante anos de expectativa e perigo, Davi aprendeu a encontrar em Deus conforto, apoio e vida. Aprendeu que unicamente pelo poder de Deus ele poderia ir ao trono; unicamente pela Sua sabedoria poderia governar sabiamente. Foi mediante o preparo na escola das agruras e tristezas que Davi se habilitou a declarar que "julgava e fazia justiça a todo o seu povo" (2 Samuel 8:15), não obstante mais tarde seu grande pecado lhe deslustrasse o feito. Ed 152 3 A disciplina da experiência inicial de Davi faltava a Salomão. Pelas circunstâncias, pelo caráter e pela vida parecia mais favorecido do que todos. Nobre na juventude, nobre na varonilidade, amado por seu Deus, Salomão iniciou um reinado que dava altas promessas de prosperidade e honra. Nações maravilhavam-se do saber e conhecimentos do homem a quem Deus havia dado sabedoria. Mas o orgulho da prosperidade trouxera a separação de Deus. Da alegria da comunhão divina, Salomão desviou-se para encontrar satisfação nos prazeres dos sentidos. Diz ele desta experiência: Ed 153 1 "Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas, plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins. ... Adquiri servos e servas. ... Amontoei também para mim prata e ouro, e jóias de reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda a sorte. E engrandeci-me, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. ... E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho. ... E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do Sol. Então passei à contemplação da sabedoria, e dos desvarios, e da doidice; porque, que fará o homem que seguir ao rei? o mesmo que outros já fizeram. ... Ed 153 2 "Aborreci esta vida. ... Também eu aborreci todo o meu trabalho, em que trabalhei debaixo do Sol." Eclesiastes 2:4-12, 17, 18. Ed 153 3 Por sua própria amarga experiência, Salomão aprendeu como é vazia uma vida que busca nas coisas terrenas seu mais elevado bem. Erigiu altares aos deuses gentílicos, unicamente para aprender quão vã é sua promessa de descanso para a alma. Ed 153 4 Em seus anos posteriores, tornando-se cansado e sedento nas rotas cisternas da Terra, Salomão voltou a beber da fonte da vida. A história de seus anos desperdiçados, com suas lições de advertência, ele, pelo Espírito de inspiração, registrou para as gerações posteriores. E assim, conquanto a semente que semeara fosse colhida por seu povo em uma messe de males, a obra realizada na vida de Salomão não foi inteiramente perdida. Para ele, finalmente, a disciplina do sofrimento cumpriu sua obra. Ed 154 1 E com semelhante alvorecer da vida, quão glorioso poderia ter sido ela, se houvesse Salomão em sua mocidade aprendido a lição que o sofrimento ensinara na vida de outros! A provação de Jó Ed 154 2 Para os que amam a Deus, que "são chamados por Seu decreto" (Romanos 8:28), a biografia bíblica tem uma lição ainda mais elevada do préstimo da tristeza. "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus" (Isaías 43:12) -- testemunhas de que Ele é bom, e de que a bondade é suprema. "Somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." 1 Coríntios 4:9. Ed 154 3 A abnegação, que é o princípio do reino de Deus, é o princípio que Satanás odeia; ele nega até a existência do mesmo. Desde o início do grande conflito tem-se ele esforçado por provar que os princípios pelos quais Deus age são egoístas, e da mesma maneira ele considera a todos os que servem a Deus. A obra de Cristo e a de todos os que adotam o Seu nome, tem por fim refutar esta pretensão de Satanás. Ed 154 4 Foi para dar com Sua própria vida um exemplo de abnegação, que Jesus veio em forma humana. Todos os que aceitam este princípio devem ser coobreiros Seus e demonstrar na vida prática esse princípio. Escolher o que é reto porque é reto, estar pela verdade ainda que isto importe no sofrimento e sacrifício -- "esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que vem de Mim, diz o Senhor". Isaías 54:17. Ed 155 1 Muito cedo na história deste mundo, apresenta-se-nos o relato da vida de alguém, sobre o qual se desencadeou essa guerra de Satanás. Ed 155 2 A respeito de Jó, o patriarca de Uz, o testemunho dAquele que pesquisa os corações, foi: "Ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, e desviando-se do mal." Ed 155 3 Contra este homem Satanás apresentou uma insolente acusação: "Teme Jó a Deus debalde? Porventura não o cercaste Tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? ... Estende a Tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem." ... "Toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de Ti na Tua face!" Ed 155 4 O Senhor disse a Satanás: "Tudo quanto tem está na tua mão." "Eis que ele está na tua mão, poupa, porém, a sua vida." Ed 155 5 Permitido isto, Satanás destruiu tudo quanto Jó possuía: manadas, rebanhos, servos e servas, filhos e filhas; e ele "feriu a Jó duma chaga maligna, desde a planta do pé até o alto da cabeça". Jó 1:8-12; 2:5-7. Ed 155 6 Ainda outro elemento de amargura lhe foi acrescentado na taça. Seus amigos, não vendo naquela adversidade senão a retribuição do pecado, oprimiam-lhe com acusações de delitos o espírito ferido e sobrecarregado. Ed 155 7 Aparentemente abandonado do Céu e da Terra, não obstante conservando firme sua fé em Deus e a consciência de sua integridade, exclamava, angustiado e perplexo: Ed 155 8 "A minha alma tem tédio de minha vida." "Oxalá me escondesses na sepultura, E me ocultasses até que Tua ira se desviasse; E me pusesses um limite, e Te lembrasses de mim!" Jó 10:1; 14:13. Ed 156 1 "Eis que clamo: Violência! mas não sou ouvido; Grito: Socorro! mas não há justiça. ... Da minha honra me despojou, E tirou-me a coroa da minha cabeça. ... Os meus parentes me deixaram, E os meus conhecidos se esqueceram de mim. ... Os que eu amava se tornaram contra mim. ... Compadecei-vos de mim, amigos meus; Compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou." Ed 156 2 "Ah se eu soubesse que O poderia achar! Então me chegaria ao Seu tribunal. ... Eis que se me adianto, ali não está; Se torno para trás, não O percebo. Se opera à mão esquerda, não O vejo; Encobre-Se à mão direita, e não O diviso. Mas Ele sabe o meu caminho; Prove-me, e sairei como o ouro." Ed 156 3 "Ainda que Ele me mate, nEle esperarei." Ed 156 4 "Eu sei que o meu Redentor vive, E que por fim Se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, Ainda em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, E os meus olhos, e não outros, O verão." Jó 19:7-21; 23:3-10; 13:15; 19:25-27. Ed 156 5 Foi feito a Jó de acordo com sua fé. "Prove-me", disse ele, "e sairei como o ouro." Jó 23:10. Assim foi. Por sua paciente persistência reivindicou seu próprio caráter, e bem assim o dAquele de quem ele era representante. E "o Senhor virou o cativeiro de Jó,... e o Senhor acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía. ... E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro." Jó 42:10-12. Ed 156 6 No relatório daqueles que mediante a abnegação entraram na comunhão dos sofrimentos de Cristo, acham-se os nomes de Jônatas e de João Batista, aquele no Antigo Testamento e este no Novo. Ed 157 1 Jônatas -- por nascimento herdeiro do trono e não obstante ciente de que fora posto de lado pelo decreto divino; o mais terno e fiel amigo de seu rival Davi, cuja vida ele escudava com perigo da sua própria; firme ao lado do pai através dos tenebrosos dias de seu poder em declínio, e a seu lado tombando ele mesmo finalmente -- acha-se o seu nome guardado como tesouro nos Céus, e na Terra permanece como um testemunho da existência e do poder do amor abnegado. Ed 157 2 João Batista abalou a nação, por ocasião de seu aparecimento, na qualidade de arauto do Messias. De uma para outra parte seus passos eram seguidos por vastas multidões constituídas de pessoas de todas as classes e condições. Mas quando chegou Aquele de quem ele dera testemunho, tudo se mudou. As multidões acompanharam a Jesus, e a obra de João parecia encerrar-se rapidamente. Contudo não houve vacilação na sua fé. "É necessário", disse ele, "que Ele cresça e que eu diminua." João 3:30. Ed 157 3 Passou-se o tempo, e o reino que João confiantemente esperara não se estabeleceu. No calabouço de Herodes, separado do ar vivificante e da liberdade do deserto, ele aguardava e vigiava. Ed 157 4 Não houve exibição e armas, nem despedaçamento de portas de prisões; mas a cura de enfermos, a pregação do evangelho, o erguimento das almas humanas testificavam da missão de Cristo. Ed 157 5 Sozinho no calabouço, vendo onde ia terminar o seu caminho e o de seu Mestre, João aceitara este encargo -- a comunhão com Cristo no sacrifício. Mensageiros celestiais assistiram-no até ao túmulo. Os seres do Universo, caídos ou não, testemunharam a reivindicação do serviço abnegado, feita por ele. Ed 157 6 Em todas as gerações que se têm passado desde então, almas sofredoras têm sido amparadas pelo testemunho da vida de João. Na masmorra, no patíbulo, nas chamas, homens e mulheres, no decorrer dos séculos de trevas, têm sido fortalecidos pela memória daquele de quem Cristo declarou: "Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista." Mateus 11:11. Ed 158 1 "E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, ... e de Samuel, e dos profetas; os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos. Ed 158 2 "As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e os outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e caverna da terra. Ed 158 3 "E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa; provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados." Hebreus 11:32-40. ------------------------Capítulo 17 -- Poesias e cânticos Ed 159 0 "Os Teus estatutos têm sido os meus cânticos no lugar das minhas peregrinações." Ed 159 1 As mais antigas bem como as mais sublimes expressões poéticas que se conhecem, encontram-se nas Escrituras. Antes que os primeiros poetas do mundo houvessem cantado, o pastor de Midiã registrou as seguintes palavras de Deus a Jó, palavras estas a que as mais elevadas produções do gênio humano não igualam, ou de que não se aproximam, tal é sua majestade: Ed 159 2 "Onde estavas tu, quando Eu fundava a Terra? ... Ou quem encerrou o mar com portas, Quando ele transbordou,... Quando Eu pus as nuvens por sua vestidura, E a escuridão por envolvedouro? Quando passei sobre ele o Meu decreto, E lhe pus portas e ferrolhos, E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, E aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas? Ed 159 3 "Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada, Ou mostraste à alva o seu lugar?... Ed 159 4 "Ou entraste tu até às origens do mar, Ou passeaste no mais profundo do abismo? Ou descobriram-se-te as portas da morte, Ou viste as portas da sombra da morte? Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da Terra? Faze-Mo saber, se sabes tudo isto. Ed 159 5 "Onde está o caminho da morada da luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar? ... Ed 160 1 "Ou entraste tu até aos tesouros da neve, E viste os tesouros da saraiva?... Onde está o caminho em que se reparte a luz, E se espalha o vento oriental sobre a terra? Quem abriu para a inundação um leito, E um caminho para o relâmpago dos trovões; Para chover sobre a terra, onde não há ninguém, E no deserto, em que não há gente; Para fartar a terra deserta e assolada, E para fazer crescer os renovos da erva?" Ed 160 2 "Ou poderás tu ajuntar as delícias das sete estrelas, Ou soltar os atilhos do Órion? Ou produzir as constelações a seu tempo, E guiar a Ursa com seus filhos?" Jó 38:4-27; 38:31, 32. Ed 160 3 Pela beleza de expressão leia também a descrição da Primavera, nos Cantares de Salomão: Ed 160 4 "Eis que passou o inverno; A chuva cessou, e se foi; Aparecem as flores na terra, O tempo de cantar chega, E a voz da rola ouve-se em nossa terra; A figueira já deu os seus figuinhos, E as vides em flor Exalam o seu aroma; Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem." Cantares 2:11-13. Ed 160 5 E nada inferior em beleza é a profecia involuntária de Balaão para abençoar a Israel: Ed 160 6 "De Arã me mandou trazer Balaque, Rei dos moabitas, das montanhas do Oriente, Dizendo: Vem, amaldiçoa-me a Jacó; E vem, detesta a Israel. Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? E como detestarei, quando o Senhor não detesta? Porque do cume das penhas o vejo, E dos outeiros o contemplo: Eis que este povo habitará só, E entre as gentes não será contado. ... Ed 161 1 "Eis que recebi mandado de abençoar; Pois Ele tem abençoado, e eu não o posso revogar. Não viu iniqüidade em Israel, Nem contemplou maldade em Jacó; O Senhor seu Deus é com ele, E nele, e entre eles se ouve o alarido de um rei. ... Pois contra Jacó não vale encantamento, Nem adivinhação contra Israel. Neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem obrado! Ed 161 2 "Fala aquele que ouviu os ditos de Deus, O que vê a visão do Todo-poderoso: ... Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! As tuas moradas, ó Israel! Como ribeiros se estendem, Como jardins ao pé dos rios; Como árvores de sândalo o Senhor os plantou, Como cedros junto às águas." Ed 161 3 "Fala aquele que ouviu os ditos de Deus, E o que sabe a ciência do Altíssimo. ... Vê-Lo-ei, mas não agora; Contemplá-Lo-ei, mas não de perto; Uma estrela procederá de Jacó, E um cetro subirá de Israel. ... E dominará Um de Jacó." Números 23:7-23; 24:4-6, 16-19. Ed 161 4 A melodia de louvor é a atmosfera do Céu; e, quando o Céu vem em contato com a Terra, há música e cântico -- "ação de graças e voz de melodias". Isaías 51:3. Ed 161 5 Sobre a Terra recém-criada que aí estava, linda e sem mácula, sob o sorriso de Deus, "as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. Assim, os corações humanos, em simpatia com o Céu, têm correspondido à bondade de Deus em notas de louvor. Muitos dos fatos da história humana se têm ligado a cânticos. Ed 162 1 O mais antigo cântico procedente de lábios humanos, registrado na Bíblia, foi aquela gloriosa expansão de ações de graças pelas hostes de Israel no Mar Vermelho: Ed 162 2 "Cantarei ao Senhor, porque sumamente Se exaltou; Lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. O Senhor é a minha força, e o meu cântico; E Ele me foi por salvação; Este é o meu Deus, portanto Lhe farei uma habitação; Ele é o Deus de meu pai, por isso O exaltarei." Ed 162 3 "A Tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em potência; A Tua destra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo; ... Ó Senhor, quem é como Tu entre os deuses? Quem é como Tu, glorificado em santidade, Terrível em louvores, obrando maravilhas?" Ed 162 4 "O Senhor reinará eterna e perpetuamente; ... Cantai ao Senhor, porque sumamente Se exaltou." Êxodo 15:1, 2, 6-11, 18-21. Ed 162 5 Grandes têm sido as bênçãos recebidas pelos homens em resposta aos cânticos de louvor. Estas poucas palavras que repetem uma experiência da viagem de Israel pelo deserto, contêm uma lição digna de meditação: Ed 162 6 "Dali partiram para Beer; este é o poço do qual o Senhor disse a Moisés: Ajunta o povo, e lhe darei água." Números 21:16. "Então Israel cantou este cântico: Ed 162 7 "Sobe, poço, e vós cantai dele! Tu, poço, que cavaram os príncipes, Que escavaram os nobres do povo, E o legislador com os seus bordões." Números 21:17, 18. Ed 162 8 Quantas vezes na experiência espiritual se repete esta história! Quantas vezes pelas palavras de um cântico sagrado se descerram na alma as fontes do arrependimento e da fé, da esperança, do amor e da alegria! Ed 163 1 Foi com cânticos de louvor que os exércitos de Israel saíram para o grande livramento sob Josafá. Tinham vindo a Josafá as notícias de ameaças de guerra. "Vem contra ti uma grande multidão", foi a mensagem; "os filhos de Moabe, e os filhos de Amom, e com eles alguns outros." "Então Josafá temeu, e pôs-se a buscar o Senhor, e apregoou jejum em todo o Judá. E Judá se ajuntou, para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá vieram para buscar ao Senhor." E Josafá, em pé no pátio do templo, diante do povo, derramou a sua alma em oração, reclamando a promessa de Deus, com a confissão do desamparo de Israel. "Em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós", disse ele; "e não sabemos nós o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti." 2 Crônicas 20:2, 1, 3, 4, 12. Ed 163 2 Então sobre Jaaziel, levita, "veio o Espírito do Senhor; ... e disse: Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Josafá. Assim o Senhor vos diz: Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, senão de Deus. ... Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco." 2 Crônicas 20:14-17. Ed 163 3 "E pela manhã cedo se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa." 2 Crônicas 20:20. Diante do exército iam cantores, erguendo a voz em louvor a Deus -- louvando-O pela vitória prometida. Ed 163 4 No quarto dia o exército voltou a Jerusalém, carregado com despojos do inimigo, cantando louvores pela vitória alcançada. Ed 164 1 Pelo cântico, Davi, entre as vicissitudes de sua vida tão cheia de mudanças, entretinha comunhão com o Céu. Quão suaves são suas experiências como um pastorzinho, conforme se refletem nestas palavras: Ed 164 2 "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, Guia-me mansamente a águas tranqüilas. ... Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, Não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; A Tua vara e o Teu cajado me consolam." Salmos 23:1-4. Ed 164 3 Em sua varonilidade, como um fugitivo a quem se procurava prender, encontrando ele refúgio nas rochas e cavernas, escreveu: Ed 164 4 "Ó Deus, Tu és o meu Deus; de madrugada Te buscarei. A minha alma tem sede de Ti; a minha carne Te deseja muito Em uma terra seca e cansada, onde não há água. ... Tu tens sido o meu auxílio; Jubiloso cantarei refugiado à sombra das Tuas asas." Ed 164 5 "Por que estás abatida, ó minha alma, E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, Pois ainda O louvarei. Ele é a salvação da minha face, E o meu Deus." Ed 164 6 "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; A quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; De quem me recearei?" Salmos 63:1, 7; 42:11; 27:1. Ed 164 7 Respiram a mesma confiança as palavras escritas por Davi quando, como rei destronado e despojado da coroa, fugia de Jerusalém pela rebelião de Absalão. Exausto com a dor e cansaço de sua fuga, ele e seus companheiros demoraram-se ao lado do Jordão algumas horas para descansar. Despertou com o chamado para fugir imediatamente. Nas trevas, a passagem daquele rio profundo e torrentoso teve de ser feita por toda aquela multidão de homens, mulheres e crianças; pois bem perto estavam, após eles, as forças do filho traidor. Ed 165 1 Naquela hora da mais negra provação, cantou Davi: Ed 165 2 "Com a minha voz clamei ao Senhor, Ele ouviu-me desde o Seu santo monte. Ed 165 3 "Eu me deitei e dormi; Acordei porque o Senhor me sustentou. Não terei medo de dez milhares de pessoas que se puseram contra mim ao meu redor." Salmos 3:4-6. Ed 165 4 Depois de seu grande pecado, na angústia do remorso e desgosto de si próprio, ainda se voltava para Deus como o seu melhor amigo: Ed 165 5 "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; Apaga as minhas transgressões, Segundo a multidão das Tuas misericórdias. ... Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; Lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve." Salmos 51:1, 7. Ed 165 6 Em sua longa vida, Davi não encontrou na Terra lugar de descanso. "Somos estranhos diante de Ti, e peregrinos como todos os nossos pais", disse ele; "como a sombra são os nossos dias sobre a Terra, e não há outra esperança." 1 Crônicas 29:15. Ed 165 7 "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, Socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a Terra se mude, E ainda que os montes se transportem para o meio dos mares." Ed 165 8 "Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; não será abalada; Deus a ajudará ao romper da manhã. ... O Senhor dos exércitos está conosco; O Deus de Jacó é o nosso refúgio." Ed 165 9 "Este Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será nosso guia até à morte." Salmos 46:1, 2, 4, 5, 7; 48:14. Ed 166 1 Com um cântico, Jesus, em Sua vida terrestre, defrontou a tentação. Muitas vezes, quando eram proferidas palavras cortantes, pungentes, outras vezes em que a atmosfera em redor dEle se tornava saturada de tristeza, descontentamento, desconfiança, temor opressivo, ouvia-se o Seu canto de fé e de santa animação. Ed 166 2 Naquela última e triste noite da ceia pascoal, quando Ele estava a ponto de sair para ser traído e morto, alçou a voz no salmo: Ed 166 3 "Seja bendito o nome do Senhor, Desde agora para sempre. Desde o nascimento do Sol até ao ocaso, Seja louvado o nome do Senhor." Ed 166 4 "Amo ao Senhor, porque Ele ouviu a minha voz e a minha súplica, Porque inclinou para mim os Seus ouvidos; Portanto invocá-Lo-ei enquanto viver. Ed 166 5 "Cordéis da morte me cercaram, E angústias do inferno se apoderaram de mim; Encontrei aperto e tristeza. Então invoquei o nome do Senhor, Dizendo: Ó Senhor, livra a minha alma. Piedoso é o Senhor e justo; O nosso Deus tem misericórdia Ed 166 6 "O Senhor guarda aos símplices: Estava abatido, mas Ele me livrou. Volta, minha alma, a teu repouso, Pois o Senhor te fez bem. Porque Tu, Senhor, livraste a minha alma da morte, Os meus olhos das lágrimas, e os meus pés da queda." Salmos 113:2, 3; 116:1-8. Ed 166 7 Por entre as sombras cada vez mais profundas da última e grande crise da Terra, a luz de Deus resplandecerá com maior brilho, e o canto de confiança e esperança ouvir-se-á nos mais claros e sublimes acordes. Ed 167 1 "Naquele dia se entoará este cântico na terra de Judá: Uma forte cidade temos, A que Deus pôs a salvação por muros e antemuros. Abri as portas, Para que entre nela a nação justa, que observa a verdade. Tu conservarás em paz aquele Cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti. Confiai no Senhor perpetuamente; Porque o Senhor Deus é uma rocha eterna." Isaías 26:1-4. Ed 167 2 "Os resgatados do Senhor voltarão, e virão a Sião com "júbilo e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido". Isaías 35:10. Ed 167 3 "Virão, e exultarão na altura de Sião, e correrão aos bens do Senhor,... e a sua alma será como um jardim regado, e nunca mais andarão tristes." Jeremias 31:12. O poder do canto Ed 167 4 A história dos cânticos da Bíblia está repleta de sugestões quando aos usos e benefícios da música e do canto. A música muitas vezes é pervertida para servir a fins maus, e assim se torna um dos poderes mais sedutores para a tentação. Corretamente empregada, porém, é um dom precioso de Deus, destinado a erguer os pensamentos a coisas altas e nobres, a inspirar e elevar a alma. Ed 167 5 Assim como os filhos de Israel, jornadeando pelo deserto, suavizavam pela música de cânticos sagrados a sua viagem, Deus ordena a Seus filhos hoje que alegrem a sua vida peregrina. Poucos meios há mais eficientes para fixar Suas palavras na memória do que repeti-las em cânticos. E tal cântico tem maravilhoso poder. Tem poder para subjugar as naturezas rudes e incultas; poder para suscitar pensamentos e despertar simpatia, para promover a harmonia de ação e banir a tristeza e os maus pressentimentos, os quais destroem o ânimo e debilitam o esforço. Ed 168 1 É um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais. Quantas vezes à alma oprimida duramente e pronta a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus -- as de um estribilho, há muito esquecido, de um hino da infância -- e as tentações perdem o seu poder, a vida assume nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras almas! Ed 168 2 Nunca se deve perder de vista o valor do canto como meio de educação. Que haja cântico no lar, de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e mais de animação, esperança e alegria. Haja canto na escola, e os alunos serão levados para mais perto de Deus, dos professores e uns dos outros. Ed 168 3 Como parte do culto, o canto é um ato de adoração tanto como a oração. Efetivamente, muitos hinos são orações. Se a criança é ensinada a compreender isto, ela pensará mais no sentido das palavras que canta, e se tornará mais susceptível à sua influência. Ed 168 4 Ao guiar-nos nosso Redentor ao limiar do Infinito, resplandecente com a glória de Deus, podemos aprender o assunto dos louvores e ações de graças do coro celestial em redor do trono; e despertando-se o eco do cântico dos anjos em nossos lares terrestres, os corações serão levados para mais perto dos cantores celestiais. A comunhão do Céu começa na Terra. Aqui aprendemos a nota tônica de seu louvor. ------------------------Capítulo 18 -- Mistérios da Bíblia Ed 169 0 "Porventura alcançarás os caminhos de Deus?" Ed 169 1 Nenhum espírito finito pode compreender completamente o caráter ou as obras do Ser infinito. Não podemos pelas nossas pesquisas encontrar a Deus. Para os espíritos mais fortes e mais altamente educados, assim como para os mais fracos e ignorantes, aquele Ente santo deverá permanecer revestido de mistério. Mas conquanto "nuvens e obscuridade estão ao redor dEle; justiça e juízo são a base de Seu trono". Salmos 97:2. Podemos compreender Seu trato para conosco a ponto de discernir a misericórdia ilimitada unida ao infinito poder. É-nos dado compreender tanto de Seus propósitos quanto somos capazes de abranger; para além disto podemos ainda confiar naquela mão que é onipotente, naquele coração repleto de amor. Ed 169 2 A Palavra de Deus, semelhantemente ao caráter de seu Autor, apresenta mistérios que jamais poderão ser compreendidos amplamente por seres finitos. Deus, porém, deu nas Escrituras evidências suficientes da divina autoridade delas. Sua própria existência, Seu caráter, a veracidade de Sua Palavra, são estabelecidos por testemunhos que falam à nossa razão; e tais testemunhos são abundantes. É fato que Ele não removeu a possibilidade da dúvida; a fé deve repousar sobre a evidência e não sobre a demonstração; os que desejam duvidar terão oportunidade para isto; aqueles, porém, que desejam conhecer a verdade encontrarão terreno amplo para a fé. Ed 170 1 Não temos motivos para duvidar da Palavra de Deus, por não podermos compreender os mistérios de Sua providência. Achamo-nos, na Natureza, constantemente rodeados de maravilhas além de nossa compreensão. Deveríamos, pois, surpreender-nos ao encontrar também no mundo espiritual mistérios que não podemos sondar? A dificuldade jaz unicamente na fraqueza e estreiteza da mente humana. Ed 170 2 Os mistérios da Bíblia, longe de serem um argumento contra ela, acham-se entre as maiores evidências de sua inspiração divina. Se não contivesse outras referências a Deus que não as que podemos compreender, se pudessem Sua grandeza e majestade ser apreendidas pela mente finita, então a Bíblia não teria infalíveis evidências de sua origem divina, como tem. A grandeza de seus temas deve inspirar fé, nela, como a Palavra de Deus. Ed 170 3 A Bíblia explica a verdade com tal simplicidade e adaptação às necessidades e anelos do coração humano, que tem admirado e encantado os espíritos mais altamente cultos, ao mesmo tempo em que ao humilde e sem cultura também esclarece o caminho da vida. "Os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão." Isaías 35:8. Nem a criança errará o caminho. Nem o inquiridor timorato deixará de andar na pura e santa luz. Contudo, as verdades relatadas da mais simples maneira abrangem temas elevados, de grande alcance, infinitamente além do poder da compreensão humana -- mistérios estes que são o esconderijo de Sua glória -- mistérios que sobrepujam a mente em suas pesquisas, enquanto inspiram o sincero investigador da verdade que age com reverência e fé. Quanto mais investigamos a Bíblia, mais profunda se torna a nossa convicção de que é a Palavra do Deus vivo, e a razão humana curva-se perante a majestade da revelação divina. Ed 170 4 Deus tem o intuito de que ao investigador fervoroso as verdades de Sua Palavra sempre estejam a desdobrar-se. Enquanto "as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus", "as reveladas são para nós e para os nossos filhos". Deuteronômio 29:29. A idéia de que certas porções da Bíblia não podem ser compreendidas, tem ocasionado negligenciarem-se algumas de suas mais importantes verdades. Necessita ser encarecido e muitas vezes repetido o fato de que os mistérios da Bíblia não são tais porque Deus tenha desejado ocultar a verdade, mas porque nossa própria fraqueza ou ignorância nos tornam incapazes de compreender a verdade, ou delas nos apropriarmos. Esta limitação não é no Seu propósito, mas sim em nossa capacidade. Dessas mesmas porções das Escrituras, muitas vezes consideradas como impossíveis de se compreenderem, Deus deseja que compreendamos tanto quanto nossa mente possa receber. É "toda a Escritura divinamente inspirada" a fim de que possamos ser perfeitamente instruídos "para toda a boa obra". 2 Timóteo 3:16, 17. Ed 171 1 É impossível a qualquer mente humana esgotar mesmo uma única verdade ou promessa da Bíblia. Um apanha a glória sob um ponto de vista, outro sob outro ponto; contudo, podemos divisar apenas lampejos. O brilho completo está além de nossa visão. Ed 171 2 Ao contemplarmos as grandes coisas da Palavra de Deus, olhamos para uma fonte que se alarga e se aprofunda sob a nossa admiração. Sua largura e profundidade ultrapassam o nosso conhecimento. Contemplando, amplia-se a nossa visão; estendido diante de nós vemos um mar ilimitado e sem praias. Ed 171 3 Tal estudo tem um poder vivificador. O espírito e o coração adquirem nova força, nova vida. Ed 171 4 Este resultado é a mais elevada evidência da autoria divina da Bíblia. Recebemos a Palavra de Deus como o alimento para a alma, mediante a mesma evidência pela qual recebemos o pão como alimento para o corpo. O pão supre a necessidade de nossa natureza; sabemos por experiência que ele produz sangue, ossos e cérebro. Aplicai a mesma prova à Bíblia: quando seus princípios se houverem tornado na realidade os elementos do caráter, qual será o resultado? que mudanças se operarão na vida? "As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." 2 Coríntios 5:17. Homens e mulheres têm rompido as cadeias de hábitos pecaminosos, no poder da Palavra. Têm renunciado ao egoísmo. Os profanos têm-se tornado reverentes, os ébrios sóbrios, os devassos puros. Almas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus. Esta mudança é em si mesma o milagre dos milagres. Uma mudança operada pela Palavra é um dos mais profundos mistérios dessa Palavra. Não o podemos compreender; apenas podemos crer, como declaram as Escrituras, que "é Cristo em vós, esperança da glória". Colossences 1:27. Ed 172 1 O conhecimento deste mistério fornece a chave de todos os outros. Abre à alma os tesouros do Universo, as possibilidades do desenvolvimento infinito. Ed 172 2 E este desenvolvimento se adquire mediante o constante desdobrar diante de nós do caráter de Deus -- a glória e o mistério da Palavra escrita. Se nos fosse possível atingir uma completa compreensão de Deus e Sua Palavra, não mais haveria para nós descobertas de verdades, conhecimentos maiores ou maiores desenvolvimentos. Deus deixaria de ser supremo, e o homem deixaria de adiantar-se. Graças a Deus por assim não ser. Desde que Deus é infinito, e nEle estão todos os tesouros da sabedoria, podemos durante toda a eternidade estar sempre a pesquisar, sempre a aprender, e contudo nunca exaurir as riquezas de Sua sabedoria, Sua bondade, ou Seu poder. ------------------------Capítulo 19 -- História e profecia Ed 173 0 "Quem fez ouvir isto desde a antiguidade? porventura não sou Eu, o Senhor? E não há outro Deus senão Eu." Ed 173 1 A Bíblia é a história mais antiga e compreensiva que os homens possuem. Procedeu diretamente da fonte da verdade eterna, e no decorrer dos séculos uma mão divina tem preservado a sua pureza. Ilumina o remoto passado, onde a pesquisa humana debalde procura penetrar. Somente na Palavra de Deus contemplamos o poder que lançou os fundamentos da Terra e estendeu os céus. Unicamente ali encontramos um relato autêntico da origem das nações. Apenas ali se apresenta a história de nossa raça, não maculada do orgulho e preconceito humanos. Ed 173 2 Nos anais da história humana o crescimento das nações, o levantamento e queda de impérios, aparecem como dependendo da vontade e façanhas do homem. O desenvolver dos acontecimentos em grande parte parece determinar-se por seu poder, ambição ou capricho. Na Palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina, e contemplamos ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um Ser todo misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade. Ed 173 3 A Bíblia revela a verdadeira filosofia da História. Naquelas palavras de beleza e ternura sem-par, proferidas pelo apóstolo Paulo aos sábios de Atenas, apresenta-se o propósito de Deus na criação e distribuição das raças e nações: Ele "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar". Atos dos Apóstolos 17:26, 27. Deus declara que quem quiser poderá entrar "no vínculo do concerto". Ezequiel 20:37. Era o Seu propósito na criação que a Terra fosse habitada por seres cuja existência fosse uma bênção, a si mesmos e entre si, e uma honra a seu Criador. Todos os que quiserem poderão identificar-se com este propósito. A respeito deles foi dito: "Este povo que formei para Mim, para que Me desse louvor." Isaías 43:21. Ed 174 1 Deus revelou em Sua lei os princípios que constituem a base para toda a prosperidade, tanto das nações como dos indivíduos. "Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento", declarou Moisés aos israelitas acerca da lei de Deus. "Esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida." Deuteronômio 4:6; 32:47. As bênçãos que assim se asseguravam a Israel, nas mesmas condições e em grau igual se asseguram a toda nação e indivíduo debaixo do vasto céu. Ed 174 2 O poder exercido por todo governante sobre a Terra, é-lhe comunicado pelo Céu; e depende seu êxito do uso que fizer do poder que assim lhe é concedido. A cada um se dirige a palavra do divino Vigia: "Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças." Isaías 45:5. E a cada um as palavras faladas a Nabucodonosor, na antigüidade, são a lição da vida: "Desfaze os teus pecados pela justiça, e as tuas iniqüidades usando de misericórdia com os pobres, se se prolongar a tua tranqüilidade." Daniel 4:27. Ed 175 1 Compreender que "a justiça exalta as nações", que "com justiça se estabelece o trono" e que "com benignidade" (Provérbios 14:34; 16:12; 20:28) ele é mantido; reconhecer a operação destes princípios na manifestação de Seu poder que "remove os reis e estabelece os reis" (Daniel 2:21) -- corresponde a entender a filosofia da História. Ed 175 2 Unicamente na Palavra de Deus isto se acha claramente estabelecido. Ali se revela que a força das nações, como a dos indivíduos, não se acha nas oportunidades ou facilidades que parecem torná-las invencíveis; não se acha em sua decantada grandeza. Mede-se ela pela fidelidade com que cumprem o propósito de Deus. Ed 175 3 Uma ilustração desta verdade encontra-se na história da antiga Babilônia. Ao rei Nabucodonosor o verdadeiro objeto do governo nacional foi representado sob a figura de uma grande árvore, cuja altura "chegava até ao céu; e foi vista até aos confins da terra. A sua folhagem era formosa, e o seu fruto abundante, e havia nela sustento para todos"; à sua sombra os animais do campo moravam, e entre os seus ramos as aves do céu tinham sua habitação. Daniel 4:11, 12. Tal representação mostra o caráter de um governo que cumpre o propósito de Deus -- governo este que protege e consolida a nação. Ed 175 4 Deus exaltou Babilônia para que ela pudesse cumprir este propósito. A prosperidade favoreceu a nação, até que ela atingisse uma altura de riqueza e poder que desde então nunca foi igualada -- apropriadamente representada na Escritura pelo símbolo inspirado: uma "cabeça de ouro". Daniel 2:38. Ed 175 5 Mas o rei deixou de reconhecer o poder que o exaltara. No orgulho de seu coração disse Nabucodonosor: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência?" Daniel 4:30. Ed 176 1 Em vez de ser protetora dos homens, tornara-se Babilônia opressora orgulhosa e cruel. As palavras da inspiração, descrevendo a crueldade e avareza dos governantes de Israel, revelam o segredo da queda de Babilônia, e da de muitos outros reinos desde que principiou o mundo: "Comeis a gordura, e vos vestis da lã; degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza." Ezequiel 34:3, 4. Ed 176 2 Ao governador de Babilônia sobreveio a sentença do Vigia divino: "A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino." Daniel 4:31. Ed 176 3 "Desce, e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia; Assenta-te no chão; não há já trono. ... Assenta-te silenciosa, E entra nas trevas, ó filha dos caldeus, Porque nunca mais serás chamada senhora de reinos." Isaías 47:1, 5. Ed 176 4 "Ó tu, que habitas sobre muitas águas, rica de tesouros! Chegou o teu fim, a medida da tua avareza." Ed 176 5 "Babilônia, o ornamento dos reinos, A glória e a soberba dos caldeus, Será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou." Ed 176 6 "E reduzi-la-ei a possessão de corujas e a lagoas de águas, e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos." Jeremias 51:13; Isaías 13:19; 14:23. Ed 176 7 A cada nação que tem subido ao cenário da atividade, tem sido permitido que ocupasse seu lugar na Terra, para que se pudesse ver se ela cumpriria o propósito "do Vigia e Santo". A profecia delineou o levantamento e queda dos grandes impérios mundiais -- Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. Com cada um destes, assim como com nações de menos poder, tem-se repetido a história. Cada qual teve seu período de prova, e cada qual fracassou; esmaeceu sua glória, passou-se-lhe o poder e o lugar foi ocupado por outra nação. Ed 177 1 Conquanto as nações rejeitassem os princípios de Deus, e com esta rejeição operassem a sua própria ruína, todavia era manifesto que o predominante propósito divino estava agindo através de todos os seus movimentos. Ed 177 2 Esta lição é ensinada por meio de uma maravilhosa representação simbólica exibida ao profeta Ezequiel durante o seu exílio na terra dos caldeus. A visão foi dada em uma ocasião em que Ezequiel estava sobrecarregado de tristes lembranças e presságios perturbadores. Achava-se desolada a terra de seus pais. Jerusalém encontrava-se despovoada. O próprio profeta era estrangeiro em uma terra em que a ambição e a crueldade reinavam supremas. Como de todos os lados encontrasse tiranias e delitos, angustiou-se-lhe a alma, e chorava dia e noite. Os símbolos que lhe foram apresentados revelavam, porém, um poder superior ao dos governantes terrestres. Ed 177 3 Nas margens do rio Quebar, contemplou Ezequiel um redemoinho que parecia vir do norte, e "uma grande nuvem, com um fogo a revolver-se; e um resplendor ao redor dela, e no meio uma coisa como da cor de âmbar". Algumas rodas, cruzando-se entre si, eram movidas por quatro criaturas viventes. No alto, acima de tudo, estava "uma semelhança de trono, como duma safira; e sobre a semelhança do trono havia como que a semelhança de um homem, no alto sobre ele". "E apareceu nos querubins uma semelhança de mão de homem debaixo das suas asas." Ezequiel 1:4, 26; 10:8. As rodas eram tão complicadas em seu arranjo que à primeira vista pareciam estar em confusão: mas moviam-se em perfeita harmonia. Seres celestiais, sustidos e guiados pela mão que estava sob as asas dos querubins, impeliam aquelas rodas; acima delas, sobre o trono de safira, estava o Eterno; e em redor do trono um arco-íris -- emblema da misericórdia divina. Ed 178 1 Assim como aquela complicação de semelhanças de rodas se achava sob a direção da mão que havia sob as asas dos querubins, o complicado jogo dos acontecimentos humanos acha-se sob a direção divina. Por entre as contendas e tumultos das nações, Aquele que Se assenta acima dos querubins ainda dirige os negócios da Terra. Ed 178 2 A história das nações que, uma após outra, têm ocupado seus destinados tempos e lugares, testemunhando inconscientemente da verdade da qual elas próprias desconheciam o sentido, fala a nós. A cada nação, a cada indivíduo de hoje, tem Deus designado um lugar no Seu grande plano. Homens e nações estão sendo hoje medidos pelo prumo que se acha na mão dAquele que não comete erro. Todos estão pela sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está governando acima de tudo para o cumprimento de Seu propósito. Ed 178 3 A história que o grande Eu Sou assinalou em Sua Palavra, unindo-se cada elo aos demais na cadeia profética, desde a eternidade no passado até à eternidade no futuro, diz-nos onde nos achamos hoje, no prosseguimento dos séculos, e o que se poderá esperar no tempo vindouro. Tudo o que a profecia predisse como devendo acontecer, até à presente época, tem-se traçado nas páginas da História, e podemos estar certos de que tudo que ainda deve vir se cumprirá em sua ordem. Ed 179 1 A subversão final de todos os domínios terrestres está claramente predita na Palavra da verdade. Na profecia proferida quando a sentença divina foi pronunciada sobre o último rei de Israel, deu-se esta mensagem: Ed 179 2 "Assim diz o Senhor Jeová: Tira o diadema e levanta a coroa; ... exalta ao humilde, humilha ao soberbo. Ao revés, ao revés, ao revés a porei, e ela não será mais, até que venha Aquele a quem pertence de direito, e a Ele a darei." Ezequiel 21:26, 27. Ed 179 3 A coroa removida de Israel passou sucessivamente para os reinos de Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. Diz Deus: "E ela não será mais, até que venha Aquele a quem pertence de direito, e a Ele a darei." Ed 179 4 Esse tempo está às portas. Hoje, os sinais dos tempos declaram que nos achamos no limiar de grandes e solenes acontecimentos. Tudo em nosso mundo está em agitação. Ante os nossos olhos cumpre-se a profecia do Salvador relativa aos acontecimentos que precedem Sua vinda: "Ouvireis de guerras e rumores de guerras. ... Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares." Mateus 24:6, 7. Ed 179 5 A atualidade é uma época de absorvente interesse para todos os que vivem. Governadores e estadistas, homens que ocupam posições de confiança e autoridade, homens e mulheres pensantes de todas as classes, têm fixa a sua atenção nos fatos que se desenrolam em redor de nós. Acham-se a observar as relações tensas e inquietas que existem entre as nações. Observam a intensidade que está tomando posse de todo o elemento terrestre, e reconhecem que algo de grande e decisivo está para ocorrer, ou seja, que o mundo se encontra à beira de uma crise estupenda. Ed 179 6 Anjos acham-se hoje a refrear os ventos das contendas, para que não soprem antes que o mundo haja sido avisado de sua condenação vindoura; mas está-se formando uma tempestade, prestes a irromper sobre a Terra; e, quando Deus ordenar a Seus anjos que soltem os ventos, haverá uma cena de lutas que nenhuma pena poderá descrever. Ed 180 1 A Bíblia, e a Bíblia só, dá-nos uma perspectiva correta destas coisas. Ali estão reveladas as grandes cenas finais da história de nosso mundo, acontecimentos que já estão projetando suas sombras diante de si, fazendo o ruído de sua aproximação com que a Terra trema e o coração dos homens desmaie de temor. Ed 180 2 "Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores, ... porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão desolados. ... Cessou o folguedo dos tamboris, acabou o ruído dos que pulam de prazer, e descansou a alegria da harpa." Isaías 24:1, 5, 8. Ed 180 3 "Ah! aquele dia! porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-poderoso. ... A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns derribados, porque se secou o trigo. Como geme o gado! As manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas são destruídos." "A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens." Joel 1:15, 17, 18, 12. Ed 180 4 "Estou ferido no meu coração!... Não me posso calar, porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. Quebranto sobre quebranto se apregoa; porque já toda a Terra está destruída." Ed 181 1 "Observei a Terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam derribadas." Jeremias 4:19, 20, 23-26. Ed 181 2 "Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela." Jeremias 30:7. Ed 181 3 "Vai pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira." Isaías 26:20. Ed 181 4 "Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, Nem praga alguma chegará à tua tenda." Salmos 91:9, 10. Ed 181 5 "O Deus poderoso, o Senhor, falou E chamou a Terra desde o nascimento do Sol até ao seu ocaso. Desde Sião, a perfeição da formosura, resplandeceu Deus. Virá o nosso Deus, e não Se calará." Ed 181 6 "Chamará os céus, do alto, E a terra, para julgar o Seu povo. ... E os céus anunciarão a Sua justiça, Pois Deus mesmo é o juiz." Salmos 50:1-3, 4, 6. Ed 181 7 "Ó filha de Sião,... te remirá o Senhor da mão de teus inimigos. Agora se congregaram muitas nações contra ti, que dizem: e os nossos olhos verão seus desejos sobre Sião. Mas não sabem os pensamentos do Senhor nem entendem o Seu conselho." "Pois te chamam a enjeitada, dizendo: É Sião, por que ninguém já pergunta." "Acabarei o cativeiro das tendas de Jacó, e apiedar-Meei das suas moradas." Miquéias 4:10-12; Jeremias 30:17, 18. Ed 182 1 "E naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, A quem aguardávamos, e Ele nos salvará; Este é o Senhor, a quem aguardávamos; Na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos." Ed 182 2 "Aniquilará a morte para sempre,... e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a Terra; porque o Senhor o disse." Isaías 25:9, 8. Ed 182 3 "Olha para Sião, a cidade das nossas solenidades; os teus olhos verão a Jerusalém, habitação quieta, tenda que não será derribada. ... Porque o Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei." Isaías 33:20, 22. Ed 182 4 "Julgará com justiça os pobres, e repreenderá com eqüidade os mansos da Terra." Isaías 11:4. Ed 182 5 Então se cumprirá o propósito de Deus; os princípios do Seu reino serão honrados por todos debaixo do Sol. Ed 182 6 "Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, De desolação ou destruição nos teus termos; Mas aos teus muros chamarás salvação, E às tuas portas louvor." Ed 182 7 "Com justiça serás confirmada; Estarás longe da opressão, porque já não temerás; E também do espanto, porque não chegará a ti." Isaías 60:18; 54:14. Ed 183 1 Os profetas a quem foram reveladas estas grandes cenas, anelavam compreender sua significação. Eles "inquiriram e trataram diligentemente,... indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava. ... Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas;... para as quais coisas os anjos desejam bem atentar". 1 Pedro 1:10-12. Ed 183 2 A nós, que nos achamos nas vésperas do seu cumprimento, de quão profunda importância, de quão vívido interesse, são estes delineamentos de coisas vindouras -- fatos pelos quais, desde que nossos primeiros pais se retiraram do Éden, têm os filhos de Deus vigiado e esperado, ansiado e orado! Ed 183 3 Nesta época, anterior à grande crise final, assim como foi antes da primeira destruição do mundo, acham-se os homens absortos nos prazeres e satisfação dos sentidos. Embebidos com o visível e transitório, perderam de vista o invisível e eterno. Estão sacrificando riquezas imperecíveis pelas coisas que perecem com o uso. Sua mente precisa ser erguida, e alargada a sua visão acerca da vida. Precisam levantar-se da letargia de sonhos mundanos. Ed 183 4 Pelo levantamento e queda de nações, como se acha explicado nas páginas das Escrituras Sagradas, necessitam aprender quão sem valor são a simples aparência e a glória do mundo. Babilônia, com todo o seu poder e magnificência, quais desde então o mundo não mais viu -- poder e magnificência que ao povo daquela época pareciam estáveis e duradouros -- quão completamente passou ela! Como a "flor da erva", ela pereceu. Assim perece tudo que não tem a Deus como seu fundamento. Apenas o que se liga ao Seu propósito e exprime Seu caráter, permanecerá. Seus princípios são as únicas coisas firmes que o mundo conhece. Ed 184 1 São estas grandes verdades que velhos e jovens necessitam aprender. Precisamos estudar a realização dos propósitos de Deus na história das nações e na revelação de coisas vindouras, para que possamos estimar em seu verdadeiro valor as coisas visíveis e as invisíveis; para que possamos aprender qual é o verdadeiro objetivo da vida; para que, encarando as coisas temporais à luz da eternidade, possamos delas fazer o mais verdadeiro e nobre uso. Destarte, aprendendo aqui os princípios de Seu reino e tornando-nos Seus súditos e cidadãos, poderemos, por ocasião de Sua vinda, estar preparados para entrar com Ele na posse desse reino. Ed 184 2 O dia está às portas. Para a lição a ser aprendida, para a obra a ser feita, para a transformação do caráter a realizar-se, o tempo que resta não é senão um brevíssimo lapso. Ed 184 3 "Eis que os da casa de Israel dizem: A visão que este vê é para muitos dias, e ele profetiza de tempos que estão longe. Portanto dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Não será mais diferida nenhuma das Minhas palavras; e a palavra que falei se cumprirá, diz o Senhor Jeová." Ezequiel 12:27, 28. ------------------------Capítulo 20 -- Ensino e estudo da Bíblia Ed 185 0 "Para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido; e como a tesouros escondidos a procurares." Ed 185 1 Jesus estudou as Escrituras na meninice, na mocidade e na varonilidade. Como criança, aos joelhos de Sua mãe, do rolo dos profetas recebia diariamente instruções. Em Sua juventude, a madrugada e o crepúsculo vespertino muitas vezes O encontravam sozinho ao lado da montanha ou entre as árvores da floresta, passando uma hora silenciosa de oração e estudo da Palavra de Deus. Durante Seu ministério, a grande familiaridade com as Escrituras testifica de Sua diligência no estudo da mesma. E visto que Ele adquiriu conhecimento como nós o podemos também, Seu maravilhoso poder, não somente mental mas também espiritual, é um testemunho do valor da Bíblia como meio de educação. Ed 185 2 Nosso Pai celestial, ao dar Sua Palavra, não deixou despercebidas as crianças. Onde é que, dentre tudo que os homens hajam escrito, se poderá encontrar algo que tenha tal influência sobre o coração das crianças, algo tão bem adaptado para despertar o interesse delas, como sejam as histórias da Bíblia? Ed 185 3 Nestas singelas histórias podem-se esclarecer os grandes princípios da lei de Deus. Assim, por meio das ilustrações mais bem adaptadas à compreensão da criança, pais e professores podem começar muito cedo a cumprir a ordem do Senhor relativa aos Seus preceitos [ou palavras]: "E as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te." Deuteronômio 6:7. Ed 186 1 O uso de comparações, quadros-negros, mapas e gravuras, será de auxílio na explicação destas lições e na fixação das mesmas na memória. Pais e professores devem constantemente procurar métodos aperfeiçoados. O ensino da Bíblia deve ter os nossos mais espontâneos pensamentos, nossos melhores métodos, e o nosso mais fervoroso esforço. Ed 186 2 Para que se desperte e fortaleça o amor ao estudo da Bíblia, muito depende do uso feito da hora de culto. As horas do culto matutino e vespertino devem ser as mais agradáveis e auxiliadoras do dia. Compreenda-se que nestas horas nenhum pensamento perturbador ou mau se deve intrometer; que pais e filhos se reúnam a fim de se encontrarem com Jesus, e convidar ao lar a presença dos santos anjos. Seja o culto breve e cheio de vida, adaptado à ocasião, e variado de tempo em tempo. Tomem todos parte na leitura da Bíblia, e aprendam e repitam muitas vezes a lei de Deus. Contribuirá para maior interesse das crianças ser-lhes algumas vezes permitido escolher o trecho a ser lido. Interroguem-nas a respeito do mesmo, e permitam que façam perguntas. Mencionem qualquer coisa que sirva para ilustrar o sentido. Se o culto não se tornar demasiado longo, façam com que os pequeninos tomem parte na oração e unam-se eles ao canto, ainda que seja uma única estrofe. Ed 186 3 Para se fazer com que este culto seja como deve ser, é necessário que pensemos previamente na sua preparação. Os pais devem tomar tempo diariamente para o estudo da Bíblia com seus filhos. Não há dúvida de que isto exigirá esforço e a organização de um plano para tal, bem como algum sacrifício para o realizar; o esforço, porém, será ricamente recompensado. Ed 187 1 Como preparo para o ensino de Seus preceitos, Deus ordena que sejam eles escondidos no coração dos pais. "E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração", diz Ele; "e as intimarás a teus filhos." Deuteronômio 6:6, 7. A fim de que interessemos nossos filhos na Bíblia, nós mesmos devemos estar interessados nela. Para despertarmos neles amor ao seu estudo, devemos amá-la. A instrução que lhes damos terá apenas a importância da influência que lhe emprestarmos pelo nosso próprio exemplo e espírito. Ed 187 2 Deus chamou Abraão para ser ensinador de Sua palavra, e escolheu-o para pai de uma grande nação, porque viu que instruiria aos filhos e à sua casa, nos princípios da Sua lei. E aquilo que dava poder ao ensino de Abraão, era a influência de sua própria vida. Sua grande casa consistia em mais de mil almas, muitas das quais chefes de famílias, e não poucos recém-conversos do paganismo. Tal casa exigia mão firme ao leme. Não seria suficiente nenhum método fraco e vacilante. A respeito de Abraão, disse Deus: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele". Gênesis 18:19. Contudo exercia sua autoridade com tal sabedoria e ternura que conquistava os corações. O testemunho do Vigia divino é, que guardavam "o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo". Gênesis 18:19. E a influência de Abraão estendeu-se além de sua própria casa. Onde quer que erigisse a sua tenda, levantava ao lado o altar para o sacrifício e culto. Quando se removia a tenda, o altar ficava; e mais de um cananeu errante, cujo conhecimento de Deus fora adquirido mediante a vida de Seu servo Abraão, detinha-se naquele altar para oferecer sacrifício a Jeová. Ed 187 3 Não menos eficiente será hoje o ensino da Palavra de Deus, se encontrar um reflexo assim tão fiel na vida do ensinador. Ed 188 1 Não basta sabermos o que outros têm pensado ou aprendido acerca da Bíblia. Cada qual deve no juízo dar conta de si mesmo a Deus, e deve hoje aprender por si mesmo o que é a verdade. Mas, para conseguir estudo eficiente, deve-se obter o interesse do aluno. Especialmente para o que tem de lidar com crianças e jovens que diferem grandemente na disposição, educação, hábitos de pensar, esta é uma questão que não se deve perder de vista. Ao ensinar a Bíblia às crianças, podemos conseguir muito observando a propensão de seu espírito, as coisas pelas quais se interessam, e despertando-lhes o interesse para verem o que diz a Bíblia a respeito dessas coisas. Aquele que nos criou com nossas várias aptidões, deu em Sua Palavra alguma coisa a cada um. Vendo os alunos que as lições da Bíblia se aplicam à sua própria vida, ensine-os a considerá-la como um conselheiro. Ed 188 2 Auxiliem-nos também a apreciar sua maravilhosa beleza. Muitos livros de nenhum valor real, e livros que são excitantes e perversores, são recomendados ou quando menos, permitidos à leitura, por causa de seu suposto valor literário. Por que haveríamos de encaminhar nossos filhos a beberem destas correntes poluídas, quando podem ter franco acesso às puras fontes da Palavra de Deus? A Bíblia tem uma inesgotável plenitude, força e profundidade de sentido. Animem as crianças e os jovens a descobrirem seus tesouros, tanto de pensamentos como de expressões. Ed 188 3 Ao atrair seu espírito à beleza destas coisas preciosas, tocará seu coração um poder que enternece e subjuga. Serão levados Àquele que assim se lhes revelou. E poucos há que não desejarão conhecer mais acerca de Suas obras e caminhos. Ed 189 1 O estudante da Bíblia deve ser ensinado a aproximar-se desta no espírito de quem quer aprender. Devemos pesquisar suas páginas, não à busca de provas com que manter nossas opiniões, mas com o fim de saber o que Deus diz. Ed 189 2 Um verdadeiro conhecimento da Bíblia só se pode obter pelo auxílio daquele Espírito pelo qual a Palavra foi dada. E a fim de obtermos este conhecimento, devemos viver por ele. A tudo que a Palavra de Deus ordena, devemos obedecer. Tudo que ela promete, podemos reclamar. A vida que ela recomenda, é a que pelo seu poder devemos viver. Unicamente quando a Bíblia é tida em tal consideração, poderá ela ser estudada eficientemente. Ed 189 3 O estudo da Bíblia exige o nosso mais diligente esforço e constante pensamento. Com o mesmo ardor e persistência com que o mineiro cava para obter o áureo tesouro da terra, devemos procurar o tesouro da Palavra de Deus. Ed 189 4 No estudo diário o método de estudar versículo por versículo é muitas vezes o mais eficaz. Tome o estudante um versículo, e concentre o espírito em descobrir o pensamento que Deus ali pôs para ele, e então se demore nesse pensamento até que se torne seu também. Uma passagem estudada assim até que sua significação esteja clara, é de mais valor do que o manuseio de muitos capítulos sem nenhum propósito definido em vista, e sem nenhuma instrução positiva obtida. Ed 189 5 Uma das principais causas de ineficiência mental e fraqueza moral, é a falta de concentração para fins dignos. Orgulhamo-nos da vasta difusão de literatura; mas a multiplicação de livros, até os que em si mesmos não são perniciosos, pode ser um positivo mal. Com a imensa maré de material impresso a derramar-se constantemente do prelo, velhos e jovens formam o hábito da leitura apressada e superficial, e a mente perde a sua capacidade para um pensamento contínuo e vigoroso. Ademais, uma participação abundante das revistas e livros que, à semelhança das rãs do Egito, se estão espalhando pela Terra, não é meramente coisa banal, ociosa e enervante, mas impura e degradante. Seu efeito não consiste simplesmente em envenenar e arruinar o espírito, mas também em corromper e destruir a alma. O espírito e o coração indolentes e sem objetivos, são fácil presa do mal. É nos organismos doentios e sem vida, que medra o fungo. É a mente ociosa que é a oficina de Satanás. Dirija-se a mente para os altos e santos ideais, tenha a vida um objetivo nobre, um propósito absorvente, e o mal encontrará pouco terreno. Ed 190 1 Ensine-se, pois, à juventude a fazer meticuloso estudo da Palavra de Deus. Recebida na alma, mostrar-se-á ser a mesma uma poderosa barreira contra a tentação. "Escondi a Tua palavra em meu coração", diz o salmista, "para eu não pecar contra Ti." "Pela palavra dos Teus lábios me guardei das veredas do destruidor." Salmos 119:11; 17:4. Ed 190 2 A Bíblia explica-se por si mesma. Textos devem ser comparados com textos. O estudante deve aprender a ver a Palavra como um todo, e bem assim a relação de suas partes. Deve obter conhecimento de seu grandioso tema central, do propósito original de Deus em relação a este mundo, da origem do grande conflito, e da obra da redenção. Deve compreender a natureza dos dois princípios que contendem pela supremacia, e aprender a delinear sua operação através dos relatos da História e da profecia, até à grande consumação. Deve enxergar como este conflito penetra em todos os aspectos da experiência humana; como em cada ato de sua vida ele próprio revela um ou outro daqueles dois princípios antagônicos; e como, quer queira quer não, ele está mesmo agora a decidir de que lado do conflito estará. Ed 191 1 Toda e qualquer parte da Bíblia foi dada pela inspiração de Deus, e é proveitosa. O Antigo Testamento deve receber não menos atenção do que o Novo. Estudando o Antigo Testamento encontraremos fontes vivas a borbulhar onde o descuidado leitor apenas avista um deserto. Ed 191 2 O livro do Apocalipse, em conexão com o de Daniel, exige especial estudo. Todo professor temente a Deus considere como da maneira mais clara compreender e apresentar o evangelho que nosso Salvador veio em pessoa tornar conhecido a Seu servo João -- "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar a Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer". Apocalipse 1:1. Ninguém deve desanimar no estudo do Apocalipse por causa de seus símbolos aparentemente místicos. "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto." Tiago 1:5. Ed 191 3 "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:3. Ed 191 4 Quando se desperta um verdadeiro amor para com a Bíblia, e o estudante começa a compreender quão vasto é o campo e quão precioso seu tesouro, ele desejará aproveitar toda oportunidade para se familiarizar com a Palavra de Deus. Seu estudo não se limitará a nenhum tempo e lugar especiais. E este estudo contínuo é um dos melhores meios de cultivar o amor para com as Escrituras. Conserve o estudante a Bíblia sempre consigo. Tendo oportunidade, leiam um texto e meditem nele. Enquanto vão pelas ruas, ou esperam na estação da estrada de ferro, ou esperam um encontro, aproveitem a oportunidade para obter algum pensamento precioso extraído do tesouro da verdade. Ed 192 1 As grandes forças incentivas da alma são a fé, a esperança e a caridade; é para estas que apela o estudo da Bíblia, bem dirigido. A beleza exterior da Bíblia, a beleza das imagens e expressões, não é, por assim dizer, senão o encaixe de seu tesouro real -- a beleza da santidade. No relato que apresenta de homens que andaram com Deus, podemos apanhar os lampejos de Sua glória. NAquele que é "totalmente desejável" contemplamos o Ser de quem toda a beleza na Terra e no céu é apenas um pálido reflexo. "E Eu", disse Ele, "quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. Contemplando o estudante da Bíblia ao Redentor, desperta-se-lhe na alma o misterioso poder da fé, adoração e amor. O olhar fixa-se na visão de Cristo, e o que assim contempla cresce na semelhança dAquele a quem adora. As palavras do apóstolo Paulo tornam-se-lhe a linguagem da alma. "Tenho... por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; ... para conhecê-Lo, e à virtude da Sua ressurreição, e à comunicação de Suas aflições." Filipenses 3:8, 10. Ed 192 2 As fontes de paz e alegria celestiais, descerradas na alma pela Palavra da Inspiração, tornar-se-ão um poderoso rio de influência para abençoar a todos os que vêm a ficar ao seu alcance. Que a juventude de hoje, essa que cresce com a Bíblia na mão, se torne receptáculo e condutor de sua energia vivificadora; e que torrentes de bênçãos não fluirão sobre o mundo! -- influências estas cujo poder de curar e confortar mal podemos imaginar -- sim, rios de águas vivas, fontes saltando "para a vida eterna". Cultura física Ed 192 3 "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai à tua alma." ------------------------Capítulo 21 -- Estudo de fisiologia Ed 195 0 "De um modo terrível, e tão maravilhoso fui formado." Ed 195 1 Desde que o espírito e a alma encontram expressão mediante o corpo, tanto o vigor mental como o espiritual dependem em grande parte da força e atividade física. O que quer que promova a saúde física, promoverá o desenvolvimento de um espírito robusto e um caráter bem equilibrado. Sem saúde ninguém pode compreender distintamente suas obrigações, ou completamente cumpri-las para consigo mesmo, seus semelhantes ou seu Criador. Portanto, a saúde deve ser tão fielmente conservada como o caráter. Um conhecimento de fisiologia e higiene deve ser a base de todo esforço educativo. Ed 195 2 Apesar de serem hoje os fatos da fisiologia tão geralmente compreendidos, há uma indiferença alarmante em relação aos princípios da saúde. Mesmo dentre os que conhecem estes princípios, poucos há que os ponham em prática. Seguem a inclinação ou o impulso tão cegamente, como se a vida fosse dirigida por mero acaso em vez de o ser por leis definidas e invariáveis. Ed 195 3 A mocidade, no frescor e vigor da vida, pouco se compenetra do valor de sua abundante energia. Tesouro mais precioso do que o ouro, mais essencial para o progresso do que a erudição, posição social ou riquezas, em quão pouca conta é ela tida! Quão temerariamente é dissipada! Quantos homens, sacrificando a saúde na luta pelas riquezas ou poderio, têm quase atingido o objeto de seu desejo, apenas para cair inertes, enquanto outro, possuindo resistência física superior, se apodera da recompensa há tanto tempo almejada! Mediante condições mórbidas, resultantes da negligência das leis da saúde, quantos têm sido levados a práticas ruins, com sacrifício de toda a esperança para este mundo e o próximo! Ed 196 1 No estudo da fisiologia, os alunos devem ser levados a ver o valor da energia física, e como pode ela ser preservada e desenvolvida de modo a contribuir no mais alto ponto para o sucesso na grande luta da vida. Ed 196 2 Às crianças devem ser ensinados, já em pequeninas, os rudimentos de fisiologia e higiene, por meio de lições simples e fáceis. E este trabalho deve ser iniciado pela mãe em casa, e fielmente continuado na escola. À medida em que os alunos avançam em idade, deve-se continuar a instrução neste sentido, até que estejam habilitados a cuidar da casa em que vivem. Devem compreender a importância de se prevenirem contra as moléstias pela preservação do vigor de cada órgão, e importa que sejam instruídos na maneira de tratar as moléstias e acidentes comuns. Toda escola deve ministrar instrução tanto em fisiologia como em higiene, e tanto quanto possível ser provida de facilidades para ilustrar a estrutura, o uso e cuidado do corpo. Ed 196 3 Há assuntos usualmente não incluídos no estudo da fisiologia que deveriam ser considerados, assuntos de muito mais valor para o estudante do que são muitas minúcias técnicas geralmente ensinadas nesta matéria. Como princípio fundamental de toda a educação neste assunto, deve-se ensinar à juventude que as leis da Natureza são as leis de Deus, verdadeiramente tão divinas como os preceitos do Decálogo. As leis que governam o nosso organismo físico, Deus as escreveu sobre cada nervo, músculo ou fibra do corpo. Cada violação descuidada ou negligente destas leis constitui um pecado contra o nosso Criador. Ed 197 1 Quão necessário é, pois, transmitir um completo conhecimento destas leis! Os princípios de saúde no que se aplicam ao regime alimentar, exercício, cuidado das crianças, tratamento dos doentes, e muitas outras coisas semelhantes, devem receber muito mais atenção do que comumente se lhes dá. Ed 197 2 Cumpre que se dê ênfase à influência do espírito sobre o corpo, como à deste sobre aquele. A energia elétrica do cérebro, suscitada pela atividade mental, vivifica o organismo todo, e assim é de inestimável auxílio na resistência à moléstia. Isto deve ficar esclarecido. A força de vontade e a importância do domínio próprio, tanto na preservação como na reaquisição da saúde; o efeito deprimente e mesmo ruinoso da ira, descontentamento, egoísmo, impureza; e de outro lado, o maravilhoso poder vivificante que se encontra em um bom ânimo, altruísmo, gratidão -- também devem ser apresentados. Ed 197 3 Há nas Escrituras uma verdade fisiológica, verdade esta que precisamos considerar: "O coração alegre serve de bom remédio." Ed 197 4 "O teu coração guarde os Meus mandamentos", diz Deus, "porque eles aumentarão os teus dias, e te acrescentarão anos de vida e paz." "São vida para os que as acham, e saúde para o seu corpo." "As palavras suaves", dizem as Escrituras serem não somente favos de mel "para a alma", mas "saúde para os ossos." Provérbios 17:22; 3:1, 2; 4:22; 16:24. Ed 197 5 Os jovens necessitam compreender a profunda verdade que constitui a base da declaração bíblica de que em Deus está "o manancial da vida". Salmos 36:9. Não somente é Ele o originador de todas as coisas, mas é a vida de tudo que vive. É Sua vida que recebemos na luz solar, no ar puro e agradável, no alimento que constrói nosso corpo e nos sustenta a força. É pela Sua vida que existimos, hora após hora, momento após momento. A menos que estejam pervertidos pelo pecado, todos os Seus dons tendem a dar vida, saúde e alegria. Ed 198 1 "Tudo fez formoso em seu tempo" (Eclesiastes 3:11); e a verdadeira formosura se consegue, não deslustrando a obra de Deus, mas ficando em harmonia com as leis dAquele que criou todas as coisas e que tem prazer em sua formosura e perfeição. Ed 198 2 Ao ser estudado o mecanismo do corpo, deve dirigir-se a atenção para a sua maravilhosa adaptação dos meios aos fins, para a ação harmoniosa e dependência dos vários órgãos. Despertando-se desta maneira o interesse do estudante, e sendo ele levado a ver a importância da cultura física, muito poderá ser feito pelo professor para conseguir o desenvolvimento conveniente e hábitos corretos. Ed 198 3 Entre as primeiras coisas que se devem ter em vista, figura a posição correta, tanto estando sentados como de pé. Deus fez o homem ereto, e deseja que ele possua não somente o benefício físico, mas também o mental e moral, a graça, dignidade, compostura, ânimo e confiança em si, que uma atitude ereta em tão grande maneira tende a promover. Dê o professor instruções neste ponto pelo exemplo e por preceitos. Mostre o que é uma posição correta, e insista em que ela seja mantida. Ed 198 4 A seguir em importância à posição correta estão a respiração e a cultura vocal. Aquele que senta ou fica em pé, com o corpo direito, está em melhor condição do que outros, para respirar convenientemente. O professor deve impressionar seus alunos com a importância da respiração profunda. Mostre como a salutar ação dos órgãos respiratórios, auxiliando a circulação do sangue, revigoram o organismo todo, estimula o apetite, promove a digestão, e leva a conciliar um sono profundo e agradável, desta maneira não somente refrigerando o corpo, mas também acalmando e tranqüilizando o espírito. E ao ser apresentada a importância da respiração profunda, deve insistir-se na prática. Dêem-se exercícios que a promovam e cuide-se de que fique estabelecido o hábito. Ed 199 1 A educação da voz ocupa lugar importante na cultura física, visto que ela tende a expandir e fortalecer os pulmões, e desta maneira afastar as moléstias. Para se conseguir correta expressão na leitura e na fala, faça-se com que os músculos abdominais desempenhem papel amplo na respiração, e que os órgãos respiratórios não fiquem comprimidos. Que a tensão sobrevenha aos músculos do abdômen, em vez de aos da garganta. Grande cansaço e séria enfermidade da garganta e pulmões podem-se assim evitar. Deve prestar-se cuidadosa atenção para se obter uma articulação distinta, sons macios e bem modulados, e uma enunciação não demasiado rápida. Isto não somente promoverá saúde, mas aumentará grandemente a suavidade e eficiência do trabalho do estudante. Ed 199 2 Ao ensinar estas coisas, uma áurea oportunidade se nos oferece para mostrarmos a loucura e iniquidade dos coletes apertados, e de toda e qualquer prática que restrinja a ação vital. Um séquito quase infindável de moléstias resulta dos modos não saudáveis do vestir; deve dar-se cuidadosa instrução sobre tal ponto. Impressione as alunas com o perigo de permitir que as vestes pesem sobre os quadris ou comprimam qualquer órgão do corpo. O vestuário deve ser arranjado de tal maneira que se possa tomar ampla respiração, e os braços possam ser levantados sem dificuldades acima da cabeça. A compressão dos pulmões não somente impede o seu desenvolvimento, mas embaraça as funções da digestão e circulação, e assim debilita o corpo todo. Todas as práticas tais diminuem a capacidade física assim como a intelectual, estorvando destarte o progresso do estudante e impedindo muitas vezes o seu êxito. Ed 200 1 No estudo da higiene o professor ardoroso aproveitará todas as oportunidades para mostrar a necessidade de perfeito asseio tanto nos hábitos pessoais como no ambiente. Deve ser encarecido o valor do banho diário para promover a saúde e estimular a ação mental. Deve-se também conceder atenção à luz solar e à ventilação, à higiene do quarto de dormir e da cozinha. Ensine aos alunos que um quarto de dormir saudável, uma cozinha perfeitamente limpa, uma mesa arranjada com gosto e suprida de alimentos saudáveis, farão mais no sentido de conseguir a felicidade da família e a consideração de todo visitante sensato, do que o faria qualquer porção de mobília dispendiosa na sala de visitas. Que "mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que o vestido" (Lucas 12:23) -- é uma lição não menos necessitada hoje do que quando foi dada pelo divino Mestre, há mil e oitocentos anos. Ed 200 2 Ao estudante de fisiologia deve ser ensinado que o objeto de seu estudo não é simplesmente obter conhecimento de fatos e princípios. Isto, só, se mostrará de pouco valor. Ele pode compreender a importância da ventilação; seu quarto poderá estar suprido de ar puro; mas, a menos que ele encha devidamente os pulmões, sofrerá os resultados da respiração imperfeita. Assim, a necessidade do asseio pode ser compreendida, e supridos os meios necessários; mas, a menos que sejam postos em uso, tudo será sem valor. O grande requisito, ao ensinar tais princípios, consiste em impressionar o aluno com sua importância de maneira que ele conscienciosamente os ponha em prática. Ed 200 3 Mediante uma belíssima e impressionante figura, a Palavra de Deus mostra a consideração em que Ele tem nosso organismo físico, e a responsabilidade que repousa sobre nós, de preservá-lo na melhor condição: "Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?" "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." 1 Coríntios 6:19; 3:17. Ed 201 1 Sejam os alunos impressionados com o conceito de que o corpo é um templo em que Deus deseja habitar; que deve ser conservado puro, como a habitação de pensamentos elevados e nobres. Vendo eles pelo estudo da fisiologia que na verdade são formados "de um modo terrível, e tão maravilhoso" (Salmos 139:14), ser-lhes-á inspirada reverência. Em vez de desmerecer a obra de Deus, terão o desejo de fazer tudo que lhes é possível a fim de cumprir o plano glorioso do Criador. E assim virão a considerar a obediência às leis de saúde não como uma questão de sacrifício ou negação de si mesmos, mas, como realmente é, um privilégio e bênçãos inestimáveis. ------------------------Capítulo 22 -- Temperança e dietética Ed 202 0 "E todo aquele que luta de tudo se abstém." Ed 202 1 Todo estudante precisa compreender a relação entre a maneira simples de viver e a norma elevada no pensar. Depende de nós individualmente decidir se nossa vida será dirigida pelo espírito ou pelo corpo. Deve o jovem, por si mesmo, fazer a escolha que moldará a sua vida; e não se deve poupar esforços para levá-los a compreender as forças com que têm de tratar, e as influências que moldam o caráter e o destino. Ed 202 2 A intemperança é um inimigo contra o qual todos necessitam estar de sobreaviso. O rápido aumento deste terrível mal deve incitar a uma luta contra ele todo que ama seu semelhante. O costume de se ministrarem instruções sobre temperança nas escolas, é um movimento feito na direção exata. Devem ministrar-se instruções neste sentido em toda escola e em todo lar. Os jovens e as crianças devem compreender o efeito do álcool, do fumo, e outros venenos semelhantes, em alquebrar o corpo, obscurecer a mente e tornar sensual a alma. Deve-se explicar que qualquer que use estas coisas não pode por muito tempo possuir toda a força de suas faculdades físicas, mentais e morais. Ed 202 3 Mas, a fim de atingirmos a raiz da intemperança, devemos ir mais fundo do que o uso do álcool e do fumo. A preguiça, a falta de um objetivo ou as más companhias, podem ser a causa predisponente. Muitas vezes ela se encontra à mesa de jantar, nas famílias que se têm na conta de estritamente temperantes. Qualquer coisa que perturbe a digestão, que ocasione uma indevida excitação mental, ou de qualquer maneira enfraqueça o organismo, alterando o equilíbrio das faculdades mentais e físicas, debilita o domínio do espírito sobre o corpo, e assim propende para a intemperança. A queda de muito jovem promissor pode ser atribuída a apetites extravagantes criados por um regime inadequado. Ed 203 1 O chá, o café, os condimentos, os doces, as pastelarias, todos constituem causas ativas de perturbações da digestão. O alimento cárneo também é prejudicial. Seu efeito, por natureza estimulante, deveria ser argumento suficiente contra o seu uso, e o estado doentio quase geral entre os animais torna-o duplamente objetável. Tende a irritar os nervos e excitar as paixões, fazendo assim com que a balança das faculdades penda para o lado das propensões baixas. Ed 203 2 Aqueles que se acostumam com um regime abundante e estimulante, verão depois de algum tempo que o estômago não se satisfaz com alimentos simples. Exige o que seja mais e mais condimentado, picante e estimulante. Tornando-se os nervos desordenados e enfraquecido o organismo, a vontade parece impotente para resistir ao apetite depravado. O delicado revestimento do estômago fica irritado e inflamado a ponto de deixar de dar satisfação o alimento mais estimulante. Cria-se uma sede que nada poderá acalmar a não ser a bebida forte. Ed 203 3 É contra o começo do mal que nos devemos guardar. Na instrução da juventude, deve explicar-se bem o efeito dos desvios aparentemente pequenos daquilo que é reto. Ensine-se ao estudante o valor de um regime simples, saudável, para que se evite o desejo de estimulantes antinaturais. Estabeleça-se, cedo na vida, o hábito do domínio próprio. Que se impressionem os jovens com o pensamento de que devem ser senhores e não escravos. Deus os fez governadores do reino que há dentro deles, e devem exercer sua realeza ordenada pelo Céu. Quando é fielmente dada tal instrução, os resultados se estenderão muito além dos próprios jovens. Irradiarão influências que irão salvar milhares de homens e mulheres que se acham nas próprias bordas da ruína. A alimentação e o desenvolvimento mental Ed 204 1 À relação do regime alimentar com o desenvolvimento intelectual deve dar-se muito mais atenção do que tem recebido. A confusão e sonolência mentais são muitas vezes o resultado de erros no regime. Ed 204 2 Insiste-se freqüentemente que, na escolha do alimento, o apetite é um guia seguro. Se as leis de saúde tivessem sempre sido obedecidas, isto seria verdade. Mas, em virtude de maus hábitos, continuados de geração em geração, o apetite se tornou tão pervertido que sempre está a desejar ansiosamente alguma condescendência prejudicial. Não se pode agora confiar nele como um guia. Ed 204 3 No estudo dos princípios de saúde deve ensinar-se aos alunos o valor nutritivo dos vários alimentos. Cumpre explicar o efeito de um regime concentrado e estimulante, e também de alimentos deficientes nos elementos de nutrição. Chá e café, pão branco, conservas, hortaliças de qualidade inferior, doces, condimentos e pastelarias deixam de suprir a nutrição conveniente. Muito estudante tem fracassado como resultado de usar tais alimentos. Muita criança débil, incapaz de um vigoroso esforço mental ou corporal, é vítima de um regime pobre. Cereais, frutas, nozes e hortaliças, combinados convenientemente, contêm todos os elementos da nutrição; e quando devidamente preparados, constituem o regime que melhor promove tanto a força física, como a mental. Ed 205 1 Há necessidade de considerar não somente as propriedades do alimento, mas sua adaptação àquele que o come. Muitas vezes o alimento que poder ser comido livremente por pessoas empenhadas em trabalho físico, deve ser evitado por aquelas cujo trabalho é especialmente mental. Deve-se também dar atenção à conveniente combinação dos alimentos. Poucas variedades devem ser tomadas em cada refeição por aqueles que têm trabalho intelectual ou outros quaisquer de carreiras sedentárias. Ed 205 2 Devemos estar de sobreaviso contra o comer demais, ainda que sejam os alimentos mais saudáveis. A natureza não pode usar mais do que requer para a formação dos vários órgãos do corpo, e o excesso embaraça o organismo. Tem-se suposto haver muito estudante fracassado em virtude do estudo demasiado, quando a causa real foi o comer em demasia. Enquanto for dada a devida atenção às leis da saúde, pouco perigo haverá de excesso mental; porém, em muitos casos do que se chama deficiência mental, é a sobrecarga do estômago que fatiga o corpo e debilita o espírito. Ed 205 3 Na maioria dos casos duas refeições ao dia são preferíveis a três. O jantar, quando muito cedo, incompatibiliza-se com a digestão da refeição prévia. Sendo mais tarde, não é digerido antes da hora de deitar. Assim o estômago deixa de conseguir o devido repouso. O sono é perturbado, cansam-se o cérebro e os nervos, é prejudicado o apetite para a refeição matutina, o organismo todo não se restaura, e não estará preparado para os deveres do dia. Ed 205 4 A importância da regularidade no tempo de comer e dormir não deve passar despercebida. Desde que o trabalho da construção do corpo ocorre durante as horas do descanso, é essencial, especialmente na juventude, que o sono seja regular e abundante. Ed 206 1 Tanto quanto possível devemos evitar o comer precipitadamente. Quanto mais curto for o tempo para a refeição, tanto menos se deve comer. É melhor omitir uma refeição do que comer sem a devida mastigação. Ed 206 2 A hora da refeição deve ser uma oportunidade para comunhão e refrigério social. Tudo que possa acabrunhar ou irritar deve ser banido. Acariciem-se pensamentos de confiança, afabilidade, gratidão para com o Doador de todo o bem, e a conversa será animada, será uma torrente deleitável de idéias que nos reerguerá sem que nos canse. Ed 206 3 A observância da temperança e regularidade em todas as coisas tem um poder maravilhoso. Fará mais do que as circunstâncias ou os dotes naturais para promover aquela doçura e serenidade de disposição que tanto têm que ver com o suavizar do caminho da vida. Ao mesmo tempo o poder do domínio próprio assim adquirido demonstrar-se-á um dos mais valiosos aparelhamentos para lutarmos com êxito no campo dos árduos deveres e realidades que esperam a cada ser humano. Ed 206 4 Os "caminhos" da Sabedoria "são caminhos de delícias, e todas as suas veredas paz". Provérbios 3:17. Que cada jovem em nosso país, com as possibilidades que há diante dele para um destino mais elevado do que o de reis coroados, que cada jovem pondere a lição transmitida pelas palavras do sábio: "Bem-aventurada tu, ó terra,... cujos príncipes comem a tempo, para refazerem as forças, e não para bebedice." Eclesiastes 10:17. ------------------------Capítulo 23 -- Recreação Ed 207 0 "Tudo tem o seu tempo determinado." Ed 207 1 Há diferença entre recreação e divertimento. A recreação, na verdadeira acepção do termo -- recriação -- tende a fortalecer e construir. Afastando-nos de nossos cuidados e ocupações usuais, proporciona descanso ao espírito e ao corpo, e assim nos habilita a voltar com novo vigor ao sério trabalho da vida. O divertimento, por outro lado, é procurado com o fim de proporcionar prazer, e é muitas vezes levado ao excesso; absorve as energias que são necessárias para o trabalho útil, e desta maneira se revela um estorvo ao verdadeiro êxito da vida. Ed 207 2 O corpo todo se destina à ação; e a menos que as capacidades físicas sejam conservadas sadias mediante exercício ativo, as capacidades mentais não poderão ser usadas muito tempo na sua maior produtividade. A inação física que parece quase inevitável na sala de aula, juntamente com outras condições insalubres, fazem da referida sala um lugar penoso às crianças, especialmente às de constituição fraca. Freqüentemente a ventilação é insuficiente. Bancos mal conformados acoroçoam posições forçadas, embaraçando assim a ação dos pulmões e do coração. Ali, têm as criancinhas de passar de três a cinco horas por dia, respirando um ar carregado de impureza e talvez infectado de germes de moléstias. Não admira que tantas vezes o fundamento de uma longa vida de enfermidades seja lançado na sala de aula. O cérebro, o mais delicado de todos os órgãos, e aquele de que se deriva a energia nervosa do organismo todo, é o que sofre o maior dano. Forçado a uma atividade prematura ou excessiva, e isto sob condições insalubres, debilita-se e muitas vezes os maus resultados são permanentes. Ed 208 1 As crianças não devem estar encerradas muito tempo em casa, nem se deve exigir que se dêem a um estudo aplicado antes que se haja estabelecido um bom fundamento para o desenvolvimento físico. Para os primeiros oito ou dez anos da vida de uma criança, o campo ou jardim é a melhor sala de aula, a mãe é o melhor professor, a Natureza o melhor compêndio. Mesmo quando a criança tem idade suficiente para freqüentar a escola, a sua saúde deve ser considerada de maior importância do que o conhecimento dos livros. Deve ser rodeada das condições mais favoráveis, tanto para o crescimento físico como para o mental. Ed 208 2 Não é só a criança que se acha em perigo de falta de ar e exercício. Nas escolas superiores bem como nas elementares, estas coisas essenciais à saúde são ainda muitas vezes negligenciadas. Muitos estudantes sentam-se dia após dia, em uma sala de aula, curvados sobre os seus livros, com o tórax tão contraído que não podem tomar uma respiração ampla e profunda, movendo-se seu sangue vagarosamente, estando frios os pés e quente a cabeça. Não sendo o corpo suficientemente nutrido, enfraquecem-se os músculos, enerva-se e enferma todo o organismo. Com freqüência, tais estudantes se tornam inválidos por toda a vida. Poderiam ter saído da escola com a força física, bem como a mental, aumentada, se houvessem efetuado seus estudos sob condições convenientes, com exercícios regulares à luz solar e ao ar livre. Ed 208 3 O estudante que, com tempo e recursos limitados, luta para obter educação, deve compreender que o tempo despendido no exercício físico não é perdido. Aquele que constantemente se acha inclinado sobre os livros, notará depois de algum tempo que a mente perde seu vigor. Os que dão a devida atenção ao desenvolvimento físico, farão maior progresso nos ramos intelectuais do que se seu tempo todo fosse dedicado ao estudo. Ed 209 1 Adotando uma única série de pensamentos, com freqüência se torna o espírito propenso apenas para um lado. Cada faculdade, porém, pode ser exercida com segurança, se as capacidades mentais e físicas forem aplicadas igualmente, e o assunto dos pensamentos for variado. Ed 209 2 A inação física diminui não somente a força mental, mas também a moral. Os nervos do cérebro, que se ligam com o organismo todo, são o intermédio pelo qual o Céu se comunica com o homem e afeta a sua vida íntima. O que quer que estorve a circulação da corrente elétrica no sistema nervoso, debilitando assim as forças vitais e diminuindo a suscetibilidade mental, vem tornar mais difícil o despertar da natureza moral. Ed 209 3 Demais, o estudo excessivo, em virtude de aumentar a corrente do sangue para o cérebro, cria uma excitabilidade mórbida que tende a diminuir o poder do domínio próprio, e muitíssimas vezes dá lugar a impulso e capricho. Assim se abre a porta à impureza. O mau uso, ou a falta de uso da capacidade física é, em grande parte, responsável pela onda de corrupção que se está espalhando pelo mundo. "Orgulho, abundância de pão e de ociosidade" são os inimigos mortais do progresso humano nesta geração, bem como quando ocasionaram a destruição de Sodoma. Ed 209 4 Os professores devem compreender estas coisas e instruir seus alunos neste sentido. Ensinai aos estudantes que viver de maneira correta depende de pensar de maneira correta, e que a atividade física é essencial à pureza do pensamento. Ed 210 1 A questão da recreação conveniente aos alunos é dessas que os professores muitas vezes acham embaraçosas. Os exercícios ginásticos preenchem um lugar útil em muitas escolas; mas, sem uma inspeção cuidadosa, são muitas vezes levados ao excesso. Muitos jovens, pelas proezas de força que tentam realizar nos salões de ginástica, têm trazido sobre si lesões para toda a vida. Ed 210 2 O exercício em um salão de ginástica, ainda que bem dirigido, não pode tomar o lugar do recreio ao ar livre, e para tal nossas escolas devem oferecer melhores oportunidades. Os estudantes devem fazer exercício vigoroso. Poucos males há que se devem temer mais do que a indolência e a falta de um objetivo. Não obstante, a tendência da maior parte dos esportes atléticos é assunto de ansiosa preocupação por parte dos que levam a sério o bem-estar da mocidade. Os professores ficam incomodados ao considerar a influência destes esportes tanto no progresso do estudante na escola como no seu êxito na vida posterior. Os jogos que ocupam tanto o seu tempo lhe estão desviando o espírito do estudo. Não estão ajudando aos jovens a se prepararem para o trabalho prático e ardoroso da vida. Sua influência não tende para a polidez, generosidade, ou verdadeira varonilidade. Ed 210 3 Alguns dos mais populares divertimentos, tais como o futebol e o boxe, se têm tornado escolas de brutalidade. Estão desenvolvendo os mesmos característicos que desenvolviam os jogos na antiga Roma. O amor ao domínio, o orgulho da mera força bruta, o descaso da vida, estão exercendo sobre a mocidade um poder desmoralizador que nos aterra. Ed 210 4 Outros jogos atléticos, embora não tão embrutecedores, são pouco menos reprováveis, por causa do excesso com que são praticados. Estimulam o amor ao prazer e à excitação, alimentando assim o desprazer pelo trabalho útil, a disposição de evitar os deveres práticos e as responsabilidades. Tendem a destruir a graça pelas sóbrias realidades da vida e seus prazeres tranqüilos. Desta maneira, abre-se a porta para a dissipação e desregramento, com os seus terríveis resultados. Ed 211 1 Conforme são realizadas comumente, as reuniões sociais são também um embaraço ao crescimento real, quer do espírito quer do caráter. Formam-se associações frívolas, hábitos de extravagância e de busca de prazeres, bem como muitas vezes de dissipação, coisas estas que moldam a vida toda para o mal. Em vez de tais diversões, pais e professores muito poderão fazer para suprir distrações sãs, que proporcionem vida. Ed 211 2 Nisto, como em todas as demais coisas que dizem respeito ao nosso bem-estar, a Inspiração indicou o caminho. Nos tempos primitivos, era simples a vida entre o povo que estava sob a direção de Deus. Viviam junto ao coração da Natureza. Seus filhos participavam do trabalho dos pais, e estudavam as belezas e mistérios do tesouro da Natureza. Na quietude do campo e do bosque ponderavam aquelas grandes verdades, transmitidas como um sagrado depósito, de geração em geração. Tal ensino produzia homens fortes. Ed 211 3 Na presente época a vida se tornou artificial e os homens degeneraram. Conquanto não possamos voltar completamente aos hábitos simples daqueles tempos primitivos, deles podemos aprender lições que tornarão nossos momentos de recreação o que este nome implica: momentos de verdadeira construção de corpo, espírito e alma. Ed 211 4 Muito têm que ver os arredores do lar e da escola com a questão do recreio. Na escolha de um lar ou na localização de uma escola deveriam estas coisas ser consideradas. Aqueles para quem o bem-estar mental e físico é de maior importância do que o dinheiro ou as exigências e costumes da sociedade, devem procurar para seus filhos o benefício do ensino da Natureza, e a recreação no ambiente da mesma. Seria de grande auxílio na obra educativa se cada escola pudesse ser localizada de tal maneira que proporcionasse aos estudantes terra para cultura e acesso aos campos e matas. Ed 212 1 Para os fins de recreação aos estudantes, os melhores resultados se alcançarão pela cooperação pessoal do professor. O verdadeiro professor pode comunicar a seus discípulos poucos benefícios tão valiosos como o de sua própria companhia. É um fato, relativamente a homens e mulheres, que só os podemos compreender quando chegamos em contato com eles pela simpatia; e quanto mais não se dá isto em se tratando de jovens e crianças! E temos necessidade de os compreender a fim de mais eficazmente beneficiá-los. Para fortalecer os laços de simpatia entre professor e estudante, poucos meios há que façam tanto como a associação agradável entre eles fora da sala de aula. Nalgumas escolas o professor está sempre com seus alunos nas horas de recreio. Associa-se-lhes em seus empenhos, acompanha-os em suas excursões, e parece identificar-se com eles. Muito bem iriam nossas escolas se esta prática fosse mais geralmente seguida. O sacrifício que se exigiria do professor seria grande, mas ele recolheria uma recompensa preciosa. Ed 212 2 Nenhuma recreação apenas proveitosa a si mesmos se revelará uma bênção tão grande às crianças e jovens, como a que os faz úteis aos outros. Entusiastas e impressionáveis por natureza, são prontos a corresponder à sugestão. Fazendo planos para a cultura de plantas, procure o professor despertar interesse no embelezamento dos terrenos da escola e da sala de aula. Um duplo benefício resultará. Aquilo que os discípulos procuram embelezar, não quererão que fique maculado ou destruído. Acoroçoar-se-ão gosto apurado, amor à ordem, hábitos de cuidado; e o espírito de associação e cooperação, desenvolvido, demonstrar-se-á aos alunos uma bênção por toda a vida. Ed 213 1 Assim também se pode dar um novo interesse ao trabalho nos jardins, ou às excursões a campos e matas, acoroçoando-se os alunos a lembrar-se dos que se acham privados destes lugares aprazíveis, e partilhar com eles as belas coisas da Natureza. Ed 213 2 O vigilante professor encontrará muitas oportunidades de dirigir os discípulos a atos de prestatividade. Especialmente pelas criancinhas, o professor é olhado com quase ilimitada confiança e respeito. O que quer que ele possa sugerir como o meio de auxílio em casa, fidelidade nas ocupações diárias, assistência aos doentes ou aos pobres, dificilmente poderá deixar de produzir fruto. E também assim se conseguirá uma dupla aquisição. A sugestão afável refletir-se-á sobre o seu autor. A gratidão e cooperação por parte dos pais suavizará as cargas do professor e iluminará o seu caminho. Ed 213 3 A atenção dispensada ao recreio e à cultura física, indubitavelmente, por vezes interromperá a rotina usual do trabalho escolar; esta interrupção, porém, não se revelará como um verdadeiro estorvo. Será centuplicadamente pago o emprego do tempo e esforço no sentido de robustecer o espírito e o corpo, alimentar a abnegação, unir aluno e professor pelos laços do interesse comum e amistosa associação. Uma abençoada expansão se proporcionará àquela irrequieta energia que tantas vezes é uma fonte de perigo à mocidade. Como salvaguarda contra o mal, a preocupação do espírito com o bem vale mais do que inúmeras barreiras de lei ou disciplina. ------------------------Capítulo 24 -- Educação manual Ed 214 0 "E procureis... trabalhar com vossas próprias mãos." Ed 214 1 Na criação, o trabalho foi designado como uma bênção. Significava desenvolvimento, poder, felicidade. A mudada condição da Terra em virtude da maldição do pecado, acarretou uma mudança nas condições de trabalho; contudo, apesar de efetuado hoje com ansiedade, cansaço e dor, é ainda uma fonte de felicidade e desenvolvimento. Outrossim, é uma salvaguarda contra a tentação. Sua disciplina opõe uma barreira à condescendência própria, e promove indústria, pureza e firmeza. Assim, torna-se parte do grande plano de Deus para que sejamos recuperados da queda. Ed 214 2 A mocidade deve ser levada a ver a verdadeira dignidade do trabalho. Mostre-lhe que Deus é um obreiro constante. Todas as coisas na Natureza fazem o trabalho que lhes foi designado. A atividade penetra por toda a criação, e a fim de que cumpramos a nossa missão devemos também ser ativos. Ed 214 3 Em nosso trabalho devemos ser coobreiros de Deus. Ele nos dá a terra e seus tesouros; nós, porém, devemos adaptá-los a nosso uso e conforto. Ele faz com que as árvores cresçam, mas nós preparamos a madeira e construímos a casa. Ele ocultou na terra o ouro e a prata, o ferro e o carvão; todavia, é mediante o trabalho, apenas, que os podemos obter. Ed 214 4 Mostre-lhes que, ao mesmo tempo em que Deus criou todas as coisas e constantemente as dirige, dotou-nos Ele de um poder não totalmente diferente do Seu. Foi-nos dado até certo ponto o domínio sobre as forças da Natureza. Assim como Deus do caos evocou a Terra em sua beleza, também nós podemos da confusão produzir ordem e beleza. E posto que todas as coisas estejam hoje desfiguradas, pelo mal, contudo em nossos trabalhos acabados sentimos uma alegria idêntica à dEle, quando, olhando para o lindo mundo, o pronunciou "muito bom". Ed 215 1 Em regra, o exercício mais proveitoso aos jovens será encontrado nas ocupações úteis. A criancinha encontra no brinquedo tanto distração como desenvolvimento; e seus folguedos devem ser tais que promovam não somente o crescimento físico, mas também o mental e espiritual. Ao adquirir força e inteligência, encontrar-se-á o melhor recreio para ela em alguma espécie de esforços que sejam úteis. Aquilo que adestra as mãos para a utilidade, e ensina o jovem a arrostar com a sua participação nos encargos da vida, é o mais eficaz na promoção do crescimento do espírito e do caráter. Ed 215 2 Aos jovens precisa ser ensinado que a vida significa trabalho diligente, responsabilidade, cuidados. Precisam de um preparo que os torne práticos, a saber, homens e mulheres que possam fazer face às emergências. Deve ensinar-se-lhes que a disciplina do trabalho sistemático, bem regulado, é essencial, não unicamente como salvaguarda contra as vicissitudes da vida, mas também como auxílio para o desenvolvimento completo. Ed 215 3 Apesar de tudo quanto se tem dito ou escrito acerca da dignidade do trabalho, prevalece a idéia de que ele é degradante. Os jovens estão ansiosos por se tornarem professores, escriturários, negociantes, médicos, advogados, ou ocupar alguma outra posição que não exija o trabalho físico. As moças fogem do trabalho doméstico, e procuram uma educação em outros ramos. Necessitam aprender que nenhum homem ou mulher se degrada pelo trabalho honesto. O que degrada é a ociosidade e egoísta dependência. A ociosidade favorece a condescendência própria, e o resultado é uma vida vazia e estéril, ou seja, um campo a convidar o crescimento de todo o mal. "A terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada." Hebreus 6:7, 8. Ed 216 1 Muitos ramos de estudo que consomem o tempo do estudante, não são essenciais à utilidade ou felicidade; entretanto é essencial a toda jovem familiarizar-se completamente com os deveres de cada dia. Sendo necessário, uma jovem pode dispensar os conhecimentos de francês ou álgebra, ou mesmo de piano; mas é indispensável que aprenda a preparar bom pão, confeccionar vestidos graciosamente adaptados, e executar cabalmente os muitos deveres atinentes ao lar. Ed 216 2 Nada é de maior importância para a saúde e felicidade da família toda do que habilidade e inteligência por parte de quem cozinha. Pelo alimento mal preparado e insalubre, pode-se impedir e mesmo arruinar não somente a utilidade dos adultos como também o desenvolvimento das crianças. Provendo, porém, alimento adaptado às necessidades do corpo, e ao mesmo tempo apetitoso e saboroso, poderá fazer tanto no sentido bom, quanto faria em direção errada, agindo contrariamente. Assim, de muitas maneiras, a felicidade da vida liga-se à fidelidade para com os deveres comuns. Ed 216 3 Visto como os homens bem como as mulheres têm parte na constituição do lar, tanto os rapazes como as moças devem obter conhecimento dos deveres domésticos. Fazer a cama e arranjar o quarto, lavar a louça, preparar a comida, lavar e consertar sua própria roupa, são conhecimentos que não tornarão um rapaz menos varonil; torná-lo-ão mais feliz e útil. E se, do outro lado, as moças pudessem aprender a arrear, cavalgar, usar a serra e o martelo, assim como o ancinho e a enxada, estariam melhor adaptadas a enfrentar as emergências da vida. Ed 217 1 Aprendam as crianças e jovens pela Bíblia como Deus tem honrado a lida do trabalhador. Leiam acerca dos "filhos dos profetas" (2 Reis 6:1-7), estudantes em uma escola, os quais estavam construindo uma casa para si, e para quem foi operado um milagre a fim de se salvar da perda o machado que fora tomado emprestado. Leiam acerca de Jesus, carpinteiro, e Paulo fabricante de tendas, que ao trabalho de seu ofício ligaram o mais elevado ministério, humano e divino. Leiam acerca daquele rapaz, cujos cinco pães foram usados pelo Salvador, naquele maravilhoso milagre de alimentar a multidão; acerca de Dorcas, a costureira, ressuscitada para que pudesse continuar a fazer roupas para os pobres; acerca da mulher sábia descrita no livro dos Provérbios, a qual "busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos", "dá mantimento à sua casa e a tarefa às suas servas", "planta uma vinha,... e fortalece os seus braços", "abre sua mão ao aflito,... ao necessitado estende suas mãos", "olha pelo governo de sua casa, e não come pão da preguiça". Provérbios 31:13, 15-17, 20, 27. Ed 217 2 Diz Deus a respeito de tal mulher: "Essa será louvada. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras." Provérbios 31:30, 31. Ed 217 3 Para toda criança, a primeira escola industrial deve ser o lar. E, tanto quanto possível, deve haver, em conexão com cada escola, facilidades para a educação manual. Em grande parte, tal ensino manual deve ocupar o lugar do salão de ginástica, com o benefício adicional de proporcionar valiosa disciplina. Ed 218 1 O ensino manual merece muito mais atenção do que tem recebido. Devem-se estabelecer escolas que, em acréscimo à mais elevada cultura intelectual e moral, provejam as melhores possibilidades para o desenvolvimento físico e educação industrial. Deve-se ministrar instrução em agricultura, manufaturas, abrangendo tantos dos seus mais úteis ramos quanto possível; bem como em economia doméstica, arte culinária saudável, costura, confecção de roupas saudáveis, tratamento de doentes, e coisas correlatas. Devem ser providas hortas, oficinas, salas de tratamentos, e o trabalho em todo o ramo cumpre estar sob a direção de instrutores hábeis. Ed 218 2 Importa que o trabalho tenha um objetivo definido, e seja completo. Conquanto cada pessoa precise de alguns conhecimentos em ocupações diferentes, é indispensável que se torne perita em ao menos uma delas. Todo jovem, ao deixar a escola, deve ter adquirido conhecimento em algum ofício ou ocupação com que, se for necessário, possa ganhar sua subsistência. Ed 218 3 A objeção que mais freqüentemente se faz contra a educação industrial nas escolas, é a grande despesa que isto envolveria. O objetivo a ser atingido é, porém, digno de seu custo. Nenhuma outra obra a nós confiada é tão importante como a educação da juventude, e todo o desembolso exigido para a sua perfeita realização representa meios bem aplicados. Ed 218 4 Mesmo sob o ponto de vista dos resultados financeiros, os gastos exigidos para a educação manual demonstrar-se-iam a mais verdadeira economia. Multidões de nossos rapazes seriam assim preservados de perambular pelas ruas e freqüentar bares; os gastos com hortas, oficinas, e instalações para banhos seriam mais do que correspondidos pelas economias nas despesas com hospitais e escolas disciplinares. E quanto aos próprios jovens, adestrados em hábitos de trabalho, e habilitados em atividades úteis e produtivas, quem poderia calcular seu valor para a sociedade e para a nação? Ed 219 1 Como descanso ao estudo, ocupações ao ar livre que proporcionem exercício ao corpo todo, são as mais benéficas. Nenhum ramo do trabalho manual é mais valioso do que a agricultura. Um esforço maior deve fazer-se a fim de criar e incentivar interesse nos trabalhos da agricultura. Chame o professor a atenção para o que diz a Bíblia sobre a agricultura: que cultivar a terra era o plano de Deus para com o homem; que ao primeiro homem, o governador do mundo inteiro, foi dado um jardim a cultivar; e que muitos dos maiores vultos do mundo, a verdadeira nobreza deste, foram cultivadores do solo. Mostrem as oportunidades de uma vida tal. Diz o sábio: "Até o rei se serve do campo." Eclesiastes 5:9. A Bíblia declara acerca daquele que cultiva o solo: "O seu Deus o ensina, e o instrui acerca do que há de fazer." Diz mais: "O que guarda a figueira comerá do seu fruto." Isaías 28:26; Provérbios 27:18. Aquele que ganha a sua vida pela agricultura escapa de muitas tentações e goza inúmeros privilégios e bênçãos negados àqueles cujo trabalho é nas grandes cidades. E nestes dias dos colossais monopólios e rivalidade comercial, poucos há que gozem de uma independência tão real e de tão grande certeza de bons rendimentos de seu labor, como o cultivador do solo. Ed 219 2 No estudo da agricultura, dê-se aos alunos não somente a teoria mas também a prática. Enquanto aprendem o que a ciência pode ensinar em relação à natureza e preparo do solo, o valor dos diferentes produtos, e os melhores métodos de produção, ponham eles em prática seus conhecimentos. Participem os professores do trabalho com os estudantes e mostrem quais os resultados que se podem alcançar com o esforço hábil e inteligente. Assim pode despertar-se genuíno interesse, aspiração por fazer o trabalho da melhor maneira possível. Tal ambição, juntamente com o efeito vigorante do exercício, luz solar, ar puro, criarão pelo trabalho agrícola um amor que determinará em muitos jovens sua escolha de ocupação. Poder-se-iam assim despertar influências que muito fariam em mudar a onda migratória que ora tão fortemente se encaminha para as cidades. Ed 220 1 Assim também nossas escolas poderiam eficazmente auxiliar na colocação de multidões destituídas de emprego. Milhares de seres desamparados e famintos, cujo número diariamente engrossa as fileiras dos criminosos, poderiam obter a manutenção própria em uma vida feliz, saudável, independente, se fossem guiados em trabalho hábil e diligente no cultivo da terra. Ed 220 2 Do benefício da educação manual necessitam também as classes profissionais. Pode o homem possuir espírito brilhante; pode ser rápido em adquirir idéias; seus conhecimentos e habilidades podem garantir-lhe a admissão à ocupação de sua escolha; contudo, poderá ainda estar longe de possuir adaptação aos seus deveres. A educação tirada principalmente dos livros conduz a uma maneira superficial de pensar. O trabalho prático provoca a observação minuciosa e pensamento independente. Efetuado convenientemente, tende a desenvolver aquela sabedoria prática a que chamamos senso comum. Desenvolve habilidade para planejar e executar, fortalece o ânimo e a perseverança, e exige o exercício do tato e destreza. Ed 220 3 O médico que lançou os alicerces para os seus conhecimentos profissionais por meio de real trabalho no quarto dos enfermos, terá uma intuição rápida, uma noção geral, e habilidade nas emergências a fim de prestar o necessário serviço -- qualificações essenciais que unicamente um ensino prático pode transmitir. Ed 221 1 O pastor, o missionário, o professor, aumentarão grandemente sua influência entre o povo, quando se manifesta possuírem eles o conhecimento e habilidade exigidos para os deveres práticos da vida diária. E muitas vezes o êxito, e talvez a própria vida do missionário, depende de seus conhecimentos de coisas práticas. A habilidade de preparar o alimento, de providenciar nos casos de acidentes e emergência, tratar as doenças, construir casas ou igrejas, sendo necessário, são coisas que muitas vezes constituem toda a diferença entre o êxito e o fracasso nos seus trabalhos. Ed 221 2 Ao adquirir sua educação, muitos estudantes obteriam um valiosíssimo treino se se tornassem auto-sustentáveis. Em vez de contrair dívidas, ou depender da abnegação de seus pais, dependam os moços e as moças de si mesmos. Aprenderão assim a avaliar o dinheiro, o tempo, a força e oportunidade, e estarão muito menos sob a tentação de condescender com hábitos de ociosidade e prodigalidade. As lições de economia, indústria, abnegação, administração prática de negócios e firmeza de propósitos, dominadas desta maneira, revelar-se-iam parte importantíssima de seu aparelhamento para a batalha da vida. E a lição do auxílio de si mesmo aprendida pelo estudante, muito faria no sentido de preservar as instituições de ensino do peso das dívidas sob o qual tantas escolas têm lutado, e que tanto tem feito para prejudicar sua utilidade. Ed 221 3 Grave-se nos jovens o pensamento de que a educação não consiste em ensinar-lhes como escapar das ocupações desagradáveis e fardos pesados da vida; mas que seu propósito é suavizar o trabalho, ensinando melhores métodos e objetivos mais elevados. Ensinem-lhes que o verdadeiro alvo da vida não é adquirir o maior ganho possível para si, mas honrar ao seu Criador, cumprindo sua parte no trabalho do mundo, e estendendo mão auxiliadora aos mais fracos e mais ignorantes. Ed 222 1 Uma grande razão por que o trabalho físico é menosprezado, é a maneira desleixada e inconsiderada como é muitas vezes realizado. É feito por necessidade e não porque haja sido escolhido. O trabalhador não o leva a sério, não conserva o respeito de si mesmo nem conquista o de outrem. O ensino manual deve corrigir este erro. Deve desenvolver hábitos de exatidão e perfeição. Os estudantes devem aprender o tato e o método em seus afazeres; aprender a economizar tempo, e a fazer cada movimento de maneira que seja aproveitado. Não somente lhes devem ser ensinados os melhores métodos, mas cumpre sejam inspirados pela ambição de sempre se aperfeiçoarem. Seja o seu alvo fazer o seu trabalho o mais perfeito que o cérebro e as mãos humanas possam conseguir. Ed 222 2 Tal ensino fará com que os jovens sejam senhores e não escravos do trabalho. Aliviará a sorte daquele que moureja, e enobrecerá até a mais humilde ocupação. Aquele que considera o trabalho simplesmente coisa enfadonha, e a ele se entrega com uma ignorância complacente, sem fazer esforço por aperfeiçoar-se, terá verdadeiramente nele um fardo. Aqueles, porém, que reconhecem ciência no mais humilde trabalho, nele verão nobreza e beleza, e terão prazer em realizá-lo com fidelidade e eficiência. Ed 222 3 Um jovem educado desta maneira, qualquer que seja a sua missão na vida, contanto que seja honesto, há de fazer de seu cargo uma posição de utilidade e honra. A formação do caráter Ed 222 4 "Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou." ------------------------Capítulo 25 -- Educação e caráter Ed 225 0 "E haverá estabilidade em teus tempos, abundância de ... sabedoria e ciência." Ed 225 1 A verdadeira educação não desconhece o valor dos conhecimentos científicos ou aquisições literárias; mas acima da instrução aprecia a capacidade, acima da capacidade a bondade, e acima das aquisições intelectuais o caráter. O mundo não necessita tanto de homens de grande intelecto, como de nobre caráter. Necessita de homens cuja habilidade é dirigida por princípios firmes. Ed 225 2 "A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria." "A língua dos sábios adorna a sabedoria." Provérbios 4:7; 15:2. A verdadeira educação comunica esta sabedoria. Ensina o melhor uso não somente de uma, mas o de todas as nossas habilidades e aquisições. Assim abrange todo o ciclo das obrigações: para com nós mesmos, para com o mundo, e para com Deus. Ed 225 3 A formação do caráter é a obra mais importante que já foi confiada a seres humanos; e nunca dantes foi seu diligente estudo tão importante como hoje. Jamais qualquer geração prévia teve de enfrentar transes tão momentosos; nunca dantes moços e moças foram defrontados por perigos tão grandes como hoje. Ed 225 4 Qual é o pendor da educação dada atualmente? Qual é o objetivo para que se apela mais freqüentemente? -- O proveito próprio. Grande parte desta educação, é uma perversão deste nome. Na verdadeira educação, a ambição egoísta, a avidez do poder, a desconsideração pelos direitos e necessidades da humanidade -- coisas que são uma maldição para o nosso mundo -- encontram uma influência contrária. O plano de vida estabelecido por Deus, tem um lugar para cada ser humano. Cada um deve aperfeiçoar os seus talentos até ao máximo ponto; e a fidelidade no fazer isto confere honra à pessoa, sejam muitos ou poucos os seus dons. No plano divino não há lugar para a rivalidade egoísta. Os que "se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem entendimento". O que quer que façamos deve ser feito "segundo o poder que Deus dá". Deve ser feito "de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens; sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis". 2 Coríntios 10:12; 1 Pedro 4:11; Colossences 3:23, 24. Precioso é o serviço efetuado e a educação obtida na prática destes princípios. Quão diversa é, porém, grande parte da educação que hoje se dá! Desde os tenros anos da criança consiste ela num apelo à competição e rivalidade; alimenta o egoísmo, a raiz de todos os males. Ed 226 1 Assim se estabelece a disputa pela supremacia, e se acoroçoa o estudo excessivo que em tantos casos destrói a saúde e inabilita para a utilidade. Em muitos outros a emulação conduz à desonestidade; e alimentando a ambição e o descontentamento, ela amargura a vida e ajuda a encher o mundo com esses espíritos inquietos, turbulentos, que são uma contínua ameaça à sociedade. Ed 226 2 E o perigo não pertence unicamente aos métodos. Está igualmente no assunto dos estudos. Ed 227 3 Quais são as obras com que, durante todos os anos mais susceptíveis da vida, é a mente dos jovens levada a ocupar-se? No ensino da língua e literatura, de que fonte são os jovens ensinados a beber? -- Das cisternas do paganismo; das fontes alimentadas pelas corrupções do antigo paganismo. Ordena-se-lhes que estudem autores dos quais, sem contestação, se declara não terem respeito pelos princípios da moralidade. Ed 227 1 E de quantos autores modernos também se poderia dizer o mesmo! Com quantos deles a graça e a beleza da linguagem não são senão um disfarce para encobrir princípios que em sua verdadeira deformidade repugnariam o leitor! Ed 227 2 Além disso há uma multidão de escritores de ficção, convidando a devaneios deleitáveis em palácios de ócio. Podem não ser taxados de imoralidade; contudo suas obras nem por isso deixam de estar carregadas de males. Estão roubando a milhares e milhares o tempo, a energia e a disciplina exigidos pelos severos problemas da vida. Ed 227 3 No estudo das ciências, como geralmente é feito, há perigos igualmente grandes. A evolução e seus erros conexos são ensinados nas escolas de todas as categorias, desde o jardim da infância até às escolas superiores. Destarte, o estudo da ciência, que deveria comunicar o conhecimento de Deus, acha-se tão misturado com as especulações e teorias humanas que propende para a incredulidade. Ed 227 4 Mesmo o estudo da Bíblia, como muitas vezes é feito nas escolas, está despojando o mundo do inapreciável tesouro da Palavra de Deus. A obra da "alta crítica", dissecando, conjecturando, reconstruindo, está destruindo a fé na Bíblia como uma revelação divina; está despojando a Palavra de Deus do poder de dirigir, enobrecer e inspirar as vidas humanas. Ed 227 5 Quando o jovem sai ao mundo, para encontrar suas seduções ao pecado -- a paixão de ganhar dinheiro, a paixão dos divertimentos e contemporizações, da ostentação, do luxo, extravagâncias, engano, fraude, roubo e ruína -- que ensinos encontrará ali? Ed 227 6 O Espiritismo afirma que os homens são semideuses, não decaídos; que "cada mente julgará a si mesma", que "o verdadeiro conhecimento coloca os homens acima de toda a lei", que "todos os pecados cometidos são inocentes", pois "o que quer que seja, está certo", e "Deus não condena". Representa os mais vis dos seres humanos como estando no Céu, e grandemente exaltados ali. Assim, declara ele a todos os homens: "Não importa o que façais; vivei como vos aprouver, o Céu é vosso lar." Multidões são levadas assim a crer que o desejo é a lei mais elevada, a libertinagem é liberdade, e que o homem é apenas responsável a si mesmo. Ed 228 1 Com tal ensino dado logo ao princípio da vida, quando os impulsos são os mais fortes e mais urgente a necessidade de restrição própria e pureza, onde está a salvaguarda da virtude? O que deverá impedir que o mundo se torne uma segunda Sodoma? Ed 228 2 Ao mesmo tempo a anarquia procura varrer todas as leis, não somente as divinas mas também as humanas. A centralização da riqueza e poder; vastas coligações para enriquecerem os poucos que nelas tomam parte, a expensas de muitos; as combinações entre as classes pobres para a defesa de seus interesses e reclamos, o espírito de desassossego, tumulto e matança; a disseminação mundial dos mesmos ensinos que ocasionaram a Revolução Francesa -- tudo propende a envolver o mundo inteiro em uma luta semelhante àquela que convulsionou a França. Ed 228 3 Tais são as influências a serem enfrentadas pelos jovens hoje. Para ficar em pé em meio de tais convulsões, devem hoje lançar os fundamentos do caráter. Ed 228 4 Em cada geração e país, o verdadeiro fundamento e modelo para a formação do caráter tem sido o mesmo. A lei divina: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração,... e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lucas 10:27) -- grande princípio este manifesto no caráter e vida de nosso Salvador -- é o único fundamento certo e o único guia seguro. Ed 229 1 "A estabilidade dos teus tempos e a força da tua felicidade serão a sabedoria e ciência" (Isaías 33:6) -- aquela sabedoria e ciência que somente a Palavra de Deus pode comunicar. Ed 229 2 Relativamente à obediência aos Seus mandamentos, é tão verdade hoje como foi nos dias em que foram estas palavras proferidas a Israel: "Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos." Deuteronômio 4:6. Ed 229 3 Aqui está a única salvaguarda à integridade individual, pureza do lar, bem-estar da sociedade ou estabilidade da nação. Por entre as perplexidades, perigos e reclamos contraditórios da vida, a única segurança e regra certa é fazer o que Deus diz: "Os preceitos do Senhor são retos", "quem faz isso nunca será abalado". Salmos 19:8; 15:5. ------------------------Capítulo 26 -- Métodos de ensino Ed 230 0 "Para dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso." Ed 230 1 Durante séculos a educação tem tido que ver especialmente com a memória. Esta faculdade foi sobrecarregada ao extremo, enquanto outras faculdades mentais não foram desenvolvidas de maneira correspondente. Os estudantes têm empregado seu tempo em entulhar laboriosamente o espírito de conhecimentos, dos quais pouco poderiam utilizar. A mente, carregada desta maneira com aquilo que ela não pode digerir e assimilar, enfraquece-se; torna-se incapaz de um esforço vigoroso e confiante em si, e contenta-se com depender do juízo e percepção de outrem. Ed 230 2 Notando os inconvenientes deste método, alguns têm ido para o outro extremo. Segundo sua opinião, o homem necessita apenas desenvolver aquilo que tem dentro de si. Tal educação conduz o estudante à presunção, separando-o assim da fonte do verdadeiro poder e conhecimento. Ed 230 3 A educação que consiste no exercício da memória, com a tendência de descoroçoar o pensamento independente, tem uma influência moral que é pouco tomada em conta. Ao sacrificar o estudante a faculdade de raciocinar e julgar por si mesmo, torna-se incapaz de discernir entre a verdade e o erro, e cai fácil presa do engano. É facilmente levado a seguir a tradição e o costume. Ed 230 4 É um fato largamente ignorado, ainda que não deixe de haver sempre perigo nisso, que o erro raramente aparece como aquilo que realmente é. É misturando-se com a verdade ou apegando-se a ela, que alcança aceitação. O comer da árvore da ciência do bem e do mal causou a ruína de nossos primeiros pais, e a aceitação da mistura do bem e do mal é hoje a ruína de homens e mulheres. O espírito que confia no juízo de outrem, mais cedo ou mais tarde será por certo transviado. Ed 231 1 A capacidade de discernir entre o que é reto e o que não o é, podemos possuí-la unicamente pela confiança individual em Deus. Cada um deve aprender por si, com auxílio dEle, mediante a Sua Palavra. A nossa capacidade de raciocinar foi-nos dada para que a usássemos, e Deus quer que seja exercitada. "Vinde então e argüi-Me" (Isaías 1:18), Ele nos convida. Confiando nEle, podemos ter sabedoria para "rejeitar o mal e escolher o bem". Tiago 1:5; Isaías 7:15. Ed 231 2 Em todo verdadeiro ensino o elemento pessoal é essencial. Cristo, em Seu ensino, tratava com os homens individualmente. Foi pelo trato e convívio pessoal que Ele preparou os doze. Era em particular, e muitas vezes a um único ouvinte, que dava Suas preciosas instruções. Ao honrado rabi, na conferência noturna no Monte das Oliveiras, à desprezada mulher junto ao poço de Sicar, abriu Ele Seus mais ricos tesouros; pois descobriu nesses ouvintes o coração apto a ser impressionado, a mente aberta, o espírito pronto para receber. Mesmo a multidão que tantas vezes Lhe dificultava os passos não era para Cristo uma massa indistinta de seres humanos. Falava diretamente a cada espírito e apelava para cada coração. Observava a fisionomia dos ouvintes, notava-lhes a iluminação do semblante, o instantâneo e respondente olhar que dizia haver a verdade atingido a alma; e, então, vibrava-Lhe no coração uma corda correspondente de jubilosa simpatia. Ed 232 1 Cristo discernia possibilidades em todo ser humano. Ele não Se afastava por causa de um exterior não prometedor, ou por ambientes desfavoráveis. Chamou a Mateus da alfândega, e Pedro e seus irmãos do bote de pesca, para aprenderem com Ele. Ed 232 2 O mesmo interesse pessoal, a mesma atenção para com o desenvolvimento individual são necessários na obra educativa hoje. Muitos jovens que aparentemente nada prometem, são ricamente dotados de talentos que não aplicam a uso algum. Suas faculdades permanecem ocultas por causa da falta de discernimento por parte de seus educadores. Em muito menino ou menina de aparência tão pouco atraente como a pedra não lavrada, pode-se encontrar precioso material que resista à prova do calor, tempestade e pressão. O verdadeiro educador, conservando em vista aquilo que seus discípulos podem tornar-se, reconhecerá o valor do material com que trabalha. Terá um interesse pessoal em cada um de seus alunos, e procurará desenvolver todas as suas faculdades. Por mais imperfeitos que sejam eles, acoroçoará todo o esforço por conformar-se com os princípios retos. Ed 232 3 A cada jovem se deve ensinar a necessidade e o poder da aplicação. Disto, muito mais do que do gênio ou talento, depende o êxito. Sem aplicação, os mais brilhantes talentos pouco valem, enquanto pessoas de habilidades naturais muito comuns têm realizado maravilhas, mediante esforço bem orientado. E o gênio, por cujas concepções nos maravilhamos, está quase invariavelmente unido ao esforço incansável, concentrado. Ed 232 4 Deve-se ensinar os jovens a ter em vista o desenvolvimento de todas as suas faculdades, tanto as mais fracas como as mais fortes. Muitos têm a disposição de restringir seu estudo a certos ramos, para os quais têm gosto natural. Devemos precaver-nos contra este erro. As aptidões naturais indicam a direção do trabalho da vida, e, sendo genuínas, devem ser cuidadosamente cultivadas. Ao mesmo tempo deve ter-se sempre em vista que um caráter bem equilibrado e o trabalho eficiente em qualquer ramo, dependem em grande parte daquele desenvolvimento simétrico que é o resultado de um ensino proficiente e geral. Ed 233 1 O professor deve constantemente ter como objetivo a simplicidade e a eficiência. Deve amplamente ensinar por meio de ilustrações; e mesmo tratando com alunos mais velhos, cumpre ter o cuidado de tornar claras e evidentes todas as explicações. Muitos alunos adiantados em idade são crianças no entendimento. Ed 233 2 Um importante elemento no trabalho educativo é o entusiasmo. Quanto a este ponto, há, em uma observação feita certa vez por um célebre ator, uma útil sugestão. O arcebispo de Cantuária fizera-lhe a pergunta por que os atores em uma representação interessam seu auditório tão poderosamente falando de coisas imaginárias, enquanto os ministros do evangelho muitas vezes tão pouco interessam aos seus, falando de coisas reais. "Com a devida submissão a V. Exa", replicou o ator, "permita-me dizer que a razão é clara; está no poder do entusiasmo. Nós, no palco, falamos de coisas imaginárias como se fossem reais, e vós outros, no púlpito, falais de coisas reais como se fossem imaginárias." Ed 233 3 O professor em seu trabalho trata de coisas reais, e delas deve falar com toda a força e entusiasmo que sejam inspirados pelo conhecimento de sua realidade e importância. Ed 233 4 Todo professor deve cuidar de que seu trabalho tenda a resultados definidos. Antes de tentar ensinar uma matéria, deve ter em seu espírito um plano distinto, e saber o que precisamente deseja conseguir. Não deve ficar satisfeito com a apresentação de qualquer assunto antes que o estudante compreenda os princípios nele envolvidos, perceba a sua verdade, e esteja apto a referir claramente o que aprendeu. Ed 234 1 Tanto quanto o grande propósito da educação haja de ser conservado em vista, deve o jovem ser animado a progredir precisamente até onde suas capacidades o permitam. Antes, porém, de empreender os ramos de estudos mais elevados, assenhoreiem-se eles dos mais fáceis. Isto muitas vezes é negligenciado. Mesmo entre os estudantes nas escolas superiores e universidades há grande deficiência nos conhecimentos dos ramos comuns da educação. Muitos estudantes dedicam seu tempo à matemática superior, quando são incapazes de zelar de suas próprias contas. Muitos estudam a elocução com vistas a alcançar as graças da oratória, quando são incapazes de ler de maneira inteligível e impressiva. Muitos que terminaram o estudo da retórica fracassam na composição e ortografia de uma simples carta. Ed 234 2 Um conhecimento completo das coisas essenciais à educação deve não somente ser a condição para ser admitido aos cursos superiores, mas também a prova constante para a continuação e adiantamento. Ed 234 3 Em todos os ramos da educação há objetivos a serem adquiridos, mais importantes do que os que se conseguem por mero conhecimento técnico. Na língua, por exemplo. Mais importante do que a aquisição de línguas estrangeiras, vivas ou mortas, é a habilidade de escrever e falar a língua materna com facilidade e precisão; mas nenhuma habilitação adquirida por meio do conhecimento das regras gramaticais pode comparar-se em importância com o estudo da língua de um ponto de vista mais elevado. Em grande parte se acha ligado a este estudo a ventura ou a desventura da vida. Ed 235 1 O principal requisito da linguagem é que seja pura, benévola e verdadeira -- a expressão exterior de uma graça interna. Diz Deus: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. E se tais forem os pensamentos, tal será a expressão. Ed 235 2 A melhor escola para este estudo da língua é o lar; mas visto que a obra do lar é muitas vezes negligenciada, recai sobre o professor o ajudar seus discípulos na formação de hábitos corretos no falar. Ed 235 3 O professor muito poderá fazer para descoroçoar aquele mau hábito que é a maldição da coletividade, da vizinhança e do lar, a saber, o hábito de falar por detrás, tagarelar, criticar impiedosamente. Para tal fim não se devem poupar esforços. Impressionem os estudantes com o fato de que tal hábito revela falta de cultura, de educação e da verdadeira bondade de coração: inabilita a pessoa tanto para a sociedade dos que verdadeiramente são cultos e educados neste mundo, como para a associação com os seres santos do Céu. Ed 235 4 Pensamos com horror nos canibais que se banqueteiam com a carne ainda quente e trêmula de sua vítima; mas serão os resultados desta mesma prática mais terríveis do que a agonia e ruína causadas pela difamação dos intuitos, pela mancha da reputação, pela dissecação do caráter? Aprendam as crianças, bem como os jovens, o que Deus diz a respeito destas coisas: Ed 235 5 "A morte e a vida estão no poder da língua." Provérbios 18:21. Ed 235 6 Nas Escrituras, os maldizentes são classificados entre os "aborrecedores de Deus", "inventores de males", os que são "sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia", "cheios de inveja, homicídio, contenda, engano malignidade". Segundo o juízo de Deus "são dignos de morte os que tais coisas praticam". Romanos 1:30, 31, 29, 32. Aquele a quem Deus tem na conta de um cidadão de Sião, é o que "fala verazmente, segundo o seu coração", "não difama com a língua", "nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo". Salmos 15:2, 3. Ed 236 1 A Palavra de Deus também condena o uso dessas expressões sem sentido e triviais que resvalam pela imoralidade. Condena os falsos cumprimentos, as evasivas da verdade, os exageros, a falsidade no comércio, coisas estas vulgares na sociedade e no mundo comercial. "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna." Mateus 5:37. Ed 236 2 "Como o louco que lança de si faíscas, flechas, e mortandades, assim é o homem que engana o seu próximo, e diz: Fiz isso por brincadeira." Provérbios 26:18, 19. Ed 236 3 Intimamente ligada à bisbilhotice está a insinuação encoberta, esquiva, pela qual o coração impuro procura insinuar o mal que não ousa exprimir abertamente. Os jovens devem ser ensinados a evitar toda aproximação de tal prática como evitariam a lepra. Ed 236 4 No uso da língua não há talvez nenhum erro que velhos e jovens estejam mais prontos a desculpar em si do que o falar precipitado, impaciente. Acham que é uma desculpa suficiente responder: "Eu estava fora de mim, e realmente não queria dizer aquilo que falei." Mas a Palavra de Deus não trata disto levianamente. As Escrituras dizem: Ed 236 5 "Tens visto um homem precipitado nas suas palavras? Maior esperança há dum tolo do que dele." Provérbios 29:20. Ed 236 6 "Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito." Provérbios 25:28. Ed 236 7 Em um momento, pela língua precipitada, apaixonada, descuidosa, pode-se perpetrar um mal que o arrependimento de uma vida toda não poderá desfazer. Oh! quantos corações dilacerados, amigos alheados, vidas arruinadas, por causa das palavras ásperas, precipitadas, daqueles que poderiam ter trazido auxílio e alívio! Ed 237 1 "Há alguns cujas palavras são como pontas de espada, mas a língua dos sábios é saúde." Provérbios 12:18. Ed 237 2 Um dos característicos que devem ser especialmente acariciados e cultivados em toda criança, é aquele esquecimento de si mesmo que comunica à vida certa graça inconsciente. De todas as excelentes qualidades de caráter, esta é uma das mais belas, e para todo verdadeiro trabalho é uma das mais essenciais qualificações. Ed 237 3 As crianças necessitam de receber demonstrações de apreço, simpatia, animação; mas deve ter-se cuidado em não alimentar nelas o amor ao louvor. Não é prudente fazer-lhes especial referência, ou repetir diante delas seus ditos inteligentes. O pai ou professor que tem em vista o verdadeiro ideal do caráter e as possibilidades de o alcançar, não pode acariciar ou fomentar o sentimento de presunção. Não acoroçoará nos jovens o desejo ou esforço de exibir sua habilidade ou perfeição. Aquele que olha para o que é mais alto do que ele próprio, há de ser humilde; contudo, possuirá aquela dignidade que não se avilta ou se confunde ante uma exibição exterior ou grandeza humana. Ed 237 4 Não é por leis ou regras arbitrárias que as graças do caráter se desenvolvem. É pela permanência na atmosfera do que é puro, nobre, verdadeiro. E onde quer que haja pureza de coração e nobreza de caráter, revelar-se-ão na pureza e nobreza das ações e do falar. Ed 237 5 "O que ama a pureza do coração, e tem graça nos seus lábios, terá por seu amigo o rei." Provérbios 22:11. Ed 238 1 E assim como é com a língua, é com todos os outros estudos. Podem ser dirigidos de tal maneira que propenderão ao fortalecimento e à formação do caráter. Ed 238 2 Quanto a nenhum outro estudo isto é mais verdade do que em relação ao de História. Considere-se este estudo do ponto de vista divino. Ed 238 3 Conforme muitas vezes é ensinada, a História é pouco mais do que um relatório sobre o surgimento e queda de reis, intrigas das cortes, vitórias e derrotas de exércitos, toda uma narrativa de ambição e avidez, engano, crueldade e mortandade. Ensinada desta maneira, seus resultados não poderão deixar de ser prejudiciais. As pungentes repetições de crimes e atrocidades, as monstruosidades, as crueldades que são descritas, plantam sementes que em muitas vidas produzirão fruto em uma messe de males. Ed 238 4 Muito melhor é aprender, à luz da profecia de Deus, as causas que determinam o surgimento e queda de reinos. Estudem os jovens estes relatos e vejam como a verdadeira prosperidade das nações tem estado relacionada com a aceitação dos princípios divinos. Estudem a história dos grandes movimentos reformadores e vejam quantas vezes estes princípios, posto que odiados e desprezados, e conduzidos os seus defensores à masmorra e ao cadafalso, têm triunfado mediante estes mesmos sacrifícios. Ed 238 5 Tal estudo proporcionará uma visão larga e compreensiva da vida. Auxiliará a mocidade a entender algo de suas relações e dependências, bem como quão maravilhosamente nos achamos ligados uns aos outros na grande fraternidade da sociedade e das nações e em que grande extensão representam a opressão e degradação de um membro uma perda para todos. Ed 238 6 No estudo dos números deve o trabalho ser prático. Que se ensine cada jovem e criança não simplesmente a resolver problemas imaginários, mas fazer com precisão as contas de seus próprios ganhos e gastos. Que aprendam o devido uso do dinheiro, usando-o. Quer seja suprido por seus pais, quer seja ganho por eles mesmos, aprendam os moços e as moças a escolher e comprar sua própria roupa, seus livros e outras coisas necessárias; e fazendo um registro de suas despesas aprenderão, como não o fariam de qualquer outra maneira, o valor e o uso do dinheiro. Este ensino auxiliá-los-á a distinguir a verdadeira economia da mesquinhez, de um lado, e do outro, da prodigalidade. Devidamente orientado, acoroçoará hábitos de liberalidade. Auxiliará o jovem a aprender a dar, não por um mero impulso do momento, ao serem suscitados os seus sentimentos, mas a dar regular e sistematicamente. Ed 239 1 Desta maneira todo estudo pode tornar-se um auxílio na solução do máximo dos problemas: a educação de homens e mulheres para melhor desempenho das responsabilidades da vida. ------------------------Capítulo 27 -- Comportamento Ed 240 0 A caridade "não se porta com indecência". Ed 240 1 O valor da cortesia é muito pouco apreciado. Muitos que são bondosos de coração não têm amabilidade nas maneiras. Muitos que se impõem ao respeito por sua sinceridade e correção, são lamentavelmente deficientes em simpatia. Esta falta prejudica sua própria felicidade, e afasta de seu serviço a outros. Muitas das mais agradáveis e valiosas experiências da vida são freqüentes vezes, por mera falta de lembrança, sacrificadas pelos descorteses. Ed 240 2 O bom humor e a cortesia devem especialmente ser cultivados pelos pais e professores. Todos podem possuir fisionomia radiante, voz mansa, maneiras corteses, que são elementos de poder. As crianças são atraídas por uma atitude prazenteira e radiante. Mostrem-lhes bondade e cortesia, e manifestarão o mesmo espírito para com vocês, e umas para com as outras. Ed 240 3 A verdadeira cortesia não se aprende pela mera prática das regras da etiqueta. Deve em todo o tempo ser observado o devido comportamento. Sempre que não se ache envolvida uma questão de princípios, a consideração para com os outros nos levará à conformidade com os costumes aceitos; entretanto, a verdadeira cortesia não exige o sacrifício do princípio aos usos convencionais. Ela desconhece as castas. Ensina o respeito de si mesmo, respeito à dignidade do homem como homem, consideração por todo membro da grande fraternidade humana. Ed 241 1 Há o perigo de se dar demasiado valor às simples maneiras ou formas, e dedicar tempo excessivo à educação neste particular. A vida de acérrimos esforços exigida de cada jovem, o trabalho árduo e muitas vezes desmedido que os deveres comuns da vida reclamam e, muito mais, o que é necessário para se suavizar o pesado fardo de ignorância e miséria que há no mundo -- tudo isto deixa pouco lugar para formalidades. Ed 241 2 Muitos que dão grande valor à etiqueta, mostram pouco respeito a tudo que, apesar de excelente, deixe de corresponder à sua norma artificial. Isto significa educação falsa. Alimenta um orgulho crítico e um exclusivismo tacanho. Ed 241 3 A essência da verdadeira polidez é a consideração para com os outros. A educação essencial e duradoura é a que alarga a simpatia, favorece a afabilidade universal. Aquela pretensa cultura que não torna o jovem atencioso para com seus pais, fazendo-o apreciador de suas boas qualidades, indulgente para com seus defeitos, e útil às suas necessidades, e que o não torna ponderado e escrupuloso, generoso e útil aos jovens, velhos e infelizes, e também cortês para com todos -- é um malogro. Ed 241 4 O verdadeiro requinte nos pensamentos e maneiras aprende-se melhor na escola do divino Mestre do que por qualquer observância de regras estabelecidas. Seu amor, penetrando no coração, dá ao caráter aquele contato purificador que o modela à semelhança do Seu. Esta educação comunica uma dignidade inspirada pelo Céu e um senso das verdadeiras conveniências. Proporciona uma doçura de índole e gentileza de maneiras que nunca poderão ser igualadas pelo verniz superficial dos costumes da sociedade. Ed 241 5 A Bíblia recomenda a cortesia, e apresenta muitas ilustrações do espírito abnegado, das graças gentis, do temperamento cativante, que caracteriza a verdadeira polidez. Tais não são senão reflexos do caráter de Cristo. Toda ternura e cortesia verdadeiras no mundo mesmo entre os que não reconhecem o Seu nome, dEle procedem. E Ele deseja que estes característicos se reflitam perfeitamente nos Seus filhos. É Seu propósito que em nós os homens contemplem Sua beleza. Ed 242 1 O tratado mais valioso sobre civilidade que já foi escrito é a preciosa instrução ministrada pelo Salvador, pela voz do Espírito Santo, mediante o apóstolo Paulo, palavras essas que deveriam ser indelevelmente escritas na memória de todo ser humano, jovem ou velho: Ed 242 2 "Como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34. Ed 242 3 "A caridade é sofredora, é benigna; A caridade não é invejosa; A caridade não trata com leviandade, Não se ensoberbece. Não se porta com indecência, Não busca os seus interesses, Não se irrita, Não suspeita mal; Não folga com a injustiça, Mas folga com a verdade; Tudo sofre, Tudo crê, Tudo espera, Tudo suporta. A caridade nunca falha." 1 Coríntios 13:4-8. Ed 242 4 Outra preciosa graça que cuidadosamente se deve cultivar é a reverência. A verdadeira reverência para com Deus é inspirada por uma intuição de Sua infinita grandeza e consciência de Sua presença. Com esta percepção do Invisível deve ser profundamente impressionado o coração de toda criança. Deve-se ensiná-la a considerar como sagrados a hora e o lugar das orações e cerimônias do culto público, porque Deus está ali. E ao manifestar-se reverência na atitude e no porte, aprofundar-se-á o sentimento que a inspira. Ed 243 1 Bom seria aos jovens e velhos estudar e ponderar, e muitas vezes repetir aquelas palavras das Santas Escrituras que mostram como o lugar assinalado pela presença especial de Deus deve ser considerado. Ed 243 2 "Tira os teus sapatos de teus pés", mandou Ele a Moisés na sarça ardente, "porque o lugar em que tu estás é terra santa." Êxodo 3:5. Ed 243 3 Jacó, depois de contemplar a visão dos anjos, exclamou: "Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. ... Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos Céus." Gênesis 28:16, 17. Ed 243 4 "O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a terra." Habacuque 2:20. Ed 243 5 "O Senhor é Deus grande, E Rei grande acima de todos os deuses. ... Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou." Ed 243 6 "Foi Ele, e não nós, que nos fez Povo Seu e ovelhas do Seu pasto. Entrai pelas portas dEle com louvor, E em Seus átrios com hinos; Louvai-O, e bendizei o Seu nome." Salmos 95:3, 6; 100:3, 4. Ed 243 7 Deve também mostrar-se reverência pelo nome de Deus. Jamais deve esse nome ser proferido levianamente, inconsideradamente. Mesmo na oração, deve ser evitada sua repetição freqüente e desnecessária. "Santo e tremendo é o Seu nome." Salmos 111:9. Os anjos, quando pronunciam este nome, velam o rosto. Com que reverência devemos nós, que somos decaídos e pecadores, tomá-lo nos lábios! Ed 244 1 Devemos reverenciar a Palavra de Deus. Devemos mostrar respeito para com o volume impresso, nunca fazendo dele usos comuns, ou manuseando-o descuidadamente. Jamais devem as Escrituras ser citadas em uma pilhéria, ou referidas para reforçar um dito espirituoso. "Toda a Palavra de Deus é pura", "como prata refinada em forno de barro, purificada sete vezes". Provérbios 30:5; Salmos 12:6. Ed 244 2 Acima de tudo, ensine-se às crianças que a verdadeira reverência se mostra pela obediência. Deus nada ordenou que não seja essencial; e não há outro modo de se Lhe manifestar reverência tão agradável como a obediência ao que Ele disse. Ed 244 3 Deve-se mostrar respeito para com os representantes de Deus -- ministros, professores, pais, os quais são chamados para falarem e agirem em Seu lugar. No respeito que lhes é manifestado, Ele é honrado. Ed 244 4 Deus ordenou, especialmente, afetuoso respeito para com os idosos. Diz Ele: "Coroa de honra são as cãs, achando-se elas no caminho da justiça." Provérbios 16:31. Elas falam de batalhas feridas, vitórias ganhas, encargos suportados e tentações vencidas. Falam de pés fatigados próximos de seu descanso, de lugares que logo se vagarão. Ajudem às crianças a pensar nisto, e elas por meio de sua cortesia e respeito suavizarão o caminho dos que são idosos, e trarão graça e beleza a sua própria vida juvenil ao atenderem a ordem: "Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho." Levítico 19:32. Ed 244 5 Pais, mães e professores necessitam avaliar mais a responsabilidade e honra que Deus pôs sobre eles, ao fazer deles Seus representantes perante as crianças. O caráter revelado no contato da vida diária interpretará para a criança, para o bem ou para o mal, estas palavras de Deus: Ed 245 1 "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem." Salmos 103:13. "Como alguém a quem consola sua mãe, assim Eu vos consolarei." Isaías 66:13. Ed 245 2 Feliz a criança em quem palavras como estas despertam amor, gratidão e confiança; para quem a ternura, justiça e longanimidade do pai, da mãe e do professor interpretam o amor, a justiça e a longanimidade de Deus; criança que, pela confiança, submissão e reverência em relação a seus protetores terrestres, aprende a confiar em seu Deus, e obedecer-Lhe e reverenciá-Lo. Aquele que transmite ao filho ou discípulo um dom de tal natureza, dotou-o de um tesouro mais precioso do que a riqueza de todos os séculos -- tesouro tão duradouro como a eternidade. ------------------------Capítulo 28 -- Relação do vestuário para com a educação Ed 246 0 "Em traje honesto." Ed 246 1 Não poderá ser completa nenhuma educação que não ensine princípios corretos em relação ao vestuário. Sem tal ensino, a obra da educação é muitas vezes retardada e pervertida. O amor ao vestuário e a dedicação à moda acham-se entre os mais formidáveis oponentes e decididos embaraços que há para o professor. Ed 246 2 A moda é uma senhora que governa com mão de ferro. Em muitíssimos lares a atenção, força e tempo dos pais e filhos são absorvidos em satisfazer suas exigências. Os ricos têm o desejo de suplantar uns aos outros ao sujeitar-se às modas que estão sempre em mudança; os de classe média e mais pobres esforçam-se por aproximar-se da norma estabelecida pelos que supõem acima de si. Onde os meios e a força são limitados, e o desejo de sobressair é grande, o peso se torna quase insuportável. Ed 246 3 Para muitos não importa quão próprio ou mesmo bonito um vestido possa ser, no caso de se mudar a moda, tem de ser reformado ou posto de lado. Os membros do lar são condenados a uma faina incessante. Não há tempo para educar as crianças, tempo para a oração, ou para estudo da Bíblia; não há tempo para ajudar os pequeninos a se familiarizarem com Deus mediante as Suas obras. Ed 247 1 Não há tempo nem dinheiro para a caridade. Muitas vezes a mesa de jantar vem a sofrer restrições. O alimento é mal escolhido e preparado precipitadamente, sendo as exigências da natureza supridas apenas parcialmente. Os resultados serão os maus hábitos no regime alimentar, os quais desenvolvem moléstias e conduzem à intemperança. Ed 247 2 O amor à exibição produz a extravagância, e em muitos jovens mata a aspiração para uma vida mais nobre. Em vez de procurar educação, cedo demais se empenham nalguma ocupação a fim de ganhar dinheiro para satisfazer à paixão do vestir. E por meio desta paixão muita jovem é seduzida à ruína. Ed 247 3 Em muitas casas os recursos da família ficam sobrecarregados. O pai, incapaz de suprir as exigências da mãe e filhos, é tentado à desonestidade, e novamente a desonra e ruína são o resultado. Ed 247 4 Mesmo o dia de culto e os próprios serviços religiosos não estão isentos do domínio da moda. Pelo contrário, oferecem oportunidade para maior exibição de seu poder. A igreja torna-se um lugar de ostentação, e as modas são estudadas mais do que o sermão. Os que são pobres, incapazes de corresponder às exigências da moda, ficam inteiramente afastados da igreja. O dia de descanso é passado em ociosidade, e pelos jovens muitas vezes em associações desmoralizadoras. Ed 247 5 Na escola, as moças, em virtude de vestes impróprias e incômodas, inabilitam-se ou para o estudo ou para o recreio. Sua mente está preocupada, e tarefa difícil é ao professor despertar-lhes o interesse. Ed 247 6 Para quebrar o encanto da moda, a professora muitas vezes não encontra meios mais eficazes do que o contato com a Natureza. Que as alunas provem os deleites que se encontram ao lado dos rios, lagos e mares; subam elas às colinas, contemplem a glória do pôr-do-sol, explorem os tesouros do bosque e do campo; aprendam os prazeres de cultivar plantas e flores; e a importância de mais uma fita ou babado perderá sua significação. Ed 248 1 Levem os jovens a verem que no vestuário, assim como no regime alimentar, a maneira singela de viver é indispensável para que possamos pensar de maneira superior. Levem-nos a ver quanto há a aprender e fazer, quão preciosos são os dias da mocidade como preparo para o trabalho da vida. Ajudem-nos a ver que tesouro há na Palavra de Deus, no livro da Natureza, e nas histórias das vidas nobres. Ed 248 2 Dirija-se-lhes a mente aos sofrimentos que poderiam aliviar. Auxiliem-nos a ver que, em cada dólar dissipado para a ostentação, aquele que o despende se despoja de meios para alimentar os famintos, vestir os nus e consolar os tristes. Ed 248 3 Não podem consentir que se frustrem as gloriosas oportunidades da vida, que se lhes amesquinhe o espírito, arruíne a saúde, e naufrague sua felicidade, tudo por amor da obediência a mandos que não têm fundamento na razão, nem no conforto ou na graça e elegância. Ed 248 4 Ao mesmo tempo devem os jovens ser ensinados a reconhecer a lição da Natureza: "Tudo fez formoso em seu tempo." Eclesiastes 3:11. No vestuário, bem como em todas as outras coisas, é nosso privilégio honrar a nosso Criador. Ele deseja que não somente seja nosso vestuário limpo e saudável, mas próprio e decoroso. Ed 248 5 O caráter de uma pessoa é julgado pelo aspecto de seu vestuário. Um gosto apurado, um espírito desenvolvido, revelar-se-ão na escolha de ornamentos simples e apropriados. A casta simplicidade no vestir, aliada à modéstia das maneiras, muito farão no sentido de cercar uma jovem com aquela atmosfera de sagrada reserva que para ela será um escudo contra os milhares de perigos. Ed 248 6 Ensine-se às moças que a arte de vestir-se bem, inclui também a habilidade de fazer sua própria roupa. Isto deve ser uma ambição nutrida por toda moça. Será um meio de utilidade e independência de que não pode prescindir. Ed 249 1 É justo amar e desejar a beleza; Deus, porém, deseja que amemos e procuremos primeiro a mais alta beleza -- aquela que é imperecível. As mais seletas produções da perícia humana não possuem beleza que se possa comparar com a beleza do caráter, que à Sua vista é de "grande preço". Ed 249 2 Ensinem-se os jovens e crianças a escolher para si aquela veste real tecida nos teares celestiais -- o "linho puro e resplandecente" (Apocalipse 19:8), que todos os santos da Terra usarão. Tal veste -- o próprio caráter imaculado de Cristo -- é livremente oferecido a todo ser humano. Mas todos os que a recebem, a receberão e usarão aqui. Ed 249 3 Ensine-se às crianças que, franqueando elas a mente a pensamentos puros e amoráveis, e praticando ações amáveis e auxiliadoras, se estão vestindo com Suas belas vestes de caráter. Este traje fá-las-á belas e amadas aqui, e depois será o seu direito de admissão ao palácio do Rei. Sua promessa é: Ed 249 4 "Comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso." Apocalipse 3:4. ------------------------Capítulo 29 -- O Sábado Ed 250 0 "Isso é um sinal entre Mim e vós...; para que saibais que Eu sou o Senhor." Ed 250 1 O valor do sábado como meio educativo, está além de toda a apreciação. O que quer que, de nossas posses, Deus exija de nós, Ele devolve enriquecido, transfigurado e com Sua própria glória. O dízimo que Ele exigia de Israel era dedicado a preservar entre os homens, em sua gloriosa beleza, o modelo de Seu templo nos Céus -- sinal de Sua presença na Terra. Assim, a porção de nosso tempo que Ele reclama, nos é de novo dada, trazendo o Seu nome e selo. É "um sinal", diz Ele, "entre Mim e vós...; para que saibais que Eu sou o Senhor"; porque "em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou". Êxodo 31:13; 20:11. O sábado é um sinal do poder criador e redentor; ele indica a Deus como a fonte da vida e do saber; lembra a primitiva glória do homem, e assim testifica do propósito de Deus em criar-nos de novo à Sua própria imagem. Ed 250 2 O sábado e a família foram, semelhantemente, instituídos no Éden, e no propósito de Deus acham-se indissoluvelmente ligados um ao outro. Neste dia, mais do que em qualquer outro, é-nos possível viver a vida do Éden. Era o plano de Deus que os membros da família se associassem no trabalho e estudo, no culto e recreação, sendo o pai o sacerdote da casa, e pai e mãe os professores e companheiros dos filhos. Mas os resultados do pecado, tendo mudado as condições da vida, impedem em grande parte esta associação. Muitas vezes o pai dificilmente vê a face de seus filhos durante toda a semana. Acha-se quase totalmente privado de oportunidade para a companhia ou instrução. O amor de Deus, porém, estabeleceu um limite às exigências do trabalho. Sobre o sábado Ele põe Sua misericordiosa mão. No Seu próprio dia Ele reserva à família a oportunidade da comunhão com Ele, com a Natureza, e uns para com outros. Ed 251 1 Visto que o sábado é a memória do poder criador, é o dia em que de preferência a todos os outros devemos familiarizar-nos com Deus mediante Suas obras. Na mente infantil, o próprio pensamento do sábado deve estar ligado à beleza das coisas naturais. Ditosa é a família que pode ir ao lugar de culto, aos sábados, como iam Jesus e Seus discípulos à sinagoga, através de campos, ao longo das praias do lago, ou por entre bosques. Ditosos são o pai e a mãe que podem ensinar a seus filhos a Palavra escrita de Deus com ilustrações tiradas das páginas abertas do livro da Natureza; que podem com eles reunir-se sob as verdes árvores, no ar fresco e puro, para estudar a Palavra e cantar os louvores do Pai celestial. Ed 251 2 Por meio de tais associações, os pais poderão ligar os filhos a seu coração, e assim a Deus, mediante laços que jamais se hão de romper. Ed 251 3 Como um meio de ensino intelectual, as oportunidades do sábado são incalculáveis. Que se aprenda a lição da Escola Sabatina, não olhando rapidamente ao texto da mesma no sábado de manhã, mas estudando cuidadosamente para a próxima semana, no sábado à tarde, com recapitulação ou ilustração diária durante a semana. Assim a lição se fixará na memória, como um tesouro que jamais se perderá completamente. Ed 252 1 Ouvindo o sermão, notem os pais e os filhos o texto e os versículos citados, e tanto quanto possível o fio do pensamento, para repeti-los uns aos outros em casa. Isto muito fará no sentido de remover o aborrecimento com que as crianças tantas vezes escutam um sermão, e cultivará nelas o hábito da atenção e do pensamento sério. Ed 252 2 A meditação nos temas assim sugeridos revelará ao estudante tesouros com que jamais sonhou. Ele provará na sua própria vida a realidade da experiência descrita nas Escrituras: Ed 252 3 "Achando as Tuas palavras, logo as comi, e a Tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração." Jeremias 15:16. Ed 252 4 "Meditarei nos Teus estatutos." "Mais desejáveis são que o ouro, sim, do que muito ouro fino. ... Também por eles é admoestado o teu servo; e em os guardar há grande recompensa." Salmos 119:48; 19:10, 11. ------------------------Capítulo 30 -- Fé e oração Ed 253 0 "A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam." "Crede que o recebereis, e tê-lo-eis." Ed 253 1 A fé é a confiança em Deus, ou seja, a crença de que Ele nos ama e conhece perfeitamente o que é para o nosso bem. Assim ela nos leva a escolher o Seu caminho em vez de o nosso próprio. Em lugar da nossa ignorância, ela aceita a Sua sabedoria; em lugar de nossa fraqueza, aceita a Sua força; em lugar de nossa pecaminosidade, Sua justiça. Nossa vida e nós mesmos somos já Seus; a fé reconhece essa posse e aceita as bênçãos dela. A verdade, correção e pureza, têm sido designadas como segredos do êxito da vida. É a fé que nos põe na posse destes princípios. Ed 253 2 Todo o bom impulso ou aspiração é um dom de Deus; a fé recebe de Deus aquela vida que, somente, pode produzir o verdadeiro crescimento e eficiência. Ed 253 3 Deve-se explicar bem como exercer a fé. Para toda promessa de Deus há condições. Se estamos dispostos a fazer a Sua vontade, toda a Sua força é nossa. Qualquer dom que Ele prometa, está na própria promessa. "A semente é a Palavra de Deus." Lucas 8:11. Tão certo como o carvalho está na bolota, o dom de Deus está em Sua promessa. Se recebemos a promessa, temos o dom. Ed 253 4 A fé que nos habilita a receber os dons de Deus é em si mesma um dom, do qual certa medida é comunicada a todo ser humano. Ela cresce quando exercitada no apropriar-se da Palavra de Deus. A fim de fortalecer a fé devemos freqüentemente trazê-la em contato com a Palavra. Ed 254 1 No estudo da Bíblia, o estudante deve ser levado a ver o poder da Palavra de Deus. Na criação Ele "falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu". Ele "chama as coisas que não são como se fossem" (Salmos 33:9; Romanos 4:17); pois quando as chama, elas existem. Ed 254 2 Quantas vezes os que confiavam na Palavra de Deus, embora se encontrando literalmente desamparados, têm resistido ao poder do mundo inteiro! Eis Enoque, puro de coração e de vida santa, mantendo firme a sua fé na vitória da justiça contra uma geração corrupta e escarnecedora; Noé e sua casa contra os homens de sua época, homens da maior força física e mental, e da moral mais aviltada; os filhos de Israel junto ao Mar Vermelho, desamparada e aterrorizada multidão de escravos contra o mais poderoso exército da mais poderosa nação do globo; Davi, como um pastorzinho, tendo de Deus a promessa do trono, em oposição a Saul, o monarca estabelecido e disposto a manter firmemente o seu poder; Sadraque e seus companheiros no fogo, e Nabucodonosor no trono; Daniel entre os leões e seus inimigos nos altos postos do reino; Jesus na cruz, e os sacerdotes e principais dos judeus forçando até o governador romano a fazer a vontade deles; Paulo em grilhões, conduzido à morte de criminoso, sendo Nero o déspota de um império mundial. Ed 254 3 Tais exemplos não se encontram somente na Bíblia. São abundantes em todo o registro do progresso humano. Os valdenses e os huguenotes, Wycliffe e Huss, Jerônimo e Lutero, Tyndale e Knox, Zinzendorf e Wesley, com multidões de outros, têm testemunhado do poder da Palavra de Deus contra o poder e astúcia humanos em apoio do mal. Tais constituem a verdadeira nobreza do mundo. Tais são a sua linhagem real. Nesta linhagem a juventude de hoje é chamada a tomar lugar. Ed 255 1 Necessita-se de fé nas pequenas coisas da vida, tanto como nas grandes. Em todos os nossos interesses e ocupações diários, a força amparadora de Deus se nos torna real por meio de uma confiança perseverante. Ed 255 2 Encarada em seu lado humano, a vida é para todos um caminho ainda não experimentado. É uma senda em que, no que respeita às nossas mais profundas experiências, cada qual tem de andar sozinho. Nenhum outro ser humano pode penetrar completamente em nossa vida íntima. Ao iniciar a criança aquela jornada em que, mais cedo ou mais tarde, deverá escolher seu procedimento, por si decidindo para a eternidade os lances da vida, quão ardoroso deve ser o esforço para encaminhar sua confiança para o seguro Guia e Auxiliador! Ed 255 3 Como anteparo à tentação, e inspiração à pureza e à verdade, nenhuma influência pode igualar à intuição da presença de Deus. "Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar." "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação não podes contemplar." Hebreus 4:13; Habacuque 1:13. Este conceito foi o escudo de José entre as corrupções do Egito. Às seduções da tentação era constante sua resposta: "Como pois faria eu este tamanho mal, e pecaria contra Deus?" Gênesis 39:9. Tal escudo será a fé a toda alma que a abrigue. Ed 255 4 Unicamente essa percepção da presença de Deus poderá banir aquele receio que faria da vida um peso à tímida criança. Fixe ela em sua memória esta promessa: "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra." Salmos 34:7. Que leia a maravilhosa história de Eliseu na cidade montesina e, entre ele e as hostes de inimigos armados, uma poderosa multidão circunjacente de anjos celestiais. Leia como a Pedro, na prisão e condenado à morte, apareceu o anjo de Deus; como, depois de passarem pelos guardas armados, pelas portas maciças e grandes portões de ferro com seus ferrolhos e travessas, o anjo guiou o servo de Deus em segurança. Leia acerca daquela cena no mar, quando, aos soldados e marinheiros arremessados de um para outro lado pela tempestade, exaustos pelo trabalho, vigília e longo jejum, Paulo, como prisioneiro, em caminho para o seu julgamento e execução, falou aquelas grandiosas palavras de ânimo e esperança: "Agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós. ... Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo." Com fé nesta promessa, Paulo afirmou a seus companheiros: "Nenhum cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós." Assim aconteceu. Porque houvesse naquele navio um homem por meio do qual Deus podia operar, toda aquela carga de soldados e marinheiros gentios foi preservada. "Todos chegaram à terra, a salvo." Atos dos Apóstolos 27:22-24, 34, 44. Ed 256 1 Estas coisas não foram escritas meramente para que as pudéssemos ler e admirar, mas para que a mesma fé que na antigüidade operava nos servos de Deus, possa operar em nós. De maneira não menos assinalada do que Ele operava naquele tempo, fará hoje onde quer que haja corações de fé, que sejam os condutores de Seu poder. Ed 256 2 Ensine-se a confiança em Deus aos que desconfiam de si próprios, e que são, por isso, levados a fugir dos cuidados e responsabilidades. Destarte, muitos que aliás não seriam senão nulidades no mundo, ou talvez apenas um fardo inerme, habilitar-se-ão a dizer com o apóstolo Paulo: "Posso todas as coisas nAquele que me fortalece." Filipenses 4:13. Ed 256 3 Também para a criança ligeira em ressentir-se de injúrias, a fé contém preciosas lições. A disposição para resistir ao mal ou vingá-lo é muitas vezes devida a um veemente senso de justiça e um espírito ativo e enérgico. Ensine-se a tal criança que Deus é o defensor eterno do direito. Ele tem terno cuidado pelos seres que amou a ponto de dar, para salvá-los, Aquele que Lhe era diletíssimo. Ele tratará com todo malfeitor. Ed 257 1 "Porque aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho." Zacarias 2:8. Ed 257 2 "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará. ... Ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia." Salmos 37:5, 6. Ed 257 3 "O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido, um alto refúgio em tempo de angústia. E em Ti confiarão os que conhecem o Teu nome; porque Tu, Senhor, nunca desamparaste os que Te buscam." Salmos 9:9, 10. Ed 257 4 A compaixão que Deus manifesta para conosco, Ele nos ordena que manifestemos para com os outros. Que os que são impulsivos, pretensiosos e vingativos contemplem Aquele que, meigo e humilde, foi levado como um cordeiro ao matadouro, e não retribuiu o mal, semelhantemente à ovelha silenciosa diante dos que a tosquiam. Olhem para Aquele a quem nossos pecados feriram e nossas tristezas sobrecarregaram, e aprenderão a suportar, relevar e perdoar. Ed 257 5 Por meio da fé em Cristo, toda deficiência de caráter pode ser suprida, toda contaminação removida, corrigida toda falta, e toda boa qualidade desenvolvida. Ed 257 6 "Estais perfeitos nEle." Colossences 2:10. Ed 257 7 A oração e a fé são aliadas íntimas, e necessitam de ser estudadas juntas. Na oração da fé há uma ciência divina; é uma ciência que tem de compreender todo aquele que deseja fazer do trabalho um êxito. Diz Cristo: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis." Marcos 11:24. Ed 258 1 Ele deixa bem esclarecido que o nosso pedido deve estar de acordo com a vontade de Deus; devemos pedir as coisas que Ele prometeu, e o que quer que recebamos deve ser empregado no fazer a Sua vontade. Satisfeitas as condições, a promessa é certa. Ed 258 2 Podemos pedir o perdão do pecado, o Espírito Santo, um temperamento cristão, sabedoria e força para fazer Sua obra, ou qualquer dom que Ele haja prometido; então devemos crer que recebemos, e agradecer a Deus por havermos recebido. Ed 258 3 Não precisamos esperar por qualquer evidência exterior da bênção. O dom acha-se na promessa. Podemos empenhar-nos em nosso trabalho certos de que o que Deus prometeu Ele pode realizar, e de que o dom, que nós já possuímos, se efetivará quando dele mais necessitarmos. Ed 258 4 Viver assim pela Palavra de Deus significa a entrega a Ele de toda a nossa vida. Ter-se-á um contínuo senso de necessidade e dependência, uma atração do coração a Deus. A oração é uma necessidade, pois é a vida da alma. A oração particular e em público tem o seu lugar; é, porém, a comunhão secreta com Deus que sustenta a vida da alma. Ed 258 5 Foi no monte, com Deus, que Moisés contemplou o modelo daquela construção maravilhosa que devia ser a morada de Sua glória. É no monte, com Deus -- o lugar secreto da comunhão com Ele -- que devemos contemplar Seu glorioso ideal para com a humanidade. Destarte habilitar-nos-emos a moldar de tal maneira a formação de nosso caráter que se possa cumprir para nós esta promessa: "Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo." 2 Coríntios 6:16. Ed 259 1 Era nas horas de oração solitária que Jesus, em Sua vida terrestre, recebia sabedoria e poder. Sigam os jovens o Seu exemplo, procurando, na aurora e ao crepúsculo, uns momentos tranqüilos para a comunhão com seu Pai celestial. E durante o dia todo levantem eles o coração a Deus. A cada passo em nosso caminho, diz Ele: "Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela mão direita. ... Não temas, que Eu te ajudo." Isaías 41:13. Aprendessem nossos filhos estas lições na manhã de seus anos, e que vigor e poder, que alegria e doçura lhes penetrariam a vida! Ed 259 2 Tais são lições que apenas aquele que as aprendeu por si mesmo poderá ensinar. O fato de que o ensino das Escrituras não tem maior efeito sobre a juventude, é devido a que tantos pais e mestres professem crer na Palavra de Deus, enquanto sua vida nega o poder dela. Às vezes os jovens são levados a sentir o poder da Palavra. Vêem a preciosidade do amor de Cristo. Vêem a beleza de Seu caráter, as possibilidades de uma vida dada a Seu serviço. Mas, em contraste, vêem eles a vida dos que professam reverenciar os preceitos de Deus. Em relação a quantos deles são verdadeiras as palavras proferidas ao profeta Ezequiel: Ed 259 3 Teu povo "fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede do Senhor. E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como Meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obras; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra." Ezequiel 33:30-32. Ed 260 1 Uma coisa é considerar a Bíblia como um livro de boa instrução moral, a que se deva atender tanto quanto seja compatível com o espírito do tempo e nossa posição no mundo; outra coisa é considerá-la como realmente é: a palavra do Deus vivo, palavra que é a nossa vida, que deve modelar nossas ações, palavras e pensamentos. Ter a Palavra de Deus na conta de qualquer coisa inferior a isto, é rejeitá-la. E esta rejeição por parte dos que professam crer nela, é a causa preeminente do ceticismo e incredulidade entre os jovens. Ed 260 2 Parece estar-se apoderando do mundo, em muitos sentidos, uma intensidade qual nunca dantes se viu. Nos divertimentos, no ganhar dinheiro, nas lutas pelo poderio, na própria luta pela existência, há uma força terrível que absorve o corpo, o espírito e a alma. Em meio desta corrida louca, Deus fala. Ele nos ordena que fiquemos à parte e tenhamos comunhão com Ele. "Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus." Salmos 46:10. Ed 260 3 Muitos, mesmo nas horas de devoção, deixam de receber a bênção da comunhão real com Deus. Estão com demasiada pressa. Com passos precipitados apertam-se ao atravessar o grupo dos que têm a adorável presença de Cristo, detendo-se possivelmente um momento no recinto sagrado, mas não para esperar conselho. Não têm tempo de ficar com o Mestre divino. E com seus fardos voltam eles a seus trabalhos. Ed 260 4 Estes trabalhadores nunca poderão alcançar o maior êxito antes que aprendam o segredo da força. Devem dar a si mesmos tempo para pensar, orar e esperar de Deus a renovação da força física, mental e espiritual. Precisam da influência enobrecedora de Seu Espírito. Recebendo-a, animar-se-ão de uma nova vida. O corpo exausto e o cérebro cansado refrigerar-se-ão, e o coração oprimido aliviar-se-á. Ed 261 1 Nada de uma parada momentânea em Sua presença, mas um contato pessoal com Cristo, sentando-nos em Sua companhia -- tal é a nossa necessidade. Felizes serão os filhos de nossos lares e estudantes de nossas escolas quando pais e professores aprenderem em sua própria vida a preciosa experiência descrita nestas palavras dos Cantares de Salomão: Ed 261 2 "Qual a macieira entre as árvores do bosque, Tal é o meu Amado entre os filhos; Desejo muito a Sua sombra, e debaixo dela me assento; E o Seu fruto é doce ao meu paladar. Levou-me à sala do banquete, E o Seu estandarte em mim era o amor." Cantares 2:3, 4. ------------------------Capítulo 31 -- O trabalho vitalício Ed 262 0 "Uma coisa faço." Ed 262 1 O êxito em qualquer coisa que empreendamos exige um objetivo definido. Aquele que desejar alcançar o verdadeiro êxito na vida deve conservar firmemente em vista o alvo digno de seus esforços. Tal alvo acha-se posto diante da mocidade de hoje. O propósito, indicado por Deus, de dar o evangelho ao mundo nesta geração, é o mais nobre que possa apelar para qualquer ser humano. Abre um campo aos esforços de todo aquele cujo coração foi tocado por Cristo. Ed 262 2 O propósito de Deus para com os filhos que crescem em nossos lares, é mais amplo, mais profundo, mais elevado, do que o tem compreendido a nossa visão restrita. Aqueles em quem Ele viu fidelidade, têm sido, no passado, chamados dentre as mais humildes posições na vida, a fim de testificarem dEle nos mais elevados lugares do mundo. E muitos jovens de hoje, que crescem como Daniel no seu lar judaico, estudando a Palavra e as obras de Deus, e aprendendo as lições do serviço fiel, ainda se levantarão nas assembléias legislativas, nas cortes de justiça, ou nos paços reais, como testemunhas do Rei dos reis. Multidões serão chamadas para um ministério mais amplo. O mundo todo se está abrindo para o evangelho. A Etiópia está estendendo as mãos a Deus. Do Japão, China e Índia, das terras ainda obscuras do nosso próprio continente, de toda parte deste nosso mundo, vem o clamor de corações feridos em seu anelo de conhecimento do Deus de amor. Milhões e milhões jamais sequer ouviram falar em Deus ou Seu amor revelado em Cristo. Eles têm direito de receber este conhecimento. Igual direito ao nosso têm eles à misericórdia do Salvador. Recai sobre nós, os que recebemos este conhecimento, e sobre nossos filhos, a quem o podemos comunicar, atender ao seu clamor. A toda casa e escola, a todo pai, professor e criança sobre quem resplandeceu a luz do evangelho, impõe-se, neste momento crítico, a pergunta feita à rainha Ester naquela momentosa crise da história de Israel: "Quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?" Ester 4:14. Ed 263 1 Os que pensam no resultado de apressar o evangelho, ou impedi-lo, pensam isto em relação a si mesmos e ao mundo. Poucos o pensam em relação a Deus. Poucos tomam em consideração o sofrimento que o pecado causou a nosso Criador. Todo o Céu sofreu com a agonia de Cristo; mas esse sofrimento não começou nem terminou com Sua manifestação em humanidade. A cruz é uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus. Cada desvio do que é justo, cada ação de crueldade, cada fracasso da natureza humana para atingir o seu ideal, traz-Lhe pesar. Quando sobrevieram a Israel as calamidades que eram o resultado certo da separação de Deus -- subjugação por seus inimigos, crueldade e morte -- refere-se que "se angustiou a Sua alma por causa da desgraça de Israel". "Em toda a angústia deles foi Ele angustiado ... e os tomou, e os conduziu todos os dias da antigüidade." Juízes 10:16; Isaías 63:9. Ed 263 2 Seu Espírito "intercede por nós com gemidos inexprimíveis". Enquanto "toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Romanos 8:26, 22), o coração do Pai infinito condói-se, em simpatia. Nosso mundo é um vasto hospital, ou seja, um cenário de miséria em que não ousamos permitir mesmo que os nossos pensamentos se demorem. Compreendêssemos nós o que ele é na realidade, e o peso que sobre nós sentiríamos seria terribilíssimo. No entanto, Deus o sente todo. A fim de destruir o pecado e seus resultados, Ele deu Seu mui dileto Filho, e pôs ao nosso alcance, mediante a cooperação com Ele, levar esta cena de miséria a termo. "Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim." Mateus 24:14. Ed 264 1 "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura" (Marcos 16:15) -- é a ordem de Cristo a Seus seguidores. Não que todos sejam chamados para serem ministros ou missionários no sentido comum do termo; mas todos podem ser coobreiros de Cristo, dando as "boas novas" a seus semelhantes. A todos, grandes ou pequenos, doutos ou ignorantes, velhos ou jovens, é dada a ordem. Ed 264 2 À vista deste mandado, poderemos educar nossos filhos e filhas para uma vida de respeitáveis formalidades, uma vida que se professe cristã, mas a que falte aquele sacrifício próprio como o de Jesus, uma vida, enfim, sobre a qual o veredicto dAquele que é a verdade, deverá ser: "Não vos conheço"? Ed 264 3 Milhares estão fazendo assim. Julgam assegurar a seus filhos os benefícios do evangelho, enquanto negam o espírito do mesmo. Mas isto não pode ser. Os que rejeitam o privilégio da associação com Cristo no serviço cristão, rejeitam o único ensino que lhes dá habilitação para participar com Ele de Sua glória. Rejeitam o ensino que nesta vida concede força e nobreza de caráter. Muitos pais e mães, negando os filhos à cruz de Cristo, viram demasiado tarde que os estavam assim entregando ao inimigo de Deus e do homem. Selaram a sua ruína, não somente para o futuro, mas para a vida presente. A tentação venceu-os. Cresceram como uma maldição ao mundo, uma tristeza e uma vergonha aos que lhes deram o ser. Ed 265 1 Mesmo ao procurar preparar-se para o serviço de Deus, muitos se transviam pelos maus métodos de educação. A vida é por demais considerada como constituída de dois períodos distintos: o período da aprendizagem e o da vida prática -- o preparo e a consecução. No preparo para a vida de serviço os jovens são mandados para a escola, a fim de adquirirem conhecimentos pelo estudo dos livros. Separados das responsabilidades da vida diária, absorvem-se no estudo, e muitas vezes perdem de vista o propósito deste. Morre o ardor de sua primeira consagração, e muitos assumem alguma ambição pessoal e egoísta. Ao formar-se, milhares se acham fora do contato da vida. Tanto tempo lidaram com coisas abstratas e teóricas que, quando o ser todo deveria levantar-se para enfrentar os ásperos debates da vida real, não se encontram preparados. Em vez do nobre trabalho que se tinham proposto, absorvem as energias na luta pela mera subsistência. Depois de repetidas decepções, desesperados até de ganhar uma subsistência honesta, muitos se atiram a práticas discutíveis e criminosas. O mundo fica despojado do serviço que poderia ter recebido, e Deus é privado das almas que anelava erguer, enobrecer e honrar como representantes Seus. Ed 265 2 Muitos pais erram em fazer distinção entre seus filhos na questão de sua educação. Fazem quase todo o sacrifício para conseguir as melhores vantagens para um que é inteligente e apto. Mas não julgam que estas oportunidades são uma necessidade àqueles que são menos promissores. Imaginam que pouca educação seja necessária para o cumprimento dos deveres comuns da vida. Ed 265 3 Mas quem é capaz de escolher dentre os filhos de uma família aqueles sobre quem repousarão as mais importantes responsabilidades? Quantas vezes se tem verificado estar o discernimento humano em erro neste ponto! Lembrai-vos da experiência de Samuel quando foi mandado a ungir dentre os filhos de Jessé um para ser o rei sobre Israel. Sete jovens de nobre parecer passaram diante dele. Quando olhou ao primeiro, de traços bonitos, de formas bem desenvolvidas e porte principesco, o profeta exclamou: "Certamente está perante o Senhor o Seu ungido." Mas Deus disse: "Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." Assim, quanto a todos os sete, o testemunho foi: "O Senhor não tem escolhido a estes." 1 Samuel 16:6, 7, 10. E não foi permitido ao profeta cumprir sua missão antes que Davi fosse chamado do rebanho. Ed 266 1 Os irmãos mais velhos, dentre os quais Samuel teria feito a escolha, não possuíam as qualidades que Deus via serem essenciais para um governador de Seu povo. Orgulhosos, cheios de si, pretensiosos, foram deixados de lado em vantagem daquele que mal merecia a sua consideração, aquele que havia preservado a simplicidade e sinceridade de sua juventude, e que, conquanto pequeno à sua própria vista, poderia ser educado por Deus para assumir as responsabilidades do reino. Assim hoje, em muita criança cujos pais passariam por alto, Deus vê capacidades muito acima das que são reveladas por outros que se supõem sejam bastante promissores. Ed 266 2 E no que respeita às possibilidades da vida, quem seria capaz de decidir o que é grande e o que é pequeno? Quanto trabalhador tem havido, nas humildes posições da vida, que, movimentando influências para a bênção do mundo, tem conseguido resultados que reis poderiam invejar! Ed 266 3 Que toda criança, portanto, receba uma educação para os mais elevados serviços. "Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará: se esta, se aquela." Eclesiastes 11:6. Ed 267 1 O lugar específico que nos é designado na vida, é determinado por nossas capacidades. Nem todos atingem o mesmo desenvolvimento ou fazem com igual eficiência o mesmo trabalho. Deus não espera que o hissopo atinja as proporções do cedro, ou a oliveira a altura da majestosa palmeira. Mas cada qual deve ter o objetivo de atingir tão alto quanto a união do poder humano com o divino lhe torne possível. Ed 267 2 Muitos não se tornam aquilo que poderiam ser, pois não empregam o poder que neles está. Não lançam mão da força divina, como poderiam fazer. Muitos se desviam da linha em que poderiam alcançar o mais verdadeiro êxito. À procura de maior honra, ou de um trabalho mais agradável, tentam algo para que não são talhados. Nutrem a ambição de entrar para alguma profissão, muitos homens cujos talentos são adaptados a alguma outra vocação; e os que poderiam ter sido bem-sucedidos como fazendeiros, artífices, enfermeiros, ocupam impropriamente os cargos de pastores, advogados ou médicos. Outros há também que poderiam ocupar uma posição de responsabilidade, mas que por falta de energia, diligência e perseverança, se contentam com um cargo mais fácil. Ed 267 3 Precisamos seguir mais de perto o plano de Deus relativo à vida. Fazer o melhor que pudermos no trabalho que se acha mais perto, entregar nossos caminhos a Deus, e observar as indicações de Sua providência -- eis as regras que asseguram orientação certa na escolha de uma ocupação. Ed 267 4 Aquele que do Céu veio para ser nosso exemplo, despendeu quase trinta anos de Sua vida no trabalho comum e mecânico; durante esse tempo, porém, Ele esteve a estudar a Palavra e as obras de Deus, a prestar auxílios e ensinar a todos os que Sua influência podia atingir. Ao iniciar-se o Seu ministério público, saiu Ele a curar os doentes, consolar os tristes, pregar o evangelho aos pobres. Esta é a obra de todos os Seus seguidores. Ed 268 1 "O maior entre vós", disse Ele, "seja como o menor; e quem governa como quem serve. Pois ... entre vós sou como aquele que serve." Lucas 22:26, 27. Ed 268 2 O amor e lealdade para com Cristo são a fonte de todo verdadeiro serviço. No coração tocado por Seu amor, ter-se-á gerado o desejo de trabalhar por Ele. Que este desejo seja acoroçoado e bem dirigido. Quer no lar, quer na vizinhança ou na escola, a presença dos pobres, aflitos, ignorantes ou infelizes, deve ser considerada não como uma desgraça, senão como uma preciosa oportunidade para o serviço que se nos oferece. Ed 268 3 Nesta obra, como em qualquer outra, adquire-se a habilidade no próprio trabalho. É pelo ensino obtido nos deveres comuns da vida e no auxílio aos necessitados e sofredores, que se nos assegura a eficiência. Sem isto, os mais bem-intencionados esforços são muitas vezes inúteis e mesmo prejudiciais. É na água e não na terra que os homens aprendem a nadar. Ed 268 4 Outra obrigação, muitas vezes considerada levianamente -- a qual precisa ser explicada aos jovens que estão despertos àquilo que Cristo exige -- é a sua obrigação para com a igreja. Ed 268 5 Muito íntima e sagrada é a relação entre Cristo e Sua igreja: Ele é o noivo e a igreja a noiva; Ele a cabeça, e a igreja o corpo. A conexão com Cristo, portanto, envolve a conexão com Sua igreja. Ed 268 6 A igreja foi organizada para o serviço; e numa vida de serviço dedicado a Cristo, a conexão com a igreja é um dos primeiros passos. A lealdade para com Cristo exige o fiel cumprimento dos deveres da igreja. Isto é parte importante da educação de qualquer pessoa; e, numa igreja impregnada da vida do Mestre, levará diretamente ao esforço em prol do mundo lá fora. Ed 269 1 Há muitos ramos em que os jovens podem aplicar seus esforços em prol de outrem. Organizem-se eles em grupos para o serviço cristão, e verificar-se-á ser a cooperação um auxílio e encorajamento. Pais e professores, tomando interesse na obra dos jovens, poderão dar-lhes o benefício da sua própria experiência mais ampla e auxiliá-los a tornar eficientes seus esforços em prol do bem. Ed 269 2 É a familiaridade que desperta a simpatia, e esta é a originadora da prestatividade eficaz. Para despertar nas crianças e nos jovens simpatia e espírito de sacrifício pelos milhões que sofrem "nas regiões de além", familiarizem-se eles com esses países e povos. Neste sentido muito se poderia realizar em nossas escolas. Em vez de se demorarem nas façanhas de Alexandre ou Napoleão, a que se refere a História, estudem os alunos a vida de homens tais como o apóstolo Paulo e Martinho Lutero, Moffat e Livingstone, Carey, e a atual história de esforço missionário a desdobrar-se diariamente. Em vez de carregarem sua memória com uma série de nomes e teorias que nenhuma influência têm sobre sua vida, e em que uma vez fora da escola raramente pensam, estudem eles todos os países à luz do esforço missionário e familiarizem-se com os povos e suas necessidades. Ed 269 3 Nesta obra finalizadora do evangelho haverá um vasto campo a ser ocupado; e mais do que nunca a obra deve arregimentar dentre o povo comum, elementos para auxiliar. Tanto jovens como os de maior idade, serão chamados dos campos, das vinhas, das oficinas, e enviados pelo Mestre a dar Sua mensagem. Muitos deles tiveram pouca oportunidade de se educar; Cristo, porém, vê neles qualificações que os habilitam a cumprir o Seu propósito. Se puserem o coração nessa obra e continuarem a aprender, aparelhá-los-á para trabalhar por Ele. Ed 270 1 Aquele que conhece a profundidade das misérias e desespero do mundo, sabe por que meio trazer-lhe alívio. De todos os lados vê Ele almas em trevas, curvadas sob o peso do pecado, tristeza e dor. Mas também vê suas possibilidades; vê a altura a que poderiam atingir. Posto que os seres humanos hajam abusado das mercês de que foram objeto, dissipado seus talentos e perdido a dignidade da divina varonilidade, o Criador deverá ser glorificado em sua redenção. Ed 270 2 O encargo de trabalhar por estes necessitados nos lugares escabrosos da Terra, Cristo põe sobre os que se compadecem dos ignorantes e dos que se acham transviados. Ele estará presente para auxiliar aqueles cujo coração é susceptível de piedade, ainda que suas mãos possam ser toscas e inábeis. Ele operará por meio daqueles que vêem na miséria ensejo para a misericórdia, e na perda, para o ganho. Quando a Luz do mundo passa, discerne-se privilégio nas agruras, ordem na confusão, êxito no aparente fracasso. Vêem-se as calamidades como bênçãos disfarçadas, as desgraças como favores. Obreiros dentre o povo comum participando das tristezas de seus semelhantes, como participava seu Mestre das de todo o gênero humano, vê-Lo-ão pela fé a operar com eles. Ed 270 3 "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito." Sofonias 1:14. E há um mundo a ser avisado. Ed 270 4 Com o preparo que puderem obter, milhares e milhares de jovens e outros de mais idade devem consagrar-se a esta obra. Já muitos corações estão a atender à chamada do Obreiro por excelência, e o número deles crescerá. Mostre todo o educador cristão simpatia e cooperação para com tais obreiros. Anime e auxilie a juventude sob seu cuidado a obter preparo para unir-se às fileiras. Ed 271 1 Não há outro ramo de trabalho em que seja possível aos jovens receber maior benefício. Todos os que se empenham em servir são a mão auxiliadora de Deus. São coobreiros dos anjos; ou antes, são o poder humano por meio do qual os anjos cumprem a sua missão. Os anjos falam pela sua voz e agem por suas mãos. E os obreiros humanos, cooperando com os seres celestiais, recebem o benefício da educação e experiência deles. E, como meio de educação, que "curso universitário" poderá igualar a este? Ed 271 2 Com tal exército de obreiros como o que poderia fornecer a nossa juventude devidamente preparada, quão depressa a mensagem de um Salvador crucificado, ressuscitado e prestes a vir poderia ser levada ao mundo todo! Quão depressa poderia vir o fim -- o fim do sofrimento, tristeza e pecado! Quão depressa, em lugar desta possessão aqui, com sua mancha de pecado e dor, poderiam nossos filhos receber a sua herança onde "os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre"; onde "morador nenhum dirá: Enfermo estou", e "nunca mais se ouvirá nela voz de choro"! Salmos 37:29; Isaías 33:24; 65:19. Os mestres subalternos Ed 271 3 "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós." ------------------------Capítulo 32 -- Preparação Ed 275 0 "Procura apresentar-te a Deus aprovado." Ed 275 1 A primeira professora da criança é a mãe. Nas mãos desta acha-se em grande parte sua educação, durante o período de seu maior e mais rápido desenvolvimento. À mãe oferece-se em primeiro lugar a oportunidade de moldar o caráter para o bem ou para o mal. Ela deve compreender o valor desta sua oportunidade, e acima de qualquer outro professor cumpre que esteja habilitada a dela fazer uso de modo a obter os melhores resultados. Não obstante, não há outrem para cujo preparo tão pouca atenção se dê. Aquela, cuja influência na educação é poderosíssima e de tão vasto alcance é quem recebe o menor esforço sistemático em seu auxílio. Ed 275 2 Aquelas, a quem é confiado o cuidado das criancinhas, são muitas vezes ignorantes em relação às necessidades físicas destas; pouco sabem das leis de saúde ou dos princípios do desenvolvimento. Tampouco estão melhor aparelhadas para cuidar do crescimento mental e espiritual das crianças. Podem ter habilitações para dirigir negócios ou brilhar na sociedade, podem ter adquirido louváveis conhecimentos na literatura e ciências; mas do ensino de uma criança pouco conhecimento possuem. É principalmente por causa desta falta, especialmente da negligência do desenvolvimento físico na tenra idade, que tão grande proporção da raça humana morre na infância, e dentre os que atingem a maturidade tantos há para quem a vida não é senão um peso. Ed 276 1 Sobre os pais, bem como as mães, recai a responsabilidade do primeiro ensino à criança, tanto como do ensino posterior; e a ambos os pais é urgentíssima a necessidade de preparo cuidadoso e completo. Antes de tomar sobre si as responsabilidades da paternidade ou maternidade, homens e mulheres devem familiarizar-se com as leis do desenvolvimento físico: com a fisiologia e saúde, as influências pré-natais, com as leis da hereditariedade, sanidade, vestuário, exercício e tratamento de moléstias; devem também compreender as leis do desenvolvimento mental e do ensino moral. Ed 276 2 O Ser infinito tem esta obra de educação em tal conta que foram enviados mensageiros de Seu trono a uma que devia ser mãe, a fim de responder à pergunta: "Qual será o modo de viver e serviço do menino?" (Juízes 13:12) -- e instruir o pai relativamente à educação do filho prometido. Ed 276 3 Jamais a educação cumprirá tudo aquilo que pode e deve, antes que a importância da obra dos pais seja completamente reconhecida, e recebam eles o preparo para as suas sagradas responsabilidades. Ed 276 4 A necessidade de ensino preparatório para o professor é universalmente admitida; poucos, porém, reconhecem quão essencial é o caráter deste preparo. Aquele que avalia as responsabilidades abrangidas no ensino da juventude, compenetrar-se-á de que a instrução nos ramos científicos e literários, somente, não poderá bastar. O professor deve ter uma educação mais compreensiva do que a que se pode obter pelo estudo dos livros. Deve possuir não somente força mas também largueza de espírito; deve não somente ser dotado de uma alma sã mas também de um coração grande. Ed 276 5 Unicamente Aquele que criou o espírito e ordenou as suas leis, pode compreender perfeitamente as necessidades do mesmo ou dirigir-lhe o desenvolvimento. Os princípios de educação que Ele deu, são o único guia seguro. Um requisito essencial a todo professor é o conhecimento destes princípios, e uma aceitação dos mesmos de tal maneira que faça deles uma força dirigente em sua própria vida. Ed 277 1 A experiência na vida prática é indispensável. Ordem, perfeição, pontualidade, governo de si mesmo, temperamento jovial, uniformidade de disposição, sacrifício próprio, integridade e cortesia são requisitos essenciais. Ed 277 2 Visto que há tanta leviandade de caráter, tanto de espúrio em redor da mocidade, mais necessidade há de que as palavras, atitude e comportamento do professor representem o que é elevado e verdadeiro. As crianças são prontas para apanharem a afetação, ou qualquer outra fraqueza ou defeito. O professor não poderá impor-se ao respeito de seus discípulos de nenhuma outra maneira a não ser revelando em seu próprio caráter os princípios que ele procura ensinar-lhes. Apenas fazendo isto em sua associação diária com eles, é que sobre os mesmos poderá ter uma permanente influência para o bem. Ed 277 3 O professor em grande parte depende do vigor físico, no que respeita a quase todas as outras qualificações que contribuem para o seu êxito. Quanto melhor for sua saúde, tanto melhor será seu trabalho. Ed 277 4 Tão exaustivas são as suas responsabilidades que se exige um esforço especial de sua parte para conservar o vigor e viço. Muitas vezes ele se torna fatigado de coração e cérebro, com a tendência quase irresistível à depressão, frieza e irritabilidade. É seu dever não simplesmente resistir a tais disposições de ânimo, mas evitar a sua causa. Precisa conservar o coração puro, suave, confiante e cheio de simpatia. A fim de estar sempre firme, calmo e jovial, deve preservar a força do cérebro e dos nervos. Ed 278 1 Desde que a qualidade de seu trabalho é tão mais importante do que a quantidade, ele deve precaver-se contra o trabalho excessivo: não tentando fazer demasiado no ramo de seus próprios deveres; não aceitando outras responsabilidades que o inabilitem para a sua obra; não tomando parte em divertimentos e recreações sociais que sejam exaustivos ao invés de restauradores. Ed 278 2 O exercício ao ar livre, especialmente no trabalho útil, é um dos melhores meios de recreação para o corpo e o espírito; e o exemplo do professor inspirará seus discípulos com o interesse e respeito pelo trabalho manual. Ed 278 3 Em todos os sentidos deve o professor observar escrupulosamente os princípios de saúde. Deve fazê-lo não somente pelo efeito que isto tem sobre sua própria utilidade, mas também pela sua influência sobre os discípulos. Deve ser sóbrio em todas as coisas; no regime alimentar, no vestuário, no trabalho, na recreação, deve ele ser um exemplo. Ed 278 4 Com a saúde física e a correção de caráter deve encontrar-se combinada a alta qualificação literária. Quanto mais tiver o professor de verdadeiro conhecimento, melhor será seu trabalho. A sala de aulas não é lugar para trabalho superficial. Nenhum professor que esteja satisfeito com um saber superficial atingirá um elevado grau de eficiência. Ed 278 5 A utilidade do professor não depende, porém, tanto das aquisições intelectuais que possua, como da norma que ele tenha por objetivo. O verdadeiro professor não se contenta com pensamentos obtusos, espírito indolente ou memória inculta. Procura constantemente consecuções mais elevadas e melhores métodos. Sua vida é de contínuo crescimento. No trabalho de um professor nestas condições, há uma exuberância e poder vivificador que despertam e inspiram seus discípulos. Ed 278 6 O professor deve ter aptidão para o seu trabalho. Deve ter a sabedoria e o tato exigidos para tratar com as mentes. Por maior que sejam seus conhecimentos científicos, por excelentes que sejam suas qualificações em outros ramos, se não alcançar o respeito e confiança de seus alunos, debalde serão seus esforços. Ed 279 1 Precisam-se professores que sejam expeditos no discernir e aproveitar toda oportunidade para fazer o bem; professores que combinem a verdadeira dignidade com o entusiasmo; que sejam capazes de dirigir e aptos "para ensinar"; que possam inspirar pensamentos, despertar energias e comunicar ânimo e vida. Ed 279 2 As vantagens de um professor podem ter sido limitadas, de modo que ele poderá não possuir habilitações literárias tão altas como se poderia desejar. Todavia, se tem um conhecimento verdadeiramente profundo da natureza humana; se tem um genuíno amor por sua obra, apreciação de sua grandeza e decisão de se aperfeiçoar; se está disposto a trabalhar fervorosamente, perseverantemente, compreenderá as necessidades de seus discípulos, e pelo seu espírito de simpatia e progresso inspirá-los-á a prosseguir, procurando guiá-los avante e para cima. Ed 279 3 As crianças e jovens sob os cuidados do professor diferem largamente em disposição, hábitos e educação. Alguns não têm nenhum propósito definido ou princípios fixos. Precisam ser despertados a suas responsabilidades e possibilidades. Poucas crianças foram devidamente educadas em casa. Algumas foram muito mimadas. Todo o seu preparo foi superficial. Tendo-se-lhes permitido seguir as inclinações e evitar responsabilidades e encargos, falta-lhes estabilidade, perseverança e renúncia. Muitas vezes consideram toda disciplina como restrição desnecessária. Outras têm sido censuradas ou desanimadas. Restrições arbitrárias e aspereza desenvolveram nelas obstinação e desafio. Se estes caracteres deformados forem remodelados, este trabalho na maioria dos casos terá de ser feito pelo professor. Para que o cumpra com êxito, deve ter a simpatia e intuição que o habilitem a descobrir a causa das faltas e erros manifestos em seus discípulos. Deve ter também o tato e a habilidade, a paciência e firmeza, que o habilitem a comunicar a cada um o auxílio necessitado: ao vacilante e comodista, uma animação e assistência que sejam um estímulo ao esforço; ao desanimado, simpatia a apreciação que criem confiança e assim inspirem diligência. Ed 280 1 Os professores muitas vezes deixam de entrar suficientemente em relação social com seus alunos. Manifestam pouca simpatia e ternura, e demasiada dignidade de um juiz austero. Conquanto o professor tenha de ser firme e decidido, não deve ser opressor e ditatorial. Ser áspero e severo, ficar longe de seus discípulos, ou tratá-los indiferentemente, corresponde a fechar a passagem pela qual poderia influir neles para o bem. Ed 280 2 Sob circunstância alguma deve o professor manifestar parcialidade. Favorecer ao aluno cativante, atraente, e ser crítico, impaciente e incompassivo para com os que mais necessitam de animação e auxílio, significa revelar uma concepção totalmente errônea de seu trabalho. É no tratar com os defeituosos e trabalhosos que se prova o caráter e fica demonstrado se o professor é realmente qualificado para o seu cargo. Ed 280 3 Grande é a responsabilidade dos que tomam sobre si o encargo de ser guias da alma humana. O verdadeiro pai e mãe contam como seu um encargo de que nunca poderão desincumbir-se completamente. A vida da criança, desde o seu primeiro dia até ao último, experimenta o poder daquele laço que a liga ao coração dos pais; os atos, palavras, e mesmo o olhar dos pais continuam a moldar o filho para o bem ou para o mal. O professor participa desta responsabilidade, e necessita constantemente compreender o caráter sagrado da mesma e conservar em vista o propósito de sua obra. Ele não deve meramente cumprir suas tarefas diárias, satisfazer seus superiores e manter a boa fama da escola; deve tomar em consideração o mais elevado bem de seus discípulos como indivíduos, os deveres que a vida deporá sobre eles, o serviço que ela requer, e a preparação exigida. O trabalho que faz dia a dia exercerá sobre seus discípulos, e por meio deles sobre outros, uma influência que não cessará de se estender e fortalecer até que termine o tempo. Os frutos de seu trabalho ele tem de encontrá-los naquele grande dia em que toda palavra e ação hão de ser investigadas diante de Deus. Ed 281 1 O professor que disto se compenetre não terá a impressão de que seu trabalho está completo ao terminar a rotina diária das lições dadas, saindo os alunos por algumas horas de sob seus cuidados diretos. Ele levará essas crianças e jovens em seu coração. Seu constante estudo e esforço serão como assegurar-lhes a mais nobre norma de eficiência. Ed 281 2 Aquele que enxerga as oportunidades e privilégios de sua obra não permitirá que coisa alguma obste o caminho para os ardorosos esforços no sentido do aperfeiçoamento próprio. Não poupará esforços a fim de atingir a mais elevada norma de excelência. Tudo que deseja que seus discípulos se tornem, ele mesmo se esforçará por ser. Ed 281 3 Quanto mais profundo for o senso da responsabilidade e mais ardoroso o esforço para o aperfeiçoamento próprio, tanto mais claramente perceberá o professor, e mais profundamente lamentará, os defeitos que embaraçam sua utilidade. Contemplando ele a magnitude de sua obra, suas dificuldades e possibilidades, muitas vezes seu coração exclamará: "Para estas coisas quem é idôneo?" Ed 282 1 Caro professor, quando considera sua necessidade de força e guia, necessidade esta que nenhuma fonte humana poderia suprir, convido-o a considerar as promessas dAquele que é o Conselheiro maravilhoso: Ed 282 2 "Eis que diante de ti pus uma porta aberta", diz Ele, "e ninguém a pode fechar." Apocalipse 3:8. Ed 282 3 "Clama a Mim, e responder-te-ei." "Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os Meus olhos." Jeremias 33:3; Salmos 32:8. Ed 282 4 "Até à consumação dos séculos" "Eu estou convosco". Mateus 28:20. Ed 282 5 Como o mais elevado preparo para o seu trabalho indico-lhe as palavras, a vida, os métodos, do Príncipe dos professores. Convido-o a considerá-Lo. NEle está o seu verdadeiro ideal. Contemple-O, demore-se em Sua consideração, até que o Espírito do Mestre divino tome posse de seu coração e vida. Ed 282 6 "Refletindo como um espelho a glória do Senhor", você será transformado "... na mesma imagem". 2 Coríntios 3:18. Ed 282 7 Este é o segredo do poder sobre os seus discípulos. Reflita-O. ------------------------Capítulo 33 -- Cooperação Ed 283 0 "Somos membros uns dos outros." Ed 283 1 Na formação do caráter nenhuma influência avulta tanto como a do lar. O trabalho do professor deve suplementar o dos pais, mas não substituí-lo. Em tudo que respeita ao bem-estar da criança devem os pais e professores esforçar-se no sentido de cooperar. Ed 283 2 Este trabalho de cooperação deve começar com o pai e a mãe na vida doméstica. No ensino de seus filhos, eles têm uma responsabilidade conjunta, e deve ser seu constante esforço agirem juntamente. Entreguem-se eles a Deus, procurando dEle auxílio para se ajudarem mutuamente. Ensinem os filhos a serem verdadeiros para com Deus, fiéis aos princípios, e assim verazes para consigo mesmos e para com todos aqueles com quem entram em contato. Com tais ensinos, as crianças, quando mandadas à escola, não serão causa de perturbação ou ansiedade. Serão um apoio aos professores e um exemplo e animação aos colegas de estudo. Ed 283 3 Os pais que dão tal ensino não são dos que se encontram a criticar o professor. Compreendem que tanto o interesse de seus filhos como a justiça para com a escola exigem que, tanto quanto possível, eles apóiem e honrem aquele que participa de sua responsabilidade. Ed 284 1 Muitos pais falham neste ponto. Pela sua crítica precipitada, infundada, a influência do fiel e abnegado professor é muitas vezes quase destruída. Muito pais, cujos filhos foram prejudicados pela condescendência deixam ao professor a desagradável tarefa de reparar a sua negligência; e então pela sua própria maneira de proceder tornam esta tarefa quase desesperadora. Sua crítica e censura à regência da escola acoroçoam nos filhos a insubordinação e os confirmam nos maus hábitos. Ed 284 2 Se a crítica ou sugestões ao trabalho do professor se tornam necessárias, devem fazer-se-lhe em particular. Se isto não produzir efeito, que o fato seja referido aos que são os responsáveis pela direção da escola. Nada se deve dizer ou fazer que diminua o respeito das crianças para com aquele de quem, em tão grande parte, depende o bem-estar delas. Ed 284 3 O conhecimento particular dos pais acerca do caráter dos filhos bem como de suas peculiaridades físicas e defeitos, se for comunicado ao professor, ser-lhe-á um auxílio. É para se lamentar que tantos deixem de reconhecer isto. Da parte da maioria dos pais pouco interesse se mostra, quer para se informarem a si mesmos das habilitações do professor, quer para cooperarem com ele em sua obra. Ed 284 4 Visto que os pais tão raramente se familiarizam com o professor, é da maior importância que este procure familiarizar-se com aqueles. Deve visitar a casa de seus discípulos, e tomar conhecimento das influências e ambiente em que vivem. Vindo em contato pessoal com seus lares e vida, pode fortalecer os laços que o ligam a seus discípulos, e aprender como tratar com mais êxito com as várias disposições e temperamentos. Ed 284 5 Interessando-se na educação do lar, o professor proporciona um duplo benefício. Muitos pais absorvidos nos trabalhos e cuidados, perdem de vista suas oportunidades de influenciar para o bem a vida de seus filhos. Muito poderá fazer o professor para despertar esses pais às suas possibilidades e privilégios. Encontrará outros, a quem o senso de sua responsabilidade é um grande peso, tão ansiosos se acham eles de que seus filhos se tornem homens e mulheres bons e úteis. Freqüentemente o professor pode auxiliar a estes pais a suportar esse peso e, aconselhando-se mutuamente, professor e pais animar-se-ão, fortalecer-se-ão. Ed 285 1 Na educação doméstica dos jovens, o princípio da cooperação é inestimável. Desde os mais tenros anos as crianças devem ser levadas a entender que são parte da firma doméstica. Mesmo os pequeninos devem ser ensinados a participar do trabalho diário, e cumpre fazer com que vejam ser o seu auxílio necessário e apreciado. Os mais idosos devem ser os ajudantes dos pais, tomando parte em seus planos, e partilhando de suas responsabilidades e encargos. Tomem os pais e as mães tempo para ensinar os filhos, mostrem que apreciam o auxílio deles, desejam sua confiança e gostam de sua companhia; e as crianças não serão tardias em corresponder. Não somente isto suavizará o encargo dos pais, e receberão as crianças um ensino prático de valor inestimável, mas também haverá fortalecimento dos laços domésticos e consolidação dos próprios fundamentos do caráter. Ed 285 2 A cooperação deve ser o espírito da sala de aulas, a lei de sua vida. O professor que adquire a cooperação de seus discípulos consegue um auxílio inapreciável na manutenção da ordem. Nos serviços da sala de aula muitos rapazes, cujo estado irrequieto acarreta desordem e insubordinação, encontrariam vazão à sua energia supérflua. Que os mais velhos ajudem aos mais novos, os fortes aos fracos; e, quanto possível, seja cada um chamado a fazer algo em que se distinga. Isto fomentará o respeito próprio e o desejo de ser útil. Ed 286 1 Valioso seria aos jovens, aos pais, aos professores, estudarem as lições de cooperação que encontramos nas Escrituras. Entre suas muitas ilustrações, note a construção do tabernáculo (e este era uma lição objetiva da construção do caráter), na qual o povo todo se uniu, "todo o homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou". Êxodo 35:21. Lede como os muros de Jerusalém foram reconstruídos pelos cativos que voltaram, em meio de pobreza, dificuldade e perigo, efetuando-se com êxito a grande tarefa, porque "o coração do povo se inclinava a trabalhar". Neemias 4:6. Considere a parte desempenhada pelos discípulos no milagre do Salvador em alimentar a multidão. O alimento multiplicava-se nas mãos de Cristo, mas os discípulos recebiam os pães e os passavam à multidão que esperava. Ed 286 2 "Somos membros uns dos outros." Visto, pois, que cada um recebeu um dom, "administre aos outros ... como bons despenseiros da multiforme graça de Deus". Efésios 4:25; 1 Pedro 4:10. Ed 286 3 As palavras escritas acerca dos construtores de ídolos na antiguidade, bem poderiam ser, com um objetivo mais digno, adotadas como divisa pelos construtores de caráter, de hoje: Ed 286 4 "Um ao outro ajudou, e ao seu companheiro disse: Esforça-te." Isaías 41:6. ------------------------Capítulo 34 -- Disciplina Ed 287 0 Ensinar, repreender, animar, ser longânimo. Ed 287 1 Uma das primeiras lições que a criança precisa aprender é a lição da obediência. Antes que fique bastante idosa para raciocinar pode ser ensinada a obedecer. Deve estabelecer-se o hábito por meio de um esforço brando e persistente. Destarte se podem evitar em grande parte aqueles conflitos posteriores entre a vontade e a autoridade, os quais tanto concorrem para criar hostilidade e amargura para com os pais e professores, e muito freqüentemente, resistência a toda autoridade, humana ou divina. Ed 287 2 O objetivo da disciplina é ensinar à criança o governo de si mesma. Devem ensinar-se-lhe a confiança e direção próprias. Portanto, logo que ela seja capaz de entendimento, deve alistar-se a sua razão ao lado da obediência. Que todo o trato com ela seja de tal maneira que mostre ser justa e razoável a obediência. Ajude-a a ver que todas as coisas se acham subordinadas a leis, e que a desobediência conduz finalmente a desastres e sofrimentos. Quando Deus diz: "Não farás", amorosamente Ele nos avisa das conseqüências da desobediência, a fim de nos livrar de desgraças e perdas. Ed 287 3 Auxilie as crianças a verem que pais e professores são os representantes de Deus, e que, agindo aqueles em harmonia com Ele, suas leis no lar e na escola são também dEle. Assim como a criança deve prestar obediência aos pais e professores, devem estes por seu turno prestá-la a Deus. Ed 288 1 Dirigir o desenvolvimento da criança, sem estorvá-lo por meio de um governo indevido, deve ser objeto de estudo tanto por parte do pai como do professor. As regras demasiadas são coisa tão ruim como a deficiência delas. O esforço para se "quebrar a vontade" de uma criança é um erro terrível. Os espíritos são constituídos diferentemente; conquanto a força possa conseguir uma submissão aparente, com muitas crianças o resultado é uma mais decidida rebelião do coração. Mesmo que o pai ou professor consiga impor a sujeição que deseja, o desfecho poderá ser não menos desastroso para a criança. A disciplina de um ser humano que haja atingido os anos da inteligência, deve diferir do ensino de um animal irracional. A este apenas se ensina a submissão a seu dono. Para o irracional, o dono serve de mente, juízo e vontade. Este método, algumas vezes empregado no ensino das crianças, faz delas pouco mais que autômatos. O espírito, a vontade, a consciência, acham-se sob o governo de outro. Não é propósito de Deus que espírito algum seja dessa maneira dominado. Os que enfraquecem ou destroem a individualidade, assumem uma responsabilidade de que apenas podem resultar males. Enquanto sob a autoridade, as crianças podem assemelhar-se a soldados bem disciplinados; faltando, porém, esse governo, notar-se-á a falta de força e firmeza no caráter. Não tendo nunca aprendido a governar-se, os jovens não admitem restrições a não ser as exigências dos pais ou professor. Removidas estas, não sabem como fazer uso de sua liberdade, e com frequência se entregam a condescendências que vêm a ser sua ruína. Ed 288 2 Desde que a renúncia da vontade é muito mais difícil a alguns alunos do que a outros, o professor deve fazer com que a obediência às suas exigências seja tão fácil quanto possível. A vontade deve ser dirigida e modelada, mas não ignorada ou esmagada. Poupe a força de vontade, pois na batalha da vida ela será necessária. Ed 289 1 Toda criança deve compreender a verdadeira força de vontade. Cumpre que seja levada a ver quão grande é a responsabilidade envolvida neste dom. A vontade é a força dirigente na natureza do homem, a força para a decisão, ou escolha. Todo ser humano dotado de razão tem o poder de escolher o que é reto. Em cada incidente da vida, a palavra de Deus para nós é: "Escolhei hoje a quem sirvais." Josué 24:15. Cada qual pode pôr a sua vontade ao lado da vontade de Deus, pode optar pela obediência a Ele e, ligando-se assim com as forças divinas, colocar-se onde nada o poderá forçar a praticar o mal. Em cada jovem e criança há o poder de, mediante o auxílio de Deus, formar um caráter íntegro e viver uma vida de utilidade. Ed 289 2 O pai ou professor que com tais instruções ensine à criança o governo de si mesma, será da maior utilidade e terá um êxito permanente. Para o observador superficial o seu trabalho pode não mostrar verdadeiro valor; poderá deixar de ser estimado em tão grande conta como o daquele que retém o espírito e a vontade da criança sob uma autoridade absoluta; entretanto, os anos vindouros demonstrarão o resultado do melhor método de ensino. Ed 289 3 O educador prudente, ao tratar com seus discípulos, procurará promover a confiança e fortalecer o sentimento de honra. As crianças e jovens são beneficiados se se deposita neles confiança. Muitos, mesmo dentre os pequeninos, têm um elevado senso de honra; todos desejam ser tratados com confiança e respeito, e eles têm direito a isto. Deve-se ter cuidado de que eles não pressintam não poderem sair ou entrar sem ser vigiados. A suspeita desmoraliza, produzindo os mesmos males que procura evitar. Ao invés de vigiar continuamente, como se estivessem a suspeitar mal, os professores que se acham em contato com seus discípulos discernirão a operação da mente irrequieta, e porão em atividade influências que contrabalançarão o mal. Leve os jovens a sentir que eles merecem confiança, e poucos haverá que não procurarão mostrar-se dignos dessa confiança. Ed 290 1 Sob o mesmo princípio é melhor pedir do que ordenar; aquele a quem assim nos dirigimos tem oportunidade de se mostrar leal aos princípios retos. Sua obediência é o resultado da escolha em vez de o ser da coação. Ed 290 2 As regras que governam a sala de aulas devem quanto possível representar a voz da escola. Todo princípio nelas envolvido deve ser posto diante do estudante de tal maneira que ele possa convencer-se de sua justiça. Assim ele sentirá a responsabilidade de fazer com que as regras que ele próprio ajudou a formular, sejam obedecidas. Ed 290 3 As regras devem ser poucas e bem consideradas; e uma vez feitas, cumpre que sejam executadas. O que quer que se verifique impossível de se mudar, a mente aprende a reconhecer e a isso adaptar-se; mas a possibilidade de condescendência suscita o desejo, esperança e incerteza, e os resultados são a inquietação, irritabilidade, insubordinação. Ed 290 4 Deve-se deixar esclarecido que o governo de Deus desconhece qualquer transigência com o mal. Não deve a desobediência ser tolerada nem no lar nem na escola. Nenhum pai ou professor que leve a sério o bem-estar dos que se acham sob os seus cuidados, transigirá com a vontade obstinada que desafia a autoridade ou recorre a subterfúgios ou a evasivas a fim de escapar à obediência. Não é o amor mas o sentimentalismo o que usa de rodeios com as más ações, procura pela lisonja ou suborno conseguir a submissão e finalmente aceita algum substituto da coisa exigida. Ed 291 1 "Os loucos zombam do pecado." Provérbios 14:9. Devemos precaver-nos de tratar o pecado como uma coisa frívola. Terrível é o seu poder sobre o malfeitor. "As suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido." Provérbios 5:22. O maior mal que se possa fazer a uma criança ou jovem é consentir que se fixe na escravidão dos maus hábitos. Ed 291 2 Os jovens têm um inato amor à liberdade; desejam a independência; precisam compreender que estas inestimáveis bênçãos devem ser gozadas unicamente na obediência à lei de Deus. Esta lei é a preservadora da verdadeira independência e liberdade. Ela nos aponta e proíbe as coisas que degradam e escravizam, e desta maneira proporciona ao que lhe obedece proteção contra o poder do mal. Ed 291 3 Diz o salmista: "Andarei em liberdade, pois busquei os Teus preceitos." "Teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros." Salmos 119:45, 24. Ed 291 4 Em nossos esforços de corrigir o mal, devemos precaver-nos contra a tendência de descobrir as faltas de outrem e censurá-las. A contínua censura confunde mas não reforma. Para muitos espíritos e freqüentemente os mais delicados, uma atmosfera de crítica destituída de simpatia é fatal aos seus esforços. As flores não desabrocham ao sopro de um vento crestante. Ed 291 5 Uma criança freqüentemente censurada por alguma falta especial vem a considerar aquela falta como uma peculiaridade sua, ou alguma coisa contra que seria vão esforçar-se. Assim se cria o desânimo e a falta de esperança, muitas vezes ocultos sob a aparência de indiferença ou bravata. Ed 291 6 Alcança-se o verdadeiro objetivo da reprovação apenas quando o próprio malfeitor é levado a ver a sua falta, e consegue sua vontade no empenho de corrigir-se. Quando isto se cumpre, aponte-lhe a fonte de perdão e poder. Procure preservar o seu respeito próprio, e inspirar-lhe ânimo e esperança. Ed 292 1 Esta é a obra mais delicada e mais difícil que se tem confiado a seres humanos. Exige o mais delicado tato, a maior susceptibilidade, conhecimento da natureza humana e uma fé e paciência oriundas do Céu, dispostas a trabalhar, vigiar e esperar. É uma obra que nada sobrelevará em importância. Ed 292 2 Os que desejam governar a outrem devem primeiramente governar-se a si mesmos. O tratar apaixonadamente com uma criança ou jovem, somente despertará o seu ressentimento. Quando um pai ou professor se torna impaciente e está em perigo de falar imprudentemente, fique em silêncio. Há um maravilhoso poder no silêncio. Ed 292 3 O professor deve esperar encontrar disposições perversas e corações rebeldes. Mas ao tratar com eles nunca deve esquecer-se de que ele mesmo foi criança, necessitando de disciplina. Mesmo agora com todas as vantagens de idade, educação e experiência, muitas vezes erra, e necessita de misericórdia e perdão. Tratando com os jovens, deve ter em vista que está a tratar com os que têm inclinações para o mal, idênticas às suas próprias. Eles têm quase tudo a aprender, e para alguns isso é muito mais difícil do que para outros. Com o aluno vagaroso deve conduzir-se pacientemente, não censurando sua ignorância, mas aproveitando toda oportunidade de o animar. Com alunos sensíveis e nervosos, deve tratar muito brandamente. O senso de suas próprias imperfeições deve levá-lo constantemente a manifestar simpatia e clemência para com os que também estão lutando com dificuldades. Ed 292 4 A regra do Salvador -- "como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós também" (Lucas 6:31) -- deve ser a regra de todos os que empreendem a educação das crianças e jovens. Estes são os membros mais novos da família do Senhor; herdeiros conosco da graça da vida. A regra de Cristo deve ser religiosamente observada em relação aos menos inteligentes, aos de menor idade, aos mais desatinados, e mesmo aos transviados e rebeldes. Ed 293 1 Esta regra induzirá o professor a evitar quanto possível tornar públicas as faltas ou erros de um discípulo. Procurará evitar reprovar ou punir na presença de outros. Não expulsará um estudante antes que hajam sido feitos todos os esforços para que o mesmo se emende. Quando, porém, se torna evidente que o estudante não está recebendo benefício, ao mesmo tempo em que seu desafio ou desrespeito à autoridade tende a subverter o governo da escola, e sua influência está contaminando a outros, torna-se uma necessidade a sua expulsão. No entanto, para com muitos, o opróbrio da expulsão pública determinaria completo desleixo e ruína. Na maioria dos casos em que uma exclusão destas é inevitável, não se necessitaria tornar pública semelhante coisa. Mediante consulta e cooperação com os pais, providencie o professor em particular a retirada do estudante. Ed 293 2 Nesta época de perigos especiais para a juventude, cercam-na tentações de todos os lados; ao passo que é fácil deixar-se levar por essa onda, exigem-se os maiores esforços a fim de lutar contra a corrente. Cada escola deve ser uma "cidade de refúgio" para os jovens tentados, e um lugar em que as suas fraquezas sejam tratadas paciente e sabiamente. Os professores que compreendem suas responsabilidades afastarão de seu coração e vida tudo que os possa impedir de tratar com êxito com os voluntariosos e desobedientes. Amor e ternura, paciência e governo próprio, serão em todo o tempo a lei de sua linguagem. A misericórdia e a compaixão estarão misturadas com a justiça. Quando necessário reprovar, sua linguagem não será exagerada, mas sim humilde. Com afabilidade apresentarão ao malfeitor os seus erros, e o auxiliarão a emendar-se. Todo verdadeiro professor entenderá que, no caso de haver erro em sua maneira de agir, é melhor que este seja por ter ele agido do lado da misericórdia do que do da severidade. Ed 294 1 Muitos jovens que são considerados incorrigíveis não são em seu coração tão ruins como parecem. Muitos que se julgam como não oferecendo esperança, podem-se readquirir por uma disciplina prudente. Tais são muitas vezes os que mais facilmente se abrandam com a bondade. Obtenha o professor a confiança daquele que é tentado e, reconhecendo e desenvolvendo o bem em seu caráter, poderá em muitos casos corrigir o mal sem chamar a atenção para ele. Ed 294 2 O divino Mestre suporta os que erram, em toda a perversidade deles. Seu amor não arrefece; não cessam Seus esforços para ganhá-los. Com os braços estendidos Ele espera para, repetidas vezes, dar as boas-vindas aos errantes, rebeldes, e mesmo aos apóstatas. Seu coração se sensibiliza com o desamparo da criancinha sujeita a um tratamento severo. O clamor do sofrimento humano jamais atinge Seu ouvido em vão. Se bem que todos sejam preciosos a Sua vista, as disposições incultas, intratáveis, obstinadas, atraem mais intensamente Sua simpatia e amor; pois Ele avalia os efeitos pelas causas. Aquele que mais facilmente é tentado e mais propenso é a errar, constitui o objeto especial de Sua solicitude. Ed 294 3 Todo pai e professor deve acariciar os atributos dAquele que faz da causa dos aflitos, sofredores e tentados, a Sua própria causa. Deve ser pessoa que possa "compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza". Hebreus 5:2. Jesus nos trata muito melhor do que merecemos; e assim como nos tem tratado devemos tratar aos outros. Não se justifica o procedimento de nenhum pai ou professor, que seja diverso daquele que o Salvador seguiria, sob idênticas circunstâncias. Enfrentando a disciplina da vida Ed 295 1 Depois da disciplina do lar e da escola, todos terão de enfrentar a severa disciplina da vida. Como enfrentá-la sabiamente, é a lição que se deve explicar a toda criança e jovem. É verdade que Deus nos ama, que Ele está trabalhando para a nossa felicidade, e que, se Sua lei tivesse sempre sido obedecida, jamais teríamos conhecido o sofrimento; não menos verdade é que neste mundo, como resultado do pecado, sobrevêm à nossa vida sofrimentos, perturbações e cuidados. Podemos proporcionar às crianças e jovens um bem para toda a vida, ensinando-os a enfrentar corajosamente estas dificuldades e encargos. Conquanto lhes manifestemos simpatia, que isto nunca seja de maneira a alimentar-lhes a compaixão de si mesmos. Eles necessitam daquilo que estimula e fortalece, ao invés de enfraquecer. Ed 295 2 Deve-se-lhes ensinar que este mundo não é uma parada militar, mas sim um campo de batalha. Todos são chamados a suportar agruras, como bons soldados. Devem ser fortes e portar-se como homens. Ensine-se-lhes que a verdadeira prova de caráter se encontra na disposição para suportar encargos, assumir difíceis posições, efetuar o trabalho que precisa ser feito, ainda que não alcance nenhum reconhecimento ou recompensa terrestre. Ed 295 3 O verdadeiro meio de tratarmos com as provações não é procurar escapar-nos delas, mas transformá-las. Isto se aplica a toda disciplina, tanto a da infância como a posterior. A negligência dos primeiros ensinos à criança e o conseqüente fortalecimento das más tendências, tornam sua educação posterior mais difícil e fazem com que a disciplina seja muito freqüentemente uma operação penosa. Penosa deve ser para a natureza inferior, contrariando, como faz, aos desejos e inclinações naturais; mas tais penas devem-se perder de vista na perspectiva de uma maior alegria. Ed 296 1 Ensine-se à criança e ao jovem que todo erro, toda falta, toda dificuldade vencidos, se tornam um degrau no acesso a coisas melhores e mais elevadas. É mediante tais experiências que todos os que tornaram a vida digna de ser vivida, alcançaram êxito. Ed 296 2 "As culminâncias pelos grandes homens atingidas e mantidas, Não se conseguiram por uma luta súbita; Mas eles, enquanto dormiam seus companheiros, À noite labutavam em seu esforço por ascender." Ed 296 3 "Elevamo-nos pelas coisas que estão sob nossos pés, Pelas coisas que conquistamos, boas e valiosas, Pela deposição do orgulho e morte da paixão, E vitória sobre montanhas que a todo instante encontramos." Ed 296 4 "As coisas comuns todas, os acontecimentos de cada dia, Que num momento se iniciam e num momento terminam, Nossos prazeres e descontentamentos, São degraus por que podemos ascender." Ed 296 5 Não devemos atentar "nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas". 2 Coríntios 4:18. A permuta que fazemos ao renunciar desejos e inclinações egoístas, é uma permuta do inútil e transitório com o precioso e duradouro. Isto não é sacrifício, antes infinito ganho. Ed 296 6 "Algo melhor" é a senha da educação, a lei de todo o verdadeiro viver. Cristo oferece, em lugar do que quer que nos ordene renunciar, algo melhor. Muitas vezes os jovens anelam objetivos, consecuções e prazeres que podem não parecer males, mas que deixam de ser o mais elevado bem. Desviam a vida de seu mais nobre objetivo. Medidas arbitrárias ou ataques diretos podem deixar de produzir efeito no sentido de levar estes jovens a abandonar o que têm na conta de precioso. Sejam eles dirigidos a algo melhor do que a ostentação, ambição e condescendência própria. Ponde-os em contato com uma beleza mais verdadeira, com princípios mais elevados e com mais nobres vidas. Induza-os a contemplar Aquele que é "totalmente desejável". Quando o olhar se fixa nEle, a vida encontra o seu centro. O entusiasmo, a devoção generosa, o apaixonado ardor da juventude encontram aqui o seu verdadeiro objetivo. O dever torna-se um deleite e o sacrifício um prazer. Honrar a Cristo, tornar-se semelhante a Ele, trabalhar por Ele, será a mais elevada ambição da vida e sua máxima alegria. Ed 297 1 "O amor de Cristo nos constrange." 2 Coríntios 5:14. O curso superior Ed 297 2 "Desde a antiguidade não se ouviu, nem com os ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de Ti, que trabalhe para aquele que nEle espera." ------------------------Capítulo 35 -- A escola do além Ed 301 0 "E verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome." Ed 301 1 O Céu é uma escola; o campo de seus estudos, o Universo; seu professor, o Ser infinito. Uma ramificação desta escola foi estabelecida no Éden; e, cumprindo o plano da redenção, reassumir-se-á a educação na escola edênica. Ed 301 2 "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. Unicamente pela Sua Palavra se pode obter conhecimento destas coisas; e mesmo esta oferece apenas uma revelação parcial. Ed 301 3 O profeta de Patmos assim descreve a localização da escola do além: Ed 301 4 "Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram. ... E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do Céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido." Apocalipse 21:1, 2. Ed 301 5 "A cidade não necessita de Sol nem de Lua, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada." Apocalipse 21:23. Ed 301 6 Entre a escola estabelecida no Éden, no princípio, e aquela do além, jaz todo o lapso da história deste mundo -- a história da transgressão e sofrimento humanos, do sacrifício divino e da vitória sobre a morte e o pecado. Nem todas as condições daquela primeira escola edênica se encontrarão na escola da vida futura. Nenhuma árvore da ciência do bem e do mal oferecerá oportunidade para a tentação. Não haverá ali tentador, nem possibilidade para o mal. Todos os caracteres resistiram à prova do mal, e nenhum será jamais susceptível ao seu poder. Ed 302 1 "Ao que vencer", diz Cristo, "dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do Paraíso de Deus." Apocalipse 2:7. A concessão da árvore da vida, no Éden, era condicional, e finalmente foi retirada. Mas os dons da vida futura serão absolutos e eternos. Ed 302 2 O profeta contempla "o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro". "De uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida." "E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." Apocalipse 22:1, 2; 21:4. Ed 302 3 "Todos os do Teu povo serão justos, Para sempre herdarão a Terra; Serão renovos por Mim plantados, Obra das Minhas mãos, Para que Eu seja glorificado." Isaías 60:21. Ed 302 4 Restabelecidos à Sua presença, de novo os homens serão, como no princípio, ensinados por Deus: "O Meu povo saberá o Meu nome,... porque Eu mesmo sou o que digo: Eis-me aqui." Isaías 52:6. Ed 302 5 "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus." Apocalipse 21:3. Ed 303 1 "Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo. ... Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida." Apocalipse 7:14-17. Ed 303 2 "Agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." 1 Coríntios 13:12. Ed 303 3 "Verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome." Apocalipse 22:4. Ed 303 4 Ali, quando for removido o véu que obscurece a nossa visão, e nossos olhos contemplarem aquele mundo de beleza de que ora apanhamos lampejos pelo microscópio; quando olharmos às glórias dos céus hoje esquadrinhadas de longe pelo telescópio; quando, removida a mácula do pecado, a Terra toda aparecer "na beleza do Senhor nosso Deus" -- que campo se abrirá ao nosso estudo! Ali o estudante da ciência poderá ler os relatórios da criação, sem divisar coisa alguma que recorde a lei do mal. Poderá escutar a melodia das vozes da Natureza, e não perceberá nenhuma nota de lamento ou tristezas. Poderá enxergar em todas as coisas criadas uma escrita; contemplará no vasto Universo, "escrito em grandes letras, o nome de Deus"; e nem na Terra, nem no mar ou no céu permanecerá um indício que seja do mal. Ed 303 5 Ali se viverá a vida edênica -- vida do jardim e do campo. "Edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do Meu povo serão como os dias da árvore, e os Meus eleitos gozarão das obras de suas mãos." Isaías 65:21, 22. Ed 304 1 Não haverá coisas que "farão mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, diz o Senhor". Isaías 65:25. Ali o homem será restaurado à sua perdida realeza, e a ordem inferior de seres de novo reconhecerá o seu domínio; os animais ferozes tornar-se-ão mansos e os ariscos, confiantes. Ed 304 2 Ali se revelará ao estudante uma história de infinito escopo e riqueza inexprimível. Tomando por base a Palavra de Deus, o estudante obterá uma visão do vasto campo da História, e poderá alcançar algum conhecimento dos princípios que presidem à marcha dos acontecimentos humanos. Mas a sua visão ainda estará nublada, e incompletos os seus conhecimentos. Não verá todas as coisas de uma maneira clara antes que chegue à luz da eternidade. Ed 304 3 Então se revelará diante dele o decurso do grande conflito que teve sua origem antes que começasse o tempo e terminará apenas quando este cessar. A história do início do pecado; da fatal falsidade em sua ação sinuosa; da verdade que, não se desviando das suas próprias linhas retas, se defrontou com o erro e o venceu; sim, tudo isto será manifesto. O véu que se interpõe entre o mundo visível e o invisível, será removido e reveladas coisas maravilhosas. Ed 304 4 Não compreenderemos o que devemos aos cuidados e interposição dos anjos antes que se vejam as providências de Deus à luz da eternidade. Seres celestiais têm tomado parte ativa nos negócios dos homens. Eles têm aparecido em vestes que resplandeciam como o relâmpago; têm vindo como homens, no aspecto de viajantes. Têm aceito hospitalidade nos lares humanos, agido como guias de viajantes nas trevas da noite. Têm obstado aos intentos do espoliador, e desviado os golpes do destruidor. Ed 305 1 Embora os governadores deste mundo não o saibam, em seus conselhos têm os anjos muitas vezes sido oradores. Olhos humanos os têm visto. Ouvidos humanos têm ouvido seus apelos. Nos conselhos e cortes de justiça, mensageiros celestiais têm pleiteado a causa dos perseguidos e oprimidos. Têm eles combatido propósitos e detidos males que teriam acarretado ruína e sofrimento aos filhos de Deus. Tudo isto se desdobrará ao estudante na escola celestial. Ed 305 2 Todo remido compreenderá o serviço dos anjos em sua própria vida. Que maravilha será entreter conversa com o anjo que foi o seu protetor desde os seus primeiros momentos, que lhe vigiou os passos e cobriu a cabeça no dia de perigo, que com ele esteve no vale da sombra da morte, que assinalou o seu lugar de repouso, que foi o primeiro a saudá-lo na manhã da ressurreição, e dele aprender a história da interposição divina na vida individual, e da cooperação celeste em toda a obra em prol da humanidade. Ed 305 3 Todas as perplexidades da vida serão então explicadas. Onde para nós apareciam apenas confusão e decepção, propósitos frustrados e planos subvertidos, ver-se-á um propósito grandioso, predominante, vitorioso, uma harmonia divina. Ed 305 4 Ali, todos os que trabalharam com um espírito desinteressado contemplarão os frutos de seus labores. Ver-se-á o resultado de todo princípio correto e nobre ação. Alguma coisa disto aqui vemos. Mas quão pouco dos resultados dos mais nobres trabalhos deste mundo é o que se manifesta nesta vida aos que os fazem! Quantos labutam abnegadamente, incansavelmente por aqueles que ficam além de seu alcance e conhecimento! Pais e professores tombam em seu último sono, parecendo o trabalho de sua vida ter sido feito em vão; não sabem que sua fidelidade descerrou fontes de bênçãos que jamais poderão deixar de fluir; apenas pela fé vêem as crianças que educaram tornarem-se uma bênção e inspiração a seus semelhantes, e essa influência repetir-se mil vezes mais. Muito obreiro há que envia para o mundo mensagens de alento, esperança e ânimo, palavras que levam bênçãos aos corações em todos os países; mas, quanto aos resultados, nada sabe, afadigando-se ele em solidão e obscuridade. Assim se concedem dons, aliviam-se cargas, faz-se trabalho. Os homens lançam a semente, da qual, sobre as suas sepulturas, outros recolhem a abençoada messe. Plantam árvores para que outros comam o fruto. Aqui estão contentes por saberem que puseram em atividade forças para promover o bem. No além serão vistas a ação e reação de todas estas forças. Ed 306 1 De todo dom que Deus outorgou, encaminhando o homem para o esforço abnegado, conserva-se no Céu um relatório. Examinar estes dons em suas extensas linhas, olhar para aqueles que mediante nossos esforços se reergueram e enobreceram, contemplar em sua história o efeito dos verdadeiros princípios -- eis um dos estudos e recompensas da escola celestial. Ed 306 2 Ali conheceremos como também somos conhecidos. Ali, o amor e simpatia que Deus plantou na alma encontrarão o mais verdadeiro e suave exercício. A pura comunhão com seres santos, a vida social harmoniosa com os santos anjos e com os fiéis de todos os tempos, a santa associação que reúne "toda a família no Céu e na Terra", tudo fará parte da experiência do além. Ed 307 1 Haverá ali música e cânticos; música e cânticos que ouvidos mortais jamais ouviram nem o espírito humano concebeu, com exceção do que em visões de Deus se tem revelado. Ed 307 2 "Os cantores e tocadores de instrumentos entoarão." Salmos 87:7. "Alçarão a sua voz e cantarão com alegria; por causa da glória do Senhor." Isaías 24:14. Ed 307 3 "Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia." Isaías 51:3. Ed 307 4 Ali toda faculdade se desenvolverá, e toda capacidade aumentará. Os maiores empreendimentos serão levados avante, as mais altas aspirações realizadas, as maiores ambições satisfeitas. E, todavia, surgirão novas culminâncias a galgar, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos assuntos a apelarem para as forças do corpo, espírito e alma. Ed 307 5 Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos filhos de Deus. Com indizível deleite unir-nos-emos na alegria e sabedoria dos seres não caídos. Participaremos dos tesouros adquiridos através dos séculos empregados na contemplação da obra de Deus. E enquanto os anos da eternidade se escoam, continuarão a trazer-nos mais gloriosas revelações. "Muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos" (Efésios 3:20) será, para todo o sempre, a concessão dos dons de Deus. Ed 307 6 "Os Seus servos O servirão." Apocalipse 22:3. A vida na Terra é o princípio da vida no Céu; a educação na Terra é a iniciação nos princípios do Céu; e o trabalho aqui é o preparo para o trabalho lá. O que hoje somos no caráter e serviço santo, é o prenúncio certo do que seremos. Ed 308 1 "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir." Mateus 20:28. A obra de Cristo neste mundo é Sua obra nos Céus, e a nossa recompensa por trabalhar com Ele neste mundo será o maior poder e mais amplo privilégio de com Ele trabalhar no mundo vindouro. Ed 308 2 "Vós sois as Minhas testemunhas, diz Deus; Eu sou Deus." Isaías 48:12. Isso também seremos na eternidade. Ed 308 3 Para que foi permitido continuar o grande conflito através dos séculos? Por que foi que se não eliminou a existência de Satanás no início de sua rebelião? -- Foi para que o Universo se pudesse convencer da justiça de Deus ao tratar com o mal, e para que o pecado pudesse receber condenação eterna. No plano da salvação há sumidades e profundezas, que a própria eternidade jamais poderá compreender completamente, maravilhas para as quais os anjos desejam atentar. Apenas os remidos, dentre todos os seres criados, conheceram em sua própria experiência o conflito com o pecado; trabalharam com Cristo e, conforme os mesmos anjos não o poderiam fazer, associaram-se em Seus sofrimentos; não terão eles qualquer testemunho quanto à ciência da redenção, algo que seja de valor para seres não caídos? Ed 308 4 Mesmo agora, aos "principados e potestades nos Céus", "a multiforme sabedoria de Deus" se faz conhecida "pela igreja". "E nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais,... para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus." Efésios 3:10; 2:6, 7. Ed 308 5 "No Seu templo cada um diz: Glória!" (Salmos 29:9) e o cântico que os resgatados entoarão, cântico este de sua experiência, declarará a glória de Deus: "Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos. Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo." Apocalipse 15:3, 4. Ed 309 1 Em nossa vida aqui, posto que terrestre e restrita pelo pecado, a maior alegria e mais elevada educação se encontram no serviço em prol de outrem. E no futuro estado, livres das limitações próprias da humanidade pecaminosa, será no serviço que se encontrará a nossa máxima alegria e mais elevada educação -- testemunhando (e aprendendo, novamente, sempre que assim o fizermos) "as riquezas da glória deste mistério", "que é Cristo em vós, a esperança da glória". Colossences 1:27. Ed 309 2 "Ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos." 1 João 3:2. Ed 309 3 Então, nos resultados de Sua obra, Cristo contemplará Sua recompensa. Naquela grande multidão que ninguém pode contar, apresentada como "irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória" (Judas 24), Aquele cujo sangue nos redimiu e cuja vida nos ensinou, verá o "trabalho da Sua alma" e "ficará satisfeito". Isaías 53:11. ------------------------O Grande Conflito GC 7 1 Introdução GC 17 1 Capítulo 1 -- Predito o destino do mundo GC 39 1 Capítulo 2 -- O valor dos mártires GC 49 1 Capítulo 3 -- Como começaram as trevas morais GC 61 1 Capítulo 4 -- Um povo que difunde luz GC 79 1 Capítulo 5 -- Arautos de uma era melhor GC 97 1 Capítulo 6 -- Dois heróis da Idade Média GC 120 1 Capítulo 7 -- A influência de um bom lar GC 145 1 Capítulo 8 -- O poder triunfante da verdade GC 171 1 Capítulo 9 -- A luz na Suíça GC 185 1 Capítulo 10 -- A Europa desperta GC 197 1 Capítulo 11 -- Os príncipes amparam a verdade GC 211 1 Capítulo 12 -- Os nobres da França GC 237 1 Capítulo 13 -- A liberdade nos Países Baixos GC 245 1 Capítulo 14 -- Progressos na Inglaterra GC 265 1 Capítulo 15 -- A Escritura Sagrada e a Revolução Francesa GC 289 1 Capítulo 16 -- O mais sagrado direito do homem GC 299 1 Capítulo 17 -- A esperança que infunde alegria GC 317 1 Capítulo 18 -- Uma profecia muito significativa GC 343 1 Capítulo 19 -- Luz para os nossos dias GC 355 1 Capítulo 20 -- Um grande movimento mundial GC 375 1 Capítulo 21 -- A causa da degradação atual GC 391 1 Capítulo 22 -- Profecias alentadoras GC 409 1 Capítulo 23 -- O santuário celestial, centro de nossa esperança GC 423 1 Capítulo 24 -- Quando começa o julgamento Divino GC 433 1 Capítulo 25 -- A imutável Lei de Deus GC 451 1 Capítulo 26 -- Restauração da verdade GC 461 1 Capítulo 27 -- A vida que satisfaz — como alcançar paz de alma GC 479 1 Capítulo 28 -- O grande juízo investigativo GC 492 1 Capítulo 29 -- Por que existe o sofrimento GC 505 1 Capítulo 30 -- O pior inimigo do homem, e como vencê-lo GC 511 1 Capítulo 31 -- Invisíveis defensores do homem GC 518 1 Capítulo 32 -- Os ardis de Satanás GC 531 1 Capítulo 33 -- É o homem imortal? GC 551 1 Capítulo 34 -- Oferece o espiritismo alguma esperança? GC 563 1 Capítulo 35 -- Ameaça à consciência GC 582 1 Capítulo 36 -- O maior perigo para o lar e a vida GC 593 1 Capítulo 37 -- Nossa única salvaguarda GC 603 1 Capítulo 38 -- O último convite Divino GC 613 1 Capítulo 39 -- Aproxima-se o tempo de angústia GC 635 1 Capítulo 40 -- O livramento dos justos GC 653 1 Capítulo 41 -- Será desolada a Terra GC 662 1 Capítulo 42 -- O final e glorioso triunfo ------------------------Introdução GC 7 1 Antes que o pecado entrasse no mundo, Adão gozava plena comunhão com seu Criador. Desde, porém, que o homem se separou de Deus pela transgressão, a raça humana ficou privada desse alto privilégio. Pelo plano da redenção, entretanto, abriu-se um caminho mediante o qual os habitantes da Terra podem ainda ter ligação com o Céu. Deus Se tem comunicado com os homens mediante o Seu Espírito; e a luz divina tem sido comunicada ao mundo pelas revelações feitas a Seus servos escolhidos. "Homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." 2 Pedro 1:21. GC 7 2 Durante os primeiros vinte e cinco séculos da história humana não houve nenhuma revelação escrita. Aqueles dentre os homens que haviam sido feitos receptáculos das revelações divinas comunicavam estas verbalmente aos seus descendentes, passando assim o seu conhecimento para gerações sucessivas. A revelação escrita data de Moisés, que foi o primeiro compilador dos fatos até então revelados, os quais enfeixou em volume. Esse trabalho prosseguiu por espaço de mil e seiscentos anos -- desde Moisés, o autor do Gênesis, até João o evangelista, que nos transmitiu por escrito os mais sublimes fatos do evangelho. GC 7 3 A Escritura Sagrada aponta a Deus como seu autor; no entanto, foi escrita por mãos humanas, e no variado estilo de seus diferentes livros apresenta os característicos dos diversos escritores. As verdades reveladas são dadas por inspiração de Deus (2 Timóteo 3:16); acham-se, contudo, expressas em palavras de homens. O Ser infinito, por meio de Seu Santo Espírito, derramou luz no entendimento e coração de Seus servos. Deu sonhos e visões, símbolos e figuras; e aqueles a quem a verdade foi assim revelada, concretizaram os pensamentos em linguagem humana. GC 7 4 Os Dez Mandamentos foram pronunciados pelo próprio Deus, e por Sua própria mão foram escritos. São de redação divina e não humana. Mas a Escritura Sagrada, com suas divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta uma união do divino com o humano. União semelhante existiu na natureza de Cristo, que era o Filho de Deus e Filho do homem. Assim, é verdade com relação à Escritura, como o foi em relação a Cristo, que "o Verbo Se fez carne e habitou entre nós." João 1:14. GC 8 1 Escritos em épocas diferentes, por homens de origem e posição diversas, e variando entre si quanto à sua capacidade intelectual e espiritual, os livros da Bíblia oferecem um singular contraste de estilos e uma variedade de formas dos assuntos expostos. A fraseologia dos diferentes escritos diverge, expondo uns os mesmos fatos com maior clareza do que outros. E como sucede, às vezes, tratarem um mesmo assunto sob aspectos e relações diferentes, pode parecer ao leitor de ocasião e imbuído de algum preconceito, que os seus conceitos divergem, quando um meditado estudo deixa transparecer claramente o seu fundo harmônico. GC 8 2 Sendo tratada por individualidades distintas, a verdade nos é assim apresentada nos seus diferentes aspectos. Um escritor se impressiona mais com uma face da questão e se especializa naqueles pontos que têm relação mais direta com as suas experiências pessoais o que ele melhor percebe e aprecia, ao passo que outro prefere encará-la por outro prisma; cada qual, porém, sob a direção de um mesmo Espírito apresenta aquilo que mais particular impressão exerce sobre o seu espírito, resultando daí uma variedade de aspectos da mesma verdade, mas perfeitamente harmônicos entre si. As verdades assim reveladas formam um conjunto perfeito que admiravelmente se adapta às necessidades do homem em todas as condições e experiências da vida. GC 8 3 É assim que Deus Se agradou comunicar Sua verdade ao mundo por meio de agências humanas que Ele próprio, pelo Seu Espírito, faz idôneas para essa missão, dirigindo-lhes a mente no tocante ao que devem falar ou escrever. Os tesouros divinos são deste modo confiados a vasos terrestres sem contudo nada perderem de sua origem celestial. O testemunho nos é transmitido nas expressões imperfeitas de nossa linguagem, conservando todavia o seu caráter de testemunho de Deus, no qual o crente submisso descobre a virtude divina, superabundante em graça e verdade. GC 9 1 Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa. "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." 2 Timóteo 3:16, 17. GC 9 2 Todavia, o fato de que Deus revelou Sua vontade aos homens por meio de Sua Palavra, não tornou desnecessária a contínua presença e direção do Espírito Santo. Ao contrário, o Espírito foi prometido por nosso Salvador para aclarar a Palavra a Seus servos, para iluminar e aplicar os seus ensinos. E visto ter sido o Espírito de Deus que inspirou a Escritura Sagrada, é impossível que o ensino do Espírito seja contrário ao da Palavra. GC 9 3 O Espírito não foi dado -- nem nunca o poderia ser -- a fim de sobrepor-Se à Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experiência devem ser aferidos. Diz o apóstolo João: "Não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." 1 João 4:1. E Isaías declara: "À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, não haverá manhã para eles." Isaías 8:20. GC 9 4 Muito descrédito tem acarretado à obra do Espírito Santo o erro de certa gente que, presumindo-se iluminada por Ele, declara não mais necessitar das instruções da palavra divina. Tais pessoas agem sob impulsos que reputam como a voz de Deus às suas almas. Entretanto o espírito que as rege não é de Deus. Essa docilidade às impressões de momento, com desprezo manifesto do que ensina a Bíblia, só pode resultar em confusão e ruína, favorecendo os desígnios do maligno. Como o ministério do Espírito tem importância vital para a igreja de Cristo, é o decidido empenho de Satanás, por meio dessas excentricidades de gente desequilibrada e fanática, cobrir de opróbrio a obra do Espírito Santo e induzir o povo a negligenciar a fonte de virtude que Deus proveu para o Seu povo. GC 10 1 Em harmonia com a Palavra de Deus, deveria Seu Espírito continuar Sua obra durante todo o período da dispensação evangélica. Durante os séculos em que as Escrituras do Antigo Testamento bem como as do Novo estavam sendo dadas, o Espírito Santo não cessou de comunicar luz a mentes individuais, independentemente das revelações a serem incorporadas no cânon sagrado. A Bíblia mesma relata como, mediante o Espírito Santo, os homens receberam advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épocas várias, de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a conclusão do cânon das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a Sua obra, esclarecendo, advertindo e confortando os filhos de Deus. GC 10 2 Jesus Cristo prometeu a Seus discípulos: O "Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." João 14:26. "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; ... e vos anunciará o que há de vir." João 16:13. As Escrituras claramente ensinam que estas promessas, longe de se limitarem aos dias apostólicos, se estendem à igreja de Cristo em todos os séculos. O Salvador afirma a Seus seguidores: "Estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. E Paulo declara que os dons e manifestações do Espírito foram postos na igreja para "o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:12, 13. GC 11 1 A favor dos crentes da igreja de Éfeso o apóstolo Paulo orava "para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dEle, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento... e qual a suprema grandeza do Seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder." Efésios 1:17-19. Era a ministração do Espírito na iluminação do entendimento e desvendação dos olhos do espírito humano para penetração das coisas profundas da Palavra de Deus, que o apóstolo suplicava para a igreja de Éfeso. GC 11 2 Depois da maravilhosa manifestação do Espírito Santo no dia de Pentecoste, Pedro exortou o povo a arrepender-se e batizar-se em nome de Cristo, para a remissão de seus pecados; e disse ele: "E recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar." Atos 2:38, 39. GC 11 3 Em imediata relação com as cenas do grande dia de Deus, o Senhor, pelo profeta Joel, prometeu uma manifestação especial de Seu Espírito. Joel 2:28. Esta profecia recebeu cumprimento parcial no derramamento do Espírito, no dia de Pentecoste. Mas atingirá seu pleno cumprimento na manifestação da graça divina que acompanhará a obra final do Evangelho. GC 11 4 A grande controvérsia entre o bem e o mal há de assumir proporções cada vez maiores até o seu final desenlace. Em todas as épocas a ira de Satanás esteve voltada contra a igreja de Cristo, motivo pelo qual Deus a dotou do Seu Espírito e de Sua graça para que pudesse enfrentar todas as oposições do mal. Ao receberem os apóstolos a incumbência de levar o evangelho até os confins da Terra e escrevê-lo para as gerações futuras, Deus lhes deu a iluminação do Seu Espírito. À medida, porém, que a igreja se aproxima da hora de sua libertação definitiva, Satanás há de agir com redobrada energia. Ele desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. Apocalipse 12:12. Ele operará "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira." 2 Tessalonicenses 2:9. Durante seis mil anos esse espírito superior, que ocupou outrora lugar preeminente entre os anjos de Deus, tem estado devotado a uma obra de destruição e engano. E toda habilidade e astúcia satânicas adquiridas, toda a crueldade desenvolvida nessa luta de longos séculos, serão empregadas contra o povo de Deus no conflito final. É nesse tempo cheio de perigos que os seguidores de Cristo terão de anunciar ao mundo a mensagem do segundo advento de Cristo, a fim de preparar um povo "imaculado e irrepreensível" para a volta do Senhor. 2 Pedro 3:14. Então, como nos dias dos apóstolos, a igreja terá necessidade de uma dotação especial da graça e poder divinos. GC 12 1 Mediante a iluminação do Espírito Santo, as cenas do prolongado conflito entre o bem e o mal foram patenteadas à autora destas páginas. De quando em quando me foi permitido contemplar a operação, nas diversas épocas, do grande conflito entre Cristo, o Príncipe da vida, o Autor de nossa salvação, e Satanás, o príncipe do mal, o autor do pecado, o primeiro transgressor da santa lei de Deus. A inimizade de Satanás para com Cristo manifestou-se contra os Seus seguidores. O mesmo ódio aos princípios da lei de Deus, o mesmo expediente de engano, em virtude do qual se faz o erro parecer verdade, pelo qual a lei divina é substituída pelas leis humanas, e os homens são levados a adorar a criatura em lugar do Criador, podem ser divisados em toda a história do passado. Os esforços de Satanás para representar de maneira falsa o caráter de Deus, para fazer com que os homens nutram um conceito errôneo do Criador, e assim O considerem com temor e ódio em vez de amor; seu empenho para pôr de parte a lei divina, levando o povo a julgar-se livre de suas reivindicações e sua perseguição aos que ousam resistir a seus enganos, têm sido prosseguidos com persistência em todos os séculos. Podem ser observados na história dos patriarcas, profetas e apóstolos, mártires e reformadores. GC 13 1 No grande conflito final, como em todas as eras anteriores, Satanás empregará os mesmos expedientes, manifestará o mesmo espírito, e trabalhará para o mesmo fim. Aquilo que foi, será, com a exceção de que a luta vindoura se assinalará por uma intensidade terrível, tal como o mundo jamais testemunhou. Os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos mais decididos. Se possível fora, transviaria os escolhidos. Marcos 13:22. GC 13 2 A medida que o Espírito de Deus me ia revelando à mente as grandes verdades de Sua Palavra, e as cenas do passado e do futuro, era-me ordenado tornar conhecido a outros o que assim fora revelado -- delineando a história do conflito nas eras passadas, e especialmente apresentando-a de tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação. Para alcançar esse propósito, esforcei-me por selecionar e agrupar fatos da história da igreja de tal maneira a esboçar o desdobramento das grandes verdades probantes que em diferentes períodos foram dadas ao mundo, as quais excitaram a ira de Satanás e a inimizade de uma igreja que ama o mundo, verdades que têm sido mantidas pelo testemunho dos que "não amaram suas vidas até à morte". GC 13 3 Nestes relatos podemos ver uma prefiguração do conflito perante nós. Olhando-os à luz da Palavra de Deus, e pela iluminação de Seu Espírito, podemos ver a descoberto os ardis do maligno e os perigos que deverão evitar os que serão achados "irrepreensíveis" diante do Senhor em Sua vinda. GC 13 4 Os grandes acontecimentos que assinalaram o progresso da Reforma nas épocas passadas, constituem assunto da História, bastante conhecidos e universalmente reconhecidos pelo mundo protestante; são fatos que ninguém pode negar. Esta história apresentei-a de maneira breve, de acordo com o escopo deste livro e com a brevidade que necessariamente deveria ser observada, havendo os fatos sido condensados no menor espaço compatível com sua devida compreensão. Em alguns casos em que algum historiador agrupou os fatos de tal modo a proporcionar, em breve, uma visão compreensiva do assunto, ou resumiu convenientemente os pormenores, suas palavras foram citadas textualmente; nalguns outros casos, porém, não se nomeou o autor, visto como as transcrições não são feitas com o propósito de citar aquele escritor como autoridade, mas porque sua declaração provê uma apresentação do assunto, pronta e positiva. Narrando a experiência e perspectivas dos que levam avante a obra da Reforma em nosso próprio tempo, fez-se uso semelhante de suas obras publicadas. GC 14 1 O objetivo deste livro não consiste tanto em apresentar novas verdades concernentes às lutas dos tempos anteriores, como em aduzir fatos e princípios que têm sua relação com os acontecimentos vindouros. Contudo, encarados como uma parte do conflito entre as forças da luz e das trevas, vê-se que todos esses relatos do passado têm nova significação; e por meio deles projeta-se uma luz no futuro, iluminando a senda daqueles que, semelhantes aos reformadores dos séculos passados, serão chamados, mesmo com perigo de todos os bens terrestres, para testificar "da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo". GC 14 2 Desdobrar as cenas do grande conflito entre a verdade e o erro; revelar os ardis de Satanás e os meios por que lhe podemos opor eficaz resistência; apresentar uma solução satisfatória do grande problema do mal, derramando luz sobre a origem e a disposição final do pecado, de tal maneira a manifestar-se plenamente a justiça e benevolência de Deus em todo o Seu trato com Suas criaturas; e mostrar a natureza santa, imutável de Sua lei -- eis o objetivo deste livro. Que mediante sua influência almas se possam libertar do poder das trevas, e tornar-se participantes "da herança dos santos na luz", para louvor dAquele que nos amou e Se deu a Si mesmo por nós, é a fervorosa oração da autora. E.G.W. ------------------------Capítulo 1 -- Predito o destino do mundo GC 17 1 "Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas; e te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação." Lucas 19:42-44. GC 17 2 Do cimo do Monte das Oliveiras, Jesus olhava sobre Jerusalém. Lindo e calmo era o cenário que diante dEle se desdobrava. Era o tempo da Páscoa, e de todas as terras os filhos de Jacó se haviam ali reunido para celebrar a grande festa nacional. Em meio de hortos e vinhedos, e declives verdejantes juncados das tendas dos peregrinos, erguiam-se as colinas terraplenadas, os majestosos palácios e os maciços baluartes da capital de Israel. A filha de Sião parecia dizer em seu orgulho: "Estou assentada como rainha, e não ... verei o pranto", sendo ela tão formosa então e julgando-se tão segura do favor do Céu como quando, séculos antes, o trovador real cantara: "Formoso de sítio, e alegria de toda a terra é o monte de Sião ... a cidade do grande Rei." Salmos 48:2. Bem à vista estavam os magnificentes edifícios do templo. Os raios do Sol poente iluminavam a brancura de neve de suas paredes de mármore e punham reflexos no portal de ouro, na torre e pináculo. Qual "perfeição da formosura", levantava-se ele como o orgulho da nação judaica. Que filho de Israel poderia contemplar aquele cenário sem um estremecimento de alegria e admiração?! Entretanto, pensamentos muito diversos ocupavam a mente de Jesus. "Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela." Lucas 19:41. Por entre o universal regozijo de Sua entrada triunfal, enquanto se agitavam ramos de palmeiras, enquanto alegres hosanas despertavam ecos nas colinas, e milhares de vozes O aclamavam Rei, o Redentor do mundo achava-Se oprimido por súbita e misteriosa tristeza. Ele, o Filho de Deus, o Prometido de Israel, cujo poder vencera a morte e do túmulo chamara a seus cativos, estava em pranto, não em conseqüência de uma mágoa comum, senão de agonia intensa, irreprimível. GC 18 1 Suas lágrimas não eram por Si mesmo, posto que bem soubesse para onde Seus passos O levariam. Diante dEle jazia o Getsêmani, cenário de Sua próxima agonia. Estava também à vista a porta das ovelhas, através da qual durante séculos tinham sido conduzidas as vítimas para o sacrifício, e que se Lhe deveria abrir quando fosse "como um cordeiro" "levado ao matadouro." Isaías 53:7. Não muito distante estava o Calvário, o local da crucifixão. Sobre o caminho que Cristo logo deveria trilhar, cairia o terror de grandes trevas ao fazer Ele de Sua alma uma oferta pelo pecado. Todavia, não era a contemplação destas cenas que lançava sobre Ele aquela sombra, em tal hora de alegria. Nenhum sinal de Sua própria angústia sobre-humana nublava aquele espírito abnegado. Chorava pela sorte dos milhares de Jerusalém -- por causa da cegueira e impenitência daqueles que Ele viera abençoar e salvar. GC 18 2 A história de mais de mil anos do favor especial de Deus e de Seu cuidado protetor manifestos ao povo escolhido, estava patente aos olhos de Jesus. Ali estava o Monte Moriá, onde o filho da promessa, como vítima submissa, havia sido ligado ao altar -- emblema da oferenda do Filho de Deus. Gênesis 22:9. Ali, o concerto de bênçãos e a gloriosa promessa messiânica tinham sido confirmados ao pai dos crentes. Gênesis 22:16-18. Ali as chamas do sacrifício, ascendendo da eira de Ornã para o céu, haviam desviado a espada do anjo destruidor (1 Crônicas 21) -- símbolo apropriado do sacrifício e mediação do Salvador em prol do homem culpado. Jerusalém fora honrada por Deus acima de toda a Terra. Sião fora eleita pelo Senhor, que a desejara "para Sua habitação". Salmos 132:13. Ali, durante séculos, santos profetas haviam proferido mensagens de advertência. Sacerdotes ali haviam agitado os turíbulos, e a nuvem de incenso, com as orações dos adoradores, subira perante Deus. Ali, diariamente, se oferecera o sangue dos cordeiros mortos, apontando para o vindouro Cordeiro de Deus. Ali, Jeová revelara Sua presença na nuvem de glória, sobre o propiciatório. Repousara ali a base daquela escada mística, ligando a Terra ao Céu (Gênesis 28:12; João 1:51) -- escada pela qual os anjos de Deus desciam e subiam, e que abria ao mundo o caminho para o lugar santíssimo. Houvesse Israel, como nação, preservado a aliança com o Céu, Jerusalém teria permanecido para sempre como eleita de Deus. Jeremias 17:21-25. Mas a história daquele povo favorecido foi um registro de apostasias e rebelião. Haviam resistido à graça do Céu, abusado de seus privilégios e menosprezado as oportunidades. GC 19 1 Posto que Israel tivesse zombado dos mensageiros de Deus, desprezado Suas palavras e perseguido Seus profetas (2 Crônicas 36:16), Ele ainda Se lhes manifestara como "o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade" (Êxodo 34:6); apesar das repetidas rejeições, Sua misericórdia continuou a interceder. Com mais enternecido amor que o de pai pelo filho de seus cuidados, Deus lhes havia enviado "Sua palavra pelos Seus mensageiros, madrugando, e enviando-lhos; porque Se compadeceu de Seu povo e da Sua habitação." 2 Crônicas 36:15. Quando admoestações, rogos e censuras haviam falhado, enviou-lhes o melhor dom do Céu, mais ainda, derramou todo o Céu naquele único dom. GC 19 2 O próprio Filho de Deus foi enviado para instar com a cidade impenitente. Foi Cristo que trouxe Israel, como uma boa vinha, do Egito. Salmos 80:8. Sua própria mão havia lançado fora os gentios de diante deles. Plantou-a "em um outeiro fértil." Seu protetor cuidado cercara-a em redor. Enviou Seus servos para cultivá-la. "Que mais se podia fazer à Minha vinha", exclama Ele, "que Eu lhe não tenha feito?" Posto que quando Ele esperou que "desse uvas, veio a produzir uvas bravas" (Isaías 5:1-4), ainda com esperança compassiva de encontrar frutos, veio em pessoa à Sua vinha, para que porventura pudesse ser salva da destruição. Cavou em redor dela, podou-a e protegeu-a. Foi incansável em Seus esforços para salvar esta vinha que Ele próprio plantara. GC 20 1 Durante três anos o Senhor da luz e glória entrara e saíra por entre o Seu povo. Ele "andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo" (Atos 10:38), aliviando os quebrantados de coração, pondo em liberdade os que se achavam presos, restaurando a vista aos cegos, fazendo andar aos coxos e ouvir aos surdos, purificando os leprosos, ressuscitando os mortos e pregando o evangelho aos pobres. Lucas 4:18; Mateus 11:5. A todas estas classes igualmente foi dirigido o gracioso convite: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. GC 20 2 Conquanto Lhe fosse recompensado o bem com o mal e o Seu amor com o ódio (Salmos 109:5), Ele prosseguiu firmemente em Sua missão de misericórdia. Jamais eram repelidos os que buscavam a Sua graça. Como viajante sem lar, tendo a ignomínia e a penúria como porção diária, viveu Ele para ministrar às necessidades e abrandar as desgraças humanas, para insistir com os homens a aceitarem o dom da vida. As ondas de misericórdia, rebatidas por aqueles corações obstinados, retornavam em uma vaga mais forte de terno e inexprimível amor. Mas Israel se desviara de seu melhor Amigo e único Auxiliador. Os rogos de Seu amor haviam sido desprezados, Seus conselhos repelidos, ridicularizadas Suas advertências. GC 20 3 A hora de esperança e perdão passava-se rapidamente; a taça da ira de Deus, por tanto tempo adiada, estava quase cheia. As nuvens que haviam estado a acumular-se durante séculos de apostasia e rebelião, ora enegrecidas de calamidades, estavam prestes a desabar sobre um povo criminoso; e Aquele que unicamente os poderia salvar da condenação iminente, fora menosprezado, injuriado, rejeitado e seria logo crucificado. Quando Cristo estivesse suspenso da cruz do Calvário, teria terminado o tempo de Israel como nação favorecida e abençoada por Deus. A perda de uma alma que seja é calamidade infinitamente maior que os proveitos e tesouros de todo um mundo; entretanto, quando Cristo olhava sobre Jerusalém, achava-se perante Ele a condenação de uma cidade inteira, de toda uma nação -- sim, aquela cidade e nação que foram as escolhidas de Deus, Seu tesouro peculiar. GC 21 1 Profetas haviam chorado a apostasia de Israel, e as terríveis desolações que seus pecados atraíram. Jeremias desejava que seus olhos fossem uma fonte de lágrimas, para que pudesse chorar dia e noite pelos mortos da filha de seu povo, pelo rebanho do Senhor que fora levado em cativeiro. Jeremias 9:1; 13:17. Qual não era, pois, a dor dAquele cujo olhar profético abrangia não os anos mas os séculos! Contemplava Ele o anjo destruidor com a espada levantada contra a cidade que durante tanto tempo fora a morada de Jeová. Do cume do Monte das Oliveiras, no mesmo ponto mais tarde ocupado por Tito e seu exército, olhava Ele através do vale para os pátios e pórticos sagrados, e, com a vista obscurecida pelas lágrimas, via em terrível perspectiva, os muros rodeados de hostes estrangeiras. Ouvia o tropel de exércitos dispondo-se para a guerra. Distinguia as vozes de mães e crianças que, na cidade sitiada, bradavam pedindo pão. Via entregues às chamas o santo e belo templo, os palácios e torres, e no lugar em que eles se erigiam, apenas um monte de ruínas fumegantes. GC 21 2 Olhando através dos séculos futuros, via o povo do concerto espalhado em todos os países, semelhantes aos destroços de um naufrágio em praia deserta. Nos castigos prestes a cair sobre Seus filhos, não via Ele senão o primeiro gole daquela taça de ira que no juízo final deveriam esgotar até às fezes. A piedade divina, o terno amor encontraram expressão nestas melancólicas palavras: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Mateus 23:37. Oh! se houveras conhecido, como nação favorecida acima de todas as outras, o tempo de tua visitação e as coisas que pertencem à tua paz! Tenho contido o anjo da justiça, tenho-te convidado ao arrependimento, mas em vão. Não é meramente a servos, enviados e profetas que tens repelido e rejeitado, mas ao Santo de Israel, teu Redentor. Se és destruída, tu unicamente és a responsável. "E não quereis vir a Mim para terdes vida." João 5:40. GC 22 1 Cristo viu em Jerusalém um símbolo do mundo endurecido na incredulidade e rebelião, e apressando-se ao encontro dos juízos retribuidores de Deus. As desgraças de uma raça decaída, oprimindo-Lhe a alma, arrancavam de Seus lábios aquele clamor extremamente amargurado. Viu a história do pecado traçada pelas misérias, lágrimas e sangue humanos; o coração moveu-se-Lhe de infinita compaixão pelos aflitos e sofredores da Terra; angustiava-Se por aliviar a todos. Contudo, mesmo a Sua mão não poderia demover a onda das desgraças humanas; poucos procurariam a única fonte de auxílio. Ele estava disposto a derramar a alma na morte, a fim de colocar a salvação ao seu alcance; poucos, porém, viriam a Ele para que pudessem ter vida. GC 22 2 A Majestade dos Céus em pranto! O Filho do infinito Deus perturbado em espírito, curvado em angústia! Esta cena encheu de espanto o Céu inteiro. Revela-nos a imensa malignidade do pecado; mostra quão árdua tarefa é, mesmo para o poder infinito, salvar ao culpado das conseqüências da transgressão da lei de Deus. Jesus, olhando para a última geração, viu o mundo envolto em engano semelhante ao que causou a destruição de Jerusalém. O grande pecado dos judeus foi rejeitarem a Cristo; o grande pecado do mundo cristão seria rejeitarem a lei de Deus, fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. Os preceitos de Jeová seriam desprezados e anulados. Milhões na servidão do pecado, escravos de Satanás, condenados a sofrer a segunda morte, recusar-se-iam a escutar as palavras de verdade no dia de sua visitação. Terrível cegueira! estranha presunção! GC 23 1 Dois dias antes da Páscoa, quando Cristo pela última vez Se havia afastado do templo, depois de denunciar a hipocrisia dos príncipes judeus, novamente sai com os discípulos para o Monte das Oliveiras, e assenta-Se com eles no declive relvoso, sobranceiro à cidade. Mais uma vez contempla seus muros, torres e palácios. Mais uma vez se Lhe depara o templo em seu deslumbrante esplendor, qual diadema de beleza a coroar o monte sagrado. GC 23 2 Mil anos antes, o salmista engrandecera o favor de Deus para com Israel fazendo da casa sagrada deste a Sua morada: "Em Salém está o Seu tabernáculo, e a Sua morada em Sião." Salmos 76:2. Ele "elegeu a tribo de Judá; o monte de Sião, que Ele amava. E edificou o Seu santuário como aos lugares elevados." Salmos 78:68, 69. O primeiro templo fora erigido durante o período mais próspero da história de Israel. Grandes armazenamentos de tesouros para este fim haviam sido acumulados pelo rei Davi e a planta para a sua construção fora feita por inspiração divina. 1 Crônicas 28:12, 19. Salomão, o mais sábio dos monarcas de Israel, completara a obra. Este templo foi o edifício mais magnificente que o mundo já viu. Contudo o Senhor declarou pelo profeta Ageu, relativamente ao segundo templo: "A glória desta última casa será maior do que a da primeira." "Farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos exércitos." Ageu 2:9, 7. GC 23 3 Depois da destruição do templo por Nabucodonosor, foi reconstruído aproximadamente quinhentos anos antes do nascimento de Cristo, por um povo que, de um longo cativeiro, voltara a um país devastado e quase deserto. Havia então entre eles homens idosos que tinham visto a glória do templo de Salomão e que choraram junto aos alicerces do novo edifício porque devesse ser tão inferior ao antecedente. O sentimento que prevalecia é vividamente descrito pelo profeta: "Quem há entre vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória? e como a vedes agora? não é esta como nada em vossos olhos, comparada com aquela?" Ageu 2:3; Esdras 3:12. Então foi feita a promessa de que a glória desta última casa seria maior do que a da anterior. GC 24 1 Mas o segundo templo não igualou o primeiro em esplendor; tampouco foi consagrado pelos visíveis sinais da presença divina que o primeiro tivera. Não houve manifestação de poder sobrenatural para assinalar sua dedicação. Nenhuma nuvem de glória foi vista a encher o santuário recém-erigido. Nenhum fogo do Céu desceu para consumir o sacrifício sobre o altar. O "shekinah" não mais habitava entre os querubins no lugar santíssimo; a arca, o propiciatório, as tábuas do testemunho não mais deviam encontrar-se ali. Nenhuma voz ecoava do Céu para tornar conhecida ao sacerdote inquiridor a vontade de Jeová. GC 24 2 Durante séculos os judeus em vão se haviam esforçado por mostrar que a promessa de Deus feita por Ageu se cumprira; entretanto, o orgulho e a incredulidade lhes cegavam a mente ao verdadeiro sentido das palavras do profeta. O segundo templo não foi honrado com a nuvem de glória de Jeová, mas com a presença viva dAquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade -- que foi o próprio Deus manifesto em carne. O "Desejado de todas as nações" havia em verdade chegado a Seu templo quando o Homem de Nazaré ensinava e curava nos pátios sagrados. Com a presença de Cristo, e com ela somente, o segundo templo excedeu o primeiro em glória. Mas Israel afastara de si o Dom do Céu, que lhe era oferecido. Com o humilde Mestre que naquele dia saíra de seu portal de ouro, a glória para sempre se retirara do templo. Já eram cumpridas as palavras do Salvador: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta." Mateus 23:38. GC 24 3 Os discípulos ficaram cheios de espanto e admiração ante a profecia de Cristo acerca da subversão do templo, e desejavam compreender melhor o significado de Suas palavras. Riquezas, trabalhos e perícia arquitetônica haviam durante mais de quarenta anos sido liberalmente expedidos para salientar os seus esplendores. Herodes, o Grande, nele empregara prodigamente tanto riquezas romanas como tesouros judeus, e mesmo o imperador do mundo o tinha enriquecido com seus dons. Blocos maciços de mármore branco, de tamanho quase fabuloso, proveniente de Roma para este fim, formavam parte de sua estrutura; e para eles chamaram os discípulos a atenção do Mestre, dizendo: "Olha que pedras, e que edifícios!" Marcos 13:1. GC 25 1 A estas palavras deu Jesus a solene e surpreendente resposta: "Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada." Mateus 24:2. GC 25 2 Com a subversão de Jerusalém os discípulos associaram os fatos da vinda pessoal de Cristo em glória temporal a fim de assumir o trono do império do Universo, castigar os judeus impenitentes e libertar a nação do jugo romano. O Senhor lhes dissera que viria a segunda vez. Daí, com a menção dos juízos sobre Jerusalém, volveram o pensamento para aquela vinda; e, como estivessem reunidos em torno do Salvador sobre o Monte das Oliveiras, perguntaram: "Quando serão essas coisas, e que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?" Mateus 24:3. GC 25 3 O futuro estava misericordiosamente velado aos discípulos. Houvessem eles naquela ocasião compreendido perfeitamente os dois terríveis fatos -- os sofrimentos e morte do Redentor, e a destruição de sua cidade e templo -- teriam sido dominados pelo terror. Cristo apresentou diante deles um esboço dos importantes acontecimentos a ocorrerem antes do final do tempo. Suas palavras não foram então completamente entendidas; mas a significação ser-lhes-ia revelada quando Seu povo necessitasse da instrução nelas dada. A profecia que Ele proferiu era dupla em seu sentido: ao mesmo tempo em que prefigurava a destruição de Jerusalém, representava igualmente os terrores do último grande dia. GC 25 4 Jesus declarou aos discípulos que O escutavam, os juízos que deveriam cair sobre o apóstata Israel, e especialmente o castigo retribuidor que lhe sobreviria por sua rejeição e crucifixão do Messias. Sinais inequívocos precederiam a terrível culminação. A hora temida viria súbita e celeremente. E o Salvador advertiu a Seus seguidores: "Quando pois virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, atenda), então os que estiverem na Judéia fujam para os montes." Mateus 24:15, 16; Lucas 21:20. Quando os símbolos idolátricos dos romanos fossem erguidos em terra santa, a qual ia um pouco além dos muros da cidade, então os seguidores de Cristo deveriam achar segurança na fuga. Quando fosse visto o sinal de aviso, os que desejavam escapar não deveriam demorar-se. Por toda a terra da Judéia, bem como em Jerusalém mesmo, o sinal para a fuga deveria ser imediatamente obedecido. Aquele que acaso estivesse no telhado, não deveria descer à casa, mesmo para salvar os tesouros mais valiosos. Os que estivessem trabalhando nos campos ou nos vinhedos, não deveriam tomar tempo para voltar a fim de apanhar a roupa exterior, posta de lado enquanto estavam a labutar no calor do dia. Não deveriam hesitar um instante, para que não fossem apanhados pela destruição geral. GC 26 1 No reinado de Herodes, Jerusalém não só havia sido grandemente embelezada, mas, pela ereção de torres, muralhas e fortalezas, em acréscimo à força natural de sua posição, tornara-se aparentemente inexpugnável. Aquele que nesse tempo houvesse publicamente predito sua destruição, teria sido chamado, como Noé em sua época, doido alarmista. Mas Cristo dissera: "O céu e a Terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar." Mateus 24:35. Por causa de seus pecados, foi anunciada a ira contra Jerusalém, e sua pertinaz incredulidade selou-lhe a sorte. GC 26 2 O Senhor tinha declarado pelo profeta Miquéias: "Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e vós, maiorais da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? nenhum mal nos sobrevirá." Miquéias 3:9-11. GC 27 1 Estas palavras descreviam fielmente os habitantes de Jerusalém, corruptos e possuídos de justiça própria. Pretendendo embora observar rigidamente os preceitos da lei de Deus, estavam transgredindo todos os seus princípios. Odiavam a Cristo porque a Sua pureza e santidade lhes revelavam a iniqüidade própria; e acusavam-nO de ser a causa de todas as angústias que lhes tinham sobrevindo em conseqüência de seus pecados. Posto que soubessem não ter Ele pecado, declararam que Sua morte era necessária para a segurança deles como nação. "Se O deixarmos assim", disseram os chefes dos judeus, "todos crerão nEle, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação." João 11:48. Se Cristo fosse sacrificado, eles poderiam uma vez mais se tornar um povo forte, unido. Assim raciocinavam, e concordavam com a decisão de seu sumo sacerdote de que seria melhor morrer um homem do que perecer toda a nação. GC 27 2 Assim os dirigentes judeus edificaram a "Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça." E além disso, ao mesmo tempo em que mataram seu Salvador porque lhes reprovava os pecados, tal era a sua justiça própria que se consideravam como o povo favorecido de Deus, e esperavam que o Senhor os livrasse dos inimigos. "Portanto", continuou o profeta, "por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa em lugares altos dum bosque." Miquéias 3:12. GC 27 3 Durante quase quarenta anos depois que a condenação de Jerusalém fora pronunciada por Cristo mesmo, retardou o Senhor os Seus juízos sobre a cidade e nação. Maravilhosa foi a longanimidade de Deus para com os que Lhe rejeitaram o evangelho e assassinaram o Filho. A parábola da árvore infrutífera representava o trato de Deus para com a nação judaica. Fora dada a ordem: "Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?" Lucas 13:7. Mas a misericórdia divina poupara-a ainda um pouco de tempo. Muitos havia ainda entre os judeus que eram ignorantes quanto ao caráter e obra de Cristo. E os filhos não haviam gozado das oportunidades nem recebido a luz que seus pais tinham desprezado. Mediante a pregação dos apóstolos e de seus cooperadores, Deus faria com que a luz resplandecesse sobre eles; ser-lhes-ia permitido ver como a profecia se cumprira, não somente no nascimento e vida de Cristo, mas também em Sua morte e ressurreição. Os filhos não foram condenados pelos pecados dos pais; quando, porém, conhecedores de toda a luz dada a seus pais, os filhos rejeitaram mesmo a que lhes fora concedida a mais, tornaram-se participantes dos pecados daqueles e encheram a medida de sua iniqüidade. GC 28 1 A longanimidade de Deus para com Jerusalém apenas confirmou os judeus em sua obstinada impenitência. Em seu ódio e crueldade para com os discípulos de Jesus, rejeitaram o último oferecimento de misericórdia. Afastou Deus então deles a proteção, retirando o poder com que restringia a Satanás e seus anjos, de maneira que a nação ficou sob o controle do chefe que haviam escolhido. Seus filhos tinham desdenhado a graça de Cristo, que os teria habilitado a subjugar seus maus impulsos, e agora estes se tornaram os vencedores. Satanás suscitou as mais violentas e vis paixões da alma. Os homens não raciocinavam; achavam-se fora da razão, dirigidos pelo impulso e cega raiva. Tornaram-se satânicos em sua crueldade. Na família e na sociedade, entre as mais altas como entre as mais baixas classes, havia suspeita, inveja, ódio, contenda, rebelião, assassínio. Não havia segurança em parte alguma. Amigos e parentes traíam-se mutuamente. Pais matavam aos filhos, e filhos aos pais. Os príncipes do povo não tinham poder para governar-se. Desenfreadas paixões faziam-nos tiranos. Os judeus haviam aceitado falso testemunho para condenar o inocente Filho de Deus. Agora as falsas acusações tornavam insegura sua própria vida. Pelas suas ações durante muito tempo tinham estado a dizer: "Fazei que deixe de estar o Santo de Israel perante nós." Isaías 30:11. Agora seu desejo foi satisfeito. O temor de Deus não mais os perturbaria. Satanás estava à frente da nação e as mais altas autoridades civis e religiosas estavam sob o seu domínio. GC 29 1 Os chefes das facções oponentes por vezes se uniam para saquear e torturar suas desgraçadas vítimas, e novamente caíam sobre as forças uns dos outros, fazendo impiedosa matança. Mesmo a santidade do templo não lhes refreava a horrível ferocidade. Os adoradores eram assassinados diante do altar, e o santuário contaminava-se com corpos de mortos. No entanto, em sua cega e blasfema presunção, os instigadores desta obra infernal publicamente declaravam que não tinham receio de que Jerusalém fosse destruída, pois era a própria cidade de Deus. A fim de estabelecer mais firmemente seu poder, subornaram profetas falsos para proclamar, mesmo enquanto as legiões romanas estavam sitiando o templo, que o povo devia aguardar o livramento de Deus. Afinal, as multidões apegaram-se firmemente à crença de que o Altíssimo interviria para a derrota de seus adversários. Israel, porém, havia desdenhado a proteção divina, e agora não tinha defesa. Infeliz Jerusalém! despedaçada por dissensões internas, com o sangue de seus filhos, mortos pelas mãos uns dos outros, a tingir de carmesim suas ruas, enquanto hostis exércitos estrangeiros derribavam suas fortificações e lhes matavam os homens de guerra! GC 29 2 Todas as predições feitas por Cristo relativas à destruição de Jerusalém cumpriram-se à letra. Os judeus experimentaram a verdade de Suas palavras de advertência: "Com a medida com que tiverdes medido, vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. GC 29 3 Apareceram sinais e prodígios, prenunciando desastre e condenação. Ao meio da noite, uma luz sobrenatural resplandeceu sobre o templo e o altar. Sobre as nuvens, ao pôr-do-sol, desenhavam-se carros e homens de guerra reunindo-se para a batalha. Os sacerdotes que ministravam à noite no santuário, aterrorizavam-se com sons misteriosos; a terra tremia e ouvia-se multidão de vozes a clamar: "Partamos daqui!" A grande porta oriental, tão pesada que dificilmente podia ser fechada por uns vinte homens, e que se achava segura por imensas barras de ferro fixas profundamente no pavimento de pedra sólida, abriu-se à meia-noite, independente de qualquer agente visível. -- História dos Judeus, de Milman, livro 13. GC 30 1 Durante sete anos um homem esteve a subir e descer as ruas de Jerusalém, declarando as desgraças que deveriam sobrevir à cidade. De dia e de noite cantava ele funebremente: "Uma voz do Oriente, uma voz do Ocidente, uma voz dos quatro ventos! uma voz contra Jerusalém e contra o templo! uma voz contra os noivos e as noivas! uma voz contra o povo!" -- Ibidem. Este ser estranho foi preso e açoitado, mas nenhuma queixa lhe escapou dos lábios. Aos insultos e maus-tratos respondia somente: "Ai! ai de Jerusalém!" "Ai! ai dos habitantes dela!" Seu clamor de aviso não cessou senão quando foi morto no cerco que havia predito. GC 30 2 Nenhum cristão pereceu na destruição de Jerusalém. Cristo fizera a Seus discípulos o aviso, e todos os que creram em Suas palavras aguardaram o sinal prometido. "Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos", disse Jesus, "sabei que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam." Lucas 21:20, 21. Depois que os romanos, sob Céstio, cercaram a cidade, inesperadamente abandonaram o cerco quando tudo parecia favorável a um ataque imediato. Os sitiados, perdendo a esperança de poder resistir, estavam a ponto de se entregar, quando o general romano retirou suas forças sem a mínima razão aparente. Entretanto, a misericordiosa providência de Deus estava dirigindo os acontecimentos para o bem de Seu próprio povo. O sinal prometido fora dado aos cristãos expectantes, e agora se proporcionou a todos oportunidade para obedecer ao aviso do Salvador. Os acontecimentos foram encaminhados de tal maneira que nem judeus nem romanos impediriam a fuga dos cristãos. Com a retirada de Céstio, os judeus, fazendo uma surtida de Jerusalém, foram ao encalço de seu exército que se afastava; e, enquanto ambas as forças estavam assim completamente empenhadas em luta, os cristãos tiveram ensejo de deixar a cidade. Nesta ocasião o território também se havia desembaraçado de inimigos que poderiam ter-se esforçado para lhes interceptar a passagem. Na ocasião do cerco os judeus estavam reunidos em Jerusalém para celebrar a festa dos Tabernáculos, e assim os cristãos em todo o país puderam escapar sem ser molestados. Imediatamente fugiram para um lugar de segurança -- a cidade de Pela, na terra de Peréia, além do Jordão. GC 31 1 As forças judaicas, perseguindo a Céstio e seu exército, caíram sobre sua retaguarda com tal ferocidade que o ameaçaram de destruição total. Foi com grande dificuldade que os romanos conseguiram efetuar a retirada. Os judeus escaparam quase sem perdas, e com seus despojos voltaram em triunfo para Jerusalém. No entanto este êxito aparente apenas lhes acarretou males. Inspirou-lhes aquele espírito de pertinaz resistência aos romanos, que celeremente trouxe indescritível desgraça sobre a cidade sentenciada. GC 31 2 Terríveis foram as calamidades que caíram sobre Jerusalém quando o cerco foi reassumido por Tito. A cidade foi assaltada na ocasião da Páscoa, quando milhões de judeus estavam reunidos dentro de seus muros. Suas provisões de víveres, que a serem cuidadosamente preservadas teriam suprido os habitantes durante anos, tinham sido previamente destruídas pela rivalidade e vingança das facções contendoras, e agora experimentaram todos os horrores da morte à fome. Uma medida de trigo era vendida por um talento. Tão atrozes eram os transes da fome que homens roíam o couro de seus cinturões e sandálias, e a cobertura de seus escudos. Numerosas pessoas saíam da cidade à noite, furtivamente, para apanhar plantas silvestres que cresciam fora dos muros da cidade, se bem que muitos fossem agarrados e mortos com severas torturas; e muitas vezes os que voltavam em segurança eram roubados naquilo que haviam rebuscado com tão grande perigo. As mais desumanas torturas eram infligidas pelos que se achavam no poder, a fim de extorquir do povo atingido pela necessidade os últimos e escassos suprimentos que poderiam ter escondido. E tais crueldades eram freqüentemente praticadas por homens que se achavam, aliás, bem alimentados, e que simplesmente estavam desejosos de acumular um depósito de provisões para o futuro. GC 32 1 Milhares pereceram pela fome e pela peste. A afeição natural parecia ter desaparecido. Maridos roubavam de sua esposa, e esposas de seu marido. Viam-se filhos arrebatar o alimento da boca de seus pais idosos. A pergunta do profeta: "Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria?" (Isaías 49:15) recebeu dentro dos muros da cidade condenada, a resposta: "As mãos das mulheres piedosas cozeram os próprios filhos; serviram-lhes de alimento na destruição da filha de Meu povo." Lamentações 4:10. Novamente se cumpriu a profecia de aviso, dada catorze séculos antes: "E quanto à mulher mais mimosa e delicada entre ti, que de mimo e delicadeza nunca tentou pôr a planta de seu pé sobre a terra, será maligno o seu olho contra o homem de seu regaço, e contra seu filho, e contra sua filha; ... e por causa de seus filhos que tiver; porque os comerá às escondidas pela falta de tudo, no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará nas tuas portas." Deuteronômio 28:56, 57. GC 32 2 Os chefes romanos esforçaram-se por infundir terror aos judeus, e assim fazê-los render-se. Os prisioneiros que resistiam ao cair presos, eram açoitados, torturados e crucificados diante do muro da cidade. Centenas eram diariamente mortos desta maneira, e essa horrível obra prolongou-se até que ao longo do vale de Josafá e no Calvário se erigiram cruzes em tão grande número que mal havia espaço para mover-se entre elas. De tão terrível maneira foi castigada aquela espantosa maldição proferida perante o tribunal de Pilatos: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos." Mateus 27:25. GC 32 3 Tito, de boa vontade, teria posto termo à terrível cena, poupando assim a Jerusalém da medida completa de sua condenação. Ele se enchia de terror ao ver os corpos jazendo aos montes nos vales. Como alguém que estivesse em êxtase, olhava ele do cimo do Monte das Oliveiras ao templo magnificente, e deu ordem para que nenhuma de suas pedras fosse tocada. Antes de tentar ganhar posse desta fortaleza, fez ardente apelo aos chefes judeus para não o forçarem a profanar com sangue o lugar sagrado. Se saíssem e combatessem em outro local, nenhum romano violaria a santidade do templo. O próprio Josefo, com apelo eloqüentíssimo, suplicou que se rendessem, para se salvarem a si, a sua cidade e seu lugar de culto. Suas palavras, porém, foram respondidas com pragas amargas. Lançaram-se dardos contra ele, que era seu último mediador humano, enquanto persistia em instar com eles. Os judeus haviam rejeitado os rogos do Filho de Deus e agora as advertências e rogos apenas os tornavam mais decididos a resistir até o último ponto. Nulos foram os esforços de Tito para salvar o templo; Alguém, maior do que ele, declarara que não ficaria pedra sobre pedra. GC 33 1 A cega obstinação dos chefes dos judeus e os abomináveis crimes perpetrados dentro da cidade sitiada, excitaram o horror e a indignação dos romanos, e Tito finalmente se decidiu a tomar o templo de assalto. Resolveu, contudo, que, sendo possível, deveria o mesmo ser salvo da destruição. Mas suas ordens foram desatendidas. Depois que ele se retirara para a sua tenda à noite, os judeus, saindo repentinamente do templo, atacaram fora os soldados. Na luta, um soldado arremessou um facho através de uma abertura no pórtico, e imediatamente as salas revestidas de cedro, em redor da casa sagrada, se acharam em chamas. GC 33 2 Tito precipitou-se para o local, seguido de seus generais e legionários, e ordenou aos soldados que apagassem as labaredas. Suas palavras não foram atendidas. Em sua fúria, os soldados lançaram tochas ardentes nas salas contíguas ao templo, e com a espada assassinavam em grande número os que ali tinham procurado refúgio. O sangue corria como água pelas escadas do templo abaixo. Milhares e milhares de judeus pereceram. Acima do ruído da batalha, ouviam-se vozes bradando: "Icabode!" -- foi-se a glória. GC 33 3 Tito achou impossível sustar a fúria da soldadesca; entrou com seus oficiais e examinou o interior do edifício sagrado. O esplendor encheu-os de admiração; e, como as chamas não houvessem ainda penetrado no lugar santo, fez um último esforço para salvá-lo; e, apresentando-se-lhes repentinamente, de novo exortou os soldados a deterem a marcha da conflagração. O centurião Liberalis esforçou-se por impor obediência a seu estado maior; mas o próprio respeito para com o imperador cedeu lugar à furiosa animosidade contra os judeus, ao excitamento feroz da batalha, e à esperança insaciável do saque. Os soldados viam tudo em redor deles resplandecendo de ouro, que fulgurava deslumbrantemente à luz sinistra das chamas; supunham que incalculáveis tesouros estivessem acumulados no santuário. Um soldado, sem ser percebido, arrojou uma tocha acesa por entre os gonzos da porta: o edifício todo em um momento ficou em chamas. O denso fumo e o fogo obrigaram os oficiais a retirar-se, e o nobre edifício foi abandonado à sua sorte. GC 34 1 "Era um espetáculo pavoroso aos romanos; e que seria ele para os judeus? Todo o cimo da colina que dominava a cidade, chamejava como um vulcão. Um após outro caíram os edifícios, com tremendo fragor, e foram absorvidos pelo ígneo abismo. Os tetos de cedro assemelhavam-se a lençóis de fogo; os pináculos dourados resplandeciam como pontas de luz vermelha; as torres dos portais enviavam para cima altas colunas de chama e fumo. As colinas vizinhas se iluminavam; e grupos obscuros de pessoas foram vistas a observar com horrível ansiedade a marcha da destruição; os muros e pontos elevados da cidade alta ficaram repletos de rostos, alguns pálidos, com a agonia do desespero, outros com expressão irada, a ameaçar uma vingança inútil. As aclamações da soldadesca romana, enquanto corriam de uma para outra parte, e o gemido dos rebeldes que estavam perecendo nas chamas, misturavam-se com o rugido da conflagração e o rumor trovejante do madeiramento que caía. Os ecos das montanhas respondiam ou traziam de volta os gritos do povo nos pontos elevados; ao longo de todo o muro ressoavam alaridos e prantos; homens que estavam a expirar pela fome reuniam sua força restante para proferir um grito de angústia e desolação. GC 35 1 "O morticínio, do lado de dentro, era até mais terrível do que o espetáculo visto fora. Homens e mulheres, velhos e moços, rebeldes e sacerdotes, os que combatiam e os que imploravam misericórdia, eram retalhados em indiscriminada carnificina. O número de mortos excedeu ao dos matadores. Os legionários tiveram de trepar sobre os montes de cadáveres para prosseguir na obra de extermínio." -- História dos Judeus, de Milman, livro 16. GC 35 2 Depois da destruição do templo, a cidade inteira logo caiu nas mãos dos romanos. Os chefes dos judeus abandonaram as torres inexpugnáveis, e Tito as achou desertas. Contemplou-as com espanto e declarou que Deus lhas havia entregue em suas mãos; pois engenho algum, ainda que poderoso, poderia ter prevalecido contra aquelas estupendas ameias. Tanto a cidade como o templo foram arrasados até aos fundamentos, e o terreno em que se erguia a casa sagrada foi lavrado como um campo. Jeremias 26:18. No cerco e morticínio que se seguiram, pereceram mais de um milhão de pessoas; os sobreviventes foram levados como escravos, como tais vendidos, arrastados a Roma para abrilhantar a vitória do vencedor, lançados às feras nos anfiteatros, ou dispersos por toda a Terra como vagabundos sem lar. GC 35 3 Os judeus haviam forjado seus próprios grilhões; eles mesmos encheram a taça da vingança. Na destruição completa que lhes sobreveio como nação, e em todas as desgraças que os acompanharam depois de dispersos, não estavam senão recolhendo a colheita que suas próprias mãos semearam. Diz o profeta: "Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra Mim", "pelos teus pecados tens caído." Oséias 13:9; 14:1. Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É assim que o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada, e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade. As horríveis crueldades executadas na destruição de Jerusalém são uma demonstração do poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle. GC 36 1 Não podemos saber quanto devemos a Cristo pela paz e proteção de que gozamos. É o poder de Deus que impede que a humanidade passe completamente para o domínio de Satanás. Os desobedientes e ingratos têm grande motivo de gratidão pela misericórdia e longanimidade de Deus, que contém o cruel e pernicioso poder do maligno. Quando, porém, os homens passam os limites da clemência divina, a restrição é removida. Deus não fica em relação ao pecador como executor da sentença contra a transgressão; mas deixa entregues a si mesmos os que rejeitam Sua misericórdia, para colherem aquilo que semearam. Cada raio de luz rejeitado, cada advertência desprezada ou desatendida, cada paixão contemporizada, cada transgressão da lei de Deus, é uma semente lançada, a qual produz infalível colheita. O Espírito de Deus, persistentemente resistido, é afinal retirado do pecador, e então poder algum permanece para dominar as más paixões da alma, e nenhuma proteção contra a maldade e inimizade de Satanás. A destruição de Jerusalém constitui tremenda e solene advertência a todos os que estão tratando levianamente com os oferecimentos da graça divina e resistindo aos rogos da misericórdia de Deus. Jamais foi dado um testemunho mais decisivo do ódio ao pecado por parte de Deus, e do castigo certo que recairá sobre o culpado. GC 36 2 A profecia do Salvador relativa aos juízos que deveriam cair sobre Jerusalém há de ter outro cumprimento, do qual aquela terrível desolação não foi senão tênue sombra. Na sorte da cidade escolhida podemos contemplar a condenação de um mundo que rejeitou a misericórdia de Deus e calcou a pés a Sua lei. Tenebrosos são os registros da miséria humana que a Terra tem testemunhado durante seus longos séculos de crime. Ao contemplá-los confrange-se o coração e o espírito desfalece. Terríveis têm sido os resultados da rejeição da autoridade do Céu. Entretanto, cena ainda mais tenebrosa se apresenta nas revelações do futuro. Os registros do passado -- o longo cortejo de tumultos, conflitos e revoluções, a "armadura daqueles que pelejavam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue" (Isaías 9:5) -- que são, em contraste com os terrores daquele dia em que o Espírito de Deus será totalmente retirado dos ímpios, não mais contendo a explosão das paixões humanas e ira satânica! O mundo contemplará então, como nunca dantes, os resultados do governo de Satanás. GC 37 1 Mas naquele dia, bem como na ocasião da destruição de Jerusalém, livrar-se-á o povo de Deus, "todo aquele que estiver inscrito entre os vivos." Isaías 4:3. Cristo declarou que virá a segunda vez para reunir a Si os Seus fiéis: "E todas as tribos da Terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." Mateus 24:30, 31. Então os que não obedecem ao evangelho serão consumidos pelo espírito de Sua boca, e serão destruídos com o resplendor de Sua vinda. 2 Tessalonicenses 2:8. Como o antigo Israel, os ímpios destroem-se a si mesmos; caem pela sua iniqüidade. Em conseqüência de uma vida de pecados, colocaram-se tão fora de harmonia com Deus, sua natureza se tornou tão aviltada com o mal, que a manifestação da glória divina é para eles um fogo consumidor. GC 37 2 Acautelem-se os homens para que não aconteça negligenciarem a lição que lhes é comunicada pelas palavras de Cristo. Assim como Ele preveniu Seus discípulos quanto à destruição de Jerusalém, dando-lhes um sinal da ruína que se aproximava para que pudessem escapar, também advertiu o mundo quanto ao dia da destruição final, e lhes deu sinais de sua aproximação para que todos os que queiram, possam fugir da ira vindoura. Declara Jesus: "E haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e na Terra angústia das nações." Lucas 21:25; Mateus 24:29; Marcos 13:24-26; Apocalipse 6:12-17. Os que contemplam estes prenúncios de Sua vinda, devem saber que "está próximo, às portas." Mateus 24:33. Vigiai, pois (Marcos 13:35), são Suas palavras de advertência. Os que atendem ao aviso não serão deixados em trevas, para que aquele dia os apanhe desprevenidos. Mas aos que não vigiarem, "o dia do Senhor virá como o ladrão de noite." 1 Tessalonicenses 5:2. GC 38 1 O mundo não está mais preparado para dar crédito à mensagem para este tempo do que estiveram os judeus para receber o aviso do Salvador, relativo a Jerusalém. Venha quando vier, o dia do Senhor virá de improviso aos ímpios. Correndo a vida sua rotina invariável; encontrando-se os homens absortos nos prazeres, negócios, comércio e ambição de ganho; estando os dirigentes do mundo religioso a engrandecer o progresso e ilustração do mundo, e achando-se o povo embalado em uma falsa segurança, então, como o ladrão à meia-noite rouba na casa que não é guardada, sobrevirá repentina destruição aos descuidados e ímpios, e "de nenhum modo escaparão". 1 Tessalonicenses 5:3-5. ------------------------Capítulo 2 -- O valor dos mártires GC 39 1 Quando Jesus revelou a Seus discípulos a sorte de Jerusalém e as cenas do segundo advento, predisse também a experiência de Seu povo desde o tempo em que deveria ser tirado dentre eles até a Sua volta em poder e glória para o seu libertamento. Do Monte das Oliveiras o Salvador contemplou as tempestades prestes a desabar sobre a igreja apostólica; e penetrando mais profundamente no futuro, Seus olhos divisaram os terríveis e devastadores vendavais que deveriam açoitar Seus seguidores nos vindouros séculos de trevas e perseguição. Em poucas e breves declarações de tremendo significado, predisse o que os governadores deste mundo haveriam de impor à igreja de Deus. Mateus 24:9, 21, 22. Os seguidores de Cristo deveriam trilhar a mesma senda de humilhação, ignomínia e sofrimento que seu Mestre palmilhara. A inimizade que irrompera contra o Redentor do mundo, manifestar-se-ia contra todos os que cressem em Seu nome. GC 39 2 A história da igreja primitiva testificou do cumprimento das palavras do Salvador. Os poderes da Terra e do inferno arregimentaram-se contra Cristo na pessoa de Seus seguidores. O paganismo previa que se o evangelho triunfasse, seus templos e altares desapareciam; portanto convocou suas forças para destruir o cristianismo. Acenderam-se as fogueiras da perseguição. Os cristãos eram despojados de suas posses e expulsos de suas casas. Suportaram "grande combate de aflições." Hebreus 10:32. "Experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões." Hebreus 11:36. Grande número deles selaram seu testemunho com o próprio sangue. Nobres e escravos, ricos e pobres, doutos e ignorantes, foram de igual modo mortos sem misericórdia. GC 40 1 Estas perseguições, iniciadas sob o governo de Nero, aproximadamente ao tempo do martírio de Paulo, continuaram com maior ou menor fúria durante séculos. Os cristãos eram falsamente acusados dos mais hediondos crimes e tidos como a causa das grandes calamidades -- fomes, pestes e terremotos. Tornando-se eles objeto do ódio e suspeita popular, prontificaram-se denunciantes, por amor ao ganho, a trair os inocentes. Eram condenados como rebeldes ao império, como inimigos da religião e peste da sociedade. Grande número deles eram lançados às feras ou queimados vivos nos anfiteatros. Alguns eram crucificados, outros cobertos com peles de animais bravios e lançados à arena para serem despedaçados pelos cães. De seu sofrimento muitas vezes se fazia a principal diversão nas festas públicas. Vastas multidões reuniam-se para gozar do espetáculo e saudavam os transes de sua agonia com riso e aplauso. GC 40 2 Onde quer que procurassem refúgio, os seguidores de Cristo eram caçados como animais. Eram forçados a procurar esconderijo nos lugares desolados e solitários. "Desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes, pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra." Hebreus 11:37, 38. As catacumbas proporcionavam abrigo a milhares. Por sob as colinas, fora da cidade de Roma, longas galerias tinham sido feitas através da terra e da rocha; o escuro e complicado trama das comunicações estendia-se quilômetros além dos muros da cidade. Nestes retiros subterrâneos, os seguidores de Cristo sepultavam os seus mortos; e ali também, quando suspeitos e proscritos, encontravam lar. Quando o Doador da vida despertar os que pelejaram o bom combate, muitos que foram mártires por amor de Cristo sairão dessas sombrias cavernas. GC 41 1 Sob a mais atroz perseguição, estas testemunhas de Jesus conservaram incontaminada a sua fé. Posto que privados de todo conforto, excluídos da luz do Sol, tendo o lar no seio da terra, obscuro mas amigo, não proferiam queixa alguma. Com palavras de fé, paciência e esperança, animavam-se uns aos outros a suportar a privação e angústia. A perda de toda a bênção terrestre não os poderia forçar a renunciar sua crença em Cristo. Provações e perseguição não eram senão passos que os levavam para mais perto de seu descanso e recompensa. GC 41 2 Como aconteceu aos servos de Deus de outrora, muitos "foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição." Hebreus 11:35. Estes se recordavam das palavras do Mestre, de que, quando perseguidos por amor de Cristo, ficassem muito alegres, pois que grande seria seu galardão no Céu, porque assim tinham sido perseguidos os profetas antes deles. Regozijavam-se de que fossem considerados dignos de sofrer pela verdade, e cânticos de triunfo ascendiam dentre as chamas crepitantes. Pela fé, olhando para cima, viam Cristo e os anjos apoiados sobre as ameias do Céu, contemplando-os com o mais profundo interesse, com aprovação considerando a sua firmeza. Uma voz lhes vinha do trono de Deus: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida." Apocalipse 2:10. GC 41 3 Nulos foram os esforços de Satanás para destruir pela violência a igreja de Cristo. O grande conflito em que os discípulos de Jesus rendiam a vida, não cessava quando estes fiéis porta-estandartes tombavam em seus postos. Com a derrota, venciam. Os obreiros de Deus eram mortos, mas a Sua obra ia avante com firmeza. O evangelho continuava a espalhar-se, e o número de seus aderentes a aumentar. Penetrou em regiões que eram inacessíveis, mesmo às águias romanas. Disse um cristão, contendendo com os governadores pagãos que estavam a impulsionar a perseguição: Podeis "matar-nos, torturar-nos condenar-nos. ... Vossa injustiça é prova de que somos inocentes. ... Tampouco vossa crueldade... vos aproveitará." Não era senão um convite mais forte para se levarem outros à mesma persuasão. "Quanto mais somos ceifados por vós, tanto mais crescemos em número; o sangue dos cristãos é semente." -- Apologia, de Tertuliano, parágrafo 50. GC 42 1 Milhares eram aprisionados e mortos, mas outros surgiam para ocupar as vagas. E os que eram martirizados por sua fé tornavam-se aquisição de Cristo, por Ele tidos na conta de vencedores. Haviam pelejado o bom combate, e deveriam receber a coroa de glória quando Cristo viesse. Os sofrimentos que suportavam, levavam os cristãos mais perto uns dos outros e de seu Redentor. Seu exemplo em vida, e seu testemunho ao morrerem, eram constante atestado à verdade; e, onde menos se esperava, os súditos de Satanás estavam deixando o seu serviço e alistando-se sob a bandeira de Cristo. GC 42 2 Satanás, portanto, formulou seus planos para guerrear com mais êxito contra o governo de Deus, hasteando sua bandeira na igreja cristã. Se os seguidores de Cristo pudessem ser enganados e levados a desagradar a Deus, falhariam então sua força, poder e firmeza, e eles cairiam como presa fácil. GC 42 3 O grande adversário se esforçou então por obter pelo artifício aquilo que não lograra alcançar pela força. Cessou a perseguição, e em seu lugar foi posta a perigosa sedução da prosperidade temporal e honra mundana. Levavam-se idólatras a receber parte da fé cristã, enquanto rejeitavam outras verdades essenciais. Professavam aceitar a Jesus como o Filho de Deus e crer em Sua morte e ressurreição; mas não tinham a convicção do pecado e não sentiam necessidade de arrependimento ou de uma mudança de coração. Com algumas concessões de sua parte, propuseram que os cristãos fizessem outras também, para que todos pudessem unir-se sob a plataforma da crença em Cristo. GC 42 4 A igreja naquele tempo encontrava-se em terrível perigo. Prisão, tortura, fogo e espada eram bênçãos em comparação com isto. Alguns dos cristãos permaneceram firmes, declarando que não transigiriam. Outros eram favoráveis a que cedessem, ou modificassem alguns característicos de sua fé, e se unissem aos que haviam aceito parte do cristianismo, insistindo em que este poderia ser o meio para a completa conversão. Foi um tempo de profunda angústia para os fiéis seguidores de Cristo. Sob a capa de pretenso cristianismo, Satanás se estava insinuando na igreja a fim de corromper-lhe a fé e desviar-lhe a mente da Palavra da verdade. GC 43 1 A maioria dos cristãos finalmente consentiu em baixar a norma, formando-se uma união entre o cristianismo e o paganismo. Posto que os adoradores de ídolos professassem estar convertidos e unidos à igreja, apegavam-se ainda à idolatria, mudando apenas os objetos de culto pelas imagens de Jesus, e mesmo de Maria e dos santos. O fermento vil da idolatria, assim trazido para a igreja, continuou a obra funesta. Doutrinas errôneas, ritos supersticiosos e cerimônias idolátricas foram incorporados em sua fé e culto. Unindo-se os seguidores de Cristo aos idólatras, a religião cristã se tornou corrupta e a igreja perdeu sua pureza e poder. Alguns houve, entretanto, que não foram transviados por esses enganos. Mantinham-se ainda fiéis ao Autor da verdade, e adoravam a Deus somente. GC 43 2 Sempre tem havido duas classes entre os que professam ser seguidores de Cristo. Enquanto uma dessas classes estuda a vida do Salvador e fervorosamente procura corrigir seus defeitos e conformar-se com o Modelo, a outra evita as claras e práticas verdades que lhes expõem os erros. Mesmo em sua melhor condição a igreja não se compôs unicamente dos verdadeiros, puros e sinceros. Nosso Salvador ensinou que os que voluntariamente condescendem com o pecado não devem ser recebidos na igreja; todavia ligou a Si homens que eram falhos de caráter e concedeu-lhes os benefícios de Seus ensinos e exemplos, para que tivessem oportunidade de ver seus erros e corrigi-los. Entre os doze apóstolos havia um traidor. Judas foi aceito, não por causa de seus defeitos de caráter mas apesar deles. Foi ligado aos discípulos para que, pela instrução e exemplo de Cristo, pudesse aprender o que constitui o caráter cristão e assim ser levado a ver seus erros, para arrepender-se e, pelo auxílio da graça divina, purificar a alma "na obediência à verdade." Mas Judas não andou na luz que tão misericordiosamente foi permitido brilhasse sobre ele. Pela condescendência com o pecado, atraiu as tentações de Satanás. Seus maus traços de caráter se tornaram predominantes. Rendeu a mente à direção dos poderes das trevas, irava-se quando suas faltas eram reprovadas, sendo assim levado a cometer o terrível crime de trair o Mestre. Assim todos os que acariciam o mal sob profissão de piedade, odeiam os que lhes perturbam a paz condenando seu caminho de pecado. Quando se apresenta oportunidade favorável, eles, semelhantes a Judas, traem aos que para seu bem procuram reprová-los. GC 44 1 Os apóstolos encontraram na igreja os que professavam piedade, ao mesmo tempo em que secretamente acariciavam a iniqüidade. Ananias e Safira desempenharam o papel de enganadores pretendendo fazer sacrifício total a Deus, quando cobiçosamente estavam retendo uma parte para si. O Espírito da verdade revelou aos apóstolos o caráter real desses impostores, e os juízos de Deus livraram a igreja dessa detestável mancha em sua pureza. Esta assinalada evidência do discernidor Espírito de Cristo na igreja foi um terror para os hipócritas e malfeitores. Não mais poderiam permanecer em ligação com aqueles que eram, em hábitos e disposição, invariáveis representantes de Cristo; e, quando as provações e perseguições sobrevieram a Seus seguidores, apenas os que estavam dispostos a abandonar tudo por amor à verdade desejaram tornar-se Seus discípulos. Assim, enquanto durou a perseguição, a igreja permaneceu comparativamente pura. Mas, cessando aquela, acrescentaram-se conversos que eram menos sinceros e devotados, e abriu-se o caminho para Satanás tomar pé. GC 45 1 Não há, porém, união entre o Príncipe da luz e o príncipe das trevas, e nenhuma conivência poderá haver entre os seus seguidores. Quando os cristãos consentiram em unir-se àqueles que não eram senão semiconversos do paganismo, enveredaram por caminho que levaria mais e mais longe da verdade. Satanás exultou em haver conseguido enganar tão grande número dos seguidores de Cristo. Levou então seu poder a agir de modo mais completo sobre eles, e os inspirou a perseguir aqueles que permaneceram fiéis a Deus. Ninguém compreendeu tão bem como se opor à verdadeira fé cristã como os que haviam sido seus defensores; e estes cristãos apóstatas, unindo-se aos companheiros semipagãos, dirigiram seus ataques contra os característicos mais importantes das doutrinas de Cristo. GC 45 2 Foi necessária uma luta desesperada por parte daqueles que desejavam ser fiéis, permanecendo firmes contra os enganos e abominações que se disfarçavam sob as vestes sacerdotais e se introduziram na igreja. A Escritura Sagrada não era aceita como a norma de fé. A doutrina da liberdade religiosa era chamada heresia, sendo odiados e proscritos seus mantenedores. GC 45 3 Depois de longo e tenaz conflito, os poucos fiéis decidiram-se a dissolver toda união com a igreja apóstata, caso ela ainda recusasse libertar-se da falsidade e idolatria. Viram que a separação era uma necessidade absoluta se desejavam obedecer à Palavra de Deus. Não ousavam tolerar erros fatais a sua própria alma, e dar exemplo que pusesse em perigo a fé de seus filhos e netos. Para assegurar a paz e a unidade, estavam prontos a fazer qualquer concessão coerente com a fidelidade para com Deus, mas acharam que mesmo a paz seria comprada demasiado caro com sacrifício dos princípios. Se a unidade só se pudesse conseguir comprometendo a verdade e a justiça, seria preferível que prevalecessem as diferenças e as consequentes lutas. GC 46 1 Bom seria à igreja e ao mundo se os princípios que atuavam naquelas almas inabaláveis revivessem no coração do professo povo de Deus. Há alarmante indiferença em relação às doutrinas que são as colunas da fé cristã. Ganha terreno a opinião de que, em última análise, não são de importância vital. Esta degenerescência está fortalecendo as mãos dos agentes de Satanás, de modo que falsas teorias e enganos fatais, que os fiéis dos séculos passados expunham e combatiam com riscos da própria vida, são hoje considerados com favor por milhares que pretendem ser seguidores de Cristo. GC 46 2 Os primitivos cristãos eram na verdade um povo peculiar. Sua conduta irrepreensível e fé invariável eram contínua reprovação a perturbar a paz dos pecadores. Se bem que poucos, sem riqueza, posição ou títulos honoríficos, constituíam um terror para os malfeitores onde quer que seu caráter e doutrina fossem conhecidos. Eram, portanto, odiados pelos ímpios, assim como Abel o foi pelo ímpio Caim. Pela mesma razão por que Caim matou Abel, os que procuravam repelir a restrição do Espírito Santo mataram o povo de Deus. Pelo mesmo motivo foi que os judeus rejeitaram e crucificaram o Salvador: porque a pureza e santidade de Seu caráter eram repreensão constante ao egoísmo e corrupção deles. Desde os dias de Cristo até hoje, os fiéis discípulos têm suscitado ódio e oposição dos que amam e seguem os caminhos do pecado. GC 46 3 Como, pois, pode o evangelho ser chamado mensagem de paz? Quando Isaías predisse o nascimento do Messias, conferiu-Lhe o título de "Príncipe da Paz." Quando os anjos anunciaram aos pastores que Cristo nascera, cantaram sobre as planícies de Belém: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens." Lucas 2:14. Há uma aparente contradição entre estas declarações proféticas e as palavras de Cristo: "Não vim trazer paz, mas espada." Mateus 10:34. Mas, entendidas corretamente, ambas estão em perfeita harmonia. O evangelho é uma mensagem de paz. O cristianismo é um sistema religioso que, recebido e obedecido, espalharia paz, harmonia e felicidade por toda a Terra. A religião de Cristo ligará em íntima fraternidade todos os que lhe aceitarem os ensinos. Foi missão de Jesus reconciliar os homens com Deus, e assim uns com os outros. Mas o mundo em grande parte se acha sob o domínio de Satanás, o acérrimo adversário de Cristo. O evangelho apresenta-lhes princípios de vida que se acham totalmente em desacordo com seus hábitos e desejos, e eles se erguem em rebelião contra ele. Odeiam a pureza que lhes revela e condena os pecados, e perseguem e destroem os que com eles insistem em suas justas e santas reivindicações. É neste sentido que o evangelho é chamado uma espada, visto que as elevadas verdades que traz ocasionam o ódio e a contenda. GC 47 1 A misteriosa providência que permite sofrerem os justos perseguição às mãos dos ímpios, tem sido causa de grande perplexidade a muitos que são fracos na fé. Alguns se dispõem mesmo a lançar de si a confiança em Deus, por permitir Ele que os mais vis dos homens prosperem, enquanto os melhores e mais puros são afligidos e atormentados pelo cruel poder daqueles. Como, pergunta-se, pode Aquele que é justo e misericordioso, e que também é de poder infinito, tolerar tal injustiça e opressão? É esta uma questão com que nada temos que ver. Deus deu suficientes evidências de Seu amor, e não devemos duvidar de Sua bondade por não podermos compreender a operação de Sua providência. Disse o Salvador a Seus discípulos, prevendo as dúvidas que lhes oprimiriam a alma nos dias de provação e trevas: "Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós." João 15:20. Jesus sofreu por nós mais do que qualquer de Seus seguidores poderá sofrer pela crueldade de homens ímpios. Os que são chamados a suportar a tortura e o martírio não estão senão seguindo as pegadas do dileto Filho de Deus. GC 48 1 "O Senhor não retarda a Sua promessa." 2 Pedro 3:9. Ele não Se esquece de Seus filhos, nem os negligencia; mas permite que os ímpios revelem seu verdadeiro caráter, para que ninguém que deseje fazer a Sua vontade possa ser iludido com relação a eles. Outrossim, os justos são postos na fornalha da aflição para que eles próprios possam ser purificados, para que seu exemplo possa convencer a outros da realidade da fé e piedade, e também para que sua coerente conduta possa condenar os ímpios e incrédulos. GC 48 2 Deus permite que os ímpios prosperem e revelem inimizade para com Ele, a fim de que, quando encherem a medida de sua iniqüidade, todos possam, em sua completa destruição, ver a justiça e misericórdia divinas. Apressa-se o dia de Sua vingança, no qual todos os que transgrediram a lei divina e oprimiram o povo de Deus receberão a justa recompensa de suas ações; em que todo ato de crueldade e injustiça para com os fiéis será punido como se fosse feito ao próprio Cristo. GC 48 3 Há outra questão mais importante que deveria ocupar a atenção das igrejas de hoje. O apóstolo Paulo declara que "todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições." 2 Timóteo 3:12. Por que é, pois, que a perseguição, em grande parte, parece adormentada? A única razão é que a igreja se conformou com a norma do mundo, e portanto não suscita oposição. A religião que em nosso tempo prevalece não é do caráter puro e santo que assinalou a fé cristã nos dias de Cristo e Seus apóstolos. É unicamente por causa do espírito de transigência com o pecado, por serem as grandes verdades da Palavra de Deus tão indiferentemente consideradas, por haver tão pouca piedade vital na igreja, que o cristianismo, é aparentemente tão popular no mundo. Haja um reavivamento da fé e poder da igreja primitiva, e o espírito de opressão reviverá, reacendendo-se as fogueiras da perseguição. ------------------------Capítulo 3 -- Como começaram as trevas morais GC 49 1 O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos tessalonicenses, predisse a grande apostasia que teria como resultado o estabelecimento do poder papal. Declarou que o dia de Cristo não viria "sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." 2 Tessalonicenses 2:3, 4. E, ainda mais, o apóstolo adverte os irmãos de que "já o mistério da injustiça opera." 2 Tessalonicenses 2:7. Mesmo naqueles primeiros tempos viu ele, insinuando-se na igreja, erros que preparariam o caminho para o desenvolvimento do papado. GC 49 2 Pouco a pouco, a princípio furtiva e silenciosamente, e depois mais às claras, à medida em que crescia em força e conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniqüidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente os costumes do paganismo tiveram ingresso na igreja cristã. O espírito de transigência e conformidade fora restringido durante algum tempo pelas terríveis perseguições que a igreja suportou sob o paganismo. Mas, em cessando a perseguição e entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, pôs ela de lado a humilde simplicidade de Cristo e Seus apóstolos, em troca da pompa e orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e em lugar das ordenanças de Deus colocou teorias e tradições humanas. A conversão nominal de Constantino, na primeira parte do século IV, causou grande regozijo; e o mundo, sob o manto de justiça aparente, introduziu-se na igreja. Progredia rapidamente a obra de corrupção. O paganismo, conquanto parecesse suplantado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e culto dos professos seguidores de Cristo. GC 50 1 Esta mútua transigência entre o paganismo e o cristianismo resultou no desenvolvimento do "homem do pecado", predito na profecia como se opondo a Deus e exaltando-se sobre Ele. Aquele gigantesco sistema de religião falsa é a obra-prima do poder de Satanás -- monumento de seus esforços para sentar-se sobre o trono e governar a Terra segundo a sua vontade. GC 50 2 Uma vez Satanás se esforçou por estabelecer um compromisso mútuo com Cristo. Chegando-se ao Filho de Deus no deserto da tentação, e mostrando-Lhe todos os reinos do mundo e a glória dos mesmos, ofereceu-se a entregar tudo em Suas mãos se tão-somente reconhecesse a supremacia do príncipe das trevas. Cristo repreendeu o pretensioso tentador e obrigou-o a retirar-se. Mas Satanás obtém maior êxito em apresentar ao homem as mesmas tentações. Para conseguir proveitos e honras humanas, a igreja foi levada a buscar o favor e apoio dos grandes homens da Terra; e, havendo assim rejeitado a Cristo, foi induzida a prestar obediência ao representante de Satanás -- o bispo de Roma. GC 50 3 Uma das principais doutrinas do romanismo é que o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo, investido de autoridade suprema sobre os bispos e pastores em todas as partes do mundo. Mais do que isto, tem-se dado ao papa os próprios títulos da Divindade. Tem sido intitulado: "Senhor Deus, o Papa", e foi declarado infalível. Exige ele a homenagem de todos os homens. A mesma pretensão em que insistia Satanás no deserto da tentação, ele ainda a encarece mediante a igreja de Roma, e enorme número de pessoas estão prontas para render-lhe homenagem. GC 51 1 Mas os que temem e reverenciam a Deus enfrentam esta audaciosa presunção do mesmo modo porque Cristo enfrentou as solicitações do insidioso adversário: "Adorarás ao Senhor teu Deus, e a Ele somente servirás." Lucas 4:8. Deus jamais deu em Sua Palavra a mínima sugestão de que tivesse designado a algum homem para ser a cabeça da igreja. A doutrina da supremacia papal opõe-se diretamente aos ensinos das Escrituras Sagradas. O papa não pode ter poder algum sobre a igreja de Cristo, senão por usurpação. GC 51 2 Os romanistas têm persistido em acusar os protestantes de heresia e voluntária separação da verdadeira igreja. Semelhantes acusações, porém, aplicam-se antes a eles próprios. São eles os que depuseram a bandeira de Cristo, e se afastaram da "fé que uma vez foi dada aos santos." Jud. 3. GC 51 3 Satanás bem sabia que as Escrituras Sagradas habilitariam os homens a discernir seus enganos e resistir a seu poder. Foi pela Palavra que mesmo o Salvador do mundo resistiu a seus ataques. Em cada assalto Cristo apresentou o escudo da verdade eterna, dizendo: "Está escrito." A cada sugestão do adversário, opunha a sabedoria e poder da Palavra. A fim de Satanás manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a autoridade humana, deveria conservá-los na ignorância das Escrituras. A Bíblia exaltaria a Deus e colocaria o homem finito em sua verdadeira posição; portanto, suas sagradas verdades deveriam ser ocultadas e suprimidas. Esta lógica foi adotada pela Igreja de Roma. Durante séculos a circulação da Escritura foi proibida. Ao povo era vedado lê-la ou tê-la em casa, e sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretavam-lhe os ensinos de modo a favorecerem suas pretensões. Assim o chefe da igreja veio a ser quase universalmente reconhecido como o vigário de Deus na Terra, dotado de autoridade sobre a igreja e o Estado. GC 51 4 Suprimido o revelador do erro, agiu Satanás à vontade. A profecia declarara que o papado havia de cuidar "em mudar os tempos e a lei." Daniel 7:25. Para cumprir esta obra não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover assim sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração das imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus, o segundo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles. GC 52 1 Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, operando por meio de não consagrados dirigentes da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2, 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como "o venerável dia do Sol." Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda observado como dia santificado. GC 52 2 A fim de preparar o caminho para a obra que intentava cumprir, Satanás induzira os judeus, antes do advento de Cristo, a sobrecarregarem o sábado com as mais rigorosas imposições, tornando sua observância um fardo. Agora, tirando vantagem da falsa luz sob a qual ele assim fizera com que fosse considerado, lançou o desdém sobre o sábado como instituição judaica. Enquanto os cristãos geralmente continuavam a observar o domingo como festividade prazenteira, ele os levou, a fim de mostrarem seu ódio ao judaísmo, a fazer do sábado dia de jejum, de tristeza e pesar. GC 53 1 Na primeira parte do século IV, o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. O dia do Sol era venerado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos; era política do imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo. Com ele se empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede do poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento. GC 53 2 O arquienganador não havia terminado a sua obra. Estava decidido a congregar o mundo cristão sob sua bandeira, e exercer o poder por intermédio de seu vigário, o orgulhoso pontífice que pretendia ser o representante de Cristo. Por meio de pagãos semiconversos, ambiciosos prelados e eclesiásticos amantes do mundo, realizou ele seu propósito. Celebravam-se de tempos em tempos vastos concílios aos quais do mundo todo concorriam os dignitários da igreja. Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores. GC 54 3 O grande apóstata conseguira exaltar-se "contra tudo o que se chama Deus, ou se adora." 2 Tessalonicenses 2:4. Ousara mudar o único preceito da lei divina que inequivocamente indica a toda a humanidade o Deus verdadeiro e vivo. No quarto mandamento Deus é revelado como o Criador do céu e da Terra, e por isso Se distingue de todos os falsos deuses. Foi para memória da obra da criação que o sétimo dia foi santificado como dia de repouso para o homem. Destinava-se a conservar o Deus vivo sempre diante da mente humana como a fonte de todo ser e objeto de reverência e culto. Satanás esforça-se por desviar os homens de sua aliança para com Deus e de prestarem obediência à Sua lei; dirige Seus esforços, portanto, especialmente contra o mandamento que aponta a Deus como o Criador. GC 54 1 Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fê-lo o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou Seus apóstolos. A observância do domingo como instituição cristã teve origem no "mistério da injustiça" (2 Tessalonicenses 2:7) que, já no tempo de Paulo, começara a sua obra. Onde e quando adotou o Senhor este filho do papado? Que razão poderosa se poderá dar para uma mudança que as Escrituras não sancionam? GC 54 2 No século VI tornou-se o papado firmemente estabelecido. Fixou-se a sede de seu poderio na cidade imperial e declarou-se ser o bispo de Roma a cabeça de toda a igreja. O paganismo cedera lugar ao papado. O dragão dera à besta "o seu poder, e o seu trono, e grande poderio." Apocalipse 13:2. E começaram então os 1.260 anos da opressão papal preditos nas profecias de Daniel e Apocalipse. Daniel 7:25; Apocalipse 13:5-7. Os cristãos foram obrigados a optar entre renunciar sua integridade e aceitar as cerimônias e culto papais, ou passar a vida nas masmorras, sofrer a morte pelo instrumento de tortura, pela fogueira, ou pela machadinha do verdugo. Cumpriam-se as palavras de Jesus: "E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues, e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa de Meu nome." Lucas 21:16, 17. GC 54 3 Desencadeou-se a perseguição sobre os fiéis com maior fúria do que nunca, e o mundo se tornou um vasto campo de batalha. Durante séculos a igreja de Cristo encontrou refúgio no isolamento e obscuridade. Assim diz o profeta: "A mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil e duzentos e sessenta dias." Apocalipse 12:6. GC 55 1 O acesso da Igreja de Roma ao poder assinalou o início da escura Idade Média. Aumentando o seu poderio, mais se adensavam as trevas. De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e prelados a quem delegava autoridade. Ensinava-se-lhe ser o papa seu mediador terrestre, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao corpo e alma dos delinqüentes. Assim, a mente do povo desviava-se de Deus para homens falíveis e cruéis, e mais ainda, para o próprio príncipe das trevas que por meio deles exercia o seu poder. O pecado se disfarçava sob o manto de santidade. Quando as Escrituras são suprimidas e o homem vem a considerar-se supremo, só podemos esperar fraudes, engano e aviltante iniqüidade. Com a elevação das leis e tradições humanas, tornou-se manifesta a corrupção que sempre resulta de se pôr de lado a lei de Deus. GC 55 2 Dias de perigo foram aqueles para a igreja de Cristo. Os fiéis porta-estandartes eram na verdade poucos. Posto que a verdade não fosse deixada sem testemunhas, parecia, por vezes, que o erro e a superstição prevaleceriam completamente, e a verdadeira religião seria banida da Terra. Perdeu-se de vista o evangelho, mas multiplicaram-se as formas de religião, e o povo foi sobrecarregado de severas exigências. GC 55 3 Ensinava-se-lhes não somente a considerar o papa como seu mediador, mas a confiar em suas próprias obras para expiação do pecado. Longas peregrinações, atos de penitência, adoração de relíquias, ereção de igrejas, relicários e altares, bem como pagamento de grandes somas à igreja, tudo isto e muitos atos semelhantes eram ordenados para aplacar a ira de Deus ou assegurar o Seu favor, como se Deus fosse idêntico aos homens, encolerizando-Se por ninharias, ou apaziguando-Se com donativos ou atos de penitência! GC 56 1 Apesar de que prevalecesse o vício, mesmo entre os chefes da Igreja de Roma, sua influência parecia aumentar constantemente. Mais ou menos ao findar o século VIII, os romanistas começaram a sustentar que nas primeiras épocas da igreja os bispos de Roma tinham possuído o mesmo poder espiritual que assumiam agora. Para confirmar essa pretensão, era preciso empregar alguns meios com o fito de lhe dar aparência de autoridade; e isto foi prontamente sugerido pelo pai da mentira. Antigos escritos foram forjados pelos monges. Decretos de concílios de que antes nada se ouvira foram descobertos, estabelecendo a supremacia universal do papa desde os primeiros tempos. E a igreja que rejeitara a verdade, avidamente aceitou estes enganos. GC 56 2 Os poucos fiéis que construíram sobre o verdadeiro fundamento (1 Coríntios 3:10, 11), ficaram perplexos e entravados quando o entulho das falsas doutrinas obstruiu a obra. Como os edificadores sobre o muro de Jerusalém no tempo de Neemias, alguns se prontificaram a dizer: "Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito e nós não podemos edificar o muro." Neemias 4:10. Cansados da constante luta contra a perseguição, fraude, iniqüidade e todos os outros obstáculos que Satanás pudera engendrar para deter-lhes o progresso, alguns que haviam sido fiéis edificadores, desanimaram; e por amor da paz e segurança de sua propriedade e vida, desviaram-se do verdadeiro fundamento. Outros, sem se intimidarem com a oposição de seus inimigos, intrepidamente declaravam: "Não os temais: lembrai-vos do Senhor grande e terrível" (Neemias 4:14); e prosseguiam com a obra, cada qual com a espada cingida ao lado. Efésios 1:17. GC 56 3 O mesmo espírito de ódio e oposição à verdade tem inspirado os inimigos de Deus em todos os tempos, e a mesma vigilância e fidelidade têm sido exigidas de Seus servos. As palavras de Cristo aos primeiros discípulos aplicam-se aos Seus seguidores até ao final do tempo: "E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai." Marcos 13:37. GC 57 1 As trevas pareciam tornar-se mais densas. Generalizou-se a adoração das imagens. Acendiam-se velas perante imagens e orações se lhes dirigiam. Prevaleciam os costumes mais absurdos e supersticiosos. O espírito dos homens era a tal ponto dirigido pela superstição que a razão mesma parecia haver perdido o domínio. Enquanto os próprios sacerdotes e bispos eram amantes do prazer, sensuais e corruptos, só se poderia esperar que o povo que os tinha como guias se submergisse na ignorância e vício. GC 57 2 Outro passo ainda deu a presunção papal quando, no século XI, o Papa Gregório VII proclamou a perfeição da Igreja de Roma. Entre as proposições por ele apresentadas uma havia declarando que a igreja nunca tinha errado, nem jamais erraria, segundo as Escrituras. Mas as provas escriturísticas não acompanhavam a afirmação. O altivo pontífice também pretendia o poder de depor imperadores; e declarou que sentença alguma que pronunciasse poderia ser revogada por quem quer que fosse, mas era prerrogativa sua revogar as decisões de todos os outros. GC 57 3 Uma flagrante ilustração do caráter tirânico do Papa Gregório VII se nos apresenta no modo por que tratou o imperador alemão Henrique IV. Por haver intentado desprezar a autoridade do papa, declarou-o este excomungado e destronado. Aterrorizado pela deserção e ameaças de seus próprios príncipes, que por mandado do papa eram incentivados na rebelião contra ele, Henrique pressentiu a necessidade de fazer as pazes com Roma. Em companhia da esposa e de um servo fiel, atravessou os Alpes em pleno inverno, a fim de humilhar-se perante o papa. Chegando ao castelo para onde Gregório se retirara, foi conduzido, sem seus guardas, a um pátio externo, e ali, no rigoroso frio do inverno, com a cabeça descoberta, descalço e miseravelmente vestido, esperou a permissão do papa a fim de ir à sua presença. O pontífice não se dignou de conceder-lhe perdão senão depois de haver ele permanecido três dias jejuando e fazendo confissão. Isso mesmo, apenas com a condição de que o imperador esperasse a sanção do papa antes de reassumir as insígnias ou exercer o poder da realeza. E Gregório, envaidecido com seu triunfo, jactava-se de que era seu dever abater o orgulho dos reis. GC 58 1 Quão notável é o contraste entre o orgulho deste altivo pontífice e a mansidão e a suavidade de Cristo, que representa a Si mesmo à porta do coração a rogar que seja ali admitido, a fim de poder entrar para levar perdão e paz, e que ensinou a Seus discípulos: "Qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo." Mateus 20:27. GC 58 2 Os séculos que se seguiram testemunharam aumento constante de erros nas doutrinas emanadas de Roma. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos dos filósofos pagãos haviam recebido atenção e exercido influência na igreja. Muitos que se diziam conversos ainda se apegavam aos dogmas de sua filosofia pagã, e não somente continuaram no estudo desta, mas encareciam-no a outros como meio de estenderem sua influência entre os pagãos. Erros graves foram assim introduzidos na fé cristã. Destaca-se entre outros o da crença na imortalidade natural do homem e sua consciência na morte. Esta doutrina lançou o fundamento sobre o qual Roma estabeleceu a invocação dos santos e a adoração da Virgem Maria. Disto também proveio a heresia do tormento eterno para os que morrem impenitentes, a qual logo de início se incorporara à fé papal. GC 58 3 Achava-se então preparado o caminho para a introdução de ainda outra invenção do paganismo, a que Roma intitulou purgatório e empregou para amedrontar as multidões crédulas e supersticiosas. Com esta heresia afirma-se a existência de um lugar de tormento, no qual as almas dos que não mereceram condenação eterna devem sofrer castigo por seus pecados, e do qual, quando libertas da impureza, são admitidas no Céu. GC 59 1 Ainda uma outra invencionice era necessária para habilitar Roma a aproveitar-se dos temores e vícios de seus adeptos. Esta foi suprida pela doutrina das indulgências. Completa remissão dos pecados, passados, presentes e futuros, e livramento de todas as dores e penas em que os pecados importam, eram prometidos a todos os que se alistassem nas guerras do pontífice para estender seu domínio temporal, castigar seus inimigos e exterminar os que ousassem negar-lhe a supremacia espiritual. Ensinava-se também ao povo que, pelo pagamento de dinheiro à igreja, poderia livrar-se do pecado e igualmente libertar as almas de seus amigos falecidos que estivessem condenados às chamas atormentadoras. Por esses meios Roma abarrotou os cofres e sustentou a magnificência, o luxo e os vícios dos pretensos representantes dAquele que não tinha onde reclinar a cabeça. GC 59 2 A ordenança escriturística da ceia do Senhor fora suplantada pelo idolátrico sacrifício da missa. Sacerdotes papais pretendiam, mediante esse disfarce destituído de sentido, converter o simples pão e vinho no verdadeiro "corpo e sangue de Cristo." -- Conferências Sobre a "Presença Real", do Cardeal Wiseman. Com blasfema presunção pretendiam abertamente o poder de criarem Deus, o Criador de todas as coisas. Aos cristãos exigia-se, sob pena de morte, confessar sua fé nesta heresia horrível, que insulta ao Céu. Multidões que a isto se recusaram foram entregues às chamas. GC 59 3 No século XIII foi estabelecido a mais terrível de todas as armadilhas do papado -- a inquisição. O príncipe das trevas trabalhava com os dirigentes da hierarquia papal. Em seus concílios secretos, Satanás e seus anjos dirigiam a mente de homens maus, enquanto, invisível entre eles, estava um anjo de Deus, fazendo o tremendo relatório de seus iníquos decretos e escrevendo a história de ações por demais horrorosas para serem desvendadas ao olhar humano. "A grande Babilônia" estava "embriagada do sangue dos santos." Os corpos mutilados de milhões de mártires pediam vingança a Deus contra o poder apóstata. GC 60 1 O papado se tornou o déspota do mundo. Reis e imperadores curvavam-se aos decretos do pontífice romano. O destino dos homens, tanto temporal como eterno, parecia estar sob seu domínio. Durante séculos as doutrinas de Roma tinham sido extensa e implicitamente recebidas, seus ritos reverentemente praticados, suas festas geralmente observadas. Seu clero era honrado e liberalmente mantido. Nunca a Igreja de Roma atingiu maior dignidade, magnificência ou poder. GC 60 2 Mas "o meio-dia do papado foi a meia-noite do mundo." -- História do Protestantismo, de Wylie. As Sagradas Escrituras eram quase desconhecidas, não somente pelo povo mas pelos sacerdotes. Como os fariseus de outrora, os dirigentes papais odiavam a luz que revelaria os seus pecados. Removida a lei de Deus -- a norma de justiça -- exerciam eles poder sem limites e praticavam os vícios sem restrições. Prevaleciam a fraude, a avareza, a libertinagem. Os homens não recuavam de crime algum pelo qual pudessem adquirir riqueza ou posição. Os palácios dos papas e prelados eram cenários da mais vil devassidão. Alguns dos pontífices reinantes eram acusados de crimes tão revoltantes que os governadores seculares se esforçavam por depor esses dignitários da igreja como monstros demasiado vis para serem tolerados. Durante séculos a Europa não fez progresso no saber, nas artes ou na civilização. Uma paralisia moral e intelectual caíra sobre a cristandade. GC 60 3 A condição do mundo sob o poder romano apresentava o cumprimento terrível e surpreendente das palavras do profeta Oséias: "O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento. Porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei, ... visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos." Oséias 4:6. "Não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na Terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios." Oséias 4:1, 2. Foram estes os resultados do banimento da Palavra de Deus. ------------------------Capítulo 4 -- Um povo que difunde luz GC 61 1 Por entre as trevas que baixaram à Terra durante o longo período da supremacia papal, a luz da verdade não poderia ficar inteiramente extinta. Em cada época houve testemunhas de Deus -- homens que acalentavam fé em Cristo como único mediador entre Deus e o homem, que mantinham a Escritura Sagrada como a única regra de vida, e santificavam o verdadeiro sábado. Quanto o mundo deve a estes homens, a posteridade jamais saberá. Foram estigmatizados como hereges, impugnados os seus motivos, criticado o seu caráter, e suprimidos, difamados ou mutilados os seus escritos. No entanto, permaneceram firmes, e de século em século mantiveram a fé em sua pureza como sagrado legado às gerações vindouras. GC 61 2 A história do povo de Deus durante os séculos de trevas que se seguiram à supremacia de Roma, está escrita no Céu, mas pouco espaço ocupa nos registros humanos. Poucos traços de sua existência se podem encontrar, a não ser nas acusações de seus perseguidores. Foi tática de Roma obliterar todo vestígio de dissidência de suas doutrinas ou decretos. Tudo que fosse herético, quer pessoas quer escritos, procurava ela destruir. Expressões de dúvida ou questões quanto à autoridade dos dogmas papais eram suficientes para tirar a vida do rico ou pobre, elevado ou humilde. Roma se esforçava também por destruir todo registro de sua crueldade para com os que discordavam dela. Os concílios papais decretavam que livros ou escritos contendo relatos desta natureza deviam ser lançados às chamas. Antes da invenção da imprensa, os livros eram pouco numerosos, e de forma desfavorável à preservação; portanto, pouco havia a impedir que os romanistas levassem a efeito o seu desígnio. GC 62 1 Nenhuma igreja dentro dos limites da jurisdição romana ficou muito tempo sem ser perturbada no gozo da liberdade de consciência. Mal o papado obtivera poder, estendeu os braços para esmagar a todos os que se recusassem a reconhecer-lhe o domínio; e, uma após outra, submeteram-se as igrejas ao seu governo. GC 62 2 Na Grã-Bretanha o primitivo cristianismo muito cedo deitou raízes. O evangelho, recebido pelos bretões nos primeiros séculos, não se achava então corrompido pela apostasia romana. A perseguição dos imperadores pagãos, que se estendeu mesmo até àquelas praias distantes, foi a única dádiva que a primeira igreja da Bretanha recebeu de Roma. Muitos dos cristãos, fugindo da perseguição na Inglaterra, encontraram refúgio na Escócia; daí a verdade foi levada à Irlanda, sendo em todos estes países recebida com alegria. GC 62 3 Quando os saxões invadiram a Bretanha, o paganismo conseguiu predomínio. Os conquistadores desdenharam ser instruídos por seus escravos, e os cristãos foram obrigados a retirar-se para as montanhas e os pântanos. Não obstante, a luz por algum tempo oculta continuou a arder. Na Escócia, um século mais tarde, brilhou ela com um fulgor que se estendeu a mui longínquas terras. Da Irlanda vieram o piedoso Columba e seus colaboradores, os quais, reunindo em torno de si os crentes dispersos da solitária ilha de Iona, fizeram desta o centro de seus trabalhos missionários. Entre estes evangelistas encontrava-se um observador do sábado bíblico, e assim esta verdade foi introduzida entre o povo. Estabeleceu-se uma escola em Iona, da qual saíram missionários, não somente para a Escócia e Inglaterra, mas para a Alemanha, Suíça e mesmo para a Itália. GC 62 4 Roma, porém, fixara os olhos na Bretanha e resolvera pô-la sob sua supremacia. No século VI seus missionários empreenderam a conversão dos pagãos saxões. Foram recebidos com favor pelos orgulhosos bárbaros, e induziram muitos milhares a professar a fé romana. O trabalho progredia e os dirigentes papais e seus conversos encontraram os cristãos primitivos. Eloqüente contraste se apresentou. Os últimos eram simples, humildes e de caráter, doutrina e maneiras segundo as Escrituras, ao passo que os primeiros manifestavam a superstição, a pompa e a arrogância do papado. O emissário de Roma exigiu que estas igrejas cristãs reconhecessem a supremacia do soberano pontífice. Os bretões mansamente replicaram que desejavam amar a todos os homens, mas que o papa não tinha direito à supremacia na igreja, e que eles poderiam prestar-lhe somente a submissão devida a todo seguidor de Cristo. Repetidas tentativas foram feitas para se conseguir sua adesão a Roma; mas esses humildes cristãos, espantados com o orgulho ostentado por seus emissários, firmemente replicavam que não conheciam outro mestre senão a Cristo. Revelou-se, então, o verdadeiro espírito do papado. Disse o chefe romano: "Se não receberdes irmãos que vos trazem paz, recebereis inimigos que vos trarão guerra. Se vos não unirdes conosco para mostrar aos saxões o caminho da vida, recebereis deles o golpe de morte." -- História da Reforma do Século XVI, D'Aubigné. Não era isto simples ameaça. Guerra, intriga e engano foram empregados contra as testemunhas de uma fé bíblica, até que as igrejas da Bretanha foram destruídas ou obrigadas a submeter-se à autoridade do papa. GC 63 1 Em terras que ficavam além da jurisdição de Roma, existiram por muitos séculos corporações de cristãos que permaneceram quase inteiramente livres da corrupção papal. Estavam rodeados de pagãos e, no transcorrer dos séculos, foram afetados por seus erros; mas continuaram a considerar a Escritura Sagrada como a única regra de fé, aceitando muitas de suas verdades. Estes cristãos acreditavam na perpetuidade da lei de Deus e observavam o sábado do quarto mandamento. Igrejas que se mantinham nesta fé e prática, existiram na África Central e entre os armênios, na Ásia. GC 64 1 Mas dentre os que resistiram ao cerco cada vez mais apertado do poder papal, os valdenses ocuparam posição preeminente. A falsidade e corrupção papal encontraram a mais decidida resistência na própria terra em que o papa fixara a sede. Durante séculos as igrejas do Piemonte mantiveram-se independentes; mas afinal chegou o tempo em que Roma insistiu em submetê-las. Depois de lutas inúteis contra a tirania, os dirigentes destas igrejas reconheceram relutantemente a supremacia do poder a que o mundo todo parecia render homenagem. Alguns houve, entretanto, que se recusaram a ceder à autoridade do papa ou do prelado. Estavam decididos a manter sua fidelidade a Deus, e preservar a pureza e simplicidade de fé. Houve separação. Os que se apegaram à antiga fé, retiraram-se; alguns, abandonando os Alpes nativos, alçaram a bandeira da verdade em terras estrangeiras; outros se retraíram para os vales afastados e fortalezas das montanhas, e ali preservaram a liberdade de culto a Deus. GC 64 2 A fé que durante muitos séculos fora mantida e ensinada pelos cristãos valdenses, estava em assinalado contraste com as falsas doutrinas que Roma apresentava. Sua crença religiosa baseava-se na Palavra escrita de Deus -- o verdadeiro documento religioso do cristianismo. Mas aqueles humildes camponeses, em seu obscuro retiro, excluídos do mundo e presos à labuta diária entre seus rebanhos e vinhedos, não haviam por si sós chegado à verdade em oposição aos dogmas e heresias da igreja apóstata. A fé que professavam não era nova. Sua crença religiosa era a herança de seus pais. Lutavam pela fé da igreja apostólica -- a "fé que uma vez foi dada aos santos." Judas 3. "A igreja no deserto" e não a orgulhosa hierarquia entronizada na grande capital do mundo, era a verdadeira igreja de Cristo, a depositária dos tesouros da verdade que Deus confiara a Seu povo para ser dada ao mundo. GC 65 1 Entre as principais causas que levaram a igreja verdadeira a separar-se da de Roma, estava o ódio desta ao sábado bíblico. Conforme fora predito pela profecia, o poder papal lançou a verdade por terra. A lei de Deus foi lançada ao pó, enquanto se exaltavam as tradições e costumes dos homens. As igrejas que estavam sob o governo do papado, foram logo compelidas a honrar o domingo como dia santo. No meio do erro e superstição que prevaleciam, muitos, mesmo dentre o verdadeiro povo de Deus, ficaram tão desorientados que ao mesmo tempo em que observavam o sábado, abstinham-se do trabalho também no domingo. Isto, porém, não satisfazia aos chefes papais. Exigiam não somente que fosse santificado o domingo, mas que o sábado fosse profanado; e com a mais violenta linguagem denunciavam os que ousavam honrá-lo. Era unicamente fugindo ao poder de Roma que alguém poderia em paz obedecer à lei de Deus. GC 65 2 Os valdenses foram os primeiros dentre os povos da Europa a obter a tradução das Sagradas Escrituras. Centenas de anos antes da Reforma, possuíam a Bíblia em manuscrito, na língua materna. Tinham a verdade incontaminada, e isto os tornava objeto especial do ódio e perseguição. Declaravam ser a Igreja de Roma a Babilônia apóstata do Apocalipse, e com perigo de vida erguiam-se para resistir a suas corrupções. Opressos pela prolongada perseguição, alguns comprometeram sua fé, cedendo pouco a pouco em seus princípios distintivos, enquanto outros sustentavam firme a verdade. Durante séculos de trevas e apostasia, houve alguns dentre os valdenses que negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens como idolatria e guardavam o verdadeiro sábado. Sob as mais atrozes tempestades da oposição conservaram a fé. Perseguidos embora pela espada dos saboianos (França) e queimados pela fogueira romana, mantiveram-se sem hesitação ao lado da Palavra de Deus e de Sua honra. GC 65 3 Por trás dos elevados baluartes das montanhas -- em todos os tempos refúgio dos perseguidos e oprimidos -- os valdenses encontraram esconderijo. Ali, conservou-se a luz da verdade a arder por entre as trevas da Idade Média. Ali, durante mil anos, testemunhas da verdade mantiveram a antiga fé. GC 66 1 Deus providenciara para Seu povo um santuário de majestosa grandeza, de acordo com as extraordinárias verdades confiadas à sua guarda. Para os fiéis exilados, eram as montanhas um emblema da imutável justiça de Jeová. Apontavam eles a seus filhos as alturas sobranceiras, em sua imutável majestade, e falavam-lhes dAquele em quem não há mudança nem sombra de variação, cuja Palavra é tão perdurável como os montes eternos. Deus estabelecera firmemente as montanhas e as cingira de fortaleza; braço algum, a não ser o do Poder infinito, poderia movê-las do lugar. De igual maneira estabelecera Ele a Sua lei -- fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. O braço do homem poderia atingir a seus semelhantes e destruir-lhes a vida; mas esse braço seria tão impotente para desarraigar as montanhas de seu fundamento e precipitá-las no mar, como para mudar um preceito da lei de Jeová ou anular qualquer de Suas promessas aos que Lhe fazem a vontade. Na fidelidade para com a Sua lei, os servos de Deus deviam ser tão firmes como os outeiros imutáveis. GC 66 2 As montanhas que cingiam os fundos vales eram testemunhas constantes do poder criador de Deus e afirmação sempre infalível de Seu cuidado protetor. Esses peregrinos aprenderam a amar os símbolos silenciosos da presença de Jeová. Não condescendiam com murmurações por causa das agruras da sorte; nunca se sentiam abandonados na solidão das montanhas. Agradeciam a Deus por haver-lhes provido refúgio da ira e crueldade dos homens. Regozijavam-se diante dEle na liberdade de prestar culto. Muitas vezes, quando perseguidos pelos inimigos, a fortaleza das montanhas se provara ser defesa segura. De muitos rochedos elevados entoavam eles louvores a Deus e os exércitos de Roma não podiam fazer silenciar seus cânticos de ações de graças. GC 67 1 Pura, singela e fervorosa era a piedade desses seguidores de Cristo. Os princípios da verdade, avaliavam-nos eles acima de casas e terras, amigos, parentes e mesmo da própria vida. Semelhantes princípios ardorosamente procuravam eles gravar no coração dos jovens. Desde a mais tenra infância os jovens eram instruídos nas Escrituras, e ensinava-se-lhes a considerar santos os requisitos da lei de Deus. Sendo raros os exemplares das Escrituras Sagradas, eram suas preciosas palavras confiadas à memória. Muitos eram capazes de repetir longas porções tanto do Antigo como do Novo Testamento. Os pensamentos de Deus associavam-se ao sublime cenário da Natureza e às humildes bênçãos da vida diária. Criancinhas aprendiam a olhar com gratidão a Deus como o Doador de toda mercê e conforto. GC 67 2 Os pais, ternos e afetuosos como eram, tão sabiamente amavam os filhos que não permitiam que se habituassem à condescendência própria. Esboçava-se diante deles uma vida de provações e agruras, talvez a morte de mártir. Eram ensinados desde a infância a suportar rudezas, a sujeitar-se ao domínio, e contudo a pensar e agir por si mesmos. Muito cedo eram ensinados a encarar responsabilidades, a serem precavidos no falar e a compreenderem a sabedoria do silêncio. Uma palavra indiscreta que deixassem cair no ouvido dos inimigos, poderia pôr em perigo não somente a vida do que falava, mas a de centenas de seus irmãos; pois, semelhantes a lobos à caça da presa, os inimigos da verdade perseguiam os que ousavam reclamar liberdade para a fé religiosa. GC 67 3 Os valdenses haviam sacrificado a prosperidade temporal por amor à verdade, e com paciência perseverante labutavam para ganhar o pão. Cada recanto de terra cultivável entre as montanhas era cuidadosamente aproveitado; fazia-se com que os vales e as encostas menos férteis das colinas também produzissem. A economia e a severa renúncia de si próprio formavam parte da educação que os filhos recebiam como seu único legado. Ensinava-se-lhes que Deus determinara fosse a vida uma disciplina e que suas necessidades poderiam ser supridas apenas mediante o trabalho pessoal, previdência, cuidado e fé. O processo era laborioso e fatigante, mas salutar, precisamente o de que o homem necessita em seu estado decaído -- escola que Deus proveu para o seu ensino e desenvolvimento. Enquanto os jovens se habituavam ao trabalho e asperezas, a cultura do intelecto não era negligenciada. Ensinava-se-lhes que todas as suas capacidades pertenciam a Deus, e que deveriam todas ser aperfeiçoadas e desenvolvidas para o Seu serviço. GC 68 1 As igrejas valdenses, em sua pureza e simplicidade, assemelhavam-se à igreja dos tempos apostólicos. Rejeitando a supremacia do papa e prelados, mantinham a Escritura Sagrada como a única autoridade suprema, infalível. Seus pastores, diferentes dos altivos sacerdotes de Roma, seguiam o exemplo de seu Mestre que "veio não para ser servido, mas para servir." Alimentavam o rebanho de Deus, guiando-os às verdes pastagens e fontes vivas de Sua santa Palavra. Longe dos monumentos da pompa e orgulho humano, o povo congregava-se, não em igrejas suntuosas ou grandes catedrais, mas à sombra das montanhas nos vales alpinos, ou, em tempo de perigo, em alguma fortaleza rochosa, a fim de escutar as palavras da verdade proferidas pelos servos de Cristo. Os pastores não somente pregavam o evangelho, mas visitavam os doentes, doutrinavam as crianças, admoestavam aos que erravam e trabalhavam para resolver as questões e promover harmonia e amor fraternal. Em tempos de paz eram sustentados por ofertas voluntárias do povo; mas, como Paulo, o fabricante de tendas, cada qual aprendia um ofício ou profissão, mediante a qual, sendo necessário, proveria o sustento próprio. GC 68 2 De seus pastores recebiam os jovens instrução. Conquanto se desse atenção aos ramos dos conhecimentos gerais, fazia-se da Escritura Sagrada o estudo principal. Os evangelhos de Mateus e João eram confiados à memória, juntamente com muitas das epístolas. Também se ocupavam em copiar as Escrituras. Alguns manuscritos continham a Bíblia toda, outros apenas breves porções, a que algumas simples explicações do texto eram acrescentadas por aqueles que eram capazes de comentar as Escrituras. Assim se apresentavam os tesouros da verdade durante tanto tempo ocultos pelos que procuravam exaltar-se acima de Deus. GC 69 1 Mediante pacientes e incansáveis labores, por vezes nas profundas e escuras cavernas da Terra, à luz de archotes, eram copiadas as Escrituras Sagradas, versículo por versículo, capítulo por capítulo. Assim a obra prosseguia, resplandecendo, qual ouro puro, a vontade revelada de Deus; e quanto mais brilhante, clara e poderosa era por causa das provações que passavam por seu amor, apenas o poderiam compreender os que se achavam empenhados em obra semelhante. Anjos celestiais circundavam os fiéis obreiros. GC 69 2 Satanás incitara sacerdotes e prelados a enterrarem a Palavra da verdade sob a escória do erro, heresia e superstição; mas de modo maravilhosíssimo foi ela conservada incontaminada através de todos os séculos de trevas. Não trazia o cunho do homem, mas a impressão divina. Os homens se têm demonstrado incansáveis em seus esforços para obscurecer o claro e simples sentido das Escrituras, e fazê-las contradizerem seu próprio testemunho; porém, semelhante à arca sobre as profundas águas encapeladas, a Palavra de Deus leva de vencida as borrascas que a ameaçam de destruição. Assim como tem a mina ricos veios de ouro e prata ocultos por sob a superfície, de maneira que todos os que desejam descobrir os preciosos depósitos devem cavar, assim as Sagradas Escrituras têm tesouros de verdade que são revelados unicamente ao ardoroso, humilde e devoto pesquisador. Deus destinara a Bíblia a ser um compêndio para toda a humanidade, na infância, juventude e idade madura, devendo ser estudada através de todos os tempos. Deu Sua Palavra aos homens como revelação de Si mesmo. Cada nova verdade que se divisa é uma nova revelação do caráter de seu Autor. O estudo das Escrituras é o meio divinamente ordenado para levar o homem a mais íntima comunhão com seu Criador e dar-lhe mais claro conhecimento de Sua vontade. É o meio de comunicação entre Deus e o homem. GC 69 3 Conquanto os valdenses considerassem o temor do Senhor como o princípio da sabedoria, não eram cegos no tocante à importância do contato com o mundo, do conhecimento dos homens e da vida ativa, para expandir o espírito e avivar as percepções. De suas escolas nas montanhas alguns dos jovens foram enviados a instituições de ensino nas cidades da França ou Itália, onde havia campo mais vasto para o estudo, pensamento e observação, do que nos Alpes nativos. Os jovens assim enviados estavam expostos à tentação, testemunhavam o vício, defrontavam-se com os astuciosos agentes de Satanás, que lhes queriam impor as mais sutis heresias e os mais perigosos enganos. Mas sua educação desde a meninice fora de molde a prepará-los para tudo isto. GC 70 1 Nas escolas aonde iam, não deveriam fazer confidentes a quem quer que fosse. Suas vestes eram preparadas de maneira a ocultar seu máximo tesouro -- os preciosos manuscritos das Escrituras. A estes, fruto de meses e anos de labuta, levavam consigo e, sempre que o podiam fazer sem despertar suspeita, cautelosamente punham uma porção ao alcance daqueles cujo coração parecia aberto para receber a verdade. Desde os joelhos da mãe a juventude valdense havia sido educada com este propósito em vista; compreendiam o trabalho, e fielmente o executavam. Ganhavam-se conversos à verdadeira fé nessas instituições de ensino, e freqüentemente se encontravam seus princípios a penetrar a escola toda; contudo os chefes papais não podiam pelo mais minucioso inquérito descobrir a fonte da chamada heresia corruptora. GC 70 2 O espírito de Cristo é espírito missionário. O primeiro impulso do coração regenerado é levar outros também ao Salvador. Tal foi o espírito dos cristãos valdenses. Compreendiam que Deus exigia mais deles do que simplesmente preservar a verdade em sua pureza, nas suas próprias igrejas; e que sobre eles repousava a solene responsabilidade de deixarem sua luz resplandecer aos que se achavam em trevas. Pelo forte poder da Palavra de Deus procuravam romper o cativeiro que Roma havia imposto. GC 70 3 Os ministros valdenses eram educados como missionários, exigindo-se primeiramente de cada um que tivesse a expectativa de entrar para o ministério, aquisição de experiência como evangelista. Cada um deveria servir três anos em algum campo missionário antes de assumir o encargo de uma igreja em seu país. Este serviço, exigindo logo de começo renúncia e sacrifício, era introdução apropriada à vida pastoral naqueles tempos que punham à prova a alma. Os jovens que recebiam a ordenação para o sagrado mister, viam diante de si, não a perspectiva de riquezas e glória terrestre, mas uma vida de trabalhos e perigo, e possivelmente o destino de mártir. Os missionários iam de dois em dois, como Jesus enviara Seus discípulos. Cada jovem tinha usualmente por companhia um homem de idade e experiência, achando-se aquele sob a orientação do companheiro, que ficava responsável por seu ensino, e a cuja instrução se esperava que seguisse. Estes coobreiros não estavam sempre juntos, mas muitas vezes se reuniam para orar e aconselhar-se, fortalecendo-se assim mutuamente na fé. GC 71 1 Tornar conhecido o objetivo de sua missão seria assegurar a derrota; ocultavam, portanto, cautelosamente seu verdadeiro caráter. Cada ministro possuía conhecimento de algum ofício ou profissão e os missionários prosseguiam na obra sob a aparência de vocação secular. Usualmente escolhiam a de mercador ou vendedor ambulante. "Levavam sedas, jóias e outros artigos, que naquele tempo não se compravam facilmente, a não ser em mercados distantes; e eram bem recebidos como negociantes onde teriam sido repelidos como missionários." -- Wylie. Em todo o tempo seu coração se levantava a Deus rogando sabedoria a fim de apresentar um tesouro mais precioso do que o ouro ou jóias. Levavam secretamente consigo exemplares da Escritura Sagrada, no todo ou em parte; quando quer que se apresentasse oportunidade, chamavam a atenção dos fregueses para os manuscritos. Muitas vezes assim se despertava o interesse de ler a Palavra de Deus, e alguma porção era de bom grado deixada com os que a desejavam receber. GC 71 2 A obra destes missionários começava nas planícies e vales ao pé de suas próprias montanhas, mas estendia-se muito além destes limites. Descalços e com vestes singelas e poentas da jornada como eram as de seu Mestre, passavam por grande cidades e penetravam em longínquas terras. Por toda parte espalhavam a preciosa verdade. Surgiam igrejas em seu caminho e o sangue dos mártires testemunhava da verdade. O dia de Deus revelará rica colheita de almas enceleiradas pelos labores destes homens fiéis. Velada e silenciosa, a Palavra de Deus rompia caminho através da cristandade e tinha alegre acolhida nos lares e corações. GC 72 1 Para os valdenses não eram as Escrituras simplesmente o registro do trato de Deus para com os homens no passado e a revelação das responsabilidades e deveres do presente, mas o desvendar dos perigos e glórias do futuro. Acreditavam que o fim de todas as coisas não estava muito distante; e, estudando a Bíblia com oração e lágrimas, mais profundamente se impressionavam com suas preciosas declarações e com o dever de tornar conhecidas a outros as suas verdades salvadoras. Viam o plano da salvação claramente revelado nas páginas sagradas e encontravam conforto, esperança e paz crendo em Jesus. Ao iluminar-lhes a luz o entendimento e ao alegrar-lhes ela o coração, anelavam derramar seus raios sobre os que se achavam nas trevas do erro papal. GC 72 2 Viam que sob a direção do papa e sacerdotes, multidões em vão se esforçavam por obter perdão afligindo o corpo por causa do pecado da alma. Ensinados a confiar nas boas obras para se salvarem, estavam sempre a olhar para si mesmos, ocupando a mente com a sua condição pecaminosa, vendo-se expostos à ira de Deus, afligindo alma e corpo, não achando, contudo, alívio. Almas conscienciosas eram, assim, enredadas pelas doutrinas de Roma. Milhares abandonavam amigos e parentes, passando a vida nas celas dos conventos. Por meio de freqüentes jejuns e cruéis açoitamentos, por vigílias à meia-noite, prostrando-se durante horas cansativas sobre as lajes frias e úmidas de sua sombria habitação, por longas peregrinações, penitências humilhantes e terrível tortura, milhares procuravam inutilmente obter paz de consciência. Oprimidos por uma intuição de pecado e perseguidos pelo temor da ira vingadora de Deus, muitos continuavam a sofrer até que a natureza exausta se rendia e, sem um resquício de luz ou esperança, baixavam à sepultura. GC 73 1 Os valdenses ansiavam por partir a estas almas famintas o pão da vida, revelar-lhes as mensagens de paz das promessas de Deus e apontar-lhes a Cristo como a única esperança de salvação. Tinham por falsa a doutrina de que as boas obras podem expiar a transgressão da lei de Deus. A confiança nos méritos humanos faz perder de vista o amor infinito de Cristo. Jesus morreu como sacrifício pelo homem porque a raça caída nada pode fazer para se recomendar a Deus. Os méritos de um Salvador crucificado e ressurgido são o fundamento da fé cristã. A dependência da alma para com Cristo é tão real, e sua união com Ele deve ser tão íntima como a do membro para com o corpo, ou da vara para com a videira. GC 73 2 Os ensinos dos papas e sacerdotes haviam levado os homens a considerar o caráter de Deus, e mesmo o de Cristo, como severo, sombrio e repelente. Representava-se o Salvador tão destituído de simpatia para com o homem em seu estado decaído, que devia ser invocada a mediação de sacerdotes e santos. Aqueles cuja mente fora iluminada pela Palavra de Deus, anelavam guiar estas almas a Jesus, como seu compassivo e amante Salvador que permanece de braços estendidos a convidar todos a irem a Ele com seu fardo de pecados, seus cuidados e fadigas. Almejavam remover os obstáculos que Satanás havia acumulado para que os homens não pudessem ver as promessas, e ir diretamente a Deus, confessando os pecados e obtendo perdão e paz. GC 73 3 Ardorosamente desvendava o missionário valdense as preciosas verdades do evangelho ao espírito inquiridor. Citava com precaução as porções cuidadosamente copiadas da Sagrada Escritura. Era a sua máxima alegria infundir esperança à alma conscienciosa, ferida pelo pecado, e que tão-somente podia ver um Deus de vingança, esperando para executar justiça. Com lábios trêmulos e olhos lacrimosos, muitas vezes com os joelhos curvados, expunha a seus irmãos as preciosas promessas que revelam a única esperança do pecador. Assim a luz da verdade penetrava muitas almas obscurecidas, fazendo recuar a nuvem sombria até que o Sol da Justiça resplandecesse no coração, trazendo saúde em seus raios. Dava-se amiúde o caso de alguma porção das Escrituras ser lida várias vezes, desejando o ouvinte que fosse repetida, como se quisesse assegurar-se de que tinha ouvido bem. Em especial se desejava, de maneira ávida, a repetição destas palavras: "O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado." 1 João 1:7. "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:14, 15. GC 74 1 Muitos não se iludiam em relação às pretensões de Roma. Viam quão vã é a mediação de homens ou anjos em favor do pecador. Raiando-lhes na mente a verdadeira luz, exclamavam com regozijo: "Cristo é meu Sacerdote; Seu sangue é meu sacrifício; Seu altar é meu confessionário." Confiavam-se inteiramente aos méritos de Jesus, repetindo as palavras: "Sem fé é impossível agradar-Lhe." Hebreus 11:6. "Nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos." Atos 4:12. GC 74 2 A certeza do amor de um Salvador parecia, a algumas destas pobres almas agitadas pela tempestade, coisa por demais vasta para ser abrangida. Tão grande era o alívio que sentiam, tal a inundação de luz que lhes sobrevinha, que pareciam transportadas ao Céu. Punham confiantemente suas mãos na de Cristo; firmavam os pés sobre a Rocha dos séculos. Bania-se todo o temor da morte. Podiam agora ambicionar a prisão e a fogueira se desse modo honrassem o nome de seu Redentor. GC 74 3 Em lugares ocultos era a Palavra de Deus apresentada e lida, algumas vezes a uma única alma, outras, a um pequeno grupo que anelava a luz e a verdade. Amiúde a noite toda era passada desta maneira. Tão grande era o assombro e admiração dos ouvintes que o mensageiro da misericórdia freqüentemente se via obrigado a cessar a leitura até que o entendimento pudesse apreender as boas novas da salvação. Era comum proferirem-se palavras como estas: "Aceitará Deus em verdade a minha oferta? Olhar-me-á benignamente? Perdoar-me-á Ele?" Lia-se a resposta: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. GC 75 1 A fé se apegava à promessa, ouvia-se a alegre resposta: "Nada mais de longas peregrinações; nada de penosas jornadas aos relicários sagrados. Posso ir a Jesus tal como estou, pecador e ímpio, e Ele não desprezará a oração de arrependimento. 'Perdoados te são os teus pecados.' Os meus pecados, efetivamente os meus, podem ser perdoados!" GC 75 2 Enchia o coração uma onda de sagrada alegria, e o nome de Jesus era engrandecido em louvores e ações de graças. Estas almas felizes voltavam para casa a fim de difundir a luz, repetir a outros, tão bem quanto podiam, a nova experiência, de que acharam o Caminho verdadeiro e vivo. Havia um estranho e solene poder nas palavras das Escrituras, que falava diretamente ao coração dos que se achavam anelantes pela verdade. Era a voz de Deus e levava a convicção aos que ouviam. GC 75 3 O mensageiro da verdade continuava o seu caminho; mas seu aspecto de humildade, sua sinceridade, ardor e profundo fervor, eram assuntos de observação freqüente. Em muitos casos os ouvintes não lhe perguntavam donde viera ou para onde ia. Ficavam tão dominados, a princípio pela surpresa e depois pela gratidão e alegria, que não pensavam em interrogá-lo. Quando insistiam com ele para os acompanhar a suas casas, respondia-lhes que devia visitar as ovelhas perdidas do rebanho. Não seria ele um anjo do Céu? indagavam. GC 76 4 Em muitos casos não mais se via o mensageiro da verdade. Seguira para outros países, ou a vida se lhe consumia em algum calabouço desconhecido, ou talvez seus ossos estivessem alvejando no local em que testificara da verdade. Mas as palavras que deixara após si, não poderiam ser destruídas. Estavam a fazer sua obra no coração dos homens; os benditos resultados só no dia do juízo se revelarão plenamente. GC 76 1 Os missionários valdenses estavam invadindo o reino de Satanás, e os poderes das trevas despertaram para maior vigilância. Todo esforço para avanço da verdade era observado pelo príncipe do mal, e ele excitava os temores de seus agentes. Os chefes papais viram grande perigo para a sua causa no trabalho destes humildes itinerantes. Se fosse permitido à luz da verdade resplandecer sem impedimento, varreria as pesadas nuvens de erro que envolviam o povo; haveria de dirigir o espírito dos homens a Deus unicamente, talvez destruindo, afinal, a supremacia de Roma. GC 76 2 A própria existência deste povo, mantendo a fé da antiga igreja, era testemunho constante da apostasia de Roma, e portanto excitava o ódio e perseguição mais atrozes. Sua recusa de renunciar às Escrituras era também ofensa que Roma não podia tolerar. Decidiu-se ela a exterminá-los da Terra. Começaram então as mais terríveis cruzadas contra o povo de Deus em seus lares montesinos. Puseram-se inquisidores em suas pegadas, e a cena do inocente Abel tombando ante o assassino Caim repetia-se freqüentemente. GC 76 3 Reiteradas vezes foram devastadas as suas férteis terras, destruídas as habitações e capelas, de maneira que onde houvera campos florescentes e lares de um povo simples e laborioso, restava apenas um deserto. Assim como o animal de rapina se torna mais feroz provando sangue, a ira dos sectários do papa acendia-se com maior intensidade com o sofrimento de suas vítimas. Muitas destas testemunhas da fé pura foram perseguidas através das montanhas e caçadas nos vales em que se achavam escondidas, encerradas por enormes florestas e cumes rochosos. GC 76 4 Nenhuma acusação se poderia fazer contra o caráter moral da classe proscrita. Mesmo seus inimigos declaravam serem eles um povo pacífico, sossegado e piedoso. Seu grande crime era não quererem adorar a Deus segundo a vontade do papa. Por tal crime, toda humilhação, insulto e tortura que homens ou diabos podiam inventar, amontoaram-se sobre eles. GC 77 1 Determinando-se Roma a exterminar a odiada seita, uma bula foi promulgada pelo papa, condenando-os como hereges e entregando-os ao morticínio. Não eram acusados como ociosos, desonestos ou desordeiros; mas declarava-se que tinham uma aparência de piedade e santidade que seduzia "as ovelhas do verdadeiro aprisco." Portanto ordenava o papa que "aquela maligna e abominável seita de perversos", caso se recusasse a renunciar, "fosse esmagada como serpentes venenosas." -- Wylie. Esperava o altivo potentado ter de responder por estas palavras? Sabia que estavam registradas nos livros do Céu, para lhe serem apresentadas no juízo? "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos", disse Jesus, "a Mim o fizestes." Mateus 25:40. GC 77 2 Essa bula convocava a todos os membros da igreja para se unirem à cruzada contra os hereges. Como incentivo para se empenharem na obra cruel, "absolvia de todas as penas e castigos eclesiásticos, gerais e particulares; desobrigava a todos os que se unissem à cruzada, de qualquer juramento que pudessem ter feito; legitimava-lhes o direito a qualquer propriedade que pudessem ter ilegalmente adquirido; e prometia remissão de todos os pecados aos que matassem algum herege. Anulava todos os contratos feitos em favor dos valdenses, ordenava que seus criados os abandonassem, proibia a toda pessoa dar-lhes qualquer auxílio que fosse e a todos permitia tomar posse de sua propriedade." -- Wylie. Este documento revela claramente o espírito que o ditou. É o bramido do dragão, e não a voz de Cristo, que nele se ouve. GC 77 3 Os dirigentes papais não queriam conformar seu caráter com a grande norma da lei de Deus, mas erigiram uma norma que lhes fosse conveniente, e decidiram obrigar todos a se conformarem com a mesma porque Roma assim o desejava. As mais horríveis tragédias foram encenadas. Sacerdotes e papas corruptos e blasfemos estavam a fazer a obra que Satanás lhes designava. A misericórdia não encontrava guarida em sua natureza. O mesmo espírito que crucificou Cristo e matou os apóstolos, o mesmo que impulsionou o sanguinário Nero contra os fiéis de seu tempo, estava em operação a fim de exterminar da Terra os que eram amados de Deus. GC 78 1 As perseguições desencadeadas durante muitos séculos sobre este povo temente a Deus, foram por ele suportadas com uma paciência e constância que honravam seu Redentor. Apesar das cruzadas contra eles e da desumana carnificina a que foram sujeitos, continuavam a mandar seus missionários a espalhar a preciosa verdade. Eram perseguidos até à morte; contudo, seu sangue regava a semente lançada, e esta não deixou de produzir fruto. Assim os valdenses testemunharam de Deus, séculos antes do nascimento de Lutero. Dispersos em muitos países, plantaram a semente da Reforma que se iniciou no tempo de Wycliffe, cresceu larga e profundamente nos dias de Lutero, e deve ser levada avante até ao final do tempo por aqueles que também estão dispostos a sofrer todas as coisas pela "Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo." Apocalipse 1:9. ------------------------Capítulo 5 -- Arautos de uma era melhor GC 79 1 Antes da Reforma, houve por vezes pouquíssimos exemplares da Escritura Sagrada; mas Deus não consentira que Sua Palavra fosse totalmente destruída. Suas verdades não deveriam estar ocultas para sempre. Tão facilmente poderia Ele desacorrentar as palavras da vida como abrir portas de prisões e desaferrolhar portais de ferro para pôr em liberdade a Seus servos. Nos vários países da Europa homens eram movidos pelo Espírito de Deus a buscar a verdade como a tesouros escondidos. Providencialmente guiados às Santas Escrituras, estudavam as páginas sagradas com interesse profundo. Estavam dispostos a aceitar a luz, a qualquer custo. Posto que não vissem todas as coisas claramente, puderam divisar muitas verdades havia muito sepultadas. Como mensageiros enviados pelo Céu, saíam, rompendo as cadeias do erro e superstição e chamando aos que haviam estado durante tanto tempo escravizados, a levantar-se e assegurar sua liberdade. GC 79 2 Com exceção do que se passava entre os valdenses, a Palavra de Deus estivera durante séculos encerrada em línguas apenas conhecidas pelos eruditos; chegara, porém, o tempo para que as Escrituras fossem traduzidas e entregues ao povo dos vários países em sua língua materna. Passara para o mundo a meia-noite. As horas de trevas estavam a esvair-se, e em muitas terras apareciam indícios da aurora a despontar. GC 80 1 No século XIV surgiu na Inglaterra um homem que devia ser considerado "a estrela da manhã da Reforma." João Wycliffe foi o arauto da Reforma, não somente para a Inglaterra mas para toda a cristandade. O grande protesto contra Roma, que lhe foi dado proferir, jamais deveria silenciar. Aquele protesto abriu a luta de que deveria resultar a emancipação de indivíduos, igrejas e nações. GC 80 2 Wycliffe recebeu educação liberal, e para ele o temor do Senhor era o princípio da sabedoria. No colégio se distinguira pela fervorosa piedade bem como por seus notáveis talentos e perfeito preparo escolar. Em sua sede de saber procurava familiarizar-se com todo ramo de conhecimento. Foi educado na filosofia escolástica, nos cânones da igreja e na lei civil, especialmente a de seu próprio país. Em seus trabalhos subseqüentes evidenciou-se o valor destes primeiros estudos. Um conhecimento proficiente da filosofia especulativa de seu tempo, habilitou-o a expor os erros dela; e, mediante o estudo das leis civis e eclesiásticas, preparou-se para entrar na grande luta pela liberdade civil e religiosa. Não só sabia manejar as armas tiradas da Palavra de Deus, mas também havia adquirido a disciplina intelectual das escolas e compreendia a tática dos teólogos escolásticos. O poder de seu gênio e a extensão e proficiência de seus conhecimentos impunham o respeito de amigos bem como de inimigos. Seus adeptos viam com satisfação que seu herói ocupava lugar preeminente entre os espíritos dirigentes da nação; e seus inimigos eram impedidos de lançar o desprezo à causa da Reforma, exprobrando a ignorância ou fraqueza do que a mantinha. GC 80 3 Quando ainda no colégio, Wycliffe passou a estudar as Escrituras Sagradas. Naqueles primitivos tempos em que a Bíblia existia apenas nas línguas antigas, os eruditos estavam habilitados a encontrar o caminho para a fonte da verdade, o qual se achava fechado às classes incultas. Assim, já fora preparado o caminho para o trabalho futuro de Wycliffe como Reformador. Homens de saber haviam estudado a Palavra de Deus e encontrado a grande verdade de Sua livre graça, ali revelada. Em seus ensinos tinham disseminado o conhecimento desta verdade e levado outros a volver às Sagradas Escrituras. GC 81 1 Quando a atenção de Wycliffe se volveu às Escrituras, passou a pesquisá-las com a mesma proficiência que o havia habilitado a assenhorear-se da instrução das escolas. Até ali tinha ele sentido grande necessidade que nem seus estudos escolásticos nem o ensino da igreja puderam satisfazer. Na Palavra de Deus encontrou o que antes em vão procurara. Ali viu revelado o plano da salvação, e Cristo apresentado como único advogado do homem. Entregou-se ao serviço de Cristo e decidiu-se a proclamar as verdades que havia descoberto. GC 81 2 Semelhante aos reformadores posteriores, Wycliffe não previu, ao iniciar a sua obra, até onde ela o levaria. Não se opôs deliberadamente a Roma. A dedicação à verdade, porém, não poderia senão levá-lo a conflito com a falsidade. Quanto mais claramente discernia os erros do papado, mais fervorosamente apresentava os ensinos da Escritura Sagrada. Via que Roma abandonara a Palavra de Deus pela tradição humana; destemidamente acusava o sacerdócio de haver banido as Escrituras, e exigia que a Bíblia fosse devolvida ao povo e de novo estabelecida sua autoridade na igreja. Wycliffe era ensinador hábil e ardoroso, eloqüente pregador, e sua vida diária era uma demonstração das verdades que pregava. O conhecimento das Escrituras, a força de seu raciocínio, a pureza de sua vida e sua coragem e integridade inflexíveis conquistaram-lhe geral estima e confiança. Muitas pessoas se tinham tornado descontentes com sua fé anterior, ao verem a iniqüidade que prevalecia na Igreja de Roma, e saudaram com incontida alegria as verdades expostas por Wycliffe; mas os dirigentes papais encheram-se de raiva quando perceberam que este reformador conquistava maior influência que a deles mesmos. GC 82 1 Wycliffe era perspicaz descobridor de erros e atacou destemidamente muitos dos abusos sancionados pela autoridade de Roma. Quando agia como capelão do rei, assumiu ousada atitude contra o pagamento do tributo que o papa pretendia do monarca inglês e mostrou que a pretensão papal de autoridade sobre os governantes seculares era contrária tanto à razão como à revelação. As exigências do papa tinham excitado grande indignação e os ensinos de Wycliffe exerceram influência sobre o espírito dos dirigentes do país. O rei e os nobres uniram-se em negar as pretensões do pontífice à autoridade temporal, e na recusa do pagamento do tributo. Destarte, um golpe eficaz foi desferido contra a supremacia papal na Inglaterra. GC 82 2 Outro mal contra que o reformador sustentou longa e resoluta batalha, foi a instituição das ordens dos frades mendicantes. Estes frades enxameavam na Inglaterra, lançando uma nódoa à grandeza e prosperidade da nação. A indústria, a educação, a moral, tudo sentia a influência debilitante. A vida de ociosidade e mendicidade dos monges não só era grande escoadouro dos recursos do povo, mas lançava o desdém ao trabalho útil. A juventude se desmoralizava e corrompia. Pela influência dos frades muitos eram induzidos a entrar para o claustro e dedicar-se à vida monástica, e isto não só sem o consentimento dos pais, mas mesmo sem seu conhecimento e contra as suas ordens. Um dos primitivos padres da Igreja de Roma, insistindo sobre as exigências do monasticismo acima das obrigações do amor e dever filial, declarou: "Ainda que teu pai se encontrasse deitado diante de tua porta, chorando e lamentando, e a tua mãe te mostrasse o corpo que te carregou e os seios que te nutriram, tê-los-ás de pisar a pés e ir avante diretamente a Cristo." Por esta "monstruosa desumanidade", como mais tarde Lutero a denominou, "que cheira mais a lobo e a tirano do que a cristão ou homem", empedernia-se o coração dos filhos contra os pais. -- Vida de Lutero, de Barnas Sears. Assim, os dirigentes papais, como os fariseus de outrora, tornavam sem efeito o mandamento de Deus, com a sua tradição. Assim se desolavam lares, e pais ficavam privados da companhia dos filhos e filhas. GC 83 1 Mesmo os estudantes das universidades eram enganados pelas falsas representações dos monges, e induzidos a unir-se às suas ordens. Muitos mais tarde se arrependiam deste passo, vendo que haviam prejudicado sua própria vida e causado tristeza aos pais; mas, uma vez presos na armadilha, era-lhes impossível obter liberdade. Muitos pais, temendo a influência dos monges, recusavam-se a enviar os filhos às universidades. Houve assinalada redução no número de estudantes que freqüentavam os grandes centros de ensino. As escolas feneciam e prevalecia a ignorância. GC 83 2 O papa conferira a esses monges a faculdade de ouvir confissões e conceder perdão. Isto se tornou fonte de grandes males. Inclinados a aumentar seus lucros, os frades estavam tão dispostos a conceder absolvição que criminosos de todas as espécies a eles recorriam e, como resultado, aumentaram rapidamente os vícios mais detestáveis. Os doentes e os pobres eram deixados a sofrer, enquanto os donativos que lhes deveriam suavizar as necessidades, iam para os monges que com ameaças exigiam esmolas do povo, denunciando a impiedade dos que retivessem os donativos de suas ordens. Apesar de sua profissão de pobreza, a riqueza dos frades aumentava constantemente e seus suntuosos edifícios e lautas mesas tornavam mais notória a pobreza crescente da nação. E enquanto despendiam o tempo em luxo e prazeres, enviavam em seu lugar homens ignorantes que apenas podiam narrar histórias maravilhosas, lendas, pilhérias para divertir o povo e torná-lo ainda mais completamente iludido pelos monges. Contudo, os frades continuavam a manter o domínio sobre as multidões supersticiosas, e a levá-las a crer que todo dever religioso se resumia em reconhecer a supremacia do papa, adorar os santos e fazer donativos aos monges, e que isto era suficiente para lhes garantir lugar no Céu. GC 84 1 Homens de saber e piedade haviam trabalhado em vão para efetuar uma reforma nessas ordens monásticas; Wycliffe, porém, com intuição mais clara, feriu o mal pela raiz, declarando que a própria organização era falsa e que deveria ser abolida. Despertavam-se discussões e indagações. Atravessando os monges o país, vendendo perdões do papa, muitos foram levados a duvidar da possibilidade de comprar perdão com dinheiro e suscitaram a questão se não deveriam antes buscar de Deus o perdão em vez de buscá-lo do pontífice de Roma. Não poucos se alarmavam com a capacidade dos frades, cuja avidez parecia nunca se satisfazer. "Os monges e sacerdotes de Roma", diziam eles, "estão-nos comendo como um câncer. Deus nos deve livrar, ou o povo perecerá." -- D'Aubigné. Para encobrir sua avareza, pretendiam os monges mendicantes seguir o exemplo do Salvador, declarando que Jesus e Seus discípulos haviam sido sustentados pela caridade do povo. Esta pretensão resultou em prejuízo de sua causa, pois levou muitos à Escritura Sagrada, a fim de saberem por si mesmos a verdade -- resultado que de todos os outros era o menos desejado de Roma. A mente dos homens foi dirigida à Fonte da verdade, que era o objetivo de Roma ocultar. GC 84 2 Wycliffe começou a escrever e publicar folhetos contra os frades, porém não tanto procurando entrar em discussão com eles como despertando o espírito do povo aos ensinos da Bíblia e seu Autor. Ele declarava que o poder do perdão ou excomunhão não o possuía o papa em maior grau do que os sacerdotes comuns, e que ninguém pode ser verdadeiramente excomungado a menos que primeiro haja trazido sobre si a condenação de Deus. De nenhuma outra maneira mais eficaz poderia ele ter empreendido a demolição da gigantesca estrutura de domínio espiritual e temporal que o papa erigira, e em que alma e corpo de milhões se achavam retidos em cativeiro. GC 84 3 De novo foi Wycliffe chamado para defender os direitos da coroa inglesa contra as usurpações de Roma; e, sendo designado embaixador real, passou dois anos na Holanda, em conferência com os emissários do papa. Ali entrou em contato com eclesiásticos da França, Itália e Espanha, e teve oportunidade de devassar os bastidores e informar-se de muitos fatos que lhe teriam permanecido ocultos na Inglaterra. Aprendeu muita coisa que o orientaria em seus trabalhos posteriores. Naqueles representantes da corte papal lia ele o verdadeiro caráter e objetivos da hierarquia. Voltou para a Inglaterra a fim de repetir mais abertamente e com maior zelo seus ensinos anteriores, declarando que a cobiça, o orgulho e o engano eram os deuses de Roma. GC 85 1 Num de seus folhetos disse ele, falando do papa e seus coletores: "Retiram de nosso país os meios de subsistência dos pobres, e muitos milhares de marcos, anualmente, do dinheiro do rei, para sacramentos e coisas espirituais, o que é amaldiçoada heresia de simonia, e fazem com que toda a cristandade consinta nesta heresia e a mantenha. E, na verdade, ainda que nosso reino tivesse uma gigantesca montanha de ouro, e nunca homem algum dali tirasse a não ser somente o coletor deste orgulhoso e mundano sacerdote, com o tempo ela se esgotaria; pois sempre ele tira dinheiro de nosso país e nada devolve a não ser a maldição de Deus pela sua simonia." -- História da Vida e Sofrimentos de J. Wycliffe, do Rev. João Lewis. GC 85 2 Logo depois de sua volta à Inglaterra, Wycliffe recebeu do rei nomeação para a reitoria de Lutterworth. Isto correspondia a uma prova de que o monarca ao menos não se desagradara de sua maneira franca no falar. A influência de Wycliffe foi sentida no moldar a ação da corte, bem como a crença da nação. GC 85 3 Os trovões papais logo se desencadearam contra ele. Três bulas foram expedidas para a Inglaterra: para a universidade, para o rei e para os prelados, ordenando todas as medidas imediatas e decisivas para fazer silenciar o ensinador de heresias. Antes da chegada das bulas, porém, os bispos, em seu zelo, intimaram Wycliffe a comparecer perante eles para julgamento. Entretanto, dois dos mais poderosos príncipes do reino o acompanharam ao tribunal; e o povo, rodeando o edifício e invadindo-o, intimidou de tal maneira os juízes que o processo foi temporariamente suspenso, sendo-lhe permitido ir-se em paz. Um pouco mais tarde faleceu Eduardo III, a quem em sua idade avançada os prelados estavam procurando influenciar contra o reformador, e o anterior protetor de Wycliffe tornou-se regente do reino. GC 86 1 Mas a chegada das bulas papais trazia para toda a Inglaterra a ordem peremptória de prisão e encarceramento do herege. Estas medidas indicavam de maneira direta a fogueira. Parecia certo que Wycliffe logo deveria cair vítima da vingança de Roma. Mas Aquele que declarou outrora a alguém: "Não temas, ... Eu sou teu escudo" (Gênesis 15:1), de novo estendeu a mão para proteger Seu servo. A morte veio, não para o reformador, mas para o pontífice que lhe decretara destruição. Gregório XI morreu, e dispersaram-se os eclesiásticos que se haviam reunido para o processo de Wycliffe. GC 86 2 A providência de Deus encaminhou ainda mais os acontecimentos para dar oportunidade ao desenvolvimento da Reforma. A morte de Gregório foi seguida da eleição de dois papas rivais. Dois poderes em conflito, cada um se dizendo infalível, exigiam agora obediência. Cada qual apelava para os fiéis a fim de o ajudarem a fazer guerra contra o outro, encarecendo suas exigências com terríveis anátemas contra os adversários e promessas de recompensas no Céu aos que o apoiavam. Esta ocorrência enfraqueceu grandemente o poderio do papado. As facções rivais fizeram tudo que podiam para atacar uma a outra, e durante algum tempo Wycliffe teve repouso. Anátemas e recriminações voavam de um papa a outro, e derramavam-se torrentes de sangue para sustentar suas pretensões em conflito. Crimes e escândalos inundavam a igreja. Nesse ínterim, o reformador, no silencioso retiro de sua paróquia de Lutterworth, estava trabalhando diligentemente para, dos papas contendores, dirigir os homens a Jesus, o Príncipe da paz. GC 86 3 O cisma, com toda a contenda e corrupção que produziu, preparou o caminho para a Reforma, habilitando o povo a ver o que o papado realmente era. Num folheto que publicou -- Sobre o Cisma dos Papas -- Wycliffe apelou para o povo a fim de que considerasse se esses dois sacerdotes estavam a falar a verdade ao condenarem um ao outro como o anticristo. "Deus", disse ele, "não mais quis consentir que o demônio reinasse em um único sacerdote tal, mas... fez divisão entre dois, de modo que os homens, em nome de Cristo, possam mais facilmente vencê-los a ambos." -- Vida e Opiniões de João Wycliffe, de Vaughan. GC 87 1 Wycliffe, a exemplo de seu Mestre, pregou o evangelho aos pobres. Não contente com espalhar a luz nos lares humildes em sua própria paróquia de Lutterworth, concluiu que ela deveria ser levada a todas as partes da Inglaterra. Para realizar isto organizou um corpo de pregadores, homens simples e dedicados, que amavam a verdade e nada desejavam tanto como o propagá-la. Estes homens iam por toda parte, ensinando nas praças, nas ruas das grandes cidades e nos atalhos do interior. Procuravam os idosos, os doentes e os pobres, e desvendavam-lhes as alegres novas da graça de Deus. GC 87 2 Como professor de teologia em Oxford, Wycliffe pregou a Palavra de Deus nos salões da universidade. Tão fielmente apresentava ele a verdade aos estudantes sob sua instrução, que recebeu o título de "Doutor do Evangelho". GC 87 3 Mas a maior obra da vida de Wycliffe deveria ser a tradução das Escrituras para a língua inglesa. Num livro -- Sobre a Verdade e Sentido das Escrituras -- exprimiu a intenção de traduzir a Bíblia, de maneira que todos na Inglaterra pudessem ler, na língua materna, as maravilhosas obras de Deus. GC 87 4 Subitamente, porém, interromperam-se as suas atividades. Posto que não tivesse ainda sessenta anos de idade, o trabalho incessante, o estudo e os assaltos dos inimigos haviam posto à prova suas forças, tornando-o prematuramente velho. Foi atacado de perigosa enfermidade. A notícia disto proporcionou grande alegria aos frades. Pensavam então que se arrependeria amargamente do mal que tinha feito à igreja e precipitaram-se ao seu quarto para ouvir-lhe a confissão. Representantes das quatro ordens religiosas, com quatro oficiais civis, reuniram-se em redor do suposto moribundo. "Tendes a morte em vossos lábios", diziam; "comovei-vos com as vossas faltas, e retratai em nossa presença tudo que dissestes para ofensa nossa." O reformador ouviu em silêncio; mandou então seu assistente levantá-lo no leito e, olhando fixamente para eles enquanto permaneciam esperando a retratação, naquela voz firme e forte que tantas vezes os havia feito tremer, disse: "Não hei de morrer, mas viver, e novamente denunciar as más ações dos frades." -- D'Aubigné. Espantados e confundidos, saíram os monges apressadamente do quarto. GC 88 1 Cumpriram-se as palavras de Wycliffe. Viveu a fim de colocar nas mãos de seus compatriotas a mais poderosa de todas as armas contra Roma, isto é, dar-lhes a Escritura Sagrada, o meio indicado pelo Céu para libertar, esclarecer e evangelizar o povo. Muitos e grandes obstáculos havia a vencer na realização dessa obra. Wycliffe achava-se sobrecarregado de enfermidades; sabia que apenas poucos anos lhe restavam para o trabalho; via a oposição que teria de enfrentar; mas, animado pelas promessas da Palavra de Deus, foi avante sem intimidar-se de coisa alguma. Quando em pleno vigor de suas capacidades intelectuais, rico em experiências, foi ele preservado e preparado por especial providência de Deus para esse trabalho -- o maior por ele realizado. Enquanto a cristandade se envolvia em tumultos, o reformador em sua reitoria de Lutterworth, alheio à tempestade que fora esbravejava, dedicava-se à tarefa que escolhera. GC 88 2 Concluiu-se, por fim, o trabalho: a primeira tradução inglesa que já se fizera da Escritura Sagrada. A Palavra de Deus estava aberta para a Inglaterra. O reformador não temia agora prisão ou fogueira. Colocara nas mãos do povo inglês uma luz que jamais se extinguiria. Dando a Bíblia aos seus compatriotas, fizera mais no sentido de quebrar os grilhões da ignorância e do vício, mais para libertar e enobrecer seu país, do que já se conseguira pelas mais brilhantes vitórias nos campos de batalha. GC 88 3 Sendo ainda desconhecida a arte de imprimir, era unicamente por trabalho moroso e fatigante que se podiam multiplicar os exemplares da Escritura Sagrada. Tão grande era o interesse por se obter o Livro, que muitos voluntariamente se empenharam na obra de o transcrever; mas era com dificuldade que os copistas podiam atender aos pedidos. Alguns dos mais ricos compradores desejavam a Bíblia toda. Outros compravam apenas parte. Em muitos casos várias famílias se uniam para comprar um exemplar. Assim, a Bíblia de Wycliffe logo teve acesso aos lares do povo. GC 89 1 O apelo para a razão despertou os homens de sua submissão passiva aos dogmas papais. Wycliffe ensinava agora doutrinas distintivas do protestantismo: salvação pela fé em Cristo, e a infalibilidade das Escrituras unicamente. Os pregadores que enviara disseminaram a Bíblia, juntamente com os escritos do reformador, e com êxito tal que a nova fé foi aceita por quase metade do povo da Inglaterra. GC 89 2 O aparecimento das Escrituras produziu estupefação às autoridades da igreja. Tinham agora de enfrentar um fator mais poderoso do que Wycliffe, fator contra o qual suas armas pouco valeriam. Não havia nesta ocasião na Inglaterra lei alguma proibindo a Bíblia, pois nunca dantes fora ela publicada na língua do povo. Semelhantes leis foram depois feitas e rigorosamente executadas. Entretanto, apesar dos esforços dos padres, houve durante algum tempo oportunidade para a circulação da Palavra de Deus. GC 89 3 Novamente os chefes papais conspiraram para fazer silenciar a voz do reformador. Perante três tribunais foi ele sucessivamente chamado a juízo, mas sem proveito. Primeiramente um sínodo de bispos declarou heréticos os seus escritos e, ganhando o jovem rei Ricardo II para o seu lado, obtiveram um decreto real sentenciando à prisão todos os que professassem as doutrinas condenadas. GC 89 4 Wycliffe apelou do sínodo para o Parlamento; destemidamente acusou a hierarquia perante o conselho nacional e pediu uma reforma dos enormes abusos sancionados pela igreja. Com poder convincente, descreveu as usurpações e corrupções da sé papal. Seus inimigos ficaram confusos. Os que eram amigos de Wycliffe e o apoiavam, tinham sido obrigados a ceder, e houvera a confiante expectativa de que o próprio reformador, em sua avançada idade, só e sem amigos, curvar-se-ia ante a autoridade combinada da coroa e da tiara. Mas, em vez disso, os adeptos de Roma viram-se derrotados. O Parlamento, despertado pelos estimuladores apelos de Wycliffe, repeliu o edito perseguidor e o reformador foi novamente posto em liberdade. GC 90 1 Pela terceira vez foi ele chamado a julgamento, e agora perante o mais elevado tribunal eclesiástico do reino. Ali não se mostraria favor algum para com a heresia. Ali, finalmente, Roma triunfaria e a obra do reformador seria detida. Assim pensavam os romanistas. Se tão-somente cumprissem seu propósito, Wycliffe seria obrigado a renunciar suas doutrinas, ou sairia da corte diretamente para as chamas. GC 90 2 Wycliffe, porém, não se retratou; não usou de dissimulação. Destemidamente sustentou seus ensinos e repeliu as acusações de seus perseguidores. Perdendo de vista a si próprio, sua posição e o momento, citou os ouvintes perante o tribunal divino, e pesou seus sofismas e enganos na balança da verdade eterna. Sentiu-se o poder do Espírito Santo na sala do concílio. Os ouvintes ficaram como que fascinados. Pareciam não ter forças para deixar o local. Como setas da aljava do Senhor, as palavras do reformador penetravam-lhes a alma. A acusação da heresia que contra ele haviam formulado, com poder convincente reverteu contra eles mesmos. Por que, perguntava ele, ousavam espalhar seus erros? Por amor do lucro, para da graça de Deus fazerem mercadoria? GC 90 3 "Com quem", disse finalmente, "julgais estar a contender? com um ancião às bordas da sepultura? Não! com a Verdade -- Verdade que é mais forte do que vós, e vos vencerá." -- Wylie. Assim dizendo, retirou-se da assembléia e nenhum de seus adversários tentou impedi-lo. GC 90 4 A obra de Wycliffe estava quase terminada; a bandeira da verdade que durante tanto tempo empunhara, logo lhe deveria cair da mão; mas, uma vez mais, deveria ele dar testemunho do evangelho. A verdade devia ser proclamada do próprio reduto do reino do erro. Wycliffe foi chamado a julgamento perante o tribunal papal em Roma, o qual tantas vezes derramara o sangue dos santos. Não ignorava o perigo que o ameaçava; contudo, teria atendido à chamada se um ataque de paralisia lhe não houvesse tornado impossível efetuar a viagem. Mas, se bem que sua voz não devesse ser ouvida em Roma, poderia falar por carta, e isto se decidiu a fazer. De sua reitoria o reformador escreveu ao papa uma carta que, conquanto respeitosa nas expressões e cristã no espírito, era incisiva censura à pompa e orgulho da sé papal. GC 91 1 "Em verdade me regozijo", disse, "por manifestar e declarar a todo homem a fé que mantenho, e especialmente ao bispo de Roma, o qual, como suponho ser íntegro e verdadeiro, de mui boa vontade confirmará minha dita fé, ou, se é ela errônea, corrigi-la-á. GC 91 2 "Em primeiro lugar, creio que o evangelho de Cristo é o corpo todo da lei de Deus. ... Declaro e sustento que o bispo de Roma, desde que se considera o vigário de Cristo aqui na Terra, está obrigado, mais do que todos os outros homens, à lei do evangelho. Pois a grandeza entre os discípulos de Cristo não consistia na dignidade e honras mundanas, mas em seguir rigorosamente, e de perto, a Cristo em Sua vida e maneiras. ... Jesus, durante o tempo de Sua peregrinação na Terra, foi homem paupérrimo, desdenhando e lançando de Si todo o domínio e honra mundanos. ... GC 91 3 "Nenhum homem fiel deveria seguir quer ao próprio papa, quer a qualquer dos santos, a não ser nos pontos em que seguirem ao Senhor Jesus Cristo; pois Pedro e os filhos de Zebedeu, desejando honras mundanas, contrárias ao seguimento dos passos de Cristo, erraram, e portanto nestes erros não devem ser seguidos. ... GC 91 4 "O papa deve deixar ao poder secular todo o domínio e governo temporal, e neste sentido exortar e persuadir eficazmente todo o clero; pois assim fez Cristo, e especialmente por Seus apóstolos. Por conseguinte, se errei em qualquer destes pontos, submeter-me-ei muito humildemente à correção, mesmo pela morte, se assim for necessário; e se eu pudesse agir segundo minha vontade ou desejo, certamente me apresentaria em pessoa perante o bispo de Roma; mas o Senhor determinou o contrário, e ensinou-me a obedecer antes a Deus do que aos homens." GC 92 1 Finalizando, disse: "Oremos a nosso Deus para que Ele de tal maneira influencie nosso papa Urbano VI, conforme já começou a fazer, que juntamente com o clero possa seguir ao Senhor Jesus Cristo na vida e nos costumes, e com eficácia ensinar o povo, e que eles de igual maneira, fielmente os sigam nisso." -- Atos e Monumentos, de Foxe. GC 92 2 Assim Wycliffe apresentou ao papa e aos cardeais a mansidão e humildade de Cristo, mostrando não somente a eles mesmos, mas a toda a cristandade, o contraste entre eles e o Mestre, a quem professavam representar. GC 92 3 Wycliffe esperava plenamente que sua vida seria o preço de sua fidelidade. O rei, o papa e os bispos estavam unidos para levá-lo a ruína, e parecia certo que, quando muito, em poucos meses o levariam à fogueira. Mas sua coragem não se abalou. "Por que falais em procurar longe a coroa do martírio?" dizia. "Pregai o evangelho de Cristo aos altivos prelados e o martírio não vos faltará. Quê! viveria eu e estaria silencioso? ... Nunca! Venha o golpe, eu o estou aguardando." -- D'Aubigné. GC 92 4 Mas Deus, em Sua providência, ainda escudou a Seu servo. O homem que durante toda a vida permanecera ousadamente na defesa da verdade, diariamente em perigo de vida, não deveria cair vítima do ódio de seus adversários. Wycliffe nunca procurara escudar-se a si mesmo, mas o Senhor lhe fora o protetor; e agora, quando seus inimigos julgavam segura a presa, a mão de Deus o removeu para além de seu alcance. Em sua igreja, em Lutterworth, na ocasião em que ia ministrar a comunhão, caiu atacado de paralisia, e em pouco tempo rendeu a vida. GC 92 5 Deus designara a Wycliffe a sua obra. Pusera-lhe na boca a Palavra da verdade e dispusera uma guarda a seu redor para que esta Palavra pudesse ir ao povo. A vida fora-lhe protegida e seus trabalhos se prolongaram, até ser lançado o fundamento para a grande obra da Reforma. GC 93 1 Wycliffe saíra das trevas da Idade Média. Ninguém havia que tivesse vivido antes dele, por meio de cuja obra pudesse modelar seu sistema de reforma. Suscitado como João Batista para cumprir uma missão especial, foi ele o arauto de uma nova era. Contudo, no sistema de verdades que apresentava, havia uma unidade e perfeição que os reformadores que o seguiram não excederam e que alguns não atingiram, mesmo cem anos mais tarde. Tão amplo e profundo foi posto o fundamento, tão firme e verdadeiro o arcabouço, que não foi necessário serem reconstruídos pelos que depois dele vieram. GC 93 2 O grande movimento inaugurado por Wycliffe, o qual deveria libertar a consciência e o intelecto e deixar livres as nações, durante tanto tempo jungidas ao carro triunfal de Roma, teve sua fonte na Escritura Sagrada. Ali se encontrava a origem da corrente de bem-aventurança, que, como a água da vida, tem manado durante gerações desde o século XIV. Wycliffe aceitava as Sagradas Escrituras com implícita fé, como a inspirada revelação da vontade de Deus, como suficiente regra de fé e prática. Fora educado de modo a considerar a Igreja de Roma como autoridade divina, infalível, e aceitar com indiscutível reverência os ensinos e costumes estabelecidos havia um milênio; mas de tudo isto se desviou para ouvir a santa Palavra de Deus. Esta era a autoridade que ele insistia com o povo para que reconhecesse. Em vez da igreja falando pelo papa, declarou ser a única verdadeira autoridade a voz de Deus falando por Sua Palavra. E não somente ensinava que a Bíblia é a perfeita revelação da vontade de Deus, mas que o Espírito Santo é o seu único intérprete, e que todo homem, pelo estudo de seus ensinos, deve aprender por si próprio o dever. Desta maneira fazia volver o espírito, do papa e da igreja de Roma, para a Palavra de Deus. GC 94 1 Wycliffe foi um dos maiores reformadores. Na amplidão de seu intelecto, clareza de pensamentos, firmeza em manter a verdade e ousadia para defendê-la, por poucos dos que após ele vieram foi igualado. Pureza de vida, incansável diligência no estudo e trabalho, incorruptível integridade, amor e fidelidade cristã no ministério caracterizaram o primeiro dos reformadores. E isto apesar das trevas intelectuais e corrupção moral da época de que ele emergiu. GC 94 2 O caráter de Wycliffe é testemunho do poder educador e transformador das Sagradas Escrituras. Foram estas que dele fizeram o que foi. O esforço para aprender as grandes verdades da revelação, comunica frescor e vigor a todas as faculdades. Expande a mente, aguça a percepção, amadurece o juízo. O estudo da Bíblia enobrece a todo pensamento, sentimento e aspiração, como nenhum outro estudo o pode fazer. Dá estabilidade de propósitos, paciência, coragem e fortaleza; aperfeiçoa o caráter e santifica a alma. O esquadrinhar fervoroso e reverente das Escrituras, pondo o espírito do estudante em contato direto com a mente infinita, daria ao mundo homens de intelecto mais forte e mais ativo, bem como de princípios mais nobres, do que os que já existiram como resultado do mais hábil ensino que proporciona a filosofia humana. "A exposição das Tuas palavras dá luz", diz o salmista; "dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. GC 94 3 As doutrinas ensinadas por Wycliffe continuaram durante algum tempo a espalhar-se; seus seguidores, conhecidos como wyclifitas e lolardos, não somente encheram a Inglaterra, mas espalharam-se em outros países, levando o conhecimento do evangelho. Agora que seu guia fora tomado dentre os vivos, os pregadores trabalhavam com zelo maior do que antes, e multidões se congregavam para ouvi-los. Alguns da nobreza e mesmo a esposa do rei se encontravam entre os conversos. Em muitos lugares houve assinalada reforma nos costumes do povo, e os símbolos do romanismo foram removidos das igrejas. Logo, porém, a impiedosa tempestade da perseguição irrompeu sobre os que haviam ousado aceitar a Escritura Sagrada como guia. Os monarcas ingleses, ávidos de aumentar seu poder mediante o apoio de Roma, não hesitaram em sacrificar os reformadores. Pela primeira vez na história da Inglaterra a fogueira foi decretada contra os discípulos do evangelho. Martírios sucederam a martírios. Os defensores da verdade, proscritos e torturados, podiam tão-somente elevar seus clamores ao ouvido do Senhor dos exércitos. Perseguidos como inimigos da igreja e traidores do reino, continuaram a pregar em lugares secretos, encontrando abrigo o melhor que podiam nos humildes lares dos pobres, e muitas vezes refugiando-se mesmo em brenhas e cavernas. GC 95 1 Apesar da fúria da perseguição, durante séculos continuou a ser proferido um protesto calmo, devoto, fervoroso, paciente, contra as dominantes corrupções da fé religiosa. Os crentes daqueles primitivos tempos tinham apenas conhecimento parcial da verdade, mas haviam aprendido a amar e obedecer à Palavra de Deus, e pacientemente sofriam por sua causa. Como os discípulos dos dias apostólicos, muitos sacrificavam suas posses deste mundo pela causa de Cristo. Aqueles a quem era permitido permanecer em casa, abrigavam alegremente os irmãos banidos; e, quando eles também eram expulsos, animosamente aceitavam a sorte dos proscritos. Milhares, é verdade, aterrorizados pela fúria dos perseguidores, compravam a liberdade com sacrifício da fé, e saíam das prisões vestidos com a roupa dos penitentes, a fim de publicar sua abjuração. Mas não foi pequeno o número -- e entre estes havia homens de nascimento nobre bem como humildes e obscuros -- dos que deram destemido testemunho da verdade nos cubículos dos cárceres, nas "Torres dos Lolardos", e em meio de tortura e chamas, regozijando-se de que tivessem sido considerados dignos de conhecer a "comunicação de Suas aflições". GC 95 2 Os romanistas não haviam conseguido executar sua vontade em relação a Wycliffe durante a vida deste, e seu ódio não se satisfez enquanto o corpo do reformador repousasse em sossego na sepultura. Por decreto do concílio de Constança, mais de quarenta anos depois de sua morte, seus ossos foram exumados e publicamente queimados, e as cinzas lançadas em um riacho vizinho. "Esse riacho", diz antigo escritor, "levou suas cinzas para o Avon, o Avon para o Severn, o Severn para os pequenos mares, e estes para o grande oceano. E assim as cinzas de Wycliffe são o emblema de sua doutrina, que hoje está espalhada pelo mundo inteiro." -- História Eclesiástica da Bretanha, de T. Fuller. Pouco imaginaram os inimigos a significação de seu ato perverso. GC 96 1 Foi mediante os escritos de Wycliffe que João Huss, da Boêmia, foi levado a renunciar a muitos erros do romanismo e entrar na obra da Reforma. E assim é que nesses dois países tão grandemente separados, foi lançada a semente da verdade. Da Boêmia a obra estendeu-se para outras terras. O espírito dos homens foi dirigido para a Palavra de Deus, havia tanto esquecida. A mão divina estava a preparar o caminho para a Grande Reforma. ------------------------Capítulo 6 -- Dois heróis da Idade Média GC 97 1 O Evangelho fora implantado na Boêmia já no século IX. A Bíblia achava-se traduzida, e o culto público era celebrado na língua do povo. Mas, à medida que aumentava o poderio do papa, a Palavra de Deus se obscurecia. Gregório VII, que tomara a si o abater o orgulho dos reis, não tinha menos intenções de escravizar o povo, e de acordo com isto expediu uma bula proibindo que o culto público fosse dirigido na língua boêmia. O papa declarava ser "agradável ao Onipotente que Seu culto fosse celebrado em língua desconhecida, e que muitos males e heresias haviam surgido por não se observar esta regra." -- Wylie. Assim Roma decretava que a luz da Palavra de Deus se extinguisse e o povo fosse encerrado em trevas. O Céu havia provido outros fatores para a preservação da igreja. Muitos dos valdenses e albigenses, pela perseguição expulsos de seus lares na França, e Itália, foram à Boêmia. Posto que não ousassem ensinar abertamente, zelosos trabalhavam em segredo. Assim se preservou a verdadeira fé de século em século. GC 97 2 Antes dos dias de Huss, houve na Boêmia homens que se levantaram para condenar abertamente a corrupção na igreja e a dissolução do povo. Seus trabalhos despertaram interesse que se estendeu largamente. Suscitaram-se os temores da hierarquia e iniciou-se a perseguição contra os discípulos do evangelho. Compelidos a fazer seu culto nas florestas e montanhas, davam-lhes caça os soldados, e muitos foram mortos. Depois de algum tempo se decretou que todos os que se afastassem do culto romano deviam ser queimados. Mas, enquanto os cristãos rendiam a vida, olhavam à frente para a vitória de sua causa. Um dos que "ensinavam que a salvação só se encontra pela fé no Salvador crucificado", declarou ao morrer: "A fúria dos inimigos da verdade agora prevalece contra nós, mas não será para sempre; levantar-se-á um dentre o povo comum, sem espada nem autoridade, e contra ele não poderão prevalecer." -- Wylie. O tempo de Lutero estava ainda muito distante; mas já se erguia alguém, cujo testemunho contra Roma abalaria as nações. GC 98 1 João Huss era de humilde nascimento e cedo ficou órfão pela morte do pai. Sua piedosa mãe, considerando a educação e o temor de Deus como a mais valiosa das posses, procurou assegurar esta herança para o filho. Huss estudou na escola da província, passando depois para a Universidade de Praga, onde teve admissão gratuita como estudante pobre. Foi acompanhado na viagem por sua mãe; viúva e pobre, não possuía dádivas nem riquezas mundanas para conferir ao filho; mas, aproximando-se eles da grande cidade, ajoelhou-se ela ao lado do jovem sem pai, e invocou-lhe a bênção do Pai celestial. Pouco imaginara aquela mãe como deveria sua oração ser atendida. GC 98 2 Na Universidade, Huss logo se distinguiu pela sua incansável aplicação e rápidos progressos, enquanto a vida irrepreensível e modos afáveis e simpáticos lhe conquistaram estima geral. Era sincero adepto da igreja de Roma, e fervorosamente buscava as bênçãos espirituais que ela professa conferir. Na ocasião de um jubileu, foi à confissão, pagou as últimas poucas moedas de seus minguados recursos, e tomou parte nas procissões, a fim de poder participar da absolvição prometida. Depois de completar o curso colegial, entrou para o sacerdócio e, atingindo rapidamente à eminência, foi logo chamado à corte do rei. Tornou-se também professor e mais tarde reitor da Universidade em que recebera educação. Em poucos anos o humilde estudante, que de favor se educara, tornou-se o orgulho de seu país e seu nome teve fama em toda a Europa. GC 99 1 Foi, porém, em outro campo que Huss começou a obra da reforma. Vários anos após haver recebido a ordenação sacerdotal, foi nomeado pregador da capela de Belém. O fundador desta capela defendera, como assunto de grande importância, a pregação das Escrituras na língua do povo. Apesar da oposição de Roma a esta prática, ela não se interrompeu completamente na Boêmia. Havia, porém, grande ignorância das Escrituras, e os piores vícios prevaleciam entre o povo de todas as classes. Estes males Huss denunciou largamente, apelando para a Palavra de Deus a fim de encarecer os princípios da verdade e pureza por ele pregados. GC 99 2 Um cidadão de Praga, Jerônimo, que depois se tornou intimamente ligado a Huss, trouxera consigo, ao voltar da Inglaterra, os escritos de Wycliffe. A rainha da Inglaterra, que se convertera aos ensinos de Wycliffe, era uma princesa boêmia, e por sua influência as obras do reformador foram também amplamente divulgadas em seu país natal. Estas obras lera-as Huss com interesse; cria que seu autor era cristão sincero e inclinava-se a considerar favoravelmente as reformas que advogava. Huss, conquanto não o soubesse, entrara já em caminho que o levaria longe de Roma. GC 99 3 Por esse tempo chegaram a Praga dois estrangeiros da Inglaterra, homens de saber, que tinham recebido a luz, e haviam chegado para espalhá-la naquela terra distante. Começando com um ataque aberto à supremacia do papa, foram logo pelas autoridades levados a silenciar; mas, não estando dispostos a abandonar seu propósito, recorreram a outras medidas. Sendo artistas, bem como pregadores, prosseguiam pondo em prática a sua habilidade. Em local franqueado ao público pintaram dois quadros. Um representava a entrada de Cristo em Jerusalém, "manso, e assentado sobre uma jumenta" (Mateus 21:5), e seguido de Seus discípulos, descalços e com trajes gastos pelas viagens. O outro estampava uma procissão pontifical: o papa adornado com ricas vestes e tríplice coroa, montando cavalo, magnificamente adornado, precedido de trombeteiros, e seguido pelos cardeais e prelados em deslumbrante pompa. GC 100 1 Ali estava um sermão que prendeu a atenção de todas as classes. Multidões vieram contemplar os desenhos. Ninguém deixara de compreender a moral, e muitos ficaram profundamente impressionados pelo contraste entre a mansidão e humildade de Cristo, o Mestre, e o orgulho e arrogância do papa, Seu servo professo. Houve grande comoção em Praga, e os estrangeiros, depois de algum tempo, acharam necessário partir, para sua própria segurança. Mas a lição que haviam ensinado não ficou esquecida. Os quadros causaram profunda impressão no espírito de Huss, levando-o a um estudo mais acurado da Bíblia e dos escritos de Wycliffe. Embora ainda não estivesse preparado para aceitar todas as reformas defendidas por Wycliffe, via mais claramente o verdadeiro caráter do papado, e com maior zelo denunciava o orgulho, a ambição e corrupção da hierarquia. GC 100 2 Da Boêmia a luz estendeu-se à Alemanha, pois perturbações havidas na Universidade de Praga determinaram a retirada de centenas de estudantes alemães. Muitos deles tinham recebido de Huss seu primeiro conhecimento da Escritura Sagrada e, ao voltarem, espalharam o evangelho em sua pátria. GC 100 3 Notícias da obra em Praga foram levadas a Roma, e Huss foi logo chamado a comparecer perante o papa. Obedecer seria expor-se à morte certa. O rei e a rainha da Boêmia, a Universidade, membros da nobreza e oficiais do governo, uniram-se num apelo ao pontífice para que fosse permitido a Huss permanecer em Praga e responder a Roma por meio de delegação. Em vez de atender a este pedido, o papa procedeu ao processo e condenação de Huss, declarando então achar-se interditada a cidade de Praga. GC 101 1 Naquela época, esta sentença, quando quer que fosse pronunciada, despertava geral alarma. As cerimônias que a acompanhavam, eram de molde a encher de terror ao povo que considerava o papa como representante do próprio Deus, tendo as chaves do Céu e do inferno, e possuindo poder para invocar juízos temporais bem como espirituais. Acreditava-se que as portas do Céu se fechavam contra a região atingida pelo interdito; que, até que o papa fosse servido remover a excomunhão, os mortos eram excluídos das moradas da bem-aventurança. Como sinal desta terrível calamidade, suspendiam-se todos os cultos. As igrejas foram fechadas. Celebravam-se os casamentos no pátio da igreja. Os mortos, negando-se-lhes sepultamento em terreno consagrado, eram, sem os ritos fúnebres, inumados em fossos ou no campo. Assim, por meio de medidas que apelavam para a imaginação, Roma buscava dirigir a consciência dos homens. GC 101 2 A cidade de Praga encheu-se de tumulto. Uma classe numerosa denunciou Huss como a causa de todas as suas calamidades, e rogaram fosse ele entregue à vingança de Roma. Para acalmar a tempestade, o reformador retirou-se por algum tempo à sua aldeia natal. Escrevendo aos amigos que deixara em Praga, disse: "Se me retirei do meio de vós, foi para seguir o preceito e exemplo de Jesus Cristo, a fim de não dar lugar aos mal-intencionados para atraírem sobre si a condenação eterna, e a fim de não ser para os piedosos causa de aflição e perseguição. Retirei-me também pelo receio de que os sacerdotes ímpios pudessem continuar por mais tempo a proibir a pregação da Palavra de Deus entre vós; mas não vos deixei para negar a verdade divina, pela qual, com o auxílio de Deus, estou disposto a morrer." -- Os Reformadores Antes da Reforma, de Bonnechose. Huss não cessou seus labores, mas viajou pelo território circunjacente, pregando a ávidas multidões. Destarte, as medidas a que o papa recorrera a fim de suprimir o evangelho, estavam fazendo com que este mais largamente se estendesse. "Nada podemos contra a verdade, senão pela verdade." 2 Coríntios 13:8. GC 102 1 "O espírito de Huss, nesta fase de sua carreira, parece ter sido cenário de doloroso conflito. Embora a igreja estivesse procurando fulminá-lo com seus raios, não havia ele renegado a autoridade dela. A igreja de Roma era ainda para ele a esposa de Cristo, e o papa o representante e vigário de Deus. O que Huss estava a guerrear era o abuso da autoridade, não o princípio em si mesmo. Isto acarretou terrível conflito entre as convicções de seu entendimento e os ditames de sua consciência. Se a autoridade era justa e infalível, como cria que fosse, como poderia acontecer achar-se obrigado a desobedecer-lhe? Obedecer, compreendia-o ele, significava pecar; mas por que a obediência a uma igreja infalível levaria a tal situação? Era este o problema que não podia resolver; esta a dúvida que o torturava sempre e sempre. A solução que mais justa se lhe afigurava, era que havia acontecido novamente, como já antes, nos dias do Salvador, que os sacerdotes da igreja se tinham tornado pessoas ímpias e estavam usando da autoridade lícita para fins ilícitos. Isto o levou a adotar para sua própria orientação e para guia daqueles a quem pregava, a máxima de que os preceitos das Escrituras, comunicados por meio do entendimento, devem reger a consciência; em outras palavras, de que Deus, falando na Bíblia, e não a igreja falando pelo sacerdócio, é o único guia infalível." -- Wylie. GC 102 2 Quando, depois de algum tempo, serenou a excitação em Praga, Huss voltou para a sua capela de Belém, a fim de continuar com maior zelo e ânimo a pregação da Palavra de Deus. Seus inimigos eram ativos e poderosos, mas a rainha e muitos dos nobres eram seus amigos, e o povo em grande parte o apoiava. Comparando seus ensinos puros e elevados e sua vida santa com os dogmas degradantes pregados pelos romanistas e a avareza e devassidão que praticavam, muitos consideravam uma honra estar a seu lado. GC 102 3 Até aqui Huss estivera só em seus trabalhos; agora, porém, se uniu na obra da reforma Jerônimo que, durante sua estada na Inglaterra, aceitara os ensinos de Wycliffe. Daí em diante os dois estiveram ligados durante toda a vida, e na morte não deveriam ser separados. Gênio brilhante, eloqüência e saber -- dotes que conquistaram o favor popular -- possuía-os Jerônimo em alto grau; mas quanto às qualidades que constituem a verdadeira força de caráter, Huss era maior. Seu discernimento calmo servia como restrição ao espírito impulsivo de Jerônimo, que, com verdadeira humildade, se apercebia de seu valor e cedia aos seus conselhos. Sob o trabalho de ambos a Reforma estendeu-se mais rapidamente. GC 103 1 Deus permitiu que grande luz resplandecesse no espírito daqueles homens escolhidos, revelando-lhes muitos dos erros de Roma; mas eles não receberam toda a luz que devia ser dada ao mundo. Por meio destes Seus servos, Deus estava guiando o povo para fora das trevas do romanismo; havia, porém, muitos e grandes obstáculos a serem por eles enfrentados, e Ele os guiou, passo a passo, conforme o podiam suportar. Não estavam preparados para receber toda a luz de uma vez. Como o completo fulgor do Sol do meio-dia para os que durante muito tempo permaneceram em trevas, fosse ela apresentada, tê-los-ia feito desviarem-se. Portanto Ele a revelou aos dirigentes pouco a pouco, à medida que podia ser recebida pelo povo. De século em século, outros fiéis obreiros deveriam seguir-se para guiar o povo cada vez mais longe no caminho da Reforma. GC 103 2 Persistia o cisma na igreja. Três papas contendiam pela supremacia, e sua luta encheu a cristandade de crime e tumulto. Não contentes de lançarem anátemas, recorriam às armas temporais. Cada qual se propôs obter armas e recrutar soldados. É claro que necessitavam dinheiro; e para arranjá-lo, os dons, ofícios e bênçãos da igreja eram oferecidos à venda. Os padres também, imitando os superiores, recorriam à simonia ("Tráfico de coisas sagradas ou espirituais, tais como sacramentos, dignidades, benefícios eclesiáticos, etc.") e à guerra para humilhar seus rivais e fortalecer seu próprio poder. Com uma audácia que aumentava dia a dia, Huss fulminava as abominações que eram toleradas em nome da religião; e o povo acusava abertamente os chefes romanistas como causa das misérias que oprimiam a cristandade. GC 104 1 Novamente a cidade de Praga parecia à borda de um conflito sangrento. Como nas eras anteriores, o servo de Deus foi acusado de ser "o perturbador de Israel." 1 Reis 18:17. A cidade fora de novo posta sob interdito, e Huss retirou-se para a sua aldeia natal. Finalizara-se o testemunho tão fielmente dado, de sua amada capela de Belém. Deveria falar de um cenário mais amplo, à cristandade toda, antes de depor a vida como testemunha da verdade. GC 104 2 Para sanar os males que estavam perturbando a Europa, convocou-se um concílio geral, a reunir-se em Constança. Esse concílio fora convocado a pedido do imperador Sigismundo, por um dos três papas rivais, João XXIII. À convocação de um concílio longe esteve de ser bem recebida pelo papa João, cujo caráter e política mal poderiam suportar exame, mesmo por prelados tão frouxos na moral como eram os eclesiásticos daqueles tempos. Não ousou, contudo, opor-se à vontade de Sigismundo. GC 104 3 O principal objetivo a ser cumprido pelo concílio era apaziguar o cisma da igreja e desarraigar a heresia. Conseguintemente os dois antipapas foram chamados a comparecer perante ele, bem como o principal propagador das novas opiniões, João Huss. Os primeiros, tomando em consideração sua própria segurança, não estiveram presentes em pessoa, mas fizeram-se representar por seus delegados. O Papa João, conquanto ostensivamente o convocador do concílio, compareceu com muitos pressentimentos, suspeitando do propósito secreto do imperador para depô-lo, receoso de ser chamado a contas pelos vícios que haviam infelicitado a tiara, bem como pelos crimes que a haviam garantido. Não obstante, fez sua entrada na cidade de Constança com grande pompa, acompanhado de eclesiásticos da mais alta ordem e seguido por um séquito de cortesãos. Todo o clero e dignitários da cidade, com imensa multidão de cidadãos, foram dar-lhe as boas-vindas. Vinha sob um pálio de ouro, carregado por quatro dos principais magistrados. A hóstia era levada diante dele, e as ricas vestes dos cardeais e nobres ofereciam um aspecto imponente. GC 104 4 Enquanto isto outro viajante se aproximava de Constança. Huss era sabedor dos perigos que o ameaçavam. Despediu-se de seus amigos como se jamais devesse encontrá-los de novo, e seguiu viagem pressentindo que esta o levava para a fogueira. Apesar de haver obtido salvo-conduto do rei da Boêmia, e igualmente recebido outro do imperador Sigismundo durante a viagem, dispôs os planos encarando a probabilidade de sua morte. GC 105 1 Numa carta dirigida a seus amigos em Praga, disse: "Meus irmãos, ... parto com um salvo-conduto do rei, ao encontro de numerosos e figadais inimigos. ... Confio inteiramente no Deus todo-poderoso, em meu Salvador; confio em que Ele ouvirá vossas fervorosas orações; que comunicará Sua prudência e sabedoria à minha boca, a fim de que eu possa resistir a eles; e que me outorgará Seu Espírito Santo a fim de fortificar-me em Sua verdade, de maneira que eu possa defrontar com coragem tentações, prisão e, sendo necessário, uma morte cruel. Jesus Cristo sofreu por Seus bem-amados; deveríamos, pois, estranhar que Ele nos haja deixado Seu exemplo, para que nós mesmos possamos suportar com paciência todas as coisas para a nossa própria salvação? Ele é Deus, e nós Suas criaturas; Ele é o Senhor, e nós Seus servos; Ele é o Dominador do mundo e nós somos desprezíveis mortais: no entanto Ele sofreu! Por que, pois, não deveríamos nós também sofrer, particularmente quando o sofrimento é para a nossa purificação? Portanto, amados, se minha morte deve contribuir para a Sua glória, orai para que ela venha rapidamente, e para que Ele possa habilitar-me a suportar com constância todas as minhas calamidades. Mas se for melhor que eu volte para o meio de vós, oremos a Deus para que o possa fazer sem mancha, isto é, para que eu não suprima um til da verdade do evangelho, a fim de deixar a meus irmãos um excelente exemplo a seguir. Provavelmente, pois, nunca mais contemplareis meu rosto em Praga; mas, se a vontade do Deus todo-poderoso dignar-se de restituir-me a vós, avancemos então com coração mais firme no conhecimento e no amor de Sua lei." -- Bonnechose. GC 106 1 Em outra carta, a um padre que se tornara discípulo do evangelho, Huss falava com profunda humildade de seus próprios erros, acusando-se "de ter sentido prazer em usar ricas decorações e haver despendido horas em ocupações frívolas." Acrescentou então estes tocantes conselhos: "Que a glória de Deus e a salvação das almas ocupem tua mente, e não a posse de benefícios e bens. Acautela-te de adornar tua casa mais do que tua alma; e, acima de tudo, dá teu cuidado ao edifício espiritual. Sê piedoso e humilde para com os pobres; e não consumas teus haveres em festas. Se não corrigires tua vida e te refreares das superfluidades, temo que sejas severamente castigado, como eu próprio o sou. ... Conheces minha doutrina, pois recebeste minhas instruções desde tua meninice; é-me, portanto, desnecessário escrever-te mais a respeito. Mas conjuro-te, pela misericórdia de nosso Senhor, a não me imitares em nenhuma das vaidades em que me viste cair." No invólucro da carta acrescentou: "Conjuro-te, meu amigo, a não abrires esta carta antes que tenhas a certeza de que estou morto." -- Bonnechose. GC 106 2 Em sua viagem, Huss por toda parte observou indícios da disseminação de suas doutrinas e o favor com que era considerada sua causa. O povo aglomerava-se ao seu encontro, e em algumas cidades os magistrados o escoltavam pelas ruas. GC 106 3 Chegado a Constança, concedeu-se a Huss plena liberdade. Ao salvo-conduto do imperador acrescentou-se uma garantia pessoal de proteção por parte do papa. Mas, com violação destas solenes e repetidas declarações, em pouco tempo o reformador foi preso, por ordem do papa e dos cardeais, e lançado em asquerosa masmorra. Mais tarde foi transferido para um castelo forte além do Reno e ali conservado prisioneiro. O papa, pouco lucrando com sua perfídia, foi logo depois entregue à mesma prisão. -- Bonnechose. Provara-se perante o concílio ser ele réu dos mais baixos crimes, além de assassínio, simonia e adultério -- "pecados que não convém mencionar." Assim o próprio concílio declarou; e finalmente foi ele despojado da tiara e lançado na prisão. Os antipapas também foram depostos, sendo escolhido novo pontífice. GC 107 1 Se bem que o próprio papa tivesse sido acusado de maiores crimes que os de que Huss denunciara os padres, e contra os quais exigira reforma, o mesmo concílio que rebaixou o pontífice tratou também de esmagar o reformador. O aprisionamento de Huss despertou grande indignação na Boêmia. Nobres poderosos dirigiram ao concílio protestos veementes contra o ultraje. O imperador, a quem repugnava permitir a violação de um salvo-conduto, opôs-se ao processo que lhe era movido. Mas os inimigos do reformador eram maus e decididos. Apelaram para os preconceitos do imperador, para os seus temores, seu zelo para com a igreja. Aduziram argumentos de grande extensão para provar que "não se deve dispensar fé aos hereges, tampouco a pessoas suspeitas de heresia, ainda que estejam munidas de salvo-conduto do imperador e reis." -- História do Concílio de Constança, de Lenfant. Assim, prevaleceram eles. GC 107 2 Enfraquecido pela enfermidade e reclusão, pois que o ar úmido e impuro do calabouço lhe acarretara uma febre que quase o levara à sepultura, Huss foi finalmente conduzido perante o concílio. Carregado de cadeias, ficou em pé na presença do imperador, cuja honra e boa fé tinham sido empenhadas em defendê-lo. Durante o longo processo manteve firmemente a verdade, e na presença dos dignitários da Igreja e Estado, em assembléia, proferiu solene e fiel protesto contra as corrupções da hierarquia. Quando se lhe exigiu optar entre o renunciar suas doutrinas ou sofrer a morte, aceitou a sorte de mártir. GC 107 3 Susteve-o a graça de Deus. Durante as semanas de sofrimento por que passou antes de sua sentença final, a paz do Céu encheu-lhe a alma. "Escrevo esta carta", dizia a um amigo, "na prisão e com as mãos algemadas, esperando a sentença de morte amanhã. ... Quando com o auxílio de Jesus Cristo, de novo nos encontrarmos na deliciosa paz da vida futura, sabereis quão misericordioso Deus Se mostrou para comigo, quão eficazmente me sustentou em meio de tentações e provas." -- Bonnechose. GC 108 1 Na escuridão da masmorra previa o triunfo que teria a verdadeira fé. Volvendo em sonhos à capela de Praga, onde pregara o evangelho, viu o papa e seus bispos apagando as pinturas de Cristo que desenhara nas paredes. "Esta visão angustiou-o; mas no dia seguinte viu muitos pintores ocupados na restauração dessas figuras em maior número e cores mais vivas. Concluída que foi a tarefa dos pintores, que estavam rodeados de imensa multidão, exclamaram: 'Venham agora os papas e os bispos; nunca mais as apagarão!'" Disse o reformador ao relatar o sonho: "Tenho isto como certo, que a imagem de Cristo nunca se apagará. Quiseram destruí-la, mas será pintada de novo em todos os corações por pregadores muito melhores do que eu." -- D'Aubigné. GC 108 2 Pela última vez Huss foi levado perante o concílio. Era uma vasta e brilhante assembléia: o imperador, os príncipes do império, os delegados reais, os cardeais, bispos e padres, e uma vasta multidão que acorrera para presenciar os acontecimentos do dia. De todas as partes da cristandade se reuniram testemunhas deste primeiro grande sacrifício na prolongada luta pela qual se deveria conseguir a liberdade de consciência. GC 108 3 Chamado à decisão final, Huss declarou recusar-se a renunciar e, fixando o olhar penetrante no imperador, cuja palavra empenhada fora tão vergonhosamente violada, declarou: "Decidi-me, de minha espontânea vontade, a comparecer perante este concílio, sob a pública proteção e fé do imperador aqui presente." -- Bonnechose. Intenso rubor avermelhou o rosto de Sigismundo quando o olhar de todos na assembléia para ele convergiu. GC 108 4 Pronunciada a sentença, iniciou-se a cerimônia de degradação. Os bispos vestiram o preso em hábito sacerdotal, e, enquanto recebia as vestes de padre, disse: "Nosso Senhor Jesus Cristo estava, por escárnio, coberto com um manto branco, quando Herodes o mandou conduzir perante Pilatos." -- Bonnechose. Sendo de novo exortado a retratar-se, replicou, voltando-se para o povo: "Com que cara, pois, contemplaria eu os Céus? Como olharia para as multidões de homens a quem preguei o evangelho puro? Não! aprecio sua salvação mais do que este pobre corpo, ora destinado à morte." As vestes foram removidas uma a uma, pronunciando cada bispo uma maldição ao realizar sua parte na cerimônia. Finalmente "puseram-lhe sobre a cabeça uma carapuça, ou mitra de papel em forma piramidal, em que estavam desenhadas horrendas figuras de demônios, com a palavra 'Arqui-herege' bem visível na frente. 'Com muito prazer', disse Huss, 'levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia por Teu amor, ó Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos.'" GC 109 1 Quando ficou assim trajado, "os prelados disseram: 'Agora votamos tua alma ao diabo.' 'E eu', disse João Huss, erguendo os olhos ao Céu, 'entrego meu espírito em Tuas mãos, ó Senhor Jesus, pois Tu me remiste.'" -- Wylie. GC 109 2 Foi então entregue às autoridades seculares, e levado fora ao lugar de execução. Imenso séquito o acompanhou: centenas de homens em armas, padres e bispos em seus custosos trajes e os habitantes de Constança. Quando estava atado ao poste, e tudo pronto para acender-se o fogo, o mártir uma vez mais foi exortado a salvar-se renunciando aos seus erros. "A que erros", diz Huss, "renunciarei eu? Não me julgo culpado de nenhum. Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei assim foi feito com o fim de livrar almas do pecado e perdição; e, portanto muito alegremente confirmarei com meu sangue a verdade que escrevi e preguei." -- Wylie. Quando as chamas começaram a envolvê-lo, pôs-se a cantar: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim", e assim continuou até que sua voz silenciou para sempre. GC 109 3 Mesmo os inimigos ficaram tocados com seu procedimento heróico. Um zeloso adepto de Roma, descrevendo o martírio de Huss, e de Jerônimo que morreu logo depois, disse: "Ambos se portaram com firmeza de ânimo quando se lhes aproximou a última hora. Prepararam-se para o fogo como se fosse a uma festa de casamento. Não soltaram nenhum grito de dor. Ao levantarem-se as chamas, começaram a cantar hinos, e mal podia a veemência do fogo fazer silenciar o seu canto." -- Wylie. GC 110 1 Depois de completamente consumido o corpo de Huss, suas cinzas, e a terra em que repousavam, foram ajuntadas e lançadas no Reno, e assim levadas para além do oceano. Seus perseguidores em vão imaginavam ter desarraigado as verdades que pregara. Dificilmente se dariam conta de que as cinzas naquele dia levadas para o mar deveriam ser qual semente espalhada em todos os países da Terra; de que em terras ainda desconhecidas produziriam fruto abundante em testemunho da verdade. A voz que falara no recinto do concílio em Constança, despertara ecos que seriam ouvidos através de todas as eras vindouras. Huss já não mais existia, mas as verdades por que morrera, não pereceriam jamais. Seu exemplo de fé e constância animaria multidões a permanecerem firmes pela verdade, em face da tortura e da morte. Sua execução patenteou ao mundo inteiro a pérfida crueldade de Roma. Os inimigos da verdade, posto não o soubessem, haviam estado a adiantar a causa que eles em vão procuraram destruir. GC 110 2 Contudo, outra fogueira deveria acender-se em Constança. O sangue de mais uma testemunha deveria testificar da verdade. Jerônimo, ao dizer adeus a Huss à partida para o concílio, exortou-o a que tivesse coragem e firmeza, declarando que, se caísse em algum perigo, ele próprio acudiria em seu auxílio. Ouvindo acerca da prisão do reformador, o fiel discípulo imediatamente se preparou para cumprir a promessa. Sem salvo-conduto, com um único companheiro, partiu para Constança. Ali chegando, convenceu-se de que apenas se havia exposto ao perigo, sem a possibilidade de fazer qualquer coisa para o livramento de Huss. Fugiu da cidade, mas foi preso em viagem para casa e conduzido de volta em ferros, sob a guarda de um grupo de soldados. Ao seu primeiro aparecimento perante o concílio, as tentativas de Jerônimo para responder às acusações apresentadas contra ele eram defrontadas com clamores: "Às chamas! Que vá às chamas!" -- Bonnechose. Foi lançado numa masmorra, acorrentado em posição que lhe causava grande sofrimento e alimentado a pão e água. Depois de alguns meses, as crueldades da prisão causaram-lhe uma enfermidade que lhe pôs em perigo a vida, e seus inimigos, receosos de que ele se lhes pudesse escapar, trataram-no com menos severidade, posto que permanecesse na prisão durante um ano. GC 111 1 A morte de Huss não deu os resultados que os sectários de Roma haviam esperado. A violação do salvo-conduto suscitara uma tempestade de indignação, e como meio mais seguro de agir, o concílio decidiu, em vez de queimar a Jerônimo, obrigá-lo, sendo possível, a retratar-se. Foi levado perante a assembléia e ofereceu-se-lhe a alternativa de renunciar, ou morrer na fogueira. A morte, no início de sua prisão, teria sido uma misericórdia, à vista dos terríveis sofrimentos por que passara; mas agora, enfraquecido pela moléstia, pelos rigores do cárcere e pela tortura da ansiedade e apreensão, separado dos amigos e desanimado pela morte de Huss, a fortaleza de Jerônimo cedeu, e ele consentiu em submeter-se ao concílio. Comprometeu-se a aderir à fé católica, e aceitou a ação do concílio ao condenar as doutrinas de Wycliffe e Huss, exceção feita, contudo, das "santas verdades" que tinham ensinado. -- Bonnechose. GC 111 2 Por este expediente Jerônimo se esforçou por fazer silenciar a voz da consciência e escapar da condenação. Mas, na solidão do calabouço, viu mais claramente o que havia feito. Pensou na coragem e fidelidade de Huss, e em contraste refletiu em sua própria negação da verdade. Pensou no divino Mestre a quem se comprometera a servir, e que por amor dele suportara a morte de cruz. Antes de sua retratação encontrara conforto, em todos os sofrimentos, na certeza do favor de Deus; mas agora o remorso e a dúvida lhe torturavam a alma. Sabia que ainda outras retratações haveria a fazer antes que pudesse estar em paz com Roma. O caminho em que estava entrando apenas poderia terminar em completa apostasia. Sua resolução estava tomada: não negaria ao Senhor para escapar de um breve período de sofrimento. GC 112 1 Logo foi ele novamente levado perante o concílio. Sua submissão não satisfizera aos juízes. Sua sede de sangue, aguçada pela morte de Huss, clamava por novas vítimas. Apenas renunciando à verdade, sem reservas, poderia Jerônimo preservar a vida. Decidira-se, porém, a confessar sua fé e seguir às chamas seu irmão mártir. GC 112 2 Renunciou à abjuração anterior e, como moribundo, exigiu solenemente oportunidade para fazer sua defesa. Temendo o efeito de suas palavras, os prelados insistiram em que ele meramente afirmasse ou negasse a verdade das acusações apresentadas contra ele. Jerônimo protestou contra tal crueldade e injustiça. "Conservastes-me encerrado durante trezentos e quarenta dias, numa prisão horrível", disse ele, "em meio de imundície, repugnante mau cheiro e da maior carência de tudo; trazeis-me depois diante de vós e, dando ouvidos a meus inimigos mortais, recusais-vos a ouvir-me. ... Se sois na verdade homens prudentes, e a luz do mundo, tende cuidado em não pecar contra a justiça. Quanto a mim, sou apenas um fraco mortal; minha vida não tem senão pouca importância; e, quando vos exorto a não lavrar uma sentença injusta, falo menos por mim do que por vós." -- Bonnechose. GC 112 3 Seu pedido foi, finalmente, atendido. Na presença dos juízes, Jerônimo ajoelhou-se e orou para que o Espírito divino lhe dirigisse os pensamentos e palavras, de modo que nada falasse contrário à verdade ou indigno de seu Mestre. Para ele naquele dia se cumpriu a promessa de Deus aos primeiros discípulos: "Sereis até conduzidos à presença dos governadores e dos reis por causa de Mim. ... Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós." Mateus 10:18-20. GC 112 4 As palavras de Jerônimo excitaram espanto e admiração, mesmo a seus inimigos. Durante um ano inteiro, havia ele estado emparedado numa masmorra, impossibilitado de ler ou mesmo ver, com grande sofrimento físico e ansiedade mental. No entanto, seus argumentos eram apresentados com tanta clareza e força como se houvesse tido oportunidade tranqüila para o estudo. Indicou aos ouvintes a longa série de homens santos que haviam sido condenados por juízes injustos. Em quase cada geração houve os que, enquanto procuravam enobrecer o povo de seu tempo, foram censurados e rejeitados, mas que em tempos posteriores mostraram ser dignos de honra. O próprio Cristo foi, por um tribunal injusto, condenado como malfeitor. GC 113 1 Em sua retratação, Jerônimo consentira na justiça da sentença que condenara Huss; declarou ele agora o seu arrependimento, e deu testemunho da inocência e santidade do mártir. "Conheci-o desde a meninice", disse ele. "Foi um ótimo homem, justo e santo; foi condenado apesar de sua inocência. ... Eu, eu também estou pronto para morrer; não recuarei diante dos tormentos que estão preparados para mim por meus inimigos e falsas testemunhas, que um dia terão de prestar contas de suas imposturas perante o grande Deus, a quem nada pode enganar." -- Bonnechose. GC 113 2 Reprovando-se a si mesmo por sua negação da verdade, Jerônimo continuou: "De todos os pecados que tenho cometido desde minha juventude, nenhum pesa tão gravemente em meu espírito e me causa tão pungente remorso, como aquele que cometi neste lugar fatídico, quando aprovei a iníqua sentença dada contra Wycliffe, e contra o santo mártir, João Huss, meu mestre e amigo. Sim, confesso-o de coração, e declaro com horror que desgraçadamente fraquejei quando, por medo da morte, condenei suas doutrinas. Portanto suplico... a Deus todo-poderoso, Se digne de perdoar meus pecados, e em particular este, o mais hediondo de todos." Apontando para os juízes, disse com firmeza: "Condenastes Wycliffe e João Huss, não por terem abalado a doutrina da igreja, mas simplesmente porque estigmatizaram com a reprovação os escândalos do clero: a pompa, o orgulho e todos os vícios dos prelados e padres. As coisas que eles afirmaram, e que são irrefutáveis, eu também as entendo e declaro como eles." GC 114 1 Suas palavras foram interrompidas. Os prelados, trêmulos de cólera, exclamaram: "Que necessidade há de mais prova? Contemplamos com nossos próprios olhos o mais obstinado dos hereges!" GC 114 2 Sem se abalar com a tempestade, Jerônimo exclamou: "Ora! supondes que receio morrer? Conservastes-me durante um ano inteiro em horrível masmorra, mais horrenda que a própria morte. Tratastes-me mais cruelmente do que a um turco, judeu ou pagão, e minha carne, em vida, literalmente apodreceu sobre os ossos, e contudo não me queixo, pois a lamentação não vai bem a um homem de coração e espírito; mas não posso senão exprimir meu espanto com tão grande barbaridade para com um cristão." -- Bonnechose. GC 114 3 De novo irrompeu a tempestade de cólera, e Jerônimo foi levado precipitadamente à prisão. Havia, contudo, na assembléia, alguns nos quais suas palavras produziram profunda impressão, e que desejavam salvar-lhe a vida. Foi visitado por dignitários da igreja, e instado a submeter-se ao concílio. As mais brilhantes perspectivas lhe foram apresentadas como recompensa de renunciar a sua oposição a Roma. Mas, semelhante a seu Mestre, quando se Lhe ofereceu a glória do mundo, Jerônimo permaneceu firme. GC 114 4 "Provai-me pelas Sagradas Escrituras que estou em erro", disse ele, "e o renunciarei." GC 114 5 "As Sagradas Escrituras!" exclamou um de seus tentadores; "então tudo deve ser julgado por elas? Quem as pode entender antes que a igreja as haja interpretado?" GC 114 6 "São as tradições dos homens mais dignas de fé do que o evangelho de nosso Salvador?" replicou Jerônimo. "Paulo não exortou aqueles a quem escreveu, a escutarem as tradições dos homens, mas disse: 'Esquadrinhai as Escrituras.'" GC 114 7 "Herege!" foi a resposta; "arrependo-me de ter-me empenhado tanto tempo contigo. Vejo que és impulsionado pelo diabo." -- Wylie. GC 114 8 Sem demora se proferiu sentença de morte contra ele. Foi levado ao mesmo local em que Huss rendera a vida. Cantando fez ele esse trajeto, tendo iluminado o semblante de alegria e paz. Seu olhar fixava-se em Cristo, e a morte para ele havia perdido o terror. Quando o carrasco, estando para acender a fogueira, passou por trás dele, o mártir exclamou: "Venha com ousadia para a frente; ponha fogo à minha vista. Se eu tivesse medo, não estaria aqui." Suas últimas palavras, proferidas quando as chamas se levantavam em redor dele, foram uma oração. "Senhor, Pai todo-poderoso", exclamou, "tem piedade de mim e perdoa meus pecados; pois sabes que sempre amei Tua verdade." -- Bonnechose. Sua voz cessou, mas os lábios continuaram a mover-se em oração. Tendo o fogo efetuado a sua obra, as cinzas do mártir, com a terra sobre a qual repousavam, foram reunidas e, como as de Huss, lançadas no Reno. GC 115 1 Assim pereceram os fiéis porta-luzes de Deus. Mas a luz das verdades que proclamaram -- luz de seu exemplo heróico -- não se havia de extinguir. Tanto poderiam os homens tentar desviar o Sol de seu curso como impedir o raiar daquele dia que mesmo então despontava sobre o mundo. GC 115 2 A execução de Huss acendera uma chama de indignação e horror na Boêmia. A nação inteira compreendia haver ele tombado vítima da perfídia dos padres e traição do imperador. Declarou-se ter sido ele um fiel ensinador da verdade, e o concílio que decretou sua morte foi acusado de crime de assassínio. Suas doutrinas atraíam agora maior atenção do que nunca dantes. Pelos editos papais, os escritos de Wycliffe tinham sido condenados às chamas. Aqueles, porém, que haviam escapado da destruição, foram agora tirados dos esconderijos e estudados em conexão com a Bíblia, ou partes dela que o povo podia adquirir; e muitos assim foram levados a aceitar a fé reformada. GC 115 3 Os assassinos de Huss não permaneceram silenciosos a testemunhar o triunfo que alcançava a causa do reformador. O papa e o imperador uniram-se para aniquilar o movimento, e os exércitos de Sigismundo foram lançados contra a Boêmia. GC 116 1 Surgiu, porém, um libertador. Zisca, que logo depois do início da guerra ficou completamente cego, e que no entanto era um dos mais hábeis generais de seu tempo, foi o chefe dos boêmios. Confiando no auxílio de Deus e na justiça de sua causa, aquele povo resistiu aos mais poderosos exércitos que contra eles se poderiam levar. Reiteradas vezes, o imperador, organizando novos exércitos, invadiu a Boêmia, apenas para ser vergonhosamente repelido. Os hussitas ergueram-se acima do temor da morte, e nada poderia resistir a eles. Poucos anos depois do início da guerra, o bravo Zisca morreu; mas seu lugar foi preenchido por Procópio, que era um general igualmente bravo e hábil, e nalguns sentidos dirigente mais destro. GC 116 2 Os inimigos dos boêmios, sabendo que morrera o guerreiro cego, conjeturaram ser favorável a oportunidade para recuperar tudo que haviam perdido. O papa proclama, então, uma cruzada contra os hussitas, e novamente uma imensa força se precipitou sobre a Boêmia, mas apenas para sofrer terrível desbarato. Segue-se outra cruzada. Em todos os países papais da Europa, reuniram-se homens, dinheiro e munições de guerra. Congregavam-se multidões sob o estandarte papal, seguras de que afinal se poria termo aos hereges hussitas. Confiante na vitória, a numerosa força entrou na Boêmia. O povo arregimentou-se para repeli-la. Os dois exércitos se aproximaram um do outro, até que apenas um rio se lhes interpunha. "Os cruzados constituíam força grandemente superior, mas em vez de se arremessarem através da torrente e travar batalha com os hussitas a quem de longe haviam vindo a combater, ficaram a olhar em silêncio para aqueles guerreiros." -- Wylie. Então, subitamente, misterioso terror caiu sobre os soldados. Sem desferir um golpe, aquela poderosa força debandou e espalhou-se, como se fosse dispersa por um poder invisível. Muitos foram mortos pelo exército hussita, que perseguiu os fugitivos, e imenso despojo caiu nas mãos dos vitoriosos, de maneira que a guerra, em vez de empobrecer os boêmios, os enriqueceu. GC 116 3 Poucos anos mais tarde, sob um novo papa, promoveu-se ainda outra cruzada. Como antes, homens e meios foram trazidos de todos os países papais da Europa. Grande foi o engodo apresentado aos que se deveriam empenhar nesta perigosa empresa. Assegurava-se a cada cruzado perdão completo dos mais hediondos crimes. A todos os que morressem na guerra era prometida preciosa recompensa no Céu, e os que sobrevivessem haveriam de colher honras e riquezas no campo de batalha. De novo se reuniu um vasto exército e, atravessando a fronteira, entraram na Boêmia. As forças hussitas recuaram diante deles, arrastando assim os invasores cada vez mais longe para o interior do país, e levando-os a contar com a vitória já alcançada. Finalmente o exército de Procópio fez alto e, voltando-se para o inimigo, avançou para lhe dar batalha. Os cruzados, descobrindo então o seu erro, ficaram no acampamento esperando o assalto. Quando se ouviu o ruído da força que se aproximava, mesmo antes que os hussitas estivessem à vista, um pânico de novo caiu sobre os cruzados. Príncipes, generais e soldados rasos, arrojando as armaduras, fugiram em todas as direções. Em vão o núncio papal, que era o dirigente da invasão, se esforçou para reunir suas forças possuídas de terror e já desorganizadas. Apesar de seus enormes esforços, ele próprio foi levado na onda dos fugitivos. A derrota foi completa, e novamente um imenso despojo caiu nas mãos dos vitoriosos. GC 117 1 Assim pela segunda vez, vasto exército, enviado pelas mais poderosas nações da Europa, uma hoste de homens bravos e aguerridos, treinados e equipados para a batalha, fugiu, sem dar um golpe, de diante dos defensores de uma nação pequena e, até ali, fraca. Havia nisso uma manifestação do poder divino. Os invasores foram tomados de pavor sobrenatural. Aquele que derrotou os exércitos de Faraó no Mar Vermelho, que pôs em fuga os exércitos de Midiã diante de Gideão e seus trezentos, que numa noite derribou as forças do orgulhoso assírio, de novo estendera a mão para debilitar o poder do opressor. "Eis que se acharam em grande temor, onde temor não havia, porque Deus espalhou os ossos daquele que te cercava; tu os confundiste, porque Deus os rejeitou." Salmos 53:5. GC 118 1 Os líderes papais, perdendo a esperança de vencer pela força, recorreram finalmente à diplomacia. Adotou-se um compromisso mútuo que, se bem que pretendesse conceder liberdade de consciência aos boêmios, realmente, traindo-os, entregava-os ao poder de Roma. Os boêmios tinham especificado quatro pontos como condições de paz com Roma: pregação livre da Bíblia; o direito da igreja toda, tanto ao pão como ao vinho na comunhão, e o uso da língua materna no culto divino; a exclusão do clero de todos os ofícios e autoridades seculares; e nos casos de crime, a jurisdição das cortes civis tanto para o clero como para os leigos. As autoridades papais finalmente "concordaram em que os quatro artigos dos hussitas deveriam ser aceitos, mas que o direito de os explicar, isto é, de determinar sua significação exata, deveria pertencer ao concílio ou, em outras palavras, ao papa e ao imperador." -- Wylie. Nesta base, fez-se um tratado, e Roma ganhou, pela dissimulação e fraude, o que não tinha conseguido pelo conflito; pois, dando sua própria interpretação aos artigos hussitas, como à Escritura Sagrada, ela poderia perverter-lhes o sentido de modo a convir a seus propósitos. GC 118 2 Uma classe numerosa na Boêmia, vendo que isto traía sua liberdade, não se conformou com o tratado. Surgiram dissensões e divisões, que levaram à contenda e derramamento de sangue entre eles mesmos. Nesta luta o nobre Procópio sucumbiu, e pereceu a liberdade da Boêmia. GC 118 3 Sigismundo, traidor de Huss e Jerônimo, tornou-se agora rei da Boêmia, e sem consideração para com o seu juramento de apoiar os direitos dos boêmios, prosseguiu com o estabelecimento do papado. Ele, porém, pouco ganhara com sua subserviência a Roma. Durante vinte anos sua vida estivera repleta de trabalhos e perigos. Seus exércitos tinham sido arruinados, e esgotados os seus tesouros por uma longa e infrutífera luta, e agora, depois de reinar um ano, morreu, deixando seu reino às bordas da guerra civil e legando à posteridade um nome estigmatizado com a infâmia. GC 118 4 Seguiram-se tumultos, contendas e carnificina. Exércitos estrangeiros invadiram de novo a Boêmia, e dissensões internas continuaram a perturbar a nação. Aqueles que permaneceram fiéis ao evangelho, foram sujeitos a uma perseguição sanguinolenta. GC 119 1 Como seus irmãos de outrora, entrando em pacto com Roma, houvessem aceito seus erros, os que permaneciam na antiga fé formaram-se em igreja distinta, tomando o nome de "Irmãos Unidos." Este ato acarretou sobre eles as maldições de todas as classes. Contudo sua firmeza era inabalável. Obrigados a buscar refúgio nos bosques e cavernas, congregavam-se ainda para ler a Palavra de Deus, e unir-se em Seu culto. GC 119 2 Por meio de mensageiros enviados secretamente a diversos países, souberam que aqui e acolá havia "os que isoladamente confessavam a verdade, alguns numa cidade, outros noutra, como eles próprios, objeto de perseguição; e que entre as montanhas dos Alpes havia uma antiga igreja, apoiada no fundamento das Escrituras e protestando contra as corrupções idolátricas de Roma." -- Wylie. Esta informação foi recebida com grande alegria, e iniciou-se correspondência com os cristãos valdenses. GC 119 3 Firmes no evangelho, os boêmios esperaram através da noite de sua perseguição, ainda volvendo os olhos para o horizonte, na hora mais tenebrosa, semelhantes aos homens que esperam a manhã. "Sua sorte fora lançada em dias maus mas... lembravam-se das palavras primeiramente proferidas por Huss e repetidas por Jerônimo, de que um século deveria passar antes que raiasse o dia. Estas foram para os taboritas [hussitas] o que, para as tribos na casa da servidão, foram as palavras de José: 'Eu morro; mas Deus certamente vos visitará, e vos fará subir desta terra.'" -- Wylie. "O período final do século XV testemunhou o aumento vagaroso mas certo das igrejas dos Irmãos. Se bem que longe de não serem incomodados, gozavam de relativo descanso. No princípio do século XVI, suas igrejas eram em número de duzentas na Boêmia e na Morávia." -- Vida e Tempos de João Huss, de Gillet. "Assim, numerosos foram os restantes que, escapando da fúria destruidora do fogo e da espada, tiveram o privilégio de ver o raiar daquele dia que Huss predissera." -- Wylie. ------------------------Capítulo 7 -- A influência de um bom lar GC 120 1 Preeminente entre os que foram chamados para dirigir a igreja das trevas do papado à luz de uma fé mais pura, acha-se Martinho Lutero. Zeloso, ardente e dedicado, não conhecendo outro temor senão o de Deus, e não reconhecendo outro fundamento para a fé religiosa além das Escrituras Sagradas, Lutero foi o homem para o seu tempo; por meio dele Deus efetuou uma grande obra para a reforma da igreja e esclarecimento do mundo. GC 120 2 Como os primeiros arautos do evangelho, Lutero proveio das classes pobres. Seus primeiros anos se passaram no humilde lar de um camponês alemão. Pelo trabalho diário de mineiro que era, seu pai ganhava os meios para a sua educação. Ele o destinava a ser advogado; mas Deus tencionava fazer dele um construtor no grande templo que tão vagarosamente se vinha erigindo, através dos séculos. Agruras, privações e severa disciplina foram a escola na qual a Sabedoria infinita preparou Lutero para a importante missão de sua vida. GC 120 3 O pai de Lutero era homem de espírito forte e ativo, e de grande força de caráter, honesto, resoluto e correto. Era fiel às suas convicções de dever, fossem quais fossem as conseqüências. Seu genuíno bom senso levava-o a considerar com desconfiança a organização monástica. Ficou muito desgostoso quando Lutero, sem seu consentimento, entrou para o convento, só se reconciliando com o filho passados dois anos, e mesmo então suas opiniões permaneceram as mesmas. GC 121 1 Os pais de Lutero dispensavam grande cuidado à educação e ensino dos filhos. Esforçavam-se por instruí-los no conhecimento de Deus e prática das virtudes cristãs. Ouvida por seu filho, muitas vezes ascendia ao Céu a oração do pai, a fim de que o filho pudesse lembrar-se do nome do Senhor, e um dia auxiliar no avançamento de Sua verdade. Todas as vantagens para a cultura moral ou intelectual que sua vida de trabalhos lhes permitia gozar, aproveitavam-nas avidamente aqueles pais. Ardorosos e perseverantes eram seus esforços por preparar os filhos para uma vida piedosa e útil. Com sua firmeza e força de caráter, muitas vezes exerciam severidade excessiva; mas o próprio reformador, embora consciente de que em alguns respeitos haviam errado, encontrava em sua disciplina mais para aprovar do que condenar. GC 121 2 Na escola, para onde foi mandado com pouca idade, Lutero foi tratado com aspereza e mesmo violência. Tão grande era a pobreza de seus pais que, ao ir de casa para a escola noutra cidade, foi por algum tempo obrigado a ganhar o pão cantando de porta em porta, e muitas vezes passava fome. As tristes e supersticiosas idéias sobre religião, que então prevaleciam, enchiam-no de temor. À noite deitava-se com coração triste, olhando a tremer para o tenebroso futuro, e com um contínuo terror ao pensar em Deus como juiz severo e implacável, tirano cruel, em vez de bondoso Pai celestial. GC 121 3 Não obstante, sob tantos e tão grandes desalentos, Lutero avançou resolutamente para a elevada norma de excelência moral e intelectual que lhe atraía a alma. Tinha sede de saber, e seu feitio de espírito ardoroso e prático, levou-o a desejar o que é sólido e útil em vez do que é vistoso e superficial. GC 121 4 Quando, à idade de dezoito anos, entrou na Universidade de Erfurt, sua situação foi mais favorável e suas perspectivas mais brilhantes do que nos primeiros anos. Os pais, havendo pela economia e trabalho conseguido certo bem-estar, puderam prestar-lhe todo o auxílio necessário. E a influência de amigos judiciosos, diminuiu até certo ponto os efeitos sombrios de seu ensino anterior. Aplicou-se ao estudo dos melhores autores, entesourando diligentemente seus mais ponderados conceitos e fazendo sua própria a sabedoria dos sábios. Mesmo sob a ríspida disciplina dos mestres anteriores, cedo apresentara ele promessa de distinção; e sob influências favoráveis, seu espírito logo se desenvolveu. Memória retentiva, vívida imaginação, poderosa faculdade de raciocinar e aplicação incansável, colocaram-no logo em primeiro lugar entre seus companheiros. A disciplina intelectual amadureceu-lhe o entendimento, despertando uma atividade de espírito e agudeza de percepção que o estavam preparando para os embates da vida. GC 122 1 O temor do Senhor habitava no coração de Lutero, habilitando-o a manter sua firmeza de propósito e levando-o a profunda humildade perante Deus. Ele tinha uma constante intuição de sua dependência do auxílio divino, e não deixava de iniciar cada dia com oração, enquanto o íntimo estava continuamente a respirar uma súplica de guia e apoio. "Orar bem", dizia ele muitas vezes, "é a melhor metade do estudo." GC 122 2 Enquanto um dia examinava os livros da Biblioteca da Universidade, Lutero descobriu uma Bíblia latina. Nunca dantes vira tal Livro. Ignorava mesmo sua existência. Tinha ouvido porções dos evangelhos e epístolas, que se liam ao povo no culto público, e supunha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez, olhava para o todo da Palavra de Deus. Com um misto de reverência e admiração, folheava as páginas sagradas. Pulso acelerado e coração palpitante, lia por si mesmo as palavras de vida, detendo-se aqui e acolá para exclamar: "Oh! quem dera Deus me desse tal livro!" -- História da Reforma do Século XVI, D'Aubigné. Anjos celestiais estavam a seu lado, e raios de luz procedentes do trono de Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre temera ofender a Deus, mas agora a profunda convicção de seu estado pecaminoso apoderou-se dele como nunca dantes. GC 123 1 Um desejo ardente de se achar livre do pecado e encontrar paz com Deus, levou-o afinal a entrar para um mosteiro e dedicar-se à vida monástica. Exigiu-se-lhe, ali, efetuar os mais humildes trabalhos e mendigar de porta em porta. Estava na idade em que o respeito e a apreciação são mais avidamente desejados, e essas ocupações servis eram profundamente mortificadoras para os seus sentimentos naturais; pacientemente, porém, suportou a humilhação, crendo ser necessária por causa de seus pecados. GC 123 2 Todo momento que podia poupar de seus deveres diários empregava-o no estudo, furtando-se ao sono e cedendo mesmo a contragosto o tempo empregado em suas escassas refeições. Acima de tudo se deleitava no estudo da Palavra de Deus. Achara uma Bíblia acorrentada à parede do convento, e a ela muitas vezes recorria. Aprofundando-se suas convicções de pecado, procurou pelas próprias obras obter perdão e paz. Levava vida austera, esforçando-se por meio de jejuns, vigílias e penitências para subjugar os males de sua natureza, dos quais a vida monástica não o libertava. Não recuava ante sacrifício algum pelo qual pudesse atingir a pureza de coração que o habilitaria a ficar aprovado perante Deus. "Eu era na verdade um monge piedoso", disse, mais tarde, "e seguia as regras de minha ordem mais estritamente do que possa exprimir. Se fora possível a um monge obter o Céu por suas obras monásticas, eu teria certamente direito a ele. ... Se eu tivesse continuado por mais tempo, teria levado minhas mortificações até à própria morte." -- D'Aubigné. Como resultado desta dolorosa disciplina, perdeu as forças e sofreu de desmaios, de cujos efeitos nunca se restabeleceu por completo. Mas com todos os seus esforços, a alma sobrecarregada não encontrou alívio. Finalmente foi arrojado às bordas do desespero. GC 123 3 Quando pareceu a Lutero que tudo estava perdido, Deus lhe suscitou um amigo e auxiliador. O piedoso Staupitz abriu a Palavra de Deus ao espírito de Lutero, mandando-lhe que não mais olhasse para si mesmo, que cessasse a contemplação do castigo infinito pela violação da lei de Deus, e olhasse a Jesus, seu Salvador que perdoa os pecados. "Em vez de torturar-te por causa de teus pecados, lança-te nos braços do Redentor. Confia nEle, na justiça de Sua vida, na expiação de Sua morte. ... Escuta ao Filho de Deus. Ele Se fez homem para te dar a certeza do favor divino." "Ama Aquele que primeiro te amou." -- D'Aubigné. Assim falava aquele mensageiro da misericórdia. Suas palavras produziram profunda impressão no espírito de Lutero. Depois de muita luta contra erros, longamente acalentados, pôde ele aprender a verdade e lhe veio paz à alma perturbada. GC 124 1 Lutero foi ordenado sacerdote, sendo chamado do claustro para o cargo de professor da Universidade de Wittenberg. Ali se aplicou ao estudo das Escrituras nas línguas originais. Começou a fazer conferências sobre a Bíblia; e o livro dos Salmos, os Evangelhos e as Epístolas abriram-se à compreensão de multidões que se deleitavam em ouvi-lo. Staupitz, seu amigo e superior, insistia com ele para que subisse ao púlpito e pregasse a Palavra de Deus. Lutero hesitava, sentindo-se indigno de falar ao povo em lugar de Cristo. Foi apenas depois de longa luta que cedeu às solicitações dos amigos. Era já poderoso nas Escrituras, e sobre ele repousava a graça de Deus. Sua eloqüência cativava os ouvintes, a clareza e poder com que apresentava a verdade levavam-nos à convicção, e seu fervor tocava os corações. GC 124 2 Lutero ainda era um verdadeiro filho da igreja papal, e não tinha idéia alguma de que houvesse de ser alguma outra coisa. Na providência de Deus foi levado a visitar Roma. Seguiu viagem a pé, hospedando-se nos mosteiros, pelo caminho. Em um convento na Itália, encheu-se de admiração ante a riqueza, magnificência e luxo que testemunhou. Dotados de uma receita principesca, os monges habitavam em esplêndidos compartimentos, ornamentavam-se com as mais ricas e custosas vestes, e banqueteavam-se em suntuosas mesas. Com dolorosos pressentimentos Lutero contrastou esta cena com a renúncia e rigores de sua própria vida. O espírito estava-se-lhe tornando perplexo. GC 124 3 Afinal, contemplou a distância a cidade das sete colinas. Com profunda emoção prostrou-se ao solo, exclamando: "Santa Roma, eu te saúdo!" -- D'Aubigné. Entrou na cidade, visitou as igrejas, ouviu as histórias maravilhosas repetidas pelos padres e monges, e cumpriu todas as cerimônias exigidas. Por toda parte via cenas que o enchiam de espanto e horror. Observava a iniqüidade que existia entre todas as classes do clero. Ouviu gracejos imorais dos prelados, e horrorizou-se com sua espantosa profanidade, mesmo durante a missa. Ao associar-se aos monges e cidadãos, deparou com desregramento, libertinagem. Para onde quer que se volvesse, encontrava sacrilégio em lugar de santidade. "Ninguém pode imaginar", escreveu ele, "que pecados e ações infames se cometem em Roma; precisam ser vistos e ouvidos para serem cridos. Por isso costumam dizer: 'Se há inferno, Roma está construída sobre ele: é um abismo donde procede toda espécie de pecado.'" -- D'Aubigné. GC 125 1 Por um decreto recente, fora prometida pelo papa certa indulgência a todos os que subissem de joelhos a "escada de Pilatos", que se diz ter sido descida por nosso Salvador ao sair do tribunal romano, e miraculosamente transportada de Jerusalém para Roma. Lutero estava certo dia subindo devotamente esses degraus, quando de súbito uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: "O justo viverá da fé." Romanos 1:17. Ergueu-se de um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse texto nunca perdeu a força sobre sua alma. Desde aquele tempo, viu mais claramente do que nunca dantes a falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade de fé constante nos méritos de Cristo. Tinham-se-lhe aberto os olhos, e nunca mais se deveriam fechar aos enganos do papado. Quando ele deu as costas a Roma, também dela volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada vez maior, até romper todo contato com a igreja papal. GC 125 2 Depois de voltar de Roma, Lutero recebeu na Universidade de Wittenberg o grau de doutor em teologia. Estava agora na liberdade de se dedicar, como nunca dantes, às Escrituras que ele amava. Fizera solene voto de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus e todos os dias de sua vida pregá-la com fidelidade, e não os dizeres e doutrinas dos papas. Não mais era o simples monge ou professor, mas o autorizado arauto da Bíblia. Fora chamado para pastor a fim de alimentar o rebanho de Deus, que tinha fome e sede da verdade. Declarava firmemente que os cristãos não deveriam receber outras doutrinas senão as que se apóiam na autoridade das Sagradas Escrituras. Estas palavras feriram o próprio fundamento da supremacia papal. Continham o princípio vital da Reforma. GC 126 1 Lutero via o perigo de exaltar teorias humanas sobre a Palavra de Deus. Corajosamente atacava a incredulidade especulativa dos escolásticos, e opunha-se à filosofia e teologia que durante tanto tempo mantiveram sobre o povo a influência dominante. Denunciou tais estudos não somente como indignos mas perniciosos, e procurava desviar o espírito de seus ouvintes dos sofismas dos filósofos e teólogos para as verdades eternas apresentadas pelos profetas e apóstolos. GC 126 2 Preciosa era a mensagem que levava às ávidas multidões, que ficavam embevecidas ante suas palavras. Nunca dantes tais ensinos lhes haviam caído aos ouvidos. As alegres novas do amante Salvador, a certeza de perdão e paz mediante Seu sangue expiatório, alegravam-lhes o coração, inspirando-lhes imorredoura esperança. Acendeu-se em Wittenberg uma luz cujos raios deveriam estender-se às regiões mais remotas da Terra, aumentando em brilho até ao final do tempo. GC 126 3 Mas a luz e as trevas não podem combinar. Entre a verdade e o erro há um conflito irreprimível. Apoiar e defender um é atacar e subverter o outro. Nosso Salvador mesmo declarou: "Não vim trazer paz, mas espada." Mateus 10:34. Disse Lutero, alguns anos depois do início da Reforma: "Deus não me guia, Ele me impele avante, arrebata-me. Não sou senhor de mim mesmo. Desejo viver em repouso; mas sou arrojado ao meio de tumultos e revoluções." -- D'Aubigné. Ele estava então a ponto de ser compelido à disputa. GC 127 1 A igreja de Roma mercadejava com a graça de Deus. As mesas dos cambistas (Mateus 21:12) foram postas ao lado de seus altares, e o ar ressoava com o clamor dos compradores e vendedores. Com a alegação de levantar fundos para a ereção da igreja de São Pedro, em Roma, publicamente se ofereciam à venda indulgências, por autorização do papa. Pelo preço do crime deveria construir-se um templo para o culto de Deus -- a pedra fundamental assentada com o salário da iniqüidade! Mas os próprios meios adotados para o engrandecimento de Roma, provocaram o mais mortal dos golpes ao seu poderio e grandeza. Foi isto que suscitou o mais resoluto e eficaz dos inimigos do papado, determinando a batalha que abalou o trono papal e fez tremer na cabeça do pontífice a tríplice coroa. GC 127 2 Tetzel, o oficial designado para dirigir a venda das indulgências na Alemanha, era culpado das mais vis ofensas à sociedade e à lei de Deus; havendo, porém, escapado dos castigos devidos aos seus crimes, foi empregado para promover os projetos mercenários e nada escrúpulos do papa. Com grande descaramento repetia as mais deslumbrantes falsidades, e relatava histórias maravilhosas para enganar um povo ignorante, crédulo e supersticioso. Tivesse este a Palavra de Deus, e não teria sido enganado dessa maneira. Foi para conservá-lo sob o domínio do papado, a fim de aumentar o poderio e riqueza de seus ambiciosos dirigentes, que a Bíblia fora dele retirada. (Ver História Eclesiástica, de Gieseler.) GC 127 3 Ao entrar Tetzel numa cidade, um mensageiro ia adiante dele, anunciando: "A graça de Deus e do santo padre está às vossas portas!" -- D'Aubigné. E o povo recebia o pretensioso blasfemo como se fosse o próprio Deus a eles descido do Céu. GC 127 4 O infame tráfico era estabelecido na igreja, e Tetzel, subindo ao púlpito, exaltava as indulgências como o mais precioso dom de Deus. Declarava que em virtude de seus certificados de perdão, todos os pecados que o comprador mais tarde quisesse cometer ser-lhe-iam perdoados, e que "mesmo o arrependimento não é necessário." -- D'Aubigné. Mais do que isto, assegurava aos ouvintes que as indulgências tinham poder para salvar não somente os vivos mas também os mortos; que, no mesmo instante em que o dinheiro tinia de encontro ao fundo de sua caixa, a alma em cujo favor era pago escaparia do purgatório, ingressando no Céu. -- História da Reforma, de Hagenbach. GC 128 1 Quando Simão, o mago, propôs comprar dos apóstolos o poder de operar milagres, Pedro lhe respondeu: "O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro." Atos 8:20. A oferta de Tetzel, porém, foi aceita por ávidos milhares. Ouro e prata eram canalizados para o seu tesouro. Uma salvação que se poderia comprar com dinheiro obtinha-se mais facilmente do que a que exige o arrependimento, fé e esforço diligente para resistir ao pecado e vencê-lo. GC 128 2 À doutrina das indulgências tinham-se oposto homens de saber e piedade da Igreja Romana, e muitos havia que não tinham fé em pretensões tão contrárias tanto à razão como à revelação. Nenhum prelado ousou erguer a voz contra este iníquo comércio; mas o espírito dos homens estava-se tornando perturbado e desassossegado, e muitos com avidez inquiriam se Deus não operaria mediante algum instrumento a purificação de Sua igreja. GC 128 3 Lutero, conquanto ainda católico romano da mais estrita classe, encheu-se de horror ante as blasfemas declarações dos traficantes das indulgências. Muitos de sua própria congregação haviam comprado certidões de perdão, e logo começaram a dirigir-se a seu pastor, confessando seus vários pecados e esperando absolvição, não porque estivessem arrependidos e desejassem corrigir-se, mas sob o fundamento da indulgência. Lutero recusou-lhes a absolvição, advertindo-os de que, a menos que se arrependessem e reformassem a vida, haveriam de perecer em seus pecados. Com grande perplexidade voltaram a Tetzel, queixando-se de que seu confessor recusara-lhes o certificado; e alguns ousadamente exigiram que se lhes restituísse o dinheiro. O frade encheu-se de cólera. Proferiu as mais terríveis maldições, fez com que se ascendessem fogos nas praças públicas, e declarou haver "recebido ordem do papa para queimar todos os hereges que pretendessem opor-se às suas santíssimas indulgências." -- D'Aubigné. GC 129 1 Entra Lutero, então, ousadamente, em sua obra como campeão da verdade. Sua voz era ouvida do púlpito em advertência ardorosa e solene. Expôs ao povo o caráter ofensivo do pecado, ensinando-lhes ser impossível ao homem, por suas próprias obras, diminuir as culpas ou fugir ao castigo. Nada, a não ser o arrependimento para com Deus e a fé em Cristo, pode salvar o pecador. A graça de Cristo não pode ser comprada; é dom gratuito. Aconselhava o povo a não comprar indulgências, mas a olhar com fé para um Redentor crucificado. Relatou sua própria e penosa experiência ao procurar em vão pela humilhação e penitência conseguir salvação, e afirmou a seus ouvintes que foi olhando fora de si mesmo e crendo em Cristo que encontrara paz e alegria. GC 129 2 Prosseguindo Tetzel com seu comércio e ímpias pretensões, Lutero decidiu-se a um protesto mais eficaz contra esses clamorosos abusos. Logo se lhe apresentou uma ocasião. A igreja do castelo de Wittenberg possuía muitas relíquias, que em certos dias santos eram expostas ao público, e concedia-se completa remissão de pecados a todos os que então visitassem a igreja e se confessassem. Em conformidade com isto, o povo naqueles dias para ali acudia em grande número. Uma das mais importantes destas ocasiões, a festa de "Todos os Santos", estava-se aproximando. GC 129 3 Na véspera, Lutero, reunindo-se às multidões que já seguiam para a igreja, afixou na porta desta um papel contendo noventa e cinco proposições contra a doutrina das indulgências. Declarou sua disposição de defender essas teses no dia seguinte na Universidade, contra todos os que achassem conveniente atacá-las. GC 130 1 Suas proposições atraíram a atenção geral. Eram lidas e relidas, e repetidas de todos os lados. Estabeleceu-se grande excitação na Universidade e na cidade inteira. Mostravam essas teses que o poder de conferir o perdão do pecado e remir de sua pena, jamais fora confiado ao papa ou a qualquer outro homem. Todo esse plano era uma farsa, um artifício para extorquir dinheiro, valendo-se das superstições do povo -- expediente de Satanás para destruir a alma de todos os que confiassem em suas pretensões mentirosas. Mostrou-se também claramente que o evangelho de Cristo é o mais valioso tesouro da igreja, e que a graça de Deus, nele revelada, é livremente concedida a todos os que a buscam com arrependimento e fé. GC 130 2 As teses de Lutero desafiavam discussão; mas ninguém ousou aceitar o repto. As questões por ele propostas, em poucos dias se espalharam por toda a Alemanha, e em breves semanas repercutiram pela cristandade toda. Muitos dedicados romanistas que tinham visto e lamentado a terrível iniqüidade que prevalecia na igreja, mas não sabiam como deter seus progressos, leram as proposições com grande alegria, reconhecendo nelas a voz de Deus. Pressentiam que o Senhor graciosamente estendera a mão para deter a maré de corrupção que crescia rapidamente e que promanava da Sé de Roma. Príncipes e magistrados secretamente se regozijavam de que estava para ser posto um paradeiro ao arrogante poder que negava o direito de apelar contra suas decisões. GC 130 3 As multidões, supersticiosas e amantes do pecado, ficaram aterrorizadas quando se varreram os sofismas que lhes acalmavam os temores. Ardilosos eclesiásticos, interrompidos em sua obra de sancionar o crime, e vendo perigar seus lucros, encolerizaram-se e se arregimentaram para sustentar suas pretensões. O reformador teve atrozes acusadores a defrontar. Alguns o acusavam de agir precipitadamente e por impulso. Outros, de ser presunçoso, declarando mais que ele não era dirigido por Deus, mas que atuava por orgulho e ardor. "Quem é que não sabe", respondia ele, "que raramente um homem apresenta uma idéia nova, sem que tenha alguma aparência de orgulho, e seja acusado de excitar rixas? ... Por que foram mortos Cristo e todos os mártires? Porque pareciam ser orgulhosos desprezadores da sabedoria de seu tempo, e porque apresentavam idéias novas sem ter primeiro humildemente tomado conselho com os oráculos das antigas opiniões." GC 131 1 Declarou mais: "O que quer que eu faça, não será feito pela prudência do homem, mas pelo conselho de Deus. Se a obra for de Deus, quem a poderá deter? se não, quem a poderá promover? Nem minha vontade, nem a deles, nem a nossa; mas a Tua vontade, ó santo Pai, que estás no Céu." -- D'Aubigné. GC 131 2 Posto que Lutero tivesse sido movido pelo Espírito de Deus para iniciar sua obra, não a deveria ele levar avante sem severos conflitos. As acusações dos inimigos, a difamação de seus propósitos e os injustos e maldosos reparos acerca de seu caráter e intuitos, sobrevieram-lhe como um dilúvio avassalador; e não ficaram sem efeito. Ele confiara em que os dirigentes do povo, tanto na igreja como nas escolas, se lhe uniriam alegremente nos esforços em favor da Reforma. Palavras de animação por parte dos que se achavam em elevadas posições, haviam-lhe inspirado alegria e esperança. Já, em antecipação, vira ele um dia mais radiante despontar para a igreja. Mas a animação tinha-se transformado em censuras e condenações. Muitos dignitários, tanto da Igreja como do Estado, estavam convictos da verdade de suas teses; mas logo viram que a aceitação dessas verdades implicaria grandes mudanças. Esclarecer e reformar o povo corresponderia virtualmente a minar a autoridade de Roma, sustar milhares de torrentes que ora fluíam para o seu tesouro e, assim, grandemente cercear a extravagância e luxo dos chefes papais. Demais, ensinar o povo a pensar e agir como seres responsáveis, buscando apenas de Cristo a salvação, subverteria o trono do pontífice, destruindo finalmente sua própria autoridade. Por esta razão recusaram o conhecimento a eles oferecido por Deus, e se dispuseram contra Cristo e a verdade pela sua oposição ao homem que Ele enviara para os esclarecer. GC 132 1 Lutero tremia quando olhava para si mesmo -- um só homem opor-se às mais poderosas forças da Terra. Algumas vezes duvidava se havia sido, na verdade, levado por Deus a colocar-se contra a autoridade da igreja. "Quem era eu", escreveu ele, "para opor-me à majestade do papa, perante quem... os reis da Terra e o mundo inteiro tremiam? ... Ninguém poderá saber o que meu coração sofreu durante estes primeiros dois anos, e em que desânimo, poderia dizer em que desespero, me submergi." -- D'Aubigné. Mas ele não foi abandonado ao desânimo. Quando faltou o apoio humano, olhou para Deus somente, e aprendeu que poderia arrimar-se em perfeita segurança Àquele todo-poderoso braço. GC 132 2 A um amigo da Reforma, Lutero escreveu: "Não podemos atingir a compreensão das Escrituras, quer pelo estudo quer pelo intelecto. Teu primeiro dever é começar pela oração. Roga ao Senhor que te conceda, por Sua grande misericórdia, o verdadeiro entendimento de Sua Palavra. Não há nenhum intérprete da Palavra de Deus senão o Autor dessa Palavra, como Ele mesmo diz: 'E serão todos ensinados por Deus.' Nada esperes de teus próprios trabalhos, de tua própria compreensão: confia somente em Deus, e na influência de Seu Espírito. Crê isto pela palavra de um homem que tem tido experiência." -- D'Aubigné. Eis aqui uma lição de importância vital para os que sentem que Deus os chamou a fim de apresentar a outrem as verdades solenes para este tempo. Estas verdades suscitarão a inimizade de Satanás e dos homens que amam as fábulas que ele imaginou. No conflito com os poderes do mal, há necessidade de algo mais do que força de intelecto e sabedoria humana. GC 132 3 Quando inimigos apelavam para os costumes e tradições, ou para as afirmações e autoridade do papa, Lutero os enfrentava com a Bíblia, e com a Bíblia unicamente. Ali estavam argumentos que não podiam refutar; portanto os escravos do formalismo e superstição clamavam por seu sangue, como o fizeram os judeus pelo sangue de Cristo. "Ele é um herege", bradavam os zelosos romanos. "É alta traição à igreja permitir que tão horrível herege viva uma hora mais. Arme-se imediatamente para ele a forca!" -- D'Aubigné. GC 133 1 Lutero, porém, não caiu vítima da fúria deles. Deus tinha uma obra para ele fazer, e a fim de o proteger foram enviados anjos do Céu. Entretanto, muitos que de Lutero tinham recebido a preciosa luz, tornaram-se objeto da ira de Satanás, e por amor à verdade sofreram corajosamente tortura e morte. GC 133 2 Os ensinos de Lutero atraíram a atenção dos espíritos pensantes de toda a Alemanha. De seus sermões e escritos procediam raios de luz que despertavam e iluminavam a milhares. Uma fé viva estava tomando o lugar do morto formalismo em que a igreja se mantivera durante tanto tempo. O povo estava diariamente perdendo a confiança nas superstições do romanismo. As barreiras do preconceito iam cedendo. A Palavra de Deus, pela qual Lutero provava toda a doutrina e qualquer reclamo, era semelhante a uma espada de dois gumes, abrindo caminho ao coração do povo. Por toda parte se despertava o desejo de progresso espiritual. Fazia séculos que não se via, tão generalizada, a fome e sede de justiça. Os olhos do povo, havia tanto voltados para ritos humanos e mediadores terrestres, volviam-se agora em arrependimento e fé para Cristo, e Este crucificado. GC 133 3 Esse interesse generalizado, mais ainda despertou os temores das autoridades papais. Lutero recebeu intimação para comparecer a Roma, a fim de responder pela acusação de heresia. A ordem encheu de terror a seus amigos. Sabiam perfeitamente bem o perigo que o ameaçava naquela corrupta cidade, já embriagada com o sangue dos mártires de Jesus. Protestaram contra sua ida a Roma, e requereram fosse ele interrogado na Alemanha. GC 133 4 Assim se fez por fim e foi designado o núncio papal para ouvir o caso. Nas instruções comunicadas pelo pontífice a esse legado, referiu-se que Lutero fora já declarado herege. O núncio foi, portanto, encarregado, de o "processar e constranger sem demora." Se ele permanecesse firme, e o legado não conseguisse apoderar-se de sua pessoa, tinha poderes "para proscrevê-lo em todas as partes da Alemanha; banir, amaldiçoar e excomungar todos os que estivessem ligados a ele." -- D'Aubigné. E, além disso, determinou a seu legado, a fim de desarraigar inteiramente a pestífera heresia, que, exceto o imperador, excomungasse de qualquer dignidade na Igreja ou Estado, a todos os que negligenciassem prender Lutero e seus adeptos, entregando-os à vingança de Roma. GC 134 1 Aqui se patenteia o verdadeiro espírito do papado. Nenhum indício de princípios cristãos, ou mesmo de justiça comum, se pode notar no documento todo. Lutero estava a grande distância de Roma; não tivera oportunidade de explicar ou defender sua atitude; no entanto, antes que seu caso fosse investigado, era sumariamente declarado herege, e no mesmo dia exortado, acusado, julgado e condenado; e tudo isto por aquele que se intitulava santo pai, a única autoridade suprema, infalível na Igreja ou no Estado! GC 134 2 Nessa ocasião, em que Lutero tanto necessitava da simpatia e conselho de um verdadeiro amigo, a providência de Deus enviou Melâncton a Wittenberg. Jovem, modesto e tímido nas maneiras, o são discernimento de Melâncton, seu extenso saber e convincente eloqüência, combinados com a pureza e retidão de caráter, conquistaram admiração e estima gerais. O brilho de seus talentos não era mais assinalado do que a gentileza de suas maneiras. Logo se tornou um fervoroso discípulo do evangelho, o amigo de mais confiança e valioso apoio para Lutero, servindo sua brandura, prudência e exatidão de complemento à coragem e energia daquele. Sua cooperação na obra acrescentou força à Reforma, e foi uma fonte de grande animação para Lutero. GC 134 3 Augsburgo fora designada como o lugar para o processo, e o reformador partiu a pé para fazer a viagem até lá. Alimentavam-se sérios temores a seu respeito. Fizeram-se abertamente ameaças de que ele seria agarrado e assassinado no caminho, e seus amigos rogaram-lhe que se não aventurasse. Solicitaram-lhe mesmo que durante algum tempo saísse de Wittenberg e procurasse segurança com os que de bom grado o protegeriam. Ele, porém, não queria deixar a posição em que Deus o colocara. Deveria continuar fielmente a manter a verdade, apesar das procelas que sobre ele se abatiam. Sua expressão era: "Sou como Jeremias, homem de lutas e contendas; mas, quanto mais aumentam suas ameaças, mais cresce a minha alegria. ... Já destruíram minha honra e reputação. Uma única coisa permanece: meu desprezível corpo; que o tomem, abreviarão assim, por algumas horas, a minha vida. Mas, quanta a minha alma, não a podem tomar. Aquele que deseja proclamar a verdade de Cristo ao mundo, deve esperar a morte a cada momento." -- D'Aubigné. GC 135 1 As notícias da chegada de Lutero a Augsburgo deram grande satisfação ao legado papal. O perturbador herege que despertava a atenção do mundo inteiro, parecia agora em poder de Roma, e o legado decidiu que ele não escapasse. O reformador deixara de munir-se de salvo-conduto. Seus amigos insistiam em que sem ele não aparecesse perante o legado, e eles próprios se empenharam em consegui-lo do imperador. O núncio tencionava obrigar a Lutero, sendo possível, a retratar-se, ou, não conseguindo isto, fazer com que fosse levado a Roma, para participar da sorte de Huss e Jerônimo. Por conseguinte, mediante seus agentes esforçou-se por induzir Lutero a aparecer sem salvo-conduto, confiante em sua misericórdia. Isto o reformador se recusou firmemente a fazer. Antes que recebesse o documento hipotecando-lhe a proteção do imperador, não compareceu à presença do embaixador papal. GC 135 2 Haviam decidido os romanistas, como ardiloso expediente, tentar ganhar a Lutero com aparência de amabilidade. O legado, em suas entrevistas com ele, mostrava grande amizade; mas exigia que Lutero se submetesse implicitamente à autoridade da igreja, e cedesse em todos os pontos sem argumentação ou questões. Não avaliara devidamente o caráter do homem com quem devia tratar. Lutero, em resposta, exprimiu sua consideração pela igreja, seu desejo de verdade, sua prontidão em responder a todas as objeções ao que ele havia ensinado, e em submeter suas doutrinas à decisão de algumas das principais universidades. Mas ao mesmo tempo protestava contra a maneira de agir do cardeal, exigindo-lhe retratar-se sem ter provado estar ele em erro. GC 136 1 A única resposta foi: "Retrate-se, retrate-se!" O reformador mostrou que sua atitude era apoiada pelas Escrituras, e declarou com firmeza que não poderia renunciar à verdade. O legado, incapaz de responder ao argumento de Lutero, cumulou-o com uma tempestade de acusações, zombarias, escárnios e lisonjas, entremeados de citações da tradição e dos dizeres dos pais da igreja, sem proporcionar ao reformador oportunidade de falar. Vendo que a conferência, assim continuando, seria completamente vã, Lutero obteve, por fim, relutante permissão para apresentar sua resposta por escrito. GC 136 2 "Assim fazendo", disse ele, escrevendo a um amigo, "os oprimidos encontram duplo proveito; primeiro, aquilo que escrevi pode ser submetido ao juízo de outrem; segundo, tem-se melhor oportunidade de trabalhar com os temores, se é que não com a consciência, de um déspota arrogante e palrador, que do contrário dominaria pela sua linguagem imperiosa." -- Vida e Tempos de Lutero, de Martyn. GC 136 3 Na próxima entrevista, Lutero apresentou uma exposição clara, concisa e poderosa, de suas opiniões, amplamente apoiadas por muitas citações das Escrituras. Este documento, depois de o ter lido em voz alta, entregou ao cardeal que, entretanto, o lançou desdenhosamente ao lado, declarando ser ele um acervo de palavras ociosas e citações que nada provavam. Lutero, assim estimulado, defronta então o altivo prelado em seu próprio terreno -- as tradições e ensinos da igreja -- e literalmente derrota suas afirmações. GC 136 4 Quando o prelado viu que o raciocínio de Lutero era irrespondível, perdeu todo o domínio de si mesmo e, colérico, exclamou: "Retrate-se! ou mandá-lo-ei a Roma, para ali comparecer perante os juízes comissionados para tomarem conhecimento de sua causa. Excomungá-lo-ei e a todos os seus partidários, e a todos os que em qualquer ocasião o favorecerem, e os lançarei fora da igreja." E finalmente declarou, em tom altivo e irado: "Retrate-se, ou não volte mais!" -- D'Aubigné. GC 137 1 O reformador de pronto se retirou com os amigos, declarando assim plenamente que nenhuma retratação se deveria esperar dele. Isto não era o que o cardeal se propusera. Ele se havia lisonjeado de poder pela violência forçar Lutero a submeter-se. Agora, deixado só com os que o apoiavam, olhava para um e para outro, em completo desgosto pelo inesperado fracasso de seus planos. GC 137 2 Os esforços de Lutero nesta ocasião não ficaram sem bons resultados. A grande assembléia presente tivera oportunidade de comparar os dois homens, e julgar por si do espírito manifestado por eles, bem como da força e verdade de suas posições. Quão assinalado era o contraste! O reformador, simples, humilde, firme, permanecia na força de Deus, tendo ao seu lado a verdade; o representante do papa, importante a seus próprios olhos, despótico, altivo e desarrazoado, achava-se sem um único argumento das Escrituras, exclamando, no entanto, veementemente: "Retrate-se, ou será enviado a Roma para o castigo!" GC 137 3 Se bem que Lutero se houvesse munido de salvo-conduto, os romanistas estavam conspirando para apanhá-lo e aprisioná-lo. Seus amigos insistiam em que, como lhe era inútil prolongar sua permanência, deveria sem demora voltar a Wittenberg, e que a máxima cautela se deveria ter no sentido de ocultar suas intenções. De acordo com isto, ele deixou Augsburgo antes do raiar do dia, a cavalo, acompanhado apenas de um guia a ele fornecido pelo magistrado. Com muitos pressentimentos atravessou sem ser percebido as ruas escuras e silenciosas da cidade. Inimigos, vigilantes e cruéis, estavam a conspirar para a sua destruição. Escaparia das ciladas que lhe preparavam? Eram momentos de ansiedade e fervorosas orações. Atingiu uma pequena porta no muro da cidade. Abriu-se-lhe e, com o guia, por ela passou sem impedimento. Uma vez livres do lado de fora, os fugitivos apressaram a fuga e, antes que o legado soubesse da partida de Lutero, achava-se ele além do alcance de seus perseguidores. Satanás e seus emissários estavam derrotados. O homem que haviam pensado estar em seu poder, tinha-se ido, escapara-se, como um pássaro da armadilha do caçador. GC 138 1 Com as notícias da fuga de Lutero, o legado ficou opresso de surpresa e cólera. Esperara ele receber grande honra por seu tino e firmeza ao tratar com o perturbador da igreja; mas frustrara-se-lhe a esperança. Deu expressão à sua raiva em carta a Frederico, o eleitor da Saxônia, denunciando com amargura a Lutero, e reclamando que Frederico enviasse o reformador a Roma ou que o banisse da Saxônia. GC 138 2 Em sua defesa, Lutero insistia em que o legado do papa lhe mostrasse seus erros pelas Escrituras, e comprometia-se da maneira mais solene a renunciar a suas doutrinas se se pudesse mostrar estarem em desacordo com a Palavra divina. E exprimia sua gratidão a Deus por haver sido considerado digno de sofrer por uma causa tão santa. GC 138 3 O eleitor possuía ainda pouco conhecimento das doutrinas reformadas, mas estava fundamente impressionado pela sinceridade, força e clareza das palavras de Lutero; e, até que se provasse estar o reformador em erro, resolveu Frederico permanecer como seu protetor. Em resposta ao pedido do legado, escreveu: "'Visto que o Dr. Martinho compareceu perante vós, em Augsburgo, deveríeis estar satisfeito. Não esperávamos que vos esforçásseis por fazê-lo retratar-se sem o haver convencido de seus erros. Nenhum dos homens doutos de nosso principado me informou de que a doutrina de Martinho seja ímpia, anticristã ou herética.' O príncipe recusou-se, além disso, a enviar Lutero a Roma, ou expulsá-lo de seus domínios." -- D'Aubigné. GC 138 4 O eleitor notara uma ruína geral das restrições morais na sociedade. Era indispensável grande obra de reforma. As complicadas e dispendiosas medidas para restringir e punir o crime seriam desnecessárias se os homens tão-somente reconhecessem e obedecessem à lei de Deus e aos ditames de uma consciência esclarecida. O eleitor via que Lutero trabalhava para conseguir este objetivo, e secretamente se regozijava de que uma influência melhor se estivesse fazendo sentir na igreja. GC 139 1 Via também que, como professor na Universidade, Lutero tivera extraordinário êxito. Um ano apenas se passara desde que o reformador afixara as teses na igreja do castelo, e no entanto, já havia grande baixa no número de peregrinos que visitavam a igreja na festa de Todos os Santos. Roma fora privada de adoradores e ofertas, mas seu lugar se preenchera por outra classe que agora vinha a Wittenberg, não como peregrinos para adorar suas relíquias, mas como estudantes para encher as suas salas de estudo. Os escritos de Lutero haviam suscitado por toda parte novo interesse nas Escrituras Sagradas, e não somente de todos os recantos da Alemanha, mas de outros países, que congregavam estudantes na Universidade. Moços, chegando à vista de Wittenberg pela primeira vez, "erguiam as mãos ao Céu e louvavam a Deus por ter feito com que desta cidade a luz da verdade resplandecesse como de Sião, nos tempos antigos, e dali se espalhasse mesmo aos mais longínquos países." -- D'Aubigné. GC 139 2 Lutero ainda não estava de todo convertido dos erros do romanismo. Enquanto, porém, comparava as Santas Escrituras com os decretos e constituições papais, enchia-se de espanto. "Estou lendo", escreveu ele, "os decretos dos pontífices, e ... não sei se o papa é o próprio anticristo, ou seu apóstolo, em tão grande maneira Cristo é neles representado falsamente e crucificado." -- D'Aubigné. No entanto, Lutero nessa ocasião era ainda adepto da Igreja de Roma, e não tinha o pensamento de que em algum tempo se separaria de sua comunhão. GC 139 3 Os escritos e doutrinas do reformador estendiam-se a todas as nações da cristandade. A obra espalhou-se à Suíça e Holanda. Exemplares de seus escritos tiveram ingresso na França e Espanha. Na Inglaterra, seus ensinos eram recebidos como palavras de vida. À Bélgica e Itália também se estendeu a verdade. Milhares estavam a despertar do torpor mortal para a alegria e esperança de uma vida de fé. GC 140 1 Roma exasperou-se cada vez mais com os ataques de Lutero, e por alguns de seus fanáticos oponentes foi declarado, mesmo por doutores das universidades católicas, que aquele que matasse o monge rebelde estaria sem pecado. Certo dia, um estranho, com uma arma de fogo escondida sob a capa, aproximou-se do reformador, e perguntou porque ia assim sozinho. "Estou nas mãos de Deus", respondeu. "Ele é minha força e meu escudo. Que me poderá fazer o homem?" -- D'Aubigné. Ouvindo estas palavras o estranho empalideceu, e fugiu como se fosse da presença de anjos do Céu. GC 140 2 Roma estava empenhada na destruição de Lutero, mas Deus era a sua defesa. Suas doutrinas eram ouvidas em toda parte, "nas cabanas e nos conventos, ... nos castelos dos nobres, nas universidades e nos palácios dos reis"; e homens nobres surgiram por toda parte para amparar-lhe os esforços. -- D'Aubigné. GC 140 3 Foi aproximadamente por esse tempo que Lutero, lendo as obras de Huss, achou que a grande verdade da justificação pela fé, que ele próprio procurava sustentar e ensinar, tinha sido mantida pelo reformador boêmio. "Nós todos", disse Lutero, "Paulo, Santo Agostinho, e eu mesmo, temos sido hussitas, sem o saber!" "Deus certamente disso tomará contas ao mundo", continuou ele, "de que a verdade a ele pregada há um século tenha sido queimada!" -- Wylie. GC 140 4 Num apelo ao imperador e à nobreza da Alemanha, em favor da Reforma do cristianismo, Lutero escreveu relativamente ao papa: "É horrível contemplar o homem que se intitula vigário de Cristo, a ostentar uma magnificência que nenhum imperador pode igualar. É isso ser semelhante ao pobre Jesus, ou ao humilde Pedro? Ele é, dizem, o senhor do mundo! Mas Cristo, cujo vigário ele se jacta de ser, disse: 'Meu reino não é deste mundo.' Podem os domínios de um vigário estender-se além dos de seu superior?" -- D'Aubigné. GC 140 5 Assim escreveu ele acerca das universidades: "Receio muito que as universidades se revelem grandes portas do inferno, a menos que diligentemente trabalhem para explicar as Santas Escrituras, e gravá-las no coração dos jovens. Não aconselho ninguém a pôr seu filho onde as Escrituras não reinem supremas. Toda instituição em que os homens não se achem incessantemente ocupados com a Palavra de Deus, tem de tornar-se corrupta." -- D'Aubigné. GC 141 1 Esse apelo circulou rapidamente por toda a Alemanha e exerceu poderosa influência sobre o povo. A nação toda foi abalada, e multidões se animaram a arregimentar-se em redor do estandarte da Reforma. Os oponentes de Lutero, ardentes no desejo de vingança, insistiam em que o papa tomasse medidas decisivas contra ele. Decretou-se que suas doutrinas fossem imediatamente condenadas. Sessenta dias foram concedidos ao reformador e a seus adeptos, findos os quais, se não abjurassem, deveriam todos ser excomungados. GC 141 2 Foi uma crise terrível para a Reforma. Durante séculos, a sentença de excomunhão, de Roma, ferira de terror a poderosos monarcas; enchera fortes impérios de desgraça e desolação. Aqueles sobre quem caía sua condenação, eram universalmente considerados com espanto e horror; cortavam-se-lhes as relações com seus semelhantes, e eram tratados como proscritos que se deveriam perseguir até à exterminação. Lutero não tinha os olhos fechados à tempestade prestes a irromper sobre ele, mas permaneceu firme, confiando em que Cristo lhe seria apoio e escudo. Com fé e coragem de mártir escreveu: "O que está para acontecer não sei, nem cuido em sabê-lo. ... Caia onde cair o golpe, não tenho receio. Nem ao menos uma folha tomba ao solo sem a vontade de nosso Pai. Quanto mais não cuidará Ele de nós! Coisa fácil é morrer pela Palavra, visto que a própria Palavra ou o Verbo, que Se fez carne, morreu. Se morrermos com Ele, com Ele viveremos; e passando por aquilo por que Ele passou antes de nós, estaremos onde Ele está, e com Ele habitaremos para sempre." -- D'Aubigné. GC 141 3 Quando a bula papal chegou a Lutero, disse ele: "Desprezo-a e ataco-a como ímpia, falsa. ... É o próprio Cristo que nela é condenado. ... Regozijo-me por ter de suportar tais males pela melhor das causas. Sinto já maior liberdade em meu coração; pois finalmente sei que o papa é o anticristo, e que o seu trono é o do próprio Satanás." -- D'Aubigné. GC 142 1 Todavia a ordem de Roma não foi sem efeito. A prisão, tortura e espada eram armas potentes para forçar à obediência. Os fracos e supersticiosos tremiam perante o decreto do papa; e, conquanto houvesse simpatia geral por Lutero, muitos sentiam que a vida era por demais preciosa para que fosse arriscada na causa da Reforma. Tudo parecia indicar que a obra do reformador estava a ponto de terminar. GC 142 2 Mas Lutero ainda era destemido. Roma tinha arremessado seus anátemas contra ele, e o mundo olhava, nada duvidando de que perecesse ou fosse obrigado a render-se. Mas com poder terrível ele rebateu contra ela a sentença de condenação, e publicamente declarou sua decisão de abandoná-la para sempre. Na presença de uma multidão de estudantes, doutores e cidadãos de todas as classes, Lutero queimou a bula papal, com as leis canônicas, decretos e certos escritos que sustentavam o poder papal. "Meus inimigos, queimando meus livros, foram capazes", disse ele, "de prejudicar a causa da verdade no espírito do povo comum, e destruir-lhes a alma; por esse motivo consumo seus livros, em retribuição. Uma luta séria acaba de começar. Até aqui tenho estado apenas a brincar com o papa. Iniciei esta obra no nome de Deus; ela se concluirá sem mim, e pelo Seu poder." -- D'Aubigné. GC 142 3 Às acusações dos inimigos, que dele zombavam pela fraqueza de sua causa, Lutero respondia: "Quem sabe se Deus não me escolheu e chamou, e se eles não deverão temer que, ao desprezar-me, desprezem ao próprio Deus? Moisés esteve só, na partida do Egito; Elias esteve só, no reino do rei Acabe; Isaías só, em Jerusalém; Ezequiel só, em Babilônia. ... Deus nunca escolheu como profeta nem o sumo sacerdote, nem qualquer outra grande personagem; mas comumente escolhia homens humildes e desprezados, e uma vez mesmo o pastor Amós. Em todas as épocas, os santos tiveram que reprovar os grandes, reis, príncipes, sacerdotes e sábios, com perigo de vida. ... Não me considero profeta; mas digo que eles devem temer precisamente porque estou só e eles são muitos. Disto estou certo: que a Palavra de Deus está comigo, e não com eles." -- D'Aubigné. GC 143 1 Entretanto, não foi sem terrível luta consigo mesmo que Lutero se decidiu a uma separação definitiva da igreja. Foi aproximadamente por esse tempo que escreveu: "Sinto cada dia mais e mais quão difícil é pôr de parte os escrúpulos que a gente absorveu na meninice. Oh! quanta dor me causou, posto que eu tivesse as Escrituras a meu lado, o justificar a mim mesmo que eu ousaria assumir atitude contra o papa, e tê-lo na conta de anticristo! Quais não foram as tribulações de meu coração! Quantas vezes não fiz a mim mesmo, com amargura, a pergunta que era tão freqüente nos lábios dos adeptos do papa: 'Só tu és sábio? Poderão todos os mais estar errados? Como será se afinal de contas, és tu que te achas errado, e estás a envolver em teu erro tantas almas, que então serão eternamente condenadas?' Era assim que eu lutava comigo mesmo e com Satanás, até que Cristo, por Sua própria e infalível Palavra, me fortaleceu o coração contra estas dúvidas." -- Vida e Tempos de Lutero, de Martyn. GC 143 2 O papa ameaçara Lutero de excomunhão se ele não se retratasse, e a ameaça agora se cumprira. Apareceu nova bula, declarando a separação final do reformador, da Igreja de Roma, denunciando-o como amaldiçoado do Céu e incluindo na mesma condenação todos os que recebessem suas doutrinas. Tinha-se entrado completamente na grande contenda. GC 143 3 A oposição é o quinhão de todos aqueles a quem Deus emprega para apresentar verdades especialmente aplicáveis a seu tempo. Havia uma verdade presente nos dias de Lutero -- verdade de especial importância naquele tempo; há uma verdade presente para a igreja hoje. Aquele que todas as coisas faz segundo o conselho de Sua vontade, foi servido colocar os homens em circunstâncias várias, e ordenar-lhes deveres peculiares aos tempos em que vivem e às condições sob as quais são postos. Se prezassem a luz a eles concedida, patentear-se-iam diante deles mais amplas perspectivas da verdade. Esta, porém, não é hoje desejada pela maioria, mais do que o foi pelos romanistas que se opunham a Lutero. Há, para aceitar teorias e tradições de homens em vez de a Palavra de Deus, a mesma disposição das eras passadas. Os que apresentam a verdade para este tempo não devem esperar ser recebidos com mais favor do que o foram os primeiros reformadores. O grande conflito entre a verdade e o erro, entre Cristo e Satanás, há de aumentar em intensidade até ao final da história deste mundo. GC 144 1 Disse Jesus a Seus discípulos: "Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa." João 15:19, 20. E, por outro lado, declarou nosso Senhor explicitamente: "Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas." Lucas 6:26. O espírito do mundo não está hoje mais em harmonia com o espírito de Cristo do que nos primitivos tempos; e os que pregam a Palavra de Deus em sua pureza não serão recebidos agora com maior favor do que o foram naquele tempo. As maneiras de oposição à verdade podem mudar, a inimizade pode ser menos manifesta porque é mais arguta; mas o mesmo antagonismo ainda existe, e se manifestará até ao fim do tempo. ------------------------Capítulo 8 -- O poder triunfante da verdade GC 145 1 Um novo imperador, Carlos V, subira ao trono da Alemanha, e os emissários de Roma se apressaram a apresentar suas congratulações e induzir o monarca a empregar seu poder contra a Reforma. De um lado, o eleitor da Saxônia, a quem Carlos em grande parte devia a coroa, rogava-lhe não dar passo algum contra Lutero antes de lhe conceder oportunidade de se fazer ouvir. O imperador ficou assim colocado em posição de grande perplexidade e embaraço. Os adeptos do papa não ficariam satisfeitos com coisa alguma a não ser um edito imperial sentenciando Lutero à morte. O eleitor declarava firmemente que "nem sua majestade imperial, nem outra pessoa qualquer tinha demonstrado haverem sido refutados os escritos de Lutero"; portanto, pedia "que o Dr. Lutero fosse provido de salvo-conduto, de maneira que pudesse comparecer perante um tribunal de juízes sábios, piedosos e imparciais." -- D'Aubigné. GC 145 2 A atenção de todos os partidos dirigia-se agora para a assembléia dos Estados alemães que se reuniu em Worms logo depois da ascensão de Carlos ao poder imperial. Havia importantes questões e interesses políticos a serem considerados por esse concílio nacional. Pela primeira vez os príncipes da Alemanha deveriam encontrar-se com seu jovem monarca numa assembléia deliberativa. De todas as partes da pátria haviam chegado os dignitários da Igreja e do Estado. Fidalgos seculares, de elevada linhagem, poderosos e ciosos de seus direitos hereditários; eclesiásticos principescos, afetados de sua consciente superioridade em ordem social e poderio; cavalheiros da corte e seus partidários armados; e embaixadores de países estrangeiros e longínquos -- todos se achavam reunidos em Worms. Contudo, naquela vasta assembléia, o assunto que despertava o mais profundo interesse era a causa do reformador saxônio. GC 146 1 Carlos previamente encarregara o eleitor de levar consigo Lutero à Dieta, assegurando-lhe proteção e prometendo franco estudo das questões em contenda, com pessoas competentes. Lutero estava ansioso por comparecer perante o imperador. Sua saúde achava-se naquela ocasião muito alquebrada; não obstante escreveu ao eleitor: "Se eu não puder ir a Worms com boa saúde, serei levado para lá, doente como estou. Pois se o imperador me chama, não posso duvidar de que é o chamado do próprio Deus. Se desejarem usar de violência para comigo (e isto é muito provável, pois não é para a instrução deles que me ordenam comparecer), ponho o caso nas mãos do Senhor. Ainda vive e reina Aquele que preservou os três jovens na fornalha ardente. Se Ele me não salvar, minha vida é de pouca importância. Tão-somente evitemos que o evangelho seja exposto ao escárnio dos ímpios; e por ele derramemos nosso sangue, de preferência a deixar que eles triunfem. Não me compete decidir se minha vida ou minha morte contribuirá mais para a salvação de todos. ... Podeis esperar tudo de mim... exceto fuga e abjuração. Fugir não posso, e menos ainda me retratar." -- D'Aubigné. GC 146 2 Quando em Worms circularam as notícias de que Lutero deveria comparecer perante a Dieta, houve geral excitação. Aleandro, o delegado papal a quem fora especialmente confiado o caso, estava alarmado e enraivecido. Via que o resultado seria desastroso para a causa papal. Instituir inquérito sobre um caso em que o papa já havia pronunciado sentença de morte, seria lançar o desdém sobre a autoridade do soberano pontífice. Além disso, tinha apreensões de que os eloqüentes e poderosos argumentos daquele homem pudessem desviar da causa do papa muitos dos príncipes. GC 147 1 Com muita insistência, pois, advertiu Carlos contra o aparecimento de Lutero em Worms. Por este tempo foi publicada a bula que declarava a excomunhão de Lutero. Este fato, em acréscimo às representações do legado, induziu o imperador a ceder. Escreveu ao eleitor que, se Lutero não se retratasse, deveria permanecer em Wittenberg. GC 147 2 Não contente com esta vitória, Aleandro trabalhou com toda a força e astúcia que possuía, para conseguir a condenação de Lutero. Com uma persistência digna de melhor causa, insistiu em que o caso chegasse à atenção dos príncipes, prelados e outros membros da assembléia, acusando o reformador de "sedição, rebelião e blasfêmia." Mas a veemência e paixão manifestadas pelo legado revelaram demasiadamente claro o espírito que o impulsionava. "Ele é movido pelo ódio e vingança", foi a observação geral, "muito mais do que pelo zelo e piedade." -- D'Aubigné. A maior parte da Dieta estava mais do que nunca inclinada a considerar favoravelmente a causa de Lutero. GC 147 3 Com redobrado zelo insistia Aleandro com o imperador sobre o dever de executar os editos papais. Mas, pelas leis da Alemanha, não se poderia fazer isto sem o apoio dos príncipes; e vencido finalmente pela importunação do legado, Carlos ordenou-lhe apresentar seu caso à Dieta. GC 147 4 "Foi um dia pomposo para o núncio. A assembléia era grandiosa; a causa ainda maior. Aleandro deveria pleitear em favor de Roma, ... mãe e senhora de todas as igrejas." Deveria reivindicar a soberania de Pedro perante os principados da cristandade, reunidos em assembléia. "Possuía o dom da eloqüência e ergueu-se à altura da ocasião. Determinava a Providência que Roma aparecesse e pleiteasse pelo mais hábil de seus oradores, na presença do mais augusto tribunal, antes que fosse condenada." -- Wylie. Com alguns receios, os que favoreciam o reformador anteviam o efeito dos discursos de Aleandro. O eleitor da Saxônia não estava presente, mas por sua ordem alguns de seus conselheiros ali se achavam para tomar notas do discurso do núncio. GC 148 1 Com todo o prestígio do saber e da eloqüência, Aleandro se pôs a derribar a verdade. Acusação sobre acusação lançou ele contra Lutero, como inimigo da Igreja e do Estado, dos vivos e dos mortos, do clero e dos leigos, dos concílios e dos cristãos em geral. "Nos erros de Lutero há o suficiente", declarou ele, para assegurar a queima de "cem mil hereges." GC 148 2 Em conclusão esforçou-se por atirar o desprezo aos adeptos da fé reformada: "O que são estes luteranos? Uma quadrilha de insolentes pedantes, padres corruptos, devassos monges, advogados ignorantes e nobres degradados, juntamente com o povo comum a que transviaram e perverteram. Quanto lhes é superior o partido católico em número, competência e poder! Um decreto unânime desta ilustre assembléia esclarecerá os simples, advertirá os imprudentes, firmará os versáteis e dará força aos fracos." -- D'Aubigné. GC 148 3 Com tais armas têm sido, em todos os tempos, atacados os defensores da verdade. Os mesmos argumentos ainda se apresentam contra todos os que ousam mostrar, em oposição a erros estabelecidos, os simples e diretos ensinos da Palavra de Deus. "Quem são estes pregadores de novas doutrinas?" exclamam os que desejam uma religião popular. "São indoutos, pouco numerosos, e das classes pobres. Contudo pretendem ter a verdade e ser o povo escolhido de Deus. São ignorantes e estão enganados. Quão superior em número e influência é a nossa igreja! Quantos grandes e ilustres homens existem entre nós! Quanto mais poder há de nosso lado!" Tais são os argumentos que têm influência decisiva sobre o mundo; mas não são mais conclusivos hoje do que o foram nos dias do reformador. GC 148 4 A Reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Continuará até ao fim da história deste mundo. Lutero teve grande obra a fazer, transmitindo a outros a luz que Deus permitira brilhar sobre ele; contudo, não recebeu toda a luz que deveria ser dada ao mundo. Desde aquele tempo até hoje, nova luz tem estado continuamente a resplandecer sobre as Escrituras, e novas verdades se têm desvendado constantemente. GC 149 1 O discurso do legado produziu profunda impressão na Dieta. Não havia presente nenhum Lutero, com as claras e convincentes verdades da Palavra de Deus, para superar o defensor papal. Nenhuma tentativa se fez para defender o reformador. Era manifesta a disposição geral de não somente condená-lo e as doutrinas que ele ensinava mas, sendo possível, desarraigar a heresia. Roma fruíra da mais favorável oportunidade para defender sua causa. Tudo que ela poderia dizer em sua própria reivindicação, fora dito. Mas a aparente vitória foi o sinal da derrota. Dali em diante o contraste entre a verdade e o erro seria visto mais claramente, ao entrarem para a luta em campo aberto. Nunca mais desde aquele dia Roma se havia de sentir tão segura como estivera. GC 149 2 Conquanto a maior parte dos membros da Dieta não tivesse hesitado em entregar Lutero à vingança de Roma, muitos deles viam e deploravam a depravação existente na igreja, desejosos da supressão dos abusos de que sofria o povo alemão em conseqüência da corrupção e cobiça da hierarquia. O legado apresentara sob a luz mais favorável o dogma papal. O Senhor então constrangeu um membro da Dieta a dar uma descrição verdadeira dos efeitos da tirania papal. Com nobre firmeza, o Duque Jorge da Saxônia se levantou naquela assembléia principesca e especificou com terrível precisão os enganos e abominações do papado e seus horrendos resultados. Disse ao concluir: GC 149 3 "Tais são alguns dos abusos que clamam contra Roma. Toda vergonha foi posta à parte, e seu único objetivo é... dinheiro, dinheiro, dinheiro, ... de maneira que os pregadores que deveriam ensinar a verdade, nada proferem senão falsidade, e são não somente tolerados mas recompensados, porque quanto maiores forem suas mentiras, tanto maior seu ganho. É dessa fonte impura que fluem tais águas contaminadas. A devassidão estende a mão à avareza. ... Ai! é o escândalo causado pelo clero que arremessa tantas pobres almas à condenação eterna. Deve-se efetuar uma reforma geral." -- D'Aubigné. GC 150 1 Uma denúncia mais hábil e convincente contra os abusos papais não poderia ter sido apresentada pelo próprio Lutero; e o fato de ser o orador inimigo decidido do reformador, deu maior influência às suas palavras. GC 150 2 Se se abrissem os olhos dos que constituíam a assembléia, teriam visto anjos de Deus no meio deles, derramando raios de luz através das trevas do erro e abrindo mentes e corações à recepção da verdade. Era o poder do Deus da verdade e sabedoria que dirigia até os adversários da Reforma, preparando assim o caminho para a grande obra prestes a realizar-se. Martinho Lutero não estava presente; mas a voz de Alguém, maior do que Lutero, fora ouvida naquela assembléia. GC 150 3 Uma comissão foi logo designada pela Dieta para apresentar um relatório das opressões papais que tão esmagadoramente pesavam sobre o povo alemão. Esta lista, contendo cento e uma especificações, foi apresentada ao imperador, com o pedido de que ele tomasse imediatas medidas para a correção de tais abusos. "Que perda de almas cristãs", diziam os suplicantes, "que depredações, que extorsões, por causa dos escândalos de que se acha rodeada a cabeça espiritual da cristandade! É nosso dever evitar a ruína e desonra de nosso povo. Por esta razão, nós, de maneira humilde, mas com muita insistência rogamo-vos ordeneis uma reforma geral, e empreendais a sua realização." -- D'Aubigné. GC 150 4 O concílio pediu então o comparecimento do reformador a sua presença. Apesar dos rogos, protestos e ameaças de Aleandro, o imperador finalmente consentiu, e Lutero foi intimado a comparecer perante a Dieta. Com a intimação foi expedido um salvo-conduto, assegurando sua volta a um lugar de segurança. Ambos foram levados a Wittenberg por um arauto que estava incumbido de conduzir o reformador a Worms. GC 150 5 Os amigos de Lutero estavam aterrorizados, angustiados. Sabendo do preconceito e inimizade contra ele, temiam que mesmo seu salvo-conduto não fosse respeitado, e rogavam-lhe não expusesse a vida ao perigo. Ele replicou: "Os sectários do papa não desejam minha ida a Worms, mas minha condenação e morte. Não importa. Não orem por mim, mas pela Palavra de Deus. ... Cristo me dará Seu Espírito para vencer esses ministros do erro. Desprezo-os em minha vida; triunfarei sobre eles pela minha morte. Estão atarefados em Worms com intuito de me obrigarem a renunciar; e esta será a minha abjuração: anteriormente eu dizia que o papa é o vigário de Cristo; hoje assevero ser ele o adversário de nosso Senhor e o apóstolo do diabo." -- D'Aubigné. GC 151 1 Lutero não deveria fazer sozinho sua perigosa viagem. Além do mensageiro imperial, três de seus amigos mais certos se decidiram a acompanhá-lo. Melâncton ardorosamente quis unir-se a eles. Seu coração estava ligado ao de Lutero, e anelava segui-lo, sendo necessário, à prisão ou à morte. Seus rogos, porém, não foram atendidos. Se Lutero perecesse, as esperanças da Reforma deveriam centralizar-se neste jovem colaborador. Disse o reformador quando se despediu de Melâncton: "Se eu não voltar e meus inimigos me matarem, continua a ensinar e permanece firme na verdade. Trabalha em meu lugar. ... Se sobreviveres, minha morte terá pouca conseqüência." -- D'Aubigné. Estudantes e cidadãos que se haviam reunido para testemunharem a partida de Lutero ficaram profundamente comovidos. Uma multidão, cujo coração havia sido tocado pelo evangelho, deu-lhe as despedidas, em pranto. Assim, o reformador e seus companheiros partiram de Wittenberg. GC 151 2 Viram em viagem que o espírito do povo se achava oprimido por tristes pressentimentos. Nalgumas cidades honras nenhumas lhes eram tributadas. Ao pararem para o pouso, um padre amigo exprimiu seus temores, segurando diante de Lutero o retrato de um reformador italiano que sofrera o martírio. No dia seguinte souberam que os escritos de Lutero haviam sido condenados em Worms. Mensageiros imperiais estavam proclamando o decreto do imperador, e apelando ao povo para trazerem aos magistrados as obras proscritas. O arauto, temendo pela segurança de Lutero no concílio e julgando que sua resolução já pudesse estar abalada, perguntou se ele ainda desejava ir avante. Respondeu: "Posto que interdito em todas as cidades, irei." -- D'Aubigné. GC 152 1 Em Erfurt, Lutero foi recebido com honras. Cercado de multidões que o admiravam, passou pelas ruas que ele muitas vezes atravessara com a sacola de pedinte. Visitou sua capela no convento e pensou nas lutas pelas quais a luz que agora inundava a Alemanha se derramara em sua alma. Insistiu-se com ele a que pregasse. Isto lhe havia sido vedado, mas o arauto concedeu-lhe permissão, e o frade que fora outrora o serviçal do convento, subiu agora ao púlpito. GC 152 2 A uma multidão que ali se reunira, falou ele sobre as palavras de Cristo: "Paz seja convosco." "Filósofos, doutores e escritores", disse ele, "têm-se esforçado por ensinar aos homens o meio para se obter a vida eterna, e não o têm conseguido. Contar-vos-ei agora: ... Deus ressuscitou dos mortos um Homem, o Senhor Jesus Cristo, para que pudesse destruir a morte, extirpar o pecado e fechar as portas do inferno. Esta é a obra da salvação. ... Cristo venceu! estas são as alegres novas; e somos salvos por Sua obra, e não pela nossa própria. ... Disse nosso Senhor Jesus Cristo: 'Paz seja convosco; olhai Minhas mãos'; isto quer dizer: Olha, ó homem! fui Eu, Eu só, que tirei teu pecado e te resgatei; e agora tens paz, diz o Senhor." GC 152 3 Continuou, mostrando que a verdadeira fé se manifestará por uma vida santa. "Visto que Deus nos salvou, ordenemos nossos trabalhos de tal maneira que possam ser aceitáveis perante Ele. És rico? administra teus bens às necessidades dos pobres. Se teu trabalho é útil apenas para ti, o serviço que pretendes prestar a Deus é uma mentira." -- D'Aubigné. GC 152 4 O povo ouvia como que extasiado. O pão da vida fora partido àquelas almas famintas. Perante elas Cristo foi levantado acima de papas, legados, imperadores e reis. Lutero não fez referência alguma à sua posição perigosa. Não procurou fazer-se objeto dos pensamentos e simpatias. Na contemplação de Cristo perdera de vista o eu. Escondera-se por trás do Homem do Calvário, procurando apenas apresentar a Jesus como o Redentor do pecador. GC 153 1 Prosseguindo viagem, o reformador era em toda parte olhado com grande interesse. Uma ávida multidão acotovelava-se em redor dele, e vozes amigas advertiam-no dos propósitos dos romanistas. "Eles vos queimarão", diziam alguns, "e reduzirão vosso corpo a cinzas, como fizeram com João Huss." Lutero respondia: "Ainda que acendessem por todo o caminho de Worms a Wittenberg uma fogueira cujas chamas atingissem o céu, em nome do Senhor eu caminharia pelo meio delas; compareceria perante eles; entraria pelas mandíbulas desse hipopótamo e lhe quebraria os dentes, confessando o Senhor Jesus Cristo." -- D'Aubigné. GC 153 2 A notícia de sua aproximação de Worms estabeleceu grande comoção. Os amigos tremiam de receio pela sua segurança; os inimigos temiam pelo êxito de sua causa. Fizeram-se acérrimos esforços para dissuadi-lo de entrar na cidade. Por instigação dos adeptos do papa, insistiu-se com ele para que se retirasse para o castelo de um cavalheiro amigo, onde, declarava-se, todas as dificuldades poderiam ser amigavelmente resolvidas. Os amigos esforçavam-se por excitar-lhe os temores, descrevendo os perigos que o ameaçavam. Todos os seus esforços falharam. Lutero, ainda inabalável, declarou: "Mesmo que houvesse tantos demônios em Worms como telhas nos telhados, eu ali entraria." -- D'Aubigné. GC 153 3 À sua chegada em Worms, vasta multidão se congregou às portas para lhe dar as boas-vindas. Concorrência tão grande não houvera para saudar o próprio imperador. A excitação foi intensa, e do meio da multidão, uma voz penetrante e lamentosa entoava um canto fúnebre como aviso a Lutero quanto à sorte que o esperava. "Deus será a minha defesa", disse ele, ao descer da carruagem. GC 153 4 Os chefes papais não tinham acreditado que Lutero realmente se aventurasse a aparecer em Worms, e sua chegada encheu-os de consternação. O imperador imediatamente convocou seus conselheiros para considerarem como deveriam agir. Um dos bispos, romanista rígido, declarou: "Temo-nos consultado durante muito tempo acerca deste assunto. Livre-se vossa majestade imperial, de uma vez, deste homem. Não fez Sigismundo com que João Huss fosse queimado? Não somos obrigados a dar nem a observar o salvo-conduto de um herege." "Não", disse o imperador; "devemos cumprir nossa promessa." -- D'Aubigné. Decidiu-se, portanto, que o reformador fosse ouvido. GC 154 1 A cidade toda se achava sôfrega por ver este homem notável, e uma multidão de visitantes logo encheu suas estalagens. Lutero havia-se apenas restabelecido de enfermidade recente; estava cansado da jornada, que levara duas semanas inteiras; deveria preparar-se para enfrentar os momentosos acontecimentos do dia seguinte, e necessitava de sossego e repouso. Tão grande, porém, era o desejo de o ver, que havia ele gozado apenas o descanso de algumas horas quando ao seu redor se reuniram avidamente nobres, cavalheiros, sacerdotes e cidadãos. Entre estes se encontravam muitos dos nobres que tão ousadamente haviam pedido ao imperador uma reforma contra os abusos eclesiásticos e que, diz Lutero, "se tinham todos libertado por meu evangelho." -- Vida e Tempos de Lutero, de Martyn. Inimigos, bem como amigos foram ver o intrépido monge. Ele, porém, os recebeu com calma inabalável, respondendo a todos com dignidade e sabedoria. Seu porte era firme e corajoso. O rosto, pálido e magro, assinalado com traços de trabalhos e enfermidade, apresentava uma expressão amável e mesmo alegre. A solenidade e ardor profundo de suas palavras conferiam-lhe um poder a que mesmo seus inimigos não podiam resistir completamente. Tanto amigos como adversários estavam cheios de admiração. Alguns estavam convictos de que uma influência divina o acompanhava; outros declaravam, como fizeram os fariseus em relação a Cristo: "Ele tem demônio." GC 154 2 No dia seguinte, Lutero foi chamado para estar presente à Dieta. Designou-se um oficial imperial para conduzi-lo até ao salão de audiência; foi, contudo, com dificuldade que ele atingiu o local. Todas as ruas estavam cheias de espectadores, ávidos de ver o monge que ousara resistir à autoridade do papa. GC 154 3 Quando estava para entrar à presença de seus juízes, um velho general, herói de muitas batalhas, disse-lhe amavelmente: "Pobre monge, pobre monge, vais agora assumir posição mais nobre do que eu ou quaisquer outros capitães já assumimos nas mais sanguinolentas de nossas batalhas! Mas, se tua causa é justa, e estás certo disto, vai avante em nome de Deus e nada temas. Deus não te abandonará." -- D'Aubigné. GC 155 1 Finalmente Lutero se achou perante o concílio. O imperador ocupava o trono. Estava rodeado das mais ilustres personagens do império. Nunca homem algum comparecera à presença de uma assembléia mais importante do que aquela diante da qual Martinho Lutero deveria responder por sua fé. "Aquela cena era por si mesma uma assinalada vitória sobre o papado. O papa condenara o homem, e agora estava ele em pé, diante de um tribunal que, por esse mesmo ato, se colocava acima do papa. Este o havia posto sob interdito, separando-o de toda a sociedade humana; e no entanto era ele chamado em linguagem respeitosa, e recebido perante a mais augusta assembléia do mundo. O papa condenara-o ao silêncio perpétuo, e agora estava ele prestes a falar perante milhares de ouvintes atentos, reunidos das mais longínquas partes da cristandade. Imensa revolução assim se efetuara por intermédio de Lutero. Roma descia já do trono, e era a voz de um monge que determinava esta humilhação." -- D'Aubigné. GC 155 2 Na presença daquela poderosa assembléia de titulares, o reformador de humilde nascimento parecia intimidado e embaraçado. Vários dos príncipes, observando sua emoção, aproximaram-se dele, e um lhe segredou: "Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma." Outro disse: "Quando fordes levados perante os governadores e reis por Minha causa, ser-vos-á ministrado, pelo Espírito de vosso Pai, o que devereis dizer." Assim, as palavras de Cristo foram empregadas pelos grandes homens do mundo para fortalecerem Seu servo na hora de prova. GC 155 3 Lutero foi conduzido a um lugar bem em frente do trono do imperador. Profundo silêncio caiu sobre a assembléia ali congregada. Então um oficial imperial se levantou e, apontando para uma coleção dos escritos de Lutero, pediu que o reformador respondesse a duas perguntas: Se ele os reconhecia como seus, e se se dispunha a retratar-se das opiniões que neles emitira. Lidos os títulos dos livros, Lutero respondeu, quanto à primeira pergunta, que reconhecia serem seus os livros. "Quanto à segunda", disse ele, "visto ser uma questão que respeita à fé e à salvação das almas, e que interessa à Palavra de Deus, o maior e mais precioso tesouro quer no Céu quer na Terra, eu agiria imprudentemente se respondesse sem reflexão. Poderia afirmar menos do que as circunstâncias exigem, ou mais do que a verdade requer, e desta maneira, pecar contra estas palavras de Cristo: 'Qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus.' Mateus 10:33. Por esta razão, com toda a humildade, rogo a vossa majestade imperial conceder-me tempo para que eu possa responder sem ofensa à Palavra de Deus." -- D'Aubigné. GC 156 1 Fazendo este pedido, Lutero agiu prudentemente. Sua conduta convenceu a assembléia de que não agia por paixão ou impulso. Semelhante calma e domínio próprio, inesperados em quem se mostrara audaz e intransigente, aumentaram-lhe o poder, habilitando-o mais tarde a responder com uma prudência, decisão, sabedoria e dignidade que surpreendiam e decepcionavam seus adversários, repreendendo-lhes a insolência e orgulho. GC 156 2 No dia seguinte deveria ele comparecer para dar sua resposta final. Durante algum tempo seu coração se abateu, ao contemplar as forças que estavam combinadas contra a verdade. Vacilou-lhe a fé; temor e tremor lhe sobrevieram, e oprimiu-o o terror. Multiplicavam-se diante dele os perigos; seus inimigos pareciam a ponto de triunfar, e os poderes das trevas, de prevalecer. Nuvens juntavam-se em redor dele, e pareciam separá-lo de Deus. Ansiava pela certeza de que o Senhor dos exércitos estaria com ele. Em angústia de espírito lançou-se com o rosto em terra, derramando estes clamores entrecortados, lancinantes, que ninguém, senão Deus, pode compreender perfeitamente: GC 156 3 "Ó Deus, todo-poderoso e eterno", implorava ele, "quão terrível é este mundo! Eis que ele abre a boca para engolir-me, e tenho tão pouca confiança em Ti. ... Se é unicamente na força deste mundo que eu devo pôr minha confiança, tudo está acabado. ... É vinda a minha última hora, minha condenação foi pronunciada. ... Ó Deus, ajuda-me contra toda a sabedoria do mundo. Faze isto, ... Tu somente; ... pois esta não é minha obra, mas Tua. Nada tenho a fazer por minha pessoa, e devo tratar com estes grandes do mundo. ... Mas a causa é Tua, ... e é uma causa justa e eterna. Ó Senhor, auxilia-me! Deus fiel e imutável, em homem algum ponho minha confiança. ... Tudo que é do homem é incerto; tudo que do homem vem, falha. ... Escolheste-me para esta obra. ... Sê a meu lado por amor de Teu bem-amado Jesus Cristo, que é minha defesa, meu escudo e torre forte." -- D'Aubigné. GC 157 1 Uma providência onisciente havia permitido a Lutero compreender o perigo, para que não confiasse em sua própria força, arrojando-se presunçosamente ao perigo. Não era, contudo, o temor do sofrimento pessoal, o terror da tortura ou da morte, que parecia iminente, o que o oprimia com seus horrores. Ele chegara à crise, e sentia sua insuficiência para enfrentá-la. Pela sua fraqueza, a causa da verdade poderia sofrer dano. Não para a sua própria segurança, mas para a vitória do evangelho lutava ele com Deus. Como a de Israel, naquela luta noturna, ao lado do solitário riacho, foi a angústia e conflito de sua alma. Como Israel, prevaleceu com Deus. Em seu completo desamparo, sua fé se firmou em Cristo, o poderoso Libertador. Ele se fortaleceu com a certeza de que não compareceria sozinho perante o concílio. A paz voltou à alma, e ele se regozijou de que lhe fosse permitido exaltar a Palavra de Deus perante os governadores da nação. GC 157 2 Com o espírito repousado em Deus, Lutero preparou-se para a luta que diante dele estava. Meditou sobre o plano de sua resposta, examinou passagens de seus próprios escritos e tirou das Sagradas Escrituras provas convenientes para sustentar sua atitude. Então, pondo a mão esquerda sobre o Volume Sagrado, que estava aberto diante dele, levantou a destra para o céu, e fez um voto de "permanecer fiel ao evangelho e confessar francamente sua fé, mesmo que tivesse de selar com o sangue seu testemunho." -- D'Aubigné. GC 158 1 Ao ser de novo introduzido à presença da Dieta, seu rosto não apresentava traços de receio ou embaraço. Calmo e cheio de paz, ainda que extraordinariamente valoroso e nobre, manteve-se como testemunha de Deus entre os grandes da Terra. O oficial imperial pediu então sua decisão sobre se desejava retratar-se de suas doutrinas. Lutero respondeu em tom submisso e humilde, sem violência nem paixão. Suas maneiras eram tímidas e respeitosas; manifestou, contudo, confiança e alegria que surpreenderam a assembléia. GC 158 2 "Sereníssimo imperador, ilustres príncipes, graciosos fidalgos", disse Lutero; "compareço neste dia perante vós, em conformidade com a ordem a mim dada ontem, e pela mercê de Deus conjuro vossa majestade e vossa augusta alteza a escutar, com graça, a defesa de uma causa que, estou certo, é justa e verdadeira. Se, por ignorância, eu transgredir os usos e etiquetas das cortes, rogo-vos perdoar-me; pois não fui criado nos palácios dos reis, mas na reclusão de um convento." -- D'Aubigné. GC 158 3 Então, referindo-se à pergunta, declarou que suas obras publicadas não eram todas do mesmo caráter. Em algumas havia tratado da fé e das boas obras, e mesmo seus inimigos as declaravam não somente inofensivas, mas proveitosas. Abjurá-las seria condenar verdades que todos os partidos professavam. A segunda classe consistia em escritos que expunham as corrupções e abusos do papado. Revogar estas obras fortaleceria a tirania de Roma, abrindo uma porta mais larga a muitas e grandes impiedades. Na terceira classe de seus livros atacara indivíduos que haviam defendido erros existentes. Em relação a eles confessou, francamente, que tinha sido mais violento do que convinha. Não pretendia estar isento de falta; mas mesmo esses livros não poderia revogar, pois que tal procedimento tornaria audaciosos os inimigos da verdade, e então aproveitariam a ocasião para esmagar o povo de Deus com crueldade ainda maior. GC 159 1 "Não sou, todavia, senão mero homem, e não Deus", continuou ele; "portanto, defender-me-ei como fez Cristo: 'Se falei mal, dá testemunho do mal.' ... Pela misericórdia de Deus, conjuro-vos, sereníssimo imperador, e a vós, ilustríssimos príncipes, e a todos os homens de toda categoria, a provar pelos escritos dos profetas e apóstolos, que errei. Logo que estiver convicto disso, retratarei todo erro e serei o primeiro a lançar mão de meus livros e atirá-los ao fogo. GC 159 2 "O que acabo de dizer, claramente mostra, eu o espero, que pesei e considerei cuidadosamente os perigos a que me exponho mas, longe de me desanimar, regozijo-me por ver que o evangelho é hoje, como nos tempos antigos, causa de perturbação e dissensão. Este é o caráter, este é o destino da Palavra de Deus. 'Não vim trazer paz à Terra, mas espada', disse Jesus Cristo. Deus é maravilhoso e terrível em Seus conselhos; acautelai-vos para que não aconteça que, supondo apagar dissensões, persigais a santa Palavra de Deus e arrosteis sobre vós mesmos um pavoroso dilúvio de perigos insuperáveis, de desastres presentes e desolação eterna. ... Poderia citar muitos exemplos dos oráculos de Deus. Poderia falar dos Faraós, dos reis de Babilônia e dos de Israel, cujos trabalhos não contribuíram nunca mais eficazmente para a sua própria destruição do que quando buscavam, mediante conselhos, prudentíssimos na aparência, fortalecer seu domínio. Deus 'é O que transporta montanhas, sem que o sintam.'" -- D'Aubigné. GC 159 3 Lutero falara em alemão; foi-lhe pedido então repetir as mesmas palavras em latim. Embora exausto pelo esforço anterior, anuiu e novamente fez seu discurso, com a mesma clareza e energia que a princípio. A providência de Deus dirigiu isto. O espírito de muitos dos príncipes estava tão obliterado pelo erro e superstição que à primeira vez não viram a força do raciocínio de Lutero; mas a repetição habilitou-os a perceber claramente os pontos apresentados. GC 160 1 Os que obstinadamente fechavam os olhos à luz e se decidiram a não convencer-se da verdade, ficaram enraivecidos com o poder das palavras de Lutero. Quando cessou de falar, o anunciador da Dieta disse, irado: "Não respondeste à pergunta feita. ... Exige-se que dês resposta clara e precisa. ... Retratar-te-ás ou não?" GC 160 2 O reformador respondeu: "Visto que vossa sereníssima majestade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples e precisa, dar-vo-la-ei, e é esta: Não posso submeter minha fé quer ao papa quer aos concílios, porque é claro como o dia, que eles têm freqüentemente errado e se contradito um ao outro. Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; Deus queira ajudar-me. Amém." -- D'Aubigné. GC 160 3 Assim se manteve este homem justo sobre o firme fundamento da Palavra de Deus. A luz do Céu iluminava-lhe o semblante. Sua grandeza e pureza de caráter, sua paz e alegria de coração, eram manifestas a todos ao testificar ele contra o poder do erro e testemunhar a superioridade da fé que vence o mundo. GC 160 4 A assembléia toda ficou por algum tempo muda de espanto. Em sua primeira resposta Lutero falara em tom baixo, em atitude respeitosa, quase submissa. Os romanistas haviam interpretado isto como sinal de que lhe estivesse começando a faltar o ânimo. Consideraram o pedido de delonga simples prelúdio de sua retratação. O próprio Carlos, notando, meio desdenhoso, a constituição abatida do monge; seu traje singelo e a simplicidade de suas maneiras, declarara: "Este monge nunca fará de mim um herege." A coragem e firmeza que agora ele ostentara, bem como o poder e clareza de seu raciocínio, encheram de surpresa todos os partidos. O imperador, possuído de admiração, exclamou: "Este monge fala com coração intrépido e inabalável coragem." Muitos dos príncipes alemães olhavam com orgulho e alegria a este representante de sua nação. GC 161 1 Os partidários de Roma haviam sido vencidos; sua causa parecia sob a mais desfavorável luz. Procuraram manter seu poder, não apelando para as Escrituras, mas com recurso às ameaças -- indefectível argumento de Roma. Disse o anunciador da Dieta: "Se não se retratar, o imperador e os governos do império consultar-se-ão quanto à conduta a adotar-se contra o herege incorrigível." GC 161 2 Os amigos de Lutero, que com grande alegria lhe ouviram a nobre defesa, tremeram àquelas palavras; mas o próprio doutor disse calmamente: "Queira Deus ser meu auxiliador, pois não posso retratar-me de coisa alguma." -- D'Aubigné. GC 161 3 Ordenou-se-lhe que se retirasse da Dieta, enquanto os príncipes se consultavam juntamente. Pressentia-se que chegara uma grande crise. A persistente recusa de Lutero em submeter-se, poderia afetar a história da igreja durante séculos. Decidiu-se dar-lhe mais uma oportunidade para renunciar. Pela última vez foi ele levado à assembléia. Novamente foi feita a pergunta se ele renunciaria a suas doutrinas. "Não tenho outra resposta a dar", disse ele, "a não ser a que já dei." Era evidente que ele não poderia ser induzido, quer por promessas quer por ameaças, a render-se ao governo de Roma. GC 161 4 Os chefes papais aborreceram-se de que seu poderio, o qual fizera com que reis e nobres tremessem, fosse dessa maneira desprezado por um humilde monge: almejavam fazê-lo sentir sua ira, destruindo-lhe a vida com torturas. Lutero, porém, compreendendo o perigo, falara a todos com dignidade e calma cristãs. Suas palavras tinham sido isentas de orgulho, paixão e falsidade. Havia perdido de vista a si próprio e aos grandes homens que o cercavam, e sentia unicamente que se achava na presença de Alguém infinitamente superior aos papas, prelados, reis e imperadores. Cristo falara por intermédio do testemunho de Lutero, com um poder e grandeza que na ocasião causou espanto e admiração tanto a amigos como a adversários. O Espírito de Deus estivera presente naquele concílio, impressionando o coração dos principais do império. Vários dos príncipes reconheceram ousadamente a justiça da causa de Lutero. Muitos estavam convictos da verdade; mas em outros as impressões recebidas não foram duradouras. Houve outra classe que no momento não exprimiu suas convicções, mas que, tendo pesquisado as Escrituras por si mesmos, tornaram-se em ocasião posterior destemidos sustentáculos da Reforma. GC 162 1 O eleitor Frederico aguardara ansiosamente o comparecimento de Lutero perante a Dieta, e com profunda emoção ouviu seu discurso. Com alegria e orgulho testemunhou a coragem, firmeza e domínio próprio do doutor, e decidiu-se a permanecer mais firmemente em sua defesa. Ele contrastava as facções em contenda, e via que a sabedoria dos papas, reis e prelados, fora pelo poder da verdade reduzida a nada. O papado sofrera uma derrota que seria sentida entre todas as nações e em todos os tempos. GC 162 2 Quando o legado percebeu o efeito produzido pelo discurso de Lutero, como nunca dantes temeu pela segurança do poderio romano e resolveu empregar todos os meios a seu alcance, para levar a termo a derrota do reformador. Com toda a eloqüência e perícia diplomática, pelas quais tanto se distinguia, apresentou ao jovem imperador a loucura e perigo de sacrificar, pela causa de um monge desprezível, a amizade e apoio da poderosa Sé de Roma. GC 162 3 Suas palavras não foram destituídas de efeito. No dia que se seguiu à resposta de Lutero, Carlos fez com que fosse apresentada uma mensagem à Dieta, anunciando sua resolução de prosseguir com a política de seus predecessores, mantendo e protegendo a religião católica. Visto que Lutero se recusara a renunciar a seus erros, seriam empregadas as mais rigorosas medidas contra ele e contra as heresias que ensinava. "Um simples monge, transviado por sua própria loucura, levantou-se contra a fé da cristandade. Para deter tal impiedade, sacrificarei meus reinos, meus tesouros, meus amigos, meu corpo, meu sangue, minha alma e minha vida. Estou para despedir o agostiniano Lutero, proibindo-lhe causar a menor desordem entre o povo; procederei então contra ele e seus adeptos como hereges contumazes, pela excomunhão, pelo interdito e por todos os meios calculados para destruí-los. Apelo para os membros dos Estados a que se portem como fiéis cristãos." -- D'Aubigné. Não obstante, o imperador declarou que o salvo conduto de Lutero deveria ser respeitado, e que, antes de se poder instituir qualquer processo contra ele, deveria ser-lhe permitido chegar a casa em segurança. GC 163 1 Insistiam agora os membros da Dieta em duas opiniões contrárias. Os emissários e representantes do papa, de novo pediam que o salvo-conduto do reformador fosse desrespeitado. "O Reno", diziam eles, "deveria receber suas cinzas, como recebeu as de João Huss, há um século." -- D'Aubigné. Príncipes alemães, porém, conquanto fossem eles próprios romanistas e inimigos declarados de Lutero, protestavam contra tal brecha da pública fé, como uma nódoa sobre a honra da nação. Apontavam para as calamidades que se seguiram à morte de Huss e declaravam que não ousavam atrair sobre a Alemanha e sobre a cabeça de seu jovem imperador, a repetição daqueles terríveis males. GC 163 2 O próprio Carlos, respondendo à vil proposta, disse: "Embora fossem a honra e a fé banidas do mundo todo, deveriam encontrar um refúgio no coração dos príncipes." -- D'Aubigné. Houve ainda insistência por parte dos mais encarniçados inimigos papais de Lutero, a fim de tratar o reformador como Sigismundo fizera com Huss -- abandonando-o à mercê da igreja; mas lembrando-se da cena em que Huss, em assembléia pública, apontara a suas cadeias e lembrara ao monarca a sua fé empenhada, Carlos V declarou: "Eu não gostaria de corar como Sigismundo." -- (Ver História do Concílio de Constança, de Lenfant.) GC 163 3 Não obstante, Carlos havia deliberadamente rejeitado as verdades apresentadas por Lutero. "Estou firmemente resolvido a imitar o exemplo de meus maiores", escreveu o monarca. Decidira não sair da senda do costume, mesmo para andar nos caminhos da verdade e justiça. Porque seus pais o fizeram, ele apoiaria o papado, com toda a sua crueldade e corrupção. Assim, assumiu sua posição, recusando-se a aceitar qualquer luz em acréscimo à que seus pais haviam recebido, ou cumprir qualquer dever que eles não cumpriram. GC 164 1 Muitos hoje se apegam de modo idêntico aos costumes e tradições de seus pais. Quando o Senhor lhes envia mais luz, recusam-se a aceitá-la porque, não havendo ela sido concedida a seus pais, não foi por estes acolhida. Não estamos colocados onde nossos pais se achavam; conseqüentemente nossos deveres e responsabilidades não são os mesmos. Não seremos aprovados por Deus olhando para o exemplo de nossos pais a fim de determinar nosso dever, em vez de pesquisar por nós mesmos a Palavra da verdade. Nossa responsabilidade é maior do que foi a de nossos antepassados. Somos responsáveis pela luz que receberam, e que nos foi entregue como herança; somos também responsáveis pela luz adicional que hoje, da Palavra de Deus, está a brilhar sobre nós. GC 164 2 Disse Cristo acerca dos judeus incrédulos: "Se Eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado." João 15:22. O mesmo poder divino falara por intermédio de Lutero ao imperador e príncipes da Alemanha. E, ao resplandecer a luz da Palavra de Deus, Seu Espírito contendeu pela última vez com muitos naquela assembléia. Como Pilatos, séculos antes, permitira que o orgulho e a popularidade fechassem seu coração contra o Redentor do mundo; como o timorato Félix ordenou ao mensageiro da verdade: "Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei"; como o orgulhoso Agripa confessou: "Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!" (Atos 24:25; 26:28) e no entanto se desviou da mensagem enviada pelo Céu -- assim Carlos V, cedendo às sugestões do orgulho e política mundanos, decidiu-se a rejeitar a luz da verdade. GC 164 3 Circularam amplamente rumores dos planos feitos contra Lutero, causando por toda a cidade grande excitação. O reformador conquistara muitos amigos que, conhecendo a traiçoeira crueldade de Roma para com todos os que ousavam expor suas corrupções, resolveram que ele não fosse sacrificado. Centenas de nobres se comprometeram a protegê-lo. Não poucos denunciaram abertamente a mensagem real como evidência de tímida submissão ao poder de Roma. Às portas das casas e em lugares públicos, foram afixados cartazes, alguns condenando e outros apoiando Lutero. Num deles estavam meramente escritas as significativas palavras do sábio: "Ai de ti, ó terra, cujo rei é criança!" Eclesiastes 10:16. O entusiasmo popular em favor de Lutero, por toda a Alemanha, convenceu tanto o imperador como a Dieta de que qualquer injustiça a ele manifesta faria perigar a paz do império e mesmo a estabilidade do trono. GC 165 1 Frederico da Saxônia manteve uma estudada reserva, escondendo cuidadosamente seus verdadeiros sentimentos, para com o reformador, ao passo que o guardava com incansável vigilância, observando todos os seus movimentos e todos os de seus inimigos. Mas, muitos havia que não faziam tentativa para ocultar sua simpatia por Lutero. Ele era visitado por príncipes, condes, barões e outras pessoas de distinção, tanto leigas como eclesiásticas. "A salinha do doutor", escreveu Spalatin, "não podia conter todos os visitantes que se apresentavam." -- Martyn. O povo contemplava-o como se fosse mais que humano. Mesmo os que não tinham fé em suas doutrinas, não podiam deixar de admirar aquela altiva integridade que o levou a afrontar a morte de preferência a violar a consciência. GC 165 2 Fizeram-se ardentes esforços a fim de obter o consentimento de Lutero para uma transigência com Roma. Nobres e príncipes lembraram-lhe que, se persistisse em colocar seu próprio juízo contra o da igreja e dos concílios, seria logo banido do império e não teria então defesa. A este apelo Lutero respondeu:"O evangelho de Cristo não pode ser pregado sem dano. ... Por que, pois, deveria o temor ou apreensão do perigo separar-me do Senhor, e da divina Palavra, que, unicamente, é a verdade? Não! entregaria antes meu corpo, meu sangue e minha vida." -- D'Aubigné. GC 166 1 De novo insistiu-se com ele para que se submetesse ao juízo do imperador, e então nada precisaria temer. "Consinto", disse ele em resposta, "de todo o meu coração, em que o imperador, os príncipes e mesmo o mais obscuro cristão, examinem e julguem os meus livros; mas, sob uma condição: que tomem a Palavra de Deus como norma. Os homens nada têm a fazer senão obedecer-lhe. Não façais violência à minha consciência, que está ligada e encadeada às Escrituras Sagradas." -- D'Aubigné. GC 166 2 A um outro apelo disse ele: "Consinto em renunciar ao salvo-conduto. Coloco minha pessoa e minha vida nas mãos do imperador, mas a Palavra de Deus -- nunca!" -- D'Aubigné. Declarou estar disposto a submeter-se à decisão de um concílio geral, mas unicamente sob a condição de que se exigisse do concílio decidir de acordo com as Escrituras. "No tocante à Palavra de Deus e à fé", acrescentou ele, "todo cristão é juiz tão bom como pode ser o próprio papa, embora apoiado por um milhão de concílios." -- Martyn. Tanto amigos como adversários finalmente se convenceram de que afirmação seriam quaisquer outros esforços de reconciliação. GC 166 3 Houvesse o reformador cedido num único ponto, e Satanás e suas hostes teriam ganho a vitória. Mas sua persistente firmeza foi o meio para a emancipação da igreja e o início de uma era nova e melhor. A influência deste único homem, que ousou pensar e agir por si mesmo em assuntos religiosos, deveria afetar a igreja e o mundo, não somente em seu próprio tempo mas em todas as gerações futuras. Sua firmeza e fidelidade fortaleceriam, até ao final do tempo, a todos os que passassem por experiência semelhante. O poder e majestade de Deus se mantiveram acima do conselho dos homens, acima da potente força de Satanás. GC 166 4 Por autorização do imperador foi Lutero logo ordenado a voltar para casa, e sabia que este aviso seria imediatamente seguido de sua condenação. Nuvens ameaçadoras pairavam sobre seu caminho; mas, partindo de Worms, seu coração se encheu de alegria e louvor. "O próprio diabo", disse ele, "guardou a fortaleza do papa, mas Cristo fez nela uma larga brecha, e Satanás foi constrangido a confessar que o Senhor é mais poderoso do que ele." -- D'Aubigné. GC 167 1 Depois de sua partida, ainda desejoso de que sua firmeza não fosse mal-interpretada como sendo rebelião, Lutero escreveu ao imperador: "Deus, que é o pesquisador dos corações, é minha testemunha", disse ele, "de que estou pronto para, da maneira mais ardorosa, obedecer a vossa majestade, na honra e na desonra, na vida e na morte, e sem exceções, a não ser a Palavra de Deus, pela qual o homem vive. Em todas as preocupações da presente vida, minha fidelidade será inabalável, pois perder ou ganhar neste mundo é de nenhuma conseqüência para a salvação. Mas quando se acham envolvidos interesses eternos, Deus não quer que o homem se submeta ao homem; pois tal submissão em assuntos espirituais é verdadeiro culto, e este deve ser prestado unicamente ao Criador." -- D'Aubigné. GC 167 2 Na viagem de volta de Worms, a recepção de Lutero foi mais lisonjeira mesmo do que na sua ida para ali. Eclesiásticos principescos davam as boas-vindas ao monge excomungado, e governadores civis honravam ao homem que o imperador denunciara. Insistiu-se com ele que pregasse e, não obstante a proibição imperial, de novo subiu ao púlpito. "Nunca me comprometi a acorrentar a Palavra de Deus", disse ele, "nem o farei." -- Martyn. Não estivera ainda muito tempo ausente de Worms, quando os chefes coagiram o imperador a promulgar um edito contra ele. Nesse decreto Lutero foi denunciado como o "próprio Satanás sob a forma de homem e sob as vestes de monge." -- D'Aubigné. Ordenou-se que, logo ao expirar o prazo de seu salvo-conduto, se adotassem medidas para deter a sua obra. Proibia-se a todas as pessoas abrigá-lo, dar-lhe comida ou bebida, ou por palavras ou atos, em público ou em particular, auxiliá-lo ou apoiá-lo. Deveria ser preso onde quer que o pudesse ser, e entregue às autoridades. Presos deveriam ser também seus adeptos, e confiscadas suas propriedades. Deveriam destruir-se seus escritos e, finalmente, todos os que ousassem agir contrariamente àquele decreto eram incluídos em sua condenação. O eleitor da Saxônia e os príncipes mais amigos de Lutero tinham-se retirado de Worms logo depois de sua partida, e o decreto do imperador recebeu a sanção da Dieta. Achavam-se agora jubilosos os romanistas. Consideravam selada a sorte da Reforma. GC 168 1 Deus provera a Seu servo nesta hora de perigo um meio para escapar ao mesmo. Um olhar vigilante acompanhava os movimentos de Lutero e um coração verdadeiro e nobre decidira o seu livramento. Era claro que Roma não se satisfaria com coisa alguma senão sua morte; unicamente ocultando-se poderia ele ser preservado das garras do leão. Deus dera sabedoria a Frederico da Saxônia para idear um plano destinado a preservar o reformador. Com a cooperação de verdadeiros amigos, executou-se o propósito do eleitor, e Lutero foi, de maneira eficiente, oculto de seus amigos e inimigos. Em sua viagem de volta para casa, foi preso, separado de seus assistentes e precipitadamente transportado através da floresta para o castelo de Wartburgo, isolada fortaleza nas montanhas. Tanto o rapto como o esconderijo foram de tal maneira envoltos em mistério, que até o próprio Frederico, durante muito tempo, não soube para onde fora ele conduzido. Esta ignorância não deixou de ter seu desígnio; enquanto o eleitor nada soubesse do paradeiro de Lutero, nada poderia revelar. Convenceu-se de que o reformador estava em segurança e com isso se sentiu satisfeito. GC 168 2 Passaram-se a primavera, o verão e o outono, e chegara o inverno, e Lutero ainda permanecia prisioneiro. Aleandro e seus partidários exultavam quando a luz do evangelho parecia prestes a extinguir-se. Mas, em vez disso, o reformador enchia sua lâmpada no repositório da verdade; e sua luz deveria resplandecer com maior brilho. GC 168 3 Na proteção amiga de Wartburgo, Lutero durante algum tempo se regozijou em seu livramento do ardor e torvelinho da batalha. Mas não poderia por muito tempo encontrar satisfação no silêncio e repouso. Habituado a uma vida de atividade e acirrado conflito, mal suportava o permanecer inativo. Naqueles dias de solidão, surgia diante dele o estado da igreja, e exclamava em desespero: "Ai! ninguém há neste último tempo da ira do Senhor para ficar diante dEle como uma muralha e salvar Israel." -- D'Aubigné. Novamente volvia os pensamentos para si mesmo e receava ser acusado de covardia por afastar-se da contenda. Acusava-se, então, de indolência e condescendência própria. No entanto, produzia diariamente mais do que parecia possível a um homem fazer. Sua pena nunca estava ociosa. Seus inimigos, conquanto se lisonjeassem de que ele estivesse em silêncio, espantavam-se e confundiam-se pela prova palpável de que ainda exercia atividade. Sem-número de folhetos, procedentes de sua pena, circulavam pela Alemanha toda. Também prestava importantíssimo serviço a seus patrícios, traduzindo o Novo Testamento para a língua alemã. De seu Patmos rochoso, continuou durante quase um ano inteiro a proclamar o evangelho e a repreender os pecados e erros do tempo. GC 169 1 Não foi, porém, meramente para preservar Lutero da ira de seus inimigos, nem mesmo para proporcionar-lhe uma temporada de calma para esses importantes labores, que Deus retirara Seu servo do cenário da vida pública. Visavam-se resultados mais preciosos do que esses. Na solidão e obscuridade de seu retiro montesino, Lutero esteve afastado do apoio terrestre e excluído dos louvores humanos. Foi desta maneira salvo do orgulho e confiança em si próprio, tantas vezes determinados pelo êxito. Por sofrimentos e humilhação foi de novo preparado para andar em segurança na altura vertiginosa a que tão subitamente fora exaltado. GC 169 2 Ao exultarem os homens na libertação que a verdade lhes traz, inclinam-se a engrandecer aqueles que Deus empregou para quebrar as cadeias do erro e superstição. Satanás procura desviar de Deus os pensamentos e afeições dos homens, e fixá-los nos fatores humanos; ele os leva a honrar o mero instrumento, e desconhecer a Mão que dirige os acontecimentos da Providência. Muitas vezes dirigentes religiosos que assim são louvados e reverenciados, perdem de vista sua dependência de Deus e são levados a confiar em si próprios. Em conseqüência, procuram governar o espírito e a consciência do povo que se dispõe a esperar deles a guia, em vez de esperá-la da Palavra de Deus. A obra de reforma é muitas vezes retardada por causa deste espírito da parte dos que a amparam. Deste perigo quis Deus guardar a causa da Reforma. Ele desejava que aquela obra recebesse não os característicos do homem, mas os de Deus. Os olhos dos homens tinham-se dirigido a Lutero como o expositor da verdade; ele foi removido para que todos os olhares pudessem dirigir-se ao sempiterno Autor da verdade. ------------------------Capítulo 9 -- A luz na Suíça GC 171 1 Na escolha dos instrumentos para a reforma da igreja, vê-se que Deus segue o mesmo plano adotado para sua fundação. O Mestre divino passou por alto os grandes homens da Terra, os titulares e ricos, que estavam acostumados a receber louvor e homenagem como dirigentes do povo. Eram tão orgulhosos e confiantes em si próprios, na sua alardeada superioridade, que não poderiam ser levados a simpatizar com os semelhantes e tornar-se colaboradores do humilde Homem de Nazaré. Aos indoutos e laboriosos pescadores da Galiléia fora dirigido o chamado: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens." Mateus 4:19. Aqueles discípulos eram humildes e dóceis. Quanto menos houvessem sido influenciados pelo falso ensino de seu tempo, com tanto mais êxito poderia Cristo instruí-los e habilitá-los para Seu serviço. Assim foi nos dias da grande Reforma. Os principais reformadores foram homens de vida humilde, homens que, em seu tempo, eram os mais livres do orgulho de classe e da influência do fanatismo e astúcia dos padres. É plano de Deus empregar humildes instrumentos para atingir grandes resultados. Não será então dada a glória aos homens, mas Àquele que por meio deles opera para o querer e o efetuar de Sua própria aprovação. GC 171 2 Poucas semanas depois do nascimento de Lutero na cabana de um mineiro, na Saxônia, nasceu Ulrich Zwínglio, na choupana de um pastor entre os Alpes. O ambiente em que viveu Zwínglio na meninice, e seus primeiros ensinos, foram de molde a prepará-lo para sua missão futura. Criado entre cenas de grandiosidade, beleza e solene sublimidade natural, seu espírito foi logo impressionado com o senso da grandeza, poder e majestade de Deus. A história dos feitos heróicos que tiveram por cenário suas montanhas nativas, inflamou-lhe as juvenis aspirações. E, ao lado de sua piedosa avó, ouvia as poucas e preciosas histórias bíblicas que ela rebuscara por entre as lendas e tradições da igreja. Com ávido interesse ouvia acerca dos grandes feitos dos patriarcas e profetas, dos pastores que vigiavam seus rebanhos nas colinas da Palestina, onde anjos lhes falaram da Criancinha de Belém e do Homem do Calvário. GC 172 1 Semelhante a João Lutero, o pai de Zwínglio desejava educar o filho, e o rapaz cedo foi enviado fora de seu vale natal. Desenvolveu-se-lhe rapidamente o espírito, e logo surgiu a questão de saber onde encontrar professores competentes para instruí-lo. Na idade de treze anos foi a Berna, que então possuía a mais conceituada escola na Suíça. Ali, entretanto, se manifestou um perigo que ameaçou frustrar seu promissor futuro. Decididos esforços foram feitos pelos frades a fim de atraí-lo a um convento. Os monges dominicanos e franciscanos porfiavam pela obtenção do favor popular. Procuravam consegui-lo mediante vistosos adornos das igrejas, pela pompa das cerimônias, e pelas atrações das famosas relíquias e imagens miraculosas. GC 172 2 Os dominicanos de Berna viram que se pudessem ganhar aquele talentoso jovem estudante, conseguiriam tanto proveito como honras. Sua idade juvenil, sua natural habilidade como orador e escritor, e seu gênio para a música e poesia, seriam mais eficientes do que toda a pompa e ostentação para atrair o povo aos cultos e aumentar os proventos de sua ordem. Pelo engano e lisonja esforçaram-se por induzir Zwínglio a entrar para seu convento. Lutero, quando estudante em uma escola, havia-se sepultado na cela de um convento, e ter-se-ia perdido para o mundo se a Providência o não houvesse libertado. Não foi permitido a Zwínglio encontrar o mesmo perigo. Providencialmente seu pai recebeu notícia do intuito dos frades. Não tinha intenções de permitir que o filho seguisse a vida ociosa e inútil dos monges. Viu que sua utilidade futura estava em perigo, e ordenou-lhe voltar sem demora para casa. GC 173 1 A ordem foi obedecida; mas o jovem não poderia estar contente por muito tempo em seu vale natal, e logo retornou aos estudos, dirigindo-se depois de algum tempo a Basiléia. Foi ali que Zwínglio ouviu pela primeira vez o evangelho da livre graça de Deus. Wittenbach, professor de línguas antigas, ao estudar o grego e o hebraico, fora conduzido às Escrituras Sagradas, e assim raios de luz divina se derramaram na mente dos estudantes sob sua instrução. Declarava ele existir uma verdade mais antiga e de valor infinitamente maior que as teorias ensinadas pelos escolásticos e filósofos. Esta antiga verdade era que a morte de Cristo é o único resgate do pecador. Para Zwínglio estas palavras foram como o primeiro raio de luz que precede a aurora. GC 173 2 Logo foi Zwínglio chamado de Basiléia para o serviço ativo. Seu primeiro campo de trabalho foi uma paróquia alpina, não muito distante de seu vale natal. Ordenado padre, "dedicou-se de toda a sua alma à pesquisa da verdade divina; pois estava bem ciente", declara um companheiro de reforma, "de quanto devia saber aquele a quem o rebanho de Cristo é confiado." -- Wylie. Quanto mais pesquisava as Escrituras, mais claro aparecia o contraste entre suas verdades e as heresias de Roma. Ele se submeteu à Bíblia como a Palavra de Deus, única regra suficiente, infalível. Viu que ela deveria ser seu próprio intérprete. Não ousou tentar a explicação das Escrituras a fim de sustentar uma teoria ou doutrina preconcebida, mas mantinha como seu dever aprender o que constituem seus ensinos diretos e óbvios. Procurou aproveitar-se de todo auxílio a fim de obter compreensão ampla e correta de seu sentido, e invocou a ajuda do Espírito Santo, que, declarou ele, o revelaria a todos que O buscassem com sinceridade e oração. GC 174 1 "As Escrituras", dizia Zwínglio, "vêm de Deus, não do homem, e mesmo aquele Deus que esclarece te dará a compreender que a palavra vem de Deus. A Palavra de Deus... não pode falhar; é clara, ensina por si mesma, desvenda-se a si própria, ilumina a alma com toda a salvação e graça, conforta-a em Deus, humilha-a de maneira que ela se perde a si mesma, e até se despoja e abraça a Deus." -- Wylie. A verdade destas palavras Zwínglio mesmo havia provado. Falando de sua experiência naquele tempo, escreveu depois: "Quando... comecei a devotar-me inteiramente às Escrituras Sagradas, a filosofia e a teologia (escolástica) sempre me sugeriam disputas. Finalmente cheguei a esta conclusão: 'Deves deixar toda inverdade, e aprender a significação de Deus unicamente de Sua própria e simples Palavra.' Então comecei a rogar a Deus a Sua luz, e as Escrituras foram-se tornando para mim muito mais fáceis." -- Wylie. GC 174 2 A doutrina pregada por Zwínglio, não a recebera ele de Lutero. Era a doutrina de Cristo. "Se Lutero prega a Cristo", disse o reformador suíço, "ele faz o que eu estou fazendo. Aqueles a quem ele levou a Cristo são mais numerosos do que os que levei. Mas isto não importa. Não pregarei nenhum outro nome a não ser o de Cristo, de quem sou soldado, e que unicamente é o meu Chefe. Nunca uma só palavra foi por mim escrita a Lutero, nem por Lutero a mim. E por quê?... Para que se pudesse mostrar quanto é consigo mesmo concorde o Espírito de Deus, visto que nós ambos, sem qualquer combinação comum, ensinamos a doutrina de Cristo com tal uniformidade." -- D'Aubigné. GC 174 3 Em 1516 Zwínglio foi convidado para ser pregador no convento de Einsiedeln. Ali deveria ter mais nítida perspectiva das corrupções de Roma e, como reformador, exercer uma influência que seria sentida muito além de seus Alpes nativos. Entre as principais atrações de Einsiedeln havia uma imagem da Virgem que diziam ter o poder de operar milagre. Por sobre o portal do convento estava a inscrição: "Aqui se pode obter remissão plenária dos pecados." -- D'Aubigné. Em todo tempo acorriam peregrinos ao relicário da Virgem, mas na grande festa anual de sua consagração, vinham multidões de todas as partes da Suíça, e mesmo da França e da Alemanha. Zwínglio, grandemente aflito ante o que via, aproveitou a oportunidade para proclamar àqueles escravos das superstições a liberdade mediante o evangelho. GC 175 1 "Não imagineis", disse ele, "que Deus está neste templo mais do que em qualquer outra parte da criação. Qualquer que seja o país em que habiteis, Deus está em redor de vós, e vos ouve. ... Podem obras sem proveito, longas peregrinações, ofertas, imagens, invocações da Virgem ou dos santos assegurar-vos a graça de Deus? ... Que vale a multidão de palavras em que envolvemos nossas orações? Que eficácia têm um capuz luzidio, cabeça bem rapada, vestes bem compridas e flutuantes, ou chinelas bordadas a ouro?... Deus olha para o coração, e nosso coração está longe dEle." "Cristo", disse ele, "que uma vez foi oferecido sobre a cruz, é o sacrifício e vítima, que por toda a eternidade proveu satisfação para os pecados dos crentes." -- D'Aubigné. GC 175 2 Por muitos ouvintes estes ensinos não eram bem aceitos. Era-lhes amarga decepção dizer-se-lhes que sua penosa jornada fora feita sem proveito. O perdão que livremente lhes era oferecido por meio de Cristo, não o podiam compreender. Estavam satisfeitos com o velho caminho para o Céu, que Roma lhes indicara. Recuavam ante a perplexidade de pesquisar qualquer coisa melhor. Era mais fácil confiar sua salvação aos padres e ao papa do que procurar pureza de coração. GC 175 3 Outra classe, entretanto, recebia com alegria as novas da redenção por meio de Cristo. As observâncias que Roma ordenara não haviam conseguido trazer paz à alma, e pela fé aceitaram o sangue do Salvador como sua propiciação. Estes voltaram para casa a fim de revelar a outros a preciosa luz que tinham recebido. A verdade era assim levada de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, e o número de peregrinos ao relicário da Virgem diminuiu grandemente. Houve decréscimo nas ofertas e, conseqüentemente, no salário de Zwínglio, que delas era tirado. Mas isto apenas lhe causava alegria, vendo ele que o poder do fanatismo e superstição estava sendo quebrado. GC 176 1 As autoridades da igreja não tinham os olhos fechados à obra que Zwínglio estava realizando; mas no momento elas se abstiveram de intervir. Esperando ainda consegui-lo para a sua causa, esforçaram-se por ganhá-lo com lisonjas; e, nesse ínterim, a verdade estava a obter posse do coração do povo. GC 176 2 Os trabalhos de Zwínglio em Einsiedeln haviam-no preparado para um campo mais vasto, e neste logo deveria entrar. Depois de três anos ali, foi chamado para o cargo de pregador na catedral de Zurique. Esta era então a cidade mais importante da confederação suíça, e seria amplamente sentida a influência ali exercida. Os eclesiásticos, a cujo convite fora a Zurique, estavam entretanto desejosos de impedir quaisquer inovações, e de acordo com isto se puseram a instruí-lo a respeito de seus deveres. GC 176 3 "Farás todo o esforço", disseram eles, "para coletar as receitas do capítulo, sem desprezar a menor. Exortarás os fiéis, tanto do púlpito como no confessionário, a pagar seus dízimos e impostos, e a mostrar, por ofertas, sua afeição para com a igreja. Serás diligente em aumentar as rendas que se arrecadam dos doentes, das missas e em geral de toda a ordenança eclesiástica." "Quanto à administração dos sacramentos, à pregação e ao cuidado do rebanho", acrescentaram seus instrutores, "são também deveres do capelão. Para estes, porém, podes empregar um substituto, e particularmente no pregar. Não administrarás o sacramento a ninguém, a não ser a pessoas notáveis, e unicamente quando chamado; proíbe-se fazeres isto sem distinção de pessoas." -- D'Aubigné: GC 176 4 Zwínglio ouviu em silêncio esta ordem e, em resposta, depois de exprimir sua gratidão pela honra de um chamado para este importante posto, pôs-se a explicar o método de ação que se propusera adotar. "A vida de Cristo", disse ele, "tem por demasiado tempo sido oculta do povo. Pregarei acerca do evangelho todo de Mateus, ... tirando unicamente das fontes das Escrituras, sondando suas profundidades, comparando uma passagem com outra, e buscando compreensão pela prece constante e fervorosa. À glória de Deus, ao louvor de Seu único Filho, à salvação real das almas e à sua edificação na verdadeira fé, é que eu consagrarei meu ministério." -- D'Aubigné. Posto que alguns dos eclesiásticos reprovassem este plano e se esforçassem por dissuadi-lo do mesmo, Zwínglio permaneceu firme. Declarou que não estava para introduzir nenhum método novo, mas o antigo método empregado pela igreja nos primitivos e mais puros tempos. GC 177 1 Já se havia despertado interesse nas verdades que ele ensinava, e o povo afluía em grande número para ouvir sua pregação. Muitos que tinham deixado de assistir ao culto havia muito tempo, achavam-se entre os ouvintes. Iniciou seu ministério abrindo os evangelhos e lendo e explicando aos ouvintes a inspirada narrativa da vida, ensinos e morte de Cristo. Ali, como em Einsiedeln, apresentava a Palavra de Deus como a única autoridade infalível, e a morte de Cristo como o único sacrifício completo. "É a Cristo", dizia ele, "que eu desejo conduzir-vos; a Cristo, a verdadeira fonte da salvação." -- D'Aubigné. Em redor do pregador acotovelava-se o povo de todas as classes, desde estadistas e eruditos, até os operários e camponeses. Com profundo interesse escutavam suas palavras. Não somente proclamava o oferecimento de uma salvação gratuita, mas destemidamente reprovava os males e corrupções dos tempos. Muitos voltavam da catedral louvando a Deus. "Este homem", diziam, "é um pregador da verdade. Ele será nosso Moisés, para tirar-nos das trevas egípcias." -- D'Aubigné. GC 177 2 Mas, conquanto a princípio seus trabalhos fossem recebidos com grande entusiasmo, depois de algum tempo surgiu a oposição. Os monges puseram-se a entravar-lhe a obra e condenar-lhe os ensinos. Muitos o assaltavam com zombarias e escárnios; outros recorriam à insolência e ameaças. Zwínglio, porém, suportou tudo com paciência, dizendo: "Se desejamos ganhar os ímpios para Jesus Cristo, devemos fechar os olhos a muitas coisas." -- D'Aubigné. GC 178 1 Por este tempo um novo fator apareceu para promover a obra da Reforma. Um amigo da fé reformada, de Basiléia, enviou a Zurique certo Luciano com alguns dos escritos de Lutero, sugerindo que a venda desses livros poderia ser extraordinário meio para difundir a luz. "Verificai", escreveu ele a Zwínglio, "se este homem possui prudência e habilidade suficientes; se assim for, ele que leve de cidade em cidade, de vila em vila, de aldeia em aldeia, e mesmo de casa em casa, entre suíços, as obras de Lutero, e especialmente sua exposição sobre a oração do Senhor, escrita para os leigos. Quanto mais forem conhecidas, tanto mais compradores encontrarão." -- D'Aubigné. Assim teve entrada a luz. GC 178 2 Na ocasião em que Deus Se prepara para quebrar as algemas da ignorância e superstição, então é que Satanás opera com o máximo poder para envolver os homens em trevas e segurar seus grilhões ainda mais firmemente. Estando a surgir nos diferentes países homens a apresentar ao povo o perdão e a justificação pelo sangue de Cristo, Roma prosseguiu com renovada energia a abrir seu mercado por toda a cristandade, oferecendo por dinheiro o perdão. GC 178 3 Todo pecado tinha seu preço, e aos homens se concedia livre permissão para o crime, contanto que o tesouro da igreja se conservasse cheio. Destarte, ambos os movimentos prosseguiram: um oferecendo o perdão do pecado por dinheiro, o outro, mediante Cristo; Roma permitindo o pecado e dele fazendo sua fonte de renda, os reformadores condenando o pecado e apontando para Cristo como a propiciação e o libertador. GC 178 4 Na Alemanha, a venda das indulgências fora confiada aos frades dominicanos, e era dirigida pelo infame Tetzel. Na Suíça, foi a mesma entregue aos franciscanos, sob a direção de Sansão, monge italiano. Sansão prestara já bom serviço à igreja, tendo conseguido imensas somas da Alemanha e Suíça, para encher o tesouro papal. Atravessava então a Suíça, atraindo grandes multidões, despojando os pobres camponeses de seus minguados ganhos, e extorquindo ricos donativos das classes abastadas. A influência da Reforma, porém, já se fazia sentir, limitando aquele comércio, posto que o mesmo não pudesse deter-se. Zwínglio estava ainda em Einsiedeln, quando Sansão, logo depois de entrar na Suíça, chegou com sua mercadoria a uma cidade vizinha. Informado de sua missão, o reformador imediatamente começou a opor-se-lhe. Os dois não se encontraram, mas tal foi o êxito de Zwínglio ao expor as pretensões do frade que este foi obrigado a seguir para outras localidades. GC 179 1 Em Zurique, Zwínglio pregou zelosamente contra os vendedores de perdão; e, quando Sansão se aproximou do lugar, foi encontrado por um mensageiro do conselho com uma intimação de que se esperava passasse ele para outra parte. Por um estratagema, conseguiu afinal entrada, mas foi enviado para fora sem a venda de um único perdão, e logo depois deixou a Suíça. GC 179 2 Grande impulso foi dado à Reforma com o aparecimento da peste, ou "grande morte", que varreu a Suíça no ano 1519. Sendo os homens assim postos em face do destruidor, muitos foram levados a sentir quão vãos e inúteis eram os perdões que tinham tão recentemente comprado; e anelavam um fundamento mais seguro para a sua fé. Zwínglio, em Zurique, caiu doente. Ficou tão mal que abandonou toda a esperança de restabelecimento, e largamente circulou a notícia de que falecera. Naquela hora de provação, sua esperança e coragem foram inabaláveis. Olhava com fé para a cruz do Calvário, confiando na todo-suficiente propiciação pelo pecado. Quando ele voltou das portas da morte, foi pregar o evangelho com maior fervor do que nunca dantes, e suas palavras exerciam desusado poder. O povo dava com alegria as boas-vindas a seu amado pastor, que lhes fora restituído da beira da sepultura. Eles mesmos tinham acabado de assistir os doentes e moribundos e sentiam, como nunca dantes, o valor do evangelho. GC 180 1 Zwínglio chegara a uma compreensão mais clara de suas verdades, e havia mais completamente experimentado em si seu poder renovador. A queda do homem e o plano da redenção eram os assuntos de que ele se ocupava. "Em Adão", dizia, "todos estamos mortos, submersos na corrupção e condenação." -- Wylie. "Cristo... adquiriu-nos uma redenção intérmina. ... Sua paixão é... um sacrifício eterno, e eternamente eficaz para curar; satisfaz para sempre a justiça divina, em favor de todos os que nela confiam com firme e inabalável fé." Contudo, ensinava claramente que os homens não estão, por causa da graça de Cristo, livres para continuar no pecado. "Onde quer que haja fé em Deus, ali Deus está; e onde quer que Deus habite, ali se desperta um zelo que insta com os homens e os impele às boas obras." -- D'Aubigné. GC 180 2 Tal era o interesse na pregação de Zwínglio que a catedral não comportava as multidões que o vinham ouvir. Pouco a pouco, à medida em que o podiam suportar, desvendava a verdade a seus ouvintes. Tinha o cuidado de não introduzir a princípio pontos que os assustariam, criando preconceitos. Seu trabalho era conquistar-lhes o coração para os ensinos de Cristo, abrandá-lo por Seu amor, e diante deles conservar Seu exemplo; e recebendo eles os princípios do evangelho, suas crenças e práticas supersticiosas inevitavelmente desapareceriam. GC 180 3 Passo a passo avançava a Reforma em Zurique. Alarmados, seus inimigos levantaram-se em ativa oposição. Um ano antes o monge de Wittenberg proferira o seu "Não" ao papa e ao imperador, em Worms, e agora tudo parecia indicar uma resistência semelhante às pretensões papais em Zurique. Reiterados ataques foram feitos contra Zwínglio. Nos cantões papais, de tempos em tempos, discípulos do evangelho eram levados à tortura, mas isto não bastava; o ensinador de heresias deveria ser reduzido ao silêncio. De acordo com isto, o bispo de Constança enviou três delegados ao conselho de Zurique, acusando Zwínglio de ensinar o povo a transgredir as leis da igreja, pondo assim em perigo a paz e a boa ordem da sociedade. Se a autoridade da igreja fosse posta de lado, insistia ele, resultaria anarquia universal. Zwínglio replicou que durante quatro anos estivera a ensinar o evangelho em Zurique, "que era mais silenciosa e pacífica que qualquer outra cidade da confederação." "Não é, então", disse ele, "o cristianismo a melhor salvaguarda da segurança geral?" -- Wylie. GC 181 1 Os delegados aconselharam os membros do conselho a permanecer na igreja, fora da qual, declararam, não havia salvação. Zwínglio respondeu: "Não vos mova esta acusação. O fundamento da igreja é a mesma Rocha, o mesmo Cristo, que deu a Pedro seu nome porque ele O confessou fielmente. Em todo país, quem quer que creia de todo o coração no Senhor Jesus, é aceito por Deus. Esta, verdadeiramente, é a igreja, fora da qual ninguém pode salvar-se." -- D'Aubigné. Como resultado da conferência, um dos delegados do bispo aceitou a fé reformada. GC 181 2 O conselho recusou-se a agir contra Zwínglio, e Roma preparou-se para novo ataque. O reformador, ao ser informado da trama de seus inimigos, exclamou: "Eles que venham; eu os temo como o rochedo se arreceia das vagas que trovejam a seus pés." -- Wylie. Os esforços eclesiásticos apenas favoreceram a causa que procuravam destruir. A verdade continuou a ser espalhada. Na Alemanha seus adeptos, abatidos com o desaparecimento de Lutero, tomaram novo ânimo, quando viram o progresso do evangelho na Suíça. GC 181 3 Ficando a Reforma implantada em Zurique, seus frutos eram mais amplamente vistos na supressão do vício e promoção da ordem e harmonia. "A paz tem sua habitação em nossa cidade", escreveu Zwínglio; "nenhuma rixa, nenhuma hipocrisia, nenhuma inveja, nenhuma contenda. Donde pode tal união vir senão do Senhor e de nossa doutrina, que nos enche dos frutos de paz e piedade?" -- Wylie. GC 181 4 As vitórias ganhas pela Reforma estimularam os romanistas a esforços ainda mais decididos, para a subversão daquela. Vendo quão pouco fora alcançado pela perseguição no sentido de suprimir a obra de Lutero na Alemanha, decidiram-se a enfrentar a Reforma com as próprias armas da mesma. Manteriam uma discussão com Zwínglio e, havendo eles de dispor o assunto, assegurar-se-iam a vitória, escolhendo eles mesmos, não somente o local do debate, mas os juízes que decidiriam entre os contendores. E, se pudessem manter Zwínglio em seu poder, teriam cuidado em que ele lhes não escapasse. Reduzido o chefe ao silêncio, poder-se-ia rapidamente sufocar o movimento. Este propósito, contudo, foi cuidadosamente oculto. GC 182 1 Fora designado que o debate tivesse lugar em Bade; mas Zwínglio não estava presente. O Conselho de Zurique, suspeitando dos intuitos dos católicos, romanos, e advertido pelas fogueiras acesas nos cantões papais para os que professavam o evangelho, proibiu a seu pastor expor-se àquele perigo. Em Zurique ele estava pronto a enfrentar todos os partidários que Roma pudesse enviar; mas ir a Bade, onde o sangue dos mártires da verdade acabara de ser derramado, seria ir para a morte certa. Oecolampadius e Haller foram escolhidos para representar os reformadores, enquanto o famoso Dr. Eck, apoiado por uma hoste de ilustres doutores e prelados, era o defensor de Roma. GC 182 2 Posto que Zwínglio não comparecesse, sua influência foi sentida. Os secretários foram todos escolhidos pelos romanistas, e a outros foi vedado tomar notas, sob pena de morte. Apesar disto Zwínglio recebia diariamente um relatório fiel do que se dizia em Bade. Um estudante que assistia à discussão, fazia cada noite um relato dos argumentos naquele dia apresentados. Dois outros estudantes faziam a entrega desses papéis, juntamente com as cartas diárias de Oecolampadius, a Zwínlio, em Zurique. O reformador respondia, dando conselhos e sugestões. Suas cartas eram escritas à noite, e os estudantes voltavam com elas a Bade, de manhã. Para iludir a vigilância do guarda estacionado às portas da cidade, esses mensageiros levavam sobre a cabeça cestos com aves domésticas, e era-lhes permitido passar sem impedimento. GC 183 1 Assim Zwínglio manteve a batalha com seus ardilosos antagonistas. Ele "trabalhou mais", disse Myconius, "com suas meditações, noites de vigília e conselhos que transmitia a Bade, do que teria feito discutindo em pessoa no meio de seus inimigos." -- D'Aubigné. GC 183 2 Os representantes de Roma, exultantes pelo triunfo antecipado, tinham ido a Bade ornamentados com as mais ricas vestes e resplendentes de jóias. Viviam luxuosamente e sua mesa era servida com as mais custosas iguarias e seletos vinhos. O peso de seus deveres eclesiásticos era aliviado através de divertimentos e festejos. Em assinalado contraste apareciam os reformadores, que eram vistos pelo povo como sendo pouco melhores do que um grupo de pedintes, e cuja alimentação frugal os conservava apenas pouco tempo à mesa. O hospedeiro de Oecolampadius, procurando ocasião de observá-lo em seu quarto, encontrava-o sempre empenhado no estudo ou em oração e, maravilhando-se grandemente, referiu que o herege era, ao menos, "muito religioso". GC 183 3 Na conferência, "Eck altivamente subiu a um púlpito esplendidamente ornamentado, enquanto o humilde Oecolampadius, mediocremente vestido, foi obrigado a tomar assento defronte de seu oponente, em um banco tosco." -- D'Aubigné. A voz tonitruante e ilimitada confiança de Eck nunca lhe faltaram. Seu zelo era estimulado pela esperança do ouro bem como de renome; pois o defensor da fé deveria ser recompensado com paga liberal. Quando melhores argumentos falhavam, recorria a insultos e mesmo a blasfêmias. GC 183 4 Oecolampadius, modesto e não confiante em si próprio, arreceara-se do combate, e para ele entrara com esta solene confissão: GC 183 5 "Não reconheço outra norma para julgar a não ser a Palavra de Deus." -- D'Aubigné. Posto que gentil e cortês nas maneiras, mostrou-se capaz e persistente. Enquanto os católicos, romanos, segundo seu hábito, apelavam para os costumes da igreja como autoridade, o reformador apegava-se firmemente às Escrituras Sagradas. "O costume", dizia ele, "não tem força alguma em nossa Suíça, a menos que esteja de acordo com a constituição; ora, em assunto de fé, a Bíblia é a nossa constituição." -- D'Aubigné. GC 184 1 O contraste entre os dois contendores não era destituído de efeito. O raciocínio calmo, claro, do reformador, tão gentil e modestamente apresentado, falava aos espíritos que se desviavam desgostosos das afirmações jactanciosas e violentas de Eck. GC 184 2 A discussão continuou por dezoito dias. Em seu termo, os representantes do papa, com grande confiança, pretenderam a vitória. A maior parte dos delegados ficaram ao lado de Roma, e a Dieta declarou vencidos os reformadores, e notificou que eles, juntamente com Zwínglio, seu chefe, estavam separados da igreja. Mas os frutos da conferência revelaram de que lado estava a vantagem. A contenda resultou em forte impulso para a causa protestante, e não muito tempo depois, as importantes cidades de Berna e Basiléia se declararam pela Reforma. ------------------------Capítulo 10 -- A Europa desperta GC 185 1 O desaparecimento misterioso de Lutero excitara consternação em toda a Alemanha. Ouviam-se por toda parte indagações a respeito dele. Circulavam os mais disparatados rumores, e muitos criam que ele tivesse sido assassinado. Houve grande lamentação, não somente por seus amigos declarados, mas por milhares que não haviam abertamente assumido atitude pela Reforma. Muitos se comprometiam, sob juramento solene, a vingar-lhe a morte. GC 185 2 Os chefes romanistas viram com terror até que ponto haviam atingido os sentimentos contra eles. Conquanto a princípio jubilosos com a suposta morte de Lutero, logo desejaram ocultar-se à ira do povo. Seus inimigos não haviam sido tão perturbados com seus arrojadíssimos atos enquanto se achava entre eles, como o foram com o seu afastamento. Aqueles que em sua cólera haviam procurado destruir o ousado reformador, estavam cheios de temor agora que ele se tornara um cativo indefeso. "O único meio que resta de nos salvarmos", disse um, "consiste em acendermos tochas e sairmos à procura de Lutero pelo mundo inteiro, a fim de reintegrá-lo à nação que por ele está chamando." -- D'Aubigné. O edito do imperador parecia tornar-se impotente. Os legados papais estavam cheios de indignação, ao ver que o edito se impunha muito menos à atenção do que a sorte de Lutero. GC 185 3 As notícias de que ele estava em segurança, embora prisioneiro, acalmavam os temores do povo, ao passo que ainda mais suscitavam o entusiasmo a seu favor. Seus escritos eram lidos com maior avidez do que nunca dantes. Um número crescente de pessoas aderia à causa do heróico homem que, em tão terrível contenda, defendera a Palavra de Deus. A Reforma estava constantemente ganhando forças. Germinara por toda parte a semente que Lutero lançara. Sua ausência cumpriu uma obra que sua presença não teria conseguido realizar. Outros obreiros sentiram nova responsabilidade, agora que seu grande chefe fora removido. Com nova fé e fervor, avançaram para fazer tudo que estivesse em seu poder, a fim de que não fosse impedida a obra tão nobremente iniciada. GC 186 1 Mas Satanás não estava ocioso. Passou a tentar o que havia experimentado em todos os outros movimentos de reforma -- enganar e destruir o povo apresentando-lhe uma contrafação em lugar da verdadeira obra. Assim como houve falsos cristos no primeiro século da igreja cristã, surgiram também falsos profetas no século XVI. GC 186 2 Alguns homens, profundamente impressionados com a agitação que ia pelo mundo religioso, imaginavam haver recebido revelações especiais do Céu, e pretendiam ter sido divinamente incumbidos de levar avante, até à finalização, a Reforma que, declaravam, apenas fora iniciada debilmente por Lutero. Na verdade, estavam desfazendo o mesmo trabalho que ele realizara. Rejeitavam o grande princípio que era o próprio fundamento da Reforma -- que a Palavra de Deus é a todo-suficiente regra de fé e prática; e substituíram aquele guia infalível pela norma mutável, incerta, de seus próprios sentimentos e impressões. Por este ato de pôr de lado o grande indicador do erro e falsidade, fora aberto o caminho para Satanás governar os espíritos como melhor lhe aprouvesse. GC 186 3 Um desses profetas pretendia haver sido instruído pelo anjo Gabriel. Um estudante que se lhe unira, abandonara seus estudos declarando que fora pelo próprio Deus dotado de sabedoria para expor Sua Palavra. Outros que naturalmente eram propensos ao fanatismo, a eles se uniram. A ação destes entusiastas criou não pequeno excitamento. A pregação de Lutero tinha levado o povo em toda parte a sentir a necessidade de reforma, e agora algumas pessoas realmente sinceras foram transviadas pelas pretensões dos novos profetas. GC 187 1 Os dirigentes do movimento seguiram para Wittenberg e instaram com Melâncton e seus cooperadores para que aceitassem suas pretensões. Disseram: "Nós somos enviados por Deus para instruir ao povo. Temos familiarmente entretido conversas com o Senhor; sabemos o que acontecerá; em uma palavra, somos apóstolos e profetas, e apelamos para o Dr. Lutero." -- D'Aubigné. GC 187 2 Os reformadores estavam surpresos e perplexos. Com semelhante elemento não haviam ainda deparado, e não sabiam o que fazer. Disse Melâncton: "Há efetivamente espírito extraordinário nestes homens; mas que espírito? ... De um lado acautelemo-nos de entristecer o Espírito de Deus, e de outro, de sermos desgarrados pelo espírito de Satanás." -- D'Aubigné. GC 187 3 O fruto do novo ensino logo se tornou manifesto. O povo foi levado a negligenciar a Bíblia, ou lançá-la inteiramente à parte. Nas escolas estabeleceu-se confusão. Estudantes, repelindo toda restrição, abandonavam seus estudos e retiravam-se da universidade. Os homens que se julgavam competentes para reanimar e dirigir a obra da Reforma, conseguiram unicamente levá-la às bordas da ruína. Os representantes de Roma recuperaram então sua confiança, e exclamaram exultantemente: "Mais uma luta, e tudo será nosso." -- D'Aubigné. GC 187 4 Lutero, em Wartburgo, ouvindo o que ocorrera, disse com profundo pesar: "Sempre esperei que Satanás nos mandaria esta praga." -- D'Aubigné. Percebeu o verdadeiro caráter desses pretensos profetas, e viu o perigo que ameaçava a causa da verdade. A oposição do papa e do imperador não lhe tinha causado perplexidade e angústia tão grandes como as que experimentava agora. Dos professos amigos da Reforma haviam surgido seus piores inimigos. As mesmas verdades que lhe haviam trazido tão grande alegria e consolação, estavam sendo empregadas para provocar contenda e criar confusão na igreja. GC 188 1 Na obra da Reforma, Lutero fora compelido à frente pelo Espírito de Deus, e levado além do que ele pessoalmente teria ido. Não se propusera assumir as posições que assumiu, nem efetuar mudanças tão radicais. Não fora senão o instrumento nas mãos do Poder infinito. Contudo, muitas vezes estremecia pelos resultados de seu trabalho. Dissera uma vez: "Se eu soubesse que minha doutrina tivesse prejudicado a um homem, um único homem, por humilde e obscuro que fosse -- o que não pode ser, pois que é o próprio evangelho -- eu preferiria morrer dez vezes a não retratar-me." -- D'Aubigné. GC 188 2 E então, Wittenberg mesmo, o próprio centro da Reforma, estava rapidamente a cair sob o poder do fanatismo e da anarquia. Esta terrível condição não resultara dos ensinos de Lutero; mas por toda a Alemanha seus inimigos o estavam acusando disso. Em amargura d'alma ele algumas vezes perguntou: "Poderá, então, ser esse o fim desta grande obra da Reforma?" -- D'Aubigné. De novo, lutando com Deus em oração, encheu-se-lhe de paz a alma. "A obra não é minha, mas Tua", disse ele; "não permitirás que ela se corrompa pela superstição ou fanatismo." Mas o pensamento de permanecer por mais tempo afastado do conflito, numa crise tal, tornou-se-lhe insuportável. Resolveu voltar a Wittenberg. GC 188 3 Sem demora iniciou a perigosa viagem. Achava-se sob a condenação do império. Os inimigos tinham a liberdade de tirar-lhe a vida; aos amigos era vedado auxiliá-lo ou abrigá-lo. O governo imperial estava adotando as mais enérgicas medidas contra seus adeptos. Ele, porém, via que a obra do evangelho estava perigando, e em nome do Senhor saiu destemidamente para batalhar pela verdade. GC 188 4 Em carta ao eleitor, depois de declarar seu propósito de deixar Wartburgo, Lutero disse: "Seja Vossa Alteza cientificado de que vou a Wittenberg sob uma proteção muito mais elevada do que a de príncipes e eleitores. Não penso em solicitar o apoio de Vossa Alteza, e longe de desejar sua proteção, eu mesmo, antes, o protegerei. Se eu soubesse que Vossa Alteza poderia ou quereria proteger-me, não iria de maneira nenhuma a Wittenberg. Não há espada que possa favorecer esta causa. Deus somente deve fazer tudo sem o auxílio ou cooperação do homem. Aquele que tem a maior fé, é o que é mais capaz de proteger." -- D'Aubigné. GC 189 1 Em segunda carta, escrita em caminho para Wittenberg, Lutero acrescentou: "Estou pronto para incorrer no desagrado de Vossa Alteza e na ira do mundo inteiro. Não são os habitantes de Wittenberg minhas ovelhas? Não as confiou Deus a mim? E não deveria eu, sendo necessário, expor-me à morte por sua causa? Demais, temo ver um terrível levante na Alemanha, pelo qual Deus punirá nossa nação." -- D'Aubigné. GC 189 2 Com grande cautela e humildade, se bem que com decisão e firmeza, entrou em seu trabalho. "Pela Palavra", disse ele, "devemos vencer e destruir o que foi estabelecido pela violência. Não farei uso da força contra os supersticiosos e incrédulos. ... Ninguém deve ser constrangido. A liberdade é a própria essência da fé." -- D'Aubigné. GC 189 3 Logo rumorejou em toda Wittenberg que Lutero voltara, e que deveria pregar. O povo congregou-se de todas as direções, e a igreja transbordou. Subindo ao púlpito, com grande sabedoria e mansidão, instruiu, exortou e reprovou. Abordando o procedimento de alguns que haviam recorrido a medidas violentas para abolir a missa, disse: GC 189 4 "A missa é coisa má; Deus Se opõe a ela; deve ser abolida; e eu gostaria que no mundo inteiro fosse substituída pela Ceia do evangelho. Mas que ninguém seja dela arrancado pela força. Devemos deixar o caso nas mãos de Deus. Sua Palavra deve agir, e não nós. E por que assim? perguntareis. Porque eu não retenho o coração dos homens em minhas mãos, como o oleiro retém o barro. Temos o direito de falar: não temos o direito de agir. Preguemos; o resto pertence a Deus. Devesse eu empregar a força e que ganharia? Momice, formalidade, arremedos, ordenanças humanas e hipocrisia. ... Mas não haveria sinceridade de coração, nem fé, nem caridade. Onde faltam estas três, falta tudo, e eu nada daria por semelhante resultado. ... Deus faz mais por Sua Palavra só, do que vós e eu e o mundo inteiro por nossa força unida. Deus Se apodera do coração, e tomando o coração, tudo está ganho. ... GC 190 1 "Pregarei, discutirei, escreverei; mas não constrangerei a ninguém, pois a fé é ato voluntário. Vede o que fiz. Levantei-me contra o papa, seus partidários e as indulgências, mas sem violência nem tumulto. Apresentei a Palavra de Deus; preguei e escrevi -- isto é tudo que fiz. E, no entanto, enquanto eu dormia, ... a Palavra que eu pregara subverteu o papado, de maneira tal que nunca um príncipe ou imperador lhe vibrou semelhante golpe. E, contudo, nada fiz; a Palavra só, fez tudo. Se eu houvesse querido apelar para a força, a Alemanha inteira teria sido talvez inundada de sangue. Mas qual seria o resultado? Ruína e desolação tanto para o corpo como para a alma. Portanto, conservei-me quieto e deixei a Palavra sozinha correr através do mundo." -- D'Aubigné. GC 190 2 Dia após dia, durante uma semana inteira, Lutero continuou a pregar a ávidas multidões. A Palavra de Deus quebrou o encanto da excitação fanática. O poder do evangelho trouxe de novo para o caminho da verdade o povo transviado. GC 190 3 Lutero não tinha desejo de encontrar-se com os fanáticos, cujo proceder fora a causa de tão grande mal. Sabia que eram homens de juízo deficiente e de indisciplinadas paixões, os quais conquanto pretendessem ser especialmente iluminados pelo Céu, não suportariam a mínima contradição, ou mesmo a mais benévola reprovação ou conselho. Arrogando-se autoridade suprema, exigiam que cada um, sem qualquer questão, reconhecesse o que pretendiam. Mas, ao pedirem uma entrevista com ele, concedeu-lha; e com tanto êxito expôs as pretensões deles que os impostores de pronto partiram de Wittenberg. GC 190 4 O fanatismo foi sustado por algum tempo; mas alguns anos mais tarde irrompeu com maior violência e mais terríveis resultados. Disse Lutero, com relação aos dirigentes desse movimento: "Para eles as Escrituras Sagradas não eram senão letra morta, e todos eles começaram a clamar: 'O Espírito! o Espírito!' Mas, certamente não seguirei para onde seu espírito os conduz. Deus me guarde, pela Sua misericórdia, de uma igreja em que não há senão santos. Desejo associar-me aos humildes, fracos, doentes, que conhecem e sentem seus pecados, e que, do fundo do coração, gemem e clamam continuamente a Deus, para obter dEle consolação e apoio." -- D'Aubigné. GC 191 1 Tomaz Münzer, o mais ativo dos fanáticos, era homem de considerável habilidade, que, corretamente dirigida, o teria capacitado a fazer o bem; mas ele não aprendera os rudimentos da verdadeira religião. "Possuía-o o desejo de reformar o mundo e esquecia-se, como o fazem todos os entusiastas, de que a reforma deveria começar consigo mesmo." -- D'Aubigné. Ambicionava obter posição e influência, e não estava disposto a ficar em segundo lugar, mesmo em relação a Lutero. Declarava que os reformadores, substituindo pela autoridade das Escrituras a do papa, estavam apenas estabelecendo uma forma diversa de papado. Ele próprio pretendia haver sido divinamente incumbido de introduzir a verdadeira reforma. "Aquele que possui este espírito", disse Münzer, "possui a verdadeira fé, ainda que em sua vida nunca visse as Escrituras." -- D'Aubigné. GC 191 2 Os ensinadores fanáticos entregaram-se à direção das impressões, considerando todo pensamento e impulso como sendo a voz de Deus; conseqüentemente iam a grandes extremos. Alguns queimaram mesmo a Bíblia, exclamando: "A letra mata, mas o Espírito vivifica." O ensino de Münzer apelava para o desejo humano do maravilhoso, enquanto satisfazia seu orgulho colocando virtualmente as idéias e opiniões dos homens acima da Palavra de Deus. Suas doutrinas eram recebidas por milhares. Logo denunciou toda a ordem no culto público, e declarou que obedecer aos príncipes era tentar servir simultaneamente a Deus e a Belial. GC 191 3 O espírito do povo, começando já a arremessar o jugo do papado, estava-se também tornando impaciente sob as restrições da autoridade civil. Os ensinos revolucionários de Münzer, pretendendo sanção divina, levaram-nos a romper com todo domínio e dar rédeas a seus preconceitos e paixões. Seguiram-se as mais terríveis cenas de sedição e contenda, e os campos da Alemanha embeberam-se de sangue. GC 192 1 A agonia d'alma que, havia tanto tempo antes, Lutero experimentara em Erfurt, oprimia-o agora com redobrada força, vendo ele os resultados do fanatismo imputados à Reforma. Os príncipes romanistas declaravam -- e muitos estavam prontos a dar crédito à declaração -- que a rebelião era o fruto legítimo das doutrinas de Lutero. Conquanto esta acusação não tivesse o mínimo fundamento, não poderia senão causar grande angústia ao reformador. Que a causa da verdade fosse assim infelicitada, sendo emparelhada com o mais ignóbil fanatismo, parecia mais do que ele poderia suportar. Por outro lado, os chefes da revolta odiavam a Lutero porque ele não somente se opusera a suas doutrinas e negara ser de inspiração divina o que pretendiam, mas declarara-os rebeldes à autoridade civil. Em represália, denunciaram-no como vil pretensioso. Parecia haver acarretado sobre si a inimizade tanto de príncipes como do povo. GC 192 2 Os romanistas exultavam, esperando testemunhar a rápida queda da Reforma; e culpavam a Lutero até dos erros que ele tão zelosamente se esforçara por corrigir. A facção fanática, pretendendo falsamente haver sido tratada com grande injustiça, conseguiu ganhar as simpatias de um grupo numeroso de pessoas e, conforme se dá freqüentemente com os que tomam o lado do erro, vieram a ser considerados mártires. Assim, aqueles que estavam exercendo toda energia em oposição à Reforma, eram lamentados e louvados como vítimas de crueldade e opressão. Esta era obra de Satanás, movido pelo mesmo espírito de rebelião que manifestara primeiramente no Céu. GC 192 3 Satanás está constantemente procurando enganar os homens e levá-los a chamar ao pecado justiça, e à justiça pecado. Quão bem-sucedido tem sido seu trabalho! Quantas vezes a censura e a exprobração são lançadas sobre os fiéis servos de Deus porque se mantêm destemidos em defesa da verdade! Os homens que não passam de agentes de Satanás, são louvados e lisonjeados, e mesmo considerados mártires, enquanto os que deveriam ser respeitados e apoiados pela sua fidelidade a Deus, são deixados sós, sob suspeita e desconfiança. GC 193 1 A santidade falsificada, a santificação espúria, ainda está a fazer sua obra de engano. Sob várias formas exibe o mesmo espírito dos dias de Lutero, desviando das Escrituras os espíritos, e levando os homens a seguir seus próprios sentimentos e impressões, em vez de prestar obediência à lei de Deus. Este é um dos expedientes mais bem-sucedidos de Satanás, para lançar opróbrio sobre a pureza e a verdade. GC 193 2 Corajosamente Lutero defendeu o evangelho dos ataques que vinham de todos os lados. A Palavra de Deus se demonstrou uma arma poderosa em todo conflito. Com essa Palavra guerreou contra a usurpada autoridade do papa e a filosofia racionalista dos escolásticos, enquanto se mantinha firme como uma rocha contra o fanatismo que procurava aliar-se à Reforma. GC 193 3 Cada um desses elementos oponentes estava, a seu modo, pondo de parte as Escrituras Sagradas e exaltando a sabedoria humana como a fonte da verdade e conhecimento religioso. O racionalismo deifica a razão e dela faz o critério para a religião. O romanismo, pretendendo para seu soberano pontífice uma inspiração que descende ininterruptamente dos apóstolos, e que é imutável em todos os tempos, dá ampla oportunidade para que toda espécie de extravagâncias e corrupção se ocultem sob a santidade da comissão apostólica. A inspiração pretendida por Münzer e seus companheiros, não procedia de uma fonte mais elevada do que as divagações da imaginação, e sua influência era subversiva a toda autoridade humana ou divina. O verdadeiro cristianismo recebe a Palavra de Deus como o grande tesouro de verdade inspirada, e como a prova de toda inspiração. GC 193 4 De volta de Wartburgo, Lutero completou sua tradução do Novo Testamento, que foi logo depois entregue ao povo da Alemanha em sua própria língua. Essa tradução foi recebida com grande alegria por todos os que amavam a verdade, mas rejeitaram-na escarnecedoramente os que preferiam tradições e preceitos de homens. GC 194 1 Os padres estavam alarmados com a idéia de que o povo comum agora seria capaz de discutir com eles sobre os preceitos da Palavra de Deus, e de que sua própria ignorância seria assim exposta. As armas de seu raciocínio carnal eram impotentes contra a espada do Espírito. Roma convocou toda a sua autoridade para impedir a disseminação das Escrituras; mas nulos foram decretos, anátemas e torturas. Quanto mais ela condenava e proibia a Bíblia, maior era a ansiedade do povo por saber o que a mesma realmente ensinava. Todos os que sabiam ler estavam ávidos por estudar por si mesmos a Palavra de Deus. Levavam-na consigo, liam-na e reliam-na, e não podiam satisfazer-se antes que confiassem à memória grandes porções. Vendo o favor com que o Novo Testamento fora recebido, Lutero imediatamente começou a tradução do Antigo, publicando-o em partes, tão depressa as completava. GC 194 2 Os escritos de Lutero eram bem aceitos, nas cidades como nas aldeias. "O que Lutero e seus amigos compunham, outros faziam circular. Monges, convictos do caráter ilícito das obrigações monásticas, desejosos de trocar uma longa vida de indolência por outra de ativo esforço, mas demasiado ignorantes para proclamar a Palavra de Deus, viajavam pelas províncias, visitando aldeias e cabanas, onde vendiam os livros de Lutero e de seus amigos. Logo enxameavam pela Alemanha aqueles ousados colportores." -- D'Aubigné. GC 194 3 Ricos e pobres, doutos e ignorantes estudavam com profundo interesse esses escritos. À noite os professores das escolas da aldeia liam-nos em voz alta a pequenos grupos reunidos junto à lareira. Com cada esforço, algumas almas eram convencidas da verdade e, recebendo a Palavra com alegria, por seu turno contavam as boas novas a outros. GC 195 1 Confirmou-se o que disse o cantor inspirado: "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. O estudo das Escrituras estava operando poderosa mudança no espírito e coração do povo. O governo papal colocara sobre os seus súditos um jugo de ferro que os retinha em ignorância e degradação. Uma supersticiosa observância de formas fora escrupulosamente mantida; mas em todo o seu serviço, o coração e o intelecto haviam tido pequena parte. A pregação de Lutero, expondo as plenas verdades da Palavra de Deus, e depois a própria Palavra, posta nas mãos do povo comum, despertaram-lhes as capacidades adormecidas, não somente purificando e enobrecendo a natureza espiritual, mas comunicando nova força e vigor ao intelecto. GC 195 2 Podiam-se ver pessoas de todas as classes com a Bíblia nas mãos, defendendo as doutrinas da Reforma. Os romanistas que haviam deixado o estudo das Escrituras aos padres e monges, chamavam por eles agora para se apresentarem e refutarem os novos ensinos. Mas, ignorantes tanto a respeito das Escrituras como do poder de Deus, padres e frades eram totalmente derrotados pelos que haviam denunciado como indoutos e hereges. "Infelizmente", disse um escritor católico, "Lutero persuadiu seus seguidores a não depositar fé em qualquer outro oráculo além das Escrituras Sagradas." -- D'Aubigné. Multidões se reuniam para ouvir a verdade advogada por homens de pouca instrução, e mesmo por eles discutida com ilustrados e eloqüentes teólogos. Patenteava-se a vergonhosa ignorância desses grandes homens, ao serem seus argumentos defrontados pelos singelos ensinos da Palavra de Deus. Operários, soldados, mulheres e mesmo crianças, estavam mais familiarizados com os ensinos da Bíblia do que o estavam os padres e ilustres doutores. GC 195 3 O contraste entre os discípulos do evangelho e os mantenedores da superstição romanista manifestava-se não menos nas classes eruditas do que entre o povo comum. "Opondo-se aos velhos defensores da hierarquia, que tinham negligenciado o estudo de línguas e o cultivo da literatura... havia jovens de espírito lúcido, dedicados ao estudo, que investigavam as Escrituras e se familiarizavam com as obras-primas da antigüidade. Dotados de espírito altivo, alma elevada e intrépido coração, os moços logo adquiriram tal saber que durante longo período de tempo ninguém podia com eles competir. ... Quando, pois, em qualquer assembléia, esses jovens defensores da Reforma enfrentavam os doutores do romanismo, atacavam-nos com tal facilidade e confiança que esses homens ignorantes hesitavam, ficavam embaraçados e caíam em merecido desprezo aos olhos de todos." -- D'Aubigné. GC 196 1 Vendo o clero romano suas congregações diminuírem, invocaram o auxílio dos magistrados e, por todos os meios ao seu alcance esforçaram-se por fazer seus ouvintes voltarem. Mas o povo encontrara nos novos ensinos aquilo que lhe supria as necessidades da alma, e afastou-se daqueles que por tanto tempo o tinham alimentado com as inúteis bolotas de ritos supersticiosos e tradições humanas. GC 196 2 Quando se acendeu a perseguição contra os ensinadores da verdade, deram atenção às palavras de Cristo: "Quando, pois, vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra." Mateus 10:23. A luz penetrou em toda parte. Os fugitivos encontraram algures uma porta hospitaleira que se lhes abria e, ali morando, pregavam a Cristo, algumas vezes na igreja ou, sendo-lhes negado esse privilégio, nas casas particulares ou ao ar livre. Qualquer lugar em que pudessem obter auditório, era-lhes um templo consagrado. A verdade, proclamada com tal energia e segurança, propagava-se com poder irresistível. GC 196 3 Em vão se invocavam tanto autoridades eclesiásticas como civis a fim de aniquilar a heresia. Em vão recorriam à prisão, tortura, fogo e espada. Milhares de crentes selaram a fé com seu sangue, e não obstante a obra prosseguia. A perseguição servia apenas para propagar a verdade; e o fanatismo que Satanás se esforçou por confundir com esta, teve como resultado tornar mais claro o contraste entre a obra de Satanás e a de Deus. ------------------------Capítulo 11 -- Os príncipes amparam a verdade GC 197 1 Um dos mais nobres testemunhos já proferidos pela Reforma, foi o protesto apresentado pelos príncipes cristãos da Alemanha, na Dieta de Espira, em 1529. A coragem, fé e firmeza daqueles homens de Deus, alcançaram para os séculos que se seguiram, a liberdade de pensamento e consciência. O protesto deu à igreja reformada o nome de Protestante; seus princípios são "a própria essência do protestantismo." -- D'Aubigné. GC 197 2 Uma época tenebrosa e ameaçadora havia chegado para a Reforma. Apesar do edito de Worms, declarando Lutero proscrito, e proibindo o ensino ou a crença de suas doutrinas, até ali prevalecera no império a tolerância religiosa. A providência divina repelira as forças que se opunham à verdade. Carlos V estava inclinado a aniquilar a Reforma, mas, muitas vezes, quando levantara a mão para dar o golpe, fora obrigado a desviá-lo. Repetidas vezes a imediata destruição de tudo que ousava opor-se a Roma parecia inevitável; mas no momento crítico os exércitos dos turcos apareciam na fronteira oriental, ou o rei da França, ou mesmo o próprio papa, cioso da crescente grandeza do imperador, contra ele faziam guerra; e, assim, entre a contenda e o tumulto das nações, a Reforma teve oportunidade de fortalecer-se e estender-se. GC 197 3 Finalmente, entretanto, os soberanos católicos coagiram seus feudos a que fizessem causa comum contra os reformadores. A Dieta de Espira, em 1526, dera a cada Estado ampla liberdade em matéria religiosa, até à reunião de um concílio geral; mas, mal haviam passado os perigos que asseguraram aquela concessão, o imperador convocou uma segunda Dieta a se reunir em Espira, em 1529, com o fim de destruir a heresia. Os príncipes deveriam ser induzidos, por meios pacíficos, sendo possível, a se colocarem contra a Reforma; mas, se tais meios falhassem, Carlos estava preparado para recorrer à espada. GC 198 1 Os romanistas estavam jubilosos. Compareceram em Espira em grande número, manifestando abertamente sua hostilidade para com os reformadores e todos os que os favoreciam. Disse Melâncton: "Nós somos o ódio e a escória do mundo; mas Cristo olhará para o Seu pobre povo e o preservará." -- D'Aubigné. Aos príncipes evangélicos que assistiam à Dieta foi até proibido que se pregasse o evangelho em sua residência. Mas o povo de Espira tinha sede da Palavra de Deus e, apesar da proibição, milhares se congregavam para os cultos realizados na capela do eleitor da Saxônia. GC 198 2 Isso apressou a crise. Uma mensagem imperial anunciou à Dieta que, como a resolução que concedia liberdade de consciência havia dado origem a grandes desordens, o imperador exigia fosse ela anulada. Este ato arbitrário excitou a indignação e alarma dos cristãos evangélicos. Disse um deles: "Cristo caiu de novo às mãos de Caifás e Pilatos." Os romanistas tornaram-se mais violentos. Um católico romano, fanático, declarou: "Os turcos são melhores que os luteranos; pois eles observam dias de jejum, e os luteranos os violam. Se tivéssemos de escolher entre as Escrituras Sagradas de Deus e os velhos erros da igreja, deveríamos rejeitar as primeiras." Disse Melâncton: "Cada dia, em plena assembléia, Faber lança alguma nova pedra contra nós, os evangélicos." -- D'Aubigné. GC 198 3 A tolerância religiosa fora legalmente estabelecida, e os Estados evangélicos estavam resolvidos a opor-se à violação de seus direitos. A Lutero, ainda sob a condenação imposta pelo edito de Worms, não era permitido estar presente em Espira; mas preencheram-lhe o lugar os seus cooperadores e os príncipes que Deus suscitara para defender Sua causa nessa emergência. O nobre Frederico da Saxônia, protetor de Lutero, fora arrebatado pela morte; mas o duque João, seu irmão e sucessor, alegremente aceitara a Reforma e, conquanto fosse amigo da paz, manifestara grande energia e coragem em todos os assuntos relativos aos interesses da fé. GC 199 1 Os padres pediam que os Estados que haviam aceito a Reforma se submetessem implicitamente à jurisdição romana. Os reformadores, por outro lado, reclamavam a liberdade que anteriormente lhes fora concedida. Não poderiam consentir em que Roma de novo pusesse sob seu domínio aqueles Estados que com grande alegria haviam recebido a Palavra de Deus. GC 199 2 Como entendimento foi finalmente proposto que onde a Reforma não se houvesse estabelecido, o edito de Worms deveria ser rigorosamente posto em execução; e que nos Estados "em que o povo dele se desviara e não poderia conformar-se com o mesmo sem perigo de revolta, não deveriam ao menos efetuar qualquer nova Reforma, não tocariam em nenhum ponto controvertido, não se oporiam à celebração da missa, não permitiriam que católico romano algum abraçasse o luteranismo." -- D'Aubigné. Essa medida foi aprovada na Dieta, com grande satisfação dos sacerdotes e prelados papais. GC 199 3 Se esse edito fosse executado, "a Reforma não poderia nem estender-se... onde por enquanto era desconhecida, nem estabelecer-se sobre sólidos fundamentos... onde já existia." -- D'Aubigné. A liberdade da palavra seria proibida. Não se permitiriam conversões. E exigiu-se dos amigos da Reforma de pronto se submetessem a essas restrições e proibições. As esperanças do mundo pareciam a ponto de se extinguir. "O restabelecimento da hierarquia romana... infalivelmente traria de novo os antigos abusos"; e encontrar-se-ia facilmente uma ocasião para "completar a destruição de uma obra já tão violentamente abalada" pelo fanatismo e dissensão. -- D'Aubigné. GC 199 4 Reunindo-se o partido evangélico para consulta, entreolharam-se os presentes, pálidos de terror. De um para outro circulava a pergunta: "Que se poderá fazer?" Graves lances em relação ao mundo eram iminentes. "Submeter-se-ão os chefes da Reforma, e aceitarão o edito? Quão facilmente, nessa crise, em verdade tremenda, poderiam os reformadores ter argumentado consigo mesmos de maneira errônea! Quantos pretextos plausíveis e boas razões poderiam ter encontrado para a submissão! Aos príncipes luteranos era garantido o livre exercício de sua religião. O mesmo favor era estendido a todos os seus súditos que, anteriormente à aprovação daquela medida, haviam abraçado as idéias reformadas. Não deveria isto contentá-los? Quantos perigos não evitaria a submissão! Em quantos acasos e conflitos desconhecidos não haveria a oposição de lançá-los? Quem sabe que oportunidades poderá trazer o futuro? Abracemos a paz; agarremos o ramo de oliveira que Roma apresenta e curemos as feridas da Alemanha. Com argumentos semelhantes a estes poderiam os reformadores ter justificado a adoção de uma conduta que, com certeza, em não muito tempo resultaria na total destruição de sua causa. GC 200 1 "Felizmente consideraram o princípio sobre o qual aquele acordo se baseava, e agiram com fé. Qual era o princípio? Era o direito de Roma coagir a consciência e proibir o livre exame. Mas não deveriam eles próprios e seus súditos protestantes gozar de liberdade religiosa? Sim, como um favor especialmente estipulado naquele acordo, mas não como um direito. Quanto a tudo que daquele acordo se exteriorizava, deveria governar o grande princípio da autoridade; a consciência estaria fora de seus domínios; Roma era juiz infalível e deveria ser obedecida. A aceitação do acordo proposto teria sido admissão virtual de que liberdade religiosa se devesse limitar à Saxônia reformada; e, quanto ao resto todo da cristandade, o livre exame e a profissão da fé reformada seriam crimes, e deveriam ser castigados com a masmorra e a tortura. Poderiam eles consentir em localizar a liberdade religiosa? admitir a proclamação de que a Reforma fizera seu último converso? que conquistara seu último palmo de terra? e que, onde quer que Roma exercesse seu domínio naquela hora, ali deveria perpetuar-se esse domínio? Poderiam os reformadores alegar que eram inocentes do sangue daquelas centenas e milhares que, em conseqüência desse acordo, teriam que perder a vida nas terras papais? Isto seria trair, naquela hora suprema, a causa do evangelho e das liberdades da cristandade." -- Wylie. Antes, sacrificariam eles "tudo, mesmo os domínios, a coroa e a vida." -- D'Aubigné. GC 201 1 "Rejeitemos esse decreto", disseram os príncipes. "Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder." Os delegados declararam: "É ao decreto de 1526 que devemos a paz que o império goza: sua abolição encheria a Alemanha de perturbações e divisão. A Dieta não tem competência para fazer mais do que preservar a liberdade religiosa até que o concílio se reúna." -- D'Aubigné. Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual os cristãos evangélicos tão nobremente lutaram. GC 201 2 Os católicos romanos decidiram-se a derrubar o que denominaram "ousada obstinação." Começaram procurando ocasionar divisões entre os sustentáculos da Reforma, e intimidar a todos os que não se haviam abertamente declarado em seu favor. Os representantes das cidades livres foram finalmente convocados perante a Dieta, e exigiu-se-lhes declarar se acederiam aos termos da proposta. Pediram prazo, mas em vão. Quando levados à prova, quase a metade se declarou pela Reforma. Os que assim se recusaram a sacrificar a liberdade de consciência e do direito do juízo individual, bem sabiam que sua posição os assinalava para a crítica, a perseguição e condenação. Disse um dos delegados: "Devemos ou negar a Palavra de Deus, ou -- ser queimados." -- D'Aubigné. GC 201 3 O rei Fernando, representante do imperador na Dieta, viu que o decreto determinaria sérias divisões a menos que os príncipes pudessem ser induzidos a aceitá-lo e apoiá-lo. Experimentou, portanto, a arte da persuasão, bem sabendo que o emprego da força com tais homens unicamente os tornaria mais decididos. "Pediu aos príncipes que aceitassem o decreto, assegurando-lhes que o imperador grandemente se agradaria deles." Mas aqueles homens leais reconheciam uma autoridade acima da dos governantes terrestres, e responderam calmamente: "Obedeceremos ao imperador em tudo que possa contribuir para manter a paz e a honra de Deus." -- D'Aubigné. GC 202 1 Na presença da Dieta, o rei finalmente anunciou ao eleitor e a seus amigos que o edito "ia ser redigido na forma de um decreto imperial", e que "a única maneira de agir que lhes restava, seria submeter-se à maioria." Tendo assim falado, retirou-se da assembléia, não dando aos reformadores oportunidades para deliberar ou replicar. "Sem nenhum resultado enviaram uma delegação pedindo ao rei que voltasse." À sua representação respondeu somente: "É questão decidida; a submissão é tudo o que resta." -- D'Aubigné. GC 202 2 O partido imperial estava convicto de que os príncipes cristãos adeririam às Escrituras Sagradas como superiores às doutrinas e preceitos humanos; e sabia que, onde quer que fosse aceito este princípio, o papado seria afinal vencido. Mas, semelhantes a milhares que tem havido desde esse tempo, apenas olhavam "para as coisas que se vêem", lisonjeando-se de que a causa do imperador e do papa era forte, e a dos reformadores fraca. Houvessem os reformadores confiado unicamente no auxilio humano, e teriam sido tão impotentes como os supunham os adeptos do papa. Mas, conquanto fracos em número e em desacordo com Roma, tinham a sua força. Apelaram "do relatório da Dieta para a Palavra de Deus, e do imperador Carlos para Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores." -- D'Aubigné. GC 202 3 Como Fernando se recusasse a tomar em consideração suas convicções de consciência, os príncipes se decidiram a não tomar em conta a sua ausência, mas levar sem demora seu protesto perante o concílio nacional. Foi, portanto, redigida e apresentada à Dieta esta solene declaração: GC 203 4 "Protestamos pelos que se acham presentes, perante Deus nosso único Criador, Mantenedor, Redentor e Salvador, e que um dia será nosso Juiz, bem como perante todos os homens e todas as criaturas, que nós, por nós e pelo nosso povo, não concordamos de maneira alguma com o decreto proposto, nem aderimos ao mesmo em tudo que seja contrário a Deus, à Sua santa Palavra, ao nosso direito de consciência, à salvação de nossa alma." GC 203 1 "Quê! Ratificarmos esse edito! Afirmaríamos que quando o Deus todo-poderoso chama um homem ao Seu conhecimento, esse homem, sem embargo, não possa receber o conhecimento de Deus?" "Não há doutrina correta além da que se conforma com a Palavra divina. ... O Senhor proíbe o ensino de qualquer outra doutrina. ... As Sagradas Escrituras devem ser explicadas por outros textos mais claros; ...este santo Livro é, em todas as coisas necessárias ao cristão, fácil de compreender e destinado a dissipar as trevas. Estamos resolvidos, com a graça de Deus, a manter a pregação pura e exclusiva de Sua santa Palavra, tal como se acha contida nos livros bíblicos do Antigo e Novo Testamentos, sem lhe acrescentar coisa alguma que lhe possa ser contrária. Esta Palavra é a única verdade; é a regra segura para toda doutrina e de toda a vida, e nunca pode falhar ou iludir-nos. Aquele que edifica sobre este fundamento resistirá a todos os poderes do inferno, ao passo que todas as vaidades humanas que se estabelecem contra ele cairão perante a face de Deus." GC 203 2 "Por esta razão rejeitamos o jugo que nos é imposto." "Ao mesmo tempo estamos na expectativa de que Sua Majestade imperial procederá em relação a nós como príncipe cristão que ama a Deus sobre todas as coisas; e declaramo-nos prontos a tributar-lhe, bem como a vós, graciosos fidalgos, toda a afeição e obediência que sejam nosso dever justo e legítimo." -- D'Aubigné. GC 203 3 Esta representação impressionou profundamente a Dieta. A maioria estava tomada de espanto e alarma ante a ousadia dos que protestavam. O futuro parecia-lhes tempestuoso e incerto. Dissensão, contenda, derramamento de sangue pareciam inevitáveis. Os reformadores, porém, certos da justiça de sua causa e confiando no braço da Onipotência, estavam "cheios de coragem e firmeza". GC 203 4 "Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos: 'Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.' Na presença da coroa de Carlos V, ele ergue a coroa de Jesus Cristo. Mas vai mais longe: firma o princípio de que todo o ensino humano deve subordinar-se aos oráculos de Deus." -- D'Aubigné. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência. GC 204 1 A declaração tinha sido feita. Estava escrita na memória de milhares e registrada nos livros do Céu, onde nenhum esforço humano poderia apagá-la. Toda a Alemanha evangélica adotou o protesto como a expressão de sua fé. Por toda parte contemplavam os homens nesta declaração a promessa de uma era nova e melhor. Disse um dos príncipes aos protestantes de Espira: "Queira o Todo-poderoso que vos deu graça para confessá-Lo enérgica, livre e destemidamente, preservar-vos nessa firmeza cristã até ao dia da eternidade." -- D'Aubigné. GC 204 2 Houvesse a Reforma, depois de atingir certo grau de êxito, consentido em contemporizar a fim de conseguir favor do mundo, e teria sido infiel para com Deus e para consigo mesma, além de assegurar a sua própria destruição. A experiência desses nobres reformadores contém uma lição para todas as eras subseqüentes. A maneira de agir de Satanás, contra Deus e Sua Palavra, não mudou. Ele ainda se opõe a que sejam as Escrituras adotadas como guia da vida, tanto quanto o fez no século XVI. Há em nosso tempo um vasto afastamento das doutrinas e preceitos bíblicos, e há necessidade de uma volta ao grande princípio protestante -- a Bíblia, e a Bíblia só, como regra de fé e prática. Satanás ainda está a trabalhar com todos os meios de que pode dispor, a fim de destruir a liberdade religiosa. O poder anticristão que os protestantes de Espira rejeitaram, está hoje com renovado vigor procurando restabelecer sua perdida supremacia. A mesma inseparável adesão à Palavra de Deus que se manifestou na crise da Reforma, é a única esperança de reforma hoje. GC 205 1 Apareceram então sinais de perigo para os protestantes; houve também sinais de que a mão divina estava estendida para proteger os fiéis. Foi por esse tempo que "Melâncton apressadamente conduziu pelas ruas de Espira, em direção ao Reno, seu amigo Simão Grynaeus, instando com ele a que atravessasse o rio. Grynaeus se achava espantado com tal precipitação. 'Um ancião, de fisionomia grave e solene, mas que me era desconhecido', disse Melâncton, 'apareceu perante mim e disse: Dentro de um minuto, oficiais de justiça serão enviados por Fernando, a fim de prenderem Grynaeus.'" GC 205 2 Durante o dia Grynaeus ficara escandalizado com um sermão de Faber, um dos principais doutores papais; e, no final, protestou por defender aquele "certos erros detestáveis." "Faber dissimulou sua ira, mas imediatamente se dirigiu ao rei, de quem obteve uma ordem contra o importuno professor de Heidelberg. Melâncton não duvidou de que Deus havia salvo seu amigo, enviando um de Seus santos anjos para avisá-lo. GC 205 3 "Imóvel à margem do Reno, esperou até que as águas daquele rio houvessem libertado Grynaeus de seus perseguidores. 'Finalmente', exclamou Melâncton, vendo-o do lado oposto, 'finalmente está ele arrancado das garras cruéis daqueles que têm sede de sangue inocente.' Ao voltar para casa, foi Melâncton informado de que oficiais, à procura de Grynaeus, a haviam remexido de alto a baixo." -- D'Aubigné. GC 205 4 A reforma devia ser levada a maior preeminência perante as autoridades da Terra. O rei Fernando havia-se negado a ouvir os príncipes evangélicos; mas a estes deveria ser concedida oportunidade de apresentar sua causa na presença do imperador e dos dignitários da Igreja e do Estado, em assembléia. A fim de acalmar as dissensões que perturbavam o império, Carlos V, no ano que se seguiu ao protesto de Espira, convocou uma Dieta em Augsburgo, anunciando sua intenção de presidir a ela em pessoa. Para ali foram convocados os dirigentes protestantes. GC 206 1 Grandes perigos ameaçavam a Reforma; mas seus defensores ainda confiavam sua causa a Deus e se comprometiam a ser leais ao evangelho. Os conselheiros do eleitor da Saxônia insistiram com ele para que não comparecesse à Dieta. O imperador, diziam eles, exigia a assistência dos príncipes a fim de atraí-los a uma cilada. "Não é arriscar tudo, ir e encerrar-se alguém dentro dos muros de uma cidade, com um poderoso inimigo?" Outros, porém, nobremente declaravam: "Portem-se tão-somente os príncipes com coragem, e a causa de Deus está salva." "Deus é fiel; Ele não nos abandonará", disse Lutero. -- D'Aubigné. O eleitor, juntamente com seu séquito, partiu para Augsburgo. Todos estavam cientes dos perigos que o ameaçavam, e muitos seguiram com semblante triste e coração perturbado. Mas Lutero, que os acompanhou até Coburgo, reviveu-lhes a fé bruxuleante cantando o hino, escrito naquela viagem: "Castelo forte é nosso Deus." Ao som dos acordes inspirados, foram banidos muitos aflitivos sinais e aliviados muitos corações sobrecarregados. GC 206 2 Os príncipes reformados resolveram redigir uma declaração sistematizada de suas opiniões, com as provas das Escrituras, apresentando-a à Dieta; e a tarefa da preparação da mesma foi confiada a Lutero, Melâncton e seus companheiros. Esta Confissão foi aceita pelos protestantes como uma exposição de sua fé, e reuniram-se para assinar o importante documento. Foi um tempo solene e probante. Os reformadores mostravam insistência em que sua causa não fosse confundida com questões políticas; compreendiam que a Reforma não deveria exercer outra influência além da que procede da Palavra de Deus. Ao virem para a frente os príncipes cristãos a fim de assinar a Confissão, Melâncton se interpôs, dizendo: "Compete aos teólogos e ministros propor estas coisas; reservemos para outros assuntos a autoridade dos poderosos da Terra." "Deus não permita", replicou João da Saxônia, "que me excluais. Estou resolvido a fazer o que é reto sem me perturbar acerca de minha coroa. Desejo confessar o Senhor. Meu chapéu de eleitor e meus títulos de nobreza não são para mim tão preciosos como a cruz de Jesus Cristo." Tendo assim falado assinou o nome. Disse outro dos príncipes, ao tomar a pena: "Se a honra de meu Senhor Jesus Cristo o exige, estou pronto... para deixar meus bens e vida." "Renunciaria de preferência a meus súditos e a meus domínios, deixaria de preferência o país de meus pais, com o bordão na mão", continuou ele, "a receber qualquer outra doutrina que não a que se contém nesta Confissão." -- D'Aubigné. Tal era a fé e a ousadia daqueles homens de Deus. GC 207 1 Chegou o tempo designado para comparecer perante o imperador. Carlos V, sentado no trono, rodeado de seus eleitores e príncipes, deu audiência aos reformadores protestantes. Foi lida a Confissão de sua fé. Naquela augusta assembléia, as verdades do evangelho foram claramente apresentadas, e indicados os erros da igreja papal. Com razão foi aquele dia declarado "o maior dia da Reforma, e um dos mais gloriosos na história do cristianismo e da humanidade." -- D'Aubigné. GC 207 2 Entretanto, poucos anos se haviam passado desde que o monge de Wittenberg estivera em Worms, sozinho, perante o conselho nacional. Agora, em seu lugar estavam os mais nobres e poderosos príncipes do império. A Lutero fora proibido comparecer em Augsburgo, mais estivera presente por suas palavras e orações. "Estou jubilosíssimo", escreveu, "de que eu tenha vivido até esta hora, na qual Cristo é publicamente exaltado por tão ilustres pessoas que O confessam, em uma assembléia tão gloriosa." -- D'Aubigné. Assim, cumpriu-se o que dizem as Escrituras: "Falarei dos Teus testemunhos perante os reis." Salmos 119:46. GC 208 1 Nos dias do apóstolo Paulo, o evangelho pelo qual estava preso foi assim levado perante os príncipes e nobres da cidade imperial. Igualmente, nesta ocasião, aquilo que o imperador proibira fosse pregado do púlpito, era proclamado em palácio; aquilo que muitos tinham considerado inconveniente que os próprios servos ouvissem, era com admiração ouvido pelos senhores e fidalgos do império. Reis e grandes homens constituíam o auditório; príncipes coroados eram os pregadores; e o sermão era a régia verdade de Deus. "Desde a era apostólica", diz um escritor, "nunca houve obra maior nem mais magnificente Confissão." -- D'Aubigné. GC 208 2 "Tudo quanto os luteranos disseram é verdade; não o podemos negar", declarou um bispo romano. "Podeis refutar por meio de sãs razões a Confissão feita pelo eleitor e seus aliados?" perguntou outro, ao Dr. Eck. "Com os escritos dos apóstolos e profetas, não!" foi a resposta; "mas com os dos pais da igreja e dos concílios, sim!" "Compreendo", respondeu o inquiridor. "Os luteranos, segundo vós o dizeis, estão com as Escrituras, e nós nos achamos fora delas." -- D'Aubigné. GC 208 3 Alguns dos príncipes da Alemanha foram ganhos para a fé reformada. O próprio imperador declarou que os artigos protestantes não eram senão a verdade. A Confissão foi traduzida para muitas línguas, e circulou por toda a Europa; e tem sido, em sucessivas gerações, aceita por milhões como a expressão de sua fé. GC 208 4 Os fiéis servos de Deus não estavam labutando sós. Enquanto "principados", "potestades" e "hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais" se coligavam contra eles, o Senhor não Se esquecia de Seu povo. Se pudessem seus olhos abrir-se, teriam visto uma prova da presença e auxílio divinos, tão assinalada como fora concedida aos profetas de outrora. Quando o servo de Eliseu mostrou a seu senhor o exército hostil que os cercava, excluindo toda possibilidade de escape, o profeta orou: "Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos para que veja." 2 Reis 6:17. E eis que a montanha estava cheia de carros e cavalos de fogo, o exército do Céu estacionado para proteger o homem de Deus. Desta maneira guardaram os anjos os obreiros na causa da Reforma. GC 209 1 Um dos princípios mais firmemente mantidos por Lutero era que não deveria haver recurso ao poder secular em apoio da Reforma, e, tampouco, apelo às armas para a sua defesa. Regozijava-se de que o evangelho fosse professado por príncipes do império; mas, quando se propusera unir-se em uma liga defensiva, declarou que "a doutrina do evangelho seria defendida por Deus somente. ... Quanto menos o homem se entremetesse na obra, mais surpreendente seria a intervenção de Deus em prol da mesma. Todas as precauções políticas sugeridas eram, em sua opinião, atribuíveis ao temor indigno e à pecaminosa desconfiança." -- D'Aubigné. GC 209 2 Quando poderosos adversários se estavam unindo para destruir a fé reformada, e milhares de espadas pareciam prestes a desembainhar-se contra ela, Lutero escreveu: "Satanás está exercendo a sua fúria; ímpios pontífices estão conspirando; e nós somos ameaçados de guerra. Exortai o povo a contender valorosamente perante o trono do Senhor, pela fé e oração, de modo que nossos inimigos, vencidos pelo Espírito de Deus, possam ser constrangidos à paz. Nossa principal necessidade, nosso trabalho principal, é a oração; saiba o povo que, no momento, se encontra exposto ao gume da espada e à cólera de Satanás, e ore." -- D'Aubigné. GC 209 3 Novamente, em data posterior, referindo-se à aliança sugerida pelos príncipes reformados, Lutero declarou que a única arma empregada nesta luta deveria ser "a espada do Espírito." Escreveu ao eleitor da Saxônia: "Não podemos perante nossa consciência aprovar a aliança proposta. Morreríamos dez vezes de preferência a ver nosso evangelho fazer derramar uma gota de sangue. Nossa parte é sermos semelhantes a cordeiros no matadouro. Temos de tomar a cruz de Cristo. Seja Vossa Alteza sem temor. Faremos mais com as nossas orações do que todos os nossos inimigos com sua jactância. Tão-somente não sejam vossas mãos manchadas com o sangue de irmãos. Se o imperador exigir que sejamos entregues aos seus tribunais, estamos prontos a comparecer. Não podeis defender a nossa fé: cada um deve crer com seu próprio risco e perigo." -- D'Aubigné. GC 210 1 Do local secreto da oração proveio o poder que abalou o mundo na grande Reforma. Ali, com santa calma, os servos do Senhor colocaram os pés sobre a rocha de Suas promessas. Durante a luta em Augsburgo, Lutero "não passou um dia sem dedicar três horas pelo menos à oração, e eram horas escolhidas dentre as mais favoráveis ao estudo." Na intimidade de sua recâmara era ele ouvido a derramar sua alma perante Deus em palavras "cheias de adoração, temor e esperança, como quando alguém fala a um amigo." "Eu sei que Tu és nosso Pai e nosso Deus", dizia ele, "e que dispersarás os perseguidores de Teus filhos; pois Tu mesmo corres perigo conosco. Toda esta causa é Tua, e é unicamente constrangidos por Ti que lançamos mãos à mesma. Defende-nos, pois, ó Pai!" -- D'Aubigné. GC 210 2 A Melâncton, que se achava aniquilado sob o peso da ansiedade e temor, ele escreveu: "Graça e paz em Cristo -- em Cristo, digo eu, e não no mundo. Amém. Odeio com ódio enorme esses extremos cuidados que vos consomem. Se a causa é injusta, abandonai-a; se a causa é justa, porque desmentiríamos as promessas dAquele que nos manda dormir sem temor?... Cristo não faltará à obra de justiça e verdade. Ele vive, Ele reina; que temor, pois, poderemos ter?" -- D'Aubigné. GC 210 3 Deus ouviu os clamores de Seus servos. Deu aos príncipes e ministros graça e coragem para manterem a verdade contra os dominadores das trevas deste mundo. Diz o Senhor: "Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido." 1 Pedro 2:6. Os reformadores protestantes haviam edificado sobre Cristo, e as por tas do inferno não prevaleceriam contra eles. ------------------------Capítulo 12 -- Os nobres da França GC 211 1 O protesto de Espira e a Confissão de Augsburgo, que assinalaram a vitória da Reforma na Alemanha, foram seguidos de anos de conflitos e trevas. Enfraquecido por divisões entre seus mantenedores, atacado por poderosos inimigos, o protestantismo parecia destinado a ser totalmente destruído. Milhares selaram seu testemunho com o próprio sangue. Irrompeu a guerra civil; a causa protestante foi traída por um de seus principais adeptos; os mais nobres dos príncipes reformados caíram nas mãos do imperador e foram, de cidade em cidade, arrastados como cativos. Mas, no momento de seu triunfo aparente, foi o imperador afligido com a derrota. Viu a presa arrancada ao seu poder, sendo, por fim, obrigado a conceder tolerância às doutrinas cuja destruição fora o anelo de sua vida. Pusera em risco o reino, seus tesouros e a própria vida, no intuito de esmagar a heresia. Via agora os exércitos assolados pelas batalhas, os tesouros exauridos, seus muitos reinos ameaçados de revolta, enquanto, por toda parte, a fé que em vão se esforçara por suprimir, estava a estender-se. Carlos V estivera a batalhar contra o Poder onipotente. Deus dissera: "Haja luz", mas o imperador havia procurado perpetuar as trevas. Falhara o seu propósito; e, prematuramente envelhecido e consumido pela longa luta, abdicou o trono e sepultou-se em um claustro. GC 211 2 Na Suíça, como na Alemanha, houve para a Reforma dias tenebrosos. Ao mesmo tempo em que muitos cantões aceitaram a fé reformada, outros se apegaram com cega persistência ao credo de Roma. Sua perseguição aos que desejavam receber a verdade, deu finalmente origem à guerra civil. Zwínglio, e muitos que a ele se haviam unido na Reforma, caíram no campo de sangue de Cappel. Oecolampadius, vencido por estes terríveis desastres, morreu logo depois. Roma estava triunfante, e em muitos lugares parecia prestes a recobrar tudo o que perdera. Mas Aquele cujos conselhos são desde a eternidade, não abandonara Sua causa nem Seu povo. Sua mão lhes traria o livramento. Suscitara, em outros países, obreiros para levar avante a Reforma. GC 212 1 Em França, antes que o nome de Lutero fosse ouvido como reformador, já o dia começara a raiar. Um dos primeiros a receber a luz foi o idoso Lefèvre, homem de extenso saber, professor na Universidade de Paris e sincero e zeloso romanista. Em suas pesquisas da literatura antiga, sua atenção foi dirigida para a Escritura, e introduziu o estudo desta entre os seus alunos. GC 212 2 Lefèvre era entusiasta adorador dos santos, e empreendera a preparação de uma história dos santos e mártires, como a apresentam as lendas da igreja. Era esta uma obra que implicava grande trabalho; entretanto, ia ele bem adiantado na obra, quando, julgando que poderia obter proveitoso auxílio da Escritura Sagrada, começou o estudo desta com esse objetivo. Ali encontrou, na verdade, referência a santos, mas não idênticas às que figuravam no calendário romano. Um caudal de luz divina irrompeu-lhe no espírito. Com espanto e desgosto abandonou a tarefa a que se propusera, e dedicou-se à Palavra de Deus. Pôs-se logo a ensinar as preciosas verdades que nela descobrira. GC 212 3 Em 1512, antes que Lutero ou Zwínglio houvessem iniciado a obra da Reforma, Lefèvre, escreveu: "É Deus que dá, pela fé, a justiça que, somente pela graça, justifica para a vida eterna." -- Wylie. Tratando dos mistérios da redenção, exclamou: "Oh! que indizível grandeza a daquela permuta -- é condenado Aquele que não tem pecado, e o que é culpado fica livre; o Bem-aventurado suporta a maldição, e o maldito recebe a bênção; a Vida morre, e os mortos vivem; a Glória é submersa em trevas, e é revestido de glória aquele que nada conhecia além da confusão de rosto!" -- D'Aubigné. GC 213 1 E ao mesmo tempo em que ensinava pertencer unicamente a Deus a glória da salvação, declarava também que pertence ao homem o dever de obediência. "Se és membro da igreja de Cristo", dizia ele, "és membro de Seu corpo; se és de Seu corpo, então estás cheio da natureza divina. ... Oh! se tão-somente pudessem os homens chegar à compreensão deste privilégio, quão pura, casta e santamente viveriam, e quão desprezível considerariam toda a glória deste mundo, quando comparada com a glória interior, glória que o olho carnal não pode ver!" -- D'Aubigné. GC 213 2 Houve entre os discípulos de Lefèvre alguns que avidamente lhe ouviam as palavras, e que, muito tempo depois que a voz do mestre silenciasse, deveriam continuar a anunciar a verdade. Um destes foi Guilherme Farel. Filho de pais piedosos e ensinado a aceitar com fé implícita os ensinos da igreja, poderia, com o apóstolo Paulo, ter declarado com respeito a si mesmo: "Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu." Atos 26:5. Como devoto romanista, ardia em zelo para destruir a todos os que ousassem opor-se à igreja. "Eu rangia os dentes qual lobo furioso", declarou ele mais tarde referindo-se a esse período de sua vida, "quando ouvia alguém falar contra o papa." -- Wylie. Fora incansável na adoração dos santos, percorrendo em companhia de Lefèvre as igrejas de Paris, adorando nos altares, e com dádivas adornando os santos relicários. Mas estas observâncias não podiam trazer paz à alma. Fortalecia-se nele a convicção do pecado, a qual todos os atos de penitência que praticava não conseguiam banir. Como se fora voz do Céu, escutou as palavras do reformador: "A salvação é de graça." "O inocente é condenado, e o criminoso absolvido." "É unicamente a cruz de Cristo que abre as portas do Céu e fecha as do inferno." -- Wylie. GC 214 1 Farel aceitou alegremente a verdade. Por uma conversão semelhante à de Paulo, tornou do cativeiro da tradição à liberdade dos filhos de Deus. "Em vez de ter o coração assassino de um lobo devorador, voltou tranqüilamente, qual cordeiro manso e inofensivo, tendo o coração de todo desviado do papa, e entregue a Jesus Cristo." -- D'Aubigné. GC 214 2 Enquanto Lefèvre continuava a propagar a luz entre seus discípulos, Farel, tão zeloso na causa de Cristo como fora na do papa, saiu para anunciar a verdade em público. Um dignitário da igreja, o bispo de Meaux, logo depois a ele se uniu. Outros ensinadores, notáveis por sua habilidade e saber, uniram-se à proclamação do evangelho, conquistando adeptos entre todas as classes, desde os lares dos artífices e camponeses até ao palácio real. A irmã de Francisco I, o monarca reinante de então, aceitou a fé reformada. O próprio rei e a rainha-mãe pareceram por algum tempo considerá-la com benevolência, e com grandes esperanças os reformadores aguardaram o futuro em que a França seria ganha para o evangelho. GC 214 3 Suas esperanças, porém, não deveriam realizar-se. Provações e perseguições estavam reservadas aos discípulos de Cristo. Isto, entretanto, foi misericordiosamente velado a seus olhos. Houve um tempo de paz, para que pudessem ganhar forças a fim de enfrentar a tempestade; e a Reforma fez rápidos progressos. O bispo de Meaux trabalhou zelosamente em sua própria diocese para instruir tanto o clero como o povo. Removiam-se padres ignorantes e imorais e, tanto quanto possível, eram substituídos por homens de saber e piedade. O bispo desejava grandemente que seu povo, por si mesmo, tivesse acesso à Palavra de Deus, e isto foi logo cumprido. Lefèvre empreendeu a tradução do Novo Testamento; e, ao mesmo tempo em que a Bíblia alemã de Lutero saía do prelo em Wittenberg, era publicado o Novo Testamento em francês, em Meaux. O bispo não poupou esforços ou gastos a fim de disseminá-la em suas paróquias, e breve os camponeses de Meaux estavam de posse das Santas Escrituras. GC 215 1 Assim como os viajantes que perecem à sede acolhem com alegria uma fonte de água viva, assim receberam aquelas almas a mensagem do Céu. Trabalhadores no campo, artífices nas oficinas, suavizavam a labuta diária conversando acerca das preciosas verdades da Bíblia. À noite, em vez de se dirigirem para as tabernas, congregavam-se nas casas uns dos outros para ler a Palavra de Deus, e unir-se em oração e louvor. Grande mudança logo se manifestou nessas comunidades. Posto que pertencessem à mais humilde classe, camponeses indoutos e de rudes trabalhos que eram, viu-se em sua vida o poder reformador e enobrecedor da graça divina. Humildes, amorosos e santos, mantiveram-se como testemunhas do que o evangelho efetuará pelos que o recebem com sinceridade. GC 215 2 A luz acendida em Meaux derramou seus raios ao longe. Aumentava todos os dias o número de conversos. O rancor da hierarquia foi por algum tempo contido pelo rei, que desprezava o acanhado fanatismo dos monges; mas os chefes papais prevaleceram finalmente. Ateou-se então a fogueira. O bispo de Meaux, forçado a escolher entre a fogueira e a retratação, aceitou o caminho mais fácil; mas, apesar da queda do chefe, o rebanho permaneceu firme. Muitos testificaram da verdade entre as chamas. Por sua coragem e fidelidade na tortura, esses humildes cristãos falaram a milhares que, em dias de paz, nunca tinham ouvido seu testemunho. GC 215 3 Não foram somente os humildes e os pobres que, entre sofrimento e escárnio, ousaram dar testemunho de Cristo. Nos salões senhoriais do castelo e do palácio, houve almas régias por quem a verdade era mais apreciada do que a riqueza, posição social ou mesmo a vida. As armaduras reais ocultavam espírito mais sobranceiro e resoluto do que o faziam as vestes e a mitra do bispo. Luís de Berquin era de nascimento nobre, cavalheiro bravo e cortês, dedicado ao estudo, polido nas maneiras, e de moral irrepreensível. "Ele era", diz certo escritor, "fiel seguidor das ordenanças papais, e grande ouvinte de missas e sermões, ... e, a coroar todas as demais virtudes, tinha pelo luteranismo aversão especial." Mas, semelhante a tantos outros, guiado providencialmente à Escritura, maravilhou-se de encontrar ali, "não as doutrinas de Roma mas as de Lutero." -- Wylie. Desde então se entregou com devotamento completo à causa do evangelho. GC 216 1 "Como o mais douto dos nobres da França", seu gênio e eloqüência, sua coragem indomável e heróico zelo, assim como sua influência na corte -- pois era favorito do rei -- faziam com que fosse considerado por muitos como destinado a ser o reformador de seu país. Disse Beza: "Berquin teria sido um segundo Lutero, caso houvesse encontrado em Francisco I um segundo eleitor." "É pior do que Lutero", exclamavam os romanistas. Mais temido era ele, na verdade, pelos romanistas da França. Arrojaram-no à prisão como herege, mas foi posto em liberdade pelo rei. Durante anos manteve a luta. Francisco claudicando entre Roma e a Reforma, alternadamente tolerava e restringia o zelo feroz dos monges. Berquin foi três vezes preso pelas autoridades papais, apenas para ser liberto pelo monarca que, admirando-lhe o gênio e nobreza de caráter, recusou sacrificá-lo à maldade do clero. GC 216 2 Foi Berquin repetidas vezes avisado do perigo que o ameaçava na França, e com ele instou-se para que seguisse os passos dos que haviam encontrado segurança no exílio voluntário. O tímido Erasmo, subserviente às circunstâncias de seu tempo, e a quem, com todo o esplendor de sua erudição, faltava aquela grandeza moral que mantém a vida e a honra a serviço da verdade, escreveu a Berquin: "Pede para seres enviado como embaixador a algum país estrangeiro; vai viajar na Alemanha. Conheces Beda e outros como ele; é um monstro de mil cabeças, lançando veneno por todos os lados. Teus inimigos se contam por legiões. Fosse a tua causa melhor do que a de Jesus Cristo, e não te deixariam ir antes de te haverem miseravelmente destruído. Não confies muito na proteção do rei. Seja como for, não me comprometas com a faculdade de teologia." -- Wylie. GC 216 3 Mas, intensificando-se os perigos, o zelo de Berquin apenas se tornou mais forte. Assim, longe de adotar o expediente egoísta sugerido por Erasmo, decidiu-se a medidas ainda mais ousadas. Não somente permaneceria na defesa da verdade, mas atacaria o erro. A acusação de heresia que os romanistas estavam procurando firmar contra ele, volvê-la-ia contra eles próprios. Os mais ativos e cruéis de seus oponentes eram os ilustrados doutores e monges do departamento teológico da grande Universidade de Paris, uma das mais elevadas autoridades eclesiásticas tanto da cidade como da nação. Dos escritos desses doutores Berquin tirou doze proposições que publicamente declarou "em oposição à Bíblia e heréticas", e apelou para o rei no sentido de agir como juiz na controvérsia. GC 217 1 Não repugnando ao monarca pôr em contraste a força e agudeza dos campeões rivais, e contente com a oportunidade de humilhar o orgulho dos altivos monges, mandou aos romanistas que defendessem sua causa pela Escritura Sagrada. Esta arma, bem o sabiam, pouco lhes adiantaria; a prisão, a tortura e a fogueira eram as armas que melhor sabiam manejar. Agora a situação estava invertida, e viam-se prestes a cair no fosso em que haviam esperado submergir Berquin. Perplexos, procuravam em torno um meio de escape. GC 217 2 "Exatamente por este tempo uma imagem da Virgem apareceu mutilada na esquina de uma das ruas." Houve grande agitação na cidade. Multidões de pessoas se ajuntaram no local, com expressões de lamento e indignação. O rei também ficou profundamente abalado. Ali estava uma circunstância de que os monges se poderiam valer, e apressaram-se em aproveitar-se dela. "São estes os frutos das doutrinas de Berquin", exclamavam. "Tudo está a ponto de ser subvertido -- religião, leis, o próprio trono -- por esta conspiração luterana." -- Wylie. GC 217 3 De novo foi preso Berquin. O rei saiu de Paris, e os monges ficaram assim livres para agir à vontade. O reformador foi julgado e condenado à morte; e receosos de que Francisco mesmo então se interpusesse para salvá-lo, a sentença foi executada no próprio dia em que fora pronunciada. Ao meio-dia Berquin foi conduzido ao lugar fatal. Imensa multidão se reunira para testemunhar o acontecimento, e ali estavam muitos que viram com espanto e temor, que a vítima fora escolhida dentre as melhores, mais valorosas e nobres famílias da França. Espanto, ira, escárnio e ódio figadal entenebreciam o rosto daquela multidão agitada; mas sobre um único semblante nenhuma sombra pairava. Os pensamentos do mártir estavam longe daquela cena de tumulto; estava cônscio apenas da presença de seu Senhor. GC 218 1 O hediondo carro enlameado em que ia, o rosto carregado de seus perseguidores, a morte terrível para a qual caminhava, não os tomava ele em consideração; estava a seu lado Aquele que vive e foi morto, e vivo estará para sempre, e tem as chaves da morte e do inferno. O semblante de Berquin estava radiante com a luz e paz do Céu. Vestira trajes festivos, usando "uma capa de veludo, um gibão de cetim e damasco, e meias douradas." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, D'Aubigné. Ele estava para testificar de sua fé na presença do Rei dos reis, e do Universo, que assistia à cena; e nenhum sinal de lamento lhe devia empanar a alegria. GC 218 2 Enquanto o cortejo se movia vagarosamente através das ruas regurgitantes de gente, este notava com admiração a imperturbável paz, o alegre triunfo que trazia no olhar e porte. "Ele está", diziam, "como alguém que se senta num templo e medita sobre coisas santas." -- Wylie. GC 218 3 Junto à fogueira, Berquin esforçou-se por dirigir algumas palavras ao povo; mas os monges, temendo o resultado, começaram a gritar, e os soldados a chocar as armas, e o rumor abafou a voz do mártir. Assim, em 1529, a mais alta autoridade literária e eclesiástica da culta Paris, "deu à populaça de 1793 o indigno exemplo de sufocar na forca as palavras sagradas do moribundo." -- Wylie. GC 218 4 Berquin foi estrangulado, e seu corpo consumido nas chamas. As notícias de sua morte causaram tristeza aos amigos da Reforma por toda a França. Mas seu exemplo não foi em vão. "Estamos também prontos", disseram as testemunhas da verdade, "para enfrentar com ânimo a morte, pondo nossos olhos na vida por vir." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, D'Aubigné. GC 219 1 Durante a perseguição em Meaux, os ensinadores da fé reformada foram proibidos de pregar, e partiram para outros campos. Lefèvre, depois de algum tempo, tomou rumo da Alemanha. Farel voltou para sua cidade natal, na França oriental, a fim de disseminar a luz no lugar de sua infância. Já se haviam recebido notícias do que se passava em Meaux, e a verdade, por ele ensinada com destemido zelo, atraía ouvintes. Levantaram-se logo as autoridades para fazê-lo silenciar, sendo ele banido da cidade. Posto que não mais pudesse trabalhar publicamente, atravessou as planícies e aldeias, ensinando nas casas particulares, nos prados isolados, encontrando abrigo nas florestas e entre as cavernas rochosas que haviam sido sua guarida nos tempos de rapaz. Deus o estava preparando para maiores provas. "Não têm faltado as cruzes, perseguições e maquinações de Satanás, de que eu estava prevenido", disse ele; "são mesmo muito mais atrozes do que poderia suportar por mim mesmo; mas Deus é meu Pai; Ele me proveu e sempre há de prover-me da força que peço." -- D'Aubigné. GC 219 2 Como nos dias dos apóstolos, a perseguição contribuíra "para maior proveito do evangelho." Filipenses 1:12. Expulsos de Paris e Meaux, "os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a Palavra." Atos 8:4. E assim a luz teve acesso a muitas das afastadas províncias da França. GC 219 3 Deus estava ainda a preparar obreiros para ampliar a Sua causa. Em uma das escolas de Paris havia um jovem refletido, quieto, e que dava mostras de espírito robusto e penetrante, e não menos notável pela correção de vida do que pelo ardor intelectual e devoção religiosa. Seu gênio e aplicação logo o fizeram o orgulho do colégio, e tinha-se como certo que João Calvino seria um dos mais hábeis e honrados defensores da igreja. Mas um raio de luz divina penetrou até ao próprio interior das paredes do escolasticismo e superstição em que se achava Calvino encerrado. Estremeceu ao ouvir das novas doutrinas, nada duvidando de que os hereges merecessem o fogo a que eram entregues. Contudo, sem disso se dar conta, foi posto face a face com a heresia, e obrigado a submeter à prova o poder da teologia romana no combate ao ensino protestante. GC 220 1 Estava em Paris um primo de Calvino, que se havia unido aos reformadores. Os dois parentes muitas vezes se encontravam, e juntos discutiam as questões que estavam perturbando a cristandade. "Não há senão duas espécies de religiões no mundo", dizia o protestante Olivetan. "Uma é a espécie de religiões que os homens inventaram, e em todas as quais o homem se salva por cerimônias e boas obras; a outra é a religião que está revelada na Escritura Sagrada e ensina o homem a esperar pela salvação unicamente da livre graça de Deus." GC 220 2 "Não quero nenhuma das tuas novas doutrinas", exclamou Calvino; "achas que tenho vivido em erro todos os meus dias?" -- Wylie. GC 220 3 No espírito, porém, haviam-se-lhe despertado pensamentos de que se não podia livrar de todo. Sozinho em seu quarto, ponderava as palavras do primo. Não o deixara a convicção do pecado; via-se sem intercessor, na presença de um santo e justo Juiz. A mediação dos santos, as boas obras, as cerimônias da Igreja, tudo era impotente para expiar o pecado. Nada via diante de si, além do negror do desespero eterno. Em vão os doutores da igreja se esforçavam por aliviar-lhe a infelicidade. Em vão recorria à confissão e penitência; estas não podiam reconciliar a alma com Deus. GC 220 4 Enquanto ainda se empenhava nessas lutas infrutíferas, Calvino, visitando casualmente uma das praças públicas, testemunhou ali a queima de um herege. Ficou deveras maravilhado ante a expressão de paz que se esboçava no semblante do mártir. Entre as torturas daquela morte cruel, e sob a mais terrível condenação da igreja, manifestou uma fé e coragem que o jovem estudante dolorosamente contrastou com o seu próprio desespero e escuridão, embora vivesse em estrita obediência à igreja. Na Bíblia, sabia ele, fundamentavam os hereges a sua fé. Resolveu estudá-la e descobrir, se o pudesse, o segredo da alegria deles. GC 221 1 Na Bíblia achou a Cristo. "Ó Pai", exclamou ele, "Seu sacrifício apaziguou Tua ira; Seu sangue lavou minhas impurezas; Sua cruz arrostou minha maldição; Sua morte fez expiação por mim. Imaginamos para nós muitas tolices inúteis, mas Tu colocaste Tua Palavra diante de mim como uma tocha, e tocaste-me o coração, a fim de que eu abominasse todos os outros méritos, com exceção dos de Jesus." -- Martyn. GC 221 2 Calvino tinha sido educado para o sacerdócio. Quando contava apenas doze anos de idade, foi designado para o cargo de capelão de pequena igreja, sendo-lhe pelo bispo tonsurada a cabeça, de acordo com o cânon da igreja. Não recebeu consagração, nem cumpria os deveres de sacerdote, mas tornou-se membro do clero, mantendo o título de seu ofício e recebendo um estipêndio em consideração ao mesmo. GC 221 3 Ora, compreendendo que jamais poderia tornar-se padre, volveu por algum tempo ao estudo das leis, mas abandonou finalmente este propósito e resolveu dedicar a vida ao evangelho. Hesitou, porém, em se fazer pregador público. Era naturalmente tímido, é pesava-lhe a intuição das graves responsabilidades daquele cargo, desejando ainda dedicar-se ao estudo. Os ardorosos rogos de seus amigos, entretanto, alcançaram finalmente o seu consentimento. "É maravilhoso", disse ele, "que pessoa de tão humilde origem fosse exaltada a tão grande dignidade." -- Wylie. GC 221 4 Calmamente deu Calvino início à sua obra, e suas palavras foram como o orvalho que caía para refrigerar a terra. Deixara Paris, e então se encontrava numa cidade provinciana sob a proteção da princesa Margarida, que, amando o evangelho, estendia seu amparo aos discípulos do mesmo. Calvino era ainda jovem, de porte gentil e despretensioso. Começou o trabalho nos lares do povo. Rodeado dos membros da família, lia a Escritura e desvendava as verdades da salvação. Os que ouviam a mensagem, levavam as boas novas a outros, e logo o ensinador passou para além da cidade, às vilas e aldeias adjacentes. Encontrava ingresso tanto no castelo como na cabana e ia avante, lançando o fundamento de igrejas que deveriam dar corajoso testemunho da verdade. GC 222 1 Decorridos alguns meses, achou-se de novo em Paris. Havia desusada agitação nas rodas dos homens ilustrados e eruditos. O estudo das línguas antigas conduzira os homens à Bíblia, e muitos, cujo coração não fora tocado pelas suas verdades, discutiam-nas avidamente, dando mesmo combate aos campeões do romanismo. Calvino, se bem que fosse hábil lutador nos campos da controvérsia religiosa, tinha a cumprir uma missão mais elevada do que a daqueles teólogos ruidosos. O espírito dos homens estava agitado, e esse era o tempo para lhes desvendar a verdade. Enquanto os salões da Universidade ecoavam do rumor das discussões teológicas, Calvino prosseguia de casa em casa, abrindo a Escritura ao povo, falando-lhes de Cristo, o Crucificado. GC 222 2 Na providência de Deus, Paris deveria receber outro convite para aceitar o evangelho. Rejeitara o apelo de Lefèvre e Farel, mas de novo a mensagem deveria ser ouvida por todas as classes naquela grande capital. O rei, influenciado por considerações políticas, não tinha ainda tomado completamente sua atitude ao lado de Roma contra a Reforma. Margarida ainda se apegava à esperança de que o protestantismo triunfasse na França. Resolveu que a fé reformada fosse pregada em Paris. Durante a ausência do rei, ordenou a um ministro protestante que pregasse nas igrejas da cidade. Sendo isto proibido pelos dignitários papais, a princesa abriu as portas do palácio. Um de seus compartimentos foi improvisado em capela e anunciou-se que diariamente, em hora determinada, seria pregado um sermão, sendo o povo de todas as classes e condições convidado a comparecer. Multidões congregavam-se para assistir ao culto. Não somente a capela, mas as antecâmaras e vestíbulos regurgitavam. Milhares se reuniam todos os dias -- nobres, estadistas, advogados, negociantes e artífices. O rei, em vez de proibir essas assembléias, ordenou que duas das igrejas de Paris fossem abertas. Nunca dantes fora a cidade tão comovida pela Palavra de Deus. O espírito de vida, proveniente do Céu, parecia estar bafejando o povo. Temperança, pureza, ordem e trabalho estavam a tomar o lugar da embriaguez, libertinagem, contenda e ociosidade. GC 223 1 A hierarquia, porém, não estava ociosa. O rei ainda se recusava a intervir no sentido de sustar a pregação, e aquela se volveu para a populaça. Não se poupavam meios para excitar os temores, preconceitos e fanatismo das multidões ignorantes e supersticiosas. Entregando-se cegamente a seus falsos ensinadores, Paris, como Jerusalém na antiguidade, não conheceu o tempo de sua visitação, nem as coisas que pertenciam à sua paz. Durante dois anos a Palavra de Deus foi pregada na capital; mas, ao mesmo tempo em que havia muitos que aceitavam o evangelho, a maioria das pessoas o rejeitavam. Francisco dera mostra de tolerância, meramente para servir a seus próprios propósitos, e os romanistas conseguiram readquirir a ascendência. De novo se fecharam as igrejas e ateou-se a fogueira. GC 223 2 Calvino ainda estava em Paris, preparando-se pelo estudo, meditação e oração, para os seus futuros labores, e continuando a disseminar a luz. Finalmente, porém, firmou-se contra ele a suspeita. As autoridades resolveram levá-lo às chamas. Considerando-se seguro em sua reclusão, não tinha idéia do perigo, quando amigos vieram precipitadamente a seu quarto com as notícias de que oficiais estavam a caminho para prendê-lo. Naquele instante ouviu-se uma forte pancada na porta exterior. Não havia um momento a perder. Alguns amigos detiveram os oficiais à porta, enquanto outros ajudavam o reformador a descer por uma janela; e rapidamente saiu para os extremos da cidade. Encontrando abrigo na cabana de um trabalhador amigo da Reforma, disfarçou-se nos trajes de seu hospedeiro e, levando ao ombro uma enxada, partiu em sua jornada. Viajando para o sul, encontrou novamente refúgio nos domínios de Margarida. -- História da Reforma no Tempo de Calvino. -- Ver D'Aubigné. GC 224 1 Ali, por alguns meses, permaneceu em segurança sob a proteção de poderosos amigos, e como dantes, empenhado no estudo. Mas seu coração estava determinado a fazer a evangelização da França, e ele não poderia ficar por muito tempo inativo. Logo que a tempestade amainou um pouco, procurou um novo campo de trabalho em Poitiers, onde havia uma universidade, e onde já as novas opiniões alcançavam aceitação. Pessoas de todas as classes ouviam alegremente o evangelho. Não havia pregação pública, mas na casa do magistrado principal, em seus próprios cômodos, e algumas vezes num jardim público, Calvino desvendava as palavras de vida eterna aos que as desejavam ouvir. Depois de algum tempo, aumentando o número dos ouvintes, foi considerado mais seguro reunirem-se fora da cidade. Uma caverna ao lado de uma garganta profunda e estreita, onde árvores e pedras salientes tornavam a reclusão ainda mais completa, fora escolhida como o local para as reuniões. Pequenos grupos, que deixavam a cidade por estradas diferentes, dirigiam-se para ali. Neste ponto isolado, a Escritura era lida e explicada. Ali, pela primeira vez, foi pelos protestantes da França celebrada a Ceia do Senhor. Dessa pequena igreja foram enviados vários fiéis evangelistas. GC 224 2 Mais uma vez Calvino voltou a Paris. Mesmo então não podia abandonar a esperança de que a França, como nação, aceitasse a Reforma. Encontrou, porém, fechadas para o trabalho quase todas as portas. Ensinar o evangelho era tomar o caminho direto para a fogueira, e finalmente resolveu partir para a Alemanha. Apenas deixara a França, quando irrompeu sobre os protestantes uma tempestade que certamente o teria envolvido na ruína geral, caso houvesse ele permanecido. GC 224 3 Os reformadores franceses, ansiosos por ver seu país acompanhar a Alemanha e a Suíça, decidiram-se a desferir contra a superstição de Roma um golpe audaz, que despertaria a nação inteira. De conformidade com isto, em uma noite foram afixados, por toda a França, cartazes que atacavam a missa. Em vez de promover a Reforma, este movimento zeloso, mas mal-interpretado, acarretou ruína, não somente para seus propagadores, mas também para os amigos da fé reformada na França inteira. Deu aos romanistas o que havia muito desejavam -- um pretexto para pedirem a destruição completa dos hereges como agitadores perigosos à estabilidade do trono e da paz da nação. GC 225 1 Por alguma mão secreta -- se a de um amigo imprudente, ou a de um ardiloso adversário, nunca se soube -- um dos cartazes foi colocado à porta do quarto particular do rei. O monarca encheu-se de horror. Naquele papel eram atacadas sem reservas superstições que haviam recebido a veneração dos séculos. E a audácia, sem precedentes, de introduzir à presença real estas afirmações claras e surpreendentes, suscitou a ira do rei. Em espanto ficou ele por um pouco de tempo a tremer e com a voz embargada. Então sua raiva encontrou expressão nestas terríveis palavras: "Sejam sem distinção agarrados todos os que são suspeitos de luteranismo. Exterminá-los-ei a todos." Estava lançada a sorte. O rei se decidira a pôr-se completamente do lado de Roma. GC 225 2 De pronto foram tomadas medidas para a prisão de todos os luteranos em Paris. Um pobre artífice, adepto da fé reformada, que se havia acostumado a convocar os crentes para as suas assembléias secretas, foi agarrado e, sob a ameaça de morte instantânea na fogueira, ordenou-se-lhe conduzir o emissário papal à casa de todos os protestantes na cidade. Ele estremeceu de horror ante a vil proposta, mas finalmente o medo das chamas prevaleceu, e concordou em se fazer traidor dos irmãos. Precedido da hóstia, e rodeado de um séquito de padres, incensadores, monges e soldados, Morin, agente policial do rei, com o traidor, vagarosa e silenciosamente passaram pelas ruas da cidade. Aquela demonstração era ostensivamente em honra ao "santo sacramento", um ato de expiação pelo insulto feito pelos protestantes à missa. Mas, por sob aquele espetáculo escondia-se um propósito mortal. Chegado defronte da casa de um luterano, o traidor fazia um sinal, mas nenhuma palavra era proferida. O cortejo fazia alto, entravam na casa, a família era arrastada e acorrentada, e o terrível séquito prosseguia em procura de novas vítimas. "Não poupavam casa, grande ou pequena, nem mesmo os colégios da Universidade de Paris. ... Morin fez abalar toda a cidade. ... Era o reinado do terror." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, de D'Aubigné. GC 226 1 As vítimas foram mortas com tortura cruel, sendo ordenado especialmente que o fogo fosse abaixado, a fim de prolongar-lhes a agonia. Morreram, porém, como vencedores. Sua constância foi inabalável, imperturbada sua paz. Os perseguidores, impotentes para abalar-lhes a inflexível firmeza, sentiram-se derrotados. "Os cadafalsos foram distribuídos por todos os bairros de Paris, e as fogueiras arderam durante dias sucessivos, no intuito de, espalhando as execuções, espalhar o terror da heresia. A vantagem, entretanto, ficou afinal com o evangelho. Toda Paris habilitou-se a ver que espécie de homens as novas opiniões produziram. Não havia púlpito como a fogueira do mártir. A serena alegria que iluminava o rosto daqueles homens, ao se encaminharem ... para o lugar da execução; seu heroísmo, estando eles entre as chamas atrozes; seu meigo perdão às injúrias, em não poucos casos transformavam a cólera em piedade e o ódio em amor, pleiteando com irresistível eloqüência em prol do evangelho." -- Wylie. GC 226 2 Os padres, dispostos a conservar em seu auge a fúria popular, faziam circular as mais terríveis acusações contra os protestantes. Eram acusados de conspirar para o massacre dos católicos, subverter o governo e assassinar o rei. Nem uma sombra sequer de provas podiam aduzir em apoio das alegações. No entanto, aquelas profecias de males deveriam ter cumprimento; sob circunstâncias, porém, muito diversas e por causas de caráter oposto. As crueldades que foram pelos católicos infligidas aos inocentes protestantes, acumularam um peso de retribuições e, séculos depois, ocasionaram a mesma sorte que eles haviam predito estar iminente sobre o rei, seu governo e seus súditos; mas produziram-na os incrédulos e os próprios romanistas. Não foi o estabelecimento do protestantismo, mas sim a sua supressão que, trezentos anos mais tarde, deveria trazer sobre a França essas horrendas calamidades. GC 227 1 Suspeita, desconfiança e terror invadiam agora todas as classes da sociedade. Entre o alarma geral, viu-se quão profundamente o ensino luterano se havia apoderado do espírito dos homens que mais se distinguiam pela educação, influência e excelência de caráter. Cargos de confiança e honra foram subitamente encontrados vagos. Artífices, impressores, estudantes, professores das universidades, autores e mesmo cortesãos, desapareceram. Centenas fugiram de Paris, constituindo-se voluntariamente exilados de sua terra natal, dando assim em muitos casos a primeira demonstração de que favoreciam a fé reformada. Os romanistas olharam em redor de si com espanto, ao pensar nos hereges que, sem o suspeitarem, haviam sido tolerados entre eles. Sua raiva foi descarregada nas multidões de vítimas mais humildes que estavam a seu alcance. As prisões ficaram repletas, e o próprio ar parecia obscurecido com o fumo de fogueiras a arder, acesas para os que professavam o evangelho. GC 227 2 Francisco I tinha-se gloriado de ser o dirigente no grande movimento em prol do renascimento do saber que assinalou o início do século XVI. Deleitara-se em reunir em sua corte homens de letras de todos os países. A seu amor ao saber e a seu desprezo pela ignorância e superstição dos monges deveu-se, em parte ao menos, o grau de tolerância que fora concedido à Reforma. Mas, inspirado pelo zelo de suprimir a heresia, este patrono do saber promulgou um edito declarando abolida a imprensa em toda a França! Francisco I apresenta um exemplo entre muitos registrados, os quais mostram que a cultura intelectual não é salvaguarda contra a intolerância e perseguição religiosas. GC 227 3 A França, mediante cerimônia solene e pública, deveria entregar-se completamente à destruição do protestantismo. Os padres exigiram que a afronta feita aos altos Céus, com a condenação da missa, fosse expiada com sangue, e que o rei, em favor de seu povo, desse publicamente sua sanção à medonha obra. GC 228 1 O dia 21 de janeiro de 1535 foi marcado para a terrível cerimônia. Haviam sido suscitados os supersticiosos temores e ódio fanático da nação inteira. Paris estava repleta de multidões que, de todos os territórios circunjacentes enchiam suas ruas. Deveria iniciar-se o dia por meio de uma vasta e imponente procissão. "Das casas ao longo do itinerário pendiam panos de luto, e erguiam-se altares a intervalos." Diante de cada porta havia uma tocha acesa em honra ao "santo sacramento." Antes de raiar o dia formou-se a procissão, no palácio do rei. "Primeiramente vinham as bandeiras e cruzes das várias paróquias; a seguir apareciam os cidadãos, caminhando dois a dois, e levando tochas." Vinham então as quatro ordens de frades cada qual em seus trajes peculiares. Seguia vasta coleção de famosas relíquias. Após, cavalgavam senhorilmente eclesiásticos em suas vestes de púrpura e escarlate, e com adornos de jóias -- uma exibição magnífica e resplandecente. GC 228 2 "A hóstia era levada pelo bispo de Paris, sob magnificente pálio, ... carregado por quatro príncipes de sangue. ... Em seguida à hóstia caminhava o rei. ... Francisco I, naquele dia, não levava coroa, nem vestes de Estado." Com a "cabeça descoberta, olhos fixos no chão, na mão um círio aceso", o rei da França aparecia "em caráter de penitente." -- Wylie. Em cada altar ele se curvava em humilhação, não pelos vícios que lhe aviltavam a alma, nem pelo sangue inocente que lhe manchava as mãos, mas pelo pecado mortal de seus súditos que tinham ousado condenar a missa. Seguindo-se a ele vinham a rainha e os dignitários do Estado caminhando também dois a dois, cada um com uma tocha acesa. GC 228 3 Como parte das cerimônias do dia, o próprio monarca discursou aos altos oficiais do reino no grande salão do palácio do bispo. Com semblante triste apareceu perante eles, e com palavras de eloqüência comovedora deplorou "o crime, a blasfêmia o tempo de tristeza e desgraça", que sobrevieram à nação. E apelou para todo súdito leal a que auxiliasse na extirpação da pestilente heresia que ameaçava de ruína a França. "Tão verdadeiramente, senhores, como eu sou o vosso rei", disse ele, "se eu soubesse estar um dos meus próprios membros manchado ou infectado com esta detestável podridão, eu o daria para que vós o cortásseis. ... E, demais, se visse um de meus filhos contaminado por ela, não o pouparia. ... Eu mesmo o entregaria e sacrificaria a Deus." As lágrimas abafaram-lhe as palavras, e toda a assembléia chorou, exclamando em uníssono: "Viveremos e morreremos pela religião católica!" -- D'Aubigné. GC 229 1 Terríveis se tornaram as trevas da nação que rejeitara a luz da verdade. "A graça que traz a salvação" havia aparecido; mas a França, depois de lhe contemplar o poder e santidade, depois de milhares terem sido atraídos por sua divina beleza, depois de cidades e aldeias terem sido iluminadas por seu fulgor, desviou-se, preferindo as trevas à luz. Haviam repudiado o dom celestial, quando este lhes foi oferecido. Tinham chamado ao mal bem, e ao bem mal, até serem vítimas voluntárias do próprio engano. Agora, ainda que efetivamente cressem que, perseguindo ao povo de Deus estavam fazendo a obra divina, sua sinceridade não os inocentava. A luz que os teria salvo do engano, da mancha de sua alma pelo crime de sangue, haviam-na voluntariamente rejeitado. GC 229 2 Um juramento solene para extirpar a heresia foi feito na grande catedral, onde, quase três séculos mais tarde, a "Deusa da Razão" deveria ser entronizada por uma nação que se tinha esquecido do Deus vivo. Novamente se formou a procissão, e os representantes da França aprestaram-se a iniciar a obra que haviam jurado fazer. "A pequenas distâncias haviam-se erigido cadafalsos, nos quais certos cristãos protestantes deveriam ser queimados vivos, e arranjaram para que as fogueiras fossem acesas no momento em que o rei se aproximasse e a procissão fizesse alto para testemunhar a execução." -- Wylie. As minúcias das torturas suportadas por aquelas testemunhas de Cristo são demasiado dilacerantes para serem descritas; não houve, porém, vacilação por parte das vítimas. Exigindo-se-lhes retratar-se, um respondeu: "Creio unicamente no que os profetas e apóstolos anteriormente pregaram, e no que creu toda a multidão dos santos. Minha fé tem uma confiança em Deus que resistirá a todos os poderes do inferno." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, D'Aubigné. GC 230 1 Repetidas vezes a procissão fazia alto nos lugares de tortura. Atingindo o seu ponto de partida, no palácio real, a multidão dispersou-se, e o rei e os prelados retiraram-se, satisfeitos com as realizações do dia, e exprimindo o desejo de que a obra, ora iniciada, continuasse até à completa destruição da heresia. GC 230 2 O evangelho da paz que a França rejeitara havia de ser efetivamente desarraigado, e terríveis seriam os resultados. No dia 21 de janeiro de 1793, a duzentos e cinqüenta e oito anos do próprio dia em que a França se entregara inteiramente à perseguição dos reformadores, passou pelas ruas de Paris outra procissão, com um intuito muito diferente. "De novo era o rei a figura principal; novamente havia tumultos e aclamações; repetiu-se o clamor pedindo mais vítimas; reergueram-se negros cadafalsos; e de novo encerraram-se as cenas do dia com horríveis execuções; Luiz XVI, lutando de mãos com seus carcereiros e executores, era arrastado para o cepo e ali seguro violentamente até cair o machado e sua decepada cabeça rolar no tablado." -- Wylie. E não foi o rei a única vítima; perto do mesmo local dois mil e oitocentos seres humanos pereceram pela guilhotina durante os sanguinários dias do Reinado do Terror. GC 230 3 A Reforma apresentara ao mundo a Bíblia aberta, desvendando os preceitos da lei de Deus e insistindo quanto aos seus requisitos para com a consciência das pessoas. O amor infinito manifestara aos homens os estatutos e princípios do Céu. Deus dissera: "Guardai-os pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida." Deuteronômio 4:6. Quando a França rejeitou a dádiva do Céu, lançou as sementes da anarquia e ruína e a inevitável operação de causa e efeito resultou na Revolução e no Reinado do Terror. GC 231 1 Muito tempo antes da perseguição provocada pelos cartazes, o ousado e ardoroso Farel fora obrigado a fugir da terra de seu nascimento. Seguiu para a Suíça e, mediante seus labores, secundando a obra de Zwínglio, auxiliou a fazer pender a balança a favor da Reforma. Seus últimos anos deveriam ser ali despendidos; todavia continuou a exercer decidida influência sobre a Reforma na França. Durante os primeiros anos de exílio, seus esforços foram especialmente dirigidos no sentido de propagar o evangelho em seu país natal. Empregou tempo considerável com a pregação entre seus compatriotas próximo da fronteira, onde, com incansável vigilância, observava o conflito e auxiliava com suas palavras de animação e conselho. Com o auxílio de outros exilados, os escritos dos reformadores alemães foram traduzidos para a língua francesa, juntamente com a Bíblia em francês, impressos em grande quantidade. Por colportores foram estas obras extensamente vendidas na França. Eram fornecidas aos colportores por um preço baixo, e assim os lucros do trabalho os habilitavam a continuar. GC 231 2 Farel entrou para o seu trabalho na Suíça com as humildes vestes de mestre-escola. Dirigindo-se a uma paróquia afastada, dedicou-se à instrução das crianças. Além das matérias usuais de ensino, cautelosamente introduziu as verdades da Escritura, esperando atingir os pais mediante as crianças. Alguns houve que creram, mas os padres se apresentaram para deter o trabalho, e o supersticioso povo do campo ergueu-se para se opor ao mesmo. "Este não pode ser o evangelho de Cristo", insistiam os padres, "sendo que a pregação disto não traz paz, mas guerra." -- Wylie. Semelhante aos primeiros discípulos, quando perseguido em uma cidade, fugia para outra. De vila em vila, de cidade em cidade, ia ele, viajando a pé, suportando fome, frio e cansaço, e por toda parte em perigo de vida. Pregava nas praças, nas igrejas, algumas vezes nos púlpitos das catedrais. Por vezes encontrava a igreja vazia de ouvintes; outras vezes era sua pregação interrompida com brados e zombaria; outras, ainda, era com violência arrancado do púlpito. Mais de uma vez foi apanhado pela plebe e espancado quase até morrer. Contudo, prosseguia. Posto que freqüentemente repelido, voltava com incansável persistência ao ataque; e uma após outra, via vilas e cidades, que haviam sido redutos do papado, abrirem as portas ao evangelho. A pequena paróquia em que a princípio trabalhara, logo aceitou a fé reformada. As cidades de Morat e Neuchatel também renunciaram aos ritos romanos, removendo de suas igrejas as imagens idolátricas. GC 232 1 Farel havia muito desejara implantar as normas protestantes em Genebra. Se essa cidade pudesse ser ganha, seria um centro para a Reforma na França, na Suíça e na Itália. Com este objetivo diante de si, continuou com seus trabalhos até que foram ganhas muitas das cidades e aldeias circunjacentes. Então, com um único companheiro, entrou em Genebra. Mas foi-lhe permitido pregar apenas dois sermões. Os padres, tendo-se vãmente esforçado por conseguir sua condenação pelas autoridades civis, chamaram-no perante um concílio eclesiástico, ao qual chegaram com armas escondidas debaixo das vestes, decididos a tirar-lhe a vida. Fora do salão da assembléia reuniu-se uma populaça furiosa, com clavas e espadas, para garantir a sua morte caso conseguisse escapar do concílio. A presença dos magistrados e de uma força armada, entretanto, salvou-o. Cedo, na manhã seguinte, foi com seu companheiro conduzido através do lago para um lugar de segurança. -- Assim terminou seu primeiro esforço para evangelizar Genebra. GC 232 2 Para a próxima prova foi escolhido um instrumento mais humilde -- um jovem tão modesto na aparência, que foi tratado friamente mesmo pelos professos amigos da Reforma. Mas que poderia ele fazer onde Farel havia sido rejeitado? Como poderia alguém de pouca experiência e coragem resistir à tempestade, diante da qual os mais fortes e bravos haviam sido obrigados a fugir? "Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor." Zacarias 4:6. "Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes." "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." 1 Coríntios 1:27, 25. GC 232 3 Froment iniciou o seu trabalho como mestre-escola. As verdades que na escola ensinava às crianças, estas repetiam em casa. Logo os pais foram ouvir a explicação da Bíblia, até que a sala de aulas se encheu de atentos ouvintes. Novos Testamentos e folhetos foram livremente distribuídos, e atingiram a muitos que não ousavam ir abertamente ouvir as novas doutrinas. Depois de algum tempo este obreiro foi também obrigado a fugir; mas as verdades que ensinara tinham tomado posse do espírito das pessoas. A Reforma fora implantada, e continuou a se fortalecer e estabelecer-se. Os pregadores voltaram e, mediante seus trabalhos, o culto protestante foi finalmente estabelecido em Genebra. GC 233 1 A cidade já se havia declarado pela Reforma, quando Calvino, depois de vagueações e vicissitudes várias, entrou por suas portas. Voltando de sua última visita à terra natal, estava a caminho de Basiléia, quando, encontrando a estrada direta ocupada pelos exércitos de Carlos V, foi obrigado a tomar um desvio por Genebra. GC 233 2 Nessa visita Farel reconheceu a mão de Deus. Posto que Genebra houvesse aceitado a fé reformada, precisava ainda ser ali efetuada uma grande obra. Não é em grupos mas como indivíduos que os homens se convertem a Deus. A obra de regeneração deve ser realizada no coração e consciência, pelo poder do Espírito Santo, e não pelos decretos dos concílios. Ao passo que o povo de Genebra repelia a autoridade de Roma, não se mostrava tão pronto para renunciar aos vícios que haviam florescido sob o seu domínio. Estabelecer ali os puros princípios do evangelho, e preparar esse povo para preencher dignamente a posição a que a Providência parecia chamá-los, não era fácil tarefa. GC 233 3 Farel confiava em que houvesse encontrado em Calvino a pessoa que o pudesse assistir naquela obra. Em nome de Deus conjurou solenemente o jovem evangelista a que ficasse e ali trabalhasse. Calvino recuou, alarmado. Tímido e amante da paz, arreceava-se do contato com o espírito ousado, independente e mesmo violento daquele filho de Genebra. Sua debilidade de saúde juntamente com seus hábitos de estudo, levaram-no a procurar o retiro. Crendo que pela pena melhor poderia servir a causa da reforma, desejou encontrar um silencioso retiro para o estudo, e ali, pela imprensa, instruir e edificar as igrejas. A exortação solene de Farel veio-lhe, porém, como um chamado do Céu, e não ousou recusar-se. Parecia-lhe, disse ele, "que a mão de Deus estivesse estendida do Céu, tomando-o e fixando-o irrevogavelmente no lugar que ele estava tão o impaciente por deixar." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, D'Aubigné. GC 234 1 Por aquele tempo grandes perigos cercavam a causa protestante. Os anátemas do papa trovejavam contra Genebra, e poderosas nações ameaçavam-na de destruição. Como poderia esta pequena cidade resistir à potente hierarquia que tantas vezes obrigara reis e imperadores à submissão? Como poderia ela enfrentar os exércitos dos grandes vencedores do mundo? GC 234 2 Em toda a cristandade o protestantismo estava ameaçado por temíveis adversários. Passados os primeiros triunfos da Reforma, Roma convocou novas forças, esperando ultimar sua destruição. Nesse tempo fora criada a ordem dos jesuítas -- o mais cruel, sem escrúpulos e poderoso de todos os defensores do papado. Separados de laços terrestres e interesses humanos, insensíveis às exigências das afeições naturais, tendo inteiramente silenciadas a razão e a consciência, não conheciam regras nem restrições, além das da própria ordem, e nenhum dever, a não ser o de estender o seu poderio. O evangelho de Cristo havia habilitado seus adeptos a enfrentar o perigo e suportar sem desfalecer o sofrimento, pelo frio, fome, labutas e pobreza, a fim de desfraldar a bandeira da verdade, em face do instrumento de tortura, do calabouço e da fogueira. Para combater estas forças, o jesuitismo inspirou seus seguidores com um fanatismo que os habilitava a suportar semelhantes perigos, e opor ao poder da verdade todas as armas do engano. Não havia para eles crime grande demais para cometer, nenhum engano demasiado vil para praticar, disfarce algum por demais difícil para assumir. Votados à pobreza e humildade perpétuas, era seu estudado objetivo conseguir riqueza e poder para se dedicarem à subversão do protestantismo e restabelecimento da supremacia papal. GC 235 1 Quando apareciam como membros de sua ordem, ostentavam santidade, visitando prisões e hospitais, cuidando dos doentes e pobres, professando haver renunciado ao mundo, e levando o nome sagrado de Jesus, que andou fazendo o bem. Mas sob esse irrepreensível exterior, ocultavam-se freqüentemente os mais criminosos e mortais propósitos. Era princípio fundamental da ordem que os fins justificam os meios. Por este código, a mentira, o roubo, o perjúrio, o assassínio, não somente eram perdoáveis, mas recomendáveis, quando serviam aos interesses da igreja. Sob vários disfarces, os jesuítas abriam caminho aos cargos do governo, subindo até conselheiros dos reis e moldando a política das nações. Tornavam-se servos para agirem como espias de seus senhores. Estabeleciam colégios para os filhos dos príncipes e nobres, e escolas para o povo comum; e os filhos de pais protestantes eram impelidos à observância dos ritos papais. Toda a pompa e ostentação exterior do culto romano eram levadas a efeito a fim de confundir a mente e deslumbrar e cativar a imaginação; e assim, a liberdade pela qual os pais tinham labutado e derramado seu sangue, era traída pelos filhos. Os jesuítas rapidamente se espalharam pela Europa e, aonde quer que iam, eram seguidos de uma revivificação do papado. GC 235 2 Para lhes dar maior poder foi promulgada uma bula restabelecendo a inquisição. Apesar da aversão geral com que era considerado, mesmo nos países católicos, este horrível tribunal foi novamente estabelecido pelos chefes papais, e atrocidades demasiado terríveis para suportar a luz do dia, foram repetidas em suas masmorras secretas. Em muitos países, milhares e milhares da própria flor da nação, dos mais puros e nobres, dos mais intelectuais e altamente educados, piedosos e devotados pastores, cidadãos operosos e patrióticos, brilhantes sábios, artistas talentosos, hábeis artífices, foram mortos ou obrigados a fugir para outros países. GC 235 3 Tais foram os meios que Roma invocara a fim de apagar a luz da Reforma, para retirar dos homens a Bíblia e restabelecer a ignorância e a superstição da Idade Média. Mas sob a bênção de Deus e os trabalhos daqueles nobres homens que Ele suscitara a fim de suceder a Lutero, o protestantismo não foi esfacelado. Não lhes seria preciso dever a sua força ao favor ou às armas dos príncipes. Os menores países, as mais humildes e menos poderosas nações, tornaram-se o seu baluarte. Foi a pequena Genebra em meio de poderosos adversários a tramarem sua destruição; foi a Holanda em suas praias arenosas junto ao mar do Norte, combatendo contra a tirania da Espanha, então o maior e mais opulento dos reinos; foi a gelada e estéril Suécia, que ganharam vitórias em prol da Reforma. GC 236 1 Durante quase trinta anos, Calvino trabalhou em Genebra, primeiramente para estabelecer ali uma igreja que aderisse à moralidade da Bíblia, e depois em prol do avançamento da Reforma pela Europa toda. Sua conduta como dirigente público não era irrepreensível, tampouco eram suas doutrinas destituídas de erro. Mas foi instrumento na promulgação de verdades que eram de importância especial em seu tempo, na manutenção de princípios do protestantismo contra a maré do papado que rapidamente refluía, e na promoção da simplicidade e pureza de vida nas igrejas reformadas, em lugar do orgulho e corrupção favorecidos pelo ensino romanista. GC 236 2 De Genebra saíram publicações e ensinadores para disseminar as doutrinas reformadas. Daquele ponto os perseguidos de todos os países esperavam instrução, conselho e animação. A cidade de Calvino tornou-se um refúgio para os perseguidos reformadores de toda a Europa Ocidental. Fugindo das terríveis tempestades que duraram séculos, chegavam os foragidos às portas de Genebra. Famintos, feridos, despojados de lar e parentes, eram afetuosamente recebidos e tratados com ternura; e encontrando ali um lar, por meio de sua habilidade, saber e piedade abençoavam a cidade de sua adoção. Muitos que ali buscaram refúgio voltaram a seu próprio país para resistir à tirania de Roma. João Knox, o bravo reformador escocês, não poucos dos puritanos ingleses, protestantes da Holanda e da Espanha, e os huguenotes da França, levaram de Genebra a tocha da verdade para iluminar as trevas de seu país natal. ------------------------Capítulo 13 -- A liberdade nos Países Baixos GC 237 1 Nos Países Baixos a tirania papal já muito cedo suscitou resoluto protesto. Setecentos anos antes do tempo de Lutero, dois bispos, enviados em embaixada a Roma, ao se tornarem conhecedores do verdadeiro caráter da "Santa Sé", dirigiram corajosamente ao pontífice romano as seguintes acusações: Deus "fez rainha e esposa Sua a Igreja, e proveu-a de abundantes bens para seus filhos, com dote que se não consome nem se corrompe, e deu-lhe uma coroa e cetro eternos; ... tudo o que vos beneficia, e como um ladrão interceptais. Sentais-vos no templo como Deus; em vez de pastor vos fizestes lobo para as ovelhas; ... quereis fazer-nos crer que sois o bispo supremo, quando nada mais sois que tirano. ... Conquanto devais ser servo dos servos, como chamais a vós mesmos, esforçais-vos por vos tornar senhor dos senhores. ... Trazeis o desdém aos mandamentos de Deus. ... O Espírito Santo é o edificador de todas as igrejas até onde se estender a Terra. ... A cidade de nosso Deus, da qual somos cidadãos, atinge todas as regiões dos céus; e é maior do que a cidade chamada Babilônia pelos santos profetas, a qual pretende ser divina, elevando-se ao céu e se jacta de que sua sabedoria é imortal; e finalmente afirma, ainda que sem razão, que nunca errou, nem jamais poderá errar." -- História da Reforma nos Países Baixos e em Redor Deles, Brandt. GC 238 1 Outros surgiram de século em século para fazer soar este protesto. E aqueles primitivos ensinadores que, atravessando diferentes países, eram conhecidos por vários nomes e tinham as características dos missionários valdenses, espalhando por toda parte o conhecimento do evangelho, penetraram nos Países Baixos. Suas doutrinas se difundiram rapidamente. A Bíblia valdense foi traduzida em verso para a língua holandesa. Declararam "que havia nela grande vantagem. Nada de motejos, fábulas, futilidade, enganos, mas palavras de verdade. Com efeito, havia aqui e acolá uma dura crosta, mas a medula e doçura do que é bom e santo podiam ser nela facilmente descobertas." -- Brandt. Assim escreveram no século XII os amigos da antiga fé. GC 238 2 Começaram então as perseguições romanas; mas em meio das fogueiras e torturas os crentes continuaram a multiplicar-se, declarando firmemente que a Bíblia é a única autoridade infalível em matéria de religião, e que "nenhum homem deveria ser coagido a crer, mas sim ser ganho pela pregação." -- Martyn. GC 238 3 Os ensinos de Lutero encontraram terreno propício nos Países Baixos, e homens ardorosos e fiéis surgiram para pregar o evangelho. De uma das províncias da Holanda veio Meno Simons. Educado como católico romano, e ordenado ao sacerdócio, era completamente ignorante em relação à Escritura, e não a queria ler de medo de cair no engano da heresia. Quando o impressionou uma dúvida a respeito da doutrina da transubstanciação, considerou isso como tentação de Satanás, e pela prece e confissão procurou dela libertar-se, mas em vão. Entregando-se ao desregramento, esforçou-se por fazer silenciar a voz da consciência; sem resultado, porém. Depois de algum tempo foi levado ao estudo do Novo Testamento, o qual, juntamente com os escritos de Lutero, o fez aceitar a fé reformada. Logo depois, testemunhou numa aldeia vizinha a decapitação de um homem, morto por ter sido rebatizado. Isto o levou a estudar na Bíblia a questão do batismo infantil. Não pôde encontrar prova para ele nas Escrituras, mas viu que o arrependimento e a fé eram tudo que se exigia como condição para receber o batismo. GC 239 1 Meno retirou-se da igreja romana e dedicou a vida a ensinar as verdades que recebera. Tanto na Alemanha como nos Países Baixos surgira uma classe de fanáticos, defendendo doutrinas absurdas e sediciosas, ultrajando a ordem e a decência, e levando a efeito a violência e a insurreição. Meno viu os terríveis resultados a que tal movimento conduziria inevitavelmente, e com tenacidade se opôs aos ensinos errôneos e ferozes planos dos fanáticos. Muitos havia, entretanto, que tinham sido transviados por esses fanáticos, renunciando, porém, posteriormente a suas perniciosas doutrinas; e restavam ainda muitos descendentes dos antigos cristãos, fruto dos ensinos valdenses. Entre essa classe Meno trabalhou com grande zelo e êxito. GC 239 2 Durante vinte e cinco anos viajou, com a esposa e filhos, suportando grandes agruras e privações, e freqüentemente em perigo de vida. Atravessou os Países Baixos e a Alemanha do norte, trabalhando principalmente entre as classes mais humildes, mas exercendo vasta influência. Eloqüente por natureza, posto que possuísse limitada educação, era homem de integridade inabalável, espírito humilde e maneiras gentis, e de uma piedade sincera e fervorosa, exemplificando na própria vida os preceitos que ensinava, e recomendando-se à confiança do povo. Seus seguidores estavam esparsos e eram oprimidos. Sofriam grandemente por serem confundidos com os fanáticos adeptos de Münster. Não obstante, grande número se converteu pelos seus labores. GC 239 3 Em parte alguma foram as doutrinas reformadas mais geralmente recebidas do que nos Países Baixos. Em poucos países suportaram seus adeptos mais terríveis perseguições. Na Alemanha, Carlos V havia condenado a Reforma, e com prazer teria levado à tortura todos os seus partidários; mas os príncipes mantiveram-se como uma barreira contra sua tirania. Nos Países Baixos seu poder foi maior, e editos perseguidores seguiam-se uns aos outros em rápida sucessão. Ler a Bíblia, ouvi-la ou pregá-la, ou mesmo falar a respeito dela, era incorrer na pena de morte pela tortura. Orar a Deus em secreto, deixar de curvar-se perante as imagens, ou cantar um salmo, eram também puníveis de morte. Mesmo os que renunciassem seus erros, eram condenados, sendo homens, a morrer pela espada; e sendo mulheres, a ser enterradas vivas. Milhares pereceram sob o reinado de Carlos e de Filipe II. GC 240 1 Certa ocasião uma família inteira foi levada perante os inquisidores, acusada de não assistir à missa, e de fazer culto em casa. Ao serem examinados quanto às suas práticas particulares, respondeu o filho mais moço: "Pomo-nos de joelhos, e oramos para que Deus nos ilumine a mente e perdoe os pecados; oramos pelo nosso soberano, para que seu reino seja próspero e sua vida feliz; oramos pelos nossos magistrados, para que Deus os guarde." -- Wylie. Alguns dos juízes ficaram profundamente comovidos; no entanto, o pai e um dos filhos foram condenados à fogueira. GC 240 2 A cólera dos perseguidores igualava-se à fé que tinham os mártires. Não somente homens, mas delicadas senhoras e moças ostentavam coragem inflexível. "Esposas tomavam lugar junto aos suplícios de seus maridos e, enquanto estes suportavam o fogo, elas balbuciavam palavras de consolação, ou cantavam salmos para animá-los." "Jovens se deitavam vivas nas sepulturas, como se estivessem a entrar em seu quarto para o sono noturno; ou saíam para o cadafalso e para a fogueira, trajando seus melhores vestidos, como se fossem para o casamento." -- Wylie. GC 240 3 Como nos dias em que o paganismo procurou destruir o evangelho, o sangue dos cristãos era semente. (Ver a Apologia, de Tertuliano.) A perseguição servia para aumentar o número das testemunhas da verdade. Ano após ano o monarca, despeitado até à loucura pela resolução invencível do povo, persistia na obra cruel, mas em vão. Sob o nobre Guilherme de Orange, a Revolução trouxe finalmente à Holanda liberdade de culto a Deus. GC 240 4 Nas montanhas de Piemonte, nas planícies da França e praias da Holanda, o progresso do evangelho foi assinalado com o sangue de seus discípulos. Mas nos países do norte encontrou pacífica entrada. Estudantes em Wittenberg, voltando para casa, levaram a fé reformada para a Escandinávia. A publicação dos escritos de Lutero também propagou a luz. O povo simples e robusto do norte, deixou a corrupção, a pompa e as superstições de Roma, para acolher a pureza, a simplicidade e as verdades vitais da Bíblia. GC 241 1 Tausen, o "Reformador da Dinamarca", era filho de camponês. Desde a infância deu mostras de vigoroso intelecto; tinha sede de saber; mas este desejo lhe foi negado pelas circunstâncias em que seus pais se achavam, e entrou para o claustro. Ali, sua pureza de vida bem como diligência e fidelidade, conquistaram a benevolência de seu superior. O exame demonstrou possuir talento que prometia em algum futuro bons serviços à igreja. Foi decidido dar-lhe educação em uma das universidades da Alemanha ou dos Países Baixos. Concedeu-se ao jovem estudante permissão para escolher por si mesmo uma escola, com a condição de que não fosse a de Wittenberg. Não convinha expor o educando ao veneno da heresia. Assim pensaram os frades. GC 241 2 Tausen foi para Colônia, que era então, como hoje, um dos baluartes do romanismo. Ali logo se desgostou com o misticismo dos escolásticos. Aproximadamente por esse mesmo tempo obteve os escritos de Lutero. Leu-os com admiração e deleite, desejando grandemente o privilégio de receber instrução pessoal do reformador. Mas para fazer isso, deveria arriscar ofender a seu superior e privar-se de seu arrimo. Decidiu-se logo, e pouco tempo depois se matriculou na Universidade de Wittenberg. GC 241 3 Voltando à Dinamarca, de novo se dirigiu a seu mosteiro. Ninguém, por enquanto, o suspeitava de luteranismo; não revelou seu segredo, mas sem despertar preconceitos dos companheiros, esforçava-se por levá-los a uma fé mais pura e vida mais santa. Expôs-lhes a Bíblia e explicou seu verdadeiro sentido, pregando-lhes finalmente a Cristo como a justiça do pecador e sua única esperança de salvação. Grande foi a ira do prior, que nele havia depositado extraordinárias esperanças como valoroso defensor de Roma. Foi logo removido de seu mosteiro para outro, e confinado à cela sob estrita fiscalização. GC 242 1 Para o terror de seus novos guardiães, vários dos monges logo se declararam conversos ao protestantismo. Através das barras da cela, Tausen comunicara aos companheiros o conhecimento da verdade. Fossem aqueles padres dinamarqueses peritos no plano da igreja de como tratar a heresia, e a voz de Tausen jamais teria sido de novo ouvida; mas, em vez de o confiar ao túmulo nalguma masmorra subterrânea, expulsaram-no do mosteiro. Estavam, então, reduzidos à impotência. Um edito real, apenas promulgado, oferecia proteção aos ensinadores da nova doutrina. Tausen começou a pregar. As igrejas lhe foram abertas, e o povo reunia-se em multidão para ouvi-lo. Outros também estavam a pregar a Palavra de Deus. O Novo Testamento, traduzido para a língua dinamarquesa, circulou amplamente. Os esforços feitos pelos romanistas a fim de destruir a obra, tiveram como resultado estendê-la e, não muito depois, a Dinamarca declarava aceitar a fé reformada. GC 242 2 Na Suécia, também, jovens que haviam bebido da fonte de Wittenberg, levaram a água da vida a seus patrícios. Dois dos dirigentes da Reforma sueca, Olavo e Lourenço Petri, filhos de um ferreiro de Orebro, estudaram com Lutero e Melâncton, e foram diligentes em ensinar as verdades que assim aprenderam. Semelhante ao grande reformador, Olavo despertava o povo pelo seu zelo e eloqüência, enquanto Lourenço, à semelhança de Melâncton, era ilustrado, refletido e calmo. Ambos eram homens de fervorosa piedade, profundos conhecimentos teológicos e inflexível coragem para promover o avançamento da verdade. A oposição romanista não faltava. Os padres católicos instigavam o povo ignorante e supersticioso. Olavo Petri foi muitas vezes assaltado pela populaça, e em várias ocasiões mal pôde escapar com vida. Estes reformadores eram, entretanto, favorecidos e protegidos pelo rei. GC 243 1 Sob o domínio da Igreja de Roma, o povo estava submerso na pobreza e atormentado pela opressão. Destituídos das Escrituras, e tendo uma religião de meras formas e cerimônias, que não transmitia luz ao espírito, estavam a voltar às crenças supersticiosas e práticas pagãs de seus antepassados gentios. A nação achava-se dividida em facções contendoras, cuja perpétua luta aumentava a miséria de todos. Resolveu o rei fazer uma reforma no Estado e na igreja, e recebeu com agrado aqueles hábeis auxiliares na batalha contra Roma. GC 243 2 Na presença do monarca e dos principais homens da Suécia, Olavo Petri, com grande habilidade, defendeu contra os campeões romanos as doutrinas da fé reformada. Declarou que os ensinos dos pais da igreja deviam ser recebidos apenas quando estivessem de acordo com as Escrituras; que as doutrinas essenciais da fé são apresentadas na Bíblia de maneira clara e simples, de modo que todos os homens as possam compreender. Disse Cristo: "A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou" (João 7:16); e Paulo declarou que se pregasse outro evangelho a não ser aquele que recebera, seria anátema. Gálatas 1:8. Como, pois, disse o reformador, "pretenderão outros de acordo com sua vontade decretar dogmas, impondo-os como coisa necessária à salvação?" -- Wylie. Demonstrou que os decretos da igreja não têm autoridade quando em oposição aos mandamentos de Deus, e insistiu no grande princípio protestante de que "a Bíblia e a Bíblia só" é a regra de fé e prática. GC 243 3 Esta contenda, posto que travada em cenário relativamente obscuro, serve para mostrar-nos "a qualidade de homens que formavam a maior parte do exército dos reformadores. Longe de serem analfabetos, sectaristas, controversistas ruidosos -- eram homens que haviam estudado a Palavra de Deus, e bem sabiam como manejar as armas com que os supria o arsenal da Escritura. Com respeito à erudição, antecipavam-se a seu tempo. Quando fixamos a atenção em centros brilhantes como Wittenberg e Zurique, e em ilustres nomes tais como os de Lutero e Melâncton, de Zwínglio e Oecolampadius, dir-se-nos-á talvez que foram esses os dirigentes do movimento, e naturalmente deveríamos esperar neles prodigioso poder e vastas aquisições; os subordinados, porém, não eram como eles. Mas, volvamos ao obscuro teatro da Suécia, e aos humildes nomes de Olavo e Lourenço Petri -- desde os mestres até aos discípulos -- que encontramos? ... Eruditos e teólogos; homens que perfeitamente se assenhorearam de todo o sistema das verdades evangélicas, e que ganharam vitória fácil sobre os sofismas das escolas e dos dignitários de Roma." -- Wylie. GC 244 1 Como resultado desta disputa, o rei da Suécia aceitou a fé protestante, e não muito tempo depois a assembléia nacional declarou-se a seu favor. O Novo Testamento fora traduzido por Olavo Petri para a língua sueca e, atendendo ao desejo do rei, os dois irmãos empreenderam a tradução da Bíblia inteira. Assim, pela primeira vez o povo da Suécia recebeu a Palavra de Deus em sua língua materna. Foi ordenado pela Dieta que por todo o reino os pastores explicassem as Escrituras e que às crianças nas escolas se ensinasse a ler a Bíblia. GC 244 2 Ininterrupta e seguramente as trevas da ignorância e superstição foram dissipadas pela bem-aventurada luz do evangelho. Liberta da opressão romana, a nação atingiu força e grandeza que nunca dantes havia alcançado. A Suécia tornou-se um dos baluartes do protestantismo. Um século mais tarde, em tempo de grave perigo, esta pequena e até ali fraca nação -- a única na Europa que ousou prestar auxílio -- foi em livramento da Alemanha nas terríveis lutas da Guerra dos Trinta Anos. Toda a Europa do norte parecia a ponto de novamente cair sob a tirania de Roma. Foram os exércitos da Suécia que habilitaram a Alemanha a desviar a onda do êxito papal, a conquistar tolerância aos protestantes -- calvinistas bem como luteranos -- e a restabelecer a liberdade de consciência nos países que haviam abraçado a Reforma. ------------------------Capítulo 14 -- Progressos na Inglaterra GC 245 1 Enquanto Lutero abria ao povo da Alemanha a Bíblia, que até então estivera fechada, Tyndale era impelido pelo Espírito de Deus a fazer o mesmo pela Inglaterra. A Bíblia de Wycliffe fora traduzida do texto latino, que continha muitos erros. Nunca havia sido impressa, e tão elevado era o custo dos exemplares manuscritos, que, a não ser homens abastados ou nobres, poucos poderiam adquiri-los; demais, sendo estritamente proscrita pela igreja, tivera divulgação relativamente acanhada. Em 1516, um ano antes do aparecimento das teses de Lutero, Erasmo publicara sua versão grega e latina do Novo Testamento. Agora, pela primeira vez, a Palavra de Deus era impressa na língua original. Nesta obra muitos erros das versões anteriores foram corrigidos, dando-se mais clareza ao sentido. Levou muitos dentre as classes cultas a melhor conhecimento da verdade, e deu novo impulso à obra da Reforma. Mas o povo comum ainda estava, em grande parte, privado da Palavra de Deus. Tyndale deveria completar a obra de Wycliffe, dando a Bíblia a seus compatriotas. GC 245 2 Como estudante diligente e ardoroso investigador da verdade, recebeu o evangelho do Testamento grego de Erasmo. Destemidamente pregou suas convicções, insistindo em que toda a doutrina fosse provada pelas Escrituras. À pretensão romanista de que a igreja dera a Bíblia, e de que somente ela a poderia explicar, respondeu Tyndale: "Sabeis quem ensinou as águias a encontrar a presa? Pois bem, esse mesmo Deus ensina Seus filhos famintos a encontrar o Pai em Sua Palavra. Longe de nos haverdes dado as Escrituras, sois vós que a tendes escondido de nós; sois vós que queimais os que as ensinam e, se pudésseis, queimaríeis as Escrituras mesmas." -- D'Aubigné. GC 246 1 A pregação de Tyndale despertou grande interesse; muitos aceitaram a verdade. Mas os padres estavam alerta, e mal ele deixara o campo, esforçaram-se por destruir-lhe a obra por meio de ameaças e difamações. Muitas vezes eram bem-sucedidos nisso. "Que se deve fazer?" exclamava ele. "Enquanto semeio num lugar, o inimigo devasta o campo que acabo de deixar. Não posso estar em toda parte. Oh! se os cristãos possuíssem as Escrituras Sagradas em sua própria língua, poderiam por si mesmos resistir a esses sofismas. Sem a Bíblia é impossível firmar o leigo na verdade." -- D'Aubigné. GC 246 2 Novo propósito toma então posse de seu espírito. "Era na língua de Israel", disse ele, "que se cantavam os salmos no templo de Jeová; e não falará o evangelho a língua da Inglaterra entre nós? ... Deve a igreja ter menos luz ao meio-dia do que à aurora? Os cristãos devem ler o Novo Testamento em sua língua materna." Os doutores e ensinadores da igreja discordavam entre si. Apenas pela Bíblia poderiam os homens chegar à verdade. "Um adota este doutor, outro aquele. ... Ora, cada um destes autores contradiz o outro. Como, pois, podemos nós distinguir quem fala certo de quem fala errado? ... Como? ... Em verdade pela Palavra de Deus." -- D'Aubigné. GC 246 3 Não muito tempo depois, um versado doutor católico, empenhado em controvérsia com ele, exclamou: "Seríamos melhores estando sem as leis de Deus, do que sem as do papa." Tyndale replicou: "Desafio o papa e todas as suas leis; e, se Deus poupar minha vida, dentro em pouco farei com que um rapaz que conduz o arado saiba mais das Escrituras do que vós." -- Anais da Bíblia Inglesa, de Anderson. GC 246 4 O propósito que começara a acalentar, de dar ao povo as Escrituras do Novo Testamento em sua própria língua, agora se confirmava, e imediatamente se aplicou à obra. Expulso de sua casa pela perseguição, foi a Londres, e ali prosseguiu por algum tempo em seus labores, sem ser incomodado. Mas de novo a violência dos romanistas o obrigou a fugir. Toda a Inglaterra parecia cerrar-se para ele, e resolveu procurar abrigo na Alemanha. Ali começou a imprimir o Novo Testamento em inglês. Duas vezes foi o trabalho interrompido; mas, quando se lhe proibia imprimir numa cidade, ia para outra. Finalmente tomou o caminho de Worms, onde, poucos anos antes, Lutero havia defendido o evangelho perante a Dieta. Naquela antiga cidade havia muitos amigos da Reforma, e ali Tyndale prosseguiu em sua obra, sem mais estorvos. Três mil exemplares do Novo Testamento foram logo concluídos, e seguiu-se outra edição no mesmo ano. GC 247 1 Com grande ardor e perseverança, continuou seus labores. Apesar de terem as autoridades inglesas guardado seus portos com a mais estrita vigilância, a Palavra de Deus foi de várias maneiras secretamente levada para Londres, e ali circulou por todo o país. Os romanistas tentaram suprimir a verdade, mas em vão. O bispo de Durham, de uma vez comprou de um vendedor de livros, amigo de Tyndale, todo o seu estoque de Bíblias, com o intuito de destruí-las, supondo assim embaraçar grandemente a obra. Mas, ao contrário, com o dinheiro assim fornecido foi comprado material para uma nova e melhor edição, que, a não ser desta maneira, não poderia haver sido publicada. Quando mais tarde Tyndale foi preso, foi-lhe oferecida a liberdade sob condição de revelar os nomes dos que o haviam auxiliado a fazer as despesas para imprimir suas Bíblias. Respondeu que o bispo de Durham fizera mais do que qualquer outra pessoa, pois, pagando elevado preço pelos livros deixados em seu poder, habilitara-o a prosseguir com bom ânimo. GC 247 2 Tyndale foi traído e entregue aos inimigos, permanecendo por muitos meses na prisão. Finalmente deu testemunho da fé, morrendo mártir; mas as armas que preparara habilitaram outros soldados a batalhar por todos os séculos, mesmo até aos nossos dias. GC 248 1 Latimer sustentava do púlpito que a Bíblia deveria ser lida na língua do povo. O Autor da Escritura Sagrada, disse ele, "é o próprio Deus"; e esta Escritura participa do poder e da eternidade de seu Autor. "Não há rei, imperador, magistrado, ou governador ... que não tenha o dever de obedecer a ... Sua santa Palavra." "Não tomemos quaisquer atalhos, mas dirija-nos a Palavra de Deus: não andemos segundo nossos antepassados nem busquemos saber o que fizeram, mas sim o que deveriam ter feito." -- Primeiro Sermão Pregado Perante o Rei Eduardo VI, Latimer. GC 248 2 Barnes e Frith, fiéis amigos de Tyndale, levantaram-se em defesa da verdade. Seguiram-se os Ridleys e Cranmer. Estes dirigentes da Reforma inglesa eram homens de saber, e quase todos tinham sido muito estimados pelo zelo e piedade na comunhão romana. Sua oposição ao papado resultou de seu conhecimento dos erros da "Santa Sé." Familiarizados com os mistérios de Babilônia, maior poder imprimiram a seus testemunhos contra ela. GC 248 3 "Farei agora uma estranha pergunta", disse Latimer. "Quem é o mais diligente bispo em toda a Inglaterra? ... Vejo-vos a ouvir e escutar que eu o nomeie. ... Eu vo-lo direi: é o diabo. ... Ele nunca abandona sua diocese; ... procurai-o quando quiserdes, sempre está em casa; ... está sempre junto a seu arado. ... Nunca o achareis ocioso, garanto-vos. ... Onde reside o diabo, ... fora com os livros, e venham as velas; fora com as Bíblias e venham os rosários; fora com a luz do evangelho, e venha a luz das velas, sim, ao meio-dia; ... abaixo a cruz de Cristo, viva o purgatório limpa-bolsas; ... fora com o vestir os nus, os pobres e os inválidos, e viva o cobrir de imagens e festivos ornamentos, o pau e a pedra; venham as tradições dos homens e suas leis, abaixo com as tradições de Deus e Sua santíssima Palavra. ... Quem dera fossem nossos prelados tão diligentes em semear a boa doutrina, como Satanás o é em semear o joio ou cizânia!" -- Sermão do Arado, Latimer. GC 249 1 O grande princípio mantido por aqueles reformadores -- princípio que fora sustentado pelos valdenses, por Wycliffe, João Huss, Lutero, Zwínglio e pelos que a eles se uniram -- foi a autoridade infalível das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática. Negavam o direito dos papas, concílios, padres e reis, de dirigirem a consciência em matéria de religião. A Bíblia era a sua autoridade, e por seus ensinos provavam todas as doutrinas e reivindicações. A fé em Deus e em Sua Palavra sustentava aqueles homens santos, ao renderem eles a vida no instrumento de tortura. "Consola-te", exclamou Latimer a seu companheiro de martírio, quando as chamas estavam a ponto de fazer silenciar-lhes a voz; "acenderemos neste dia na Inglaterra uma luz que, pela graça de Deus, espero jamais se apagará." -- Obras de Hugo Latimer. GC 249 2 Na Escócia, a semente da verdade, espalhada por Columba e seus cooperadores, nunca foi totalmente destruída. Durante séculos, depois de as igrejas da Inglaterra se submeterem a Roma, as da Escócia mantiveram sua liberdade. No século XII, entretanto, o papado se estabeleceu ali, e em nenhum país exerceu mais absoluto domínio. Em parte alguma eram mais profundas as trevas. Todavia, ali chegaram raios de luz a penetrarem as trevas, apresentando a promessa do dia vindouro. Os lolardos, vindos da Inglaterra com a Bíblia e ensinos de Wycliffe, muito fizeram para preservar o conhecimento do evangelho, e cada século teve suas testemunhas e mártires. GC 249 3 Com a inauguração da grande Reforma, vieram os escritos de Lutero, e então o Novo Testamento inglês de Tyndale. Sem serem notados pela hierarquia, esses mensageiros atravessaram silenciosamente as montanhas e vales, reacendendo o facho da verdade quase a extinguir-se na Escócia, e desfazendo a obra que Roma fizera durante quatro séculos de opressão. GC 249 4 Deu então o sangue dos mártires novo ímpeto ao movimento. Os chefes romanistas, apercebendo-se subitamente do perigo que ameaçava a sua causa, levaram à fogueira alguns dos mais nobres e honrados filhos da Escócia. Não fizeram senão erigir um púlpito, do qual as palavras daquelas testemunhas moribundas foram ouvidas por todo o país, fazendo a alma do povo vibrar no propósito firme de se libertar das algemas de Roma. GC 250 1 Hamilton e Wishart, príncipes no caráter bem como de nascimento, com grande número de discípulos mais humildes, renderam a vida na fogueira. Mas de junto da pira ardente de Wishart veio alguém a quem as chamas não reduziriam ao silêncio, alguém que, abaixo de Deus, vibraria o golpe de morte ao domínio papal, na Escócia. GC 250 2 João Knox desviara-se das tradições e misticismos da igreja, para alimentar-se das verdades da Palavra de Deus; e os ensinos de Wishart haviam confirmado sua resolução de abandonar a comunhão de Roma e ligar-se aos reformadores perseguidos. GC 250 3 Havendo seus companheiros insistido com ele para assumir o cargo de pregador, trêmulo, recuou dessa responsabilidade, e somente depois de dias de reclusão e doloroso conflito consigo mesmo, foi que consentiu. Mas, uma vez aceito por ele o cargo, foi avante com inflexível decisão e denodada coragem, enquanto lhe durou a vida. Este fiel e verdadeiro reformador não temia a face do homem. Os fogos do martírio, luzindo em redor dele, apenas serviam para despertar seu zelo a maior intensidade. Com o machado do carrasco pendendo ameaçadoramente sobre a cabeça, manteve-se em seu terreno, desfechando vigorosos golpes à direita e à esquerda, para demolir a idolatria. GC 250 4 Quando posto face a face com a rainha da Escócia, em cuja presença o zelo de muitos dirigentes do protestantismo se havia abatido, João Knox deu testemunho inquebrantável da verdade. Não seria ganho por meio de carinhos; não se subjugaria diante de ameaças. A rainha acusou-o de heresia. Ele havia ensinado o povo a receber uma religião proibida pelo Estado, declarou ela, e transgredira assim o mandamento de Deus, que ordena aos súditos obedecer a seus príncipes. Knox respondeu firmemente: GC 250 5 "Como a religião verdadeira não deriva dos príncipes mundanos a força original nem a autoridade, mas sim do eterno Deus, unicamente, não são assim os súditos obrigados a moldar sua religião segundo o sabor dos príncipes. Pois muitas vezes acontece que os príncipes são os mais ignorantes de todos no tocante à verdadeira religião de Deus. ... Se toda a semente de Abraão houvesse sido da religião de Faraó, de quem foram súditos durante muito tempo, pergunto-vos, senhora, que religião teria havido no mundo? Ou se todos os homens nos dias dos apóstolos houvessem sido da religião dos imperadores romanos, que religião teria havido sobre a face da Terra? ... E assim, senhora, podeis compreender que os súditos não são obrigados a ter a religião de seus príncipes, conquanto se lhes recomende prestar-lhes obediência." GC 251 1 Disse Maria: "Interpretais as Escrituras de uma maneira, e eles [os ensinadores católicos, romanos] interpretam-nas de outra; a quem deverei crer, e quem será juiz?" GC 251 2 "Crereis em Deus, que claramente fala em Sua Palavra", respondeu o reformador; "e além do que a Palavra vos ensina não crereis nem a um nem a outro. A Palavra de Deus é clara por si mesma; e se aparecer qualquer obscuridade em um lugar, o Espírito Santo, que nunca é contrário a Si mesmo, em outros lugares explica a obscuridade de maneira mais clara, de modo que não poderá ficar dúvida a não ser para os que obstinadamente se conservem na ignorância." -- Obras de João Knox, de Laing. GC 251 3 Essas foram as verdades que o destemido reformador, com perigo de vida, disse aos ouvidos da realeza. Com a mesma denodada coragem, manteve seu propósito, orando e ferindo as batalhas do Senhor; até que a Escócia ficou livre do papado. GC 251 4 Na Inglaterra, o estabelecimento do protestantismo como religião nacional diminuiu a perseguição mas não a deteve completamente. Enquanto muitas das doutrinas de Roma foram renunciadas, conservavam-se não poucas de suas formas. Foi rejeitada a supremacia do papa, mas em seu lugar o monarca foi entronizado como cabeça da igreja. No culto da igreja ainda havia largo desvio da pureza e simplicidade do evangelho. O grande princípio da liberdade religiosa não fora por enquanto compreendido. Ainda que só raramente os governadores protestantes recorressem às horríveis crueldades que Roma empregava contra a heresia, o direito de cada homem adorar a Deus segundo os ditames de sua própria consciência não era ainda reconhecido. Exigia-se de todos aceitar as doutrinas e observar as formas de culto prescritas pela igreja estabelecida. Os dissidentes foram perseguidos, em maior ou menor grau, durante centenas de anos. GC 252 1 No século XVII, milhares de pastores foram destituídos de seus cargos. Foi proibido ao povo, sob pena de pesadas multas, prisão e banimento, assistir a qualquer reunião religiosa exceto às que eram sancionadas pela igreja. As almas fiéis que não podiam abster-se de se reunir para adorar a Deus, eram obrigadas a reunir-se nas ruas escuras, em sombrias águas-furtadas e, em certas estações, nos bosques à meia-noite. Na profundidade agasalhadora da floresta -- templo construído pelo próprio Deus -- aqueles dispersos e perseguidos filhos do Senhor se congregavam para derramar a alma em oração e louvor. Mas, a despeito de toda precaução, muitos sofreram pela fé. As cadeias estavam repletas. As famílias eram divididas. Muitos eram banidos para países estrangeiros. Contudo, Deus estava com Seu povo, e a perseguição não conseguia fazer silenciar-lhes o testemunho. Muitos foram impelidos para a América do Norte, através do Oceano, e ali lançaram os fundamentos da liberdade civil e religiosa, que tem sido o baluarte e glória desse país. GC 252 2 Novamente, como nos dias apostólicos, a perseguição redundou em favor do evangelho. Em nauseabundo calabouço, repleto de devassos e traidores, João Bunyan respirava a própria atmosfera do Céu; e ali escreveu a maravilhosa alegoria da viagem do peregrino, da terra da destruição para a cidade celestial. Por mais de dois séculos aquela voz da cadeia de Bedford tem falado com poder penetrante ao coração dos homens. O Peregrino e Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, escritos por Bunyan, têm guiado muitos à senda da vida. GC 252 3 Baxter, Flavel, Alleine e outros homens de talento, cultura e profunda experiência cristã, ergueram-se em valorosa defesa da fé que uma vez foi entregue aos santos. A obra realizada por esses homens, proscritos e renegados pelos governantes deste mundo, jamais poderá perecer. A Fonte da Vida e o Método da Graça, de Flavel, têm ensinado milhares a confiar a Cristo a guarda de sua alma. O Pastor Reformado, de Baxter, demonstrou-se uma bênção a muitos que desejam uma revivificação da obra de Deus, e O Eterno Repouso dos Santos efetuou seu trabalho levando almas ao "repouso que resta ainda para o povo de Deus". GC 253 1 Um século mais tarde, em tempo de grandes trevas espirituais, Whitefield e os Wesley apareceram como portadores da luz de Deus. Sob o domínio da igreja estabelecida, o povo da Inglaterra havia caído em tal declínio religioso que dificilmente se poderia diferençar do paganismo. A religião natural era o estudo favorito do clero e incluía a maior parte de sua teologia. As classes mais elevadas zombavam da piedade, e orgulhavam-se de estar acima do que chamavam fanatismo da mesma. As classes inferiores eram crassamente ignorantes e entregues ao vício, enquanto a igreja não mais tinha coragem nem fé para apoiar a causa esmorecida da verdade. GC 253 2 A grande doutrina da justificação pela fé, tão claramente ensinada por Lutero, fora quase de todo perdida de vista; e o princípio romanista de confiar nas boas obras para a salvação, tomara-lhe o lugar. Whitefield e os Wesley, que eram membros da igreja estabelecida, buscavam sinceramente o favor de Deus, e isto, haviam sido ensinados, deveria conseguir-se mediante vida virtuosa e pela observância das ordenanças da religião. GC 253 3 Quando Carlos Wesley caiu doente certa vez, e previu a aproximação da morte, foi interrogado sobre aquilo em que depositava a esperança de vida eterna. Sua resposta foi: "Tenho empregado meus melhores esforços para servir a Deus." Como o amigo que fizera a pergunta parecesse não ficar completamente satisfeito com a resposta, pensou Wesley: "Pois quê? Não são meus esforços razão suficiente para a esperança? Despojar-me-ia ele de meus esforços? Nada mais tenho em que confiar." -- Vida de Carlos Wesley, de João Whitehead, pág. 102. Tais eram as densas trevas que haviam baixado sobre a igreja, ocultando a obra de expiação, despojando a Cristo de Sua glória, e desviando a mente dos homens de sua única esperança de salvação -- o sangue do Redentor crucificado. GC 254 1 Wesley e seus companheiros chegaram a ver que a verdadeira religião se localiza no coração, e que a lei de Deus se estende tanto aos pensamentos como às palavras e ações. Convictos da necessidade de pureza de coração, bem como da correção da conduta exterior, buscaram com zelo levar uma nova vida. Com oração e diligentes esforços, aplicavam-se a subjugar os males do coração natural. Viviam vida de renúncia, caridade e humilhação, observando com grande rigor e exatidão todas as medidas que julgavam lhes pudessem ser de auxílio para obter o que mais desejavam -- a santidade que conseguia o favor de Deus. Mas não alcançaram o objetivo que procuravam. Nulos foram seus esforços para se libertar da condenação do pecado, ou para lhe quebrar o poder. Essa foi a mesma luta que Lutero experimentara em sua cela em Erfurt. A mesma questão lhe torturara a alma -- "Como se justificaria o homem para com Deus?" Jó 9:2. GC 254 2 Os fogos da verdade divina, quase extintos sobre os altares do protestantismo, deveriam reacender-se do antigo facho legado através dos séculos pelos cristãos boêmios. Depois da Reforma, o protestantismo na Boêmia fora calcado a pés pelas hordas de Roma. Todos os que se recusavam a renunciar à verdade foram obrigados a fugir. Alguns destes, encontrando refúgio na Saxônia, ali mantiveram a antiga fé. Foi dos descendentes desses cristãos que a luz chegara a Wesley e a seus companheiros. GC 254 3 João e Carlos Wesley, depois de serem ordenados para o ministério, foram enviados em missão à América do Norte. A bordo do navio havia um grupo de morávios. Violentas tempestades acossaram-nos na travessia, e João Wesley, posto face a face com a morte, sentiu que não tinha a certeza de paz com Deus. Os alemães, ao contrário, manifestavam uma calma e confiança que lhe eram estranhas. GC 255 1 "Muito tempo antes", disse ele, "já eu havia observado a grande rigidez de sua conduta. De sua humildade haviam dado prova contínua, efetuando para os outros passageiros as ocupações servis que nenhum dos ingleses desempenharia; isto, sem desejarem nem receberem paga, dizendo que era bom para o seu coração orgulhoso, e que seu amante Salvador por eles fizera mais. E dia a dia manifestavam uma mansidão que nenhuma ofensa poderia abalar. Se eram empurrados, batidos ou derrubados, erguiam-se de novo e iam-se; mas nenhuma queixa lhes escapava dos lábios. Houve então uma oportunidade para provar se eram movidos pelo espírito de temor, ou de orgulho, ira e vingança. Em meio do salmo com que iniciaram seu culto, o mar enfureceu-se, reduzindo a pedaços a vela principal, cobrindo o navio e derramando-se pelos conveses como se o grande abismo já nos houvesse tragado. Terrível alarido surgiu entre os ingleses. Os alemães calmamente continuaram a cantar. Perguntei a um deles, depois: 'Não ficastes com medo?' Ele respondeu: 'Graças a Deus, não!' Perguntei: 'Mas não ficaram com medo vossas mulheres e crianças?' Respondeu brandamente: 'Não, nossas mulheres e crianças não têm medo de morrer.'" -- Vida de João Wesley, de Whitehead, pág. 10. GC 255 2 Ao chegar a Savannah, Wesley demorou-se por um pouco de tempo com os morávios, ficando profundamente impressionado com a sua conduta cristã. Descrevendo um de seus cultos religiosos, que oferecia grande contraste com o culto formalista da igreja da Inglaterra, disse: "A grande simplicidade, assim como a solenidade que em tudo se notava, quase me fizeram esquecer os dezessete séculos decorridos, e imaginar-me eu numa daquelas assembléias onde não havia formas nem pompas, mas onde Paulo, o fabricante de tendas, ou Pedro, o pescador, presidiam, e contudo havia demonstração do Espírito e poder." -- Ibidem, págs. 11 e 12. GC 255 3 Ao voltar para a Inglaterra, Wesley, sob a instrução de um pregador morávio, chegou a um entendimento mais claro da fé bíblica. Ficou convencido de que deveria renunciar a toda confiança em suas próprias obras para a salvação, e que lhe cumpria confiar inteiramente no "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Em uma reunião da Sociedade Morávia de Londres, foi lida uma declaração de Lutero, descrevendo a mudança que o Espírito de Deus opera no coração do crente. Ao ouvi-la, acendeu-se a fé na alma de Wesley. "Senti o coração aquecido de maneira estranha", disse ele. "Senti que confiava em Cristo, Cristo somente, para a salvação; e foi-me concedida certeza de que Ele tirara meus pecados, sim, os meus, e me salvara da lei do pecado e da morte." -- Vida de João Wesley, de Whitehead, pág. 52. GC 256 1 Durante longos e sombrios anos de esforços exaustivos, anos de rigorosa renúncia, acusações e humilhações, Wesley havia-se conservado firme em seu único propósito de procurar a Deus. Encontrou-O, por fim; e achou que a graça que labutara por alcançar pelas orações e jejuns, obras de caridade e abnegação, era um dom, "sem dinheiro, e sem preço". GC 256 2 Uma vez estabelecido na fé cristã, ardia-lhe a alma do desejo de espalhar por toda parte o conhecimento do glorioso evangelho da livre graça de Deus. "Considero o mundo todo minha paróquia", disse ele; "em qualquer parte em que me encontre julgo próprio, justo e de meu dever indeclinável, declarar a todos os que desejam ouvir, as alegres novas da salvação." -- Vida de João Wesley, de Whitehead, pág. 74. GC 256 3 Continuou em sua vida austera e abnegada, agora não como base, mas como resultado da fé; não como raiz, mas como fruto da santidade. A graça de Deus em Cristo é o fundamento da esperança do cristão e essa graça se manifestará em obediência. A vida de Wesley foi dedicada à pregação das grandes verdades que recebera -- justificação pela fé no sangue expiatório de Cristo e no poder renovador do Espírito Santo a operar no coração, produzindo frutos em uma vida de conformidade com o exemplo de Cristo. GC 256 4 Whitefield e os Wesley foram preparados para a sua obra mediante longas e decididas convicções pessoais quanto à sua própria condição perdida; e, para que pudessem habilitar-se a suportar agruras, como bons soldados de Cristo, estiveram sujeitos às severas provas do escárnio, zombaria e perseguição, tanto na Universidade como quando estavam a entrar para o ministério. Eles e alguns outros que com eles simpatizavam, eram desdenhosamente chamados metodistas por seus descrentes colegas de estudos -- nome atualmente considerado honroso por uma das maiores denominações da Inglaterra e da América do Norte. GC 257 1 Como membros da Igreja Anglicana, apegavam-se fortemente às formas de culto da referida igreja; o Senhor, porém, lhes apresentara em Sua Palavra uma norma mais elevada. O Espírito Santo compelia-os a pregar a Cristo, e a Ele crucificado. O poder do Altíssimo acompanhava-lhes os labores. Milhares se convenciam e verdadeiramente se convertiam. Era necessário que essas ovelhas fossem protegidas dos lobos devoradores. Wesley não tinha intenção de formar uma nova denominação, mas organizou os conversos no que se chamou a União Metodista. GC 257 2 Misteriosa e probante foi a oposição que esses pregadores encontraram da parte da igreja estabelecida; Deus, contudo, em Sua sabedoria, dispusera os acontecimentos de modo a fazer com que a Reforma se iniciasse dentro da própria igreja. Se ela tivesse vindo inteiramente de fora, não teria penetrado no lugar em que era tão necessária. Mas como os pregadores do reavivamento eram membros da igreja, e trabalhavam dentro do grêmio da igreja quando quer que encontravam oportunidade, a verdade teve entrada onde as portas teriam de outra maneira permanecido fechadas. Alguns do clero despertaram de sua sonolência moral, e tornaram-se zelosos pregadores em suas próprias paróquias. Igrejas que se haviam petrificado pelo formalismo, acordaram para a vida. GC 258 3 No tempo de Wesley, como em todos os tempos da história da igreja, homens de diferentes dons efetuaram a obra que lhes estava designada. Não se harmonizavam em todos os pontos de doutrina, mas todos eram movidos pelo Espírito de Deus, e uniam-se no objetivo que os absorvia, de conquistar almas para Cristo. As divergências entre Whitefield e os Wesley ameaçaram certa vez estabelecer separação; mas, como tivessem na escola de Cristo aprendido a humildade, reconciliaram-nos o perdão e a caridade mútua. Não tinham tempo para discutir, enquanto o erro e a iniqüidade abundavam por toda parte, e os pecadores sucumbiam na ruína. GC 258 1 Os servos de Deus palmilhavam caminho escabroso. Homens de influência e saber empregaram sua capacidade contra eles. Depois de algum tempo muitos dentre o clero manifestaram decidida hostilidade, e as portas da igreja fecharam-se contra a fé pura e contra os que a proclamavam. O procedimento do clero, denunciando-os do púlpito, suscitou os elementos das trevas, ignorância e iniqüidade. Reiteradas vezes João Wesley escapou da morte por um milagre da misericórdia de Deus. Quando a fúria da populaça foi excitada contra ele, e parecia não haver meio de escape, um anjo em forma humana vinha a seu lado, a plebe recuava, e o servo de Cristo saía em segurança do lugar de perigo. GC 258 2 De seu livramento da populaça enraivecida em uma dessas ocasiões, disse Wesley: "Muitos se esforçaram por atirar-me ao chão, enquanto por um caminho escorregadio descíamos uma colina para ir à cidade, imaginando que se eu caísse ao chão, dificilmente me levantaria outra vez. Mas não tropecei absolutamente, nem sequer sofri a mínima escorregadela, até que fiquei inteiramente fora de seu alcance. ... Posto que muitos se esforçassem por lançar mão de meu colarinho e vestes, para arrojar-me por terra, não puderam de maneira nenhuma firmar-se: apenas um segurou firme na aba de meu colete, que logo lhe ficou na mão; a outra aba, em cujo bolso havia uma nota de banco, foi rasgada apenas pela metade. ... Um homem robusto, precisamente por trás, vibrou contra mim várias vezes grossa vara de carvalho, com a qual, caso me houvesse uma única vez batido na parte posterior da cabeça, ter-se-ia livrado de mais incômodos. Mas todas as vezes as pancadas se desviavam para o lado, não sei como; pois não podia mover-me nem para a direita nem para a esquerda. ... Outro veio correndo através da multidão, e levantando o braço para bater-me, subitamente o deixou cair, e apenas me tocou de leve a cabeça, dizendo: 'Que cabelo macio ele tem!' ... Os primeiros homens a mudarem de atitude, foram os heróis populares, os líderes da plebe em todas as ocasiões, havendo um deles sido pugilista de circo. GC 259 1 "Por meio de quão suaves degraus nos prepara Deus para a Sua vontade! Há dois anos, um pedaço de tijolo roçou por meus ombros. Faz um ano que uma pedra me feriu entre os olhos. No mês passado recebi uma pancada, e nesta noite duas, uma antes que chegássemos à cidade, e outra depois que saímos; mas ambas não foram nada: pois conquanto um dos homens me batesse no peito com toda a força, e outro na boca com força tal que o sangue jorrou imediatamente, não senti de qualquer das pancadas dor maior do que se me houvessem tocado com uma palha." -- Obras de Wesley. GC 259 2 Os metodistas daqueles primitivos dias -- tanto o povo como os pregadores -- suportavam ridículo e perseguição, não só dos membros da igreja mas também dos declaradamente irreligiosos que se inflamavam pelas falsas informações daqueles. Eram citados perante os tribunais de justiça -- tribunais que o eram apenas de nome, pois a justiça era rara nas cortes daquele tempo. Freqüentemente sofriam violência por parte dos perseguidores. Multidões de populares iam de casa em casa destruindo móveis e bens, saqueando o que quer que desejassem, e brutalmente desacatando homens, mulheres e crianças. Nalguns casos eram afixados avisos públicos convocando os que desejavam ajudar a quebrar as janelas e saquear as casas metodistas, a se reunirem em um dado tempo e lugar. Estas flagrantes violações, tanto da lei humana como da divina, eram deixadas impunes. Promovia-se perseguição sistemática contra um povo cuja única falta era a de procurar desviar os pés dos pecadores, do caminho da destruição para a senda da santidade. GC 259 3 Disse João Wesley, referindo-se às acusações feitas contra ele e seus companheiros: "Alguns alegam que as doutrinas destes homens são falsas, errôneas e fanáticas; que são novas e delas não se ouviu senão ultimamente; que são quaquerismo, fanatismo e romanismo. Toda essa alegação já foi desfeita pela base, tendo sido amplamente demonstrado que todos os pontos dessa doutrina são a clara doutrina das Escrituras, interpretada por nossa própria igreja. Portanto, não pode ser nem falsa nem errônea, uma vez que sejam verdadeiras as Escrituras." "Outros alegam: 'Sua doutrina é muito estrita; elas tornam o caminho do Céu muito estreito.' E esta é na verdade a objeção original (visto que foi quase a única durante algum tempo), e está secretamente contida em outras mil, que aparecem sob várias formas. Mas tornam eles o caminho do Céu de alguma maneira mais apertado do que nosso Senhor e Seus apóstolos o fizeram? É a sua doutrina mais estrita do que a da Bíblia? Considerai tão-somente alguns textos claros: 'Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento!' 'De toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo.' 'Quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.' GC 260 1 "Se sua doutrina é mais estrita do que isto, são merecedores da censura; mas sabeis em vossa consciência que não o é. E quem poderá ser um til menos estrito, sem corromper a Palavra de Deus? Poderá qualquer despenseiro dos mistérios de Deus ser contado como fiel, se muda qualquer parte de tão sagrado depósito? Não, não pode diminuir coisa alguma, nada pode abrandar; é constrangido a declarar a todos os homens: 'Não posso rebaixar as Escrituras ao vosso gosto. Deveis elevar-vos até elas, ou perecer para sempre.' Este é o fundamento verdadeiro do outro clamor popular relativo à 'falta de caridade desses homens'. Sem caridade, são eles? Em que sentido? Não alimentam o faminto, nem vestem o nu? 'Não, não é esse o caso: não estão em falta nisto. Mas são tão sem caridade no julgar! Acham que ninguém mais pode salvar-se além dos que seguem o caminho deles.'" -- Obras de Wesley. GC 260 2 O declínio espiritual ocorrido na Inglaterra precisamente antes do tempo de Wesley, foi em grande parte o resultado do ensino antinômico. Muitos afirmavam que Cristo abolira a lei moral, e que, portanto, os cristãos não estão na obrigação de a observar; que o crente está livre da "servidão das boas obras." Outros, admitindo embora a perpetuidade da lei, declaravam não ser ela necessária aos ministros a fim de exortarem o povo à obediência de seus preceitos, desde que aqueles a quem Deus elegera para a salvação "seriam, pelo impulso irresistível da graça divina, levados à prática da piedade e virtude", ao passo que os que estavam destinados à condenação eterna "não tinham força para obedecer à lei divina". GC 261 1 Outros, sustentando também que "os eleitos não podem cair da graça, nem privar-se do favor divino", chegavam à conclusão ainda mais horrível de que "as ações ímpias que cometem não são realmente pecaminosas, nem devem considerar-se como violação da lei divina por parte deles, e que em conseqüência não têm motivo quer para confessar os pecados, quer para com os mesmos romper pelo arrependimento." -- Enciclopédia de McClintok e Strong, artigo "Antinomias." Declaravam, portanto, que mesmo um dos mais vis pecados, "universalmente considerado como enorme violação da lei divina, não é pecado à vista de Deus", cometido por um dos eleitos, "porque é um dos característicos essenciais e distintivos dos eleitos o não poderem fazer coisa alguma que seja desagradável a Deus ou proibida pela lei". GC 261 2 Estas monstruosas doutrinas são essencialmente as mesmas que o ensino posterior dos educadores e teólogos populares, de que não há lei divina imutável como norma do que é reto, mas que o padrão da moralidade é indicado pela própria sociedade, e tem estado constantemente sujeito a mudança. Todas estas idéias são inspiradas pelo mesmo espírito superior, sim, por aquele que mesmo entre os habitantes celestiais, sem pecado, iniciou sua obra de procurar derruir as justas restrições da lei de Deus. GC 261 3 A doutrina dos decretos divinos, que inalteravelmente fixam o caráter dos homens, havia conduzido muitos à rejeição virtual da lei de Deus. Wesley perseverantemente se opôs aos erros dos ensinadores antinomistas, demonstrando que esta doutrina que levava ao antinomismo é contrária às Escrituras. "A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens." "Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, o qual Se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos." Tito 2:11; 1 Timóteo 2:3-6. O Espírito de Deus é concedido livremente, para habilitar todos os homens a apoderar-se dos meios de salvação. Assim Cristo, "a verdadeira Luz", "ilumina a todo o homem que vem ao mundo." João 1:9. Os homens não conseguem a salvação, pela recusa voluntária da luz da vida. GC 262 1 Em resposta à alegação de que pela morte de Cristo foram abolidos os preceitos do decálogo, juntamente com a lei cerimonial, disse Wesley: "A lei moral, contida nos Dez Mandamentos e encarecida pelos profetas, Cristo não a anulou. Não era desígnio de Sua vinda revogar qualquer parte da mesma. Ela é uma lei que jamais poderá ser destruída, que 'permanece firme como a fiel testemunha no Céu'. ... Existiu desde o princípio do mundo, sendo 'escrita não em tábuas de pedra mas no coração de todos os filhos dos homens, quando saíram das mãos do Criador. E conquanto as letras que uma vez foram escritas pelo dedo de Deus ora estejam em grande parte apagadas pelo pecado, não podem elas contudo ser totalmente obliteradas, enquanto tivermos qualquer consciência do bem e do mal. Todos os requisitos desta lei devem continuar vigorando para toda a humanidade, e em todos os tempos, não dependendo isto do tempo ou do lugar, nem de qualquer outra circunstância sujeita a mudança, mas da natureza de Deus e da natureza do homem, e da imutável relação existente entre um e outro. GC 262 2 "'Não vim para destruir, mas cumprir.' ... Inquestionavelmente, o que Ele quer dizer neste passo, em conformidade com tudo que precede e segue, é: Vim para estabelecê-la em sua plenitude, a despeito de todas as interpretações dos homens; vim para colocar em uma perspectiva ampla e clara o que quer que nela fosse obscuro; vim para declarar a significação verdadeira e completa de cada parte da lei; para mostrar o comprimento e largura, a extensão total, de cada mandamento nela contido, e a altura e profundidade, a inconcebível pureza e espiritualidade dela, em todas as suas partes." -- Obras de Wesley. GC 263 1 Wesley advogou a harmonia perfeita da lei e do evangelho. "Há, portanto, a mais íntima ligação que se pode conceber, entre a lei e o evangelho. Por um lado a lei continuamente nos abre o caminho para o evangelho, e no-lo aponta; por outro, o evangelho nos conduz ao cumprimento mais exato da lei. A lei, por exemplo, exige de nós amar a Deus e ao próximo, sermos mansos, humildes e santos. Sentimos não ser capazes destas coisas; sim, 'isto para o homem é impossível'; mas vemos uma promessa de que Deus nos concederá esse amor, e nos fará humildes, mansos e santos; lançamos mão deste evangelho, destas alegres novas; é-nos feito segundo a nossa fé; e 'a justiça da lei se cumpre em nós', pela fé em Cristo Jesus. ... GC 263 2 "Entre os mais acérrimos inimigos do evangelho de Cristo", disse Wesley, "estão os que aberta e explicitamente 'julgam a lei', 'falam mal da lei'; ensinam os homens a destruir (anular, afrouxar, desfazer a obrigação de observância), não apenas um dos menores ou dos maiores mandamentos, mas todos eles, de uma vez. ... A mais surpreendente de todas as circunstâncias que acompanham este grande engano, é que os que a ele se entregam crêem que realmente honram a Cristo subvertendo Sua lei, e que estão a engrandecer-Lhe o caráter quando se encontram a destruir Sua doutrina! Sim, honram-nO, exatamente como fez Judas, quando disse: 'Eu Te saúdo, Mestre, e O beijou.' E Ele pode de maneira igualmente justa dizer a cada um deles: 'Trais o Filho do homem com um beijo?' Não é outra coisa senão traí-Lo com um beijo, falar de Seu sangue e arrancar-Lhe a coroa, considerando levianamente qualquer parte de Sua lei, sob o pretexto de fazer avançar Seu evangelho. Nem em verdade poderá escapar desta acusação alguém que pregue a fé de qualquer maneira que, direta ou indiretamente, tenda a pôr de parte qualquer ponto de obediência; que pregue a Cristo de modo a, de qualquer forma, anular ou enfraquecer o menor dos mandamentos de Deus." -- Obras de Wesley. GC 264 1 Aos que insistiam em que "a pregação do evangelho responde a todos os fins da lei", Wesley replicava: "Isto negamos expressamente. Não corresponde ao primeiro objetivo da própria lei, a saber: convencer os homens do pecado, despertar aos que ainda dormem às bordas do inferno." O apóstolo Paulo declara que "pela lei vem o conhecimento do pecado"; "e antes que o homem esteja convicto do pecado, não sentirá verdadeiramente a necessidade do sangue expiatório de Cristo. ... 'Não necessitam de médico os que estão sãos', como nosso Senhor mesmo observa, 'mas, sim, os que estão enfermos'. É absurdo, portanto, oferecer médico aos que estão sãos, ou que ao menos se imaginam assim. Deveis primeiramente convencê-los de que estão doentes; de outra maneira não vos agradecerão o trabalho. É igualmente absurdo oferecer Cristo àqueles cujo coração está são, não tendo ainda sido quebrantado." -- Obras de Wesley. GC 264 2 Assim, enquanto pregava o evangelho da graça de Deus, Wesley, a exemplo de seu Mestre, procurava engrandecer a lei e torná-la gloriosa. Fielmente cumpriu a obra que Deus lhe confiara, e gloriosos foram os resultados que lhe foi permitido contemplar. No final de sua longa vida de mais de oitenta anos -- havendo sido mais de meio século empregado no ministério itinerante -- seus adeptos declarados eram em número de mais de meio milhão de almas. Mas a multidão que mediante seus labores foi erguida da ruína e degradação do pecado, para vida mais elevada e pura, e o número dos que pelo seu ensino alcançaram experiência mais profunda e mais rica, nunca se conhecerão antes que a família toda dos resgatados seja reunida no reino de Deus. A vida de Wesley apresenta a todo cristão uma lição de inapreciável valor. Oxalá a fé e a humildade, o incansável zelo, o espírito abnegado e a devoção deste servo de Cristo se reflitam nas igrejas de hoje!. ------------------------Capítulo 15 -- A Escritura Sagrada e a Revolução Francesa GC 265 1 No século XVI, a Reforma, apresentando ao povo uma Bíblia aberta, procurava admissão em todos os países da Europa. Algumas nações receberam-na com alegria, como um mensageiro do Céu. Em outras terras o papado conseguiu em grande parte impedir-lhe a entrada; e a luz do conhecimento da Escritura Sagrada, com sua enobrecedora influência, foi quase totalmente excluída. Em um país, posto que a luz encontrasse entrada, não foi compreendida por causa das muitas trevas. Durante séculos a verdade e o erro lutaram pelo predomínio. Finalmente o mal triunfou e a verdade divina foi rejeitada. "Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz." João 3:19. Permitiu-se que a nação colhesse os resultados da conduta que adotara. A restrição do Espírito de Deus foi removida de um povo que tinha desprezado o dom de Sua graça. Consentiu-se que o mal chegasse a amadurecer. E todo o mundo viu os frutos da rejeição voluntária da luz. GC 265 2 Esta guerra contra a Escritura Sagrada, prosseguida durante tantos séculos na França, culminou nas cenas da Revolução. Aquela terrível carnificina foi apenas o resultado legítimo da supressão da Escritura por parte de Roma. Apresentou ao mundo o mais flagrante exemplo da operação dos princípios papais -- exemplo dos resultados a que por mais de mil anos tendia o ensino da Igreja de Roma. GC 266 1 A supressão das Escrituras durante o período da supremacia papal, foi predita pelos profetas; e o Revelador (o apóstolo João) indica também os terríveis resultados que deveriam sobrevir especialmente à França pelo domínio do "homem do pecado". GC 266 2 Disse o anjo do Senhor: "Pisarão a santa cidade por quarenta e dois meses. E darei poder às Minhas duas Testemunhas, e profetizarão por mil, duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. ... E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará. E jazerão seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o seu Senhor também foi crucificado. ... E os que habitam na Terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a Terra. E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram." Apocalipse 11:2-11. GC 266 3 Os períodos aqui mencionados -- "quarenta e dois meses" e "mil, duzentos e sessenta dias" -- são o mesmo, representando igualmente o tempo em que a igreja de Cristo deveria sofrer opressão de Roma. Os 1.260 anos da supremacia papal começaram em 538 de nossa era e terminariam, portanto, em 1798. Nessa ocasião um exército francês entrou em Roma e tomou prisioneiro o papa, que morreu no exílio. Posto que logo depois fosse eleito novo papa, a hierarquia papal nunca pôde desde então exercer o poder que antes possuíra. GC 266 4 A perseguição da igreja não continuou durante o período todo dos 1.260 anos. Deus, em misericórdia para com Seu povo, abreviou o tempo de sua dolorosa prova. Predizendo a "grande tribulação" a sobrevir à igreja, disse o Salvador: "Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias." Mateus 24:22. Pela influência da Reforma, a perseguição veio a termo antes de 1798. GC 267 1 Relativamente às duas testemunhas, declara mais o profeta: "Estas são as duas oliveiras, e os dois castiçais que estão diante do Deus de toda a Terra." "Tua Palavra", diz o salmista, "é lâmpada para meus pés, e luz para o meu caminho." Apocalipse 11:4; Salmos 119:105. As duas testemunhas representam as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. Ambos são importantes testemunhas quanto à origem e perpetuidade da lei de Deus. Ambos são também testemunhas do plano da salvação. Os tipos, sacrifícios e profecias do Antigo Testamento apontam para um Salvador por vir. Os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento falam acerca de um Salvador que veio exatamente da maneira predita pelos tipos e profecias. GC 267 2 "Profetizarão por mil, duzentos e sessenta dias, vestidas de saco." Durante a maior parte deste período, as testemunhas de Deus permaneceram em estado de obscuridade. O poder papal procurava ocultar do povo a Palavra da verdade e colocar diante dele testemunhas falsas para contradizerem o testemunho daquela. Quando a Bíblia foi proscrita pela autoridade religiosa e secular; quando seu testemunho foi pervertido, fazendo homens e demônios todos os esforços para descobrir como desviar da mesma o espírito do povo; quando os que ousavam proclamar suas sagradas verdades eram perseguidos, traídos, torturados, sepultados nas celas das masmorras, martirizados por sua fé, ou obrigados a fugir para a fortaleza das montanhas e para as covas e cavernas da Terra -- então profetizavam as fiéis testemunhas vestidas de saco. Contudo, continuaram com seu testemunho por todo o período de 1.260 anos. Nos mais obscuros tempos houve fiéis que amavam a Palavra de Deus e eram ciosos de Sua honra. A esses fiéis servos foram dados sabedoria, autoridade e poder para anunciar Sua verdade durante aquele tempo todo. GC 268 1 "Se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca e devorará os seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto." Os homens não poderão impunemente espezinhar a Palavra de Deus. O sentido desta terrível declaração é apresentado no capítulo final do Apocalipse: "Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro." Apocalipse 11:5; 22:18, 19. GC 268 2 Estas são as advertências que Deus deu para guardar os homens de mudar de qualquer maneira o que revelou ou ordenou. Essas solenes declarações de castigo se aplicam a todos os que por sua influência levam os homens a considerar levianamente a lei de Deus. Deveriam fazer tremer aos que declaram ser coisa de pouca monta obedecer ou não à lei de Deus. Todos os que exaltem suas próprias opiniões acima da revelação divina, todos os que mudem o sentido claro das Escrituras para acomodá-lo à sua própria conveniência, ou pelo motivo de se conformar com o mundo, estão a trazer sobre si terrível responsabilidade. A Palavra escrita, a lei de Deus, aferirá o caráter de todo homem, e condenará a todos a quem esta infalível prova declarar em falta. GC 268 3 "Quando acabarem [estiverem acabando] seu testemunho." O período em que as duas testemunhas deveriam profetizar vestidas de saco, finalizou-se em 1798. Aproximando-se elas do termo de sua obra em obscuridade, deveria fazer guerra contra elas o poder representado pela "besta que sobe do abismo." Em muitas das nações da Europa os poderes que governaram na Igreja e no Estado foram durante séculos dirigidos por Satanás, por intermédio do papado. Aqui, porém, se faz referência a uma nova manifestação do poder satânico. GC 269 1 Fora a política de Roma, sob profissão de reverência para com a Bíblia, conservá-la encerrada numa língua desconhecida, ocultando-a do povo. Sob seu domínio as testemunhas profetizaram "vestidas de saco." Mas um outro poder -- a besta do abismo -- deveria surgir para fazer guerra aberta e declarada contra a Palavra de Deus. GC 269 2 A "grande cidade" em cujas ruas as testemunhas foram mortas, e onde seus corpos mortos jazeram, é "espiritualmente" o Egito. De todas as nações apresentadas na história bíblica, o Egito, de maneira mais ousada, negou a existência do Deus vivo e resistiu aos Seus preceitos. Nenhum monarca já se aventurou a rebelião mais aberta e arrogante contra a autoridade do Céu do que o fez o rei do Egito. Quando, em nome do Senhor, a mensagem lhe fora levada por Moisés, Faraó orgulhosamente, respondeu: "Quem é o Senhor cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel." Êxodo 5:2. Isto é ateísmo; e a nação representada pelo Egito daria expressão a uma negação idêntica às reivindicações do Deus vivo, e manifestaria idêntico espírito de incredulidade e desafio. A "grande cidade" é também comparada "espiritualmente" com Sodoma. A corrupção de Sodoma na violação da lei de Deus, manifestou-se especialmente na licenciosidade. E este pecado também deveria ser característico preeminente da nação que cumpriria as especificações deste texto. GC 269 3 Segundo as palavras do profeta, pois, um pouco antes do ano 1798, algum poder de origem e caráter satânico se levantaria para fazer guerra à Escritura Sagrada. E na terra em que o testemunho das duas testemunhas de Deus deveria assim ser silenciado, manifestar-se-ia o ateísmo de Faraó e a licenciosidade de Sodoma. GC 269 4 Esta profecia teve exatíssimo e preciso cumprimento na história da França. Durante a Revolução, em 1793, "o mundo pela primeira vez ouviu uma assembléia de homens, nascidos e educados na civilização, e assumindo o direito de governar uma das maiores nações européias, levantar a voz em coro para negar a mais solene verdade que a alma do homem recebe, e renunciar unanimemente à crença na Divindade e culto à mesma." -- Vida de Napoleão Bonaparte, de Sir Walter Scott. "A França é a única nação do mundo relativamente à qual se conserva registro autêntico de que, como nação, se levantou em aberta rebelião contra o Autor do Universo. Profusão de blasfemos, profusão de incrédulos, tem havido e ainda continua a haver, na Inglaterra, Alemanha, Espanha e em outras terras; mas a França fica à parte, na história universal, como o único Estado que, por decreto da Assembléia Legislativa, declarou não haver Deus, e em cuja capital a população inteira, e vasta maioria em toda parte, mulheres assim como homens, dançaram e cantaram com alegria ao ouvirem a declaração." -- Blackwood's Magazine, de novembro de 1870. GC 270 1 A França também apresentou as características que mais distinguiram Sodoma. Durante o período revolucionário mostrou-se um estado de rebaixamento moral e corrupção semelhante ao que trouxera destruição às cidades da planície. E o historiador apresenta juntamente o ateísmo e a licenciosidade da França, conforme os dá a profecia: "Ligada intimamente a estas leis que afetam a religião, estava a que reduzia a união pelo casamento -- o mais sagrado ajuste que seres humanos podem formar, cuja indissolubilidade contribui da maneira mais eficaz para a consolidação da sociedade -- à condição de mero contrato civil de caráter transitório, em que quaisquer duas pessoas poderiam empenhar-se e que, à vontade, poderiam desfazer. ... Se os demônios se houvessem disposto a trabalhar para descobrir o modo mais eficaz de destruir o que quer que seja venerável, belo ou perdurável na vida doméstica, e de obter ao mesmo tempo certeza de que o mal que era seu objetivo criar se perpetuaria de uma geração a outra, não poderiam ter inventado plano mais eficiente do que a degradação do casamento. ... Sofia Arnoult, atriz famosa pelos ditos espirituosos que proferia, descreveu o casamento republicano como sendo 'o sacramento do adultério'." -- Scott. GC 271 1 "Onde o seu Senhor também foi crucificado." Esta especificação da profecia também foi cumprida pela França. Em nenhum país fora o espírito de inimizade contra Cristo ostentado mais surpreendentemente. Em nenhum país encontrara a verdade mais atroz e cruel oposição. Na perseguição que a França infligiu aos que professavam o evangelho, crucificou a Cristo na pessoa de Seus discípulos. GC 271 2 Século após século o sangue dos santos fora derramado. Enquanto os valdenses, "pela palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo", depunham a vida nas montanhas do Piemonte, idêntico testemunho da verdade era dado por seus irmãos, os albigenses da França. Nos dias da Reforma seus discípulos foram mortos com horríveis torturas. Rei e nobres, senhoras de alto nascimento e delicadas moças, o orgulho e a nobreza da nação, haviam recreado os olhos com as agonias dos mártires de Jesus. Os bravos huguenotes, batendo-se pelos direitos que o coração humano preza como os mais sagrados, tinham derramado seu sangue em muitos campos de rudes combates. Os protestantes eram tidos na conta de proscritos, punha-se a preço a sua cabeça e eram perseguidos como animais selvagens. GC 271 3 A "igreja no deserto", os poucos descendentes dos antigos cristãos que ainda penavam na França no século XVIII, ocultando-se nas montanhas do sul, acariciavam ainda a fé de seus pais. Aventurando-se a reunir-se à noite ao lado das montanhas ou dos pantanais solitários, eram caçados por cavalarianos e arrastados para a escravidão nas galeras, por toda a vida. "Os mais puros, cultos e inteligentes dos franceses, foram acorrentados, em horríveis torturas, entre ladrões e assassinos." -- Wylie. Outros, tratados com mais misericórdia, eram fuzilados a sangue frio, caindo, indefesos e desamparados, de joelhos, em oração. Centenas de homens idosos, indefesas mulheres e inocentes crianças eram deixados mortos sobre a terra em seu lugar de reunião. Atravessando-se a encosta das montanhas ou a floresta, onde estavam acostumados a reunir-se, não era raro encontrarem-se "a cada passo corpos mortos, pontilhando a relva, e cadáveres a balançar suspensos das árvores." Seu território, devastado pela espada, pelo machado, pela fogueira, "converteu-se em vasto e triste deserto." "Estas atrocidades não eram ordenadas ... em qualquer época obscura, mas na era brilhante de Luís XIV. Cultivavam-se então as ciências, as letras floresciam, os teólogos da corte e da capital eram homens doutos e eloqüentes, aparentando perfeitamente as graças da humildade e caridade." -- Wylie. GC 272 1 O mais negro, porém, do negro catálogo de crimes, a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os hediondos séculos, foi o massacre de São Bartolomeu. O mundo ainda recorda com estremecimento de horror as cenas daquele assalto covardíssimo e cruel. O rei da França, com quem sacerdotes e prelados romanos insistiram, sancionou a hedionda obra. Um sino badalando à noite dobres fúnebres, foi o sinal para o morticínio. Milhares de protestantes que dormiam tranqüilamente em suas casas, confiando na honra empenhada de seu rei, eram arrastados para fora sem aviso prévio e assassinados a sangue frio. GC 272 2 Como Cristo fora o chefe invisível de Seu povo ao ser tirado do cativeiro egípcio, assim foi Satanás o chefe invisível de seus súditos na horrível obra de multiplicar os mártires. Durante sete dias perdurou o massacre em Paris, sendo os primeiros três com inconcebível fúria. E não se limitou unicamente à cidade, mas por ordem especial do rei estendeu-se a todas as províncias e cidades onde se encontravam protestantes. Não se respeitava nem idade nem sexo. Não se poupava nem a inocente criancinha, nem o homem de cabelos brancos. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães e filhos, eram juntamente abatidos. Por toda a França a carnificina durou dois meses. Pereceram setenta mil da legítima flor da nação. GC 272 3 "Quando as notícias do massacre chegaram a Roma, a exultação entre o clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos tangeram em todos os campanários; fogueiras festivas tornaram a noite em dia; e Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi, em longa procissão, à igreja de São Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. ... Uma medalha foi cunhada para comemorar o massacre, e no Vaticano ainda se podem ver três quadros de Vasari descrevendo o ataque ao almirante, o rei em conselho urdindo a matança, e o próprio morticínio. Gregório enviou a Carlos a Rosa de Ouro; e quatro meses depois da carnificina, ... ouviu complacentemente ao sermão de um padre francês, ... que falou daquele 'dia tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia, e foi em aparato solene dar graças a Deus e a São Luís'." -- O Massacre de São Bartolomeu, de Henry White. GC 273 1 O mesmo espírito sobrenatural que instigou o massacre de São Bartolomeu, dirigiu também as cenas da Revolução. Foi declarado ser Jesus Cristo um impostor e o grito de zombaria dos incrédulos franceses era: "Esmagai o Miserável!" querendo dizer Cristo. Blasfêmia que desafiava o Céu e abominável impiedade iam de mãos dadas, e os mais vis dentre os homens, os mais execráveis monstros de crueldade e vício, eram elevados aos mais altos postos. Em tudo isto, prestava-se suprema homenagem a Satanás, enquanto Cristo, em Seus característicos de verdade, pureza e amor abnegado, era crucificado. GC 273 2 "A besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará." O poder ateísta que governou na França durante a Revolução e reinado do terror, desencadeou contra Deus e Sua santa Palavra uma guerra como jamais o testemunhara o mundo. O culto à Divindade fora abolido pela Assembléia Nacional. Bíblias eram recolhidas e publicamente queimadas com toda a manifestação de escárnio possível. A lei de Deus era calcada a pés. As instituições das Escrituras Sagradas, abolidas. O dia de repouso semanal foi posto de lado, e em seu lugar cada décimo dia era dedicado à orgia e blasfêmia. O batismo e a comunhão foram proibidos. E anúncios afixados visivelmente nos cemitérios, declaravam ser a morte um sono eterno. GC 274 1 Disseram estar o temor de Deus tão longe do princípio da sabedoria que era o princípio da loucura. Todo culto foi proibido, exceto o da liberdade e do país. O "bispo constitucional de Paris foi obrigado a desempenhar a parte principal na farsa mais impudente e escandalosa que já se levou à cena em face de uma representação nacional. ... Em plena procissão foi ele empurrado a fim de declarar à Convenção que a religião por ele ensinada durante tantos anos, era, em todo o sentido, uma peça de artimanha padresca, destituída de fundamento tanto na História como na verdade sagrada. Negou em termos solenes e explícitos a existência da Divindade a cujo culto fora consagrado, dedicando-se, para o futuro, à homenagem da liberdade, igualdade, virtude e moralidade. Depôs então sobre a mesa os paramentos episcopais, recebendo fraternal abraço do presidente da Convenção. Vários padres apóstatas seguiram o exemplo deste prelado." -- Scott. GC 274 2 "E os que habitam na Terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a Terra." A França incrédula fizera silenciar a voz reprovadora das duas testemunhas de Deus. A Palavra da verdade jazeu morta em suas ruas, e os que odiavam as restrições e exigências da lei de Deus estavam jubilosos. Os homens publicamente desafiavam o rei dos Céus. Semelhantes aos pecadores da antiguidade, clamavam: "Como o sabe Deus? ou há conhecimentos no Altíssimo?" Salmos 73:11. GC 274 3 Com blasfema ousadia, que se diria incrível, disse um dos padres da nova ordem: "Deus, se existis, vingai Vosso nome injuriado. Eu Vos desafio! Conservais-Vos em silêncio; não ousais fazer uso de Vossos trovões. Quem depois disso crerá em Vossa existência?" -- História, de Lacretelle, e História da Europa, de Alison. Que eco fiel é isto, da pergunta de Faraó: "Quem é o Senhor para que eu obedeça a Sua voz?" "Não conheço o Senhor!" GC 275 1 "Disse o néscio em seu coração: Não há Deus." Salmos 14:1. E declara o Senhor relativamente aos que pervertem a verdade: "A todos será manifesto o seu desvario." 2 Timóteo 3:9. Depois que a França renunciou ao culto do Deus vivo, "o Alto e o Sublime que habita na eternidade", pouco tempo se passou até descer ela à idolatria degradante, pelo culto da deusa da Razão, na pessoa de uma mulher dissoluta. E isto na assembléia representativa da nação, e pelas suas mais altas autoridades civis e legislativas! Diz o historiador: "Uma das cerimônias deste tempo de loucuras permanece sem rival pelo absurdo combinado com a impiedade. As portas da convenção foram abertas de par em par a uma banda de música, seguida dos membros da corporação municipal, que entraram em solene procissão, cantando um hino de louvor à liberdade e escoltando, como o objeto de seu futuro culto, uma mulher coberta com um véu, a quem denominavam a deusa da Razão. Levada à tribuna, tirou-se-lhe o véu com grande pompa, e foi colocada à direita do presidente, sendo por todos reconhecida como dançarina de ópera. ... A essa pessoa, como mais apropriada representante da razão a que adoravam, a Convenção Nacional da França prestou homenagem pública. GC 275 2 "Essa momice, ímpia e ridícula, entrou em voga; e o instituir a deusa da Razão foi repetido e imitado, por todo o país, nos lugares em que os habitantes desejavam mostrar-se à altura da Revolução." -- Scott. GC 275 3 Disse o orador que apresentou o culto da Razão: "Legisladores! O fanatismo foi substituído pela razão. Seus turvos olhos não poderiam suportar o brilho da luz. Neste dia, imenso público se congregou sob aquelas abóbadas góticas que, pela primeira vez, fizeram ecoar a verdade. Ali, os franceses celebraram o único culto verdadeiro -- o da Liberdade, o da Razão. Ali formulamos votos de prosperidade às armas da República. Ali abandonamos ídolos inanimados para seguir a Razão, esta imagem animada, a obra-prima da Natureza." -- História da Revolução Francesa, de Thiers, vol. 2, págs. 370 e 371. GC 276 1 Ao ser a deusa apresentada à Convenção, o orador tomou-a pela mão e, voltando-se à assembléia, disse: "Mortais, cessai de tremer perante os trovões impotentes de um Deus que vossos temores criaram. Não reconheçais, doravante, outra divindade senão a Razão. Ofereço-vos sua mais nobre e pura imagem; se haveis de ter ídolos, sacrificai apenas aos que sejam como este. ... Caí perante o augusto Senado da Liberdade, ó Véu da Razão! ... GC 276 2 "A deusa, depois de ser abraçada pelo presidente, foi elevada a um carro suntuoso e conduzida, por entre vasta multidão, à catedral de Notre Dame para tomar o lugar da Divindade. Ali foi ela erguida ao altar-mor e recebeu a adoração de todos os presentes." -- Alison. GC 276 3 Não muito depois, seguiu-se a queima pública da Escritura Sagrada. Em uma ocasião, "a Sociedade Popular do Museu" entrou no salão da municipalidade, exclamando: "Vive La Raison!" e carregando na extremidade de um mastro os restos meio queimados de vários livros, entre os quais breviários, missais, e o Antigo e Novo Testamentos, livros que "expiavam em grande fogo", disse o presidente, "todas as loucuras que tinham feito a raça humana cometer." -- Journal de Paris, 14 de novembro de 1793 (nº 318). GC 276 4 Foi o papado que começara a obra que o ateísmo estava a completar: A política de Roma produzira aquelas condições sociais, políticas e religiosas, que estavam precipitando a França na ruína. Referindo-se aos horrores da Revolução, dizem escritores que esses excessos devem ser atribuídos ao trono e à igreja. Com estrita justiça devem ser atribuídos à igreja. O papado envenenara a mente dos reis contra a Reforma, como inimiga da coroa, elemento de discórdia que seria fatal à paz e harmonia da nação. Foi o gênio de Roma que por este meio inspirou a mais espantosa crueldade e mortificante opressão que procediam do trono. GC 277 1 O espírito de liberdade acompanhava a Bíblia. Onde quer que o evangelho era recebido, despertava-se o povo. Começavam os homens a romper as algemas que os haviam conservado escravos da ignorância, vício e superstição. Começavam a pensar e agir como homens. Os monarcas, ao verem isto, temeram pelo seu despotismo. GC 277 2 Roma não foi tardia em inflamar seus ciosos temores. Disse o papa ao regente da França em 1525: "Esta mania [o protestantismo], não somente confundirá e destruirá a religião, mas todos os principados, nobreza, leis, ordens e classes juntamente." -- História dos Protestantes da França, G. de Félice. Poucos anos mais tarde um núncio papal advertiu ao rei: "Majestade, não vos enganeis. Os protestantes subverterão toda a ordem civil e religiosa. ... O trono está em tão grande perigo como o altar. ... A introdução de uma nova religião deve necessariamente introduzir novo governo." -- História da Reforma no Tempo de Calvino, D'Aubigné. E os teólogos apelavam para os preconceitos do povo, declarando que a doutrina protestante "instiga os homens à novidade e loucura; despoja o rei da dedicada afeição de seus súditos e devasta tanto a Igreja como o Estado." Assim Roma conseguiu predispor a França contra a Reforma. "Foi para manter o trono, preservar os nobres e conservar as leis, que pela primeira vez se desembainhou na França a espada da perseguição." -- Wylie. GC 277 3 Mal imaginavam os governantes do país os resultados daquela política fatal. O ensino da Escritura Sagrada teria implantado no espírito e no coração do povo os princípios de justiça, temperança, verdade, eqüidade e benevolência, que são a própria pedra basilar da prosperidade da nação. "A justiça exalta as nações." Donde, "com justiça se estabelece o trono." Provérbios 14:34; 16:12. "O efeito da justiça será paz, e a operação da justiça repouso e segurança, para sempre." Isaías 32:17. O que obedece à lei divina é o que melhor respeitará e obedecerá às leis de seu país. O que teme a Deus honrará ao rei no exercício de toda a autoridade justa e legítima. Mas a desditosa França proibiu a Bíblia e condenou seus discípulos. Século após século, homens de princípios e integridade, homens de agudeza intelectual e força moral, que tinham coragem de confessar suas convicções e fé para sofrer pela verdade, sim, durante séculos esses homens labutaram como escravos nas galeras, pereceram na fogueira, ou apodreceram nas celas das masmorras. Milhares e milhares encontraram segurança na fuga; e isto continuou por duzentos e cinqüenta anos depois do início da Reforma. GC 278 1 "Quase não houve geração de franceses, durante esse longo período, que não testemunhasse os discípulos do evangelho fugindo diante da fúria insana do perseguidor, levando consigo a inteligência, as artes, a indústria, a ordem, nas quais, em regra, grandemente se distinguiam, para o enriquecimento das terras em que encontravam asilo. E à medida que enchiam outros países com esses valiosos dons, privavam deles o seu próprio país. Se tudo que então foi repelido se houvesse conservado na França; se, durante esses trezentos anos, a habilidade industrial dos exilados tivesse estado a cultivar seu solo; se durante esses trezentos anos, seu pendor artístico tivesse estado a aperfeiçoar suas indústrias; se durante esses três séculos, seu gênio inventivo e poder analítico tivessem estado a enriquecer sua literatura e a cultivar sua ciência; se a sabedoria deles estivesse a guiar seus conselhos, a bravura a pelejar em suas batalhas e a eqüidade a formular suas leis, e estivesse a religião da Bíblia a fortalecer o intelecto e a governar a consciência de seu povo, que glória não circundaria hoje a França! Que país grandioso, próspero e feliz -- modelo das nações não teria ela sido! GC 279 1 "Mas o fanatismo cego baniu de seu solo todo ensinador da virtude, todo campeão da ordem, todo defensor honesto do trono, dizendo aos homens que teriam dado ao país 'renome e glória' na Terra: Escolhei o que quereis: a fogueira ou o exílio. "Finalmente a ruína do Estado foi completa; não mais restavam consciências para serem proscritas; não mais religião para arrastar-se à fogueira; não mais patriotismo para ser desterrado." -- Wylie. E a Revolução, com todos os seus horrores, foi o tremendo resultado. GC 279 2 "Com a fuga dos huguenotes, um declínio geral baixou sobre a França. Florescentes cidades manufatureiras caíram em decadência; férteis distritos voltaram a sua natural rusticidade; embotamento intelectual e decadência moral sucederam-se a um período de desusado progresso. Paris tornou-se um vasto asilo de mendicidade, e calcula-se que, ao romper a Revolução, duzentos mil pobres reclamavam caridade das mãos do rei. Somente os jesuítas floresciam na nação decadente, e governavam com terrível tirania sobre escolas e igrejas, prisões e galés." GC 279 3 O evangelho teria proporcionado à França a solução dos problemas políticos e sociais que frustravam a habilidade de seu clero, seu rei e seus legisladores, e que finalmente mergulharam a nação na anarquia e ruína. Sob o domínio de Roma, porém, o povo tinha perdido as benditas lições do Salvador acerca do sacrifício e amor abnegado. Tinham sido afastados da prática da abnegação em favor dos outros. Os ricos não haviam recebido repreensão alguma por sua opressão aos pobres; estes, nenhum auxílio pela sua servidão e degradação. O egoísmo dos abastados e poderosos se tornou mais é mais visível e opressivo. A cobiça e a dissolução dos nobres, durante séculos, tiveram como resultado a esmagadora extorsão para com os camponeses. Os ricos lesavam os pobres, e estes odiavam aqueles. GC 279 4 Em muitas províncias as propriedades eram conservadas pelos nobres, sendo as classes trabalhadoras apenas arrendatárias; achavam-se à mercê dos proprietários e obrigados a sujeitar-se às suas exigências escorchantes. O encargo de sustentar tanto a Igreja como o Estado recaía sobre as classes média e baixa, pesadamente oneradas pelas autoridades civis e pelo clero. "O capricho dos nobres arvorava-se em lei suprema; os lavradores e camponeses podiam perecer de fome sem que isso comovesse os opressores. ... O povo era obrigado a consultar sempre o interesse exclusivo do proprietário. A vida dos trabalhadores agrícolas era de labuta incessante e miséria sem alívio; suas queixas, se é que ousavam queixar-se, eram tratadas com insolente desprezo. Os tribunais de justiça ouviam sempre ao nobre de preferência ao camponês; os juízes aceitavam abertamente o suborno, e o mais simples capricho da aristocracia tinha força de lei, em virtude deste sistema de corrupção universal. Dos impostos extorquidos do povo comum, pelos magnatas seculares de um lado e pelo clero do outro, nem a metade sequer tinha acesso ao tesouro real ou episcopal; o resto era desbaratado em condescendências imorais. E os mesmos homens que assim empobreciam seus compatriotas, estavam isentos de impostos, e, pela lei e costumes, com direitos a todos os cargos do Estado. Os membros das classes privilegiadas orçavam por uns cento e cinqüenta mil, e para a satisfação delas, milhões estavam condenados a levar uma vida de degradação irremediável." GC 280 1 A corte achava-se entregue ao luxo e à libertinagem. Pouca confiança existia entre o povo e os governantes. Prendia-se a todos os atos do governo a suspeita de serem mal-interpretados e egoístas. Durante mais de meio século antes do tempo da Revolução, o trono foi ocupado por Luís XV que, mesmo naqueles maus tempos, se distinguiu como monarca indolente, frívolo e sensual. Com uma aristocracia depravada e cruel, uma classe inferior empobrecida e ignorante, achando-se o Estado em embaraços financeiros, e o povo exasperado, não se necessitava do olhar de profeta para prever uma iminente e terrível erupção. Às advertências de seus conselheiros estava o rei acostumado a responder: "Procurai fazer com que as coisas continuem tanto tempo quanto eu provavelmente possa viver; depois de minha morte, seja como for." Era em vão que se insistia sobre a necessidade de reforma. Ele via os males, mas não tinha nem a coragem nem a força para enfrentá-los. Sua resposta indolente e egoísta sintetizava, com verdade, a sorte que aguardava a França: "Depois de mim, o dilúvio!" GC 281 1 Valendo-se dos ciúmes dos reis e das classes governantes, Roma os influenciara a conservar o povo na escravidão, bem sabendo que o Estado assim se enfraqueceria, tendo por este meio o propósito de firmar em seu cativeiro tanto príncipes como o povo. Com política muito previdente, percebeu que, para escravizar os homens de modo eficaz, deveria algemar-lhes a alma; que a maneira mais certa de impedi-los de escapar de seu cativeiro era torná-los incapazes de libertar-se. Mil vezes mais terrível do que o sofrimento físico que resultava de sua política, era a degradação moral. Despojado da Escritura Sagrada, e abandonado ao ensino do fanatismo e egoísmo, o povo estava envolto em ignorância e superstição, submerso no vício, achando-se, assim, completamente inapto para o governo de si próprio. GC 281 2 Mas a conseqüência de tudo isto foi grandemente diversa do que Roma tivera em mira. Em vez de manter as massas populares em submissão cega aos seus dogmas, sua obra teve como resultado torná-las incrédulas e revolucionárias. Desprezavam o romanismo como uma artimanha do clero. Consideravam-no como um partido que as oprimia. O único deus que conheciam era o deus de Roma; seu ensino era a única religião que professavam. Consideravam sua avidez e crueldade como os legítimos frutos da Bíblia, da qual nada queriam saber. GC 281 3 Roma tinha representado falsamente o caráter de Deus e pervertido Seus mandamentos, e agora os homens rejeitavam tanto a Escritura Sagrada como seu Autor. Exigira fé cega nos seus dogmas, sob o pretenso apoio das Escrituras. Na reação, Voltaire e seus companheiros puseram inteiramente de lado a Palavra de Deus, disseminando por toda parte o veneno da incredulidade. Roma calcara o povo sob seu tacão de ferro; agora as massas, degradadas e embrutecidas, ao revoltarem-se contra a tirania, arrojaram de si toda a restrição. Enraivecidos com o disfarçado embuste a que durante tanto tempo haviam prestado homenagem, rejeitaram a um tempo a verdade e a falsidade; e erroneamente tomando a libertinagem pela liberdade, os escravos do vício exultaram em sua liberdade imaginária. GC 282 1 No início da Revolução foi, por concessão do rei, outorgada ao povo uma representação mais numerosa do que a dos nobres e do clero reunidos. Assim a balança do poder estava em suas mãos; mas não se achavam preparados para fazer uso deste poder com sabedoria e moderação. Ávidos de reparar os males que tinham sofrido, decidiram-se a empreender a reconstrução da sociedade. Uma turba ultrajada, cujo espírito estava de há muito repleto de dolorosas lembranças, resolveu sublevar-se contra aquele estado de miséria que se tornara insuportável, vingando-se dos que considerava como responsáveis por seus sofrimentos. Os oprimidos puseram em prática a lição que tinham aprendido sob a tirania, e tornaram-se os opressores dos que os haviam oprimido. GC 282 2 A desditosa França ceifou em sangue a colheita do que semeara. Terríveis foram os resultados de sua submissão ao poder subjugador de Roma. Onde a França, sob a influência do romanismo, acendera a primeira fogueira ao começar a Reforma, erigiu a Revolução a sua primeira guilhotina. No local em que os primeiros mártires da fé protestante foram queimados no século XVI, as primeiras vítimas foram guilhotinadas no século XVIII. Rejeitando o evangelho que lhe teria trazido cura, a França abrira a porta à incredulidade e ruína. Quando as restrições da lei de Deus foram postas de lado, verificou-se que as leis dos homens eram impotentes para sustar a avassalante onda da paixão humana; e a nação descambou para a revolta e anarquia. A guerra contra a Bíblia inaugurou uma era que se conserva na História Universal como "o reinado do terror." A paz e a felicidade foram banidas dos lares e do coração dos homens. Ninguém se achava seguro. O que hoje triunfava era alvo de suspeitas e condenado amanhã. A violência e a cobiça exerciam incontestável domínio. GC 283 1 Rei, clero e nobreza foram obrigados a submeter-se às atrocidades do povo excitado e enlouquecido, cuja sede de vingança subiu de ponto com a execução do rei; e os que haviam decretado sua morte logo o seguiram no cadafalso. Foi ordenado um morticínio geral de todos os que eram suspeitos de hostilizar a Revolução. As prisões estavam repletas, contendo em certa ocasião mais de duzentos mil prisioneiros. Multiplicavam-se nas cidades do reino as cenas de horror. Um partido dos revolucionários era contra outro, e a França tornou-se um vasto campo de massas contendoras, dominadas pela fúria das paixões. "Em Paris, tumulto sucedia a tumulto, e os cidadãos estavam divididos numa mistura de facções, que não pareciam visar coisa alguma a não ser a exterminação mútua." E para aumentar a miséria geral, a nação envolveu-se em prolongada e devastadora guerra com as grandes potências da Europa. "O país estava quase falido, o exército a clamar pelos pagamentos em atraso, os parisienses passando fome, as províncias assoladas pelos ladrões, e a civilização quase extinta em anarquia e licenciosidade." GC 283 2 Muito bem havia o povo aprendido as lições de crueldade e tortura que Roma tão diligentemente ensinara. Chegara finalmente o dia da retribuição. Não eram mais os discípulos de Jesus que se arrojavam nas masmorras e arrastavam à tortura. Havia muito tempo que esses tinham perecido, ou sido expulsos para o exílio. Roma, sentia agora o poder mortífero daqueles a quem havia ensinado a deleitar-se nas práticas sanguinárias. "O exemplo de perseguição que o clero da França por tantos séculos dera abertamente, achava-se agora revertido contra ele mesmo com assinalado vigor. Os cadafalsos estavam tintos do sangue dos sacerdotes. As galés e prisões, que em outro tempo se povoaram de huguenotes, estavam agora repletas de seus perseguidores. Acorrentados ao banco ou labutando com os remos, o clero católico romano experimentou todas as desgraças que sua igreja tão livremente infligira aos benignos hereges." GC 284 1 "Vieram então os dias em que o mais bárbaro dos códigos foi posto em vigor pelo mais bárbaro dos tribunais; em que ninguém poderia saudar os vizinhos ou fazer orações ... sem perigo de cometer um crime capital; em que espias se emboscavam de todos os lados; em que todas as manhãs a guilhotina funcionava em trabalho rápido e prolongado; em que as cadeias estavam tão cheias como um porão de navio de escravos; em que, nas sarjetas, o sangue corria espumante para o Sena. ... Enquanto diariamente carradas de vítimas eram levadas ao seu destino através das ruas de Paris, os procônsules, a quem a comissão soberana enviara aos departamentos, recreavam-se extravagantemente com crueldade desconhecida mesmo na capital. O cutelo da máquina mortífera levantava-se demasiado vagarosamente para a obra de morticínio. Longas fileiras de prisioneiros eram ceifadas a metralha. Faziam-se rombos no fundo dos barcos repletos. Lyon se tornou um deserto. Em Arras, mesmo a cruel misericórdia de uma morte rápida era negada aos prisioneiros. Por toda a extensão do Loire de Saumur até à desembocadura no oceano, grandes bandos de corvos e milhanos banqueteavam-se nos cadáveres nus, juntamente irmanados em hediondos abraços. Não se mostrava misericórdia a sexo ou idade. O número de moços e moças de dezessete anos que foram assassinados por aquele governo execrável, deve ser computado às centenas. Criancinhas arrancadas dos seios eram arrojadas, de chuço em chuço, ao longo das fileiras jacobinas." GC 284 2 No curto espaço de dez anos, pereceram multidões de criaturas humanas. GC 284 3 Tudo isto foi como Satanás queria. Durante séculos se empenhara por consegui-lo. Sua política é o engano desde o princípio até ao fim, e seu propósito fixo é acarretar a desgraça e a miséria aos homens, desfigurar e aviltar a obra de Deus, desvirtuar os propósitos divinos de benevolência e amor, ocasionando assim o pesar no Céu. Então, por suas artes ilusórias, cega o espírito dos homens, induzindo-os a responsabilizar a Deus pelos males de sua obra, como se toda essa miséria fosse resultado do plano do Criador. De igual modo, quando os que foram degradados e embrutecidos pelo seu poder cruel alcançam a liberdade, ele os compele a excessos e atrocidades. Então este quadro de desenfreada licenciosidade é apontado pelos tiranos e opressores como ilustração dos resultados da liberdade. GC 285 1 Quando é descoberto o erro sob um aspecto, Satanás apenas o mascara sob disfarce diverso, e as multidões o recebem tão avidamente como a princípio. Quando o povo descobriu ser o romanismo um engano, e Satanás não pôde por este agente levá-lo à transgressão da lei de Deus, compeliu-o a considerar todas as religiões como fraude e a Escritura Sagrada como fábula; e, pondo de lado os estatutos divinos, entregaram-se a desenfreada iniqüidade. GC 285 2 O erro fatal que trouxe semelhante desgraça aos habitantes da França, foi a ignorância desta única e grande verdade: que a genuína liberdade reside dentro das prescrições da lei de Deus. "Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! Então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar." "Os ímpios não têm paz, disse o Senhor." "Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente, e estará descansado do temor do mal." Isaías 48:18, 22; Provérbios 1:33. GC 285 3 Ateus, incrédulos e apóstatas opunham-se à lei de Deus e acusavam-na; mas os resultados de sua influência provam que o bem-estar do homem se prende à obediência aos estatutos divinos. Os que não leram esta lição no Livro de Deus, são convidados a lê-la na história das nações. GC 285 4 Quando Satanás agiu mediante a igreja de Roma a fim de desviar os homens da obediência, fê-lo ocultamente e com disfarce tal, que a degradação e a miséria resultantes nem foram vistas como sendo o fruto da transgressão. E seu poder foi tão grandemente contrabalançado pela operação do Espírito de Deus, que seus propósitos não lograram alcançar completa realização. O povo não ligava o efeito à causa, nem descobria a fonte de suas misérias. Na Revolução, porém, a lei de Deus foi abertamente posta de lado pelo Conselho Nacional. E no reinado do terror que se seguiu, todos puderam ver a operação de causa e efeito. GC 286 1 Quando a França publicamente rejeitou a Deus e pôs de parte a Escritura Sagrada, os homens ímpios e os espíritos das trevas exultaram com a consecução do objetivo havia tanto acalentado -- um reino livre das restrições da lei de Deus. Porque a sentença contra uma obra má não fosse imediatamente executada, o coração dos filhos dos homens ficou "inteiramente disposto para praticar o mal." Eclesiastes 8:11. Mas da transgressão de uma lei justa e reta deve inevitavelmente resultar a miséria e ruína. Conquanto não fosse de pronto visitada com juízos, a impiedade dos homens estava, não obstante operando seguramente a sua condenação. Séculos de apostasia e crime tinham estado a acumular a ira para o dia da retribuição; e, quando se completou sua iniqüidade, os desprezadores de Deus aprenderam demasiado tarde que coisa terrível é haver esgotado a paciência divina. O moderador Espírito de Deus, que põe limite ao poder cruel de Satanás, foi removido em grande medida, permitindo-se que realizasse a sua vontade aquele cujo único deleite consiste na miséria humana. Os que haviam escolhido servir à rebelião, foram deixados a colher seus frutos, até que a Terra se encheu de crimes demasiado horrendos para que a pena os descreva. Das províncias devastadas e cidades arruinadas ouviu-se um grito terrível -- grito de amargurada angústia. A França foi abalada como se fosse por um terremoto. Religião, leis, ordem social, família, Estado, Igreja, tudo foi derribado pela mão ímpia que se insurgira contra a lei de Deus. Com verdade disse o sábio: "O ímpio cairá pela sua própria impiedade." "Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temerem diante dEle. Mas ao ímpio não irá bem." Eclesiastes 8:12, 13. "Aborreceram o conhecimento; e não preferiram o temor do Senhor"; "portanto, comerão, do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos." Provérbios 1:29, 31. GC 287 1 As fiéis testemunhas de Deus, mortas pelo poder blasfemo que subiu "do abismo", não deveriam por muito tempo ficar em silêncio. "Depois daqueles três dias e meio, o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram." Apocalipse 11:11. Foi em 1793 que os decretos que aboliam a religião cristã e punham de parte a Escritura Sagrada, passaram na Assembléia francesa. Três anos e meio mais tarde foi adotada pelo mesmo corpo legislativo uma resolução que anulava esses decretos, concedendo assim tolerância às Escrituras. O mundo ficou estupefato ante a enormidade dos crimes que tinham resultado da rejeição das Escrituras Sagradas, e os homens reconheceram a necessidade da fé em Deus e em Sua Palavra como fundamento da virtude e moralidade. Diz o Senhor: "A quem afrontaste e de quem blasfemaste? E contra quem alçaste a voz, e ergueste os teus olhos ao alto? Contra o Santo de Israel." Isaías 37:23. "Portanto, eis que lhes farei conhecer, desta vez lhes farei conhecer a Minha mão e o Meu poder; e saberão que o Meu nome é o Senhor." Jeremias 16:21. GC 287 2 Relativamente às duas testemunhas, declara o profeta ainda: "E ouviram uma grande voz do Céu, que lhes dizia: Subi cá. E subiram ao Céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram." Apocalipse 11:12. Desde que a França fez guerra às duas testemunhas de Deus, elas têm sido honradas como nunca dantes. Em 1804 foi organizada a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Seguiram-se-lhe organizações semelhantes com numerosas filiais no continente europeu. Em 1816 fundou-se a Sociedade Bíblica Americana. Quando se formou a Sociedade Britânica, a Bíblia havia sido impressa e circulara em cinqüenta línguas. Desde então foi traduzida em mais de duas mil línguas e dialetos. GC 287 3 Durante os cinqüenta anos anteriores a 1792, pouca atenção se dera à obra das missões estrangeiras. Nenhuma nova sociedade se formou, e não havia senão poucas igrejas que faziam algum esforço para a propagação do cristianismo nas terras gentílicas. Mas pelo fim do século XVIII, grande mudança ocorreu. Os homens se tornaram descontentes com os resultados do racionalismo e compenetraram-se da necessidade da revelação divina e da religião experimental. Desde esse tempo a obra das missões estrangeiras tem atingido crescimento sem precedentes. GC 288 1 Os aperfeiçoamentos da imprensa deram impulso à obra da circulação da Escritura Sagrada. As ampliadas facilidades de comunicação entre os diferentes países, a ruína de antigas barreiras de preconceitos e exclusivismo nacional, e a perda do poder secular pelo pontífice de Roma, têm aberto o caminho para a entrada da Palavra de Deus. Há anos a Bíblia tem sido vendida sem restrições nas ruas de Roma, e atualmente está sendo levada a cada parte habitável do globo. GC 288 2 O incrédulo Voltaire jactanciosamente disse certa vez: "Estou cansado de ouvir dizer que doze homens estabeleceram a religião cristã. Eu provarei que basta um homem para suprimi-la." Faz mais de um século que morreu. Milhões têm aderido à guerra contra a Escritura Sagrada. Mas tão longe está de ser destruída que, onde havia cem no tempo de Voltaire, há hoje dez mil, ou antes, cem mil exemplares do Livro de Deus. Nas palavras de um primitivo reformador, relativas à igreja cristã, a "Bíblia é uma bigorna que tem gasto muitos martelos." Disse o Senhor: "Toda a ferramenta preparada contra ti, não prosperará; e toda a língua que se levantar contra ti em juízo, tu a condenarás." Isaías 54:17. GC 288 3 "A Palavra de nosso Deus subsiste eternamente." "Fiéis [são] todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre; são feitos em verdade e retidão." Salmos 111:7, 8. O que quer que seja edificado sobre a autoridade do homem será destruído; mas subsistirá eternamente o que se acha fundado sobre a rocha da imutável Palavra de Deus. ------------------------Capítulo 16 -- O mais sagrado direito do homem GC 289 1 Os reformadores ingleses, conquanto renunciassem às doutrinas do romanismo, retiveram muitas de suas formas. Assim, posto que rejeitados a autoridade e o credo de Roma, não poucos de seus costumes e cerimônias foram incorporados ao culto da Igreja Anglicana. Alegava-se que essas coisas não constituíam questões de consciência, e que, embora não ordenadas nas Escrituras, e conseguintemente não essenciais, não eram más em si mesmas, visto não serem proibidas. Sua observância tendia a diminuir o abismo que separava de Roma as igrejas reformadas, e insistia-se que promoveriam a aceitação da fé protestante pelos romanistas. GC 289 2 Aos conservadores e condescendentes, pareciam decisivos estes argumentos. Havia, porém, outra classe que assim não pensava. O fato de que esses costumes "tendiam a lançar uma ponte sobre o abismo entre Roma e a Reforma" (Martyn), era em sua opinião um argumento conclusivo contra o retê-los. Olhavam para eles como distintivos da escravidão de que haviam sido libertados, e para a qual não se sentiam dispostos a voltar. Raciocinavam que Deus, em Sua Palavra, estabeleceu regras para ordenar o Seu culto, e que os homens não estão na liberdade de acrescentar a essas regras ou delas tirar qualquer coisa. O princípio mesmo da grande apostasia consistiu em procurar fazer da autoridade da igreja um suplemento da autoridade de Deus. Roma começou por ordenar o que Deus não tinha proibido, e acabou por proibir o que Ele havia explicitamente ordenado. GC 290 1 Muitos desejavam fervorosamente voltar à pureza e simplicidade que caracterizavam a igreja primitiva. Consideravam muitos dos costumes estabelecidos pela Igreja Anglicana como monumentos da idolatria, e não podiam conscienciosamente unir-se a seu culto. Mas a igreja, apoiada pela autoridade civil, não permitia opiniões contrárias às suas formas. A assistência aos seus cultos era exigida por lei, e proibiam-se as assembléias para culto que não tivessem autorização, sob pena de encarceramento, exílio e morte. GC 290 2 No início do século XVII, o monarca que acabara de subir ao trono da Inglaterra declarou sua decisão de fazer com que os puritanos "se conformassem ou ... oprimi-los-ia para saírem do país, ou faria coisa pior." -- História dos Estados Unidos da América, George Bancroft. Perseguidos e aprisionados, não podiam divisar no futuro vislumbres de melhores dias, e muitos chegaram à convicção de que, para os que quisessem servir a Deus segundo os ditames de sua consciência, "a Inglaterra estava deixando de ser para sempre um lugar habitável." -- História da Nova Inglaterra, J. G. Palfrey. Alguns resolveram, por fim, buscar refúgio na Holanda. Encararam dificuldades, prejuízos e prisão. Seus intuitos foram contrariados, e eles entregues às mãos de seus inimigos. Mas a inabalável perseverança venceu finalmente, e encontraram abrigo nas praias amigas da república holandesa. GC 290 3 Em sua fuga deixaram casas, bens e meios de vida. Eram estrangeiros em terra estranha, entre um povo de língua e costumes diferentes. Foram obrigados a recorrer a ocupações novas e a que não estavam afeitos, a fim de ganhar o pão. Homens de meia-idade, que haviam despendido a vida no cultivo do solo, tiveram agora de aprender ofícios mecânicos. Animadamente, porém, enfrentaram a situação, e não perderam tempo em ociosidade ou murmurações. Posto que muitas vezes premidos pela pobreza, agradeciam a Deus as bênçãos que ainda lhes eram concedidas, e encontravam alegria na tranqüila comunhão espiritual. "Sabiam que eram peregrinos, e não olhavam muito para essas coisas, mas levantavam os olhos ao Céu, seu mais caro país, e acalmavam o espírito." -- Bancroft. GC 291 1 Em meio de exílio e agruras, cresciam o amor e a fé. Confiavam nas promessas do Senhor, e Ele não faltava com elas no tempo de necessidade. Seus anjos estavam a seu lado, para animá-los e ampará-los. E, quando a mão de Deus pareceu apontar-lhes através do mar uma terra em que poderiam fundar para si um Estado e deixar a seus filhos o precioso legado da liberdade religiosa, seguiram eles, sem se arrecear, pela senda da Providência. GC 291 2 Deus permitira que viessem provações a Seu povo a fim de prepará-lo para o cumprimento de Seu misericordioso propósito em relação a ele. A igreja sofrera humilhações, para que pudesse ser exaltada. Deus estava a ponto de ostentar o Seu poder em favor dela, para dar ao mundo outra prova de que não abandonará os que nEle confiam. Dispusera os acontecimentos de maneira a fazer com que a ira de Satanás e as tramas de homens maus promovessem a Sua glória e levassem Seu povo a um lugar de segurança. A perseguição e o exílio estavam abrindo o caminho para a liberdade. GC 291 3 Quando constrangidos pela primeira vez a separar-se da Igreja Anglicana, os puritanos se uniram em solene concerto, como o povo livre do Senhor, "para andarem juntos em todos os Seus caminhos, por eles conhecidos ou a serem conhecidos." -- Os Pais Peregrinos, J. Brown. Ali estava o verdadeiro espírito da Reforma, o princípio vital do protestantismo. Foi com este intuito que os peregrinos partiram da Holanda para buscar um lar no Novo Mundo. João Robinson, seu pastor, que providencialmente foi impedido de os acompanhar, em sua mensagem de despedida aos exilados, disse: GC 291 4 "Irmãos: Em breve havemos de separar-nos, e só o Senhor sabe se viverei para que de novo veja o vosso rosto. Mas, seja qual for a divina vontade, conjuro-vos perante Deus e Seus santos anjos que não me sigais além do que eu haja seguido a Cristo. Se Deus vos revelar algo mediante qualquer outro instrumento Seu, sede tão prontos para recebê-lo como sempre fostes para acolher qualquer verdade por intermédio de meu ministério; pois estou seguro de que o Senhor tem mais verdade e luz, a irradiar de Sua Palavra." -- Martyn. GC 292 1 "De minha parte, não posso deplorar suficientemente a condição das igrejas reformadas, que, em religião, chegaram a um período estacionário, e não irão agora mais longe do que os instrumentos de sua reforma. Os luteranos não poderão ser arrastados a ir além do que Lutero viu; ... e os calvinistas, vós os vedes, estacam onde foram deixados por aquele grande homem de Deus, que não vira contudo todas as coisas. Esta é uma calamidade muito para se lamentar; pois, embora fossem luzes a arder e brilhar em seu tempo, não penetraram em todo o conselho de Deus; mas, se vivessem hoje, estariam tão dispostos a receber mais luz como o estiveram para aceitar a que a princípio acolheram." -- História dos Puritanos, D. Neal. GC 292 2 "Lembrai-vos de vosso concerto com a igreja, no qual concordastes em andar em todos os caminhos do Senhor, já revelados ou por serem ainda revelados. Lembrai-vos de vossa promessa e concerto com Deus, e de uns com os outros, de aceitar qualquer luz e verdade que se vos fizesse conhecida pela Palavra escrita; mas, além disso, tende cuidado, eu vos rogo, com o que recebeis por verdade, e comparai-o, pesai-o com outros textos da verdade antes de o aceitar; pois não é possível que o mundo cristão, depois de haver por tanto tempo permanecido em tão densas trevas anticristãs, obtivesse de pronto um conhecimento perfeito em todas as coisas." -- Martyn. GC 292 3 Foi o desejo de liberdade de consciência que inspirou os peregrinos a enfrentar os perigos da longa jornada através do mar, a suportar as agruras e riscos das selvas e lançar, com a bênção de Deus, nas praias da América do Norte, o fundamento de uma poderosa nação. Entretanto, sinceros e tementes a Deus como eram, os peregrinos não compreendiam ainda o grande princípio da liberdade religiosa. A liberdade, por cuja obtenção tanto se haviam sacrificado, não estavam igualmente dispostos a conceder a outros. "Muito poucos, mesmo dentre os mais eminentes pensadores e moralistas do século XVII, tinham exata concepção do grandioso princípio -- emanado do Novo Testamento -- que reconhece a Deus como único juiz da fé humana." -- Martyn. GC 293 1 A doutrina de que Deus confiara à igreja o direito de reger a consciência e de definir e punir a heresia, é um dos erros papais mais profundamente arraigados. Conquanto os reformadores rejeitassem o credo de Roma, não estavam inteiramente livres de seu espírito de intolerância. As densas trevas em que, através dos longos séculos de domínio, havia o papado envolvido a cristandade inteira, não tinham sido mesmo então completamente dissipadas. Disse um dos principais ministros da colônia da Baía de Massachusetts: "Foi a tolerância que tornou o mundo anticristão; e a igreja nunca sofreu dano com a punição dos hereges." -- Martyn. Foi adotado pelos colonos o regulamento de que apenas membros da igreja poderiam ter voz ativa no governo civil. Formou-se uma espécie de Estado eclesiástico, exigindo-se de todo o povo que contribuísse para o sustento do clero, concedendo-se aos magistrados autorização para suprimir a heresia. Assim, o poder secular encontrava-se nas mãos da igreja. Não levou muito tempo para que estas medidas tivessem o resultado inevitável: a perseguição. GC 293 2 Onze anos depois do estabelecimento da primeira colônia, Roger Williams veio ao Novo Mundo. Semelhantemente aos primeiros peregrinos, viera para gozar de liberdade religiosa; mas, divergindo deles, viu (o que tão poucos em seu tempo já haviam visto) que esta liberdade é direito inalienável de todos, seja qual for o credo professado. E era ele fervoroso inquiridor da verdade, sustentando, juntamente com Robinson, ser impossível que toda a luz da Palavra de Deus já houvesse sido recebida. Williams "foi a primeira pessoa da cristandade moderna a estabelecer o governo civil sobre a doutrina da liberdade de consciência, da igualdade de opiniões perante a lei." Bancroft. Declarou ser o dever do magistrado restringir o crime, mas nunca dominar a consciência. "O público ou os magistrados podem decidir", disse, "o que é devido de homem para homem; mas, quando tentam prescrever os deveres do homem para com Deus, estão fora de seu lugar, e não poderá haver segurança; pois é claro que, se o magistrado tem esse poder, pode decretar um conjunto de opiniões ou crenças hoje e outro amanhã, como tem sido feito na Inglaterra por diferentes reis e rainhas, e por diferentes papas e concílios na Igreja Romana, de maneira que semelhante crença degeneraria em acervo de confusão." -- Martyn. GC 294 1 A assistência aos cultos da igreja oficial era exigida sob pena de multa ou prisão. "Williams reprovou a lei; o pior regulamento do Código inglês era o que tornava obrigatória a assistência à igreja da paróquia. Obrigar os homens a unirem-se aos de credo diferente, considerava ele como flagrante violação de seus direitos naturais; arrastar ao culto público os irreligiosos e os que não queriam, apenas se assemelhava a exigir a hipocrisia. ... 'Ninguém deveria ser obrigado a fazer culto', acrescentava ele, 'ou custear um culto, contra a sua vontade.' 'Pois quê?' exclamavam seus antagonistas, aterrados com os seus dogmas, 'não é o obreiro digno de seu salário?' 'Sim', replicou ele, 'dos que o assalariam.'" -- Bancroft. GC 294 2 Roger Williams era respeitado e amado como ministro fiel e homem de raros dons, de inflexível integridade e verdadeira benevolência; contudo, sua inabalável negação do direito dos magistrados civis à autoridade sobre a igreja, e sua petição de liberdade religiosa, não podiam ser toleradas. A aplicação desta nova doutrina, dizia-se insistentemente, "subverteria o fundamento do Estado e do governo do país." -- Bancroft. Foi sentenciado a ser banido das colônias, e finalmente, para evitar a prisão, obrigado a fugir para a floresta virgem, debaixo do frio e das tempestades do inverno. GC 294 3 "Durante catorze semanas", diz ele, "fui dolorosamente torturado pelas inclemências do tempo, sem saber o que era pão ou cama. Mas os corvos me alimentaram no deserto." E uma árvore oca muitas vezes lhe serviu de abrigo. -- Martyn. Assim continuou a penosa fuga através da neve e das florestas, até que encontrou refúgio numa tribo indígena, cuja confiança e afeição conquistara enquanto se esforçava por lhes ensinar as verdades do evangelho. GC 295 1 Tomando finalmente, depois de meses de sofrimentos e vagueações, rumo às praias da Baía de Narragansett, lançou ali os fundamentos do primeiro Estado dos tempos modernos que, no mais amplo sentido, reconheceu o direito da liberdade religiosa. GC 295 2 O princípio fundamental da colônia de Roger Williams era "que todo homem teria liberdade para adorar a Deus segundo os ditames de sua própria consciência." -- Martyn. Seu pequeno Estado -- Rhode Island -- tornou-se o refúgio dos oprimidos, e cresceu e prosperou até que seus princípios básicos -- a liberdade civil e religiosa -- se tornaram as pedras angulares da República Americana. GC 295 3 No grandioso e antigo documento que aqueles homens estabeleceram como a carta de seus direitos -- a Declaração de Independência -- afirmavam: "Consideramos como verdade evidente que todas as pessoas foram criadas iguais; que foram dotadas por seu Criador de certos direitos inalienáveis, encontrando-se entre estes a vida, a liberdade e a busca da felicidade." E a Constituição garante, nos termos mais explícitos, a inviolabilidade da consciência: "Nenhum requisito religioso jamais se exigirá como qualificação para qualquer cargo de confiança pública nos Estados Unidos." "O Congresso não fará nenhuma lei que estabeleça uma religião ou proíba seu livre exercício." GC 295 4 "Os elaboradores da Constituição reconheceram o eterno princípio de que a relação do homem para com o seu Deus está acima de legislação humana, e de que seus direitos de consciência são inalienáveis. Não foi necessário o raciocínio para estabelecer esta verdade; temos consciência dela em nosso próprio íntimo. É essa consciência que, em desafio às leis humanas, tem sustentado tantos mártires nas torturas e nas chamas. Sentiam que seu dever para com Deus era superior às ordenanças humanas, e que nenhum homem poderia exercer autoridade sobre sua consciência. É um princípio inato que nada pode desarraigar." -- Documentos do Congresso (Estados Unidos da América do Norte). GC 296 1 Espalhando-se pelos países da Europa a notícia de uma terra onde todo homem gozava o fruto de seu próprio trabalho, obedecendo às convicções de sua consciência, milhares se concentraram nas praias do Novo Mundo. Multiplicaram-se rapidamente as colônias. "Massachusetts, em virtude de lei especial, estendia cordiais boas-vindas e auxílio, à expensa pública, aos cristãos de qualquer nacionalidade que fugissem através do Atlântico 'para escaparem de guerras ou fome, ou da opressão de seus perseguidores'. Assim os fugitivos e opressos pela lei se faziam hóspedes da comunidade pública." -- Martyn. Vinte anos depois do primeiro embarque de Plymouth, outros tantos milhares de peregrinos se tinham estabelecido na Nova Inglaterra. GC 296 2 A fim de assegurarem o objetivo que procuravam, "contentavam-se com ganhar parca subsistência, por uma vida de frugalidade e labuta. Nada pediam do solo senão o razoável produto de seu próprio labor. Nenhuma visão dourada projetava falsa luz sobre seu caminho. ... Estavam contentes com o progresso vagaroso mas firme de sua política social. Suportavam pacientemente as privações do sertão, regando a árvore da liberdade com lágrimas e com o suor de seu rosto, até deitar ela profundas raízes na terra". GC 296 3 A Escritura Sagrada era tida como fundamento da fé, a fonte da sabedoria e a carta da liberdade. Seus princípios eram diligentemente ensinados no lar, na escola e na igreja, e seus frutos se faziam manifestos na economia, inteligência, pureza e temperança. Poderia alguém morar durante anos nas colônias dos puritanos, "e não ver um bêbado nem ouvir uma imprecação ou encontrar um mendigo." -- Bancroft. Estava demonstrado que os princípios da Bíblia constituem a mais segura salvaguarda da grandeza nacional. As fracas e isoladas colônias desenvolveram-se em confederação de poderosos Estados, e o mundo notava com admiração a paz e prosperidade de "uma igreja sem papa e um Estado sem rei". GC 296 4 Mas as praias da América do Norte atraíam um número de imigrantes sempre maior, em que atuavam motivos grandemente diversos dos que nortearam os primeiros peregrinos. Conquanto a fé e a pureza primitiva exercessem ampla e modeladora influência, veio a tornar-se cada vez menor ao aumentar o número dos que buscavam unicamente vantagens seculares. GC 297 1 O regulamento adotado pelos primeiros colonos, permitindo apenas a membros da igreja votar ou ocupar cargos no governo civil, teve os mais perniciosos resultados. Esta medida fora aceita como meio para preservar a pureza do Estado, mas resultou na corrupção da igreja. Estipulando-se o professar religião como condição para o sufrágio e para o exercício de cargos públicos, muitos, influenciados apenas por motivos de conveniência mundana, uniram-se à igreja sem mudança de coração. Assim as igrejas vieram a compor-se, em considerável proporção, de pessoas não convertidas; e mesmo no ministério havia os que não somente mantinham erros de doutrinas, mas que eram ignorantes acerca do poder renovador do Espírito Santo. Assim novamente se demonstraram os maus resultados, tantas vezes testemunhados na história da igreja, desde os dias de Constantino até ao presente, de procurar edificar a igreja com o auxílio do Estado, apelando para o poder temporal em apoio do evangelho dAquele que declarou: "Meu reino não é deste mundo." João 18:36. A união da Igreja com o Estado, não importa quão fraca possa ser, conquanto pareça levar o mundo mais perto da igreja, não leva, em realidade, senão a igreja mais perto do mundo. GC 297 2 O grande princípio tão nobremente advogado por Robinson e Rogério Williams, de que a verdade é progressiva, de que os cristãos devem estar prontos para aceitar toda a luz que resplandecer da santa Palavra de Deus, foi perdido de vista por seus descendentes. As igrejas protestantes da América do Norte, assim como as da Europa, tão altamente favorecidas pelo recebimento das bênçãos da Reforma, deixaram de prosseguir na senda que se haviam traçado. Posto que de tempos em tempos surgissem alguns homens fiéis, a fim de proclamar novas verdades e denunciar erros longamente acariciados, a maioria, como os judeus do tempo de Cristo ou os romanistas do tempo de Lutero, contentava-se em crer como creram seus pais, e viver como eles viveram. Portanto, a religião degenerou novamente em formalismo; e erros e superstições que, houvesse a igreja continuado a andar à luz da Palavra de Deus, teriam sido repudiados, foram acalentados e retidos. Destarte, o espírito que fora inspirado pela Reforma, foi gradualmente arrefecendo até haver quase tão grande necessidade de reforma nas igrejas protestantes como na igreja romana ao tempo de Lutero. Havia o mesmo mundanismo e apatia espiritual, idêntica reverência às opiniões de homens, e substituição dos ensinos da Palavra de Deus pelas teorias humanas. GC 298 1 A ampla circulação da Escritura Sagrada nos princípios do século XIX, e a grande luz assim derramada sobre o mundo, não foram seguidas de um correspondente progresso no conhecimento da verdade revelada e na piedade prática. Satanás não pôde, como nos séculos anteriores, privar o povo da Palavra de Deus; esta foi posta ao alcance de todos; com o intuito porém, de ainda cumprir seu objetivo, levou muitos a tê-la em pouca conta. Os homens negligenciavam pesquisar as Escrituras, e assim continuaram a aceitar falsas interpretações e acalentar doutrinas que não tinham fundamento na Bíblia. GC 298 2 Vendo o malogro de seus esforços em aniquilar a verdade pela perseguição, Satanás de novo recorreu ao plano de condescendência, que deu como resultado a grande apostasia e a formação da Igreja de Roma. Induziu os cristãos a se aliarem, não com os pagãos, mas com os que, por seu apego às coisas deste mundo, tinham demonstrado ser tão verdadeiramente idólatras como o eram os adoradores de imagens de escultura. E os resultados desta união não foram menos perniciosos então do que nos séculos anteriores; o orgulho e a extravagância eram incentivados sob o disfarce de religião, e as igrejas se tornaram corruptas. Satanás continuou a perverter as doutrinas da Escritura Sagrada, e tradições que deveriam fazer a ruína de milhões estavam a deitar profundas raízes. A igreja mantinha e defendia essas tradições, em vez de contender pela "fé que uma vez foi dada aos santos." Assim se degradaram os princípios por que os reformadores tanto haviam realizado e sofrido. ------------------------Capítulo 17 -- A esperança que infunde alegria GC 299 1 Uma das verdades mais solenes, e não obstante mais gloriosas, reveladas na Escritura Sagrada, é a da segunda vinda de Cristo, para completar a grande obra da redenção. Ao povo de Deus, por tanto tempo a peregrinar em sua jornada na "região e sombra da morte", é dada uma esperança preciosa e inspiradora de alegria, na promessa do aparecimento dAquele que é "a ressurreição e a vida", a fim de levar de novo ao lar Seus filhos exilados. A doutrina do segundo advento é, verdadeiramente, a nota tônica das Sagradas Escrituras. Desde o dia em que o primeiro par volveu os entristecidos passos para fora do Éden, os filhos da fé têm esperado a vinda do Prometido, para quebrar o poder do destruidor e de novo levá-los ao Paraíso perdido. Santos homens de outrora aguardavam o advento do Messias em glória, para a consumação de sua esperança. Enoque, apenas o sétimo na descendência dos que habitaram no Éden, e que na Terra durante três séculos andou com Deus, teve permissão para contemplar de muito longe a vinda do Libertador. "Eis que é vindo o Senhor", declarou ele, "com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos." Jud. 14 e 15. O patriarca Jó, na noite de sua aflição, exclamou com inabalável confiança: "Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra: ... ainda em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, O verão." Jó 19:25-27. GC 300 1 A vinda de Cristo, para inaugurar o reino de justiça, tem inspirado as mais sublimes e exaltadas declarações dos escritores sagrados. Os poetas e videntes da Bíblia dela trataram com palavras incendidas de fogo celestial. O salmista cantou do poder e majestade do Rei de Israel: "Desde Sião, a perfeição da formosura, resplandeceu Deus. Virá o nosso Deus, e não Se calará. ... Chamará os céus, do alto, e a Terra, para julgar o Seu povo." Salmos 50:2-4. "Alegrem-se os céus, e regozije-se a Terra: ... ante a face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a Terra: julgará o mundo com justiça, e os povos com a Sua verdade." Salmos 96:11-13. GC 300 2 Disse o profeta Isaías: "Despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos." "Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão." "Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Jeová as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a Terra; porque o Senhor o disse. E, naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos e nos alegraremos." Isaías 26:19; 25:8, 9. GC 300 3 E Habacuque, transportado em santa visão, contemplou Seu aparecimento. "Deus veio de Temã e o Santo do monte de Parã. A Sua glória cobriu os céus, e a Terra encheu-se de Seu louvor. E o Seu resplendor era como a luz." "Parou, e mediu a Terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados, os outeiros eternos se encurvaram; o andar eterno é Seu." "Andaste sobre Teus cavalos, e Teus carros de salvação." "Os montes Te viram, e tremeram: ... deu o abismo a sua voz, levantou as suas mãos ao alto. O Sol e a Lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das Tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da Tua lança." "Tu saíste para salvamento do teu povo, para salvamento do Teu Ungido." Habacuque 3:3-13. GC 301 1 Quando o Salvador estava prestes a separar-Se de Seus discípulos, confortou-os em sua tristeza com a segurança de que viria outra vez: "Não se turbe o vosso coração. ... Na casa de Meu Pai há muitas moradas. ... Vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo." João 14:1-3. "E quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono de Sua glória. E todas as nações serão reunidas diante dEle." Mateus 25:31, 32. GC 301 2 Os anjos que por momentos se detiveram no Monte das Oliveiras depois da ascensão de Cristo, repetiram aos discípulos a promessa de Sua volta: "Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos 1:11. E o apóstolo Paulo, falando pelo Espírito de inspiração, testificou: "O mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de Arcanjo, e com a trombeta de Deus." 1 Tessalonicenses 4:16. Diz o profeta de Patmos: "Eis que Ele vem com as nuvens, e todo o olho O verá." Apocalipse 1:7. GC 301 3 Em torno de Sua vinda agrupam-se as glórias daquela "restauração de tudo", de que "Deus falou pela boca de todos os Seus santos profetas desde o princípio." Atos 3:21. Quebrar-se-á então o prolongado domínio do mal; "os reinos do mundo" tornar-se-ão "de nosso Senhor e de Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre." Apocalipse 11:15. "A glória do Senhor se manifestará", e toda carne juntamente a verá. "O Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações." Ele será por "coroa gloriosa, e por grinalda formosa, para os restantes de Seu povo." Isaías 40:5; 61:11; 28:5. GC 302 1 É então que o pacífico e longamente almejado reino do Messias se estabelecerá sob todo o céu. "O Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará os seus desertos como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor." "A glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom." "Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem à tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: Meu deleite; e à tua terra: Beulá." "Como o noivo se alegra da noiva, assim Se alegrará de ti o teu Deus." Isaías 51:3; 35:2; 62:4, 5. GC 302 2 A vinda do Senhor tem sido em todos os séculos a esperança de Seus verdadeiros seguidores. A última promessa do Salvador no Monte das Oliveiras, de que Ele viria outra vez, iluminou o futuro a Seus discípulos, encheu-lhes o coração de alegria e esperança que as tristezas não poderiam apagar nem as provações empanar. Em meio de sofrimento e perseguição, "o aparecimento do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo" foi a "bem-aventurada esperança." Quando os cristãos tessalonicenses estavam cheios de pesar ao sepultarem os seus queridos, que haviam esperado viver para testemunharem a vinda de Jesus, Paulo, seu instrutor, apontou-lhes a ressurreição a ocorrer por ocasião do advento do Salvador. Então os mortos em Cristo ressurgiriam, e juntamente com os vivos seriam arrebatados para encontrar o Senhor nos ares. "E assim", disse ele, "estaremos sempre com o Senhor. Portanto consolai-vos uns aos outros com estas palavras." 1 Tessalonicenses 4:16-18. GC 302 3 Na rochosa ilha de Patmos o discípulo amado ouve a promessa: "Certamente cedo venho", e em sua anelante resposta sintetiza a prece da igreja em toda a sua peregrinação: "Amém. Ora vem, Senhor Jesus." Apocalipse 22:20. GC 302 4 Do calabouço, da tortura, da forca, onde santos e mártires testificaram da verdade, vem através dos séculos a voz de sua fé e esperança. Estando "certos da ressurreição pessoal de Cristo e, por conseguinte, de sua própria, por ocasião da vinda de Jesus", diz um desses cristãos, "desprezavam a morte, e verificava-se estarem acima dela." -- O Reino de Cristo Sobre a Terra, ou A Voz da Igreja em Todos os Séculos, Daniel T. Taylor. Estavam dispostos a descer ao túmulo, para que pudessem "ressuscitar livres." -- A Voz da Igreja, Taylor. Esperavam pelo "Senhor a vir do Céu, nas nuvens, com a glória de Seu Pai", "trazendo aos justos os tempos do reino." Os valdenses acariciavam a mesma fé. -- Taylor. Wycliffe aguardava o aparecimento do Redentor, como a esperança da igreja. -- Ibidem. GC 303 1 Lutero declarou: "Convenço-me, em verdade, de que o dia do juízo não está para além de trezentos anos. Deus não quer, não pode suportar por muito tempo mais este ímpio mundo." "Aproxima-se o grande dia, em que se subverterá o rei da abominação." -- Ibidem. GC 303 2 "Este velho mundo não está longe de seu fim", disse Melâncton. Calvino manda aos cristãos "não hesitarem, desejando ardentemente o dia da vinda de Cristo como o mais auspicioso de todos os acontecimentos"; e declara que "a família inteira dos fiéis conservará em vista aquele dia." "Devemos ter fome de Cristo, devemos buscá-Lo, contemplá-Lo", diz ele "até à aurora daquele grande dia, em que o nosso Senhor amplamente manifestará a glória do Seu Reino." -- Ibidem. GC 303 3 "Não levou nosso Senhor Jesus nossa carne para o Céu?" disse Knox, o reformador escocês, "e não voltará Ele? Sabemos que voltará, e isso dentro em breve." Ridley e Latimer, que depuseram a vida pela verdade, esperaram pela fé a vinda do Senhor. Ridley escreveu: "O mundo, creio-o eu e portanto o digo, chegará sem dúvida ao fim. De coração clamemos com João, o servo de Deus, a Cristo nosso Salvador: Vem, Senhor Jesus, vem." -- Ibidem. GC 303 4 "Os pensamentos que se relacionam com a vinda do Senhor", disse Baxter, "são dulcíssimos e mui gozosos para mim." -- Obras, Richard Baxter. "É a obra da fé, e do caráter de Seus santos, amar Seu aparecimento e aguardar o cumprimento da bem-aventurada esperança." "Se a morte é o último inimigo a ser destruído na ressurreição, podemos saber quão fervorosamente deveriam os crentes anelar a segunda vinda de Cristo e por ela orar, sendo então que tal vitória, ampla e final, será alcançada." -- Ibidem. "Este é o dia que todos os crentes devem almejar, esperar e aguardar, como cumprimento de toda a obra de sua redenção, e de todos os desejos e esforços de sua alma." "Apressa, ó Senhor, este bem-aventurado dia!" -- Baxter. Esta foi a esperança da igreja apostólica, da "igreja no deserto", e dos reformadores. GC 304 1 A profecia não somente prediz a maneira e objetivo da vinda de Cristo, mas apresenta sinais pelos quais os homens podem saber quando a mesma está próxima. Disse Jesus: "Haverá sinais no Sol, na Lua, e nas estrelas." Lucas 21:25. "O Sol escurecerá, e a Lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão no céu serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória." Marcos 13:24-26. O profeta do Apocalipse assim descreve o primeiro dos sinais que precedem o segundo advento: "Houve um grande tremor de terra; e o Sol tornou-se negro como saco de cilício, e a Lua tornou-se como sangue." Apocalipse 6:12. GC 304 2 Estes sinais foram testemunhados antes do início do século XIX. Em cumprimento desta profecia ocorreu no ano 1755 o mais terrível terremoto que já se registrou. Posto que geralmente conhecido por terremoto de Lisboa, estendeu-se pela maior parte da Europa, África e América do Norte. Foi sentido na Groenlândia, nas Índias Ocidentais, na Ilha da Madeira, na Noruega e Suécia, Grã-Bretanha e Irlanda. Abrangeu uma extensão de mais de dez milhões de quilômetros quadrados. Na África, o choque foi quase tão violento como na Europa. Grande parte da Argélia foi destruída; e, a pequena distância de Marrocos, foi tragada uma aldeia de oito ou dez mil habitantes. Uma vasta onda varreu a costa da Espanha e da África, submergindo cidades, e causando grande destruição. GC 304 3 Foi na Espanha e Portugal que o choque atingiu a maior violência. Diz-se que em Cádiz a ressaca alcançou a altura de vinte metros. Montanhas, "algumas das maiores de Portugal, foram impetuosamente sacudidas, como que até aos fundamentos; e algumas delas se abriram nos cumes, os quais se partiram e rasgaram de modo maravilhoso, sendo delas arrojadas imensas massas para os vales adjacentes. Diz-se terem saído chamas dessas montanhas." -- Princípios de Geologia, Sir Charles Lyell. GC 305 1 Em Lisboa, "um som como de trovão foi ouvido sob o solo e imediatamente depois violento choque derribou a maior parte da cidade. No lapso de mais ou menos seis minutos, pereceram sessenta mil pessoas. O mar a princípio se retirou, deixando seca a barra; voltou então, levantando-se doze metros ou mais acima de seu nível comum." "Entre outros acontecimentos extraordinários que se refere terem ocorrido em Lisboa durante a catástrofe, esteve o soçobro do novo cais, construído inteiramente de mármore, com vultosa despesa. Grande número de pessoas ali se ajuntara em busca de segurança, sendo um local em que poderiam estar fora do alcance das ruínas que tombavam; subitamente, porém, o cais afundou com todo o povo sobre ele, e nenhum dos cadáveres jamais flutuou na superfície." -- Lyell. GC 305 2 "O choque" do terremoto "foi instantaneamente seguido da queda de todas as igrejas e conventos, de quase todos os grandes edifícios públicos, e de mais da quarta parte das casas. Duas horas depois, aproximadamente, irromperam incêndios em diferentes quarteirões, e com tal violência se alastraram pelo espaço de quase três dias, que a cidade ficou completamente desolada. O terremoto ocorreu num dia santo, em que as igrejas e conventos estavam repletos de gente, muito pouca da qual escapou." -- Enciclopédia Americana, art. Lisboa. "O terror do povo foi indescritível. Ninguém chorava; estava além das lágrimas. Corriam para aqui e para acolá, em delírio, com horror e espanto, batendo no rosto e no peito, exclamando: 'Misericórdia! é o fim do mundo!' Mães esqueciam-se de seus filhos e corriam para qualquer parte, carregando crucifixos. Infelizmente, muitos corriam para as igrejas em busca de proteção; mas em vão foi exposto o sacramento; em vão as pobres criaturas abraçaram os altares; imagens, padres e povo foram sepultados na ruína comum." Calculou-se que noventa mil pessoas perderam a vida naquele dia fatal. GC 306 1 Vinte e cinco anos mais tarde apareceu o sinal seguinte mencionado na profecia -- o escurecimento do Sol e da Lua. O que tornou isto mais surpreendente foi o fato de que o tempo de seu cumprimento fora definidamente indicado. Na palestra do Salvador com Seus discípulos, no Monte das Oliveiras, depois de descrever o longo período de provação da igreja -- os 1.260 anos da perseguição papal, relativamente aos quais prometera Ele ser abreviada a tribulação -- mencionou Jesus certos acontecimentos que precederiam Sua vinda, e fixou o tempo em que o primeiro destes deveria ser testemunhado: "Naqueles dias, depois daquela aflição, o Sol se escurecerá, e a Lua não dará a sua luz." Marcos 13:24. Os 1.260 dias, ou anos, terminaram em 1798. Um quarto de século antes, a perseguição tinha cessado quase inteiramente. Em seguida a esta perseguição, segundo as palavras de Cristo, o Sol deveria escurecer-se. A 19 de maio de 1780 cumpriu-se esta profecia. GC 306 2 "Único ou quase único em sua espécie pelo misterioso e até agora inexplicado fenômeno que nele se verificou ... foi o dia escuro de 19 de maio de 1780 -- de inexplicável escuridão que cobriu todo o céu e atmosfera visíveis em Nova Inglaterra." -- Nosso Primeiro Século, R. M. Devens. GC 306 3 Uma testemunha ocular que vivia em Massachusetts, nestes termos descreve o acontecimento: GC 306 4 "Pela manhã surgiu claro o Sol, mas logo se ocultou. As nuvens se tornaram sombrias e delas, negras e ameaçadoras como logo se mostraram, chamejavam relâmpagos; ribombavam trovões, caindo leve aguaceiro. Por volta das nove horas, as nuvens se tornaram mais finas, tomando uma aparência bronzeada ou acobreada, e a terra, pedras, árvores, edifícios, água e as pessoas tinham aspecto diferente por causa dessa estranha luz sobrenatural. Alguns minutos mais tarde, pesada nuvem negra se espalhou por todo o céu, exceto numa estreita orla do horizonte, e ficou tão escuro como usualmente é às nove horas de uma noite de verão. ... GC 306 5 "Temor, ansiedade e pavor encheram gradualmente o espírito do povo. Mulheres ficavam à porta olhando para a negra paisagem; os homens voltavam de seus labores nos campos; o carpinteiro deixava as suas ferramentas, o ferreiro a forja, o negociante o balcão. As aulas eram suspensas, e as crianças, tremendo, fugiam para casa. Os viajantes acolhiam-se à fazenda mais próxima. 'O que será?' inquiriam todos os lábios e corações. Dir-se-ia que um furacão estivesse prestes a precipitar-se sobre o país, ou fosse o dia da consumação de todas as coisas. GC 307 1 "Acenderam-se velas, e o fogo na lareira brilhava tanto como em noite de outono sem luar. ... As aves retiravam-se para os poleiros e iam dormir; o gado ajuntava-se no estábulo e berrava; as rãs coaxavam; os pássaros entoavam seus gorjeios vespertinos; e os morcegos voavam em derredor. Mas os seres humanos sabiam que não era vinda a noite. ... GC 307 2 "O Dr. Natanael Whittaker, pastor da igreja do Tabernáculo, em Salém, dirigia cerimônias religiosas na casa de culto e pregava um sermão no qual sustentou que as trevas eram sobrenaturais. Reuniram-se congregações em muitos outros lugares. Os textos para esses sermões extemporâneos eram invariavelmente os que pareciam indicar as trevas de acordo com a profecia bíblica. ... As trevas foram densíssimas logo depois das onze horas." -- The Essex Antiquarian, Salém, Mass., abril de 1899. "Na maioria dos lugares do país foram tão grandes durante o dia, que as pessoas não podiam dizer a hora, quer pelo relógio de bolso quer pelo de parede, nem jantar, nem efetuar suas obrigações domésticas, sem a luz de velas. ... GC 307 3 "A extensão dessas trevas foi extraordinária. Observaram-se na parte oriental até Falmouth. Para o oeste, atingiram a parte mais remota de Connecticut e Albany. Para o sul foram observadas ao longo das costas, e ao norte até onde se estende a colonização americana." -- História do Início, Progressos e Estabelecimento da Independência dos Estados Unidos, Dr. William Gordon. GC 307 4 Seguiu-se às intensas trevas daquele dia, uma ou duas horas, antes da noite, um céu parcialmente claro, e apareceu o Sol, posto que ainda obscurecido por negro e pesado nevoeiro. "Depois do pôr-do-sol, as nuvens novamente subiram, e escureceu muito rapidamente." "Tampouco foram as trevas da noite menos incomuns e aterrorizadoras do que as do dia; não obstante haver quase lua cheia, nenhum objeto se distinguia a não ser com o auxílio de alguma luz artificial, que, quando vista das casas vizinhas ou de outros lugares a certa distância, aparecia através de uma espécie de trevas egípcias, que se afiguravam quase impermeáveis aos raios." -- Massachusetts Spy, ou Oráculo Americano da Liberdade, Thomas. Disse uma testemunha ocular daquela cena: "Não pude senão concluir, naquela ocasião que, se todos os corpos luminosos do Universo tivessem sido envoltos em sombras impenetráveis, ou arrancados da existência, as trevas não teriam sido mais completas." -- Carta pelo Dr. Samuel Tenney, de Exeter, N. H., dezembro de 1785. Posto que às nove horas daquela noite a Lua surgisse cheia, "não produziu o mínimo efeito em relação àquelas sombras sepulcrais." Depois de meia-noite as trevas se desvaneceram, e a Lua, ao tornar-se visível, tinha a aparência de sangue. GC 308 1 O dia 19 de maio de 1780 figura na História como "o Dia Escuro." Desde o tempo de Moisés, nenhum período de trevas de igual densidade, extensão e duração, já se registrou. A descrição deste acontecimento, como a dá uma testemunha ocular, não é senão um eco das palavras do Senhor, registradas pelo profeta Joel, dois mil e quinhentos anos antes de seu cumprimento: "O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor." Joel 2:31. GC 308 2 Cristo ordenara a Seu povo que atendesse aos sinais de seu advento e se regozijasse ao contemplar os indícios de seu vindouro Rei. "Quando estas coisas começarem a acontecer", disse Ele, "olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima." Ele indicou a Seus seguidores as árvores a brotarem na primavera, e disse: "Quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto." Lucas 21:28, 30, 31. GC 309 1 Mas como o espírito de humildade e devoção na igreja cedera lugar ao orgulho e formalismo, esfriaram o amor a Cristo e a fé em Sua vinda. Absorto nas coisas mundanas e na busca de prazeres, o povo professo de Deus estava cego às instruções do Salvador relativas aos sinais de Seu aparecimento. A doutrina do segundo advento tinha sido negligenciada; os textos que a ela se referem foram obscurecidos por interpretações errôneas, a ponto de ficarem em grande parte esquecidos e ignorados. Especialmente foi este o caso nas igrejas da América do Norte. A liberdade e conforto desfrutados por todas as classes da sociedade; o ambicioso desejo de haveres e luxo, de onde vem o absorvente empenho de adquirir dinheiro; a ansiosa procura de popularidade e poderio, que pareciam estar ao alcance de todos, levavam os homens a centralizar seus interesses e esperanças nas coisas desta vida, afastando ao futuro longínquo o dia solene em que passaria a presente ordem de coisas. GC 309 2 Quando o Salvador indicou a Seus seguidores os sinais de Sua volta, predisse o estado de apostasia que havia de existir precisamente antes de Seu segundo advento. Haveria, como nos dias de Noé, a atividade e a agitação das ocupações mundanas e da procura de prazeres -- comprar, vender, plantar, edificar, casar, dar-se em casamento -- com olvido de Deus e da vida futura. Para os que viverem nesse tempo, a advertência de Cristo é: "Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." "Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem." Lucas 21:34, 36. GC 309 3 A condição da igreja neste tempo é indicada nas palavras do Salvador, em Apocalipse: "Tens nome de que vives, e estás morto." E aos que se recusam despertar de seu descuidoso sentimento de segurança, é dirigido este aviso solene: "Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:1, 3. GC 310 1 Era necessário que os homens fossem advertidos do perigo; que se despertassem a fim de preparar-se para os acontecimentos solenes ligados ao final do tempo da graça. Declara o profeta de Deus: "O dia do Senhor é grande e mui terrível e quem o poderá sofrer?" "Quem estará em pé quando aparecer Aquele que é tão puro de olhos que não pode ver o mal, e não pode contemplar a vexação?" Joel 2:11; Habacuque 1:13. Para os que clamam: "Deus meu! nós ... Te conhecemos", e não obstante têm traspassado Seu concerto, e se apressaram após outro deus (Oséias 8:2, 1; Salmos 16:4), ocultando a iniqüidade no coração e amando os caminhos da injustiça, para esses o dia do Senhor são trevas e não luz, "completa escuridade, sem nenhum resplendor." Amós 5:20. "E há de ser que naquele tempo", diz o Senhor, "esquadrinharei a Jerusalém com lanternas e castigarei os homens que estão assentados sobre as suas fezes, que dizem no seu coração: O Senhor não faz bem nem mal." Sofonias 1:12. "Visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniqüidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos." Isaías 13:11. "Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar"; "será saqueada a sua fazenda, e assoladas as suas casas." Sofonias 1:18, 13. GC 310 2 O profeta Jeremias, prevendo esse tempo terrível, exclamou: "Estou ferido no meu coração!" "Não posso calar; porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. Quebranto sobre quebranto se apregoa." Jeremias 4:19, 20. GC 310 3 "Aquele dia é um dia de indignação, dia de angústia e de ânsia, dia de alvoroço e desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido." Sofonias 1:15, 16. "Eis que o dia do Senhor vem, para pôr a Terra em assolação e destruir os pecadores dela." Isaías 13:9. GC 311 1 Ante a perspectiva desse grande dia, a Palavra de Deus, com expressões as mais solenes e impressivas, apela para Seu povo a fim de que desperte da letargia espiritual e busque Sua face, com arrependimento e humilhação: "Tocai a buzina em Sião, e clamai em alta voz no monte da Minha santidade. Perturbem-se todos os moradores da Terra, porque o dia do Senhor vem, ele está perto." "Santificai um jejum, proclamai um dia de proibição. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos, ... saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar." GC 311 2 "Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque Ele é misericordioso, compassivo, e tardio em irar-Se, e grande em beneficência." Joel 2:1, 15-17, 12, 13. GC 311 3 A fim de preparar um povo para estar em pé no dia de Deus, deveria realizar-se uma grande obra de reforma. Deus viu que muitos dentre Seu povo professo não estavam edificando para a eternidade, e em Sua misericórdia estava prestes a enviar uma mensagem de advertência a fim de despertá-los de seu torpor e levá-los a preparar-se para a vinda de Jesus. GC 311 4 Esta advertência, temo-la em Apocalipse 14. Apresenta-se-nos ali uma tríplice mensagem como sendo proclamada por seres celestiais, e imediatamente seguida pela vinda do Filho do homem para recolher a colheita da Terra. A primeira dessas advertências anuncia o juízo que se aproxima. O profeta contempla um anjo voando pelo meio do céu, tendo o "evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o Céu e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." Apocalipse 14:6, 7. GC 312 1 Declara-se que esta mensagem é parte integrante do "evangelho eterno." A obra de pregar o evangelho não foi cometida aos anjos, mas confiada aos homens. Santos anjos têm sido empregados na direção desta obra; têm eles a seu cargo os grandes movimentos para a salvação dos homens; mas a proclamação do evangelho propriamente dita é efetuada pelos servos de Cristo sobre a Terra. GC 312 2 Homens fiéis, que eram obedientes aos impulsos do Espírito de Deus e aos ensinos de Sua Palavra, deveriam proclamar esta advertência ao mundo. Eram eles os que haviam atendido à mui firme "palavra dos profetas", à "luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça." 2 Pedro 1:19. Tinham estado a buscar o conhecimento de Deus, mais do que a todos os tesouros escondidos, considerando-o "melhor do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino." Provérbios 3:14. E Deus lhes revelou as grandes coisas do reino. "O segredo do Senhor é para os que O temem; e Ele lhes fará saber o Seu concerto." Salmos 25:14. GC 312 3 Não foram os ilustrados teólogos que tiveram compreensão desta verdade e se empenharam em proclamá-la. Houvessem eles sido vigias fiéis, pesquisando as Escrituras com diligência e oração, e teriam conhecido o tempo da noite; as profecias ter-lhes-iam patenteado os acontecimentos prestes a ocorrer. Eles, porém, não assumiram tal atitude, e a mensagem foi confiada a homens mais humildes. Disse Jesus: "Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem." João 12:35. Os que se desviam da luz que Deus lhes deu, ou negligenciam buscá-la quando está a seu alcance, são deixados em trevas. Declara, porém, o Salvador: "Aquele que Me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12. Quem quer que esteja, com singeleza de propósito, procurando fazer a vontade de Deus, atendendo fervorosamente à luz já dada, receberá maior luz; será enviada àquela alma alguma estrela de fulgor celestial para guiá-la em toda a verdade. GC 313 1 No tempo do primeiro advento de Cristo, os sacerdotes e escribas da santa cidade, a quem foram confiados os oráculos de Deus, poderiam ter discernido os sinais dos tempos e proclamado a vinda do Prometido. A profecia de Miquéias designou o lugar de Seu nascimento (Miquéias 5:2); Daniel especificou o tempo em que viria. Daniel 9:25. Deus confiou estas profecias aos dirigentes judeus; estariam sem desculpas se não soubessem nem declarassem ao povo que a vinda do Messias estava às portas. Sua ignorância era o resultado da pecaminosa negligência. Os judeus estavam edificando túmulos aos profetas assassinados, enquanto pela deferência com que tratavam os grandes homens da Terra prestavam homenagem aos servos de Satanás. Absortos em suas ambiciosas lutas para conseguir posição e poderio entre os homens, perderam de vista as honras divinas que lhes eram oferecidas pelo Rei do Céu. GC 313 2 Com profundo e reverente interesse deveriam encontrar-se a estudar o lugar, o tempo, as circunstâncias do grande acontecimento na história universal -- a vinda do Filho de Deus para cumprir a redenção do homem. Todo o povo deveria ter estado a vigiar e esperar para que pudessem achar-se entre os primeiros a dar as boas-vindas ao Redentor do mundo. Mas ai! em Belém, dois fatigados viajantes, procedentes das colinas de Nazaré, percorrem em toda a extensão a estreita rua até à extremidade oriental da cidade, procurando em vão um lugar de repouso e abrigo para a noite. Porta alguma se achava aberta para os receber. Sob miserável telheiro preparado para o gado, encontram finalmente refúgio, e ali nasce o Salvador do mundo. GC 313 3 Anjos celestiais tinham visto a glória de que o Filho de Deus participava com o Pai antes que o mundo existisse, e com profundo interesse haviam aguardado o Seu aparecimento na Terra, como uma ocorrência repleta das maiores alegrias para todo o povo. Foram designados anjos para levar as alegres novas aos que estavam preparados para recebê-las, e que alegremente as tornariam conhecidas aos habitantes da Terra. Cristo Se abatera para tomar sobre Si a natureza do homem; deveria Ele suportar um peso infinito de misérias ao fazer de Sua alma oferta pelo pecado; todavia, desejavam os anjos que mesmo em Sua humilhação o Filho do Altíssimo pudesse aparecer diante dos homens com uma dignidade e glória condizentes com Seu caráter. Congregar-se-iam os grandes homens da Terra na capital de Israel para saudar a Sua vinda? Apresentá-Lo-iam legiões de anjos à multidão expectante? GC 314 1 Um anjo visita a Terra a fim de ver quais os que se acham preparados para receber a Jesus. Não pode, porém, distinguir sinal algum de expectação. Não ouve voz alguma de louvor e triunfo, anunciando que o tempo da vinda do Messias está às portas. O anjo paira por algum tempo sobre a cidade escolhida e o templo onde a presença divina tinha sido manifestada durante séculos; mas, mesmo ali, há idêntica indiferença. Os sacerdotes, em sua pompa e orgulho, estão oferecendo profanos sacrifícios no templo. Os fariseus estão em altas vozes discursando ao povo, ou fazendo jactanciosas orações nas esquinas das ruas. Nos palácios dos reis, nas assembléias dos filósofos, nas escolas dos rabis, todos, de igual maneira, se acham inconscientes do maravilhoso fato que encheu todo o Céu de alegria e louvor -- o fato de que o Redentor dos homens está prestes a aparecer na Terra. GC 314 2 Evidência alguma há de que Cristo seja esperado, e nenhuns preparativos para o Príncipe da Vida. Com espanto está o mensageiro celestial prestes a voltar para o Céu com a desonrosa notícia, quando descobre alguns pastores que, à noite, vigiam seus rebanhos e, mirando o céu bordado de estrelas, meditam na profecia do Messias a vir à Terra, anelando o advento do Redentor do mundo. Ali se encontra um grupo que está preparado para receber a mensagem celestial. E subitamente o anjo do Senhor aparece anunciando as boas novas de grande alegria. A glória celestial inunda a planície toda; aparece uma incontável multidão de anjos e, como se fora demasiado grande a alegria para um só mensageiro trazê-la do Céu, uma multidão de vozes irrompe em louvores que todas as nações dos salvos um dia entoarão: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens." Lucas 2:14. GC 315 1 Oh! que lição encerra a maravilhosa história de Belém! Quanto ela reprova a nossa incredulidade, nosso orgulho e amor-próprio! Quanto nos adverte a nos precavermos para que não aconteça que pela nossa criminosa indiferença deixemos também de discernir os sinais dos tempos e, portanto, não conheçamos o dia de nossa visitação! GC 315 2 Não foi somente nas colinas da Judéia, nem apenas entre os humildes pastores, que os anjos encontraram os que se achavam vigilantes pela vinda do Messias. Na terra dos gentios havia também os que por Ele esperavam; eram homens sábios, ricos e nobres filósofos do Oriente. Estudiosos da Natureza, haviam os magos visto a Deus em Sua obra. Pelas Escrituras hebraicas tinham aprendido acerca da Estrela que deveria surgir de Jacó, e com ardente desejo esperavam a vinda dAquele que seria não somente a "Consolação de Israel", mas uma "luz para alumiar as nações", e "salvação até os confins da Terra." Lucas 2:25, 32; Atos 13:47. Buscavam a luz, e luz procedente do trono de Deus iluminou-lhes o caminho para os pés. Enquanto os sacerdotes e rabis de Jerusalém, os pretensos depositários e expositores da verdade, se encontravam envoltos em trevas, a estrela enviada pelo Céu guiou os estrangeiros gentios ao lugar do nascimento do recém-nascido Rei. GC 315 3 É para os que O esperam que Cristo deve aparecer a segunda vez, sem pecado, para a salvação. Hebreus 9:28. Semelhantemente às novas do nascimento do Salvador, a mensagem do segundo advento não foi confiada aos dirigentes religiosos do povo. Eles não haviam preservado sua união com Deus, recusando a luz do Céu; não eram, portanto, do número descrito pelo apóstolo Paulo: "Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas." 1 Tessalonicenses 5:4, 5. GC 315 4 Os vigias sobre os muros de Sião deveriam ter sido os primeiros a aprender as novas do advento do Salvador, os primeiros a alçar a voz para proclamar achar-Se Ele perto, os primeiros a advertir o povo a fim de que se preparasse para a Sua vinda. Entregavam-se, porém, ao comodismo, sonhando em paz e segurança, enquanto o povo dormia em seus pecados. Jesus viu a Sua igreja, semelhando a figueira estéril, coberta de pretensiosas folhas e no entanto destituída do precioso fruto. Notava-se alardeada observância das formas da religião, enquanto faltava o espírito da verdadeira humildade, arrependimento e fé -- o que unicamente poderia tornar aceitável o culto a Deus. Em vez das graças do Espírito, havia manifesto orgulho, formalismo, vanglória, egoísmo, opressão. Uma igreja apóstata fechava os olhos aos sinais dos tempos. Deus não a abandonou, nem permitiu que Sua fidelidade lhe faltasse; dEle, porém, afastara-se, e separara-se de Seu amor. Recusando-se ela a satisfazer às condições, Suas promessas não foram para com ela cumpridas. GC 316 1 Esse é o resultado certo de não apreciar nem aproveitar a luz e privilégios que Deus confere. A menos que a igreja siga o caminho que lhe abre a Providência, aceitando todo raio de luz, cumprindo todo dever que lhe seja revelado, a religião fatalmente degenerará em formalismo, e desaparecerá o espírito da piedade vital. Esta verdade tem sido repetidas vezes ilustrada na história da igreja. Deus requer de Seu povo obras de fé e obediência correspondentes às bênçãos e privilégios conferidos. A obediência exige sacrifício e implica uma cruz; e este é o motivo por que tantos dentre os professos seguidores de Cristo se recusam a receber a luz do Céu e, como aconteceu com os judeus de outrora, não conhecem o tempo de Sua visitação. Lucas 19:44. Por causa de seu orgulho e incredulidade, o Senhor os passa por alto, e revela Sua verdade aos que, à semelhança dos pastores de Belém e dos magos do Oriente, têm prestado atenção a toda a luz que receberam. ------------------------Capítulo 18 -- Uma profecia muito significativa GC 317 1 Um lavrador íntegro e de sentimentos honestos, que havia sido levado a duvidar da autoridade divina das Escrituras e que no entanto desejava sinceramente conhecer a verdade, foi o homem especialmente escolhido por Deus para iniciar a proclamação da segunda vinda de Cristo. Como outros muitos reformadores, Guilherme Miller lutou no princípio de sua vida com a pobreza, aprendendo assim as grandes lições de energia e renúncia. Os membros da família de que proveio caracterizavam-se por um espírito independente e amante da liberdade, pela capacidade de resistência e ardente patriotismo, traços que também eram preeminentes em seu caráter. Seu pai fora capitão no exército da Revolução, e, aos sacrifícios que fizera nas lutas e sofrimentos daquele tempestuoso período, podem-se atribuir as circunstâncias embaraçosas dos primeiros anos da vida de Miller. GC 317 2 Possuía ele robusta constituição física, e já na meninice dera provas de força intelectual superior à comum. Com o passar dos anos tornou-se isto ainda mais notório. Seu espírito era ativo e bem desenvolvido, e ardente sua sede de saber. Conquanto não haurisse as vantagens de uma educação superior, seu amor ao estudo e o hábito de pensar cuidadosamente, bem como a aguda perspicácia, tornaram-no um homem de perfeito discernimento e largueza de vistas. Era dotado de irrepreensível caráter moral e nome invejável, sendo geralmente estimado por sua integridade, frugalidade e benevolência. À custa de energia e aplicação, adquiriu o necessário para viver, conservando, no entanto, seus hábitos de estudo. Ocupou com distinção vários cargos civis e militares, e as portas da riqueza e honra pareciam-lhe abertas de par em par. GC 318 1 Sua mãe era mulher verdadeiramente piedosa, e na infância estivera ele sujeito às impressões religiosas. No entanto, ao atingir o limiar da idade adulta, foi levado a associar-se com deístas, cuja influência foi tanto mais acentuada pelo fato de serem na maioria bons cidadãos, e homens de disposições humanitárias e benevolentes. Vivendo, como viviam, no meio de instituições cristãs, seu caráter tinha sido até certo ponto moldado pelo ambiente. As boas qualidades que lhes conquistaram respeito e confiança, deviam-nas à Bíblia, e, contudo, esses dons apreciáveis se haviam pervertido a ponto de exercer influência contra a Palavra de Deus. Pela associação com esses homens, Miller foi levado a adotar seus sentimentos. As interpretações corretas das Escrituras apresentavam dificuldades que lhe pareciam insuperáveis; todavia, sua nova crença, conquanto pusesse de lado a Escritura Sagrada, nada oferecia de melhor para substituí-la, e longe estava ele de sentir-se satisfeito. Continuou, entretanto, a manter estas opiniões durante mais ou menos doze anos. Mas com a idade de trinta e quatro anos, o Espírito Santo impressionou-lhe o coração com a intuição de seu estado pecaminoso. Não encontrou em sua crença anterior certeza alguma de felicidade além-túmulo. O futuro era negro e tétrico. Referindo-se mais tarde aos seus sentimentos nesta época, disse ele: GC 318 2 "O aniquilamento era um pensamento gélido e desalentador, e o fato de ter o homem de responder por seus atos significava destruição certa para todos. O céu era como bronze por sobre a minha cabeça e a terra como ferro sob os meus pés. A eternidade, que era? E a morte, por que existia? Quanto mais raciocinava, mais longe me achava da evidência. Quanto mais pensava, mais contraditórias eram as minhas conclusões. Tentei deixar de pensar, mas meus pensamentos não podiam ser dominados. Era verdadeiramente infeliz, mas não compreendia a causa. Murmurava e queixava-me, sem saber de quem. Sabia que algo havia de errado, mas não sabia como ou onde encontrar o que era reto. Lamentava, mas sem esperança." GC 319 1 Neste estado continuou durante alguns meses. "Subitamente", diz ele, "gravou-se-me ao vivo no espírito o caráter de um Salvador. Pareceu-me que bem poderia existir um Ser tão bom e compassivo que por nossas transgressões fizesse expiação, livrando-nos, assim, de sofrer a pena do pecado. Compreendi desde logo quão amável esse Ente deveria ser, e imaginei poder lançar-me aos Seus braços, confiante em Sua misericórdia. Mas surgiu a questão: Como se pode provar a existência desse Ser? Afora a Bíblia, achei que não poderia obter prova da existência de semelhante Salvador, nem sequer de uma existência futura. ... GC 319 2 "Vi que a Escritura Sagrada apresentava precisamente um Salvador como o que necessitava; e fiquei perplexo por ver como um livro não inspirado desenvolvia princípios tão perfeitamente adaptados às necessidades de um mundo decaído. Fui constrangido a admitir que as Escrituras devem ser uma revelação de Deus. Tornaram-se elas o meu deleite; e em Jesus encontrei um amigo. O Salvador tornou-Se para mim o primeiro entre dez mil; e as Escrituras, que antes eram obscuras e contraditórias, tornaram-se agora a lâmpada para os meus pés e luz para meu caminho. Meu espírito tranqüilizou-se e ficou satisfeito. Achei que o Senhor Deus é uma Rocha em meio do oceano da vida. A Bíblia tornou-se então o meu estudo principal e, posso em verdade dizer, pesquisava-a com grande deleite. Vi que a metade nunca se me havia dito. Admirava-me de que me não tivesse apercebido antes, de sua beleza e glória; e maravilhava-me de que já a pudesse haver rejeitado. Tudo que o coração poderia desejar, encontrei revelado, como um remédio para toda enfermidade da alma. Perdi todo o gosto para outra leitura, e apliquei o coração a obter a sabedoria de Deus." -- Memórias de Guilherme Miller, S. Bliss. GC 319 3 Miller professou publicamente sua fé na religião que antes desprezara. Seus companheiros incrédulos, entretanto, não tardaram em produzir todos os argumentos com que ele próprio insistira contra a autoridade divina das Escrituras. Não estava então preparado para responder a eles, mas raciocinava que, se a Bíblia é a revelação de Deus, deve ser coerente consigo mesma; e que, como foi dada para a instrução do homem, deve adaptar-se à sua compreensão. Decidiu-se a estudar as Escrituras por si mesmo, e verificar se as aparentes contradições não se poderiam harmonizar. GC 320 1 Esforçando-se por deixar de lado todas as opiniões preconcebidas, dispensando comentários, comparou passagem com passagem, com o auxílio das referências à margem e da concordância. Prosseguiu no estudo de modo sistemático e metódico; começando com Gênesis, e lendo versículo por versículo, não ia mais depressa do que se lhe desvendava o sentido das várias passagens, de modo a deixá-lo livre de toda dificuldade. Quando encontrava algum ponto obscuro, tinha por costume compará-lo com todos os outros textos que pareciam ter qualquer referência ao assunto em consideração. Permitia que cada palavra tivesse a relação própria com o assunto do texto e, quando harmonizava seu ponto de vista acerca dessa passagem com todas as referências da mesma, deixava de ser uma dificuldade. Assim, quando quer que encontrasse passagem difícil de entender, achava explicação em alguma outra parte das Escrituras. Estudando com fervorosa oração para obter esclarecimentos da parte de Deus, o que antes parecia obscuro à compreensão agora se fizera claro. Experimentou a verdade das palavras do salmista: "A exposição das Tuas Palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. GC 320 2 Com intenso interesse estudou os livros de Daniel e Apocalipse, empregando os mesmos princípios de interpretação que para as demais partes das Escrituras; e descobriu, para sua grande alegria, que os símbolos proféticos podiam ser compreendidos. Viu que as profecias já cumpridas tiveram cumprimento literal; que todas as várias figuras, metáforas, parábolas, símiles, etc., ou eram explicados em seu contexto, ou os termos em que eram expressos se achavam entendidos literalmente. "Fiquei assim convencido", diz ele, "de ser a Escritura Sagrada um conjunto de verdades reveladas, tão clara e simplesmente apresentadas que o viajante, ainda que seja um louco, não precisa errar." -- Bliss. Elo após elo da cadeia da verdade recompensava seus esforços, enquanto passo a passo divisava as grandes linhas proféticas. Anjos celestiais estavam a guiar-lhe o espírito e a abrir as Escrituras à sua compreensão. GC 321 1 Tomando a maneira por que as profecias se tinham cumprido no passado como critério pelo qual julgar do cumprimento das que ainda estavam no futuro, chegou à conclusão de que o conceito popular acerca do reino espiritual de Cristo -- o milênio temporal antes do fim do mundo -- não é apoiado pela Palavra de Deus. Essa doutrina, falando em mil anos de justiça e paz antes da vinda pessoal do Senhor, afasta para longe os terrores do dia de Deus. Mas, por agradável que seja, é contrária aos ensinos de Cristo e Seus apóstolos, que declaravam que o trigo e o joio devem crescer juntos até à ceifa, o fim do mundo (Mateus 13:30, 38-41); que "os homens maus e enganadores irão de mal para pior"; que "nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos" (2 Timóteo 3:13, 1); e que o reino das trevas continuará até o advento do Senhor, sendo consumido pelo espírito de Sua boca e destruído com o resplendor de Sua vinda. 2 Tessalonicenses 2:8. GC 321 2 A doutrina da conversão do mundo e do reino espiritual de Cristo não era mantida pela igreja apostólica. Não foi geralmente aceita pelos cristãos antes do começo do século XVIII, aproximadamente. Como todos os outros erros, seus resultados foram maus. Ensinava os homens a afastarem para um longínquo futuro a vinda do Senhor, e os impedia de prestar atenção aos sinais que anunciavam Sua aproximação. Infundia um sentimento de confiança e segurança que não era bem fundado, levando muitos a negligenciarem o necessário preparo a fim de se encontrar com seu Senhor. GC 321 3 Miller achou que a vinda de Cristo, literal, pessoal, é plenamente ensinada nas Escrituras. Diz Paulo: "O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de Arcanjo, e com a trombeta de Deus." 1 Tessalonicenses 4:16. E o Salvador declara: "Verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória." "Assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:30, 27. Ele deverá ser acompanhado de todas as hostes celestiais. O Filho do homem virá em Sua glória, "e todos os santos anjos com Ele." Mateus 25:31. "Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos." Mateus 24:31. GC 322 1 À Sua vinda, os justos que estiverem mortos ressuscitarão, os vivos serão transformados. "Nem todos dormiremos", diz Paulo, "mas todos seremos transformados, num momento num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade." 1 Coríntios 15:51-53. E em sua carta aos tessalonicenses, depois de descrever a vinda do Senhor, diz ele: "Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." 1 Tessalonicenses 4:16, 17. GC 322 2 Não poderá o Seu povo receber o reino antes do advento pessoal de Cristo. Disse o Salvador: "E quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à Sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mateus 25:31-34. Vimos pelos textos citados que, quando o Filho do homem vier, os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e os vivos serão transformados. Por esta grande mudança ficam preparados para receberem o reino; pois Paulo diz: "A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção." 1 Coríntios 15:50. O homem, em seu estado presente, é mortal, corruptível; o reino de Deus, porém, será incorruptível, permanecendo para sempre. Portanto, o homem, em sua condição atual, não pode entrar no reino de Deus. Mas, em vindo Jesus, confere a imortalidade a Seu povo; e então os chama para possuírem o reino de que até ali têm sido apenas herdeiros. GC 323 1 Estas e outras passagens provaram claramente ao espírito de Miller que os acontecimentos que geralmente se esperava ocorrerem antes da vinda de Cristo, como seja o reino universal de paz e o estabelecimento do domínio de Deus sobre a Terra, deveriam ser subseqüentes ao segundo advento. Além disso, todos os sinais dos tempos e as condições do mundo correspondiam à descrição profética dos últimos dias. Foi levado, somente pelo estudo das Escrituras, à conclusão de que estava prestes a terminar o período de tempo concedido para a existência da Terra em sua condição presente. GC 323 2 "Outra espécie de prova que vivamente me impressionava o espírito", diz ele, "era a cronologia das Escrituras. ... Notei que os acontecimentos preditos, que se haviam cumprido no passado, muitas vezes ocorreram dentro de um dado tempo. Os cento e vinte anos do dilúvio (Gênesis 6:3), os sete dias que o deviam preceder, com quarenta dias de chuva predita (Gênesis 7:4), os quatrocentos anos da permanência temporária da semente de Abraão (Gênesis 15:13), os três dias do sonho do copeiro-mor e do padeiro-mor (Gênesis 40:12-20); os sete anos de Faraó (Gênesis 41:28-54), os quarenta anos no deserto (Números 14:34), os três anos e meio de fome (1 Reis 17:1; ver Lucas 4:25); o cativeiro de setenta anos (Jeremias 25:11), os sete tempos de Nabucodonosor (Daniel 4:13-16), e as sete semanas, sessenta e duas semanas, e a semana, perfazendo setenta semanas, determinadas aos judeus (Daniel 9:24-27) são tempos que limitaram acontecimentos que antes eram apenas assuntos de profecia, cumprindo-se de acordo com as predições." -- Bliss. GC 324 1 Quando, portanto, encontrou em seu estudo da Bíblia vários períodos cronológicos que segundo a sua compreensão dos mesmos, se estendiam até à segunda vinda de Cristo, não pôde senão considerá-los como os "tempos já dantes ordenados", que Deus revelou a Seus servos. "As coisas encobertas", diz Moisés, "são para o Senhor nosso Deus, porém, as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre" (Deuteronômio 29:29); e o Senhor declara pelo profeta Amós que "não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas." Amós 3:7. Assim, os que estudam a Palavra de Deus podem confiantemente esperar que encontrarão nas Escrituras da verdade, claramente indicado, o acontecimento mais estupendo a ocorrer na história da humanidade. GC 324 2 "Como eu estivesse plenamente convicto", diz Miller, "de que 'toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa'; de que ela não veio nunca pela vontade do homem, mas foi escrita ao serem homens santos inspirados pelo Espírito Santo (2 Pedro 1:21), e dada 'para nosso ensino', 'para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança', não poderia deixar de considerar as porções cronológicas da Bíblia senão como uma parte da Palavra de Deus, e com tanto direito à nossa séria consideração como qualquer outra porção dela. Senti, pois, que, esforçando-me por compreender o que Deus em Sua misericórdia achou conveniente revelar-nos, eu não tinha direito de omitir os períodos proféticos." -- Bliss. GC 324 3 A profecia que mais claramente parecia revelar o tempo do segundo advento, era a de Daniel 8:14: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Seguindo sua regra de fazer as Escrituras o seu próprio intérprete, Miller descobriu que um dia na profecia simbólica representa um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6); viu que o período de 2.300 dias proféticos, ou anos literais, se estenderia muito além do final da dispensação judaica, donde o não poder ele referir-se ao santuário daquela dispensação. Miller aceitou a opinião geralmente acolhida, de que na era cristã a Terra é o santuário, e, portanto, compreendeu que a purificação do santuário predita em Daniel 8:14 representa a purificação da Terra pelo fogo, à segunda vinda de Cristo. Se, pois, se pudesse encontrar o exato ponto de partida para os 2.300 dias, concluiu que se poderia facilmente determinar a ocasião do segundo advento. Assim se revelaria o tempo daquela grande consumação, "tempo em que as condições presentes, com todo o seu orgulho e poder, pompa e vaidade, impiedade e opressão, viriam ao fim", que a maldição "se removeria da Terra, a morte seria destruída, dar-se-ia o galardão aos servos de Deus, os profetas e os santos, e aos que temem o Seu nome, e seriam destruídos os que devastam a Terra." -- Bliss. GC 325 1 Com um novo e mais profundo fervor, Miller continuou o exame das profecias, dedicando dias e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia de tão estupenda importância e absorvente interesse. No Capítulo 8 de Daniel ele não pôde achar nenhum fio que guiasse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel, conquanto tivesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão, deu-lhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a força física. Não pôde suportar mais, e o anjo o deixou por algum tempo. Daniel enfraqueceu e esteve enfermo alguns dias. "Espantei-me acerca da visão", diz ele,"e não havia quem a entendesse." GC 325 2 Deus ordenou, contudo, a Seu mensageiro: "Dá a entender a este a visão." A incumbência devia ser satisfeita. Em obediência a ela, o anjo, algum tempo depois, voltou a Daniel, dizendo: "Agora saí para fazer-te entender o sentido"; "toma, pois, bem sentido na palavra, e entende a visão." Daniel 9:22, 23. Havia, na visão do Capítulo 8, um ponto importante que tinha sido deixado sem explicação, a saber, o que se refere ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias; portanto o anjo, retomando sua explicação, ocupa-se principalmente do assunto do tempo: GC 326 1 "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade. ... Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e não será mais. ... E Ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares." Daniel 9:24-27. GC 326 2 O anjo fora enviado a Daniel com o expresso fim de lhe explicar o ponto que tinha deixado de compreender na visão do Capítulo 8, a saber, a declaração relativa ao tempo: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Depois de mandar Daniel tomar bem sentido na palavra e entender a visão, as primeiras declarações do anjo foram: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade." A palavra aqui traduzida "determinadas" significa literalmente "separadas." Setenta semanas, representando 490 anos, declara o anjo estarem separadas, referindo-se especialmente aos judeus. Mas, separadas de quê? Como os 2.300 dias foram o único período de tempo mencionado no Capítulo 8, devem ser o período de que as setenta semanas se separaram; estas devem ser, portanto, uma parte dos 2.300 dias, e os dois períodos devem começar juntamente. Declara o anjo datarem as setenta semanas da saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Se se pudesse encontrar a data desta ordem, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos 2.300 dias. GC 326 3 No Capítulo 7 de Esdras acha-se o decreto. Esdras 7:12-26. Em sua forma completa foi promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia, em 457 antes de Cristo. Mas em Esdras 6:14 se diz ter sido a casa do Senhor em Jerusalém edificada "conforme o mandado [ou decreto, como se poderia traduzir] de Ciro e de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia." Estes três reis, originando, confirmando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição exigida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano 457 antes de Cristo, tempo em que se completou o decreto, como data da ordem, viu-se ter-se cumprido toda a especificação da profecia relativa às setenta semanas. GC 327 1 "Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas" -- a saber, sessenta e nove semanas ou 483 anos. O decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 antes de Cristo. A partir desta data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 de nossa era. Naquele tempo esta profecia se cumpriu. A palavra "Messias" significa o "Ungido." No outono do ano 27 de nossa era, Cristo foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito. O apóstolo Pedro testifica que "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude." Atos 10:38. E o próprio Salvador declarou: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres." Lucas 4:18. Depois de Seu batismo Ele foi para a Galiléia, "pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido." Marcos 1:14, 15. GC 327 2 "E Ele firmará concerto com muitos por uma semana." A "semana", a que há referência aqui, é a última das setenta, são os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus. Durante este tempo, que se estende do ano 27 ao ano 34 de nossa era, Cristo, a princípio em pessoa e depois pelos Seus discípulos, dirigiu o convite do evangelho especialmente aos judeus. Ao saírem os apóstolos com as boas novas do reino, a recomendação do Salvador era: "Não ireis pelos caminhos das gentes, nem entrareis em cidades de samaritanos; mas ide às ovelhas perdidas da casa de Israel." Mateus 10:5, 6. GC 327 3 "Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares." No ano 31 de nossa era, três anos e meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande sacrifício oferecido sobre o Calvário, terminou aquele sistema cerimonial de ofertas, que durante quatro mil anos haviam apontado para o Cordeiro de Deus. O tipo alcançou o antítipo, e todos os sacrifícios e ofertas daquele sistema cerimonial deveriam cessar. GC 328 1 As setenta semanas, ou 490 anos, especialmente conferidas aos judeus, terminaram, como vimos, no ano 34. Naquele tempo, pelo ato do Sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho, pelo martírio de Estêvão e perseguição aos seguidores de Cristo. Assim, a mensagem da salvação, não mais restrita ao povo escolhido, foi dada ao mundo. Os discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, "iam por toda parte, anunciando a Palavra." Filipe desceu à cidade de Samaria e pregou a Cristo. Pedro, divinamente guiado, revelou o evangelho ao centurião de Cesaréia, Cornélio, que era temente a Deus; e o ardoroso Paulo, ganho à fé cristã, foi incumbido de levar as alegres novas "aos gentios de longe." Atos 8:4, 5; Atos 22:21. GC 328 2 Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente todas as especificações das profecias e fixa-se o início das setenta semanas, inquestionavelmente, no ano 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa era. Por estes dados não há dificuldade em achar-se o final dos 2.300 dias. Tendo sido as setenta semanas -- 490 dias -- separadas dos 2.300 dias, ficaram restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os 1.810 dias deveriam ainda cumprir-se. Contando do ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844. Conseqüentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminam em 1844. Ao expirar este grande período profético, "o santuário será purificado", segundo o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi definitivamente indicado o tempo da purificação do santuário, que quase universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do segundo advento. GC 328 3 Miller e seus companheiros a princípio creram que os 2.300 dias terminariam na primavera de 1844, ao passo que a profecia indicava o outono daquele ano. A compreensão errônea deste ponto trouxe desapontamento e perplexidade aos que haviam fixado a primeira daquelas datas para o tempo da vinda do Senhor. Isto, porém, não afetou nem de leve a força do argumento que mostrava terem os 2.300 dias terminado no ano 1844, e que o grande acontecimento representado pela purificação do santuário deveria ocorrer então. GC 329 1 Devotando-se ao estudo das Escrituras, como fizera, a fim de provar serem elas uma revelação de Deus, Miller não tinha a princípio a menor expectativa de atingir a conclusão a que chegara. A custo podia ele mesmo dar crédito aos resultados de sua investigação. Mas a prova das Escrituras era por demais clara e forte para que fosse posta de parte. GC 329 2 Dois anos dedicara ele ao estudo da Bíblia, quando, em 1818, chegou à solene conclusão de que dentro de vinte e cinco anos, aproximadamente, Cristo apareceria para redenção de Seu povo. "Não necessito falar", diz Miller, "do júbilo que me encheu o coração em vista da deleitável perspectiva, nem do anelo ardente de minha alma para participar das alegrias dos remidos. A Bíblia era então para mim um livro novo. Considerava-a verdadeiramente um banquete para a razão; tudo que, em seus ensinos, fora ininteligível, místico ou obscuro para mim, dissipara-se-me do espírito ante a clara luz que ora raiava de suas páginas sagradas; e oh! quão brilhante e gloriosa se me apresentava a verdade! Todas as contradições e incoerências que eu antes encontrara na Palavra, desapareceram; e posto que houvesse muitas partes de que eu não possuía uma compreensão que me satisfizesse, tanta luz, contudo, dela emanara para a iluminação de meu espírito antes obscurecido, que senti, em estudar as Escrituras, um prazer que antes não supunha pudesse ser delas derivado." -- Bliss. GC 329 3 "Solenemente convencido de que as Santas Escrituras anunciavam o cumprimento de tão importantes acontecimentos em tão curto espaço de tempo, surgiu com força em minha alma a questão de saber qual meu dever para com o mundo, em face da evidência que comovera a meu próprio espírito." -- Bliss. Não pôde deixar de sentir que era seu dever comunicar a outros a luz que tinha recebido. Esperava encontrar oposição por parte dos ímpios, mas confiava em que todos os cristãos se regozijariam na esperança de ver o Salvador, a quem professavam amar. Seu único temor era que, em sua grande alegria ante a perspectiva do glorioso livramento, a consumar-se tão breve, muitos recebessem a doutrina sem examinar suficientemente as Escrituras em demonstração de sua verdade. Portanto, hesitou em apresentá-la, receando que estivesse em erro, e fosse, assim, o meio de transviar a outros. Foi levado, desta maneira, a rever as provas em apoio das conclusões a que chegara, e a considerar cuidadosamente toda dificuldade que se lhe apresentava ao espírito. Viu que as objeções se desvaneciam ante a luz da Palavra de Deus, como a névoa diante dos raios do Sol. Cinco anos despendidos desta maneira, deixaram-no completamente convicto da correção de suas opiniões. GC 330 1 E agora o dever de tornar conhecido a outros o que cria ser ensinado tão claramente nas Escrituras, impunha-se-lhe com nova força. "Quando me achava em minha ocupação", disse ele, "soava continuamente em meu ouvido: 'Vai falar ao mundo sobre o perigo que o ameaça.' Ocorria-me constantemente esta passagem: 'Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares para desviar o ímpio de seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter de seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma.' Ezequiel 33:8, 9. Compreendi que, se os ímpios pudessem ser devidamente advertidos, multidões deles se arrependeriam; e que, se eles não fossem avisados, seu sangue poderia ser exigido de minha mão." -- Bliss. GC 330 2 Começou ele a apresentar suas opiniões em particular, quando se lhe oferecia oportunidade, orando para que algum pastor pudesse sentir a força das mesmas e dedicar-se à sua promulgação. Mas não pôde banir a convicção de que tinha um dever pessoal a cumprir, em fazer a advertência. Ocorriam-lhe sempre ao espírito as palavras: "Vai dizê-lo ao mundo; seu sangue requererei de tuas mãos." Durante nove anos esperou, pesando-lhe sempre este fardo sobre a alma, até que em 1831 pela primeira vez expôs publicamente as razões de sua fé. GC 331 1 Assim como Eliseu foi chamado quando à rabiça do arado acompanhava os bois no campo de trabalho, a fim de receber o manto da consagração ao ofício de profeta, também Guilherme Miller foi chamado para deixar o arado e desvendar ao povo os mistérios do reino de Deus. Cheio de temores, deu início ao trabalho, levando seus ouvintes passo a passo, através dos períodos proféticos, até o segundo aparecimento de Cristo. Em cada preleção ganhava ele energia e coragem, vendo o grande interesse despertado por suas palavras. GC 331 2 Foi somente às solicitações de seus irmãos, em cujas palavras ele ouvia o chamado de Deus, que Miller consentiu em apresentar suas opiniões em público. Contava então cinqüenta anos de idade, não estava habituado a falar em público, e sentia-se oprimido ao reconhecer sua incapacidade para a obra. Desde o princípio, porém, seus trabalhos para a salvação das almas foram abençoados de modo notável. Sua primeira conferência foi seguida de um despertamento religioso, no qual se converteram treze famílias inteiras, com exceção de duas pessoas. Foi imediatamente convidado a falar em outros lugares, e quase em toda parte seu trabalho resultava em avivamento da obra de Deus. Convertiam-se pecadores, cristãos eram despertados a maior consagração, e deístas e incrédulos reconheciam a verdade da Bíblia e da religião cristã. O testemunho daqueles entre os quais trabalhava, era: "Atingia a uma classe de espíritos fora da influência de outros homens." -- Bliss. Sua pregação era de molde a despertar o espírito público aos grandes temas da religião, e sustar o crescente mundanismo e sensualidade da época. GC 331 3 Em quase todas as cidades havia dezenas de conversos, e em algumas, centenas, como resultado de sua pregação. Em muitos lugares as igrejas protestantes de quase todas as denominações abriram-se-lhe amplamente; e os convites para nelas trabalhar vinham geralmente dos pastores das várias congregações. Adotava como regra invariável não trabalhar em qualquer lugar a que não fosse convidado; e, no entanto, logo se viu impossibilitado de atender à metade dos pedidos que choviam sobre ele. GC 332 1 Muitos que não aceitaram suas opiniões quanto ao tempo exato do segundo advento, ficaram convencidos da certeza e proximidade da vinda de Cristo e de sua necessidade de preparo. Em algumas das grandes cidades seu trabalho produziu impressão extraordinária. Vendedores de bebidas abandonavam este comércio e transformavam suas lojas em salas de cultos; antros de jogo eram fechados; corrigiam-se incrédulos, deístas, universalistas, e mesmo os libertinos mais perdidos, alguns dos quais não haviam durante anos entrado em uma casa de culto. Várias denominações efetuavam reuniões de oração, em diferentes bairros, quase a todas as horas do dia, reunindo-se os homens de negócios ao meio-dia para oração de louvor. Não havia nenhuma excitação extravagante, mas sim uma sensação de solenidade quase geral no espírito do povo. Sua obra, como a dos primeiros reformadores, tendia antes para convencer o entendimento e despertar a consciência do que a meramente excitar as emoções. GC 333 1 Em 1833 Miller recebeu da Igreja Batista de que era membro uma licença para pregar. Grande número dos pastores de sua denominação aprovou-lhe também a obra, e foi com essa sanção formal que continuou com os seus trabalhos. Posto que seus labores pessoais estivessem limitados principalmente à Nova Inglaterra e aos Estados centrais, viajou e pregou incessantemente. Durante vários anos suas despesas eram cobertas inteiramente por sua bolsa particular e posteriormente nunca recebeu o bastante para custear as viagens aos lugares a que era convidado. Assim, seus trabalhos públicos, longe de serem benefício financeiro, eram-lhe pesado encargo às posses, que gradualmente diminuíram durante este período de sua vida. Era chefe de numerosa família; mas como todos eram sóbrios e industriosos, sua fazenda bastava para a manutenção de todos. GC 333 2 Em 1833, dois anos depois que Miller começou a apresentar em público as provas da próxima vinda de Cristo, apareceu o último dos sinais que foram prometidos pelo Salvador como indícios de Seu segundo advento. Disse Jesus: "As estrelas cairão do céu." Mateus 24:29. E João, no Apocalipse, declarou, ao contemplar em visão as cenas que deveriam anunciar o dia de Deus: "E as estrelas do céu caíram sobre a Terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte." Apocalipse 6:13. Esta profecia teve cumprimento surpreendente e impressionante na grande chuva meteórica de 13 de novembro de 1833. Aquela foi a mais extensa e maravilhosa exibição de estrelas cadentes que já se tem registrado, "achando-se então o firmamento inteiro, sobre todos os Estados Unidos, durante horas, em faiscante comoção! Neste país, desde que começou a ser colonizado, nenhum fenômeno celeste já ocorreu que fosse visto com tão intensa admiração por uns ou com tanto terror e alarma por outros." "Sua sublimidade e terrível beleza ainda perdura em muitos espíritos. ... Raras vezes caiu chuva mais densa do que caíram os meteoros em direção à Terra; Leste, Oeste, Norte e Sul, tudo era o mesmo. Em uma palavra, o céu inteiro parecia em movimento. ... O espetáculo, como o descreveu o diário do Prof. Silliman, foi visto por toda a América do Norte. ... Desde as duas horas até pleno dia, estando o céu perfeitamente sereno e sem nuvens, um contínuo jogo de luzes deslumbrantemente fulgurantes se manteve em todo o firmamento." -- Progresso Americano, ou Os Grandes Acontecimentos do Maior dos Séculos, R. M. Devens. GC 333 3 "Nenhuma expressão, na verdade, pode chegar à altura do esplendor daquela exibição magnificente; ... pessoa alguma que não a testemunhou pode ter uma concepção adequada de sua glória. Dir-se-ia que todas as estrelas se houvessem reunido em um ponto próximo do zênite, e dali fossem simultaneamente arrojadas, com a velocidade do relâmpago, a todas as partes do horizonte; e, no entanto, não se exauriam, seguindo-se milhares celeremente no rastro de milhares, como se houvessem sido criadas para a ocasião." -- F. Reed, no Christian Advocate and Journal, de 13 de dezembro de 1833. "Não era possível contemplar um quadro mais fiel de uma figueira lançando seus figos quando açoitada por um vento forte." -- The Old Countryman, no Advertiser, vespertino de Portland, de 26 de novembro de 1833. GC 334 1 No Journal of Commerce, de Nova Iorque, de 14 de novembro de 1833, apareceu um longo artigo considerando este maravilhoso fenômeno, o texto continha esta declaração: "Nenhum filósofo ou sábio mencionou ou registrou, suponho-o eu, um acontecimento semelhante ao de ontem de manhã. Um profeta há mil e oitocentos anos predisse-o exatamente -- se não nos furtarmos ao incômodo de compreender o chuveiro de estrelas como a queda das mesmas, ... no único sentido em que é possível ser isso literalmente verdade." GC 334 2 Assim se mostrou o último dos sinais de Sua vinda, relativamente aos quais Jesus declarou a Seus discípulos: "Quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24:33. Depois destes sinais João contemplou, como o grande acontecimento a seguir imediatamente, o céu retirando-se como pergaminho que se enrola, enquanto a Terra tremia, montanhas e ilhas se removiam dos lugares, e os ímpios procuravam, aterrorizados, fugir da presença do Filho do homem. Apocalipse 6:12-17. GC 334 3 Muitos que testemunharam a queda das estrelas, consideraram-na um arauto do juízo vindouro -- "sinal espantoso, precursor certo, misericordioso prenúncio do grande e terrível dia." -- The Old Countryman. Deste modo a atenção do povo foi dirigida para o cumprimento da profecia, sendo muitos levados a dar atenção à advertência do segundo advento. GC 334 4 No ano de 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois anos antes, Josias Litch, um dos principais pastores que pregavam o segundo advento, publicou uma explicação de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos esta potência deveria ser subvertida "no ano de 1840, no mês de agosto"; e poucos dias apenas antes de seu cumprimento escreveu: "Admitindo que o primeiro período, 150 anos, se cumpriu exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos turcos, e que os 391 anos, quinze dias, começaram no final do primeiro período, terminará no dia 11 de agosto de 1840, quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em Constantinopla. E isto, creio eu, verificar-se-á ser o caso." -- Josias Litch, artigo no Signs of the Times, and Expositor of Prophecy, de 1º de agosto de 1840. GC 335 1 No mesmo tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou a proteção das potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição. Quando isto se tornou conhecido, multidões se convenceram da exatidão dos princípios de interpretação profética adotados por Miller e seus companheiros, e maravilhoso impulso foi dado ao movimento do advento. Homens de saber e posição uniram-se a Miller, tanto para pregar como para publicar suas opiniões, e de 1840 a 1844 a obra estendeu-se rapidamente. GC 335 2 Guilherme Miller possuía grandes dotes intelectuais, disciplinados pela meditação e estudo; e a estes acrescentava a sabedoria do Céu, pondo-se em ligação com a Fonte da sabedoria. Era um homem de verdadeiro valor, que inspirava respeito e estima onde quer que a integridade de caráter e a excelência moral fossem apreciadas. Unindo a verdadeira bondade de coração à humildade cristã e ao poder do domínio próprio, era atento e afável para com todos, pronto para ouvir as opiniões de outrem e pesar seus argumentos. Sem paixão ou excitação, aferia todas as teorias e doutrinas pela Palavra de Deus; e seu raciocínio sadio e o profundo conhecimento das Escrituras habilitavam-no a refutar o erro e desmascarar a falsidade. GC 335 3 Todavia, não prosseguiu ele o seu trabalho sem tenaz oposição. Como acontecera com os primeiros reformadores, as verdades que apresentava não eram recebidas favoravelmente pelos ensinadores populares da religião. Não podendo manter sua atitude pelas Escrituras, viam-se obrigados a recorrer aos ditos e doutrinas de homens, às tradições dos pais da igreja. A Palavra de Deus, porém, era o único testemunho aceito pelos pregadores da verdade do advento. "A Bíblia, e a Bíblia só", era a sua senha. A falta de argumentos das Santas Escrituras, por parte dos oponentes, supriam-na eles pelo ridículo e o escárnio. Empregavam tempo, meios e talentos para difamar aqueles cuja única falta era esperar com alegria a volta de seu Senhor, e esforçar-se por viver vida santa e exortar aos demais a prepararem-se para o Seu aparecimento. GC 336 1 Diligentes esforços se faziam para que o espírito do povo fosse desviado do assunto referente ao segundo advento. Procurava-se dar a impressão de que estudar as profecias que se referem à vinda de Cristo e ao fim do mundo, fosse pecado, algo de que os homens deveriam envergonhar-se. Assim, o ministério popular minava a fé na Palavra de Deus. Seu ensino tornava os homens incrédulos, e muitos tomaram a liberdade de andar conforme seus próprios desejos ímpios. Então os autores desse mal atribuíram-no todo aos adventistas. GC 336 2 Se bem que Miller conseguisse ter casas repletas de ouvintes inteligentes e atentos, seu nome era raras vezes mencionado pela imprensa religiosa, exceto para fins de acusação e ridículo. Os descuidados e ímpios, tornando-se audazes pela atitude dos ensinadores religiosos, recorriam aos epítetos infamantes, graçolas vis e blasfemas, em seu esforço de amontoar o ultraje sobre ele e sua obra. O homem de cabelos grisalhos, que deixara o lar confortável para viajar a expensas próprias, de cidade em cidade, de vila em vila, labutando incessantemente a fim de levar ao mundo a solene advertência do juízo próximo, era vilmente acusado de fanático, mentiroso e patife explorador. GC 336 3 O ridículo, a falsidade, o insulto acumulados sobre ele, provocaram indignados protestos, mesmo por parte da imprensa secular. "Tratar um assunto de tão imponente majestade e terríveis conseqüências", com leviandade e linguagem baixa, declaravam mesmo homens mundanos ser "não meramente brincar com os sentimentos de seus propagadores e advogados", mas "fazer zombaria do dia de juízo, escarnecer da própria Divindade, e desdenhar os terrores de Seu tribunal." -- Bliss. GC 336 4 O instigador de todo mal procurava não somente contrariar o efeito da mensagem do advento, mas destruir o próprio mensageiro. Miller fazia aplicação prática da verdade das Escrituras ao coração de seus ouvintes, reprovando-lhes os pecados e perturbando-lhes a satisfação própria; e suas palavras claras e incisivas despertaram inimizade. A oposição manifestada pelos membros da igreja à sua mensagem, animava as classes inferiores a irem mais longe; e conspiraram alguns dos inimigos para tirar-lhe a vida quando saísse do local da reunião. Santos anjos, porém, estavam na multidão, e um deles, certa vez, sob a forma de homem, tomou o braço desse servo do Senhor e pô-lo a salvo da turba enfurecida. Sua obra ainda não estava terminada, e Satanás e seus emissários viram seus planos frustrados. GC 337 1 A despeito de toda a oposição, o interesse no movimento adventista continuou a aumentar. As congregações cresceram das dezenas e centenas para milhares. Grande aumento houve nas várias igrejas, mas depois de algum tempo se manifestou o espírito de oposição a esses conversos, e as igrejas começaram a tomar providências disciplinares contra os que tinham abraçado as opiniões de Miller. Este ato provocou uma resposta de sua pena, em escrito dirigido aos cristãos de todas as denominações, insistindo em que, se suas doutrinas eram falsas, se lhe mostrasse o erro pelas Escrituras. GC 337 2 "Que temos nós crido", disse ele, "que não nos tenha sido ordenado pela Palavra de Deus, a qual, vós mesmos o admitis, é a regra e a única regra de nossa fé e prática? Que temos nós feito que provocasse tão virulentas acusações contra nós, do púlpito e da imprensa, e vos desse motivo justo para excluir-nos [os adventistas] de vossas igrejas e comunhão?" "Se estamos errados, peço mostrar-nos em que consiste nosso erro. Mostrai-nos, pela Palavra de Deus, que estamos enganados. Temos sido bastante ridicularizados; isso nunca nos poderá convencer de que estamos em erro; a Palavra de Deus, unicamente, pode mudar nossas opiniões. Chegamos às nossas conclusões depois de refletir maduramente e muito orar, e ao vermos sua evidência nas Escrituras." -- Bliss. GC 337 3 Século após século as advertências que Deus enviou ao mundo por Seus servos foram recebidas com igual incredulidade e descrença. Quando a iniqüidade dos antediluvianos O moveu a trazer o dilúvio sobre a Terra, primeiramente Ele lhes fez saber Seu propósito, para que pudessem ter oportunidade de abandonar seus maus caminhos. Durante cento e vinte anos lhes soou aos ouvidos o aviso para que se arrependessem, não acontecesse manifestar-se a ira de Deus a fim de destruí-los. A mensagem parecia-lhes, porém, uma história ociosa, e nela não creram. Fazendo-se audaciosos em sua impiedade, caçoavam do mensageiro de Deus, recebiam frivolamente seus apelos e até o acusavam de presunção. Como ousa um homem levantar-se contra todos os grandes da Terra? Se a mensagem de Noé era verdadeira, por que todo o mundo não o viu e creu? A Palavra de um homem contra a sabedoria de milhares! Não queriam dar crédito ao aviso, nem buscar refúgio na arca. GC 338 1 Escarnecedores apontavam para as coisas da Natureza -- a sucessão invariável das estações, o céu azul que nunca havia derramado chuva, os campos verdejantes refrescados pelo brando orvalho da noite -- e exclamavam: "Fala ele parábolas?" Desdenhosamente declaravam ser o pregador da justiça um rematado fanático; e continuavam mais avidamente na busca de prazeres, mais decididos em seus maus caminhos do que nunca dantes. Mas a incredulidade que alimentavam não impediu o acontecimento predito. Deus suportou por muito tempo sua iniqüidade, dando-lhes ampla ocasião para o arrependimento; ao tempo designado, porém, os juízos do Senhor caíram sobre os que haviam rejeitado Sua misericórdia. GC 338 2 Cristo declara que existirá idêntica incredulidade no tocante à Sua segunda vinda. Como os contemporâneos de Noé não o conheceram, "até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também", nas palavras de nosso Salvador "a vinda do Filho do homem." Mateus 24:39. Quando o professo povo de Deus se estiver unindo com o mundo, vivendo como vivem os do mundo, e com eles gozando de prazeres proibidos; quando o luxo do mundo se tornar o luxo da igreja; quando os sinos para casamentos estiverem a tocar, e todos olharem para o futuro esperando muitos anos de prosperidade temporal, subitamente então, como dos céus fulgura o relâmpago, virá o fim de suas resplendentes visões e esperanças ilusórias. GC 339 1 Assim como Deus enviou Seu servo para advertir o mundo do dilúvio a vir, enviou também mensageiros escolhidos para tornar conhecida a proximidade do juízo final. E como os contemporâneos de Noé se riam com escárnio das predições do pregador da justiça, assim, no tempo de Miller, muitos, mesmo dentre o povo professo de Deus, zombavam das palavras de advertência. GC 339 2 E por que foram a doutrina e pregação da segunda vinda de Cristo tão mal recebidas pelas igrejas? Ao passo que para os ímpios o advento do Senhor traz miséria e desolação, para os justos está repleto de alegria e esperança. Esta grande verdade tem sido o consolo dos fiéis de Deus através de todos os séculos. Por que se tornou ela, como seu Autor, "uma pedra de tropeço e rocha de escândalo" a Seu povo professo? Foi nosso Senhor mesmo que prometeu a Seus discípulos: "Se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo." João 14:3. Foi o compassivo Salvador que, antecipando-Se aos sentimentos de solidão e tristeza de Seus seguidores, incumbiu anjos de confortá-los com a certeza de que Ele viria outra vez, em pessoa, assim como fora para o Céu. Estando os discípulos a olhar atentamente para cima a fim de apanhar o último vislumbre dAquele a quem amavam, sua atenção foi despertada pelas palavras: "Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos 1:11. Pela mensagem do anjo acendeu-se de novo a esperança. Os discípulos "tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus." Lucas 24:52, 53. Não se regozijavam porque Jesus deles Se houvesse separado, e tivessem sido deixados a lutar com as provações e tentações do mundo, mas por causa da certeza dada pelo anjo de que Ele viria outra vez. GC 339 3 A proclamação da vinda de Cristo deveria ser agora, como quando fora feita pelos anjos aos pastores de Belém, boas novas de grande alegria. Os que realmente amam ao Salvador saudarão com alegria o anúncio baseado na Palavra de Deus, de que Aquele em quem se centralizam as esperanças de vida eterna, vem outra vez, não para ser insultado, desprezado e rejeitado, como se deu no primeiro advento, mas com poder e glória, para remir Seu povo. Os que não amam o Salvador é que não desejam Sua vinda; e não poderá haver prova mais conclusiva de que as igrejas se afastaram de Deus do que a irritação e a animosidade despertada por esta mensagem enviada pelo Céu. GC 340 1 Os que aceitaram a doutrina do advento aperceberam-se da necessidade de arrependimento e humilhação perante Deus. Muitos haviam por longo tempo vacilado entre Cristo e o mundo; agora compreendiam que era tempo de assumir atitude decisiva. "As coisas da eternidade assumiam para eles uma desusada realidade. O Céu se lhes aproximava, e sentiam-se culpados perante Deus." -- Bliss. Os cristãos despertaram para nova vida espiritual. Compenetraram-se de que o tempo era breve, de que o que tinham a fazer pelos seus semelhantes deveria fazer-se rapidamente. A Terra retrocedia, a eternidade parecia abrir-se perante eles, e a alma, com tudo que diz respeito à sua felicidade ou miséria eterna, sentia eclipsar-se todo o objetivo mundano. O Espírito de Deus repousava sobre eles conferindo poder aos fervorosos apelos que faziam a seus irmãos e aos pecadores, a fim de se prepararem para o dia de Deus. O testemunho silencioso de sua vida diária era constante reprovação aos membros das igrejas, seguidores de formalidades e destituídos de consagração. Estes não desejavam ser perturbados em sua procura de prazeres, seu desejo de ganho e ambição de honras mundanas. Daí a inimizade e a oposição suscitadas contra a fé no advento e contra os que a proclamavam. GC 340 2 Como se verificassem irrefutáveis os argumentos baseados nos períodos proféticos, os oponentes se esforçaram por desacoroçoar a investigação deste assunto, ensinando que as profecias estavam fechadas. Assim seguiram os protestantes nas pegadas dos romanistas. Enquanto a igreja papal privava da Bíblia o povo, as igrejas protestantes alegavam que uma parte importante da Palavra Sagrada -- parte que apresentava verdades especialmente aplicáveis ao nosso tempo -- não podia ser compreendida. GC 341 1 Pastores e povo declaravam que as profecias de Daniel e do Apocalipse eram mistérios incompreensíveis. Cristo, porém, chamou a atenção de Seus discípulos para as palavras do profeta Daniel, relativas aos acontecimentos a ocorrerem na época deles, e disse: "Quem lê, entenda." Mateus 24:15 (TB). E a afirmação de que o Apocalipse é um mistério, que não pode ser compreendido, é contradita pelo próprio título do livro: "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu para mostrar a Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer. ... Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:1-3. GC 341 2 Diz o profeta: "Bem-aventurado aquele que lê" -- há os que não querem ler; a bênção não é para estes. "E os que ouvem" -- há alguns, também, que se recusam a ouvir qualquer coisa relativa às profecias; a bênção não é para esta classe. "E guardam as coisas que nela estão escritas" -- muitos se recusam a atender às advertências e instruções contidas no Apocalipse; nenhum desses pode pretender a bênção prometida. Todos os que ridicularizam os assuntos da profecia, zombando dos símbolos ali solenemente dados, todos os que se recusam a reformar a vida e preparar-se para a vinda do Filho do homem, não serão abençoados. GC 341 3 Em vista do testemunho da Inspiração, como ousam os homens ensinar que o Apocalipse é um mistério, fora do alcance da inteligência humana? É um mistério revelado, um livro aberto. O estudo do Apocalipse encaminha o espírito às profecias de Daniel, e ambos apresentam importantíssimas instruções, dadas por Deus ao homem, relativas a fatos a acontecerem no final da história deste mundo. GC 341 4 Foram reveladas a João cenas de profundo e palpitante interesse na experiência da igreja. Viu ele a posição, os perigos, os conflitos e o livramento final do povo de Deus. Ele registra as mensagens finais que devem amadurecer a seara da Terra, sejam os molhos para o celeiro celeste, ou os feixes para os fogos da destruição. Assuntos de vasta importância lhe foram desvendados, especialmente para a última igreja, a fim de que os que volvessem do erro para a verdade pudessem ser instruídos em relação aos perigos e conflitos que diante deles estariam. Ninguém necessita estar em trevas no que respeita àquilo que está para vir sobre a Terra. GC 342 1 Por que, pois, esta dilatada ignorância com respeito a uma parte importante das Sagradas Escrituras? Por que esta relutância geral em pesquisar-lhes os ensinos? É o resultado de um esforço estudado do príncipe das trevas para esconder dos homens o que revela os seus enganos. Por esta razão, Cristo, o Revelador, prevendo a luta que seria ferida contra o estudo do Apocalipse, pronunciou uma bênção sobre os que lessem, ouvissem e observassem as palavras da profecia. ------------------------Capítulo 19 -- Luz para os nossos dias GC 343 1 A obra de Deus na Terra apresenta, século após século, uma surpreendente semelhança, em todas as grandes reformas ou movimentos religiosos. Os princípios envolvidos no trato de Deus com os homens são sempre os mesmos. Os movimentos importantes do presente têm seu paralelo nos do passado, e a experiência da igreja nos séculos antigos encerra lições de grande valor para o nosso tempo. GC 343 2 Nenhuma verdade é mais claramente ensinada na Escritura do que aquela segundo a qual Deus, pelo Seu Espírito Santo, dirige de maneira especial Seus servos sobre a Terra, nos grandes movimentos que têm por objetivo promover a obra da salvação. Os homens são instrumentos nas mãos de Deus, por Ele empregados para cumprirem Seus propósitos de graça e misericórdia. Cada um tem a sua parte a desempenhar; a cada qual é concedida uma porção de luz, adaptada às necessidades de seu tempo, e suficiente para o habilitar a efetuar a obra que Deus lhe deu a fazer. Nenhum homem, porém, ainda que honrado pelo Céu, já chegou a compreender completamente o grande plano da redenção, ou mesmo a aquilatar perfeitamente o propósito divino na obra para o seu próprio tempo. Os homens não compreendem plenamente o que Deus deseja cumprir pela missão que lhes confia: não abrangem, em todos os aspectos, a mensagem que proclamam em Seu nome. GC 343 3 "Porventura alcançarás os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?" "Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos." "Eu sou Deus, e não há outro deus, não há outro semelhante a Mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não aconteceram." Jó 11:7; Isaías 55:8, 9; Isaías 46:9, 10. GC 344 1 Mesmo os profetas que eram favorecidos com iluminação especial do Espírito, não compreendiam plenamente a significação das revelações a eles confiadas. O sentido deveria ser desvendado de século em século, à medida que o povo de Deus necessitasse das instruções nelas contidas. GC 344 2 Pedro, escrevendo acerca da salvação trazida à luz pelo evangelho, diz: "Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam." 1 Pedro 1:10-12. GC 344 3 Entretanto, ao mesmo tempo em que não era dado aos profetas compreender completamente as coisas que lhes eram reveladas, buscavam fervorosamente obter toda a luz que Deus fora servido tornar manifesta. "Inquiriram e trataram diligentemente", "indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava." Que lição para o povo de Deus na era cristã, para o benefício do qual foram dadas aos Seus servos estas profecias! "Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam." Considerai como os santos homens de Deus "inquiriram e trataram diligentemente", com respeito a revelações que lhes foram dadas para as gerações ainda não nascidas. Comparai seu santo zelo com a descuidada indiferença com que os favorecidos dos últimos séculos tratam este dom do Céu. Que exprobração àquela indiferença comodista e mundana, que se contenta em declarar que as profecias não podem ser compreendidas! GC 344 4 Posto que a mente finita do homem não seja apta a penetrar nos conselhos do Ser infinito, ou compreender completamente a realização de Seus propósitos, muitas vezes é por causa de algum erro ou negligência de sua parte que tão palidamente entendem as mensagens do Céu. Com freqüência, a mente do povo, e mesmo dos servos de Deus, se acha tão cegada pelas opiniões humanas, as tradições e falsos ensinos, que apenas pode parcialmente apreender as grandes coisas que Ele revelou em Sua Palavra. Assim foi com os discípulos de Cristo, mesmo quando o Salvador estava com eles em pessoa. Seu espírito se havia imbuído da idéia popular acerca do Messias como príncipe terreno, que exaltaria Israel ao trono do domínio universal, e não compreendiam o sentido de Suas palavras predizendo Seus sofrimentos e morte. GC 345 1 O próprio Cristo os enviara com a mensagem: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho." Marcos 1:15. Aquela mensagem era baseada na profecia de Daniel 9. As sessenta e nove semanas, declarou o anjo, estender-se-iam até "o Messias, o Príncipe" e com grandes esperanças e antecipado gozo aguardavam o estabelecimento do reino do Messias, em Jerusalém, a fim de governar sobre a Terra toda. GC 345 2 Pregaram a mensagem que Cristo lhes confiara, ainda que eles próprios compreendessem mal a sua significação. Ao passo que seu anúncio se baseava em Daniel 9:25, não viam no versículo seguinte do mesmo capítulo que o Messias deveria ser tirado. Desde o nascimento haviam fixado o coração na antecipada glória de um império terrestre, e isto lhes cegava igualmente a compreensão das especificações da profecia e das palavras de Cristo. GC 345 3 Cumpriram seu dever apresentando à nação judaica o convite de misericórdia e, então, no mesmo tempo em que esperavam ver o Senhor ascender ao trono de Davi, viram-nO ser agarrado como malfeitor, açoitado, escarnecido, condenado e suspenso à cruz do Calvário. Que desespero e angústia oprimia o coração dos discípulos durante os dias em que seu Senhor dormia no túmulo! GC 346 1 Cristo viera no tempo exato, e da maneira predita na profecia. O testemunho das Escrituras fora cumprido em todos os detalhes de Seu ministério. Pregara Ele a mensagem da salvação, e "Sua palavra era com autoridade." O coração de Seus ouvintes havia testemunhado ser ela do Céu. A Palavra e o Espírito de Deus atestavam a missão divina do Filho. GC 346 2 Os discípulos ainda se apegavam com imperecível afeição ao Mestre amado. E, não obstante, traziam o espírito envolto em incerteza e dúvida. Em sua angústia não se lembravam então das palavras de Cristo que de antemão indicavam Seu sofrimento e morte. Se Jesus de Nazaré fosse o verdadeiro Messias, teriam eles sido assim imersos em pesar e decepção? Esta era a pergunta que lhes torturava a alma enquanto o Salvador jazia no sepulcro, durante as desesperadoras horas daquele sábado, que mediou entre Sua morte e Sua ressurreição. GC 346 3 Conquanto a noite de tristeza caísse tenebrosa em redor dos seguidores de Jesus, não foram eles, contudo, esquecidos. Diz o profeta: "Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. ... Ele me trará à luz, e eu verei a Sua justiça." "Nem ainda as trevas me escondem de Ti, mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para Ti a mesma coisa." Deus falou: "Aos justos nasce luz nas trevas." "E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles, e as coisas tortas farei direitas. Estas coisas lhes farei, e nunca os desampararei." Miquéias 7:8, 9; Salmos 139:12; 112:4; Isaías 42:16. GC 347 4 O que os discípulos haviam anunciado em nome do Senhor, era correto em todos os pormenores, e os acontecimentos preditos estavam mesmo então a ocorrer. "O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo" -- havia sido a sua mensagem. À terminação do "tempo" -- as sessenta e nove semanas de Daniel 9, as quais se deveriam estender até ao Messias, "o Ungido" -- Cristo recebera a unção do Espírito, depois de batizado por João, no Jordão. E "o reino de Deus", que eles declararam estar próximo, foi estabelecido pela morte de Cristo. Este reino não era, como eles haviam sido ensinados a crer, um domínio terrestre. Tampouco devia ser confundido com o reino futuro, imortal que será estabelecido quando "o reino, o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" -- reino eterno, no qual "todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão." Daniel 7:27. Conforme é usada na Bíblia, a expressão "reino de Deus" designa tanto o reino da graça como o de glória. O primeiro é apresentado por Paulo na epístola aos hebreus. Depois de apontar para Cristo, o compassivo Intercessor que pode "compadecer-Se de nossas fraquezas", diz o apóstolo: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça." Hebreus 4:16. O trono da graça representa o reino da graça; pois a existência de um trono implica a de um reino. Em muitas parábolas Cristo usa a expressão "o reino dos Céus", para designar a obra da graça divina no coração dos homens. GC 347 1 Assim, o trono de glória representa o reino de glória; e a este reino fazem referência as palavras do Salvador: "Quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos anjos com Ele, então Se assentará no trono de Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle." Mateus 25:31, 32. Este reino está ainda no futuro. Não será estabelecido antes do segundo advento de Cristo. GC 347 2 O reino da graça foi instituído imediatamente depois da queda do homem, quando fora concebido um plano para a redenção da raça culpada. Existiu ele então no propósito de Deus e pela Sua promessa; e mediante a fé os homens podiam tornar-se súditos seus. Contudo, não foi efetivamente estabelecido antes da morte de Cristo. Mesmo depois de entrar para o Seu ministério terrestre, o Salvador, cansado pela obstinação e ingratidão dos homens, poderia ter-Se recusado ao sacrifício do Calvário. No Getsêmani, a taça de amarguras tremia-Lhe na mão. Ele poderia naquele momento ter enxugado o suor de sangue da fronte, abandonando a raça criminosa para que perecesse em sua iniqüidade. Houvesse Ele feito isto, e não teria havido redenção para o homem caído. Quando, porém, o Salvador rendeu a vida, e em Seu último alento clamou: "Está consumado", assegurou-se naquele instante o cumprimento do plano da redenção. Ratificou-se a promessa de libertamento, feita no Éden, ao casal pecador. O reino da graça, que antes existira pela promessa de Deus, foi então estabelecido. GC 348 1 Destarte, a morte de Cristo -- o próprio acontecimento que os discípulos encararam como a destruição final de suas esperanças -- foi o que as confirmou para sempre. Conquanto lhes houvesse acarretado cruel decepção, foi a prova máxima de que sua crença era correta. O acontecimento que os enchera de pranto e desespero, foi o que abrira a porta da esperança a todo filho de Adão, e no qual se centralizava a vida futura e a felicidade eterna de todos os fiéis de Deus, de todos os séculos. GC 348 2 Estavam a cumprir-se os desígnios da misericórdia infinita, mesmo por meio do desapontamento dos discípulos. Se bem que o coração deles tivesse sido ganho pela graça divina e pelo poder do ensino dAquele que falou como homem algum jamais falara, todavia, de mistura com o ouro puro do amor para com Jesus, achava-se a liga vil do orgulho humano e das ambições egoístas. Mesmo na sala da páscoa, na hora solene em que o Mestre já estava a entrar na sombra do Getsêmani, houve "entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior." Lucas 22:24. Nada mais viam senão o trono, a coroa e a glória, enquanto precisamente diante deles se achavam a ignomínia e agonia do jardim, do tribunal, da cruz do Calvário. O orgulho no coração e a sede de glória mundana é que os levou a apegar-se tão tenazmente ao falso ensino de seu tempo, e deixar despercebidas as palavras do Salvador que mostravam a verdadeira natureza de Seu reino e apontavam para a Sua agonia e morte. E destes erros resultou a prova -- dura mas necessária que fora permitida para corrigi-los. Embora os discípulos houvessem compreendido mal o sentido de Sua mensagem, e vissem frustradas suas esperanças, tinham contudo pregado a advertência a eles dada por Deus, e o Senhor lhes recompensaria a fé e honraria a obediência. A eles fora confiada a obra de anunciar a todas as nações o evangelho glorioso do Senhor ressuscitado. A fim de prepará-los para essa obra, fora permitida a experiência que lhes pareceu tão amarga. GC 349 1 Depois de Sua ressurreição Jesus apareceu a Seus discípulos no caminho para Emaús, e, "começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras." Lucas 24:27. Comoveu-se o coração dos discípulos. Avivou-se-lhes a fé. Foram "de novo gerados para uma viva esperança", mesmo antes que Jesus Se lhes revelasse. Era propósito de Cristo iluminar-lhes o entendimento, firmando-lhes a fé na "firme palavra da profecia." Desejava que no espírito deles a verdade criasse sólidas raízes, não meramente porque fosse apoiada por Seu testemunho pessoal, mas por causa da evidência inquestionável apresentada pelos símbolos e sombras da lei típica e pelas profecias do Antigo Testamento. Era necessário aos seguidores de Cristo ter fé inteligente, não só em favor de si próprios, mas para que pudessem levar o conhecimento de Cristo ao mundo. E, como primeiro passo no comunicar este conhecimento, Jesus encaminhou Seus discípulos para "Moisés e os profetas." Este foi o testemunho dado pelo Salvador ressuscitado quanto ao valor e importância das Escrituras do Antigo Testamento. GC 349 2 Que mudança se operou no coração dos discípulos, ao contemplarem mais uma vez o amado semblante do Mestre! Lucas 24:32. Em sentido mais completo e perfeito do que nunca, haviam "achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas." A incerteza, a angústia e o desespero deram lugar a segurança perfeita e esclarecida fé. Não admira que, depois de Sua ascensão, estivessem "sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus." O povo, sabendo apenas da morte ignominiosa do Salvador, procurava ver no rosto deles a expressão de tristeza, confusão e derrota; viam, porém, ali, alegria e triunfo. Que preparo receberam estes discípulos para a obra que se achava diante deles! Tinham passado pela mais severa prova que lhes era possível experimentar, e visto como a Palavra de Deus se cumprira triunfantemente, quando, segundo a visão humana, tudo se achava perdido. Que poderia, dali em diante, intimidar-lhes a fé ou arrefecer-lhes o ardoroso amor? Na mais aguda tristeza tinham "firme consolação", e uma esperança que era "como âncora da alma segura e firme." Hebreus 6:18, 19. Haviam sido testemunhas da sabedoria e poder de Deus e estavam certos "de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura", seria capaz de os separar "do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." "Em todas estas coisas", disseram eles, "somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou." Romanos 8:38, 39, 37. "A Palavra do Senhor permanece para sempre." 1 Pedro 1:25. E "quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Romanos 8:34. GC 350 1 Diz o Senhor: "O Meu povo não será envergonhado para sempre." Joel 2:26. "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." Salmos 30:5. Quando no dia da ressurreição esses discípulos encontraram o Salvador e lhes ardia o coração ao ouvirem Suas palavras; quando olharam para a cabeça, mãos e pés que por amor deles tinham sido feridos; quando, antes de Sua ascensão, Jesus os levou até Betânia, e erguendo as mãos para os abençoar, lhes ordenou: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho", acrescentando: "Eis que Eu estou convosco todos os dias" (Marcos 16:15; Mateus 28:20); quando, no dia de Pentecoste, desceu o Consolador prometido, e foi dado o poder do alto, e a alma dos crentes estremeceu com a presença sensível do Senhor que ascendera ao Céu -- então, mesmo que seu caminho tivesse de passar, como o de Jesus, através de sacrifício e martírio, trocariam eles o ministério do evangelho de Sua graça, com a "coroa da justiça" a ser recebida à vinda de Cristo, pela glória de um trono terrestre que fora a esperança de seu primeiro discipulado? Aquele que é "capaz de fazer muito mais abundantemente do que pedimos ou pensamos" concedera-lhes, com a comunhão de Seus sofrimentos, a de Sua alegria -- alegria de "trazer muitos filhos à glória", alegria indizível, "eterno peso de glória", com que, diz Paulo, "nossa leve e momentânea tribulação" não é para ser comparada. GC 351 1 A experiência dos discípulos que pregaram "o evangelho do reino" no primeiro advento de Cristo, teve seu paralelo na experiência dos que proclamaram a mensagem de Seu segundo advento. Assim como saíram os discípulos a pregar: "O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo", Miller e seus companheiros proclamaram que o período profético mais longo e o último apresentado na Bíblia estava a ponto de terminar, que o juízo estava próximo, e que deveria ser inaugurado o reino eterno. A pregação dos discípulos com relação ao tempo, baseava-se nas setenta semanas de Daniel 9. A mensagem apresentada por Miller e seus companheiros anunciava a terminação dos 2.300 dias de Daniel 8:14, dos quais as setenta semanas fazem parte. Cada uma dessas pregações se baseava no cumprimento de uma porção diversa do mesmo grande período profético. GC 351 2 Do mesmo modo que os primeiros discípulos, Guilherme Miller e seus companheiros não compreenderam inteiramente o significado da mensagem que apresentavam. Erros, que havia muito se achavam estabelecidos na igreja, impediam-nos de chegar a uma interpretação correta de um ponto importante da profecia. Portanto, se bem que proclamassem a mensagem que Deus lhes confiara para transmitir ao mundo, em virtude de uma errônea compreensão do sentido, sofreram desapontamento. GC 352 1 Explicando Daniel 8:14 -- "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" -- Miller, conforme já foi declarado, adotou a opinião geralmente mantida de que a Terra é o santuário, crendo que a purificação deste representava a purificação da Terra pelo fogo, à vinda do Senhor. Quando, pois, achou que o termo dos 2.300 dias estava definidamente predito, concluiu que isto revelava o tempo do segundo advento. Seu erro resultou de aceitar a opinião popular quanto ao que constitui o santuário. GC 352 2 No cerimonial típico -- sombra do sacrifício e sacerdócio de Cristo -- a purificação do santuário era o último serviço realizado pelo sumo sacerdote no conjunto anual das cerimônias ministradas. Era a obra encerradora da expiação -- uma remoção ou afastamento do pecado de Israel. Prefigurava a obra final no ministério de nosso Sumo Sacerdote no Céu, pela remoção ou obliteração dos pecados de Seu povo, que se achavam registrados nos relatórios celestiais. Este trabalho envolve uma investigação e um julgamento; e isto precede imediatamente a vinda de Cristo nas nuvens do céu, com poder e grande glória. Quando Ele vier, pois, todos os casos estarão decididos. Diz Jesus: "O Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:12. É esta obra de julgamento, que precede imediatamente a segunda vinda, que é anunciada na mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14:7: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo." GC 352 3 Os que proclamaram esta advertência deram a mensagem devida no devido tempo. Mas, assim como os primitivos discípulos, baseados na profecia de Daniel 9, declararam -- "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo" -- ao mesmo tempo em que deixaram de perceber que a morte do Messias estava predita na mesma passagem, de igual modo, Miller e seus companheiros pregaram a mensagem baseados em Daniel 8:14 e Apocalipse 14:7, e deixaram de ver que havia ainda outras mensagens apresentadas em Apocalipse 14, que também deveriam ser dadas antes do advento do Senhor. Assim como os discípulos estiveram em erro quanto ao reino a ser estabelecido no fim das setenta semanas, também os adventistas se enganaram em relação ao fato a ocorrer à terminação dos 2.300 dias. Em ambos os casos houve aceitação de erros populares, ou antes, uma aderência a eles, cegando o espírito à verdade. Ambas as classes cumpriram a vontade de Deus, apresentando a mensagem que Ele desejava fosse dada, e ambas, pela sua própria compreensão errônea da respectiva mensagem, sofreram desapontamento. GC 353 1 Não obstante, Deus cumpriu Seu misericordioso propósito, permitindo que a advertência do juízo fosse feita exatamente como o foi. O grande dia estava próximo e, pela providência divina, o povo foi provado em relação ao tempo definido, a fim de que lhes fosse manifesto o que estava em seu coração. A mensagem era destinada à prova e purificação da igreja. Esta deveria ser levada a ver se suas afeições estavam postas neste mundo ou em Cristo e no Céu. Professava amar o Salvador; deveria agora provar seu amor. Estavam os crentes dispostos a renunciar às esperanças e ambições mundanas, acolhendo com alegria o advento do Senhor? A mensagem tinha por fim habilitá-los a discernir seu verdadeiro estado espiritual; foi misericordiosamente enviada a fim de despertá-los para que buscassem o Senhor com arrependimento e humilhação. GC 353 2 O desapontamento, outrossim, embora resultado da compreensão errônea, por parte dos crentes, da mensagem que apresentavam, deveria redundar para o bem. Poria à prova o coração dos que haviam professado receber a advertência. Em face de seu desapontamento, abandonariam eles temerariamente sua experiência cristã, renunciando à confiança na Palavra de Deus? ou procurariam, com oração e humildade, discernir em que tinham deixado de compreender o significado da profecia? Quantos haviam sido movidos pelo temor, por um impulso do momento ou excitação? Quantos eram de ânimo indeciso e incrédulos? Multidões professavam amar o aparecimento do Senhor. Quando chamadas a suportar o escárnio e o opróbrio do mundo, e a prova da demora e do desapontamento, porventura renunciariam à fé? Porque não compreendessem de pronto o trato de Deus, rejeitariam essas pessoas verdades sustentadas pelo mais claro testemunho da Palavra divina? GC 354 1 Esta prova revelaria a força dos que com fé verdadeira haviam obedecido ao que acreditavam ser o ensino da Palavra e do Espírito de Deus. Ensinar-lhes-ia -- o que unicamente tal experiência poderia fazer -- o perigo de aceitar as teorias e interpretações de homens, em vez de fazer com que a Bíblia seja seu próprio intérprete. Aos filhos da fé, a perplexidade e tristeza resultantes de seu erro operariam a necessária correção. Seriam levados a um estudo mais acurado da palavra profética; seriam ensinados a examinar mais cuidadosamente o fundamento de sua fé, e rejeitar tudo que, conquanto amplamente aceito pelo cristianismo, não estivesse fundamentado nas Escrituras da verdade. GC 354 2 Para estes crentes, assim como para os primeiros discípulos, o que na hora da provação lhes parecia obscuro à inteligência, mais tarde se faria claro. Quando vissem o "fim do Senhor" [Tiago 5:11], saberiam que, apesar da provação resultante de seus erros, os divinos propósitos de amor para com eles estiveram continuamente a cumprir-se. Aprenderiam por uma bendita experiência que Ele é "muito misericordioso e piedoso"; que todos os Seus caminhos "são misericórdia e verdade para aqueles que guardam o Seu concerto e os Seus testemunhos". ------------------------Capítulo 20 -- Um grande movimento mundial GC 355 1 Na profecia da mensagem do primeiro anjo, no Capítulo 14 de Apocalipse, é predito um grande despertamento religioso sob a proclamação da breve vinda de Jesus. É visto um anjo a voar "pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo." "Com grande voz" ele proclama a mensagem: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." Apocalipse 14:6, 7. GC 355 2 É significativo o fato de afirmar-se ser um anjo o arauto desta advertência. Pela pureza, glória e poder do mensageiro celestial, a sabedoria divina foi servida de representar o caráter exaltado da obra a cumprir-se pela mensagem, e o poder e glória que a deveriam acompanhar. E o vôo do anjo "pelo meio do céu", "a grande voz" com que é proferida a advertência, e sua proclamação a todos os "que habitam sobre a Terra", "a toda a nação, e tribo, e língua, e povo", evidenciam a rapidez e extensão mundial do movimento. GC 355 3 A própria mensagem derrama luz sobre o tempo em que este movimento deve ocorrer. Declara-se que faz parte do "evangelho eterno", e anuncia a abertura do juízo. A mensagem da salvação tem sido pregada em todos os séculos; mas esta mensagem é uma parte do evangelho que só poderia ser pregada nos últimos dias, pois somente então seria verdade que a hora do juízo havia chegado. As profecias apresentam uma sucessão de acontecimentos que nos levam ao início do juízo. Isto se observa especialmente no livro de Daniel. Entretanto, a parte de sua profecia que se refere aos últimos dias, Daniel teve ordem de fechar e selar, até "o tempo do fim." Não poderia, antes que alcançássemos o tempo do juízo, ser proclamada uma mensagem relativa ao mesmo juízo e baseada no cumprimento daquelas profecias. Mas, no tempo do fim, diz o profeta, "muitos correrão de uma parte para outra, e a Ciência se multiplicará." Daniel 12:4. GC 356 1 O apóstolo Paulo advertiu a igreja a não esperar a vinda de Cristo em seu tempo. "Porque não será assim", diz ele, "sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado." 2 Tessalonicenses 2:3. Não poderemos esperar pelo advento de nosso Senhor senão depois da grande apostasia e do longo período do domínio do "homem do pecado." Este "homem do pecado", que também é denominado "mistério da injustiça", "filho da perdição", e "o iníquo", representa o papado, que, conforme foi anunciado pelos profetas, deveria manter sua supremacia durante 1.260 anos. Este período terminou em 1798. A vinda de Cristo não poderia ocorrer antes daquele tempo. Paulo, com a sua advertência, abrange toda a dispensação cristã até ao ano de 1798. É depois dessa data que a mensagem da segunda vinda de Cristo deve ser proclamada. GC 356 2 Semelhante mensagem jamais foi apresentada nos séculos passados. Paulo, como vimos, não a pregou; indicara aos irmãos a vinda do Senhor num futuro então muito distante. Os reformadores não a proclamaram. Martinho Lutero admitiu o juízo para mais ou menos trezentos anos no futuro, a partir de seu tempo. Desde 1798, porém, o livro de Daniel foi descerrado, aumentou-se o conhecimento das profecias, e muitos têm proclamado a mensagem solene do juízo próximo. GC 357 1 Como a grande reforma do século XVI, o movimento do advento apareceu simultaneamente em vários países da cristandade. Tanto na Europa como na América, homens de fé e oração foram levados a estudar as profecias e, seguindo o relatório inspirado, viram provas convincentes de que o fim de todas as coisas estava próximo. Em diferentes países houve grupos isolados de cristãos que, unicamente pelo estudo das Escrituras, creram na proximidade do advento do Salvador. GC 357 2 Em 1821, três anos depois de Miller chegar à sua explicação das profecias que apontavam para o tempo do juízo, o Dr. José Wolff, "o missionário a todo o mundo", começou a proclamar a próxima vinda do Senhor. Wolff nasceu na Alemanha, de filiação hebréia, sendo seu pai rabino judeu. Quando ainda muito jovem, convenceu-se da verdade da religião cristã. Dotado de espírito ativo e inquiridor, fora ávido ouvinte das conversas em casa do pai, ao congregarem-se diariamente judeus devotos para recordarem as esperanças e expectativas de seu povo, a glória do Messias vindouro e a restauração de Israel. Ouvindo, certo dia, mencionar a Jesus de Nazaré, o menino perguntou quem era Ele. "Um judeu do maior talento", foi a resposta; "mas como pretendesse ser o Messias, o tribunal judaico O condenou à morte." "Por que então" -- volveu o que fizera a pergunta -- "se acha Jerusalém destruída e por que nos encontramos em cativeiro?" "Ai de nós!" -- respondeu o pai -- "porque os judeus assassinaram os profetas." Logo se insinuou na criança o pensamento: "Talvez fosse também Jesus um profeta, e os judeus O mataram sendo Ele inocente." -- Viagens e Aventuras, do Rev. José Wolff. Tão forte foi esse pensamento que, embora lhe fosse proibido entrar em qualquer igreja cristã, muitas vezes se demorava do lado de fora a escutar a pregação. GC 357 3 Tendo apenas sete anos de idade, estava ele a jactar-se, diante de um idoso vizinho cristão, do triunfo futuro de Israel pelo advento do Messias, quando o ancião disse amavelmente: "Meu caro menino, dir-te-ei quem foi o verdadeiro Messias: Foi Jesus de Nazaré, ... a quem teus antepassados crucificaram, assim como fizeram com os profetas da antiguidade. Vai para casa e lê o Capítulo 53 de Isaías, e te convencerás de que Jesus Cristo é o Filho de Deus." -- Viagens e Aventuras, do Rev. José Wolff. A convicção prontamente se apoderou dele. Foi para casa, leu a passagem e admirou-se de ver quão perfeitamente ela se havia cumprido em Jesus de Nazaré. Seriam verdadeiras as palavras do cristão? Pediu o rapaz ao pai uma explicação da profecia, mas defrontou com um silêncio tão rigoroso que nunca mais ousou referir-se ao assunto. Isto, entretanto, apenas lhe aumentou o desejo de saber mais a respeito da religião cristã. GC 358 1 Era-lhe cautelosamente conservado fora do alcance o conhecimento que buscava em seu lar hebreu; mas, quando contava apenas onze anos de idade, deixou a casa paterna e saiu para o mundo a fim de obter por si mesmo educação, escolher sua religião e ofício. Encontrou durante algum tempo um lar entre os parentes, mas não tardou a ser por eles expulso como apóstata e, sozinho e sem dinheiro, teve de se conduzir entre estranhos. Ia de lugar em lugar, estudando diligentemente e conseguindo a subsistência com o ensino do hebraico. Por influência de um professor católico foi levado a aceitar a fé romana e formulou o propósito de se fazer missionário para o seu próprio povo. Com este objetivo foi, alguns anos mais tarde, prosseguir os seus estudos no Colégio da Propaganda, em Roma. Ali, seu hábito de pensar independentemente e falar com franqueza, acarretou-lhe a acusação de heresia. Atacava abertamente os abusos da igreja e insistia na necessidade de reforma. Embora a princípio fosse tratado com favor especial pelos dignitários papais, depois de algum tempo o removeram de Roma. Foi de um lugar para outro, sob a vigilância da igreja, até que se tornou evidente que nunca poderia ser levado a submeter-se ao cativeiro do romanismo. Declararam-no incorrigível; deixaram-no em liberdade para que fosse onde lhe aprouvesse. Encaminhou-se então para a Inglaterra e, professando a fé protestante, uniu-se à Igreja Anglicana. Depois de dois anos de estudo se entregou, em 1821, à sua missão. GC 358 2 Ao mesmo tempo que Wolff aceitava a grande verdade do primeiro advento de Cristo como "homem de dores, e experimentado nos trabalhos", via que as profecias apresentavam, com igual clareza, Seu segundo advento com poder e glória. E, ao passo que procurava conduzir seu povo a Jesus de Nazaré como o Prometido, e indicar-lhes a Sua primeira vinda em humilhação, como sacrifício pelos pecados dos homens, ensinava-lhes também Sua segunda vinda como rei e libertador. GC 359 1 "Jesus de Nazaré, o verdadeiro Messias, dizia ele, cujas mãos e pés foram traspassados; que como um cordeiro foi levado ao matadouro; que foi o homem de dores e experimentado em trabalhos; que veio pela primeira vez, depois de ser o cetro tirado de Judá, e o poder legislativo de entre seus pés, virá pela segunda vez, nas nuvens do céu, e com a trombeta do Arcanjo" (Pesquisas e Trabalhos Missionários, de Wolff) "e estará em pé sobre o Monte das Oliveiras; e aquele domínio sobre a criação, que uma vez fora entregue a nosso primeiro pai, e por ele perdido (Gênesis 1:26; 3:17), será dado a Jesus. Ele será rei sobre a Terra toda. Cessarão os gemidos e lamentações da criação, e cânticos de louvor e ações de graças serão ouvidos. ... Quando Jesus vier na glória de Seu Pai, com os santos anjos, ... os crentes que estiverem mortos ressuscitarão primeiro. 1 Tessalonicenses 4:16; 1 Coríntios 15:23. Isto é o que nós, cristãos, chamamos primeira ressurreição. Então, o reino animal mudará a sua natureza (Isaías 11:6-9), e se submeterá a Jesus. Salmos 8. Prevalecerá a paz universal." (Diário do Rev. José Wolff.) "O Senhor novamente olhará para a Terra, e dirá que tudo é muito bom." -- Ibidem. GC 359 2 Wolff cria na próxima vinda do Senhor, e sua interpretação dos períodos proféticos colocava o grande acontecimento em muito poucos anos de diferença do tempo indicado por Miller. Aos que insistiam nesta passagem: "Daquele dia e hora ninguém sabe" que os homens nada devem saber em relação à proximidade do advento, Wolff replicava: "Disse nosso Senhor que aquele dia e hora nunca deveriam ser conhecidos? Não nos deu Ele sinais dos tempos, a fim de que possamos ao menos saber a aproximação de Sua vinda, como alguém sabe da proximidade do verão pelo brotar das folhas na figueira? Mateus 24:32. Não deveremos jamais conhecer esse tempo, quando Jesus mesmo nos exorta, não somente a ler o profeta Daniel, mas a compreendê-lo? E o mesmo livro de Daniel, em que se diz que as palavras estavam fechadas até ao tempo do fim (conforme era o caso em seu tempo), declara que 'muitos correrão de uma parte para outra' (expressão hebraica para significar -- observar e pensar a respeito do tempo), e a 'ciência' (em relação ao tempo) 'se multiplicará'. Daniel 12:4. Demais, nosso Senhor não tem o intuito de dizer com isto que a proximidade do tempo não será conhecida, mas que o 'dia e hora' exatos 'ninguém sabe'. Pelos sinais dos tempos, diz Ele, será conhecido o suficiente para nos induzir ao preparo para a Sua vinda, tal como Noé preparou a arca." -- Pesquisas e Trabalhos Missionários, de Wolff. GC 360 1 Em relação ao sistema popular de interpretar as Escrituras, ou de mal-interpretá-las, escreveu Wolff: "A maior parte da igreja cristã tem-se separado do claro sentido das Escrituras, volvendo ao sistema fantasioso dos budistas; estes crêem que a futura felicidade dos homens consistirá em mover-se pelo ar. Admitem que, quando lêem judeus, devem entender gentios; e quando lêem Jerusalém, devem compreender igreja; e se se fala de Terra, significa Céu; e pela vinda do Senhor devem compreender o progresso das sociedades missionárias; e subir ao monte da casa do Senhor, significa imponente reunião religiosa dos metodistas." -- Diário, do Rev. José Wolff. GC 360 2 Durante vinte e quatro anos, de 1821 a 1845, Wolff viajou extensamente: na África, visitando o Egito e a Etiópia; na Ásia, atravessando a Palestina, Síria, Pérsia, Usbequistão e a Índia. Visitou também os Estados Unidos, pregando, na viagem para lá, na ilha de Santa Helena. Chegou a Nova Iorque em agosto de 1837; e, depois de falar naquela cidade, pregou em Filadélfia e Baltimore, dirigindo-se finalmente a Washington. Ali, diz ele, "por uma proposta apresentada pelo ex-presidente John Quincy Adams, em uma das casas do Congresso, concedeu-se-me unanimemente o uso do salão do Congresso para uma conferência que eu pronunciei em um sábado, honrada com a presença de todos os congressistas, e também do bispo de Virgínia e do clero e cidadãos de Washington. A mesma honra me foi conferida pelos membros do governo de Nova Jersey e Pensilvânia, em cuja presença fiz conferências sobre minhas pesquisas na Ásia, e também sobre o reino pessoal de Jesus Cristo." -- Diário. GC 361 1 O Dr. Wolff viajou nos países mais bárbaros, sem a proteção de qualquer autoridade européia, suportando muitas agruras e cercado de inumeráveis perigos. Foi espancado e sofreu fome, sendo vendido como escravo, e três vezes condenado à morte. Foi assediado por ladrões, e algumas vezes quase pereceu de sede. Uma ocasião despojaram-no de tudo que possuía, obrigando-o a viajar centenas de quilômetros a pé, através de montanhas, descalço e com os pés enregelados ao contato do chão frio, e o rosto açoitado pela neve. GC 361 2 Quando advertido pelo fato de ir desarmado entre tribos selvagens e hostis, declarava estar "provido de armas -- oração, zelo para com Cristo e confiança em Seu auxílio." "Também estou provido", disse ele, "do amor de Deus e do meu próximo, em meu coração, e da Bíblia em minhas mãos." -- Em Perigos Muitas Vezes, W. H. D. Adams. Aonde quer que fosse, levava consigo as Escrituras em hebraico e inglês. GC 361 3 De uma de suas últimas jornadas diz ele: "Eu ... conservava a Bíblia aberta na mão. Sentia que o meu poder estava no Livro e que sua força me sustentaria." -- Ibidem. GC 361 4 Assim perseverou em seus labores até que a mensagem do juízo foi levada a uma grande parte habitável do globo. Entre judeus, turcos, persas, hindus e muitas outras nacionalidades e povos, ele distribuiu a Palavra de Deus nessas várias línguas, e em toda parte anunciou a proximidade do reino do Messias. GC 361 5 Em suas viagens pelo Usbequistão encontrou a doutrina da próxima vinda do Senhor, professada por um povo remoto e isolado. Os árabes do Iêmen, diz ele, "acham-se de posse de um livro chamado 'Seera', que dá informação sobre a segunda vinda de Cristo e Seu reino em glória; e esperam ocorrerem grandes acontecimentos no ano de 1840." -- Diário. "No Iêmen... passei seis dias com os filhos de Recabe. Não bebem vinho, não plantam vinhedos, não semeiam, e vivem em tendas; lembram-se do bom e velho Jonadabe, filho de Recabe; e encontrei em sua companhia filhos de Israel, da tribo de Dã, ... que esperam com os filhos de Recabe a breve vinda do Messias nas nuvens do céu." -- Ibidem. GC 362 1 Outro missionário verificou existir crença semelhante na Tartária. Um sacerdote tártaro perguntou ao missionário quando Cristo viria pela segunda vez. Ao responder o missionário que nada sabia a respeito, o sacerdote pareceu ficar grandemente surpreso com tal ignorância em quem professava ser ensinador da Bíblia, e declarou sua própria crença baseada na profecia, de que Cristo viria aproximadamente em 1844. GC 362 2 Já em 1826 a mensagem do advento começou a ser pregada na Inglaterra. O movimento ali não tomou forma definida como na América do Norte; o tempo exato do advento não era geralmente tão ensinado, mas proclamava-se vastamente a grande verdade da próxima vinda de Cristo em poder e glória. E isto não somente entre os dissidentes e não conformistas. Mourante Brock, escritor inglês, declara que mais ou menos setecentos pastores da Igreja Anglicana estavam empenhados na pregação deste "evangelho do reino." A mensagem que indicava 1844 como o tempo da vinda do Senhor, foi também dada na Grã-Bretanha. Publicações sobre o advento, provenientes dos Estados Unidos, eram amplamente disseminadas. Livros e revistas reeditavam-se na Inglaterra. E, em 1842, Robert Winter, inglês nato, que recebera na América do Norte a fé do advento, voltou a seu país natal para anunciar a vinda do Senhor. Muitos se uniram a ele na obra, e a mensagem do juízo foi proclamada em várias partes da Inglaterra. GC 363 1 Na América do Sul, em meio de desumanidade e artimanha dos padres, Lacunza, jesuíta espanhol, teve acesso às Escrituras, e recebeu assim a verdade da imediata volta de Cristo. Constrangido a fazer a advertência, e desejando contudo escapar das censuras de Roma, publicou suas idéias sob o pseudônimo de "Rabbi Ben-Israel", representando-se a si mesmo como judeu converso. Lacunza viveu no século XVIII, mas foi aproximadamente em 1825 que seu livro, encontrando acesso em Londres, foi traduzido para a língua inglesa. Sua publicação serviu para aprofundar o interesse que já se despertava na Inglaterra pelo assunto do segundo advento. GC 363 2 Na Alemanha, a doutrina fora ensinada no século XVIII por Bengel, pastor da Igreja Luterana e célebre sábio e crítico da Bíblia. Completando sua educação, Bengel "havia-se dedicado ao estudo de teologia, a quem o pendor de seu espírito grave e religioso, acentuado e fortalecido pelo seu primitivo ensino e disciplina, naturalmente o inclinava. Como outros jovens de caráter meditativo, antes e depois dele, teve que lutar com dúvidas e dificuldades de natureza religiosa; e ele faz alusão, muito sentidamente, às muitas setas que lhe traspassavam o pobre coração, tornando-lhe a juventude difícil de suportar." -- Enciclopédia Britânica, art. Bengel. Ao tornar-se membro do consistório de Wuerttemberg, advogou a causa da liberdade religiosa. "Ao passo que mantinha os direitos e privilégios da igreja, defendia toda liberdade razoável aos que se sentiam obrigados, por motivos de consciência, a retirar-se de sua comunhão." -- Enciclopédia Britânica. Os bons efeitos desta política são ainda sentidos em sua província natal. GC 363 3 Foi enquanto preparava um sermão sobre Apocalipse 21, para o "Domingo do Advento", que a luz da segunda vinda de Cristo raiou no espírito de Bengel. As profecias do Apocalipse desvendaram-se-lhe à compreensão como nunca dantes. Vencido pela intuição da importância estupenda e extraordinária glória das cenas apresentadas pelo profeta, foi obrigado a desviar-se por algum tempo da contemplação do assunto. No púlpito este se lhe apresentou novamente em toda a sua clareza e poder. Desde aquele tempo se dedicou ao estudo das profecias, especialmente as do Apocalipse, e logo chegou à crença de que elas mostravam a proximidade da vinda de Cristo. A data que fixou como o tempo do segundo advento diferia, em muito poucos anos, da que mais tarde Miller admitiu. GC 364 1 Os escritos de Bengel têm sido espalhados por toda a cristandade. Suas idéias sobre profecias foram, de modo geral, recebidas em seu próprio Estado de Wuerttemberg, e até certo ponto em outras partes da Alemanha. O movimento continuou depois de sua morte, e a mensagem do advento ouviu-se na Alemanha ao mesmo tempo em que despertava a atenção dos homens em outras terras. Logo no início alguns dos crentes foram à Rússia e ali formaram colônias; e a crença na próxima vinda de Cristo é ainda mantida pelas igrejas alemãs daquele país. GC 364 2 A luz brilhou também na França e Suíça. Em Genebra, onde Farel e Calvino tinham propagado as verdades da reforma, Gaussen pregou a mensagem do segundo advento. Na escola, como estudante, Gaussen encontrou o espírito de racionalismo que invadiu a Europa toda durante a última parte do século XVIII e início do XIX; e, ao entrar para o ministério, não somente ignorava a verdadeira fé, mas se inclinava ao ceticismo. Em sua mocidade se interessara pelo estudo da profecia. Depois de ler a História Antiga de Rollin, sua atenção foi despertada para o Capítulo 2 de Daniel, e surpreendeu-se com a maravilhosa exatidão com que a profecia se cumprira, conforme se via no relato do historiador. Ali estava um testemunho da inspiração das Escrituras, que lhe serviu como âncora entre os perigos dos últimos anos. Não podia ficar satisfeito com os ensinos do racionalismo e, estudando a Bíblia e procurando luz mais clara, foi ele, depois de algum tempo, levado a uma fé positiva. GC 364 3 Prosseguindo com as pesquisas sobre as profecias, chegou à crença de que a vinda do Senhor estava próxima. Impressionado com a solenidade e importância desta grande verdade, desejou levá-la ao povo; mas a crença popular de que as profecias de Daniel são mistérios e não podem ser compreendidas, foi-lhe sério obstáculo no caminho. Decidiu-se finalmente -- como antes dele fizera Farel ao evangelizar Genebra -- a começar o trabalho com as crianças, esperando, por meio delas, interessar os pais. GC 365 1 "Desejo que seja compreendido" -- disse ele mais tarde, falando de seu objetivo neste empreendimento -- "que não é por considerá-lo de pequena importância, mas, ao contrário, por causa do seu grande valor, que desejei apresentá-lo desta maneira familiar, e que falei às crianças. Quis ser ouvido, e receei que não o seria se me dirigisse primeiramente às pessoas adultas." "Decidi-me, portanto, a ir aos mais jovens. Arranjo um auditório de crianças; se ele aumenta e os ouvintes escutam com interesse e agrado, compreendem e explicam o assunto, estou certo de que terei logo uma segunda reunião, e os adultos, por sua vez, hão de ver também que vale a pena sentar-se e estudar. Feito isto, a causa está ganha." -- Daniel, o Profeta, de L. Gaussen, Prefácio. GC 365 2 O esforço foi bem-sucedido. Ao falar às crianças, pessoas mais velhas vieram também para ouvir. As galerias da igreja ficavam repletas de ouvintes atentos. Entre esses havia homens de posição e saber, bem como desconhecidos e estrangeiros que visitavam Genebra; e assim a mensagem foi levada para outras partes. GC 365 3 Animado com o êxito, Gaussen publicou suas lições, esperando promover o estudo dos livros proféticos nas igrejas do povo de língua francesa. "Publicar a instrução dada às crianças", diz Gaussen, "é dizer aos adultos que muitas vezes negligenciam os ditos livros sob o falso pretexto de que são obscuros -- 'Como podem eles ser obscuros, se vossos filhos os compreendem?'" "Eu tinha grande desejo", acrescenta ele, "de tornar popular, se possível, o conhecimento das profecias em nossos rebanhos." "Estudo algum existe, na verdade, que me pareça responder melhor às necessidades do tempo." "É por meio dele que devemos preparar-nos para a tribulação próxima, e vigiar e esperar por Jesus Cristo." GC 366 1 Conquanto um dos mais distintos e queridos pregadores da língua francesa, Gaussen, depois de algum tempo, foi suspenso do ministério pela falta principal de usar a Bíblia, ao dar instrução aos jovens, em vez do catecismo da igreja -- manual fraco e racionalista, quase destituído de fé positiva. Mais tarde se tornou professor numa escola de teologia, e aos domingos continuava seu trabalho como catequista, falando às crianças e instruindo-as nas Escrituras. Suas obras sobre as profecias despertaram também muito interesse. Da cátedra de professor, por intermédio da imprensa, e pela sua ocupação favorita como mestre de crianças continuou durante muitos anos a exercer vasta influência, sendo o instrumento a chamar a atenção de muitos para o estudo das profecias que indicavam a próxima vinda do Senhor. GC 366 2 Na Escandinávia, também, a mensagem do advento foi proclamada e suscitou grande interesse. Muitos despertaram do descuidoso sentimento de segurança para confessar e abandonar seus pecados, buscando perdão em Cristo. O clero da igreja do Estado, porém, opôs-se ao movimento, e por meio de sua influência alguns que pregavam a mensagem foram lançados na prisão. Em muitos lugares, onde os pregadores da próxima vinda do Senhor foram desta maneira silenciados, Deus Se serviu enviar a mensagem de um modo miraculoso, por meio de criancinhas. Como fossem menores, a lei do Estado não as poderia proibir, e foi-lhes permitido falar sem serem molestadas. GC 366 3 O movimento ocorreu, principalmente, entre as classes mais humildes, e o povo reunia-se nas modestas moradas dos trabalhadores para ouvir a advertência. Os mesmos pregadores infantis eram na maior parte habitantes pobres de cabanas. Alguns deles não tinham mais de seis ou oito anos de idade; e, ao mesmo tempo que sua vida testificava que amavam o Salvador e procuravam viver em obediência aos santos mandamentos de Deus, manifestavam, de ordinário, apenas a habilidade e inteligência que geralmente se vêem nas crianças daquela idade. Quando se encontravam em pé diante do povo, evidenciava-se, entretanto, que eram movidos por uma influência acima dos seus dotes naturais. O tom da voz e as maneiras se transformavam, e com poder solene faziam a advertência do juízo, empregando as próprias palavras das Escrituras: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora de Seu juízo." Reprovavam os pecados do povo, não somente condenando a imoralidade e o vício, mas repreendendo o mundanismo e a apostasia, admoestando os ouvintes a que fugissem apressadamente da ira vindoura. GC 367 1 O povo ouvia com tremor. O Espírito convincente de Deus falava-lhes ao coração. Muitos eram levados a pesquisar as Escrituras com novo e mais profundo interesse; os intemperantes e imorais corrigiam-se; outros abandonavam as práticas desonestas, e fazia-se uma obra tão assinalada, que mesmo pastores da igreja do Estado eram obrigados a reconhecer que a mão de Deus estava no movimento. GC 367 2 Era vontade de Deus que as novas da vinda do Salvador fossem dadas nos países escandinavos; e, quando silenciou a voz de Seus servos, pôs Ele Seu Espírito sobre as crianças para que a obra pudesse cumprir-se. Quando Jesus Se aproximava de Jerusalém acompanhado das multidões jubilosas que, com brados de triunfo e agitação de ramos de palmeiras O aclamavam como Filho de Davi, os invejosos fariseus apelaram para Ele a fim de que as fizesse silenciar; Jesus, porém, respondeu que tudo aquilo era o cumprimento da profecia, e que, se aquelas vozes se calassem, as próprias pedras clamariam. O povo, intimidado pelas ameaças dos sacerdotes e príncipes, cessou com a alegre proclamação ao entrar pelas portas de Jerusalém; mas as crianças, nos pátios do templo, entoavam em seguida o estribilho e, agitando ramos de palmeira, clamavam: "Hosana ao Filho de Davi!" Mateus 21:8-16. Quando os fariseus, profundamente descontentes, Lhe disseram: "Ouves o que estes dizem?" -- Jesus respondeu: "Sim; nunca lestes: pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?" Assim como Deus agiu por meio das crianças no tempo do primeiro advento de Cristo, também o fez ao dar a mensagem de Seu segundo advento. A Palavra de Deus deve cumprir-se para que a proclamação da vinda do Salvador seja feita a todos os povos, línguas e nações. GC 368 1 A Guilherme Miller e seus cooperadores coube a pregação desta advertência na América do Norte. Este país se tornou o centro da grande obra do advento. Foi aqui que a profecia da mensagem do primeiro anjo teve o cumprimento mais direto. Os escritos de Miller e seus companheiros foram levados a países distantes. Em todo o mundo, onde quer que houvessem penetrado missionários, para ali se enviaram as alegres novas da breve volta de Cristo. Por toda parte se propagou a mensagem do evangelho eterno: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo." GC 368 2 O testemunho das profecias que pareciam indicar a vinda de Cristo na primavera de 1844, apoderou-se profundamente do espírito do povo. Ao ir a mensagem de um Estado para outro, despertou-se por toda parte grande interesse. Muitos estavam convictos de que os argumentos tirados dos períodos proféticos eram corretos e, sacrificando o orgulho de suas opiniões, recebiam alegremente a verdade. Alguns pastores puseram de lado suas idéias e sentimentos sectaristas e, renunciando a seus salários e suas igrejas, uniram-se na proclamação da vinda de Jesus. Houve, entretanto, relativamente poucos pastores que aceitaram esta mensagem; foi, por conseguinte, confiada em grande parte aos humildes leigos. Lavradores deixavam os campos, mecânicos as ferramentas, negociantes as suas mercadorias, profissionais os seus cargos; não obstante, o número de obreiros era pequeno em comparação com a obra a ser empreendida. A condição de uma igreja ímpia, e um mundo jazendo na maldade, pesavam na alma dos verdadeiros vigias, e eles voluntariamente suportavam as fadigas, privações e sofrimento, a fim de que pudessem chamar os homens ao arrependimento para a salvação. A obra, ainda que Satanás se opusesse, prosseguia firmemente, sendo a verdade do advento aceita por muitos milhares. GC 369 1 Por toda parte se ouvia o penetrante testemunho, advertindo os pecadores, tanto mundanos como membros da igreja, a fugirem da ira vindoura. Quais João Batista, o precursor de Cristo, os pregadores punham o machado à raiz da árvore, e com todos insistiam em que produzissem frutos dignos de arrependimento. Seus fervorosos apelos achavam-se em evidente contraste com as afirmações de paz e segurança que se ouviam dos púlpitos populares; e, onde quer que a mensagem fosse apresentada, comovia o povo. O simples e direto testemunho das Escrituras, levado ao coração pelo poder do Espírito Santo, comunicava-lhes um peso de convicção a que poucos eram capazes de resistir inteiramente. Os que professavam a religião eram despertos de sua falsa segurança. Viam sua apostasia, mundanidade e incredulidade, seu orgulho e egoísmo. Muitos buscavam o Senhor com arrependimento e humilhação. Fixavam agora no Céu as afeições que durante tanto tempo se haviam apegado às coisas terrenas. O Espírito de Deus repousava sobre eles, e, com coração abrandado e subjugado, uniam-se para fazer soar o clamor: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo." GC 369 2 Pecadores, chorando, perguntavam: "Que devo fazer para me salvar?" Aqueles, cuja vida tinha sido assinalada pela desonestidade, estavam ansiosos por fazer a devida restituição. Todos os que encontravam paz em Cristo anelavam ver outros participarem desta bênção. O coração dos pais se convertia aos filhos, e o dos filhos aos pais. As barreiras do orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se confissões sinceras, e os membros da família trabalhavam pela salvação dos mais queridos e dos que mais perto se achavam. Freqüentemente se ouvia a voz de fervorosa intercessão. Por toda parte havia almas em profunda angústia, lutando com Deus. Muitos passavam em oração a noite toda para obter a certeza de que seus pecados estavam perdoados, ou pela conversão dos parentes ou vizinhos. GC 369 3 Todas as classes se congregavam nas reuniões adventistas. Ricos e pobres, grandes e humildes, achavam-se, por vários motivos, ansiosos por ouvir, por si mesmos, a doutrina do segundo advento. O Senhor detinha o espírito de oposição enquanto Seus servos explicavam as razões de sua fé. Algumas vezes o instrumento era fraco; mas o Espírito de Deus dava poder a Sua verdade. Sentia-se a presença dos santos anjos nessas assembléias, e muitos eram diariamente acrescentados aos crentes. Ao serem repetidas as provas da próxima vinda de Cristo, vastas multidões escutavam silenciosas e extasiadas, as solenes palavras. O Céu e a Terra pareciam aproximar-se um do outro. O poder de Deus se fazia sentir em velhos e jovens, e nos de meia-idade. Os homens procuravam seus lares com louvores nos lábios, ressoando o som festivo no ar silencioso da noite. Pessoa alguma que haja assistido àquelas reuniões jamais poderá esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse. GC 370 1 A proclamação de um tempo definido para a vinda de Cristo despertou grande oposição de muitos, dentre todas as classes, desde o pastor, no púlpito, até ao mais ousado pecador. Cumpriram-se as palavras da profecia: "Nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa de Sua vinda? porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação." 2 Pedro 3:3, 4. Muitos que professavam amar ao Salvador, declaravam que não se opunham à doutrina do segundo advento; faziam objeções, unicamente, ao tempo definido. Mas os olhos de Deus, que vêem tudo, liam-lhes o coração. Não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. Haviam sido servos infiéis; suas obras não resistiriam à inspeção do Deus que sonda os corações, e receavam encontrar-se com o Senhor. Tais como os judeus nos dias de Cristo, não estavam preparados para recebê-Lo. Não somente se recusavam a ouvir os claros argumentos das Escrituras Sagradas, mas procuravam ridicularizar aos que aguardavam o Senhor. Satanás e seus anjos exultavam e lançavam afronta ao rosto de Cristo e dos santos anjos, por ter Seu povo professo tão pouco amor por Ele que não desejavam o Seu aparecimento. GC 370 2 "Daquele dia e hora ninguém sabe", era o argumento mais freqüentemente aduzido pelos que rejeitavam a fé do advento. A passagem é: "Daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do Céu, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai." Mateus 24:36. Uma explicação clara e harmoniosa desta passagem era apresentada pelos que aguardavam o Senhor, e o emprego errôneo que da mesma faziam seus oponentes foi claramente demonstrado. Estas palavras foram proferidas por Cristo na memorável conversação com os discípulos, no Monte das Oliveiras, depois que Ele, pela última vez, Se afastou do templo. Os discípulos haviam feito a pergunta: "Que sinal haverá de Tua vinda e do fim do mundo?" Jesus lhes deu sinais, e disse: "Quando virdes todas estas coisas, sabei que Ele está próximo às portas." Mateus 24:3, 33. Não se deve admitir que uma declaração do Senhor destrua outra. Conquanto ninguém saiba o dia ou a hora de Sua vinda, somos instruídos quanto à sua proximidade, e isto nos é exigido saber. Demais, é-nos ensinado que desatender à advertência ou recusar saber a proximidade do advento do Salvador, ser-nos-á tão fatal como foi aos que viveram nos dias de Noé o não saber quando viria o dilúvio. E a parábola, no mesmo capítulo, põe em contraste o servo fiel com o infiel e dá a sentença ao que disse em seu coração -- "O meu Senhor tarde virá." Mostra sob que luz Cristo olhará e recompensará os que encontrar vigiando e pregando Sua vinda, bem como os que a negam. "Vigiai, pois", diz Ele; "bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim." Mateus 24:42-51. "Se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:3. GC 371 1 Paulo fala de uma classe para a qual o aparecimento do Senhor há de ser surpresa. "O dia do Senhor virá como o ladrão de noite; pois que quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição, ... e de modo nenhum escaparão." Mas ele diz aos que atendem à advertência do Salvador: "Vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas." 1 Tessalonicenses 5:2-5. GC 372 1 Mostrou-se assim que as Escrituras não oferecem garantia aos homens que permanecem em ignorância com relação à proximidade da vinda de Cristo. Aqueles, porém, que unicamente desejavam uma desculpa para rejeitar a verdade, fechavam os ouvidos a esta explicação; e as palavras -- "Daquele dia e hora ninguém sabe" -- continuaram a ser repetidas pelos audaciosos escarnecedores e mesmo pelos professos ministros de Cristo. Ao despertarem os homens e começarem a inquirir do caminho da salvação, interpuseram-se ensinadores religiosos, entre aqueles e a verdade, procurando acalmar-lhes os temores com interpretações falsas da Palavra de Deus. Infiéis vigias uniram-se na obra do grande enganador, clamando: "Paz, Paz!" quando Deus não havia falado de paz. Muitos, tais quais os fariseus do tempo de Cristo, se recusaram a entrar no reino do Céu e embaraçavam aos que estavam entrando. O sangue dessas almas ser-lhes-á requerido. GC 372 2 Os mais humildes e devotos nas igrejas eram geralmente os primeiros a receber a mensagem. Os que estudavam por si mesmos a Escritura Sagrada não podiam deixar de ver o desacordo das opiniões populares com os textos sagrados referentes à profecia. Onde quer que o povo não fosse dirigido pela influência do clero; onde quer que por si mesmos investigassem as Escrituras, a doutrina do advento precisava apenas ser comparada com as Escrituras para estabelecer-lhe a autoridade divina. GC 372 3 Muitos eram perseguidos por seus irmãos descrentes. Alguns, a fim de conservar sua posição na igreja, resolveram não falar a respeito de sua esperança; outros, porém, sentiam que a lealdade para com Deus não lhes permitia ocultar desta maneira as verdades que Ele lhes confiara. Não poucos foram separados da comunidade da igreja, unicamente pelo motivo de exprimirem sua crença na vinda de Cristo. Mui preciosas se tornaram, aos que suportavam esta prova de sua fé, as palavras do profeta: "Vossos irmãos que vos aborrecem e longe de si vos separam por amor do Meu nome, dizem: Glorifique-Se o Senhor; porém aparecerá para a vossa alegria, e eles serão confundidos." Isaías 66:5 (VI). GC 372 4 Anjos de Deus observavam, com o mais profundo interesse, o resultado da advertência. Quando houve uma rejeição geral da mensagem por parte das igrejas, afastaram-se os anjos com tristeza. Muitos havia, porém, que ainda não tinham sido provados quanto à verdade do advento. Muitas pessoas eram transviadas por maridos, esposas, pais ou filhos, e fazia-se-lhes crer que era pecado até mesmo o escutar as heresias pregadas pelos adventistas. Os anjos receberam ordem de velar fielmente por aquelas almas; pois outra luz, procedente do trono de Deus, deveria ainda resplandecer sobre elas. GC 373 1 Com inexprimível desejo, os que haviam recebido a mensagem aguardavam a vinda do Salvador. O tempo em que esperavam encontrar-se com Ele estava às portas. Com calma e solenidade viam aproximar-se a hora. Permaneciam em doce comunhão com Deus, como que antegozando a paz que desfrutariam no glorioso porvir. Pessoa alguma que haja experimentado esta confiante esperança, poderá esquecer-se daquelas preciosas horas de expectativa. Algumas semanas antes do tempo, as ocupações seculares foram em sua maior parte postas de lado. Como se estivessem no leito de morte, e devessem dentro de poucas horas cerrar os olhos às cenas terrestres, os crentes sinceros examinavam cuidadosamente todos os pensamentos e emoções de seu coração. Não houve confecção de "vestes para a ascensão"; todos sentiam, porém, a necessidade de evidência íntima de que estavam preparados para encontrar-se com o Salvador; suas vestes brancas eram a pureza da alma -- o caráter purificado do pecado pelo sangue expiatório de Cristo. Oxalá ainda houvesse entre o povo professo de Deus o mesmo espírito de exame do coração, a mesma fé, ardorosa e resoluta. Houvessem eles desta maneira continuado a humilhar-se perante o Senhor, a instar com suas petições no propiciatório, e estariam de posse de uma experiência muito mais rica do que aquela que ora possuem. Há muito pouca oração, muita falta de verdadeira convicção do pecado, e a ausência de uma fé viva deixa a muitos destituídos da graça tão ricamente provida por nosso Redentor. GC 373 2 Deus intentara provar o Seu povo. Sua mão ocultou um erro no cômputo dos períodos proféticos. Os adventistas não descobriram esse erro; tampouco foi descoberto pelos mais instruídos de seus oponentes. Estes últimos diziam: "Vossa contagem dos períodos proféticos é correta. Qualquer grande acontecimento está prestes a ocorrer; mas não é o que o senhor Miller prediz: é a conversão do mundo, e não o segundo advento de Cristo." GC 374 1 Passou-se o tempo de expectação e Cristo não apareceu para o libertamento de Seu povo. Os que com fé e amor sinceros haviam esperado o Salvador, experimentaram amargo desapontamento. Todavia, os propósitos de Deus se cumpriam: estava Ele a provar o coração dos que professavam estar à espera de Seu aparecimento. Muitos havia, entre eles, que não tinham sido constrangidos por motivos mais elevados do que o medo. A profissão de fé não lhes transformara o coração nem a vida. Não se realizando o acontecimento esperado declararam essas pessoas que não se achavam decepcionadas; nunca tinham crido que Cristo viria. Contavam-se entre os primeiros a ridicularizar a tristeza dos verdadeiros crentes. GC 374 2 Mas Jesus e toda a hoste celestial olhavam com amor e simpatia para os provados e fiéis, embora decepcionados. Pudesse descerrar-se o véu que separava o mundo visível do invisível, e ter-se-iam visto anjos aproximando-se daquelas almas constantes, escudando-as dos dardos de Satanás. ------------------------Capítulo 21 -- A causa da degradação atual GC 375 1 Ao pregar a doutrina do segundo advento, Guilherme Miller e seus companheiros haviam trabalhado com o único propósito de despertar os homens ao preparo para o juízo. Tinham procurado acordar os que professavam a religião, para a verdadeira esperança da igreja, e levá-los a sentir a necessidade de uma experiência cristã mais profunda; trabalhavam, também, para acordar os não-conversos ao dever de imediato arrependimento e conversão a Deus. "Não faziam tentativas para converter os homens a uma seita ou partido em matéria de religião. Daí o trabalharem entre todas as facções e seitas, sem interferências com sua organização ou disciplina." GC 375 2 "Em todos os meus trabalhos", disse Miller, "nunca tive o desejo ou o pensamento de criar qualquer interesse separado do das denominações existentes, ou de beneficiar uma em detrimento de outra. Pensava em beneficiar a todas. Supondo que todos os cristãos se regozijassem com a perspectiva da vinda de Cristo, e que os que não viam as coisas como eu as via, não haveriam, por isso, de menosprezar os crentes nesta doutrina, não pensei em qualquer necessidade de reuniões separadas. Todo o meu objetivo se concentrava no desejo de converter almas a Deus, cientificar o mundo do juízo vindouro e induzir meus semelhantes a fazer o preparo de coração que os habilitaria a encontrar-se com seu Deus em paz. A grande maioria dos que se converteram pelos meus trabalhos, uniram-se às várias igrejas existentes." -- Memórias de Guilherme Miller, Bliss. GC 376 1 Como sua obra tendia a edificar as igrejas, foi por algum tempo olhada com favor. Mas, decidindo-se os pastores e os dirigentes religiosos contra a doutrina da segunda vinda de Cristo, e desejando suprimir toda agitação a respeito, não somente se opuseram a ela, do púlpito, mas também negaram a seus membros o privilégio de assistir a pregações sobre o assunto, ou mesmo falar de tal esperança nas reuniões de oração da igreja. Assim, encontraram-se os crentes em grande provação e perplexidade. Amavam suas igrejas, e repugnava-lhes o separar-se delas; mas como vissem suprimido o testemunho da Palavra de Deus e negado o direito de pesquisar as profecias, compreenderam que a lealdade para com o Senhor lhes vedava a submissão. Não poderiam considerar os que procuravam excluir o testemunho da Palavra de Deus como constituindo a igreja de Cristo, "coluna e base da verdade." Daí o se sentirem justificados em desligar-se dessas congregações. No verão de 1844 aproximadamente cinqüenta mil se retiraram das igrejas. GC 376 2 Por esse tempo, uma assinalada mudança se presenciou na maioria das igrejas dos Estados Unidos. Havia muitos anos se vinha verificando uma conformação cada vez maior, gradual mas constante, com as práticas e costumes do mundo, e bem assim um declínio correspondente na verdadeira vida espiritual; mas, naquele ano, evidenciou-se uma decadência súbita e notável em quase todas as igrejas do país. Se bem que ninguém parecesse capaz de indicar a causa, o fato em si mesmo era largamente notado e comentado, tanto pela imprensa como do púlpito. GC 376 3 Numa reunião do presbitério de Filadélfia, o senhor Barnes, autor de um comentário largamente usado e pastor de uma das principais igrejas daquela cidade, "declarou que estava no ministério fazia vinte anos e nunca, até à última comunhão, tinha administrado a ordenança sem receber na igreja novos membros, ora mais ora menos. Agora, acrescentou, não há despertamento nem conversões, tampouco se evidencia crescimento em graça por parte dos que professam a religião, e ninguém chegava ao seu gabinete de estudo a fim de falar a respeito da salvação da alma. Com o prosperar dos negócios e as brilhantes perspectivas do comércio e da indústria, aumentou o espírito de mundanismo. Isto se dá com todas as denominações." -- Congregational Journal, de 23 de maio de 1844. GC 377 1 No mês de fevereiro do mesmo ano, o Prof. Finney, do Colégio Oberlin, disse: "Temos tido perante o espírito o fato de que, em geral, as igrejas protestantes de nosso país são, como tais, ou apáticas ou hostis a quase todas as reformas morais da época. Há algumas exceções, todavia insuficientes para que isso deixe de ser geral. Nota-se, além disso, a falta quase universal de influência revivificadora nas igrejas. A apatia espiritual invade quase tudo, e é terrivelmente profunda; assim testifica a imprensa religiosa de todo o país. ... Quase que geralmente, os membros da igreja estão-se tornando seguidores da moda: dão mãos aos descrentes nas reuniões de prazer, nas danças, nas festas, etc. ... Mas não necessitamos de nos expandir neste assunto lastimável. Basta que as provas se intensifiquem e se despenhem pesadamente sobre nós, para mostrar que as igrejas em geral se estão degenerando lamentavelmente. Elas se têm afastado muito do Senhor, que Se retirou delas. GC 377 2 E um escritor, no Religious Telescope, testificou: "Nunca testemunhamos declínio religioso tão generalizado como no presente. Em verdade, a igreja deveria despertar e pesquisar a causa desta situação aflitiva; pois, como aflito é que deveria ser encarado este estado de coisas por todo aquele que ama a Sião. Quando nos lembramos de quão 'poucos e espaçados' casos de verdadeira conversão existem, e da insolência e obstinação dos pecadores, quase sem precedentes, exclamamos como que involuntariamente: 'Esqueceu-Se Deus de ser misericordioso? ou está fechada a porta da graça?'" GC 377 3 Semelhante condição nunca prevalece sem causa na própria igreja. As trevas espirituais que caem sobre as nações, igrejas e indivíduos, são devidas, não à retirada arbitrária do socorro da graça divina, por parte de Deus, mas à negligência ou rejeição da luz divina por parte dos homens. Exemplo frisante desta verdade vê-se na história do povo judeu no tempo de Cristo. Pelo apego ao mundo e esquecimento de Deus e Sua Palavra, tornou-se-lhes obscurecido o entendimento, e o coração mundano e sensual. Daí estarem em ignorância quanto ao advento do Messias e, em seu orgulho e incredulidade, rejeitarem o Redentor. Mesmo assim, Deus não privou a nação judaica do conhecimento das bênçãos da salvação, ou de participar delas. Aqueles, porém, que rejeitaram a verdade, perderam todo o desejo do dom do Céu. Tinham "posto as trevas pela luz, e a luz pelas trevas", até que a luz que neles estava se tornou em trevas; e quão grandes eram as trevas! GC 378 1 Convém à política de Satanás que os homens conservem as formas da religião, embora falte o espírito da piedade vital. Depois de terem rejeitado o evangelho, os judeus continuaram zelosamente a manter seus antigos ritos; preservavam com rigor o exclusivismo nacional, ao mesmo tempo em que não podiam deixar de admitir que a presença de Deus não mais era entre eles manifesta. A profecia de Daniel apontava tão insofismavelmente para o tempo da vinda do Messias, e tão diretamente lhes predizia Sua morte, que eles desanimavam o estudo dessa profecia, e finalmente os rabis pronunciaram a maldição sobre todos os que tentassem uma contagem do tempo. Em sua cegueira e impenitência, o povo de Israel tem permanecido, por mil e novecentos anos, indiferente ao misericordioso oferecimento de salvação, despreocupado das bênçãos do evangelho como solene e terrível advertência do perigo de rejeitar a luz do Céu. GC 378 2 Onde quer que exista causa idêntica, os mesmos efeitos se seguirão. Aquele que deliberadamente abafa as convicções do dever, pelo fato de se achar este em conflito com as tendências pessoais, perderá finalmente a faculdade de discernir a verdade do erro. Obscurece-se o entendimento, a consciência se torna calejada, o coração endurecido, e a alma se separa de Deus. Onde a mensagem da verdade divina é desdenhada e tratada levianamente, ali a igreja se envolve em trevas; esfriam a fé e o amor; entram a separação e a discórdia. Os membros da igreja centralizam seus interesses e energias em empreendimentos mundanos, e os pecadores se tornam endurecidos em sua impenitência. GC 379 1 A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14, anunciando a hora do juízo de Deus e apelando para os homens a fim de O temer e adorar, estava destinada a separar o povo professo de Deus das influências corruptoras do mundo, e despertá-lo a fim de ver seu verdadeiro estado de mundanismo e apostasia. Deus enviou à igreja, nesta mensagem, uma advertência que, se fosse aceita, teria corrigido os males que a estavam apartando dEle. Houvessem os homens recebido a mensagem do Céu, humilhando o coração perante o Senhor, buscando com sinceridade o preparo para estar em pé em Sua presença, o Espírito e poder de Deus ter-se-iam manifestado entre eles. A igreja de novo teria atingido o bendito estado de unidade, fé e amor, que houve nos dias apostólicos, em que "era um o coração e a alma" dos crentes, e "anunciavam com ousadia a Palavra de Deus", dias em que "acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos 4:32, 31; Atos 2:47. GC 379 2 Recebesse o professo povo de Deus a luz tal como lhe refulge da Sua Palavra, e alcançaria a unidade por que Cristo orou, a qual o apóstolo descreve como "a unidade do Espírito pelo vínculo da paz." "Há", diz ele, "um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo." Efésios 4:3-5. GC 379 3 Foram estes os benditos resultados fruídos pelos que aceitaram a mensagem adventista. Vieram de denominações várias, e as barreiras denominacionais foram arremessadas ao chão; credos em conflito eram reduzidos a átomos; a esperança de um milênio terreal, em desacordo com a Escritura Sagrada, foi posta de lado e corrigidas opiniões falsas sobre o segundo advento; varridos o orgulho e a conformação ao mundo; repararam-se injustiças; os corações se uniram na mais doce comunhão, e o amor e a alegria reinaram supremos. Se esta doutrina fez isto pelos poucos que a receberam, o mesmo teria feito a todos, se todos a houvessem recebido. GC 380 1 Mas as igrejas, em geral, não aceitaram a advertência. Os pastores, que, como "vigias sobre a casa de Israel", deveriam ter sido os primeiros a discernir os sinais da vinda de Jesus, não quiseram saber a verdade, quer pelo testemunho dos profetas, quer pelos sinais dos tempos. À medida que as esperanças e ambições mundanas lhes encheram o coração, arrefeceram o amor para com Deus e a fé em Sua Palavra; e, quando a doutrina do advento era apresentada, apenas suscitava preconceito e descrença. O fato de ser a mensagem em grande parte pregada por leigos, era insistentemente apresentado como argumento contra a mesma. Como na antigüidade, ao claro testemunho da Palavra de Deus opunha-se a indagação: "Têm crido alguns dos príncipes ou dos fariseus?" E vendo quão difícil tarefa era refutar os argumentos aduzidos dos períodos proféticos, muitos desanimavam o estudo das profecias, ensinando que os livros proféticos estavam selados, e não deveriam ser compreendidos. Multidões, confiando implicitamente nos pastores, recusaram-se a ouvir a advertência; e outros, ainda que convictos da verdade, não ousavam confessá-la para não serem "expulsos da sinagoga." A mensagem que Deus enviara para provar e purificar a igreja revelou com muita evidência quão grande era o número dos que haviam posto a afeição neste mundo ao invés de em Cristo. Os laços que os ligavam à Terra, mostravam-se mais fortes do que as atrações ao Céu. Preferiam ouvir a voz da sabedoria mundana, e desviavam-se da probante mensagem da verdade. GC 380 2 Rejeitando a advertência do primeiro anjo, desprezaram os meios que o Céu provera para a sua restauração. Desacataram o mensageiro de graça que teria corrigido os males que os separavam de Deus, e com maior avidez volveram à busca da amizade do mundo. Eis aí a causa da terrível condição de mundanismo, apostasia e morte espiritual, que prevalecia nas igrejas em 1844. GC 381 1 No Capítulo 14 do Apocalipse, o primeiro anjo é seguido por um segundo anjo, que proclama: "Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição." Apocalipse 14:8. O termo Babilônia é derivado de "Babel" e significa confusão. É empregado nas Escrituras para designar as várias formas de religião falsa ou apóstata. Em Apocalipse, Capítulo 17, Babilônia é representada por uma mulher -- figura que a Bíblia usa como símbolo de igreja, sendo uma mulher virtuosa a igreja pura, e uma mulher desprezível, a igreja apóstata. GC 381 2 Nas Escrituras, o caráter sagrado e permanente da relação entre Cristo e Sua igreja é representado pela união matrimonial. O Senhor uniu a Si o Seu povo, por meio de um concerto solene, prometendo-lhe ser seu Deus, enquanto o povo se comprometia a ser unicamente dEle. Disse o Senhor: "E desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias." Oséias 2:19. E noutro lugar: "Eu vos desposarei." Jeremias 3:14. E Paulo emprega a mesma figura no Novo Testamento, quando diz: "Porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo." 2 Coríntios 11:2. GC 381 3 A infidelidade da igreja para com Cristo, permitindo que sua confiança e afeição dEle se desviem, e consentindo que o amor às coisas mundanas ocupe a alma, é comparada com a violação do voto conjugal. O pecado de Israel, afastando-se do Senhor, é apresentado sob esta figura; e o maravilhoso amor de Deus, que assim desprezam, é descrito de maneira tocante: "Dei-te juramento, e entrei em concerto contigo, diz o Senhor Jeová, e tu ficaste sendo Minha." "E foste formosa em extremo, e foste próspera, até chegares a ser rainha. E correu a tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da Minha glória que Eu tinha posto sobre ti. ... Mas confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama." "Como a mulher se aparta aleivosamente do seu companheiro, assim aleivosamente te houveste comigo, ó casa de Israel, diz o Senhor"; "como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe os estranhos." Ezequiel 16:8, 13-15, 32; Jeremias 3:20. GC 382 1 No Novo Testamento, expressão muito semelhante é dirigida aos professos cristãos que buscam a amizade do mundo, de preferência ao favor de Deus. Diz o apóstolo Tiago: "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." GC 382 2 A mulher (Babilônia) de Apocalipse 17, é descrita como estando "vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundície; ... e na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições." Diz o profeta: "Vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus." Declara ainda ser Babilônia "a grande cidade que reina sobre os reis da Terra." Apocalipse 17:4-6, 18. O poder que por tantos séculos manteve despótico domínio sobre os monarcas da cristandade, é Roma. A cor púrpura e escarlata, o ouro, as pérolas e pedras preciosas, pintam ao vivo a magnificência e extraordinária pompa ostentadas pela altiva Sé de Roma. E de nenhuma outra potência se poderia, com tanto acerto, declarar que está "embriagada do sangue dos santos", como daquela igreja que tão cruelmente tem perseguido os seguidores de Cristo. Babilônia é também acusada do pecado de relação ilícita com "os reis da Terra." Foi pelo afastamento do Senhor e aliança com os gentios que a igreja judaica se tornou prostituta; e Roma, corrompendo-se de modo semelhante ao procurar o apoio dos poderes do mundo, recebe condenação idêntica. GC 382 3 Declara-se que Babilônia é "mãe das prostitutas." Como suas filhas devem ser simbolizadas as igrejas que se apegam às suas doutrinas e tradições, seguindo-lhe o exemplo em sacrificar a verdade e a aprovação de Deus, a fim de estabelecer uma aliança ilícita com o mundo. A mensagem de Apocalipse 14, anunciando a queda de Babilônia, deve aplicar-se às organizações religiosas que se corromperam. Visto que esta mensagem se segue à advertência acerca do juízo, deve ser proclamada nos últimos dias; portanto, não se refere apenas à Igreja de Roma, pois que esta igreja tem estado em condição decaída há muitos séculos. Demais, no Capítulo 18 do Apocalipse, o povo de Deus é convidado a sair de Babilônia. De acordo com esta passagem, muitos do povo de Deus ainda devem estar em Babilônia. E em que corporações religiosas se encontrará hoje a maior parte dos seguidores de Cristo? Sem dúvida, nas várias igrejas que professam a fé protestante. Ao tempo em que surgiram, assumiram estas uma nobre posição no tocante a Deus e à verdade, e Sua bênção com elas estava. Mesmo o mundo incrédulo foi constrangido a reconhecer os benéficos resultados que se seguiam à aceitação dos princípios do evangelho. Nas palavras do profeta a Israel: "E correu a tua fama entre as nações, por causa da tua formosura, pois era perfeita, por causa da Minha glória que Eu tinha posto sobre ti, diz o Senhor Jeová." Ezequiel 16:14. Caíram, porém, pelo mesmo desejo que foi a maldição e ruína de Israel -- o desejo de imitar as práticas dos ímpios e buscar-lhes a amizade. "Confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama." Ezequiel 16:15. GC 383 1 Muitas das igrejas protestantes estão seguindo o exemplo de Roma na iníqua aliança com os "reis da Terra": igrejas do Estado, mediante suas relações com os governos seculares; e outras denominações, pela procura do favor do mundo. E o termo "Babilônia" -- confusão -- pode apropriadamente aplicar-se a estas corporações; todas professam derivar suas doutrinas da Escritura Sagrada, e, no entanto, estão divididas em quase inúmeras seitas, com credos e teorias grandemente contraditórios. GC 383 2 Além da pecaminosa união com o mundo, as igrejas que se separaram de Roma apresentam outras características desta. GC 384 1 Uma obra católica romana argumenta que, "se a Igreja de Roma foi culpada de idolatria, com relação aos santos, sua filha, a Igreja Anglicana, tem a mesma culpa, pois tem dez igrejas dedicadas a Maria para uma dedicada a Cristo." -- Dr. Challoner, The Catholic Christian Instructed, no prefácio. E o Dr. Hopkins, no "Tratado Sobre o Milênio", declara: "Não há motivo para se considerar o espírito e prática anticristãos como sendo restritos ao que hoje se chama a Igreja de Roma. Nas igrejas protestantes muito se encontra do anticristo, e longe estão de se acharem completamente reformadas das ... corrupções e impiedade." -- Obras, Samuel Hopkins. GC 384 2 Com respeito à separação da Igreja Presbiteriana da de Roma, escreve o Dr. Guthrie: "Há trezentos anos, nossa igreja, com uma Bíblia aberta em seu estandarte, e ostentando esta divisa -- 'Examinai as Escrituras' -- saiu das portas de Roma." Faz logo a significativa pergunta: "Saíram de Babilônia limpos?" -- O Evangelho em Ezequiel, de John Guthrie. GC 384 3 "A Igreja Anglicana", diz Spurgeon, "parece estar profundamente minada pelo sacramentarismo; mas os dissidentes parecem quase tão contaminados pela incredulidade filosófica quanto ela. Aqueles de quem esperávamos melhores coisas estão se desviando, um a um, dos fundamentos da fé. O coração da Inglaterra mesmo, creio eu, está completamente carcomido por uma condenável incredulidade, que ousa todavia ir ao púlpito e intitular-se cristã." GC 384 4 Qual foi a origem desta grande apostasia? Como, a princípio, se afastou a igreja da simplicidade do evangelho? Conformando-se com as práticas do paganismo, a fim de facilitar a aceitação da doutrina cristã pelos pagãos. O apóstolo Paulo, em seus dias declarou: "Já o mistério da injustiça opera." 2 Tessalonicenses 2:7. Durante a vida dos apóstolos a Igreja permaneceu relativamente pura. Mas, "pelo fim do século II, a maioria das igrejas tomou nova forma; desapareceu a primitiva simplicidade, e, insensivelmente, ao baixarem ao túmulo os velhos discípulos, seus filhos, juntamente com os novos conversos, ... puseram-se à frente da causa e lhe deram novo molde." -- Pesquisas Eclesiásticas, Roberto Robinson. Para conseguir conversos, aviltou-se o elevado estandarte da fé cristã, e, como resultado, "uma inundação pagã, invadindo a igreja, trouxe consigo seus costumes, práticas e ídolos." -- Conferências de Gavazzi. Como o cristianismo conseguisse o favor e apoio dos príncipes seculares, foi nominalmente aceito pelas multidões; mas, conquanto muitos se intitulassem cristãos, "na realidade permaneciam no paganismo, e, especialmente em segredo, adoravam os ídolos." -- Ibidem. GC 385 1 Não se tem repetido o mesmo caso em quase todas as igrejas que se intitulam protestantes? Com o desaparecimento dos fundadores, dos que possuíam o verdadeiro espírito de reforma, seus descendentes põem-se na dianteira e "dão novo molde à causa." Embora se apeguem cegamente ao credo dos pais, e se recusem a aceitar qualquer verdade além da que lhes foi dada conhecer, os filhos dos reformadores se afastam grandemente do exemplo paterno de humildade, abnegação e renúncia do mundo. Assim, "a primitiva simplicidade desaparece." Um dilúvio de mundanismo invade a igreja e "leva consigo seus costumes, práticas e ídolos". GC 385 2 Ai! até que ponto terrível a amizade do mundo, que é "inimizade contra Deus", é hoje acalentada entre os professos seguidores de Cristo! Quão largamente se têm as igrejas populares de toda a cristandade afastado da norma bíblica da humildade, abnegação, simplicidade e piedade! Falando a respeito do uso correto do dinheiro, disse João Wesley: "Não dissipeis parte alguma de tão precioso talento, simplesmente em satisfazer o desejo dos olhos, com vestuário supérfluo ou dispendioso, ou com adornos desnecessários. Não gasteis parte dele em ornar extravagantemente vossas casas; em mobília desnecessária, ou dispendiosa; em quadros custosos, pinturas, douraduras. ... De nada disponhais para satisfazer o orgulho da vida, para obter a admiração ou louvor dos homens. ... 'Tanto quanto fizeres bem a ti mesmo, falarão bem de ti os homens.' Tanto quanto vos vistais 'de púrpura e de linho finíssimo', e vivais 'todos os dias regalada e esplendidamente', não há dúvida de que muitos aplaudirão vossos gostos elegantes, vossa generosidade e hospitalidade. Mas não compreis tão caro o aplauso. Estai antes contentes com a honra que vem de Deus." -- Obras de Wesley. Entretanto, em muitas igrejas de nosso tempo, este ensino é desatendido. GC 386 1 Professar uma religião tornou-se moda no mundo. Governantes, políticos, advogados, médicos, negociantes, aderem à igreja como o meio de alcançar o respeito e confiança da sociedade, e promover os seus próprios interesses mundanos. Procuram, assim, encobrir, sob o manto do cristianismo, todas as suas transações injustas. As várias corporações religiosas, robustecidas com a riqueza e influência dos mundanos batizados, mais ainda se empenham em obter maior popularidade e proteção. Pomposas igrejas, embelezadas de maneira a mais extravagante, erguem-se nas movimentadas avenidas. Os adoradores vestem-se com luxo e de acordo com a moda. Elevado salário é pago ao talentoso pastor para entreter e atrair o povo. Seus sermões não devem tocar nos pecados populares, mas deverão ser suaves e agradáveis aos ouvidos da aristocracia. Deste modo, ímpios de elevada posição são alistados nos registros da igreja, e os modernos pecados escondidos sob o véu da piedade. GC 386 2 Comentando a atitude atual dos professos cristãos para com o mundo, diz um dos principais jornais seculares: "Insensivelmente a igreja tem seguido o espírito da época e adaptado suas formas de culto às necessidades modernas." "Todas as coisas, na verdade, que contribuem para tornar atraente a religião, a igreja hoje emprega como seus instrumentos." E um escritor, no Independent, de Nova Iorque, assim fala a respeito do metodismo atual: "A linha de separação entre os religiosos e irreligiosos se desvanece numa espécie de penumbra, e homens zelosos de ambos os lados estão labutando para obliterar toda diferença entre seu modo de agir e seus prazeres." "A popularidade da religião tende grandemente a aumentar o número dos que desejam haurir-lhe os benefícios sem, de maneira honrada, fazer frente aos seus deveres." GC 387 1 Diz Howard Crosby: "É assunto para séria preocupação o encontrarmos a igreja de Cristo negligenciando o cumprimento dos desígnios do Senhor. Exatamente como os antigos judeus permitiram que o intercâmbio familiar com as nações idólatras lhes roubasse de Deus o coração, ... assim a igreja de Jesus, hoje, mediante a falsa parceria com o mundo incrédulo, abandona os métodos divinos de sua verdadeira vida e entrega-se aos costumes de uma sociedade sem Cristo -- hábitos perniciosos embora muitas vezes plausíveis -- usando argumentos e chegando a conclusões, estranhos à revelação de Deus e diretamente antagônicos a todo o crescimento em graça." -- The Health Christian, An Appeal to the Church. GC 387 2 Nesta maré de mundanismo e busca de prazeres, a abnegação e sacrifício por amor de Cristo acham-se quase inteiramente esquecidos. "Alguns dos homens e mulheres ora em vida ativa em nossas igrejas foram ensinados, quando crianças, a fazer sacrifícios a fim de se habilitarem a dar ou efetuar alguma coisa para Cristo." Mas, "se são necessários fundos agora, ... ninguém deve ser convidado a contribuir. Oh, não! fazei uma quermesse, representações, espetáculos, jantares à antiga, ou alguma coisa para se comer -- algo que divirta o povo". GC 387 3 Já o governador Washburn, de Wisconsin, em sua mensagem anual, a 9 de janeiro de 1873, declarou: "Parece que precisamos de uma lei para acabar com as escolas de jogo. Estas proliferam em toda parte. Mesmo a igreja (inadvertidamente, sem dúvida) algumas vezes faz a obra do diabo. Concertos com fins beneficentes, bingos e rifas, algumas vezes em auxílio de objetivos religiosos ou caritativos, mas freqüentemente com finalidades menos dignas, sorteios de prendas, jogos de prêmios, etc., são todos expedientes para se obter dinheiro sem retribuição correspondente. Nada é tão desmoralizador ou pernicioso, particularmente para os jovens, como a aquisição de dinheiro ou propriedade sem trabalho. Se pessoas respeitáveis se empenham nessas empresas de azar, e acalmam a consciência com o pensamento de que o dinheiro se destina a um bom fim, não é para se estranhar que a juventude do Estado tão a miúdo caia nos hábitos que, com quase toda a certeza, a tornarão afeiçoada aos jogos de azar." GC 388 1 O espírito de condescendência com o mundo está a invadir as igrejas por toda a cristandade. Robert Atkins, num sermão pregado em Londres, pinta tenebroso quadro do declínio espiritual que prevalece na Inglaterra: "Os verdadeiros justos estão desaparecendo da Terra, e ninguém leva isto a sério. Os que, atualmente, em todas as igrejas, professam a religião, são amantes do mundo, condescendentes com o mundo, afeiçoados ao conforto pessoal e desejosos de honras. São chamados a sofrer com Cristo, mas temem o vitupério. ... Apostasia, apostasia, apostasia, está mesmo gravado na frente de cada igreja; e se elas o soubessem e o sentissem, poderia haver esperança; mas, ai, elas exclamam: 'Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta'." -- Biblioteca do Segundo Advento. GC 388 2 O grande pecado imputado a Babilônia é que "a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição." Esta taça de veneno que ela oferece ao mundo representa as falsas doutrinas que aceitou, resultantes da união ilícita com os poderosos da Terra. A amizade mundana corrompe-lhe a fé, e por seu turno a igreja exerce uma influência corruptora sobre o mundo, ensinando doutrinas que se opõem às mais claras instruções das Sagradas Escrituras. GC 388 3 Roma privou o povo da Escritura Sagrada e exigiu que todos os homens aceitassem seus ensinos em lugar da própria Bíblia. Foi obra da Reforma restituir a Palavra de Deus aos homens; não é, porém, sobejamente verdade que nas igrejas modernas os homens são ensinados a depositar fé no credo e dogmas de sua igreja em vez de nas Escrituras? Falando das igrejas protestantes, disse Carlos Beecher: "Horrorizam-se com qualquer palavra rude contra os credos, com a mesma sensibilidade com que os santos padres se teriam horrorizado com uma rude palavra contra a incipiente veneração dos santos e mártires, por eles fomentada. ... As denominações evangélicas protestantes por tal forma ataram as mãos umas às outras, bem como suas próprias, que, em qualquer dessas denominações, um homem não pode absolutamente se tornar pregador, sem, de alguma maneira, aceitar outro livro além da Escritura Sagrada. ... Nada há de imaginário na declaração de que o poderio do credo está começando hoje a proibir a Bíblia tão realmente como o fez Roma, se bem que de maneira mais sutil." -- Sermão sobre A Bíblia Como um Credo Suficiente, pronunciado em Fort Wayne, Indiana, a 2 de fevereiro de 1846. GC 389 1 Quando ensinadores fiéis expõem a Palavra de Deus, levantam-se homens de saber, pastores que professam compreender as Escrituras, e denunciam a doutrina sã como heresia, desviando assim os inquiridores da verdade. Não fosse o caso de se achar o mundo fatalmente embriagado com o vinho de Babilônia, e multidões seriam convencidas e convertidas pelas verdades claras e penetrantes da Palavra de Deus. Mas, a fé religiosa parece tão confusa e discordante que o povo não sabe o que crer como verdade. O pecado da impenitência do mundo jaz à porta da igreja. GC 389 2 A mensagem do segundo anjo de Apocalipse, Capítulo 14, foi primeiramente pregada no verão de 1844, e teve naquele tempo uma aplicação mais direta às igrejas dos Estados Unidos, onde a advertência do juízo tinha sido mais amplamente proclamada e em geral rejeitada, e onde a decadência das igrejas mais rápida havia sido. A mensagem do segundo anjo, porém, não alcançou o completo cumprimento em 1844. As igrejas experimentaram então uma queda moral, em conseqüência de recusarem a luz da mensagem do advento; mas essa queda não foi completa. Continuando a rejeitar as verdades especiais para este tempo, têm elas caído mais e mais. Contudo, não se pode ainda dizer que "caiu Babilônia, ... que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição." Ainda não deu de beber a todas as nações. O espírito de conformação com o mundo e de indiferença às probantes verdades para nosso tempo existe e está a ganhar terreno nas igrejas de fé protestante, em todos os países da cristandade; e estas igrejas estão incluídas na solene e terrível denúncia do segundo anjo. Mas a obra da apostasia não atingiu ainda a culminância. GC 389 3 A Escritura Sagrada declara que Satanás, antes da vinda do Senhor, operará "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça"; e "os que não receberam o amor da verdade para se salvarem" serão deixados à mercê da "operação do erro, para que creiam a mentira." 2 Tessalonicenses 2:9-11. A queda de Babilônia se completará quando esta condição for atingida, e a união da igreja com o mundo se tenha consumado em toda a cristandade. A mudança é gradual, e o cumprimento perfeito de Apocalipse 14:8 está ainda no futuro. GC 390 1 Apesar das trevas espirituais e afastamento de Deus prevalecentes nas igrejas que constituem Babilônia, a grande massa dos verdadeiros seguidores de Cristo encontra-se ainda em sua comunhão. Muitos deles há que nunca souberam das verdades especiais para este tempo. Não poucos se acham descontentes com sua atual condição e anelam mais clara luz. Em vão olham para a imagem de Cristo nas igrejas a que estão ligados. Afastando-se estas corporações mais e mais da verdade, e aliando-se mais intimamente com o mundo, a diferença entre as duas classes aumentará, resultando, por fim, em separação. Tempo virá em que os que amam a Deus acima de tudo, não mais poderão permanecer unidos aos que são "mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela". GC 390 2 O Capítulo 18 do Apocalipse indica o tempo em que, como resultado da rejeição da tríplice advertência do Capítulo 14:6-12, a igreja terá atingido completamente a condição predita pelo segundo anjo, e o povo de Deus, ainda em Babilônia, será chamado a separar-se de sua comunhão. Esta mensagem é a última que será dada ao mundo, e cumprirá a sua obra. Quando os que "não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade" (2 Tessalonicenses 2:12), forem abandonados para que recebam a operação do erro e creiam a mentira, a luz da verdade brilhará então sobre todos os corações que se acham abertos para recebê-la, e os filhos do Senhor que permanecem em Babilônia atenderão ao chamado: "Sai dela, povo Meu." Apocalipse 18:4. ------------------------Capítulo 22 -- Profecias alentadoras GC 391 1 Quando se passou o tempo em que pela primeira vez se esperou a vinda do Senhor, na primavera de 1844, os que pela fé haviam aguardado o Seu aparecimento ficaram por algum tempo envoltos em perplexidade e dúvida. Embora o mundo os considerasse inteiramente derrotados, e julgasse provado que tivessem seguido uma ilusão, sua fonte de consolo era ainda a Palavra de Deus. Muitos continuaram a pesquisar as Escrituras, examinando de novo as provas de sua fé, e estudando cuidadosamente as profecias para obterem mais luz. O testemunho da Bíblia em apoio de sua atitude parecia claro e conclusivo. Sinais que não poderiam ser malcompreendidos apontavam para a vinda de Cristo como estando próxima. A bênção especial do Senhor, tanto na conversão de pecadores como no avivamento da vida espiritual, entre os cristãos, havia testificado que a mensagem era do Céu. E, posto que os crentes não pudessem explicar o desapontamento, sentiam-se seguros de que Deus os guiara na experiência por que haviam passado. GC 391 2 Entretecida com as profecias que tinham considerado como tendo aplicação ao tempo do segundo advento, havia instrução especialmente adaptada ao seu estado de incerteza e indecisão e que os animava a esperar pacientemente na fé segundo a qual o que então lhes era obscuro à inteligência se faria claro no tempo devido. GC 392 1 Entre estas profecias estava a de Habacuque 2:1-4: "Sobre a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver O que fala comigo, e o que eu responderei, quando eu for argüido. Então o Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa. Porque a visão é para o tempo determinado, e até o fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará. E eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá." GC 392 2 Já em 1842, a ordem dada nesta profecia, de escrever a visão e torná-la bem legível sobre tábuas, a fim de que a pudesse ler o que correndo passasse, havia sugerido a Carlos Fitch, a preparação de um mapa profético a fim de ilustrar as visões de Daniel e do Apocalipse. A publicação deste mapa foi considerada como cumprimento da ordem dada por Habacuque. Todavia, ninguém naquele tempo notou que uma visível demora no cumprimento da visão -- um tempo de tardança -- é apresentada na mesma profecia. Depois do desapontamento pareceu muito significativa esta passagem: "A visão é ainda para o tempo determinado, e até o fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará. ... O justo pela sua fé viverá." GC 392 3 Foi também fonte de encorajamento e conforto aos crentes uma parte da profecia de Ezequiel: "E veio ainda a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, que ditado é este que vós tendes na terra de Israel, dizendo: Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda a visão? Portanto, dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: ... Chegaram os dias e a palavra de toda a visão. ... Falarei, e a palavra que Eu falar se cumprirá; não será diferida." "Os da casa de Israel dizem: A visão que este vê é para muitos dias, e profetiza de tempos que estão longe: Portanto, dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Não será mais diferida nenhuma das Minhas palavras, e a palavra que falei se cumprirá." Ezequiel 12:21-25, 27, 28. GC 393 1 Os que esperavam se regozijaram, crendo que Aquele que conhece o fim desde o princípio havia olhado através dos séculos e, prevendo-lhes o desapontamento, lhes dera palavras de animação e esperança. Não fossem essas porções das Escrituras, advertindo-os a esperar com paciência, e a conservar firme a confiança na Palavra de Deus, sua fé teria fracassado naquela hora de prova. GC 393 2 A parábola das dez virgens de Mateus 25, ilustra também a experiência do povo adventista. Em Mateus 24, em resposta à pergunta dos discípulos relativa aos sinais de Sua vinda e do fim do mundo, Cristo indicara alguns dos acontecimentos mais importantes da história do mundo e da igreja, desde o Seu primeiro advento até ao segundo, a saber: a destruição de Jerusalém, a grande tribulação da igreja sob a perseguição pagã e papal, o escurecimento do Sol e da Lua, e a queda de estrelas. Depois disto, falou a respeito de Sua vinda em Seu reino, e expôs a parábola que descreve as duas classes de servos que Lhe aguardam o aparecimento. O Capítulo 25 inicia-se com estas palavras: "Então o reino dos Céus será semelhante a dez virgens." Aqui se faz referência à igreja que vive nos últimos dias, a mesma que é indicada no fim do Capítulo 24. Sua experiência é ilustrada nessa parábola pelas cenas de um casamento oriental. GC 393 3 "Então o reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas. As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram, mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro." GC 393 4 A vinda de Cristo, como era anunciada pela mensagem do primeiro anjo, entendia-se ser representada pela vinda do esposo. A reforma espiritual que se generalizou sob a proclamação de Sua segunda vinda, correspondeu à saída das virgens. Nesta parábola, como na de Mateus 24, duas classes são representadas. Todas haviam tomado suas lâmpadas, a Bíblia, e mediante sua luz saíram para encontrar o esposo. Mas, enquanto "as loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo", "as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas." A última classe tinha recebido a graça de Deus, e o poder do Espírito Santo, que regenera e alumia, tornando a Palavra divina uma lâmpada para os pés e luz para o caminho. No temor de Deus estudaram as Escrituras, para aprenderem a verdade, e fervorosamente buscaram a pureza de coração e de vida. Possuíam uma experiência pessoal, fé em Deus e em Sua Palavra, que não poderiam ser derrotadas pelo desapontamento e demora. Outras, "tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo." Haviam-se movido por um impulso de momento. Seus temores foram excitados pela mensagem solene, mas haviam dependido da fé que possuíam seus irmãos, estando satisfeitos com a luz vacilante das boas emoções, sem terem compreensão perfeita da verdade, nem experimentarem uma genuína operação da graça no coração. Tinham saído para encontrar-se com o Senhor, cheios de esperanças, com a perspectiva de imediata recompensa; mas não estavam preparados para a demora e desapontamento. Quando vieram as provações, faltou-lhes a fé, e sua luz se tornou bruxuleante. GC 394 1 "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram." Pela tardança do esposo é representada a passagem do tempo em que o Senhor era esperado, o desapontamento, e a aparente demora. Neste tempo de incerteza, o interesse dos que eram superficiais e não de todo sinceros começou logo a vacilar, arrefecendo seus esforços; mas aqueles cuja fé se baseava no conhecimento pessoal da Escritura Sagrada, tinham sob os pés uma rocha que as ondas do desapontamento não poderiam derruir. "Tosquenejaram todas, e adormeceram", uma classe na indiferença e abandono de sua fé, outra esperando pacientemente até que mais clara luz fosse proporcionada. Todavia, na noite de prova, a última pareceu perder, até certo ponto, o zelo e devoção. Os que eram medianamente dedicados e superficiais não mais puderam apoiar-se à fé dos seus irmãos. Cada qual tinha de, por si mesmo, ficar em pé ou cair. GC 395 1 Por este tempo começou a aparecer o fanatismo. Alguns, que haviam professado ser zelosos crentes na mensagem, rejeitaram a Palavra de Deus como o único guia infalível, e, pretendendo ser guiados pelo Espírito, entregaram-se ao governo de seus próprios sentimentos, impressões e imaginação. Alguns houve que manifestaram um zelo cego e fanático, condenando a todos os que não lhes sancionassem o proceder. Suas idéias e atos fanáticos não encontraram simpatia da grande corporação dos adventistas; serviram, no entanto, para acarretar o opróbrio à causa da verdade. GC 395 2 Satanás, por esse meio, estava procurando opor-se à obra de Deus e destruí-la. O povo tinha sido grandemente abalado pela obra do advento; haviam-se convertido milhares de pecadores, e homens fiéis dedicavam-se à tarefa de proclamar a verdade, mesmo no tempo de tardança. O príncipe do mal perdia seus súditos, e, no intuito de acarretar a ignomínia à causa de Deus, procurou enganar alguns que professavam a fé, levando-os a extremos. Seus agentes estavam alerta para apanhar todo erro, falta e ato indecoroso, e apresentá-los ao povo, exageradamente, a fim de tornar odiosos os adventistas e sua fé. Assim, quanto maior fosse o número dos que ajuntasse para professar fé no segundo advento, possuindo-lhes, ao mesmo tempo, o coração, tanto maior vantagem alcançaria, e chamava para eles a atenção como representantes de todo o corpo de crentes. GC 395 3 Satanás é o "acusador de nossos irmãos", e é o seu espírito que inspira os homens a espreitar os erros e defeitos do povo do Senhor, conservando-o sob observação, enquanto deixa ignoradas suas boas ações. Ele está sempre em atividade quando Deus opera pela salvação das almas. Quando os filhos de Deus se apresentam perante o Senhor, Satanás vai também entre eles. Em todo avivamento está ele pronto para introduzir os de coração não santificado e desequilibrados de espírito. Quando estes aceitam alguns pontos da verdade e adquirem um lugar entre os crentes, opera por meio deles a fim de introduzir teorias que enganarão os incautos. Não se prova que qualquer homem seja cristão verdadeiro por encontrar-se em companhia dos filhos de Deus, mesmo na casa de culto, e à mesa do Senhor. Satanás freqüentemente ali se acha, nas ocasiões mais solenes, sob a forma daqueles que pode usar como agentes. GC 396 1 O príncipe do mal disputa cada polegada de terreno em que o povo de Deus avança em sua jornada rumo à cidade celestial. Nenhuma reforma, em toda a história da igreja, foi levada avante sem encontrar sérios obstáculos. Assim foi no tempo de Paulo. Onde quer que o apóstolo fundasse uma igreja, alguns havia que professavam receber a fé, mas introduziam heresias que, uma vez aceitas, excluiriam finalmente o amor da verdade. Lutero também sofreu grande perplexidade e angústia pelo procedimento de pessoas fanáticas, que pretendiam haver Deus falado diretamente por meio delas, e que, portanto, colocavam as próprias idéias e opiniões acima do testemunho das Escrituras. Muitos a quem faltavam fé e experiência, mas que possuíam considerável presunção, gostando de ouvir ou de contar alguma coisa nova, eram seduzidos pelas pretensões dos novos ensinadores e uniam-se aos agentes de Satanás na obra de derruir o que Deus levara Lutero a edificar. E os Wesley, e outros que abençoaram o mundo pela sua influência e fé, encontraram a cada passo os ardis de Satanás, que consistiam em arrastar pessoas de zelo exagerado, desequilibradas e profanas, a excessos de fanatismo de toda sorte. GC 396 2 Guilherme Miller não alimentava simpatias para com as influências que conduziam ao fanatismo. Declarou, como o fez Lutero, que todo espírito deveria ser provado pela Palavra de Deus. "O diabo", disse Miller, "tem presentemente grande poder sobre o espírito de alguns. E como saberemos de que espécie de espírito são eles? A Bíblia responde: 'Por seus frutos os conhecereis'. ... Muitos espíritos há no mundo; ordena-se-nos provar os espíritos. O espírito que não nos faz viver sóbria, reta e piamente, no mundo atual, não é o Espírito de Cristo. Estou cada vez mais convencido de que Satanás muito tem a fazer nestes movimentos desordenados. ... Entre nós, muitos que pretendem ser inteiramente santificados, seguem as tradições dos homens, e visivelmente se tornam tão ignorantes acerca da verdade como outros que não têm semelhantes pretensões." -- Bliss. "O espírito do erro nos afastará da verdade, e o Espírito de Deus para a verdade nos conduzirá. Mas, dizeis vós, um homem pode estar em erro e pensar que tem a verdade. Como será então? Respondemos: O Espírito e a Palavra concordam. Se um homem julga a si mesmo pela Palavra de Deus e acha perfeita harmonia em toda a Palavra, deve então crer que tem a verdade; mas, se descobre que o espírito pelo qual se conduz não se harmoniza com todo o conteúdo da lei ou do Livro de Deus, ande com cuidado, para que não suceda ser preso na cilada do diabo." -- The Adventist Herald and Signs of the Times Reporter, de 15 de janeiro de 1845. "Tenho muitas vezes obtido mais provas de uma piedade interior por meio de um olhar iluminado, um rosto umedecido, uma fala embargada, do que de todo o ruído da cristandade." -- Bliss. GC 397 1 Nos dias da Reforma, os inimigos desta atribuíam todos os males do fanatismo aos mesmos que estavam a trabalhar com todo o afã para combatê-lo. Idêntico proceder adotaram os oponentes do movimento adventista. E não contentes com torcer e exagerar os erros dos extremistas e fanáticos, faziam circular boatos desfavoráveis que não tinham os mais leves traços de verdade. Essas pessoas eram movidas pelo preconceito e o ódio. Sua paz se perturbava pela proclamação de que Cristo estava às portas. Temiam fosse verdade, e, contudo, esperavam que o não fosse, e este era o segredo da luta que moviam contra os adventistas e sua fé. GC 398 1 O fato de alguns fanáticos se haverem imiscuído nas fileiras dos adventistas, não constitui maior motivo para julgar que o movimento não era de Deus, do que a presença de fanáticos e enganadores na igreja, no tempo de Paulo ou Lutero, fora razão suficiente para condenar sua obra. Desperte do sono o povo de Deus, e inicie com fervor a obra de arrependimento e reforma; investigue as Escrituras para aprender a verdade como é em Jesus; faça uma consagração completa a Deus, e não faltarão evidências de que Satanás ainda se acha em atividade e vigilância. Com todo o engano possível manifestará ele seu poder, chamando em seu auxílio os anjos caídos de seu reino. GC 398 2 Não foi o proclamar do segundo advento que criou fanatismo e divisão. Esses apareceram no verão de 1844, quando os adventistas estavam imersos em dúvida e perplexidade no tocante à Sua verdadeira posição. O anunciar da mensagem do primeiro anjo e do "clamor da meia-noite", tendia diretamente a reprimir o fanatismo e a discórdia. Os que participavam destes solenes movimentos, estavam em harmonia; enchia-lhes o coração o amor de uns para com os outros e para com Jesus, a quem esperavam ver brevemente. Uma só fé, uma só esperança os elevavam acima do domínio de qualquer influência humana, demonstrando-se um escudo contra os assaltos de Satanás. GC 398 3 "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas." Mateus 25:5-7. No verão de 1844, período de tempo intermediário entre a época em que, a princípio, se supusera devessem terminar os 2.300 dias, e o outono do mesmo ano, até onde, segundo mais tarde se descobriu, deveriam eles chegar, a mensagem foi proclamada nos próprios termos das Escrituras: "Aí vem o Esposo!" GC 398 4 O que determinou este movimento foi descobrir-se que o decreto de Artaxerxes para a restauração de Jerusalém, o qual estabelecia o ponto de partida para o período dos 2.300 dias, entrou em vigor no outono do ano 457 antes de Cristo, e não no começo do ano, conforme anteriormente se havia crido. Contando o outono de 457, os 2.300 anos terminam no outono de 1844. GC 399 1 Argumentos aduzidos dos símbolos do Antigo Testamento apontavam também para o outono como o tempo em que deveria ocorrer o acontecimento representado pela "purificação do santuário." Isto se tornou muito claro ao dar-se atenção à maneira por que os símbolos relativos ao primeiro advento de Cristo se haviam cumprido. GC 399 2 A morte do cordeiro pascal era sombra da morte de Cristo. Diz Paulo: "Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós." 1 Coríntios 5:7. O molho das primícias, que por ocasião da Páscoa era movido perante o Senhor, simbolizava a ressurreição de Cristo. Falando da ressurreição do Senhor e de todo o Seu povo, diz Paulo: "Cristo, as primícias, depois os que são de Cristo, na Sua vinda." 1 Coríntios 15:23. Semelhante ao molho que era agitado, constituído pelos primeiros grãos amadurecidos que se colhiam antes da ceifa, Cristo é as primícias da ceifa imortal de resgatados que, por ocasião da ressurreição futura, serão recolhidos ao celeiro de Deus. GC 399 3 Aqueles símbolos se cumpriram, não somente quanto ao acontecimento mas também quanto ao tempo. No dia catorze do primeiro mês judaico, no mesmo dia e mês em que, durante quinze longos séculos, o cordeiro pascal havia sido morto, Cristo, tendo comido a Páscoa com os discípulos, instituiu a solenidade que deveria comemorar Sua própria morte como o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo." Naquela mesma noite Ele foi tomado por mãos ímpias, para ser crucificado e morto. E, como o antítipo dos molhos que eram agitados, nosso Senhor ressurgiu dentre os mortos ao terceiro dia, como -- "as primícias dos que dormem" (1 Coríntios 15:20), exemplo de todos os ressuscitados justos, cujo "corpo abatido" será transformado, "para ser conforme o Seu corpo glorioso." Filipenses 3:21. GC 399 4 De igual maneira, os tipos que se referem ao segundo advento devem cumprir-se ao tempo designado no culto simbólico. No cerimonial mosaico, a purificação do santuário, ou o grande dia da expiação, ocorria no décimo dia do sétimo mês judaico (Levítico 16:29-34), dia em que o sumo sacerdote, tendo feito expiação por todo o Israel, e assim removido seus pecados do santuário, saía e abençoava o povo. Destarte, acreditava-se que Cristo, nosso Sumo Sacerdote, apareceria para purificar a Terra pela destruição do pecado e pecadores, e glorificar com a imortalidade a Seu povo expectante. O décimo dia do sétimo mês, o grande dia da expiação, tempo da purificação do santuário, que no ano 1844 caía no dia vinte e dois de outubro, foi considerado como o tempo da vinda do Senhor. Isto estava de acordo com as provas já apresentadas, de que os 2.300 dias terminariam no outono, e a conclusão parecia irresistível. GC 400 1 Na parábola de Mateus 25, o tempo de espera e sono é seguido pela vinda do Esposo. Isto concordava com os argumentos que acabam de ser apresentados, tanto da profecia como dos símbolos. Produziram profunda convicção quanto à sua veracidade; e o "clamor da meia-noite" foi proclamado por milhares de crentes. GC 400 2 Semelhante à vaga da maré, o movimento alastrou-se pelo país. Foi de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, e para os lugares distantes, no interior, até que o expectante povo de Deus ficou completamente desperto. Desapareceu o fanatismo ante essa proclamação, como a geada matutina perante o Sol a erguer-se. Viram os crentes suas dúvidas e perplexidades removidas, e a esperança e coragem animaram-lhes o coração. A obra estava livre dos exageros que sempre se manifestam quando há arrebatamento humano sem a influência moderadora da Palavra e do Espírito de Deus. Assemelhava-se, no caráter, aos períodos de humilhação e regresso ao Senhor que, entre o antigo Israel, se seguiam a mensagens de advertência por parte de Seus servos. Teve as características que distinguem a obra de Deus em todas as épocas. Houve pouca alegria arrebatadora, porém mais profundo exame de coração, confissão de pecados e abandono do mundo. O preparo para encontrar o Senhor era a grave preocupação do espírito em agonia. Havia perseverante oração e consagração a Deus, sem reservas. GC 401 1 Dizia Miller, ao descrever aquela obra: "Nenhuma grande expressão de alegria existe: esta se acha, por assim dizer, reservada para uma ocasião futura, em que todo o Céu e a Terra se regozijarão, juntamente, com indizível gozo cheio de glória. Não há aclamações: estas também estão reservadas para as aclamações do Céu. Os cantores estão em silêncio: esperam para se unir às hostes angélicas, o coro celestial. ... Não há divergência de sentimentos: todos são de um mesmo coração e espírito." -- Bliss. GC 401 2 Outro participante do movimento testificou: "Produziu por toda parte o mais profundo exame de coração e humilhação da alma perante o Deus dos Céus. Resultou em desapego das coisas deste mundo, afastamento de controvérsias e animosidades, confissão de faltas, em contrição perante Deus, e súplicas, de coração arrependido e quebrantado, para que o Senhor lhes perdoasse e os aceitasse. Causou humilhação pessoal e contrição da alma, tais como nunca dantes testemunhamos. Conforme Deus ordenara por meio de Joel, para quando o grande dia do Senhor estivesse próximo, produziu o rasgar de corações e não do vestuário, a conversão ao Senhor em jejum, pranto e lamentações. Conforme dissera Deus por Zacarias, sobre os Seus filhos foi derramado um espírito de graça e súplica; eles olharam para Aquele a quem haviam ferido, houve grande pranto na Terra, ... e os que esperavam pelo Senhor afligiram a alma perante Ele." -- Bliss. GC 401 3 De todos os grandes movimentos religiosos desde os dias dos apóstolos, nenhum foi mais livre de imperfeições humanas e dos enganos de Satanás do que o do outono de 1844. Mesmo hoje, depois de transcorridos muitos anos, todos os que participaram do movimento e que permanecem firmes na plataforma da verdade, ainda sentem a santa influência daquela obra abençoada, e dão testemunho de que ela foi de Deus. GC 402 1 Ao brado: "Aí vem o Esposo; saí-Lhe ao encontro", os expectantes "se levantaram, e repararam as suas lâmpadas"; estudavam a Palavra de Deus com interesse mais intenso do que nunca. Eram enviados anjos do Céu para despertar os que se haviam desanimado e prepará-los para receber a mensagem. A obra não se mantinha pela ciência e saber dos homens, mas pelo poder de Deus. Não foram os mais talentosos os primeiros a ouvir e obedecer à chamada, mas os mais humildes e dedicados. Lavradores deixaram as colheitas nos campos, mecânicos depuseram as ferramentas, e com lágrimas e regozijo saíram a dar a advertência. Os que anteriormente haviam dirigido a causa foram dos últimos a unir-se a este movimento. As igrejas, em geral, fecharam as portas a esta mensagem, e numeroso grupo dos que a receberam cortou sua ligação com elas. Na providência de Deus, esta proclamação se uniu com a mensagem do segundo anjo, conferindo poder à obra. GC 402 2 A mensagem: "Aí vem o Esposo" -- não era tanto uma questão de argumento, se bem que a prova das Escrituras fosse clara e conclusiva. Ia com ela um poder impulsor que movia a alma. Não havia discussão nem dúvidas. Por ocasião da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, o povo que de todas as partes do país se congregara a fim de solenizar a festa, foi em tropel ao Monte das Oliveiras, e, unindo-se à multidão que acompanhava a Jesus, deixou-se tomar pela inspiração do momento e ajudaram a avolumar a aclamação: "Bendito O que vem em nome do Senhor." Mateus 21:9. De modo semelhante, os incrédulos que se congregaram nas reuniões adventistas -- alguns por curiosidade, outros meramente com o fim de ridicularizar -- sentiram o poder convincente que acompanhava a mensagem: "Aí vem o Esposo." GC 402 3 Naquele tempo houve fé que atraía resposta à oração -- fé que tinha em vista a recompensa. Como aguaceiros sobre a terra sedenta, o espírito de graça descia aos que ardorosamente o buscavam. Os que esperavam em breve estar face a face com seu Redentor, sentiram uma solene e inexprimível alegria. O poder enternecedor do Espírito Santo conferiu aos fiéis rica medida de bênçãos, sensibilizando-lhes o coração. GC 403 1 Cuidadosa e solenemente os que receberam a mensagem chegaram ao tempo em que esperavam encontrar-se com o Senhor. Sentiam como primeiro dever, cada manhã, obter a certeza de estar aceitos por Deus. De corações intimamente unidos, oravam muito uns com os outros e uns pelos outros. A fim de ter comunhão com Deus, reuniam-se muitas vezes em lugares isolados, e dos campos ou dos bosques as vozes de intercessão ascendiam ao Céu. A certeza da aprovação do Salvador era-lhes mais indispensável do que o pão cotidiano; e, se alguma nuvem lhes toldava o espírito, não descansavam enquanto não fosse dissipada. Sentindo o testemunho da graça perdoadora, almejavam contemplar Aquele que de sua alma era amado. GC 403 2 Mas, de novo estavam destinados ao desapontamento. O tempo de expectação passou e o Salvador não apareceu. Com inabalável confiança tinham aguardado Sua vinda, e agora experimentavam o mesmo sentimento de Maria quando, indo ao túmulo do Salvador e encontrando-o vazio, exclamou em pranto: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13. GC 403 3 Um sentimento de terror, o receio de que a mensagem pudesse ser verdadeira, servira algum tempo de restrição ao mundo incrédulo. Passado que foi o tempo, esse sentimento não desapareceu de pronto; a princípio não ousaram exultar sobre os que foram decepcionados; mas, como sinais nenhuns da ira de Deus se vissem, perderam os temores e retomaram a exprobração e o ridículo. Numerosa classe, que tinha professado crer na próxima vinda do Senhor, renunciou à fé. Alguns, que se sentiam muito confiantes, ficaram tão profundamente feridos em seu orgulho, que pareciam estar a fugir do mundo. Como outrora Jonas, queixavam-se de Deus e preferiam a morte à vida. Os que haviam baseado sua fé nas opiniões de outrem, e não na Palavra de Deus, achavam-se agora novamente prontos para mudar de idéias. Os escarnecedores ganharam para as suas fileiras os fracos e covardes, e todos estes se uniram para declarar que não mais havia motivos de receios ou expectação. O tempo havia passado, o Senhor não viera, e o mundo poderia permanecer o mesmo por milhares de anos. GC 404 1 Os crentes fervorosos e sinceros haviam abandonado tudo por Cristo, desfrutando Sua presença como nunca dantes. Conforme acreditavam, tinham dado o último aviso ao mundo; e, esperando serem logo recebidos na companhia do divino Mestre e dos anjos celestiais, tinham-se em grande parte retirado da companhia dos que não receberam a mensagem. Com intenso desejo haviam eles orado: "Vem, Senhor Jesus, e vem presto." Mas Ele não viera. E, agora, assumir de novo o fardo pesado dos cuidados e perplexidades da vida, suportar as acusações e zombarias de um mundo escarnecedor, era uma terrível prova de fé e paciência. GC 404 2 Todavia, este desapontamento não foi tão grande como o que experimentaram os discípulos por ocasião do primeiro advento de Cristo. Quando Jesus cavalgou triunfantemente para Jerusalém, Seus seguidores acreditavam estar Ele prestes a ascender ao trono de Davi e libertar Israel dos opressores. Cheios de esperança e gozo antecipado, competiam uns com os outros em prestar honras a seu Rei. Muitos Lhe estendiam no caminho seus próprios mantos, à guisa de tapete, ou, à Sua passagem, cobriam o solo com viçosos ramos de palmeira. Uniam-se, com entusiástica alegria, na aclamação festiva: "Hosana ao Filho de Davi!" Quando os fariseus, perturbados e enraivecidos por esta manifestação de júbilo, quiseram que Jesus repreendesse os discípulos, Ele replicou: "Se estes se calarem, as próprias pedras clamarão." Lucas 19:40. A profecia devia ser cumprida. Os discípulos estavam executando o propósito de Deus; entretanto, amargo desapontamento os aguardava. Apenas decorridos alguns dias tiveram de testemunhar a morte atroz do Salvador, e conduzi-Lo à sepultura. As expectativas que nutriam não se haviam realizado em um único particular, e suas esperanças morreram com Jesus. Não puderam, antes de o Senhor triunfar do túmulo, perceber que tudo havia sido predito na profecia, e "que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos." Atos 17:3. GC 405 1 Quinhentos anos antes, o Senhor declarara pelo profeta Zacarias: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu Rei virá a ti, justo e Salvador, pobre e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta." Zacarias 9:9. Não teriam os discípulos cumprido esta profecia, se compreendessem que Cristo Se encaminhava para o julgamento e a morte. GC 405 2 De igual maneira, Miller e seus companheiros cumpriram a profecia e proclamaram a mensagem que a Inspiração predissera, mas não o teriam feito se tivessem compreendido completamente as profecias que indicavam o seu desapontamento e outra mensagem a ser pregada a todas as nações antes que o Senhor viesse. As mensagens do primeiro e segundo anjos foram dadas no tempo devido e cumpriram a obra a que foram por Deus designadas. GC 405 3 O mundo estivera a olhar, na expectativa de que, se o tempo passasse e Cristo não aparecesse, todo o sistema do adventismo seria abandonado. Mas, enquanto muitos, sob forte tentação, deixaram a fé, alguns houve que permaneceram firmes. Os frutos do movimento adventista: o espírito de humildade e exame de coração, de renúncia ao mundo e reforma da vida, acompanharam a obra, testificando que esta era de Deus. Não ousavam os fiéis negar que o poder do Espírito Santo acompanhara a pregação do segundo advento, e não podiam descobrir erro algum na contagem dos períodos proféticos. Os mais hábeis de seus oponentes não conseguiram subverter-lhes o sistema de interpretação profética. Não poderiam consentir, sem prova bíblica, em renunciar posições que tinham sido atingidas por meio de ardoroso e devoto estudo das Escrituras, feito por inteligências iluminadas pelo Espírito de Deus, e corações ardentes de Seu vivo poder; posições que tinham resistido à crítica mais severa e à mais amarga oposição dos mestres religiosos do povo e dos sábios deste mundo, e que haviam permanecido firmes ante as forças combinadas do saber e da eloqüência, contra os insultos e zombarias tanto das pessoas de reputação como do vulgo. GC 406 1 Verdade é que houve erro quanto ao acontecimento esperado, mas mesmo isto não podia abalar-lhes a fé na Palavra de Deus. Quando Jonas proclamou nas ruas de Nínive que dentro de quarenta dias a cidade seria subvertida, o Senhor aceitou a humilhação dos ninivitas e prolongou-lhes o tempo de graça; no entanto, a mensagem de Jonas foi enviada por Deus, e Nínive foi provada segundo a Sua vontade. Acreditaram os adventistas que, de modo semelhante, Deus os levara a dar a advertência do juízo. "O aviso", diziam eles, "provou o coração de todos os que o ouviram, despertando interesse pelo aparecimento do Senhor, ou suscitou, para com a Sua vinda, ódio mais ou menos perceptível, porém conhecido por Deus. Traçou uma linha divisória, ... de modo que os que examinassem seu próprio coração soubessem de que lado teriam sido encontrados se então o Senhor tivesse vindo -- se teriam exclamado: 'Eis que Este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará', ou se teriam pedido às rochas e montanhas que caíssem sobre eles, a fim de os ocultar da face dAquele que Se assenta sobre o trono, e da ira do Cordeiro. Assim Deus, como cremos, experimentou Seu povo, pôs-lhe à prova a fé, e viu se na hora da angústia, recuaria da posição em que houvera por bem colocá-lo; e se abandonaria este mundo, depositando implícita confiança na Palavra de Deus." -- The Adventist Herald and Signs of the Times Reporter. GC 406 2 O sentir dos que ainda criam que Deus os havia guiado em sua experiência, exprime-se nestas palavras de Guilherme Miller: "Tivesse eu de viver de novo a minha vida, com a mesma evidência que tive então de ser sincero para com Deus e o homem, eu teria de agir como agi." "Espero ter limpado minhas vestes do sangue das almas. Sinto que, tanto quanto estava em meu poder, me livrei de toda culpa em sua condenação." "Posto que tenha sido duas vezes desapontado", escreveu este homem de Deus, "ainda não estou abatido nem desanimado. ... Minha esperança na vinda de Cristo é tão firme como sempre. Fiz apenas aquilo que, depois de anos de solene consideração, compreendi ser meu dever sagrado fazer. Se errei, foi do lado da caridade, do amor para com os meus semelhantes e da convicção do dever para com Deus." "Uma coisa sei: nada preguei que não cresse, e Deus foi comigo; Seu poder se manifestou na obra, e muito benefício foi feito." "Muitos milhares, segundo a aparência humana, foram levados a estudar as Escrituras pela pregação da profecia acerca do tempo; e por esse meio, mediante a fé e aspersão do sangue de Cristo, foram reconciliados com Deus." -- Bliss. "Nunca solicitei a aprovação dos orgulhosos, nem desfaleci quando o mundo se mostrava hostil. Não comprarei hoje o seu favor, tampouco irei além do dever, para não lhes despertar o ódio. Jamais lhes implorarei minha vida, tampouco vacilarei, espero, em perdê-la, se Deus em Sua bondosa providência assim o determina." -- Vida de Guilherme Miller, de J. White. GC 407 1 Deus não abandonou Seu povo; Seu Espírito ainda permaneceu com os que não negaram temerariamente a luz que tinham recebido, nem acusaram o movimento adventista. Na epístola aos Hebreus existem palavras de animação e advertência para os provados e expectantes nesta crise: "Não rejeiteis pois a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma." Hebreus 10:35-39. GC 408 1 Que este aviso se dirige à igreja dos últimos dias, é evidente das palavras que apontam para a proximidade da vinda do Senhor: "Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não tardará." E claramente se subentende que haveria uma aparente tardança, e que pareceria demorar-Se o Senhor. A instrução aqui proporcionada adapta-se especialmente à experiência dos adventistas naquele tempo. O povo, a que a passagem aqui se refere, estava em perigo de naufragar na fé. Tinham feito a vontade de Deus, seguindo a guia de Seu Espírito e Sua Palavra; não podiam, contudo, entender-Lhe o propósito na experiência passada, tampouco discernir o caminho diante deles; e eram tentados a duvidar de que Deus, em verdade, os estivesse a dirigir. A esse tempo se aplicavam as palavras: "Mas o justo viverá da fé." Dado o fato de haver a brilhante luz do "clamor da meia-noite" lhes resplandecido no caminho e terem visto descerrarem-se as profecias, e em rápido cumprimento os sinais que declaravam estar próxima a vinda de Cristo, haviam caminhado, por assim dizer, pela vista. Agora, porém, abatidos por verem frustradas as esperanças, unicamente pela fé em Deus e em Sua Palavra poderiam permanecer em pé. O mundo escarnecedor dizia: "Fostes enganados. Abandonai vossa fé e dizei que o movimento do advento foi de Satanás." Declarava, porém, a Palavra de Deus: "Se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele." Renunciar então à fé e negar o poder do Espírito Santo, que acompanhara a mensagem, seria recuar para a perdição. Eram incentivados à firmeza pelas palavras de Paulo: "Não rejeiteis pois a vossa confiança"; "necessitais de paciência", "porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá, e não tardará." A única maneira segura de proceder era reter a luz que já haviam recebido de Deus, apegar-se firmemente às Suas promessas e continuar a examinar as Escrituras, esperando e vigiando pacientemente, a fim de receber mais luz. ------------------------Capítulo 23 -- O santuário celestial, centro de nossa esperança GC 409 1 A passagem que, mais que todas as outras, havia sido tanto a base como a coluna central da fé do advento, foi: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Daniel 8:14. Estas palavras haviam sido familiares a todos os crentes na próxima vinda do Senhor. Era esta profecia repetida pelos lábios de milhares, como a senha de sua fé. Todos sentiam que dos acontecimentos nela preditos dependiam suas mais brilhantes expectativas e mais acariciadas esperanças. Ficara demonstrado que esses dias proféticos terminariam no outono de 1844. Em conformidade com o resto do mundo cristão, os adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário. Entendiam que a purificação do santuário fosse a purificação da Terra pelos fogos do último grande dia, e que ocorreria por ocasião do segundo advento. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844. GC 409 2 Mas o tempo indicado passou e o Senhor não apareceu. Os crentes sabiam que a Palavra de Deus não poderia falhar; deveria haver engano na interpretação da profecia; onde, porém, estava o engano? Muitos cortaram temerariamente o nó da dificuldade, negando que os 2.300 dias terminassem em 1844. Nenhuma razão se poderia dar para isto, a não ser que Cristo não viera na ocasião em que O esperavam. Argumentavam que, se os dias proféticos houvessem terminado em 1844, Cristo teria então voltado para purificar o santuário mediante a purificação da Terra pelo fogo; e, visto que Ele não aparecera, os dias não poderiam ter terminado. GC 410 1 Aceitar esta conclusão equivalia a renunciar aos cômputos anteriores dos períodos proféticos. Verificara-se que os 2.300 dias começavam quando a ordem de Artaxerxes para a restauração e edificação de Jerusalém entrou em vigor, no outono de 457 antes de Cristo. Tomando isto como ponto de partida, havia perfeita harmonia na aplicação de todos os acontecimentos preditos na explicação daquele período de Daniel 9:25-27. Sessenta e nove semanas, os primeiros 483 anos dos 2.300, deveriam estender-se até o Messias, o Ungido; e o batismo e unção de Cristo, pelo Espírito Santo, no ano 27 de nossa era, cumpriu exatamente esta especificação. No meio da setuagésima semana o Messias deveria ser tirado. Três e meio anos depois de Seu batismo; na primavera do ano 31, Cristo foi crucificado. As setenta semanas, ou 490 anos, deveriam pertencer especialmente aos judeus. Ao expirar este período, a nação selou sua rejeição de Cristo, pela perseguição de Seus discípulos, e, no ano 34, os apóstolos voltaram-se para os gentios. Havendo terminado os primeiros 490 anos dos 2.300, restavam ainda 1.810 anos. Contando-se desde o ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem até 1844. "Então", disse o anjo, "o santuário será purificado." Todas as especificações precedentes da profecia se cumpriram, inquestionavelmente, no tempo designado. GC 410 2 Nesse cálculo, tudo era claro e harmonioso, exceção feita de não se ter visto em 1844 nenhum acontecimento que correspondesse à purificação do santuário. Negar que os dias terminaram naquele tempo equivalia a envolver em confusão todo o assunto e renunciar a posições que tinham sido estabelecidas por insofismáveis cumprimentos de profecia. GC 410 3 Deus, porém, estivera a dirigir o Seu povo no grande movimento adventista; Seu poder e glória haviam acompanhado a obra, e Ele não permitiria que ela finalizasse em trevas e desapontamento, para que fosse vituperada como falsa excitação fanática. Não deixaria Sua palavra envolta em dúvida e incerteza. Posto que muitos abandonassem a anterior contagem dos períodos proféticos, negando a exatidão do movimento nela baseado, outros não estavam dispostos a renunciar a pontos de fé e experiência que eram apoiados pelas Escrituras e pelo testemunho do Espírito de Deus. Criam ter adotado, no estudo das profecias, sólidos princípios de interpretação, sendo o seu dever reter firmemente as verdades já adquiridas e continuar o mesmo método de exame bíblico. Com fervorosa oração examinaram sua atitude e estudaram as Escrituras para descobrir onde haviam errado. Como não pudessem ver engano algum no cômputo dos períodos proféticos, foram levados a examinar mais particularmente o assunto do santuário. GC 411 1 Aprenderam, em suas pesquisas, que não há nas Escrituras prova que apóie a idéia popular de que a Terra é o santuário; acharam, porém, na Bíblia uma completa explicação do assunto do santuário, quanto à sua natureza, localização e serviços, sendo o testemunho dos escritores sagrados tão claro e amplo, que punha o assunto acima de qualquer dúvida. O apóstolo Paulo, na epístola aos Hebreus, diz: "Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre. Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição, ao que se chama santuário. Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos, que tinha o incensário de ouro, e a arca do concerto, coberta de ouro toda em redor; em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas do concerto; e sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório." Hebreus 9:1-5. GC 411 2 O santuário, a que Paulo aqui se refere, era o tabernáculo construído por Moisés, por ordem de Deus, como a morada terrestre do Altíssimo. "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8); foi a determinação de Deus a Moisés, enquanto este se achava com Ele no monte. Os israelitas estavam a jornadear pelo deserto, e o tabernáculo foi construído de maneira que pudesse ser levado de um lugar para outro; não obstante, sua estrutura era de grande magnificência. As paredes eram feitas de tábuas em sentido vertical, ricamente chapeadas de ouro e colocadas em encaixes de prata, enquanto o teto se compunha de uma série de cortinas, ou coberturas, sendo as de fora de peles, e as do interior, de linho fino, belamente trabalhado com figuras de querubins. Além do pátio exterior, onde estava o altar das ofertas queimadas, consistia o tabernáculo, propriamente dito, em dois compartimentos, chamados o lugar santo e o lugar santíssimo, separados por uma rica e bela cortina, ou véu; um véu idêntico cerrava a entrada ao primeiro compartimento. GC 412 1 No lugar santo estava o castiçal, do lado do sul, com sete lâmpadas a iluminar o santuário, tanto de dia como de noite; e, diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo, o altar de ouro para o incenso, do qual a fragrante nuvem, com as orações de Israel, ascendia diariamente à presença de Deus. GC 412 2 No lugar santíssimo achava-se a arca, receptáculo de preciosa madeira, coberta de ouro, e depositária das duas tábuas de pedra sobre as quais Deus inscrevera a lei dos Dez Mandamentos. Acima da arca e formando a cobertura desse receptáculo sagrado, estava o propiciatório, magnificente obra de artífice, encimada por dois querubins, um de cada lado, e tudo trabalhado em ouro maciço. Neste compartimento a presença divina se manifestava na nuvem de glória entre os querubins. GC 412 3 Depois da localização dos hebreus em Canaã, o tabernáculo foi substituído pelo templo de Salomão, que, conquanto fosse uma estrutura permanente e de maior escala, observava as mesmas proporções e era guarnecido de modo semelhante. Sob esta forma existiu o santuário até a sua destruição pelos romanos, no ano 70 de nossa era, exceção feita no tempo em que jazeu em ruínas, durante a época de Daniel. GC 412 4 Este é o único santuário que já existiu na Terra, de que a Bíblia nos dá alguma informação. Declarou Paulo ser ele o santuário do primeiro concerto. Mas não tem santuário o novo concerto? GC 413 1 Volvendo novamente ao livro de Hebreus, os inquiridores da verdade acharam, subentendida nas palavras de Paulo já citadas, a existência de um segundo santuário, ou santuário do novo concerto: "Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre." E o uso da palavra "também" exige que Paulo haja anteriormente feito menção deste santuário. Voltando-se ao princípio do capítulo precedente, lê-se: "Ora a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos Céus à destra do trono da Majestade, ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem." Hebreus 8:1, 2. GC 413 2 Aqui se revela o santuário do novo concerto. O santuário do primeiro concerto foi fundado pelo homem, construído por Moisés; este último foi fundado pelo Senhor, e não pelo homem. Naquele santuário os sacerdotes terrestres efetuavam o seu culto; neste, Cristo, nosso Sumo Sacerdote, ministra à destra de Deus. Um santuário estava na Terra, o outro no Céu. GC 413 3 Demais, o tabernáculo construído por Moisés foi feito segundo um modelo. O Senhor lhe ordenou: "Conforme a tudo o que Eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus vasos, assim mesmo o fareis." E novamente foi dada a ordem: "Atenta, pois, que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte." Êxodo 25:9, 40. E Paulo diz que o primeiro tabernáculo era "uma alegoria para o tempo presente em que se ofereciam dons e sacrifícios"; que seus lugares santos eram "figuras das coisas que estão nos Céus"; que os sacerdotes que ofereciam dons segundo a lei, serviam de "exemplar e sombra das coisas celestiais", e que "Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus." Hebreus 9:9, 23; Hebreus 8:5; Hebreus 9:24. GC 414 1 O santuário do Céu, no qual Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés foi uma cópia. Deus pôs Seu Espírito sobre os construtores do santuário terrestre. A habilidade artística patenteada no trabalho era uma manifestação da sabedoria divina. As paredes tinham a aparência de ouro maciço, refletindo em todas as direções a luz das sete lâmpadas do castiçal de ouro. A mesa dos pães da proposição e o altar do incenso fulguravam como ouro polido. A magnífica cortina que formava o teto, bordada de figuras de anjos, nas cores azul, púrpura e escarlata, aumentava a beleza do cenário. E, além do segundo véu, estava o sagrado shekinah, a visível manifestação da glória de Deus, ante a qual ninguém, a não ser o sumo sacerdote, poderia entrar e viver. GC 414 2 O esplendor sem-par do tabernáculo terrestre refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que Cristo, nosso Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. A morada do Rei dos reis, em que milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão em pé diante dEle (Daniel 7:10), sim, aquele templo, repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus resplandecentes guardas, velam a face em adoração -- não poderia encontrar na estrutura mais magnificente que hajam erigido as mãos humanas, senão pálido reflexo de sua imensidade e glória. Contudo, importantes verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali levada a efeito pela redenção do homem, eram ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto. GC 414 3 Os lugares santos do santuário celeste são representados pelos dois compartimentos do santuário terrestre. Sendo, em visão, concedido ao apóstolo João vislumbrar o templo de Deus nos Céus, contemplou ele, ali, "sete lâmpadas de fogo" que "diante do trono ardiam." Apocalipse 4:5. Vi um anjo, "tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono." Apocalipse 8:3. Foi permitido ao profeta contemplar o primeiro compartimento do santuário celestial; e viu ali as "sete lâmpadas de fogo", e o "altar de ouro", representados pelo castiçal de ouro e altar de incenso, do santuário terrestre. De novo, "abriu-se no Céu o templo de Deus" (Apocalipse 11:19), e ele olhou para dentro do véu interior, ao lugar santíssimo. Ali viu "a arca do Seu concerto", representada pelo receptáculo sagrado, construído por Moisés, para guardar a lei de Deus. GC 415 1 Assim, os que estavam a estudar o assunto encontraram prova indiscutível da existência de um santuário no Céu. Moisés fez o santuário terrestre segundo o modelo que lhe foi mostrado. Paulo ensina que aquele modelo era o verdadeiro santuário que está no Céu. E João dá testemunho de que o viu no Céu. GC 415 2 No templo celestial, morada de Deus, acha-se o Seu trono, estabelecido em justiça e juízo. No lugar santíssimo está a Sua lei, a grande regra da justiça, pela qual a humanidade toda é provada. A arca que encerra as tábuas da lei se encontra coberta pelo propiciatório, diante do qual Cristo, pelo Seu sangue, pleiteia em prol do pecador. Assim se representa a união da justiça com a misericórdia no plano da redenção humana. Somente a sabedoria infinita poderia conceber esta união, e o poder infinito realizá-la; é uma união que enche o Céu todo de admiração e adoração. Os querubins do santuário terrestre, olhando reverentemente para o propiciatório, representam o interesse com que a hoste celestial contempla a obra da redenção. Este é o mistério da misericórdia a que os anjos desejam atentar: que Deus pode ser justo, ao mesmo tempo em que justifica o pecador arrependido e renova Suas relações com a raça decaída; que Cristo pode humilhar-Se para erguer inumeráveis multidões do abismo da ruína e vesti-las com as vestes imaculadas de Sua própria justiça, a fim de se unirem aos anjos que jamais caíram e habitarem para sempre na presença de Deus. GC 415 3 A obra de Cristo como intercessor do homem é apresentada na bela profecia de Zacarias, relativa Aquele, "cujo nome é Renovo." Diz o profeta: "Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono, e conselho de paz haverá entre Eles ambos." Zacarias 6:13. GC 416 1 "Ele mesmo edificará o templo do Senhor." Pelo Seu sacrifício e mediação, Cristo é tanto o fundamento como o edificador da igreja de Deus. O apóstolo Paulo indica-O como "a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós", diz ele, "juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito." Efésios 2:20-22. GC 416 2 Ele "levará a glória." A Cristo pertence a glória da redenção da raça decaída. Através das eras eternas, o cântico dos resgatados será: "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, ... a Ele glória e poder para todo o sempre." Apocalipse 1:5, 6. GC 416 3 "E assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono." Agora não está "no trono de Sua glória"; o reino de glória ainda não foi inaugurado. Só depois que termine a Sua obra como mediador, Lhe dará Deus "o trono de Davi, Seu pai", reino que "não terá fim." Lucas 1:32, 33. Como sacerdote, Cristo está agora assentado com o Pai em Seu trono. Apocalipse 3:21. No trono, com o Ser eterno e existente por Si mesmo, é Ele o que "tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si"; que "em tudo foi tentado, mas sem pecado"; para que possa "socorrer aos que são tentados." "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai." Isaías 53:4; Hebreus 4:15; 2:18; 1 João 2:1. Sua intercessão é a de um corpo ferido e quebrantado, de uma vida imaculada. As mãos feridas, o lado traspassado, os pés cravejados, pleiteiam pelo homem decaído, cuja redenção foi comprada com tão infinito preço. GC 416 4 "E conselho de paz haverá entre Eles ambos." O amor do Pai, não menos que o do Filho, é o fundamento da salvação para a raça perdida. Disse Jesus aos discípulos, antes de Se retirar deles: "Não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama." João 16:26, 27. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." 2 Coríntios 5:19. E no ministério do santuário, no Céu, "conselho de paz haverá entre Eles ambos." "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. GC 417 1 A pergunta -- Que é o santuário? -- é claramente respondida nas Escrituras. O termo "santuário", conforme é empregado na Bíblia, refere-se primeiramente, ao tabernáculo construído por Moisés, como figura das coisas celestiais; e, em segundo lugar, ao "verdadeiro tabernáculo", no Céu, para o qual o santuário terrestre apontava. À morte de Cristo, terminou o serviço típico. O "verdadeiro tabernáculo", no Céu, é o santuário do novo concerto. E como a profecia de Daniel 8:14 se cumpre nesta dispensação, o santuário a que ela se refere deve ser o santuário do novo concerto. Ao terminarem os 2.300 dias, em 1844, já por muitos séculos não havia santuário sobre a Terra. Destarte, a profecia -- "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado", aponta inquestionavelmente para o santuário do Céu. GC 417 2 A questão mais importante, porém, ainda está para ser respondida: Que é a purificação do santuário? Que houve tal cerimônia com referência ao santuário terrestre, acha-se declarado nas Escrituras do Antigo Testamento. Mas poderá no Céu haver alguma coisa a ser purificada? No Capítulo 9 de Hebreus a purificação do santuário terrestre, bem como a do celestial, encontra-se plenamente ensinada. "Quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no Céu assim se purificassem [com sangue de animais]; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes" (Hebreus 9:22, 23), ou seja, com o precioso sangue de Cristo. GC 417 3 A purificação, tanto no serviço típico como no real, deveria executar-se com sangue: no primeiro com sangue de animais, no último com o sangue de Cristo. Paulo declara, como razão por que esta purificação deve ser efetuada com sangue, que sem derramamento de sangue não há remissão. Remissão, ou ato de lançar fora o pecado, é a obra a efetuar-se. Mas, como poderia haver pecado em relação com o santuário, quer no Céu quer na Terra? Isto se pode compreender por uma referência ao culto simbólico; pois que os sacerdotes que oficiavam na Terra serviam de "exemplar e sombra das coisas celestiais." Hebreus 8:5. GC 418 1 O serviço no santuário terrestre dividia-se em duas partes: os sacerdotes ministravam diariamente no lugar santo, ao passo que uma vez ao ano o sumo sacerdote efetuava uma obra especial de expiação no lugar santíssimo, para a purificação do santuário. Dia após dia, o pecador arrependido levava sua oferta à porta do tabernáculo, e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o sacrifício inocente. O animal era então morto. "Sem derramamento de sangue", diz o apóstolo, "não há remissão de pecado." "A vida da carne está no sangue." Levítico 17:11. A lei de Deus, sendo violada, exige a vida do transgressor. O sangue, representando a vida que o pecador perdera, pecador cuja culpa a vítima arrostava, era levado pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a arca contendo a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimônia, o pecado transferia-se, mediante o sangue, em figura, para o santuário. Em alguns casos o sangue não era levado para o lugar santo; mas a carne deveria então ser comida pelo sacerdote, conforme Moisés determinou aos filhos de Arão, dizendo: "O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação." Levítico 10:17. Ambas as cerimônias simbolizavam, de igual modo, a transferência do pecado do penitente para o santuário. GC 418 2 Esta era a obra que, dia após dia, se prolongava por todo o ano. Os pecados de Israel eram assim transferidos para o santuário, e uma obra especial se tornava necessária para a sua remoção. Deus ordenou que fosse feita expiação para cada um dos compartimentos sagrados. "Fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e assim fará para a tenda da congregação que mora com eles no meio das suas imundícias." Devia também ser feita expiação pelo altar, para o purificar e santificar "das imundícias dos filhos de Israel." Levítico 16:16, 19. GC 419 1 Uma vez por ano, no grande dia da expiação, o sacerdote entrava no lugar santíssimo para a purificação do santuário. A obra ali efetuada completava o ciclo anual do ministério. No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, "uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário." Levítico 16:8. O bode, sobre o qual caía a sorte do Senhor, deveria ser morto como oferta pelo pecado do povo. E devia o sacerdote trazer o sangue do bode para dentro do véu e aspergi-lo sobre o propiciatório e diante do propiciatório. Devia também aspergir o sangue sobre o altar de incenso, que estava diante do véu. GC 419 2 "E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim, aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária." Levítico 16:21, 22. O bode emissário não mais vinha ao acampamento de Israel, e exigia-se que o homem, que o levara, lavasse com água a si e suas vestes, antes de voltar ao acampamento. GC 419 3 Toda esta cerimônia tinha por fim impressionar os israelitas com a santidade de Deus e o Seu horror ao pecado; e, demais, mostrar-lhes que não poderiam entrar em contato com o pecado sem se poluir. Exigia-se que, enquanto a obra de expiação se efetuava, cada homem afligisse a alma. Todas as ocupações deviam ser postas de parte, e toda a congregação de Israel passar o dia em solene humilhação diante de Deus, com oração, jejum e profundo exame de coração. GC 420 1 Importantes verdades concernentes à expiação eram ensinadas pelo culto típico. Um substituto era aceito em lugar do pecador; mas o pecado não se cancelava pelo sangue da vítima. Provia-se, desta maneira, um meio pelo qual era transferido para o santuário. Pelo oferecimento do sangue, o pecador reconhecia a autoridade da lei, confessava sua culpa na transgressão e exprimia o desejo de perdão pela fé num Redentor vindouro; mas não ficava ainda inteiramente livre da condenação da lei. No dia da expiação o sumo sacerdote, havendo tomado uma oferta da congregação, entrava no lugar santíssimo com o sangue desta oferta, e o aspergia sobre o propiciatório, diretamente sobre a lei, para satisfazer às suas reivindicações. Então, em caráter de mediador, tomava sobre si os pecados e os retirava do santuário. Colocando as mãos sobre a cabeça do bode emissário, confessava todos esses pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o bode. Este os levava então, e eram considerados como para sempre separados do povo. GC 420 2 Tal era o serviço efetuado como "exemplar e sombra das coisas celestiais." E o que se fazia tipicamente no ministério do santuário terrestre, é feito na realidade no ministério do santuário celestial. Depois de Sua ascensão, começou nosso Salvador a obra como nosso Sumo Sacerdote. Diz Paulo: "Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus." Hebreus 9:24. GC 420 3 O ministério do sacerdote, durante o ano todo, no primeiro compartimento do santuário, "para dentro do véu" que formava a porta e separava o lugar santo do pátio externo, representa o ministério em que entrou Cristo ao ascender ao Céu. Era a obra do sacerdote no ministério diário, a fim de apresentar perante Deus o sangue da oferta pelo pecado, bem como o incenso que ascendia com as orações de Israel. Assim pleiteava Cristo com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores, apresentando também, com o precioso aroma de Sua justiça, as orações dos crentes arrependidos. Esta era a obra ministerial no primeiro compartimento do santuário celeste. GC 421 1 Para ali a fé dos discípulos acompanhou a Cristo, quando, diante de seus olhos, Ele ascendeu. Ali se centralizara sua esperança, e esta esperança, diz Paulo, "temos como âncora da alma segura e firme, e que penetra até o interior do véu, onde Jesus, nosso Precursor, entrou por nós, feito eternamente Sumo Sacerdote." "Nem por sangue de bodes e bezerros mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção." Hebreus 6:19, 20; Hebreus 9:12. GC 421 2 Durante dezoito séculos este ministério continuou no primeiro compartimento do santuário. O sangue de Cristo, oferecido em favor dos crentes arrependidos, assegurava-lhes perdão e aceitação perante o Pai; contudo, ainda permaneciam seus pecados nos livros de registro. Como no serviço típico havia uma expiação ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete a obra de Cristo para redenção do homem, há também uma expiação para tirar o pecado do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias. Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso Sumo Sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua solene obra -- purificar o santuário. GC 421 3 Como antigamente eram os pecados do povo colocados, pela fé, sobre a oferta pelo pecado, e, mediante o sangue desta, transferidos simbolicamente para o santuário terrestre, assim em o novo concerto, os pecados dos que se arrependem são, pela fé, colocados sobre Cristo e transferidos, de fato, para o santuário celeste. E como a purificação típica do santuário terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra, igualmente a purificação real do santuário celeste deve efetuar-se pela remoção, ou apagamento, dos pecados que ali estão registrados. Mas antes que isto se possa cumprir, deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma investigação -- um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras. Apocalipse 22:12. GC 422 1 Destarte, os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2.300 dias, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda. GC 422 2 Verificou-se também que, ao passo que a oferta pelo pecado apontava para Cristo como um sacrifício, e o sumo sacerdote representava a Cristo como mediador, o bode emissário tipificava Satanás, autor do pecado, sobre quem os pecados dos verdadeiros penitentes serão finalmente colocados. Quando o sumo sacerdote, por virtude do sangue da oferta pela transgressão, removia do santuário os pecados, colocava-os sobre o bode emissário. Quando Cristo, pelo mérito de Seu próprio sangue, remover do santuário celestial os pecados de Seu povo, ao encerrar-se o Seu ministério, Ele os colocará sobre Satanás, que, na execução do juízo, deverá encarar a pena final. O bode emissário era enviado para uma terra não habitada, para nunca mais voltar à congregação de Israel. Assim será Satanás para sempre banido da presença de Deus e de Seu povo, e eliminado da existência na destruição final do pecado e dos pecadores. ------------------------Capítulo 24 -- Quando começa o julgamento Divino GC 423 1 O assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844. Revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si e mostrando que a mão de Deus dirigira o grande movimento do advento e apontara novos deveres ao trazer a lume a posição e obra de Seu povo. Como os discípulos de Jesus, depois da terrível noite de sua angústia e desapontamento, "alegraram-se muito ao verem o Senhor", assim se regozijaram então os que pela fé haviam aguardado o segundo advento. Esperavam que Ele aparecesse em glória, para dar a recompensa a Seus servos. Vendo frustradas suas esperanças, perderam de vista a Jesus e, como Maria, junto ao sepulcro, exclamaram: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." Então, no lugar santíssimo, contemplaram de novo seu compassivo Sumo Sacerdote, prestes a aparecer como Rei e Libertador. A luz proveniente do santuário iluminou o passado, o presente e o futuro. Souberam que Deus os havia guiado por Sua providência infalível. Se bem que, como aconteceu aos primeiros discípulos, não compreendessem a mensagem por eles mesmos comunicada, era esta, no entanto, correta a todos os respeitos. Proclamando-a, tinham cumprido o propósito de Deus, e seu trabalho não havia sido em vão no Senhor. "De novo gerados para uma viva esperança", regozijavam-se "com gozo inefável e glorioso." GC 424 1 Tanto a profecia de Daniel 8:14 -- "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" -- como a mensagem do primeiro anjo -- "Temei a Deus e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo" -- indicavam o ministério de Cristo no lugar santíssimo, o juízo investigativo, e não a vinda de Cristo para resgatar o Seu povo e destruir os ímpios. O engano fora, não na contagem dos períodos proféticos, mas no acontecimento a ocorrer no fim dos 2.300 dias. Por este erro, os crentes sofreram desapontamento; entretanto, cumprira-se tudo que estava predito pela profecia e que podiam eles com autoridade bíblica esperar. Ao mesmo tempo em que lamentavam a ruína de suas esperanças, transcorrera o acontecimento que fora predito pela mensagem, e que deveria cumprir-se antes que o Senhor aparecesse para recompensar a Seus servos. GC 424 2 Cristo aparecera, não à Terra, como esperavam, mas, conforme fora prefigurado tipicamente, ao lugar santíssimo do templo de Deus, no Céu. É Ele representado, pelo profeta Daniel, como estando a vir, nesse tempo, ao Ancião de Dias: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do homem: e dirigiu-Se" não à Terra, mas -- "ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele." Daniel 7:13. GC 424 3 Esta vinda é também predita pelo profeta Malaquias: "De repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos exércitos." Malaquias 3:1. A vinda do Senhor a Seu templo foi súbita, inesperada, para Seu povo. Não O buscaram ali. Esperavam que viesse à Terra, "como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho." 2 Tessalonicenses 1:8. GC 424 4 O povo, porém, ainda não estava preparado para encontrar-se com o Senhor. Havia ainda uma obra de preparo a ser por eles cumprida. Ser-lhes-ia proporcionada luz, dirigindo-lhes a mente ao templo de Deus, no Céu; e, ao seguirem eles, pela fé, ao Sumo Sacerdote em Seu ministério ali, novos deveres seriam revelados. Outra mensagem de advertência e instrução deveria dar-se à igreja. GC 425 1 Quando ela se houver realizado, os seguidores de Cristo estarão prontos para o Seu aparecimento. "E a oferta de Judá e de Jerusalém será suave ao Senhor, como nos dias antigos, e como nos primeiros anos." Malaquias 3:4. Então a igreja que nosso Senhor deve receber para Si, à Sua vinda, será "igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante." Efésios 5:27. Então ela aparecerá "como a alva do dia, formosa como a Lua, brilhante como o Sol, formidável como um exército com bandeiras." Cantares 6:10. GC 425 2 Diz o profeta: "Quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça." Malaquias 3:2, 3. Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal. Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do santuário, deve haver uma obra especial de purificação, ou de afastamento de pecado, entre o povo de Deus na Terra. Esta obra é mais claramente apresentada nas mensagens do Capítulo 14 de Apocalipse. GC 425 3 Além da vinda do Senhor a Seu templo, Malaquias também prediz o segundo advento, Sua vinda para a execução do juízo, nestas palavras: "E chegar-Me-ei a vós para juízo, serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro, e não Me temem, diz o Senhor dos exércitos." Malaquias 3:5. À mesma cena se refere Judas quando diz: "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos; para fazer juízo contra todos, e condenar dentre eles todos os ímpios por todas as suas obras de impiedade." Jud. 14 e 15. Esta vinda, e a vinda do Senhor a Seu templo, são acontecimentos distintos e separados. GC 426 1 A vinda de Cristo ao lugar santíssimo como nosso Sumo Sacerdote, para a purificação do santuário, a que se faz referência em Daniel 8:14; a vinda do Filho do homem ao Ancião de Dias, conforme se acha apresentada em Daniel 7:13; e a vinda do Senhor a Seu templo, predita por Malaquias, são descrições do mesmo acontecimento; e isso é também representado pela vinda do esposo ao casamento, descrita por Cristo na parábola das dez virgens, de Mateus 25. GC 426 2 A proclamação: "Aí vem o Esposo!" foi feita no verão de 1844. Desenvolveram-se então as duas classes representadas pelas virgens prudentes e as loucas: uma classe que aguardava com alegria o aparecimento do Senhor, e que se estivera diligentemente preparando para O encontrar; outra classe que, influenciada pelo medo, e agindo por um impulso de momento, se satisfizera com a teoria da verdade, mas estava destituída da graça de Deus. Na parábola, quando o Esposo veio, "as que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas." A vinda do Esposo, aqui referida, ocorre antes das bodas. O casamento representa a recepção do reino por parte de Cristo. A santa cidade, a Nova Jerusalém, que é a capital e representa o reino, é chamada "a esposa, a mulher do Cordeiro." Disse o anjo a João: "Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro." "E levou-me em espírito", diz o profeta, "e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do Céu." Apocalipse 21:9, 10. Claramente, pois, a esposa representa a santa cidade, e as virgens que saem ao encontro do Esposo são símbolo da igreja. No Apocalipse é dito que o povo de Deus são os convidados à ceia das bodas. Apocalipse 19:9. Se são convidados, não podem ser também representados pela esposa. Cristo, conforme foi declarado pelo profeta Daniel, receberá do Ancião de Dias, no Céu, "o domínio, e a honra, e o reino"; receberá a Nova Jerusalém, a capital de Seu reino, "adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido." Daniel 7:14; Apocalipse 21:2. Tendo recebido o reino, Ele virá em glória, como Rei dos reis e Senhor dos senhores, para a redenção de Seu povo, que deve assentar-se "com Abraão, Isaque e Jacó", à Sua mesa, em Seu reino (Mateus 8:11; Lucas 22:30), a fim de participar da ceia das bodas do Cordeiro. GC 427 1 A proclamação: "Aí vem o Esposo!", feita no verão de 1844, levou milhares a esperar o imediato advento do Senhor. No tempo indicado o Esposo veio, não para a Terra, como o povo esperava, mas ao Ancião de Dias, no Céu, às bodas, à recepção de Seu reino. "As que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta." Elas não deveriam estar presentes, em pessoa, nas bodas; pois que estas ocorrem no Céu, ao passo que elas estão na Terra. Os seguidores de Cristo devem esperar "o seu Senhor, quando houver de voltar das bodas." Lucas 12:36. Mas devem compreender o trabalho de Cristo e segui-Lo, pela fé, ao ir Ele perante Deus. É neste sentido que se diz irem eles às bodas. GC 427 2 Na parábola, as que tinham óleo em seus vasos com as lâmpadas, foram as que entraram para as bodas. Os que, com conhecimento da verdade pelas Escrituras, tinham também o Espírito e graça de Deus, e que, na noite de sua amarga prova, esperavam pacientemente, examinando a Bíblia a fim de obterem mais clara luz -- esses viram a verdade relativa ao santuário celestial e a mudança no ministério do Salvador, e pela fé O acompanharam em Sua obra naquele santuário. Todos os que, mediante o testemunho das Escrituras, aceitam as mesmas verdades, seguindo a Cristo pela fé, ao entrar Ele à presença de Deus para efetuar a última obra de mediação, e para, no final dela, receber o Seu reino -- todos esses são representados como estando a ir às bodas. GC 428 1 A mesma figura do casamento é apresentada na parábola do Capítulo 22 de Mateus, onde claramente se representa o juízo de investigação como ocorrendo antes das bodas. Previamente às bodas vem o rei para ver os convidados (Mateus 22:11), a fim de verificar se todos têm trajes nupciais, vestes imaculadas do caráter lavadas e embranquecidas no sangue do Cordeiro. Apocalipse 7:14. O que é encontrado em falta, é lançado fora, mas todos os que, sendo examinados, se verificar terem vestes nupciais, são aceitos por Deus e considerados dignos de participar de Seu reino e assentar-se em Seu trono. Esta obra de exame do caráter, para determinar quem está preparado para o reino de Deus, é a do juízo de investigação, obra final do santuário do Céu. GC 428 2 Quando a obra de investigação se encerrar, examinados e decididos os casos dos que em todos os séculos professaram ser seguidores de Cristo, então, e somente então, se encerrará o tempo da graça, fechando-se a porta da misericórdia. Assim, esta breve sentença -- "As que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta" -- nos conduz através do ministério final do Salvador, ao tempo em que se completará a grande obra para salvação do homem. GC 428 3 No cerimonial do santuário terrestre, que, conforme vimos, é uma figura do serviço no santuário celestial, quando o sumo sacerdote no dia da expiação entrava no lugar santíssimo, cessava o ministério no primeiro compartimento. Deus ordenara: "E nenhum homem estará na tenda da congregação quando ele entrar a fazer propiciação no santuário, até que ele saia." Levítico 16:17. Assim, quando Cristo entrou no lugar santíssimo para efetuar a obra final da expiação, terminou Seu ministério no primeiro compartimento. Mas, quando o ministério no primeiro compartimento terminou, iniciou-se o do segundo compartimento. Quando, no cerimonial típico, o sumo sacerdote deixava o lugar santo no dia da expiação, entrava perante Deus para apresentar o sangue da oferta pelo pecado, em favor de todos os israelitas que verdadeiramente se arrependiam de suas transgressões. Assim Cristo apenas completara uma parte de Sua obra como nosso intercessor para iniciar outra, e ainda pleiteia com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores. GC 429 1 Este assunto não foi entendido pelos adventistas em 1844. Depois de passado o tempo em que era esperado nosso Salvador, acreditavam eles ainda estar próxima a Sua vinda; mantinham a opinião de haverem chegado a uma crise importante, e de que cessara a obra de Cristo como intercessor do homem perante Deus. Parecia-lhes ser ensinado na Escritura Sagrada que o tempo de graça do homem terminaria um pouco antes da própria vinda do Senhor nas nuvens do céu. Isto parecia evidenciar-se das passagens que indicam o tempo em que os homens hão de procurar, bater e clamar à porta da graça, mas esta não se abrirá. E surgiu entre eles a questão de saber se a data em que haviam aguardado a vinda de Cristo não marcaria porventura o começo deste período que deveria preceder imediatamente a Sua vinda. Tendo dado a advertência da proximidade do juízo, sentiam que sua obra em favor do mundo se achava feita, e não mais sentiam o dever de trabalhar pela salvação dos pecadores, enquanto o escárnio ousado e blasfemo dos ímpios lhes parecia outra evidência de que o Espírito de Deus Se retirara dos que rejeitavam a misericórdia divina. Tudo isto os confirmava na crença de que o tempo da graça findara, ou como eles então o exprimiam, "a porta da graça se fechara". GC 429 2 Uma luz mais clara, porém, surgiu pela investigação do assunto do santuário. Viam agora que estavam certos em crer que o fim dos 2.300 dias em 1844 assinalava uma crise importante. Mas, conquanto fosse verdade que se achasse fechada a porta da esperança e graça pela qual os homens durante mil e oitocentos anos encontraram acesso a Deus, outra porta se abrira, e oferecia-se o perdão dos pecados aos homens, mediante a intercessão de Cristo no lugar santíssimo. Encerrara-se uma parte de Seu ministério apenas para dar lugar a outra. Havia ainda uma "porta aberta" para o santuário celestial, onde Cristo estava a ministrar pelo pecador. GC 430 1 Via-se agora a aplicação das palavras de Cristo no Apocalipse, dirigidas à igreja, nesse mesmo tempo: "Isto diz O que é santo, O que é verdadeiro, O que tem a chave de Davi; O que abre e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre. Eu sei as tuas obras; e eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar." Apocalipse 3:7, 8. GC 430 2 Os que, pela fé, seguem a Jesus na grande obra da expiação, recebem os benefícios de Sua mediação em seu favor; enquanto os que rejeitam a luz apresentada neste ministério não são por ela beneficiados. Os judeus que rejeitaram a luz dada por ocasião do primeiro advento de Cristo e se recusaram a crer nEle como Salvador do mundo, não poderiam receber o perdão por meio dEle. Quando Jesus, depois da ascensão, pelo Seu próprio sangue entrou no santuário celestial, a fim de derramar sobre os discípulos as bênçãos de Sua mediação, os judeus foram deixados em completas trevas, continuando com os sacrifícios e ofertas inúteis. O ministério dos tipos e sombras cessara. A porta pela qual anteriormente os homens encontravam acesso a Deus, não mais se achava aberta. Recusaram-se os judeus a buscá-Lo pelo único meio por que poderia então ser encontrado -- pelo ministério no santuário celestial. Não alcançaram, por conseguinte, comunhão com Deus. Para Eles a porta estava fechada. Não conheciam a Cristo como o verdadeiro sacrifício e o único mediador perante Deus; daí o não poderem receber os benefícios de Sua mediação. GC 430 3 O estado dos judeus incrédulos ilustra a condição dos indiferentes e incrédulos entre os professos cristãos, que voluntariamente ignoram a obra de nosso misericordioso Sumo Sacerdote. No cerimonial típico, quando o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo, exigia-se de todos os israelitas que se reunissem em redor do santuário, e do modo mais solene humilhassem a alma perante Deus, para que recebessem o perdão dos pecados e não fossem extirpados da congregação. Quanto mais importante não é que neste dia antitípico da expiação compreendamos a obra de nosso Sumo Sacerdote, e saibamos quais os deveres que de nós se requerem! GC 431 1 Os homens não podem impunemente rejeitar as advertências que Deus em Sua misericórdia lhes envia. No tempo de Noé, uma mensagem do Céu foi endereçada ao mundo, e a salvação do povo dependia da maneira como a recebesse. Rejeitada a advertência, o Espírito de Deus foi retirado da raça pecadora, e pereceram nas águas do dilúvio. Nos dias de Abraão, a misericórdia cessou de contender com os culposos habitantes de Sodoma, e todos, com exceção de Ló, a esposa e duas filhas, foram consumidos pelo fogo enviado do Céu. Assim foi nos dias de Cristo. O Filho de Deus declarara aos judeus incrédulos daquela geração: "Vossa casa vai ficar-vos deserta." Mateus 23:38. Olhando através dos tempos para os últimos dias, o mesmo Poder infinito declara a respeito dos que "não receberam o amor da verdade para se salvarem": "Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:10-12. Sendo rejeitados os ensinos de Sua Palavra, Deus retira o Seu Espírito e os deixa entregues aos enganos que amam. GC 431 2 Cristo, porém, intercede ainda em favor do homem, e luz será concedida aos que a buscam. Posto que isto não fosse a princípio compreendido pelos adventistas, tornou-se mais tarde claro, ao começarem a desvendar-se-lhes as passagens que definem a sua verdadeira posição. GC 431 3 O transcurso do tempo em 1844 foi seguido de um período de grande prova para os que ainda mantinham a fé do advento. Seu único alívio, no que dizia respeito a determinar sua verdadeira posição, era a luz que lhes dirigia o espírito ao santuário celestial. Alguns renunciaram à fé na contagem anterior dos períodos proféticos, e atribuíram a forças humanas ou satânicas a poderosa influência do Espírito Santo que acompanhara o movimento adventista. Outra classe sustentava firmemente que o Senhor os guiara na experiência por que passaram; e, como esperassem, vigiassem e orassem, a fim de conhecer a vontade de Deus, viram que seu grande Sumo Sacerdote começara a desempenhar outra parte do ministério, e, seguindo-O pela fé, foram levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse 14. ------------------------Capítulo 25 -- A imutável Lei de Deus GC 433 1 "Abriu-se no Céu o templo de Deus e a arca do Seu concerto foi vista no Seu templo." Apocalipse 11:19. A arca do concerto de Deus está no santo dos santos, ou lugar santíssimo, que é o segundo compartimento do santuário. No ministério do tabernáculo terrestre, que servia como "exemplar e sombra das coisas celestiais", este compartimento se abria somente no grande dia da expiação, para a purificação do santuário. Portanto, o anúncio de que o templo de Deus se abrira no Céu, e de que fora vista a arca de Seu concerto, indica a abertura do lugar santíssimo do santuário celestial, em 1844, ao entrar Cristo ali para efetuar a obra finalizadora da expiação. Os que pela fé seguiram seu Sumo Sacerdote, ao iniciar Ele o ministério no lugar santíssimo, contemplaram a arca de Seu concerto. Como houvessem estudado o assunto do santuário, chegaram a compreender a mudança operada no ministério do Salvador, e viram que Ele agora oficiava diante da arca de Deus, pleiteando com Seu sangue em favor dos pecadores. GC 433 2 A arca do tabernáculo terrestre continha as duas tábuas de pedra, sobre as quais se achavam inscritos os preceitos da lei de Deus. A arca era mero receptáculo das tábuas da lei, e a presença desses preceitos divinos é que lhe dava valor e santidade. Quando se abriu o templo de Deus no Céu, foi vista a arca do Seu testemunho. Dentro do santo dos santos, no santuário celestial, acha-se guardada sagradamente a lei divina -- a lei que foi pronunciada pelo próprio Deus em meio dos trovões do Sinai, e escrita por Seu próprio dedo nas tábuas de pedra. GC 434 1 A lei de Deus no santuário celeste é o grande original, de que os preceitos inscritos nas tábuas de pedra, registrados por Moisés no Pentateuco, eram uma transcrição exata. Os que chegaram à compreensão deste ponto importante, foram assim levados a ver o caráter sagrado e imutável da lei divina. Viram, como nunca dantes, a força das palavras do Salvador: "Até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei." Mateus 5:18. A lei de Deus, sendo a revelação de Sua vontade, a transcrição de Seu caráter, deve permanecer para sempre, "como uma fiel testemunha no Céu." Nenhum mandamento foi anulado; nenhum jota ou til se mudou. Diz o salmista: "Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu." São "fiéis todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre." Salmos 119:89; 111:7, 8. GC 434 2 No próprio centro do decálogo está o quarto mandamento, conforme foi a princípio proclamado: "Lembra-te do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou." Êxodo 20:8-11. GC 434 3 O Espírito de Deus tocou o coração dos que estudavam a Sua Palavra. Impressionava-os a convicção de que haviam ignorantemente transgredido este preceito, deixando de tomar em consideração o dia de repouso do Criador. Começaram a examinar as razões para a observância do primeiro dia da semana em lugar do dia que Deus havia santificado. Não puderam achar nas Escrituras prova alguma de que o quarto mandamento tivesse sido abolido, ou de que o sábado fora mudado; a bênção que a princípio destacava o sétimo dia nunca fora removida. Sinceramente tinham estado a procurar conhecer e fazer a vontade de Deus; agora, como se vissem transgressores de Sua lei, encheu-se-lhes o coração de tristeza, e manifestaram lealdade para com Deus, santificando Seu sábado. GC 435 1 Muitos e tenazes foram os esforços feitos para subverter-lhes a fé. Ninguém poderia deixar de ver que, se o santuário terrestre era uma figura ou modelo do celestial, a lei depositada na arca, na Terra, era uma transcrição exata da lei na arca, que está no Céu; e que a aceitação da verdade concernente ao santuário celeste envolvia o reconhecimento dos requisitos da lei de Deus, e da obrigatoriedade do sábado do quarto mandamento. Aí estava o segredo da oposição atroz e decidida à exposição harmoniosa das Escrituras, que revelavam o ministério de Cristo no santuário celestial. Os homens procuravam fechar a porta que Deus havia aberto, e abrir a que Ele fechara. Mas "O que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre", tinha declarado: "Eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar." Apocalipse 3:7, 8. Cristo abrira a porta, ou o ministério, do lugar santíssimo; resplandecia a luz por aquela porta aberta do santuário celestial, e demonstrou-se estar o quarto mandamento incluído na lei que ali se acha encerrada; o que Deus estabeleceu ninguém pode derribar. GC 435 2 Os que aceitaram a luz relativa à mediação de Cristo e à perpetuidade da lei de Deus, acharam que estas eram as verdades apresentadas no Capítulo 14 de Apocalipse. As mensagens deste capítulo constituem uma tríplice advertência, que deve preparar os habitantes da Terra para a segunda vinda do Senhor. O anúncio: "Vinda é a hora do Seu juízo" -- aponta para a obra finalizadora do ministério de Cristo para a salvação dos homens. Anuncia uma verdade que deve ser proclamada até que cesse a intercessão do Salvador, e Ele volte à Terra para receber o Seu povo. A obra do juízo que começou em 1844, deve continuar até que os casos de todos estejam decididos, tanto dos vivos como dos mortos; disso se conclui que ela se estenderá até ao final do tempo de graça para a humanidade. A fim de que os homens possam preparar-se para estar em pé no juízo, a mensagem lhes ordena temer a Deus e dar-Lhe glória, "e adorar Aquele que fez o céu e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." O resultado da aceitação destas mensagens é dado nestas palavras: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus, e a fé de Jesus." A fim de se prepararem para o juízo, é necessário que os homens guardem a lei de Deus. Esta lei será a norma de caráter no juízo. Declara o apóstolo Paulo: "Todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados. ... No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens por Jesus Cristo." E ele diz que "os que praticam a lei hão de ser justificados." Romanos 2:12-16. A fé é essencial a fim de guardar-se a lei de Deus; pois "sem fé é impossível agradar-Lhe." "E tudo que não é de fé, é pecado." Hebreus 11:6; Romanos 14:23. GC 436 1 Pelo primeiro anjo os homens são chamados a temer a Deus e dar-Lhe glória, e adorá-Lo como o Criador do céu e da Terra. A fim de fazer isto devem obedecer à Sua lei. Diz Salomão: "Teme a Deus, e guarda os Seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem." Eclesiastes 12:13. Sem a obediência a Seus mandamentos nenhum culto pode ser agradável a Deus. "Este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos." "O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável." 1 João 5:3; Provérbios 28:9. GC 436 2 O dever de adorar a Deus se baseia no fato de que Ele é o Criador, e que a Ele todos os outros seres devem a existência. E, onde quer que se apresente, na Bíblia, Seu direito à reverência e adoração, acima dos deuses dos pagãos, enumeram-se as provas de Seu poder criador. "Todos os deuses dos povos são coisas vãs; mas o Senhor fez os céus." Salmos 96:5. "A quem pois Me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas." "Assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a Terra, e a fez; ... Eu sou o Senhor, e não há outro." Isaías 40:25, 26; Isaías 45:18. Diz o salmista: "Sabei que o Senhor é Deus: foi Ele, e não nós que nos fez povo Seu." "Ó, vinde, adoremos, e prostremo-nos; ajoelhemo-nos diante do Senhor que nos criou." Salmos 100:3; 95:6. E os seres santos que adoram a Deus nos Céus, declaram porque Lhe é devida sua homenagem: "Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque Tu criaste todas as coisas." Apocalipse 4:11. GC 437 1 No Capítulo 14 de Apocalipse, os homens são convidados a adorar o Criador; e a profecia revela uma classe de pessoas que, como resultado da tríplice mensagem, observam os mandamentos de Deus. Um desses mandamentos aponta diretamente para Deus como sendo o Criador. O quarto preceito declara: "O sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus... porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou." Êxodo 20:10, 11. Acerca do sábado, diz mais o Senhor ser ele "um sinal, ... para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus." Ezequiel 20:20. E a razão apresentada é: "Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, e ao sétimo dia descansou e restaurou-Se." Êxodo 31:17. GC 437 2 "A importância do sábado como memória da criação consiste em conservar sempre presente o verdadeiro motivo de se render culto a Deus" -- porque Ele é o Criador, e nós as Suas criaturas. "O sábado, portanto, está no fundamento mesmo do culto divino, pois ensina esta grande verdade da maneira mais impressionante, e nenhuma outra instituição faz isso. O verdadeiro fundamento para o culto divino, não meramente o daquele que se realiza no sétimo dia, mas de todo o culto, encontra-se na distinção entre o Criador e Suas criaturas. Este fato capital jamais poderá tornar-se obsoleto, e jamais deverá ser esquecido." -- História do Sábado, J. N. Andrews. Foi para conservar esta verdade sempre perante o espírito dos homens que Deus instituiu o sábado no Éden; e, enquanto o fato de que Ele é o nosso Criador continuar a ser razão por que O devamos adorar, permanecerá o sábado como sinal e memória disto. Tivesse sido o sábado universalmente guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência e culto, jamais tendo havido idólatra, ateu, ou incrédulo. A guarda do sábado é um sinal de lealdade para com o verdadeiro Deus, "Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas." Segue-se que a mensagem que ordena aos homens adorar a Deus e guardar Seus mandamentos, apelará especialmente para que observemos o quarto mandamento. GC 438 1 Em contraste com os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus, o terceiro anjo indica outra classe, contra a cujos erros profere solene e terrível advertência: "Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus." Apocalipse 14:9, 10. Para a compreensão desta mensagem é necessária uma interpretação correta dos símbolos empregados. Que se representa pela besta, pela imagem e pelo sinal? GC 438 2 A cadeia de profecias na qual se encontram estes símbolos, começa no Capítulo 12 de Apocalipse, com o dragão que procurava destruir Cristo em Seu nascimento. Declara-se que o dragão é Satanás (Apocalipse 12:9); foi ele que atuou sobre Herodes a fim de matar o Salvador. Mas o principal agente de Satanás, ao fazer guerra contra Cristo e Seu povo, durante os primeiros séculos da era cristã, foi o Império Romano, no qual o paganismo era a religião dominante. Assim, conquanto o dragão represente primeiramente Satanás, é, em sentido secundário, símbolo de Roma pagã. GC 439 1 No Capítulo 13:1-10, descreve-se a besta "semelhante ao leopardo", à qual o dragão deu "o seu poder, o seu trono, e grande poderio." Este símbolo, como a maioria dos protestantes tem crido, representa o papado, que se sucedeu no poder, trono e poderio uma vez mantidos pelo antigo Império Romano. Declara-se quanto à besta semelhante ao leopardo: "Foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias. ... E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu tabernáculo, e dos que habitam no Céu. E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação." Esta profecia, que é quase idêntica à descrição da ponta pequena de Daniel 7, refere-se inquestionavelmente ao papado. GC 439 2 "Deu-se-lhe poder para continuar por quarenta e dois meses." E, diz o profeta, "vi uma de suas cabeças como ferida de morte." E, mais, "se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto." Os quarenta e dois meses são o mesmo que "tempo, tempos, e metade de um tempo", três anos e meio, ou 1.260 dias, de Daniel 7, tempo durante o qual o poder papal deveria oprimir o povo de Deus. Este período, conforme se declara nos capítulos precedentes, começou com a supremacia do papado, no ano 538 de nossa era, e terminou em 1798. Nesta ocasião o papa foi aprisionado pelo exército francês, e o poder papal recebeu a chaga mortal, cumprindo-se a predição: "Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá." GC 439 3 Neste ponto é introduzido outro símbolo. Diz o profeta: "Vi subir da Terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro." Apocalipse 13:11. Tanto a aparência desta besta como a maneira por que surgiu, indicam que a nação por ela representada é diferente das que são mostradas sob os símbolos precedentes. Os grandes reinos que têm governado o mundo foram apresentados ao profeta Daniel como feras rapinantes, que surgiam quando "os quatro ventos do céu combatiam no mar grande." Daniel 7:2. Em Apocalipse 17, um anjo explicou que águas representam "povos, e multidões, e nações, e línguas". Verso 15. Ventos são símbolos de contendas. Os quatro ventos do céu a combaterem no mar grande, representam as terríveis cenas de conquista e revolução, pelas quais os reinos têm atingido o poder. GC 440 1 Mas a besta de chifres semelhantes aos do cordeiro foi vista a "subir da terra." Em vez de subverter outras potências para estabelecer-se, a nação assim representada deve surgir em território anteriormente desocupado, crescendo gradual e pacificamente. Não poderia, pois, surgir entre as nacionalidades populosas e agitadas do Velho Mundo -- esse mar turbulento de "povos, e multidões, e nações, e línguas." Deve ser procurada no Ocidente. GC 440 2 Que nação do Novo Mundo se achava em 1798 ascendendo ao poder, apresentando indícios de força e grandeza, e atraindo a atenção do mundo? A aplicação do símbolo não admite dúvidas. Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia; esta aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América do Norte. Reiteradas vezes, ao descreverem a origem e o crescimento desta nação, oradores e escritores têm emitido inconscientemente o mesmo pensamento e quase que empregado as mesmas palavras do escritor sagrado. A besta foi vista a "subir da terra"; e, segundo os tradutores, a palavra aqui traduzida "subir" significa literalmente "crescer ou brotar como uma planta." E, como vimos, a nação deveria surgir em território previamente desocupado. Escritor preeminente, descrevendo a origem dos Estados Unidos, fala do "mistério de sua procedência do nada" (G. A. Towsend, O Novo Mundo Comparado com o Velho), e diz: "Semelhando a semente silenciosa, desenvolvemo-nos em império." Um jornal europeu, em 1850, referiu-se aos Estados Unidos como um império maravilhoso, que estava "emergindo" e "no silêncio da terra aumentando diariamente seu poder e orgulho." -- The Dublin Nation. Eduardo Everett, em discurso sobre os peregrinos, fundadores desta nação, disse: "Procuraram um local afastado, inofensivo por sua obscuridade, e seguro pela distância, onde a pequenina igreja de Leyden pudesse gozar de liberdade de consciência? Eis as imensas regiões sobre as quais, em conquista pacífica, ... implantaram os estandartes da cruz!" -- Discurso pronunciado em Plymouth, Mass., em 22 de dezembro de 1824. GC 441 1 "E tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro." Os chifres semelhantes aos do cordeiro indicam juventude, inocência e brandura, o que apropriadamente representa o caráter dos Estados Unidos, quando apresentados ao profeta como estando a "subir" em 1798. Entre os exilados cristãos que primeiro fugiram para a América do Norte e buscaram asilo contra a opressão real e a intolerância dos sacerdotes, muitos havia que se decidiram a estabelecer um governo sobre o amplo fundamento da liberdade civil e religiosa. Suas idéias tiveram guarida na Declaração da Independência, que estabeleceu a grande verdade de que "todos os homens são criados iguais", e dotados de inalienável direito à "vida, liberdade, e procura de felicidade." E a Constituição garante ao povo o direito de governar-se a si próprio, estipulando que os representantes eleitos pelo voto do povo façam e administrem as leis. Foi também concedida liberdade de fé religiosa, sendo permitido a todo homem adorar a Deus segundo os ditames de sua consciência. Republicanismo e protestantismo tornaram-se os princípios fundamentais da nação. Estes princípios são o segredo de seu poder e prosperidade. Os oprimidos e desprezados de toda a cristandade têm-se volvido para esta terra com interesse e esperança. Milhões têm aportado às suas praias, e os Estados Unidos alcançaram lugar entre as mais poderosas nações da Terra. GC 441 2 Mas a besta de chifres semelhantes aos do cordeiro "falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a Terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E ... dizendo aos que habitam na Terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia." Apocalipse 13:11-14. GC 442 1 Os chifres semelhantes aos do cordeiro e a voz de dragão deste símbolo indicam contradição flagrante entre o que professa e pratica a nação assim representada. A "fala" da nação são os atos de suas autoridades legislativas e judiciárias. Por esses atos desmentirá os princípios liberais e pacíficos que estabeleceu como fundamento de sua política. A predição de falar "como o dragão", e exercer "todo o poder da primeira besta", claramente anuncia o desenvolvimento do espírito de intolerância e perseguição que manifestaram as nações representadas pelo dragão e pela besta semelhante ao leopardo. E a declaração de que a besta de dois chifres faz com "que a Terra e os que nela habitam adorem a primeira besta", indica que a autoridade desta nação deve ser exercida impondo ela alguma observância que constituirá ato de homenagem ao papado. GC 442 2 Semelhante atitude seria abertamente contrária aos princípios deste governo, ao espírito de suas instituições livres, às afirmações insofismáveis e solenes da Declaração da Independência, e à Constituição. Os fundadores da nação procuraram sabiamente prevenir o emprego do poder secular por parte da igreja, com seu inevitável resultado -- intolerância e perseguição. A Magna Carta estipula que "o Congresso não fará lei quanto a oficializar alguma religião, ou proibir o seu livre exercício", e que "nenhuma prova de natureza religiosa será jamais exigida como requisito para qualquer cargo de confiança pública nos Estados Unidos." Somente em flagrante violação destas garantias à liberdade da nação, poderá qualquer observância religiosa ser imposta pela autoridade civil. Mas a incoerência de tal procedimento não é maior do que o que se encontra representado no símbolo. É a besta de chifres semelhantes aos do cordeiro -- professando-se pura, suave e inofensiva que fala como o dragão. GC 442 3 "Dizendo aos que habitam na Terra que fizessem uma imagem à besta." Aqui se representa claramente a forma de governo em que o poder legislativo emana do povo; uma prova das mais convincentes de que os Estados Unidos são a nação indicada na profecia. GC 443 1 Mas o que é a "imagem à besta?" e como será ela formada? A imagem é feita pela besta de dois chifres, e é uma imagem à primeira besta. É também chamada imagem da besta. Portanto, para sabermos o que é a imagem, e como será formada, devemos estudar os característicos da própria besta -- o papado. GC 443 2 Quando se corrompeu a primitiva igreja, afastando-se da simplicidade do evangelho e aceitando ritos e costumes pagãos, perdeu o Espírito e o poder de Deus; e, para que pudesse governar a consciência do povo, procurou o apoio do poder secular. Disso resultou o papado, uma igreja que dirigia o poder do Estado e o empregava para favorecer aos seus próprios fins, especialmente na punição da "heresia." A fim de formarem os Estados Unidos uma imagem da besta, o poder religioso deve a tal ponto dirigir o governo civil que a autoridade do Estado também seja empregada pela igreja para realizar os seus próprios fins. GC 443 3 Quando quer que a Igreja tenha obtido o poder secular, empregou-o ela para punir a discordância às suas doutrinas. As igrejas protestantes que seguiram os passos de Roma, formando aliança com os poderes do mundo, têm manifestado desejo semelhante de restringir a liberdade de consciência. Dá-se um exemplo disto na prolongada perseguição aos dissidentes, feita pela Igreja Anglicana. Durante os séculos XVI e XVII, milhares de ministros não-conformistas foram obrigados a deixar as igrejas, e muitos, tanto pastores como do povo em geral, foram submetidos a multa, prisão, tortura e martírio. GC 443 4 Foi a apostasia que levou a igreja primitiva a procurar o auxílio do governo civil, e isto preparou o caminho para o desenvolvimento do papado -- a besta. Disse Paulo que havia de vir "a apostasia", e manifestar-se "o homem do pecado." II Tess. 2:3. Assim a apostasia na igreja preparará o caminho para a imagem à besta. GC 444 1 A Escritura Sagrada declara que antes da vinda do Senhor existirá um estado de decadência religiosa semelhante à dos primeiros séculos. "Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela." 2 Timóteo 3:1-5. "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios." 1 Timóteo 4:1. Satanás operará "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça." E todos os que "não receberam o amor da verdade para se salvarem", serão abandonados à mercê da "operação do erro, para que creiam a mentira." 2 Tessalonicenses 2:9-11. Quando for atingido tal estado de impiedade, ver-se-ão os mesmos resultados que nos primeiros séculos. GC 444 2 A vasta diversidade de crenças nas igrejas protestantes é por muitos considerada como prova decisiva de que jamais se poderá fazer esforço algum para se conseguir uma uniformidade obrigatória. Há anos, porém, que nas igrejas protestantes se vem manifestando poderoso e crescente sentimento em favor de uma união baseada em pontos comuns de doutrinas. Para conseguir tal união, deve-se necessariamente evitar toda discussão de assuntos em que não estejam todos de acordo, independentemente de sua importância do ponto de vista bíblico. GC 444 3 Carlos Beecher, em sermão pronunciado em 1846, declarou que o ministério das denominações evangélicas protestantes "não somente é formado sob terrível pressão do mero temor humano, mas também vive, move-se e respira num meio totalmente corrupto, e que cada instante apela para todo o elemento mais vil de sua natureza, a fim de ocultar a verdade e curvar os joelhos ao poder da apostasia. Não foi desta maneira que as coisas se passaram com Roma? Não estamos nós desandando pelo mesmo caminho? E que vemos precisamente diante de nós? Outro concílio geral! Uma convenção mundial! Aliança evangélica, e credo universal!" -- Sermão sobre: A Bíblia Como um Credo Suficiente, pronunciado em Fort Wayne, Indiana, a 22 de fevereiro de 1846. Quando, pois, se conseguir isto nos esforços para se obter completa uniformidade, apenas um passo haverá para que se recorra à força. GC 445 1 Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apóie as instituições, a América do Norte protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a aplicação de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável. GC 445 2 A besta de dois chifres "faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita ou nas suas testas; para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome." Apocalipse 13:16, 17. A advertência do terceiro anjo é: "Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus." "A besta" mencionada nesta mensagem, cuja adoração é imposta pela besta de dois chifres, é a primeira, ou a besta semelhante ao leopardo, do Capítulo 13 do Apocalipse -- o papado. A "imagem da besta" representa a forma de protestantismo apóstata que se desenvolverá quando as igrejas protestantes buscarem o auxílio do poder civil para imposição de seus dogmas. Resta definir ainda o "sinal da besta". GC 445 3 Depois da advertência contra o culto à besta e sua imagem, declara a profecia: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus, e a fé de Jesus." Visto os que guardam os mandamentos de Deus serem assim colocados em contraste com os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal, é claro que a guarda da lei de Deus, por um lado, e sua violação, por outro, deverão assinalar a distinção entre os adoradores de Deus e os da besta. GC 446 1 O característico especial da besta, e, portanto, de sua imagem, é a violação dos mandamentos de Deus. Diz Daniel a respeito da ponta pequena, o papado: "Cuidará em mudar os tempos e a lei." Daniel 7:25. E Paulo intitulou o mesmo poder "o homem do pecado", que deveria exaltar-se acima de Deus. Uma profecia é o complemento da outra. Unicamente mudando a lei de Deus poderia o papado exaltar-se acima de Deus; quem quer que conscientemente guarde a lei assim modificada, estará a prestar suprema honra ao poder pelo qual se efetuou a mudança. Tal ato de obediência às leis papais seria um sinal de vassalagem ao papa em lugar de Deus. GC 446 2 O papado tentou mudar a lei de Deus. O segundo mandamento, que proíbe o culto às imagens, foi omitido da lei, e o quarto foi mudado de molde a autorizar a observância do primeiro dia em vez do sétimo, como sábado. Mas os romanistas aduzem como razão para omitir o segundo mandamento ser ele desnecessário, achando-se incluído no primeiro, e que estão a dar a lei exatamente como era o desígnio de Deus fosse ela compreendida. Essa não pode ser a mudança predita pelo profeta. É apresentada uma mudança intencional, com deliberação. "Cuidará em mudar os tempos e a lei." A mudança no quarto mandamento cumpre exatamente a profecia. Para isto a única autoridade alegada é a da Igreja. Aqui o poder papal se coloca abertamente acima de Deus. GC 446 3 Enquanto os adoradores de Deus se distinguirão especialmente pelo respeito ao quarto mandamento -- dado o fato de ser este o sinal de Seu poder criador, e testemunha de Seu direito à reverência e homenagem do homem -- os adoradores da besta salientar-se-ão por seus esforços para derribar o monumento do Criador e exaltar a instituição de Roma. Foi por sua atitude a favor do domingo que o papado começou a ostentar arrogantes pretensões; seu primeiro recurso ao poder do Estado foi para impor a observância do domingo como "o dia do Senhor." A Escritura Sagrada, porém, indica o sétimo dia e não o primeiro, como o dia do Senhor. Disse Cristo : "O Filho do homem é Senhor até do sábado." O quarto mandamento declara: "O sétimo dia é o sábado do Senhor." E pelo profeta Isaías o Senhor lhe chama: "Meu santo dia." Marcos 2:28; Isaías 58:13. GC 447 1 A alegação tantas vezes feita, de que Cristo mudou o sábado, é refutada por Suas próprias palavras. Em Seu sermão no monte, disse Ele: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer pois que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos Céus." Mateus 5:17-19. GC 447 2 É fato geralmente admitido por protestantes que as Escrituras não autorizam em nenhuma parte a mudança do sábado. Isto se acha plenamente declarado nas publicações editadas pela Sociedade Americana de Panfletos e pela União Americana das Escolas Dominicais. Uma dessas obras reconhece "o completo silêncio do Novo Testamento no que respeita a um mandamento explícito para o domingo ou a regras definidas para a sua observância." -- The Abiding Sabbath, Jorge Elliot. GC 447 3 Outra diz: "Até ao tempo da morte de Cristo nenhuma mudança havia sido feita no dia" (O Dia do Senhor, A. E. Waffle); e, "pelo que se depreende do relato sagrado, eles [os apóstolos] não deram ... nenhum mandamento explícito ordenando o abandono de repouso do sétimo dia, e sua observância no primeiro dia da semana." -- Ibidem. GC 447 4 Os católicos romanos reconhecem que a mudança do sábado foi feita pela sua igreja, e declaram que os protestantes, observando o domingo, estão reconhecendo o poder desta. No "Catecismo Católico da Religião Cristã", em resposta a uma pergunta sobre o dia a ser observado em obediência ao quarto mandamento, faz-se esta declaração: "Enquanto vigorou a antiga lei, o sábado era o dia santificado, mas a igreja, instruída por Jesus Cristo, e dirigida pelo Espírito de Deus, substituiu o sábado pelo domingo; assim, santificamos agora o primeiro dia, e não o sétimo dia. Domingo quer dizer, e agora é, dia do Senhor." GC 448 1 Como sinal da autoridade da Igreja Católica, os escritores romanistas citam "o próprio ato da mudança do sábado para o domingo, que os protestantes admitem; ... porque, guardando o domingo, reconhecem o poder da igreja para ordenar dias santos e impor sua observância sob pena de incorrer em pecado." -- Resumo da Doutrina Cristã, H. Tuberville. Que é, pois, a mudança do sábado senão o sinal da autoridade da Igreja de Roma ou "o sinal da besta"? GC 448 2 A igreja de Roma não renunciou a suas pretensões à supremacia; e, se o mundo e as igrejas protestantes aceitam um dia de repouso de sua criação, ao mesmo tempo em que rejeitam o sábado bíblico, acatam virtualmente estas pretensões. Podem alegar a autoridade da tradição e dos pais da igreja para a mudança, mas, assim fazendo, ignoram o próprio princípio que os separa de Roma, de que -- "A Bíblia, e a Bíblia só, é a religião dos protestantes." Os romanistas podem ver que estão enganando a si mesmos, fechando voluntariamente os olhos para os fatos em relação ao caso. À medida que ganha terreno o movimento em favor do repouso dominical obrigatório, eles se regozijam, na certeza de que, por fim, todo o mundo protestante será reunido sob a bandeira de Roma. GC 448 3 Os romanistas declaram que "a observância do domingo pelos protestantes é uma homenagem que prestam, malgrado seu, à autoridade da Igreja [Católica]." -- Plain Talks About Protestantism. A imposição da guarda do domingo por parte das igrejas protestantes é uma obrigatoriedade do culto ao papado -- à besta. Os que, compreendendo as exigências do quarto mandamento, preferem observar o sábado espúrio em lugar do verdadeiro, estão desta maneira a prestar homenagem ao poder pelo qual somente é ele ordenado. Mas, no próprio ato de impor um dever religioso por meio do poder secular, formariam as igrejas mesmas uma imagem à besta; daí a obrigatoriedade da guarda do domingo nos Estados Unidos equivaler a impor a adoração à besta e à sua imagem. GC 449 1 Mas os cristãos das gerações passadas observaram o domingo, supondo que em assim fazendo estavam a guardar o sábado bíblico; e hoje existem verdadeiros cristãos em todas as igrejas, não excetuando a comunhão católica romana, que crêem sinceramente ser o domingo o dia de repouso divinamente instituído. Deus aceita a sinceridade de propósito de tais pessoas e sua integridade. Quando, porém, a observância do domingo for imposta por lei, e o mundo for esclarecido relativamente à obrigação do verdadeiro sábado, quem então transgredir o mandamento de Deus para obedecer a um preceito que não tem maior autoridade que a de Roma, honrará desta maneira ao papado mais do que a Deus. Prestará homenagem a Roma, e ao poder que impõe a instituição que Roma ordenou. Adorará a besta e a sua imagem. Ao rejeitarem os homens a instituição que Deus declarou ser o sinal de Sua autoridade, e honrarem em seu lugar a que Roma escolheu como sinal de sua supremacia, aceitarão, de fato, o sinal de fidelidade para com Roma -- "o sinal da besta." E somente depois que esta situação esteja assim plenamente exposta perante o povo, e este seja levado a optar entre os mandamentos de Deus e os dos homens, é que, então, aqueles que continuam a transgredir hão de receber "o sinal da besta". GC 449 2 A mais terrível ameaça que já foi dirigida aos mortais, acha-se contida na mensagem do terceiro anjo. Deverá ser um terrível pecado que acarretará a ira de Deus, sem mistura de misericórdia. Os homens não devem ser deixados em trevas quanto a este importante assunto; a advertência contra tal pecado deve ser dada ao mundo antes da visitação dos juízos de Deus, a fim de que todos possam saber por que esses juízos são infligidos, e tenham oportunidade de escapar. A profecia declara que o primeiro anjo faria o anúncio a "toda a nação, e tribo, e língua, e povo." A advertência do terceiro anjo, que faz parte da mesma tríplice mensagem, deve ser não menos difundida. É representada na profecia como sendo proclamada com grande voz, por um anjo voando pelo meio do céu; e se imporá à atenção do mundo. GC 450 1 No desfecho desta controvérsia, toda a cristandade estará dividida em duas grandes classes -- os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, e os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal. Se bem que a igreja e o Estado reúnam o seu poder a fim de obrigar "a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos", a receberem "o sinal da besta" (Apocalipse 13:16), o povo de Deus, no entanto, não o receberá. O profeta de Patmos contempla "os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número de seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, ... e o cântico do Cordeiro." Apocalipse 15:2, 3. ------------------------Capítulo 26 -- Restauração da verdade GC 451 1 A obra da reforma do sábado a realizar-se nos últimos tempos acha-se predita na profecia de Isaías: "Assim diz o Senhor: Mantende o juízo, e fazei justiça, porque a Minha salvação está prestes a vir, e a Minha justiça a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de perpetrar algum mal." "Aos filhos dos estrangeiros que se chegarem ao Senhor, para O servirem, e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos Seus, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o Meu concerto, também os levarei ao Meu santo monte, e os festejarei na Minha casa de oração." Isaías 56:1, 2, 6, 7. GC 451 2 Estas palavras se aplicam à era cristã, como se vê pelo contexto: "Assim diz o Senhor Jeová, que ajunta os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram." Isaías 56:8. Aqui está prefigurado o ajuntamento dos gentios pelo evangelho. E sobre os que então honram o sábado, é pronunciada uma bênção. Destarte, o dever relativo ao quarto mandamento estende-se através da crucifixão, ressurreição e ascensão de Cristo, até ao tempo em que os Seus servos deveriam pregar a todas as nações a mensagem das alegres novas. GC 452 1 O Senhor ordena pelo mesmo profeta: "Liga o testemunho, sela a lei entre os Meus discípulos." Isaías 8:16. O selo da lei de Deus se encontra no quarto mandamento. Unicamente este, entre todos os dez, apresenta não só o nome mas o título do Legislador. Declara ser Ele o Criador dos céus e da Terra, e mostra, assim, o Seu direito à reverência e culto, acima de todos. Afora este preceito, nada há no decálogo para mostrar por que autoridade a lei é dada. Quando o sábado foi mudado pelo poder papal, o selo foi tirado da lei. Os discípulos de Jesus são chamados para que o restabeleçam, exaltando o sábado do quarto mandamento à sua devida posição como monumento do Criador e sinal de Sua autoridade. GC 452 2 "À Lei e ao Testemunho!" Ao mesmo tempo em que são abundantes as doutrinas e teorias contraditórias entre si, a lei de Deus, é a única regra infalível pela qual todas as opiniões, doutrinas e teorias devem ser provadas. Diz o profeta: "Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." Isaías 8:20. GC 452 3 De novo é dada a ordem: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia a Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Não é o mundo ímpio, mas são aqueles a quem o Senhor designa como "Meu povo", os que devem ser reprovados por suas transgressões. Declara Ele ainda: "Todavia, Me procuram cada dia, tomam prazer em saber os Meus caminhos, como um povo que pratica a justiça, e não deixa a ordenança do seu Deus." Isaías 58:1, 2. Aqui se faz referência a uma classe que se julga justa, que parece manifestar grande interesse no serviço de Deus; mas a repreensão severa e solene dAquele que examina os corações, prova que se acham a calcar a pés os preceitos divinos. GC 452 4 Desta maneira indica o profeta a ordenança que tem estado esquecida: "Levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar. Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor." Isaías 58:12-14. Esta profecia também se aplica a nosso tempo. A rotura foi feita na lei de Deus, quando o sábado foi mudado pelo poder romano. Chegou, porém, o tempo para que esta instituição divina seja restabelecida. A rotura deve ser reparada, e levantado o fundamento de geração em geração. GC 453 1 Santificado pelo descanso e bênção do Criador, o sábado foi guardado por Adão em sua inocência no santo Éden; por Adão, depois de caído mas arrependido, quando expulso de sua feliz morada. Foi guardado por todos os patriarcas, desde Abel até o justo Noé, até Abraão, Jacó. Quando o povo escolhido esteve em cativeiro no Egito, muitos, em meio da idolatria imperante, perderam o conhecimento da lei de Deus; mas, quando o Senhor libertou Israel, proclamou-a com terrível majestade à multidão reunida, para que conhecesse a Sua vontade, e a Ele temesse e obedecesse para sempre. GC 453 2 Desde aquele dia até o presente, o conhecimento da lei de Deus tem-se preservado na Terra, e o sábado do quarto mandamento tem sido guardado. Posto que o "homem do pecado" conseguisse calcar a pés o santo dia de Deus, houve, contudo, mesmo no período de sua supremacia, ocultas nos lugares solitários, almas fiéis que lhe dispensavam honra. Desde a Reforma, alguns tem havido, em cada geração, a manterem-lhe a observância. Embora freqüentemente em meio de ignomínia e perseguição, constante testemunho tem sido dado da perpetuidade da lei de Deus e da obrigação sagrada relativa ao sábado da Criação. GC 453 3 Estas verdades, conforme são apresentadas no Capítulo 14 de Apocalipse, em relação com "o evangelho eterno", distinguirão a igreja de Cristo ao tempo de Seu aparecimento. Pois, como resultado da tríplice mensagem, é anunciado: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus, e a fé de Jesus." E esta mensagem é a última a ser dada antes da vinda do Senhor. Seguindo-se imediatamente à sua proclamação, pelo profeta é visto o Filho do homem vindo em glória, para ceifar a colheita da Terra. GC 454 1 Os que receberam a luz concernente ao santuário e à imutabilidade da lei de Deus, encheram-se de alegria e admiração, ao verem a beleza e harmonia do conjunto de verdades que se lhes desvendaram ao entendimento. Desejaram que a luz que lhes parecia tão preciosa fosse comunicada a todos os cristãos; e criam que seria alegremente aceita. Mas as verdades que os poriam em discordância com o mundo não foram bem recebidas por muitos que pretendiam ser seguidores de Cristo. A obediência ao quarto mandamento exigia sacrifício, ante o qual a maioria das pessoas recuava. GC 454 2 Ao serem apresentadas as exigências do sábado, muitos raciocinavam do ponto de vista mundano. Diziam: "Sempre guardamos o domingo, nossos pais o observaram, e muitos homens bons e piedosos morreram felizes enquanto o guardavam. Se tinham razão, também nós a temos. A guarda do sábado do sétimo dia nos poria em desacordo com o mundo, e não teríamos influência alguma sobre ele. Que pode um pequeno grupo, a guardar o sétimo dia, esperar fazer contra todo o mundo que guarda o domingo?" Foi com argumentos semelhantes que os judeus se esforçaram para justificar sua rejeição de Cristo. Seus pais tinham sido aceitos por Deus, ao apresentarem ofertas de sacrifícios; e por que não poderiam os filhos encontrar salvação continuando com o mesmo modo de agir? Semelhantemente, no tempo de Lutero, raciocinavam os romanistas que cristãos verdadeiros tinham morrido na fé católica; e portanto, essa religião era suficiente para a salvação. Tal raciocínio se mostrava uma barreira eficaz contra todo o progresso na fé ou prática religiosa. GC 454 3 Muitos insistiam em que a guarda do domingo tinha sido, por muitos séculos, uma doutrina estabelecida e generalizado costume da igreja. Contra este argumento se mostrou que o sábado e sua observância eram mais antigos e generalizados, sendo mesmo tão velhos como o próprio mundo, e trazendo a sanção tanto dos anjos como de Deus. Quando foram postos os fundamentos da Terra, quando as estrelas da alva juntamente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam, foi então lançado o fundamento do sábado. Jó 38:6, 7; Gênesis 2:1-3. Bem pode esta instituição reclamar a nossa reverência; não foi ordenada por nenhuma autoridade humana, e não repousa sobre tradições humanas; foi estabelecida pelo Ancião de Dias e ordenada por Sua eterna Palavra. GC 455 1 Ao ser a atenção do povo chamada para o assunto da reforma do sábado, ministros populares perverteram a Palavra de Deus, interpretando-a de modo a melhor tranqüilizar os espíritos inquiridores. E os que não investigavam por si mesmos as Escrituras, contentavam-se com aceitar conclusões que se achavam de acordo com os seus desejos. Por meio de argumentos, sofismas, tradições dos pais da igreja e autoridades eclesiásticas, muitos se esforçaram para subverter a verdade. Os defensores desta foram compelidos à Sagrada Escritura para defender a validade do quarto mandamento. Homens humildes, armados unicamente com a Palavra da verdade, resistiram aos ataques de homens de saber, que, com surpresa e ira, perceberam a ineficácia de seus eloqüentes sofismas contra o raciocínio simples, direto, daqueles que eram versados nas Escrituras ao invés de sê-lo nas subtilezas filosóficas. GC 455 2 Na ausência de testemunho das Escrituras Sagradas a seu favor, muitos, esquecendo-se de que o mesmo raciocínio fora empregado contra Cristo e Seus apóstolos, insistiam com incansável persistência: "Por que não compreendem os nossos grandes homens esta questão do sábado? Poucos, apenas, crêem como vós. Não pode ser que estejais certos, e que todos os homens de saber no mundo se achem em erro." GC 455 3 Para refutar esses argumentos era o bastante citar os ensinos das Escrituras e a história do trato do Senhor para com o Seu povo em todos os tempos. Deus opera por intermédio dos que ouvem a Sua voz e Lhe obedecem, e que, sendo necessário, falam verdades desagradáveis, e não temem reprovar pecados populares. A razão por que Ele não escolhe mais vezes homens de saber e alta posição para dirigir os movimentos da Reforma, é o confiarem eles em seus credos, teorias e sistemas teológicos, e não sentirem a necessidade de ser ensinados por Deus. Unicamente os que têm ligação pessoal com a fonte da sabedoria são capazes de compreender ou explicar as Escrituras. Homens que têm pouca instrução colegial são por vezes chamados para anunciar a verdade, não porque sejam ignorantes, mas porque não são demasiado pretensiosos para ser por Deus ensinados. Aprendem na escola de Cristo, e sua humildade e obediência os torna grandes. Confiando-lhes o conhecimento de Sua verdade, Deus lhes confere uma honra, em comparação com a qual as honras terrestres e a grandeza humana se reduzem à insignificância. GC 456 1 A maioria dos adventistas rejeitaram as verdades atinentes ao santuário e à lei de Deus; muitos, também, renunciaram à fé no movimento adventista, adotando idéias errôneas e contraditórias acerca das profecias que se aplicavam àquela obra. Alguns foram levados ao erro de fixar repetidas vezes um tempo definido para a vinda de Cristo. A luz que então brilhava do assunto do santuário ter-lhes-ia mostrado que nenhum período profético se estende até ao segundo advento; que o tempo exato para esta ocorrência não está predito. Mas, desviando-se da luz, continuaram a marcar repetidamente o tempo da vinda do Senhor, e outras tantas vezes foram desapontados. GC 456 2 Quando a igreja de Tessalônica recebeu idéias errôneas no tocante à vinda de Cristo, o apóstolo Paulo aconselhou-a a provar cuidadosamente suas esperanças e expectativas pela Palavra de Deus. Citou-lhes profecias que revelavam acontecimentos a ocorrerem antes que Cristo viesse, e mostrou-lhes que não tinham base para O esperarem em sua época. "Ninguém de maneira alguma vos engane" (2 Tessalonicenses 2:3), são suas palavras de aviso. Se acariciassem expectativas destituídas da sanção das Escrituras, seriam levados a um modo errado de se conduzirem; o desapontamento os exporia à zombaria dos incrédulos, e correriam perigo de se entregar ao desânimo, sendo tentados a duvidar das verdades essenciais à salvação. A advertência do apóstolo aos tessalonicenses contém uma lição importante aos que vivem nos últimos dias. Muitos adventistas têm julgado que, a menos que pudessem fixar a fé em um tempo definido para a vinda do Senhor, não poderiam ser zelosos e diligentes na obra de preparo. Mas, como suas esperanças são reiteradas vezes suscitadas, apenas para serem destruídas, sua fé sofre abalo tal que se lhes torna quase impossível se impressionarem com as grandes verdades da profecia. GC 457 1 A pregação de um tempo definido para o juízo, na proclamação da primeira mensagem, foi ordenada por Deus. O cômputo dos períodos proféticos nos quais se baseava aquela mensagem, localizando o final dos 2.300 dias no outono de 1844, paira acima de qualquer contestação. Os repetidos esforços por encontrar novas datas para o começo e fim dos períodos proféticos, e o raciocínio falaz necessário para apoiar este modo de ver, não somente transviam da verdade presente os espíritos, mas lançam o opróbrio sobre todos os esforços para se explicarem as profecias. Quanto mais freqüentemente se marcar um tempo definido para o segundo advento, e mais amplamente for ele ensinado, tanto mais se satisfazem os propósitos de Satanás. Depois que se passa o tempo, ele provoca o ridículo e o desdém aos seus defensores, lançando assim o opróbrio sobre o grande movimento adventista de 1843 e 1844. Os que persistem neste erro, fixarão finalmente uma data para a vinda de Cristo num futuro demasiado longínquo. Serão levados, assim, a descansar em falsa segurança, e muitos se desenganarão tarde demais. GC 457 2 A história do antigo Israel é um exemplo frisante da passada experiência dos adventistas. Deus guiou Seu povo no movimento adventista, assim como guiara os filhos de Israel ao saírem do Egito. No grande desapontamento fora provada a sua fé, como o foi a dos hebreus no Mar Vermelho. Houvessem ainda confiado na mão guiadora que com eles estivera em sua experiência anterior, e teriam visto a salvação de Deus. Se todos os que trabalharam unidos na obra em 1844 tivessem recebido a mensagem do terceiro anjo, proclamando-a no poder do Espírito Santo, o Senhor teria poderosamente operado por seus esforços. Caudais de luz ter-se-iam derramado sobre o mundo. Haveria anos que os habitantes da Terra teriam sido avisados, a obra final estaria consumada, e Cristo teria vindo para a redenção de Seu povo. GC 458 1 Não foi a vontade de Deus que os filhos de Israel vagueassem durante quarenta anos no deserto: desejava Ele levá-los diretamente à terra de Canaã e ali os estabelecer como um povo santo, feliz. Mas "não puderam entrar por causa da sua incredulidade." Hebreus 3:19. Por sua reincidência e apostasia, pereceram os impenitentes no deserto, e levantaram-se outros para entrarem na Terra Prometida. Semelhantemente, não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo fosse tão demorada, e que Seu povo permanecesse tantos anos neste mundo de pecado e tristeza. A incredulidade, porém, os separou de Deus. Como se recusassem a fazer a obra que lhes havia designado, outros se levantaram para proclamar a mensagem. Usando de misericórdia para com o mundo, Jesus retarda a Sua vinda, para que pecadores possam ter oportunidade de ouvir a advertência, e encontrar nEle refúgio antes que a ira de Deus seja derramada. GC 458 2 Hoje, como nos séculos anteriores, a apresentação de qualquer verdade que reprove os pecados e erros dos tempos, suscitará oposição. "Todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas." João 3:20. Ao verem os homens que não podem sustentar sua atitude pelas Escrituras, decidir-se-ão muitos a mantê-la a todo transe, e, com espírito mau, atacam o caráter e intuitos dos que permanecem na defesa da verdade impopular. É o mesmo expediente que tem sido adotado em todos os tempos. Elias foi acusado de ser o perturbador de Israel, Jeremias de traidor, Paulo de profanador do templo. Desde aquele tempo até hoje, os que desejam ser fiéis à verdade têm sido denunciados como sediciosos, hereges ou facciosos. Multidões que são demasiado incrédulas para aceitar a segura palavra da profecia, receberão com ilimitada credulidade a acusação contra os que ousam reprovar os pecados em voga. Este espírito aumentará mais e mais: E a Bíblia claramente ensina que se aproxima um tempo em que as leis do Estado se encontrarão em tal conflito com a lei de Deus, que, quem desejar obedecer a todos os preceitos divinos, deverá afrontar o opróbrio e o castigo, como malfeitor. GC 459 1 Em vista disto, qual é o dever do mensageiro da verdade? Concluirá ele que a verdade não deve ser apresentada, visto que muitas vezes seu único efeito é levar os homens a se evadirem de seus requisitos ou a eles resistir? Não; ele não tem mais motivos para reter o testemunho da Palavra de Deus, porque este levanta oposição, do que tiveram os primitivos reformadores. A confissão de fé, feita pelos santos e mártires, foi registrada para o benefício das gerações que se seguiram. Aqueles vivos exemplos de santidade e firme integridade vieram até nós para infundir coragem nos que hoje são chamados a estar em pé como testemunhas de Deus. Receberam graça e verdade, não para si apenas, mas para que, por seu intermédio, o conhecimento de Deus pudesse iluminar a Terra. Tem Deus proporcionado luz a Seus servos nesta geração? Então devem eles deixá-la brilhar ao mundo. GC 459 2 Antigamente o Senhor declarou a alguém que falava em Seu nome: "A casa de Israel não te quererá dar ouvidos, porque não Me querem dar ouvidos." Não obstante, disse Ele: "Tu lhes dirás as Minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir." Ezequiel 3:7; 2:7. Ao servo de Deus, no presente, é dirigida esta ordem: "Levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." GC 459 3 Tanto quanto as oportunidades o permitam, cada um que haja recebido a luz da verdade se encontra sob a mesma responsabilidade solene e terrível em que esteve o profeta de Israel, a quem viera a palavra do Senhor, dizendo: "A ti pois, ó filho do homem, te constituí por vigia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:7-9. GC 460 1 O grande obstáculo tanto para a aceitação como para a promulgação da verdade, é o fato de que isto implica incômodo e vitupério. Este é o único argumento contra a verdade que os seus defensores nunca puderam refutar. Mas isto não dissuade os verdadeiros seguidores de Cristo. Estes não esperam que a verdade se torne popular. Estando convictos do dever, aceitam deliberadamente a cruz, contando, juntamente com o apóstolo Paulo, que "nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente" (2 Coríntios 4:17), tendo, como alguém da antiguidade, "por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito." Hebreus 11:26. GC 460 2 Unicamente os que, de coração, se fazem servos do mundo, qualquer que seja a sua profissão religiosa, é que agem, em matéria de religião, por expedientes em vez de princípios. Devemos escolher o direito, porque é direito, e com Deus deixar as conseqüências. A homens de princípios, fé e ousadia, deve o mundo as grandes reformas. Por tais homens tem de ser levada avante a obra de reforma para este tempo. GC 460 3 Assim diz o Senhor: "Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a Minha lei: não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias, porque a traça os roerá como a um vestido, e o bicho os comerá como a lã; mas a Minha justiça durará para sempre, e a Minha salvação de geração em geração." Isaías 51:7, 8. ------------------------Capítulo 27 -- A vida que satisfaz -- como alcançar paz de alma GC 461 1 Onde quer que a Palavra de Deus tenha sido fielmente pregada, seguiram-se resultados que atestaram de sua origem divina. O Espírito de Deus acompanhou a mensagem de Seus servos, e a Palavra era proclamada com poder. Os pecadores sentiam despertar-se-lhes a consciência. A "luz que alumia a todo homem que vem ao mundo" iluminava-lhes os íntimos recessos da alma, e as coisas ocultas das trevas eram manifestas. Coração e espírito eram possuídos de profunda convicção. Convenciam-se do pecado, da justiça e do juízo vindouro. Tinham a intuição da justiça de Jeová, e sentiam terror de aparecer, em sua culpa e impureza, perante Aquele que examina os corações. Com angústia exclamavam: "Quem me livrará do corpo desta morte?" Ao revelar-se a cruz do Calvário, com o infinito sacrifício pelos pecados dos homens, viram que nada, senão os méritos de Cristo, seria suficiente para a expiação de suas transgressões; somente esses méritos poderiam reconciliar os homens com Deus. Com fé e humildade, aceitaram o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Pelo sangue de Jesus tiveram "a remissão dos pecados passados". GC 461 2 Aquelas almas produziram frutos dignos de arrependimento. Creram e foram batizadas, e levantaram-se para andar em novidade de vida -- como novas criaturas em Cristo Jesus; não para se conformarem aos desejos anteriores, mas, pela fé no Filho de Deus, seguir-Lhe os passos, refletir-Lhe o caráter, e purificar-se assim como Ele é puro. As coisas que antes odiavam, agora amavam; e as que antes amavam, passaram a odiar. Os orgulhosos e presunçosos tornaram-se mansos e humildes de coração. Os vaidosos e arrogantes se fizeram sérios e acessíveis. Os profanos se tornaram reverentes, sóbrios os bêbados, os devassos puros. As modas vãs do mundo foram postas de parte. Os cristãos procuravam não o "enfeite ... exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura dos vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:3, 4. GC 462 1 Os despertamentos resultaram em profundo exame de coração e humildade. Caracterizavam-se pelos solenes e fervorosos apelos ao pecador, pela terna misericórdia para com a aquisição efetuada pelo sangue de Cristo. Homens e mulheres oravam e lutavam com Deus, pela salvação de almas. Os frutos de semelhantes avivamentos eram vistos nas almas que não recuavam da renúncia e do sacrifício, mas que se regozijavam de que fossem consideradas dignas de sofrer o vitupério e provação por amor de Cristo. Notava-se uma transformação na vida dos que tinham professado o nome de Jesus. A comunidade se beneficiava por sua influência. Uniam-se com Cristo e semeavam no Espírito, a fim de ceifar a vida eterna. GC 462 2 Podia-se dizer deles: "Fostes contristados para o arrependimento." "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte. Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós, que segundo Deus fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! em tudo mostrastes estar puros neste negócio." 2 Coríntios 7:9-11. GC 462 3 Este é o resultado da obra do Espírito de Deus. Não há prova de genuíno arrependimento a menos que ele opere reforma na vida. Se restitui o penhor, devolve o que tinha roubado, confessa os pecados, e ama a Deus e seus semelhantes, pode o pecador estar certo de que encontrou paz com Deus. Foram estes os efeitos que, em anos anteriores, se seguiram às ocasiões de avivamento religioso. Julgados pelos seus frutos, sabia-se que eram abençoados por Deus para a salvação dos homens e para reerguimento da humanidade. GC 463 1 Muitos dos despertamentos dos tempos modernos têm, no entanto, apresentado notável contraste com aquelas manifestações de graça divina que nos primitivos tempos se seguiam aos labores dos servos de Deus. É verdade que se desperta grande interesse, muitos professam conversão, e há larga afluência às igrejas; não obstante, os resultados não são de molde a autorizar a crença de que houve aumento correspondente da verdadeira vida espiritual. A luz que chameja por algum tempo logo fenece, deixando as trevas mais densas do que antes. GC 463 2 Avivamentos populares são muitas vezes levados a efeito por meio de apelos à imaginação, excitando-se as emoções, satisfazendo-se o amor ao que é novo e surpreendente. Conversos ganhos desta maneira têm pouco desejo de ouvir a verdade bíblica, pouco interesse no testemunho dos profetas e apóstolos. A menos que o culto assuma algo de caráter sensacional, não lhes oferece atração. Não é atendida a mensagem que apele para a razão desapaixonada. As claras advertências da Palavra de Deus, que diretamente se referem aos seus interesses eternos, não são tomadas a sério. GC 463 3 Para toda alma verdadeiramente convertida, a relação com Deus e com as coisas eternas será o grande objetivo da vida. Mas onde, nas igrejas populares de hoje, o espírito de consagração a Deus? Os conversos não renunciam ao orgulho e amor do mundo. Não estão mais dispostos a negar-se, tomar a cruz, e seguir o manso e humilde Nazareno, do que estiveram antes de se converter. A religião tornou-se o entretenimento dos incrédulos e cépticos, porque tantos que são portadores de seu nome lhes desconhecem os princípios. O poder da piedade quase desapareceu de muitas das igrejas. Piqueniques, representações teatrais nas igrejas, quermesses, casas elegantes, ostentação pessoal, desviaram de Deus os pensamentos. Terras e bens, e ocupações mundanas absorvem a mente, e as coisas de interesse eterno mal recebem atenção passageira. GC 464 1 Apesar do generalizado declínio da fé e da piedade, há verdadeiros seguidores de Cristo nestas igrejas. Antes de os juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá, entre o povo do Senhor, tal avivamento da primitiva piedade como não fora testemunhado desde os tempos apostólicos. O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos. Naquele tempo muitos se separarão das igrejas em que o amor deste mundo suplantou o amor a Deus e à Sua Palavra. Muitos, tanto pastores como leigos, aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda do Senhor. O inimigo das almas deseja estorvar esta obra; e antes que chegue o tempo para tal movimento, esforçar-se-á para impedi-la, introduzindo uma contrafação. Nas igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a bênção especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito. Sob o disfarce religioso, Satanás procurará estender sua influência sobre o mundo cristão. GC 464 2 Em muitos dos avivamentos ocorridos durante o último meio século, têm estado a operar, em maior ou menor grau, as mesmas influências que se manifestarão em movimentos mais extensos no futuro. Há um excitamento emotivo, mistura do verdadeiro com o falso, muito apropriado para transviar. Contudo, ninguém necessita ser enganado. À luz da Palavra de Deus não é difícil determinar a natureza destes movimentos. Onde quer que os homens negligenciem o testemunho da Escritura Sagrada, desviando-se das verdades claras que servem para provar a alma e que exigem a renúncia de si mesmo e a do mundo, podemos estar certos de que ali não é outorgada a bênção de Deus. E, pela regra que o próprio Cristo deu -- "Por seus frutos os conhecereis" (Mateus 7:16) -- é evidente que esses movimentos não são obra do Espírito de Deus. GC 465 1 Nas verdades de Sua Palavra, Deus deu aos homens a revelação de Si mesmo; e a todos os que as aceitam servem de escudo contra os enganos de Satanás. Foi a negligência destas verdades que abriu a porta aos males que tanto se estão generalizando agora no mundo religioso. Tem-se perdido de vista, em grande parte, a natureza e importância da lei de Deus. Uma concepção errônea do caráter, perpetuidade e vigência da lei divina, tem ocasionado erros quanto à conversão e santificação, resultando em baixar, na igreja, a norma da piedade. Aqui deve encontrar-se o segredo da falta do Espírito e poder de Deus nos avivamentos de nosso tempo. GC 465 2 Há, nas várias denominações, homens eminentes por sua piedade, que reconhecem e lamentam este fato. O Prof. Eduardo A. Park, apresentando os perigos atuais de natureza religiosa, diz acertadamente: "Fonte de perigos é a negligência, por parte do púlpito, de insistir sobre a lei divina. Nos dias passados o púlpito era o eco da voz da consciência. ... Os nossos mais ilustres pregadores davam admirável majestade aos seus discursos, seguindo o exemplo do Mestre, e pondo em preeminência a lei, seus preceitos e ameaças. Repetiam as duas grandes máximas de que a lei é a transcrição das perfeições divinas e de que o homem que não ame a lei, não ama o evangelho; pois a lei, bem como o evangelho, é um espelho que reflete o verdadeiro caráter de Deus. Este perigo leva a outro, o de não avaliar devidamente o mal do pecado e sua extensão e demérito. Em proporção com a justiça do mandamento está o erro de desobedecer-lhe . ... GC 465 3 "Unido aos perigos já mencionados, está o de depreciar a justiça de Deus. A tendência do púlpito moderno é separar da benevolência divina a justiça divina, reduzir a benevolência a um sentimento em vez de exaltá-la a um princípio. O novo prisma teológico divide ao meio o que Deus havia ajuntado. É a lei divina um bem ou um mal? É um bem. Então a justiça é um bem; pois que ela é uma disposição para executar a lei. Do hábito de desvalorizar a lei e a justiça divinas e o alcance e demérito da desobediência humana, os homens facilmente resvalam para o hábito de depreciar a graça que proveu a expiação do pecado." Assim o evangelho perde seu valor e importância no espírito dos homens, não tardando estes em, praticamente, pôr de lado a própria Escritura Sagrada. GC 466 1 Muitos ensinadores religiosos afirmam que Cristo, pela Sua morte, aboliu a lei, e, em virtude disso, estão os homens livres de suas reivindicações. Alguns há que a representam como um jugo penoso; e em contraste com a servidão da lei apresentam a liberdade a ser gozada sob o evangelho. GC 466 2 Não foi, porém, assim que profetas e apóstolos consideravam a santa lei de Deus. Disse Davi: "Andarei em liberdade, pois busquei os Teus preceitos." Salmos 119:45. O apóstolo Tiago, que escreveu depois da morte de Cristo, refere-se ao decálogo como a "lei real" e a "lei perfeita da liberdade." Tiago 2:8; 1:25. E o escritor do Apocalipse, meio século depois da crucifixão, pronuncia uma bênção aos que "guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas." Apocalipse 22:14. GC 466 3 A declaração de que Cristo por Sua morte aboliu a lei do Pai, não tem fundamento. Se tivesse sido possível mudar a lei, ou pô-la de parte, não teria sido necessário que Cristo morresse para salvar o homem da pena do pecado. A morte de Cristo, longe de abolir a lei, prova que ela é imutável. O Filho do homem veio para "engrandecer a lei, e torná-la gloriosa." Isaías 42:21. Disse Ele: "Não cuideis que vim destruir a lei"; "até que o céu e a Terra passem nem um jota ou um til se omitirá da lei." Mateus 5:17, 18. E, com relação a Si próprio, declara Ele: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. GC 467 1 A lei de Deus, pela sua própria natureza, é imutável. É uma revelação da vontade e caráter do Autor. Deus é amor, e Sua lei é amor. Seus dois grandes princípios são amor a Deus e amor ao homem. "O cumprimento da lei é o amor." Romanos 13:10. O caráter de Deus é justiça e verdade; esta é a natureza de Sua lei. Diz o salmista: "Tua lei é a verdade"; "todos os Teus mandamentos são justiça." Salmos 119:142, 172. E o apóstolo Paulo declara: "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." Romanos 7:12. Tal lei, sendo expressão do pensamento e vontade de Deus, deve ser tão duradoura como o Seu Autor. GC 467 2 É obra da conversão e santificação reconciliar os homens com Deus, pondo-os em harmonia com os princípios de Sua lei. No princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Estava em perfeita harmonia com a natureza e com a lei de Deus; os princípios da justiça lhe estavam escritos no coração. O pecado, porém, alienou-o do Criador. Não mais refletia a imagem divina. O coração estava em guerra com os princípios da lei de Deus. "A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser." Romanos 8:7. Mas "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito", para que o homem pudesse reconciliar-se com Ele. Mediante os méritos de Cristo, pode aquele se restabelecer à harmonia com o Criador. O coração deve ser renovado pela graça divina; deve receber nova vida de cima. Esta mudança é o novo nascimento, sem o que, diz Jesus, o homem "não pode ver o reino de Deus". GC 467 3 O primeiro passo na reconciliação com Deus, é a convicção de pecado. "Pecado é o quebrantamento da lei." "Pela lei vem o conhecimento do pecado." 1 João 3:4; Romanos 3:20. A fim de ver sua culpa, o pecador deve provar o caráter próprio pela grande norma divina de justiça. É um espelho que mostra a perfeição de um viver justo, habilitando o pecador a discernir seus defeitos de caráter. GC 467 4 A lei revela ao homem os seus pecados, mas não provê remédio. Ao mesmo tempo que promete vida ao obediente, declara que a morte é o quinhão do transgressor. Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim "remissão dos pecados passados", e se torna participante da natureza divina. É filho de Deus, tendo recebido o espírito de adoção, pelo qual clama: "Aba, Pai!" GC 468 1 Estaria agora na liberdade de transgredir a lei de Deus? Diz Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." "Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" E João declara: "Esta é a caridade de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; e os Seus mandamentos não são pesados." Romanos 3:31; 6:2; 1 João 5:3. No novo nascimento o coração é posto em harmonia com Deus, ao colocar-se em conformidade com a Sua lei. Quando esta poderosa transformação se efetua no pecador, passou ele da morte para a vida, do pecado para a santidade, da transgressão e rebelião para a obediência e lealdade. Terminou a velha vida de afastamento de Deus, começando a nova vida de reconciliação, de fé e amor. Então, "a justiça da lei" se cumpre "em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Romanos 8:4. E a linguagem da alma será: "Oh! quanto amo a Tua lei! é a minha meditação em todo o dia." Salmos 119:97. GC 468 2 "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma." Salmos 19:7. Sem a lei os homens não têm uma concepção justa da pureza e santidade de Deus, ou da culpa e impureza deles mesmos. Não têm verdadeira convicção do pecado, e não sentem necessidade de arrependimento. Não vendo a sua condição perdida, como transgressores da lei de Deus, não se compenetram da necessidade do sangue expiatório de Cristo. A esperança de salvação é aceita sem a mudança radical do coração ou reforma da vida. São assim abundantes as conversões superficiais, e unem-se às igrejas multidões que nunca se uniram a Cristo. GC 469 1 Outrossim, teorias errôneas sobre a santificação, procedentes da negligência ou rejeição da lei divina, ocupam lugar preeminente nos movimentos religiosos da época. Essas teorias não somente são falsas no que respeita à doutrina, mas também perigosas nos resultados práticos; e o fato de que estejam tão geralmente alcançando aceitação, torna duplamente essencial que todos tenham clara compreensão do que as Escrituras ensinam a tal respeito. GC 469 2 A verdadeira santificação é doutrina bíblica. O apóstolo Paulo, em carta à igreja de Tessalônica, declara: "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação." E roga: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo." 1 Tessalonicenses 4:3; 5:23. A Bíblia ensina claramente o que é a santificação, e como deve ser alcançada. O Salvador orou pelos discípulos: "Santifica-os na verdade: A Tua Palavra é a verdade." João 17:17. E Paulo ensina que os crentes devem ser santificados pelo Espírito Santo. Romanos 15:16. Qual é a obra do Espírito Santo? Disse Jesus aos discípulos: "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade." João 16:13. E o salmista declara: "Tua lei é a verdade." Pela Palavra e Espírito de Deus se revelam aos homens os grandes princípios de justiça incorporados em Sua lei. E desde que a lei de Deus é santa, justa e boa, e cópia da perfeição divina, segue-se que o caráter formado pela obediência àquela lei será santo. Cristo é um exemplo perfeito de semelhante caráter. Diz Ele: "Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." "Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 15:10; 8:29. Os seguidores de Cristo devem tornar-se semelhantes a Ele -- pela graça de Deus devem formar caráter em harmonia com os princípios de Sua santa lei. Isto é santificação bíblica. GC 469 3 Esta obra unicamente pode ser efetuada pela fé em Cristo, pelo poder do Espírito de Deus habitando em nós. Paulo admoesta aos crentes: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:12, 13. O cristão sentirá as insinuações do pecado, mas sustentará luta constante contra ele. Aqui é que o auxílio de Cristo é necessário. A fraqueza humana se une à força divina, e a fé exclama: "Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 15:57. GC 470 1 As Escrituras claramente revelam que a obra da santificação é progressiva. Quando na conversão o pecador acha paz com Deus mediante o sangue expiatório, apenas iniciou a vida cristã. Deve agora aperfeiçoar-se; crescer até "a medida da estatura completa de Cristo." Diz o apóstolo Paulo: "Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filipenses 3:13, 14. E Pedro nos apresenta os passos por que a santificação bíblica deve ser atingida: "Pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade ... porque fazendo isto nunca jamais tropeçareis." 2 Pedro 1:5-10. GC 470 2 Os que experimentam a santificação bíblica manifestarão um espírito de humildade. Como Moisés, depois de contemplarem a augusta e majestosa santidade, vêem a sua própria indignidade contrastando com a pureza e excelsa perfeição do Ser infinito. GC 470 3 O profeta Daniel é um exemplo da verdadeira santificação. Seus longos anos foram cheios de nobre serviço a seu Mestre. Foi um homem "mui desejado" do Céu. Daniel 10:11. Todavia, ao invés de pretender ser puro e santo, este honrado profeta, quando pleiteava perante Deus em prol de seu povo, identificou-se com os que positivamente eram pecadores em Israel: "Não lançamos as nossas súplicas perante Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias." "Pecamos; obramos impiamente." Declara ele: "Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo." E quando, em ocasião posterior, o Filho de Deus lhe apareceu a fim de lhe dar instrução, diz Daniel: "Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma." Daniel 9:18, 15, 20; Daniel 10:8. GC 471 1 Quando Jó ouviu do redemoinho, a voz do Senhor, exclamou: "Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza." Jó 42:6. Foi quando Isaías viu a glória do Senhor e ouviu os querubins a clamar -- "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos" -- que exclamou: "Ai de mim, que vou perecendo!" Isaías 6:3, 5. Arrebatado ao terceiro Céu, Paulo ouviu coisas que não era possível ao homem proferir e fala de si mesmo como "o mínimo de todos os santos." 2 Coríntios 12:2-4; Efésios 3:8. Foi o amado João, que se reclinou ao peito de Jesus, e Lhe contemplou a glória, que caiu como morto aos pés de um anjo. Apocalipse 1:17. GC 471 2 Não pode haver exaltação própria, jactanciosa pretensão à libertação do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário. Sentem eles que foi seu pecado o causador da agonia que quebrantou o coração do Filho de Deus, e este pensamento os levará à humilhação própria. Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido. GC 471 3 A santificação que ora adquire preeminência no mundo religioso, traz consigo o espírito de exaltação própria e o desrespeito pela lei de Deus, os quais a estigmatizam como estranha à religião da Escritura Sagrada. Seus defensores ensinam que a santificação é obra instantânea, pela qual, mediante a fé apenas, alcançam perfeita santidade. "Crede tão-somente", dizem, "e a bênção será vossa." Nenhum outro esforço, por parte do que recebe, se pressupõe necessário. Ao mesmo tempo negam a autoridade da lei de Deus, insistindo em que estão livres da obrigação de guardar os mandamentos. Mas é possível aos homens ser santos, de acordo com a vontade e caráter de Deus, sem ficar em harmonia com os princípios que são a expressão de Sua natureza e vontade, e que mostram o que Lhe é agradável? GC 472 1 O desejo de uma religião fácil, que não exija esforço, renúncia, nem ruptura com as loucuras do mundo, tem tornado popular a doutrina da fé, e da fé somente; mas que diz a Palavra de Deus? Declara o apóstolo Tiago: "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? ... Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. ... Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé." Tiago 2:14-24. GC 472 2 O testemunho da Palavra de Deus é contra esta doutrina perigosa da fé sem as obras. Não é fé pretender o favor do Céu sem cumprir as condições necessárias para que a graça seja concedida: é presunção; pois que a fé genuína se fundamenta nas promessas e disposições das Escrituras. GC 472 3 Ninguém se engane com a crença de que pode tornar-se santo enquanto voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. O cometer o pecado conhecido faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa a alma de Deus. "Pecado é o quebrantamento da lei." E "qualquer que peca [transgride a lei] não O viu nem O conheceu." 1 João 3:6. Conquanto João em suas epístolas trate tão amplamente do amor, não hesita, todavia, em revelar o verdadeiro caráter dessa classe de pessoas que pretende ser santificada ao mesmo tempo em que vive a transgredir a lei de Deus. "Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado." 1 João 2:4, 5. Esta é a pedra de toque de toda profissão de fé. Não podemos atribuir santidade a qualquer pessoa sem aferi-la pela medida da única norma divina de santidade, no Céu e na Terra. Se os homens não sentem o peso da lei moral, se amesquinham e consideram levianamente os preceitos de Deus, se violam o menor desses mandamentos, e assim ensinam os homens, não serão de nenhum apreço à vista do Céu, e podemos saber que suas pretensões são destituídas de fundamento. GC 473 1 E a alegação de estarem sem pecado é em si mesma evidência de que aquele que a alimenta longe está de ser santo. É porque não tem nenhuma concepção verdadeira da infinita pureza e santidade de Deus, ou do que devem ser os que se hão de harmonizar com Seu caráter; é porque não aprendeu o verdadeiro conceito da pureza e perfeição supremas de Jesus, bem como da malignidade e horror do pecado, que o homem pode considerar-se santo. Quanto maior a distância entre ele e Cristo, e quanto mais impróprias forem suas concepções do caráter e requisitos divinos, tanto mais justo parecerá a seus próprios olhos. GC 473 2 A santificação apresentada nas Escrituras compreende o ser inteiro: espírito, alma e corpo. Paulo orou pelos tessalonicenses para que todo o seu espírito, e alma, e corpo fossem plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Tessalonicenses 5:23. Outra vez escreve ele aos crentes: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus." Romanos 12:1. No tempo do antigo Israel, toda oferta trazida como sacrifício a Deus era cuidadosamente examinada. Se se descobria qualquer defeito no animal apresentado, era rejeitado; pois Deus recomendara que a oferta fosse "sem mancha." Assim se ordena aos cristãos que apresentem o corpo "em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus." A fim de fazerem isto, todas as faculdades devem ser conservadas na melhor condição possível. Todo uso ou costume que enfraquece a força física ou mental, inabilita o homem para o serviço de seu Criador. E agradar-Se-á Deus com qualquer coisa que seja menos do que o melhor que podemos oferecer? Disse Cristo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração." Os que amam a Deus de todo o coração, desejarão prestar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão constantemente procurando pôr toda faculdade do ser em harmonia com as leis que os tornarão aptos a fazer a Sua vontade. Não aviltarão nem mancharão, pela condescendência com o apetite ou paixões, a oferta que apresentam a seu Pai celestial. GC 474 1 Diz Pedro: "Peço-vos ... que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma." 1 Pedro 2:11. Toda condescendência pecaminosa tende a embotar as faculdades e a destruir o poder de percepção mental e espiritual, e a Palavra ou o Espírito de Deus apenas poderão impressionar debilmente o coração. Paulo escreve aos coríntios: "Purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. E entre os frutos do Espírito -- "caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão" -- enumera a "temperança." Gálatas 5:22, 23. GC 474 2 A despeito destas declarações inspiradas, quantos professos cristãos se acham a debilitar suas faculdades em busca de ganhos ou na adoração da moda! quantos há que estão a aviltar a varonilidade à semelhança de Deus pela glutonaria, pelo beber vinho, pelos prazeres proibidos! E a igreja, em vez de reprovar, muitas vezes promover o mal, apelando para o apetite, para o desejo de lucros, ou para o amor ao prazer, a fim de encher o seu tesouro, que o amor a Cristo é demasiado fraco para suprir. Se Jesus entrasse nas igrejas de hoje, e visse as festas e comércio iníquo ali levados a efeito em nome da religião, não expulsaria Ele a esses profanadores, assim como baniu do templo os cambistas? GC 474 3 O apóstolo Tiago declara que a sabedoria de cima é "primeiramente, pura." Houvesse ele encontrado os que proferem o precioso nome de Jesus com lábios poluídos pelo fumo, aqueles cujo hálito e pessoa se acham contaminados pelo seu desagradável odor, e que corrompem o ar do céu, forçando a todos a seu redor a respirar o veneno, sim, houvesse o apóstolo tomado conhecimento de prática tão contrária à pureza do evangelho, e não a teria ele denunciado como "terrena, animal e diabólica"? Escravos do fumo, pretendendo a bênção da santificação completa, falam sobre sua esperança do Céu; mas a Palavra de Deus claramente diz que "não entrará nela coisa alguma que contamine." Apocalipse 21:27. GC 475 1 "Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Aquele cujo corpo é o templo do Espírito Santo, não se escravizará por hábito pernicioso. Suas faculdades pertencem a Cristo, que o comprou com preço de sangue. Sua propriedade é do Senhor. Como poderia ficar sem culpa malbaratando o capital que lhe é confiado? Cristãos professos despendem anualmente soma considerável com inúteis e perniciosas condescendências, enquanto almas estão perecendo à falta da Palavra da Vida. Deus é roubado nos dízimos e ofertas, enquanto consomem no altar das destruidoras concupiscências mais do que dão para socorrer os pobres ou para o sustento do evangelho. Se todos os que professam ser seguidores de Cristo fossem verdadeiramente santificados, seus meios, em vez de serem gastos com desnecessárias e mesmo nocivas condescendências, reverteriam para o tesouro do Senhor, e os cristãos dariam um exemplo de temperança, renúncia e sacrifício. Seriam então a luz do mundo. GC 475 2 O mundo está entregue à satisfação de si mesmo. "A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida" dominam as massas populares. Os seguidores de Cristo, porém, possuem uma vocação mais elevada. "Saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo." À luz da Palavra de Deus estamos autorizados a declarar que não pode ser genuína a santificação que não opere a completa renúncia de todo desejo pecaminoso e prazeres do mundo. GC 475 3 Aos que satisfazem as condições: "Saí do meio deles, e apartai-vos, ... e não toqueis nada imundo", a promessa de Deus é: "Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. É privilégio e dever de todo cristão ter uma experiência rica e abundante nas coisas de Deus. "Eu sou a luz do mundo", disse Jesus. "Aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12. "A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. Cada passo de fé e obediência leva a alma em relação mais íntima com a Luz do mundo, em quem não há trevas nenhumas. Os brilhantes raios do Sol da justiça resplandecem sobre os servos de Deus, e devem estes refletir os Seus raios. Assim como as estrelas nos falam de uma grande luz no céu, com cuja glória refulgem, assim também os cristãos devem tornar manifesto que há no trono do Universo um Deus, cujo caráter é digno de louvor e imitação. As graças de Seu Espírito, a pureza e santidade de Seu caráter, manifestar-se-ão em Suas testemunhas. GC 476 1 Paulo, em sua carta aos colossenses, apresenta as ricas bênçãos concedidas aos filhos de Deus. Diz ele: "Não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência, e longanimidade com gozo." Colossenses 1:9-11. GC 476 2 Outra vez escreve acerca de seu desejo que os irmãos de Éfeso chegassem a compreender a altura do privilégio do cristão. Abre perante eles, na linguagem mais compreensiva, o poder e conhecimento maravilhosos que podiam possuir como filhos e filhas do Altíssimo. A eles tocava o serem "corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior", "arraigados e fundados em amor", "compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento." Mas a oração do apóstolo atinge o auge do privilégio quando ora para que "sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:16-19. GC 477 1 Aqui se revelam as culminâncias do aperfeiçoamento a que podemos atingir pela fé nas promessas de nosso Pai celestial, quando cumprimos os Seus preceitos. Mediante os méritos de Cristo temos acesso ao trono do Poder infinito. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. O Pai deu ao Filho Seu Espírito sem medida, e também nós podemos participar de Sua plenitude. Diz Jesus: "Se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" Lucas 11:13. "Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei." "Pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra." João 14:14; 16:24. GC 477 2 Posto que a vida do cristão deva ser caracterizada pela humildade, não deveria assinalar-se pela tristeza e depreciação de si mesmo. É privilégio de cada um viver de tal maneira que Deus o aprove e abençoe. Não é da vontade de nosso Pai celestial que sempre estejamos sob condenação e trevas. O andar cabisbaixo e com o coração cheio de preocupações não constitui prova de verdadeira humildade. Podemos ir a Jesus e ser purificados, permanecendo diante da lei sem opróbrio e remorsos. "Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." Romanos 8:1. GC 477 3 Por meio de Jesus os decaídos filhos de Adão se tornam "filhos de Deus." "Assim O que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não Se envergonha de lhes chamar irmãos." Hebreus 2:11. A vida cristã deve ser de fé, vitória e alegria em Deus. "Todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." 1 João 5:4. Com acerto disse Neemias, servo de Deus: "A alegria do Senhor é a vossa força." Neemias 8:10. E Paulo diz: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos." "Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." Filipenses 4:4; 1 Tessalonicenses 5:16-18. GC 478 1 São estes os frutos da conversão e santificação bíblica; e é porque os grandes princípios da justiça apresentados na lei de Deus são com tanta indiferença considerados pelo mundo cristão, que esses frutos são tão raramente testemunhados. É por isso que tão pouco se manifesta dessa profunda e estável obra do Espírito de Deus, a qual assinalava os avivamentos em anos anteriores. GC 478 2 É ao contemplar que somos transformados. E, negligenciando os preceitos sagrados nos quais Deus revelou aos homens a perfeição e santidade de Seu caráter, e atraindo o espírito do povo aos ensinos e teorias humanos, que de estranho poderá haver no conseqüente declínio na viva piedade da igreja? Diz o Senhor: "A Mim Me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas." Jeremias 2:13. GC 478 3 "Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios. ... Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem; e tudo quanto fizer prosperará." Salmos 1:1-3. É somente à medida que se restabeleça a lei de Deus à sua posição exata, que poderá haver avivamento da primitiva fé e piedade entre o Seu povo professo. "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para vossa alma." Jeremias 6:16. ------------------------Capítulo 28 -- O grande juízo investigativo GC 479 1 "Eu continuei olhando", diz o profeta Daniel, "até que foram postos uns tronos, e um Ancião de Dias Se assentou; o Seu vestido era branco como a neve, e o cabelo de Sua cabeça como a limpa lã; o Seu trono chamas de fogo, e as rodas dele fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dEle; milhares de milhares O serviam, e milhões de milhões estavam diante dEle; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros." Daniel 7:9, 10. GC 479 2 Assim foi apresentado à visão do profeta o grande e solene dia em que o caráter e vida dos homens passariam em revista perante o Juiz de toda a Terra, e cada homem seria recompensado "segundo as suas obras." O Ancião de Dias é Deus, o Pai. Diz o salmista: "Antes que os montes nascessem, ou que Tu formasses a Terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, Tu és Deus." Salmos 90:2. É Ele, fonte de todo ser e de toda lei, que deve presidir ao juízo. E santos anjos, como ministros e testemunhas, em número de "milhares de milhares, e milhões de milhões", assistem a esse grande tribunal. GC 479 3 "E, eis que vinha nas nuvens do céu Um como o Filho do homem; e dirigiu-Se ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele. E foi-Lhe dado o domínio e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas O servissem; o Seu domínio é um domínio eterno, que não passará." Daniel 7:13, 14. A vinda de Cristo aqui descrita não é a Sua segunda vinda à Terra. Ele vem ao Ancião de Dias, no Céu, para receber o domínio, a honra, e o reino, os quais Lhe serão dados no final de Sua obra de mediador. É esta vinda, e não o seu segundo advento à Terra, que foi predita na profecia como devendo ocorrer ao terminarem os 2.300 dias, em 1844. Assistido por anjos celestiais, nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar santíssimo, e ali comparece à presença de Deus a fim de Se entregar aos últimos atos de Seu ministério em prol do homem, a saber: realizar a obra do juízo de investigação e fazer expiação por todos os que se verificarem com direito aos benefícios da mesma. GC 480 1 No cerimonial típico, somente os que tinham vindo perante Deus com confissão e arrependimento, e cujos pecados, por meio do sangue da oferta para o pecado, eram transferidos para o santuário, é que tinham parte na cerimônia do dia da expiação. Assim, no grande dia da expiação final e do juízo de investigação, os únicos casos a serem considerados são os do povo professo de Deus. O julgamento dos ímpios constitui obra distinta e separada, e ocorre em ocasião posterior. "É tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho?" 1 Pedro 4:17. GC 480 2 Os livros de registro no Céu, nos quais estão relatados os nomes e ações dos homens, devem determinar a decisão do juízo. Diz o profeta Daniel: "Assentou-se o juízo, e abriram-se os livros." O escritor do Apocalipse, descrevendo a mesma cena, acrescenta: "Abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras." Apocalipse 20:12. GC 480 3 O livro da vida contém os nomes de todos os que já entraram para o serviço de Deus. Jesus ordenou a Seus discípulos: "Alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos Céus." Lucas 10:20. Paulo fala de seus fiéis cooperadores, "cujos nomes estão no livro da vida." Filipenses 4:3. Daniel olhando através dos séculos para um "tempo de angústia qual nunca houve", declara que se livrará o povo de Deus, "todo aquele que se achar escrito no livro." E João, no Apocalipse, diz que apenas entrarão na cidade de Deus aqueles cujos nomes "estão inscritos no livro da vida do Cordeiro." Daniel 12:1; Apocalipse 21:27. GC 481 1 "Há um memorial escrito diante" de Deus, no qual estão registradas as boas ações dos "que temem ao Senhor, e para os que se lembram do Seu nome." Malaquias 3:16. Suas palavras de fé, seus atos de amor, acham-se registrados no Céu. Neemias a isto se refere quando diz: "Deus meu, lembra-Te de mim; e não risques as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus." Neemias 13:14. No livro memorial de Deus toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido, toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente historiados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza, suportado por amor de Cristo, encontra-se registrado. Diz o salmista: "Tu contaste as minhas vagueações; põe as minhas lágrimas no Teu odre; não estão elas no Teu livro?" Salmos 56:8. GC 481 2 Há também um relatório dos pecados dos homens. "Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom quer seja mau." "De toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo." Disse o Salvador: "Por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado." Eclesiastes 12:14; Mateus 12:36, 37. Os propósitos e intuitos secretos aparecem no infalível registro; pois Deus "trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações." 1 Coríntios 4:5. "Eis que está escrito diante de Mim: ... as vossas iniqüidades, e juntamente as iniqüidades de vossos pais, diz o Senhor." Isaías 65:6, 7. GC 482 1 A obra de cada homem passa em revista perante Deus, e é registrada pela sua fidelidade ou infidelidade. Ao lado de cada nome, nos livros do Céu, estão escritos, com terrível exatidão, toda má palavra, todo ato egoísta, todo dever não cumprido, e todo pecado secreto, juntamente com toda artificiosa hipocrisia. Advertências ou admoestações enviadas pelo Céu, e que foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não aproveitadas, influência exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto alcance, tudo é historiado pelo anjo relator. GC 482 2 A lei de Deus é a norma pela qual o caráter e vida dos homens serão aferidos no juízo. Diz o sábio: "Teme a Deus, e guarda os Seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra." Eclesiastes 12:13, 14. O apóstolo Tiago admoesta a Seus irmãos: "Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade." Tiago 2:12. GC 482 3 Os que no juízo forem "havidos por dignos", terão parte na ressurreição dos justos. Disse Jesus: "Os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dos mortos, ... são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição." Lucas 20:35, 36. E novamente Ele declara que "os que fizeram o bem" sairão "para a ressurreição da vida." João 5:29. Os justos mortos não ressuscitarão senão depois do juízo, no qual são havidos por dignos da "ressurreição da vida." Conseqüentemente não estarão presentes em pessoa no tribunal em que seus registros são examinados e decidido seu caso. GC 482 4 Jesus aparecerá como seu Advogado, a fim de pleitear em favor deles perante Deus. "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. "Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus." "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Hebreus 9:24; 7:25. GC 483 1 Ao abrirem-se os livros de registro no juízo, é passada em revista perante Deus a vida de todos os que creram em Jesus. Começando pelos que primeiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando com os vivos. Todo nome é mencionado, cada caso minuciosamente investigado. Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes. Quando alguém tem pecados que permaneçam nos livros de registro, para os quais não houve arrependimento nem perdão, seu nome será omitido do livro da vida, e o relato de suas boas ações apagado do livro memorial de Deus. O Senhor declarou a Moisés: "Aquele que pecar contra Mim, a este riscarei Eu do Meu livro." Êxodo 32:33. E diz o profeta Ezequiel: "Desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade, ... de todas as suas justiças que tiver feito não se fará memória." Ezequiel 18:24. GC 483 2 Todos os que verdadeiramente se tenham arrependido do pecado e que pela fé hajam reclamado o sangue de Cristo, como seu sacrifício expiatório, tiveram o perdão acrescentado ao seu nome, nos livros do Céu; tornando-se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o seu caráter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão riscados e eles próprios havidos por dignos da vida eterna. O Senhor declara pelo profeta Isaías: "Eu, Eu mesmo, sou O que apago as tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados Me não lembro." Isaías 43:25. Disse Jesus: "O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de Meu Pai, e diante de Seus anjos." "Qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai que está nos Céus. Mas qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos Céus." Apocalipse 3:5; Mateus 10:32, 33. GC 483 3 O mais profundo interesse manifestado entre os homens nas decisões dos tribunais terrestres não representa senão palidamente o interesse demonstrado nas cortes celestiais quando os nomes inseridos nos livros da vida aparecerem perante o Juiz de toda a Terra. O Intercessor divino apresenta a petição para que sejam perdoadas as transgressões de todos os que venceram pela fé em Seu sangue, a fim de que sejam restabelecidos em seu lar edênico, e coroados com Ele como co-herdeiros do "primeiro domínio." Miquéias 4:8. Satanás, em seus esforços para enganar e tentar a nossa raça, pensara frustrar o plano divino na criação do homem; mas Cristo pede agora que este plano seja levado a efeito, como se o homem nunca houvesse caído. Pede, para Seu povo, não somente perdão e justificação, amplos e completos, mas participação em Sua glória e assento sobre o Seu trono. GC 484 1 Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os diante de Deus como transgressores. O grande enganador procurou levá-los ao ceticismo, fazendo-os perder a confiança em Deus, separar-se de Seu amor e violar Sua lei. Agora aponta para o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados que ele os tentou a cometer; e por causa disto os reclama como súditos seus. GC 484 2 Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: "Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma de Minhas mãos. 'Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus!'" Salmos 51:17. E ao acusador de Seu povo, declara: "O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?" Zacarias 3:2. Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante." Efésios 5:27. Seus nomes permanecem registrados no livro da vida, e está escrito com relação a eles: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso." Apocalipse 3:4. GC 485 1 Assim se realizará o cumprimento total da promessa do novo concerto: "Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados." "Naqueles dias, e naquele tempo, diz o Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; e os pecados de Judá, mas não se acharão." Jeremias 31:34; 50:20. GC 485 2 "Naquele dia o Renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória; e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel. E será que aquele que ficar em Sião e o que permanecer em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os vivos em Jerusalém." Isaías 4:2, 3. GC 485 3 A obra do juízo investigativo e extinção dos pecados deve efetuar-se antes do segundo advento do Senhor. Visto que os mortos são julgados pelas coisas escritas nos livros, é impossível que os pecados dos homens sejam cancelados antes de concluído o juízo em que seu caso deve ser investigado. Mas o apóstolo Pedro declara expressamente que os pecados dos crentes serão apagados quando vierem "os tempos do refrigério pela presença do Senhor", e Ele enviar a Jesus Cristo. Atos 3:19, 20. Quando se encerrar o juízo de investigação, Cristo virá, e Seu galardão estará com Ele para dar a cada um segundo for a sua obra. GC 485 4 No culto típico, o sumo sacerdote, havendo feito expiação por Israel, saía e abençoava a congregação. Assim Cristo, no final de Sua obra de mediador, aparecerá "sem pecado, ... para salvação" (Hebreus 9:28), a fim de abençoar com a vida eterna Seu povo que O espera. Como o sacerdote, ao remover do santuário os pecados, confessava-os sobre a cabeça do bode emissário, semelhantemente Cristo porá todos esses pecados sobre Satanás, o originador e instigador do pecado. O bode emissário, levando os pecados de Israel, era enviado "à terra solitária" (Levítico 16:22); de igual modo Satanás, levando a culpa de todos os pecados que induziu o povo de Deus a cometer, estará durante mil anos circunscrito à Terra, que então se achará desolada, sem moradores, e ele sofrerá finalmente a pena completa do pecado nos fogos que destruirão todos os ímpios. Assim o grande plano da redenção atingirá seu cumprimento na extirpação final do pecado e no livramento de todos os que estiverem dispostos a renunciar ao mal. GC 486 1 No tempo indicado para o juízo -- o final dos 2.300 dias, em 1844 -- iniciou-se a obra de investigação e apagamento dos pecados. Todos os que já professaram o nome de Cristo serão submetidos àquele exame minucioso. Tanto os vivos como os mortos devem ser julgados "pelas coisas escritas nos livros, segundo as suas obras". GC 486 2 Pecados de que não houve arrependimento e que não foram abandonados, não serão perdoados nem apagados dos livros de registro, mas ali permanecerão para testificar contra o pecador no dia de Deus. Ele pode ter cometido más ações à luz do dia ou nas trevas da noite; elas, porém, estavam patentes e manifestas Àquele com quem temos de nos haver. Anjos de Deus testemunharam cada pecado, registrando-os nos relatórios infalíveis. O pecado pode ser escondido, negado, encoberto, ao pai, mãe, esposa, filhos e companheiros; ninguém, a não ser os seus autores culpados, poderá alimentar a mínima suspeita da falta; ela, porém, jaz descoberta perante os seres celestiais. As trevas da noite mais escura, os segredos de todas as artes enganadoras, não são suficientes para velar do conhecimento do Eterno um pensamento que seja. Deus tem um relatório exato de toda conta injusta e de todo negócio desonesto. Não Se deixa enganar pela aparência de piedade. Não comete erros em Sua apreciação do caráter. Os homens podem ser enganados pelos que são de coração corrupto, mas Deus penetra todos os disfarces e lê a vida íntima. GC 486 3 Quão solene é esta consideração! Dia após dia que passa para a eternidade, traz a sua enorme porção de relatos para os livros do Céu. Palavras, uma vez faladas, e ações, uma vez praticadas, nunca mais se podem retirar. Os anjos têm registrado tanto as boas como as más. Nem o mais poderoso guerreiro pode revogar a relação dos acontecimentos de um único dia sequer. Nossos atos, palavras, e mesmo nossos intuitos mais secretos, tudo tem o seu peso ao decidir-se nosso destino para a felicidade ou para a desdita. Ainda que esquecidos por nós, darão o seu testemunho para justificar ou condenar. GC 487 1 Assim como os traços da fisionomia são reproduzidos com precisão infalível sobre a polida chapa fotográfica, assim o caráter é fielmente delineado nos livros do Céu. Todavia, quão pouca solicitude é experimentada com referência àquele registro que deve ser posto sob o olhar dos seres celestiais! Se se pudesse correr o véu que separa o mundo visível do invisível, e os filhos dos homens contemplassem um anjo registrando toda palavra e ação, que eles deverão novamente encontrar no juízo, quantas palavras que diariamente se proferem ficariam sem ser faladas, e quantas ações sem ser praticadas! GC 487 2 No juízo será examinado o uso feito de cada talento. Como empregamos nós o capital que nos foi oferecido pelo Céu? Receberá o Senhor à Sua vinda aquilo que é Seu, com juros? Empregamos nós as faculdades que nos foram confiadas, nas mãos, no coração e no cérebro, para a glória de Deus e bênção do mundo? Como usamos nosso tempo, nossa pena, nossa voz, nosso dinheiro, nossa influência? Que fizemos por Cristo, na pessoa dos pobres, aflitos, órfãos ou viúvas? Deus nos fez depositários de Sua Santa Palavra; que fizemos com a luz e verdade que se nos deram para tornar os homens sábios para a salvação? Nenhum valor existe na mera profissão de fé em Cristo; unicamente o amor que se revela pelas obras é considerado genuíno. Contudo, é unicamente o amor que, à vista do Céu, torna de valor qualquer ato. O que quer que seja feito por amor, seja embora pequenino na apreciação dos homens, é aceito e recompensado por Deus. GC 487 3 O oculto egoísmo humano permanece manifesto nos livros do Céu. Existe o relato de deveres não cumpridos para com os semelhantes, do esquecimento dos preceitos do Salvador. Ali verão quantas vezes foram cedidos a Satanás o tempo, o pensamento, a força, os quais pertenciam a Cristo. Triste é o relato que os anjos levam para o Céu. Seres inteligentes, seguidores professos de Cristo, estão absortos na aquisição de posses mundanas ou do gozo de prazeres terrenos. Dinheiro, tempo e força são sacrificados na ostentação e condescendência próprias; poucos, porém, são os momentos dedicados à prece, ao exame das Escrituras, à humilhação da alma e confissão do pecado. GC 488 1 Satanás concebe inumeráveis planos para nos ocupar a mente, para que ela se não detenha no próprio trabalho com que deveremos estar mais bem familiarizados. O arquienganador odeia as grandes verdades que apresentam um sacrifício expiatório e um todo-poderoso Mediador. Sabe que para ele tudo depende de desviar a mente, de Jesus e de Sua verdade. GC 488 2 Os que desejam participar dos benefícios da mediação do Salvador, não devem permitir que coisa alguma interfira com seu dever de aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. As preciosas horas, em vez de serem entregues ao prazer, à ostentação ou ambição de ganho, devem ser dedicadas ao estudo da Palavra da verdade, com fervor e oração. O assunto do santuário e do juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus. Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar. Cada indivíduo tem uma alma a salvar ou perder. Cada qual tem um caso pendente no tribunal de Deus. Cada um há de defrontar face a face o grande Juiz. Quão importante é, pois, que todos contemplem muitas vezes a cena solene em que o juízo se assentará e os livros se abrirão, e em que, juntamente com Daniel, cada pessoa deve estar na sua sorte, no fim dos dias! GC 488 3 Todos os que receberam luz sobre estes assuntos devem dar testemunho das grandes verdades que Deus lhes confiou. O santuário no Céu é o próprio centro da obra de Cristo em favor dos homens. Diz respeito a toda alma que vive sobre a Terra. Patenteia-nos o plano da redenção, transportando-nos mesmo até ao final do tempo, e revelando o desfecho triunfante da controvérsia entre a justiça e o pecado. É da máxima importância que todos investiguem acuradamente estes assuntos, e possam dar resposta a qualquer que lhes peça a razão da esperança que neles há. GC 489 1 A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte sobre a cruz. Pela Sua morte iniciou essa obra, para cuja terminação ascendeu ao Céu, depois de ressurgir. Pela fé devemos penetrar até o interior do véu, onde nosso Precursor entrou por nós. Hebreus 6:20. Ali se reflete a luz da cruz do Calvário. Ali podemos obter intuição mais clara dos mistérios da redenção. A salvação do homem se efetua a preço infinito para o Céu; o sacrifício feito é igual aos mais amplos requisitos da violada lei de Deus. Jesus abriu o caminho para o trono do Pai, e por meio de Sua mediação pode ser apresentado a Deus o desejo sincero de todos os que a Ele se chegam pela fé. GC 489 2 "O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia." Provérbios 28:13. Se os que escondem e desculpam suas faltas pudessem ver como Satanás exulta sobre eles, como escarnece de Cristo e dos santos anjos, pelo procedimento deles, apressar-se-iam a confessar seus pecados e deixá-los. Por meio dos defeitos do caráter, Satanás trabalha para obter o domínio da mente toda, e sabe que, se esses defeitos forem acariciados, será bem-sucedido. Portanto, está constantemente procurando enganar os seguidores de Cristo com seu fatal sofisma de que lhes é impossível vencer. Mas Jesus apresenta em seu favor Suas mãos feridas, Seu corpo moído; e declara a todos os que desejam segui-Lo: "A Minha graça te basta." 2 Coríntios 12:9. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Por que o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:29, 30. Ninguém, pois, considere incuráveis os seus defeitos. Deus dará fé e graça para vencê-los. GC 489 3 Vivemos hoje no grande dia da expiação. No cerimonial típico, enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel, exigia-se de todos que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado e pela humilhação, perante o Senhor, para que não acontecesse serem extirpados dentre o povo. De igual modo, todos quantos desejem seja seu nome conservado no livro da vida, devem, agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um exame de coração, profundo e fiel. O espírito leviano e frívolo, alimentado por tantos cristãos professos, deve ser deixado. Há uma luta intensa diante de todos os que desejam subjugar as más tendências que insistem no predomínio. A obra de preparação é uma obra individual. Não somos salvos em grupos. A pureza e devoção de um, não suprirá a falta dessas qualidades em outro. Embora todas as nações devam passar em juízo perante Deus, examinará Ele o caso de cada indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante como se não houvesse outro ser na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem mancha ou ruga, ou coisa semelhante. GC 490 1 Solenes são as cenas ligadas à obra final da expiação. Momentosos, os interesses nela envolvidos. O juízo ora se realiza no santuário celestial. Há muitos anos esta obra está em andamento. Breve, ninguém sabe quão breve, passará ela aos casos dos vivos. Na augusta presença de Deus nossa vida deve passar por exame. Atualmente, mais do que em qualquer outro tempo, importa a toda alma atender à admoestação do Salvador: "Vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo." Marcos 13:33. "Se não vigiares, virei a ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:3. GC 490 2 Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu. Cristo, no Apocalipse, prevendo aquele tempo, declara: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:11, 12. GC 491 1 Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em seu estado mortal: estarão os homens a plantar e a construir, comendo e bebendo, todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi pronunciada no santuário celestial. Antes do dilúvio, depois que Noé entrou na arca, Deus o encerrou ali, e excluiu os ímpios; mas, durante sete dias, o povo, não sabendo que seu destino se achava determinado, continuou em sua vida de descuido e de amor aos prazeres, zombando das advertências sobre o juízo iminente. "Assim", diz o Salvador, "será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:39. Silenciosamente, despercebida como o ladrão à meia-noite, virá a hora decisiva que determina o destino de cada homem, sendo retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado. GC 491 2 "Vigiai, pois, ... para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo." Marcos 13:35, 36. Perigosa é a condição dos que, cansando-se de vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem de negócios está absorto em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres procura satisfazer aos mesmos, enquanto a escrava da moda está a arranjar os seus adornos -- pode ser que naquela hora o Juiz de toda a Terra pronuncie a sentença: "Pesado foste na balança, e foste achado em falta." Daniel 5:27. ------------------------Capítulo 29 -- Por que existe o sofrimento GC 492 1 Para muitos espíritos, a origem do pecado e a razão de sua existência são causa de grande perplexidade. Vêem a obra do mal, com seus terríveis resultados de miséria e desolação, e põem em dúvida como tudo isso possa existir sob o reinado de um Ser que é infinito em sabedoria, poder e amor. Eis um mistério, para o qual não encontram explicação. E, em sua incerteza e dúvida, tornam-se cegos para verdades plenamente reveladas na Palavra de Deus, e essenciais à salvação. Existem os que, em suas pesquisas concernentes à existência do pecado, se esforçam por esquadrinhar aquilo que Deus nunca revelou; por isso não encontram solução para suas dificuldades; e os que mostram tal disposição para a dúvida e astúcia, aproveitam-se disto como desculpa para rejeitar as palavras das Sagradas Escrituras. Outros, entretanto, deixam de ter uma compreensão satisfatória a respeito do grande problema do mal, devido a terem a tradição e a interpretação errônea obscurecido o ensino da Bíblia relativo ao caráter de Deus, à natureza de Seu governo, e aos princípios que regem Seu trato com o pecado. GC 492 2 É impossível explicar a origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência. Todavia, bastante se pode compreender em relação à origem, bem como à disposição final do pecado, para que se faça amplamente manifesta a justiça e benevolência de Deus em todo o Seu trato com o mal. Nada é mais claramente ensinado nas Escrituras do que o fato de não haver sido Deus de maneira alguma responsável pela manifestação do pecado; e de não ter havido qualquer retirada arbitrária da graça divina, nem deficiência no governo divino, para que dessem motivo ao irrompimento da rebelião. O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável; desculpá-lo corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrar desculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado. Nossa única definição de pecado é a que é dada na Palavra de Deus; é: "quebrantamento da lei"; é o efeito de um princípio em conflito com a grande lei do amor, que é o fundamento do governo divino. GC 493 1 Antes da manifestação do mal, havia paz e alegria por todo o Universo. Tudo estava em perfeita harmonia com a vontade do Criador. O amor a Deus era supremo; imparcial, o amor de uns para com outros. Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai -- um na natureza, no caráter e no propósito -- e o único Ser em todo o Universo que poderia entrar nos conselhos e propósitos de Deus. Por Cristo, o Pai efetuou a criação de todos os seres celestiais. "NEle foram criadas todas as coisas que há nos céus ... sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades" (Colossenses 1:16); e tanto para com Cristo, como para com o Pai, todo o Céu mantinha lealdade. GC 493 2 Sendo a lei do amor o fundamento do governo de Deus, a felicidade de todos os seres criados dependia de sua perfeita harmonia com seus grandes princípios de justiça. Deus deseja de todas as Suas criaturas serviço de amor -- homenagem que brote de uma apreciação inteligente de Seu caráter. Ele não tem prazer em uma submissão forçada, e a todos confere vontade livre, para que possam prestar-Lhe serviço voluntário. GC 493 3 Houve, porém, um ser que preferiu perverter esta liberdade. O pecado originou-se com aquele que, abaixo de Cristo, fora o mais honrado por Deus, e o mais elevado em poder e glória entre os habitantes do Céu. Antes de sua queda, Lúcifer foi o primeiro dos querubins cobridores santo e incontaminado. "Assim diz o Senhor Jeová: Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a tua cobertura." "Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti." Ezequiel 28:12-15. GC 494 1 Lúcifer poderia ter permanecido no favor de Deus, ser amado e honrado por toda a hoste angélica, exercendo suas nobres faculdades, a fim de abençoar outros e glorificar o seu Criador. Mas, diz o profeta: "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor." Ezequiel 28:17. Pouco a pouco Lúcifer veio a condescender com o desejo de exaltação própria. "Estimas o teu coração como se fora o coração de Deus." "E tu dizias: ... Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei. ... Subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo." Ezequiel 28:6; Isaías 14:13, 14. Em vez de procurar fazer com que Deus fosse supremo nas afeições e lealdade de Suas criaturas, era o esforço de Lúcifer conquistar para si o seu serviço e homenagem. E, cobiçando a honra que o infinito Pai conferira a Seu Filho, este príncipe dos anjos aspirou ao poder cujo uso era prerrogativa de Cristo, unicamente. GC 494 2 O Céu todo se regozijava com refletir a glória do Criador e celebrar o Seu louvor. E, enquanto Deus assim fora honrado, tudo era paz e alegria. Uma nota dissonante, porém, deslustrava agora as harmonias celestiais. O serviço e exaltação em prol do eu, contrários ao plano do Criador, despertavam prenúncios de males nas mentes para as quais a glória de Deus era suprema. Os concílios celestiais instavam com Lúcifer. O Filho de Deus lhe apresentava a grandeza, a bondade e a justiça do Criador, e a natureza sagrada e imutável de Sua lei. Deus mesmo havia estabelecido a ordem do Céu; e, afastando-se dela, Lúcifer desonraria a seu Criador, trazendo sobre si a ruína. Mas a advertência, feita com amor e misericórdia infinitos, unicamente suscitou espírito de resistência. Lúcifer permitiu que prevalecesse a inveja para com Cristo, e mais decidido se tornou. GC 495 1 O orgulho de sua própria glória alimentava o desejo de supremacia. As elevadas honras conferidas a Lúcifer não eram apreciadas como um dom de Deus, e não despertavam gratidão para com o Criador. Ele se gloriava em seu resplendor e exaltação, e aspirava a ser igual a Deus. Era amado e reverenciado pela hoste celestial. Anjos deleitavam-se em executar suas ordens, e, mais que todos eles, estava revestido de sabedoria e glória. Todavia, o Filho de Deus era o reconhecido Soberano do Céu, igual ao Pai em poder e autoridade. Em todos os conselhos de Deus, Cristo tomava parte, enquanto a Lúcifer não era assim permitido entrar em conhecimento dos propósitos divinos. "Por que", perguntava o poderoso anjo, "deveria Cristo ter a supremacia? Por que é Ele desta maneira mais honrado do que Lúcifer?" GC 495 2 Deixando seu lugar na presença imediata de Deus, saiu a difundir o espírito de descontentamento entre os anjos. Operando em misterioso segredo, e escondendo durante algum tempo o seu intuito real sob o disfarce de reverência a Deus, esforçou-se por suscitar o desgosto em relação às leis que governavam os seres celestiais, insinuando que elas impunham uma restrição desnecessária. Visto serem de natureza santa, insistia em que os anjos obedecessem aos ditames de sua própria vontade. Procurou arregimentar as simpatias em seu favor, propalando que Deus o tratara injustamente ao conferir honra suprema a Cristo. Alegava que, anelando maior poder e honra, não pretendia a exaltação própria, mas procurava conseguir liberdade para todos os habitantes do Céu, a fim de por este meio poderem alcançar condição mais elevada de existência. GC 495 3 Deus, em Sua grande misericórdia, suportou longamente a Satanás. Este não foi imediatamente degradado de sua posição elevada, quando a princípio condescendeu com o espírito de descontentamento, nem mesmo quando começou a apresentar suas falsas pretensões diante dos anjos fiéis. Muito tempo foi ele conservado no Céu. Reiteradas vezes lhe foi oferecido o perdão, sob a condição de que se arrependesse e submetesse. Esforços que apenas o amor e a sabedoria infinitos poderiam conceber, foram feitos a fim de convencê-lo de seu erro. O espírito de dissabor nunca dantes fora conhecido no Céu. O próprio Lúcifer não via a princípio para onde estava a encaminhar-se; não compreendia a verdadeira natureza de seus sentimentos. Mas, sendo-lhe demonstrado que seu descontentamento era sem causa, convenceu-se Lúcifer de que estava em erro, de que as reivindicações divinas eram justas, e de que as deveria reconhecer como tais perante todo o Céu. Houvesse ele feito isto, e poderia haver salvo a si mesmo e a muitos anjos. Por esse tempo não havia ainda renunciado completamente a sua fidelidade para com Deus. Posto que houvesse perdido a posição de querubim cobridor, teria sido reintegrado em seu mister, caso houvesse desejado voltar a Deus, reconhecendo a sabedoria do Criador, e estivesse satisfeito por preencher o lugar a ele designado no grande plano de Deus. Mas o orgulho o impediu de submeter-se. Persistentemente defendeu seu próprio caminho, sustentando que não havia necessidade de arrependimento, e entregou-se por completo ao grande conflito contra seu Criador. GC 496 1 Todas as faculdades de sua mente superior foram então aplicadas à obra do engano, a fim de conseguir a simpatia dos anjos que tinham estado sob suas ordens. Mesmo o fato de que Cristo o advertira e aconselhara, foi pervertido de maneira a servir a seus desígnios traidores. Àqueles, cuja afetuosa confiança mais intimamente os ligava a ele, Satanás simulou haver sido julgado mal, que sua posição não fora respeitada, e que se queria cercear-lhe a liberdade. Da falsa interpretação das palavras de Cristo, passou à prevaricação e à falsidade direta, acusando o Filho de Deus de intentar humilhá-lo perante os habitantes do Céu. Procurou também criar uma falsa situação entre ele próprio e os anjos fiéis. A todos quantos não pôde subverter e levar completamente para seu lado, acusou-os de indiferença aos interesses dos seres celestiais. A mesma obra que ele próprio estava a fazer, atribuiu-a aos que permaneciam fiéis a Deus. E com o fim de sustentar sua acusação de injustiça por parte de Deus para com ele, recorreu à falsa interpretação das palavras e atos do Criador. Era sua tática tornar perplexos os anjos pelos capciosos argumentos relativos aos propósitos divinos. Tudo que era simples ele envolvia em mistério, e mediante artificiosa perversão lançava dúvida às mais compreensíveis declarações de Jeová. Seu elevado cargo, em tão íntimo contato com a administração divina, emprestava maior força às suas alegações, e muitos eram induzidos a unir-se-lhe em rebelião contra a autoridade do Céu. GC 497 1 Deus, em Sua sabedoria, permitiu que Satanás levasse avante sua obra, até que o espírito de dissabor amadurecesse em ativa revolta. Era necessário que seus planos se desenvolvessem completamente, para que sua verdadeira natureza e tendência pudessem ser vistas por todos. Como querubim ungido, Lúcifer fora altamente exaltado; grandemente amado pelos seres celestiais, era forte sua influência sobre eles. O governo de Deus incluía não somente os habitantes do Céu, mas de todos os mundos que Ele havia criado; e Satanás pensou que se ele pôde levar consigo os anjos do Céu à rebelião, poderia também levar os outros mundos. Ardilosamente apresentara o lado da questão que lhe dizia respeito, empregando sofismas e fraude a fim de atingir seus objetivos. Seu poder para enganar era muito grande; e, disfarçando-se sob o manto da falsidade, obtivera vantagem. Mesmo os anjos fiéis não lhe podiam discernir perfeitamente o caráter, ou ver para onde levava a sua obra. GC 497 2 Satanás fora altamente honrado, sendo todos os seus atos de tal maneira revestidos de mistério, que difícil era desvendar aos anjos a verdadeira natureza de sua obra. Antes que se desenvolvesse completamente, o pecado não pareceria o mal que em realidade era. Até ali não ocorrera ele no Universo de Deus, e os seres santos não tinham qualquer concepção de sua natureza e malignidade. Não podiam discernir as terríveis conseqüências que resultariam de se pôr de parte a lei divina. Satanás a princípio ocultara sua obra sob uma profissão capciosa de lealdade a Deus. Alegava estar procurando promover a honra de Deus, a estabilidade de Seu governo, e o bem de todos os habitantes do Céu. Ao mesmo tempo em que incutia o descontentamento no espírito dos anjos a ele subordinados, dava astutamente a impressão de que estava procurando remover o dissabor. Quando insistia em que se fizessem mudanças na ordem e nas leis do governo de Deus, era sob o pretexto de serem elas necessárias a fim de preservar a harmonia no Céu. GC 498 1 Em Seu trato com o pecado, apenas podia Deus empregar a justiça e a verdade. Satanás podia fazer uso daquilo que Deus não usaria: lisonja e engano. Procurara falsificar a Palavra de Deus, e representara falsamente Seu plano de governo perante os anjos, alegando que Deus não era justo ao estabelecer leis e regras aos habitantes do Céu; que, exigindo de Suas criaturas submissão e obediência, estava meramente procurando a exaltação de Si próprio. Portanto deveria ser demonstrado perante os habitantes do Céu, bem como de todos os mundos, que o governo de Deus é justo, e perfeita a Sua lei. Satanás fizera parecer que estava procurando promover o bem do Universo. O verdadeiro caráter do usurpador e seu objetivo real deveriam ser por todos compreendidos. GC 498 2 A discórdia que o seu próprio procedimento determinara no Céu, imputou-a Satanás à lei e ao governo de Deus. Todo o mal, declarou ele ser resultante da administração divina. Alegou ser seu próprio objetivo melhorar os estatutos de Jeová. Conseguintemente, necessário era que demonstrasse a natureza de suas pretensões, provando o efeito de suas propostas mudanças na lei divina. A sua própria obra deveria condená-lo. Satanás pretendeu desde o princípio que não estava em rebelião. Todo o Universo deveria ver o enganador desmascarado. GC 498 3 Mesmo quando foi decidido que ele não mais poderia permanecer no Céu, a Sabedoria infinita não destruiu a Satanás. Visto que apenas o serviço por amor pode ser aceito por Deus, a submissão de Suas criaturas deve repousar em uma convicção sobre a Sua justiça e benevolência. Os habitantes do Céu e de outros mundos, não estando preparados para compreender a natureza ou conseqüências do pecado, não poderiam ter visto então a justiça e misericórdia de Deus com a destruição de Satanás. Houvesse ele sido imediatamente excluído da existência, e teriam servido a Deus antes por temor do que por amor. A influência do enganador não teria sido destruída por completo, tampouco o espírito de rebelião se teria desarraigado totalmente. Devia-se permitir que o mal chegasse a amadurecer. Para o bem do Universo inteiro, através dos séculos sem fim, devia Satanás desenvolver mais completamente seus princípios, para que suas acusações contra o governo divino pudessem ser vistas sob sua verdadeira luz por todos os seres criados, e para sempre pudessem ser postas acima de qualquer dúvida a justiça e misericórdia de Deus e a imutabilidade de Sua lei. GC 499 1 A rebelião de Satanás deveria ser uma lição para todo o Universo por todos os séculos vindouros, um testemunho perpétuo da natureza e terríveis resultados do pecado. A conseqüência do governo de Satanás -- seus efeitos tanto sobre os homens como sobre os anjos -- mostraria qual o fruto de rejeitar a autoridade divina. Testificaria que, da existência do governo de Deus e de Sua lei, dependem o bem-estar de todas as criaturas que Ele fez. Destarte, a história desta terrível experiência de rebelião deveria ser perpétua salvaguarda a todos os santos seres, impedindo-os de serem enganados quanto à natureza da transgressão, livrando-os de cometer pecado e sofrer o seu castigo. GC 499 2 Até ao final da controvérsia no Céu, o grande usurpador continuou a justificar-se. Quando foi anunciado que, juntamente com todos os que com ele simpatizavam, deveria ser expulso das habitações de bem-aventurança, o chefe rebelde confessou então ousadamente seu desdém pela lei do Criador. Reiterou sua pretensão de que os anjos não necessitam ser dirigidos, mas que deveriam ser deixados a seguir sua própria vontade, que sempre os conduziria corretamente. Denunciou os estatutos divinos como restrição à sua liberdade, declarando ser de seu intento conseguir a abolição da lei; que, livres desta restrição, as hostes do Céu poderiam entrar em condições de existência mais elevada, mais gloriosa. GC 499 3 Concordemente, Satanás e sua hoste lançaram a culpa de sua rebelião inteiramente sobre Cristo, declarando que se eles não houvessem sido acusados, não se teriam rebelado. Assim, obstinados e arrogantes em sua deslealdade, procurando em vão subverter o governo de Deus, ao mesmo tempo que, blasfemando, pretendiam ser vítimas inocentes do poder opressivo, o arqui-rebelde e seus seguidores foram afinal banidos do Céu. GC 500 1 O mesmo espírito que produziu a rebelião no Céu, ainda inspira a rebelião na Terra. Satanás tem continuado, com os homens, o mesmo estratagema que adotou em relação aos anjos. Seu espírito ora reina nos filhos da desobediência. Semelhantes a ele, procuram romper com as restrições da lei de Deus, prometendo liberdade aos homens por meio da transgressão dos preceitos da mesma. A reprovação do pecado suscita ainda o espírito de ódio e resistência. Quando a consciência é advertida pelas mensagens divinas, Satanás leva os homens a justificar-se e a procurar a simpatia de outros em seu caminho de pecado. Em vez de corrigirem seus erros, indignam-se contra aquele que reprova, como se fora ele a causa única da dificuldade. Desde os dias do justo Abel até ao nosso tempo, este é o espírito que tem sido manifestado para com os que ousam condenar o pecado. GC 500 2 Pela mesma representação falsa do caráter divino, por ele dada no Céu, fazendo com que Deus fosse considerado severo e tirano, Satanás induziu o homem a pecar. E, logrando ser bem-sucedido nisto, declarou que as injustas restrições de Deus haviam motivado a queda do homem, assim como determinaram a sua própria rebelião. GC 500 3 Mas o próprio Eterno proclama o Seu caráter: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade, que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente." Êxodo 34:6, 7. GC 501 4 Banindo Satanás do Céu, declarou Deus a Sua justiça e manteve a honra de Seu trono. Quando, porém, o homem pecou, cedendo aos enganos desse espírito apóstata, Deus ofereceu uma prova de Seu amor, entregando o unigênito Filho para morrer pela raça decaída. Na expiação revela-se o caráter de Deus. O poderoso argumento da cruz demonstra ao Universo todo que o caminho do pecado, escolhido por Lúcifer, de maneira alguma era atribuível ao governo de Deus. GC 501 1 Na luta entre Cristo e Satanás, durante o ministério terrestre do Salvador, foi desmascarado o caráter do grande enganador. Nada poderia tão eficazmente ter desarraigado de Satanás as afeições dos anjos celestiais e de todo o Universo fiel, como o fez a sua guerra cruel ao Redentor do mundo. A ousada blasfêmia de sua pretensão de que Cristo lhe rendesse homenagem, seu pretensioso atrevimento ao levá-Lo ao cume da montanha e ao pináculo do templo, o mau intuito que se denuncia ao insistir com Ele para que Se lançasse da vertiginosa altura, a malignidade vigilante que O assaltava de um lugar a outro, inspirando o coração de sacerdotes e povo a rejeitarem Seu amor, e o brado final: "Crucifica-O, crucifica-O" -- tudo isto despertou o assombro e a indignação do Universo. GC 501 2 Foi Satanás que promoveu a rejeição de Cristo por parte do mundo. O príncipe do mal exerceu todo o seu poder e engano a fim de destruir Jesus; pois viu que a misericórdia e amor do Salvador, Sua compaixão e terna brandura estavam representando ao mundo o caráter de Deus. Satanás contestava tudo a que o Filho do homem visava, empregando os homens como seus agentes a fim de encher de sofrimento e tristeza a vida do Salvador. O sofisma e falsidade pelos quais procurara estorvar a obra de Jesus, o ódio manifesto por meio dos filhos da desobediência, suas cruéis acusações contra Aquele cuja vida era de bondade sem precedentes, tudo proveio de um sentimento de vingança profundamente arraigado. Os fogos da inveja e maldade, ódio e vingança, que se achavam contidos, irromperam no Calvário contra o Filho de Deus, ao mesmo tempo que o Céu todo contemplava a cena em silencioso horror. GC 501 3 Ao ser consumado o grande sacrifício, Cristo ascendeu aos Céus, recusando a adoração dos anjos antes que apresentasse o pedido: "Aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam." João 17:24. Então, com amor e poder inexprimíveis, veio a resposta, do trono do Pai: "E todos os anjos de Deus O adorem." Hebreus 1:6. Mancha alguma repousava sobre Jesus. Terminara a Sua humilhação, completara-se o Seu sacrifício, fora-Lhe dado um nome que é acima de todo nome. GC 502 1 Apresentava-se agora sem escusa a culpa de Satanás. Ele revelara seu verdadeiro caráter como mentiroso e assassino. Viu-se que o mesmíssimo espírito com que governara os filhos dos homens, que estiveram sob seu poder, teria ele manifestado se lhe tivesse sido permitido dominar os habitantes do Céu. Pretendera que a transgressão da lei de Deus traria liberdade e exaltação; viu-se, porém, que resultava em degradação e cativeiro. GC 502 2 As mentirosas acusações de Satanás contra o caráter e governo divinos apareceram sob sua verdadeira luz. Acusou a Deus de procurar simplesmente a exaltação de Si mesmo, exigindo submissão e obediência de Suas criaturas, e declarou que, enquanto o Criador reclamava abnegação de todos os outros, Ele próprio não a praticava e não fazia sacrifício algum. Viu-se agora que para a salvação de uma raça caída e pecadora, o Governador do Universo fizera o máximo sacrifício que o amor poderia efetuar; pois "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo." 2 Coríntios 5:19. Viu-se também que, enquanto Lúcifer abrira a porta para o pecado, pelo seu desejo de honras e supremacia, Cristo, a fim de destruir o pecado, Se humilhara e Se fizera obediente até à morte. GC 502 3 Deus manifestara Sua repulsa aos princípios da rebelião. O Céu todo viu a Sua justiça revelada, tanto na condenação de Satanás como na redenção do homem. Lúcifer declarara que se a lei de Deus fosse imutável, e seu castigo não pudesse ser abrandado, todos os transgressores deveriam ser para sempre privados do favor do Criador. Alegara que a raça pecadora se colocara para além da redenção e, conseguintemente, era sua legítima presa. A morte de Cristo, porém, era um argumento em prol do homem, argumento que se não poderia refutar. A pena da lei recaiu sobre Aquele que era igual a Deus, ficando livre o homem para aceitar a justiça de Cristo, e, por uma vida de arrependimento e humilhação, triunfar, como o Filho de Deus, sobre o poder de Satanás. Assim, Deus é justo, e justificador de todos os que crêem em Jesus. GC 503 1 Mas não foi meramente para efetuar a redenção do homem que Cristo veio à Terra e aqui sofreu e morreu. Veio para "engrandecer a lei" e "torná-la gloriosa." Não somente para que os habitantes deste mundo pudessem considerar a lei como esta deveria ser considerada, mas para demonstrar a todos os mundos do Universo que a lei de Deus é imutável. Pudessem seus requisitos ser postos de lado, e o Filho de Deus não necessitaria então haver dado Sua vida para expiar a transgressão da mesma. A morte de Cristo prova ser ela imutável. E o sacrifício a que o amor infinito induziu o Pai e o Filho, a fim de que os pecadores pudessem ser salvos, demonstra ao Universo todo (e nada menos que este plano de expiação teria bastado para fazer) que a justiça e a misericórdia são o fundamento da lei e do governo de Deus. GC 503 2 Na execução final do juízo ver-se-á que nenhuma causa existe para o pecado. Quando o Juiz de toda a Terra perguntar a Satanás: "Por que te rebelaste contra Mim, e Me roubaste os súditos de Meu reino?", o originador do mal não poderá apresentar resposta alguma. Toda boca se fechará e todas as hostes rebeldes estarão mudas. GC 503 3 A cruz do Calvário, ao mesmo tempo em que declara ser imutável a lei, proclama ao Universo que o salário do pecado é a morte. No brado agonizante do Salvador -- "Está consumado" -- soou a sentença de morte de Satanás. Decidiu-se então o grande conflito que durante tanto tempo estivera em andamento e confirmou-se a extirpação do mal. O Filho de Deus transpôs os umbrais do túmulo, a fim de que "pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo." Hebreus 2:14. O desejo de exaltação própria por parte de Lúcifer, levara-o a dizer: "Acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, ... serei semelhante ao Altíssimo." Declara Deus: "E te tornei em cinza sobre a terra, ... e nunca mais serás para sempre." Isaías 14:13, 14; Ezequiel 28:18, 19. Quando vier aquele dia "ardendo como forno, ... todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como palha; e o dia que está para vir, os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo." Malaquias 4:1. GC 504 1 O Universo todo terá sido testemunha da natureza e resultados do pecado. E seu completo extermínio, que no princípio teria acarretado o temor dos anjos, desonrando a Deus, reivindicará agora o Seu amor e estabelecerá a Sua honra perante a totalidade dos seres que se deleitam em fazer a Sua vontade, e em cujo coração está a lei divina. Jamais o mal se manifestará de novo. Diz a Palavra de Deus: "Não se levantará por duas vezes a angústia." Naum 1:9. A lei de Deus, que Satanás acusara de jugo de servidão, será honrada como a lei da liberdade. Uma criação experimentada e provada nunca mais se desviará da fidelidade para com Aquele cujo caráter foi perante eles amplamente manifesto como expressão de amor insondável e infinita sabedoria. ------------------------Capítulo 30 -- O pior inimigo do homem, e como vencê-lo GC 505 1 "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gênesis 3:15. A sentença divina pronunciada contra Satanás depois da queda do homem, foi também uma profecia, abrangendo todos os séculos até ao final do tempo, e prefigurando o grande conflito em que se empenhariam todas as raças dos homens que vivessem sobre a Terra. GC 505 2 Deus declara: "Porei inimizade." Esta inimizade não é entretida naturalmente. Quando o homem transgrediu a lei divina, sua natureza se tornou má, e ele ficou em harmonia com Satanás, e não em desacordo com ele. Não existe, por natureza, nenhuma inimizade entre o homem pecador e o originador do pecado. Ambos se tornaram malignos pela apostasia. O apóstata nunca está em sossego, exceto quando obtém simpatia e apoio, induzindo outros a lhe seguir o exemplo. Por este motivo os anjos decaídos e os homens ímpios se unem em desesperada união. Se Deus não Se houvesse interposto de maneira especial, Satanás e o homem teriam entrado em aliança contra o Céu; e, ao invés de alimentar inimizade contra Satanás, toda a família humana se teria unido em oposição a Deus. GC 505 3 Satanás tentou o homem a pecar, assim como fizera com que os anjos se rebelassem, para deste modo poder conseguir cooperação em sua luta contra o Céu. Nenhuma dissensão havia entre ele e os anjos caídos, no tocante a seu ódio a Cristo; ao passo que em todos os outros pontos havia discórdia, uniram-se firmemente na oposição à autoridade do Governador do Universo. Mas, quando Satanás ouviu a declaração de que existiria inimizade entre ele e a mulher, e entre a sua semente e a semente dela, compreendeu que seus esforços para depravar a natureza humana seriam interrompidos; que por algum meio o homem seria habilitado a resistir ao seu poder. GC 506 1 A inimizade de Satanás contra a raça humana é avivada pelo motivo de serem as criaturas humanas, mediante Cristo, objeto de amor e misericórdia de Deus. Ele se empenha em subverter o plano divino para a redenção do homem, desfigurando e corrompendo a obra de Suas mãos, para lançar desonra a Deus; deseja dar origem a pesares no Céu e encher a Terra de desgraças e desolação. E aponta para todo este mal como resultado da obra de Deus ao criar o homem. GC 506 2 É a graça que Cristo implanta na alma, que cria no homem a inimizade contra Satanás. Sem esta graça que converte, e este poder renovador, o homem continuaria cativo de Satanás, como servo sempre pronto a executar-lhe as ordens. Mas o novo princípio na alma cria o conflito onde até então houvera paz. O poder que Cristo comunica, habilita o homem a resistir ao tirano e usurpador. Quem quer que se ache a aborrecer o pecado em lugar de o amar, que resista a essas paixões que têm dominado interiormente e as vença, evidencia a operação de um princípio inteiramente de cima. GC 506 3 O antagonismo que existe entre o espírito de Cristo e o de Satanás, revelou-se na maneira mui flagrante com que o mundo recebeu a Jesus. Não foi tanto porque Ele aparecesse sem riquezas, pompas, ou grandiosidade mundanas, que os judeus foram levados a rejeitá-Lo. Viam-nO possuir poder que faria mais do que compensar a falta dessas vantagens exteriores. A pureza e santidade de Cristo, porém, valeram-Lhe o ódio dos ímpios. Sua vida de renúncia e impecável devotamento, era perpétua reprovação a um povo orgulhoso, sensual. Foi isto que provocou inimizade contra o Filho de Deus. Satanás e os anjos caídos uniram-se aos homens maus. Todas as energias da apostasia conspiraram contra o Campeão da verdade. GC 507 1 É manifesta em relação aos seguidores de Cristo, a mesma inimizade demonstrada para com o Mestre. Quem quer que veja o caráter repelente do pecado, e na força do alto resista à tentação, certamente suscitará a ira de Satanás e de seus súditos. Ódio aos puros princípios da verdade, e opróbrio e perseguição a seus defensores, existirão enquanto houver pecado e pecadores. Os seguidores de Cristo e os servos de Satanás não podem harmonizar-se. O agravo da cruz não cessou. "Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições." 2 Timóteo 3:12. GC 507 2 Sob a direção de Satanás os seus agentes estão constantemente a trabalhar a fim de estabelecer a sua autoridade e erigir o seu reino em oposição ao governo de Deus. Com esse fito, procuram enganar os seguidores de Cristo e desviá-los de sua fidelidade. Semelhantes a seu chefe, interpretam mal e pervertem as Escrituras para realizar seu objetivo. Assim como Satanás se esforçou para lançar a ignomínia sobre Deus, seus agentes procuram fazer mal ao povo do Senhor. O espírito que matou a Cristo impele os ímpios a destruir Seus seguidores. Tudo isto está prefigurado naquela primeira profecia: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente." E isto continuará até ao final do tempo. GC 507 3 Satanás conjuga todas as forças, e arremessa ao combate todo o seu poder. Por que não encontra ele maior resistência? Por que são os soldados de Cristo tão sonolentos e indiferentes? É porque entretêm tão pouca verdadeira comunhão com Cristo; porque se acham tão destituídos de Seu Espírito! O pecado não lhes é repelente e aborrecível, como era a seu Mestre. Não o enfrentam, como o fazia Cristo, com resistência decidida e resoluta. Não se compenetram do grandíssimo mal e malignidade do pecado, e estão cegos tanto a respeito do caráter como do poder do príncipe das trevas. Pouca inimizade há contra Satanás e suas obras, porque há tão grande ignorância a respeito de seu poder e maldade, e da grande extensão de sua luta contra Cristo e Sua igreja. Multidões estão iludidas neste ponto. Não sabem que seu inimigo é um poderoso general, que domina a mente dos anjos maus, e que com planos bem elaborados e hábeis artifícios, está a guerrear contra Cristo para impedir a salvação das almas. Entre os professos cristãos, e mesmo entre os ministros do evangelho, raramente se ouve uma referência a Satanás, exceto talvez uma menção ocasional, do púlpito. Não tomam em consideração as evidências de sua atividade e êxito contínuos; negligenciam os muitos avisos contra seus ardis; parecem ignorar-lhe a própria existência. GC 508 1 Enquanto os homens se acham em ignorância quanto aos seus estratagemas, este vigilante adversário se põe em seu caminho a cada momento. Intromete-se em cada compartimento do lar, em toda rua de nossas cidades, nas igrejas, nos conselhos nacionais, nos tribunais de justiça, confundindo, enganando, seduzindo, arruinando por toda parte a alma e o corpo de homens, mulheres e crianças, desmembrando famílias, semeando ódios, rivalidade, contenda, sedição, assassínio. E o mundo cristão parece olhar estas coisas como se Deus as tivesse designado, e elas devessem existir. GC 508 2 Satanás está continuamente procurando vencer o povo de Deus, derribando as barreiras que os separam do mundo. O antigo Israel foi enredado no pecado quando se aventurou a associação proibida com os gentios. De modo semelhante se transvia o Israel moderno. "O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Coríntios 4:4. Todos os que não são decididos seguidores de Cristo, são servos de Satanás. No coração não regenerado há amor ao pecado e disposição para acariciá-lo e desculpá-lo. No coração renovado há ódio e decidida resistência ao pecado. Quando os cristãos escolhem a sociedade dos ímpios e incrédulos, expõem-se à tentação. Satanás esconde-se das vistas, e furtivamente estende sobre os olhos deles seu véu enganador. Não podem ver que tal companhia é calculada a fazer-lhes mal; e ao mesmo tempo em que constantemente vão assimilando o mundo, no que respeita ao caráter, palavras e ações, mais e mais cegos se tornam. GC 509 1 A conformidade aos costumes mundanos converte a igreja ao mundo; jamais converte o mundo a Cristo. A familiaridade com o pecado inevitavelmente o fará parecer menos repelente. Aquele que prefere associar-se aos servos de Satanás, logo deixará de temer o senhor deles. Quando, no caminho do dever, somos levados à prova, como o foi Daniel na corte do rei, podemos estar certos de que Deus nos protegerá; mas se nos colocamos sob tentação, mais cedo ou mais tarde cairemos. GC 509 2 O tentador freqüentemente opera com muito êxito por meio daqueles de quem menos se suspeita estarem sob o seu domínio. Os possuidores de talento e educação são admirados e honrados, como se estas qualidades pudessem suprir a ausência do temor de Deus, ou torná-los dignos de Seu favor. O talento e a cultura, considerados em si mesmos, são dons de Deus; mas, quando se faz com que eles preencham o lugar da piedade, e quando, em vez de levar a alma mais para perto de Deus, a afastam dEle, tornam-se então em maldição e laço. Prevalece entre muitos a opinião de que tudo que se mostra como cortesia ou polidez, deve, em certo sentido, pertencer a Cristo. Nunca houve erro maior. Estas qualidades deveriam aformosear o caráter de todo crente, pois exerceriam influência poderosa em favor da verdadeira religião; mas devem ser consagradas a Deus, ou serão também um poder para o mal. Muito homem de intelecto culto e maneiras agradáveis, que se não rebaixaria ao que comumente é considerado um ato imoral, não passa de instrumento polido nas mãos de Satanás. O caráter insidioso, enganador de sua influência e exemplo torna-o inimigo mais perigoso da causa de Cristo do que os que são ignorantes e não têm cultura. GC 509 3 Mediante oração fervorosa e confiança em Deus, Salomão obteve a sabedoria que provocou o assombro e admiração do mundo. Quando, porém, se desviou da Fonte de sua força, e passou a confiar em si mesmo, caiu presa da tentação. Então as maravilhosas faculdades concedidas ao que foi o mais sábio dos reis, apenas o tornaram um agente mais eficaz do adversário das almas. GC 510 1 Conquanto Satanás procure constantemente cegar a mente dos cristãos para este fato, jamais se esqueçam eles de que não têm que lutar "contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais." Efésios 6:12. Através dos séculos está a soar até ao nosso tempo o aviso inspirado: "Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar." 1 Pedro 5:8. "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo." Efésios 6:11. GC 510 2 Desde os dias de Adão até os nossos tempos, nosso grande inimigo tem estado a exercer seu poder de oprimir e destruir. Está hoje a preparar-se para sua última campanha contra a igreja. Todos os que procuram seguir a Jesus terão de batalhar contra este implacável adversário. Quanto mais aproximadamente o cristão imitar o Modelo divino, tanto mais certo fará de si um alvo para os ataques de Satanás. Todos os que estão ativamente empenhados na causa de Deus, procurando desvendar os enganos do maligno e apresentar a Cristo perante o povo, estarão habilitados a aderir ao testemunho de Paulo, no qual ele fala em servir ao Senhor com toda a humildade de espírito, com muitas lágrimas e tentações. GC 510 3 Satanás assaltou a Cristo com as suas mais cruéis e sutis tentações; foi, porém, repelido em cada conflito. Aquelas batalhas foram travadas em nosso favor; aquelas vitórias nos tornam possível vencer. Cristo dará força a todos os que a busquem. Sem o consentimento próprio, ninguém poderá ser vencido por Satanás. O tentador não tem poder para governar a vontade ou forçar a alma a pecar. Pode angustiar, mas não contaminar. Pode causar agonia, mas não o aviltamento. O fato de Cristo ter vencido deve incutir em Seus seguidores coragem para combater varonilmente na peleja contra o pecado e Satanás. ------------------------Capítulo 31 -- Invisíveis defensores do homem GC 511 1 A relação do mundo visível com o invisível, o ministério dos anjos de Deus, a operação dos espíritos maus, acham-se claramente revelados nas Escrituras, e inseparavelmente entretecidos com a história humana. Há uma tendência crescente para a incredulidade na existência dos espíritos maus, enquanto os santos anjos que "ministram a favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hebreus 1:14), são por muitos considerados como espíritos dos mortos. As Escrituras, porém, não somente ensinam a existência dos anjos, tanto bons como maus, mas apresentam prova inquestionável de que não são os espíritos desencarnados dos homens falecidos. GC 511 2 Antes da criação do homem, existiam anjos; pois, quando os fundamentos da Terra foram lançados, "as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam." Jó 38:7. Depois da queda do homem foram enviados anjos a guardar a árvore da vida, e isto antes que qualquer ser humano houvesse morrido. Os anjos são, em sua natureza, superiores aos homens, pois o salmista diz que o homem foi feito "pouco menor do que os anjos." Salmos 8:5. GC 511 3 Estamos informados pelas Escrituras quanto ao número, poder e glória dos seres celestiais, sua relação com o governo de Deus e também com a obra da redenção. "O Senhor tem estabelecido o Seu trono nos Céus, e o Seu reino domina sobre tudo." E diz o profeta: "Ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono." No salão de recepção do Rei dos reis, assistem eles como "anjos Seus magníficos em poder", "ministros Seus, que executam o Sua aprovação", "obedecendo à voz da Sua palavra." Salmos 103:19-21; Apocalipse 5:11. Milhares de milhares e milhões de milhões eram os mensageiros celestiais vistos pelo profeta Daniel. O apóstolo Paulo declarou serem "muitos milhares." Daniel 7:10; Hebreus 12:22. Como mensageiros de Deus, saem "à semelhança de relâmpagos" (Ezequiel 1:14), tão deslumbrante é sua glória e tão rápido o seu vôo. O anjo que apareceu no túmulo do Salvador, e tinha o rosto "como um relâmpago, e o seu vestido branco como a neve", fez com que os guardas por medo dele tremessem, e ficassem "como mortos." Mateus 28:3, 4. Quando Senaqueribe, o altivo assírio, vituperou a Deus e dEle blasfemou, ameaçando Israel de destruição, "sucedeu pois que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles." Ali foram destruídos "todos os varões valentes, e os príncipes, e os chefes", no exército de Senaqueribe. "E este tornou com vergonha de rosto à sua terra." 2 Reis 19:35; 2 Crônicas 32:21. GC 512 1 Os anjos são enviados em missões de misericórdia aos filhos de Deus. A Abraão, com promessas de bênçãos; às portas de Sodoma, para livrar o justo Ló da condenação do fogo; a Elias, quando se achava a ponto de perecer de cansaço e fome no deserto; a Eliseu, com carros e cavalos de fogo, cercando a pequena cidade em que estava encerrado por seus adversários; a Daniel, enquanto buscava sabedoria divina na corte de um rei pagão, ou abandonado para se tornar presa dos leões; a Pedro, condenado à morte no calabouço de Herodes; aos prisioneiros em Filipos; a Paulo e seus companheiros na noite da tempestade no mar; a abrir a mente de Cornélio para receber o evangelho; a enviar Pedro com a mensagem da salvação ao desconhecido gentio -- assim, em todos os tempos, têm os santos anjos ministrado ao povo de Deus. GC 512 2 Um anjo da guarda é designado a todo seguidor de Cristo. Estes vigias celestiais protegem aos justos do poder maligno. GC 513 1 Isto, o próprio Satanás reconheceu, quando disse: "Porventura teme Jó a Deus em vão? Porventura não circunvalaste Tu a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem?" Jó 1:9, 10. O agente pelo qual Deus protege a Seu povo é apresentado nas palavras do salmista: "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra." Salmos 34:7. Disse o Salvador, falando daqueles que nEle crêem: "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai." Mateus 18:10. Os anjos designados para ministrarem aos filhos de Deus têm em todo tempo acesso à Sua presença. GC 513 2 Assim, ao povo de Deus, exposto ao poder enganador e vigilante malignidade do príncipe das trevas, e em conflito com todas as forças do mal, é assegurada a incessante guarda dos seres celestiais. Tampouco é tal segurança dada sem necessidade. Se Deus concedeu a Seus filhos promessas de graça e proteção, é porque há poderosas instrumentalidades do mal a serem enfrentadas -- agentes numerosos, decididos e incansáveis, de cuja malignidade e poder ninguém pode sem perigo achar-se em ignorância ou inadvertência. GC 513 3 Os espíritos maus, criados a princípio sem pecado, eram iguais, em sua natureza, poder e glória, aos seres santos que ora são os mensageiros de Deus. Mas, caídos pelo pecado, acham-se coligados para a desonra de Deus e destruição dos homens. Unidos com Satanás em sua rebelião, e com ele expulsos do Céu, têm, através de todas as eras que se sucederam, cooperado com ele em sua luta contra a autoridade divina. Somos informados, nas Escrituras, acerca de sua união e governo, suas várias ordens, inteligência e astúcia, e de seus maus intuitos contra a paz e felicidade dos homens. GC 513 4 A história do Antigo Testamento apresenta referências ocasionais à sua existência e operação; foi, porém, durante o tempo em que Cristo esteve sobre a Terra, que da mais notável maneira os espíritos maus manifestaram seu poder. Cristo viera para executar o plano ideado para a redenção do homem, e Satanás decidiu-se a fazer valer o seu direito de governar o mundo. Fora bem-sucedido ao estabelecer a idolatria em toda parte do globo, exceto na terra da Palestina. À única terra que não havia cedido completamente ao domínio do tentador, viera Cristo para derramar sobre o povo a luz do Céu. Ali, dois poderes rivais pretendiam a supremacia. Jesus estendia Seus braços de amor, em convite a todos os que quisessem nEle encontrar perdão e paz. As hostes das trevas viram que não possuíam domínio ilimitado, e compreenderam que, se a missão de Cristo fosse bem-sucedida, seu governo estaria prestes a terminar. Satanás enfurecia-se como um leão acorrentado e, em desafio, exibia seu poder tanto sobre o corpo como sobre a alma dos homens. GC 514 1 Que os homens tenham sido possuídos de demônios está claramente referido no Novo Testamento. As pessoas desta maneira afligidas não sofriam meramente de moléstias provenientes de causas naturais. Cristo tinha perfeito conhecimento daquilo com que estava a tratar, e reconheceu a presença direta e a operação dos espíritos maus. GC 514 2 Notável exemplo do número deles, de seu poder e malignidade, e também do poder e misericórdia de Cristo, é dado no relato bíblico da cura dos endemoninhados de Gadara. Aqueles infelizes lunáticos, zombando de toda restrição, agitando-se, espumando, encolerizando-se, estavam a encher os ares de seus gritos, fazendo violência a si próprios, e pondo em perigo todos os que deles se aproximassem. Seu desfigurado corpo a sangrar, a mente transtornada, apresentavam um espetáculo que comprazia ao príncipe das trevas. Um dos demônios, que dirigia os padecentes, declarou: "Legião é o meu nome, porque somos muitos." Marcos 5:9. No exército romano, a legião compunha-se de três a cinco mil homens. As hostes de Satanás são também arregimentadas em companhias, e a simples companhia a que pertenciam esses demônios contava não menos que uma legião. GC 514 3 Ao mando de Jesus os anjos maus afastaram-se de suas vítimas, deixando-as calmamente sentadas aos pés do Salvador, submissas, inteligentes e dóceis. Mas aos demônios foi permitido varrer para o mar um rebanho de porcos; e para os habitantes de Gadara a perda disto sobrepujou as bênçãos que Cristo conferira, e pediram eles ao Médico divino que Se retirasse. Este o resultado que Satanás intentava obter. Lançando sobre Jesus a culpa de seu prejuízo, suscitou os temores egoístas do povo, impedindo-o de escutar Suas palavras. Satanás acusa constantemente os cristãos como causa de prejuízo, desgraça e sofrimento, em vez de consentir que a censura recaia onde compete: sobre si mesmo e seus anjos. GC 515 1 Os propósitos de Cristo não foram, porém, subvertidos. Permitiu que os espíritos maus destruíssem a manada de porcos, como reprovação àqueles judeus que, por amor do ganho, estavam a criar tais animais imundos. Não houvesse Cristo restringido os demônios, e teriam arrastado para o mar não somente os porcos, mas também seus guardadores e possuidores. A preservação dos que os guardavam bem como dos seus donos, foi unicamente devida a Seu poder, misericordiosamente exercido para o livramento deles. Demais, foi permitido que esse acontecimento ocorresse a fim de que os discípulos pudessem testemunhar o poder cruel de Satanás, tanto sobre o homem como sobre os animais. O Salvador desejava que Seus seguidores conhecessem o adversário que tinham de enfrentar, para que não fossem enganados e vencidos por seus ardis. Era também Sua vontade que o povo daquela região contemplasse Seu poder de quebrar o cativeiro de Satanás e libertar seus cativos. E, ainda que o próprio Jesus Se retirasse, os homens tão maravilhosamente libertos ficaram para declarar a misericórdia de seu Benfeitor. GC 515 2 Outros exemplos de natureza semelhante se acham registrados nas Escrituras. A filha da mulher siro-fenícia era atrozmente atormentada por um demônio, ao qual Jesus expulsou por Sua palavra. Marcos 7:26-30. Um "endemoninhado cego e mudo" (Mateus 12:22); um moço que tinha um espírito mudo que muitas vezes o lançava "no fogo, e na água, para o destruir" (Marcos 9:17-27); o lunático que, atormentado pelo "espírito de um demônio imundo" (Lucas 4:33-36), perturbava a calma do sábado na sinagoga de Cafarnaum todos estes foram curados pelo compassivo Salvador. Em quase todos os casos Cristo Se dirigiu ao demônio como a uma entidade inteligente, ordenando-lhe sair de sua vítima e não mais atormentá-la. Contemplando os adoradores em Cafarnaum o Seu grande poder, "veio espanto sobre todos, e falavam entre si uns e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem?" Lucas 4:36. GC 516 1 Aqueles possessos são em geral representados como estando em condição de grande sofrimento; contudo, havia exceções a esta regra. Para o fim de obter poder sobrenatural, alguns recebiam alegremente a influência satânica. Estes, é claro, não tinham conflito algum com os demônios. Desta classe eram os que possuíam o espírito de adivinhação -- Simão o Mago, o feiticeiro Elimas, e a donzela que acompanhou a Paulo e Silas em Filipos. GC 516 2 Ninguém se acha em maior perigo da influência dos espíritos maus do que aqueles que, apesar dos testemunhos diretos e amplos das Escrituras, negam a existência e operação do diabo e seus anjos. Enquanto estivermos em ignorância no que respeita a seus ardis, têm eles vantagem quase inconcebível; muitos dão atenção às suas sugestões, supondo, entretanto, estar seguindo os ditames de sua própria sabedoria. É por isto que, aproximando-nos do final do tempo, quando Satanás deverá trabalhar com o máximo poder para enganar e destruir, espalha ele por toda parte a crença de que não existe. É sua política ocultar-se a si mesmo e agir às escondidas. GC 516 3 Nada há que o grande enganador mais receie que o familiarizarmo-nos com seus ardis. Para melhor encobrir seu caráter e propósitos reais, faz-se representar de tal maneira a não excitar maior emoção do que ridículo e desdém. Ele se compraz muito em ser descrito como um objeto burlesco, repugnante, agoureiro, meio animal e meio homem. Agrada-se de ouvir seu nome empregado na brincadeira e na zombaria pelos que se julgam inteligentes e instruídos. GC 517 1 É porque se mascarou com consumada habilidade, que tão amplamente se faz a pergunta: "Existe realmente tal ser?" Evidencia-se o seu êxito na geral aceitação que obtêm no mundo religioso teorias que negam os testemunhos mais positivos das Escrituras. E é porque Satanás pode muito facilmente dirigir o espírito dos que se acham inconscientes de sua influência, que a Palavra de Deus nos dá tantos exemplos de sua obra maligna, descobrindo aos nossos olhos suas forças secretas, e desta maneira pondo-nos de sobreaviso contra seus assaltos. GC 517 2 O poder e malignidade de Satanás e sua hoste deveriam com razão alarmar-nos, não fosse o caso de podermos encontrar refúgio e livramento no superior poder de nosso Redentor. Pomos cuidadosamente em segurança as nossas casas por meio de ferrolhos e fechaduras, a fim de proteger contra homens maus nossa propriedade e vida; mas raras vezes pensamos nos anjos maus, que constantemente estão a procurar acesso a nós, e contra cujos ataques não temos em nossa própria força método algum de defesa. Se lhes permitirmos, podem transformar-nos o entendimento, perturbar e atormentar-nos o corpo, destruir nossas propriedades e vida. Seu único deleite está na miséria e ruína. Terrível é a condição dos que resistem às reivindicações divinas, cedendo às tentações de Satanás, até que Deus os abandone ao governo dos espíritos maus. Mas os que seguem a Cristo estão sempre seguros sob Sua proteção. Anjos magníficos em poder, são enviados do Céu para protegê-los. O maligno não pode romper a guarda que Deus pôs em redor de Seu povo. ------------------------Capítulo 32 -- Os ardis de Satanás GC 518 1 O grande conflito entre Cristo e Satanás, que tem prosseguido durante quase seis mil anos, logo deve terminar; e o maligno redobra seus esforços para frustrar a obra de Cristo em prol do homem, e prender as almas em suas ciladas. Reter o povo em trevas e impenitência, até que termine a mediação do Salvador e não mais haja sacrifício pelo pecado, é o objetivo que ele procura realizar. GC 518 2 Não se fazendo um esforço especial para resistir ao seu poder, prevalecendo a indiferença na igreja e no mundo, Satanás não se preocupa; pois que não se acha em perigo de perder os que está levando em cativeiro, à sua vontade. Mas ao ser chamada a atenção para as coisas eternas, e almas indagarem: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" ele está a postos, procurando opor seu poder ao de Cristo, e neutralizar a influência do Espírito Santo. GC 518 3 As Escrituras declaram que em certa ocasião, em que os anjos de Deus foram apresentar-se perante o Senhor, Satanás foi também entre eles (Jó 1:6), não para curvar-se perante o Rei eterno, mas para favorecer seus maldosos intentos contra os justos. Com o mesmo objetivo está ele presente quando os homens se congregam para o culto a Deus. Posto que oculto das vistas, está ele a trabalhar com toda a diligência para dirigir o espírito dos adoradores. Semelhante a um hábil general, formula de antemão seus planos. Vendo ele o mensageiro de Deus examinando as Escrituras, toma nota do assunto a ser apresentado ao povo. Emprega então todo o seu engano e astúcia no sentido de amoldar as circunstâncias, a fim de que a mensagem não atinja aqueles a quem ele está enganando a respeito daquele mesmo ponto. Alguém que mais necessite da advertência estará empenhado em alguma transação comercial, que requer a sua presença ou de algum outro modo será impedido de ouvir as palavras que se lhe poderiam demonstrar um cheiro de vida para vida. GC 519 1 Outrossim, vê Satanás os servos do Senhor opressos por causa das trevas espirituais que envolvem o povo. Ouve suas fervorosas orações rogando graça e poder divinos para quebrar a fascinação da indiferença, descuido e apatia. Então, com renovado zelo desenvolve suas artimanhas. Tenta os homens à satisfação do apetite ou a alguma outra forma de condescendência própria, embotando assim a sua sensibilidade, de maneira que deixem de ouvir precisamente as coisas que mais necessitam aprender. GC 519 2 Satanás bem sabe que todos quantos ele puder levar a negligenciar a oração e o exame das Escrituras, serão vencidos por seus ataques. Portanto, inventa todo artifício possível para ocupar a mente. Sempre houve uma classe que, mostrando-se embora muito piedosos, ao invés de prosseguir no conhecimento da verdade, fazem consistir sua religião em procurar algum defeito de caráter ou erro de fé naqueles com quem não concordam. Tais pessoas são a mão direita de Satanás. Os acusadores dos irmãos não são poucos; e estão sempre em atividade quando Deus está a operar e Seus servos Lhe estão prestando verdadeira homenagem. Eles darão interpretação falsa às palavras e atos dos que amam a verdade e lhe obedecem. Representarão os mais ardorosos, zelosos e abnegados servos de Cristo como estando enganados ou sendo enganadores. É sua obra representar falsamente os intuitos de toda ação verdadeira e nobre, fazer circular insinuações e despertar suspeitas no espírito dos inexperientes. De todo modo imaginável procurarão fazer com que o que é puro e justo seja considerado detestável e enganador. GC 519 3 Ninguém, todavia, necessita ser enganado em relação a eles. Pode-se facilmente ver de quem são filhos, o exemplo de quem seguem, e a obra de quem fazem. "Pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. Seu procedimento assemelha-se ao de Satanás, o odioso caluniador, "o acusador de nossos irmãos." Apocalipse 12:10. GC 520 1 O grande enganador tem muitos agentes prontos para apresentar toda e qualquer espécie de erro, a fim de enredar as almas: heresias preparadas para se adaptarem aos vários gostos e capacidades dos que ele deseja arruinar. É plano seu levar para a igreja elementos insinceros, não regenerados, que incentivarão a dúvida e a incredulidade, estorvando a todos os que desejem ver a obra de Deus progredir, e com ela queiram avançar. Muitos que não têm fé verdadeira em Deus ou em Sua Palavra, concordam com certos princípios da verdade e passam por cristãos; e assim estão aptos para introduzir seus erros como doutrinas das Escrituras. GC 520 2 A opinião de que não é de conseqüência alguma o que os homens creiam, é um dos enganos mais bem-sucedidos de Satanás. Ele sabe que a verdade, recebida por amor à mesma, santifica a alma de quem a recebe; portanto, está constantemente a procurar substituí-la por falsas teorias e fábulas, ou por outro evangelho. Desde o princípio os servos de Deus têm contendido com os falsos ensinadores, não meramente como homens corruptos, mas como inculcadores de falsidades que seriam fatais à alma. Elias, Jeremias, Paulo, firme e destemidamente se opunham aos que estavam desviando os homens da Palavra de Deus. A liberalidade que considera como sendo sem importância uma fé religiosa correta, não encontrava apoio algum por parte daqueles santos defensores da verdade. GC 520 3 As interpretações vagas e imaginosas das Escrituras, as muitas teorias contraditórias concernentes à fé religiosa, as quais se encontram no mundo cristão, são obra de nosso grande adversário para confundir o espírito de tal maneira que não saiba distinguir a verdade. E a discórdia e divisão que há entre as igrejas da cristandade são em grande parte devidas ao costume que prevalece de torcer as Escrituras, a fim de apoiar uma teoria favorita. Em vez de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus com humildade de coração, a fim de obter conhecimento de Sua vontade, muitos procuram apenas descobrir algo singular ou original. GC 521 1 Com o intuito de sustentar doutrinas errôneas ou práticas anticristãs, alguns apanham passagens das Escrituras separadas do contexto, citando talvez a metade de um simples versículo, como prova de seu ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser bem contrário o sentido. Com a astúcia da serpente, entrincheiram-se por trás de declarações desconexas, interpretadas de maneira a convir a seus desejos carnais. Muitos assim voluntariamente pervertem a Palavra de Deus. Outros, possuindo ativa imaginação, lançam mão das figuras e símbolos das Escrituras Sagradas, interpretam-nos de acordo com sua vontade, tendo em pouca conta o testemunho das Escrituras como seu próprio intérprete, e então apresentam suas fantasias como ensinos da Bíblia. GC 521 2 Quando quer que o estudo das Escrituras se inicie sem espírito de oração, humildade e docilidade, as passagens mais claras e simples, bem como as mais difíceis, serão torcidas do seu verdadeiro sentido. Os dirigentes papais escolhem as partes das Escrituras que melhor servem a seu propósito, interpretam-nas de modo a lhes convirem, e então as apresentam ao povo, ao mesmo tempo em que lhe negam o privilégio de estudar a Escritura Sagrada e compreender por si mesmos suas santas verdades. A Bíblia inteira deveria ser dada ao povo tal qual é. Melhor lhe seria não ter nenhuma instrução bíblica do que receber os ensinos das Santas Escrituras tão grosseiramente desvirtuados. GC 521 3 A Bíblia foi destinada a ser guia a todos os que desejassem familiarizar-se com a vontade de seu Criador. Deus deu aos homens a segura Palavra da profecia; os anjos e mesmo o próprio Cristo vieram para tornar conhecidas a Daniel e João as coisas que em breve deveriam acontecer. Os importantes assuntos que dizem respeito à nossa salvação não foram deixados envoltos em mistério. Não foram revelados de tal maneira a tornar perplexo e transviar o honesto pesquisador da verdade. Disse o Senhor pelo profeta Habacuque: "Escreve a visão, e torna-a bem legível ... para que a possa ler o que correndo passa." Habacuque 2:2. A Palavra de Deus é clara a todos os que a estudam com coração devoto. Toda alma verdadeiramente sincera virá à luz da verdade. "A luz semeia-se para o justo." Salmos 97:11. E nenhuma igreja poderá progredir na santificação a menos que seus membros estejam fervorosamente em busca da verdade, como de um tesouro escondido. GC 522 1 Ao brado de -- liberalidade -- os homens se tornam cegos aos ardis do adversário, enquanto ele se acha em todo o tempo trabalhando com perseverança para a realização de seu objetivo. Ao ser bem-sucedido em suplantar a Bíblia por meio de especulações humanas, a lei de Deus é posta de parte e as igrejas se encontram sob a servidão do pecado, ao mesmo tempo em que declaram estar livres. GC 522 2 Para muitos, as pesquisas científicas se tornaram uma desgraça. Deus permitiu que uma inundação de luz fosse derramada sobre o mundo, em descobertas científicas e artísticas; mas mesmo os maiores espíritos, se não forem guiados pela Palavra de Deus em suas pesquisas, desencaminhar-se-ão em suas tentativas de investigar as relações entre a Ciência e a Revelação. GC 522 3 O saber humano tanto das coisas materiais como das espirituais é parcial e imperfeito; portanto, muitos são incapazes de harmonizar com as declarações das Escrituras suas opiniões sobre a Ciência. Muitos aceitam meras teorias e especulações como fatos científicos e julgam que a Palavra de Deus deve ser provada pelos ensinos da "falsamente chamada ciência." 1 Timóteo 6:20. O Criador e Suas obras estão além de sua compreensão; e, por não poderem explicar isto pelas leis naturais, a história bíblica é considerada indigna de confiança. Os que duvidam da fidedignidade dos relatos do Antigo e Novo Testamentos, muito amiúde vão um passo além, pondo em dúvida a existência de Deus e atribuindo à Natureza o poder infinito. Tendo perdido sua âncora, são deixados a chocar-se contra as rochas da incredulidade. GC 522 4 Assim muitos se desviam da fé, e são seduzidos pelo diabo. Os homens têm-se esforçado por ser mais sábios do que o seu Criador; a filosofia humana tem tentado devassar e explicar mistérios que jamais serão revelados por todas as eras eternas. Se os homens tão-somente pesquisassem e compreendessem o que Deus tornou conhecido a respeito de Si mesmo e de Seus propósitos, obteriam uma perspectiva tal da glória, majestade e poder de Jeová, que se compenetrariam de sua própria pequenez, contentando-se com aquilo que foi revelado para eles mesmos e seus filhos. GC 523 1 É a obra-prima dos enganos de Satanás conservar o espírito humano a pesquisar e conjecturar com relação àquilo que Deus não tornou conhecido, e que não é desígnio Seu que compreendamos. Foi assim que Lúcifer perdeu seu lugar no Céu. Tornou-se descontente porque nem todos os segredos dos propósitos de Deus lhe eram confiados, e desatendeu inteiramente àquilo que foi revelado com respeito à sua própria obra na elevada posição a ele designada. Suscitando o mesmo descontentamento nos anjos sob o seu comando, determinou-lhes a queda. Agora procura imbuir a mente dos homens do mesmo espírito, levando-os também a desatender aos diretos preceitos de Deus. GC 523 2 Os que estão indispostos a aceitar as verdades claras e incisivas da Bíblia, procuram continuamente fábulas agradáveis, que acalmem a consciência. Quanto menos espirituais, altruístas e humilhadoras forem as doutrinas apresentadas, tanto maior será o favor com que são recebidas. Tais pessoas degradam as faculdades intelectuais de modo a servirem aos seus desejos carnais. Demasiado sábios em seu próprio conceito para examinarem as Escrituras com contrição de alma e fervorosa oração rogando a guia divina, não têm escudo contra o engano. Satanás está pronto para suprir o desejo do coração, e apresenta seus ardis em lugar da verdade. Foi assim que o papado alcançou seu poderio sobre o entendimento dos homens; e, pela rejeição da verdade, visto implicar ela em uma cruz, os protestantes estão seguindo o mesmo caminho. Todos os que negligenciam a Palavra de Deus a fim de estudarem conveniências e expedientes para que se não achem em desacordo com o mundo, serão deixados a acolher condenável heresia em lugar de verdade religiosa. Toda forma imaginável de erro será aceita pelos que voluntariamente rejeitam a verdade. Quem olha com horror para um engano, receberá facilmente outro. O apóstolo Paulo, falando de uma classe de pessoas que "não receberam o amor da verdade para se salvarem", declara: "Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade." 2 Tessalonicenses 2:10-12. Com tal advertência diante de nós, cumpre-nos estar de sobreaviso a respeito de quais doutrinas recebemos. GC 524 1 Entre as operações de maior êxito do grande enganador, encontram-se os ensinos ilusórios e prodígios de mentira do espiritismo. Disfarçado em anjo de luz, estende suas redes onde menos se espera. Se os homens tão-somente estudassem o Livro de Deus com fervorosa oração a fim de o poderem compreender, não seriam deixados em trevas, à mercê das doutrinas falsas. Mas, rejeitando eles a verdade, são presa da ilusão. GC 524 2 Outro erro perigoso é a doutrina que nega a divindade de Cristo, pretendendo que Ele não tivera existência antes de Seu advento a este mundo. Esta teoria é recebida com favor por uma vasta classe que professa crer na Escritura Sagrada; diretamente contradiz, todavia, as mais compreensíveis declarações de nosso Salvador com respeito à Sua relação com o Pai, Seu caráter divino e Sua preexistência. Não pode ser entretida sem a mais injustificada violência às Escrituras. Não somente rebaixa as concepções do homem acerca da obra da redenção, mas solapa a fé na Bíblia como revelação de Deus. Ao mesmo tempo que isto a torna mais perigosa, torna-a também mais difícil de ser enfrentada. Se os homens rejeitam o testemunho das Escrituras inspiradas concernente à divindade de Cristo, é em vão argüir com eles sobre este ponto; pois nenhum argumento, por mais conclusivo, poderia convencê-los. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." 1 Coríntios 2:14. Pessoa alguma que alimente este erro pode ter exato conceito do caráter ou missão de Cristo, nem do grande plano de Deus para a redenção do homem. GC 524 3 Ainda outro erro sutil e nocivo é a crença, que rapidamente se espalha, de que Satanás não existe como ser pessoal; de que este nome é empregado nas Escrituras meramente para representar os maus pensamentos e desejos do homem. GC 525 1 O ensino tão extensamente exposto dos púlpitos populares, de que o segundo advento de Cristo é a Sua vinda a cada indivíduo por ocasião da morte, é um ardil para desviar a mente dos homens de Sua vinda pessoal nas nuvens do céu. Durante anos Satanás tem estado assim a dizer: "Eis que Ele está no interior da casa" (Mateus 24:23-26); e muitas almas se têm perdido por aceitarem este engano. GC 525 2 Outrossim, ensina a sabedoria mundana que a oração não é essencial. Homens de Ciência pretendem que a oração não pode, na verdade, ser atendida; que isto seria uma violação da lei, um milagre, e que os milagres não existem. O Universo dizem eles, é governado por leis fixas, e o próprio Deus nada faz contrário a essas leis. Assim representam a Deus governado por Suas próprias leis, como se a operação das leis divinas pudesse excluir a liberdade divina. Tal ensino se opõe ao testemunho das Escrituras. Não foram operados milagres por Cristo e por Seus apóstolos? O mesmo compassivo Salvador vive hoje, e está tão disposto a escutar a oração da fé, como quando andava visivelmente entre os homens. O natural coopera com o sobrenatural. Faz parte do plano de Deus conceder-nos, em resposta à oração da fé, aquilo que Ele não outorgaria se o não pedíssemos assim. GC 525 3 Inumeráveis são as doutrinas errôneas e as fantasiosas idéias que estão ganhando terreno entre as igrejas da cristandade. É impossível avaliar os maus resultados de remover um dos marcos que foram fixados pela Palavra de Deus. Pouco dos que se arriscam a fazer isto param com a rejeição de uma única verdade. A maioria continua a pôr de lado, um após outro, os princípios da verdade, até que se tornam efetivamente incrédulos. GC 525 4 Os erros da teologia popular têm arrastado ao ceticismo muitas almas que poderiam de outra maneira ter sido crentes nas Escrituras. Impossível lhes é aceitarem doutrinas que lhes ofendem o senso de justiça, misericórdia e benevolência; e, desde que tais são apresentadas como ensinos da Bíblia, recusam-se a recebê-la como a Palavra de Deus. GC 526 1 E este é o objetivo que Satanás procura realizar. Nada há que ele mais deseje do que destruir a confiança em Deus e em Sua Palavra. Satanás está à frente do grande exército dos que duvidam, e trabalha em sua máxima força para aliciar as almas para suas fileiras. Duvidar está-se tornando moda. Há uma classe numerosa pela qual a Palavra de Deus é olhada com desconfiança, pela mesma razão por que o foi o seu Autor: porque ela reprova e condena o pecado. Os que estão indispostos a obedecer-lhe aos preceitos, esforçam-se por subverter a sua autoridade. Lêem a Escritura, ou ouvem os seus ensinos como são apresentados do púlpito sagrado, meramente para encontrar defeito, nela ou no sermão. Não poucos se tornam incrédulos a fim de justificar-se ou desculpar-se da negligência do dever. Outros adotam princípios cépticos por orgulho ou indolência. Demasiado amantes da comodidade para se distinguirem no cumprimento de qualquer coisa digna de honra, que requeira esforço e abnegação, visam conseguir fama de uma sabedoria superior criticando a Bíblia. Há nela muita coisa que a mente finita, não iluminada pela sabedoria divina, é impotente para compreender; e assim encontram ensejo para criticar. Muitos há que parecem entender ser virtude achar-se do lado da descrença, do ceticismo e da incredulidade. Mas, sob aparência de sinceridade, ver-se-á que tais pessoas são movidas pela confiança própria e orgulho. Muitos se deleitam em encontrar nas Escrituras alguma coisa que confunda o espírito de outros. Alguns a princípio criticam e sofismam, por simples amor à controvérsia. Não compreendem que se estão assim enredando nas ciladas do caçador. Tendo, porém, expresso abertamente descrença, entendem que devem manter sua atitude. Assim se unem eles aos ímpios, e fecham para si mesmos as portas do paraíso. GC 526 2 Deus deu em Sua Palavra evidência bastante do caráter divino da mesma. As grandes verdades que dizem respeito à nossa redenção, estão claramente apresentadas. Pelo auxílio do Espírito Santo, que é prometido a todos os que O buscam com sinceridade, cada qual pode compreender por si estas verdades. Deus concedeu aos homens um firme fundamento sobre que repousar a fé. GC 527 1 Contudo, a mente finita dos homens não está adaptada a compreender completamente os planos e propósitos do Ser infinito. Jamais poderemos por meio de pesquisas encontrar a Deus. Não devemos tentar erguer com mãos presunçosas o véu com o qual Ele vela Sua majestade. O apóstolo exclama: "Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!" Romanos 11:33. Podemos compreender Seu trato para conosco e os motivos que O movem até ao ponto em que nos é possível discernir o amor e a misericórdia ilimitados em união com o poder infinito. Nosso Pai celestial tudo determina em sabedoria e justiça, e não devemos estar descontentes e destituídos de confiança, antes curvar-nos em submissão reverente. De seus propósitos Ele nos revelará tanto quanto é para o nosso bem saber, e, além disto, devemos confiar na Mão que é onipotente, no Coração que está repleto de amor. GC 527 2 Ao mesmo tempo em que Deus deu prova ampla para a fé, nunca removeu toda desculpa para a descrença. Todos os que buscam ganchos em que pendurar suas dúvidas, encontrá-los-ão. E todos os que se recusam a aceitar a Palavra de Deus e lhe obedecer antes que toda objeção tenha sido removida, e não mais haja lugar para a dúvida, jamais virão à luz. GC 527 3 A desconfiança em Deus é produto natural do coração não renovado, que está em inimizade com Ele. A fé, porém, é inspirada pelo Espírito Santo, e unicamente florescerá à medida que for acalentada. Ninguém se pode tornar forte na fé sem esforço decidido. A incredulidade é fortalecida ao ser incentivada; e, se os homens, em vez de se ocuparem com as provas que Deus deu a fim de sustentar sua fé, se permitirem discutir e cavilar, verão que suas dúvidas se tornam constantemente mais acentuadas. GC 527 4 Mas os que duvidam das promessas de Deus e não confiam na segurança de Sua graça, estão a desonrá-Lo; e sua influência, em vez de atrair outros a Cristo, tende a repeli-los dEle. São árvores infrutíferas, que estendem amplamente seus escuros ramos, excluindo da luz do Sol outras plantas, e fazendo-as atrofiar-se e morrer na fria sombra. O trabalho de tais pessoas aparecerá como uma constante testemunha contra aquelas. Estão a lançar sementes de dúvida e ceticismo, que produzirão infalível colheita. GC 528 1 Apenas um caminho há a seguir, para quantos desejem sinceramente livrar-se das dúvidas. Em vez de questionar e cavilar com relação àquilo que não compreendem, atendam à luz que já resplandece sobre eles, e receberão maior luz. Cumpram todo dever que já se lhes fez claro à compreensão, e estarão aptos a compreender e cumprir aqueles sobre os quais estão agora em dúvida. GC 528 2 Satanás pode apresentar uma contrafação tão parecida com a verdade, que engane aos que estão dispostos a ser enganados, aos que desejam excluir a abnegação e o sacrifício exigidos pela verdade; impossível lhe é, porém, reter sob o seu poder uma só alma que sinceramente deseje conhecer a verdade, custe o que custar. Cristo é a verdade, e a "luz que alumia a todo o homem que vem ao mundo." João 1:9. O Espírito da verdade foi enviado para guiar os homens em toda a verdade. E pela autoridade do Filho de Deus se acha declarado: "Buscai, e encontrareis." "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus." Mateus 7:7; João 7:17. GC 528 3 Os seguidores de Cristo pouco sabem das tramas que Satanás e suas hostes contra eles estão formando. Aquele, porém, que Se assenta nos Céus, encaminhará todos esses estratagemas para o cumprimento de Seus profundos desígnios. O Senhor permite que Seu povo seja submetido à atroz prova da tentação, não porque tenha prazer em sua aflição e angústia, mas porque tal operação é indispensável à sua vitória final. Ele não poderia, de maneira coerente com Sua própria glória, escudá-los da tentação; pois o objetivo da prova é prepará-los para resistirem a todas as seduções do mal. GC 529 1 Nem homens ímpios nem demônios podem embaraçar a obra de Deus, ou excluir a Sua presença de Seu povo, se este, com coração submisso e contrito, confessar e abandonar seus pecados, e com fé reclamar as promessas divinas. Toda tentação, toda influência adversa, quer manifesta quer secreta, pode com êxito ser vencida, "não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos." Zacarias 4:6. GC 529 2 "Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos atentos às suas orações. ... E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?" 1 Pedro 3:12, 13. Quando Balaão, seduzido pela promessa das ricas recompensas, praticou encantos contra Israel, e por meio de sacrifícios ao Senhor procurou invocar maldição sobre o Seu povo, o Espírito do Senhor vedou o mal que ele anelava pronunciar, e Balaão foi forçado a dizer: "Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? e como detestarei quando o Senhor não detesta?" "A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu." Quando novamente foi oferecido o sacrifício, declarou o ímpio profeta: "Eis que recebi mandado de abençoar: pois Ele tem abençoado, e eu não o posso revogar. Não viu iniqüidade em Israel nem contemplou maldade em Jacó; o Senhor seu Deus é com ele, e nele, e entre eles se ouve o alarido de um Rei." "Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel. Neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem obrado!" Números 23:8, 10, 21, 23. Contudo se erigiram altares pela terceira vez, e novamente Balaão tentou pronunciar uma maldição. Mas, mediante os obstinados lábios do profeta, o Espírito de Deus declarou a prosperidade de Seus escolhidos, e repreendeu a loucura e malignidade de seus adversários: "Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem." Números 24:9. GC 529 3 O povo de Israel era nesse tempo fiel a Deus; e, enquanto permanecessem em obediência à Sua lei, nenhum poder na Terra ou no inferno poderia prevalecer contra eles. Mas a maldição que a Balaão não foi permitido pronunciar contra o povo de Deus, conseguiu finalmente trazer sobre eles, seduzindo-os ao pecado. Ao transgredirem os mandamentos de Deus, separam-se então dEle, sendo deixados a sentir o poder do destruidor. GC 530 1 Satanás está bem ciente de que a mais débil alma que permaneça em Cristo é mais que suficiente para competir com as hostes das trevas, e que, caso ele se revelasse abertamente, seria enfrentado e vencido. Portanto, procura retirar das suas potentes fortificações os soldados da cruz, enquanto jaz de emboscada com as suas forças, pronto para destruir todos os que se arriscam a penetrar em seu terreno. Unicamente com humilde confiança em Deus, e obediência a todos os Seus mandamentos, poderemos achar-nos seguros. GC 530 2 Ninguém, sem oração, se encontra livre de perigo durante um dia ou uma hora que seja. Especialmente devemos rogar ao Senhor sabedoria para compreender a Sua Palavra. Ali estão revelados as armadilhas do tentador, e os meios pelos quais se pode a ele resistir com êxito. Satanás é perito em citar as Escrituras, dando sua própria interpretação às passagens pelas quais espera fazer-nos tropeçar. Devemos estudar a Bíblia com humildade de coração, nunca perdendo de vista nossa sujeição a Deus. Ao mesmo tempo em que nos devemos guardar constantemente contra os ardis de Satanás, cumpre com fé orar sempre: "Não nos deixes cair em tentação." ------------------------Capítulo 33 -- É o homem imortal? GC 531 1 Já no início da história humana, começou Satanás seus esforços para enganar a nossa raça. Aquele que incitara rebelião no Céu, desejou levar os habitantes da Terra a unirem-se com ele em luta contra o governo de Deus. Adão e Eva tinham sido perfeitamente felizes na obediência à lei divina, e esse fato era um testemunho constante contra a alegação em que insistira Satanás no Céu, de que a lei de Deus era opressiva, e se opunha ao bem-estar de Suas criaturas. E, demais, despertou-se a inveja de Satanás ao olhar ele para o belo lar preparado para o inocente casal. Decidiu-se a causar a sua queda, a fim de que, tendo-se separado de Deus e trazido sob o seu poder, pudesse obter posse da Terra, e aqui estabelecer o seu reino em oposição do Altíssimo. GC 531 2 Houvesse Satanás se manifestado em seu verdadeiro caráter, e teria sido repelido de pronto, pois Adão e Eva tinham sido advertidos contra este perigoso adversário; ele, porém, operou na treva, ocultando seu propósito, para que mais eficazmente pudesse realizar o seu objetivo. Empregando como seu intermediário a serpente, então criatura de fascinante aspecto, dirigiu-se a Eva: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" Gênesis 3:1. Se Eva se tivesse evitado de entrar em argumentação com o tentador, teria estado em segurança; mas arriscou-se a conversar com ele, e caiu vítima de seus enganos. É assim que muitos ainda são vencidos. Duvidam e argumentam com relação aos preceitos de Deus; e, ao invés de obedecerem aos mandados divinos, aceitam teorias humanas, que tão-somente disfarçam as armadilhas de Satanás. GC 532 1 "Disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:2-5. A serpente declarou que se tornariam como Deus, possuindo maior sabedoria que antes, e sendo capazes de uma condição mais elevada de existência. Eva cedeu à tentação; e, por sua influência, Adão foi levado ao pecado. Aceitaram as palavras da serpente, de que Deus não queria dizer o que falara; desconfiaram de seu Criador, e imaginaram que Ele estava a restringir-lhes a liberdade, e que poderiam obter grande sabedoria e exaltação, por transgredir Sua lei. GC 532 2 Mas como compreendeu Adão, depois de seu pecado, o sentido das palavras: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás"? Achou que elas significavam, conforme Satanás o tinha levado a crer, que ele deveria ser introduzido em condição mais elevada de existência? Nesse caso haveria, na verdade, grande bem a ganhar pela transgressão, e Satanás se demonstraria um benfeitor da raça. Mas Adão não achou ser este o sentido da sentença divina. Deus declarou que, como pena de seu pecado, o homem voltaria à terra donde fora tirado: "És pó, e em pó te tornarás." Gênesis 3:19. As palavras de Satanás: "... se abrirão os vossos olhos", mostraram-se verdadeiras apenas neste sentido: Depois que Adão e Eva desobedeceram a Deus, seus olhos se abriram para discernirem a sua loucura; conheceram o mal, e provaram o amargo fruto da transgressão. GC 532 3 No meio do Éden crescia a árvore da vida, cujo fruto tinha o poder de perpetuar a vida. Se Adão tivesse permanecido obediente a Deus, teria continuado a gozar livre acesso àquela árvore, e teria vivido para sempre. Mas, quando pecou, foi despojado da participação da árvore da vida, tornando-se sujeito à morte. A sentença divina: "Tu és pó, e em pó te tornarás" -- indica completa extinção da vida. GC 533 1 A imortalidade, prometida ao homem sob condição de obediência, foi perdida pela transgressão. Adão não poderia transmitir à sua posteridade aquilo que não possuía; e não poderia haver esperança alguma para a raça decaída, se, pelo sacrifício de Seu Filho, Deus não houvesse trazido a imortalidade ao seu alcance. Ao passo que "a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram", Cristo "trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho." Romanos 5:12; 2 Timóteo 1:10. E unicamente por meio de Cristo pode a imortalidade ser obtida. Disse Jesus: "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não terá a vida." João 3:36. Todo homem pode alcançar a posse desta inapreciável bênção, se satisfizer as condições. Todos os que, "com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra e incorrupção", receberão "vida eterna." Romanos 2:7. GC 533 2 O único que prometeu a Adão vida em desobediência foi o grande enganador. E a declaração da serpente a Eva, no Éden -- "Certamente não morrereis" -- foi o primeiro sermão pregado acerca da imortalidade da alma. Todavia, esta declaração, repousando apenas na autoridade de Satanás, ecoa dos púlpitos da cristandade, e é recebida pela maior parte da humanidade tão facilmente como o foi pelos nossos primeiros pais. À sentença divina: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:20), é dada a significação: A alma que pecar, essa não morrerá, mas viverá eternamente. Não podemos senão nos admirar da estranha fatuidade que tão crédulos torna os homens com relação às palavras de Satanás, e incrédulos com respeito às palavras de Deus. GC 533 3 Houvesse ao homem sido permitido franco acesso à árvore da vida, após a sua queda, e teria ele vivido para sempre, sendo assim imortalizado o pecado. Querubins e uma espada chamejante, porém, guardavam "o caminho da árvore da vida" (Gênesis 3:24), e a nenhum membro da família de Adão foi permitido passar aquela barreira e participar do fruto doador da vida. Não há, portanto, pecador algum imortal. GC 534 1 Mas, depois da queda, Satanás ordenou a seus anjos que fizessem um esforço especial a fim de inculcar a crença da imortalidade inerente do homem; e, tendo induzido o povo a receber este erro, deveriam levá-lo a concluir que o pecador viveria em estado de eterna miséria. Agora o príncipe das trevas, operando por meio de seus agentes, representa a Deus como um tirano vingativo, declarando que Ele mergulha no inferno todos os que não Lhe agradam, e faz com que sempre sintam a Sua ira; e que, enquanto sofrem angústia indizível, e se contorcem nas chamas eternas, Seu Criador para eles olha com satisfação. GC 534 2 Assim o príncipe dos demônios reveste com seus próprios atributos ao Criador e Benfeitor da humanidade. A crueldade é satânica. Deus é amor: e tudo quanto criou era puro, santo e formoso, até o pecado ser introduzido pelo primeiro grande rebelde. Satanás mesmo é o inimigo que tenta o homem a pecar, e então o destrói, se o pode fazer; e, ao se ter assenhoreado de sua vítima, exulta na ruína que efetuou. Se lhe fosse permitido, colheria o gênero humano todo em sua rede. Não fosse a interposição do poder divino, nenhum filho ou filha de Adão escaparia. GC 534 3 Satanás está procurando vencer os homens hoje, assim como venceu nossos primeiros pais, abalando-lhes a confiança em seu Criador, e levando-os a duvidar da sabedoria de Seu governo e da justiça de Suas leis. Satanás e seus emissários representam a Deus como sendo mesmo pior do que eles, a fim de justificar sua própria malignidade e rebelião. O grande enganador esforça-se por transferir sua própria horrível crueldade de caráter para nosso Pai celestial, a fim de fazer-se parecer como alguém grandemente lesado pela sua expulsão do Céu, visto não haver desejado sujeitar-se a um governador tão injusto. Apresenta perante o mundo a liberdade que este pode gozar sob seu domínio suave, em contraste com a servidão imposta pelos severos decretos de Jeová. Desta maneira consegue desviar as almas de sua fidelidade a Deus. GC 535 1 Quão repugnante a todo sentimento de amor e misericórdia, e mesmo ao nosso senso de justiça, é a doutrina de que os ímpios mortos são atormentados com fogo e enxofre num inferno eternamente a arder; que pelos pecados de uma breve vida terrestre sofrerão tortura enquanto Deus existir! Contudo esta doutrina tem sido largamente ensinada, e ainda se acha incorporada em muitos credos da cristandade. Disse um versado doutor em teologia: "A vista dos tormentos do inferno exaltará para sempre a felicidade dos santos. Quando vêem outros que são da mesma natureza e nascidos sob as mesmas circunstâncias, mergulhados em tal desgraça, e eles distinguidos de tal maneira, isto os fará sentir quão felizes são." Outro empregou estas palavras: "Enquanto o decreto da condenação está sendo eternamente executado sobre os vasos da ira, o fumo de seu tormento estará sempre e sempre a ascender à vista dos vasos de misericórdia, que, em vez de se compadecerem daquelas miseráveis criaturas, dirão: Amém, Aleluia! louvai ao Senhor!" GC 535 2 Onde, nas páginas da Palavra de Deus, se encontra tal ensino? Perderão os remidos no Céu todo sentimento de piedade e compaixão, e mesmo os sentimentos comuns de humanidade? Devem tais sentimentos ser trocados pela indiferença do estóico, ou a crueldade do selvagem? Não, absolutamente; não é este o ensino do Livro de Deus. Os que apresentaram as opiniões expressas nas citações acima, podem ser homens ilustrados e mesmo sinceros; mas estão iludidos pelos sofismas de Satanás. Este os leva a interpretar mal terminantes expressões das Escrituras, dando à linguagem a coloração de amargura e malignidade que a ele pertence, mas não ao Criador. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converterá do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?" Ezequiel 33:11. GC 536 1 Que ganharia Deus se admitíssemos que Ele Se deleita em testemunhar incessantes torturas; que Se alegra com os gemidos, gritos e imprecações das sofredoras criaturas por Ele retidas nas chamas do inferno? Poderão esses terríveis sons ser música aos ouvidos do Amor infinito? Insiste-se em que a aplicação de intérmino sofrimento aos ímpios mostraria o ódio de Deus ao pecado, como a um mal ruinoso à paz e à ordem do Universo. Terrível blasfêmia! Como se o ódio de Deus ao pecado seja a razão por que este se perpetua. Pois, segundo os ensinos desses teólogos, a contínua tortura sem esperança de misericórdia enlouquece suas infelizes vítimas, e, ao derramarem elas sua cólera em maldições e blasfêmias, estão para sempre aumentando sua carga de crimes. A glória de Deus não é encarecida, perpetuando-se desta maneira o pecado, em constante aumento, através de eras sem fim. GC 536 2 Está além do poder do espírito humano avaliar o mal que tem sido feito pela heresia do tormento eterno. A religião da Bíblia, repleta de amor e bondade, e abundante de misericórdia, é obscurecida pela superstição e revestida de terror. Ao considerarmos em que cores falsas Satanás esboçou o caráter de Deus, surpreender-nos-emos de que nosso misericordioso Criador seja receado, temido e mesmo odiado? As opiniões aterrorizadoras acerca de Deus, que pelos ensinos do púlpito são espalhadas pelo mundo, têm feito milhares, e mesmo milhões de cépticos e incrédulos. GC 536 3 A teoria do tormento eterno é uma das falsas doutrinas que constituem o vinho das abominações de Babilônia, do qual ela faz todas as nações beberem. Apocalipse 14:8; 17:2. Que ministros de Cristo hajam aceito esta heresia e a tenham proclamado do púlpito sagrado, é na verdade um mistério. Eles a receberam de Roma, assim como receberam o falso sábado. É verdade que tem sido ensinada por homens eminentes e piedosos; mas a luz sobre tal assunto não lhes chegou como a nós. Eram responsáveis apenas pela luz que resplandecia em seu tempo; nós o somos pela que brilha em nossa época. Se nos desviamos do testemunho da Palavra de Deus, aceitando falsas doutrinas porque nossos pais as ensinaram, caímos sob a condenação pronunciada sobre Babilônia; estamos a beber do vinho de suas abominações. GC 537 1 Numerosa classe, para a qual a doutrina do tormento eterno é revoltante, é levada ao erro oposto. Vêem que as Escrituras representam a Deus como um ser de amor e compaixão, e não podem crer que Ele destine Suas criaturas aos fogos de um inferno eternamente a arder. Crendo, porém, ser a alma de natureza imortal, não percebem outra alternativa senão concluir que toda a humanidade se salvará, por fim. Muitos consideram as ameaças da Bíblia como sendo meramente destinadas a amedrontar os homens para a obediência, e não para se cumprirem literalmente. Assim o pecador pode viver em prazeres egoístas, desatendendo aos preceitos de Deus, e não obstante esperar ser, ao final, recebido em Seu favor. Esta doutrina, admitindo a misericórdia de Deus, mas passando por alto Sua justiça, agrada ao coração carnal, e torna audazes os ímpios em sua iniqüidade. GC 537 2 A fim de mostrar como os crentes na salvação universal torcem as Escrituras para sustentarem seus dogmas destruidores de almas, basta citar suas próprias declarações. Nos funerais de um jovem irreligioso, que tivera morte instantânea em um desastre, um ministro universalista escolheu como texto a declaração das Escrituras relativa a Davi: "Já se tinha consolado acerca de Amnom, que era morto." 2 Samuel 13:39. GC 537 3 "Sou freqüentemente interrogado", disse o orador, "sobre qual será a sorte dos que deixam o mundo em pecado, que morrem, talvez, em estado de embriaguez, morrem sem ter lavado das manchas escarlates do crime as suas vestes, ou como este jovem sucumbiu, nunca tendo feito qualquer profissão ou gozado experiência religiosa. Estamos contentes com as Escrituras; sua resposta resolverá o terrível problema. Amnom era muitíssimo pecador; ele não estava arrependido, fizeram-no embriagar-se, e, estando em estado de embriaguez, foi morto. Davi era profeta de Deus; ele deveria saber se iria mal ou bem com Amnom no mundo vindouro. Quais foram as expressões de seu coração? 'Então tinha o rei Davi saudades de Absalão, porque já se tinha consolado acerca de Amnom, que era morto.' GC 538 1 "E qual é a inferência a fazer-se desta linguagem? Não é que o sofrimento intérmino não fazia parte de sua crença religiosa? Assim o concebemos; e aqui descobrimos um argumento triunfante em apoio da mais agradável, mais iluminada, mais benévola hipótese da pureza e paz, universal e final. Consolou-se, vendo que o filho estava morto. E por que isto? Porque, pelos olhos da profecia, podia vislumbrar o glorioso futuro, e ver aquele filho afastado para longe de toda tentação, livre do cativeiro, e purificado das corrupções do pecado, e depois de se haver tornado suficientemente santo e esclarecido, admitido na assembléia dos espíritos elevados e jubilosos. Seu único conforto era que, sendo removido do presente estado de pecado e sofrimento, seu amado filho fora para o lugar em que o mais elevado bafejo do Espírito Santo cairia sobre a sua alma entenebrecida; em que seu espírito se desdobraria à sabedoria do Céu e aos suaves transportes do amor imortal, e assim se prepararia com a natureza santificada para gozar o repouso e companhia da herança celestial. GC 538 2 "Nesse sentido é que desejamos ser compreendidos como crentes que somos de que a salvação do Céu não depende de coisa alguma que possamos fazer nesta vida; nem da mudança do coração, feita presentemente, nem da crença atual nem de uma profissão religiosa." GC 538 3 Assim reitera o professo ministro de Cristo a falsidade proferida pela serpente no Éden: "Certamente não morrereis." "No dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus." Ele declara que o mais vil pecador -- o assassino, o ladrão, o adúltero -- estarão depois da morte preparados para entrar na bem-aventurança eterna. GC 538 4 E donde tira este adulterador das Escrituras as suas conclusões? De uma simples sentença que exprime a submissão de Davi aos desígnios da Providência. Ele "tinha ... saudades de Absalão: porque já se tinha consolado acerca de Amnom, que era morto." Tendo-se o pungimento desta dor abrandado pelo tempo, seus pensamentos volveram do filho morto para o vivo, o qual se exilara pelo medo do justo castigo de seu crime. E esta é a prova de que o incestuoso e bêbado Amnom foi à sua morte imediatamente transportado para as bem-aventuradas habitações, a fim de ser ali purificado e preparado para a companhia dos anjos sem pecado! Fábula aprazível, por certo, muito apropriada para satisfazer o coração carnal! Esta é a própria doutrina de Satanás, e ela realiza a sua obra eficazmente. Deveríamos surpreender-nos de que, com tal instrução, prevaleça a impiedade? GC 539 1 O caminho seguido por este falso ensinador ilustra o de muitos outros. Umas poucas palavras das Escrituras são separadas do contexto, o qual, em muitos casos, mostraria ser o seu sentido exatamente o contrário da interpretação a elas dada; e tais passagens desconexas são pervertidas e usadas em prova de doutrinas que não têm fundamento na Palavra de Deus. O testemunho citado como prova de que o bêbado Amnom está no Céu, é uma simples conjectura, contradita terminantemente pela declaração expressa e positiva das Escrituras, de que nenhum bêbado herdará o reino de Deus. 1 Coríntios 6:10. Assim é que os que duvidam, os descrentes, e os cépticos, mudam a verdade em mentira. E multidões têm sido enganadas por seus sofismas, e embaladas para adormecerem no berço da segurança carnal. GC 539 2 Se fosse verdade que a alma passa diretamente para o Céu na hora do falecimento, bem poderíamos então anelar a morte em lugar da vida. Por esta crença, muitos têm sido levados a pôr termo à existência. Quando dominados pelas dificuldades, perplexidades e desapontamento, parece coisa fácil romper o tênue fio da vida e voar além, para as bênçãos do mundo eterno. GC 539 3 Deus deu em Sua Palavra prova decisiva de que punirá os transgressores de Sua lei. Os que se lisonjeiam de que Ele é muito misericordioso para exercer justiça contra o pecador, apenas têm de olhar para a cruz do Calvário. A morte do imaculado Filho de Deus testifica que "o salário do pecado é a morte", que toda violação da lei de Deus deve receber sua justa paga. Cristo, que não tinha pecado, Se fez pecado pelo homem. Arrostou a culpa da transgressão, sendo-Lhe ocultado o rosto do Pai, até se Lhe quebrantar o coração e desfazer a vida. Todo esse sacrifício foi feito a fim de os pecadores poderem ser remidos. De nenhum outro modo conseguiria o homem livrar-se da pena do pecado. E toda alma que se recusa a tornar-se participante da expiação provida a tal preço, deve levar em si própria a culpa e o castigo da transgressão. GC 540 1 Consideremos o que a Bíblia ensina ainda concernente aos ímpios e impenitentes, os quais os universalistas colocam no Céu, como anjos santos e felizes. GC 540 2 "A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida." Apocalipse 21:6. Esta promessa é apenas para os que têm sede. A pessoa alguma, a não ser os que sentem sua necessidade da água da vida, e a procuram, seja qual for o preço, será ela provida. "Quem vencer herdará todas as coisas; e Eu serei seu Deus, e ele será Meu filho." Apocalipse 21:7. Aqui, também, se especificam condições. A fim de herdar todas as coisas, devemos resistir ao pecado e vencê-lo. GC 540 3 O Senhor declara pelo profeta Isaías: "Dizei aos justos que bem lhes irá." "Ai do ímpio! mal lhe irá, porque a recompensa das suas mãos se lhe dará." Isaías 3:10, 11. "Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temerem diante dEle. Mas ao ímpio não irá bem." Eclesiastes 8:12, 13. E Paulo testifica que o pecador está entesourando para si "ira ... no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; o qual recompensará cada um segundo suas obras"; "tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que obra o mal." Romanos 2:5, 6, 9. GC 541 1 "Nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus." Efésios 5:5. "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor." Hebreus 12:14. "Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. Ficarão de fora os cães, e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira." Apocalipse 22:14, 15. GC 541 2 Deus deu aos homens uma revelação de Seu caráter, e de Seu método de tratar com o pecado: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras, e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente." Êxodo 34:6, 7. "Todos os ímpios serão destruídos." "Quanto aos transgressores, serão à uma destruídos e as relíquias dos ímpios todas perecerão." Salmos 145:20; 37:38. O poder e autoridade do governo divino serão empregados para abater a rebelião; contudo, todas as manifestações de justiça retribuidora serão perfeitamente coerentes com o caráter de Deus, como um ser misericordioso, longânimo e benévolo. GC 541 3 Deus não força a vontade ou o juízo de ninguém. Não tem prazer na obediência servil. Deseja que as criaturas de Suas mãos O amem porque Ele é digno de amor. Quer que Lhe obedeçam porque reconhecem inteligentemente Sua sabedoria, justiça e benevolência. E todos os que possuem concepção justa destas qualidades, amá-Lo-ão porque são atraídos para Ele e Lhe admiram os atributos. GC 541 4 Os princípios de bondade, misericórdia e amor, ensinados e exemplificados por Jesus Cristo, são um transcrito da vontade e caráter de Deus. Cristo declarou que Ele nada ensinava a não ser o que recebera do Pai. Os princípios do governo divino estão em perfeita harmonia com os preceitos do Salvador: "Amai vossos inimigos." Deus executa justiça sobre os ímpios, para o bem do Universo, e mesmo daqueles sobre quem Seus juízos são aplicados. Ele os faria ditosos, se o pudesse fazer de acordo com as leis de Seu governo e a justiça de Seu caráter. Cerca-os de manifestações de Seu amor, confere-lhes conhecimento de Sua lei, acompanhando-os com o oferecimento de Sua misericórdia; eles, porém, Lhe desprezam o amor, anulam a lei e rejeitam a misericórdia. Ao mesmo tempo em que constantemente recebem Seus dons, desonram o Doador; odeiam a Deus porque sabem que Ele aborrece os seus pecados. O Senhor suporta a sua perversidade; mas virá finalmente a hora decisiva, em que se deve decidir o seu destino. Acorrentará Ele então esses rebeldes a Seu lado? Forçá-los-á a fazerem a Sua vontade? GC 542 1 Os que escolheram a Satanás como chefe, e por seu poder têm sido dirigidos, não estão preparados para comparecer à presença de Deus. O orgulho, o engano, a licenciosidade, a crueldade, fixaram-se em seu caráter. Podem eles entrar no Céu, para morar para sempre com aqueles a quem desprezaram e odiaram na Terra? A verdade nunca será agradável ao mentiroso; a humildade não satisfará o conceito de si mesmo e o orgulho; a pureza não é aceitável ao corrupto; o amor abnegado não parece atrativo ao egoísta. Que fonte de gozo poderia oferecer o Céu para os que se acham totalmente absortos nos interesses terrenos e egoístas? GC 542 2 Poderiam aqueles cuja vida foi empregada em rebelião contra Deus, ser subitamente transportados para o Céu, e testemunhar o estado elevado e santo de perfeição que ali sempre existe, estando toda alma cheia de amor, todo rosto irradiando alegria, ecoando em honra de Deus e do Cordeiro uma arrebatadora música em acordes melodiosos, e fluindo da face dAquele que Se assenta sobre o trono uma incessante torrente de luz sobre os remidos; sim, poderiam aqueles cujo coração está cheio de ódio a Deus, à verdade e santidade, unir-se à multidão celestial e participar de seus cânticos de louvor? Poderiam suportar a glória de Deus e do Cordeiro? Não, absolutamente; anos de graça lhes foram concedidos, a fim de que pudessem formar caráter para o Céu; eles, porém, nunca exercitaram a mente no amor à pureza; nunca aprenderam a linguagem do Céu, e agora é demasiado tarde. Uma vida de rebeldia contra Deus incapacitou-os para o Céu. A pureza, santidade e paz dali lhes seriam uma tortura; a glória de Deus seria um fogo consumidor. Almejariam fugir daquele santo lugar. Receberiam alegremente a destruição, para que pudessem esconder-se da face dAquele que morreu para os remir. O destino dos ímpios se fixa por sua própria escolha. Sua exclusão do Céu é espontânea, da sua parte, e justa e misericordiosa da parte de Deus. GC 543 1 Semelhantes às águas do dilúvio, os fogos do grande dia declaram o veredicto divino, de que os ímpios são incorrigíveis. Não se sentem dispostos a submeter-se à autoridade divina. Sua vontade foi exercitada na revolta; e, ao terminar a vida, é demasiado tarde para fazer voltar o curso de seus pensamentos em direção oposta, tarde demais para volverem da transgressão à obediência, do ódio ao amor. GC 543 2 Poupando a vida do assassino Caim, Deus deu ao mundo um exemplo do resultado que adviria de permitir que o pecador vivesse para continuar o caminho de desenfreada iniqüidade. Pela influência do ensino e exemplo de Caim, multidões de seus descendentes foram levadas ao pecado, até que "a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra", e "toda a imaginação dos pensamentos de Seu coração era só má continuamente." "A Terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a Terra de violência." Gênesis 6:5, 11. GC 543 3 Em misericórdia para com o mundo, Deus suprimiu seus ímpios habitantes no tempo de Noé. Em misericórdia, destruiu os corruptos habitantes de Sodoma. Mediante o poder enganador de Satanás, os praticantes da iniqüidade obtêm simpatia e admiração, e estão assim constantemente levando outros à rebeldia. Assim foi ao tempo de Caim e Noé, e ao tempo de Abraão e Ló; assim é em nosso tempo. É em misericórdia para com o Universo que Deus finalmente destruirá os que rejeitam a Sua graça. GC 544 1 "O salário do pecado é a morte; mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor." Romanos 6:23. Ao passo que a vida é a herança dos justos, a morte é a porção dos ímpios. Moisés declarou a Israel: "Hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal." Deuteronômio 30:15. A morte a que se faz referência nestas passagens, não é a que foi pronunciada sobre Adão, pois a humanidade toda sofre a pena de sua transgressão. É a "segunda morte" que se põe em contraste com a vida eterna. GC 544 2 Em conseqüência do pecado de Adão, a morte passou a toda a raça humana. Todos semelhantemente descem ao sepulcro. E, pelas providências do plano da salvação, todos devem ressurgir da sepultura. "Há de haver ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos" (Atos 24:15); "assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo." 1 Coríntios 15:22. Uma distinção, porém, se faz entre as duas classes que ressuscitam. "Todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz. E os que fizeram o bem, sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação." João 5:28, 29. Os que foram "tidos por dignos" da ressurreição da vida, são "bem-aventurados e santos." "Sobre estes não tem poder a segunda morte." Apocalipse 20:6. Os que, porém, não alcançaram o perdão, mediante o arrependimento e a fé, devem receber a pena da transgressão: "o salário do pecado." Sofrem castigo, que varia em duração e intensidade, "segundo suas obras", mas que finalmente termina com a segunda morte. Visto ser impossível para Deus, de modo coerente com a Sua justiça e misericórdia salvar o pecador em seus pecados, Ele o despoja da existência, que perdeu por suas transgressões, e da qual se mostrou indigno. Diz um escritor inspirado: "Ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar e não aparecerá." E outro declara: "E serão como se nunca tivessem sido." Salmos 37:10; Obadias 16. Cobertos de infâmia, mergulham, sem esperança, no olvido eterno. GC 545 1 Assim se porá termo ao pecado, juntamente com toda a desgraça e ruína que dele resultaram. Diz o salmista: "Destruíste os ímpios; apagaste o seu nome para sempre e eternamente. Oh! inimigo! consumaram-se as assolações." Salmos 9:5, 6. João, no Apocalipse, olhando para a futura condição eterna, ouve uma antífona universal de louvor, imperturbada por qualquer nota de discórdia. Toda criatura no Céu e na Terra atribuía glória a Deus. Apocalipse 5:13. Não haverá então almas perdidas para blasfemarem de Deus, contorcendo-se em tormento interminável; tampouco seres desditosos no inferno unirão seus gritos aos cânticos dos salvos. GC 545 2 Sobre o erro fundamental da imortalidade inerente, repousa a doutrina da consciência na morte, doutrina que, semelhantemente à do tormento eterno, se opõe aos ensinos das Escrituras, aos ditames da razão, e a nossos sentimentos de humanidade. Segundo a crença popular, os remidos no Céu estão a par de tudo que ocorre na Terra, e especialmente da vida dos amigos que deixaram após si. Mas como poderia ser fonte de felicidade para os mortos o saberem das dificuldades dos vivos, testemunhar os pecados cometidos por seus próprios amados, e vê-los suportar todas as tristezas, desapontamentos e angústias da vida? Quanto da bem-aventurança celeste seria fruída pelos que estivessem contemplando seus amigos na Terra? E quão revoltante não é a crença de que, logo que o fôlego deixa o corpo, a alma do impenitente é entregue às chamas do inferno! Em quão profundas angústias deverão mergulhar os que vêem seus amigos passarem à sepultura sem se acharem preparados, para entrar numa eternidade de miséria e pecado! Muitos têm sido arrastados à insanidade por este inquietante pensamento. GC 545 3 Que dizem as Escrituras com relação a estas coisas? Davi declara que o homem não se acha consciente na morte. "Sai-lhes o espírito, e eles tornam-se em sua terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos." Salmos 146:4. Salomão dá o mesmo testemunho: "Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma." "O seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol." "Na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma." Eclesiastes 9:5, 6, 10. GC 546 1 Quando, em resposta à sua oração, a vida de Ezequias foi prolongada quinze anos, o rei, agradecido, rendeu a Deus um tributo de louvor por Sua grande misericórdia. Nesse cântico ele dá a razão por assim se regozijar: "Não pode louvar-Te a sepultura, nem a morte glorificar-Te; nem esperarão em Tua verdade os que descem à cova. Os vivos, os vivos, esses Te louvarão, como eu hoje faço." Isaías 38:18, 19. A teologia popular representa os justos mortos como estando no Céu, admitidos na bem-aventurança, e louvando a Deus com língua imortal; Ezequias, porém, não pôde ver tal perspectiva gloriosa na morte. Com suas palavras concorda o testemunho do salmista: "Na morte não há lembrança de Ti; no sepulcro quem Te louvará?" "Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio." Salmos 6:5; 15:17. GC 546 2 Pedro, no dia de Pentecoste, declarou que o patriarca Davi "morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura." "Porque Davi não subiu aos Céus." Atos 2:29, 34. O fato de Davi permanecer na sepultura até à ressurreição, prova que os justos não ascendem ao Céu por ocasião da morte. É unicamente pela ressurreição, e em virtude de Jesus haver ressuscitado, que Davi poderá finalmente assentar-se à destra de Deus. GC 546 3 E Paulo disse: "Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos." 1 Coríntios 15:16-18. Se durante quatro mil anos os justos tivessem à sua morte ido diretamente para o Céu, como poderia Paulo ter dito que se não há ressurreição "os que dormiram em Cristo estão perdidos"? Não seria necessário ressurreição. GC 547 1 O mártir Tyndale, referindo-se ao estado dos mortos, declarou: "Confesso abertamente que não estou persuadido de que eles já estejam na plena glória em que Cristo Se acha, ou em que estão os anjos eleitos de Deus. Tampouco é isto artigo de minha fé; pois, se assim fosse, não vejo nisto senão que o pregar a ressurreição da carne seria coisa vã." -- Prefácio do "Novo Testamento" (edição de 1534), de Guilherme Tyndale. GC 547 2 É fato inegável que a esperança da imortal bem-aventurança ao morrer, tem determinado generalizada negligência da doutrina bíblica da ressurreição. Esta tendência foi notada pelo Dr. Adão Clarke, que disse: "A doutrina da ressurreição parece ter sido julgada de muito maiores conseqüências entre os primeiros cristãos do que o é hoje! Como é isto? Os apóstolos estavam continuamente insistindo nela, e concitando os seguidores de Cristo à diligência, obediência e animação por meio dela. E seus sucessores, na atualidade, raras vezes a mencionam! Pregavam-na os apóstolos, nela criam os primitivos cristãos; pregamo-la nós, e nela crêem nossos ouvintes. Não há doutrina no evangelho a que se dê maior ênfase; e não há doutrina no atual conjunto dos assuntos pregados, que seja tratada com maior negligência!" -- Comentário Sobre o Novo Testamento, vol. 2 (acerca de 1 Coríntios 15). GC 547 3 Este estado de coisas tem continuado a ponto de ficar a gloriosa verdade da ressurreição quase totalmente obscurecida, e perdida de vista pelo mundo cristão. Assim o autor do Comentário acima referido explica as palavras de Paulo: "Para todo o fim prático de consolação, a doutrina da bem-aventurada imortalidade dos justos toma para nós o lugar de qualquer doutrina duvidosa acerca da segunda vinda do Senhor. Por ocasião de nossa morte o Senhor vem a nós. É isto que devemos esperar e aguardar. Os mortos já passaram para a glória. Não esperam a trombeta para o seu juízo e bem-aventurança." GC 548 1 Quando, porém, estava para deixar Seus discípulos, Jesus não lhes disse que logo iriam ter com Ele. "Vou preparar-vos lugar", disse Ele. "E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo." João 14:2, 3. E diz-nos Paulo, mais, que "o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." E acrescenta: "Consolai-vos uns aos outros com estas palavras." 1 Tessalonicenses 4:16-18. Quão grande é o contraste entre essas expressões de conforto e as do ministro universalista citadas acima! O último consolou os que foram despojados da companhia do seu ente querido, com a afirmação de que, por mais pecador que o morto pudesse haver sido, ao expirar aqui, seria recebido entre os anjos. Paulo aponta a seus irmãos a futura vinda do Senhor, quando os grilhões do túmulo serão quebrados, e os "mortos em Cristo" ressuscitarão para a vida eterna. GC 548 2 Antes de qualquer pessoa poder entrar nas mansões dos bem-aventurados, seu caso deverá ser investigado, e seu caráter e ações deverão passar em revista perante Deus. Todos serão julgados de acordo com as coisas escritas nos livros, e recompensados conforme tiverem sido as suas obras. Este juízo não ocorre por ocasião da morte. Notai as palavras de Paulo: "Tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou: e disto deu certeza a todos, ressuscitando-O dos mortos." Atos 17:31. Aqui o apóstolo terminantemente declara que um tempo específico, então no futuro, fora fixado para o juízo do mundo. GC 548 3 Judas se refere ao mesmo tempo: "Aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão, e em prisões eternas, até ao juízo daquele grande dia." E cita ainda as palavras de Enoque: "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos; para fazer juízo contra todos." Jud. 6, 14 e 15. João declara ter visto "os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono; e abriram-se os livros; ... e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros." Apocalipse 20:12. GC 549 1 Se, porém, os mortos já estão gozando a bem-aventurança celestial, ou contorcendo-se nas chamas do inferno, que necessidade há de um juízo futuro? Os ensinos da Palavra de Deus acerca destes importantes pontos, não são obscuros nem contraditórios; podem ser compreendidos pela mente comum. Mas que espírito imparcial pode ver sabedoria ou justiça na teoria corrente? Receberão os justos, depois da investigação de seu caso no juízo, este elogio: "Bem está, servo bom e fiel. ... Entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25:21), quando eles estiveram morando em Sua presença, talvez durante longos séculos? São os ímpios convocados do lugar do tormento, para receberem esta sentença do Juiz de toda a Terra: "Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno"? Mateus 25:41. Oh! sarcasmo solene! vergonhoso obstáculo à sabedoria e justiça de Deus! GC 549 2 A teoria da imortalidade da alma foi uma das falsidades que Roma tomou emprestadas do paganismo, incorporando-a à religião da cristandade. Martinho Lutero classificou-a entre as "monstruosas fábulas que fazem parte do monturo romano dos decretos." -- O Problema da Imortalidade, de E. Petavel. Comentando as palavras de Salomão no Eclesiastes, de que os mortos não sabem coisa nenhuma, diz o reformador: "Outro passo provando que os mortos não têm. ... sentimento. Não há ali", diz ele, "deveres, ciência, conhecimento, sabedoria. Salomão opinou que os mortos estão a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, não levando em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes-á haver dormido apenas um minuto." -- Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes, de Lutero. GC 549 3 Em parte alguma nas Escrituras Sagradas se encontra a declaração de que é por ocasião da morte que os justos vão para a sua recompensa e os ímpios ao seu castigo. Os patriarcas e profetas não fizeram tal afirmativa. Cristo e Seus apóstolos não fizeram sugestão alguma a esse respeito. A Bíblia claramente ensina que os mortos não vão imediatamente para o Céu. Eles são representados como estando a dormir até à ressurreição. 1 Tessalonicenses 4:14; Jó 14:10-12. No mesmo dia em que se quebra a cadeia de prata, e se despedaça o copo de ouro (Eclesiastes 12:6), perecem os pensamentos dos homens. Os que descem à sepultura estão em silêncio. Não mais sabem de coisa alguma que se faz debaixo do Sol. Jó 14:21. Bendito descanso para o justo cansado! Seja longo ou breve o tempo, não é para eles senão um momento. Dormem, e são despertados pela trombeta de Deus para uma imortalidade gloriosa. "Porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis. ... Quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória." 1 Coríntios 15:52-54. Ao serem eles chamados de seu profundo sono, começam a pensar exatamente onde haviam parado. A última sensação foi a agonia da morte, o último pensamento o de que estavam a cair sob o poder da sepultura. Ao se levantarem da tumba, seu primeiro alegre pensamento se expressará na triunfante aclamação: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" 1 Coríntios 15:55. ------------------------Capítulo 34 -- Oferece o espiritismo alguma esperança? GC 551 1 O ministério dos santos anjos, conforme é apresentado nas Escrituras Sagradas, é uma verdade deveras confortadora e preciosa a todo seguidor de Cristo. Mas o ensino bíblico acerca deste ponto tem sido obscurecido e pervertido pelos erros da teologia popular. A doutrina da imortalidade natural, a princípio tomada emprestada à filosofia pagã, e incorporada à fé cristã durante as trevas da grande apostasia, tem suplantado a verdade tão claramente ensinada nas Escrituras, de que "os mortos não sabem coisa nenhuma." Multidões têm chegado a crer que os espíritos dos mortos é que são os "espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação." E isto apesar do testemunho das Escrituras quanto à existência dos anjos celestiais, e sua relação com a história do homem, antes da morte de qualquer ser humano. GC 551 2 A doutrina da consciência do homem na morte, especialmente a crença de que os espíritos dos mortos voltam para ministrar aos vivos, abriu caminho para o moderno espiritismo. Se os mortos são admitidos à presença de Deus e dos santos anjos e se são favorecidos com conhecimentos que superam em muito o que antes possuíam, por que não voltariam eles à Terra para iluminar e instruir os vivos? Se conforme é ensinado pelos teólogos populares, os espíritos dos mortos estão a pairar sobre seus amigos na Terra, por que não lhes seria permitido comunicar-se com eles, a fim de os advertir contra o mal, ou consolá-los na tristeza? Como podem os que crêem no estado consciente dos mortos rejeitar o que lhes vem como luz divina transmitida por espíritos glorificados? Eis aí um meio de comunicação considerado sagrado, e de que Satanás se vale para realizar seus propósitos. Os anjos decaídos que executam suas ordens, aparecem como mensageiros do mundo dos espíritos. Ao mesmo tempo em que professam trazer os vivos em comunicação com os mortos, o príncipe do mal sobre eles exerce sua influência fascinante. GC 552 1 Ele tem poder para fazer surgir perante os homens a aparência de seus amigos falecidos. A contrafação é perfeita; a expressão familiar, as palavras, o tom da voz, são reproduzidos com maravilhosa exatidão. Muitos são consolados com a afirmativa de que seus queridos estão gozando a ventura celestial; e, sem suspeita de perigo, dão ouvidos a "espíritos enganadores, e doutrinas de demônios". GC 552 2 Induzindo-os Satanás a crer que os mortos efetivamente voltam para comunicar-se com eles, faz o maligno com que apareçam os que baixaram ao túmulo sem estarem preparados. Pretendem estar felizes no Céu, e mesmo ocupar ali elevadas posições; e assim é largamente ensinado o erro de que nenhuma diferença se faz entre justos e ímpios. Os pretensos visitantes do mundo dos espíritos algumas vezes proferem avisos e advertências que se demonstram corretos. Então, estando ganha a confiança, apresentam doutrinas que solapam diretamente a fé nas Escrituras. Com a aparência de profundo interesse no bem-estar de seus amigos na Terra, insinuam os mais perigosos erros. O fato de declararem algumas verdades e poderem por vezes predizer acontecimentos futuros, dá às suas declarações uma aparência de crédito; e seus falsos ensinos são tão de pronto aceitos pelas multidões, e tão implicitamente cridos, como se fossem as mais sagradas verdades da Bíblia. A lei de Deus é posta de parte, desprezado o Espírito da graça, o sangue do concerto tido em conta de coisa profana. Os espíritos negam a divindade de Cristo, colocando o próprio Criador no mesmo nível em que estão. Assim, sob novo disfarce, o grande rebelde ainda prossegue com sua luta contra Deus -- luta iniciada no Céu, e durante quase seis mil anos continuada na Terra. GC 553 1 Muitos se esforçam por explicar as manifestações espíritas, atribuindo-as inteiramente a fraudes e prestidigitação por parte do médium. Mas, conquanto seja verdade que os resultados da trapaça tenham muitas vezes sido apresentados como manifestações genuínas, tem havido também assinaladas exibições de poder sobrenatural. As pancadas misteriosas com que o espiritismo moderno se iniciou, não foram resultado de trapaça ou artifício humano, mas obra direta dos anjos maus, que assim introduziam um engano dos mais eficazes para a destruição das almas. Muitos serão enredados pela crença de que o espiritismo seja meramente impostura humana; quando postos em face de manifestações que não podem senão considerar como sobrenaturais, serão enganados e levados a aceitá-las como o grande poder de Deus. GC 553 2 Estas pessoas não tomam em consideração o testemunho das Escrituras relativo às maravilhas operadas por Satanás e seus agentes. Foi por auxílio satânico que os magos de Faraó puderam contrafazer a obra de Deus. Paulo testifica que antes do segundo advento de Cristo haverá manifestações semelhantes do poder satânico. A vinda do Senhor deve ser precedida da operação de Satanás "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça." 2 Tessalonicenses 2:9, 10. E o apóstolo João, descrevendo o poder efetuador de prodígios que se manifestará nos últimos dias, declara: "Faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à Terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na Terra com sinais que foi permitido que fizesse." Apocalipse 13:13, 14. Não se acham aqui preditas meras imposturas. Os homens são enganados por sinais que os agentes de Satanás têm poder para fazer, e não pelo que pretendam realizar. GC 553 3 O príncipe das trevas, que durante tanto tempo tem aplicado na obra do engano as faculdades de seu espírito superior, adapta habilmente suas tentações aos homens de todas as classes e condições. A pessoas de cultura e educação apresenta o espiritismo em seus aspectos mais apurados e intelectuais, e assim consegue atrair muitos à sua cilada. A sabedoria que o espiritismo comunica é aquela descrita pelo apóstolo Tiago, a qual não "vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica." Tiago 3:15. Isto, entretanto, o grande enganador esconde, quando o encobrimento melhor convém ao propósito visado. Aquele que, perante Cristo, no deserto da tentação, pôde aparecer vestido com o resplendor dos serafins celestiais, vem aos homens da maneira mais atrativa, como anjo de luz. Apela para a razão, apresentando assuntos que elevam; deleita a imaginação com cenas arrebatadoras; conquista a afeição por meio de quadros eloqüentes de amor e caridade. Excita a imaginação a vôos altaneiros, levando os homens a terem grande orgulho de sua própria sabedoria a ponto de em seu coração desdenharem o Eterno. Aquele ser poderoso que pôde levar o Redentor do mundo a um monte muito alto, e mostrar-Lhe todos os reinos da Terra e a glória dos mesmos, apresentará aos homens as suas tentações de maneira a perverter o senso de todos os que não estejam escudados no poder divino. GC 554 1 Como a Eva no Éden, Satanás hoje seduz os homens pela lisonja, despertando-lhes o desejo de obter conhecimento proibido, tornando-os ambiciosos de exaltação própria. Foi o acariciar estes males que lhe ocasionou a queda, e por meio deles visa conseguir a ruína dos homens. "Sereis como Deus", declara ele, "sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:5. O espiritismo ensina "que o homem é criatura susceptível de progresso; que é seu destino progredir, desde o nascimento, até à eternidade, em direção à Divindade." E ainda: "Cada espírito julgará a si mesmo, e não a outro." "O juízo será correto, porque é o juízo de si mesmo. ... O tribunal está dentro de vós." Disse um ensinador espírita, ao despertar-se nele a "consciência espiritual": "Meus semelhantes foram todos eles semideuses não caídos." E outro declara: "Todo ser justo e perfeito é Cristo." GC 554 2 Assim, em lugar da justiça e perfeição do Deus infinito, verdadeiro objeto de adoração; em lugar da justiça perfeita de Sua lei, a verdadeira norma da perfeição humana, pôs Satanás a natureza pecaminosa, falível do próprio homem, como único objeto de adoração, a única regra para o juízo, ou norma de caráter. Isto é progresso, não para cima, mas para baixo. GC 555 1 É lei, tanto da natureza intelectual como da espiritual, que, pela contemplação, nos transformamos. O espírito gradualmente se adapta aos assuntos com os quais lhe é permitido ocupar-se. Identifica-se com aquilo que está acostumado a amar e reverenciar. Jamais se levantará o homem acima de sua norma de pureza, de bondade ou de verdade. Se o eu é o seu mais alto ideal, nunca atingirá ele qualquer coisa mais elevada. Antes, cairá constantemente. A graça de Deus unicamente tem poder para soerguer o homem. Abandonado a si mesmo, seu caminho inevitavelmente será em direção descendente. GC 555 2 Ao que condescende consigo mesmo, ao amante de prazeres, ao sensual, apresenta-se o espiritismo sob disfarce menos sutil do que aos mais educados e intelectuais; em suas formas mais grosseiras encontram aqueles o que está em harmonia com as suas inclinações. Satanás estuda todo indício da fragilidade da natureza humana; nota os pecados que cada indivíduo é inclinado a cometer, e então cuida em que não faltem oportunidades para satisfazer a tendência para o mal. Tenta os homens ao excesso naquilo que em si mesmo é lícito, fazendo-os pela intemperança enfraquecer as faculdades físicas, mentais e morais. Tem destruído e está a destruir milhares por meio da satisfação das paixões, embrutecendo assim toda a natureza do homem. E, para completar a sua obra, declara por meio dos espíritos que "o verdadeiro conhecimento coloca o homem acima de toda a lei"; que "tudo está certo"; que "Deus não condena"; e que "todos os pecados que se cometem, são inocentes." Sendo o povo assim levado a crer que o desejo é a mais elevada lei, que a liberdade é a libertinagem, e que o homem é apenas responsável a si mesmo, quem poderá maravilhar-se de que a corrupção e a depravação proliferem por toda parte? Multidões aceitam avidamente os ensinos que as deixam em liberdade para obedecer aos impulsos do coração carnal. As rédeas do domínio próprio são dirigidas pela concupiscência, as faculdades do espírito e da alma são submetidas às inclinações animais, e Satanás exultantemente, para a sua rede arrasta milhares que professam ser seguidores de Cristo. GC 556 1 Mas ninguém deve enganar-se pelas mentirosas pretensões do espiritismo. Deus deu ao mundo luz suficiente para habilitá-lo a descobrir a cilada. Conforme já se mostrou, a teoria que constitui o fundamento mesmo do espiritismo está em contradição com as mais terminantes declarações das Escrituras. A Bíblia declara que os mortos não sabem coisa nenhuma, que seus pensamentos pereceram; que não têm parte em nada que se faz debaixo do Sol; nada sabem das alegrias ou tristezas dos que lhes eram os mais caros na Terra. GC 556 2 Demais, Deus proibiu expressamente toda pretensa comunicação com os espíritos dos mortos. Nos dias dos hebreus, havia uma classe de pessoas que pretendiam, como o fazem os espíritas de hoje, entreter comunicação com os mortos. Mas esses "espíritos familiares" como eram chamados os visitantes de outros mundos, declara a Bíblia serem "espíritos de demônios". (Comparar Números 25:1-3; Salmos 106:28; 1 Coríntios 10:20; Apocalipse 16:14.) O costume de tratar com os espíritos familiares foi denunciado como abominação ao Senhor, e solenemente proibido sob pena de morte. Levítico 19:31; 20:27. O próprio nome de feitiçaria é hoje tido em desdém. A pretensão de que os homens podem entreter comunicações com os espíritos maus é considerada como fábula da Idade Média. O espiritismo, porém, que conta centenas de milhares, e na verdade, milhões de adeptos, que teve ingresso nos centros científicos, invadiu igrejas e alcançou favor nas corporações legislativas e mesmo nas cortes reais, esse grande engano -- não é senão o reaparecimento, sob novo disfarce, da feitiçaria condenada e proibida na antiguidade. GC 556 3 Se não existissem outras provas do verdadeiro caráter do espiritismo, bastaria ao cristão o fato de que os espíritos não fazem diferença entre a justiça e o pecado, entre os mais nobres e puros dos apóstolos de Cristo e os mais corruptos dos servos de Satanás. Representando os mais vis dos homens como se estivessem no Céu, altamente exaltados, diz Satanás ao mundo: "Não importa quão ímpios sejais; não importa que creiais ou não em Deus e na Bíblia. Vivei como vos agradar; o Céu será o vosso destino." Os ensinadores espíritas virtualmente declaram: "Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que Ele Se agrada; ou onde está o Deus do juízo?" Malaquias 2:17. Diz a Palavra de Deus: "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade." Isaías 5:20. GC 557 1 Os apóstolos, conforme os personificam esses espíritos de mentira, são apresentados contradizendo o que escreveram, sob a inspiração do Espírito Santo, quando estavam na Terra. Negam a origem divina da Escritura Sagrada, estando assim a demolir o fundamento da esperança cristã e a extinguir a luz que revela o caminho do Céu. Satanás está fazendo o mundo crer que a Escritura Sagrada é mera ficção, ou ao menos um livro apropriado às eras primitivas, devendo hoje ser considerado com menosprezo, ou rejeitado como obsoleto. E para substituir a Palavra de Deus, exibe as manifestações espíritas. É este um meio inteiramente sob seu domínio; mediante ele é-lhe possível fazer o mundo acreditar o que lhe aprouver. O livro que deve julgar a ele e a seus seguidores, lança-o à obscuridade, precisamente o que lhe convém; o Salvador do mundo ele O representa como sendo nada mais que homem comum. E, assim como a guarda romana que vigiou o túmulo de Jesus espalhou a notícia mentirosa que os sacerdotes e anciãos lhes puseram na boca para negar Sua ressurreição, os que crêem em manifestações espíritas procuram fazer parecer que nada há de miraculoso nas circunstâncias da vida de nosso Salvador. Depois de procurar desta maneira pôr Jesus à sombra, chama a atenção para os seus próprios milagres, declarando que estes excedem em muito as obras de Cristo. GC 557 2 É verdade que o espiritismo hoje está mudando a sua forma, e, ocultando alguns de seus mais reprováveis aspectos, reveste-se de aparência cristã. Mas as suas declarações pela tribuna e pela imprensa têm estado perante o público durante muitos anos, e nelas o seu verdadeiro caráter se acha revelado. Estes ensinos não podem ser negados nem encobertos. GC 558 1 Mesmo em sua forma atual, longe de ser mais tolerável do que o foi anteriormente, é na verdade um engano mais perigoso, por isso que mais sutil. Embora antes atacasse a Cristo e a Escritura Sagrada, hoje professa aceitar a ambos. Mas a Bíblia é interpretada de molde a agradar ao coração não regenerado, enquanto suas verdades solenes e vitais são anuladas. Preocupa-se com o amor, como o principal atributo de Deus, rebaixando-o, porém, até reduzi-lo a sentimentalismo, pouca distinção fazendo entre o bem e o mal. A justiça de Deus, Sua reprovação ao pecado, os requisitos de Sua santa lei, tudo isto é posto de parte. O povo é ensinado a considerar o decálogo como letra morta. Fábulas aprazíveis, fascinantes, cativam os sentidos, levando os homens a rejeitar as Sagradas Escrituras como o fundamento da fé. Cristo é tão verdadeiramente negado como antes; mas Satanás a tal ponto cegou o povo que o engano não pode ser discernido. GC 558 2 Poucos há que tenham justa concepção do poder enganador do espiritismo e do perigo de colocar-se sob sua influência. Muitos se intrometem com ele, simplesmente para satisfazer a curiosidade. Não têm realmente nenhuma fé nele, e encher-se-iam de horror ao pensamento de se entregarem ao domínio dos espíritos. Aventuram-se, porém, a entrar no terreno proibido e o poderoso destruidor exerce a sua força sobre eles contra a sua vontade. Uma vez induzidos a submeter a mente à sua direção, segura-os ele em cativeiro. É impossível pela sua própria força romperem com o fascinante, sedutor encanto. Nada, a não ser o poder de Deus, concedido em resposta à fervorosa oração da fé, poderá livrar essas almas prisioneiras. GC 558 3 Todos os que condescendem com traços pecaminosos de caráter, ou voluntariamente acariciam um pecado conhecido, estão a atrair as tentações de Satanás. Separam-se de Deus e do vigilante cuidado de Seus anjos; apresentando o maligno os seus enganos, estão indefesos, tornando-se presa fácil. Os que assim se colocam em seu poder, não compreendem onde terminará seu caminho. Tendo-os subjugado por completo, o tentador os emprega como agentes para levar outros à ruína. GC 559 1 Diz o profeta Isaías: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares, e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes -- não recorrerá um povo ao seu Deus? a favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." Isaías 8:19, 20. Se os homens tivessem estado dispostos a receber a verdade tão claramente apresentada nas Escrituras, concernente à natureza do homem e ao estado dos mortos, veriam nas pretensões e manifestações do espiritismo a operação de Satanás com poder, sinais e prodígios de mentira. Mas ao invés de renunciar à liberdade tão agradável ao coração carnal, assim como aos pecados que amam, as multidões fecham os olhos à luz e prosseguem em seus caminhos, sem tomar em consideração as advertências, ao mesmo tempo em que Satanás lhes tece em torno as suas armadilhas, fazendo-os presa sua. "Porque não receberam o amor da verdade para se salvarem", "Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira." 2 Tessalonicenses 2:10, 11. GC 559 2 Os que se opõem aos ensinos do espiritismo, enfrentam não somente aos homens, mas também a Satanás e a seus anjos. Entraram em luta contra os principados, potestades e espíritos maus dos ares. Satanás não cederá um centímetro de terreno sequer, a menos que seja rechaçado pelo poder dos mensageiros celestiais. O povo de Deus deve ser capaz de o enfrentar, como fez nosso Salvador, com as palavras: "Está escrito." Satanás pode citar a Escritura hoje, como o fez nos dias de Cristo, pervertendo-lhe os ensinos para apoiar seus enganos. Os que quiserem estar em pé neste tempo de perigo, devem compreender por si mesmos o testemunho das Escrituras. GC 560 1 Muitos serão defrontados por espíritos de demônios personificando parentes ou amigos queridos, e declarando as mais perigosas heresias. Estes visitantes apelarão para os nossos mais ternos sentimentos de simpatia, efetuando prodígios para apoiarem suas pretensões. Devemos estar preparados para resistir a eles com a verdade bíblica de que os mortos nada sabem, e de que os que desta maneira aparecem são espíritos de demônios. GC 560 2 Está iminente diante de nós a "hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra." Apocalipse 3:10. Todos aqueles cuja fé não estiver firmemente estabelecida na Palavra de Deus, serão enganados e vencidos. Satanás opera com "todo o engano da injustiça", para alcançar domínio sobre os filhos dos homens; e os seus enganos aumentarão continuamente. Só logrará alcançar, porém, o objetivo visado, quando os homens voluntariamente cederem a suas tentações. Os que sinceramente buscam o conhecimento da verdade, e se esforçam em purificar a alma pela obediência, fazendo assim o que podem a fim de preparar-se para o conflito, encontrarão refúgio seguro no Deus da verdade. "Como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei" (Apocalipse 3:10), é a promessa do Salvador. Mais fácil seria enviar Ele todos os anjos do Céu para protegerem Seu povo, do que deixar a alma que nEle confia ser vencida por Satanás. GC 560 3 O profeta Isaías descreve a terrível ilusão que virá sobre os ímpios, levando-os a considerar-se seguros contra os juízos de Deus: "Fizemos concerto com a morte, e com o inferno fizemos aliança; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós, porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos." Isaías 28:15. Na classe aqui descrita estão incluídos os que, em obstinada impenitência, se consolam com a segurança de que deverá haver castigo para o pecador; de que toda a humanidade, não importa quão corruptas sejam as pessoas, será elevada até aos Céus, para se tornar como os anjos de Deus. Entretanto, de modo ainda mais declarado estão a fazer concerto com a morte e aliança com o inferno os que renunciam às verdades que o Céu proveu como defesa aos justos no tempo de angústia, e aceitam o falso abrigo oferecido por Satanás em lugar daquelas, a saber, as sedutoras pretensões do espiritismo. GC 561 1 É sobremaneira admirável a cegueira do povo desta geração. Milhares rejeitam a Palavra de Deus como indigna de crédito, e com absoluta confiança esposam os enganos de Satanás. Cépticos e escarnecedores acusam o fanatismo dos que contendem pela fé dos profetas e apóstolos, e divertem-se ridicularizando as declarações solenes das Escrituras referentes a Cristo, ao plano da salvação e ao castigo que aguarda os que rejeitam a verdade. Aparentam grande piedade por espíritos tão acanhados, fracos e supersticiosos que reconheçam as reivindicações de Deus e obedeçam aos requisitos de Sua lei. Manifestam tamanha segurança como se na verdade, houvesse feito um concerto com a morte e uma aliança com o inferno -- como se houvessem erigido uma barreira intransponível, impenetrável, entre si e a vingança de Deus. Nada lhes pode suscitar temores. Tão completamente se têm entregue ao tentador, tão intimamente se acham com ele unidos e tão imbuídos de seu espírito, que não têm poder nem inclinação para desembaraçar-se de suas ciladas. GC 561 2 Satanás tem há muito estado a preparar-se para um esforço final a fim de enganar o mundo. O fundamento de sua obra foi posto na declaração feita a Eva no Éden: "Certamente não morrereis." "No dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:4, 5. Pouco a pouco ele tem preparado o caminho para a sua obra-mestra de engano: o desenvolvimento do espiritismo. Até agora não logrou realizar completamente seus desígnios; mas estes serão atingidos no fim dos últimos tempos. Diz o profeta: "Vi ... três espíritos imundos semelhantes a rãs. ... São espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus todo-poderoso." Apocalipse 16:13, 14. Com exceção dos que são guardados pelo poder de Deus, pela fé em Sua Palavra, o mundo todo será envolvido por esse engano. O povo está rapidamente adormecendo, acalentado por uma segurança fatal, para unicamente despertar com o derramamento da ira de Deus. GC 562 1 Diz o Senhor Deus: "Regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo: E o vosso concerto com a morte se anulará; e a vossa aliança com o inferno não subsistirá; e, quando o dilúvio do açoite passar, então sereis oprimidos por ele." Isaías 28:17, 18. ------------------------Capítulo 35 -- Ameaça à consciência GC 563 1 O romanismo é hoje olhado pelos protestantes com muito maior favor do que anos atrás. Nos países em que o catolicismo não está na ascendência, e os romanistas adotam uma política conciliatória a fim de a conseguir, há crescente indiferença com relação às doutrinas que separam as igrejas reformadas da hierarquia papal; ganha terreno a opinião de que, em última análise, não diferimos tão grandemente em pontos vitais como se supunha, e de que pequenas concessões de nossa parte nos levarão a melhor entendimento com Roma. Houve tempo em que os protestantes davam alto valor à liberdade de consciência a tão elevado preço comprada. Ensinavam os filhos a aborrecer o papado, e sustentavam que buscar harmonia com Roma seria deslealdade para com Deus. Mas quão diferentes são os sentimentos hoje expressos! GC 563 2 Os defensores do papado afirmaram que a igreja foi caluniada; e o mundo protestante inclina-se a aceitar esta declaração. Muitos insistem em que é injusto julgar a igreja de hoje pelas abominações e absurdos que assinalaram seu domínio durante os séculos de ignorância e trevas. Desculpam sua horrível crueldade como sendo o resultado da barbárie dos tempos, e alegam que a influência da civilização moderna lhe mudou os sentimentos. GC 564 1 Olvidaram estas pessoas a pretensão de infalibilidade sustentada há oitocentos anos por esse altivo poder? Longe de ser abandonada, firmou-se esta pretensão no século XIX de modo mais positivo que nunca dantes. Visto como Roma afirma que a igreja "nunca errou nem, segundo as Escrituras, errará jamais" (História Eclesiástica de Mosheim), como poderá ela renunciar aos princípios que lhe nortearam a conduta nas eras passadas? GC 564 2 A igreja papal nunca abandonará a sua pretensão à infalibilidade. Tudo que tem feito em perseguição dos que lhe rejeitam os dogmas, considera ela estar direito; e não repetiria os mesmos atos se a oportunidade se lhe apresentasse? Removam-se as restrições ora impostas pelos governos seculares, reintegre-se Roma ao poderio anterior, e de pronto ressurgirá a tirania e perseguição. GC 564 3 Bem conhecido escritor refere-se nos seguintes termos à atitude da hierarquia papal no que respeita à liberdade de consciência, e aos perigos que ameaçam especialmente os Estados Unidos pelo êxito de sua política: GC 564 4 "Há muitos que se dispõem a atribuir ao fanatismo ou à infantilidade todo receio quanto ao catolicismo romano nos Estados Unidos. Tais pessoas nada vêem no caráter e atitude do romanismo que seja hostil às nossas instituições livres, ou nada encontram de mau sinal no incremento que vai tomando. Comparemos, pois, em primeiro lugar, alguns dos princípios fundamentais de nosso governo com os da Igreja Católica. GC 564 5 "A Constituição dos Estados Unidos garante liberdade de consciência. Nada se preza mais ou é de maior transcendência. O Papa Pio IX, na encíclica de 15 de agosto de 1854, disse: 'As doutrinas ou extravagâncias absurdas e errôneas em defesa da liberdade de consciência, são erro dos mais perniciosos -- uma peste que, dentre todas as outras, mais deve ser temida no Estado.' O mesmo papa, na encíclica de 8 de dezembro de 1864, anatematizou 'os que defendem a liberdade de consciência e de culto' e também 'todos os que afirmam que a igreja não pode empregar a força.' GC 565 1 "O tom pacífico usado por Roma nos Estados Unidos não implica mudança de coração. É tolerante onde é impotente. Diz o Bispo O'Connor: 'A liberdade religiosa é meramente suportada até que o contrário possa ser levado a efeito sem perigo para o mundo católico.' ... O arcebispo de St. Louis, Estados Unidos, disse certa vez: 'A heresia e a incredulidade são crimes; e em países cristãos como a Itália e a Espanha, por exemplo, onde todo o povo é católico, e onde a religião católica é parte essencial da lei da nação, são elas punidas como os outros crimes.' ... GC 565 2 "Todo cardeal, arcebispo e bispo da Igreja Católica, presta para com o papa um juramento de fidelidade em que ocorrem as seguintes palavras: 'Combaterei os hereges, cismáticos e rebeldes ao dito senhor nosso (o papa), ou seus sucessores, e persegui-los-ei com todo o meu poder.'" -- Our Country, do Dr. Josias Strong. GC 565 3 É certo que há verdadeiros cristãos na comunhão católico-romana. Milhares na dita igreja estão servindo a Deus segundo a melhor luz que possuem. Não se lhes permite acesso à Sua Palavra, e, portanto, não distinguem a verdade. Nunca viram o contraste entre um verdadeiro culto prestado de coração e um conjunto de meras formas e cerimônias. Deus olha para essas almas com compadecida ternura, educadas como são em uma fé que é ilusória e não satisfaz. Fará com que raios de luz penetrem as densas trevas que as cercam. Revelar-lhes-á a verdade como é em Jesus, e muitos ainda se unirão ao Seu povo. GC 565 4 Mas o romanismo, como sistema não se acha hoje em harmonia com o evangelho de Cristo mais do que em qualquer época passada de sua história. As igrejas protestantes estão em grandes trevas, pois do contrário discerniriam os sinais dos tempos. São de grande alcance os planos e modos de operar da Igreja de Roma. Emprega todo expediente para estender a influência e aumentar o poderio, preparando-se para um conflito feroz e decidido a fim de readquirir o domínio do mundo, restabelecer a perseguição e desfazer tudo que o protestantismo fez. O catolicismo está a ganhar terreno de todos os lados. Vede o número crescente de suas igrejas e capelas nos países protestantes. Notai a popularidade de seus colégios e seminários na América do Norte, tão extensamente patrocinados pelos protestantes. Pensai no crescimento do ritualismo na Inglaterra, e nas freqüentes deserções para as fileiras dos católicos. Estas coisas deveriam despertar a ansiedade de todos os que prezam os puros princípios do evangelho. GC 566 1 Os protestantes têm-se intrometido com o papado, patrocinando-o; têm usado de transigência e feito concessões que os próprios romanistas se surpreendem de ver e não compreendem. Os homens cerram os olhos ao verdadeiro caráter do romanismo, e aos perigos que se devem recear com a sua supremacia. O povo necessita ser despertado a fim de resistir aos avanços deste perigosíssimo inimigo da liberdade civil e religiosa. GC 566 2 Muitos protestantes supõem que a religião católica não é atrativa, e que seu culto é um conjunto de cerimônias, fastidioso e sem sentido. Enganam-se, porém. Embora o romanismo se baseie no engano, não é impostura grosseira e desprovida de arte. O culto da Igreja Romana é um cerimonial assaz impressionante. O brilho de sua ostentação e a solenidade dos ritos fascinam os sentidos do povo, fazendo silenciar a voz da razão e da consciência. Os olhos ficam encantados. Igrejas magnificentes, imponentes procissões, altares de ouro, relicários com pedras preciosas, quadros finos e artísticas esculturas apelam para o amor do belo. O ouvido também é cativado. A música é excelente. As belas e graves notas do órgão, misturando-se à melodia de muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e naves ornamentadas de colunas, das grandiosas catedrais, não podem deixar de impressionar a mente com profundo respeito e reverência. GC 566 3 Este esplendor, pompa e cerimônias exteriores, que apenas zombam dos anelos da alma ferida pelo pecado, são evidência da corrupção interna. A religião de Cristo não necessita de semelhantes atrativos para se fazer recomendável. À luz que promana da cruz, o verdadeiro cristianismo apresenta-se tão puro e adorável que decorações externas nenhumas poderão encarecer-lhe o verdadeiro valor. É a beleza da santidade, o espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. GC 567 1 O fulgor do estilo não é necessariamente índice de pensamento puro, elevado. Altas concepções de arte, delicado apuro de gosto, existem amiúde em espíritos que são terrenos e sensuais. São freqüentemente empregados por Satanás a fim de levar homens a esquecer-se das necessidades da alma, a perder de vista o futuro e a vida imortal, a desviar-se do infinito Auxiliador e a viver para este mundo unicamente. GC 567 2 Uma religião de exibições externas é atraente ao coração não renovado. A pompa e cerimonial do culto católico têm um sedutor, fascinante poder, pelos quais são enganados muitos, que chegam a considerar a Igreja Romana como a própria porta do Céu. Ninguém, a não ser os que têm os pés firmados nos fundamentos da verdade, e o coração renovado pelo Espírito de Deus, se acha ao abrigo de sua influência. Milhares que não têm um conhecimento experimental de Cristo serão levados a aceitar as formas da piedade sem a sua eficácia. Esta é a religião que precisamente desejam as multidões. GC 568 3 A pretensão da igreja ao direito de perdoar, leva o romanista a sentir-se com liberdade de pecar; e a ordenança da confissão, sem a qual o perdão não é conferido, tende igualmente a dar livre curso ao mal. O que se ajoelha diante de um mortal e revela em confissão os pensamentos e imaginações secretos do coração, está aviltando a sua varonilidade, degradando todo nobre instinto da alma. Desvendando os pecados de sua vida a um sacerdote -- mortal falível, pecador, e mui freqüentemente corrompido pelo vinho e licenciosidade -- sua norma de caráter é rebaixada, e, como conseqüência, fica contaminado. Seu conceito acerca de Deus é degradado à semelhança da humanidade decaída; pois o padre se acha como representante de Deus. Esta degradante confissão de homem para homem é a fonte secreta donde têm fluído muitos dos males que aviltam o mundo e o preparam para a destruição final. Todavia, para o que ama a satisfação própria, é mais agradável confessar a um semelhante mortal do que abrir a alma a Deus. Fica mais a gosto da natureza humana fazer penitência do que renunciar ao pecado; é mais fácil mortificar a carne com cilício, urtigas e aflitivas cadeias, do que crucificar os desejos carnais. Pesado é o fardo que o coração carnal deseja levar de preferência a curvar-se ao jugo de Cristo. GC 568 1 Existia notável semelhança entre a Igreja de Roma e a igreja judaica, ao tempo do primeiro advento de Cristo. Ao passo que os judeus secretamente espezinhavam todos os princípios da lei de Deus, eram exteriormente rigorosos na observância de seus preceitos, sobrecarregando-a com exorbitâncias e tradições que tornavam difícil e penosa a obediência. Assim como os judeus professavam reverenciar a lei, pretendem os romanistas reverenciar a cruz. Exaltam o símbolo dos sofrimentos de Cristo, enquanto no viver negam Aquele a quem ela representa. GC 568 2 Os romanistas colocam cruzes sobre as igrejas, sobre os altares e sobre as vestes. Por toda parte se vê a insígnia da cruz. Por toda parte é ela exteriormente honrada e exaltada. Mas os ensinos de Cristo estão sepultados sob um montão de tradições destituídas de sentido, falsas interpretações e rigorosas exigências. As palavras do Salvador relativas aos fanáticos judeus, aplicam-se com maior força ainda aos chefes da Igreja Católica Romana: "Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo os querem mover." Mateus 23:4. Almas conscienciosas são conservadas em constante terror, temendo a ira de um Deus que foi ofendido, enquanto muitos dos dignitários da igreja estão a viver no luxo e em prazeres sensuais. GC 568 3 O culto das imagens e relíquias, a invocação dos santos e a exaltação do papa são ardis de Satanás para desviar de Deus e de Seu Filho a mente do povo. Para efetuar sua ruína, esforça-se por afastar sua atenção dAquele por meio de quem unicamente podem encontrar salvação. Dirigirá as almas para qualquer objeto pelo qual possa ser substituído Aquele que disse: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. GC 569 1 É o constante esforço de Satanás representar falsamente o caráter de Deus, a natureza do pecado e os resultados finais em jogo no grande conflito. Seus sofismas diminuem a obrigação da lei divina dando ao homem licença para pecar. Ao mesmo tempo fá-lo Satanás acariciar falsas concepções acerca de Deus, de maneira que O considera com temor e ódio, em vez de amor. A crueldade inerente ao seu próprio caráter é atribuída ao Criador; aparece incorporada aos vários sistemas de religião e expressa nas diversas formas de culto. Sucede assim que a mente dos homens é cegada e Satanás deles se aproveita como agentes para guerrear contra Deus. Por meio de concepções pervertidas acerca dos atributos divinos, foram as nações gentílicas levadas a crer serem os sacrifícios humanos necessários para alcançar o favor da Divindade; e horríveis crueldades têm sido perpetradas sob as várias formas de idolatria. GC 569 2 A Igreja Católica Romana, unindo as formas do paganismo com as do cristianismo, e, à semelhança do primeiro, representando falsamente o caráter de Deus, tem recorrido a práticas não menos cruéis e revoltantes. Nos dias da supremacia de Roma, houve instrumentos de tortura para forçar o assentimento a suas doutrinas. Houve a fogueira para os que não queriam admitir suas exigências. Houve massacres em proporções que jamais serão conhecidos até que se revelem no dia do juízo. Os dignitários da igreja, dirigidos por seu chefe Satanás, dedicavam-se a inventar meios para produzir a maior tortura possível antes de pôr termo à vida das vítimas. Em muitos casos o processo infernal era repetido ao limite extremo da resistência humana, até que a natureza capitulava na luta e o sofredor saudava a morte como doce alívio. GC 569 3 Esta era a sorte dos que discordavam de Roma. Para os seus adeptos tinha ela a disciplina do açoite, da fome, das austeridades corporais de todas as formas imagináveis, cujo aspecto punge o coração. Para conseguir o favor do Céu, os penitentes violavam as leis de Deus transgredindo as leis da Natureza. Eram ensinados a romper com os laços que Ele fizera para abençoar e alegrar a permanência do homem na Terra. Os cemitérios das igrejas contêm milhões de vítimas que passaram a vida em vãos esforços para subjugar as afeições naturais, para reprimir, como se fosse ofensivo a Deus, todo pensamento e sentimento de simpatia para com o semelhante. GC 570 1 Se quisermos compreender a decidida crueldade de Satanás, manifestada no transcurso dos séculos, não entre os que jamais ouviram algo acerca de Deus, mas no próprio coração da cristandade e através da mesma em toda a sua extensão, temos apenas de olhar para a história do romanismo. Por meio deste gigantesco sistema de engano, o príncipe do mal leva a efeito seu propósito de acarretar a desonra a Deus e a desgraça ao homem. E, vendo nós como consegue disfarçar-se e realizar a sua obra por intermédio dos dirigentes da igreja, melhor podemos compreender o motivo de ter tão grande aversão à Escritura Sagrada. Se este Livro for lido, a misericórdia e amor de Deus serão revelados; ver-se-á que Ele não impõe aos homens nenhum desses pesados fardos. Tudo que requer é um coração quebrantado e contrito, um espírito humilde e obediente. GC 570 2 Cristo não dá em Sua vida nenhum exemplo que autorize os homens e mulheres a se encerrarem em mosteiros sob pretexto de se prepararem para o Céu. Jamais ensinou que o amor e a simpatia devem ser reprimidos. O coração de Jesus transbordava de amor. Quanto mais o homem se aproxima da perfeição moral, mais acentuada é sua sensibilidade, mais aguda a percepção do pecado e mais profunda a simpatia para com os aflitos. O papa pretende ser o vigário de Cristo; mas como se poderá comparar o seu caráter com o de nosso Salvador? Viu-se alguma vez Cristo condenar homens à prisão ou ao instrumento de tortura, porque não Lhe renderam homenagem como Rei do Céu? Acaso foi Sua voz ouvida a sentenciar à morte os que O não aceitaram? Quando foi menosprezado pelo povo da aldeia samaritana, o apóstolo João se encheu de ira e perguntou: "Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também o fez?" Jesus olhou, compassivo, para o discípulo e censurou-lhe a severidade, dizendo: "O Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las." Lucas 9:54, 56. Quão diferente do espírito manifestado por Cristo é o de Seu professo vigário! GC 571 1 A Igreja de Roma apresenta hoje ao mundo uma fronte serena, cobrindo de justificações o registro de suas horríveis crueldades. Vestiu-se com roupagens de aspecto cristão; não mudou, porém. Todos os princípios formulados pelo papado em épocas passadas, existem ainda hoje. As doutrinas inventadas nas tenebrosas eras ainda são mantidas. Ninguém se deve iludir. O papado que os protestantes hoje se acham tão prontos para honrar é o mesmo que governou o mundo nos dias da Reforma, quando homens de Deus se levantavam, com perigo de vida, a fim de denunciar sua iniqüidade. Possui o mesmo orgulho e arrogante presunção que dele fizeram senhor sobre reis e príncipes, e reclamaram as prerrogativas de Deus. Seu espírito não é menos cruel e despótico hoje do que quando arruinou a liberdade humana e matou os santos do Altíssimo. GC 571 2 O papado é exatamente o que a profecia declarou que havia de ser: a apostasia dos últimos tempos. 2 Tessalonicenses 2:3, 4. Faz parte de sua política assumir o caráter que melhor cumpra o seu propósito; mas sob a aparência variável do camaleão, oculta o invariável veneno da serpente. "Não se deve manter a palavra empenhada aos hereges, nem com pessoas suspeitas de heresias", declara Roma. -- História do Concílio de Constança, de Lenfant. Deverá esta potência, cujo registro milenar se acha escrito com o sangue dos santos, ser hoje reconhecida como parte da igreja de Cristo? GC 571 3 Não é sem motivo que se tem feito nos países protestantes a alegação de que o catolicismo difere hoje menos do protestantismo do que nos tempos passados. Houve uma mudança; mas esta não se verificou no papado. O catolicismo na verdade em muito se assemelha ao protestantismo que hoje existe; pois o protestantismo moderno muito se distancia daquele dos dias da Reforma. GC 571 4 Tendo estado as igrejas protestantes à procura do favor do mundo, a falsa caridade lhes cegou os olhos. Não vêem senão que é direito julgar bem de todo o mal; e, como resultado inevitável, julgarão finalmente mal de todo o bem. Em vez de permanecerem em defesa da fé que uma vez foi entregue aos santos, estão hoje, por assim dizer, justificando Roma, por motivo de sua opinião inclemente para com ela, e rogando perdão pelo seu fanatismo. GC 572 1 Uma numerosa classe, mesmo dentre os que consideram o romanismo sem favor, pouco perigo percebe em seu poderio e influência. Muitos insistem em que as trevas intelectuais e morais que prevaleceram durante a Idade Média favoreceram a propagação de seus dogmas, superstições e opressão, e que a inteligência maior dos tempos modernos, a difusão geral do saber e a crescente liberalidade em matéria de religião, vedam o avivamento da intolerância e tirania. O próprio pensamento de que tal estado de coisas venha a existir nesta era esclarecida, é ridicularizado. É verdade que grande luz intelectual, moral e religiosa resplandece sobre esta geração. Das páginas abertas da santa Palavra de Deus, tem-se derramado luz do Céu sobre o mundo. Mas cumpre lembrar que quanto maior a luz concedida, maiores as trevas dos que a pervertem ou rejeitam. GC 572 2 Um estudo da Escritura Sagrada, feito com oração, mostraria aos protestantes o verdadeiro caráter do papado, e os faria aborrecê-lo e evitá-lo; mas muitos são tão sábios em seu próprio conceito que não sentem necessidade de humildemente buscar a Deus para que possam ser levados à verdade. Posto que se orgulhando de sua ilustração, são ignorantes tanto sobre as Escrituras como a respeito do poder de Deus. Precisam de algum meio de acalmar a consciência; e buscam o que menos espiritual e humilhante é. O que desejam é um modo de esquecer a Deus, que passe por um modo de lembrar-se dEle. O papado está bem adaptado a satisfazer às necessidades de todos estes. Está preparado para as duas classes da humanidade, abrangendo o mundo quase todo: os que desejam salvar-se pelos próprios méritos, e os que desejam ser salvos em seus pecados. Eis aqui o segredo de seu poder. GC 572 3 Uma época de grandes trevas intelectuais demonstrou-se favorável ao êxito do papado. Provar-se-á ainda que um tempo de grande luz intelectual é igualmente favorável a seu triunfo. Nos séculos antigos, quando os homens estavam sem a Palavra de Deus e sem conhecimento da verdade, seus olhos estavam vendados, e milhares se enredavam, não vendo a cilada que lhes era armada sob os pés. Nesta geração muitos há cujos olhos se tornam ofuscados pelo resplendor das especulações humanas -- da "falsamente chamada ciência"; não percebem a rede e nela caem tão facilmente como se estivessem de olhos vendados. É o intuito de Deus que as faculdades intelectuais do homem sejam tidas na conta de um dom proveniente de seu Criador, e empregadas no serviço da verdade e da justiça; mas, quando são acariciados o orgulho e a ambição, e os homens exaltam as suas próprias teorias acima da Palavra de Deus, pode então a inteligência causar maior dano que a ignorância. Assim a falsa ciência da atualidade que mina a fé nas Escrituras Sagradas, mostrar-se-á tão bem-sucedida no preparar o caminho para a aceitação do papado com seu formalismo aprazível, como o fez a retenção do saber ao abrir o caminho para o seu engrandecimento na Idade Média. GC 573 1 No movimento ora em ação nos Estados Unidos a fim de conseguir para as instituições e usos da igreja o apoio do Estado, os protestantes estão a seguir as pegadas dos romanistas. Na verdade, mais que isto, estão abrindo a porta para o papado a fim de adquirir na América do Norte protestante a supremacia que perdeu no Velho Mundo. E o que dá maior significação a este movimento é o fato de que o principal objeto visado é a obrigatoriedade da observância do domingo, prática que se originou com Roma, e que ela alega como sinal de sua autoridade. É o espírito do papado -- espírito de conformidade com os costumes mundanos, com a veneração das tradições humanas acima dos mandamentos de Deus -- que está embebendo as igrejas protestantes e levando-as a fazer a mesma obra de exaltação do domingo, a qual antes delas fez o papado. GC 573 2 Se o leitor deseja compreender que agentes atuarão na luta prestes a vir, não tem senão que investigar o relato dos meios que Roma empregou com o mesmo fito nos séculos passados. Se quiser saber como romanistas e protestantes, unidos, tratarão os que rejeitarem seus dogmas, veja o espírito que Roma manifestou em relação ao sábado e seus defensores. GC 574 1 Editos reais, concílios gerais e ordenanças eclesiásticas, apoiadas pelo poder secular, foram os passos por que a festividade pagã alcançou posição de honra no mundo cristão. A primeira medida de ordem pública impondo a observância do domingo foi a lei feita por Constantino. (No ano 321.) Este edito exigia que o povo da cidade repousasse "no venerável dia do Sol", mas permitia aos homens do campo continuarem com suas fainas agrícolas. Posto que virtualmente um estatuto pagão, foi imposto pelo imperador depois de ser nominalmente aceito pelo cristianismo. GC 574 2 Como a ordem real não parecia substituir de modo suficiente a autoridade divina, Eusébio, bispo que procurava o favor dos príncipes e era amigo íntimo e adulador de Constantino, propôs a alegação de que Cristo transferira o sábado para o domingo. Nenhum testemunho das Escrituras, sequer, foi aduzido em prova da nova doutrina. O próprio Eusébio inadvertidamente reconhece sua falsidade, e indica os verdadeiros autores da mudança. "Todas as coisas", diz ele, "que se deveriam fazer no sábado nós as transferimos para o dia do Senhor." -- Leis e Deveres Sabáticos, de R. Cox. Mas o argumento do domingo, infundado como era, serviu para incentivar os homens a desprezarem o sábado do Senhor. Todos os que desejavam ser honrados pelo mundo, aceitaram a festividade popular. GC 574 3 Com o firme estabelecimento do papado, a obra da exaltação do domingo continuou. Durante algum tempo o povo se ocupou com trabalho agrícola fora das horas de culto, e o sétimo dia, o sábado, continuou a ser considerado como dia de repouso. Lenta e seguramente, porém, se foi efetuando a mudança. Aos que se achavam em cargos sagrados era vedado proceder, no domingo, a julgamentos em qualquer questão civil. Logo depois, ordenava-se a todas as pessoas; de qualquer classe, abster-se do trabalho usual, sob pena de multa aos livres, e açoites no caso de serem servos. Mais tarde foi decretado que os ricos fossem punidos com a perda da metade dos bens; e, finalmente, que, se obstinassem, fossem escravizados. As classes inferiores deveriam sofrer banimento perpétuo. GC 575 1 Recorreu-se também aos milagres. Entre outros prodígios foi referido que estando um lavrador, em dia de domingo, a limpar o arado com um ferro para em seguida lavrar o campo, o ferro cravou-se-lhe firmemente na mão, e durante dois anos ele o carregou consigo, "para a sua grande dor e vergonha." -- Discurso Histórico e Prático Sobre o Dia do Senhor, de Francis West. GC 575 2 Mais tarde o papa deu instruções para que o padre da paróquia admoestasse os violadores do domingo, e fizesse com que fossem à igreja dizer suas orações, não acontecesse trouxessem eles alguma grande calamidade sobre si mesmos e os vizinhos. Um concílio eclesiástico apresentou o argumento, desde então mui largamente empregado, mesmo pelos protestantes, de que, tendo pessoas sido fulminadas por raios enquanto trabalhavam no domingo, deve este ser o dia de repouso. "É evidente", diziam os prelados, "quão grande foi o desprazer de Deus pela sua negligência quanto a este dia." Fez-se então o apelo para que padres e ministros, reis e príncipes, e todo o povo fiel, "empregassem os maiores esforços e cuidado a fim de que o dia fosse restabelecido à sua honra e, para crédito do cristianismo, mais dedicadamente observado no futuro." -- Discurso em Seis Diálogos Sobre o Nome, Noção e Observância do Dia do Senhor, de T. Morer. GC 575 3 Mostrando-se insuficientes os decretos dos concílios, foi rogado às autoridades seculares que promulgassem um edito que inspirasse terror ao povo, e o obrigasse a abster-se do trabalho no domingo. Num sínodo realizado em Roma, todas as decisões anteriores foram reafirmadas, com maior força e solenidade. Foram também incorporadas à lei eclesiástica, e impostas pelas autoridades civis, através de quase toda a cristandade. -- História do Sábado, de Heylyn. GC 576 1 A ausência de autoridade escriturística para a guarda do domingo ainda ocasionava não pequenas dificuldades. O povo punha em dúvida o direito de seus instrutores de deixarem de lado a positiva declaração de Jeová: "o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus", para honrar o dia do Sol. A fim de suprir a falta de testemunho bíblico, foram necessários outros expedientes. Um zeloso defensor do domingo, que pelos fins do século XII visitou as igrejas da Inglaterra, encontrou resistência por parte de fiéis testemunhas da verdade; e tão infrutíferos foram os seus esforços que se retirou do país por algum tempo, em busca de meios para fazer valer os seus ensinos. Ao voltar, a falta foi suprida, e em seus trabalhos posteriores obteve maior êxito. Trouxe consigo um rolo que dizia provir do próprio Deus, e conter a necessária ordem para a observância do domingo, com terríveis ameaças para amedrontar o desobediente. Este precioso documento -- fraude tão vil como a instituição que apoiava, dizia-se haver caído do Céu, e sido achado em Jerusalém, sobre o altar de Simeão, no Gólgota. Mas, em realidade, o palácio pontifical em Roma foi a fonte donde procedeu. Fraudes e falsificações para promover o poderio e prosperidade da igreja têm sido em todos os séculos consideradas lícitas pela hierarquia papal. GC 576 2 O rolo proibia o trabalho desde a hora nona, três horas da tarde, do sábado, até ao nascer do Sol na segunda-feira; e declarava-se ser a sua autoridade confirmada por muitos milagres. Referia-se que pessoas que trabalharam além da hora indicada, foram atacadas de paralisia. Certo moleiro que tentou moer o trigo, viu, em lugar da farinha, sair uma torrente de sangue, e a mó ficar parada apesar do forte ímpeto da água. Uma mulher que pusera massa de pão ao forno, achou-a crua quando foi tirada, embora o forno estivesse muito quente. Outra que tinha massa preparada para cozer à hora nona, mas resolvera deixá-la de lado até segunda-feira, encontrou-a no dia seguinte transformada em pães e estava cozida pelo poder divino. Um homem que cozeu o pão depois da hora nona no sábado, achou, ao parti-lo na manhã seguinte, que do mesmo saía sangue. Por meio de tais invencionices absurdas e supersticiosas, esforçaram-se os defensores do domingo por estabelecer a santidade deste. -- Anais, de Roger de Hoveden. GC 577 1 Na Escócia, assim como na Inglaterra, conseguiu-se consideração maior pelo domingo, unindo-se-lhe uma parte do antigo sábado. Mas o tempo que se exigia fosse santificado, variava. Um edito do rei da Escócia declarou que "se deveria considerar santo desde o meio-dia de sábado", e que ninguém, desde aquela hora até segunda-feira de manhã, deveria ocupar-se em trabalhos seculares. -- Diálogos Sobre o Dia do Senhor, de Morer. GC 577 2 Mas, apesar de todos os esforços para estabelecer a santidade do domingo, os próprios romanistas publicamente confessavam a autoridade divina do sábado, e a origem humana da instituição pela qual foi ele suplantado. No século XVI, um concílio papal declarou francamente: "Lembrem-se todos os cristãos de que o sétimo dia foi consagrado por Deus, recebido e observado, não somente pelos judeus mas por todos os outros que pretendiam adorar a Deus, embora nós, os cristãos, tenhamos mudado o Seu sábado para o dia do Senhor (domingo)." -- Ibidem. Os que estavam a se intrometer com a lei divina, não ignoravam o caráter de sua obra. Achavam-se deliberadamente colocando-se acima de Deus. GC 577 3 Exemplo notável da política de Roma para com os que dela discordavam, foi dado na longa e sanguinolenta perseguição dos valdenses, alguns dos quais eram observadores do sábado. Outros sofreram de modo semelhante pela sua fidelidade para com o quarto mandamento. A história das igrejas da Etiópia é especialmente significativa. Em meio das trevas da Idade Média, os cristãos da África Central foram perdidos de vista e esquecidos pelo mundo, e durante muitos séculos gozaram liberdade no exercício de sua fé. Mas finalmente Roma soube de sua existência, e o imperador da Etiópia foi logo induzido a reconhecer o papa como vigário de Cristo. Seguiram-se outras concessões. Foi promulgado um edito proibindo a observância do sábado, sob as mais severas penas. -- História Eclesiástica da Etiópia, de Michael Geddes. Mas a tirania papal se tornou logo um jugo tão amargo, que os etíopes resolveram sacudi-lo de seu pescoço. Depois de luta terrível, os romanistas foram banidos de seus domínios, restabelecendo-se a antiga fé. As igrejas regozijaram-se com a liberdade, e jamais olvidaram a lição que aprenderam concernente aos enganos, fanatismo e poder despótico de Roma. Estavam contentes por permanecerem dentro de seu reino solitário, desconhecidos para o resto da cristandade. GC 578 1 As igrejas da África observavam o sábado como este fora guardado pela igreja papal antes de sua completa apostasia. Enquanto guardavam o sétimo dia em obediência ao mandamento de Deus, abstinham-se de trabalhar no domingo, em conformidade com o costume da igreja. Obtendo poder supremo, Roma pisou sobre o sábado do Senhor para exaltar o seu próprio; mas as igrejas da África, ocultas quase durante mil anos, não participaram desta apostasia. Quando postas sob o domínio de Roma, foram obrigadas a deixar de lado o verdadeiro sábado e exaltar o falso; porém, mal readquiriram a independência, voltaram a obedecer ao quarto mandamento. GC 578 2 Estes relatos do passado revelam claramente a inimizade de Roma para com o sábado legítimo e seus defensores, e os meios que emprega para honrar a instituição por ela criada. A Palavra de Deus ensina que estas cenas devem repetir-se, quando os católicos romanos e protestantes se unirem para a exaltação do domingo. GC 578 3 A profecia do Capítulo 13 do Apocalipse declara que o poder representado pela besta de chifres semelhantes aos do cordeiro fará com que a "Terra e os que nela habitam" adorem o papado, ali simbolizado pela besta "semelhante ao leopardo." A besta de dois chifres dirá também "aos que habitam na Terra que façam uma imagem à besta;" e, ainda mais, mandará a todos, "pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos", que recebam o "sinal da besta." Apocalipse 13:11-16. Mostrou-se que os Estados Unidos são o poder representado pela besta de chifres semelhantes aos do cordeiro, e que esta profecia se cumprirá quando aquela nação impuser a observância do domingo, que Roma alega ser um reconhecimento especial de sua supremacia. Mas nesta homenagem ao papado os Estados Unidos não estarão sós. A influência de Roma nos países que uma vez já lhe reconheceram o domínio, está ainda longe de ser destruída. E a profecia prevê uma restauração de seu poder. "Vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta." Apocalipse 13:3. A aplicação da chaga mortal indica a queda do papado em 1798. Depois disto, diz o profeta: "A sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta." Paulo declara expressamente que o homem do pecado perdurará até ao segundo advento. 2 Tessalonicenses 2:8. Até mesmo ao final do tempo prosseguirá com a sua obra de engano. E diz o escritor do Apocalipse, referindo-se também ao papado: "Adoraram-na todos os que habitam sobre a Terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida." Apocalipse 13:8. Tanto no Velho como no Novo Mundo o papado receberá homenagem pela honra prestada à instituição do domingo, que repousa unicamente na autoridade da Igreja de Roma. GC 579 1 Durante mais de meio século, investigadores das profecias nos Estados Unidos têm apresentado ao mundo este testemunho. Nos acontecimentos que ora estão a ocorrer, percebe-se rápido progresso no sentido do cumprimento da profecia. Com os ensinadores protestantes há a mesma pretensão de autoridade divina para a guarda do domingo, e a mesma falta de provas bíblicas, que há com os chefes papais que forjaram os milagres para suprir a falta do mandamento de Deus. A afirmação de que os juízos divinos caem sobre os homens por motivo de violarem o repouso dominical, será repetida. Já se ouvem vozes neste sentido. E o movimento para impor a observância do domingo está rapidamente ganhando terreno. GC 580 1 A sagacidade e astúcia da Igreja de Roma são surpreendentes. Ela sabe ler o futuro. Aguarda o seu tempo, vendo que as igrejas protestantes lhe estão prestando homenagem com o aceitar do falso sábado, e se preparam para impô-lo pelos mesmos meios que ela própria empregou em tempos passados. Os que rejeitam a luz da verdade procurarão ainda o auxílio deste poder que a si mesmo se intitula infalível, a fim de exaltarem uma instituição que com ele se originou. Quão prontamente virá esse poder em auxílio dos protestantes nesta obra, não é difícil imaginar. Quem compreende melhor do que os dirigentes papais como tratar com os que são desobedientes à igreja? GC 580 2 A Igreja Católica Romana, com todas as suas ramificações pelo mundo inteiro, forma vasta organização, dirigida da sé papal, e destinada a servir aos interesses desta. Seus milhões de adeptos, em todos os países do globo, são instruídos a se manterem sob obrigação de obedecer ao papa. Qualquer que seja a sua nacionalidade ou governo, devem considerar a autoridade da igreja acima de qualquer outra autoridade. Ainda que façam juramento prometendo lealdade ao Estado, por trás disto, todavia, jaz o voto de obediência a Roma, absolvendo-os de toda obrigação contrária aos interesses dela. GC 580 3 A História testifica de seus esforços, astutos e persistentes, no sentido de insinuar-se nos negócios das nações; e, havendo conseguido pé firme, nada mais faz que favorecer seus próprios interesses, mesmo com a ruína de príncipes e povo. No ano 1204, o papa Inocêncio III arrancou de Pedro II, rei de Aragão, o seguinte e extraordinário juramento: "Eu, Pedro, rei dos aragoneses, declaro e prometo ser sempre fiel e obediente a meu senhor, o Papa Inocêncio, a seus sucessores católicos, e à Igreja Romana, e fielmente preservar meu reino em sua obediência, defendendo a fé católica, e perseguindo a corrupção herética." -- História do Romanismo, de Dowling. Isso está em harmonia com as pretensões relativas ao poder do pontífice romano, de que "lhe é lícito depor imperadores", e de que "pode absolver os súditos, de sua fidelidade para com os governantes ímpios." -- História Eclesiástica, de Mosheim. GC 581 1 E, convém lembrar, Roma jacta-se de que nunca muda. Os princípios de Gregório VII e Inocêncio III ainda são os princípios da Igreja Católica Romana. E tivesse ela tão-somente o poder, pô-los-ia em prática com tanto vigor agora como nos séculos passados. Pouco sabem os protestantes do que estão fazendo ao se proporem aceitar o auxílio de Roma na obra da exaltação do domingo. Enquanto se aplicam à realização de seu propósito, Roma está visando a restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida. Estabeleça-se nos Estados Unidos o princípio de que a igreja possa empregar ou dirigir o poder do Estado; de que as observâncias religiosas possam ser impostas pelas leis seculares; em suma, que a autoridade da igreja e do Estado devem dominar a consciência, e Roma terá assegurado o triunfo nesse país. GC 581 2 A Palavra de Deus deu aviso do perigo iminente; se este for desatendido, o mundo protestante saberá quais são realmente os propósitos de Roma, apenas quando for demasiado tarde para escapar da cilada. Ela está silenciosamente crescendo em poder. Suas doutrinas estão a exercer influência nas assembléias legislativas, nas igrejas e no coração dos homens. Está a erguer suas altaneiras e maciças estruturas, em cujos secretos recessos se repetirão as anteriores perseguições. Sorrateiramente, e sem despertar suspeitas, está aumentando suas forças para realizar seus objetivos ao chegar o tempo de dar o golpe. Tudo que deseja é a oportunidade, e esta já lhe está sendo dada. Logo veremos e sentiremos qual é o propósito do romanismo. Quem quer que creia na Palavra de Deus e a ela obedeça, incorrerá, por esse motivo em censura e perseguição. ------------------------Capítulo 36 -- O maior perigo para o lar e a vida GC 582 1 Desde o início do grande conflito no Céu, tem sido o intento de Satanás subverter a lei de Deus. Foi para realizar isto que entrou em rebelião contra o Criador; e, posto que fosse expulso do Céu, continuou a mesma luta na Terra. Enganar os homens, levando-os assim a transgredir a lei de Deus, é o objetivo que perseverantemente tem procurado atingir. Quer seja isto alcançado pondo de parte toda a lei, quer rejeitando um de seus preceitos, o resultado será finalmente o mesmo. Aquele que tropeçar "em um só ponto", manifesta desprezo pela lei toda; sua influência e exemplo estão do lado da transgressão; torna-se "culpado de todos." Tiago 2:10. GC 582 2 Procurando lançar o desprezo sobre os estatutos divinos, Satanás perverteu as doutrinas da Escritura Sagrada, e assim se incorporaram erros na fé alimentada por milhares dos que professam crer nas Escrituras. O último grande conflito entre a verdade e o erro não é senão a luta final da prolongada controvérsia relativa à lei de Deus. Estamos agora a entrar nesta batalha -- batalha entre as leis dos homens e os preceitos de Jeová, entre a religião da Bíblia e a religião das fábulas e da tradição. GC 582 3 As forças que se unirão contra a verdade e a justiça nesta contenda, estão já a operar ativamente. A santa Palavra de Deus, que nos foi legada a tão grande preço de sofrimento e sangue, é tida em pouca conta. A Bíblia está ao alcance de todos, mas poucos há que realmente a aceitem como guia da vida. A incredulidade prevalece em assustadora proporção, não somente no mundo mas também na igreja. Muitos têm chegado a negar doutrinas que são, com efeito, as colunas da fé cristã. Os grandes fatos da criação conforme são apresentados pelos escritores inspirados, a queda do homem, a expiação, a perpetuidade da lei de Deus, são praticamente rejeitados, quer no todo, quer em parte, por vasta proporção do mundo que professa o cristianismo. Milhares que se orgulham de sua sabedoria e independência, consideram como prova de fraqueza depositar implícita confiança na Bíblia; acham que é prova de talento e saber superiores, cavilar a respeito das Escrituras Sagradas, e espiritualizar e explicar evasivamente suas mais importantes verdades. Muitos pastores estão ensinando ao povo, e muitos mestres e professores estão a instruir os estudantes, que a lei de Deus foi mudada ou ab-rogada; e os que consideram suas reivindicações ainda como válidas, devendo ser literalmente obedecidas, são julgados merecedores apenas de ridículo e desdém. GC 583 1 Rejeitando a verdade, os homens rejeitam o seu Autor. Desprezando a lei de Deus, negam a autoridade do Legislador. É tão fácil fazer um ídolo de falsas doutrinas e teorias, como talhá-lo de madeira ou pedra. Representando falsamente os atributos de Deus, Satanás leva os homens a olhá-Lo sob falso prisma. Para muitos, um ídolo filosófico é entronizado em lugar de Jeová, enquanto o Deus vivo, conforme é revelado em Sua Palavra, em Cristo e nas obras da Criação, é adorado apenas por poucos. Milhares deificam a Natureza, enquanto negam o Deus da Natureza. Posto que de forma diversa, existe hoje a idolatria no mundo cristão tão verdadeiramente como existiu entre o antigo Israel nos dias de Elias. O deus de muitos homens que se professam sábios, de filósofos, poetas, políticos, jornalistas; o deus dos seletos centros da moda, de muitos colégios e universidades, mesmo de algumas instituições teológicas, pouco melhor é do que Baal, o deus-Sol da Fenícia. GC 584 1 Nenhum erro aceito pelo mundo cristão fere mais audaciosamente a autoridade do Céu, nenhum se opõe mais diretamente aos ditames da razão, nenhum é mais pernicioso em seus resultados do que a doutrina moderna, que tão rapidamente ganha terreno, de que a lei de Deus não mais vigora para os homens. Toda nação tem suas leis que impõem respeito e obediência; nenhum governo poderia existir sem elas; e pode-se conceber que o Criador dos céus e da Terra não tenha lei para governar os seres que fez? Suponde que clérigos preeminentes estivessem a ensinar publicamente que os estatutos que governam seu país e protegem os direitos de seus cidadãos não são obrigatórios; que cerceiam a liberdade do povo, e, portanto, não devem ser obedecidos; quanto tempo seriam tolerados esses homens no púlpito? É, porém, ofensa mais grave desatender às leis dos Estados e nações do que pisar os preceitos divinos que são o fundamento de todo governo? GC 584 2 Seria muito mais razoável que nações abolissem seus estatutos e permitissem ao povo fazer o que lhe aprouvesse, do que o Governador do Universo anular Sua lei e deixar o mundo sem uma norma para condenar o culpado ou justificar o obediente. Qual seria o resultado de abolir a lei de Deus? A experiência já foi feita. Terríveis foram as cenas perpetradas na França quando o ateísmo se tornou o poder dirigente. Demonstrou-se então ao mundo que sacudir as restrições estabelecidas por Deus corresponde a aceitar o governo do mais cruel dos tiranos. Quando a norma da justiça é posta de lado, abre-se o caminho ao príncipe do mal para estabelecer seu poder na Terra. GC 584 3 Quando quer que os preceitos divinos sejam rejeitados, o pecado deixa de parecer repelente, ou a justiça desejável. Os que se recusam a sujeitar-se ao governo de Deus, são de todo inaptos para se governarem a si próprios. Mediante seus perniciosos ensinos, implanta-se o espírito de rebeldia no coração das crianças e jovens, por natureza adversos à disciplina, tendo isso como resultado a ilegalidade e desregramento, na sociedade. Ao mesmo tempo em que escarnecem da credulidade dos que obedecem aos preceitos de Deus, as multidões avidamente GC 584 4 . aceitam os enganos de Satanás. Dão rédeas à concupiscência, e praticam os pecados que atraíram juízos sobre os ímpios. GC 585 1 Os que ensinam o povo a considerar com leviandade os mandamentos de Deus, semeiam desobediência para colherem desobediência. Rejeite-se completamente a restrição imposta pela lei divina, e as leis humanas logo serão desatendidas. Visto que Deus proíbe as práticas desonestas: a cobiça, a mentira, a fraude, os homens estão prontos a desprezar os Seus estatutos como estorvo à prosperidade mundana; não se dão conta, porém, dos resultados que adviriam de banir os preceitos divinos. Se a lei não estivesse em vigor, por que temer transgredi-la? A propriedade não mais estaria segura. Os homens obteriam pela violência as posses de seus semelhantes; e o mais forte se tornaria o mais rico. A própria vida não seria respeitada. O voto matrimonial não mais permaneceria como o baluarte sagrado para proteger a família. O que tivesse forças tomaria, se o quisesse, pela violência, a esposa de seu próximo. O quinto mandamento seria posto de parte, juntamente com o quarto. Filhos não recuariam de tirar a vida a seus pais, se assim fazendo, pudessem satisfazer ao desejo do coração corrompido. O mundo civilizado se tornaria um bando de ladrões e assassinos; e a paz, o descanso e a felicidade desapareceriam da Terra. GC 585 2 A doutrina de que os homens estão isentos da obediência aos mandamentos de Deus já tem debilitado a força da obrigação moral, abrindo sobre o mundo as comportas da iniqüidade. Ilegalidade, dissipação e corrupção nos assoberbam qual maré esmagadora. Satanás está em atividade na família. Sua bandeira tremula, mesmo nos lares que se professam cristãos. Há invejas, suspeitas, hipocrisias, separação, emulação, contenda, traição de santos legados, satisfação das paixões. Todo o conjunto dos princípios e doutrinas religiosas, que deveriam constituir o fundamento e arcabouço da vida social, assemelha-se a uma massa vacilante, prestes a ruir. Os mais vis dos criminosos, quando lançados na prisão pelas suas faltas, tornam-se freqüentemente recebedores de dádivas e atenções como se houvessem alcançado invejável distinção. Dá-se grande publicidade a seu caráter e crimes. A imprensa publica as minúcias revoltantes do vício, iniciando desta maneira outros na prática da fraude, roubo, assassínio; e Satanás exulta no êxito de seus planos infernais. O enfatuamento do vício, a criminalidade, o terrível aumento da intemperança e iniqüidade de toda sorte e grau, devem despertar todos os que temem a Deus para que investiguem o que se pode fazer a fim de sustar a maré do mal. GC 586 1 Os tribunais de justiça estão corrompidos. Governantes são movidos pelo desejo do ganho e amor dos prazeres sensuais. A intemperança obscureceu as faculdades de muitos, de maneira que Satanás exerce sobre eles quase completo domínio. Os juristas se acham pervertidos, subordinados, seduzidos. A embriaguez e a orgia, a paixão, a inveja, a desonestidade de toda espécie, estão representadas entre os que administram as leis. "A justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar." Isaías 59:14. GC 586 2 A iniqüidade e trevas espirituais que prevaleceram sob a supremacia de Roma foram resultado inevitável da supressão das Escrituras; onde, porém, se deve encontrar a causa da generalizada incredulidade, da rejeição da lei de Deus e conseqüente corrupção, sob o amplo fulgor da luz evangélica, numa época de liberdade religiosa? Agora que Satanás não mais pode conservar o mundo sob seu domínio, privando-o das Escrituras, recorre a outros meios para realizar o mesmo objetivo. Destruir a fé na Bíblia serve tão bem a seu propósito como o destruir a própria Bíblia. Introduzindo a crença de que a lei de Deus não mais vigora, leva os homens à transgressão, de um modo tão eficaz como se fossem completamente ignorantes acerca de seus preceitos. E hoje, como nos séculos passados, está a operar mediante a igreja a fim de favorecer os seus desígnios. As organizações religiosas da época têm recusado ouvir as verdades impopulares claramente apresentadas nas Escrituras, e, combatendo-as, adotaram interpretações e assumiram atitudes que têm espalhado largamente as sementes do ceticismo. Apegando-se ao erro papal da imortalidade natural e consciência do homem na morte, rejeitaram a única defesa contra os enganos do espiritismo. A doutrina do tormento eterno tem levado muitos a descrer da Escritura Sagrada. E, ao insistir-se com o povo acerca das reivindicações do quarto mandamento, verifica-se que a observância do sábado do sétimo dia é ordenada; e, como único meio de livrar-se de um dever que não estão dispostos a cumprir, declaram muitos ensinadores populares que a lei de Deus não mais está em vigor. Repelem, assim, a lei e o sábado juntamente. À medida que se estende a obra da reforma do sábado, esta rejeição da lei divina para evitar as reivindicações do quarto mandamento se tornará quase universal. Os ensinos dos dirigentes religiosos abriram a porta à incredulidade, ao espiritismo e ao desdém para com a santa lei de Deus; e sobre esses dirigentes repousa a terrível responsabilidade pela iniqüidade que existe no mundo cristão. GC 587 1 Todavia esta mesma classe apresenta a alegação de que a corrupção que rapidamente se alastra é atribuível em grande parte à profanação do descanso dominical, e que a imposição da observância do domingo melhoraria grandemente a moral da sociedade. Insiste-se nisto especialmente na América do Norte, onde a doutrina do verdadeiro sábado tem sido mais amplamente pregada. Ali, a obra da temperança, uma das mais preeminentes e importantes das reformas morais, acha-se freqüentemente combinada com o movimento em favor do descanso dominical, e os defensores do último agem como se estivessem a trabalhar a fim de promover os mais elevados interesses da sociedade; e os que se recusam a unir-se a eles são denunciados como inimigos da temperança e reforma. Mas o fato de que um movimento para estabelecer o erro se encontra ligado a uma obra que em si mesma é boa, não é argumento a favor do erro. Podemos disfarçar o veneno misturando-o com o alimento saudável, mas não mudamos a sua natureza. Ao contrário, torna-se mais perigoso o veneno, visto ser mais fácil que ele seja tomado inadvertidamente. É um dos ardis de Satanás combinar com a falsidade precisamente uma porção suficiente de verdade para que lhe dê caráter plausível. Os dirigentes do movimento em favor do domingo podem advogar reformas que o povo necessita, princípios que se acham em harmonia com a Escritura Sagrada; contudo, enquanto houver com eles uma exigência contrária à lei de Deus, Seus servos não se lhes poderão unir. Nada os pode justificar de pôr à parte os mandamentos de Deus, optando pelos preceitos dos homens. GC 588 1 Mediante os dois grandes erros -- a imortalidade da alma e a santidade do domingo -- Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através do abismo para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as pegadas de Roma, desprezando os direitos da consciência. GC 588 2 Imitando mais de perto o cristianismo nominal da época, o espiritismo tem maior poder para enganar e enredar. O próprio Satanás está convertido, conforme a nova ordem de coisas. Ele aparecerá no aspecto de anjo de luz. Mediante a agência do espiritismo, operar-se-ão prodígios, os doentes serão curados, e se efetuarão muitas e inegáveis maravilhas. E, como os espíritos professarão fé na Escritura Sagrada, e demonstrarão respeito pelas instituições da igreja, sua obra será aceita como manifestação do poder divino. GC 588 3 A linha de separação entre cristãos professos e ímpios é agora dificilmente discernida. Os membros da igreja amam o que o mundo ama, e estão prontos para se unirem a ele; e Satanás está resolvido a uni-los em um só corpo, e assim fortalecer sua causa arrastando-os todos para as fileiras do espiritismo. Os romanistas, que se gloriam dos milagres como sinal certo da verdadeira igreja, serão facilmente enganados por este poder operador de prodígios; e os protestantes, tendo rejeitado o escudo da verdade, serão também iludidos. Romanistas, protestantes e mundanos juntamente aceitarão a forma de piedade, destituída de sua eficácia, e verão nesta aliança um grandioso movimento para a conversão do mundo, e o começo do milênio há tanto esperado. GC 589 1 Por meio do espiritismo Satanás aparece como benfeitor da humanidade, curando as doenças do povo e pretendendo apresentar um novo e mais elevado sistema de fé religiosa; ao mesmo tempo, porém, ele opera como destruidor. Suas tentações estão levando multidões à ruína. A intemperança destrona a razão; seguem-se a satisfação sensual, a contenda e a matança. Satanás deleita-se na guerra; pois esta excita as mais vis paixões da alma, arrastando então para a eternidade as suas vítimas engolfadas no vício e sangue. É seu objetivo incitar as nações à guerra umas contra as outras; pois pode assim desviar o espírito do povo da obra de preparo para estar em pé no dia de Deus. GC 589 2 Satanás também opera por meio dos elementos a fim de recolher sua colheita de almas desprevenidas. Estudou os segredos dos laboratórios da Natureza, e emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto o permite Deus. Quando lhe foi permitido afligir a Jó, quão rapidamente rebanhos e gado, servos, casas, filhos, foram assolados, seguindo-se em um momento uma desgraça a outra! É Deus que protege as Suas criaturas, guardando-as do poder do destruidor. Mas o mundo cristão mostrou desdém pela lei de Jeová; e o Senhor fará exatamente o que declarou que faria: retirará Suas bênçãos da Terra, removendo Seu cuidado protetor dos que se estão rebelando contra a Sua lei, e ensinando e forçando outros a fazerem o mesmo. Satanás exerce domínio sobre todos os que Deus não guarda especialmente. Ajudará e fará prosperar alguns, a fim de favorecer os seus próprios intuitos; trará calamidade sobre outros, e levará os homens a crer que é Deus que os aflige. GC 589 3 Ao mesmo tempo em que aparece aos filhos dos homens como grande médico que pode curar todas as enfermidades, trará moléstias e desgraças até que cidades populosas se reduzam à ruína e desolação. Mesmo agora está ele em atividade. Nos acidentes e calamidades no mar e em terra, nos grandes incêndios, nos violentos furacões e terríveis saraivadas, nas tempestades, inundações, ciclones, ressacas e terremotos, em toda parte e sob milhares de formas, Satanás está exercendo o seu poder. Destrói a seara que está a amadurar, e seguem-se fome, angústia. Comunica ao ar infecção mortal, e milhares perecem pela pestilência. Estas visitações devem tornar-se mais e mais freqüentes e desastrosas. A destruição será tanto sobre o homem como sobre os animais. "A Terra pranteia e se murcha", "enfraquecem os mais altos dos povos. ... Na verdade a Terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna." Isaías 24:4, 5. GC 590 1 E então o grande enganador persuadirá os homens de que os que servem a Deus estão motivando esses males. A classe que provocou o descontentamento do Céu atribuirá todas as suas inquietações àqueles cuja obediência aos mandamentos de Deus é perpétua reprovação aos transgressores. Declarar-se-á que os homens estão ofendendo a Deus pela violação do descanso dominical; que este pecado acarretou calamidades que não cessarão antes que a observância do domingo seja estritamente imposta; e que os que apresentam os requisitos do quarto mandamento, destruindo assim a reverência pelo domingo, são perturbadores do povo, impedindo a sua restauração ao favor divino e à prosperidade temporal. Assim se repetirá com motivos igualmente bem definidos a acusação feita na antiguidade contra o servo de Deus: "E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe Acabe: És tu o perturbador de Israel? Então disse ele: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e seguistes a Baalim." 1 Reis 18:17, 18. Ao despertar-se a ira do povo por meio de falsas acusações, agirão para com os embaixadores de Deus de modo muito semelhante àquele que o apóstata Israel seguiu com relação a Elias. GC 590 2 O poder operador de milagres manifesto pelo espiritismo, exercerá sua influência contra os que preferem obedecer a Deus a obedecer aos homens. Comunicações por parte dos espíritos declararão que Deus os enviou para convencer de seu erro os que rejeitam o domingo, afirmando que as leis do país deveriam ser obedecidas como a lei de Deus. Lamentarão a grande impiedade no mundo, secundando o testemunho dos ensinadores religiosos de que o estado de aviltamento da moral se deve à profanação do domingo. Grande será a indignação despertada contra todos os que se recusam a aceitar-lhes o testemunho. GC 591 1 O expediente de Satanás neste conflito final com o povo de Deus é o mesmo que empregou no início da grande controvérsia no Céu. Pretendia estar buscando promover a estabilidade do governo divino, enquanto secretamente aplicava todo o esforço para conseguir sua subversão. E da mesma obra que assim se estava esforçando por cumprir, acusava os anjos fiéis. Idêntica política de engano tem assinalado a história da Igreja de Roma. Tem esta professado agir como substituta do Céu, ao mesmo tempo em que procura exaltar-se sobre Deus, e mudar Sua lei. Sob o governo de Roma, os que sofreram a morte pela sua fidelidade para com o evangelho eram denunciados como malfeitores; declarava-se estarem eles coligados com Satanás; e todos os meios possíveis foram empregados para cobri-los de infâmia, para fazê-los parecer aos olhos do povo, mesmo aos seus próprios, como os mais vis dos criminosos. Assim será agora. Enquanto Satanás procura destruir os que honram a lei de Deus, fará com que sejam acusados como violadores da lei, como homens que estão desonrando a Deus e acarretando juízos sobre o mundo. GC 591 2 Deus nunca força a vontade ou a consciência; porém o recurso constante de Satanás para alcançar domínio sobre os que de outra maneira não pode seduzir, é o constrangimento pela crueldade. Por meio do medo ou da força, procura reger a consciência e conseguir para si mesmo homenagem. Para realizar isto, opera tanto pelas autoridades eclesiásticas como pelas seculares, levando-as à imposição de leis humanas em desafio à lei de Deus. GC 592 1 Os que honram o sábado bíblico serão denunciados como inimigos da lei e da ordem, como que a derribar as restrições morais da sociedade, causando anarquia e corrupção, e atraindo os juízos de Deus sobre a Terra. Declarar-se-á que seus conscienciosos escrúpulos são teimosia, obstinação e desdém à autoridade. Serão acusados de deslealdade para com o governo. Ministros que negam a obrigação da lei divina, apresentarão do púlpito o dever de prestar obediência às autoridades civis, como ordenadas de Deus. Nas assembléias legislativas e tribunais de justiça, os observadores dos mandamentos serão caluniados e condenados. Dar-se-á um falso colorido às suas palavras; a pior interpretação será dada aos seus intuitos. GC 592 2 Ao rejeitarem as igrejas protestantes os argumentos claros das Escrituras Sagradas, em defesa da lei de Deus, almejarão fazer silenciar aqueles cuja fé não podem subverter pela Bíblia. Embora fechem os olhos ao fato, estão agora a enveredar por caminho que levará à perseguição dos que conscienciosamente se recusam a fazer o que o resto do mundo cristão se acha a praticar, e a reconhecer as pretensões do sábado papal. GC 592 3 Os dignitários da Igreja e do Estado unir-se-ão para subornar, persuadir ou forçar todas as classes a honrar o domingo. A falta de autoridade divina será suprida por legislação opressiva. A corrupção política está destruindo o amor à justiça e a consideração para com a verdade; e mesmo na livre América do Norte, governantes e legisladores, a fim de conseguir o favor do público, cederão ao pedido popular de uma lei que imponha a observância do domingo. A liberdade de consciência, obtida a tão elevado preço de sacrifício, não mais será respeitada. No conflito prestes a se desencadear, veremos exemplificadas as palavras do profeta: "O dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo." Apocalipse 12:17. ------------------------Capítulo 37 -- Nossa única salvaguarda GC 593 1 "À lei e ao testemunho! se eles não falarem segundo esta Palavra, não haverá manhã para eles." Isaías 8:20. O povo de Deus é encaminhado às Santas Escrituras como a salvaguarda contra a influência dos falsos ensinadores e poder ilusório dos espíritos das trevas. Satanás emprega todo artifício possível para impedir os homens de obter conhecimento da Bíblia; pois os claros ensinos desta põem a descoberto os seus enganos. Em todo avivamento da obra de Deus o príncipe do mal está desperto para atividade mais intensa; aplica atualmente todos os seus esforços em preparar-se para a luta final contra Cristo e Seus seguidores. O último grande engano deve logo patentear-se diante de nós. O anticristo vai operar suas obras maravilhosas à nossa vista. Tão meticulosamente a contrafação se parecerá com o verdadeiro, que será impossível distinguir entre ambos sem o auxílio das Escrituras Sagradas. Pelo testemunho destas toda declaração e todo prodígio deverão ser provados. GC 593 2 Os que se esforçam por obedecer a todos os mandamentos de Deus defrontarão oposição e escárnio. Apenas em Deus ser-lhes-á possível subsistir. A fim de suportarem a prova que diante deles está, devem compreender a vontade de Deus como se acha revelada em Sua Palavra; poderão honrá-Lo, unicamente, tendo uma concepção correta de Seu caráter, governo e propósitos, e agindo de acordo com estes. Pessoa alguma, a não ser os que fortaleceram o espírito com as verdades da Escritura, poderá resistir no último grande conflito. A toda alma virá a inquiridora prova: Obedecerei a Deus de preferência aos homens? A hora decisiva está mesmo agora às portas. Estão nossos pés firmados na rocha da imutável Palavra divina? Estamos preparados para permanecer firmes em defesa dos mandamentos de Deus e da fé de Jesus? GC 594 1 Antes de Sua crucifixão o Salvador explicou a Seus discípulos que Ele deveria ser morto, e do túmulo ressuscitar; anjos estavam presentes para gravar-lhes Suas palavras na mente e no coração. Mas os discípulos aguardavam livramento temporal do jugo romano, e não podiam tolerar a idéia de que Aquele em quem se centralizavam todas as suas esperanças devesse sofrer uma morte ignominiosa. As palavras de que necessitavam lembrar-se, fugiram-lhes do espírito; e, ao chegar o tempo da prova, esta os encontrou desprevenidos. A morte de Cristo destruiu-lhes tão completamente as esperanças, como se Ele não os houvesse advertido previamente. Assim, nas profecias, o futuro se patenteia diante de nós tão claramente como se revelou aos discípulos pelas palavras de Cristo. Os acontecimentos ligados ao final do tempo da graça e obra de preparo para o período de angústia, acham-se claramente apresentados. Multidões, porém, não possuem maior compreensão destas importantes verdades do que teriam se nunca houvessem sido reveladas. Satanás vigia para impedir toda impressão que os faria sábios para a salvação, e o tempo de angústia os encontrará sem o devido preparo. GC 594 2 Quando Deus envia aos homens advertências tão importantes que são representadas como proclamadas por santos anjos a voar pelo meio do céu, Ele requer que toda pessoa dotada de faculdade de raciocínio atenda à mensagem. Os terríveis juízos pronunciados contra o culto à besta e sua imagem (Apocalipse 14:9-11), deveriam levar todos a diligente estudo das profecias para aprenderem o que é o sinal da besta, e como devem evitar recebê-lo. As massas populares, porém, cerram os ouvidos à verdade, volvendo às fábulas. Olhando para os últimos dias, declarou o apóstolo Paulo: "Virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina." 2 Timóteo 4:3. Chegamos, já, a esse tempo. As multidões rejeitam a verdade das Escrituras, por ser ela contrária aos desejos do coração pecaminoso e amante do mundo; e Satanás lhes proporciona os enganos que amam. GC 595 1 Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria -- nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro -- "Assim diz o Senhor". GC 595 2 Satanás se esforça constantemente por atrair a atenção para o homem, em lugar de Deus. Induz o povo a olhar para os bispos, pastores, professores de teologia, como seus guias, em vez de examinarem as Escrituras a fim de, por si mesmos, aprenderem seu dever. Então, dominando o espírito desses dirigentes, pode influenciar as multidões de acordo com sua vontade. GC 595 3 Quando Cristo veio para falar as palavras de vida, o povo comum O ouvia alegremente; e muitos, mesmo dos sacerdotes e príncipes, creram nEle. Mas os principais do sacerdócio e os primeiros homens da nação estavam decididos a condenar e repudiar-Lhe os ensinos. Fossem embora frustrados todos os seus esforços para encontrar acusações contra Ele, e sem mesmo poder fugir à influência do poder e sabedoria divinos, que acompanhavam Suas palavras, encerraram-se, todavia, no preconceito; rejeitaram a mais clara evidência de Seu caráter messiânico, receosos de que fossem constrangidos a se tornarem Seus discípulos. Estes oponentes de Jesus eram homens que o povo desde a infância fora ensinado a reverenciar, a cuja autoridade se havia acostumado implicitamente a curvar-se. "Como é", perguntavam, "que nossos príncipes e doutos escribas não crêem em Jesus? Não O receberiam estes homens pios se Ele fosse o Cristo?" Foi a influência desses ensinadores que levou a nação judaica a rejeitar seu Redentor. GC 596 1 O espírito que atuava naqueles sacerdotes e príncipes, é ainda manifesto por muitos que fazem alta profissão de piedade. Recusam-se a examinar o testemunho das Escrituras concernente às verdades especiais para este tempo. Apontam para o seu número, riqueza e popularidade, e olham com desdém os defensores da verdade, sendo estes poucos, pobres e impopulares, tendo uma fé que os separa do mundo. GC 596 2 Cristo previu que o fato de acatar da autoridade a que se entregavam os fariseus e escribas não cessaria com a dispersão dos judeus. Com o olhar profético viu a obra de exaltação da autoridade humana, com o fim de reger a consciência, a qual tem sido para a igreja uma tão terrível maldição, em todos os tempos. E Suas tremendas acusações aos escribas e fariseus, bem como as advertências ao povo para que não seguisse aqueles guias cegos, foram registradas como aviso às gerações futuras. GC 596 3 A Igreja Romana reserva ao clero o direito de interpretar as Escrituras. Sob o fundamento de que unicamente os eclesiásticos são competentes para explicar a Palavra de Deus, é esta vedada ao povo comum. Conquanto a Reforma fizesse acessível a todos as Escrituras, o mesmíssimo espírito que Roma manteve impede também as multidões nas igrejas protestantes de examinarem a Bíblia por si mesmas. São instruídas a aceitar os seus ensinos conforme são interpretados pela igreja; e há milhares que não ousam receber coisa alguma contrária ao seu credo, ou ao ensino adotado por sua igreja, por mais claro que esteja revelada nas Escrituras. GC 596 4 Apesar de achar-se a Bíblia cheia de advertências contra os falsos ensinadores, muitos há que estão prontos a confiar ao clero a guarda de sua alma. Existem hoje milhares de pessoas que professam ser religiosas, e no entanto não podem dar outra razão para os pontos de sua fé, a não ser o haverem sido assim instruídas por seus dirigentes espirituais. Passam pelos ensinos do Salvador, quase sem os notar, e depositam implícita confiança nas palavras dos ministros. São, porém, infalíveis os ministros? Como poderemos confiar nossa alma à sua guia, a menos que saibamos pela Palavra de Deus que são portadores de luz? A falta de coragem moral para sair da trilha batida do mundo, leva muitos a seguirem as pegadas de homens ilustrados; e, pela relutância em examinarem por si mesmos, estão-se tornando desesperançadamente presos nas cadeias do erro. Vêem que a verdade para este tempo é claramente apresentada na Bíblia, e sentem o poder do Espírito Santo acompanhando sua proclamação; permitem, todavia, que a oposição do clero os desvie da luz. Embora a razão e a consciência estejam convencidas, estas almas iludidas não ousam pensar diferentemente do ministro; e seu discernimento individual, os interesses eternos, são sacrificados à incredulidade, ao orgulho e preconceito de outrem. GC 597 1 Muitos são os meios por que Satanás opera pela influência humana a fim de enlaçar os seus cativos. Atrai a si multidões, ligando-as pelos laços da afeição aos que são inimigos da cruz de Cristo. Seja qual for esta ligação, paternal, filial, conjugal ou social, o efeito é o mesmo; os inimigos da verdade exercem sua força no sentido de reger a consciência, e as almas postas sob seu domínio não têm coragem ou independência suficientes para obedecer às suas próprias convicções do dever. GC 597 2 A verdade e a glória de Deus são inseparáveis; é-nos impossível, com a Bíblia ao nosso alcance, honrar a Deus com opiniões errôneas. Muitos alegam que não importa o que alguém creia, se tão-somente sua vida for correta. Mas a vida é moldada pela fé. Se a luz e a verdade estão ao nosso alcance, e negligenciamos aproveitar o privilégio de ouvir e vê-las, virtualmente as rejeitamos; estamos a escolher as trevas em vez da luz. GC 597 3 "Há caminho, que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte." Provérbios 16:25. A ignorância não é desculpa para o erro ou pecado, quando há toda a oportunidade de conhecer a vontade de Deus. Um homem está a viajar, e chega a um lugar em que há várias estradas, e uma tabuleta indicando aonde cada uma delas leva. Se desatende à indicação da tabuleta, tomando qualquer caminho que lhe pareça direito, poderá ser muito sincero, mas encontrar-se-á com toda a probabilidade no caminho errado. GC 598 1 Deus nos deu Sua Palavra para que pudéssemos familiarizar-nos com os seus ensinos e saber, por nós mesmos, o que Ele de nós requer. Quando o doutor veio a Jesus com a pergunta: "Que farei para herdar a vida eterna?" o Salvador lhe fez referência às Escrituras, dizendo: "Que está escrito na lei? como lês?" A ignorância não desculpará jovens ou velhos, nem os livrará do castigo devido pela transgressão da lei de Deus, pois têm ao alcance uma exposição fiel daquela lei, de seus princípios e requisitos. Não basta termos boas intenções; não basta fazermos o que se julga ser direito, ou o que o ministro diz ser correto. A salvação de nossa alma está em jogo, e devemos examinar as Escrituras por nós mesmos. Por mais fortes que possam ser nossas convicções, por maior confiança que tenhamos de que o ministro sabe o que é a verdade, não seja este o nosso fundamento. Temos um mapa dando todas as indicações do caminho, na jornada em direção ao Céu, e não devemos estar a conjeturar a respeito de coisa alguma. GC 598 2 O primeiro e mais elevado dever de todo ser racional é aprender das Escrituras o que é a verdade, e então andar na luz, animando outros a lhe seguirem o exemplo. Devemos dia após dia estudar a Bíblia, diligentemente, ponderando todo pensamento e comparando passagem com passagem. Com o auxílio divino devemos formar nossas opiniões por nós mesmos, visto termos de responder por nós mesmos perante Deus. GC 598 3 As verdades mais claramente reveladas na Escritura Sagrada têm sido envoltas em dúvida e trevas pelos homens doutos que, com pretensão de grande sabedoria, ensinam que as Escrituras têm um sentido místico, secreto, espiritual, que não transparece na linguagem empregada. Estes homens são falsos ensinadores. Foi a essa classe que Jesus declarou: "Errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus." Marcos 12:24. A linguagem da Bíblia deve ser explicada de acordo com o seu óbvio sentido, a menos que seja empregado um símbolo ou figura. Cristo fez a promessa: "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus." João 7:17. Se os homens tão-somente tomassem a Bíblia como é, e não houvesse falsos ensinadores para transviar e confundir-lhes o espírito, realizar-se-ia uma obra que alegraria os anjos, e que traria para o redil de Cristo milhares de milhares que ora se acham a vaguear no erro. GC 599 1 Cumpre-nos exercer todas as faculdades do espírito no estudo das Escrituras, e aplicar o intelecto em compreender as profundas coisas de Deus, tanto quanto possam fazer os mortais; não devemos, contudo, nos esquecer de que a docilidade e submissão da criança é o verdadeiro espírito do aprendiz. As dificuldades encontradas nas Escrituras jamais podem ser dominadas pelos mesmos métodos que se empregam em se tratando de problemas filosóficos. Não nos devemos empenhar no estudo da Bíblia com aquela confiança em nós mesmos com que tantos penetram nos domínios da ciência, mas sim com devota dependência de Deus, e sincero desejo de saber a Sua vontade. Cheguemo-nos com espírito humilde e dócil para obter conhecimento do grande Eu Sou. De outro modo, anjos maus cegar-nos-ão o espírito, endurecendo-nos o coração para que não sejamos impressionados pela verdade. GC 599 2 Muitas porções das Escrituras que homens doutos declaram ser mistério, ou que não consideram como tendo importância, estão repletas de conforto e instrução para aquele que aprender na escola de Cristo. Um dos motivos por que muitos teólogos não têm compreensão mais clara da Palavra de Deus é o cerrarem os olhos às verdades que não desejam praticar. O compreender a verdade bíblica não depende tanto do vigor do intelecto posto à pesquisa como da singeleza de propósito, do fervoroso anelo pela justiça. GC 599 3 Nunca se deve estudar a Bíblia sem oração. Somente o Espírito Santo nos pode fazer compreender a importância das coisas fáceis de se perceberem, ou impedir-nos de torcer verdades difíceis de serem entendidas. É o mister dos anjos celestiais preparar o coração para de tal maneira compreender a Palavra de Deus que fiquemos encantados com sua beleza, admoestados por suas advertências, ou animados e fortalecidos por suas promessas. Façamos nossa a petição do salmista: "Desvenda os meus olhos para que veja as maravilhas da Tua lei." Salmos 119:18. As tentações muitas vezes parecem irresistíveis porque, pela negligência da oração e estudo da Bíblia, o que é tentado não pode facilmente lembrar-se das promessas de Deus e enfrentar Satanás com as armas das Escrituras. Anjos, porém, acham-se em redor dos que estão desejosos de serem ensinados nas coisas divinas; e no tempo de grande necessidade lhes trarão à lembrança as mesmas verdades de que necessitam. Assim, "vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do Senhor arvorará contra ele a sua bandeira." Isaías 59:19. GC 600 1 Jesus prometeu a Seus discípulos: "Aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." João 14:26. Mas os ensinos de Cristo devem previamente ser armazenados na memória, a fim de que o Espírito de Deus no-los traga à lembrança no tempo de perigo. "Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti", disse Davi. Salmos 119:11. GC 600 2 Todos os que dão valor a seus interesses eternos devem estar de sobreaviso contra as incursões do ceticismo. Os próprios fundamentos da verdade serão assaltados. É impossível conservarmo-nos fora do alcance dos sarcasmos e sofismas, dos ensinos insidiosos e pestíferos da incredulidade moderna. Satanás adapta suas tentações a todas as classes. Assalta o analfabeto com o motejo ou zombaria, enquanto enfrenta o que é educado com objeções científicas e raciocínio filosófico, igualmente calculados a suscitar desconfiança nas Escrituras ou desdém por elas. Mesmo jovens de pouca experiência têm a presunção de insinuar dúvidas relativas aos princípios fundamentais do cristianismo. E esta juvenil incredulidade, trivial como é, tem sua influência. Muitos são assim levados a zombar da fé de seus pais, e a fazer agravo ao Espírito da graça. Hebreus 10:29. Muita vida que prometia ser uma honra a Deus e uma bênção ao mundo foi crestada pelo detestável bafejo da incredulidade. Todos os que confiam nas jactanciosas decisões da razão humana, imaginando poder explicar os mistérios divinos e chegar à verdade desajudados pela sabedoria divina, acham-se enredados na cilada de Satanás. GC 601 1 Estamos vivendo no período mais solene da história deste mundo. O destino das imensas multidões da Terra está prestes a decidir-se. Nosso próprio bem-estar futuro, e também a salvação de outras almas, dependem do caminho que ora seguimos. Necessitamos ser guiados pelo Espírito da verdade. Todo seguidor de Cristo deve fervorosamente indagar: "Senhor, que queres que eu faça?" Necessitamos humilhar-nos perante o Senhor, com jejum e oração, e meditar muito em Sua Palavra, especialmente nas cenas do juízo. Cumpre-nos buscar agora uma experiência profunda e viva nas coisas de Deus. Não temos um momento a perder. Acontecimentos de importância vital estão a ocorrer em redor de nós; estamos no terreno encantado de Satanás. Não durmais, sentinelas de Deus; o adversário está perto, de emboscada, pronto para a qualquer momento, caso vos torneis negligentes e sonolentos, saltar sobre vós e fazer-vos presa sua. GC 601 2 Muitos estão enganados quanto à sua verdadeira condição perante Deus. Congratulam-se pelos maus atos que não cometem, e esquecem-se de enumerar as boas e nobres ações que Deus exige deles, mas negligenciaram cumprir. Não basta que sejam árvores no jardim de Deus. Devem corresponder a Sua expectativa, produzindo frutos. Ele os responsabiliza pela sua falta em cumprir todo o bem que poderiam fazer, mediante Sua graça que os fortalece. Nos livros do Céu, acham-se eles registrados como estando a ocupar em vão o terreno. Contudo, mesmo o caso desta classe não é inteiramente desesperador. Em prol daqueles que têm tomado em pouca consideração a misericórdia de Deus, desprezando Sua graça, o coração do longânimo Amor ainda pleiteia. "Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá. Portanto, vede prudentemente como andais, ... remindo o tempo; porquanto os dias são maus." Efésios 5:14-16. GC 602 1 Quando o tempo de prova vier, revelar-se-ão os que fizeram da Palavra de Deus sua regra de vida. No verão, nenhuma diferença se nota entre os ciprestes e as outras árvores; mas, ao soprarem as rajadas hibernais, aqueles permanecem inalteráveis, enquanto estas perdem a folhagem. Assim aquele que com coração falso professa a religião, pode agora não se diferençar do cristão verdadeiro; está, porém, justamente diante de nós o tempo em que a diferença aparecerá. Levante-se a oposição, de novo exerçam domínio o fanatismo e a intolerância, acenda-se a perseguição, e os insinceros e hipócritas vacilarão, renunciando a fé; mas o verdadeiro crente permanecerá firme como um rocha, tornando-se mais forte a sua fé, sua esperança mais viva do que nos dias da prosperidade. GC 602 2 Diz o salmista: "Medito nos Teus testemunhos." "Pelos Teus mandamentos alcancei entendimento; pelo que aborreço todo o falso caminho." Salmos 119:99, 104. GC 602 3 "Bem-aventurado é o homem que acha sabedoria." "Será como a árvore plantada junto às águas, que estende suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto." Provérbios 3:13; Jeremias 17:8. ------------------------Capítulo 38 -- O último convite Divino GC 603 1 "Vi descer do céu outro anjo que tinha grande poder, e a Terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e coito de todo o espírito imundo, e coito de toda a ave imunda, e aborrecível." "E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas." Apocalipse 18:1, 2, 4. GC 603 2 Esta passagem indica um tempo em que o anúncio da queda de Babilônia, conforme foi feito pelo segundo anjo do Capítulo 14 do Apocalipse, deve repetir-se com a menção adicional das corrupções que têm estado a se introduzir nas várias organizações que constituem Babilônia, desde que esta mensagem foi pela primeira vez proclamada, no verão de 1844. Descreve-se aqui uma terrível condição do mundo religioso. A cada rejeição da verdade o espírito do povo se tornará mais entenebrecido, mais obstinado o coração, até que fique entrincheirado em audaciosa incredulidade. Em desafio às advertências que Deus deu, continuarão a calcar a pés um dos preceitos do decálogo, até que sejam levados a perseguir os que o têm como sagrado. Cristo é desprezado com o desdém que se lança à Sua Palavra e a Seu povo. Sendo os ensinos do espiritismo aceitos pelas igrejas, removem-se as restrições impostas ao coração carnal, e o professar religião se tornará um manto para ocultar a mais vil iniqüidade. A crença nas manifestações espiritualistas abre a porta aos espíritos enganadores e doutrinas de demônios, e assim a influência dos anjos maus será sentida nas igrejas. GC 604 1 A respeito de Babilônia, no tempo referido nesta profecia, declara-se: "Os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela." Apocalipse 18:5. Encheu a medida de sua culpa, e a destruição está a ponto de cair sobre ela. Mas Deus ainda tem um povo em Babilônia; e, antes de sobrevirem Seus juízos, esses fiéis devem ser chamados a sair, para que não sejam participantes dos seus pecados e não incorram nas suas pragas. Esta a razão de ser o movimento simbolizado pelo anjo descendo do Céu, iluminando a Terra com sua glória, e clamando fortemente com grande voz, anunciando os pecados de Babilônia. Em relação com a sua mensagem ouve-se a chamada: "Sai dela, povo Meu." Estes anúncios, unindo-se à mensagem do terceiro anjo, constituem a advertência final a ser dada aos habitantes da Terra. GC 604 2 Terrível é a crise para a qual caminha o mundo. Os poderes da Terra, unindo-se para combater os mandamentos de Deus, decretarão que todos, "pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos" (Apocalipse 13:16), se conformem aos costumes da igreja, pela observância do falso sábado. Todos os que se recusarem a conformar-se serão castigados pelas leis civis, e declarar-se-á finalmente serem merecedores de morte. Por outro lado, a lei de Deus que ordena o dia de descanso do Criador, exige obediência, e ameaça com a ira divina todos os que transgridem os seus preceitos. GC 604 3 Esclarecido assim o assunto, quem quer que pise a lei de Deus para obedecer a uma ordenança humana, recebe o sinal da besta; aceita o sinal de submissão ao poder a que prefere obedecer em vez de Deus. A advertência do Céu é: "Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira." Apocalipse 14:9, 10. GC 605 1 Mas ninguém deverá sofrer a ira de Deus antes que a verdade se lhe tenha apresentado ao espírito e consciência, e haja sido rejeitada. Há muitos que nunca tiveram oportunidade de ouvir as verdades especiais para este tempo. A obrigatoriedade do quarto mandamento nunca lhes foi apresentada em sua verdadeira luz. Aquele que lê todos os corações e prova todos os intuitos, não deixará que pessoa alguma que deseje o conhecimento da verdade seja enganada quanto ao desfecho da controvérsia. O decreto não será imposto ao povo cegamente. Cada qual receberá esclarecimento bastante para fazer inteligentemente a sua decisão. GC 605 2 O sábado será a pedra de toque da lealdade; pois é o ponto da verdade especialmente controvertido. Quando sobrevier aos homens a prova final, traçar-se-á a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não O servem. Ao passo que a observância do sábado espúrio em conformidade com a lei do Estado, contrária ao quarto mandamento, será uma declaração de fidelidade ao poder que se acha em oposição a Deus, é a guarda do verdadeiro sábado, em obediência à lei divina, uma prova de lealdade para com o Criador. Ao passo que uma classe, aceitando o sinal de submissão aos poderes terrestres, recebe o sinal da besta, a outra, preferindo o sinal da obediência à autoridade divina, recebe o selo de Deus. GC 605 3 Até aqui, os que apresentavam as verdades da mensagem do terceiro anjo foram muitas vezes considerados como simples alarmistas. Suas predições de que a intolerância religiosa alcançaria predomínio nos Estados Unidos, de que a Igreja e o Estado se uniriam para perseguir os que guardam os mandamentos de Deus, foram declaradas sem fundamento e absurdas. Afirmou-se confiantemente que esse país jamais se poderia tornar outro que não o que tem sido: defensor da liberdade religiosa. Mas, ao ser a questão da obrigatoriedade da observância do domingo amplamente agitada, vê-se aproximar o fato há tanto tempo duvidado e descrido, e a terceira mensagem produzirá um efeito que antes não seria possível produzir. GC 606 1 Em todas as gerações Deus tem enviado Seus servos para repreender o pecado, tanto no mundo como na igreja. Mas o povo deseja que se lhes falem coisas agradáveis, e a verdade clara e pura não é aceita. Muitos reformadores, ao iniciarem seu trabalho, decidiram-se a exercer grande prudência ao atacar os pecados da igreja e da nação. Esperavam, pelo exemplo de uma vida cristã pura, fazer voltar o povo às doutrinas da Bíblia. Mas o Espírito de Deus veio sobre eles, assim como viera sobre Elias, impelindo-o a repreender os pecados de um rei ímpio e de um povo apóstata; não podiam conter-se de pregar as claras afirmações da Escritura Sagrada -- doutrinas que tinham sido relutantes em apresentar. Sentiam-se forçados a declarar zelosamente a verdade e o perigo que ameaçava as almas. As palavras que o Senhor lhes dava, eles as falavam, sem temer as conseqüências, e o povo era constrangido a ouvir a advertência. GC 606 2 Assim será proclamada a mensagem do terceiro anjo. Ao chegar o tempo para que ela seja dada com o máximo poder, o Senhor operará por meio de humildes instrumentos, dirigindo a mente dos que se consagram ao Seu serviço. Os obreiros serão antes qualificados pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino. Homens de fé e oração serão constrangidos a sair com zelo santo, declarando as palavras que Deus lhes dá. Os pecados de Babilônia serão revelados. Os terríveis resultados da imposição das observâncias da igreja pela autoridade civil, as incursões do espiritismo, os furtivos mas rápidos progressos do poder papal -- tudo será desmascarado. Por meio destes solenes avisos o povo será comovido. Milhares de milhares que nunca ouviram palavras como essas, escutá-las-ão. Com espanto ouvirão o testemunho de que Babilônia é a igreja, caída por causa de seus erros e pecados, por causa de sua rejeição da verdade, enviada do Céu a ela. Ao ir o povo a seus antigos ensinadores, com a ávida pergunta -- São estas coisas assim? -- os ministros apresentam fábulas, profetizam coisas agradáveis, para acalmar-lhes os temores, e silenciar a consciência despertada. Mas, visto que muitos se recusarão a satisfazer-se com a mera autoridade dos homens, pedindo um claro -- "Assim diz o Senhor" -- o ministério popular, semelhante aos fariseus da antiguidade, cheio de ira por ser posta em dúvida a sua autoridade, denunciará a mensagem como sendo de Satanás, e agitará as multidões amantes do pecado para ultrajar e perseguir os que a proclamam. GC 607 1 Estendendo-se a controvérsia a novos campos, e sendo a atenção do povo chamada para a lei de Deus calcada a pés, Satanás entrará em ação. O poder que acompanha a mensagem apenas enfurecerá os que a ela se opõem. O clero empregará esforços quase sobre-humanos para excluir a luz, receoso de que ilumine seus rebanhos. Por todos os meios ao seu alcance esforçar-se-á por evitar todo estudo destes assuntos vitais. A igreja apelará para o braço forte do poder civil, e nesta obra unir-se-ão romanistas e protestantes. Ao tornar-se o movimento em prol da imposição do domingo mais audaz e decidido, invocar-se-á a lei contra os observadores dos mandamentos. Serão ameaçados com multas e prisão, e a alguns se oferecerão posições de influência e outras recompensas e vantagens, como engodo para renunciarem a sua fé. Mas sua perseverante resposta será: "Mostrai-nos pela Palavra de Deus o nosso erro" -- a mesma que foi apresentada por Lutero sob idênticas circunstâncias. Os que forem citados perante os tribunais, defenderão corajosamente a verdade, e alguns que os ouvirem serão levados a decidir-se a guardar todos os mandamentos de Deus. Assim a luz chegará a milhares que de outra maneira nada saberiam destas verdades. GC 608 1 A conscienciosa obediência à Palavra de Deus será considerada rebeldia. Cegado por Satanás, o pai exercerá aspereza e severidade para com o filho crente; o patrão ou patroa oprimirá o empregado que observe os mandamentos. A afeição será alienada; filhos serão deserdados e expulsos do lar. Cumprir-se-ão literalmente as palavras de Paulo: "Todos os que piamente quiserem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições." 2 Timóteo 3:12. Como os defensores da verdade se recusem a honrar o descanso dominical, alguns deles serão lançados na prisão, exilados, e outros tratados como escravos. Para a sabedoria humana, tudo isto parece agora impossível: mas, ao ser retirado dos homens o Espírito de Deus, o qual tem o poder de reprimi-los, e ao ficarem eles sob o governo de Satanás, que odeia os preceitos divinos, hão de acontecer coisas estranhas. Quando o temor e o amor de Deus são removidos, o coração pode tornar-se muito cruel. GC 608 2 Ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário. Unindo-se ao mundo e participando de seu espírito, chegaram a ver as coisas quase sob a mesma luz; e, em vindo a prova, estão prontos a escolher o lado fácil, popular. Homens de talento e maneiras agradáveis, que se haviam já regozijado na verdade, empregam sua capacidade em enganar e transviar as almas. Tornam-se os piores inimigos de seus antigos irmãos. Quando os observadores do sábado forem levados perante os tribunais para responder por sua fé, estes apóstatas serão os mais ativos agentes de Satanás para representá-los falsamente e os acusar e, por meio de falsos boatos e insinuações, incitar os governantes contra eles. GC 608 3 Neste tempo de perseguição provar-se-á a fé dos servos do Senhor. Deram fielmente a advertência, seguindo tão-somente a Deus e Sua Palavra. O Espírito divino, atuando em seu coração, constrangeu-os a falar. Estimulados por um santo zelo e forte impulso divino, cumprem seu dever, sem deter-se para calcular as conseqüências de falar ao povo a Palavra que o Senhor lhes dera. Não consultaram seus interesses temporais, tampouco procuraram defender sua reputação ou vida. Todavia, quando a tempestade da oposição e vitupério irromper sobre eles, alguns, vencidos pela consternação, estarão prontos para exclamar: "Se tivéssemos previsto as conseqüências de nossas palavras, teríamos guardado silêncio." Acham-se cercados de dificuldades. Satanás os assalta com cruéis tentações. A obra que empreenderam parece muito além de sua habilidade para levarem a termo. Estão quase a sucumbir. Foi-se o entusiasmo que os animava; contudo, não podem voltar. Então, sentindo o seu completo desamparo, se refugiam nAquele que é poderoso, em busca de auxílio. Lembram-se de que as palavras que falaram não eram suas, mas dAquele que os mandou dar a advertência. Deus lhes pôs a verdade no coração, e não poderiam eximir-se de proclamá-la. GC 609 1 As mesmas provações foram experimentadas por homens de Deus nos séculos passados. Wycliffe, Huss, Lutero, Tyndale, Baxter, Wesley, insistiam em que todas as doutrinas fossem submetidas à prova da Bíblia, declarando que renunciariam a tudo que esta condenasse. Contra esses homens desencadeou-se a perseguição com fúria implacável; não cessaram todavia de declarar a verdade. Cada um dos diferentes períodos da história da igreja se tem distinguido pelo desenvolvimento de alguma verdade especial, adaptada às necessidades do povo de Deus naquele tempo. Toda nova verdade teve de enfrentar o ódio e a oposição; os que foram beneficiados por sua luz, sofreram tentações e provações. O Senhor dá ao povo uma verdade especial quando este se encontra em situação difícil. Quem ousa recusar-se a publicá-la? Ele ordena a Seus servos que apresentem o último convite de misericórdia ao mundo. Eles não podem permanecer silenciosos; a não ser com perigo de sua alma. Os embaixadores de Cristo nada têm que ver com as conseqüências. Devem cumprir seu dever e deixar os resultados com Deus. GC 610 1 Assumindo a oposição caráter mais violento, os servos de Deus de novo ficam perplexos; pois lhes parece que eles motivaram a crise. Mas a consciência e a Palavra de Deus lhes asseguram que sua conduta é correta; e, conquanto continuem as provações, são fortalecidos para suportá-las. A luta se torna mais renhida e acirrada, mas a sua fé e coragem aumentam com o perigo. Seu testemunho é: "Não ousamos tentar alterações na Palavra de Deus, dividindo a Sua santa lei, dizendo ser essencial uma parte, e outra não, com o fito de alcançar o favor do mundo. O Senhor a quem servimos é capaz de nos livrar. Cristo venceu os poderes da Terra: arrecear-nos-emos de um mundo já vencido?" GC 610 2 A perseguição em suas várias modalidades é o desenvolvimento de um princípio que subsistirá enquanto existir Satanás e tiver o cristianismo poder vital. Ninguém poderá servir a Deus sem atrair contra si a oposição das hostes das trevas. Anjos maus o assaltarão, alarmados de que a sua influência lhes esteja arrebatando a presa. Homens maus, reprovados pelo seu exemplo, unir-se-ão àqueles, procurando separar de Deus tal pessoa, por meio de sedutoras tentações. Quando estas não surtem o efeito esperado, recorre-se ao poder compulsório para forçar a consciência. GC 610 3 Mas, enquanto Jesus permanece como intercessor do homem no santuário celestial, a influência repressora do Espírito Santo é sentida pelos governantes e pelo povo. Essa influência governa, ainda, até certo ponto, as leis do país. Não fossem estas, e a condição do mundo seria muito pior do que ora é. Conquanto muitos de nossos legisladores sejam ativos agentes de Satanás, Deus também tem os Seus instrumentos entre os principais homens da nação. O inimigo incita seus servos a que proponham medidas que estorvariam grandemente a obra de Deus; mas estadistas que temem o Senhor são influenciados por santos anjos para que se oponham a essas propostas, com argumentos irretorquíveis. Assim, um pequeno grupo de homens sustará poderosa corrente de males. A oposição dos inimigos da verdade será restringida a fim de que a mensagem do terceiro anjo possa efetuar a sua obra. Quando for dada a advertência final, prenderá a atenção das pessoas influentes por meio de quem o Senhor está agora a operar, e algumas delas a aceitarão, e manter-se-ão com o povo de Deus durante o tempo de angústia. GC 611 1 O anjo que se une na proclamação da mensagem do terceiro anjo, deve iluminar a Terra toda com a sua glória. Prediz-se com isto uma obra de extensão mundial e de extraordinário poder. O movimento adventista de 1840 a 1844 foi uma manifestação gloriosa do poder de Deus; a mensagem do primeiro anjo foi levada a todos os postos missionários do mundo, e nalguns países houve o maior interesse religioso que se tem testemunhado em qualquer nação desde a Reforma do século XVI; mas isto deve ser superado pelo poderoso movimento sob a última advertência do terceiro anjo. GC 611 2 Esta obra será semelhante à do dia de Pentecoste. Assim como a "chuva temporã" foi dada, no derramamento do Espírito Santo no início do evangelho, para efetuar a germinação da preciosa semente, a "chuva serôdia" será dada em seu final para o amadurecimento da seara. "Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor; como a alva será a Sua saída; e Ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra." Oséias 6:3. "E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor vosso Deus, porque Ele vos dará ensinador de justiça, e fará descer a chuva, a temporã e a serôdia." Joel 2:23. "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne." "E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." Atos 2:17, 21. GC 611 3 A grande obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor manifestação do poder de Deus do que a que assinalou o seu início. As profecias que se cumpriram no derramamento da chuva temporã no início do evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia, no final do mesmo. Eis aí "os tempos do refrigério" que o apóstolo Pedro esperava quando disse: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, e envie Ele a Jesus Cristo." Atos 3:19, 20. GC 612 1 Servos de Deus, com o rosto iluminado e a resplandecer de santa consagração, apressar-se-ão de um lugar para outro para proclamar a mensagem do Céu. Por milhares de vozes em toda a extensão da Terra, será dada a advertência. Operar-se-ão prodígios, os doentes serão curados, e sinais e maravilhas seguirão aos crentes. Satanás também opera com prodígios de mentira, fazendo mesmo descer fogo do céu, à vista dos homens. Apocalipse 13:13. Assim os habitantes da Terra serão levados a decidir-se. GC 612 2 A mensagem há de ser levada não tanto por argumentos como pela convicção profunda do Espírito de Deus. Os argumentos foram apresentados. A semente foi semeada e agora brotará e frutificará. As publicações distribuídas pelos missionários têm exercido sua influência; todavia, muitos que ficaram impressionados, foram impedidos de compreender completamente a verdade, ou de lhe prestar obediência. Agora os raios de luz penetram por toda parte, a verdade é vista em sua clareza, e os leais filhos de Deus cortam os liames que os têm retido. Laços de família, relações na igreja, são impotentes para os deter agora. A verdade é mais preciosa do que tudo mais. Apesar das forças arregimentadas contra a verdade, grande número se coloca ao lado do Senhor. ------------------------Capítulo 39 -- Aproxima-se o tempo de angústia GC 613 1 "Naquele tempo Se levantará Miguel, o grande príncipe, que Se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro." Daniel 12:1. GC 613 2 Quando se encerrar a mensagem do terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra. O povo de Deus terá cumprido a sua obra. Recebeu a "chuva serôdia", o "refrigério pela presença do Senhor", e acha-se preparado para a hora probante que diante dele está. No Céu, anjos apressam-se de um lado para o outro. Um anjo que volta da Terra anuncia que a sua obra está feita; o mundo foi submetido à prova final, e todos os que se mostraram fiéis aos preceitos divinos receberam "o selo do Deus vivo." Cessa então Jesus de interceder no santuário celestial. Levanta as mãos e com grande voz diz: Está feito; e toda a hoste angélica depõe suas coroas, ao fazer Ele o solene aviso. "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. Todos os casos foram decididos para vida ou para morte. Cristo fez expiação por Seu povo, e apagou os seus pecados. O número de Seus súditos completou-se; "e o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu", estão prestes a ser entregues aos herdeiros da salvação, e Jesus deve reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. GC 614 1 Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra. Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem intercessor. Removeu-se a restrição que estivera sobre os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os que finalmente se encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus: O mundo rejeitou a Sua misericórdia, desprezou-Lhe o amor, pisando Sua lei. Os ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o Espírito de Deus, persistentemente resistido, foi, por fim, retirado. Desabrigados da graça divina, não têm proteção contra o maligno. Satanás mergulhará então os habitantes da Terra em uma grande angústia final. Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do que a que sobreveio a Jerusalém na antiguidade. GC 614 2 Um único anjo destruiu todos os primogênitos dos egípcios, enchendo a Terra de pranto. Quando Davi ofendeu a Deus, por contar o povo, um anjo fez aquela terrível destruição pela qual seu pecado foi punido. O mesmo poder destruidor exercido por santos anjos quando Deus ordena, será exercido por anjos maus quando Ele o permitir. Há agora forças preparadas, e que aguardam apenas o consentimento divino para espalharem a desolação por toda parte. GC 614 3 Os que honram a lei de Deus têm sido acusados de acarretar juízos sobre o mundo, e serão considerados como a causa das terríveis convulsões da Natureza, da contenda e carnificina entre os homens, coisas que estão enchendo a Terra de pavor. O poder que acompanha a última advertência enraiveceu os ímpios; sua cólera acende-se contra todos os que receberam a mensagem, e Satanás incitará a maior intensidade ainda o espírito de ódio e perseguição. GC 615 1 Quando a presença de Deus se retirou, por fim, da nação judaica, sacerdotes e povo não o sabiam. Posto que sob o domínio de Satanás, e governados pelas paixões mais horríveis e perniciosas, consideravam-se ainda como os escolhidos de Deus. Continuou o ministério no templo; ofereciam-se sacrifícios sobre os altares poluídos, e diariamente a bênção divina era invocada sobre um povo culpado do sangue do querido Filho de Deus, e empenhado em matar Seus ministros e apóstolos. Assim, quando a decisão irrevogável do santuário houver sido pronunciada, e para sempre tiver sido fixado o destino do mundo, os habitantes da Terra não o saberão. As formas da religião continuarão a ser mantidas por um povo do qual finalmente o Espírito de Deus Se terá retirado; e o zelo satânico com que o príncipe do mal os inspirará para o cumprimento de seus maldosos desígnios, terá a semelhança do zelo para com Deus. GC 615 2 Como o sábado se tornou o ponto especial de controvérsia por toda a cristandade, e as autoridades religiosas e seculares se combinaram para impor a observância do domingo, a recusa persistente de uma pequena minoria em ceder à exigência popular, fará com que esta minoria seja objeto de ódio universal. Insistir-se-á em que os poucos que permanecem em oposição a uma instituição da igreja e lei do Estado, não devem ser tolerados; que é melhor que eles sofram do que nações inteiras sejam lançadas em confusão e ilegalidade. O mesmo argumento, há mil e oitocentos anos, foi aduzido contra Cristo pelos "príncipes do povo." "Convém", disse o astucioso Caifás, "que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação." João 11:50. Este argumento parecerá conclusivo; e expedir-se-á, por fim, um decreto contra os que santificam o sábado do quarto mandamento, denunciando-os como merecedores do mais severo castigo, e dando ao povo liberdade para, depois de certo tempo, matá-los. O romanismo no Velho Mundo, e o protestantismo apóstata no Novo, adotarão uma conduta idêntica para com aqueles que honram todos os preceitos divinos. GC 616 1 O povo de Deus será então imerso naquelas cenas de aflição e angústia descritas pelo profeta como o tempo de angústia de Jacó. "Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor, de temor mas não de paz. ... Por que se têm tornado macilentos todos os rostos? Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela." Jeremias 30:5-7. GC 616 2 A noite de angústia de Jacó, quando lutou em oração para obter livramento da mão de Esaú (Gênesis 32:24-30), representa a experiência do povo de Deus no tempo de tribulação. Por causa do engano praticado a fim de conseguir a bênção de seu pai, destinada a Esaú, havia Jacó fugido para salvar a vida, alarmado pelas ameaças de morte feitas por seu irmão. Depois de ficar muitos anos como exilado, pôs-se a caminho, por ordem de Deus, para voltar com suas mulheres e filhos, rebanhos e gado, ao país natal. Chegando às fronteiras da terra, encheu-se de terror com as notícias da aproximação de Esaú à frente de um bando de guerreiros, indubitavelmente determinado à vingança. A multidão de Jacó, desarmada e indefesa, parecia prestes a cair desamparadamente como vítima da violência e morticínio. E ao fardo de ansiedade e temor acrescentou-se o peso esmagador da reprovação de si próprio; pois que era o seu pecado que acarretara este perigo. Sua única esperança estava na misericórdia de Deus; sua defesa única deveria ser a oração. Todavia, nada deixa de sua parte por fazer a fim de expiar a falta para com seu irmão, e desviar o perigo que o ameaçava. Assim, ao aproximarem-se do tempo de angústia, devem os seguidores de Cristo esforçar-se por se colocar em uma luz conveniente perante o povo, a fim de desarmar o preconceito e remover o perigo que ameaça a liberdade de consciência. GC 616 3 Tendo feito afastar a sua família, para que não lhe testemunhasse a angústia, Jacó ficou só para interceder junto a Deus. Confessa o seu pecado, e com gratidão reconhece a misericórdia de Deus para com ele, ao mesmo tempo em que com profunda humilhação pleiteia o concerto estabelecido com seus pais, e as promessas a ele mesmo feitas na visão noturna de Betel, e na terra de seu exílio. Chegara o momento crítico em sua vida; tudo está em jogo. Nas trevas e solidão continua ele a orar e a humilhar-se perante Deus. Subitamente percebe uma mão sobre o ombro. Julga ser um inimigo que procura tirar-lhe a vida, e com toda a energia do desespero luta com o seu assaltante. Quando começa a raiar o dia, o estranho emprega a sua força sobrenatural: ao seu toque o vigoroso homem parece atacado de paralisia e, desajudado, cai a chorar, suplicante, sobre o pescoço de seu misterioso antagonista. Jacó sabe agora que era o Anjo do Concerto, com quem estivera a lutar. Posto que extenuado e sofrendo a mais aguda dor, não abandona o seu propósito. Havia muito tempo que ele suportava a perplexidade, o remorso e a angústia pelo seu pecado; agora deveria ter a segurança de que fora perdoado. O Visitante divino parece a ponto de partir; Jacó, porém, apega-se a Ele, rogando uma bênção. O Anjo insiste: "Deixa-Me ir, porque já a alva subiu"; mas o patriarca exclama: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." Que confiança, que firmeza e perseverança são aqui reveladas! Fosse isto uma exigência jactanciosa, presumida, e Jacó teria sido destruído instantaneamente; mas dele era a segurança de quem confessa a sua fraqueza e indignidade e, não obstante, confia na misericórdia de um Deus que guarda Seu concerto. GC 617 1 "Lutou com o Anjo, e prevaleceu." Oséias 12:4. Pela humilhação, arrependimento e submissão, aquele mortal pecador, falível, prevaleceu sobre a Majestade do Céu. Firmara as mãos trementes nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não poderia afastar a defesa do pecador. Como prova de seu triunfo e animação a outros para lhe imitarem o exemplo, seu nome foi mudado de um nome que lhe recordava o pecado para outro que comemorava sua vitória. E o fato de haver Jacó prevalecido com Deus constituía uma segurança de que prevaleceria com os homens. Não mais teve receio de enfrentar a ira do irmão: pois o Senhor era a sua defesa. GC 618 1 Satanás tinha acusado Jacó perante os anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de seu pecado; havia incitado Esaú para marchar contra ele; e, durante a longa noite de luta do patriarca, Satanás esforçou-se por incutir nele uma intuição de culpa, a fim de o desanimar e romper sua ligação com Deus. Jacó foi quase arrastado ao desespero; mas sabia que sem o auxílio do Céu teria de perecer. Tinha-se arrependido sinceramente de seu grande pecado, e apelou para a misericórdia de Deus. Não se demoveria de seu propósito, antes segurou firme o Anjo, insistindo em seu pedido com ardentes e angustiosos brados, até prevalecer. GC 618 2 Assim como Satanás influenciou Esaú a marchar contra Jacó, instigará os ímpios a destruírem o povo de Deus no tempo de angústia. E assim como acusou a Jacó, acusará o povo de Deus. Conta com as multidões do mundo como seus súditos; mas o pequeno grupo que guarda os mandamentos de Deus, está resistindo a sua supremacia. Se ele os pudesse eliminar da Terra, seu triunfo seria completo. Ele vê que santos anjos os estão guardando, e deduz que seus pecados foram perdoados; mas não sabe que seus casos foram decididos no santuário celestial. Tem um conhecimento preciso dos pecados que os tentou a cometer, e apresenta esses pecados diante de Deus sob a mais exagerada luz, representando a este povo como sendo precisamente tão merecedor como ele mesmo da exclusão do favor de Deus. Declara que com justiça o Senhor não pode perdoar-lhes os pecados, e, no entanto, destruir a ele e seus anjos. Reclama-os como sua presa, e pede que sejam entregues em suas mãos para os destruir. GC 618 3 Acusando Satanás o povo de Deus por causa de seus pecados, o Senhor lhe permite que os prove até o último ponto. Sua confiança em Deus, sua fé e firmeza, serão severamente postas à prova. Ao reverem o passado, suas esperanças desfalecem; pois que em sua vida inteira pouco bem podem ver. Estão perfeitamente cônscios de sua fraqueza e indignidade. Satanás se esforça por aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos não dão margem a esperança, que a mancha de seu aviltamento jamais será lavada. Espera destruir-lhes a fé, de tal maneira que cedam às suas tentações, desviando-se de sua fidelidade para com Deus. GC 619 1 Embora o povo de Deus esteja rodeado de inimigos que se esforçam por destruí-lo, a angústia que sofrem não é, todavia, o medo da perseguição por causa da verdade; receiam não se terem arrependido de todo pecado, e que, devido a alguma falta, não se cumpra a promessa do Salvador: "Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo." Apocalipse 3:10. Se pudessem ter a segurança de seu perdão, não recuariam da tortura ou da morte; mas, se se mostrassem indignos, e perdessem a vida por causa dos seus defeitos de caráter, o santo nome de Deus seria então vituperado. GC 619 2 De todos os lados ouvem as tramas da traição, e vêem alastrar-se ativamente a revolta; e desperta-se neles um intenso desejo, fervoroso anseio d'alma, para que esta grande apostasia termine e a impiedade dos ímpios chegue a termo. Mas, enquanto rogam a Deus que detenha a obra da rebelião, é com um vivo senso de reprovação própria que não mais têm eles poder para resistir à poderosa onda do mal e forçá-la a retroceder. Sentem que se houvessem sempre empregado toda a sua habilidade no serviço de Cristo, indo avante de poder em poder, as forças de Satanás teriam menos capacidade para prevalecer contra eles. GC 619 3 Afligem a alma perante Deus, indicando o anterior arrependimento de seus muitos pecados, e reclamando a promessa do Salvador: "Que se apodere de Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. Sua fé não desfalece por não serem suas orações de pronto atendidas. Sofrendo embora a mais profunda ansiedade, terror e angústia, não cessam as suas intercessões. Apoderam-se da força de Deus como Jacó se apoderara do Anjo; e a linguagem de sua alma é: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." GC 620 1 Se Jacó não se houvesse primeiro arrependido de seu pecado de obter pela fraude o direito de primogenitura, Deus não lhe teria ouvido a oração, preservando-lhe misericordiosamente a vida. Semelhantemente, no tempo de angústia, se o povo de Deus tivesse pecados não confessados que surgissem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, seriam vencidos; o desespero suprimir-lhes-ia a fé, e não poderiam ter confiança para suplicar de Deus o livramento. Mas, ao mesmo tempo em que têm uma profunda intuição de sua indignidade, não possuem falta oculta para revelar. Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo; não os podem trazer à lembrança. GC 620 2 Satanás leva muitos a crer que Deus não toma em consideração sua infidelidade nas pequenas coisas da vida; mas o Senhor mostra, em seu trato com Jacó, que de maneira nenhuma sancionará ou tolerará o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder seus pecados, permitindo que permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados e perdoados, serão vencidos por Satanás. Quanto mais exaltada for a sua profissão, e mais honrada a posição que ocupam, mais ofensiva é a sua conduta à vista de Deus, e mais certa é a vitória de seu grande adversário. Os que se retardam no preparo para o dia de Deus, não o poderão obter no tempo de angústia, ou em qualquer ocasião subseqüente. O caso de todos estes é sem esperanças. GC 620 3 Os professos cristãos que vêm ao último e terrível conflito, sem se acharem preparados, confessarão em seu desespero os seus pecados com palavras de angústia consumidora enquanto os ímpios exultam de sua agonia. Estas confissões são do mesmo caráter que a de Esaú ou de Judas. Os que as fazem, lamentam o resultado da transgressão, mas não a culpa da mesma. Não sentem verdadeira contrição, nem aversão ao mal. Reconhecem seu pecado pelo medo do castigo; mas, semelhantes a Faraó na antiguidade, voltariam ao seu desafio ao Céu, caso fossem removidos os juízos. GC 621 1 A história de Jacó é também uma segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados, tentados e arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Enquanto Satanás procura destruir esta classe, Deus enviará Seus anjos para a animar e proteger, no tempo de perigo. Os assaltos de Satanás são cruéis e decididos, seus enganos, terríveis; mas os olhos do Senhor estão sobre o Seu povo, e Seu ouvido escuta-lhes os clamores. Sua aflição é grande, as chamas da fornalha parecem prestes a consumi-los; mas Aquele que os refina e purifica, os apresentará como ouro provado no fogo. O amor de Deus para com os Seus filhos durante o período de sua mais intensa prova, é tão forte e terno como nos dias de sua mais radiante prosperidade; mas é necessário passarem pela fornalha de fogo; sua natureza terrena deve ser consumida para que a imagem de Cristo possa refletir-se perfeitamente. GC 621 2 O tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar o cansaço, a demora e a fome -- fé que não desfaleça ainda que severamente provada. O tempo de graça é concedido a todos, a fim de se prepararem para aquela ocasião. Jacó prevaleceu porque era perseverante e decidido. Sua vitória é uma prova do poder da oração importuna. Todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como ele o fez, e como ele forem fervorosos e perseverantes, serão bem-sucedidos como ele o foi. Os que não estão dispostos a negar o eu, a sentir verdadeira agonia perante a face de Deus, a orar longa e fervorosamente rogando-Lhe a bênção, não a obterão. Lutar com Deus -- quão poucos sabem o que isto significa! Quão poucos têm buscado a Deus com contrição de alma, com intenso anelo, até que toda faculdade se encontre em sua máxima tensão! Quando ondas de desespero que linguagem alguma pode exprimir assoberbam os que fazem suas súplicas, quão poucos se apegam com fé inquebrantável às promessas de Deus! GC 622 1 Os que agora exercem pouca fé, correm maior perigo de cair sob o poder dos enganos de Satanás, e do decreto que violentará a consciência. E mesmo resistindo à prova, serão, imersos em uma agonia e aflição mais profundas no tempo de angústia, porque nunca adquiriram o hábito de confiar em Deus. As lições da fé as quais negligenciaram, serão obrigados a aprender sob a pressão terrível do desânimo. GC 622 2 Devemos familiarizar-nos agora com Deus, provando as Suas promessas. Os anjos registram toda oração fervorosa e sincera. Devemos de preferência dispensar as satisfações egoístas a negligenciar a comunhão com Deus. A maior pobreza, a máxima abnegação, tendo Sua aprovação, é melhor do que as riquezas, honras, comodidades e amizade, sem Ele. Devemos tomar tempo para orar. Se consentirmos que a mente se absorva com os interesses mundanos, o Senhor talvez nos dê esse tempo removendo nossos ídolos, sejam estes o ouro, sejam casas ou terras férteis. GC 622 3 Os jovens não seriam seduzidos pelo pecado se se recusassem a entrar por qualquer caminho, a não ser que pudessem rogar a bênção de Deus sobre o mesmo. Se os mensageiros que levam a última e solene advertência ao mundo orassem rogando a bênção de Deus, não de maneira fria, descuidada, ociosa, mas fervorosamente e com fé, como fez Jacó, encontrariam muitos lugares onde poderiam dizer: "Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva." Gênesis 32:30. Seriam tidos pelo Céu na conta de príncipes, com poder para prevalecer com Deus e com os homens. GC 622 4 O "tempo de angústia como nunca houve" está prestes a manifestar-se sobre nós; e necessitaremos de uma experiência que agora não possuímos, e que muitos são demasiado indolentes para obter. Dá-se muitas vezes o caso de se supor maior a angústia do que em realidade o é; não se dá isso, porém, com relação à crise diante de nós. A mais vívida descrição não pode atingir a grandeza daquela prova. Naquele tempo de provações, toda alma deverá por si mesma estar em pé perante Deus. "Ainda que Noé, Daniel e Jó" estivessem na Terra, "vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam as suas próprias almas pela sua justiça." Ezequiel 14:20. GC 623 1 Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo. Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador ser levado a ceder ao poder da tentação. Satanás encontra nos corações humanos algum ponto em que pode obter apoio; algum desejo pecaminoso é acariciado, por meio do qual suas tentações asseguram a sua força. Mas Cristo declarou de Si mesmo: "Aproxima-se o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim." João 14:30. Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem. Esta é a condição em que devem encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia. GC 623 2 É nesta vida que devemos afastar de nós o pecado, pela fé no sangue expiatório de Cristo. Nosso precioso Salvador nos convida a unir-nos a Ele, a ligar nossa fraqueza à Sua força, nossa ignorância à Sua sabedoria, aos Seus méritos nossa indignidade. A providência de Deus é a escola na qual devemos aprender a mansidão e humildade de Jesus. O Senhor está sempre a colocar diante de nós, não o caminho que preferiríamos, o qual nos parece mais fácil e agradável, mas os verdadeiros objetivos da vida. Toca a nós cooperar com os meios que o Céu emprega na obra de conformar nosso caráter ao modelo divino. Ninguém poderá negligenciar ou adiar esta obra sem grave perigo para a sua alma. GC 623 3 O apóstolo João ouviu em visão uma grande voz no Céu, exclamando: "Ai dos que habitam na Terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo." Apocalipse 12:12. Terríveis são as cenas que provocam esta exclamação da voz celestial. A ira de Satanás aumenta à medida em que o tempo se abrevia, e sua obra de engano e destruição atingirá o auge no tempo de angústia. GC 624 1 Terríveis cenas de caráter sobrenatural logo se manifestarão nos céus, como indício do poder dos demônios, operadores de prodígios. Os espíritos diabólicos sairão aos reis da Terra e ao mundo inteiro, para segurá-los no engano, e forçá-los a se unirem a Satanás em sua última luta contra o governo do Céu. Mediante estes agentes, serão enganados tanto governantes como súditos. Levantar-se-ão pessoas pretendendo ser o próprio Cristo e reclamando o título e culto que pertencem ao Redentor do mundo. Efetuarão maravilhosos prodígios de cura, afirmando terem recebido do Céu revelações que contradizem o testemunho das Escrituras. GC 624 2 Como ato culminante no grande drama do engano, o próprio Satanás personificará Cristo. A igreja tem há muito tempo professado considerar o advento do Salvador como a realização de suas esperanças. Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de Deus dada por João no Apocalipse (cap. 1:13-15). A glória que o cerca não é excedida por coisa alguma que os olhos mortais já tenham contemplado. Ressoa nos ares a aclamação de triunfo: "Cristo veio! Cristo veio!" O povo se prostra em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra esteve. Sua voz é meiga e branda, cheia de melodia. Em tom manso e compassivo apresenta algumas das mesmas verdades celestiais e cheias de graça que o Salvador proferia; cura as moléstias do povo, e então, em seu pretenso caráter de Cristo, alega ter mudado o sábado para o domingo, ordenando a todos que santifiquem o dia que ele abençoou. Declara que aqueles que persistem em santificar o sétimo dia estão blasfemando de Seu nome, pela recusa de ouvirem Seus anjos à eles enviados com a luz e a verdade. É este o poderoso engano, quase invencível. Semelhantes aos samaritanos que foram enganados por Simão Mago, as multidões, desde o menor até o maior, dão crédito a esses enganos, dizendo: "Esta é a grande virtude de Deus." Atos 8:10. GC 625 1 Mas o povo de Deus não será desencaminhado. Os ensinos deste falso cristo não estão de acordo com as Escrituras. Sua bênção é pronunciada sobre os adoradores da besta e de sua imagem, a mesma classe sobre a qual a Bíblia declara que a ira de Deus, sem mistura, será derramada. GC 625 2 E, demais, não será permitido a Satanás imitar a maneira do advento de Cristo. O Salvador advertiu Seu povo contra o engano neste ponto, e predisse claramente o modo de Sua segunda vinda. "Surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. ... Portanto se vos disserem: Eis que Ele está no deserto, não saiais; eis que Ele está no interior da casa, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao Ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:24-27. Não há possibilidade de ser imitada esta vinda. Será conhecida universalmente, testemunhada pelo mundo inteiro. GC 625 3 Apenas os que forem diligentes estudantes das Escrituras, e receberem o amor da verdade, estarão ao abrigo dos poderosos enganos que dominam o mundo. Pelo testemunho da Bíblia estes surpreenderão o enganador em seu disfarce. Para todos virá o tempo de prova. Pela cirandagem da tentação, revelar-se-ão os verdadeiros crentes. Acha-se hoje o povo de Deus tão firmemente estabelecido em Sua Palavra que não venha a ceder à evidência de seus sentidos? Apegar-se-á nesta crise à Bíblia, e a Bíblia só? Sendo possível, Satanás os impedirá de obter o preparo para estar em pé naquele dia. Disporá as coisas de tal maneira a lhes obstruir o caminho; embaraçá-los-á com os tesouros terrestres; fá-los-á levar um fardo pesado, cansativo, a fim de que seu coração se sobrecarregue com os cuidados desta vida, e o dia de prova venha sobre eles como um ladrão. GC 626 1 Quando o decreto promulgado pelos vários governantes da cristandade contra os observadores dos mandamentos lhes retirar a proteção do governo, abandonando-os aos que lhes desejam a destruição, o povo de Deus fugirá das cidades e vilas e reunir-se-á em grupos, habitando nos lugares mais desertos e solitários. Muitos encontrarão refúgio na fortaleza das montanhas. Semelhantes aos cristãos dos vales do Piemonte, dos lugares altos da Terra farão santuários, agradecendo a Deus pelas "fortalezas das rochas." Isaías 33:16. Muitos, porém, de todas as nações, e de todas as classes, elevadas e humildes, ricos e pobres, negros e brancos, serão arrojados na escravidão mais injusta e cruel. Os amados de Deus passarão dias penosos, presos em correntes, retidos pelas barras da prisão, sentenciados à morte, deixados alguns aparentemente para morrer à fome nos escuros e nauseabundos calabouços. Nenhum ouvido humano lhes escutará os gemidos; mão humana alguma estará pronta para prestar-lhes auxílio. GC 626 2 Esquecer-Se-á o Senhor de Seu povo nesta hora de provação? Esqueceu-Se Ele de Seu fiel Noé quando caíram os juízos sobre o mundo antediluviano? Esqueceu-Se Ele de Ló, quando desceu fogo do céu para consumir as cidades da planície? Esqueceu-Se de José, rodeado de idólatras, no Egito? Esqueceu-Se de Elias, quando o juramento de Jezabel o ameaçou com a sorte dos profetas de Baal? Esqueceu-Se de Jeremias no escuro e horrendo fosso de sua prisão? Esqueceu-Se dos três heróis na fornalha ardente? ou de Daniel na cova dos leões? GC 626 3 "Mas Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o Senhor Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? mas ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado." Isaías 49:14-16. O Senhor dos exércitos disse: "Aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho." Zacarias 2:8. GC 627 1 Ainda que os inimigos os lancem nas prisões, as paredes do calabouço não podem interceptar a comunicação entre sua alma e Cristo. Aquele que vê todas as suas fraquezas, e sabe de toda provação, está acima de todo o poder terrestre; e anjos virão a eles nas celas solitárias, trazendo luz e paz do Céu. A prisão será como um palácio; pois os ricos na fé morarão ali, e as paredes sombrias serão iluminadas com a luz celestial, como quando Paulo e Silas, à meia-noite, oraram e cantaram louvores na masmorra de Filipos. GC 627 2 Os juízos de Deus cairão sobre os que procuram oprimir e destruir Seu povo. Sua grande longanimidade para com os ímpios, torna audazes os homens na transgressão, mas seu castigo, embora muito retardado, não é menos certo e terrível. "O Senhor Se levantará como no monte de Perazim, e Se irará, como no vale de Gibeom, para fazer a Sua obra, a Sua estranha obra, e para executar o Seu ato, o Seu estranho ato." Isaías 28:21. Para o nosso misericordioso Deus, o infligir castigo é ato estranho. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio." Ezequiel 33:11. O Senhor é "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade;... que perdoa a iniqüidade, e a transgressão e o pecado." Todavia, "ao culpado não tem por inocente." "O Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente." Êxodo 34:6, 7; Naum 1:3. Reivindicará com terríveis manifestações a dignidade de Sua lei espezinhada. A severidade da retribuição que aguarda o transgressor pode ser julgada pela relutância do Senhor em executar justiça. A nação que por tanto tempo Ele suporta, e que não ferirá antes de haver ela enchido a medida de sua iniqüidade, segundo os cálculos divinos, beberá, por fim, a taça da ira sem mistura de misericórdia. GC 627 3 Quando Cristo cessar de interceder no santuário, será derramada a ira que, sem mistura, se ameaçara fazer cair sobre os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal. Apocalipse 14:9, 10. As pragas que sobrevieram ao Egito quando Deus estava prestes a libertar Israel, eram de caráter semelhante aos juízos mais terríveis e extensos que devem cair sobre o mundo precisamente antes do libertamento final do povo de Deus. Diz o autor do Apocalipse, descrevendo esses tremendos flagelos: "Fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem." O mar "se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente." E os rios e fontes das águas "se tornaram em sangue." Terríveis como são estes castigos, a justiça de Deus é plenamente reivindicada. Declara o anjo de Deus: "Justo és Tu, ó Senhor, ... porque julgaste estas coisas. Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também Tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores." Apocalipse 16:2-6. Condenando o povo de Deus à morte, são tão culpados do crime do derramamento de seu sangue como se este tivesse sido derramado por suas próprias mãos. De modo semelhante declarou Cristo serem os judeus de Seu tempo culpados de todo o sangue dos homens santos que havia sido derramado desde os dias de Abel; pois possuíam o mesmo espírito, e estavam procurando fazer a mesma obra daqueles assassinos dos profetas. GC 628 1 Na praga que se segue, é dado poder ao Sol para que "abrasasse os homens com fogo. E os homens foram abrasados com grandes calores." Versos 8, 9. Os profetas assim descrevem a condição da Terra naquele tempo terrível: "E a Terra [está] triste; ... porque a colheita do campo pereceu." "Todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens." "A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados." "Como geme o gado! as manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto: ... os rios se secaram, e o fogo consumiu os pastos do deserto." "Os cânticos do templo serão gritos de dor naquele dia, diz o Senhor Jeová; muitos serão os cadáveres; em todos os lugares serão lançados fora em silêncio." Joel 1:10-12, 17-20; Amós 8:3. GC 628 2 Estas pragas não são universais, ao contrário os habitantes da Terra seriam inteiramente exterminados. Contudo serão os mais terríveis flagelos que já foram conhecidos por mortais. Todos os juízos sobre os homens, antes do final do tempo da graça, foram misturados com misericórdia. O sangue propiciatório de Cristo tem livrado o pecador de os receber na medida completa de sua culpa; mas no juízo final a ira é derramada sem mistura de misericórdia. GC 629 1 Naquele dia, multidões desejarão o abrigo da misericórdia de Deus, abrigo que durante tanto tempo desprezaram. "Eis que vêm dias, diz o Senhor Jeová, em que enviarei fome sobre a Terra, não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. E irão vagabundos de um mar até outro mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda a parte, buscando a Palavra do Senhor, e não a acharão." Amós 8:11, 12. GC 629 2 O povo de Deus não estará livre de sofrimento; mas conquanto perseguidos e angustiados, conquanto suportem privações, e sofram pela falta de alimento, não serão abandonados a perecer. O Deus que cuidou de Elias, não desamparará nenhum de Seus abnegados filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça, deles cuidará; e no tempo de fome serão alimentados. Enquanto os ímpios estão a morrer de fome e pestilências, os anjos protegerão os justos, suprindo-lhes as necessidades. Para aquele que "anda em justiça" é esta promessa: "O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor os ouvirei, Eu o Deus de Israel, os não desampararei." Isaías 33:16; 41:17. GC 629 3 "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas", os que O temem, contudo, se alegrarão no Senhor e exultarão no Deus de sua salvação. Habacuque 3:17, 18. GC 629 4 "O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O Sol não te molestará de dia, nem a Lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; Ele guardará a tua alma." "Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo de Suas asas estarás seguro; a Sua verdade é escudo e broquel. Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia, nem peste que ande na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos olharás, e verás a recompensa dos ímpios. Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda." Salmos 121:5-7; 91:3-10. GC 630 1 Aos olhos humanos parecerá, todavia, que o povo de Deus logo deverá selar seu testemunho com seu sangue, assim como fizeram os mártires antes deles. Eles mesmos começam a recear que o Senhor os abandonou para sucumbirem às mãos de seus inimigos. É um tempo de terrível agonia. Dia e noite clamam a Deus rogando livramento. Os ímpios exultam, e ouvem-se o grito de zombaria: "Onde está agora a vossa fé? Por que Deus vos não livra de nossas mãos, se sois verdadeiramente Seu povo?" Mas os expectantes lembram-se de Jesus morrendo sobre a cruz do Calvário, e os principais dos sacerdotes e príncipes bradando com escárnio: "Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nEle." Mateus 27:42. Semelhantes a Jacó, todos estão a lutar com Deus. Seu semblante exprime sua luta íntima. A palidez repousa em cada rosto. Não cessam, porém, de orar fervorosamente. GC 630 2 Pudessem os homens ver com visão celestial e contemplariam grupos de anjos magníficos em poder, estacionados em redor daqueles que guardaram a palavra da paciência de Cristo. Com ternura compassiva, os anjos têm testemunhado sua angústia e ouvido suas orações. Estão à espera da ordem de seu Comandante para os arrancar do perigo. Mas devem ainda esperar um pouco mais. O povo de Deus deve beber o cálice e ser batizado com o batismo. A própria demora, para eles tão penosa, é a melhor resposta às suas petições. Esforçando-se por esperar confiantemente que o Senhor opere, são levados a exercitar a fé, esperança e paciência, que muito pouco foram exercitadas durante sua experiência religiosa. Contudo, por amor dos escolhidos, o tempo de angústia será abreviado. "E Deus não fará justiça a Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite...? Digo-vos que depressa lhes fará justiça." Lucas 18:7, 8. O fim virá mais rapidamente do que os homens esperam. O trigo será colhido e atado em molhos para o celeiro de Deus; o joio será atado em feixes para os fogos da destruição. GC 631 1 As sentinelas celestiais, fiéis ao seu encargo, continuam com sua vigilância. Posto que um decreto geral haja fixado um tempo em que os observadores dos mandamentos poderão ser mortos, seus inimigos nalguns casos se antecipam ao decreto e, antes do tempo especificado, se esforçam por tirar-lhes a vida. Mas ninguém pode passar através dos poderosos guardas estacionados em redor de toda alma fiel. Alguns são assaltados ao fugirem das cidades e vilas; mas as espadas contra eles levantadas se quebram e caem tão impotentes como a palha. Outros são defendidos por anjos sob a forma de guerreiros. GC 631 2 Em todos os tempos Deus tem usado os santos anjos para socorrer e livrar Seu povo. Seres celestiais têm tomado parte ativa nos negócios humanos. Têm aparecido trajando vestes que resplandeciam como o relâmpago; têm vindo como homens, no aspecto de viajantes. Anjos têm aparecido sob a forma de homens de Deus. Têm repousado, como se estivessem cansados, sob os carvalhos ao meio-dia. Têm aceitado a hospitalidade dos lares humanos. Agiram como guias aos viajantes surpreendidos pela noite. Acenderam com suas próprias mãos os fogos do altar. Abriram as portas do cárcere, libertando os servos do Senhor. Revestidos da armadura do Céu, vieram para remover a pedra do túmulo do Salvador. GC 631 3 Sob a forma humana, muitas vezes se acham anjos nas assembléias dos justos, e visitam as dos ímpios, assim como foram a Sodoma a fim de fazerem um relato de suas ações, para determinar se haviam passado os limites da longanimidade de Deus. O Senhor Se deleita na misericórdia; e, por amor dos poucos que realmente O servem, restringe as calamidades, prolongando a tranqüilidade das multidões. Mal compreendem os que pecam contra Deus que devem sua própria vida aos poucos fiéis a quem se deleitam em ridicularizar e oprimir. GC 632 1 Ainda que os governadores deste mundo não o saibam, os anjos têm sido, muita vez, oradores em seus concílios. Olhos humanos os têm visto; humanos ouvidos escutaram-lhes os apelos; lábios humanos se opuseram a suas sugestões e ridicularizaram-lhes os conselhos; humanas mãos os defrontaram com insultos e agressão. Nos recintos dos concílios e nas cortes de justiça, estes mensageiros celestiais têm revelado um conhecimento particularizado da história humana; demonstraram-se ser mais capazes para defender a causa dos opressos do que os advogados mais hábeis e eloqüentes. Frustraram propósitos e impediram males que teriam grandemente retardado a obra de Deus, ocasionando grande sofrimento a Seu povo. Na hora de perigo e angústia, "o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra." Salmos 34:7. GC 632 2 Com ardente anseio, o povo de Deus aguarda os sinais de seu Rei vindouro. Ao serem consultadas as sentinelas: "Guarda, que houve de noite?" é dada sem vacilação a resposta: "Vem a manhã, e também a noite." Isaías 21:11, 12. Brilha a luz nas nuvens, sobre o cume das montanhas. Revelar-se-á em breve a Sua glória. O Sol da justiça está prestes a raiar. A manhã e a noite estão ambas às portas -- o iniciar de um dia intérmino para os justos, e o baixar de eterna noite para os ímpios. GC 632 3 Ao insistir o povo militante de Deus com suas súplicas perante o Senhor, o véu que os separa do invisível parece quase a retirar-se. Os céus incendem com o raiar do dia eterno e, qual melodia de cânticos angelicais, soam ao ouvido as palavras: "Permanecei firmes em vossa fidelidade. O auxílio vem." Cristo, o todo-poderoso Vencedor, oferece a Seus soldados cansados inalterável coroa de glória; e vem a Sua voz, das portas entreabertas: "Eis que Eu estou convosco. Não temais. Conheço todas as vossas angústias; suportei vossos pesares. Não estais a lutar contra inimigos que ainda não foram provados. Pelejei o combate em vosso favor, e em Meu nome sois mais do que vencedores." GC 633 1 O precioso Salvador enviará auxílio exatamente quando dele necessitarmos. O caminho para o Céu acha-se consagrado pelas Suas pegadas. Cada espinho que fere nossos pés, feriu os Seus. A cruz que somos chamados a carregar, Ele a levou antes de nós. O Senhor permite que venham os conflitos, a fim de prepararem a alma para a paz. O tempo de angústia é uma prova terrível para o povo de Deus; é, porém, a ocasião de todo verdadeiro crente olhar para cima, e pela fé verá o arco da promessa circundando-o. GC 633 2 "Voltarão os resgatados do Senhor, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão. Eu, Eu sou Aquele que vos consola; quem pois és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem que se tornará em feno? E te esqueces do Senhor, que te criou, ... e temes continuamente todo o dia o furor do angustiador, quando se prepara para destruir? Onde está o furor do que te atribulava? O exilado cativo depressa será solto, e não morrerá na caverna, e o seu pão lhe não faltará. Porque Eu sou o Senhor teu Deus, que fende o mar, e bramem as suas ondas. O Senhor dos exércitos é o Seu nome. E ponho as Minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da Minha mão." Isaías 51:11-16. GC 633 3 "Pelo que agora ouve isto, ó opressa, e embriagada, mas não de vinho. Assim diz o teu Senhor, Jeová, e teu Deus, que pleiteará a causa de Seu povo: Eis que Eu tomo da tua mão o cálice da vacilação, as fezes do cálice do Meu furor; nunca mais dele beberás. Mas pô-lo-ei nas mãos dos que te entristeceram, que dizem à tua alma: Abaixa-te, para que passemos sobre ti; e tu puseste as tuas costas como chão e como caminho, aos viajantes." Isaías 51:21-23. GC 634 1 Os olhos de Deus, vendo através dos séculos, fixaram-se na crise que Seu povo deve enfrentar quando os poderes terrestres contra ele se dispuserem. Como o exilado cativo, estarão receosos da morte pela fome, ou pela violência. Mas o Santo, que diante de Israel dividiu o Mar Vermelho, manifestará Seu grande poder, libertando-o do cativeiro. "Eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho, que o serve." Malaquias 3:17. Se o sangue das fiéis testemunhas de Cristo fosse derramado nessa ocasião, não seria como o sangue dos mártires, qual semente lançada a fim de produzir uma colheita para Deus. Sua fidelidade não seria testemunho para convencer outros da verdade; pois que o coração endurecido rebateu as ondas de misericórdia até não mais voltarem. Se os justos fossem agora abandonados para caírem como presa de seus inimigos, seria um triunfo para o príncipe das trevas. Diz o salmista: "No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá." Salmos 27:5. Cristo falou: "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade." Isaías 26:20, 21. Glorioso será o livramento dos que pacientemente esperaram pela Sua vinda, e cujos nomes estão escritos no livro da vida. ------------------------Capítulo 40 -- O livramento dos justos GC 635 1 Quando a proteção das leis humanas for retirada dos que honram a lei de Deus, haverá, nos diferentes países, um movimento simultâneo com o fim de destruí-los. Aproximando-se o tempo indicado no decreto, o povo conspirará para desarraigar a odiada seita. Resolver-se-á dar em uma noite um golpe decisivo, que faça silenciar por completo a voz de dissentimento e reprovação. GC 635 2 O povo de Deus -- alguns nas celas das prisões, outros escondidos nos retiros solitários das florestas e montanhas pleiteia ainda a proteção divina, enquanto por toda parte grupos de homens armados, instigados pelas hostes de anjos maus, se estão preparando para a obra de morte. É então, na hora de maior aperto, que o Deus de Israel intervirá para o livramento de Seus escolhidos. Diz o Senhor: "Um cântico haverá entre vós, como na noite em que se celebra uma festa; e alegria de coração, como daquele que sai tocando pífano, para vir ao monte do Senhor, à Rocha de Israel. E o Senhor fará ouvir a glória da Sua voz, e fará ver o abaixamento do Seu braço, com indignação de ira, e a labareda do Seu fogo consumidor, e raios e dilúvio e pedras de saraiva." Isaías 30:29, 30. GC 635 3 Com brados de triunfo, zombaria e imprecação, multidões de homens maus estão prestes a cair sobre a presa, quando, eis, um denso negror, mais intenso do que as trevas da noite, cai sobre a Terra. Então o arco-íris, resplandecendo com a glória do trono de Deus, atravessa os céus, e parece cercar cada um dos grupos em oração. As multidões iradas subitamente se detêm. Silenciam seus gritos de zombaria. É esquecido o objeto de sua ira sanguinária. Com terríveis pressentimentos contemplam o símbolo da aliança de Deus, anelando pôr-se ao amparo de seu fulgor insuperável. GC 636 1 É ouvida pelo povo de Deus uma voz clara e melodiosa, dizendo: "Olhai para cima"; e, levantando os olhos para o céu, contemplam o arco da promessa. As nuvens negras, ameaçadoras, que cobriam o firmamento se fendem e, como Estêvão, olham fixamente para o céu, e vêem a glória de Deus, e o Filho do homem sentado sobre o Seu trono. Divisam em Sua forma divina os sinais de Sua humilhação; e de Seus lábios ouvem o pedido, apresentado ante Seu Pai e os santos anjos: "Aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." João 17:24. Novamente se ouve uma voz, melodiosa e triunfante, dizendo: "Eles vêm! eles vêm! santos, inocentes e incontaminados. Guardaram a palavra da Minha paciência; andarão entre os anjos"; e os pálidos, trêmulos lábios dos que mantiveram firme a fé, proferem um brado de vitória. GC 636 2 É à meia-noite que Deus manifesta o Seu poder para o livramento de Seu povo. O Sol aparece resplandecendo em sua força. Sinais e maravilhas se seguem em rápida sucessão. Os ímpios contemplam a cena com terror e espanto, enquanto os justos vêem com solene alegria os sinais de seu livramento. Tudo na Natureza parece desviado de seu curso. As correntes de água deixam de fluir. Nuvens negras e pesadas sobem e chocam-se umas nas outras. Em meio dos céus agitados, acha-se um espaço claro de glória indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas águas, dizendo: "Está feito." Apocalipse 16:17. GC 636 3 Essa voz abala os céus e a Terra. Há um grande terremoto "como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra; tal foi este tão grande terremoto." Apocalipse 16:18. O firmamento parece abrir-se e fechar-se. A glória do trono de Deus dir-se-ia atravessar a atmosfera. As montanhas agitam-se como a cana ao vento, e anfractuosas rochas são espalhadas por todos os lados. Há um estrondo como de uma tempestade a sobrevir. O mar é açoitado com fúria. Ouve-se o sibilar do furacão, semelhante à voz de demônios na missão de destruir. A Terra inteira se levanta, dilatando-se como as ondas do mar. Sua superfície está a quebrar-se. Seu próprio fundamento parece ceder. Cadeias de montanhas estão a revolver-se. Desaparecem ilhas habitadas. Os portos marítimos que, pela iniqüidade, se tornaram como Sodoma, são tragados pelas águas enfurecidas. A grande Babilônia veio em lembrança perante Deus, "para lhe dar o cálice do vinho da indignação da Sua ira." Apocalipse 16:19, 21. Grandes pedras de saraiva, cada uma "do peso de um talento", estão a fazer sua obra de destruição. As mais orgulhosas cidades da Terra são derribadas. Os suntuosos palácios em que os grandes homens do mundo dissiparam suas riquezas com a glorificação própria, desmoronam-se diante de seus olhos. As paredes das prisões fendem-se, e o povo de Deus, que estivera retido em cativeiro por causa de sua fé, é libertado. GC 637 1 Abrem-se sepulturas, e "muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno." Daniel 12:2. Todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo saem do túmulo glorificados para ouvirem o concerto de paz, estabelecido por Deus com os que guardaram a Sua lei. "Os mesmos que O traspassaram" (Apocalipse 1:7), os que zombaram e escarneceram da agonia de Cristo, e os mais acérrimos inimigos de Sua verdade e povo, ressuscitam para contemplá-Lo em Sua glória, e ver a honra conferida aos fiéis e obedientes. GC 638 2 Densas nuvens ainda cobrem o céu; contudo o Sol de quando em quando irrompe, aparecendo como o olhar vingador de Jeová. Relâmpagos terríveis estalam dos céus, envolvendo a Terra num lençol de chamas. Por sobre o estrondo medonho do trovão, vozes misteriosas e terríveis declaram a sorte dos ímpios. As palavras proferidas não são compreendidas por todos; entendem-nas, porém, distintamente os falsos ensinadores. Os que pouco antes eram tão descuidados, tão jactanciosos e desafiadores, tão exultantes em sua crueldade para com o povo de Deus, observador dos mandamentos, acham-se agora vencidos pela consternação, e a estremecer de medo. Ouve-se o seu pranto acima do som dos elementos. Demônios reconhecem a divindade de Cristo, e tremem diante de Seu poder, enquanto homens estão suplicando misericórdia e rastejando em abjeto terror. GC 638 1 Disseram os profetas da antiguidade, ao contemplar em santa visão o dia de Deus: "Uivai, porque o dia do Senhor está perto; vem do Todo-poderoso como assolação." Isaías 13:6. "Entra nas rochas e esconde-te no pó, da presença espantosa do Senhor e da glória da Sua majestade. Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a altivez dos varões será humilhada; e só o Senhor será exaltado naquele dia. Porque o dia do Senhor dos exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido." "Naquele dia o homem lançará às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem, e meter-se-á pelas fendas das rochas, pelas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por causa da glória da Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra." Isaías 2:10, 20, 21. GC 638 2 Por uma fenda nas nuvens, fulgura uma estrela cujo brilho aumenta quadruplicadamente em contraste com as trevas. Fala de esperança e alegria aos fiéis, mas de severidade e ira aos transgressores da lei de Deus. Os que tudo sacrificaram por Cristo estão agora em segurança, como que escondidos no lugar secreto do pavilhão do Senhor. Foram provados, e perante o mundo e os desprezadores da verdade, evidenciaram sua fidelidade Àquele que por eles morreu. Uma mudança maravilhosa sobreveio aos que mantiveram firme integridade em face mesmo da morte. Foram subitamente libertos da negra e terrível tirania de homens transformados em demônios. Seu rosto, pouco antes tão pálido, ansioso e descomposto, resplandece agora de admiração, fé e amor. Sua voz ergue-se em cântico triunfal: "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a Terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza." Salmos 46:1-3. GC 639 1 Enquanto estas palavras de santa confiança ascendem a Deus, as nuvens recuam, e se vêem os constelados céus, indescritivelmente gloriosos em contraste com o firmamento negro e carregado de cada lado. A glória da cidade celestial emana de suas portas entreabertas. Aparece então de encontro ao céu uma mão segurando duas tábuas de pedra dobradas uma sobre a outra. Diz o profeta: "Os céus anunciarão a Sua justiça; pois Deus mesmo é o juiz." Salmos 50:6. Aquela santa lei, a justiça de Deus, que por entre trovões e chamas foi do Sinai proclamada como guia da vida, revela-se agora aos homens como a regra do juízo. A mão abre as tábuas, e vêem-se os preceitos do decálogo, como que traçados com pena de fogo. As palavras são tão claras que todos as podem ler. Desperta-se a memória, varrem-se de todas as mentes as trevas da superstição e heresia, e os dez preceitos divinos, breves, compreensivos e autorizados, apresentam-se à vista de todos os habitantes da Terra. GC 639 2 É impossível descrever o horror e desespero dos que pisaram os santos mandamentos de Deus. O Senhor lhes deu Sua lei; eles poderiam haver aferido seu caráter por ela, e conhecido seus defeitos enquanto ainda havia oportunidade para arrependimento e correção; mas, a fim de conseguir o favor do mundo, puseram de parte seus preceitos e ensinaram outros a transgredir. Esforçaram-se por compelir o povo de Deus a profanar o Seu sábado. Agora são condenados por aquela lei que desprezaram. Com terrível clareza vêem que se acham sem desculpas. Escolheram a quem servir e adorar. "Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que O não serve." Malaquias 3:18. GC 640 1 Os inimigos da lei de Deus, desde o ministro até ao menor dentre eles, têm nova concepção da verdade e do dever. Demasiado tarde vêem que o sábado do quarto mandamento é o selo do Deus vivo. Tarde demais vêem a verdadeira natureza de seu sábado espúrio, e o fundamento arenoso sobre o qual estiveram a construir. Acham que estiveram a combater contra Deus. Ensinadores religiosos conduziram almas à perdição, ao mesmo tempo que professavam guiá-las às portas do Paraíso. Antes do dia do ajuste final de contas, não se conhecerá quão grande é a responsabilidade dos homens no mister sagrado, e quão terríveis são os resultados de sua infidelidade. Somente na eternidade poderemos com acerto avaliar a perda de uma única alma. Terrível será a condenação daquele a quem Deus disser: Retira-te, mau servo. GC 640 2 A voz de Deus é ouvida no Céu, declarando o dia e a hora da vinda de Jesus e estabelecendo concerto eterno com Seu povo. Semelhantes a estrondos do mais forte trovão, Suas palavras ecoam pela Terra inteira. O Israel de Deus fica a ouvir, com o olhar fixo no alto. Têm o semblante iluminado com a Sua glória, brilhante como o rosto de Moisés quando desceu do Sinai. Os ímpios não podem olhar para eles. E, quando se pronuncia a bênção sobre os que honraram a Deus, santificando o Seu sábado, há uma grande aclamação de vitória. GC 640 3 Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que, a distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso vencedor. Agora, não como "Homem de dores", para sorver o amargo cálice da ignomínia e miséria, vem Ele vitorioso no Céu e na Terra para julgar os vivos e os mortos. "Fiel e verdadeiro", Ele "julga e peleja em justiça." E "seguiram-nO os exércitos no Céu." Apocalipse 19:11, 14. Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável multidão, acompanham-nO em Seu avanço. O firmamento parece repleto de formas radiantes -- "milhares de milhares, milhões de milhões." Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor. "A Sua glória cobriu os céus e a Terra encheu-se do Seu louvor. E o Seu resplendor era como a luz." Habacuque 3:3, 4. Aproximando-se ainda mais a nuvem viva, todos os olhos contemplam o Príncipe da vida. Nenhuma coroa de espinhos agora desfigura a sagrada cabeça, mas um diadema de glória repousa sobre a santa fronte. O semblante divino irradia o fulgor deslumbrante do Sol meridiano. "E no vestido e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores." Apocalipse 19:16. GC 641 1 À Sua presença "se têm tornado macilentos todos os rostos"; sobre os que rejeitaram a misericórdia de Deus cai o terror do desespero eterno. "Derrete-se o coração, e tremem os joelhos", "e os rostos de todos eles empalidecem." Jeremias 30:6; Naum 2:10. Os justos clamam, a tremer: "Quem poderá subsistir?" Silencia o cântico dos anjos, e há um tempo de terrível silêncio. Ouve-se, então, a voz de Jesus, dizendo: "A Minha graça te basta." Ilumina-se a face dos justos, e a alegria enche todos os corações. E os anjos entoam uma melodia mais forte, e de novo cantam ao aproximar-se ainda mais da Terra. GC 641 2 O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejante. Os céus enrolam-se como um pergaminho, e a Terra treme diante dEle, e todas as montanhas e ilhas se movem de seu lugar. "Virá o nosso Deus, e não Se calará; adiante dEle um fogo irá consumindo, e haverá grande tormenta ao redor dEle. Chamará os céus, do alto, e a Terra para julgar o Seu povo." Salmos 50:3, 4. GC 642 1 "E os reis da Terra e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:15-17. GC 642 2 Cessaram os gracejos escarnecedores. Cerraram-se os lábios mentirosos. O choque das armas, o tumulto da batalha "com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue" (Isaías 9:5), silenciaram. Nada se ouve agora senão a voz de orações e o som do choro e lamentação. Dos lábios que tão recentemente zombavam irrompe o clamor: "É vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Os ímpios suplicam para que sejam sepultados sob as rochas das montanhas, em vez de ver o rosto dAquele que desprezaram e rejeitaram. GC 642 3 Aquela voz que penetra no ouvido dos mortos, eles a conhecem. Quantas vezes seus ternos e suplicantes acentos os chamaram ao arrependimento! Quantas vezes foi ela ouvida nos rogos tocantes de um amigo, um irmão, um Redentor! Para os que rejeitaram Sua graça, nenhuma outra voz poderia ser tão cheia de censura, tão carregada de denúncias, como aquela que durante tanto tempo assim pleiteou: "Convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?" Ezequiel 33:11. Quem dera para eles fosse a voz de um estranho! Diz Jesus: "Clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão." Provérbios 1:24, 25. Aquela voz desperta memórias que eles desejariam ardentemente se desvanecessem -- advertências desprezadas, convites recusados, privilégios tidos em pouca conta. GC 643 1 Ali estão os que zombaram de Cristo à Sua humilhação. Com uma força penetrante lhes ocorrem as palavras do Sofredor, quando, conjurado pelo sumo sacerdote, declarou solenemente: "Vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do poder, e vindo sobre as nuvens do céu." Mateus 26:64. Agora O contemplam em Sua glória, e ainda O devem ver assentado à direita do poder. GC 643 2 Os que escarneceram de Sua declaração de ser Ele o Filho de Deus, estão agora mudos. Ali está o altivo Herodes, que zombou de Seu título real, mandando os soldados zombadores coroá-Lo rei. Estão ali os mesmos homens que com mãos ímpias Lhe colocaram sobre o corpo o manto de púrpura, e sobre a fronte sagrada a coroa de espinhos, e na mão, que não opunha resistência, um simulacro de cetro, e diante dEle se curvavam em zombaria blasfema. Os homens que bateram e cuspiram no Príncipe da vida, agora se desviam de Seu penetrante olhar, procurando fugir da subjugante glória de Sua presença. Aqueles que introduziram os cravos através de Suas mãos e pés, o soldado que Lhe feriu o lado, contemplam esses sinais com terror e remorso. GC 643 3 Com terrível precisão sacerdotes e príncipes recordam-se dos acontecimentos do Calvário. Estremecendo de horror, lembram-se de como, movendo a cabeça em satânica alegria, exclamaram: "Salvou os outros e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nEle; confiou em Deus; livre-O agora, se O ama." Mateus 27:42, 43. GC 643 4 Vividamente relembram a parábola dos lavradores que se recusaram a entregar a seu senhor o fruto da vinha, maltrataram seus servos, e lhe mataram o filho. Lembram-se também da sentença que eles próprios pronunciaram: O senhor da vinha "dará afrontosa morte aos maus." No pecado e castigo daqueles homens infiéis, vêem os sacerdotes e anciãos seu próprio procedimento e sua própria justa condenação. E, agora, ergue-se um clamor de agonia mortal. Mais alto do que o grito -- "Crucifica-O, crucifica-O", que repercutiu pelas ruas de Jerusalém, reboa o pranto terrível, desesperado: "Ele é o Filho de Deus! Ele é o verdadeiro Messias!" Procuram fugir da presença do Rei dos reis. Nas profundas cavernas da Terra, fendida pela luta dos elementos, tentam em vão esconder-se. GC 644 1 Na vida de todos os que rejeitam a verdade, há momentos em que a consciência desperta, em que a memória apresenta a recordação torturante de uma vida de hipocrisia, e a alma é acossada de vãos pesares. Mas que é isto ao ser comparado com o remorso daquele dia em que o temor vem como assolação, em que a perdição vem como tormenta! Provérbios 1:27. Os que desejariam destruir a Cristo e Seu povo fiel, testemunham agora a glória que sobre eles repousa. No meio de seu terror, ouvem a voz dos santos em alegres acordes, exclamando: "Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9. GC 644 2 Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada: "Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi!" Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão aquela voz, e os que ouvirem viverão. E a Terra inteira ressoará com o passar do exército extraordinariamente grande de toda nação, tribo, língua e povo. Do cárcere da morte vêm eles, revestidos de glória imortal, clamando: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" 1 Coríntios 15:55. E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e jubilosa aclamação de vitória. GC 644 3 Todos saem do túmulo com a mesma estatura que tinham quando ali entraram. Adão, que está em pé entre a multidão dos ressuscitados, é de grande altura e formas majestosas, de estatura pouco menor que o Filho de Deus. Apresenta assinalado contraste com o povo das gerações posteriores; sob este único ponto de vista se revela a grande degeneração da raça. Todos, porém, surgem com a louçania e vigor de eterna mocidade. No princípio o homem foi criado à semelhança de Deus, não somente no caráter, mas na forma e aspecto. O pecado desfigurou e quase obliterou a imagem divina; mas Cristo veio para restaurar aquilo que se havia perdido. Ele mudará nosso corpo vil, modelando-o conforme Seu corpo glorioso. As formas mortais, corruptíveis, destituídas de garbo, poluídas pelo pecado, tornam-se perfeitas, belas e imortais. Todos os defeitos e deformidades são deixados no túmulo. Restabelecidos à árvore da vida, no Éden há tanto tempo perdido, os remidos crescerão até à estatura completa da raça em sua glória primitiva. Os últimos traços da maldição do pecado serão removidos, e os fiéis de Cristo aparecerão "na beleza do Senhor nosso Deus", refletindo no espírito, alma e corpo, a imagem perfeita de seu Senhor. Oh! maravilhosa redenção! Há tanto tempo objeto das cogitações, há tanto tempo esperada, contemplada com ávida expectativa, mas nunca entendida completamente! GC 645 1 Os justos vivos são transformados "num momento, num abrir e fechar de olhos." À voz de Deus foram eles glorificados; agora tornam-se imortais, e com os santos ressuscitados, são arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares. Os anjos "ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus." Criancinhas são levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem, e com cânticos de alegria ascendem juntamente para a cidade de Deus. GC 645 2 De cada lado do carro de nuvens existem asas, e debaixo dele se acham rodas vivas; e, ao volver o carro para cima, as rodas clamam: "Santo", e as asas, movendo-se, clamam: "Santo", e o cortejo de anjos clama: "Santo, santo, santo, Senhor Deus todo-poderoso." E os remidos bradam: "Aleluia!" -- enquanto o carro prossegue em direção à Nova Jerusalém. GC 645 3 Antes de entrar na cidade de Deus, o Salvador concede a Seus seguidores os emblemas da vitória, conferindo-lhes as insígnias de sua condição real. As fileiras esplendentes são dispostas em forma de um quadrado aberto ao centro, em redor de seu Rei, que Se ergue majestosamente muito acima dos santos e anjos e de cujo rosto irradia benigno amor a todos. Por toda a hoste inumerável dos resgatados, todos os olhares se acham fixos nEle, todos os olhos contemplam a glória dAquele cujo "parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos filhos dos homens." Sobre a cabeça dos vencedores, Jesus com Sua própria destra põe a coroa de glória. Para cada um há uma coroa que traz o seu "novo nome" (Apocalipse 2:17), e a inscrição: "Santidade ao Senhor." Em cada mão são colocadas a palma do vencedor e a harpa resplandecente. Então, ao desferirem as notas os anjos dirigentes, todas as mãos deslizam com maestria sobre as cordas da harpa, tirando-lhes suave música em ricos e melodiosos acordes. Indizível arrebatamento faz fremir todo coração, e toda voz se ergue em grato louvor: "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai; a Ele glória e poder para todo o sempre." Apocalipse 1:5, 6. GC 646 1 Diante da multidão de resgatados está a santa cidade. Jesus abre amplamente as portas de pérolas, e as nações que observaram a verdade, entram. Ali contemplam o Paraíso de Deus, o lar de Adão em sua inocência. Então aquela voz, mais harmoniosa do que qualquer música que tenha soado já aos ouvidos mortais, é ouvida a dizer: "Vosso conflito está terminado." "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Cumpre-se então a oração do Salvador por Seus discípulos: GC 646 2 "Aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." "Irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória" (Jud. 24), Cristo os apresenta a Seu Pai como a aquisição de Seu sangue, declarando: "Eis-Me aqui, com os filhos que Me deste." "Guardei aqueles que Me deste." Oh! maravilhas do amor que redime! transportes daquela hora em que o infinito Pai, olhando para os resgatados, contemplar Sua imagem, banida a discórdia do pecado, removida sua maldição, e o humano de novo em harmonia com o divino! GC 647 1 Com indizível amor Jesus dá as boas-vindas a Seus fiéis, para "o gozo do teu Senhor." O gozo do Salvador consiste em ver, no reino de glória, as almas que foram salvas por Sua agonia e humilhação. E os remidos serão participantes de Sua alegria, vendo eles, entre os bem-aventurados, os que foram ganhos para Cristo por meio de suas orações, trabalhos e sacrifícios de amor. Reunindo-se eles em redor do grande trono branco, indizível júbilo lhes encherá o coração ao contemplarem os que ganharam para Cristo, e verem que um ganhou a outros, e estes ainda outros, todos trazidos para o porto de descanso, para ali deporem sua coroa aos pés de Jesus e louvá-Lo pelos séculos intérminos da eternidade. GC 647 2 Ao serem os resgatados recebidos na cidade de Deus, ecoa nos ares um exultante clamor de adoração. Os dois Adões estão prestes a encontrar-se. O Filho de Deus Se acha em pé, com os braços estendidos para receber o pai de nossa raça -- o ser que Ele criou e que pecou contra o seu Criador, e por cujo pecado os sinais da crucifixão aparecem no corpo do Salvador. Ao divisar Adão os sinais dos cruéis cravos, ele não cai ao peito de seu Senhor, mas lança-se em humilhação a Seus pés, exclamando: "Digno, digno é o Cordeiro que foi morto!" Com ternura o Salvador o levanta, convidando-o a contemplar de novo o lar edênico do qual, havia tanto, fora exilado. GC 647 3 Depois de sua expulsão do Éden, a vida de Adão na Terra foi cheia de tristeza. Cada folha a murchar, cada vítima do sacrifício, cada mancha na bela face da Natureza, cada mácula na pureza do homem, era uma nova lembrança de seu pecado. Terrível foi a aflição do remorso, ao contemplar a iniqüidade que abundava, e, em resposta às suas advertências, deparar com a exprobração que lhe faziam como causa do pecado. Com paciente humildade, suportou durante quase mil anos a pena da transgressão. Sinceramente se arrependeu de seu pecado, confiando nos méritos do Salvador prometido, e morreu na esperança de uma ressurreição. O Filho de Deus redimiu a falta e a queda do homem; e agora, pela obra da expiação, Adão é reintegrado em seu primeiro domínio. GC 648 1 Em arrebatamento de alegria, contempla as árvores que já foram o seu deleite -- as mesmas árvores cujo fruto ele próprio colhera nos dias de sua inocência e alegria. Vê as videiras que sua própria mão tratara, as mesmas flores que com tanto prazer cuidara. Seu espírito apreende a realidade daquela cena; ele compreende que isso é na verdade o Éden restaurado, mais lindo agora do que quando fora dele banido. O Salvador o leva à árvore da vida, apanha o fruto glorioso e manda-o comer. Olha em redor de si e contempla uma multidão de sua família resgatada, no Paraíso de Deus. Lança então sua brilhante coroa aos pés de Jesus e, caindo a Seu peito, abraça o Redentor. Dedilha a harpa de ouro, e pelas abóbadas do céu ecoa o cântico triunfante: "Digno, digno, digno, é o Cordeiro que foi morto, e reviveu!" A família de Adão associa-se ao cântico e lança as suas coroas aos pés do Salvador, inclinando-se perante Ele em adoração. GC 648 2 Esta reunião é testemunhada pelos anjos que choraram quando da queda de Adão e rejubilaram ao ascender Jesus ao Céu, depois de ressurgido, tendo aberto a sepultura a todos os que cressem em Seu nome. Contemplam agora a obra da redenção completa e unem as vozes no cântico de louvor. GC 648 3 No mar cristalino diante do trono, naquele mar como que de vidro misturado com fogo -- tão resplendente é ele pela glória de Deus -- está reunida a multidão dos que "saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome." Apocalipse 15:2. Com o Cordeiro, sobre o Monte Sião, "tendo harpas de Deus", estão os cento e quarenta e quatro mil que foram remidos dentre os homens; e ouve-se, como o som de muitas águas, e de grande trovão, "uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas." E cantavam "um cântico novo" diante do trono -- cântico que ninguém podia aprender senão os cento e quarenta e quatro mil. É o hino de Moisés e do Cordeiro -- hino de livramento. Ninguém, a não ser os cento e quarenta e quatro mil, pode aprender aquele canto, pois é o de sua experiência -- e nunca ninguém teve experiência semelhante. "Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai." "Estes, tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são tidos como as primícias para Deus e para o Cordeiro." Apocalipse 14:1-5; 15:3. "Estes são os que vieram de grande tribulação" (Apocalipse 7:14); passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de Deus. Mas foram livres, pois "lavaram os seus vestidos, e os branquearam no sangue do Cordeiro." "Na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis" diante de Deus. "Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra." Apocalipse 7:15. Viram a Terra devastada pela fome e pestilência, o Sol com poder para abrasar os homens com grandes calores, e eles próprios suportaram o sofrimento, a fome e a sede. Mas "nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem Sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima." Apocalipse 7:16, 17. GC 649 1 Em todos os tempos os escolhidos do Salvador foram educados e disciplinados na escola da provação. Seguiram na Terra por veredas estreitas; foram purificados na fornalha da aflição. Por amor de Jesus suportaram a oposição, o ódio, a calúnia. Acompanharam-nO através de dolorosos conflitos; suportaram a negação própria -- e experimentaram amargas decepções. Pela sua própria experiência dolorosa compreenderam a malignidade do pecado, seu poder, sua culpa, suas desgraças; e para ele olham com aversão. Uma intuição do sacrifício infinito feito para reabilitá-los, humilha-os à sua própria vista, enchendo-lhes o coração de gratidão e louvor, que os que nunca decaíram não poderão apreciar. Muito amam, porque muito foram perdoados. Havendo participado dos sofrimentos de Cristo, estão aptos para serem co-participantes de Sua glória. GC 650 1 Os herdeiros de Deus vieram das águas-furtadas, das choças, dos calabouços, dos cadafalsos, das montanhas, dos desertos, das covas da Terra, das cavernas do mar. Na Terra eram "desamparados, aflitos e maltratados." Milhões desceram ao túmulo carregados de infâmia, porque firmemente se recusavam a render-se às enganosas pretensões de Satanás. Pelos tribunais humanos foram julgados como os mais vis dos criminosos. Mas agora "Deus mesmo é o Juiz." Salmos 50:6. Revogam-se agora as decisões da Terra. "Tirará o opróbrio do Seu povo." Isaías 25:8. "Chamar-lhes-ão: Povo santo, remidos do Senhor." Ele determinou "que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito angustiado." Isaías 62:12; 61:3. Não mais são fracos, aflitos, dispersos e opressos. Doravante devem estar sempre com o Senhor. Acham-se diante do trono com vestes mais ricas do que já usaram os mais honrados da Terra. Estão coroados com diademas mais gloriosos do que os que já foram colocados na fronte dos monarcas terrestres. Os dias de dores e prantos acabaram-se para sempre. O Rei da glória enxugou as lágrimas de todos os rostos; removeu-se toda a causa de pesar. Por entre o agitar dos ramos de palmeiras, derramam um cântico de louvor, claro, suave e melodioso; todas as vozes apreendem a harmonia até que reboa pelas abóbadas do céu a antífona: "Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro." E todos os habitantes do Céu assim respondem: "Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre." Apocalipse 7:10, 12. GC 651 1 Nesta vida podemos apenas começar a compreender o maravilhoso tema da redenção. Com nossa compreensão finita podemos considerar muito encarecidamente a ignomínia e a glória, a vida e a morte, a justiça e a misericórdia, que se encontraram na cruz; todavia, com o máximo esforço de nossa faculdade mental, deixamos de apreender seu completo significado. O comprimento e a largura, a profundidade e a altura do amor que redime não são senão palidamente compreendidos. O plano da redenção não será amplamente penetrado, mesmo quando os resgatados virem assim como eles são vistos, e conhecerem como são conhecidos; antes, através das eras eternas, novas verdades desdobrar-se-ão de contínuo à mente cheia de admiração e deleite. Posto que os pesares, dores e tentações da Terra estejam terminados, e removidas suas causas, sempre terá o povo de Deus um conhecimento distinto, inteligente, do que custou a sua salvação. GC 651 2 A cruz de Cristo será a ciência e cântico dos remidos por toda a eternidade. No Cristo glorificado eles contemplarão o Cristo crucificado. Jamais se olvidará que Aquele cujo poder criou e manteve os inumeráveis mundos através dos vastos domínios do espaço, o Amado de Deus, a Majestade do Céu, Aquele a quem querubins e resplendentes serafins se deleitavam em adorar -- humilhou-Se para levantar o homem decaído; que Ele arrostou a culpa e a ignomínia do pecado e a ocultação da face de Seu Pai, até que as misérias de um mundo perdido Lhe quebrantaram o coração e aniquilaram a vida na cruz do Calvário. O fato de o Criador de todos os mundos, o Árbitro de todos os destinos, deixar Sua glória e humilhar-Se por amor do homem, despertará eternamente a admiração e a adoração do Universo. Ao olharem as nações dos salvos para o seu Redentor e contemplarem a glória eterna do Pai resplandecendo em Seu semblante; ao verem o Seu trono que é de eternidade em eternidade, e saberem que Seu reino não terá fim, irrompem num hino arrebatador: "Digno, digno é o Cordeiro que foi morto, e nos remiu para Deus com Seu mui precioso sangue!" GC 652 1 O mistério da cruz explica todos os outros mistérios. À luz que emana do Calvário, os atributos de Deus que nos encheram de temor e pavor, aparecem belos e atraentes. Misericórdia, ternura e amor paternal são vistos a confundir-se com santidade, justiça e poder. Enquanto contemplamos a majestade de Seu trono, alto e sublime, vemos Seu caráter em suas manifestações de misericórdia, e compreendemos, como nunca dantes, a significação daquele título enternecedor: "Pai nosso." GC 652 2 Ver-se-á que Aquele que é infinito em sabedoria não poderia idear plano algum para nos redimir, a não ser o sacrifício de Seu Filho. A compensação desse sacrifício é a alegria de povoar a Terra com seres resgatados, santos, felizes e imortais. O resultado do conflito do Salvador com os poderes das trevas, é alegria para os remidos, redundando para a glória de Deus por toda a eternidade. E tal é o valor de cada alma que o Pai está satisfeito com o preço pago; e o próprio Cristo, contemplando os frutos de Seu grande sacrifício, exulta, também. ------------------------Capítulo 41 -- Será desolada a Terra GC 653 1 "Os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela." "No cálice em que vos deu de beber dai-lhe a ela em dobro. Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, dai-lhe outro tanto em tormento e pranto; porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto. Portanto, num dia virão as pragas, a morte, e o pranto e a fome; e será queimada no fogo; porque é forte o Senhor Deus que a julga. E os reis da Terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delicias, a chorarão, e sobre ela prantearão, ... dizendo: Ai! ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo." Apocalipse 18:5-10. GC 653 2 "Os mercadores da Terra" que "se enriqueceram com a abundância de suas delícias", "estarão de longe, pelo temor do seu tormento, chorando, e lamentando, e dizendo: Ai, ai, daquela grande cidade! que estava vestida de linho fino, de púrpura, de escarlata; e adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas! Porque numa hora foram assoladas tantas riquezas." Apocalipse 18:3, 15, 16. GC 653 3 Tais são os juízos que caem sobre Babilônia, no dia da ira de Deus. Ela encheu a medida de sua iniqüidade; veio o seu tempo; está madura para a destruição. GC 654 1 Quando a voz de Deus põe fim ao cativeiro de Seu povo, há um terrível despertar daqueles que tudo perderam no grande conflito da vida. Enquanto perdurou o tempo da graça, estiveram cegos pelos enganos de Satanás, e desculpavam sua conduta de pecado. Os ricos se orgulhavam de sua superioridade sobre aqueles que eram menos favorecidos; mas obtiveram suas riquezas violando a lei de Deus. Negligenciaram alimentar o faminto, vestir o nu, tratar com justiça e amar a misericórdia. Procuraram exaltar-se, e obter a homenagem de seus semelhantes. Agora estão despojados de tudo que os fazia grandes, e se encontram desamparados e indefesos. Olham com terror para a destruição dos ídolos que antepuseram ao seu Criador. Venderam a alma em troca das riquezas e gozos terrestres, e não procuraram enriquecer para com Deus. O resultado é que sua vida foi um fracasso; seus prazeres agora se transformaram em amargura, seus tesouros em corrupção. Os .ganhos de uma vida inteira foram em um momento varridos. Os ricos lastimam a destruição de suas soberbas casas, a dispersão de seu ouro e prata. Mas suas lamentações silenciam pelo temor de que eles próprios devem perecer, juntamente com seus ídolos. GC 654 2 Os ímpios estão cheios de pesar, não por causa de sua pecaminosa negligência para com Deus e seus semelhantes, mas porque Deus venceu. Lamentam que o resultado seja o que é; mas não se arrependem de sua impiedade. Se pudessem, não deixariam de experimentar todo e qualquer meio para vencer. GC 654 3 O mundo vê aqueles dos quais zombaram e escarneceram, e que desejaram exterminar, passarem ilesos através das pestilências, tempestades e terremotos. Aquele que é para os transgressores de Sua lei um fogo devorador, é para o Seu povo um seguro pavilhão. GC 654 4 O ministro que sacrificara a verdade a fim de alcançar o favor dos homens, percebe agora o caráter e influência de seus ensinos. É evidente que os olhos oniscientes o estiveram acompanhando enquanto se achava ao púlpito, enquanto andava pelas ruas, enquanto se confundia com os homens nas várias cenas da vida. Toda emoção da alma, toda linha escrita, cada palavra pronunciada, todo ato que levava os homens a descansar em um refúgio de falsidade, esteve a espalhar sementes; e agora, nas infelizes e perdidas almas em redor dele, contempla a colheita. GC 655 1 Diz o Senhor: "Curam a ferida da filha de Meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz, quando não há paz." "Entristecestes o coração do justo com falsidade, não o havendo Eu entristecido, e esforçastes as mãos do ímpio, para que não se desviasse do seu mau caminho, e vivesse." Jeremias 8:11; Ezequiel 13:22. GC 655 2 "Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do Meu pasto. ... Eis que visitarei sobre vós a maldade de vossas ações." "Uivai, pastores, e clamai, e rebolai-vos na cinza, principais do rebanho, porque já se cumpriram os vossos dias para serdes mortos ... E não haverá fugida para os pastores, nem salvamento para os principais do rebanho." Jeremias 23:1, 2; 25:34, 35. GC 655 3 Ministros e povo vêem que não mantiveram a devida relação para com Deus. Vêem que se rebelaram contra o Autor de toda lei reta e justa. A rejeição dos preceitos divinos deu origem a milhares de fontes para males, discórdias, ódio, iniqüidade, até que a Terra se tornou um vasto campo de contenda, um poço de corrupção. Este é o quadro que ora se apresenta aos que rejeitaram a verdade e preferiram acalentar o erro. Nenhuma linguagem pode exprimir o anelo que o desobediente, o desleal experimenta por aquilo que para sempre perdeu: a vida eterna. Homens que o mundo adorou pelos talentos e eloqüência vêem agora estas coisas sob a sua verdadeira luz. Compenetram-se do que perderam pela transgressão, e caem aos pés daqueles de cuja fidelidade zombaram, com menosprezo, confessando que Deus os amou. GC 655 4 O povo vê que foi iludido. Um acusa ao outro de o ter levado à destruição; todos, porém, se unem em acumular suas mais amargas condenações contra os ministros. Pastores infiéis profetizaram coisas agradáveis, levaram os ouvintes a anular a lei de Deus e a perseguir os que a queriam santificar. Agora, em seu desespero, esses ensinadores confessam perante o mundo sua obra de engano. As multidões estão cheias de furor. "Estamos perdidos!" exclamam; "e vós sois a causa de nossa ruína"; e voltam-se contra os falsos pastores. Aqueles mesmos que mais os admiravam, pronunciarão as mais terríveis maldições sobre eles. As mesmas mãos que os coroavam de lauréis, levantar-se-ão para destruí-los. As espadas que deveriam matar o povo de Deus, são agora empregadas para exterminar os seus inimigos. Por toda parte há contenda e morticínio. GC 656 1 "Chegará o estrondo até à extremidade da Terra, porque o Senhor tem contenda com as nações, entrará em juízo com toda a carne; os ímpios entregará à espada." Jeremias 25:31. Seis mil anos esteve em andamento o grande conflito; o Filho de Deus e Seus mensageiros celestiais estavam em conflito com o poder do maligno, a fim de advertir, esclarecer e salvar os filhos dos homens. Agora todos fizeram sua decisão; os ímpios uniram-se completamente a Satanás em sua luta contra Deus. Chegado é o tempo para Deus reivindicar a autoridade de Sua lei que fora desprezada. Agora a controvérsia não é somente com Satanás, mas também com os homens. "O Senhor tem contenda com as nações"; "os ímpios entregará à espada". GC 656 2 O sinal de livramento foi posto sobre aqueles "que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem." Agora sai o anjo da morte, representado na visão de Ezequiel pelos homens com as armas destruidoras, aos quais é dada a ordem: "Matai velhos, mancebos, e virgens, e meninos, e mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo Meu santuário." Diz o profeta: "E começaram pelos homens mais velhos que estavam diante da casa." Ezequiel 9:1-6. A obra de destruição se inicia entre os que professaram ser os guardas espirituais do povo. Os falsos vigias são os primeiros a cair. Ninguém há de quem se compadecer ou a quem poupar. Homens, mulheres, donzelas e criancinhas perecem juntamente. GC 656 3 "O Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade, e a Terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais aqueles que foram mortos." Isaías 26:21. "E esta será a praga com que o Senhor ferirá a todos os povos que guerrearem contra Jerusalém: a sua carne será consumida, estando eles de pé, e lhes apodrecerão os olhos nas suas órbitas, e lhes apodrecerá a língua na sua boca. Naquele dia também acontecerá que haverá uma grande perturbação do Senhor entre eles; porque pegará cada um na mão do seu companheiro, e alçar-se-á a mão de cada um contra a mão de seu companheiro." Zacarias 14:12, 13. Na desvairada contenda de suas próprias e violentas paixões, e pelo derramamento terrível da ira de Deus sem mistura, sucumbem os ímpios habitantes da Terra -- sacerdotes, governadores e povo, ricos e pobres, elevados e baixos. "E serão os mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da Terra até à outra extremidade da Terra; não serão pranteados nem recolhidos, nem sepultados." Jeremias 25:33. GC 657 1 Por ocasião da vinda de Cristo os ímpios são eliminados da face de toda a Terra: consumidos pelo espírito de Sua boca, e destruídos pelo resplendor de Sua glória. Cristo leva o Seu povo para a cidade de Deus, e a Terra é esvaziada de seus moradores. "Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores." "De todo se esvaziará a Terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor pronunciou esta palavra." "Porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão desolados; por isso serão queimados os moradores da Terra." Isaías 24:1, 3, 4, 6. GC 657 2 A Terra inteira se parece com um deserto assolado. As ruínas das cidades e vilas destruídas pelo terremoto, árvores desarraigadas, pedras escabrosas arrojadas pelo mar ou arrancadas da própria Terra, espalham-se pela sua superfície, enquanto vastas cavernas assinalam o lugar em que as montanhas foram separadas da sua base. GC 658 1 Ocorre agora o acontecimento prefigurado na última e solene cerimônia do dia da expiação. Quando se completava o ministério no lugar santíssimo, e os pecados de Israel eram removidos do santuário em virtude do sangue da oferta pelo pecado, o bode emissário era então apresentado vivo perante o Senhor; e na presença da congregação o sumo sacerdote confessava sobre ele "todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados", pondo-os sobre a cabeça do bode. Levítico 16:21. Semelhantemente, ao completar-se a obra de expiação no santuário celestial, na presença de Deus e dos anjos do Céu e do exército dos remidos, serão então postos sobre Satanás os pecados do povo de Deus; declarar-se-á ser ele o culpado de todo o mal que os fez cometer. E assim como o bode emissário era enviado para uma terra não habitada, Satanás será banido para a Terra desolada, que se encontrará como um deserto despovoado e horrendo. GC 658 2 O escritor do Apocalipse prediz o banimento de Satanás, e a condição de caos e desolação a que a Terra deve ser reduzida; e declara que tal condição existirá durante mil anos. Depois de apresentar as cenas da segunda vinda do Senhor e da destruição dos ímpios, continua a profecia: "Vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo." Apocalipse 20:1-3. GC 658 3 Que a expressão "abismo" representa a Terra em estado de confusão e trevas, é evidente de outras passagens. Relativamente à condição da Terra "no princípio", o relato bíblico diz que "era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo." Gênesis 1:2. A profecia ensina que ela voltará, em parte ao menos, a esta condição. Olhando ao futuro para o grande dia de Deus, declara o profeta Jeremias: "Observei a Terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam derribadas." Jeremias 4:23-26. GC 659 1 Aqui deverá ser a morada de Satanás com seus anjos maus durante mil anos. Restrito à Terra, não terá acesso a outros mundos, para tentar e molestar os que jamais caíram. É neste sentido que ele está amarrado: ninguém ficou de resto, sobre quem ele possa exercer seu poder. Está inteiramente separado da obra de engano e ruína que durante tantos séculos foi seu único deleite. GC 659 2 O profeta Isaías, vendo antecipadamente o tempo da queda de Satanás, exclama: "Como caíste do Céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao Céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. ... Serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o varão que fazia estremecer a Terra, e que fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como um deserto, e assolava as suas cidades? que a seus cativos não deixava ir soltos para suas casas?" Isaías 14:12-17. GC 659 3 Durante seis mil anos a obra de rebelião de Satanás tem feito "estremecer a Terra." Ele tornou "o mundo como um deserto", e destruiu "as suas cidades." E "a seus cativos não deixava ir soltos." Durante seis mil anos o seu cárcere (o sepulcro) recebeu o povo de Deus, e ele os queria conservar cativos para sempre; mas Cristo quebrou os seus laços, pondo em liberdade os prisioneiros. GC 660 1 Mesmo os ímpios agora se acham colocados fora do poder de Satanás, e sozinho, com seus anjos maus, permanecerá ele a compenetrar-se dos efeitos da maldição que o pecado acarretou. "Todos os reis das nações, todos eles jazem com honra cada um na sua casa [sepultura]. Mas tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável. ... Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo." Isaías 14:18-20. GC 660 2 Durante mil anos Satanás vagueará de um lugar para outro na Terra desolada, para contemplar os resultados de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante este tempo os seus sofrimentos serão intensos. Desde a sua queda, a sua vida de incessante atividade baniu a reflexão; agora, porém, está ele despojado de seu poder e entregue a si mesmo para contemplar a parte que desempenhou desde que a princípio se rebelou contra o governo do Céu, e para aguardar, com temor e tremor, o futuro terrível em que deverá sofrer por todo o mal que praticou, e ser punido pelos pecados que fez com que fossem cometidos. GC 660 3 Ao povo de Deus o cativeiro de Satanás trará alegria e júbilo. Diz o profeta: "Acontecerá que no dia em que Deus vier a dar-te descanso do teu trabalho, e do teu tremor, e da dura servidão com que te fizeram servir, então proferirás este dito contra o rei de Babilônia [representando aqui Satanás], e dirás: Como cessou o opressor! ... Já quebrantou o Senhor o bastão dos ímpios e o cetro dos dominadores. Aquele que feria os povos com furor, com praga incessante, o que com ira dominava as nações, agora é perseguido, sem que alguém o possa impedir." Isaías 14:3-6. GC 660 4 Durante os mil anos entre a primeira e a segunda ressurreições, ocorre o julgamento dos ímpios. O apóstolo Paulo indica este juízo como um acontecimento a seguir-se ao segundo advento. "Nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações." 1 Coríntios 4:5. Daniel declara que quando veio o Ancião de Dias, "foi dado o juízo aos santos do Altíssimo." Daniel 7:22. Nesse tempo os justos reinam como reis e sacerdotes de Deus. João, no Apocalipse, diz: "Vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar." "Serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele mil anos." Apocalipse 20:4, 6. É nesse tempo que, conforme foi predito por Paulo, "os santos hão de julgar o mundo." 1 Coríntios 6:2. Em união com Cristo julgam os ímpios, comparando seus atos com o código -- a Escritura Sagrada, e decidindo cada caso segundo as ações praticadas no corpo. Então é determinada a parte que os ímpios devem sofrer, segundo suas obras; e registrada em frente ao seu nome, no livro da morte. GC 661 1 Igualmente Satanás e os anjos maus são julgados por Cristo e Seu povo. Diz Paulo: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?" 1 Coríntios 6:3. E Judas declara que aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão, e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia." Jud. 6. GC 661 2 Ao fim dos mil anos ocorrerá a segunda ressurreição. Então os ímpios ressuscitarão dos mortos, comparecendo perante Deus para a execução do "juízo escrito." Assim, o escritor do Apocalipse, depois de descrever o ressurgir dos justos, diz: "Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram." Apocalipse 20:5. A respeito dos ímpios Isaías declara: "Serão amontoados como presos numa masmorra, e serão encerrados num cárcere, e serão visitados depois de muitos dias." Isaías 24:22. ------------------------Capítulo 42 -- O final e glorioso triunfo GC 662 1 Ao fim dos mil anos, Cristo volta novamente à Terra. É acompanhado pelo exército dos remidos, e seguido por um cortejo de anjos. Descendo com grande majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber a condenação. Surgem estes como um grande exército, inumerável como a areia do mar. Que contraste com aqueles que ressurgiram na primeira ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal juventude e beleza. Os ímpios trazem os traços da doença e da morte. GC 662 2 Todos os olhares daquela vasta multidão se voltam para contemplar a glória do Filho de Deus. A uma voz, as hostes dos ímpios exclamam: "Bendito o que vem em nome do Senhor!" Não é o amor para com Jesus que inspira esta declaração. É a força da verdade que faz brotar involuntariamente essas palavras de seus lábios. Os ímpios saem da sepultura tais quais a ela baixaram, com a mesma inimizade contra Cristo, e com o mesmo espírito de rebelião. Não terão um novo tempo de graça no qual remediar os defeitos da vida passada. Para nada aproveitaria isso. Uma vida inteira de pecado não lhes abrandou o coração. Um segundo tempo de graça, se lhes fosse concedido, seria ocupado, como foi o primeiro, em se esquivarem aos preceitos de Deus e contra Ele incitarem rebelião. GC 662 3 Cristo desce sobre o Monte das Oliveiras, donde, depois de Sua ressurreição, ascendeu, e onde anjos repetiram a promessa de Sua volta. Diz o profeta: "Virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo." "E naquele dia estarão os Seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o Monte das Oliveiras será fendido pelo meio, ... e haverá um vale muito grande." "O Senhor será Rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome." Zacarias 14:5, 4, 9. Descendo do Céu a Nova Jerusalém em seu deslumbrante resplendor, repousa sobre o lugar purificado e preparado para recebê-la, e Cristo, com Seu povo e os anjos, entram na santa cidade. GC 663 1 Agora Satanás se prepara para a última e grande luta pela supremacia. Enquanto despojado de seu poder e separado de sua obra de engano, o príncipe do mal se achava infeliz e abatido; mas, sendo ressuscitados os ímpios mortos, e vendo ele as vastas multidões a seu lado, revivem-lhe as esperanças, e decide-se a não render-se no grande conflito. Arregimentará sob sua bandeira todos os exércitos dos perdidos, e por meio deles se esforçará por executar seus planos. Os ímpios são cativos de Satanás. Rejeitando a Cristo, aceitaram o governo do chefe rebelde. Estão prontos para receber suas sugestões e executar-lhe as ordens. Contudo, fiel à sua astúcia original, ele não se reconhece como Satanás. Pretende ser o príncipe que é o legítimo dono do mundo, e cuja herança foi dele ilicitamente extorquida. Representa-se a si mesmo, ante seus súditos iludidos, como um redentor, assegurando-lhes que seu poder os tirou da sepultura, e que ele está prestes a resgatá-los da mais cruel tirania. Havendo sido removida a presença de Cristo, Satanás opera maravilhas para apoiar suas pretensões. Faz do fraco forte, e a todos inspira com seu próprio espírito e energia. Propõe-se guiá-los contra o acampamento dos santos e tomar posse da cidade de Deus. Com diabólica exultação aponta para os incontáveis milhões que ressuscitaram dos mortos, e declara que como seu guia é muito capaz de tomar a cidade, reavendo seu trono e reino. GC 664 1 Naquela vasta multidão há muitos que pertenceram à raça de grande longevidade que existiu antes do dilúvio; homens de estatura elevada e gigantesco intelecto, os quais, entregando-se ao domínio dos anjos caídos, dedicaram toda a sua habilidade e saber à exaltação própria; homens cujas maravilhosas obras de arte levaram o mundo a lhe idolatrar o gênio, mas cuja crueldade e invenções más, contaminando a Terra e desfigurando a imagem de Deus, fizeram-nO exterminá-los da face de Sua criação. Há reis e generais que venceram nações, homens valentes que nunca perderam batalha, guerreiros orgulhosos, ambiciosos, cuja aproximação fazia tremer os reinos. Na morte não experimentaram mudança alguma. Ao subirem da sepultura, retomam o fio de seus pensamentos exatamente onde ele cessou. São movidos pelo mesmo desejo de vencer, que os governava quando tombaram. GC 664 2 Satanás consulta seus anjos, e depois esses reis, vencedores e guerreiros poderosos. Olham para a força e número ao seu lado, e declaram que o exército dentro da cidade é pequeno em comparação com o seu, podendo ser vencido. Formulam seus planos para tomar posse das riquezas e glória da Nova Jerusalém. Todos imediatamente começam a preparar-se para a batalha. Hábeis artífices constroem petrechos de guerra. Chefes militares, famosos por seus êxitos, arregimentam em companhias e secções as multidões de homens aguerridos. GC 664 3 Finalmente é dada a ordem de avançar, e o inumerável exército se põe em movimento -- exército tal como nunca foi constituído por conquistadores terrestres, tal como jamais poderiam igualar as forças combinadas de todas as eras, desde que a guerra existe sobre a Terra. Satanás, o mais forte dos guerreiros, toma a dianteira, e seus anjos unem as forças para esta luta final. Reis e guerreiros estão em seu séquito, e as multidões seguem em vastas companhias, cada qual sob as ordens de seu designado chefe. Com precisão militar as fileiras cerradas avançam pela superfície da Terra, quebrada e desigual, em direção à cidade de Deus. Por ordem de Jesus são fechadas as portas da Nova Jerusalém, e os exércitos de Satanás rodeiam a cidade, preparando-se para o assalto. GC 665 1 Agora Cristo de novo aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sobre este trono assenta-Se o Filho de Deus, e em redor dEle estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a Terra inteira com seu fulgor. GC 665 2 Mais próximo do trono estão os que já foram zelosos na causa de Satanás, mas que, arrancados como tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa. Em seguida estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé. E além está a "multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, ... trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos." Apocalipse 7:9. Terminou a sua luta, a vitória está ganha. Correram no estádio e alcançaram o prêmio. O ramo de palmas em suas mãos é um símbolo de seu triunfo, as vestes brancas, um emblema da imaculada justiça de Cristo, a qual agora possuem. GC 665 3 Os resgatados entoam um cântico de louvor que ecoa repetidas vezes pelas abóbadas do Céu: "Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro." E anjos e serafins unem sua voz em adoração. Tendo os remidos contemplado o poder e malignidade de Satanás, viram, como nunca dantes, que poder algum, a não ser o de Cristo, poderia tê-los feito vencedores. Em toda aquela resplendente multidão ninguém há que atribua a salvação a si mesmo, como se houvesse prevalecido pelo próprio poder e bondade. Nada se diz do que fizeram ou sofreram; antes, o motivo de cada cântico, a nota fundamental de toda antífona, é -- Salvação ao nosso Deus, e ao Cordeiro. GC 666 1 Na presença dos habitantes da Terra e do Céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus. E agora, investido de majestade e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sobre os rebeldes contra Seu governo, e executa justiça sobre aqueles que transgrediram Sua lei e oprimiram Seu povo. Diz o profeta de Deus: "Vi um grande trono branco, e O que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras." Apocalipse 20:11, 12. GC 666 2 Logo que se abrem os livros de registro e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, eles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Vêem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que incentivaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, os mensageiros de Deus desprezados, as advertências rejeitadas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente -- tudo aparece como que escrito com letras de fogo. GC 666 3 Por sobre o trono se revela a cruz; e semelhante a uma vista panorâmica aparecem as cenas da tentação e queda de Adão, e os passos sucessivos no grande plano para redimir os homens. O humilde nascimento do Salvador; Sua infância de simplicidade e obediência; Seu batismo no Jordão; o jejum e tentação no deserto; Seu ministério público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do Céu; os dias repletos de atos de amor e misericórdia, Suas noites de oração e vigília na solidão das montanhas; as tramas de inveja, ódio e maldade, com que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no Getsêmani, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro; Sua traição nas mãos da turba assassina; os tremendos acontecimentos daquela noite de horror -- o Prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais amados, rudemente empurrado pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes, escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte -- tudo é vividamente esboçado. GC 667 1 E agora, perante a multidão agitada, revelam-se as cenas finais -- o paciente Sofredor trilhando o caminho do Calvário, o Príncipe do Céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas sobrenaturais; a Terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida. GC 667 2 O terrível espetáculo aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para se desviarem do quadro que é a sua própria obra. Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sobre cuja alma criminosa repousa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!" -- todos contemplam a enormidade de seu crime. Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o Sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: "Ele morreu por mim!" GC 667 3 Entre a multidão resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heróico Paulo, o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e com estes o vasto exército dos mártires, ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos. Ali está Nero, aquele monstro de crueldade e vício, contemplando a alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições extremas encontrara deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter transmitidos a seu filho, as paixões incentivadas e desenvolvidas por sua influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo estremecer. GC 668 1 Ali estão sacerdotes e prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto, empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e pretenderam mudar a lei do Altíssimo. Aqueles pretensos pais da igreja têm uma conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interesse com o de Seu povo sofredor; e sentem a força de Suas palavras: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. GC 668 2 O mundo ímpio todo acha-se em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles. GC 668 3 É agora evidente a todos que o salário do pecado não é nobre independência e vida eterna, mas escravidão, ruína e morte. Os ímpios vêem o que perderam em virtude de sua vida de rebeldia. O peso eterno de glória mui excelente foi desprezado quando lhes foi oferecido; mas quão desejável agora se mostra! "Tudo isto", exclama a alma perdida, "eu poderia ter tido; mas preferi conservar estas coisas longe de mim. Oh! estranha presunção! Troquei a paz, a felicidade e a honra pela miséria, infâmia e desespero." Todos vêem que sua exclusão do Céu é justa. Por sua vida declararam: "Não queremos que este Jesus reine sobre nós." GC 668 4 Como que extasiados, os ímpios contemplam a coroação do Filho de Deus. Vêem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e adoração por parte dos salvos, e, ao propagar-se a onda de melodia sobre as multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam: "Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos" (Apocalipse 15:3); e, prostrando-se, adoram o Príncipe da vida. GC 669 1 Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquele que fora um querubim cobridor lembra-se donde caiu. Ele, um serafim resplandecente, "filho da alva" quão mudado, quão degradado! Do conselho onde tantas honras recebera, está para sempre excluído. Vê que agora um outro se encontra perto do Pai, velando Sua glória. Viu ser colocada a coroa sobre a cabeça de Cristo por um anjo de elevada estatura e presença majestosa, e sabe que a exaltada posição deste anjo poderia ter sido sua. GC 669 2 A memória recorda o lar de sua inocência e pureza, a paz e contentamento que eram seus até haver condescendido em murmurar contra Deus e ter inveja de Cristo. Suas acusações, sua rebelião, seus enganos para ganhar a simpatia e apoio dos anjos, sua obstinada persistência em não fazer esforços a fim de reabilitar-se quando Deus lhe teria concedido o perdão -- tudo se lhe apresenta vividamente. Revê sua obra entre os homens e seus resultados -- a inimizade do homem para com seu semelhante, a terrível destruição de vidas, o surgimento e queda de reinos, a ruína de tronos, a longa sucessão de tumultos, conflitos e revoluções. Recorda-se de seus constantes esforços para se opor à obra de Cristo, e para rebaixar cada vez mais o homem. Vê que suas tramas infernais foram impotentes para destruir os que depositaram confiança em Jesus. Olhando Satanás para o seu reino, o fruto de sua luta, vê apenas fracasso e ruína. Levara as multidões a crer que a cidade de Deus seria fácil presa; mas sabe que isto é falso. Reiteradas vezes, no transcurso do grande conflito, foi ele derrotado e obrigado a capitular. Conhece muito bem o poder e majestade do Eterno. GC 670 1 O objetivo do grande rebelde foi sempre justificar-se, e provar ser o governo divino responsável pela rebelião. A esse fim aplicou todo o poder de seu pujante intelecto. Trabalhou deliberada e sistematicamente, e com maravilhoso êxito, levando vastas multidões a aceitar seu modo de ver quanto ao grande conflito que há tanto tempo se vem desenvolvendo. Durante milhares de anos esse chefe conspirador tem apresentado a falsidade em lugar da verdade. Mas agora chegado é o tempo em que a rebelião deve ser finalmente derrotada, e descobertos a história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arquienganador foi completamente desmascarado. Os que a ele se uniram, vêem o fracasso completo de sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total de suas maquinações contra o governo de Deus. É ele objeto de aversão universal. GC 670 2 Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Jeová repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença. GC 670 3 "Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo; por isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos." Apocalipse 15:4. Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o de Deus, foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou. "Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te bendirão." Salmos 145:10. A história do pecado permanecerá por toda a eternidade como testemunha de que à existência da lei de Deus se acha ligada a felicidade de todos os seres por Ele criados. À vista de todos os fatos do grande conflito, o Universo inteiro, tanto os que são fiéis como os rebeldes, de comum acordo declara: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos." GC 671 1 Perante o Universo foi apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se nomeia. Foi pela alegria que Lhe estava proposta -- a fim de poder trazer muitos filhos à glória -- que Ele suportou a cruz e desprezou a ignomínia. E por inconcebivelmente grande que tivessem sido a tristeza e a ignomínia, todavia maiores são a alegria e a glória. Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança de seu Rei. Contempla neles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e ímpios, declara: "Eis a aquisição de Meu sangue! Por estes sofri, por estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras eternas." E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor do trono: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças." Apocalipse 5:12. GC 671 2 Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para uma última e desesperada luta conta o Rei do Céu. Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra Satanás e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios voltam-se contra eles. GC 672 1 Diz o Senhor: "Pois que estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, eis que Eu trarei sobre ti estranhos, os mais formidáveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplendor. À cova te farão descer." "E te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas. ... Por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. ... E te tornei em cinza sobre a Terra, aos olhos de todos os que te vêem. ... Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre." Ezequiel 28:6-8, 16-19. GC 672 2 "Toda a armadura daqueles que pelejam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo." "A indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas: Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança." "Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será a parte do seu cálice." Isaías 9:5; 34:2; Salmos 11:6. De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um forno. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que nela há são queimadas. Malaquias 4:1; 2 Pedro 3:10. A superfície da Terra parece uma massa fundida -- um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e perdição dos homens maus -- "dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião." Isaías 34:8. GC 673 1 Os ímpios recebem sua recompensa na Terra. Provérbios 11:31. "Serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos." Malaquias 4:1. Alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo as suas ações. Tendo sido os pecados dos justos transferidos para Satanás, tem ele de sofrer não somente pela sua própria rebelião, mas por todos os pecados que fez o povo de Deus cometer. Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou. Depois que perecerem os que pelos seus enganos caíram, deve ele ainda viver e sofrer. Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos -- Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A penalidade completa da lei foi aplicada; satisfeitas as exigências da justiça; e o Céu e a Terra, contemplando-o, declaram a justiça de Jeová. GC 673 2 Está para sempre terminada a obra de ruína de Satanás. Durante seis mil anos efetuou a sua vontade, enchendo a Terra de miséria e causando pesar por todo o Universo. A criação inteira tem igualmente gemido e estado em dores de parto. Agora as criaturas de Deus estão para sempre livres de sua presença e tentações. "Já descansa, já está sossegada toda a Terra! exclamam [os justos] com júbilo." Isaías 14:7. E uma aclamação de louvor e triunfo sobe de todo o Universo fiel. "A voz de uma grande multidão", "como a voz de muitas águas, e a voz de fortes trovões", é ouvida, dizendo: "Aleluia! pois o Senhor Deus onipotente reina." Apocalipse 19:6. GC 673 3 Enquanto a Terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto Sol como Escudo. Apocalipse 20:6; Salmos 84:11. GC 674 1 "Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram." Apocalipse 21:1. O fogo que consome os ímpios, purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis conseqüências do pecado. GC 674 2 Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória: "Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força." Habacuque 3:4. Suas mãos, Seu lado ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus -- ali está a glória do Salvador, ali está "o esconderijo da Sua força." "Poderoso para salvar" mediante o sacrifício da redenção, foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais de Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através das eras intérminas os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão o poder. GC 674 3 "E a ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio." Miquéias 4:8. Chegado é o tempo, para o qual santos homens têm olhado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro par -- tempo "para a redenção da possessão de Deus." Efésios 1:14. A Terra, dada originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano da redenção. Tudo que se perdera pelo pecado foi restaurado. "Assim diz o Senhor ... que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada." Isaías 45:18. O propósito original de Deus na criação da Terra cumpre-se, ao fazer-se ela a eterna morada dos remidos. "Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre." Salmos 37:29. GC 674 4 Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles na casa de Seu Pai. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E, contudo, "as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus. GC 675 1 Na Bíblia a herança dos salvos é chamada um país. Hebreus 11:14-16. Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar. GC 675 2 "O meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso." "Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação, e às tuas portas louvor." "Edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; ... os Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos." Isaías 32:18; 60:18; 65:21, 22. GC 675 3 Ali, "o deserto e os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa." "Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta." Isaías 35:1; 55:13. "E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, ... e um menino pequeno os guiará." "Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade", diz o Senhor. Isaías 11:6, 9. GC 676 1 A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. "Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, ... porque já as primeiras coisas são passadas." Apocalipse 21:4. "E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absorvido da sua iniqüidade." Isaías 33:24. GC 676 2 Ali está a Nova Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como "uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus." Isaías 62:3. "Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente." "As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra." Apocalipse 21:11, 24. Diz o Senhor: "Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo." Isaías 65:19. "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus." Apocalipse 21:3. GC 676 3 Na cidade de Deus "não haverá noite." Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos a frescura da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo. "Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia." Apocalipse 22:5. A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente do Sol. GC 676 4 "Nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro." Apocalipse 21:22. O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho. "Agora vemos por espelho em enigma." 1 Coríntios 13:12. Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu obscurecedor de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto. GC 677 1 Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem "toda a família nos Céus e na Terra" (Efésios 3:15) -- tudo isto concorre para constituir a felicidade dos remidos. GC 677 2 Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo. GC 677 3 Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão vôo incansável para os mundos distantes -- mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não-caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até à maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder. GC 678 1 E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor. GC 678 2 "E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apocalipse 5:13. GC 678 3 O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor. ------------------------História da Redenção HR 5 1 Prefácio HR 13 1 Capítulo 1 -- A queda de Lúcifer HR 20 0 Capítulo 2 -- A criação HR 24 1 Capítulo 3 -- Conseqüências da rebelião HR 32 0 Capítulo 4 -- Tentação e queda HR 42 1 Capítulo 5 -- O plano da salvação HR 52 0 Capítulo 6 -- Caim e Abel e suas ofertas HR 57 0 Capítulo 7 -- Sete e Enoque HR 62 0 Capítulo 8 -- O dilúvio HR 72 0 Capítulo 9 -- A torre de Babel HR 75 0 Capítulo 10 -- Abraão e a semente prometida HR 84 0 Capítulo 11 -- O casamento de Isaque HR 87 0 Capítulo 12 -- Jacó e Esaú HR 94 0 Capítulo 13 -- Jacó e o anjo HR 100 0 Capítulo 14 -- Os filhos de Israel HR 112 0 Capítulo 15 -- O poder de Deus revelado HR 119 0 Capítulo 16 -- Israel escapa da servidão HR 126 0 Capítulo 17 -- Jornadas de Israel HR 137 0 Capítulo 18 -- A lei de Deus HR 151 0 Capítulo 19 -- O santuário HR 158 0 Capítulo 20 -- Os espias e seu relatório HR 164 0 Capítulo 21 -- O pecado de Moisés HR 170 0 Capítulo 22 -- A morte de Moisés HR 175 0 Capítulo 23 -- Entrando na terra prometida HR 183 0 Capítulo 24 -- A arca de Deus e o sucesso de Israel HR 196 1 Capítulo 25 -- O primeiro advento de Cristo HR 202 1 Capítulo 26 -- O ministério de Cristo HR 208 1 Capítulo 27 -- Cristo é traído HR 213 1 Capítulo 28 -- O julgamento de Cristo HR 220 1 Capítulo 29 -- A crucifixão de Cristo HR 230 1 Capítulo 30 -- A ressurreição de Cristo HR 239 1 Capítulo 31 -- A ascensão de Cristo HR 241 0 Capítulo 32 -- O Pentecostes HR 248 0 Capítulo 33 -- A cura do coxo HR 254 0 Capítulo 34 -- Lealdade a Deus sob perseguição HR 259 0 Capítulo 35 -- A organização do evangelho HR 262 0 Capítulo 36 -- A morte de Estêvão HR 268 0 Capítulo 37 -- A conversão de Saulo HR 276 0 Capítulo 38 -- O início do ministério de Paulo HR 281 0 Capítulo 39 -- O ministério de Pedro HR 292 0 Capítulo 40 -- Pedro liberto da prisão HR 301 0 Capítulo 41 -- Nas regiões distantes HR 310 1 Capítulo 42 -- Anos de ministério de Paulo HR 315 1 Capítulo 43 -- Martírio de Paulo e Pedro HR 320 1 Capítulo 44 -- A grande apostasia HR 326 1 Capítulo 45 -- O mistério da iniqüidade HR 335 1 Capítulo 46 -- Os primeiros reformadores HR 340 1 Capítulo 47 -- Lutero e a grande reforma HR 346 1 Capítulo 48 -- Progressos da reforma HR 353 1 Capítulo 49 -- Deixando de progredir HR 356 1 Capítulo 50 -- A primeira mensagem angélica HR 364 1 Capítulo 51 -- A segunda mensagem angélica HR 369 1 Capítulo 52 -- O clamor da meia-noite HR 375 1 Capítulo 53 -- O santuário HR 379 1 Capítulo 54 -- A terceira mensagem angélica HR 385 1 Capítulo 55 -- Uma firme plataforma HR 388 1 Capítulo 56 -- Os enganos de Satanás HR 393 1 Capítulo 57 -- Espiritismo HR 399 1 Capítulo 58 -- O alto clamor HR 402 1 Capítulo 59 -- O fim da graça HR 406 1 Capítulo 60 -- O tempo da angústia de Jacó HR 409 1 Capítulo 61 -- O livramento dos santos HR 413 1 Capítulo 62 -- A recompensa dos santos HR 415 1 Capítulo 63 -- O milênio HR 418 1 Capítulo 64 -- A segunda ressurreição HR 421 1 Capítulo 65 -- A coroação de Cristo HR 427 1 Capítulo 66 -- A segunda morte HR 430 1 Capítulo 67 -- A nova terra ------------------------Prefácio HR 5 1 Existem muitos assuntos, sobre os quais a Sra. E. G. White, a mensageira escolhida por Deus para os crentes do Advento, recebeu iluminação nos primeiros dias, logo no início de seu trabalho. Em primeiro lugar entre estes está o grande conflito entre o bem e o mal, desde a queda de Lúcifer no Céu e a queda do homem, vindo através dos séculos do tempo de graça até a segunda vinda de Cristo, e o estabelecimento do reino de Deus na Terra feita nova. HR 5 2 No ano de 1858 o casal White assistiu a uma reunião em Lovett's Grove, perto de Bowling Green, em Ohio. Ali, a Sra. White viu outra vez em visão, muitas coisas importantes para a igreja remanescente. A respeito desta visão ela escreveu: "Em Lovett's Grove a maior parte daquilo que eu tinha visto dez anos antes, concernente ao grande conflito dos séculos entre Cristo e Satanás, foi repetido, e fui instruída a escrever sobre isso." Life Sketches of Ellen G. White, 162. Em tempo oportuno esta revelação do grande conflito entre Cristo e Seus anjos e Satanás e seus anjos foi publicada numa série de três pequenos volumes sob o título geral de Spiritual Gifts. HR 5 3 Nos anos seguintes, este assunto foi apresentado à Sra. White com maiores detalhes, e em 1870 ela começou a publicação de uma edição ampliada da maravilhosa história da redenção, em quatro volumes, sob o título geral de O Espírito de Profecia. HR 5 4 Com o passar do tempo e como luz adicional fosse dada sobre este grande assunto, e como o caminho fosse aberto para a circulação destes livros no mundo e na igreja, a Sra. White voltou a aumentar esta série, preenchendo algumas lacunas na história e apresentando material adicional sobre os temas tratados. Por conseguinte, nós temos em corrente circulação uma série de cinco grandes livros conhecidos como a série Grande Conflito -- Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, O Desejado de Todas as Nações, Atos dos Apóstolos e O Grande Conflito, com mais de 3.500 páginas ao todo. Estes livros têm feito o maravilhoso trabalho de trazer para a igreja e para o mundo o conhecimento do grande plano da redenção humana e os propósitos de Deus em levar a cabo Seu plano original na criação do homem. HR 6 1 Por alguns anos sentiu-se a necessidade, tanto na América como no estrangeiro, de uma breve porém completa apresentação deste grande tema, num volume compacto, com os pontos altos de toda a extensão da história do conflito dos séculos como foi revelado à Sra. White. Esta necessidade é agora satisfeita neste volume, História da Redenção, possibilitado pela seleção e agrupamento em sua ordem natural de certas porções de concisos relatos como apareceram nos volumes originais, há muito fora de circulação. Como se verificou pelo índice, este vívido relato foi extraído de O Espírito de Profecia, volumes 1, 3 e 4, The Signs of the Times e Primeiros Escritos (Spiritual Gifts, volume 1). HR 6 2 As supressões necessárias para apresentar esta história num mínimo de espaço não são indicadas no texto. Alguns breves ajustes foram feitos, tais como o uso de palavras correntes ou expressões que substituíram as agora obsoletas. Também formas correntes de ortografia, pontuação e gramática foram adotadas. Além destes ajustes, o texto ficou inalterado, mantendo ainda sua grafia original e a forma em que trata o tema vital. HR 6 3 Que esta reimpressão num só volume, da história da redenção do homem perdido e da restauração do mundo perdido mediante Jesus Cristo nosso Senhor, traga iluminação para muitas pessoas ao redor do mundo, e produza uma viva esperança na breve volta de Jesus, é o desejo sincero e a confiante expectativa dos editores e Depositários das Publicações de Ellen G. White. ------------------------Capítulo 1 -- A queda de Lúcifer HR 13 1 Lúcifer no Céu, antes de sua rebelião foi um elevado e exaltado anjo, o primeiro em honra depois do amado Filho de Deus. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. A testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, o porte nobre e majestoso. Uma luz especial resplandecia de seu semblante e brilhava ao seu redor, mais viva do que ao redor dos outros anjos; todavia, Cristo, o amado Filho de Deus tinha preeminência sobre toda a hoste angélica. Ele era um com o Pai antes que os anjos fossem criados. Lúcifer invejou a Cristo, e gradualmente pretendeu o comando que pertencia a Cristo unicamente. HR 13 2 O grande Criador convocou as hostes celestiais, para na presença de todos os anjos conferir honra especial a Seu Filho. O Filho estava assentado no trono com o Pai, e a multidão celestial de santos anjos reunida ao redor dEles. O Pai então fez saber que por Sua própria decisão Cristo, Seu Filho, devia ser considerado igual a Ele, assim que em qualquer lugar que estivesse presente Seu Filho, isto valeria pela Sua própria presença. A palavra do Filho devia ser obedecida tão prontamente como a palavra do Pai. Seu Filho foi por Ele investido com autoridade para comandar as hostes celestiais. Especialmente devia Seu Filho trabalhar em união com Ele na projetada criação da Terra e de cada ser vivente que devia existir sobre ela. O Filho levaria a cabo Sua vontade e Seus propósitos, mas nada faria por Si mesmo. A vontade do Pai seria realizada nEle. HR 14 1 Lúcifer estava invejoso e enciumado de Jesus Cristo. Todavia, quando todos os anjos se curvaram ante Jesus reconhecendo Sua supremacia e alta autoridade e direito de governar, ele curvou-se com eles, mas seu coração estava cheio de inveja e rancor. Cristo tinha sido introduzido no especial conselho de Deus na consideração de Seus planos, enquanto Lúcifer não participara deles. Ele não compreendia, nem lhe fora permitido conhecer, os propósitos de Deus. Mas, Cristo era reconhecido como o soberano do Céu, Seu poder e autoridade eram os mesmos de Deus. Lúcifer pensou em si mesmo como o favorito entre os anjos no Céu. Tinha sido grandemente exaltado, mas isto não despertou nele louvor e gratidão ao seu Criador. Aspirava à altura do próprio Deus. Gloriava-se na sua altivez. Sabia que era honrado pelos anjos. Tinha uma missão especial a executar. Tinha estado perto do grande Criador e o resplendor incessante da gloriosa luz que cercava o eterno Deus tinha brilhado especialmente sobre ele. Pensava como os anjos tinham obedecido a seu comando com prazeroso entusiasmo. Não era seu vestuário belo e brilhante? Por que devia Cristo ser assim honrado ante ele? HR 14 2 Ele deixou a imediata presença do Pai, insatisfeito e cheio de inveja contra Jesus Cristo. Dissimulando seu real propósito, convocou as hostes angélicas. Introduziu seu assunto, que era ele mesmo. Como alguém agravado, relatou a preferência que Deus dera a Jesus em prejuízo dele. Contou que dali em diante toda a doce liberdade que os anjos tinham gozado estava no fim. Pois não havia sido posto sobre eles um governador, a quem deviam de agora em diante render honra servil? Declarou que os tinha reunido para assegurar-lhes que ele não mais se submeteria à invasão dos direitos seus e deles; que nunca mais ele se prostraria ante Cristo; que assumiria a honra que lhe devia ter sido conferida e que seria o comandante de todos aqueles que se submetessem a segui-lo e obedecer a sua voz. HR 15 1 Houve controvérsia entre os anjos. Lúcifer e seus simpatizantes porfiavam por reformar o governo de Deus. Estavam descontentes e infelizes porque não podiam perscrutar Sua insondável sabedoria e averiguar o Seu propósito em exaltar Seu Filho e dotá-Lo com tal ilimitado poder e comando. Rebelaram-se contra a autoridade do Filho. HR 15 2 Os anjos que eram leais e sinceros procuraram reconciliar este poderoso rebelde à vontade de seu Criador. Justificaram o ato de Deus em conferir honra a Seu Filho, e com fortes razões tentaram convencer Lúcifer que não lhe cabia menos honra agora, do que antes que o Pai proclamasse a honra que Ele tinha conferido a Seu Filho. Mostraram-lhe claramente que Cristo era o Filho de Deus, existindo com Ele antes que os anjos fossem criados, que sempre estivera à mão direita de Deus, e Sua suave, amorosa autoridade até o presente não tinha sido questionada; e que Ele não tinha dado ordens que não fossem uma alegria para a hoste celestial executar. Eles insistiam que o receber Cristo honra especial de Seu Pai, na presença dos anjos, não diminuía a honra que Lúcifer recebera até então. Os anjos choraram. Ansiosamente tentaram levá-lo a renunciar a seu mau desígnio e render submissão ao Criador; pois até então tudo fora paz e harmonia, e o que podia ocasionar esta voz discordante, rebelde? HR 16 1 Lúcifer recusou ouvi-los. Então voltou-se dos anjos leais e sinceros, denunciando-os como escravos. Estes anjos, leais a Deus, ficaram pasmados ao verem que Lúcifer era bem-sucedido em seu esforço para incitar a rebelião. Prometia-lhes um novo e melhor governo do que então tinham, no qual todos seriam livres. Grande número expressou seu propósito de aceitá-lo como líder e principal comandante. Ao ver que seus primeiros passos foram coroados de sucesso, vangloriou-se de que ainda devia ter todos os anjos ao seu lado, e que seria igual ao próprio Deus e que sua voz autoritária seria ouvida no comando de toda a hoste celestial. De novo os anjos leais advertiram-no, alertando-o quanto às conseqüências se ele persistisse; que Aquele que pôde criar os anjos tinha poder para retirar-lhes toda a autoridade e de alguma assinalada maneira punir-lhes a audácia e terrível rebelião. E pensar que um anjo pudesse resistir à Lei de Deus que era tão sagrada como Ele mesmo! Exortaram os rebeldes a cerrar os ouvidos às razões fraudulentas de Lúcifer, advertindo-o e a todos os que tinham sido afetados que fossem a Deus e confessassem seu engano, mesmo por admitirem um pensamento que punha em dúvida Sua autoridade. HR 16 2 Muitos dos simpatizantes de Lúcifer estavam inclinados a ouvir o conselho dos anjos leais e se arrependeram de sua insatisfação, e de novo receberam a confiança do Pai e Seu amado Filho. O grande rebelde declarou então que estava familiarizado com a lei de Deus e se se submetesse a uma obediência servil seria despojado de sua honra. Nunca mais poderia ser incumbido de sua exaltada missão. Disse que ele mesmo e os que com ele se uniram tinham ido muito longe para voltarem, que arrostaria as conseqüências, que nunca mais se prostraria para adorar servilmente o Filho de Deus; que Deus não perdoaria, e que agora eles precisavam garantir sua liberdade e conquistar pela força a posição e autoridade que não lhes fora concedida voluntariamente.* HR 17 1 Os anjos leais apressaram-se a relatar ao Filho de Deus o que acontecera entre os anjos. Acharam o Pai em conferência com Seu Filho amado, para determinar os meios pelos quais, para o bem-estar dos anjos leais, a autoridade assumida por Satanás podia ser para sempre retirada. O grande Deus podia de uma vez lançar do Céu este arquienganador; mas este não era o Seu propósito. Queria dar aos rebeldes uma oportunidade igual para medirem sua força e poder com Seu próprio Filho e Seus anjos leais. Nesta batalha cada anjo escolheria seu próprio lado e seria manifesto a todos. Não teria sido seguro tolerar que qualquer que se havia unido a Satanás na rebelião, continuasse a ocupar o Céu. Tinham aprendido a lição de genuína rebelião contra a imutável Lei de Deus e isto era irremediável. Se Deus tivesse exercido Seu poder para punir este sumo rebelde, os anjos desafetos não se teriam revelado; portanto, Deus tomou outra direção, pois queria manifestar distintamente a toda hoste celestial Sua justiça e juízo. Guerra no céu HR 17 2 Rebelar-se contra o governo de Deus foi o maior crime. Todo o Céu parecia estar em comoção. Os anjos foram dispostos em ordem por companhias, cada divisão com o mais categorizado anjo à sua frente. Satanás estava guerreando contra a lei de Deus, por causa da ambição de exaltar-se a si mesmo, e por não desejar submeter-se à autoridade do Filho de Deus, o grande comandante celestial. HR 18 1 Toda a hoste celestial foi convocada para comparecer perante o Pai a fim de que cada caso ficasse decidido. Satanás ousadamente fez saber sua insatisfação por ter sido Cristo preferido a ele. Permaneceu orgulhoso e instando que devia ser igual a Deus e introduzido a conferenciar com o Pai e entender Seus propósitos. Deus informou a Satanás que apenas a Seu Filho Ele revelaria Seus propósitos secretos, e que requeria de toda a família celestial, mesmo Satanás, que Lhe rendessem implícita e inquestionável obediência; mas que ele (Satanás) tinha provado ser indigno de ter um lugar no Céu. Então, Satanás exultantemente apontou aos seus simpatizantes, que compreendiam quase a metade de todos os anjos, e exclamou: "Estes estão comigo! Expulsarás também a estes e deixarás tal vazio no Céu?" Declarou então que estava preparado para resistir à autoridade de Cristo e defender seu lugar no Céu pelo poder da força, força contra força. HR 18 2 Os anjos bons choraram ao ouvir as palavras de Satanás e suas exultantes jactâncias. Deus declarou que os rebeldes não mais podiam permanecer no Céu. Seu estado elevado e feliz tinha sido conservado sob a condição de obediência à lei que Deus dera para governar as elevadas ordens de seres. Mas, nenhuma provisão tinha sido feita para salvar os que se aventurassem a transgredir Sua lei. Satanás tornou-se mais ousado em sua rebelião, e expressou seu desprezo à lei do Criador. Esta Satanás não podia suportar. Declarou que os anjos não precisavam de lei, mas deviam ser livres para seguir sua própria vontade, a qual os guiaria sempre retamente; que a lei era uma restrição a sua liberdade; e que a abolição da lei era um dos grandes objetivos da posição que assumira. A condição dos anjos, pensava ele, necessitava de aperfeiçoamento. Assim não pensava Deus que tinha feito leis, colocando-as em igualdade consigo mesmo. A felicidade da hoste angélica consistia em sua perfeita obediência à lei. Cada um tinha seu trabalho especial designado, e antes da rebelião de Satanás, existira no Céu perfeita ordem e ação harmônica. HR 19 1 Então houve guerra no Céu. O Filho de Deus, o Príncipe do Céu, e Seus anjos leais empenharam-se num conflito com o grande rebelde e com aqueles que se uniram a ele. O Filho de Deus e os anjos verdadeiros e leais prevaleceram; e Satanás e seus simpatizantes foram expulsos do Céu. Toda a hoste celestial reconheceu e adorou o Deus da justiça. Nenhuma mácula de rebelião foi deixada no Céu. Tudo voltara a ser paz e harmonia como antes. Os anjos do Céu lamentaram a sorte daqueles que tinham sido seus companheiros de felicidade e alegria. Sua perda era sentida no Céu. HR 19 2 O Pai consultou Seu Filho com respeito à imediata execução de Seu propósito de fazer o homem para habitar a Terra. Colocaria o homem sob prova a fim de testar sua lealdade antes que ele pudesse ser posto eternamente fora de perigo. Se ele suportasse ao teste com o qual Deus considerava conveniente prová-lo, seria finalmente igual aos anjos. Teria o favor de Deus, podendo conversar com os anjos, e estes com ele. Deus não achou conveniente colocar os homens fora do poder da desobediência. ------------------------Capítulo 2 -- A criação HR 20 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 1. HR 20 1 Pai e Filho empenharam-Se na grandiosa, poderosa obra que tinham planejado -- a criação do mundo. A Terra saiu das mãos de seu Criador extraordinariamente bela. Havia montanhas, colinas e planícies, entrecortadas por rios e lagos. A Terra não era uma extensa planície, mas a monotonia do cenário era quebrada por montanhas e colinas não altas e abruptas como hoje são, mas de formas regulares e belas. As rochas altas e desnudas não podiam ser vistas sobre ela, mas estavam debaixo da superfície, correspondendo aos ossos da Terra. As águas estavam distribuídas regularmente. As montanhas, as colinas e as belíssimas planícies eram adornadas com plantas, flores e árvores altas e majestosas de toda espécie, muitas vezes maiores e mais belas do que são agora. O ar era puro e saudável, e a Terra parecia um nobre palácio. Os anjos deleitavam-se e regozijavam-se com as maravilhosas obras de Deus. HR 20 2 Depois que a Terra foi criada, com sua vida animal, o Pai e o Filho levaram a cabo Seu propósito, planejado antes da queda de Satanás, de fazer o homem à Sua própria imagem. Eles tinham operado juntos na criação da Terra e de cada ser vivente sobre ela. E agora disse Deus a Seu Filho: "Façamos o homem à Nossa imagem." Ao sair Adão das mãos do Criador era de nobre estatura e perfeita simetria. Tinha mais de duas vezes o tamanho dos homens que ora vivem sobre a Terra, e era bem proporcionado. Suas formas eram perfeitas e cheias de beleza. Sua cútis não era branca ou pálida, mas rosada, reluzindo com a rica coloração da saúde. Eva não era tão alta quanto Adão. Sua cabeça alcançava pouco acima dos seus ombros. Ela, também, era nobre, perfeita em simetria e cheia de beleza. HR 21 1 Esse casal, que não tinha pecados, não fazia uso de vestes artificiais. Estavam revestidos de uma cobertura de luz e glória, tal como a usam os anjos. Enquanto viveram em obediência a Deus, esta veste de luz continuou a envolvê-los. Embora todas as coisas que Deus criou fossem belas e perfeitas, e aparentemente nada faltasse sobre a Terra criada para fazer Adão e Eva felizes, ainda manifestou Seu grande amor plantando para eles um jardim especial. Uma porção de seu tempo devia ser ocupada com a feliz tarefa de cuidar do jardim, e a outra porção para receber a visita dos anjos, ouvir suas instruções, e em feliz meditação. Seu labor não seria cansativo, mas aprazível e revigorante. Este belo jardim devia ser o seu lar. HR 21 2 Neste jardim o Senhor colocou árvores de toda variedade para utilidade e beleza. Havia árvores carregadas de luxuriantes frutos, de rica fragrância, belos aos olhos e agradáveis ao paladar, designados por Deus para alimento do santo par. Havia deleitosas vinhas que cresciam verticalmente, carregadas com o peso de seus frutos, diferentes de qualquer coisa que o homem tem visto desde a queda. Os frutos eram muito grandes e de coloração diversa; alguns quase negros, outros púrpura, vermelhos, rosados e verde-claros. Esses belos e luxuriantes frutos que cresciam sobre os ramos da videira foram chamados uvas. Eles não se espalhavam pelo chão, embora não suportados por grades, mas o peso dos frutos curvava-os para baixo. O feliz trabalho de Adão e Eva era amoldar em belos caramanchéis os ramos das videiras, formando moradias de beleza natural, árvores vivas e folhagens, carregadas de fragrantes frutos. HR 22 1 A Terra era coberta de uma bela verdura, onde miríades de perfumadas flores de toda variedade cresciam em profusão. Todas as coisas eram de bom gosto e esplendidamente dispostas. No meio do jardim estava a árvore da vida, sobrepujando em glória a todas as outras árvores. Seu fruto assemelhava-se a maçãs de ouro e prata, e destinava-se a perpetuar a vida. As folhas continham propriedades curativas. Adão e Eva no Éden HR 22 2 O santo par era muito feliz no Éden. Ilimitado controle fora-lhes dado sobre toda criatura vivente. O leão e o cordeiro divertiam-se pacífica e inofensivamente ao seu redor, ou dormitavam a seus pés. Pássaros de toda a variedade de cores e plumagens esvoaçavam entre as árvores e flores e em volta de Adão e Eva, enquanto seu melodioso canto ecoava entre as árvores em doces acordes de louvor a seu Criador. HR 22 3 Adão e Eva estavam encantados com as belezas de seu lar edênico. Eram deleitados com os pequenos cantores em torno deles, os quais usavam sua brilhante e graciosa plumagem, e gorjeavam seu feliz, jubiloso canto. O santo par unia-se a eles e elevava sua voz num harmonioso cântico de amor, louvor e adoração ao Pai e a Seu amado Filho pelos sinais de amor ao seu redor. Reconheciam a ordem e a harmonia da criação, que falavam de sabedoria e conhecimento infinitos. HR 23 1 Estavam continuamente descobrindo algumas novas belezas e excelências de seu lar edênico, as quais enchiam seu coração de profundo amor e lhes arrancavam dos lábios expressões de gratidão e reverência a seu Criador. ------------------------Capítulo 3 -- Conseqüências da rebelião HR 24 1 No meio do jardim, perto da árvore da vida, estava a árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta árvore fora especialmente designada por Deus para ser a garantia de sua obediência, fé e amor a Ele. O Senhor ordenou a nossos primeiros pais que não comessem desta árvore nem tocassem nela, senão morreriam. Disse que podiam comer livremente de todas as árvores do jardim, exceto daquela, pois se dela comessem certamente morreriam. HR 24 2 Quando Adão e Eva foram colocados no belo jardim, tinham para sua felicidade tudo que pudessem desejar. Mas Deus determinou em Seu plano onisciente, testar sua lealdade antes que eles pudessem ser considerados eternamente fora de perigo. Teriam Seu favor, Ele conversaria com eles e eles com Ele. Contudo, Ele não colocou o mal fora do seu alcance. A Satanás foi permitido tentá-los. Se resistissem às tentações haveriam de estar no perpétuo favor de Deus e dos anjos celestiais. HR 24 3 Satanás estava espantado ante sua nova condição. Sua felicidade acabara. Olhava para os anjos que, com ele, outrora foram tão felizes, mas que tinham sido expulsos do Céu em sua companhia. Antes de sua queda nenhuma sombra de descontentamento tinha turbado sua perfeita alegria. Agora tudo parecia mudado. As faces que tinham refletido a imagem de seu Criador estavam melancólicas e em desespero. Conflito, discórdia e ásperas recriminações existiam entre eles. Antes de sua rebelião estas coisas eram desconhecidas no Céu. Satanás agora observava os terríveis resultados de sua rebelião. Ele estremecia e temia encarar o futuro e contemplar o fim destas coisas. HR 25 1 A hora dos alegres e felizes cânticos de louvor a Deus e Seu amado Filho chegara. Satanás tinha dirigido o coro celestial. Tinha ferido a primeira nota; então toda a hoste angélica havia-se unido a ele, e gloriosos acordes musicais haviam ressoado através do Céu em honra a Deus e Seu amado Filho. Mas agora, em vez de suaves notas musicais, palavras de discórdia e ira caíam aos ouvidos do grande líder rebelde. Onde estava? Não era isso tudo um horrível sonho? Fora lançado fora do Céu? Os portais do Céu nunca mais se abririam para admiti-lo? Aproximava-se a hora de adoração, quando brilhantes e santos anjos se prostravam diante do Pai. Não mais se uniria em cântico celestial. Não mais se curvaria em reverência e santo temor ante a presença do eterno Deus. HR 25 2 Pudesse ele voltar a ser como quando era puro, verdadeiro, leal, e alegremente abandonaria sua pretensão de autoridade. Mas, estava perdido, além da redenção, por sua presunçosa rebeldia! E isto não era tudo; tinha guiado outros à rebelião e à sua própria condição perdida -- anjos que nunca pensaram questionar a vontade do Céu ou recusar obedecer à lei de Deus, até que ele o introduziu em sua mente, argumentando diante deles que podiam desfrutar um bem maior, uma elevada e mais gloriosa liberdade. Tinha sido este o sofisma pelo qual os enganara. Uma responsabilidade agora repousava sobre ele, à qual de bom grado teria renunciado. HR 25 3 Estes espíritos tinham-se tornado turbulentos com suas esperanças desapontadas. Ao invés de bem maior, estavam experimentando os maus resultados da desobediência e desrespeito à lei. Nunca mais podiam estes seres infelizes ser influenciados pela suave guia de Jesus Cristo. Nunca mais podiam estes espíritos ser estimulados pelo profundo e fervoroso amor, paz e alegria que Sua presença tinha sempre inspirado neles, para retornarem a Ele em jubilosa obediência e reverente honra. Satanás procura reintegração HR 26 1 Satanás treme ao contemplar sua obra. Ele está sozinho meditando sobre o passado, o presente e o futuro de seus planos. Sua poderosa estrutura vacila como com uma tempestade. Um anjo do Céu está passando. Ele o chama e suplica uma entrevista com Cristo. Isto lhe é concedido. Então, relata ao Filho de Deus que está arrependido de sua rebelião e deseja voltar ao favor divino. Está disposto a tomar o lugar que previamente Deus lhe designara e sujeitar-se a Seu sábio comando. Cristo chorou ante o infortúnio de Satanás mas disse-lhe, como pensamento de Deus, que ele jamais poderia ser recebido no Céu. O Céu não devia ser colocado em perigo. Todo o Céu seria manchado se fosse recebido de volta, pelo pecado e rebelião originados com ele. As sementes da rebelião ainda estavam nele. Não tivera, em sua rebelião, nenhum motivo para seu procedimento, e irremediavelmente arruinara não só a si mesmo mas a hoste de anjos, que teria sido feliz no Céu, tivesse ele permanecido firme. A lei de Deus podia condenar mas não podia perdoar. HR 26 2 Ele não se arrependeu de sua rebelião porque visse a bondade de Deus da qual havia abusado. Não era possível que seu amor por Deus tivesse aumentado tanto desde a queda, que o levasse a uma alegre submissão e feliz obediência à Sua lei, por ele desprezada. A desgraça que experimentara em perder a doce luz do Céu, o senso de culpa que o apoquentava, o desapontamento que sentiu em não ver realizadas suas esperanças, foram a causa de sua dor. Ser comandante fora do Céu era vastamente diferente de ser assim honrado no Céu. A perda que sofreu de todos os privilégios celestiais parecia demais para suportar. Desejava recuperá-los. HR 27 1 Esta grande mudança de posição não tinha aumentado seu amor por Deus, nem por Sua sábia e justa lei. Quando Satanás se tornou plenamente convencido de que não havia possibilidade de ser reintegrado no favor de Deus, manifestou sua maldade com aumentado ódio e feroz veemência. HR 27 2 Deus sabia que tão determinada rebelião não permaneceria inativa. Satanás inventaria meios para importunar os anjos celestiais e mostrar desdém por Sua autoridade. Como não podia ser admitido no interior dos portais celestes, aguardaria mesmo à entrada, para escarnecer dos anjos e procurar contender com eles ao passarem. Procuraria destruir a felicidade de Adão e Eva. Esforçar-se-ia por incitá-los à rebelião, sabendo que isto causaria tristeza no Céu. A conspiração contra a família humana HR 27 3 Seus seguidores foram procurá-lo, e ele, erguendo-se e assumindo um ar de desafio, informou-os de seus planos para arrebatar de Deus o nobre Adão e sua companheira Eva. Se pudesse de alguma maneira induzi-los à desobediência, Deus faria alguma provisão pela qual pudessem ser perdoados, e então, ele e todos os anjos caídos obteriam um provável meio de partilhar com eles a misericórdia de Deus. Se isto falhasse, podiam unir-se com Adão e Eva, pois se estes viessem a transgredir a lei divina ficariam sujeitos à ira de Deus, como eles próprios estavam. Sua transgressão os colocaria, também, num estado de rebelião, e eles podiam unir-se a Adão e Eva, tomar posse do Éden, e conservá-lo como seu lar. E se pudessem ter acesso à árvore da vida no meio do jardim, sua força seria, pensavam, igual à dos santos anjos, e nem mesmo o próprio Deus poderia expulsá-los. HR 28 1 Satanás manteve uma consulta com seus anjos ímpios. Eles não estavam todos prontamente unidos para se engajar neste perigoso e terrível trabalho. Declarou que não confiava em ninguém para cumprir esta obra, pois pensava que apenas ele era suficientemente sábio para levar avante tão importante empreendimento. Desejava que considerassem o assunto, enquanto os deixaria e procuraria um retiro para consolidar seus planos. Procurou impressioná-los com o fato de que esta era sua final e única esperança. Se falhassem aqui, toda perspectiva de recuperação e controle do Céu ou de alguma parte da criação de Deus, era sem esperança. HR 28 2 Satanás ficou sozinho para considerar seus planos de modo que fosse absolutamente certa a queda de Adão e Eva. Temia que seus propósitos pudessem ser derrotados. E mais, mesmo que tivesse sucesso em levar Adão e Eva a desobedecerem aos mandamentos de Deus, e assim se tornassem transgressores de Sua lei, e nenhum bem viesse a ele, seu próprio caso não seria melhorado; somente sua culpa seria incrementada. HR 28 3 Estremeceu ao pensar em submergir o santo e feliz par na miséria e remorso que ele próprio sofria. Parecia estar num estado de indecisão: a um tempo firme e determinado, em seguida hesitando e vacilando. Seus anjos o procuraram a ele, seu líder, para dar-lhe a conhecer sua decisão. Estavam dispostos a unir-se a Satanás em seus planos, e com ele assumir a responsabilidade e partilhar as conseqüências. HR 29 1 Satanás lançou fora seus sentimentos de desespero e fraqueza e, como líder deles, fortaleceu-se para enfrentar o problema e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para desafiar a autoridade de Deus e Seu Filho. Informou-os de seus planos. Se fosse audaciosamente ter com Adão e Eva para queixar-se do Filho de Deus, eles não o ouviriam por um momento, pois deviam estar preparados para tal ataque. Mesmo que procurasse intimidá-los por causa de seu poder, até recentemente um anjo de elevada autoridade, nada poderia conseguir. Decidiu que a astúcia e o engano fariam o que a força ou o poder não lograriam. Adão e Eva advertidos HR 29 2 Deus reuniu a hoste angélica para tomar medidas e impedir o perigo ameaçador. Ficou decidido no concílio celestial que anjos deviam visitar o Éden e advertir Adão de que ele estava em perigo pela presença de um adversário. Dois anjos apressaram-se a visitar nossos primeiros pais. O santo par recebeu-os com inocente alegria, expressando gratidão a seu Criador por assim havê-los rodeado com tal profusão de Sua bondade. Todas as coisas amáveis e atrativas eram para sua alegria e tudo parecia sabiamente adaptado às suas necessidades; e o que estimavam acima de todas as outras bênçãos, era a associação com o Filho de Deus e com os anjos celestiais, pois tinham muito a relatar-lhes a cada visita, sobre suas novas descobertas das belezas naturais de seu lar edênico, e tinham muitas perguntas a fazer relativas a muita coisa que só podiam compreender indistintamente. HR 29 3 Os anjos benévola e amorosamente davam a informação que desejavam. Também contaram a triste história da rebelião e queda de Satanás. Então, claramente informaram-nos de que a árvore do conhecimento fora colocada no jardim para ser um penhor de sua obediência e amor a Deus; que a elevada e feliz condição de santos anjos seria conservada sob a condição de obediência; que eles estavam numa situação similar; que podiam obedecer à lei de Deus e ser inexprimivelmente felizes, ou desobedecer e perder sua elevada condição e serem mergulhados num desespero irremediável. HR 30 1 Contaram a Adão e Eva que Deus não os compelia a obedecer -- que Ele não removera deles o poder de seguirem ao contrário de Sua vontade; que eles eram agentes morais, livres para obedecer ou desobedecer. Havia apenas uma proibição que Deus considerara próprio impor-lhes. Se transgredissem a vontade de Deus certamente morreriam. Contaram a Adão e Eva que o mais exaltado anjo, imediato a Cristo, recusara obedecer à lei de Deus, a qual tinha Ele ordenado para governar os seres celestiais; que esta rebelião causara guerra no Céu, a qual resultara na expulsão dos rebeldes, de todos aqueles que se uniram a ele em pôr em dúvida a autoridade do grande Jeová; e que o rebelde caído era agora inimigo de tudo o que interessasse a Deus e Seu amado Filho. HR 30 2 Contaram-lhes que Satanás propusera-se fazer-lhes mal, e que era necessário estarem alerta, porque podiam entrar em contato com o inimigo caído; mas, que não podia causar-lhes dano enquanto rendessem obediência aos mandamentos de Deus, e que, se necessário, todos os anjos do Céu viriam em seu auxílio antes que ele pudesse de alguma maneira prejudicá-los. Mas se desobedecessem ao mandamento de Deus, então Satanás teria poder para sempre molestá-los, confundi-los e causar-lhes dificuldades. Se permanecessem resolutos contra as primeiras insinuações de Satanás, estariam tão seguros quanto os anjos celestiais. Mas, se cedessem ao tentador, Aquele que não poupou os exaltados anjos, não os pouparia. Deviam sofrer o castigo da sua transgressão, pois a lei de Deus é tão sagrada como Ele próprio, e Deus requer implícita obediência de todos no Céu e na Terra. HR 31 1 Os anjos preveniram Eva para que não se separasse do marido em suas ocupações, pois podia ser levada a um contato com esse inimigo caído. Se se separassem um do outro, estariam em maior perigo do que se ficassem juntos. Os anjos insistiram que seguissem bem de perto as instruções dadas por Deus com referência à árvore do conhecimento, que na obediência perfeita estariam seguros, e que o inimigo não teria poder para enganá-los. Deus não permitiria que Satanás seguisse o santo par com contínuas tentações. Poderia ter acesso a eles apenas na árvore do conhecimento do bem e do mal. HR 31 2 Adão e Eva asseguraram aos anjos que nunca transgrediriam o expresso mandamento de Deus, pois era seu mais elevado prazer fazer a Sua vontade. Os anjos associaram-se a Adão e Eva em santos acordes de harmoniosa música, e como seus cânticos ressoassem cheios de alegria pelo Éden, Satanás ouviu o som de suas melodias de adoração ao Pai e ao Filho. E quando Satanás o ouviu, sua inveja, ódio e malignidade aumentaram, e ele expressou a seus seguidores a sua ansiedade por incitá-los (Adão e Eva) a desobedecer, atraindo assim sobre eles a ira de Deus e mudando os seus cânticos de louvor em ódio e maldições ao seu Criador. ------------------------Capítulo 4 -- Tentação e queda HR 32 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 3. HR 32 1 Satanás assumiu a forma de serpente e entrou no Éden. A serpente era uma bela criatura com asas, e quando voava pelos ares apresentava uma aparência brilhante, parecendo ouro polido. Ela não andava sobre o chão, mas ia de uma árvore a outra pelo ar e comia frutos como o homem. Satanás entrou na serpente e tomou sua posição na árvore do conhecimento e começou vagarosamente a comer do fruto. HR 32 2 Eva, a princípio inconscientemente, absorvida em suas ocupações separou-se do marido. Quando percebeu o fato, sentiu a apreensão do perigo, mas de novo imaginou estar segura, mesmo não estando ao lado do marido. Tinha sabedoria e força suficientes para discernir o mal e resistir-lhe. Os anjos haviam-na advertido para que não fizesse isso. Eva logo se achou a contemplar com um misto de curiosidade e admiração a árvore proibida. Viu que o fruto era muito belo, e pensava consigo mesma porque Deus decidira proibi-los de comê-lo ou tocar nele. Era então a oportunidade de Satanás. Dirigiu-se a ela como se fosse capaz de adivinhar seus pensamentos: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" Assim, com palavras suaves e aprazíveis, e com voz musical, dirigiu-se à maravilhada Eva. Ela se sobressaltou ao ouvir uma serpente falar. Esta exaltava sua beleza e excessivo encanto, o que não lhe desagradava. Mas Eva estava espantada, pois sabia que Deus não tinha conferido à serpente o poder da fala. HR 33 1 A curiosidade de Eva aumentou. Em vez de escapar do local, ficou ouvindo a serpente falar. Não ocorreu à sua mente que este pudesse ser o inimigo decaído, usando a serpente como médium. Era Satanás quem falava, não a serpente. Eva estava encantada, lisonjeada, enfatuada. Tivesse encontrado uma personagem autoritária, possuindo uma forma semelhante à dos anjos e a eles se parecendo, teria ela se colocado em guarda. Mas essa estranha voz devia tê-la impelido para junto de seu marido, a fim de perguntar-lhe por que outro podia assim livremente dirigir-se a ela. Mas entrou em controvérsia com a serpente. Respondeu a sua pergunta: "Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais." Então a serpente disse à mulher: "Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." HR 33 2 Satanás desejava infundir a idéia de que pelo comer da árvore proibida eles receberiam uma nova e mais nobre espécie de conhecimento do que até então tinham alcançado. Este tem sido seu trabalho especial, com grande sucesso, desde a queda -- levar o homem a forçar a porta dos segredos do Todo-poderoso e a não estar satisfeito com o que Deus tem revelado, e não cuidar de obedecer ao que Ele tem ordenado. Gostaria de levá-los a desobedecer aos mandamentos de Deus, e então fazê-los crer que estão entrando num maravilhoso campo de saber. Isto é pura suposição, e um miserável logro. HR 34 1 Eles deixam de compreender o que Deus tem revelado, menosprezam Seus explícitos mandamentos e aspiram a mais sabedoria, independente de Deus, e procuram compreender aquilo que Lhe aprouve reter dos mortais. Exultam com suas idéias de progresso e se encantam com sua própria vã filosofia, mas apalpam trevas de meia-noite quanto ao verdadeiro conhecimento. Estão sempre estudando e nunca são capazes de chegar ao conhecimento da verdade. HR 34 2 Não era da vontade de Deus que este santo par tivesse qualquer conhecimento do mal. Dera-lhes livremente o bem, mas retivera o mal. Eva julgou sábias as palavras da astuta serpente quando ouviu a audaciosa asserção: "É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" -- fazendo de Deus um mentiroso. Satanás insinuou insolentemente que Deus os tinha enganado impedindo que fossem exaltados com um conhecimento igual ao Seu próprio. Deus disse: "Se dela comeres, certamente morrerás." A serpente disse: "É certo que não morrereis." HR 34 3 O tentador assegurou a Eva que tão logo comesse o fruto ela receberia um novo e superior conhecimento que a faria igual a Deus. Chamou sua atenção para si mesmo. Ele comera livremente da árvore e a achara não apenas perfeitamente inofensiva mas deliciosa e estimulante, e disse-lhe que era por causa de suas maravilhosas propriedades de comunicar a sabedoria e o poder que Deus lhes tinha proibido experimentá-la ou mesmo tocá-la, pois Ele conhecia estas maravilhosas qualidades. Declarou que ter comido o fruto da árvore proibida era a razão de ter obtido o dom da fala. Ele insinuou que Deus não levaria a cabo Sua advertência. Isto era meramente uma ameaça para intimidá-los e privá-los do grande bem. Disse-lhes mais que não poderiam morrer. Não tinham comido da árvore da vida que perpetuava a imortalidade? Disse que Deus os estava enganando e privando-os de um mais elevado estado de felicidade e mais exaltada alegria. O tentador colheu um fruto e passou-o a Eva. Ela o tomou nas mãos. Ora, disse o tentador, vocês foram proibidos até mesmo de tocá-lo pois morreriam. Não observariam maior sensação de perigo e morte comendo o fruto, declarou ele, do que nele tocando ou manuseando-o. Eva foi encorajada pois não sentia os sinais imediatos do desagrado de Deus. Pensou que as palavras do tentador eram de todo sábias e corretas. Comeu, e ficou encantada com o fruto. Ele pareceu delicioso ao paladar, e ela imaginava sentir em si mesma os maravilhosos efeitos do fruto. Eva torna-se tentadora HR 35 1 Ela então colheu para si do fruto e comeu, e imaginou sentir o excitante poder de uma nova e elevada existência como resultado da exaltadora influência do fruto proibido. Em um estado de excitação estranha e fora do natural, com as mãos cheias do fruto proibido, procurou o marido. Relatou-lhe o sábio discurso da serpente e desejava conduzi-lo imediatamente à árvore do conhecimento. Disse-lhe que havia comido do fruto, e em vez de experimentar qualquer sensação de morte, sentia uma agradável e exaltadora influência. Tão logo Eva desobedeceu tornou-se um poderoso agente para ocasionar a ruína do esposo. HR 35 2 Vi a tristeza sobrevir ao rosto de Adão. Mostrou-se atônito e alarmado. Uma luta parecia estar sendo travada em sua mente. Disse a Eva que estava bem certo tratar-se do inimigo contra quem haviam sido advertidos; e se assim fosse, ela devia morrer. Ela assegurou-lhe que não estava sentindo nenhum mau efeito, mas ao contrário, uma influência muito agradável, e insistiu com ele para que comesse. HR 36 1 Adão compreendeu muito bem que sua companheira transgredira a única proibição a eles imposta como prova de sua fidelidade e amor. Eva arrazoou que a serpente dissera que certamente não morreriam, e que suas palavras tinham de ser verdadeiras, pois não sentia qualquer sinal do desagrado de Deus, mas uma agradável influência, como imaginava que os anjos sentiam. HR 36 2 Adão lamentou por Eva ter deixado o seu lado, agora, porém, a ação estava praticada. Devia separar-se daquela cuja companhia ele tanto amara. Como podia suportar isso? Seu amor por Eva era muito grande. Em completo desencorajamento resolveu partilhar a sua sorte. Raciocinou que Eva era uma parte dele, se ela devia morrer, com ela morreria ele, pois não podia suportar a idéia da separação. Faltou-lhe fé em seu misericordioso e benevolente Criador. Não compreendia que Deus, que do pó da terra o havia criado, como um ser vivo e belo, e tinha criado Eva para ser sua companheira, poderia suprir seu lugar. Afinal, não poderiam ser verdadeiras as palavras da serpente? Eva estava diante dele, tão bela, e aparentemente tão inocente como antes deste ato de desobediência. Exprimia maior amor para com ele do que antes de sua desobediência, com os efeitos do fruto que tinha comido. Não viu nela nenhum sinal de morte. Ela lhe havia contado da feliz influência do fruto, de seu ardente amor por ele, e decidiu afrontar as conseqüências. Tomou o fruto e comeu rapidamente, e como ocorreu com Eva, não sentiu imediatamente seus maus efeitos. HR 36 3 Eva pensava ter capacidade própria para decidir entre o certo e o errado. A enganadora esperança de entrada num mais elevado estado de conhecimento levou-a a pensar que a serpente era um amigo especial, que tinha grande interesse em sua prosperidade. Tivesse procurado o marido, e ambos relatado ao Seu Criador as palavras da serpente e teriam sido imediatamente livrados de sua astuciosa tentação. O Senhor não desejava que investigassem o fruto da árvore do conhecimento, porque então seriam expostos ao embuste de Satanás. Sabia que eles estariam perfeitamente a salvo se não tocassem no fruto. A livre escolha do homem HR 37 1 Deus instruíra nossos primeiros pais quanto à árvore do conhecimento, e eles foram plenamente informados da queda de Satanás, e do perigo de ouvirem as suas sugestões. Ele não os privou da faculdade de comerem do fruto proibido. Deixou que como agentes morais livres cressem na Sua palavra, obedecessem a Seus mandamentos e vivessem, ou cressem no tentador, desobedecessem e morressem. Ambos comeram, e a grande sabedoria que obtiveram foi o conhecimento do pecado e o senso de culpa. A veste de luz que os rodeara, agora desapareceu, e sob um senso de culpa e a perda de sua divina cobertura, um tremor tomou posse deles, e procuraram cobrir suas formas expostas. HR 37 2 Nossos primeiros pais escolheram crer nas palavras, como pensavam, de uma serpente, ainda que esta não tivesse dado nenhuma prova de seu amor. Nada tinha feito para sua felicidade e benefício, enquanto Deus lhes tinha dado todas as coisas que eram boas para comer e agradáveis à vista. Em qualquer lugar que a vista repousasse havia abundância e beleza; ainda assim Eva foi iludida pela serpente, a pensar que existia alguma coisa oculta que podia fazê-la sábia, como o próprio Deus. Em vez de crer e confiar em Deus, ela vilmente descreu de Sua bondade e acatou as palavras de Satanás. HR 38 1 Depois de sua transgressão, Adão a princípio imaginou-se a entrar para uma nova e mais elevada existência. Mas logo o pensamento de seu pecado o encheu de terror. O ar que até então havia sido de uma temperatura amena e uniforme, parecia regelá-los. O culposo par experimentava uma intuição de pecado. Sentiam um terror pelo futuro, uma sensação de necessidade, uma nudez de alma. Desapareceram o doce amor e a paz e feliz contentamento que haviam gozado, e em seu lugar veio uma sensação de carência que nunca tinham experimentado antes. Pela vez primeira puseram sua atenção no exterior. Eles não tinham estado vestidos, mas rodeados de luz como os anjos celestiais. Esta luz com a qual estavam circundados tinha sido retirada. Para aliviar o senso de carência e nudez que experimentavam, trataram de procurar uma cobertura para suas formas, pois como podiam, desvestidos, defrontar o olhar de Deus e dos anjos? HR 38 2 Seu crime está agora diante deles em sua verdadeira luz. Sua transgressão do expresso mandamento de Deus assume um caráter mais claro. Adão censurara a Eva por sua insensatez em sair de seu lado, e deixar-se enganar pela serpente. Mas ambos procuravam tranqüilizar-se de que Deus, que lhes tinha dado todas as coisas para fazê-los felizes, perdoaria esta transgressão devido a Seu grande amor por eles e que o castigo não seria afinal tão terrível. HR 38 3 Satanás exultou com seu êxito. Tinha agora tentado a mulher a desconfiar de Deus, a duvidar de Sua sabedoria, e a procurar penetrar em Seus oniscientes planos. E por seu intermédio ele também causou a ruína de Adão, que, em conseqüência de seu amor por Eva, desobedeceu ao mandado de Deus e caiu com ela. HR 39 1 As novas da queda do homem se espalharam através do Céu. Toda harpa emudeceu. Os anjos com tristeza arremessaram da cabeça as suas coroas. Todo o Céu estava em agitação. Os anjos sentiram-se magoados com a vil ingratidão do homem em retribuição da rica generosidade que Deus proporcionara. Um concílio foi convocado para decidir o que se deveria fazer com o par culpado. Os anjos temiam que eles estendessem as mãos e comessem da árvore da vida, tornando-se pecadores imortais. HR 39 2 O Senhor visitou Adão e Eva, e tornou conhecidas as conseqüências de sua transgressão. Em sua inocência e santidade tinham eles alegremente recebido a majestosa aproximação de Deus, mas agora escondiam-se de Sua inspeção. Mas "chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?" Esta pergunta foi formulada pelo Senhor, não porque Ele necessitasse de informação, mas para fixar a responsabilidade do culpado par. Que fizeste para te tornares envergonhado e com medo? Adão reconheceu sua transgressão, não porque estivesse arrependido de sua grande desobediência, mas para lançar censura a Deus: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e eu comi." Quando foi perguntado à mulher: "Por que fizeste isto?" ela respondeu: "A serpente me enganou, e eu comi." A maldição HR 39 3 O Senhor então dirigiu-se à serpente: "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campo: sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida." Como a serpente tinha sido exaltada acima de todas as bestas do campo, seria agora degradada abaixo de todas elas e odiada pelo homem, porquanto fora o agente pelo qual Satanás agira. A Adão disse o Senhor: "Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás." HR 40 1 Deus amaldiçoou a terra por causa do pecado de Adão e Eva em comer da árvore do conhecimento e declarou: "Com dor comerás dela todos os dias da tua vida." Deus tinha partilhado com eles o bem, mas retido o mal. Agora declara que comerão dele, isto é, devem ser relacionados com o mal todos os dias de sua vida. HR 40 2 Daquele tempo em diante o gênero humano seria afligido pelas tentações de Satanás. Uma vida de perpétua labuta e ansiedade foi designada a Adão, em vez do alegre e feliz labor que tivera até então gozado. Estariam sujeitos ao desapontamento, pesares, dor, e finalmente à morte. Foram feitos do pó da terra, e ao pó deviam voltar. HR 40 3 Foram informados de que teriam que perder seu lar edênico. Tinham cedido aos enganos de Satanás e crido em suas palavras de que Deus mentira. Pela sua transgressão tinham aberto o caminho para Satanás ganhar mais fácil acesso a eles, e não era seguro permanecer no Jardim do Éden, pois em seu estado pecaminoso poderiam ter acesso à árvore da vida e perpetuar uma vida de pecados. Suplicaram que lhes fosse permitido permanecer, embora reconhecessem terem perdido todo o direito ao abençoado Éden. Prometeram que no futuro renderiam implícita obediência a Deus. Foi-lhes dito que de sua queda da inocência para a culpa tinha resultado não força, mas grande fraqueza. Não tinham preservado a integridade de quando viviam no estado de santa e feliz inocência, e agora em estado de culpa consciente tinham menos poder para permanecer verdadeiros e leais. Ficaram cheios da mais penetrante angústia e remorso, e agora sentiram que o castigo do pecado era a morte. HR 41 1 Anjos foram imediatamente comissionados para guardarem o caminho da árvore da vida. Era estudado plano de Satanás que Adão e Eva desobedecessem a Deus, recebessem Sua desaprovação, e então participassem da árvore da vida de modo que perpetuassem uma vida de pecado. Mas, santos anjos foram enviados para vigiar o caminho da árvore da vida. Em redor desses anjos chamejavam raios de luz, tendo a aparência de espadas inflamadas. ------------------------Capítulo 5 -- O plano da salvação HR 42 1 O céu encheu-se de tristeza quando se compreendeu que o homem estava perdido, e que o mundo que Deus criara deveria encher-se de mortais condenados à miséria, enfermidade e morte, e não haveria um meio de livramento para o transgressor. A família inteira de Adão deveria morrer. Vi o adorável Jesus, e contemplei uma expressão de simpatia e tristeza em Seu rosto. Logo eu O vi aproximar-Se da luz extraordinariamente brilhante que cercava o Pai. Disse meu anjo assistente: Ele está em conversa íntima com o Pai. A ansiedade dos anjos parecia ser intensa enquanto Jesus Se comunicava com Seu Pai. Três vezes foi encerrado pela luz gloriosa que havia em redor do Pai; e na terceira vez Ele veio de Seu Pai, e podia-se ver a Sua pessoa. Seu semblante estava calmo, livre de toda a perplexidade e inquietação, e resplandecia de benevolência e amabilidade, tais como não podem exprimir as palavras. HR 42 2 Fez então saber à hoste angélica que um meio de livramento fora estabelecido para o homem perdido. Dissera-lhes que estivera a pleitear com Seu Pai, e oferecera-Se para dar Sua vida como resgate, e tomar sobre Si a sentença de morte, a fim de que por meio dEle o homem pudesse encontrar perdão; que pelos méritos de Seu sangue, e obediência à lei divina, ele poderia ter o favor de Deus, e ser trazido para o belo jardim e comer do fruto da árvore da vida. HR 43 1 A princípio os anjos não puderam regozijar-se, pois seu Comandante nada escondeu deles, mas desvendou-lhes o plano da salvação. Jesus lhes disse que ficaria entre a ira de Seu Pai e o homem culpado, que Ele arrostaria a iniqüidade e o escárnio, e que poucos apenas O receberiam como o Filho de Deus. Quase todos O odiariam e rejeitariam. Ele deixaria toda a Sua glória no Céu, apareceria na Terra como um homem, humilhar-Se-ia como um homem, familiarizar-Se-ia pela Sua própria experiência com as várias tentações com que o homem seria assediado, a fim de que pudesse saber como socorrer os que fossem tentados; e que, finalmente, depois que Sua missão como ensinador se cumprisse, seria entregue nas mãos dos homens, e suportaria quantas crueldades e sofrimentos Satanás e seus anjos pudessem inspirar ímpios homens a infligir; que Ele morreria a mais cruel das mortes, suspenso entre o céu e a terra, como um pecador criminoso; que sofreria terríveis horas de agonia, com que o sofrimento físico de nenhuma maneira se poderia comparar. O peso dos pecados do mundo inteiro estaria sobre Ele. Disse-lhes que morreria, e ressuscitaria no terceiro dia, e ascenderia a Seu Pai para interceder pelo homem transviado e culposo. Um meio possível de salvação HR 43 2 Os anjos prostraram-se diante dEle. Ofereceram suas vidas. Jesus lhes disse que pela Sua morte salvaria a muitos; que a vida de um anjo não poderia pagar a dívida. Sua vida unicamente poderia ser aceita por Seu Pai como resgate pelo homem. Jesus também lhes disse que teriam uma parte a desempenhar -- estar com Ele, e O fortalecer em várias ocasiões. Que Ele tomaria a natureza decaída do homem, e Sua força não seria nem mesmo igual à deles. E seriam testemunhas de Sua humilhação e grandes sofrimentos. E, ao testemunharem Seus sofrimentos e o ódio dos homens para com Ele, agitar-se-iam pelas mais profundas emoções, e pelo seu amor para com Ele desejariam livrá-Lo, libertá-Lo de Seus assassinos; mas que não deveriam intervir para impedir qualquer coisa que vissem; e que desempenhariam uma parte em Sua ressurreição; que o plano da salvação estava ideado, e Seu Pai aceitaria esse plano. HR 44 1 Com santa tristeza Jesus consolou e animou os anjos, e os informou de que dali em diante aqueles que Ele remisse estariam com Ele, e com Ele sempre morariam; e que pela Sua morte resgataria a muitos, e destruiria aquele que tinha o poder da morte. E Seu Pai Lhe daria o reino, e a grandeza do reino sob todo o Céu, e Ele o possuiria para todo o sempre. Satanás e os pecadores seriam destruídos para nunca mais perturbarem o Céu, ou a nova Terra purificada. Jesus ordenou que o exército celestial se conformasse com o plano que Seu Pai aceitara, e se regozijassem de que o homem decaído de novo pudesse ser exaltado mediante a Sua morte, a fim de obter o favor de Deus e gozar o Céu. HR 44 2 Então a alegria, inexprimível alegria, encheu os Céus. E a hoste celestial cantou um cântico de louvor e adoração. Tocaram harpas e cantaram em tom mais alto do que o tinham feito antes, pela grande misericórdia e condescendência de Deus, entregando o Seu mui amado para morrer por uma raça de rebeldes. Derramaram-se louvor e adoração pela abnegação e sacrifício de Jesus; por consentir Ele em deixar o seio de Seu Pai e optar por uma vida de sofrimento e angústia, e morrer uma morte ignominiosa a fim de dar Sua vida por outros. HR 45 1 Disse meu anjo assistente: Pensais que o Pai entregou Seu mui amado Filho sem esforço? Não, absolutamente. Foi mesmo uma luta, para o Deus do Céu, decidir se deixaria o homem culpado perecer, ou dar Seu amado Filho para morrer por ele. Os anjos estavam tão interessados na salvação do homem que se podiam encontrar entre eles os que deixariam sua glória e dariam a vida pelo homem que ia perecer. Mas, disse o anjo, isto nada adiantaria. A transgressão era tão grande que a vida de um anjo não pagaria a dívida. Nada a não ser a morte e intercessão de Seu Filho pagaria essa dívida, e salvaria o homem perdido da tristeza e miséria sem esperanças. HR 45 2 Mas foi aos anjos designada a obra de subirem e descerem com bálsamo fortalecedor, trazido da glória, a fim de mitigar ao Filho do homem os Seus sofrimentos, e ministrar-Lhe. Seria também sua obra proteger e guardar os súditos da graça, contra os anjos maus e as trevas que constantemente Satanás arremessa em redor deles. Vi que era impossível a Deus alterar ou mudar Sua lei, para salvar o homem perdido, e que ia perecer; portanto, Ele consentiu em que Seu amado Filho morresse pela transgressão do homem. HR 45 3 Satanás de novo regozijou-se com seus anjos de que, ocasionando a queda do homem, pudesse ele retirar o Filho de Deus de Sua exaltada posição. Disse a seus anjos que, quando Jesus tomasse a natureza do homem decaído, poderia derrotá-Lo, e impedir a realização do plano da salvação. HR 45 4 Foi-me então mostrado Satanás como havia sido: um anjo feliz e elevado. Em seguida ele foi-me mostrado como se acha agora. Ainda tem formas régias. Suas feições ainda são nobres, pois é um anjo, ainda que decaído. Mas a expressão de seu rosto está cheia de ansiedade, cuidados, infelicidade, maldade, ódio, nocividade, engano e todo mal. Aquele semblante que fora tão nobre, notei-o particularmente. Sua fronte, logo acima dos olhos, começava a recuar. Vi que ele se havia aviltado durante tanto tempo que toda a boa qualidade se rebaixara, e todo o mau traço se desenvolvera. Seu olhar era astuto e dissimulado, e mostrava grande penetração. Sua constituição era ampla; mas a carne lhe pendia frouxamente nas mãos e no rosto. Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e dissimulação satânica era ele. Este sorriso é o que ele tem precisamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível. HR 46 1 Em humilde e inexprimível tristeza Adão e Eva deixaram o aprazível jardim onde tinham sido tão felizes antes de sua desobediência aos mandamentos de Deus. A atmosfera estava mudada. Não era mais invariável como antes da transgressão. Deus vestiu-os com roupas de pele para protegê-los da sensação de frio e calor a que estavam expostos. A imutável lei de Deus HR 46 2 Todo o Céu pranteou como resultado da desobediência e queda de Adão e Eva, a qual trouxe a ira de Deus sobre a raça humana. Foram cortados da comunicação com Deus e precipitados em desesperadora miséria. A lei de Deus não podia ser mudada para atender as necessidades humanas, pois no planejamento divino ela jamais iria perder a sua força nem dispensar a mínima parte de seus reclamos. HR 46 3 Os anjos de Deus foram comissionados a visitar o decaído par e informá-los de que embora não pudessem mais reter a posse de seu estado santo, seu lar edênico, por causa da transgressão da lei de Deus, seu caso não era, contudo, sem esperança. Foram então informados de que o Filho de Deus, que conversara com eles no Éden, fora tocado de piedade ao contemplar sua desesperada condição, e voluntariamente tomara sobre Si a punição devida a eles, e morreria para que o homem pudesse viver, mediante a fé na expiação que Cristo propôs fazer por ele. Mediante Cristo a porta da esperança estava aberta, para que o homem, não obstante seu grande pecado, não ficasse sob o absoluto controle de Satanás. A fé nos méritos do Filho de Deus elevaria o homem de tal maneira que ele poderia resistir aos enganos de Satanás. Um período de graça ser-lhe-ia concedido pelo qual, mediante uma vida de arrependimento e fé na expiação do Filho de Deus, ele pudesse ser redimido de sua transgressão da lei do Pai, e assim ser elevado a uma posição em que seus esforços para guardar Sua lei fossem aceitos. HR 47 1 Os anjos relataram-lhes a tristeza que sentiram no Céu, quando foi anunciado que eles tinham transgredido a lei de Deus, o que tornou necessário que Cristo fizesse o grande sacrifício de Sua própria preciosa vida. HR 47 2 Quando Adão e Eva compreenderam quão exaltada e sagrada era a lei de Deus, cuja transgressão fez necessário um dispendioso sacrifício para salvá-los e a sua posteridade da ruína total, pleitearam sua própria morte, ou que eles e sua posteridade fossem deixados a sofrer a punição de sua transgressão, de preferência a que o amado Filho de Deus fizesse este grande sacrifício. A angústia de Adão aumentou. Viu que seus pecados eram de tão grande magnitude que envolviam terríveis conseqüências. Seria possível que o honrado Comandante celestial, que tinha andado com ele e com ele conversado quando de sua santa inocência, a quem os anjos honravam e adoravam, seria possível que Ele tivesse de Se rebaixar de Sua exaltada posição para morrer por causa da transgressão dele? HR 48 1 Adão foi informado de que a vida de um anjo não podia pagar o seu débito. A lei de Jeová, o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra, era tão sagrada como Ele próprio; e por esta razão a vida de um anjo não podia ser aceita por Deus como sacrifício por sua transgressão. Sua lei é mais importante a Seus olhos, do que os santos anjos ao redor de Seu trono. O Pai não podia abolir nem mudar um preceito de Sua lei para socorrer o homem em sua condição perdida. Mas, o Filho de Deus, que em associação com o Pai criara o homem, podia fazer pelo homem uma expiação aceitável a Deus, dando Sua vida em sacrifício e arrostando a ira de Seu Pai. Os anjos informaram a Adão que, como sua transgressão tinha produzido morte e infelicidade, vida e imortalidade seriam produzidas mediante o sacrifício de Jesus Cristo. Uma visão do futuro HR 48 2 A Adão foram revelados importantes eventos futuros, de sua expulsão do Éden ao dilúvio e progressivamente até o primeiro advento de Cristo sobre a Terra; Seu amor por Adão e sua posteridade levaria o Filho de Deus a condescender em tomar a natureza humana, e assim elevar, mediante Sua própria humilhação, todos aqueles que nEle cressem. Tal sacrifício era de suficiente valor para salvar o mundo inteiro; mas apenas uns poucos se beneficiariam da salvação a eles levada por um tão maravilhoso sacrifício. Muitos não se satisfariam com as condições requeridas deles para serem participantes de Sua grande salvação. Eles prefeririam o pecado e transgressão da lei de Deus antes que arrependimento e obediência, confiando pela fé nos méritos do sacrifício oferecido. Este sacrifício era de um valor tão infinito que tornava o homem que dele se prevalecesse, mais precioso do que o ouro fino, mais precioso mesmo que uma cunha de ouro de Ofir. HR 49 1 Adão foi transportado através de sucessivas gerações e viu o incremento do crime, da culpa e degradação, porque o homem render-se-ia às sua fortes inclinações naturais para transgredir a santa lei de Deus. Foi-lhe mostrada a maldição de Deus caindo cada vez mais pesadamente sobre a raça humana, sobre os animais e sobre a Terra, por causa da contínua transgressão do homem. Viu que a iniqüidade e a violência aumentariam constantemente; contudo em meio a toda maré da miséria e infortúnio humanos, existiram sempre uns poucos que preservariam o conhecimento de Deus e permaneceriam imaculados em meio à degeneração moral prevalecente. Adão foi levado a compreender o que o pecado é: transgressão da lei. Foi-lhe mostrado que a degenerescência moral, mental e física seria para a raça o resultado da transgressão, até que o mundo se encheria com a miséria humana de toda espécie. HR 49 2 Os dias do homem foram encurtados por seu próprio curso de pecados na transgressão da justa lei de Deus. A raça foi afinal tão grandemente rebaixada que parecia inferior e quase sem valor. Os homens foram em geral incapazes de apreciar o mistério do Calvário, os grandes e elevados fatos da expiação, e o plano da salvação, por causa da condescendência da mente carnal. Contudo, não obstante a debilidade, e enfraquecimento do poder mental, moral e físico da raça humana, Cristo, fiel ao propósito pelo qual deixara o Céu, mantém o Seu interesse pelos fracos, desvalidos e degenerados espécimes de humanidade, e convida-os a ocultar nEle suas fraquezas e grandes deficiências. Se vierem a Ele, Ele suprirá todas as suas necessidades. A oferta sacrifical HR 50 1 Quando Adão, de acordo com as especiais determinações de Deus, fez uma oferta pelo pecado, isto foi para ele a mais penosa cerimônia. Sua mão devia levantar-se para tirar a vida, que somente Deus podia dar, e fazer uma oferta pelo pecado. Pela primeira vez teria de testemunhar a morte. Ao olhar para a vítima ensangüentada, contorcendo-se nas agonias da morte, ele devia contemplar pela fé o Filho de Deus, a quem a vítima prefigurava, e que devia morrer em sacrifício pelo homem. HR 50 2 Esta oferta cerimonial, ordenada por Deus, devia ser para Adão, uma perpétua recordação de sua culpa, e também um penitente reconhecimento de seu pecado. Este ato de tomar a vida deu a Adão um profundo e mais perfeito senso de sua transgressão, que nada menos que a morte do amado Filho de Deus podia expiar. Maravilhou-se ante a infinita bondade e incomparável amor que podia dar tal resgate para salvar o culpado. Ao matar Adão a inocente vítima, pareceu-lhe estar derramando o sangue do Filho de Deus por sua própria mão. Sabia que se tivesse permanecido firme em Deus e leal à Sua santa lei, não teria existido a morte de animais nem de homens. Todavia, nas ofertas sacrificais, que apontavam para a grande e perfeita oferta do amado Filho de Deus, aparecia a estrela da esperança para iluminar o escuro e terrível futuro e aliviá-los desta completa desesperança e ruína. HR 50 3 No começo, o chefe de cada família era considerado governador e sacerdote de sua própria casa. Depois, ao multiplicar-se a raça sobre a Terra, homens divinamente apontados realizaram este solene culto de sacrifício pelo povo. O sangue dos animais devia ser associado na mente dos pecadores com o sangue do Filho de Deus. A morte da vítima devia evidenciar a todos que o castigo do pecado era a morte. Pelo ato do sacrifício o pecador reconhecia sua culpa e manifestava sua fé, olhando para o grande e perfeito sacrifício do Filho de Deus, que as ofertas de animais prefiguravam. Sem a expiação do Filho de Deus não poderia haver comunicação de bênçãos ou salvação de Deus ao homem. Deus tinha zelo pela honra de Sua lei. A transgressão desta lei causou uma terrível separação entre Deus e o homem. A Adão em sua inocência fora assegurada comunhão, direta, livre e feliz, com seu Criador. Depois de sua transgressão Deus Se comunicaria com o homem mediante Cristo e os anjos. ------------------------Capítulo 6 -- Caim e Abel e suas ofertas HR 52 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 4:1-15. HR 52 1 Caim e Abel, filhos de Adão, diferiam grandemente em caráter. Abel temia a Deus. Caim acariciava sentimentos de rebeldia e murmurava contra Deus por causa da maldição pronunciada sobre Adão e porque fora a Terra amaldiçoada por seu pecado. Estes irmãos tinham sido instruídos com respeito à provisão feita para a salvação da raça humana. Deles era requerido que praticassem um sistema de humilde obediência, mostrando sua reverência a Deus e sua fé no Redentor prometido e dependência dEle, mediante o sacrifício dos primogênitos do rebanho e sua solene apresentação, com o sangue, como uma oferta queimada a Deus. Este sacrifício devia levá-los a ter sempre em mente o seu pecado e o Redentor por vir, o qual devia ser o grande sacrifício pelo homem. HR 52 2 Caim trouxe suas ofertas perante o Senhor com murmuração e infidelidade no coração em referência ao Sacrifício prometido. Ele não estava disposto a seguir estritamente o plano de obediência e procurar um cordeiro e oferecê-lo com os frutos da terra. Meramente tomou dos frutos da terra e desrespeitou as exigências de Deus. Deus tinha feito saber a Adão que sem o derramamento de sangue não podia haver remissão de pecados. Caim não estava preocupado em trazer nem mesmo o melhor dos frutos. Abel aconselhou a seu irmão que não viesse diante do Senhor sem o sangue do sacrifício. Caim, sendo o primogênito, não quis ouvir a seu irmão. Desprezou seu conselho, e com dúvida e murmuração com respeito à necessidade das ofertas cerimoniais, apresentou sua oferta. Mas Deus não a aceitou. HR 53 1 Abel trouxe dos primogênitos de seu rebanho e da gordura, como Deus tinha ordenado; e cheio de fé no Messias por vir, e com humilde reverência, apresentou a sua oferta. Deus aceitou a sua oferta. Uma luz brilhou do Céu e consumiu a oferta de Abel. Caim não viu manifestação de que a sua era aceita. Irou-se com o Senhor e com seu irmão. Deus condescendeu em mandar um anjo para conversar com ele. HR 53 2 O anjo inquiriu quanto à razão de sua ira, e informou-o de que se ele fizesse o bem e seguisse as orientações que Deus tinha dado, Ele o aceitaria e estimaria sua oferta. Mas se não se submetesse humildemente aos planos de Deus, crendo e obedecendo, Ele não podia aceitar sua oferta. O anjo declarou a Caim que isto não era injustiça da parte de Deus, ou parcialidade mostrada para com Abel, mas que era em virtude de seu próprio pecado e desobediência da expressa ordem de Deus, que Ele não podia aceitar sua oferta; e se fizesse o bem seria aceito por Deus, e seu irmão lhe daria ouvidos, e o guiaria, porque era o mais velho. HR 53 3 Mas mesmo depois de ser assim fielmente instruído, Caim não se arrependeu. Em vez de censurar-se e aborrecer-se por sua incredulidade, ainda se queixou da injustiça e parcialidade de Deus. E em sua inveja e ódio, contendeu com Abel e o reprovou. Abel mansamente apontou o erro de seu irmão e mostrou que o equivocado era ele próprio. Caim porém, odiou a seu irmão desde o momento em que Deus lhe manifestou as provas de Sua aceitação. Seu irmão Abel procurou apaziguar-lhe a ira, mostrando que houve compaixão de Deus em salvar a vida de seus pais, quando podia ter trazido sobre eles morte imediata. Disse a Caim que Deus os amava, ou não teria dado Seu Filho, inocente e santo, para sofrer a ira de que o homem, pela sua desobediência, era merecedor. Os prenúncios da morte HR 54 1 Enquanto Abel justificava o plano de Deus, Caim tornou-se enraivecido, e sua ira cresceu e ardeu contra Abel até que em sua raiva o matou. Deus o inquiriu a respeito de seu irmão, e Caim proferiu uma culposa falsidade: "Não sei: sou eu guardador de meu irmão?" Deus informou a Caim que sabia a respeito de seu pecado -- que estava informado de todos os seus atos, mesmo os pensamentos de seu coração, e disse-lhe: "A voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra. És agora, pois, maldito por sobre a terra cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela Terra." HR 54 2 A maldição sobre a terra a princípio tinha sido sentida apenas levemente; mas agora uma dupla maldição repousava sobre ela. Caim e Abel representam as duas classes, os justos e os ímpios, os crentes e os incrédulos, que deviam existir desde a queda do homem até o segundo advento de Cristo. O assassínio de Abel por seu irmão Caim, representa os ímpios que teriam inveja dos justos, odiando-os porque são melhores do que eles. Teriam inveja e perseguiriam os justos e os arrastariam à morte, porque seu reto proceder lhes condenava a conduta pecaminosa. HR 55 1 A vida de Adão foi de um triste, humilde e contínuo arrependimento. Quando ensinava seus filhos e netos a temerem o Senhor, era com freqüência amargamente reprovado por seu pecado, de que resultara tanta miséria sobre sua posteridade. Quando deixou o belo Éden, o pensamento de que ele deveria morrer fazia-o estremecer de horror. Olhava para a morte como uma terrível calamidade. Foi primeiro familiarizado com a horrível realidade da morte na família humana, pelo seu próprio filho Caim ao matar seu irmão Abel. Cheio de amargo remorso por sua própria transgressão e privado de seu filho Abel, olhando a Caim como um assassino, e conhecendo a maldição que Deus pronunciara sobre ele, o coração de Adão quebrantou-se de dor. Muito amargamente ele se reprovou por sua primeira grande transgressão. Suplicou o perdão de Deus mediante o Sacrifício prometido. Profundamente havia ele sentido a ira de Deus pelo crime cometido no Paraíso. Testemunhou a corrupção geral que mais tarde finalmente forçou Deus a destruir os habitantes da Terra por um dilúvio. A sentença de morte pronunciada sobre ele por seu Criador, que a princípio lhe pareceu tão terrível, depois que ele viveu algumas centenas de anos, parecia justa e misericordiosa em Deus, pois trazia o fim a uma vida miserável. HR 55 2 Ao testemunhar Adão os primeiros sinais da decadência da Natureza com o cair das folhas e o murchar das flores, chorou mais sentidamente do que os homens hoje choram os seus mortos. As flores murchas não eram a razão maior do desgosto, visto serem tenras e delicadas; mas as altaneiras, nobres e robustas árvores arremessando suas folhas e apodrecendo, apresentavam diante dele a dissolução geral da linda Natureza, que Deus criara para especial benefício do homem. HR 55 3 Para seus filhos e os filhos deles, até a nona geração, ele descrevia a perfeição de seu lar edênico, e também sua queda e seus terríveis resultados, e a carga de pesar que veio sobre ele, em conseqüência da ruptura em sua família, que redundou na morte de Abel. Referiu-lhes os sofrimentos que Deus tinha trazido sobre ele, para ensinar-lhe a necessidade de estrito apego à Sua lei. Declarou que o pecado seria punido, em qualquer forma que existisse. Instou com eles para que obedecessem a Deus, que os trataria misericordiosamente, se O amassem e temessem. HR 56 1 Os anjos mantinham comunicação com Adão depois da queda, e informaram-no do plano da salvação, e que a raça humana não estava além da redenção. Embora a terrível separação que tivera lugar entre Deus e o homem, uma providência tinha sido tomada mediante o oferecimento de Seu amado Filho, pela qual o homem podia ser salvo. Mas, sua única esperança estava numa vida de humilde arrependimento e fé na provisão feita. Todos os que aceitassem a Cristo como seu único Salvador, seriam de novo colocados no favor de Deus mediante os méritos de Seu Filho. ------------------------Capítulo 7 -- Sete e Enoque HR 57 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 4:25, 26; 5:3-8, 18-24; Judas 14, 15. HR 57 1 Sete tinha um caráter digno, e devia tomar o lugar de Abel em reto proceder. Contudo era filho de Adão, como o pecaminoso Caim, e não herdou da natureza de Adão mais bondade natural do que Caim herdara. Nasceu em pecado, mas pela graça de Deus, e recebendo os fiéis ensinamentos de seu pai Adão, honrou a Deus, fazendo Sua vontade. Separou-se dos corruptos descendentes de Caim e lutou, como teria feito Abel caso vivesse, para volver a mente dos homens pecadores à reverência e obediência a Deus. HR 57 2 Enoque era um santo homem. Servia a Deus com singeleza de coração. Compreendeu a corrupção da família humana e separou-se dos descendentes de Caim, reprovando-os por sua grande maldade. Existiam na Terra aqueles que reconheciam a Deus, e O temiam e adoravam. Mas o justo Enoque era tão afligido pelo crescente mal da impiedade, que não se associava com eles diariamente, temendo ser afetado por sua infidelidade e que seus pensamentos não considerassem a Deus com a santa reverência que era devida ao Seu exaltado caráter. Sua alma se agitava ao testemunhar diariamente como pisavam a autoridade de Deus. Decidiu separar-se deles e gastar muito de seu tempo em solidão, a qual devotava à reflexão e oração. Ele esperava diante do Senhor e orava para conhecer Sua vontade mais perfeitamente, para poder realizá-la. Deus comunicava-Se com Enoque mediante Seus anjos, dando-lhe instrução divina. Fez-lhe saber que não suportaria para sempre a rebelião do homem -- que Seu propósito era destruir a raça pecadora trazendo um dilúvio de água sobre a Terra. HR 58 1 O puro e amável Jardim do Éden, de onde nossos primeiros pais foram expulsos, permaneceu até que Deus Se propôs destruir a Terra pelo dilúvio. Deus plantara o jardim e o abençoara especialmente, e em Sua maravilhosa providência removeu-o da Terra, e o fará voltar outra vez à Terra, mais gloriosamente adornado do que antes de ser removido. Deus Se propôs preservar um espécime de Sua perfeita obra criadora livre da maldição com que amaldiçoara a Terra. HR 58 2 O Senhor abriu mais amplamente para Enoque o plano da salvação, e pelo Espírito de Profecia transportou-o através das gerações que viveriam depois do dilúvio, e mostrou-lhe os grandes eventos relacionados com o segundo advento de Cristo e o fim do mundo. Judas 14. HR 58 3 Enoque estivera perturbado com respeito aos mortos. Parecia-lhe que os justos e os ímpios iriam para o pó juntamente, e que este seria o seu fim. Não podia ver claramente a vida do justo além da sepultura. Em visão profética foi instruído com relação ao Filho de Deus que devia morrer como sacrifício pelo homem, e foi-lhe mostrada a vinda de Cristo nas nuvens do céu, acompanhado pela hoste angélica, a fim de dar vida aos justos mortos e resgatá-los de sua sepultura. Viu também o estado corrupto do mundo, no tempo em que Cristo apareceria pela segunda vez -- que haveria uma geração jactanciosa, presumida, voluntariosa, arregimentada em rebelião contra a lei de Deus, e negando o único Senhor Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, pisando o Seu sangue e desprezando Sua expiação. Viu os justos coroados de glória e honra, e os ímpios banidos da presença do Senhor, e destruídos pelo fogo. HR 59 1 Enoque fielmente transmitiu ao povo tudo o que Deus lhe havia revelado pelo Espírito de Profecia. Alguns creram nas suas palavras e volveram de sua maldade para temer e adorar a Deus. Trasladação de Enoque HR 59 2 Enoque continuou a tornar-se mais piedoso enquanto se comunicava com Deus. Sua face era radiante com a santa luz que permanecia em sua fisionomia enquanto instruía aqueles que vinham para ouvir suas sábias palavras. Sua aparência digna e celestial infundia às pessoas reverência. O Senhor amava a Enoque porque ele firmemente O seguia, aborrecendo a iniquidade, e fervorosamente buscava conhecimento celestial, para fazer Sua vontade com perfeição. Ele anelava unir-se ainda mais estreitamente com Deus, a quem temia, reverenciava e adorava. Deus não permitiu a Enoque morrer como outros homens, mas enviou Seus anjos para levá-lo ao Céu sem ver a morte. Na presença de justos e ímpios Enoque foi removido deles. Aqueles que o amavam pensaram que Deus pudesse tê-lo deixado em algum de seus lugares de retiro, porém, depois de procurarem diligentemente por ele, e sendo incapazes de achá-lo, disseram que não se acharia mais, porque Deus o tomara. HR 59 3 O Senhor ensina aqui uma lição da maior importância pela trasladação de Enoque -- um descendente do decaído Adão -- que seriam recompensados todos que pela fé confiassem no sacrifício prometido e fielmente obedecessem a Seus mandamentos. Duas classes são aqui outra vez representadas como devendo existir até o segundo advento de Cristo -- os justos e os ímpios, os rebeldes e os leais. Deus Se lembrará dos justos, que O temem. Em consideração a Seu amado Filho Ele os estimará e honrará dando-lhes a vida eterna. Mas os ímpios, aqueles que pisam Sua autoridade, Ele os cortará da Terra e os destruirá e serão como se nunca tivessem existido. HR 60 1 Depois da queda de Adão de um estado de perfeita felicidade para um estado de infelicidade e pecado, havia o perigo de os homens se tornarem desencorajados e inquirirem: "Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos guardado os Seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos" (Malaquias 3:14), uma vez que a maldição celeste repousa sobre a raça humana, e a morte é a porção de todos nós? Mas as instruções que Deus dera a Adão, e que foram repetidas a Sete e plenamente exemplificadas por Enoque iluminaram o caminho de trevas e escuridão, dando esperança ao homem, de que como por meio de Adão veio a morte, mediante Jesus, o Redentor prometido, viria vida e imortalidade. HR 60 2 No caso de Enoque os descoroçoados fiéis foram ensinados que, embora vivendo entre pessoas corruptas e pecadoras, que estavam em aberta e ousada rebelião contra Deus, seu Criador, contudo se Lhe obedecessem e tivessem fé no Redentor prometido, eles podiam proceder com justiça como o fiel Enoque, serem aceitos por Deus, e finalmente exaltados ao Seu trono celestial. HR 60 3 Enoque, separando-se do mundo, e gastando muito de seu tempo em oração e comunhão com Deus, representa o leal povo de Deus nos últimos dias, que há de se separar do mundo. A injustiça deverá prevalecer em terrível extensão sobre a Terra. Os homens se dedicarão a seguir toda imaginação de seu corrupto coração e levar a cabo sua enganosa filosofia e rebelião contra a autoridade dos altos Céus. HR 61 1 O povo de Deus separar-se-á das práticas injustas dos que os rodeiam e procurará a pureza de pensamentos e santa conformidade com Sua vontade, até que Sua divina imagem seja refletida neles. Como Enoque, estarão se preparando para a trasladação ao Céu. Enquanto se esforçam para instruir e advertir o mundo, eles não se conformarão ao espírito e costumes dos descrentes, mas os condenarão por meio de seu santo procedimento e piedoso exemplo. A trasladação de Enoque para o Céu pouco antes da destruição do mundo pelo dilúvio, representa a trasladação de todos os justos vivos da Terra antes da destruição desta pelo fogo. Os santos serão glorificados na presença daqueles que os odiaram por sua leal obediência aos justos mandamentos de Deus. ------------------------Capítulo 8 -- O dilúvio HR 62 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 6-8; 9:8-17. HR 62 1 Os descendentes de Sete foram chamados filhos de Deus; os descendentes de Caim, filhos dos homens. Como os filhos de Deus se misturassem com os filhos dos homens, tornaram-se corruptos e, pela união em casamento com eles, perderam, mediante a influência de suas esposas, seu peculiar e santo caráter, e uniram-se com os filhos de Caim em sua idolatria. Muitos puseram de lado o temor de Deus e pisaram Seus mandamentos. Mas havia uns poucos que praticavam a justiça, que temiam e honravam ao seu Criador. Noé e sua família estavam entre estes poucos justos. HR 62 2 A maldade do homem era tão grande, e aumentou a um ponto tão terrível, que Deus Se arrependeu de ter criado o homem sobre a Terra, pois viu que a maldade do homem era grande, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente. HR 62 3 Mais de uma centena de anos antes do dilúvio o Senhor mandou um anjo ao fiel Noé para fazê-lo saber, que Ele não mais teria misericórdia da raça corrupta. Mas não queria que ignorassem o Seu desígnio. Instruiria a Noé e faria dele um fiel pregador para advertir o mundo da breve destruição, para que os habitantes da Terra ficassem sem escusas. Noé devia pregar ao povo, e também preparar uma arca como Deus lhe ia mostrar, para salvar a si e sua família. Não devia apenas pregar, mas seu exemplo em construir a arca devia convencer a todos de que ele cria no que pregava. HR 63 1 Noé e sua família não estavam sozinhos em temer e obedecer a Deus. Mas Noé era o mais piedoso e santo de todos sobre a Terra, e foi aquele cuja vida Deus preservou para levar a cabo a construção da arca e para advertir o mundo de sua condenação por vir. Matusalém, o avô de Noé, viveu até o próprio ano do dilúvio; houve outros que creram na pregação de Noé e o ajudaram na construção da arca, os quais morreram antes do dilúvio de águas vir sobre a Terra. Noé, pela sua pregação e exemplo em construir a arca, condenou o mundo. HR 63 2 Deus deu a todos que desejassem a oportunidade de arrepender-se e voltar-se para Ele. Mas não creram na pregação de Noé. Zombaram de suas advertências e ridicularizaram a construção daquele imenso navio em terra seca. Os esforços de Noé para reformar seus compatriotas não tiveram êxito. Mas, por mais de cem anos ele perseverou em seus esforços para que os homens se arrependessem e voltassem a Deus. Cada pancada desferida sobre a arca pregava para o povo. Noé dirigia, pregava e trabalhava, enquanto o povo olhava com espanto e o considerava um fanático. Construindo a arca HR 63 3 Deus deu a Noé as dimensões exatas da arca, e instruções explícitas com relação à sua construção em todos os pormenores. Em muitos sentidos ela não foi feita como um navio, mas preparada como uma casa; a base como um casco que pudesse flutuar sobre a água. Não existiam janelas nos lados da arca. Tinha três andares e a luz era recebida de uma janela na cobertura. A porta ficava ao lado. Os diferentes compartimentos para a recepção de diferentes animais foram feitos de maneira que a janela do alto iluminasse a todos. A arca foi feita de cipreste ou madeira de Gofer, a qual estaria isenta de apodrecimento por centenas de anos. Era uma construção de grande durabilidade, que nenhuma sabedoria de homem poderia inventar. Deus fora o planejador, e Noé o construtor-chefe. HR 64 1 Depois de Noé ter feito tudo ao seu alcance para fazer corretamente cada parte do trabalho, era impossível que ela pudesse por si mesma resistir à violência da tempestade que Deus em Sua ardente ira ia trazer sobre a Terra. O trabalho de acabamento da construção foi um processo lento. Cada peça de madeira foi cuidadosamente ajustada e todas as juntas cobertas com piche. Tudo o que o homem podia fazer se fez, para tornar perfeito o trabalho; e, afinal, depois de tudo isto, unicamente Deus podia preservar a construção sobre furiosas e altas ondas, pelo Seu miraculoso poder. HR 64 2 A multidão a princípio aparentemente recebeu a advertência de Noé, todavia não se voltou para Deus em verdadeiro arrependimento. Houve algum tempo a eles dado antes que o dilúvio viesse, no qual foram colocados em graça -- para serem provados e testados. Falharam em suportar a prova. A degeneração prevalecente venceu-os, e finalmente se uniram aos outros que eram corruptos, em escárnio e zombaria ao fiel Noé. Não quiseram abandonar seus pecados e continuaram na poligamia e condescendentes com suas paixões corrompidas. HR 64 3 Seu período de graça estava se aproximando do fim. Os descrentes e escarnecedores habitantes do mundo iam ter um sinal especial do divino poder de Deus. Noé tinha seguido fielmente as instruções dadas por Deus. A arca fora concluída exatamente como Deus ordenara. Ele tinha estocado imensas quantidades de alimento para homens e animais. Depois que isto fora feito, Deus ordenou ao fiel Noé: "Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de Mim no meio desta geração." Os animais entram na arca HR 65 1 Anjos foram mandados a recolher das florestas e campos os animais que Deus havia criado. Os anjos foram adiante desses animais, e eles os seguiram, dois a dois, macho e fêmea, e os animais limpos em porção de sete. Estes animais, desde os mais ferozes até os mais mansos e inofensivos, pacífica e solenemente marcharam para a arca. O céu parecia anuviado com pássaros de toda espécie. Eles vinham voando para a arca, dois a dois, macho e fêmea, e os pássaros limpos aos sete. O mundo olhava com admiração -- alguns com medo, mas eles tinham se tornado tão endurecidos pela rebelião que esta grande manifestação do poder de Deus teve apenas momentânea influência sobre eles. Por sete dias os animais foram entrando na arca, e Noé os dispunha nos lugares preparados para eles. HR 65 2 Ao contemplar a raça condenada, o Sol a resplandecer em sua glória, e a Terra vestida quase em edênica beleza, baniram seus temores crescentes com divertimento ruidoso, e, com suas ações de violência, pareciam convidar sobre si o castigo da ira de Deus, já despertada. HR 65 3 Tudo estava pronto para o fechamento da arca, o que não podia ter sido feito de dentro por Noé. Um anjo foi visto pela multidão escarnecedora descendo do Céu, vestido com luz deslumbrante semelhante a um relâmpago. Ele fechou a maciça porta, e então outra vez tomou seu caminho de volta para o Céu. HR 65 4 Sete dias esteve a família de Noé na arca antes que a chuva começasse a descer sobre a Terra. HR 66 1 Foi nesse tempo que eles fizeram as adaptações para a sua longa permanência, enquanto as águas estivessem sobre a Terra. E estes foram dias de divertimento blasfemo da multidão incrédula. Pensavam, porque a profecia de Noé não se cumprira imediatamente depois de sua entrada na arca, que ele estava enganado e que era impossível que o mundo pudesse ser destruído por um dilúvio. Antes disto não tinha havido chuva sobre a Terra. Um vapor erguia-se das águas, que Deus fazia voltar à noite como orvalho, para reviver a vegetação e levá-la a florescer. HR 66 2 Não obstante a solene exibição do poder de Deus que tinham testemunhado -- a inusitada ocorrência dos animais deixando as florestas e campos e entrando na arca, o anjo de Deus vestido de luz deslumbrante e em terrível majestade descendo do Céu e cerrando a porta -- ainda endureceram o coração e continuaram a divertir-se e zombar das notáveis manifestações do poder divino. A tempestade irrompe HR 66 3 Mas, ao oitavo dia o céu escureceu. O ribombo do trovão e o vívido resplendor dos relâmpagos começaram a terrificar os homens e animais. A chuva caía das nuvens sobre eles. Isto era algo que nunca tinham visto, e seu coração desmaiava de temor. Os animais vagueavam de um lado para outro no mais desenfreado terror, e seus gritos discordantes pareciam lamentar seu próprio destino e a sorte dos homens. A violência da tempestade aumentou até que a água parecia cair do céu como poderosas cataratas. As margens dos rios se rompiam, e as águas inundavam os vales. Os fundamentos do grande abismo também se partiram. Jatos de água irrompiam da terra com força indescritível, arremessando pedras maciças a muitos metros para o ar, que ao caírem, sepultavam-se profundamente no solo. HR 67 1 O povo viu a princípio a destruição das obras de suas mãos. Seus esplêndidos edifícios, e os belos jardins e bosques em que haviam colocado seus ídolos, eram destruídos pelos raios do céu, e as ruínas se espalhavam por toda parte. Tinham erigido altares nos bosques, consagrados aos seus ídolos, sobre os quais ofereciam sacrifícios humanos. Estas coisas que Deus detestava foram subvertidas em Sua ira perante eles, e eles tremiam ante o poder do Deus vivo, o Criador dos céus e da Terra; e foi-lhes feito saber que foram suas abominações e horríveis sacrifícios idólatras que haviam atraído a sua destruição. HR 67 2 A violência da tempestade aumentou, e misturados com a fúria dos elementos ouviam-se os lamentos das pessoas que desprezaram a autoridade de Deus. Árvores, edifícios, rochas e terra eram arrojados em toda direção. O terror do homem e dos animais era indescritível. O próprio Satanás, que fora obrigado a permanecer no meio dos elementos em fúria, temeu pela sua existência. Ele se havia deleitado em dirigir uma raça tão poderosa, e desejara que vivessem para praticar suas abominações, e aumentar sua rebelião contra o Deus do Céu. Proferia imprecações contra Deus, acusando-O de injustiça e crueldade. Muitos dentre o povo, como Satanás, blasfemavam de Deus, e, se pudessem levar a cabo sua rebelião, tirá-Lo-iam de Seu trono de justiça. HR 67 3 Enquanto muitos blasfemavam e amaldiçoavam seu Criador, outros, com frenético temor, estendendo as mãos para a arca, rogavam sua admissão ali. Mas, isto era impossível. Deus havia fechado a porta, a única entrada, e fechou Noé dentro e os ímpios fora. Somente Ele podia abrir a porta. O temor e arrependimento deles veio tarde demais. Foram compelidos a saber que havia um Deus vivo que era mais poderoso que o homem, a quem tinham desafiado e contra quem blasfemaram. Clamavam a Ele ferventemente, mas Seus ouvidos não estavam abertos a seu clamor. Alguns em seu desespero procuraram forçar a entrada na arca, porém a firme estrutura resistiu aos seus esforços. Alguns agarraram-se à arca até que foram arrebatados pelas águas revoltas, ou foi seu apego interrompido pela colisão com rochas e árvores, lançadas em toda direção. HR 68 1 Aqueles que haviam ignorado as advertências de Noé e ridicularizado o fiel pregador da justiça arrependeram-se demasiado tarde de sua descrença. A arca era severamente agitada e sacudida. Os animais, dentro, em suas variadas vozes, exprimiam medo selvagem; mas em meio a toda fúria dos elementos, a elevação das águas e o arremesso violento de pedras e árvores, a arca flutuava em segurança. Anjos magníficos em poder guiavam a arca preservando-a de danos. Cada momento durante a terrível tempestade de quarenta dias e quarenta noites a preservação da arca foi um milagre do Todo-poderoso. HR 68 2 Os animais, expostos à tempestade, corriam para os homens, buscando unir-se com os seres humanos, como a esperar deles auxílio. Alguns dentre o povo amarraram seus filhos e a si mesmos em cima de animais poderosos, sabendo que estes se apegariam à vida, e subiriam aos pontos mais altos para escaparem das águas que se elevavam. A tempestade não abrandou sua fúria -- as águas aumentaram mais rapidamente do que no começo. Alguns ataram-se a altas árvores sobre os elevados pontos da terra, mas, estas árvores foram desarraigadas e lançadas com violência através do ar como que arremessadas furiosamente, com pedras e terra, nas elevadas e encapeladas ondas. Sobre os mais elevados pontos seres humanos e animais lutavam para manter sua posição até que todos foram arremessados dentro das águas enfurecidas, que quase alcançavam os píncaros da Terra. Os pontos mais elevados foram afinal alcançados, e homens e animais igualmente pereceram pelas águas do dilúvio. HR 69 1 Noé e sua família ansiosamente esperaram o decrescimento das águas, pois almejavam sair de novo à terra. Ele soltou um corvo que voava da arca para fora e voltava para a arca. Não obtendo a informação que desejava, soltou uma pomba, que, não encontrando onde pousar, retornou à arca. Depois de sete dias a pomba foi novamente solta, e quando se viu em seu bico uma folha de oliveira, houve grande regozijo por parte desta família de oito pessoas, que tinha passado tão longo tempo fechada na arca. HR 69 2 Novamente um anjo desceu e abriu a porta da arca. Noé podia remover a cobertura, mas não podia abrir a porta que Deus fechara. Deus falou a Noé mediante o anjo que abriu a porta, e ordenou à sua família que saísse da arca tomando consigo todos os seres vivos. O sacrifício de Noé e a promessa de Deus HR 69 3 Noé não se esqueceu de Deus, que graciosamente os havia preservado, e imediatamente erigiu um altar, tomando de todo animal limpo e de toda ave limpa, para oferecer uma oferta queimada no altar, mostrando sua fé em Cristo, o grande sacrifício, e manifestando sua gratidão a Deus por Sua maravilhosa preservação. A oferta de Noé subiu a Deus como um cheiro suave. Ele aceitou a oferta e abençoou a Noé e sua família. Aqui uma lição é ensinada a todos os que vivem sobre a Terra: que a cada manifestação da misericórdia e amor de Deus para com eles, o primeiro ato de todos deve ser render-Lhe gratidão e humilde adoração. HR 70 1 Para que não acontecesse que a acumulação de nuvens e queda da chuva enchessem os homens de um terror constante, proveniente do medo de um outro dilúvio, o Senhor graciosamente encorajou a família de Noé com uma promessa: "Estabeleço a Minha aliança convosco: não será mais destruída toda carne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a Terra. Disse Deus: Este é o sinal da Minha aliança que faço entre Mim e vós, e entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações. Porei nas nuvens o Meu arco; será por sinal da aliança entre Mim e a Terra. Sucederá que, quando Eu trouxer nuvens sobre a Terra, e nelas aparecer o arco, então Me lembrarei da Minha aliança, firmada entre Mim e vós e todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em dilúvio para destruir toda carne. O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e Me lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a Terra." HR 70 2 Que condescendência da parte de Deus! Que compaixão pelo homem falível, colocar o belíssimo e variegado arco-íris nas nuvens, sinal do concerto do grande Deus com o homem! Este arco-íris devia tornar evidente a todas as gerações o fato de que Deus destruiu os habitantes da Terra por um dilúvio, por causa de sua grande maldade. Era o propósito de Deus que, quando os filhos das gerações posteriores vissem o arco-íris nas nuvens e perguntassem a significação do glorioso arco que abrange os céus, seus pais pudessem explicar-lhes a destruição do velho mundo pelo dilúvio, porque as pessoas se entregaram a toda sorte de maldades, e que as mãos do Altíssimo tinham curvado o arco e colocado nas nuvens como um sinal de que Ele nunca mais enviaria um dilúvio de águas sobre a Terra. HR 71 1 Este símbolo nas nuvens deve confirmar a crença de todos, e estabelecer sua confiança em Deus pois é um sinal de divina misericórdia e bondade para com o homem; que embora Deus tivesse sido provocado a destruir a Terra pelo dilúvio, ainda assim Sua misericórdia circunda a Terra. Deus disse que quando olhasse para o arco nas nuvens Se lembraria. Não precisa fazer-nos compreender que Ele jamais Se esquece, mas fala ao homem em sua própria linguagem, para que o homem possa melhor compreendê-Lo. ------------------------Capítulo 9 -- A torre de Babel HR 72 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 11:1-9. HR 72 1 Alguns dos descendentes de Noé logo começaram a apostatar. Uma parte seguiu o exemplo de Noé e obedeceu aos mandamentos de Deus; outros foram descrentes e rebeldes e nem mesmo tinham a mesma idéia quanto ao dilúvio. Alguns descriam da existência de Deus, e em sua própria mente atribuíam o dilúvio a causas naturais. Outros criam que Deus existia e que fora Ele quem destruíra a raça antediluviana pelo dilúvio, e seus sentimentos, como os de Caim, ergueram-se em rebelião contra Deus porque Ele destruiu da Terra o povo e amaldiçoou a Terra pela terceira vez, por um dilúvio. HR 72 2 Aqueles que era inimigos de Deus sentiam-se diariamente reprovados pela justa conduta e piedosa vida daqueles que amavam, obedeciam e exaltavam a Deus. Os descrentes consultaram entre si e decidiram separar-se dos fiéis, cuja vida justa era uma contínua restrição à sua ímpia conduta. Viajaram a certa distância para se afastarem deles, e escolheram uma vasta planície para habitar. Então construíram uma cidade, e conceberam a idéia da edificação de uma grande torre que alcançasse as nuvens, para que pudessem habitar juntos na cidade e na torre, e não mais fossem dispersados. HR 72 3 Arrazoaram que estariam seguros no caso de outro dilúvio, pois construiriam sua torre com muito maior altura do que as águas prevaleceram no tempo do dilúvio, e que todo o mundo os honraria e que eles seriam quais deuses e governariam o povo. Esta torre fora planejada para exaltar seus construtores, e pretendia voltar a atenção dos outros que vivessem na Terra, de Deus, para unirem-se com eles em sua idolatria. Antes do trabalho de construção estar cumprido, as pessoas moravam na torre. Salas foram esplendidamente mobiliadas, decoradas e devotadas aos seus ídolos. Aqueles que não criam em Deus imaginavam que se sua torre chegasse às nuvens, eles seriam capazes de descobrir as causas do dilúvio. HR 73 1 Exaltaram-se contra Deus. Ele, porém, não lhes permitiria completar seu trabalho. Tinham construído a torre até grande altura quando o Senhor mandou dois anjos para confundi-los em seu trabalho. Homens tinham sido apontados para receber as ordens dos que trabalhavam no topo da torre, que pediam material para o seu trabalho, sendo que o primeiro comunicava ao segundo, e este ao terceiro, até que a ordem chegava aos que estavam na base. Ao ser a ordem passada de um para outro, os anjos confundiram sua linguagem, e quando a ordem chegava aos que trabalhavam na base, provia-se material que não fora pedido. E depois de um laborioso processo de fazer chegar o material aos operários no cimo da torre, não era o que eles desejavam. Desapontados e enraivecidos, eles reprovavam aqueles que julgavam estar em falta. HR 73 2 Depois disso não houve mais harmonia em seu trabalho. Irados uns com os outros, e sem saber a que atribuir os mal-entendidos e estranhas palavras entre eles, abandonaram o trabalho, separaram-se uns dos outros e se espalharam sobre a Terra. Até aquele tempo os homens tinham falado uma única língua. Raios do céu, como um sinal da ira de Deus, quebraram a parte superior da torre, lançando-a por terra. Deus queria mostrar assim ao homem rebelde que Ele era supremo. ------------------------Capítulo 10 -- Abraão e a semente prometida HR 75 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 12:1-5; 13; 15-17; 21; 22:1-19. HR 75 1 O Senhor escolheu Abraão para cumprir a Sua vontade. Ele foi instruído a deixar sua nação idólatra e separar-se de seus parentes. O Senhor tinha-Se revelado a Abraão na sua juventude dando-lhe entendimento e preservando-o da idolatria. Propunha-Se fazer dele um exemplo de fé e verdadeira devoção a Seu povo, que posteriormente vivesse sobre a Terra. Seu caráter era marcado pela integridade, generosidade e hospitalidade. Ele impunha respeito como um poderoso príncipe entre o povo. Sua reverência e amor por Deus, e sua estrita obediência no cumprimento de Sua vontade, granjearam-lhe o respeito de seus servos e vizinhos. Seu piedoso exemplo e vida justa, unidos com suas fiéis instruções aos servos e toda a sua família, levou-os a temer, amar e reverenciar o Deus de Abraão. HR 75 2 O Senhor apareceu a Abraão e prometeu-lhe que sua semente seria numerosa como as estrelas do céu. Fez-lhe também saber mediante a figura do pavor de grandes trevas que lhe sobrevieram, a longa, servil escravidão de seus descendentes no Egito. HR 75 3 No começo Deus deu a Adão uma só esposa, desta forma mostrando Sua norma. Nunca designou que o homem tivesse pluralidade de esposas. Lameque foi o primeiro que se desviou deste sábio plano de Deus. Tinha duas esposas, que criaram discórdia em sua família. A inveja e o ciúme de ambas fizeram Lameque infeliz. Quando os homens começaram a se multiplicar sobre a face da Terra e lhes nasceram filhas, tomaram para si esposas de todas que escolheram. Este era um dos grandes pecados dos habitantes do velho mundo, que atraiu a ira de Deus sobre eles. Este costume foi praticado depois do dilúvio, e tornou-se tão comum que mesmo os homens justos caíram nessa prática e tiveram pluralidade de esposas. Todavia não foi menor o pecado visto que se tornaram corruptos e se afastaram neste ponto da ordem de Deus. HR 76 1 O Senhor disse de Noé e sua família, os que foram salvos na arca: "Porque reconheço que tens sido justo diante de Mim no meio desta geração." Gênesis 7:1. Noé tinha apenas uma esposa e a disciplina que ambos ministravam à família foi abençoada por Deus. Porque os filhos de Noé eram justos, foram preservados na arca com seu justo pai. Deus não sancionou a poligamia num único exemplo sequer. Ela é contrária a Sua vontade. Ele sabia que a felicidade do homem seria destruída por ela. A paz de Abraão foi grandemente turbada por seu infeliz casamento com Hagar. Vacilando nas promessas de Deus HR 76 2 Depois da separação de Abraão e Ló o Senhor disse-lhe: "Ergue os teus olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência." "Depois destes acontecimentos veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, Eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande. ... Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro." HR 77 1 Como Abraão não tivesse filhos, a princípio pensava que seu fiel servo, Eliézer, devesse tornar-se seu filho por adoção, e seu herdeiro. Mas, Deus informou Abraão que seu servo não devia ser seu filho e herdeiro, mas que ele realmente teria um filho. "Então conduziu-o até fora, e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: será assim a tua posteridade." HR 77 2 Se Abraão e Sara tivessem esperado em confiante fé no cumprimento da promessa de que teriam um filho, muita infelicidade teria sido evitada. Eles criam que seria tal como Deus havia prometido, mas não podiam crer que Sara em sua idade avançada pudesse ter um filho. Sara sugeriu um plano pelo qual ela pensava que a promessa de Deus pudesse ser cumprida. Ela suplicou a Abraão para tomar Hagar como esposa. Nisto ambos mostraram falta de fé e de perfeita confiança no poder de Deus. Por ter ouvido a voz de Sara e tomado Hagar como esposa, Abraão falhou em resistir à prova de sua fé no ilimitado poder de Deus, e atraiu sobre si e sobre Sara muita infelicidade. O Senhor intentava provar a firme fé e confiança de Abraão nas promessas que lhe fizera. Arrogância de Hagar HR 77 3 Hagar era orgulhosa e jactanciosa, e se conduzia arrogantemente perante Sara. Vangloriava-se de que ia ser a mãe de uma grande nação, que Deus tinha prometido fazer de Abraão. E Abraão era compelido a ouvir as queixas de Sara em relação à conduta de Hagar, acusando Abraão de erro nesse assunto. Abraão sentiu-se afligido e disse a Sara que Hagar era sua serva, e que ela podia tê-la sob controle, mas recusou mandá-la embora, pois ela seria a mãe de seu filho, mediante quem ele pensava que a promessa seria cumprida. Informou a Sara que não teria tomado Hagar para esposa, se isto não tivesse sido seu pedido especial. HR 78 1 Abraão era também forçado a ouvir as queixas de Hagar quanto a abusos da parte de Sara. Abraão ficou perplexo. Se ele procurasse desagravar os erros de Hagar aumentava o ciúme e infelicidade de Sara, sua primeira e bem-amada esposa. Hagar fugiu da face de Sara. Um anjo de Deus encontrou-a e confortou-a e também a reprovou por sua conduta arrogante, ordenando seu retorno a sua senhora e submissão sob suas mãos. HR 78 2 Depois do nascimento de Ismael o Senhor manifestou-Se outra vez a Abraão e disse: "Estabelecerei a Minha aliança entre Mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua." De novo o Senhor repetiu pelo Seu anjo a promessa de dar a Sara um filho, e que ela seria a mãe de muitas nações. Abraão ainda não compreendeu a promessa de Deus. Seu pensamento imediatamente recaiu sobre Ismael, pois pensava que através dele viriam as muitas nações prometidas, e exclamou em sua afeição por seu filho: "Oxalá viva Ismael diante de Ti!" HR 78 3 Outra vez a promessa foi definitivamente repetida a Abraão: "De fato Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque: estabelecerei com ele a Minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência." Os anjos foram enviados pela segunda vez a Abraão, ao passarem para destruir Sodoma, e repetiram mais distintamente a promessa de que Sara teria um filho. O filho prometido HR 79 1 Depois do nascimento de Isaque a grande alegria manifestada por Abraão e Sara causou grande ciúme em Hagar. Ismael tinha sido instruído por sua mãe, que seria especialmente abençoado por Deus, como filho de Abraão, e que seria o herdeiro do que lhe fora prometido. Ismael participou dos sentimentos de sua mãe e irou-se por causa do contentamento manifestado pelo nascimento de Isaque. Ele desprezava Isaque, pois imaginava que seria preferido a ele. Sara viu a disposição manifestada por Ismael contra seu filho Isaque, e ficou grandemente chocada. Relatou a Abraão a desrespeitosa conduta de Ismael para com ela e seu filho Isaque, dizendo: "Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será herdeiro com Isaque, meu filho." HR 79 2 Abraão ficou grandemente angustiado. Ismael era seu filho, ele o amava. Como poderia mandá-lo embora? Orou a Deus em sua perplexidade, pois não sabia que caminho tomar. O Senhor informou a Abraão mediante os anjos, que escutasse a voz de Sara sua esposa, e que não deixasse que sua afeição pelo filho ou por Hagar o impedisse de concordar com os desejos dela. Este era o único meio que ele podia seguir para restaurar a harmonia e felicidade de sua família. Abraão teve a consoladora promessa do anjo, de que Ismael, embora separado da casa de seu pai, não morreria nem seria desamparado por Deus, que ele seria preservado por ser filho de Abraão. Deus também prometeu fazer de Ismael uma grande nação. Abraão era de nobre e benevolente disposição, manifesta em seu fervoroso apelo pelo povo de Sodoma. Seu vigoroso espírito sofria muito. Estava curvado pela dor, e seus sentimentos paternos foram profundamente tocados quando despediu Hagar e seu filho Ismael para vaguear como estrangeiros numa terra estranha. HR 80 1 Se Deus tivesse sancionado a poligamia, Ele não teria levado Abraão a despedir Hagar e seu filho. Nisto Ele queria ensinar a todos a lição de que os direitos e felicidade de uma relação matrimonial devem ser sempre respeitados e guardados, mesmo com grande sacrifício. Sara era a primeira e única verdadeira esposa de Abraão. Ela estava habilitada, como esposa e mãe, a direitos que nenhuma outra podia ter na família. Ela reverenciava o marido, chamando-o senhor, mas tinha ciúme de que suas afeições fossem divididas com Hagar. Deus não a censurou pela conduta que estava seguindo. Abraão foi reprovado pelos anjos por duvidar do poder de Deus, o que o levou a tomar Hagar como sua esposa, pensando que mediante ela a promessa seria cumprida. A suprema prova da fé HR 80 2 Novamente o Senhor houve por bem provar a fé de Abraão mediante um teste terrível. Tivesse ele suportado a primeira prova e pacientemente esperado a promessa ser cumprida em Sara, e não tivesse tomado Hagar como esposa, não teria sido sujeito à mais rigorosa prova jamais requerida de um homem. O Senhor ordenou a Abraão: "Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que Eu te mostrarei." HR 80 3 Abraão não descreu de Deus nem hesitou, mas cedo de manhã tomou dois de seus servos e Isaque, seu filho, e lenha para o holocausto e seguiu para o lugar de que Deus lhe falara. Não revelou a verdadeira natureza de sua viagem a Sara, sabendo que sua afeição por Isaque a levaria a duvidar de Deus e reter seu filho. Abraão não permitiu que os sentimentos paternos o controlassem e o levassem a rebelar-se contra Deus. A ordem de Deus tinha o fim de agitar o âmago de sua alma. "Toma teu filho." Então, como para provar o coração um pouco mais profundamente, acrescentou: "Teu único filho, Isaque, a quem amas"; isto é, o único filho da promessa, e "oferece-o ali em holocausto." HR 81 1 Três dias o pai viajou com o filho, tendo tempo suficiente para raciocinar e duvidar de Deus se estivesse disposto a duvidar. Mas não duvidou de Deus. Agora, não raciocinava que a promessa seria cumprida mediante Ismael, pois Deus claramente lhe dissera que mediante Isaque a promessa devia ser cumprida. HR 81 2 Abraão cria que Isaque era o filho da promessa. Também cria que Deus queria dizer exatamente o que disse quando lhe ordenou que oferecesse o filho em holocausto. Não vacilou ante a promessa de Deus mas creu que Ele, que tinha dado a Sara um filho na velhice, e que tinha requerido dele que tomasse a vida do filho, podia também dar-lhe vida outra vez e ressuscitá-lo dos mortos. HR 81 3 Abraão deixou os servos no caminho e propôs ir só com seu filho para adorar a alguma distância deles. Não podia permitir que seus servos os acompanhassem, pois seu amor por Isaque poderia impedir que ele executasse o que Deus lhe ordenara fazer. Tomou a lenha das mãos de seus servos e colocou-a sobre os ombros do filho. Também tomou o fogo e o cutelo. Estava preparado para executar a terrível missão que Deus lhe dera. Pai e filho caminhavam juntos. HR 82 1 "Quando Isaque disse a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho. Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? Respondeu Abraão: Deus proverá para Si, meu filho, o cordeiro para o holocausto; e seguiam ambos juntos." O severo, amante e sofredor pai caminhava firmemente ao lado de seu filho. Ao chegarem ao lugar que Deus havia determinado a Abraão, ele edificou ali um altar e colocou em ordem a lenha, pronta para o sacrifício e então informou a Isaque a ordem de Deus de oferecê-lo em holocausto. Repetiu-lhe a promessa que Deus lhe fizera várias vezes, que mediante Isaque ele se tornaria uma grande nação, e que mesmo executando a ordem de Deus de matá-lo, Deus cumpriria Sua promessa, pois era capaz de ressuscitá-lo da morte. A mensagem do anjo HR 82 2 Isaque cria em Deus. Tinha sido ensinado a obedecer implicitamente ao pai, e amava e reverenciava ao Deus de Abraão. Poderia ter resistido a seu pai se assim escolhesse fazer. Depois, porém, de abraçá-lo afetuosamente, submeteu-se a ser amarrado e deposto sobre a lenha. Quando as mãos do pai se elevaram para matar o filho, o Anjo de Deus, que tinha vigiado toda a fidelidade de Abraão no caminho de Moriá, chamou-o desde o Céu e disse: "Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui. Então lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz, e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não Me negaste o filho, o teu único filho. HR 83 1 "Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho." HR 83 2 Abraão tinha agora suportado completa e nobremente a prova, e pela sua fidelidade redimido sua falta de perfeita confiança em Deus, a qual o levara a tomar Hagar por esposa. Depois dessa exibição da fé e confiança de Abraão, Deus renovou-lhe a promessa. "Então do Céu bradou pela segunda vez o Anjo do Senhor a Abraão, e disse: Jurei por Mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isso, e não Me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia da praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da Terra: porquanto obedeceste à Minha voz." ------------------------Capítulo 11 -- O casamento de Isaque HR 84 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 24. HR 84 1 Os cananeus eram idólatras, e o Senhor tinha ordenado a Seu povo que não se casasse com eles, para não serem levados à idolatria. Abraão estava velho, e esperava logo morrer. Isaque ainda estava solteiro. Abraão temia a influência corruptora que rodeava Isaque, e estava desejoso de escolher para ele uma esposa que não o afastasse de Deus. Confiou este assunto ao seu fiel e experiente servo, que governava tudo que ele possuía. HR 84 2 Abraão exigiu que seu servo fizesse um solene juramento perante o Senhor, de que não tomaria esposa para Isaque, dos cananeus, mas que iria até à parentela de Abraão, que cria no verdadeiro Deus, e escolheria uma esposa para Isaque. Ele recomendou que se acautelasse e não levasse Isaque para o país de onde viera, onde quase todos estavam afetados pela idolatria. Se não encontrasse para Isaque uma esposa que estivesse pronta a deixar sua família e vir para onde ele estava, estaria livre do juramento que prestara. HR 84 3 Este importante assunto não foi deixado com Isaque, para que ele escolhesse por si mesmo, independentemente de seu pai. Abraão disse ao servo que Deus enviaria Seu anjo diante dele para dirigi-lo na escolha. O servo a quem esta missão foi confiada iniciou a sua longa jornada. Ao entrar na cidade onde habitavam os parentes de Abraão, orou fervorosamente para que Deus o guiasse na escolha da esposa para Isaque. Pediu que uma evidência positiva lhe fosse dada para não errar nesse assunto. Descansou junto a um poço, que era lugar de grande ajuntamento. Aqui particularmente ele notou as maneiras recatadas e a cortês conduta de Rebeca, recebendo toda a evidência que pedira a Deus, de que Rebeca era aquela que Deus houvera por bem escolher para tornar-se a esposa de Isaque. Ela convidou o servo para a casa de seu pai. Ele então relatou ao pai de Rebeca e a seu irmão, a evidência que recebera do Senhor de que Rebeca devia tornar-se a esposa do filho de seu senhor, Isaque. HR 85 1 Disse então o servo de Abraão: "Agora, pois, se haveis de usar de benevolência e de verdade para com meu senhor, fazei-mo saber; se não, declarai-mo, para que eu vá, ou para a direita, ou para a esquerda." O pai e o irmão responderam: "Isto procede do Senhor, nada temos a dizer fora da sua verdade. Eis Rebeca na tua presença; toma-a, e vai-te: seja ela a mulher do filho do teu senhor, segundo a palavra do Senhor. Tendo ouvido o servo de Abraão tais palavras, prostrou-se em terra diante do Senhor." HR 85 2 Depois de tudo arranjado, obtido o consentimento do pai e do irmão, Rebeca foi consultada, se desejava seguir com o servo de Abraão para uma grande distância da casa de seu pai, para tornar-se a esposa de Isaque. Ela creu, pelas circunstâncias, que a mão de Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque, e "ela respondeu: Irei". HR 85 3 Os contratos de casamento eram geralmente feitos pelos pais; contudo nenhuma compulsão era usada para forçá-los a casar com quem não amavam. Mas, os filhos tinham confiança no julgamento dos pais, e seguiam-lhes o conselho e concediam suas afeições àqueles que seus tementes e experientes pais escolhiam para eles. Era considerado crime seguir caminho contrário. Exemplo de amor filial HR 86 1 Isaque tinha sido educado no temor de Deus para uma vida de obediência. E quando estava com quarenta anos de idade submeteu-se à escolha que o temente e experiente servo de seu pai fizera para ele. Acreditava que Deus dirigiria no que tocava a sua obtenção de esposa. HR 86 2 O caso de Isaque está registrado como um exemplo para imitação aos filhos das gerações posteriores, especialmente aqueles que professam temer a Deus. HR 86 3 O caminho que Abraão seguiu na educação de Isaque, e que o levou a amar uma vida de nobre obediência, foi relatado para benefício dos pais, e deve levá-los a ordenar sua casa após eles. Devem instruir os filhos a se renderem a sua autoridade e respeitá-la. Devem sentir a responsabilidade que sobre eles repousa de guiar as afeições dos filhos, de modo que essas afeições sejam postas sobre pessoas, a quem o seu discernimento lhes indique tratar-se de companheiros dignos para seus filhos e filhas. ------------------------Capítulo 12 -- Jacó e Esaú HR 87 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 25:19-34; 27:1-32. HR 87 1 Deus conhece o fim desde o princípio. Sabia, antes do nascimento de Jacó e Esaú, que caráter ambos iriam desenvolver. Sabia que Esaú não teria um coração obediente a Ele. Respondeu a aflita oração de Rebeca e informou-a de que teria dois filhos e o mais velho serviria o mais novo. Apresentou-lhe a história futura dos dois filhos, que eles seriam duas nações, uma maior do que a outra, e que o mais velho serviria o mais jovem. O primogênito era agraciado com vantagens peculiares e privilégios especiais, os quais não pertenciam a nenhum outro membro da família. HR 87 2 Isaque amava Esaú mais do que a Jacó, porque Esaú lhe providenciava caça. Ele se agradava de seu espírito ousado e corajoso manifestado na caça aos animais selvagens. Jacó era o filho favorito da mãe, porque sua disposição era meiga e mais susceptível de fazê-la feliz. Jacó aprendera de sua mãe o que Deus lhe tinha ensinado, que o mais velho devia servir o mais novo, e seu juvenil raciocínio levou-o a concluir que esta promessa não seria cumprida enquanto Esaú tivesse os privilégios conferidos ao primogênito. E quando Esaú voltou do campo, desfalecido pela fome, Jacó aproveitou a oportunidade para tornar a necessidade de Esaú a sua própria vantagem, e propôs alimentá-lo com um cozido se ele renunciasse a todos os títulos de sua primogenitura, e Esaú vendeu sua primogenitura a Jacó. HR 88 1 Esaú tomou duas esposas idólatras, o que foi uma grande angústia para Isaque e Rebeca. Não obstante isto, Isaque amava Esaú mais do que a Jacó. Quando imaginou que estava perto da morte, pediu a Esaú que lhe preparasse um guisado de caça, para que pudesse abençoá-lo antes de morrer. Esaú não contou ao pai que tinha vendido os direitos de nascimento para Jacó e confirmado isto com um juramento. Rebeca ouviu as palavras de Isaque, e relembrou as palavras do Senhor: "O mais velho servirá ao mais moço", e ela sabia que Esaú tinha considerado levianamente sua primogenitura, vendendo-a a Jacó. Persuadiu a Jacó a enganar seu pai e pela fraude receber as bênçãos paternas, as quais pensava não pudessem ser obtidas de outra maneira. Jacó a princípio estava indisposto a praticar este engano, mas finalmente consentiu com os planos de sua mãe. HR 88 2 Rebeca tinha conhecimento da parcialidade de Isaque para com Esaú, e estava convencida de que argumentos não mudariam o seu propósito. Em vez de confiar em Deus, o Ordenador dos eventos, ela manifestou sua falta de fé persuadindo Jacó a ludibriar seu pai. O procedimento de Jacó nisto não foi aprovado por Deus. Rebeca e Jacó deviam ter esperado que Deus executasse Seus próprios propósitos à Sua própria maneira, e em Seu próprio tempo, em vez de procurar cumprir os eventos preditos com a ajuda do engano. HR 88 3 Se Esaú tivesse recebido a bênção de seu pai, que era conferida ao primogênito, sua prosperidade só poderia ter vindo de Deus; e Ele tê-lo-ia abençoado com prosperidade ou atraído sobre ele adversidade, de acordo com seu procedimento. Se ele amasse e reverenciasse a Deus, como o justo Abel, poderia ser aceito e abençoado por Deus. Se, como o ímpio Caim, ele não tivesse respeito por Deus nem por Seus mandamentos, mas seguisse sua própria conduta corrupta, não receberia a bênção de Deus e seria rejeitado, como foi Caim. Se a conduta de Jacó fosse justa, se amasse e temesse a Deus, seria abençoado por Deus, e a mão prosperadora de Deus seria com ele, ainda que não obtivesse a bênção e os privilégios geralmente concedidos ao primogênito. Jacó no exílio HR 89 1 Rebeca arrependeu-se amargamente do conselho errado que havia dado a Jacó, pois isto significou sua separação dela para sempre. Ele foi compelido a fugir para salvar sua vida da ira de Esaú, e sua mãe nunca mais voltou a ver-lhe o rosto. Isaque viveu muitos anos depois de ter abençoado a Jacó, e ficou convencido, pela conduta de Esaú e Jacó, que a bênção certamente pertencia a Jacó. HR 89 2 Jacó não foi feliz em seus casamentos, embora suas esposas fossem irmãs. Ele formulou com Labão um contrato de casamento com sua filha Raquel, a quem amava. Depois de ter servido sete anos por Raquel, Labão o enganou e lhe deu Lia. Quando Jacó compreendeu o engano que tinha sido praticado contra ele, e que Lia tinha tido parte em enganá-lo, ele não pôde amá-la. Labão desejou reter os fiéis serviços de Jacó por maior espaço de tempo, então o enganou dando-lhe Lia em lugar de Raquel. Jacó reprovou Labão por sua leviandade com suas afeições, dando-lhe Lia a quem não amava. Labão persuadiu Jacó a não repudiar Lia, pois isto seria considerado uma grande desgraça, não somente para a esposa, mas para toda a família. HR 90 1 Jacó foi colocado numa posição muito probante, mas decidiu ainda reter Lia, e também casar com sua irmã. Lia era amada com muito menos intensidade do que Raquel. HR 90 2 Labão era egoísta em seus negócios com Jacó. Pensava unicamente em vantagens próprias do fiel labor de Jacó. Este teria deixado o astucioso Labão muito antes, mas temia encontrar-se com Esaú. Ouvia as queixas dos filhos de Labão, dizendo: "Jacó se apossou de tudo o que era de nosso pai; e do que era de nosso pai juntou ele toda essa riqueza. Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão não lhe era favorável, como anteriormente." HR 90 3 Jacó ficou angustiado. Não sabia para que lado se volver. Apresentou seu caso a Deus e rogou pela direção dEle. O Senhor misericordiosamente respondeu a sua angustiada oração. "E disse o Senhor a Jacó: Torna à terra de teus pais, e à tua parentela; e Eu serei contigo. HR 90 4 "Então Jacó mandou vir Raquel e Lia ao campo, para junto de seu rebanho, e lhes disse: Vejo que o rosto de vosso pai não me é favorável como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo. Vós mesmas sabeis que com todo empenho tenho servido a vosso pai; mas vosso pai me tem enganado, e por dez vezes me mudou o salário; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal nenhum." Jacó relatou-lhes o sonho que Deus lhe dera, para deixar Labão e ir à sua parentela. Raquel e Lia expressaram seu descontentamento pelo procedimento de seu pai. Quando Jacó lhes relatou seus enganos e propôs deixarem Labão, Raquel e Lia disseram: "Há ainda para nós parte ou herança na casa de nosso pai? Não nos considera ele como estrangeiras? pois nos vendeu, e consumiu tudo o que nos era devido. Porque toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai, é nossa e de nossos filhos; agora, pois, faze tudo o que Deus te disse." O retorno a Canaã HR 91 1 Na ausência de Labão, Jacó tomou sua família e tudo quanto tinha, e deixou Labão. Depois de ter prosseguido sua viagem por três dias, Labão soube que ele o deixara, e ficou muito irado. Seguiu após ele, determinado a fazê-lo voltar pela força. Porém, o Senhor teve pena de Jacó, e quando Labão estava para alcançá-lo, deu-lhe um sonho para não falar bem nem mal a Jacó. Isto é, não devia forçá-lo a voltar, nem instar com ele mediante incentivos lisonjeiros. HR 91 2 Quando Labão encontrou Jacó, perguntou porque ele havia fugido ocultamente e levado suas filhas como cativas tomadas pela espada. Disse Labão a Jacó: "Há poder em minhas mãos para vos fazer mal, mas o Deus de vosso pai me falou, ontem à noite, e disse: Guarda-te, não fales a Jacó nem bem nem mal." Jacó então expôs a Labão o procedimento ambicioso que tinha seguido em relação a ele, e que tinha buscado somente sua vantagem pessoal. Apelou para Labão quanto à integridade de sua própria conduta para com ele, e disse: "Nem te apresentei o que era despedaçado pelas feras; sofri o dano; da minha mão o requerias, assim o furtado de dia, como de noite. De maneira que eu andava, de dia consumido pelo calor, de noite pela geada; e o meu sono me fugia dos olhos." HR 91 3 Jacó disse: "Vinte anos permaneci em tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; dez vezes me mudaste o salário. Se não fora o Deus de meu pai, o Deus de Abraão, e o Temor de Isaque, por certo me despedirias agora de mãos vazias. Deus me atendeu ao sofrimento, e ao trabalho das minhas mãos, e te repreendeu ontem à noite." HR 92 1 Labão, então assegurou a Jacó que tinha interesse por suas filhas e seus filhos, e não podia prejudicá-los. Propôs fazer um concerto entre eles. Disse Labão: "Vem, pois; e façamos aliança eu e tu, que sirva de testemunho entre mim e ti. Então Jacó tomou uma pedra, e a erigiu por coluna. E disse a seus irmãos: Ajuntai pedras. E tomaram pedras, e fizeram um montão, ao lado do qual comeram." HR 92 2 Disse Labão: "Vigie o Senhor entre mim e ti, e nos julgue quando estivermos separados um do outro: Se maltratares as minhas filhas, e tomares outras mulheres além delas, não estando ninguém conosco; atenta que Deus é testemunha entre mim e ti." HR 92 3 Jacó fez um solene concerto diante do Senhor de que não tomaria outras esposas. "Disse mais Labão a Jacó: Eis aqui este montão, e esta coluna que levantei entre mim e ti. Seja o montão testemunha, e seja a coluna testemunha de que para mal não passarei o montão para lá, e tu não passarás o montão e a coluna para cá. O Deus de Abraão, e o Deus de Naor, o Deus do pai deles julgue entre nós. E jurou Jacó pelo Temor de seu pai Isaque." HR 92 4 Ao seguir Jacó o seu caminho, os anjos de Deus vieram ao seu encontro. Quando ele os viu disse: "Este é o acampamento de Deus." Ele viu os anjos de Deus em sonho, acampados ao seu redor. Jacó enviou uma humilde e conciliatória mensagem a seu irmão Esaú. "Voltaram os mensageiros a Jacó dizendo: Fomos a teu irmão Esaú, também ele vem de caminho para se encontrar contigo, e quatrocentos homens com ele. Então Jacó teve medo e se perturbou; dividiu em dois bandos o povo que com ele estava, e os rebanhos, os bois e os camelos. Pois disse: Se vier Esaú a um bando e o ferir, o outro bando escapará. HR 93 1 "E orou Jacó: Deus de meu pai Abraão, e Deus de meu pai Isaque, ó Senhor, que me disseste: Torna à tua terra, e à tua parentela, e te farei bem; sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade, que tens usado para com teu servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois bandos. Livra-me das mãos de meu irmão Esaú, porque eu o temo, para que não venha ele matar-me, e as mães com os filhos. E disseste: Certamente Eu te farei bem, e dar-te-ei a descendência como a areia do mar, que, pela multidão, não se pode contar." ------------------------Capítulo 13 -- Jacó e o anjo HR 94 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 32:24-33:11. HR 94 1 O erro de Jacó em receber as bênçãos de seu irmão Esaú pela fraude voltou-lhe vivamente ao espírito e ele temia que Deus permitisse a Esaú tirar-lhe a vida. Em sua angústia clamou a Deus toda a noite. Foi-me mostrado um anjo como estando na presença de Jacó, apresentando diante dele o seu engano, no seu verdadeiro caráter. Quando o anjo tencionou deixá-lo, Jacó agarrou-se a ele, não o deixando partir. Fez súplicas com lágrimas. Clamou que se tinha arrependido profundamente de seus pecados e enganos contra seu irmão, os quais tinham sido o meio de sua separação da casa de seus pais por vinte anos. Aventurou-se a alegar as promessas de Deus e os sinais de Seu favor a ele de tempos a tempos, quando ausente da casa de seus pais. HR 94 2 Toda a noite Jacó lutou com o anjo, suplicando sua bênção. O anjo parecia resistir a sua oração, trazendo continuamente a sua lembrança os seus pecados, ao mesmo tempo em que se esforçava para ausentar-se dele. Jacó estava determinado a reter o anjo, não pela força física, mas pelo poder da fé viva. Em sua angústia Jacó referiu-se ao arrependimento de sua alma, e à profunda humilhação que tinha sentido por seus erros. O anjo considerou sua oração com aparente indiferença, fazendo contínuos esforços para libertar-se do domínio de Jacó. Ele poderia ter exercido seu poder sobrenatural e libertar-se, mas preferiu não fazer isto. HR 95 1 Mas, quando viu que não prevaleceria contra Jacó, para convencê-lo de seu poder sobrenatural, tocou-lhe a coxa, que ficou imediatamente deslocada. Mas, Jacó não abandonou seu fervoroso esforço por causa da dor física. Seu objetivo era obter uma bênção, e a dor do corpo não era suficiente para desviar-lhe a mente deste objetivo. Sua determinação era mais forte nos momentos finais do conflito, do que no início. Sua fé tornou-se mais intensa e perseverou até o último momento, até o nascer do dia. Não deixaria ir o anjo antes que o abençoasse. "Disse este: Deixa-me ir, pois já rompeu o dia. Respondeu Jacó: Não te deixarei ir, se me não abençoares." O anjo então perguntou: "Como te chamas? Ele respondeu: Jacó. Então disse: Já não te chamarás Jacó, e, sim, Israel: pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste." Fé prevalecente HR 95 2 A perseverante fé de Jacó prevaleceu. Ele segurou firme o anjo até obter a bênção que desejava, e a certeza do perdão de seus pecados. Seu nome foi então mudado de Jacó, o enganador, para Israel, que significa príncipe de Deus. "Tornou Jacó: Dize, rogo-te, como te chamas? Respondeu ele: Por que perguntas pelo meu nome? E o abençoou ali. Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva." Foi Cristo que esteve com Jacó durante a noite, com quem ele porfiou, e a quem ele perseverantemente reteve até que o abençoasse. HR 96 1 O Senhor ouviu as súplicas de Jacó, e mudou os propósitos do coração de Esaú. Ele não sancionou nenhuma conduta errada seguida por Jacó. A vida deste tinha sido de dúvida, perplexidade e remorso por causa do seu pecado, antes de sua fervorosa luta com o anjo e da evidência que ele obteve de que Deus lhe tinha perdoado os pecados. HR 96 2 "Lutou com o anjo, e prevaleceu; chorou, e lhe pediu mercê; em Betel achou a Deus e ali falou Deus conosco. O Senhor, o Deus dos Exércitos, o Senhor é o Seu nome." Oséias 12:4, 5. HR 96 3 Esaú estava marchando contra Jacó com um exército, com o propósito de assassinar seu irmão. Mas, enquanto Jacó estava lutando com o anjo nessa noite, outro anjo foi enviado para mudar o coração de Esaú enquanto ele dormia. Em sonho ele viu Jacó exilado da casa de seu pai por vinte anos, porque temia por sua vida. Notou-lhe o sofrimento por achar a mãe morta. Viu em sonho a humildade de Jacó e anjos de Deus ao redor dele. Sonhou que quando se encontraram não tinha em mente fazer-lhe mal. Quando Esaú despertou relatou o sonho aos seus quatrocentos homens e ordenou que eles não fizessem mal a Jacó, pois o Deus de seu pai estava com ele. E quando eles encontrassem Jacó, nenhum deles deveria fazer-lhe mal. HR 96 4 "Levantando Jacó os olhos viu que Esaú se aproximava, e com ele quatrocentos homens. ... E ele mesmo, adiantando-se, prostrou-se à terra sete vezes, até aproximar-se de seu irmão. Então Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou; arrojou-se-lhe ao pescoço, e o beijou; e choraram." Jacó rogou a Esaú que aceitasse uma oferta de paz, que Esaú recusou, mas Jacó insistiu: HR 97 1 "Peço-te, pois, recebe o meu presente, que eu te trouxe; porque Deus tem sido generoso para comigo, e tenho fartura. E instou com ele, até que o aceitou." Uma lição objetiva HR 97 2 Jacó e Esaú representam duas classes: Jacó, os justos, e Esaú, os ímpios. A angústia de Jacó quando ele compreendeu que Esaú estava marchando contra ele com quatrocentos homens, representa a angústia dos justos ante o decreto que os condena à morte, exatamente antes da vinda do Senhor. Com os ímpios unidos contra eles, serão tomados de angústia, pois como Jacó, não podem ver escape para sua vida. O anjo colocou-se diante de Jacó, e este o segurou e reteve e lutou com ele durante toda a noite. Assim também farão os justos no seu tempo de provação e angústia, lutando em oração com Deus, como Jacó lutou com o anjo. Jacó em sua aflição orou toda a noite por livramento das mãos de seu irmão. Os justos em sua angústia mental haverão de clamar a Deus dia e noite por livramento das mãos dos ímpios que os rodeiam. HR 97 3 Jacó confessou sua indignidade: "Não sou digno do mínimo de todas as misericórdias e de toda a verdade, que Tu tens mostrado a Teu servo." Os justos em sua angústia terão um profundo senso de sua indignidade e com muitas lágrimas reconhecerão sua completa indignidade e, como Jacó, pleitearão as promessas de Deus por meio de Cristo, feitas para tais dependentes, desamparados e arrependidos pecadores. HR 97 4 Jacó agarrou firmemente o anjo em sua aflição e não o deixou ir. Ao suplicar com lágrimas, o anjo relembrou-lhe os erros passados e esforçou-se para escapar de Jacó, para testá-lo e prová-lo. Assim os justos, no dia da sua angústia, serão testados, provados e experimentados, para manifestar sua firmeza de fé, sua perseverança e inabalável confiança no poder de Deus para livrá-los. HR 98 1 Jacó não recuou. Sabia que Deus era misericordioso, e apelou para Sua misericórdia. Referiu-se a sua passada tristeza por causa de seus erros, o arrependimento deles, e insistiu em sua petição por livramento das mãos de Esaú. Dessa forma, sua importunação continuou toda a noite. Ao relembrar seus erros passados foi levado quase ao desespero. Mas sabia que devia ter a ajuda de Deus, ou perecer. Segurou o anjo e insistiu em sua petição com agônicos e ferventes clamores, até que prevaleceu. HR 98 2 Assim será com os justos. Ao reverem os fatos de sua vida passada, sua esperança quase submergirá. Mas ao compreenderem que este é um caso de vida ou morte fervorosamente clamarão a Deus, apelando em consideração a sua tristeza passada, e humildemente arrependidos de seus muitos pecados, farão referência a Sua promessa: "Ou que homens se apoderem da Minha força, e façam paz comigo; sim, que façam paz comigo." Isaías 27:5. Assim serão suas fervorosas preces oferecidas a Deus dia e noite. Deus não teria ouvido a oração de Jacó e misericordiosamente salvo sua vida se ele não tivesse previamente se arrependido de seus erros em obter a bênção pela fraude. HR 98 3 Os justos, como Jacó, manifestarão fé inflexível e fervorosa determinação, que não será desmentida. Haverão de sentir sua indignidade, mas não terão pecados ocultos a revelar. Se tivessem pecados, inconfessados e sem arrependimento, a aparecerem então diante deles, enquanto torturados pelo temor e angústia, com vivo senso de toda a sua indignidade, seriam esmagados. O desespero secionaria sua fervente fé, e não teriam confiança para pleitear tão fervorosamente com Deus por livramento, e seus preciosos momentos seriam gastos em confessar pecados ocultos e em deplorar sua desesperante condição. HR 99 1 O tempo de graça é o período concedido a todos para o preparo para o dia de Deus. Se alguém negligenciar a preparação e não levar a sério as fiéis advertências dadas, ficará sem escusas. A luta fervorosa, perseverante, de Jacó com o anjo deve ser um exemplo para os cristãos: Jacó prevaleceu porque foi perseverante e determinado. HR 99 2 Todos os que desejarem a bênção de Deus, como Jacó, e se apegarem às promessas, como ele o fez, e forem tão fervorosos e perseverantes como ele foi, terão o mesmo êxito que ele teve. Há tão pouco exercício da verdadeira fé e tão pouco peso de verdade em muitos professos crentes porque eles são indolentes nas coisas espirituais. Não estão dispostos a se esforçar, negar a si mesmos, angustiar-se diante de Deus, orar longa e fervorosamente pelas bênçãos, por conseguinte não as obtêm. Essa fé pela qual viverão através do tempo de tribulação deve ser diariamente exercitada agora. Aqueles que não fizerem vigoroso esforço agora para exercer perseverante fé, estarão inteiramente despreparados para exercer a fé que os capacitará a estar em pé no dia da provação. ------------------------Capítulo 14 -- Os filhos de Israel HR 100 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 37; 39; 41-48; Êxodo 1-4. HR 100 1 José dava ouvidos às instruções de seu pai e temia ao Senhor. Era mais obediente aos justos ensinamentos do pai do que qualquer de seus irmãos. Entesourava suas instruções e, com integridade de coração, amava e obedecia a Deus. Afligia-se com a conduta errônea de alguns de seus irmãos e bondosamente suplicava que seguissem uma direção justa e abandonassem seus maus atos. Isto só fazia revoltarem-se contra ele. Seu ódio do pecado era tal que ele não suportava ver seus irmãos pecando contra Deus. Levou o assunto diante de seu pai, esperando que sua autoridade pudesse reformá-los. A exposição de seus erros enraiveceu os irmãos contra ele. Tinham observado o grande amor do pai por José, e sentiram inveja dele. Sua inveja se transformou em ódio, e finalmente na disposição de matar. HR 100 2 O anjo de Deus instruiu José em sonhos, o que ele inocentemente relatou a seus irmãos: "Atávamos feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e ficou em pé; e os vossos feixes o rodeavam e se inclinavam perante o meu. Então lhe disseram seus irmãos: Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós dominarás realmente? E com isto tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos e de suas palavras." HR 101 1 "Teve ainda outro sonho, e o referiu a seus irmãos, dizendo: Sonhei também que o Sol, a Lua e onze estrelas se inclinavam perante mim. Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o pai e lhe disse: Que sonho é este que tiveste? Acaso viremos, eu e tua mãe e teus irmãos a inclinar-nos perante ti em terra? Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo mesmo." José no Egito HR 101 2 Os irmãos de José tinham o propósito de matá-lo, mas finalmente se contentaram em vendê-lo como escravo, para evitar que ele se tornasse maior do que eles. Pensavam tê-lo colocado onde não seriam mais atormentados com seus sonhos e onde não haveria possibilidade para seu cumprimento. Mas a própria conduta que seguiram Deus utilizou para fazer cumprir aquilo que desejavam jamais viesse a ocorrer -- que ele tivesse domínio sobre eles. HR 101 3 Deus não deixou José ir sozinho para o Egito. Anjos prepararam o caminho para sua recepção. Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda, comprou-o dos ismaelitas. E o Senhor esteve com José, prosperando-o e dando-lhe o favor de seu senhor, assim que todas as suas posses foram confiadas ao cuidado de José. "Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava." Era considerado uma abominação um hebreu preparar alimento para um egípcio. HR 101 4 Quando José foi tentado a desviar-se do caminho da retidão, transgredir a lei de Deus e mostrar-se infiel a seu senhor, firmemente resistiu e deu prova do elevado poder do temor de Deus em sua resposta à esposa de seu senhor. Depois de falar da grande confiança que seu senhor depositava nele, entregando-lhe tudo o que tinha, exclamou: "Como, pois, cometeria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?" Ele não seria persuadido a desviar-se do caminho da justiça e pisar sobre a lei de Deus por quaisquer incentivos ou ameaças. HR 102 1 Quando foi acusado, e um crime vil lhe foi falsamente imputado, ele não se entregou ao desespero. Consciente de sua inocência e justiça ainda confiou em Deus. E Deus, que até então o defendera, não o desamparou. Foi preso em cadeias e metido numa sombria prisão. Contudo Deus transformou seu próprio infortúnio em uma bênção. Deu-lhe mercê com o carcereiro, e a José foi logo confiada a guarda de todos os prisioneiros. HR 102 2 Aqui está um exemplo para todas as gerações que venham a existir sobre a Terra. Embora estejam expostos a tentações, devem sempre compreender que há uma defesa à mão e que será culpa sua se não forem preservados. Deus será um auxílio presente e Seu Espírito um escudo. Embora cercados das mais severas tentações, há uma fonte de energia, à qual podem recorrer para resistir a elas. HR 102 3 Quão violento foi o assalto à moral de José! Veio de alguém de influência -- alguém que era o máximo em habilidade para conduzi-lo ao descaminho. Contudo, quão pronta e firmemente foi ele resistido. José sofreu por sua virtude e integridade, pois aquela que pretendia desencaminhá-lo vingou-se da virtude que não pôde subverter, e pela sua influência causou o seu lançamento na prisão, acusando-o de um grave erro. Aqui José sofreu porque não abriu mão de sua integridade. Tinha colocado sua reputação e interesse nas mãos de Deus. Embora fosse submetido à aflição por algum tempo, a fim de ser preparado para uma importante posição, Deus manteve a salvo aquela reputação que fora denegrida por uma ímpia acusadora, e posteriormente, quando Deus considerou oportuno, fê-la resplandecer. Mesmo na prisão Deus preparou o caminho de sua elevação. A virtude a seu tempo alcançará a sua própria recompensa. O escudo que cobria o coração de José era o temor de Deus, o qual o levou a ser fiel e justo para com seu senhor e leal a Deus. HR 103 1 Embora José fosse exaltado como governador sobre toda a terra, não se esqueceu de Deus. Sabia que era um estranho numa estranha terra, separado de seus pais e irmãos, o que freqüentemente lhe causava tristeza, mas cria firmemente que a mão de Deus tinha dirigido seu caminho, para colocá-lo numa posição importante. Confiando em Deus continuamente, desempenhou com fidelidade todos os deveres de seu ofício, como governador da terra do Egito. HR 103 2 José andava com Deus. Não seria persuadido a desviar-se da vereda da justiça e transgredir a lei de Deus, por nenhum incentivo ou ameaça. Seu domínio próprio e paciência na adversidade e sua inquebrantável fidelidade foram deixados em registro para benefício de todos os que posteriormente vivessem na Terra. Quando os irmãos de José reconheceram diante dele o seu pecado, liberalmente ele lhes perdoou e mostrou pelos seus atos de benevolência e amor que não abrigava ressentimentos pela maneira cruel com que agiram em relação a ele. Dias de prosperidade HR 103 3 Os filhos de Israel não eram escravos. Nunca tiveram de vender o seu gado, suas terras e a si mesmos a Faraó por alimentos, como muitos egípcios tinham feito. A eles tinha sido concedida uma parte da terra onde habitar, com seus rebanhos e gado, em consideração ao serviço prestado por José ao reino. Faraó apreciou sua sabedoria no manejo de todas as coisas concernentes ao reino, especialmente na preparação para os longos anos de fome que viriam sobre a terra do Egito. Sentia que todo o reino era devedor de sua prosperidade ao sábio comando de José; e, como um sinal da sua gratidão, disse a José: "A terra do Egito está perante ti; no melhor da terra faze habitar teu pai e teus irmãos; habitem na terra de Gósen. Se sabes haver entre eles homens capazes, põe-nos por chefe do gado que me pertence." HR 104 1 "Então José estabeleceu a seu pai e a seus irmãos, e lhes deu possessão na terra do Egito, no melhor da terra, na terra de Ramessés, como Faraó ordenara. E José sustentou de pão a seu pai, a seus irmãos e a toda a casa de seu pai, segundo o número de seus filhos." HR 104 2 Nenhum imposto foi requerido do pai e irmãos de José pelo rei do Egito, e a José foi concedido o privilégio de supri-los liberalmente de alimento. O rei disse aos governadores: Não somos devedores ao Deus de José, e a ele, por este liberal suprimento de alimentos? Não é por causa de sua sabedoria que temos assim abundantemente? Enquanto outras terras estão perecendo, temos em quantidade! Sua administração tem grandemente enriquecido o reino. HR 104 3 "Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. Mas os filhos de Israel foram fecundos, aumentaram muito e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram; de maneira que a terra se encheu deles. Entrementes se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José. Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. Eia, usemos de astúcia para com ele, para que não se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos inimigos, peleje contra nós e saia da terra." A opressão HR 105 1 Este novo rei do Egito compreendia que os filhos de Israel prestavam um grande serviço ao reino. Muitos deles eram capazes e entendidos operários, e ele não estava disposto a perder seu trabalho. Este novo rei incluiu os filhos de Israel naquela classe de escravos que tinham vendido seus rebanhos, suas terras e eles próprios ao reino. "E puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés. HR 105 2 "Mas quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam; de maneira que se inquietavam por causa dos filhos de Israel; então os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel, e lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço em que na tirania os serviam." HR 105 3 Eles compeliram as mulheres a trabalhar nos campos, como se fossem escravas. Mesmo assim seu número não diminuía. Como o rei e seus governadores vissem que eles aumentavam continuamente, unidos deliberaram forçá-los a executar uma certa quantidade de trabalho cada dia. Pensavam submetê-los com pesado labor, e estavam zangados porque não podiam diminuir o seu número e esmagar o seu espírito independente. HR 105 4 E porque não conseguissem cumprir seu propósito, endureceram o coração para ir ainda mais adiante. O rei ordenou que as crianças do sexo masculino fossem mortas tão logo tivessem nascido. Satanás era o agente nesse negócio. Sabia que um libertador estava para aparecer entre os hebreus para resgatá-los da opressão. Imaginava que se pudesse levar o rei a destruir as crianças masculinas, o propósito de Deus seria anulado. As mulheres temiam a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes ordenou, mas salvaram a vida dos meninos. HR 106 1 As mulheres não ousaram matar os meninos hebreus, e porque não obedeceram à ordem do rei, o Senhor as prosperou. Quando o rei do Egito foi informado de que seu mandado não fora obedecido, ficou furioso. Então tornou sua ordem mais urgente e extensa. Conclamou o povo a guardar uma estrita vigilância, dizendo: "A todos os filhos que nascerem aos hebreus lançareis no Nilo, mas a todas as filhas deixareis viver." Moisés HR 106 2 Quando este cruel decreto estava na sua maior força, nasceu Moisés. Sua mãe o ocultou enquanto podia ter alguma segurança, e então preparou um pequeno cesto de junco, protegendo-o com piche, para que nenhuma água entrasse na pequena arca, e colocou-o na água junto à margem enquanto sua irmã ficou ali por perto com aparente indiferença. Vigiava ansiosamente para ver o que aconteceria a seu irmãozinho. Os anjos também vigiavam, para que nenhum dano ocorresse ao indefeso infante, ali colocado por uma amorosa mãe e confiado ao cuidado de Deus por suas ferventes orações entremeadas de lágrimas. HR 106 3 E esses anjos guiaram os passos da filha de Faraó para o rio, bem perto de onde fora deixado o pequeno e inocente desconhecido. Sua atenção foi atraída para o pequeno e estranho cesto e ela mandou que uma de suas criadas fosse buscá-lo. Quando removeu a tampa do pequeno cesto singularmente construído, viu um lindo bebê, "e eis que o menino chorava. Teve compaixão dele". Sabia que uma terna mãe hebréia tinha seguido este método peculiar para preservar a vida de seu bem-amado bebê, e decidiu de uma vez que ele seria seu filho. A irmã de Moisés imediatamente veio em sua direção e perguntou: "Queres que eu vá chamar uma das hebréias que sirva de ama, e te crie a criança? Respondeu-lhe a filha de Faraó: Vai." HR 107 1 Alegremente correu a irmã à sua mãe e relatou-lhe as felizes novas e conduziu-a a toda pressa à filha de Faraó, que entregou a criança à mãe para criá-la, sendo liberalmente paga para criar o seu próprio filho. Com gratidão esta mãe deu início a sua tarefa agora feliz e segura. Ela cria que Deus tinha preservado a vida de seu filho. Fielmente aproveitou a preciosa oportunidade de educá-lo com respeito a uma vida de utilidades. Era mais específica em sua instrução do que na dos outros filhos; pois tinha confiança que ele fora preservado para alguma grande obra. Por meio de fiéis ensinamentos ela instilou na sua mente jovem o temor de Deus e o amor pela verdade e justiça. HR 107 2 Não descansou aqui em seus esforços, mas fervorosamente orou a Deus por seu filho, para que fosse preservado de toda influência corruptora. Ensinou-o a prostrar-se e orar a Deus, o Deus vivo, pois apenas Ele podia ouvi-lo e ajudá-lo em qualquer emergência. Procurou impressionar sua mente com a pecaminosidade da idolatria. Sabia que ele logo seria separado de sua influência e entregue a sua real mãe adotiva, para ser rodeado de influências tendentes a fazê-lo descrer da existência do Criador dos Céus e da Terra. HR 108 1 As instruções recebidas de seus pais foram de molde a fortificar-lhe a mente e escudá-lo de ser exaltado e corrompido pelo pecado e tornar-se soberbo em meio ao esplendor e à extravagância da vida na corte. Possuía mente clara e coração compreensivo, e nunca perdeu as piedosas impressões recebidas na juventude. Sua mãe conservou-o tanto quanto pôde, mas foi obrigada a separar-se dele quando tinha cerca de doze anos, tornando-se ele então o filho da filha de Faraó. HR 108 2 Aqui Satanás foi derrotado. Levando Faraó a destruir os meninos, pensava anular o propósito de Deus e aniquilar aquele que Deus suscitaria para libertar Seu povo. Mas esse mesmo decreto, condenando as crianças hebréias à morte, foi o meio usado por Deus para colocar Moisés na família real, onde teria vantagens para tornar-se um homem entendido e eminentemente qualificado para tirar do Egito Seu povo. HR 108 3 Faraó esperava elevar ao trono seu neto adotivo. Educou-o para estar à frente dos exércitos do Egito e guiá-los nas bata-lhas. Moisés era o grande favorito das hostes de Faraó e honrado porque conduzia a guerra com superior perícia e sabedoria. "E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras." Os egípcios consideravam Moisés como personalidade notável. Preparação especial para liderança HR 108 4 Moisés foi instruído pelos anjos de que Deus o havia escolhido para ser o libertador dos filhos de Israel. Os chefes entre os filhos de Israel foram também ensinados por anjos que o tempo de seu livramento estava próximo, e que Moisés era o homem a quem Deus usaria para cumprir este propósito. Moisés imaginava que os filhos de Israel seriam libertados pela guerra, e que ele seria o chefe das hostes hebréias, para conduzir a batalha contra o exército egípcio e livrar seus irmãos do jugo da opressão. Tendo isto em vista, Moisés resguardou suas afeições, para que não fossem muito fortes em relação a sua mãe adotiva ou a Faraó, a fim de não lhe ser muito difícil permanecer livre para fazer a vontade de Deus. HR 109 1 O Senhor preservou Moisés de ser prejudicado pela influência corruptora ao seu redor. Os princípios da verdade, recebidos em sua juventude de seus pais tementes a Deus, nunca foram esquecidos por ele. E quando mais necessitava de ser defendido da corrupta influência reinante na corte, então as lições de sua juventude produziram fruto. O temor de Deus estava diante dele. Tão grande era o seu amor pelos irmãos, e tão grande o seu respeito pela fé dos hebreus, que ele não encobria o seu parentesco pela honra de ser herdeiro da família real. HR 109 2 Quando Moisés estava com quarenta anos de idade, "saiu a seus irmãos, e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo. Olhou de uma e de outra banda, e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia. Saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus estavam brigando; e disse ao culpado: Por que espancas a teu próximo? O qual respondeu: Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Temeu, pois, Moisés, e disse: Com certeza o descobriram. Informado desse caso, procurou Faraó matar a Moisés; porém Moisés fugiu da presença de Faraó, e se deteve na terra de Midiã." O Senhor guiou seu caminho, e ele encontrou um lar com Jetro, homem que adorava a Deus. Era pastor, e também sacerdote em Midiã. Suas filhas cuidavam do rebanho. O rebanho de Jetro, porém, logo foi colocado sob o cuidado de Moisés, que se casou com uma das filhas de Jetro e permaneceu em Midiã por quarenta anos. HR 110 1 Moisés foi precipitado em matar o egípcio. Supunha que o povo de Israel entenderia que uma providência especial de Deus o suscitara para livrá-los. Entretanto, Deus não pretendia libertar os filhos de Israel pela força, como Moisés pensava, mas pelo Seu próprio grande poder, para que a glória fosse atribuída a Ele somente. Deus rejeitou o ato de Moisés em matar o egípcio para efetuar Seu propósito. Tinha em Sua providência introduzido Moisés na família real do Egito, onde recebera uma esmerada educação; e contudo ele não estava preparado para que Deus lhe confiasse a grande obra para a qual Ele o suscitara. Moisés não podia deixar imediatamente a corte do rei e os privilégios que lhe eram garantidos como neto do rei, para realizar o trabalho especial de Deus. Tinha primeiro que encontrar tempo para obter experiência e ser educado na escola da adversidade e da pobreza. Enquanto vivia em seu retiro, o Senhor enviou Seus anjos para instruí-lo especialmente com relação ao futuro. Aqui ele aprendeu mais plenamente a grande lição do domínio próprio e humildade. Guardava o rebanho de Jetro, e enquanto cumpria sua humilde tarefa como pastor, Deus o estava preparando para que se tornasse o pastor espiritual de Suas ovelhas, o Seu povo de Israel. HR 110 2 Quando Moisés conduziu o rebanho para o deserto e chegou ao monte de Deus, ao Horebe, "apareceu-lhe o Anjo do Senhor numa chama de fogo do meio duma sarça." "Disse ainda o Senhor: Certamente vi a aflição do Meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento, por isso desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel. ... Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até Mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. Vem, agora, e Eu te enviarei a Faraó, para que tires o Meu povo, os filhos de Israel, do Egito." HR 111 1 Chegara o tempo em que Deus queria que Moisés trocasse o cajado de pastor pela vara de Deus, a qual Ele tornaria poderosa em realizar sinais e maravilhas, livrando o Seu povo da opressão, e guardando-o quando perseguido por seus inimigos. HR 111 2 Moisés concordou em realizar esta missão. Primeiramente visitou o sogro e obteve sua licença para ele e a família voltarem ao Egito. Não se atreveu a contar a Jetro sua mensagem para Faraó, temendo que ele relutasse em deixar sua esposa e filhos o acompanharem em tão perigosa missão. O Senhor fortaleceu-o e removeu seus temores, dizendo: "Volta agora ao Egito, porque são mortos todos aqueles que buscavam a tua vida." ------------------------Capítulo 15 -- O poder de Deus revelado HR 112 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 5:1-12:28. HR 112 1 Muitos anos tinham os filhos de Israel estado em servidão aos egípcios. Apenas umas poucas famílias haviam descido ao Egito, porém tinham-se tornado numa grande multidão. E sendo circundados pela idolatria, muitos deles tinham perdido o conhecimento do verdadeiro Deus e esquecido Sua lei. Uniram-se aos egípcios em sua adoração ao Sol, Lua e estrelas, e também de animais e imagens, obra das mãos de homens. HR 112 2 Todas as coisas ao redor dos filhos de Israel tendiam a fazê-los esquecer o Deus vivo. Mesmo assim, existiam entre os hebreus os que preservaram o conhecimento do verdadeiro Deus, Criador dos Céus e da Terra. Afligiam-se por ver seus filhos testemunhando diariamente as abominações do povo idólatra que os cercava, e mesmo tomando parte nelas, curvando-se às divindades egípcias, feitas de madeira e pedra, e oferecendo sacrifícios a estes objetos insensíveis. Os fiéis eram afligidos e na sua agonia clamavam ao Senhor por livramento do jugo egípcio; que Ele os tirasse fora do Egito, para onde pudessem ser livres da idolatria e das corruptoras influências que os circundavam. HR 112 3 Entretanto, muitos dos hebreus estavam dispostos a permanecer em servidão, de preferência a terem que ir para um novo país e depararem com as dificuldades presentes em tal jornada Por isso o Senhor não os livrou pela primeira manifestação de Seus sinais e maravilhas diante de Faraó. Deus dirigiu os fatos para mais plenamente desenvolver o espírito tirânico de Faraó, e para que pudesse manifestar Seu grande poder aos egípcios e também diante de Seu povo, a fim de fazê-los ansiosos de deixar o Egito e escolherem o serviço de Deus. HR 113 1 Embora muitos dos israelitas se tivessem tornado corrompidos pela idolatria, os fiéis permaneciam firmes. Não ocultavam sua fé, mas abertamente confirmavam diante dos egípcios que serviam o único verdadeiro Deus vivo. Repetiam as evidências da existência de Deus e do Seu poder desde a criação. Os egípcios tiveram oportunidade de se familiarizar com a fé dos hebreus e seu Deus. Tinham tentado subverter os fiéis adoradores do verdadeiro Deus, e estavam aborrecidos porque não tiveram êxito, nem por ameaças, nem por promessa de recompensas, ou por tratamentos cruéis. HR 113 2 Os últimos dois reis que haviam ocupado o trono do Egito tinham sido tiranos e trataram cruelmente os hebreus. Os anciãos de Israel se esforçaram para encorajar a enfraquecida fé dos israelitas, referindo a promessa feita a Abraão, e as palavras proféticas de José pouco antes de morrer, predizendo sua libertação do Egito. Alguns deram ouvidos e creram. Outros contemplavam sua própria triste condição, e não tinham esperança. Israel influenciado pelo ambiente HR 113 3 Os egípcios tinham descoberto a expectativa dos filhos de Israel e zombavam de suas esperanças de livramento e falavam desdenhosamente do poder de seu Deus. Apontavam-lhes a sua própria situação como um povo, mera nação de escravos, e insultuosamente diziam-lhes: Se vosso Deus é justo e misericordioso, e tem poder sobre os deuses egípcios, por que não faz de vós um povo livre? Por que não manifesta Sua grandeza e poder, exaltando-vos? HR 114 1 Os egípcios, então, chamavam a atenção dos israelitas para o seu próprio povo, que adorava deuses de sua própria escolha, os quais os israelitas denominavam falsos deuses. Exultavam ao dizer que seus deuses tinham-nos prosperado, dando-lhes alimento, vestuário e grandes riquezas, e que seus deuses também tinham dado os israelitas nas suas mãos para servi-los, e que tinham poder para os oprimir e destruir, a fim de que não fossem um povo. Escarneciam da idéia de que os hebreus seriam libertados da escravidão. HR 114 2 Faraó jactava-se de que gostaria de ver Deus livrá-los de suas mãos. Estas palavras destruíram a esperança de muitos dos filhos de Israel. Parecia-lhes que tudo era mesmo como o rei e seus conselheiros tinham dito. Sabiam que eram tratados como escravos, e que deviam suportar o grau de opressão que seus feitores e administradores lhes impunham. Seus meninos tinham sido caçados e mortos. Sua própria vida era um fardo, e eles estavam crendo no Deus do Céu e adorando-O. HR 114 3 Contrastavam então sua condição com a dos egípcios. Estes não criam absolutamente num Deus vivo que tivesse poder para salvar ou destruir. Alguns deles adoravam ídolos, imagens de madeira e pedra, enquanto outros preferiam adorar o Sol, a Lua e as estrelas; e mesmo assim prosperavam e enriqueciam. E alguns dos hebreus raciocinavam que se Deus estivesse acima de todos os deuses, não os deixaria como escravos numa nação idólatra. HR 114 4 Os fiéis servos de Deus entendiam que era por causa de sua infidelidade a Deus como um povo, e sua disposição de misturar-se com outras nações, sendo assim levados à idolatria, que o Senhor permitiu que fossem ao Egito. Com firmeza declaravam a seus irmãos que Deus logo os tiraria do Egito e quebraria seu opressivo jugo. HR 115 1 Chegara o tempo em que Deus deveria responder às orações de Seu opresso povo, e tirá-lo do Egito com tão poderosas manifestações de Seu poder que os egípcios seriam compelidos a reconhecer que o Deus dos hebreus, de quem zombavam, estava acima de todos os deuses. Iria agora puni-los por sua idolatria e sua arrogante jactância das mercês concedidas a eles por seus insensíveis deuses. Deus glorificaria Seu próprio nome, para que outras nações ouvissem do Seu poder e tremessem ante Seus poderosos atos, e para que Seu povo, testemunhando suas miraculosas obras, se volvesse inteiramente da sua idolatria para render-Lhe adoração pura. HR 115 2 No livramento de Israel do Egito, Deus claramente mostrou Sua evidente misericórdia a Seu povo diante de todos os egípcios. Deus achou conveniente executar Seus juízos sobre Faraó, para que ele soubesse por amarga experiência, desde que doutra sorte não seria convencido, que Seu poder era superior a todos os outros. A fim de que Seu nome fosse notório através de toda a Terra, daria prova exemplar e demonstrativa de Seu divino poder e justiça a todas as nações. Era desígnio de Deus que estas exibições de poder fortificassem a fé de Seu povo, para que sua posteridade adorasse firmemente somente Aquele que tinha realizado misericordiosas maravilhas em seu favor. HR 115 3 Moisés declarou a Faraó, depois que este exigiu que o povo fizesse tijolos sem palha, que Deus, a quem ele pretendia não conhecer, forçá-lo-ia a render-se a Seus reclamos e reconhecer Sua autoridade como supremo Soberano. As pragas HR 116 1 O milagre da vara transformada numa serpente e do rio tornado em sangue não moveu o empedernido coração de Faraó, somente aumentou seu ódio dos israelitas. O trabalho dos mágicos levou-o a crer que esses milagres foram operados pela feitiçaria, mas teve abundante evidência de que este não era o caso quando foi removida a praga das rãs. Deus podia ter feito que elas desaparecessem e voltassem ao pó num momento, mas assim não fez, para que depois de serem removidas, o rei e os egípcios não dissessem que isto era resultado de magia, semelhante ao trabalho dos mágicos. Elas morreram, e foram então ajuntadas em montões, que podiam ser vistos diante deles, e empestavam a atmosfera. Nisto o rei e todo o Egito tiveram uma prova que sua vã filosofia não podia refutar, de que esta obra não era magia, mas um juízo do Deus do Céu. HR 116 2 Os mágicos não puderam produzir piolhos. O Senhor não podia tolerar sequer que parecesse aos olhos deles, ou dos egípcios, que eles poderiam reproduzir a praga dos piolhos. Ele desejava remover de Faraó toda desculpa para incredulidade. Forçou os próprios magos a dizer: "Isto é o dedo de Deus." HR 116 3 Depois veio a praga dos enxames de moscas. Estas não eram como as inofensivas moscas que nos importunam em algumas épocas do ano, mas as moscas que vieram sobre o Egito eram grandes e venenosas. Sua picada era extremamente dolorosa para os homens e animais. Deus separou Seu povo dos egípcios e não permitiu uma mosca sequer em todos os seus limites. HR 117 1 O Senhor enviou então a praga da peste no gado, e ao mesmo tempo preservou o gado dos hebreus, para que não morresse um sequer. Em seguida veio a praga das úlceras sobre homens e animais, e nem os magos puderam proteger-se dela. Então o Senhor enviou sobre o Egito a praga da saraiva misturada com fogo, com relâmpagos e trovões. A época de cada praga foi dada por antecipação, para que ninguém pudesse dizer ter acontecido por acaso. O Senhor demonstrou aos egípcios que a Terra inteira estava sob o comando do Deus dos hebreus -- que o trovão, a saraiva e a tempestade obedeciam a Sua voz. Faraó, o orgulhoso rei que uma vez perguntara: "Quem é o Senhor para que Lhe ouça eu a voz?" humilhou-se e disse: "Esta vez pequei; o Senhor é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios." Suplicou a Moisés que fosse seu intercessor com Deus, para que os terríveis trovões e relâmpagos cessassem. HR 117 2 Depois o Senhor mandou a terrível praga dos gafanhotos. O rei preferiu receber os flagelos a submeter-se a Deus. Sem remorso via seu reino inteiro sob o milagre desses tremendos juízos. O Senhor então enviou trevas sobre o Egito. Não somente estava o povo despojado de luz, mas a atmosfera era muito opressiva, de maneira que a respiração era difícil; entrementes, os hebreus tinham uma atmosfera pura e luz em suas habitações. HR 117 3 Mais uma praga terrível Deus trouxe sobre o Egito, mais severa do que qualquer das anteriores. Foi o rei e os sacerdotes idólatras que se opuseram até ao fim ao pedido de Moisés. O povo desejava que fosse permitido aos hebreus deixar o Egito. Moisés relatou a Faraó e ao povo do Egito, e também aos israelitas, a natureza e efeito da última praga. Nessa noite, tão terrível para os egípcios e tão gloriosa para o povo de Deus, foi instituída a solene ordenança da páscoa. HR 118 1 Foi muito difícil, para o rei egípcio e seu povo arrogante e idólatra, render-se às reivindicações do Deus do Céu. Muito relutante estava o rei do Egito para ceder. Enquanto sob terrível aflição, ele cedia um pouco; mas quando a aflição era removida, recusava tudo o que tinha concedido. Dessa maneira, praga após praga era trazida sobre o Egito, e ele cedia não mais do que era compelido pelas terríveis visitações da ira de Deus. O rei persistiu em sua rebelião mesmo depois que o Egito tinha sido arruinado. HR 118 2 Moisés e Arão referiam a Faraó a natureza e efeito de cada praga, que se seguiria a sua recusa em deixar ir Israel. Cada vez ele viu essas pragas virem exatamente como lhe foi dito que viriam; mesmo assim ele não se rendia. Primeiro, apenas lhes deu permissão para sacrificar a Deus na terra do Egito; então, depois de o Egito ter sido afligido pela ira de Deus, concedeu que apenas os homens fossem. Depois de o Egito quase destruído pela praga dos gafanhotos, ele concedeu que seus filhos e esposas também fossem, mas que não levassem o gado. Moisés então comunicou ao rei que o anjo de Deus mataria os seus primogênitos. HR 118 3 Cada praga tinha vindo um pouco mais perto do rei e mais severa, e esta seria mais terrível do que qualquer outra. Mas, o orgulhoso rei estava extremamente furioso, e não se humilhou. Quando os egípcios viram os grandes preparativos feitos entre os israelitas para a terrível noite, ridicularizaram o sinal de sangue sobre a verga das portas. ------------------------Capítulo 16 -- Israel escapa da servidão HR 119 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 12:29-15:19. HR 119 1 Os filhos de Israel tinham seguido as orientações dadas por Deus; enquanto o anjo da morte estava passando de casa em casa entre os egípcios, estavam todos prontos para sua viagem e esperando que o rebelde monarca e seus grandes homens ordenassem sua ida. HR 119 2 "Aconteceu que, à meia-noite, feriu o Senhor todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até o primogênito do cativo que estava na enxovia; e todos os primogênitos dos animais. Levantou-se Faraó de noite, ele, todos os seus oficiais, e todos os egípcios; e fez-se grande clamor no Egito, pois não havia casa em que não houvesse morto. Então, naquela mesma noite, chamou a Moisés e Arão e lhes disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, assim vós como os filhos de Israel; ide, servi ao Senhor como tendes dito. Levai também convosco vossas ovelhas e vosso gado, como tendes dito; ide-vos embora, e abençoai-me também a mim. Os egípcios apertavam com o povo, apressando-se em lançá-los fora da terra, pois diziam: Todos morreremos. HR 119 3 "O povo tomou a sua massa, antes que levedasse, e as suas amassadeiras atadas em trouxas com seus vestidos, sobre os ombros. Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés, e pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, e roupas. E o Senhor fez que Seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios." HR 120 1 O Senhor revelou isto a Abraão cerca de quatrocentos anos antes de seu cumprimento: "Então lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também Eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas." Gênesis 15:13, 14. HR 120 2 "Subiu também com eles uma mistura de gente, ovelhas, gado, muitíssimos animais." Os filhos de Israel deixaram o Egito com suas posses, que não pertenciam a Faraó, pois jamais as tinham vendido a ele. Jacó e seus filhos levaram seus rebanhos e gado quando foram ao Egito. Os filhos de Israel tinham-se tornado muito numerosos, e seu gado e ovelhas tinham aumentado grandemente. Deus julgara os egípcios enviando pragas sobre eles, e fê-los apressar Seu povo a sair do Egito com todas as suas posses. HR 120 3 "Tendo Faraó deixado ir o povo, Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito. Porém Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho; e, arregimentados, subiram os filhos de Israel do Egito. Também levou Moisés consigo os ossos de José, pois havia este feito os filhos de Israel jurar solenemente, dizendo: Certamente Deus vos visitará; daqui, pois, levai convosco os meus ossos. A coluna de fogo HR 121 1 "Tendo, pois, partido de Sucote, acamparam-se em Etã, à entrada do deserto. O Senhor ia adiante deles, durante o dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, durante a noite numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite. Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite." HR 121 2 O Senhor sabia que os filisteus se oporiam a sua passagem pela terra deles. Diriam deles: Eles roubaram seus senhores no Egito, e lhes fariam guerra. Assim Deus, levando-os pelo caminho do mar, revelou-Se como um Deus compassivo, bem como um Deus criterioso. O Senhor informou a Moisés que Faraó os perseguiria, e os dirigiu justo onde deviam acampar em frente ao mar. Disse a Moisés que seria honrado diante de Faraó e de todo o seu exército. HR 121 3 Depois que os hebreus estavam fora do Egito havia já alguns dias, os egípcios disseram a Faraó que eles tinham fugido e que nunca mais retornariam para servi-lo outra vez. Então lamentaram porque tinham permitido que deixassem o Egito. Era muito grande perda para eles serem privados de seus serviços, e se arrependeram de terem consentido que fossem. Não obstante tudo o que tinham sofrido dos juízos de Deus, estavam tão endurecidos por sua continuada rebelião que decidiram perseguir os filhos de Israel e trazê-los de volta ao Egito pela força. O rei arregimentou um grande exército e seiscentos carros, e seguiu após eles, alcançando-os quando estavam acompanhados junto ao mar. HR 121 4 "E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor. Disseram a Moisés: Será por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos nesse deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? Não é isto o que te dissemos no Egito: Deixa-nos para que sirvamos os egípcios? pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto. Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais: aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis." HR 122 1 Quão cedo os israelitas perderam a confiança em Deus! Tinham testemunhado todos os Seus juízos sobre o Egito para convencer o rei a deixar ir Israel, mas quando sua confiança em Deus foi provada, murmuraram, não obstante tivessem visto tais evidências de Seu poder em seu maravilhoso livramento. Em vez de confiarem em Deus em suas necessidades, murmuraram ante o fiel Moisés, lembrando-lhe as palavras de descrença que haviam proferido no Egito. Acusaram-no de ser o causador de toda a sua desgraça. Ele os encorajou a confiarem em Deus, e cessarem suas expressões de descrença, e haveriam de ver o que o Senhor faria por eles. Moisés clamou fervorosamente ao Senhor, para que livrasse Seu povo escolhido. Livramento no mar Vermelho HR 122 2 "Disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a Mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar." Deus queria que Moisés compreendesse que operaria em favor do Seu povo -- que a necessidade deles seria a Sua oportunidade. Quando eles avançassem o máximo que pudessem. Moisés devia ordenar-lhes que prosseguissem; que ele devia usar a vara que Deus lhe dera para dividir as águas. HR 123 1 "Eis que endureci o coração dos egípcios para que vos sigam e entrem nele; serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros; e os egípcios saberão que Eu sou o Senhor, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavalarianos. Então o Anjo de Deus, que ia adiante do exército de Israel, se retirou, e passou para trás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles, e ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; a nuvem era escuridade para aqueles, e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite este e aqueles não puderam aproximar-se." HR 123 2 Os egípcios não podiam ver os hebreus, pois estava diante deles uma nuvem de espessas trevas, a qual era toda luz para os israelitas. Assim Deus manifestou Seu poder para provar Seu povo, se confiariam nEle depois de dar-lhes tais provas de Seu cuidado e amor, e para repreender sua falta de fé e murmurações. "Então Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda." As águas se elevaram e permaneceram, quais muros congelados, em cada lado, enquanto Israel caminhava pelo meio do mar em terra seca. HR 124 1 A hoste egípcia cantou vitória através da noite porque os filhos de Israel viriam outra vez ao seu poder. Pensavam não haver possibilidades para sua fuga; pois diante deles se estendia o Mar Vermelho, e o grande exército seguia-os de perto. Pela manhã, quando chegaram junto ao mar, eis havia uma trilha seca, pois as águas foram divididas, e permaneciam como um muro de cada lado, e os filhos de Israel estavam a meio caminho do mar, andando em terra seca. Aguardaram por um instante para decidir qual o melhor caminho a seguir. Ficaram desapontados e enraivecidos porque, estando os hebreus quase em seu poder e eles certos da vitória, um inesperado caminho se abrisse para eles no mar. Decidiram segui-los. HR 124 2 "Os egípcios que os perseguiam, entraram atrás deles, todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavalarianos, até ao meio do mar. Na vigília da manhã, o Senhor, na coluna de fogo e de nuvem, viu o acampamento dos egípcios, e alvorotou o acampamento dos egípcios; emperrou-lhes as rodas dos carros, e fê-los andar dificultosamente. Então disseram os egípcios: Fujamos da presença de Israel, porque o Senhor peleja por eles contra os egípcios." HR 124 3 Os egípcios se aventuraram no caminho preparado por Deus para Seu povo, e anjos de Deus foram enviados ao meio de seu exército e removeram as rodas de seus carros. Então ficaram aflitos. Seu progresso era muito vagaroso e começaram a ter dificuldades. Lembraram-se dos juízos que o Deus dos hebreus havia trazido sobre eles no Egito para compeli-los a deixar ir Israel, e agora pensaram que Deus podia entregá-los todos nas mãos dos israelitas. Compreenderam que Deus estava lutando pelos israelitas, e terrivelmente temerosos voltaram-se para fugir deles, quando "disse o Senhor a Moisés: Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavalarianos. HR 125 1 "Então Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o mar, ao romper da manhã, retomou a sua força; os egípcios, ao fugir, foram de encontro a ele, e o Senhor derribou os egípcios no meio do mar. E, voltando as águas, cobriram os carros e os cavalarianos de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar, nem ainda um deles ficou. Mas os filhos de Israel caminhavam a pé enxuto pelo meio do mar; e as águas lhes eram quais muros, à sua direita e à sua esquerda. Assim o Senhor livrou Israel naquele dia da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel o grande poder que o Senhor exercitara contra os egípcios; e o povo temeu ao Senhor, e confiaram no Senhor e em Moisés, Seu servo." HR 125 2 Quando os hebreus testemunharam a maravilhosa operação de Deus na destruição dos egípcios, uniram-se num inspirado cântico de sublime eloquência e grato louvor. ------------------------Capítulo 17 -- Jornadas de Israel HR 126 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 15:23-18:27. HR 126 1 Os filhos de Israel viajaram pelo deserto e por três dias não puderam achar boa água para beber. Sofrendo com a sede "murmurou o povo contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? Então Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas, e as águas se tornaram doces. Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação, e ali os provou, e disse: Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e fizeres o que é reto diante de Seus olhos, e deres ouvido aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios; pois Eu sou o Senhor que te sara." HR 126 2 Os filhos de Israel mostraram possuir um mau coração de incredulidade. Não estavam dispostos a suportar as durezas do deserto. Quando deparavam com dificuldades no caminho, consideravam-nas como impossibilidades. Sua confiança em Deus falhava, e eles não viam ante si coisa alguma senão a morte. "Toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto; disseram-lhes os filhos de Israel: Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão a fartar! pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão." HR 127 1 Na verdade, eles não tinham sofrido a agonia da fome. Tinham alimento para o presente, mas estavam temerosos pelo futuro. Não viam como as hostes de Israel subsistiriam, em sua longa jornada através do deserto, com o simples alimento que então possuíam, e na sua descrença viam seus filhos a perecer de fome. O Senhor permitiu que escasseasse o suprimento de alimentos e que as dificuldades os rodeassem, para que seu coração pudesse volver-se Àquele que até ali os ajudara, e cressem nEle. Estava pronto para ser-lhes um auxílio presente. Se em sua necessidade O invocassem, Ele lhes manifestaria sinais de Seu amor e contínuo cuidado. HR 127 2 Entretanto, pareciam indispostos a continuar confiando no Senhor, a não ser que pudessem testemunhar diante de seus olhos a contínua evidência de Seu poder. Se tivessem possuído verdadeira fé e firme confiança em Deus, inconvenientes e obstáculos, e mesmo sofrimentos reais teriam sido alegremente suportados, depois que o Senhor operara de modo tão maravilhoso para seu livramento da servidão. Além disso, o Senhor prometeu que se fossem obedientes aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade viria sobre eles, pois disse: "Eu sou o Senhor que te sara." HR 127 3 Depois desta segura promessa de Deus era pecaminosa incredulidade de sua parte temer antecipadamente que eles e seus filhos pudessem morrer de fome. Tinham sofrido grandemente no Egito, sobrecarregados de trabalho. Seus filhos tinham sido condenados à morte, e em resposta a suas orações de angústia, Deus misericordiosamente os livrara. Prometera ser o seu Deus, e tomá-los para Si como um povo, e guiá-los a uma terra larga e boa. HR 128 1 Mas, eles estavam prontos a desfalecer a cada sofrimento que tivessem de suportar no caminho para aquela terra. Tinham suportado muito mais em serviço aos egípcios, porém agora não podiam suportar o sofrimento em serviço a Deus. Estavam prontos a ceder a suas sombrias dúvidas e a mergulhar no desencorajamento quando fossem tentados. Murmuraram contra o devoto servo de Deus, Moisés, e o acusaram de todo o seu sofrimento, e expressaram o desejo ímpio de permanecer no Egito, onde podiam se assentar junto às panelas de carne e comer pão a fartar. Lição para nosso tempo HR 128 2 A incredulidade e a murmuração dos filhos de Israel ilustra o povo de Deus ora sobre a Terra. Muitos olham para o Israel do passado, e se maravilham de sua descrença e contínua murmuração, depois de o Senhor ter feito tanto por eles, dando-lhes repetidas evidências de Seu amor e cuidado. Acham que não se deviam ter mostrado ingratos. Mas alguns que assim pensam, murmuram e se queixam ante coisas de pequena conseqüência. Não se conhecem a si mesmos. Deus os experimenta com freqüência, e prova sua fé com pequenas aflições; e eles não suportam a prova melhor do que fez o antigo Israel. HR 128 3 Muitos têm suas necessidades presentes supridas; mesmo assim não confiam no Senhor para o futuro. Manifestam incredulidade e caem no abatimento, no desânimo, em face de necessidades antecipadas. Alguns vivem em contínua preocupação, com medo de que venham a ter necessidade e que seus filhos sofram. Quando surgem dificuldades ou eles são postos em aperto -- quando sua fé e seu amor a Deus são provados -- recuam do sofrimento e murmuram do meio escolhido por Deus para purificá-los. Seu amor não se prova puro e perfeito para suportar tudo. HR 129 1 A fé do povo do Deus do Céu deve ser forte, ativa e perseverante -- a prova das coisas que se esperam. Então a sua linguagem será: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao Seu santo nome", pois Ele me tem tratado generosamente. HR 129 2 A abnegação é considerada por muitos como sendo real sofrimento. Os apetites depravados são tolerados. E uma restrição ao apetite não saudável levaria até muitos professos cristãos a iniciar agora um retorno, como se a inanição fosse a conseqüência de um regime simples. E, à semelhança dos filhos de Israel, prefeririam a escravidão, corpos enfermiços, e mesmo a morte, a serem privados das panelas de carne. Pão e água é tudo o que foi prometido aos remanescentes no tempo de angústia. O maná HR 129 3 "E quando se evaporou o orvalho que caíra, na superfície do deserto restava uma coisa fina e semelhante a escamas, fina como a geada sobre a terra. Vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? pois não sabiam o que era. Disse-lhes Moisés: Isso é o pão que o Senhor vos dá para vosso alimento. Eis o que o Senhor vos ordenou: Colhei disso cada um segundo o que pode comer, um ômer por cabeça, segundo o número de vossas pessoas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda. HR 129 4 "Assim o fizeram os filhos de Israel; e colheram, uns mais, outros menos. Porém, medindo-o com o ômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco, pois colheram cada um quanto podia comer. Disse-lhes Moisés: Ninguém deixe dele para a manhã seguinte. Eles, porém, não deram ouvidos a Moisés, e alguns deixaram do maná para a manhã seguinte; porém deu bichos e cheirava mal. E Moisés se indignou contra eles. Colhiam-no, pois, manhã após manhã, cada um quanto podia comer; porque, em vindo o calor, se derretia. HR 130 1 "Ao sexto dia colheram pão em dobro, dois ômeres para cada um; e os principais da congregação vieram, e contaram-no a Moisés. Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o Senhor: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte, como Moisés ordenara; e não cheirou mal nem deu bichos. Então disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sábado é do Senhor: hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá." HR 130 2 O Senhor não é agora menos minucioso com respeito a Seu sábado do que quando deu essas orientações especiais aos filhos de Israel. Determinou-lhes que no sexto dia assassem o que quisessem assar, e cozessem o que quisessem cozer, em preparo para o repouso do sábado. HR 130 3 Deus manifestou Seu grande cuidado e amor por Seu povo enviando-lhe pão do céu. "Comeram pão dos anjos"; isto é, alimento provido para eles pelos anjos. O triplo milagre do maná -- dupla porção no sexto dia, nenhuma no sétimo, e sua conservação através do sábado, quando nos outros dias se tornava impróprio para o uso -- foi designado para impressioná-los quanto à solenidade do sábado. HR 131 1 Depois de terem sido abundantemente supridos de alimento, ficaram envergonhados de sua descrença e murmurações e prometeram confiar no Senhor para o futuro, mas logo olvidaram sua promessa e falharam na primeira prova de sua fé. Água da rocha HR 131 2 Viajaram do deserto de Sim, e acamparam em Refidim, onde não havia água para o povo beber. "Contendeu, pois, o povo com Moisés, e disse: Dá-nos água para beber. Respondeu-lhes Moisés: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao Senhor? Tendo aí o povo sede de água, murmurou contra Moisés, e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos, e aos nossos rebanhos? Então clamou Moisés ao Senhor: Que farei a este povo? Só lhe resta apedrejar-me: HR 131 3 "Respondeu o Senhor a Moisés: Passa adiante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, leva contigo em mão a vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água, e o povo beberá. Moisés assim o fez na presença dos anciãos de Israel. E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?" HR 131 4 Deus guiou os filhos de Israel para acamparem nesse lugar, onde não havia água, para prová-los, a fim de ver se eles O buscariam em seu desespero, ou murmurariam como já tinham feito anteriormente. À vista do que Deus tinha feito por eles em seu maravilhoso livramento, deviam ter crido nEle em seu infortúnio. Deviam ter compreendido que Ele não permitiria perecer de sede, a quem Ele havia prometido tomar para Si como Seu povo. Mas, em vez de humildemente suplicarem do Senhor a provisão para suas necessidades, murmuraram contra Moisés, e exigiram dele água. HR 132 1 Deus tinha estado manifestando de contínuo Seu poder de forma maravilhosa diante deles, para fazê-los entender que todos os benefícios que recebiam vinham dEle; que Ele os podia dar ou remover, de acordo com a Sua própria vontade. Algumas vezes tiveram um perfeito entendimento disso, e humilharam-se grandemente diante do Senhor; mas quando sedentos ou famintos, lançavam tudo sobre Moisés, como se tivessem deixado o Egito para agradar-lhe. Moisés contristou-se com suas cruéis murmurações. Indagou do Senhor o que devia fazer, pois o povo estava pronto para apedrejá-lo. O Senhor mandou que ferisse a rocha com a vara de Deus. A nuvem da Sua glória repousava diante da rocha. "No deserto fendeu rochas, e lhes deu a beber abundantemente como de abismos. Da pedra fez brotar torrentes, fez manar água como rios." Salmos 78:15, 16. HR 132 2 Moisés feriu a rocha, mas era Cristo que estava com ele e fazia a água correr da pederneira. O povo tentou o Senhor em sua sede, e disse: Se Deus nos trouxe aqui, por que não nos dá água assim como pão? A incredulidade assim demonstrada era criminosa, e fez com que Moisés receasse que o Senhor os punisse por suas ímpias murmurações. O Senhor provou a fé de Seu povo, mas este não suportou a prova. Murmurou por alimento e por água e acusou a Moisés. Por causa de sua incredulidade, o Senhor permitiu que seus inimigos fizessem guerra contra ele, para manifestar a Seu povo de onde vinha a sua força. Livramento de Amaleque HR 133 1 "Então veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim. Com isso ordenou Moisés a Josué: Escolhe-nos homens, e sai, peleja contra Amaleque; amanhã estarei Eu no cume do outeiro, e a vara de Deus estará na minha mão. Fez Josué como Moisés lhe dissera, e pelejou contra Amaleque; Moisés, porém, Arão e Hur subiram ao cume do outeiro. Quando levantava a mão, Israel prevalecia; quando, porém, ele abaixava a mão, prevalecia Amaleque. Ora as mãos de Moisés eram pesadas, por isso tomaram uma pedra e a puseram por baixo dele, e ele nela se assentou; Arão e Hur sustentavam-lhe as mãos, um dum lado e o outro do outro: assim lhe ficaram as mãos firmes até o pôr-do-sol." HR 133 2 Moisés ergueu as mãos na direção do Céu, com a vara de Deus na mão direita, suplicando a ajuda de Deus. Então Israel prevaleceu e afugentou seus inimigos. Quando Moisés baixou as mãos, viu-se que Israel logo perdeu tudo que havia ganho, e estava sendo vencido pelo inimigo. Moisés de novo ergueu as mãos na direção do Céu, e Israel prevaleceu, e o inimigo foi feito recuar. HR 133 3 Este ato de Moisés, estendendo as mãos para Deus, devia ensinar a Israel que enquanto pusessem em Deus sua confiança e se apegassem a Sua força e exaltassem o Seu trono, Ele lutaria por eles e subjugaria seus inimigos. Contudo, quando perdessem a confiança em Seu poder e confiassem em sua própria força, seriam mesmo mais fracos do que seus inimigos, que não tinham o conhecimento de Deus, e estes haviam de prevalecer sobre eles. Então "Josué desbaratou a Amaleque e a seu povo ao fio de espada. HR 134 1 "Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isso para memória num livro, e repete-o a Josué; porque Eu hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu. E Moisés edificou um altar, e lhe chamou: O Senhor é minha bandeira. E disse: Portanto, o Senhor jurou, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração." Se os filhos de Israel não tivessem murmurado contra o Senhor, Ele não teria permitido que seus inimigos fizessem guerra com eles. A visita de Jetro HR 134 2 Antes de Moisés deixar o Egito, levou de volta sua esposa e filhos ao seu sogro. E depois que Jetro ouviu do maravilhoso livramento dos israelitas do Egito, visitou a Moisés no deserto, trazendo-lhe sua esposa e filhos. "Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, inclinou-se e o beijou; e, indagando pelo bem-estar um do outro, entraram na tenda. Contou Moisés a seu sogro tudo o que o Senhor havia feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que passaram no Egito, e como o Senhor os livrara. HR 134 3 "Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor fizera a Israel, livrando-o da mão dos egípcios, e disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou das mãos dos egípcios e da mão de Faraó; agora sei que o Senhor é maior que todos os deuses, porque livrou este povo de debaixo da mão dos egípcios, quando agiram arrogantemente contra o povo. Então Jetro, sogro de Moisés, tomou holocausto e sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus." HR 135 1 O olho experimentado de Jetro logo viu que os encargos sobre Moisés eram muito grandes, pois o povo trazia a ele todas as questões difíceis e ele os instruía com relação aos estatutos e à lei de Deus. Disse a Moisés: "Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei, e Deus seja contigo: Representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus; ensina-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer. Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, e chefes de dez, para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo. Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás então suportar; e assim também todo este povo tornará em paz em seu lugar. HR 135 2 "Moisés atendeu as palavras de seu sogro, e fez tudo quanto este lhe dissera. Escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, e chefes de dez. Estes julgaram o povo em todo tempo; a causa grave trouxeram a Moisés, e toda causa simples julgaram eles. Então se despediu Moisés de seu sogro, e este se foi para a sua terra." HR 136 1 Moisés não se julgava diminuído ao receber instrução de seu sogro. Deus o exaltara grandemente e operara maravilhas por sua mão. Contudo, Moisés não arrazoou que Deus o escolhera para instruir outros e que cumprira coisas maravilhosas por sua mão, e que por isso não necessitava ser instruído. Alegremente ouviu as sugestões de seu sogro, e adotou seu plano como uma sábia providência. ------------------------Capítulo 18 -- A lei de Deus HR 137 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 19-20. HR 137 1 Depois que os filhos de Israel deixaram Refidim, vieram ao "deserto de Sinai, no qual se acamparam; ali, pois, se acampou Israel em frente do monte. Subiu Moisés a Deus, e do monte o Senhor o chamou e lhe disse: Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel: Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos cheguei a Mim. Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a Minha voz e guardardes a Minha aliança, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a Terra é Minha; vós Me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo, e expôs diante deles todas estas palavras, que o Senhor lhe havia ordenado. Então o povo respondeu à uma: Tudo o que o Senhor falou, faremos. E Moisés relatou ao Senhor as palavras do povo." HR 137 2 Aqui o povo entrou num solene concerto com Deus, aceitando-O como seu soberano, tornando-se eles súditos peculiares de Sua divina autoridade. "Disse o Senhor a Moisés: Eis que virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando Eu falar contigo, e para que também creiam sempre em ti." Quando os hebreus encontraram dificuldades no caminho, mostraram-se dispostos a murmurar contra Moisés e Arão, e a acusá-los de conduzirem a hoste de Israel do Egito para destruí-la. Deus iria honrar Moisés diante deles, de maneira que fossem levados a confiar nas suas instruções, e soubessem que Ele pusera Seu Espírito sobre ele. Preparação para a aproximação de Deus HR 138 1 O Senhor deu, então, a Moisés, orientações expressas no que concernia à preparação do povo para Ele aproximar-Se deles, a fim de ouvirem o anúncio de Sua lei, não por anjos, mas por Ele mesmo. "Disse também o Senhor a Moisés: Vai ao povo, e purifica-os hoje e amanhã. Lavem eles as suas vestes, e estejam prontos para o terceiro dia: porque no terceiro dia o Senhor à vista de todo o povo descerá sobre o monte Sinai." HR 138 2 Foi requerido do povo abstenção de trabalhos e cuidados seculares, e que tivessem pensamentos devocionais. Deus requereu também que lavassem suas vestes. Ele não é menos minucioso agora do que foi então. Ele é um Deus de ordem, e requer que Seu povo ora sobre a Terra observe hábitos de estrita limpeza. E os que adoram a Deus com vestes e eles próprios manchados, não se apresentam diante dEle de modo aceitável. Ele não Se agrada da sua falta de reverência, e não aceitará o serviço de adoradores impuros, pois insultam o seu Autor. O Criador dos céus e da Terra considerou a limpeza tão importante que disse: "Lavem eles as suas vestes." HR 138 3 "Marcarás em redor limites ao povo, dizendo: Guardai-vos de subir ao monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte, será morto. Mão nenhuma tocará neste, mas será apedrejado ou flechado; quer seja animal, quer seja homem, não viverá. Quando soar longamente a buzina, então subirão ao monte." Esta ordem fora designada para impressionar a mente deste povo rebelde com uma profunda veneração a Deus, o autor e autoridade de suas leis. Manifestação de Deus em terrível grandeza HR 139 1 "Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e relâmpagos e uma espessa nuvem sobre o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu." A hoste angélica que atendia à divina Majestade convocou o povo com um som semelhante ao de trombeta, que cresceu estrepitosamente até que toda a terra tremeu. HR 139 2 "E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente." A Majestade divina descendo numa nuvem com um glorioso séquito de anjos, aparecia como chamas de fogo. HR 139 3 "E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais: Moisés falava, e Deus lhe respondia no trovão. Descendo o Senhor para o cume do monte Sinai, chamou a Moisés para o cimo do monte. Moisés subiu, e o Senhor disse a Moisés: Desce, adverte ao povo que não traspasse o termo até ao Senhor para vê-Lo, a fim de muitos deles não perecerem. Também os sacerdotes, que se chegam ao Senhor, se hão de consagrar, para que o Senhor não os fira." HR 140 1 Assim o Senhor, com terrível majestade, expôs Sua lei do Sinai, para que o povo cresse. Ele fez acompanhar a doação da lei de sublimes exibições de Sua autoridade, para que soubessem que Ele era o único Deus vivo e verdadeiro. A Moisés não foi permitido entrar na nuvem de glória, apenas aproximar-se e entrar na espessa treva que a circundava. Ele permaneceu entre o povo e o Senhor. A lei de Deus proclamada HR 140 2 Depois de ter o Senhor dado tantas evidências de Seu poder, declarou-lhes quem Ele era: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão." O mesmo Deus que exaltou o Seu poder entre os egípcios agora proferiu Sua lei: HR 140 3 "Não terás outros deuses diante de Mim. HR 140 4 "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos Céus, nem embaixo na Terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque Eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira geração daqueles que Me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que Me amam e guardam os Meus mandamentos. HR 140 5 "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão. HR 140 6 "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os Céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: por isso o Senhor abençoou o dia de sábado, e o santificou. HR 141 1 "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. HR 141 2 "Não matarás. HR 141 3 "Não adulterarás. HR 141 4 "Não furtarás. HR 141 5 "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. HR 141 6 "Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo." HR 141 7 O primeiro e segundo mandamentos pronunciados por Jeová são preceitos contra a idolatria; pois a idolatria, se praticada, levaria longe os homens no pecado e rebelião, e resultaria no oferecimento de sacrifícios humanos. Deus queria proteger contra qualquer aproximação de tais abominações. Os primeiros quatro mandamentos foram dados para mostrar aos homens seus deveres com Deus. O quarto é o elo de ligação entre o grande Deus e o homem. O sábado, especialmente, foi dado para benefício do homem e para honra de Deus. Os últimos seis preceitos mostram o dever do homem para com seus semelhantes. HR 141 8 O sábado devia ser um sinal entre Deus e Seu povo, para sempre. Dessa maneira devia ser um sinal -- todos os que observassem o sábado, significariam por tal observância serem adoradores do Deus vivo, Criador dos céus e da Terra. O sábado devia ser um sinal entre Deus e Seu povo enquanto Ele tivesse um povo sobre a Terra para servi-Lo. HR 142 1 "Todo o povo presenciou os trovões e os relâmpagos, e o clangor da trombeta, e o monte fumegante; e o povo observando, se estremeceu e ficou de longe. Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos, porém não fale Deus conosco, para que não morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais; Deus veio para vos provar, e para que o Seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. HR 142 2 "O povo estava de longe em pé; Moisés, porém, se chegou à nuvem escura, onde estava Deus. Então disse o Senhor a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: Vistes que dos Céus Eu vos falei." A majestosa presença de Deus no Sinai, e as comoções ocasionadas na Terra pela Sua presença, os tremendos trovões e relâmpagos que acompanharam esta visitação de Deus, de tal maneira impressionaram a mente do povo com temor e reverência para com Sua sagrada majestade que instintivamente se afastaram da terrível presença de Deus, temendo que não pudessem suportar Sua terrível glória. O perigo da idolatria HR 142 3 Novamente, Deus desejou guardar os filhos de Israel da idolatria. Disse Ele: "Não fareis deuses de prata ao lado de Mim, nem deuses de ouro fareis para vós outros." Eles estavam em perigo de imitar o exemplo dos egípcios, fazendo para si imagens para representar a Deus. HR 142 4 O Senhor disse a Moisés: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que tenho preparado. Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz, e não te rebeles contra Ele, porque não perdoará a vossa transgressão; pois nEle está o Meu nome. Mas se diligentemente Lhe ouvires a voz, e fizeres tudo o que Eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários. Porque o Meu Anjo irá adiante de ti, e te levantará aos amorreus, aos heteus, aos ferezeus, aos cananeus, aos heveus e aos jebuseus; e Eu os destruirei." O Anjo que ia adiante de Israel era o Senhor Jesus Cristo. "Não adorarás os seus deuses, nem lhes darás culto, nem farás conforme as suas obras; antes os destruirás totalmente, e despedaçarás de todo as suas colunas. Servireis ao Senhor vosso Deus, e Ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e tirará do vosso meio as enfermidades." Êxodo 23:24, 25. HR 143 1 Deus desejava que Seu povo entendesse que somente Ele devia ser o objeto do seu culto; e quando derrotassem as nações idólatras ao seu redor, não deviam preservar nenhuma das imagens de sua adoração, mas destruí-las totalmente. Muitas dessas deidades pagãs eram dispendiosas, de belíssima feitura, que podiam tentar aqueles que haviam testemunhado a idolatria, muito comum no Egito, a mesmo considerar estes objetos insensíveis com algum grau de reverência. O Senhor queria que Seu povo soubesse que era por causa da idolatria daquelas nações, que as conduziu a todos os graus da impiedade, que Ele usaria os israelitas como Seus instrumentos para puni-los e destruir seus deuses. HR 143 2 "Enviarei o Meu terror diante de ti confundindo a todo o povo aonde entrares, farei que todos os teus inimigos te voltem as costas. Também enviarei vespas diante de ti, que lancem fora os heveus, os cananeus e os heteus, de diante de ti. Não os lançarei fora de diante de ti, num só ano, para que a terra se não torne em desolação, e as feras do campo se não multipliquem contra ti. Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que te multipliques e possuas a terra por herança. Porei os teus termos desde o Mar Vermelho até ao mar dos filisteus, e desde o deserto até o Eufrates; porque darei nas tuas mãos os moradores da terra, para que os lances fora de diante de ti. Não farás aliança nenhuma com eles, nem com os seus deuses. Eles não habitarão na tua terra, para que te não façam pecar contra Mim: se servirdes aos seus deuses, isso te será cilada." Êxodo 23:27-33. Estas promessas de Deus a Seu povo foram condicionadas a sua obediência. Se servissem ao Senhor inteiramente, Ele faria grandes coisas por eles. HR 144 1 Depois de Moisés ter recebido os juízos de Deus, tendo-os escrito para o povo, e também as promessas, condicionadas à obediência, disse-lhe o Senhor: "Sobe ao Senhor, tu e Arão, e Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel; e adorai de longe. Só Moisés se chegará ao Senhor; os outros não se chegarão, nem o povo subirá com ele. Veio, pois, Moisés e referiu ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; então todo o povo respondeu a uma voz, e disse: Tudo o que falou o Senhor, faremos." Êxodo 24:1-3. HR 144 2 Moisés escrevera, não os Dez Mandamentos, mas as ordenanças que Deus queria que observassem, e as promessas sob condição de sua obediência a Ele. Leu isto ao povo, e eles se comprometeram a obedecer a todas as palavras que o Senhor tinha dito. Moisés então escreveu seu solene compromisso num livro e ofereceu sacrifício a Deus pelo povo. "E tomou o livro da aliança, e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor, faremos, e obedeceremos. Então tomou Moisés aquele sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras." Êxodo 24:7, 8. O povo repetiu seu solene compromisso ao Senhor, de fazer tudo o que Ele havia falado, e ser obediente. A eterna lei de Deus HR 145 1 A lei de Deus existia antes de o homem ser criado. Os anjos eram governados por ela. Satanás caiu porque transgrediu os princípios do governo de Deus. Depois que Adão e Eva foram criados, Deus os fez conhecer Sua lei. Ela não estava escrita, mas foi-lhes relatada por Jeová. HR 145 2 O sábado do quarto mandamento foi instituído no Éden. Depois de haver Deus feito o mundo e criado o homem sobre a Terra, fez o sábado para o homem. Após o pecado e a queda de Adão, coisa alguma foi tirada da lei de Deus. Os princípios dos Dez Mandamentos existiam antes da queda e eram de caráter apropriado à condição de uma santa ordem de seres. Depois da queda os princípios desses preceitos não foram mudados, mas foram dados preceitos adicionais que viessem ao encontro do homem em seu estado decaído. HR 145 3 Estabeleceu-se então um sistema que requeria sacrifício de animais, para conservar diante do homem aquilo de que a serpente fizera Eva descrer -- que a penalidade da desobediência é a morte. A transgressão da lei de Deus tornou necessário que Cristo morresse como sacrifício, e assim abrisse caminho para o homem escapar da penalidade e ainda preservar a honra da lei de Deus. O sistema de sacrifícios devia ensinar ao homem a humildade, em vista de sua condição decaída, e conduzi-lo ao arrependimento e confiança em Deus somente, mediante o Redentor prometido, para perdão de sua passada transgressão da lei divina. Se a lei de Deus não tivesse sido transgredida, jamais teria havido morte, nem teriam sido necessários preceitos adicionais para se ajustarem à decaída condição humana. HR 146 1 Adão ensinou a seus descendentes a lei de Deus, que foi transmitida aos fiéis através de sucessivas gerações. A contínua transgressão da lei de Deus atraiu um dilúvio de águas sobre a Terra. A lei foi preservada por Noé e sua família, que, por procederem corretamente foram salvos na arca por um milagre de Deus. Noé ensinou a seus descendentes os Dez Mandamentos. O Senhor, desde Adão, preservou para Si um povo, em cujo coração estava Sua lei. Disse de Abraão: "Porque Abraão obedeceu a Minha palavra, e guardou os Meus mandamentos, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis." Gênesis 26:5. HR 146 2 O Senhor apareceu a Abraão e disse-lhe: HR 146 3 "Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na Minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre Mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente." Gênesis 17:1, 2. "Estabelecerei a Minha aliança entre Mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência." Gênesis 17:7. HR 146 4 Ele então requereu de Abraão e sua descendência a circuncisão, que era um círculo cortado na carne, como um sinal de que Deus os havia cortado e separado de todas as nações como Seu tesouro peculiar. Por este sinal eles solenemente se comprometeram a não se ligar por casamento com outras nações, pois assim fazendo poderiam perder sua reverência a Deus e Sua santa lei, e se tornariam como as nações idólatras ao redor deles. HR 147 1 Pelo ato da circuncisão eles solenemente concordaram em cumprir a sua parte nas condições da aliança feita com Abraão, de se separarem de todas as nações e serem perfeitos. Se os descendentes de Abraão se tivessem mantido separados das outras nações, não teriam sido seduzidos à idolatria. Conservando-se separados das outras nações, seria removida deles uma grande tentação de comprometer-se em suas práticas pecaminosas e rebeldia contra Deus. Perderam em grande medida seu peculiar e santo caráter por se misturarem com as nações ao redor. Para puni-los o Senhor trouxe sobre sua terra a fome, que os compeliu a descerem ao Egito para preservar a vida. Mas Deus não os abandonou enquanto estavam no Egito, por causa de Sua aliança com Abraão. Permitiu que fossem oprimidos pelos egípcios, para que tornassem a Ele em seu desespero, escolhessem Seu justo e misericordioso governo, e obedecessem a Seus reclamos. HR 147 2 Eram apenas umas poucas as famílias que desceram ao Egito. Elas aumentaram para uma grande multidão. Alguns foram cuidadosos no instruir seus filhos na lei de Deus, mas muitos israelitas haviam testemunhado tanta idolatria que tinham idéias confusas da lei de Deus. Aqueles que temiam a Deus clamavam em angústia de espírito para que quebrasse o seu jugo de amarga servidão, tirando-os da terra de seu cativeiro, para que pudessem estar livres para servi-Lo. Deus ouviu suas súplicas e suscitou Moisés como Seu instrumento para efetuar o livramento de Seu povo. Depois que eles deixaram o Egito, e que as águas do Mar Vermelho tinham sido divididas diante deles, o Senhor os provou para ver se confiariam nAquele que os havia tirado, uma nação de outra nação, por sinais, tentações e maravilhas. Entretanto, eles falharam em suportar a prova. Murmuraram contra Deus por causa das dificuldades no caminho e desejaram retornar ao Egito. Escrita em tábuas de pedra HR 148 1 Para deixá-los sem escusas, o próprio Senhor condescendeu em descer sobre o Sinai, envolto em glória e circundado por Seus anjos, e na mais sublime e terrível maneira fez conhecida a Sua lei dos Dez Mandamentos. Não confiou o seu ensino a ninguém, nem mesmo a Seus anjos, mas proclamou Sua lei com voz audível aos ouvidos de todo o povo. Não a confiou mesmo então à curta memória de um povo que fora propenso a olvidar Seus reclamos, mas escreveu-a com Seu próprio dedo santo sobre tábuas de pedra. Tiraria deles toda possibilidade de misturarem com Seus santos preceitos qualquer tradição, ou de confundirem Suas exigências com as práticas de homens. HR 148 2 Ele então Se aproximou ainda mais de Seu povo, que tinha sido tão pronto a extraviar-se, pois não queria deixá-los meramente com dez preceitos do Decálogo. Ordenou que Moisés escrevesse juízos e leis, conforme os ditasse, dando minuciosas instruções quanto ao que Ele requeria que realizassem, e assim resguardou os dez preceitos que Ele havia gravado sobre as tábuas de pedra. Estas específicas instruções e reclamos foram dados para atrair o errante homem à obediência da lei moral, à qual era tão propenso a transgredir. HR 148 3 Se o homem tivesse guardado a lei de Deus, tal como foi dada a Adão depois da queda, preservada na arca por Noé, e observada por Abraão, não teria havido necessidade da ordenança da circuncisão. E se os descendentes de Abraão tivessem guardado a aliança, da qual a circuncisão era um sinal ou compromisso, jamais teriam eles caído na idolatria nem teria sido permitido descerem ao Egito, e tampouco teria havido necessidade de Deus proclamar Sua lei do Sinai gravando-a sobre tábuas de pedra e guardando-a por definidas instruções nos juízos e estatutos de Moisés. Os juízos e estatutos HR 149 1 Moisés escreveu estes juízos e estatutos da boca de Deus enquanto estava com Ele no monte. Se o povo de Deus tivesse obedecido aos princípios dos Dez Mandamentos, não teria sido necessário dar a Moisés instruções específicas, que ele escreveu num livro, relativas ao seu dever para com Deus e de uns para com os outros. As definidas instruções que o Senhor deu a Moisés quanto à obrigação de Seu povo, uns para com os outros, e para com o estrangeiro, são os princípios dos Dez Mandamentos simplificados e dados de maneira definida, de modo que eles não precisavam errar. HR 149 2 O Senhor instruiu a Moisés definidamente quanto aos sacrifícios cerimoniais, que deviam cessar com a morte de Cristo. O sistema de sacrifícios simbolizava o oferecimento de Cristo como um Cordeiro sem manchas. HR 149 3 O Senhor primeiro estabeleceu o sistema de ofertas sacrificais, com Adão depois da queda, e este o ensinou aos seus descendentes. Este sistema foi corrompido antes do dilúvio, e por aqueles que se separaram dos fiéis seguidores de Deus e se empenharam na construção da torre de Babel. Eles sacrificaram aos deuses de sua própria feitura, em vez de ao Deus dos Céus. Ofereceram sacrifícios não porque tivessem fé no Redentor por vir, mas porque pensavam que deviam agradar seus deuses pelo oferecimento de muitos animais sobre poluídos altares idólatras. Sua superstição levou-os a grandes extravagâncias. Ensinavam ao povo que quanto mais valioso o sacrifício, maior prazer ele daria a seus ídolos e maior seria a prosperidade e a riqueza de sua nação. Portanto, seres humanos eram freqüentemente sacrificados a estes ídolos insensíveis. Aquelas nações possuíam, para controlar as ações do povo, leis e regulamentos que era cruéis ao extremo. Suas leis eram feitas por aqueles cujo coração não fora suavizado pela graça; enquanto passavam por alto os mais degradantes crimes, uma pequena ofensa acarretava a mais cruel punição por parte dos que tinham autoridade. HR 150 1 Moisés tinha isso em vista quando disse a Israel: "Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente este grande povo é gente sábia e entendida. Pois, que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que O invocamos? E que grande nação há, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que Eu hoje vos proponho?" Deuteronômio 4:5-8. ------------------------Capítulo 19 -- O santuário HR 151 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 25-40. HR 151 1 O tabernáculo foi feito de acordo com a ordem de Deus. O Senhor suscitou homens e habilitou-os com aptidões mais do que naturais para realizarem tão engenhoso trabalho. Nem a Moisés nem àqueles artífices foi permitido planejar a forma e a arte da construção. Deus mesmo idealizou o plano e deu-o a Moisés, com instruções particulares quanto ao seu tamanho e forma e o material a ser usado e especificou cada peça do mobiliário que nela devia haver. Apresentou a Moisés um modelo em miniatura do santuário celestial e ordenou-lhe que fizesse todas as coisas segundo o exemplar que lhe fora mostrado no monte. Moisés escreveu todas as instruções num livro e leu-as para as pessoas mais influentes. HR 151 2 Então o Senhor solicitou ao povo que trouxesse uma oferta espontânea, para fazer-Lhe um santuário, a fim de que Ele habitasse no meio deles. "Então toda a congregação dos filhos de Israel saiu da presença de Moisés, e veio todo homem, cujo coração o moveu e cujo espírito o impeliu, e trouxe a oferta ao Senhor para a obra da tenda da congregação, e para todo o seu serviço, e para as vestes sagradas. Vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração: trouxeram fivelas, pendentes, anéis, braceletes, todos os objetos de ouro; todo homem fazia oferta de ouro ao Senhor." HR 152 1 Foram necessários grandes e dispendiosos preparativos. Caro e precioso material devia ser coletado. Mas o Senhor aceitou somente ofertas voluntárias. Devoção ao trabalho de Deus e sacrifício de coração foram os primeiros requisitos ao preparar-se um lugar para Deus. Enquanto a edificação do santuário estava caminhando, e o povo trazia suas ofertas a Moisés, e ele as apresentava aos artífices, todos os sábios que trabalhavam na obra examinaram as ofertas e concluíram que o povo tinha trazido o suficiente, e até mais do que podia ser usado. Moisés proclamou através do acampamento: "Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais." Registrado para gerações futuras HR 152 2 As repetidas murmurações dos israelitas, e as visitações da ira de Deus por causa de suas transgressões, são registradas na história sagrada para benefício do povo de Deus que posteriormente vivesse sobre a Terra, e especialmente para servir de advertência aos que vivessem próximo ao tempo do fim. Também seus atos de devoção, sua energia e liberalidade em trazer ofertas voluntárias a Moisés são registrados para benefício do povo de Deus. Seu exemplo, em preparar jubilosamente o material para o tabernáculo, é um exemplo para todos os que verdadeiramente amam o culto a Deus. Aqueles que estimam a bênção da sagrada presença de Deus, ao prepararem um edifício em que Ele possa encontrar-Se com eles, devem manifestar maior interesse e zelo na obra sagrada, na mesma proporção em que consideram as bênçãos celestiais superiores ao seu conforto terreno. Devem compreender que estão preparando uma casa para Deus. HR 153 1 É de alguma conseqüência que um edifício preparado expressamente para que Deus Se encontre com Seu povo, deva ser planejado cuidadosamente -- feito confortável, asseado e conveniente, pois é para ser dedicado a Deus e apresentado a Ele, e Ele deve ser convidado a habitar nessa casa e torná-la sagrada por Sua santa presença. Deve-se dar suficiente e voluntariamente ao Senhor para que liberalmente se conclua o trabalho, e então os artífices possam dizer: não tragam mais ofertas. De acordo com o modelo HR 153 2 Depois que a construção do tabernáculo foi completada, Moisés examinou todo o trabalho, e o comparou com o modelo e com as instruções recebidas de Deus, e viu que cada parte estava de acordo com o modelo; e ele abençoou o povo. HR 153 3 Deus deu o modelo da arca a Moisés, e instruções especiais de como devia ser feita. A arca foi feita para conter as tábuas de pedra, nas quais Deus gravara, com Seu próprio dedo, os Dez Mandamentos. Ela era de forma igual a de um cofre, e estava coberta e marchetada de ouro puro. Era ornamentada com coroas de ouro na parte superior. A cobertura desta caixa sagrada era o propiciatório, feito de ouro maciço. De cada lado do propiciatório estava fixado um querubim de ouro puro e sólido. Suas faces estavam voltadas uma na direção da outra e olhavam reverentemente para baixo na direção do propiciatório, o que representava todos os anjos celestiais olhando com interesse e reverência para a lei de Deus depositada na arca no santuário celestial. Estes querubins tinham asas. Uma asa de cada anjo estendia-se para o alto, enquanto a outra asa de cada anjo cobria seu corpo. A arca do santuário terrestre era o modelo da verdadeira arca no Céu. Lá, ao lado da arca celestial, permanecem anjos vivos, um em cada extremidade, e cada um deles, com uma asa estendida para o alto, cobre o propiciatório, enquanto a outra asa se dobra sobre o corpo, em sinal de reverência e humildade. HR 154 1 Foi requerido de Moisés que colocasse as tábuas de pedra na arca terrestre. Foram chamadas tábuas do testemunho; e a arca foi chamada a arca do testemunho, porque continha o testemunho de Deus nos Dez Mandamentos. Dois compartimentos HR 154 2 O tabernáculo era composto de dois compartimentos, separados por uma cortina ou véu. Todo o mobiliário do tabernáculo era feito de ouro maciço, ou recoberto de ouro. As cortinas do tabernáculo tinham variedade de cores, em belíssimo arranjo, e nestas cortinas foram trabalhados, com fios de ouro e prata, querubins, que deviam representar a hoste angélica, que se acha relacionada com o trabalho do santuário celestial e que são anjos ministradores aos santos na Terra. HR 154 3 Além do segundo véu estava colocada a arca do testemunho, e uma cortina bela e rica estendia-se diante da arca sagrada. Esta cortina não alcançava o topo da construção. A glória de Deus, que estava sobre o propiciatório, podia ser vista de ambos os compartimentos, mas em menor grau do primeiro compartimento. HR 154 4 Diretamente defronte a arca, porém separado por uma cortina, estava o altar de ouro, de incenso. O fogo sobre este altar fora aceso pelo próprio Senhor, e era conservado religiosamente, alimentado com santo incenso, o qual enchia o santuário com uma nuvem fragrante, dia e noite. Esta fragrância se estendia por quilômetros ao redor do tabernáculo. Quando o sacerdote oferecia o incenso diante do Senhor, olhava para o propiciatório. Muito embora não pudesse vê-lo sabia que ele ali estava, e enquanto o incenso subia qual nuvem, a glória do Senhor descia sobre o propiciatório e enchia o santíssimo e era visível no lugar santo, e frequentemente enchia ambos os compartimentos de modo que o sacerdote era incapaz de oficiar e obrigado a permanecer à porta do tabernáculo. HR 155 1 O sacerdote, no lugar santo, dirigindo pela fé sua oração ao propiciatório, ao qual não podia ver, representa o povo de Deus dirigindo suas orações a Cristo diante do propiciatório no santuário celestial. Eles não podem ver seu Mediador com a vista natural, mas com os olhos da fé vêem a Cristo diante do propiciatório e dirigem-Lhe suas orações e com confiança reclamam os benefícios de Sua mediação. HR 155 2 Estes sagrados compartimentos não possuíam janelas para admitir luz. O castiçal era feito de puríssimo ouro e era conservado ardendo noite e dia, e proporcionava luz a ambos os compartimentos. A luz das lâmpadas do castiçal refletia sobre as tábuas chapeadas de ouro dos lados do edifício, sobre os sagrados móveis e sobre as cortinas de belas cores com querubins trabalhados com fios de ouro e prata, e a cena era gloriosa e indescritível. Nenhuma linguagem pode descrever a beleza e a graça, e a santa glória que estes compartimentos apresentavam. O ouro do santuário refletia as cores das cortinas que se assemelhavam às diferentes cores do arco-íris. HR 155 3 Somente uma vez por ano podia o sumo sacerdote entrar no lugar santíssimo, depois de muito cuidadoso e solene preparo. Nenhuma vista mortal que não a do sumo sacerdote podia olhar à sagrada grandeza deste compartimento, porque era o lugar especial de habitação da visível glória de Deus. O sumo sacerdote sempre entrava tremente, enquanto o povo aguardava seu retorno com solene silêncio. Seus ferventes desejos eram para Deus, em busca de Sua bênção. Diante do propiciatório Deus Se comunicava com o sumo sacerdote. Se ele permanecia tempo incomum no santíssimo o povo ficava muitas vezes terrificado, temendo que por causa de seus pecados ou algum pecado do sacerdote, a glória do Senhor o tivesse fulminado. Mas quando o sonido das campainhas de suas vestes era ouvido, ficavam grandemente aliviados. Ele então saía e abençoava o povo. HR 156 1 Depois que o trabalho do tabernáculo se concluiu, "então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo". Pois "de dia a nuvem do Senhor repousava sobre o tabernáculo, e de noite havia fogo nele, à vista de toda a casa de Israel, em todas as suas jornadas". HR 156 2 O tabernáculo fora construído de modo a poder ser desmontado e levado com eles em todas as suas jornadas. A nuvem guia HR 156 3 O Senhor dirigiu os israelitas em todas as suas viagens através do deserto. Quando era para o bem do povo e a glória de Deus que armassem suas tendas num certo lugar e ali habitassem, Deus lhes indicava Sua vontade pela coluna de nuvem repousando diretamente sobre o tabernáculo. E aí permanecia até que Deus quisesse que jornadeassem outra vez. Então a nuvem de glória se erguia sobre o tabernáculo e eles jornadeavam novamente. HR 157 1 Em todas as suas jornadas eles observavam perfeita ordem. Cada tribo levava um estandarte, com o sinal da casa de seu pai nele, e cada tribo era ordenada a acampar junto a seu próprio estandarte. Quando viajavam, as diferentes tribos marchavam em ordem, cada tribo sob seu próprio estandarte. Quando descansavam de suas jornadas, o tabernáculo era erigido, e então as diferentes tribos armavam suas tendas em ordem, precisamente na posição que Deus ordenara, ao redor do tabernáculo, a certa distância dele. HR 157 2 Quando o povo jornadeava, a arca do concerto era levada adiante deles. "A nuvem do Senhor pairava sobre eles de dia, quando partiam do arraial. Partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-Te, ó Senhor, e dissipados sejam os Teus inimigos, e fujam diante de Ti os que Te odeiam. E quando pousava, dizia: Volta, ó Senhor, para os milhares de milhares de Israel." ------------------------Capítulo 20 -- Os espias e seu relatório HR 158 0 Este capítulo é baseado em Números 13-14. HR 158 1 O Senhor ordenou a Moisés que enviasse homens a espiar a terra de Canaã, que daria aos filhos de Israel. Um representante de cada tribo devia ser selecionado para este propósito. Foram e, depois de quarenta dias, retornaram de sua investigação, e vieram diante de Moisés e Arão e de toda a congregação de Israel, e mostraram-lhes o fruto da terra. Todos concordaram que era uma boa terra, e exibiram o rico fruto que haviam trazido como prova. Um cacho de uvas era tão grande que dois homens o carregavam numa vara. Também trouxeram figos e romãs, que ali cresciam em abundância. HR 158 2 Depois de falarem da fertilidade da terra, todos menos dois falaram desencorajadamente de sua capacidade de possuí-la. Disseram que era mui forte o povo que habitava a terra, e que as cidades eram rodeadas de grandes e altos muros, e além do mais, viram lá os filhos do gigante Enaque. Então descreveram como o povo estava situado ao redor de Canaã, e a impossibilidade de possuí-la. HR 158 3 Ao ouvir o povo este relatório, deu vazão ao seu desapontamento com amargas reprovações e lamentos. Não esperaram, nem refletiram ou arrazoaram que Deus, que os havia trazido até ali, podia certamente dar-lhes a terra. Cederam de uma vez ao desencorajamento. Limitaram o poder do Altíssimo e não confiaram em Deus, que até então os conduzira. Acusaram a Moisés e em murmuração disseram uns para os outros: isto, então, é o fim de todas as nossas esperanças. Esta é a terra, por cuja obtenção viajamos do Egito. HR 159 1 Calebe e Josué procuraram ser ouvidos, porém o povo estava tão excitado que não podia dominar-se para prestar atenção a esses dois homens. Depois que se acalmaram um pouco, Calebe se aventurou a falar. Disse ao povo: "Eia! subamos, e possuamos a terra, porque certamente prevaleceremos contra ela." Mas os homens que com ele subiram, disseram: "Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." E continuaram a repetir seu mau relatório, e a declarar que todos os homens eram de grande estatura. "Também vimos ali gigantes (os filhos de Enaque são descendentes de gigantes), e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e assim também o éramos aos seus olhos." Israel murmura outra vez HR 159 2 "Levantou-se, pois, toda a congregação, e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite. Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: oxalá tivéssemos morrido na terra do Egito! ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos a um para nosso capitão, e voltemos para o Egito. Então Moisés e Arão caíram sobre seus rostos perante a congregação dos filhos de Israel." HR 160 1 Os israelitas não somente deram vazão às suas queixas contra Moisés, mas acusaram o próprio Deus de portar-Se enganosamente com eles, prometendo-lhes uma terra que eram incapazes de possuir. Seu espírito rebelde, aqui subiu tão alto, que, esquecidos do braço forte da Onipotência que os havia trazido da terra do Egito e conduzido por uma série de milagres, resolveram escolher um capitão para levá-los de volta ao Egito, onde tinham sido escravos e sofrido tanta opressão. Chegaram a designar um capitão, descartando-se assim de Moisés, seu paciente e tolerante líder; e murmuraram amargamente contra Deus. HR 160 2 Moisés e Arão caíram sobre seus rostos diante do Senhor na presença de toda congregação, para implorar a misericórdia de Deus em favor do povo rebelde. Mas sua tristeza e pesar eram demasiado grandes para serem expressos. Permaneceram prostrados em completo silêncio. Calebe e Josué rasgaram suas vestes como expressão da mais profunda tristeza. "E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muitíssimo boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então nos fará entrar nessa terra, e no-la dará: terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo dessa terra, porquanto como pão os podemos devorar; retirou-se deles o Seu amparo; o Senhor é conosco; não os temais." HR 160 3 "Retirou-se deles o Seu amparo." Isto é, os cananeus tinham enchido a medida de sua iniqüidade, a divina proteção foi retirada deles, e eles se sentiam perfeitamente seguros e estavam despreparados para a batalha; e, pelo concerto de Deus, a terra nos está assegurada. Em vez de estas palavras produzirem o efeito desejado sobre o povo, elas incrementaram sua obstinada rebelião. Ficaram irados e clamaram alto e em fúria que Calebe e Josué deviam ser apedrejados, o que teria sido feito não tivesse o Senhor Se interposto mediante uma mui assinalada exibição de Sua terrível glória no tabernáculo da congregação, diante de todos os filhos de Israel. Prevalece o apelo de Moisés HR 161 1 Moisés foi ao tabernáculo a fim de comunicar-se com Deus. "Disse o Senhor a Moisés: Até quando Me provocará este povo, e até quando não crerão em Mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio deles? Com pestilência o ferirei, e o deserdarei; e farei de ti povo maior e mais forte do que este. Respondeu Moisés ao Senhor: Os egípcios não somente ouviram que com a Tua força fizeste subir este povo do meio deles, mas também o disseram aos moradores desta terra; ouviram que Tu, ó Senhor, estás no meio deste povo, que face a face, ó Senhor, lhes apareces, Tua nuvem está sobre eles, e vais adiante deles numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite. Se matares este povo como a um só homem, as gentes, pois, que antes ouviram a Tua fama, dirão: Não podendo o Senhor fazer entrar este povo na terra que lhe prometeu com juramento, os matou no deserto." HR 161 2 Moisés de novo recusa admitir que Israel seja destruído, e ele próprio se torne uma nação mais poderosa que Israel. Este favorecido servo de Deus manifesta seu amor por Israel e mostra seu zelo pela glória de seu Criador e honra de seu povo: como tens perdoado este povo desde o Egito até agora, tens sido longânimo e misericordioso até aqui com este povo ingrato; indigno como possa ser, Tua misericórdia é a mesma. Ele suplica: portanto, não os pouparias desta vez, dando mais um exemplo de divina paciência aos muitos que já tens dado? HR 162 1 "Tornou-lhe o Senhor. Segundo a tua palavra Eu lhe perdoei. Porém, tão certo como Eu vivo, e como toda a Terra se encherá da glória do Senhor, nenhum dos homens que, tendo visto a Minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, e todavia Me puseram à prova já dez vezes e não obedeceram à Minha voz, nenhum deles verá a terra que com juramento prometi a seus pais, sim, nenhum daqueles que Me desprezaram, a verá. Porém, o Meu servo Calebe, visto que nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-Me, Eu o farei entrar na terra que espiou, e a sua descendência a possuirá." Volta ao deserto HR 162 2 O Senhor ordenou que os hebreus retornassem para o deserto, pelo caminho do Mar Vermelho. Estavam muito perto da boa terra, porém, por sua ímpia rebelião, perderam a proteção de Deus. Tivessem eles recebido o relatório de Calebe e Josué, e avançado imediatamente, Deus lhes teria dado a terra de Canaã. Mas foram incrédulos e mostraram tão insolente espírito contra Deus que trouxeram sobre si mesmos o aviso de que jamais entrariam na Terra Prometida. Foi por piedade e misericórdia que Deus os enviou de volta pelo Mar Vermelho, pois os amalequitas e cananeus, enquanto eles demoravam e murmuravam, ouviram a respeito dos espias e se prepararam para fazer guerra contra os filhos de Israel. HR 163 1 "Depois disse o Senhor a Moisés e Arão: Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra Mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra Mim." O Senhor ordenou a Moisés e Arão que dissessem ao povo que Ele faria como eles haviam falado. Eles haviam dito: "Oxalá tivéssemos morrido na terra do Egito! ou mesmo neste deserto!" Agora Deus os tomaria em sua palavra. Mandou Seus servos dizer-lhes que morreriam no deserto, os de vinte anos para cima, por causa de sua rebeldia e murmuração contra o Senhor. Apenas Calebe e Josué, entrariam na terra de Canaã. "Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, farei entrar nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezastes." HR 163 2 O Senhor declarou que os filhos dos hebreus deviam vaguear no deserto quarenta anos, contados do tempo em que deixaram o Egito, devido à rebelião de seus pais, até que os pais estivessem todos mortos. Assim deviam eles suportar e sofrer as conseqüências de suas iniqüidades quarenta anos, de acordo com o número de dias em que espiaram a terra, um dia para cada ano. "E tereis experiência do Meu desagrado." Eles deviam compreender plenamente que era a punição por sua idolatria e rebeldes murmurações, que tinham obrigado o Senhor a mudar Seu propósito concernente a eles. A Calebe e Josué foi prometida uma recompensa em primazia a toda hoste de Israel, porque estes tinham perdido todo o direito de reclamar o favor e proteção de Deus. ------------------------Capítulo 21 -- O pecado de Moisés HR 164 0 Este capítulo é baseado em Números 20. HR 164 1 Novamente a congregação de Israel foi conduzida ao deserto, para o mesmo lugar onde Deus os provou logo depois de terem deixado o Egito. O Senhor lhes dera água tirada da rocha, que continuou a fluir até pouco antes de chegarem de novo à rocha, quando o Senhor fez cessar a corrente viva, a fim de outra vez provar Seu povo, para ver se suportariam o teste de sua fé ou voltariam a murmurar contra Ele. HR 164 2 Quando os hebreus ficaram sedentos e não puderam achar água, tornaram-se impacientes e não se lembraram do poder de Deus que, quase quarenta anos antes, lhes tirara água da rocha. Em vez de confiarem em Deus, queixaram-se de Moisés e Arão, e disseram-lhes: "Oxalá tivéssemos perecido quando expiraram nossos irmãos perante o Senhor!" Isto é, desejaram ter estado no número que tinha sido destruído pela praga na rebelião de Coré, Datã e Abirã. HR 164 3 Iradamente inquiriram: "Por que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para morrermos aí, nós e os nossos animais? E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar, que não é de cereais, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber? HR 165 1 "Então Moisés e Arão se foram de diante do povo para a porta da tenda da congregação, e se lançaram sobre os seus rostos; e a glória do Senhor lhes apareceu. Disse o Senhor a Moisés: Toma a vara, ajunta o povo, tu e Arão, teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e dará a sua água; assim lhe tirareis água da rocha, e dareis a beber à congregação e aos seus animais. Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor, como lhe tinha ordenado. Moisés cede à impaciência HR 165 2 "Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e lhe disseram: Ouvi, agora, rebeldes, porventura faremos sair água desta rocha para vós outros? Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e seus animais. Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em Mim, para Me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não fareis entrar este povo na terra que lhe dei." HR 165 3 Aqui Moisés pecou. Ele estava fatigado com a contínua murmuração do povo contra ele, e por ordem do Senhor, tomou a vara, e em vez de falar à rocha, como Deus ordenara, feriu-a duas vezes com a vara, depois de dizer: "Porventura faremos sair água desta rocha para vós outros?" Aqui ele falou imprudentemente com seus lábios. Ele não disse: Deus mostrará agora outra evidência de Seu poder e vos tirará água desta rocha. Não atribuiu ao poder e glória de Deus o jorrar de novo a água da rocha, e portanto não O glorificou diante do povo. Por esta falha da parte de Moisés, Deus não permitiria que ele guiasse o povo à Terra Prometida. HR 166 1 Esta necessidade de manifestação do poder de Deus tornava a ocasião solene, e Moisés e Arão deviam tê-la aproveitado para causar uma impressão favorável sobre o povo. Mas Moisés estava perturbado, e em impaciência e ira com o povo por causa de suas murmurações, disse: "Ouvi, agora, rebeldes, porventura faremos sair água desta rocha para vós outros?" Em assim falando ele admitia virtualmente ao murmurador Israel que eles estavam certos em acusá-lo de os ter tirado do Egito. Deus havia perdoado ao povo maiores transgressões do que este erro da parte de Moisés, mas não podia tratar o pecado em um líder de Seu povo, da mesma forma como nos liderados. Não podia desculpar o pecado de Moisés e permitir sua entrada na Terra Prometida. HR 166 2 Aqui deu o Senhor a Seu povo uma prova inconfundível de que Aquele que havia operado tão maravilhoso libertamento em favor deles, tirando-os da servidão egípcia, fora o poderoso Anjo e não Moisés, e que estava seguindo adiante deles em todas as suas jornadas, e de quem Ele dissera: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que tenho preparado. Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz, e não te rebeles contra Ele, porque não perdoará a vossa transgressão; pois nEle está o Meu nome." Êxodo 23:20, 21. HR 166 3 Moisés tomou para si a glória que pertencia a Deus, e tornou necessário que Deus procedesse de modo a convencer ao rebelde Israel de que não fora Moisés que os tirara do Egito, mas o próprio Deus. O Senhor havia confiado a Moisés o encargo de guiar Seu povo, enquanto o poderoso Anjo ia diante deles em todas as suas jornadas e dirigia todas as viagens. Porque eram tão prontos a esquecer que Deus os estava guiando por Seu Anjo e a atribuir ao homem aquilo que só o poder de Deus podia realizar, Ele os provara e testara, para ver se Lhe obedeceriam. A toda prova eles falharam. Em vez de crerem em Deus, e reconhecerem Aquele que havia juncado o seu caminho com evidências do Seu poder e assinaladas provas de Seu cuidado e amor, duvidaram dEle e atribuíram sua saída do Egito a Moisés, acusando-o de ser a causa de todos os seus desastres. Moisés havia suportado sua obstinação com notável paciência. Certa ocasião eles ameaçaram apedrejá-lo. O duro castigo HR 167 1 O Senhor removeria para sempre do espírito deles esta impressão, impedindo Moisés de entrar na Terra Prometida. O Senhor muito exaltara a Moisés. Havia-lhe revelado Sua grande glória. Tomara-o em sagrada proximidade consigo sobre o monte, e condescendera em conversar com ele como um homem fala com um amigo. Comunicara a Moisés, e através dele ao povo, Sua vontade, Seus estatutos e Suas leis. O ter sido assim exaltado e honrado de Deus tornou seu erro de maior magnitude. Moisés arrependeu-se de seu pecado e humilhou-se grandemente diante de Deus. Relatou a todo Israel sua tristeza pelo seu pecado. Não ocultou o resultado de seu pecado, mas contou-lhes que por assim ter deixado de atribuir glória a Deus, não podia levá-los à Terra Prometida. Disse-lhes então que, se este erro de sua parte fora tão grande a ponto de ser assim corrigido por Deus, como não consideraria Ele suas repetidas murmurações, acusando-o (Moisés) das incomuns manifestações de Deus, por causa dos pecados deles? HR 168 1 Por este simples exemplo, Moisés havia dado motivo a que tivessem a impressão de que tirara para eles a água da rocha, quando devia ter engrandecido o nome do Senhor entre Seu povo. O Senhor agora queria deixar claro ao povo que Moisés era simples homem, seguindo a guia e direção de um mais poderoso do que ele, o próprio Filho de Deus. Nisto Ele os deixaria sem qualquer dúvida. Onde muito é dado, muito é requerido. Moisés havia sido altamente favorecido com especiais visões da majestade de Deus. A luz e a glória de Deus tinham sido concedidas a ele em rica abundância. Sua face havia refletido sobre o povo a glória que o Senhor fizera brilhar sobre ele. Todos serão julgados de acordo com os privilégios que tiveram, e a luz e os benefícios que lhe foram outorgados. HR 168 2 Os pecados dos homens bons, cuja conduta geral tem sido digna de imitação, são especialmente ofensivos a Deus. Eles levam Satanás a triunfar e a lançar em rosto aos anjos de Deus as falhas dos instrumentos por Deus escolhidos, e dão aos injustos ocasião a que se levantem contra Deus. O próprio Senhor havia dirigido Moisés de modo especial e lhe revelado Sua glória, como a nenhum outro sobre a Terra. Ele era naturalmente impaciente, mas apoderara-se firmemente da graça de Deus, implorando sabedoria do Céu, com tanta humildade que fora fortalecido por Deus, e vencera a impaciência de modo que foi por Deus chamado o homem mais manso sobre a face da Terra inteira. HR 168 3 Arão morreu no Monte Hor, pois dissera o Senhor que ele não entraria na Terra Prometida, porque, com Moisés, pecara na ocasião de tirarem água da rocha em Meribá. Moisés e os filhos de Arão o sepultaram no monte, para que o povo não fosse tentado a fazer uma grande cerimônia com o seu corpo, e ser culpado do pecado da idolatria. ------------------------Capítulo 22 -- A morte de Moisés HR 170 0 Este capítulo é baseado em Deuteronômio 31-34. HR 170 1 Moisés logo devia morrer, e foi-lhe ordenado reunir os filhos de Israel antes de sua morte e referir-lhes todas as jornadas da hoste hebréia desde sua partida do Egito, e todas as grandes transgressões de seus pais, que tinham trazido os juízos de Deus sobre eles, compelindo-O a dizer que eles não entrariam na Terra Prometida. Seus pais tinham morrido no deserto, de acordo com a palavra do Senhor. Seus filhos tinham crescido, e a estes a promessa de posse da terra de Canaã devia ser cumprida. Muitos destes eram crianças quando a lei fora dada, e não tinham nenhuma recordação da grandeza do evento. Outros nasceram no deserto, e para que não deixassem de compreender a necessidade de serem obedientes aos Dez Mandamentos e a todas as leis e juízos dados a Moisés, foi ele instruído por Deus a recapitular os Dez Mandamentos, e todas as circunstâncias relacionadas com a doação da lei. HR 170 2 Moisés havia escrito num livro todas as leis e juízos dados por Deus, e havia fielmente registrado todas as Suas instruções dadas pelo caminho, e todos os milagres que Ele havia realizado e todas as murmurações dos filhos de Israel. Moisés tinha também registrado como fora vencido em conseqüência das murmurações deles. Instrução final a Israel HR 171 1 Todo o povo fora congregado diante dele, e ele leu os eventos de sua história passada, do livro que tinha escrito. Também leu as promessas de Deus a eles se fossem obedientes, e as maldições que sobre eles viriam, se fossem desobedientes. HR 171 2 Moisés relatou-lhes que, por sua rebelião, o Senhor várias vezes propusera destruí-los, mas que ele intercedera tão fervorosamente por eles, que Deus misericordiosamente os poupara. Relembrou-lhes os milagres que o Senhor operara em relação a Faraó e toda a terra do Egito. Disse-lhes: "Porquanto os vossos olhos são os que viram todas as grandes obras que fez o Senhor. Guardai, pois, todos os mandamentos que hoje vos ordeno, para que sejais fortes, e entreis e possuais a terra para onde vos dirigis." Deuteronômio 11:7, 8. HR 171 3 Moisés advertiu especialmente os filhos de Israel contra o serem seduzidos pela idolatria. Fervorosamente instou com eles para obedecerem aos mandamentos de Deus. Se demonstrassem obediência e amor ao Senhor e O servissem com suas afeições não divididas, Ele lhes daria a chuva na estação certa, e faria que sua vegetação florescesse e seu rebanho aumentasse. Desfrutariam também especiais e exaltados privilégios, e triunfariam sobre seus inimigos. HR 171 4 Moisés instruiu os filhos de Israel de maneira fervorosa e impressiva. Sabia que esta era a última oportunidade de dirigir-se a eles. Acabou, então, de escrever num livro todas as leis, juízos e estatutos que Deus lhe havia dado, e também os vários regulamentos referentes às ofertas sacrificais. Colocou o livro nas mãos dos homens que tinham o ofício sagrado e pediu que, para sua segurança, fosse colocado ao lado da arca sagrada, pois esta era objeto do contínuo cuidado de Deus. Esse livro de Moisés devia ser preservado, para que os juízes de Israel pudessem a ele recorrer se algum caso surgido o fizesse necessário. Um povo que sempre erra não raro entende que os reclamos de Deus favoreçam seu próprio caso; por isso o livro de Moisés foi preservado num lugar muito sagrado, para futuras referências. HR 172 1 Moisés encerrou suas últimas instruções ao povo com um vigoroso discurso profético. Este foi patético e eloqüente. Por inspiração de Deus ele abençoou separadamente as tribos de Israel. Em suas últimas palavras expandiu-se sobre a majestade de Deus e a excelência de Israel, que haveria de continuar para sempre, se Lhe obedecessem e se apoderassem de Sua força. A morte e ressurreição de Moisés HR 172 2 "Então subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã. E todo o Naftali, e a terra de Efraim, e Manassés; e toda a terra de Judá, até ao mar ocidental; e o Neguebe, e a campina do vale de Jericó, a cidade das palmeiras até Zoar. Disse-lhe o Senhor: Esta é a terra que, sob juramento, prometi a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: À tua descendência a darei; Eu te faço vê-la com os teus próprios olhos; porém não irás para lá. Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, segundo a palavra do Senhor. Este o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e ninguém sabe, até hoje, o lugar da sua sepultura. Tinha Moisés a idade de cento e vinte anos quando morreu; não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor." Deuteronômio 34:1-7. HR 173 1 Não era da vontade de Deus que alguém subisse com Moisés ao cume de Pisga. Ali estava ele, sobre elevada culminância do cume de Pisga, na presença de Deus e de anjos celestiais. Depois de, para sua satisfação, ter visto Canaã, deitou-se, qual um guerreiro fatigado, para descansar. O sono veio sobre ele, mas foi o sono da morte. Anjos tomaram seu corpo e o sepultaram no vale. Os israelitas jamais encontraram o lugar onde foi sepultado. Seu enterro foi secreto para evitar que o povo pecasse contra o Senhor idolatrando o seu corpo. HR 173 2 Satanás exultou que houvesse sido bem-sucedido em levar Moisés a pecar contra Deus. Por esta transgressão Moisés viera sob o domínio da morte. Se tivesse continuado fiel, e sua vida não tivesse sido manchada por aquela única transgressão, deixando de dar a Deus a glória de ter tirado água da rocha, ele teria entrado na Terra Prometida, e teria sido trasladado ao Céu sem ver a morte. Miguel, ou Cristo, com os anjos que sepultaram Moisés, desceram do Céu, depois de ter ele permanecido na sepultura um breve tempo, ressuscitaram-no e o levaram para o Céu. HR 173 3 Quando Cristo e os anjos Se aproximaram da sepultura, Satanás e seus anjos surgiram junto dela e ficaram a guardar o corpo de Moisés, para que não fosse removido. Quando Cristo e Seus anjos chegaram perto, Satanás resistiu a sua aproximação, mas foi compelido, pela glória e poder de Cristo e Seu anjos, a voltar atrás. Satanás reclamou o corpo de Moisés, por causa de sua única transgressão; porém Cristo mansamente o remeteu a Seu Pai, dizendo: "O Senhor te repreenda." Judas 9. Cristo disse a Satanás que sabia ter Moisés humildemente se arrependido de seu único erro, que mancha alguma repousava sobre seu caráter, e que seu nome permanecia incontaminado no livro celestial. Então Cristo ressuscitou o corpo de Moisés, que Satanás estivera reclamando. HR 174 1 Por ocasião da transfiguração de Cristo, Moisés e Elias, que tinham sido traslados, foram enviados para conversar com Cristo quanto a Seus sofrimentos, e para serem os portadores da glória de Deus a Seu amado Filho. Moisés havia sido grandemente honrado por Deus. Tivera o privilégio de conversar com Deus face a face, como um homem fala com seu amigo. E Deus lhe tinha revelado Sua excelente glória, como jamais o fizera a nenhum outro. ------------------------Capítulo 23 -- Entrando na terra prometida HR 175 0 Este capítulo é baseado em Josué 1; 3-6; 23-24. HR 175 1 Depois da morte de Moisés, Josué devia ser o líder de Israel, a fim de conduzi-los à Terra Prometida. Ele tinha sido primeiro-ministro de Moisés durante a maior parte do tempo em que os israelitas vaguearam no deserto. Tinha visto as maravilhosas obras de Deus operadas por Moisés, e bem compreendido a disposição do povo. Fora um dos doze espias enviados a investigar a Terra Prometida, e um dos dois que deram o fiel relato de suas riquezas e que encorajaram o povo a seguir na força de Deus para possuí-la. Estava bem qualificado para este importante cargo. O Senhor prometeu a Josué ser com ele, como tinha sido com Moisés, fazendo Canaã cair como fácil conquista para ele, com a condição de que fosse fiel em observar todos os Seus mandamentos. Estava ansioso quanto ao modo como deveria executar sua comissão de conduzir o povo para a terra de Canaã, mas este encorajamento removeu seus temores. HR 175 2 Josué ordenou aos filhos de Israel que se preparassem para uma jornada de três dias, e que todos os homens de guerra fossem para a batalha. "Então responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e aonde quer que nos enviares iremos. Como em tudo obedecemos a Moisés, assim obedeceremos a ti; tão-somente seja o Senhor teu Deus contigo, como foi com Moisés. Todo homem que se rebelar contra as tuas ordens e não obedecer às tuas palavras em tudo quanto lhe ordenares, será morto: tão-somente sê forte e corajoso." HR 176 1 A passagem dos israelitas através do Jordão devia ser miraculosa. "Disse Josué ao povo: Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós. E também falou aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca da aliança, e passai adiante do povo. Levantaram, pois, a arca da aliança e foram andando adiante do povo. Então disse o Senhor a Josué: Hoje começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que, como fui com Moisés, assim serei contigo." Cruzando o Jordão HR 176 2 Os sacerdotes deviam ir na frente do povo, levando a arca que continha a lei de Deus. Quando seus pés tocaram a orla do Jordão, as águas pararam de correr, e os sacerdotes passaram, levando a arca, que era símbolo da Presença Divina, e a hoste dos hebreus os seguiu. Quando os sacerdotes estavam no meio do Jordão, foi-lhes ordenado permanecer no leito do rio até que toda a hoste de Israel tivesse passado. Aqui a então existente geração de israelitas ficou convencida de que as águas do Jordão estavam sujeitas ao mesmo poder que seus pais tinham visto exibir-se no Mar Vermelho quarenta anos antes. Muitos deles tinham passado através do Mar Vermelho quando eram crianças. Agora, passavam pelo Jordão, homens de guerra, inteiramente equipados para a batalha. HR 176 3 Depois que a hoste inteira de Israel tinha passado pelo Jordão, Josué ordenou aos sacerdotes que saíssem do rio. Tão logo os sacerdotes, portando a arca do concerto, saíram do rio, e pisaram a terra seca, o Jordão rolou como dantes e inundou todas as suas margens. Este maravilhoso milagre realizado em favor dos israelitas, aumentou grandemente sua fé. Para que este inaudito prodígio não fosse jamais esquecido, o Senhor instruiu a Josué que ordenasse que homens de destaque, um de cada tribo, tomassem pedras do leito do rio, do local onde estiveram os pés dos sacerdotes, enquanto a hoste de hebreus estava passando, levando-as sobre os ombros, para erigir um monumento em Gilgal, a fim de guardar na lembrança o fato de que Israel atravessara o Jordão em terra seca. Depois que os sacerdotes saíram do Jordão, Deus retirou Sua poderosa mão, e as águas precipitaram-se como uma portentosa catarata, seguindo em seu próprio canal. HR 177 1 Quando todos os reis dos amorreus e os reis dos cananeus ouviram que o Senhor detivera as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, o coração derreteu-se-lhes de temor. Os israelitas tinham matado dois dos reis de Moabe, e sua miraculosa passagem através do volumoso e impetuoso Jordão encheu-os do maior terror. Josué então circuncidou todo o povo que tinha nascido no deserto. Depois desta cerimônia celebraram a páscoa nas planícies de Jericó. "Disse mais o Senhor a Josué: Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito." HR 177 2 Nações pagãs tinham vituperado o Senhor e Seu povo porque os hebreus não haviam possuído a Terra de Canaã, a qual esperavam como herança logo depois de deixarem o Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque haviam por tanto tempo vagueado no deserto, e orgulhosamente erguiam-se contra Deus, declarando que Ele não fora capaz de introduzi-los na terra de Canaã. Tinham eles agora cruzado o Jordão em terra seca, e seus inimigos não podiam mais ridicularizá-los. HR 178 1 O maná tinha continuado a cair até este tempo, mas agora que os israelitas estavam para possuir Canaã e comer do fruto da terra, não tinham mais necessidade dele e o mesmo cessou. O príncipe do exército do Senhor HR 178 2 Quando Josué se afastou dos exércitos de Israel, para meditar e pedir a Deus que Sua presença especial o acompanhasse, viu um homem de estatura elevada, em vestes guerreiras, com uma espada desembainhada na mão. Josué não o reconheceu como alguém dos exércitos de Israel, mas não tinha aparência de ser um inimigo. Em seu zelo acercou-se dele e perguntou: "És tu dos nossos, ou dos nossos adversários? Respondeu Ele: Não; sou Príncipe do exército do Senhor, e acabo de chegar. Então Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-Lhe: Que diz meu Senhor ao Seu servo? Respondeu o Príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." HR 178 3 Este não era um anjo comum. Era o Senhor Jesus Cristo, Aquele que havia conduzido os hebreus através do deserto, envolto numa coluna de fogo à noite e numa coluna de nuvem durante o dia. O lugar era santificado pela Sua presença; portanto, a Josué foi ordenado tirar suas sandálias. HR 178 4 O Senhor então instruiu a Josué quanto ao método que devia seguir para tomar Jericó. Todos os homens de guerra deviam rodear a cidade uma vez cada dia durante seis dias, e no sétimo dia deviam fazê-lo sete vezes. A tomada de Jericó HR 179 1 "Então Josué, filho de Num, chamou os sacerdotes, e disse-lhes: Levai a arca da aliança; e sete sacerdotes levem sete trombetas de carneiros, adiante da arca do Senhor. E disse ao povo: Passai e rodeai a cidade; e quem estiver armado, passe adiante da arca do Senhor. Assim foi que, como Josué dissera ao povo, os sete sacerdotes, com as sete trombetas de carneiros diante do Senhor, passaram, e tocaram as trombetas; e a arca da aliança do Senhor os seguia. HR 179 2 "Os homens armados iam adiante dos sacerdotes que tocavam as trombetas; a retaguarda seguia após a arca, e as trombetas soavam continuamente. Porém ao povo ordenara Josué, dizendo: Não gritareis, nem fareis ouvir a vossa voz, nem sairá palavra alguma da vossa boca, até ao dia em que eu vos diga: Gritai. Então gritareis. Assim a arca do Senhor rodeou a cidade, contornando-a uma vez. Entraram no arraial e ali pernoitaram." HR 179 3 A hoste hebréia marchou em perfeita ordem. Primeiro, ia um selecionado corpo de homens armados, vestidos com suas vestes guerreiras, agora não para exercer sua habilidade em armas, mas somente crer e obedecer às instruções que lhes foram dadas. Em seguida iam sete sacerdotes com as trombetas. Então vinha a arca de Deus, resplandecendo de ouro, com um halo de glória pairando sobre ela, levada pelos sacerdotes em suas ricas e peculiares roupagens que denotavam seu ofício sagrado. O vasto exército de Israel seguia em perfeita ordem, cada tribo debaixo de seu respectivo estandarte. Assim rodearam a cidade com a arca de Deus. Nenhum som era ouvido além das pisadas da poderosa hoste, e a solene voz das trombetas ecoava pelas montanhas, e ressoava através da cidade de Jericó. HR 180 1 Admirados e alarmados, os vigias da cidade condenada observam cada movimento, e relatam-no às autoridades. Não sabem dizer tudo o que esta exibição significa. Alguns ridicularizam a idéia de que a cidade fosse tomada dessa maneira, enquanto outros ficam temerosos, ao contemplar o esplendor da arca e a solene e impressionante aparência dos sacerdotes e da hoste de Israel em seguimento, com Josué à frente. Lembram-se de que o Mar Vermelho, quarenta anos antes, abrira-se diante deles, e que lhes fora preparada uma passagem através do rio Jordão. Estão demasiado aterrorizados para gracejar. São cuidadosos em manter os portões da cidade completamente fechados, e poderosos guerreiros guardam cada portão. HR 180 2 Por seis dias o exército de Israel realizou o seu circuito ao redor da cidade. No sétimo dia rodearam Jericó sete vezes. Ao povo fora ordenado, como usualmente, ficar em silêncio. Apenas o som das trombetas devia ser ouvido. O povo devia estar atento, e quando os trombeteiros dessem um toque mais demorado que o usual, então todos deviam gritar com alta voz, pois o Senhor lhes tinha dado a cidade. "No sétimo dia madrugaram ao subir da alva, e da mesma sorte rodearam a cidade sete vezes: somente naquele dia rodearam a cidade sete vezes. E sucedeu que, na sétima vez, quando os sacerdotes tocavam as trombetas, disse Josué ao povo: Gritai; porque o Senhor vos entregou a cidade." "Gritou, pois, o povo e os sacerdotes tocaram as trombetas. Tendo ouvido o povo o sonido da trombeta e levantado grande grito, ruíram as muralhas, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si e a tomaram." HR 181 1 Deus tencionava mostrar aos israelitas que a conquista de Canaã não devia ser atribuída a eles. O Príncipe do exército do Senhor venceu Jericó. Ele e Seus anjos estavam empenhados na conquista. Cristo ordenou ao exército celestial que deitasse abaixo os muros de Jericó e preparasse uma entrada para Josué e o exército de Israel. Deus, neste maravilhoso milagre, não apenas fortaleceu a fé de Seu povo no Seu poder de subjugar os inimigos, mas repreendeu sua anterior incredulidade. HR 181 2 Jericó desafiara o exército de Israel e o Deus do Céu. Quando contemplaram a hoste de Israel marchando ao redor da cidade uma vez por dia, ficaram alarmados; porém olharam para suas fortes defesas, seus firmes e altos muros, e se sentiram seguros de que resistiriam a qualquer ataque. Entretanto, quando seus firmes muros subitamente tremeram, e caíram com estrépito ensurdecedor, à semelhança do estampido de ruidoso trovão, ficaram paralisados de terror e não puderam oferecer resistência alguma. Josué, sábio e consagrado líder HR 181 3 Mancha alguma repousava sobre o santo caráter de Josué. Era um líder sábio. Sua vida fora inteiramente devotada a Deus. Antes de morrer reuniu a hoste de hebreus e, seguindo o exemplo de Moisés, recapitulou suas jornadas no deserto e também a conduta misericordiosa de Deus para com eles. Então, com eloqüência, se dirigiu a eles. Relatou-lhes que o rei de Moabe lhes fizera guerra, chamando Balaão para amaldiçoá-los; porém Deus "não quis ouvir a Balaão: e ele teve de vos abençoar". Então disse-lhes: "Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se os deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor. HR 182 1 "Então respondeu o povo, e disse: Longe de nós o abandonarmos o Senhor para servirmos a outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus; Ele é quem nos fez subir, a nós e a nossos pais, da terra do Egito, da casa da servidão, quem fez estes grandes sinais aos nossos olhos, e nos guardou por todo o caminho que andamos, e entre todos os povos pelo meio dos quais passamos." HR 182 2 O povo renovou seu concerto com Josué. Disseram-lhe: "Ao Senhor nosso Deus serviremos, e obedeceremos à Sua voz." Josué escreveu as palavras de sua aliança no livro que continha as leis e estatutos dados a Moisés. Josué era amado e respeitado por todo o Israel, e sua morte foi muito lamentada por eles. ------------------------Capítulo 24 -- A arca de Deus e o sucesso de Israel HR 183 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 3-6; 2 Samuel 6; 1 Reis 8. HR 183 1 A arca de Deus era um cofre sagrado, feito para ser o repositório dos Dez Mandamentos -- lei que era a representação do próprio Deus. Esta arca era considerada a glória e força de Israel. O sinal da Presença Divina estava sobre ela dia e noite. Os sacerdotes que ministravam diante dela eram sagrada-mente ordenados para o santo ofício. Usavam um peitoral guarnecido de pedras preciosas de diferentes materiais, os mesmos que compõem os doze fundamentos da cidade de Deus. Dentro das bordas estavam os nomes das doze tribos de Israel, gravados em pedras preciosas engastadas em ouro. Este era um riquíssimo e belo trabalho, suspenso dos ombros dos sacerdotes, cobrindo o peito. HR 183 2 À direita e à esquerda do peitoral havia duas grandes pedras, que resplandeciam com grande brilho. Quando eram trazidos aos juízes assuntos difíceis, que não podiam decidir, eles os encaminhavam aos sacerdotes, e estes inquiriam a Deus, que lhes respondia. Se Ele aprovava e desejava garantir seu êxito, uma auréola de luz e glória repousava especialmente sobre a pedra preciosa à direita. Se desaprovava, um vapor ou nuvem parecia cobrir a pedra preciosa à esquerda. Quando inquiriam a Deus quanto a irem à batalha, a pedra à direita, quando circulada de luz, significava: Ide e prosperai. A pedra à esquerda, quando sombreada pela nuvem, dizia: Não ireis, porque não haveis de prosperar. HR 184 1 Quando o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo, uma vez por ano, e ministrava diante da arca na solene presença de Deus, ele perguntava, e Deus freqüentemente lhe respondia com voz audível. Quando o Senhor não respondia por voz, deixava que sagrados raios de luz e glória repousassem sobre o querubim que estava à direita da arca, em aprovação ou favor. Se seus pedidos eram recusados, uma nuvem repousava sobre o querubim à esquerda. HR 184 2 Quatro anjos celestiais sempre acompanhavam a arca de Deus em todas as suas jornadas, para guardá-la de todo o perigo e para executar qualquer missão requerida deles em conexão com a arca. Jesus, o Filho de Deus, seguido por anjos celestiais, ia adiante da arca quando esta veio ao Jordão; e as águas se abriram diante de Sua presença. Cristo e os anjos estiveram junto à arca e aos sacerdotes no leito do rio até que todo o Israel tivesse atravessado o Jordão. Cristo e os anjos estavam presentes no circuito da arca ao redor de Jericó e finalmente derribaram os maciços muros da cidade e entregaram Jericó nas mãos de Israel. Resultado da negligência de Eli HR 184 3 Quando Eli era sumo sacerdote, elevou seus filhos ao sacerdócio. Apenas a Eli era permitido entrar uma vez por ano no lugar santíssimo. Seus filhos ministravam à porta do tabernáculo e oficiavam na matança dos animais e junto ao altar de sacrifícios. Continuamente abusavam deste ofício sagrado. Eram egoístas, ambiciosos, glutões e depravados. Deus reprovou a Eli por sua criminosa negligência na disciplina familiar. Eli reprovou seus filhos mas não os conteve. Depois que foram colocados no sagrado ofício do sacerdócio, Eli ouviu de sua conduta em defraudar os filhos de Israel de suas ofertas, e soube de suas insolentes transgressões da lei de Deus e de sua conduta violenta, que levava Israel ao pecado. HR 185 1 O Senhor fez saber ao menino Samuel os juízos que traria sobre a casa de Eli por causa de sua negligência. "Disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos. Naquele dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito à sua casa: começarei, e o cumprirei. Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu. Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais lhes será expiada a iniqüidade nem com sacrifício nem com oferta de manjares." HR 185 2 As transgressões dos filhos de Eli eram tão ousadas, tão insultantes a um Deus santo, que nenhum sacrifício podia expiar tão obstinada transgressão. Esses sacerdotes pecadores profanaram o sacrifício que tipificava o Filho de Deus. E por sua conduta blasfema pisavam sobre o sangue da expiação, do qual derivava a virtude de todos os sacrifícios. HR 185 3 Samuel relatou a Eli as palavras do Senhor; "e disse Eli: É o Senhor; faça o que bem Lhe aprouver". Eli sabia que Deus havia sido desonrado e compreendeu que havia pecado. Aceitou que Deus assim punisse a sua pecaminosa negligência. A palavra do Senhor a Samuel, Eli a fez saber a todo o Israel. Fazendo isso, pensava corrigir em parte sua passada negligência pecaminosa. O mal pronunciado sobre Eli não devia demorar. HR 185 4 Os israelitas fizeram guerra com os filisteus e foram vencidos, e quatro mil deles foram mortos. Os hebreus ficaram temerosos. Sabiam que se outras nações ouvissem de sua derrota, seriam encorajadas a também fazerem guerra com eles. Os anciãos de Israel concluíram que este fracasso era porque a arca de Deus não estava com eles. Mandaram buscar em Silo a arca do concerto. Pensaram na sua passagem pelo Jordão e na fácil conquista de Jericó quando conduziam a arca, e assim decidiram que tudo o que era necessário era buscar a arca e triunfariam sobre seus inimigos. Não compreenderam que sua fortaleza estava em sua obediência à lei contida na arca, que era uma representação do próprio Deus. Os corrompidos sacerdotes, Hofni e Finéias, iam com a arca sagrada, transgredindo a lei de Deus. Estes pecadores conduziram a arca para o arraial de Israel. A confiança dos homens de guerra fora restaurada, e estavam seguros da vitória. A arca é tomada HR 186 1 "Sucedeu que, vindo a arca da aliança do Senhor ao arraial, rompeu todo o Israel em grandes brados e ressoou a terra. Ouvindo os filisteus a voz de júbilo, disseram: Que voz de grande júbilo é esta no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial. E se atemorizaram os filisteus e disseram: Os deuses vieram ao arraial. E diziam mais: Ai de nós! que tal jamais sucedeu antes. Ai de nós! quem nos livrará da mão destes grandiosos deuses? São os deuses que feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto. Sede fortes, ó filisteus, portai-vos varonilmente, para que não venhais a ser escravos dos hebreus, como eles serviram a vós outros; portai-vos varonilmente e pelejai. Então pelejaram os filisteus; Israel foi derrotado, e cada um fugiu para a sua tenda; foi grande a derrota, pois caíram de Israel trinta mil homens de pé. Foi tomada a arca de Deus, e mortos os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias." HR 187 1 Os filisteus pensavam que esta arca era o deus dos israelitas. Não sabiam que o Deus vivo, que criou os céus e a Terra, e deu Sua lei, sobre o Sinai, mandava prosperidade e adversidade de acordo com a obediência ou transgressão de Sua lei, contida na arca sagrada. HR 187 2 Houve uma grande matança em Israel. Eli estava assentado ao pé do caminho, vigilante, com o coração ansioso de receber notícias do exército. Estava temeroso de que a arca de Deus fosse tomada e poluída pela hoste de filisteus. Um mensageiro do exército correu a Silo e informou a Eli que seus dois filhos tinham sido mortos. Suportou isso com certo grau de calma, pois tinha razões para o esperar. Quando, porém, o mensageiro acrescentou: "A arca de Deus foi tomada", Eli cambaleou de angústia sobre sua cadeira, caiu para trás e morreu. Ele partilhou da ira de Deus que viera sobre seus filhos. Era culpado em grande medida de suas transgressões, porque criminosamente negligenciara reprimi-los. A captura da arca de Deus pelos filisteus foi considerada a maior calamidade que podia acontecer a Israel. A esposa de Finéias, prestes a morrer, chamou a seu filho Icabode, dizendo: "Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus." Na terra dos filisteus HR 187 3 Deus permitiu que Sua arca fosse tomada pelos inimigos, para mostrar a Israel quão vão era confiar na arca, o símbolo de Sua presença, enquanto estavam profanando os mandamentos contidos na arca. Deus queria humilhá-los removendo deles essa sagrada arca, sua jactanciosa força e confiança. HR 188 1 Os filisteus ficaram triunfantes, porque tinham, como pensavam, o famoso deus dos israelitas, que havia realizado tantas maravilhas por eles e feito deles um terror para os seus inimigos. Levaram a arca de Deus a Asdode e a colocaram num esplêndido templo, feito em honra ao seu muito popular deus Dagom, depositando-a ao lado do seu deus. De madrugada, os sacerdotes desses deuses entraram no templo, e ficaram aterrorizados ao encontrar Dagom caído no chão sobre o seu rosto, diante da arca do Senhor. Levantaram Dagom e o colocaram em sua posição costumeira. Pensaram que ele podia ter caído acidentalmente. Mas na madrugada seguinte o acharam caído como antes, com o rosto em terra, e a cabeça e ambas as mãos cortadas. HR 188 2 Os anjos de Deus, que sempre acompanhavam a arca, prostraram este ídolo insensível e depois o mutilaram, para mostrar que Deus, o Deus vivo, está acima de todos os deuses, e que diante dEle todos os deuses pagãos são como nada. Os pagãos possuíam grande reverência por seu deus Dagom; e quando o acharam ruinosamente mutilado e prostrado sobre seu rosto diante da arca de Deus, ficaram tristes e consideraram isso de muito mau agouro aos filisteus. Isso foi interpretado por eles como que os filisteus e todos os seus deuses deviam ser subjugados e destruídos pelos hebreus, e que o Deus dos hebreus seria maior e mais poderoso do que todos os deuses. Removeram a arca de Deus de seu templo idólatra e a colocaram num lugar à parte. HR 188 3 A arca de Deus foi conservada sete meses pelos filisteus. Tinham derrotado os israelitas e apreendido a arca de Deus, no que supunham consistir o poder deles, e imaginaram que estariam sempre em segurança e não mais teriam temor do exército de Israel. Mas em meio a alegria pelo seu êxito, um clamor foi ouvido por toda a terra, e a causa foi afinal atribuída à arca de Deus. Ela era transportada de lugar para lugar em terror, e a destruição da parte de Deus seguia seu curso, até que os filisteus ficaram grandemente perplexos, sem saber o que fazer com ela. Os anjos, que a acompanhavam, guardaram-na de qualquer dano. E os filisteus não se atreviam a abrir a arca; pois seu deus Dagom tinha encontrado tal sorte que eles temiam tocá-la, ou tê-la próximo deles. Chamaram os sacerdotes e adivinhos, e perguntaram-lhes o que deviam fazer com a arca de Deus. Advertiram-nos de que a deviam mandar de volta ao povo a quem pertencia, e mandar com ela uma custosa oferta pela transgressão, e que se Deus houvesse por bem aceitá-la, eles seriam curados. Deviam também compreender que a mão de Deus estava contra eles porque haviam tomado Sua arca, que pertencia apenas aos israelitas. Retorno a Israel HR 189 1 Alguns não estavam a favor disto. Seria demasiada humilhação carregar a arca de volta, e argumentaram que nenhum filisteu ousaria arriscar a vida em levar a Israel a arca de Deus, que havia trazido tanta morte sobre eles. Seus conselheiros aconselharam o povo a não endurecer o coração, como os egípcios e Faraó fizeram, e provocarem ainda maiores aflições e pragas sobre si. E como estivessem todos temerosos de tomar a arca de Deus, eles os aconselharam dizendo: "Agora, pois, fazei um carro novo, tomai duas vacas com crias, sobre as quais não se pôs ainda jugo, e atai-as ao carro; seus bezerros, levá-los-eis para casa. Então tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre o carro, e metei num cofre ao seu lado, as figuras de ouro que lhe haveis de entregar como oferta pela culpa; e deixai-a ir. Reparai, se subir pelo caminho rumo do seu território a Bete-Semes, foi Ele que nos fez este grande mal; e, se não, saberemos que não foi a Sua mão que nos feriu; foi casual o que nos sucedeu. Assim fizeram aqueles homens, e tomaram duas vacas com crias e as ataram ao carro, e os seus bezerros encerraram em casa. ... As vacas se encaminharam diretamente para Bete-Semes e, andando e berrando, seguiam sempre por esse mesmo caminho, sem se desviarem nem para a direita e nem para a esquerda." HR 190 1 Os filisteus sabiam que as vacas não seriam induzidas a abandonar suas crias, a menos que fossem impelidas por algum poder invisível. As vacas foram diretamente a Bete-Semes, mugindo por suas crias e contudo afastando-se delas. Os príncipes dos filisteus seguiram após a arca até o termo de Bete-Semes. Não ousaram confiar a sagrada arca inteiramente às vacas. Temiam que se algum mal acontecesse a ela, maiores calamidades viriam sobre eles. Não sabiam que anjos de Deus acompanhavam a arca e guiavam as vacas em seu caminho para o lugar ao qual pertencia. A presunção punida HR 190 2 O povo de Bete-Semes estava segando no campo, e quando viram a arca de Deus sobre um carro, puxado por vacas, grandemente se alegraram. Sabiam que isto era obra de Deus. As vacas puxaram o carro que continha a arca para uma grande pedra, e pararam. Os levitas desceram a arca do Senhor e a oferta dos filisteus, e ofereceram o carro e as vacas que tinham trazido a sagrada arca e a oferta dos filisteus, como um holocausto ao Senhor. Os príncipes dos filisteus voltaram a Ecrom, e a praga cessou. HR 191 1 Os homens de Bete-Semes estavam curiosos por saber que grande poder havia na arca, que a levou a operar coisas tão maravilhosas. Olhavam para a arca apenas como sendo poderosa, e não acreditavam no poder de Deus. Ninguém, exceto homens sagradamente designados para este propósito, podia olhar para a arca, descoberta, sem serem mortos, pois era como se olhassem para o próprio Deus. Como as pessoas satisfizessem sua curiosidade e abrissem a arca para contemplar seu sagrado recesso, coisa que os pagãos idólatras não ousaram fazer, os anjos que atendiam à arca mataram cerca de cinqüenta mil pessoas. HR 191 2 O povo de Bete-Semes ficou com temor da arca, e disse: "Quem poderia estar perante o Senhor, este Deus santo? e para quem subirá desde nós? Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriate-Jearim, dizendo: Os filisteus devolveram a arca do Senhor; descei, pois, e fazei-a subir para vós outros." O povo de Quiriate-Jearim trouxe a arca do Senhor para a casa de Abinadabe, e consagraram seu filho para que a guardasse. Por vinte anos os hebreus estiveram em poder dos filisteus, e estavam grandemente humilhados e arrependidos de seus pecados, e Samuel intercedeu por eles, e Deus foi outra vez misericordioso com eles. Os filisteus fizeram guerra com eles, e o Senhor tornou a operar de maneira milagrosa por Israel, e venceram seus inimigos. HR 191 3 A arca permaneceu na casa de Abinadabe até que Davi foi feito rei. Ele convocou todos os homens escolhidos de Israel, trinta mil, e foi buscar a arca de Deus. Colocaram-na sobre um carro novo e a levaram da casa de Abinadabe. HR 192 1 Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro. Davi e toda a casa de Israel se alegravam diante do Senhor com toda sorte de instrumentos musicais. "Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e a segurou, porque os bois tropeçaram. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus." Uzá ficou irado com os bois, porque tropeçaram. Demonstrou uma manifesta desconfiança de Deus, como se Aquele que tinha trazido a arca da terra dos filisteus não pudesse tomar conta dela. Os anjos que atendiam à arca feriram Uzá por sua impaciente presunção de colocar a mão sobre a arca de Deus. HR 192 2 "Temeu Davi ao Senhor naquele dia, e disse: Como virá a mim a arca do Senhor? Não quis Davi retirar para junto de si a arca do Senhor, para a cidade de Davi; mas a fez levar à casa de Obede-Edom, o geteu." Davi sabia que era um homem pecador, e temia que, à semelhança de Uzá, pudesse ser da mesma maneira presunçoso e atrair a ira de Deus sobre si. "Ficou a arca do Senhor em casa de Obede-Edom, o geteu, três meses; e o Senhor o abençoou e a toda a sua casa." HR 192 3 Deus queria ensinar a Seu povo que, ao passo que Sua arca era terror e morte para os que transgredissem Seus mandamentos, nela contidos, era também uma bênção e fortalecimento para os que fossem obedientes aos Seus mandamentos. Quando Davi ouviu que a casa de Obede-Edom era grandemente abençoada, e tudo que ele tinha prosperava, por causa da arca de Deus, ficou ansioso por trazê-la para sua própria cidade. Contudo, antes de Davi aventurar-se a mudar a sagrada arca, santificou-se a Deus e também ordenou que todos os homens principais de autoridade no reino deviam guardar-se de todo negócio secular e de todas as coisas que desviassem sua mente da devoção sagrada. Assim deviam eles santificar-se para o propósito de conduzir a sagrada arca para a cidade de Davi. "Foi, pois, Davi, e, com alegria, fez subir a arca de Deus da casa de Obede-Edom, à cidade de Davi. ... HR 193 1 "Introduziram a arca do Senhor, e puseram-na no seu lugar, na tenda que lhe armara Davi; e este trouxe holocaustos e ofertas pacíficas perante o Senhor." No templo de Salomão HR 193 2 Depois de Salomão ter terminado a construção do templo, convocou os anciãos de Israel e os mais influentes dentre o povo, para fazer subir a arca do concerto do Senhor da cidade de Davi. Estes homens consagraram-se a Deus, e com grande solenidade e reverência, acompanharam os sacerdotes que conduziam a arca. "Vieram todos os anciãos de Israel, e os sacerdotes tomaram a arca do Senhor, e a levaram para cima, com a tenda da congregação, e também os utensílios sagrados que nela havia; os sacerdotes e levitas é que os fizeram subir. O rei Salomão, e toda a congregação de Israel, que se reunira a ele, estavam todos diante da arca, sacrificando ovelhas e bois, que de tão numerosos não se podiam contar." HR 193 3 Salomão seguiu o exemplo de seu pai Davi. A cada seis passos ele sacrificava. Com cânticos e música e com grande cerimônia, "puseram os sacerdotes a arca da aliança do Senhor no seu santo lugar, no santuário mais interior do templo, no Santo dos Santos, debaixo das asas dos querubins. Pois os querubins estendiam as asas sobre o lugar da arca e, do alto, cobriam a arca e os varais." HR 194 1 Um muito esplêndido santuário tinha sido feito, de acordo com o modelo mostrado a Moisés no monte e posteriormente apresentado pelo Senhor a Davi. O santuário terrestre era feito à semelhança do celestial. Em adição aos querubins na cobertura da arca, Salomão fez dois outros anjos de tamanho maior, postados em cada lado da arca, representando os anjos celestiais sempre guardando a lei de Deus. É impossível descrever a beleza e o esplendor deste tabernáculo. Ali, como no tabernáculo [do deserto], a sagrada arca foi conduzida em solene e reverente ordem, e colocada no lugar sob as asas dos dois majestosos querubins em pé sobre o solo. HR 194 2 O sagrado coro uniu suas vozes com toda espécie de instrumentos musicais, em louvor a Deus. Enquanto as vozes, em harmonia com os instrumentos musicais, ressoavam através do templo e eram levadas pelos ares através de Jerusalém, a nuvem da glória de Deus tomava posse da casa, como outrora havia enchido o tabernáculo. "Tendo os sacerdotes saído do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor, de tal sorte que os sacerdotes não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória de Deus enchera a casa do Senhor." HR 194 3 O rei Salomão permaneceu sobre uma plataforma de bronze diante do altar e abençoou o povo. Ele então ajoelhou-se, e com as mãos erguidas, pronunciou uma fervorosa e solene oração a Deus enquanto a congregação estava curvada com seus rostos em terra. Depois de Salomão ter terminado sua oração, um fogo miraculoso veio do Céu e consumiu o sacrifício. HR 194 4 Por causa dos pecados de Israel a calamidade que Deus disse que deveria vir sobre o templo se Seu povo se separasse dEle, cumprir-se-ia algumas centenas de anos depois de ter sido o templo construído. Deus prometeu a Salomão, que se ele permanecesse fiel e Seu povo fosse obediente a todos os Seus mandamentos, o glorioso templo devia permanecer para sempre em todo o seu esplendor, como uma evidência da prosperidade e das exaltadas bênçãos que repousavam sobre Israel devido a sua obediência. O cativeiro de Israel HR 195 1 Por causa da transgressão de Israel aos mandamentos de Deus e seus atos ímpios, Deus permitiu que eles fossem levados em cativeiro, para humilhá-los e puni-los. Antes do templo ser destruído, Deus fez saber a alguns de Seus fiéis servos o destino do templo, que era o orgulho de Israel, e por eles referido com idolatria, ao mesmo tempo em que estavam pecando contra Deus. Também lhes revelou o cativeiro de Israel. Estes homens justos, exatamente antes da destruição do templo, removeram a sagrada arca que continha as tábuas de pedra, e com lamento e tristeza esconderam-na numa caverna, onde devia ficar oculta do povo de Israel por causa de seus pecados, não mais sendo-lhes restituída. Esta sagrada arca ainda está oculta. Jamais foi perturbada desde que foi escondida. ------------------------Capítulo 25 -- O primeiro advento de Cristo HR 196 1 Fui conduzida ao tempo em que Jesus devia assumir a natureza humana, humilhar-Se como homem e sofrer as tentações de Satanás. HR 196 2 Seu nascimento foi destituído de grandeza mundana. Ele nasceu em um estábulo, e teve por berço uma manjedoura; contudo Seu nascimento foi muito mais honrado do que o de qualquer dos filhos dos homens. Anjos celestiais informaram os pastores do advento de Jesus, e luz e glória de Deus acompanharam seu testemunho. A hoste celestial tangeu suas harpas e glorificou a Deus. Triunfantemente anunciaram o advento do Filho de Deus a um mundo caído a fim de cumprir a obra da redenção e trazer paz, felicidade e vida eterna ao homem, mediante Sua morte. Deus honrou o advento de Seu Filho. Os anjos O adoraram. O batismo de Jesus HR 196 3 Anjos de Deus pairaram sobre a cena de Seu batismo; o Espírito Santo desceu sob a forma de uma pomba e resplandeceu sobre Ele; e, ficando o povo grandemente admirado, com os olhos fixos nEle, ouviu-se do Céu a voz do Pai, dizendo: "Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo." HR 196 4 João não estava certo de que era o Salvador que viera para ser por ele batizado no Jordão. Mas Deus lhe prometera um sinal pelo qual conheceria o Cordeiro de Deus. Aquele sinal foi dado ao repousar sobre Jesus a pomba celestial, e a glória de Deus resplandeceu em redor dEle. João estendeu a mão, apontando para Jesus, e com grande voz exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. O ministério de João HR 197 1 João informou seus discípulos de que Jesus era o Messias prometido, o Salvador do mundo. Quando sua obra estava a terminar-se, ensinou seus discípulos a olharem para Jesus, e segui-Lo como o grande Mestre. A vida de João foi triste e abnegada. Ele anunciou o primeiro advento de Cristo, mas não lhe foi prometido testemunhar Seus milagres e gozar do poder manifestado por Ele. João sabia que, quando Jesus Se estabelecesse como Ensinador, ele, João, deveria morrer. Sua voz raras vezes era ouvida, exceto no deserto. Sua vida era solitária. Não se apegou à família de seu pai, para gozar de sua companhia, mas deixou-os a fim de cumprir sua missão. Multidões abandonavam as atarefadas cidades e aldeias e arrebanhavam-se no deserto para ouvirem as palavras do maravilhoso profeta. João punha o machado à raiz da árvore. Reprovava o pecado, sem temer as conseqüências, e preparava o caminho para o Cordeiro de Deus. HR 197 2 Herodes sentiu-se afetado ao ouvir os poderosos, diretos testemunhos de João, e com profundo interesse indagou o que precisava fazer para tornar-se seu discípulo. João estava familiarizado com o fato de que ele estava prestes a casar-se com a mulher de seu irmão, estando o marido ainda vivo, e fielmente declarou a Herodes que isto não era lícito. Herodes não estava disposto a fazer qualquer sacrifício. Casou-se com a esposa de seu irmão, e por sua influência apoderou-se de João e o aprisionou, com o propósito, porém, de libertá-lo. Enquanto confinado na prisão, João ouviu por intermédio de seus discípulos, a respeito das poderosas obras de Jesus. Ele não podia ouvir Suas graciosas palavras; mas os discípulos informavam-no e confortavam-no com o que ouviam. Logo foi decapitado por influência da esposa de Herodes. Vi que os mais humildes discípulos que seguiam a Jesus, testemunhavam Seus milagres e ouviam as confortadoras palavras que caíam de Seus lábios, eram maiores do que João Batista; isto é, foram mais exaltados e honrados, e tiveram mais gozo na vida. HR 198 1 João viera no espírito e virtude de Elias, para proclamar o primeiro advento de Jesus. Representava os que sairiam no espírito e virtude de Elias, para anunciar o dia da ira, e o segundo advento de Jesus. A tentação HR 198 2 Depois do batismo de Jesus no Jordão, foi Ele conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. O Espírito Santo O havia preparado para aquela cena especial de atrozes tentações. Quarenta dias foi tentado por Satanás, e nesses dias nada comeu. Tudo em redor dEle era desagradável e de modo que a natureza humana seria levada a recuar. Ele estava com as feras e com o diabo, em um lugar desolado, solitário. O Filho de Deus estava pálido e emaciado, pelo jejum e sofrimento. Seu caminho, porém, estava traçado, e Ele deveria cumprir a obra que viera fazer. HR 198 3 Satanás tirou vantagens dos sofrimentos do Filho de Deus, e preparou-se para assediá-Lo, com múltiplas tentações, esperando obter vitória sobre Ele, porque Se humilhara como um homem. Satanás chegou-se com esta tentação: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." Ele tentou Jesus a condescender em dar-lhe prova de ser Ele o Messias, exercendo o Seu poder divino. Jesus brandamente lhe respondeu: "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus." Mateus 4:3, 4. HR 199 1 Satanás estava a procurar discussão com Jesus quanto a ser Ele o Filho de Deus. Referiu-se à Sua condição fraca e sofredora, e jactanciosamente afirmou que era mais forte do que Jesus. Mas a palavra, do Céu falada: "Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo" (Lucas 3:22), foi suficiente para alentar a Jesus através de todos os Seus sofrimentos. Vi que Jesus nada tinha a fazer quanto a convencer Satanás acerca de Seu poder, ou de ser Ele o Salvador do mundo. Satanás tinha prova suficiente da posição exaltada e da autoridade do Filho de Deus. Sua indisposição para render-se à autoridade de Cristo, excluíra-o do Céu. HR 199 2 Satanás, para manifestar o seu poder, levou Jesus a Jerusalém, e pô-Lo no pináculo do templo, e ali O tentou para dar prova de que Ele era o Filho de Deus, lançando-Se abaixo daquela altura vertiginosa. Satanás chegou-se com as palavras da inspiração: "Porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito, que Te guardem; e: eles Te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." Jesus, respondendo-lhe, disse: "Dito está: Não tentarás o Senhor teu Deus." Lucas 4:10-12. Satanás quis fazer Jesus vangloriar-Se com a misericórdia de Seu Pai, e arriscar Sua vida antes do cumprimento de Sua missão. Ele tinha esperado que o plano da salvação fracassasse; mas este plano estava muito profundamente estabelecido para que fosse subvertido ou prejudicado por Satanás. HR 199 3 Cristo é o exemplo para todos os cristãos. Quando eles são tentados, ou são discutidos os seus direitos, deveriam suportá-lo pacientemente. Não deveriam entender que têm direito de apelar para o Senhor a fim de ostentar Seu poder, para que possam alcançar vitória sobre os seus inimigos, a menos que possa Deus ser diretamente honrado e glorificado por meio disso. Se Jesus Se houvesse lançado do pináculo do templo, não teria glorificado Seu Pai; pois ninguém teria testemunhado o ato a não ser Satanás e os anjos de Deus. E teria sido tentar ao Senhor o ostentar Seu poder ao Seu pior adversário. Isto teria sido condescender com aquele a quem Jesus viera para vencer. HR 200 1 E o diabo, levando-O a um alto monte, "mostrou-Lhe num momento todos os reinos do mundo. Disse-Lhe o diabo: Dar-Te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será Tua. Mas Jesus lhe respondeu: "Vai-te, Satanás"; "está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele darás culto." Lucas 4:5-8. HR 200 2 Satanás apresentou diante de Jesus os reinos do mundo sob o mais atraente aspecto. Se Jesus o adorasse ali, oferecer-se-ia para abandonar suas pretensões a posses na Terra. Se o plano da salvação fosse executado, e Jesus morresse para remir o homem, sabia Satanás que seu poder deveria limitar-se e finalmente ser tirado, e que ele seria destruído. Portanto, foi seu meditado plano impedir, sendo possível, o cumprimento da grande obra que havia sido começada pelo Filho de Deus. Se o plano da redenção humana falhasse, Satanás conservaria o reino a que tinha ele então pretensões. E, sendo ele bem-sucedido, lisonjeava-se de que reinaria em oposição ao Deus do Céu. O tentador repreendido HR 201 1 Satanás exultou quando Jesus depôs Seu poder e glória e deixou o Céu. Achou que o Filho de Deus estava então posto sob o seu poder. A tentação fora tão expedita com o santo par no Éden que ele esperou pelo seu poder e engano satânicos derrotar mesmo o Filho de Deus, e por este meio salvar sua própria vida e reino. Se ele pudesse tentar Jesus a afastar-Se da vontade de Seu Pai, seu objetivo estaria ganho. Mas Jesus defrontou o tentador com a repreensão: "Vai-te, Satanás." Ele deveria curvar-Se unicamente ante Seu Pai. HR 201 2 Satanás pretendia como seu o reino da Terra, e insinuou a Jesus que todos os Seus sofrimentos poderiam ser evitados; que não necessitava morrer para obter os reinos deste mundo; se o adorasse poderia ter todas as possessões da Terra, e a glória de reinar sobre elas. Jesus, porém, permaneceu firme. Sabia que deveria vir o tempo em que Ele, pela Sua própria vida, resgataria de Satanás o reino, e que, depois de algum tempo, tudo no Céu e na Terra se Lhe submeteria. Preferiu Sua vida de sofrimento e Sua terrível morte, como o caminho indicado pelo Pai a fim de que pudesse tornar-Se o legítimo herdeiro dos reinos da Terra, e tê-los entregues em Suas mãos como uma posse eterna. Satanás também será entregue em Suas mãos para ser destruído pela morte, para nunca mais molestar a Jesus ou aos santos na glória. ------------------------Capítulo 26 -- O ministério de Cristo HR 202 1 Depois que Satanás terminara suas tentações, afastara-se de Jesus por algum tempo, e os anjos Lhe prepararam alimento no deserto e O fortaleceram; e a bênção de Seu Pai repousou sobre Ele. Satanás fracassara em suas mais atrozes tentações, contudo aguardava o período do ministério de Jesus, em que deveria em diferentes ocasiões experimentar sua astúcia contra Ele. Esperava também prevalecer contra Ele, estimulando aqueles que não receberiam a Jesus a odiá-Lo e procurar destruí-Lo. HR 202 2 Satanás realizou um conselho especial com os seus anjos. Estavam desapontados e enraivecidos de que em nada tivessem prevalecido contra o Filho de Deus. Resolveram ser mais astuciosos, e empregar o mais que fosse possível o seu poder a fim de inspirar incredulidade no espírito dos de Sua própria nação quanto a ser Ele o Salvador do mundo, e desta maneira desanimar a Jesus em Sua missão. Por mais exatos que pudessem ser os judeus em suas cerimônias e sacrifícios, se fossem conservados com os olhos fechados, quanto às profecias, e levados a crer que o Messias deveria aparecer como um poderoso rei mundano, poderiam eles ser conduzidos a desprezar e rejeitar a Jesus. HR 202 3 Foi-me mostrado que Satanás e seus anjos estiveram muito ocupados durante o ministério de Cristo, inspirando aos homens incredulidade, ódio e escárnio. Muitas vezes, quando Jesus proferia alguma verdade incisiva, reprovando seus pecados, o povo se tornava enraivecido. Satanás e seus anjos compeliam-nos a tirarem a vida do Filho de Deus. Mais de uma vez apanharam pedras para atirar-Lhe, porém anjos celestiais O guardaram e O afastaram da multidão irada para um lugar de segurança. Outra vez, quando as claras verdades caíam de Seus santos lábios, a multidão lançou mão dEle, e O levou ao cimo de uma colina, com o intuito de O lançar abaixo. Surgiu entre eles uma contenda, quanto ao que deveriam fazer com Ele, quando de novo os anjos O ocultaram às vistas da multidão, e Jesus passando pelo meio, retirou-Se. HR 203 1 Satanás ainda esperava que o grande plano da salvação fracassasse. Exerceu todo o seu poder para endurecer o coração do povo e tornar hostis os seus sentimentos contra Jesus. Esperava que tão poucos O recebessem como o Filho de Deus, que Ele consideraria Seus sofrimentos e sacrifício demasiado grandes para serem feitos em prol de um grupo tão pequeno. Mas, se tivesse havido apenas duas pessoas que aceitassem a Jesus como o Filho de Deus, e nEle cressem para a salvação de suas almas, Ele teria levado a efeito o plano. Aliviando o sofrimento HR 203 2 Jesus iniciou a Sua obra quebrando o poder de Satanás sobre os que sofriam. Restabeleceu os doentes à saúde, deu vista aos cegos e curou os coxos, fazendo-os saltar de alegria e glorificar a Deus. Restabeleceu à saúde os que tinham sido enfermos, e por muitos anos presos pelo poder cruel de Satanás. Com palavras cheias de graça consolava os fracos, os receosos, os desanimados. Aos fracos e sofredores, a quem Satanás retinha com triunfo, Jesus arrancou de suas garras, dando-lhes vigor de corpo e grande alegria e felicidade. Ressuscitou os mortos à vida, e estes glorificaram a Deus pela poderosa manifestação de Seu poder. De maneira poderosa operou por todos os que nEle criam. HR 204 1 A vida de Cristo estava repleta de palavras e atos de benevolência, simpatia e amor. Ele estava sempre atento para escutar e aliviar as misérias daqueles que a Ele vinham. Em seus corpos restaurados à saúde, multidões levavam a prova de Seu poder divino. Contudo, depois que a obra fora cumprida, muitos se envergonhavam do humilde mas poderoso Ensinador. Porque os príncipes não cressem em Jesus, o povo não estava disposto a aceitá-Lo. Ele foi um homem de dores e familiarizado com trabalhos. Não podiam suportar o serem governados por Sua vida sóbria, abnegada. Desejavam gozar da honra que o mundo confere. Todavia, muitos seguiam o Filho de Deus e escutavam as Suas instruções, banqueteando-se com as palavras que tão graciosamente caíam de Seus lábios. Suas palavras eram repletas de significação, e contudo, tão claras que os mais ignorantes as poderiam compreender. Oposição ineficaz HR 204 2 Satanás e seus anjos cegaram os olhos e obscureceram o entendimento dos judeus, e instigaram os principais do povo e os governadores para tirarem a vida do Salvador. Enviaram-se oficiais a fim de lhes levarem a Jesus; ao chegarem, porém, perto de onde Ele Se achava, ficaram grandemente estupefatos. Viram-nO cheio de simpatia e compaixão, ao testemunhar Ele as desgraças humanas. Ouviram-nO falar com amor e ternura aos fracos e aflitos, animando-os. Ouviram-nO também, com voz de autoridade, repreender o poder de Satanás, e libertar seus cativos. Ouviram as palavras de sabedoria, que caíam de Seus lábios, e deixaram-se cativar por elas; não puderam lançar mão dEle. Voltaram aos sacerdotes e anciãos sem Jesus. HR 204 3 Quando interrogados: "Por que não O trouxestes?" relataram o que haviam testemunhado de Seus milagres, e as santas palavras de sabedoria, amor e conhecimento que tinham ouvido, e disseram: "Jamais alguém falou como este Homem." Os principais dos sacerdotes os acusaram de ser também enganados e alguns dos oficiais ficaram envergonhados de não O haverem prendido. Os sacerdotes inquiriram, de maneira escarnecedora, se alguns dos príncipes haviam crido nEle. Muitos dos magistrados e anciãos creram em Jesus; mas Satanás os impediu de o confessar; temiam o opróbrio do povo mais do que temiam a Deus. HR 205 1 Até aí a astúcia e ódio de Satanás não tinham destruído o plano da salvação. O tempo para o cumprimento do objetivo pelo qual Jesus veio ao mundo, estava se aproximando. Satanás e seus anjos consultaram-se, e decidiram inspirar a própria nação de Cristo a clamar avidamente por Seu sangue, e acumular sobre Ele crueldade e escárnio. Esperavam que Jesus Se ressentisse de tal tratamento, e deixasse de manter Sua humildade e mansidão. HR 205 2 Enquanto Satanás formulava seus planos, Jesus estava cuidadosamente a revelar a Seus discípulos os sofrimentos pelos quais deveria passar, a saber, que Ele seria crucificado, e que ressuscitaria no terceiro dia. Mas o entendimento deles parecia embotado, e não podiam compreender o que Ele lhes dizia. A transfiguração HR 205 3 A fé dos discípulos ficou grandemente fortalecida na transfiguração, quando lhes foi permitido contemplar a glória de Cristo e ouvir a voz do Céu testificando do Seu caráter divino. Deus desejou dar aos seguidores de Jesus forte prova de que Ele era o prometido Messias, a fim de que em seu amargo desapontamento e tristeza quando da crucifixão, não perdessem por completo sua confiança. Por ocasião da transfiguração o Senhor enviou Moisés e Elias para falarem com Jesus sobre Seus sofrimentos e morte. Em vez de escolher anjos para falar com Seu Filho, Deus escolheu os que tinham por si mesmos experimentado as provações da Terra. HR 206 1 Elias havia andado com Deus. Sua obra tinha sido penosa e probante, pois o Senhor por intermédio dele, havia reprovado os pecados de Israel. Elias fora um profeta de Deus, todavia vira-se compelido a fugir de um lugar para outro a fim de salvar a vida. Sua própria nação caçara-o como um animal feroz a fim de destruí-lo. Mas Deus trasladara Elias. Anjos levaram-no para o Céu em glória e triunfo. HR 206 2 Moisés foi maior do que qualquer que haja vivido antes dele. Foi altamente honrado por Deus, tendo tido o privilégio de falar com o Senhor face a face, como um homem fala a seu amigo. Foi-lhe permitido ver a luz resplandecente e excelente glória que rodeava o Pai. O Senhor, por meio de Moisés, libertou os filhos de Israel do cativeiro egípcio. Moisés foi um mediador para o seu povo, ficando muitas vezes entre eles e a ira de Deus. Quando a ira do Senhor grandemente se acendeu contra Israel pela sua incredulidade, suas murmurações e seus ofensivos pecados, o amor de Moisés por eles foi provado. Deus Se propusera a destruí-los, e fazer dele uma poderosa nação. Moisés mostrou seu amor para com Israel, por meio do fervoroso rogo que fez em favor deles. Em sua angústia orou a Deus para que se desviasse Sua ardente ira e perdoasse a Israel, ou apagasse seu próprio nome de Seu livro. HR 206 3 Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo, pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: "O Senhor te repreenda." Judas 9. HR 207 1 Jesus tinha dito a Seus discípulos que alguns havia com Ele que não provariam a morte antes que vissem o reino de Deus vir com poder. Na transfiguração esta promessa se cumpriu. Transformou-se ali o rosto de Jesus, e resplandeceu como o Sol. Suas vestes se tornaram brancas e luzentes. Moisés estava presente para representar os que serão ressuscitados dentre os mortos, por ocasião do segundo aparecimento de Jesus. E Elias, que fora trasladado sem ver a morte, representava os que serão transformados à imortalidade por ocasião da segunda vinda de Cristo, e serão trasladados para o Céu sem ver a morte. Os discípulos contemplaram com temor e espanto a excelente majestade de Jesus e a nuvem que os cobriu e ouviram a voz de Deus com terrível majestade, dizendo: "Este é o Meu Filho, o Meu Eleito: a Ele ouvi." ------------------------Capítulo 27 -- Cristo é traído HR 208 1 Fui transportada à ocasião em que Jesus comeu a páscoa com os Seus discípulos. Satanás tinha enganado Judas, e o havia levado a julgar ser ele um dos verdadeiros discípulos de Cristo; seu coração, porém, sempre tinha sido carnal. Tinha visto as obras poderosas de Jesus, com Ele havia estado no decorrer de Seu ministério, e deixara-se convencer pelas provas esmagadoras de que Ele era o Messias; mas Judas era avaro e cobiçoso; amava o dinheiro. Com ira deplorou o uso do precioso ungüento derramado sobre Jesus. HR 208 2 Maria amava a seu Senhor. Havia-lhe perdoado os pecados, que eram muitos, e ressuscitara dos mortos seu irmão mui amado, e ela entendia que nada era demasiado caro para conferir a Jesus. Quanto mais precioso fosse o ungüento, melhor poderia ela exprimir a gratidão para com seu Salvador, dedicando-o a Ele. HR 208 3 Judas, como desculpa de sua cobiça, insistia que o ungüento poderia ter sido vendido, e dado aos pobres. Mas não era porque tivesse qualquer cuidado dos pobres: pois era egoísta e muitas vezes se apossava para seu próprio uso daquilo que era confiado ao seu cuidado para ser dado aos pobres. Judas fora desatencioso ao conforto de Jesus, e mesmo às Suas necessidades, e para desculpar sua cobiça muitas vezes se referia aos pobres. Este ato de generosidade da parte de Maria foi uma repreensão incisiva à sua disposição para a cobiça. O caminho estava preparado para a tentação de Satanás encontrar fácil recepção no coração de Judas. HR 209 1 Os sacerdotes e príncipes dos judeus odiavam a Jesus; mas multidões se juntavam para ouvir Suas palavras de sabedoria e testemunhar Suas poderosas obras. O povo se achava agitado pelo mais profundo interesse, e ansiosamente seguiam a Jesus a fim de ouvir as instruções deste maravilhoso Mestre. Muitos dos príncipes creram nEle, mas não ousavam confessar sua fé para não acontecer que fossem expulsos da sinagoga. Os sacerdotes e anciãos decidiram que algo se deveria fazer para desviar de Jesus a atenção do povo. Temiam que todos os homens cressem nEle. Não podiam ver segurança alguma para si. Haviam de perder sua posição, ou matar a Jesus. E, depois que O matassem, haveria ainda os que eram monumentos vivos de Seu poder. HR 209 2 Jesus tinha ressuscitado a Lázaro dentre os mortos, e receavam que, se O matassem, Lázaro testificaria de Seu grande poder. O povo estava se aglomerando para ver aquele que tinha sido ressuscitado dentre os mortos, e os príncipes resolveram matar Lázaro também, e abafar assim a excitação. Então teriam de novo influência sobre o povo e o fariam volver às tradições e doutrinas dos homens, para dizimarem a hortelã e o cominho. Convieram em prender Jesus quando Ele estivesse só; pois, se tentassem prendê-Lo em uma multidão quando a mente de todo o povo nEle estivesse interessada, seriam apedrejados. HR 209 3 Judas sabia quão ansiosos estavam para obterem Jesus, e ofereceu-se para traí-Lo aos príncipes dos sacerdotes e anciãos, por algumas moedas de prata. Seu amor ao dinheiro levou-o a consentir em trair seu Senhor às mãos de seus piores inimigos. Satanás estava operando diretamente por intermédio de Judas, e, em meio da cena impressionante da última ceia, o traidor estava imaginando planos para entregar seu Senhor. Jesus tristemente disse a Seus discípulos que todos eles naquela noite se escandalizariam nEle. Mas Pedro ardorosamente afirmou que, ainda que todos os outros se escandalizassem, ele não se escandalizaria. Jesus disse-lhe: "Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos." Lucas 22:31, 32. No jardim HR 210 1 Eis Jesus no horto com Seus discípulos. Com profunda tristeza mandou-os que vigiassem e orassem, para que não caíssem em tentação. Sabia que sua fé deveria ser provada, e suas esperanças iludidas, e que necessitariam de toda força que pudessem obter por um atento vigiar e fervorosa oração. Com fortes brados e pranto, Jesus orou: "Pai, se queres, passa de Mim este cálice; contudo, não se faça a Minha vontade, e, sim, a Tua." Lucas 22:42. O Filho de Deus orava com agonia. Grandes gotas de sangue juntavam-se em Seu rosto e caíam ao chão. Anjos pairavam no local, testemunhando aquela cena, mas apenas um foi comissionado para ir fortalecer ao Filho de Deus em Sua agonia. Não havia alegria no Céu. Os anjos lançaram de si suas coroas e harpas, e com o mais profundo interesse observavam silenciosamente a Jesus. Desejavam cercar o Filho de Deus, mas o anjo comandante não lhes permitiu, para que não acontecesse, ao contemplarem eles Sua traição, que O livrassem; pois o plano tinha sido formulado e deveria cumprir-se. HR 210 2 Depois que Jesus orou, veio a Seus discípulos; eles, porém, estavam a dormir. Naquela hora terrível Ele não tinha a simpatia e oração nem mesmo de Seus discípulos. Pedro, tão zeloso fora algum tempo antes, estava carregado de sono. Jesus lembrou-lhe suas positivas declarações, dizendo-lhe: "Então nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" Mateus 26:40. Três vezes o Filho de Deus orou com agonia. Judas trai a Jesus HR 211 1 Então apareceu Judas, com seu grupo de homens armados. Aproximou-se de seu Mestre como de costume, para O saudar. O grupo rodeou a Jesus; mas ali manifestou Ele o Seu poder divino, quando disse: "A quem buscais?" "Sou Eu." Eles caíram para trás, por terra. Jesus fez esta pergunta para que pudessem testemunhar o Seu poder, e ter provas de que Ele poderia livrar-Se de suas mãos se o quisesse. HR 211 2 Os discípulos começaram a ter esperanças, ao verem a multidão com seus varapaus e espadas cair tão rapidamente. Levantando-se e de novo cercando o Filho de Deus, Pedro arrancou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus mandou-o que pusesse a espada em seu lugar, dizendo: "Acaso pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?" Vi que, ao serem faladas estas palavras, os rostos dos anjos se animaram com esperança. Desejavam naquele momento, ali mesmo, rodear seu Comandante e dispersar a turba irosa. Mas, de novo a tristeza caiu sobre eles, quando Jesus acrescentou: "Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?" Mateus 26:53, 54. O coração dos discípulos também caiu em desespero e amargo desapontamento, ao deixar-se Jesus ser levado pelos Seus inimigos. HR 211 3 Os discípulos temeram pela própria vida, e todos eles O abandonaram e fugiram. Jesus foi deixado só nas mãos da turba assassina. Oh, que triunfo então houve para Satanás! E que tristeza e pesar entre os anjos de Deus! Muitos grupos de santos anjos, cada qual com um alto anjo comandante à sua frente, foram enviados para testemunhar a cena. Deveriam registrar todo o insulto e crueldade impostos ao Filho de Deus, e todo o transe de angústia que Jesus sofresse; pois os mesmos homens que se uniram nesta cena terrível devem vê-la toda outra vez, em vívidos caracteres. ------------------------Capítulo 28 -- O julgamento de Cristo HR 213 1 Os anjos, ao deixarem o Céu, com tristeza depuseram suas brilhantes coroas. Não podiam usá-las enquanto seu Comandante estivesse sofrendo, e devesse usar uma coroa de espinhos. Satanás e seus anjos estavam na sala do julgamento, empenhados na obra de destruir os sentimentos e simpatia humanos. A própria atmosfera estava carregada e poluída por sua influência. Os principais dos sacerdotes e anciãos eram inspirados por eles para insultarem e maltratarem a Jesus de uma maneira dificílima para a natureza humana resistir. Satanás esperava que tal zombaria e violência provocassem alguma queixa ou murmuração do Filho de Deus; ou que Ele manifestasse Seu poder divino libertando-Se do poder da multidão, vindo, deste modo, a fracassar o plano da salvação. Negação de Pedro HR 213 2 Pedro acompanhou o Senhor depois de Sua traição. Estava ansioso por ver o que seria de Jesus. Mas, quando foi acusado de ser um de Seus discípulos, o temor pela sua própria segurança levou-o a declarar que não conhecia o homem. Os discípulos eram notados pela pureza de sua linguagem, e Pedro, para convencer seus acusadores de que ele não era um dos discípulos de Cristo, negou a acusação pela terceira vez com maldição e juramento. Jesus, que estava a alguma distância de Pedro, volveu para ele um olhar cheio de tristeza e reprovação. Então o discípulo se lembrou das palavras que Jesus lhe falara no cenáculo, e também de sua asseveração cheia de zelo: "Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim." Mateus 26:33. Ele tinha negado seu Senhor, mesmo com maldição e juramento; mas aquele olhar de Jesus como que dissolveu o coração de Pedro, e o salvou. Ele chorou amargamente, arrependeu-se de seu grande pecado e converteu-se; e, então, ficou preparado para fortalecer seus irmãos. Na sala do julgamento HR 214 1 A multidão clamava pelo sangue de Jesus. Cruelmente O açoitaram e puseram sobre Ele uma velha veste real de púrpura, cingindo-Lhe a sagrada cabeça com uma coroa de espinhos. Puseram-Lhe na mão uma cana, prostravam-se diante dEle e escarnecedoramente O saudavam: "Salve, Rei dos judeus!" Mateus 27:29. Tiraram-Lhe então da mão a cana, e com ela O feriram na cabeça, fazendo com que os espinhos penetrassem em Sua fronte e o sangue Lhe escorresse pelo rosto e barba. HR 214 2 Era difícil aos anjos suportarem aquela cena. Desejavam libertar a Jesus, mas os anjos comandantes lhes proibiam isto, dizendo que era grande o resgate que deveria ser pago pelo homem; mas que o mesmo se completaria e ocasionaria a morte dAquele que tinha o poder da morte. Jesus sabia que os anjos estavam testemunhando a cena de Sua humilhação. O mais fraco dentre os anjos poderia fazer com que aquela multidão escarnecedora caísse impotente, e poderia livrar a Jesus. Ele sabia que Se desejasse isto de Seu Pai, os anjos instantaneamente O livrariam. Era, porém, necessário que Ele sofresse a violência dos homens ímpios, a fim de levar a efeito o plano da salvação. HR 214 3 Jesus permaneceu manso e humilde perante a multidão enfurecida, enquanto Lhe davam os mais vis maus-tratos. Cuspiam-Lhe no rosto, rosto esse do qual um dia desejarão esconder-se e que dará luz à cidade de Deus e resplandecerá mais do que o Sol. Cristo não lançou contra os que O ofendiam um olhar iroso. Cobriram-Lhe a cabeça com uma roupa velha, vendando-Lhe os olhos, e então O feriam no rosto e exclamavam: "Profetiza-nos quem é o que Te bateu." Lucas 22:64. Houve comoção entre os anjos. Eles O teriam livrado instantaneamente; mas seus anjos comandantes os contiveram. HR 215 1 Alguns dos discípulos se atreveram a entrar onde Jesus Se achava e testemunhar o Seu julgamento. Esperavam que Ele manifestasse Seu poder divino, que Se livrasse das mãos dos inimigos e os punisse pela crueldade para com Ele. Suas esperanças vinham e desapareciam ao transpirarem as diferentes cenas. Algumas vezes duvidavam, e temiam que houvessem sido enganados. Mas a voz que ouviram no monte da transfiguração e a glória que ali contemplaram, fortaleceram-lhes a fé quanto a ser Ele o Filho de Deus. Recordaram-se das cenas que tinham testemunhado, dos milagres que tinham visto Jesus realizar ao curar os doentes, abrir os olhos aos cegos, desobstruir os ouvidos surdos, repreender e expelir os demônios, e restituir a vida aos mortos, e mesmo acalmar os ventos e o mar. HR 215 2 Não podiam crer que Ele morreria. Esperavam que ainda Se levantasse com poder, e com Sua voz soberana dispersas-se aquela multidão sedenta de sangue, como o fizera quando entrara no templo e expulsara os que estavam a fazer da casa de Deus lugar de mercadorias, e quando fugiram de diante dEle como se fossem perseguidos por um grupo de soldados armados. Os discípulos esperavam que Jesus manifestasse Seu poder e convencesse todos de que Ele era o Rei de Israel. A confissão de Judas HR 216 1 Judas ficou cheio de amargurado remorso e vergonha pelo seu traiçoeiro ato de entregar a Jesus. E, quando testemunhou os maus-tratos que o Salvador suportava, ficou vencido. Havia amado a Jesus, mas amara mais o dinheiro. Não pensara que Jesus tolerasse o ser preso pela turba que ele guiara. Esperara que Ele operasse um milagre, e deles Se libertasse. Mas, quando viu a multidão enfurecida na audiência, sedenta de sangue, sentiu profundamente a sua falta; e, enquanto muitos estavam veementemente a acusar Jesus, Judas precipitou-se através da multidão confessando que tinha pecado, traindo sangue inocente. Ofereceu aos sacerdotes o dinheiro que lhe haviam pago e rogou-lhes que livrassem a Jesus, declarando que Ele era inteiramente inocente. HR 216 2 Por um pouco de tempo o vexame e a confusão conservaram os sacerdotes em silêncio. Não desejavam que o povo soubesse haverem eles assalariado um dos professos seguidores de Jesus para traí-Lo e Lho entregar. Desejavam ocultar o terem eles acossado a Jesus como a um ladrão e O haverem preso secretamente. Mas a confissão de Judas e sua aparência descomposta, criminosa, desmascararam os sacerdotes perante a multidão, mostrando que foi o ódio que os fizera prender a Jesus. Ao declarar Judas em alta voz que Jesus era inocente, replicaram os sacerdotes: "Que nos importa? Isso é contigo." Mateus 27:4. Eles tinham Jesus em seu poder, e estavam decididos a mantê-Lo seguro. Judas, vencido pela angústia, arrojou o dinheiro, que ele agora desprezava, aos pés daqueles que o assalariaram, e, com aflição e horror, foi enforcar-se. HR 216 3 Jesus tinha muitos que com Ele simpatizavam, na multidão em redor, e o não haver Ele nada respondido às muitas perguntas que Lhe foram feitas, tornou estupefata a turba. Sob toda a zombaria e violência do populacho, nem um sinal de desagrado, nem uma expressão de inquietação repousou em Suas feições. Manteve a dignidade e a compostura. Os espectadores olhavam para Ele maravilhados. Comparavam Suas formas perfeitas e porte firme, digno, com a aparência daqueles que se assentavam em juízo contra Ele, e diziam uns aos outros que Ele Se parecia com um rei mais do que qualquer dos príncipes. Não apresentava indício de ser criminoso. Seu olhar era suave, claro e denodado; Sua testa, larga e alta. Todos os traços se distinguiam fortemente pela benevolência e nobres princípios. Sua paciência e resignação eram tão diferentes das do homem, que muitos estremeceram. Mesmo Herodes e Pilatos ficaram grandemente perturbados com o Seu porte nobre, divino. Jesus perante Pilatos HR 217 1 Desde o princípio Pilatos estava convencido de que Jesus não era um homem comum. Cria que tinha um excelente caráter, e inteiramente inocente das acusações feitas contra Ele. Os anjos que testemunhavam a cena notaram as convicções do governador romano, e, para salvá-lo de se empenhar no terrível ato de entregar a Cristo para ser crucificado, um anjo foi enviado à mulher de Pilatos, e informou-a por meio de um sonho de que o Filho de Deus era aquele em cujo processo seu marido estava empenhado, e era um inocente sofredor. Ela imediatamente mandou um recado a Pilatos, declarando que sofrera muitas coisas em um sonho por causa de Jesus, e avisando-o de que nada tivesse que ver com aquele santo Homem. O portador desta mensagem, atravessando à pressa a multidão, colocou a carta nas mãos de Pilatos. Ao lê-la, tremeu e ficou pálido, e logo resolveu nada ter que ver com tirar a vida a Cristo. Se os judeus quisessem o sangue de Jesus, ele não prestaria sua influência para tal, antes trabalharia para O livrar. Enviado a Herodes HR 218 1 Quando Pilatos ouviu que Herodes estava em Jerusalém, sentiu-se grandemente aliviado; pois esperava livrar-se de toda a responsabilidade no julgamento e condenação de Jesus. Logo O enviou, com Seu acusadores, a Herodes. Este governante se havia endurecido no pecado. O assassínio de João Batista lhe deixara na consciência uma mancha de que se não podia livrar. Quando ouviu falar de Jesus e das obras poderosas efetuadas por Ele, receou e tremeu, crendo ser Ele João Batista, ressuscitado dos mortos. Quando Jesus foi colocado em suas mãos por Pilatos, Herodes considerou este ato como um reconhecimento de seu poder, autoridade e julgamento. Isto teve como resultado tornar amigos os dois governantes, que antes tinham sido inimigos. Herodes gostou de ver Jesus, esperando que Ele operasse algum poderoso milagre para satisfação sua. Não era, porém, a obra de Jesus satisfazer curiosidade, ou procurar a Sua própria segurança. Seu poder divino, miraculoso, deveria exercer-se para a salvação de outrem, mas não em Seu próprio favor. HR 218 2 Jesus nada respondeu às muitas perguntas a Ele feitas por Herodes; tampouco replicou a Seus inimigos que O estavam a acusar veementemente. Herodes se encolerizou porque Jesus não pareceu temer seu poder, e com seus homens de guerra escarneceu, zombou do Filho de Deus e O maltratou. Contudo ficou cheio de admiração ante o aspecto nobre, divinal, de Jesus, quando ignominiosamente desacatado, e, temendo condená-Lo, O enviou de novo a Pilatos. HR 218 3 Satanás e seus anjos estavam a tentar Pilatos e procurando levá-lo à sua própria ruína. Sugeriram-lhe que, se ele não tomasse parte na condenação de Jesus, outros o fariam; a multidão tinha sede de Seu sangue; e, se ele O não entregasse para ser crucificado, perderia poder e honras mundanas e seria acusado como crente em um impostor. Pelo medo de perder seu poder e autoridade, Pilatos consentiu na morte de Jesus. E, ainda que pusesse o sangue de Jesus sobre os Seus acusadores, e a multidão o recebesse, clamando: "Caia sobre nós o Seu sangue, e sobre nossos filhos" (Mateus 27:25), Pilatos, todavia, não ficou inocente; foi culpado do sangue de Cristo. Pelo seu próprio interesse egoístico, seu amor às honras dos grandes homens da Terra, entregou para ser morto um homem inocente. Se Pilatos houvesse seguido suas próprias convicções, nada teria tido que ver com a condenação de Jesus. HR 219 1 O aspecto e palavras de Jesus durante Seu julgamento produziram profunda impressão no espírito de muitos que estiveram presentes naquela ocasião. O resultado da influência assim exercida apareceu depois de Sua ressurreição. Entre aqueles que então foram acrescentados à igreja, muitos havia cuja convicção datava do tempo do julgamento de Jesus. HR 219 2 Grande foi a ira de Satanás quando viu que toda a crueldade que havia levado os judeus a infligirem a Jesus, não provocara dEle a menor murmuração. Embora Ele tivesse tomado sobre Si a natureza do homem, foi sustentado por uma força divinal, e não Se afastou na mínima coisa da vontade de Seu Pai. ------------------------Capítulo 29 -- A crucifixão de Cristo HR 220 1 Cristo, o precioso Filho de Deus, foi levado para fora e entregue ao povo para ser crucificado. Os discípulos e crentes da região próxima uniram-se à multidão que seguia Jesus ao Calvário. A mãe de Jesus também estava ali, amparada por João, o discípulo amado. Seu coração estava partido por indescritível angústia; todavia, ela, como os discípulos, esperava que a dolorosa cena mudasse, e Jesus declarasse Seu poder e aparecesse diante de Seus inimigos como o Filho de Deus. Então novamente seu coração materno confrangeu-se ao relembrar ela as palavras nas quais Ele havia feito ligeira referência às coisas que estavam acontecendo naquele dia. HR 220 2 Jesus mal tinha passado o portão da casa de Pilatos quando a cruz que tinha sido preparada para Barrabás foi deposta sobre Seus feridos e ensanguentados ombros. Cruzes também foram colocadas sobre os companheiros de Barrabás, que deviam sofrer a morte ao mesmo tempo em que Jesus. O Salvador havia conduzido Seu fardo apenas uns poucos passos quando, devido à perda de sangue e excessiva fraqueza e dor, caiu desmaiado ao solo. HR 220 3 Quando Jesus Se reanimou, a cruz foi novamente colocada sobre Seus ombros e Ele foi forçado a avançar. Vacilou mais uns poucos passos, sentindo Sua pesada carga, e caiu ao solo, inanimado. De início fora considerado morto, porém finalmente reviveu. Os sacerdotes e príncipes não sentiam compaixão por sua sofredora vítima; mas viam que Lhe era impossível carregar o instrumento de tortura mais adiante. Enquanto estavam considerando o que fazer, Simão, o cireneu, vindo de direção oposta, encontrou a multidão, foi agarrado por instigação dos sacerdotes, e compelido a carregar a cruz de Cristo. Os filhos de Simão eram discípulos de Jesus, mas ele mesmo nunca tinha sido associado com Ele. HR 221 1 Uma grande multidão seguiu o Salvador ao Calvário, muitos zombando e injuriando, porém alguns estavam chorando, e referindo Seu louvor. Aqueles a quem Ele havia curado de várias enfermidades, e aqueles a quem havia ressuscitado dos mortos, declaravam Suas maravilhosas obras com fervorosa voz, e procuravam saber o que Jesus tinha feito para ser tratado como um malfeitor. Apenas uns poucos dias antes, eles O aclamaram com alegres hosanas, e agitaram suas palmas, quando Ele entrou triunfalmente em Jerusalém. Mas, muitos que haviam gritado em Seu louvor, porque era popular fazer assim, agora avolumavam o clamor: "Crucifica-O! Crucifica-O!" Pregado na cruz HR 221 2 Em chegando ao lugar da execução, os condenados foram ligados ao instrumento da tortura. Enquanto os dois ladrões lutaram às mãos dos que os puseram na cruz, Jesus não opôs nenhuma resistência. A mãe de Jesus olhava em agônica ansiedade, esperando que Ele operasse um milagre para salvar-Se. Viu Suas mãos estendidas sobre a cruz -- aquelas bondosas mãos que sempre tinham dispensado bênçãos, e estendidas muitas vezes para curar os sofredores. E agora foram trazidos o martelo e os pregos, e ao serem estes cravados através da carne tenra e fixados na cruz, os quebrantados discípulos levaram da cena cruel o corpo desfalecido da mãe de Jesus. HR 222 1 Jesus não murmurou uma queixa; Seu rosto permaneceu calmo e sereno, mas grandes gotas de suor estavam em Sua fronte. Não houve nenhuma mão piedosa para enxugar o suor da morte de Sua face, e nem palavras de simpatia e inabalável fidelidade para confortar Seu coração humano. Ele estava pisando sozinho o lagar; de todas as pessoas ali não havia nenhuma com Ele. Enquanto os soldados executavam a terrível obra, e Ele sofria a mais aguda agonia, Jesus orava pelos Seus inimigos: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. Aquela oração de Cristo pelos Seus inimigos abrangia o mundo inteiro, envolvendo cada pecador que deveria viver até o fim dos tempos. HR 222 2 Depois que Jesus foi pregado à cruz, esta foi erguida por alguns vigorosos homens e lançada com grande violência no lugar preparado para ela, causando cruciante agonia ao Filho de Deus. Então uma terrível cena teve lugar. Sacerdotes, príncipes e escribas esqueceram a dignidade de seu sagrado ofício, e uniram-se com a turba em zombar e injuriar o agonizante Filho de Deus, dizendo: "Se Tu és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo." Lucas 23:37. Alguns escarnecedoramente repetiam entre si: "Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se." Marcos 15:31. Os dignitários do templo, os empedernidos soldados, o vil ladrão sobre a cruz e os vis e cruéis dentre a multidão -- todos se uniram em suas injúrias a Cristo. HR 222 3 Os ladrões que foram crucificados com Jesus sofriam a mesma tortura física que Ele: mas um deles pelo sofrimento tornou-se mais endurecido e desesperado. Ecoou a zombaria dos sacerdotes, e lançou-a sobre Jesus, dizendo: "Não és Tu o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós." Lucas 23:39. O outro malfeitor não era um criminoso endurecido. Quando ouviu as palavras de zombaria de seu companheiro de crime, "repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós na verdade com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas Este nenhum mal fez". Lucas 23:40, 41. Então, quando seu coração se volta para Cristo, celestial iluminação inundou-lhe a mente. Em Jesus, ferido, zombado, e pendente da cruz, ele viu seu Redentor, sua única esperança, e a Ele apelou em humilde fé: "Jesus, lembra-Te de mim quando entrares no Teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje* estarás comigo no paraíso." Lucas 23:42, 43. HR 223 1 Com espanto contemplavam os anjos o infinito amor de Jesus, que, sofrendo a mais intensa agonia física e mental, pensava apenas nos outros e animava a arrependida alma a crer. Enquanto derramava Sua vida na morte, Ele exerceu pelo homem um amor mais forte do que a morte. Muitos dos que testemunharam estas cenas no Calvário, foram por elas posteriormente firmados na fé em Cristo. HR 223 2 Os inimigos de Jesus agora aguardavam sua morte com impaciente esperança. Esse acontecimento, imaginavam, apagaria para sempre os rumores de Seu divino poder e as maravilhas de Seus milagres. Lisonjeavam-se de que não mais teriam de tremer por causa de Sua influência. Os insensíveis soldados que haviam pregado o corpo de Jesus na cruz, dividiram entre si Suas vestes, contendendo sobre uma peça, que era uma túnica sem costura. Finalmente decidiram o assunto lançando sortes. A pena da inspiração descreveu esta cena com pormenores centenas de anos antes da mesma ter lugar: "Cães Me cercam; uma súcia de malfeitores Me rodeia; traspassaram-Me as mãos e os pés. ... Repartem entre si as Minhas vestes, e sobre a Minha túnica deitam sortes." Salmos 22:16, 18. Uma lição de amor filial HR 224 1 Os olhos de Jesus vaguearam sobre a multidão que se reunira para testemunhar Sua morte, e Ele viu ao pé da cruz João amparando Maria, a mãe de Cristo. Tinha ela retornado à terrível cena, não suportando permanecer longe de Seu filho. A última lição de Jesus foi de amor filial. Olhando o rosto abatido de Sua mãe, e então a João, disse, dirigindo-Se a ela: "Mulher, eis aí o teu filho." Depois, ao discípulo: "Eis aí tua mãe." João 19:27. João bem compreendeu as palavras de Jesus, e o sagrado dever que lhe foi confiado. Imediatamente removeu a mãe de Cristo da terrível cena do Calvário. Daquela hora em diante dela cuidou como filho obediente, tomando-a em seu próprio lar. O perfeito exemplo do amor filial de Cristo resplandece com não esmaecido fulgor por entre a neblina dos séculos. Conquanto suportando a mais aguda tortura, Ele não Se esqueceu de Sua mãe, e fez toda a provisão necessária para seu futuro. HR 224 2 A missão da vida terrena de Cristo estava agora quase cumprida. Sua língua estava ressecada e Ele disse: "Tenho sede." Saturaram uma esponja com vinagre e fel e ofereceram-na para beber; mas quando a provou, recusou-a. E agora, o Senhor da vida e da glória estava morrendo, como resgate pela raça. Foi o senso do pecado, trazendo a ira do Pai sobre Si como substituto dos homens, que fez tão amargo o cálice que bebeu, e quebrantou o coração do Filho de Deus. HR 225 1 Como substituto e penhor do homem, a iniquidade dos homens foi posta sobre Cristo. Foi contado como transgressor, a fim de que pudesse redimi-los da maldição da lei. A culpa de cada descendente de Adão em todos os séculos pesava-Lhe sobre o coração; e a ira de Deus e a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniqüidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Toda dor suportada pelo Filho de Deus sobre a cruz, as gotas de sangue que corriam de Sua fronte, Suas mãos e pés, as convulsões de agonia que sacudiam Seu corpo, e a indescritível angústia que enchia Sua alma ao dEle ocultar o Pai a face, falam ao homem, dizendo: Foi por amor de ti que o Filho de Deus consentiu em levar sobre Ele esses odiosos crimes; por ti Ele rompeu o domínio da morte, e abriu os portões do Paraíso e da vida imortal. Aquele que acalmou as encapeladas ondas pela Sua Palavra e andou sobre as espumejantes vagas, que fez demônios tremerem e a doença fugir a Seu toque, que chamou os mortos à vida e abriu os olhos dos cegos, ofereceu-Se a Si mesmo sobre a cruz como o último sacrifício pelo homem. Ele, o portador de pecados, suportou uma punição judicial pela iniqüidade e tornou-Se Ele mesmo pecado, pelo homem. HR 225 2 Satanás, com suas cruéis tentações, torturava o coração de Jesus. O pecado, tão odioso a Sua vista, foi amontoado sobre Ele até que sucumbiu sob o seu peso. Não admira que Sua humanidade tenha vacilado nessa hora tremenda. Com espanto, os anjos presenciaram a desesperada agonia do Filho de Deus, tão maior do que a dor física, que esta mal era sentida por Ele. As hostes do Céu velaram o rosto, do terrível espetáculo. HR 226 1 A Natureza inanimada exprimiu sua simpatia para com seu insultado e moribundo Autor. O Sol recusou contemplar a espantosa cena. Seus raios plenos, brilhantes, iluminavam a Terra ao meio-dia, quando, de súbito, pareceu apagar-se. Completa escuridão, qual um sudário, envolveu a cruz e toda a cercania dela. As trevas se estenderam por três horas inteiras. À hora nona ergueu-se a terrível treva de sobre o povo, mas como um manto continuou a envolver o Salvador. Os furiosos relâmpagos pareciam dirigidos a Ele ali pendente da cruz. Então "Jesus clamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que quer dizer: Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Marcos 15:34. Está consumado HR 226 2 Em silêncio o povo aguardava o fim da terrível cena. Outra vez o Sol brilhara, mas a cruz continuava circundada de trevas. De repente, ergue-se de sobre a cruz a sombra, e em tons claros, como de trombeta, que pareciam ressoar por toda a criação, bradou Jesus: "Está consumado." "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!" Lucas 23:46. Uma luz envolveu a cruz, e a face do Salvador brilhou com uma glória semelhante à do Sol. Pendendo então a cabeça sobre o peito, expirou. HR 226 3 No momento em que Cristo morreu, havia sacerdotes ministrando no templo diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo. Subitamente eles sentiram a terra tremer sob si, e o véu do templo, uma forte e rica tapeçaria renovada anualmente, foi rasgado em dois de cima abaixo pela mesma mão lívida que escreveu as palavras de condenação nas paredes do palácio de Belsazar. HR 226 4 Jesus não entregou Sua vida até que tivesse cumprido a obra que viera fazer; e exclamou em Seu derradeiro alento: "Está consumado!" Os anjos se alegraram quando estas palavras foram proferidas, pois o grande plano da redenção estava sendo triunfalmente executado. Houve alegria no Céu de que os filhos de Adão pudessem agora, mediante uma vida de obediência, ser elevados finalmente à presença de Deus. Satanás foi derrotado, e sabia que seu reino estava perdido. O sepultamento HR 227 1 João estava ansioso para saber que medidas tomar em relação ao corpo de seu amado Mestre. Estremeceu ao pensar que seria manuseado por grosseiros e insensíveis soldados, e colocado numa sepultura desonrosa. Sabia que não podia obter nenhum favor das autoridades judaicas, e esperava pouco de Pilatos. Mas José e Nicodemos tomaram a dianteira nessa emergência. Ambos eram membros do Sinédrio e tinham relações com Pilatos. Ambos eram ricos e influentes, e decidiram que o corpo de Jesus teria sepultamento condigno. HR 227 2 José foi ousadamente a Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos então deu uma ordem oficial para que o corpo de Jesus fosse entregue a José. Enquanto o discípulo João estava aflito quanto aos sagrados despojos de seu amado Mestre, José de Arimatéia voltou com a ordem do governador; e Nicodemos, antecipando o resultado da entrevista de José com Pilatos, chegou com uma custosa mistura de mirra e aloés, de cerca de cem libras de peso. Ao mais honrado em Jerusalém, não se poderia haver demonstrado mais respeito na morte. HR 227 3 Delicada e reverentemente, removeram eles com suas próprias mãos o corpo de Jesus do instrumento de tortura; lágrimas de compaixão corriam-lhes ao contemplarem Seu ferido e lacerado corpo, que cuidadosamente banharam e limparam das marcas de sangue. José possuía um sepulcro novo, talhado numa rocha, que estava reservado para si mesmo; ficava próximo do Calvário, e ele preparou seu sepulcro para Jesus. O corpo, com as especiarias trazidas por Nicodemos, foi cuidadosamente envolto num lençol de linho, e os três discípulos conduziram seu precioso fardo ao sepulcro novo, onde homem algum jamais havia sido depositado antes. Aí, eles compuseram-Lhe os mutilados membros, e cruzaram-Lhe as mãos feridas sobre o inanimado peito. As mulheres galiléias foram ver se se fizera tudo quanto se podia fazer pelo corpo sem vida do amado Mestre. Viram então que fora rolada a pesada pedra para a entrada do sepulcro, e o Salvador deixado a repousar. As mulheres foram as últimas ao pé da cruz, e as últimas também a deixar o sepulcro. HR 228 1 Embora as autoridades judaicas tivessem levado a cabo seu diabólico propósito de conduzir à morte o Filho de Deus, nem suas apreensões nem os ciúmes que sentiam de Cristo haviam morrido. Misturado com a alegria da vingança satisfeita, havia um sempre presente temor de que Seu corpo morto, repousando no sepulcro de José, pudesse voltar à vida. Por isso "os principais sacerdotes e os fariseus, dirigindo-se a Pilatos, disseram-lhe: Senhor, lembramo-nos de que aquele embusteiro, enquanto vivia, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia, para não suceder que, vindo os discípulos, o roubem, e depois digam ao povo: Ressuscitou dos mortos; e será o último embuste pior que o primeiro". Mateus 27:63, 64. Pilatos tanto quanto os judeus não desejava que Jesus ressurgisse com poder para punir a culpa daqueles que O haviam destruído, e colocou uma escolta de soldados romanos sob o comando dos sacerdotes. Disse ele: "Aí tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e deixando ali a escolta." Mateus 27:65, 66. HR 229 1 Os judeus compreendiam a vantagem de terem tal guarda nas proximidades do sepulcro de Jesus. Colocaram um selo sobre a pedra que fechava o sepulcro, para que ele não fosse violado sem o fato ser conhecido, e tomaram todas as precauções contra qualquer prática fraudulenta dos discípulos em relação ao corpo de Jesus. Entretanto, todos estes planos e precauções apenas serviram para fazer maior o êxito da ressurreição, mais plenamente estabelecida a sua veracidade. ------------------------Capítulo 30 -- A ressurreição de Cristo HR 230 1 Os discípulos descansaram no sábado, entristecidos pela morte de seu Senhor, enquanto Jesus, o Rei da glória, jazia no túmulo. Aproximando-se a noite, soldados estacionaram-se para guardar o lugar de repouso do Salvador, enquanto anjos, invisíveis, pairavam sobre o local sagrado. A noite passou-se vagarosamente, e, enquanto ainda era escuro, os anjos vigilantes sabiam que o tempo para o livramento do amado Filho de Deus, seu querido Comandante, era quase vindo. Enquanto esperavam com a mais profunda emoção a hora de Seu triunfo, um poderoso anjo veio voando rapidamente do Céu. Seu rosto era como o relâmpago, e suas vestes brancas como neve. Sua luz repelia as trevas por onde ele passava, e fez com que os anjos maus, que triunfantemente reclamavam o corpo de Jesus, fugissem com terror de seu brilho e glória. Um dos da hoste angélica, que testemunhara a cena da humilhação de Cristo e estivera a vigiar Seu lugar de repouso, uniu-se ao anjo do Céu, e juntos desceram ao sepulcro. A terra tremeu e agitou-se quando se aproximaram, e houve um grande terremoto. HR 230 2 O terror apoderou-se da guarda romana. Onde estava agora o seu poder para guardar o corpo de Jesus? Não pensaram em seu dever, ou que os discípulos O pudessem roubar. Resplandecendo-se em redor a luz dos anjos, mais brilhante do que o Sol, a guarda romana caiu como morta ao chão. Um dos anjos lançou mão da grande pedra, rolou-a da porta do túmulo e sentou-se sobre ela. O outro entrou no túmulo, e da cabeça de Jesus desatou o pano. "Teu pai te chama" HR 231 1 Então o anjo dos Céus, com uma voz que fez a terra tremer, bradou: "Filho de Deus, Teu Pai Te chama! Sai!" A morte não mais poderia ter domínio sobre Ele. Jesus ressurgiu dos mortos, qual vencedor triunfante. Com temor solene a hoste angélica contemplou a cena. E, saindo Jesus do sepulcro, aqueles anjos resplandecentes prostraram-se em terra, em adoração, e saudaram-nO com cânticos de vitória e triunfo. HR 231 2 Anjos de Satanás haviam sido obrigados a fugir de diante da luz brilhante e penetrante dos anjos celestiais, e amargamente se queixaram a seu rei de que a presa lhes houvesse sido violentamente tomada, e que Aquele a quem tanto odiavam havia ressuscitado dos mortos. Satanás e sua hostes tinham exultado de que seu poder sobre o homem decaído houvesse feito com que o Senhor da vida fosse posto no túmulo; mas curto foi o seu triunfo infernal. Pois, ao sair Jesus de Sua prisão, como um vencedor majestoso, Satanás soube que depois de algum tempo ele deveria morrer, e seu reino passaria Àquele a quem pertencia de direito. Lamentou e encolerizou-se de que, não obstante todos os seus esforços, Jesus não fora vencido, mas abrira um caminho de salvação para o homem, e quem quer que quisesse nele andaria e se salvaria. HR 231 3 Os anjos maus e seu comandante reuniram-se em conselho para considerarem como poderiam ainda trabalhar contra o governo de Deus. Satanás mandou seus servos irem aos principais dos sacerdotes e anciãos. Disse ele: "Nós conseguimos enganá-los, cegando-lhes os olhos, e endurecendo-lhes o coração contra Jesus. Fizemo-los crer que Ele era um impostor. Aquela guarda romana levará a odiosa notícia de que Cristo ressuscitou. Nós levamos os sacerdotes e anciãos a odiar a Jesus e a matá-lo. Agora mostrai-lhes que, se se tornar conhecido que Cristo ressuscitou, eles serão apedrejados pelo povo por matarem um homem inocente." O relatório da guarda romana HR 232 1 Como o exército de anjos celestiais se afastasse do sepulcro e se desvanecesse a luz e glória, a guarda romana arriscou-se a levantar a cabeça e olhar em redor de si. Encheram-se de espanto ao verem que a grande pedra tinha sido rolada da entrada do sepulcro e o corpo de Jesus desaparecera. Foram apressadamente à cidade para fazerem saber aos sacerdotes e anciãos o que tinham visto. Ouvindo aqueles assassinos a maravilhosa notícia, sobreveio a palidez a todos os rostos. Foram tomados de horror ao pensamento do que haviam feito. Se a notícia era exata, eles estavam perdidos. Por algum tempo ficaram sentados em silêncio, olhando uns para os outros, não sabendo o que fazer ou dizer. Aceitar a notícia seria condenar-se. Foram à parte para se consultarem quanto ao que deveria fazer-se. Raciocinaram que, se a notícia trazida pela guarda circulasse entre o povo, aqueles que mataram a Cristo seriam mortos como Seus assassinos. HR 232 2 Resolveu-se assalariar os soldados para conservar o assunto em segredo. Os sacerdotes e anciãos lhes ofereceram grande soma de dinheiro, para que dissessem: "Vieram de noite os discípulos dEle e O roubaram, enquanto dormíamos." Mateus 28:13. E, quando a guarda indagou o que seria feito com eles por dormirem em seu posto, os oficiais judeus prometeram persuadir o governador e conseguir a segurança deles. Por amor ao dinheiro, a guarda romana vendeu sua honra, e concordou em seguir o conselho de sacerdotes e anciãos. Os primeiros frutos da redenção HR 233 1 Quando Jesus, estando suspenso na cruz, clamou: "Está consumado", as pedras se partiram, a terra tremeu e algumas das sepulturas se abriram. Quando Ele surgiu, vitorioso sobre a morte e o túmulo, enquanto a terra vacilava e a glória do Céu resplandecia em redor do local sagrado, muitos dos justos mortos, obedientes à Sua chamada, saíram como testemunhas de que Ele ressurgira. Aqueles favorecidos santos ressurgidos, saíram glorificados. Eram escolhidos e santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo. Assim, enquanto os chefes judeus procuravam esconder o fato da ressurreição de Cristo, Deus preferiu suscitar do túmulo, um grupo a fim de que testificasse que Jesus ressuscitara e declarasse Sua glória. HR 233 2 Aqueles ressuscitados diferiam na estatura e formas, sendo alguns mais nobres do que outros, em seu aspecto. Fui informada de que os habitantes da Terra têm estado a degenerar-se, a perder sua força e beleza. Satanás tem o poder da enfermidade e da morte, e em cada era os efeitos da maldição têm sido mais visíveis, e o poder de Satanás mais claramente visto. Os que viveram nos dias de Noé e Abraão pareciam-se com os anjos na forma, beleza e força. Mas cada geração subseqüente tem estado a ficar mais fraca e mais sujeita à moléstia, e sua vida tem sido de mais curta duração. Satanás tem estado a aprender como prejudicar e enfraquecer a raça. HR 233 3 Aqueles que saíram após a ressurreição de Jesus, apareceram a muitos, contando-lhes que o sacrifício pelo homem estava completo, e que Jesus a quem os judeus crucificaram, ressuscitara dos mortos; e, em prova de suas palavras, declaravam: "Ressuscitamos com Ele." Davam testemunho de que fora pelo Seu grande poder que tinham sido chamados de suas sepulturas. Apesar dos boatos mentirosos que circularam, a ressurreição de Cristo não pôde ser escondida por Satanás, seus anjos, ou pelos principais dos sacerdotes; pois aquele grupo santo, retirado de seus túmulos, espalhou a maravilhosa e alegre nova; Jesus também Se mostrou aos discípulos tristes e com coração despedaçado, afugentando-lhes os temores e dando-lhes gozo e alegria. As mulheres no sepulcro HR 234 1 Cedo, na manhã do primeiro dia da semana, antes que fosse claro, santas mulheres vieram ao sepulcro, trazendo suaves especiarias para ungir o corpo de Jesus. Notaram que a pedra pesada tinha sido rolada da entrada do sepulcro, e o corpo de Jesus ali não estava. Desfaleceu-lhes o coração, e temeram que os seus inimigos houvessem levado o corpo. Subitamente viram dois anjos com vestes brancas, com rosto brilhante e resplandecente. Esses seres celestiais compreenderam a intenção das mulheres, e imediatamente lhes disseram que Jesus ali não estava, que tinha ressuscitado, mas que podiam ver o lugar onde jazera. Mandaram-nas ir e contar a Seus discípulos que Ele iria diante deles para a Galiléia. Com temor e alegria, as mulheres dirigiram-se apressadamente aos discípulos entristecidos, e contaram-lhes as coisas que tinham visto e ouvido. HR 234 2 Os discípulos não puderam crer que Jesus houvesse ressuscitado, mas, com as mulheres que tinham levado a notícia, correram apressadamente ao sepulcro. Verificaram que Jesus ali não Se achava; viram Suas roupas de linho, mas não puderam crer nas boas novas de que havia ressuscitado dentre os mortos. Voltaram para casa maravilhando-se com o que tinham visto, e também com a notícia a eles levada pelas mulheres. HR 235 1 Maria, porém, preferiu demorar-se em redor do sepulcro, pensando no que tinha visto, e angustiada com o pensamento que pudesse ter sido enganada. Pressentia que novas provações a esperavam. Sua dor se renovou e ela irrompeu em amargo pranto. Abaixou-se para olhar de novo dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco. Um estava assentado no lugar em que estivera a cabeça de Jesus, e o outro onde estiveram os pés. Falaram a ela com ternura, e perguntaram-lhe porque chorava. Ela respondeu: "Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13. "Não me detenhas" HR 235 2 Ao voltar-se do sepulcro, viu Jesus, perto, em pé, mas não O reconheceu. Ele falou-lhe ternamente, indagando a causa de sua tristeza, e perguntando a quem ela procurava. Supondo que fosse o hortelão, rogou-lhe que, se ele tinha levado o seu Senhor, lhe dissesse onde O havia posto, para que pudesse levá-Lo. Jesus falou-lhe com Sua própria voz celestial, dizendo: "Maria!" Ela estava familiarizada com as inflexões daquela voz querida, e prontamente respondeu: "Mestre!" e, em sua alegria, ia abraçá-Lo; Jesus, porém, disse: "Não Me detenhas; porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai ter com os Meus irmãos, e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus." João 10:17. Alegremente ela se dirigiu, à pressa, aos discípulos, com as boas novas. Jesus rapidamente ascendeu a Seu Pai para ouvir de Seus lábios que Ele aceitara o sacrifício e para receber todo o poder no Céu e na Terra. HR 236 1 Anjos assemelhando-se a uma nuvem, rodearam o Filho de Deus, e ordenaram que as portas eternas se levantassem, para que o Rei da glória entrasse. Vi que enquanto Jesus estava com aquele brilhante exército celestial, na presença de Deus, e cercado de glória, não Se esquecera dos discípulos sobre a Terra, mas de Seu Pai recebeu poder, a fim de que pudesse voltar e comunicá-lo a eles. No mesmo dia Ele voltou e mostrou-Se a Seus discípulos. Permitiu-lhes então que Lhe tocassem, pois tinha ascendido ao Pai e recebera poder. O duvidoso Tomé HR 236 2 Nesta ocasião Tomé não estava presente. Ele não quis aceitar humildemente a notícia dos discípulos, mas firmemente, e com confiança em si próprio, afirmou que não creria, a menos que pusesse os dedos nos sinais dos cravos, e a mão no lado em que a lança cruel fora arremessada. Nisto mostrou uma falta de confiança em seus irmãos. Se todos exigissem a mesma prova, ninguém hoje receberia a Jesus, nem creria em Sua ressurreição. Mas foi a vontade de Deus que a notícia dos discípulos fosse recebida por aqueles mesmos que não podiam ver e ouvir o Salvador ressuscitado. HR 236 3 Deus não Se agradou com a incredulidade de Tomé. Quando Jesus de novo Se encontrou com os discípulos, Tomé estava com eles; e, quando viu Jesus, creu. Mas ele tinha declarado que não ficaria satisfeito sem a prova do tato acrescentada à vista, e Jesus lhe deu a prova que desejara. Tomé exclamou: "Senhor meu e Deus meu!" Jesus, porém, reprovou-o pela sua incredulidade, dizendo: "Porque Me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram." João 20:28, 29. A frustração dos matadores de Cristo HR 237 1 Espalhando-se as novas de cidade para cidade e de vila em vila, os judeus, por sua vez, receavam pelas suas vidas, e ocultaram o ódio que acalentavam pelos discípulos. Sua única esperança era propagar o boato falso. E aqueles que desejavam que esta mentira fosse verdadeira, a aceitavam. Pilatos estremeceu ao ouvir que Cristo havia ressuscitado. Não podia duvidar do testemunho que era dado, e desde aquela hora a paz o deixou para sempre. Por amor às honras mundanas, pelo temor de perder a autoridade e a vida, entregara Jesus para ser morto. Estava agora completamente convencido de que não era meramente um homem inocente Aquele de cujo sangue ele era culpado, mas o Filho de Deus. Miserável até ao fim, foi a vida de Pilatos. O desespero e a angústia esmagavam todo sentimento de esperança e alegria. Recusou-se a ser consolado, e teve uma morte mui desgraçada. Quarenta dias com os discípulos HR 237 2 Jesus permaneceu com Seus discípulos quarenta dias, ocasionando-lhes isto gozo e alegria de coração, ao desvendar-lhes Ele mais amplamente as realidades do reino de Deus. Ele os comissionara a dar testemunho das coisas que tinham visto e ouvido, concernentes aos Seus sofrimentos, morte e ressurreição; de que Ele fizera um sacrifício pelo pecado, e que todos que o quisessem poderiam vir a Ele e encontrar vida. Com fiel ternura disse-lhes que seriam perseguidos e angustiados; mas que encontrariam alívio recordando-se de sua experiência, e lembrando-se das palavras que Ele lhes falara. Contou-lhes que tinha vencido as tentações de Satanás e obtido vitória através de provações e sofrimentos. Satanás não mais poderia ter poder sobre Ele, e faria suas tentações recaírem mais diretamente sobre eles, e sobre todos os que cressem em Seu nome. Mas poderiam vencer, assim como Ele venceu. Jesus dotou Seus discípulos de poder para operar milagres, e disse-lhes que, embora fossem perseguidos pelos homens ímpios, enviaria Seus anjos, de tempos a tempos, para livrá-los; a vida deles não poderia ser tirada antes que sua missão se cumprisse; poderia então ser-lhes exigido selarem com o sangue os testemunhos que deram. HR 238 1 Seus ansiosos seguidores alegremente Lhe escutaram os ensinos, gozando com avidez cada palavra que caía de Seus lábios. Sabiam agora com certeza que Ele era o Salvador do mundo. Suas palavras lhes calavam profundamente no coração, e entristeciam-se de que logo devessem separar-se de seu Mestre celestial, e não mais ouvir de Seus lábios palavras confortadoras, graciosas. Mas, de novo seu coração se aqueceu de amor e extraordinária alegria, dizendo-lhes Jesus que iria preparar-lhes moradas e viria outra vez e os receberia, para que pudessem sempre estar com Ele. Prometeu também enviar o Consolador, o Espírito Santo, para guiá-los em toda verdade. "E, erguendo as mãos, os abençoou." Lucas 24:50. ------------------------Capítulo 31 -- A ascensão de Cristo HR 239 1 Todo o Céu estava à espera da hora de triunfo em que Jesus ascendesse a Seu Pai. Vieram anjos para receber o Rei da glória e acompanhá-Lo triunfalmente para o Céu. Depois que Jesus abençoou os discípulos, separou-Se deles e foi recebido em cima. E, ao subir, a multidão de cativos que ressuscitara por ocasião de Sua ressurreição, seguiu-O. Uma multidão do exército celestial estava no cortejo, enquanto no Céu uma inumerável multidão de anjos aguardava a Sua vinda. HR 239 2 Ascendendo eles para a Santa Cidade, os anjos que acompanhavam a Jesus clamavam: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da glória." Os anjos na cidade clamavam com entusiasmo: "Quem é o Rei da glória?" Os anjos do séquito respondiam em triunfo: "O Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso nas batalhas. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos ó portais eternos, para que entre o Rei da glória." Novamente os anjos que estavam à espera, perguntavam: Quem é este Rei da glória?" e os anjos do acompanhamento respondiam em melodiosos acordes: "O Senhor dos exércitos; Ele é o Rei da glória." Salmos 24:7-10. E o séquito celestial entra na cidade de Deus. HR 239 3 Todo o exército celestial rodeia então seu majestoso Comandante, e com a mais profunda adoração prostram-se diante dEle e lançam suas brilhantes coroas a Seus pés. E então soam suas harpas de ouro, e, com doces e melodiosos acordes, enchem o Céu todo com admirável música e cânticos ao Cordeiro que foi morto, e contudo vive de novo em majestade e glória. A promessa de retorno HR 240 1 Ao olharem os discípulos tristemente para o Céu, a fim de apanhar a última perspectiva de seu Senhor que ascendia, dois anjos vestidos de branco puseram-se ao lado deles e lhes disseram: "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Este Jesus que dentre vós foi assunto ao Céu, assim virá do modo como O vistes subir." Atos dos Apóstolos 1:11. Os discípulos e a mãe de Jesus, que com eles testemunharam a ascensão do Filho de Deus, passaram a noite seguinte falando a respeito de Seus maravilhosos atos, e os estranhos e gloriosos acontecimentos que tinham tido lugar dentro de um breve tempo. A ira de Satanás HR 240 2 Satanás de novo aconselhou-se com seus anjos, e com ódio violento ao governo de Deus disse-lhes que, enquanto ele retivesse seu poder e autoridade na Terra, seus esforços deveriam ser dez vezes mais fortes contra os seguidores de Jesus. Em nada haviam prevalecido contra Cristo, mas deveriam derrotar Seus seguidores sendo possível. Em todas as gerações deveriam procurar pôr ciladas àqueles que cressem em Jesus. Referiu-lhes que Jesus dera aos Seus discípulos poder para repreendê-los e expulsá-los, e para curar aqueles a quem eles afligissem. Então os anjos de Satanás saíram como leões a rugir, procurando destruir os seguidores de Jesus. ------------------------Capítulo 32 -- O Pentecostes HR 241 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 2:1. HR 241 1 Quando Jesus abriu o entendimento dos discípulos para o significado das profecias concernentes a Ele próprio, assegurou-lhes de que todo o poder Lhe era dado nos Céus e na Terra, e enviou-os a pregar o evangelho a toda a criatura. Os discípulos, com o súbito reavivamento de sua velha esperança de que Jesus haveria de tomar Seu lugar sobre o trono de Davi em Jerusalém, indagaram: "Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?" Atos dos Apóstolos 1:6. O Salvador em referência ao assunto pôs a incerteza em suas mentes replicando que não lhes competia "conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para Sua exclusiva autoridade". Atos dos Apóstolos 1:7. HR 241 2 Os discípulos começaram a esperar que o maravilhoso derramamento do Espírito Santo influenciasse o povo judeu a aceitar a Jesus. O Salvador absteve-Se de explanar mais alguma coisa, pois sabia que quando o Espírito fosse derramado sobre eles em medida completa, suas mentes seriam iluminadas e haveriam de compreender inteiramente o seu trabalho e retomá-lo onde Ele o havia deixado. HR 241 3 Os discípulos reuniram-se num aposento superior, unindo-se em orações às mulheres crentes, com Maria, mãe de Jesus e Seus irmãos. Estes irmãos, que tinham sido descrentes, estavam agora plenamente firmados na fé pelas cenas que acompanharam a crucifixão e pela ressurreição e ascensão do Senhor. O número de pessoas reunidas era cerca de cento e vinte. O derramamento do Espírito Santo HR 242 1 "Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem." O Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo, repousou sobre a assembléia, como um emblema do dom outorgado aos discípulos de falarem com fluência várias línguas diferentes, com as quais nunca tinham tomado contato anteriormente. A aparência de fogo significava o zelo fervente com que os apóstolos trabalhariam, e o poder que assistiria suas palavras. HR 242 2 Sob esta celestial iluminação, as passagens da Escritura que Cristo tinha explanado aos discípulos apresentavam-se a suas mentes com o brilho e a beleza de clara e poderosa verdade. O véu que os impedira de ver o fim daquilo que era abolido foi agora removido, e o objetivo da missão de Cristo e a natureza de Seu reino foram compreendidos com perfeita clareza. No poder do Pentecostes HR 242 3 Os judeus tinham sido dispersados por quase todos os países, e falavam vários idiomas. Tinham vindo de longas distâncias a Jerusalém, e temporariamente fixaram residência ali, para permanecer durante as festas religiosas então em andamento e para observar seus reclamos. Quando reunidos, eram de todas as línguas conhecidas. Esta diversidade de linguagem era um grande obstáculo para o trabalho dos servos de Deus em anunciar a doutrina de Cristo nas partes mais afastadas da Terra. Ter Deus suprido a deficiência dos apóstolos de maneira milagrosa, foi para o povo a mais perfeita confirmação do testemunho desses mensageiros de Cristo. O Espírito Santo fez por eles o que não poderiam ter feito por si mesmos em toda uma vida; de modo que eles podiam agora espalhar a verdade do evangelho no estrangeiro, falando com perfeição a língua daqueles por quem estavam trabalhando. Este miraculoso dom era a maior evidência que poderiam apresentar ao mundo de que sua comissão levava o sinete do Céu. HR 243 1 "Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, atônitos, e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?" HR 243 2 Os sacerdotes e principais ficaram grandemente irados com esta maravilhosa manifestação, que era referida através de toda Jerusalém e cercanias, mas não ousaram demonstrar sua má disposição, por temor de se exporem ao ódio do povo. Tinham levado o Mestre à morte, porém aqui estavam os Seus servos, iletrados homens da Galiléia, mostrando o maravilhoso cumprimento da profecia e ensinando a doutrina de Jesus em todas as línguas então faladas. Eles falavam com poder das maravilhosas obras do Salvador, e desdobravam aos seus ouvintes o plano da salvação na misericórdia e sacrifício do Filho de Deus. Suas palavras convenciam e convertiam milhares que as ouviam. As tradições e superstição inculcadas pelos sacerdotes foram varridas de suas mentes e eles aceitaram os puros ensinamentos da Palavra de Deus. O sermão de Pedro HR 244 1 Pedro mostrou-lhes que esta manifestação era o cumprimento direto da profecia de Joel, na qual vaticinou que este poder seria derramado sobre homens de Deus, a fim de capacitá-los para um trabalho especial. HR 244 2 Pedro traçou a linhagem de Jesus em linha direta à nobre casa de Davi. Não usou nenhum dos ensinamentos de Jesus para provar sua verdadeira posição, pois sabia que seus preconceitos eram tão grandes que isto não teria nenhum efeito. Referiu-se, porém, a Davi, a quem os judeus consideravam um venerável patriarca de sua nação. Disse Pedro: HR 244 3 "Porque a respeito dEle diz Davi: Diante de mim via sempre o Senhor, porque está a minha mão direita, para que eu não seja abalado. Por isso se alegrou o meu coração e a minha língua exultou; além disto também a minha própria carne repousará em esperança, porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção." HR 244 4 Pedro aqui mostra que Davi não podia estar falando em referência própria, mas, definidamente de Jesus Cristo. Davi morreu a morte natural como outros homens; sua sepultura, com o venerável pó que continha, tinha sido preservada com grande cuidado até aquele tempo. Davi, como rei de Israel, e também como profeta, tinha sido especialmente honrado por Deus. Em profética visão foi-lhe mostrada a vida futura e o ministério de Cristo. Viu Sua rejeição, julgamento, crucifixão, sepultamento, ressurreição e ascensão. HR 245 1 Davi testificou que a alma de Cristo não seria deixada no inferno (a sepultura), nem Sua carne veria corrupção. Pedro mostrou o cumprimento desta profecia em Jesus de Nazaré. Deus efetivamente O havia ressuscitado do sepulcro antes que Seu corpo visse corrupção. E agora era o Ser exaltado no Céu dos céus. HR 245 2 Nesta memorável ocasião grande número dos que até aqui ridicularizaram a idéia de pessoa tão despretensiosa como Jesus ser o Filho de Deus, tornaram-se completamente convencidos da verdade e reconheceram-nO como seu Salvador. Três mil almas foram acrescentadas à igreja. Os apóstolos falavam pelo poder do Espírito Santo; e suas palavras não podiam ser controvertidas, pois eram confirmadas por poderosos milagres, operados por eles mediante o derramamento do Espírito de Deus. Os próprios discípulos estavam atônitos ante o resultado desta visitação, e com a rápida e abundante colheita de almas. Todo o povo estava cheio de assombro. Aqueles que não abandonavam o preconceito e fanatismo estavam tão intimidados que não ousaram nem pela voz nem pela violência tentar deter esse poderoso trabalho, e, por este tempo, sua oposição cessou. HR 245 3 Somente os argumentos dos apóstolos, embora claros e convincentes, não teriam removido o preconceito dos judeus, que resistira a tantas evidências. Mas o Espírito Santo enviou tais argumentos com divino poder a seus corações. Eles eram como afiadas setas do Todo-poderoso, convencendo-os de sua terrível culpa em haverem rejeitado e crucificado o Senhor da glória. "Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." HR 246 1 Pedro levou ao íntimo do povo convicto o fato de que haviam rejeitado a Cristo por terem sido enganados pelos sacerdotes e príncipes; e que se eles continuassem a buscar conselho desses homens, e esperassem que esses líderes reconhecessem a Cristo em vez de ousar fazê-lo por si mesmos, jamais O aceitariam. Esses homens poderosos, embora fazendo profissão de piedade, eram ambiciosos e zelosos por riquezas e glórias terrenas. Jamais viriam a Cristo para receber iluminação. Jesus havia predito a terrível retribuição que viria sobre o povo por sua obstinada incredulidade, não obstante as mais poderosas evidências dadas a eles de que Jesus era o Filho de Deus. HR 246 2 Desde esse tempo em diante a linguagem dos discípulos era pura, simples e correta em palavra e dicção, tanto falando eles sua língua nativa como uma língua estrangeira. Estes homens humildes, que nunca tinham aprendido na escola dos profetas, apresentavam verdades tão elevadas e puras que maravilhavam os que as ouviam. Eles não podiam ir pessoalmente aos lugares mais afastados da Terra; mas estavam ali para a festa, homens de todos os quadrantes do mundo, e as verdades recebidas por eles foram levadas para seus vários lares e anunciadas entre seu povo, ganhando almas para Cristo. Uma lição para nossos dias HR 246 3 Este testemunho com respeito ao estabelecimento da igreja cristã é-nos dado não apenas como uma parte importante da história sagrada, mas também como uma lição. Todos os que professam o nome de Cristo devem aguardar, vigiar e orar com um só coração. Toda diferença deve ser posta de lado, e a unidade e terno amor de uns para com os outros permear o todo. Então nossas orações poderão subir juntas ao nosso Pai celestial com vigorosa, fervorosa fé. Então poderemos aguardar com paciência e esperança o cumprimento da promessa. HR 247 1 A resposta pode vir com súbita velocidade e sobrepujante poder, ou pode demorar por dias e semanas, e nossa fé receber uma prova. Deus, porém, sabe como e quando responder nossa oração. É nossa parte do trabalho colocarmo-nos a nós mesmos em associação com o divino canal. Deus é responsável por Sua parte do trabalho. Ele é fiel ao que prometeu. A grande e importante questão conosco é ser um só coração e uma só mente, colocando de lado toda a inveja e maldade, e, como humildes suplicantes, vigiarmos e aguardarmos. Jesus, nosso Representante e Cabeça, está pronto para fazer por nós o que fez pelos suplicantes, e vigilantes no dia de Pentecostes. ------------------------Capítulo 33 -- A cura do coxo HR 248 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 3-4. HR 248 1 Pouco tempo depois do derramamento do Espírito Santo, e imediatamente depois de um período de fervorosa oração, Pedro e João, subindo ao templo para adorar, viram um pobre e infeliz coxo, de quarenta anos de idade, cuja vida não tinha sido senão de dor e enfermidade. Este desafortunado homem havia desejado durante muito tempo ir a Jesus, para ser curado; mas encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico. Seus rogos finalmente induziram alguns amigos a levá-lo à porta do templo. Mas, ao chegar ali, descobriu que Aquele, em quem suas esperanças estiveram centralizadas, havia sido morto cruelmente. HR 248 2 Seu desapontamento provocou a simpatia dos que sabiam por quanto tempo avidamente esperara ser curado por Jesus, e diariamente o levavam ao templo, a fim de que os que passavam fossem pela piedade induzidos a dar-lhe alguns centavos para lhe aliviar as presentes necessidades. Ao passarem Pedro e João, pediu-lhes uma esmola. Os discípulos olharam-no com compaixão. "Pedro, fitando-o juntamente com João, disse: Olha para nós." "Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!" O semblante do pobre homem havia descaído quando HR 249 3 Pedro declarou sua própria pobreza, mas iluminou-se de esperança e fé quando o discípulo prosseguiu. "E, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram; de um salto se pôs de pé, passou a andar e entrou com eles no templo, saltando e louvando a Deus. Viu-o todo o povo a andar e a louvar a Deus, e reconheceram ser ele o mesmo que esmolava, assentado à porta Formosa do templo; e se encheram de admiração e assombro, por isso que lhe acontecera." HR 249 1 Os judeus estavam estupefatos de que os discípulos pudessem realizar milagres semelhantes aos que foram realizados por Jesus. Ele, como supunham, estava morto, e esperavam que tão maravilhosas manifestações tivessem cessado com Ele. Contudo ali estava aquele homem, que durante quarenta anos fora um desamparado coxo, regozijando-se agora em pleno uso de seus membros, livre de dor, e feliz por crer em Jesus. HR 249 2 Os apóstolos viram o espanto do povo, e perguntaram-lhes porque estavam maravilhados ante o milagre que haviam testemunhado, e considerando-os com reverência como se fosse por seu próprio poder que haviam feito aquilo. Pedro assegurou-lhes que aquilo fora feito mediante os méritos de Jesus de Nazaré, a quem eles rejeitaram e crucificaram, mas que Deus ressuscitara da morte ao terceiro dia. "Pela fé em o nome de Jesus, esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus, deu a este saúde perfeita na presença de todos vós. E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades; mas Deus assim cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas que o Seu Cristo havia de padecer." HR 249 3 Depois da realização deste milagre o povo reuniu-se no templo, e Pedro dirigiu-lhes a palavra numa parte do templo, enquanto João falava a eles em outra parte. Os apóstolos, tendo falado claramente do grande crime dos judeus em rejeitar e matar o Príncipe da vida, foram cuidadosos em não levar os seus ouvintes à exasperação ou desespero. Pedro estava disposto a diminuir a atrocidade de sua culpa tanto quanto possível, presumindo que eles tinham agido ignorantemente. Declarou que o Espírito Santo os estava chamando para o arrependimento de seus pecados e conversão, e que não havia esperança para eles exceto mediante a graça do Cristo que haviam crucificado; mediante fé nAquele que unicamente pelo Seu sangue podia cancelar os seus pecados. Prisão e julgamento dos apóstolos HR 250 1 A pregação da ressurreição de Cristo, e que mediante Sua morte e ressurreição Ele finalmente tiraria todos os mortos dos sepulcros, irritou profundamente os saduceus. Sentiram que sua doutrina favorita estava em perigo e sua reputação em risco. Alguns dos oficiais do templo, como o capitão do templo, eram saduceus. O capitão, com a ajuda de alguns saduceus, prendeu os dois apóstolos e os colocou na prisão, pois já era demasiado tarde para que seu caso fosse examinado nessa noite. HR 250 2 No dia seguinte, Anás e Caifás, com outros dignitários do templo, reuniram-se para julgar os prisioneiros, que foram então trazidos a sua presença. Naquela mesma sala, diante desses mesmos homens, foi que Pedro vergonhosamente negara seu Senhor. Tudo isso passou distintamente diante da mente do discípulo que agora comparecia para o seu próprio julgamento. Tinha agora a oportunidade para redimir-se de sua passada e ímpia covardia. HR 250 3 Os presentes, que se lembravam da parte que Pedro havia desempenhado no julgamento de seu Mestre, lisonjeavam-se de que ele seria intimidado pela ameaça de prisão e morte. Mas o Pedro que negara a Cristo na hora de Sua maior necessidade era impulsivo e cheio de confiança própria, diferindo grandemente do Pedro que fora trazido perante o Sinédrio para ser interrogado. Ele estava convertido; não era mais orgulhoso e jactancioso, mas destituído de confiança própria. Estava cheio do Espírito Santo, e mediante este poder havia-se tornado firme como uma rocha, corajoso, embora modesto, em glorificar a Cristo. Estava pronto para remover a mancha de sua apostasia, honrando o nome que uma vez repudiara. A ousada defesa de Pedro HR 251 1 Até ali os sacerdotes tinham evitado mencionar a crucifixão ou ressurreição de Jesus; mas agora, em cumprimento ao seu propósito, foram forçados a indagar dos acusados por que poder haviam realizado a notória cura do inválido. Então Pedro, cheio do Espírito Santo, dirigiu-se aos sacerdotes e anciãos respeitosamente, e declarou: "Tomai conhecimento vós todos e todo o povo de Israel de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em Seu nome é que este está curado perante vós. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos." HR 251 2 O selo de Cristo foi posto sobre as palavras de Pedro, e seu rosto foi iluminado pelo Espírito Santo. Próximo a ele, como convincente testemunha, estava o homem que havia sido milagrosamente curado. A aparência deste homem, que apenas poucas horas antes era um desajudado coxo, mas agora restaurado à perfeita saúde, e esclarecido acerca de Jesus de Nazaré, acrescentava peso de testemunho às palavras de Pedro. Sacerdotes, príncipes e povo estavam em silêncio. Os príncipes não tinham poder para refutar suas declarações. Tinham sido obrigados a ouvir aquilo que menos desejavam ouvir: o fato da ressurreição de Jesus Cristo, e Seu poder no Céu de realizar milagres por meio de Seus apóstolos na Terra. HR 252 1 A defesa de Pedro, na qual ele confessou corajosamente de onde obtinha sua força, apavorou-os. Ele se referiu à pedra rejeitada pelos construtores -- significando as autoridades da igreja, que deviam ter percebido o valor dAquele a quem rejeitaram -- mas que havia não obstante Se tornado na pedra de esquina. Nestas palavras ele se referiu diretamente a Cristo, que era a pedra fundamental da igreja. HR 252 2 O povo estava espantado ante a ousadia dos discípulos. Pensavam que, por serem ignorantes pescadores, seriam vencidos pelo embaraço quando confrontados pelos sacerdotes, escribas e anciãos. Mas, tiveram conhecimento que eles tinham estado com Jesus. Os apóstolos falavam como Ele havia falado, com um convincente poder que silenciava seus adversários. A fim de ocultarem sua perplexidade, os sacerdotes e príncipes ordenaram que os apóstolos fossem afastados, para que pudessem aconselhar-se entre si. HR 252 3 Concordaram todos que era inútil negar que o homem fora curado mediante o poder concedido aos apóstolos em nome de Jesus crucificado. Alegremente encobririam o prodígio por meio de falsidades; mas a obra fora feita em plena luz do dia diante de uma multidão de pessoas, e já viera ao conhecimento de milhares. Sentiram que a obra dos discípulos devia cessar imediatamente, ou Jesus ganharia muitos adeptos, e sua própria desgraça poderia seguir-se, pois estariam sujeitos a ser responsabilizados pelo assassínio do Filho de Deus. HR 253 1 Apesar de seu desejo de destruir os discípulos, não ousaram fazer mais que ameaçá-los com o mais severo castigo, se continuassem a falar ou agir em nome de Jesus. Entretanto, Pedro e João declararam ousadamente que seu trabalho tinha-lhes sido dado por Deus, e que não podiam deixar de falar as coisas que tinham visto e ouvido. De boa vontade teriam os sacerdotes punido esses nobres homens por sua inamovível fidelidade a sua sagrada vocação, mas temeram o povo; "porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera". Assim, com repetidas ameaças e admoestações, foram os apóstolos libertados. ------------------------Capítulo 34 -- Lealdade a Deus sob perseguição HR 254 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 5:12-42. HR 254 1 Os apóstolos continuaram sua obra de misericórdia, curando os aflitos e proclamando o crucificado e ressurreto Salvador, com grande poder. Muitos eram continuamente acrescentados à igreja pelo batismo, mas ninguém se aventurava a associar-lhes sem estar unido de coração e mente com os crentes em Cristo. Multidões afluíam a Jerusalém, trazendo seus enfermos e aqueles que estavam possessos de espíritos imundos. Muitos sofredores eram depositados nas ruas ao passarem Pedro e João a fim de que sua sombra fosse projetada sobre eles e ficassem curados. O poder do ressurreto Salvador havia sem dúvida caído sobre os apóstolos, e estes operavam sinais e maravilhas que diariamente faziam aumentar o número de crentes. HR 254 2 Estas coisas grandemente afligiram os sacerdotes e príncipes, especialmente aqueles que dentre eles eram saduceus. Viam que, se fosse permitido aos apóstolos pregar um Salvador ressuscitado, e operar milagres em Seu nome, sua doutrina de que não havia ressurreição dos mortos seria rejeitada por todos, e sua seita logo viria a ser extinta. Os fariseus viam que a tendência de sua pregação seria solapar as cerimônias judaicas e tornar as ofertas sacrificais de nenhum efeito. Seus anteriores esforços para suprimir estes pregadores tinham sido vãos, porém agora estavam determinados a fazer calar o excitamento. Libertados por um anjo HR 255 1 No acordo deles os apóstolos foram detidos e presos, e o Sinédrio foi convocado para julgar seu caso. Grande número de homens eruditos, além do conselho, foi convocado, a fim de juntos debaterem o que devia ser feito com os perturbadores da paz: "Mas de noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam." HR 255 2 Quando os apóstolos apareceram entre os crentes e contaram como o anjo os havia guiado diretamente através do grupo de soldados que guardavam a prisão, ordenando-lhes retomar a obra interrompida pelos sacerdotes e príncipes, os irmãos se encheram de espanto e alegria. HR 255 3 Os sacerdotes e príncipes em conselho tinham decidido lançar sobre eles a acusação de insurreição, e atribuir-lhes o assassínio de Ananias e Safira (Atos dos Apóstolos 5:1-11), e de conspiração para despojarem os sacerdotes de sua autoridade e levá-los à morte. Esperavam excitar a turba de tal maneira que esta decidisse tomar a questão nas mãos e tratar com os apóstolos como havia feito com Jesus. Eles sabiam que muitos que não haviam aceito a doutrina de Cristo estavam cansados do arbitrário governo das autoridades judaicas, e ansiosos por alguma decidida mudança. Se essas pessoas se tornassem interessadas na crença dos apóstolos e a abraçassem, reconhecendo a Jesus como o Messias, eles temiam que a ira de todo o povo se levantasse contra os sacerdotes, fazendo-os responder pelo assassínio de Cristo. Decidiram então tomar medidas drásticas para prevenir isto. Finalmente mandaram que os supostos prisioneiros fossem trazidos a sua presença. Grande foi o seu espanto ante a resposta de que as portas da prisão foram encontradas seguramente fechadas e a guarda estacionada diante delas, mas não se encontravam os prisioneiros em parte alguma. HR 256 1 Logo chegou a notícia: "Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo, ensinando o povo." Embora os apóstolos tivessem sido miraculosamente libertados da prisão, não escaparam ao interrogatório e castigo. Cristo dissera, quando estava com eles: "Estai vós de sobreaviso, porque vos entregarão aos tribunais." Enviando um anjo para os livrar, Deus lhes dera um sinal de Seu amor e certeza de Sua presença; tocava-lhes agora sofrer por amor dAquele a quem estavam pregando. O povo estava tão perturbado pelo que tinha visto e ouvido que os sacerdotes e príncipes sabiam ser impossível excitá-los contra os apóstolos. O segundo julgamento HR 256 2 "Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome, contudo enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue deste homem." Eles não estavam tão dispostos a levar a culpa pela morte de Jesus, como quando se associaram ao clamor da vil turba: "Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos." HR 256 3 Pedro, com os demais apóstolos, tomou a mesma linha de defesa que tinha seguido em seu primeiro julgamento: "Então Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes importa obedecer a Deus do que aos homens." Foi o anjo enviado por Deus que os libertou da prisão ordenando-lhes a ensinar no templo. Seguindo suas instruções eles estavam obedecendo ao divino comando, o que deveriam seguir fazendo com qualquer risco para si mesmos. Pedro continuou: "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-O num madeiro. Deus, porém, com Sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que Lhe obedecem." HR 257 1 O Espírito da inspiração estava sobre os apóstolos, e os acusados se tornaram acusadores, lançando o assassínio de Cristo sobre os sacerdotes e príncipes que formavam o conselho. Os judeus ficaram tão irados que decidiram, sem qualquer outro julgamento e sem a autoridade dos oficiais romanos, tomar a lei em suas próprias mãos e matar os prisioneiros. Já culpados do sangue de Cristo, estavam agora ávidos de manchar as mãos com o sangue de Seus apóstolos. Mas estava ali um homem de saber e alta posição, cujo claro intelecto viu que este violento passo traria terríveis conseqüências. Deus suscitou um homem de seu próprio conselho para deter a violência dos sacerdotes e príncipes. HR 257 2 Gamaliel, o sábio fariseu e doutor, um homem de grande reputação, era uma pessoas de extrema precaução, que antes de falar em favor dos prisioneiros, pediu que eles fossem removidos. Então falou com grande ponderação e calma: "Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque antes destes dias se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. Agora vos digo: Dai de mão a estes homens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus." HR 258 1 Os sacerdotes não podiam senão ver plausibilidade nesta opinião; foram obrigados a concordar com ele, e com muita relutância soltaram os prisioneiros, depois de os castigar com varas e insistir com eles vez após vez a não mais pregarem em nome de Jesus, ou suas vidas seriam o preço de sua ousadia. "E eles se retiraram do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo." HR 258 2 Os perseguidores dos apóstolos devem ter ficado bem perturbados quando viram sua falta de habilidade para derrotar estas testemunhas de Cristo, que tiveram fé e coragem para transformar sua vergonha em glória e seu padecimento em alegria por amor de seu Mestre, que tinha suportado humilhação e agonia antes deles. Dessa maneira estes bravos discípulos continuaram a ensinar em público, e em particular nas casas, a convite de seus habitantes que não ousavam confessar abertamente sua fé, por temor dos judeus. ------------------------Capítulo 35 -- A organização do evangelho HR 259 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 6:1-7. HR 259 1 "Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária." Estes gregos eram residentes de outros países onde se falava a língua grega. Muito maior era o número de conversos judeus que falavam o hebraico; porém, aqueles tinham vivido no Império Romano, e falavam somente o grego. A murmuração começou a surgir entre eles de que as viúvas gregas não eram tão liberalmente supridas como os necessitados dentre os hebreus. Qualquer parcialidade desta espécie teria sido um agravo a Deus; e prontas medidas foram tomadas para restaurar a paz e a harmonia entre os crentes. HR 259 2 O Espírito Santo sugeriu um método pelo qual os apóstolos poderiam ficar isentos da tarefa de repartir com os pobres, ou tarefas similares, pois deviam ser deixados livres para pregar a Cristo. "Então os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra." HR 260 1 A igreja de comum acordo escolheu sete homens cheios de fé e da sabedoria do Espírito de Deus, para atender os negócios pertinentes à causa. Estêvão foi o primeiro escolhido; ele era judeu por nascimento e religião, mas falava a língua grega, e era versado nos costumes e maneiras dos gregos. Foi portanto considerado a pessoa mais apropriada para estar à testa e ter a supervisão da distribuição dos fundos destinados às viúvas, órfãos e aos reconhecidamente pobres. Esta escolha satisfez a todos, de modo que o descontentamento e a murmuração foram aquietados. HR 260 2 Os sete homens escolhidos foram solenemente apartados para seus deveres, pela oração e pela imposição das mãos. Aqueles que foram assim ordenados, não estavam entretanto, excluídos de ensinar a fé. Pelo contrário, é lembrado que "Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo". Eles estavam plenamente qualificados para instruir na verdade. Eram também homens de juízo calmo e discrição, bem capacitados para tratar de casos difíceis de julgamento, murmuração ou inveja. HR 260 3 A escolha de homens para efetuarem os negócios da igreja, de modo que os apóstolos pudessem ficar livres para seu trabalho especial de ensinar a verdade, foi grandemente abençoado por Deus. A igreja crescia em número e em poder. "Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé." HR 260 4 É necessário que a mesma ordem e sistema sejam mantidos na igreja agora como nos dias apostólicos. A prosperidade da causa depende grandemente de serem seus vários departamentos conduzidos por homens hábeis, qualificados para suas posições. Os que são escolhidos por Deus para serem líderes em Sua causa, tendo a supervisão geral dos interesses espirituais da igreja, devem ser aliviados, tanto quanto possível, de cuidados e perplexidades de natureza temporal. Aqueles a quem Deus chamou para ministrar em palavra e doutrina devem ter tempo para meditação, oração, e estudo das Escrituras. Seu claro discernimento espiritual é diminuído ao entrarem em mínimos detalhes de negócios e no trato com os vários temperamentos das pessoas que se reúnem em qualidade de igreja. É próprio que todos os assuntos de natureza temporal se apresentem perante os oficiais qualificados e sejam por eles ajustados. Mas se são de caráter tão difícil que frustre sua sabedoria, devem ser levados ao conselho daqueles que têm a supervisão de toda a igreja. ------------------------Capítulo 36 -- A morte de Estêvão HR 262 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 6:8-7:60. HR 262 1 Estêvão era muito ativo na causa de Deus e declarava sua fé corajosamente. "Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga, chamada dos Libertos, dos Cireneus, dos Alexandrinos, e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão; e não podiam sobrepor-se à sabedoria e ao Espírito com que ele falava." Estes estudiosos dos grandes rabis estavam confiantes que numa discussão pública poderiam obter uma completa vitória sobre Estêvão, por causa de sua suposta ignorância. Ele porém, não somente falava com o poder do Espírito Santo, mas ficava claro a toda a vasta assembléia que era também um estudioso das profecias e versado em todos os assuntos da lei. Defendia habilmente as verdades que advogava, e confundia inteiramente seus oponentes. HR 262 2 Os sacerdotes e príncipes que testemunharam a maravilhosa demonstração de poder que acompanhava a ministração de Estêvão encheram-se de ódio atroz. Em vez de se renderem ao peso das evidências que apresentava, determinaram silenciar sua voz, matando-o. HR 262 3 Portanto pegaram Estêvão e levaram-no perante o concílio do Sinédrio para ser julgado. HR 262 4 Judeus eruditos das regiões circunvizinhas foram convocados para o propósito de refutar os argumentos do acusado. Saulo, que se havia distinguido como um zeloso oponente da doutrina de Cristo, e um perseguidor de todos os que nEle criam, também estava presente. Este homem letrado tomou parte importante contra Estêvão. Trouxe o peso da eloqüência e a lógica dos rabis a atuarem no caso, e convenceu o povo de que Estêvão estava pregando doutrinas enganadoras e perigosas. HR 263 1 Mas Saulo encontrou em Estêvão alguém tão altamente educado como ele mesmo, e alguém que tinha plena compreensão do propósito de Deus em propagar o evangelho às outras nações. Ele cria no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e estava vigorosamente firmado em relação aos privilégios dos judeus; mas sua fé era ampla, e ele sabia que viera o tempo em que os verdadeiros crentes deviam adorar não apenas em templos feitos por mãos, mas, através do mundo, homens poderiam adorar a Deus em Espírito e em verdade. O véu foi tirado dos olhos de Estêvão, e ele discerniu o fim daquilo que foi abolido pela morte de Cristo. HR 263 2 Os sacerdotes e príncipes em nada prevaleceram contra sua clara e calma sabedoria, embora fossem veementes em sua oposição. Determinaram fazer de Estêvão um exemplo e, enquanto assim satisfaziam seu ódio vingativo, impediriam outros, pelo medo, de adotarem sua crença. Acusações foram proferidas contra ele, da maneira mais enganosa. Falsas testemunhas foram assalariadas para testificar que o ouviram proferir palavras blasfemas contra o templo e a lei. Disseram: "Porque o temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu." HR 263 3 Quando Estêvão se colocou face a face com seus juízes, para responder à acusação de blasfêmia, um santo fulgor resplandeceu em seu rosto. "Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo." Muitos dos que contemplavam o iluminado rosto de Estêvão tremeram e velaram a face, mas a pertinaz incredulidade e preconceito não se abalaram. A defesa de Estevão HR 264 1 Estêvão foi interrogado quanto à verdade das acusações contra ele, e tomou sua defesa com voz clara, penetrante, que repercutia pelo recinto do conselho. Com palavras que mantinham a assembléia absorta, prosseguiu ele relatando a história do povo escolhido de Deus. Mostrou completo conhecimento da economia judaica, e a interpretação espiritual da mesma, agora manifesta mediante Cristo. Começou com Abraão e fez um retrospecto através da História de geração em geração, repassando todos os registros nacionais de Israel a Salomão, acentuando os mais impressivos pontos para vindicar sua causa. HR 264 2 Tornou clara sua própria lealdade para com Deus e para com a fé judaica, enquanto mostrava que a lei na qual os judeus confiavam para a salvação não fora capaz de salvar Israel da idolatria. Ligou Jesus Cristo com toda a história judaica. Referiu-se à construção do templo de Salomão, e às palavras deste, bem como de Isaías: "Mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens." "O Céu é o Meu trono, e a Terra o estrado de Meus pés. Que casa Me edificareis? diz o Senhor, ou qual é o lugar do Meu repouso? Porventura não fez a Minha mão todas estas coisas?" O lugar da mais alta adoração de Deus estava no Céu. HR 264 3 Quando Estêvão atingiu este ponto, houve um tumulto entre o povo. O prisioneiro leu sua sorte nos rostos diante dele. Viu a resistência que encontraram suas palavras, que falara sob a direção do Espírito Santo. Sabia que estava dando seu último testemunho. Poucos dos que lêem este discurso de Estêvão o apreciam convenientemente. A ocasião, o tempo e o lugar devem ser tidos em mente para fazer com que suas palavras expressem seu completo significado. HR 265 1 Quando ele estabeleceu conexão entre Cristo e as profecias, e falou, como fizera, a respeito do templo, o sacerdote, pretendendo estar tomado de horror, rasgou suas vestes. Este ato foi para Estêvão um sinal de que sua voz logo silenciaria para sempre. Embora ele estivesse apenas no meio de seu sermão, concluiu-o abruptamente quebrando de súbito a cadeia da História, e, voltando-se para seus enfurecidos juízes, disse: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos, e não a guardastes." Morte de mártir HR 265 2 A esta altura, sacerdotes e príncipes ficaram fora de si de cólera. Agindo mais como feras rapinantes do que como seres humanos, precipitaram-se sobre Estêvão, rangendo os dentes. Ele, porém, não se intimidou; já esperava por isso. Seu rosto estava calmo, e resplandecia uma luz angelical. Os enfurecidos sacerdotes e a turba excitada não o aterrorizavam. "Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à Sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à destra de Deus." HR 265 3 A cena ao seu redor perdeu-se-lhe de vista; os portais do Céu se abriram, e Estêvão, olhando, viu a glória das cortes de Deus, e Cristo, como Se acabasse de levantar de Seu trono, pronto para suster Seu servo, que estava prestes a sofrer o martírio por Seu nome. Quando Estêvão descreveu as gloriosas cenas descerradas diante dele, isto foi mais do que seus perseguidores podiam suportar. Tapando os ouvidos para não ouvir suas palavras, e dando altos brados, com fúria correram unânimes sobre ele. "E apedrejaram a Estêvão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito! Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Com estas palavras adormeceu." HR 266 1 Em meio às agonias desta morte tão cruel, o fiel mártir, à semelhança de seu divino Mestre, orou por seus assassinos. As testemunhas que haviam acusado Estêvão foram convocadas para lançar as primeiras pedras. Estas pessoas depuseram suas vestes aos pés de Saulo, que havia tomado parte ativa na disputa e consentia na morte do prisioneiro. HR 266 2 O martírio de Estêvão produziu profunda impressão em todos os que o presenciaram. Foi uma prova severa para a igreja, mas resultou na conversão de Saulo. A fé, constância e glorificação do mártir não podiam ser apagadas de sua mente. O sinal de Deus em seu rosto, suas palavras, que alcançavam a alma de todos aqueles que as ouviam, exceto daqueles que estavam endurecidos pela resistência à luz, permaneciam na memória dos observadores, e testificavam da verdade do que ele tinha proclamado. HR 266 3 Nenhuma sentença legal fora pronunciada contra Estêvão, mas as autoridades romanas foram subornadas com grandes somas de dinheiro para não fazerem investigação sobre o caso. Na cena do julgamento e morte de Estêvão, Saulo parecera estar imbuído de um zelo frenético. Parecera ficar irado com sua própria convicção íntima de que Estêvão fora honrado por Deus, ao mesmo tempo em que era desonrado pelos homens. HR 267 1 Ele continuou a perseguir a igreja de Deus, acossando seus membros, prendendo-os em suas casas e entregando-os aos sacerdotes e príncipes para prisão e morte. Seu zelo em levar avante esta perseguição aterrorizou os cristãos em Jerusalém. As autoridades romanas não fizeram esforço especial para deter a cruel obra, e secretamente ajudavam os judeus, a fim de conciliá-los e assegurar seu favor. HR 267 2 O erudito Saulo foi um poderoso instrumento nas mãos de Satanás para levar avante sua rebelião contra o Filho de Deus; entretanto, um mais poderoso que Satanás, escolhera Saulo para tomar o lugar do martirizado Estêvão, a fim de trabalhar e sofrer por Seu nome. Saulo era homem de muita estima entre os judeus, tanto pelo seu saber como pelo seu zelo na perseguição dos crentes. Só depois da morte de Estêvão se tornou membro do Sinédrio, sendo eleito para a corporação em consideração à parte que desempenhara naquela oportunidade. ------------------------Capítulo 37 -- A conversão de Saulo HR 268 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 9:1-22. HR 268 1 A mente de Saulo foi grandemente agitada pela triunfante morte de Estêvão. Ele foi sacudido em seus preconceitos; porém as opiniões e argumentos dos sacerdotes e príncipes finalmente o convenceram de que Estêvão fora um blasfemo, que Jesus Cristo a quem ele pregava fora um impostor e que tinham de ter razão esses que ministravam no santo serviço. Sendo um homem de opinião decidida e firme propósito, tornou-se mais severo em sua oposição ao cristianismo, depois de ter assentado de uma vez na mente que as opiniões dos sacerdotes e escribas eram corretas. Seu zelo levou-o a voluntariamente empenhar-se na perseguição aos crentes. Fez com que homens santos fossem arrastados perante os tribunais, e aprisionados ou condenados à morte sem prova de qualquer ofensa, salvo sua fé em Jesus. De caráter similar, embora numa direção diferente, foi o zelo de Tiago e João quando quiseram pedir fogo do céu para consumir aqueles que desprezavam o seu Mestre e dEle escarneciam. HR 268 2 Saulo estava para viajar a Damasco a seus próprios negócios; mas ele estava determinado a executar um duplo propósito, descobrindo, quando fosse, todos os crentes em Cristo. Para este propósito obteve cartas do sumo sacerdote para ler nas sinagogas, as quais o autorizavam a prender todos os que fossem suspeitos de serem crentes em Jesus, e mandá-los com mensageiros a Jerusalém, onde seriam julgados e castigados. Ele pôs-se a caminho, cheio do vigor da varonilidade e do fogo de um zelo equivocado. HR 269 1 Quando os fatigados viajores se aproximavam de Damasco, os olhos de Saulo repousaram com prazer sobre as terras férteis, belos jardins e pomares frutíferos e as frescas correntes que seguiam murmurantes em meio à verdejante vegetação. Era muito refrigerante contemplar tal cenário depois de uma longa e cansativa viagem através da vastidão desolada. Enquanto Saulo e seus companheiros, contemplavam e admiravam, subitamente uma luz mais brilhante que a do Sol brilhou ao redor dele, "e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que Me persegues? Ele perguntou: Quem és Tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a Quem tu persegues: duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões". A visão de Cristo HR 269 2 A cena foi da maior confusão. Os companheiros de Saulo foram tomados de terror, e quase cegados pela intensidade da luz. Ouviram a voz, mas não viram ninguém, e para eles tudo era ininteligível e misterioso. Porém Saulo, prostrado sobre a terra, compreendeu as palavras que foram faladas, e viu claramente diante dele o Filho de Deus. Este único olhar sobre aquele glorioso Ser gravou Sua imagem para sempre na alma do abalado judeu. As palavras atingiram seu coração com terrificante força. Nos entenebrecidos recessos do espírito derramou-se-lhe uma inundação de luz, revelando sua ignorância e erro. Viu que, conquanto imaginando-se estar zelosamente servindo a Deus no perseguir aos seguidores de Cristo, estivera na realidade fazendo a obra de Satanás. HR 269 3 Viu sua loucura em estribar a fé nas afirmativas dos sacerdotes e príncipes, cujo ofício sagrado lhes tinha dado grande influência sobre sua mente, levando-o a crer que a história da ressurreição fosse uma artificiosa invencionice dos discípulos de Jesus. Agora que Cristo foi revelado a Saulo, o sermão de Estêvão foi trazido com força a sua mente. Aquelas palavras que os sacerdotes tinham declarado blasfemas, agora pareciam-lhe verdadeiras e autênticas. Ao tempo dessa maravilhosa iluminação sua mente agiu com notável rapidez. Ele retrocedeu na história profética e viu que a rejeição de Jesus pelos judeus, Sua crucifixão, ressurreição e ascensão haviam sido preditas pelos profetas, e provavam ser Ele o prometido Messias. Relembrou as palavras de Estêvão: "Eis que vejo os Céus abertos e o Filho do homem em pé à destra de Deus" (Atos dos Apóstolos 7:56), e compreendeu que o santo moribundo havia contemplado o reino da glória. HR 270 1 Que revelação fora tudo isso para o perseguidor dos crentes! Clara, porém terrível luz tinha jorrado em sua alma. Cristo foi-lhe revelado como tendo vindo à Terra em cumprimento de Sua missão, sendo rejeitado, escarnecido, condenado e crucificado por aqueles a quem viera salvar, e tendo ressuscitado dos mortos e ascendido aos Céus. Neste terrível instante relembrou que o santo Estêvão fora sacrificado com seu consentimento, e que por meio de sua instrumentalidade muitos outros valorosos santos encontraram a morte pela cruel perseguição. HR 270 2 "Ele perguntou: Quem és Tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas, levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer." Nenhuma dúvida assaltou a mente de Saulo de que fora o verdadeiro Jesus de Nazaré que lhe falara, e que Ele era de fato o tão longamente esperado Messias, a Consolação e o Redentor de Israel. HR 271 1 Quando a ofuscante glória se retirou e Saulo se levantou do chão, achou-se completamente despojado da vista. O fulgor da glória de Cristo fora por demais intenso para seus olhos mortais; e, desaparecido este fulgor, a escuridão da noite alojou-se em sua visão. Creu que esta cegueira era um castigo divino por sua cruel perseguição aos seguidores de Jesus. Tateou ao redor em terríveis trevas, e seus companheiros, em temor e pasmo, levaram-no pela mão até Damasco. Dirigido para a igreja HR 271 2 A resposta à pergunta de Saulo foi: "Levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer." Jesus enviou o inquiridor judeu a Sua igreja, para dela obter um conhecimento de seu dever. Cristo realizou a obra de revelação e convicção; agora o penitente estava em condições de aprender daqueles a quem Deus ordenou para ensinar Sua verdade. Assim Jesus sancionou a autoridade de Sua igreja organizada, e colocou Saulo em associação com Seus representantes na Terra. A luz da celestial iluminação privara Saulo da vista, e Jesus, o grande Médico, não a restaurou imediatamente. Todas as bênçãos fluem de Cristo, entretanto, havia Ele estabelecido uma igreja como Sua representante na Terra, e a ela pertencia a obra de guiar o arrependido pecador no caminho da vida. Os mesmos homens a quem Saulo tinha o propósito de destruir deviam ser seus instrutores na religião que ele desprezara e perseguira. HR 271 3 A fé de Saulo foi severamente provada durante três dias de jejum e oração na casa de Judas, em Damasco. Ele estava totalmente cego, e em completas trevas mentais para o que fosse requerido dele. Tinha sido orientado para ir a Damasco, onde lhe seria dito o que convinha fazer. Em sua incerteza e desespero clamou ferventemente a Deus. "Ora, havia em Damasco um discípulo, chamado Ananias. Disse-lhe o Senhor numa visão: Ananias! Ao que respondeu: Eis-me aqui, Senhor. Então o Senhor lhe ordenou: Dispõe-te, e vai à rua que se chama Direita e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando, e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista." HR 272 1 Ananias mal podia crer nas palavras do anjo mensageiro, pois a odiosa perseguição de Saulo aos santos em Jerusalém tinha se espalhado por perto e longe. Atreveu-se a argumentar, dizendo: "Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos Teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o Teu nome." Mas a ordem para Ananias foi imperativa: "Vai, porque este é para Mim um instrumento escolhido para levar o Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel." HR 272 2 O discípulo, obediente à orientação do anjo, saiu em busca do homem que ainda recentemente havia respirado ameaças contra todos os que criam no nome de Jesus. Dirigiu-se a ele: "Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo. Imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver. A seguir levantou-se e foi batizado." HR 272 3 Aqui deu Cristo um exemplo de Sua maneira de operar para a salvação dos homens. Podia ter feito todo esse trabalho diretamente por Saulo; porém, isso não estava de acordo com Seu plano. Suas bênçãos deveriam vir através das instrumentalidades que Ele havia ordenado. Saulo tinha alguma coisa a fazer em matéria de confissão àqueles cuja destruição tramara; e Deus tinha um trabalho responsável a ser feito pelos homens a quem autorizara para agir em Seu lugar. HR 273 1 Saulo tornou-se um aluno dos discípulos. À luz da lei viu-se como um pecador. Viu que Jesus, que em sua ignorância havia considerado um impostor, é o autor e fundamento da religião do povo de Deus desde os dias de Adão, o consumador da fé agora tão clara a sua iluminada visão; o defensor da verdade, e o cumpridor das profecias. Ele considerara Jesus como alguém que tornava sem efeito a lei de Deus; porém quando sua visão espiritual foi tocada pelo dedo de Deus, aprendeu que Cristo foi o originador de todo o sistema sacrifical judaico; que Ele veio ao mundo com o expresso propósito de reivindicar a lei de Seu Pai; e que em Sua morte a lei típica encontrou-se com o antítipo. À luz da lei moral, da qual havia crido ser um zeloso guardador, Saulo viu-se como o principal dos pecadores. De perseguidor a apóstolo HR 273 2 Paulo foi batizado por Ananias no rio de Damasco. Restaurou as forças pelo alimento, e imediatamente começou a pregar Jesus aos crentes na cidade, os mesmos a quem tinha o propósito de destruir quando partiu de Jerusalém. Também ensinou nas sinagogas que Jesus, que havia sido morto, era de fato o Filho de Deus. Seus argumentos baseados na profecia eram tão conclusivos, e seus esforços tão acompanhados pelo poder de Deus, que os judeus oponentes foram confundidos e incapazes de responder-lhe. A educação rabínica e farisaica de Paulo, devia agora ser usada com vantagem na pregação do evangelho e na sustentação da causa que uma vez ele empregara todo o esforço para destruir. HR 274 1 Os judeus estavam inteiramente surpresos e confundidos pela conversão de Paulo. Estavam cientes de sua posição em Jerusalém, e sabiam qual era sua principal missão em Damasco, e que estava armado com uma comissão do sumo sacerdote que o autorizava a tomar os crentes em Jesus e mandá-los como prisioneiros para Jerusalém; contudo, agora eles o viam pregando o evangelho de Jesus, fortalecendo aqueles que já eram discípulos e continuamente fazendo novos conversos para a fé, de que tinha sido tão zeloso oponente. Paulo demonstrava a todos que o ouviam que esta mudança de fé não era de impulso nem de fanatismo, mas produzida por superabundante evidência. HR 274 2 Enquanto trabalhava nas sinagogas sua fé se fortalecia; seu zelo em sustentar que Jesus era o Filho de Deus aumentou em face da feroz oposição dos judeus. Não poderia permanecer mais em Damasco, pois que depois que os judeus se recuperaram de sua surpresa ante sua maravilhosa conversão e trabalhos subseqüentes, voltaram-se resolutamente da convincente evidência assim produzida em favor da doutrina de Cristo. Seu espanto pela conversão de Paulo se tornou em intenso ódio a ele, como aquele que haviam manifestado contra Jesus. Preparação para o serviço HR 274 3 A vida de Paulo estava em perigo, e ele recebeu de Deus a ordem de deixar Damasco por algum tempo. Foi para a Arábia, e ali, em relativa solidão, teve ampla oportunidade para comunhão com Deus e para contemplação. Desejava estar sozinho com Deus, para examinar seu próprio coração, para aprofundar seu arrependimento e preparar-se pela oração e estudo para empenhar-se num trabalho que lhe parecia demasiado grande e demasiado importante para tomar a seu cargo. Ele era um apóstolo, não escolhido de homens, mas escolhido de Deus, e seu trabalho foi claramente declarado ser entre os gentios. HR 275 1 Enquanto na Arábia não se comunicou com os apóstolos; buscou fervorosamente a Deus com todo o coração, determinando não descansar até que soubesse com certeza que seu arrependimento fora aceito, e seu grande pecado perdoado. Não abandonaria a luta antes que tivesse a certeza de que Jesus estaria com ele em seu futuro ministério. Devia levar sempre em seu corpo as marcas da glória de Cristo, em seus olhos, que tinham sido cegados pela luz celestial, e desejava também levar consigo constantemente a segurança da mantenedora graça de Cristo. Paulo entrou em íntima associação com o Céu, e Jesus esteve em comunhão com ele, estabelecendo-o na fé e outorgando-lhe Sua sabedoria e graça. ------------------------Capítulo 38 -- O início do ministério de Paulo HR 276 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 9:23-31; 22:17-21. HR 276 1 Paulo retornou agora a Damasco e pregou ousadamente em nome de Jesus. Os judeus não podiam resistir à sabedoria de seus argumentos, e em conselho resolveram silenciar sua voz pela força -- o único argumento deixado para uma causa em decadência. Decidiram assassiná-lo. O apóstolo foi feito sabedor de seu propósito. As portas da cidade estavam vigilantemente guardadas, dia e noite, para impedir sua fuga. A ansiedade dos discípulos levou-os a Deus em oração; poucos entre eles dormiam, pois estavam ocupados em idear meios e recursos para a fuga do apóstolo escolhido. Finalmente conceberam um plano pelo qual ele seria, de noite, baixado de uma janela por sobre o muro, num cesto. Dessa humilhante maneira Paulo efetuou sua fuga de Damasco. HR 276 2 Então partiu para Jerusalém, desejando familiarizar-se com os apóstolos ali, especialmente com Pedro. Estava ansioso para encontrar-se com os pescadores galileus que viveram, oraram e conversaram com Cristo enquanto esteve na Terra. Foi com o coração anelante que desejou encontrar-se com o principal dos apóstolos. Quando Paulo entrou em Jerusalém, considerou com opiniões mudadas a cidade e o templo. Agora sabia que o juízo retributivo de Deus pendia sobre eles. HR 276 3 O desgosto e a ira dos judeus por causa da conhecida conversão de Paulo não conhecia limites. Mas estava firme qual uma rocha, e esperançoso de que quando relatasse sua maravilhosa experiência a seus amigos, estes mudariam sua fé como ele havia feito, e creriam em Jesus. Havia sido estritamente consciencioso em sua oposição a Cristo e Seus seguidores, e quando foi subjugado e convencido de seu pecado, imediatamente abandonou seus maus caminhos e professou a fé em Jesus. Agora cria plenamente que quando seus amigos e associados anteriores ouvissem as circunstâncias de sua maravilhosa conversão, e vissem quão diferente estava ele do orgulhoso fariseu que perseguira e entregara à morte aqueles que criam em Jesus como o Filho de Deus, também eles tornar-se-iam convencidos de seu erro e se uniriam às fileiras dos crentes. HR 277 1 Tentou unir-se a seus irmãos, os discípulos; grande foi, porém, seu pesar e desapontamento quando verificou que eles não o recebiam como um de seu número. Eles relembravam suas passadas perseguições e suspeitavam que ele operava um plano para enganá-los e destruí-los. Na verdade, tinham ouvido de sua maravilhosa conversão, mas como se havia retirado imediatamente para a Arábia, não ouviram nenhuma notícia definida a seu respeito, e não deram crédito a sua grande transformação. Encontro com Pedro e Tiago HR 277 2 Barnabé, que havia contribuído liberalmente com seu dinheiro para sustentar a causa de Cristo e suprir as necessidades dos pobres, fora conhecido de Paulo quando ele se opunha aos crentes. Agora, apresentou-se e renovou aquele conhecimento, ouviu o testemunho de Paulo em referência a sua maravilhosa conversão e sua experiência daquele tempo. Creu completamente e recebeu a Paulo, tomando-o pela mão e levando-o à presença dos apóstolos. Ele relatou sua experiência, a qual acabara de ouvir -- que Jesus pessoalmente aparecera a Paulo no caminho de Damasco; que Ele havia conversado com ele; que Paulo havia recobrado sua visão em resposta as orações de Ananias, e que posteriormente sustentara, nas sinagogas da cidade, que Jesus era o Filho de Deus. HR 278 1 Os apóstolos não mais hesitaram; não podiam resistir a Deus. Pedro e Tiago, que a este tempo eram os únicos apóstolos em Jerusalém, deram a mão direita da comunhão ao que uma vez fora um feroz perseguidor de sua fé; e ele era agora tão amado e respeitado, como tinha sido anteriormente temido e evitado. Aqui os dois grandes personagens da nova fé se encontraram -- Pedro, um dos escolhidos companheiros de Cristo enquanto Ele esteve na Terra, e Paulo, o fariseu, que, depois da ascensão de Jesus, O vira face a face e conversara com Ele, e também O contemplara em visão, bem como a natureza de Sua obra no Céu. HR 278 2 Esta primeira entrevista foi de grandes resultados para ambos os apóstolos, mas de curta duração, pois Paulo estava ansioso para tratar dos negócios do seu Mestre. Logo a voz que havia disputado tão ardentemente com Estêvão foi ouvida na mesma sinagoga, destemidamente proclamando que Jesus era o Filho de Deus -- advogando a mesma causa, em cuja defesa morrera Estêvão. Relatou sua própria maravilhosa experiência, e com o coração cheio de anelo por seus irmãos e antigos associados, apresentou as evidências proféticas, como fizera Estêvão, de que Jesus, que fora crucificado, era o Filho de Deus. HR 278 3 Mas Paulo avaliara mal o espírito de seus irmãos judeus. A mesma fúria que irrompera sobre Estêvão veio sobre ele. Viu que devia separar-se de seus irmãos, e seu coração encheu-se de tristeza. De boa vontade entregaria sua vida, se por este meio fossem eles trazidos ao conhecimento da verdade. Os judeus começaram a formular planos para tirar-lhe a vida, e os discípulos recomendaram-lhe que deixasse Jerusalém; contudo ele hesitou, indisposto a abandonar o lugar, e ansioso por trabalhar um pouco mais por seus irmãos judeus. Tinha tomado parte tão ativa no martírio de Estêvão que estava profundamente desejoso de delir a mancha, reivindicando ousadamente a verdade, que custou a Estêvão sua vida. Parecia-lhe covardia, fugir de Jerusalém. Fuga de Jerusalém HR 279 1 Enquanto Paulo, arrostando todas as conseqüências de tal passo, estava orando fervorosamente a Deus no templo, o Salvador apareceu-lhe em visão, dizendo: "Apressa-te, e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a Meu respeito." Paulo mesmo então hesitava em deixar Jerusalém sem convencer os obstinados judeus da verdade de sua fé; pensava que, mesmo que sua vida tivesse que ser sacrificada pela verdade, isto não seria mais do que saldar o terrível débito que assumira pela morte de Estêvão. Respondeu: "Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em Ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam." Porém, a réplica foi mais decidida do que antes: "Vai, porque Eu te enviarei para longe aos gentios." HR 279 2 Quando os irmãos souberam da visão de Paulo, e o cuidado que Deus teve com ele, sua ansiedade em seu favor aumentou; compreenderam que ele era sem dúvida um vaso escolhido do Senhor, para levar a verdade aos gentios. Apressaram seu secreto escape de Jerusalém, temendo seu assassínio pelos judeus. A partida de Paulo suspendeu por algum tempo a violenta oposição dos judeus, e a igreja teve um período de descanso, no qual muitos foram acrescentados ao número dos crentes. ------------------------Capítulo 39 -- O ministério de Pedro HR 281 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 9:32-11:18. HR 281 1 Pedro, na promoção de seu trabalho, visitou os santos em Lida. Ali curou Enéias, que durante oito anos estivera de cama, com paralisia. "Disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma o teu leito. Ele imediatamente se levantou. Viram-no todos os habitantes de Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor." HR 281 2 Em Jope, que era perto de Lida, a este tempo Tabita -- chamada Dorcas por interpretação -- jazia morta. Tinha sido uma digna discípula de Jesus Cristo, e sua vida caracterizada por atos de caridade e bondade para com os pobres e sofredores e pelo zelo na causa da verdade. Sua morte foi uma grande perda; a igreja infante não podia dispensar seus nobres esforços. Quando os crentes ouviram das curas maravilhosas operadas por Pedro em Lida, desejaram grandemente que ele viesse a Jope. Mensageiros foram a ele enviados, solicitando sua presença ali. HR 281 3 "Pedro atendeu e foi com eles. Tendo chegado, conduziram-no para o cenáculo; e todas as viúvas o cercaram, chorando e mostrando-lhe túnicas e vestidos que Dorcas fizera enquanto estava com elas." Pedro determinou que os amigos em pranto se retirassem do quarto. Então ajoelhou-se e orou fervorosamente a Deus para que restituísse vida e saúde ao corpo inanimado de Dorcas; "e voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se. Ele, dando-lhe a mão, levantou-a; e chamando os santos, especialmente as viúvas, apresentou-a viva". Esta grande obra de ressuscitar um morto à vida foi o meio de converter muitos em Jope para a fé em Jesus. O centurião HR 282 1 "Morava em Cesaréia um homem, de nome Cornélio, centurião da coorte, chamada a italiana, piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus." Embora Cornélio fosse romano, ele se tornara familiarizado com o verdadeiro Deus e renunciara a idolatria. Era obediente à vontade de Deus e O adorava com sincero coração. Não se havia associado com os judeus, porém reconhecia e obedecia à lei moral. Não havia sido circuncidado, nem tomado parte no sistema sacrifical, era portanto tido pelos judeus como imundo. Ele, contudo, sustentava a causa judaica por liberais doações, sendo conhecido longe e perto por seus atos de caridade e beneficência. Sua vida justa o fizera gozar boa reputação tanto entre judeus, como gentios. HR 282 2 Cornélio não tinha uma fé inteligente em Cristo, embora cresse nas profecias e estivesse aguardando o Messias por vir. Mediante seu amor e obediência a Deus, foi trazido para perto dEle, e preparado para receber o Salvador quando Ele lhe fosse revelado. A condenação vem pela rejeição da luz concedida. O centurião era um homem de nobre estirpe e ocupava uma posição de elevada confiança e honra; mas estas circunstâncias não lograram subverter os nobres atributos de seu caráter. A verdadeira bondade e a grandeza unidas fizeram dele um homem de dignidade moral. Sua influência era benéfica para todos com os quais entrava em contato. HR 283 1 Cria no único Deus, Criador dos Céus e da Terra. Ele O reverenciava, reconhecia Sua autoridade e procurava Seu conselho em todos os negócios da vida. Era fiel em seus deveres domésticos, bem como em suas responsabilidades oficiais, e erigira um altar a Deus em seu lar. Não ousava efetuar seus planos e suportar o fardo de suas pesadas responsabilidades, sem a ajuda de Deus; por isso orava bastante e fervorosamente por esta ajuda. A fé assinalava todas as suas obras, e Deus o considerava pela pureza de suas ações e liberalidade, e dele Se aproximou em palavra e Espírito. O anjo visita Cornélio HR 283 2 Enquanto Cornélio estava orando, Deus lhe enviou um mensageiro celestial, que se lhe dirigiu pelo nome. O centurião ficou temeroso, contudo sabia que o anjo fora enviado por Deus para instruí-lo, e disse: "Que é Senhor? E o anjo lhe disse: As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus. Agora envia mensageiros a Jope, e manda chamar Simão, que tem por sobrenome Pedro. Ele está hospedado com Simão, o curtidor, cuja residência está situada à beira-mar." HR 283 3 Aqui, outra vez, Deus mostra Sua consideração pelo ministério do evangelho e por Sua igreja organizada. Seu anjo não seria aquele que contaria a Cornélio a história da cruz. Um homem, sujeito às fraquezas humanas e tentações como ele próprio, devia instruí-lo quanto ao crucificado, ressurreto e assunto Salvador. O mensageiro celestial foi enviado com o expresso propósito de colocar Cornélio em associação com o ministro de Deus, que lhe ensinaria como ele e sua casa podiam ser salvos. HR 284 1 Cornélio alegremente obedeceu à mensagem, e despachou mensageiros imediatamente à procura de Pedro, de acordo com as instruções do anjo. As minúcias destas informações, nas quais se mencionava até a ocupação do homem de quem Pedro partilhava o lar, mostram que o Céu está bem informado da história e dos negócios dos homens em quaisquer condições de vida. Deus está familiarizado com a ocupação diária do humilde operário, bem como da do rei sobre o trono. A avareza, a crueldade, os crimes secretos e o egoísmo dos homens são dEle conhecidos, bem como os seus bons atos, a caridade, a liberalidade e a bondade. Nada é oculto de Deus. A visão de Pedro HR 284 2 Imediatamente após esta entrevista com Cornélio veio o anjo a Pedro, que, enfraquecido e faminto devido à viagem, estava orando no terraço da casa. Enquanto orava foi-lhe mostrada uma visão, "então viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra, pelas quatro pontas, contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra, e aves do céu. HR 284 3 "E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro; mata e come. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor, porque jamais comi coisa alguma comum e imunda. Segunda vez a voz lhe falhou: Ao que Deus purificou não consideres comum. Sucedeu isto por três vezes e logo aquele objeto foi recolhido ao céu." HR 284 4 Aqui nós podemos perceber a operação do plano de Deus para pôr a máquina em movimento, pela qual Sua vontade pode ser feita na Terra como é feita no Céu. Pedro não tinha ainda pregado o evangelho aos gentios. Muitos deles tinham sido interessados ouvintes das verdades que ele ensinava; porém, o muro de separação, que a morte de Cristo havia posto abaixo, ainda existia na mente dos apóstolos, e excluíam os gentios dos privilégios do evangelho. Os judeus gregos tinham recebido a obra dos apóstolos e muitos deles corresponderam àqueles esforços aceitando a fé em Jesus; mas a conversão de Cornélio ia ser a primeira de importância entre os gentios. HR 285 1 Pela visão do lençol e seu conteúdo, baixado do céu, Pedro devia ser despido de seu apegado preconceito contra os gentios; e entender que, mediante Cristo, todas as nações seriam participantes das bênçãos e privilégios dos judeus, e seriam assim igualmente beneficiadas como eles. Alguns têm afirmado que esta visão significa que Deus removeu Sua proibição do uso de carne de animais que foram primeiramente chamados imundos; e que por causa disso a carne de porco servia para alimento. Esta é uma interpretação estreita e totalmente errônea, e plenamente refutada no sentido escriturístico da visão e suas conseqüências. HR 285 2 A visão de toda sorte de animais vivos, contidos no lençol, e aos quais foi ordenado a Pedro matar e comer, sendo-lhe assegurado que o que Deus purificou não devia por ele ser chamado comum ou imundo, era simplesmente uma ilustração que apresentava a sua mente a posição real dos gentios -- que pela morte de Cristo eles foram feitos co-herdeiros com o Israel de Deus. Isto serviu a Pedro tanto como reprovação como de instrução. Seu trabalho tinha até então se confinado inteiramente aos judeus; tinha ele olhado para os gentios como uma raça imunda, e excluída das promessas de Deus. Sua mente estava agora sendo levada a compreender o alcance mundial do plano de Deus. HR 286 1 Enquanto ponderava sobre a visão, esta lhe foi explicada. "Enquanto Pedro estava perplexo sobre qual seria o significado da visão, eis que os homens enviados da parte de Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, pararam junto à porta; e, chamando, indagavam se estava ali hospedado Simão, por sobrenome Pedro. Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles nada duvidando, porque Eu os enviei." HR 286 2 Para Pedro esta era uma ordem probante; mas ele não ousava agir de acordo com seus próprios sentimentos, e por isso desceu de seu aposento e recebeu os mensageiros enviados a ele por Cornélio. Estes comunicaram sua singular incumbência ao apóstolo, e de acordo com a instrução que ele recebera de Deus, acedeu acompanhá-los na manhã seguinte. Hospedou-os cortesmente naquela noite e de manhã partiu com eles para Cesaréia, acompanhado por seis de seus irmãos, que deviam ser testemunhas de tudo quanto iria dizer ou fazer enquanto estivesse visitando os gentios; pois sabia que seria chamado a dar contas de uma violação tão direta da fé e dos ensinos judaicos. HR 286 3 Passaram-se quase dois dias antes que a jornada tivesse terminado e Cornélio tivesse o feliz privilégio de abrir suas portas a um ministro do evangelho, que de acordo com o que Deu afirmara, devia ensinar-lhe e a sua casa como podiam salvar-se. Enquanto os mensageiros desempenhavam sua incumbência, o centurião já havia reunido tantos quantos fora possível de seus parentes, a fim de que eles, como ele próprio, pudessem ser instruídos na verdade. Quando Pedro chegou, um grande número estava reunido, esperando ansiosamente para ouvir suas palavras. A visita a Cornélio HR 287 1 Entrando Pedro na casa do gentio, Cornélio não o saudou como a um visitante comum, mas como a alguém honrado pelo Céu, a ele enviado por Deus. É costume oriental curvar-se perante um príncipe ou qualquer alto dignitário, e curvarem-se as crianças perante seus pais, que são honrados com posições de confiança. Mas Cornélio, tomado de reverência pelo apóstolo enviado por Deus, caiu aos seus pés e o adorou. HR 287 2 Pedro foi presa de horror por este ato do centurião, e levantou-o, dizendo: "Ergue-te que eu também sou homem." Começou a falar com ele de modo familiar, a fim de remover o senso de respeito e extrema reverência, com que o centurião o considerava. HR 287 3 Tivesse sido Pedro investido com a autoridade e posição concedidas a ele pela Igreja Católica Romana, teria estimulado, ao invés de reprimir a veneração de Cornélio. Os assim chamados sucessores de Pedro requerem que reis e imperadores se curvem a seus pés, porém o próprio Pedro declarou ser apenas um homem falível, sujeito a erro. HR 287 4 Pedro falou a Cornélio e aos que estavam reunidos em sua casa, concernente ao costume dos judeus; que lhes era considerado ilícito misturarem-se socialmente com os gentios, pois implicava em contaminação cerimonial. Isto não era proibido pela lei de Deus, mas a tradição dos homens havia feito disso um costume obrigatório. Disse ele: "Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois, por que razão me mandastes chamar?" HR 288 1 Imediatamente Cornélio relatou sua experiência, e as palavras do anjo que lhe havia aparecido em visão. Concluindo, disse: "Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor. Então falou Pedro, dizendo: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável." Embora Deus tivesse favorecido os judeus sobre todas as outras nações, ainda assim, rejeitando a luz e não vivendo segundo sua profissão, não seriam mais exaltados em Sua estima do que as demais nações. Aqueles que, entre os gentios, à semelhança de Cornélio, temessem a Deus e operassem a justiça, vivendo segundo a luz que lhes foi concedida, seriam bondosamente considerados por Deus, e suas sinceras práticas seriam aceitas. HR 288 2 Contudo a fé e a justiça de Cornélio não seriam perfeitas sem o conhecimento de Cristo; por isso Deus lhe enviou luz e conhecimento para posterior desenvolvimento de seu justo caráter. Muitos recusam receber a luz que a providência de Deus lhes envia, e como desculpa por assim fazer, citam as palavras de Pedro a Cornélio e seus amigos: "Pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é aceitável." Sustentam que não tem importância o que os homens creiam, uma vez que suas obras são boas. Tais pessoas estão enganadas; a fé e as obras devem estar unidas. Eles devem progredir com a luz que lhes é dada. Se Deus os coloca em associação com Seus servos que receberam nova verdade, confirmada pela Palavra de Deus, devem aceitá-la com alegria. A verdade é progressiva e ascendente. Por outro lado, os que clamam que apenas sua fé pode salvá-los estão confiando em um vínculo frágil, pois a fé é robustecida e tornada perfeita somente pelas obras. Os gentios recebem o Espírito Santo HR 289 1 Pedro anunciou Jesus ao grupo de atentos ouvintes; Sua vida, ministério, milagres, traição, crucifixão, ressurreição e ascensão, e Seu trabalho no Céu, como Representante e Advogado do homem, intercedendo em favor dos pecadores. Enquanto o apóstolo falava seu coração foi inundado do Espírito da verdade de Deus, que anunciava ao povo. Seus ouvintes estavam atraídos pelos ensinos que ouviam, pois seus corações haviam sido preparados para receber a verdade. O apóstolo foi interrompido pela descida do Espírito Santo, como foi manifestado no Dia de Pentecostes. "E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. Então perguntou Pedro: Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias." HR 289 2 O derramamento do Espírito Santo sobre os gentios não foi o equivalente do batismo. Os passos requeridos na conversão, em todos os casos são, fé, arrependimento e batismo. Desse modo a verdadeira igreja cristã está unificada em um Senhor, uma fé e um batismo. Temperamentos diversos são modificados pela graça santificadora, e os mesmos princípios distintivos regulam a vida de todos. Pedro cedeu às súplicas dos crentes gentios, e permaneceu com eles por algum tempo, pregando a Jesus a todos os gentios das proximidades. HR 290 1 Quando os irmãos na Judéia ouviram que Pedro tinha pregado aos gentios, e que se havia encontrado com eles e comido em suas casas, ficaram surpresos e ofendidos por tão estranho procedimento de sua parte. Temiam que tal conduta, que lhes parecia presunçosa, tendesse a contradizer seus próprios ensinamentos. Tão logo Pedro os visitou, eles o receberam com severa censura, dizendo: "Entraste em casa de homens incircuncisos, e comeste com eles." Ampliada a visão da igreja HR 290 2 Então Pedro, polidamente, apresentou todo o assunto perante eles. Relatou sua experiência com respeito à visão, e alegou que isso o advertia a não mais observar a distinção cerimonial da circuncisão e incircuncisão, bem como a não considerar os gentios imundos, pois Deus não faz acepção de pessoas. Informou-lhes da ordem de Deus para ir aos gentios, a vinda dos mensageiros, sua viagem a Cesaréia, e o encontro com Cornélio e o grupo reunido em sua casa. Sua precaução foi manifestada a seus irmãos pelo fato de, embora ordenado por Deus para ir à casa de um gentio, ter tomado consigo seis dos discípulos então presentes, como testemunhas de tudo quanto dissesse ou fizesse ali. Tornou a contar a substância de sua entrevista com Cornélio, na qual este lhe contara a visão, pela qual foi instruído a enviar mensageiros a Jope a fim de trazer Pedro, para que este lhe dissesse as palavras, mediante as quais ele e toda sua casa pudessem ser salvos. HR 290 3 Relatou os eventos de seu primeiro encontro com os gentios, dizendo: "Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós no princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor, como disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?" HR 291 1 Os discípulos, ouvindo este relato, foram silenciados e se convenceram de que a conduta de Pedro estava em direto cumprimento ao plano de Deus, e que seus velhos preconceitos e exclusivismo deviam ser inteiramente destruídos pelo evangelho de Cristo. "E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida." ------------------------Capítulo 40 -- Pedro liberto da prisão HR 292 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 12:1-23. HR 292 1 Herodes era prosélito professo da fé judaica, e aparentemente muito zeloso em efetuar as cerimônias da lei. O governo da Judéia estava em suas mãos, sujeito a Cláudio, imperador romano, mantendo também o cargo de tetrarca da Galiléia. Estava desejoso de obter o apoio dos judeus, esperando assim confirmar seus cargos e honra. Portanto, realizava os desejos dos judeus, em perseguir a igreja de Cristo. Começou sua obra por pilhar as casas e os bens dos crentes e prendendo os membros principais. Aprisionou Tiago e lançou-o na prisão, e mandou um algoz matá-lo à espada, assim como o outro Herodes fizera com que o profeta João fosse decapitado. Vendo que os judeus se agradavam muito com seus atos, tornou-se ousado, e prendeu também a Pedro. Foi durante o sagrado período da páscoa que tais crueldades foram praticadas. HR 292 2 O povo aplaudiu o ato de Herodes em causar a morte de Tiago, embora muitos se queixassem da maneira reservada pela qual foi ele realizado, afirmando que uma execução pública teria de maneira mais completa intimidado todos os crentes e simpatizantes. Herodes, portanto, conservou Pedro em custódia, com o propósito de agradar os judeus pelo espetáculo público de sua morte. Sugeriu-se, porém, ao governador que não seria seguro trazer o veterano apóstolo para a execução perante todo o povo reunido em Jerusalém para a páscoa. Receava-se que sua venerável aparência pudesse despertar a compaixão e respeito deles; também temiam que ele fizesse um daqueles poderosos apelos que tinham freqüentemente incitado o povo a estudar a vida e o caráter de Jesus Cristo, os quais, com toda a sua astúcia, tinham sido incapazes de contradizer. Neste caso, os judeus temiam que seu livramento seria exigido das mãos do rei. HR 293 1 Enquanto, sob vários pretextos, a execução de Pedro estava sendo retardada para depois da páscoa, a igreja de Cristo teve tempo para examinar profundamente o coração e orar com fervor. Vigorosas petições, lágrimas e jejuns se misturavam. Oravam sem descanso por Pedro; achavam que ele não podia ser tirado do serviço cristão; e compreendiam que tinham chegado até a um ponto em que, sem a ajuda especial de Deus, a igreja de Cristo seria extinta. HR 293 2 O dia para a execução de Pedro foi finalmente marcado, mas ainda as orações dos crentes ascendiam ao Céu. Enquanto todas as suas energias e simpatias eram suscitadas em fervorosos apelos, anjos de Deus estavam a vigiar o apóstolo prisioneiro. Os extremos do homem são a oportunidade de Deus. Pedro foi colocado entre dois soldados, ligado por duas correntes, cada uma presa ao pulso de um dos guardas. Não podia, por isso, mover-se sem o seu conhecimento. As portas da prisão estavam seguramente fechadas e uma forte guarda estava diante delas. Toda possibilidade de livramento ou escape por meios humanos, estava excluída. HR 293 3 O apóstolo não se intimidou por sua situação. Desde sua reafirmação após sua negação de Cristo, ele tinha afrontado corajosamente o perigo e manifestado nobreza e ousadia em pregar o crucificado, ressurreto e assunto Salvador. Cria ter chegado o tempo em que devia depor sua vida por amor de Cristo. HR 294 1 Na noite anterior a sua decretada execução, Pedro, em cadeias, dormia entre os dois soldados, como era comum. Herodes, lembrando o escape de Pedro e João da prisão, para onde foram recolhidos por causa de sua fé, tomou dessa vez precauções dobradas. Os soldados em guarda, para assegurar uma vigilância estrita, foram feitos responsáveis pela custódia do prisioneiro. Ele estava encerrado, como tem sido descrito, em uma cela cavada na rocha, cujas portas tinham fortes ferrolhos e barras. Dezesseis homens foram escalados para guardar a cela, revezando-se a intervalos regulares. Grupos de quatro vigiavam de cada vez. Mas os ferrolhos e barras e a guarda romana, que eficazmente removiam toda possibilidade de auxílio humano, não deveriam senão tornar mais completa a vitória de Deus no livramento de Pedro. Herodes estava a levantar a mão contra a Onipotência e deveria ser totalmente humilhado e derrotado em sua tentativa de tirar a vida do servo de Deus. Liberto por um anjo HR 294 2 Na última noite antes da execução, um poderoso anjo, enviado do Céu, desceu para resgatá-lo. As vigorosas portas que encerravam o santo de Deus abrem-se sem auxílio de mãos humanas; o anjo do Altíssimo por elas penetra, fechando-se as portas sem ruído por trás dele. Ele entra na cela, aberta na sólida rocha, e ali está Pedro dormindo o abençoado, pacífico sono da inocência e perfeita confiança em Deus, ligado por cadeias a vigorosos guardas, um de cada lado. A luz que envolve o anjo ilumina a prisão, mas não desperta o adormecido apóstolo. Este é o repouso profundo que revigora e renova e que provém de uma boa consciência. HR 295 1 Pedro não despertou antes de sentir o toque da mão do anjo e ouvir sua voz dizendo: "Levanta-te depressa." Ele vê sua cela, que jamais havia sido abençoada com um raio de Sol, iluminada pela luz celestial, e um anjo de grande glória em pé diante dele. Maquinalmente obedece à ordem do anjo e, como ao se levantar erguesse as mãos, verifica que as cadeias lhe caíram dos pulsos. De novo a voz do anjo é ouvida: "Cinge-te, e calça as tuas sandálias." HR 295 2 De novo Pedro maquinalmente obedece, conservando o admirado olhar voltado para o visitante e crendo estar sonhando ou em visão. Os guardas armados estão imóveis como esculpidos no mármore, quando mais uma vez o anjo ordena: "Põe a tua capa, e segue-me." A seguir o ser celestial move-se em direção à porta, e Pedro, usualmente loquaz, segue-o agora mudo de espanto. Cruzam pela guarda imóvel e chegam à porta, pesadamente aferrolhada, que por si mesma se abre, e imediatamente se fecha de novo, enquanto os guardas dentro e fora estão imóveis em seus postos. HR 295 3 Alcançam a segunda porta, também guardada por dentro e por fora; ela se abre como a primeira, sem ranger de dobradiças ou barulho dos fechos de ferro. Passam por ela e novamente se fecha também sem ruído. De modo idêntico passam pela terceira porta, e acham-se em plena rua. Não se troca uma palavra; não há ruído de passos. O anjo se move suavemente diante de Pedro, cercado de uma luz de deslumbrante brilho, e Pedro, confuso, e julgando-se ainda em sonho, segue o seu libertador. Percorrem rua após rua, e então, cumprida a missão do anjo, desaparece ele subitamente. HR 296 1 Dissipou-se a luz celestial, e Pedro pareceu achar-se em profundas trevas; mas, acostumando-se-lhe os olhos, pareceram elas diminuir gradualmente, e ele se encontrou só na rua silenciosa, com o ar ameno da noite a soprar-lhe no rosto. Compreendeu então, que não fora um sonho ou uma visão que o visitara. Viu-se livre, numa parte da cidade que lhe era familiar; reconheceu o lugar como sendo um que frequentara muitas vezes, e por onde esperara passar na manhã seguinte pela última vez, a caminho do local de sua morte em perspectiva. Procurou rememorar os fatos dos últimos poucos momentos. Lembrou-se de ter adormecido, ligado entre dois soldados, com as sandálias e vestes exteriores removidas. Examinou sua pessoa e achou-se completamente vestido e cingido. HR 296 2 Seus pulsos, inchados pela pressão dos ferros cruéis, estavam livres das algemas e ele compreendeu que sua liberdade não era um engano, mas bendita realidade. No dia seguinte deveria ser levado para morrer; mas, eis, um anjo o livrara da prisão e da morte! "Então Pedro, caindo em si, disse: Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o Seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico." Resposta à oração HR 296 3 O apóstolo se encaminhou de pronto à casa onde seus irmãos estavam reunidos para orar, e achou-os naquele momento empenhados em fervorosa prece em seu favor. "Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, quem nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então disseram: É o seu anjo. Entretanto, Pedro continuava batendo; eles então abriram, viram-no e ficaram atônitos. Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão, e acrescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro lugar." HR 297 1 Alegria e louvor encheram o coração dos crentes porque Deus ouvira e atendera a suas orações, e libertara Pedro das mãos de Herodes. Pela manhã uma grande multidão se reuniu para testemunhar a execução do apóstolo. Herodes enviou oficiais à prisão para buscarem a Pedro, que devia ser trazido com grande aparato de guardas e armas, não apenas para se evitar possível fuga, como também para intimidar os simpatizantes e exibir seu próprio poder. Havia a guarda à porta da prisão, os ferrolhos e barras ainda estavam intatos, a guarda no interior, as cadeias presas aos pulsos dos dois soldados; mas o prisioneiro desaparecera. A recompensa de Herodes HR 297 2 Quando o relatório dessas coisas foi trazido a Herodes, ele ficou exasperado, e acusou os guardas da prisão de infidelidade. Foram conseqüentemente condenados à morte pelo alegado crime de terem dormido em seu posto. Ao mesmo tempo Herodes sabia que nenhum poder humano havia livrado a Pedro, mas estava decidido a não reconhecer que um poder divino estivera em operação para lhe frustrar os vis desígnios. Não se humilharia dessa maneira, e colocou-se em ousado desafio a Deus. HR 298 1 Não muito tempo depois do livramento de Pedro da prisão, Herodes desceu da Judéia a Cesaréia e ali se deteve. Fez uma grande festa, destinada a provocar admiração e aplausos do povo. Tal festa foi assistida pelos amantes do prazer de todas as regiões, e houve muita glutonaria e bebedice. Herodes fez uma suntuosa aparição diante do povo. Vestido em roupas em que rebrilhavam prata e ouro, os raios do Sol refletindo em suas luminosas dobras, deslumbravam os olhos dos que o contemplavam. Com grande pompa e cerimônia ergueu-se perante a multidão e dirigiu-lhe um eloqüente discurso. HR 298 2 A majestade de sua aparência e a força de sua linguagem bem escolhida dominaram a assembléia com poderosa influência. Estando já seus sentidos pervertidos pelo comer e beber, ficaram deslumbrados pela resplandecente ornamentação de Herodes, e encantados pelo seu porte e oratória; e, possuídos de selvagem entusiasmo, cumulavam-no de lisonja, proclamando-o um deus, declarando que nenhum mortal podia apresentar igual aparência ou possuir tão impressionante eloquência de linguagem. Declararam mais que, conquanto o houvessem sempre respeitado como governador, dali em diante o adorariam como a um deus. HR 298 3 Herodes sabia que não merecia nenhum dos louvores e homenagens; todavia, não censurou a idolatria do povo, aceitando-a como se lhe fosse devida. O fulgor do orgulho satisfeito era visível em sua face quando ouviu a exclamação: "É voz de um deus, e não de homem!" As mesmas vozes que agora glorificavam um vil pecador, alguns anos antes elevaram-se num frenético clamor: Fora com Jesus! Crucifica-O! crucifica-O! Herodes recebeu esta adulação e homenagem com grande prazer, e seu coração transbordou de triunfo; subitamente, porém, sobreveio-lhe rápida e terrível mudança. Seu rosto se tornou pálido como a morte e contorcido pela agonia; grandes gotas de suor lhe brotavam dos poros. Ficou por um momento como que traspassado de dor e terror; então, volvendo a face branqueada, lívida para seus amigos tomados de horror, exclamou em tom rouco e desesperado: Aquele que exaltastes como um deus, é ferido de morte! HR 299 1 Sofrendo a mais cruciante angústia, foi retirado daquela cena de orgia, ostentação, alacridade e pompa, as quais agora abominava em sua alma. Um momento antes ele tinha sido o alvo orgulhoso do louvor e adoração daquela vasta multidão -- agora se compenetra de que se acha nas mãos de um Governador mais poderoso do que ele próprio. Remorsos o apanham; lembra-se de sua ordem cruel para matar o inocente Tiago; lembra-se de sua implacável perseguição aos seguidores de Jesus, e de seu desígnio de tirar a vida do apóstolo Pedro, a quem Deus livrou de sua mão; lembra-se de como em seu desgosto e decepcionada raiva tirara uma injusta desforra dos guardas da prisão, executando-os sem misericórdia. Sentia que Deus que libertara da morte o apóstolo estava agora a tratar com ele, o implacável perseguidor. Não encontrava alívio para a dor do corpo nem para a angústia do espírito, e nem esperava encontrar. Herodes conhecia a lei de Deus, que diz: "Não terás outros deuses diante de Mim", e sabia que, aceitando a adoração do povo, enchera a medida de sua iniqüidade e acarretara sobre si a justa ira de Deus. HR 299 2 O mesmo anjo que viera dos paços reais para libertar a Pedro do poder de seu perseguidor, fora o mensageiro da ira e juízo a Herodes. O anjo tocou em Pedro para despertá-lo do sono, mas foi com um contato diferente que ele feriu o ímpio rei, trazendo sobre ele castigo mortal. Deus lançou o desprezo sobre o orgulho de Herodes, e sua pessoa, a qual tinha exibido, adornada em brilhante aparência diante do olhar admirado do povo, era agora comida de bichos e se putrefazia ainda em vida. Herodes morreu em grande angústia de espírito e corpo, sob o juízo retributivo de Deus. HR 300 1 Esta demonstração de justiça divina teve uma influência poderosa sobre o povo. Enquanto o apóstolo de Cristo tinha sido milagrosamente livrado da prisão e da morte, seu perseguidor tinha sucumbido sob a maldição de Deus. Estas novas foram levadas a todos os países, e foram o meio de levar muitos a crer em Cristo. ------------------------Capítulo 41 -- Nas regiões distantes HR 301 0 Este capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 13:1-4; 15:1-31. HR 301 1 Os apóstolos e discípulos que deixaram Jerusalém durante a feroz perseguição que ali grassou depois do martírio de Estêvão, pregavam a Cristo nas cidades ao redor, restringindo seus trabalhos aos hebreus e judeus gregos. "A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor." Atos dos Apóstolos 11:21. HR 301 2 Quando os crentes em Jerusalém ouviram as boas novas se rejubilaram, e Barnabé, "homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé", foi enviado a Antioquia, a metrópole da Síria, para ajudar a igreja local. Trabalhou com grande sucesso. Como o trabalho estivesse crescendo, solicitou e obteve o auxílio de Paulo, e os dois discípulos trabalharam juntos na cidade por um ano, ensinando o povo e aumentando em número a igreja de Cristo. HR 301 3 Antioquia tinha grande população tanto de judeus como de gentios e era grande refúgio para os amantes do sossego e recreação, por causa de sua localização saudável, das belezas que a circundavam, da riqueza, da cultura e refinamento que ali se encontravam. Seu extenso comércio fez dela um lugar de grande importância, onde pessoas de todas as nacionalidades eram encontradas. Era, portanto, uma cidade de luxo e vício. A retribuição de Deus finalmente veio sobre Antioquia, por causa da maldade de seus habitantes. HR 302 1 Foi em Antioquia que os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos. Este nome foi-lhes dado porque Cristo era o principal tema de sua pregação, conversação e ensino. Continuamente estavam eles repetindo os incidentes ocorridos durante os dias de Seu ministério terrestre, quando Seus discípulos foram abençoados com Sua presença pessoal. Demoravam-se incansavelmente sobre Seus ensinos e milagres de cura, expulsão de demônios e ressurreição de mortos. Com lábios trêmulos e olhos rasos de lágrimas falavam de Sua agonia no jardim, Sua traição, julgamento e execução, a paciência e humildade com que havia suportado a afronta e a tortura a Ele impostas por Seus inimigos e a divina piedade com que tinha orado por Seus algozes. Sua ressurreição e ascensão, e Sua obra no Céu como Mediador do homem caído eram tópicos sobre os quais se regozijavam em se demorar. Os pagãos bem podiam chamá-los cristãos, uma vez que pregavam a Cristo e dirigiam suas orações a Deus por intermédio dEle. HR 302 2 Na populosa cidade de Antioquia, Paulo encontrou um excelente campo de trabalho, onde sua grande cultura, sabedoria e zelo, combinados exerceram uma poderosa influência sobre os habitantes e freqüentadores daquela cidade de cultura. HR 302 3 Entrementes, o trabalho dos apóstolos estava centralizado em Jerusalém, onde judeus de todas as línguas e nacionalidades vinham para adorar no templo durante as festas. Nessas ocasiões, os apóstolos pregavam a Cristo com ousada coragem, mesmo sabendo que em assim fazendo, suas vidas estavam em constante perigo. Eram feitos muitos conversos à fé, e estes, ao regressarem a seus lares nas diferentes partes do país, espalhavam as sementes da verdade através de todas as nações e entre todas as classes sociais. HR 302 4 Pedro, Tiago e João confiavam que Deus os havia escolhido para pregarem a Cristo entre os de sua própria nação. Todavia, Paulo recebera sua comissão de Deus, enquanto adorava no templo, e seu amplo campo missionário tinha sido apresentado diante dele com notável precisão. A fim de prepará-lo para seu extenso e importante trabalho, Deus o tomou em íntima associação consigo e descerrou diante de sua arrebatada visão um vislumbre da beleza e glórias celestiais. A ordenação de Paulo e Barnabé HR 303 1 Deus Se comunicava com os devotos profetas e mestres da igreja de Antioquia. "E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado." Atos dos Apóstolos 13:2. Estes apóstolos foram solenemente dedicados a Deus com jejum e oração e imposição das mãos, e então foram enviados para seu campo de trabalho entre os gentios. HR 303 2 Tanto Paulo como Barnabé tinham sido laboriosos ministros de Cristo, e Deus recompensara abundantemente seus esforços, mas nenhum deles havia sido formalmente ordenado para o ministério evangélico pela oração e pela imposição das mãos. Agora, eles estavam autorizados pela igreja não somente a pregar a verdade, mas também a batizar e organizar novas igrejas, sendo investidos de plena autoridade eclesiástica. Esta foi uma época importante para a igreja. Embora o muro de separação entre judeus e gentios tivesse sido derribado pela morte de Cristo, levando aos gentios os privilégios totais do evangelho, o véu ainda não havia sido tirado dos olhos de muitos crentes judeus, e eles não podiam discernir claramente o fim daquilo que foi abolido pelo Filho de Deus. O trabalho agora devia prosseguir vigorosamente entre os gentios, e disso devia resultar o fortalecimento da igreja mediante uma farta colheita de almas. HR 304 1 Os apóstolos, neste seu trabalho especial, estariam expostos a suspeitas, preconceitos e ciúmes. Como conseqüência natural de sua saída do exclusivismo judaico, suas doutrinas e idéias estariam sujeitas à acusação de heresia, e suas credenciais de ministros do evangelho seriam postas em dúvida por muitos judeus zelosos e crentes. Deus previu as dificuldades que Seus servos deviam enfrentar, e, em Sua sábia providência, fez com que fossem investidos com a inquestionável autoridade da estabelecida igreja de Deus, para que sua obra estivesse acima de acusação. HR 304 2 Em época posterior, o rito da ordenação mediante a imposição das mãos sofreu muito abuso; ligava-se a esse ato uma insustentável importância, como se sobreviesse de vez um poder aos que recebiam essa ordenação, poder que os habilitasse imediatamente para toda e qualquer obra ministerial, em virtude da imposição das mãos. Temos, na história desses dois apóstolos, unicamente um singelo relatório da imposição das mãos e da sua influência sobre o seu trabalho. Tanto Paulo como Barnabé já haviam recebido sua comissão do próprio Deus, e a cerimônia da imposição das mãos não ajuntou à mesma nenhuma graça ou virtual qualificação. Por ela, era simplesmente colocado o selo da igreja sobre a obra de Deus -- uma forma reconhecida de designação para um cargo específico. Primeira reunião da associação geral HR 304 3 Certos judeus, provenientes da Judéia, suscitaram uma consternação geral entre os crentes gentílicos, pelo agitamento da questão da circuncisão. Com grande certeza, afirmavam que ninguém poderia ser salvo sem ser circuncidado e observar toda a lei cerimonial. HR 305 1 Esta era uma questão importante, que afetou grandemente a igreja. Paulo e Barnabé enfrentaram-na com prontidão, e se opuseram à introdução do assunto aos gentios. Nisto receberam oposição dos crentes judeus de Antioquia, que favoreciam a posição dos que vieram da Judéia. O assunto resultou em muita discussão e falta de harmonia na igreja, até que finalmente a igreja de Antioquia, temendo que o resultado da continuada discussão fosse uma separação entre eles, decidiu enviar Paulo e Barnabé, juntamente com alguns homens de responsabilidade de Antioquia, a fim de exporem, em Jerusalém, a questão perante os apóstolos e anciãos. Ali deviam eles encontrar-se com delegados de diversas igrejas e com os que haviam ido a Jerusalém para assistir às próximas festas anuais. Enquanto isso, toda a discussão devia cessar até que fosse pronunciada a decisão final, pelos homens responsáveis da igreja. Esta decisão devia ser então universalmente aceita pelas várias igrejas através do país. HR 305 2 Chegando a Jerusalém os delegados de Antioquia relataram diante da assembléia das igrejas o sucesso alcançado pelo seu ministério entre os gentios, e a confusão que havia resultado do fato de certos fariseus convertidos declararem que os conversos gentílicos deviam ser circuncidados e guardar a lei de Moisés para serem salvos. HR 305 3 Os judeus se haviam sempre orgulhado de seu cerimonial de instituição divina, e concluíam que uma vez que Deus havia claramente esboçado a forma hebréia de adoração, era impossível que Ele jamais autorizasse uma mudança em quaisquer de suas especificações. Decidiram que o cristianismo devia associar-se com as leis e cerimônias judaicas. Eram tardos em discernir o fim das coisas abolidas pela morte de Cristo, e em perceber que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho de Deus, em que o tipo encontrou o antítipo, tornando sem valor as divinamente designadas cerimônias e sacrifícios da religião judaica. HR 306 1 Paulo havia-se orgulhado de seu farisaísmo estrito, mas depois que Cristo a ele Se revelou na estrada de Damasco, a missão do Salvador e seu próprio trabalho na conversão dos gentios foram claros em sua mente, e ele compreendeu inteiramente a diferença entre uma fé viva e um formalismo morto. Paulo ainda alegava ser um filho de Abraão, e guardava os Dez Mandamentos na letra e no espírito tão fielmente como tinha feito antes de sua conversão ao cristianismo. Entretanto, sabia que as cerimônias típicas logo deviam cessar completamente, já que aquilo que tinham representado estava no passado, e que a luz do evangelho espargia sua glória sobre a religião judaica, conferindo um novo significado a seus rituais antigos. Evidência da experiência de Cornélio HR 306 2 A questão então trazida à consideração do concílio parecia apresentar dificuldades insuperáveis, observada sob qualquer luz. Mas o Espírito Santo já havia, em realidade, solucionado esta questão, de cuja decisão parecia depender a prosperidade, senão a existência mesmo da igreja cristã. Graça, sabedoria e santo juízo foram dados aos apóstolos para decidirem o controvertido problema. HR 306 3 Pedro arrazoou que o Espírito Santo havia decidido o assunto em discussão ao descer com igual poder sobre os gentios incircuncisos e sobre os circuncisos judeus. Rememorou sua visão, na qual Deus lhe apresentara um lençol cheio de toda a espécie de quadrúpedes, e lhe ordenara matar e comer; tendo recusado, com a afirmação de que jamais comera coisa comum ou imunda, disse Deus: "Ao que Deus purificou não consideres comum." HR 307 1 Disse Pedro: "Ora, Deus que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé os corações. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós?" HR 307 2 Este jugo não era a lei dos Dez Mandamentos, como asseveram alguns que se opõem aos reclamos da lei; mas Pedro referia-se à lei, das cerimônias, tornada nula e vã pela crucifixão de Jesus. Esta preleção de Pedro levou a assembléia ao ponto de poderem ouvir com paciência a Paulo e a Barnabé, que relataram sua experiência na obra entre os gentios. A decisão HR 307 3 Tiago também apresentou seu testemunho com decisão -- que Deus decidira outorgar aos gentios os mesmos privilégios dos judeus. Ao Espírito Santo pareceu bem não impor aos gentios conversos a lei cerimonial, e os apóstolos e anciãos, depois de cuidadosa investigação do assunto, viram-no na mesma luz, e seu parecer foi como o parecer do Espírito de Deus. Tiago presidiu ao concílio e sua decisão final foi: "Pelo que julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus." HR 307 4 Sua sentença foi que a lei cerimonial, e especialmente a ordenança da circuncisão, não deveriam ser impostas aos gentios, ou a eles sequer recomendadas. Tiago procurou imprimir na mente de seus irmãos o fato de que, em se tornando da idolatria para Deus, os gentios tinham feito grande mudança em sua fé, e que se deveria usar muita cautela para não perturbá-los com assuntos embaraçantes e duvidosos de somenos importância, para que não desanimassem em seguir a Cristo. HR 308 1 Os gentios, porém, não deviam seguir uma conduta que materialmente conflitasse com as opiniões de seus irmãos judeus, ou que criasse em sua mente preconceito contra eles. Os apóstolos e anciãos, portanto, concordaram em instruir por carta aos gentios a se absterem de carnes sacrificadas aos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Deviam guardar os mandamentos e santificar a vida. Foi-lhes afirmado que os que declaravam ser a circuncisão obrigatória não estavam autorizados a fazê-lo pelos apóstolos. HR 308 2 Paulo e Barnabé eram-lhes recomendados como pessoas que haviam arriscado a vida pelo Senhor. Judas e Silas foram enviados com estes apóstolos para declararem aos gentios de viva voz a decisão do concílio. Os quatro servos de Deus foram enviados a Antioquia com a epístola e a mensagem, e isso pôs fim a toda controvérsia; porque era voz da mais alta autoridade sobre a Terra. HR 308 3 O concílio que decidiu este caso era composto dos fundadores das igrejas cristãs judaicas e gentias. Estavam presentes anciãos de Jerusalém e delegados de Antioquia, e as igrejas mais influentes estavam representadas. O concílio não reclamou a infalibilidade de suas deliberações, mas conduziu-se de acordo com os ditames de iluminado juízo e com a dignidade de uma igreja estabelecida pela vontade divina. Viram que o próprio Deus tinha decidido a questão favorecendo os gentios com o Espírito Santo, e era-lhes deixado seguir a guia do Espírito. HR 309 1 Não foram convocados todos os cristãos para votarem sobre a questão. Os apóstolos e anciãos -- homens de influência e bom senso -- redigiram e expediram o decreto, que foi logo aceito pelas igrejas cristãs. Nem todos, entretanto, ficaram contentes com a decisão; havia uma facção de falsos irmãos que tomaram a decisão de se empenhar em uma obra de sua própria responsabilidade. Puseram-se a murmurar e criticar, propondo novos planos e procurando deitar abaixo a obra dos homens experientes a quem Deus havia mandado ensinar a doutrina de Cristo. Desde o início teve a igreja tais obstáculos a enfrentar, e há de tê-los até a consumação do tempo. ------------------------Capítulo 42 -- Anos de ministério de Paulo HR 310 1 Paulo foi um obreiro incansável. Viajava constantemente de lugar a lugar, às vezes através de regiões inóspitas, outras vezes sobre água através de tormentas e tempestades. Não permitia que coisa alguma o impedisse de realizar sua obra. Ele era um servo de Deus e tinha de fazer Sua vontade. Por palavras e por epístolas anunciava a mensagem que sempre trazia ajuda e fortalecimento à igreja de Deus. Para nós que vivemos no fim da história da Terra, sua mensagem fala claramente dos perigos que ameaçarão a igreja, e das falsas doutrinas que o povo de Deus terá de enfrentar. HR 310 2 Viajou Paulo de país a país e de cidade a cidade, pregando a Cristo e estabelecendo igrejas. Onde quer que pudesse encontrar um ouvinte, ele laborava para impedir o erro e colocar os pés de homens e mulheres no caminho do direito. Aqueles que em qualquer lugar, aceitavam a Cristo pelo seu esforço, eram por ele organizados em igreja. Não importava quão poucos fossem em número, isso era feito. E Paulo não esquecia as igrejas assim estabelecidas. Por pequena que pudesse ser a igreja, era objeto de sua atenção e interesse. HR 310 3 A vocação de Paulo demandava serviços de várias espécies -- trabalhava com as mãos para seu sustento, estabelecia igrejas e escrevia cartas às igrejas já estabelecidas. Ainda assim no meio desses vários trabalhos, declarou: "Mas uma coisa faço." Filipenses 3:13. Um alvo ele conservava firmemente diante de si em todo o seu trabalho -- ser fiel a Cristo, que, quando ele blasfemava de Seu nome e usava todos os meios em seu poder para fazer com que outros também blasfemassem, revelou-Se a ele. O único grande propósito de sua vida era servir e honrar Aquele cujo nome ele tinha outrora desdenhado. Seu único desejo era ganhar almas para o Salvador. Tanto judeus como gentios poderiam a ele se opor, e persegui-lo, porém coisa alguma poderia desviá-lo de seu propósito. Paulo recapitula sua experiência HR 311 1 Escrevendo aos filipenses, descreve sua experiência antes e depois de sua conversão. Disse ele: "Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível." Filipenses 3:4-6. HR 311 2 Depois de sua conversão seu testemunho foi: HR 311 3 "Sim, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual, perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nEle, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé." Filipenses 3:8, 9. HR 311 4 A justiça que até então ele imaginara de muito valor nada valia agora a seus olhos. O anelo de sua alma era: "Para O conhecer e o poder da Sua ressurreição e a comunhão dos Seus sofrimentos, conformando-me com Ele na Sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filipenses 3:10-14. Um obreiro adaptável HR 312 1 Vede Paulo no cárcere de Filipos, onde, a despeito de seu ferido corpo, elevava um hino de louvor no silêncio da meia-noite. Depois do terremoto que abriu as portas da prisão, sua voz ouviu-se de novo, em palavras de ânimo ao carcereiro gentio: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!" -- cada homem em seu lugar, contidos pela presença de um companheiro de prisão. E o carcereiro, convencido da realidade da fé que sustentava Paulo, inquire acerca do caminho da salvação, e com toda a sua casa une-se aos perseguidos discípulos de Cristo. HR 312 2 Vede Paulo em Atenas diante do concílio do Areópago, quando enfrenta ciência com ciência, lógica com lógica e filosofia com filosofia. Observai como, com tato nascido do amor divino, ele aponta a Jeová como o DEUS DESCONHECIDO, que seus ouvintes têm adorado ignorantemente; e em palavras tiradas de um de seus próprios poetas, pinta-O como um Pai, cujos filhos eles são. Ouvi-o, nessa época de castas, quando os direitos do homem como homem eram inteiramente negados, como ele expõe a grande verdade da fraternidade humana, declarando que Deus "de um só fez toda a raça humana para habitar sobre a face da Terra". Então, mostra como, através de todo trato de Deus com o homem, Seus propósitos de graça e misericórdia estão entretecidos como tessitura de ouro. Ele tem "fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da Sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando O possam achar, bem que não está longe de cada um de nós". HR 313 1 Ouvi-o na corte de Festo, quando o rei Agripa, convencido da verdade do evangelho, exclama: "Por pouco me persuades a me fazer cristão." Com que gentil cortesia, apontando para suas próprias cadeias, Paulo responde: "Assim Deus permitis-se que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias." HR 313 2 Assim transcorreu sua vida, descrita em suas próprias palavras, "em jornadas muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes; em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez." 2 Coríntios 11:26, 27. HR 313 3 Disse mais: "Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação"; "entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo." 1 Coríntios 4:12, 13; 2 Coríntios 6:10. Ministério em cadeias HR 313 4 Embora ele ficasse prisioneiro por longo tempo, o Senhor promoveu Sua obra especial por intermédio dele. Suas prisões deviam ser um meio de disseminação do evangelho de Cristo e assim de glorificação a Deus. Ao ser enviado de cidade a cidade para julgamento, seu testemunho sobre Jesus e os interessantes incidentes de sua própria conversão eram relatados perante reis e governadores, ficando eles sem escusas com respeito a Jesus. Milhares criam nEle e se regozijavam em Seu nome. HR 314 1 Vi que o especial propósito de Deus era cumprido na viagem marítima de Paulo; Ele desejava que a tripulação pudesse dessa maneira testemunhar o poder de Deus por intermédio de Paulo e que os pagãos também ouvissem o nome de Jesus, e muitos fossem assim convertidos mediante os ensinos de Paulo e por testemunhar os milagres que ele operava. Reis e governadores encantavam-se com o seu raciocínio, e ao pregar a Jesus com zelo e o poder do Espírito Santo e ao relatar os interessantes acontecimentos de sua experiência, ficavam possuídos da convicção de que Jesus era o Filho de Deus. ------------------------Capítulo 43 -- Martírio de Paulo e Pedro HR 315 1 Os apóstolos Paulo e Pedro estiveram por muitos anos, muito distanciados em seu trabalho, sendo que o trabalho de Paulo era levar o evangelho aos gentios, enquanto Pedro trabalhava especialmente pelos judeus. Contudo, na providência de Deus, ambos deviam testemunhar de Cristo na metrópole do mundo, e sobre seu solo ambos deviam derramar o sangue como semente de uma vasta colheita de santos e mártires. HR 315 2 Cerca do tempo do segundo aprisionamento de Paulo, também Pedro foi preso e encerrado na prisão. Tinha se tornado especialmente odioso às autoridades pelo seu zelo e sucesso em expor os enganos e desfazer a trama de Simão Mago, o encantador, que o seguira a Roma a fim de opor-se e impedir a obra do evangelho. Nero, que era crente em magias, patrocinava Simão. Ficou assim grandemente exasperado contra o apóstolo, e dessa maneira prontamente ordenou sua prisão. HR 315 3 A maldade do imperador contra Paulo foi fortalecida pelo fato de que membros da casa imperial, e também outras pessoas de distinção, haviam sido convertidas ao cristianismo durante sua primeira prisão. Por esta razão, fez a segunda prisão mais severa do que a primeira, permitindo-lhe pouca oportunidade para pregar o evangelho, e determinou tirar sua vida tão logo um pretexto plausível pudesse ser achado para assim fazer. A mente de Nero ficou tão impressionada com a força das palavras do apóstolo em seu último julgamento, que protelou a decisão do caso, nem o absolvendo nem o condenando. Todavia, a sentença foi apenas protelada. Não muito tempo depois foi pronunciada a decisão que condenava Paulo à morte de mártir. Sendo cidadão romano não podia ser torturado, sendo portanto sentenciado a ser decapitado. HR 316 1 Pedro, como um estrangeiro judeu, foi condenado a ser açoitado e crucificado. Na perspectiva desta terrível morte, o apóstolo lembrou seu grande pecado em haver negado a Jesus na hora de Seu julgamento, e seu único pensamento, foi que ele era indigno de morrer da mesma maneira que seu Mestre. Pedro havia-se arrependido sinceramente daquele pecado, e tinha sido perdoado por Cristo, como se pode ver pela alta missão a ele dada para alimentar as ovelhas e cordeiros do rebanho. Ele, porém, nunca pôde perdoar a si mesmo. Nem mesmo o pensamento das agonias da última e terrível cena puderam diminuir a amargura de sua tristeza e arrependimento. Como último favor, rogou de seus algozes que fosse pregado na cruz de cabeça para baixo. O pedido foi atendido, e desta maneira morreu o grande apóstolo Pedro. O testemunho final de Paulo HR 316 2 Paulo foi levado reservadamente ao lugar da execução. Seus perseguidores, alarmados com a extensão de sua influência, temiam que fossem ganhos conversos para o cristianismo por meio das cenas de sua morte. A poucos espectadores se permitiu estar presentes. Mas, os empedernidos soldados que o acompanhavam, ouviram suas palavras, e com espanto o viram animoso e mesmo alegre à vista de semelhante morte. Seu espírito de perdão para com os assassinos e sua inabalável confiança em Cristo até o derradeiro momento, mostrou ser um cheiro de vida para vida para alguns que testemunharam seu martírio. Mais de um logo aceitaram o Salvador que Paulo pregava, e selaram destemidamente com o sangue a sua fé. HR 317 1 A vida de Paulo, até o último instante, testificou da verdade de suas palavras aos coríntios: "Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz -- Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo." 2 Coríntios 4:6-10. Sua competência não estava em si mesmo, mas na presença e na operação do divino Espírito que lhe enchia a alma, e levava cativo todo o entendimento à vontade de Cristo. O fato de que sua própria vida exemplificava a verdade que proclamava dava convincente poder tanto a sua pregação como a sua conduta. Disse o profeta: "Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em Ti." Isaías 26:3. Foi esta paz celestial expressa no semblante de Paulo que ganhou muitas almas para o evangelho. HR 317 2 O apóstolo estava a olhar para o grande além, não com incerteza ou terror, mas com jubilosa esperança e anelante expectativa. Ao encontrar-se no lugar do martírio, não viu a luzente espada do carrasco nem a verde relva que tão logo lhe havia de receber o sangue; olha, através do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno. Sua linguagem foi: Ó Senhor, Tu és o meu conforto e galardão! Quando poderei tocar-Te? Quando poderei ver-Te por mim mesmo, sem um véu obscuro de permeio? HR 318 1 Paulo levou através de sua vida terrena a atmosfera do Céu. Todos os que com ele se associavam sentiam a influência de sua união com Cristo e a companhia com os anjos. Nisto reside o poder da verdade. A influência espontânea e inconsciente de uma vida santa é o mais convincente sermão que se pode fazer em prol do cristianismo. O argumento, mesmo quando seja irrespondível, pode só provocar oposição; mas o exemplo piedoso tem um poder a que é impossível resistir completamente. HR 318 2 Ao passo que o apóstolo perdia de vista os seus próprios sofrimentos que se aproximavam, sentia uma profunda solicitude pelos discípulos que ele estava prestes a deixar a lutar com o preconceito, o ódio e a perseguição. Ele se esforçou para fortalecer e encorajar os poucos cristãos que o acompanharam ao local da execução, repetindo as inexcedíveis e preciosas promessas feitas àqueles que são perseguidos por causa da justiça. Assegurou-lhes que nada falharia de tudo aquilo que o Senhor falara com respeito a Seus filhos provados e fiéis. Eles se levantarão e brilharão; pois a luz do Senhor estará sobre eles. Eles vestirão suas belas vestes quando a glória do Senhor lhes for revelada. Por pouco tempo poderão estar sob a opressão de multiformes tentações, poderão estar destituídos de conforto terrestre; mas devem animar seus corações dizendo: Eu sei em quem tenho crido. Ele é capaz de guardar o meu depósito. Os sofrimentos terão fim e a alegre manhã de paz e dia perfeito virá. HR 318 3 O Capitão da nossa salvação preparou Seu servo para o último grande conflito. Resgatado pelo sacrifício de Cristo, lavado do pecado em Seu sangue, e revestido de Sua justiça, Paulo tem o testemunho em si mesmo de que sua alma era preciosa à vista de seu Redentor. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, e ele está persuadido de que Aquele que conquistou a morte é capaz de guardar o seu depósito. Seu espírito se apega à promessa do Salvador: "Eu o ressuscitarei no último dia." João 6:40. Seus pensamentos e esperanças estão centralizados na segunda vinda de seu Senhor. E quando a espada do carrasco desce e as sombras da morte envolvem a alma mártir, seu último pensamento se eleva, do mesmo modo que o primeiro quando ressuscitar, para encontrar o Doador da vida, que o há de convidar para o gozo dos santos. HR 319 1 Quase vinte séculos se passaram desde que o idoso Paulo derramou seu sangue em testemunho da Palavra de Deus e para testificar de Jesus Cristo. Nenhuma mão fiel registrou para as gerações vindouras as últimas cenas da vida desse santo homem; a inspiração, porém, nos preservou seu testemunho ao morrer ele. Como o clangor de uma trombeta, sua voz tem repercutido através de todos os séculos, enrijando com sua coragem milhares de testemunhas de Cristo, e despertando em milhares de corações, feridos pela tristeza, o eco de sua alegria triunfante: "Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda". 2 Timóteo 4:6-8. ------------------------Capítulo 44 -- A grande apostasia HR 320 1 Quando Jesus revelou a Seus discípulos a sorte de Jerusalém e as cenas do segundo advento, predisse também a experiência de Seu povo desde o tempo em que deveria ser tirado dentre eles até a Sua volta em poder e glória para o seu libertamento. Do Monte das Oliveiras o Salvador contemplou as tempestades prestes a desabar sobre a igreja apostólica; e penetrando mais profundamente no futuro, Seus olhos divisaram as terríveis e devastadoras tormentas que se haviam de abater sobre Seus seguidores nos vindouros séculos de trevas e perseguição. Em poucas e breves declarações de tremendo significado, predisse o que os governadores deste mundo haveriam de impor à igreja de Deus. Os seguidores de Cristo deveriam trilhar a mesma senda de humilhação, ignomínia e sofrimento que seu Mestre palmilhara. A inimizade que irrompera contra o Redentor do mundo, manifestar-se-ia contra todos os que cressem em Seu nome. HR 320 2 A história da igreja primitiva testificou do cumprimento das palavras do Salvador. Os poderes da Terra e do inferno arregimentaram-se contra Cristo na pessoa de Seus seguidores. O paganismo previa que se o evangelho triunfasse, seus templos e altares desapareceriam; portanto, convocou suas forças para destruir o cristianismo. Acenderam-se os fogos da perseguição. Os cristãos eram despojados de suas possessões e expulsos de suas casas. Suportaram "grande luta e sofrimentos". Eles "passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões". Hebreus 11:36. Grande número deles selaram seu testemunho com o próprio sangue. Nobres e escravos, ricos e pobres, doutos e ignorantes, foram de igual modo mortos sem misericórdia. HR 321 1 Baldados foram os esforços de Satanás para destruir pela violência a igreja de Cristo. O grande conflito em que os discípulos de Jesus rendiam a vida, não cessava quando estes fiéis porta-estandartes tombavam em seus postos. Com a derrota, venciam. Os obreiros de Deus eram mortos, mas a Sua obra ia avante com firmeza. O evangelho continuava a espalhar-se, e o número de seus aderentes a aumentar. Penetrou em regiões que eram inacessíveis, mesmo às águias romanas. Disse um cristão, contendendo com os governadores pagãos que estavam a impulsionar a perseguição: Podeis "matar-nos, torturar-nos; condenar-nos. ... Vossa injustiça é prova de que somos inocentes. ... Tampouco vossa crueldade ... vos aproveitará". Isto não foi senão um convite mais forte para se trazerem outros à mesma persuasão. "Quanto mais somos ceifados por vós, tanto mais crescemos em número; o sangue dos cristãos é semente." HR 321 2 Milhares eram aprisionados e mortos, mas outros surgiam para ocupar as vagas. E os que eram martirizados por sua fé tornavam-se aquisição de Cristo, por Ele tidos na conta de vencedores. Eles combateram o bom combate, e devem receber a coroa de glória quando Cristo vier. Os sofrimentos que suportavam, levavam os cristãos mais perto uns dos outros e de Seu Redentor. Seu exemplo em vida e testemunho ao morrer eram constante atestado à verdade; e, onde menos se esperava, os súditos de Satanás estavam deixando o seu serviço e alistando-se sob a bandeira de Cristo. Compromisso com o paganismo HR 322 1 Satanás, portanto, formulou seus planos para guerrear com mais êxito contra o governo de Deus, hasteando sua bandeira na igreja cristã. Se os seguidores de Cristo pudessem ser enganados e levados a desagradar a Deus, falhariam então sua força, poder e firmeza, e eles cairiam como presa fácil. HR 322 2 O grande adversário se esforçou então por obter pelo artifício aquilo que não lograra alcançar pela força. Cessou a perseguição, e em seu lugar foi posta a perigosa sedução da prosperidade temporal e honra mundana. Levavam-se idólatras a receber parte da fé cristã, enquanto rejeitavam outras verdades essenciais. Professavam aceitar a Jesus como o Filho de Deus e crer em Sua morte e ressurreição; mas não tinham a convicção do pecado e não sentiam necessidade de arrependimento ou de uma mudança de coração. Com algumas concessões de sua parte, propuseram que os cristãos fizessem outras também, para que todos pudessem unir-se sob a plataforma da crença em Cristo. HR 322 3 A igreja, então, encontrava-se em terrível perigo. Prisão, tortura, fogo e espada eram bênçãos em comparação com isto. Alguns dos cristãos permaneceram firmes, declarando que não transigiriam. Outros eram favoráveis a que cedessem, ou modificassem alguns característicos de sua fé, e se unissem com os que haviam aceito parte do cristianismo, insistindo em que este poderia ser o meio para a completa conversão. Foi um tempo de profunda angústia para os fiéis seguidores de Cristo. Sob a capa do pretenso cristianismo, Satanás se estava insinuando na igreja a fim de corromper-lhe a fé e desviar-lhe a mente da Palavra da verdade. HR 322 4 A maioria dos cristãos finalmente consentiu em baixar a norma, formando-se uma união entre o cristianismo e o paganismo. Embora os adoradores de ídolos professassem estar convertidos e unidos à igreja, apegavam-se ainda à idolatria, mudando apenas os objetos de culto pelas imagens de Jesus, e mesmo de Maria e dos santos. O fermento vil da idolatria, assim trazido para a igreja, continuou a obra funesta. Doutrinas errôneas, ritos supersticiosos e cerimônias idolátricas foram incorporados em sua fé e culto. Unindo-se os seguidores de Cristo aos idólatras, a religião cristã se tornou corrupta e a igreja perdeu sua pureza e poder. Alguns houve, entretanto, que não foram transviados por esses enganos. Mantinham-se ainda fiéis ao Autor da verdade, e adoravam a Deus somente. HR 323 1 Sempre tem havido duas classes entre os que professam ser seguidores de Cristo. Enquanto uma dessas classes estuda a vida do Salvador e fervorosamente procura corrigir seus defeitos e conformar-se com o Modelo, a outra evita as claras e práticas verdades que lhes expõem os erros. Mesmo em sua melhor condição a igreja não se compôs unicamente dos verdadeiros, puros e sinceros. Nosso Salvador ensinou que os que voluntariamente condescendem com o pecado não devem ser recebidos na igreja; todavia, ligou a Si homens que eram falhos de caráter e concedeu-lhes os benefícios de Seus ensinos e exemplo, para que tivessem oportunidade de ver seus erros e corrigi-los. HR 323 2 Não há, porém, união entre o Príncipe da luz e o príncipe das trevas, e nenhuma união poderá haver entre os seus seguidores. Quando os cristãos consentiram em unir-se àqueles que não eram senão semiconversos do paganismo, enveredaram por caminho que levou mais e mais longe da verdade. Satanás exultou em haver conseguido enganar tão grande número dos seguidores de Cristo. Levou então seu poder a agir de modo mais completo sobre eles, e os inspirou a perseguir aqueles que permaneceram fiéis a Deus. Ninguém compreendeu tão bem como se opor à verdadeira fé cristã como os que haviam sido seus defensores; e estes cristãos apóstatas, unindo-se aos companheiros semi-pagãos, dirigiram seus ataques contra os característicos mais importantes das doutrinas de Cristo. HR 324 1 Foi necessária uma luta desesperada por parte daqueles que desejavam ser fiéis, permanecendo firmes contra os enganos e abominações que se disfarçavam sob as vestes sacerdotais e se introduziam na igreja. A Escritura Sagrada não era aceita como a norma de fé. A doutrina da liberdade religiosa era chamada heresia, sendo odiados e proscritos seus mantenedores. Afastamento da fé HR 324 2 Depois de longo e tenaz conflito, os poucos fiéis decidiram dissolver toda a união com a igreja apóstata, caso ela ainda recusasse libertar-se da falsidade e da idolatria. Viram que a separação era uma necessidade absoluta se desejavam obedecer à Palavra de Deus. Não ousavam tolerar erros fatais a sua própria alma, e dar exemplo que pusesse em perigo a fé de seus filhos e netos. Para assegurar a paz e a unidade, estavam prontos a fazer qualquer concessão coerente com a fidelidade para com Deus; mas acharam que mesmo a paz seria comprada demasiado caro com sacrifício dos princípios. Se a unidade só se pudesse conseguir comprometendo a verdade e a justiça, seria preferível que prevalecessem as diferenças e as conseqüentes lutas. Bom seria à igreja e ao mundo se os princípios que atuavam naquelas almas inabaláveis revivessem no coração do professo povo de Deus. HR 324 3 O apóstolo Paulo declara que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos". 2 Timóteo 3:12. Por que é, pois, que a perseguição, em grande parte, parece adormentada? A única razão é que a igreja se conformou com a norma do mundo, e portanto não suscita oposição. A religião que em nosso tempo prevalece não é do caráter puro e santo que assinalou a fé cristã nos dias de Cristo e Seus apóstolos. É unicamente por causa do espírito de transigência com o pecado, por serem as grandes verdades da Palavra de Deus tão indiferentemente consideradas, por haver tão pouca piedade vital na igreja, que o cristianismo é visivelmente tão popular no mundo. Haja um reavivamento da fé e poder da primitiva igreja, e o espírito de opressão reviverá, reacendendo-se os fogos da perseguição. ------------------------Capítulo 45 -- O mistério da iniqüidade HR 326 1 O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos tessalonicenses, predisse a grande apostasia que resultaria no estabelecimento do poder papal. Declarou que o dia de Cristo não viria "sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus". E, ainda mais, o apóstolo adverte os irmãos de que "o mistério da iniquidade já opera." 2 Tessalonicenses 2:3, 4, 7. Mesmo naqueles primeiros tempos viu ele, insinuando-se na igreja, erros que preparariam o caminho para o desenvolvimento do papado. HR 326 2 Pouco a pouco, a princípio furtiva e silenciosamente, e depois mais às claras, à medida em que crescia em força e conquistava o domínio da mente dos homens, o mistério da iniqüidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente os costumes do paganismo tiveram ingresso na igreja cristã. O espírito de transigência e conformidade fora restringido durante algum tempo pelas terríveis perseguições que a igreja suportou sob o paganismo. Mas, em cessando a perseguição e entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, pôs ela de lado a humilde simplicidade de Cristo e Seus apóstolos, em troca da pompa e do orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e em lugar das ordenanças de Deus colocou teorias e tradições humanas. A conversão nominal de Constantino, na primeira parte do século quarto, causou grande regozijo; e o mundo, sob o manto de justiça aparente, introduziu-se na igreja. Progredia rapidamente a obra de corrupção. O paganismo, conquanto parecesse suplantado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e culto dos professos seguidores de Cristo. HR 327 1 Esta mútua transigência entre o paganismo e o cristianismo resultou no desenvolvimento do "homem do pecado", predito na profecia como se opondo a Deus e exaltando-se sobre Ele. Aquele gigantesco sistema de religião falsa é a obra-prima do poder de Satanás -- monumento de seus esforços para sentar-se sobre o trono e governar a Terra segundo a sua vontade. HR 327 2 Para conseguir proveitos e honras mundanas, a igreja foi levada a buscar o favor e apoio dos grandes homens da Terra; e, havendo assim rejeitado a Cristo, foi induzida a prestar obediência ao representante de Satanás -- o bispo de Roma. HR 327 3 Uma das principais doutrinas do romanismo é que o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo, investido de autoridade suprema sobre os bispos e pastores em todas as partes do mundo. Mais do que isto, o papa se arrogou os próprios títulos da Divindade. HR 327 4 Satanás bem sabia que as Escrituras Sagradas habilitariam os homens a discernir seus enganos e resistir a seu poder. Foi pela Palavra que o mesmo Salvador do mundo resistiu a seus ataques. Em cada assalto Cristo apresentou o escudo da verdade eterna, dizendo: "Está escrito." A cada sugestão do adversário, opunha a sabedoria e poder da Palavra. A fim de Satanás manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a autoridade do usurpador papal, deveria conservá-los na ignorância das Escrituras. A Bíblia exaltaria a Deus e colocaria o homem finito em sua verdadeira posição; portanto, suas sagradas verdades deveriam ser ocultadas e suprimidas. Esta lógica foi adotada pela Igreja de Roma. Durante séculos a circulação da Escritura foi proibida. Ao povo era vedado lê-la ou tê-la em casa, e sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretavam-lhe os ensinos de modo a favorecerem suas pretensões. Assim o chefe da igreja veio a ser quase universalmente reconhecido como vigário de Deus na Terra, dotado de autoridade suprema sobre a igreja e o Estado. Mudados os tempos e as leis HR 328 1 Suprimido o revelador do erro, agiu Satanás a seu bel-prazer. A profecia declarara que o papado havia de cuidar "em mudar os tempos e a lei". Daniel 7:25. Para cumprir esta obra não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover assim sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração de imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria papista. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus o segundo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles. HR 328 2 Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado, exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como "o venerável dia do Sol". Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda observado como dia santificado. HR 329 1 Constantino, quando ainda pagão, promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. Depois de sua conversão, ele continuou a ser um firme advogado do domingo, e seu edito pagão foi então posto em vigor no interesse de sua nova fé. Contudo, a honra demonstrada a este dia não foi o suficiente para impedir que os cristãos considerassem o verdadeiro sábado como santo do Senhor. Outro passo devia ser dado; o falso sábado devia ser exaltado em igualdade com o verdadeiro. Poucos anos depois da promulgação do decreto de Constantino, o bispo de Roma conferiu ao domingo o título de dia do Senhor. Assim, o povo foi gradualmente levado a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade. Todavia, ainda o sábado original era observado. HR 329 2 O arquienganador não havia terminado a sua obra. Estava decidido a congregar o mundo cristão sob sua bandeira, e exercer o poder por intermédio de seu vigário, o orgulhoso pontífice que pretendia ser o representante de Cristo. Por meio de pagãos semiconversos, ambiciosos prelados e eclesiásticos amantes do mundo, realizou ele seu propósito. Celebravam-se de tempos em tempos vastos concílios aos quais concorriam, do mundo todo, os dignitários da igreja. Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores. HR 330 1 O grande apóstata conseguira exaltar-se "contra tudo o que se chama Deus, ou objeto de culto". 2 Tessalonicenses 2:4. Ousara mudar o único preceito da lei divina que inequivocamente indica a toda a humanidade o Deus verdadeiro e vivo. No quarto mandamento Deus é revelado como o Criador do Céu e da Terra, e por isso Se distingue de todos os falsos deuses. Foi para memória da obra da criação que o sétimo dia foi santificado como dia de repouso para o homem. Destinava-se a conservar o Deus vivo sempre diante da mente humana como a fonte de todo ser e objeto de reverência e culto. Satanás esforça-se por desviar os homens de sua aliança para com Deus e de prestarem obediência a Sua lei; dirige seus esforços, portanto, especialmente contra o mandamento que aponta a Deus como o Criador. HR 330 2 Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fê-lo o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou Seus apóstolos. A observância do domingo como instituição cristã teve origem no "mistério da injustiça" que, já no tempo de Paulo, começara a sua obra. Onde e quando adotou o Senhor este filho do papado? Que razão poderosa se poderá dar para uma mudança que as Escrituras não sancionam? HR 330 3 No sexto século tornou-se o papado firmemente estabelecido. Fixou-se a sede de seu poderio na cidade imperial e declarou-se ser o bispo de Roma a cabeça de toda a igreja. O paganismo cedera lugar ao papado. O dragão dera à besta "o seu poder, o seu trono e grande autoridade". Apocalipse 13:2. E começaram então os 1.260 anos de opressão papal preditos nas profecias de Daniel e João. Daniel 7:25; Apocalipse 13:5-7. Os cristãos foram obrigados a optar entre renunciar a sua integridade e aceitar as cerimônias e culto papais, ou passar a vida nas masmorras, sofrer a morte pelo instrumento de tortura, pela fogueira, ou pela machadinha do verdugo. Cumpriram-se as palavras de Jesus: "E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do Meu nome." Lucas 21:16, 17. Desencadeou-se a perseguição sobre os fiéis com maior fúria do que nunca, e o mundo se tornou um vasto campo de batalha. Durante séculos a igreja de Cristo encontrou refúgio no isolamento e obscuridade. Assim diz o profeta: "A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias." Apocalipse 12:6. A idade escura HR 331 1 O acesso da igreja de Roma ao poder assinalou o início da escura Idade Média. Aumentando o seu poderio, mais se adensavam as trevas. De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e prelados a quem delegava autoridade. Ensinava-se-lhes ser o papa seu mediador, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao corpo e alma dos delinqüentes. HR 332 1 Assim, a mente do povo desviava-se de Deus para homens falíveis, que erram e são cruéis, e mais ainda, para o próprio príncipe das trevas que por meio deles exercia o seu poder. O pecado se disfarçava sob o manto da santidade. Quando as Escrituras são suprimidas e o homem vem a considerar-se supremo, só podemos esperar fraudes, enganos e aviltante iniqüidade. Com a elevação das leis e tradições humanas, tornou-se manifesta a corrupção que sempre resulta de se pôr de lado a lei de Deus. Dias de perigo HR 332 2 Dias de perigo foram aqueles para a igreja de Cristo. Os fiéis porta-estandartes eram na verdade poucos. Posto que a verdade não fosse deixada sem testemunhas, parecia, por vezes, que o erro e a superstição prevaleceriam completamente, e a verdadeira religião seria banida da Terra. Perdeu-se de vista o evangelho, mas multiplicaram-se as formas de religião, e o povo foi sobrecarregado de severas exigências. HR 332 3 Ensinava-se-lhes não somente a considerar o papa como seu mediador, mas a confiar em suas próprias obras para expiação do pecado. Longas peregrinações, atos de penitência, adoração de relíquias, ereção de igrejas, relicários e altares, bem como pagamento de grandes somas à igreja, tudo isto e muitos atos semelhantes eram ordenados para aplacar a ira de Deus ou assegurar o Seu favor, como se Deus fosse idêntico aos homens, encolerizando-se por ninharias, ou apaziguando-se com donativos ou atos de penitência! HR 332 4 Os séculos que se seguiram testemunharam aumento constante de erros nas doutrinas emanadas de Roma. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos dos filósofos pagãos haviam recebido atenção e exercido influência na igreja. Muitos que se diziam conversos ainda se apegavam aos dogmas de sua filosofia pagã, e não somente continuaram no estudo desta, mas encareciam-no a outros como meio de estenderem sua influência entre os pagãos. Erros graves foram assim introduzidos na fé cristã. Destaca-se entre outros o da crença na imortalidade natural do homem e sua consciência na morte. Esta doutrina lançou o fundamento sobre o qual Roma estabeleceu a invocação dos santos e a adoração da Virgem Maria. Disto também proveio a heresia do tormento eterno para os que morrem impenitentes, a qual logo de início se incorporara à fé papal. HR 333 1 Achava-se então preparado o caminho para a introdução de ainda outra invenção do paganismo, a que Roma intitulou purgatório e empregou para amedrontar as multidões crédulas e supersticiosas. Com esta heresia afirma-se a existência de um lugar de tormento, no qual as almas dos que não mereceram condenação eterna devem sofrer castigo por seus pecados, e do qual, quando libertas da impureza, são admitidas no Céu. HR 333 2 Ainda uma outra invencionice era necessária para habilitar Roma a aproveitar-se dos temores e vícios de seus adeptos. Esta foi suprida pela doutrina das indulgências. Completa remissão dos pecados, passados, presentes e futuros, e livramento de todas as dores e penas em que os pecados importam, eram prometidos a todos os que se alistassem nas guerras do pontífice para estender seu domínio temporal, castigar seus inimigos e exterminar os que ousassem negar-lhe a supremacia espiritual. Ensinava-se também ao povo que, pelo pagamento de dinheiro à igreja, podia livrar-se do pecado e igualmente libertar as almas de seus amigos falecidos que estivessem condenados às chamas atormentadoras. Por esses meios Roma abarrotou os cofres e sustentou a magnificência, o luxo e os vícios dos pretensos representantes dAquele que não tinha onde reclinar a cabeça. HR 334 1 A ordenança escriturística da Ceia do Senhor fora suplantada pelo idolátrico sacrifício da missa. Sacerdotes papais pretendiam, mediante esse disfarce destituído de sentido, converter o simples pão e vinho no verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Com blasfema presunção pretendiam abertamente o poder de "criarem o seu Criador". Aos cristãos exigia-se, sob pena de morte, confessar sua fé nesta heresia horrível, que insulta ao Céu. Aqueles que a isto se recusaram foram entregues às chamas. HR 334 2 O meio-dia do papado foi a meia-noite moral do mundo. As Sagradas Escrituras eram quase desconhecidas, não somente pelo povo mas pelos sacerdotes. Como os fariseus de outrora, os dirigentes papais odiavam a luz que revelaria os seus pecados. Removida a lei de Deus -- a norma de justiça -- exerciam eles poder sem limites e praticavam os vícios sem restrições. Prevaleciam a fraude, a avareza, a libertinagem. Os homens não recuavam de crime algum pelo qual pudessem adquirir riqueza ou posição. Os palácios dos papas e prelados eram cenários da mais vil devassidão. Alguns dos pontífices reinantes eram culpados de crimes tão revoltantes que os governadores seculares se esforçavam por depor esses dignitários da igreja como monstros demasiado vis para serem tolerados no trono. Durante séculos não houve progresso no saber, nas artes ou na civilização. Uma paralisia moral e intelectual caíra sobre a cristandade. ------------------------Capítulo 46 -- Os primeiros reformadores HR 335 1 Por entre as trevas que baixaram à Terra durante o longo período da supremacia papal, a luz da verdade não poderia ficar inteiramente extinta. Em cada época houve testemunhas de Deus -- homens que acalentavam fé em Cristo como único mediador entre Deus e o homem, que mantinham a Escritura Sagrada como a única regra de vida, e santificavam o verdadeiro sábado. Quanto o mundo deve a estes homens, a posteridade jamais saberá. Foram estigmatizados como hereges, impugnados os seus motivos, criticado o seu caráter, e suprimidos, difamados ou mutilados os seus escritos. No entanto, permaneceram firmes, e de século em século mantiveram a fé em sua pureza como sagrado legado às gerações vindouras. HR 335 2 Tremenda tem sido a oposição suscitada sobre a Bíblia, desde os tempos em que havia pouquíssimos exemplares em existência; mas Deus não consentira que Sua Palavra fosse totalmente destruída. Suas verdades não deviam estar ocultas para sempre. Tão facilmente poderia Ele desacorrentar as palavras da vida como abrir portas de prisões e desaferrolhar portais de ferro para pôr em liberdade a Seus servos. Nos vários países da Europa homens eram movidos pelo Espírito de Deus a buscar a verdade como a tesouros escondidos. Providencialmente guiados às Santas Escrituras, estudavam as páginas sagradas com interesse profundo. Estavam dispostos a aceitar a luz, a qualquer custo. Posto que não vissem todas as coisas claramente, puderam divisar muitas verdades havia muito sepultadas. Como mensageiros enviados pelo Céu, saíam, rompendo as cadeias do erro e da superstição e chamando aos que haviam estado durante tanto tempo escravizados, a levantar-se e assegurar sua liberdade. HR 336 1 Chegara, porém, o tempo para que as Escrituras fossem traduzidas e entregues ao povo dos vários países em sua língua materna. Passara para o mundo a meia-noite. As horas de trevas estavam a se escoarem, e em muitas terras apareciam indícios da aurora a despontar. A estrela da manhã da reforma HR 336 2 No século XIV surgiu na Inglaterra "a estrela da manhã da Reforma". João Wycliffe foi o arauto da Reforma, não somente para a Inglaterra mas para toda a cristandade. Ele foi o progenitor dos Puritanos; sua aparição foi como um oásis no deserto. HR 336 3 O Senhor decidiu confiar o trabalho de reforma a alguém cuja habilidade intelectual daria caráter e dignidade a seus labores. Isto silenciava a voz do desprezo, e impedia que os adversários da verdade tentassem lançar o descrédito sobre a causa, ridicularizando a ignorância de seus advogados. Quando Wycliffe completou seu aprendizado nas escolas, lançou-se ao estudo das Escrituras. Nas Escrituras encontrou o que antes havia em vão procurado. Ali viu revelado o plano da redenção, e Cristo apresentado como único advogado do homem. Viu que Roma abandonara o caminho bíblico por tradições humanas. Entregou-se ao serviço de Cristo e decidiu-se a proclamar as verdades que havia descoberto. HR 336 4 O maior trabalho de sua vida foi a tradução das Escrituras para a língua inglesa. Esta foi a primeira tradução inglesa completa. Sendo ainda desconhecida a arte de imprimir, era unicamente por trabalho moroso e fatigante que se podiam multiplicar os exemplares da Escritura Sagrada; ainda assim isto era feito, e o povo da Inglaterra recebeu a Bíblia em seu próprio idioma. Dessa maneira a luz da Palavra de Deus começou a expandir seus raios brilhantes através da escuridão. A divina mão estava a preparar o caminho para a Grande Reforma. HR 337 1 O apelo à razão humana, arrancou-os de sua passiva submissão aos dogmas papais. As Escrituras foram recebidas com alegria pela classe elevada, a única que, na época, possuía o conhecimento das letras. Wycliffe então ensinava as distintas doutrinas do Protestantismo -- salvação pela fé em Cristo e a exclusiva infalibilidade das Escrituras. Muitos sacerdotes a ele se uniram em fazer circular a Bíblia e na pregação do evangelho; tão grandes foram os efeitos desse trabalho e dos escritos de Wycliffe que a nova fé foi aceita por quase metade do povo da Inglaterra. O reino das trevas estremeceu. HR 337 2 O esforço dos inimigos para deter sua obra e destruir sua vida foram igualmente mal-sucedidos e aos sessenta e um anos ele morreu em paz, quando ia ministrar no altar. A reforma se espalha HR 337 3 Foi mediante os escritos de Wycliffe que João Huss, da Boêmia, foi levado a renunciar a muitos dos erros do Romanismo, e entrar na obra da Reforma. Como Wycliffe, Huss era um nobre cristão, homem de entendimento e de inabalável devoção à verdade. Seus apelos em favor das Escrituras e as vigorosas denúncias da vida escandalosa e imoral do clero despertaram um amplo interesse e milhares aceitaram alegremente uma fé mais pura. Isto excitou a ira do papa e dos prelados, sacerdotes e frades, e Huss foi convocado a comparecer diante do Concílio de Constança para responder à acusação de heresia. Um salvo-conduto foi-lhe dado pelo imperador germânico, e quando de sua chegada a Constança, foi pessoalmente certificado pelo papa de que nenhuma injustiça seria cometida contra ele. HR 338 1 Depois de um longo julgamento, durante o qual sustentou a verdade, foi exigido que Huss escolhesse entre retratar-se de suas doutrinas ou sofrer a morte. Escolheu o destino de mártir, e depois de ver seus livros serem entregues às chamas, foi ele próprio queimado numa estaca. Na presença de dignitários da igreja e do Estado, o servo de Deus expressou um solene e fiel protesto contra a corrupção da hierarquia papal. Sua execução, uma vergonhosa violação de uma solene e pública promessa de proteção, exibiu para o mundo inteiro a pérfida crueldade de Roma. Os inimigos da verdade, embora não o soubessem, estavam favorecendo a causa que procuravam debalde destruir. HR 338 2 Não obstante a fúria da perseguição, um calmo, devoto, fervoroso e paciente protesto contra a prevalecente corrupção da fé religiosa continuou a ser apresentado após a morte de Wycliffe. Assim como os crentes dos dias apostólicos, muitos sacrificaram livremente suas posses terrenas pela causa de Cristo. HR 338 3 Esforços extremos foram realizados para fortalecer e estender o poder do papado. Porém, enquanto os papas clamavam ser representantes de Cristo, suas vidas eram tão corrompidas que desgostavam o povo. Pela ajuda da invenção da imprensa, as Escrituras tiveram maior circulação, e muitos foram levados a ver que as doutrinas papais não eram apoiadas pela Palavra de Deus. HR 338 4 Quando uma testemunha era forçada a fazer tombar a tocha da verdade, outra estendia a sua mão e com intrépida coragem erguia-a no alto. A luta que se abriu, resultou na emancipação, não apenas de indivíduos e igrejas, mas de nações. Através do abismo de cem anos homens estenderam suas mãos para agarrar as mãos dos lolardos no tempo de Wycliffe. Com Lutero começou a Reforma na Alemanha; Calvino pregou o evangelho na França e Zuínglio na Suíça. O mundo foi despertado de um sono de séculos, enquanto de terra em terra soavam as mágicas palavras: "Liberdade Religiosa." ------------------------Capítulo 47 -- Lutero e a grande reforma HR 340 1 Preeminente entre os que foram chamados para dirigir a igreja das trevas do papado à luz de uma fé mais pura, acha-se Martinho Lutero. Zeloso, ardente e dedicado, não conhecendo outro temor senão o de Deus, e não reconhecendo outro fundamento para a fé religiosa além das Escrituras Sagradas, Lutero foi o homem para o seu tempo; por meio dele Deus efetuou uma grande obra para a reforma da igreja e esclarecimento do mundo. HR 340 2 Enquanto um dia examinava os livros da biblioteca da universidade, Lutero descobriu uma Bíblia latina. Tinha ouvido porções dos evangelhos e epístolas, que se liam ao povo no culto público, e supunha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez, olhava para o todo da Palavra de Deus. Com um misto de reverência e admiração, folheava as páginas sagradas; com o pulso acelerado e o coração palpitante, lia por si mesmo as palavras de vida, detendo-se aqui e acolá para exclamar: "Oh! quem dera Deus me desse tal livro!" Anjos celestiais estavam a seu lado, e raios de luz procedentes do trono de Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre temera ofender a Deus, mas agora a profunda convicção de seu estado pecaminoso apoderou-se dele como nunca dantes. Um desejo ardente de se achar livre do pecado e encontrar paz com Deus, levou-o afinal a entrar para um mosteiro e dedicar-se à vida monástica. HR 341 1 Todo momento que podia poupar de seus deveres diários empregava-o no estudo, furtando-se ao sono e cedendo mesmo a contragosto o tempo empregado em suas escassas refeições. Acima de tudo se deleitava no estudo da Palavra de Deus. Achara uma Bíblia acorrentada à parede do convento, e a ela muitas vezes recorria. HR 341 2 Lutero foi ordenado sacerdote, sendo chamado do claustro para o cargo de professor da Universidade de Wittemberg. Ali se aplicou ao estudo das Escrituras nas línguas originais. Começou a fazer conferências sobre a Bíblia; e o livro dos Salmos, os Evangelhos e as Epístolas abriram-se à compreensão de multidões que se deleitavam em ouvi-lo. Era já poderoso nas Escrituras, e sobre ele repousava a graça de Deus. Sua eloqüência cativava os ouvintes, a clareza e poder com que apresentava a verdade levavam-nos à convicção, e seu profundo fervor tocava os corações. Um líder em reforma HR 341 3 Na providência de Deus ele decidiu visitar Roma. Uma indulgência fora prometida pelo papa a todos quantos subissem de joelhos a conhecida escada de Pilatos. Lutero estava certo dia realizando este ato, quando subitamente, uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: "O justo viverá por fé." Ergueu-se sobre seus pés, e envergonhado e horrorizado deixou rapidamente o cenário de sua loucura. Esse texto nunca perdeu a força sobre sua alma. Desde aquele tempo, viu mais claramente do que nunca dantes a falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade de fé constante nos méritos de Cristo. Tinham-se-lhe aberto os olhos, e nunca mais se deveriam fechar aos enganos satânicos do papado. Quando ele deu as costas a Roma, também dela volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada vez maior, até romper todo contato com a igreja papal. HR 342 1 Depois de voltar de Roma, Lutero recebeu na Universidade de Wittemberg o grau de doutor em Teologia. Estava agora na liberdade de se dedicar, como nunca dantes, às Escrituras que ele amava. Fizera solene voto de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus e todos os dias de sua vida pregá-la com fidelidade, e não os dizeres e doutrinas dos papas. Não mais era o simples monge ou professor, mas o autorizado arauto da Bíblia. Fora chamado para pastor a fim de alimentar o rebanho de Deus, que tinha fome e sede da verdade. Declarava firmemente que os cristãos não deveriam receber outras doutrinas senão as que se apóiam na autoridade das Sagradas Escrituras. Estas palavras feriram o próprio fundamento da supremacia papal. Continham o princípio vital da Reforma. HR 342 2 Entra Lutero, ousadamente, em sua obra como campeão da verdade. Sua voz era ouvida do púlpito em advertência ardorosa e solene. Expôs ao povo o caráter ofensivo do pecado, ensinando-lhes ser impossível ao homem, por suas próprias obras, diminuir as culpas ou fugir ao castigo. Nada, a não ser o arrependimento para com Deus e a fé em Cristo, pode salvar o pecador. A graça de Cristo não pode ser comprada; é dom gratuito. Aconselhava o povo a não comprar indulgências, mas a olhar com fé para um Redentor crucificado. Relatou sua própria e penosa experiência ao procurar debalde pela humilhação e penitência conseguir salvação, e afirmou a seus ouvintes que foi olhando fora de si mesmo e crendo em Cristo que encontrara paz e alegria. HR 343 1 Os ensinos de Lutero atraíram a atenção dos espíritos pensantes de toda a Alemanha. De seus sermões e escritos procediam raios de luz que despertavam e iluminavam a milhares. Uma fé viva estava tomando o lugar do morto formalismo em que a igreja se mantivera durante tanto tempo. O povo estava diariamente perdendo a confiança nas superstições do romanismo. As barreiras do preconceito iam cedendo. A Palavra de Deus, pela qual Lutero provava toda a doutrina e qualquer reclamo, era semelhante a uma espada de dois gumes, abrindo caminho ao coração do povo. Por toda parte se despertava o desejo de progresso espiritual. Fazia séculos que não se via, tão generalizada, a fome e sede de justiça. Os olhos do povo, havia tanto voltados para ritos humanos e mediadores terrestres, volviam-se agora em arrependimento e fé para Cristo, e Este crucificado. HR 343 2 Os escritos e doutrinas do reformador estendiam-se a todas as nações da cristandade. A obra espalhou-se à Suíça e Holanda. Exemplares de seus escritos tiveram ingresso na França e Espanha. Na Inglaterra, seus ensinos eram recebidos como palavras de vida. À Bélgica e Itália também se estendeu a verdade. Milhares estavam a despertar do torpor mortal para a alegria e esperança de uma vida de fé. Lutero rompe com Roma HR 343 3 Roma estava empenhada na destruição de Lutero, mas Deus era a sua defesa. Suas doutrinas eram ouvidas em toda parte -- nas cabanas e nos conventos, nos castelos de nobres, nas universidades e nos palácios dos reis; e homens nobres surgiam por toda parte para amparar-lhe os esforços. HR 343 4 Num apelo ao imperador e à nobreza da Alemanha, em favor da Reforma do cristianismo, Lutero escreveu relativamente ao papa: "É horrível contemplar o homem que se intitula vigário de Cristo, a ostentar uma magnificência que nenhum imperador pode igualar. É isso ser semelhante ao pobre Jesus, ou o humilde Pedro? Ele é, dizem, o senhor do mundo! Mas Cristo, cujo vigário ele se jacta de ser, disse: 'Meu reino não é deste mundo.' Podem os domínios de um vigário estender-se além dos de seu superior?" HR 344 1 Assim escreveu ele acerca das universidades: "Receio muito que as universidades se revelem grandes portas do inferno, a menos que diligentemente trabalhem para explicar as Santas Escrituras, e gravá-las no coração dos jovens. Não aconselho ninguém a pôr seu filho onde as Escrituras não reinem supremas. Toda instituição em que os homens não se achem incessantemente ocupados com a Palavra de Deus, tem de tornar-se corrupta." HR 344 2 Este apelo circulou rapidamente por toda a Alemanha e exerceu poderosa influência sobre o povo. A nação toda foi convocada a reunir-se ao redor do estandarte da Reforma. Os oponentes de Lutero, ardentes no desejo de vingança, insistiam em que o papa tomasse medidas decisivas contra ele. Decretou-se que suas doutrinas fossem imediatamente condenadas. Sessenta dias foram concedidos ao reformador e a seus adeptos, findos os quais, se não abjurassem, deveriam todos ser excomungados. HR 344 3 Quando a bula papal chegou a Lutero, disse ele: "Desprezo-a e ataco-a como ímpia, falsa. ... É o próprio Cristo que nela é condenado. ... Regozijo-me por ter de suportar tais males pela melhor das causas. Sinto já maior liberdade em meu coração; pois finalmente sei que o papa é o anticristo, e que o seu trono é o do próprio Satanás." HR 344 4 Todavia, a palavra do pontífice ainda tinha poder. Prisão, tortura e espada eram armas potentes para forçar à obediência. Tudo parecia indicar que a obra do reformador estava a ponto de terminar. Os fracos e supersticiosos tremiam perante o decreto do papa; e, conquanto houvesse simpatia geral por Lutero, muitos sentiam que a vida era por demais preciosa para que fosse arriscada na causa da Reforma. ------------------------Capítulo 48 -- Progressos da reforma HR 346 1 Um novo imperador, Carlos V, subira ao trono da Alemanha, e os emissários de Roma se apressaram a apresentar suas congratulações e induzir o monarca a empregar seu poder contra a Reforma. De um lado, o eleitor da Saxônia, a quem Carlos em grande parte devia a coroa, rogava-lhe não dar passo algum contra Lutero antes de lhe conceder oportunidade de se fazer ouvir. HR 346 2 A atenção de todos os partidos dirigia-se agora para a assembléia dos Estados alemães que se reuniu em Worms logo depois da ascensão de Carlos ao poder imperial. Havia importantes questões e interesses políticos a serem considerados por esse concílio nacional; mas, estes pareciam de pouco interesse, quando contrastados com a causa do monge de Wittemberg. HR 346 3 Carlos, previamente encarregara o eleitor de levar consigo Lutero à Dieta, assegurando-lhe proteção e prometendo franco estudo das questões em contenda, com pessoa competente. Lutero estava ansioso por comparecer perante o imperador. HR 346 4 Os amigos de Lutero estavam aterrorizados, angustiados. Sabendo do preconceito e inimizade contra ele, temiam que mesmo seu salvo-conduto não fosse respeitado, e rogavam-lhe não expusesse a vida ao perigo. Ele replicou: "Os sectários do papa não desejam minha ida a Worms, mas minha condenação e morte. Não importa. Não orem por mim, mas pela Palavra de Deus." Perante o concílio HR 347 1 Finalmente Lutero se achou perante o concílio. O imperador ocupava o trono. Estava rodeado das mais ilustres personagens do império. Nunca homem algum comparecera à presença de uma assembléia mais imponente do que aquela diante da qual Martinho Lutero deveria responder por sua fé. HR 347 2 O próprio fato daquela cena foi uma assinalada vitória para a verdade. Que um homem a quem o papa condenara, fosse julgado por outro tribunal era virtualmente uma recusa da suprema autoridade do pontífice. O reformador, colocado sob excomunhão e pelo papa excluído da sociedade humana, recebera garantia de proteção e foi ouvido pelos mais altos dignitários da nação. Roma condenara-o ao silêncio, mas agora ele estava prestes a falar perante milhares de todas as partes da cristandade. Calmo e paciente, todavia corajoso e nobre, surgiu como testemunha de Deus entre os grandes da Terra. Lutero respondeu em submisso e humilde tom, sem violência ou paixão. Sua conduta era tímida e respeitosa, embora manifestasse uma confiança e alegria que surpreendeu a assembléia. HR 347 3 Os que obstinadamente fechavam os olhos à luz e se decidiram a não convencer-se da verdade, ficaram enraivecidos com o poder das palavras de Lutero. Quando cessou de falar, o porta-voz da Dieta disse, irado: "Não respondeste à pergunta feita. ... Exige-se que dês resposta clara e precisa. ... Retratar-te-ás ou não?" HR 347 4 O reformador respondeu: "Visto que vossa sereníssima majestade e vossas nobres altezas exigem de mim resposta clara, simples e precisa, dar-vo-la-ei, é esta: Não posso submeter minha fé quer ao papa quer aos concílios, porque é claro como o dia que eles têm freqüentemente errado e se contradito um ao outro. Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pelo mais claro raciocínio; a menos que eu seja persuadido por meio das passagens que citei; a menos que assim submetam minha consciência pela Palavra de Deus, não posso retratar-me e não me retratarei, pois é perigoso a um cristão falar contra a consciência. Aqui permaneço, não posso fazer outra coisa; queira Deus ajudar-me. Amém." HR 348 1 Assim se manteve este homem justo sobre o firme fundamento da Palavra de Deus. A luz do Céu iluminava-lhe o semblante. Sua grandeza e pureza de caráter, sua paz e alegria de coração, eram manifestas a todos ao testificar ele contra o poder do erro e testemunhar a superioridade da fé que vence o mundo. HR 348 2 Ele permaneceu firme como uma rocha, enquanto as violentas ondas do poder terreno em vão se arremetiam contra ele. A simples energia de suas palavras, seu porte destemido, seus calmos e expressivos olhos, bem como a inalterável determinação expressa em cada palavra e ação, causaram uma profunda impressão sobre a assembléia. Era evidente que ele não seria induzido, quer por promessas ou ameaças, a render-se ao mando de Roma. HR 348 3 Cristo falara por intermédio do testemunho de Lutero, com um poder e grandeza que na ocasião causou espanto e admiração tanto a amigos como a adversários. O Espírito de Deus estivera presente naquele concílio, impressionando o coração dos principais do império. Vários dos príncipes reconheceram ousadamente a justiça da causa de Lutero. Muitos estavam convictos da verdade; mas em outros as impressões recebidas não foram duradouras. Houve outra classe que no momento não exprimiu suas convicções, mas que, tendo pesquisado as Escrituras por si mesmos, em ocasião posterior declarou-se com grande coragem pela Reforma. HR 349 1 O eleitor Frederico aguardara ansiosamente o comparecimento de Lutero perante a Dieta, e com profunda emoção ouviu seu discurso. Com alegria e orgulho testemunhou a coragem, firmeza e domínio próprio do doutor, e orgulhou-se de ser o seu protetor. Ele contrastava as facções em contenda, e via que a sabedoria dos papas, reis e prelados, fora pelo poder da verdade reduzida a nada. O papado sofrera uma derrota que seria sentida entre todas as nações e em todos os tempos. HR 349 2 Houvesse o reformador cedido num único ponto, e Satanás e suas hostes teriam ganho a vitória. Mas sua persistente firmeza foi o meio para a emancipação da igreja e o início de uma era nova e melhor. A influência desse único homem, que ousou pensar e agir por si mesmo em assuntos religiosos, deveria afetar a igreja e o mundo, não somente em seu próprio tempo, mas, em todas as gerações futuras. Sua firmeza e fidelidade fortaleceriam, até ao final do tempo, a todos os que passassem por experiência semelhante. O poder e majestade de Deus se mantiveram acima do conselho dos homens, acima da potente força de Satanás. HR 349 3 Vi que Lutero era ardente e zeloso, destemido e ousado, para reprovar o pecado e advogar a verdade. Não se preocupava com homens ímpios ou demônios; sabia que consigo tinha Alguém que era mais forte do que eles todos. Lutero possuía zelo, coragem e ousadia, e por vezes esteve em perigo de ir aos extremos. Mas Deus suscitou a Melancton, que era exatamente o contrário no caráter, a fim de auxiliar Lutero no levar avante a obra da Reforma. Melancton era tímido, medroso, cauteloso e possuía grande paciência. Era grandemente amado por Deus. Grande era o seu conhecimento das Escrituras e excelentes o seu juízo e sabedoria. Seu amor pela causa de Deus era igual ao de Lutero. Os corações destes homens o Senhor os ligara entre si; eram amigos inseparáveis. Lutero era um grande auxílio para Melancton quando se achava amedrontado e vagaroso, e Melancton por sua vez o era para Lutero, quando em perigo de agir com demasiada rapidez. HR 350 1 A cautela mui previdente de Melancton muitas vezes desviou dificuldades que teriam sobrevindo à causa, se a obra estivesse entregue unicamente a Lutero; e muitas vezes a obra não teria sido levada avante se estivera entregue a Melancton só. Foi-me mostrada a sabedoria de Deus em escolher esses dois homens para promover a obra da Reforma. Inglaterra e Escócia iluminadas HR 350 2 Enquanto Lutero abria ao povo da Alemanha uma Bíblia até então fechada, Tyndale era impelido pelo Espírito de Deus a fazer o mesmo pela Inglaterra. Ele era um diligente estudioso das Escrituras e destemidamente pregou suas convicções da verdade, insistindo em que toda a doutrina fosse provada pela Palavra de Deus. Seu zelo poderia, entretanto, suscitar a oposição dos papistas. Um versado doutor católico, empenhado em controvérsia com ele, exclamou: "Ser-nos-ia melhor estar sem as leis de Deus, do que sem as do papa." Tyndale replicou: "Desafio o papa e todas as suas leis; e, se Deus poupar minha vida, dentro de poucos anos farei com que um rapaz que conduz o arado saiba mais das Escrituras do que vós." HR 350 3 O propósito que começara a acalentar, de dar ao povo as Escrituras do Novo Testamento em sua própria língua, agora se confirmava, e imediatamente se aplicou à obra. Toda a Inglaterra parecia cerrar-se para ele, e resolveu procurar abrigo na Alemanha. Ali começou a imprimir o Novo Testamento em inglês. Três mil exemplares do Novo Testamento foram logo concluídos, e seguiu-se outra edição no mesmo ano. HR 351 1 Finalmente deu testemunho da fé, morrendo como mártir; contudo, as armas que preparara habilitaram outros soldados a batalhar por todos os séculos, mesmo até os nossos dias. HR 351 2 Na Escócia, o evangelho encontrou um campeão na pessoa de João Knox. Este fiel e verdadeiro reformador não temia a face do homem. Os fogos do martírio, luzindo em redor dele, apenas serviam para despertar seu zelo em maior intensidade. Com o machado do carrasco pendente ameaçadoramente sobre a cabeça manteve-se em seu terreno, desfechando vigorosos golpes à direita e à esquerda, para demolir a idolatria. Assim, manteve seu propósito, orando e travando as batalhas do Senhor, até que a Escócia ficou livre. HR 351 3 Na Inglaterra, Latimer sustentava do púlpito que a Bíblia deveria ser lida na língua do povo. O Autor da Escritura Sagrada, dizia ele, "é o próprio Deus"; e esta Escritura participa do poder e da eternidade de seu Autor. "Não há rei, imperador, magistrado, ou governador... que não tenha o dever de obedecer a... Sua santa Palavra." "Não tomemos quaisquer atalhos, mas dirija-nos a Palavra de Deus: não andemos segundo nossos antepassados nem busquemos saber o que fizeram, mas sim o que deveriam ter feito." HR 351 4 Barnes e Frith, fiéis amigos de Tyndale, levantaram-se em defesa da verdade. Seguiram-se os Ridleys e Cranmer. Estes dirigentes da Reforma inglesa eram homens de saber, e a maioria deles tinha sido muito estimada pelo zelo e piedade na comunhão romana. Sua oposição ao papado resultou de seu conhecimento dos erros da "Santa Sé". Familiarizados com os mistérios de Babilônia, maior poder imprimiram a seus testemunhos contra ela. HR 352 1 O grande princípio mantido por Tyndale, Frith, Latimer e os Ridleys, foi a divina autoridade e suficiência das Sagradas Escrituras. Rejeitaram a pretensa autoridade dos papas, concílios, padres e reis de governarem a consciência em matéria de fé religiosa. A Bíblia era sua norma, e para esta eles levavam todas as doutrinas e todos os reclamos. A fé em Deus e em Sua Palavra sustentava aqueles homens santos, ao renderem a vida no instrumento de tortura. ------------------------Capítulo 49 -- Deixando de progredir HR 353 1 A reforma não terminou com Lutero, como muitos supõem. Ela haverá de prosseguir até a conclusão da história terrestre. Lutero tinha uma grande obra a fazer, em refletir a outros a luz que Deus permitiu brilhasse sobre ele; todavia, não recebeu toda a luz que devia ser dada ao mundo. Desde aquele tempo, nova luz tem continuamente resplandecido sobre as Escrituras, e novas verdades têm sido constantemente reveladas. HR 353 2 Lutero e seus colaboradores executaram um nobre trabalho para Deus; mas, tendo vindo eles da Igreja de Roma, e tendo eles próprios crido e defendido suas doutrinas, não seria de esperar que pudessem discernir todos os seus enganos. Seu trabalho foi quebrar os grilhões de Roma e dar a Bíblia ao mundo, embora houvesse importantes verdades que deixassem de descobrir, e graves erros, a que não renunciaram. A maioria deles continuou a observar o domingo e outras festas papais. Na verdade, eles não o consideravam como tendo autoridade divina, mas criam que devia ser observado como dia de culto, geralmente aceito. Havia alguns dentre eles, entretanto, que honravam o sábado do quarto mandamento. Entre os reformadores da igreja, um lugar honroso deve ser dado a todos aqueles que foram firmes em reivindicar uma verdade geralmente ignorada, mesmo pelos protestantes -- aqueles que mantinham a validade do quarto mandamento e a obrigação do sábado bíblico. Quando a Reforma varreu as trevas que pairavam em toda a cristandade, os guardadores do sábado foram postos em foco em muitas terras. HR 354 1 Os que receberam as grandes bênçãos da Reforma não foram avante na trilha tão nobremente aberta por Lutero. Poucos homens fiéis levantaram-se de tempos em tempos para proclamar novas verdades e expor erros longamente acariciados, mas a maioria, como os judeus nos dias de Cristo, ou os papistas no tempo de Lutero, estavam satisfeitos em crer como creram seus pais e viver como eles viveram. Dessa maneira, novamente a religião degenerou em formalismo; e erros e superstições que teriam sido postos de lado tivesse a igreja continuado a andar na luz da Palavra de Deus, foram retidos e acalentados. Assim, o espírito inspirado pela Reforma gradualmente morreu, até que houve quase tão grande necessidade de reforma nas igrejas protestantes, como na Igreja de Roma, no tempo de Lutero. Havia o mesmo estupor espiritual, o mesmo respeito pelas opiniões humanas, o mesmo espírito de mundanismo, e a mesma substituição dos ensinamentos da Palavra de Deus, por teorias humanas. O orgulho e a extravagância eram nutridos à guisa de religião. As igrejas tornaram-se corrompidas, através de suas alianças com o mundo. Assim, se degradaram os grandes princípios, pelos quais Lutero e seus fiéis colaboradores tanto fizeram e sofreram. HR 354 2 Quando Satanás viu que falhara em esmagar a verdade pela perseguição, de novo recorreu ao mesmo plano de comprometimento que havia conduzido à grande apostasia e à formação da Igreja de Roma. Induziu os cristãos a fazerem alianças, agora não mais com pagãos, mas com os que, por sua adoração ao deus deste mundo, provavam-se igualmente idólatras. HR 355 1 Satanás não podia mais retirar a Bíblia do povo; ela fora colocada ao alcance de todos. Porém, levou milhares a aceitarem falsas interpretações e teorias errôneas, sem examinarem as Escrituras, a fim de aprenderem a verdade por si mesmos. Ele havia corrompido as doutrinas da Bíblia, e as tradições que iam arruinar milhões de pessoas estavam aprofundando as raízes. A igreja estava encorajando e defendendo estas tradições, em vez de contender pela fé que uma vez foi entregue aos santos. E enquanto inteiramente inconscientes de sua condição e perigo, a igreja e o mundo aproximavam-se rapidamente do mais solene e momentoso período da história do mundo -- o período da revelação do Filho do homem. ------------------------Capítulo 50 -- A primeira mensagem angélica HR 356 1 A profecia da primeira mensagem angélica, apresentada em Apocalipse 14, teve o seu cumprimento no movimento do advento de 1840-44. Tanto na Europa como na América, homens de fé e oração ficaram profundamente comovidos ao ser sua atenção chamada para as profecias, e, examinando o Registro Inspirado, viram convincentes evidências de que o fim de todas as coisas estava às portas. O Espírito de Deus instou com Seus servos para darem a advertência. Por todas as partes disseminou-se a mensagem do evangelho eterno: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:7. HR 356 2 Por onde quer que penetrassem os missionários, eram levadas as alegres novas do iminente regresso de Cristo. Em diferentes regiões foram encontrados isolados grupos de cristãos, que, apenas pelo estudo das Escrituras, tinham chegado a crer que o advento do Salvador estava próximo. Em algumas partes da Europa, em que as leis eram tão opressivas a ponto de proibir a pregação da doutrina do advento, criancinhas foram impelidas a pregar, e muitos ouviram a solene advertência. HR 356 3 A Guilherme Miller e seus cooperadores coube a pregação dessa mensagem na América, e a luz acesa por seus labores brilhou até terras distantes. Deus enviou Seu anjo para tocar o coração de um fazendeiro que não cria na Bíblia, a fim de guiá-lo a investigar as profecias. Anjos de Deus constantemente visitavam a este homem escolhido, para dirigir sua mente e abrir-lhe o entendimento para profecias, até então obscuras para o povo de Deus. Foi-lhe concedido o princípio da corrente da verdade, e ele foi levado a examinar elo após elo, até que vislumbrou a Palavra de Deus com espanto e admiração. Viu nela a perfeita cadeia da verdade. Essa Palavra, que havia considerado não inspirada, agora abria-se diante de seus olhos em sua gloriosa beleza. Viu que uma parte das Escrituras explicava outra, e quando uma passagem era de difícil entendimento, encontrava em outra porção da Palavra, uma que a explanava. Considerou a sagrada Palavra de Deus com alegria e o mais profundo respeito e reverência. HR 357 1 À medida em que seguia examinando as profecias, viu que os habitantes da Terra estavam vivendo nas cenas finais da história do mundo; todavia, ignorantes do fato. Olhou para as igrejas e viu que elas estavam corrompidas; haviam retirado de Jesus suas afeições, colocando-as no mundo; estavam em busca de honras mundanas, em lugar daquela honra que vem de cima; lutavam por riquezas terrenas, em lugar de depositar o seu tesouro no Céu. Podia ver hipocrisia, trevas e morte em todos os lugares. Seu espírito se agitou. Deus o chamou para abandonar sua fazenda, assim como chamou a Eliseu para deixar os bois e o campo de trabalho a fim de seguir a Elias. HR 357 2 Com temor, Guilherme Miller começou a desdobrar perante o povo os mistérios do reino de Deus, conduzindo os ouvintes através das profecias para o segundo advento de Cristo. O testemunho das Escrituras apontando a vinda de Cristo para 1843, despertou amplo interesse. Muitos se convenceram de que os argumentos do período profético estavam corretos, e, sacrificando seu orgulho de opinião, alegremente recebiam a verdade. Alguns pastores deixaram de lado suas idéias e sentimentos sectários, deixaram seus salários e igrejas, e uniram-se na proclamação da vinda de Jesus. HR 358 1 Poucos pastores, porém, aceitaram esta mensagem; portanto ela era grandemente entregue a humildes leigos. Agricultores deixavam seus campos, mecânicos as ferramentas, comerciantes as mercadorias, profissionais suas posições; e mesmo assim o número de obreiros era reduzido em comparação com a obra que devia ser realizada. A condição de uma igreja ímpia e um mundo jazendo na maldade, pesavam na alma dos verdadeiros atalaias, e eles voluntariamente suportaram trabalhos, privação e sofrimentos, a fim de poderem chamar os homens ao arrependimento para salvação. Embora com a oposição de Satanás, o trabalho ia avante com rapidez, e a verdade do advento era aceita por milhares de pessoas. Grande reavivamento religioso HR 358 2 Por toda parte se ouvia o penetrante testemunho, advertindo os pecadores, tanto mundanos como membros da igreja, a fugirem da ira vindoura. Quais João Batista, o precursor de Cristo, os pregadores punham o machado à raiz da árvore, e com todos insistiam em que produzissem frutos dignos de arrependimento. Seus fervorosos apelos achavam-se em evidente contraste com as afirmações de paz e segurança que se ouviam dos púlpitos populares; e, onde quer que a mensagem fosse apresentada, comovia o povo. HR 358 3 O simples e direto testemunho das Escrituras, levado ao íntimo pelo poder do Espírito Santo, comunicava-lhes um peso de convicção a que poucos eram capazes de resistir inteiramente. Os que professavam a religião eram despertados de sua falsa segurança. Viam sua apostasia, mundanidade e incredulidade, seu orgulho e egoísmo. Muitos buscavam o Senhor com arrependimento e humilhação. As afeições tão longamente dedicadas às coisas terrenas, estavam agora fixadas no Céu. O Espírito de Deus repousava sobre eles, e, com coração abrandado e subjugado, uniam-se para fazer soar o clamor: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:7. HR 359 1 Pecadores, em lágrimas perguntavam: "Que devo fazer para me salvar?" Aqueles, cuja vida tinha sido assinalada pela desonestidade, estavam ansiosos por fazer a devida restituição. Todos os que encontravam paz em Cristo anelavam ver outros participarem dessa bênção. O coração dos pais se convertia aos filhos, e o dos filhos aos pais. As barreiras do orgulho e reserva foram varridas. Fizeram-se confissões sinceras, e os membros da família trabalhavam pela salvação dos mais queridos e dos que mais perto se achavam. HR 359 2 Freqüentemente se ouvia a voz de fervorosa intercessão. Por toda parte havia almas em profunda angústia, lutando com Deus. Muitos passavam em oração a noite toda para obter a certeza de que seus pecados estavam perdoados, ou pela conversão dos parentes e vizinhos. A fervorosa e determinada fé alcançava seus objetivos. Tivesse o povo de Deus continuado a ser tão importuno na oração, e apresentado suas petições ao trono da graça, teriam entrado na posse de uma experiência mais rica do que têm agora. Há muito pouca oração, muito pouca real convicção do pecado; e a falta de uma fé viva deixa muitos destituídos da graça tão ricamente provida por nosso gracioso Redentor. HR 359 3 Todas as classes afluíam às reuniões adventistas. Ricos e pobres, grandes e humildes, achavam-se, por vários motivos, ansiosos por ouvir, por si mesmos, a doutrina do segundo advento. O Senhor continha o espírito de oposição enquanto Seus servos explicavam as razões de sua fé. Algumas vezes o instrumento era fraco; mas, o Espírito de Deus dava poder a Sua verdade. Sentia-se a presença dos santos anjos nessas assembléias, e muitos eram diariamente acrescentados aos crentes. Ao serem repetidas as provas da próxima vinda de Cristo, vastas multidões escutavam silenciosas e extasiadas, as solenes palavras. O Céu e a Terra pareciam aproximar-se um do outro. O poder de Deus se fazia sentir em velhos e jovens, e nos de meia-idade. Os homens procuravam seus lares com louvores nos lábios, ressoando o som festivo no ar silencioso da noite. Pessoa alguma que haja assistido àquelas reuniões jamais poderá esquecer-se dessas cenas do mais profundo interesse. Oposição HR 360 1 A proclamação de um tempo definido para a vinda de Cristo despertou grande oposição de muitos, dentre todas as classes, desde o pastor, no púlpito, até ao mais ousado pecador. "Daquele dia e hora ninguém sabe!" era ouvido tanto de pastores hipócritas como de ousados zombadores. Fechavam os ouvidos à clara e harmoniosa explanação do texto, por aqueles que chamavam a atenção para o fim dos períodos proféticos e para os sinais que o próprio Cristo predisse como evidências de Seu advento. HR 360 2 Muitos que professavam amar ao Salvador, declaravam que não se opunham à doutrina do segundo advento; faziam objeções unicamente, ao tempo definido. Mas os olhos de Deus, que tudo vêem, leram o seu coração. Não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. Haviam sido servos infiéis; suas obras não resistiriam à inspeção do Deus que sonda os corações, e receavam encontrar-se com o Senhor. Tais como os judeus ao tempo do primeiro advento de Cristo, não estavam preparados para recebê-Lo. Satanás e seus anjos exultavam e lançavam a afronta ao rosto de Cristo e dos santos anjos, por ter Seu povo professo tão pouco amor por Ele que não desejavam o Seu aparecimento. HR 361 1 Atalaias infiéis embaraçaram o progresso da obra de Deus. À medida em que o povo se levantava e começava a indagar sobre o caminho da salvação, estes líderes se interpunham entre eles e a verdade, procurando acalmar seus temores, por falsas interpretações da Palavra de Deus. Estavam unidos nesse trabalho, Satanás e pastores não consagrados, clamando paz, paz, quando Deus não havia falado de paz. Tais quais os fariseus no tempo de Cristo, muitos se recusaram a entrar no reino de Deus e impediram os que estavam entrando. O sangue dessas almas ser-lhes-á requerido. HR 361 2 Por onde quer que a mensagem da verdade fosse proclamada, os mais humildes e devotos nas igrejas eram os primeiros a recebê-la. Os que estudavam por si mesmos a Bíblia, podiam ver o caráter não escriturístico das opiniões populares com respeito às profecias, e onde quer que o povo não fosse enganado pelos esforços do clero em confundir e perverter a fé; onde quer que por si mesmos investigassem a Palavra de Deus, a doutrina do advento precisava apenas ser comparada com as Escrituras para estabelecer-lhe a autoridade divina. HR 361 3 Muitos eram perseguidos por seus irmãos descrentes. Alguns, a fim de conservar sua posição na igreja, concordaram em silenciar a respeito de sua esperança; outros, porém, sentiam que a lealdade para com Deus não lhes permitia ocultar desta maneira as verdades que Ele lhes confiara. Não poucos foram separados da comunhão da igreja, unicamente pelo motivo de exprimirem sua crença na vinda de Cristo. Mui preciosas se tornaram, aos que suportavam esta prova de sua fé, as palavras do profeta: "Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao Meu nome, e que dizem: Mostre o Senhor a Sua glória para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos." Isaías 66:5. HR 362 1 Anjos de Deus observavam, com o mais profundo interesse, o resultado da advertência. Quando as igrejas como um corpo rejeitaram a mensagem, anjos se afastaram delas com tristeza. Muitos havia, porém, nas igrejas que não tinham ainda sido provados quanto à verdade do advento. Muitas pessoas eram transviadas por maridos, esposas, pais ou filhos, e fazia-se-lhes crer que era pecado até mesmo ouvir as heresias pregadas pelos adventistas. Os anjos receberam ordem de velar fielmente por aquelas almas, pois outra luz, procedente do trono de Deus, deveria ainda resplandecer sobre elas. Preparo para encontrar o Senhor HR 362 2 Com inexprimível desejo, os que haviam recebido a mensagem aguardavam a vinda do Salvador. O tempo em que esperavam encontrar-se com Ele estava às portas. Com calma e solenidade viam aproximar-se a hora. Permaneciam em doce comunhão com Deus, como que antegozando a paz que desfrutariam no glorioso porvir. Pessoa alguma que haja experimentado esta confiante esperança, poderá esquecer-se daquelas preciosas horas de expectativa. As ocupações seculares foram em sua maior parte postas de lado por algumas semanas. Como se estivessem no leito de morte, e devessem dentro de poucas horas cerrar os olhos às cenas terrestres, os crentes sinceros examinavam cuidadosamente todos os pensamentos e emoções de seu coração. Não houve confecção de "vestes para a ascensão", todos sentiam, porém, a necessidade de evidência íntima de que estavam preparados para encontrar-se com o Salvador; suas vestes brancas eram a pureza da alma, o caráter purificado do pecado pelo sangue expiatório de Cristo. HR 362 3 Deus intentara provar o Seu povo. Sua mão ocultou um erro no cômputo dos períodos proféticos. Os adventistas não descobriram esse erro, tampouco foi descoberto pelos mais instruídos de seus oponentes. Estes últimos diziam: "Vossa contagem dos períodos proféticos é correta. Qualquer grande acontecimento está prestes a ocorrer; mas não é o que o Sr. Miller prediz: é a conversão do mundo, e não o segundo advento de Cristo." HR 363 1 Passou-se o tempo de expectação e Cristo não apareceu para o libertamento de Seu povo. Os que com fé e amor sinceros haviam esperado o Salvador, experimentaram amargo desapontamento. Todavia, os propósitos de Deus se cumpriam: provara Ele o coração dos que professavam estar à espera de Seu aparecimento. Muitos havia, entre eles, que não tinham sido constrangidos por motivos mais elevados do que o medo. A profissão de fé não lhes transformara o coração, nem a vida. Não se realizando o acontecimento esperado, declararam essas pessoas que não se achavam decepcionadas; nunca tinham crido que Cristo viria. Contavam-se entre os primeiros a ridicularizar a tristeza dos verdadeiros crentes. HR 363 2 Mas, Jesus e toda a hoste celestial olhavam com amor e simpatia para os provados e fiéis, embora decepcionados. Pudesse descerrar-se o véu que separava o mundo visível do invisível, e ter-se-iam visto anjos aproximando-se daquelas almas constantes, escudando-as dos dardos de Satanás. ------------------------Capítulo 51 -- A segunda mensagem angélica HR 364 1 As igrejas que recusaram receber a primeira mensagem angélica rejeitaram luz celestial. A mensagem foi misericordiosamente enviada para levá-los a ver sua verdadeira condição de mundanismo e afastamento e para buscarem o preparo para o encontro com o Senhor. HR 364 2 A primeira mensagem angélica foi dada para separar a igreja de Cristo da influência corruptora do mundo. Todavia, para a multidão, mesmo os professos cristãos, as amarras que os prendiam à Terra eram mais poderosas do que os atrativos celestiais. Escolheram dar ouvidos à voz da sabedoria terrena e deram as costas à escrutinizadora mensagem da verdade. HR 364 3 Deus concede luz para ser acalentada e obedecida, não para ser desprezada e rejeitada. A luz que Ele envia torna-se trevas para os que a rejeitam. Quando o Espírito de Deus cessa de impressionar o coração humano com a verdade, todo o ouvir é vão, assim como também é vã toda a pregação. HR 364 4 Quando as igrejas repeliram o conselho divino, ao rejeitarem a mensagem do advento, também o Senhor as rejeitou. O primeiro anjo é seguido por um segundo, que proclama: "Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição." Apocalipse 14:8. Esta mensagem foi entendida pelos adventistas como o anúncio da queda moral das igrejas em conseqüência de sua rejeição da primeira mensagem. A proclamação "Caiu Babilônia", foi dada no verão de 1844, e como resultado, cerca de cinqüenta mil abandonaram estas igrejas. HR 365 1 Os que pregaram a primeira mensagem não tinham o propósito nem a esperança de causar divisão nas igrejas, ou de formar organizações separadas. "Em todos os meus trabalhos", disse Miller, "nunca tive o desejo ou o pensamento de criar qualquer interesse separado do das denominações existentes, ou de beneficiar uma em detrimento de outra. Pensava em beneficiar a todas. Supondo que todos os cristãos se regozijassem com a perspectiva da vinda de Cristo, e que os que não viam as coisas como eu as via, não haveriam de menosprezar aqueles que abraçassem essa doutrina, não pensei em qualquer necessidade de reuniões separadas. Todo o meu objetivo se concentrava no desejo de converter almas a Deus, cientificar o mundo do juízo vindouro e induzir meus semelhantes a fazer o preparo de coração que os habilitaria a encontrar-se com seu Deus em paz. A grande maioria dos que se converteram pelos meus trabalhos, uniram-se às várias igrejas existentes. Quando pessoas vinham a mim para inquirir-me quanto a seu dever, eu sempre as mandava ir para onde se sentissem em casa; nunca favoreci nenhuma denominação com meus conselhos para tais pessoas." HR 365 2 Por algum tempo muitas igrejas receberam bem o seu trabalho, mas decidindo-se contra a verdade do advento, desejaram suprimir todo o exame desse assunto. Aqueles que haviam aceitado a mensagem foram colocados numa posição de grande provação e perplexidade. Amavam suas igrejas, e relutavam separar-se delas, mas, sendo ridicularizados e oprimidos, e negado o privilégio de falarem de sua esperança, ou de assistirem às pregações sobre a vinda do Senhor, muitos afinal se levantaram e lançaram de si o jugo que se lhes havia imposto. HR 366 1 Os adventistas, vendo que as igrejas rejeitavam o testemunho da Palavra de Deus, não mais podiam considerá-las como constituindo a igreja de Cristo, "pilar e coluna da verdade"; e quando a mensagem "Caiu Babilônia", começou a ser anunciada, eles se sentiram justificados da separação de sua antiga associação. HR 366 2 Desde a rejeição da primeira mensagem, uma triste mudança teve lugar nas igrejas. Quando a verdade é desprezada, o erro é recebido e acariciado. O amor a Deus e a fé em Sua Palavra esfriaram. As igrejas agravaram o Espírito do Senhor, e este tem sido em grande medida retirado delas. Tempo de tardança HR 366 3 Quando o ano de 1843 passou inteiramente sem ter sido marcado pelo advento de Jesus, os que pela fé haviam aguardado o Seu aparecimento, ficaram por algum tempo envoltos em dúvidas e perplexidade. Não obstante seu desapontamento, muitos continuaram a investigar as Escrituras, examinando de novo as provas de sua fé, e estudando cuidadosamente as profecias para obterem mais luz. O testemunho da Bíblia em apoio de sua posição parecia claro e conclusivo. Sinais que não poderiam ser malcompreendidos apontavam para a vinda de Cristo como estando próxima. Os crentes não podiam explicar seu desapontamento, porém sentiam-se seguros de que Deus os havia guiado na experiência pela qual passaram. HR 366 4 Sua fé foi grandemente fortalecida pela aplicação direta e poderosa das passagens que se referiam a um tempo de tardança Já em 1842, o Espírito de Deus comoveu a Carlos Fitch a preparar um mapa profético, o que foi geralmente considerado pelos adventistas como o cumprimento da ordem dada pelo profeta Habacuque: "Escreve a visão, grava-a sobre tábuas." Ninguém, todavia, naquela época notou um tempo de tardança que é apresentado na mesma profecia. Depois do desapontamento o significado pleno dessa passagem tornou-se evidente. Assim falara o profeta: "Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não falhará; se tardar espera-o, porque certamente virá, não tardará." Habacuque 2:2, 3. HR 367 1 Os que esperavam se regozijaram, crendo que Aquele que conhece o fim desde o princípio havia olhado através dos séculos e, prevendo-lhes o desapontamento, lhes dera palavras de ânimo e esperança. Não fossem essas porções da Escritura, mostrando que eles estavam no caminho certo, sua fé teria falhado naquela hora de prova. HR 367 2 Na parábola das dez virgens, de Mateus 25, a experiência dos adventistas é ilustrada com os incidentes de um casamento oriental. "Então o reino de Deus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo." "E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono, e adormeceram." HR 367 3 O movimento que se espalhou sob a proclamação da primeira mensagem, correspondeu à saída das virgens, enquanto a passagem do tempo de expectação, o desapontamento e a demora, são representados pela tardança do noivo. Depois que o tempo definido passara, os verdadeiros crentes ainda estavam unidos na crença de que o fim de todas as coisas estava às portas; mas, logo tornou-se evidente que eles estavam perdendo, em alguma medida, seu zelo e devoção, e caindo no estado denotado na parábola pelo adormecimento das virgens durante o tempo de tardança. HR 368 1 Por este tempo começou a aparecer o fanatismo. Alguns, que haviam professado ser zelosos crentes na mensagem, rejeitaram a Palavra de Deus como o único guia infalível, e, pretendendo ser guiados pelo Espírito, entregaram-se ao governo de seus próprios sentimentos, impressões e imaginações. Alguns houve que manifestaram um zelo cego e fanático, denunciando a todos os que não lhes sancionavam o proceder. Suas idéias e atos fanáticos não encontraram simpatia da grande corporação de adventistas; serviram, no entanto, para acarretar o opróbrio à causa da verdade. HR 368 2 A pregação da primeira mensagem em 1843, e do clamor da meia-noite em 1844, tendia diretamente a reprimir o fanatismo e a dissensão. Os que participaram desses solenes movimentos estavam em harmonia; seus corações estavam cheios de amor, uns para com os outros e para com Jesus, a quem logo esperavam contemplar. Uma só fé, uma só bendita esperança, ergueu-os acima do controle de qualquer influência humana e provou ser um escudo contra os assaltos de Satanás. ------------------------Capítulo 52 -- O clamor da meia-noite HR 369 1 "E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono, e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! saí ao seu encontro. Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas." Mateus 25:5-7. HR 369 2 No verão de 1844 os adventistas descobriram o engano de sua anterior contagem dos períodos proféticos, e chegaram a uma posição correta. Os 2.300 dias de Daniel 8:14, que conforme todos criam, se estenderiam até o segundo advento de Cristo, imaginava-se que terminariam na primavera de 1844; contudo, vendo agora que este período estender-se-ia ao outono do mesmo ano, a mente dos adventistas se fixou nesse ponto, como o tempo do aparecimento do Senhor. A proclamação desta mensagem referente a tempo foi outro passo no cumprimento da parábola das bodas, cuja aplicação à experiência dos adventistas, já tinha sido claramente observada. HR 369 3 Como na parábola o clamor soou à meia-noite, anunciando a aproximação do noivo, assim no cumprimento, a meio-caminho entre a primavera de 1844, quando se supôs de início os 2.300 dias terminariam, e o outono de 1844, tempo em que mais tarde se verificou que eles realmente deviam terminar, ergueu-se o clamor, nas próprias palavras da Escritura: "Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro." HR 370 1 Semelhando a vaga da maré, o movimento alastrou-se pelo país. Foi de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, e para os lugares distantes, no interior, até que o expectante povo de Deus ficou completamente desperto. Desapareceu o fanatismo ante essa proclamação, como a geada matutina perante o Sol a erguer-se. Uma vez mais os crentes encontraram sua posição, e a esperança e coragem animaram-lhes o coração. HR 370 2 A obra estava livre dos extremos que sempre se manifestam quando há excitamento humano sem a influência moderadora da Palavra e do Espírito de Deus. Isto se assemelhava no caráter àqueles períodos de humilhação e retorno ao Senhor, que no antigo Israel se seguiam a mensagens de advertência por parte de Seus servos. Teve as características que distinguem a obra de Deus em todas as épocas. Houve pouca arrebatadora alegria, porém mais profundo exame do coração, confissão de pecados e abandono do mundo. O preparo para encontrar o Senhor era a grave preocupação do espírito em agonia. Havia perseverante oração e consagração a Deus, sem reservas. HR 370 3 O clamor da meia-noite não era tanto levado por argumentos, se bem que a prova das Escrituras fosse clara e concludente. Ia com ele um poder impulsor que movia a alma. Não havia discussão nem dúvidas. Por ocasião da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, o povo que de todas as partes do país se congregara a fim de solenizar a festa, foi em tropel ao Monte das Oliveiras, e, unindo-se à multidão que acompanhavam a Jesus, deixou-se tomar pela inspiração do momento e ajudaram a avolumar a aclamação: "Bendito o que vem em nome do Senhor." Mateus 21:9. De modo semelhante, os incrédulos que se congregavam nas reuniões adventistas -- alguns por curiosidade, outros meramente com o fim de ridicularizar -- sentiram o poder convincente que acompanhava a mensagem: "Eis o noivo!" HR 371 1 Naquele tempo houve fé que atraía resposta à oração -- fé que se fixava na recompensa. Como aguaceiros sobre a terra sedenta, o Espírito de graça descia sobre os que ardorosamente O buscavam. Os que esperavam em breve estar face a face com seu Redentor, sentiram uma solene e inexprimível alegria. O poder enternecedor e subjugante do Espírito Santo sensibilizou-lhes o coração, enquanto onda após onda da glória de Deus se derramava sobre os crentes fiéis. HR 371 2 Cuidadosa e solenemente os que recebiam a mensagem chegaram ao tempo em que esperavam encontrar-se com o Senhor. Sentiam como primeiro dever, cada manhã, obter a certeza de estar aceitos por Deus. Seus corações estavam intimamente unidos e eles oravam muito com os outros e uns pelos outros. Amiúde se reuniam em lugares isolados para ter comunhão com Deus, e dos campos e bosques vozes de intercessão ascendiam ao Céu. A certeza da aprovação do Salvador era-lhes mais necessária do que o alimento diário; e, se alguma nuvem lhes toldava o espírito, não descansavam enquanto a mesma não fosse dissipada. Sentindo o testemunho da graça perdoadora, almejavam contemplar Aquele que era o amado de sua alma. Desapontados mas não abandonados HR 371 3 Mas, de novo estavam destinados ao desapontamento. O tempo de expectação passou e o Salvador não apareceu. Com inabalável confiança tinham aguardado Sua vinda, e agora experimentavam o mesmo sentimento de Maria quando, indo ao túmulo do Salvador e encontrando-o vazio, exclamou em pranto: "Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram." João 20:13. HR 371 4 Um sentimento de temor, o receio de que a mensagem pudesse ser verdadeira, servira algum tempo de restrição ao mundo incrédulo. Passado que foi o tempo, esse sentimento não desapareceu de pronto; a princípio não ousaram exultar sobre os que foram desapontados; mas, como sinais nenhuns da ira de Deus se vissem, perderam os temores e retomaram a exprobação e o ridículo. Numerosa classe, que tinha professado crer na próxima vinda do Senhor, renunciou à fé. Alguns, que se sentiam muito confiantes, ficaram tão profundamente feridos em seu orgulho, que pareciam estar a fugir do mundo. Como outrora Jonas, queixavam-se de Deus e preferiam a morte à vida. Os que haviam baseado sua fé nas opiniões de outrem, e não na Palavra de Deus, achavam-se agora novamente prontos para mudar de idéias. Os escarnecedores ganharam para as suas fileiras os fracos e os covardes, e todos estes se uniram para declarar que não mais havia motivos de receios ou expectação. O tempo havia passado, o Senhor não viera, e o mundo poderia permanecer o mesmo por milhares de anos. HR 372 1 Os crentes fervorosos e sinceros haviam abandonado tudo por Cristo, desfrutando Sua presença como nunca dantes. Conforme acreditavam, tinham dado o último aviso ao mundo; e, esperando serem logo recebidos na companhia do divino Mestre e dos anjos celestiais, tinham em grande parte se afastado da multidão incrédula. Com intenso desejo haviam orado: "Vem, Senhor Jesus, e vem presto." Mas, Ele não viera. E, agora, assumir de novo o fardo pesado dos cuidados e perplexidades da vida, suportar as exprobrações e zombarias de um mundo escarnecedor, era, em verdade, uma terrível prova de fé e paciência. HR 372 2 Todavia, este desapontamento não foi tão grande como o que experimentaram os discípulos por ocasião do primeiro advento de Cristo. Quando Jesus cavalgou triunfalmente para Jerusalém, Seus seguidores criam estar Ele prestes a ascender ao trono de Davi e libertar Israel dos seus opressores. Cheios de esperança e gozo antecipado, competiam uns com os outros em prestar honras a seu Rei. Muitos Lhe estendiam no caminho seus próprios mantos, à guisa de tapetes, ou, à Sua passagem, cobriam o solo com viçosos ramos de palmeira. Uniam-se, com entusiástica alegria, na aclamação festiva: "Hosana ao Filho de Davi!" HR 373 1 Quando os fariseus, perturbados e enraivecidos por esta manifestação de júbilo, quiseram que Jesus repreendesse os discípulos, Ele replicou: "Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão." Lucas 19:40. A profecia devia ser cumprida. Os discípulos estavam executando o propósito de Deus; entretanto, amargo desapontamento os aguardava. Apenas decorridos alguns dias tiveram de testemunhar a morte atroz do Salvador, e depô-Lo na sepultura. As expectativas que nutriam não se haviam realizado em um único particular, e suas esperanças morreram com Jesus. Não puderam, antes de o Senhor triunfar do túmulo, perceber que tudo havia sido predito na profecia, e que era "necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos". Atos dos Apóstolos 17:3. De igual maneira esta profecia se cumpriu na primeira e segunda mensagens angélicas. Elas foram dadas no seu tempo exato e cumpriram a obra, para a qual foram por Deus designadas. HR 373 2 O mundo estivera a olhar, na expectativa de que, se o tempo passasse e Cristo não aparecesse, todo o sistema do adventismo seria abandonado. Mas, enquanto muitos, sob forte tentação, deixaram a fé, alguns houve que permaneceram firmes. Não podiam identificar erro algum em sua contagem dos períodos proféticos. Os mais hábeis de seus oponentes não conseguiram subverter-lhes a posição. Verdade é que houve erro quanto aos eventos esperados, mas mesmo isto não podia abalar-lhes a fé na Palavra de Deus. HR 374 1 Deus não abandonou Seu povo; Seu Espírito ainda permaneceu com os que não negaram temerariamente a luz que tinham recebido, nem acusaram o movimento adventista. O apóstolo Paulo, olhando através dos séculos, escreveu palavras de animação e advertência para os provados e expectantes nessa crise: "Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque ainda dentro de pouco tempo Aquele que vem virá, e não tardará; todavia, o Meu justo viverá pela fé, e, se retroceder, nele não se compraz a Minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma." Hebreus 10:35-39. HR 374 2 Sua única maneira segura de proceder era reter a luz que já haviam recebido de Deus, apegar-se firmemente às Suas promessas e continuar a investigar as Escrituras, esperando e vigiando pacientemente, a fim de receber mais luz. ------------------------Capítulo 53 -- O santuário HR 375 1 A passagem que, mais que todas as outras, havia sido tanto a base como a coluna central da fé do advento, foi a declaração: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Daniel 8:14. Estas palavras haviam sido familiares a todos os crentes na próxima vinda do Senhor. Era esta profecia repetida com alegria pelos lábios de milhares, como a senha de sua fé. Todos sentiam que dos acontecimentos nela preditos dependiam suas mais brilhantes expectativas e mais acariciadas esperanças. Ficara demonstrado que estes dias proféticos terminariam no outono de 1844. Em conformidade com o resto do mundo cristão, os adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário, e que a purificação do santuário fosse a purificação da Terra pelos fogos do último grande dia. Entendiam que isso ocorreria na segunda vinda de Cristo. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844. HR 375 2 Porém, o tempo indicado passou e o Senhor não apareceu. Os crentes sabiam que a Palavra de Deus não poderia falhar; deveria haver engano na interpretação da profecia; onde, entretanto, estava o engano? Muitos cortaram temerariamente o nó da dificuldade, negando que os 2.300 dias terminassem em 1844. Nenhuma razão se poderia dar para esta posição, exceto que Cristo não viera na ocasião esperada. Argumentaram que, se os dias proféticos houvessem terminado em 1844, Cristo teria então voltado para purificar o santuário mediante a purificação da Terra pelo fogo; e, visto que Ele não aparecera, os dias não poderiam ter terminado. HR 376 1 Embora a maioria abandonasse a anterior contagem dos períodos proféticos, negando a exatidão do movimento nela baseada, uns poucos não estavam dispostos a renunciar a pontos de fé e experiência que eram apoiados pelas Escrituras e pelo especial testemunho do Espírito de Deus. Criam ter adotado sólidos princípios de interpretação no estudo das Escrituras, sendo seu dever reter firmemente as verdades já adquiridas e continuar o mesmo método de exame bíblico. Com fervorosa oração examinaram sua atitude e estudaram as Escrituras para descobrir onde haviam errado. Como não pudessem ver engano nenhum em sua explicação dos períodos proféticos, foram levados a examinar mais particularmente o assunto do santuário. Os dois santuários HR 376 2 Aprenderam, em suas investigações, que o santuário terrestre, construído por Moisés de acordo com o modelo a ele mostrado no monte, por ordem de Deus, era uma "figura para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios; que seus dois lugares santos eram "figuras das coisas que estão no Céu; que Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é "ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu e não o homem"; que "Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém, no mesmo Céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus". Hebreus 9:9, 23; 8:2 e 9:24. HR 377 1 O santuário do Céu, no qual Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés foi uma cópia. Assim como no santuário terrestre havia dois compartimentos, o santo e o santíssimo, existem dois lugares santos no santuário celestial. A arca contendo a lei de Deus, o altar de incenso e outros instrumentos de serviço, que se encontravam no santuário de baixo, também têm sua parte correspondente no santuário de cima. Em santa visão, foi permitido ao apóstolo João penetrar no Céu, e ele contemplou ali o castiçal e o altar de incenso e quando "abriu-se, então, o santuário de Deus", contemplou também "a arca da aliança". Apocalipse 4:5; 8:3 e 11:19. HR 377 2 Os que estavam buscando a verdade encontraram prova indiscutível da existência de um santuário no Céu. Moisés fez o santuário terrestre segundo o modelo que lhe foi mostrado. Paulo declara que aquele modelo era o verdadeiro santuário que está no Céu. Hebreus 8:2, 5. E João testifica de que o viu no Céu. HR 377 3 Em 1844, com a terminação dos 2.300 dias, não mais existia o santuário terrestre havia já séculos; portanto, o santuário celestial era o único que poderia ser trazido à luz nessa declaração: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado." Mas, como o santuário celestial necessitava de purificação? Retornando às Escrituras, os estudantes das profecias aprenderam que a purificação não era uma remoção de impurezas físicas, pois isso devia ser realizado com sangue, e por conseguinte devia ser uma purificação do pecado. Assim diz o apóstolo: "Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos Céus se purificassem com tais sacrifícios [o sangue de animais]; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios a eles superiores [o precioso sangue de Cristo]." Hebreus 9:23. HR 378 1 A fim de obter mais conhecimento da purificação apontada pela profecia, era necessário entender o ministério do santuário celestial. Isto poderia ser aprendido somente pelo ministério do santuário terrestre, visto que Paulo declara que os sacerdotes nele oficiavam e serviam "em figura e sombra das coisas celestes". Hebreus 8:5. A purificação do santuário HR 378 2 Como antigamente eram os pecados do povo transferidos, em figura, para o santuário terrestre mediante o sangue da oferta pelo pecado, assim nossos pecados são de fato, transferidos para o santuário celestial, mediante o sangue de Cristo. E como a purificação típica do santuário terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra, conseqüentemente a real purificação do santuário celeste deve efetuar-se pela remoção, ou apagamento, dos pecados que ali estão registrados. Isso necessita um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma obra de juízo investigativo. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras. Apocalipse 22:12. HR 378 3 Destarte, os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem os 2.300 dias em 1844, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celestial, na presença de Deus, para levar a efeito a obra final da expiação, preparatória para Sua vinda. ------------------------Capítulo 54 -- A terceira mensagem angélica HR 379 1 Quando Cristo entrou no lugar santíssimo do santuário celestial para levar a efeito a obra final da expiação, entregou a Seus servos a última mensagem de misericórdia a ser dada ao mundo. Tal é a advertência do terceiro anjo em Apocalipse 14. Seguindo imediatamente a esta proclamação, o profeta viu o Filho do homem vindo em glória para ceifar a colheita da Terra. HR 379 2 Conforme foi predito nas Escrituras, o ministério de Cristo no santíssimo começou com a terminação dos dias proféticos em 1844. A este tempo se aplicam as palavras do Revelador: "Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da aliança no Seu santuário." Apocalipse 11:19. A arca da aliança de Deus está no segundo compartimento do santuário. Quando Cristo ali entrou, para ministrar em favor do pecador, o santuário interior se abriu, e a arca de Deus foi posta ao alcance da vista. Àqueles que pela fé viram o Salvador em Seu trabalho de intercessão, foram revelados a majestade e o poder de Deus. Enquanto o séquito de Sua glória enchia o templo, a luz do santo dos santos foi derramada sobre o Seu expectante povo na Terra. HR 379 3 Pela fé, haviam seguido seu Sumo Sacerdote do santo para o santíssimo, e viram-nO oferecendo Seu sangue diante da arca de Deus. Dentro da sagrada arca está a lei do Pai, a mesma proclamada pelo próprio Deus em meio aos trovões do Sinai, e escrita com Seu próprio dedo em tábuas de pedra. Nenhum mandamento foi anulado; nem um jota ou um til foi mudado. Conquanto Deus concedesse a Moisés uma cópia de Sua lei, preservou o grande original no santuário celeste. Examinando estes santos preceitos, os investigadores da verdade encontraram, bem no seio do Decálogo, o quarto mandamento, como foi a princípio proclamado: "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: por isso o Senhor abençoou o dia de sábado, e o santificou." Êxodo 20:8-11. HR 380 1 O Espírito de Deus impressionou o coração dos que estudavam a Sua Palavra. Incitava-os a convicção de que haviam ignorantemente transgredido este preceito, deixando de tomar em consideração o dia de repouso do Criador. Começaram a examinar as razões para a observância do primeiro dia da semana em lugar do dia que Deus havia santificado. Não puderam achar nas Escrituras prova alguma de que o quarto mandamento tivesse sido abolido, ou de que o sábado fora mudado; a bênção que a princípio aureolava o sétimo dia nunca fora removida. Eles haviam estado sinceramente procurando conhecer e fazer a vontade de Deus, e agora, ao se virem como transgressores de Sua lei, tiveram o coração cheio de tristeza. Imediatamente evidenciaram sua lealdade a Deus, santificando Seu sábado. HR 380 2 Muitos e tenazes esforços foram feitos para subverter-lhes a fé. Ninguém poderia deixar de ver que, se o santuário terrestre era uma figura ou modelo do celestial, a lei depositada na arca, na Terra, era uma transcrição exata da lei na arca, que está no Céu; e que a aceitação da verdade concernente ao santuário celestial envolvia o reconhecimento das reivindicações da lei de Deus, e da obrigatoriedade do sábado do quarto mandamento. HR 381 1 Os que aceitaram a luz relativa à mediação de Cristo e à perpetuidade da lei de Deus, acharam que estas eram as verdades apresentadas na terceira mensagem. O anjo declarou: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. Esta declaração é precedida de uma solene e terrível advertência: "Se alguém adora a besta e a sua imagem, e recebe a sua marca na fronte, ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira." Apocalipse 14:9, 10. Uma interpretação dos símbolos empregados foi necessária para o entendimento desta mensagem. Que era representado pela besta, a imagem, e a marca? Novamente os que buscavam a verdade, voltaram a estudar as profecias. A besta e sua imagem HR 381 2 Pela primeira besta é representada a Igreja de Roma, uma organização eclesiástica revestida de poder civil, tendo autoridade para punir todos os dissidentes. A imagem da besta representa outra corporação religiosa revestida de poder semelhante. A formação dessa imagem é obra dessa besta cujo calmo surgimento e suave profissão de fé traduzem um notável símbolo dos Estados Unidos. Aqui pode ser encontrada uma imagem do papado. Quando as igrejas do nosso país, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apóie as instituições, a América Protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana. Então será a verdadeira igreja assaltada pela perseguição, como o foi o antigo povo de Deus. HR 382 1 A besta de dois chifres como de cordeiro ordena que "a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita, ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta, ou o número do seu nome". Apocalipse 13:16, 17. Esta é a marca a respeito da qual o terceiro anjo profere a sua advertência. É a marca da primeira besta, ou o papado, e, portanto, deve ser procurada entre os característicos distintos desse poder. O profeta Daniel declarou que a Igreja de Roma, simbolizada pela ponta pequena, pensaria em mudar os tempos e a lei (Daniel 7:25), enquanto Paulo o intitulou de homem do pecado (2 Tessalonicenses 2:3, 4), que se exaltaria acima de Deus. Unicamente mudando a lei de Deus poderia o papado exaltar-se acima dEle; todo aquele que com conhecimento observasse a lei assim mudada estaria tributando suprema honra ao poder, mediante o qual esta mudança foi realizada. HR 382 2 O quarto mandamento, que Roma se empenhou em pôr de lado, é o único preceito do Decálogo que aponta para Deus como o Criador dos céus e da Terra, distinguindo, destarte, o verdadeiro Deus, de todos os falsos deuses. O sábado foi instituído para comemorar a obra da criação, e assim dirigir a mente dos homens para o Deus vivo e verdadeiro. O fato do Seu poder criador é citado nas Escrituras como prova de que o Deus de Israel é superior às divindades pagãs. Tivesse sido o sábado sempre guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos para o seu Criador como objeto de reverência e culto, e jamais teria existido um idólatra, um ateu ou um infiel. HR 383 1 Esta instituição que aponta para Deus como Criador, é um sinal de Sua justa autoridade sobre os seres que criou. A mudança do sábado é o sinal, a marca, da autoridade da igreja romanista. Aqueles, que compreendendo os reclamos do quarto mandamento, escolherem observar o falso em lugar do verdadeiro sábado, estão por esse meio rendendo homenagem ao único poder que isto autorizou. Uma solene mensagem HR 383 2 A mais terrível ameaça jamais endereçada aos mortais está contida na terceira mensagem angélica. Deve ser um terrível pecado esse que atrai a ira Deus, sem mistura de misericórdia. Os homens não deverão ser deixados em trevas quanto a este importante assunto; a advertência contra tal pecado deve ser dada ao mundo antes da visitação dos juízos de Deus, para que todos possam saber porque são estes juízos infligidos, e tenham oportunidade de escapar. HR 383 3 No desfecho dessa grande controvérsia, duas classes distintas e opostas se desenvolverão. Uma classe "adora a besta e a sua imagem, e recebe a sua marca", e assim traz sobre si mesma os terríveis juízos anunciados pelo terceiro anjo. A outra classe, em marcante contraste com o mundo, "guarda os mandamentos de Deus e a fé em Jesus". Apocalipse 14:9, 12. HR 383 4 Tais foram as momentosas verdades que se abriram diante dos que receberam a mensagem do terceiro anjo. Quando recapitularam sua experiência desde a primeira proclamação do segundo advento até à passagem do tempo em 1844, viram seu desapontamento explicado, e a esperança e a alegria voltaram a animar seu coração. A luz provinda do santuário iluminou o passado, o presente, e o futuro, e compreenderam que Deus os tinha conduzido por Sua infalível providência. Agora, com nova coragem e fé firme, uniram-se em dar a mensagem do terceiro anjo. Desde 1844, em cumprimento à profecia da terceira mensagem angélica, a atenção do mundo tem sido chamada para o verdadeiro sábado, e um número em constante crescimento tem retornado à observância do santo dia de Deus. ------------------------Capítulo 55 -- Uma firme plataforma HR 385 1 Vi um grupo que permanecia bem guardado e firme, não dando atenção aos que faziam vacilar a estabelecida fé da comunidade. Deus olhava para eles com aprovação. Foram-me mostrados três degraus -- a primeira, a segunda e a terceira mensagens angélicas. Disse o meu anjo assistente: "Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens. A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O destino das almas depende da maneira em que são elas recebidas." HR 385 2 De novo fui conduzida às três mensagens angélicas, e vi a que alto preço havia o povo de Deus adquirido a sua experiência. Esta fora alcançada através de muito sofrimento e severo conflito. Deus os havia conduzido passo a passo, até que os pusera sobre uma sólida plataforma inamovível. Vi pessoas aproximarem-se da plataforma e examinar-lhe o fundamento. Alguns com alegria imediatamente subiram para ela. Outros começaram a encontrar defeito no fundamento. Achavam que se deviam fazer melhoramentos, e então a plataforma seria mais perfeita e o povo muito mais feliz. HR 385 3 Alguns desceram da plataforma para examiná-la, e declararam ter sido ela colocada erradamente. Mas eu vi que quase todos permaneciam firmes sobre a plataforma e exortavam os que tinham descido a cessar com suas queixas; pois Deus fora o Mestre Construtor, e eles estavam lutando contra Ele. Eles reconsideravam a maravilhosa obra de Deus, que os conduzira à firme plataforma, e em união levantaram os olhos ao céu e com alta voz glorificaram a Deus. Isto afetou alguns dos que se tinham queixado e deixado a plataforma, e contritos subiram de novo para ela. A experiência dos judeus repetida HR 386 1 Minha atenção foi chamada para a proclamação do primeiro advento de Cristo. João foi enviado no espírito e poder de Elias a fim de preparar o caminho para Jesus. Os que rejeitaram o testemunho de João não foram beneficiados pelos ensinos de Jesus. A oposição da parte deles, à mensagem que predizia a Sua vinda, colocou-os onde eles não podiam prontamente receber a melhor evidência de que Ele era o Messias. Satanás levou os que rejeitaram a mensagem de João a ir ainda mais longe, a ponto de rejeitar a Cristo e crucificá-Lo. Com este procedimento, colocaram-se onde não podiam receber as bênçãos do dia do Pentecostes, o que lhes teria ensinado o caminho para o santuário celestial. HR 386 2 A ruptura do véu do templo mostrou que os sacrifícios e ordenanças judaicos não mais seriam recebidos. O grande Sacrifício havia sido oferecido e aceito, e o Espírito Santo, que desceu no dia de Pentecostes, levou a mente dos discípulos do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com o Seu próprio sangue, a fim de derramar sobre os discípulos os benefícios de Sua expiação. Mas os judeus foram deixados em trevas completas. Perderam toda a luz que podiam ter recebido sobre o plano da salvação, e ainda confiavam em seus inúteis sacrifícios e ofertas. O santuário celestial havia tomado o lugar do terrestre, mas eles não tiveram conhecimento da mudança. Assim não podiam ser beneficiados pela mediação de Cristo no lugar santo. HR 387 1 Muitos olham com horror para a conduta dos judeus em rejeitar e crucificar a Cristo; e, ao lerem a história dos vergonhosos maus-tratos que Lhe infligiram, pensam que O amam e não O teriam negado como o fez Pedro, ou crucificado como o fizeram os judeus. Mas Deus, que lê o coração de todos, tem posto à prova esse professado amor por Jesus. HR 387 2 Todo o Céu observou com o mais profundo interesse a receptividade da mensagem do primeiro anjo. Porém, muitos que professavam amar a Jesus, e que derramavam lágrimas ao lerem a história da cruz, ridicularizavam as boas novas de Sua vinda. Em vez de receber a mensagem com alegria, declararam ser ela um engano. Odiavam os que amavam o Seu aparecimento, e expulsaram-nos das igrejas. Os que rejeitaram a primeira mensagem não podiam ser beneficiados pela segunda, nem o foram pelo clamor da meia-noite, que devia prepará-los para entrarem com Jesus pela fé no lugar santíssimo do santuário celestial. E pela rejeição das duas primeiras mensagens, ficaram com o entendimento tão entenebrecido que não podiam ver qualquer luz na mensagem do terceiro anjo, que mostra o caminho para o lugar santíssimo. ------------------------Capítulo 56 -- Os enganos de Satanás HR 388 1 Satanás começou com seu engano no Éden. Disse a Eva: "Certamente não morrereis." Esta foi a primeira lição de Satanás sobre a imortalidade da alma, e ele tem prosseguido com este engano desde aquele tempo até o presente, e o conservará até que termine o cativeiro dos filhos de Deus. Foram-me indicados Adão e Eva no Éden. Participaram da árvore proibida, e então a espada inflamada foi colocada em redor da árvore da vida, e eles foram expulsos do jardim, para que não participassem da árvore da vida e fossem pecadores imortais. O fruto desta árvore deveria perpetuar a imortalidade. Ouvi um anjo perguntar: "Quem da família de Adão passou pela espada inflamada, e participou da árvore da vida?" Ouvi outro anjo responder: "Nenhum da família de Adão passou por aquela espada inflamada, e participou da árvore; portanto não há pecador imortal." A alma que pecar morrerá morte eterna, morte esta de que não haverá esperança de ressurreição; e então se aplacará a ira de Deus. HR 388 2 Foi-me coisa surpreendente haver Satanás tão bem conseguido fazer os homens crerem que as palavras de Deus: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:4), significassem que a alma que pecar não morrerá, mas viverá eternamente em estado miserável. Disse o anjo: "Vida é vida, quer seja em dores quer em felicidade. A morte é sem dor, sem alegria, sem ódio." HR 389 1 Satanás disse a seus anjos que fizessem um esforço especial para espalhar a mentira a princípio proferida a Eva no Éden: "Certamente não morrereis." E, sendo o erro recebido pelo povo, e sendo este levado a crer que o homem é imortal, Satanás induziu-os a crer que o pecador viverá em eterno estado de miséria. Achava-se preparado o caminho para Satanás agir por intermédio de seus representantes e apresentar a Deus perante o povo como um tirano vingativo, como alguém que mergulhe no inferno todos os que não Lhe agradem, e os faça para sempre sentir Sua ira; e, enquanto sofrem indizível aflição, e se contorcem nas chamas eternas, é Ele representado a olhar sobre eles com satisfação. Satanás sabia que, se esse erro fosse recebido, Deus seria odiado por muitos, em vez de amado e adorado; e que muitos seriam levados a crer que as ameaças da Palavra de Deus não seriam literalmente cumpridas, pois que seria contra Seu caráter de benevolência e amor mergulhar nos tormentos eternos seres que Ele criara. HR 389 2 Outro extremo que Satanás tem levado o povo a adotar consiste em não tomarem em nenhuma consideração a justiça de Deus e as ameaças de Sua Palavra, e representá-Lo como sendo todo misericórdia, de modo que ninguém perecerá, mas que todos, tanto santos como pecadores, serão finalmente salvos em Seu reino. HR 389 3 Em conseqüência dos erros populares da imortalidade da alma, e do intérmino estado de misérias, Satanás tira vantagem de outra classe, e os leva a considerar a Bíblia como um livro não inspirado. Acham que ela ensina muitas coisas boas; mas não podem depositar confiança na mesma e amá-la, porque lhes foi ensinado que ela declara a doutrina do tormento eterno. HR 390 1 Uma outra classe Satanás ainda leva mais longe, mesmo a negar a existência de Deus. Não podem ver coerência no caráter do Deus da Bíblia, se Ele infligirá horríveis torturas a uma parte da família humana por toda a eternidade. Portanto negam a Bíblia e seu Autor, e consideram a morte como um sono eterno. HR 390 2 Ainda há outra classe que é medrosa e tímida. A estes Satanás tenta para cometer pecado, e depois de haverem pecado mostra-lhes que o salário do pecado não é a morte, mas vida em horríveis tormentos, a serem suportados pelas eras sem fim da eternidade. Aumentando assim diante de seus espíritos fracos os horrores de um inferno eterno, toma posse de suas mentes e eles perdem a razão. Então Satanás e seus anjos exultam, e os incrédulos e ateus se unem a lançar o vitupério sobre o cristianismo. Pretendem que estes males são os resultados naturais de crer na Bíblia e em seu Autor, ao passo que são eles os resultados de receber a heresia popular. A escritura como salvaguarda HR 390 3 Vi que o exército celestial estava cheio de indignação por causa desta ousada obra de Satanás. Indaguei por que se consentia que todos esses enganos se apoderassem da mente dos homens, quando os anjos de Deus eram poderosos, e, sendo comissionados, poderiam facilmente quebrar o poder do inimigo. Vi então que Deus sabia que Satanás experimentaria todo o artifício para destruir o homem; portanto fez com que Sua Palavra fosse escrita, e esclareceu de tal maneira os Seus propósitos com relação à raça humana que nem o mais fraco precisa errar. Depois de haver dado Sua Palavra ao homem, preservou-a cuidadosamente da destruição por Satanás e seus anjos, ou por qualquer de seus agentes ou representantes. Conquanto outros livros pudessem ser destruídos, este deveria ser imortal. E, próximo do fim do tempo, quando aumentassem os embustes de Satanás, deveria ser multiplicado de tal maneira que todos os que quisessem poderiam ter dele um exemplar, e poderiam, assim desejando, armar-se contra os enganos e prodígios de mentiras de Satanás. HR 391 1 Vi que Deus havia de uma maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando da mesma existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível quando na realidade estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus, como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explicando-se mutuamente. Os verdadeiros inquiridores da verdade não devem errar; pois não somente é a Palavra de Deus clara e simples ao explanar o caminho da vida, mas o Espírito Santo é dado como guia na compreensão do caminho da vida ali revelado. HR 391 2 Vi que os anjos de Deus nunca devem governar a vontade. Deus põe diante do homem a vida e a morte. Este pode fazer a sua escolha. Muitos desejam a vida, mas ainda continuam a andar no caminho largo. Preferem rebelar-se contra o governo de Deus, apesar de Sua grande misericórdia e compaixão ao dar Seu Filho para morrer por eles. Aqueles que não optam pela aceitação da salvação comprada por tão alto preço, deverão ser castigados. Vi, porém, que Deus os não encerraria no inferno para suportar a intérmina desgraça, tampouco os levaria para o Céu; pois colocá-los na companhia dos que são puros e santos fá-los-ia extraordinariamente infelizes. Ele, porém, os destruirá completamente, e fará com que sejam como se não tivessem existido; então Sua justiça será satisfeita. Ele formou o homem do pó da terra, e os desobedientes e profanos serão consumidos pelo fogo e voltarão de novo ao pó. Vi que a benevolência e compaixão de Deus a tal respeito deveriam levar todos a admirar Seu caráter e adorar Seu santo nome. Depois que os ímpios forem destruídos da Terra, toda a hoste celestial dirá: "Amém!" HR 392 1 Satanás olha com grande satisfação para os que professam o nome de Cristo, embora se apeguem intimamente aos enganos a que ele mesmo deu origem. Sua obra é ainda inventar novos enganos, e seu poder e arte continuamente crescem nesta direção. Ele levou os seus representantes, os papas e os sacerdotes, a se exaltarem a si mesmos, e a instigar o povo a perseguir duramente e destruir os que não estavam dispostos a aceitar os seus enganos. Oh, os sofrimentos e agonias que os preciosos seguidores de Cristo foram levados a suportar! Anjos guardaram fiel registro de tudo! Satanás e seus anjos maus exultantemente disseram aos anjos que ministravam a esses santos sofredores que eles deviam ser todos mortos, a fim de que não fosse deixado na Terra um só cristão fiel. Vi que a igreja de Deus estava então pura. Não havia perigo de para ela entrarem homens de coração corrupto; pois os verdadeiros cristãos que ousaram declarar sua fé estavam em perigo do suplício no cavalete, na fogueira, e em toda espécie de tortura que Satanás e seus anjos maus seriam capazes de inventar ou inspirar à mente dos homens. ------------------------Capítulo 57 -- Espiritismo HR 393 1 A doutrina da imortalidade natural preparou o caminho para o moderno espiritismo. Se os mortos são admitidos à presença de Deus e dos santos anjos e se são favorecidos com conhecimentos que superam em muito o que antes possuíam, por que não voltariam eles à Terra para iluminar e instruir os vivos? Como podem os que crêem no estado consciente dos mortos, rejeitar o que lhes vêem como luz divina transmitida por espíritos glorificados? Eis aí um meio de comunicação considerado sagrado, e de que Satanás se vale para realizar seus propósitos. Os anjos decaídos que executam suas ordens, aparecem como mensageiros do mundo dos espíritos. Ao mesmo tempo em que professa trazer os vivos em comunicação com os mortos, Satanás exerce sobre eles sua fascinante influência. HR 393 2 Ele tem poder mesmo para fazer surgir perante os homens a aparência de seus amigos falecidos. A contrafação é perfeita; a expressão familiar, as palavras, o tom da voz, são reproduzidos com maravilhosa exatidão. Muitos são consolados com a afirmativa de que seus queridos estão gozando a ventura celestial; e, sem suspeita de perigo, dão ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. HR 393 3 Induzindo-os a crer que os mortos efetivamente voltam para comunicar-se com eles, Satanás faz com que apareçam os que baixaram ao túmulo sem estarem preparados. Pretendem estar felizes no Céu, e mesmo ocupar ali elevadas posições; e assim é largamente ensinado o erro de que nenhuma diferença se faz entre justos e ímpios. Os pretensos visitantes do mundo dos espíritos algumas vezes proferem avisos e advertências que se demonstram corretos. Então, estando ganha a confiança, apresentam doutrinas que solapam diretamente a fé nas Escrituras. Com a aparência de profundo interesse no bem-estar de seus amigos na Terra, insinuam os mais perigosos erros. O fato de declararem algumas verdades e poderem por vezes predizer acontecimentos futuros, dá às suas declarações uma aparência de crédito; e seus falsos ensinos são tão de pronto aceitos pelas multidões, e tão implicitamente cridos, como se fossem as mais sagradas verdades da Bíblia. A lei de Deus é posta de parte, desprezado o Espírito da graça, o sangue do concerto tido em conta de coisa profana. Os espíritos negam a divindade de Cristo e colocam o próprio Criador no mesmo nível em que estão. Assim, sob novo disfarce, o grande rebelde ainda prossegue com sua luta contra Deus -- luta iniciada no Céu, e durante quase seis mil anos continuada na Terra. HR 394 1 Muitos se esforçam para explicar as manifestações espíritas, atribuindo-as inteiramente a fraudes e prestidigitação por parte do médium. Mas, conquanto seja verdade que os resultados da trapaça tenham muitas vezes sido apresentados como manifestações genuínas, tem havido também assinaladas manifestações de poder sobrenatural. As pancadas misteriosas com que o espiritismo moderno se iniciou, não foram resultado de trapaça e artifício humano, mas obra direta dos anjos maus, que assim introduziam um engano dos mais eficazes para a destruição das almas. Muitos serão enredados pela crença de que o espiritismo seja meramente impostura humana; quando postos em face de manifestações que não podem senão considerar como sobrenaturais, serão enganados e levados a aceitá-las como o grande poder de Deus. HR 395 1 Estas pessoas não tomam em consideração o testemunho das Escrituras relativo às maravilhas operadas por Satanás e seus agentes. Foi por auxílio satânico que os magos de Faraó puderam contrafazer a obra de Deus. O apóstolo João, descrevendo o milagroso poder operador que se manifestará nos últimos dias, declara: "Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à Terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a Terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu." Apocalipse 13:13, 14. Não se acham aqui preditas meras imposturas. Os homens são enganados pelos milagres que os agentes de Satanás têm poder para fazer, e não pelo que pretendam realizar. Feitiçaria em forma moderna HR 395 2 O próprio nome da feitiçaria está agora mantido em desprezo. A pretensão de que os homens podem comunicar-se com os espíritos maus é considerada como uma fábula da Idade Média. Mas, o espiritismo, cujo número de conversos pode ser contado em centenas de milhares, e mesmo, milhões, tem conseguido entrar nos círculos científicos, invadido igrejas e achado favor nos corpos legislativos e mesmo nas cortes reais -- este colossal engano é o reavivamento numa nova máscara da feitiçaria condenada e proibida no passado. HR 395 3 Como a Eva no Éden, Satanás hoje seduz os homens pela lisonja, despertando-lhes o desejo de obter conhecimento proibido. "Sereis como Deus", ele declara, "sabendo o bem e o mal." Gênesis 3:5. Porém, a sabedoria concedida pelo espiritismo é a descrita pelo apóstolo Tiago como a que "não desce lá do alto; antes é terrena, animal e demoníaca". Tiago 3:15. HR 396 1 O príncipe das trevas tem uma mente magistral, e habilmente adapta suas tentações aos homens, de acordo com a variedade de condição e cultura. Ele opera com "todo o engano da injustiça" para conseguir o controle dos filhos dos homens, contudo, apenas poderá cumprir seus objetivos, se eles voluntariamente se renderem a suas tentações. Aqueles que se colocam em seu poder por condescenderem com maus traços de caráter, pouco compreendem onde sua conduta terminará. O tentador realiza sua ruína e então emprega-os para arruinar a outros. Ninguém precisa ser enganado HR 396 2 Mas ninguém precisa ser enganado pelas mentirosas pretensões do espiritismo. Deus deu ao mundo luz suficiente para habilitá-lo a descobrir a cilada. Se não existisse outra evidência, aos cristãos devia bastar que os espíritas não fazem diferença entre a justiça e o pecado, entre os mais nobres e puros apóstolos de Cristo e os mais corruptos dos servos de Satanás. Representando os mais vis dos homens como se estivessem no Céu, altamente exaltados, Satanás virtualmente diz ao mundo: Não importa quão ímpios sejais: não importa que creiais ou não em Deus e na Bíblia. Vivei como vos agradar. O Céu será o vosso lar. HR 396 3 E mais, esses espíritos mentirosos personificam os apóstolos como contradizendo o que escreveram, sob a inspiração do Espírito Santo, quando estavam na Terra. Negam a origem divina da Bíblia, estando assim a demolir o fundamento da esperança cristã e a extinguir a luz que revela o caminho do Céu. HR 396 4 Satanás está fazendo o mundo crer que a Bíblia é mera ficção, ou ao menos um livro apropriado às eras primitivas, devendo hoje ser considerado com menosprezo, ou rejeitado como obsoleto. E para substituir a Palavra de Deus, exibe as manifestações espíritas. É este um meio inteiramente sob seu domínio; mediante ele é-lhe possível fazer o mundo acreditar o que lhe aprouver. O Livro que deve julgar a ele e seus seguidores, lança-o à obscuridade, precisamente onde lhe convém; o Salvador do mundo ele O representa como sendo nada mais que homem comum. E, assim como a guarda romana que vigiou o túmulo de Jesus espalhou a notícia mentirosa que os sacerdotes e anciãos lhes puseram na boca para negar Sua ressurreição, os que crêem em manifestações espíritas procuram fazer parecer que nada há de miraculoso nas circunstâncias da vida de nosso Salvador. Depois de procurar desta maneira pôr Jesus à sombra, chama a atenção para os seus próprios milagres, declarando que estes excedem em muito as obras de Cristo. HR 397 1 Disse o profeta Isaías: "Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva." Isaías 8:19, 20. Se os homens tivessem estado dispostos a receber a verdade tão claramente apresentada nas Escrituras -- que os mortos não sabem coisa nenhuma -- veriam nas pretensões e manifestações do espiritismo a operação de Satanás com poder, sinais e prodígios de mentira. Mas, ao invés de renunciar à liberdade tão agradável ao coração carnal, assim como aos pecados que amam, as multidões fecham os olhos à luz e prosseguem em seus caminhos, sem tomar em consideração as advertências, ao mesmo tempo em que Satanás lhes tece em torno seus laços, fazendo-os presa sua. "Porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos", "Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira." 2 Tessalonicenses 2:10, 11. HR 397 2 Os que se opõem aos ensinos do espiritismo atacam, não somente homens, mas Satanás e seus anjos. Entraram em luta contra os principados e as potestades, e as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais. Satanás não cederá uma polegada de terreno sequer, a menos que seja rechaçado pelo poder dos mensageiros celestiais. O povo de Deus deve ser capaz de o enfrentar, como fez nosso Salvador, com as palavras: "Está escrito." Satanás pode citar as Escrituras hoje, como o fez nos dias de Cristo, e perverterá seus ensinos para apoiar seus enganos. Porém, as singelas declarações da Bíblia fornecerão armas poderosas em cada batalha. HR 398 1 Os que quiserem estar de pé no tempo de perigo, precisam compreender o testemunho das Escrituras relativo à natureza do homem e o estado dos mortos, visto que num futuro próximo muitos serão defrontados por espíritos de demônios personificando parentes amados ou amigos e declarando as mais perigosas heresias. Estes visitantes apelarão para os nossos mais ternos sentimentos de simpatia, efetuando prodígios para apoiarem suas pretensões. Devemos estar preparados para resistir-lhes com a verdade bíblica de que os mortos nada sabem, e de que os que desta maneira aparecem são espíritos de demônios. HR 398 2 Satanás tem há muito estado a preparar-se para seu esforço final a fim de enganar o mundo. O fundamento de sua obra foi posto na declaração feita a Eva no Éden: "Certamente não morrereis." "No dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." Gênesis 3:4, 5. Pouco a pouco ele tem preparado o caminho para sua obra-prima de engano: o desenvolvimento do espiritismo. Até agora não logrou realizar completamente seus desígnios; mas estes serão atingidos no fim dos últimos tempos, e o mundo será arrastado para as fileiras deste engano. O povo está rapidamente adormecendo, acalentado por uma segurança fatal, para unicamente despertar com o derramamento da ira de Deus. ------------------------Capítulo 58 -- O alto clamor HR 399 1 Vi anjos, no Céu, indo apressadamente de um lado para outro, descendo à Terra, e ascendendo de novo ao Céu, preparando-se para a realização de algum acontecimento importante. Vi então outro poderoso anjo comissionado para descer à Terra, a fim de unir sua voz com o terceiro anjo, e dar poder e força à sua mensagem. Grande poder e glória foram comunicados ao anjo, e, descendo ele, a Terra foi iluminada com sua glória. A luz que acompanhava este anjo penetrou por toda parte, ao clamar ele poderosamente, com grande voz: "Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável." Apocalipse 18:2. HR 399 2 A mensagem da queda de Babilônia, conforme é dada pelo segundo anjo, é repetida com a menção adicional das corrupções que têm estado a entrar nas igrejas desde 1844. A obra deste anjo vem, no tempo devido, unir-se à última grande obra da mensagem do terceiro anjo, ao tomar esta o volume de um alto clamor. E o povo de Deus assim se prepara para estar em pé na hora da tentação que em breve devem enfrentar. Vi uma grande luz repousando sobre eles, e uniram-se destemidamente para proclamar a mensagem do terceiro anjo. HR 399 3 Foram enviados anjos para ajudar o poderoso anjo do Céu, e ouvi vozes que pareciam fazer ressoar em toda parte: "Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados, e para não participardes dos seus flagelos; porque seus pecados se acumularam até ao Céu, e Deus Se lembrou dos atos iníquos que ela praticou." Apocalipse 18:4, 5. Esta mensagem pareceu ser adicional à terceira mensagem, unindo-se a ela assim como o clamor da meia-noite se uniu à mensagem do segundo anjo em 1844. A glória de Deus repousou sobre os santos, pacientes e expectantes, e denodadamente deram a última advertência solene, proclamando a queda de Babilônia, e chamando o povo de Deus para sair dela para que possam escapar de sua terrível condenação. HR 400 1 A luz que se derramou sobre os expectantes penetrou por toda parte, e aqueles, nas igrejas, que tinham alguma luz e que não haviam ouvido e rejeitado as três mensagens, obedeceram à chamada, e deixaram as igrejas decaídas. Muitos tinham chegado à idade de responsabilidade pessoal, desde que estas mensagens haviam sido proclamadas, e resplandecera sobre eles a luz; e tiveram o privilégio de escolher a vida ou a morte. Alguns escolheram a vida e tomaram posição com os que estavam esperando o seu Senhor e guardando todos os Seus mandamentos. A terceira mensagem deveria fazer sua obra; todos deveriam ser provados por meio dela, e os que são preciosos deveriam ser chamados das corporações religiosas. Um poder compulsivo movia os sinceros, enquanto a manifestação do poder de Deus trazia temor e repreensão aos parentes e amigos incrédulos, de modo que não ousavam embaraçar os que sentiam a obra do Espírito de Deus sobre si, e tampouco tinham poder para o fazer. A última chamada foi levada aos pobres escravos, e os que eram piedosos entre eles derramaram seus cânticos de arrebatadora alegria ante a perspectiva de seu feliz libertamento.* Seus senhores os não podiam impedir; o medo e o espanto os conservavam em silêncio. Grandes prodígios eram operados, doentes eram curados, e sinais e maravilhas seguiam aos crentes. Deus estava na obra, e cada santo, sem temer as conseqüências, seguia as convicções de sua própria consciência e unia-se com os que estavam a guardar todos os mandamentos de Deus; e com poder proclamaram amplamente a terceira mensagem. Vi que esta mensagem se encerrará com poder e força muito maiores do que o clamor da meia-noite. HR 401 1 Servos de Deus, dotados de poder do alto, com rosto iluminado e resplandecendo com santa consagração, saíram para proclamar a mensagem provinda do Céu. Almas que estavam espalhadas por todas as corporações religiosas responderam à chamada, e os que eram preciosos retiraram-se apressadamente das igrejas condenadas, assim como precipitadamente fora Ló retirado de Sodoma antes de sua destruição. O povo de Deus foi fortalecido pela excelente glória que sobre ele repousava em grande abundância e o preparou para suportar a hora da tentação. Vi, por toda parte, uma multidão de vozes a dizer: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. ------------------------Capítulo 59 -- O fim da graça HR 402 1 Foi-me indicado o tempo em que a mensagem do terceiro anjo estava a finalizar-se. O poder de Deus havia repousado sobre Seu povo; tinham cumprido a sua obra, e encontravam-se preparados para a hora de prova que diante deles estava. Tinham recebido a chuva serôdia, ou o refrigério pela presença do Senhor, e se reanimara o vívido testemunho. A última grande advertência tinha soado por toda parte e havia instigado e enraivecido os habitantes da Terra que não quiseram receber a mensagem. HR 402 2 Vi anjos indo aceleradamente de um lado para o outro no Céu. Um anjo com um tinteiro de escrivão ao lado voltou da Terra, e referiu a Jesus que sua obra estava feita, e os santos estavam numerados e selados. Então vi Jesus, que havia estado a ministrar diante da arca, a qual contém os Dez Mandamentos, lançar o incensário. Levantou as mãos e com grande voz disse: "Está feito." E toda a hoste angélica tirou suas coroas quando Jesus fez a solene declaração: "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se." Apocalipse 22:11. HR 402 3 Cada caso fora decidido para a vida ou para a morte. Enquanto Jesus estivera ministrando no santuário, o juízo estivera em andamento pelos justos mortos, e a seguir pelos justos vivos. Cristo recebera Seu reino, tendo feito expiação pelo Seu povo, e apagado os seus pecados. Os súditos do reino estavam completos. As bodas do Cordeiro estavam consumadas. E o reino e a grandeza do reino sob todo o Céu foram dados a Jesus e aos herdeiros da salvação, e Jesus deveria reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. HR 403 1 Retirando-Se Jesus do lugar santíssimo, ouvi o tilintar das campainhas sobre Suas vestes; e, ao sair Ele, uma nuvem de trevas cobriu os habitantes da Terra. Não havia então mediador entre o homem culpado e Deus, que fora ofendido. Enquanto Jesus permanecera entre Deus e o homem culposo, achava-se o povo sob repressão; quando, porém, Ele saiu de entre o homem e o Pai, essa restrição foi removida, e Satanás teve completo domínio sobre os que afinal se não arrependeram. HR 403 2 Era impossível serem derramadas as pragas enquanto Jesus oficiava no santuário; mas, terminando ali a Sua obra, e encerrando-se a Sua intercessão, nada havia para deter a ira de Deus, e ela irrompeu com fúria sobre a cabeça desabrigada do pecador culpado, que desdenhou a salvação e odiou a correção. Naquele tempo terrível, depois de finalizada a mediação de Jesus, os santos estavam a viver à vista de um Deus santo, sem intercessor. Cada caso estava decidido, cada jóia contada. Jesus demorou um momento no compartimento exterior do santuário celestial, e os pecados que tinham sido confessados enquanto Ele esteve no lugar santíssimo, foram colocados sobre Satanás, o originador do pecado, que deve sofrer o castigo deles.* Demasiado tarde! demasiado tarde! HR 404 1 Vi então Jesus depor Suas vestes sacerdotais e envergar Seus mais régios trajes. Sobre Sua cabeça estavam muitas coroas, estando uma coroa dentro da outra. Cercado pela hoste angélica, deixou o Céu. As pragas estavam caindo sobre os habitantes da Terra. Alguns estavam acusando a Deus e amaldiçoando-O. Outros precipitavam-se para o povo de Deus e pediam que lhes ensinassem como poderiam escapar dos Seus juízos. Mas os santos nada tinham para eles. A última lágrima pelos pecadores tinha sido derramada; oferecida havia sido a última oração aflita; arrostado o último peso de cuidados pelos pecadores, e dada a última advertência. A doce voz de misericórdia não mais os deveria convidar. Quando os santos e o Céu todo estavam interessados em sua salvação, não tinham eles nenhum interesse por si. A vida e a morte tinham sido postas diante deles. Muitos desejavam a vida, mas não faziam esforços por obtê-la. Não optavam pela vida, e agora não havia sangue expiatório para purificar o culpado, nenhum Salvador compassivo para pleitear a favor deles e clamar: "Poupa, poupa o pecador por mais algum tempo." O Céu todo se uniu a Jesus, quando ouviram as terríveis palavras: "Está feito. Está consumado." O plano da salvação se havia cumprido, mas poucos tinham escolhido fazer aceitação do mesmo. E, silenciando-se a doce voz de misericórdia, o medo e horror apoderou-se dos ímpios. Com terrível clareza ouviram as palavras: "Demasiado tarde! Demasiado tarde!" HR 404 2 Os que não tinham prezado a Palavra de Deus, iam apressadamente de um lado para outro, vagueando de mar a mar, e do Norte ao Oriente, em busca da Palavra do Senhor. Disse o anjo: "Eles não a acharão. Há uma fome na Terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. O que não dariam eles por uma palavra de aprovação da parte de Deus! mas não: devem continuar a ter fome e sede. Dia após dia desprezaram a salvação, dando maior apreço às riquezas e prazeres terrestres do que a qualquer tesouro ou estímulo celestial. Rejeitaram a Jesus e desprezaram a Seus santos. Os sujos devem permanecer sujos para sempre." HR 405 1 Muitos dos ímpios ficaram grandemente enraivecidos, ao sofrer os efeitos das pragas. Foi uma cena de terrível aflição. Pais estavam amargamente a exprobrar seus filhos, e filhos a seus pais, irmãos a suas irmãs, e irmãs a seus irmãos. Altos clamores de pranto eram ouvidos de todos os lados: "Foste tu que me impediste de receber a verdade que me haveria salvo desta hora terrível!" O povo volvia-se a seus pastores com ódio atroz e os exprobrava, dizendo: "Não nos advertistes. Dissestes-nos que o mundo inteiro deveria converter-se e clamastes: Paz, Paz, para acalmardes todo o temor que se despertava. Não nos falastes a respeito desta hora; e aqueles que nos avisaram a tal respeito declarastes serem fanáticos e homens maus, os quais causariam a nossa ruína." Mas vi que os pastores não escaparam da ira de Deus. Seu sofrimento foi dez vezes maior do que o de seu povo. ------------------------Capítulo 60 -- O tempo da angústia de Jacó HR 406 1 Vi os santos deixarem as cidades e vilas, reunirem-se em grupos e viverem nos lugares mais solitários da Terra. Anjos lhes proviam alimento e água, enquanto os ímpios estavam a sofrer de fome e sede. Vi então os principais homens da Terra consultando entre si, e Satanás e seus anjos ocupados em redor deles. Vi um escrito, exemplares do qual foram espalhados nas diferentes partes da Terra, dando ordens para que se concedesse ao povo liberdade para, depois de certo tempo, matar os santos, a menos que estes renunciassem sua fé peculiar, abandonassem o sábado e guardassem o primeiro dia da semana. Mas nessa hora de provação os santos estavam calmos e tranquilos, confiando em Deus e descansando em Sua promessa de que um meio de livramento lhes seria preparado. HR 406 2 Em alguns lugares, antes do tempo para se executar o decreto, os ímpios ruíram sobre os santos para os matar; mas anjos sob a forma de homens de guerra, combatiam por eles. Satanás desejava ter o privilégio de destruir os santos do Altíssimo; Jesus, porém, ordenou a seus anjos que vigiassem sobre eles. Deus queria ser honrado fazendo um concerto com aqueles que haviam guardado Sua lei, à vista dos gentios em redor deles; e Jesus queria ser honrado, trasladando, sem que vissem a morte, aos fiéis e expectantes, que durante tanto tempo O haviam esperado. HR 407 1 Logo vi os santos sofrendo grande angústia de espírito. Pareciam cercados pelos ímpios habitantes da Terra. Todas as aparências eram contra eles. Alguns começaram a recear que finalmente Deus os houvesse deixado para perecer pelas mãos dos ímpios. Se, porém, seus olhos se pudessem abrir, ver-se-iam rodeados dos anjos de Deus. Veio em seguida a multidão dos ímpios, cheios de ira, e atrás uma multidão de anjos maus, compelindo os primeiros para matar os santos. Antes que pudessem, porém, aproximar-se do povo de Deus, os ímpios deveriam primeiro passar por esta multidão de anjos poderosos e santos. Isto seria impossível. Os anjos de Deus os estavam fazendo recuar, e também fazendo com que os anjos maus que os cercavam de todos os lados caíssem para trás. O clamor por livramento HR 407 2 Foi uma hora de angústia medonha, terrível, para os santos. Dia e noite clamavam a Deus, pedindo livramento. Quanto à aparência exterior, não havia possibilidade de escapar. Os ímpios já tinham começado a triunfar, clamando: "Por que vosso Deus não vos livra de nossas mãos? Por que não ascendeis ao Céu, e salvais a vossa vida? Mas os santos não lhes prestavam atenção. Como Jacó, estavam a lutar com Deus. Os anjos ansiavam libertá-los, mas deviam esperar um pouco mais; o povo de Deus devia beber o cálice e ser batizado com o batismo. Os anjos, fiéis à sua incumbência, continuavam a vigiar. Deus não consentiria que Seu nome fosse vituperado entre os gentios. Quase chegara o tempo em que Ele deveria manifestar Seu grande poder, e gloriosamente libertar Seus santos. Pela glória de Seu nome desejava Ele libertar cada um daqueles que pacientemente O haviam esperado, e cujos nomes estavam escritos no livro. HR 407 3 Foi-me indicado o fiel Noé. Quando a chuva desceu e veio o dilúvio, Noé e sua família já haviam entrado na arca, e Deus os encerrara ali. Noé tinha fielmente avisado os habitantes do mundo antediluviano, enquanto estes caçoavam e escarneciam dele. E quando as águas baixaram sobre a Terra, e um após outro se afogava, viam a arca, da qual haviam feito o objeto de tantas pilhérias, livre de perigo a flutuar sobre as águas, preservando o fiel Noé e sua família. Assim vi eu que o povo de Deus, o qual havia fielmente avisado o mundo de Sua ira vindoura, teria livramento. Deus não consentiria que os ímpios destruíssem aqueles que estavam esperando pela sua trasladação, e que se não encurvariam ao decreto da besta nem receberiam o seu sinal. Vi, que, se fosse permitido aos ímpios matar aos santos, Satanás e todo seu exército maléfico, e todos os que odeiam a Deus, ficariam satisfeitos. E, oh! que triunfo seria para sua majestade satânica ter poder, na última luta finalizadora, sobre os que por tanto tempo haviam esperado ver Aquele a quem amaram! Aqueles que haviam zombado da idéia de os santos ascenderem para o Céu, serão testemunhas do cuidado de Deus para com o Seu povo, e contemplarão seu glorioso libertamento. HR 408 1 Ao deixarem os santos as cidades e vilas, eram perseguidos pelos ímpios, que os procuravam matar. Mas as espadas que se levantavam para matar o povo de Deus, quebravam-se e caíam tão impotentes como uma palha. Anjos de Deus escudavam os santos. Clamando eles dia e noite, pedindo livramento, seu clamor subia perante o Senhor. ------------------------Capítulo 61 -- O livramento dos santos HR 409 1 Foi à meia-noite que Deus preferiu livrar o Seu povo. Estando os ímpios a fazer zombarias em redor deles, subitamente apareceu o Sol, resplandecendo em sua força e a Lua ficou imóvel. Os ímpios olhavam para esta cena com espanto, enquanto os santos viam, com solene alegria, os indícios de seu livramento. Sinais e maravilhas seguiam-se em rápida sucessão. Tudo parecia desviado de seu curso natural. Os rios deixavam de correr. Nuvens negras e pesadas subiam e batiam umas nas outras. Havia, porém, um lugar claro de uma glória fixa, donde veio a voz de Deus, semelhante a muitas águas, abalando os céus e a Terra. Houve um grande terremoto. As sepulturas se abriram e os que haviam morrido na fé da mensagem do terceiro anjo, guardando o sábado, saíram de seus leitos de pó, glorificados, para ouvir o concerto de paz que Deus deveria fazer com os que tinham guardado a Sua lei. HR 409 2 O Céu abria-se e fechava-se, e estava em comoção. As montanhas tremiam como uma vara ao vento, e lançavam por todos os lados pedras anfractuosas. O mar fervia como uma panela e lançava pedras sobre a terra. E, falando Deus o dia e a hora da vinda de Jesus, e declarando o concerto eterno com o Seu povo, proferia uma sentença e então silenciava, enquanto as palavras estavam a repercutir pela Terra. O Israel de Deus permanecia com os olhos fixos para cima, ouvindo as palavras enquanto elas vinham da boca de Jeová e ressoavam pela Terra como estrondos do mais forte trovão. Era terrivelmente solene. No fim de cada sentença os santos aclamavam: "Glória! Aleluia!" Seus rostos iluminavam-se com a glória de Deus, e resplandeciam de glória como fazia o de Moisés quando desceu do Sinai. Os ímpios não podiam olhar para eles por causa da glória. E, quando a interminável bênção foi pronunciada sobre os que haviam honrado a Deus santificando o Seu sábado, houve uma grande aclamação de vitória sobre a besta e sua imagem. HR 410 1 Começou então o jubileu em que a Terra deveria repousar. Vi o escravo piedoso levantar-se com vitória e triunfo, e sacudir as cadeias que o ligavam, enquanto seu ímpio senhor estava em confusão e não sabia o que fazer; pois os ímpios não podiam compreender as palavras da voz de Deus. O segundo advento de Cristo HR 410 2 Logo apareceu a grande nuvem branca, sobre a qual Se sentava o Filho do homem. Quando a princípio apareceu a distância, parecia esta nuvem muito pequena. O anjo disse que ela era o sinal do Filho do homem. Ao aproximar-se mais da Terra, pudemos ver a excelente glória e majestade de Jesus, enquanto Ele saía para vencer. Um séquito de santos anjos, com coroas brilhantes, resplandecentes, sobre as cabeças, acompanhava-O, em Seu trajeto. HR 410 3 Nenhuma linguagem pode descrever a glória daquela cena. A nuvem viva, de majestade e glória insuperável, aproximava-se ainda mais e pudemos claramente contemplar a adorável pessoa de Jesus. Não trazia Ele uma coroa de espinhos, mas coroa de glória repousava sobre Sua santa fronte. Sobre Sua veste e coxa estava escrito um nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Seu rosto era tão fulgurante como o Sol do meio-dia; Seus olhos eram como chama de fogo, e Seus pés tinham a aparência do latão reluzente. Sua voz soava como muitos instrumentos musicais. A Terra tremia diante dEle, os céus se afastavam como um pergaminho quando se enrola, e toda montanha e ilha se movia de seu lugar. "E os reis da Terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes, e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que Se assenta no trono, e da ira do Cordeiro. Porque chegou o grande dia da ira e quem é que pode suster-se?" Apocalipse 6:15-17. HR 411 1 Aqueles que pouco tempo antes queriam destruir da Terra os fiéis filhos de Deus, testemunham agora a glória de Deus que sobre eles repousa. E, por entre todo o seu terror, ouvem as vozes dos santos em alegres acordes, dizendo: "Eis que Este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9. A primeira ressurreição HR 411 2 A Terra agita-se poderosamente quando a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem o sono da morte. Eles respondem à chamada e saem revestidos de gloriosa imortalidade, clamando: "Vitória! vitória sobre a morte e a sepultura! Ó morte, onde está o teu aguilhão? Ó sepultura, onde está a tua vitória?" Ver 1 Coríntios 15:55. Então os santos vivos e os ressuscitados erguem suas vozes em uma aclamação de vitória, longa e arrebatadora. Aqueles corpos que haviam descido à sepultura levando os sinais da enfermidade e morte, surgem com saúde e vigor imortais. Os santos vivos são transformados em um momento, num abrir e fechar de olhos, e arrebatados com os ressuscitados; e juntos encontram seu Senhor nos ares. Oh, que reunião gloriosa! Amigos que a morte havia separado são reunidos, para nunca mais se separarem. HR 412 1 Em cada lado do carro de nuvem havia asas, e debaixo dele rodas vivas; e, movendo-se o carro para cima, as rodas clamavam: "Santo", e, as asas, movendo-se, clamavam: "Santo", e o séquito de santos em redor da nuvem clamava: "Santo, santo, santo, é o Senhor Deus, o Todo-poderoso!" E os santos na nuvem clamavam: "Glória! Aleluia!" E o carro movia-se para cima, em direção à santa cidade. Antes de entrar na cidade, os santos foram dispostos em um quadrado perfeito, com Jesus no centro. Estava Ele de pé, com a cabeça e ombros acima dos santos, e acima dos anjos. Sua forma majestosa e o adorável rosto podiam ser vistos por todos no quadrado. ------------------------Capítulo 62 -- A recompensa dos santos HR 413 1 Vi então um grandíssimo número de anjos trazerem da cidade gloriosas coroas, sendo uma para cada santo, com seu nome escrito na mesma. Pedindo Jesus as coroas aos anjos, apresentaram-nas a Ele, e com Sua própria destra o adorável Jesus as colocou sobre a cabeça dos santos. Do mesmo modo os anjos trouxeram as harpas, e Jesus apresentou-as também aos santos. Os anjos dirigentes desferiram em primeiro lugar o tom, e então todas as vozes se alçaram em louvor grato e feliz, e todas as mãos habilmente deslizaram sobre as cordas da harpa, emanando uma música melodiosa, com acordes abundantes e perfeitos. HR 413 2 Vi então Jesus conduzir a multidão dos remidos à porta da cidade. Lançou mão da porta e girou-a sobre os seus resplandecentes gonzos, e mandou entrarem as nações que haviam observado a verdade. Dentro da cidade havia tudo para deleitar a vista. Contemplavam por toda parte uma copiosa glória. Então Jesus olhou para os Seus santos remidos; seus rostos estavam radiantes de glória; e, fixando Seu olhar amorável sobre eles, disse com Sua preciosa e melodiosa voz: "Vejo o trabalho de Minha alma, e estou satisfeito. Esta opulenta glória é vossa, para a gozardes eternamente. Vossas tristezas estão terminadas. Não mais haverá morte, nem tristeza, nem pranto; tampouco haverá mais dor." Vi a hoste dos remidos prostrar-se e lançar suas coroas brilhantes aos pés de Jesus; e, então, levantando-os com Sua mão amorável, tocaram as harpas de ouro, e encheram o Céu todo com sua rica música e com cânticos ao Cordeiro. HR 414 1 Vi então Jesus levando Seu povo à árvore da vida, e novamente ouvimos Sua adorável voz, mais preciosa do que qualquer música que já tenha caído em ouvidos mortais, dizendo: "As folhas da árvore são para a cura dos povos. Comei todos dela." Belíssimo fruto estava na árvore da vida, do qual os santos poderiam participar livremente. Na cidade havia um trono gloriosíssimo, do qual provinha um rio puro de água da vida, claro como cristal. Em cada lado deste rio estava a árvore da vida, e nas margens do rio havia outras belas árvores, produzindo fruto que era bom para alimento. HR 414 2 A linguagem é demasiadamente fraca para tentar uma descrição do Céu. Apresentando-se diante de mim aquela cena, fico inteiramente absorta. Enlevada pelo insuperável esplendor e excelente glória, deponho a pena e exclamo: "Oh, que amor! que amor maravilhoso!" A linguagem mais exaltada não consegue descrever a glória do Céu, ou as profundidades incomparáveis do amor de um Salvador. ------------------------Capítulo 63 -- O milênio HR 415 1 Minha atenção foi de novo dirigida à Terra. Os ímpios tinham sido destruídos e seus corpos mortos jaziam em sua superfície. A ira de Deus, nas sete últimas pragas, tinha sido derramada sobre os habitantes da Terra, fazendo-os morder a língua de dor e amaldiçoar a Deus. Os falsos pastores tinham sido objeto especial da ira de Jeová. Os olhos se lhes consumiram nas órbitas, e a língua na sua boca, enquanto estavam em pé. Depois que os santos tiveram livramento pela voz de Deus, a multidão dos ímpios volveu sua ira, de uns contra os outros. A Terra parecia ser inundada com sangue, e havia corpos mortos de uma extremidade dela a outra. HR 415 2 A Terra tinha a aparência de um deserto solitário. Cidades e vilas, derribadas pelo terremoto, jaziam em montões. Montanhas tinham sido removidas de seus lugares, deixando grandes cavernas. Pedras anfractuosas, arrojadas pelo mar, ou arrancadas da própria terra, estavam espalhadas por toda a sua superfície. Grandes árvores tinham sido desarraigadas, e juncavam a terra. Aqui deve ser a morada de Satanás com seus anjos maus, durante mil anos. Aqui estará ele circunscrito, para errar para cá e acolá, sobre a revolvida superfície da Terra, e para ver os efeitos de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante mil anos ele poderá gozar do fruto da maldição, que ele determinou. HR 416 1 Circunscrito apenas à Terra, Satanás não terá o privilégio de percorrer outros planetas para tentar e molestar os que não caíram. Durante este tempo Satanás sofre extremamente. Desde sua queda, seus maus característicos têm estado em constante exercício. Mas deve ele então ser despojado de seu poder e deixado para que reflita na parte que desempenhou desde sua queda, e aguarde com tremor e terror o terrível futuro, em que deverá sofrer por todo o mal que perpetrou, e ser castigado por todos os pecados que fez com que fossem cometidos. HR 416 2 Ouvi aclamações de vitória dos anjos e dos santos remidos, os quais ressoavam como dez milhares de instrumentos musicais, porque não mais deveriam ser molestados e tentados por Satanás, e porque os habitantes de outros mundos estavam livres de sua presença e tentações. HR 416 3 Vi então tronos, e Jesus e os santos remidos sentarem-se sobre eles; e os santos reinaram como reis e sacerdotes para Deus. Cristo, em união com o Seu povo, julgou os ímpios mortos, comparando seus atos com o código -- a Palavra de Deus -- e decidindo cada caso segundo as obras feitas no corpo. Então designaram aos ímpios a parte que deverão sofrer, segundo suas obras; e isto foi escrito defronte de seus nomes no livro da morte. Satanás também, e seus anjos, foram julgados por Jesus e os santos. O castigo de Satanás deveria ser muito maior do que o daqueles a quem ele enganara. Seu sofrimento excederia aos deles a ponto de não haver comparação. Depois que todos aqueles a quem ele enganara houverem perecido, Satanás deverá ainda viver e sofrer muito mais tempo. HR 416 4 Depois que se concluiu o juízo dos ímpios, no fim dos mil anos, Jesus deixou a cidade; e os santos bem como um cortejo da hoste angélica O acompanharam. Jesus desceu sobre uma grande montanha, a qual logo que Seus pés a tocaram, se repartiu de alto a baixo, e se tornou uma grande planície. Então olhamos para cima e vimos a grande e bela cidade, com doze fundamentos e doze portas, três de cada lado e um anjo em cada porta. Exclamamos: "A cidade! a grande cidade! vem descendo de Deus, do Céu!" E ela desceu em todo o seu esplendor e deslumbrante glória, e fixou-se na grande planície que, para ela, Jesus havia preparado. ------------------------Capítulo 64 -- A segunda ressurreição HR 418 1 Então Jesus, e todo o cortejo de santos anjos, e todos os santos remidos, saem da cidade. Os anjos rodeiam seu Comandante e O acompanham em Seu trajeto, e a seguir vem o cortejo dos santos remidos. Com majestade terrível e pavorosa, Jesus chama então os ímpios mortos; e eles surgem com o mesmo corpo fraco, doentio, que foram à sepultura. Que espetáculo! Que cena! Na primeira ressurreição todos saem com imortal frescor, mas na segunda, os indícios da maldição são visíveis em todos. Os reis e os nobres da Terra, os vis e os desprezíveis, os doutos e os ignorantes, surgem juntamente. Todos contemplam o Filho do homem; e os mesmos homens que O desprezaram e dEle escarneceram, que Lhe puseram sobre a sagrada fronte a coroa de espinhos, e O feriram com a cana, contemplam-nO em toda a Sua majestade real. Os que cuspiram nEle na hora de Seu julgamento, agora se desviam de Seu olhar penetrante e da glória de Seu rosto. Os que introduziram os cravos através de Suas mãos e pés, olham agora para os sinais de Sua crucifixão. Os que Lhe alancearam o lado, vêem os sinais de sua crueldade em Seu corpo. E sabem que Ele é o mesmo a quem crucificaram, e de quem escarneceram em Sua agonia mortal. E levantam então um pranto de angústia, longo e demorado, fugindo para esconder-se da presença do Rei dos reis e Senhor dos senhores. HR 419 1 Todos estão procurando esconder-se nas rochas, para se defenderem da glória terrível dAquele a quem uma vez desprezaram. E, oprimidos e afligidos por Sua majestade e extraordinária glória, unanimemente levantam a voz e com terrível clareza exclamam: "Bendito O que vem em nome do Senhor!" HR 419 2 Então Jesus e os santos anjos, acompanhados por todos os santos vão de novo à cidade, e as amarguradas lamentações e prantos dos ímpios condenados enchem os ares. Vi então que Satanás novamente começava a sua obra. Passou por entre seus súditos, e fez do fraco e débil forte, e disse-lhes que ele e os seus anjos ainda eram poderosos. Apontou para os incontáveis milhões que tinham ressuscitado. Havia poderosos guerreiros e reis, que eram muito hábeis em batalhas e que haviam conquistado reinos. E havia poderosos gigantes e homens valentes que nunca perderam uma batalha. Ali estava o orgulhoso e ambicioso Napoleão, cuja aproximação tinha feito reinos tremer. Ali se achavam homens de elevada estatura e porte nobre, que haviam tombado na batalha enquanto sedentos de conquista. HR 419 3 Ao surgir de suas sepulturas, reatam a corrente de seus pensamentos no ponto em que cessara por ocasião da morte. Possuem o mesmo desejo de conquistar que os governava quando tombaram. Satanás consulta com seus anjos e então com aqueles reis, conquistadores, e homens poderosos. Olha então para o vasto exército e diz-lhes que a multidão na cidade é pequena e fraca, e que eles podem subir e tomá-la, expulsar seus habitantes e possuir suas riquezas e glória. HR 419 4 Satanás consegue enganá-los, e todos imediatamente começam a preparar-se para a batalha. Há muitos homens hábeis naquele vasto exército, e constroem todas as espécies de instrumentos de guerra. Então, com Satanás à sua frente, a multidão se põe em movimento. Reis e guerreiros seguem imediatamente após Satanás e as multidões vêm a seguir, em companhias. Cada companhia tem o seu dirigente, e é observada a ordem enquanto, sobre a superfície partida da Terra, marcham em direção à santa cidade. Jesus fecha as portas da cidade e este vasto exército a cerca, e dispõe-se para a batalha, esperando um conflito tremendo. ------------------------Capítulo 65 -- A coroação de Cristo HR 421 1 Agora Cristo de novo aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sobre este trono assenta-Se o Filho de Deus, e em redor dEle estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a Terra inteira com seu fulgor. HR 421 2 Mais próximos do trono estão os que já foram zelosos na causa de Satanás, mas que, arrancados como tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa. Em seguida estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé. E além está a "multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas... vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos". Apocalipse 7:9. Terminou sua luta, a vitória está ganha. Acabaram a carreira e alcançaram o prêmio. O ramo de palmas em suas mãos é um símbolo de seu triunfo, as vestes brancas, um emblema da imaculada justiça de Cristo, a qual agora possuem. HR 422 1 Os resgatados entoam um cântico de louvor que ecoa repetidas vezes pelas abóbadas do céu: "Ao nosso Deus que Se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação." E anjos e serafins unem sua voz em adoração. Tendo os remidos contemplado o poder e malignidade de Satanás, viram, como nunca dantes, que poder algum, a não ser o de Cristo, poderia tê-los feito vencedores. Em toda aquela resplendente multidão ninguém há que atribua a salvação a si mesmo, como se houvesse prevalecido pelo próprio poder e bondade. Nada se diz do que fizeram ou sofreram; antes, o motivo de cada cântico, a nota fundamental de toda antífona, é -- "Ao nosso Deus... e ao Cordeiro, pertence a salvação." Apocalipse 7:10. HR 422 2 Na presença dos habitantes da Terra e do Céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus. E agora, investido de majestade e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sobre os rebeldes contra Seu governo, e executa justiça sobre aqueles que transgrediram Sua lei e oprimiram Seu povo. Diz o profeta de Deus: "Vi um grande trono branco e Aquele que nele Se assenta, de cuja presença fugiram a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então se abriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros." Apocalipse 20:11, 12. HR 422 3 Logo que se abrem os livros de registro e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, eles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Vêem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que acoroçoaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente -- tudo aparece como que escrito com letras de fogo. Panorama do grande conflito HR 423 1 Por sobre o trono se revela a cruz; e semelhante a uma vista panorâmica aparecem as cenas da tentação e queda de Adão, e os passos sucessivos no grande plano da redenção. O humilde nascimento do Salvador; Sua infância de simplicidade e obediência; Seu batismo no Jordão; o jejum e tentação no deserto; Seu ministério público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do Céu; os dias repletos de atos de amor e misericórdia, Suas noites de oração e vigília na solidão das montanhas; as tramas e invejas, ódio e maldade, com que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no Getsêmani, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro; Sua traição nas mãos da turba assassina; os tremendos acontecimentos daquela noite de horror -- o Prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais amados, rudemente tangido pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes, escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte -- tudo é vividamente esboçado. HR 423 2 E agora, perante a multidão agitada, revelam-se as cenas finais -- o paciente Sofredor trilhando o caminho do Calvário, o Príncipe do Céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas sobrenaturais; a Terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida. HR 424 1 O terrível espetáculo aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para se desviarem do quadro que é a sua própria obra. Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sobre cuja alma criminosa pesa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nosso filhos!" -- todos contemplam a enormidade de seu crime. Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o Sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: "Ele morreu por mim!" HR 424 2 Entre a multidão resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heróico Paulo, o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e com estes o vasto exército dos mártires, ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos. Ali está Nero, aquele monstro de crueldade e vício, contemplando a alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições mais extremas encontrara deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter transmitidos a seu filho, as paixões acoroçoadas e desenvolvidas por sua influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo estremecer. HR 424 3 Ali estão sacerdotes e prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto, empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e pretenderam mudar a lei do Altíssimo. Aqueles pretensos pais da igreja têm uma conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interesse com o de Seu povo sofredor; e sentem a força de Suas palavras: "Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. À barra do tribunal HR 425 1 O mundo ímpio todo acha-se em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles. HR 425 2 É agora evidente a todos que o salário do pecado não é nobre independência e vida eterna, mas escravidão, ruína e morte. Os ímpios vêem o que perderam em virtude de sua vida de rebeldia. O peso eterno de glória mui excelente foi desprezado quando lhes foi oferecido; mas quão desejável agora se mostra! "Tudo isto", exclama a alma perdida, "eu poderia ter tido; mas preferi conservar essas coisas longe de mim. Oh, estranha presunção! Troquei a paz, a felicidade e a honra pela miséria, infâmia e desespero". Todos vêem que sua exclusão do Céu é justa. Por sua vida declararam: "Não queremos que este Jesus reine sobre nós." HR 425 3 Como que extasiados, os ímpios contemplaram a coroação do Filho de Deus. Vêem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e adoração por parte dos salvos, e, ao propagar-se a onda de melodia sobre as multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam: "Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!" (Apocalipse 15:3), e, prostrando-se, adoram o Príncipe da vida. ------------------------Capítulo 66 -- A segunda morte HR 427 1 Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquele que fora um querubim cobridor lembra-se donde caiu. Ele, serafim resplandecente, "filho da alva" -- quão mudado, quão degradado! HR 427 2 Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Jeová repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença. HR 427 3 Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito são agora esclarecidas. A justiça de Deus acha-se plenamente justificada. Perante o Universo foi apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se nomeia. HR 427 4 Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para a última e desesperada luta contra o Rei do Céu. Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforçar-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas vêem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Jeová. Sua ira se acende contra Satanás e os que foram seus agentes no engano. Com furor de demônios voltam-se contra eles e segue-se aí uma cena de conflito universal. Fogo do céu HR 428 1 Então serão cumpridas as palavras do profeta: "Porque a indignação do Senhor está contra todas as nações, e o Seu furor contra todo o exército delas; Ele as destinou para a destruição e as entregou à matança." "Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e o vento abrasador será a parte do seu cálice." Isaías 34:2; Salmos 11:6. De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arde "como fornalha". Malaquias 4:1. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que nela há são queimadas. 2 Pedro 3:10. O fogo de Tofete é preparado para o rei, o chefe da rebelião; a pira é profunda e larga, e "o assopro do Senhor como torrente de enxofre que se ascenderá". Isaías 30:33. A superfície da Terra parece uma massa fundida -- um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e perdição dos homens maus -- "o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela causa de Sião". Isaías 34:8. HR 429 1 Os ímpios recebem sua recompensa na Terra. Eles "serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos". Malaquias 4:1. Alguns são destruídos num momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo suas ações. Tendo sido os pecados dos justos transferidos para Satanás, o originador do mal, deve ele suportar seu castigo.* Assim tem ele de sofrer não somente pela sua própria rebelião, mas por todos os pecados que fez o povo de Deus cometer. Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou. Depois que perecerem os que pelos seus enganos caíram, deve ele ainda viver e sofrer. Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos -- Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A justiça de Deus é satisfeita, e os santos e toda a hoste angélica dizem em alta voz, Amém. HR 429 2 Enquanto a Terra está envolta nos fogos da vingança de Deus, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiverem parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Apocalipse 20:6. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto Sol como Escudo. Salmos 84:11. ------------------------Capítulo 67 -- A nova terra HR 430 1 "Vi novo céu e nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira Terra passaram." Apocalipse 21:1. O fogo que consome os ímpios purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis conseqüências do pecado. Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. HR 430 2 "A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio." Miquéias 4:8. O reino perdido pelo pecado, Cristo resgatou-o, e os redimidos o possuirão com Ele. "Os justos herdarão a Terra, e nela habitarão para sempre." Salmos 37:29. Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E contudo, declara o apóstolo Paulo "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam". 1 Coríntios 2:9. A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus. HR 431 1 Na Bíblia a herança dos salvos é chamada um país. Hebreus 11:14-16. Ali o grande Pastor conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu futuro de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar. A nova Jerusalém HR 431 2 Ali está a Nova Jerusalém, "tendo a glória de Deus", sua luz "era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina". Apocalipse 21:11. Diz o Senhor: "E exultarei por causa de Jerusalém, e folgarei do Meu povo." Isaías 65:19. "Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." Apocalipse 21:3, 4. HR 431 3 Na cidade de Deus "não haverá noite". Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos o frescor da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo. "Nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles." Apocalipse 22:5. A luz do Sol será substituída por um brilho que não é ofuscante e, contudo, sobrepuja incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independente do Sol. HR 432 1 "Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor." Apocalipse 21:22. O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho. "Porque agora vemos como em espelho, obscuramente." 1 Coríntios 13:12. Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu trato com os homens; mas, então O conheceremos face a face, sem um véu obscurecedor de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto. HR 432 2 Ali, mentes imortais estudarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo. HR 432 3 E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, maior é sua admiração de Seu caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor. HR 433 1 "Então ouvi que toda criatura que há no Céu e sobre a Terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos." Apocalipse 5:13. HR 433 2 Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado, e o grande conflito terminou. ------------------------O Maior Discurso de Cristo MDC vi 1 Uma palavra ao leitor MDC vii 1 Prefácio MDC 1 1 Capítulo 1 -- Na Encosta da Montanha MDC 6 1 Capítulo 2 -- As Bem Aventuranças MDC 45 1 Capítulo 3 -- A Espiritualidade da Lei MDC 79 1 Capítulo 4 -- O Verdadeiro Motivo no Serviço MDC 102 1 Capítulo 5 -- A Oração do Senhor MDC 123 1 Capítulo 6 -- Não Julgar, mas Praticar ------------------------Uma palavra ao leitor MDC vi 1 Centenas de milhares de exemplares de O Maior Discurso de Cristo foram impressos e distribuídos em quase duas dezenas de línguas desde a sua primeira publicação em 1896. Nos países de língua inglesa, diversas edições, de idêntico conteúdo, mas com variações no formato e na paginação, têm tido ampla circulação. Para eliminar a confusão no uso do referido volume em índices e citações, adotou-se um padrão que servirá de base para esta e para as edições posteriores. MDC vi 2 Na tentativa de produzir determinado formato, em diversas edições anteriores, com o consentimento da autora, seleções de versos poéticos foram inseridas pelos publicadores em várias partes do texto. Nesta edição foram retidos apenas os versos escolhidos e incluídos no texto original pela própria autora. O acréscimo do Índice Escriturístico e do Índice Geral torna este volume mais útil. MDC vi 3 Que as lições extraídas dos ensinamentos do Mestre, expostas neste livro, continuem a esclarecer, animar e soerguer a humanidade, eis o sincero desejo dos Editores e da Comissão de Depositários das Publicações de Ellen G. White, Washington, D. C., 22 de Junho de 1955. ------------------------Prefácio MDC vii 1 O Sermão da Montanha é a bênção que o Céu confere ao mundo -- uma voz vinda do trono de Deus. Foi dado à humanidade para lhe ser como que a lei do dever e a luz dos Céus, sua esperança e consolo no desânimo, a alegria e conforto em todas as vicissitudes da vida. Aí o Príncipe dos pregadores, o Grande Mestre, pronuncia as palavras que Lhe foram confiadas pelo Pai. MDC vii 2 As Bem-aventuranças são as lembranças de Cristo, não unicamente aos que crêem, mas a toda a família humana. Dir-se-ia que Se houvesse esquecido por um momento de que Se achava no mundo e não no Céu; e serve-Se da saudação familiar no mundo da luz. Bênçãos Lhe dimanam dos lábios como mananciais de abundante torrente de vida, por muito tempo contidos. MDC vii 3 Cristo não nos deixa em dúvida quanto aos traços de caráter que sempre reconhecerá e abençoará. Dos ambiciosos dignitários do mundo, volve-Se para aqueles a quem eles desprezam, pronunciando uma bênção sobre todos os que recebem Sua luz e vida. Aos humildes de espírito, aos mansos, aos misericordiosos, aos que choram, aos desprezados, aos perseguidos, abre os braços acolhedores, dizendo: "Vinde a Mim, ... e Eu vos aliviarei." MDC vii 4 Cristo pode contemplar a miséria do mundo sem uma sombra de tristeza por haver criado o homem. No coração humano vê mais do que o pecado, mais do que a miséria. Em Sua infinita sabedoria e amor vê as possibilidades do homem, as alturas que pode atingir. Sabe que, embora tenham os seres humanos abusado da misericórdia e destruído a dignidade que Deus lhes conferira, o Criador há de ser glorificado em sua redenção. MDC viii 1 Através de todos os tempos conservarão o seu poder as palavras que Cristo pronunciou no Monte das Bem-aventuranças. Cada uma de suas sentenças é uma jóia do escrínio da verdade. Os princípios enunciados nesse sermão destinam-se a todos os séculos e a todas as classes de homens. Com divina energia expressa Cristo Sua fé e esperança, à medida que proclama bem-aventurados os que formaram caráter justo. Vivendo a vida do Doador da própria vida, mediante a fé nEle, cada qual pode alcançar a norma apresentada em Suas palavras. E. G. W. ------------------------Capítulo 1 -- Na encosta da montanha MDC 1 1 Mais de mil e quatrocentos anos antes do nascimento de Jesus em Belém, os filhos de Israel se haviam reunido no belo vale de Siquém e, das montanhas que o ladeavam, ouviu-se a voz dos sacerdotes proclamando as bênçãos e as maldições -- "a bênção, quando ouvirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus,... a maldição, se não ouvirdes". Deuteronômio 11:27, 28. E assim o monte de onde foram proferidas as bênçãos veio a ser conhecido por monte das bem-aventuranças. Não foi, no entanto, do monte Gerizim que foram proferidas as palavras que vêm como uma bênção ao mundo pecador e aflito. Israel deixou de atingir o elevado ideal que lhe fora proposto. Outro que não Josué devia conduzir Seu povo ao verdadeiro repouso da fé. Não mais é o monte Gerizim conhecido pelo monte das bem-aventuranças, mas aquela anônima montanha ao lado do lago de Genesaré, onde Jesus pronunciou as palavras de bênção dirigidas a Seus discípulos e à multidão. MDC 1 2 Volvamos, em espírito, àquela cena e, ao sentarmo-nos com os discípulos na encosta do monte, penetremos nos pensamentos e no sentir que lhes enchia o coração. Compreendendo o que significavam as palavras de Jesus para os que as ouviam, nelas podemos distinguir uma nova vida e beleza, recolhendo para nós mesmos suas mais profundas lições. MDC 1 3 Quando o Salvador começou Seu ministério, a concepção popular acerca do Messias e de Sua obra era de molde a incapacitar de todo o povo para O receber. O espírito da verdadeira devoção se havia perdido na tradição e no cerimonialismo, e as profecias eram interpretadas segundo os ditames de corações orgulhosos e amantes do mundo. Os judeus aguardavam Aquele que havia de vir, não como um Salvador do pecado, mas como um grande príncipe que poria todas as nações sob o domínio do Leão da tribo de Judá. Debalde João Batista, com o poder de esquadrinhar os corações, próprio dos antigos profetas, chamara ao arrependimento o povo. Em vão havia ele, à margem do Jordão, apontado a Jesus como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Deus estava buscando encaminhar-lhes o espírito às profecias de Isaías quanto ao sofrimento do Salvador; mas não queriam ouvir. MDC 2 1 Houvessem os mestres e guias de Israel se submetido a Sua graça transformadora, e Jesus deles teria feito embaixadores Seus entre os homens. Na Judéia fora primeiro proclamada a vinda do reino, e primeiro fora feito o chamado ao arrependimento. No ato de expulsar os profanadores do templo de Jerusalém, Jesus Se anunciara como o Messias -- Aquele que devia purificar a alma da contaminação do pecado, e tornar Seu povo um templo santo para o Senhor. Mas os dirigentes judaicos não se quiseram humilhar para receber o humilde Mestre de Nazaré. Em Sua segunda visita a Jerusalém, foi Ele acusado perante o Sinédrio, e unicamente o temor do povo impedira esses dignitários de tentar tirar-Lhe a vida. Foi então que, deixando a Judéia, iniciou Seu ministério na Galiléia. MDC 2 2 Sua obra ali prosseguira por alguns meses antes de Ele fazer o Sermão do Monte. A mensagem que proclamara através da Terra -- "É chegado o reino dos Céus" (Mateus 4:17) -- atraíra a atenção de todas as classes, ateando-lhes ainda mais a chama de suas ambiciosas esperanças. A fama do novo Mestre estendera-se para além dos limites da Palestina e, não obstante a atitude dos superiores, propagava-se o sentimento de que Este poderia ser o esperado Libertador. Grandes multidões retardavam os passos de Jesus, e subia de ponto o entusiasmo popular. MDC 3 1 Chegara o tempo em que os discípulos que mais de perto se haviam ligado a Cristo, se Lhe uniram mais diretamente à obra, a fim de que essas vastas multidões não fossem deixadas sem cuidado, como ovelhas que não tinham pastor. Alguns desses discípulos se haviam unido a Ele no início de Seu ministério, e quase todos os doze tinham vivido juntos, como membros da família de Jesus. Todavia também eles, mal-orientados pelos ensinos dos rabis, partilhavam da expectação popular de um reino terrestre. Não podiam compreender a maneira de agir de Jesus. Já tinham ficado perplexos e perturbados por Ele não fazer nenhum esforço para fortalecer Sua causa mediante o granjear o apoio dos sacerdotes e rabis, por nada fazer para estabelecer Sua autoridade como rei terrestre. MDC 3 2 Grande era a obra ainda a fazer por esses discípulos antes de se acharem preparados para a sagrada missão que lhes seria confiada quando Jesus houvesse de ascender ao Céu. Todavia eles correspondiam ao amor de Cristo e, conquanto tardios de coração para crer, Jesus via neles aqueles a quem podia educar e disciplinar para Sua grande obra. E agora, que eles haviam estado com Jesus tempo suficiente para, em certa medida, estabelecer sua fé no divino caráter de Sua missão, e o povo também tivera provas de Seu poder, o qual não podiam pôr em dúvida, estava preparado o caminho para uma declaração dos princípios de Seu reino, os quais os ajudariam a compreender sua verdadeira natureza. MDC 4 1 Sozinho sobre um monte próximo ao mar da Galiléia, Jesus passara toda a noite em oração por esses escolhidos. Ao alvorecer, chamara-os a Si e, com palavras de oração e instruções, impôs-lhes as mãos numa bênção, separando-os para a obra do evangelho. Depois, dirigiu-Se com eles à praia onde, bem cedinho, já uma grande multidão começara a ajuntar-se. MDC 4 2 Além da massa habitual vinda das cidades da Galiléia, havia grande número de pessoas da Judéia, e da própria Jerusalém; da Peréia e da população meio-pagã de Decápolis; da Iduméia, ao sul da Judéia, e de Tiro e Sidom, cidades fenícias à margem do Mediterrâneo. "Ouvindo quão grandes coisas fazia", eles "tinham vindo para O ouvir e serem curados das suas enfermidades,... porque saía dEle virtude, e curava a todos." Marcos 3:8; Lucas 6:17-19. MDC 4 3 Depois, como a estreiteza da praia não oferecesse espaço para todos os que O desejavam ouvir ficarem ao alcance de Sua voz, nem mesmo de pé, Jesus abriu o caminho de volta para a encosta da montanha. Chegando a um lugar plano que proporcionava aprazível espaço para a vasta assembléia, sentou-Se na relva, e Seus discípulos e a multidão seguiram-Lhe o exemplo. MDC 4 4 Como pressentindo algo acima do comum a sobrevir, os discípulos se haviam comprimido em torno do Mestre. Em vista dos acontecimentos daquela manhã eles experimentavam como que uma certeza de que seria anunciada qualquer coisa relativamente ao reino que, segundo ansiosamente esperavam, Ele devia em breve estabelecer. A multidão estava, também, possuída de um sentimento de expectação, e as faces ansiosas testemunhavam profundo interesse. MDC 5 1 Enquanto ali estavam sentados na verde encosta, esperando as palavras do divino Mestre, encheu-se-lhes o coração de pensamentos da glória futura. Havia escribas e fariseus que antecipavam o dia em que eles teriam domínio sobre os odiados romanos, e possuiriam as riquezas e o esplendor do maior império do mundo. Os pobres camponeses e pescadores esperavam ouvir a certeza de que suas arruinadas cabanas, a escassa comida, a vida de labuta e o temor da miséria haviam de ser trocados por mansões de abundância e dias de felicidade. Em lugar da única e ordinária vestimenta que os cobria de dia e lhes servia de cobertor à noite, esperavam que Cristo lhes daria os ricos e custosos trajes de seus conquistadores. MDC 5 2 Todos os corações fremiam com a orgulhosa esperança de que Israel seria em breve honrado diante das nações, como o escolhido do Senhor, e Jerusalém exaltada como cabeça de um reino universal. ------------------------Capítulo 2 -- As bem-aventuranças "E, abrindo a Sua boca, os ensinava, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus." Mateus 5:2, 3. (A Trad. Brasileira diz "humildes de espírito".) MDC 6 1 Como um ensino estranho e novo, estas palavras caem nos ouvidos da multidão admirada. Semelhante doutrina é contrária a tudo que ouviram dos sacerdotes e rabinos. Nela não vêem coisa alguma que lisonjeie seu orgulho ou lhes alimente as ambiciosas esperanças. Irradia, porém, deste novo Mestre um poder que os conserva como que presos. Dir-se-ia que a doçura do amor divino transcendesse de Sua presença, como da flor o perfume. Suas palavras caem "como chuva que desce sobre o prado. Como chuveiros que regam a terra". Salmos 72:6. Todos sentem instintivamente que existe um Ser capaz de ler os segredos da alma, e não obstante, deles Se aproxima com terna compaixão. Os corações a Ele se abrem e, à medida que O escutam, o Espírito Santo lhes desdobra alguma coisa do significado daquela lição de que a humanidade de todas as épocas carece. MDC 6 2 Nos dias de Cristo os guias religiosos do povo julgavam-se ricos em tesouros espirituais. A oração do fariseu: "Ó Deus, graças Te dou, porque não sou como os demais homens" (Lucas 18:11), exprimia os sentimentos de sua classe e, em grande parte, da nação inteira. Mas na multidão que cercava Jesus, alguns havia que tinham a intuição de sua pobreza espiritual. Quando, na pesca miraculosa, se revelou o poder de Cristo, Pedro rojou-se aos pés do Salvador, exclamando: "Retira-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador" (Lucas 5:8); assim na multidão reunida no monte havia almas que, na presença de Sua pureza, se sentiam desgraçadas, miseráveis, pobres, cegas e nuas (Apocalipse 3:17); e estas almejavam "a graça de Deus,... trazendo a salvação a todos os homens". Tito 2:11. Nessas almas, as palavras de saudação de Cristo despertaram esperança; viram que sua vida estava sob a bênção de Deus. MDC 7 1 Jesus apresentara a taça de bênçãos aos que se julgavam ricos e de nada carecidos (Apocalipse 3:17), e eles, com escárnio, volveram costas à dádiva misericordiosa. Aquele que se julga são, que pensa ser razoavelmente bom e se satisfaz com o seu estado, não procura tornar-se participante da graça e justiça de Cristo. O orgulho não sente necessidade, fechando, pois, o coração a Cristo e às bênçãos infinitas que Ele veio dar. Não há lugar para Jesus no coração dessa pessoa. Os que são ricos e honrados aos próprios olhos, não oram com fé, para receberem a bênção de Deus. Presumem estar cheios, por isso se retiram vazios. Os que sabem que não se podem salvar a si mesmos, nem de si praticar qualquer ação de justiça, são os que apreciam o auxílio que Cristo pode conceder. São eles os pobres de espírito, aos quais Ele declara bem-aventurados. MDC 7 2 Aquele a quem Cristo perdoa, faz Ele primeiro penitente, e é função do Espírito Santo convencer do pecado. Aqueles cujo coração foi movido pela convicção comunicada pelo Espírito de Deus, vêem que em si mesmos nenhum bem existe. Vêem que tudo que já fizeram está misturado com o próprio eu e o pecado. Como o pobre publicano, ficam a distância, não ousando erguer os olhos ao céu, e clamam: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" Lucas 18:13. Estes são abençoados. Há perdão para o penitente, pois Cristo é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. A promessa de Deus é "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve: ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã". "E vos darei um coração novo. ... E porei dentro de vós o Meu Espírito." Isaías 1:18; Ezequiel 36:26, 27. MDC 8 1 Dos humildes de espírito, diz Jesus: "Deles é o reino dos Céus." Este reino não é, como esperavam os ouvintes de Cristo, um domínio temporal e terreno. Cristo estava a abrir aos homens o reino espiritual de Seu amor, Sua graça, Sua justiça. A insígnia do reino do Messias distingue-se pela imagem do Filho do homem. Seus súditos são os humildes de espírito, os mansos, os perseguidos por causa da justiça. Deles é o reino dos Céus. Conquanto não se tenha ainda realizado plenamente, iniciou-se neles a obra que os tornará "idôneos para participar da herança dos santos na luz". Colossences 1:12. MDC 8 2 Todos os que têm a intuição de sua profunda pobreza de alma e vêem que em si mesmos nada possuem de bom, encontrarão justiça e força olhando a Jesus. Diz Ele: "Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos." Mateus 11:28. Ele vos ordena que troqueis a vossa pobreza pelas riquezas de Sua graça. Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança, é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele. Qualquer que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam vossas circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois, fracos, incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande distância ao vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar do pecador. Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás intervém em altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e reclamando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder. MDC 9 1 "De Mim se dirá: Deveras no Senhor há justiça e força. ... No Senhor será justificada e se gloriará toda a descendência de Israel." Isaías 45:24, 25. "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados." Mateus 5:4. MDC 9 2 O pranto aqui apresentado é a sincera tristeza de coração pelo pecado. Jesus diz: "E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. E ao contemplarmos Jesus levantado sobre a cruz, discerniremos o estado pecaminoso da humanidade. Vemos que foi o pecado que açoitou e crucificou o Senhor da glória. Vemos que, ao passo que somos amados com indizível ternura, nossa vida tem sido uma contínua cena de ingratidão e rebelião. Esquecemos nosso melhor Amigo, e desprezamos o mais precioso dom deparado pelo Céu. Crucificamos de novo, em nós mesmos, o Filho de Deus e de novo traspassamos aquele sangrento e ferido coração. Separamo-nos de Deus por um abismo de pecado, extenso, negro e profundo, e choramos com coração quebrantado. MDC 10 1 Esse pranto será "consolado". Deus nos revela a culpa a fim de que nos possamos dirigir a Cristo, e por meio dEle sejamos libertados da servidão do pecado e nos regozijemos na liberdade dos filhos de Deus. Em verdadeira contrição podemos arrojar-nos aos pés da cruz, e ali depor o nosso fardo. MDC 10 2 As palavras do Salvador contêm também uma mensagem de conforto para os que sofrem aflição ou privação. Nossas tristezas não brotam da terra. Deus "não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens". Lamentações 3:33. Quando permite que nos sobrevenham provações e aflições é "para nosso proveito, para sermos participantes de Sua santidade". Hebreus 12:10. MDC 10 3 Se recebida, com fé, a provação que parece tão amarga e difícil de suportar provar-se-á uma bênção. O golpe cruel que desfaz as alegrias tornar-se-á o meio de fazer-nos volver os olhos para o Céu. Quantos há que nunca teriam conhecido Jesus se a tristeza os não houvesse levado a buscar dEle conforto! MDC 10 4 As provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir; é molesto estar, por força, sob a ação da pedra de polimento. Mas a pedra é depois apresentada pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras preciosas são polidas, como colunas de um palácio. MDC 11 1 O Senhor trabalhará por todos os que nEle puseram sua confiança. Preciosas vitórias serão alcançadas pelos fiéis, inestimáveis lições aprendidas e realizadas valiosas experiências. MDC 11 2 Nosso Pai celestial nunca Se esquece daqueles a quem a tristeza alcançou. Quando Davi seguia pelo monte das Oliveiras, "subindo e chorando, e com a cabeça coberta; e caminhava com os pés descalços" (2 Samuel 15:30), o Senhor, apiedado, observava-o. Davi vestira-se de saco e sua consciência o acusava. Os sinais exteriores de humilhação testificavam de quão contrito se achava. Em sentidas expressões, vindas de um coração quebrantado, apresentou seu caso a Deus, e o Senhor não desamparou Seu servo. Nunca foi Davi mais caro ao coração do Infinito Amor do que quando, com consciência abatida, para salvar a vida fugiu dos inimigos que haviam sido instigados à rebelião por seu próprio filho. Diz o Senhor: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te." Apocalipse 3:19. Cristo ampara o coração contrito e purifica a alma pesarosa, até que se torne Sua morada. MDC 11 3 Mas quando nos sobrevém a tribulação, quantos de nós são como Jacó! Julgamos ser a mão de um inimigo; e na escuridão lutamos cegamente até ter gasto as forças, sem encontrarmos conforto nem libertamento. O toque divino em Jacó ao raiar do dia, revelou Aquele com quem estivera lutando -- o Anjo do concerto; e pranteando, deixou-se cair impotente nos braços do Infinito Amor, para receber as bênçãos que sua alma anelava. Também nós precisamos aprender que as provações significam benefício, e não desprezar o castigo do Senhor, nem desfalecer quando somos por Ele repreendidos. MDC 12 1 "Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga. ... Porque Ele faz a chaga, e Ele mesmo a liga; Ele fere, e as Suas mãos curam. Em seis angústias te livrará; e na sétima o mal te não tocará." Jó 5:17-19. A cada ferido Se achega Jesus com Seu poder curativo. A vida de privação, dor e sofrimento pode ser iluminada pelas preciosas revelações de Sua presença. MDC 12 2 Não é vontade de Deus que nos mantenhamos subjugados pela muda tristeza, coração ferido e quebrantado. Ele quer que olhemos para cima e Lhe contemplemos a serena face de amor. O bendito Salvador Se põe ao lado de muitos, cujos olhos estão tão cegados pelas lágrimas, que nem O discernem. Deseja tomar-nos pela mão, e que O olhemos com fé simples, permitindo que Ele nos guie. Seu coração abre-Se às nossas dores, tristezas e provações. Amou-nos com amor eterno e com amorável benignidade nos atraiu. Podemos fazer descansar sobre Ele o coração e meditar o dia todo em Sua amorável benignidade. Ele erguerá a alma acima dos diários dissabores e perplexidades, a um reino de paz. MDC 12 3 Pensai nisto, filhos do sofrimento e da dor, e regozijai-vos em esperança: "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." 1 João 5:4. MDC 12 4 Bem-aventurados são também os que choram com Jesus, em simpatia com os entristecidos do mundo, e em tristeza pelo pecado. Desse pranto não participa nenhum pensamento egoísta. Jesus foi o Varão de dores, suportando angústia de coração tal que nenhuma linguagem poderá retratar. Seu espírito foi ferido e moído pelas transgressões do homem. Afadigou-Se em zelo consumidor para aliviar as necessidades e infortúnios da humanidade, e o Seu coração pesava de tristeza ao ver multidões recusarem ir a Ele para que vivessem. Todos os que são seguidores de Cristo terão parte nesta experiência. Ao participarem de Seu amor, entrarão para o Seu serviço a fim de salvar os perdidos. Participam dos sofrimentos de Cristo e também participarão da glória que há de ser revelada. Unidos com Ele em Sua obra, com Ele sorvendo o cálice da amargura, são também participantes de Seu gozo. MDC 13 1 Foi por meio de sofrimento que Jesus alcançou o ministério da consolação. Em toda a angústia da humanidade foi angustiado; e "naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados". Isaías 63:9; Hebreus 2:18. Toda alma que entra em comunhão com Ele neste ministério, tem o privilégio de participar de Seus sofrimentos. "Como as aflições de Cristo abundam em nós, assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo." 2 Coríntios 1:5. O Senhor tem graça especial para outorgar ao que pranteia, graça cujo poder é abrandar corações e ganhar almas. Seu amor abre caminho na alma ferida e quebrantada, e torna-se bálsamo curativo para os que choram. "O Pai de misericórdias e o Deus de toda a consolação... nos consola em toda a nossa tribulação para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus." 2 Coríntios 1:3, 4. "Bem-aventurados os mansos." Mateus 5:5. MDC 13 2 Há, através das bem-aventuranças, uma progressão na experiência cristã. Os que sentiram sua necessidade de Cristo, os que choraram por causa do pecado, e se sentaram com Cristo na escola da aflição, hão de, com o divino Mestre, aprender a ser mansos. MDC 14 1 A paciência e a brandura ao sofrer ofensas, não eram característicos apreciados pelos pagãos e pelos judeus. A declaração feita por Moisés sob a inspiração do Espírito Santo, de ser ele o homem mais manso que havia sobre a Terra, não teria sido considerada pelo povo de seu tempo como um louvor; teria antes excitado piedade ou desprezo. Mas Cristo coloca a mansidão entre os primeiros atributos necessários para habitar em Seu reino. Em Sua própria vida e caráter revela-se a divina beleza dessa graça preciosa. MDC 14 2 Jesus, o resplendor da glória do Pai, "não julgou que o ser igual a Deus fosse coisa de que não devesse abrir mão, mas esvaziou-Se, tomando a forma de servo". Filipenses 2:6, 7. Consentiu em passar por todas as humildes experiências da vida, andando entre os filhos dos homens, não como rei, exigindo homenagens, mas como Alguém cuja missão era servir aos outros. Não havia em Sua maneira de ser nenhum traço de beatice ou de fria austeridade. O Redentor do mundo tinha uma natureza superior à dos anjos, todavia, unidas a Sua divina majestade achavam-se a mansidão e a humildade que atraíam todos a Ele. MDC 14 3 Jesus Se esvaziou a Si mesmo e, em tudo quanto fez, o próprio eu não aparecia. Subordinava todas as coisas à vontade de Seu Pai. Quando Sua missão na Terra estava prestes a terminar, foi-Lhe possível dizer: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer." João 17:4. Ele nos pede: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo" (Mateus 11:29; 16:24); que o próprio eu seja destronado e nunca mais possua a supremacia da alma. MDC 15 1 Aquele que contempla a Cristo em Sua abnegação, em Sua humildade de coração será constrangido a dizer, como o fez Daniel quando viu Alguém semelhante aos filhos dos homens: "Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio." Daniel 10:8. A altivez e supremacia própria em que nos gloriamos, são vistas em sua verdadeira vileza, como testemunhos de servidão a Satanás. A natureza humana está sempre lutando por se manifestar, pronta para a disputa; mas aquele que aprende de Cristo, esvazia-se do próprio eu, do orgulho, do amor da supremacia, e há silêncio na alma. O próprio eu é colocado ao dispor do Espírito Santo. Não andamos então ansiosos de ocupar o primeiro lugar. Não ambicionamos comprimir e acotovelar para nos pôr em destaque; mas sentimos que nosso mais alto lugar é aos pés de nosso Salvador. Olhamos para Jesus, esperando que Sua mão nos conduza, escutando Sua voz, em busca de guia. O apóstolo Paulo teve essa experiência, e disse: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. MDC 15 2 Quando recebemos a Cristo na alma, como hóspede permanente, a paz de Deus, que excede a todo entendimento, guarda nosso coração e espírito em Cristo Jesus. A vida do Salvador na Terra, embora passada em meio de conflito, foi uma vida de paz. Conquanto irados inimigos O estivessem sempre perseguindo, Ele disse: "Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29. Nenhuma tempestade de ira humana ou diabólica poderia perturbar a calma daquela perfeita comunhão com Deus. E Ele nos diz: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou." "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso." João 14:27; Mateus 11:29. Levai comigo o jugo do serviço, para a glória de Deus e o erguimento da humanidade, e achareis suave o jugo, e leve o fardo. MDC 16 1 É o amor do próprio eu que destrói a nossa paz. Enquanto o eu está bem vivo, estamos continuamente prontos a preservá-lo de mortificação e insulto; mas, se estamos mortos, e nossa vida escondida com Cristo em Deus, não levaremos a sério as desatenções e indiferenças. Seremos surdos às censuras, e cegos à zombaria e ao insulto. "A caridade [amor] é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca falha." 1 Coríntios 13:4-8. MDC 16 2 A felicidade derivada de fontes terrenas é tão mutável como a podem tornar as várias circunstâncias; a paz de Cristo, porém, é constante e permanente. Ela não depende de qualquer circunstância da vida, da quantidade de bens mundanos, ou do número de amigos. Cristo é a fonte da água viva, e a felicidade que dEle emana não pode jamais falhar. MDC 16 3 A mansidão de Cristo, manifestada no lar, tornará felizes os membros da família; ela não provoca disputas, não dá más respostas, mas acalma o gênio irritado, e difunde uma suavidade que se faz sentir por todos os que se acham dentro do aprazível ambiente. Sempre que é nutrida, torna as famílias da Terra uma parte da grande família do Céu. MDC 17 1 Muito melhor nos é sofrer sob falsa acusação, do que nos infligirmos a nós mesmos a tortura da desforra sobre os nossos inimigos. O espírito de ódio e vingança teve sua origem em Satanás, e só pode trazer mal sobre aquele que o nutre. Humildade de coração, aquela mansidão que é o fruto de permanecer em Cristo, é o verdadeiro segredo da bênção. "Ele adornará os mansos com a salvação." Salmos 149:4. MDC 17 2 Os mansos "herdarão a Terra". Foi mediante o desejo de exaltação própria que o pecado entrou no mundo, e nossos primeiros pais perderam o domínio sobre a bela Terra, seu reino. É mediante a abnegação que Cristo redime o que se havia perdido. E Ele diz que devemos vencer como Ele venceu. Apocalipse 3:21. Por meio da humildade e renúncia do próprio eu, podemos tornar-nos co-herdeiros com Ele, quando os mansos herdarem a Terra. Salmos 37:11. MDC 17 3 A Terra prometida aos mansos não se parecerá com esta, obscurecida pelas sombras da morte e da maldição. "Nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova Terra, em que habita a justiça." "E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os Seus servos O servirão." 2 Pedro 3:13; Apocalipse 22:3. MDC 17 4 Não haverá decepção, nem pesar, nem pecado, ninguém que diga: enfermo estou; não haverá cortejos fúnebres, nem lamentações, nem morte, nem separações, nem corações partidos; mas Jesus ali estará, ali estará a paz. Os remidos "nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o Sol os afligirá; por que O que Se compadece deles os guiará, e os levará mansamente aos mananciais das águas". Isaías 49:10. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos." Mateus 5:6. MDC 18 1 Justiça é santidade, semelhança com Deus; e "Deus é amor". 1 João 4:16. É conformidade com a lei de Deus; pois "todos os Teus mandamentos são justiça" (Salmos 119:172); e o "cumprimento da lei é o amor". Romanos 13:10. Justiça é amor, e o amor é a luz e a vida de Deus. A justiça de Deus se acha concretizada em Cristo. Recebemos a justiça recebendo-O a Ele. MDC 18 2 Não é por meio de penosas lutas ou fatigante lida, nem de dádivas ou sacrifícios, que alcançamos a justiça; ela é, porém, gratuitamente dada a toda alma que dela tem fome e sede. "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei;... sem dinheiro e sem preço." "Sua justiça... vem de Mim, diz o Senhor", e "este será o nome com que O nomearão: O Senhor Justiça Nossa." Isaías 55:1; 54:17; Jeremias 23:6. MDC 18 3 Nenhum agente humano pode suprir aquilo que satisfará a fome e a sede da alma. Mas Jesus diz: "Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome, e quem crê em Mim nunca terá sede." Apocalipse 3:20; João 6:35. MDC 19 1 Como precisamos de alimento para sustentar nossas forças físicas, assim necessitamos de Cristo, o pão do Céu, para manter a vida espiritual, e comunicar forças para efetuar as obras de Deus. Como o corpo está continuamente recebendo a nutrição que sustém a vida e o vigor, assim a alma deve estar constantemente comungando com Cristo, a Ele submissa, e confiando inteiramente nEle. MDC 19 2 Como o fatigado viajante procura a fonte no deserto e, encontrando-a sacia a sede abrasadora, assim há de o cristão ansiar e obter a pura água da vida, de que Cristo é a fonte. MDC 19 3 Ao discernirmos a perfeição do caráter de nosso Salvador, havemos de desejar ser inteiramente transformados, e renovados à imagem de Sua pureza. Quanto mais conhecermos a Deus, tanto mais elevado será nosso ideal de caráter, e mais veemente o nosso anseio de Lhe refletir a imagem. Um elemento divino combina-se com o humano, quando a alma se dilata, em busca de Deus, e o anelante coração pode exclamar: "Ó minha alma, espera somente em Deus, porque dEle vem a minha esperança." Salmos 62:5. MDC 19 4 Se experimentais um sentimento de necessidade em vossa alma, se tendes fome e sede de justiça, isso é prova de que Cristo tem operado em vosso coração, a fim de ser por vós procurado, para vos fazer, mediante o dom do Espírito Santo, aquilo que vos é impossível realizar em vosso próprio benefício. Não precisamos saciar nossa sede em correntes rasas; pois a grande fonte se acha mesmo por sobre nós, fonte de cujas abundantes águas nos é dado beber fartamente, se nos alçarmos um pouco mais na escalada da fé. MDC 20 1 As palavras de Deus são a fonte da vida. Ao buscardes esses vivos mananciais haveis de, mediante o Espírito Santo, ser postos em comunhão com Cristo. Verdades familiares apresentar-se-ão ao vosso espírito sob novo aspecto; como o clarão de um relâmpago, novas significações cintilarão de textos familiares da Escritura; vereis a relação de outras verdades com a obra da redenção, e sabereis que Cristo vos está guiando; que tendes ao lado um Mestre divino. MDC 20 2 Jesus disse: "A água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna." João 4:14. À medida que o Espírito Santo vos descerre a verdade, haveis de entesourar as mais preciosas experiências, e falareis longamente a outros das confortadoras coisas que vos têm sido reveladas. Quando com eles vos reunirdes haveis de comunicar qualquer novo pensamento com relação ao caráter ou à obra de Cristo. Tereis nova revelação de Seu piedoso amor para comunicar aos que O amam, e aos que O não amam. MDC 20 3 "Dai, e ser-vos-á dado" (Lucas 6:38); pois a Palavra de Deus é "a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano". Cantares 4:15. O coração que experimentou uma vez o amor de Cristo, clama continuamente por um maior sorvo e, comunicando-o a outros, recebereis mais rica e abundante medida. Cada revelação de Deus à alma aumenta a capacidade de conhecer e amar. O contínuo brado do coração é: "Mais de Ti", e sempre a resposta do Espírito é: "Muito mais." Romanos 5:9, 10. Pois nosso Deus Se deleita em fazer "tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20. A Jesus, que Se esvaziou a Si mesmo para a salvação da humanidade perdida, o Espírito Santo foi dado sem medida. Assim será Ele dado a todo seguidor de Cristo, quando todo o coração for entregue para Sua habitação. Nosso Salvador mesmo deu o mandamento: "Enchei-vos do Espírito" (Efésios 5:18), e essa ordem é também uma promessa de seu cumprimento. Foi do agrado do Pai que "toda a plenitude nEle habitasse", em Cristo; e "estais perfeitos nEle". Colossences 1:19; 2:10. MDC 21 1 Deus tem derramado de maneira ilimitada o Seu amor, como os aguaceiros que refrigeram a terra. Ele diz: "As nuvens chovam justiça; abra-se a terra, e produza-se salvação, e a justiça frutifique juntamente." "Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu o Senhor os ouvirei, Eu o Deus de Israel os não desampararei. Abrirei rios em lugares altos, e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em tanques de águas, e a terra seca em mananciais." Isaías 45:8; 41:17, 18. "E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça." João 1:16. "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia." Mateus 5:7. MDC 21 2 O coração do homem é, por natureza, frio, escuro e desagradável; sempre que alguém manifeste espírito de misericórdia e perdão, fá-lo, não de si mesmo, mas mediante a influência do divino Espírito a mover-lhe o coração. "Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro." 1 João 4:19. MDC 22 1 É o próprio Deus a fonte de toda a misericórdia. Seu nome é "misericordioso e piedoso". Êxodo 34:6. Ele não nos trata segundo os nossos merecimentos. Não indaga se somos dignos de Seu amor, mas derrama sobre nós as riquezas desse amor, a fim de fazer-nos dignos. Não é vingativo. Não busca punir, mas redimir. Mesmo a severidade que mostra por meio de Suas providências, é manifestada para salvação dos extraviados. Intensamente anela Ele aliviar as misérias dos homens, e aplicar-lhes às feridas Seu bálsamo. É verdade que Deus "ao culpado não tem por inocente" (Êxodo 34:7); mas quereria tirar a culpa. MDC 22 2 Os misericordiosos são "participantes da natureza divina", e neles encontra expressão o compassivo amor de Deus. Todos aqueles cujo coração está em harmonia com o coração do Infinito Amor, buscarão reaver e não condenar. A presença permanente de Cristo na alma é uma fonte que jamais secará. Onde Ele habita, haverá uma torrente de beneficência. MDC 22 3 Ante o apelo do tentado, do errante, das míseras vítimas da necessidade e do pecado, o cristão não pergunta: São eles dignos? mas: Como os posso eu beneficiar? Nos mais indignos, mais degradados, vê almas para cuja salvação Cristo morreu, e para quem Deus deu a Seus filhos o ministério da reconciliação. MDC 22 4 Os misericordiosos são os que manifestam compaixão para com os pobres, os sofredores e oprimidos. Jó declara: "Eu livrava o miserável que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Cobria-me de justiça, e ela me servia de vestido; como manto e diadema era o meu juízo. Eu era o olho do cego, e os pés do coxo; dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência." Jó 29:12-16. MDC 23 1 Muitos há para quem a vida é uma penosa luta; sentem suas deficiências, e são infelizes e incrédulos; pensam nada terem por que ser agradecidos. Palavras bondosas, olhares de simpatia, expressões de apreciação, seriam para muitas almas lutadoras e solitárias como um copo de água fria a uma alma sedenta. Uma palavra compassiva, um ato de bondade, ergueriam fardos que pesam duramente sobre fatigados ombros. E toda palavra ou ato de abnegada bondade é uma expressão do amor de Cristo pela humanidade perdida. MDC 23 2 Os misericordiosos "alcançarão misericórdia". "A alma generosa engordará, e o que regar também será regado." Provérbios 11:25. Há uma doce paz para o espírito compassivo, uma bendita satisfação na vida de esquecimento de si mesmo em benefício de outros. O Espírito Santo que habita na alma e Se manifesta na vida, abrandará corações endurecidos, e despertará simpatia e ternura. Haveis de ceifar aquilo que semeardes. "Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre. ... O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na Terra, e Tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; Tu renovas a sua cama na doença." Salmos 41:1-3. MDC 24 1 Aquele que consagrou sua vida a Deus para o ministério de Seus filhos, está ligado com Aquele que tem todos os recursos do Universo ao Seu dispor. Sua vida se acha, pela áurea cadeia das imutáveis promessas, presa à vida de Deus. O Senhor não lhe faltará na hora do sofrimento e da necessidade. "O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus." Filipenses 4:19. E na hora da necessidade final os misericordiosos encontrarão abrigo na misericórdia de um compassivo Salvador, e serão recebidos nas eternas habitações. "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus." Mateus 5:8. MDC 24 2 Os judeus eram tão meticulosos quanto à limpeza cerimonial, que suas regras eram extremamente pesadas. Tinham o espírito preocupado com regras e restrições e o temor de contaminação exterior, e não percebiam a mancha que o egoísmo e a malícia comunicavam à alma. MDC 24 3 Jesus não menciona essa pureza cerimonial como uma das condições de entrar em Seu reino, mas indica a necessidade da pureza de coração. A sabedoria que do alto vem "é, primeiramente, pura". Tiago 3:17. Na cidade de Deus não entrará coisa alguma que contamine. Todos quantos houverem de ser seus moradores, hão de se ter tornado aqui puros de coração. A pessoa que está aprendendo de Jesus manifestará crescente desagrado pelas maneiras descuidosas, pela linguagem indecente e pensamentos vulgares. Quando Cristo habita no coração, haverá pureza e refinamento de idéias e maneiras. MDC 25 1 Mas as palavras de Jesus: "Bem-aventurados os limpos de coração", têm um mais profundo sentido -- não somente puros no sentido em que o mundo entende a pureza, livres do que é sensual, puros de concupiscências, mas fiéis nos íntimos desígnios e motivos da alma, isentos de orgulho e de interesse egoísta, humildes, abnegados, semelhantes a uma criança. MDC 25 2 Unicamente os semelhantes se podem apreciar. A menos que aceiteis em vossa vida o princípio do amor pronto a se sacrificar, que é o princípio de Seu caráter, não podeis conhecer a Deus. O coração enganado por Satanás olha a Deus como um ser tirânico, implacável; os traços egoístas da humanidade, do próprio Satanás, são atribuídos ao amante Criador. "Pensavas que [Eu] era como tu", diz Ele. Salmos 50:21. Suas providências são interpretadas como a expressão de uma natureza arbitrária e vingativa. Da mesma maneira quanto à Bíblia, o tesouro das riquezas de Sua graça. A glória de suas verdades -- elevadas como o céu, amplas, a abranger a eternidade -- não é discernida. Para a grande massa da humanidade, o próprio Cristo é "como raiz de uma terra seca", e nEle não vêem "nenhuma beleza" para que O desejem. Isaías 53:2. Quando Jesus Se achava entre os homens -- a revelação de Deus na humanidade -- os escribas e os fariseus Lhe declararam: "És samaritano, e... tens demônio." João 8:48. Mesmo Seus discípulos estavam tão cegados pelo egoísmo de seu coração, que eram tardios em compreender Aquele que viera a fim de manifestar-lhes o amor do Pai. Por isto é que Jesus andava solitário entre os homens. No Céu, tão-somente, era Ele compreendido. MDC 26 1 Quando Cristo vier em Sua glória, os ímpios não poderão suportar o contemplá-Lo. A luz de Sua presença, que é vida para os que O amam, é morte para eles, os maus. A expectativa de Sua vinda é para eles uma "expectação horrível de juízo, e ardor de fogo". Hebreus 10:27. Quando Ele aparecer, rogarão para ser escondidos da face dAquele que morreu para os redimir. MDC 26 2 Mas para os corações que foram purificados pela presença do Espírito Santo, tudo diverso. Estes podem conhecer a Deus. Moisés estava oculto na fenda da rocha quando lhe foi revelada a glória do Senhor; e é quando nos encontramos escondidos em Cristo que contemplamos o amor de Deus. MDC 26 3 "O que ama a pureza de coração, e tem graça nos seus lábios, terá por seu amigo o Rei." Provérbios 22:11. Pela fé, nós O contemplamos aqui no presente. Em nossa experiência diária, distinguimos Sua bondade e compaixão nas manifestações de Sua providência. Reconhecemo-Lo no caráter de Seu Filho. O Espírito Santo toma a verdade concernente a Deus e Àquele a quem Ele enviou, e descerra-a ao entendimento e ao coração. Os limpos de coração vêem a Deus em uma nova e mais carinhosa relação, como seu Salvador; e ao passo que Lhe distinguem a pureza e a beleza do caráter, anelam refletir a Sua imagem. Vêem-nO como um Pai anelante de abraçar um filho arrependido, e o coração enche-se-lhes de indizível alegria e de abundante glória. MDC 26 4 Os limpos de coração percebem o Criador nas obras de Sua poderosa mão, nas belas coisas que enchem o Universo. Em Sua palavra escrita, lêem em mais distintos traços a revelação de Sua misericórdia, Sua bondade e Sua graça. As verdades ocultas aos sábios e entendidos, são reveladas às criancinhas. A beleza e preciosidade da verdade, não percebidas pelos sábios do mundo, estão sendo constantemente desdobradas aos que experimentam um confiante e infantil desejo de conhecer e cumprir a vontade de Deus. Discernimos a verdade mediante o tornar-nos, nós mesmos, participantes da natureza divina. MDC 27 1 Os puros de coração vivem como na visível presença de Deus durante o tempo que Ele lhes concede neste mundo. E também O verão face a face no estado futuro, imortal, assim como fazia Adão quando andava e falava com Deus no Éden. "Agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face." 1 Coríntios 13:12. "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus." Mateus 5:9. MDC 27 2 Cristo é o "Príncipe da Paz" (Isaías 9:6), e é Sua missão restituir à Terra e ao Céu a paz que o pecado arrebatou. "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Romanos 5:1. Todo aquele que consente em renunciar ao pecado, e abre o coração ao amor de Cristo, torna-se participante dessa paz celestial. MDC 27 3 Não há outra base de paz senão essa. A graça de Cristo, recebida no coração, subjuga a inimizade; afasta a contenda, e enche o coração de amor. Aquele que se acha em paz com Deus e seus semelhantes, não se pode tornar infeliz. Em seu coração não se achará a inveja; ruins suspeitas aí não encontrarão guarida; o ódio não pode existir. O coração que se encontra em harmonia com Deus partilha da paz do Céu, e difundirá ao redor de si sua bendita influência. O espírito de paz repousará qual orvalho sobre os corações desgostosos e turbados pelos conflitos mundanos. MDC 28 1 Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz. Quem quer que seja que, pela serena, inconsciente influência de uma vida santa, revelar o amor de Cristo; quem quer que, por palavras ou ações, levar outro a abandonar o pecado e entregar o coração a Deus, é um pacificador. MDC 28 2 E "bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus". O espírito de paz é um testemunho de sua ligação com o Céu. Envolve-os a suave fragrância de Cristo. O aroma da vida, a beleza do caráter, revelam ao mundo que eles são filhos de Deus. Vendo-os, os homens reconhecem que eles têm estado com Jesus. "Qualquer que ama é nascido de Deus." "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle", mas "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus." 1 João 4:7; Romanos 8:9, 14. MDC 28 3 "E estará o resto de Jacó no meio de muitos povos, como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem aguarda filhos de homens." Miquéias 5:7. "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus." Mateus 5:10. MDC 29 1 A Seus seguidores não dá Jesus nenhuma esperança de glória ou riquezas terrestres ou de uma vida livre de tentações, mas mostra-lhes o privilégio de trilhar com o Senhor o caminho da abnegação e suportar calúnias do mundo que os não conhece. MDC 29 2 A Ele que viera para salvar o mundo perdido, opuseram-se unidas as forças do inimigo de Deus e dos homens. Em cruel conspiração levantaram-se os homens e anjos maus contra o Príncipe da paz. Embora cada palavra e ação testificassem da compaixão divina, Sua falta de semelhança com o mundo provocava a mais amarga inimizade. Porque não consentisse em nenhuma inclinação má da natureza humana, despertou a mais feroz oposição e inimizade. Assim acontece a todos quantos desejam viver piamente em Cristo Jesus. Entre a justiça e o pecado, amor e ódio, verdade e falsidade há conflito irreprimível. Quem manifestar, na conduta, o amor de Cristo e a beleza da santidade, subtrai a Satanás os seus súditos, e por isso o príncipe das trevas contra ele se levanta. Opróbrio e perseguições atingirão a todos os que estão cheios do espírito de Cristo. A maneira das perseguições poderá mudar com o tempo, mas o fundamento -- o espírito que lhes serve de base -- é o mesmo que, desde os tempos de Abel, assassinou os escolhidos de Deus. MDC 29 3 Logo que os homens procuram viver em harmonia com Deus, acharão que o escândalo da cruz ainda não findou. Principados, potestades e hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais, estão voltados contra todos os que se submetem obedientemente à lei celestial. Por isso, aos discípulos de Cristo, deveriam as perseguições causar alegria, em lugar de tristeza, porque elas são uma demonstração de que seguem os passos do Senhor. MDC 30 1 Conquanto o Senhor não prometa estarem Seus servos livres de perseguição, assegura-lhes coisa muito melhor. Diz Ele: "A tua força será como os teus dias." Deuteronômio 33:25. "A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." 2 Coríntios 12:9. Quem precisar, por amor de Cristo, passar pelo calor da fornalha, terá ao lado o Senhor, como os três fiéis de Babilônia. Quem amar ao Redentor, alegrar-se-á em todas as ocasiões, de participar das Suas humilhações e insultos. O amor de Jesus torna doces os sofrimentos. MDC 30 2 Em todos os tempos Satanás perseguiu, torturou e matou os filhos de Deus; mas, morrendo eles, tornaram-se vencedores. Testemunharam em sua perseverante fidelidade que Alguém mais poderoso que o inimigo, estava com eles. Satanás podia torturar-lhes o corpo e matá-los, mas não tocar na vida que com Cristo estava escondida em Deus. Encerrou-os nas masmorras, mas não pôde prender-lhes o espírito. Os prisioneiros, através da escuridão do cárcere, podiam olhar para a glória e dizer: "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada." Romanos 8:18. "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente." 2 Coríntios 4:7. MDC 31 1 Pelo sofrimento e perseguição, a glória -- o caráter -- de Deus será manifestada em Seus escolhidos. A igreja de Deus, odiada e perseguida pelo mundo, é educada e disciplinada na escola de Cristo; caminha na Terra pela estrada estreita, é purificada na fornalha da aflição, segue o Senhor através de duras batalhas, exercita-se na abnegação e sofre amargas experiências, mas reconhece por tudo isso a culpa e a miséria do pecado e aprende a afugentá-lo. MDC 31 2 Visto tomar parte nos sofrimentos de Cristo, participará também de Sua glória. Em visão, contemplou o profeta a vitória do povo de Deus. Diz ele: "E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos da besta, e de sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos." Apocalipse 15:2, 3. "Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra." Apocalipse 7:14, 15. "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem." Mateus 5:11. MDC 31 3 Sempre, desde sua queda, Satanás tem operado mediante enganos. Como tem apresentado falsamente a Deus, assim, mediante seus agentes, apresenta ele de maneira desfigurada os filhos de Deus. Diz o Salvador: "As afrontas dos que Te afrontam caíram sobre Mim." Salmos 69:9. Assim recaem elas sobre os Seus discípulos. MDC 32 1 Jamais houve alguém que andasse entre os homens mais cruelmente caluniado do que o Filho do homem. Era desprezado e escarnecido por causa de Sua incondicional obediência aos princípios da santa lei de Deus. Aborreceram-nO sem causa. Todavia Ele permanecia calmo perante Seus inimigos, declarando que o vitupério é uma parte do legado dos cristãos, aconselhando Seus seguidores quanto à maneira de enfrentar as setas da perversidade, pedindo-lhes que não desfalecessem sob a perseguição. MDC 32 2 Conquanto a calúnia possa enegrecer a reputação, não pode manchar o caráter. Este se encontra sob a guarda de Deus. Enquanto não consentirmos em pecar, não há poder, diabólico ou humano, que nos possa trazer uma nódoa à alma. Um homem cujo coração está firme em Deus é, na hora de suas mais aflitivas provações e desanimadoras circunstâncias, o mesmo que era quando em prosperidade, quando sobre ele pareciam estar a luz e o favor de Deus. Suas palavras, seus motivos, suas ações, podem ser desfigurados e falsificados, mas ele não se importa, pois tem em jogo maiores interesses. Como Moisés, fica firme como "vendo o invisível" (Hebreus 11:27); não atentando nas "coisas que se vêem, mas nas que se não vêem". 2 Coríntios 4:18. MDC 32 3 Cristo está a par de tudo quanto é mal-interpretado e desfigurado pelos homens. Seus filhos podem esperar com serena paciência e confiança, por mais que sofram malignidade e desprezo; pois nada há oculto que não haja de manifestar-se, e aqueles que honram a Deus hão de por Ele ser honrados na presença dos homens e dos anjos. MDC 33 1 "Quando vos injuriarem e perseguirem", disse Jesus, "exultai e alegrai-vos." E apontou aos Seus ouvintes os profetas que falaram em nome do Senhor, como "exemplo de aflição e paciência". Tiago 5:10. Abel, o primeiro cristão dos filhos de Adão, morreu mártir. Enoque andou com Deus, e o mundo não o conheceu. Noé foi escarnecido como fanático e alarmista. "Outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões." Outros "foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição". Hebreus 11:36, 35. MDC 33 2 Em todos os séculos os escolhidos mensageiros de Deus têm sido ultrajados e perseguidos; não obstante, mediante seus sofrimentos foi o conhecimento de Deus disseminado no mundo. Todo discípulo de Cristo tem de ingressar nas fileiras e levar avante a mesma obra, sabendo que seu inimigo nada pode fazer contra a verdade, senão pela verdade. Deus pretende que a verdade seja posta pela frente, se torne objeto de exame e consideração, a despeito do desprezo que lhe votem. O espírito do povo deve ser agitado; toda polêmica, toda crítica, todo esforço para restringir a liberdade de consciência, é um instrumento de Deus para despertar as mentes que, do contrário, ficariam modorrentas. MDC 33 3 Quantas vezes se têm observado esses resultados na história dos mensageiros de Deus! Quando o nobre e eloqüente Estêvão foi apedrejado por instigação do conselho do Sinédrio, não houve nenhum prejuízo para a causa do evangelho. A luz do Céu a iluminar-lhe o semblante, a divina compaixão que transpirava de sua oração quando moribundo, foram qual penetrante seta de convicção para os fanáticos membros do Sinédrio ali presentes, e Saulo, o fariseu perseguidor, tornou-se um vaso escolhido para levar diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel, o nome de Cristo. E muito depois Paulo, já envelhecido, escreveu de sua prisão em Roma: "Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia,... não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? contanto que Cristo seja anunciado de toda maneira, ou com fingimento ou em verdade." Filipenses 1:15-18. Por meio da prisão de Paulo o evangelho foi difundido, e almas ganhas para Cristo no próprio palácio dos Césares. Pelos esforços de Satanás para a destruir, a "incorruptível" semente da Palavra de Deus, "viva, e que permanece para sempre" (1 Pedro 1:23), é semeada no coração dos homens; mediante o vitupério e a perseguição de Seus filhos, o nome de Cristo é magnificado, e almas são salvas. MDC 34 1 Grande é no Céu o galardão dos que testemunham em favor de Cristo por meio de perseguição e opróbrio. Enquanto o povo está esperando bens terrenos, Jesus os encaminha a uma recompensa celestial. Não a coloca, entretanto, inteiramente na vida futura; ela começa aqui. O Senhor apareceu na antiguidade a Abraão, dizendo: "Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão." Gênesis 15:1. Esta é a recompensa de todos quantos seguem a Cristo. Jeová Emanuel -- Aquele "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência", em quem habita "corporalmente toda a plenitude da divindade" (Colossences 2:3, 9) -- ser levado a sentir em correspondência com Ele, conhecê-Lo, possuí-Lo, à medida que o coração se abre mais e mais para receber-Lhe os atributos; conhecer-Lhe o amor e o poder, possuir as insondáveis riquezas de Cristo, compreender mais e mais "qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" (Efésios 3:18, 19) -- "esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que vem de Mim, diz o Senhor". Isaías 54:17. MDC 35 1 Foi esta alegria que encheu o coração de Paulo e Silas quando oravam e cantavam louvores a Deus à meia-noite, na prisão de Filipos. Cristo Se achava ali ao seu lado. De Roma escreveu Paulo, esquecido de suas cadeias, ao ver a difusão do evangelho: "Nisto me regozijo, e me regozijarei ainda." Filipenses 1:18. E as próprias palavras de Cristo sobre o monte são ecoadas na mensagem de Paulo à igreja dos filipenses, em meio das perseguições que sofriam: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos." Filipenses 4:4. "Vós sois o sal da Terra." Mateus 5:13. MDC 35 2 O sal é apreciado por suas propriedades preservativas; e quando Deus compara Seus filhos ao sal, quer ensinar-lhes que Seu desígnio em torná-los objeto de Sua graça, é que se tornem instrumentos na salvação de outros. O objetivo de Deus em escolher um povo acima de todos no mundo, não era apenas o adotá-los como filhos e filhas, mas que, por meio deles, o mundo recebesse a graça que traz a salvação. Tito 2:11. Quando o Senhor escolheu a Abraão, não foi simplesmente para que ele se tornasse um especial amigo de Deus, mas para que fosse um transmissor dos privilégios particulares que o Senhor desejava outorgar às nações. Em Sua última oração com os discípulos antes da crucifixão, Jesus disse: "E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade." João 17:19. Semelhantemente os cristãos que são purificados por meio da verdade possuirão qualidades salvadoras, que preservarão o mundo da inteira corrupção moral. MDC 36 1 O sal deve ser misturado com a substância em que é posto; é preciso que penetre a fim de conservar. Assim, é com o contato pessoal e a convivência que os homens são alcançados pelo poder salvador do evangelho. Não são salvos em massa, mas como indivíduos. A influência pessoal é um poder. Cumpre-nos achegar-nos àqueles a quem desejamos beneficiar. MDC 36 2 O sabor do sal representa o poder do cristão -- o amor de Jesus no coração, a justiça de Cristo penetrando a vida. O amor de Cristo é de natureza a difundir-se e penetrar. Caso em nós habite, fluirá para outros. Havemos de aproximar-nos deles tanto que seu coração seja aquecido por nosso abnegado interesse e amor. Os crentes sinceros difundem uma energia vital, penetrante, que comunica nova força moral às almas por quem trabalham. Não é o poder do próprio homem, mas o do Espírito Santo, que opera a obra transformadora. MDC 36 3 Jesus acrescentou a solene advertência: "E se o sal for insípido, com que se há de salgar? para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens." MDC 36 4 Enquanto ouviam as palavras de Cristo, o povo podia ver o alvo sal brilhando nas veredas onde fora lançado por haver perdido o seu sabor, tornando-se portanto inútil. Isto bem representava as condições dos fariseus, e o efeito de sua religião sobre a sociedade. Representa a vida de toda alma de quem se apartou o poder da graça de Deus, e que se tornou fria e destituída de Cristo. Seja qual for sua profissão de fé, essa pessoa é considerada pelos homens e os anjos insípida e desagradável. É a tais pessoas que Cristo diz: "Oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca." Apocalipse 3:15, 16. MDC 37 1 Sem uma viva fé em Cristo como Salvador pessoal, é impossível fazer com que nossa influência seja sentida em um mundo cético. Não podemos dar a outros aquilo que nós mesmos não possuímos. É proporcionalmente à nossa própria devoção e consagração a Cristo, que exercemos uma influência para benefício e erguimento da humanidade. Caso não haja real serviço, nem genuíno amor, nem realidade de experiência, não há poder para ajudar, nem comunhão com o Céu, nem sabor de Cristo na vida. A não ser que o Espírito Santo se possa servir de nós como instrumentos mediante os quais comunique ao mundo a verdade qual ela é em Jesus, somos como sal que perdeu o sabor e está de todo inútil. Por nossa falta da graça de Cristo testificamos ao mundo que a verdade que pretendemos crer não possui poder santificador; e assim, no que respeita à nossa influência, tornamos de nenhum efeito a Palavra de Deus. "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade [amor], seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria." 1 Coríntios 13:1-3. MDC 38 1 Quando o amor enche o coração, fluirá para os outros, não por causa de favores recebidos deles, mas por que é o amor o princípio da ação. O amor modifica o caráter, rege os impulsos, subjuga a inimizade e enobrece as afeições. Este amor é vasto como o Universo, e está em harmonia com o dos anjos ministradores. Nutrido no coração, adoça a vida inteira e derrama seus benefícios sobre todos ao redor. É isto, e isto unicamente, que nos pode tornar o sal da Terra. "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. MDC 38 2 À medida que Jesus ensinava o povo, tornava interessantes Suas lições e prendia a atenção dos ouvintes por meio de freqüentes ilustrações tiradas das cenas da Natureza que os rodeava. O povo se reunira ainda pela manhã. O glorioso Sol, elevando-se mais e mais no firmamento azul, ia dissipando as sombras ocultas nos vales e nas estreitas gargantas das montanhas. A glória dos céus orientais ainda não se havia dissipado. A luz solar inundava a Terra com seu esplendor; a plácida superfície do lago refletia a áurea luz e espelhava as róseas nuvens matinais. Cada botão, cada flor e folha cintilava de gotas de orvalho. A Natureza sorria à bênção de um novo dia, e os pássaros cantavam docemente entre as árvores. O Salvador olhou ao grupo que tinha diante de Si, e depois ao Sol nascente, e disse a Seus discípulos: "Vós sois a luz do mundo." Como sai o Sol em sua missão de amor, desvanecendo as sombras da noite e despertando o mundo para a vida, assim os seguidores de Cristo devem ir em sua missão, difundindo a luz do Céu sobre os que se encontram nas trevas do erro e do pecado. MDC 39 1 Na luminosidade da manhã, destacavam-se nitidamente as cidades e aldeias situadas nos montes ao redor, tornando-se num atrativo aspecto do cenário. Apontando-as, disse Jesus: "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte." E acrescentou: "Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa." A maioria dos que ouviam a Jesus, eram camponeses e pescadores, cujas humildes habitações consistiam apenas em um aposento, no qual a única lâmpada, em seu velador, iluminava a todos os que estavam na casa. Assim, disse Jesus: "Resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." MDC 39 2 Nenhuma outra luz brilhou nem brilhará jamais sobre os homens caídos, a não ser aquela que dimana de Cristo. Jesus, o Salvador, é a única luz que pode iluminar a escuridão de um mundo imerso no pecado. A respeito de Cristo está escrito: "NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens." João 1:4. Foi recebendo de Sua luz que os discípulos se puderam tornar portadores de luz. A vida de Cristo na alma, Seu amor revelado no caráter, torná-los-ia a luz do mundo. MDC 40 1 De si mesma a humanidade não possui luz. Separados de Cristo, somos semelhantes a um círio não aceso, como a Lua quando tem a face voltada para o lado contrário ao Sol; não temos um único raio luminoso a lançar sobre a treva do mundo. Ao volver-nos, porém, para o Sol da Justiça, ao nos pormos em contato com Cristo, a alma inteira é iluminada com o brilho da divina presença. MDC 40 2 Os seguidores de Cristo devem ser mais que uma luz entre os homens. Eles são a luz do mundo. Jesus diz a todos quantos proferem Seu nome: Vós vos entregastes a Mim, e Eu vos entreguei ao mundo como Meus representantes. Como o Pai O enviara ao mundo, assim, declara Ele, "também Eu os enviei ao mundo". João 17:18. Como Cristo é o instrumento para a revelação do Pai, assim devemos nós ser o meio para a revelação de Cristo. Conquanto nosso Salvador seja a grande fonte de iluminação, não esqueçais, ó cristãos, que Ele é revelado mediante a humanidade. As bênçãos de Deus são concedidas por meio de instrumentos humanos. O próprio Cristo veio ao mundo como o Filho do homem. A humanidade, unida à natureza divina, deve tocar a humanidade. A igreja de Cristo, cada discípulo do Mestre, individualmente, é o veículo designado pelo Céu para a revelação de Deus aos homens. Anjos de glória esperam comunicar por vosso intermédio a luz e o poder celestes a almas prestes a perecer. Deixarão os agentes humanos de cumprir a tarefa que lhes é designada? Oh! então, é o mundo, na mesma proporção, roubado da prometida influência do Espírito Santo. MDC 41 1 Mas Jesus não pediu aos discípulos: "Esforçai-vos por fazer resplandecer a vossa luz"; Ele disse: "Resplandeça." Se Cristo habita no coração, é impossível esconder a luz de Sua presença. Se aqueles que professam ser seguidores de Cristo não são a luz do mundo, é porque o poder vital os deixou; se não têm luz para comunicar, é porque não têm ligação com a Fonte da luz. MDC 41 2 Em todos os tempos, o "Espírito de Cristo, que estava neles" (1 Pedro 1:11) tem feito os verdadeiros filhos de Deus a luz do povo de sua geração. José foi um portador de luz no Egito. Em sua pureza, beneficência e amor filial, representou a Cristo em meio de uma nação idólatra. Enquanto os israelitas iam a caminho do Egito para a Terra Prometida, os sinceros entre eles foram uma luz para as nações circunvizinhas. Por meio deles foi Deus revelado ao mundo. De Daniel e seus companheiros em Babilônia, e de Mardoqueu na Pérsia, fulgiram brilhantes raios de luz por entre a treva das cortes reais. Semelhantemente os discípulos de Cristo são colocados como portadores de luz no caminho para o Céu; por meio deles se manifestam ao mundo envolto na escuridão de um errôneo conceito de Deus, a misericórdia e a bondade do Pai. Vendo suas boas obras, outros são levados a glorificar o Pai celestial; pois se torna manifesto que há um Deus sobre o trono do Universo, Deus cujo caráter é digno de louvor e imitação. O divino amor fulgindo no coração, a harmonia cristã manifestada na vida, são quais vislumbres do Céu concedidos aos homens no mundo, a fim de que lhes apreciem a excelência. MDC 42 1 É assim que os homens são levados a crer no "amor que Deus nos tem". 1 João 4:16. Desse modo são purificados e transformados corações outrora pecaminosos e corrompidos, para serem apresentados "irrepreensíveis, com alegria, perante a Sua glória". Judas 24. MDC 42 2 As palavras do Salvador: "Vós sois a luz do mundo", indicam haver Ele confiado a Seus seguidores uma missão mundial. Nos dias de Cristo, o egoísmo, o orgulho e o preconceito haviam construído um alto muro de separação entre os indicados guardiões dos sagrados oráculos e qualquer outra nação do globo. Mas o Salvador viera mudar tudo isto. As palavras que o povo Lhe estava ouvindo dos lábios eram diversas de tudo quanto sempre tinham ouvido dos sacerdotes e rabis. Cristo derriba a parede de separação, o amor-próprio, o separatista preconceito de nacionalidade, e ensina amor a toda a família humana. Ergue os homens do estreito círculo que lhes prescreve o egoísmo; elimina todos os limites territoriais e as convencionais distinções da sociedade. Não faz diferença entre vizinhos e estrangeiros, amigos e inimigos. Ele nos ensina a considerar a toda alma necessitada como nosso semelhante, e o mundo como o nosso campo. MDC 42 3 Como os raios do Sol penetram até aos mais afastados recantos do globo, assim designa Deus que a luz do evangelho se estenda a toda alma sobre a Terra. Se a igreja de Cristo estivesse cumprindo o desígnio de nosso Senhor, a luz se espargiria sobre todos quantos estão assentados nas trevas e na região da sombra da morte. Em vez de se congregarem e se eximirem às responsabilidades e a levar a cruz, os membros da igreja se espalhariam por todas as terras, irradiando a luz de Cristo, trabalhando como Ele fez pela salvação de almas, e este "evangelho do reino" seria velozmente levado a todo o mundo. MDC 43 1 É assim que o propósito de Deus ao chamar, desde Abraão na Mesopotâmia, até nós hoje em dia, tem de chegar a seu cumprimento. Ele diz: "Abençoar-te-ei,... e tu serás uma bênção." Gênesis 12:2. As palavras de Cristo por intermédio do profeta evangélico, e de que o Sermão do Monte não é senão um eco, dirigem-se a nós, nesta última geração. "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. Se a glória do Senhor nasceu sobre vosso espírito; se tendes contemplado a beleza dAquele que "traz a bandeira entre dez mil", e que é "totalmente desejável", se vossa alma se tornou radiante em presença de Sua glória, são-vos dirigidas estas palavras do Mestre. Estivestes acaso com Cristo no monte da transfiguração? Há, na planície, almas escravizadas a Satanás; elas esperam a palavra de fé e oração que as vá libertar. MDC 43 2 Não somente devemos contemplar a glória de Cristo, mas também falar de Suas excelências. Isaías não só contemplou a glória de Cristo, mas também falou dEle. Enquanto Davi meditava, ardia o fogo; então falou com sua língua. Ao meditar no maravilhoso amor de Deus, não podia deixar de falar do que via e sentia. Quem pode pela fé contemplar o maravilhoso plano da redenção, a glória do unigênito Filho de Deus, e não falar disso? Quem pode contemplar o insondável amor que na morte de Cristo foi manifesto na cruz do Calvário, a fim de que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna -- quem poderá contemplar isso e não ter palavras com que exaltar a glória do Salvador? MDC 44 1 "No Seu templo cada um diz: Glória." Salmos 29:9. O suave cantor de Israel louvou-O com a harpa, dizendo: "Falarei da magnificência gloriosa de Tua majestade e das Tuas obras maravilhosas. E se falará da força dos Teus feitos terríveis; e contarei a Tua grandeza." Salmos 145:5, 6. MDC 44 2 A cruz do Calvário deve ser exaltada perante o povo, a fim de que lhes absorva a mente e concentre os pensamentos. Então todas as faculdades espirituais serão acompanhadas de um poder divino que procede diretamente de Deus. Haverá então concentração das energias em genuíno trabalho pelo Mestre. Como agentes vivos para a iluminação da Terra os obreiros emitirão raios de luz para o mundo. MDC 44 3 Cristo aceita, oh! sim, de bom grado, todo agente humano que a Ele se entrega. Ele une o humano ao divino, a fim de poder comunicar ao mundo os mistérios do amor manifestado em carne. Acerca disto falemos, oremos e cantemos; difundamos a mensagem de Sua glória e prossigamos avante em direção às regiões de além. MDC 44 4 As provações suportadas com paciência, as bênçãos recebidas com gratidão, as tentações resistidas varonilmente, a mansidão, a bondade, misericórdia e amor manifestados habitualmente, são luzes que resplandecem no caráter, em contraste com as trevas do coração egoísta, em que nunca brilhou a luz da vida. ------------------------Capítulo 3 -- A espiritualidade da lei "Não vim ab-rogar, mas cumprir." Mateus 5:17. MDC 45 1 Fora Cristo que, por entre trovões e relâmpagos, proclamara a lei no monte Sinai. A glória de Deus, qual fogo devorador, repousara no cimo do monte, e este tremera ante a presença do Senhor. As hostes de Israel, prostradas por terra, haviam escutado em temor os sagrados preceitos da lei. Que contraste com a cena sobre o monte das bem-aventuranças! Sob um firmamento estival, sem som algum a quebrar o silêncio senão o cântico dos pássaros, Jesus desenvolveu os princípios de Seu reino. Todavia Aquele que naquele dia falava ao povo em acentos de amor, estava-lhes desvendando os princípios da lei proclamada no Sinai. MDC 45 2 Ao ser dada a lei, Israel, degradado pela servidão no Egito, necessitara ser impressionado com o poder e a majestade de Deus; no entanto, Ele não menos Se lhes revelou como um Deus de amor. MDC 45 3 "O Senhor veio de Sinai, e lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o monte Parã, e veio com dez milhares de santos; à Sua direita havia para eles o fogo da lei. Na verdade ama os povos; todos os Seus santos estão na Tua mão; postos serão no meio, entre os Teus pés, cada um receberá das Tuas palavras." Deuteronômio 33:2, 3. MDC 46 1 Foi a Moisés que Deus revelou Sua glória naquelas admiráveis palavras que têm sido a acariciada herança dos séculos: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6, 7. MDC 46 2 A lei dada no Sinai era a enunciação do princípio do amor, a revelação, feita à Terra, da lei do Céu. Foi ordenada pela mão de um Mediador -- proferida por Aquele por cujo poder o coração dos homens podia ser posto em harmonia com os seus princípios. Deus revelara o desígnio da lei, quando declarara a Israel: "Ser-Me-eis homens santos." Êxodo 22:31. MDC 46 3 Mas Israel não percebera a natureza espiritual da lei, e com demasiada frequência sua professada obediência não passava de uma observância de formas e cerimônias, em vez de ser uma entrega do coração à soberania do amor. Quando Jesus, em Seu caráter e Sua obra, apresentava aos homens os santos, generosos e paternais atributos de Deus, e lhes mostrava a inutilidade de meras formas cerimoniais de obediência, os guias judaicos não recebiam nem compreendiam Suas palavras. Achavam que Ele Se demorava muito ligeiramente nos reclamos da lei; e quando lhes expunha as próprias verdades que constituíam a alma do serviço que lhes era divinamente indicado, eles, olhando apenas ao exterior, acusavam-nO de buscar derribá-la. MDC 46 4 As palavras de Cristo, conquanto proferidas com serenidade, eram ditas com uma sinceridade e poder que moviam o coração do povo. Em vão apuravam o ouvido à espera de uma repetição das mortas tradições e exações dos rabis. Eles se admiravam "da Sua doutrina; porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas". Mateus 7:29. Os fariseus notavam a vasta diferença entre sua maneira de instruir e a de Cristo. Viam que a majestade, a pureza e beleza da verdade, com sua profunda e branda influência, estavam tomando posse de muitos espíritos. O divino amor do Salvador, Sua ternura, para Ele atraíam os homens. Os rabis viam que, por Seus ensinos, era reduzido a nada todo o teor das instruções por eles ministradas ao povo. Ele estava derribando a parede divisória que tão lisonjeira era ao seu orgulho e exclusivismo; e temiam que, caso isso fosse permitido, deles afastasse inteiramente o povo. Seguiam-nO, portanto, com decidida hostilidade, esperando encontrar ocasião para fazê-Lo cair no desagrado das multidões, habilitando assim o Sinédrio a conseguir Sua condenação à morte. MDC 47 1 No monte, Jesus estava de perto sendo observado por espias; e, ao desdobrar Ele os princípios da justiça, os fariseus fizeram com que se murmurasse que Seus ensinos estavam em oposição aos preceitos que Deus dera no Sinai. O Salvador nada dissera para abalar a fé na religião e nas instituições que haviam sido dadas por intermédio de Moisés; pois todo raio de luz que o grande guia de Israel comunicara a seu povo fora recebido de Cristo. Conquanto muitos digam em seu coração que Ele viera para anular a lei, Jesus com inequívoca linguagem revela Sua atitude para com os estatutos divinos. "Não cuideis que vim destruir a lei e os profetas." MDC 48 1 É o Criador dos homens, o Doador da lei, que declara não ser Seu desígnio pôr à margem os seus preceitos. Tudo na Natureza, desde a minúscula partícula de pó no raio de sol até os mundos nas alturas, encontra-se debaixo de leis. E da obediência a essas leis dependem a ordem e a harmonia do mundo natural. Assim, há grandes princípios de justiça a reger a vida de todo ser inteligente, e da conformidade com esses princípios depende o bem-estar do Universo. Antes que a Terra fosse chamada à existência, já existia a lei de Deus. Os anjos são governados por Seus princípios, e para que a Terra esteja em harmonia com o Céu, também o homem deve obedecer aos divinos estatutos. No Éden, Cristo deu a conhecer ao homem os preceitos da lei "quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. A missão de Cristo na Terra não era destruir a lei, mas, por Sua graça, levar novamente o homem à obediência de Seus preceitos. MDC 48 2 O discípulo amado, que escutou as palavras de Jesus no monte, escrevendo muito depois sob a inspiração do Espírito Santo, fala da lei como de uma perpétua obrigação. Diz ele que "o pecado é o quebrantamento da lei", e que "todo aquele, que comete pecado, quebra também a lei". 1 João 3:4 (TT). Ele torna claro que a lei a que se refere é "o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes". 1 João 2:7. Ele fala da lei que existia na criação, e foi reiterada no Monte Sinai. MDC 48 3 Falando da lei, Jesus disse: "Não vim ab-rogar, mas cumprir." Ele emprega aqui a palavra "cumprir" no mesmo sentido em que a usou quando declarou a João Batista Seu desígnio de "cumprir toda a justiça" (Mateus 3:15); isto é, encher a medida do reclamo da lei, dar um exemplo de perfeita conformidade com a vontade de Deus. MDC 49 1 Sua missão era engrandecer "a lei, e a tornar ilustre (ou gloriosa)". Isaías 42:21 (TT). Ele devia mostrar a natureza espiritual da lei, apresentar seus princípios de vasto alcance, e tornar clara sua eterna obrigatoriedade. MDC 49 2 A divina beleza de caráter de Cristo, de quem o mais nobre e mais suave entre os homens não é senão um pálido reflexo; de quem Salomão, pelo Espírito de inspiração escreveu: "Ele traz a bandeira entre dez mil. ... Sim, Ele é totalmente desejável" (Cantares de Salomão 5:10-16); de quem Davi, vendo-O em profética visão, disse: "Tu és mais formoso do que os filhos dos homens" (Salmos 45:2); Jesus, a expressa imagem da pessoa do Pai, o resplendor de Sua glória, o abnegado Redentor, através de Sua peregrinação de amor na Terra, foi uma viva representação do caráter da lei de Deus. Em Sua vida se manifesta que o amor de origem celeste, os princípios cristãos, fundamenta as leis de retidão eterna. MDC 49 3 "Até que o céu e a Terra passem", disse Jesus, "nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." Por Sua própria obediência à lei, Cristo testificou do caráter imutável da mesma, e provou que, por meio de Sua graça, ela podia ser perfeitamente obedecida por todo filho e filha de Adão. Ele declarou no monte que nem o pequenino jota seria omitido da lei até que tudo se cumprisse -- tudo quanto diz respeito à raça humana tudo quanto se relaciona com o plano da redenção. Ele não ensina que a lei deva ser ab-rogada, mas fixa o olhar no mais remoto horizonte humano, e assegura-nos de que até que esse ponto seja atingido, a lei conservará sua autoridade, de modo que ninguém julgue que Sua missão era abolir os preceitos da lei. Enquanto o céu e a Terra durarem, os santos princípios da santa lei de Deus permanecerão. Sua justiça, "como as grandes montanhas" (Salmos 36:6), continuará fonte de bênção, difundindo torrentes para refrigerar a Terra. MDC 50 1 Visto a lei do Senhor ser perfeita, e portanto imutável, é impossível aos homens pecadores satisfazer, por si mesmos, a norma de sua exigência. Foi por isso que Jesus veio como nosso Redentor. Era Sua missão, mediante o tornar os homens participantes da natureza divina, pô-los em harmonia com os princípios da lei celestial. Quando abandonamos nossos pecados, e recebemos a Cristo como nosso Salvador, a lei é exaltada. Pergunta o apóstolo Paulo: "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." Romanos 3:31. MDC 50 2 A promessa do novo concerto, é: "Porei as Minhas leis em seus corações, e as escreverei em seus entendimentos." Hebreus 10:16. Conquanto o sistema de símbolos que apontava para Cristo como o Cordeiro de Deus que devia tirar o pecado do mundo havia de passar com Sua morte, os princípios de justiça contidos no Decálogo são tão imutáveis como o trono eterno. Nenhum mandamento foi anulado, nem um jota ou um til foi mudado. Os princípios que foram dados a conhecer ao homem no Paraíso como a grande lei da vida, existirão, imutáveis, no Paraíso restaurado. Quando o Éden volver a florir na Terra, a lei divina do amor será obedecida por todos debaixo do Sol. MDC 51 1 "Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu." "São... fiéis todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre, são feitos em verdade e retidão." "Acerca dos Teus testemunhos soube, desde a antiguidade, que Tu os fundaste para sempre." Salmos 119:89; 111:7, 8; 119:152. "Qualquer... que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos Céus." Mateus 5:19. MDC 51 2 Isto é, não terá lugar ali. Pois aquele que voluntariamente violar um mandamento, não observa, em espírito e verdade, a nenhum deles. "Qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." Tiago 2:10. MDC 51 3 Não é a grandeza do ato de desobediência que constitui o pecado mas a discordância com a vontade expressa de Deus no mínimo particular; pois isto mostra que ainda existe comunhão entre a alma e o pecado. O coração está dividido em seu serviço. Há uma virtual negação de Deus, uma rebelião contra as leis de Seu governo. MDC 51 4 Fossem os homens livres para se apartar das reivindicações do Senhor e estabelecer uma norma de dever para si mesmos, e haveria uma variação de normas para se adaptarem aos vários espíritos, e o governo seria tirado das mãos de Deus. A vontade do homem se tornaria suprema, e o alto e santo querer de Deus -- Seu desígnio de amor para com Suas criaturas -- seria desonrado, desrespeitado. MDC 52 1 Sempre que os homens preferem seus próprios caminhos, põem-se em conflito com Deus. Eles não terão lugar no reino do Céu, pois se encontram em guerra com os próprios princípios do mesmo. Desconsiderando a vontade de Deus, estão-se colocando ao lado de Satanás, o inimigo do homem. Não por uma palavra, nem muitas palavras, mas por toda palavra que sai da boca de Deus viverá o homem. Não podemos desatender uma palavra, por mais insignificante que nos pareça, e estar seguros. Não há um mandamento da lei que não se destine ao bem e à felicidade do homem, tanto nesta vida como na futura. Na obediência à lei de Deus, o homem se acha circundado como por um muro, e protegido do mal. Aquele que, em um só ponto que seja, derriba esta barreira divinamente erigida, destruiu-lhe o poder para o guardar; pois abriu um caminho pelo qual o inimigo pode entrar, para estragar e arruinar. MDC 52 2 Arriscando-se a desprezar a vontade de Deus em um ponto, abriram nossos primeiros pais as comportas da miséria sobre o mundo. E todo indivíduo que segue o seu exemplo ceifará idênticos resultados. O amor de Deus fundamenta cada preceito de Sua lei, e aquele que se afasta do mandamento está operando sua própria infelicidade e ruína. "Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus." Mateus 5:20. MDC 53 1 Os escribas e fariseus tinham acusado não somente Cristo, mas também Seus discípulos por sua desconsideração para com os ritos e observâncias rabínicos. Muitas vezes tinham sido os discípulos deixados perplexos e perturbados pela censura e a acusação daqueles a quem tinham sido habituados a reverenciar como mestres religiosos. Jesus revelou o engano. Declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande valor, nada valia. A nação judaica pretendia ser o povo peculiar, leal, favorecido por Deus; mas Cristo apresentava sua religião como vazia de salvadora fé. Todas as suas pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias humanas, e mesmo o cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam tornar santos. Não eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no caráter. MDC 53 2 Uma religião legal é insuficiente para pôr a alma em harmonia com Deus. A dura, rígida ortodoxia dos fariseus, destituída de contrição, ternura ou amor, era apenas uma pedra de tropeço aos pecadores. Eles eram como o sal que se tornara insípido; pois sua influência não tinha poder algum para preservar o mundo da corrupção. A única fé verdadeira é aquela que "opera por amor" (Gálatas 5:6), para purificar a alma. É como o fermento que transforma o caráter. MDC 53 3 Tudo isto deviam os judeus ter aprendido dos ensinos dos profetas. Séculos antes, o grito da alma pedindo justificação com Deus encontrara expressão e resposta nas palavras do profeta Miquéias: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus altíssimo? virei perante Ele com holocaustos? com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil ribeiros de azeite?... Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, se não que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:6-8. MDC 54 1 O profeta Oséias indicara o que constitui a própria essência do farisaísmo, nas palavras: "Israel é uma videira estéril; dá fruto para si mesmo." Oséias 10:1 (TT). Em seu professo serviço a Deus, os judeus estavam na verdade trabalhando para o próprio eu. Sua justiça era o fruto de seus próprios esforços para guardar a lei, segundo suas próprias idéias, e para seu benefício pessoal, egoísta. Daí o não poder ser ela melhor do que eles mesmos. Em seu esforço por se tornarem santos, procuravam tirar uma coisa pura de outra imunda. A lei de Deus é santa como Ele próprio é santo, perfeita como Ele é perfeito. Ela apresenta aos homens a justiça de Deus. Impossível é ao homem, de si mesmo, guardar essa lei; pois a natureza do homem é depravada, deformada, e inteiramente diversa do caráter de Deus. As obras do coração egoísta são como coisa imunda; e "todas as nossas justiças como trapo de imundícia". Isaías 64:6. MDC 54 2 Embora a lei seja santa, os judeus não podiam atingir a justiça por seus próprios esforços para guardar a lei. Os discípulos de Cristo precisam alcançar a justiça de um caráter diverso daquela dos fariseus, se querem entrar no reino do Céu. Em Seu Filho, Deus lhes oferecia a perfeita justiça da lei. Caso abrissem plenamente o coração para receber a Cristo, a própria vida de Deus, Seu amor, habitaria então neles, transformando-os à Sua própria semelhança; e assim, mediante o dom gratuito de Deus, haviam de possuir a justiça exigida pela lei. Mas os fariseus rejeitavam a Cristo; "não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer sua própria justiça" (Romanos 10:3), não se submeteram à justiça divina. MDC 55 1 Jesus Se pôs a mostrar a Seus ouvintes o que significa observar os mandamentos de Deus -- que isso é uma reprodução, neles próprios, do caráter de Cristo. Pois nEle Se manifestava Deus diariamente aos olhos deles. "Todo aquele que se ira contra seu irmão, estará sujeito a julgamento." Mateus 5:22 (TB). MDC 55 2 O Senhor dissera por intermédio de Moisés: "Não aborrecerás a teu irmão no teu coração. ... Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo." Levítico 19:17, 18. As verdades apresentadas por Cristo eram as mesmas que haviam sido ensinadas pelos profetas, mas haviam-se tornado obscuras através da dureza de coração e o amor do pecado. MDC 55 3 As palavras do Salvador revelaram a Seus ouvintes que, ao passo que eles estavam condenando outros como transgressores, eram eles próprios igualmente culpados; pois acariciavam malícia e ódio. MDC 56 1 De outro lado do mar, defronte do lugar em que se achavam reunidos, ficava a terra de Basã, uma região deserta, cujas selváticas gargantas e montes cobertos de vegetação, haviam sido desde há muito um terreno favorito de esconderijos para criminosos de toda espécie. Estavam vívidas na memória do povo notícias de roubos e assassínios ali cometidos, e muitos eram zelosos em acusar esses malfeitores. Ao mesmo tempo, eles próprios eram apaixonados e contenciosos; nutriam o mais acerbo ódio contra seus opressores romanos, e sentiam-se em liberdade de odiar e desprezar todos os outros povos, e mesmo seus próprios patrícios que não concordavam em tudo com as suas idéias. Em tudo isto, violavam eles a lei que declara: "Não matarás." MDC 56 2 O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na semente. "Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si." 1 João 3:15. MDC 56 3 "Qualquer que disser a seu irmão: Raca [indivíduo vão], estará sujeito ao julgamento do Sinédrio." No dom de Seu Filho para nossa redenção, Deus mostrou quão alto valor dá Ele a toda alma humana, e não dá direito a homem algum de falar desprezivelmente de outro. Veremos faltas e fraquezas nos que nos rodeiam, mas Deus reclama toda alma como Sua propriedade -- Sua pela criação, e duplamente Sua como comprada com o precioso sangue de Cristo. Todos foram criados à Sua imagem, e mesmo os mais degradados devem ser tratados com respeito e ternura. Deus nos considerará responsáveis mesmo por uma palavra proferida em desprezo a respeito de uma alma por quem Cristo depôs a vida. MDC 57 1 "Por que, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se o não houveras recebido?" "Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai." 1 Coríntios 4:7; Romanos 14:4. MDC 57 2 "Quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito à Geena de fogo." No Velho Testamento a palavra aí traduzida por "tolo" é usada para designar um apóstata, ou uma pessoa que se entregou à impiedade. Jesus diz que quem quer que condene seu irmão como apóstata ou desprezador de Deus, mostra ser ele mesmo digno da mesma condenação. MDC 57 3 O próprio Cristo, quando contendia com Satanás acerca do corpo de Moisés, "não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele". Judas 9. Houvesse Ele feito isso, e ter-Se-ia colocado no terreno de Satanás; pois a acusação é a arma do maligno. Ele é chamado na Escritura "o acusador de nossos irmãos". Apocalipse 12:10. Jesus não empregaria nenhuma das armas de Satanás. Ele o enfrentou com as palavras: "O Senhor te repreenda." Judas 9. MDC 57 4 Seu exemplo nos é dado a nós. Quando somos postos em conflito com os inimigos de Cristo, nada devemos dizer em um espírito de represália, ou que tenha sequer a aparência de um juízo de maldição. Aquele que ocupa o lugar de porta-voz de Deus não deve proferir palavras que nem a Majestade do Céu empregaria quando contendendo com Satanás. Devemos deixar com Deus a obra de julgar e condenar. "Vai reconciliar-te primeiro com teu irmão." Mateus 5:24. MDC 58 1 O amor de Deus é qualquer coisa mais que simples negação; é um princípio positivo e ativo, uma fonte viva, manando sempre para beneficiar os outros. Se o amor de Cristo habita em nós, não somente não nutriremos nenhum ódio contra nossos semelhantes, mas buscaremos por todos os modos manifestar-lhes amor. MDC 58 2 Jesus disse: "Se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta." A oferta sacrifical exprimia fé em que, mediante Cristo, o ofertante se havia tornado participante da misericórdia e do amor de Deus. Mas, que uma pessoa exprimisse fé no amor perdoador de Deus, enquanto, por sua vez, condescendia com um espírito de desamor, seria simplesmente uma farsa. MDC 58 3 Quando uma pessoa que professa servir a Deus ofende ou injuria a um irmão, representa mal o caráter de Deus diante daquele irmão e, a fim de estar em harmonia com Deus, a ofensa deve ser confessada, ele deve reconhecer que isto é pecado. Talvez nosso irmão nos tenha feito um maior agravo do que nós a ele, mas isto não diminui a nossa responsabilidade. Se, ao chegarmos à presença de Deus, nos lembramos de que outro tem qualquer coisa contra nós, cumpre-nos deixar a nossa oferta de oração, ou de ações de graças, ou a oferta voluntária, e ir ter com o irmão com quem estamos em desinteligência, confessando em humildade nosso próprio pecado e pedindo para ser perdoado. MDC 59 1 Se, de alguma maneira, prejudicamos ou causamos dano a nosso irmão, devemos fazer restituição. Se, sem saber, demos a seu respeito falso testemunho, se lhe desfiguramos as palavras, se, por qualquer maneira, lhe prejudicamos a influência, devemos ir ter com as pessoas com quem conversamos a seu respeito, e retirar todas as nossas errôneas e ofensivas informações. MDC 59 2 Se as dificuldades existentes entre irmãos não fossem expostas a outros, mas francamente tratadas entre eles mesmos, no espírito do amor cristão, quanto mal seria evitado! Quantas raízes de amargura pelas quais muitos são contaminados seriam destruídas, e quão íntima e ternamente poderiam os seguidores de Cristo ser unidos em Seu amor! "Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela." Mateus 5:28. MDC 59 3 Os judeus orgulhavam-se de sua moralidade, e olhavam com horror às práticas sensuais dos pagãos. A presença dos oficiais romanos que o governo imperial trouxera à Palestina, era um contínuo escândalo para o povo; com esses estrangeiros, viera uma inundação de costumes pagãos, concupiscência e desregramento. Em Cafarnaum, os oficiais romanos, com suas alegres amantes, freqüentavam os logradouros públicos e os passeios, e muitas vezes os sons da orgia quebravam o silêncio do lago, ao singrarem as águas tranqüilas seus barcos de prazer. O povo esperava ouvir de Jesus uma severa acusação a essa classe; mas qual não foi seu espanto ao escutarem palavras que punham a descoberto o mal de seus próprios corações! MDC 60 1 Quando o pensamento do mal é amado e nutrido, embora secretamente, disse Jesus, isso mostra que o pecado ainda reina no coração. A alma ainda se acha em fel de amargura e em laço de iniqüidade. Aquele que encontra prazer em demorar-se em cenas de impureza, que condescende com o mau pensamento, com o olhar concupiscente, pode ver no pecado aberto, com seu fardo de vergonha e esmagador desgosto -- a verdadeira natureza do mal por ele escondido nas câmaras da alma. O período de tentação sob a qual, talvez, uma pessoa caia em um pecado ofensivo, não cria o mal revelado, mas apenas desenvolve ou torna manifesto aquilo que estava oculto e latente no coração. Um homem "é tal quais são os seus pensamentos"; porque de seu coração "procedem as saídas da vida". Provérbios 23:7; 4:23. "Se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti." Mateus 5:30. MDC 60 2 A fim de impedir que a doença se alastre ao corpo e destrua a vida, um homem se submeteria mesmo a separar-se de sua mão direita. Muito mais deve ele estar pronto a entregar aquilo que põe em risco a vida da alma. MDC 60 3 Mediante o evangelho, almas degradadas e escravizadas por Satanás devem ser redimidas para partilhar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. O desígnio divino não é meramente livrar do sofrimento inevitável resultante do pecado, mas salvar do próprio pecado. A alma, corrompida e deformada, tem de ser purificada, transformada, a fim de poder ser revestida da "graça do Senhor nosso Deus", conforme "a imagem de Seu Filho". "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam." Salmos 90:17; Romanos 8:29; 1 Coríntios 2:9. Unicamente a eternidade pode revelar o glorioso destino a que o homem, restaurado à imagem de Deus, pode atingir. MDC 61 1 Para podermos alcançar esse elevado ideal, o que leva a alma a tropeçar precisa ser sacrificado. É mediante a vontade que o pecado retém seu domínio sobre nós. A entrega da vontade é representada como arrancar o olho ou cortar a mão. Afigura-se-nos muitas vezes que, sujeitar a vontade a Deus é o mesmo que consentir em atravessar a vida mutilado ou aleijado. É melhor, porém, diz Cristo, que o eu seja mutilado, ferido, aleijado, contanto que possais entrar na vida. Aquilo que considerais um desastre, é a porta para um mais elevado bem. MDC 61 2 Deus é a fonte da vida, e só podemos ter vida ao nos acharmos em comunhão com Ele. Separados de Deus, a existência nos pertencerá por um pouco de tempo, mas não possuímos a vida. "A que vive em deleites, vivendo está morta." 1 Timóteo 5:6. Unicamente por meio da entrega de nossa vontade a Deus, é-Lhe possível comunicar-nos vida. Só mediante o receber Sua vida pela entrega do próprio eu é possível, disse Jesus, serem vencidos aqueles pecados ocultos que mencionei. É possível que os sepulteis em vosso coração, e os oculteis dos olhos humanos, mas como subsistireis na presença de Deus? MDC 62 1 Se vos apegais ao eu, recusando entregar a Deus a vossa vontade, estais preferindo a morte. Para o pecado, seja onde for que ele se encontre, Deus é um fogo consumidor Se preferis o pecado, e vos recusais a abandoná-lo, a presença de Deus, que consome o pecado, tem de consumir-vos. MDC 62 2 Exigirá um sacrifício o entregar-se a Deus; é, porém, um sacrifício do inferior pelo mais elevado, do terreno pelo espiritual, do perecível pelo eterno. Não é o desígnio de Deus que nossa vontade seja destruída; pois é unicamente mediante o exercício da mesma que nos é possível efetuar aquilo que Ele quer que façamos. Nossa vontade deve ser sujeita à Sua a fim de que a tornemos a receber purificada e refinada, e tão ligada em correspondência com o Divino, que Ele possa, por nosso intermédio, derramar as torrentes de Seu amor e poder. Se bem que esta entrega possa parecer amarga e dolorosa ao coração voluntário, extraviado, ela te é, todavia, "muito útil" "a ti". MDC 62 3 Enquanto não caiu coxo e impotente sobre o peito do anjo do concerto, não conheceu Jacó a vitória da fé triunfante, recebendo o título de príncipe de Deus. Foi quando ele "manquejava da sua coxa" (Gênesis 32:31) que os armados bandos de Esaú foram acalmados diante dele, e o Faraó, orgulhoso herdeiro de uma linhagem real, abaixou-se para lhe anelar a bênção. Assim o Capitão de nossa salvação foi aperfeiçoado "pelos sofrimentos" (Hebreus 2:10, TB, e os filhos da fé "da fraqueza tiraram forças", e "puseram em fugida os exércitos dos estranhos". Hebreus 11:34. Assim "os coxos roubarão a presa" (Isaías 33:23), e o fraco se tornará "como Davi" e "a casa de Davi... como o anjo do Senhor". Zacarias 12:8. "É lícito ao homem repudiar sua mulher?" Mateus 19:3. MDC 63 1 Entre os judeus era permitido ao homem repudiar sua mulher pelas mais triviais ofensas, e a mulher se achava então em liberdade de casar outra vez. Este costume levava a grande infelicidade e pecado. No Sermão do Monte, Jesus declarou plenamente que não podia haver dissolução do laço matrimonial, a não ser por infidelidade do voto conjugal. "Qualquer", disse Ele, "que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério." MDC 63 2 Quando, posteriormente, os fariseus O interrogaram acerca da legalidade do divórcio, Jesus apontou a Seus ouvintes a antiga instituição do matrimônio, segundo foi ordenada na criação. "Moisés", disse Ele, "por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas no princípio não foi assim." Mateus 19:8. Ele lhes chamou a atenção para os abençoados dias do Éden, quando Deus declarou tudo "muito bom". Então tiveram origem o matrimônio e o sábado, instituições gêmeas para a glória de Deus no benefício da humanidade. Então, ao unir o Criador as mãos do santo par em matrimônio, dizendo: Um homem "deixará o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á a sua mulher, e serão ambos uma carne" (Gênesis 2:24), enunciou a lei do matrimônio para todos os filhos de Adão, até ao fim do tempo. Aquilo que o próprio Pai Eterno declarou bom, era a lei da mais elevada bênção e desenvolvimento para o homem. MDC 64 1 Como todas as outras boas dádivas de Deus concedidas para a conservação da humanidade, o casamento foi pervertido pelo pecado; mas é o desígnio do evangelho restituir-lhe a pureza e a beleza. Tanto no Velho como no Novo Testamentos, a relação matrimonial é empregada para representar a terna e sagrada união existente entre Cristo e Seu povo, os remidos a quem Ele comprou a preço do Calvário. "Não temas", diz Ele; "porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor." "Convertei-vos, ó filhos rebeldes, diz o Senhor; porque Eu vos desposarei." Isaías 54:4, 5; Jeremias 3:14. No Cântico dos Cânticos ouvimos a voz da esposa, dizendo: "O meu Amado é meu, e eu sou dEle." E Aquele que é para ela "o primeiro entre dez mil", fala a Sua escolhida: "Tu és toda formosa, amada Minha, e em ti não há mancha." Cantares 2:16; 5:10; 4:7. MDC 64 2 Posteriormente Paulo, o apóstolo, escrevendo aos cristãos efésios, declara que o Senhor constituiu o marido a cabeça da mulher, para ser-lhe protetor, o elo que liga os membros da família, da mesma maneira que Cristo é a cabeça da igreja, e o Salvador do corpo místico. Portanto Ele diz: "Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres." Efésios 5:24-28. MDC 65 1 A graça de Cristo, e ela somente, pode tornar essa instituição o que Deus designou que fosse: um meio para a bênção e erguimento da humanidade. E assim as famílias da Terra, em sua união, paz e amor, podem representar a família do Céu. MDC 65 2 Hoje, como nos dias de Cristo, a condição da sociedade apresenta triste comentário do ideal celeste dessa sagrada relação. No entanto, mesmo para os que depararam com amargura e desengano quando haviam esperado companheirismo e alegria, o evangelho de Cristo oferece um consolo. A paciência e a gentileza que Seu Espírito pode comunicar, suavizará a condição de amargura. O coração em que Cristo habitar, estará tão repleto, tão satisfeito com Seu amor, que se não consumirá no desejo de atrair simpatia e atenção para si próprio. E pela entrega da alma a Deus, Sua sabedoria pode realizar o que a sabedoria humana deixa de fazer. Por meio da revelação de Sua graça, os corações que uma vez estiveram indiferentes ou desafeiçoados podem ser unidos em laços mais firmes e mais duradouros que os da Terra -- os áureos laços do amor que suportará o cadinho da provação. "De maneira nenhuma jureis." Mateus 5:34. MDC 66 1 É apresentada a razão para isso: não devemos jurar "pelo Céu, porque é o trono de Deus; nem pela Terra, porque é o escabelo de Seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto". MDC 66 2 Todas as coisas vêm de Deus. Nada temos que não tenhamos recebido; e, mais ainda, não temos nada que não haja sido comprado para nós pelo sangue de Cristo. Tudo quanto possuímos, recebemos selado com a cruz, comprado com o sangue cujo valor é inapreciável, pois é a vida de Deus. Daí, não há coisa alguma que, como se fora nossa mesma, tenhamos o direito de empenhar para o cumprimento de nossa palavra. MDC 66 3 Os judeus compreendiam o terceiro mandamento como proibitório do emprego profano do nome de Deus; mas se julgavam na liberdade de empregar outros juramentos. O jurar era coisa comum entre eles. Haviam sido proibidos, por intermédio de Moisés, de jurar falsamente; mas tinham muitos meios de se livrar da obrigação imposta por um juramento. Não temiam condescender com o que era realmente profano, nem recuavam do perjúrio, contanto que o mesmo estivesse velado por qualquer técnica evasiva à lei. MDC 66 4 Jesus lhes condenou as práticas, dizendo que seu costume de jurar era uma transgressão ao mandamento de Deus. Nosso Salvador não proibiu, todavia, o emprego do juramento judicial, no qual Deus é solenemente invocado para testificar que o que se diz é verdade, e nada mais que a verdade. O próprio Jesus, em Seu julgamento perante o Sinédrio, não Se recusou a testificar sob juramento. Disse-Lhe o sumo sacerdote: "Conjuro-Te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus." Jesus respondeu: "Tu o disseste." Mateus 26:63, 64. Houvesse Cristo, no Sermão do Monte condenado o juramento judicial, em Seu julgamento haveria reprovado o sumo sacerdote, reforçando assim, para benefício de Seus seguidores, Seus próprios ensinos. MDC 67 1 Muitos, muitos há que não temem enganar seus semelhantes; mas foi-lhes ensinado, e eles foram impressionados pelo Espírito de Deus, que é terrível coisa mentir a seu Criador. Quando postos sob juramento, é-lhes feito sentir que não estão testemunhando apenas diante dos homens, mas perante Deus; que se derem falso testemunho, é Àquele que lê no coração, e que sabe a exata verdade. O conhecimento dos terríveis juízos que se têm seguido a esse pecado tem uma influência refreadora sobre eles. MDC 67 2 Mas se existe alguém que possa coerentemente testificar sob juramento, esse é o cristão. Ele vive constantemente como na presença de Deus, sabendo que todo pensamento está aberto perante os olhos dAquele com quem temos de tratar; e, quando lhe é exigido fazer assim em uma maneira legal, é-lhe lícito apelar para Deus como testemunha de que o que ele diz é a verdade, e nada senão a verdade. MDC 67 3 Jesus estabeleceu então um princípio que tornaria desnecessário o juramento. Disse que a exata verdade deve ser a lei da linguagem. "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim, Não, não, porque o que passa disto é de procedência maligna." MDC 68 1 Estas palavras condenam todas aquelas frases sem sentido e palavras expletivas, que beiram a profanidade. Condenam os enganosos cumprimentos, a evasiva da verdade, as frases lisonjeiras, os exageros, as falsidades no comércio, coisas comuns na sociedade e no comércio do mundo. Elas ensinam que ninguém que busque parecer o que não é, ou cujas palavras não exprimam o sentimento real do coração, pode ser chamado verdadeiro. MDC 68 2 Caso fossem ouvidas essas palavras de Cristo, elas impediriam a enunciação de ruins suspeitas e crítica malévola; pois, comentando as ações e os motivos de outro, quem pode estar certo de que o que diz é a justa verdade? Quantas vezes o orgulho, a paixão, o ressentimento pessoal, dão cores à impressão transmitida! Um olhar, uma palavra, a própria entonação da voz, podem estar cheios de mentira. Mesmo os fatos podem ser declarados de modo a dar uma falsa impressão. E "o que passa" da verdade "é de procedência maligna". MDC 68 3 Tudo quanto os cristãos fazem deve ser tão transparente como a luz do Sol. A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno. Não é, todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade. MDC 68 4 Cristo nos recomenda por intermédio do apóstolo Paulo: "A vossa conversa seja sempre com graça." "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem." Colossences 4:6 (TB); Efésios 4:29. À luz destas passagens, as palavras de Cristo no monte condenam as galhofas, as futilidades, as conversas impuras. Exigem que nossas palavras sejam, não somente verdadeiras, mas puras. MDC 69 1 Aqueles que têm aprendido de Cristo não terão comunicação "com as obras infrutuosas das trevas". Efésios 5:11. Na linguagem, como na vida, serão simples, retos e verdadeiros; pois estão-se preparando para a companhia daqueles santos em cuja boca "não se achou engano". Apocalipse 14:5. "Não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te dá na face direita, volta-lhe também a outra." Mateus 5:39 (TB). MDC 69 2 Surgiam constantemente ocasiões de irritação para os judeus em razão de seu contato com a soldadesca romana. Destacamentos de tropas achavam-se estacionados em vários pontos através da Judéia e da Galiléia, e sua presença lembrava aos judeus a própria degradação como um povo. Com amargura ouviam eles o alto soar da trombeta, e viam as tropas formando em torno das bandeiras romanas, curvando-se em homenagem ante este símbolo de seu poder. Freqüentes eram os choques entre o povo e os soldados, choques que acendiam o ódio popular. Muitas vezes, quando algum oficial romano ia, apressado, de um lugar para outro, acompanhado de sua guarda, lançava mão dos camponeses judeus que trabalhavam no campo, forçando-os a carregar fardos, montanhas acima ou a prestar outro qualquer serviço de que necessitassem. Isto estava em harmonia com a lei e o costume romanos, e a resistência a exigências desta ordem apenas daria lugar a sarcasmos e crueldades. Dia a dia se aprofundava no coração do povo o anseio de sacudir o jugo romano. Especialmente entre os ousados galileus de rijos pulsos, era predominante o espírito de insurreição. Como cidade fronteiriça, era Cafarnaum sede de uma guarnição, e mesmo enquanto Jesus estava ensinando, a vista de um grupo de soldados evocou a Seus ouvintes a amarga lembrança da humilhação de Israel. O povo olhava ansiosamente para Cristo, esperando que fosse Ele Aquele que houvesse de humilhar o orgulho romano. MDC 70 1 Foi com tristeza que Jesus contemplou as faces voltadas para Ele. Observava o espírito de vingança que estampara seus maus traços sobre eles, conhecendo quão veementemente ansiava o povo o poder a fim de esmagar seus opressores. Com tristeza, Ele lhes ordena: "Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra." MDC 70 2 Estas palavras não eram senão uma reiteração do ensino do Velho Testamento. É verdade que a regra: "olho por olho, e dente por dente" (Levítico 24:20), era uma providência nas leis dadas por intermédio de Moisés; era, porém, um estatuto civil. Ninguém seria justificado em se vingar a si mesmo; pois tinham as palavras do Senhor: "Não digas: vingar-me-ei." "Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele." "Quando cair o teu inimigo, não te alegres." "Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e se tiver sede, dá-lhe água para beber." Provérbios 20:22; 24:29, 17; 25:21, 22. MDC 71 1 Toda a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação deste princípio. Foi para trazer o pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até à sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por intermédio do profeta Isaías, Ele diz: "As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que me arrancam os cabelos: não escondo a Minha face dos que Me afrontam e me cospem." "Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca." Isaías 50:6; 53:7. E, através dos séculos, chega-nos da cruz do Calvário Sua oração pelos que Lhe davam a morte, e a mensagem de esperança ao ladrão moribundo. MDC 71 2 A presença do Pai circundou a Cristo, e nada Lhe sobreveio sem que o infinito amor permitisse, para a bênção do mundo. Aí estava Sua fonte de conforto, e ela existe para nós. Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo, habita em Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas "contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus". Romanos 8:28. MDC 71 3 "Ao que quiser pleitear contigo e tirar-te o vestido [túnica], larga-lhe também a capa [manto]. E se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas." Mateus 5:40, 41. MDC 72 1 Jesus ordenou a Seus discípulos que, em vez de resistir às exigências dos que se acham em autoridade, fizessem ainda mais do que lhes era exigido. E, o quanto possível, se desempenhassem de qualquer obrigação, mesmo que fosse além do que exigia a lei da Terra. A lei, segundo fora dada por Moisés, recomendava uma mui terna consideração para com o pobre. Quando um homem pobre dava sua roupa em penhor, ou em garantia por uma dívida, não era permitido ao credor entrar-lhe em casa a fim de a ir buscar; devia esperar na rua para que o penhor lhe fosse levado. E fossem quais fossem as circunstâncias, o penhor devia ser restituído a seu dono ao pôr do Sol. Deuteronômio 24:10-13. No tempo de Cristo essas misericordiosas providências eram pouco atendidas; mas Jesus ensinou Seus discípulos a se submeterem à decisão do tribunal, mesmo que esta exigisse além do que autorizava a lei de Moisés. Ainda que requeresse uma parte de seu vestuário, deviam submeter-se. Mas ainda, deviam dar ao credor o que lhe era devido, se necessário entregando mesmo mais do que o tribunal o autorizava a tomar. "Ao que quiser pleitear contigo", disse Ele, "e tirar-te o vestido, larga-lhe também a capa." E se os mensageiros vos exigirem que andeis com eles uma milha, ide com eles duas. MDC 72 2 Jesus acrescentou: "Dá ao que te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes." A mesma lição fora ensinada por intermédio de Moisés: "Não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão ao teu irmão que for pobre; antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto lhe baste para a sua necessidade." Deuteronômio 15:7, 8. Esta escritura esclarece o sentido das palavras do Salvador. Cristo não nos ensina a dar indiscriminadamente a todos quantos pedem por caridade; mas diz: "Livremente lhe emprestarás o que lhe falta"; e isto deve ser uma dádiva, de preferência a um empréstimo; pois cumpre-nos emprestar "sem nada" esperar. Lucas 6:35. "Aquele que se dá com sua esmola, está nutrindo a três de uma só vez: A si, bem como ao próximo, a quem consola; nutre também a Mim." "Amai a vossos inimigos." Mateus 5:44. MDC 73 1 A lição do Salvador: "Não resistais ao mal", era dura de ouvir para os vingativos judeus, e eles murmuraram contra ela entre si. Jesus fez então uma declaração ainda mais forte: MDC 73 2 "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos de vosso Pai que está nos Céus." MDC 73 3 Tal era o espírito da lei que os rabis tão mal haviam interpretado como um frio e rígido código de exações. Consideravam-se melhores que os outros homens, e como com direito ao especial favor de Deus em virtude de seu nascimento israelita; mas Jesus indicou o espírito de amor perdoador como aquele que evidenciaria serem atuados por motivos mais elevados do que os mesmos publicanos e pecadores a quem eles desprezavam. MDC 74 1 Ele encaminhou Seus ouvintes ao Governador do Universo, sob a nova designação: "Nosso Pai". Queria que compreendessem quão ternamente o coração de Deus por eles anelava. Ensinou que Deus cuida de toda alma perdida; que "como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem". Salmos 103:13. Tal concepção de Deus não foi jamais dada ao mundo por qualquer religião senão a da Bíblia. O paganismo ensina os homens a olharem para o Ser Supremo como objeto de temor em vez de amor -- uma divindade maligna a ser apaziguada por sacrifícios, e não um Pai derramando sobre Seus filhos o dom do Seu amor. Mesmo o povo de Israel se tornara tão cego ao precioso ensino dos profetas acerca de Deus, que esta revelação de Seu paternal amor era coisa original, uma nova dádiva ao mundo. MDC 74 2 Os judeus afirmavam que Deus amava aqueles que O serviam -- segundo seu ponto de vista, aqueles que cumpriam as exigências dos rabinos -- e que todo o resto do mundo jazia sob o Seu desagrado e maldição. Não assim, disse Jesus; o mundo inteiro, os maus e os bons, acham-se sob o sol do Seu amor. Esta verdade devíeis ter aprendido da própria Natureza; pois Deus "faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". MDC 74 3 Não é em virtude de um poder inerente que a Terra produz ano após ano sua abundância, e continua em seu giro ao redor do Sol. A mão de Deus guia os planetas, e os conserva em posição em sua bem ordenada marcha através dos céus. É por meio de Seu poder que verão e inverno, sementeira e sega, dia e noite se seguem em sucessão regular. É por meio de Sua palavra que a vegetação floresce, aparecem as folhas, desabotoam as flores. Todas as boas coisas que possuímos, todo raio de Sol e toda chuva, todo bocado de pão, todo momento de vida, é um dom de amor. MDC 75 1 Enquanto éramos ainda destituídos de amor e do que nos fizesse amáveis no caráter, "odiosos, odiando-nos uns aos outros", nosso Pai celestial teve misericórdia de nós. "Quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou." Tito 3:3-5. Uma vez recebido o Seu amor, torna-nos, semelhantemente, bondosos e ternos, não somente para os que nos agradam, mas para com os mais faltosos e errantes pecadores. MDC 75 2 Os filhos de Deus são os que partilham de Sua natureza. Não é a posição terrena, nem o nascimento, nem a nacionalidade, nem os privilégios religiosos, o que prova ser membro da família de Deus; é o amor, um amor que envolve toda a humanidade. Mesmo os pecadores cujo coração não se ache inteiramente cerrado ao Espírito de Deus, corresponderão à bondade; conquanto devolvam ódio por ódio, darão também amor por amor. É, porém, unicamente o Espírito de Deus que dá amor em troca de ódio. Ser bondoso para o ingrato e o mau, fazer o bem sem esperar retribuição, é a insígnia da realeza celeste, o sinal certo pelo qual os filhos do Altíssimo revelam sua elevada condição. "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos Céus." Mateus 5:48. MDC 76 1 A palavra "pois" implica em uma conclusão, uma dedução do que foi dito antes. Jesus estivera descrevendo a Seus ouvintes a infalível misericórdia e amor de Deus, e manda-lhes portanto que sejam perfeitos. Pois que vosso Pai celeste "é benigno até para com os ingratos e maus" (Lucas 6:35), pois que Se abaixou para vos erguer, portanto, disse Jesus, podeis tornar-vos semelhantes a Ele no caráter, e apresentar-vos irrepreensíveis diante dos homens e dos anjos. MDC 76 2 As condições da vida eterna, sob a graça, são exatamente as mesmas que eram no Éden -- perfeita justiça, harmonia com Deus, conformidade perfeita com os princípios de Sua lei. A norma de caráter apresentada no Velho Testamento é a mesma apresentada no Novo. Esta norma não é de molde a não podermos atingi-la. Em toda ordem ou mandamento dado por Deus, há uma promessa, a mais positiva, a fundamentá-la. Deus tomou as providências para que nos possamos tornar semelhantes a Ele, e cumpri-las-á para todos quantos não interpuserem uma vontade perversa, frustrando assim a Sua graça. MDC 76 3 Com amor indizível nos tem Deus amado, e nosso amor se desperta para com Ele ao compreendermos algo da extensão e largura e profundidade e altura desse amor que sobrepuja todo entendimento. Pela revelação da atrativa beleza de Cristo, pelo conhecimento de Seu amor a nós expresso enquanto éramos ainda pecadores, o coração obstinado abranda-se e é subjugado, e o pecador transforma-se e torna-se um filho do Céu. Deus não emprega medidas compulsórias; o amor é o meio que Ele usa para expelir o pecado do coração. Por meio dele, muda o orgulho em humildade, a inimizade e incredulidade em amor e fé. MDC 77 1 Os judeus haviam estado labutando penosamente a fim de atingir a perfeição mediante seus próprios esforços, e tinham fracassado. Cristo já lhes dissera que sua justiça jamais poderia entrar no reino do Céu. Agora Ele lhes indica o caráter da justiça que devem possuir todos quantos entram no Céu. Em todo o Sermão do Monte, descreve os frutos desse reino, e agora, em uma sentença, aponta-lhe a origem e a natureza: Sede perfeitos, como Deus é perfeito. A lei não passa de uma imagem do caráter de Deus. Contemplai em vosso Pai celestial uma manifestação perfeita dos princípios que são o fundamento de Seu governo. MDC 77 2 Deus é amor. Quais raios de luz vindos do Sol, o amor e a luz e a alegria manam dEle para todas as Suas criaturas. Dar é Sua natureza. Sua vida mesma é o fluir de um desinteressado amor. "Sua glória é dos filhos a felicidade, Sua alegria está nessa Paternidade." MDC 77 3 Ele nos diz que sejamos perfeitos como Ele o é -- da mesma maneira. Cumpre-nos ser centros de luz e bênção para o nosso pequeno círculo, da mesma maneira que Ele o é para o Universo. Nada temos de nós mesmos, mas a luz de Seu amor resplandece sobre nós, e devemos refletir-lhe o fulgor. "Bons na bondade que Ele nos empresta", podemos ser perfeitos em nossa esfera, da mesma maneira que Deus é perfeito na Sua. MDC 77 4 Jesus disse: "Sede perfeitos como é perfeito vosso Pai." Se sois filhos de Deus, sois participantes de Sua natureza, e não podeis deixar de ser semelhantes a Ele. Todo filho vive pela vida de seu pai. Se sois filhos de Deus -- gerados por Seu Espírito -- viveis pela vida de Deus. Em Cristo habita "corporalmente toda a plenitude da divindade" (Colossences 2:9); e a vida de Cristo se manifesta "em a nossa carne mortal". 2 Coríntios 4:11. Essa vida em vós produzirá o mesmo caráter e manifestará as mesmas obras que nEle produziu. Assim estareis em harmonia com todo preceito de Sua lei; pois "a lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma". Salmos 19:7. Mediante o amor, "a justiça da lei" será cumprida em nós, "que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito". Romanos 8:4. ------------------------Capítulo 4 -- O verdadeiro motivo no serviço "Guardai-vos não façais as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles." Mateus 6:1 (TB). MDC 79 1 As palavras de Cristo no monte eram uma expressão daquilo que fora o mudo ensino de Sua vida, mas que o povo deixara de compreender. Eles não entendiam como, tendo tão grande poder, Ele não buscava empregá-lo em garantir-Se aquilo que reputavam o maior bem. Seu espírito, motivos e métodos eram opostos aos de Jesus. Conquanto pretendessem ser muito zelosos da honra da lei, sua própria glória era o verdadeiro objetivo que buscavam; e Cristo queria tornar-lhes isto manifesto -- que o amante de si mesmo é um transgressor da lei. MDC 79 2 Os princípios nutridos pelos fariseus, porém, são os que formam os característicos da humanidade em todos os séculos. O espírito de farisaísmo é o espírito da natureza humana; e, quando o Salvador mostrou o contraste entre Seu próprio espírito e métodos e os dos rabis, Seu ensino se aplicava igualmente ao povo de todos os tempos. MDC 79 3 Nos dias de Cristo os fariseus procuravam continuamente conseguir o favor do Céu a fim de obter honra e prosperidade mundanas, as quais consideravam como sendo a recompensa da virtude. Ostentavam ao mesmo tempo seus atos de caridade diante do povo com o intuito de atrair-lhes a atenção, e adquirir reputação de santidade. MDC 80 1 Jesus lhes censurou a ostentação, dizendo que Deus não reconhece um serviço como esse, e que a lisonja e a admiração do povo, as quais tão ansiosamente buscavam, seriam a única recompensa que haviam de ter. MDC 80 2 "Quando tu deres esmola", disse Ele, "não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola seja dada ocultamente: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente." MDC 80 3 Com essas palavras Jesus não ensinou que os atos de bondade devem ser sempre conservados em segredo. Paulo, o apóstolo, escrevendo inspirado pelo Espírito Santo, não oculta o generoso sacrifício dos cristãos macedônios, mas fala da graça por Cristo neles operada, de maneira que outros foram possuídos do mesmo espírito. Ele também escreveu à igreja de Corinto, dizendo: "Vosso zelo tem estimulado a muitos." 2 Coríntios 9:2. MDC 80 4 As próprias palavras de Cristo esclarecem Sua intenção -- que nos atos de caridade o objetivo não deve ser atrair louvor e honra dos homens. A verdadeira piedade nunca promove um esforço para ostentação. Os que desejam palavras de elogio e lisonja, delas se nutrindo como de um bocado delicioso, são cristãos apenas de nome. MDC 80 5 Por meio de suas boas obras devem os seguidores de Cristo trazer glória, não para si mesmos, mas para Aquele mediante cuja graça e poder eles operaram. É por meio do Espírito Santo que toda boa obra é efetuada, e o Espírito é dado para glorificar, não o recebedor, mas o Doador. Quando a luz de Cristo brilha na alma, os lábios se encherão de louvor e ação de graças a Deus. Vossas orações, o cumprimento de vossos deveres, vossa beneficência, vossa abnegação, não serão o tema de vossos pensamentos ou conversação. Jesus será engrandecido, o eu oculto, e Cristo aparecerá como tudo em todos. MDC 81 1 Cumpre-nos dar em sinceridade, não para fazer ostentação de nossas boas ações, mas por piedade e amor para com os sofredores. A sinceridade de desígnio, a verdadeira bondade de coração, eis o motivo a que o Céu dá valor. A alma sincera em seu amor, que põe todo o coração em sua devoção, Deus considera mais preciosa que as barras de ouro de Ofir. MDC 81 2 Não devemos pensar na recompensa, mas no serviço; todavia a bondade manifestada nesse espírito não deixará de ter o seu galardão. "Teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente." Conquanto seja verdade que Deus mesmo é o nosso grande Galardão, que abrange todos os outros, a alma só O recebe e frui à medida que se Lhe assemelha no caráter. Unicamente os semelhantes se podem apreciar. É à medida que nos entregamos a Deus para o serviço da humanidade, que Ele Se nos dá. MDC 81 3 Ninguém pode dar em seu coração e vida lugar para a corrente da bênção de Deus fluir em direção a outros, sem que receba em si mesmo uma preciosa recompensa. As encostas de montanhas e as planícies que oferecem caminho às correntes montesinas para chegarem ao mar, nenhum prejuízo sofrem com isso. O que dão lhes é centuplicadamente retribuído. Pois a corrente que passa cantando em sua marcha, deixa após si dádivas de verduras e de frutas. A relva a sua margem tem mais vivo verdor, as árvores mais opulência de cores, as flores são mais abundantes. Quando o solo jaz despido e escuro sob o ressecante calor do Sol, uma linha verdejante indica o curso do rio; e a planície que abre o seio para conduzir o tesouro da montanha ao mar, encontra-se viçosa e revestida de beleza -- testemunha da recompensa que a graça de Deus comunica a todos os que se entregam como condutos a fim de ela poder fluir ao mundo. MDC 82 1 Tal é a bênção daqueles que mostram misericórdia aos pobres. Diz o profeta Isaías: "Não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará,... e o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos,... e serás como um jardim regado, e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:7-11. MDC 82 2 A obra de beneficência é duas vezes bendita. Enquanto aquele que dá ao necessitado beneficia a outros, é ele próprio beneficiado em medida ainda maior. A graça de Cristo no coração desenvolve traços de caráter opostos ao egoísmo -- traços que refinarão, enobrecerão e enriquecerão a vida. Atos de bondade praticados em segredo, ligarão corações entre si, unindo-os mais estreitamente ao coração dAquele de quem provém todo generoso impulso. As pequeninas atenções, os pequenos atos de amor e sacrifício, os quais emanam da vida tão suavemente como o aroma se desprende da flor -- constituem parte importante das bênçãos e felicidade da vida. E verificar-se-á por fim que a negação do próprio eu para o bem e a felicidade dos outros, embora humilde e não louvada aqui, é reconhecida no Céu como o sinal de nossa união com Ele, o Rei da glória, que era rico, e contudo Se tornou pobre por amor de nós. MDC 83 1 Os atos de bondade podem ser praticados em oculto, mas não se podem esconder os resultados sobre o caráter do que os pratica. Se, como seguidores de Cristo, trabalhamos com sincero interesse, o coração achar-se-á em íntima correspondência com Deus, e o Seu Espírito, operando em nosso espírito, despertará, em resposta ao divino toque, as sagradas harmonias da alma. MDC 83 2 Aquele que dá crescentes talentos aos que sabiamente desenvolveram os dons que lhes foram confiados, agrada-Se de reconhecer o serviço de Seu povo crente no Amado, mediante cuja graça e força eles agiram. Aqueles que houverem buscado o desenvolvimento e a perfeição do caráter cristão mediante o exercício de suas faculdades em boas obras hão de, no mundo por vir, ceifar aquilo que semearam. A obra iniciada na Terra há de atingir sua consumação naquela vida mais elevada e santa que se perpetuará por toda a eternidade. "Quando orares, não sejas como os hipócritas." Mateus 6:5. MDC 83 3 Os fariseus tinham horas designadas para oração; e quando, como freqüentemente acontecia, eles estavam fora, no tempo determinado para isso, paravam onde estivesse -- talvez na rua ou nos lugares de comércio, entre as multidões apressadas -- e ali, em altas vozes, repetiam suas formais orações. Tal culto, prestado apenas para glorificação própria, suscitou severa censura da parte de Jesus. Ele não desanimou, entretanto, a oração em público; pois Ele mesmo orou com os Seus discípulos e na presença da multidão. Ensina, porém, que a oração particular não deve ser feita em público. Na devoção íntima nossas orações não devem chegar aos ouvidos de ninguém mais senão do Deus que ouve as orações. Nenhum ouvido curioso deve receber o fardo de tais petições. MDC 84 1 "Quando orares, entra no teu aposento." Tende um lugar para a oração particular. Jesus tinha lugares especiais para comunhão com Deus, e o mesmo devemos fazer. Precisamos retirar-nos freqüentemente para algum canto, por humilde que seja, onde nos possamos encontrar a sós com Deus. MDC 84 2 "Ora a teu Pai que está em oculto." Podemos, em nome de Jesus, chegar à presença de Deus com confiança infantil. Homem algum precisa servir de mediador. Mediante Jesus, é-nos dado abrir o coração a Deus como a alguém que nos conhece e ama. MDC 84 3 No lugar secreto de oração, onde nenhuns olhos senão os de Deus nos podem ver, ouvido algum senão o Seu pode escutar, é-nos dado exprimir nossos mais íntimos desejos e anelos ao Pai de infinita piedade. E, no sossego e silêncio da alma, aquela voz que jamais deixa de responder ao clamor da necessidade humana, falará ao nosso coração. MDC 84 4 "O Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tiago 5:11. Ele aguarda com incansável amor ouvir as confissões do extraviado, e aceitar-lhe o arrependimento. Ele observa a ver qualquer resposta de gratidão de nossa parte, assim como uma mãe observa o sorriso de reconhecimento de seu amado filho. Ele desejaria que levássemos nossas provações a Sua compaixão, nossas dores ao Seu amor, nossas feridas à Sua cura, nossa fraqueza à Sua força, nosso vazio à Sua plenitude. Jamais foi decepcionado alguém que fosse ter com Ele. "Olharam para Ele e foram iluminados; e os seus rostos não ficarão confundidos." Salmos 34:5. MDC 85 1 Aqueles que buscam ao Senhor em segredo, contando-Lhe suas necessidades, e pedindo auxílio, não rogarão em vão. "Teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente." À medida que fizermos de Cristo nosso companheiro diário, havemos de sentir que as forças de um mundo invisível se encontram todas ao redor de nós; e, pelo contemplar a Jesus, seremos transformados à Sua imagem. Somos transformados pela contemplação. O caráter é abrandado, refinado e enobrecido para o reino celeste. O seguro resultado de nosso trato e convívio com nosso Senhor, será o acréscimo de piedade, de pureza e fervor. Haverá progressiva inteligência na oração. Recebemos assim uma educação divina, o que é ilustrado por uma vida de diligência e zelo. MDC 85 2 A alma que se volve para Deus em busca de auxílio, de apoio, de poder, mediante diária e fervorosa oração, terá aspirações nobres, percepções claras da verdade e do dever, altos propósitos de ação, e uma contínua fome e sede de justiça. Mantendo comunhão com Deus, seremos habilitados a difundir para os outros, através de nosso convívio com eles, a luz, a paz e a serenidade que reinam em nosso coração. A força obtida na oração a Deus, unida ao perseverante esforço no exercitar a mente na reflexão e no cuidado, prepara a pessoa para os deveres diários, e mantém o espírito em paz em todas as circunstâncias. MDC 85 3 Se nos achegarmos a Deus, Ele porá em nossos lábios uma palavra para dirigir-Lhe, isto é, um louvor ao Seu nome. Ele nos ensinará o acento do cântico dos anjos -- ações de graças a nosso Pai celestial. Em todo ato da vida, manifestar-se-ão a luz e o amor de um Salvador a residir em nós. As perturbações exteriores não atingem uma vida vivida pela fé no Filho de Deus. "Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios." Mateus 6:7. MDC 86 1 Os pagãos consideravam suas orações como possuidoras em si mesmas do mérito de expiar pecados. Assim, quanto mais longas as orações, tanto maiores os merecimentos. Se se pudessem tornar santos por seus esforços, teriam em si mesmos, alguma coisa de que se regozijar, algo de que se vangloriar. Essa idéia da oração é fruto do princípio de expiação individual, o qual jaz na base de todos os falsos sistemas religiosos. Os fariseus haviam adotado essa idéia pagã acerca da oração, a qual não se acha de modo algum extinta em nossos dias, mesmo entre os que professam o cristianismo. A repetição de frases feitas, habituais, quando o coração não sente nenhuma necessidade de Deus, é da mesma espécie que as "vãs repetições" dos pagãos. MDC 86 2 A oração não é uma expiação pelo pecado; não possui em si mesma nenhuma virtude ou mérito. Todas as palavras floreadas de que possamos dispor não equivalem a um único desejo santo. As mais eloqüentes orações não passam de palavras ociosas, se não exprimirem os reais sentimentos do coração. Mas a oração que provém de um coração sincero, quando se exprimem as simples necessidades da alma, da mesma maneira que pediríamos um favor a um amigo terrestre, esperando que o mesmo nos fosse concedido, eis a oração da fé. Deus não deseja nossos cumprimentos cerimoniais; mas o inarticulado grito de um coração quebrantado e rendido pelo senso de seu pecado e indizível fraqueza, esse alcançará o Pai de toda a misericórdia. "Quando jejuardes, não vos mostreis como os hipócritas." Mateus 6:16. MDC 87 1 O jejum recomendado pela Palavra de Deus é alguma coisa mais que uma forma. Não consiste meramente em nos privarmos da comida, em usarmos saco, em lançarmos cinza sobre a cabeça. Aquele que jejua com verdadeira tristeza pelo pecado, jamais buscará exibir-se. MDC 87 2 O objetivo do jejum que Deus nos convida a fazer, não é afligirmos o corpo pelo pecado do coração, mas o ajudar-nos a perceber o caráter ofensivo do pecado, a humilharmos o coração diante de Deus e recebermos Sua graça perdoadora. Sua ordem a Israel, foi: "Rasgai o vosso coração, e não os vossos vestidos, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus." Joel 2:13. MDC 87 3 De nada nos aproveita o fazer penitência, ou lisonjear-nos de que, por nossas boas obras, havemos de merecer ou comprar uma herança entre os santos. Ao ser feita a Cristo a pergunta: "Que faremos, para executar as obras de Deus?" respondeu Ele: "A obra de Deus é esta: que creiais nAquele que Ele enviou." João 6:28, 29. Arrependimento é o volver-se do próprio eu para Cristo; e quando recebemos a Cristo, de modo que, pela fé, Ele possa viver Sua vida em nós, as boas obras se manifestarão. MDC 88 1 Jesus disse: "Quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em oculto." Mateus 6:17, 18. Tudo quanto for feito para a glória de Deus, deve ser feito com alegria de coração, não com tristeza e espírito sombrio. Não há nada de sombrio na religião de Jesus. Se, pela sua melancólica atitude, os cristãos dão a impressão de haverem sido decepcionados com seu Senhor, isto representa mal o caráter dEle, dando armas aos Seus inimigos. Conquanto, pelas palavras, eles pretendam que Deus é seu Pai, todavia, com melancolia e dor apresentam ao mundo o aspecto de órfãos. MDC 88 2 Cristo deseja que façamos com que Seu serviço pareça atrativo, como na realidade o é. Que as abnegações e as íntimas provas do coração sejam reveladas ao compassivo Salvador. Sejam os fardos levados aos pés da cruz, e prossegui em vosso caminho regozijando-vos no amor dAquele que vos amou primeiro. Talvez os homens não venham nunca a saber da obra que, secretamente, vai em progresso entre a alma e Deus, mas o resultado da obra do Espírito no coração será a todos manifesta; pois Aquele "que vê em segredo, te recompensará publicamente". "Não ajunteis para vós tesouros na Terra." Mateus 6:19 (TB). MDC 88 3 Os tesouros acumulados na Terra não têm duração; os ladrões minam e roubam; a traça e a ferrugem destroem; incêndios e tempestades arrebatam as vossas possessões. E "onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração". Os tesouros acumulados na Terra absorvem a mente, com exclusão das coisas celestiais. MDC 88 4 O amor do dinheiro era a paixão dominante nos dias dos judeus. A mundanidade usurpava o lugar de Deus e da religião na alma. O mesmo se dá agora. A avara ganância das riquezas exerce tão fascinante influência na vida, que traz em resultado a perversão da nobreza e a corrupção do que há de humano nos homens, até que são arrastados para a perdição. O serviço de Satanás é cheio de cuidados, perplexidade e fatigante labor, e o tesouro que os homens labutam por acumular na Terra dura apenas um momento. MDC 89 1 Jesus disse: "Ajuntai para vós tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Trad. Bras.) MDC 89 2 A instrução é: "Ajuntai para vós tesouros no Céu." É para o vosso próprio interesse assegurar as riquezas celestes. Estas apenas, de tudo quanto possuís, são realmente vossas. O tesouro acumulado no Céu é imperecível. Nenhum incêndio ou inundação o pode destruir, ladrão algum o pode arrebatar, nenhuma traça ou ferrugem corrompê-lo; pois se encontra sob a guarda de Deus. MDC 89 3 Este tesouro, que Cristo considera precioso acima de toda estimação, são "as riquezas da glória da Sua herança nos santos". Efésios 1:18. Os discípulos de Cristo são chamados Suas jóias, Seu precioso e peculiar tesouro. Ele diz: "Como as pedras de uma coroa eles serão." "Farei que um homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir." Zacarias 9:16; Isaías 13:12. Cristo considera Seu povo, em sua pureza e perfeição, como a recompensa de todos os Seus sofrimentos, Sua humilhação, Seu amor e como o suplemento de Sua glória -- Cristo, o grande Centro de onde toda a glória irradia. MDC 89 4 E é-nos permitido unir-nos com Ele na grande obra da redenção, e ser participantes com Ele nas riquezas que Sua morte e sofrimento conquistaram. O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos tessalonicenses: "Qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? Na verdade vós sois a nossa glória e gozo." 1 Tessalonicenses 2:19, 20. Este é o tesouro pelo qual Cristo nos pede trabalhar. O caráter é a grande colheita da vida. E toda palavra ou ato que, mediante a graça de Cristo, suscita em uma alma um impulso em direção ao Céu, todo esforço que tende à formação de um caráter cristão, é depositar tesouro no Céu. MDC 90 1 Onde se acha o tesouro, aí estará também o coração. Em todo esforço para beneficiar a outros, beneficiamo-nos a nós mesmos. Aquele que dá dinheiro ou tempo para a disseminação do evangelho, empenha seu próprio interesse e suas orações em prol da obra e das almas a serem conquistadas por meio dele; suas afeições dilatam-se para outros, e ele é estimulado a maior devoção para com Deus, a fim de ser habilitado a fazer-lhes maior bem. MDC 90 2 E no dia final, quando a riqueza da Terra vier a perecer, o que acumulou tesouro no Céu contemplará aquilo que foi ganho pela sua vida. Se demos ouvidos às palavras de Cristo, então, ao reunir-nos em torno do grande trono branco, veremos almas que foram salvas por nosso intermédio, e saberemos que uma salvou a outras, e estas ainda outras -- um grande grupo levado ao porto de descanso em resultado de nossos labores, para aí depositar suas coroas aos pés de Jesus, e louvá-Lo através dos intérminos séculos da eternidade. Com que alegria há de o obreiro de Cristo contemplar esses remidos, que partilham da glória do Redentor! Quão precioso será o Céu para aqueles que houverem sido fiéis na obra de salvar almas! MDC 91 1 "Se já ressuscitaste com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus." Colossences 3:1. "Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz." Mateus 6:22. MDC 91 2 Sinceridade de propósito, inteira devoção a Deus, eis a condição indicada pelas palavras de nosso Salvador. Seja o desígnio de descobrir a verdade e obedecer-lhe custe o que custar, sincero e inabalável, e haveis de receber divina iluminação. A verdadeira piedade começa quando termina toda transigência com o pecado. Então a linguagem do coração será a do apóstolo Paulo: "Uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." "Tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas as coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo." Filipenses 3:13, 14, 8. MDC 91 3 Mas quando os olhos se acham cegados pelo amor do próprio eu, não há senão trevas. "Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso." Era essa terrível cegueira que envolvia os judeus em obstinada incredulidade, tornando-lhes impossível apreciarem o caráter e a missão dAquele que viera salvá-los de seus pecados. MDC 92 1 O ceder à tentação começa ao permitirdes que a mente vacile, seja inconstante na confiança em Deus. Se não preferirmos entregar-nos inteiramente a Deus, achamo-nos então em trevas. Quando fazemos qualquer reserva, deixamos aberta uma porta pela qual Satanás pode entrar para nos extraviar com suas tentações. Ele sabe que, se nos puder obscurecer a visão de maneira que os olhos da fé não possam ver a Deus, não haverá barreira contra o pecado. MDC 92 2 A predominância de um desejo pecaminoso revela a ilusão da alma. Cada condescendência com aquele desejo, avigora a aversão da alma para com Deus. Ao seguirmos a senda escolhida por Satanás, encontramo-nos envolvidos pelas sombras do mal, e cada passo leva a uma treva mais densa e aumenta a cegueira do coração. MDC 92 3 A mesma lei que rege o mundo natural, domina o espiritual. Aquele que permanece nas trevas perderá por fim a faculdade da visão. Fica encerrado por uma treva mais profunda que a da meia-noite; e para ele o mais luminoso meio-dia não pode trazer nenhuma luz. "Anda em trevas e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos." 1 João 2:11. Nutrindo persistentemente o mal, desatendendo voluntariamente as súplicas do divino amor, perde o pecador o amor do bem, o desejo em torno de Deus, a própria capacidade de receber a luz do Céu. O convite da misericórdia ainda é cheio de amor, a luz fulgura ainda tão resplandecente como quando raiou a princípio em sua alma; mas a voz cai em ouvidos moucos, a luz em olhos cegos. MDC 93 1 Alma alguma é abandonada por Deus, entregue a seus próprios caminhos, enquanto houver qualquer raio de esperança quanto a sua salvação. "O homem se desvia de Deus, não Deus do homem." Nosso Pai celestial acompanha-nos com apelos e advertências e afirmações de compaixão, até se tornarem de todo inúteis posteriores oportunidades e privilégios. A responsabilidade fica com o pecador. Resistindo ao Espírito de Deus hoje, prepara ele o caminho para uma segunda resistência à luz quando ela vier com maior poder. Assim passa ele de um grau de resistência a outro, até que por fim a luz deixa de causar impressão, e ele cessa de corresponder por qualquer maneira ao Espírito de Deus. Então mesmo "a luz que em ti há" se tornou em trevas. A própria verdade que conhecemos ficou tão pervertida que aumenta a cegueira da alma. "Ninguém pode servir a dois senhores." Mateus 6:24. MDC 93 2 Cristo não diz que o homem não servirá a dois senhores, mas que ele não pode fazê-lo. Os interesses de Deus e os interesses de Mamom não têm ligação ou correspondência. Justamente onde a consciência do cristão o adverte para deter-se, para negar o próprio eu, para parar, aí mesmo o mundano ultrapassa a linha a fim de condescender com suas propensões egoístas. De um lado do limite se encontra o abnegado seguidor de Cristo; do outro lado está o amante do mundo, complacente consigo mesmo, cortejando a moda, empenhando-se em frivolidades e regalando-se em proibido prazer. Àquele lado do limite não pode ir o cristão. MDC 94 1 Pessoa alguma pode ocupar uma posição neutra; não há classe neutra que nem ama a Deus nem serve ao inimigo da justiça. Cristo deve viver em Seus instrumentos humanos, e operar mediante suas faculdades, e agir por meio de suas aptidões. A vontade deles precisa estar submissa a Sua vontade; eles devem agir com o Seu Espírito. Então, não mais vivem eles, mas Cristo é que neles vive. Aquele que não se entregou inteiramente a Deus, acha-se sob o controle de outro poder, escutando outra voz, cujas sugestões são de caráter inteiramente diverso. Um serviço pela metade coloca o agente humano do lado do inimigo, como bem-sucedido aliado das hostes das trevas. Quando homens que se dizem soldados de Cristo se empregam na confederação de Satanás, e ajudam o seu lado, demonstram-se inimigos de Cristo. Traem sagrados depósitos. Formam um elo entre Satanás e os verdadeiros soldados, de modo que, por meio desses instrumentos, está o inimigo operando continuamente para roubar o coração dos soldados de Cristo. MDC 94 2 O mais poderoso baluarte do vício em nosso mundo, não é a vida iníqua do abandonado pecador ou do degradado; é a vida que, ao contrário, parece virtuosa, respeitável e nobre, mas na qual é nutrido um pecado; a vida em que há complacência com um vício. Para a alma que está lutando intimamente contra alguma gigantesca tentação, tremendo à beira de um abismo, tal exemplo é um dos mais poderosos estímulos a pecar. Aquele que, dotado de altas concepções da vida, da verdade e da honra, transgride ainda voluntariamente um preceito da santa lei de Deus, perverteu seus nobres dons, tornando-os um laço para o pecado. O gênio, o talento, a simpatia, mesmo a generosidade e as boas ações, podem tornar-se um engodo de Satanás para seduzir almas para o precipício da ruína nesta vida e na por vir. MDC 95 1 "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." 1 João 2:15, 16. "Não andeis cuidadosos." Mateus 6:25 (TB). MDC 95 2 Aquele que vos deu a vida, sabe qual é vossa necessidade de alimento para mantê-la. Aquele que criou o corpo não Se esquece de que necessitais de vestuário. Não há de Aquele que concedeu o dom maior proporcionar também o que é preciso para o completar? MDC 95 3 Jesus chamou a atenção de Seus ouvintes para os pássaros enquanto entoavam seus cânticos de louvor, livres de preocupações, pois eles "nem semeiam, nem segam"; todavia o grande Pai lhes provê às necessidades. E pergunta: "Não tendes vós muito mais valor do que eles?" MDC 95 4 "Sem que Ele o saiba não cai a andorinha, A alma contrita não está sozinha; Jesus está conosco em toda parte E em nosso pranto toma sempre parte. Jamais, jamais abandona Ele, assim, Quem nEle confiar até ao fim." MDC 95 5 As encostas dos montes achavam-se matizadas de flores e, apontando-as no orvalhado frescor da manhã, disse Jesus: MDC 96 1 "Olhai para os lírios do campo, como eles crescem." As formas graciosas, as delicadas cores das plantas e das flores podem ser copiadas pela habilidade humana; que toque, porém, é capaz de transmitir vida a uma flor, ou a uma haste sequer? Toda florinha à beira dos caminhos deve a existência ao mesmo poder que estabelece os luminosos mundos lá em cima. A todas as coisas criadas anima um frêmito de vida provindo do grande coração de Deus. As flores do campo são por Sua mão vestidas de mais ricos trajes do que os que adornaram em qualquer tempo os reis terrestres. E "se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?" MDC 96 2 É Aquele que fez as flores e que deu às aves o seu cântico, que diz: "Olhai para os lírios", "olhai para as aves." Na beleza das coisas da Natureza podeis aprender mais da sabedoria de Deus do que sabem os eruditos. Nas pétalas do lírio, escreveu Ele uma mensagem para vós -- escreveu-a em uma linguagem que vosso coração só pode ler à medida que desaprender as lições de desconfiança e egoísmo, de corrosivo cuidado. Por que vos deu Ele as aves canoras e as flores gentis, se não pelo transbordante amor de um coração de Pai, que desejava tornar-vos o caminho da vida luminoso e alegre? Tudo quanto vos era necessário à existência vos teria sido facultado mesmo sem as flores e os pássaros, mas Deus não estava satisfeito com o prover meramente o que bastasse à vida. Ele encheu a Terra e o espaço e o firmamento com traços de beleza a fim de mostrar-vos os pensamentos de amor que nutre a vosso respeito. A beleza de todas as coisas criadas não é senão um vislumbre do esplendor de Sua glória. Se Ele prodigalizou tão infinita maestria nas coisas da Natureza para vossa felicidade e alegria, podeis acaso duvidar de que vos conceda toda bênção necessária? MDC 97 1 "Olhai para os lírios." Toda flor que descerra suas pétalas à luz solar obedece às mesmas grandes leis que regem as estrelas; e como é simples, e suave a sua existência! Por meio das flores Deus queria chamar-nos a atenção para a beleza do caráter cristão. Aquele que tal graça comunicou às flores, deseja muito mais que a alma seja revestida com a beleza do caráter de Cristo. MDC 97 2 Olhai, diz Jesus, como crescem os lírios; como, brotando da terra escura e fria, ou do lodoso leito do rio, as plantas desabrocham em atrativos e fragrância. Quem teria sonhado as possibilidades de beleza no rústico bulbo escuro do lírio? Quando, porém, ao chamado de Deus na chuva e no sol, se desenvolve a vida divina ali oculta, os homens se maravilham ante a visão da graça e da beleza. Da mesma maneira se desdobra a vida de Deus em toda alma humana que se submete ao ministério de Sua graça que, abundante como a chuva e a luz solar, a todos traz as suas bênçãos. É a palavra de Deus que cria as flores, e a mesma palavra produzirá em vós as graças do Seu Espírito. MDC 97 3 A lei de Deus é a lei do amor. Ele vos circundou de beleza a fim de ensinar-vos que não fostes colocados na Terra apenas para labutar pelo próprio eu, cavar e construir, mourejar e correr, mas tornar a vida luminosa e feliz e bela com o amor de Cristo -- para, com as flores, alegrar a vida dos outros mediante o ministério do amor. MDC 97 4 Pais e mães, fazei com que vossos filhos aprendam das flores. Levai-os convosco ao jardim e ao campo e para baixo das frondosas árvores, e ensinai-lhes a ler na Natureza a mensagem do amor de Deus. Que a lembrança dEle esteja ligada aos pássaros, às flores e às árvores. Levai as crianças a ver em tudo quanto é belo e aprazível uma expressão do amor de Deus para elas. Tornai-lhes vossa religião desejável, apresentando-a pelo lado atrativo. Esteja em vossos lábios a lei da bondade. MDC 98 1 Ensinai às crianças que, em virtude do grande amor de Deus, sua natureza pode ser mudada, e posta em harmonia com a dEle. Ensinai-lhes que Ele quer que sua vida seja embelezada com a graça das flores. E, ao colherem elas as suaves florinhas, ensinai-lhes que Aquele que fez as flores é mais belo do que elas. Assim se enlaçarão em torno dEle as gavinhas de seu coração. Aquele que é "totalmente desejável" tornar-Se-á para elas como um companheiro diário e um amigo familiar, e sua existência será transformada à imagem de Sua pureza. "Buscai primeiro o reino de Deus." Mateus 6:33. MDC 98 2 O povo que escutava as palavras de Cristo, aguardava ainda ansiosamente qualquer anúncio do reino terrestre. Enquanto Jesus lhes descerrava os tesouros do Céu, a questão principal em muitos espíritos, era: Em que maneira podemos, ligando-nos a Ele, aumentar nossas perspectivas terrenas? Jesus mostrou como, fazendo das coisas do mundo sua suprema ansiedade, eles se assemelhavam às nações pagãs que os rodeavam, vivendo como se não existisse Deus, com Seu terno cuidado em torno de Suas criaturas. MDC 99 1 "Todas estas coisas", disse Jesus, "as gentes do mundo buscam." "Vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." Lucas 12:30; Mateus 6:33. Eu vos vim revelar o reino de amor e de justiça e paz. Abri o coração para receberdes este reino, e tornai o serviço do mesmo o vosso principal interesse. Conquanto seja um reino espiritual, não temais que vossas necessidades quanto a esta vida não sejam consideradas. Se vos entregais ao serviço de Deus, Aquele que tem todo o poder no Céu e na Terra proverá o que necessitardes. MDC 99 2 Jesus não nos dispensa da necessidade do esforço, mas ensina que devemos fazer dEle o primeiro e o último e o melhor em todas as coisas. Não nos devemos empenhar em nenhum negócio, seguir nenhum empreendimento, buscar prazer nenhum que impeça a operação de Sua justiça em nosso caráter e vida. Tudo quanto fizermos, devemos fazê-lo de coração, como ao Senhor. MDC 99 3 Enquanto andou aqui na Terra, Jesus, mediante o conservar perante os homens a glória de Deus, e o subordinar todas as coisas à vontade do Pai, dignificou a vida em todos os seus pormenores. Se Lhe seguirmos o exemplo, a promessa que nos dá é de que nos "serão acrescentadas" todas as coisas necessárias a esta vida. A pobreza ou a riqueza, a doença ou a saúde, a simplicidade ou a sabedoria -- tudo se acha providenciado na promessa de Sua graça. MDC 99 4 Os braços eternos de Deus circundam a alma que se volve para Ele em busca de auxílio, por mais fraca que seja essa alma. As preciosidades das colinas hão de perecer; mas a alma que vive para Deus com Ele permanecerá. "O mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." 1 João 2:17. A cidade de Deus abrirá suas portas de ouro para receber aquele que, enquanto na Terra, aprendeu a apoiar-se em Deus quanto a direção e sabedoria, conforto e esperança, por entre perdas e aflições. Os cânticos dos anjos hão de festejar-lhe a entrada ali, e para ele dará seus frutos a árvore da vida. "As montanhas se desviarão, e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti." Isaías 54:10. "Não vos inquieteis pois pelo dia de amanhã. ... Basta a cada dia o seu mal." Mateus 6:34. MDC 100 1 Se vos entregastes a Deus, para fazer a Sua obra, não precisais estar ansiosos pelo dia de amanhã. Aquele de quem sois servo, conhece o fim desde o princípio. Os acontecimentos do amanhã, ocultos a vossos olhos, acham-se à vista dAquele que é onipotente. MDC 100 2 Quando tomamos em nossas mãos o manejo das coisas com que temos de lidar, e confiamos em nossa própria sabedoria quanto ao êxito, chamamos sobre nós um fardo que Deus não nos deu, e estamos a levá-lo sem Sua ajuda. Estamos tomando sobre nós mesmos a responsabilidade que pertence a Deus, pondo-nos, na verdade, assim, em Seu lugar. Podemos bem ter ansiedade e antecipar perigos e perdas; pois isto é certo sobrevir-nos. Mas quando deveras acreditamos que Deus nos ama, e nos quer fazer bem, cessamos de afligir-nos a respeito do futuro. Confiaremos em Deus assim como uma criança confia em um amoroso pai. Então desaparecerão nossas turbações e tormentos; pois nossa vontade fundir-se-á com a vontade de Deus. MDC 101 1 Cristo não nos deu promessa alguma de auxílio para quando levarmos hoje os fardos de amanhã. Disse Ele: "Minha graça te basta" (2 Coríntios 12:9); mas, como o maná dado no deserto, Sua graça é concedida diariamente, para a necessidade do dia. Como as hostes de Israel em sua vida de peregrinos, encontraremos manhã após manhã o pão do Céu para a provisão do dia. MDC 101 2 Um dia sozinho nos pertence, e durante o mesmo cumpre-nos viver para Deus. Por esse dia devemos colocar na mão de Cristo, em solene serviço, todos os nossos desígnios e planos, depondo sobre Ele toda a nossa solicitude, pois tem cuidado de nós. "Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor, pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais." "Em vos converterdes, e em repousardes estaria a vossa salvação; no sossego e na confiança estaria a vossa força." Jeremias 29:11; Isaías 30:15. MDC 101 3 Se buscardes o Senhor e vos converterdes cada dia; se, por vossa própria escolha espiritual, fordes livres e ditosos em Deus; se, com satisfeito consentimento do coração a Seu gracioso convite, vierdes e tomardes o jugo de Cristo -- o jugo da obediência e do serviço -- todas as vossas murmurações emudecerão, remover-se-ão todas as vossas dificuldades, todos os desconcertantes problemas que ora vos defrontam se resolverão. ------------------------Capítulo 5 -- A oração do Senhor "Portanto vós orareis assim." Mateus 6:9. MDC 102 1 A oração do Senhor foi duas vezes dada por nosso Salvador -- primeiro à multidão, no Sermão da Montanha, e outra vez, meses mais tarde, aos discípulos apenas. Por um breve período haviam eles estado ausentes de seu Senhor, quando, ao voltarem, O encontraram absorto em comunhão com Deus. Como despercebido de sua presença, Ele continuou a orar em voz alta. Um brilho celeste irradiava da face do Salvador. Parecia mesmo encontrar-Se na presença do Invisível. E havia um vivo poder em Suas palavras, o poder de alguém que fala com Deus. MDC 102 2 O coração dos discípulos foi profundamente comovido enquanto eles escutavam. Tinham observado quão freqüentemente Jesus passava longas horas em solicitude, em comunhão com o Pai. Os dias, passava-os a servir as multidões que se comprimiam em torno dEle, e revelando os traiçoeiros sofismas dos rabis, e esse incessante labor deixava-O muitas vezes tão exausto que Sua mãe e Seus irmãos, e mesmo os discípulos, temiam que sacrificasse a vida. Ao volver, porém, das horas de oração que encerravam o afadigoso dia, notavam-Lhe a expressão de paz na fisionomia, a sensação de refrigério que parecia desprender-se de Sua presença. Era de horas passadas com Deus que Ele saía, manhã após manhã, para levar aos homens a luz do Céu. Os discípulos haviam chegado a ligar essas horas de oração com o poder de Suas palavras e obras. Agora, ao escutar-Lhe as súplicas, sentiram o coração encher-se de respeito e humildade. Quando Ele acabou de orar, foi com certa convicção de sua profunda necessidade que exclamaram: "Senhor, ensina-nos a orar." Lucas 11:1. MDC 103 1 Jesus não lhes apresenta nenhuma nova forma de oração. Aquilo que já anteriormente lhes ensinara, repete agora, como se lhes quisesse dizer: Vocês devem compreender o que já lhes dei. Isso encerra uma profundeza de sentido que vocês ainda não sondaram. MDC 103 2 O Salvador não nos restringe, entretanto, ao emprego exato dessas palavras. Identificado com a humanidade, apresenta Seu próprio ideal de oração -- palavras tão simples que podem ser adotadas por uma criancinha, e todavia tão compreensivas em sua amplitude que sua significação jamais poderá ser inteiramente apreendida pelos maiores espíritos. É-nos ensinado chegar a Deus com nosso tributo de ação de graças, dar a conhecer nossas necessidades, confessar os pecados que cometemos, e reclamar-Lhe a misericórdia em harmonia com a Sua promessa. "Quando orardes, dizei: Pai." Lucas 11:2. MDC 103 3 Jesus nos ensina a chamar Seu Pai nosso Pai. Ele não Se envergonha de nos chamar irmãos. Hebreus 2:11. Tão pronto, tão ansioso é o coração do Salvador de acolher-nos como membros da família de Deus, que logo nas primeiras palavras que devemos usar ao aproximar-nos de Deus, dá-nos a certeza de nossa divina relação -- "Pai". MDC 104 1 Aí se encontra a declaração daquela admirável verdade, tão repleta de animação e conforto, de que Deus nos ama assim como ama a Seu Filho. Foi isto que Jesus disse na última oração que fez por Seus discípulos. Tu "os tens amado a eles como Me tens amado a Mim". João 17:23. MDC 104 2 O mundo que Satanás tem pretendido, e sobre o qual tem governado com tirania cruel, o Filho de Deus, por uma vasta consecução, circundou em Seu amor, pondo-o novamente em ligação com o trono de Jeová. Querubins e Serafins, bem como as inumeráveis hostes de todos os mundos não caídos, entoam cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro ao ser assegurado esse triunfo. Regozijaram-se em que à raça caída fosse aberto o caminho da salvação, e que a Terra fosse redimida da maldição do pecado. Quanto mais não se deveriam regozijar aqueles que são os objetos de tão surpreendente amor! MDC 104 3 Como podemos estar em dúvida e incerteza, e sentir-nos órfãos? Foi em benefício dos que haviam transgredido a lei que Jesus tomou sobre Si a natureza humana; Ele Se tornou como nós, a fim de podermos ter perene paz e segurança. Temos um Advogado nos Céus, e quem quer que O aceite como Salvador pessoal, não é deixado órfão, a carregar o fardo dos próprios pecados. MDC 104 4 "Amados, agora somos filhos de Deus." "E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados." "Ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos." 1 João 3:2; Romanos 8:17. MDC 104 5 O primeiro passo mesmo ao aproximar-nos de Deus é conhecer e crer o amor que Ele nos tem! (1 João 4:16); pois é mediante a atração de Seu amor que somos induzidos a ir para Ele. MDC 105 1 A percepção do amor de Deus opera a renúncia do egoísmo. Ao chamarmos Deus nosso Pai, reconhecemos todos os Seus filhos como irmãos. Somos todos parte da grande teia da humanidade, todos membros de uma só família. Em nossas petições, devemos incluir nossos semelhantes da mesma maneira que a nós mesmos. Pessoa alguma ora direito, se busca bênção unicamente para si. MDC 105 2 O infinito Deus, disse Jesus, vos dá o privilégio de dEle vos aproximardes chamando-O de Pai. Compreende tudo quanto isto implica. Pai terreno algum já pleiteou tão fervorosamente com um filho errante como o faz com o transgressor Aquele que vos criou. Nenhum amorável interesse humano já acompanhou o impenitente com tão ternos convites. Deus mora em toda habitação; ouve cada palavra proferida, escuta cada oração erguida ao Céu, experimenta as dores e as decepções de cada alma, e considera o tratamento dispensado a pai e mãe, irmã, amigo e semelhante. Ele cuida de nossas necessidades, e Seu amor, Sua misericórdia e graça estão continuamente a fluir para satisfazer nossa necessidade. MDC 105 3 Mas se chamais a Deus vosso Pai, vós vos reconheceis Seus filhos, para ser guiados por Sua sabedoria, e ser obedientes em todas as coisas, sabendo que Seu amor é imutável. Aceitareis Seu plano para vossa vida. Como filhos de Deus, mantereis, como objeto de vosso mais elevado interesse, Sua honra, Seu caráter, Sua família, Sua obra. Tereis regozijo em reconhecer e honrar vossa relação com o Pai e com cada membro de Sua família. Alegrar-vos-eis em praticar qualquer ato, embora humilde, que contribua para Sua glória ou bem-estar de vossos semelhantes. MDC 106 1 "Que estás nos Céus." Aquele a quem Cristo nos ordena considerar "nosso Pai", "está nos Céus: faz tudo o que Lhe apraz." Em Seu cuidado podemos repousar tranqüilos, dizendo: "No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti." Salmos 115:3; 56:3. "Santificado seja o Teu nome." Mateus 6:9. MDC 106 2 Para santificarmos o nome do Senhor é necessário que as palavras em que falamos do Ser Supremo sejam pronunciadas com reverência. "Santo e tremendo é o Seu nome." Salmos 111:9. Não devemos nunca, de qualquer modo, tratar com leviandade os títulos ou nomes da Divindade. Ao orar, penetramos na sala de audiência do Altíssimo, e devemos ir à Sua presença possuídos de santa reverência. Os anjos velam o rosto em Sua presença. Os querubins e os santos serafins aproximam-se de Seu trono com solene reverência. Quanto mais deveríamos nós, seres finitos e pecadores, apresentar-nos de modo reverente perante o Senhor, nosso Criador! MDC 106 3 Mas santificar o nome do Senhor quer dizer muito mais do que isso. Podemos, como os judeus dos dias de Cristo, manifestar exteriormente a maior reverência por Deus, e todavia profanar constantemente o Seu nome. "O nome do Senhor" é "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade;... que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:5-7. Da igreja de Cristo acha-se escrito: "Este é o nome que Lhe chamarão: O Senhor é nossa Justiça." Jeremias 33:16. Este nome é aposto a todo seguidor de Cristo. É a herança do filho de Deus. A família recebe o nome do Pai. O profeta Jeremias, num tempo de cruciante tristeza e tribulação para Israel, orou: "Somos chamados pelo Teu nome; não nos desampares." Jeremias 14:9. MDC 107 1 Este nome é santificado pelos anjos no Céu, pelos habitantes dos mundos não caídos. Quando orais: "Santificado seja o Teu nome", pedis que seja santificado neste mundo, santificado em vós. Deus vos reconheceu como Seu filho, perante homens e anjos, orai para que não desonreis "o bom nome que sobre vós foi invocado". Tiago 2:7. Deus vos envia ao mundo como representantes Seus. Em cada ato da vida deveis tornar manifesto o nome de Deus. Esta petição é um convite para que possuais o caráter dEle. Não Lhe podeis santificar o nome, nem podeis representá-Lo perante o mundo, a menos que na vida e no caráter representeis a própria vida e caráter de Deus. Isto só podereis fazer mediante a aceitação da graça e justiça de Cristo. "Venha o Teu reino." Mateus 6:10. MDC 107 2 Deus é nosso Pai, que nos ama e de nós cuida, como filhos Seus que somos; Ele é também o grande Rei do Universo. Os interesses de Seu reino são nossos interesses, e nós devemos trabalhar por seu erguimento. MDC 107 3 Os discípulos de Cristo esperavam a vinda imediata do reino de Sua glória; mas ao dar-lhes esta oração Jesus ensinou que o reino não devia ser então estabelecido. Deviam orar por sua vinda como acontecimento ainda no futuro. Mas essa petição era-lhes também uma certeza. Conquanto não devessem esperar a vinda do reino em seus dias, o fato de haver Jesus recomendado que por ela orassem, constitui prova de que certamente virá no tempo designado por Deus. MDC 108 1 O reino da graça de Deus está sendo agora estabelecido, visto que corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à soberania de Seu amor. O completo estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrerá senão na segunda vinda de Cristo ao mundo. "O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo." Daniel 7:27. Eles herdarão o reino que lhes foi preparado "desde a fundação do mundo". Mateus 25:34. E Cristo assumirá Seu grande poder e reinará. MDC 108 2 As portas celestes tornar-se-ão a erguer, e, com miríades de miríades e milhares de milhares de santos, nosso Salvador sairá como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Jeová Emanuel "será rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome". "O tabernáculo de Deus" estará com os homens, "pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será seu Deus." Zacarias 14:9; Apocalipse 21:3. MDC 108 3 Antes dessa vinda, porém, disse Jesus: "Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes." Mateus 24:14. Seu reino não virá enquanto as boas novas de Sua graça não houverem sido levadas a toda a Terra. Assim, quando nos entregamos a Deus, e ganhamos outras almas para Ele, apressamos a vinda de Seu reino. Unicamente aqueles que se consagram a Seu serviço, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim" (Isaías 6:8), para abrir os olhos cegos, para desviar homens "das trevas" "à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados" (Atos 26:18) -- unicamente eles oram com sinceridade: "Venha o Teu reino." "Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu." Mateus 6:10. MDC 109 1 A vontade de Deus exprime-se nos preceitos de Sua santa lei, e os princípios desta lei são os mesmos princípios do Céu. Os anjos celestes não atingem mais alto conhecimento do que saber a vontade de Deus; e fazer Sua vontade é o mais elevado serviço em que se possam ocupar suas faculdades. MDC 109 2 No Céu, porém, o serviço não é prestado no espírito de exigência legal. Quando Satanás se rebelou contra a lei de Jeová, a idéia de que existia uma lei ocorreu aos anjos quase como o despertar para uma coisa em que não se havia pensado. Em seu ministério, os anjos não são como servos, mas como filhos. Existe perfeita unidade entre eles e seu Criador. A obediência não lhes é pesada. O amor para com Deus torna o Seu serviço uma alegria. Assim, em toda alma em que Cristo, a esperança da glória, habita, ecoam Suas palavras: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. MDC 110 1 A petição: "Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu", é uma oração para que o reino do mal termine na Terra, o pecado seja para sempre destruído, e o reino da justiça se venha a estabelecer. Então, na Terra como no Céu se cumprirá "todo o desejo da Sua bondade". 2 Tessalonicenses 1:11. "O pão nosso de cada dia nos dá hoje." Mateus 6:11. MDC 110 2 A primeira metade da oração que Jesus nos ensinou, diz respeito ao nome, ao reino e à vontade de Deus -- que Seu nome seja honrado, Seu reino estabelecido, e Sua vontade cumprida. Depois de assim haverdes tornado o serviço de Deus a primeira coisa em vosso interesse, podeis pedir com confiança de que vossas próprias necessidades serão supridas. Se renunciastes ao próprio eu, entregando-vos a Cristo, sois um membro da família de Deus, e tudo quanto há na casa de vosso Pai vos pertence. Todos os tesouros de Deus vos estão franqueados -- tanto o mundo que agora existe, como o por vir. O ministério dos anjos, o dom de Seu Espírito, os labores de Seus servos -- tudo é para vós. O mundo, com tudo que nele há, pertence-vos até onde isto seja para vosso benefício. A própria inimizade do maligno se demonstrará uma bênção, na disciplina que vos proporciona para o Céu. Se "vós sois de Cristo", "tudo é vosso". 1 Coríntios 3:23, 21. MDC 110 3 Sois, porém, como uma criança a quem não se confia ainda a direção de sua herança. Deus não vos entrega vossa preciosa possessão, para que Satanás, por seus astutos ardis, não vos engane, como fez com o primeiro par no Éden. Cristo a mantém para vós, além do alcance do espoliador. Como a criança, recebereis dia a dia o necessário para a necessidade diária. Cada dia deveis orar: "O pão nosso de cada dia nos dá hoje." Não desanimeis se não tendes o suficiente para amanhã. Tendes a garantia de Sua promessa: "Habitarás na Terra, e verdadeiramente serás alimentado." Diz Davi: "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão." Salmos 37:3, 25. Aquele Deus que mandou os corvos alimentarem Elias junto à fonte de Querite, não passará por alto um de Seus filhos fiéis, pronto a se sacrificar. A respeito daquele que anda em justiça, está escrito: "O seu pão lhe será dado, as suas águas são certas." "Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão." "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Isaías 33:16; Salmos 37:19; Romanos 8:32. Aquele que aligeirava os cuidados e ansiedades de Sua mãe viúva, e a ajudava a prover a casa de Nazaré, compreende toda mãe em sua luta por prover alimento aos filhos. O que Se compadeceu das turbas porque "estavam fatigadas e derramadas" (Mateus 9:36, TT), ainda Se compadece dos pobres sofredores. Sua mão está estendida para eles em uma bênção; e na própria oração que ensinou aos Seus discípulos, ensina-nos a lembrar os pobres. MDC 111 1 Quando oramos: "O pão nosso de cada dia nos dá hoje", pedimos para outros da mesma maneira que para nós mesmos. E reconhecemos que aquilo que Deus nos dá não é somente para nós. Deus nos dá em depósito, a fim de podermos alimentar os famintos. Em Sua bondade, providenciou para os pobres. Salmos 68:10. E Ele diz: "Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes nem vizinhos ricos. ... Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos, e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que te recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14. MDC 112 1 "Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda suficiência, abundeis em toda boa obra." "O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará." 2 Coríntios 9:8, 6. MDC 112 2 A oração pelo pão de cada dia inclui, não somente o alimento para sustentar o corpo, mas aquele pão espiritual que nos nutrirá para a vida eterna. Jesus nos ordena: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna." João 6:27. Ele diz: "Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre." V. 51. Nosso Salvador é pão da vida, e é mediante a contemplação de Seu amor, e recebendo esse amor no coração, que nos nutrimos do pão que desceu do Céu. MDC 112 3 Recebemos a Cristo por meio de Sua Palavra; e o Espírito Santo é dado a fim de esclarecer a Palavra ao nosso entendimento, impressionando-nos o coração com suas verdades. Devemos dia a dia orar para que, ao lermos Sua Palavra, Deus envie Seu Espírito a fim de que se nos revele a verdade que nos fortaleça a alma para a necessidade do dia. MDC 113 1 Ensinando-nos a pedir cada dia o que necessitamos -- tanto as bênçãos temporais como as espirituais -- Deus tem um propósito para nosso bem. Deseja que reconheçamos nossa dependência de Seu constante cuidado; pois procura atrair-nos em comunhão com Ele. Nessa comunhão com Cristo, mediante a oração e o estudo das grandes e preciosas verdades de Sua Palavra, seremos alimentados, como almas que têm fome; como os que têm sede, seremos dessedentados à fonte da vida. "Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve." Lucas 11:4. MDC 113 2 Jesus nos ensina que só poderemos receber o perdão de Deus se também nós perdoarmos aos outros. É o amor de Deus que nos atrai para Ele, e esse amor não nos pode tocar o coração sem criar amor por nossos irmãos. MDC 113 3 Terminando a oração do Senhor, Jesus acrescentou: "Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Aquele que não perdoa, obstrui o próprio conduto pelo qual, unicamente, pode receber misericórdia de Deus. Não deve pensar que, a menos que os que nos prejudicaram, confessem o mal, estamos justificados ao privá-los de nosso perdão. É dever deles, sem dúvida, humilhar o coração pelo arrependimento e confissão; cumpre-nos, porém, ter espírito de compaixão para com os que pecaram contra nós, quer confessem quer não suas faltas. Não importa quão cruelmente nos tenham ferido, não devemos acariciar nossos ressentimentos, simpatizando com nós mesmos pelos males que nos são causados; mas, como esperamos nos sejam perdoadas nossas ofensas contra Deus, cumpre-nos perdoar a todos os que nos têm feito mal. MDC 114 1 O perdão, porém, tem sentido mais amplo do que muitos supõem. Dando a promessa de que perdoará "abundantemente", Deus acrescenta, como se o significado dessa promessa excedesse a tudo que pudéssemos compreender: "Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os Meus caminhos os vossos caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:7-9. O perdão de Deus não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não somente perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. É o transbordamento de amor redentor que transforma o coração. Davi tinha a verdadeira concepção do perdão ao orar: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto." Salmos 51:10. E noutro lugar ele diz: "Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões." Salmos 103:12. MDC 114 2 Deus, em Cristo, ofereceu-Se por nossos pecados. Sofreu a cruel morte de cruz, carregou por nós o peso da culpa, "o justo pelos injustos", a fim de poder manifestar-nos Seu amor, e atrair-nos a Si. E diz: "Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo." Efésios 4:32. Que Cristo, a divina Vida, habite em vós, e manifeste por vosso intermédio o amor de origem celeste que irá inspirar esperança no desalentado e levar paz ao coração ferido pelo pecado. Ao aproximar-nos de Deus, eis a condição que temos de satisfazer ao pisar o limiar -- que, recebendo misericórdia de Sua parte, nos entreguemos a nós mesmos para revelar a outros Sua graça. MDC 115 1 O elemento essencial para que possamos receber e comunicar o amor perdoador de Deus, é conhecer e crer o amor que Ele nos tem. 1 João 4:16. Satanás opera por meio de todo engano de que pode dispor a fim de não distinguirmos esse amor. Levar-nos-á a pensar que nossas faltas e transgressões têm sido tão ofensivas que o Senhor não tomará em consideração nossas orações, e não nos abençoará nem salvará. Não podemos ver em nós mesmos senão fraqueza, coisa alguma que nos recomende a Deus, e Satanás nos diz que é inútil; não podemos remediar nossos defeitos de caráter. Quando tentamos ir ter com Deus, o inimigo segreda: "Não adianta orares; não praticaste aquela má ação? Não pecaste contra Deus, e não violaste tua consciência?" Temos, porém, o direito de dizer ao inimigo que "o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado". 1 João 1:7. Quando sentimos que pecamos, e não nos é possível orar, é o momento de orar. Talvez nos sintamos envergonhados e profundamente humilhados; devemos, porém, orar e crer. "Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." 1 Timóteo 1:15. O perdão, a reconciliação com Deus, não nos é concedido, como recompensa por nossas obras, não é outorgado em virtude dos méritos de homens pecadores, mas é uma dádiva feita a nós, a qual tem na imaculada justiça de Cristo o fundamento de Sua disposição. MDC 116 1 Não devemos procurar diminuir nossa culpa escusando o pecado. Cumpre-nos aceitar a divina avaliação do pecado, e essa é deveras pesada. Unicamente o Calvário pode revelar a terrível enormidade do pecado. Caso devêssemos suportar nossa própria culpa, ela nos esmagaria. Mas o Inocente tomou-nos o lugar; conquanto não a merecesse, Ele carregou com a nossa iniqüidade. "Se confessarmos os nossos pecados", Deus "é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça." 1 João 1:9. Gloriosa verdade! -- justo para com Sua lei, e todavia Justificador de todos quantos acreditam em Jesus. "Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniqüidade, e que Te esqueces da rebelião do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade." Miquéias 7:18. "E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal." Mateus 6:13. MDC 116 2 A tentação é um estímulo a pecar, e isto não procede de Deus, mas de Satanás, e do mal que há em nosso próprio coração. "Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta." Tiago 1:13. MDC 116 3 Satanás procura levar-nos à tentação, a fim de que o mal que existe em nosso caráter se possa revelar perante os homens e os anjos, de modo que ele nos reclame como seus. Na simbólica profecia de Zacarias, vê-se Satanás à direita do Anjo do Senhor, acusando Josué, o sumo sacerdote, o qual está vestido de vestidos sujos, e resistindo (o diabo) à obra que o Anjo deseja fazer em favor dele. Isto representa a atitude de Satanás para com toda alma a quem Cristo busca atrair para Si. O inimigo nos induz ao pecado, e depois nos acusa em face do universo celeste como indignos do amor de Deus. Mas "o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é esse um tição tirado do fogo?" E disse a Josué: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos." Zacarias 3:1-4. MDC 117 1 Deus, em Seu grande amor, procura desenvolver em nós as preciosas graças do Seu Espírito. Permite que enfrentemos obstáculos, perseguições e vicissitudes, não como uma maldição, mas como a maior bênção de nossa vida. Toda tentação resistida, toda provação valorosamente suportada, traz-nos uma nova experiência, levando-nos avante na obra da edificação do caráter. A alma que, mediante o poder divino, resiste à tentação, revela ao mundo e ao universo celeste a eficácia da graça de Cristo. MDC 117 2 Conquanto, porém, não nos devamos abater com a provação, por mais severa que seja, cumpre-nos orar para que Deus não permita que sejamos induzidos a uma situação em que os desejos de nosso próprio coração mau nos arrastem. Ao fazer a oração que Jesus nos ensinou, submetemo-nos à guia de Deus, pedindo-Lhe guiar-nos por caminhos seguros. Não podemos fazer essa oração com sinceridade, e ainda decidir trilhar qualquer senda de nossa própria escolha. Esperaremos Sua mão para nos conduzir; escutar-Lhe-emos a voz, dizendo: "Este é o caminho, andai nele." Isaías 30:21. MDC 118 1 É perigoso deter-nos a considerar as vantagens que poderemos colher em ceder às sugestões de Satanás. O pecado implica em desonra e ruína para toda alma que com ele condescende; sua natureza, porém, é de molde a cegar e iludir, e nos engodará com lisonjeiras perspectivas. Caso nos aventuremos no terreno do inimigo, não temos nenhuma garantia de proteção contra o seu poder. Cumpre-nos, no que de nós depender, cerrar toda entrada pela qual ele possa encontrar acesso à alma. MDC 118 2 A súplica: "Não nos deixes cair em tentação", é em si mesma uma promessa. Se nos entregamos a Deus, temos a certeza de que Ele "vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar". 1 Coríntios 10:13. MDC 118 3 A única salvaguarda contra o mal é a presença de Cristo no coração mediante a fé em Sua justiça. É por causa da existência do egoísmo em nosso coração, que a tentação tem poder sobre nós. Ao contemplarmos, no entanto, o grande amor de Deus, o egoísmo se nos apresenta em seu horrível e repugnante caráter, e nosso desejo é vê-lo expelido da alma. À medida que o Espírito Santo glorifica a Cristo, nosso coração é abrandado e subjugado, as tentações perdem sua força, e a graça de Cristo transforma o caráter. MDC 118 4 Cristo jamais abandonará a alma por quem morreu. A alma poderá deixá-Lo, e ser vencida pela tentação; Cristo, porém, não pode nunca Se desviar daquele por quem pagou o resgate com a própria vida. Fosse nossa visão espiritual vivificada, e veríamos almas vergadas sob a opressão e carregadas de desgosto, oprimidas como o carro sob os molhos, e prestes a morrer em desalento. Veríamos anjos voando celeremente em auxílio desses tentados, os quais se encontram como às bordas de um precipício. Os anjos celestes impelem para trás as hostes malignas que circundam essas almas, induzindo-as a pôr os pés no firme fundamento. As batalhas travadas entre os dois exércitos são tão reais como os combates entre os exércitos deste mundo, e do resultado do conflito dependem destinos eternos. MDC 119 1 Como a Pedro, é-nos dirigida a palavra: "Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça." Lucas 22:31, 32. Graças a Deus, não somos deixados sozinhos. Aquele que "amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16), não nos abandonará na batalha contra o adversário de Deus e do homem. "Eis", diz Ele, "que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum." Lucas 10:19. MDC 119 2 Vivei em contato com o Cristo vivo, e Ele vos segurará firmemente com uma mão que nunca soltará. Conhecei e crede o amor que Deus nos tem, e estareis seguros; esse amor é uma fortaleza inexpugnável contra todos os enganos e assaltos de Satanás. "Torre forte é o nome do Senhor; para ela correrá o justo, e estará em alto retiro." Provérbios 18:10. "Teu é o reino, e o poder, e a glória." Mateus 6:13. MDC 120 1 A última, como a primeira sentença da Oração do Senhor, volve-nos para o Pai como Se achando acima de todo poder e autoridade e todo nome que se nomeia. O Salvador contemplou os anos que se estendiam diante dos Seus discípulos, não como haviam sonhado, ao brilho da prosperidade e da honra mundanas, mas obscurecidos pelas tempestades do ódio humano e da ira satânica. Por entre os conflitos e ruína nacionais, seriam os passos dos discípulos rodeados de perigos, oprimindo-se-lhes muitas vezes o coração de temor. Eles veriam Jerusalém reduzida à desolação, o templo arrasado, seu culto para sempre acabado, e Israel disperso para todas as terras, quais náufragos em uma praia deserta. Jesus disse: "E ouvireis de guerras e de rumores de guerras." "... se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são princípio de dores." Mateus 24:6-8. Todavia os seguidores de Cristo não deviam temer que sua esperança ficasse perdida, ou que Deus houvesse abandonado a Terra. O poder e a glória pertencem Àquele cujos grandes desígnios avançam ainda, não entravados, rumo à consumação. Na oração que exprime suas necessidades diárias, os discípulos de Cristo foram guiados a olhar acima de todo poder e domínio do mal, ao Senhor seu Deus, cujo reino domina sobre todos, e o qual é seu Pai e seu Amigo eternamente. MDC 120 2 A ruína de Jerusalém era um símbolo da ruína final que assolará o mundo. As profecias que tiveram seu parcial cumprimento na queda de Jerusalém, têm mais direta aplicação aos últimos dias. Encontramo-nos no limiar de grandes e solenes acontecimentos. Acha-se diante de nós uma crise, como o mundo jamais presenciou. E, quão doce nos é, a nós, como aos primeiros discípulos, a certeza que nos é dada, de que o reino de Deus domina para sempre! O programa dos acontecimentos por vir está nas mãos de nosso Criador. A Majestade do Céu tem a Seu cargo o destino das nações, bem como os interesses de Sua igreja. A todo instrumento na consecução de Seus planos, como a Ciro outrora, diz o divino Instrutor: "Eu te cingirei ainda que tu Me não conheças." Isaías 45:5. MDC 121 1 Na visão do profeta Ezequiel, sob as asas do querubim, havia a aparência de uma mão. Isto deve ensinar a Seus servos que é o poder divino que lhes confere êxito. Aqueles a quem Deus emprega como Seus mensageiros não devem pensar que Sua obra deles depende. Não é permitido que seres finitos carreguem esse peso de responsabilidades. Aquele que não tosqueneja, que opera continuamente pelo cumprimento de Seus desígnios, há de levar avante a Sua obra. Ele embargará os propósitos dos ímpios, e confundirá os conselhos dos que tramam maldades contra o Seu povo. Aquele que é o Rei, o Senhor dos Exércitos, senta-Se entre os querubins e, por entre as contendas e tumultos das nações, guarda ainda os Seus filhos. Aquele que reina nos Céus é nosso Salvador. Mede cada provação, vigia o fogo da fornalha que há de provar cada alma. Quando forem derribadas as fortalezas dos reis, quando as setas da ira penetrarem o coração de Seus inimigos, a salvo se encontrará Seu povo em Suas mãos. MDC 122 1 "Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque Teu é tudo quanto há nos Céus e na Terra. ... Na Tua mão há força e poder; e na Tua mão está o engrandecer e dar força a tudo." 1 Crônicas 29:11, 12. ------------------------Capítulo 6 -- Não julgar, mas praticar "Não julgueis, para que não sejais julgados." Mateus 7:1. MDC 123 1 O esforço de obter a salvação pelas próprias obras leva inevitavelmente os homens a amontoar exigências como uma barreira contra o pecado. Pois, vendo que falham no observar a lei, imaginam regras e regulamentos eles próprios, para se obrigarem a obedecer. Tudo isto desvia a mente, de Deus para si mesmos. Seu amor extingue-se-lhes no coração, e com ele perece o amor para com seus semelhantes. Um sistema de invenção humana, com suas múltiplas exigências, induz seus adeptos a julgar a todos quantos faltem à prescrita norma humana. A atmosfera de crítica egoísta e estreita, sufoca as nobres e generosas emoções, fazendo com que os homens se tornem egocêntricos juízes e mesquinhos espias. MDC 123 2 Desta classe eram os fariseus. Saíam de seus serviços religiosos, não humilhados com o senso da própria fraqueza, não agradecidos pelos grandes privilégios a eles concedidos por Deus. Saíam cheios de orgulho espiritual, e seu tema era: "Eu mesmo, meus sentimentos, meus conhecimentos, meus caminhos." Suas próprias consecuções tornavam-se a norma pela qual julgavam os outros. Revestindo-se das vestes da própria dignidade, arrogavam-se a cadeira de juízes para criticar e condenar. MDC 123 3 O povo partilhava, em grande parte, do mesmo espírito, penetrando nos domínios da consciência, e julgando-se uns aos outros em assuntos que diziam respeito à alma e Deus. Foi com referência a esse espírito e prática, que Jesus disse: "Não julgueis, para que não sejais julgados." Isto é, não vos ponhais como norma. Não façais de vossas opiniões, vossos pontos de vista quanto ao dever, vossas interpretações da Escritura, um critério para outros, condenando-os em vosso coração se não atingem vosso ideal. Não critiqueis a outros, conjeturando os seus motivos, e formando juízos. "Nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações." 1 Coríntios 4:5. Não nos é possível ler o coração. Faltosos nós mesmos, não nos achamos capacitados para assentar-nos como juízes dos outros. Os homens finitos não podem julgar senão pelas aparências. Unicamente Àquele que conhece as ocultas fontes da ação, e que trata terna e compassivamente, pertence decidir o caso de cada alma. MDC 124 1 "És inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo." Romanos 2:1. Portanto aqueles que condenam ou criticam a outros, proclamam-se eles próprios culpados; pois fazem a mesma coisa. Ao condenarem outros, estão sentenciando-se a si mesmos; e Deus declara justa esta sentença. Ele aceita o veredicto deles próprios contra si. MDC 124 2 "Pés desajeitados, calcando a lama, Esmagam flores, impiedosamente; Com mãos cruéis trespassamos O coração sensível de um amigo." "Por que reparas tu no argueiro que está no olho de teu irmão?" Mateus 7:3. MDC 125 1 Nem mesmo a sentença "Tu, que julgas, fazes o mesmo", alcança a magnitude do pecado daquele que presume criticar e condenar a seu irmão. Jesus disse: "Por que reparas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?" MDC 125 2 Suas palavras se aplicam à pessoa que é pronta em discernir um defeito nos outros. Quando pensa que descobriu uma imperfeição no caráter ou na vida, é extremamente zelosa em buscar apontá-la; mas Jesus declara que o próprio traço de caráter desenvolvido pelo fazer esta obra anticristã é, em comparação com a falta criticada, como uma trave em comparação com um argueiro. É a própria falta do espírito de paciência e amor que o leva a fazer um mundo de um simples átomo. Aqueles que nunca experimentaram a contrição de uma completa entrega a Cristo, não manifestam em sua vida a suavizadora influência do amor do Salvador. Representam mal o brando, cortês espírito do evangelho, e ferem almas preciosas, por quem Cristo morreu. Segundo a figura empregada por nosso Salvador, aquele que condescende com o espírito de censura é culpado de um pecado maior do que aquele a quem acusa; pois não somente comete o mesmo pecado, como acrescenta ao mesmo presunção e espírito de crítica. MDC 125 3 Cristo é a única verdadeira norma de caráter, e aquele que se põe como padrão para os outros, está-se colocando no lugar de Cristo. E visto haver o Pai dado "ao Filho todo o juízo" (João 5:22), quem quer que presuma julgar os motivos dos outros está outra vez usurpando a prerrogativa do Filho de Deus. Esses supostos juízes e críticos estão-se colocando do lado do Anticristo, "o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus". 2 Tessalonicenses 2:4. MDC 126 1 O pecado que conduz aos mais infelizes resultados, é o espírito frio, crítico, irreconciliável que caracteriza o farisaísmo. Quando a experiência religiosa é destituída de amor, aí não Se encontra Jesus; aí não está a luz de Sua presença. Nenhuma atarefada atividade ou zelo sem Cristo pode suprir a falta. Haverá talvez uma admirável percepção para descobrir os defeitos dos outros mas a todos quantos condescendem com esse espírito, Jesus diz: "Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, então cuidarás em tirar o argueiro do olho de teu irmão." Aquele que é culpado de erro, é o primeiro a suspeitar do erro. Condenando o outro, está ele procurando ocultar ou desculpar o mal do próprio coração. Foi por meio do pecado que os homens adquiriram o conhecimento do mal; tão depressa havia o primeiro par pecado, começaram a se acusar um ao outro e é isto que a natureza humana inevitavelmente fará, quando não se ache controlada pela graça de Cristo. MDC 126 2 Quando os homens condescendem com esse espírito acusador, não se satisfazem com apontar o que julgam um defeito em seu irmão. Se falham os meios brandos para levá-lo a fazer o que julgam que deve ser feito, recorrem à força. Até onde estiver ao seu alcance, obrigarão os homens a satisfazer suas idéias do que é direito. Foi isto que os judeus fizeram nos dias de Cristo, e é o que a igreja tem feito desde então, uma vez que haja perdido a graça de Cristo. Achando-se destituída do poder do amor, tem buscado o braço forte do Estado para tornar obrigatórios os seus dogmas e executar-lhe os decretos. Nisto reside o segredo de todas as leis religiosas já decretadas, e o segredo de toda perseguição, desde os dias de Abel até aos nossos dias. MDC 127 1 Cristo não tange, mas atrai os homens a Si. Não compele, senão que constrange por amor. Quando a igreja começa a buscar o apoio do poder secular, é evidente achar-se ela destituída do poder de Cristo -- o constrangimento do divino amor. MDC 127 2 A dificuldade, porém, jaz com os membros da igreja, individualmente, e é aí que se deve operar a cura. Jesus manda que o acusador tire primeiro a trave de seu olho, renuncie a seu espírito de crítica, confesse e abandone o próprio pecado, antes de procurar corrigir a outros. Porque "não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto". Lucas 6:43. Esse espírito de acusação com que condescendeis é um fruto mau, e mostra que é má a árvore. Inútil vos é edificar-vos sobre a justiça própria. O que necessitais é mudança de coração. Precisais dessa experiência antes de vos achardes habilitados a corrigir os outros pois "do que há em abundância no coração, disso fala a boca". Mateus 12:34. MDC 127 3 Ao sobrevir uma crise na vida de qualquer alma, e tentardes dar conselho ou advertência, vossas palavras só exercerão, no bom sentido, o peso e a influência que vos houverem adquirido vosso exemplo e espírito. Precisais ser bons para que possais fazer o bem. Não vos será possível influenciar os outros a se transformarem enquanto vosso coração não se houver tornado humilde, refinado e brando por meio da graça de Cristo. Quando esta mudança se houver operado em vós, ser-vos-á tão natural viver para beneficiar a outros, como o é para a roseira dar suas perfumosas flores, ou a videira produzir purpurinos cachos. MDC 128 1 Se Cristo está em vós, "a esperança da glória", não estareis dispostos a observar os outros, a expor-lhes os erros. Em lugar de procurar acusar e condenar, tereis como objetivo ajudar, beneficiar, salvar. Ao lidar com os que se encontram em erro, atendereis à recomendação: Olha "por ti mesmo, para que não sejas também tentado". Gálatas 6:1. Procurareis lembrar as muitas vezes que tendes errado, e quão difícil vos foi achar o caminho certo uma vez que dele vos havíeis apartado. Não impelireis vosso irmão para mais densas trevas mas, coração cheio de piedade, falar-lhe-eis do perigo em que está. MDC 128 2 Aquele que olha muitas vezes para a cruz do Calvário, lembrando-se de que seus pecados para ali levaram o Salvador, nunca buscará calcular a extensão de sua culpa em comparação com a de outros. Não se arvorará em juiz para acusar a outros. Não haverá espírito de crítica ou exaltação do próprio eu por parte daqueles que andam à sombra da cruz do Calvário. MDC 128 3 Enquanto não vos sentirdes dispostos a sacrificar o amor próprio e mesmo dar a própria vida para salvar um irmão em erro, não tirastes a trave do próprio olho de maneira a estar preparados para ajudar a um irmão. Quando assim fizerdes, podeis aproximar-vos dele, e tocar-lhe o coração. Pessoa alguma já foi conquistada de um caminho errado por meio de censura e exprobrações; mas muitos têm sido afastados de Cristo, e levados a cerrar o coração contra a convicção da culpa. Um espírito brando, uma suave e cativante atitude, pode salvar o errado, e cobrir uma multidão de pecados. A revelação de Cristo em vosso caráter terá um poder transformador sobre todos com quem entrardes em contato. Seja Cristo diariamente manifestado em vós e Ele revelará por vosso intermédio a energia criadora de Sua palavra -- uma delicada, persuasiva e todavia poderosa influência para regenerar outras almas segundo a beleza do Senhor nosso Deus. "Não deis aos cães as coisas santas." Mateus 7:6. MDC 129 1 Jesus Se refere aqui a uma classe que não experimenta desejo de escapar à servidão do pecado. Pela condescendência com o que é corrupto e vil, sua natureza tornou-se tão degradada, que se apegam ao mal, e dele não se separam. Os servos de Cristo não se devem deixar entravar por aqueles que só fariam do evangelho um objeto de contenção e ridículo. MDC 129 2 O Salvador, porém, jamais passou por alto uma alma disposta a receber as preciosas verdades do Céu, por mais abismada que esteja essa alma no pecado. Para publicanos e meretrizes, foram Suas palavras o início de uma vida nova. Maria Madalena, de quem Ele expulsou sete demônios, foi a última a deixar o sepulcro do Salvador, e a primeira a ser por Ele saudada na manhã da ressurreição. Foi Saulo de Tarso, um dos mais decididos inimigos do evangelho, que se tornou Paulo, o consagrado ministro de Cristo. Sob uma aparência de ódio e desprezo, mesmo sob o crime e a degradação, pode-se achar oculta uma alma que a graça de Cristo haja de redimir, para brilhar como uma jóia na coroa do Redentor. "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." Mateus 7:7. MDC 130 1 A fim de não deixar margem alguma à incredulidade, à má compreensão ou a uma errônea interpretação de Suas palavras, o Senhor repete a promessa três vezes dada. Ele almeja que aqueles que buscam a Deus creiam nAquele que é capaz de fazer todas as coisas. Acrescenta, portanto: "Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, se abre." MDC 130 2 O Senhor não especifica nenhuma condição a não ser que tenhais fome de Sua misericórdia, desejo de conselhos Seus, e aneleis o Seu nome. "Pedi." O pedir manifesta o reconhecimento que tendes de vossa necessidade; e, se pedis com fé, recebereis. O Senhor empenhou Sua palavra, e esta não pode falhar. Se a Ele vos chegais com sincera contrição, não tendes que pensar ser presunção de vossa parte o pedir aquilo que o Senhor prometeu. Quando pedis as bênçãos de que necessitais a fim de aperfeiçoar um caráter segundo a imagem de Cristo, o Senhor vos garante que pedis em harmonia com uma promessa que se cumprirá. O fato de vos reconhecerdes pecador, é base suficiente para implorardes Sua compaixão e misericórdia. A condição sob que vos deveis apresentar a Deus, não é que haveis de ser santos, mas que desejais que Ele vos limpe de todo pecado, e vos purifique de toda iniqüidade. O argumento que podemos alegar agora e sempre é nossa grande necessidade, nossa condição de completa impotência, o que O torna, a Ele e a Seu poder redentor, uma necessidade. MDC 131 1 "Buscai." Não desejeis somente Suas bênçãos, mas a Ele próprio. "Une-te pois a Ele, e tem paz." Jó 22:21. Buscai, e encontrareis. Deus vos está buscando, e o próprio desejo que experimentais de a Ele vos achegar, não é senão a atração de Seu Espírito. Cedei a essa atração. Cristo está pleiteando a causa do tentado, do errante, dos destituídos de fé. Está buscando erguê-los ao nível de companheiros Seus. "Se O buscares, será achado de ti." 1 Crônicas 28:9. MDC 131 2 "Batei." Vamos ter com Deus por um convite especial, e Ele nos espera para dar-nos as boas-vindas a Sua câmara de audiência. Os primeiros discípulos que seguiram a Jesus não ficaram satisfeitos com uma conversa rápida com Ele pelo caminho; disseram: "Rabi... onde moras?"... "foram, e viram onde morava, e ficaram com Ele aquele dia." João 1:38, 39. Assim podemos ser admitidos na maior intimidade e comunhão com Deus. "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará." Salmos 91:1. Batam, aqueles que desejam as bênçãos de Deus, e esperem à porta da misericórdia com firme certeza, dizendo: Pois Tu, ó Senhor, disseste: "Aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, se abre." MDC 131 3 Jesus olhava aos que se achavam reunidos a ouvir-Lhe as palavras, desejando ansiosamente que a grande multidão apreciasse a misericórdia e a amorável bondade de Deus. Para ilustrar a necessidade deles, e a divina boa vontade de dar, apresenta-lhes o quadro de uma criança com fome, pedindo pão a seus pais terrestres. "E qual dentre vós é o homem", disse, "que pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?" Apela para a terna e natural afeição de um pai para seu filho, e depois diz: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus, dará bens aos que Lhos pedirem?" Homem algum que tenha um coração de pai, se desviaria de seu filho com fome, a pedir pão. Poderiam eles imaginá-lo capaz de gracejar com a criança ou de martirizá-la despertando-lhe a esperança, só para depois a decepcionar? Prometeria ele dar-lhe bom e nutritivo alimento, para depois dar-lhe uma pedra? E desonraria alguém a Deus imaginando que Ele não atendesse aos apelos de Seus filhos? MDC 132 1 Se vós, pois, sendo humanos e maus, "sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" Lucas 11:13. O Espírito Santo, Seu próprio representante, é o maior de todos os dons. Todas as "boas coisas" se acham compreendidas nesse dom. O próprio Criador não nos pode dar coisa alguma maior, coisa alguma melhor. Quando rogamos ao Senhor que tenha piedade de nós em nossa aflição, e nos guie por Seu Santo Espírito, Ele nunca rejeitará nossa oração. É possível que mesmo um pai terrestre desatenda a seu filho com fome, mas Deus jamais desprezará o grito do necessitado e anelante coração. Com que maravilhosa ternura descreveu Ele o Seu amor! Eis, para os que nos dias escuros, julgam que Deus os esqueceu, a mensagem do coração do Pai: "Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o Senhor já Se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? mas ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado." Isaías 49:14-16. MDC 133 1 Toda promessa na Palavra de Deus nos fornece assunto de oração, apresentando a empenhada palavra de Jeová como nossa garantia. Seja qual for a bênção espiritual de que necessitemos, cabe-nos o privilégio de reclamá-la por meio de Jesus. Podemos dizer ao Senhor, com a singeleza de uma criança, justamente o que necessitamos. Podemos declarar-Lhe nossos negócios temporais, pedindo-Lhe pão e roupa da mesma maneira que o pão da vida e o vestido da justiça de Cristo. Vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas estas coisas, e sois convidados a pedir-Lhas. É mediante o nome de Jesus que se recebe todo favor. Deus honrará esse nome, e suprirá vossas necessidades dos tesouros de Sua liberalidade. MDC 133 2 Não esqueçais, porém, que, ao vos chegardes a Deus como vosso Pai, reconheceis vossa relação de filho. Não somente confiais em Sua bondade, mas em tudo vos submeteis ao Seu querer, sabendo que Seu amor é imutável. Entregai-vos para fazer-Lhe o serviço. Foi àqueles a quem Jesus mandou que buscassem primeiro o reino de Deus e Sua justiça, que Ele deu a promessa: "Pedi, e recebereis." João 16:24. MDC 133 3 Os dons dAquele que tem todo poder no Céu e na Terra, estão reservados para os filhos de Deus. Dons tão preciosos que nos advêm por intermédio do precioso sacrifício do sangue do Redentor; dons que satisfarão os mais profundos anseios do coração; dons tão perduráveis como a eternidade, serão recebidos e gozados por todos os que se aproximarem de Deus como criancinhas. Tomai as promessas de Deus como vos pertencendo, alegai-as diante dEle como Suas próprias palavras, e recebereis a plenitude da alegria. "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. MDC 134 1 A seguir a certeza do amor de Deus para conosco, Jesus recomenda amar-nos uns aos outros, em um vasto princípio que abrange todas as relações dos homens entre si. MDC 134 2 Os judeus se interessavam no que deviam receber; a preocupação que os fazia ansiosos era garantir-se aquilo a que se julgavam com direito quanto ao poder, ao respeito e ao serviço. Cristo ensina, porém, que nossa ansiedade não devia ser: Quanto devemos receber? mas: Quanto podemos dar? A norma de nossa obrigação para com os outros é-nos apresentada naquilo que nós mesmos consideramos como sua obrigação para conosco. MDC 134 3 Em vossa associação com outros, colocai-vos em seu lugar. Penetrai-lhes nos sentimentos, nas dificuldades, nas decepções, nas alegrias e tristezas. Identificai-vos com eles, e depois, fazei-lhes como, se se trocassem os lugares, desejaríeis que eles procedessem para convosco. Esta é a verdadeira regra da honestidade. É outra expressão da lei: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. E isto constitui a substância dos ensinos dos profetas. É um princípio do Céu, e desenvolver-se-á em todos quantos se acharem habilitados a participar de sua santa convivência. MDC 135 1 A regra áurea é o princípio da verdadeira cortesia, e sua mais genuína ilustração se manifesta na vida e no caráter de Jesus. Oh! que suave e bela irradiação partia da vida diária de nosso Salvador! Que doçura emanava só de Sua presença! O mesmo espírito se revelará em Seus filhos. Aqueles em quem Cristo habita, serão circundados duma atmosfera divina. Suas brancas vestes de pureza recenderão o perfume do jardim do Senhor. Seus rostos refletirão a luz do Seu, iluminando o trilho para pés fatigados e prontos a tropeçar. MDC 135 2 Homem algum que tenha o verdadeiro ideal quanto a um caráter perfeito, deixará de manifestar o espírito de compreensão e ternura de Cristo. A influência da graça há de abrandar o coração, refinar e purificar os sentimentos, dando uma delicadeza e um senso de correção de origem celeste. MDC 135 3 Mas há ainda uma significação mais profunda na regra áurea. Todo aquele que foi feito mordomo da multiforme graça de Deus, é chamado a comunicá-la a almas que jazem na ignorância e na treva, da mesma maneira que, estivesse ele no lugar dessas almas, desejaria que elas lha comunicassem. Disse o apóstolo Paulo: "Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." Romanos 1:14. Por tudo quanto tendes aprendido acerca do amor de Deus, por tudo quanto tendes recebido dos ricos dons de Sua graça acima da mais entenebrecida e degradada alma da Terra, sois devedores para com essa alma no sentido de lhe comunicar esse dons. MDC 136 1 Da mesma maneira quanto aos dons e bênçãos desta vida: tudo quanto possuís acima de vossos semelhantes, coloca-vos, na mesma proporção, em débito para com os menos favorecidos. Possuamos nós fortuna, ou mesmo os confortos da vida, achamo-nos na mais solene obrigação de cuidar dos sofredores enfermos, das viúvas e dos órfãos, exatamente como desejaríamos que eles cuidassem de nós, caso se invertessem as condições. MDC 136 2 A regra áurea, implicitamente, ensina a mesma verdade doutrinada algures no Sermão da Montanha, de que "com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo". Aquilo que fazemos aos outros, seja bem ou seja mal, terá, certamente, sua reação sobre nós, quer em bênção quer em maldição. Tudo quanto dermos, havemos de tornar a receber. As bênçãos terrestres que comunicamos a outros podem ser, e são-no com freqüência, retribuídas em bondade. O que damos, é-nos muitas vezes recompensado, em tempos de necessidade, quadruplicado, na moeda do reino. Além disto, porém, todas as dádivas são retribuídas, mesmo aqui, em uma mais plena absorção de Seu amor, o que é o resumo de toda glória celeste e seu tesouro. E o mal comunicado volve também. Todo aquele que se tem sentido na liberdade de condenar ou levar outros ao desânimo, será, em sua própria vida, levado a passar pela experiência por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram devido à sua falta de compassiva compreensão e ternura. MDC 136 3 É o amor de Deus para conosco que assim decretou. Ele nos quer levar a aborrecer nossa dureza de coração, e abrir o mesmo para que Jesus aí venha a habitar. E assim, do mal se produz um bem, e o que se afigurava maldição, torna-se bênção. MDC 136 4 A norma da regra áurea é a verdadeira norma do cristianismo; tudo que a deixa de cumprir, é um engano. Uma religião que induz os homens a estimarem em pouco os seres humanos, avaliados por Cristo em tão alto valor que por eles Se deu; uma religião que nos leve a negligenciar as necessidades humanas, seus sofrimentos ou direitos, é religião espúria. Menosprezando os direitos do pobre, do sofredor e do pecador, estamo-nos demonstrando traidores a Cristo. É porque os homens usam o nome de Cristo ao passo que Lhe negam o caráter na vida que vivem, que o cristianismo tem no mundo tão pouco poder. O nome do Senhor é blasfemado por causa dessas coisas. MDC 137 1 Nos dias em que a glória do Cristo ressurgido resplandecia sobre ela, foi dito da igreja apostólica que ninguém dizia "que coisa alguma do que possuía era sua própria". "Não havia pois entre eles necessitado algum." "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus; e em todos eles havia abundante graça." "E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos 4:32, 34, 33; 2:46, 47. MDC 137 2 Rebuscai o céu e a Terra, e não existe aí, revelada, uma verdade mais poderosa do que aquela que se manifesta em obras de misericórdia aos que necessitam de nossa simpatia e auxílio. Esta é a verdade tal como se encontra em Jesus. Quando os que professam o nome de Cristo praticarem os princípios da regra áurea, o evangelho será secundado pelo mesmo poder que o acompanhava na era apostólica. "Estreita é a porta, apertado o caminho que conduz à vida." Mateus 7:14. MDC 138 1 Nos dias de Cristo, o povo da Palestina vivia em cidades muradas, situadas, na maioria dos casos, sobre colinas e montes. As portas, que se cerravam ao pôr-do-sol, eram alcançadas por meio de caminhos íngremes e pedregosos, e o caminhante que se dirigia para casa ao fim do dia, tinha muitas vezes de o percorrer em ansiosa pressa, galgando a penosa subida, a fim de chegar à porta antes do cair da noite. O retardatário ficava de fora. MDC 138 2 O estreito e ascendente caminho que conduzira ao lar e ao descanso forneceu a Jesus uma impressiva imagem do caminho cristão. A vereda que vos tenho proposto, disse Ele, é estreita; a porta é de difícil entrada, pois a regra áurea exclui todo orgulho e interesse egoísta. Há, na verdade, uma estrada mais larga; mas seu fim é a destruição. Se quereis galgar o trilho da vida espiritual, deveis ascender continuamente; pois sua direção é para cima. Precisais marchar com os poucos; a multidão preferirá o caminho descendente. MDC 138 3 Na estrada que conduz à morte pode caminhar a raça inteira, com toda a sua mundanidade, todo o seu egoísmo, orgulho, desonestidade e aviltamento moral. Há espaço para as opiniões e doutrinas de todo homem, margem para seguir suas inclinações, para fazer seja o que for que lhe ditar o amor-próprio. A fim de andar pela estrada que leva à destruição, não é necessário procurar o caminho, pois larga é a porta, e espaçoso o caminho, e os pés se volvem naturalmente para a estrada que termina na morte. MDC 138 4 O caminho para a vida, porém, é apertado, e estreita é a porta. Se vos apegais a qualquer pecado que vos rodeia, achareis o caminho demasiado estreito para poderdes entrar. Vossos próprios caminhos, vossa própria vontade, vossos maus hábitos e práticas, devem ser abandonados, se quiserdes prosseguir no caminho do Senhor. Aquele que quer servir a Cristo não pode acompanhar as opiniões do mundo ou satisfazer-lhe as normas. A vereda do Céu é demasiado estreita para as riquezas e as posições nela desfilarem, demasiado estreita para a ostentação de egocêntricas ambições, íngreme e acidentada demais para ser escalada pelos amantes da comodidade. Labuta, paciência, sacrifício, vitupério, pobreza, a contradição dos pecadores contra Si, eis a porção de Cristo, e o mesmo deve ser nosso quinhão se queremos entrar um dia no paraíso de Deus. MDC 139 1 Todavia, não concluais que a vereda ascendente seja a penosa e a que vai em declive seja a cômoda. Por toda a estrada que conduz à morte há dores e penalidades, há aflições e desapontamentos, há advertências a não prosseguir avante. O amor de Deus tornou penoso os descuidosos e os obstinados se destruírem a si mesmos. Verdade é que a estrada de Satanás é arranjada de molde a parecer atraente, mas é tudo uma ilusão; há no caminho do mal acerbos remorsos e corrosivos cuidados. Podemos julgar aprazível seguir o orgulho e a ambição mundana; o fim disto, porém, é aflição e dor. Os planos egoístas talvez apresentem lisonjeiras perspectivas e acenem com a esperança de gozo; mas verificaremos que nossa felicidade é envenenada, e nossa vida amargurada pelas esperanças que se concentram no próprio eu. Na estrada descendente, talvez a entrada esteja adornada com flores, mas encontram-se espinhos no percurso. A luz da esperança que irradia à sua entrada, extingue-se nas trevas do desespero; e a alma que segue por esse caminho baixa às sombras de uma noite sem fim. MDC 140 1 "O caminho dos prevaricadores é áspero", mas os da sabedoria "são caminhos de delícias, e todas as suas veredas paz." Provérbios 13:15; 3:17. Todo ato de obediência a Cristo, todo ato de abnegação por amor dEle, toda prova devidamente suportada, toda vitória ganha sobre a tentação, é um passo dado na marcha para a glória da vitória final. Se tomamos a Cristo como nosso guia, Ele nos conduzirá a salvo. O maior dos pecadores não precisa errar seu caminho. Nenhum trêmulo investigador precisa deixar de andar na pura e santa luz. Embora seja o caminho tão estreito, tão santo que nele não se tolera pecado algum, foi todavia garantido acesso a todos, e nenhuma duvidosa e tremente alma necessita dizer: "Deus não cuida de mim." MDC 140 2 A estrada pode ser áspera, e a subida escarpada; pode haver precipícios à direita e à esquerda; talvez tenhamos de suportar fadiga em nossa jornada; quando cansados, quando ansiando repouso, poderemos ter de labutar ainda; talvez tenhamos de combater quando já desfalecidos; quando desanimados, precisamos ter ainda esperança; mas, com Cristo como nosso guia, não deixaremos de alcançar o desejado porto afinal. O próprio Cristo trilhou o rude caminho antes de nós, e suavizou-o para os nossos pés. MDC 140 3 E por todo o íngreme trilho que ascende em direção à vida eterna, encontram-se nascentes de alegria para refrigerar o cansado. Os que andam pelo caminho da sabedoria são, mesmo quando atribulados, eminentemente jubilosos; pois Aquele a quem sua alma ama caminha, invisível, ao seu lado. A cada passo ascendente, percebem, mais distintamente, o contato de Sua mão; a cada passo mais fulgentes raios de glória vindos do Invisível lhes incidem na estrada; e seus hinos de louvor, alcançando sempre mais elevada nota, elevam-se para unir-se aos cânticos dos anjos perante o trono. "A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. "Porfiai por entrar pela porta estreita." Lucas 13:24. MDC 141 1 O retardado caminhante, apressando-se para chegar à porta da cidade ao pôr-do-sol, não se podia desviar por qualquer atração no caminho. Todo o seu pensamento se concentrava no único desígnio -- entrar pela porta. A mesma intensidade de propósito, disse Jesus, exige-se na vida cristã. Tenho desvendado perante vós a glória do caráter, que é a verdadeira glória do Meu reino. Ela não vos oferece nenhuma perspectiva de domínio terrestre; é, todavia, merecedora de vosso supremo desejo e esforço. Não vos chamo a combater pela supremacia do grande império do mundo, mas não deveis concluir daí que não haja batalha a ser travada, nem vitória a ganhar. Peço-vos que vos esforceis, que vos angustieis por entrar em Meu reino espiritual. MDC 141 2 A vida cristã é uma batalha e uma marcha. Mas a vitória a ser ganha não é obtida por força humana. O campo de luta é o domínio do coração. A batalha que temos a ferir -- a maior de quantas já foram travadas pelo homem -- é a entrega do próprio eu à vontade de Deus, a sujeição do coração à soberania do amor. A velha natureza, nascida do sangue e da vontade da carne, não pode herdar o reino de Deus. As tendências hereditárias, os hábitos antigos, devem ser renunciados. MDC 141 3 Aquele que determina entrar no reino espiritual, verificará que todas as forças e paixões de uma natureza não regenerada, fortalecidas pelos poderes das trevas, acham-se arregimentadas contra ele. O egoísmo e o orgulho tomarão posição contra tudo que os aponte como pecado. Não podemos, de nós mesmos, vencer os maus desejos e hábitos que lutam pela predominância. Não nos é possível dominar o poderoso inimigo que nos mantém em escravidão. Unicamente Deus nos pode dar a vitória. Ele deseja que tenhamos o domínio de nós mesmos, de nossa vontade e de nossos caminhos. Ele não pode, todavia, operar em nós contra o nosso consentimento e cooperação. O Espírito divino opera mediante as faculdades e poderes conferidos ao homem. Nossas energias são requeridas para cooperar com Deus. MDC 142 1 A vitória não é ganha sem muita e fervorosa oração, sem a humilhação do próprio eu a cada passo. Nossa vontade não deve ser forçada a cooperar com os agentes celestes, mas voluntariamente sujeitada. Se fosse possível forçar sobre vós, com centuplicada intensidade, a influência do Espírito de Deus, isto não vos tornaria um cristão, um súdito apto para o Céu. A fortaleza de Satanás não seria derribada. A vontade deve ser colocada ao lado da vontade de Deus. Não sois capazes, de vós mesmos, de sujeitar vossos desígnios e desejos e inclinações à vontade de Deus; mas se estiverdes "dispostos a ser tornados voluntários", Deus efetuará a obra por vós, destruindo mesmos "os conselhos e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo". 2 Coríntios 10:5. Haveis de então operar "vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:12, 13. MDC 143 1 São atraídos pela beleza de Cristo e a glória do Céu muitos que ainda recuam em face das condições indispensáveis a que as venham a possuir. Há no caminho largo muitos que não se acham plenamente satisfeitos com a estrada que vão palmilhando. Anseiam romper com a escravidão do pecado, e em sua própria força, põem-se em guarda contra seus maus hábitos. Olham para o caminho apertado e a porta estreita; mas o prazer egoísta, o amor do mundo, o orgulho, as ambições profanas, colocam uma barreira entre eles e o Salvador. Renunciar a sua própria vontade, suas predileções, seus empreendimentos, exige um sacrifício diante do qual hesitam, vacilam e tornam atrás. Muitos "procurarão entrar, e não poderão". Lucas 13:24. Desejam o bem, fazem algum esforço para obtê-lo; não o escolhem, porém; não têm um determinado propósito de o alcançar seja o custo qual for. MDC 143 2 Nossa única esperança, se queremos vencer, é unir nossa vontade à vontade de Deus, e operar em cooperação com Ele hora a hora, dia a dia. Não nos é possível reter o eu, e não obstante entrar no reino de Deus. Se havemos de atingir um dia a santidade, será mediante a renúncia do próprio eu e a recepção da mente de Cristo. O orgulho e a suficiência própria devem ser crucificados. Estamos nós dispostos a pagar o preço que nos é exigido? Estamos dispostos a pôr nossa vontade em perfeita conformidade com a vontade de Deus? Até que estejamos prontos a fazê-lo, não pode a transformadora graça de Deus manifestar-se em nós. MDC 143 3 A luta que nos cumpre travar, é o "bom combate da fé". "Também trabalho", disse o apóstolo Paulo, "combatendo segundo a Sua eficácia, que obra em mim poderosamente." Colossences 1:29. MDC 144 1 Na grande crise de sua vida, Jacó retirou-se para orar. Estava cheio de um dominante propósito -- buscar a transformação de caráter. Mas, enquanto pleiteava com Deus, um inimigo, segundo supunha, colocou-lhe a mão em cima, e durante a noite toda ele lutou em defesa da própria vida. O propósito de sua alma, no entanto, não se alterou mesmo pelo perigo da vida. Esgotadas, quase, suas forças, o Anjo manifestou Seu divino poder e, a um toque Seu, Jacó reconheceu com quem estava lutando. Ferido e impotente, caiu ao peito do Salvador, rogando uma bênção. Não se desviaria nem deixaria de interceder, e Cristo assegurou a petição desta impotente e arrependida alma, segundo a Sua promessa: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. Jacó pleiteou com um espírito determinado: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." Gênesis 32:26. Esse espírito de persistência foi inspirado por Aquele que lutou com o patriarca. Foi Ele que lhe deu a vitória, e mudou-lhe o nome de Jacó, para Israel, dizendo: "Como príncipe, lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste." Gênesis 32:28. Aquilo pelo que Jacó, em vão, lutara em sua própria força, foi ganho pela entrega de si mesmo e uma firme fé. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." 1 João 5:4. "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas." Mateus 7:15. MDC 145 1 Ensinadores da mentira surgirão a fim de desviar-vos do caminho apertado e da porta estreita. Acautelai-vos com eles; conquanto ocultos em peles de ovelhas, são interiormente lobos devoradores. Jesus dá uma prova pela qual os falsos mestres se podem distinguir dos verdadeiros. "Por seus frutos os conhecereis", diz Ele. "Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" MDC 145 2 Não nos é recomendado que os provemos por seus belos discursos e exaltadas profissões de fé. Devem ser julgados pela Palavra de Deus. "À Lei e ao Testemunho: se eles não falarem segundo esta Palavra, é porque não têm iluminação." "Cessa, filho meu, de ouvir a instrução, se é para te desviares das palavras do conhecimento." Isaías 8:20 (TT); Provérbios 19:27 (TB). Que mensagem trazem esses mestres? Acaso ela vos induz a reverenciar e temer a Deus? A manifestar vosso amor para com Ele mediante a lealdade a Seus mandamentos? Se os homens não sentem o peso da lei moral; se menosprezam os preceitos de Deus; se transgridem um dos mais pequenos de Seus mandamentos, e assim ensinam aos homens, não serão de nenhum valor aos olhos do Céu. Podemos saber que suas pretensões não têm fundamento. Estão fazendo justamente a obra que se originou com o príncipe das trevas, o inimigo de Deus. MDC 145 3 Nem todos quantos professam Seu nome e Lhe usam a insígnia são de Cristo. Muitos que ensinaram em Meu nome, disse Jesus, serão afinal achados em falta. "Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade." MDC 146 1 Pessoas há que acreditam estar direito, quando estão erradas. Ao passo que pretendem ter a Cristo por Seu Senhor, e professam fazer grandes obras em Seu nome, são obreiras da iniqüidade. "Lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza." A Palavra de Deus é para eles "como uma canção de amores, canção de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as Tuas palavras, mas não as põem por obra". Ezequiel 33:31, 32. MDC 146 2 Uma mera profissão de discipulado, não tem nenhum valor. A fé em Cristo que salva a alma, não é o que muitos a representam ser. "Crede, crede", dizem eles, "e não necessitais guardar a lei." Mas uma crença que não leva à obediência, é presunção. Diz o apóstolo João: "Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade." 1 João 2:4. Que ninguém nutra a idéia de que providências especiais ou manifestações miraculosas devam ser a prova da genuinidade de sua obra ou das idéias que advogam. Quando as pessoas falam levianamente da Palavra de Deus, e colocam suas impressões, sentimentos e exercícios religiosos acima da norma divina, podemos saber que elas não têm luz. MDC 146 3 A obediência é a prova do discipulado. É a observância dos mandamentos que prova a sinceridade de nossas profissões de amor. Quando a doutrina que aceitamos mata no coração o pecado, purifica a alma da contaminação, dá frutos para a santidade, podemos saber que é a verdade de Deus. Quando se manifestam na vida a beneficência, a bondade, a brandura de coração, o espírito compassivo; quando a alegria de fazer o bem nos enche o coração; quando exaltamos a Cristo e não ao próprio eu, podemos saber que nossa fé é da devida espécie. "E nisto sabemos que O conhecemos: se guardamos os Seus mandamentos." 1 João 2:3. "E não caiu, porque estava edificada sobre a rocha." Mateus 7:25. MDC 147 1 O povo ficara profundamente comovido com as palavras de Jesus. A divina beleza dos princípios da verdade os atraiu; e as solenes advertências de Cristo haviam-lhes soado como a voz de Deus que esquadrinha o coração. Suas palavras golpearam na própria raiz suas anteriores idéias e opiniões; obedecer-Lhe aos ensinos, exigiria uma mudança de todos os seus hábitos de pensar e agir. Pô-los-ia em choque com seus mestres religiosos, pois envolveria o desmoronamento de toda a estrutura que, por gerações, os rabis tinham estado a construir. Daí, se bem que o coração do povo correspondesse a Suas palavras, poucos estavam dispostos a aceitá-las como a norma de sua vida. MDC 147 2 Jesus concluiu Seus ensinos no monte com uma ilustração que apresentava com frisante nitidez a importância de pôr em prática as palavras que Ele havia proferido. Entre as multidões que se comprimiam em redor do Salvador, muitos havia que tinham passado a vida nos arredores do mar da Galiléia. Ali, sentados na encosta do monte, a ouvir as palavras de Cristo, tinham diante de si vales e barrancos através dos quais fluíam as torrentes das montanhas em direção do mar. No verão, essas águas quase desapareciam, deixando apenas um seco e poento canal. Quando, porém, as tempestades do inverno rebentam sobre os montes, os rios, tornam-se impetuosas, devastadoras torrentes, inundando por vezes os vales, e carregando tudo em sua irresistível enchente. Freqüentemente, então, as choupanas erguidas pelos camponeses na relvosa planície e que, aparentemente, se achavam fora do alcance do perigo, eram arrebatadas. No alto da montanha, no entanto, achavam-se casas edificadas sobre a rocha. Em algumas partes do país havia moradas construídas inteiramente de rocha, e muitas delas tinham suportado as tempestades de um milênio. Essas casas haviam sido erguidas à custa de fadiga e árduo labor. Não eram de fácil acesso, e o local em que estavam não era convidativo como o do verdejante vale. Estavam, porém, fundadas sobre a rocha; em vão sobre elas batiam as enchentes e as tempestades. MDC 148 1 Semelhante aos edificadores dessas casas nas rochas, disse Jesus, é aquele que receber as palavras que vos tenho falado, tornando-as o fundamento de seu caráter, de sua vida. Séculos atrás, escrevera o profeta Isaías: "A palavra de nosso Deus subsiste eternamente" (Isaías 40:8); e Pedro, muito depois de haver sido feito o Sermão da Montanha, citando essas palavras de Isaías, acrescentou: "Esta é a palavra que entre vós foi evangelizada". 1 Pedro 1:25. A Palavra de Deus é a única coisa estável que nosso mundo conhece. É o firme fundamento. "O céu e a Terra passarão", disse Jesus, "mas as Minhas palavras não hão de passar." Mateus 24:35. MDC 148 2 Os grandes princípios da lei, da própria natureza de Deus, acham-se contidos nas palavras de Cristo no monte. Quem quer que edifique sobre eles, está edificando sobre Cristo, a Rocha dos séculos. Ao receber a Palavra, recebemos a Cristo. E só os que assim recebem Suas palavras estão construindo sobre Ele. "Ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo." 1 Coríntios 3:11. "Debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos." Atos 4:12. Cristo, a Palavra, a revelação de Deus -- a manifestação de Seu caráter, Sua lei, Seu amor, Sua vida -- é o único fundamento sobre que podemos edificar um caráter que subsista. MDC 149 1 Edificamos sobre Cristo mediante o obedecer a Sua Palavra. Não é o que meramente se compraz na justiça, o que é justo, mas aquele que pratica a justiça. A santidade não é enlevo; é o resultado de entregar tudo a Deus; é fazer a vontade de nosso Pai celeste. Quando os filhos de Israel se achavam acampados nas fronteiras da Terra Prometida, não lhes era necessário apenas ter conhecimento de Canaã ou cantar os hinos de Canaã. Isto só por si não os levaria à posse das vinhas e olivais da boa terra. Só a poderiam tornar deveras sua, pela ocupação, mediante o cumprimento das condições, o exercício de uma viva fé em Deus, o apoderarem-se de Suas promessas, enquanto Lhe obedeciam às instruções. MDC 149 2 A religião consiste em praticar as palavras de Cristo; não praticá-las para granjear o favor de Deus, mas porque sem nenhum merecimento de nossa parte, recebemos o dom de Seu amor. Cristo faz depender a salvação do homem, não meramente da profissão, mas da fé que se manifesta em obras de justiça. Agir, não simplesmente dizer, eis o que se espera dos seguidores de Cristo. É por meio da ação que se edifica o caráter. "Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus." Romanos 8:14. Não aqueles cujo coração é tocado pelo Espírito, não aqueles que de quando em quando se submetem ao Seu poder, mas os que são guiados pelo Espírito, são os filhos de Deus. MDC 150 1 Acaso desejais ser seguidor de Cristo, todavia não sabeis como começar? Estais em trevas, e não sabeis como encontrar a luz? Segui a luz que tendes. Assentai em vosso coração obedecer ao que conheceis da Palavra de Deus. Seu poder, Sua própria vida, residem em Sua Palavra. À medida que recebeis a Palavra com fé, ela vos comunica poder para obedecer. Ao passo que dais atenção à luz que tendes, maior luz vos advirá. Estais edificando sobre a Palavra de Deus, e vosso caráter será formado à semelhança do caráter de Cristo. MDC 150 2 Cristo, o verdadeiro fundamento, é uma pedra viva; Sua vida se comunica a todos quantos se acham edificados nEle. "Vós também, como pedras vivas sois edificados casa espiritual." "No qual todo edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor." 1 Pedro 2:5; Efésios 2:21. As pedras se tornam uma com o fundamento; pois uma mesma vida se acha em todas. Esse edifício, tempestade alguma pode derribar; pois MDC 150 3 "O que de Deus a vida compartilha, Com Ele a tudo sobreviverá." MDC 150 4 Mas todo edifício edificado sobre outro fundamento que não seja a Palavra de Deus, ruirá. Aquele que, como os judeus do tempo de Cristo, edifica sobre a base de idéias e opiniões humanas, de formas e cerimônias inventadas pelos homens, ou sobre quaisquer obras que possa fazer independentemente da graça de Cristo, está erigindo sua estrutura de caráter sobre a movediça areia. As terríveis tempestades da tentação hão de varrer o arenoso fundamento, deixando em ruínas sua casa, na praia do tempo. MDC 151 1 "Portanto assim diz o Senhor Jeová:... Regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo." Isaías 28:16, 17. MDC 151 2 Hoje, porém, a misericórdia pleiteia com o pecador. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva: convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?" Ezequiel 33:11. A voz que hoje fala ao impenitente é a voz dAquele que, em angústia de coração, exclamou ao contemplar a cidade amada: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha aos seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se vos deixará deserta." Lucas 13:34, 35. Em Jerusalém contemplou Jesus um símbolo do mundo que Lhe rejeitara e desprezara a graça. Ó coração obstinado, Ele chorava por ti! Mesmo quando as lágrimas de Jesus eram vertidas sobre o monte, Jerusalém ainda se poderia haver arrependido, escapando à sua condenação. Por um pouco ainda esperava o Dom do Céu por sua aceitação. Assim, ó coração, Cristo ainda te fala em acentos de amor: "Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." "Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação." Apocalipse 3:20; 2 Coríntios 6:2. MDC 152 1 Vós que apoiais vossa esperança no próprio eu, estais edificando na areia. Não é, porém, demasiado tarde para escapar da iminente ruína. Antes que irrompa a tempestade, fugi para o firme fundamento. "Assim diz o Senhor Jeová: Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse." "Olhai para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro." "Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." "Não sereis envergonhados nem confundidos em todas as eternidades." Isaías 28:16; 45:22; 41:10; 45:17. ------------------------Primeiros Escritos PE 5 1 Prefácio PE 7 1 Prefácio à Primeira Edição de "Experience and Views" PE VII 1 Prefácio histórico PE 13 3 Capítulo 1 -- Minha Primeira Visão PE 32 1 Capítulo 2 -- Visões Subsequentes PE 36 1 Capítulo 3 -- O Selamento PE 39 1 Capítulo 4 -- O Amor de Deus Por Seu Povo PE 41 1 Capítulo 5 -- O Abalo das Potestades do Céu PE 42 1 Capítulo 6 -- A Porta Aberta e a Porta Fechada PE 46 1 Capítulo 7 -- A Prova de Nossa Fé PE 48 2 Capítulo 8 -- Ao Pequeno Rebanho PE 52 1 Capítulo 9 -- As Últimas Pragas e o Juízo PE 54 2 Capítulo 10 -- Fim dos 2.300 Dias PE 56 2 Capítulo 11 -- O Dever em Face do Tempo de Angústia PE 59 1 Capítulo 12 -- As Batidas Misteriosas PE 61 1 Capítulo 13 -- Os Mensageiros PE 64 1 Capítulo 14 -- O Sinal da Besta PE 68 1 Capítulo 15 -- Cego Guiando Cego PE 69 2 Capítulo 16 -- Preparação Para o Fim PE 72 1 Capítulo 17 -- Oração e Fé PE 74 1 Capítulo 18 -- O Tempo do Ajuntamento PE 78 3 Capítulo 19 -- Os Sonhos da Sra. White PE 81 2 Capítulo 20 -- O Sonho de Guilherme Miller PE 85 1 Capítulo 21 -- Suplemento -- Explanação PE 97 1 Capítulo 22 -- A Ordem Evangélica PE 104 2 Capítulo 23 -- Dificuldades na Igreja PE 107 2 Capítulo 24 -- Esperança da Igreja PE 111 1 Capítulo 25 -- Preparação Para Vinda de Cristo PE 114 2 Capítulo 26 -- Fidelidade em Reuniões de Testemunhos PE 118 2 Capítulo 27 -- Aos Inexperientes PE 121 2 Capítulo 28 -- Abnegação PE 122 1 Capítulo 29 -- Irreverência PE 123 1 Capítulo 30 -- Falsos Pastores PE 125 2 Capítulo 31 -- Dom de Deus ao Homem PE 133 1 Capítulo 32 -- Dons Espirituais -- Introdução PE 145 1 Capítulo 33 -- A Queda de Satanás PE 147 1 Capítulo 34 -- A Queda do Homem PE 149 2 Capítulo 35 -- O Plano da Salvação PE 153 1 Capítulo 36 -- O Primeiro Advento de Cristo PE 158 2 Capítulo 37 -- O Ministério de Cristo PE 162 1 Capítulo 38 -- A Transfiguração PE 165 1 Capítulo 39 -- A Traição PE 169 1 Capítulo 40 -- O Julgamento de Cristo PE 175 2 Capítulo 41 -- A Crucifixão de Cristo PE 181 2 Capítulo 42 -- A Ressurreição de Cristo PE 190 2 Capítulo 43 -- A Ascenção de Cristo PE 192 1 Capítulo 44 -- Os Discípulos de Cristo PE 197 1 Capítulo 45 -- A Morte de Estevão PE 200 1 Capítulo 46 -- A Conversão de Saulo PE 202 1 Capítulo 47 -- O Judeus Decidem Matar a Paulo PE 206 1 Capítulo 48 -- Paulo Visita Jerusalém PE 210 1 Capítulo 49 -- A Grande Apostasia PE 213 2 Capítulo 50 -- O Mistério da Iniquidade PE 218 1 Capítulo 51 -- Morte, Não Vida Eterna em Miséria PE 222 1 Capítulo 52 -- A Reforma PE 226 1 Capítulo 53 -- União da Igreja Com o Mundo PE 229 1 Capítulo 54 -- Guilherme Miller PE 232 2 Capítulo 55 -- A Mensagem do Primeiro Anjo PE 237 2 Capítulo 56 -- A Mensagem do Segundo Anjo PE 240 1 Capítulo 57 -- O Movimento do Advento Ilustrado PE 245 2 Capítulo 58 -- Outra Ilustração PE 250 1 Capítulo 59 -- O Santuário PE 254 1 Capítulo 60 -- A Mensagem do Terceiro Anjo PE 258 3 Capítulo 61 -- Uma Firme Plataforma PE 262 1 Capítulo 62 -- O Espiritismo PE 266 1 Capítulo 63 -- Cobiça PE 269 1 Capítulo 64 -- A Sacudidura PE 273 1 Capítulo 65 -- Os Pecados de Babilônia PE 277 1 Capítulo 66 -- O Alto Clamor PE 279 1 Capítulo 67 -- A Terceira Mensagem Encerrada PE 282 2 Capítulo 68 -- O Tempo de Angústia PE 285 1 Capítulo 69 -- O Livramento dos Santos PE 288 1 Capítulo 70 -- A Recompensa dos Santos PE 289 3 Capítulo 71 -- A Terra Desolada PE 292 1 Capítulo 72 -- A Segunda Ressurreição PE 294 1 Capítulo 73 -- A Segunda Morte PE 296 1 Apêndice ------------------------Prefácio PE 5 1 Raro é sem dúvida nestes tempos mutáveis que um livro transponha todo um século com procura sempre maior e encontre lugar no hábito corrente da leitura ao lado de livros que tratam com fatos do presente. Pois esta é a posição invejável de Primeiros Escritos de Ellen G. White. Prejudicada a composição tipográfica anterior em vista das inúmeras tiragens feitas para atender a indeclinável demanda do livro, eis que surge agora em formato diferente na quarta edição americana. PE 5 2 Este pequeno volume popular, corretamente assim chamado, inclui a republicação dos primeiros três livros de Ellen G. White, a saber: Christian Experience and Views, publicado pela primeira vez em 1851; A Supplement to Experience and Views, editado em 1854 e Spiritual Gifts, vol. 1, aparecido em 1858. PE 5 3 A vasta e persistente popularidade de Primeiros Escritos pode ser atribuída ao desejo que não esmorece de possuir e estudar as mensagens de informação e encorajamento que vieram nos primeiros tempos à igreja através do dom profético. PE 5 4 A segunda impressão deste material foi feita em 1882, em dois pequenos volumes: Experience and Views e o Supplement compreendendo o primeiro, e Spiritual Gifts o segundo. Com referência a certas adições feitas à primeira dessas obras originais e a algumas ligeiras mudanças editoriais feitas então, o prefácio dos publicadores afirma: PE 5 5 "Notas de rodapé dando datas e fazendo explanações, e um apêndice dando dois sonhos muito interessantes mencionados na obra original mas não relatados, aumentarão o valor desta edição. Além disto, mudança alguma da obra original foi introduzida na presente edição, salvo o emprego ocasional de alguma palavra nova ou mudança na construção de uma sentença, visando melhor expressar a idéia, não tendo sido omitida parte alguma da obra. Nenhuma sombra de mudança foi feita em qualquer idéia ou intenção da obra original, e as mudanças verbais foram feitas sob as vistas da autora e com sua plena aprovação." PE 6 1 Os dois livros conjuntos foram também reeditados como um só volume em 1882 sob o título Early Writings. Posteriormente foi feita nova composição tipográfica para a terceira edição americana, a qual teve ampla aceitação, havendo sempre nova demanda da obra. PE 6 2 Nesta quarta edição o conteúdo aparece com a mesma paginação da edição anterior, de maneira a combinar com as referências dadas no Índice dos Escritos da Sra. Ellen G. White. Observar-se-á que moderna forma de expressão e formas correntes de pontuação foram empregadas nesta edição. PE 6 3 Em Experience and Views é apresentado o primeiro esboço biográfico da Sra. Ellen G. White, descrevendo brevemente sua experiência durante o movimento do advento que vai de 1840-44. Segue-se então certo número das primeiras visões, muitas das quais apareceram de início em folha impressa ou em artigos de revistas. PE 6 4 O Supplement esclarece certas expressões da obra original que haviam sido mal compreendidas ou mal construídas e provê conselho adicional à igreja. Sua publicação precedeu de um ano o primeiro panfleto que levava o título de Testimony for the Church. PE 6 5 Spiritual Gifts, vol. 1, tendo sido o primeiro relato publicado da visão do secular conflito entre Cristo e Seus anjos e Satanás e seus anjos, é estimado por suas vívidas descrições e síntese, visto como trata apenas dos pontos mais salientes. Nos anos subseqüentes esta breve história do conflito foi grandemente ampliada, visto constituir os quatro volumes do The Spirit of Prophecy, publicado em 1870-84. Depois de ampla distribuição, este conjunto de quatro livros foi substituído pela série bem conhecida e amplamente lida de Conflito dos Séculos, que apresenta o relato ainda mais ampliado, como apresentado à Sra. White em muitas revelações. Embora os volumes mais alentados -- Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, O Desejado de Todas as Nações, Atos dos Apóstolos e O Conflito dos Séculos -- apresentem a história do conflito em sua mais completa forma, o escrito inicial do relato como apresentado em sua forma simples e bem delineada será, como aconteceu com Experience and Views, grandemente procurado. Os Depositários das Publicações de Ellen G. White, Washington, D.C. Janeiro, 1945. ------------------------Prefácio à Primeira Edição de "Experience and Views" PE 7 1 Estamos bem advertidos de que muitos honestos pesquisadores da verdade e da santidade bíblica têm preconceitos contra as visões. Duas grandes causas são responsáveis por este preconceito. Primeiro o fanatismo, acompanhado por falsas visões e experiências, que tem existido mais ou menos em toda parte. Isto tem levado muitos dos sinceros a duvidar de tudo que é desta espécie. Em segundo lugar, a exibição de mesmerismo, e o que é comumente chamado as "pancadas misteriosas", são perfeitamente calculados para enganar e criar a incredulidade com respeito aos dons e operações do Espírito de Deus. PE 7 2 Mas Deus é imutável. Sua obra por intermédio de Moisés na presença de Faraó foi consumada, não obstante a Janes e Jambres ter sido permitido realizar pelo poder de Satanás, milagres que pareciam iguais aos operados por Moisés. A contrafação apareceu também nos dias dos apóstolos, e contudo os dons do Espírito foram manifestados nos seguidores de Cristo. E não é propósito de Deus deixar o Seu povo neste século de engano quase ilimitado sem os dons e a manifestação do Seu Espírito. PE 8 1 O desígnio de uma contrafação é imitar uma realidade existente. Portanto a presente manifestação do espírito do erro é prova de que Deus Se manifesta a Seus filhos pelo poder do Espírito Santo, e que está prestes a cumprir Sua palavra gloriosamente. PE 8 2 "E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do Meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos." Atos dos Apóstolos 2:17. Comp. com Joel 2:28. PE 8 3 No que respeita ao mesmerismo, sempre o temos considerado perigoso, e nada temos portanto a ver com ele. Jamais vimos uma pessoa em sono mesmérico e nada conhecemos da arte pela experiência. PE 8 4 Damos a público esta pequena obra com a esperança de que ela conforte os santos. Tiago White, Saratoga Springs, N. Y. Agosto, 1851. ------------------------Prefácio histórico PE VII 1 Primeiros Escritos são obra de permanente e especial interesse aos Adventistas do Sétimo Dia, pois abrangem os primeiros livros de Ellen G. White. Foram escritos e publicados pela primeira vez na década de 1850, para edificação e instrução daqueles com os quais a autora passara pelas experiências relacionadas com os Adventistas Observadores do Sábado, nas décadas de 1840 e princípio de 1850. Assim sendo, a autora deu como certo que o leitor tivesse conhecimento da história do Despertamento Adventista e do progresso do Movimento Adventista do Sétimo Dia que emergiu em 1844. Conseqüentemente as experiências daquele tempo, bem compreendidas, são em alguns casos apenas mencionadas, empregando-se expressões que, para ser corretamente compreendidas, têm de ser consideradas na contextura da história dos Adventistas Observadores do Sábado daqueles anos iniciais. PE VII 2 Em 1858, escrevendo da proclamação das mensagens dos três anjos de Apocalipse 14, Ellen White trata das experiências dos que participaram da obra, e tira lições dessas experiências, em vez de, como seria de esperar, dar uma bem definida apresentação do caráter dessas mensagens. (Ver págs. 232-240; 254-258.) Ela por vezes emprega expressões hoje pouco usadas, como "Adventistas nominais", "porta fechada", "porta aberta", etc. PE VII 3 Hoje estamos afastados mais de um século daqueles tempos heróicos. O leitor deve conservar isto bem claro na mente. A história que era tão bem conhecida aos contemporâneos de Ellen White recapitularemos agora, tocando em alguns dos pontos altos das experiências dos Adventistas Observadores do Sábado durante uma década ou duas das que precederam a primeira publicação da matéria que aqui aparece. PE VIII 1 Nos parágrafos iniciais a Sra. White faz breve referência a sua conversão e sua experiência cristã na infância. Fala também de haver assistido a conferências sobre a doutrina bíblica quanto ao esperado advento pessoal de Cristo, que se julgava estar muito próximo. O grande Despertamento Adventista, ao qual tão breve referência é aqui feita, foi um movimento de alcance mundial. Apareceu em resultado de cuidadoso estudo das passagens proféticas da parte de muitos, e a aceitação das boas novas da vinda de Jesus por grande número de pessoas, através do mundo. O grande despertamento adventista PE VIII 2 Foi, porém, nos Estados Unidos que a mensagem do Advento foi mais vastamente proclamada e recebida. Sendo as profecias bíblicas referentes à volta de Jesus aceitas por homens e mulheres eruditos, de muitas profissões religiosas, resultou daí um grande número de fervorosos crentes adventistas. Convém notar, todavia, que não se formou nenhuma organização religiosa separada e distinta. A esperança do Advento levou a profundos avivamentos religiosos que beneficiaram todas as igrejas protestantes, levando muitos céticos e incrédulos a confessar em público sua fé na Bíblia e em Deus. PE VIII 3 Ao aproximar-se o movimento de seu ponto alto, na primeira década dos 1840, várias centenas de ministros uniram-se na proclamação da mensagem. Na liderança achava-se Guilherme Miller, que viveu na extremidade oriental do Estado de Nova Iorque. Era ele homem preeminente na comunidade, empenhado na lavoura como seu meio de vida. Apesar de uma rica base religiosa, na juventude tornou-se cético. Perdeu a fé na Palavra de Deus e adotou teorias deístas. Quando, um domingo de manhã, leu um sermão na Igreja Batista, o Espírito Santo tocou-lhe o coração, e foi levado a aceitar a Jesus Cristo como seu Salvador. Miller pôs-se a estudar a Palavra de Deus, resolvido a descobrir na Bíblia uma resposta satisfatória a todas as suas dúvidas, e aprender por si mesmo as verdades expostas em suas páginas. PE IX 1 Por dois anos dedicou ele muito de seu tempo a um estudo das Escrituras, versículo por versículo. Resolveu não passar a estudar o versículo seguinte enquanto não achasse uma explicação satisfatória daquele que estava estudando. Tinha a sua frente unicamente a Bíblia e uma concordância. Com o tempo, seu estudo chegou às profecias da segunda vinda de Cristo, literal e pessoal. Também se empenhou muito no estudo das grandes profecias acerca de tempo, particularmente dos 2.300 dias, de Daniel 8 e 9, que ele vinculava à profecia de Apocalipse 14 e à mensagem do anjo a proclamar a hora do juízo divino. Apocalipse 14:6, 7. Neste volume na pág. 229, a Sra. White declara que "Deus enviou Seu anjo, para comover o coração" de Guilherme Miller, "a fim de levá-lo a pesquisar as profecias. PE IX 2 Em sua juventude, a Sra. White ouviu Miller em duas séries de conferências, na cidade de Portland, no Maine. Sentiu no coração uma profunda e duradoura impressão. Deixemos que ela nos exponha o cálculo das profecias, como o Pastor Miller os apresentou ao seu auditório. Para isso nos volvemos ao livro posterior da Sra. White, O Grande Conflito: O cálculo dos períodos proféticos PE IX 3 "A profecia que mais claramente parecia revelar o tempo do segundo advento, era a de Daniel 8:14: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.' Seguindo sua regra de fazer as Escrituras o seu próprio intérprete, Miller descobriu que um dia na profecia simbólica representa um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6); viu que o período de 2.300 dias proféticos, ou anos literais, se estenderia muito além do final da dispensação judaica, donde o não poder ele referir-se ao santuário daquela dispensação. Miller aceitou a opinião geralmente acolhida, de que na era cristã a Terra é o santuário, e, portanto, compreendeu que a purificação do santuário predita em Daniel 8:14 representa a purificação da Terra pelo fogo, à segunda vinda de Cristo. Se, pois, se pudesse encontrar o exato ponto de partida para os 2.300 dias, concluiu que se poderia facilmente determinar a ocasião do segundo advento. Assim se revelaria o tempo daquela grande consumação, 'tempo em que as condições presentes, com todo o seu orgulho e poder, pompa e vaidade, impiedade e opressão, viriam ao fim', que a maldição 'se removeria da Terra, a morte seria destruída, dar-se-ia o galardão aos servos de Deus, os profetas e os santos, e aos que temem o Seu nome, e seriam destruídos os que devastam a Terra'. -- Bliss. PE X 1 "Com um novo e mais profundo fervor, Miller continuou o exame das profecias, dedicando dias e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia de tão estupenda importância e absorvente interesse. No capítulo oitavo de Daniel ele não pôde achar nenhum fio que guiasse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel, conquanto tivesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão, deu-lhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a força física. Não pôde suportar mais, e o anjo o deixou por algum tempo. Daniel enfraqueceu e esteve enfermo alguns dias. 'Espantei-me acerca da visão', diz ele, 'e não havia quem a entendesse.' PE X 2 "Deus ordenou, contudo, a Seu mensageiro: 'Dá a entender a este a visão.' A incumbência devia ser satisfeita. Em obediência a ela, o anjo, algum tempo depois, voltou a Daniel, dizendo: 'Agora saí para fazer-te entender o sentido'; 'toma, pois, bem sentido na palavra, e entende a visão.' Daniel 9:22, 23. Havia, na visão do capítulo oito, um ponto importante que tinha sido deixado sem explicação, a saber, o que se refere ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias; portanto o anjo, retomando sua explicação, ocupa-se principalmente do assunto do tempo: PE XI 1 "'Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade. ... Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas: as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e não será mais. ... E Ele firmará um concerto com muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.' Daniel 9:24-27. PE XI 2 "O anjo fora enviado a Daniel com o expresso fim de lhe explicar o ponto que tinha deixado de compreender na visão do capítulo oito, a saber, a declaração relativa ao tempo: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.' Depois de mandar Daniel tomar bem sentido na palavra e entender a visão, as primeiras declarações do anjo foram: 'Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade.' A palavra aqui traduzida 'determinadas' significa literalmente 'separadas'. Setenta semanas, representando 490 anos, declara o anjo estarem separadas, referindo-se especialmente aos judeus. Mas, separadas de quê? Como os 2.300 dias foram o único período de tempo mencionado no capítulo oito, devem ser o período de que as setenta semanas se separaram; estas devem ser, portanto, uma parte dos 2.300 dias, e os dois períodos devem começar juntamente. Declara o anjo datarem as setenta semanas da saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Se se pudesse encontrar a data desta ordem, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos 2.300 dias. PE XII 1 "No sétimo capítulo de Esdras acha-se o decreto. Esdras 7:12-26. Em sua forma completa foi promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia, em 457 antes de Cristo. Mas em Esdras 6:14 se diz ter sido a casa do Senhor em Jerusalém edificada 'conforme o mandado [ou decreto, como se poderia traduzir] de Ciro e de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia'. Estes três reis, originando, confirmando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição exigida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano 457 antes de Cristo, tempo em que se completou o decreto, como data da ordem, viu-se ter-se cumprido toda a especificação da profecia relativa às setenta semanas. PE XII 2 "'Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas' -- a saber, sessenta e nove semanas ou 483 anos. O decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 antes de Cristo. A partir desta data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 de nossa era. (Ver Apêndice.) Naquele tempo esta profecia se cumpriu. A palavra 'Messias' significa o 'Ungido'. No outono do ano 27 de nossa era, Cristo foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito. O apóstolo São Pedro testifica que 'Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude'. Atos dos Apóstolos 10:38. E o próprio Salvador declarou: 'O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres.' Lucas 4:18. Depois de Seu batismo Ele foi para a Galiléia, 'pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido'. Marcos 1:14, 15. PE XII 3 "'E Ele firmará concerto com muitos por uma semana.' A 'semana', a que há referência aqui, é a última das setenta, são os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus. Durante este tempo, que se estende do ano 27 ao ano 34 de nossa era, Cristo, a princípio em pessoa e depois pelos Seus discípulos, dirigiu o convite do evangelho especialmente aos judeus. Ao saírem os apóstolos com as boas novas do reino, a recomendação do Salvador era: 'Não ireis pelos caminhos das gentes, nem entrareis em cidades de samaritanos; mas ide às ovelhas perdidas da casa de Israel.' Mateus 10:5, 6. PE XIII 1 "Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.' No ano 31 de nossa era, três anos e meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande sacrifício oferecido sobre o Calvário, terminou aquele sistema cerimonial de ofertas, que durante quatro mil anos haviam apontado para o Cordeiro de Deus. O tipo alcançou o antítipo, e todos os sacrifícios e ofertas daquele sistema cerimonial deveriam cessar. PE XIII 2 "As setenta semanas, ou 490 anos, especialmente conferidas aos judeus, terminaram, como vimos, no ano 34. Naquele tempo, pelo ato do Sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho, pelo martírio de Estêvão e perseguição aos seguidores de Cristo. Assim, a mensagem da salvação, não mais restrita ao povo escolhido, foi dada ao mundo. Os discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, 'iam por toda parte, anunciando a Palavra'. Filipe desceu à cidade de Samaria e pregou a Cristo. São Pedro, divinamente guiado, revelou o evangelho ao centurião de Cesaréia, Cornélio, que era temente a Deus; e o ardoroso Paulo, ganho à fé cristã, foi incumbido de levar as alegres novas 'aos gentios de longe'. Atos dos Apóstolos 8:4, 5; 22:21. PE XIII 3 "Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente todas as especificações das profecias e fixa-se o início das setenta semanas, inquestionavelmente, no ano 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa era. Por estes dados não há dificuldade em achar-se o final dos 2:300 dias. Tendo sido as setenta semanas -- 490 dias -- separadas dos 2.300 dias, ficaram restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os 1.810 dias deveriam ainda cumprir-se. Contando do ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844. Conseqüentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminaram em 1844. Ao expirar este grande período profético, 'o santuário será purificado', segundo o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi definitivamente indicado o tempo da purificação do santuário, que quase universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do segundo advento. PE XIV 1 "Miller e seus companheiros a princípio creram que os 2.300 dias terminariam na Primavera de 1844, ao passo que a profecia indicava o outono daquele ano. (Ver Apêndice.) A compreensão errônea deste ponto trouxe desapontamento e perplexidade aos que haviam fixado a primeira daquelas datas para o tempo da vinda do Senhor. Isto, porém, não afetou nem de leve a força do argumento que mostrava terem os 2.300 dias terminado no ano 1844, e que o grande acontecimento representado pela purificação do santuário deveria ocorrer então. PE XIV 2 "Devotando-se ao estudo das Escrituras, como fizera, a fim de provar serem elas uma revelação de Deus, Miller não tinha a princípio a menor expectativa de atingir a conclusão a que chegara. A custo podia ele mesmo dar crédito aos resultados de sua investigação. Mas a prova das Escrituras era por demais clara e forte para que fosse posta de parte. PE XIV 3 "Dois anos dedicara ele ao estudo da Bíblia, quando, em 1818, chegou à solene conclusão de que dentro de vinte e cinco anos, aproximadamente, Cristo apareceria para redenção de Seu povo." -- O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 324-329. O desapontamento e seus resultados PE XV 1 Foi com viva antecipação que os crentes no Advento viram aproximar-se o dia da esperada volta de seu Senhor. Viram o outono de 1844 como o tempo ao qual apontava a profecia de Daniel. Deviam, porém sofrer amarga decepção esses dedicados crentes. Como sofreram desapontamento os discípulos de outrora, deixando de compreender o exato caráter dos acontecimentos a realizar-se em cumprimento da profecia relacionada ao primeiro advento de Jesus, assim os Adventistas em 1844 foram decepcionados concernente ao desenrolar da profecia relacionada com a esperada segunda vinda de Cristo. A esse respeito, Ellen White escreveu neste volume: PE XV 2 "Jesus não veio à Terra como o grupo expectante e jubiloso esperava, a fim de purificar o santuário mediante a purificação da Terra pelo fogo. Vi que eles estavam certos na sua interpretação dos períodos proféticos; o tempo profético terminou em 1844, e Jesus entrou no lugar santíssimo para purificar o santuário no fim dos dias. O engano deles consistiu em não compreender o que era o santuário e a natureza de sua purificação." -- Primeiros Escritos, 243. PE XV 3 Quase imediatamente após o desapontamento de 22 de Outubro, muitos crentes e ministros que se haviam associado à proclamação da mensagem do Advento se afastaram. Alguns deles se haviam unido ao movimento em grande parte por temor, e passado o tempo da expectativa, abandonaram a esperança e desapareceram. Outros foram arrastados pelo fanatismo. Cerca da metade do grupo adventista apegou-se à confiança de que logo Cristo apareceria nas nuvens do Céu. No caso do desprezo e ridículo sobre eles cumulados pelo mundo, julgaram ver evidências de que passara o dia de graça para o mundo. Essas pessoas criam firmemente que a volta do Senhor estava muito próxima. Mas como os dias se fizeram semanas e o Senhor não aparecia, desenvolveu-se uma divisão de opiniões, e esse grupo se dividiu. Uma parte, numericamente grande, assumiu a posição de que a profecia não se cumprira em 1844, e de que devia ter havido um engano no cálculo dos períodos proféticos. Começaram a fixar a atenção em uma futura data específica para o acontecimento. Outros havia, num grupo menor, os antepassados da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que estavam tão convictos das evidências da operação do Espírito de Deus no grande Despertamento Adventista que, negar fosse o movimento a atuação do Senhor seria -- assim criam -- um insulto ao Espírito de graça. E isto achavam que não podiam fazer. É dada uma visão a Ellen Harmon PE XVI 1 A experiência desse grupo de crentes, e a obra que deviam fazer, acharam eles retratada nos últimos versículos de Apocalipse 10. Devia ser revivida a expectação do Advento. Deus os guiara até ali. Guiava-os ainda. Havia em seu meio uma jovem, de nome Ellen Harmon, que em Dezembro de 1844, mal dois meses após o Desapontamento, recebeu de Deus uma revelação profética. Nessa visão o Senhor descreveu-lhe a jornada do povo do Advento para a Nova Jerusalém. Conquanto essa visão não explicasse a razão do Desapontamento -- explicação esta que só podia provir do estudo da Bíblia -- ela deu-lhes a certeza de que Deus os estava guiando e continuaria a guiá-los em sua peregrinação rumo da cidade celestial. PE XVI 2 No princípio da simbólica vereda revelada à jovem Ellen estava uma brilhante luz, identificada pelo anjo como o clamor da meia-noite -- expressão vinculada à poderosa pregação do verão e outono de 1844, sobre o iminente Segundo Advento. Nessa visão ela viu Cristo guiando o povo para a cidade de Deus. Sua conversão indicava que a jornada seria mais longa de que haviam antecipado. Alguns perderam de vista a Jesus e caíram fora da vereda, mas os que mantiveram os olhos em Jesus e na cidade, alcançaram seu destino sãos e salvos. Isto é o que se vê apresentado em "Minha Primeira Visão", nas págs. 13-17. Dois grupos de adventistas PE XVII 1 A princípio, apenas alguns foram identificados como pertencendo ao grupo que avançava, numa luz cada vez mais brilhante. Pelo ano 1846 seu número alcançava cerca de cinqüenta. PE XVII 2 O grupo maior, que abandonara a confiança no cumprimento da profecia em 1844, contava aproximadamente trinta mil. Seus líderes reuniram-se em 1845, numa assembléia em Albany, Nova Iorque, de 29 de Abril a 1. de maio, ocasião em que reestudaram sua posição. Por voto formal registraram uma advertência contra os que pretendiam ter "iluminação especial", os que ensinavam "fábulas judaicas", e os que estabeleciam "novos testes" Advent Herald, 14 de Maio de 1845. Deste modo fecharam a porta para entrada de luz sobre o Sábado e o Espírito de Profecia. Estavam confiantes de que a profecia não se cumprira em 1844, e alguns marcaram tempo para a terminação dos 2.300 dias no futuro. Várias datas foram marcadas, mas uma após a outra passaram. Essas pessoas, conservadas unidas pelo elemento coesivo da Esperança do Advento, a princípio se arregimentaram em vários grupos ligados frouxamente, com considerável variação em certos pontos doutrinários. Alguns desses grupos em breve se desfizeram. O grupo que sobreviveu tornou-se a Igreja Cristã Adventista. Esses são identificados neste livro como os "Adventistas do primeiro dia", ou "Adventistas nominais". Irradia a luz sobre o Santuário PE XVIII 1 Mas devemos agora voltar atrás, aos que tenazmente se apegavam à confiança de que a profecia se cumprira em 22 de Outubro de 1844, e que, de mente e coração abertos, avançaram na consideração das verdades acerca do sábado e do santuário, à medida que a luz do Céu lhes iluminava o caminho. Essas pessoas não se localizavam em qualquer lugar determinado, mas eram pessoas isoladas ou grupos muito pequenos aqui e ali, através do norte central e do nordeste dos Estados Unidos. PE XVIII 2 Hiram Edson, um dos membros desse grupo, vivia no centro do Estado de Nova Iorque, em Port Gibson. Era o líder dos Adventistas naquela área. Os crentes reuniram-se em sua casa, a 22 de Outubro de 1844, para aguardar a vinda do Senhor. Calma e pacientemente esperaram o grande acontecimento. Mas ao chegar a meia-noite e reconhecerem que o dia da expectativa passara, tornou-se claro que Jesus não viria tão logo como tinham pensado. Foi uma ocasião de profundo desapontamento. De madrugada Hiram Edson e alguns mais foram ao celeiro para orar, e ao orarem, sentiu-se ele certo de que a luz viria. PE XVIII 3 Pouco mais tarde, quando Edson e um amigo atravessavam um milharal para visitar companheiros adventistas, teve a impressão de que uma mão lhe tocava o ombro. Olhou para cima, para ver -- como em visão -- os céus abrirem-se, e Cristo no santuário celestial entrando no lugar santíssimo, para ali começar uma obra de ministério em favor de Seu povo, em vez de sair do santíssimo para purificar o mundo com fogo, como haviam ensinado. O cuidadoso estudo da Bíblia, por Hiram Edson, F. B. Hahn, médico; e O. R. L. Crozier, professor, logo revelou que o santuário a ser purificado no final dos 2.300 dias não era a Terra mas o tabernáculo do Céu, com Cristo a ministrar em nosso favor, no lugar santíssimo. Esta obra mediadora de Cristo respondia ao chamado da "hora do juízo de Deus" anunciado na mensagem do primeiro anjo. Apocalipse 14:6, 7. Crozier, o professor, registrou os resultados do grupo de estudo. Foram impressos localmente, e depois de forma mais completa, numa revista adventista, conhecida como Day Star, publicada em Cincinnati, Ohio. Um número especial, datado de 7 de Fevereiro de 1846, foi dedicado inteiramente a esse estudo bíblico sobre a questão do santuário. Verdades confirmadas por visão PE XIX 1 Enquanto se estava procedendo a esse estudo, e antes de ser publicado seu trabalho, longe, no oriente do Estado de Maine, foi dada uma visão a Ellen Harmon, na qual lhe foi revelada a transferência do ministério de Cristo, do lugar santo para o lugar santíssimo, no final dos 2.300 dias. O registro dessa visão encontra-se em Primeiros Escritos, 54-56. PE XIX 2 De outra visão, logo após essa, como refere a Sra. White numa declaração escrita em Abril de 1847, ela relata que "o Senhor mostrou-me em visão, faz mais de um ano, que o irmão Crozier tinha a verdadeira compreensão da purificação do santuário, etc.; e que era da vontade de Deus que o irmão Crozier escrevesse por extenso a visão que ele nos deu no Day Star Extra, 7 de Fevereiro de 1846. Sinto-me perfeitamente autorizada pelo Senhor a recomendar esse Extra a todo santo". A Word to the Little Flock, 12. Assim as conclusões dos estudiosos da Bíblia foram confirmadas pelas visões da mensageira de Deus. PE XIX 3 Em anos subseqüentes Ellen White escreveu bastante acerca da verdade do santuário e seu significado para nós, e sobre isso há muitas referências nos Primeiros Escritos. Note-se especialmente o capítulo que começa na página 250, intitulado: "O Santuário". A compreensão do ministério de Cristo no santuário celestial demonstrou-se ser a chave que descerrou o mistério do grande Desapontamento. Nossos pioneiros viram claro que a profecia que anunciava a próxima hora do juízo divino, teve seu cumprimento nos acontecimentos que tiveram lugar em 1844, mas que havia uma obra de ministério a ser realizada no lugar santíssimo do santuário celestial, antes que Jesus retornasse à Terra. PE XX 1 A mensagem do primeiro anjo e a mensagem do segundo anjo foram ouvidas na proclamação da mensagem do Advento, e agora começou a soar a mensagem do terceiro anjo. Mediante esta mensagem começou a esclarecer-se o significado do sábado do sétimo dia. O princípio da observância do Sábado PE XX 2 Ao rastearmos a história do princípio da observância do sábado entre os primeiros adventistas, iremos a uma pequena igreja da cidade de Washington, no coração de New Hampshire, o Estado que limita com Maine ao leste e cuja fronteira ocidental fica a 95 quilômetros da divisa com Nova Iorque. Aí os membros de uma igreja cristã independente ouviram, em 1843, a pregação da mensagem do advento e a aceitaram. Era um grupo fervoroso. Ao seu meio compareceu uma Batista do Sétimo Dia, Raquel Oakes, que distribuía folhetos que expunham a obrigatoriedade da observância do quarto mandamento. Alguns, em 1844, viram e aceitaram essa verdade bíblica. Um deles, William (Guilherme) Farnsworth, num serviço religioso dominical, pôs-se em pé e declarou que pretendia guardar o sábado divino do quarto mandamento. Doze outros se lhe uniram, posicionando-se firmemente ao lado de todos os mandamentos de Deus. Foram os primeiros Adventistas do Sétimo Dia. PE XX 3 O pastor encarregado desse grupo eclesiástico, Frederico Wheeler, logo aceitou o sábado do sétimo dia, e foi o primeiro ministro a assim proceder. Outro dos pregadores adventistas, T. M. Preble, que vivia no mesmo Estado, aceitou a verdade do sábado e em Fevereiro de 1845 publicou, na revista Hope of Israel, um dos periódicos adventistas, um artigo expondo a obrigatoriedade da observância do quarto mandamento. José Bates, preeminente ministro adventista residente em Fairhaven, Massachusetts, leu o artigo de Preble e aceitou o sábado do sétimo dia. Logo depois, o Pastor Bates viajou para Washington, em New Hampshire, para estudar essa nova verdade com os adventistas observadores do sábado ali residentes. Ao voltar para casa, estava plenamente convicto da verdade sabática. Bates oportunamente resolveu publicar um folheto expondo as reivindicações do quarto mandamento. Seu folheto, de 48 páginas, sobre o sábado foi publicado em Agosto de 1846. Um exemplar dele veio ter às mãos de Tiago e Ellen White, cerca do tempo de seu casamento, em fins de Agosto. Pelas provas escriturísticas nele apresentadas, aceitaram o sábado do sétimo dia e começaram a guardá-lo. A esse respeito Ellen White mais tarde escreveu: "No outono de 1846 começamos a observar o sábado bíblico, e a ensiná-lo e defendê-lo". -- Testimonies for the Church 1:75. Revelado o sentido do Sábado PE XXI 1 Tiago e Ellen White assumiram sua posição baseados puramente nas evidências escriturísticas às quais tiveram a atenção dirigida pelo folheto de Bates. Então, no primeiro sábado de Abril de 1847, sete meses depois de haverem começado a guardar e ensinar o sábado do sétimo dia, o Senhor deu à Sra. White em Topsham, Maine, uma visão na qual se acentuava a importância do sábado. Ela viu as tábuas da lei na arca, no santuário celestial, e um halo de luz circundando o quarto mandamento. (Ver nas págs. 32-35 o relato dessa visão.) Confirmou-se a posição previamente assumida, decorrente do estudo da Palavra de Deus. A visão também ajudou a ampliar o conceito dos crentes quanto à observância do sábado. Nessa revelação, a Sra. White foi conduzida ao período final do tempo e viu o sábado como a grande verdade comprovadora segundo a qual os homens decidem se devem servir a Deus ou servir a um poder apóstata. Olhando retrospectivamente para 1874, escreveu, sobre esse caso: PE XXII 1 "Cri na verdade quanto à questão do sábado antes de ter visto o que quer que fosse em visão relativa ao sábado. Só meses depois de ter começado a guardar o sábado foi que me foi mostrada sua importância e seu lugar na terceira mensagem angélica." -- Carta 2, 1874. As importantes conferências sobre o Sábado PE XXII 2 Por providência de Deus, os vários ministros observadores do sábado, que lideraram o ensino dessas verdades recentemente descobertas, com vários de seus seguidores, reuniram-se em 1848, em cinco conferências sobre o sábado. Com períodos de jejum e oração estudaram a Palavra de Deus. O Pastor Bates, o apóstolo da verdade sobre o sábado, tomou a liderança em advogar a obrigatoriedade da guarda desse dia. Hiram Edson e seus associados, que assistiram a algumas conferências, foram positivos em sua apresentação da verdade sobre o santuário. Tiago White, cuidadoso estudante da profecia, focalizou sua atenção nos acontecimentos que têm de realizar-se antes que Jesus volte. Nessas reuniões foram enfeixadas as principais doutrinas mantidas hoje pelos Adventistas do Sétimo Dia. PE XXII 3 Recordando esses incidentes, Ellen White escreveu: PE XXII 4 "Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiram] Edson, e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles, e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com poder. Quando, em seu estudo, chegavam a ponto de dizerem: 'Nada mais podemos fazer', o Espírito do Senhor vinha sobre mim, e eu era arrebatada em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando, com instruções quanto à maneira em que devíamos trabalhar e ensinar eficientemente. Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de Cristo, Sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma cadeia de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti aos outros as instruções que o Senhor me dera. PE XXIII 1 "Durante todo o tempo eu não podia compreender o arrazoamento dos irmãos. Minha mente estava por assim dizer fechada, não podia compreender o sentido das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida. Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que, quando não em visão, eu não compreendia esses assuntos, e aceitaram como luz direta do Céu as revelações dadas." -- Mensagens Escolhidas 1:206, 207. PE XXIII 2 Assim o alicerce da Igreja Adventista do Sétimo Dia foi lançado mediante o fiel estudo da Palavra de Deus, e quando os pioneiros se viam incapazes de avançar, Ellen White recebia luz que ajudava a explanar a dificuldade e abria caminho para o estudo continuar. As visões também aplicavam a marca da aprovação de Deus nas conclusões corretas. Assim o dom profético agia como corretor de erros e confirmador da verdade. Ver Obreiros Evangélicos, 302. Os pioneiros começam a publicar PE XXIV 1 Logo depois de realizada a quinta dessas conferências sobre o sábado, realizadas em 1848, celebrou-se outra reunião no lar de Otis Nichols, em Dorchester (próximo de Boston), Massachusetts. Os irmãos estavam estudando e orando acerca de sua responsabilidade de disseminar a luz que o Senhor fizera incidir em sua vereda. Ao estudarem, Ellen White foi tomada em visão, e nessa revelação foi-lhe mostrado o dever de publicar essa luz. Ela conta o incidente em Vida e Ensinos: PE XXIV 2 "Depois da visão eu disse ao meu esposo:--'Tenho uma mensagem para ti. Deves começar a publicar um pequeno jornal e mandá-lo ao povo. Que seja pequeno a princípio; mas, lendo-o o povo, mandar-te-ão meios com que imprimi-lo, e alcançará bom êxito desde o princípio. Desde este pequeno começo foi-me mostrado assemelhar-se a torrentes de luz que circundavam o mundo.'" -- Pág. 127. PE XXIV 3 Aí estava um chamado à ação. Que poderia fazer Tiago White? Possuía poucos bens deste mundo. Mas a visão era uma diretiva divina, e sentiu-se compelido a ir em frente, pela fé. Assim, com sua Bíblia e Concordância de setenta e cinco centavos -- livros já com as capas rasgadas, Tiago White pôs-se a preparar os artigos sobre a verdade do sábado e outros tópicos semelhantes, para imprimi-los em um pequeno periódico. Tudo isso tomou tempo, mas afinal ele apresentou os originais a um impressor de Middletown, Connecticut, o qual se mostrou disposto a confiar em seu pedido. Os artigos foram compostos, lidas as provas, e imprimiram-se mil exemplares do periódico. Tiago White transportou-os da tipografia de Middletown para o lar dos Belden, onde ele e Ellen tinham encontrado um refúgio temporário. A pequena folha tinha o tamanho de seis por nove polegadas e era de oito páginas. Tinha o título de The Present Truth (A Verdade Presente). Trazia a data de Julho, 1849. Depuseram sobre o soalho a pequena pilha de revistas. Então os irmãos e irmãs se reuniram em volta delas e com lágrimas imploraram a Deus que abençoasse o pequenino periódico, ao ser expedido. Então as folhas foram dobradas, embrulhadas e endereçadas, e Tiago White as levou ao correio de Middletown, distante doze quilômetros. Foi assim que começou a obra de publicações da Igreja Adventista do Sétimo Dia. PE XXV 1 Dessa maneira foram expedidos quatro números, e sempre antes de serem levados ao correio, se orava por eles. Logo começaram a chegar cartas falando de pessoas que haviam começado a guardar o sábado por haverem lido os periódicos. Algumas das cartas continham dinheiro, e em Setembro Tiago White estava em condições de pagar à tipografia de Middletown os 64 e meio dólares devidos pelos quatro números. Início da publicação de Review and Herald PE XXV 2 Como Tiago e Ellen White viajassem muito, demorando-se uns poucos meses aqui e outros poucos ali, providenciaram a publicação de vários números do periódico. Afinal se publicou o undécimo e último número, em Paris, Maine, em Novembro de 1850. A Sra. White contribuiu com vários artigos para The Present Truth. A maioria deles se encontra na primeira parte de Primeiros Escritos. (Ver págs. 36-54.) PE XXV 3 Também em Novembro realizou-se em Paris uma conferência, na qual os irmãos deram estudo à crescente obra de publicações. Resolveram aumentar o periódico, e mudaram-lhe o título para The Second Advent Review and Sabbath Herald (Arauto do Segundo Advento e do Sábado). Foi por alguns meses publicado em Paris, Maine, e depois em Saratoga Springs, Estado de Nova Iorque. Desde esse dia até hoje publica-se como o órgão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (Nota do tradutor: Recentemente passou a adotar o título de Adventist Review.) PE XXVI 1 Quando moravam em Saratoga Springs, Tiago White, em Agosto de 1851, providenciou a publicação do primeiro livro da Sra. White, intitulado A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White (Esboço da Experiência Cristã e Visões de Ellen G. White), nas páginas 11-83 desta obra. Com suas 64 páginas era apenas pouco mais que um folheto. PE XXVI 2 Na primavera de 1852, os White transferiram-se para Rochester, Estado de Nova Iorque, e ali estabeleceram um escritório no qual puderam imprimir suas próprias publicações. Os irmãos atenderam ao apelo, concorrendo com o dinheiro para a compra de um prelo e levantaram-se seiscentos dólares para adquirir o equipamento. Quão felizes se sentiram os primitivos crentes quando nossas publicações puderam ser impressas num prelo observador do sábado! Por um pouco mais de três anos viveram em Rochester e ali publicaram a mensagem. Além da Review and Herald e da Youth's Instructor, esta iniciada por Tiago White em 1852, também, de quando em quando, publicavam folhetos. O segundo opúsculo da Sra. White, Supplement to the Christian Experience and Views of Ellen G. White, foi publicado em Rochester, em Janeiro de 1854. Isto encontra-se agora em Primeiros Escritos, 85-127. Battle Creek torna-se o centro das publicações PE XXVI 3 Em Novembro de 1855, Tiago e Ellen White e seus auxiliares mudaram-se para Battle Creek, Michigan. O prelo e outras peças de impressão foram postos numa construção erguida por vários dos adventistas observadores do sábado, que haviam fornecido o dinheiro para estabelecer sua própria tipografia. Ao desenvolver-se o trabalho naquela cidadezinha, Battle Creek tornou-se a natural sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mas foi com dificuldade que Tiago White manteve a obra de publicações. PE XXVII 1 Ao considerarmos os antecedentes dos Primeiros Escritos, convém notar que os primeiros adventistas observadores do sábado, a princípio sentiam a responsabilidade de alcançar com a verdade do sábado unicamente seus irmãos antigos, do grande Despertamento Adventista; isto é, aqueles que tinham ficado com eles no espaço da primeira e segunda mensagens angélicas. Conseqüentemente, por cerca de sete anos depois de 1844, seus trabalhos foram em grande parte em favor dos adventistas que não se tinham ainda posto ao lado da terceira mensagem angélica. Aos que estão familiarizados com as circunstâncias, isto é compreensível. A "porta fechada" e a "porta aberta" PE XXVII 2 Nos empenhos especiais que se fizeram por proclamar a mensagem do Advento no verão de 1844, os líderes do movimento tinham visto sua própria experiência retratada na parábola das Dez Virgens, relatada em Mateus 25. Houvera um "tempo de tardança", seguido do clamor: "Eis o noivo! saí ao seu encontro." A isto se chamava comumente "o clamor da meia-noite". Em sua primeira visão, esse foi mostrado à Sra. White como uma brilhante luz posta atrás dos adventistas, no começo da vereda. Na parábola, liam que os que estavam prontos entraram com o noivo para as festas das bodas, "e fechou-se a porta". Ver Mateus 25:10. Concluíram, portanto, que a 22 de Outubro de 1844, a porta da misericórdia se fechou para os que deixaram de aceitar a mensagem que tão vastamente se proclamara. Alguns anos mais tarde Ellen White assim comentou o caso: PE XXVII 3 "Depois de passado o tempo em que era esperado nosso Salvador, acreditavam eles ainda estar próxima a Sua vinda; mantinham a opinião de haverem chegado a uma crise importante, e de que cessara a obra de Cristo como intercessor do homem perante Deus. Parecia-lhes ser ensinado na Escritura Sagrada que o tempo de graça do homem terminaria um pouco antes da própria vinda do Senhor nas nuvens do céu. Isto parecia evidenciar-se das passagens que indicam o tempo em que os homens hão de procurar, bater e clamar à porta da graça, mas esta não se abrirá. E surgiu entre eles a questão de saber se a data em que haviam aguardado a vinda de Cristo não marcaria porventura o começo deste período que deveria preceder imediatamente a Sua vinda. Tendo dado a advertência da proximidade do juízo, sentiam que sua obra em favor do mundo se achava feita, e não mais sentiam o dever de trabalhar pela salvação dos pecadores, enquanto o escárnio ousado e blasfemo dos ímpios lhes parecia outra evidência de que o Espírito de Deus Se retirara dos que rejeitavam a misericórdia divina. Tudo isto os confirmava na crença de que o tempo da graça findara, ou como eles então o exprimiam, 'a porta da graça se fechara'." -- O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 428, 429. PE XXVIII 1 Então a Sra. White continua a mostrar como a luz começou a brilhar quanto a esta questão: PE XXVIII 2 "Uma luz mais clara, porém, surgiu pela investigação do assunto do santuário. Viam agora que estavam certos em crer que o fim dos 2.300 dias em 1844 assinalava uma crise importante. Mas, conquanto fosse verdade que se achasse fechada a porta da esperança e graça pela qual os homens durante mil e oitocentos anos encontraram acesso a Deus, outra porta se abrira, e oferecia-se o perdão dos pecados aos homens, mediante a intercessão de Cristo no lugar santíssimo. Encerrara-se uma parte de Seu ministério apenas para dar lugar a outra. Havia ainda uma 'porta aberta' para o santuário celestial, onde Cristo estava a ministrar pelo pecador. PE XXVIII 3 "Via-se agora a aplicação das palavras de Cristo no Apocalipse, dirigidas à igreja, nesse mesmo tempo: 'Isto diz O que é santo, O que é verdadeiro, O que tem a chave de Davi; O que abre e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre. Eu sei as tuas obras; e eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar.' Apocalipse 3:7, 8. PE XXIX 1 "Os que, pela fé seguem a Jesus na grande obra da expiação, recebem os benefícios de Sua mediação em seu favor; enquanto os que rejeitam a luz apresentada neste ministério não são por ela beneficiados." -- Idem, 429. Os dois caminhos de saída da perplexidade PE XXIX 2 A Sra. White fala então de como os dois grupos de crentes no Advento se relacionaram com o caso do desapontamento de 22 de Outubro de 1844: PE XXIX 3 "O transcurso do tempo em 1844 foi seguido de um período de grande prova para os que ainda mantinham a fé do advento. Seu único alívio, no que dizia respeito a determinar sua verdadeira posição, era a luz que lhes dirigia o espírito ao santuário celestial. Alguns renunciaram a fé na contagem anterior dos períodos proféticos, e atribuíram a forças humanas ou satânicas a poderosa influência do Espírito Santo que acompanhara o movimento adventista. Outra classe sustentava firmemente que o Senhor os guiara na experiência por que passaram; e, como esperassem, vigiassem e orassem, a fim de conhecer a vontade de Deus, viram que seu grande Sumo Sacerdote começara a desempenhar outra parte do ministério, e, seguindo-O pela fé, foram levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse, capítulo 14." -- Idem, 431. PE XXIX 4 Certas referências à "porta aberta" e à "porta fechada" ocorrem nesta obra, nas págs. 42-45. Isto só se compreende corretamente à luz do contexto da experiência de nossos crentes primitivos. PE XXX 1 Não muito tempo depois do Desapontamento os pioneiros viram que, conquanto houvesse os que, pela definitiva rejeição da luz haviam fechado a porta de sua salvação, muitos havia que não tinham ouvido a mensagem nem a rejeitado, e esses poderiam tirar benefício das providências tomadas para a salvação do homem. Nos idos de 1850 esses pontos se apresentaram claramente. Então, também, começaram a abrir-se oportunidades para a apresentação das três mensagens angélicas. O preconceito estava desaparecendo. Ellen White, olhando retrospectivamente para sua experiência após o Desapontamento, escreveu: PE XXX 2 "'Era naquele tempo quase impossível obter acesso a descrentes. O despontamento de 1844 confundira a mente de muitos, e não davam ouvido a qualquer explanação do caso.'" -- The Review and Herald, 20-11-1883. PE XXX 3 Mas em 1851 o Pastor White pôde relatar: "'Agora está aberta quase por toda parte a porta para apresentar a verdade, e estão preparados para ler as publicações muitos que dantes não tinham interesse para investigar.'" -- The Review and Herald, 19-8-1851. Convite para a organização da igreja PE XXX 4 Mas com essas novas oportunidades, e com número maior de pessoas aceitando a mensagem, insinuaram-se em seu meio alguns elementos discordantes. Se esses não tivessem sido detidos, a obra teria sido grandemente prejudicada. Mas aqui de novo vemos a providência de Deus a guiar Seu povo, pois em 24 de Dezembro de 1850, numa visão dada a Ellen White, refere-nos ela: PE XXX 5 "'Vi quão grandioso e santo é Deus. Disse o anjo: "Ande com cuidado diante dEle, pois Ele é alto e sublime, e o séquito de Sua glória enche o templo". Vi que no Céu tudo está em perfeita ordem. Disse o anjo: "Vede vós, Cristo é a cabeça, movei-vos em ordem, movei-vos em ordem. Tende um significado para cada coisa." Disse o anjo: "Vede vós e sabei quão perfeita, quão bela é a ordem no Céu; segui-a."'" -- Manuscrito 11, 1850. PE XXXI 1 Tomou tempo levar os crentes em geral a apreciar as necessidades e o valor da ordem evangélica. O passado de sua vida nas igrejas protestantes das quais se haviam separado, levou-os a ser cautelosos. Exceto nos lugares onde era muito evidente a necessidade prática, o temor de animar a formalidade manteve os crentes afastados da organização eclesiástica. Só um decênio após a visão de 1850 é que, afinal, se efetuaram planos mais amadurecidos, para organização. Sem dúvida um fator de primeira importância para levar à maturação os esforços foi um compreensivo capítulo, intitulado "Ordem Evangélica", publicado no Supplement to the Christian Experience and Views of Ellen G. White. Isso aparece nesta obra, nas páginas 97-104. PE XXXI 2 Em 1860, em conjunto com a organização da obra de publicações, escolheu-se um nome. Alguns optaram pelo nome "Igreja de Deus", julgando-o apropriado, mas prevaleceu a opinião de que o nome devia refletir os distintivos ensinos da igreja. Adotaram o nome de "Adventista do Sétimo Dia". No ano seguinte alguns grupos de crentes organizaram-se em igrejas, e no Michigan se formou uma associação estadual. Logo houve várias associações estaduais. Então em Maio de 1863 organizou-se a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Isto foi cinco anos após a publicação dos Primeiros Escritos. Visão do "grande conflito" PE XXXI 3 Já nos referimos à mudança da obra de publicações de Rochester, Nova Iorque, para Battle Creek, Michigan, em Novembro de 1855. O Pastor White e esposa estabelecerem-se em Battle Creek e depois que a obra ficou bem estabelecida lá, foi-lhes possível continuar suas viagens pelo campo. Foi por ocasião de uma visita ao Estado de Ohio, em Fevereiro e Março de 1858, que foi dada à Sra. White a importante visão do grande conflito, na escola pública de Lovett's Grove. O relato dessa visão, que levou duas horas, encontra-se em Life Sketches of Ellen G. White, 161, 162. Em Setembro de 1858 foi publicado Spiritual Gifts (Dons Espirituais) Volume I: The Great Controversy Between Christ and His Angels and Satan and His Angels (O Grande Conflito Entre Cristo e Seus Anjos e Satanás e Seus Anjos). Esse pequeno volume de 219 páginas forma a terceira e última divisão de Primeiros Escritos. PE XXXII 1 Às pequenas publicações dos primeiros quinze anos da obra da Sra. White deviam seguir-se muitos livros maiores, tratando de muitos assuntos de suma importância aos que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé em Jesus Cristo. Não obstante, os primeiros escritos serão especialmente caros ao coração dos Adventistas do Sétimo Dia. Depositários das Publicações de Ellen G. White, Washington, D. C. Março, 1963. Experiência e visões PE 11 1 A pedido de queridos amigos concordei em fornecer um breve esboço de minhas experiências e visões, com a esperança de que animem e fortaleçam os humildes e confiantes filhos do Senhor. PE 11 2 Fui convertida com a idade de onze anos, e aos doze fui batizada, tendo-me unido à igreja metodista. Aos treze anos ouvi Guilherme Miller proferir sua segunda série de conferências em Portland, Maine. Senti então que eu não era santa e não estava pronta para ver a Jesus. E quando foi feito o convite aos membros da igreja e aos pecadores, para irem à frente para oração, abracei a primeira oportunidade, pois eu sabia que precisava fazer grande obra por mim mesma a fim de habilitar-me para o Céu. Minha alma tinha sede de salvação plena e ampla, mas eu não sabia como obtê-la. PE 11 3 Em 1842, assisti constantemente às reuniões do segundo advento em Portland, Maine, e cri inteiramente que o Senhor estava prestes a vir. Eu tinha fome e sede de completa salvação, inteira conformidade com a vontade de Deus. Dia e noite lutava para alcançar o inapreciável tesouro que nem todas as riquezas da Terra poderiam comprar. Ao dobrar-me perante Deus em oração por esta bênção, foi-me apresentado o dever de ir orar numa reunião pública. Jamais eu havia orado em voz alta numa reunião, e esquivei-me ao dever, temendo que se tentasse orar ficaria frustrada. Cada vez que eu me punha perante o Senhor em oração secreta o dever não cumprido se me apresentava, até que deixei de orar e caí num estado de melancolia que redundou finalmente em profundo desespero. PE 12 1 Neste estado de espírito permaneci por três semanas sem um raio de luz que penetrasse a espessa nuvem de trevas ao meu redor. Tive então dois sonhos que me trouxeram um débil raio de luz e esperança. Depois disto abri minha mente a minha devotada mãe. Ela me disse que eu não estava perdida e aconselhou-me a procurar o irmão Stockman, que pregava então para o povo do advento em Portland. Tive grande confiança nele, pois era um dedicado e amado servo de Cristo. Suas palavras impressionaram-me e deram-me esperança. Voltei ao lar e de novo apresentei-me perante o Senhor e prometi-Lhe que faria e sofreria qualquer coisa se me fosse dado ter os sorrisos de Jesus. O mesmo dever foi-me apresentado. Devia haver uma reunião de oração nessa noite, a que assisti, e quando os demais se ajoelharam para orar, com eles me ajoelhei, tremente, e depois que dois ou três haviam orado, abri minha boca em oração antes que disso me apercebesse, e as promessas de Deus me pareceram como pérolas preciosíssimas, que só deviam ser recebidas pelos que as suplicassem. Ao orar, o fardo e a agonia de alma que por tanto tempo eu havia experimentado deixaram-me, e as bênçãos de Deus vieram sobre mim como suave orvalho. Dei glória a Deus pelo que eu sentia, mas ansiava mais. Eu não estaria satisfeita até que estivesse repleta da plenitude de Deus. Inexprimível amor por Jesus encheu minha alma. Onda após onda de glória rolaram sobre mim, até que meu corpo se tornou rijo. Tudo desapareceu ao redor de mim, exceto Jesus e a glória, e eu nada sabia do que se passava em torno. PE 12 2 Por longo tempo fiquei neste estado de corpo e de mente, e quando percebi o que estava ao meu redor, tudo parecia mudado. Tudo parecia glorioso e novo, como se sorrindo e louvando a Deus. Tive desejo então de confessar Jesus em todo lugar. Durante seis meses nuvem alguma de treva passou sobre minha mente. Minha alma bebia diariamente ricos sorvos da salvação. Eu achava que os que amavam a Jesus amariam a Sua vinda, de maneira que fui à reunião da classe e falei-lhes do que Jesus havia feito por mim e de que plenitude eu desfrutava através da crença segundo a qual o Senhor estava prestes a vir. O líder da classe interrompeu-me, dizendo: "Através do metodismo"; mas eu não podia dar a glória ao metodismo quando era certo que Cristo e a esperança de Sua breve vinda é que me haviam tornado livre. PE 13 1 A maioria dos membros da família de meu pai eram crentes completos do advento, e por dar testemunho desta gloriosa doutrina sete de nós fomos de uma vez lançados fora da igreja metodista. Nessa ocasião as palavras do profeta foram sobremodo preciosas para nós: "Vossos irmãos que vos aborrecem e que para longe vos lançam por causa do vosso amor ao Meu nome, e que dizem: Mostre o Senhor a Sua glória para que vejamos a vossa alegria, esses serão confundidos." Isaías 66:5. PE 13 2 Desta parte, até Dezembro de 1844, minhas alegrias, provas e desapontamentos foram como os de meus queridos amigos do advento que estavam ao meu redor. Por esse tempo visitei uma de nossas irmãs do advento, e de manhã nos ajoelhamos junto ao altar da família. Não era uma ocasião de excitamento, e apenas cinco de nós, todas mulheres, estávamos presentes. Enquanto eu orava, o poder de Deus veio sobre mim como jamais eu experimentara antes. Fui tomada em visão da glória de Deus, e parecia-me estar sendo elevada acima da terra cada vez mais alto, e foi-me mostrado algo das jornadas do povo do advento para a Cidade Santa, conforme narrado abaixo. ------------------------Capítulo 1 -- Minha primeira visão PE 13 3 Sendo que Deus me tem mostrado as jornadas do povo do advento para a Santa Cidade e a rica recompensa a ser dada aos que aguardarem o seu Senhor quando voltar de Suas bodas, pode ser de meu dever dar-vos um breve esboço do que Deus me tem revelado. Os queridos santos têm de passar através de muitas provas. Mas a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação -- enquanto não olhamos para as coisas visíveis, pois as coisas visíveis são temporais, mas as invisíveis são eternas. Tenho procurado apresentar um bom relatório e algumas uvas da Canaã Celestial, pelo qual muitos me apedrejariam, da mesma forma como a congregação desejou apedrejar Calebe e Josué por seu relatório. Números 14:10. Mas eu vos declaro, meus irmãos e irmãs no Senhor, que esta é uma terra muito boa, e devemos subir para possuí-la. PE 14 1 Enquanto eu estava orando junto ao altar da família, o Espírito Santo me sobreveio, e pareceu-me estar subindo mais e mais alto da escura Terra. Voltei-me para ver o povo do advento no mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: "Olha novamente, e olha um pouco mais para cima." Com isto olhei mais para o alto e vi um caminho reto e estreito, levantado em lugar elevado do mundo. O povo do advento estava nesse caminho, a viajar para a cidade que se achava na sua extremidade mais afastada. Tinham uma luz brilhante colocada por trás deles no começo do caminho, a qual um anjo me disse ser o "clamor da meia-noite". Essa luz brilhava em toda extensão do caminho, e proporcionava claridade para seus pés, para que assim não tropeçassem. Se conservavam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guiando-os para a cidade, estavam seguros. Mas logo alguns ficaram cansados, e disseram que a cidade estava muito longe e esperavam nela ter entrado antes. Então Jesus os animava, levantando Seu glorioso braço direito, e de Seu braço saía uma luz que incidia sobre o povo do advento, e eles clamavam: "Aleluia!" Outros temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e diziam que não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desaparecia, deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropeçavam e, perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para baixo, no mundo tenebroso e ímpio. Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus a hora, verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com o esplendor da glória de Deus, como aconteceu com Moisés, na descida do monte Sinai. PE 15 1 Os 144.000 estavam todos selados e perfeitamente unidos. Em sua testa estava escrito: "Deus, Nova Jerusalém", e tinham uma estrela gloriosa que continha o novo nome de Jesus. Por causa de nosso estado feliz e santo, os ímpios enraiveceram-se e arremeteram violentamente para lançar mão de nós, a fim de lançar-nos à prisão, quando estendemos a mão em nome do Senhor e eles caíram inermes ao chão. Foi então que a sinagoga de Satanás conheceu que Deus nos havia amado a nós, que lavávamos os pés uns aos outros e saudávamos os irmãos com ósculo santo; e adoraram a nossos pés. PE 15 2 Logo nossos olhares foram dirigidos ao oriente, pois aparecera uma nuvenzinha aproximadamente do tamanho da metade da mão de homem, a qual todos nós soubemos ser o sinal do Filho do homem. Todos nós em silêncio solene olhávamos a nuvem que se aproximava e se tornava mais e mais clara e esplendente, até converter-se numa grande nuvem branca. A parte inferior tinha aparência de fogo; o arco-íris estava sobre a nuvem, enquanto em redor dela se achavam dez milhares de anjos, entoando um cântico agradabilíssimo; e sobre ela estava sentado o Filho do homem. Os cabelos, brancos e anelados, caíam-Lhe sobre os ombros; e sobre a cabeça tinha muitas coroas. Os pés tinham a aparência de fogo; em Sua destra trazia uma foice aguda e na mão esquerda, uma trombeta de prata. Seus olhos eram como chamas de fogo, que profundamente penetravam Seus filhos. Todos os rostos empalideceram; e o daqueles a quem Deus havia rejeitado se tornaram negros. Todos nós exclamamos então: "Quem poderá estar em pé? Estão as minhas vestes sem mancha?" Então os anjos cessaram de cantar, e houve algum tempo de terrível silêncio, quando Jesus falou: "Aqueles que têm mãos limpas e coração puro serão capazes de estar em pé; Minha graça vos basta." Com isto nos iluminou o rosto e encheu de alegria o coração. E os anjos tocaram mais fortemente e tornaram a cantar, enquanto a nuvem mais se aproximava da Terra. PE 16 1 Então a trombeta de prata de Jesus soou, ao descer Ele sobre a nuvem, envolto em labaredas de fogo. Olhou para as sepulturas dos santos que dormiam, ergueu então os olhos e mãos ao céu, e exclamou: "Despertai! despertai! despertai, vós que dormis no pó, e levantai-vos!" Houve um forte terremoto. As sepulturas se abriram, e os mortos saíram revestidos de imortalidade. Os 144.000 clamaram "Aleluia!", quando reconheceram os amigos que deles tinham sido separados pela morte, e no mesmo instante fomos transformados e arrebatados juntamente com eles para encontrar o Senhor nos ares. PE 16 2 Todos nós entramos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro, aonde Jesus trouxe as coroas, e com Sua própria destra as colocou sobre nossa cabeça. Deu-nos harpas de ouro e palmas de vitória. Ali, sobre o mar de vidro, os 144.000 ficaram em quadrado perfeito. Alguns deles tinham coroas muito brilhantes; outros, não tanto. Algumas coroas pareciam repletas de estrelas, ao passo que outras tinham poucas. Todos estavam perfeitamente satisfeitos com sua coroa. E todos estavam vestidos com um glorioso manto branco, dos ombros aos pés. Havia anjos de todos os lados em redor de nós quando caminhávamos sobre o mar de vidro em direção à porta da cidade. Jesus levantou o potente e glorioso braço, segurou o portal de pérolas, fê-lo girar sobre seus luzentes gonzos, e nos disse: "Lavastes vossas vestes em Meu sangue, permanecestes firmes pela Minha verdade; entrai." Todos entramos e sentíamos ter perfeito direito à cidade. PE 17 1 Ali vimos a árvore da vida e o trono de Deus. Do trono provinha um rio puro de água, e de cada lado do rio estava a árvore da vida. De um lado do rio havia um tronco da árvore, e do outro lado outro, ambos de ouro puro e transparente. A princípio pensei que via duas árvores. Olhei outra vez e vi que elas se uniam em cima numa só árvore. Assim estava a árvore da vida em ambos os lados do rio da vida. Seus ramos curvavam-se até o lugar em que nos achávamos, e seu fruto era esplêndido; tinha o aspecto de ouro, de mistura com prata. PE 17 2 Todos nós fomos debaixo da árvore, e sentamo-nos para contemplar o encanto daquele lugar, quando os irmãos Fitch e Stockman, que tinham pregado o evangelho do reino, e a quem Deus depusera na sepultura para os salvar, se achegaram a nós e nos perguntaram o que acontecera enquanto eles haviam dormido. Tentamos lembrar nossas maiores provações, mas pareciam tão pequenas em comparação com o peso eterno de glória mui excelente que nos rodeava, que nada pudemos dizer-lhes, e todos exclamamos -- "Aleluia! é muito fácil alcançar o Céu!" -- e tangemos nossas gloriosas harpas e fizemos com que as arcadas do Céu reboassem. PE 17 3 Com Jesus à nossa frente, descemos todos da cidade para a Terra, sobre uma grande e íngreme montanha que, incapaz de suportar a Jesus sobre si, partiu-se em duas, formando uma grande planície. Olhamos então para cima e vimos a grande cidade, com doze fundamentos, e doze portas, três de cada lado, e um anjo em cada porta. Todos exclamamos: "A cidade, a grande cidade, vem, vem de Deus descendo do Céu"; e ela veio e se pôs no lugar em que nos achávamos. Pusemos então a observar as coisas gloriosas fora da cidade. Vi ali casas belíssimas, que tinham a aparência de prata, apoiadas por quatro colunas marchetadas de pérolas preciosas, muito agradáveis à vista. Destinavam-se à habitação dos santos. Em cada uma havia uma prateleira de ouro. Vi muitos dos santos entrarem nas casas, tirarem sua coroa resplandecente, e pô-la na prateleira, saindo então para o campo ao lado das casas, para lidar com a terra; não como temos de fazer com a terra aqui, não, absolutamente. Uma gloriosa luz lhes resplandecia em redor da cabeça, e estavam continuamente louvando a Deus. PE 18 1 Vi outro campo repleto de todas as espécies de flores; e, quando as apanhei, exclamei: "Elas nunca murcharão." Em seguida vi um campo de relva alta, cujo belíssimo aspecto causava admiração; era uma vegetação viva, e tinha reflexos de prata e ouro quando magnificamente se agitava para glória do Rei Jesus. Entramos, então, num campo cheio de todas as espécies de animais: o leão, o cordeiro, o leopardo, o lobo, todos juntos em perfeita união. Passamos pelo meio deles, e pacificamente nos acompanharam. Dali entramos num bosque, não como os escuros bosques que aqui temos, não, absolutamente, mas claro e por toda parte glorioso; os ramos das árvores agitavam-se de um para outro lado, e todos exclamamos: "Moraremos com segurança na solidão, e dormiremos nos bosques." Atravessamos os bosques, pois estávamos a caminho do Monte Sião. PE 18 2 No trajeto encontramos uma multidão que também contemplava as belezas do lugar. Notei a cor vermelha na borda de suas vestes, o brilho das coroas e a alvura puríssima dos vestidos. Quando os saudamos, perguntei a Jesus quem eram eles. Disse que eram mártires que por Ele haviam sidos mortos. Com eles estava uma inumerável multidão de crianças que tinham também uma orla vermelha em suas vestes. O Monte Sião estava exatamente diante de nós, e sobre o monte um belo templo, em cujo redor havia sete outras montanhas, sobre as quais cresciam rosas e lírios. E vi as crianças subirem, ou, se o preferiam, fazer uso de suas pequenas asas e voar ao cimo das montanhas e apanhar flores que nunca murcharão. Para embelezar o lugar, havia em redor do templo todas as espécies de árvores; o buxo, o pinheiro, o cipreste, a oliveira, a murta, a romãzeira e a figueira, curvada ao peso de seus figos maduros, embelezavam aquele local. E quando estávamos para entrar no santo templo, Jesus levantou Sua bela voz e disse: "Somente os 144.000 entram neste lugar", e nós exclamamos: "Aleluia"! PE 19 1 Esse templo era apoiado por sete colunas, todas de ouro transparente, engastadas de pérolas belíssimas. As maravilhosas coisas que ali vi, não as posso descrever. Oh! se me fosse dado falar a língua de Canaã, poderia então contar um pouco das glórias do mundo melhor. Vi lá mesas de pedra, em que estavam gravados com letras de ouro os nomes dos 144.000. Depois de contemplar a beleza do templo, saímos, e Jesus nos deixou e foi à cidade. Logo Lhe ouvimos de novo a delicada voz, dizendo: "Vinde, povo Meu; viestes da grande tribulação, e fizestes Minha vontade; sofrestes por Mim; vinde à ceia, pois Eu Me cingirei e vos servirei." Nós exclamamos: "Aleluia! Glória"! e entramos na cidade. E vi uma mesa de pura prata; tinha muitos quilômetros de comprimento, contudo nossos olhares podiam alcançá-la toda. Vi o fruto da árvore da vida, o maná, amêndoas, figos, romãs, uvas e muitas outras espécies de frutas. Pedi a Jesus que me deixasse comer do fruto. Disse Ele: "Agora não. Os que comem do fruto deste lugar, não mais voltam à Terra. Mas, dentro em pouco, se fores fiel, não somente comerás do fruto da árvore da vida mas beberás também da água da fonte." E disse: "Deves novamente voltar à Terra, e relatar a outros o que te revelei." Então um anjo me trouxe mansamente a este mundo escuro. Algumas vezes penso que não mais posso permanecer aqui; todas as coisas da Terra parecem demasiado áridas. Sinto-me muito solitária aqui, pois vi uma Terra melhor. Oh! tivesse eu asas como a pomba, e voaria e estaria em descanso! PE 20 1 Depois que voltei da visão, todas as coisas pareciam mudadas; uma tristeza se espalhava sobre tudo que eu contemplava. Oh! quão escuro pareceu-me este mundo! Chorei quando me encontrei aqui, e senti saudades. Eu tinha visto um mundo melhor, e o atual perdeu o seu valor. Contei a visão a nosso pequeno grupo em Portland, e creram plenamente que era de Deus. Este foi um tempo de poder. A solenidade das coisas eternas repousou sobre nós. Cerca de uma semana depois disto o Senhor deu-me outra visão e mostrou-me as provas pelas quais eu devia passar, indicando-me que eu devia ir e relatar a outros o que Ele me havia revelado, e que eu iria encontrar grande oposição e por isto sofreria angústia de espírito. Mas disse o anjo: "A graça de Deus te basta; Ele te sustentará." PE 20 2 Ao voltar desta visão, senti-me excessivamente desassossegada. Minha saúde era por demais precária, e eu tinha apenas dezessete anos. Eu sabia que muitos tinham caído por causa da exaltação, e sabia que se eu de alguma maneira me exaltasse, Deus me abandonaria, e eu estaria seguramente perdida. Dirigi-me ao Senhor em oração e supliquei-Lhe que colocasse a responsabilidade sobre outra pessoa. Parecia-me que não poderia suportar. Caí sobre o meu rosto longo tempo, e toda a luz que pude obter era: "Dá a conhecer aos outros o que Eu te revelei." PE 21 1 Na minha visão seguinte, ardentemente supliquei ao Senhor que se eu devia ir e relatar o que Ele me havia mostrado, que me guardasse da exaltação. Então Ele me mostrou que minha oração fora respondida, e que se eu estivesse em perigo de exaltação a Sua mão estaria sobre mim, e eu seria afligida com enfermidade. Disse o anjo: "Se deres as mensagens fielmente e perseverares até o fim, comerás do fruto da árvore da vida e beberás da água do rio da vida." PE 21 2 Não demorou muito se espalhou ao redor que as visões eram resultado de mesmerismo, e muitos adventistas mostraram-se prontos para espalhar essa versão. Um médico que era afamado mesmerista disse-me que minhas visões eram mesmerismo, e que eu era uma vítima muito fácil, podendo ele magnetizar-me e dar-me uma visão. Eu lhe disse que o Senhor me havia mostrado em visão que o mesmerismo era de origem diabólica, dos insondáveis abismos, e que logo estaria ali com os que continuassem a praticá-lo. Dei-lhe então liberdade de magnetizar-me, se pudesse fazê-lo. Ele tentou-o por mais de meia hora, recorrendo a diferentes operações, e então desistiu. Pela fé em Deus pude resistir a sua influência, de maneira que em nada isto me afetou. PE 21 3 Se eu tinha uma visão em reuniões, muitos diziam que era uma perturbação e que alguém me havia magnetizado. Então eu ia sozinha para os bosques, onde nenhum ouvido podia ouvir-me ou ver-me algum olho senão Deus, e orava a Ele, e Ele algumas vezes me dava uma visão ali. Então eu me regozijava e contava-lhes o que Deus me havia revelado sozinha, onde nenhum mortal podia influenciar-me. Diziam então que eu me havia magnetizado a mim mesma. Oh! eu pensava, chegou o ponto em que os que honestamente vão a Deus sozinhos para suplicar Suas promessas e clamar por Sua salvação sejam acusados de estar sob a má e danosa influência do mesmerismo? Suplicamos a nosso bondoso Pai do Céu que nos dê "pão", apenas para receber uma "pedra" ou um "escorpião"? Essas coisas feriam o meu espírito e me deprimiam a alma com terrível angústia, quase ao ponto do desespero, enquanto muitos queriam fazer-me crer que não havia Espírito Santo e que tudo quanto os homens santos de Deus haviam experimentado não era senão mesmerismo ou enganos de Satanás. PE 22 1 Nesta ocasião havia fanatismo no Maine. Alguns renunciavam inteiramente ao trabalho e desligavam da comunhão todos os que não aceitavam as suas opiniões neste ponto, e algumas outras coisas que eles consideravam deveres religiosos. Deus me revelava esses erros em visão e enviava-me a Seus extraviados filhos a fim de lhos declarar; mas muitos deles rejeitavam inteiramente a mensagem, e acusavam-me de conformismo com o mundo. Por outro lado, os adventistas nominais acusavam-me de fanatismo e eu era por alguns falsa e impiamente representada como sendo líder do fanatismo que eu estava na realidade trabalhando para corrigir. Diferentes datas foram repetidamente estabelecidas para a vinda do Senhor e impostas aos irmãos; mas o Senhor mostrou-me que todas essas datas passariam, pois o tempo de angústia devia vir antes da vinda de Cristo, e que cada vez que uma data era estabelecida e passava, simplesmente enfraquecia a fé do povo de Deus. Por isto eu era acusada de ser como o mau servo que dizia em seu coração: "Meu Senhor tarde virá." PE 22 2 Tudo isso pesava sobremodo em meu espírito, e na confusão eu era algumas vezes tentada a duvidar de minha própria experiência. Quando certa manhã em orações de família, o poder de Deus começou a descer sobre mim, e depressa veio a minha mente o pensamento de que era mesmerismo, e resisti a ele. Imediatamente fui tomada de mudez e por alguns momentos perdi a noção de tudo ao meu redor. Vi então o meu pecado em duvidar do poder de Deus, e que por assim proceder fiquei muda, e que minha língua seria libertada antes de decorridas vinte e quatro horas. Um cartão foi colocado diante de mim no qual estavam escritos em letras de ouro o capítulo e verso de cinqüenta textos das Escrituras. Ao voltar da visão, solicitei por acenos a lousa, e nela escrevi que estava muda, também o que eu tinha visto e que eu desejava a Bíblia grande. Tomei a Bíblia e prontamente identifiquei todos os textos que eu tinha visto no cartão. Eu não pude falar durante o dia todo. Logo na manhã seguinte minha alma se encheu de gozo e minha língua foi libertada para proclamar os altos louvores de Deus. Depois disto não mais ousei duvidar do poder de Deus ou resisti-lo inda que fosse por um só momento, não importando o que outros pudessem pensar de mim. PE 23 1 Em 1846, enquanto estive em Fairhaven, Massachusetts, minha irmã (que costumeiramente me acompanhava nessa época), a irmã A., o irmão G., e eu mesma, saímos num veleiro a fim de visitar uma família na ilha do oeste. Era quase noite quando partimos. Havíamos navegado apenas uma breve distância quando subitamente se levantou uma tempestade. Trovões, relâmpagos e chuva vieram em torrentes sobre nós. Parecia claro que estaríamos perdidos a menos que Deus nos socorresse. PE 23 2 Ajoelhei-me no veleiro e comecei a clamar a Deus por livramento. E ali em meio aos vagalhões que nos cobriam, enquanto as águas lavavam o topo do veleiro sobre nós, eu fui tomada em visão, e vi que mais depressa se secaria cada gota do oceano antes que nós perecêssemos, pois minha obra havia apenas começado. Quando voltei da visão todos os meus temores se haviam dissipado, e cantamos e louvamos a Deus, e nosso pequeno veleiro era para nós como uma flutuante Betel. O redator de The Advent Herald disse que se sabia serem minhas visões "o resultado de operações de mesmerismo". Mas, pergunto, que oportunidade havia para operações de mesmerismo em ocasião como essa? O irmão G. teve que lidar bravamente para manejar o veleiro. Ele procurou ancorar, mas a âncora foi levada. Nosso pequeno veleiro era elevado sobre as ondas e impelido pelo vento, enquanto se fazia tão escuro que nem sequer podíamos ver de uma à outra extremidade do veleiro. Então a âncora se firmou e o irmão G. pediu ajuda. Havia apenas duas casas na ilha, e provou-se que estávamos próximo de uma delas, mas não aquela aonde desejávamos ir. Toda a família tinha se retirado para repousar, exceto uma meninazinha que providencialmente tinha ouvido o nosso pedido de auxílio. Seu pai logo veio para nos socorrer e, num pequeno bote, levou-nos para terra. Passamos a maior parte dessa noite em louvores de gratidão a Deus por Sua maravilhosa bondade para conosco. Os textos mencionados na página anterior PE 24 1 Todavia ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas Minhas palavras, as quais a seu tempo se cumprirão. Lucas 1:20. PE 24 2 Tudo quanto o Pai tem é Meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar. João 16:15. PE 24 3 Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. Atos dos Apóstolos 2:4. PE 24 4 Agora, Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos Teus servos que anunciem com toda a intrepidez a Tua Palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios, por intermédio do nome do Teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo, e, com intrepidez anunciavam a Palavra de Deus. Atos dos Apóstolos 4:29-31. PE 24 5 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés, e, voltando-se, vos dilacerem. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos Céus dará boas coisas aos que Lhe pedirem? Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei, e os profetas. Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Mateus 7:6-12, 15. PE 25 1 Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Mateus 24:24. PE 25 2 Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle, nEle radicados e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça. Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo. Colossences 2:6-8. PE 25 3 Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque ainda dentro de pouco tempo aquele que vem virá, e não tardará; todavia, o Meu justo viverá pela fé, e: Se retroceder, nele não se compraz a Minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos; entretanto, da fé, para a conservação da alma. Hebreus 10:35-39. PE 25 4 Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das Suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência. Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. Hebreus 4:10-12. PE 26 1 Estou plenamente certo de que Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica; e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição, é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus. Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nEle. Filipenses 1:6, 27-29. PE 26 2 Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade. Fazei tudo sem murmurações nem contendas; para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo. Filipenses 2:13-15. PE 26 3 Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir ao dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos. Efésios 6:10-18. PE 26 4 Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou. Efésios 4:32. PE 27 1 Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros ardentemente. 1 Pedro 1:22. PE 27 2 Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. João 13:34, 35. PE 27 3 Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados. 2 Coríntios 13:5. PE 27 4 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. 1 Coríntios 3:10-13. PE 27 5 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Atos dos Apóstolos 20:28-30. PE 27 6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue o evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Gálatas 1:6-9. PE 28 1 Porque tudo o que dissestes às escuras, será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa, será proclamado dos eirados. Digo-vos, pois, amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem autoridade para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer. Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto nenhum deles está no esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça todos estão contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais. Lucas 12:3-7. PE 28 2 Porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito que Te guardem; e: Eles Te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Lucas 4:10, 11. PE 28 3 Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz -- Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, porém, não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos. 2 Coríntios 4:6-9. PE 28 4 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:17, 18. PE 28 5 Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. 1 Pedro 1:5-7. PE 28 6 Porque agora vivemos, se é que estais firmados no Senhor. 1 Tessalonicenses 3:8. PE 29 1 Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em Meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. Marcos 16:17, 18. PE 29 2 Então os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego; mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo. Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. Por isso é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai-o. Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse Homem é pecador. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: Eu era cego, e agora vejo. Perguntaram-lhe, pois: Que te fez Ele? como te abriu os olhos? Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? porventura quereis vós também tornar-vos Seus discípulos? João 9:20-27. PE 29 3 E tudo quanto pedirdes em Meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei. Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos. João 14:13-15. PE 29 4 Se permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado Meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis Meus discípulos. João 15:7, 8. PE 29 5 Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus! Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai desse homem. Marcos 1:23-25. PE 30 1 Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. Romanos 8:38, 39. PE 30 2 Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o Santo, o Verdadeiro, Aquele que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abre: Conheço as tuas obras -- eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar -- que tens pouca força, entretanto guardaste a Minha palavra, e não negaste o Meu nome. Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus, e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés, e conhecer que Eu te amei. Porque guardaste a palavra da Minha perseverança, também Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra. Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do Meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do Meu Deus, o nome da cidade do Meu Deus, a Nova Jerusalém que desce do Céu, vinda da parte do Meu Deus, e o Meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Apocalipse 3:7-13. PE 30 3 São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula. Apocalipse 14:4, 5. PE 30 4 Pois a nossa pátria está nos Céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Filipenses 3:20. PE 30 5 Sede pois, irmãos, pacientes, até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações, pois a vinda do Senhor está próxima. Tiago 5:7, 8. PE 31 1 O qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória, segundo a eficácia do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas. Filipenses 3:21. PE 31 2 Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro, e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para Aquele que Se achava sentado sobre a nuvem: Toma a Tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da Terra já secou. E Aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a Sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada. Então saiu do santuário, que se encontra no Céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma foice afiada. Apocalipse 14:14-17. PE 31 3 Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Hebreus 4:9. PE 31 4 Vi também a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do Céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Apocalipse 21:2. PE 31 5 Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil tendo nas frontes escrito o Seu nome e o nome de Seu Pai. Apocalipse 14:1. PE 31 6 Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os Seus servos O servirão, contemplarão a Sua face, e nas suas frontes está o nome dEle. Então já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos. Apocalipse 22:1-5. ------------------------Capítulo 2 -- Visões subseqüentes PE 32 1 Em 1847, enquanto os irmãos estavam reunidos no sábado em Topsham, Maine, o Senhor deu-me a seguinte visão: PE 32 2 Sentíamos um incomum espírito de oração. E ao orarmos o Espírito Santo desceu sobre nós. Estávamos muito felizes. Logo perdi de vista as coisas terrestres e fui arrebatada em visão da glória de Deus. Vi um anjo que voava ligeiro para mim. Rápido levou-me da Terra para a Cidade Santa. Na cidade vi um templo no qual entrei. Passei por uma porta antes de chegar ao primeiro véu. Este véu foi erguido e eu entrei no lugar santo. Ali vi o altar de incenso, o castiçal com sete lâmpadas e a mesa com os pães da proposição. Depois de ter eu contemplado a glória do lugar santo, Jesus levantou o segundo véu e eu passei para o santo dos santos. PE 32 3 No lugar santíssimo vi uma arca, cujo alto e lados eram do mais puro ouro. Em cada extremidade da arca havia um querubim com suas asas estendidas sobre ela. Tinham os rostos voltados um para o outro, e olhavam para baixo. Entre os anjos estava um incensário de ouro. Sobre a arca, onde estavam os anjos, havia o brilho de excelente glória, como se fora a glória do trono da habitação de Deus. Jesus estava junto à arca, e ao subirem a Ele as orações dos santos, a fumaça do incenso subia, e Ele oferecia suas orações ao Pai com o fumo do incenso. Na arca estava a urna de ouro contendo o maná, a vara de Arão que florescera e as tábuas de pedra que se fechavam como um livro. Jesus abriu-as, e eu vi os Dez Mandamentos nelas escritos com o dedo de Deus. Numa das tábuas havia quatro mandamentos e na outra seis. Os quatro da primeira tábua eram mais brilhantes que os seis da outra. Mas o quarto, o mandamento do sábado, brilhava mais que os outros; pois o sábado foi separado para ser guardado em honra do santo nome de Deus. O santo sábado tinha aparência gloriosa -- um halo de glória o circundava. Vi que o mandamento do sábado não fora pregado na cruz. Se tivesse sido, os outros nove mandamentos também o teriam, e estaríamos na liberdade de transgredi-los a todos, bem como o quarto mandamento. Vi que Deus não havia mudado o sábado, pois Ele jamais muda. Mas o papa tinha-o mudado do sétimo para o primeiro dia da semana; pois ele devia mudar os tempos e as leis. PE 33 1 E eu vi que se Deus tivesse mudado o sábado do sétimo dia para o primeiro, Ele teria mudado a redação do mandamento do sábado, escrito nas tábuas de pedra, que estão agora na arca no lugar santíssimo do templo no Céu; e seria lido assim: O primeiro dia é o sábado do Senhor teu Deus. Mas eu vi que nele se lê da mesma maneira como foi escrito nas tábuas de pedra pelo dedo de Deus, e entregue a Moisés no Sinai: "Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus." Vi que o santo sábado é, e será, o muro de separação entre o verdadeiro Israel de Deus e os incrédulos, e que o sábado é o grande fator que une os corações dos queridos de Deus, os expectantes santos. PE 33 2 Vi que Deus tinha filhos que não reconheciam o sábado e não o guardavam. Eles não haviam rejeitado a luz sobre este ponto. E ao início do tempo de angústia fomos cheios do Espírito Santo ao sairmos para proclamar o sábado mais amplamente. Isto enfureceu as igrejas e os adventistas nominais, pois não podiam refutar a verdade do sábado. E nesse tempo os escolhidos de Deus viram todos claramente que tínhamos a verdade, e saíram e enfrentaram a perseguição conosco. Eu vi a espada, a fome, pestilência e grande confusão na Terra. Os ímpios achavam que tínhamos acarretado juízos sobre eles, e se levantaram e tomaram conselho para desembaraçar a Terra de nós, supondo que assim o mal seria contido. PE 34 1 No tempo da angústia fugimos todos das cidades e vilas, mas fomos perseguidos pelos ímpios, os quais entraram nas casas dos santos com espada. Eles ergueram a espada para matar-nos, mas esta quebrou-se, e caiu ao chão tão impotente como palha. Então clamamos dia e noite por livramento, e o clamor subiu até Deus. O Sol apareceu, a Lua permaneceu imóvel, as correntes de água cessaram de fluir. Nuvens negras e pesadas se acumularam e se chocavam umas contra as outras. Mas havia um espaço claro de glória indescritível, de onde veio a voz de Deus como de muitas águas, a qual fez estremecer os céus e a Terra. O céu se abria e se fechava e estava em comoção. As montanhas se agitavam como uma cana ao vento e anfractuosas rochas eram lançadas ao redor. O mar fervia como uma panela e arremessava pedras sobre a Terra. E ao anunciar Deus o dia e a hora da volta de Jesus e declarar o concerto eterno com Seu povo, Ele proferia uma sentença, e então fazia uma pausa, enquanto as palavras reboavam através da Terra. O Israel de Deus permanecia com os olhos fixos no alto, atento às palavras que vinham da boca de Jeová e rolavam através da Terra como trovoadas. Isto era terrivelmente solene. E ao fim de cada sentença os santos clamavam: "Glória! Aleluia!" Seus rostos estavam iluminados com a glória de Deus; e brilhavam com a glória, como a face de Moisés quando desceu do Sinai. Os ímpios não podiam olhar para eles por causa da glória. E quando a interminável bênção foi pronunciada sobre os que haviam honrado a Deus e guardado o Seu santo sábado, houve um estrondoso clamor de vitória sobre a besta e a sua imagem. PE 35 1 Começou então o jubileu, quando a Terra devia descansar. Vi o piedoso escravo levantar-se em triunfo e vitória e sacudir as cadeias que o prendiam, enquanto o seu ímpio senhor estava em confusão e não sabia o que fazer; pois os ímpios não compreendiam as palavras proferidas pela voz de Deus. Logo apareceu a grande nuvem branca. Pareceu-me mais adorável que nunca antes. Nela estava assentado o Filho do homem. A princípio não vimos a Jesus na nuvem, mas ao aproximar-se esta da Terra pudemos contemplar Sua amorável pessoa. Esta nuvem, quando no princípio apareceu, era o sinal do Filho do homem no céu. A voz do Filho de Deus chamou os santos que dormiam, saindo estes revestidos de gloriosa imortalidade. Os santos vivos foram mudados num momento e com eles arrebatados no carro de nuvem. Parecia todo ele sobremodo glorioso ao avançar para o alto. Dos lados do carro havia asas e debaixo dele rodas. E ao avançar o carro, as rodas clamavam: "Santo", e as asas, ao se moverem, clamavam, "Santo", e o séquito de santos anjos ao redor da nuvem clamavam: "Santo, santo, santo é o Senhor Deus o todo-poderoso!" E os santos na nuvem clamavam: "Glória, aleluia!" E o carro subia para a Cidade Santa. Jesus franqueou os portões da cidade dourada e conduziu-nos para dentro. Aqui recebemos as boas-vindas, pois havíamos guardado os "mandamentos de Deus", e tínhamos direito à "árvore da vida". ------------------------Capítulo 3 -- O selamento PE 36 1 Ao principiar o santo sábado, 5 de Janeiro de 1849, entregamo-nos à oração com a família do irmão Belden, em Rocky Hill (Connecticut), e o Espírito Santo caiu sobre nós. Fui levada em visão para o lugar santíssimo, onde vi Jesus ainda intercedendo por Israel. Na extremidade inferior de Suas vestes havia uma campainha e uma romã, uma campainha e uma romã. Vi então que Jesus não abandonaria o lugar santíssimo sem que cada caso fosse decidido, ou para a salvação ou para a destruição; e que a ira de Deus não poderia manifestar-se sem que Jesus concluísse Sua obra no lugar santíssimo, depusesse Seus atavios sacerdotais, e Se vestisse com vestes de vingança. Então Jesus sairá de entre o Pai e os homens, e Deus não mais silenciará, mas derramará Sua ira sobre aqueles que rejeitaram Sua verdade. Vi que a ira das nações, a ira de Deus, e o tempo de julgar os mortos eram acontecimentos separados e distintos, seguindo-se um a outro; também, que Miguel não Se havia levantado, e que o tempo de angústia, tal como nunca houve, ainda não havia começado. As nações estão se irando agora, mas, quando nosso Sumo Sacerdote concluir Sua obra no santuário, Ele Se levantará, porá as vestes de vingança, e então as sete últimas pragas serão derramadas. PE 36 2 Vi que os quatro anjos segurariam os quatro ventos até que a obra de Jesus estivesse terminada no santuário, e então viriam as sete últimas pragas. Estas pragas enfureceram os ímpios contra os justos, pois pensavam que nós havíamos trazido os juízos divinos sobre eles, e que se pudessem livrar a Terra de nós, as pragas cessariam. Saiu um decreto para se matarem os santos, o que fez com que estes clamassem dia e noite por livramento. Este foi o tempo da angústia de Jacó. Então todos os santos clamaram com angústia de espírito, e alcançaram livramento pela voz de Deus. Os cento e quarenta e quatro mil triunfaram. Sua face se iluminou com a glória de Deus. Foi-me mostrada então uma multidão que ululava em agonia. Em suas vestes estava escrito em grandes letras: "Pesado foste na balança, e foste achado em falta." Perguntei quem era aquela multidão. O anjo disse: "Estes são os que já guardaram o sábado e o abandonaram." Ouvi-os clamar com grande voz: "Acreditamos em Tua vinda e a ensinamos com ardor." E enquanto falavam, seus olhares caíam sobre suas vestes, viam a escrita e então choravam em alta voz. Vi que eles haviam bebido de águas profundas, e enlameado o resto com os pés -- pisando o sábado a pés; e por isso foram pesados na balança e achados em falta. PE 37 1 Então meu anjo assistente me reconduziu à cidade, onde vi quatro anjos voando em direção à porta. Estavam precisamente a apresentar o cartão de ouro ao anjo que estava à porta, quando vi outro anjo voar celeremente, vindo da direção em que se encontrava a mais excelsa glória, e clamar com grande voz aos outros anjos, agitando para cima e para baixo alguma coisa que tinha na mão. Pedi ao meu anjo assistente explicação do que via. Disse-me que nada mais poderia ver então, mas em breve ele me mostraria o que significavam as coisas que então vi. PE 37 2 Sábado à tarde, um dentre o nosso grupo ficou doente, e pediu orações para ser curado. Unimo-nos em rogos ao Médico que jamais perdeu um caso, e, enquanto o poder curador descia, e o enfermo sarava, o Espírito caiu sobre mim, e fui arrebatada em visão. PE 38 1 Vi quatro anjos que tinham uma obra a fazer na Terra, e estavam em vias de cumpri-la. Jesus estava vestido com trajes sacerdotais. Ele olhou compassivamente para os remanescentes, levantou então as mãos, e com voz de profunda compaixão, exclamou: "Meu sangue, Pai, Meu sangue! Meu sangue!" Vi então que, de Deus que estava sentado sobre o grande trono branco, saía uma luz extraordinariamente brilhante e derramava-se em redor de Jesus. Vi, a seguir, um anjo com uma missão da parte de Jesus, voando celeremente aos quatro anjos que tinham a obra a fazer na Terra, agitando para cima e para baixo alguma coisa que tinha na mão, e clamando com grande voz: "Segurai! Segurai! Segurai! até que os servos de Deus sejam selados na fronte!" PE 38 2 Perguntei ao meu anjo assistente o sentido do que eu ouvia, e que iriam fazer os quatro anjos. Ele me disse que era Deus quem restringia os poderes, e incumbira os Seus anjos de tudo quanto se relacionava com a Terra; que os quatro anjos tinham poder da parte de Deus para reter os quatro ventos, e que estavam já prestes a soltá-los; mas enquanto se lhes afrouxavam as mãos e os quatro ventos estavam para soprar, os olhos misericordiosos de Jesus contemplaram os remanescentes que não estavam selados e, erguendo as mãos ao Pai, alegou que havia derramado Seu sangue por eles. Então outro anjo recebeu ordem para voar velozmente aos outros quatro e mandar-lhes reter os ventos até que os servos de Deus fossem selados na fronte com o selo do Deus vivo. ------------------------Capítulo 4 -- O amor de Deus por seu povo PE 39 1 Vi o terno amor que Deus tem por Seu povo, e é muito grande. Vi anjos com as asas estendidas sobre os santos. Cada santo tinha um anjo de guarda. Se os santos choravam de desânimo, ou estavam em perigo, os anjos que sempre os assistiam, voavam rapidamente para cima a fim de levar as novas; e os anjos na cidade cessavam de cantar. Então Jesus comissionava outro anjo para descer a fim de animá-los, vigiar sobre eles e procurar impedi-los de abandonar o caminho estreito, mas se não davam atenção ao cuidado vigilante dos anjos e não queriam ser por eles consolados, antes continuavam a se desgarrar, os anjos pareciam ficar tristes e choravam. Levavam as notícias para cima, e todos os anjos na cidade choravam, e então com grande voz diziam: "Amém." Se, porém, os santos fixavam os olhares no prêmio que diante deles estava e glorificavam a Deus, louvando-O, então os anjos levavam as alegres novas à cidade, e os outros que ali estavam tocavam suas harpas de ouro e cantavam em alta voz: "Aleluia", e as abóbadas celestiais ressoavam com seus belos cânticos. PE 39 2 Há perfeita ordem e harmonia na cidade santa. Todos os anjos comissionados para visitar a Terra, levam um cartão de ouro e, ao entrarem e saírem, apresentam-no aos anjos que ficam às portas da cidade. O Céu é um lugar agradável. Anseio ali estar, e contemplar meu amorável Jesus, que por mim deu Sua vida, e achar-me transformada a Sua imagem gloriosa. Oh! quem me dera possuir linguagem para exprimir as glórias do resplandecente mundo vindouro! Estou sedenta das águas vivas que alegram a cidade de nosso Deus. PE 39 3 O Senhor me proporcionou uma vista de outros mundos. Foram-me dadas asas, e um anjo me acompanhou da cidade a um lugar fulgurante e glorioso. A relva era de um verde vivo, e os pássaros gorjeavam ali cânticos suaves. Os habitantes do lugar eram de todas as estaturas; nobres, majestosos e formosos. Ostentavam a expressa imagem de Jesus, e seu semblante irradiava santa alegria, que era uma expressão da liberdade e felicidade do lugar. Perguntei a um deles por que eram muito mais formosos que os da Terra. A resposta foi: "Vivemos em estrita obediência aos mandamentos de Deus, e não caímos em desobediência, como os habitantes da Terra." Vi então duas árvores. Uma se assemelhava muito à árvore da vida, existente na cidade. O fruto de ambas tinha belo aspecto, mas o de uma delas não era permitido comer. Tinham a faculdade de comer de ambas, mas era-lhes vedado comer de uma. Então meu anjo assistente me disse: "Ninguém aqui provou da árvore proibida; se, porém, comessem, cairiam." Então fui levada a um mundo que tinha sete luas. Vi ali o bom e velho Enoque, que tinha sido trasladado. Em sua destra tinha uma palma resplendente, e em cada folha estava escrito: "Vitória." Pendia-lhe da cabeça uma grinalda branca, deslumbrante, com folhas, e no meio de cada folha estava escrito: "Pureza", e em redor da grinalda havia pedras de várias cores que resplandeciam mais do que as estrelas, e lançavam um reflexo sobre as letras, aumentando-lhes o volume. Na parte posterior da cabeça havia um arco em que rematava a grinalda, e nele estava escrito: "Santidade." Sobre a grinalda havia uma linda coroa que brilhava mais do que o Sol. Perguntei-lhe se este era o lugar para onde fora transportado da Terra. Ele disse: "Não é; minha morada é na cidade, e eu vim visitar este lugar." Ele percorria o lugar como se realmente estivesse em sua casa. Pedi ao meu anjo assistente que me deixasse ficar ali. Não podia suportar o pensamento de voltar a este mundo tenebroso. Disse então o anjo: "Deves voltar e, se fores fiel, juntamente com os 144.000 terás o privilégio de visitar todos os mundos e ver a obra das mãos de Deus." ------------------------Capítulo 5 -- O abalo das potestades do céu PE 41 1 A 16 de Dezembro de 1848, o Senhor me deu uma visão acerca do abalo das potestades do céu. Vi que quando o Senhor disse "céu", ao dar os sinais registrados por Mateus, Marcos e Lucas, Ele queria dizer céu, e quando disse: "Terra", queria significar Terra. As potestades do céu são o Sol, a Lua e as estrelas. Seu governo é no firmamento. As potestades da Terra são as que governam sobre a Terra. As potestades do céu serão abaladas com a voz de Deus. Então o Sol, a Lua e as estrelas se moverão em seus lugares. Não passarão, mas serão abalados pela voz de Deus. PE 41 2 Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A santa cidade descerá por aquele espaço aberto. Vi que as potestades da Terra estão sendo abaladas agora, e que os acontecimentos ocorrem em ordem. Guerras e rumores de guerra, espada, fome e pestilência devem primeiramente abalar as potestades da Terra, e então a voz de Deus abalará o Sol, a Lua e as estrelas, e também a Terra. Vi que a agitação das potências na Europa não é, como alguns ensinam, o abalo das potestades do céu, mas sim o abalo das nações iradas. ------------------------Capítulo 6 -- A porta aberta e a porta fechada PE 42 1 No dia 24 de Março de 1849, sábado, tivemos uma reunião agradável e muito interessante com os irmãos de Topsham, Maine. O Espírito Santo foi derramado sobre nós e eu fui levada pelo Espírito à cidade do Deus vivo. Mostrou-se-me então que os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus Cristo com referência à porta fechada não podiam ser separados, e que o tempo para os mandamentos de Deus brilharem em toda a sua importância, e para o povo de Deus ser provado sobre a verdade do sábado, seria quando a porta fosse aberta no lugar santíssimo do santuário celestial, onde está a arca que contém os Dez Mandamentos. Esta porta não foi aberta até que a mediação de Jesus no lugar santo do santuário terminou em 1844. Então Jesus Se levantou e fechou a porta do lugar santo e abriu a porta que dá para o santíssimo, e passou para dentro do segundo véu, onde permanece agora junto da arca e onde agora chega a fé de Israel. PE 42 2 Vi que Jesus havia fechado a porta do lugar santo, e que nenhum homem poderia abri-la; e que Ele havia aberto a porta para o santíssimo, e que homem algum podia fechá-la (Apocalipse 3:7, 8); e que uma vez que Jesus abrira a porta para o santíssimo, onde está a arca, os mandamentos têm estado a brilhar para o povo de Deus, e eles estão sendo testados sobre a questão do sábado. PE 42 3 Vi que a presente prova do sábado não poderia vir até que a mediação de Jesus no lugar santo terminasse e Ele passasse para dentro do segundo véu; portanto os cristãos que dormiram antes que a porta fosse aberta no santíssimo, quando terminou o clamor da meia-noite no sétimo mês, em 1844, e que não haviam guardado o verdadeiro sábado, agora repousam em esperança, pois não tiveram a luz e o teste sobre o sábado que nós agora temos, uma vez que a porta foi aberta. Eu vi que Satanás estava tentando alguns do povo de Deus neste ponto. Sendo que grande número de bons cristãos adormeceram nos triunfos da fé e não guardaram o verdadeiro sábado, eles estavam em dúvida quanto a ser isto um teste para nós agora. PE 43 1 Os inimigos da verdade presente têm estado procurando abrir a porta do lugar santo, a qual Jesus fechou, e a fechar a porta do lugar santíssimo, que Ele abriu em 1844, no qual está a arca contendo as duas tábuas de pedra onde estão os Dez Mandamentos escritos pelo dedo de Jeová. PE 43 2 Satanás está agora usando cada artifício neste tempo de selamento a fim de desviar a mente do povo de Deus da verdade presente e levá-los a vacilar. Vi que Deus estava estendendo uma cobertura sobre o Seu povo a fim de protegê-lo no tempo de angústia; e que cada alma que se decidia pela verdade e era pura de coração devia ser coberta com a proteção do Todo-poderoso. PE 43 3 Satanás sabia disto, e estava trabalhando com afinco para conservar vacilante e instável na verdade a mente do maior número possível de pessoas. Vi que as batidas misteriosas em Nova Iorque e outros lugares eram o poder de Satanás, e que essas coisas seriam cada vez mais comuns, abrigadas em vestes religiosas, a fim de adormentar os enganados e fazê-los sentirem-se em segurança maior e a atrair a mente do povo de Deus tanto quanto possível para essas coisas e levá-lo a duvidar dos ensinos e poder do Espírito Santo. PE 43 4 Vi que Satanás estava operando por intermédio de instrumentalidades de diferentes maneiras. Estava operando por meio de ministros que rejeitaram a verdade e estão se entregando à operação do erro, para crerem na mentira e serem condenados. Enquanto estavam pregando ou orando, alguns caíram prostrados em abandono, não pelo poder do Espírito Santo, mas pelo poder que Satanás proporcionou a esses instrumentos, e por meio deles ao povo. Enquanto oravam, pregavam ou conversavam, alguns professos adventistas que haviam rejeitado a verdade presente usavam o mesmerismo para ganhar adeptos, e o povo se regozijava nesta influência, pois pensava que era o Espírito Santo. Alguns que o haviam praticado estavam de tal maneira aprofundados nas trevas e engano do diabo que chegavam mesmo a pensar que era o poder de Deus a eles dado para exercitarem-se. Haviam feito a Deus tais como eles mesmos e avaliavam o Seu poder como coisa desprezível. PE 44 1 Alguns desses instrumentos de Satanás estavam tocando no corpo de alguns dos santos -- aqueles a quem não podiam enganar e afastar da verdade pela influência satânica. Oh! se todos pudessem ter uma idéia disto como me foi revelado por Deus, a fim de poderem discernir mais os ardis de Satanás e estarem em guarda! Eu vi que Satanás estava operando dessa maneira a fim de desviar, enganar e afastar de Deus o Seu povo, precisamente agora, neste tempo de selamento. Vi alguns que não estavam firmes ao lado da verdade presente. Seus joelhos estavam trementes e seus pés escorregavam, porque não estavam firmemente plantados na verdade, e a proteção do poderoso Deus não podia ser estendida sobre eles enquanto estavam assim trementes. PE 44 2 Satanás estava procurando lançar mão de todas as suas artes a fim de mantê-los onde estavam, até que o selamento passasse, até que a cobertura fosse estendida sobre o povo de Deus, e eles [os que não estavam firmes ao lado da verdade presente] fossem deixados sem um abrigo da ardente ira de Deus, nas sete últimas pragas. Deus está começando a estender a cobertura sobre Seu povo, e ela logo será estendida sobre todos os que devem ter um abrigo no dia da matança. Deus obrará em poder em favor do Seu povo; e a Satanás será permitido operar também. PE 45 1 Eu vi que os misteriosos sinais e maravilhas e as falsas reformas aumentariam e se espalhariam. As reformas que me foram mostradas não eram reformas do erro para a verdade. Meu anjo assistente ordenou-me que olhasse as agonias de alma em favor dos pecadores como era costume haver. Olhei, mas nada vi, pois o tempo para a sua salvação havia passado. ------------------------Capítulo 7 -- A prova de nossa fé PE 46 1 Nesta época de provação precisamos animar-nos e confortar-nos mutuamente. As tentações de Satanás são maiores agora do que nunca, pois ele sabe que o seu tempo é curto, e que muito breve todos os casos estarão decididos, ou para a vida ou para a morte. Não é tempo de nos deixarmos vencer pelo desânimo nem de sucumbir sob as provações; devemos sobrepor-nos a todas as nossas aflições, e confiar inteiramente no todo-poderoso Deus de Jacó. O Senhor me mostrou que Sua graça é suficiente em todas as nossas provações; e conquanto sejam maiores do que nunca dantes, podemos todavia vencer toda tentação, se retivermos absoluta confiança em Deus, e pela Sua graça sairemos vitoriosos. PE 46 2 Se vencemos as provações e ganhamos a vitória sobre as tentações de Satanás, suportamos então a prova de nossa fé que é mais preciosa do que o ouro, e nos achamos mais fortes e mais bem preparados para enfrentar a provação seguinte. Mas se soçobramos e cedemos às tentações de Satanás, ficaremos mais fracos, não alcançaremos recompensa pela prova, nem estaremos tão bem preparados para a próxima. Desta maneira tornar-nos-emos cada vez mais fracos, até que sejamos levados em cativeiro por Satanás, à sua vontade. Devemos estar revestidos de toda a armadura de Deus, e prontos cada momento para suster conflito com os poderes das trevas. Quando nos assaltarem tentações e provações, vamos a Deus, e com verdadeira agonia de alma oremos a Ele. Não nos despedirá Ele vazios, mas nos dará graça e força para vencer e quebrar o poder do inimigo. Oh! oxalá todos pudessem ver estas coisas na sua verdadeira luz, e suportar as agruras como bons soldados de Cristo! Então Israel avançaria, forte em Deus, na força de Seu poder. PE 47 1 Deus me mostrou haver Ele dado ao Seu povo uma taça amarga a beber, a fim de os purificar e limpar. É um amargo sorvo; e eles o podem tornar ainda mais amargo murmurando, queixando-se e amofinando-se. Aqueles, porém, que o recebem assim, precisam de outro trago, pois o primeiro não produz sobre o coração o efeito que lhe era destinado. E se o segundo não efetua o trabalho, precisarão então de outro, e outro, até que haja produzido o devido efeito, ou serão eles deixados sujos e impuros de coração. Vi que esta amarga taça pode ser adoçada pela paciência, perseverança e oração, e que terá o visado efeito sobre o coração daqueles que assim a recebem, e Deus será honrado e glorificado. Não é coisa insignificante ser cristão, de propriedade divina e por Deus aprovado. O Senhor me mostrou alguns que professam a verdade presente, cuja vida não corresponde à sua profissão. Têm norma de piedade muito baixa, e estão longe da santidade recomendada na Bíblia. Alguns se entretêm em conversação vã e indecorosa, e outros, dão lugar às imposições do eu. Não devemos esperar agradar a nós mesmos, viver e agir como o mundo, ter seus prazeres, gozar a companhia dos que são do mundo, e reinar com Cristo em glória. PE 47 2 Devemos ser participantes dos sofrimentos de Cristo aqui, se queremos participar de Sua glória no além. Se procuramos nosso próprio interesse, ou como podemos melhor agradar a nós mesmos, em vez de buscar agradar a Deus e fazer avançar Sua preciosa e sofredora causa, desonramo-Lo e a essa santa causa que professamos amar. Não temos senão um pequeno espaço de tempo no qual trabalhar por Deus. Nada deveria ser demasiado caro para ser sacrificado pela salvação do desgarrado e quebrantado rebanho de Jesus. Aqueles que fazem hoje um concerto com Deus em sacrifício, logo serão recebidos a fim de participar de uma rica recompensa, e possuir o novo reino para todo o sempre. PE 48 1 Oh! vivamos inteiramente para o Senhor, e, por uma vida bem ordenada e por uma conversa piedosa, mostremos que estivemos com Jesus, e somos Seus seguidores mansos e humildes. Devemos trabalhar enquanto é dia, pois quando vier a escura noite da perturbação e angústia, será demasiado tarde para trabalhar para Deus. Jesus está em Seu santo templo, e agora aceita nossos sacrifícios, orações e confissões de faltas e pecados, e perdoará todas as transgressões de Israel, para que sejam apagadas antes que Ele saia do santuário. Quando Jesus sair do santuário, os que são santos e justos serão santos e justos ainda; pois todos os seus pecados estarão apagados, e eles selados com o selo do Deus vivo. Mas aqueles que forem injustos e sujos, serão injustos e sujos ainda; pois não haverá então sacerdote no santuário para apresentar seus sacrifícios, confissões e orações perante o trono do Pai. Portanto, o que se há de fazer para livrar as almas da tormenta vindoura da ira, deve ser feito antes que Jesus saia do lugar santíssimo do santuário celestial. ------------------------Capítulo 8 -- Ao pequeno rebanho PE 48 2 Caros irmãos: Em 26 de Janeiro de 1850, o Senhor me deu uma visão que vou relatar. Vi que alguns dentre o povo de Deus são obtusos, e sonolentos, e meio despertos; sem compreenderem o tempo em que vivemos, que o homem com a "vassoura" entrou, e que alguns estão em perigo de serem varridos. Pedi a Jesus que os salvasse, que os poupasse um pouco mais e lhes deixasse ver seu terrível perigo, para que pudessem aprontar-se antes que fosse para sempre tarde demais. Disse o anjo: "A destruição vem chegando como um redemoinho." Pedi ao anjo que se compadecesse daqueles que amavam este mundo, que estavam presos às suas posses, e não se dispunham a desembaraçar-se delas e sacrificar-se a fim de acelerar os mensageiros para que alimente assim as ovelhas famintas que estão perecendo por falta de alimento espiritual, e as salvassem. PE 49 1 Quando vi pobres almas perecendo por falta da verdade presente, e alguns que apesar de professar nela crer, deixavam-nas morrer porque retinham os meios necessários para levar avante a obra de Deus, foi-me dolorosíssimo este quadro, e pedi ao anjo que o afastasse de mim. Vi que quando a causa de Deus exigia de alguns parte de seus haveres, como o mancebo que fora ter com Jesus (Mateus 19:16-22), ficaram tristes; e que logo o flagelo iminente passaria e lhes arrebataria todas as posses, e então seria demasiado tarde para sacrificar bens terrestres e acumular tesouros no Céu. PE 49 2 Vi então o glorioso Redentor, formoso e adorável; vi que Ele havia deixado o reino da glória e viera a este tenebroso e solitário mundo para dar Sua vida preciosa e morrer, na qualidade de justo em prol dos injustos. Suportou cruéis escárnios e açoites, levou sobre Si a coroa de espinhos, e no jardim verteu grandes gotas de sangue enquanto o fardo dos pecados do mundo todo estava sobre Ele. O anjo perguntou: "Por que isso?" Oh! eu vi e compreendi que foi por nós; por nossos pecados Ele sofreu tudo isso, para que por Seu precioso sangue pudesse remir-nos para Deus. PE 49 3 Foram-me então de novo apresentados aqueles que não se dispunham a sacrificar bens deste mundo a fim de salvar as almas que pereciam, enviando-se-lhes a verdade enquanto Jesus permanece diante do Pai alegando por eles Seu sangue, sofrimentos e morte, e enquanto os mensageiros de Deus estão esperando, prontos para levar-lhes a verdade salvadora a fim de que possam ser selados com o selo do Deus vivo. Para alguns que professam crer a verdade presente, é coisa difícil fazer tão pouco como seja passar às mãos dos mensageiros o dinheiro que realmente pertence a Deus e que Ele lhes entregou para o administrarem. PE 50 1 Novamente me foi apresentado o sofredor e paciente Jesus, cujo amor tão profundo O levou a dar a vida pelo homem; também vi o procedimento daqueles que professavam ser Seus seguidores, tinham bens deste mundo mas consideravam coisa demasiado grande ajudar a causa da salvação. O anjo perguntou: "Podem estes entrar no Céu?" Outro anjo respondeu: "Não; nunca, nunca! Os que não se interessam pela causa de Deus na Terra jamais poderão cantar no Céu o cântico do amor redentor." Vi que a rápida obra que Deus estava fazendo na Terra logo seria abreviada em justiça, e que os mensageiros devem celeremente ir em busca do rebanho disperso. Um anjo perguntou: "São todos mensageiros?" Outro respondeu: "Não, não; os mensageiros de Deus têm uma mensagem." PE 50 2 Vi que a causa de Deus tinha sido prejudicada e desonrada por alguns que viajavam sem ter uma mensagem de Deus. Esses terão de dar contas a Deus por todo dinheiro utilizado em viagem a lugares aonde não era seu dever ir, pois esse dinheiro podia ter sido despendido na causa de Deus; e por falta do alimento espiritual que lhes podia ter sido provido pelos mensageiros de Deus, chamados e escolhidos, caso tivessem eles tido os recursos, almas têm definhado e morrido. Vi que os que têm forças para trabalhar com as próprias mãos e ajudar assim a causa, eram tão responsáveis por sua força como os outros o eram por sua propriedade. PE 50 3 Começou a forte sacudidura e continuará, e todos os que não estiverem dispostos a assumir uma posição ousada e tenaz em prol da verdade, e a sacrificar-se por Deus e por Sua causa, serão joeirados. O anjo disse: "Achas que alguém será forçado a fazer sacrifícios? Não, absolutamente. Deverá ser uma oferta voluntária. Será preciso tudo para comprar o campo." Clamei a Deus para poupar a Seu povo, dentre o qual alguns estavam desfalecentes e moribundos. Vi então que os juízos do Todo-poderoso estavam para vir rapidamente, e roguei ao anjo que falasse ao povo em sua linguagem. Disse ele: "Todos os trovões e relâmpagos do monte Sinai não moveriam aqueles que não hajam de mover-se pelas claras verdades da Palavra de Deus; tampouco os despertaria a mensagem de um anjo." PE 51 1 Contemplei então a beleza e a formosura de Jesus. Suas vestes eram mais brancas do que o mais puro branco. Nenhuma linguagem pode descrever-Lhe a glória e exaltada formosura. Todos, quantos guardarem os mandamentos de Deus, entrarão na cidade pelas portas, e terão direito à árvore da vida, e sempre estarão na presença de Jesus, cujo semblante resplandece mais do que o Sol ao meio-dia. PE 51 2 Foi-me chamada a atenção para Adão e Eva no Éden. Participaram da árvore proibida e foram expulsos do jardim; e então foi colocada a espada inflamada em redor da árvore da vida, para que não participassem de seu fruto e fossem pecadores imortais. A árvore da vida destinava-se a perpetuar a imortalidade. Ouvi um anjo perguntar: "Quem, da família de Adão, passou pela espada inflamada, e participou da árvore da vida?" Ouvi outro anjo responder: "Ninguém da família de Adão passou pela espada inflamada e participou daquela árvore; não há, portanto, nenhum pecador imortal. A alma que pecar, morrerá morte eterna, morte esta que durará sempre, de que não haverá esperança de ressurreição; e então a ira de Deus se aplacará. PE 51 3 "Os santos descansarão na santa cidade, e reinarão como reis e sacerdotes durante mil anos; então Jesus descerá com os santos sobre o Monte das Oliveiras, que se partirá ao meio, e se transformará numa grande planície, para nela se estabelecer o paraíso divino. O resto da Terra não será purificada antes do final dos mil anos, ocasião em que os ímpios mortos ressuscitarão e se reunirão em torno da cidade. Os pés dos ímpios nunca profanarão a Terra renovada. Deus descerá fogo do céu e os devorará; queimá-los-á, sem lhes deixar raiz nem ramo. Satanás é a raiz, e seus filhos são os ramos. O mesmo fogo que devorar os ímpios purificará a Terra. ------------------------Capítulo 9 -- As últimas pragas e o juízo PE 52 1 Na assembléia geral de crentes na verdade presente, realizada em Sutton, Vermont, em Setembro de 1850, foi-me mostrado que as sete últimas pragas serão derramadas depois que Jesus deixar o santuário. Disse o anjo: "É a ira de Deus e do Cordeiro que causa a destruição ou morte dos ímpios. À voz de Deus os santos serão poderosos e terríveis como um exército com bandeiras, mas eles não executarão o juízo escrito. A execução do juízo será ao final dos mil anos." PE 52 2 Depois de serem os santos mudados para imortalidade e tomados com Jesus, depois de haverem recebido suas harpas, vestes e coroas, e de entrarem na cidade, Jesus e os santos assentam-se em juízo. Os livros são abertos -- o livro da vida e o livro da morte. O livro da vida contém as boas obras dos santos, e o livro da morte as obras más dos ímpios. Esses livros são comparados com o Livro-norma, a Bíblia, e de acordo com isto são os homens julgados. Os santos, em uníssono com Jesus, passam o seu juízo aos ímpios mortos. "Eis", disse o anjo, "que os santos, em uníssono com Jesus, assentam-se em juízo, e retribuem aos ímpios segundo as obras feitas no corpo; e aquilo que eles devam receber na execução do juízo é anotado em oposição ao seu nome. Esta, eu vi, era a obra dos santos juntamente com Jesus durante os mil anos na Cidade Santa antes desta descer para a Terra. Então ao final dos mil anos, Jesus, com os anjos e todos os santos, deixa a Cidade Santa, e enquanto Ele está descendo com eles para a Terra, os ímpios mortos são ressuscitados, e então aqueles mesmos que "O traspassaram", ao serem ressuscitados, vê-Lo-ão à distância em toda a Sua glória, com Ele os anjos e os santos, e se lamentarão por causa dEle. Verão as marcas dos cravos em Suas mãos e pés, e o lado que eles traspassaram com a lança. As cicatrizes dos cravos e da lança serão então a Sua glória. É ao final dos mil anos que Jesus estará sobre o Monte das Oliveiras, e o monte se fenderá ao meio tornando-se uma vasta planície. Os que fugirão nesse tempo serão os ímpios, que acabam de ser ressuscitados. Então a Cidade Santa desce na planície. Satanás agora insufla o seu espírito nos ímpios, animando-os com a declaração de que o exército na cidade é pequeno e o seu grande, e que podem vencer os santos e tomar a cidade. PE 53 1 Enquanto Satanás reunia o seu exército, os santos estavam na cidade, contemplando a beleza e a glória do Paraíso de Deus. Jesus estava a sua frente, conduzindo-os. Em dado momento o amante Salvador estava Se afastando de nossa companhia; mas logo ouvimos Sua amorável voz, dizendo: "Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Agrupamo-nos em torno de Jesus, e tão logo Ele fechou as portas da cidade, foi pronunciada a maldição sobre os ímpios. As portas foram fechadas. Então os santos usaram as suas asas e subiram ao alto do muro da cidade. Jesus estava também com eles; Sua coroa parecia brilhante e gloriosa. Era uma coroa dentro de outra, num total de sete. As coroas dos santos eram do mesmo puro ouro, cravejadas de estrelas. Seus rostos brilhavam com glória, pois estavam na expressa imagem de Jesus; e ao se erguerem e se dirigirem juntos para o cume da cidade, senti-me extasiada com a visão. PE 54 1 Então os ímpios viram o que tinham perdido; e de Deus foi soprado fogo sobre eles e foram consumidos. Esta foi a execução do juízo. Os ímpios receberam, então, segundo o que os santos, em uníssono com Jesus, tinham decidido para eles durante os mil anos. O mesmo fogo de Deus que consumiu os ímpios purificou a Terra toda. As montanhas nodosas e partidas derreteram-se com o calor fervente, bem como a atmosfera, e todo restolho foi consumido. Abriu-se então perante nós a nossa herança, gloriosa e bela, e nós herdamos toda a Terra renovada. Todos exclamamos com grande voz: "Glória! Aleluia!" ------------------------Capítulo 10 -- Fim dos 2.300 dias PE 54 2 Vi um trono, e assentados nele estavam o Pai e o Filho. Contemplei o semblante de Jesus e admirei Sua adorável pessoa. Não pude contemplar a pessoa do Pai, pois uma nuvem de gloriosa luz O cobria. Perguntei a Jesus se Seu Pai tinha forma dEle, Jesus disse que sim, mas eu não poderia contemplá-Lo, pois disse: "Se uma vez contemplares a glória de Sua pessoa, deixarás de existir." Perante o trono vi o povo do advento -- a igreja e o mundo. Vi dois grupos, um curvado perante o trono, profundamente interessado, enquanto outro permanecia indiferente e descuidado. Os que estavam dobrados perante o trono ofereciam suas orações e olhavam para Jesus; então Jesus olhava para Seu Pai, e parecia estar pleiteando com Ele. Uma luz ia do Pai para o Filho e do Filho para o grupo em oração. Vi então uma luz excessivamente brilhante que vinha do Pai para o Filho e do Filho ela se irradiava sobre o povo perante o trono. Mas poucos recebiam esta grande luz. Muitos saíam de sob ela e imediatamente resistiam-na; outros eram descuidados e não estimavam a luz, e se afastava deles. Alguns apreciavam-na, e iam e se curvavam com o pequeno grupo em oração. Todo este grupo recebia a luz e se regozijava com ela, e seu semblante brilhava com glória. PE 55 1 Vi o Pai erguer-Se do trono e num flamejante carro entrar no santo dos santos para dentro do véu, e assentar-Se. Então Jesus Se levantou do trono e a maior parte dos que estavam curvados ergueram-se com Ele. Não vi um raio de luz sequer passar de Jesus para a multidão descuidada depois que Ele Se levantou, e eles foram deixados em completas trevas. Os que se levantaram quando Jesus o fez, conservavam os olhos fixos nEle ao deixar Ele o trono e levá-los para fora a uma pequena distância. Então Ele ergueu o Seu braço direito, e ouvimo-Lo dizer com Sua amorável voz: "Esperai aqui; vou a Meu Pai para receber o reino; guardai os vossos vestidos sem mancha, e em breve voltarei das bodas e vos receberei para Mim mesmo." Então um carro de nuvens, com rodas como flama de fogo, circundado por anjos, veio para onde estava Jesus. Ele entrou no carro e foi levado para o santíssimo, onde o Pai Se assentava. Então contemplei a Jesus, o grande Sumo Sacerdote, de pé perante o Pai. Na extremidade inferior de Suas vestes havia uma campainha e uma romã, uma campainha e uma romã. Os que se levantaram com Jesus enviavam sua fé a Ele no santíssimo, e oravam: "Meu Pai, dá-nos o Teu Espírito." Então Jesus assoprava sobre eles o Espírito Santo. Neste sopro havia luz, poder e muito amor, gozo e paz. PE 56 1 Voltei-me para ver o grupo que estava ainda curvado perante o trono; eles não sabiam que Jesus o havia deixado. Satanás parecia estar junto ao trono, procurando conduzir a obra de Deus. Vi-os erguer os olhos para o trono e orar: "Pai, dá-nos o Teu Espírito." Satanás inspirava-lhes uma influência malévola; nela havia luz e muito poder, mas não suave amor, gozo e paz. O objetivo de Satanás era mantê-los enganados e atrair de novo e enganar os filhos de Deus. ------------------------Capítulo 11 -- O dever em face do tempo de angústia PE 56 2 O Senhor tem-me mostrado repetidamente que é contrário à Bíblia fazer qualquer provisão para o tempo de angústia. Vi que se os santos tivessem alimento acumulado por eles no campo no tempo de angústia, quando a espada, a fome e pestilência estão na Terra, seria tomado deles por mãos violentas e estranhos ceifariam os seus campos. Será para nós então tempo de confiar inteiramente em Deus, e Ele nos sustentará. Vi que nosso pão e nossa água serão certos nesse tempo, e que não teremos falta nem padeceremos fome, pois Deus é capaz de estender para nós uma mesa no deserto. Se necessário Ele enviaria corvos para alimentar-nos, como fez com Elias, ou faria chover maná do céu, como fez para os israelitas. PE 56 3 Casas e terras serão de nenhuma utilidade para os santos no tempo de angústia, pois terão de fugir diante de turbas enfurecidas, e nesse tempo suas posses não podem ser liberadas para o avançamento da causa da verdade presente. Foi-me mostrado que é vontade de Deus que os santos se libertem de todo embaraço antes que venha o tempo de angústia, e façam um concerto com Deus mediante sacrifício. Se eles puserem sua propriedade no altar do sacrifício e ferventemente inquirirem de Deus quanto ao seu dever, Ele lhes ensinará sobre quando dispor dessas coisas. Então estarão livres no tempo de angústia, sem nenhum estorvo para sobrecarregá-los. PE 57 1 Vi que se alguém se apegar a sua propriedade e não inquirir do Senhor quanto ao seu dever, Ele não fará conhecido esse dever, sendo-lhes permitido conservar sua propriedade, e no tempo da angústia isto virá sobre eles como uma montanha para esmagá-los, e eles procurarão dispor dela, mas não será possível. Ouvi alguém lamentar assim: "A Causa estava definhando, o povo de Deus estava perecendo de fome pela verdade, e nenhum esforço fizemos para suprir a falta; agora nossa propriedade de nada vale. Oh! se tivéssemos permitido que ela se fosse e acumulado tesouro no Céu!" Vi que o sacrifício não aumentava, mas decrescia e era consumido. Vi também que Deus não requeria que todo o Seu povo dispusesse de suas propriedades ao mesmo tempo; mas se desejassem ser ensinados, Ele os ensinaria, em tempo de necessidade, quando vender e quanto vender. De alguns se tem pedido no passado que dispusessem de suas propriedades para sustentar a causa do advento, enquanto a outros tem sido permitido conservá-las até o tempo da necessidade. Então, quando a Causa delas necessite, seu dever é vender. PE 57 2 Vi que a mensagem: "Vendei os vossos bens e dai esmola", não tem sido apresentada por alguns em sua clara luz, e o objetivo das palavras de nosso Salvador não tem sido claramente apresentado. O objetivo de vender não é dar aos que podem trabalhar e sustentar-se a si mesmos, mas para espalhar a verdade. É um pecado sustentar e favorecer a indolência dos que podem trabalhar. Alguns têm sido zelosos em assistir a todas as reuniões, não para glorificar a Deus, mas por causa de "pão e peixe". Muito melhor seria que tais pessoas ficassem em casa trabalhando com as próprias mãos, "porque isto é bom", a fim de suprir as necessidades de suas famílias e terem alguma coisa para dar para o sustento da preciosa causa da verdade presente. Agora é o tempo de acumular tesouro no Céu e pôr o coração em ordem, pronto para o tempo de angústia. Somente os que têm mãos limpas e coração puro resistirão no tempo da prova. Agora é o tempo para a lei de Deus estar em nossa mente, em nossa fronte e escrita em nosso coração. PE 58 1 O Senhor me mostrou o perigo de permitir seja a nossa mente abarrotada de pensamentos e cuidados mundanos. Vi que algumas mentes são afastadas da verdade presente e do amor à Bíblia por causa da leitura de livros excitantes; outros se carregam de perplexidade e cuidados quanto ao que comerão, ao que hão de beber e o que vestir. Alguns estão supondo a vinda do Senhor num futuro muito distante. O tempo tem continuado alguns anos mais do que eles esperavam, e assim pensam que continuará mais alguns anos, e desta maneira suas mentes são desviadas da verdade presente para irem após o mundo. Nisto vi grande perigo, pois se a mente está cheia de outras coisas, a verdade presente é deixada fora, e não há lugar em nossa fronte para o selo do Deus vivo. Vi que o tempo para Jesus permanecer no lugar santíssimo estava quase terminado e esse tempo podia durar apenas um pouquinho mais; que o tempo disponível que temos deve ser gasto em examinar a Bíblia, que nos julgará no último dia. PE 58 2 Meus queridos irmãos e irmãs, que os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus estejam de contínuo em vossas mentes, expulsando assim cuidados e pensamentos mundanos. Quando vos deitais e quando vos levantais, sejam eles a vossa meditação. Vivei e agi inteiramente em relação com a vinda do Filho do homem. O tempo do selamento é muito curto, e logo passará. Agora, enquanto os quatro anjos estão contendo os ventos, é o tempo de fazer firme a nossa vocação e eleição. ------------------------Capítulo 12 -- As "batidas misteriosas" PE 59 1 Em 24 de Agosto de 1850 vi que as "pancadas misteriosas" eram o poder de Satanás; parte delas procedia diretamente dele, e outra, indiretamente, mediante seus agentes, mas tudo provinha de Satanás, que executava sua obra de diferentes maneiras; no entanto muitos na igreja e no mundo estavam envoltos em tão densas trevas, que julgavam e sustentavam ser o poder de Deus. Disse o anjo: "Não consultará o povo ao seu Deus? a favor dos vivos se consultarão os mortos?" Hão de os vivos recorrer aos mortos em busca de informações? Os mortos nada sabem. Para saber acerca do Deus vivo, ides aos mortos? Afastaram-se do Deus vivo para falar com os mortos que nada sabem. Ver Isaías 8:19, 20. PE 59 2 Vi que logo seria considerado blasfêmia falar contra as "pancadas", que isso se espalharia mais e mais, que o poder de Satanás aumentaria, e alguns de seus dedicados seguidores teriam poder para operar milagres, e mesmo fazer descer fogo do céu à vista dos homens. Foi-me mostrado que, por essas pancadas e pelo magnetismo, estes mágicos modernos procurariam ainda explicar todos os milagres operados por nosso Senhor Jesus Cristo, e que muitos creriam que todas as poderosas obras do Filho de Deus, realizadas quando esteve na Terra, foram executadas pelo mesmo poder. Foi-me dirigida a atenção para o tempo de Moisés, e vi os sinais e maravilhas que Deus operara por meio dele diante de Faraó, a maioria dos quais foi imitada pelos mágicos do Egito; e que justamente antes do livramento final dos santos, Deus iria operar poderosamente em prol de Seu povo, e seria permitido a estes mágicos modernos imitar a obra de Deus. PE 60 1 Breve virá esse tempo, e teremos de segurar firmemente os fortes braços de Jeová, pois todos estes grandes sinais e poderosas maravilhas do diabo se destinam a enganar o povo de Deus e derrotá-lo. Nossa mente precisa fixar-se em Deus, e não devemos temer o temor dos ímpios, isto é, temer o que temem, e reverenciar o que reverenciam; antes, devemos ser esforçados e animosos em prol da verdade. Se nossos olhos se abrissem, veríamos em nosso redor os anjos maus procurando inventar alguma nova maneira de molestar-nos e destruir-nos. E também veríamos anjos de Deus guardando-nos do poder daqueles; pois os olhos vigilantes de Deus estão sempre sobre Israel, para o seu bem; e Ele protegerá e salvará Seu povo, se este nEle puser sua confiança. Quando o inimigo vier como uma inundação, o Espírito do Senhor levantará uma bandeira contra ele. PE 60 2 Disse o anjo: "Lembra-te de que estás em terreno encantado." Vi que devemos vigiar e cingir-nos de toda a armadura, tomar o escudo da fé, e então estaremos aptos para ficar em pé, e os dardos inflamados do maligno não nos poderão ferir. ------------------------Capítulo 13 -- Os mensageiros PE 61 1 O Senhor muitas vezes tem-me dado a visão das condições e necessidades das jóias espalhadas que ainda não vieram à luz da verdade presente, e tem-me mostrado que os mensageiros devem abrir caminho até eles tão depressa quanto possível, a fim de levar-lhes a luz. Muitos em torno de nós apenas necessitam que se lhes remova o preconceito e se lhes exponham as evidências de nossa presente posição, procedentes da Palavra de Deus, e alegremente receberão a verdade presente. Os mensageiros devem vigiar pelas almas como quem deve delas dar conta. Eles têm que levar uma vida de trabalhos e angústia de espírito, enquanto o peso da preciosa mas não raro ferida causa de Cristo está sobre eles. Terão de pôr de lado interesses e conforto seculares e ter como seu primeiro objetivo fazer tudo que estiver em seu poder para promover a causa da verdade presente e salvar almas que estão perecendo. PE 61 2 Eles terão também uma rica recompensa. Em suas coroas e regozijo os que são por eles libertados e finalmente salvos brilharão como estrelas para todo o sempre. E por toda a eternidade eles desfrutarão a alegria de haverem feito o que podiam na apresentação da verdade em sua pureza e beleza, de maneira que almas apaixonadas por ela fossem santificadas, desfrutando o inestimável privilégio de se haverem enriquecido e de terem sido lavadas no sangue do Cordeiro e redimidas para Deus. PE 61 3 Vi que os pastores devem consultar aqueles em quem têm motivos para confiar, os que têm estado em todas as mensagens e são firmes em toda a verdade presente, antes de advogarem novos pontos de importância que, pensam, a Bíblia sustenta. Então os pastores estarão perfeitamente unidos e a união dos pastores será sentida pela igreja. Vi que uma conduta assim evitaria infelizes divisões e não haveria o perigo de ficar dividido o precioso rebanho nem as ovelhas espalhadas sem pastor. PE 62 1 Vi também que Deus tinha mensageiros que gostaria de usar em Sua causa, mas não estavam prontos. Eram demasiado levianos e frívolos para exercerem boa influência sobre o rebanho e não sentiam o peso da Causa e o valor das almas como devem sentir os mensageiros a fim de praticarem o bem. Disse o anjo: "Purificai-vos os que levais os utensílios do Senhor. Purificai-vos os que levais os utensílios do Senhor." Eles não realizarão senão pequeno bem, a menos que se dêem inteiramente a Deus e sintam a importância e a solenidade da última mensagem de misericórdia que agora está sendo dada ao rebanho disperso. Alguns não chamados por Deus estão muito desejosos de ir com a mensagem. Mas se sentirem o peso da Causa e as responsabilidades de tal posição, desejariam retrair-se e diriam com o apóstolo: "Quem, porém, é suficiente para essas coisas?" Uma das razões pelas quais se mostram tão desejosos de ir é que Deus não pôs sobre eles o peso da Causa. Nem todos os que proclamaram a primeira e a segunda mensagens angélicas terão de proclamar a terceira, mesmo depois de a haverem inteiramente abraçado, pois alguns têm estado em tantos erros e enganos que mal podem salvar suas próprias almas, e se tomam a si guiar a outros, serão um meio de desviá-los. Mas eu vi que alguns que antes penetraram fundo no fanatismo seriam os primeiros agora a correr sem que Deus os mandasse, antes de se haverem purificado de seus passados erros. Tendo o erro misturado com a verdade, com isto alimentariam o rebanho de Deus, e se lhes fosse permitido prosseguir, o rebanho ficaria debilitado e confusão e morte se seguiriam. Vi que esses teriam de ser peneirados e peneirados até ficarem livres de todos os seus erros, ou jamais entrariam no reino. Os mensageiros não podiam ter no juízo e discernimento daqueles que têm estado em erros e fanatismo, a confiança que podem depositar nos que têm estado na verdade e não em erros extravagantes. Muitos igualmente são demasiado afoitos em impelir para os campos alguns que apenas acabam de professar a verdade presente, e que teriam muito que aprender e muito que fazer antes que possam eles próprios estar em ordem à vista de Deus, muito menos portanto apontar o caminho a outros. PE 63 1 Vi a necessidade dos mensageiros, especialmente, vigiar e conter todo fanatismo onde quer que o vejam surgir. Satanás está fazendo pressão por todos os lados, e a menos que o vigiemos e tenhamos os olhos abertos para os seus enganos e laços, lançando nós mão de toda armadura de Deus, os dardos inflamados do maligno nos atingirão. Há muitas verdades preciosas contidas na Palavra de Deus, mas é a "verdade presente" que o rebanho necessita agora. Tenho visto o perigo de os mensageiros se afastarem dos importantes pontos da verdade presente, para se demorarem em assuntos que não são de molde a unir o rebanho e santificar a alma. Satanás tirará disto toda vantagem possível para prejudicar a Causa. PE 63 2 Mas assuntos como o santuário, em conexão com os 2.300 dias, os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, são perfeitamente apropriados para esclarecer o passado movimento adventista e mostrar qual é nossa presente posição, estabelecer a fé do vacilante e dar a certeza do glorioso futuro. Esses, tenho freqüentemente visto, são os principais assuntos sobre que os mensageiros se devem demorar. PE 63 3 Se os escolhidos mensageiros do Senhor tivessem de esperar que cada obstáculo fosse removido do seu caminho, muitos jamais sairiam a procura da ovelha extraviada. Satanás apresentaria muitas objeções a fim de afastá-los do dever. Mas eles terão de ir pela fé, confiando nAquele que os chamou para a Sua obra, e Ele abrirá o caminho diante deles até onde for para o bem deles e glória Sua. Jesus, o grande Mestre e Modelo, não tinha onde reclinar a cabeça. Sua vida foi uma vida de trabalhos, tristeza e sofrimento; e afinal Ele Se deu por nós. Aqueles que, no lugar de Cristo, procuram que as almas se reconciliem com Deus, e que esperam reinar com Cristo em glória, têm que esperar ser participantes dos Seus sofrimentos aqui. "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes." Salmos 126:5, 6. ------------------------Capítulo 14 -- O sinal da besta PE 64 1 Numa visão dada em 27 de Junho de 1850, meu anjo acompanhante disse: "O tempo está quase terminado. Refletis, como deveis, a amorável imagem de Jesus?" Foi-me indicada então a Terra e vi que tinha de haver uma preparação da parte daqueles que nos últimos tempos abraçaram a terceira mensagem angélica. Disse o anjo: "Preparai-vos, preparai-vos, preparai-vos. Tereis de experimentar uma morte para o mundo, maior do que jamais experimentastes antes." Vi que havia grande obra a ser feita por eles e pouco tempo para fazê-la. PE 64 2 Vi então que as sete últimas pragas deviam ser logo derramadas sobre os que não têm abrigo; no entanto o mundo se referia a elas como se não fossem mais que gotas de água que estivessem para cair. Fui então capacitada a enfrentar a terrível visão das sete últimas pragas da ira de Deus. Vi que Sua ira era tremenda e terrível, e que se Ele estendesse a Sua mão ou a levantasse em ira, os habitantes do mundo seriam como se nunca tivessem existido, ou padeceriam de incuráveis chagas e fulminantes pragas que sobre eles viriam, e não encontrariam livramento, mas seriam destruídos por elas. O terror se apossou de mim, e eu caí sobre o meu rosto diante do anjo e supliquei-lhe fosse a visão removida, que a afastasse de mim, pois era demasiado horrível. Então compreendi, como nunca dantes, a importância de investigar cuidadosamente a Palavra de Deus, para saber como escapar às pragas que a Palavra de Deus declara virão sobre todos os ímpios que adorarem a besta e sua imagem e receberem o seu sinal em suas testas ou em suas mãos. Surpreendi-me grandemente de que alguém transgredisse a lei de Deus e pisasse o Seu santo sábado, quando tão terríveis ameaças e advertências estavam contra eles. PE 65 1 O papa mudou o dia de repouso do sétimo para o primeiro dia da semana. Ele imaginou mudar o próprio mandamento que foi dado para levar o homem a lembrar-se do seu Criador. Pensou mudar o maior mandamento do decálogo e assim fazer-se igual a Deus, ou mesmo exaltar-se acima de Deus. O Senhor é imutável, logo Sua lei é imutável; mas o papa exaltou-se acima de Deus ao procurar mudar Seus imutáveis preceitos de santidade, justiça e bondade. Ele tem tripudiado sobre o dia santificado de Deus, e, em sua própria autoridade, pôs em seu lugar um dos seis dias de trabalho. A nação inteira tem seguido após a besta, e cada semana rouba a Deus de seu santo tempo. O papa fez uma brecha na santa lei de Deus, mas eu vi que havia chegado o tempo para o povo de Deus fechar essa brecha e edificar os lugares assolados. PE 65 2 Supliquei diante do anjo para que Deus salvasse o Seu povo que se havia desviado, que o salvasse por amor de Sua graça. Quando as pragas começarem a cair, os que continuarem a transgredir o santo sábado não abrirão a boca para apresentar aquelas escusas que agora fazem para se considerarem livres de guardá-lo. Suas bocas estarão fechadas enquanto as pragas estão caindo e o grande Legislador reclamando justiça contra os que têm tido a Sua santa lei em desprezo e a têm considerado "uma maldição para o homem", "lastimável", e "sem solidez". Quando sentirem os grilhões desta lei acorrentando-os, essas expressões aparecerão diante deles em caracteres vivos, e eles compreenderão o pecado de haverem desprezado esta lei, a qual a Palavra de Deus chama de "santa, justa e boa". PE 66 1 Minha atenção foi então dirigida para a glória do Céu, para os tesouros acumulados para os fiéis. Tudo era amável e glorioso. Os anjos cantavam um cântico maravilhoso, depois paravam de cantar, tiravam as coroas de suas cabeças e as lançavam rutilantes aos pés do adorável Jesus, e com vozes melodiosas clamavam: "Glória, Aleluia!" Uni-me a eles em seus cânticos de louvor e honra ao Cordeiro, e toda a vez que eu abria a boca para louvá-Lo, experimentava um indizível senso de glória que me circundava. Era um eterno peso de glória mui excelente. Disse o anjo: "O pequeno remanescente que ama a Deus e guarda os Seus mandamentos e o que ficar fiel até o fim desfrutará esta glória e estará para sempre na presença de Jesus e cantará com os santos anjos." PE 66 2 Então os meus olhos foram afastados da glória e foi-me indicado o remanescente na Terra. Disse-lhes o anjo: "Quereis escapar às sete últimas pragas? Quereis ir para a glória e desfrutar tudo que Deus tem preparado para os que O amam e estão dispostos a sofrer por Seu amor? Então tereis de morrer para que possais viver. Preparai-vos, preparai-vos, preparai-vos. Precisais ter maior preparo do que até agora, pois o dia do Senhor vem, terrível tanto em ira como em vingança, para desolar a Terra e destruir dela os pecadores. Sacrificai tudo a Deus. Deponde tudo sobre o Seu altar -- o eu, a propriedade e tudo o mais -- como um sacrifício vivo. Tudo é reclamado para entrar na glória. Acumulai para vós um tesouro no Céu, onde nem os ladrões roubam nem a ferrugem consome. Tereis de ser participantes dos sofrimentos de Cristo aqui, se esperais participar com Ele de Sua glória no além." PE 67 1 O Céu terá sido barato se o obtivermos através do sofrimento. Precisamos negar o eu ao longo de todo o caminho, morrer para o eu diariamente, deixar que somente Jesus apareça e ter em vista continuamente a Sua glória. Vi que os que ultimamente têm abraçado a verdade terão que aprender o que é sofrer por amor de Cristo, que terão provas a suportar, provas que serão agudas e cortantes, a fim de que sejam purificados e pelo sofrimento capacitados a receber o selo do Deus vivo, a passar pelo tempo de angústia, ver o Rei em Sua formosura e estar na presença de Deus e de anjos santos, puros. PE 67 2 Ao ver o que precisamos ser para herdar a glória, e quanto Jesus havia sofrido para alcançar para nós tão rica herança, orei para que fôssemos batizados nos sofrimentos de Cristo, a fim de não recuarmos nas provas, mas sofrê-las com paciência e gozo, sabendo o que Jesus havia sofrido, para que por Sua pobreza e sofrimento fôssemos enriquecidos. Disse o anjo: "Negai-vos; precisais caminhar depressa." Alguns de nós têm tido tempo de possuir a verdade e progredir passo a passo, e cada passo dado tem-nos propiciado força para o seguinte. Mas agora o tempo está quase findo, e o que durante anos temos estado aprendendo, eles terão de aprender em poucos meses. Terão também muito que desaprender e muito que tornar a aprender. Os que não receberam o sinal da besta e da sua imagem quando sair o decreto, terão que estar decididos a dizer agora: Não, não mostraremos estima pela instituição da besta. ------------------------Capítulo 15 -- Cego guiando cego PE 68 1 Tenho visto como guias cegos estiveram trabalhando para tornar as almas tão cegas quanto eles mesmos, pouco percebendo o que está para sobrevir-lhes. Estão se exaltando a si mesmos contra a verdade, e quando esta triunfa, muitos que têm estado a olhar para esses mestres como homens de Deus, e deles têm buscado luz, ficam confundidos. Indagam desses líderes com relação ao sábado, e estes, com o propósito de se livrarem do quarto mandamento, lhes respondem nesse sentido. Vi que a verdadeira honestidade não era levada em conta ao se adotarem as inúmeras posições que foram adotadas contra o sábado. O principal objetivo é contornar o sábado do Senhor e observar outro dia que não o abençoado e santificado por Jeová. Se são expelidos de uma posição, adotam posição oposta, mesmo que seja uma posição que havia pouco condenavam como inadequada. PE 68 2 O povo de Deus está chegando à unidade da fé. Os que observam o sábado da Bíblia estão unidos em seus pontos de vista da verdade bíblica. Mas os que se opõem ao sábado entre o povo do advento estão desunidos e estranhamente divididos. Um se levanta em oposição ao sábado, e declara ser assim e assado, e ao concluir afirma que a questão está solucionada. Mas como em seus esforços não pôs fim à questão, e como a causa do sábado progride e os filhos de Deus ainda o abraçam, outro se levanta para derrocá-lo. Mas ao apresentar os seus pontos de vista para evitar o sábado, põem completamente abaixo os argumentos do anterior que se esforçara contra a verdade, e apresenta uma teoria tão oposta às suas como às nossas. Assim é com o terceiro e o quarto: mas nenhum deles terá a questão como se apresenta na Palavra de Deus: "O sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus." PE 69 1 Essas pessoas, eu vi, têm a mente carnal, pois não estão sujeitas à lei de Deus. Não concordam entre si, no entanto trabalham com persistência com suas deduções para torcer as Escrituras e abrir uma brecha na lei de Deus, a fim de mudar, abolir ou fazer qualquer coisa com o quarto mandamento, exceto observá-lo. Eles desejam silenciar o rebanho sobre esta questão; assim procuram suscitar alguma coisa com a esperança de que se aquietem e de que muitos dos seus seguidores investiguem a Bíblia tão pouco que seus líderes possam facilmente fazer que o erro pareça verdade, e como tal o recebam, não procurando olhar mais alto que os seus líderes. ------------------------Capítulo 16 -- Preparação para o fim PE 69 2 A 7 de Setembro de 1850, em Oswego, Nova Iorque, o Senhor me mostrou que grande obra devia ser feita por Seu povo antes que este estivesse em condições de estar em pé para a batalha no dia do Senhor. Minha atenção foi dirigida para aqueles que se declaram adventistas, mas rejeitam a verdade presente, e vi que se estavam fragmentando e que a mão do Senhor estava em seu meio para dividi-los e espalhá-los agora no tempo do ajuntamento, de maneira que as jóias preciosas entre eles, que anteriormente tinham sido enganadas, tenham os seus olhos abertos e vejam o seu verdadeiro estado. E agora quando a verdade é-lhes apresentada pelos mensageiros do Senhor, estão preparados para ouvi-la e ver sua beleza e harmonia, e deixar suas relações e erros anteriores, abraçar a preciosa verdade e permanecer onde possa definir sua posição. PE 69 3 Vi que os que se opõem ao sábado do Senhor não podiam tomar a Bíblia e mostrar que sua posição é correta; portanto difamariam os que crêem e ensinam a verdade e atacariam o seu caráter. Muitos que foram uma vez conscienciosos e amaram a Deus e Sua Palavra têm-se tornado tão endurecidos pela rejeição da luz da verdade que não hesitam em impiamente desfigurar e falsamente acusar os que amam o santo sábado, desde que assim fazendo possam anular a influência dos que destemidamente afirmam a verdade. Mas essas coisas não impedirão a obra de Deus. Na verdade, esta conduta seguida pelos que odeiam a verdade será precisamente o meio de abrir os olhos de alguns. Cada jóia será separada e reunida, pois a mão do Senhor está estendida para reaver o remanescente de Seu povo, e Ele completará a obra gloriosamente. PE 70 1 Nós que cremos na verdade devemos ser muito cuidadosos para não dar ocasião de falarem mal de nossas virtudes. Devemos ter certeza de que todo passo que dermos esteja de conformidade com a Bíblia, pois aqueles que odeiam os mandamentos de Deus triunfarão sobre nossos erros e faltas, como o fizeram os ímpios em 1843. PE 70 2 A 14 de Maio de 1851, vi a beleza e formosura de Jesus. Contemplando Sua glória, não me ocorreu o pensamento de que eu devesse separar-me de Sua presença. Vi uma luz provinda da glória que rodeava o Pai, e ao aproximar-se ela de mim, meu corpo tremeu e agitou-se como uma folha. Pensei que, se ela se aproximasse de mim, eu deixaria de existir; mas a luz passou por mim. Então pude ter alguma percepção do grande e terrível Deus com que temos de tratar. Podia ver agora que vaga compreensão alguns têm da santidade de Deus, e quanto tomam em vão o Seu santo e reverendo nome, sem se compenetrarem de que é de Deus, o grande e terrível Deus, que estão falando. Ao orarem, muitos usam expressões descuidosas e irreverentes, que ofendem o terno Espírito do Senhor, e fazem com que suas petições não cheguem ao Céu. PE 71 1 Vi também que muitos não compreendem o que devem ser a fim de viverem à vista do Senhor sem um sumo sacerdote no santuário, durante o tempo de angústia. Os que hão de receber o selo do Deus vivo, e ser protegidos, no tempo de angústia, devem refletir completamente a imagem de Jesus. PE 71 2 Vi que muitos negligenciavam a preparação tão necessária, esperando que o tempo do "refrigério" e da "chuva serôdia" os habilitasse para estar em pé no dia do Senhor, e viver à Sua vista. Oh! quantos vi eu no tempo de angústia sem abrigo! Haviam negligenciado a necessária preparação, e portanto não podiam receber o refrigério que todos precisam ter para os habilitar a viver à vista de um Deus santo. Os que recusam ser talhados pelos profetas, e deixam de purificar a alma na obediência da verdade toda, e se dispõe a crer que seu estado é muito melhor do que realmente é, chegarão ao tempo em que as pragas cairão, e hão de ver então que necessitam ser talhados e lavrados para o edifício. Não haverá, porém, tempo para o fazer, e nem Mediador para pleitear sua causa perante o Pai. Antes deste tempo sairá a declaração terrivelmente solene de que: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Vi que ninguém poderia participar do "refrigério" a menos que obtivesse a vitória sobre toda tentação, orgulho, egoísmo, amor ao mundo, e sobre toda má palavra e ação. Deveríamos, portanto, estar-nos aproximando mais e mais do Senhor, e achar-nos fervorosamente à procura daquela preparação necessária para nos habilitar a estar em pé na batalha do dia do Senhor. Lembrem todos que Deus é santo, e que unicamente entes santos poderão morar em Sua presença. ------------------------Capítulo 17 -- Oração e fé PE 72 1 Tenho visto freqüentemente que os filhos do Senhor negligenciam a oração, especialmente a oração secreta, e isto muito; que muitos não exercem aquela fé que têm o privilégio e o dever de exercer, esperando muitas vezes receber aquele sentir que unicamente a fé pode trazer. Sentimento não é fé; ambos são coisas distintas. Toca a nós exercitar a fé; mas aquele sentimento de gozo e as bênçãos, Deus é quem os dá. A graça de Deus vem à alma pelo conduto da fé viva, e está ao nosso alcance exercitar semelhante fé. PE 72 2 A verdadeira fé apreende e reclama a bênção prometida, antes que esta se realize e a experimentemos. Devemos, pela fé, enviar nossas petições para dentro do segundo véu, e fazer com que nossa fé se apodere da bênção prometida e a reclame como sendo nossa. Devemos então crer que recebemos a bênção, porque nossa fé se apoderou dela, e segundo a Palavra, é nossa. "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco." Marcos 11:24. Isto é fé, e fé pura; o crer que recebemos a bênção, mesmo antes que a vejamos. Quando a bênção prometida se realiza, e é fruída, cessa a fé. Muitos supõem, todavia, que têm muita fé quando participam amplamente do Espírito Santo, e que não podem ter fé a menos que sintam o poder do Espírito. Tais pessoas confundem a fé com as bênçãos que a acompanham. O tempo em que propriamente deveríamos exercer a fé é aquele em que nos sentimos privados do Espírito. Quando densas nuvens de trevas parecem pairar sobre o espírito, é ocasião para fazer com que a fé viva penetre as trevas e disperse as nuvens. A verdadeira fé baseia-se nas promessas contidas na Palavra de Deus, e apenas aqueles que obedecem a essa Palavra podem reclamar suas gloriosas promessas. "Se permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito." João 15:7. "E aquilo que pedimos, dEle recebemos, porque guardamos os Seus mandamentos, e fazemos diante dEle o que Lhe é agradável." 1 João 3:22. PE 73 1 Deveríamos empregar muito tempo em oração particular. Cristo é a videira e nós as varas. E se desejamos crescer e florescer, devemos continuamente tirar seiva e nutrição da Videira viva; pois, separados da Videira, não temos forças. PE 73 2 Perguntei ao anjo por que não havia mais fé e poder em Israel. Disse ele: "Largais muito depressa o braço do Senhor. Enviai insistentemente vossas petições ao trono, e persisti nelas com fé firme. As promessas são certas. Crede que recebeis as coisas que pedis, e tê-las-eis." Foi-me então chamada a atenção para Elias. Ele era sujeito a paixões idênticas às nossas, e orou fervorosamente. Sua fé resistiu à prova. Sete vezes orou perante o Senhor, e finalmente viu a nuvenzinha. Vi que havíamos duvidado das seguras promessas, e ofendido o Salvador pela nossa falta de fé. Disse o anjo: "Cingi a armadura, e sobretudo tomai o escudo da fé; pois isto resguardará o coração, a própria vida, dos dardos inflamados do maligno." Se o inimigo puder levar os desanimados a desviar de Jesus os olhos, a olhar para si mesmos e ocupar-se com sua própria indignidade, em vez de considerar a dignidade de Jesus, Seu amor, Seus méritos e Sua grande misericórdia, ele lhes tirará o escudo da fé e alcançará seu objetivo; e eles ficarão expostos às suas terríveis tentações. Os fracos, portanto, deverão olhar para Jesus, e crer nEle. Então exercitarão a fé. ------------------------Capítulo 18 -- O tempo do ajuntamento PE 74 1 No dia 23 de Setembro, o Senhor mostrou-me que Ele havia estendido a Sua mão pela segunda vez para reaver o remanescente do Seu povo,1 e que se deviam fazer esforços redobrados neste tempo do ajuntamento. Na dispersão, Israel fora castigado e maltratado, mas agora no tempo do ajuntamento, Deus sarará o Seu povo e o unirá. Na dispersão fizeram-se esforços para espalhar a verdade com pouco êxito, pouco ou nada tendo sido conseguido; mas no ajuntamento, quando Deus coloca a Sua mão para readquirir o Seu povo, esforços para disseminar a verdade terão o seu esperado efeito. Todos devem estar unidos e cheios de zelo na obra. Vi que era errado se referirem alguns à dispersão, daí tirando exemplos para nos governar no ajuntamento; pois se Deus não fizesse mais por nós agora do que fez então, Israel jamais seria ajuntado. Tenho visto que o diagrama de 1843 foi dirigido pela mão do Senhor, e que ele não deve ser alterado; que as figurações eram o que Ele desejava que fossem, e que Sua mão estava presente e ocultou um engano em alguma figuração, de maneira que ninguém pudesse vê-lo, até que Sua mão fosse removida.2 PE 74 2 Vi então em relação ao "contínuo" (Daniel 8:12), que a palavra "sacrifício" foi suprida pela sabedoria humana, e não pertence ao texto, e que o Senhor deu a visão correta àqueles a quem deu o clamor da hora do juízo. Quando houve união, antes de 1844, quase todos eram unânimes quanto à maneira correta de se entender o "contínuo"; mas na confusão desde 1844, outras opiniões têm sido abrigadas, seguindo-se trevas e confusão. O tempo não tem sido um teste desde 1844, e nunca mais o será. PE 75 1 O Senhor me tem mostrado que a mensagem do terceiro anjo deve ir, e ser proclamada aos dispersos filhos do Senhor, mas não deve estar na dependência do tempo. Vi que alguns estavam conseguindo um falso excitamento, despertado por pregarem tempo; mas a mensagem do terceiro anjo é mais forte do que o tempo possa ser. Vi que esta mensagem pode sustentar o seu próprio fundamento e não necessita de tempo para fortalecê-la; e que ela irá em grande poder e fará a sua obra, e será abreviada em justiça. PE 75 2 Foram-me indicados então alguns que estão em grande erro de crer que é seu dever ir à antiga Jerusalém, entendendo que têm uma obra a fazer ali antes que o Senhor venha. Tal opinião é de molde a afastar a mente e o interesse da presente obra do Senhor, sob a mensagem do terceiro anjo, pois os que pensam que devem não obstante ir a velha Jerusalém terão sua mente posta ali, e os seus recursos serão tirados da causa da verdade presente para permitir a eles e outros estar ali. Vi que tal missão não realizaria nenhum bem real, que levaria um bom espaço de tempo para levar alguns judeus a se tornarem crentes mesmo na primeira vinda de Cristo, quanto mais no Seu segundo advento. Vi que Satanás havia enganado sobremodo alguns neste ponto e que as almas a todo redor deles, neste país, poderiam ser ajudadas por eles e levadas a guardar os mandamentos de Deus, mas foram, deixando-as perecer. Vi também que a velha Jerusalém jamais seria reconstruída, e que Satanás estava fazendo o máximo para levar a mente dos filhos do Senhor para essas coisas agora, no tempo do ajuntamento, impedindo-os de dedicar todo o seu interesse à presente obra do Senhor, levando-os assim a negligenciarem a necessária preparação para o dia do Senhor. PE 76 1 Prezado Leitor: O senso do dever para com meus irmãos e minhas irmãs e o desejo de que o sangue das almas não seja encontrado em meus vestidos, impelem-me a escrever esta pequena obra. Estou ciente da incredulidade existente no espírito das multidões com respeito às visões, como também de que muitos que professam estar aguardando a Cristo e ensinam que estamos vivendo "nos últimos dias" consideram-nas como vindas de Satanás. Desses espero muita oposição, e não tivesse eu sentido que o Senhor requereu isto de mim, não teria tornado públicas as minhas visões, dado que elas provavelmente atrairão o ódio e o escárnio de alguns. Mas eu temo a Deus mais que ao homem. PE 76 2 Quando o Senhor no início me deu mensagens para levar ao Seu povo, foi-me difícil apresentar-lhas, e muitas vezes eu as amenizei e as tornei mais suaves pelo temor de ferir a alguém. Foi uma grande prova declarar-lhes as mensagens como o Senhor mas entregou. Eu não compreendia que estava sendo infiel e não via o pecado e o perigo de tal procedimento até que fui levada em visão à presença de Jesus. Ele me olhou com o cenho carregado e desviou de mim o Seu rosto. Não é possível descrever o terror e agonia que senti. Caí sobre o meu rosto diante dEle, mas não tive força para proferir uma só palavra. Oh! como ansiei ser coberta e ocultada daquela fronte severa! Pude então compreender um pouco de como se sentirão os perdidos ao clamarem aos montes e às rochas: "Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que Se assenta no trono, e da ira do Cordeiro." PE 76 3 Nesta ocasião um anjo mandou-me levantar, e o quadro que meus olhos enfrentaram dificilmente poderá ser descrito. Um grupo foi apresentado diante de mim, cujos cabelos e vestes estavam em desalinho e rasgados e cujos rostos eram o quadro do desespero e do horror. Eles se aproximaram de mim, tiraram as suas vestes e as esfregaram nas minhas. Olhei as minhas vestes e vi que estavam manchadas de sangue, e esse sangue abria nelas buracos. De novo caí como morta aos pés do meu anjo assistente. Eu não podia articular nenhuma escusa. Minha língua recusava toda palavra, e eu desejei ser afastada de tão santo lugar. De novo o anjo ergueu-me e disse: "Este não é o teu caso agora, mas esta cena foi apresentada diante de ti, para que saibas qual será a tua situação se negligenciares declarar aos outros o que o Senhor te tem revelado. Mas se fores fiel até o fim, comerás da árvore da vida e beberás do rio da água da vida. Terás que sofrer muito, mas a graça de Deus é suficiente." Senti-me então disposta a fazer tudo que o Senhor requeresse de mim, a fim de ter a Sua aprovação, e não experimentar o Seu cenho severo. PE 77 1 Freqüentemente tenho sido falsamente acusada de ensinar pontos de vista peculiares ao espiritismo. Mas antes que o redator do Day-Star incorresse nesse engano, o Senhor me deu uma visão dos tristes e desoladores efeitos que se produziriam sobre o rebanho pelo fato de ele e outros ensinarem idéias espíritas. Tenho visto muitas vezes o amorável Jesus, que é uma pessoa. Perguntei-Lhe se Seu Pai era uma pessoa e tinha a mesma forma que Ele. Disse Jesus: "Eu sou a expressa imagem da pessoa de Meu Pai." PE 77 2 Tenho muitas vezes visto que o ponto de vista do espiritismo afasta toda a glória do Céu, e que em muitas mentes o trono de Davi e a amorável pessoa de Jesus têm sido queimados no fogo do espiritismo. Tenho visto que alguns que têm sido enganados e conduzidos a este erro, serão levados para a luz da verdade, mas ser-lhes-á quase impossível se libertarem inteiramente do poder enganador do espiritismo. Tais pessoas devem fazer uma obra integral confessando os seus erros e abandonando-os para sempre. PE 78 1 Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos "últimos dias"; não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica. Assim tratou Deus com Pedro, quando estava para enviá-lo a pregar aos gentios. Atos dos Apóstolos 10. PE 78 2 Àqueles que puderem fazer circular esta pequena obra, eu diria que ela se destina apenas aos sinceros e não aos que ridicularizariam as coisas do Espírito de Deus. ------------------------Capítulo 19 -- Os sonhos da Sra. White PE 78 3 Sonhei que via um templo em que muitas pessoas se estavam reunindo. Apenas os que se refugiassem naquele templo seriam salvos quando terminasse o tempo; todos os que ficassem fora estariam para sempre perdidos. A multidão que se achava fora e que prosseguia com seus vários interesses, caçoava e ridicularizava os que estavam entrando no templo, e dizia-lhes que esse meio de segurança era um sagaz engano e que, de fato, não havia perigo algum para se evitar. Chegaram a lançar mãos de alguns para impedir-lhes a entrada. PE 78 4 Receosa de ser escarnecida, achei melhor esperar até que a multidão se dispersasse ou até que eu pudesse entrar sem ser observada por eles. Mas o número aumentava em vez de diminuir, e, receando ficar muito atrasada, saí apressadamente de casa e atravessei a multidão. Na minha ansiedade por atingir o templo não notava a multidão que me cercava nem com ela me ocupava. Entrando no edifício, vi que o vasto templo era apoiado por uma imensa coluna, e a esta se achava amarrado um cordeiro todo ferido e ensangüentado. Nós que nos achávamos presentes parecíamos saber que esse cordeiro fora lacerado e ferido por nossa causa. Todos os que entravam no templo deveriam ir diante dele e confessar seus pecados. PE 79 1 Exatamente diante do cordeiro estavam assentos elevados, sobre os quais sentava-se um grupo de pessoas que pareciam muito felizes. A luz celeste parecia resplandecer-lhes no rosto, e louvavam a Deus e entoavam alegres cânticos de ação de graças que se assemelhavam à música dos anjos. Esses eram os que se haviam prostrado diante do Cordeiro, confessado seus pecados, recebido perdão, e agora, em alegre expectativa, aguardavam algum acontecimento feliz. PE 79 2 Mesmo depois que entrei no edifício, sobreveio-me um receio, e uma sensação de vergonha de que eu devesse humilhar-me diante daquele povo; mas eu parecia ser compelida a ir para a frente, e vagarosamente caminhei em redor da coluna a fim de defrontar-me com o cordeiro, quando uma trombeta soou, o templo foi abalado, brados de triunfo se levantaram dos santos reunidos, e um intenso fulgor iluminou o edifício: então tudo passou a ser trevas intensas. Toda aquela gente feliz desaparecera com o fulgor, e fui deixada só no silencioso terror da noite. PE 79 3 Despertei em agonia de espírito, e dificilmente pude convencer-me de que estivera a sonhar. Parecia-me que minha sorte estava fixada; que o espírito do Senhor me havia abandonado para não mais voltar. PE 79 4 Logo depois disto tive outro sonho. Parecia-me estar sentada em desespero aterrador, com as mãos no rosto, refletindo assim: Se Jesus estivesse na Terra, eu iria a Ele, lançar-me-ia a Seus pés, e contar-Lhe-ia todos os meus sofrimentos. Ele não Se desviaria de mim; teria de mim misericórdia, e eu O amaria e serviria sempre. Exatamente nesse momento se abriu a porta, e entrou uma pessoa de belo porte e semblante. Olhou para mim compassivamente e disse: "Desejas ver a Jesus? Ele aqui está, e podes vê-Lo se o desejas. Toma tudo que possuis e segue-me." PE 80 1 Ouvi isso com indizível alegria, e contentemente ajuntei todas as minhas pequenas posses, e toda ninharia que como tesouro eu guardava, e segui a meu guia. Ele me conduziu a uma escada íngreme e aparentemente frágil. Começando a subir os degraus, aconselhou-me a conservar o olhar fixo para cima a fim de que não me atordoasse e caísse. Muitos outros que estavam fazendo essa íngreme ascensão caíam antes de galgar o cimo. PE 80 2 Finalmente atingimos o último degrau e paramos diante de uma porta. Ali meu guia me informou que eu devia deixar todas as coisas que trouxera. Alegremente as depus. Então ele abriu a porta e mandou-me entrar. Em um instante me achei diante de Jesus. Não havia errar quanto àquele belo semblante; aquela expressão de benevolência e majestade não poderia pertencer a nenhum outro. Quando Seu olhar pousou sobre mim, vi logo que Ele estava familiarizado com todos os acontecimentos de minha vida e todos os meus íntimos pensamentos e sentimentos. PE 80 3 Procurei furtar-me ao Seu olhar, sentindo-me incapaz de suportá-lo por ser tão penetrante; Ele, porém, Se aproximou com um sorriso, e, pondo a mão sobre minha cabeça, disse: "Não temas." O som de Sua doce voz agitou-me o coração com uma felicidade que nunca dantes experimentara. Eu estava alegre demais para poder proferir uma palavra, e, vencida pela emoção, caí prostrada a Seus pés. Enquanto ali jazia inerte, cenas de beleza e glória passaram diante de mim, e parecia-me ter alcançado a segurança e paz do Céu. Finalmente recuperei as forças, e levantei-me. O olhar amorável de Jesus ainda estava sobre mim, e Seu sorriso me enchia de alegria a alma. Sua presença despertou em mim uma santa reverência e um amor inexprimível. PE 81 1 Meu guia abriu então a porta, e nós ambos saímos. Mandou-me tomar de novo todas as coisas que havia deixado fora. Isto feito, entregou-me um fio verde muito bem enovelado. Este ele me disse que colocasse perto do coração, e quando quisesse ver a Jesus, que o tirasse do seio e o estirasse inteiramente. Preveniu-me de que o não deixasse ficar enrolado durante muito tempo, para que não se embaraçasse e fosse difícil desemaranhar. Coloquei o fio junto ao coração, e cheia de alegria desci a estreita escada, louvando ao Senhor, e dizendo a todos com quem me encontrava onde poderiam encontrar Jesus. Este sonho deu-me esperança. O fio verde representava ao meu espírito a fé; e a beleza e simplicidade de confiar em Deus me começaram a raiar na alma. ------------------------Capítulo 20 -- O sonho de Guilherme Miller PE 81 2 Sonhei que Deus, por uma mão invisível, enviou-me um cofrezinho admiravelmente trabalhado, cujo tamanho era de mais ou menos 15 cm de comprimento por 25 cm de largura, feito de ébano e curiosamente marchetado de pérolas. Presa ao pequeno cofre havia uma chave. Imediatamente tomei a chave e abri o cofre quando, para minha surpresa, encontrei-o cheio de jóias de toda espécie e tamanho, diamantes, pedras preciosas e moedas de prata e ouro e de todo tamanho e valor, lindamente arranjadas em seus diferentes lugares no cofre; e assim arranjadas elas refletiam luz e glória só igualadas pelo Sol. PE 81 3 Achei que eu não devia desfrutar esta maravilhosa visão sozinho, embora o meu coração estivesse mais que jubiloso ante o brilho, beleza e valor do seu conteúdo. Assim coloquei-o em uma mesa de centro, em minha sala, e anunciei que todos os que tivessem vontade podiam vir e contemplar a mais gloriosa e fulgurante visão nunca dantes vista pelo homem nesta vida. PE 82 1 O povo começou a entrar, de início poucos em número, mas aumentou até tornar-se uma multidão. Quando no princípio olharam para dentro do cofre, exclamaram de gozo. Mas quando os espectadores aumentaram, cada um começou a mexer nas jóias, tirando-as do cofre e espalhando-as na mesa. PE 82 2 Comecei a pensar que o dono reclamaria outra vez o cofre e as jóias de minhas mãos; e se eu permitisse que fossem espalhadas, jamais conseguiria colocá-las de novo em seus lugares no cofre como estavam antes; e senti que eu nunca poderia fazer face ao custo, pois seria imenso. Comecei então a apelar ao povo para que não as manuseasse, não as tirasse do cofre; mas quanto mais eu pedia, mais as espalhavam; e agora pareciam espalhá-las todas sobre o assoalho, pelo piso e sobre toda peça de mobiliário na sala. PE 82 3 Vi então que entre as pedras genuínas e moedas, eles haviam espalhado uma quantidade inumerável de jóias espúrias e moedas falsas. Senti-me profundamente revoltado com seu baixo procedimento e ingratidão, e reprovei-os e censurei-os por isso; mas quanto mais eu os reprovava, mais eles espalhavam as jóias espúrias e as moedas falsas entre as genuínas. PE 82 4 Fiquei de ânimo revoltado e comecei a usar a força física para expulsá-los do aposento; mas enquanto eu estava empurrando um para fora, três entravam e traziam para dentro sujeira, cisco, areia e toda espécie de lixo, até que cobriram cada uma das verdadeiras jóias, diamantes e moedas, ficando tudo fora de vista. Partiram também em pedaços o meu cofre e espalharam-no entre o lixo. Pensei que homem algum se incomodava com minha tristeza ou minha ira. Fiquei inteiramente desanimado e descoroçoado, e assentei-me e chorei. PE 83 1 Enquanto eu estava assim chorando e lamentando a minha grande perda e responsabilidade, lembrei-me de Deus, e ferventemente orei para que Ele me enviasse auxílio. PE 83 2 Imediatamente a porta se abriu e um homem entrou na sala, quando todas as pessoas se haviam retirado; e esse homem, tendo na mão uma vassoura, abriu as janelas, começando a varrer a sujeira e o lixo da sala. PE 83 3 Pedi-lhe que desistisse, pois havia algumas jóias preciosas espalhadas entre o lixo. PE 83 4 Disse-me ele para "não temer", pois "tomaria cuidado delas". PE 83 5 Então, enquanto ele varria o lixo e a sujidade, jóias e moedas falsas, tudo saiu pela janela como uma nuvem, sendo levados pelo vento para longe. Na azáfama eu fechei os olhos por um momento; quando os abri o lixo tinha desaparecido. As jóias preciosas, os diamantes, as moedas de ouro e de prata, jaziam espalhadas em profusão por todo o recinto. PE 83 6 Ele colocou então sobre a mesa um cofre, muito maior e mais belo que o anterior, e ajuntou as jóias, os diamantes, as moedas, a mancheias, e lançou-as dentro do cofre, até não ficar uma só, embora alguns dos diamantes não fossem maiores que a ponta de um alfinete. PE 83 7 Então ele me chamou: "Vem e vê." PE 83 8 Olhei para dentro do cofre, mas os meus olhos estavam deslumbrados com a visão. Elas brilhavam com glória dez vezes maior que a anterior. Pensei que tivessem sido esfregadas contra a areia pelos pés das pessoas ímpias que as haviam espalhado e sobre elas pisado contra a poeira. Elas estavam arrumadas em bela ordem no cofre, cada uma no seu devido lugar, sem qualquer visível esforço da parte do homem que as pusera ali. Soltei uma exclamação de verdadeiro gozo, e esse grito despertou-me. ------------------------Capítulo 21 -- Explanação PE 85 1 Queridos Amigos Cristãos: Como apresentei um breve esboço de minhas experiências e visões, publicado em 1851, parece ser meu dever ressaltar alguns pontos dessa pequena obra, tendo em vista também dar as visões mais recentes. PE 85 2 1. Na página 33 é dito o seguinte: "Vi que o santo sábado é, e será o muro de separação entre o verdadeiro Israel de Deus e os incrédulos, e que o sábado é o grande fator que une os corações dos queridos de Deus, os expectantes santos." Vi que Deus tinha filhos que não reconheciam o sábado e não o guardavam. Eles não haviam rejeitado a luz sobre este ponto. E ao início do tempo de angústia fomos cheios do Espírito Santo ao sairmos para proclamar o sábado mais amplamente." PE 85 3 Esta visão foi dada em 1847, quando havia apenas poucos dentre os irmãos do advento observando o sábado, e desses somente uns poucos supunham que sua observância era de suficiente importância para constituir uma linha de separação entre o povo de Deus e os incrédulos. Agora o cumprimento desta visão está começando a ser visto. O "início do tempo de angústia" ali mencionado, não se refere ao tempo em que as pragas começarão a ser derramadas, mas a um breve período, pouco antes, enquanto Cristo está no santuário. Nesse tempo, enquanto a obra de salvação está se encerrando, tribulações virão sobre a Terra, e as nações ficarão iradas, embora contidas para não impedir a obra do terceiro anjo. Nesse tempo a "chuva serôdia", ou o refrigério pela presença do Senhor, virá, para dar poder à grande voz do terceiro anjo e preparar os santos para estarem de pé no período em que as sete últimas pragas serão derramadas. PE 86 1 2. A visão de "A Porta Aberta e a Porta Fechada", das páginas 42-45, foi dada em 1849. A aplicação de Apocalipse 3:7, 8, ao santuário celestial e ao ministério de Cristo era inteiramente nova para mim. Jamais eu ouvira a idéia expressa antes por alguém. Agora que o assunto do santuário está sendo claramente compreendido, a aplicação é vista em sua força e beleza. PE 86 2 3. A visão de que o Senhor "havia estendido a Sua mão pela segunda vez para reaver o remanescente do Seu povo", que se encontra na página 74, refere-se unicamente à união e força outrora existente entre os que aguardavam a Cristo, e ao fato de que Ele tinha começado a unir e erguer o Seu povo outra vez. PE 86 3 4. Manifestações Espíritas. Na página 43 lemos o seguinte: "Vi que as batidas misteriosas em Nova Iorque e outros lugares eram o poder de Satanás, e que essas coisas seriam cada vez mais comuns, abrigadas em vestes religiosas, a fim de adormentar os enganados e fazê-los sentirem-se em segurança maior, e a atrair a mente do povo de Deus tanto quanto possível para essas coisas e levá-lo a duvidar dos ensinos e poder do Espírito Santo." Esta visão foi dada em 1849, cerca de cinco anos decorridos. Então as manifestações espíritas estavam confinadas principalmente à cidade de Rochester, conhecidas como "as batidas de Rochester." A partir de então a heresia tem se espalhado para além das expectativas de qualquer pessoa. PE 86 4 Grande parte da visão da página 59, intitulada "As Batidas Misteriosas", dada em Agosto de 1850, tem se cumprido a partir de então, e está se cumprindo agora. Eis aqui uma parte dessa visão: "Vi que logo seria considerado blasfêmia falar contra as 'pancadas', que isso se espalharia mais e mais, que o poder de Satanás aumentaria e alguns de seus dedicados seguidores teriam poder para operar milagres, e mesmo fazer descer fogo do céu à vista dos homens. Foi-me mostrado que, por essas pancadas e pelo magnetismo, estes mágicos modernos procurariam ainda explicar todos os milagres operados por nosso Senhor Jesus Cristo, e que muitos creriam que todas as poderosas obras do Filho de Deus, realizadas quando esteve na Terra, foram executadas pelo mesmo poder." PE 87 1 Vi o engano das pancadas -- o progresso que estava fazendo -- e que se fosse possível enganaria os próprios escolhidos. Satanás terá poder para trazer perante nós o aparecimento de formas que pretendem ser nossos parentes ou amigos que agora dormem em Jesus. Far-se-á parecer como se esses amigos estivessem efetivamente presentes; as palavras que proferiram enquanto estiveram aqui, com as quais estamos familiarizados, serão pronunciadas, e o mesmo tom de voz que tinham quando vivos, cairá em nossos ouvidos. Tudo isso visa enganar os santos e enlaçá-los na crença deste engano. PE 87 2 Vi que os santos precisam alcançar completa compreensão da verdade presente, a qual serão obrigados a sustentar pelas Escrituras. Precisam compreender o estado dos mortos; pois os espíritos de demônios lhes aparecerão, pretendendo ser amigos e parentes amados, os quais lhes declararão que o sábado foi mudado, bem como outras doutrinas não escriturísticas. Eles farão tudo ao seu alcance para despertar simpatia e operarão milagres diante deles para confirmar o que declaram. O povo de Deus deve estar preparado para enfrentar esses espíritos com a verdade bíblica, segundo a qual, os mortos não sabem coisa nenhuma, e que aqueles que lhes aparecem são espíritos de demônios. Não deve a nossa mente ser absorvida com as coisas ao nosso redor, mas ocupar-se com a verdade presente e o preparo para dar a razão de nossa esperança com mansidão e temor. Devemos buscar sabedoria do alto a fim de podermos estar firmes nestes dias de erro e engano. PE 88 1 Devemos examinar bem o fundamento de nossa esperança, pois teremos de dar a razão dela pelas Escrituras. Este engano se espalhará, e com ele teremos de lutar face a face; e, a menos que estejamos preparados para isto, seremos enredados e vencidos. Mas se fizermos o que pudermos, pela nossa parte, a fim de estarmos prontos para o conflito que se acha precisamente diante de nós, Deus fará a Sua parte, e Seu braço todo-poderoso nos protegerá. Mais depressa enviaria Ele todos os anjos da glória para fazerem uma barreira em redor das almas fiéis, do que consentir que sejam enganadas e transviadas pelos prodígios de mentira de Satanás. PE 88 2 Vi a rapidez com que este engano se propagava. Foi-me mostrado um comboio, avançando com a velocidade do relâmpago. O anjo ordenou-me olhar cuidadosamente. Fixei os olhos nesse trem. Parecia que o mundo inteiro ia embarcado nele, que não faltava ninguém. Disse o anjo: "Eles estão se reunindo em feixes, prontos para serem queimados." Mostrou-me então o chefe do trem, uma pessoa formosa e imponente, para quem todos os passageiros olhavam e a quem reverenciavam. Fiquei perplexa e perguntei a meu anjo assistente quem era. Disse ele: "É Satanás. Ele é o chefe na forma de um anjo de luz. Ele leva cativo o mundo. Eles se entregaram à operação do erro a fim de crerem na mentira e serem condenados. O seu mais elevado agente abaixo dele, pela sua categoria, é o maquinista, e outros dos seus agentes estão empregados em diferentes cargos conforme deles necessita, e todos vão indo para a perdição, com a velocidade do relâmpago. PE 88 3 Perguntei ao anjo se ninguém havia escapado. Ele me mandou olhar em direção oposta, e vi um pequeno grupo viajando por um caminho estreito. Todos pareciam estar firmemente unidos, ligados pela verdade, em companhia ou grupo. Disse o anjo: "O terceiro anjo está unindo-os, ou selando-os em grupos para o celeiro celestial." Este pequeno grupo parecia atribulado, como se tivesse passado por duras provas e conflitos. E parecia assim como se o Sol tivesse surgido por trás de uma nuvem, iluminando-lhes o rosto e dando-lhes um aspecto triunfante, como se sua vitória estivesse quase alcançada. PE 89 1 Vi que o Senhor tem dado ao mundo a oportunidade de descobrir a cilada. Esta única coisa é prova suficiente para o cristão, se não houvessem outras; não se faz diferença entre o que é precioso e o que é vil. Tomás Paine, cujo corpo está hoje desfeito em pó, e que deve ser chamado no fim dos mil anos, por ocasião da segunda ressurreição, para receber sua recompensa e sofrer a segunda morte, é apresentado por Satanás como estando no Céu, e altamente exaltado ali. Satanás fez uso dele na Terra tanto quanto pôde, e agora está continuando com a mesma obra mediante a pretensão de estar sendo Tomás Paine sobremodo exaltado e honrado no Céu; assim como ensinou aqui, Satanás gostaria de fazer crer que está ensinando no Céu. Há alguns que têm olhado com horror para sua vida e morte e seus ensinos corruptos quando vivia, mas agora se submetem a ser ensinados por ele, um dos homens mais vis e corruptos, alguém que desprezou a Deus e Sua lei. PE 90 1 Aquele que é o pai da mentira, cega e engana o mundo, enviando os seus anjos para falarem pelos apóstolos, e fazerem parecer que estes contradizem o que escreveram pela direção do Espírito Santo, quando estiveram na Terra. Esses anjos mentirosos fazem os apóstolos deturparem os seus próprios ensinos e declararem que estes estão adulterados. Assim fazendo, Satanás se deleita em lançar cristãos professos, e o mundo todo, na incerteza quanto à Palavra de Deus. Aquele santo Livro se atravessa em seu próprio caminho e contradiz os seus planos; portanto leva os homens a duvidarem da origem divina da Bíblia. Então apresenta o incrédulo Tomás Paine como se tivesse sido introduzido no Céu quando morreu, e agora, unido com os santos apóstolos a quem ele odiou na Terra, estivesse empenhado em ensinar o mundo. PE 90 2 Satanás designa a cada um de seus anjos uma parte a desempenhar. Exige de todos que sejam dissimulados, astutos, ardilosos. Instrui alguns deles a desempenharem o papel dos apóstolos e a falar por eles, enquanto outros devem desempenhar o papel de homens incrédulos e ímpios que morreram blasfemando de Deus, mas que agora aparecem como muito religiosos. Não se faz diferença entre o mais santo dos apóstolos e o mais vil dos infiéis. Ambos são apresentados como ensinando a mesma coisa. Não importa quem Satanás faz falar, desde que seu objetivo seja alcançado. Ele esteve tão intimamente ligado a Paine na Terra, ajudando-o em seu trabalho, que lhe é coisa fácil saber as próprias palavras que Paine usou e até mesmo a caligrafia de quem o serviu tão fielmente e executou os seus propósitos tão bem. Satanás ditou muitos dos escritos de Paine, e coisa fácil é agora para ele, por intermédio de seus anjos, ditar seus próprios sentimentos e fazer parecer que vieram por intermédio de Tomás Paine que, enquanto viveu, foi um devotado servo do maligno. Esta é a mistificação máxima de Satanás. Todo este ensino que se diz ser dos apóstolos, santos, e homens ímpios que morreram, vem diretamente de sua majestade satânica. PE 91 1 O fato de Satanás pretender que alguém que ele amara tanto, e que tanto odiara a Deus, agora se encontrava com os santos apóstolos e anjos, na glória, deveria ser bastante para remover o véu de todas as mentes e pôr a descoberto as obras obscuras e misteriosas de Satanás. Virtualmente ele diz ao mundo e aos incrédulos: Não importa quão ímpios sejais; não importa que creiais ou não em Deus ou na Bíblia; vivei como vos agradar; o Céu é vosso lar; pois todos sabem que se Tomás Paine está no Céu, e tão exaltado, certamente também chegarão ali. Este erro é tão manifesto que todos podem ver, se quiserem. Satanás agora está fazendo por intermédio de pessoas semelhantes a Tomás Paine o que ele tem procurado fazer desde sua queda. Ele está, mediante o seu poder e prodígios de mentira, demolindo o fundamento da esperança cristã e obscurecendo o Sol que deve iluminá-los no estreito caminho para o Céu. Está fazendo o mundo crer que a Bíblia não é inspirada, nem melhor que qualquer livro de histórias, enquanto apresenta alguma coisa que lhe ocupe o lugar, isto é, o que se intitula manifestações espiritualistas! PE 91 2 Aqui está um meio que lhe é inteiramente dedicado e sob o seu controle, e Satanás pode fazer o mundo crer o que quiser. O livro que deve julgá-lo, e aos seus seguidores, ele o pôs na sombra, onde bem queria. O Salvador do mundo ele faz parecer não mais que um homem comum; e como a guarda romana que vigiava a tumba de Jesus espalhou a falsa notícia que os principais sacerdotes e anciãos lhe puseram nos lábios, assim os pobres, iludidos seguidores dessas pretensas manifestações espiritualistas repetirão e procurarão fazer parecer que nada há de miraculoso no nascimento, morte e ressurreição de nosso Salvador. Depois de haverem posto a Jesus num segundo plano, atraem a atenção do mundo para si mesmos e para os seus milagres e prodígios de mentira, os quais, declaram, excedem em muito as obras de Cristo. Assim o mundo é apanhado na cilada e conduzido a um enganador sentimento de segurança, para não descobrir seu terrível engano até que sejam derramadas as sete últimas pragas. Satanás ri ao ver seu plano tão bem-sucedido, e o mundo inteiro apanhado no engano. PE 92 1 5. Na página 55 afirmei que uma nuvem de gloriosa luz cobria o Pai e que Sua pessoa não podia ser vista. Afirmei também que vi o Pai erguer-Se do trono. O Pai estava envolvido num corpo de luz e glória, de maneira que Sua pessoa não podia ser vista; todavia eu vi que era o Pai e que de Sua pessoa emanava essa luz e glória. Quando vi este corpo de luz e glória erguer-Se do trono, sabia que era porque o Pai Se movia, portanto disse: Vi o Pai erguer-Se. A glória, ou excelência, de Sua forma eu nunca vi; ninguém poderia contemplá-la e viver; entretanto o corpo de luz e glória que envolvia a Sua pessoa podia ser visto. PE 92 2 Eu afirmei também que "Satanás parecia estar junto ao trono, procurando conduzir a obra de Deus". Darei outra sentença da mesma página: "Voltei-me para ver o grupo que estava ainda curvado perante o trono." Ora, este grupo em oração estava em seu estado mortal, na Terra, contudo representado a mim como estando perante o trono. Jamais eu tivera a idéia de que esses indivíduos estivessem em realidade na Nova Jerusalém. Nem nunca pensei que qualquer mortal pudesse supor que eu cria estivesse Satanás realmente na Nova Jerusalém. Mas João não viu o grande dragão vermelho no Céu? Sem dúvida. "Viu-se também outro sinal no céu, e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças e dez chifres." Apocalipse 12:3. Que monstro presente no Céu! Aqui parece haver tão boa oportunidade para ridículo como na interpretação que alguns têm dado a minhas afirmações. PE 93 1 6. Nas páginas 48-52 há uma visão que me foi dada em Janeiro de 1850. Aquela parte da visão que se relaciona com os meios que são negados aos mensageiros, aplicava-se mais particularmente àquele tempo. A partir de então, amigos da causa da verdade presente têm sido despertados, e esses têm estado atentos a oportunidades de fazer o bem com os seus recursos. Alguns têm dado tão liberalmente que causam dano aos beneficiados. Durante cerca de dois anos tem-me sido mostrado mais a respeito do uso descuidado e demasiado liberal do dinheiro do Senhor, do que sobre a falta dele. PE 93 2 O que se segue é de uma visão recebida em Jackson, Michigan, em 2 de Junho de 1853. Ela se refere principalmente aos irmãos deste lugar: "Vi que os irmãos começaram a sacrificar suas propriedades e a se desfazerem delas sem ter diante de si o verdadeiro objetivo -- a Causa necessitada -- e muitas e muitas vezes abriram mão delas demasiado liberalmente. Vi que os mestres deviam ter permanecido em posição de corrigir este erro e exercer boa influência na igreja. O dinheiro tem sido considerado de pouca importância; quanto antes gasto tanto melhor. Mau exemplo tem sido dado por alguns em aceitar grandes doações e não fazer a menor advertência aos que obtiveram recursos para não os usarem tão liberal e descuidadamente. Aceitando tão grande soma de meios, sem procurar saber se Deus tinha feito dever dos irmãos dar tão liberalmente, tem-se autorizado demasiada beneficência. PE 93 3 "Os que deram também erraram, não examinando com cuidado o caso, para saber se havia ou não real necessidade. Os que possuíam meios foram postos em grande perplexidade. Um irmão sofreu grande dano pela enorme quantidade de recursos postos em suas mãos. Ele não considerou o fator economia, mas viveu extravagantemente, e em suas viagens aqui e ali pôs dinheiro fora sem nenhuma utilidade. Ele espalhou uma influência maléfica pelo uso indiscriminado do dinheiro do Senhor, e dizia a outros e em seu próprio coração: 'Há recursos bastantes em J_____, mais do que pode ser usado antes da vinda do Senhor.' Alguns foram muito prejudicados por semelhante conduta e vieram para a verdade com pontos de vista errôneos, não compreendendo que era o dinheiro do Senhor que estavam usando, não sentindo assim a importância dele. As pobres almas que apenas acabam de abraçar a terceira mensagem angélica e têm diante de si um exemplo dessa ordem terão muito que aprender para se negarem a si mesmas e sofrerem por amor de Cristo. Terão de aprender a desprezar o comodismo, a não considerar as suas conveniências e conforto, tendo sempre em mente o valor das almas. Os que sentem sobre si o 'ai' não farão grandes preparativos para viajar folgada e confortavelmente. Alguns sem vocação têm sido animados a ir para o campo. Outros têm sido afetados por essas coisas e não têm sentido a necessidade de fazer economia, de se negarem, de reforçar o tesouro do Senhor. Eles sentem e dizem: 'Há outros que têm recursos bastante; eles darão para o sustento da revista. Eu não preciso fazer nada. A revista será mantida sem o meu auxílio.'" PE 94 1 Não tem sido para mim pequena prova ver que alguns têm tomado essa parte de minhas visões que se referia a sacrificar propriedades para sustentar a Causa e têm dela feito mau uso; eles utilizam os recursos extravagantemente ao passo que negligenciam promover os princípios de outras porções. Também, na página 50 lê-se o seguinte: "Vi que a causa de Deus tem sido prejudicada e desonrada por alguns que viajavam mas não têm mensagem de Deus. Esses terão de dar conta a Deus por todo dinheiro que gastaram em viagem aonde não era seu dever ir, porque esse dinheiro podia ter ajudado na causa de Deus." Ainda na página 50: "Vi que os que têm forças para trabalhar com suas próprias mãos e ajudar a sustentar a Causa eram tão responsáveis por sua força como outros o eram por sua propriedade." PE 95 1 Eu chamaria a atenção especialmente aqui para a visão sobre este assunto apresentada na página 57. Aqui está um breve extrato: "O objetivo das palavras de nosso Salvador (em Lucas 12:33) não tem sido claramente apresentado." Vi que "o objetivo de vender não é dar aos que podem trabalhar e sustentar-se a si mesmos, mas para espalhar a verdade. É um pecado sustentar e favorecer a indolência dos que podem trabalhar. Alguns têm sido zelosos em assistir a todas as reuniões, não para glorificar a Deus, mas por causa de 'pão e peixe'. Muito melhor seria que tais pessoas ficassem em casa trabalhando com as próprias mãos, 'porque isto é bom', a fim de suprir as necessidades de suas famílias e terem alguma coisa para dar para o sustento da preciosa causa da verdade presente". Tem sido desígnio de Satanás em tempos passados levar alguns de espírito apressado a fazerem uso demasiado liberal de meios, influenciando os irmãos a disporem depressa de sua propriedade, a fim de que mediante abundância de recursos utilizados de afogadilho e com descuido, fossem as almas prejudicadas e perdidas, de maneira que agora, quando a verdade deve ser espalhada mais extensamente, a falta seja sentida. Seu desígnio tem, em certa medida, sido alcançado. PE 95 2 O Senhor tem mostrado o erro de muitos em considerar apenas os que têm propriedade como obrigados a sustentar a publicação de revistas e folhetos. Todos devem desempenhar sua parte. Os que têm capacidade para trabalhar com as próprias mãos e conseguir recursos para sustentar a Causa são tão responsáveis por ela como os que são por suas propriedades. Cada filho de Deus que professa crer na verdade presente deve ser zeloso no desempenho de sua parte nesta causa. PE 95 3 Em Julho, 1853, vi que não estava sendo como devia ser, que a revista, propriedade de Deus e por Ele aprovada, saísse tão raramente. A Causa, no tempo em que estamos vivendo, reclama a revista semanalmente, bem como a publicação de muito maior quantidade de folhetos que exponham os crescentes erros deste tempo; mas a obra é embaraçada pela carência de meios. Vi que a verdade precisa ir avante e que não devemos ter tanto medo, que seria melhor que revistas e folhetos fossem a três desnecessariamente do que deixar um privado deles, que os apreciaria e ficaria beneficiado. Vi que os sinais dos últimos dias devem ser expostos claramente, pois as manifestações de Satanás estão aumentando. As publicações de Satanás e seus agentes estão prosperando, seu poder está aumentando, o que temos de fazer para pôr a verdade perante outros precisa ser feito depressa. PE 96 1 Foi-me mostrado que a verdade uma vez publicada agora, resistirá, pois é a verdade para os últimos dias; ela viverá, e pouco necessitará dizer-se sobre ela no futuro. Não é necessário pôr na revista inumeráveis palavras para justificar o que se justifica por si mesmo e brilha em sua luz. A verdade é retilínea, clara, explícita, e coloca-se ousadamente em sua própria defesa; mas não é assim com o erro. Ele é tão sinuoso e dúplice que se necessita de uma multidão de palavras para explicá-lo em sua forma tortuosa. Vi que toda a luz que haviam recebido em alguns lugares tinha vindo da revista; que almas tinham recebido a verdade desta maneira, e então falado a outros; e que agora em lugares onde há vários, haviam sido despertados por este mensageiro silencioso. Ela foi o seu único pregador. A causa da verdade não deve ser embaraçada em seu progresso por falta de meios. ------------------------Capítulo 22 -- A ordem evangélica PE 97 1 O Senhor tem mostrado que a ordem evangélica tem sido demasiado receada e negligenciada. A formalidade deve ser banida, mas por fazê-lo não deve ser a ordem negligenciada. Há ordem no Céu. Havia ordem na igreja quando Cristo esteve na Terra, e depois que Ele partiu a ordem foi estritamente observada entre os Seus apóstolos. E agora nestes últimos dias, quando Deus está levando os Seus filhos à unidade da fé, há mais real necessidade de ordem que jamais antes; pois ao passo que Deus une os Seus filhos, Satanás e seus anjos maus estão muito ocupados procurando evitar essa união e buscando destruí-la. Assim é que homens são afoitamente enviados ao campo com falta de sabedoria e discernimento, talvez não governando bem a própria casa nem tendo ordem ou governo sobre os poucos que no lar Deus lhes entregou a tarefa de cuidar; mas ainda assim consideram-se capazes de cuidar do rebanho. Fazem muitas mudanças errôneas, e os que não estão bem informados de nossa fé julgam que todos os mensageiros são como esses homens enviados de si mesmos. Assim é a causa de Deus exprobrada, e a verdade evitada por muitos incrédulos que de outro modo perguntariam, cândida e ansiosamente: São estas coisas assim? PE 97 2 Homens de vida não santificada e não qualificados para ensinar a verdade presente entram no campo sem ser reconhecidos pela igreja ou pelos irmãos em geral, e o resultado é confusão e desunião. Alguns possuem uma teoria da verdade, e podem apresentar argumentos, mas há falta de espiritualidade, discernimento e experiência; falham em muita coisa que lhes seria muito necessário compreender antes de poderem ensinar a verdade. Outros não têm argumento, mas porque uns poucos irmãos os ouvem orar bem e fazer uma excitante exortação de vez em quando, são mandados para o campo, a fim de se empenharem numa obra para a qual Deus não os tem qualificado e nem eles possuem suficiente experiência e discernimento. O orgulho espiritual se introduz, eles se sentem exaltados e agem sob a enganosa presunção de que são obreiros. Eles não se conhecem a si mesmos. Falta-lhes são juízo e paciente raciocínio, falam de si mesmos presumidamente, e afirmam muita coisa que não podem provar pela Palavra. Deus sabe isto; portanto não chama tais pessoas para trabalhar nestes perigosos tempos, e os irmãos devem ter o cuidado de não remeter para o campo aqueles a quem Deus não chamou. PE 98 1 São precisamente os homens não chamados por Deus que em geral se consideram muito vocacionados e acham que os seus labores são muito importantes. Vão para o campo e em geral não exercem boa influência; todavia em alguns lugares eles alcançam certo sucesso, e isto leva-os, bem como a outros, a pensar que são realmente chamados por Deus. O fato de terem algum sucesso não é evidência positiva de que homens são chamados por Deus; pois os anjos estão agora atuando no coração dos honestos filhos de Deus, a fim de iluminar-lhes o entendimento quanto à verdade presente, para que se apeguem a ela e vivam. E ainda que homens enviados de si mesmos se co-loquem onde Deus não os colocou e professem ser ensinadores, e almas recebam a verdade por ouvi-los pregar, não é isto prova de que foram chamados por Deus. As almas que recebem a verdade por intermédio deles recebem-na para serem levados à tribulação e servidão, ao verificarem mais tarde que esses homens não estavam firmes no conselho de Deus. Mesmo que sejam ímpios os homens que falam da verdade, alguns a recebem; mas isto não leva os que falaram a maior favor de Deus. Ímpios são sempre ímpios, e segundo o engano praticado para com os que eram amados de Deus e à confusão levada à igreja, terão a sua punição; seus pecados não permanecerão cobertos, mas serão expostos no dia da ardente ira de Deus. PE 99 1 Esses mensageiros enviados de moto-próprio são uma maldição para a Causa. Almas honestas neles põem sua confiança, pensando que se estão movendo no conselho de Deus e estão em união com a igreja, aceitando portanto que administrem as ordenanças, e ao se lhes tornar claro o seu dever de praticar as primeiras obras, permitem ser por eles batizados. Mas o fazer-se a luz, como geralmente sucede, e ao serem alertados de que esses homens não são o que eles pensavam ser, isto é, mensageiros chamados e escolhidos por Deus, entram em provação e em dúvida quanto à verdade que haviam recebido e sentem que precisam aprendê-la completamente de novo. Sentem-se desassossegados e são levados à perplexidade pelo inimigo sobre a sua experiência, se Deus os tem guiado ou não, e não ficam satisfeitos até que sejam de novo batizados e recomecem tudo. É muito mais penoso para o espírito dos mensageiros de Deus irem a lugares onde têm estado os que exercem esta malévola influência do que iniciar o trabalho em campos novos. Os servos de Deus precisam tratar com clareza, agir abertamente, e não ocultar erros; pois estão colocados entre os vivos e os mortos, e precisam dar conta de sua fidelidade, de sua missão e da influência que exercem sobre o rebanho do qual o Senhor os constituiu bispos. PE 99 2 Os que recebem a verdade e são conduzidos a tais provações teriam recebido a verdade da mesma forma se esses homens tivessem permanecido afastados e ocupado o humilde lugar que o Senhor lhes designara. Os olhos de Deus estavam sobre as Suas jóias, e Deus lhes teria dirigido Seus chamados e escolhidos mensageiros -- homens que teriam agido inteligentemente. A luz da verdade teria mostrado e descoberto a essas almas a sua verdadeira posição, e teriam recebido a verdade com entendimento, ficando satisfeitos com sua beleza e clareza. E ao sentirem os seus poderosos efeitos, teriam se fortalecido e derramado santa influência. PE 100 1 De novo foi-me mostrado o perigo desses viandantes a quem Deus não chamou. Mesmo que tenham algum sucesso, as qualificações que lhes faltam serão sentidas. Atitudes imprudentes serão tomadas, e pela falta de sabedoria algumas almas preciosas serão conduzidas aonde jamais poderão ser alcançadas. Vi que a igreja devia sentir sua responsabilidade e vigiar cuidadosa e atentamente a vida, as qualificações e a conduta geral dos que professam ser ensinadores. Se não houver inequívoca evidência de que Deus os chamou, de que sobre eles está o "ai" se não abraçarem o chamado, é dever da igreja agir e permitir seja sabido que essas pessoas não são reconhecidas como ensinadores pela igreja. Este é o único procedimento que a igreja pode adotar para estar livre nesta questão, pois o fardo está sobre ela. PE 100 2 Vi que esta porta pela qual o inimigo entra para perturbar e levar à perplexidade o rebanho, pode ser fechada. Indaguei do anjo como poderia ser ela fechada. Disse ele: "A igreja precisa acorrer para a Palavra de Deus e estabelecer-se na ordem evangélica que tem sido subestimada e negligenciada." Isto é necessariamente indispensável para levar a igreja à unidade da fé. Vi que nos dias dos apóstolos a igreja esteve em perigo de ser enganada e iludida por falsos mestres. Portanto os irmãos escolheram homens que tinham dado boa demonstração de que eram capazes de governar bem a sua própria casa e preservar a ordem em sua própria família, e que podiam esclarecer os que estavam em trevas. Foi feita indagação a Deus com respeito a esses, e então, em harmonia com a mente da igreja e o Espírito Santo, foram separados pela imposição das mãos. Havendo recebido sua comissão da parte de Deus e tendo a aprovação da igreja, saíram batizando no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e administrando as ordenanças da casa do Senhor, muitas vezes servindo os santos na apresentação do corpo partido e do sangue derramado do crucificado Salvador, a fim de conservar sempre na memória dos amados filhos de Deus os Seus sofrimentos e morte. PE 101 1 Vi que não estamos mais seguros contra os falsos ensinadores agora do que estavam eles nos dias dos apóstolos; e, se mais não fizermos, devemos tomar especiais medidas como eles o fizeram, a fim de garantir a paz, a harmonia e união do rebanho. Temos o seu exemplo, e devemos segui-lo. Irmãos de experiência e de mente saudável devem congregar-se, e seguindo a Palavra de Deus e sanção do Espírito Santo, devem, com fervente oração, impor as mãos sobre aqueles que tenham dado plena prova de que receberam o chamado de Deus, sendo então separados para se devotarem inteiramente a Sua obra. Este ato mostraria a sanção da igreja a sua saída como mensageiros para levarem a mais solene mensagem já dada aos homens. PE 101 2 Deus não confiará o cuidado do Seu precioso rebanho a homens cuja mente e discernimento tenham sido enfraquecidos por erros anteriores que acariciavam, tais como os assim chamados perfeccionismo e espiritismo, e que, por sua conduta quando nesses erros, infelicitaram-se a si mesmos e levaram opróbrio sobre a causa da verdade. Embora se sintam agora livres de erro e capacitados para ir e ensinar esta última mensagem, Deus não os aceitará. Ele não confiará almas preciosas aos seus cuidados; pois o seu juízo ficou pervertido enquanto estiveram no erro, e está agora debilitado. Aquele que é Grande e Santo é um Deus zeloso, e deseja que os homens que levam a Sua verdade sejam santos. A santa lei anunciada por Deus do Sinai é parte de Si próprio, e somente homens santos que sejam seus estritos observadores honrá-Lo-ão ensinando-a a outros. PE 102 1 Os servos de Deus que ensinam a verdade devem ser homens sensatos. Devem ser homens que possam enfrentar oposição sem ficar excitados; pois os que se opõem à verdade difamarão aqueles que a ensinam, e cada objeção que possa ser articulada será apresentada na sua pior forma contra a verdade. Os servos de Deus que levam a mensagem devem estar preparados para remover essas objeções com calma e mansidão pela luz da verdade. Freqüentemente os opositores falam aos ministros de Deus de maneira provocadora, na tentativa de arrancar deles alguma coisa da mesma natureza, a fim de tirar daí o maior rendimento possível, declarando então aos outros que os ensinadores dos mandamentos de Deus têm um espírito amargo e são ríspidos, conforme a comprovação que fazem. Vi que precisamos estar preparados para objeções, e com paciência, bom senso e mansidão, deixar que tenham a importância que merecem, não por rejeitá-las, ou eliminá-las mediante asserções positivas e então carregar sobre o opositor, manifestando dessa forma um espírito amargo; mas dar à objeção o seu justo valor, deixar que brilhe a luz e o poder da verdade e que esta exceda em peso, removendo assim os erros. Desta forma far-se-á boa impressão, e os oponentes honestos reconhecerão que têm sido enganados e que os guardadores dos mandamentos não são como lhes tinham sido apresentados. PE 102 2 Os que professam ser servos do Deus vivo precisam estar dispostos a ser servos de todos em vez de se exaltarem sobre os seus irmãos, e precisam possuir um espírito bondoso, cortês. Se errarem, devem estar prontos a confessá-lo por inteiro. A honestidade da intenção não pode ser tida como escusa para não confessar o erro. A confissão não diminui a confiança da igreja no mensageiro, e ele estaria dando um bom exemplo; seria encorajado o espírito de confissão na igreja, e o resultado seria agradável união. Os que professam ser ensinadores deviam ser padrões de piedade, mansidão e humildade, possuindo um bom espírito para ganhar almas para Jesus e a verdade bíblica. O ministro de Cristo deve ser puro na conversação e nas ações. Deve ter sempre em mente que está manejando palavras de inspiração, palavras de um Deus santo. Precisa ter em mente também que o rebanho está confiado aos seus cuidados e que deve levar os seus casos a Jesus, suplicando por eles como Jesus suplica por nós ao Pai. Foi-me indicado o povo de Israel antigamente, e vi quão puros e santos tinham de ser os ministros do santuário, porque mediante o seu trabalho eram postos em íntima relação com Deus. Os que ministram devem ser santos, puros, sem mancha, ou Deus os destruirá. Deus não mudou. Ele é tão santo, tão puro e tão minucioso como sempre o foi. Os que professam ser ministros de Jesus devem ser homens de experiência e profunda piedade, e então em todas as ocasiões e em todos os lugares poderão derramar santa influência. PE 103 1 Tenho visto que agora é tempo para os mensageiros de Deus saírem para onde quer que haja uma brecha, e que Deus irá diante deles e abrirá o coração de alguns para que ouçam. Novos lugares terão de ser penetrados, e, onde quer que isto for feito, faria bem, se consistente, irem dois a dois, de maneira que um ao outro se sustentem as mãos. Um plano como este foi apresentado: Seria bom que dois irmãos iniciassem juntos e viajassem em companhia um do outro para os lugares mais escuros, onde há muita oposição e onde o máximo trabalho é necessário, e com esforços conjugados e forte fé, apresentassem a verdade aos que estão em trevas. E então, se podem realizar mais visitando muitos lugares, saiam separadamente, mas encontrem-se amiúde, enquanto em viagem, a fim de por sua fé encorajarem-se um ao outro, por esse meio fortalecendo-se as mãos mutuamente. Igualmente consultem-se sobre os lugares abertos para si, e decidam qual de seus dons será o mais necessário, e de que maneira poderão ter mais sucesso em alcançar os corações. E ao separarem-se então, sua coragem e energia estarão restauradas para enfrentar a oposição e as trevas e trabalhar com o coração tocado para salvar almas que perecem. PE 104 1 Vi que os servos de Deus não devem ir sempre ao mesmo campo de trabalho, mas devem procurar almas em novos lugares. Os que já estão estabelecidos na verdade não devem exigir tanto do trabalho daqueles, mas devem ser capazes de permanecer sozinhos e fortalecer a outros ao seu redor, enquanto os mensageiros de Deus visitam lugares escuros e isolados, levando a verdade aos que não estão ainda esclarecidos quanto à verdade presente. ------------------------Capítulo 23 -- Dificuldades da igreja PE 104 2 Caros Irmãos e Irmãs: Ao prosperar o erro tão firmemente, devemos estar despertos na causa de Deus e compreender o tempo em que estamos vivendo. As trevas cobrirão a Terra e densa escuridão os povos. E como praticamente todos ao nosso redor estão sendo envolvidos em densas trevas de erro e engano, compete-nos sair do torpor e viver próximo de Deus, onde podemos captar raios de divina luz e glória da face de Jesus. Ao se avolumarem as trevas e o erro aumentar, devemos alcançar mais completo conhecimento da verdade e estar preparados para sustentar nossa posição das Escrituras. PE 105 1 Precisamos ser santificados pela verdade, ser inteiramente consagrados a Deus, e assim viver nossa santa profissão, a fim de que o Senhor possa derramar cada vez mais luz sobre nós, para que em Sua luz vejamos a luz, e fiquemos fortalecidos com a Sua força. Cada momento que não estivermos em nossa vigília corremos o perigo de ser sitiados pelo inimigo e o grande risco de sermos vencidos pelos poderes das trevas. Satanás ordena a seus anjos que sejam vigilantes e derrotem a quantos possam; que descubram os pecados persistentes e teimosos dos que professam a verdade, e lancem trevas em torno deles, para que cessem de vigiar, adotem uma conduta que desonre a Causa que professam amar e levem tristeza à igreja. As almas desses desorientados e desatentos tornam-se cada vez mais trevosas, e a luz do Céu neles empalidece. Não podem descobrir os pecados que os assediam, e Satanás lança a sua rede sobre eles e são apanhados no laço. PE 105 2 Deus é nossa força. DEle precisamos buscar sabedoria e direção, e tendo em vista Sua glória, o bem da igreja e a salvação de nossa própria alma, precisamos vencer os pecados que nos cercam. Individualmente devemos procurar alcançar nova vitória cada dia. Temos que aprender a estar de pé sozinhos e depender inteiramente de Deus. Quanto mais cedo aprendermos isto, tanto melhor. Descubram cada um onde falha, e então vigie fielmente, a fim de que seus pecados não o vençam, mas seja ele o vitorioso. Então podemos confiar em Deus, e a igreja será salva de grande angústia. PE 105 3 Os mensageiros de Deus, quando deixam seus lares para trabalhar pelas almas, despendem muito de seu tempo no trabalho por aqueles que têm estado na igreja por anos, mas ainda são fracos, porque desnecessariamente perdem o controle, deixam de vigiar sobre si mesmos, e, penso eu algumas vezes, tentam o inimigo a tentá-los. Eles se metem em alguma pequena dificuldade e prova, e o tempo dos servos do Senhor é gasto em visitá-los. Ficam retidos horas e até dias, e sua alma é ferida e magoada por ouvir falar em pequenas dificuldades e provas, cada um ampliando sua própria aflição, a fim de que pareça tão séria quanto possível, pois temem que os servos de Deus as considerem demasiado pequenas para serem notadas. Em vez de depender dos servos do Senhor para ajudá-los a sair dessas provas, deviam antes humilhar-se diante de Deus e jejuar e orar até que as provas fossem removidas. PE 106 1 Alguns parecem pensar que todos aqueles a quem Deus chamou para serem mensageiros no campo, devem acorrer a seu convite e tomá-los nos braços; e que a parte mais importante de sua obra é solucionar as pequenas dificuldades e provas que eles atraíram sobre si mesmos por uma atitude imprudente e por haverem dado lugar ao inimigo, bem como por acariciarem um espírito contumaz e crítico em relação aos que os cercam. Mas onde estão neste tempo as ovelhas famintas? Perecendo por falta do pão da vida. Os que conhecem a verdade e nela foram estabelecidos, mas não lhe obedecem -- se o fizessem seriam livres de muitas dessas provas -- estão retendo os mensageiros de Deus, e o próprio motivo pelo qual foram chamados para o campo não é cumprido. Os servos de Deus são prejudicados e sua coragem é perdida por tais coisas na igreja, quando todos deviam por palavras de alegria, de oração e de fé, ajudá-los, e não acrescentar-lhes ao fardo mais peso ainda que de uma pena. Quão mais livres seriam eles se todos os que professam a verdade olhassem em torno de si e procurassem ajudar a outros, em vez de reclamarem tanta ajuda para si próprios. Da maneira como sucede, quando os servos de Deus entram em lugares trevosos, onde a verdade ainda não foi proclamada, levam o espírito ferido pelas desnecessárias provas de seus irmãos. Em agravo de tudo isto, eles têm de enfrentar a incredulidade e o preconceito de oponentes e ser pisados por alguns. PE 107 1 Quão mais fácil seria alcançar o coração e quão mais glorificado seria Deus se Seus servos ficassem livres do desencorajamento e prova, a fim de poderem com espírito livre apresentar a verdade em sua beleza. Os que têm sido culpados de requerer tanto labor dos servos de Deus, sobrecarregando-os com provas que eles mesmos deviam solucionar, terão de dar contas a Deus por todo o tempo e recursos despendidos para satisfazê-los, satisfazendo assim também ao inimigo. Eles deviam estar em situação de ajudar a seus irmãos. Nunca deviam transferir suas provas e dificuldades para sobrecarregar toda uma reunião, ou esperar até que algum dos mensageiros venha para solucioná-las; mas deviam ir diretamente a Deus pessoalmente, tendo afastado do caminho os seus problemas, estando assim preparados quando os obreiros vierem, sustentando-lhes as mãos em vez de enfraquecê-las. ------------------------Capítulo 24 -- Esperança da igreja PE 107 2 Ao olhar ultimamente ao redor em busca dos humildes seguidores do manso e terno Jesus, minha mente tem sido muito exercitada. Muitos que professam estar aguardando a iminente volta de Cristo estão se conformando com este mundo e buscando mais fervoroso aplauso dos que os cercam do que a aprovação de Deus. São frios e formais, como as igrejas nominais das quais estão separados apenas pouco tempo. As palavras endereçadas à igreja de Laodicéia descrevem perfeitamente sua presente condição. Ver Apocalipse 3:14-20. Eles não são frios "nem quentes", mas são mornos. E a menos que aceitem o conselho da "Testemunha fiel e verdadeira", e zelosamente se arrependam e adquiram "ouro provado no fogo", "vestidos brancos", e "colírio", serão vomitados de Sua boca. PE 108 1 É chegado o tempo em que grande parte dos que uma vez se regozijaram e exultaram em vista da iminente volta do Senhor, estão no terreno da igreja e do mundo que outrora deles escarneceu por crerem que Jesus estava para voltar, e veicularam toda espécie de falsidade para despertar o preconceito contra eles e destruir sua influência. Ora, se alguém suspira pelo Deus vivo, sentindo fome e sede de justiça, e Deus lhe concede experimentar o Seu poder, e satisfaz seus anseios de alma derramando-lhe no coração abundantemente o Seu amor, e ele glorifica a Deus com louvores, ele é, por esses professos crentes na vinda do Senhor, muitas vezes considerado iludido, e acusado de estar sob a influência do mesmerismo ou de possuir algum espírito ímpio. PE 108 2 Muitos desses professos cristãos vestem-se, falam e agem como o mundo, e a única coisa pela qual podem ser conhecidos é a sua profissão. Embora professem estar aguardando a Cristo, sua conversação não está no Céu, mas nas coisas mundanas. Que pessoas convém ser "em santo procedimento e piedade", aqueles que professam estar "esperando e apressando a vinda do dia de Deus". 2 Pedro 3:11, 12. "E a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esta esperança, assim como Ele é puro." 1 João 3:3. Mas é evidente que muitos que levam o nome de adventistas estudam mais para o embelezamento do corpo e para parecer bem aos olhos do mundo do que para aprender da Palavra de Deus como ser por Ele aprovados. PE 108 3 Como seria se o amorável Jesus, nosso modelo, fizesse Sua aparição entre eles e os professadores de religião em geral, como em Seu primeiro advento? Ele nasceu numa manjedoura. Acompanhai-O através de Sua vida e ministério. Foi um homem de dores e familiar com o sofrimento. Esses professos cristãos ficariam envergonhados do manso e humilde Salvador que Se vestia com uma túnica simples, inconsútil, e não tinha onde repousar a cabeça. Sua vida imaculada, altruísta, condená-los-ia; Sua santa solenidade seria uma penosa restrição ao seu riso leviano e vão; Sua conversação sem artifício seria um obstáculo a sua conversação mundana e cobiçosa; Sua maneira franca e cortante de apresentar a verdade, deixaria a descoberto o real caráter deles, e desejariam ter o manso padrão, o amorável Jesus, fora do caminho o mais depressa possível. Eles estariam entre os primeiros a procurar apanhá-Lo em Suas palavras, e levar o clamor: "Crucifica-O! Crucifica-O!" PE 109 1 Sigamos a Jesus em Seu manso jornadear para Jerusalém, quando "toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz... dizendo: Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! paz no Céu e glória nas maiores alturas! Ora, alguns dos fariseus Lhe disseram em meio à multidão: Mestre, repreende os Teus discípulos. Mas Ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão". Grande parte dos que professam estar esperando a Cristo seriam tão atrevidos como os fariseus a fim de fazer silenciar os discípulos, e sem dúvida haveriam de exclamar: "Fanatismo! Mesmerismo! Mesmerismo!" E os discípulos, estendendo os seus vestidos e folhas de palmeira no caminho, seriam considerados extravagantes e turbulentos. Mas Deus terá um povo na Terra que não será assim frio e morto, mas que O louvará e O glorificará. Ele receberá glória de algumas pessoas, e se os de Sua escolha, que guardam os Seus mandamentos, tivessem de se calar, as próprias pedras clamariam. PE 110 1 Jesus vem, mas não como em Seu primeiro advento, uma criancinha nascida em Belém; não como quando jornadeou para Jerusalém, em que os discípulos louvavam a Deus em alta voz e clamavam: "Hosana"; mas na glória do Pai e com todo o séquito de santos anjos para escoltá-Lo em Seu caminho para a Terra. Todo o Céu estará vazio de anjos, enquanto os expectantes santos O estarão aguardando e com os olhos postos no Céu, como os varões galileus quando Ele ascendeu do Monte das Oliveiras. Então somente os que são santos, os que seguiram inteiramente o manso Modelo, exclamarão com transportes de júbilo ao contemplá-Lo: "Eis que este é o nosso Deus, a quem esperávamos, e Ele nos salvará." E serão mudados "num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta" -- a trombeta que desperta os santos que dormem e chama-os de suas camas de pó, revestidos de gloriosa imortalidade e clamando: "Vitória! Vitória sobre a morte e a sepultura!" Os santos transformados são então levados para o alto juntamente com os anjos a encontrar o Senhor nos ares, para nunca mais se separarem do objeto do seu amor. PE 110 2 Com tal perspectiva como esta diante de nós, com tão gloriosa esperança, redenção tal como essa que Cristo comprou para nós com o Seu próprio sangue, ficaremos calados? Louvaremos a Deus também com alta voz, como os discípulos quando Jesus viajava para Jerusalém? Não é nossa perspectiva muito mais gloriosa do que a deles? Quem ousaria então proibir-nos de glorificar a Deus, com o mesmo alto clamor, quando temos tal esperança, cheia de imortalidade e repleta de glória? Temos provado dos poderes do mundo por vir, e ansiamos por mais. Todo o meu ser clama pelo Deus vivo, e não estarei satisfeita até que esteja cheia de toda a Sua plenitude. ------------------------Capítulo 25 -- Preparação para a vinda de Cristo PE 111 1 Queridos Irmãos e Irmãs: Cremos de todo o coração que Cristo está prestes a vir e que estamos tendo agora a última mensagem de misericórdia a ser dada a um mundo culpado? É nosso exemplo aquilo que deve ser? Por nossa vida e santa conversação, mostramos aos que estão ao nosso redor que estamos aguardando o glorioso aparecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que mudará esses corpos vis e os modelará segundo o Seu corpo glorioso? Temo que não creiamos e não compreendamos essas coisas como devíamos. Os que crêem nas importantes verdades que professamos devem agir em manifestação dessa fé. Há grande número indo após divertimentos e coisas que chamam a atenção neste mundo; a mente é deixada a divagar em demasia sobre roupas, e a língua se empenha muitas vezes em conversação leviana e frívola, o que denota a mentira de nossa profissão, pois nossa conversação não é do Céu, de onde aguardamos o Salvador. PE 111 2 Anjos nos estão vigiando e guardando; muitas vezes ofendemos esses anjos pela condescendência em conversas banais, anedotas e chocarrices, bem como por nos entregarmos a um estado de nesciedade e descuido. Embora possamos fazer de quando em quando um esforço para a vitória e obtê-la, mas se não a conservamos, antes nos afundamos no mesmo descuidado e indiferente estado, incapazes de enfrentar as tentações e resistir ao inimigo, não suportaremos a prova de nossa fé que é mais preciosa que ouro. Não estaremos sofrendo por amor de Cristo nem gloriando na tribulação. PE 111 3 Há grande falta de fortaleza cristã e de serviço a Deus por princípio. Não devemos buscar prazer e satisfação próprios, mas honrar e glorificar a Deus, e em tudo que fizermos ou dissermos ter em vista a Sua glória. Se deixássemos nosso coração se impressionar com as seguintes importantes palavras, tendo-as em mente sempre, não cairíamos facilmente em tentação e nossas palavras seriam poucas e bem escolhidas: "Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados." Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo." "Tu és um Deus que" me "vês." PE 112 1 Não deveríamos pensar nessas importantes palavras, e trazer à mente os sofrimentos de Jesus para que nós, pobres pecadores, pudéssemos receber perdão e ser redimidos para Deus pelo Seu preciosíssimo sangue, sem sentir santa contenção e fervente desejo de sofrer por Aquele que sofreu muito, e muito suportou por nós. Se nos demorássemos a pensar nessas coisas, o estimado eu, com Sua dignidade, seria humilhado, e seu lugar seria ocupado por infantil simplicidade que aceitaria o vitupério de outros e não se sentiria facilmente provocado. O espírito voluntarioso não viria então reger a alma. PE 112 2 O verdadeiro consolo e gozo do cristão tem de estar e estará no Céu. A alma sequiosa daqueles que têm provado os recursos do mundo por vir, e se banqueteou nos gozos do Céu, não ficará satisfeita com coisas terrestres. Tais pessoas encontrarão bastante que fazer em seus momentos de ócio. Suas almas serão atraídas para Deus. Onde estiver o tesouro, aí estará o coração, mantendo suave comunhão com o Deus que amam e adoram. Sua recreação estará na contemplação do seu tesouro -- a Cidade Santa, a Nova Terra, seu eterno lar. E enquanto se demoram nessas coisas que são elevadas, puras, santas, o Céu se aproximará deles, e sentirão o poder do Espírito Santo, e isto tenderá a desabituá-los cada vez mais do mundo e fará que sua consolação e principal gozo esteja nas coisas do Céu, seu amável lar. O poder de atração para Deus e o Céu será tão grande então que nada poderá afastar-lhes a mente do grande objetivo de garantir a salvação das almas e honrar e glorificar a Deus. PE 113 1 Ao compreender quanto tem sido feito por nós para conservar-nos retos, sou levada a exclamar: Oh! que amor, que maravilhoso amor tem por nós pobres pecadores, o Filho de Deus! Seremos nós tão néscios e descuidados enquanto tudo que pode ser feito por nossa salvação está sendo feito? Todo o Céu está interessado em nós. Devemos estar ativos e despertos para honrar, glorificar e adorar o Alto e Sublime. Nosso coração deve transbordar em amor e gratidão por Aquele que tem sido tão cheio de amor e compaixão por nós. Devemos honrá-Lo com nossa vida, e com pura e santa conversação mostrar que fomos nascidos de cima, que este mundo não é nosso lar, mas somos peregrinos e estrangeiros aqui, a caminho de um país melhor. PE 113 2 Muitos que professam o nome de Cristo e afirmam estar esperando Sua breve volta, não sabem o que é sofrer por amor de Cristo. Eles não têm o coração subjugado pela graça, não estão mortos para o eu, como se vê muitas vezes por diferentes maneiras. Ao mesmo tempo estão sempre falando de provação. Mas a principal causa de suas provas é o coração não subjugado, que torna o eu tão sensível que não raro é contrariado. Se tais pessoas compreendessem o que é ser um humilde seguidor de Cristo, um verdadeiro cristão, começariam a trabalhar com bastante fervor e começariam direito. Morreriam primeiro para o eu, passando então a ser constantes na oração, e deteriam cada paixão do coração. Abandonai vossa confiança e suficiência próprias, irmãos, e segui o manso Modelo. Tende Jesus em mente sempre, pois que Ele é vosso exemplo e deveis caminhar em Seus passos. Olhai para Jesus, autor e consumador de nossa fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta. Ele suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Por nossos pecados foi uma vez o Cordeiro manso, morto, ferido, moído, esmagado e afligido. PE 114 1 Soframos, pois, alegremente, alguma coisa pelo amor de Jesus, crucificando diariamente o eu, e sejamos participantes das aflições de Cristo aqui, a fim de podermos ser participantes de Sua glória, sendo igualmente coroados com glória, honra, imortalidade e vida eterna. ------------------------Capítulo 26 -- Fidelidade em reuniões de testemunhos PE 114 2 O Senhor tem-me mostrado que grande interesse devia ser tomado pelos guardadores do sábado em conservar suas reuniões e torná-las interessantes. Há grande necessidade de manifestar-se mais interesse e energia nesta direção. Todos devem ter algo para dizer ao Senhor, pois em assim fazendo serão abençoados. Um livro de memórias é escrito com respeito àqueles que não desertam das reuniões, mas falam muitas vezes um ao outro. O remanescente deve vencer pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho. Alguns esperam vencer apenas pelo sangue do Cordeiro, sem qualquer esforço especial de sua parte. Vi que Deus foi misericordioso ao nos dar o poder da fala. Ele nos deu uma língua, e somos responsáveis diante dEle por seu uso. Devemos glorificar a Deus com nossa boca, falando em honra da verdade e de Sua ilimitada misericórdia, e vencer pela palavra de nosso testemunho através do sangue do Cordeiro. PE 115 1 Não devemos reunir-nos para ficar em silêncio; os únicos que são lembrados do Senhor são os que se reúnem para falar de Sua honra e glória e de Seu poder; sobre esses repousará a bênção de Deus, e eles serão refrigerados. Se todos procedessem como deviam, nenhum tempo precioso seria desperdiçado, e nenhuma reprovação seria necessária por causa de longas orações e exortações; todo o tempo seria ocupado por testemunhos e orações breves, diretos. Pedi, crede, recebei. Há demasiado escarnecer do Senhor, muita oração que não é oração e que cansam os anjos e desagradam a Deus, muita petição vã, sem significado. Primeiro precisamos sentir a necessidade, e então pedir a Deus exatamente o que necessitamos, crendo que Ele nos dá. Já mesmo quando estamos pedindo; e então nossa fé crescerá, todos serão edificados, o fraco será fortalecido e o desanimado e desalentado é levado a olhar para cima e crer que Deus é o galardoador de todo que diligentemente O busca. PE 115 2 Alguns se retraem nas reuniões porque nada de novo têm a dizer, e se falarem terão que repetir a mesma história. Vi que o orgulho era o fundamento disto, que Deus e os anjos atentavam para o testemunho dos santos e Se alegravam e eram glorificados por serem repetidos cada semana. O Senhor ama a simplicidade e humildade, mas Se desgosta e os anjos são ofendidos quando professos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus permitem que o precioso tempo se escoe despendido em suas reuniões. PE 115 3 Se os irmãos e irmãs estivessem no lugar devido, não ficariam sem saber o que dizer em honra de Jesus, que esteve suspenso na cruz do Calvário por seus pecados. Se anelassem mais do compreensivo senso da condescendência de Deus em dar o Seu amado unigênito Filho para morrer em sacrifício por nossos pecados e transgressões, e dos sofrimentos e angústia de Jesus para abrir um caminho de escape ao homem culpado, a fim de que ele pudesse receber perdão e vida, seriam mais prontos a exaltar e magnificar a Jesus. Não se calariam, mas com reconhecimento e gratidão falariam de Sua glória e de Seu poder. E bênçãos de Deus cairiam sobre eles por assim fazer. Inda que a mesma história fosse repetida, Deus seria glorificado. Mostrou-me o anjo os que não cessavam dia e noite de clamar: "Santo, Santo é o Senhor, o todo-poderoso Deus." "Repetição contínua", disse o anjo, "contudo Deus é glorificado." Embora repitamos a mesma história sempre, ela honra a Deus e mostra que não nos temos esquecido de Sua bondade e misericórdia para conosco. PE 116 1 Vi que as igrejas nominais têm caído; que a frieza e a morte reinam em seu meio. Se seguissem a Palavra de Deus, ela os faria humildes. Mas eles se põem acima da obra do Senhor. É-lhes demasiado humilhante repetir a mesma simples história da bondade de Deus quando se reúnem, e estudam para conseguir algo novo, algo de vulto, e estar na posse das palavras exatas para os ouvidos e o gosto do homem, e o Espírito de Deus deixa-os. Quando seguirmos o humilde caminho da Bíblia, teremos a influência do Espírito de Deus. Tudo estará em doce harmonia, se seguirmos os humildes canais da verdade, dependendo inteiramente de Deus, e não haverá perigo de sermos afetados pelos anjos maus. É quando as almas passam por alto o Espírito de Deus, movendo em sua própria força, que os anjos cessam de vigiar sobre elas, e são deixadas aos ataques de Satanás. PE 116 2 Encontram-se na Palavra de Deus deveres cujo cumprimento guardaria o povo de Deus humilde e separado do mundo, da apostasia, como as igrejas nominais. O lava-pés e a participação da Ceia do Senhor seriam mais freqüentemente praticados. Jesus deu-nos o exemplo e mandou-nos que fizéssemos como Ele fizera. Vi que Seu exemplo devia ser seguido tão exatamente quanto possível; contudo os irmãos e irmãs nem sempre têm agido tão judiciosamente quanto deviam na questão do lava-pés, e tem havido confusão. Isto devia ser introduzido em novos lugares com cuidado e sabedoria, especialmente onde o povo não está informado quanto ao exemplo e ensinos de nosso Senhor sobre este ponto, e onde haja preconceito contra. Muitas almas honestas, pela influência de antigos mestres em quem tinham confiança, estão muito carregadas de preconceitos contra este claro dever, e o assunto devia ser-lhes introduzido no tempo e maneira apropriados. PE 117 1 Não há na Palavra nenhum exemplo para que irmãos lavem os pés de irmãs; mas há um exemplo para que irmãs lavem os pés a irmãos. Maria lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e enxugou-os com os cabelos. Ver também 1 Timóteo 5:10. Vi que o Senhor havia impressionado irmãs a lavar pés de irmãos, e que isto estava em harmonia com a ordem evangélica. Todos devem agir compreensivamente, e não tornar tediosa a cerimônia do lava-pés. PE 117 2 A santa saudação mencionada no evangelho de Jesus Cristo pelo apóstolo Paulo deve ser considerada no seu verdadeiro caráter. Trata-se de um ósculo santo. Deve ser considerada como um sinal de amizade para cristãos amigos quando partem, e quando se encontram de novo após semanas ou meses de separação. Em 1 Tessalonicenses 5:26, Paulo diz: "Saudai a todos os irmãos com ósculo santo." No mesmo capítulo ele diz: "Abstende-vos de toda forma de mal." Pode não haver aparência de mal quando o ósculo santo é dado no tempo e em lugar próprios. PE 117 3 Vi que a forte mão do inimigo está posta contra a obra de Deus, e o auxílio e força de cada um que ama a causa da verdade deve ser angariado; grande interesse deve ser manifestado por eles em sustentar as mãos dos que advogam a verdade, a fim de que por firme vigilância possam banir o inimigo. Todos devem, firmes como se fora um, estar unidos na obra. Cada energia da alma deve estar desperta, pois o que deve ser feito tem que ser feito depressa. PE 118 1 Vi então o terceiro anjo. Disse meu anjo acompanhante: "Terrível é sua obra. Tremenda sua missão. Ele é o anjo que deve separar o trigo do joio, e selar, ou atar, o trigo para o celeiro celestial. Essas coisas devem absorver toda a mente, a atenção toda." ------------------------Capítulo 27 -- Aos inexperientes PE 118 2 Alguns, eu vi, não têm experimentado o senso de importância da verdade ou de seu efeito, e agindo segundo o impulso do momento ou por excitação, seguem muitas vezes os seus sentimentos e desconsideram a ordem da igreja. Tais pessoas parecem pensar que a religião consiste principalmente em fazer barulho. Alguns que mal acabaram de receber a verdade da mensagem do terceiro anjo estão prontos a reprovar e ensinar os que estão estabelecidos na verdade por anos, e que têm sofrido por seu amor e experimentado o seu santificante poder. Os que são assim envaidecidos pelo inimigo terão de sentir a influência santificadora da verdade e alcançar um realístico senso de como esta os encontrou -- "infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu". Quando a verdade começa a purificá-los e purgá-los de toda escória e impurezas, como seguramente fará quando recebida no amor a si mesma, aquele por quem é feita esta grande obra não sentirá que está enriquecido e aumentado em bens, e que de nada necessita. PE 118 3 Os que professam a verdade e pensam que sabem tudo antes que tenham aprendido seus primeiros princípios, e que se atrevem a tomar o lugar dos mestres e reprovar os que por anos têm permanecido firmemente pela verdade, claramente mostram que não têm compreensão da verdade, e nada sabem de seus efeitos; pois se conhecessem alguma coisa do seu poder santificador, produziriam fruto pacífico de justiça e seriam humildes sob sua suave e poderosa influência. Eles dariam fruto para glória de Deus, e compreenderiam o que a verdade tem feito por eles, considerando os outros melhores do que a si mesmos. PE 119 1 Vi que o remanescente não estava preparado para o que está para sobrevir à Terra. Estupefação, como letargia, parece possuir a mente da maioria dos que professam crer que estamos vivendo a última mensagem. Meu anjo assistente clamou com impressionante solenidade: "Aprontai-vos! Aprontai-vos! Aprontai-vos pois a ardente ira do Senhor está para vir! Sua ira está para ser derramada, sem mistura de misericórdia, e todavia não estais prontos. Rasgai o coração, e não os vestidos. Uma grande obra deve ser feita pelo remanescente. Muitos deles estão se demorando sobre pequenas provas." Disse o anjo: "Legiões de anjos maus estão ao redor de vós, procurando introduzir suas terríveis trevas, a fim de serdes enlaçados e apanhados. Permitis que vossa mente demasiado pronto se desvie da obra de preparação e das todo-importantes verdades para estes últimos dias. E vos demorais sobre pequenas provas e entrais em minúcias especiais de pequenas dificuldades, a fim de explicá-las para satisfação deste ou daquele." Tem-se alongado por horas conversação entre as partes envolvidas, e não somente o seu tempo tem sido perdido, mas os servos de Deus são retidos para ouvi-los, quando o coração de ambas as partes não está subjugado pela graça. Se o orgulho e o egoísmo fossem postos de lado, cinco minutos bastariam para remover a maioria das dificuldades. Anjos têm sido ofendidos e Deus desagradado pelas horas que são gastas em justificação do eu. Vi que Deus não Se curvará para ouvir alongadas justificações, e Ele não deseja que os Seus servos o façam, e assim se esbanje precioso tempo que devia ser empregado em mostrar aos transgressores o erro de sua conduta, e tirando almas do fogo. PE 120 1 Vi que o povo de Deus está em terreno encantado, e que alguns têm quase perdido o senso da brevidade do tempo e o valor da alma. O orgulho tem-se insinuado entre os guardadores do sábado -- o orgulho do vestuário e da aparência. Disse o anjo: "Os guardadores do sábado terão de morrer para o eu, morrer para o orgulho e o amor da aprovação." PE 120 2 A verdade, a salvadora verdade, precisa ser levada ao faminto povo em trevas. Vi que muitos oravam para que Deus os tornasse humildes; mas se Deus respondesse a suas orações, seria por terríveis coisas em justiça. Era seu dever humilharem-se a si mesmos. Vi que se a exaltação pessoal fosse tolerada, levaria seguramente almas ao descaminho, e se não fosse vencida, mostrar-se-ia sua ruína. Quando alguém começa a parecer grande aos seus próprios olhos e pensa que pode fazer alguma coisa, o Espírito de Deus é retirado, e ele vai em sua própria força até que é vencido. Vi que um santo, se reto, poderia mover o braço de Deus; mas toda uma multidão, se em erro, seria fraca e nada efetuaria. PE 120 3 Muitos têm coração exaltado, insubmisso, e pensam mais em suas próprias pequenas ofensas e provas do que nas almas dos pecadores. Se tivessem em vista a glória de Deus, preocupar-se-iam pelas almas que perecem ao seu redor; e ao sentirem sua perigosa situação, apegar-se-iam com fé enérgica, atuante, em Deus, e sustentariam as mãos dos Seus servos, a fim de que pudessem ousadamente mas com amor, declarar a verdade e advertir as almas a que se firmem nela, antes que a doce voz de misericórdia morresse na distância. Disse o anjo: "Os que professam o Seu nome não estão prontos." Vi que as sete últimas pragas estavam vindo sobre a desabrigada cabeça dos ímpios; e então os que haviam permanecido em seu caminho ouvirão amargas acusações de pecadores, e seu coração desmaiará dentro deles. PE 121 1 Disse o anjo: "Tendes estado a vasculhar palhas -- demorando-vos sobre pequenas provas -- e pecadores se perdem como conseqüência." Deus está disposto a operar em nosso favor em nossas reuniões, e é Seu prazer fazê-lo. Mas Satanás diz: "Embaraçarei a obra." Seus agentes dizem: "Amém." Crentes professos na verdade detêm-se em suas insignificantes provas e dificuldades que Satanás coloca diante deles. Gasta-se tempo que jamais poderá ser recuperado. Os inimigos da verdade têm visto nossas fraquezas, Deus tem sido ofendido, Cristo tem sido ferido. O objetivo de Satanás é alcançado, seus planos têm sido bem-sucedidos e ele triunfa. ------------------------Capítulo 28 -- Abnegação PE 121 2 Vi que havia o perigo de os santos fazerem preparativos demasiado grandes para conferências; que alguns eram sobrecarregados com muito serviço; que o apetite devia ser negado. Há perigo de alguns irem a reuniões por causa de pão e peixe. Vi que todos os que estão sendo tolerantes consigo mesmos no uso do imundo tabaco devem pôr de lado isso e dedicar os seus recursos para uso melhor. Façam esses um sacrifício que os prive de alguma satisfação própria e tomem os recursos que anteriormente usavam para satisfazerem ao apetite e entreguem-nos ao tesouro do Senhor. Como as duas pequenas moedas da viúva, esses donativos serão notados por Deus. A importância pode ser pequena, mas se todos fizerem isso, ela terá peso no tesouro. Se todos procurarem ser mais econômicos em seus artigos de vestuário, privando-se de algumas coisas que na realidade não são necessárias, e puserem de lado essas coisas inúteis e danosas como chá e café, dando à Causa a importância que custariam, haveriam de receber mais bênçãos aqui e uma recompensa no Céu. Muitos pensam que por lhes haver Deus concedido meios, podem viver quase acima das necessidades, podem ter alimento rico, vestir-se opulentamente, e que não é virtude para eles negarem-se quando possuem o suficiente. Tais pessoas não se sacrificam. Se vivessem um pouco mais pobremente e dessem para a causa de Deus a fim de ajudarem a promover a verdade, seria isto um sacrifício de sua parte, e quando Deus recompensar cada um segundo as suas obras, seriam lembrados por Ele. ------------------------Capítulo 29 -- Irreverência PE 122 1 Vi que o santo nome de Deus devia ser usado com reverência e temor. As palavras Deus todo-poderoso são juntadas e usadas por alguns em oração de maneira irrefletida e descuidada, o que Lhe é desagradável. Tais pessoas não possuem o senso de Deus ou da verdade, ou não falariam tão irreverentemente do grande e terrível Deus, que breve irá julgá-los no último dia. Disse o anjo: "Não as associem, pois terrível é o Seu nome." Os que compreendem a grandeza e a majestade de Deus, tomarão o Seu nome nos lábios com santo temor. Ele habita na luz inacessível; nenhum homem pode vê-Lo e viver. Vi que essas coisas precisarão ser compreendidas e corrigidas antes que a igreja possa prosperar. ------------------------Capítulo 30 -- Falsos pastores PE 123 1 Tem-se-me mostrado que os falsos pastores estavam embriagados, mas não com vinho; cambaleiam, mas não por causa de bebida forte. A verdade de Deus está selada para eles; não a podem ler. Quando são interrogados quanto ao sétimo dia, se é ou não o verdadeiro sábado da Bíblia, encaminham as mentes a fábulas. Vi que esses profetas eram como as raposas do deserto. Eles não têm entrado nas tocas, não têm erguido um muro para que o povo de Deus possa estar de pé na batalha no dia do Senhor. Quando o espírito de alguém fica agitado, e ele começa a indagar dos falsos pastores a respeito da verdade, utilizam a maneira mais fácil e melhor de alcançar o seu objetivo e aquietar o espírito dos indagadores, embora mudando sua própria posição para fazê-lo. A luz tem brilhado sobre muitos desses pastores, mas eles não desejaram reconhecê-la, e têm mudado a sua posição inúmeras vezes para fugir à verdade e evitar as conclusões a que teriam de chegar se continuassem em sua posição anterior. O poder da verdade derruía-lhes o fundamento, mas em vez de se renderem a ela, buscavam outra plataforma, pois não estavam satisfeitos consigo mesmos. PE 123 2 Vi que muitos desses pastores haviam negado os passados ensinamentos de Deus; haviam negado e rejeitado as gloriosas verdades que outrora zelosamente advogaram e se envolveram com mesmerismo e toda espécie de enganos. Vi que estavam embriagados com o erro e guiavam o seu rebanho para a morte. Muitos dos opositores à verdade de Deus maquinam o mal em suas camas e durante o dia promovem os seus ímpios conselhos para repelir a verdade e conseguir alguma coisa nova que interesse ao povo e lhes desvie a mente da todo importante e preciosa verdade. PE 124 1 Vi que os sacerdotes que estão levando o seu rebanho à morte serão logo interrompidos em sua medonha carreira. As pragas de Deus estão se aproximando, mas aos falsos pastores não será suficiente ser atormentados com uma ou duas dessas pragas. A mão de Deus nesse tempo se estenderá ainda em ira e justiça, e não será recolhida até que os Seus propósitos sejam inteiramente cumpridos e os sacerdotes mercenários sejam levados a adorar aos pés dos santos e a reconhecer que Deus os amou porque eles sustentaram a verdade e guardaram os mandamentos de Deus, e até que todos os injustos sejam eliminados da Terra. PE 124 2 Os diferentes grupos de professos crentes do advento têm cada um deles um pouco de verdade, mas Deus deu todas essas verdades aos Seus filhos que estão sendo preparados para o dia de Deus. Ele tem dado verdades que nenhum desses agrupamentos conhece, nem entenderão. Coisas que para eles são seladas, o Senhor abriu aos que verão e estarão prontos a compreender. Se Deus tem alguma nova luz a comunicar, Ele permitirá que Seus escolhidos e amados a compreendam, sem que precisem ter a mente iluminada pelo ouvir os que estão em trevas e erro. PE 124 3 Foi-me mostrada a necessidade dos que crêem estarmos tendo a última mensagem de misericórdia, de se separarem dos que estão diariamente absorvendo novos erros. Vi que nem jovens e nem velhos devem assistir a suas reuniões; pois é errado assim encorajá-los enquanto ensinam o erro que é veneno mortal para a alma e doutrinas que são mandamentos de homens. A influência de tais reuniões não é boa. Se Deus nos libertou de tais trevas e erros, devemos ficar firmes na liberdade com que Ele nos tornou livres e regozijar na verdade. Deus Se desagrada de nós quando assistimos ao erro sem a isso ser obrigados; pois a menos que Ele nos envie a essas reuniões onde o erro é inculcado ao povo pelo poder da vontade, Ele não nos guardará. Os anjos cessam seu vigilante cuidado sobre nós, e somos deixados aos açoites do inimigo, deixados a ser entenebrecidos e debilitados por ele e pelo poder dos seus anjos maus; e a luz ao nosso redor fica contaminada com as trevas. PE 125 1 Vi que não temos tempo para desperdiçar em ouvir fábulas. Nossa mente não deve ser assim desviada, mas deve ocupar-se com a verdade presente e em buscar sabedoria que nos permita alcançar mais completo conhecimento de nossa posição, a fim de com mansidão podermos apresentar nas Escrituras a razão de nossa esperança. Enquanto falsas doutrinas e perigosos erros são impingidos à mente, esta não pode estar posta na verdade que deve capacitar e preparar a casa de Israel para estar em pé no dia do Senhor. ------------------------Capítulo 31 -- Dom de Deus ao homem PE 125 2 Tem-se-me mostrado o grande amor e condescendência de Deus em dar o Seu Filho para morrer a fim de que o homem pudesse encontrar perdão e viver. Foram-me mostrados Adão e Eva, que tiveram o privilégio de contemplar a beleza e encanto do Jardim do Éden e a quem fora dado comer de toda árvore do jardim, exceto uma. Mas a serpente tentou Eva e esta tentou o marido, e ambos comeram da árvore proibida. Quebraram o mandamento de Deus e tornaram-se pecadores. As novas se espalharam através do Céu e as harpas todas se calaram. Entristeceram-se os anjos, e temeram que Adão e Eva lançassem de novo a mão ao fruto da árvore da vida e se tornassem pecadores imortais. Mas Deus disse que expulsaria do jardim os transgressores, e pelos querubins e uma espada flamejante guardaria o caminho para a árvore da vida, de maneira que o homem não se aproximasse dela para comer do seu fruto, o qual perpetua a imortalidade. PE 126 1 A tristeza encheu o Céu ante a realidade de que o homem se perdera e que o mundo que Deus havia criado se encheria de mortais condenados à miséria, enfermidade e morte e que não havia meio de escape para o ofensor. Toda a família de Adão tinha que morrer. Vi então o amorável Jesus e contemplei em Seu semblante uma expressão de simpatia e pesar. Logo O vi aproximar-Se da inexcedível luz que envolvia o Pai. Disse o meu anjo assistente: "Ele está em conversa íntima com Seu Pai." A ansiedade dos anjos parecia ser intensa enquanto Jesus estava em comunhão com Seu Pai. Três vezes Ele foi envolvido pela gloriosa luz em torno do Pai, e na terceira vez Ele veio do Pai e pudemos ver Sua pessoa. Seu semblante estava calmo, livre de toda perplexidade e angústia, e brilhava com uma luz maravilhosa que palavras não podem descrever. Ele fez então saber ao coro angélico que se abrira um caminho de escape para o homem perdido; que estivera pleiteando com o Pai, e obtivera permissão de dar Sua própria vida como resgate para a raça, de levar os seus pecados, e receber sobre Si a sentença de morte, abrindo desta maneira caminho pelo qual pudessem, mediante os méritos do Seu sangue, encontrar perdão para as transgressões passadas, e mediante a obediência ser levados de volta ao jardim do qual haviam sido expulsos. Então poderiam ter acesso ao glorioso, imortal fruto da árvore da vida a que tinham perdido agora todo o direito. PE 126 2 Então alegria, alegria inexprimível, encheu o Céu, e o coro celestial cantou um cântico de louvor e adoração. Eles tocaram suas harpas e cantaram com mais entusiasmo que jamais haviam cantado, por causa da grande mercê e condescendência de Deus em entregar o Seu Filho querido para morrer pela raça rebelada. Então louvor e adoração se derramaram pela abnegação e sacrifício de Jesus em consentir deixar o seio de Seu Pai, e escolher uma vida de sofrimento e angústia, e uma morte ignominiosa, a fim de que pudesse dar vida a outros. PE 127 1 Disse o anjo: "Pensais que o Pai entregou o bem-amado Filho sem luta? Não, não." Foi de fato uma luta para o Deus do Céu decidir se deixaria perecer o homem culpado ou daria o Seu querido Filho para morrer por eles. Os anjos estavam tão interessados na salvação do homem que se poderia encontrar entre eles quem deixaria sua glória para dar a vida pelo homem a perecer. "Mas", disse o meu anjo acompanhante, "isto de nada aproveitaria." A transgressão era tão grande que a vida de um anjo não daria para pagar o débito. Nada menos que a morte e intercessão do Filho de Deus poderia pagar o débito e salvar o homem perdido de desesperada tristeza e ruína. PE 127 2 Mas a obra que fora designada aos anjos era de subir e descer com o revigorante bálsamo da glória para refrigerar o Filho de Deus em Sua vida de sofrimento. Eles ministraram a Jesus. Sua obra era também guardar os súditos da graça e protegê-los dos anjos maus e das trevas que eram constantemente lançadas ao redor deles por Satanás. Vi que era impossível para Deus mudar Sua lei para salvar o homem perdido, a perecer; portanto Ele permitiu que Seu querido Filho morresse pela transgressão do homem. ------------------------Capítulo 32 -- Dons espirituais -- Introdução PE 133 1 O dom de profecia foi manifestado na igreja durante a dispensação judaica. Se desapareceu por uns poucos séculos perto do fim dessa dispensação, mercê da condição corrupta da igreja, reapareceu ao seu final para introduzir o Messias. Zacarias, o pai de João Batista, "foi cheio do Espírito Santo e profetizou". Simeão, homem justo e devoto que foi, "esperando a consolação de Israel", veio pelo Espírito ao templo, e profetizou de Jesus como "luz para alumiar as nações, e para glória de Teu povo Israel"; e Ana, uma profetisa, "falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém". E não houve maior profeta do que João Batista, que foi escolhido por Deus para introduzir a Israel "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". PE 133 2 A era cristã começou com o derramamento do Espírito, e grande variedade de dons espirituais se manifestou entre os crentes. Tão abundantes eram que Paulo dizia à igreja de Corinto: "A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando um fim proveitoso" -- a cada um na igreja, não no mundo, como muitos têm aplicado. PE 133 3 Desde a grande apostasia, esses dons raramente têm-se manifestado; e esta é provavelmente a razão por que professos cristãos geralmente crêem que eles foram limitados ao período da igreja primitiva. Mas não é em virtude de erros e incredulidade da igreja que os dons cessaram? E quando o povo de Deus alcançar a primitiva fé e prática, como certamente sucederá pela proclamação dos mandamentos de Deus e a fé de Jesus, não é certo que a "chuva serôdia" de novo desenvolverá os dons? Com base na analogia, podemos esperar que assim seja. Não obstante as apostasias da era judaica, esta se iniciou e encerrou com especial manifestação do Espírito de Deus. E não é razoável supor que a era cristã -- cuja luz comparada com a da anterior dispensação é como a luz do Sol em comparação com os tênues raios da Lua -- comece em glória e termine em obscuridade. E uma vez que a operação especial do Espírito foi necessária a fim de preparar um povo para o primeiro advento de Cristo, muito maior sê-lo-á para o segundo, especialmente considerando que os últimos dias serão perigosos como nunca dantes, e os falsos profetas deverão ter poder para realizar grandes sinais e maravilhas, de tal maneira que, se possível, enganariam até os escolhidos. Voltando às Escrituras da verdade: PE 134 1 "E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em Meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados." Marcos 16:15-18. PE 134 2 A tradução de Campbell diz: "Estas miraculosas faculdades acompanharão os crentes." Os dons não foram circunscritos aos apóstolos, mas estenderam-se aos crentes. Quem os receberá? Aqueles que crerem. Até quando? Não há limitação; a promessa segue paralela com a grande comissão de pregar o evangelho e alcançar o último crente. PE 134 3 Mas objeta-se que este auxílio foi prometido somente aos apóstolos e aos que cressem por intermédio de sua pregação; que eles cumpriram a comissão, estabeleceram o evangelho e que os dons cessaram com aquela geração. Vejamos se a grande comissão terminou com aquela geração. Mateus 28:19, 20: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." PE 135 1 Que a pregação do evangelho sob esta comissão não terminou com a igreja primitiva é evidente da promessa: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos." Ele não diz: Estou com vós outros, apóstolos, em toda a parte, até mesmo nos confins da Terra; mas estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos, ou do mundo. Não se refere isto à era judaica, pois esta já tinha findado na cruz. Concluo, então, que a pregação e a fé do primitivo evangelho seriam sempre assistidas com o mesmo auxílio espiritual. A comissão dada aos apóstolos pertencia à era cristã, e compreendia toda ela. Conseqüentemente os dons foram perdidos apenas em virtude da apostasia, e serão revividos com o reavivamento da primitiva fé e prática. PE 135 2 Em 1 Coríntios 12:28 somos informados de que Deus colocou, fixou, ou estabeleceu, certos dons espirituais na igreja. Na falta de qualquer prova escriturística de que Ele os tenha removido, ou abolido, temos de concluir que foram destinados a permanecer. Onde então a prova de que foram abolidos? No mesmo capítulo? No mesmo capítulo onde o sábado judaico é abolido e o sábado cristão instituído -- um capítulo nos Atos do Mistério da Iniqüidade e do Homem do Pecado. Mas os objetores sustentam haver prova bíblica de que os dons deviam cessar, citando o seguinte texto: "O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei, como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem, a fé, a esperança e o amor." 1 Coríntios 13:8-13. PE 136 1 Este texto prevê a cessação dos dons espirituais, bem como da fé e esperança. Mas quando deveriam cessar? Ainda olhamos para o futuro, quando -- "Há de a esperança transmudar-se em alegre gozo, PE 136 2 A fé em realidade e a oração em louvor." PE 136 3 Eles devem cessar quando vier o que é perfeito, quando não mais tivermos de ver como num espelho, mas face a face. O dia perfeito, quando os justos forem aperfeiçoados e virmos como somos vistos, está ainda no futuro. É certo que o homem do pecado, quando chegado à virilidade, pôs de lado "coisas de crianças", como profecia, línguas, conhecimento, bem assim a fé, a esperança, e a caridade dos primitivos cristãos. Mas nada há no texto para mostrar que Deus tinha em vista retirar os dons que Ele havia posto na igreja até a consumação de sua fé e esperança, até que a transcendente glória do estado imortal eclipsasse as mais brilhantes manifestações de poder espiritual e conhecimento já manifestados no estado mortal. PE 136 4 A objeção fundada em 2 Timóteo 3:16, que alguns têm gravemente apresentado, não merece mais que uma ligeira consideração. Se Paulo, ao dizer que as Escrituras devem tornar perfeito o homem, e perfeitamente instruído para toda boa obra, quer significar que nada mais será escrito por inspiração, por que estava ele nesse momento acrescentando algo às Escrituras? Ao menos por que ele não depôs a pena tão logo foi essa sentença escrita? E por que João, trinta anos mais tarde, escreveu o livro do Apocalipse? Este livro contém outro texto que costuma ser citado para provar a abolição dos dons espirituais. PE 137 1 "Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa, e das coisas que se acham escritas neste livro." Apocalipse 22:18, 19. PE 137 2 Com base neste texto se afirma que Deus, que em diferentes vezes e maneiras, falou no passado aos pais pelos profetas, e, nos primórdios do evangelho por Jesus e Seus apóstolos, promete aqui solenemente jamais comunicar qualquer coisa mais ao homem desta maneira. Portanto, qualquer profecia que viesse a surgir depois desta data teria que ser falsa. Isto, diz-se, encerra o cânon da inspiração. Se assim é, por que João escreveu o seu evangelho depois do seu retorno de Patmos a Éfeso? Não estava ele assim acrescentando palavras às profecias do livro escrito em Patmos? É evidente, por esse texto, que a advertência para não acrescentar nem omitir, não se aplica num volume compilado como o temos, mas especificamente ao livro do Apocalipse, conforme saiu das mãos do apóstolo. Todavia homem algum tem o direito de acrescentar qualquer coisa a qualquer outro livro escrito pela inspiração de Deus, nem subtrair dele qualquer coisa. Escrevendo o livro do Apocalipse, estava João acrescentando alguma coisa às profecias do livro de Daniel? Absolutamente, não. Um profeta não tem o direito de alterar a Palavra de Deus. Mas as visões de João corroboram as de Daniel e provêem muita luz adicional aos assuntos aí introduzidos. Eu concluo, então, que o Senhor não Se obrigou ao silêncio, mas está ainda em liberdade para falar. Seja sempre esta a linguagem do meu coração: Fala, Senhor, por intermédio de quem desejares, pois o Teu servo ouve. PE 137 3 Assim a tentativa de provar pelas Escrituras a abolição dos dons espirituais, resulta inteiramente falha. E uma vez que as portas do inferno não têm prevalecido contra a igreja, porém Deus tem um povo na Terra, podemos considerar o desenvolvimento dos dons em relação com a mensagem do terceiro anjo, uma mensagem que fará retornar a igreja a sua condição apostólica e a tornará, indubitavelmente, a luz -- não as trevas -- do mundo. PE 138 1 E mais: Somos advertidos de que haveria nos últimos dias falsos profetas, e a Bíblia nos dá uma prova pela qual reconhecer os seus ensinos a fim de podermos distinguir entre o falso e o verdadeiro. O grande teste é a lei de Deus, que se aplica tanto às profecias como ao caráter moral dos profetas. Se não devesse haver profecias verdadeiras nos últimos dias, quão mais fácil teria sido declarar o fato, e assim cortar de vez toda oportunidade de engano, em vez de dar um teste pelo qual prová-los, como se devesse haver tanto o genuíno como o falso. PE 138 2 Em Isaías 8:19, 20 há uma profecia a respeito dos espíritos familiares do presente, e a lei é dada como um teste: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva." Por que a expressão "se eles não falarem", se não tivesse que haver profecia ou manifestação espiritual verdadeira ao mesmo tempo? Jesus disse: "Acautelai-vos dos falsos profetas. ... Pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:15, 16. Esta é uma parte do Sermão do Monte, e todos podem ver que este discurso tem uma aplicação geral à igreja através da era evangélica. Falsos profetas devem ser conhecidos por seus frutos; em outras palavras, por seu caráter moral. A única norma pela qual se determina se seus frutos são bons ou maus, é a lei de Deus. Assim somos levados à lei e ao testemunho. Os verdadeiros profetas não somente falarão segundo esta regra, mas viverão de acordo com ela. Não ouso condenar a quem fale e viva assim. PE 139 1 Sempre tem havido uma característica nos falsos profetas: eles têm visões de paz; e estarão dizendo "paz e segurança", quando sobre eles virá repentina destruição. O verdadeiro ousadamente reprovará o pecado e advertirá da ira vindoura. PE 139 2 Profecias que contradizem as claras e positivas declarações da Palavra devem ser rejeitadas. Assim nosso Salvador ensinou os Seus discípulos quando os advertiu sobre a maneira de Sua segunda vinda. Quando Jesus ascendeu ao Céu à vista dos Seus discípulos, foi declarado da maneira mais explícita pelos anjos que Aquele mesmo Jesus viria da maneira como para o Céu O tinham visto ir. Por isso mesmo Jesus, ao predizer a obra dos falsos profetas nos últimos dias, diz: "Se vos disserem: Eis que Ele está no deserto! não saiais: Ei-Lo no interior da casa! não acrediteis." Toda profecia verdadeira sobre este ponto terá de reconhecer Sua vinda visível do Céu. Por que Jesus não disse: Rejeitai toda profecia nesse tempo, se não tivesse de haver profetas então? PE 139 3 "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do Seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo." Efésios 4:11-13. PE 139 4 Aprendemos dos versos acima citados que quando Cristo ascendeu ao alto, deu dons aos homens. Entre esses dons enumeram-se apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. O objetivo em vista ao serem dados era o aperfeiçoamento dos santos em unidade e conhecimento. Alguns que professam ser pastores e mestres no presente sustentam que esses dons alcançaram inteiramente o seu objetivo há uns mil e oitocentos anos, e conseqüentemente cessaram. Por que, então, não põem de lado os seus títulos de pastores e mestres? Se o ofício de profeta está por este texto limitado à igreja primitiva, assim é com o de evangelista -- e todos os outros -- pois nenhuma distinção é feita. PE 140 1 Ora, raciocinemos um momento sobre este ponto. Todos esses dons foram dados para o aperfeiçoamento dos santos em unidade, conhecimento e espírito. Sob sua influência a igreja primitiva desfrutou por algum tempo dessa unidade. "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma." E parece conseqüência natural deste estado de unidade, o fato de que "com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça". Atos dos Apóstolos 4:31-33. Quão desejável não seria um igual estado de coisas agora! Mas a apostasia com sua influência desagregadora e deletéria manchou a beleza da igreja pura, e vestiu-a de saco. Divisão e desordem tem sido o resultado. Nunca houve tão grande diversidade de fé na cristandade como presentemente. Se os dons foram necessários para preservar a unidade da igreja primitiva, quão mais necessários não seriam eles agora para restaurar a unidade! E que é o propósito de Deus restaurar a unidade da igreja nos últimos dias, há abundante evidência nas profecias. É-nos assegurado que os atalaias verão com os seus próprios olhos quando o Senhor voltar a Sião. Igualmente se nos diz que no tempo do fim os entendidos entenderão. Quando isto for cumprido haverá unidade de fé entre todos a quem Deus considera entendidos; pois os que realmente compreendem com correção devem também compreender em união. Que é capaz de promover esta unidade senão os dons que foram dados para este exato propósito? PE 140 2 De considerações como esta torna-se evidente que o estado perfeito da igreja aqui predito está ainda no futuro; logo esses dons não completaram ainda a sua obra. Esta carta aos efésios foi escrita no ano 64 D.C., cerca de dois anos antes de Paulo dizer a Timóteo que estava sendo oferecido em sacrifício e que o tempo de sua partida está próximo. As sementes da apostasia estavam agora germinando na igreja, pois Paulo dissera dez anos antes, na segunda carta aos tessalonicenses: "O mistério da iniqüidade já opera." Lobos devoradores estavam prestes a se intrometerem, não poupando o rebanho. A igreja então não estava se erguendo e caminhando para aquela perfeição e unidade reveladas no texto, mas estava prestes a ser retaliada por facções e desviada por divisões. O apóstolo sabia disto, e conseqüentemente foi levado a olhar para além da grande apostasia, para o tempo do ajuntamento do remanescente do povo de Deus, quando disse: "Até que todos cheguemos à unidade da fé." Efésios 4:13. Daí se vê que os dons que foram postos na igreja ainda não ficaram fora de tempo. PE 141 1 "Não apagueis o Espírito. Não desprezeis profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom." 1 Tessalonicenses 5:19-21. PE 141 2 Nesta epístola o apóstolo introduz o assunto da segunda vinda do Senhor. Descreve ele então o estado do mundo incrédulo nesse tempo, que estará dizendo: "Paz e segurança", quando o dia do Senhor estiver para irromper sobre eles, como um ladrão de noite, trazendo-lhes súbita e repentina destruição. Então Ele exorta a igreja, em vista dessas coisas, a estar desperta, a ser sóbria e vigiar. Entre as exortações que se seguem encontram-se as palavras que temos citado: "Não apagueis o Espírito", etc. Alguns poderão pensar que esses três versos são completamente desvinculados uns dos outros em sentido; mas eles têm natural conexão na ordem em que estão. A pessoa que apaga o Espírito será levada a desprezar as profecias, que são legítimo fruto do Espírito. "Derramarei o Meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizarão." Joel 2:28. A expressão: "Julgai todas as coisas", é limitada ao assunto, profecias, e nós devemos provar os espíritos pelos processos que Deus nos tem dado em Sua Palavra. Enganos espirituais e falsas profecias abundam no presente tempo; e é indubitável que este texto tem especial aplicação aqui. Mas note-se, o apóstolo não diz: Rejeitai todas as coisas; mas, provai todas as coisas, retende o que for bom. PE 142 1 "E acontecerá depois que derramarei o Meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o Meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na Terra; sangue, fogo, e colunas de fumo. O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém estarão os que forem salvos, assim como o Senhor prometeu, e entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar." Joel 2:28-32. PE 142 2 Esta profecia de Joel, que fala do derramamento do Espírito Santo nos últimos dias, não foi integralmente cumprida no começo da dispensação evangélica. Isto é evidente considerando os prodígios no céu e na Terra, introduzidos no texto, os quais devem ser precursores do "grande e terrível dia do Senhor". Embora tenhamos tido os sinais, esse terrível dia está ainda no futuro. A dispensação evangélica toda pode ser chamada últimos dias, mas dizer que os últimos dias são 1.800 anos no passado, é absurdo. Eles se estendem até ao dia do Senhor e ao livramento do remanescente povo de Deus. "No Monte de Sião e em Jerusalém estarão os que forem salvos, assim como o Senhor prometeu, e entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar." PE 143 1 Este remanescente, que estará existindo em meio aos prodígios que introduzirão o grande e terrível dia do Senhor, é sem dúvida o resto da semente da mulher mencionada em Apocalipse 12:17 -- a última geração da igreja na Terra. "Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar contra os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus, e sustentam o testemunho de Jesus." PE 143 2 O remanescente da igreja evangélica terá os dons. Contra eles se travará guerra porque guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo. Apocalipse 12:17. Em Apocalipse 19:10 o testemunho de Jesus é definido como sendo o Espírito de Profecia. Disse o anjo: "Sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus." Em Apocalipse 22:9, ele repete o mesmo em substância, da seguinte forma: "Sou conservo teu e dos teus irmãos, os profetas." Da comparação vemos a força de expressão: "O testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia." Mas o testemunho de Jesus inclui todos os dons do Espírito. Diz Paulo: "Sempre dou graças a Deus a vosso respeito, a propósito da Sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nEle, em toda palavra e em todo o conhecimento; assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vós; de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 1:4-7. O testemunho de Cristo foi confirmado na igreja de Corinto; e qual foi o resultado? Não lhes faltou nenhum dom. Somos nós justificados então na conclusão de que quando o remanescente for plenamente confirmado no testemunho de Jesus, nenhum dom lhe faltará, na expectação da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo? R. F. Cottrell. ------------------------Capítulo 33 -- A queda de Satanás PE 145 1 Satanás foi outrora um honrado anjo no Céu, o primeiro depois de Cristo. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. Sua testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, seu porte nobre e majestoso. Mas quando Deus disse a Seu Filho: "Façamos o homem à Nossa imagem", Satanás teve ciúmes de Jesus. Ele desejava ser consultado sobre a formação do homem, e porque não o foi, encheu-se de inveja, ciúmes e ódio. Ele desejou receber no Céu a mais alta honra depois de Deus. PE 145 2 Até então todo o Céu tinha estado em ordem, harmonia e perfeita sujeição ao governo de Deus. Foi o pecado máximo rebelar-se contra Sua ordem e vontade. Todo o Céu parecia estar em comoção. Os anjos foram dispostos em ordem por companhias, cada divisão com um mais categorizado anjo a sua frente. Satanás, ambicionando exaltar-se a si mesmo, e não desejando submeter-se à autoridade de Jesus, fazia insinuações contra o governo de Deus. Alguns dos anjos simpatizaram com Satanás em sua rebelião, ao passo que outros contenderam fortemente com ele atribuindo honra e sabedoria a Deus em dar autoridade a Seu Filho. Houve controvérsia entre os anjos. Satanás e seus simpatizantes estavam porfiando por reformar o governo de Deus. Desejaram perscrutar Sua insondável sabedoria e averiguar o Seu propósito em exaltar a Jesus e dotá-Lo com tão ilimitado poder e comando. Eles se rebelaram contra a autoridade do Filho. Toda a hoste celestial foi convocada para comparecer perante o Pai a fim de que cada caso ficasse decidido. Aqui ficou decidido que Satanás seria expulso do Céu, com todos os anjos que a ele se haviam unido em rebelião. Houve então guerra no Céu. Anjos se empenharam em batalha; Satanás desejava conquistar o Filho de Deus e os que estavam submissos a Sua vontade. Mas os anjos bons e leais prevaleceram, e Satanás, com seus seguidores, foi expulso do Céu. PE 146 1 Depois que Satanás e os que caíram com ele foram expulsos do Céu, e tendo ele compreendido que perdera para sempre toda a sua pureza e glória, arrependeu-se e desejou ser reintegrado no Céu. Estava disposto a ocupar o seu próprio lugar, ou qualquer posição que lhe fosse designada. Mas não; o Céu não devia ser posto em risco. Todo o Céu poderia vir a ser maculado se ele fosse recebido de volta; pois o pecado originou-se com ele, e dentro dele estavam as sementes da rebelião. Tanto ele como os seus seguidores choraram e imploraram para serem de novo recebidos no favor de Deus. Mas o pecado deles -- o seu ódio, inveja e ciúmes -- tinha sido tão grande que Deus não podia apagá-lo. Tinha de permanecer, a fim de receber sua punição final. PE 146 2 Quando Satanás se tornou inteiramente cônscio de que não havia possibilidade de ser de novo acolhido no favor de Deus, sua malícia e ódio começaram a ser manifestos. Ele confabulou com os seus anjos, e foi estabelecido um plano para ainda operar contra o governo de Deus. Quando Adão e Eva foram postos no belo jardim, Satanás estava assentando planos para destruí-los. De nenhuma maneira poderia este feliz casal ser privado de sua felicidade se obedecessem a Deus. Satanás não poderia exercer o seu poder sobre eles, a não ser que eles primeiro desobedecessem a Deus e desmerecessem o Seu favor. Algum plano devia portanto ser delineado que os levasse à desobediência e os fizesse incorrer no desagrado de Deus, sendo postos sob influência mais direta de Satanás e seus anjos. Ficou decidido que Satanás assumiria uma outra forma e manifestaria interesse pelo homem. Ele devia fazer insinuações contra a fidelidade de Deus e criar a dúvida quanto ser precisamente exato o que Deus dissera; a seguir devia ele excitar-lhes a curiosidade e levá-los a investigar os impenetráveis planos de Deus -- precisamente o pecado de que Satanás se fizera culpado -- ponderando sobre a causa de Sua restrição com respeito à árvore do conhecimento. ------------------------Capítulo 34 -- A queda do homem PE 147 1 Santos anjos muitas vezes visitavam o jardim e davam instruções a Adão e Eva sobre sua ocupação e os informavam a respeito da rebelião e queda de Satanás. Os anjos os advertiram a respeito de Satanás e os acautelaram quanto a se separarem um do outro em suas atividades, pois poderiam ser levados em contato com este inimigo caído. Os anjos também lhes ordenaram que seguissem bem de perto as instruções que Deus lhes tinha dado, pois somente na perfeita obediência estariam eles a salvo. Só então não teria este inimigo caído qualquer poder sobre eles. PE 147 2 Satanás deu início a sua obra com Eva, a fim de levá-la à desobediência. Ela cometeu o seu primeiro erro afastando-se do marido, a seguir deixando-se ficar nas imediações da árvore proibida, e depois em dar ouvidos à voz do tentador, ousando mesmo duvidar do que Deus dissera: "No dia em que dela comerdes, certamente morrereis." Ela pensou que talvez o Senhor não quisesse dizer justamente isso, e aventurando-se, estendeu a mão, tomou o fruto e comeu-o. Ele era agradável aos olhos e agradável ao paladar. Admitiu ela então que Deus os havia privado daquilo que era realmente para o seu bem, e ofereceu o fruto a seu marido, tentando-o dessa forma. Ela relatou a Adão tudo o que a serpente lhe havia dito, e manifestou-lhe o seu espanto de que ela tivesse o poder da fala. PE 148 1 Vi a tristeza cobrir o semblante de Adão. Ele pareceu amedrontado e atônito. Uma luta parecia travar-se em seu espírito. Ele estava certo de que isso fora o inimigo contra quem haviam sido advertidos, e que sua esposa devia morrer. Teriam que se separar. Seu amor por Eva era forte, e em extremo desencorajamento decidiu partilhar do seu destino. Ele tomou o fruto e comeu-o rapidamente. Então Satanás exultou. Ele se rebelara no Céu, e havia conquistado simpatizantes que o amavam e seguiam-no em sua rebelião. Havia caído e levado outros a cair. Agora havia levado a mulher a duvidar de Deus, a inquirir Sua sabedoria, a procurar penetrar os Seus sapientíssimos planos. Satanás sabia que a mulher não cairia só. Adão, mercê de seu amor por Eva, desobedeceu à ordem de Deus, e caiu com ela. PE 148 2 As novas da queda do homem se espalharam através do Céu. Toda harpa emudeceu. Os anjos arremessaram de suas cabeças as suas coroas com tristeza. Todo o Céu estava em agitação. Um concílio foi convocado para decidir o que se deveria fazer com o par culpado. Os anjos temiam que eles estendessem a mão e comessem da árvore da vida, tornando-se pecadores imortais. Mas Deus disse que expulsaria os transgressores do jardim. Anjos foram imediatamente comissionados para guardar o caminho da árvore da vida. Tinha sido estudado plano de Satanás que Adão e Eva desobedecessem a Deus, recebessem Sua desaprovação e então partilhassem da árvore da vida, a fim de viverem eternamente em pecado e desobediência, ficando destarte o pecado imortalizado. Mas santos anjos foram enviados para expulsá-los do jardim, barrando-lhes o caminho da árvore da vida. Cada um desses poderosos anjos tinha em sua mão direita algo semelhante a uma flamejante espada. PE 149 1 Então Satanás triunfou. Havia feito outros sofrerem por sua queda. Ele havia sido posto fora do Céu, e eles fora do Paraíso. ------------------------Capítulo 35 -- O plano de salvação PE 149 2 O Céu encheu-se de tristeza quando se compreendeu que o homem estava perdido, e que o mundo que Deus criara deveria encher-se de mortais condenados à miséria, enfermidade e morte, e não haveria um meio de livramento para o transgressor. A família inteira de Adão deveria morrer. Vi o adorável Jesus, e contemplei uma expressão de simpatia e tristeza em Seu rosto. Logo eu O vi aproximar-Se da luz extraordinariamente brilhante que cercava o Pai. Disse meu anjo assistente: Ele está em conversa íntima com o Pai. A ansiedade dos anjos parecia ser intensa enquanto Jesus Se comunicava com Seu Pai. Três vezes foi encerrado pela luz gloriosa que havia em redor do Pai; e na terceira vez Ele veio de Seu Pai, e podia-se ver a Sua pessoa. Seu semblante estava calmo, livre de toda a perplexidade e inquietação, e resplandecia de benevolência e amabilidade, tais como não podem exprimir as palavras. Fez então saber à hoste angélica que um meio de livramento fora estabelecido para o homem perdido. Dissera-lhes que estivera a pleitear com Seu Pai, e oferecera-Se para dar Sua vida como resgate, e tomar sobre Si a sentença de morte, a fim de que por meio dEle o homem pudesse encontrar perdão; que pelos méritos de Seu sangue, e obediência à lei divina, ele poderia ter o favor de Deus, e ser trazido para o belo jardim e comer do fruto da árvore da vida. PE 149 3 A princípio os anjos não puderam regozijar-se, pois seu Comandante nada escondeu deles, mas desvendou-lhes o plano da salvação. Jesus lhes disse que ficaria entre a ira de Seu Pai e o homem culpado, que Ele arrostaria a iniqüidade e o escárnio, e que poucos apenas O receberiam como o Filho de Deus. Quase todos O odiariam e rejeitariam. Ele deixaria toda a Sua glória no Céu, apareceria na Terra como um homem, humilhar-Se-ia como um homem, familiarizar-Se-ia pela Sua própria experiência com as várias tentações com que o homem seria assediado, a fim de que pudesse saber como socorrer os que fossem tentados; e que, finalmente, depois que Sua missão como ensinador se cumprisse, seria entregue nas mãos dos homens, e suportaria quantas crueldades e sofrimentos Satanás e seus anjos pudessem inspirar ímpios homens a infligir; que Ele morreria a mais cruel das mortes, suspenso entre o céu e a terra, como um pecador criminoso; que sofreria terríveis horas de agonia, a qual nem mesmo os anjos poderiam contemplar, mas esconderiam seu rosto dessa cena. Ele sofreria não apenas a agonia física mas mental, com que o sofrimento físico de nenhuma maneira se poderia comparar. O peso dos pecados do mundo inteiro estaria sobre Ele. Disse-lhes que morreria, e ressuscitaria no terceiro dia, e ascenderia a Seu Pai para interceder pelo homem transviado e culposo. PE 150 1 Os anjos prostraram-se diante dEle. Ofereceram suas vidas. Jesus lhes disse que pela Sua morte salvaria a muitos; que a vida de um anjo não poderia pagar a dívida. Sua vida unicamente poderia ser aceita por Seu Pai como resgate pelo homem. Jesus também lhes disse que teriam uma parte a desempenhar -- estar com Ele e O fortalecer em várias ocasiões. Que Ele tomaria a natureza decaída do homem, e Sua força não seria nem mesmo igual à deles. E seriam testemunhas de Sua humilhação e grandes sofrimentos. E, ao testemunharem Seus sofrimentos e o ódio dos homens para com Ele, agitar-se-iam pelas mais profundas emoções, e pelo seu amor para com Ele desejariam livrá-Lo, libertá-Lo de Seus assassinos; mas que não deveriam intervir para impedir qualquer coisa que vissem; e que desempenhariam uma parte em Sua ressurreição; que o plano da salvação estava ideado, e Seu Pai aceitaria esse plano. PE 151 1 Com santa tristeza Jesus consolou e animou os anjos, e os informou de que dali em diante aqueles que Ele remisse estariam com Ele, e com Ele sempre morariam; e que pela Sua morte resgataria a muitos, e destruiria aquele que tinha o poder da morte. E Seu Pai Lhe daria o reino, e a grandeza do reino sob todo o Céu, e Ele o possuiria para todo o sempre. Satanás e os pecadores seriam destruídos para nunca mais perturbarem o Céu, ou a nova Terra purificada. Jesus ordenou que o exército celestial se conformasse com o plano que Seu Pai aceitara, e se regozijassem de que o homem decaído de novo pudesse ser exaltado mediante a Sua morte, a fim de obter o favor de Deus e gozar o Céu. PE 151 2 Então a alegria, inexprimível alegria, encheu os Céus. E a hoste celestial cantou um cântico de louvor e adoração. Tocaram harpas e cantaram em tom mais alto do que o tinham feito antes, pela grande misericórdia e condescendência de Deus, entregando o Seu mui Amado para morrer por uma raça de rebeldes. Derramaram-se louvor e adoração pela abnegação e sacrifício de Jesus; por consentir Ele em deixar o seio de Seu Pai e optar por uma vida de sofrimento e angústia, e morrer uma morte ignominiosa a fim de dar Sua vida por outros. PE 151 3 Disse meu anjo assistente: "Pensais que o Pai entregou Seu mui amado Filho sem esforço? Não, absolutamente. Foi mesmo uma luta, para o Deus do Céu, decidir se deixaria o homem culpado perecer, ou dar Seu amado Filho para morrer por ele." Os anjos estavam tão interessados na salvação do homem que se podiam encontrar entre eles os que deixariam sua glória e dariam a vida pelo homem que ia perecer. "Mas", disse o anjo, "isto nada adiantaria. A transgressão era tão grande que a vida de um anjo não pagaria a dívida. Nada a não ser a morte e intercessão de Seu Filho pagaria essa dívida, e salvaria o homem perdido da tristeza e miséria sem esperança." PE 152 1 Mas foi aos anjos designada a obra de subirem e descerem com bálsamo fortalecedor, trazido da glória, a fim de mitigar ao Filho do homem os Seus sofrimentos, e ministrar-Lhe. Seria também sua obra proteger e guardar os súditos da graça, contra os anjos maus e as trevas que constantemente Satanás arremessa em redor deles. Vi que era impossível a Deus alterar ou mudar Sua lei, para salvar o homem perdido, e que ia perecer; portanto, Ele consentiu em que Seu amado Filho morresse pela transgressão do homem. PE 152 2 Satanás de novo regozijou-se com seus anjos de que, ocasionando a queda do homem, pudesse ele retirar o Filho de Deus de Sua exaltada posição. Disse a seus anjos que, quando Jesus tomasse a natureza do homem decaído, poderia derrotá-Lo, e impedir a realização do plano da salvação. PE 152 3 Foi-me então mostrado Satanás como havia sido: um anjo feliz e elevado. Em seguida ele foi-me mostrado como se acha agora. Ainda tem formas régias. Suas feições ainda são nobres, pois é um anjo, ainda que decaído. Mas a expressão de seu rosto está cheia de ansiedade, cuidados, infelicidade, maldade, ódio, nocividade, engano e todo mal. Aquele semblante que fora tão nobre, notei-o particularmente. Sua fronte, logo acima dos olhos, começava a recuar. Vi que ele se havia aviltado durante tanto tempo que toda a boa qualidade se rebaixara, e todo o mau traço se desenvolvera. Seu olhar era astuto e dissimulado, e mostrava grande penetração. Sua constituição era ampla; mas a carne lhe pendia frouxamente nas mãos e no rosto. Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e dissimulação satânica era ele. Este sorriso é o que ele tem precisamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível. ------------------------Capítulo 36 -- O primeiro advento de Cristo PE 153 1 Fui conduzida ao tempo em que Jesus devia assumir a natureza humana, humilhar-Se como homem e sofrer as tentações de Satanás. PE 153 2 Seu nascimento foi destituído de grandeza mundana. Ele nasceu em um estábulo, e teve por berço uma manjedoura; contudo o Seu nascimento foi muito mais honrado do que o de qualquer dos filhos dos homens. Anjos celestiais informaram os pastores do advento de Jesus, e luz e glória de Deus acompanharam seu testemunho. A hoste celestial tangeu suas harpas e glorificou a Deus. Triunfantemente anunciaram o advento do Filho de Deus a um mundo caído a fim de cumprir a obra da redenção e trazer paz, felicidade e vida eterna ao homem, mediante Sua morte. Deus honrou o advento de Seu Filho. Os anjos O adoraram. PE 153 3 Anjos de Deus pairaram sobre a cena de Seu batismo; o Espírito Santo desceu sob a forma de uma pomba e resplandeceu sobre Ele; e, ficando o povo grandemente admirado, com os olhos fixos nEle, ouviu-se do Céu a voz do Pai, dizendo: "Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo." PE 153 4 João não estava certo de que era o Salvador que viera para ser por ele batizado no Jordão. Mas Deus lhe prometera um sinal pelo qual conheceria o Cordeiro de Deus. Aquele sinal foi dado ao repousar sobre Jesus a pomba celestial, e a glória de Deus resplandeceu em redor dEle. João estendeu a mão, apontando para Jesus, e com grande voz exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. PE 154 1 João informou seus discípulos de que Jesus era o Messias prometido, o Salvador do mundo. Quando sua obra estava a terminar-se, ensinou seus discípulos a olharem para Jesus, e segui-Lo como o grande Mestre. A vida de João foi triste e abnegada. Ele anunciou o primeiro advento de Cristo, mas não lhe foi prometido testemunhar Seus milagres e gozar do poder manifestado por Ele. João sabia que, quando Jesus Se estabelecesse como Ensinador, ele, João, deveria morrer. Sua voz raras vezes era ouvida, exceto no deserto. Sua vida era solitária. Não se apegou à família de seu pai, para gozar de sua companhia, mas deixou-os a fim de cumprir sua missão. Multidões abandonavam as atarefadas cidades e aldeias e arrebanhavam-se no deserto para ouvirem as palavras do maravilhoso profeta. João punha o machado à raiz da árvore. Reprovava o pecado, sem temer as conseqüências, e preparava o caminho para o Cordeiro de Deus. PE 154 2 Herodes sentiu-se afetado ao ouvir os poderosos, diretos testemunhos de João, e com profundo interesse indagou o que precisava fazer para tornar-se seu discípulo. João estava familiarizado com o fato de que ele estava prestes a casar-se com a mulher de seu irmão, estando o marido ainda vivo, e fielmente declarou a Herodes, que isto não era lícito. Herodes não estava disposto a fazer qualquer sacrifício. Casou-se com a esposa de seu irmão, e por sua influência apoderou-se de João e o aprisionou, com o propósito porém de libertá-lo. Enquanto confinado na prisão, João ouviu por intermédio de seus discípulos, a respeito das poderosas obras de Jesus. Ele não podia ouvir Suas graciosas palavras; mas os discípulos informavam-no e confortavam-no com o que ouviam. Logo foi decapitado por influência da esposa de Herodes. Vi que os mais humildes discípulos que seguiam a Jesus, testemunhavam Seus milagres e ouviam as confortadoras palavras que caíam de Seus lábios, eram maiores do que João Batista; isto é, foram mais exaltados e honrados, e tiveram mais gozo na vida. PE 155 1 João viera no espírito e virtude de Elias, para proclamar o primeiro advento de Jesus. Representava os que sairiam no espírito e virtude de Elias, para anunciar o dia da ira, e o segundo advento de Jesus. PE 155 2 Depois do batismo de Jesus no Jordão, foi Ele conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. O Espírito Santo O havia preparado para aquela cena especial de atrozes tentações. Quarenta dias foi tentado por Satanás, e nesses dias nada comeu. Tudo em redor dEle era desagradável e de modo que a natureza humana seria levada a recuar. Ele estava com as feras e com o diabo, em um lugar desolado, solitário. O Filho de Deus estava pálido e emaciado, pelo jejum e sofrimento. Seu caminho, porém, estava traçado, e Ele deveria cumprir a obra que viera fazer. PE 155 3 Satanás tirou vantagens dos sofrimentos do Filho de Deus, e preparou-se para assediá-Lo, com múltiplas tentações, esperando obter vitória sobre Ele, porque Se humilhara como um homem. Satanás chegou-se com esta tentação: "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." Ele tentou Jesus a condescender em dar-lhe prova de ser Ele o Messias, exercendo o Seu poder divino. Jesus brandamente lhe responde: "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus." Mateus 4:3, 4. PE 155 4 Satanás estava a procurar discussão com Jesus quanto a ser Ele o Filho de Deus. Referiu-se à Sua condição fraca e sofredora, e jactanciosamente afirmou que era mais forte do que Jesus. Mas a palavra, do Céu falada: "Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo" (Lucas 3:22), foi suficiente para alentar a Jesus através de todos os Seus sofrimentos. Vi que Jesus nada tinha a fazer quanto a convencer Satanás acerca de Seu poder, ou de ser Ele o Salvador do mundo. Satanás tinha prova suficiente da posição exaltada e da autoridade do Filho de Deus. Sua indisposição para render-se à autoridade de Cristo, excluíra-o do Céu. PE 156 1 Satanás, para manifestar o seu poder, levou Jesus a Jerusalém, e pô-Lo no pináculo do templo, e ali O tentou para dar prova de que Ele era o Filho de Deus, lançando-Se abaixo daquela altura vertiginosa. Satanás chegou-se com as palavras da inspiração: "Porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito, que Te guardem; e: eles Te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." Jesus, respondendo-lhe, disse: "Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus." Lucas 4:10-12. Satanás quis fazer Jesus vangloriar-Se com a misericórdia de Seu Pai, e arriscar Sua vida antes do cumprimento de Sua missão. Ele tinha esperado que o plano da salvação fracassasse; mas este plano estava muito profundamente estabelecido para que fosse subvertido ou prejudicado por Satanás. PE 156 2 Cristo é o exemplo para todos os cristãos. Quando eles são tentados, ou são discutidos os seus direitos, deveriam suportá-lo pacientemente. Não deveriam entender que têm direito de apelar para o Senhor a fim de ostentar Seu poder, para que possam alcançar vitória sobre os seus inimigos, a menos que possa Deus ser diretamente honrado e glorificado por meio disso. Se Jesus Se houvesse lançado do pináculo do templo, não teria glorificado Seu Pai; pois ninguém teria testemunhado o ato a não ser Satanás e os anjos de Deus. E teria sido tentar ao Senhor o ostentar Seu poder ao Seu pior adversário. Isto teria sido condescender com aquele a quem Jesus viera para vencer. PE 157 1 E o diabo, levando-O a um alto monte, "mostrou-Lhe num momento todos os reinos do mundo. Disse-Lhe o diabo: Dar-Te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será Tua. Mas Jesus lhe respondeu": Vai-te, Satanás; "está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele darás culto". Lucas 4:5-8. PE 157 2 Satanás apresentou diante de Jesus os reinos do mundo sob o mais atraente aspecto. Se Jesus o adorasse ali, oferecer-se-ia para abandonar suas pretensões a posses na Terra. Se o plano da salvação fosse executado, e Jesus morresse para remir o homem, sabia Satanás que seu poder deveria limitar-se e finalmente ser tirado, e que ele seria destruído. Portanto foi seu meditado plano impedir, sendo possível, o cumprimento da grande obra que havia sido começada pelo Filho de Deus. Se o plano da redenção humana falhasse, Satanás conservaria o reino a que tinha ele então pretensões. E, sendo ele bem-sucedido, lisonjeava-se de que reinaria em oposição ao Deus do Céu. PE 157 3 Satanás exultou quando Jesus depôs Seu poder e glória e deixou o Céu. Achou que o Filho de Deus estava então posto sob o seu poder. A tentação fora tão expedita com o santo par no Éden que ele esperou pelo seu poder e engano satânicos derrotar mesmo o Filho de Deus, e por este meio salvar sua própria vida e reino. Se ele pudesse tentar Jesus a afastar-Se da vontade de Seu Pai, seu objetivo estaria ganho. Mas Jesus defrontou o tentador com a repreensão: "Vai-te, Satanás." Ele deveria curvar-Se unicamente ante Seu Pai. Satanás pretendia como seu o reino da Terra, e insinuou a Jesus que todos os Seus sofrimentos poderiam ser evitados; que não necessitava morrer para obter os reinos deste mundo; se o adorasse poderia ter todas as possessões da Terra, e a glória de reinar sobre elas. Jesus, porém, permaneceu firme. Sabia que deveria vir o tempo em que Ele, pela Sua própria vida, resgataria de Satanás o reino, e que, depois de algum tempo, tudo no Céu e na Terra se Lhe submeteria. Preferiu Sua vida de sofrimento e Sua terrível morte, como o caminho indicado pelo Pai a fim de que pudesse tornar-Se o legítimo herdeiro dos reinos da Terra, e tê-los entregues em Suas mãos como uma posse eterna. Satanás também será entregue em Suas mãos para ser destruído pela morte, para nunca mais molestar a Jesus ou aos santos na glória. ------------------------Capítulo 37 -- O ministério de Cristo PE 158 2 Depois que Satanás terminara suas tentações, afastara-se de Jesus por algum tempo, e os anjos Lhe prepararam alimento no deserto e O fortaleceram; e a bênção de Seu Pai repousou sobre Ele. Satanás fracassara em suas mais atrozes tentações, contudo aguardava o período do ministério de Jesus, em que deveria em diferentes ocasiões experimentar sua astúcia contra Ele. Esperava também prevalecer contra Ele, estimulando aqueles que não receberiam a Jesus, a odiá-Lo e procurar destruí-Lo. Satanás realizou um conselho especial com os seus anjos. Estavam desapontados e enraivecidos de que em nada tivessem prevalecido contra o Filho de Deus. Resolveram ser mais astuciosos, e empregar o mais que fosse possível o seu poder a fim de inspirar incredulidade no espírito dos de Sua própria nação quanto a ser Ele o Salvador do mundo, e desta maneira desanimar a Jesus em Sua missão. Por mais exatos que pudessem ser os judeus em suas cerimônias e sacrifícios, se fossem conservados com os olhos fechados quanto às profecias, e levados a crer que o Messias deveria aparecer como um poderoso rei mundano, poderiam eles ser conduzidos a desprezar e rejeitar a Jesus. PE 159 1 Foi-me mostrado que Satanás e seus anjos estiveram muito ocupados durante o ministério de Cristo, inspirando aos homens incredulidade, ódio e escárnio. Muitas vezes, quando Jesus proferia alguma verdade incisiva, reprovando seus pecados, o povo se tornava enraivecido. Satanás e seus anjos compeliam-nos a tirarem a vida do Filho de Deus. Mais de uma vez apanharam pedras para atirar-Lhe, porém anjos celestiais O guardaram e O afastaram da multidão irada para um lugar de segurança. Outra vez, quando as claras verdades caíam de Seus santos lábios, a multidão lançou mão dEle, e O levou ao cimo de uma colina, com o intuito de O lançar abaixo. Surgiu entre eles uma contenda, quanto ao que deveriam fazer com Ele, quando de novo os anjos O ocultaram às vistas da multidão, e Jesus passando pelo meio, retirou-Se. PE 159 2 Satanás ainda esperava que o grande plano da salvação fracassasse. Exerceu todo o seu poder para endurecer o coração do povo e tornar hostis os seus sentimentos contra Jesus. Esperava que tão poucos O recebessem como o Filho de Deus, que Ele consideraria Seus sofrimentos, e sacrifício demasiado grandes para serem feitos em prol de um grupo tão pequeno. Mas, se tivesse havido apenas duas pessoas que aceitassem a Jesus como o Filho de Deus, e nEle cressem para a salvação de suas almas, Ele teria levado a efeito o plano. PE 159 3 Jesus iniciou a Sua obra, quebrando o poder de Satanás sobre os que sofriam. Restabeleceu os doentes à saúde, deu vista aos cegos e curou os coxos, fazendo-os saltar de alegria e glorificar a Deus. Restabeleceu à saúde os que tinham sido enfermos, e por muitos anos presos pelo poder cruel de Satanás. Com palavras cheias de graça consolava os fracos, os receosos, os desanimados. Aos fracos e sofredores, a quem Satanás retinha com triunfo, Jesus arrancou de suas garras, dando-lhes vigor de corpo e grande alegria e felicidade. Ressuscitou os mortos à vida, e estes glorificaram a Deus pela poderosa manifestação de Seu poder. De maneira poderosa operou por todos os que nEle criam. PE 160 1 A vida de Cristo estava repleta de palavras e atos de benevolência, simpatia e amor. Ele estava sempre atento para escutar e aliviar as misérias daqueles que a Ele vinham. Em seus corpos restaurados à saúde, multidões levavam a prova de Seu poder divino. Contudo, depois que a obra fora cumprida, muitos se envergonhavam do humilde mas poderoso Ensinador. Porque os príncipes não cressem em Jesus, o povo não estava disposto a aceitá-Lo. Ele foi um homem de dores e familiarizado com trabalhos. Não podiam suportar o serem governados por Sua vida sóbria, abnegada. Desejavam gozar da honra que o mundo confere. Todavia, muitos seguiam o Filho de Deus e escutavam as Suas instruções, banqueteando-se com as palavras que tão graciosamente caíam de Seus lábios. Suas palavras eram repletas de significação, e contudo, tão claras que os mais ignorantes as poderiam compreender. PE 160 2 Satanás e seus anjos cegaram os olhos e obscureceram o entendimento dos judeus, e instigaram os principais do povo e os governadores para tirarem a vida do Salvador. Enviaram-se oficiais a fim de lhes levarem a Jesus; ao chegarem, porém, perto de onde Ele Se achava, ficaram grandemente estupefatos. Viram-nO cheio de simpatia e compaixão, ao testemunhar Ele as desgraças humanas. Ouviram-nO falar com amor e ternura aos fracos e aflitos, animando-os. Ouviram-nO também, com voz de autoridade, repreender o poder de Satanás, e libertar seus cativos. Ouviram as palavras de sabedoria, que caíam de Seus lábios, e deixaram-se cativar por elas; não puderam lançar mão dEle. Voltaram aos sacerdotes e anciãos sem Jesus. Quando interrogados: "Por que não O trouxestes?" relataram o que haviam testemunhado de Seus milagres, e as santas palavras de sabedoria, amor e conhecimento que tinham ouvido, e disseram: "Jamais alguém falou como este Homem." Os principais dos sacerdotes os acusaram de ser também enganados e alguns dos oficiais ficaram envergonhados de O não haverem prendido. Os sacerdotes inquiriram, de maneira escarnecedora, se alguns dos príncipes haviam crido nEle. Muitos dos magistrados e anciãos creram em Jesus; mas Satanás os impediu de o confessar; temiam o opróbrio do povo mais do que temiam a Deus. PE 161 1 Até aí a astúcia e ódio de Satanás não tinham destruído o plano da salvação. O tempo para o cumprimento do objetivo pelo qual Jesus veio ao mundo, estava se aproximando. Satanás e seus anjos consultaram-se, e decidiram inspirar a própria nação de Cristo a clamar avidamente por Seu sangue, e acumular sobre Ele crueldade e escárnio. Esperavam que Jesus Se ressentisse de tal tratamento, e deixasse de manter Sua humildade e mansidão. PE 161 2 Enquanto Satanás formulava seus planos, Jesus estava cuidadosamente a revelar a Seus discípulos os sofrimentos pelos quais deveria passar, a saber, que Ele seria crucificado, e que ressuscitaria no terceiro dia. Mas o entendimento deles parecia embotado, e não podiam compreender o que Ele lhes dizia. ------------------------Capítulo 38 -- A transfiguração PE 162 1 A fé dos discípulos ficou grandemente fortalecida na transfiguração, quando lhes foi permitido contemplar a glória de Cristo e ouvir a voz do Céu testificando do seu caráter divino. Deus desejou dar aos seguidores de Jesus forte prova de que Ele era o prometido Messias, a fim de que em seu amargo desapontamento e tristeza quando da crucifixão, não perdessem por completo sua confiança. Por ocasião da transfiguração o Senhor enviou Moisés e Elias para falarem com Jesus sobre Seus sofrimentos e morte. Em vez de escolher anjos para falar com Seu Filho, Deus escolheu os que tinham por si mesmos experimentado as provações da Terra. PE 162 2 Elias havia andado com Deus. Sua obra tinha sido penosa e probante, pois o Senhor, por intermédio dele, havia reprovado os pecados de Israel. Elias fora um profeta de Deus; todavia vira-se compelido a fugir de um lugar para outro a fim de salvar a vida. Sua própria nação caçara-o como um animal feroz a fim de destruí-lo. Mas Deus trasladara Elias. Anjos levaram-no para o Céu em glória e triunfo. PE 162 3 Moisés foi maior do que qualquer que haja vivido antes dele. Foi altamente honrado por Deus, tendo tido o privilégio de falar com o Senhor face a face, como um homem fala a seu amigo. Foi-lhe permitido ver a luz resplandecente e excelente glória que rodeava o Pai. O Senhor, por meio de Moisés, libertou os filhos de Israel do cativeiro egípcio. Moisés foi um mediador para o seu povo, ficando muitas vezes entre eles e a ira de Deus. Quando a ira do Senhor grandemente se acendeu contra Israel pela sua incredulidade, suas murmurações e seus ofensivos pecados, o amor de Moisés por eles foi provado. Deus Se propusera destruí-los, e fazer dele uma poderosa nação. Moisés mostrou seu amor para com Israel, por meio do fervoroso rogo que fez em favor deles. Em sua angústia orou a Deus para que se desviasse Sua ardente ira e perdoasse a Israel, ou apagasse seu próprio nome de Seu livro. PE 163 1 Quando Israel murmurou contra Deus e contra Moisés, porque não podiam obter água, acusaram-no de os conduzir para fora daquela terra a fim de os matar, e a seus filhos. Deus ouviu suas murmurações e mandou que Moisés falasse à rocha, para que o povo tivesse água. Moisés feriu a rocha, com ira, e tomou a glória para si mesmo. Os contínuos transvios e murmurações dos filhos de Israel haviam-lhe causado a mais profunda tristeza, e por um pouco de tempo se esquecera de quanto o Senhor os suportara, e de que sua murmuração não era contra ele, mas contra Deus. Pensou unicamente em si, quão profundamente fora maltratado, e quão pouca gratidão manifestavam em troca de seu profundo amor para com eles. PE 163 2 Era o plano de Deus trazer Seu povo muitas vezes em situações difíceis, e então, em sua necessidade, livrá-los pelo Seu poder, para que pudessem compenetrar-se de Seu amor e cuidado para com eles, e assim ser levados a servi-Lo e honrá-Lo. Mas Moisés deixou de honrar a Deus e engrandecer o Seu nome perante o povo, para que O glorificassem. Com isto trouxe sobre si o desagrado do Senhor. PE 163 3 Quando Moisés desceu do monte com as duas tábuas de pedra, e viu Israel adorando o bezerro de ouro, sua ira acendeu-se grandemente, e arremessou as tábuas de pedra, quebrando-as. Moisés não pecou com isto. Irou-se em favor de Deus, cioso de Sua glória. Quando, porém, se rendeu aos sentimentos naturais de seu coração e tomou para si a honra que era devida a Deus, pecou, e por causa daquele pecado Deus não lhe permitiria entrar na terra de Canaã. PE 164 1 Satanás tinha estado a procurar algo com que acusar Moisés perante os anjos. Exultou com seu êxito em levá-lo a desagradar a Deus, e disse aos anjos que ele poderia vencer ao Salvador do mundo quando Este viesse para remir o homem. Pela sua transgressão Moisés veio a ficar sob o poder de Satanás -- o domínio da morte. Tivesse ele permanecido firme, e o Senhor o teria levado à terra prometida, e o teria então trasladado para o Céu sem ver a morte. PE 164 2 Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo, pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao Céu. Satanás maldisse amargamente a Deus, acusando-O de injusto por permitir que sua presa lhe fosse tirada; Cristo, porém, não repreendeu a Seu adversário, embora fosse por sua tentação que o servo de Deus houvesse caído. Mansamente remeteu-o a Seu Pai, dizendo: "O Senhor te repreenda." PE 164 3 Jesus tinha dito a Seus discípulos que alguns havia com Ele que não provariam a morte antes que vissem o reino de Deus vir com poder. Na transfiguração esta promessa se cumpriu. Transformou-se ali o rosto de Jesus, e resplandeceu como o Sol. Suas vestes se tornaram brancas e luzentes. Moisés estava presente para representar os que serão ressuscitados dentre os mortos, por ocasião do segundo aparecimento de Jesus. E Elias, que fora trasladado sem ver a morte, representava os que serão transformados à imortalidade por ocasião da segunda vinda de Cristo, e serão trasladados para o Céu sem ver a morte. Os discípulos contemplaram com temor e espanto a excelente majestade de Jesus e a nuvem que os cobriu, e ouviram a voz de Deus com terrível majestade, dizendo: "Este é o Meu Filho, o Meu Eleito: a Ele ouvi." ------------------------Capítulo 39 -- A traição PE 165 1 Fui transportada à ocasião em que Jesus comeu a páscoa com os Seus discípulos. Satanás tinha enganado Judas, e o havia levado a julgar ser ele um dos verdadeiros discípulos de Cristo; seu coração, porém, sempre tinha sido carnal. Tinha visto as obras poderosas de Jesus, com Ele havia estado no decorrer de Seu ministério, e deixara-se convencer pelas provas esmagadoras de que Ele era o Messias; mas Judas era avaro e cobiçoso; amava o dinheiro. Com ira deplorou o uso do precioso ungüento derramado sobre Jesus. PE 165 2 Maria amava a seu Senhor. Havia-lhe perdoado os pecados, que eram muitos, e ressuscitara dos mortos seu irmão mui amado, e ela entendia que nada era demasiado caro para conferir a Jesus. Quanto mais precioso fosse o ungüento, melhor poderia ela exprimir a gratidão para com seu Salvador, dedicando-o a Ele. PE 165 3 Judas, como desculpa de sua cobiça, insistia que o ungüento poderia ter sido vendido, e dado aos pobres. Mas não era porque tivesse qualquer cuidado dos pobres: pois era egoísta e muitas vezes se apossava para seu próprio uso daquilo que era confiado ao seu cuidado para ser dado aos pobres. Judas fora desatencioso ao conforto de Jesus, e mesmo às Suas necessidades, e para desculpar sua cobiça muitas vezes se referia aos pobres. Este ato de generosidade da parte de Maria foi uma repreensão incisiva à sua disposição para a cobiça. O caminho estava preparado para a tentação de Satanás encontrar fácil recepção no coração de Judas. PE 165 4 Os sacerdotes e príncipes dos judeus odiavam a Jesus; mas multidões se juntavam para ouvir Suas palavras de sabedoria e testemunhar Suas poderosas obras. O povo se achava agitado pelo mais profundo interesse, e ansiosamente seguiam a Jesus a fim de ouvir as instruções deste maravilhoso Mestre. Muitos dos príncipes creram nEle, mas não ousavam confessar sua fé para não acontecer que fossem expulsos da sinagoga. Os sacerdotes e anciãos decidiram que algo se deveria fazer para desviar de Jesus a atenção do povo. Temiam que todos os homens cressem nEle. Não podiam ver segurança alguma para si. Haviam de perder sua posição, ou matar a Jesus. E, depois que O matassem, haveria ainda os que eram monumentos vivos de Seu poder. PE 166 1 Jesus tinha ressuscitado a Lázaro dentre os mortos, e receavam que, se O matassem, Lázaro testificaria de Seu grande poder. O povo estava se aglomerando para ver aquele que tinha sido ressuscitado dentre os mortos, e os príncipes resolveram matar Lázaro também, e abafar assim a excitação. Então teriam de novo influência sobre o povo e o fariam volver às tradições e doutrinas dos homens, para dizimarem a hortelã e o cominho. Convieram em prender Jesus quando Ele estivesse só; pois, se tentassem prendê-Lo em uma multidão quando a mente de todo o povo nEle estivesse interessada, seriam apedrejados. PE 166 2 Judas sabia quão ansiosos estavam para obterem Jesus, e ofereceu-se para traí-Lo aos príncipes dos sacerdotes e anciãos, por algumas moedas de prata. Seu amor ao dinheiro levou-o a consentir em trair seu Senhor às mãos de Seus piores inimigos. Satanás estava operando diretamente por intermédio de Judas, e, em meio da cena impressionante da última ceia, o traidor estava imaginando planos para entregar seu Senhor. Jesus tristemente disse a Seus discípulos que todos eles naquela noite se escandalizariam nEle. Mas Pedro ardorosamente afirmou que, ainda que todos os outros se escandalizassem, ele não se escandalizaria. Jesus disse-lhe: "Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos." Lucas 22:31, 32. PE 167 1 Eis Jesus no horto com Seus discípulos. Com profunda tristeza mandou-os que vigiassem e orassem, para que não caíssem em tentação. Sabia que sua fé deveria ser provada, e suas esperanças iludidas, e que necessitariam de toda força que pudessem obter por um atento vigiar e fervorosa oração. Com fortes brados e pranto, Jesus orou: "Pai, se queres, passa de Mim este cálice; contudo, não se faça a Minha vontade, e, sim a Tua." Lucas 22:42. O Filho de Deus orava com agonia. Grandes gotas de sangue juntavam-se em Seu rosto e caíam ao chão. Anjos pairavam no local, testemunhando aquela cena, mas apenas um foi comissionado para ir fortalecer ao Filho de Deus em Sua agonia. Não havia alegria no Céu. Os anjos lançaram de si suas coroas e harpas, e com o mais profundo interesse observavam silenciosamente a Jesus. Desejavam cercar o Filho de Deus, mas o anjo comandante não lhes permitiu, para que não acontecesse, ao contemplarem eles Sua traição, que O livrassem; pois o plano tinha sido formulado e deveria cumprir-se. PE 167 2 Depois que Jesus orou, veio a Seus discípulos; eles, porém, estavam a dormir. Naquela hora terrível Ele não tinha a simpatia e oração nem mesmo de Seus discípulos. Pedro, tão zeloso fora algum tempo antes, estava carregado de sono. Jesus lembrou-lhe suas positivas declarações, dizendo-lhe: "Então nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" Mateus 26:40. Três vezes o Filho de Deus orou com agonia. Então apareceu Judas, com seu grupo de homens armados. Aproximou-se de seu Mestre como de costume, para O saudar. O grupo rodeou a Jesus; mas ali manifestou Ele o Seu poder divino, quando disse: "A quem buscais?" "Sou Eu." Eles caíram para trás, por terra. Jesus fez esta pergunta para que pudessem testemunhar o Seu poder, e ter provas de que Ele poderia livrar-Se de suas mãos se o quisesse. PE 167 3 Os discípulos começaram a ter esperanças, ao verem a multidão com seus varapaus e espadas cair tão rapidamente. Levantando-se e de novo cercando o Filho de Deus, Pedro arrancou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus mandou-o que pusesse a espada em seu lugar, dizendo: "Acaso pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?" Vi que, ao serem faladas estas palavras, os rostos dos anjos se animaram com esperança. Desejavam naquele momento, ali mesmo, rodear seu Comandante e dispersar a turba irosa. Mas, de novo a tristeza caiu sobre eles, quando Jesus acrescentou: "Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?" Mateus 26:53, 54. O coração dos discípulos também caiu em desespero e amargo desapontamento, ao deixar-Se Jesus ser levado pelos Seus inimigos. PE 168 1 Os discípulos temeram pela própria vida, e todos eles O abandonaram e fugiram. Jesus foi deixado só nas mãos da turba assassina. Oh! que triunfo então houve para Satanás! E que tristeza e pesar entre os anjos de Deus! Muitos grupos de santos anjos, cada qual com um alto anjo comandante à sua frente, foram enviados para testemunhar a cena. Deveriam registrar todo o insulto e crueldade impostos ao Filho de Deus, e todo o transe de angústia que Jesus sofresse; pois os mesmos homens que se uniram nesta cena terrível devem vê-la toda outra vez, em vívidos caracteres. ------------------------Capítulo 40 -- O julgamento de Cristo PE 169 1 Os anjos, ao deixarem o Céu, com tristeza depuseram suas brilhantes coroas. Não podiam usá-las enquanto seu Comandante estivesse sofrendo, e devesse usar uma coroa de espinhos. Satanás e seus anjos estavam na sala do julgamento, empenhados na obra de destruir os sentimentos e simpatia humanos. A própria atmosfera estava carregada e poluída por sua influência. Os principais dos sacerdotes e anciãos eram inspirados por eles para insultarem e maltratarem a Jesus de uma maneira dificílima para a natureza humana resistir. Satanás esperava que tal zombaria e violência provocassem alguma queixa ou murmuração do Filho de Deus; ou que Ele manifestasse Seu poder divino libertando-Se do poder da multidão, vindo, deste modo, a fracassar o plano da salvação. PE 169 2 Pedro acompanhou o Senhor depois de Sua traição. Estava ansioso por ver o que seria de Jesus. Mas, quando foi acusado de ser um de Seus discípulos, o temor pela sua própria segurança levou-o a declarar que não conhecia o homem. Os discípulos eram notados pela pureza de sua linguagem, e Pedro, para convencer seus acusadores de que ele não era um dos discípulos de Cristo, negou a acusação pela terceira vez com maldição e juramento. Jesus, que estava a alguma distância de Pedro, volveu para ele um olhar cheio de tristeza e reprovação. Então o discípulo se lembrou das palavras que Jesus lhe falara no cenáculo, e também de sua asseveração cheia de zelo: "Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para Mim." Mateus 26:33. Ele tinha negado seu Senhor, mesmo com maldição e juramento; mas aquele olhar de Jesus como que dissolveu o coração de Pedro, e o salvou. Ele chorou amargamente, arrependeu-se de seu grande pecado e converteu-se; e, então, ficou preparado para fortalecer seus irmãos. PE 170 1 A multidão clamava pelo sangue de Jesus. Cruelmente O açoitaram e puseram sobre Ele uma velha veste real de púrpura, cingindo-Lhe a sagrada cabeça com uma coroa de espinhos. Puseram-Lhe na mão uma cana, prostravam-se diante dEle e escarnecedoramente O saudavam: "Salve, Rei dos judeus!" Mateus 27:29. Tiraram-Lhe então da mão a cana, e com ela O feriram na cabeça, fazendo com que os espinhos penetrassem em Suas fontes e o sangue Lhe escorresse pelo rosto e barba. PE 170 2 Era difícil aos anjos suportarem aquela cena. Desejavam libertar a Jesus, mas os anjos comandantes lhes proibiam isto, dizendo que era grande o resgate que deveria ser pago pelo homem; mas que o mesmo se completaria e ocasionaria a morte dAquele que tinha o poder da morte. Jesus sabia que os anjos estavam testemunhando a cena de Sua humilhação. O mais fraco dentre os anjos poderia fazer com que aquela multidão escarnecedora caísse impotente, e poderia livrar a Jesus. Ele sabia que Se desejasse isto de Seu Pai, os anjos instantaneamente O livrariam. Era, porém, necessário que Ele sofresse a violência dos homens ímpios, a fim de levar a efeito o plano da salvação. PE 170 3 Jesus permaneceu manso e humilde perante a multidão enfurecida, enquanto Lhe davam os mais vis maus tratos. Cuspiam-Lhe no rosto, rosto esse do qual um dia desejarão esconder-se e que dará luz à cidade de Deus e resplandecerá mais do que o Sol. Cristo não lançou contra os que O ofendiam um olhar iroso. Cobriram-Lhe a cabeça com uma roupa velha, vendando-Lhe os olhos, e então O feriam no rosto e exclamavam: "Profetiza-nos quem é o que Te bateu." Lucas 22:64. Houve comoção entre os anjos. Eles O teriam livrado instantaneamente; mas seus anjos comandantes os contiveram. PE 171 1 Alguns dos discípulos se atreveram a entrar onde Jesus Se achava e testemunhar o Seu julgamento. Esperavam que Ele manifestasse Seu poder divino, que Se livrasse das mãos dos inimigos e os punisse pela crueldade para com Ele. Suas esperanças vinham e desapareciam ao transpirarem as diferentes cenas. Algumas vezes duvidavam, e temiam que houvessem sido enganados. Mas a voz que ouviram no monte da transfiguração e a glória que ali contemplaram, fortaleceram-lhes a fé quanto a ser Ele o Filho de Deus. Recordaram-se das cenas que tinham testemunhado, dos milagres que tinham visto Jesus realizar ao curar os doentes, abrir os olhos aos cegos, desobstruir os ouvidos surdos, repreender e expelir os demônios, e restituir a vida aos mortos, e mesmo acalmar os ventos e o mar. Não podiam crer que Ele morreria. Esperavam que ainda Se levantasse com poder, e com Sua voz soberana dispersasse aquela multidão sedenta de sangue, como o fizera quando entrara no templo e expulsara os que estavam a fazer da casa de Deus lugar de mercadorias, e quando fugiram de diante dEle como se fossem perseguidos por um grupo de soldados armados. Os discípulos esperavam que Jesus manifestasse Seu poder e convencesse todos de que Ele era o Rei de Israel. PE 171 2 Judas ficou cheio de amargurado remorso e vergonha pelo seu traiçoeiro ato de entregar a Jesus. E, quando testemunhou o mau trato que o Salvador suportava, ficou vencido. Havia amado a Jesus, mas amara mais o dinheiro. Não pensara que Jesus tolerasse o ser preso pela turba que ele guiara. Esperara que Ele operasse um milagre, e deles Se libertasse. Mas, quando viu a multidão enfurecida na audiência, sedenta de sangue, sentiu profundamente a sua falta; e, enquanto muitos estavam veementemente a acusar Jesus, Judas precipitou-se através da multidão confessando que tinha pecado, traindo sangue inocente. Ofereceu aos sacerdotes o dinheiro que lhe haviam pago e rogou-lhes que livrassem a Jesus, declarando que Ele era inteiramente inocente. PE 172 1 Por um pouco de tempo o vexame e a confusão conservaram os sacerdotes em silêncio. Não desejavam que o povo soubesse haverem eles assalariado um dos professos seguidores de Jesus para traí-Lo e Lho entregar. Desejavam ocultar o terem eles acossado a Jesus como a um ladrão e O haverem preso secretamente. Mas a confissão de Judas e sua aparência descomposta, criminosa, desmascararam os sacerdotes perante a multidão, mostrando que foi o ódio que os fizera prender a Jesus. Ao declarar Judas em alta voz que Jesus era inocente, replicaram os sacerdotes: "Que nos importa? Isso é contigo." Mateus 27:4. Eles tinham Jesus em seu poder, e estavam decididos a mantê-Lo seguro. Judas, vencido pela angústia, arrojou o dinheiro, que ele agora desprezava, aos pés daqueles que o assalariaram, e, com aflição e horror, foi enforcar-se. PE 172 2 Jesus tinha muitos que com Ele simpatizavam, na multidão em redor, e o não haver Ele nada respondido às muitas perguntas que Lhe foram feitas, tornou estupefata a turba. Sob toda a zombaria e violência do populacho, nem um sinal de desagrado, nem uma expressão de inquietação repousou em Suas feições. Manteve a dignidade e a compostura. Os espectadores olhavam para Ele maravilhados. Comparavam Suas formas perfeitas e porte firme, digno, com a aparência daqueles que se assentavam em juízo contra Ele, e diziam uns aos outros que Ele Se parecia com um rei mais do que qualquer dos príncipes. Não apresentava indício de ser criminoso. Seu olhar era suave, claro e denodado; Sua testa, larga e alta. Todos os traços se distinguiam fortemente pela benevolência e nobres princípios. Sua paciência e resignação eram tão diferentes das do homem, que muitos estremeceram. Mesmo Herodes e Pilatos ficaram grandemente perturbados com o Seu porte nobre, divino. PE 173 1 Desde o princípio Pilatos estava convencido de que Jesus não era um homem comum. Cria que tinha um excelente caráter, e inteiramente inocente das acusações feitas contra Ele. Os anjos que testemunhavam a cena notaram as convicções do governador romano, e, para salvá-lo de se empenhar no terrível ato de entregar a Cristo para ser crucificado, um anjo foi enviado à mulher de Pilatos, e informou-a por meio de um sonho de que o Filho de Deus era aquele em cujo processo seu marido estava empenhado, e era um inocente sofredor. Ela imediatamente mandou um recado a Pilatos, declarando que sofrera muitas coisas em um sonho por causa de Jesus, e avisando-o de que nada tivesse que ver com aquele santo Homem. O portador desta mensagem, atravessando à pressa a multidão, colocou a carta nas mãos de Pilatos. Ao lê-la, tremeu e ficou pálido, e logo resolveu nada ter que ver com tirar a vida de Cristo. Se os judeus quisessem o sangue de Jesus, ele não prestaria sua influência para tal, antes trabalharia para O livrar. PE 173 2 Quando Pilatos ouviu que Herodes estava em Jerusalém, sentiu-se grandemente aliviado; pois esperava livrar-se de toda a responsabilidade no julgamento e condenação de Jesus. Logo O enviou, com Seus acusadores, a Herodes. Este governante se havia endurecido no pecado. O assassínio de João Batista lhe deixara na consciência uma mancha de que se não podia livrar. Quando ouviu falar de Jesus e das obras poderosas efetuadas por Ele, receou e tremeu, crendo ser Ele João Batista, ressuscitado dos mortos. Quando Jesus foi colocado em suas mãos por Pilatos, Herodes considerou este ato como um reconhecimento de seu poder, autoridade e julgamento. Isto teve como resultado tornar amigos os dois governantes, que antes tinham sido inimigos. Herodes gostou de ver Jesus, esperando que Ele operasse algum poderoso milagre para satisfação sua. Não era, porém, a obra de Jesus satisfazer curiosidade, ou procurar a Sua própria segurança. Seu poder divino, miraculoso, deveria exercer-se para a salvação de outrem, mas não em Seu próprio favor. PE 174 1 Jesus nada respondeu às muitas perguntas a Ele feitas por Herodes; tampouco replicou a Seus inimigos que O estavam a acusar veementemente. Herodes se encolerizou porque Jesus não pareceu temer seu poder, e com seus homens de guerra escarneceu, zombou do Filho de Deus e O maltratou. Contudo ficou cheio de admiração ante o aspecto nobre, divinal, de Jesus, quando ignominiosamente desacatado, e, temendo condená-Lo, O enviou de novo a Pilatos. PE 174 2 Satanás e seus anjos estavam a tentar Pilatos e procurando levá-lo à sua própria ruína. Sugeriram-lhe que, se ele não tomasse parte na condenação de Jesus, outros o fariam; a multidão tinha sede de seu sangue; e, se ele O não entregasse para ser crucificado, perderia poder e honras mundanas e seria acusado como crente em um impostor. Pelo medo de perder seu poder e autoridade, Pilatos consentiu na morte de Jesus. E, ainda que pusesse o sangue de Jesus sobre os Seus acusadores, e a multidão o recebesse, clamando: "Caia sobre nós o Seu sangue, e sobre nossos filhos" (Mateus 27:25), Pilatos, todavia, não ficou inocente; foi culpado do sangue de Cristo. Pelo seu próprio interesse egoístico, seu amor às honras dos grandes homens da Terra, entregou para ser morto um homem inocente. Se Pilatos houvesse seguido suas próprias convicções, nada teria tido que ver com a condenação de Jesus. PE 174 3 O aspecto e palavras de Jesus durante Seu julgamento produziram profunda impressão no espírito de muitos que estiveram presentes naquela ocasião. O resultado da influência assim exercida apareceu depois de Sua ressurreição. Entre aqueles que então foram acrescentados à igreja, muitos havia cuja convicção datava do tempo do julgamento de Jesus. PE 175 1 Grande foi a ira de Satanás quando viu que toda a crueldade que havia levado os judeus a infligirem a Jesus, não provocara nEle a menor murmuração. Posto que Ele tivesse tomado sobre Si a natureza do homem, foi sustentado por uma força divinal, e não Se afastou na mínima coisa da vontade de Seu Pai. ------------------------Capítulo 41 -- A crucifixão de Cristo PE 175 2 O Filho de Deus foi entregue ao povo para ser crucificado; com aclamações de triunfo levaram o amado Salvador. Estava fraco e desfalecia de cansaço, dor e perda de sangue pelos açoites e pancadas que recebera; contudo, foi posta sobre Ele a pesada cruz sobre a qual logo deveria ser pregado. Jesus desmaiou sob o fardo. Três vezes a cruz Lhe foi colocada sobre os ombros, e três vezes desmaiou. Um de Seus seguidores, homem que não tinha abertamente professado fé em Cristo, e contudo nEle cria, foi tomado em seguida. Sobre ele puseram a cruz, e levou-a ao lugar fatal. Hostes de anjos estavam arregimentadas no ar, sobre o local. Alguns dos discípulos de Cristo seguiram-nO ao Calvário, com tristeza e amargo pranto. Recordaram Sua entrada triunfal em Jerusalém apenas poucos dias antes, quando O acompanharam, clamando: "Hosana nas alturas", e estendendo suas vestes e belos ramos de palmeira no caminho. Tinham pensado que Ele deveria então tomar o reino, e reinar como um príncipe temporal sobre Israel. Quão transformada a cena! Quão desvanecidas as suas perspectivas! Agora, não com regozijo, nem com alegres esperanças, mas com coração ferido pelo temor e desespero, seguiam vagarosamente, tristemente, Aquele que fora infamado e humilhado e estava prestes a morrer. PE 176 1 A mãe de Jesus ali se achava. Seu coração estava traspassado de angústia, tal como apenas uma afetuosa mãe poderia experimentar; todavia, como os discípulos, ela ainda esperava que Cristo operasse algum poderoso milagre e Se livrasse de Seus assassinos. Não podia suportar o pensamento de que Ele consentiria em ser crucificado. Mas fizeram-se os preparativos e Jesus foi posto sobre a cruz. O martelo e os cravos foram trazidos. O coração dos discípulos desfaleceu dentro deles. A mãe de Jesus estava prostrada em agonia quase insuportável. Antes que o Senhor fosse pregado na cruz, os discípulos a retiraram daquela cena, para que não ouvisse o ruído dos cravos ao serem forçados através dos ossos e músculos de Suas tenras mãos e pés. Jesus não murmurou, mas gemeu em agonia. Seu rosto ficou pálido, e grandes gotas de suor estavam em Sua fronte. Satanás exultou com o sofrimento que o Filho de Deus estava passando, contudo receava que seus esforços para subverter o plano da salvação tivessem sido em vão, que seu reino estivesse perdido, e que ele devesse finalmente ser destruído. PE 176 2 Depois que Jesus fora pregado na cruz, foi esta levantada, e com grande força arremessada no lugar que tinha sido preparado para ela no chão, rasgando-Lhe a carne, e causando-Lhe o mais intenso sofrimento. A fim de tornar a morte de Jesus tão ignominiosa quanto possível, dois ladrões foram crucificados com Ele, um de cada lado. Os ladrões foram tomados à força, e, depois de muita resistência de sua parte, forçaram-lhes os braços para trás e os prenderam na cruz. Jesus, porém, mansamente Se sujeitou. Não foi necessário ninguém forçar para trás os Seus braços, sobre a cruz. Ao passo que os ladrões estavam amaldiçoando seus algozes, o Salvador, em agonia, orava pelos Seus inimigos: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. Não foi meramente uma aflição física que Cristo suportava; os pecados do mundo inteiro estavam sobre Ele. PE 177 1 Quando Jesus pendia da cruz, alguns que passavam O ultrajaram, agitando a cabeça, como que se curvando a um rei, e disseram-Lhe: "Tu, que destróis o santuário, e em três dias o reedificas! Salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus! E desce da cruz!" Satanás empregou as mesmas palavras a Cristo, no deserto: "Se és Filho de Deus." Os principais dos sacerdotes, anciãos e escribas, diziam zombeteiramente: "Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se. É Rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nEle." Mateus 27:40, 42. Os anjos que pairavam sobre a cena da crucifixão de Cristo, agitaram-se de indignação quando os príncipes escarneceram dEle, dizendo: "Salva-Te a Ti mesmo, se és Filho de Deus!" Desejaram ir ali para retirar Jesus e O livrar; mas não lhes foi permitido fazer isto. O objetivo de Sua missão ainda não estava cumprido. PE 177 2 Enquanto Jesus pendia da cruz durante aquelas longas horas de agonia, não Se esqueceu de Sua mãe. Ela voltara àquela terrível cena, pois não podia por mais tempo ficar longe de seu Filho. A última lição de Jesus foi de compaixão e humanidade. Olhou para o rosto de Sua mãe, ferido pela dor, e então para o amado discípulo João. Disse a Sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho." Disse então a João: "Eis aí tua mãe." João 19:26, 27. E desde aquela hora João a tomou em sua casa. PE 177 3 Jesus teve sede em Sua agonia, e Lhe deram vinagre e fel a beber; mas, quando provou, não o quis. Os anjos tinham presenciado a agonia de seu amado Comandante, até que não mais pudessem contemplar; e cobriam o rosto para não ver aquele quadro. O Sol recusou-se a olhar aquela terrível cena. Jesus clamou com uma grande voz, que lançou terror no coração de Seus assassinos: "Está consumado." João 19:30. Então o véu do templo se rasgou de alto a baixo, a Terra tremeu, as rochas se partiram. Grandes trevas estavam sobre a face da Terra. A última esperança dos discípulos pareceu varrer-se ao morrer Jesus. Muitos de Seus seguidores testemunharam a cena de Seus sofrimentos e morte, e encheu-se-lhes o cálice de tristeza. PE 178 1 Satanás não exultou então como tinha feito. Ele havia esperado derrocar o plano da salvação; este, porém, estava muito profundamente estabelecido. E agora, pela morte de Cristo, sabia que ele próprio deveria finalmente morrer, e seu reino seria dado a Jesus. Reuniu um conselho com os seus anjos. Em nada havia ele prevalecido contra o Filho de Deus, e agora deveriam aumentar seus esforços, e, com todo o poder e engano volver a Seus seguidores. Deveriam impedir todos quantos pudessem de receber a salvação para eles comprada por Jesus. Assim fazendo, Satanás poderia ainda trabalhar contra o governo de Deus. Também, seria de seu próprio interesse afastar de Jesus quantos fosse possível. Pois os pecados daqueles que são remidos pelo sangue de Cristo serão finalmente remetidos ao originador do pecado, e este deve padecer o castigo deles, enquanto os que não aceitam a salvação por meio de Jesus sofrerão a pena de seus próprios pecados. PE 178 2 A vida de Cristo foi sempre destituída de riquezas, honras e ostentação mundanas. Sua humildade e abnegação estiveram em notável contraste com o orgulho e condescendência própria dos sacerdotes e anciãos. Sua imaculada pureza era uma contínua reprovação a seus pecados. Desprezaram-nO pela Sua pureza e santidade. Mas aqueles que O desprezaram aqui, ve-Lo-ão um dia na grandiosidade do Céu e na insuperável glória de Seu Pai. PE 178 3 No julgamento Ele esteve cercado de inimigos, que se achavam sedentos de Seu sangue; mas aqueles que, empedernidos, clamaram: "Caia sobre nós o Seu sangue, e sobre nossos filhos", contemplá-Lo-ão como um Rei cheio de honras. Toda a hoste celestial O acompanhará em Seu trajeto, com cânticos de vitória, atribuindo-Lhe majestade e poder, a Ele, que foi morto, e contudo vive de novo como um poderoso vencedor. PE 179 1 Pobres, fracos, miseráveis homens cuspiram no rosto do Rei da glória, enquanto uma aclamação de triunfo brutal surgiu da turba diante do infamante insulto. Desfiguraram com pancadas e crueldade aquele rosto que encheu o Céu todo com admiração. De novo contemplarão aquela face, radiante como o Sol de meio-dia, e procurarão fugir de diante dela. Em vez daquela aclamação de triunfo brutal, chorarão por causa dEle. PE 179 2 Jesus apresentará Suas mãos com os sinais de Sua crucifixão. Os sinais desta crueldade sempre Ele os levará. Cada vestígio dos cravos contará a história da maravilhosa redenção do homem e o valioso preço por que foi comprada. Os mesmos homens que arremeteram a lança no lado do Senhor da vida, verão o sinal da lança, e lamentarão com profunda angústia a parte que desempenharam em desfigurar o Seu corpo. PE 179 3 Seus assassinos molestaram-se grandemente pela inscrição: "O Rei dos Judeus", colocada sobre a cruz, por cima de Sua cabeça. Mas então serão obrigados a vê-Lo em toda a Sua glória e real poder. Verão em Suas vestes e Sua coxa, escrito com vívidos caracteres: "Rei dos reis, e Senhor dos senhores." Bradaram-Lhe zombeteiramente enquanto pendia da cruz: "Desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos." Marcos 15:32. Contemplá-Lo-ão então com poder e autoridade reais. Não pedirão provas de ser Ele o Rei de Israel; mas, esmagados ante uma intuição de Sua majestade e glória extraordinárias, serão compelidos a fazer este reconhecimento: "Bendito O que vem em nome do Senhor!" PE 179 4 O abalar da Terra, o partirem-se as pedras, o espalharem-se as trevas sobre a Terra, e o alto e forte brado de Jesus: "Está consumado", ao render Ele a vida, perturbaram Seus inimigos e fizeram com que tremessem os Seus assassinos. Os discípulos admiraram-se com estas singulares manifestações; mas suas esperanças foram aniquiladas. Estavam receosos de que os judeus procurassem destruí-los também. Estavam certos de que tal ódio como o que havia sido manifestado contra o Filho de Deus, não terminaria com Ele. Horas solitárias passaram eles, chorando por causa de seu desapontamento. Tinham esperado que Jesus reinasse como príncipe temporal, mas suas esperanças morreram com Ele. Em sua tristeza e decepção, ficavam pensando se Ele os não havia enganado. Mesmo Sua mãe ficou abalada na fé nEle como o Messias. PE 180 1 Apesar de os discípulos terem ficado desapontados em suas esperanças relativas a Jesus, ainda O amavam e desejavam dar a Seu corpo uma sepultura digna, mas não sabiam como obtê-la. José de Arimatéia, rico e influente senador dos judeus e verdadeiro discípulo de Jesus, foi em particular, mas com ousadia, a Pilatos, e pediu-lhe o corpo do Salvador. Não ousou ir abertamente por causa do ódio dos judeus. Os discípulos receavam que fosse feito por parte deles um esforço para impedir que o corpo de Cristo tivesse lugar digno de repouso. Pilatos satisfez ao pedido, e os discípulos tiraram da cruz o corpo inerte, enquanto com profunda angústia lamentavam suas desfeitas esperanças. Cuidadosamente foi o corpo envolto em linho fino, e posto no sepulcro novo de José. PE 180 2 As mulheres que tinham sido humildes seguidoras de Cristo enquanto Ele vivia, não O quiseram deixar, antes que O vissem posto no túmulo, e uma pedra de grande peso colocada à entrada, para que não acontecesse que os inimigos procurassem obter Seu corpo. Mas não necessitavam ter medo; pois vi que a hoste angélica vigiava com indizível interesse o lugar de descanso de Jesus, esperando com ardor a ordem para desempenharem sua parte no libertar da prisão ao Rei da glória. PE 181 1 Os assassinos de Cristo receavam que Ele ainda pudesse vir à vida e escapar-lhes. Pediram, portanto, a Pilatos, sentinelas para guardar o sepulcro até o terceiro dia. Isto foi concedido, e a pedra e a porta foram seladas para que não acontecesse que os discípulos O roubassem e dissessem que Ele tinha ressuscitado dos mortos. ------------------------Capítulo 42 -- A ressurreição de Cristo PE 181 2 Os discípulos descansaram no sábado, entristecidos pela morte de seu Senhor, enquanto Jesus, o Rei da glória, jazia no túmulo. Aproximando-se a noite, soldados estacionaram-se para guardar o lugar de repouso do Salvador, enquanto anjos, invisíveis, pairavam sobre o local sagrado. A noite passou-se vagarosamente, e, enquanto ainda era escuro, os anjos vigilantes sabiam que o tempo para o livramento do amado Filho de Deus, seu querido Comandante, era quase vindo. Enquanto esperavam com a mais profunda emoção a hora de Seu triunfo, um poderoso anjo veio voando rapidamente do Céu. Seu rosto era como o relâmpago, e suas vestes brancas como neve. Sua luz repelia as trevas por onde ele passava, e fez com que os anjos maus, que triunfantemente reclamavam o corpo de Jesus, fugissem com terror de seu brilho e glória. Um dos da hoste angélica, que testemunhara a cena da humilhação de Cristo e estivera a vigiar Seu lugar de repouso, uniu-se ao anjo do Céu, e juntos desceram ao sepulcro. A terra tremeu e agitou-se quando se aproximaram, e houve um grande terremoto. PE 182 1 O terror apoderou-se da guarda romana. Onde estava agora o seu poder para guardar o corpo de Jesus? Não pensaram em seu dever, ou que os discípulos O pudessem roubar. Resplandecendo-se em redor a luz dos anjos, mais brilhante do que o Sol, a guarda romana caiu como morta ao chão. Um dos anjos lançou mão da grande pedra, rolou-a da porta do túmulo e sentou-se sobre ela. O outro entrou no túmulo, e da cabeça de Jesus desatou o pano. Então o anjo dos Céus, com uma voz que fez a terra tremer, bradou: "Filho de Deus, Teu Pai Te chama! Sai!" A morte não mais poderia ter domínio sobre Ele. Jesus ressurgiu dos mortos, qual vencedor triunfante. Com temor solene a hoste angélica contemplou a cena. E, saindo Jesus do sepulcro, aqueles anjos resplandecentes prostraram-se em terra, em adoração, e saudaram-nO com cânticos de vitória e triunfo. PE 182 2 Anjos de Satanás haviam sido obrigados a fugir de diante da luz brilhante e penetrante dos anjos celestiais, e amargamente se queixaram a seu rei de que a presa lhes houvesse sido violentamente tomada, e que Aquele a quem tanto odiavam havia ressuscitado dos mortos. Satanás e suas hostes tinham exultado de que seu poder sobre o homem decaído houvesse feito com que o Senhor da vida fosse posto no túmulo; mas curto foi o seu triunfo infernal. Pois, ao sair Jesus de Sua prisão, como um vencedor majestoso, Satanás soube que depois de algum tempo ele deveria morrer, e seu reino passaria Àquele a quem pertencia de direito. Lamentou e encolerizou-se de que, não obstante todos os seus esforços, Jesus não fora vencido, mas abrira um caminho de salvação para o homem, e quem quer que quisesse nele andaria e se salvaria. PE 182 3 Os anjos maus e seu comandante reuniram-se em conselho para considerarem como poderiam ainda trabalhar contra o governo de Deus. Satanás mandou seus servos irem aos principais dos sacerdotes e anciãos. Disse ele: "Nós conseguimos enganá-los, cegando-lhes os olhos, e endurecendo-lhes o coração contra Jesus. Fizemo-los crer que Ele era um impostor. Aquela guarda romana levará a odiosa notícia de que Cristo ressuscitou. Nós levamos os sacerdotes e anciãos a odiar a Jesus e a matá-Lo. Agora mostrai-lhes que, se se tornar conhecido que Cristo ressuscitou, eles serão apedrejados pelo povo por matarem um homem inocente." PE 183 1 Como o exército de anjos celestiais se afastasse do sepulcro e se desvanecesse a luz e glória, a guarda romana arriscou-se a levantar a cabeça e olhar em redor de si. Encheram-se de espanto ao verem que a grande pedra tinha sido rolada da entrada do sepulcro e o corpo de Jesus desaparecera. Foram apressadamente à cidade para fazerem saber aos sacerdotes e anciãos o que tinham visto. Ouvindo aqueles assassinos a maravilhosa notícia, sobreveio a palidez a todos os rostos. Foram tomados de horror ao pensamento do que haviam feito. Se a notícia era exata, eles estavam perdidos. Por algum tempo ficaram sentados em silêncio, olhando uns para os outros, não sabendo o que fazer ou dizer. Aceitar a notícia seria condenar-se. Foram à parte para se consultarem quanto ao que deveria fazer-se. Raciocinaram que, se a notícia trazida pela guarda circulasse entre o povo, aqueles que mataram a Cristo seriam mortos como Seus assassinos. Resolveu-se assalariar os soldados para conservar o assunto em segredo. Os sacerdotes e anciãos lhes ofereceram grande soma de dinheiro, para que dissessem: "Vieram de noite os discípulos dEle e O roubaram, enquanto dormíamos." Mateus 28:13. E, quando a guarda indagou o que seria feito com eles por dormirem em seu posto, os oficiais judeus prometeram persuadir o governador e conseguir a segurança deles. Pelo amor ao dinheiro, a guarda romana vendeu sua honra, e concordou em seguir o conselho dos sacerdotes e anciãos. PE 184 1 Quando Jesus, estando suspenso na cruz, clamou: "Está consumado", as pedras se partiram, a terra tremeu e algumas das sepulturas se abriram. Quando Ele surgiu, vitorioso sobre a morte e o túmulo, enquanto a terra vacilava e a glória do Céu resplandecia em redor do local sagrado, muitos dos justos mortos, obedientes à Sua chamada, saíram como testemunhas de que Ele ressurgira. Aqueles favorecidos santos ressurgidos saíram glorificados. Eram escolhidos e santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo. Assim, enquanto os chefes judeus procuravam esconder o fato da ressurreição de Cristo, Deus preferiu suscitar, do túmulo, um grupo a fim de que testificasse que Jesus ressuscitara e declarasse Sua glória. PE 184 2 Aqueles ressuscitados diferiam na estatura e formas, sendo alguns mais nobres do que outros, em seu aspecto. Fui informada de que os habitantes da Terra têm estado a degenerar-se, a perder sua força e beleza. Satanás tem o poder da enfermidade e da morte, e em cada era os efeitos da maldição têm sido mais visíveis, e o poder de Satanás mais claramente visto. Os que viveram nos dias de Noé e Abraão pareciam-se com os anjos na forma, beleza e força. Mas cada geração subseqüente tem estado a ficar mais fraca e mais sujeita à moléstia, e sua vida tem sido de mais curta duração. Satanás tem estado a aprender como prejudicar e enfraquecer a raça. PE 184 3 Aqueles que saíram após a ressurreição de Jesus, apareceram a muitos, contando-lhes que o sacrifício pelo homem estava completo, e que Jesus, a quem os judeus crucificaram, ressuscitara dos mortos; e, em prova de suas palavras, declaravam: "Ressuscitamos com Ele." Davam testemunho de que fora pelo Seu grande poder que tinham sido chamados de suas sepulturas. Apesar dos boatos mentirosos que circularam, a ressurreição de Cristo não pôde ser escondida por Satanás, seus anjos, ou pelos principais dos sacerdotes; pois aquele grupo santo, retirado de seus túmulos, espalhou a maravilhosa e alegre nova; Jesus também Se mostrou aos discípulos, tristes e com coração despedaçado, afugentando-lhes os temores e dando-lhes gozo e alegria. PE 185 1 Espalhando-se as novas de cidade para cidade e de vila em vila, os judeus por sua vez, receavam pela sua vida, e ocultaram o ódio que acalentavam pelos discípulos. Sua única esperança era propagar o boato falso. E aqueles que desejavam que esta mentira fosse verdadeira, a aceitavam. Pilatos estremeceu ao ouvir que Cristo havia ressuscitado. Não podia duvidar do testemunho que era dado, e desde aquela hora a paz o deixou para sempre. Por amor às honras mundanas, pelo temor de perder a autoridade e a vida, entregara Jesus para ser morto. Estava agora completamente convencido de que não era meramente um homem inocente Aquele de cujo sangue ele era culpado, mas o Filho de Deus. Miserável até ao fim, foi a vida de Pilatos. O desespero e a angústia esmagavam todo o sentimento de esperança e alegria. Recusou-se a ser consolado, e teve uma morte mui desgraçada. PE 185 2 O coração de Herodes se tornou ainda mais duro; e, quando ouviu que Cristo ressuscitara, não ficou muito perturbado. Ele tirou a vida a Tiago, e quando viu que isto agradara aos judeus, lançou mão de Pedro também, intentando levá-lo à morte. Mas Deus tinha uma obra para Pedro fazer, e enviou o Seu anjo para libertá-lo. Herodes foi visitado com os juízos de Deus. Enquanto se exaltava a si mesmo na presença de grande multidão, foi ferido pelo anjo do Senhor, e morreu da maneira mais horrível. PE 186 1 Cedo, na manhã do primeiro dia da semana, antes que fosse claro, santas mulheres vieram ao sepulcro, trazendo suaves especiarias para ungir o corpo de Jesus. Notaram que a pedra pesada tinha sido rolada da entrada do sepulcro, e o corpo de Jesus ali não estava. Desfaleceu-lhes o coração, e temeram que os seus inimigos houvessem levado o corpo. Subitamente viram dois anjos com vestes brancas, com rosto brilhante e resplandecente. Esses seres celestiais compreenderam a intenção das mulheres, e imediatamente lhes disseram que Jesus ali não estava, que tinha ressuscitado, mas que podiam ver o lugar onde jazera. Mandaram-nas ir e contar a Seus discípulos que Ele iria diante deles para a Galiléia. Com temor e alegria, as mulheres dirigiram-se pressurosamente aos discípulos entristecidos, e contaram-lhes as coisas que tinham visto e ouvido. PE 186 2 Os discípulos não puderam crer que Jesus houvesse ressuscitado, mas, com as mulheres que tinham levado a notícia, correram apressadamente ao sepulcro. Verificaram que Jesus ali não Se achava; viram Suas roupas de linho, mas não puderam crer nas boas novas de que havia ressuscitado dentre os mortos. Voltaram para casa maravilhando-se com o que tinham visto, e também com a notícia a eles levada pelas mulheres. Maria, porém, preferiu demorar-se em redor do sepulcro, pensando no que tinha visto, e angustiada com o pensamento de que pudesse ter sido enganada. Pressentia que novas provações a esperavam. Sua dor se renovou e ela irrompeu em amargo pranto. Abaixou-se para olhar de novo dentro do sepulcro, e viu dois anjos vestidos de branco. Um estava assentado no lugar em que estivera a cabeça de Jesus, e o outro onde estiveram os pés. Falaram a ela com ternura, e perguntaram-lhe porque chorava. Ela respondeu: "Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13. PE 187 1 Ao voltar-se do sepulcro, viu Jesus, perto, em pé, mas não O reconheceu. Ele falou-lhe ternamente, indagando a causa de sua tristeza, e perguntando a quem ela procurava. Supondo que fosse o hortelão, rogou-lhe que, se ele tinha levado o seu Senhor, lhe dissesse onde O havia posto, para que pudesse levá-Lo. Jesus falou-lhe com Sua própria voz celestial, dizendo: "Maria!" Ela estava familiarizada com as inflexões daquela voz querida, e prontamente respondeu: "Mestre!" e, em sua alegria, ia abraçá-Lo; Jesus, porém, disse: "Não Me detenhas; porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai ter com os Meus irmãos, e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus." João 20:17. Alegremente ela se dirigiu, à pressa, aos discípulos, com as boas novas. Jesus rapidamente ascendeu a Seu Pai para ouvir de Seus lábios que Ele aceitara o sacrifício e para receber todo o poder no Céu e na Terra. PE 187 2 Anjos assemelhando-se a uma nuvem, rodearam o Filho de Deus, e ordenaram que as portas eternas se levantassem, para que o Rei da glória entrasse. Vi que enquanto Jesus estava com aquele brilhante exército celestial, na presença de Deus, e cercado de glória, não Se esquecera dos discípulos sobre a Terra, mas de Seu Pai recebeu poder, a fim de que pudesse voltar e comunicá-lo a eles. No mesmo dia Ele voltou e mostrou-Se a Seus discípulos. Permitiu-lhes então que Lhe tocassem, pois tinha ascendido ao Pai e recebera poder. PE 188 1 Nesta ocasião Tomé não estava presente. Ele não quis aceitar humildemente a notícia dos discípulos, mas firmemente, e com confiança em si próprio, afirmou que não creria, a menos que pusesse os dedos nos sinais dos cravos, e a mão no lado em que a lança cruel fora arremessada. Nisto mostrou uma falta de confiança em seus irmãos. Se todos exigissem a mesma prova, ninguém hoje receberia a Jesus, nem creria em Sua ressurreição. Mas foi a vontade de Deus que a notícia dos discípulos fosse recebida por aqueles mesmos que não podiam ver e ouvir o Salvador ressuscitado. Deus não Se agradou com a incredulidade de Tomé. Quando Jesus de novo Se encontrou com os discípulos, Tomé estava com eles; e, quando viu Jesus creu. Mas ele tinha declarado que não ficaria satisfeito sem a prova do tato acrescentada à vista, e Jesus lhe deu a prova que desejara. Tomé exclamou: "Senhor meu e Deus meu!" Jesus, porém, reprovou-o pela sua incredulidade, dizendo: "Porque Me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram, e creram." PE 188 2 Da mesma maneira os que não têm tido nenhuma experiência nas mensagens do primeiro e segundo anjos, têm de recebê-las de outros que tiveram essa experiência e acompanharam as mensagens. Vi que assim como Jesus foi rejeitado, as mensagens têm sido rejeitadas. E que assim como os discípulos declararam que nenhum outro nome é dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos, devem os servos de Deus fiel e destemidamente advertir os que abraçam apenas parte das verdades relacionadas com a terceira mensagem, a fim de que alegremente recebam todas as mensagens que Deus lhes tem dado, ou não tenham parte no assunto. PE 189 1 Enquanto as santas mulheres estavam levando a notícia de que Jesus ressuscitara, a guarda romana circulava a mentira que lhe havia sido posta na boca pelos principais dos sacerdotes e anciãos, de que os discípulos vieram à noite, enquanto eles dormiam, e roubaram o corpo de Jesus. Satanás pusera esta mentira no coração e boca dos principais dos sacerdotes, e o povo prontificou-se a receber sua palavra. Mas Deus havia agido de um modo seguro, e pusera este importante acontecimento, do qual depende a nossa salvação, fora de toda a dúvida; e era impossível aos sacerdotes e anciãos encobri-lo. Testemunhas foram ressuscitadas dos mortos para atestarem a ressurreição de Cristo. PE 189 2 Jesus permaneceu com Seus discípulos quarenta dias, ocasionando-lhes isto gozo e alegria de coração, ao desvendar-lhes Ele mais amplamente as realidades do reino de Deus. Ele os comissionara a dar testemunho das coisas que tinham visto e ouvido, concernentes aos Seus sofrimentos, morte e ressurreição; de que Ele fizera um sacrifício pelo pecado, e que todos que o quisessem poderiam vir a Ele e encontrar vida. Com fiel ternura disse-lhes que seriam perseguidos e angustiados; mas que encontrariam alívio recordando-se de sua experiência, e lembrando-se das palavras que Ele lhes falara. Contou-lhes que tinha vencido as tentações de Satanás e obtido vitória através de provações e sofrimentos. Satanás não mais poderia ter poder sobre Ele, e faria suas tentações recaírem mais diretamente sobre eles, e sobre todos os que cressem em Seu nome. Mas poderiam vencer, assim como Ele venceu. Jesus dotou Seus discípulos de poder para operar milagres, e disse-lhes que, embora fossem perseguidos pelos homens ímpios, enviaria Seus anjos, de tempos a tempos, para livrá-los; a vida deles não poderia ser tirada antes que sua missão se cumprisse; poderia então ser-lhes exigido selarem com o sangue os testemunhos que deram. PE 190 1 Seus ansiosos seguidores alegremente Lhe escutaram os ensinos, gozando com avidez cada palavra que caía de Seus lábios. Sabiam agora com certeza que Ele era o Salvador do mundo. Suas palavras lhes calavam profundamente no coração, e entristeciam-se de que logo devessem separar-se de seu Mestre celestial, e não mais ouvir de Seus lábios palavras confortadoras, graciosas. Mas, de novo seu coração se aqueceu de amor e extraordinária alegria, dizendo-lhes Jesus que iria preparar-lhes moradas e viria outra vez e os receberia, para que pudessem sempre estar com Ele. Prometeu também enviar o Consolador, o Espírito Santo, para guiá-los em toda a verdade. "E, erguendo as mãos, os abençoou." Lucas 24:50. ------------------------Capítulo 43 -- A ascensão de Cristo PE 190 2 Todo o Céu estava à espera da hora de triunfo em que Jesus ascendesse a Seu Pai. Vieram anjos para receber o Rei da glória e acompanhá-Lo triunfalmente para o Céu. Depois que Jesus abençoou os discípulos, separou-Se deles e foi recebido em cima. E, ao subir, a multidão de cativos que ressuscitara por ocasião de Sua ressurreição, seguiu-O. Uma multidão do exército celestial estava no cortejo, enquanto no Céu uma inumerável multidão de anjos aguardava a Sua vinda Ascendendo eles para a santa cidade, os anjos que acompanhavam a Jesus clamavam: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da glória." Os anjos na cidade clamavam com entusiasmo: "Quem é o Rei da glória?" Os anjos do séquito respondiam em triunfo: "O Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso nas batalhas. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos ó portais eternos, para que entre o Rei da glória." Novamente os anjos que estavam à espera, perguntavam: "Quem é este Rei da glória?" e os anjos do acompanhamento respondiam em melodiosos acordes: "O Senhor dos exércitos; Ele é o Rei da glória." Salmos 24:7-10. E o séquito celestial entra na cidade de Deus. Todo o exército celestial rodeia então seu majestoso Comandante, e com a mais profunda adoração prostram-se diante dEle e lançam suas brilhantes coroas a Seus pés. E então soam suas harpas de ouro, e, com doces e melodiosos acordes, enchem o Céu todo com admirável música e cânticos ao Cordeiro que foi morto, e contudo vive de novo em majestade e glória. PE 191 1 Ao olharem os discípulos tristemente para o Céu, a fim de apanhar a última perspectiva de seu Senhor que ascendia, dois anjos vestidos de branco puseram-se ao lado deles e lhes disseram: "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Este Jesus que dentre vós foi assunto ao Céu, assim virá do modo como O vistes subir." Atos dos Apóstolos 1:11. Os discípulos e a mãe de Jesus, que com eles testemunharam a ascensão do Filho de Deus, passaram a noite seguinte falando a respeito de Seus maravilhosos atos, e os estranhos e gloriosos acontecimentos que tinham tido lugar dentro de um breve tempo. PE 191 2 Satanás de novo aconselhou-se com seus anjos, e com ódio violento ao governo de Deus disse-lhes que, enquanto ele retivesse seu poder e autoridade na Terra, seus esforços deveriam ser dez vezes mais fortes contra os seguidores de Jesus. Em nada haviam prevalecido contra Cristo, mas deveriam derrotar Seus seguidores sendo possível. Em todas as gerações deveriam procurar pôr ciladas àqueles que cressem em Jesus. Referiu-lhes que Jesus dera aos Seus discípulos poder para repreendê-los e expulsá-los, e para curar aqueles a quem eles afligissem. Então os anjos de Satanás saíram como leões a rugir, procurando destruir os seguidores de Jesus. ------------------------Capítulo 44 -- Os discípulos de Cristo PE 192 1 Com grande poder os discípulos pregaram sobre o crucificado e ressurgido Salvador. Sinais e maravilhas foram operados por eles em nome de Jesus; os enfermos foram curados, e um homem que havia sido coxo desde o nascimento foi restaurado a perfeita saúde e entrou com Pedro e João no templo, andando e saltando e louvando a Deus à vista de todo o povo. As novas se espalharam, e o povo começou a se comprimir em torno dos discípulos. Muitos se ajuntaram, grandemente atônitos, em face da cura que se havia operado. PE 192 2 Quando Jesus morreu, os sacerdotes pensaram que nenhum milagre mais seria realizado entre os homens, que o excitamento se extinguiria e o povo voltaria às tradições dos homens. Mas eis! precisamente entre eles os discípulos estavam operando milagres, e o povo estava sobremodo maravilhado. Jesus havia sido crucificado, e eles se interrogavam admirados onde haviam os discípulos adquirido este poder. Quando Ele estava vivo achavam que Ele repartia com Eles o poder; mas havendo morrido esperavam que os milagres cessassem. Pedro compreendeu sua perplexidade, e disse-lhes: "Israelitas, por que vos maravilhais disto, ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a Seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-Lo. Vós, porém, negastes o Santo e o Justo, e pedistes que vos concedessem um homicida. Destarte matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. Pela fé em o nome de Jesus, esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis." PE 193 1 Os principais sacerdotes e anciãos não puderam suportar essas palavras, e por sua ordem Pedro e João foram tomados e levados à prisão. Mas milhares haviam sido convertidos e levados a crer na ressurreição e ascensão de Cristo por terem ouvido apenas um discurso dos discípulos. Os sacerdotes e anciãos ficaram perturbados. Eles haviam matado Jesus a fim de que a mente do povo voltasse para eles; mas a coisa estava agora pior do que antes. Estavam sendo abertamente acusados pelos discípulos de serem os assassinos do Filho de Deus, e não podiam calcular até que ponto iriam as coisas ou como seriam considerados pelo povo. Alegremente teriam levado Pedro e João à morte, mas não ousavam fazê-lo, pois temiam o povo. PE 193 2 No dia seguinte os apóstolos foram levados perante o conselho. Ali estavam os mesmos homens que haviam veementemente clamado pelo sangue do Justo. Tinham ouvido Pedro negar o seu Senhor com maldição e pragas quando acusado de ser um dos Seus discípulos, e esperavam intimidá-lo de novo. Mas Pedro tinha-se convertido, e via agora uma oportunidade para remover a mancha dessa precipitada e covarde negação e exaltar o nome que havia desonrado. Com santa ousadia, e no poder do Espírito, destemidamente ele declarou: "Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em Seu nome é que este está curado perante vós. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos." PE 194 1 Os presentes ficaram estupefatos ante a ousadia de Pedro e João, e compreenderam que eles haviam estado com Jesus, pois sua nobre, indômita conduta, era como a de Jesus quando diante dos Seus inimigos. Jesus, por um olhar de mágoa e piedade, reprovou a Pedro quando este O negara, e agora, como ele ousadamente reconhecia o seu Senhor, foi aprovado e abençoado. Como um sinal da aprovação de Jesus, Pedro foi cheio do Espírito Santo. PE 194 2 Os sacerdotes não ousaram externar o ódio que sentiam pelos discípulos. Ordenaram que fossem levados para fora do recinto, e então confabularam entre si, dizendo: "Que faremos com estes homens? Pois, na verdade, é manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos negar." Eles temiam que o relato desta boa obra se espalhasse entre o povo. Fosse isso conhecido de todos, os sacerdotes temiam que o seu próprio poder se perdesse, e eles seriam olhados como os assassinos de Jesus. Assim tudo que se atreveram a fazer foi ameaçar os apóstolos e ordenar-lhes não mais falar em nome de Jesus, se não quisessem morrer. Mas Pedro declarou intrepidamente que não podia deixar de falar das coisas que tinha visto e ouvido. PE 194 3 Pelo poder de Jesus os discípulos continuaram a curar os afligidos e enfermos que lhes eram levados. Centenas se alistavam diariamente sob a bandeira de um Salvador crucificado, ressurgido e assunto. Os sacerdotes e anciãos, e os particularmente associados com eles, ficaram alarmados. De novo lançaram os apóstolos na prisão, esperando que o excitamento amainasse. Satanás e seus anjos exultaram; mas os anjos de Deus abriram as portas da prisão, e contrariamente à ordem dos principais sacerdotes e anciãos, ordenaram aos apóstolos: "Ide, e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta vida." PE 195 1 O concílio se reunira e mandara buscar os prisioneiros. Os oficiais abriram as portas da prisão; mas aqueles a quem buscavam não estavam ali. Voltaram aos sacerdotes e anciãos e disseram: "Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas abrindo-as, a ninguém encontramos dentro." "Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo, ensinando o povo. Nisto, indo o capitão e os guardas, os trouxeram sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome, contudo enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse Homem." PE 195 2 Os líderes judeus eram hipócritas; amavam o louvor dos homens mais que a Deus. O coração deles tinha-se tornado tão duro que as mais poderosas obras praticadas pelos apóstolos apenas os enraiveciam. Eles sabiam que se os discípulos pregassem a Jesus, Sua crucifixão, ressurreição e ascensão, confirmariam sobre eles a culpa como Seus assassinos. Não estavam tão desejosos de receber sobre si o sangue de Jesus, como quando clamaram veementemente: "Caia sobre nós o Seu sangue; e sobre nossos filhos!" PE 195 3 Os apóstolos corajosamente declararam que obedeceriam a Deus antes que aos homens. Disse Pedro: "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-O num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, O exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que Lhe obedecem." Ante essas desassombradas palavras, os assassinos se enfureceram, e determinaram manchar de novo as mãos em sangue, matando os apóstolos. Estavam planejando isto quando um anjo de Deus moveu o coração de Gamaliel a aconselhar aos sacerdotes e príncipes: "Dai de mão a estes homens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus." Anjos maus estavam atuando sobre os sacerdotes e anciãos a fim de levarem os apóstolos à morte; mas Deus enviou o Seu anjo par evitá-lo, despertando entre os líderes judeus uma voz a favor dos Seus servos. A obra dos apóstolos não estava terminada. Eles deviam ser levados perante reis a fim de testemunhar do nome de Jesus e testificar das coisas que tinham visto e ouvido. PE 196 1 Os sacerdotes de má vontade libertaram os prisioneiros, depois de lhes baterem e ordenarem a não mais falar no nome de Jesus. "E eles se retiraram do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo." Assim a palavra de Deus crescia e se multiplicava. Os discípulos ousadamente testificavam das coisas que tinham visto e ouvido, e no nome de Jesus realizavam grandes milagres. Corajosamente lançavam o sangue de Jesus sobre aqueles que tão desejosos se mostraram de recebê-lo quando lhes foi permitido ter poder sobre o Filho de Deus. PE 196 2 Vi que anjos de Deus foram comissionados para guardar com especial cuidado as sagradas, importantes verdades que deviam servir como uma âncora para os discípulos de Cristo através de todas as gerações. O Espírito Santo especialmente repousou sobre os apóstolos, que foram testemunhas da crucifixão, ressurreição e ascensão de nosso Senhor -- verdades importantes que deviam ser a esperança de Israel. Todos deviam olhar para o Salvador do mundo como a sua única esperança, e andar no caminho que Ele havia aberto com o sacrifício de Sua própria vida, e guardar a lei de Deus e viver. Vi a sabedoria e bondade de Jesus em dar aos discípulos poder para promover a mesma obra pela qual Ele tinha sido odiado e morto pelos judeus. Em Seu nome Eles tiveram poder sobre as obras de Satanás. Um halo de luz e glória assinalou o tempo da morte e ressurreição de Jesus, imortalizando a sagrada verdade de que Ele foi o Salvador do mundo. ------------------------Capítulo 45 -- A morte de Estêvão PE 197 1 Os discípulos se multiplicaram grandemente em Jerusalém, e muitos sacerdotes obedeciam à fé. Estêvão, cheio de fé, estava fazendo grandes maravilhas e milagres entre o povo. Os líderes judeus foram tomados de grande ira ao verem sacerdotes virando as costas a suas tradições e aos sacrifícios e ofertas, e aceitando a Jesus como o grande sacrifício. Com poder do alto, Estêvão reprovava os incrédulos sacerdotes e anciãos, e exaltava a Jesus perante eles. Eles não podiam resistir à sabedoria e poder com que Estêvão falava, e ao verificarem que não podiam de maneira alguma prevalecer contra ele, assalariaram homens para testemunhar falsamente que o tinham ouvido proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus. Instigaram o povo e se apossaram de Estêvão, e, mediante falsas testemunhas, acusaram-no de falar contra o templo e a lei. Eles testemunhavam que o tinham ouvido dizer que esse Jesus de Nazaré destruiria os costumes que Moisés lhes havia dado. PE 198 1 Estando Estêvão perante os seus juízes, a luz da glória de Deus repousou em seu semblante. "Todos os que estavam assentados no Sinédrio, fitando os olhos em Estêvão, viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo." Quando chamado a responder às acusações levantadas contra ele, Estêvão começou por Moisés e os profetas e passou em revista a história dos filhos de Israel e o trato de Deus com eles, e mostrou como Cristo havia sido predito na profecia. Referiu-se à história do templo e declarou que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Os judeus adoravam o templo e se deixavam tomar de maior indignação por qualquer coisa que se dissesse contra o edifício do que se falado fora contra Deus. Quando Estêvão falou de Cristo e se referiu ao templo, viu que o povo estava rejeitando suas palavras; e destemidamente acusou-os: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo." Ao mesmo tempo que observavam as ordenanças exteriores de sua religião, tinham o coração corrompido e cheio de maldade mortal. Ele se referiu à crueldade de seus pais em perseguir os profetas, e declarou que aqueles a quem se dirigia haviam cometido um pecado maior na rejeição e crucifixão de Cristo. "Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos." PE 198 2 Ao serem proferidas essas verdades claras e cortantes, os sacerdotes e príncipes encheram-se de furor e rilhavam os dentes contra ele. "Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à Sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à destra de Deus." O povo não o ouvia. "Clamando em alta voz, taparam os ouvidos e unânimes arremeteram contra ele. E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram." E Estêvão, ajoelhando-se, clamou em alta voz: "Senhor, não lhes imputes este pecado." PE 199 1 Vi que Estêvão foi um poderoso homem de Deus, suscitado especialmente para preencher um importante lugar na igreja. Satanás exultou com sua morte; pois ele sabia que os discípulos sentiriam sobremaneira a sua perda. Mas o triunfo de Satanás foi breve; pois nesse grupo, testemunhando a morte de Estêvão, havia um a quem Jesus estava para revelar-Se. Saulo não tomou parte no lançamento de pedras em Estêvão, mas consentiu em sua morte. Ele era zeloso na perseguição à igreja de Deus, caçando-os, aprisionando-os em suas casas e entregando-os a quem os mataria. Saulo era um homem de habilidade e educação; seu zelo e erudição tornava-o altamente estimado pelos judeus, ao mesmo tempo que era temido por muitos dos discípulos de Cristo. Seus talentos eram eficazmente empregados por Satanás em promover sua rebelião contra o Filho de Deus, e os que criam nEle. Mas Deus pode quebrar o poder do grande adversário e libertar os que são por ele levados cativos. Cristo havia separado Saulo como "um vaso escolhido" para pregar o Seu nome, para fortalecer os discípulos em sua tarefa e mais ainda para preencher o lugar de Estêvão. ------------------------Capítulo 46 -- A conversão de Saulo PE 200 1 Ao viajar Saulo para Damasco, com cartas autorizando-o a prender homens e mulheres que estivessem pregando a Jesus, e levá-los para Jerusalém, os anjos maus exultaram em torno dele. Mas súbito uma luz do Céu brilhou ao redor dele, luz que levou os anjos maus a fugirem e a Saulo fez cair por terra. Ele ouviu uma voz dizendo: "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" Saulo indagou: "Quem és Tu, Senhor?" E o Senhor disse: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer." PE 200 2 Os homens que com ele estavam, emudecidos, ouviram a voz, mas a ninguém viram. Ao extinguir-se a luz e levantar-se Saulo da terra e abrir os olhos, verificou que estava inteiramente privado da capacidade de ver. A glória da luz do céu o havia cegado. Conduziram-no pela mão e o levaram a Damasco; e esteve três dias sem ver, nem comeu nem bebeu. O Senhor então enviou o Seu anjo a um dos mesmos homens a quem Saulo esperara prender, e revelou-lhe em visão que deveria ir à rua chamada Direita "e, na casa de Judas, procura por Saulo, apelidado de Tarso; pois ele está orando; e viu entrar um homem, chamado Ananias, e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista". PE 200 3 Ananias receou que houvesse nisto algum engano, e começou a relatar ao Senhor o que tinha ouvido acerca de Saulo. Mas o Senhor disse a Ananias: "Vai, porque este é para Mim um instrumento escolhido, para levar o Meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois Eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo Meu nome." Ananias seguiu as instruções do Senhor e entrou na casa, e impondo-lhe as mãos, disse: "Saulo, irmão, o Senhor me enviou, a saber, o próprio Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo." PE 201 1 Imediatamente Saulo recebeu a vista, levantou-se e foi batizado. Então ensinava ele nas sinagogas que Jesus era na verdade o Filho de Deus. Todos os que o ouviam estavam estupefatos e perguntavam: "Não é este o que exterminava em Jerusalém aos que invocavam o nome de Jesus, e para aqui veio precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?" Saulo, porém, mais crescia em força, e confundia os judeus. Novamente estavam eles perturbados. Todos sabiam da oposição de Saulo a Jesus, e de seu zelo em acossar todos os que criam em Seu nome, e entregá-los à morte; e sua conversão miraculosa convenceu a muitos que Jesus era o Filho de Deus. Saulo relatava sua experiência, no poder do Espírito Santo. Ele estivera perseguindo até à morte, prendendo, entregando à prisão, tanto homens como mulheres, quando, enquanto viajava para Damasco, subitamente uma grande luz do céu resplandecera em redor dele, e Jesus Se lhe revelara e lhe fizera saber ser Ele o Filho de Deus. PE 201 2 Assim, pregando Saulo ousadamente a Jesus, exerceu uma poderosa influência. Depois de sua conversão uma luz divina brilhou sobre as profecias relativas a Jesus, a qual o habilitou a apresentar a verdade de maneira clara e ousada, e corrigir qualquer perversão das Escrituras. Com o Espírito de Deus repousando sobre si, conduzia seus ouvintes, de modo claro e convincente, através das profecias até ao tempo do primeiro advento de Cristo, e mostrava-lhes que tinham sido cumpridas as Escrituras que se referiam a Seus sofrimentos, morte e ressurreição. ------------------------Capítulo 47 -- Os judeus decidem matar a Paulo PE 202 1 Testemunhando sacerdotes e príncipes o efeito da narração da experiência de Paulo, encheram-se de ódio contra ele. Viram que ele ousadamente pregava a Jesus e operava milagres em Seu nome, que multidões ouviam-no e viravam as costas a suas tradições e olhavam para os líderes judeus como os assassinos do Filho de Deus. Sua ira se acendeu e eles se aconselharam quanto ao que seria melhor fazer para reduzir o excitamento. Concordaram entre si que a única conduta acertada era levar Paulo à morte. Mas Deus conhecia suas intenções, e anjos foram comissionados para guardá-lo, a fim de que ele vivesse para cumprir a sua missão. PE 202 2 Dirigidos por Satanás, os incrédulos judeus vigiavam dia e noite as portas de Damasco, a fim de matarem Paulo imediatamente quando ele saísse. Mas Paulo tinha sido informado de que os judeus estavam buscando sua vida, pelo que os discípulos o desceram em um cesto, pelo muro, à noite. Derrotados assim em realizar os seus propósitos, os judeus sentiram-se envergonhados e indignados, e os propósitos de Satanás foram derrotados. PE 202 3 Depois disto Paulo foi a Jerusalém a fim de unir-se aos discípulos; mas estes temiam-no. Não criam que ele fosse um discípulo. Sua vida tinha sido buscada pelos judeus em Damasco, e os seus próprios irmãos não o recebiam; mas Barnabé tomou-o e levou-o aos apóstolos, informando-os de como havia ele visto o Senhor no caminho e como pregara ousadamente em Damasco no nome de Jesus. PE 203 1 Mas Satanás estava instigando os judeus para que destruíssem Paulo, e Jesus ordenou-lhe deixar Jerusalém. Acompanhado de Barnabé, foi ele para outras cidades, pregando a Jesus e operando milagres, e muitos eram convertidos. Havendo sido curado um homem que sempre fora coxo, a população que era adoradora de ídolos estava prestes a queimar sacrifícios em honra dos discípulos. Paulo sentiu-se mortificado, e disse que ele e seu companheiro eram apenas homens, e que unicamente o Deus que fizera o céu e a Terra, o mar e tudo que neles há, devia ser adorado. Assim Paulo exaltou a Deus perante o povo; mas não lhe foi fácil contê-los. A primeira concepção de fé no verdadeiro Deus, e de adoração e honra a Ele devida, estava sendo formada em suas mentes; e ao passo que ouviam a Paulo, Satanás estava instigando os judeus incrédulos de outras cidades a irem após Paulo e destruírem a boa obra realizada por meio dele. Esses judeus inflamaram o espírito dos idólatras mediante falsos relatos sobre Paulo. A estima e admiração do povo agora transmudou-se em ódio, e os que pouco antes estavam prontos a adorar os discípulos, apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade, supondo que estivesse morto. Mas rodeando-o os discípulos, e chorando por ele, Paulo, para alegria e gozo deles, levantou-se e entrou com eles na cidade. PE 203 2 De outra feita, ao pregarem Paulo e Silas a Jesus, uma certa mulher possuída de um espírito de adivinhação, seguiu-os, clamando: "Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação." Assim ela seguiu os discípulos por muitos dias. Mas Paulo ficou indignado, pois clamando assim após eles, desviava da verdade a mente do povo. O objetivo de Satanás em levá-la a fazer isto era enfadar o povo e destruir a influência dos discípulos. O espírito de Paulo se agitou dentro dele, e voltou e disse ao espírito: "Em nome de Jesus Cristo eu te mando: Retira-te dela." E o espírito mau, repreendido, deixou-a. PE 204 1 Seus senhores apreciavam que ela clamasse atrás dos discípulos; mas quando o espírito mau a deixou, e eles viram-na como uma humilde discípula de Cristo, ficaram enraivecidos. Haviam acumulado muito dinheiro graças a suas adivinhações, e agora a sua esperança de ganho se fora. O propósito de Satanás havia sido derrotado; mas os seus servos agarraram Paulo e Silas e os arrastaram para a praça, à presença das autoridades e dos magistrados, e disseram: "Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade." E a multidão se levantou unida contra eles, e os pretores rasgaram-lhes os vestidos, mandando açoitá-los. E depois de lhes haverem dado muitos açoites, lançaram-nos na prisão, ordenando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O carcereiro, havendo recebido tal ordem, conduziu-os ao cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. Mas os anjos do Senhor os acompanharam para dentro da prisão, e fizeram que o seu aprisionamento redundasse em glória para Deus, mostrando ao povo que Deus estava no trabalho, e com os Seus servos escolhidos. PE 204 2 Cerca da meia-noite Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, quando subitamente houve tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; e vi que imediatamente o anjo de Deus libertou as cadeias de todos. O guarda da prisão, ao despertar e ver que as portas da prisão estavam abertas, ficou assustado. Ele pensava que os prisioneiros haviam escapado, vindo ele a ser punido com a morte. Mas quando estava prestes a matar-se, Paulo clamou com grande voz, dizendo: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!" PE 205 1 O poder de Deus convenceu o carcereiro. Ele pediu que trouxessem luz, entrou precipitadamente, e tremendo caiu aos pés de Paulo e Silas; tirando-os fora, disse: "Senhores, que devo fazer para que seja salvo?" E eles responderam: "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa." O guarda da prisão reuniu então toda a sua casa, e Paulo pregou-lhes a Jesus. Assim o coração do carcereiro uniu-se ao de seus irmãos, e ele lavou-lhes os vergões dos açoites, e com toda a sua casa foi batizado nessa noite. E pôs alimento diante deles, e rejubilou-se, crendo em Deus com toda a sua casa. PE 205 2 As novas maravilhosas da manifestação do poder de Deus em abrir as portas da prisão, e na conversão do carcereiro e sua família, logo se espalharam amplamente. Os magistrados ouviram essas coisas, e temeram, e ordenaram ao carcereiro que deixasse ir Paulo e Silas. Mas Paulo não desejava deixar a prisão ocultamente; não queria que a manifestação do poder de Deus fosse ocultada. Disse-lhes ele: "Sem ter havido processo formal contra nós nos açoitaram publicamente e nos recolheram ao cárcere sendo nós cidadãos romanos; querem agora, às ocultas, lançar-nos fora? Não será assim; pelo contrário, venham eles, e pessoalmente nos ponham em liberdade." Quando essas palavras foram ditas aos magistrados, e ficou-se sabendo que os apóstolos eram cidadãos romanos, os dirigentes ficaram alarmados, temendo que eles fizessem queixa ao imperador sobre o procedimento ilegal que tiveram. E vieram, soltaram-nos e se desculparam e pediram que deixassem a cidade. ------------------------Capítulo 48 -- Paulo visita Jerusalém PE 206 1 Após sua conversão, Paulo visitou Jerusalém e aí pregou a Jesus e as maravilhas de Sua graça. Ele relatou sua miraculosa conversão, o que de tal maneira enfureceu os sacerdotes e príncipes que procuraram tirar-lhe a vida. Mas para que ele pudesse ser salvo, Jesus de novo apareceu-lhe em visão, enquanto ele estava orando, e disse-lhe: "Apressa-te, e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a Meu respeito." Paulo respondeu: "Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em Ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam." Paulo pensava que os judeus em Jerusalém não podiam resistir ao seu testemunho, que considerariam que a grande mudança nele operada só poderia ter sido pelo poder de Deus. Mas a resposta foi mais decidida que antes: "Vai, porque Eu te enviarei para longe aos gentios." PE 206 2 Durante a ausência de Paulo de Jerusalém, ele escreveu muitas cartas para diferentes lugares, relatando sua experiência e dando poderoso testemunho. Mas alguns procuraram desfazer a influência dessas cartas. Eles eram forçados a admitir que suas cartas tinham peso e poder, mas declaravam que sua presença física era fraca e sua locução discutível. PE 206 3 Os fatos no caso eram que Paulo era um homem de grande erudição, e sua sabedoria e maneiras cativavam os seus ouvintes. Homens instruídos deleitavam-se com o seu conhecimento, e muitos deles criam em Jesus. Quando em presença de reis e grandes assembléias, ele revelava tal eloqüência que fascinava todos diante de si. Isto enraivecia sobremodo os sacerdotes. Paulo prontamente entrava em profundo raciocínio e, sublimando-se, levava o povo consigo aos mais exaltados transportes de pensamento, trazendo à luz as profundas riquezas da graça de Deus e retratando diante deles o estupendo amor de Cristo. Então com simplicidade descia até à compreensão do povo comum, e da maneira mais poderosa relatava a sua experiência, a qual despertava neles um ardente desejo de se tornarem discípulos de Cristo. PE 207 1 De novo o Senhor apareceu a Paulo e revelou-lhe que deveria subir a Jerusalém, a fim de que fosse preso e sofresse pelo Seu nome. Embora ele ficasse prisioneiro por longo tempo, o Senhor promoveu Sua obra especial por intermédio dele. Suas prisões deviam ser um meio de disseminação do evangelho de Cristo e assim de glorificação a Deus. Ao ser enviado de cidade a cidade para julgamento, seu testemunho sobre Jesus e os interessantes incidentes de sua própria conversão eram relatados perante reis e governadores, ficando eles sem escusas com respeito a Jesus. Milhares criam nEle e se regozijavam em Seu nome. Vi que o especial propósito de Deus era cumprido na viagem marítima de Paulo; Ele desejava que a tripulação pudesse dessa maneira testemunhar o poder de Deus por intermédio de Paulo e que os pagãos também ouvissem o nome de Jesus, e fossem assim convertidos mediante os ensinos de Paulo e por testemunhar os milagres que ele operava. Reis e governadores encantavam-se com o seu raciocínio, e ao pregar a Jesus com zelo e o poder do Espírito Santo e ao relatar os interessantes acontecimentos de sua experiência, ficavam possuídos da convicção de que Jesus era o Filho de Deus. Ouvindo-o alguns entre admirados e encantados, um deles exclamou: "Por pouco me persuades a me fazer cristão." Contudo a maioria dos que ouviam pensavam que em algum tempo futuro poderiam considerar o que ouviram. Satanás tirava vantagem da procrastinação e, negligenciando eles a oportunidade quando o seu coração estava abrandado, esta era para sempre perdida. Seus corações tornavam-se endurecidos. PE 208 1 Foi-me mostrada a obra de Satanás primeiro em cegar os olhos dos judeus para que não recebessem a Jesus como o seu Salvador, e depois em levá-los, pela inveja de Suas poderosas obras, a buscar a Sua vida. Satanás entrou num dos próprios seguidores de Cristo e levou-o a traí-Lo às mãos de Seus inimigos, a fim de que crucificassem o Senhor da vida e da glória. PE 208 2 Depois que Jesus ressuscitou dos mortos, os judeus acrescentaram pecado a pecado ao procurarem esconder o fato de Sua ressurreição, assalariando a guarda romana para que afirmasse uma falsidade. Mas a ressurreição de Jesus foi feita duplamente certa pela ressurreição de uma multidão de testemunhas ao mesmo tempo. Depois de Sua ressurreição, Jesus apareceu a Seus discípulos, e a mais de quinhentos de uma vez, enquanto aqueles que Ele levou consigo para o alto apareceram a muitos, declarando que Jesus tinha ressuscitado. PE 208 3 Satanás havia levado os judeus a se rebelarem contra Deus recusando receber o Seu Filho e manchando as mãos em Seu preciosíssimo sangue. Não importava agora quão poderosa a evidência produzida de que Jesus era o Filho de Deus, o Redentor do mundo; eles O haviam matado, e não receberiam qualquer evidência em Seu favor. Sua única esperança e consolação, como a de Satanás após sua queda, era procurar prevalecer contra o Filho de Deus. Continuaram, portanto, sua rebelião, perseguindo os discípulos de Cristo, e levando-os à morte. Nada soava tão desagradavelmente aos seus ouvidos como o nome de Jesus a quem haviam crucificado; e estavam determinados a não ouvir qualquer prova em Seu favor. Assim quando o Espírito Santo por intermédio de Estêvão manifestou poderosa evidência de ser Jesus o Filho de Deus, fecharam os ouvidos para não se deixarem convencer. Satanás tinha os assassinos de Jesus seguros em suas garras. Por suas ímpias obras renderam-se-lhe como súditos submissos, e por intermédio deles estava ele obrando no sentido de molestar e atribular os crentes em Cristo. Por meio dos judeus ele agiu no sentido de instigar os gentios contra Jesus e contra os que O seguiam. Mas Deus enviou os Seus anjos para fortalecer os discípulos em seu trabalho, a fim de que testificassem das coisas que tinham visto e ouvido, e afinal por sua firmeza selassem o seu testemunho com o seu sangue. PE 209 1 Satanás se rejubilou ao ter os judeus seguros em seu laço. Eles ainda continuaram suas inúteis formalidades, seus sacrifícios e ordenanças. Quando Jesus suspenso da cruz exclamou: "Está consumado", o véu do templo rasgou-se em dois de alto a baixo, significando com isto que Deus não mais Se encontraria com os sacerdotes no templo para aceitar seus sacrifícios e ordenanças, e também para mostrar que o muro de separação entre os judeus e os gentios estava derribado. Jesus fizera oferta de Si mesmo para ambos, e se vieram a ser salvos, ambos precisaram crer nEle como a única oferta pelo pecado, o Salvador do mundo. PE 209 2 Quando o soldado feriu o lado de Jesus estando Ele suspenso na cruz, brotaram duas diferentes correntes, sendo uma de sangue e a outra de água. O sangue devia lavar os pecados dos que cressem em Seu nome, e a água para representar aquela água viva obtida de Jesus e que dá vida ao crente. ------------------------Capítulo 49 -- A grande apostasia PE 210 1 Fui transportada ao tempo em que pagãos idólatras cruelmente perseguiram e mataram os cristãos. O sangue jorrou em torrentes. Os nobres, os eruditos e o povo comum foram igualmente mortos sem misericórdia. Famílias ricas foram reduzidas à pobreza, por não renegarem a sua religião. Não obstante a perseguição e sofrimento que esses cristãos suportaram, não baixaram as normas. Conservaram pura a sua religião. Vi que Satanás exultou e triunfou com os seus sofrimentos. Mas Deus olhava para os Seus fiéis mártires com grande aprovação. Os cristãos que viveram nesses terríveis tempos foram por Ele amados grandemente, porque estavam dispostos a sofrer por Seu amor. Cada sofrimento por eles suportado aumentava a sua recompensa no Céu. PE 210 2 Embora Satanás se regozijasse nos sofrimentos dos santos, nem por isso estava satisfeito. Ele queria o controle tanto da mente como do corpo. Os sofrimentos que enfrentavam apenas os levavam para mais perto do Senhor, conduzindo-os ao amor de uns pelos outros, levando-os a mais do que nunca temer ofendê-Lo. Satanás desejava levá-los a desagradar a Deus, a fim de que perdessem sua força, ânimo e firmeza. Embora milhares fossem mortos, outros se levantavam para ocupar-lhes o lugar. Satanás viu que estava perdendo os seus súditos; pois embora sofressem perseguição e morte, estavam garantidos em Jesus Cristo para súditos do Seu reino. Satanás, pois, assentou planos para lutar com mais sucesso contra o governo de Deus e derrotar a igreja. Ele levou os pagãos idólatras a abraçar parte da fé cristã. Eles professavam crer na crucifixão e ressurreição de Cristo, e propuseram-se a unir com os seguidores de Jesus, sem uma mudança de coração. Oh! terrível perigo para a igreja! Esse foi um tempo de angústia mental. Alguns achavam que se dobrassem e se unissem com esses idólatras que haviam abraçado parte da fé cristã, isto seria o meio para sua completa conversão. Satanás estava procurando corromper as doutrinas da Bíblia. PE 211 1 Vi que afinal as normas foram rebaixadas, e que os pagãos se uniram com os cristãos. Embora esses adoradores de ídolos professassem estar convertidos, levaram consigo para dentro da igreja a sua idolatria, havendo mudado apenas os objetos de seu culto para imagens de santos, mesmo de Cristo e de Maria Sua mãe. Unindo-se com eles gradualmente os seguidores de Cristo, a religião cristã se corrompeu e a igreja perdeu sua pureza e poder. Alguns recusaram unir-se com eles, preservando assim sua pureza e adoração a Deus somente. Não se curvaram a nenhuma imagem de coisa alguma em cima no Céu ou embaixo, na Terra. PE 211 2 Satanás exultou com a queda de tantos; e instigou então a igreja caída a obrigar os que preservavam a pureza de sua religião a renderem-se a suas cerimônias e culto de imagens ou então serem levados à morte. Os fogos da perseguição foram de novo inflamados contra a verdadeira igreja de Cristo, e milhões foram mortos sem misericórdia. PE 211 3 Isto me foi apresentado da seguinte maneira: Um grande grupo de idólatras pagãos levava uma bandeira negra, na qual havia figuras do Sol, da Lua e das estrelas. Este grupo parecia estar muito violento e irado. Foi-me mostrado então outro grupo conduzindo uma pura bandeira branca, sobre a qual estava escrito: "Pureza e santidade ao Senhor." Seu semblante estava marcado com firmeza e celestial resignação. Vi os idólatras pagãos aproximarem-se deles, e houve grande mortandade. Os cristãos se derreteram diante deles; contudo o grupo cristão se juntava mais ainda e ainda mais firmemente sustentava a bandeira. Quantos caíam, outros tantos se reorganizavam em torno da bandeira e ocupavam-lhes os lugares. PE 212 1 Vi o grupo de idólatras consultando-se. Falhando em obrigar os cristãos a se renderem, maquinaram outro plano. Vi-os baixarem a sua bandeira e aproximar-se então desse firme grupo cristão e fazer-lhe propostas. De início, suas propostas foram integralmente recusadas. Vi então o grupo cristão consultar-se. Alguns disseram que baixariam a bandeira, aceitariam as propostas e salvariam a vida, e afinal teriam forças para levantar sua bandeira entre os pagãos. Uns poucos, entretanto, não se renderam a este plano, mas firmemente escolheram morrer sustentando a sua bandeira antes que baixá-la. Vi então muitos baixarem a bandeira e unirem-se com os pagãos; mas os firmes e inflexíveis lograram de novo tomá-la e conduzi-la no alto. Vi que pessoas estavam continuamente deixando o grupo dos que levavam a pura bandeira branca, unindo-se com os idólatras sob a bandeira negra, a fim de perseguirem os que deixavam a bandeira branca. Muitos foram mortos, todavia a bandeira branca foi sustida no alto, e crentes eram despertados para se reunirem em torno dela. PE 212 2 Os judeus que a princípio despertaram a ira dos pagãos contra Jesus não deviam escapar impunes. Na sala de julgamento de Pilatos, ao hesitar este em condenar a Jesus, os enfurecidos judeus clamaram: "Caia sobre nós o Seu sangue, e sobre nossos filhos!" O cumprimento desta terrível maldição que haviam chamado sobre suas próprias cabeças, a nação judaica tem experimentado. Pagãos e os chamados cristãos juntamente têm sido seus inimigos. Os cristãos professos, em seu zelo por Cristo, a quem os judeus crucificaram, acharam que quanto mais sofrimentos levassem sobre eles, mais agradariam a Deus. Muitos dos incrédulos judeus foram portanto mortos, enquanto outros foram expulsos de um para outro lugar, e foram punidos quase de todas as maneiras. PE 213 1 O sangue de Cristo e dos discípulos, a quem haviam levado à morte, estava sobre eles, e eram visitados com terríveis juízos. Seguia-os a maldição de Deus, e eram um provérbio e um escárnio para os pagãos e os chamados cristãos. Foram degredados, enxotados e detestados, como se a marca de Caim estivesse sobre eles. Todavia vi que Deus tinha maravilhosamente preservado este povo e espalhado-o sobre o mundo, a fim de que pudessem ser olhados como um povo especialmente visitado pela maldição de Deus. Vi que Deus havia abandonado os judeus como nação; mas os indivíduos entre eles seriam contudo convertidos e habilitados a rasgar o véu dos seus corações e ver que a profecia com relação a eles tinha-se cumprido; eles receberão a Jesus como Salvador do mundo e verão o grande pecado de sua nação em O haver rejeitado e crucificado. ------------------------Capítulo 50 -- O mistério da iniqüidade PE 213 2 Sempre tem sido o desígnio de Satanás afastar a mente do povo, de Jesus para o homem, e destruir a responsabilidade individual. Satanás fracassou em seu desígnio quando tentou o Filho de Deus; porém, foi mais bem-sucedido quando veio ao homem decaído. O cristianismo se corrompeu. Papas e sacerdotes presumiam assumir uma posição exaltada, e ensinavam o povo a esperar deles o perdão de seus pecados, em vez de por si mesmos olharem para Cristo. PE 214 1 O povo ficou completamente enganado. Ensinou-se-lhes que os papas e sacerdotes eram representantes de Cristo, quando de fato o eram de Satanás; e aqueles que a eles se curvavam, adoravam Satanás. O povo pedia a Bíblia, mas os sacerdotes consideravam perigoso deixá-los tê-la, a fim de a lerem por si mesmos, receosos de que ficassem esclarecidos, e lançassem em rosto os pecados de seus dirigentes. Ensinava-se o povo a receber toda a palavra desses dirigentes como provinda da boca de Deus. Pretendiam ter sobre a mente aquele poder que somente Deus poderia ter. Se ousassem seguir suas próprias convicções, o mesmo ódio que Satanás e os judeus manifestaram para com Jesus se acenderia contra eles, e os que estivessem em autoridade reclamariam o seu sangue. PE 214 2 Foi-me mostrado o tempo em que Satanás de maneira especial triunfou. Multidões de cristãos foram mortos da maneira mais terrível, porque preservavam a pureza de sua religião. A Bíblia era odiada, e faziam-se esforços para eliminá-la da Terra. Proibia-se ao povo lê-la, sob pena de morte; e todos os exemplares que se poderiam encontrar eram queimados. Deus, porém, tinha um cuidado especial de Sua Palavra. Ele a protegia. Em diversas ocasiões não existiam senão poucos exemplares da Bíblia; contudo Ele não permitiria que Sua Palavra se perdesse, pois nos últimos dias deveriam multiplicar-se os exemplares da mesma, de tal maneira que cada família a pudesse possuir. Vi que, quando havia apenas poucos exemplares da Bíblia, era ela preciosa e consoladora aos perseguidos seguidores de Jesus. Era lida da maneira mais secreta, e aqueles que tinham este exaltado privilégio, sentiam que haviam tido uma entrevista com Deus, com Seu Filho Jesus, e com Seus discípulos. Mas este bendito privilégio custou a vida a muitos deles. Sendo descobertos, eram levados ao cepo do carrasco, à tortura, ou à masmorra para morrer a fome. PE 215 1 Satanás não pôde impedir o plano da salvação. Jesus foi crucificado e ressuscitou no terceiro dia. Mas Satanás disse a seus anjos que ele faria mesmo a crucifixão e ressurreição servirem a seus intuitos. Concordava com que aqueles que professavam fé em Jesus cressem que as leis que regulavam os sacrifícios e ofertas judaicos cessaram por ocasião da morte de Cristo, caso pudesse levá-los mais longe e fazê-los crer que a lei dos Dez Mandamentos também morrera com Cristo. PE 215 2 Vi que muitos se deixaram facilmente levar por este ardil de Satanás. Todo o Céu moveu-se de indignação vendo a santa lei de Deus pisada a pés. Jesus e todo o exército celestial conheciam a natureza da lei de Deus; sabiam que Ele não a mudaria ou ab-rogaria. A desesperançada condição do homem depois da queda determinou a mais profunda tristeza no Céu, e levou Jesus a oferecer-Se para morrer pelos transgressores da santa lei de Deus. Mas, se aquela lei pudesse ser ab-rogada, o homem poderia ter sido salvo sem a morte de Jesus. Conseqüentemente sua morte não destruiu a lei de Seu Pai, mas engrandeceu-a, honrou-a, e encareceu a obediência a todos os seus santos preceitos. PE 215 3 Houvesse a igreja permanecido pura e constante, Satanás não a poderia ter enganado e tê-la levado a espezinhar a lei de Deus. Neste ousado plano Satanás ataca diretamente o fundamento do governo de Deus, no Céu e na Terra. Sua rebelião determinou sua expulsão do Céu. Depois de rebelar-se desejou ele, a fim de salvar-se, que Deus mudasse Sua lei; mas foi declarado perante todo o exército celestial que a lei de Deus é inalterável. Satanás sabe que, se ele pode fazer outros violarem a lei de Deus, tê-los-á ganho para a sua causa; pois cada transgressor daquela lei deve morrer. PE 215 4 Satanás se decidiu a ir ainda mais longe. Disse a seus anjos que alguns seriam tão zelosos da lei de Deus que não poderiam ser apanhados neste ardil; os Dez Mandamentos eram tão claros que muitos creriam que ainda vigoravam, e, portanto, deveria procurar corromper apenas um dos mandamentos. Levou então seus representantes a tentar a mudança do quarto mandamento, ou do sábado, alterando assim o único dos dez, que apresenta o verdadeiro Deus, o Criador dos Céus e da Terra. Satanás apresentou perante eles a gloriosa ressurreição de Jesus e lhe disse que, por haver Ele ressuscitado no primeiro dia da semana, mudara o sábado do sétimo para o primeiro dia da semana. PE 216 1 Assim Satanás fez uso da ressurreição para servir a seus propósitos. Ele e seus anjos se regozijaram de que os erros que haviam preparado, fossem aceitos tão facilmente pelos professos amigos de Cristo. Aquilo que um olhava horrorizado, levado por um sentimento religioso, outro recebia. Deste modo diferentes erros foram recebidos e defendidos com zelo. A vontade de Deus, tão claramente revelada em Sua Palavra, ficou coberta de erros e tradições, que têm sido ensinados como sendo mandamentos de Deus. Posto que a este engano, que desafia aos Céus, seja permitido manter-se até o segundo aparecimento de Jesus, todavia durante todo este tempo de erro e engano não ficou Deus sem testemunhas. Por entre as trevas e perseguição da igreja tem sempre havido verdadeiras e fiéis criaturas que guardaram todos os mandamentos de Deus. PE 216 2 Vi que a hoste angélica encheu-se de espanto, contemplando os sofrimentos e morte do Rei da glória. Mas não foi para eles maravilha que o Senhor da vida e glória, Aquele que enchera o Céu todo com alegria e esplendor, rompesse as cadeias da morte e saísse de Sua prisão, como um vencedor triunfante. Portanto, se algum destes dois acontecimentos devesse ser comemorado por um dia de descanso, deveria ser a crucifixão. Vi, porém, que nenhum destes acontecimentos se destinava a alterar ou ab-rogar a lei de Deus; pelo contrário, dão a mais forte prova de sua imutabilidade. PE 217 1 Ambos estes importantes fatos têm seus memoriais. Participando da ceia do Senhor, do pão que é partido e do fruto da vide, apresentamos a morte do Senhor até que Ele venha. As cenas de Seus sofrimentos e morte são assim avivadas em nossa mente. A ressurreição de Cristo é comemorada ao sermos sepultados com Ele pelo batismo, e ressuscitados daquele como túmulo líquido, à semelhança de Sua ressurreição, a fim de vivermos em novidade de vida. PE 217 2 Mostrou-se-me que a lei de Deus permaneceria firme para sempre, e existiria na nova Terra por toda a eternidade. Na criação, quando foram postos os fundamentos da Terra, os filhos de Deus olhavam com admiração para a obra do Criador, e todo o exército celestial aclamava de alegria. Então foi que se lançara o fundamento do sábado. No fim dos seis dias da criação, Deus repousou no sétimo dia de toda a obra que fizera; e abençoou o sétimo dia e o santificou, porque nele repousara de toda a Sua obra. O sábado foi instituído no Éden, antes da queda, e foi observado por Adão e Eva e toda a hoste celestial. Deus repousou no sétimo dia, e o abençoou e santificou. Eu vi que o sábado nunca será anulado; antes, por toda a eternidade, os santos remidos e todo o exército celestial o observarão em honra ao grande Criador. ------------------------Capítulo 51 -- Morte, não vida eterna em miséria PE 218 1 Satanás começou com o seu engano no Éden. Disse a Eva: "Certamente não morrereis." Esta foi a primeira lição de Satanás sobre a imortalidade da alma, e ele tem prosseguido com este engano desde aquele tempo até o presente, e o conservará até que termine o cativeiro dos filhos de Deus. Foram-me indicados Adão e Eva no Éden. Participaram da árvore proibida, e então a espada inflamada foi colocada em redor da árvore da vida, e eles foram expulsos do jardim, para que não participassem da árvore da vida e fossem pecadores imortais. O fruto desta árvore deveria perpetuar a imortalidade. Ouvi um anjo perguntar: "Quem da família de Adão passou pela espada inflamada, e participou da árvore da vida?" Ouvi outro anjo responder: "Nenhum da família de Adão passou por aquela espada inflamada, e participou da árvore; portanto não há pecador imortal." A alma que pecar morrerá morte eterna, morte esta de que não haverá esperança de ressurreição; e então se aplacará a ira de Deus. PE 218 2 Foi-me coisa surpreendente haver Satanás tão bem conseguido fazer os homens crerem que as palavras de Deus: "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:4, 20), significassem que a alma que pecar não morrerá, mas viverá eternamente em estado miserável. Disse o anjo: "Vida é vida, quer seja em dores quer em felicidade. A morte é sem dor, sem alegria, sem ódio." PE 218 3 Satanás disse a seus anjos que fizessem um esforço especial para espalhar a mentira a princípio proferida a Eva no Éden: "Certamente não morrereis." E, sendo o erro recebido pelo povo, e sendo este levado a crer que o homem é imortal, Satanás induziu-os a crer que o pecador viverá em eterno estado de miséria. Achava-se então preparado o caminho para Satanás agir por intermédio de seus representantes e apresentar a Deus perante o povo como um tirano vingativo, como alguém que mergulhe no inferno todos os que não Lhe agradem, e os faça para sempre sentir Sua ira; e, enquanto sofrem indizível aflição, e se contorcem nas chamas eternas, é Ele representado a olhar sobre eles com satisfação. Satanás sabia que, se esse erro fosse recebido, Deus seria odiado por muitos, em vez de amado e adorado; e que muitos seriam levados a crer que as ameaças da Palavra de Deus não seriam literalmente cumpridas, pois que seria contra Seu caráter de benevolência e amor mergulhar nos tormentos eternos seres que Ele criara. PE 219 1 Outro extremo que Satanás tem levado o povo a adotar consiste em não tomarem em nenhuma consideração a justiça de Deus e as ameaças de Sua Palavra, e representá-Lo como sendo todo misericórdia, de modo que ninguém perecerá, mas que todos, tanto santos como pecadores, serão finalmente salvos em Seu reino. PE 219 2 Em conseqüência dos erros populares da imortalidade da alma, e do intérmino estado de misérias, Satanás tira vantagem de outra classe, e os leva a considerar a Bíblia como um livro não inspirado. Acham que ela ensina muitas coisas boas; mas não podem depositar confiança na mesma e amá-la, porque lhes foi ensinado que ela declara a doutrina do tormento eterno. PE 219 3 Uma outra classe Satanás ainda leva mais longe, mesmo a negar a existência de Deus. Não podem ver coerência no caráter do Deus da Bíblia, se Ele infligirá horríveis torturas a uma parte da família humana por toda a eternidade. Portanto negam a Bíblia e seu Autor, e consideram a morte como um sono eterno. PE 219 4 Ainda há outra classe, que é medrosa e tímida. A estes Satanás tenta para cometer pecado, e depois de haverem pecado mostra-lhes que o salário do pecado não é a morte, mas vida em horríveis tormentos, a serem suportados pelas eras sem fim da eternidade. Aumentando assim diante de seus espíritos fracos os horrores de um inferno eterno, toma posse de suas mentes e eles perdem a razão. Então Satanás e seus anjos exultam, e os incrédulos e ateus se unem a lançar o vitupério sobre o cristianismo. Pretendem que estes males são os resultados naturais de crer na Bíblia e em seu Autor, ao passo que são eles os resultados de receber a heresia popular. PE 220 1 Vi que o exército celestial estava cheio de indignação por causa desta ousada obra de Satanás. Indaguei por que se consentia que todos esses enganos se apoderassem da mente dos homens, quando os anjos de Deus eram poderosos, e, sendo comissionados, poderiam facilmente quebrar o poder do inimigo. Vi então que Deus sabia que Satanás experimentaria todo o artifício para destruir o homem; portanto fez com que Sua Palavra fosse escrita, e esclareceu de tal maneira os Seus propósitos com relação à raça humana que nem o mais fraco precisa errar. Depois de haver dado Sua Palavra ao homem, preservou-a cuidadosamente da destruição por Satanás e seus anjos, ou por qualquer de seus agentes ou representantes. Conquanto outros livros pudessem ser destruídos, este deveria ser imortal. E, próximo do fim do tempo, quando aumentassem os embustes de Satanás, deveria ser multiplicado de tal maneira que todos os que o quisessem poderiam ter dele um exemplar, e poderiam, assim desejando, armar-se contra os enganos e prodígios de mentira de Satanás. PE 220 2 Vi que Deus havia de uma maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando da mesma existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível, quando na realidade estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição. Vi, porém, que a Palavra de Deus, como um todo, é uma cadeia perfeita, prendendo-se uma parte à outra, e explicando-se mutuamente. Os verdadeiros inquiridores da verdade não devem errar; pois não somente é a Palavra de Deus clara e simples ao explanar o caminho da vida, mas o Espírito Santo é dado como guia na compreensão do caminho da vida ali revelado. PE 221 1 Vi que os anjos de Deus nunca devem governar a vontade. Deus põe diante do homem a vida e a morte. Este pode fazer a sua escolha. Muitos desejam a vida, mas ainda continuam a andar no caminho largo. Preferem rebelar-se contra o governo de Deus, apesar de Sua grande misericórdia e compaixão ao dar Seu Filho para morrer por eles. Aqueles que não optam pela aceitação da salvação comprada por tão alto preço, deverão ser castigados. Vi, porém, que Deus os não encerraria no inferno para suportar a intérmina desgraça, tampouco os levaria para o Céu; pois colocá-los na companhia dos que são puros e santos fá-los-ia extraordinariamente infelizes. Ele, porém, os destruirá completamente, e fará com que sejam como se não tivessem existido; então Sua justiça será satisfeita. Ele formou o homem do pó da terra, e os desobedientes e profanos serão consumidos pelo fogo e voltarão de novo ao pó. Vi que a benevolência e compaixão de Deus a tal respeito deveriam levar todos a admirar Seu caráter e adorar Seu santo nome. Depois que os ímpios forem destruídos da Terra, toda a hoste celestial dirá: "Amém!" PE 221 2 Satanás olha com grande satisfação para os que professam o nome de Cristo, embora se apeguem intimamente aos enganos a que ele mesmo deu origem. Sua obra é ainda inventar novos enganos, e seu poder e arte continuamente crescem nesta direção. Ele levou os seus representantes, os papas e os sacerdotes, a se exaltarem a si mesmos, e a instigar o povo a perseguir duramente e destruir os que não estavam dispostos a aceitar os seus enganos. Oh! os sofrimentos e agonias que os preciosos seguidores de Cristo foram levados a suportar! Anjos guardaram fiel registro de tudo! Satanás e seus anjos maus exultantemente disseram aos anjos que ministravam a esses santos sofredores que eles deviam ser todos mortos, a fim de que não fosse deixado na Terra um só cristão fiel. Vi que a igreja de Deus estava então pura. Não havia perigo de para ela entrarem homens de coração corrupto; pois os verdadeiros cristãos que ousaram declarar sua fé estavam em perigo do suplício no cavalete, na fogueira, e em toda espécie de tortura que Satanás e seus anjos maus seriam capazes de inventar ou inspirar à mente dos homens. ------------------------Capítulo 52 -- A reforma PE 222 1 Apesar de toda a perseguição aos santos, vívidas testemunhas da verdade de Deus foram suscitadas de todos os lados. Anjos do Senhor estavam fazendo a obra a eles confiada. Pesquisavam os mais tenebrosos lugares e escolhiam em meio das trevas homens que fossem honestos de coração. Todos estes estavam sepultados no erro, contudo Deus os chamou, como fizera com Saulo, para serem vasos escolhidos a fim de levarem Sua verdade e alçarem suas vozes contra os pecados de Seu povo professo. Anjos de Deus moveram o coração de Martinho Lutero, Melancton e outros, em vários lugares, e os fizeram ter sede do vívido testemunho da Palavra de Deus. O inimigo viera semelhante a uma inundação, e o estandarte deveria ser alçado contra ele. Lutero foi o escolhido para enfrentar a tempestade, levantar-se contra a ira de uma igreja decaída e fortalecer os poucos que eram fiéis à sua santa profissão. Sempre teve ele receio de ofender a Deus. Experimentara pelas obras obter Seu favor, mas não ficou satisfeito antes que um raio de luz procedente do Céu repelisse de seu espírito as trevas, e o levasse a confiar não nas obras mas nos méritos do sangue de Cristo. Pôde então vir a Deus por si mesmo, não por intermédio dos papas ou confessores, mas somente por meio de Jesus Cristo. PE 223 1 Oh! quão preciosa foi para Lutero esta nova e gloriosa luz que lhe raiara no obscurecido entendimento, e repelira a sua superstição! Apreciava-a mais do que o mais rico tesouro terrestre. A Palavra de Deus era nova. Tudo estava mudado. O livro que ele tinha temido porque não pudera ver beleza nele, agora lhe era vida, vida eterna. Era sua alegria, sua consolação e seu bendito ensinador. Nada poderia induzi-lo a deixar seu estudo. Havia temido a morte; mas, tendo lido a Palavra de Deus, desapareceram todos os seus terrores e admirava o caráter de Deus e O amava. Examinava a Bíblia por si mesmo, e banqueteava-se com os ricos tesouros que ela contém; examinou-a então para a igreja. Teve aversão dos pecados daqueles em quem havia confiado para a sua salvação; e, vendo muitos outros envoltos nas mesmas trevas que o cobriam, procurou ansiosamente uma oportunidade para lhes apontar o Cordeiro de Deus, que unicamente tira o pecado do mundo. PE 223 2 Erguendo a voz contra os erros e pecados da igreja papal, esforçou-se com ardor para romper a cadeia de trevas que prendia a milhares, e os fazia confiar nas obras para a salvação. Almejava poder patentear ao espírito deles as verdadeiras riquezas da graça de Deus e a excelência da salvação obtida por meio de Jesus Cristo. No poder do Espírito Santo clamou contra os pecados que existiam por parte dos dirigentes da igreja; e, defrontando-se com a tempestade da oposição movida pelos padres, sua coragem não desfaleceu; pois firmemente confiou no braço forte de Deus, e confiantemente esperou por Ele a vitória. Como instigasse o combate mais e mais intensamente, a ira dos padres mais ardente se acendia contra ele. Não desejavam ser reformados. Preferiam ser deixados à vontade, em prazeres dissolutos, em impiedade; e desejavam que também a igreja fosse conservada em trevas. PE 224 1 Vi que Lutero era ardente e zeloso, destemido e ousado, para reprovar o pecado e advogar a verdade. Não se preocupava com homens ímpios ou demônios; sabia que consigo tinha Um que era mais forte do que eles todos. Lutero possuía zelo, coragem e ousadia, e por vezes esteve em perigo de ir aos extremos. Mas Deus suscitou a Melancton, que era exatamente o contrário no caráter, a fim de auxiliar Lutero no levar avante a obra da Reforma. Melancton era tímido, medroso, cauteloso e possuía grande paciência. Era grandemente amado por Deus. Grande era o seu conhecimento das Escrituras e excelentes o seu juízo e sabedoria. Seu amor pela causa de Deus era igual ao de Lutero. Os corações destes homens o Senhor os ligara entre si; eram amigos inseparáveis. Lutero era um grande auxílio para Melancton quando se achava amedrontado e vagaroso, e Melancton por sua vez o era para Lutero quando em perigo de agir com demasiada rapidez. A cautela mui previdente de Melancton muitas vezes desviou dificuldades que teriam sobrevindo à causa, se a obra estivesse entregue unicamente a Lutero; e muitas vezes a obra não teria sido levada avante se estivera entregue a Melancton só. Foi-me mostrada a sabedoria de Deus em escolher esses dois homens para promover a obra da Reforma. PE 224 2 Fui então conduzida aos dias dos apóstolos e vi que Deus escolhera como companheiros um ardente e zeloso Pedro e um brando e paciente João. Algumas vezes Pedro era impetuoso, e não raro quando era este o caso, o discípulo amado o continha. Isto, contudo, não o reformou. Mas depois que negou ao seu Senhor, arrependeu-se, e estando convertido, tudo que ele necessitava para conter o seu ardor e zelo era o terno cuidado de João. A causa de Cristo muitas vezes teria sofrido, tivesse sido deixada a João sozinho. O zelo de Pedro era necessário. Sua ousadia e energia muitas vezes os livraram de dificuldades e silenciaram os seus inimigos. João era cativante. Ganhou a muitos para a causa de Cristo por seu paciente temperamento e profunda devoção. PE 225 1 Deus despertou homens para clamar contra os pecados presentes na igreja papal e promover a Reforma. Satanás procurou destruir essas testemunhas vivas; mas o Senhor fez uma proteção em torno deles. Alguns, para glória do Seu nome, foi permitido selar com o seu sangue o testemunho que haviam dado; mas houve outros homens de poder, como Lutero e Melancton, que puderam testificar melhor vivendo e expondo os pecados de sacerdotes, papas e reis. Estes tremeram ante a voz de Lutero e de seus colaboradores. Por intermédio desses homens escolhidos, raios de luz começaram a espancar as trevas, e muitos jubilosamente receberam a luz e andaram nela. E quando uma testemunha era morta, dois ou mais se levantavam para ocupar-lhe o lugar. PE 225 2 Mas Satanás não estava satisfeito. Ele podia ter poder unicamente sobre o corpo. Não podia levar os crentes a abandonarem sua fé e esperança. E mesmo na morte eles triunfaram com brilhante esperança de imortalidade na ressurreição dos justos. Eles tiveram energia mais que mortal. Não se aventuraram a dormir por um momento sequer, mas conservaram-se cingidos com a armadura cristã, preparados para o conflito, não meramente com inimigos espirituais, mas com Satanás na forma de homens cujo constante clamor era: "Abandonai vossa fé ou morrereis." Esses poucos cristãos foram fortes em Deus, e mais preciosos a Sua vista que a metade do mundo que leva o nome de Cristo mas são covardes em Sua causa. Enquanto a igreja foi perseguida, seus membros estiveram unidos em amor; foram fortes em Deus. Aos pecadores não fora permitido unir-se com a igreja. Unicamente os que estavam dispostos a abandonar tudo por Cristo poderiam ser Seus discípulos. Esses preferiam ser pobres, humildes, semelhantes a Cristo. ------------------------Capítulo 53 -- União da igreja com o mundo PE 226 1 Depois disto vi Satanás consultando seus anjos, e considerando o que haviam ganho. Na verdade, haviam por meio do temor da morte impedido algumas almas tímidas de abraçar a verdade; muitos, porém, mesmo dos mais tímidos, receberam a verdade, e com isso seus temores e timidez imediatamente os deixaram. Ao testemunhar a morte de seus irmãos e contemplar sua firmeza e paciência, compreenderam que Deus e os anjos os ajudavam a suportar tais sofrimentos, e tornaram-se corajosos e destemidos. E, quando chamados a render a própria vida, mantiveram sua fé com tal paciência e firmeza, que fizeram com que mesmo seus assassinos tremessem. Satanás e seus anjos concluíram que havia um meio mais eficaz para destruir as almas, um meio que, no fim, seria mais seguro. Embora se infligissem sofrimentos aos cristãos, sua firmeza e a radiante esperança que os animava, faziam com que o mais fraco se tornasse forte, e os habilitavam a aproximar-se denodadamente da tortura e das chamas. Imitavam o porte nobre de Cristo quando Se encontrou perante Seus assassinos, e, pela sua constância e a glória de Deus que neles repousava, convenceram muitos outros da verdade. PE 226 2 Satanás concluiu, portanto, que deveria vir de maneira mais branda. Já havia corrompido as doutrinas da Bíblia, e tradições estavam a criar profundas raízes que deveriam arruinar a milhões. Restringindo seu ódio, decidiu-se a não insistir com seus súditos quanto a uma perseguição tão atroz, mas a levar a igreja a contender pelas várias tradições, em vez de o fazer em prol da fé que uma vez fora entregue aos santos. Como prevalecesse sobre a igreja a fim de que esta recebesse favores e honras do mundo, sob o pretexto de receber benefícios, começou ela a perder o favor de Deus. Esquivando-se de declarar as verdades diretas que dela excluíam os amantes do prazer e amigos do mundo, perdeu gradualmente o seu poder. PE 227 1 A igreja não é hoje o povo separado e peculiar que foi quando os fogos da perseguição estiveram acesos contra ela. Como o ouro se tornou fusco! Como se transformou o ouro finíssimo! Vi que, se a igreja tivesse sempre conservado seu caráter peculiar e santo, o poder do Espírito Santo que fora comunicado aos discípulos ainda estaria com ela. Os doentes seriam curados, os demônios seriam repreendidos e expulsos, e ela seria poderosa e um terror para os seus inimigos. PE 227 2 Vi uma grande multidão professando o nome de Cristo, mas Deus não os reconhecia como Seus. Não tinha prazer neles. Satanás pareceu assumir um caráter religioso, e estava muito desejoso de que o povo julgasse serem eles cristãos. Estava mesmo ansioso para que acreditasse em Jesus, Sua crucifixão e Sua ressurreição. Satanás e seus anjos criam perfeitamente em tudo isto, e tremiam. Se, porém, esta fé não instiga a boas obras, e não leva aos que a professam a imitar a vida abnegada de Cristo, Satanás não se inquieta; pois meramente tomam o nome de cristãos, enquanto seus corações ainda são carnais, e ele os pode empregar em seu serviço mesmo melhor do que se não fizessem profissão alguma. Escondendo sua deformidade sob o nome de cristãos, passam a vida com suas naturezas não santificadas e suas más paixões sem serem subjugadas. Isto dá ocasião para o incrédulo vituperar a Cristo pelas imperfeições deles, e faz com que os que possuem religião pura e incontaminada venham a incorrer em difamação. PE 228 1 Os ministros pregam coisas agradáveis para convirem a esses que professam a religião de um modo carnal. Não ousam pregar a Jesus e as verdades incisivas da Bíblia; pois, se assim fizessem, esses que carnalmente são professos da religião não permaneceriam na igreja. Mas, sendo que muitos deles são ricos, deverão ser conservados, embora não estejam mais em condições de ali se achar do que Satanás e seus anjos. Isto é exatamente como Satanás desejava. Faz-se com que a religião de Jesus pareça popular e honrada aos do mundo. Declara-se ao povo que aqueles que professam a religião serão mais honrados pelo mundo. Tais ensinos diferem mui grandemente dos de Cristo. Sua doutrina e o mundo não podiam estar em paz. Aqueles que O seguiam tinham de renunciar o mundo. Estas coisas agradáveis originaram-se com Satanás e seus anjos. Eles formularam o plano, e cristãos de nome o levaram a efeito. Ensinavam-se fábulas aprazíveis e com facilidade eram recebidas; e hipócritas e declarados pecadores uniram-se com a igreja. Se a verdade tivesse sido pregada em sua pureza, logo teria excluído esta classe. Não havia, porém, diferença entre os professos seguidores de Cristo e o mundo. Vi que se a falsa cobertura tivesse sido retirada dos membros das igrejas, seriam reveladas tais iniqüidades, vilezas e corrupção, que o mais tímido filho de Deus não teria hesitado em chamar a esses professos cristãos pelo seu verdadeiro nome, filhos de seu pai, o diabo; pois suas obras o atestavam. PE 228 2 Deus tinha uma mensagem para a igreja, a qual era sagrada e importante. Ao ser recebida, operaria uma reforma completa na igreja, despertaria o vívido testemunho que dela haveria de expurgar os hipócritas e pecadores, e de novo a traria ao favor de Deus. ------------------------Capítulo 54 -- Guilherme Miller PE 229 1 Deus mandou Seu anjo mover o coração de um lavrador, que não havia crido na Bíblia, a fim de o levar a examinar as profecias. Anjos de Deus repetidamente visitavam aquele escolhido, para guiar seu espírito e abrir à sua compreensão profecias que sempre tinham sido obscuras para o povo de Deus. Foi-lhe dado o início da cadeia de verdade, e ele foi levado a examinar elo após elo, até que olhou maravilhado e admirado para a Palavra de Deus. Viu ali uma perfeita cadeia de verdades. A Palavra que ele havia considerado como não inspirada, abria-se-lhe agora ante a visão, em sua beleza e glória. Viu que uma parte das Escrituras explica outra, e, quando uma passagem estava fechada à sua compreensão, encontrava em outra parte da Palavra aquilo que a explicava. Olhava a santa Palavra de Deus com alegria, e com o mais profundo respeito e temor. PE 229 2 Acompanhando as profecias em seu curso, viu que os habitantes da Terra estavam vivendo nas cenas finais da história deste mundo; e contudo não o sabiam. Olhou para as igrejas e viu que estavam corrompidas; haviam tirado de Jesus as suas afeições, colocando-as no mundo; estavam a buscar honras mundanas, em vez daquela honra que vem de cima; apoderavam-se das riquezas mundanas, em vez de acumular seu tesouro no Céu. Via hipocrisia, trevas e morte por toda a parte. Seu espírito agitou-se dentro dele. Deus o chamou para deixar sua lavoura, assim como chamara Eliseu para deixar seus bois e o campo de seu trabalho a fim de seguir Elias. Com tremor, Guilherme Miller começou a desvendar ao povo os mistérios do reino de Deus, transportando seus ouvintes através das profecias até o segundo advento de Cristo. Com cada esforço que fazia adquiria força. Assim como João Batista anunciou o primeiro advento de Jesus e preparou o caminho para a Sua vinda, Guilherme Miller e os que com ele se ajuntaram proclamaram o segundo advento do Filho de Deus. PE 230 1 Fui transportada aos dias dos discípulos e mostrou-se-me que Deus tinha uma obra especial para o amado João cumprir. Satanás estava decidido a impedir esta obra, e induziu seus servos a destruírem João. Deus, porém, enviou Seu anjo e maravilhosamente o guardou. Todos os que testemunharam o grande poder de Deus manifesto no livramento de João, ficaram estupefatos, e muitos se convenceram de que Deus estava com ele, e de que o testemunho que dava a respeito de Jesus era correto. Aqueles que procuravam destruí-lo ficaram com receio de tentar novamente tirar-lhe a vida, e foi-lhe permitido continuar a sofrer por Jesus. Foi acusado falsamente por seus inimigos e finalmente banido para uma ilha deserta, aonde o Senhor enviou o Seu anjo para revelar-lhe acontecimentos que deveriam ter lugar na Terra, e a condição da igreja até o fim -- suas apostasias, e a posição que ela deveria ocupar se quisesse agradar a Deus e finalmente vencer. PE 230 2 O anjo do Céu veio a João com majestade, brilhando seu rosto com a excelente glória de Deus. Revelou a João cenas de profundo e palpitante interesse, na história da igreja de Deus, e apresentou-lhe os perigosos conflitos que os seguidores de Cristo deveriam suportar. João os viu passar por violentas provações, serem embranquecidos e provados, e finalmente vitoriosos, gloriosamente salvos no reino de Deus. O semblante do anjo se tornou radiante de alegria, e tornou-se extraordinariamente glorioso, ao mostrar ele a João o triunfo final da igreja de Deus. Quando o apóstolo contemplou o livramento final da igreja, ficou fora de si ante a glória daquela cena, e, com profunda reverência e temor, caiu aos pés do anjo para o adorar. O mensageiro celestial imediatamente o levantou, e mansamente o reprovou, dizendo: "Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o Espírito da Profecia." Apocalipse 19:10. O anjo mostrou então a João a cidade celestial, com todo o seu esplendor e deslumbrante glória, e ele, extasiado e vencido, e esquecendo-se da reprovação anterior do anjo, de novo se prostrou para adorar a seus pés. É novamente proferida a suave reprovação: "Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus." Apocalipse 22:9. PE 231 1 Pregadores e o povo têm considerado o livro do Apocalipse como sendo misterioso, e de menos importância que outras porções das Escrituras Sagradas. Vi, porém, que este livro é na verdade uma revelação dada para o benefício especial daqueles que vivessem nos últimos dias, a fim de os guiar no descobrir sua verdadeira posição e seus deveres. Deus encaminhou a mente de Guilherme Miller para as profecias, e deu-lhe grande luz quanto ao livro do Apocalipse. PE 231 2 Se as visões de Daniel tivessem sido compreendidas, o povo poderia melhor ter entendido as visões de João. Mas, no tempo devido, Deus moveu o Seu servo escolhido, que, com clareza e no poder do Espírito Santo, desvendou as profecias e mostrou a harmonia das profecias de Daniel e de João, e outras partes da Bíblia, e fez falar ao coração do povo as advertências sagradas e terríveis da Palavra, para se preparar para a vinda do Filho do homem. Profunda e solene convicção repousou sobre a mente dos que o ouviam, e ministros e povo, pecadores e ateus voltavam-se ao Senhor e buscavam preparar-se para estar em pé no juízo. PE 232 1 Anjos de Deus acompanhavam Guilherme Miller em sua missão. Ele era firme e denodado, proclamando destemidamente a mensagem a ele confiada. Um mundo que jazia na impiedade, e uma igreja fria e mundana eram bastante para suscitar à atividade todas as suas energias, e levá-lo voluntariamente a suportar trabalhos, privações e sofrimento. Embora a ele se opusessem cristãos professos e o mundo, e rudemente o atacassem Satanás e os seus anjos, não cessou de pregar o evangelho eterno às multidões, onde quer que era convidado, fazendo repercutir longe e perto o clamor: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:7. ------------------------Capítulo 55 -- A mensagem do primeiro anjo PE 232 2 Vi que Deus estava na proclamação do tempo em 1843. Era Seu desígnio suscitar o povo, e trazê-los a uma condição em que seriam provados, na qual decidiriam ou pró ou contra a verdade. Ministros se convenceram da exatidão da atitude assumida quanto aos períodos proféticos, e alguns renunciaram seu orgulho e deixaram seus salários e igrejas para sair de um lugar para outro a fim de apregoar a mensagem. Mas como a mensagem celestial não pôde encontrar lugar no coração senão de poucos dos ministros professos de Cristo, a obra foi colocada sobre muitos que não eram pregadores. Alguns deixaram seus campos para fazer soar a mensagem, enquanto outros eram chamados de suas oficinas e mercadorias. E mesmo alguns profissionais foram compelidos a deixar suas profissões a fim de se empenharem na obra impopular de proclamar a mensagem do primeiro anjo. PE 232 3 Ministros puseram de parte suas opiniões e sentimentos sectaristas, e uniram-se na proclamação da vinda de Jesus. Onde quer que a mensagem era apresentada, comovia o povo. Pecadores arrependiam-se, choravam e oravam pedindo perdão, e aqueles cuja vida se tinha caracterizado pela desonestidade, estavam ansiosos por fazer a restituição do alheio. Pais experimentavam a mais profunda solicitude para com seus filhos. Aqueles que recebiam a mensagem trabalhavam com seus amigos e parentes não convertidos, e, pesando sobre sua alma a importância da solene mensagem, advertiam-nos e rogavam-lhes para que se preparassem para a vinda do Filho do homem. Tratava-se de muita dureza de coração quando se não rendiam a tão grande peso de evidências apresentadas pelas sinceras advertências. Esta obra purificadora da alma retirou as afeições das coisas terrestres, levando-as a uma consagração nunca antes experimentada. PE 233 1 Milhares foram levados a abraçar a verdade pregada por Guilherme Miller, e servos de Deus levantaram-se no espírito e virtude de Elias para proclamar a mensagem. Semelhantes a João, o precursor de Jesus, os que pregavam esta solene mensagem sentiam-se compelidos a pôr o machado à raiz da árvore, e apelar aos homens para produzir frutos dignos de arrependimento. Seu testemunho era calculado a despertar as igrejas e afetá-las poderosamente, e tornar manifesto o seu verdadeiro caráter. E, ao repercutir a solene advertência para fugirem da ira vindoura, muitos que estavam unidos às igrejas receberam a mensagem salutar; viram sua apostasia, e, com lágrimas amargas de arrependimento e profunda angústia de alma, humilharam-se perante Deus. E, repousando sobre eles o Espírito de Deus, auxiliaram a fazer ressoar o clamor: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:7. PE 233 2 A pregação do tempo definido despertou grande oposição de todas as classes, desde o ministro no púlpito até o pecador mais descuidado e empedernido. "Ninguém sabe o dia nem a hora", ouvia-se falar, desde o ministro hipócrita até o ousado escarnecedor. Tampouco desejavam ser instruídos ou corrigidos por aqueles que estavam indicando o ano em que acreditavam expirarem os períodos proféticos, e os sinais que mostravam estar Cristo perto, às portas mesmo. Muitos pastores do rebanho, que professavam amar a Jesus, diziam que não faziam oposição à pregação da vinda de Cristo, mas faziam objeções quanto ao tempo definido. Os olhos de Deus, que tudo vêem, liam-lhes o coração. Eles não gostavam que Jesus estivesse prestes a vir. Sabiam que sua vida, que não era cristã, não resistiria à prova, pois não estavam a andar pela senda humilde indicada por Ele. Esses falsos pastores impediam o caminho da obra de Deus. A verdade falada em sua força convincente despertava o povo, e semelhantes ao carcereiro, começaram a perguntar: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Estes pastores, porém, ficaram de permeio, entre a verdade e o povo, e pregavam coisas aprazíveis para os desviar da verdade. Uniram-se com Satanás e seus anjos, clamando: "Paz, paz", quando não havia paz. Os que amavam sua comodidade e estavam contentes com se acharem distantes de Deus, não queriam despertar-se de sua segurança carnal. Vi que anjos de Deus notavam tudo isto; as vestes daqueles pastores sem consagração estavam cobertas com o sangue das almas. PE 234 1 Ministros que não queriam aceitar para si mesmos esta mensagem salvadora, embaraçavam aqueles que a queriam receber. O sangue das almas estava sobre eles. Pregadores e povo uniram-se para se opor a esta mensagem do Céu e perseguir Guilherme Miller e aqueles que com ele se uniram na obra. Faziam-se circular falsidades para prejudicar a sua influência; e, em diferentes ocasiões, depois que havia compreensivelmente declarado o conselho de Deus, aplicando cortantes verdades ao coração de seus ouvintes, grande ira se acendia contra ele, e, retirando-se do local da reunião, alguns ficavam de emboscada a fim de tirar-lhe a vida. Anjos de Deus, porém, eram enviados para o proteger, e o guiavam em segurança para fora da turba irada. Sua obra ainda não estava concluída. PE 235 1 Os mais dedicados recebiam alegremente a mensagem. Sabiam ser ela de Deus, e estar sendo apresentada no tempo exato. Anjos estavam a observar com o mais profundo interesse o resultado da mensagem celestial, e, quando as igrejas dela se voltaram e a rejeitaram, com tristeza consultaram a Jesus. Ele desviou Seu rosto das igrejas, e ordenou a Seus anjos que fielmente vigiassem aqueles que, preciosos à Sua vista, não rejeitaram o testemunho, pois outra luz deveria ainda resplandecer sobre eles. PE 235 2 Vi que, se os professos cristãos tivessem amado o aparecimento de seu Salvador, se nEle houvessem posto suas afeições e tivessem sentido não haver na Terra ninguém a ser com Ele comparado, teriam saudado com alegria a primeira indicação a respeito de Sua vinda. Mas o desgosto que manifestaram, ouvindo falar da vinda de seu Senhor, foi uma prova decidida de que O não amavam. Satanás e seus anjos triunfaram, e exprobraram a Cristo e Seus santos anjos que o Seu povo professo tinha tão pouco amor a Jesus que não desejavam Seu segundo aparecimento. PE 235 3 Vi o povo de Deus, com gozo, em expectação, aguardando o seu Senhor. Mas era intento de Deus prová-los. Sua mão ocultou um engano na contagem dos períodos proféticos. Aqueles que estavam esperando pelo seu Senhor não descobriram este erro, e os homens mais doutos que se opunham ao tempo também deixaram de o ver. Era intuito de Deus que Seu povo defrontasse com o desapontamento. O tempo passou, e os que haviam aguardado com alegre expectação a seu Salvador ficaram tristes e desanimados, enquanto aqueles que não amavam o aparecimento de Jesus, mas haviam abraçado a mensagem pelo medo, ficaram satisfeitos de que Ele não tivesse vindo no tempo da expectação. A profissão destes não havia afetado o coração e purificado a vida. A passagem do tempo estava bem calculada a revelar tais corações. Foram eles os primeiros a voltar-se e ridicularizar os tristes e desapontados, que realmente amavam o aparecimento de seu Salvador. Vi a sabedoria de Deus, ao experimentar Seu povo, e submetê-los a uma prova investigadora, a fim de descobrir os que recuariam ou retrocederiam na hora da provação. PE 236 1 Jesus e todo o exército celestial olhavam com simpatia e amor àqueles que, em doce expectativa, haviam anelado ver Aquele a quem sua alma amava. Pairavam anjos em redor deles, para alentá-los na hora de sua prova. Aqueles que negligenciaram receber a mensagem celestial, foram deixados em trevas, e a ira de Deus acendeu-se contra eles, porque não quiseram receber a luz que do Céu Ele lhes enviara. Aqueles fiéis e desapontados, que não puderam compreender porque seu Senhor não viera, não foram deixados em trevas. De novo foram levados às suas Bíblias, a fim de examinar os períodos proféticos. A mão do Senhor removeu-se dos algarismos, e o erro foi explicado. Viram que os períodos proféticos chegavam a 1844, e que a mesma prova que haviam apresentado para mostrar que os mesmos terminavam em 1843, demonstrava terminar em 1844. Resplandeceu, nesta sua atitude, luz da Palavra de Deus, e descobriram um tempo de tardança: "Se tardar, espera-o." Ver Mateus 25:5; Habacuque 2:3. Em seu amor pela imediata vinda de Cristo, deixaram de tomar em consideração a tardança da visão, que estava destinada a tornar manifestos os que na verdade estavam a esperar. Outra vez tiveram um tempo indicado. Vi, contudo, que muitos deles não puderam levantar-se acima de seu severo desapontamento, para possuir aquele grau de zelo e energia que assinalou sua fé em 1843. PE 236 2 Satanás e seus anjos triunfaram sobre eles, e aqueles que não quiseram receber a mensagem se congratularam pelo seu discernimento e sabedoria, por não receberem a ilusão, como eles a chamavam. Não compreenderam que estiveram a rejeitar o conselho de Deus, contra si mesmos, e que estavam agindo em união com Satanás e seus anjos para tornar perplexo o povo de Deus, que vivia seguindo a mensagem enviada pelo Céu. PE 237 1 Os crentes nesta mensagem eram oprimidos nas igrejas. Durante algum tempo, aqueles que não quiseram receber a mensagem foram impedidos pelo medo, de agir de acordo com os sentimentos de seu coração; porém, a mensagem do tempo revelou seus verdadeiros sentimentos. Desejavam silenciar o testemunho que os expectantes se sentiam compelidos a dar de que os períodos proféticos se estendia até 1844. Com clareza os crentes explicavam o seu engano e davam as razões por que esperavam seu Senhor em 1844. Seus oponentes não puderam aduzir argumentos contra as poderosas razões que se ofereciam. Contudo a ira das igrejas se acendeu; estavam decididas a não dar ouvidos às provas, e de excluir de seu meio o testemunho, de modo que os outros não o pudessem ouvir. Os que não ousaram privar os outros da luz que Deus lhes dera, foram excluídos das igrejas; mas Jesus estava com eles, e estavam alegres ante a luz de Seu semblante. Estavam preparados para receber a mensagem do segundo anjo. ------------------------Capítulo 56 -- A mensagem do segundo anjo PE 237 2 Como as igrejas se recusassem a receber a mensagem do primeiro anjo, rejeitaram a luz do Céu, e caíram do favor de Deus. Confiaram em sua própria força, e, opondo-se à primeira mensagem, colocaram-se onde não poderiam ver a luz da mensagem do segundo anjo. Mas os amados de Deus, que eram oprimidos, aceitaram a mensagem: "Caiu Babilônia", e deixaram as igrejas. PE 238 1 Próximo do final da mensagem do segundo anjo, vi uma grande luz do Céu resplandecendo sobre o povo de Deus. Os raios desta luz pareciam brilhantes como o Sol. Ouvi as vozes dos anjos, clamando: "Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro." Mateus 25:6. PE 238 2 Este foi o clamor da meia-noite, que deveria dar poder à mensagem do segundo anjo. Foram enviados anjos do Céu a fim de estimular os santos desanimados, e prepará-los para a grande obra que diante deles estava. Os homens mais talentosos não foram os primeiros a receber esta mensagem. Foram enviados anjos aos humildes, dedicados, e os constrangeram a levantar o clamor: "Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro." Os que estavam encarregados deste clamor apressaram-se, e no poder do Espírito Santo fizeram soar a mensagem, e despertaram seus desanimados irmãos. Esta obra não se mantinha pela sabedoria e erudição de homens, mas pelo poder de Deus, e Seus santos que ouviam o clamor não podiam resistir a ele. Os mais espirituais recebiam esta mensagem em primeiro lugar, e os que tinham anteriormente tomado parte na chefia do trabalho eram os últimos a receber e ajudar a avolumar o clamor: "Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro." PE 238 3 Em toda a parte do país, foi proporcionada luz acerca da mensagem do segundo anjo, e o clamor amoleceu o coração de milhares. Foi de cidade em cidade, e de vila em vila, até que o povo expectante de Deus ficasse completamente desperto. Em muitas igrejas não foi permitido dar-se a mensagem, e uma grande multidão que tinha o vívido testemunho deixou essas igrejas decaídas. Uma poderosa obra foi realizada pelo clamor da meia-noite. A mensagem era de natureza a promover o exame do coração, levando os crentes a buscar por si mesmos uma vívida experiência. Sabiam que não poderiam buscar apoio uns nos outros. PE 238 4 Os santos esperaram ansiosamente pelo seu Senhor, com jejuns, vigílias, e oração quase constante. Mesmo alguns pecadores olhavam para aquele tempo com terror; mas a grande maioria manifestou o espírito de Satanás em sua oposição à mensagem. Zombavam e caçoavam, repetindo em toda a parte: "Ninguém sabe o dia nem a hora." Anjos maus com eles insistiam para que endurecessem o coração e rejeitassem todo raio de luz do Céu, a fim de ficar seguros na cilada de Satanás. Muitos que professavam estar à espera de Cristo, não tinham parte na obra da mensagem. A glória de Deus que haviam testemunhado, a humildade e profunda devoção dos expectantes, e o peso esmagador das provas, faziam-nos ter a profissão de receber a verdade; mas não se haviam convertido; não estavam preparados para a vinda de seu Senhor. PE 239 1 Um espírito de solene e fervorosa oração era por toda parte sentido pelos santos. Uma santa solenidade repousava sobre eles. Anjos estavam a observar com o mais profundo interesse o efeito da mensagem, e estavam a enobrecer aqueles que a recebiam, e a retirá-los das coisas terrestres para obterem grande suprimento da fonte da salvação. O povo de Deus era então aceito por Ele. Jesus olhava para eles com prazer, pois Sua imagem neles se refletia. Haviam feito um amplo sacrifício, uma completa consagração, e esperavam ser transformados à imortalidade. Mas estavam de novo destinados a ser tristemente decepcionados. O tempo para o qual tinham eles olhado, na expectação de livramento, passou-se; ainda se achavam sobre a Terra, e os efeitos da maldição nunca pareceram mais visíveis do que então. Haviam posto suas afeições no Céu, e com doce antegozo provaram o livramento imortal; suas esperanças, porém, não se realizaram. PE 239 2 O medo que repousara sobre muitos do povo não desapareceu de pronto; não triunfaram imediatamente sobre os que foram desapontados. Mas como nenhum sinal visível da ira de Deus aparecesse, refizeram-se do temor que haviam experimentado, e começaram a ridicularizar e escarnecer. De novo foi o povo de Deus experimentado e provado. O mundo ria-se, zombava, e os vituperava; e os que tinham crido sem nenhuma dúvida que Jesus devesse ter vindo pouco antes para ressuscitar os mortos, transformar os santos vivos, tomar o reino e possuí-lo para sempre, sentiram-se como os discípulos junto ao sepulcro de Cristo: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." João 20:13. ------------------------Capítulo 57 -- O movimento do advento ilustrado PE 240 1 Vi certo número de grupos que pareciam estar unidos entre si por laços. Muitos nesses grupos estavam em trevas totais; seus olhos foram dirigidos para baixo em direção da Terra, e parecia não haver qualquer relação entre eles e Jesus. Mas espalhados por entre esses diferentes grupos havia pessoas cujo semblante parecia iluminado, e cujos olhos se erguiam para o Céu. Raios de luz provindos de Jesus, como raios do Sol, foram distribuídos entre eles. Um anjo mandou-me olhar cuidadosamente, e vi um anjo vigiando sobre cada um dos que tinham um raio de luz, enquanto anjos maus cercavam os que estavam em trevas. Ouvi a voz de um anjo clamar: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." PE 240 2 Uma gloriosa luz repousou então sobre esses grupos, a fim de iluminar a todos que a recebessem. Alguns dos que estavam em trevas receberam a luz e se regozijaram. Outros resistiram à luz do Céu, dizendo que era enviada para desviá-los. A luz passou deles, e foram deixados em trevas. Os que haviam recebido a luz de Jesus alegremente estimaram o aumento da preciosa luz que sobre eles fora derramada. Seus rostos brilharam com santo gozo, enquanto o seu olhar era dirigido para Jesus com intenso interesse, e suas vozes eram ouvidas em harmonia com a voz do anjo: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo." Ao erguerem eles este clamor, vi os que estavam em trevas os empurrando com o lado e com os ombros. Então muitos que estimavam a sagrada luz quebraram os laços que os mantinham presos, e se separaram desses grupos. Ao estarem fazendo isto, homens pertencentes a diferentes grupos e por eles reverenciados passaram, alguns com palavras agradáveis, outros com semblante irado e gestos ameaçadores, e reforçaram os laços que estavam enfraquecendo. Então esses homens diziam constantemente: "Deus está conosco. Nós estamos na luz. Temos a verdade." Interroguei quem eram esses homens, e foi dito que eram ministros e líderes que haviam pessoalmente rejeitado a luz, e não desejavam que outros a recebessem. PE 241 1 Vi que os que estimavam a luz olhavam para o alto com ardente desejo, esperando que Jesus viesse e os levasse para Si. Logo uma nuvem passou sobre eles, e seus rostos ficaram tristes. Indaguei a causa desta nuvem, e foi-me mostrado que era o seu desapontamento. O tempo em que esperavam o seu Salvador havia passado, e Jesus não viera. Recaindo o desencorajamento sobre os expectantes, os ministros e líderes que eu havia visto antes, regozijaram-se, e todos os que haviam rejeitado a luz triunfaram grandemente, enquanto Satanás e seus anjos maus também exultavam. PE 241 2 Então ouvi a voz de outro anjo dizendo: "Caiu, caiu a grande Babilônia!" Uma luz brilhou sobre os desalentados, e com ardentes desejos por Seu aparecimento, fixaram de novo os olhos em Jesus. Vi um número de anjos conversando com aquele que havia clamado: "Caiu Babilônia", e esses uniram-se com ele na exclamação: "Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!" As vozes musicais desses anjos pareciam chegar a toda parte. Uma luz excessivamente brilhante e gloriosa fulgurava ao redor dos que haviam estimado a luz que lhes havia sido concedida. Suas faces brilhavam com excelente glória, e uniram-se aos anjos no clamor: "Eis o noivo!" Ao suscitarem eles harmoniosamente o clamor entre os diferentes grupos, os que rejeitaram a luz os empurravam e com olhares de ódio deles escarneciam e zombavam. Mas anjos de Deus convergiam suas asas sobre os perseguidos, enquanto Satanás e seus anjos procuravam lançar trevas ao redor deles, a fim de levá-los a rejeitar a luz do Céu. PE 242 1 Ouvi então uma voz dizendo aos que tinham sido empurrados e escarnecidos: "Retirai-vos do meio deles, não toqueis em coisas impuras." Em obediência a esta voz, grande número rompeu os laços que os prendiam, e deixando os grupos que estavam em trevas, uniram-se aos que haviam anteriormente conquistado sua liberdade, e jubilosamente com eles uniram suas vozes. Ouvi a voz de fervente e agônica oração vinda de uns poucos que ainda permaneciam com os grupos que estavam em trevas. Os ministros e líderes estavam passando em torno desses diferentes grupos, prendendo os laços mais firmemente; mas ainda ouvi esta voz de fervente oração. Vi então os que haviam estado orando estender as mãos em pedido de auxílio ao grupo unido que estava livre, regozijando em Deus. A resposta deles, ao olharem ferventemente para o Céu, e apontarem para cima foi: "Retirai-vos do meio deles, separai-vos." Vi indivíduos lutando por liberdade, e afinal quebraram os laços que os ligavam. Eles resistiram aos esforços feitos para apertar os laços ainda mais, e recusaram atender às repetidas asserções: "Deus está conosco." "Temos conosco a verdade." PE 243 1 Pessoas estavam continuamente deixando os grupos em trevas e unindo-se ao grupo liberto, que parecia estar num campo aberto alteado sobre a Terra. Seu olhar estava dirigido para o alto, a glória de Deus sobre eles repousava, e jubilosamente proclamavam o Seu louvor. Eles estavam intimamente unidos e pareciam estar envoltos na luz do Céu. Em torno deste grupo estavam alguns que vieram sob a influência da luz mas que não estiveram particularmente unidos ao grupo. Todos os que apreciaram a luz derramada sobre eles olhavam para cima com intenso interesse, e Jesus olhava-os com terna aprovação. Eles esperavam que Ele viesse, e ansiavam por Seu aparecimento. Não lançaram para a Terra nenhum olhar de saudade. Mas de novo uma nuvem baixou sobre esses expectantes, e vi-os voltar seus cansados olhos para baixo. Indaguei a causa desta mudança. Disse o meu anjo assistente: "Estão de novo desapontados em suas expectações. Jesus não pode ainda vir à Terra. Precisam suportar maiores provações por Seu amor. Devem abandonar erros e tradições recebidos de homens e voltar-se inteiramente para Deus e Sua Palavra. Precisam ser purificados, embranquecidos, provados. Os que resistirem essa amarga prova obterão eterna vitória." PE 243 2 Jesus não veio à Terra como o grupo expectante e jubiloso esperava, a fim de purificar o santuário mediante a purificação da Terra pelo fogo. Vi que eles estavam certos na sua interpretação dos períodos proféticos; o tempo profético terminou em 1844, e Jesus entrou no lugar santíssimo para purificar o santuário no fim dos dias. O engano deles consistiu em não compreender o que era o santuário e a natureza de sua purificação. Ao olhar de novo o desapontado grupo expectante, pareciam tristes. Examinaram cuidadosamente as evidências de sua fé e reestudaram a interpretação dos períodos proféticos, mas não lograram descobrir erro algum. O tempo havia sido cumprido, mas onde estava o seu Salvador? Tinham-nO perdido. PE 244 1 Foi-me mostrado o desapontamento dos discípulos quando foram ao sepulcro e não encontraram o corpo de Jesus. Maria disse: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram." Anjos disseram aos desalentados discípulos que o seu Senhor havia ressuscitado, e iria adiante deles para a Galiléia. PE 244 2 De igual maneira vi que Jesus considerou com a mais profunda compaixão os desapontados que haviam aguardado a Sua vinda; e enviou os Seus anjos para dirigir-lhes a mente, de maneira que pudessem segui-Lo até onde Ele estava. Mostrou-lhes que a Terra não é o santuário, mas que Ele devia entrar no lugar santíssimo do santuário celestial, a fim de fazer expiação por Seu povo e receber o reino de Seu Pai, e então voltaria à Terra e os tomaria para ficarem com Ele para sempre. O desapontamento dos primeiros discípulos bem representa o desapontamento dos que esperaram o seu Senhor em 1844. PE 244 3 Fui transportada ao tempo em que Cristo entrou triunfalmente em Jerusalém. Os jubilosos discípulos criam então que Ele estava para tomar o reino e reinar como um príncipe temporal. Eles seguiram o seu Rei com grandes esperanças. Cortaram lindos ramos de palmeira, e despiram as suas vestes exteriores e com entusiástico zelo estenderam-nas no caminho; e alguns foram na frente, e outros seguiram, clamando: "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas." O excitamento conturbou os fariseus, e desejaram que Jesus repreendesse os Seus discípulos. Mas Ele disse-lhes: "Se eles se calarem, as próprias pedras clamarão." A profecia de Zacarias 9:9 devia ser cumprida; todavia os discípulos estavam condenados a amargo desapontamento. Em poucos dias seguiram Jesus ao Calvário e contemplaram-nO sangrante e desfigurado sobre a cruz. Testemunharam Sua agônica morte e depuseram-nO na tumba. O coração deles encheu-se de dor; suas expectativas não se tornaram realidade em nenhum particular, e suas esperanças morreram com Jesus. Mas quando Ele ressurgiu dos mortos e apareceu a Seus desolados discípulos, suas esperanças reviveram. Eles O encontraram outra vez. PE 245 1 Vi que o desapontamento dos que creram na vinda do Senhor em 1844, não foi equivalente ao dos primeiros discípulos. A profecia foi cumprida nas mensagens do primeiro e do segundo anjo. Foram dadas no tempo certo e realizaram a obra que Deus lhes designara. ------------------------Capítulo 58 -- Outra ilustração PE 245 2 Foi-me mostrado o interesse que todo o Céu havia tomado na obra em processamento na Terra. Jesus comissionou um poderoso anjo para que descesse e advertisse os habitantes da Terra de que se preparassem para o Seu segundo aparecimento. Ao deixar o anjo a presença de Jesus no Céu, uma luz excessivamente brilhante e gloriosa ia diante dele. Foi-me dito que sua missão era iluminar a Terra com a sua glória e advertir o homem com respeito à iminente ira de Deus. Multidões receberam a luz. Alguns desses pareciam estar muito solenizados, enquanto outros se mostravam jubilosos e arrebatados. Todos os que haviam recebido a luz voltavam as faces para o Céu e glorificavam a Deus. Embora a luz fosse derramada sobre todos, alguns meramente vinham sob sua influência, mas não a recebiam de coração. Muitos se encheram de grande ira. Ministros e povo uniram-se com a ralé e obstinadamente resistiram à luz derramada pelo poderoso anjo. Mas todos os que a receberam, afastaram-se do mundo e se uniram intimamente uns com os outros. PE 246 1 Satanás e seus anjos estavam ativamente ocupados em procurar desviar da luz as mentes, de quantos fosse possível. O grupo que a rejeitou foi deixado em trevas. Vi o anjo de Deus observando com o mais profundo interesse o Seu povo professo, a fim de registrar o caráter que desenvolviam ao ser-lhes apresentada a mensagem de origem celestial. E ao desviarem-se da mensagem celestial com escárnio, zombaria e ódio, muitos que professavam amor a Jesus, um anjo com um pergaminho na mão fazia o vergonhoso registro. Todo o Céu se encheu de indignação porque Jesus fosse assim menosprezado por Seus professos seguidores. PE 246 2 Vi o desapontamento dos que confiavam, quando Jesus não voltou no tempo que esperavam. Havia sido propósito de Deus ocultar o futuro e levar o Seu povo a um ponto de decisão. Sem a pregação de um tempo definido para a vinda de Cristo, a obra que Deus designara não teria sido executada. Satanás estava levando muitos a olharem para além do futuro aos grandes acontecimentos relacionados com o juízo e o fim da graça. Era necessário que o povo fosse levado a buscar fervorosa preparação para o presente. PE 246 3 Ao passar o tempo, os que não haviam recebido inteiramente a luz do anjo se uniram com os que haviam desprezado a mensagem, e voltaram-se contra os desapontados, ridicularizando-os. Anjos assinalavam a situação dos professos seguidores de Cristo. A passagem do tempo definido tinha-o testado e provado, e muitos foram pesados na balança e achados em falta. Alto e bom som declaravam ser cristãos; todavia, quase que em cada particular deixavam de seguir a Cristo. Satanás exultou com a condição dos professos seguidores de Jesus. Tinha-os em seu laço. Havia levado a maioria a deixar o caminho estreito, e eles estavam procurando subir ao Céu por algum outro caminho. Anjos viam os puros e santos misturados com pecadores em Sião e com hipócritas amantes do mundo. Eles haviam velado sobre os verdadeiros discípulos de Jesus; mas os corrompidos estavam afetando os santos. Aqueles, cujo coração estava inflamado com um intenso desejo de ver a Jesus, foram proibidos por seus professos irmãos de falar de Sua vinda. Anjos contemplavam a cena e simpatizavam com o remanescente que ansiava pelo aparecimento do seu Senhor. PE 247 1 Outro poderoso anjo foi comissionado para descer à Terra. Jesus pôs em suas mãos um escrito, e ele desceu à Terra e clamou: "Caiu, caiu a grande Babilônia!" Então vi os que sofreram o desapontamento levantarem de novo os olhos para o céu, aguardando com fé e esperança o aparecimento do seu Senhor. Muitos, porém, pareciam permanecer num estado de estupor, como que adormecidos; contudo pude ver sinal de profunda tristeza em seu semblante. Os desapontados viram pelas Escrituras que estavam no tempo de espera, e que precisavam pacientemente aguardar o cumprimento da visão. A mesma evidência que os levara a aguardar o seu Senhor em 1843, levava-os a esperá-Lo em 1844. Entretanto, vi que a maioria não possuía aquela energia que assinalou a sua fé em 1843. O desapontamento havia descoroçoado sua fé. PE 247 2 Ao unir-se o povo de Deus no clamor do segundo anjo, a hoste celestial anotou com o mais profundo interesse o efeito da mensagem. Eles viram muitos que levavam o nome de cristãos voltarem-se com escárnio e desprezo contra os que haviam sido desapontados. Ao caírem de lábios zombadores as palavras: "Não subistes ainda!" um anjo anotou-as. Disse o anjo: "Eles zombam de Deus." Foi-me indicado um pecado semelhante cometido em tempos passados. Elias tinha sido trasladado para o Céu, e o seu manto tinha caído sobre Eliseu. Então rapazes ímpios, que haviam aprendido com seus pais a desprezar o homem de Deus, seguiram Eliseu, e, zombando, gritavam: "Sobe, calvo, sobe, calvo." Insultando assim o Seu servo, insultavam a Deus e atraíam Sua punição de imediato. De igual modo, os que têm zombado e ridicularizado a idéia do arrebatamento dos santos, serão visitados com a ira de Deus, e serão levados a compreender que não é coisa leve motejar do seu Criador. PE 248 1 Jesus comissionou outros anjos para que voassem rapidamente, a fim de reavivar e fortalecer a desalentada fé de Seu povo e prepará-lo para compreender a mensagem do segundo anjo e o importante movimento a ocorrer logo no Céu. Vi esses anjos receberem de Jesus grande luz e poder e voarem rapidamente para a Terra, a fim de cumprirem sua missão de ajudar o segundo anjo em sua obra. Uma grande luz brilhou sobre o povo de Deus ao clamar o anjo: "Eis o Noivo! saí ao Seu encontro." Então vi os que ficaram desapontados levantarem-se e, em harmonia com a mensagem do segundo anjo, proclamar: "Eis o Noivo! saí ao Seu encontro." A luz dos anjos penetrou as trevas por toda a parte. Satanás e seus anjos procuraram obstar essa luz a fim de que não se espalhasse e alcançasse o seu designado efeito. Eles contenderam com os anjos do Céu, dizendo que Deus havia enganado o povo, e que com toda a sua luz, e poder não lograriam fazer o mundo crer que Cristo estava para vir. Mas embora Satanás procurasse impedir o caminho e afastar da luz a mente do povo, os anjos de Deus continuaram sua obra. PE 248 2 Os que receberam a luz pareciam muito felizes. Eles olhavam firmemente para o Céu e ansiavam pelo aparecimento de Jesus. Alguns estavam chorando e orando em grande angústia. Seus olhos pareciam estar fixos em si mesmos, e não se atreviam a olhar para o alto. Uma luz do Céu apartou deles as trevas, e seus olhos, que haviam estado fixos em desespero sobre si mesmos, voltaram-se para o alto, enquanto gratidão e santo gozo eram expressos em cada traço. Jesus e toda a hoste angélica olhavam com aprovação para os fiéis, expectantes. PE 249 1 Os que rejeitaram a luz da mensagem do primeiro anjo e a ela se opuseram, perderam a luz do segundo, e não puderam ser beneficiados pelo poder e glória que acompanhava a mensagem: "Eis o Noivo! saí ao Seu encontro." Jesus desviou-Se deles com a fisionomia carregada; pois haviam-nO menosprezado e rejeitado. Os que receberam a mensagem foram envolvidos numa nuvem de glória. Sobremodo temiam ofender a Deus, e esperavam, e vigiavam, e oravam para conhecer a Sua vontade. Vi Satanás e seus anjos procurando desviar do povo de Deus esta divina luz; mas, enquanto os expectantes mostravam estima pela luz e conservavam os olhos desviados da Terra e voltados para Jesus, Satanás não tinha poder para privá-los de seus preciosos raios. A mensagem dada pelo Céu enfureceu Satanás e seus anjos, e levou os que professavam amar a Jesus, mas desprezavam Sua vinda, a escarnecerem dos fiéis, confiantes, e a ridicularizá-los. Mas um anjo anotou cada insulto, cada desprezo, cada inconveniência que os filhos de Deus recebiam de seus professos irmãos. PE 249 2 Muitos levantavam a voz para clamar: "Eis o Noivo!" e deixavam seus irmãos que não amavam o aparecimento de Jesus, e não toleravam ouvi-los falar sobre Sua segunda vinda. Vi Jesus voltar Sua face dos que rejeitaram e desprezaram Sua vinda, ordenando, então aos anjos que levassem o Seu povo a afastar-se dos impuros, para que não fossem contaminados. Os que foram obedientes à mensagem ficaram fora livres e unidos. Uma santa luz brilhou sobre eles. Haviam renunciado ao mundo, sacrificado seus interesses terrenos, abandonado seus tesouros terrestres, e dirigido seu ansioso olhar para o céu, esperando ver seu amado Libertador. Uma santa luz refulgia em seus semblantes, denunciando a paz e gozo que lhes ia no íntimo. Jesus ordenou a Seus anjos que fossem e os fortalecessem, pois a hora de sua prova se aproximava. Vi que esses expectantes não tinham ainda sido provados como deviam ser. Não estavam livres de erros. E vi a misericórdia e a bondade de Deus em enviar uma advertência ao povo da Terra, bem como repetidas mensagens para levá-los a diligente exame de coração, ao estudo das Escrituras, a fim de poderem despojar-se de erros que haviam sido recebidos de pagãos e papistas. Por meio dessas mensagens Deus tem estado a conduzir o Seu povo para onde Ele possa operar por eles com maior poder, e aonde eles possam guardar todos os Seus mandamentos. ------------------------Capítulo 59 -- O Santuário PE 250 1 Foi-me mostrado o doloroso desapontamento do povo de Deus por não terem visto a Jesus no tempo em que O esperavam. Não sabiam porque seu Salvador não viera; pois não podiam ter evidência alguma de que o tempo profético não houvesse terminado. Disse o anjo: "Falhou a Palavra de Deus? Deixou Deus de cumprir Suas promessas? Não; Ele cumpriu tudo que prometera. Jesus levantou-Se e fechou a porta do lugar santo do santuário celestial, abriu uma porta para o lugar santíssimo, e entrou ali para purificar o santuário. Todos os que pacientemente esperarem compreenderão o mistério. O homem errou; mas não houve engano da parte de Deus. Tudo que Deus prometeu foi cumprido; mas o homem erroneamente acreditou que a Terra era o santuário a ser purificado no fim do período profético. Foi a expectativa do homem, não a promessa de Deus, o que falhou." PE 251 1 Jesus enviou Seus anjos para guiar ao lugar santíssimo a mente dos que foram desapontados, lugar aquele a que Ele tinha ido a fim de purificar o santuário e fazer uma obra especial de expiação por Israel. Jesus disse aos anjos que todos os que O achassem compreenderiam a obra que Ele deveria realizar. Vi que, enquanto Jesus estivesse no lugar santíssimo, desposaria a Nova Jerusalém; e, depois que Sua obra se cumprisse no santo dos santos, desceria à Terra com real poder e tomaria para Si os que, preciosos à Sua vista, haviam pacientemente esperado pela Sua volta. PE 251 2 Foi-me mostrado o que teve lugar no Céu, no final do período profético, em 1844. Terminando Jesus Seu ministério no lugar santo, e fechando a porta daquele compartimento, grande treva baixou sobre aqueles que tinham ouvido e rejeitado as mensagens de Sua vinda; e O perderam de vista. Jesus então envergou vestes preciosas. Na extremidade inferior de Suas vestes havia uma campainha e uma romã, uma campainha e uma romã. Um peitoral de confecção curiosa estava suspenso de Seus ombros. Movendo-Se Ele, luzia como diamantes, avolumando letras que pareciam semelhantes a nomes escritos ou gravados no peitoral. Sobre a cabeça trazia algo que tinha a aparência de uma coroa. Quando ficou completamente ataviado, achou-Se rodeado pelos anjos, e em um carro chamejante passou para dentro do segundo véu. PE 251 3 Foi-me então ordenado que observasse os dois compartimentos do santuário celestial. A cortina, ou porta, foi aberta, e foi-me permitido entrar. No primeiro compartimento vi o castiçal com sete lâmpadas, a mesa dos pães da proposição, o altar de incenso e o incensário. Toda a mobília deste compartimento tinha o aspecto de ouro puríssimo, e refletia a imagem de quem entrava no lugar. O véu, que separava os dois compartimentos, era de cores e material diversos, com um lindo bordado, no qual havia figuras trabalhadas em ouro, para representar os anjos. Levantou-se o véu e eu olhei para o segundo compartimento. Vi ali uma arca que oferecia a aparência de ter sido feita do mais fino ouro. Os bordados em redor da parte superior da arca eram um lavor lindíssimo representando coroas. Na arca havia tábuas de pedra contendo os Dez Mandamentos. PE 252 1 Dois lindos querubins, um em cada extremidade da arca, achavam-se com suas asas estendidas por sobre ela, e tocando uma na outra por cima da cabeça de Jesus, estando Ele diante do propiciatório. Seus rostos estavam voltados um para o outro, e olhavam abaixo, para a arca, representando toda a hoste angélica a olhar com interesse para a lei de Deus. Entre os querubins havia um incensário de ouro; e, subindo a Jesus as orações dos santos, oferecidas pela fé, e apresentando-as Ele a Seu Pai, uma nuvem de fragrância subia do incenso, assemelhando-se a fumo das mais lindas cores. Por sobre o lugar em que Jesus Se achava, diante da arca, havia uma glória extraordinariamente brilhante, para a qual não podia olhar; parecia-se com o trono de Deus. Subindo o incenso para o Pai, a excelente glória vinha do trono a Jesus, e dEle se derramava sobre aqueles cujas orações tinham subido como suave incenso. Sobre Jesus derramou-se luz, em grande abundância, e projetou-se sobre o propiciatório; e o acompanhamento daquela glória encheu o templo. Não pude olhar muito tempo para o brilho insuperável. Nenhuma linguagem o pode descrever. Fiquei vencida, e desviei-me da majestade e glória daquela cena. PE 252 2 Foi-me também mostrado um santuário sobre a Terra, contendo dois compartimentos. Parecia-se com o do Céu, e foi-me dito que era uma figura do celestial. O aparelhamento do primeiro compartimento do santuário terrestre era semelhante ao do primeiro compartimento do celestial. O véu ergueu-se e eu olhei para o santo dos santos, e vi que a mobília era a mesma do lugar santíssimo do santuário celestial. O sacerdote ministrava em ambos os compartimentos do terrestre. Ia diariamente ao primeiro compartimento, mas entrava no lugar santíssimo apenas uma vez ao ano, para purificá-lo dos pecados que tinham sido levados ali. Vi que Jesus ministrava em ambos os compartimentos do santuário celestial. Os sacerdotes entravam no terrestre com sangue de um animal como oferta para o pecado. Cristo entrou no santuário celestial, oferecendo o Seu próprio sangue. Os sacerdotes terrestres eram removidos pela morte, portanto não podiam continuar por muito tempo; mas Jesus foi Sacerdote para sempre. Mediante os sacrifícios e ofertas trazidas ao santuário terrestre, deveriam os filhos de Israel apossar-se dos méritos de um Salvador que havia de vir. E na sabedoria de Deus os pormenores desta obra nos foram dados para que pudéssemos, volvendo um olhar para os mesmos, compreender a obra de Jesus no santuário celeste. PE 253 1 Ao morrer Jesus no Calvário, clamou: "Está consumado", e o véu do templo partiu-se de alto a baixo. Isto deveria mostrar que o serviço no santuário terrestre estava para sempre concluído, e que Deus não mais Se encontraria com os sacerdotes em seu templo terrestre, para aceitar os seus sacrifícios. O sangue de Jesus foi então derramado, o qual deveria ser oferecido por Ele mesmo no santuário nos Céus. Assim como o sacerdote entrava no lugar santíssimo uma vez ao ano, para purificar o santuário terrestre, entrou Jesus no lugar santíssimo do celestial, no fim dos 2.300 dias de Daniel 8, em 1844, para fazer uma expiação final por todos os que pudessem ser beneficiados por Sua mediação, e assim purificar o santuário. ------------------------Capítulo 60 -- A mensagem do terceiro anjo PE 254 1 Encerrando-se o ministério de Jesus no lugar santo, e passando Ele para o lugar santíssimo e ficando em pé diante da arca, a qual contém a lei de Deus, enviou um outro anjo poderoso com uma terceira mensagem ao mundo. Um pergaminho foi posto na mão do anjo, e, descendo ele à Terra com poder e majestade, proclamou uma terrível advertência, com a mais terrível ameaça que já foi feita ao homem. Esta mensagem estava destinada a pôr os filhos de Deus de sobreaviso, mostrando-lhes a hora de tentação e angústia que diante deles estava. Disse o anjo: "Serão trazidos em cerrado combate com a besta e sua imagem. Sua única esperança de vida eterna consiste em permanecer firmes. Posto que sua vida esteja em jogo, deverão reter com firmeza a verdade. O terceiro anjo encerra sua mensagem assim: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. Ao dizer ele estas palavras, aponta para o santuário celeste. A mente de todos os que abraçam esta mensagem, é dirigida ao lugar santíssimo, onde Jesus está em pé diante da arca, fazendo Sua intercessão final por todos aqueles por quem a misericórdia ainda espera, e pelos que ignorantemente têm violado a lei de Deus. Esta expiação é feita tanto pelos justos mortos como pelos justos vivos. Inclui todos os que morreram confiando em Cristo, mas que, não tendo recebido a luz sobre os mandamentos de Deus, têm, por ignorância, pecado, transgredindo seus preceitos. PE 254 2 Depois que Jesus abriu a porta do lugar santíssimo, viu-se a luz a respeito do sábado, e o povo de Deus foi provado, como o foram os filhos de Israel antigamente, para se ver se guardariam a lei de Deus. Vi o terceiro anjo apontando para cima, mostrando aos desapontados o caminho do lugar santíssimo do santuário celestial. Entrando eles pela fé no lugar santíssimo, encontram a Jesus e a esperança e alegria brotam de novo. Vi-os olhar para trás, revendo o passado, desde a proclamação do segundo advento de Jesus, através de sua experiência, até a passagem do tempo em 1844. Vêem eles seu desapontamento explicado, e a alegria e a certeza de novo os animam. O terceiro anjo iluminou o passado, o presente e o futuro, e eles sabem que na verdade Deus os tem guiado por Sua misteriosa providência. PE 255 1 Representou-me que os remanescentes seguiram pela fé a Jesus ao lugar santíssimo, viram a arca e o propiciatório, e ficaram encantados com sua glória. Jesus levantou então a tampa da arca, e eis as tábuas de pedra com os Dez Mandamentos sobre elas escritos. Examinam os vívidos oráculos, mas a tremer recuam quando vêem o quarto mandamento entre os dez santos preceitos, com uma luz a resplandecer sobre ele, mais brilhante do que havia sobre os outros nove, e uma auréola de glória em redor dele. Nada acham ali que os informe de que o sábado fora abolido, ou mudado para o primeiro dia da semana. O mandamento reza como quando fora falado pela voz de Deus, em grandiosidade solene e terrível, sobre o monte enquanto os relâmpagos coruscavam e os trovões ribombavam; é o mesmo que era quando fora escrito com Seu próprio dedo nas tábuas de pedra: "Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus." Êxodo 20:9, 10. Ficam admirados vendo o cuidado que é tido com os Dez Mandamentos. Vêem-nos colocados junto a Jeová, sob a sombra e proteção de Sua santidade. Vêem que têm estado a desprezar o quarto mandamento do decálogo, e têm observado um dia legado pelos pagãos e papistas, em vez de o dia santificado por Jeová. Humilham-se diante de Deus e lamentam suas transgressões passadas. PE 256 1 Vi no turíbulo o incenso exalar fumo quando Jesus oferecia as confissões e orações deles a Seu Pai. E, subindo esse fumo, uma luz brilhante repousava sobre Jesus e sobre o propiciatório; e aqueles que, com fervor e oração estavam perturbados por terem descoberto ser transgressores da lei de Deus, foram abençoados e seus rostos se iluminaram de esperança e alegria. Uniram-se à obra do terceiro anjo e alçaram suas vozes para proclamar a solene advertência. Poucos, porém, a receberam a princípio; contudo, os fiéis continuaram a proclamar a mensagem com energia. Vi então muitos abraçarem a mensagem do terceiro anjo, e unir suas vozes com aqueles que primeiro tinham dado a advertência e honrado a Deus observando Seu dia de descanso santificado. PE 256 2 Muitos que abraçaram a terceira mensagem não tinham tido experiência nas duas mensagens anteriores. Satanás compreendeu isto, e seu olho mau estava sobre eles para os transtornar; porém o terceiro anjo lhes estava apontando o lugar santíssimo, e aqueles que tinham tido experiência nas mensagens passadas estavam a apontar-lhes o caminho para o santuário celestial. Muitos viram a perfeita cadeia de verdades nas mensagens do anjo, e alegremente as receberam em sua ordem, e pela fé seguiram a Jesus no santuário celestial. Estas mensagens foram-me representadas como uma âncora para o povo de Deus. Aqueles que as compreendem e recebem serão preservados de ser varridos pelos muitos enganos de Satanás. PE 256 3 Depois do grande desapontamento em 1844, Satanás e seus anjos estiveram ativamente empenhados em armar laços para abalar a fé da comunidade. Ele afetou a mente das pessoas que haviam tido alguma experiência na mensagem e possuíam uma humildade aparente. Alguns indicavam o futuro para o cumprimento da primeira e da segunda mensagens, enquanto outros apontavam o passado, declarando que elas já haviam sido cumpridas. Esses estavam ganhando influência sobre a mente dos inexperientes e perturbando sua fé. Alguns estavam investigando a Bíblia para edificar sua própria fé, independente da corporação. Satanás exultou com tudo isto; pois ele sabia que os que se livravam da âncora podiam por ele ser afetados por diferentes erros e levados à roda por diversos ventos de doutrinas. Muitos que tinham sido líderes na primeira e na segunda mensagens, agora negavam-nas, e houve divisão e confusão no corpo da comunidade. PE 257 1 Minha atenção foi então chamada para Guilherme Miller. Ele parecia perplexo e estava quebrantado por ansiedade e angústia por seu povo. O grupo que havia estado unido em amor em 1844 estava perdendo o seu amor, opondo-se uns aos outros, e caindo num frio estado de apostasia. Ao contemplar isto, o sofrimento consumiu-lhe as forças. Eu vi líderes observando-o, temerosos de que ele aceitasse a mensagem do terceiro anjo e os mandamentos de Deus. E quando ele se inclinava para a luz do Céu, esses homens elaboravam algum plano para afastar-lhe a mente. Uma influência humana foi exercida para conservá-lo em trevas e reter sua influência entre os que se opunham à verdade. Finalmente Guilherme Miller levantou a sua voz contra a luz do Céu. Falhou ao não receber a mensagem que teria explicado plenamente o seu desapontamento e lançado luz e glória sobre o passado, o que lhe teria restaurado as exauridas energias, iluminado sua esperança e levado-o a glorificar a Deus. Ele se apoiou na humana sabedoria em vez da sabedoria divina; mas, alquebrado por árduos labores na causa do Seu Mestre e pela idade, não foi tão responsabilizado como os que o afastaram da verdade. Estes são responsáveis; o pecado repousa sobre eles. PE 258 1 Se tivesse sido possível a Guilherme Miller ver a luz da terceira mensagem, muita coisa que lhe parecia escura e misteriosa teria sido explicada. Mas seus irmãos professavam tão profundo amor e interesse por ele, que ele achou não dever romper com eles. Seu coração se inclinava para a verdade, e então ele olhava para seus irmãos; eles se opunham a ela. Podia ele afastar-se dos que com ele tinham permanecido lado a lado na proclamação da vinda de Jesus? Ele pensava que eles certamente não poderiam levá-lo ao extravio. PE 258 2 Deus permitiu-lhe cair sob o poder de Satanás, o domínio da morte, e escondeu-o na sepultura, afastando-o daqueles que o estavam constantemente desviando da verdade. Moisés errou quando estava prestes a entrar na Terra prometida. Assim também, eu vi que Guilherme Miller errou quando devia logo entrar na Canaã celestial, em permitir que sua influência fosse contra a verdade. Outros levaram-no a isto; outros darão conta por isto. Mas os anjos vigiam o precioso pó deste servo de Deus, e ele ressurgirá ao som da última trombeta. ------------------------Capítulo 61 -- Uma firme plataforma PE 258 3 Vi um grupo que permanecia bem guardado e firme, não dando atenção aos que faziam vacilar a estabelecida fé da comunidade. Deus olhava para eles com aprovação. Foram-me mostrados três degraus -- a primeira, a segunda e a terceira mensagens angélicas. Disse o meu anjo assistente: "Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens. A verdadeira compreensão dessas mensagens é de vital importância. O destino das almas depende da maneira em que são elas recebidas." De novo fui conduzida às três mensagens angélicas, e vi a que alto preço havia o povo de Deus adquirido a sua experiência. Esta fora alcançada através de muito sofrimento e severo conflito. Deus os havia conduzido passo a passo, até que os pusera sobre uma sólida plataforma inamovível. Vi pessoas aproximarem-se da plataforma e examinar-lhe o fundamento. Alguns com alegria imediatamente subiram para ela. Outros começaram a encontrar defeito no fundamento. Achavam que se deviam fazer melhoramentos, e então a plataforma seria mais perfeita e o povo muito mais feliz. Alguns desceram da plataforma para examiná-la, e declararam ter sido ela colocada erradamente. Mas eu vi que quase todos permaneciam firmes sobre a plataforma e exortavam os que tinham descido a cessar com suas queixas; pois Deus fora o Mestre Construtor, e eles estavam lutando contra Ele. Eles reconsideravam a maravilhosa obra de Deus, que os levara à firme plataforma, e em união levantaram os olhos ao céu e com alta voz glorificaram a Deus. Isto afetou alguns dos que se tinham queixado e deixado a plataforma, e contritos subiram de novo para ela. PE 259 1 Minha atenção foi chamada para a proclamação do primeiro advento de Cristo. João foi enviado no espírito e poder de Elias a fim de preparar o caminho para Jesus. Os que rejeitaram o testemunho de João não foram beneficiados pelos ensinos de Jesus. A oposição da parte deles, à mensagem que predizia a Sua vinda, colocou-os onde eles não podiam prontamente receber a melhor evidência de que Ele era o Messias. Satanás levou os que rejeitaram a mensagem de João a ir ainda mais longe, a ponto de rejeitar a Cristo e crucificá-Lo. Com este procedimento, colocaram-se onde não podiam receber as bênçãos do dia do Pentecoste, o que lhes teria ensinado o caminho para o santuário celestial. A ruptura do véu do templo mostrou que os sacrifícios e ordenanças judaicos não mais seriam recebidos. O grande Sacrifício havia sido oferecido e aceito, e o Espírito Santo, que desceu no dia do Pentecoste, levou a mente dos discípulos do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com o Seu próprio sangue, a fim de derramar sobre os discípulos os benefícios de Sua expiação. Mas os judeus foram deixados em trevas completas. Perderam toda a luz que podiam ter recebido sobre o plano da salvação, e ainda confiavam em seus inúteis sacrifícios e ofertas. O santuário celestial havia tomado o lugar do terrestre, mas eles não tiveram conhecimento da mudança. Assim não podiam ser beneficiados pela mediação de Cristo no lugar santo. PE 260 1 Muitos olham com horror para a conduta dos judeus em rejeitar e crucificar a Cristo; e, ao lerem a história dos vergonhosos maus tratos que Lhe infligiram, pensam que O amam e não O teriam negado como o fez Pedro, ou crucificado como o fizeram os judeus. Mas Deus, que lê o coração de todos, tem posto à prova esse professado amor por Jesus. Todo o Céu observou com o mais profundo interesse a receptividade da mensagem do primeiro anjo. Porém muitos que professavam amar a Jesus, e que derramavam lágrimas ao lerem a história da cruz, ridicularizavam as boas novas de Sua vinda. Em vez de receber a mensagem com alegria, declararam ser ela um engano. Odiavam os que amavam o Seu aparecimento, e expulsaram-nos das igrejas. Os que rejeitaram a primeira mensagem não podiam ser beneficiados pela segunda, nem o foram pelo clamor da meia-noite, que devia prepará-los para entrarem com Jesus pela fé no lugar santíssimo do santuário celestial. E pela rejeição das duas primeiras mensagens, ficaram com o entendimento tão entenebrecido que não podiam ver qualquer luz na mensagem do terceiro anjo, que mostra o caminho para o lugar santíssimo. Vi que assim como os judeus crucificaram a Jesus, as igrejas nominais haviam crucificado essas mensagens, e por isso mesmo não têm conhecimento do caminho para o santíssimo, e não podem ser beneficiadas pela intercessão de Jesus ali. Como os judeus, que ofereciam seus inúteis sacrifícios, elas oferecem sua inúteis orações dirigidas ao compartimento de onde Jesus já saiu; e Satanás, eufórico com o engano, assume um caráter religioso, e dirige a mente desses professos cristãos para si mesmos, operando com o seu poder, com seus sinais e prodígios de mentira, para retê-los em seu laço. Alguns ele engana de uma forma, outros de outra. Ele possui diferentes embustes preparados para afetar diferentes mentalidades. Alguns olham com horror para um determinado engano, ao passo que prontamente aceitam outro. Alguns Satanás engana com o espiritismo. Apresenta-se também como um anjo de luz e espalha sua influência sobre a Terra por meio de falsas reformas. As igrejas ficam alvoroçadas e consideram que Deus está trabalhando maravilhosamente por meio delas, quando isso é obra de outro espírito. O excitamento morrerá e deixará o mundo e a igreja em pior condição que antes. PE 261 1 Vi que Deus tem filhos honestos entre os adventistas nominais e as igrejas caídas, e antes que as pragas sejam derramadas, ministros e povo serão chamados a sair dessas igrejas e alegremente receberão a verdade. Satanás sabe disto, e antes que o alto clamor da terceira mensagem angélica seja ouvido, ele suscitará um excitamento nessas corporações religiosas, a fim de que os que rejeitaram a verdade pensem que Deus está com eles. Ele espera enganar os honestos e levá-los a pensar que Deus ainda está trabalhando pelas igrejas. Mas a luz brilhará, e todos os honestos deixarão as igrejas caídas, e tomarão posição ao lado dos remanescentes. ------------------------Capítulo 62 -- O espiritismo PE 262 1 Foi-me apresentado o engano das pancadas na parede e vi que Satanás tem poder para trazer perante nós o aparecimento de formas que pretendem ser nossos parentes ou amigos que dormem em Jesus. Far-se-á parecer como se esses amigos estivessem efetivamente presentes; as palavras que proferiram enquanto estiveram aqui, com as quais estamos familiarizados, e o mesmo tom de voz que tinham quando vivos, cairá em nossos ouvidos. Tudo isso visa enganar o mundo e enredá-lo na crença deste engano. PE 262 2 Vi que os santos precisam alcançar completa compreensão da verdade presente, a qual serão obrigados a sustentar pelas Escrituras. Precisam compreender o estado dos mortos; pois os espíritos dos demônios ainda lhes aparecerão, pretendendo ser amigos ou parentes amados, os quais lhes declararão doutrinas não escriturísticas. Farão tudo ao seu alcance para despertar simpatia e operarão milagres diante deles para confirmar o que declaram. O povo de Deus deve estar preparado para enfrentar esses espíritos com a verdade bíblica segundo a qual, os mortos não sabem coisa nenhuma, e que aqueles que lhes aparecem são espíritos de demônios. PE 262 3 Devemos examinar bem o fundamento de nossa esperança, pois teremos de dar a razão dela pelas Escrituras. Este engano se espalhará, e com ele teremos de lutar face a face; e, a menos que estejamos preparados para isso, seremos enredados e vencidos. Mas se fizermos o que pudermos, pela nossa parte, a fim de estarmos prontos para o conflito que se acha precisamente diante de nós, Deus fará Sua parte, e Seu todo-poderoso braço nos protegerá. Mais depressa enviaria Ele todos os anjos da glória para fazerem uma barreira em redor das almas fiéis, do que consentir que sejam enganadas e transviadas pelos prodígios de mentira de Satanás. PE 263 1 Vi a rapidez com que este engano se propagava. Foi-me mostrado um comboio, avançando com a velocidade do relâmpago. O anjo ordenou-me olhar cuidadosamente. Fixei os olhos nesse trem. Parecia que o mundo inteiro ia embarcado nele. Mostrou-me então o chefe do trem, uma pessoa formosa e imponente, para quem todos os passageiros olhavam e a quem reverenciavam. Fiquei perplexa e perguntei a meu anjo assistente quem era. Disse ele: "É Satanás. Ele é o chefe na forma de um anjo de luz. Ele leva cativo o mundo. Eles se entregaram à operação do erro a fim de crerem na mentira e serem condenados. O seu mais elevado agente abaixo dele, pela sua categoria, é o maquinista, e outros de seus agentes estão empregados em diferentes cargos conforme deles necessita, e todos vão indo para a perdição, com a velocidade do relâmpago." PE 263 2 Perguntei ao anjo se ninguém havia escapado. Ele me mandou olhar em direção oposta, e vi um pequeno grupo viajando por um caminho estreito. Todos pareciam estar firmemente unidos pela verdade. Este pequeno grupo parecia atribulado, como se tivesse passado por duras provas e conflitos. E parecia assim como se o sol tivesse surgido por trás de uma nuvem, iluminando-lhes o rosto e dando-lhes um aspecto triunfante, como se sua vitória estivesse quase alcançada. PE 263 3 Vi que o Senhor tem dado ao mundo a oportunidade de descobrir a cilada. Esta única coisa é prova suficiente para o cristão, se não houvesse outras; não se faz diferença entre o que é precioso e o que é vil. Tomás Paine, cujo corpo está hoje desfeito em pó, e que deve ser chamado no fim dos mil anos, por ocasião da segunda ressurreição, para receber sua recompensa e sofrer a segunda morte, é apresentado por Satanás como estando no Céu, e altamente exaltado ali. Satanás fez uso dele na Terra tanto quanto pôde, e agora está continuando com a mesma obra mediante a pretensão de estar sendo Tomás Paine sobremodo exaltado e honrado no Céu; assim como ensinou aqui, Satanás gostaria de fazer crer que está ensinando no Céu. Há alguns que têm olhado com horror para sua vida e morte e seus ensinos corruptos quando vivia, mas agora se submetem a ser ensinados por ele, um dos homens mais vis e corruptos, alguém que desprezou a Deus e Sua lei. PE 264 1 Aquele que é o pai da mentira, cega e engana o mundo, enviando os seus anjos para falarem pelos apóstolos, e fazerem parecer que estes contradizem o que escreveram pela direção do Espírito Santo, quando estiveram na Terra. Esses anjos mentirosos fazem os apóstolos deturparem os seus próprios ensinos e declararem que estes estão adulterados. Assim fazendo, Satanás se deleita em lançar cristãos professos, e o mundo todo, na incerteza quanto à Palavra de Deus. Aquele santo Livro se atravessa em seu próprio caminho e contradiz os seus planos; portanto leva os homens a duvidarem da origem divina da Bíblia. Então apresenta o incrédulo Tomás Paine como se tivesse sido introduzido no Céu quando morreu, e agora, unido com os santos apóstolos a quem ele odiou na Terra, estivesse empenhado em ensinar o mundo. PE 264 2 Satanás designa a cada um de seus anjos uma parte a desempenhar. Exige de todos que sejam dissimulados, astutos, ardilosos. Instrui alguns deles a desempenharem o papel dos apóstolos e a falar por eles, enquanto outros devem desempenhar o papel de homens incrédulos e ímpios que morreram blasfemando de Deus, mas que agora aparecem como muito religiosos. Não se faz diferença entre o mais santo dos apóstolos e o mais vil dos infiéis. Ambos são apresentados como ensinando a mesma coisa. Não importa quem Satanás faz falar, desde que seu objetivo seja alcançado. Ele esteve tão intimamente ligado a Paine na Terra, ajudando-o em seu trabalho, que lhe é coisa fácil saber as próprias palavras que Paine usou e até mesmo a caligrafia de quem o servira tão fielmente e tão bem cumprira o seu propósito. Satanás ditou muito dos escritos de Paine, e coisa fácil é agora para ele, por intermédio de seus anjos, ditar seus próprios sentimentos e fazer parecer que estes vieram de Tomás Paine. Esta é a mistificação máxima de Satanás. Todo este ensino que se diz ser dos apóstolos, santos, e homens ímpios que morreram, vem diretamente de sua majestade satânica. PE 265 1 O fato de Satanás pretender que alguém que ele amara tanto, e que tanto odiara a Deus, agora se encontra com os santos apóstolos e anjos, na glória, deveria ser bastante para remover o véu de todas as mentes, e pôr a descoberto as obras obscuras e misteriosas de Satanás. Virtualmente ele diz ao mundo e aos incrédulos: "Não importa quão ímpios sejais; não importa que creiais ou não em Deus ou na Bíblia; vivei como vos agradar; o Céu é o vosso lar; pois todos sabem que se Tomás Paine está no Céu, e tão exaltado, certamente também chegarão ali." Isto é tão manifesto, que todos o podem ver se quiserem. Satanás agora está fazendo, por intermédio de pessoas semelhantes a Tomás Paine, o que ele tem procurado fazer desde a sua queda. Ele está, mediante o seu poder e prodígios de mentira, demolindo o fundamento da esperança cristã e obscurecendo o sol que deve iluminá-los no estreito caminho para o Céu. Está fazendo o mundo crer que a Bíblia não é inspirada, nem melhor que qualquer livro de histórias, enquanto apresenta alguma coisa que lhe ocupe o lugar, isto é, o que se intitula manifestações espíritas. PE 265 2 Aqui está um meio que lhe é inteiramente dedicado e sob seu controle, e Satanás pode fazer o mundo crer o que quiser. O livro que deve julgá-lo, e a seus seguidores, ele o pôs na sombra, onde bem queria. O Salvador do mundo ele faz parecer não mais que um homem comum; e como a guarda romana que vigiava a tumba de Jesus espalhou a falsa notícia que os principais sacerdotes e anciãos lhe puseram nos lábios, assim os pobres, iludidos seguidores dessas pretensas manifestações espiritualistas repetirão e procurarão fazer parecer que nada há de miraculoso no nascimento, morte e ressurreição de nosso Salvador. Depois de haverem posto a Jesus num segundo plano, atraem a atenção do mundo para si mesmos e para os seus milagres e prodígios de mentira, os quais, declaram, excedem em muito as obras de Cristo. Assim o mundo é apanhado na cilada e conduzido a um enganador sentimento de segurança, para não descobrir seu terrível engano até que sejam derramadas as sete últimas pragas. Satanás ri ao ver seu plano tão bem-sucedido, e o mundo inteiro apanhado no seu engano. ------------------------Capítulo 63 -- Cobiça PE 266 1 Vi que Satanás mandou seus anjos armarem ciladas especialmente contra aqueles que estavam esperando o segundo aparecimento de Cristo e guardando todos os mandamentos de Deus. Satanás disse aos seus anjos que as igrejas estavam dormindo. Ele aumentaria seu poder e prodígios de mentira, e assim as poderia reter. "Mas", disse ele, "odiamos a seita dos observadores do sábado; eles estão continuamente trabalhando contra nós, e tirando-nos os súditos, para guardar a odiada lei de Deus. Ide, e fazei com que os possuidores de terras e dinheiro se encham de cuidados. Se puderdes fazê-los colocar as afeições nessas coisas, ainda os reteremos. Poderão professar o que quiserem, tão-somente fazei-os cuidar mais do dinheiro que do êxito do reino de Cristo ou da disseminação das verdades que odiamos. Apresentai-lhes o mundo em sua forma mais atrativa, para que o amem e idolatrem. Devemos conservar em nossas fileiras todos os meios de que pudermos dispor. Quanto mais recursos os seguidores de Cristo dedicarem a Seu serviço, tanto mais prejudicarão o nosso reino, arrebatando-nos os súditos. Quando celebram reuniões em vários lugares, estamos em perigo. Sede muito diligentes, pois. Promovei perturbação e confusão, se for possível. Destruí o amor de uns para com os outros. Desanimai e esmorecei seus ministros; pois nós os odiamos. Apresentai toda desculpa plausível àqueles que têm meios, para que não os entreguem. Imiscuí-vos no assunto de dinheiro, se puderdes, e compeli seus ministros à necessidade e aflições. Isto lhes enfraquecerá o ânimo e o zelo. Batei-vos por toda polegada de terreno. Fazei que a cobiça e o amor às coisas terrestres sejam o traço predominante de seu caráter. Enquanto predominarem estes traços, a salvação e a graça estarão para trás. Reuni todas as atrações em redor deles, e serão certamente nossos. E não somente disso temos certeza a respeito deles, mas também sua odiosa influência não será exercida no sentido de guiar outros ao Céu. Quando alguns tentarem dar, infundi-lhes o sentimento de avareza, para que seja mesquinha a oferta." PE 267 1 Vi que Satanás executa bem seus planos. Logo que os servos de Deus projetam fazer reuniões ele, com seus anjos, está a postos para impedir a obra. Constantemente está a pôr sugestões na mente do povo de Deus. Leva alguns de uma maneira, outros de outra, tirando sempre partido dos maus característicos dos irmãos e irmãs, provocando e incitando-lhes as fraquezas naturais. Se têm disposições para o egoísmo e a cobiça ele se coloca a seu lado, e com todo o seu poder procura levá-los a condescender com esses pecados que os assediam. A graça de Deus e a luz da verdade podem, por um momento, desfazer-lhes os sentimentos avaros e egoístas, mas se não alcançam completa vitória, Satanás vem, quando não se acham sob a influência salvadora, e cresta todo princípio nobre e generoso, e eles julgam que é demasiado o que se requer deles. Ficam cansados de fazer o bem, e esquecem-se do grande sacrifício que Jesus fez para remi-los do poder de Satanás e da irremediável miséria. PE 268 1 Satanás tirou vantagem da disposição cobiçosa e egoísta de Judas, e o levou a murmurar quando Maria derramou sobre Jesus o ungüento precioso. Judas considerou isto como um grande desperdício, e declarou que o ungüento poderia ter sido vendido, e o dinheiro dado aos pobres. Ele não se incomodava com os pobres, mas considerava extravagante a oferta liberal feita a Jesus. Judas avaliava o seu Mestre em tão pouco, que O vendeu por algumas moedas de prata. Vi existirem alguns semelhantes a Judas entre os que professam esperar o seu Senhor. Satanás os governa sem que o saibam. Deus não pode aprovar a menor manifestação de cobiça ou de egoísmo, e aborrece as orações e exortações dos que condescendem com estes maus traços de caráter. Sabendo que seu tempo é breve, Satanás leva os homens a se tornarem mais egoístas e avaros, e então exulta ao vê-los entretidos consigo mesmos, mesquinhos, miseráveis, egoístas. Se os olhos de tais pessoas pudessem abrir-se, veriam Satanás em triunfo infernal, exultando sobre eles, e rindo-se da loucura dos que lhe aceitam as sugestões e caem em suas ciladas. PE 268 2 Satanás e seus anjos notam todos os atos vis e mesquinhos de tais pessoas, e os apresentam a Jesus e a Seus santos anjos, dizendo em tom de censura: "São estes os seguidores de Cristo! Estão-se preparando para serem trasladados!" Compara o procedimento deles com passagens das Escrituras em que tal procedimento é claramente reprovado, e então faz zombaria diante dos anjos celestiais, dizendo: "São estes os seguidores de Cristo e de Sua Palavra! São estes os frutos do sacrifício e redenção de Cristo!" Anojados, os anjos se desviam dessa cena. Deus requer da parte de Seu povo ação constante; e, quando este se cansa de fazer o bem, Ele Se cansa deles. Vi que Se desagrada grandemente com a mínima manifestação de egoísmo por parte de Seu povo professo, por quem Jesus não poupou Sua preciosa vida. Toda pessoa egoísta e cobiçosa, cairá no percurso do caminho. Semelhantemente a Judas, que vendeu seu Senhor, eles venderão os bons princípios, e uma disposição nobre e generosa, por um pouco dos ganhos da Terra. Todos estes serão por assim dizer joeirados, sendo excluídos do povo de Deus. Os que ambicionam o Céu, devem, com toda a energia que possuem, alimentar os princípios do Céu. Em vez de definhar pelo egoísmo, sua alma deveria expandir-se pela benevolência. Dever-se-ia aproveitar toda oportunidade para fazer o bem, uns para com os outros, acariciando assim os princípios do Céu. Jesus me foi apresentado como modelo perfeito. Sua vida era destituída de interesse egoísta, e caracterizava-se sempre por uma benevolência desinteressada. ------------------------Capítulo 64 -- A sacudidura PE 269 1 Vi alguns, com forte fé e clamores agonizantes, a lutar com Deus. Seu rosto estava pálido, e apresentava sinais de profunda ansiedade, que exprimia a sua luta íntima. Firmeza e grande fervor estampavam-se-lhes no rosto; grandes gotas de suor lhes caíam da fronte. De quando em quando se lhes iluminava o semblante com os sinais da aprovação divina, e novamente o mesmo aspecto severo, grave e ansioso, lhes voltava. PE 269 2 Anjos maus se juntavam em redor, projetando trevas sobre eles para excluir Jesus de sua vista e para que seus olhos se volvessem para as trevas que os cercavam, e assim fossem levados a duvidar de Deus e murmurar contra Ele. Sua única segurança consistia em conservar os olhos voltados para cima. Anjos de Deus tinham o encargo de velar sobre o Seu povo; e, enquanto a atmosfera empestada de anjos maus pesava sobre os que estavam ansiosos, os anjos celestiais continuamente agitavam as asas sobre eles a fim de dissipar as densas trevas. PE 270 1 Enquanto os que assim oravam prosseguiam com seus ansiosos clamores, por vezes lhes vinha um raio de luz, procedente de Jesus, para lhes reanimar o coração e iluminar o rosto. Alguns, vi eu, não participavam dessa agonia e lutas. Pareciam indiferentes e descuidosos. Não se opunham às trevas que os rodeavam, e estas os envolviam semelhantes a uma nuvem densa. Os anjos de Deus deixavam estes e iam em auxílio dos que se afligiam e oravam. Vi anjos de Deus apressarem-se para assistir a todos os que lutavam com suas forças todas a fim de resistir aos anjos maus, e procuravam auxílio, clamando a Deus com insistência. Os anjos de Deus, porém, abandonavam os que não faziam esforços para conseguir auxílio, e eu os perdia de vista. PE 270 2 Perguntei a significação da sacudidura que eu vira, e foi-me mostrado que era determinada pelo testemunho direto contido no conselho da Testemunha verdadeira à igreja de Laodicéia. Isto produzirá efeito no coração daquele que o receber, e o levará a empunhar o estandarte e propagar a verdade direta. Alguns não suportarão esse testemunho direto. Levantar-se-ão contra ele, e isto é o que determinará a sacudidura entre o povo de Deus. PE 270 3 Vi que o testemunho da Testemunha verdadeira não teve a metade da atenção que deveria ter. O solene testemunho de que depende o destino da igreja tem sido apreciado de modo leviano, se não desatendido de todo. Tal testemunho deve operar profundo arrependimento; todos os que o recebem de verdade, obedecer-lhe-ão e serão purificados. PE 270 4 Disse o anjo: "Escute!" Logo ouvi uma voz semelhante a muitos instrumentos musicais, soando todos em perfeitos acordes, suaves e harmônicos. Ultrapassava toda música que eu já ouvira, parecendo estar repleta de misericórdia, compaixão, e alegria enobrecedora e santa. Ela me penetrou todo ser. Disse o anjo: "Olha!" Minha atenção foi então dirigida ao grupo que eu vira e estava sendo fortemente sacudido. Foram-me mostrados os que eu antes vira a chorar e a orar com agonia de espírito. A multidão de anjos da guarda em seu redor fora duplicada, e estavam revestidos de uma armadura da cabeça aos pés. Marchavam em perfeita ordem, semelhantes a um grupo de soldados. Seu rosto expressava o tremendo conflito que haviam travado, a luta angustiosa por que haviam passado. Contudo, seu rosto, antes assinalado pela severa angústia íntima, resplandecia agora com a luz e glória do Céu. Haviam alcançado a vitória, e esta suscitava neles a mais profunda gratidão, e santa e piedosa alegria. PE 271 1 Diminuíra o número dos que faziam parte deste grupo. Ao serem sacudidos, alguns tinham sido arrojados fora do caminho. Os descuidosos e indiferentes, que não se uniam com os que prezavam suficientemente a vitória e a salvação, para por elas lutar e angustiar-se com perseverança, não as alcançaram e foram deixados atrás, em trevas, e seu lugar foi imediatamente preenchido pelos que aceitavam a verdade e a ela se filiavam. Anjos maus se lhes agrupavam ainda ao redor, mas sobre eles não tinham poder. PE 271 2 Ouvi os que estavam revestidos da armadura falar sobre a verdade com grande poder. Isto produzia efeito. Muitos tinham sido amarrados; algumas mulheres pelos maridos, e crianças por seus pais. Os honestos, que tinham sido impedidos de ouvir a verdade, agora avidamente a ela aderiam. Fora-se todo o receio de seus parentes, e somente a verdade lhes parecia sublime. Haviam estado com fome e sede da verdade; esta lhes era mais querida e preciosa do que a vida. Perguntei o que havia operado esta grande mudança. Um anjo respondeu: "Foi a chuva serôdia, o refrigério pela presença do Senhor, o alto clamor do terceiro anjo." PE 272 1 Grande poder possuíam estes escolhidos. Disse o anjo: "Olha!" Minha atenção foi dirigida para os ímpios, ou incrédulos. Estavam todos em grande agitação. O zelo e poder de Deus havia-os despertado e enraivecido. Havia confusão de todos os lados. Vi que tomavam medidas contra a multidão que tinha a luz e o poder de Deus. As trevas intensificavam-se em redor deles; no entanto, permaneciam firmes, aprovados por Deus, e nEle confiantes. Vi-os perplexos; a seguir ouvi-os clamando ardorosamente a Deus. Dia e noite não cessava seu clamor. "Seja feita, ó Deus, Tua vontade! Se for para glorificar Teu nome, promove um meio para livramento de Teu povo! Livra-nos dos ímpios que nos rodeiam. Eles nos destinaram à morte; mas Teu braço pode trazer salvação." Estas são todas as palavras que posso lembrar. Todos pareciam ter profunda intuição de sua indignidade, e manifestavam completa submissão à vontade de Deus; e, não obstante, como Jacó, cada um deles, sem exceção, pleiteava e lutava ardorosamente por livramento. PE 272 2 Logo depois que haviam começado seu ansioso clamor, os anjos, movidos de simpatia, quiseram ir em seu livramento. Mas um anjo alto, imponente, não lhes consentiu. Disse ele: "A vontade de Deus não se cumpriu ainda. Eles devem beber o cálice. Devem ser batizados com o batismo." PE 272 3 Logo ouvi a voz de Deus que abalou céus e Terra. Houve forte terremoto. Os edifícios desmoronavam-se de todos os lados. Ouvi então uma triunfante aclamação de vitória, retumbante, melodiosa e límpida. Olhei para a multidão que pouco tempo antes estivera naquela angústia e escravidão. Seu cativeiro havia cessado. Uma gloriosa luz resplandecia sobre eles. Quão belo era então o seu parecer! Todos os sinais de cuidados e cansaço haviam desaparecido, e viam-se de novo saúde e beleza em cada semblante. Seus inimigos, os ímpios em redor deles, caíram como mortos; não podiam suportar a luz que brilhava sobre os que haviam tido livramento e eram santos. Essa luz e glória permaneceram sobre eles, até que Jesus foi visto nas nuvens do céu, e o grupo fiel e provado foi, num momento, num abrir e fechar de olhos, transformado de glória em glória. E abriram-se as sepulturas e os santos saíram revestidos de imortalidade, exclamando: "Vitória sobre a morte e a sepultura!" e juntamente com os santos vivos foram arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares, enquanto aclamações de júbilo e vitória, profusas e melodiosas, eram proferidas por todo lábio imortal. ------------------------Capítulo 65 -- Os pecados de Babilônia PE 273 1 Vi que, desde que o segundo anjo proclamou a queda das igrejas, estas se têm tornado cada vez mais corruptas. Elas levam o nome de seguidoras de Cristo, mas é impossível distingui-las do mundo. Os ministros tiram os seus textos da Palavra de Deus, mas pregam coisas aprazíveis. A isto o coração natural não faz objeção. É unicamente o espírito e poder da verdade, e a salvação em Cristo, que são odiados pelo coração carnal. Nada há no ministério popular que excite a ira de Satanás, que faça tremer o pecador ou leve ao coração e à consciência as terríveis realidades de um juízo prestes a sobrevir. Homens ímpios ficam geralmente satisfeitos com uma forma de piedade sem verdadeira devoção, e ajudarão a sustentar uma religião desse tipo. PE 273 2 Disse o anjo: "Nada menos que a completa armadura da justiça pode habilitar o homem a vencer os poderes das trevas e conservar a vitória sobre eles. Satanás tomou plena posse das igrejas como um corpo. Consideram-se os dizeres e as obras de homens em vez das claras, cortantes verdades da Palavra de Deus. O espírito e amizade do mundo são inimizade com Deus. Quando a verdade em sua simplicidade e força, como é em Jesus, é levada a dar frutos contra o espírito do mundo, desperta para logo o espírito de perseguição. Grande número de pessoas que professam ser cristãs não conhecem a Deus. O coração natural não foi mudado, e a mente carnal conserva a inimizade com Deus. São servos fiéis de Satanás, embora hajam assumido outro nome." PE 274 1 Vi que, havendo Jesus deixado o lugar santo e entrado para dentro do segundo véu, as igrejas têm-se tornado esconderijo de toda espécie de ave imunda e detestável. Vi nas igrejas grande iniqüidade e vileza; contudo, os seus membros professam ser cristãos. Sua profissão, suas orações e exortações constituem uma abominação aos olhos de Deus. Disse o anjo: "Deus não Se agradará de suas assembléias. Egoísmo, embuste e engano são por eles praticados sem reprovações da consciência. E sobre todos esses maus traços lançam o manto da religião." Foi-me mostrado o orgulho das igrejas nominais. Deus não está em seus pensamentos; sua mente carnal demora-se neles mesmos; decoram os seus pobres corpos mortais, e olham então para si mesmos com satisfação e prazer. Jesus e os anjos olham para eles com ira. Disse o anjo: "Seus pecados e orgulho alcançaram o Céu. Sua porção está preparada. Justiça e juízo têm dormido por muito tempo, mas despertarão logo. Minha é a vingança, e Eu darei a retribuição, diz o Senhor." As terríveis ameaças do terceiro anjo deverão tornar-se realidade, e todos os ímpios beberão da ira de Deus. Uma inumerável hoste de anjos maus estão se espalhando sobre toda a Terra e enchendo as igrejas. Esses agentes de Satanás olham para as corporações religiosas com exultação, pois o manto da religião cobre o maior crime e iniqüidade. PE 275 1 Todo o Céu contempla com indignação os seres humanos, feitura de Deus, reduzidos pelos seus semelhantes às mais baixas profundezas da degradação e postos no nível da criação animal. Professos seguidores desse amado Salvador cuja compaixão sempre foi tocada à vista dos ais humanos, empenham-se de coração nesse enorme e sério pecado, e comerciam com escravos e almas de homens. A agonia humana é levada de lugar a lugar e comprada e vendida. Anjos registram tudo isto; está escrito no livro. As lágrimas de piedosos escravos tanto homens como mulheres, de pais, mães e crianças, de irmãos e irmãs, acumulam-se nos Céus. Apenas um pouco mais conterá Deus a Sua ira, ira essa que arde contra esta nação e especialmente contra as corporações religiosas que têm sancionado este terrível tráfico e nele se têm empenhado. Tal injustiça, tal opressão, tais sofrimentos, são olhados com impiedosa indiferença por muitos professos seguidores do manso e humilde Jesus. E muitos deles são capazes de infligir, eles próprios, toda esta indescritível agonia com odiosa satisfação; e ainda ousam adorar a Deus. Isto é um solene escárnio; Satanás exulta com ele e acusa Jesus e Seus anjos de semelhante inconsistência, dizendo, com diabólico triunfo: "Esses são seguidores de Cristo!" PE 275 2 Esses professos cristãos lêem a respeito dos sofrimentos dos mártires, e lágrimas descem-lhes pelas faces. Espantam-se de que homens pudessem tornar-se tão endurecidos a ponto de praticarem tais crueldades para com seus semelhantes. No entanto, os que pensam e falam assim estão, ao mesmo tempo, mantendo seres humanos em escravidão. E isto não é tudo; rompem laços familiares e oprimem cruelmente os seus semelhantes. São capazes de infligir a mais desumana tortura com a mesma implacável crueldade manifestada pelos papistas e pagãos para com os seguidores de Cristo. Disse o anjo: "Haverá mais tolerância para com os pagãos e os papistas no dia da execução dos juízos de Deus do que para esses homens." O clamor dos oprimidos alcançou o Céu, e os anjos sentem-se espantados com os indizíveis e agônicos sofrimentos que os homens, feitos à imagem de seu Criador, causam a seu próximo. Disse o anjo: "Os nomes dos opressores estão escritos em sangue, sublinhados, inundados de lágrimas quentes e torturantes de sofredores. A ira de Deus não cessará até que tenha levado esta terra de luz a beber até às fezes o copo de Sua ira, até que tenha recompensado em dobro a Babilônia. Dai-lhe como vos tem dado, dai-lhe em dobro segundo as suas obras; o copo que ela encheu, enchei-lho em dobro." PE 276 1 Vi que o senhor de escravos terá de responder pelas almas de seus escravos a quem ele tem conservado em ignorância; e os pecados dos escravos serão visitados sobre o senhor. Deus não pode levar para o Céu o escravo que tem sido conservado em ignorância e degradação, nada sabendo de Deus ou da Bíblia, nada temendo senão o açoite do seu senhor, e conservando-se em posição mais baixa que a dos animais. Mas Deus faz por ele o melhor que um Deus compassivo pode fazer. Permite-lhe ser como se nunca tivesse existido, ao passo que o senhor tem de enfrentar as sete últimas pragas e então passar pela segunda ressurreição e sofrer a segunda e mais terrível morte. Estará então satisfeita a justiça de Deus. ------------------------Capítulo 66 -- O alto clamor PE 277 1 Vi, anjos, no Céu, indo apressadamente de um lado para outro, descendo à Terra, e ascendendo de novo ao Céu, preparando-se para a realização de algum acontecimento importante. Vi então outro poderoso anjo comissionado para descer à Terra, a fim de unir sua voz com o terceiro anjo, e dar poder e força à sua mensagem. Grande poder e glória foram comunicados ao anjo, e, descendo ele, a Terra foi iluminada com sua glória. A luz que acompanhava este anjo penetrou por toda parte, ao clamar ele poderosamente, com grande voz: "Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável." Apocalipse 18:2. A mensagem da queda da Babilônia, conforme é dada pelo segundo anjo, é repetida com a menção adicional das corrupções que têm estado a entrar nas igrejas desde 1844. A obra deste anjo vem, no tempo devido, unir-se à última grande obra da mensagem do terceiro anjo, ao tomar esta o volume de um alto clamor. E o povo de Deus assim se prepara para estar em pé na hora da tentação que em breve devem enfrentar. Vi uma grande luz repousando sobre eles, e uniram-se destemidamente para proclamar a mensagem do terceiro anjo. PE 277 2 Foram enviados anjos para ajudar o poderoso anjo do Céu, e ouvi vozes que pareciam fazer ressoar em toda parte: "Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados, e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao Céu, e Deus Se lembrou dos atos iníquos que ela praticou." Apocalipse 18:4, 5. Esta mensagem pareceu ser adicional à terceira mensagem, unindo-se a ela assim como o clamor da meia-noite se uniu à mensagem do segundo anjo em 1844. A glória de Deus repousou sobre os santos, pacientes e expectantes, e denodadamente deram a última advertência solene, proclamando a queda de Babilônia, e chamando o povo de Deus para sair dela para que possam escapar de sua terrível condenação. PE 278 1 A luz que se derramou sobre os expectantes penetrou por toda parte, e aqueles, nas igrejas, que tinham alguma luz e que não haviam ouvido e rejeitado as três mensagens, obedeceram à chamada, e deixaram as igrejas decaídas. Muitos tinham chegado à idade de responsabilidade pessoal, desde que essas mensagens haviam sido proclamadas, e resplandecera sobre eles a luz; e tiveram o privilégio de escolher a vida ou a morte. Alguns escolheram a vida e tomaram posição com os que estavam esperando o seu Senhor e guardando todos os Seus mandamentos. A terceira mensagem deveria fazer a sua obra; todos deveriam ser provados por meio dela, e os que são preciosos deveriam ser chamados das corporações religiosas. Um poder compulsivo movia os sinceros, enquanto a manifestação do poder de Deus trazia temor e repreensão aos parentes e amigos incrédulos, de modo que não ousavam embaraçar os que sentiam a obra do Espírito de Deus sobre si, e tampouco tinham poder para o fazer. A última chamada foi levada aos pobres escravos, e os que eram piedosos entre eles derramaram seus cânticos de arrebatadora alegria ante a perspectiva de seu feliz libertamento. Seus senhores os não podiam impedir; o medo e o espanto os conservavam em silêncio. Grandes prodígios eram operados, doentes eram curados, e sinais e maravilhas seguiam aos crentes. Deus estava na obra, e cada santo, sem temer as conseqüências, seguia as convicções de sua própria consciência e unia-se com os que estavam a guardar todos os mandamentos de Deus; e com poder proclamaram amplamente a terceira mensagem. Vi que esta mensagem se encerrará com poder e força muito maiores do que o clamor da meia-noite. PE 278 2 Servos de Deus, dotados de poder do alto, com rosto iluminado e resplandecendo com santa consagração, saíram para proclamar a mensagem provinda do Céu. Almas que estavam espalhadas por todas as corporações religiosas responderam à chamada, e os que eram preciosos retiraram-se apressadamente das igrejas condenadas, assim como precipitadamente fora Ló retirado de Sodoma antes de sua destruição. O povo de Deus foi fortalecido pela excelente glória que sobre ele repousava em grande abundância e o preparou para suportar a hora da tentação. Vi, por toda parte, uma multidão de vozes a dizer: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. ------------------------Capítulo 67 -- A terceira mensagem encerrada PE 279 1 Foi-me indicado o tempo em que a mensagem do terceiro anjo estava a finalizar-se. O poder de Deus havia repousado sobre Seu povo; tinham cumprido a sua obra, e encontravam-se preparados para a hora de prova que diante deles estava. Tinham recebido a chuva serôdia, ou o refrigério pela presença do Senhor, e se reanimara o vívido testemunho. A última grande advertência tinha soado por toda parte e havia instigado e enraivecido os habitantes da Terra que não quiseram receber a mensagem. PE 279 2 Vi anjos indo aceleradamente de um lado para o outro no Céu. Um anjo com um tinteiro de escrivão ao lado voltou da Terra, e referiu a Jesus que sua obra estava feita, e os santos estavam numerados e selados. Então vi Jesus, que havia estado a ministrar diante da arca, a qual contém os Dez Mandamentos, lançar o incensário. Levantou as mãos e com grande voz disse: "Está feito." E toda a hoste angélica tirou suas coroas quando Jesus fez a solene declaração: "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se." Apocalipse 22:11. PE 280 1 Cada caso fora decidido para vida ou para morte. Enquanto Jesus estivera ministrando no santuário, o juízo estivera em andamento pelos justos mortos, e a seguir pelos justos vivos. Cristo recebera Seu reino, tendo feito expiação pelo Seu povo, e apagado os seus pecados. Os súditos do reino estavam completos. As bodas do Cordeiro estavam consumadas. E o reino e a grandeza do reino sob todo o Céu foram dados a Jesus e aos herdeiros da salvação, e Jesus deveria reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. PE 280 2 Retirando-Se Jesus do lugar santíssimo, ouvi o tilintar das campainhas sobre as Suas vestes; e, ao sair Ele, uma nuvem de trevas cobriu os habitantes da Terra. Não havia então mediador entre o homem culpado e Deus, que fora ofendido. Enquanto Jesus permanecera entre Deus e o homem culposo, achava-se o povo sob repressão; quando, porém, Ele saiu de entre o homem e o Pai, essa restrição foi removida, e Satanás teve completo domínio sobre os que afinal se não arrependeram. Era impossível serem derramadas as pragas enquanto Jesus oficiava no santuário; mas, terminando ali a Sua obra, e encerrando-se a Sua intercessão, nada havia para deter a ira de Deus, e ela irrompeu com fúria sobre a cabeça desabrigada do pecador culpado, que desdenhou a salvação e odiou a correção. Naquele tempo terrível, depois de finalizada a mediação de Jesus, os santos estavam a viver à vista de um Deus santo, sem intercessor. Cada caso estava decidido, cada jóia contada. Jesus demorou um momento no compartimento exterior do santuário celestial, e os pecados que tinham sido confessados enquanto Ele esteve no lugar santíssimo, foram colocados sobre Satanás, o originador do pecado, que deve sofrer o castigo deles. PE 281 1 Vi então Jesus depor Suas vestes sacerdotais e envergar Seus mais régios trajes. Sobre Sua cabeça estavam muitas coroas, estando uma coroa dentro da outra. Cercado pela hoste angélica, deixou o Céu. As pragas estavam caindo sobre os habitantes da Terra. Alguns estavam acusando a Deus e amaldiçoando-O. Outros se precipitavam para o povo de Deus, e pediam que lhes ensinassem como poderiam escapar dos seus juízos. Mas os santos nada tinham para eles. A última lágrima pelos pecadores tinha sido derramada; oferecida havia sido a última oração aflita; arrostado o último peso de cuidados pelos pecadores, e dada a última advertência. A doce voz de misericórdia não mais os deveria convidar. Quando os santos e o Céu todo estavam interessados em sua salvação, não tinham eles nenhum interesse por si. A vida e a morte tinham sido postas diante deles. Muitos desejavam a vida, mas não faziam esforços por obtê-la. Não optavam pela vida, e agora não havia sangue expiatório para purificar o culpado, nenhum Salvador compassivo para pleitear a favor deles e clamar: "Poupa, poupa o pecador por mais algum tempo." O Céu todo se uniu a Jesus, quando ouviram as terríveis palavras: "Está feito. Está consumado." O plano da salvação se havia cumprido, mas poucos tinham escolhido fazer aceitação do mesmo. E, silenciando-se a doce voz de misericórdia, o medo e horror apoderou-se dos ímpios. Com terrível clareza ouviram as palavras: "Demasiado tarde! Demasiado tarde!" PE 281 2 Os que não tinham prezado a Palavra de Deus, iam apressadamente de um lado para outro, vagueando de mar a mar, e do norte ao oriente, em busca da Palavra do Senhor. Disse o anjo: "Eles não a acharão. Há uma fome na Terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. O que não dariam eles por uma palavra de aprovação por parte de Deus! mas não: devem continuar a ter fome e sede. Dia após dia desprezaram a salvação, dando maior apreço às riquezas e prazeres terrestres do que a qualquer tesouro ou estímulo celestial. Rejeitaram a Jesus e desprezaram a Seus santos. Os sujos devem permanecer sujos para sempre." PE 282 1 Muitos dos ímpios ficaram grandemente enraivecidos, ao sofrer os efeitos das pragas. Foi uma cena de terrível aflição. Pais estavam amargamente a exprobrar seus filhos, e filhos a seus pais, irmãos a suas irmãs, e irmãs a seus irmãos. Altos clamores de pranto eram ouvidos de todos os lados: "Foste tu que me impediste de receber a verdade que me haveria salvo desta hora terrível!" O povo volvia-se a seus ministros com ódio atroz e os exprobrava, dizendo: "Não nos advertistes. Dissestes-nos que o mundo inteiro deveria converter-se, e clamastes: Paz, Paz, para acalmardes todo o temor que se despertava. Não nos falastes a respeito desta hora; e aqueles que nos avisaram a tal respeito declarastes serem fanáticos e homens maus, os quais causariam a nossa ruína." Os ministros não escaparam da ira de Deus. Seu sofrimento foi dez vezes maior do que o de seu povo. ------------------------Capítulo 68 -- O tempo de angústia PE 282 2 Vi os santos deixarem as cidades, e vilas, reunirem-se em grupos e viverem nos lugares mais solitários da Terra. Anjos lhes proviam alimento e água, enquanto os ímpios estavam a sofrer de fome e sede. Vi então os principais homens da Terra consultando entre si, e Satanás e seus anjos ocupados em redor deles. Vi um escrito, exemplares do qual foram espalhados nas diferentes partes da Terra, dando ordens para que se concedesse ao povo liberdade para, depois de certo tempo, matar os santos, a menos que estes renunciassem sua fé peculiar, abandonassem o sábado e guardassem o primeiro dia da semana. Mas nesta hora de provação os santos estavam calmos e tranqüilos, confiando em Deus e descansando em Sua promessa de que um meio de livramento lhes seria preparado. Em alguns lugares, antes do tempo para se executar o decreto, os ímpios ruíram sobre os santos para os matar; mas anjos sob a forma de homens de guerra, combatiam por eles. Satanás desejava ter o privilégio de destruir os santos do Altíssimo; Jesus, porém, ordenou a seus anjos que vigiassem sobre eles. Deus queria ser honrado fazendo um concerto com aqueles que haviam guardado a Sua lei, à vista dos gentios em redor deles; e Jesus queria ser honrado, trasladando, sem que vissem a morte, aos fiéis e expectantes, que durante tanto tempo O haviam esperado. PE 283 1 Logo vi os santos sofrendo grande angústia de espírito. Pareciam cercados pelos ímpios habitantes da Terra. Todas as aparências eram contra eles. Alguns começaram a recear que finalmente Deus os houvesse deixado para perecer pelas mãos dos ímpios. Se, porém, seus olhos se pudessem abrir, ver-se-iam rodeados dos anjos de Deus. Veio em seguida a multidão dos ímpios, cheios de ira, e atrás uma multidão de anjos maus, compelindo os primeiros para matar os santos. Antes que pudessem, porém, aproximar-se do povo de Deus, os ímpios deveriam primeiro passar por esta multidão de anjos poderosos e santos. Isto seria impossível. Os anjos de Deus os estavam fazendo recuar, e também fazendo com que os anjos maus que os cercavam de todos os lados caíssem para trás. PE 283 2 Foi uma hora de angústia medonha, terrível, para os santos. Dia e noite clamavam a Deus, pedindo livramento. Quanto à aparência exterior, não havia possibilidade de escapar. Os ímpios já tinham começado a triunfar, clamando: "Por que vosso Deus não vos livra de nossas mãos? Por que não ascendeis ao Céu, e salvais a vossa vida?" Mas os santos não lhes prestavam atenção. Como Jacó, estavam a lutar com Deus. Os anjos ansiavam libertá-los, mas deviam esperar um pouco mais; o povo de Deus devia beber o cálice e ser batizado com o batismo. Os anjos, fiéis à sua incumbência, continuavam a vigiar. Deus não consentiria que Seu nome fosse vituperado entre os gentios. Quase chegara o tempo em que Ele deveria manifestar Seu grande poder, e gloriosamente libertar Seus santos. Pela glória de Seu nome desejava Ele libertar cada um daqueles que pacientemente O haviam esperado, e cujos nomes estavam escritos no livro. PE 284 1 Foi-me indicado o fiel Noé. Quando a chuva desceu e veio o dilúvio, Noé e sua família já haviam entrado na arca, e Deus os encerrara ali. Noé tinha fielmente avisado os habitantes do mundo antediluviano, enquanto estes caçoavam e escarneciam dele. E quando as águas baixaram sobre a Terra, e um após outro se afogava, viam a arca, da qual haviam feito o objeto de tantas pilhérias, livre de perigo a flutuar sobre as águas, preservando o fiel Noé e sua família. Assim vi eu que o povo de Deus, o qual havia fielmente avisado o mundo de Sua ira vindoura, teria livramento. Deus não consentiria que os ímpios destruíssem aqueles que estavam esperando pela sua trasladação, e que se não encurvariam ao decreto da besta nem receberiam o seu sinal. Vi, que, se fosse permitido aos ímpios matar aos santos, Satanás e todo seu exército maléfico, e todos os que odeiam a Deus, ficariam satisfeitos. E, oh! que triunfo seria para sua majestade satânica ter poder, na última luta finalizadora, sobre os que por tanto tempo haviam esperado ver Aquele a quem amaram! Aqueles que haviam zombado da idéia de os santos ascenderem para o Céu, serão testemunhas do cuidado de Deus para com o Seu povo, e contemplarão seu glorioso libertamento. PE 284 2 Ao deixarem os santos as cidades e vilas, eram perseguidos pelos ímpios, que os procuravam matar. Mas as espadas que se levantavam para matar o povo de Deus, quebravam-se e caíam tão impotentes como uma palha. Anjos de Deus escudavam os santos. Clamando eles dia e noite, pedindo livramento, seu clamor subia perante o Senhor. ------------------------Capítulo 69 -- O livramento dos santos PE 285 1 Foi à meia-noite que Deus preferiu livrar o Seu povo. Estando os ímpios a fazer zombarias em redor deles, subitamente apareceu o Sol, resplandecendo em sua força e a Lua ficou imóvel. Os ímpios olhavam para esta cena com espanto, enquanto os santos viam, com solene alegria, os indícios de seu livramento. Sinais e maravilhas seguiam-se em rápida sucessão. Tudo parecia desviado de seu curso natural. Os rios deixavam de correr. Nuvens negras e pesadas subiam e batiam umas nas outras. Havia, porém, um lugar claro de uma glória fixa, donde veio a voz de Deus, semelhante a muitas águas, abalando os céus e a Terra. Houve um grande terremoto. As sepulturas se abriram e os que haviam morrido na fé da mensagem do terceiro anjo, guardando o sábado, saíram de seus leitos de pó, glorificados, para ouvir o concerto de paz que Deus deveria fazer com os que tinham guardado a Sua lei. PE 285 2 O céu abria-se e fechava-se, e estava em comoção. As montanhas tremiam como uma vara ao vento, e lançavam por todos os lados pedras anfractuosas. O mar fervia como uma panela e lançava pedras sobre a terra. E, falando Deus o dia e a hora da vinda de Jesus, e declarando o concerto eterno com o Seu povo, proferia uma sentença e então silenciava, enquanto as palavras estavam a repercutir pela Terra. O Israel de Deus permanecia com os olhos fixos para cima, ouvindo as palavras enquanto elas vinham da boca de Jeová e ressoavam pela Terra como estrondos do mais forte trovão. Era terrivelmente solene. No fim de cada sentença os santos aclamavam: "Glória! Aleluia!" O rosto deles iluminava-se com a glória de Deus, e resplandeciam de glória como fazia o de Moisés quando desceu do Sinai. Os ímpios não podiam olhar para eles por causa da glória. E, quando a interminável bênção foi pronunciada sobre os que haviam honrado a Deus santificando o Seu sábado, houve uma grande aclamação de vitória sobre a besta e sua imagem. PE 286 1 Começou então o jubileu em que a Terra deveria repousar. Vi o escravo piedoso levantar-se com vitória e triunfo, e sacudir as cadeias que o ligavam, enquanto seu ímpio senhor estava em confusão e não sabia o que fazer; pois os ímpios não podiam compreender as palavras da voz de Deus. PE 286 2 Logo apareceu a grande nuvem branca, sobre a qual Se sentava o Filho do homem. Quando a princípio apareceu a distância, parecia esta nuvem muito pequena. O anjo disse que ela era o sinal do Filho do homem. Ao aproximar-se mais da Terra, pudemos ver a excelente glória e majestade de Jesus, enquanto Ele saía para vencer. Um séquito de santos anjos, com coroas brilhantes, resplandecentes, sobre as cabeças, acompanhava-O, em Seu trajeto. Nenhuma linguagem pode descrever a glória daquela cena. A nuvem viva, de majestade e glória insuperável, aproximava-se ainda mais e pudemos claramente contemplar a adorável pessoa de Jesus. Não trazia Ele uma coroa de espinhos, mas coroa de glória repousava sobre Sua santa fronte. Sobre Sua veste e coxa estava escrito um nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Seu rosto era tão fulgurante como o Sol do meio-dia; Seus olhos eram como chama de fogo, e Seus pés tinham a aparência de latão reluzente. Sua voz soava como muitos instrumentos musicais. A Terra tremia diante dEle, os céus se afastavam como um pergaminho quando se enrola, e toda montanha e ilha se movia de seu lugar. "E os reis da Terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes, e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que Se assenta no trono, e da ira do Cordeiro. Porque chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" Apocalipse 6:15-17. Aqueles que pouco tempo antes queriam destruir da Terra os fiéis filhos de Deus, testemunham agora a glória de Deus que sobre eles repousa. E, por entre todo o seu terror, ouvem as vozes dos santos em alegres acordes, dizendo: "Eis que Este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9. PE 287 1 A Terra agita-se poderosamente quando a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem o sono da morte. Eles respondem à chamada e saem revestidos de gloriosa imortalidade, clamando: "Vitória! vitória sobre a morte e a sepultura! Ó morte, onde está o teu aguilhão? Ó sepultura, onde está a tua vitória?" Então os santos vivos e os ressuscitados erguem suas vozes em uma aclamação de vitória, longa e arrebatadora. Aqueles corpos que haviam descido à sepultura levando os sinais da enfermidade e morte, surgem com saúde e vigor imortais. Os santos vivos são transformados em um momento, num abrir e fechar de olhos, e arrebatados com os ressuscitados; e juntos encontram seu Senhor nos ares. Oh! que reunião gloriosa! Amigos que a morte havia separado são reunidos, para nunca mais se separarem. PE 287 2 Em cada lado do carro de nuvem havia asas, e debaixo dele rodas vivas; e, movendo-se o carro para cima, as rodas clamavam: "Santo", e as asas, movendo-se, clamavam: "Santo", e o séquito de santos anjos em redor da nuvem clamava: "Santo, santo, santo, é o Senhor Deus, o Todo-poderoso!" E os santos na nuvem clamavam: "Glória! Aleluia!" E o carro movia-se para cima, em direção à santa cidade. Antes de entrar na cidade, os santos foram dispostos em um quadrado perfeito, com Jesus no centro. Estava Ele de pé, com a cabeça e ombros acima dos santos, e acima dos anjos. Sua forma majestosa e o adorável rosto podiam ser vistos por todos no quadrado. ------------------------Capítulo 70 -- A recompensa dos santos PE 288 1 Vi então um grandíssimo número de anjos trazerem da cidade gloriosas coroas, sendo uma para cada santo, com seu nome escrito na mesma. Pedindo Jesus as coroas aos anjos, apresentaram-nas a Ele, e com Sua própria destra o adorável Jesus as colocou sobre a cabeça dos santos. Do mesmo modo os anjos trouxeram as harpas, e Jesus apresentou-as também aos santos. Os anjos dirigentes desferiram em primeiro lugar o tom, e então todas as vozes se alçaram em louvor grato e feliz, e todas as mãos habilmente deslizaram sobre as cordas da harpa, emanando uma música melodiosa, com acordes abundantes e perfeitos. Vi então Jesus conduzir a multidão dos remidos à porta da cidade. Lançou mão da porta e girou-a sobre os seus resplandecentes gonzos, e mandou entrarem as nações que haviam observado a verdade. Dentro da cidade havia tudo para deleitar a vista. Contemplavam por toda parte uma copiosa glória. Então Jesus olhou para os Seus santos remidos; seus rostos estavam radiantes de glória; e, fixando Seu olhar amorável sobre eles, disse com Sua preciosa e melodiosa voz: "Vejo o trabalho de Minha alma, e estou satisfeito. Esta opulenta glória é vossa, para a gozardes eternamente. Vossas tristezas estão terminadas. Não mais haverá morte, nem tristeza, nem pranto; tampouco haverá mais dor." Vi a hoste dos remidos prostrar-se e lançar suas coroas brilhantes aos pés de Jesus; e então, levantando-os com Sua mão amorável, tocaram as harpas de ouro, e encheram o Céu todo com sua rica música e com cânticos ao Cordeiro. PE 289 1 Vi então Jesus levando Seu povo à árvore da vida, e novamente ouvimos Sua adorável voz, mais preciosa do que qualquer música que já tenha caído em ouvidos mortais, dizendo: "As folhas da árvore são para a cura dos povos. Comei todos dela." Belíssimo fruto estava na árvore da vida, do qual os santos poderiam participar livremente. Na cidade havia um trono gloriosíssimo, do qual provinha um rio puro de água da vida, claro como cristal. Em cada lado deste rio estava a árvore da vida, e nas margens do rio havia outras belas árvores, produzindo fruto que era bom para alimento. PE 289 2 A linguagem é demasiadamente fraca para tentar uma descrição do Céu. Apresentando-se diante de mim aquela cena, fico inteiramente absorta. Enlevada pelo insuperável esplendor e excelente glória, deponho a pena e exclamo: "Oh, que amor! que amor maravilhoso!" A linguagem mais exaltada não consegue descrever a glória do Céu, ou as profundidades incomparáveis do amor de um Salvador. ------------------------Capítulo 71 -- A terra desolada PE 289 3 Minha atenção foi de novo dirigida à Terra. Os ímpios tinham sido destruídos e seus corpos mortos jaziam em sua superfície. A ira de Deus, nas sete últimas pragas, tinha sido derramada sobre os habitantes da Terra, fazendo-os morder a língua de dor e amaldiçoar a Deus. Os falsos pastores tinham sido objeto especial da ira de Jeová. Os olhos se lhes consumiram nas órbitas, e a língua na sua boca, enquanto estavam em pé. Depois que os santos tiveram livramento pela voz de Deus, a multidão dos ímpios volveu sua ira, de uns contra os outros. A Terra parecia ser inundada com sangue, e havia corpos mortos de uma extremidade dela a outra. PE 290 1 A Terra tinha a aparência de um deserto solitário. Cidades e vilas, derribadas pelo terremoto, jaziam em montões. Montanhas tinham sido removidas de seus lugares, deixando grandes cavernas. Pedras anfractuosas, arrojadas pelo mar, ou arrancadas da própria terra, estavam espalhadas por toda a sua superfície. Grandes árvores tinham sido desarraigadas, e juncavam a terra. Aqui deve ser a morada de Satanás com seus anjos maus, durante mil anos. Aqui estará ele circunscrito, para errar para cá e acolá, sobre a revolvida superfície da Terra, e para ver os efeitos de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante mil anos ele poderá gozar do fruto da maldição que ele determinou. Circunscrito apenas à Terra, Satanás não terá o privilégio de percorrer outros planetas para tentar e molestar os que não caíram. Durante este tempo Satanás sofre extremamente. Desde sua queda, seus maus característicos têm estado em constante exercício. Mas deve ele então ser despojado de seu poder e deixado para que reflita na parte que desempenhou desde sua queda, e aguarde com tremor e terror o terrível futuro, em que deverá sofrer por todo o mal que perpetrou, e ser castigado por todos os pecados que fez com que fossem cometidos. PE 290 2 Ouvi aclamações de vitória dos anjos e dos santos remidos, os quais ressoavam como dez milhares de instrumentos musicais, porque não mais deveriam ser molestados e tentados por Satanás, e porque os habitantes de outros mundos estavam livres de sua presença e tentações. PE 290 3 Vi então tronos, e Jesus e os santos remidos sentarem-se sobre eles; e os santos reinaram como reis e sacerdotes para Deus. Cristo, em união com o Seu povo, julgou os ímpios mortos, comparando seus atos com o código -- a Palavra de Deus -- e decidindo cada caso segundo as obras feitas no corpo. Então designaram aos ímpios a parte que deverão sofrer, segundo suas obras; e isto foi escrito defronte de seus nomes no livro da morte. Satanás também, e seus anjos, foram julgados por Jesus e os santos. O castigo de Satanás deveria ser muito maior do que o daqueles a quem ele enganara. Seu sofrimento excederia ao deles a ponto de não haver comparação. Depois que todos aqueles a quem ele enganara houverem perecido, Satanás deverá ainda viver e sofrer muito mais tempo. PE 291 1 Depois que se concluiu o juízo dos ímpios, no fim dos mil anos, Jesus deixou a cidade; e os santos bem como um cortejo da hoste angélica O acompanharam. Jesus desceu sobre uma grande montanha, a qual logo que Seus pés a tocaram, se repartiu de alto a baixo, e se tornou uma grande planície. Então olhamos para cima e vimos a grande e bela cidade, com doze fundamentos e doze portas, três de cada lado e um anjo em cada porta. Exclamamos: "A cidade! a grande cidade! vem descendo de Deus, do Céu!" E ela desceu em todo o seu esplendor e deslumbrante glória, e fixou-se na grande planície que, para ela, Jesus havia preparado. ------------------------Capítulo 72 -- A segunda ressurreição PE 292 1 Então Jesus, e todo o cortejo de santos anjos, e todos os santos remidos, saem da cidade. Os anjos rodeiam seu Comandante e O acompanham em Seu trajeto, e a seguir vem o cortejo dos santos remidos. Com majestade terrível e pavorosa, Jesus chama então os ímpios mortos; e eles surgem com o mesmo corpo fraco, doentio, que foram à sepultura. Que espetáculo! Que cena! Na primeira ressurreição todos saem com imortal frescor, mas na segunda, os indícios da maldição são visíveis em todos. Os reis e os nobres da Terra, os vis e os desprezíveis, os doutos e os ignorantes, surgem juntamente. Todos contemplam o Filho do homem; e os mesmos homens que O desprezaram e dEle escarneceram, que Lhe puseram sobre a sagrada fronte a coroa de espinhos, e O feriram com a cana, contemplam-nO em toda a Sua majestade real. Os que cuspiram nEle na hora de Seu julgamento, agora se desviam de Seu olhar penetrante e da glória de Seu rosto. Os que introduziram os cravos através de Suas mãos e pés, olham agora para os sinais de Sua crucifixão. Os que Lhe alancearam o lado, vêem os sinais de sua crueldade em Seu corpo. E sabem que Ele é o mesmo a quem crucificaram, e de quem escarneceram em Sua agonia mortal. E levantam então um pranto de angústia, longo e demorado, fugindo para esconder-se da presença do Rei dos reis e Senhor dos senhores. PE 292 2 Todos estão procurando esconder-se nas rochas, para se defenderem da glória terrível dAquele a quem uma vez desprezaram. E, oprimidos e afligidos por Sua majestade e extraordinária glória, unanimemente levantam a voz e com terrível clareza exclamam: "Bendito O que vem em nome do Senhor!" PE 293 1 Então Jesus e os santos anjos, acompanhados por todos os santos vão de novo à cidade, e as amarguradas lamentações e prantos dos ímpios condenados enchem os ares. Vi então que Satanás novamente começava a sua obra. Passou por entre seus súditos, e fez do fraco e débil forte, e disse-lhes que ele e os seus anjos eram poderosos. Apontou para os incontáveis milhões que tinham ressuscitado. Havia poderosos guerreiros e reis, que eram muito hábeis em batalhas e que haviam conquistado reinos. E havia poderosos gigantes e homens valentes que nunca perderam uma batalha. Ali estava o orgulhoso e ambicioso Napoleão, cuja aproximação tinha feito reinos tremer. Ali se achavam homens de elevada estatura e porte nobre, que haviam tombado na batalha enquanto sedentos de conquistas. Ao surgir de suas sepulturas, reatam a corrente de seus pensamentos no ponto em que cessara por ocasião da morte. Possuem o mesmo desejo de conquistar que os governava quando tombaram. Satanás consulta com seus anjos e então com aqueles reis, conquistadores, e homens poderosos. Olha então para o vasto exército e diz-lhes que a multidão na cidade é pequena e fraca, e que eles podem subir e tomá-la, expulsar seus habitantes e possuir suas riquezas e glória. PE 293 2 Satanás consegue enganá-los, e todos imediatamente começam a preparar-se para a batalha. Há muitos homens hábeis naquele vasto exército, e constroem todas as espécies de instrumentos de guerra. Então, com Satanás à sua frente, a multidão se põe em movimento. Reis e guerreiros seguem imediatamente após Satanás e as multidões vêm a seguir, em companhias. Cada companhia tem o seu dirigente, e é observada a ordem enquanto, sobre a superfície partida da Terra, marcham em direção à santa cidade. Jesus fecha as portas da cidade e este vasto exército a cerca, e dispõe-se para a batalha, esperando um conflito tremendo. Jesus e toda a hoste angélica, e todos os santos, com as brilhantes coroas sobre as cabeças, ascendem ao cimo do muro da cidade. Jesus fala com majestade, dizendo: "Eis, pecadores, a recompensa do justo! E contemplai, Meus remidos, a paga dos ímpios! O vasto concurso de povos contempla a multidão gloriosa sobre os muros da cidade. E ao serem testemunhas do esplendor de suas coroas brilhantes, e ao verem-lhes a face radiante de glória, refletindo a imagem de Jesus, e ao contemplarem então a glória inexcedível e a majestade do Rei dos reis e Senhor dos senhores, desfalece a sua coragem. Assalta-os uma intuição do tesouro e glória que perderam, e compenetram-se de que o salário do pecado é a morte. Eles vêem a multidão santa e feliz que desprezaram revestida de glória, honra, imortalidade e vida eterna, ao mesmo tempo em que estão fora da cidade, com todas as coisas abjetas e abomináveis. ------------------------Capítulo 73 -- A segunda morte PE 294 1 Satanás precipita-se para o meio de seus seguidores, e procura instigar a multidão à atividade. Mas fogo de Deus, procedente do Céu, derrama-se sobre eles e os grandes homens, e os homens poderosos, os nobres, e os pobres e miseráveis, todos são juntamente consumidos. Vi que alguns foram destruídos rapidamente, enquanto outros sofreram mais tempo. Foram castigados segundo as ações feitas no corpo. Alguns ficaram muitos dias a consumir-se e, precisamente enquanto houvesse uma parte deles a ser consumida, permaneceu toda a sensação do sofrimento. Disse o anjo: "O verme da vida não morrerá; seu fogo não se apagará enquanto houver a mínima partícula para ele devorar." PE 294 2 Satanás e seus anjos sofreram muito tempo. Satanás não somente arrostou o peso e castigo de seus próprios pecados, mas também dos pecados da hoste dos remidos, os quais foram colocados sobre ele; e também deve sofrer pela ruína de almas, por ele causada. Vi então que Satanás e toda a hoste ímpia foram consumidos, e foi satisfeita a justiça de Deus; e todo o exército dos anjos e os santos remidos todos, com grande voz, disseram: "Amém!" PE 295 1 Disse o anjo: "Satanás é a raiz, seus filhos são os ramos. Estão agora consumidos, raiz e ramos. Morreram morte eterna. Jamais deverão ter ressurreição, e Deus terá um Universo puro." Olhei então e vi o fogo que tinha consumido os ímpios, queimando o resíduo e purificando a Terra. Olhei de novo, e vi a Terra purificada. Não havia um único indício da maldição. A superfície quebrada e desigual da Terra agora parecia como uma planície nivelada e extensa. Todo o Universo de Deus estava puro, e o grande conflito para sempre finalizado. Para onde quer que olhávamos, tudo em que repousava o olhar era belo e santo. E todo o exército dos remidos, velhos e jovens, grandes e pequenos, lançavam as brilhantes coroas aos pés de seu Redentor, e prostravam-se em adoração perante Ele; e adoravam Aquele que vive para todo o sempre. A linda Terra nova, com toda a sua glória, era a herança eterna dos santos. O reino e o domínio, e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu, foram então dados aos santos do Altíssimo, os quais deveriam possuí-los para sempre, sim, para todo o sempre. ------------------------Apêndice PE 296 1 Páginas 13-20: Minha Primeira Visão -- O que está apresentado neste capítulo foi publicado pela primeira vez pelo editor do Day-Star, no dia 24 de Janeiro de 1846, sob o título "Uma Carta da Irmã Harmon", datada em "Portland, Maine, 20 de Dezembro de 1845". Apareceu publicado novamente em 1846, 1847 e 1851 sob o título "Aos Remanescentes Espalhados no Exterior". O título atual foi escolhido em 1882, com a reedição de Experiências e Visões. PE 296 2 Detalhados relatos autobiográficos, publicados em 1860 e 1885 apresentam o que aqui aparece como duas visões distintas. Ver "Minha Primeira Visão", em Spiritual Gifts 2:30-35; Testimonies for the Church 1:58-61; e "Vision of the New Earth", em Spiritual Gifts 2:52-55; Testimonies for the Church 1:67-70. PE 296 3 Páginas 15-20: Descrição de Acontecimentos Futuros -- Ao descrever o que Deus lhe revelava sobre acontecimentos futuros, a Sra. White o fazia como se participasse desses acontecimentos, quer estivessem no passado, presente ou futuro. Em resposta a perguntas sobre seu estado durante as visões, ela escreveu: PE 296 4 "Quando o Senhor acha apropriado conceder-me uma visão, sou levada à presença de Jesus e dos anjos, e me desligo totalmente das coisas da Terra... Minha atenção é voltada freqüentemente para cenas que acontecem na Terra. Por vezes sou transportada para o futuro bem distante e me é mostrado o que está para acontecer. Depois, são-me mostradas novamente as coisas como elas ocorreram no passado." -- Spiritual Gifts 2:292. PE 296 5 Ellen White, ela mesma uma adventista, escreveu como se estivesse presente, visse e ouvisse o que ainda está para acontecer; por exemplo, Primeiros Escritos: PE 296 6 "Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus." -- Pág. 15. PE 296 7 "Todos nós entramos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro, aonde Jesus trouxe as coroas, e com Sua própria destra as colocou sobre nossa cabeça." -- Pág. 16. PE 296 8 "Todos entramos e sentíamos ter perfeito direito à cidade." PE 296 9 "Ali vimos a árvore da vida e o trono de Deus." PE 296 10 "Com Jesus à nossa frente, descemos todos da cidade para a Terra..." -- Pág. 17. PE 296 11 "E quando estávamos para entrar no santo templo..." PE 296 12 "As maravilhosas coisas que ali vi, não as posso descrever." -- Pág. 19. PE 296 13 Após a visão ela conseguia relembrar muito daquilo que lhe havia sido mostrado, porém o que era secreto, e não podia ser revelado, ela não conseguia relembrar. Como parte da cena que terá lugar quando o povo de Deus for resgatado (pág. 285), ela escutou ser anunciado "o dia e a hora da vinda de Jesus" (pág. 15); ver também pág. 30. Sobre isso, ela escreveu poderosamente: PE 297 1 "Não tenho o mais leve conhecimento quanto ao tempo anunciado pela voz de Deus. Ouvi a hora proclamada, mas não tinha lembrança alguma daquela hora depois que saí da visão. Cenas de tal emoção, solene interesse, passaram por mim de maneira que linguagem alguma é capaz de descrever. Foi tudo viva realidade para mim." -- Carta 38, 1888, publicada em Mensagens Escolhidas 1:75-76. PE 297 2 O fato de ela aparentemente participar de determinados acontecimentos não oferece qualquer garantia que seria uma participante quando os acontecimentos ocorrerem. PE 297 3 Página 17: Os Irmãos Fitch e Stockman -- No relato de sua primeira visão, a Sra. White faz referência aos "irmãos Fitch e Stockman" como pessoas que encontrou e com quem conversou na Nova Jerusalém. Ambos eram ministros conhecidos de Ellen White, que haviam tomado parte ativa na proclamação da mensagem do esperado advento de Cristo, mas que haviam morrido pouco antes do desapontamento de 22 de Outubro de 1844. PE 297 4 Carlos Fitch, um ministro presbiteriano, aceitou a mensagem do advento ao ler as palestras de Guilherme Miller e ao conhecer Josias Litch. Ele se entregou inteiramente à proclamação do esperado advento de Cristo por ocasião do encerramento do período dos 2.300 anos, e se tornou um líder de destaque no Despertamento do Advento. Em 1842, ele preparou o quadro profético usado mui eficazmente e mencionado em Primeiros Escritos, 74. Sua morte se deu em decorrência de ele se ter exposto em demasia durante três cerimônias batismais que realizou numa manhã fria de outono. Ver Prophetic Faith of Our Fathers, 4:533-545. PE 297 5 Levi F. Stockman era um vigoroso ministro metodista do Estado de Maine que, em 1842, juntamente com outros trinta pastores metodistas, abraçou e começou a pregar o segundo advento de Cristo. Ele trabalhava em Portland, Maine, quando sua saúde fraquejou. Morreu de tuberculose no dia 25 de Junho de 1844. Era a ele que a Sra. White, enquanto criança, se dirigia para pedir conselhos, quando em seu desânimo Deus lhe falou por intermédio de dois sonhos. Ver Primeiros Escritos, 12, 78-81; Prophetic Faith of Our Fathers, 4:780-782. PE 297 6 Página 21: Mesmerismo -- Visando justificar sua oposição, algumas das primeiras pessoas contrárias às visões, insinuavam que a experiência de Ellen White era decorrente do uso de mesmerismo, um fenômeno conhecido hoje como hipnose. A hipnose é um estado semelhante ao sono, induzido mediante o poder da sugestão, no qual o hipnotizado se encontra psicologicamente ligado ao hipnotizador, e é responsivo às sugestões do último. Porém, quando um médico mesmerista tentou hipnotizá-la, segundo relata a Sra. White, não obteve êxito diante da presença dela. PE 297 7 No início de sua experiência, Ellen White foi acautelada sobre os perigos da hipnose, e em anos posteriores recebeu, em várias ocasiões, instrução a esse respeito. Ela alertou para os sérios perigos que acompanham qualquer prática em que uma mente controla outra. Ver A Ciência do Bom Viver, 242-244; Medicina e Salvação, 110-112; Mensagens Escolhidas 2:349, 350, 353. PE 298 1 Página 33: Adventistas Nominais -- Aqueles que se uniram para proclamar as mensagens do primeiro e segundo anjos, mas que rejeitaram a terceira mensagem angélica com sua verdade sobre o sábado, embora permanecessem fiéis à esperança do advento, são denominados pela Sra. White "adventistas nominais", ou aqueles que "rejeitam a verdade presente" (pág.69), e ainda "os diferentes grupos dos professos crentes do advento" (pág.124). Em nossa literatura inicial eles eram também denominados "adventistas do primeiro dia". PE 298 2 Um grande número de cristãos ficou desapontado no outono de 1844, quando Cristo não veio como esperavam. Os adventistas se dividiram em vários grupos, cujos sobreviventes compreendem hoje a Igreja Cristã do Advento, uma pequena entidade, e os Adventistas do Sétimo Dia. PE 298 3 Apenas alguns dentre os adventistas se mantiveram confiantes no cumprimento da profecia em 1844, mas os que o fizeram aceitaram a terceira mensagem angélica, com seu sábado do sétimo dia. Ellen White escreveu o seguinte sobre a experiência nesse período crítico: PE 298 4 "Houvessem os adventistas, depois da decepção de 1844, ficado firmes na fé, e seguido avante em união no caminho aberto pela providência de Deus, recebendo a mensagem do terceiro anjo e proclamando-a ao mundo, no poder do Espírito Santo, teriam visto a salvação de Deus, o Senhor teria cooperado poderosamente com seus esforços, a obra se haveria completado, e Cristo teria vindo antes disso para receber Seu povo para lhes dar o galardão. PE 298 5 "No período de dúvida e incerteza que se seguiu ao desapontamento, porém, muitos dos crentes no advento abandonaram a fé. A maioria opôs-se pela voz e pela pena aos poucos que, seguindo na providência de Deus, receberam a reforma do sábado e começaram a proclamar a mensagem do terceiro anjo. Muitos que deviam haver consagrado tempo e talentos ao único objetivo de fazer soar ao mundo a advertência, achavam-se absorvidos em oposição à verdade do sábado, e por sua vez, o trabalho dos que o defendiam era necessariamente empregado em responder a esses adversários na defesa da verdade. Assim era a obra prejudicada, e o mundo deixado em trevas. Houvesse todo corpo de adventistas se unido em torno dos mandamentos de Deus e da fé de Jesus, quão vastamente diversa haveria sido nossa história!" -- Mensagens Escolhidas 1:68. PE 298 6 Páginas 42-45: Porta Aberta e Porta Fechada -- Ao discutir o grande Movimento do Advento e a decepção de 22 de Outubro de 1844, em O Grande Conflito, e ao se referir às atitudes tomadas imediatamente após o Desapontamento, a Sra. White faz menção da conclusão inevitável a que se chegou durante breve período de tempo, de que "a porta da graça fora fechada". Mas como afirma, uma luz mais clara, porém, surgiu pela investigação do assunto do santuário". -- Ver O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 428, e todo o capítulo Quando Começa o Julgamento Divino, 422-431. PE 299 1 No tocante ao seu envolvimento pessoal com o assunto, ela escreveu em 1874 que nunca teve uma visão de que não se converteriam mais pecadores. Tampouco ensinou esse ponto de vista. "Foi a luz a mim concedida por Deus", ela escreveu em outra ocasião, "que corrigiu nosso erro, e habilitou-nos a ver a verdadeira atitude." -- Mensagens Escolhidas 1:74, 63. PE 299 2 Páginas 43, 44 e 86: Batidas misteriosas em Nova Iorque, e as batidas de Rochester -- Aqui é feita referência a incidentes relacionados com o surgimento do espiritismo moderno. Em 1848, foram escutados ruídos misteriosos na casa da família Fox, residente em Hydesville, uma comunidade situada cerca de 50 km a leste de Rochester, no Estado de Nova Iorque. Na época em que circulavam várias conjecturas com respeito à origem desses ruídos, Ellen White anunciou, em nome de uma visão que lhe havia sido concedida, que eram uma manifestação do espiritismo, e que esse fenômeno se desenvolveria rapidamente, e sob o nome de religião se tornaria popular e enganaria multidões, tornando-se a peça-chave dos ardis de Satanás para os últimos dias. PE 299 3 Páginas 50: Mensageiros sem Mensagem -- Essa expressão aparece na descrição de uma visão dada a Ellen White no dia 26 de Janeiro de 1850. Nessa ocasião, os adventistas guardadores do sábado não estavam constituídos como Igreja organizada. A maior parte temia que qualquer tipo de organização introduzisse a formalidade no seio dos crentes. Mas com o passar do tempo, elementos discordantes começaram a penetrar nas fileiras. Ellen White emitiu mensagens de advertência, os adventistas guardadores do sábado foram levados, passo a passo, a adotar os moldes de uma organização eclesial. Como resultado, os grupos de crentes se uniram mais do que nunca; foi delineada uma forma de reconhecer os ministros que se mostravam capazes de pregar a mensagem e endossá-la com a vida; e foi também providenciado que se expulsassem aqueles que, sob o pretexto de ensinar a verdade, ensinavam falsidades. PE 299 4 Páginas 61, 62: União dos Pastores -- Ver nota da pág. 50, Mensageiros sem Mensagem. PE 299 5 Página 75: Dever de Ir à Velha Jerusalém -- A Sra. White se refere a pontos de vista errôneos defendidos por uns poucos. No ano seguinte, na edição de 7 de Outubro de 1851, Tiago White escreve sobre "os pontos de vista dispersivos e inúteis relacionados com a Velha Jerusalém e os judeus, etc., que estão à tona no tempo presente", e sobre "as estranhas noções em que alguns incorreram, segundo as quais os santos terão ainda de ir à Velha Jerusalém, etc.". PE 299 6 Página 77: Redator do Day-Star -- Enoch Jacobs morava em Cincinnati, Estado de Ohio, e publicava o Day-Star, um dos primeiros jornais a proclamar o segundo advento de Cristo. Foi para Enoch Jacobs que Ellen Harmon, em Dezembro de 1845, enviou uma descrição de sua primeira visão, na esperança de fortalecê-lo. Ela havia observado que ele vacilava em confiar na liderança de Deus na experiência do advento. Foi no Day-Star que o redator publicou a primeira visão da Sra. White, na edição de 24 de Janeiro de 1846. Em uma edição especial do jornal, foi publicado o memorável artigo sobre o santuário celeste e sua purificação, preparado por Hirão Edson, pelo Dr. Hahn, e por O. R. L. Crozier. O artigo expunha o ensinamento bíblico relacionado com o ministério de Cristo no lugar santíssimo do santuário, que teve início a 22 de Outubro de 1844. Nesse jornal foi ainda publicado, em 14 de Março de 1846, um segundo comunicado da pena de Ellen Harmon. Ver Primeiros Escritos, 32-35. A referência neste parágrafo é feita a idéias defendidas posteriormente pelo Sr. Jacobs e os enganos espíritas que abraçou. PE 300 1 Página 86: Ver as notas do Apêndice para as 43, 44. PE 300 2 Página 89: Tomás Paine -- Os escritos de Tomás Paine eram bem conhecidos e muito lidos nos Estados Unidos, durante a década de 1840. Seu livro Age of Reason (Idade da Razão), é uma obra deísta e prejudicial à fé e prática cristãs. O livro começa com as seguintes palavras: "Creio em um Deus e nenhum outro." Paine não tinha fé alguma em Cristo, e foi utilizado com êxito por Satanás em suas investidas contra a Igreja. Como indicou a Sra. White, se um homem como Paine pudesse ter acesso ao Céu e ali ser altamente honrado, qualquer pecador, sem uma reforma em sua vida e sem fé em Jesus Cristo, poderia também ter acesso. Ela expôs esse sofisma em linguagem enérgica e apontou para a irracionalidade do espiritismo. PE 300 3 Página 101: Perfeccionismo -- Alguns dos primeiros adventistas, logo após a experiência de 1844, perderam seu contato com Deus e derivaram para o fanatismo. Ellen White encarou esses extremistas com um "Assim diz o Senhor". Ela reprovou aqueles que ensinavam um estado de perfeição na carne e que conseqüentemente não pecariam. Sobre eles, a Sra. White escreveu posteriormente: PE 300 4 "Eles sustentavam que aqueles que foram santificados não podem pecar. E isso naturalmente leva a crer que as afeições e desejos dos santificados eram sempre retos, e não corriam o risco de conduzi-los ao pecado. De acordo com esses sofismas, praticavam os piores pecados sob o manto da santificação, e através de sua influência enganadora e hipnótica estavam obtendo um estranho poder sobre alguns de seus adeptos, que não viam o mal destas teorias aparentemente belas e sedutoras. ... PE 300 5 "Os enganos desses falsos mestres foram nitidamente abertos perante mim, e vi o terrível juízo que se levantava contra eles no livro de registros, e a culpa horrível que os cobria, por professarem completa santidade enquanto seus atos diários eram ofensivos aos olhos de Deus." -- Life Sketches of Ellen G. White, 83, 84. PE 301 1 Páginas 116 e 117: A Ceia do Senhor; Irmãs Lavando os Pés de Irmãos; o Ósculo Santo -- Os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, tendo aceito a verdade do sábado, se lançaram zelosamente para seguir a Palavra de Deus em cada pormenor, ao mesmo tempo em que cuidavam para se resguardar contra interpretações distorcidas da Palavra e quaisquer extremismos ou fanatismos. Viram claramente os privilégios e as obrigações da Ceia do Senhor, estabelecida para a Igreja por nosso Senhor. Havia indagações com respeito ao lava-pés e ao ósculo santo. Nessa visão, o Senhor esclareceu alguns pontos delicados que orientariam e protegeriam a Igreja emergente. PE 301 2 Com respeito à freqüência com que os sacramentos deveriam ser observados, alguns insistiam na sua realização uma vez por ano; mas foi dada a instrução que a Ceia do Senhor deveria ser realizada com mais frequência. Hoje, a Igreja observa o plano de realizar a cerimônia quatro vezes por ano. PE 301 3 Foram dados conselhos concernentes ao lava-pés. Aparentemente havia divergências de opinião com respeito ao procedimento a ser adotado. Alguns haviam agido imprudentemente e o resultado foi "confusão". Foi aconselhado que esta cerimônia fosse realizada com cuidado e reserva para não suscitar preconceito. Levantou-se a questão da adequação dos homens e mulheres lavarem os pés uns dos outros. Sobre esse ponto, Ellen White apresentou evidência na Escritura que indicava ser apropriado para uma mulher -- aparentemente sob certas condições -- lavar os pés de um homem, mas desaconselhou o contrário. PE 301 4 No tocante ao ósculo santo, o SDA Bible Commentary afirma: PE 301 5 "No Oriente, de maneira especial, o beijo é uma forma usual de se expressar amor e amizade numa saudação. Ver Lucas 7:45; Atos dos Apóstolos 20:37. O 'ósculo santo', ou 'ósculo de amor' (1 Pedro 5:14), era um símbolo de afeto cristão. Parece que havia se tornado um costume entre os cristãos primitivos trocar essa saudação por ocasião da Ceia do Senhor São Justino, First Apology, 65. Escritos posteriores indicam que não era usual saudar o sexo oposto com o 'ósculo santo' Apostolic Constitutions ii. 57; viii. 11." -- The S.D.A. Bible Commentary 7:257, 258. PE 301 6 Era costume entre os adventistas guardadores do sábado trocar o ósculo santo no sacramento de humildade. Não há referência quanto à impropriedade explícita da troca do ósculo santo entre homens e mulheres, mas há uma advertência para que todos se abstenham da aparência do mal. PE 301 7 Página 118: Fazer Barulho -- A rede do evangelho recolhe todo tipo de gente. Havia quem achasse que sua experiência religiosa não seria genuína se não fosse caracterizada por ruidosos, efusivos clamores de glória a Deus, orações em voz alta e emocionantes e vigorosos améns. Aqui novamente a Igreja em sua experiência inicial recebeu uma nota de alerta, exigindo decoro e solenidade na adoração a Deus. PE 302 1 Páginas 229-232: Guilherme Miller -- Nas referências ao grande Despertamento Adventista nos Estados Unidos nas décadas de 1830 e 1840, Guilherme Miller é freqüentemente mencionado. No livro O Grande Conflito, um capítulo inteiro é dedicado à vida e ministério de Guilherme Miller, sob o título Uma Profecia Muito Significativa 317-342. Guilherme Miller nasceu em Pittsfield, no Estado de Massachusetts, em 1782 e morreu em Low Hampton, no Estado de Nova Iorque, em 1849. Aos quatro anos de idade, mudou-se com seus pais para Low Hampton, Nova Iorque, próximo ao Lago Champlain, e foi criado numa fazenda da fronteira. Foi sempre estudioso e um meticuloso leitor. Tornou se um líder em sua comunidade. Em 1816, ele se dedicou ao estudo cuidadoso da Palavra de Deus, e seu estudo o levou às grandes profecias relacionadas com o tempo e com o Segundo Advento. Ele concluiu que a segunda vinda de Cristo estava próxima. Após rever suas teses durante um período de anos, e certificar-se da precisão das mesmas, ele aceitou um convite de apresentá-las publicamente no início de Agosto de 1831. A partir de então, seu tempo foi dedicado em boa parte à proclamação da mensagem do advento. A seu devido tempo, juntaram-se a ele centenas de outros ministros protestantes que participaram do grande Despertamento do Advento do decênio de 1840. PE 302 2 Por ocasião do desapontamento, no dia 22 de Outubro de 1844, Miller se encontrava cansado e enfermo. Ele dependia grandemente de seus adeptos mais jovens que permaneceram com ele na proclamação da mensagem do advento. Eles o levaram a rejeitar a verdade sobre o sábado, quando esta chamou sua atenção logo após o Desapontamento. Por isso, eles -- e não Guilherme Miller -- serão tidos por responsáveis. Ellen White escreve sobre a experiência dele na página 258, e nos assegura que Miller estará entre aqueles que serão chamados de seus túmulos quando soar a última trombeta. PE 302 3 Páginas 232-240, 254-258: As Três Mensagens Angélicas de Apocalipse 14 -- Numa série de três capítulos, começando na página 232, Ellen White comenta sobre as mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos. Ela escrevia para aqueles que, juntamente com ela, passaram pelo grande Despertamento do Advento e os desapontamentos da primavera e outono de 1844. Ela não procurou entrar numa explanação dessas três mensagens, mas presumiu que seus leitores tivessem conhecimento pleno dessa experiência. Ela apresentou aquilo que traria coragem e entendimento aos crentes que a acompanhavam, à luz da experiência deles. Devemos volver-nos para o seu livro O Grande Conflito para termos uma descrição detalhada do peso dessas mensagens. A primeira mensagem angélica anunciava a advertência da aproximação da hora do julgamento de Deus. Ver O Grande Conflito, capítulos Esperança que Infunde Alegria, 299-316; Uma Profecia Muito Significativa, 317-342; e Um Grande Movimento Mundial, 355-374. Para a apresentação da mensagem do segundo anjo, ver o capítulo "A Causa da Degradação Atual", que começa à página 375. A descrição do Desapontamento é apresentada nos capítulos Profecias Alentadoras, 391-408; O Santuário Celestial, Centro de Nossa Esperança, 409-422; e Quando Começa o Julgamento Divino, 423-432. A terceira mensagem angélica é apresentada no capítulo A Imutável Lei de Deus, 433-450; e A Restauração da Verdade, 451-460. PE 303 1 Página 238: Final da Mensagem do Segundo Anjo -- Embora compreendamos claramente que as mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos são aplicáveis aos dias de hoje, reconhecemos, não obstante, que em sua proclamação inicial, a anunciação da primeira mensagem angélica com sua declaração "é chegada a hora de seu juízo" está ligada à proclamação do esperado advento de Cristo no decênio de 1830 e início de 1840. A mensagem do segundo anjo foi inicialmente proclamada no princípio do verão de 1844, na forma do chamado dos crentes adventistas para saírem das igrejas nominais que haviam rejeitado a proclamação da primeira mensagem angélica. E embora seja verdade que a mensagem do segundo anjo permaneça uma verdade presente, seu cumprimento culminou no período que antecedeu imediatamente o dia 22 de Outubro de 1844. Quando as mensagens dos três anjos se tornarem proeminentes perante o mundo novamente, um pouco antes da segunda vinda de Cristo, o anjo de Apocalipse 18:1 se unirá à proclamação do segundo anjo, no que diz respeito à mensagem "caiu, caiu, Babilônia". "Retirai-vos dela povo Meu". Ver o capítulo "O Último Convite Divino", em O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 603-612. PE 303 2 Página 254: Ver nota do Apêndice para as 232-240. PE 303 3 Página 276: Escravos e Senhor -- De acordo com Apocalipse 6:15, 16 haverá escravidão por ocasião do segundo advento de Cristo. Ali encontramos as palavras "todo escravo e todo livre". A afirmação de Ellen White em questão indica que lhe foram mostrados em visão o escravo e seu senhor por ocasião do segundo advento de Cristo. Nisso ela está em perfeita harmonia com a Bíblia. Tanto a João como à Sra. White foram reveladas condições que existirão na segunda vinda de nosso Senhor. Conquanto seja verdade que os escravos negros nos Estados Unidos foram libertos pela Proclamação de Emancipação, que entrou em vigor seis anos após a referida afirmação ter sido registrada, a mensagem não se tornou inválida, uma vez que nos dias de hoje existem milhões de homens e mulheres trabalhando praticamente ou efetivamente como escravos, em diversas partes do mundo. Não é possível fazer julgamento sobre uma profecia do futuro, até atingirmos o tempo de seu cumprimento. ------------------------Parábolas de Jesus PJ 2 1 Capítulo 1 -- O ensino mais eficaz PJ 7 3 Capítulo 2 -- A sementeira da verdade PJ 25 4 Capítulo 3 -- O desenvolvimento da vida PJ 30 0 Capítulo 4 -- Por que existe o mal PJ 33 0 Capítulo 5 -- Pequenos inícios, grandes resultados PJ 35 4 Capítulo 6 -- Como instruir e guardar os filhos PJ 42 0 Capítulo 7 -- Um poder que transforma e eleva PJ 47 1 Capítulo 8 -- O maior tesouro PJ 55 3 Capítulo 9 -- A pérola de grande preço PJ 59 1 Capítulo 10 -- A rede e a pesca PJ 60 3 Capítulo 11 -- Onde encontrar a verdade PJ 67 0 Capítulo 12 -- Como aumentar a fé e a confiança PJ 74 3 Capítulo 13 -- Um sinal de grandeza PJ 83 0 Capítulo 14 -- A fonte do poder vencedor PJ 93 0 Capítulo 15 -- A esperança da vida PJ 101 1 Capítulo 16 -- A reabilitação do homem PJ 109 0 Capítulo 17 -- Alento nas dificuldades PJ 113 1 Capítulo 18 -- Um convite generoso PJ 125 0 Capítulo 19 -- Como se alcança o perdão PJ 130 0 Capítulo 20 -- O maior perigo do homem PJ 134 2 Capítulo 21 -- Como se decide o nosso destino PJ 142 0 Capítulo 22 -- O que tem mais valor diante de Deus PJ 149 1 Capítulo 23 -- Por que vem a ruína PJ 164 0 Capítulo 24 -- Diante do supremo tribunal PJ 171 4 Capítulo 25 -- Como enriquecer a personalidade PJ 198 0 Capítulo 26 -- Talentos que dão êxito PJ 204 0 Capítulo 27 -- A verdadeira riqueza PJ 212 0 Capítulo 28 -- O maior dos males PJ 221 2 Capítulo 29 -- A recompensa merecida ------------------------Capítulo 1 -- O ensino mais eficaz PJ 2 1 No ensino de Cristo por parábolas, é manifesto o mesmo princípio de Sua própria missão ao mundo. Para que pudéssemos familiarizar-nos com Sua vida e caráter divinos, tomou Cristo nossa natureza e habitou entre nós. A divindade foi revelada na humanidade; a glória invisível, na visível forma humana. Os homens podiam aprender do desconhecido pelo conhecido; coisas celestiais foram reveladas pelas terrenas; Deus Se revelou na semelhança do homem. Assim era nos ensinos de Cristo: o desconhecido era ilustrado pelo conhecido; verdades divinas por coisas terrenas, com as quais o povo estava mais familiarizado. PJ 2 2 Diz a Escritura: "Tudo isso disse Jesus por parábolas à multidão... para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo." Mateus 13:34, 35. As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da natureza e da experiência diária de seus ouvintes eram relacionadas com as verdades das Escrituras Sagradas. Guiando assim do reino natural para o espiritual, são as parábolas de Cristo, elos na cadeia da verdade que une o homem a Deus, e a Terra ao Céu. PJ 3 1 Em Seus ensinos da natureza falava Cristo das coisas que Suas próprias mãos haviam criado, e que possuíam qualidades e faculdades, que Ele próprio lhes havia comunicado. Em Sua perfeição original, eram todas as coisas criadas a expressão do pensamento de Deus. Para Adão e Eva no seu lar paradisíaco, estava a natureza cheia do conhecimento de Deus, transbordante de instrução divina. A sabedoria falava aos olhos e era acolhida no coração; pois eles comungavam com Deus pelas obras criadas. Logo que o santo par transgrediu a lei do Altíssimo, o resplendor da face de Deus desapareceu da face da natureza. A Terra está agora deformada e maculada pelo pecado. Mas, mesmo nesta condição, muito do que é belo permanece. As lições objetivas de Deus, não são obliteradas; quando bem compreendida, a natureza fala de seu Criador. PJ 3 2 Nos dias de Cristo estas lições haviam sido perdidas de vista. Os homens tinham quase cessado de reconhecer a Deus em Suas obras. A natureza pecaminosa da humanidade atirara um véu sobre a bela face da criação; e em vez de revelarem a Deus, suas obras tornaram-se obstáculo que O ocultavam. Os homens "honraram e serviram mais a criatura do que o Criador". Romanos 1:25. Desta maneira, os pagãos "em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu". Romanos 1:21. Assim haviam inculcado em Israel ensinos de homens, em vez de ensinos divinos. Não somente a natureza, mas o serviço sacrifical, e mesmo as Sagradas Escrituras, dados todos para revelar a Deus, foram tão truncados que se tornaram o meio de ocultá-Lo. PJ 3 3 Cristo procurou remover aquilo que obscurecia a verdade. Veio tirar o véu que o pecado lançara sobre a face da natureza, PJ 3 4 e desse modo trazer à luz a glória espiritual que todas as coisas foram criadas para refletir. Suas palavras focalizaram sob aspecto novo as lições da natureza, bem como as da Bíblia, e as tornaram uma nova revelação. PJ 3 5 Jesus colhia lírios formosos e os dava às crianças e jovens; e ao contemplarem-Lhe o rosto juvenil, em que brilhava a luz do semblante de Seu Pai, dava-lhes a lição: "Olhai para os lírios do campo, como eles [na simplicidade da beleza natural] crescem; não trabalham, nem fiam. E Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:28, 29. A isto seguia então a doce segurança e a importante lição: "Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?" Mateus 6:30. PJ 3 6 Essas palavras, no sermão da montanha, foram dirigidas ainda a outros, além das crianças e jovens. Eram dirigidas a toda a multidão, em cujo meio havia homens e mulheres sobrecarregados de aflições e perplexidades e magoados por desenganos e tristezas. Jesus prosseguiu: "Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas." Mateus 6:31, 32. E estendendo as mãos à multidão circunstante, disse: "Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. PJ 4 1 Desta maneira interpretava Jesus a mensagem que Ele mesmo dera aos lírios e à relva do campo. Ele quer que a leiamos em cada lírio e em cada haste da relva. Suas palavras estão cheias de consoladoras afirmações e são próprias para fortalecer a confiança em Deus. Tão ampla era a visão que Cristo tinha da verdade, e tão extensos os Seus ensinamentos, que cada aspecto da natureza foi utilizado para ilustrar verdades. As cenas, sobre que os olhos descansam cotidianamente, foram todas relacionadas com alguma verdade espiritual, de modo que a natureza está revestida das parábolas do Mestre. PJ 4 2 Na primeira parte do Seu ministério, falara Cristo ao povo com palavras tão simples, que todos os Seus ouvintes podiam compreender as verdades que os tornariam sábios para a salvação. Mas em muitos corações a verdade não se enraizara, e logo foi tirada. "Por isso, lhes falo por parábolas", dizia Ele. "Porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos e fechou seus olhos." Mateus 13:13, 15. PJ 4 3 Jesus desejava despertar a indagação. Procurou despertar os indiferentes e impressionar-lhes o coração com a verdade. O ensino por parábolas era popular e atraía o respeito e a atenção, não só dos judeus mas também dos de outras nações. Ele não poderia haver usado método de ensino mais eficaz. Se Seus ouvintes desejassem o conhecimento das coisas divinas, poderiam compreender-Lhe as palavras, pois estava sempre pronto para explicá-las ao inquiridor sincero. PJ 4 4 Cristo também tinha verdades para apresentar, as quais o povo não estava preparado para aceitar, nem mesmo compreender. Este é outro motivo, por que Ele lhes ensinava por parábolas. Relacionando Seu ensino com cenas da vida, da experiência ou da natureza, assegurava a atenção e impressionava os corações. Mais tarde, ao olharem os objetos que Lhe haviam ilustrado os ensinos, lhes viriam à lembrança as palavras do divino Mestre. Às mentes que estavam abertas para o Espírito Santo foi, cada vez mais, desdobrada a significação dos ensinos do Salvador. Mistérios eram esclarecidos, e aquilo que fora difícil de compreender se tornava evidente. PJ 4 5 Jesus procurava um caminho para cada coração. Usando ilustrações várias, não só expunha a verdade em Seus diversos aspectos, mas apelava também para os diferentes ouvintes. Despertava-lhes o interesse pelos quadros tirados do ambiente de sua vida diária. Ninguém que escutasse o Salvador podia sentir-se negligenciado nem esquecido. O mais humilde e pecador ouvia em Seus ensinos uma voz falar-lhe com simpatia e ternura. PJ 5 1 Havia ainda outro motivo para os ensinar por parábolas. Entre as multidões que O rodeavam, havia sacerdotes e rabinos, escribas e anciãos, herodianos e maiorais, amantes do mundo, beatos, ambiciosos que desejavam, antes de tudo, achar alguma acusação contra Ele. Espias seguiam-Lhe os passos, dia a dia, para apanhá-Lo nalguma palavra que Lhe causasse a condenação, e fizesse silenciar para sempre Aquele que parecia atrair a Si o mundo todo. O Salvador compreendia o caráter desses homens e apresentava a verdade de maneira tal, que nada podiam achar que lhes desse oportunidade de levar Seu caso perante o Sinédrio. Em parábolas, Ele censurava a hipocrisia e o procedimento ímpio daqueles que ocupavam altas posições, e, em linguagem figurada, vestia a verdade de tão penetrante caráter que, se as mesmas fossem apresentadas como acusações diretas, não dariam ouvidos a Suas palavras e teriam dado fim rápido a Seu ministério. Mas enquanto repelia os espias, expunha a palavra tão claramente, que o erro era reconhecido e os sinceros lucravam com Suas lições. A sabedoria divina e a inesgotável graça foram claramente expostas pelas obras da criação de Deus. Pela natureza e pelas experiências da vida, foram os homens ensinados a respeito de Deus. "As Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas." Romanos 1:20. PJ 5 2 No ensino do Salvador por meio de parábolas, há uma indicação do que constitui a verdadeira educação superior. Cristo poderia ter desvendado aos homens as mais profundas verdades da Ciência. Poderia ter revelado mistérios que têm exigido o esforço e estudo de muitos séculos para penetrá-los. Poderia ter feito sugestões em ramos de Ciência que dariam matéria para pensar e estímulo para invenção até ao fim do tempo. Mas não o fez. Não disse coisa alguma para satisfazer a curiosidade ou a ambição dos homens, abrindo portas à grandeza mundana. Em todos os ensinamentos, levava Cristo a mente do homem em contato com a Mente Infinita. Não atraía a multidão para estudar teorias humanas sobre Deus e Sua palavra ou obras. Ensinava-os a contemplá-Lo manifestado em Suas obras, palavras e providências. PJ 6 1 Cristo não tratava de teorias abstratas, mas daquilo que é essencial ao desenvolvimento do caráter, e que ampliará a capacidade humana para conhecer a Deus, aumentando-lhe a eficiência para fazer o bem. Falava aos homens das verdades que se relacionam com a conduta da vida e se prendem à eternidade. PJ 6 2 Era Cristo que dirigia a educação de Israel. A respeito dos mandamentos e prescrições do Senhor, dizia: "E as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas." Deuteronômio 6:7-9. Em Seus ensinos mostrava Jesus como este mandamento devia ser cumprido, como as leis e princípios do reino de Deus podiam ser apresentados de modo que lhe revelassem a beleza e preciosidade. Quando o Senhor educava os filhos de Israel para se tornarem Seus representantes peculiares, deu-lhes moradia entre as colinas e vales. Na vida familiar e em seu serviço religioso, eram levados em contínuo contato com a natureza e com a Palavra de Deus. Assim ensinava Cristo a Seus discípulos, junto ao lago, na encosta das montanhas, nos campos e nos bosques, onde podiam contemplar as obras da natureza, com as quais ilustrava Seus ensinos. Aprendendo então de Cristo, utilizavam o conhecimento recebido, tornando-se coobreiros em Seu trabalho. PJ 6 3 Assim, pela criação, devemos conhecer o Criador. O livro da natureza é um grande guia que devemos usar em conexão com as Sagradas Escrituras, para ensinar a outros sobre Seu caráter e reconduzir ovelhas perdidas ao redil de Deus. Ao estudarmos as obras de Deus, o Espírito Santo faz raiar convicção na mente. Não é a convicção que o raciocínio lógico produz; mas, a não ser que a mente se tenha tornado muito entenebrecida para reconhecer a Deus, muito turvos os olhos para vê-Lo, os ouvidos muito moucos para ouvir-Lhe a voz, uma significação mais profunda é apreendida, e as sublimes verdades espirituais da Palavra escrita são gravadas no coração. PJ 6 4 Nestes ensinos tirados diretamente da natureza há uma simplicidade e candura que lhes emprestam o maior valor. Todos necessitam das lições oriundas dessa fonte. Em si mesmo o encanto da natureza desvia a mente, do pecado e das atrações mundanas, para a pureza, para a paz e para Deus. PJ 7 0 Muito freqüentemente se enche a mente dos estudantes de teorias e especulações humanas, falsamente chamadas Ciência e Filosofia. Devem eles ser postos em íntimo contato com a natureza. Aprendam que a criação e o cristianismo têm um único Deus. Sejam ensinados a ver a harmonia do natural com o espiritual. Tudo quanto os seus olhos contemplam ou as mãos manuseiam lhes sirva de ensino na formação do caráter. Desta maneira as faculdades mentais são fortalecidas, desenvolvido o caráter e toda a vida enobrecida. PJ 7 1 O propósito de Cristo no ensino por parábolas e o propósito do sábado são o mesmo. Deus deu aos homens o memorial de Seu poder criador para que O discernissem nas obras de Suas mãos. O sábado convida-nos a contemplar, nas obras criadas, a glória do Criador. Por desejar Jesus que assim fizéssemos, foi que envolveu as Suas preciosas lições com a beleza das coisas naturais. Mais do que em qualquer outro dia, devemos, no santo dia de descanso, estudar as mensagens que Deus para nós escreveu na natureza. Devemos estudar as parábolas do Salvador onde Ele as pronunciou, nos campos e prados, sob céu aberto, entre a relva e as flores. À medida que penetramos no seio da natureza, Cristo nos torna real a Sua presença, e nos fala ao coração de Sua paz e amor. PJ 7 2 Não ligou Cristo Seus ensinos somente com o dia de repouso, mas com a semana de trabalho. Ele tem sabedoria para aquele que guia o arado e espalha a semente. No arar e no semear, no lavrar e no colher, ensina-nos a ver uma ilustração de Sua obra de graça no coração. Deseja que em cada ramo de trabalho útil e em cada associação da vida achemos uma lição da verdade divina. Então nossa labuta cotidiana não mais nos absorverá a atenção para nos levar a esquecer de Deus; continuamente nos lembrará o Criador e Redentor. O pensamento em Deus, qual fio de ouro, passará entretecido em todos os nossos cuidados e ocupações domésticas. Para nós, a glória do Seu semblante repousará novamente na face da natureza. Estaremos aprendendo novas lições de verdades celestiais e crescendo à semelhança de Sua pureza. E desta maneira seremos ensinados pelo Senhor (Isaías 54:13); e, no estado em que somos chamados, ficaremos "diante de Deus". 1 Coríntios 7:24. ------------------------Capítulo 2 -- A sementeira da verdade PJ 7 3 Este capítulo é baseado em Mateus 13:1-9; 13:18-23; Marcos 4:1-20; Lucas 8:4-15. O semeador e a semente PJ 7 4 Pela parábola do semeador, ilustra Cristo as coisas do reino dos Céus e a obra do grande Lavrador para o Seu povo. Como um semeador no campo, assim veio Ele também para espalhar a semente celestial da verdade. E Seu ensino por parábolas era a semente, com a qual as mais preciosas verdades de Sua graça foram disseminadas. Por sua simplicidade, a parábola do semeador não tem sido apreciada como devia. Da semente natural que é lançada na terra, Cristo deseja dirigir-nos o espírito para a semente do evangelho, cuja semeadura resulta em reconduzir o homem à lealdade para com Deus. Ele, que deu a parábola da pequena semente, é o Soberano do Céu, e as mesmas leis que regem o semear da semente terrena, regem o semear das sementes da verdade. PJ 7 5 Tinha-se aglomerado, junto ao Mar da Galiléia, uma multidão curiosa e expectante para ver e ouvir a Jesus. Lá havia doentes que estavam deitados em leitos, e esperavam para apresentar-Lhe seu caso. Deus Lhe havia dado o direito de aliviar a dor de uma geração pecaminosa e agora repreendia a enfermidade e difundia ao Seu redor vida, saúde e paz. PJ 7 6 Aumentando a multidão continuamente, o povo se comprimia ao redor de Cristo até não haver mais espaço para contê-los. Então, dirigindo uma palavra aos homens nos botes, subiu à embarcação que estava pronta para levá-Lo à outra margem do lago, e ordenando aos discípulos que se afastassem um pouco da terra, falou à multidão reunida na margem. PJ 7 7 Junto ao lago estava a bela planície de Genesaré, além erguiam-se as colinas, e no sopé do monte, como também no planalto, havia semeadores e ceifeiros trabalhando, uns espalhando a semente e os outros ceifando o cereal maduro. Contemplando esta cena, disse Cristo: PJ 7 8 "Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o Sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta." Mateus 13:3-8. PJ 9 1 A missão de Cristo não foi compreendida pelos homens de Seu tempo. A maneira de Sua vinda não estava em harmonia com a expectativa deles. O Senhor Jesus era o fundamento de toda a dispensação judaica. Suas imponentes cerimônias foram ordenados por Deus. Foram designados para ensinar ao povo, que no tempo determinado, viria Aquele ao qual apontavam aquelas cerimônias. Mas os judeus tinham exaltado as formalidades e cerimônias, e perdido de vista seu objetivo. As tradições, máximas e decretos de homens ocultavam-lhes as lições que Deus intencionava comunicar-lhes. Essas máximas e tradições tornaram-se um obstáculo para a sua compreensão e prática da verdadeira religião. E ao vir a realidade, na pessoa de Cristo, não reconheceram nEle o cumprimento de todos os símbolos, a substância de todas as sombras. Rejeitaram o antítipo, e apegaram-se a seus tipos e cerimônias inúteis. O Filho do homem viera, mas continuaram pedindo um sinal. À mensagem: "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus" (Mateus 3:2), respondiam exigindo um milagre. O evangelho de Cristo lhes era uma pedra de tropeço, porque, em vez de um Salvador, pediam um sinal. Esperavam que o Messias provasse Suas reivindicações por vitórias brilhantes, para estabelecer Seu império sobre as ruínas de reinos terrestres. Como resposta a essa expectativa, deu Cristo a parábola do semeador. O reino de Deus não devia prevalecer pela força de armas nem por intervenções violentas, mas pela implantação de um princípio novo no coração dos homens. PJ 9 2 "O que semeia a boa semente é o Filho do homem." Mateus 13:37. Cristo viera, não como rei, mas como semeador; não para subverter reinos, mas para espalhar a semente; não para levar Seus seguidores a triunfos terrenos e grandezas nacionais, mas para uma colheita que será ganha depois de paciente trabalho, e por perdas e desilusões. PJ 9 3 Os fariseus compreendiam a significação da parábola de Cristo; mas o Seu ensino lhes era indesejável. Faziam como se não o compreendessem. À grande massa envolvia-se num maior mistério ainda o propósito do novo Mestre, cujas palavras lhes moviam tão estranhamente o espírito e tão amargamente desapontavam as ambições. Os discípulos mesmos não compreenderam a parábola, mas foi-lhes instigado o interesse. Foram ter depois particularmente com Jesus e pediram explicação. PJ 9 4 Este desejo era justamente o que Jesus pretendia despertar para que lhes pudesse dar instrução mais definida. Explicou-lhes a parábola, do mesmo modo que tornará clara Sua palavra a todos os que O procuram em sinceridade de coração. Os que estudam a Palavra de Deus com o coração aberto para a iluminação do Espírito Santo, não permanecerão em trevas quanto à significação da mesma. "Se alguém quiser fazer a vontade dEle", dizia Cristo, "pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo." João 7:17. Todos os que vão a Cristo com o desejo de um mais claro conhecimento da verdade, o receberão. Ele lhes desdobrará os mistérios do reino dos Céus, e os mesmos serão compreendidos pelos corações que anelam conhecer a verdade. Uma luz celeste raiará no templo da alma e será revelada a outros como o brilho refulgente de uma lâmpada em estrada tenebrosa. PJ 10 1 "Eis que o semeador saiu a semear." Mateus 13:3. No oriente tão incertas eram as circunstâncias, e as violências tão grande perigo ocasionavam, que o povo morava principalmente em cidades muradas, e os lavradores saíam diariamente para o trabalho. Assim saiu também Cristo, o Semeador celeste, a semear. Deixou Seu lar seguro e cheio de paz, deixou a glória que possuía junto ao Pai, antes de o mundo existir, deixou Sua posição no trono do Universo. Saiu como homem sofredor e tentado; saiu em solidão para semear em lágrimas e para regar com o próprio sangue a semente da vida para um mundo perdido. PJ 10 2 Igualmente, Seus servos precisam sair para semear. Quando Abraão foi chamado para tornar-se semeador da semente da verdade, foi-lhe ordenado: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei." Gênesis 12:1. "E saiu, sem saber para onde ia." Hebreus 11:8. Assim também recebeu Paulo a ordem divina, enquanto orava no templo em Jerusalém: "Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe." Atos dos Apóstolos 22:21. Assim todos os que são chamados para unir-se a Cristo, precisam deixar tudo para segui-Lo. Velhas relações precisam ser cortadas, planos de vida abandonados, esperanças terreais renunciadas. Com trabalho e lágrimas, na solidão e por sacrifício, deve a semente ser lançada. PJ 10 3 "O semeador semeia a Palavra." Marcos 4:14. Cristo veio para semear o mundo com a verdade. Durante todo o tempo, desde a queda do homem, tem Satanás lançado a semente do erro. Por uma mentira ganhou o domínio sobre os homens, e da mesma maneira trabalha ainda para subverter o reino de Deus na Terra e submeter os homens a seu poderio. Como semeador de um mundo mais elevado, veio Cristo para lançar as sementes da verdade. Ele, que tomou parte no conselho de Deus e morou no mais íntimo santuário do Eterno, podia dar aos homens os puros princípios da verdade. Desde a queda do homem, Cristo tem sido o Revelador da verdade ao mundo. Por Ele foi transmitida ao homem a semente incorruptível, a "Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre". 1 Pedro 1:23. Naquela primeira promessa dada no Éden à humanidade caída Cristo lançava a semente do evangelho. Mas a parábola do semeador aplica-se especialmente a Seu ministério pessoal entre os homens, e à obra que Ele assim estabeleceu. PJ 11 1 A Palavra de Deus é a semente. Toda semente tem em si um princípio germinativo. Nela está contida a vida da planta. Do mesmo modo há vida na Palavra de Deus. Cristo diz: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. "Quem ouve a Minha palavra e crê nAquele que Me enviou tem a vida eterna." João 5:24. Em cada mandamento, em cada promessa da Palavra de Deus está o poder, sim, a vida de Deus, pelo qual o mandamento pode ser cumprido e realizada a promessa. Aquele que pela fé aceita a Palavra, recebe a própria vida e o caráter de Deus. PJ 11 2 Cada semente produz fruto segundo sua espécie. Lançai a semente sob condições adequadas, e desenvolverá sua própria vida na planta. Recebei na alma, pela fé, a incorruptível semente da Palavra, e ela produzirá caráter e vida à semelhança do caráter e vida de Deus. PJ 11 3 Os mestres de Israel não disseminavam a semente da Palavra de Deus. A obra de Cristo como Mestre da verdade estava em notável contraste com a dos rabinos do Seu tempo. Eles se firmavam sobre tradições, teorias humanas e especulações. Muitas vezes aquilo que homens tinham ensinado ou escrito sobre a Palavra, colocavam no lugar da própria Palavra. Seus ensinos não tinham poder para refrigerar a alma. O tema das pregações e ensinamentos de Cristo era a Palavra de Deus. Respondia a interlocutores com um simples: "Está escrito." Lucas 4:8, 10. "Que diz a Escritura?" "Como lês?" Lucas 10:26. Em cada oportunidade, quando era despertado interesse por um amigo ou adversário, lançava a semente da Palavra. Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, Ele que é o próprio Verbo vivo, aponta às Escrituras e diz: "São elas que de Mim testificam." João 5:39. "E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras." Lucas 24:27. PJ 11 4 Os servos de Cristo devem fazer a mesma obra. Em nosso tempo, como na antiguidade, as verdades vitais da Palavra de Deus são substituídas por teorias e especulações humanas. Muitos professos ministros do Evangelho não aceitam toda a Bíblia como a Palavra inspirada. Um sábio rejeita esta parte, outro duvida daquela. Elevam sua opinião acima da Palavra; e as Escrituras que eles ensinam, repousam sobre a autoridade deles próprios. Sua autenticidade divina é destruída. Deste modo é semeada largamente a semente da incredulidade; porque o povo é confundido e não sabe o que crer. Há muitas crenças que a mente não tem o direito de entreter. Nos dias de Cristo os rabinos forçavam uma construção mística sobre muitas porções das Escrituras. Porque os claros ensinos da Palavra de Deus lhes condenavam as práticas, procuravam destruir-lhes a força. O mesmo acontece hoje em dia. Deixa-se parecer a Palavra de Deus cheia de mistérios e trevas, para desculpar as transgressões de Sua lei. Em Seus dias, Cristo censurava estas práticas. Ensinava que a Palavra de Deus deve ser compreendida por todos. Apontava às Escrituras como de autoridade inquestionável, e devemos fazer o mesmo. A Bíblia deve ser apresentada como a Palavra do Deus infinito, como o termo de toda polêmica e o fundamento de toda fé. PJ 12 1 A Bíblia tem sido espoliada de seu poder, e vemos a conseqüência no abaixamento do tom da vida espiritual. Nos sermões de muitos púlpitos de hoje, não há aquela divina manifestação, que desperta a consciência e dá vida à alma. Os ouvintes não podem dizer: "Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?" Lucas 24:32. Há muitos que estão clamando pelo Deus vivo, e anseiam a presença divina. Teorias filosóficas ou composições literárias, embora brilhantes, não podem satisfazer o coração. As afirmações e descobrimentos dos homens não têm valor algum. Fale a Palavra de Deus ao povo! Os que só ouviram tradições, teorias e máximas humanas, ouçam a voz dAquele cuja palavra pode renovar a alma para a vida eterna. PJ 12 2 O tema predileto de Cristo era o amor paterno e a abundante graça de Deus; demorava-Se muito sobre a santidade de Seu caráter e de Sua lei; e apresentou-Se a Si mesmo aos homens como o Caminho, a Verdade e a Vida. Sejam estes os temas dos ministros de Cristo! Anunciai a verdade como é em Jesus. Explicai as reivindicações da Lei e do Evangelho. Contai ao povo da vida de renúncia e sacrifício de Cristo; de Sua humilhação e morte; de Sua ressurreição e ascensão; de Sua intercessão por eles na corte de Deus; de Sua promessa: "Virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo." João 14:3. PJ 12 3 Em vez de disputar sobre teorias errôneas ou procurar combater os oponentes do Evangelho, segui o exemplo de Cristo. Reavivai as sãs verdades do tesouro de Deus. Pregai a Palavra. "Semeais sobre todas as águas." Isaías 32:20. "A tempo e fora de tempo." 2 Timóteo 4:2. "Aquele em quem está a Minha Palavra, que fale a Minha Palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? -- diz o Senhor." Jeremias 23:28. "Toda Palavra de Deus é pura. ... Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso." Provérbios 30:5, 6. PJ 12 4 "O semeador semeia a Palavra." Eis exposto o grande princípio que deve fundamentar toda obra educacional. "A semente é a Palavra de Deus." Lucas 8:11. Mas em muitíssimas escolas de nossos dias a Palavra de Deus é posta de lado. Outros assuntos ocupam a mente. O estudo de autores incrédulos tem parte preponderante em nosso sistema educacional. Sentimentos céticos estão entretecidos com a matéria dos livros escolares. Pesquisas científicas tornam-se ilusórias, porque seus descobrimentos são mal interpretados e pervertidos. A Palavra de Deus é comparada aos supostos ensinos da Ciência, sendo considerada incerta e indigna de confiança. Assim é implantada no espírito dos jovens a semente da dúvida e, no tempo da tentação, germina. Ao perder a fé na Palavra de Deus, a mente não tem guia, nem salvaguarda. Os jovens são levados a caminhos que desviam de Deus e da vida eterna. PJ 13 1 A esta causa pode, em elevado grau, ser atribuída a iniqüidade difundida no mundo hoje em dia. Quando a Palavra de Deus é posta de lado, é rejeitado também seu poder de refrear as paixões pecaminosas do coração natural. Os homens semeiam na carne, e da carne colhem a corrupção. PJ 13 2 Eis também a grande causa de fraqueza e ineficiência mental. Desviando-se da Palavra de Deus, para alimentar-se nos escritos de homens não inspirados, o espírito se deprecia e rebaixa. Não é levado em contato com os profundos e amplos princípios da verdade eterna. A inteligência adapta-se à compreensão das coisas que lhe são familiares e, nesta devoção às coisas finitas, ela é debilitada, seu poder limitado e, no decorrer de algum tempo, torna-se inapta para se expandir. PJ 13 3 Tudo isso é educação falsa. Deveria ser o cuidado de todo professor fixar o espírito dos jovens sobre as grandes verdades da Palavra inspirada. Essa é a educação essencial para esta vida e para a vindoura. PJ 13 4 Não se pense que isso impedirá o estudo das ciências ou causará norma medíocre de educação. O conhecimento de Deus é tão alto quanto o Céu, e tão vasto quanto o Universo. Nada é tão enobrecedor nem tão importante como o estudo dos grandes temas que concernem à nossa vida eterna. Procure a juventude compreender essas verdades doadas por Deus; expandir-se-lhe-á a mente, e fortificar-se-á nesse esforço. Levará todo aluno que é praticante da Palavra a um mais amplo campo de pensamento, e ser-lhe-á assegurado um tesouro de sabedoria que é imperecível. PJ 13 5 A educação adquirida pelo esquadrinhar das Escrituras, consiste no conhecimento experimental do plano da salvação. Uma tal instrução restaurará a imagem de Deus no ser humano. Fortalecerá e firmará o espírito contra tentações, e habilitará o estudante a tornar-se coobreiro de Cristo em Sua misericordiosa missão ao mundo. Fará dele um membro da família celestial, preparando-o para participar da herança dos santos na luz. PJ 14 1 Mas o professor da verdade sagrada só poderá comunicar aquilo que ele conhece por experiência própria. "O semeador semeia sua semente." Cristo ensinava a verdade, porque Ele era a verdade. Seu pensar, Seu caráter, Sua experiência da vida eram incorporados em Seus ensinos. Assim também é com Seus servos; os que querem ensinar a Palavra de Deus precisam apropriar-se dela pela experiência pessoal. Precisam saber o que significa Cristo ser-lhes feito sabedoria, justiça, santificação e redenção. Proclamando a Palavra de Deus, não devem fazê-la parecer duvidosa nem incerta. Devem declarar com o apóstolo Pedro: "Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a Sua majestade." 2 Pedro 1:16. Todo ministro de Cristo e todo professor deve estar habilitado a dizer com o amado João: "Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada." 1 João 1:2. À beira do caminho PJ 14 2 Aquilo de que a parábola do semeador principalmente trata é o efeito produzido sobre o crescimento da semente pelo solo em que é lançada. Por essa parábola diz Jesus virtualmente a Seus ouvintes: Não é seguro vos colocardes como críticos de Minha obra, ou condescenderdes com desapontamentos por não corresponder a vossas opiniões. A questão de maior importância para vós é: Como tratais Minha mensagem? De vossa aceitação ou rejeição da mesma depende vosso destino eterno. PJ 14 3 Na explicação da semente que caiu à beira do caminho, disse: "Ouvindo alguém a Palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho." Mateus 13:19. PJ 14 4 A semente lançada à beira do caminho representa a Palavra de Deus quando cai no coração de um ouvinte desatento. Como o calcado caminho, pisado pelos pés de homens e animais, é o coração que se torna estrada para o comércio do mundo, seus prazeres e pecados. Absorvido em aspirações egoístas e condescendência pecaminosa, o coração se endurece "pelo engano do pecado". Hebreus 3:13. As faculdades espirituais são enfraquecidas. O homem ouve, sim, a Palavra, mas não a entende. Não discerne que ela se aplica a ele próprio. Não reconhece suas necessidades nem seu perigo. Não percebe o amor de Cristo, e passa pela mensagem de Sua graça como alguma coisa que não lhe diz respeito. PJ 14 5 Como os pássaros estão prontos para tirar a semente do caminho, assim também Satanás está atento para tirar da mente os princípios da verdade divina. Teme que a Palavra de Deus possa despertar os negligentes e ter efeito sobre o coração endurecido. Satanás e seus anjos estão nas reuniões onde o evangelho é pregado. Enquanto anjos do Céu se esforçam para impressionar os corações com a Palavra de Deus, o inimigo está alerta para torná-la sem efeito. Com fervor só comparável à sua maldade, procura frustrar a obra do Espírito de Deus. Enquanto Cristo, pelo Seu amor, atrai a alma, Satanás procura desviar a atenção daquele que é movido a buscar o Salvador. Preocupa a mente com projetos mundanos. Instiga a crítica ou insinua dúvida e incredulidade. A linguagem do orador ou suas maneiras podem não agradar o ouvinte, e ele se detém sobre esses defeitos. Assim, a verdade de que carecem, e que Deus lhes enviou tão graciosamente, não causa impressão duradoura. PJ 15 1 Satanás tem muitos auxiliares. Muitos que se dizem cristãos ajudam o tentador a tirar de outros as sementes da verdade. Muitos que ouvem a pregação da Palavra de Deus, fazem-na em casa objeto de crítica. Julgam a pregação, como se estivessem dando opinião sobre um discurso ou a respeito de um orador político. A mensagem que deve ser considerada a Palavra do Senhor para eles, é discutida com comentários frívolos e sarcásticos. O caráter, motivos e atos do pregador como também o procedimento dos membros da congregação são discutidos livremente. Pronuncia-se crítica cruel; calúnias e boatos são repetidos, e tudo isso aos ouvidos de não-conversos. Muitas vezes essas coisas são faladas pelos pais ao ouvido dos próprios filhos. Desse modo destrói-se o respeito aos mensageiros de Deus e a reverência à Sua mensagem, e muitos são ensinados a considerar levianamente a própria Palavra de Deus. PJ 15 2 Assim, nos lares de professos cristãos são educados muitos jovens de modo a se tornarem incrédulos; e os pais perguntam por que os filhos possuem tão pouco interesse no evangelho e estão tão prontos para duvidar da verdade da Bíblia. Admiram-se de que seja tão difícil alcançá-los com influências morais e religiosas. Não vêem que seu próprio exemplo endureceu o coração dos filhos. A boa semente não acha lugar para se enraizar, e Satanás a arranca. No pedregal PJ 15 3 "Porém o que foi semeado em pedregais é o que ouve a Palavra e logo a recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo; antes, é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da Palavra, logo se ofende." Mateus 13:20, 21. PJ 16 1 A semente lançada no pedregal encontra solo pouco profundo. A planta brota rapidamente, mas as raízes não podem penetrar no rochedo a fim de obter nutrição para sustentar seu crescimento, e logo perece. Muitos que professam religião são ouvintes de pedregais. Como a rocha está sob o sedimento de terra, está o egoísmo próprio do coração natural sob os bons desejos e aspirações. O amor ao próprio eu não está subjugado. Ainda não viram a extraordinária iniqüidade do pecado, e o coração não está humilhado pelo sentimento de culpabilidade. Esta classe pode ser convencida com facilidade e parecer de promissores conversos, mas só possuem religião superficial. PJ 16 2 Não é por aceitarem a Palavra imediatamente, nem por se alegrarem na mesma, que os homens apostatam. Quando Mateus ouviu o chamado do Salvador, levantou-se imediatamente, deixou tudo e O seguiu. Deus quer que aceitemos a Palavra divina logo que venha a nosso coração, e é justo que a recebamos com alegria. Haverá "alegria no Céu por um pecador que se arrepende" (Lucas 15:7), e há alegria na alma que crê em Cristo. Mas aqueles de quem se fala na parábola, que aceitam logo a Palavra, não calculam o custo. Não ponderam o que deles exige a Palavra de Deus. Não a confrontam diretamente com todos os seus hábitos de vida e não se submetem completamente à sua direção. PJ 16 3 As raízes da planta penetram profundamente no solo, e ocultas a nossos olhos alimentam-lhe a vida. Assim é com os cristãos; a vida espiritual é alimentada pela união invisível da alma com Cristo, mediante a fé. Mas os ouvintes de pedregais confiam em si mesmos, em vez de confiar em Cristo. Depositam sua confiança nas boas obras e bons motivos, e estão fortes em sua própria justiça. Não estão firmes no Senhor e na força de Seu poder. Esse "não tem raiz em si", porque não está ligado a Cristo. PJ 16 4 O ardente sol de verão, que fortifica e amadurece o grão sadio, destrói aquele que não tem raízes profundas. Assim o que "não tem raiz em si mesmo; ... é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da Palavra, logo se ofende". Mateus 13:21. Muitos aceitam o evangelho para escapar ao sofrimento e não para serem libertos do pecado. Regozijam-se algum tempo pensando que a religião os livrará de dificuldades e provações. Enquanto a vida decorre suavemente, podem parecer coerentes. Todavia desfalecem sob a ardente prova da tentação. Não podem levar o opróbrio por amor de Cristo. Ofendem-se quando a Palavra de Deus lhes aponta algum pecado acariciado ou exige renúncia e sacrifício. Custar-lhes-ia muito esforço fazer mudança radical de vida. Olham as desvantagens e provações presentes e esquecem as realidades eternas. Como os discípulos que deixaram a Jesus, estão também prontos para dizer: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?" João 6:60. PJ 17 1 Muitos há que dizem servir a Deus, mas não têm o conhecimento experimental dEle. O desejo de fazer Sua vontade baseia-se em suas próprias inclinações, e não na profunda convicção efetuada pelo Espírito Santo. Seu procedimento não está em harmonia com a lei de Deus. Professam aceitar a Cristo como seu Salvador, contudo não crêem que lhes dará forças para vencer o pecado. Não têm relação pessoal com o Salvador vivo e seu caráter revela faltas herdadas e cultivadas. PJ 17 2 Uma coisa é aprovar de modo geral o agente do Espírito Santo, e outra, aceitar Sua obra como reprovador, chamando-nos ao arrependimento. Muitos têm uma intuição de separação de Deus, e de estar debaixo da servidão do pecado e do próprio eu; esforçam-se para se reformarem, mas não crucificam o próprio eu. Não se entregam inteiramente às mãos de Cristo, procurando forças divinas para Lhe fazer a vontade. Não consentem em deixar-se moldar à semelhança divina. Reconhecem de modo geral suas imperfeições, mas não confessam particularmente cada pecado. Com cada ação errada, a velha natureza egoísta é fortalecida. PJ 17 3 A única esperança para essas pessoas é reconhecer em si mesmas a verdade das palavras de Cristo a Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo. Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus." João 3:7, 3. PJ 17 4 Verdadeira santidade é integridade no serviço de Deus. Essa é a condição da verdadeira vida cristã. Cristo requer a entrega sem reservas, o serviço não dividido. Exige o coração, a mente, o intelecto e as forças. O eu não deve ser acariciado. Quem vive para si mesmo não é cristão. PJ 17 5 O amor precisa ser o móvel de ação. O amor é o princípio básico do governo de Deus no Céu e na Terra, e deve ser o fundamento do caráter cristão. Isso unicamente pode torná-lo e guardá-lo inabalável; habilitá-lo a resistir às provas e tentações. PJ 17 6 E o amor será revelado no sacrifício. O plano de salvação foi firmado em sacrifício -- um sacrifício tão profundo, amplo e alto, que é incomensurável. Cristo entregou tudo por nós; e os que aceitam a Cristo estarão prontos para sacrificar tudo pela causa de seu Redentor. O pensamento de Sua honra e glória terá precedência sobre todas as outras coisas. PJ 17 7 Se amamos a Jesus, gostaremos de viver para Ele, de apresentar-Lhe nossa oferta de gratidão, de trabalhar para Ele. O próprio serviço será fácil. Anelaremos sofrimento, labuta e sacrifício por Sua causa. Simpatizaremos com o Seu anseio pela salvação dos homens. Sentiremos pelos homens a mesma terna paixão que Ele sentiu. PJ 18 1 Essa é a religião de Cristo. Qualquer coisa menos que isso é um engano. Nenhuma simples teoria da verdade ou profissão de discipulado salvará pessoa alguma. Não pertencemos a Cristo, se não somos inteiramente Seus. É pela indiferença na vida cristã que os homens se tornam de propósitos fracos e desejos mutáveis. O esforço de servir tanto ao eu como a Cristo, faz do homem ouvinte de pedregais, e não resistirá quando lhe sobrevier a provação. Entre os espinhos PJ 18 2 "E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a Palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a Palavra, e fica infrutífera." Mateus 13:22. PJ 18 3 A semente do evangelho cai muitas vezes entre espinhos e ervas daninhas; e se não ocorrer uma transformação moral no coração humano, e se não forem abandonados velhos hábitos e práticas da anterior vida pecaminosa, se não forem expelidos da alma os atributos de Satanás, a colheita de trigo será sufocada. Os espinhos serão a colheita, e destruirão o trigo. PJ 18 4 A graça só pode florescer no coração que está sendo preparado continuamente para as preciosas sementes da verdade. Os espinhos do pecado crescem em qualquer solo; não precisam de cultivo especial; mas a graça necessita ser cultivada cuidadosamente. A sarça e os espinhos estão sempre prontos para germinar, e a obra de purificação precisa avançar continuamente. Se o coração não for guardado sob a direção de Deus, se o Espírito Santo não refinar e enobrecer incessantemente o caráter, revelar-se-ão na vida os velhos costumes. Podem os homens professar crer no evangelho; mas a não ser que sejam por ele santificados, nada vale sua religião. Se não obtiverem vitória sobre o pecado, este estará obtendo vitória sobre eles. Os espinhos que foram cortados, mas não desarraigados, brotam novamente, até sufocar a alma. PJ 18 5 Cristo especificou as coisas que são perigosas para a alma. Como relata Marcos, menciona Ele os cuidados deste mundo, os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas. Lucas especifica: cuidados, riquezas e deleites da vida. Estes são os que sufocam a Palavra, a crescente semente espiritual. A alma cessa de extrair alimento de Cristo, e extingue-se no coração a espiritualidade. PJ 18 6 "Os cuidados deste mundo." Mateus 13:22. Nenhuma classe está livre da tentação de cuidados deste mundo. Aos pobres a labuta, privação e temor de pobreza trazem perplexidades e fardos; aos ricos vêm o temor de perda e uma multidão de ansiosas preocupações. Muitos dos seguidores de Cristo esquecem as lições que Ele nos ordenou aprender das flores do campo. Não confiam em Sua constante providência. Cristo não pode carregar-lhes os fardos, porque não os depõem sobre Ele. Portanto os cuidados da vida, que os deveriam levar ao Salvador para receber auxílio e conforto, dEle os separam. PJ 19 1 Muitos que podiam produzir frutos na obra de Deus, tornam-se propensos a conquistar riquezas. Toda a sua energia é absorvida em empresas comerciais, e sentem-se obrigados a desprezar as coisas de natureza espiritual. Deste modo separam-se de Deus. É-nos recomendado nas Escrituras não sermos "vagarosos no cuidado". Romanos 12:11. Devemos trabalhar para que possamos dar alguma coisa aos necessitados. Os cristãos precisam trabalhar, precisam ocupar-se em atividades, e podem fazê-lo sem cometer pecado. Mas muitos se tornam tão absortos em negócios que não têm tempo para orar, para estudar a Bíblia, para procurar e servir a Deus. Às vezes os anseios da alma são pela santidade e o Céu; mas não há tempo para retrair-se do tumulto do mundo para ouvir as palavras majestosas e autorizadas do Espírito de Deus. As coisas da eternidade são tidas como secundárias, e as do mundo, supremas. É impossível à semente da verdade produzir fruto; porque a vida da alma é utilizada para alimentar os espinhos do mundanismo. PJ 19 2 Muitos que agem com propósito muito diferente, caem no mesmo erro. Estão trabalhando para o bem de outros; seus deveres são urgentes, muitas as responsabilidades, e permitem que sua labuta exclua a devoção. A comunhão com Deus pela oração e pelo estudo de Sua Palavra é negligenciada. Esquecem-se de que Cristo disse: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Caminham separados de Cristo, sua vida não está impregnada de Sua graça, e as características do eu são reveladas. Seu serviço é manchado pelo desejo de supremacia, por traços grosseiros e intratáveis do coração insubmisso. Eis um dos principais segredos do fracasso no trabalho cristão. Essa é a razão por que o sucesso é tantas vezes insatisfatório. PJ 19 3 "O engano das riquezas." O amor às riquezas tem poder apaixonante e ilusório. Muitíssimas vezes esquecem os que possuem riquezas mundanas, que é Deus quem lhes dá a capacidade de obter prosperidade. Dizem: "A minha força e a fortaleza de meu braço me adquiriram este poder." Deuteronômio 8:17. Em vez de despertar gratidão para com Deus, as riquezas os levam à exaltação própria. Perdem o sentimento de sua dependência de Deus e de sua obrigação para com o próximo. Em vez de considerar a riqueza como um talento a ser empregado para glória de Deus e para o reerguimento da humanidade, têm-na como meio de satisfação própria. Em vez de desenvolver no homem os atributos de Deus, as riquezas assim usadas desenvolvem nele os atributos de Satanás. A semente da Palavra é sufocada pelos espinhos. PJ 20 1 "E deleites da vida." Lucas 8:14. Há perigo em diversão que é buscada meramente para a satisfação própria. Todos os hábitos de condescendência que debilitam as forças físicas, que anuviam a mente ou que entorpecem as percepções espirituais, são concupiscências carnais "que combatem contra a alma". 1 Pedro 2:11. PJ 20 2 "E as ambições de outras coisas." Marcos 4:19. Estas não são necessariamente coisas pecaminosas, em si mesmas, mas alguma coisa a que damos o primeiro lugar, em vez de ao reino de Deus. Tudo quanto desvia de Deus o espírito e aparta de Cristo as afeições, é um inimigo da alma. PJ 20 3 Quando a mente é juvenil e vigorosa, e susceptível de desenvolvimento rápido, há grande tentação de ser ególatra. Quando os projetos são bem-sucedidos, tem-se a tendência de continuar numa direção que amortece a consciência e impede a justa apreciação do que constitui a verdadeira excelência de caráter. Quando as circunstâncias favorecem este desenvolvimento, nota-se crescimento numa direção proibida pela Palavra de Deus. PJ 20 4 Nesse período formativo da vida dos filhos, a responsabilidade dos pais é muito grande. Deve ser seu constante esforço rodear os filhos de boas influências, influências que lhes dêem visão correta da vida e de seu verdadeiro êxito. Quantos pais, em vez disso, impõem-se como primeiro objetivo assegurar aos filhos prosperidade material! Todas as suas associações são escolhidas com mira a este objetivo. Muitos pais estabelecem moradia em qualquer grande cidade, e introduzem os filhos na alta sociedade. Circundam-nos de influências que encorajam o mundanismo e o orgulho. Nessa atmosfera atrofiam-se mente e alma. Perdem-se de vista as elevadas e nobres aspirações da vida. O privilégio de serem filhos de Deus e herdeiros da vida eterna, é permutado por lucros materiais. PJ 20 5 Muitos pais procuram promover a felicidade dos filhos, satisfazendo-lhes a sede de prazeres. Permitem-lhes tomar parte em esportes e participar de festinhas sociais, e fornecem-lhes dinheiro para gastar livremente em ostentação e satisfação própria. Quanto mais se condescende com o desejo de prazer, tanto mais forte ele se torna. O interesse desses jovens é absorvido gradualmente no divertimento, até que chegam a considerá-lo o objetivo da vida. Formam hábitos de ociosidade e condescendência que lhes tornam quase impossível se tornarem cristãos resolutos. PJ 20 6 Mesmo a Igreja, que deve ser a coluna e sustentáculo da verdade, é vista animando o amor egoísta de prazer. Quando é preciso angariar dinheiro para fins religiosos, a que meios recorrem muitas igrejas? A bazares, ceias, leilões, até mesmo rifas e artifícios semelhantes. Muitas vezes o lugar consagrado ao culto de Deus é profanado por comidas e bebidas, vendas e compras, e toda sorte de diversões. O respeito à casa de Deus e a reverência a Seu culto são diminuídos no espírito dos jovens. As barreiras da restrição própria são enfraquecidas. Apela-se para o egoísmo, o apetite, o amor de ostentação e eles se fortalecem à medida que com os mesmos se condescende. PJ 21 1 A busca por prazeres e divertimentos centraliza-se nas cidades. Muitos pais que escolhem um lar na cidade para os filhos, pensando dar-lhes maiores vantagens, são desapontados, mas demasiado tarde se arrependem de seu terrível erro. As cidades de nosso tempo tornam-se depressa como Sodoma e Gomorra. Os muitos feriados animam à ociosidade. Os divertimentos -- o teatro, corridas de cavalo, jogos, as bebidas alcoólicas, banquetes e orgias -- estimulam ao extremo todas as paixões. A juventude é arrastada pela corrente popular. Aqueles que aprendem a amar os divertimentos como um fim em si, abrem a porta para uma onda de tentações. Entregam-se a prazeres sociais e satisfações loucas, e sua relação com os amantes de prazeres tem efeito intoxicante sobre a mente. São arrastados de uma a outra forma de dissipação, até perderem, não só o desejo, como a capacidade para a vida útil. Suas aspirações religiosas esfriam; a vida espiritual é obscurecida. Todas as nobres faculdades da mente, tudo que liga o homem ao mundo espiritual é rebaixado. PJ 21 2 É certo que alguns podem reconhecer sua loucura e se arrependem. Deus pode perdoar-lhes. Mas feriram o próprio coração e trouxeram sobre si perigo para a vida toda. O poder de discernimento que deve ser conservado sempre aguçado e sensível para distinguir entre o bem e o mal, é em grande parte destruído. Não reconhecem imediatamente a voz admoestadora do Espírito Santo, nem discernem os ardis de Satanás. Muitas vezes caem em tentação no tempo de perigo, e são alienados de Deus. O termo de sua vida de prazeres é ruína para este mundo e para o vindouro. PJ 21 3 Cuidados, riquezas e divertimentos são usados por Satanás no jogo de vida do ser humano. É-nos feita a admoestação: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo." 1 João 2:15, 16. Aquele que lê o coração do homem como um livro aberto, diz: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. O apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, escreve: "Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." 1 Timóteo 6:9, 10. A preparação do solo PJ 22 1 Através da parábola do semeador, Cristo descreve os diversos resultados da semeadura como dependentes do solo. O semeador e as sementes são em cada caso os mesmos. Desta maneira nos ensina que se a Palavra de Deus não executar a sua obra em nosso coração e vida, devemos em nós mesmos procurar a razão disto. Mas o resultado não está além de nosso controle. É certo que não podemos transformar-nos, mas temos o poder de escolha, e depende de nós o que queremos ser. Os ouvintes comparados com o caminho, ou com os pedregais ou com o chão cheio de espinhos não precisam permanecer assim. O Espírito de Deus procura continuamente quebrar o encantamento da arrogância que mantém os homens absortos em coisas mundanas, e despertar anelo pelo tesouro imperecível. Resistindo os homens ao Espírito, tornam-se desatentos ou negligentes para com a Palavra de Deus. Eles mesmos são responsáveis pelo endurecimento do coração, que impede a boa semente de enraizar-se, e pelas ervas daninhas que lhe reprimem o desenvolvimento. PJ 22 2 O jardim do coração precisa ser cultivado. Precisa o solo ser sulcado por profundo arrependimento. As plantas venenosas e diabólicas devem ser arrancadas. O terreno, uma vez coberto de espinhos, só pode ser reconquistado por diligente trabalho. Assim, as más tendências do coração natural só podem ser vencidas por sincero esforço em nome de Jesus e por Sua virtude. O Senhor nos ordena pelos profetas: "Lavrai para vós o campo de lavoura e não semeeis entre espinhos." Jeremias 4:3. "Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia." Oséias 10:12. Esta obra Ele deseja realizar para nós e pede-nos cooperação. PJ 22 3 Os semeadores têm uma tarefa no preparar os corações para receber o evangelho. No ministério da Palavra há muita pregação e pouquíssimo trabalho de coração a coração. É necessário o trabalho pessoal pela salvação dos perdidos. Devemos aproximar-nos dos homens individualmente com simpatia semelhante à de Cristo e procurar despertar-lhes o interesse nas coisas da vida eterna. Os corações podem ser tão duros quanto o caminho batido e pode parecer uma tentativa inútil apresentar-lhes o Salvador; mas embora a lógica possa falhar em mover, e o argumento seja impotente para convencer, o amor de Cristo, revelado no ministério pessoal, pode abrandar o coração empedernido, de modo que a semente da verdade possa enraizar-se. PJ 23 1 Assim os semeadores têm alguma coisa que fazer, para que a semente não seja sufocada pelos espinhos ou venha a perecer pela pouca profundidade do solo. Logo no início da vida cristã, deve ensinar-se aos crentes seus princípios fundamentais. Deve-se-lhes ensinar que não serão salvos somente pelo sacrifício de Cristo, mas que também devem tornar a vida de Cristo a sua vida e o caráter de Cristo o seu caráter. Ensine-se a todos, que precisam levar fardos e renunciar às inclinações naturais. Aprendam a bem-aventurança de trabalhar para Cristo, seguindo-O em renúncia, e suportar como bons soldados as dificuldades. Aprendam a confiar em Seu amor e lançar sobre Ele os cuidados. Experimentem a alegria de ganhar almas para Ele. Em sua paixão e interesse pelos perdidos perderão de vista o eu. Os prazeres do mundo perderão o poder de atração, e seus encargos deixarão de desanimar. O arado da verdade fará sua obra. Abrirá o abandonado chão. Não cortará somente a ponta dos espinhos mas arrancá-los-á pela raiz. Em boa terra PJ 23 2 O semeador não há de experimentar sempre desenganos. Da semente que caiu em boa terra, o Salvador disse: "É o que ouve e compreende a Palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta." Mateus 13:23. "E a que caiu em boa terra, esses são os que, ouvindo a Palavra, a conservam num coração honesto e bom e dão fruto com perseverança." Lucas 8:15. PJ 23 3 O "coração honesto e bom" (Lucas 8:15), do qual fala a parábola, não é um coração sem pecado, pois o evangelho deve ser pregado aos perdidos. Cristo disse: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores." Marcos 2:17. Quem se rende à convicção do Espírito Santo é o que tem coração honesto. Reconhece sua culpa e sente-se necessitado da misericórdia e do amor de Deus. Tem desejo sincero de conhecer a verdade para obedecer-lhe. O bom coração é um coração crente, que deposita fé na Palavra de Deus. É impossível receber a Palavra sem fé. "Porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam." Hebreus 11:6. PJ 23 4 Este "é o que ouve e compreende a Palavra". Mateus 13:23. Os fariseus do tempo de Cristo fechavam os olhos para não ver, e os ouvidos para não entender; portanto a Palavra não podia atingir-lhes o coração. Eles deviam sofrer retribuição por sua ignorância voluntária e cegueira espontânea. Mas Cristo ensinava aos discípulos que deviam abrir a mente para a instrução e ser prontos para crer. Sobre eles pronunciou uma bênção, porque viam e ouviam com olhos e ouvidos crentes. PJ 24 1 O ouvinte da boa terra recebe a Palavra; "não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como Palavra de Deus". 1 Tessalonicenses 2:13. Somente aquele que aceita as Sagradas Escrituras como a voz de Deus que lhe fala, é verdadeiro discípulo. Ele treme por causa da Palavra divina; porque lhe é uma realidade viva. Para recebê-la abre sua inteligência e coração. Destes ouvintes eram Cornélio e seus amigos, que diziam ao apóstolo Pedro: "Agora, pois, estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado." Atos dos Apóstolos 10:33. PJ 24 2 O conhecimento da verdade depende, não tanto da capacidade intelectual como da pureza de propósito, da simplicidade de uma fé sincera e confiante. Daqueles que com humildade de coração buscam a direção divina, os anjos de Deus se aproximam. O Espírito Santo é doado para lhes abrir os ricos tesouros da verdade. PJ 24 3 Os ouvintes comparados à boa terra, tendo ouvido a Palavra, conservam-na. Satanás, com todos os seres infernais, não a poderá arrebatar. PJ 24 4 Não basta simplesmente ler ou ouvir a Palavra. Aquele que anela que as Escrituras lhe sejam úteis, precisa meditar sobre a verdade que lhe foi apresentada. Precisa aprender a significação das palavras da verdade por sincera atenção e pensar devoto, e sorver profundamente o espírito dos oráculos sagrados. PJ 24 5 Deus nos ordena encher o espírito com elevados e puros pensamentos. Deseja que meditemos sobre Seu amor e misericórdia, e estudemos Sua maravilhosa obra no grande plano de redenção. Então, nossa percepção da verdade tornar-se-á mais e mais clara, e nosso desejo de pureza de coração e clareza de pensamento mais elevado e mais santo. A alma que descansa na pura atmosfera de santa meditação será transformada pela comunhão com Deus mediante o estudo das Escrituras. PJ 24 6 "E dão fruto." Os que, tendo ouvido a Palavra, a guardam, produzirão fruto pela obediência. Recebida na alma, a Palavra de Deus se manifestará em boas obras. O resultado será visto na vida e caráter semelhantes aos de Cristo. Jesus dizia de Si mesmo: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. "Porque não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou." João 5:30. E a Bíblia diz: "Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:6. PJ 24 7 A Palavra de Deus colide muitas vezes com os traços de caráter herdados e cultivados do homem e com seus hábitos de vida. Mas o ouvinte comparado à boa terra, recebendo a Palavra, aceita todas as suas condições e exigências. Seus hábitos, costumes e práticas são submetidos à Palavra de Deus. A seus olhos os preceitos de homens mortais e falíveis reduzem-se à insignificância quando comparados com a palavra do Deus infinito. De todo o coração, e com propósito não dividido, anela a vida eterna, e à custa de perdas, perseguição ou mesmo morte obedecerá à verdade. PJ 25 0 Produz "frutos com perseverança". Ninguém que recebe a Palavra de Deus está isento de dificuldades; mas quando vem a aflição, o verdadeiro cristão não se torna inquieto, sem confiança nem desanimado. Embora não vejamos o resultado definido das circunstâncias, ou não percebamos o propósito das providências de Deus, não devemos rejeitar nossa confiança. Lembrando-nos da terna misericórdias do Senhor, lancemos sobre Ele nossos cuidados e esperemos com paciência Sua salvação. PJ 25 1 Pela luta a vida espiritual é fortificada. Provações bem suportadas desenvolverão a resistência do caráter e preciosas graças espirituais. O perfeito fruto da fé, da mansidão e da caridade amadurece freqüentemente melhor debaixo de tempestades e trevas. PJ 25 2 "Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia." Tiago 5:7. Assim deve o cristão aguardar com paciência a frutificação da Palavra de Deus em sua vida. Muitas vezes Deus nos atende as orações, quando Lhe pedimos as graças do Espírito, levando-nos a circunstâncias que desenvolvem estes frutos; mas não compreendemos Seu propósito, assombramo-nos e desanimamos. Mas ninguém pode desenvolver estas graças, a não ser pelo processo de crescimento e frutificação. Nossa parte é receber a Palavra de Deus e conservá-la, rendendo-nos inteiramente à sua direção, e será realizado em nós seu propósito. PJ 25 3 "Se alguém Me ama", dizia Cristo, "guardará a Minha Palavra, e Meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada." João 14:23. O encanto de uma mente mais forte e mais perfeita pairará sobre nós, pois temos ligação viva com a fonte do poder duradouro. Em nossa vida religiosa seremos levados em cativeiro a Jesus Cristo. Não mais viveremos a comum vida de egoísmo, mas Cristo viverá em nós. Seu caráter será reproduzido em nossa natureza. Deste modo produziremos os frutos do Espírito Santo -- "um, a trinta, outro, a sessenta, e outro, a cem, por um". Marcos 4:20. ------------------------Capítulo 3 -- O desenvolvimento da vida PJ 25 4 Este capítulo é baseado em Marcos 4:26-29. PJ 25 5 A parábola do semeador produziu muita indagação. Alguns dos ouvintes concluíram que Cristo não fundaria um reino terrestre, e muitos estavam curiosos e perplexos. Notando-lhes a perplexidade, Cristo usou outras ilustrações, ainda tentando desviar-lhes os pensamentos da esperança de um reino temporal, para a obra da graça divina no coração. PJ 25 6 "E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. Porque a terra por si mesma frutifica; primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa." Marcos 4:26-29. PJ 25 7 O lavrador que mete "logo a foice, porque está chegada a ceifa", não pode ser outro senão Cristo. Ele é que, no último grande dia, recolherá a seara da Terra. O semeador da semente, porém, representa aqueles que trabalham em lugar de Cristo. Da semente se diz que brotou e cresceu, "não sabendo ele como", e isto não pode referir-se ao Filho de Deus. Cristo não dorme em Sua incumbência, mas cuida dela dia e noite. Não ignora como a semente germina. PJ 25 8 A parábola da semente revela que Deus opera na natureza. A semente encerra um princípio germinativo, princípio que Deus mesmo implantou; porém, abandonada a si própria a semente não teria a faculdade de germinar. O homem tem sua parte em favorecer o crescimento do grão. Precisa preparar e adubar o solo, e lançar a semente. Precisa lavrar o campo. Mas há um ponto, além do qual nada pode fazer. Nenhuma força ou sabedoria humana pode extrair da semente a planta viva. Ainda que o homem empregue seus esforços até ao limite extremo, precisará, entretanto, depender dAquele que ligou o semear e o colher pelos maravilhosos elos de Sua própria Onipotência. PJ 25 9 Há vida na semente, e força no solo; mas se o poder infinito não for exercido dia e noite, a semente não produzirá colheita. A chuva precisa ser enviada para umedecer os campos sedentos, o Sol precisa comunicar calor, e a eletricidade precisa ser conduzida à semente enterrada. A vida que o Criador implantou, somente Ele pode despertar. Toda semente germina e toda planta se desenvolve pelo poder de Deus. PJ 27 1 "Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o horto faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor." Isaías 61:11. Como no semear natural assim é no espiritual; o professor da verdade deve procurar preparar o solo do coração; precisa lançar a semente; mas a força que, somente, pode produzir vida, vem de Deus. Há um limite além do qual os esforços humanos são em vão. Embora devamos pregar a Palavra, não podemos comunicar o poder que vivificará a alma e fará brotar justiça e louvor. Na pregação da Palavra precisa haver a operação de um agente que supera as forças humanas. Somente pelo Espírito divino será a Palavra viva e poderosa para renovar o caráter para a vida eterna. Isso é o que Cristo buscava incutir em Seus discípulos. Ensinava que nada que possuíam em si mesmos podia dar êxito a seus esforços, mas o miraculoso poder de Deus é que torna eficaz Sua Palavra. PJ 27 2 A obra do semeador é uma obra de fé. Poderá ele não compreender o mistério da germinação e do crescimento da semente. Todavia, tem confiança nos instrumentos pelos quais Deus faz a vegetação florescer. Lançando a semente à terra, desperdiça aparentemente o precioso cereal, que podia fornecer pão para sua família. Mas somente renuncia a um bem presente, em troca de uma devolução maior. Espalha a semente, esperando recolhê-la multiplicada numa colheita abundante. Assim devem agir os servos de Cristo, aguardando a colheita da semente lançada à terra. PJ 27 3 A boa semente pode por algum tempo jazer despercebida num coração frio, egoísta e mundano, sem dar demonstração de haver-se enraizado; porém mais tarde, tocando o Espírito de Deus esse coração, a semente oculta brota, e, finalmente, produz frutos para a glória de Deus. Não sabemos durante toda a vida qual prosperará, se esta ou aquela. Isso não é de nossa alçada. Façamos nosso trabalho e deixemos os resultados com Deus. "Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão." Eclesiastes 11:6. O grande concerto de Deus declara: "Enquanto a Terra durar, sementeira e sega, ... não cessarão." Gênesis 8:22. Confiante nesta promessa o lavrador ara e semeia. Com não menos confiança devemos labutar na sementeira espiritual, confiantes em Sua declaração: "Assim será a palavra que sair da Minha boca; ela não voltará para Mim vazia; antes, fará o que Me apraz e prosperará naquilo para que a enviei." Isaías 55:11. "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos." Salmos 126:6. PJ 27 4 A germinação da semente representa o início da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma bela figura do crescimento cristão. Como ocorre na natureza, assim é na graça; não pode haver vida sem crescimento. A planta precisa crescer ou morrer. Como seu crescimento é silencioso e imperceptível, mas constante, assim é o desenvolvimento da vida cristã. Nossa vida pode ser perfeita em cada fase de desenvolvimento; contudo haverá progresso contínuo, se o propósito de Deus se cumprir em nós. A santificação é obra de toda uma vida. Multiplicando-se as oportunidades, ampliar-se-á nossa experiência e crescerá nosso conhecimento. Tornar-nos-emos fortes para assumir as responsabilidades, e nossa maturidade será proporcional aos nossos privilégios. PJ 28 1 A planta cresce recebendo o que Deus provê para sustentar-lhe a vida. Aprofunda as raízes no solo. Absorve o sol, o orvalho e a chuva. Áureas propriedades vitalizantes do ar. Assim deve crescer o cristão, cooperando com os agentes divinos. Sentindo nosso desamparo, devemos aproveitar todas as oportunidades que se nos deparam, para ganhar uma experiência mais rica. Como a planta enraíza-se no solo, devemos também arraigar-nos profundamente em Cristo. Como a planta recebe o sol, o orvalho e a chuva, também devemos abrir o coração ao Espírito Santo. A obra deve ser feita "não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos". Zacarias 4:6. Se conservarmos a mente firmada em Cristo, "Ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a Terra". Oséias 6:3. Como o Sol da Justiça levantar-se-á sobre nós, trazendo salvação "debaixo das Suas asas". Malaquias 4:2. Floresceremos "como o lírio". Oséias 14:5. Seremos "vivificados como o trigo", e floresceremos "como a vide". Oséias 14:7. Confiando constantemente em Cristo como nosso Salvador pessoal, cresceremos em tudo nAquele que é a cabeça. PJ 28 2 O trigo desenvolve-se "primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. O objetivo do lavrador no lançar a semente e na cultura da planta crescente é a produção de cereal. Deseja pão para os famintos, e semente para futuras searas. Assim espera o Lavrador divino uma colheita como recompensa de Seu trabalho e sacrifício. Cristo procura reproduzir-Se no coração dos homens; e faz isto por intermédio daqueles que nEle crêem. O objetivo da vida cristã é a frutificação -- a reprodução do caráter de Cristo no crente, para que Se possa reproduzir em outros. PJ 28 3 A planta não germina, não cresce, nem produz frutos para si mesma, mas para "dar semente ao semeador, e pão ao que come". Isaías 55:10. Igualmente ninguém deve viver para si mesmo. O cristão está no mundo como representante de Cristo para a salvação de outros. PJ 29 1 Na vida que se centraliza no eu não pode haver crescimento nem frutificação. Se aceitastes a Cristo como Salvador pessoal, deveis esquecer-vos e procurar auxiliar a outros. Falai do amor de Cristo, contai de Sua bondade. Cumpri todo dever que se vos apresenta. Levai sobre o coração o peso da salvação das pessoas, e tentai salvar os perdidos por todos os meios possíveis. Recebendo o Espírito de Cristo -- o espírito do amor abnegado e do sacrifício por outrem -- crescereis e produzireis fruto. As graças do Espírito amadurecerão em vosso caráter. Vossa fé aumentará; vossas convicções aprofundar-se-ão, vosso amor será mais perfeito. Mais e mais refletireis a semelhança de Cristo em tudo que é puro, nobre e amável. PJ 29 2 "O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio." Gálatas 5:22, 23. Este fruto jamais perecerá, antes produzirá uma colheita de sua espécie para a vida eterna. "Quando já o fruto se mostra, mete-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa." Marcos 4:29. Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus. PJ 29 3 Todo cristão tem o privilégio, não só de esperar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como também de apressá-la. 2 Pedro 3:12. Se todos os que professam Seu nome produzissem fruto para Sua glória, quão depressa não estaria o mundo todo semeado com a semente do evangelho! Rapidamente amadureceria a última grande seara e Cristo viria recolher o precioso grão. ------------------------Capítulo 4 -- Por que existe o mal PJ 30 0 Este capítulo é baseado em Mateus 13:24-30, 37-43. PJ 30 1 "Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo; mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio." Mateus 13:24-26. PJ 30 2 "O campo", disse Cristo, "é o mundo." Mateus 13:38. Precisamos, porém, entender isto como significativo da igreja de Cristo no mundo. A parábola é uma descrição pertinente ao reino de Deus, Sua obra pela salvação dos homens; e esta obra é executada pela igreja. Em verdade, o Espírito Santo saiu a todo o mundo; opera no coração dos homens em toda parte; mas é na igreja que devemos crescer e amadurecer para o celeiro de Deus. PJ 30 3 "O que semeia a boa semente é o Filho do homem, ... a boa semente são os filhos do reino, e o joio são os filhos do maligno." Mateus 13:37, 38. A boa semente representa aqueles que são nascidos da Palavra de Deus, da verdade. O joio representa uma classe que é o fruto ou encarnação do erro, de princípios falsos. "O inimigo que o semeou é o diabo." Mateus 13:39. Nem Deus nem os anjos jamais semearam semente que produzisse joio. O joio é sempre lançado por Satanás, o inimigo de Deus e do homem. PJ 30 4 No oriente, os homens vingavam-se muitas vezes do inimigo, espalhando sementes de qualquer erva daninha, muito semelhante ao trigo, em crescimento, em seu campo recém-semeado. Crescendo com o trigo prejudicava a colheita, e causava fadigas e prejuízos ao proprietário do campo. Assim Satanás, induzido por sua inimizade a Cristo, espalha a má semente entre o bom trigo do reino. O fruto de sua semeadura atribui ele ao Filho de Deus. Introduzindo na igreja aqueles que levam o nome de Deus, conquanto Lhe neguem o caráter, faz o maligno que Deus seja desonrado, a obra da salvação mal representada e almas postas em perigo. PJ 30 5 Dói aos servos de Cristo ver misturados na congregação crentes falsos e verdadeiros. Anseiam fazer alguma coisa para purificar a igreja. Como os servos do pai de família, estão dispostos a arrancar o joio. Mas Cristo lhes diz: "Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa." Mateus 13:29, 30. PJ 30 6 Cristo ensinou claramente que aqueles que perseveram em pecado declarado devem ser desligados da igreja; mas não nos confiou a tarefa de julgar o caráter e os motivos. Conhece demasiado bem nossa natureza para que nos delegasse esta obra. Se tentássemos desarraigar da igreja os que supomos serem falsos cristãos, certamente cometeríamos erro. Muitas vezes consideramos casos perdidos justamente aqueles que Cristo está atraindo a Si. Se devêssemos proceder com essas pessoas segundo nosso parecer imperfeito, extinguir-se-ia talvez sua última esperança. Muitos que se julgam cristãos serão finalmente achados em falta. Haverá muitos no Céu, os quais seus vizinhos supunham que lá não entrariam. O homem julga segundo a aparência; mas Deus vê o coração. O joio e o trigo devem crescer juntos até à ceifa; e a colheita é o fim do tempo da graça. PJ 31 1 Há nas palavras do Salvador ainda outra lição, uma lição de maravilhosa longanimidade e terno amor. Como o joio tem as raízes entrelaçadas com as do bom trigo, assim falsos irmãos podem estar na igreja, intimamente ligados com os discípulos verdadeiros. O verdadeiro caráter desses pretensos crentes não é plenamente manifesto. Caso fossem desligados da congregação, outros poderiam ser induzidos a tropeçar, os quais, se não fosse isto, permaneceriam firmes. PJ 31 2 A lição dessa parábola é ilustrada pelo proceder de Deus para com os homens e os anjos. Satanás é um enganador. Ao pecar ele no Céu, nem mesmo os anjos fiéis reconheceram plenamente seu caráter. Esta é a razão por que Deus não o destruiu imediatamente. Se o tivesse feito, os santos anjos não teriam percebido o amor e a justiça de Deus. Uma só dúvida quanto à bondade de Deus teria sido como má semente, que produziria o amargo fruto do pecado e da desgraça. Por isto foi poupado o autor do mal, para desenvolver plenamente seu caráter. Durante longos séculos, suportou Deus a angústia de contemplar a obra do mal. Preferiu dar a infinita Dádiva do Gólgota, a deixar alguém ser induzido pelas falsas representações do maligno; pois o joio não podia ser arrancado, sem o risco de desarraigar a preciosa semente. E não seremos tão clementes para com nossos semelhantes, como o Senhor do Céu e da Terra o é para com Satanás? PJ 31 3 Por haver na igreja membros indignos, não tem o mundo o direito de duvidar da verdade do cristianismo, nem devem os cristãos desanimar por causa destes falsos irmãos. Como foi com a igreja primitiva? Ananias e Safira uniram-se aos discípulos. Simão Mago foi batizado. Demas, que abandonou a Paulo, era considerado crente. Judas Iscariotes foi um dos apóstolos. O Redentor não quer perder uma única pessoa. Sua experiência com Judas é relatada para mostrar Sua longanimidade com a corrompida natureza humana; e nos ordena sermos pacientes como Ele o foi. Disse que até ao fim do tempo haveria falsos irmãos na igreja. Apesar da advertência de Cristo, têm os homens procurado arrancar o joio. Para punir os que foram considerados malfeitores, tem a igreja recorrido ao poder civil. Os que divergiram das doutrinas dominantes foram encarcerados, martirizados e mortos por instigação de homens que pretendiam agir sob a sanção de Cristo. Mas atos tais são inspirados pelo espírito de Satanás, não pelo Espírito de Cristo. Esse é o método peculiar de Satanás de submeter o mundo a seu domínio. Por esta maneira de proceder com os supostos hereges, Deus tem sido mal representado pela igreja. PJ 32 1 Na parábola de Cristo não nos é ensinado que julguemos e condenemos a outros, antes sejamos humildes e desconfiemos do eu. Nem tudo que é semeado no campo é bom trigo. O estarem os homens na igreja não prova que são cristãos. PJ 32 2 O joio era muito semelhante ao trigo enquanto as hastes estavam verdes; mas quando o campo estava branco para a ceifa, a erva inútil nada se parecia com o trigo, que vergava ao peso das espigas cheias e maduras. Pecadores que pretendem ser piedosos, confundem-se por algum tempo com os verdadeiros seguidores de Cristo, e a aparência de cristianismo tende a enganar a muitos; mas não haverá, na sega do mundo, semelhança entre os bons e os maus. Então, serão manifestos aqueles que se ligaram à igreja, mas não a Cristo. PJ 32 3 É permitido ao joio crescer entre o trigo, desfrutar os mesmos privilégios de sol e chuva; mas no tempo da ceifa será vista "a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que não O serve". Malaquias 3:18. Cristo mesmo decidirá quem é digno de ser membro da família celestial. Julgará todo homem segundo suas palavras e obras. A profissão de fé nada pesa na balança. O caráter é que decide o destino. O Salvador não aponta a um tempo em que todo o joio se tornará trigo. O trigo e o joio crescem juntos até à ceifa, o fim do mundo. Então o joio será atado em molhos para ser queimado, e o trigo será recolhido no celeiro de Deus. "Então, os justos resplandecerão como o Sol, no reino de seu Pai." Mateus 13:43. "Mandará o Filho do homem os Seus anjos, e eles colherão do Seu reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 13:41, 42. ------------------------Capítulo 5 -- Pequenos inícios, grandes resultados PJ 33 0 Este capítulo é baseado em Mateus 13:31, 32; Marcos 4:30-32; Lucas 13:18, 19. PJ 33 1 Entre a multidão que ouvia os ensinos de Jesus, havia muitos fariseus. Cheios de desdém, observavam quão poucos de Seus ouvintes O reconheciam como o Messias. E perguntavam de si para si como esse mestre despretensioso poderia elevar Israel ao domínio universal. Como poderia Ele, sem riquezas, poder ou honra, fundar um novo reino? Cristo lhes leu os pensamentos e respondeu: PJ 33 2 "A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?" Marcos 4:30. Em governos terrenos nada havia que pudesse servir de comparação. Nenhuma sociedade civil Lhe podia fornecer um símile. "É como um grão de mostarda", disse "que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na Terra; mas, tendo sido semeado, cresce, e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra." Marcos 4:31, 32. PJ 33 3 O embrião, contido na semente, cresce pelo desenvolvimento do princípio vital que Deus nele implantou. Seu desenvolvimento não depende de meios humanos. Assim é com o reino de Cristo. Há uma nova criação. Os princípios de desenvolvimento são diretamente opostos aos que regem os reinos deste mundo. Governos terrenos prevalecem pelo emprego da força; pelas armas mantêm o seu domínio, mas o fundador do novo reino é o Príncipe da paz. O Espírito Santo representa os reinos terrestres mediante o símbolo de feras; mas Cristo é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Em Seu plano de governo não há o emprego da força bruta para compelir a consciência. Esperavam os judeus que o reino de Deus fosse estabelecido do mesmo modo que os do mundo. Para promover justiça, recorriam a medidas externas. Forjavam planos e métodos. Mas Cristo implanta um princípio. Implantando a verdade e a justiça, frustra o erro e o pecado. PJ 33 4 Ao proferir Jesus esta parábola, a mostardeira podia ser vista perto e longe, erguendo-se sobre a relva e os cereais, balançando seus galhos levemente no ar. Os pássaros esvoaçavam de galho em galho e chilreavam entre a folhagem. Contudo, a semente de que surgiu essa planta gigantesca, era a menor de todas as sementes. Primeiro despontou um tenro broto; mas possuía bastante vitalidade, cresceu e floresceu até alcançar grande tamanho. Assim, a princípio, o reino de Cristo parecia humilde e insignificante. Comparado com os reinos terrestres, dir-se-ia ser o menor de todos. O direito de Cristo a ser rei, era ridicularizado pelos governantes deste mundo. Todavia, o reino do evangelho possuía vida divina nas poderosas verdades confiadas a Seus seguidores. E como foi rápido o seu crescimento! Que amplitude de influência! Quando Cristo pronunciou essa parábola, era o novo reino representado apenas por uns camponeses galileus. Sua pobreza e minoria foram apresentadas repetidamente como motivo por que os homens não se devessem unir a esses pescadores simples que seguiam a Jesus. Mas o grão de mostarda deveria crescer e estender seus ramos por todo o mundo. Quando passassem os reinos terrestres, cuja glória enchia então os corações, o reino de Cristo perduraria ainda como uma vasta e forte potência. PJ 34 1 Assim a obra da graça no coração é pequena ao princípio. É dita uma palavra, um raio de luz projetado na alma, exercida uma influência que é o início da nova vida; e quem pode medir os resultados? PJ 34 2 A parábola do grão de mostarda não só ilustra o crescimento do reino de Cristo, mas, em cada fase de seu desenvolvimento, repete-se a experiência nela apresentada. Para Sua igreja, em cada geração, Deus tem uma verdade peculiar e um serviço especial. A verdade, oculta aos sábios e entendidos deste mundo, é revelada às criancinhas e aos humildes. Exige sacrifício próprio. Há combates para se ferirem e vitórias para serem conquistadas. De início seus adeptos são poucos. Pelos grandes do mundo e por uma igreja de espírito mundano são repelidos e desprezados. Vede João Batista, o precursor de Cristo, sozinho censurando o orgulho e formalismo do povo judeu! Vede os primeiros defensores do evangelho na Europa! Obscura e desanimadora parecia a missão de Paulo e Silas, os dois fazedores de tendas, quando, com os companheiros, embarcavam em Trôade para Filipos! Vede o "idoso Paulo", pregando a Cristo, acorrentado na cidadela dos Césares. Vede as pequenas comunidades de escravos e camponeses em conflito com o paganismo de Roma Imperial. Vede Martinho Lutero, resistindo àquela poderosa igreja que é a obra-prima da sabedoria deste mundo. Vede-o mantendo a Palavra de Deus contra o imperador e o papa, declarando: "Aqui estou; não posso proceder doutra forma. Deus me auxilie!" PJ 34 3 Vede João Wesley pregando a Cristo e Sua justiça em meio do formalismo, sensualidade e incredulidade. Vede alguém que, doendo-lhe a miséria do paganismo, roga o privilégio de lhes levar a mensagem do amor de Cristo. Ouvi a resposta do eclesiasticismo: "Sente-se, moço. Quando Deus quiser converter os pagãos, fá-lo-á sem o meu nem o seu auxílio." PJ 35 1 Os grandes guias do pensamento religioso desta geração anunciam os louvores daqueles que plantaram a semente da verdade há séculos, e erguem-lhes monumentos. Não abandonam muitos esta obra para espezinhar o renovo que hoje em dia desponta da mesma semente? Repete-se o velho clamor: "Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este [Cristo no mensageiro que Ele envia] não sabemos de onde é." João 9:29. Como em épocas primitivas, as verdades especiais para este tempo não se acham com as autoridades eclesiásticas mas com homens e mulheres, que não são demasiado instruídos nem sábios demais para crer na Palavra de Deus. PJ 35 2 "Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são." 1 Coríntios 1:26-28. "Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Coríntios 2:5. PJ 35 3 Nesta última geração, a parábola do grão de mostarda deve alcançar notável e triunfante cumprimento. A pequena semente tornar-se-á uma árvore. A última mensagem de advertência e misericórdia deve ir "a toda nação, e tribo, e língua, e povo" (Apocalipse 14:6), para "tomar deles um povo para o Seu nome" (Atos dos Apóstolos 15:14); e a Terra será iluminada por Sua glória. Apocalipse 18:1. ------------------------Capítulo 6 -- Como instruir e guardar os filhos PJ 35 4 Do lançamento da semente e do crescimento da planta oriunda da mesma, preciosas lições podem ser ensinadas na família e na escola. Ensine-se às crianças e aos jovens a reconhecerem a atuação de agentes divinos nas coisas naturais, e serão habilitados a alcançar, pela fé, benefícios invisíveis. Chegando a compreender a maravilhosa obra de Deus no provimento das necessidades de Sua grande família, e como poderão ser cooperadores Seus, terão mais fé em Deus, e experimentarão mais de Seu poder na vida diária. PJ 36 1 Por Sua Palavra, Deus criou a semente, como criou a Terra. Por Sua Palavra lhe deu força para crescer e multiplicar-se. Disse: "Produza a Terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a Terra. E assim foi. ... E viu Deus que era bom." Gênesis 1:11, 12. Essa palavra é que ainda sempre causa a germinação da semente. Cada grão que envia suas verdes hastes para a luz do Sol declara o maravilhoso poder da Palavra pronunciada por Aquele que "falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." Salmos 33:9. PJ 36 2 Cristo ensinou Seus discípulos a orar: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje." Mateus 6:11. E apontando às flores, dava-lhes esta segurança: "Se Deus assim veste a erva do campo, ... não vos vestirá muito mais a vós?" Mateus 6:30. Cristo está constantemente operando para atender a esta oração e cumprir esta promessa. Um poder invisível está trabalhando continuamente para servir ao homem, para alimentá-lo e vesti-lo. Nosso Senhor emprega muitos meios para fazer da semente, aparentemente desperdiçada, uma planta viva. E supre, em proporção conveniente, tudo quanto é requerido para produzir a colheita. Nas belas palavras do salmista: PJ 36 3 "Tu visitas a Terra e a refrescas; Tu a enriqueces grandemente Com o rio de Deus, que está cheio de água; Tu que lhe dás o trigo, quando assim a tens preparada; Tu enches de água os seus sulcos, Regulando a sua altura; Tu a amoleces com a muita chuva; Tu abençoas as suas novidades; Tu coroas o ano da Tua bondade, E as Tuas veredas destilam gordura." Salmos 65:9-11. PJ 36 8 O mundo material está sob o governo de Deus. A natureza obedece às leis naturais. Tudo fala e atua em harmonia com a vontade de Deus. Nuvem e Sol, orvalho e chuva, vento e tempestade, tudo está sob a superintendência de Deus e presta obediência implícita a Seu mandado. Em obediência à lei ou à vontade do Altíssimo, é que o caulículo da semente rompe pelo solo, "primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. A estes, Deus desenvolve em sua estação própria, pois não se opõem à Sua operação. Será que o homem, criado à semelhança de Deus, dotado de raciocínio e linguagem, seja o único indigno de Suas dádivas e desobediente à Sua vontade? Causarão unicamente os seres racionais confusão em nosso mundo? PJ 37 1 Em tudo quanto tende à manutenção do homem vemos a cooperação do esforço Divino e do humano. Não poderá haver colheita, se a mão humana não fizer sua parte no semear a semente. Mas sem as forças naturais, que Deus provê, dando sol e chuva, orvalho e nuvens, não haveria multiplicação. Assim é em todo ramo de trabalho, em todo setor de estudo e Ciência. Assim é no terreno espiritual, na formação do caráter e em toda esfera de serviço cristão. Temos que fazer nossa parte, porém o poder da divindade precisa unir-se ao nosso, pois de outro modo nossos esforços serão inúteis. PJ 37 2 Sempre que o homem realiza alguma coisa, seja espiritual, seja material, deverá reconhecer que somente o consegue pela cooperação do seu Criador. É-nos muitíssimo necessário reconhecer nossa dependência de Deus. Deposita-se demasiada fé nos homens, e confia-se muito nas invenções humanas. Há pouquíssima confiança no poder que Deus está pronto a proporcionar-nos. "Somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Enormemente inferior é a parte do instrumento humano, mas, se estiver ligada à divindade de Cristo, pode fazer todas as coisas pelo poder que Cristo lhe comunica. PJ 37 3 O desenvolvimento gradual da planta contida na semente, é uma lição objetiva na educação das crianças. Tem-se "primeiro, a erva, depois, a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. PJ 37 4 Aquele que deu esta parábola, criou a tenra semente, deu-lhe as propriedades vitais e ordenou as leis que lhe governam o crescimento. E as verdades que ensina a parábola tornaram-se uma viva realidade em Sua própria vida. Tanto em Sua natureza física como na espiritual, obedecia à ordem divina do crescimento, ilustrada pela planta, como deseja que todo adolescente faça. Embora fosse a Majestade do Céu, o Rei da glória, tornou-Se uma criancinha em Belém e, durante algum tempo, representou o indefeso menino sob os cuidados da mãe. Na infância, procedia como criança obediente. Falava e agia com a sabedoria de criança e não de homem, honrando os pais, e cumprindo-lhes os desejos em coisas úteis, de acordo com sua aptidão infantil. Mas, em cada fase de Seu desenvolvimento, era perfeito, com a graça simples e natural de uma vida inocente. De Sua infância diz o relatório sagrado: "E o Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Lucas 2:40. E de Sua juventude, é narrado: "E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens." Lucas 2:52. PJ 38 1 Aqui nos é sugerido o dever dos pais e mestres. Seu empenho deve ser cultivar as tendências dos adolescentes para que em cada fase de sua vida representem a beleza natural apropriada a esse período, desenvolvendo-se naturalmente como as plantas no jardim. PJ 38 2 São mais atrativas as crianças naturais e inocentes. Não é prudente dar-lhes atenção especial, e repetir diante delas suas frases inteligentes. Não se deve animar a vaidade, louvando-lhes a aparência, palavras ou feitos; tampouco devem ser vestidas com roupas caras e vistosas. Isto lhes inspira orgulho e provoca inveja no coração de seus companheiros. PJ 38 3 Os pequenos devem ser educados com simplicidade infantil. Cumpre serem exercitados a contentar-se com os pequenos e úteis deveres, e com os prazeres e experiências próprios da sua idade. A infância corresponde à erva da parábola, e a erva tem em si uma beleza peculiar. Não se deve obrigá-los à maturidade precoce, mas conservar-lhes, tanto quanto possível, o frescor e graça dos seus primeiros anos. PJ 38 4 Podem as criancinhas ser cristãs, tendo uma experiência de acordo com sua idade. Isto é tudo quanto Deus delas espera. Necessitam de ser educadas nas coisas espirituais; e os pais devem dar-lhes toda oportunidade para que formem caráter semelhante ao de Cristo. PJ 38 5 Nas leis de Deus na natureza, o efeito segue à causa com certeza infalível. A colheita testificará do que foi a sementeira. O obreiro negligente é condenado por sua obra. A sega dá testemunho contra ele. Assim é nas coisas espirituais: a fidelidade de cada obreiro é medida pelos resultados do trabalho. O caráter de sua obra, quer diligente quer lerdo, é revelado pela colheita. Assim é decidido o seu destino para a eternidade. PJ 38 6 Toda semente lançada produz uma colheita segundo sua espécie. O mesmo se dá na vida humana. Necessitamos todos, lançar as sementes da compaixão, simpatia e amor; porque o que semearmos isso colheremos. Toda característica de egoísmo, amor-próprio, presunção, todo ato de condescendência consigo mesmo produzirá fruto semelhante. Aquele que vive para si, está semeando na carne, e da carne brotará corrupção. PJ 39 1 Deus não destrói a ninguém. Todo aquele que for destruído ter-se-á destruído a si mesmo. Todo aquele que sufoca as admoestações da consciência está lançando as sementes da incredulidade, e estas produzirão uma colheita certa. Rejeitando a primeira advertência de Deus, Faraó, na antiguidade, semeou as sementes da obstinação, e colheu obstinação. Deus não o compeliu a descrer. A semente de incredulidade que lançou, produziu uma colheita de sua espécie. Assim, sua resistência continuou até contemplar o seu país devastado, o gélido cadáver de seu primogênito, e o primogênito de toda a sua casa, e de todas as famílias de seu reino, até que as águas do mar lhe submergiram os cavalos, carros e guerreiros. Sua história é uma ilustração tenebrosa da verdade das palavras, "tudo o que o homem semear, isso também ceifará". Gálatas 6:7. Se tão-somente reconhecessem os homens isso, seriam cautelosos com a semente que lançam. PJ 39 2 À medida que a semente espalhada produz uma colheita, e esta por sua vez é semeada, a seara se multiplica. Essa lei é também verdadeira em relação com as pessoas. Cada ato, cada palavra é uma semente que produzirá fruto. Cada ato de meditada bondade, de obediência ou de renúncia, se reproduzirá em outros, e por eles ainda em terceiros. Do mesmo modo cada ato de inveja, malícia ou dissensão, é uma semente que brotará em "raiz de amargura" (Hebreus 12:15), pela qual muitos serão contaminados. E quanto maior número envenenarão os "muitos"! Assim a sementeira do bem e do mal prossegue para o tempo e a eternidade. PJ 39 3 Liberalidade tanto em assuntos espirituais quanto temporais, é ensinada na lição da semeadura. O Senhor diz: "Bem-aventurados vós, que semeais sobre todas as águas." Isaías 32:20. "Digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará." 2 Coríntios 9:6. Semear sobre todas as águas significa uma contínua distribuição das dádivas de Deus. Significa dar onde quer que a causa de Deus ou as necessidades da humanidade exigirem nosso auxílio. Isso não levará à pobreza. "O que semeia em abundância, em abundância também ceifará." O semeador multiplica a semente lançando-a fora. Assim é com aqueles que são fiéis no distribuir as dádivas de Deus. Repartindo, aumentam suas bênçãos. Deus lhes prometeu suficiência para que possam continuar a dar. "Dai, e ser-vos -- á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo." Lucas 6:38. PJ 40 1 E mais do que isso está envolvido no semear e ceifar. Distribuindo as bênçãos temporais de Deus, a evidência de nosso amor e simpatia desperta, no que recebe, gratidão e ações de graças a Ele. O solo do coração é preparado para receber a semente da verdade espiritual. E Aquele que provê a semente ao semeador, fará com que a semente germine e produza fruto para a vida eterna. PJ 40 2 Pelo lançar da semente no solo, Cristo representa Seu sacrifício por nossa redenção. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer", disse, "fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto." João 12:24. Assim a morte de Cristo resultará em fruto para o reino de Deus. De acordo com a lei do reino vegetal, vida será o resultado de Sua morte. PJ 40 3 E todos os que quiserem produzir fruto como coobreiros de Cristo, precisam cair na terra e morrer. A vida precisa ser lançada no sulco da necessidade do mundo. O amor-próprio e o próprio interesse têm que perecer. Mas a lei do sacrifício próprio é a lei da própria preservação. A semente sepultada no solo produz fruto, e este, por sua vez, é plantado. Assim se multiplica a seara. O lavrador preserva a sua semente, lançando-a fora. Deste modo, na vida humana dar é viver. A vida que será preservada é a que é entregue liberalmente ao serviço de Deus e do homem. Os que pela causa de Cristo sacrificam a vida neste mundo, conservá-la-ão para a eternidade. PJ 40 4 A semente morre para ressurgir em nova vida, e nisto nos é dada a lição da ressurreição. Todos os que amam a Deus reviverão no Éden celestial. Do corpo humano posto na cova para ser reduzido a pó, disse Deus: "Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor." 1 Coríntios 15:42, 43. PJ 40 5 Tais são algumas das muitas lições ensinadas pela viva parábola do semeador e da semente na natureza. Procurem os pais e mestres ensinar estas lições, de modo prático. Preparem as crianças mesmas o solo e semeiem a semente. Enquanto trabalham, o pai ou mestre pode falar sobre o jardim do coração semeado com a boa ou má semente, e que assim como o jardim precisa ser preparado para a semente natural, o coração precisa ser preparado para a semente da verdade. Enquanto lançam ao solo a semente, podem ensinar a lição da morte de Cristo; e, brotando o renovo, a verdade da ressurreição. Crescendo a planta, pode ser continuada a relação entre o semear natural e o espiritual. PJ 41 1 A juventude deve ser instruída de maneira idêntica. Deve ser ensinada a lavrar o solo. Será bom que, ligadas com cada escola, haja terras para cultivo. Esses terrenos devem ser considerados a sala de aulas do próprio Deus. As coisas da natureza devem ser contempladas como sendo o manual que Seus filhos devem estudar, do qual podem obter conhecimento quanto ao cultivo da mente. PJ 41 2 Preparando o solo, lavrando a terra, podem aprender-se constantemente lições. Ninguém pensaria em estabelecer-se em terreno agreste esperando que produzisse imediatamente uma colheita. Esforço, diligência e trabalho perseverante devem ser empregados no tratamento do solo preparatório para a semeadura. Assim é com a obra espiritual no coração humano. Os que quiserem ser beneficiados pelo cultivo do solo, precisam sair com a Palavra de Deus no coração. Acharão o solo árido do coração sulcado pela influência branda e enternecedora do Espírito Santo. A não ser que se empregue trabalho árduo no solo, ele não produzirá frutos. O mesmo se dá com o solo do coração: o Espírito de Deus precisa nele operar para refiná-lo e discipliná-lo antes de poder produzir fruto para a glória de Deus. PJ 41 3 A terra não produzirá suas riquezas quando lavrada esporadicamente. Necessita de cuidado meditado e diário. Precisa ser arada freqüente e profundamente com o objetivo de evitar as ervas daninhas que roubam a nutrição da boa semente plantada. Assim os que lavram e semeiam, preparam para a ceifa. Ninguém necessita permanecer no campo entre as ruínas de suas esperanças. PJ 41 4 A bênção do Senhor repousará sobre os que assim preparam a terra, aprendendo da natureza lições espirituais. Cultivando o solo, o obreiro mal sabe que tesouros serão descobertos diante dele. Conquanto não deva desprezar a instrução que lhe é possível colher das mentes experimentadas e da informação que homens inteligentes têm para fornecer, deve colher lições por si mesmo. Isso é parte de sua instrução. O cultivo do solo provar-se-á uma educação para o caráter. Aquele que faz a semente crescer, que a mantém dia e noite, que lhe confere a capacidade de desenvolver-se, é o Autor de nosso ser, o Soberano do Céu que exerce ainda maior cuidado e interesse em favor de Seus filhos. Ao passo que o semeador humano lança a semente para sustentar-nos a vida terrena, o Semeador divino implantará no coração a semente que produzirá fruto para a vida eterna. ------------------------Capítulo 7 -- Um poder que transforma e eleva PJ 42 0 Este capítulo é baseado em Mateus 13:33; Lucas 13:20, 21. PJ 42 1 Muitos homens letrados e influentes tinham ido ouvir o Profeta da Galiléia. Alguns deles olhavam com interesse curioso à multidão que se aglomerava em volta de Cristo, enquanto ensinava junto ao mar. Nessa grande multidão estavam representadas todas as classes da sociedade. Lá estavam os pobres, os iletrados, os mendigos andrajosos, os ladrões com o estigma da culpa na fisionomia, os coxos, os dissolutos, os negociantes e os desocupados, altos e baixos, ricos e pobres, todos se acotovelando por um lugar, para ouvir as palavras de Cristo. Olhando esses homens de cultura a estranha assembléia, perguntavam-se entre si: É o reino de Deus composto de elemento como este? Novamente o Salvador replicou com uma parábola: PJ 42 2 "O reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado." Mateus 13:33. PJ 42 3 Entre os judeus, o fermento era algumas vezes usado como emblema do pecado. No tempo da Páscoa, o povo era instruído a remover de suas casas todo o fermento, como deveriam banir do coração o pecado. Cristo admoestou Seus discípulos: "Acautelai-vos... do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia." Lucas 12:1. E o apóstolo Paulo fala do "fermento da maldade e da malícia". 1 Coríntios 5:8. Mas, na parábola do Salvador, o fermento é usado para representar o reino de Deus. Ilustra o poder vivificante e assimilador da graça de Deus. PJ 42 4 Ninguém é tão vil, ninguém tão decaído, que esteja além da operação desse poder. Em todos quantos querem submeter-se ao Espírito Santo deve ser implantado um princípio novo de vida: a perdida imagem de Deus deve ser restaurada na humanidade. PJ 42 5 Mas o homem não se pode transformar pelo exercício de sua vontade. Não possui faculdade por cujo meio esta mudança possa ser efetuada. O fermento -- algo totalmente externo -- precisa ser introduzido na farinha, antes de a alteração desejada efetuar-se. Assim a graça de Deus precisa ser recebida pelo pecador antes de ele ser tornado apto para o reino da glória. Toda cultura e educação que o mundo pode oferecer, fracassarão em fazer de um degradado filho do pecado, um filho do Céu. A energia renovadora precisa vir de Deus. A mudança só pode ser efetuada pelo Espírito Santo. Todos que quiserem ser salvos, nobres ou humildes, ricos ou pobres, precisam submeter-se à atuação deste poder. PJ 43 1 Como o fermento, misturado à farinha, opera do interior para o exterior, assim é pela renovação do coração, que a graça de Deus atua para transformar a vida. Não basta a mudança exterior para pôr-nos em harmonia com Deus. Muitos há que procuram reformar-se, corrigindo este ou aquele mau hábito, e esperam desse modo tornar-se cristãos, mas estão principiando no lugar errado. Nossa primeira tarefa é com o coração. PJ 43 2 A profissão de fé e a posse da verdade na alma são duas coisas distintas. Não basta meramente o conhecimento da verdade. Podemos possuir esta e ainda o teor de nossos pensamentos não ser alterado. O coração precisa ser convertido e santificado. PJ 43 3 O homem que tenta observar os mandamentos de Deus por um senso de obrigação apenas -- porque é requerido que assim faça -- jamais sentirá o prazer da obediência. Não obedece. Quando, por contrariarem a inclinação humana, os reclamos de Deus são considerados um fardo, podemos saber que a vida não é uma vida cristã. A verdadeira obediência é a expressão de um princípio interior. Origina-se do amor à justiça, o amor à lei de Deus. A essência de toda justiça é lealdade ao nosso Redentor. Isso nos levará a fazer o que é reto porque é reto, porque a retidão é agradável a Deus. PJ 44 1 A grande verdade da conversão do coração pelo Espírito Santo é apresentada nas palavras de Cristo a Nicodemos: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." João 3:3, 6-8. PJ 44 2 O apóstolo Paulo, escrevendo por inspiração do Espírito Santo, diz: "Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus." Efésios 2:4-8. PJ 44 3 O fermento oculto na farinha atua invisivelmente para submeter toda a massa a seu processo levedante; assim o fermento da verdade opera secreta, silente e persistentemente para transformar a pessoa. As inclinações naturais são abrandadas e subjugadas. São implantadas novas idéias, novos sentimentos, novos motivos. Uma nova norma de caráter é proposta -- a vida de Cristo. A mente é mudada; as faculdades são estimuladas à ação em novas esferas. O homem não é dotado de faculdades novas, mas as faculdades que possui são santificadas. A consciência é despertada. Somos dotados de traços de caráter que nos habilitam a prestar serviço a Deus. PJ 44 4 Freqüentemente surge a questão: Por que, pois, há tantos pretensos crentes na Palavra de Deus, nos quais não se vê uma reforma na linguagem, no espírito e no caráter? Por que há tantos que não podem sofrer oposição a seus propósitos e planos, que manifestam temperamento não santificado, e cujas palavras são rudes, insultuosas e apaixonadas? Vê-se em sua vida o mesmo amor-próprio, a mesma condescendência egoísta, a mesma índole e linguagem precipitada, vistos na vida do mundano. Há o mesmo orgulho sensitivo, a mesma entrega ao pendor natural, a mesma perversidade de caráter, como se a verdade lhes fosse inteiramente desconhecida. A razão é que não são convertidos. Não esconderam no coração o fermento da verdade. Não teve ele oportunidade de realizar sua obra. Suas tendências naturais e cultivadas para o mal não foram subjugadas a seu poder transformador. A vida dessas pessoas revela a ausência da graça de Cristo, uma descrença em Seu poder de regenerar o caráter. PJ 45 1 "A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus." Romanos 10:17. As Escrituras são o grande veículo na transformação do caráter. Cristo orou: "Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade." João 17:17. Estudada e obedecida, a Palavra de Deus atua no coração, subjugando todo atributo não santificado. O Espírito Santo vem para convencer do pecado, e a fé que brota no coração opera por amor a Cristo, conformando-nos em corpo, alma e espírito à Sua própria imagem. Então Deus pode usar-nos para fazer Sua vontade. O poder a nós concedido atua no interior para o exterior, levando-nos a transmitir a outros a verdade que nos foi comunicada. PJ 45 2 As verdades da Palavra de Deus suprem a grande necessidade prática do homem -- a conversão da alma pela fé. Estes grandes princípios não devem ser julgados puros nem santos demais para serem introduzidos na vida diária. São verdades que atingem o Céu e abrangem a eternidade, contudo sua influência vital deve ser entrelaçada com a experiência humana. Devem impregnar todas as coisas importantes e mínimas da vida. PJ 45 3 Recebido no coração, o fermento da verdade regulará os desejos, purificará os pensamentos e dulcificará a índole. Vivifica as faculdades do espírito e as energias da alma. Aumenta a capacidade de sentir, de amar. PJ 46 1 O mundo considera um mistério o homem que está imbuído deste princípio. O egoísta e amante de dinheiro vive unicamente para assegurar-se das riquezas, honras e prazeres deste mundo. Não leva em conta o mundo eterno. Mas, para o seguidor de Cristo, estas coisas não são todo-absorventes. Pela causa de Cristo trabalhará e negará a si mesmo, para que possa auxiliar na grande obra de salvar pessoas que estão sem Cristo e sem esperança no mundo. Tal homem o mundo não pode compreender, porque conserva em vista as realidades eternas. O amor de Cristo, com Seu poder redentor, penetrou no coração. Este amor domina todos os outros motivos e eleva seu possuidor acima da influência corruptora do mundo. PJ 46 2 A Palavra de Deus deve ter efeito santificador em nossa associação com cada membro da família humana. O fermento da verdade não produzirá espírito de rivalidade, amor de ambição, desejo de primazia. O amor verdadeiro, oriundo do alto, não é egoísta nem mutável. Não é dependente do louvor humano. O coração daquele que recebe a graça de Deus, transborda de amor a Deus e àqueles por quem Cristo morreu. O eu não luta por nenhum reconhecimento. Não ama a outros porque o amem e lhe agradem, por apreciarem seus méritos, mas por serem propriedade adquirida de Cristo. Se seus motivos, palavras ou atos são malcompreendidos ou mal-interpretados, não se ofende mas prossegue na mesma maneira de proceder. É bondoso e ponderado, humilde no conceito próprio; contudo é cheio de esperança, sempre confiante na graça e no amor de Deus. PJ 46 3 O apóstolo nos exorta: "Mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:15, 16. A graça de Cristo deve reger o temperamento e a voz. Sua operação será vista na polidez e terna consideração manifestada de irmão para com irmão, em palavras bondosas e encorajadoras. Há no lar uma presença angélica. A vida exala um suave perfume que ascende a Deus como incenso santo. O amor manifesta-se em afabilidade, cortesia, clemência e longanimidade. PJ 46 4 O semblante transforma-se. A presença de Cristo no coração, transparece na face dos que O amam e guardam Seus mandamentos. A verdade está ali escrita. Revela-se a doce paz do Céu. É expressa uma cortesia habitual, um amor mais do que humano. PJ 47 0 O fermento da verdade opera uma transformação no homem todo, tornando o áspero polido, o rude gentil, o egoísta generoso. Por ele o corrupto é purificado, lavado no sangue do Cordeiro. Por Seu poder vivificante, leva toda mente, alma e força à harmonia com a vida divina. O homem com sua natureza humana, torna-se participante da divindade. Cristo é honrado na excelência e perfeição de caráter. Efetuando-se estas mudanças, os anjos rompem em cantos enlevantes, e Deus e Cristo Se regozijam pelos seres moldados à semelhança divina. ------------------------Capítulo 8 -- O maior tesouro PJ 47 1 Este capítulo é baseado em Mateus 13:44. PJ 47 2 "Também o reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo." Mateus 13:44. PJ 47 3 Nos tempos antigos era comum esconderem os homens seus tesouros na terra. Pilhagens e roubos eram freqüentes; e cada vez que havia mudança no governo, os que possuíam muitas propriedades estavam sujeitos a serem taxados com pesados tributos. Além disso a terra estava em constante perigo, pela invasão de bandos de ladrões. Por isso os ricos procuravam preservar seus tesouros escondendo-os, e a terra era tida como esconderijo seguro. Mas, o local era muitas vezes esquecido, a morte podia chamar o possuidor, a prisão ou desterro podiam separá-lo de suas riquezas, e o tesouro, para cuja conservação tomara tais precauções, ficava para o feliz descobridor. No tempo de Cristo não era incomum descobrirem-se, em terras abandonadas, moedas velhas e ornamentos de ouro e prata. PJ 47 4 Um homem arrenda um terreno para o cultivar, e, lavrando os bois o solo, é desenterrado um tesouro oculto. Descobrindo o homem esse tesouro, vê que uma fortuna está ao seu alcance. Repondo o ouro no esconderijo, volta para casa, vende tudo quanto tem para adquirir o campo que encerra o tesouro. Sua família e vizinhos pensam que está agindo como insensato. Contemplando o campo, não vêem valor algum na terra abandonada. Mas o homem sabe o que faz; e quando o campo lhe pertence, examina cada porção do mesmo, para achar o tesouro de que se apossou. PJ 47 5 Essa parábola ilustra o valor do tesouro celestial e os esforços que devem ser feitos para assegurá-lo. O descobridor do tesouro no campo estava disposto a privar-se de tudo quanto possuía, disposto a empenhar-se em trabalho árduo para alcançar as riquezas encobertas. Assim também o descobridor do tesouro celestial não terá nenhum trabalho por demasiado grande, nem sacrifício algum por demasiado custoso, para obter os tesouros da verdade. PJ 47 6 Na parábola, o campo que encerra o tesouro, representa as Sagradas Escrituras. E o evangelho é o tesouro. A própria terra não está tão permeada de veios auríferos nem tão cheia de preciosidades como a Palavra de Deus. Como está oculto PJ 47 7 Diz-se que os tesouros do evangelho estão ocultos. A beleza, o poder, o mistério do plano da redenção não são perseguidos por aqueles que são sábios em seu próprio conceito, e ensoberbecidos pelos ensinos de uma filosofia vã. Muitos têm olhos mas não vêem; ouvidos mas não ouvem; inteligência, mas não discernem o tesouro oculto. PJ 47 8 Um homem poderia passar sobre o lugar onde o tesouro está escondido. Grandemente necessitado, poderia assentar-se e descansar à sombra de uma árvore sem saber das riquezas ocultas sob suas raízes. Assim era com os judeus. Como tesouro áureo, a verdade foi confiada aos hebreus. A dispensação judaica, trazendo o sinete do Céu, fora instituída por Cristo mesmo. As grandes verdades da salvação eram ocultadas por tipos e símbolos. Contudo quando Cristo veio, os judeus não reconheceram Aquele a quem apontavam todos esses símbolos. Tinham em mãos a Palavra de Deus; mas as tradições transmitidas de geração a geração, e as interpretações humanas das Escrituras lhes ocultavam a verdade tal como é em Jesus. Perdeu-se a significação espiritual das Sagradas Escrituras. O tesouro de todo o conhecimento foi-lhes revelado, mas não o sabiam. PJ 47 9 Deus não encobre Sua verdade aos homens. Por seu próprio procedimento obscurecem-na eles mesmos. Cristo deu aos judeus prova abundante de que era o Messias; mas Seus ensinamentos exigiam deles uma reforma radical de vida. Viram que se recebessem a Cristo, precisariam renunciar a seus acariciados conceitos e tradições, suas práticas egoístas e ímpias. Aceitar a verdade eterna e imutável exigia sacrifício. Por isso não reconheciam a evidência mais conclusiva que Deus podia dar para firmar a fé em Cristo. Professavam crer no Antigo Testamento; contudo recusavam aceitar o testemunho nele contido a respeito da vida e caráter de Cristo. Temiam deixar-se convencer para não serem convertidos e obrigados a renunciar a suas opiniões preconcebidas. O Tesouro do evangelho, o Caminho, a Verdade e a Vida, estava entre eles; mas rejeitaram a maior dádiva que o Céu lhes poderia outorgar. PJ 49 1 "Até muitos dos principais creram nEle", lemos, "mas não O confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga." João 12:42. Estavam convictos; criam que Jesus era o Filho de Deus; mas confessá-Lo, não estava em harmonia com seus desejos ambiciosos. Não possuíam a fé que lhes asseguraria o tesouro celeste. Atentavam para os tesouros terrestres. PJ 49 2 E hoje os homens procuram ansiosamente tesouros terrenos; têm a mente imbuída de pensamentos egoístas e ambiciosos. Para ganharem riquezas, honra e poder, colocam os princípios, tradições e requisitos de homens acima dos de Deus. Para eles, os tesouros de Sua palavra estão encobertos. PJ 49 3 "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." 1 Coríntios 2:14. PJ 49 4 "Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Coríntios 4:3, 4. O valor do tesouro PJ 49 5 O Salvador viu que os homens estavam empenhados em adquirir riquezas, e perdiam de vista as realidades eternas. Empreendeu corrigir esse mal. Procurou quebrar o encanto fascinante que paralisava a alma. Elevando a voz, disse: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26. Apresenta à humanidade decaída o mundo mais nobre, que haviam perdido de vista, para que contemplassem as realidades eternas. Leva-os ao limiar do Infinito, resplandecente com a indescritível glória de Deus, e lhes mostra o seu tesouro. O valor desse tesouro supera o ouro e a prata. Não se pode comparar com as riquezas das minas terrestres. PJ 50 1 "O abismo diz: Não está em mim; E o mar diz: Ela não está comigo. Não se dará por ela ouro fino, Nem se pesará prata em câmbio dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, Nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; Nem se trocará por jóia de ouro fino. Ela faz esquecer o coral e as pérolas; Porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis." Jó 28:14-18. PJ 50 6 Esse é o tesouro que se acha nas Escrituras. A Bíblia é o grande livro de Deus, Seu grande educador. O fundamento de toda a verdadeira Ciência está contido na Bíblia. Esquadrinhando a Palavra de Deus, todo ramo de conhecimento pode ser encontrado; e sobre tudo o mais, encerra a ciência das ciências, a ciência da salvação. A Bíblia é a fonte das riquezas inesgotáveis de Cristo. PJ 50 7 A verdadeira educação superior é obtida estudando a Palavra de Deus e a ela obedecendo. Se, porém, é substituída por livros, que não levam a Deus, e ao reino do Céu, a educação adquirida é uma perversão do nome. PJ 50 8 Há maravilhosas verdades na natureza. A terra, o mar e o céu estão cheios de verdade. São nossos mestres. A natureza proclama a sua voz em lições de sabedoria celestial e de verdade eterna. Mas o homem decaído não quer entender. O pecado obscureceu-lhe a visão, e não pode por si mesmo interpretar a natureza, sem sobrepô-la a Deus. Lições corretas não podem impressionar o espírito de quem rejeita a Palavra de Deus. Os ensinamentos da natureza são tão pervertidos que afastam a mente do Criador. PJ 50 9 Por muitos a sabedoria dos homens é considerada superior à do divino Mestre, e o Livro de Deus é julgado arcaico, anacrônico e desinteressante. Mas os que foram vivificados pelo Espírito Santo não o consideram assim. Vêem o inestimável tesouro e venderiam tudo para comprar o campo que o encerra. Em vez dos livros que contêm as suposições de grandes autores de fama, escolhem a Palavra dAquele que é o maior autor e o maior mestre que o mundo já conheceu, que deu Sua vida por nós, para que por Ele tenhamos a vida eterna. Os resultados de desprezar o tesouro PJ 51 1 Satanás atua no espírito humano e leva-o a pensar que se pode alcançar um maravilhoso conhecimento à parte de Deus. Mediante argumentação ilusória, induziu Adão e Eva a duvidarem da Palavra de Deus, e a substituírem-na por uma teoria que levou à desobediência. Seus sofismas fazem hoje o mesmo que fizeram no Éden. Professores que permeiam suas lições de opiniões de escritores incrédulos, implantam na mente dos jovens, pensamentos que os arrastarão ao desprezo a Deus e à transgressão de Sua lei. Pouco sabem do que estão fazendo. Mal reconhecem qual será a conseqüência de sua obra. PJ 51 2 Um estudante pode passar todos os graus das escolas e colégios de hoje. Pode devotar todas as suas faculdades à aquisição de sabedoria. Mas, se não tiver o conhecimento de Deus, se não obedecer às leis que lhe regem o ser, aniquilar-se-á a si próprio. Por hábitos errôneos perde o respeito próprio. Perde o domínio de si mesmo. Não pode ajuizar corretamente das coisas que mais intimamente com ele se relacionam. É negligente e desarrazoado no trato da inteligência e do corpo. Pela prática de hábitos incorretos torna-se um náufrago. Não pode ter felicidade; pois sua negligência de cultivar princípios sãos e puros, sujeita-o ao domínio de costumes que destroem a paz. Os anos de estudo exaustivo ficam perdidos, porque se arruinou a si próprio. Abusou de suas forças físicas e mentais, e o templo do corpo é uma ruína. Está aniquilado para esta vida e para a vindoura. Pensou alcançar um tesouro pela aquisição de conhecimentos terrenos; pondo, porém, de parte a Bíblia, sacrificou um tesouro digno de tudo o mais. A procura do tesouro PJ 51 3 A Palavra de Deus deve ser nosso estudo. Devemos instruir nossos filhos nas verdades nela encontradas. É um deposito inesgotável; mas os homens deixam de achar esse tesouro, porque não o procuram até adquiri-lo. Muitos se contentam com uma suposição a respeito da verdade. Dão-se por satisfeitos com uma análise superficial, supondo ter tudo que é essencial. Tomam o veredicto de outros pela verdade, sendo negligentes demais para empenharem-se em sincero e diligente trabalho, representado na Palavra como escavar em busca do tesouro oculto. As invenções de homens, porém, são não somente indignas de confiança, como perigosas; porque colocam o homem onde Deus deveria estar. Põem as palavras de homens onde deveria estar um "Assim diz o Senhor". PJ 52 1 Cristo é a verdade. Suas palavras são verdade, e têm significação mais profunda do que superficialmente aparentam. Todos os ensinos de Cristo têm um valor superior à sua aparência despretensiosa. Mentes vivificadas pelo Espírito Santo discernirão a preciosidade dessas palavras. Discernirão as preciosas gemas da verdade, embora sejam tesouros encobertos. PJ 52 2 Teorias e especulações humanas jamais hão de conduzir à compreensão da palavra de Deus. Os que julgam entender de filosofia, consideram suas interpretações necessárias para descerrar o tesouro do conhecimento e impedir que penetrem heresias na igreja. Mas foram justamente essas explanações que introduziram as falsas teorias e heresias. Os homens têm feito esforços desesperados para explicar textos considerados obscuros; mas muitas vezes seus esforços têm obscurecido ainda mais o que tentavam esclarecer. PJ 52 3 Os sacerdotes e fariseus pensavam realizar grandes feitos como professores, sobrepondo à Palavra de Deus as suas interpretações; porém Cristo, deles disse: "Porventura, não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?" Marcos 12:24. Culpava-os de ensinar "doutrinas que são mandamentos de homens". Marcos 7:7. Embora fossem os instrutores dos oráculos divinos, embora se supusesse que compreendiam Sua Palavra, não eram praticantes da mesma. Satanás cegara-lhes os olhos, para não verem sua verdadeira significação. PJ 52 4 Essa é a obra de muitos em nosso tempo. Muitas igrejas são culpadas deste pecado. Há perigo, e grande, de os conceituados sábios de hoje repetirem a experiência dos mestres judeus. Interpretam falsamente os oráculos divinos, e mentes são confundidas e envoltas em trevas, em conseqüência de sua concepção errônea da verdade divina. PJ 52 5 As Escrituras não necessitam de ser lidas sob a luz embaçada da tradição ou especulação humanas. Podemos tão bem atear luz ao Sol com um facho, como explicar as Escrituras por tradições ou fantasias humanas. A santa Palavra de Deus não necessita do lusco-fusco dos archotes terrenos para tornar distintos os seus esplendores. Em si mesma é luz -- a revelação da glória divina; e, ao seu lado, qualquer outra luz é fraquíssima. PJ 52 6 Deve, porém, haver estudo sincero e exame minucioso. Percepções vivas e claras da verdade jamais serão a recompensa da indolência. Sem paciente, fervoroso e constante esforço não se pode conseguir sucesso terreno. Para que os homens alcancem bom êxito nos negócios, precisam ter determinação e fé para esperar os resultados. E não podemos esperar obter conhecimento espiritual sem esforço veemente. Os que desejam achar os tesouros da verdade, precisam cavar em busca deles como o faz o mineiro, em busca do tesouro oculto na terra. Não adiantará um trabalho de um coração desinteressado e indiferente. É essencial tanto a adultos como a jovens, não somente ler a Palavra de Deus, como também estudá-la com fervor sincero, oração e investigação da verdade como se buscassem um tesouro escondido. Os que assim procederem serão recompensados; pois Cristo avivará o entendimento. PJ 53 1 Nossa salvação depende do conhecimento da verdade contida nas Escrituras. Deus quer que o possuamos. Examinai, oh, examinai a preciosa Bíblia com coração faminto. Sondai a Palavra de Deus, como o mineiro sonda a terra para descobrir veios auríferos. Jamais deis por acabada a busca, enquanto não tiverdes determinado a vossa relação para com Deus, e Sua vontade concernente a vós. Cristo declarou: "Tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei." João 14:13, 14. Homens piedosos e de talento vislumbram as realidades eternas, porém, muitas vezes deixam de compreendê-las porque as coisas visíveis eclipsam a glória do invisível. Aquele que quiser procurar o tesouro oculto com bom êxito, precisa alçar-se a prossecuções mais elevadas que as coisas deste mundo. Suas afeições e todas as suas capacidades precisam ser consagradas à pesquisa. PJ 53 2 A desobediência tem cerrado a porta a uma grande soma de conhecimentos que podiam ser obtidos das Escrituras. Compreensão significa obediência aos mandamentos de Deus. As Escrituras não devem ser adaptadas ao preconceito e desconfiança dos homens. Somente podem entendê-las aqueles que humildemente procuram o conhecimento da verdade para poder obedecer-lhe. PJ 53 3 Pergunta: Que preciso fazer para ser salvo? Antes de iniciar a pesquisa, é preciso depor as opiniões preconcebidas, as idéias herdadas e cultivadas. Se examinais as Escrituras para justificar opiniões próprias, nunca alcançareis a verdade. Pesquisai para aprender o que o Senhor diz. Se vos vier a convicção ao estudardes, se virdes que vossas opiniões acariciadas não estão em harmonia com a verdade, não interpreteis mal a verdade para acomodá-la à vossa própria crença, antes aceitai a luz concedida. Abri a mente e o coração, para que possais contemplar as maravilhas da Palavra de Deus. PJ 53 4 A fé em Cristo, como o Redentor do mundo, exige o reconhecimento de uma inteligência esclarecida, dirigida por um coração que pode discernir e avaliar o tesouro celestial. Essa fé é inseparável do arrependimento e transformação do caráter. Ter fé significa achar e aceitar o tesouro do evangelho com todos os deveres que o mesmo impõe. PJ 54 1 "Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus." João 3:3. Conjeturará e imaginará, mas sem os olhos da fé, não pode ver o tesouro. Cristo deu a Sua vida para nos assegurar esse tesouro inestimável; porém sem regeneração pela fé em Seu sangue, não há remissão de pecados, nem tesouro para alguém prestes a perecer. PJ 54 2 Necessitamos da iluminação do Espírito Santo, para discernir as verdades da Palavra de Deus. As coisas aprazíveis do mundo natural não são vistas sem que o Sol, dissipando as trevas, as inunde de luz. Assim as preciosidades da Palavra de Deus, não são apreciadas, sem serem reveladas pelos brilhantes raios do Sol da Justiça. PJ 54 3 O Espírito Santo enviado do Céu, pela benevolência do infinito amor, toma as coisas de Deus e as revela a toda pessoa que tem fé implícita em Cristo. Por Seu poder, as verdades vitais das quais depende a salvação, são impressas na mente, e o caminho da vida torna-se tão claro, que ninguém precisa desviar-se. Estudando as Escrituras, devemos orar para que a luz do Santo Espírito de Deus ilumine a Palavra a fim de vermos e apreciarmos suas jóias. A recompensa da pesquisa PJ 54 4 Ninguém pense que não há mais sabedoria para alcançar. A profundeza do entendimento humano pode ser medida, as obras de autores humanos podem ser conhecidas; porém o mais alto, mais profundo e mais largo vôo da imaginação não pode descobrir a Deus. Há a imensidade além de tudo que podemos compreender. Vimos somente o cintilar da glória divina e do infinito conhecimento e sabedoria; temos estado a trabalhar, por assim dizer, próximos da superfície enquanto ricos veios de ouro estão mais embaixo, para recompensar aquele que cavar em sua procura. A escavação precisa aprofundar-se mais e mais na mina, e maravilhosos tesouros serão o resultado. Por uma fé correta, o conhecimento divino tornar-se-á conhecimento humano. Ninguém pode esquadrinhar as Escrituras no Espírito de Cristo sem ser recompensado. Quando o homem consente em ser instruído como uma criancinha, quando se submete inteiramente a Deus, achará a verdade em Sua Palavra. Se os homens fossem obedientes compreenderiam o plano do governo de Deus. O mundo celestial abriria os seus mistérios de graça e glória à pesquisa. Os seres humanos seriam totalmente diferentes do que agora são: porque, explorando as minas da verdade, os homens seriam enobrecidos. O mistério da salvação, a encarnação de Cristo, Seu sacrifício expiatório não seriam, como o são agora, noções vagas em nossa mente. Não somente seriam mais bem compreendidos, como infinitamente mais apreciados. PJ 55 0 Em Sua oração ao Pai, deu Cristo ao mundo uma lição que deve ser gravada na mente e na alma. "A vida eterna", disse, "é esta: Que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. Isto é verdadeira educação. Comunica-nos poder. O conhecimento experimental de Deus e de Jesus Cristo, a quem Ele enviou, transforma o homem na semelhança de Deus. Dá ao homem o domínio próprio, submetendo todos os impulsos e paixões da natureza inferior ao domínio das faculdades superiores da mente. Faz de seu possuidor filho de Deus e herdeiro do Céu. Leva-o à comunhão com a mente do Infinito e lhe abre os ricos segredos do Universo. PJ 55 1 Esse é o conhecimento obtido pelo estudo da Palavra de Deus. Esse tesouro pode ser encontrado por toda pessoa que der tudo para alcançá-lo. PJ 55 2 "Se clamares por entendimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus." Provérbios 2:3-5. ------------------------Capítulo 9 -- A pérola de grande preço PJ 55 3 Este capítulo é baseado em Mateus 13:45, 46. PJ 55 4 As bênçãos da graça remidora, nosso Salvador compara a uma preciosa pérola. Ilustrou Sua lição pela parábola do negociante que buscava boas pérolas e que, "encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a". Mateus 13:46. Cristo mesmo é a pérola de grande preço. NEle está comprovada a glória do Pai, a plenitude da Divindade. É o resplendor da magnificência do Pai e a expressa imagem de Sua Pessoa. A glória dos atributos de Deus é expressa em Seu caráter. Cada página das Sagradas Escrituras irradia Sua luz. A justiça de Cristo, como uma pérola branca e pura, não tem defeito nem mácula alguma. Nenhuma obra humana pode aperfeiçoar a grande e preciosa dádiva de Deus. É irrepreensível. Em Cristo "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da Ciência". Colossences 2:3. "Para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção." 1 Coríntios 1:30. Tudo que pode satisfazer às necessidades e anelos da vida humana, para este e para o mundo vindouro, é encontrado em Cristo. Nosso Redentor é a pérola tão preciosa, em comparação com a qual tudo pode ser estimado por perda. Cristo "veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam". João 1:11. A luz de Deus raiou nas trevas do mundo, "e as trevas não a compreenderam". João 1:5. Mas nem todos se acharam indiferentes à dádiva do Céu. O negociante da parábola representa uma classe que anelava sinceramente a verdade. Em diferentes nações havia pensadores sinceros que tinham procurado na literatura, ciência e religião do mundo gentílico, aquilo que poderiam receber como o tesouro do espírito. Entre os judeus havia os que procuravam alguma coisa que não possuíam. Não satisfeitos com uma religião formal, ansiavam alguma coisa espiritual e enobrecedora. Os discípulos escolhidos de Cristo pertenciam a esta última classe. Cornélio e o eunuco da Etiópia, à primeira. Tinham estado anelando a luz do Céu e orando por seu recebimento; e quando Cristo lhes foi revelado, receberam-nO com alegria. PJ 56 1 A pérola não nos é apresentada na parábola como uma dádiva. O negociante adquiriu-a pelo preço de tudo que possuía. Muitos indagam a significação disto, pois Cristo é apresentado nas Escrituras como uma dádiva. É uma dádiva, mas somente para aqueles que se Lhe entregam alma, corpo e espírito sem reservas. Devemos entregar-nos a Cristo, para viver uma vida de obediência voluntária a todos os Seus reclamos. Tudo que somos, todos os talentos e habilidades que possuímos, são do Senhor para serem consagrados a Seu serviço. Quando assim nos rendemos inteiramente a Ele, Cristo Se entrega a nós com todos os tesouros do Céu e adquirimos a pérola de grande preço. PJ 56 2 A salvação é um dom gratuito e contudo deve ser comprado e vendido. No mercado que está sob a administração do favor divino, a preciosa pérola é representada como sendo comprada sem dinheiro e sem preço. Neste mercado todos podem obter as mercadorias celestiais. A tesouraria das jóias da verdade está aberta a todos. "Eis que diante de ti pus uma porta aberta", declara o Senhor, "e ninguém a pode fechar." Apocalipse 3:8. Espada alguma guarda a entrada desta porta. Vozes do interior e de junto à porta dizem: Vem. A voz do Salvador nos convida ansiosa e amavelmente: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças." Apocalipse 3:18. PJ 56 3 O evangelho de Cristo é uma bênção que todos podem possuir. Os mais pobres tanto como os mais ricos estão em condições de adquirir a salvação; pois soma alguma de riquezas terrenas pode assegurá-la. É obtida pela obediência voluntária, entregando-nos a Cristo como Sua propriedade adquirida. A educação, mesmo da mais elevada espécie, não pode em si levar o homem para mais perto de Deus. Os fariseus eram favorecidos com todos os privilégios temporais e espirituais, e diziam com arrogância e orgulho: "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta"; contudo eram desgraçados, e miseráveis, e pobres, e cegos, e nus." Apocalipse 3:17. Cristo lhes ofereceu a pérola de grande preço; mas desdenharam aceitá-la, e Ele lhes disse: "Os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus." Mateus 21:31. PJ 57 1 Não podemos ganhar a salvação; devemos, porém, procurá-la com tanto interesse e perseverança, como se por ela quiséssemos abandonar tudo no mundo. PJ 57 2 Devemos buscar a pérola de grande preço, mas não nos mercados mundanos, ou por meios mundanos. O preço de nós exigido não é ouro nem prata, pois isto pertence a Deus. Abandonai a idéia de que privilégios temporais ou espirituais adquirir-vos-ão a salvação. Deus requer vossa obediência voluntária. Pede-vos renunciar a vossos pecados. "Ao que vencer", diz Cristo, "lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:21. Alguns há, que parece sempre buscarem a pérola celestial. Não renunciam, porém, completamente a seus maus hábitos. Não morrem para o próprio eu, para que Cristo viva neles. Por este motivo, não acham a pérola valiosa. Não venceram sua ambição profana e seu amor às atrações do mundo. Não tomam a cruz e não seguem a Cristo no caminho da abnegação e sacrifício. Quase cristãos mas não plenamente, parecem estar perto do reino do Céu, mas não podem ali entrar. Quase, mas não completamente salvos, significa estar não quase, porém completamente perdidos. PJ 57 3 A parábola do negociante que buscava boas pérolas, tem significação dupla: aplica-se não somente aos homens que procuram o reino dos Céus, como também a Cristo, que procura Sua herança perdida. Cristo, o Negociante celestial que busca boas pérolas, viu na humanidade perdida a pérola de preço. Viu as possibilidades de redenção no homem pervertido e arruinado pelo pecado. Corações que têm sido o campo de combate com Satanás, e foram salvos pelo poder do amor, são mais preciosos ao Salvador do que aqueles que jamais caíram. Deus contemplou a humanidade não como desprezível e indigna; contemplou-a em Cristo, viu-a como se podia tornar pelo amor redentor. PJ 57 4 Reuniu todas as riquezas do Universo e as ofereceu para adquirir a pérola. E Jesus, encontrando-a, insere-a novamente em Seu diadema. "Porque, como as pedras de uma coroa, eles serão exaltados na sua terra." Zacarias 9:16. "Eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro." Malaquias 3:17. PJ 57 5 Mas Cristo como a pérola preciosa, e nosso privilégio de possuir este tesouro celeste, é o tema com o qual mais nos deveríamos preocupar. O Espírito Santo é que revela aos homens a preciosidade da boa pérola. O tempo do poder do Espírito Santo é o tempo em que, num sentido especial, a dádiva celeste será procurada e achada. Nos dias de Cristo muitos ouviam o evangelho, mas tinham o espírito entenebrecido por falsos ensinos; e não reconheciam no humilde Mestre da Galiléia o Enviado de Deus. Mas depois da ascensão de Cristo, Sua entronização em Seu reino intercessório foi assinalada pelo derramamento do Espírito Santo. No dia de Pentecoste foi dado o Espírito. As testemunhas de Cristo anunciavam o poder do Salvador ressurreto. A luz do Céu penetrou na mente obscurecida dos que tinham sido enganados pelos inimigos de Cristo. Agora O contemplavam elevado "a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados". Atos dos Apóstolos 5:31. Viram-nO envolto na glória do Céu, com tesouros infinitos nas mãos para outorgar a todos os que se voltassem de sua rebelião. Proclamando os apóstolos a glória do Unigênito do Pai, foram convertidas três mil pessoas. Viam-se como realmente eram -- pecadores e poluídos, e a Cristo como seu Amigo e Redentor. Cristo foi exaltado, Cristo foi glorificado pelo poder do Espírito Santo, que repousava sobre os homens. Pela fé esses crentes contemplavam-nO como Aquele que suportara humilhação, sofrimento e morte, para que não perecessem mas tivessem a vida eterna. A revelação de Cristo pelo Espírito lhes trouxe um senso reconhecedor de Seu poder e majestade; e pela fé estendiam as mãos a Ele, dizendo: "Creio!" PJ 58 1 Então as boas-novas de um Salvador ressurgido foram levadas às mais longínquas extremidades do mundo habitado. A igreja viu como de todos os lugares lhe afluíam conversos. Crentes foram convertidos de novo. Pecadores aliavam-se aos cristãos, para buscar a pérola de grande preço. Cumpriu-se a profecia: "E o que dentre eles tropeçar, naquele dia, será como Davi, e a casa de Davi será... como o anjo do Senhor diante deles." Zacarias 12:8. Cada cristão via em seu irmão a semelhança divina de benevolência e amor. Um único interesse prevalecia. Um objetivo absorvia todos os outros. Todos os corações palpitavam em harmonia. O único empenho dos crentes era revelar a semelhança do caráter de Cristo e trabalhar pelo engrandecimento de Seu reino. "Era um o coração e a alma da multidão dos que criam. ... E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça." Atos dos Apóstolos 4:32, 33. "E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos dos Apóstolos 2:47. O Espírito de Cristo animava toda a congregação; porque tinham achado a pérola de grande preço. PJ 59 0 Estas cenas devem repetir-se, e com maior poder. O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecoste foi a chuva temporã; porém a chuva serôdia será mais copiosa. O Espírito aguarda nosso pedido e recepção. Cristo deve ser revelado novamente em Sua plenitude pelo poder do Espírito Santo. Homens reconhecerão o valor da pérola preciosa e dirão com o apóstolo Paulo: "O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor." Filipenses 3:7, 8. ------------------------Capítulo 10 -- A rede e a pesca PJ 59 1 Este capítulo é baseado em Mateus 13:47-50. PJ 59 2 "O reino dos Céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 13:47-50. PJ 59 3 O lançar da rede é a pregação do evangelho. Este congrega na igreja bons e maus. Quando terminar a missão do evangelho, o juízo efetuará a obra de separação. Cristo viu que a existência de falsos irmãos na igreja motivaria que se falasse mal do caminho da verdade. O mundo difamaria o Evangelho por causa da vida incoerente de falsos professos. Mesmo os cristãos seriam induzidos a tropeçar, ao verem que muitos que levavam o nome de Cristo não eram governados pelo Seu Espírito. Havendo tais pecadores na igreja, os homens estariam em perigo de pensar que Deus lhes desculparia os pecados. Por isso Cristo ergueu o véu do futuro e ordenou a todos que notassem que o caráter e não a posição é que decide o destino do homem. PJ 60 0 Tanto a parábola do joio, como a da rede, claramente ensinam que não haverá um tempo em que todos os ímpios se converterão a Deus. O trigo e o joio crescem juntos até à ceifa. Os peixes bons e os ruins são puxados juntamente para a margem, para uma separação final. PJ 60 1 Essas parábolas ensinam que depois do Juízo não haverá graça. Quando findar a obra do evangelho, seguir-se-á imediatamente a separação de bons e maus, e o destino de cada classe será fixado para sempre. PJ 60 2 Deus não deseja a destruição de ninguém. "Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?" Ezequiel 33:11. Durante todo o período da graça Seu Espírito insta com os homens para que aceitem o dom da vida. Somente os que Lhe rejeitam a intercessão serão deixados a perecer. Deus declarou que o pecado precisa ser destruído como um mal nocivo ao Universo. Os que se atêm ao pecado hão de perecer na destruição do mesmo. ------------------------Capítulo 11 -- Onde encontrar a verdade PJ 60 3 Este capítulo é baseado em Mateus 13:51, 52. PJ 60 4 Enquanto Cristo ensinava o povo, instruía ao mesmo tempo os discípulos para a sua obra futura. Em todos os Seus ensinos havia lições para eles. Depois de dar a parábola da rede, perguntou-lhes: "Entendestes todas estas coisas?" Disseram-Lhe: "Sim, Senhor." Mateus 13:51. Então lhes expôs, noutra parábola, a responsabilidade em relação às verdades recebidas. "Por isso", disse Ele, "todo escriba instruído acerca do reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas." Mateus 13:52. PJ 60 5 O pai de família não acumula o tesouro adquirido. Serve-se dele para partilhar com outros; e, pelo uso, o tesouro aumenta. O pai de família tem coisas preciosas, novas e velhas. Assim Cristo ensina que a verdade confiada aos discípulos deve ser anunciada ao mundo; e, partilhando o conhecimento da verdade, ele aumentará. Todos os que recebem no coração a mensagem do evangelho, almejarão proclamá-la. O amor de Cristo, de origem celeste, precisa encontrar expressão. Os que se revestiram de Cristo relatarão sua experiência, descobrindo passo a passo a direção do Espírito Santo -- sua sede e fome de conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, a quem enviou, o resultado de esquadrinhar as Escrituras, suas orações, sua agonia de alma e as palavras de Cristo a eles: "Teus pecados te são perdoados." É antinatural que qualquer pessoa mantenha em secreto estas coisas; e quem está possuído do amor de Cristo não o fará. Na mesma proporção em que o Senhor os tornou depositários da verdade sagrada, será seu desejo que outros recebam a mesma bênção. Divulgando os ricos tesouros da graça de Deus, ser-lhes-á concedido mais e mais da graça de Cristo. Terão o coração de uma criancinha em sua simplicidade e obediência irrestrita. Sua alma almejará a santidade e ser-lhes-á revelado sempre mais dos tesouros da verdade e da graça, para serem dados ao mundo. PJ 61 1 O grande celeiro da verdade é a Palavra de Deus -- a Palavra escrita, o livro da natureza e o livro da experiência no trato de Deus para com a vida humana. Eis os tesouros, de que os coobreiros de Cristo devem prover-se. Na pesquisa da verdade devem confiar em Deus e não na inteligência dos grandes homens, cuja sabedoria é loucura para Deus. O Senhor comunicará ao inquiridor o conhecimento de Si mesmo, pelos canais por Ele prescritos. PJ 61 2 Se o seguidor de Cristo crer em Sua Palavra e praticá-la, não haverá Ciência no mundo natural, que não possa compreender nem apreciar. Nada há que não lhe forneça meio de partilhar a verdade com outros. A história natural é um tesouro de conhecimentos em que todo estudante na escola de Cristo pode obter. Contemplando o encanto da natureza, estudando suas lições no cultivo do solo, no crescimento das árvores, em todas as maravilhas da terra, mar e céu, advir-nos-á percepção nova da verdade. Os mistérios ligados ao proceder de Deus para com os homens, as profundezas de Sua sabedoria e penetração, vistos na vida humana -- verificar-se-á serem um depósito repleto de tesouros. PJ 61 3 Mas, na Palavra escrita é que está revelado com maior clareza o conhecimento de Deus ao homem caído. Nela estão as inesgotáveis riquezas de Cristo. PJ 61 4 A Palavra de Deus abrange as Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamentos. Um não está completo sem o outro. Cristo declarou que as verdades do Antigo Testamento são tão preciosas quanto as do Novo. Cristo tanto foi o Redentor do homem no princípio do mundo quanto o é hoje. Antes que viesse à nossa Terra com Sua divindade revestida da humanidade, foi dada a mensagem do evangelho a Adão, Sete, Enoque, Matusalém e Noé. Abraão em Canaã e Ló em Sodoma anunciaram a mensagem, e de geração a geração mensageiros fiéis prenunciaram Aquele que havia de vir. Os ritos da dispensação judaica foram instituídos por Cristo mesmo. Foi Ele o fundamento de seu sistema de ofertas sacrificais, o grande antítipo de todo o seu cerimonial religioso. O sangue derramado quando os sacrifícios eram oferecidos apontava o sacrifício do Cordeiro de Deus. Todas as ofertas típicas tiveram nEle o seu cumprimento. PJ 62 1 Cristo, manifesto aos patriarcas, simbolizado no serviço sacrifical, retratado na lei, e revelado pelos profetas, é o tesouro do Antigo Testamento. Cristo em Sua vida, morte e ressurreição; Cristo como é manifesto pelo Espírito Santo, é o tesouro do Novo. Nosso Salvador, o resplendor da glória do Pai, tanto é o Antigo como o Novo. Os apóstolos deviam ir como testemunhas da vida, morte e mediação de Cristo, preditas pelos profetas. Cristo em Sua humilhação, pureza e santidade, em Seu amor incomparável, devia ser seu tema. E para pregar o evangelho em sua plenitude, precisavam apresentar o Salvador, não somente como lhes fora revelado em Sua vida e ensinos, mas também predito pelos profetas do Antigo Testamento e simbolizado pelo serviço sacrifical. Em Seus ensinos, Cristo expunha velhas verdades, das quais Ele mesmo era o originador, verdades que Ele próprio proferira pelos patriarcas e profetas; porém, sobre elas projetava agora nova luz. Como parecia diferente a sua significação! Sua explanação lançava ondas de luz e espiritualidade. E prometeu que o Espírito Santo deveria iluminar os discípulos para que a Palavra de Deus se lhes desdobrasse continuamente. Estariam capacitados para apresentar as verdades em renovada beleza. PJ 62 2 Desde a primeira promessa de redenção no Éden, a vida, o caráter e a mediação de Cristo têm constituído o estudo das mentes humanas. Todavia, cada mente pela qual tem atuado o Espírito Santo, expôs estes temas sob aspecto novo. As verdades da redenção são susceptíveis de desenvolvimento e expansão constantes. Embora velhas, são sempre novas, e revelam constantemente ao pesquisador da verdade maior glória e força mais potente. PJ 62 3 Em cada época há novo desenvolvimento da verdade, uma mensagem de Deus para essa geração. As velhas verdades são todas essenciais; a nova verdade não é independente da antiga, mas um desdobramento dela. Só compreendendo as velhas verdades é que podemos entender as novas. Quando Cristo quis expor aos discípulos a verdade de Sua ressurreição, começou "por Moisés e por todos os profetas", e "explicava-lhes o que dEle se achava em todas as Escrituras". Lucas 24:27. Mas a luz que brilha na nova ampliação da verdade, é que glorifica a velha. O homem que rejeita ou despreza a nova, não possui realmente a velha. Para ele perde seu poder vital e torna-se forma inanimada. PJ 63 1 Há homens que professam crer e ensinar as verdades do Antigo Testamento, ao passo que rejeitam o Novo. Pela recusa de aceitar os ensinos de Cristo mostram que tampouco crêem o que disseram os patriarcas e profetas. "Porque, se vós crêsseis em Moisés", disse Cristo, "creríeis em Mim, porque de Mim escreveu ele." João 5:46. Pelo que não há poder real em seus ensinos, mesmo do Antigo Testamento. PJ 63 2 Muitos que pretendem crer e ensinar o evangelho, encontram-se em erro idêntico. Rejeitam as Escrituras do Antigo Testamento, das quais Cristo declarou: "São elas que de Mim testificam." João 5:39. Rejeitando o Antigo, rejeitam efetivamente o Novo, pois ambos são parte de um todo inseparável. Ninguém pode apresentar corretamente a lei de Deus sem o evangelho, ou o evangelho sem a lei. A lei é o evangelho consolidado, e o evangelho é a lei desdobrada. A lei é a raiz, e o evangelho é a fragrante flor e frutos que produz. PJ 63 3 O Antigo Testamento projeta luz sobre o Novo, e o Novo, sobre o Antigo. Ambos são uma revelação da glória de Deus em Cristo. Ambos apresentam verdades que revelarão continuamente ao fervoroso inquiridor, novas profundezas. PJ 63 4 Incomensurável é a verdade em Cristo e mediante Cristo. O estudante da Escritura, por assim dizer, contempla uma fonte que se aprofunda e amplia à medida que mira sua profundeza. Nesta vida não entenderemos o mistério do amor de Deus em entregar Seu Filho para propiciação por nossos pecados. A obra de nosso Redentor na Terra é e sempre será assunto que há de exigir o máximo de nossa mais atenta imaginação. O homem pode empenhar toda a sua faculdade mental no esforço de penetrar este mistério, mas a sua capacidade de compreensão desfalecerá e fatigar-se-á. O pesquisador mais esforçado ver-se-á diante de um mar ilimitado e sem praias. PJ 63 5 A verdade, como é em Jesus, pode ser experimentada mas nunca explicada. Sua altura, largura e profundidade ultrapassam nosso entendimento. Podemos exercitar ao máximo a imaginação, e veremos então só tenuemente o esboço de um amor inexplicável, tão alto quanto o Céu, mas que baixou à Terra para gravar em toda a humanidade a imagem de Deus. PJ 63 6 Todavia nos é possível ver tanto da misericórdia divina quanto podemos suportar. Ela será desvendada à alma contrita e humilde. Compreenderemos a misericórdia de Deus justamente na proporção em que apreciamos o Seu sacrifício por nós. Esquadrinhando com humildade de coração a Palavra de Deus, descerrar-se-á à nossa pesquisa o grande tema da redenção. Ele aumentará de fulgor à medida que o contemplarmos, e, à medida que desejarmos entendê-lo, sua altura e profundidade crescerão. PJ 64 1 Nossa vida deve estar ligada à vida de Cristo, dEle receber continuamente, participar dEle, o Pão vivo que desceu do Céu, e prover-se de uma fonte sempre fresca, que sempre produz copioso tesouro. Se tivermos o Senhor sempre diante de nós, e deixarmos o coração transbordar em ações de graças e louvores a Ele, teremos frescor contínuo em nossa vida religiosa. Nossas orações terão a forma de uma conversa com Deus, como se falássemos com um amigo. Ele nos falará pessoalmente de Seus mistérios. Freqüentemente advir-nos-á um senso agradável e alegre da presença de Jesus. O coração arderá muitas vezes em nós, quando Ele Se achegar para comungar conosco, como o fazia com Enoque. Quando esta for em verdade a experiência do cristão, ver-se-lhe-ão na vida, simplicidade, mansidão, brandura e humildade de coração, que mostrarão a todos os que com ele mantêm contato, que esteve com Jesus e dEle aprendeu. PJ 64 2 Naqueles que a possuem, a religião de Cristo revelar-se-á um princípio vitalizante e penetrante, uma energia viva, operante e espiritual. Manifestar-se-ão a força, o frescor e a alegria da juventude perpétua. O coração que recebe a Palavra de Deus, não é como um açude que se evapora, nem como uma cisterna rota que perde o seu tesouro. É como a torrente da montanha, alimentada por fontes inesgotáveis, cuja água fresca e borbulhante salta, de rochedo em rochedo, refrescando os cansados, os sedentos e os duramente oprimidos. PJ 64 3 Essa experiência dá a todo instrutor da verdade, justamente as qualificações que o tornarão representante de Cristo. O espírito dos ensinos de Cristo lhe dará vigor e precisão às palavras e orações. Seu testemunho de Cristo não será acanhado nem frágil. O pastor não pregará sempre e sempre os mesmos discursos de praxe. Abrir-se-lhe-á a mente para a iluminação constante do Espírito Santo. PJ 64 4 Cristo disse: "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna. ... Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim. O Espírito é o que vivifica; ... as palavras que Eu vos disse são Espírito e vida." João 6:54, 57, 63. PJ 64 5 Se comermos a carne de Cristo e bebermos o Seu sangue, o elemento da vida eterna será encontrado no ministério. Não haverá um fundo de idéias arcaicas e repisadas. Cessará o sermão monótono e cansativo. As velhas verdades serão apresentadas, mas serão vistas sob novo prisma. Haverá percepção nova da verdade, clareza e poder que serão discernidos por todos. Os que têm o privilégio de estar sob um ministério tal, se sensíveis à influência do Espírito Santo, sentirão o poder tonificante de uma vida nova. O fogo do amor de Deus será aceso neles. Suas faculdades perceptivas serão avivadas para discernir a beleza e majestade da verdade. PJ 65 1 O fiel pai de família representa o que deve ser todo instrutor das crianças e dos adolescentes. Se fizer da Palavra de Deus seu tesouro, então dela extrairá continuamente novas verdades. Quando o professor confiar em Deus em oração, o espírito de Cristo sobre ele repousará, e, por intermédio dele e pelo Espírito Santo, Deus impressionará outras mentes. O Espírito enche a mente e o coração de doce esperança, ânimo e imagens bíblicas, e tudo isso será transmitido à juventude sob sua instrução. PJ 65 2 As fontes da paz e alegria celestiais, abertas na mente do professor pelas palavras da Inspiração, tornar-se-ão volumosa torrente de influência para abençoar todos quantos com Ele se relacionam. A Bíblia não será um livro enfadonho para o seu estudante. Sob a direção de um mestre sábio, a Palavra se lhe tornará mais e mais aprazível. Será como o pão da vida e jamais envelhecerá! Seu frescor e beleza atrairão e encantarão crianças e jovens. É como o Sol que brilha sobre a Terra e comunica perpetuamente luz e calor, e contudo jamais se esgota. PJ 65 3 O Espírito de Deus, santo e educador, está em Sua Palavra. Uma luz, nova e preciosa, irradia de cada página. A verdade é revelada, palavras e frases se tornam claras e apropriadas para a ocasião, como a voz de Deus falando ao coração. PJ 65 4 O Espírito Santo aprecia dirigir-Se à juventude, para desvendar-lhe os tesouros e belezas da Palavra de Deus. As promessas pronunciadas pelo grande Mestre cativarão os sentidos e animarão a alma com poder espiritual que é divino. Florescerá na mente fértil uma familiaridade com as coisas divinas, que será como baluarte contra a tentação. PJ 65 5 As palavras da verdade crescerão de importância e assumirão largueza e plenitude de significado com que jamais sonhamos. A beleza e a opulência da Palavra têm influência transformadora sobre a mente e o caráter. A luz do amor celeste incidirá sobre a alma, qual inspiração. A apreciação da Bíblia aumenta com o estudo. Para onde quer que se volte o aluno, achará manifestos a infinita sabedoria e o amor de Deus. O significado da dispensação judaica não é ainda plenamente compreendido. Profundas e vastas verdades são prefiguradas em seus ritos e símbolos. O evangelho é a chave que desvenda seus mistérios. Pelo conhecimento do plano de salvação, suas verdades abrir-se-nos-ão ao entendimento. Muito mais do que o fazemos, temos o privilégio de compreender estes maravilhosos temas. Devemos entender as profundas coisas de Deus. Anjos desejam atentar para as verdades reveladas a quem sonda a Palavra de Deus com coração contrito, e suplica por maior comprimento, e largura, e profundidade, e altura da sabedoria, que só Ele pode conceder. PJ 66 1 À medida que nos aproximamos do final da história deste mundo, as profecias referentes aos últimos dias exigem nosso estudo especial. O último dos escritos do Novo Testamento está cheio de verdades cuja compreensão nos é necessária. Satanás cegou as mentes, de modo que se satisfazem com qualquer desculpa para não estudarem o Apocalipse. Cristo, porém, por intermédio de Seu servo João, declarou o que acontecerá nos últimos dias, e diz: "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas." Apocalipse 1:3. PJ 66 2 "A vida eterna é esta", disse Cristo, "que Te conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. Por que não reconhecemos o valor deste conhecimento? Por que não nos ardem no coração estas gloriosas verdades? Por que não nos tremem nos lábios e não nos penetram todo o ser? PJ 66 3 Dando-nos Sua Palavra, Deus nos colocou na posse de toda a verdade essencial para a nossa salvação. Milhares extraíram água desta fonte de vida, todavia a provisão não diminui. Milhares puseram o Senhor diante de si e contemplando-O foram transformados à Sua própria semelhança. O espírito arde dentro deles ao falarem de Seu caráter, quando contam o que Cristo é para eles e o que são para Cristo. Mas, esses inquiridores não esgotaram estes grandes e santos temas. Milhares podem empenhar-se na obra de esquadrinhar os mistérios da salvação. Meditando sobre a vida de Cristo e o caráter de Sua missão, em cada tentativa de descobrir a verdade, raios de luz refulgirão mais distintamente. Cada novo estudo revelará algum ponto de interesse mais profundo do que já fora desdobrado. O assunto é inesgotável. O estudo da encarnação de Cristo, Seu sacrifício propiciatório e Sua mediação hão de, enquanto o tempo durar, ocupar o espírito do estudante diligente; e, contemplando o Céu com seus inumeráveis anos, exclamará: "Grande é o mistério da piedade." 1 Timóteo 3:16. PJ 66 4 Na eternidade estudaremos aquilo que nos teria aberto o entendimento se houvéssemos recebido a iluminação que nos era possível obter aqui. Através dos séculos infinitos o tema da redenção ocupará o coração, mente e língua dos remidos. Eles compreenderão as verdades que Cristo almejava abrir a Seus discípulos, e para cuja assimilação, porém, não tinham suficiente fé. Sempre e sempre nos serão reveladas novas visões da perfeição e glória de Cristo. Através dos séculos eternos o fiel Pai de família tirará de Seu tesouro coisas novas e velhas. ------------------------Capítulo 12 -- Como aumentar a fé e a confiança PJ 67 0 Este capítulo é baseado em Lucas 11:1-13. PJ 67 1 Cristo recebia constantemente do Pai, para que nos pudesse comunicar. "A palavra que ouvistes", disse Ele, "não é Minha, mas do Pai que Me enviou." João 14:24. "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir." Mateus 20:28. Vivia, meditava e orava não para Si mesmo, mas para os outros. Depois de passar horas com Deus, apresentava-Se manhã após manhã para comunicar aos homens a luz do Céu. Cotidianamente recebia novo batismo do Espírito Santo. Nas primeiras horas do novo dia o Senhor O despertava de Seu repouso, e Sua alma e lábios eram ungidos de graça para que a pudesse transmitir a outros. As palavras Lhe eram dadas diretamente das cortes celestes, palavras que pudesse falar oportunamente aos cansados e oprimidos. "O Senhor Jeová", disse, "Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado: Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem." Isaías 50:4. As orações de Cristo e Seu hábito de comunhão com Deus, impressionavam muito os discípulos. Um dia, depois de breve ausência de Seu Senhor, encontraram-nO absorto em súplicas. Parecendo inconsciente da presença deles, continuou orando em alta voz. O coração dos discípulos foi movido profundamente. Ao cessar Ele de orar, exclamaram: "Senhor, ensina-nos a orar." Lucas 11:1. PJ 67 2 Correspondendo ao pedido, Cristo proferiu a oração do Senhor, tal como a dera no sermão da montanha. Ilustrou, então, por meio de uma parábola, a lição que desejava dar-lhes. PJ 67 3 "Qual de vós", disse, "terá um amigo e, se for procurá-lo à meia-noite, lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar. Digo-vos que, ainda que se não levante a dar-lhos por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação e lhe dará tudo o que houver mister." Lucas 11:5-8. PJ 68 1 Cristo representa aqui o suplicante solicitando, para que pudesse dar. Precisa obter pão, senão não pode suprir as necessidades de um viajante cansado e retardatário. Embora o vizinho não queira ser importunado, não desanimará seu pedido; o amigo precisa ser auxiliado; e finalmente a sua importunação é recompensada; seus desejos são satisfeitos. PJ 68 2 Do mesmo modo os discípulos deveriam solicitar bênçãos de Deus. No alimentar a multidão e no sermão sobre o pão do Céu, Cristo lhes descobrira sua obra como representantes Seus. Deviam dar ao povo o pão da vida. Ele que lhes designara a obra, viu quantas vezes sua fé seria provada. Freqüentemente se lhes deparariam situações imprevistas e reconheceriam sua insuficiência humana. Pessoas famintas do pão da vida iriam ter com eles, e eles se sentiriam destituídos de recursos. Precisavam receber alimento espiritual, pois de outro modo nada teriam para repartir. Não deviam, porém, despedir pessoa alguma sem alimentá-la. Cristo lhes apontou a fonte de provisão. O homem não despediu o amigo que a ele recorreu para hospedar-se, embora chegasse à hora inoportuna da meia-noite. Nada tinha para apresentar-lhe, mas recorreu a alguém que tinha alimento e insistiu em sua petição até o vizinho lhe suprir a necessidade. E não supriria Deus, que enviou Seus servos para alimentar os famintos, o de que precisassem para Sua própria obra? PJ 68 3 Mas o vizinho egoísta da parábola não representa o caráter de Deus. A lição é tirada, não por comparação, mas por contraste. O homem egoísta atenderá a um pedido urgente, para livrar-se de alguém que lhe perturba o repouso. Deus, porém, Se deleita em dar. É cheio de compaixão e anseia por atender às petições dos que a Ele recorrem pela fé. Dá-nos para que sirvamos a outros e deste modo nos assemelhemos a Ele. PJ 68 4 Cristo declara: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á." Lucas 11:9, 10. PJ 68 5 O Salvador continua: "Qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" Lucas 11:1-13. PJ 68 6 Para fortalecer-nos a confiança em Deus, Cristo nos ensina a dirigirmo-nos a Ele por um nome novo, um nome enlaçado com as mais caras relações do coração humano. Concede-nos o privilégio de chamar o infinito Deus de nosso Pai. Este nome dito a Ele ou dEle, é um sinal de nosso amor e confiança para com Ele, e um penhor de Sua consideração e parentesco conosco. Pronunciado ao pedir Seu favor ou bênçãos, soa-Lhe aos ouvidos como música. Para que não julgássemos presunção invocá-Lo por este nome, repetiu-o muitas vezes. Deseja que nos familiarizemos com este trato. PJ 69 1 Deus nos considera filhos Seus. Redimiu-nos do mundo indiferente, e nos escolheu para tornar-nos membros da família real, filhos e filhas do celeste Rei. Convida-nos a nEle confiar, com confiança mais profunda e mais forte que a do filho no pai terrestre. Os pais amam os filhos, mas o amor de Deus é maior, mais largo e mais profundo do que jamais pode sê-lo o amor humano. É incomensurável. Portanto, se os pais terrestres sabem dar boas dádivas a seus filhos, quanto mais não dará nosso Pai do Céu o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem? PJ 69 2 As lições de Cristo referentes à oração devem ser ponderadas cuidadosamente. Há uma ciência divina na oração, e Sua ilustração apresenta-nos princípios que todos necessitam compreender. Mostra qual é o verdadeiro espírito da oração, ensina a necessidade de perseverança ao expormos nossas súplicas a Deus, e nos assegura Sua boa vontade de ouvir as orações e a elas atender. PJ 69 3 Nossas orações não devem ser uma solicitação egoísta, meramente para nosso próprio benefício. Devemos pedir para podermos dar. O princípio da vida de Cristo deve ser o princípio de nossa vida. "Por eles Me santifico a Mim mesmo", disse, referindo-Se aos discípulos, "para que também eles sejam santificados." João 17:19. A mesma devoção, o mesmo sacrifício, a mesma submissão às reivindicações da Palavra de Deus, manifestos em Cristo, devem ser vistos em Seus servos. Nossa missão no mundo não é servir ou agradar a nós mesmos; devemos glorificar a Deus, com Ele cooperando para salvar pecadores. Devemos suplicar de Deus bênçãos para partilhar com outros. A capacidade de receber só é preservada compartilhando. Não podemos continuar recebendo os tesouros celestiais sem os transmitir aos que estão ao nosso redor. PJ 69 4 Na parábola, o suplicante foi repelido várias vezes; porém não desistiu de sua intenção. Assim, nossas orações nem sempre parece serem atendidas imediatamente; mas Cristo ensina que não devemos cessar de orar. A oração não se destina a efetuar qualquer mudança em Deus, deve elevar-nos à harmonia com Ele. Ao Lhe fazermos alguma petição, pode ver que nos é necessário examinar o coração e arrepender-nos do pecado. Por isso nos faz passar por dificuldades, provações e humilhações, para que vejamos o que impede em nós a operação do Espírito Santo. PJ 70 1 Há condições para o cumprimento das promessas de Deus, e a oração nunca pode substituir o dever. "Se Me amardes", diz Cristo, "guardareis os Meus mandamentos." João 14:15. "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele." João 14:21. Aqueles que apresentam suas petições a Deus, reivindicando Sua promessa, enquanto não satisfazem as condições, ofendem a Jeová. Apresentam o nome de Cristo como autoridade para o cumprimento da promessa, porém não fazem aquilo que demonstraria fé em Cristo e amor a Ele. PJ 70 2 Muitos infringem a condição sob a qual são aceitos pelo Pai. Devemos examinar minuciosamente o ato de confiança de nos achegarmos a Deus. Se somos desobedientes apresentamos ao Senhor uma nota para ser paga, quando não preenchemos as condições que no-la tornaria pagável. Expomos a Deus Suas promessas e Lhe pedimos cumprir as mesmas, quando se o fizesse desonraria Seu nome. A promessa é: "Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito." João 15:7. E João declara: "Nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-O e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a Sua Palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nEle." 1 João 2:3-5. PJ 70 3 Um dos últimos mandamentos de Cristo aos discípulos, foi: "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós." João 13:34. Obedecemos a este mandamento, ou cultivamos rudes traços de caráter diferentes dos de Cristo? Se causarmos de qualquer maneira dores e tristezas a outros, é nosso dever confessar nossa falta e procurar reconciliação. Esta é uma preparação essencial para nos podermos achegar pela fé a Deus para Lhe solicitar as bênçãos. PJ 70 4 Há ainda outro ponto freqüentemente negligenciado por aqueles que procuram a Deus em oração. Tendes sido fiéis para com vosso Deus? O Senhor declara pelo profeta Malaquias: "Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos Meus estatutos e não os guardastes; tornai vós para Mim, e Eu tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas." Malaquias 3:7, 8. PJ 70 5 Como Doador de todas as bênçãos, Deus requer certa porção de tudo quanto possuímos. Esta é uma providência para sustentar a pregação do evangelho. Restituindo a Deus essa parte, testemunharemos nosso apreço por Suas dádivas. Como podemos, pois, reivindicar Suas bênçãos, se retemos o que Lhe pertence? Como podemos esperar que nos confie coisas celestiais, se somos mordomos infiéis das terrenas? Pode ser que nisso esteja o segredo das orações não atendidas. PJ 71 1 Em Sua grande misericórdia, porém, o Senhor está pronto a perdoar, e diz: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, ... se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril. ... E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:10-12. PJ 71 2 O mesmo se dá com todos os reclamos de Deus. Todas as dádivas são prometidas sob a condição de obediência. Deus tem um Céu cheio de bênçãos para aqueles que com Ele cooperarem. Todos quantos Lhe são obedientes podem com confiança pedir o cumprimento de Suas promessas. PJ 71 3 Devemos, porém, mostrar firme e inabalável confiança em Deus. Às vezes Ele tarda a responder para provar-nos a fé ou experimentar a sinceridade de nosso desejo. Havendo nós pedido em harmonia com Sua Palavra, devemos crer em Sua promessa, e insistir em nossas petições com determinação inabalável. PJ 71 4 Deus não nos diz: Pedi uma vez, e dar-se-vos-á. Requer que peçamos. Persistir incansavelmente em oração. A súplica persistente põe o peticionário em atitude mais fervorosa, e dá-lhe maior desejo de receber o que pede. Junto ao túmulo de Lázaro, Cristo disse a Marta: "Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?" João 11:40. PJ 71 5 Muitos, porém, não possuem fé viva. Esta é a razão de não provarem mais do poder de Deus. Sua fraqueza é conseqüência da incredulidade. Têm mais fé em seu próprio recurso do que na operação de Deus por eles. Procuram guardar-se a si mesmos. Planejam e arquitetam, mas oram pouco e têm pouca confiança real em Deus. Pensam possuir fé, mas é somente o impulso do momento. Por não reconhecerem sua própria necessidade ou a voluntariedade de Deus em dar, não perseveram em apresentar perante o Senhor suas súplicas. PJ 71 6 Nossas orações devem ser tão fervorosas e persistentes, quanto a petição do amigo necessitado que solicitava os pães à meia-noite. Quanto mais sincera e perseverantemente pedirmos, tanto mais íntima será nossa união espiritual com Cristo. Receberemos maiores bênçãos, porque possuímos maior fé. PJ 72 1 Nossa parte é orar e crer. Vigiai em oração. Vigiai e cooperai com o Deus que ouve as orações. Lembrai-vos de que "somos cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. Falai e procedei em harmonia com vossas orações. Fará diferença infinita para vós, se a provação manifestar que vossa fé é genuína, ou que vossas orações são apenas formais. PJ 72 2 Quando surgirem perplexidades, e dificuldades vos confrontarem, não espereis auxílio de homens. Confiai inteiramente em Deus. O costume de contar as dificuldades a outros, só nos torna fracos e não lhes traz força. Sobrecarrega-os com o fardo de nossas fraquezas espirituais, que não podem remediar. Procuramos os recursos de homens errantes e finitos, quando poderíamos ter a força do Deus infalível e infinito. PJ 72 3 Não precisamos ir aos extremos da Terra em busca de sabedoria, porque Deus está perto. Não é a capacidade que agora possuímos ou havemos de possuir, que nos dará êxito. É o que o Senhor pode fazer por nós. Deveríamos depositar muito menos confiança no que o homem é capaz de fazer, e muito mais no que Deus pode fazer para cada alma crente. Anseia Ele que Lhe estendamos as mãos pela fé. Anseia que esperemos grandes coisas dEle. Anela dar-nos sabedoria, tanto nos assuntos temporais como nos espirituais. Pode aguçar o intelecto. Pode dar tato e habilidade. Empreguemos nossos talentos na obra, peçamos a Deus sabedoria, e ser-nos-á dada. PJ 72 4 Aceitemos a Palavra de Cristo como nossa segurança. Não nos convidou a ir a Ele? Nunca nos permitamos falar de modo desesperançado e desanimado. Perderemos muito, se o fizermos. Olhando as aparências e lamentando quando vêm dificuldades e angústias, damos prova de fé doentia e débil. Falemos e procedamos como se a vossa fé fosse invencível. O Senhor é rico em recursos; pertence-Lhe todo o mundo. Pela fé olhemos para o Céu. Contemplemos Aquele que tem luz e poder e eficiência. PJ 72 5 Há na fé genuína, firmeza e constância de princípio, e estabilidade de propósito, que nem o tempo nem fadigas podem enfraquecer. "Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão." Isaías 40:30, 31. PJ 72 6 Muitos há que anelam auxiliar a outros, mas sentem que não possuem capacidade ou luz espiritual para partilhar. Apresentem estes as suas petições perante o trono da graça. Rogue pelo Espírito Santo. Deus mantém cada promessa que fez. Com a Bíblia nas mãos, diga: Fiz como disseste. Apresento Tua promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á." Lucas 11:9. PJ 72 7 Precisamos não só pedir em nome de Cristo, mas também pela inspiração do Espírito Santo. Isto explica o que significa o dito de que: "O mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis." Romanos 8:26. Tais orações Deus Se deleita em atender. Quando proferirmos uma oração com fervor e intensidade no nome de Cristo, há nessa mesma intensidade o penhor de Deus de que Ele está prestes a atender à nossa súplica "muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20. PJ 73 1 Cristo disse: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Marcos 11:24. PJ 73 2 "Tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho." João 14:13. E o amado João, sob inspiração do Espírito Santo, diz com clareza e confiança: "Se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos." 1 João 5:14, 15. Portanto insistamos em nossas petições ao Pai em nome de Jesus. Deus honrará esse nome. PJ 73 3 O arco-íris sobre o trono é a garantia de que Deus é verdadeiro e que nEle não há mudança nem sombra de variação. Temos pecado contra Ele e somos indignos de Seu favor; todavia Ele mesmo nos pôs nos lábios a mais maravilhosa de todas as petições: "Não nos rejeites por amor do Teu nome; não abatas o trono da Tua glória; lembra-Te e não anules o Teu concerto conosco." Jeremias 14:21. Quando a Ele formos confessando nossa indignidade e pecado, Ele Se comprometeu a atender-nos ao clamor. A honra de Seu trono foi-nos dada como penhor do cumprimento de Sua Palavra. PJ 73 4 Como Arão, que simbolizava a Cristo, nosso Salvador no santuário celestial traz sobre o coração o nome de Seu povo. Nosso grande Sumo Sacerdote Se lembra de todas as palavras pelas quais nos animou a confiar. Lembra-Se continuamente de Seu concerto. PJ 73 5 Todos os que O buscarem, O acharão. A todos os que batem será aberta a porta. Não será dada a desculpa: Não me importunes; a porta está cerrada; não desejo abri-la. Jamais será dito a alguém: Não vos posso auxiliar. Os que pedem pão à meia-noite para alimentar pessoas famintas, serão atendidos. PJ 73 6 Na parábola, aquele que solicita pão para o estrangeiro, recebe "tudo o que houver mister". Lucas 11:8. E em que medida nos dará Deus, para que possamos compartilhar com outros? "Segundo a medida do dom de Cristo." Efésios 4:7. Anjos vigiam com intenso interesse para ver como os homens procedem com seu próximo. PJ 73 7 Se notam que alguém demonstra para com os errantes simpatia semelhante à de Cristo, agrupam-se em torno dele e lembram-lhe palavras para proferir, que serão para a pessoa como o pão da vida. Assim, "Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus". Filipenses 4:19. Tornará vosso testemunho sincero e real, forte no poder da vida futura. A Palavra do Senhor será em vossa boca verdade e justiça. PJ 74 0 Ao trabalho pessoal por outros, deve preceder muita oração particular, pois requer grande sabedoria o compreender a ciência da salvação de pessoas. Antes de comunicar-vos com os homens, comungai com Cristo. Junto ao trono da graça celestial preparai-vos para ministrar ao povo. PJ 74 1 Quebrante-se-vos o coração pelo anelo que tem de Deus, do Deus vivo. A vida de Cristo mostrou o que a humanidade pode fazer se participar da natureza divina. Tudo quanto Cristo recebeu de Deus, podemos nós possuir também. Portanto, pedi e recebei. Com a perseverante fé de Jacó, com a invencível persistência de Elias reclamai tudo quanto Deus prometeu. PJ 74 2 Que vossa mente seja possuída pelas gloriosas concepções de Deus. Una-se vossa vida, por elos ocultos, à vida de Jesus. Aquele que fez que das trevas resplandecesse a luz, deseja resplandecer em vosso coração para iluminação do conhecimento da gloria de Deus, na face de Jesus Cristo. O Espírito Santo tomará as coisas de Deus e vo-las revelará, transmitindo-as como força viva ao coração obediente. Cristo vos conduzirá ao limiar do Infinito. Podeis contemplar a glória além do véu, e revelar aos homens a suficiência dAquele que vive eternamente para interceder por nós. ------------------------Capítulo 13 -- Um sinal de grandeza PJ 74 3 Este capítulo é baseado em Lucas 18:9-14. PJ 74 4 A uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros, dirigiu Cristo a parábola do fariseu e do publicano. O fariseu sobe ao templo para adorar, não porque sente ser pecador necessitado de perdão, mas por julgar-se justo e esperar obter elogio. Considera sua adoração um ato meritório que o recomendará a Deus. Simultaneamente dará ao povo uma demonstração elevada de sua piedade. Esperava assegurar-se o favor de Deus e dos homens. Sua adoração é motivada pelo interesse próprio. PJ 74 5 Está cheio de louvor próprio. Isto é evidente em seu olhar, porte e oração. Apartando-se dos outros, como se quisesse dizer: "Não vos chegueis a mim, porque sou mais santo do que vós", põe de pé e ora "consigo". Isaías 65:5. Todo satisfeito consigo mesmo, pensa que Deus e os homens o consideram com igual complacência. PJ 75 1 "Ó Deus, graças Te dou", disse, "porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano." Lucas 18:11. PJ 75 2 Julga seu caráter, não pelo caráter santo de Deus, mas pelo caráter de outros homens. Seu espírito desvia-se de Deus para a humanidade. Este é o segredo de sua satisfação própria. PJ 75 3 Prossegue enumerando suas boas ações: "Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo." Lucas 18:12. A religião do fariseu não toca a pessoa. Não atenta para o caráter semelhante ao de Deus, nem para o coração cheio de amor e misericórdia. Dá-se por contente com uma religião que só se refere à vida exterior. Sua justiça lhe é própria -- é o fruto de suas próprias obras. E é julgada por um padrão humano. PJ 75 4 Todo aquele que em si mesmo confia que é justo, desprezará os demais. Como o fariseu, julga a si próprio por outros homens, julga aos outros por si. Sua justiça é avaliada pela deles, e quanto piores, tanto mais justo parece ele. Sua justiça própria leva-o a acusar. "Os demais homens", condena ele como transgressores da lei de Deus. Deste modo manifesta o próprio espírito de Satanás, o acusador dos irmãos. Impossível lhe é neste espírito entrar em comunhão com Deus. Volta para sua casa destituído da bênção divina. PJ 75 5 O publicano entrou no templo juntamente com outros adoradores, mas, como se fosse indigno de tomar parte na devoção, apartou-se logo deles. "Estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito", em profunda angústia e aversão própria. Sentia que transgredira a lei de Deus e era pecador e poluído. Não podia esperar nem mesmo piedade dos circunstantes; porque todos o observavam com desprezo. Sabia que em si não tinha méritos para recomendá-lo a Deus, e em absoluto desespero, clamou: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" Lucas 18:13. Não se comparou com outros. Esmagado por um senso de culpa, estava como que só, na presença de Deus. Seu único desejo era alcançar paz e perdão; sua única súplica, a bênção de Deus. E foi abençoado. "Digo-vos", disse Cristo, "que este desceu justificado para sua casa, e não aquele." Lucas 18:14. PJ 75 6 O fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem os adoradores de Deus. Seus primeiros representantes encontram-se nos dois primeiros filhos nascidos neste mundo. Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia de misericórdia. Abel, porém, foi com o sangue que apontava ao Cordeiro de Deus. Foi como pecador que confessava estar perdido; sua única esperança era o imerecido amor de Deus. O Senhor Se agradou de seu sacrifício, mas de Caim e de sua oferta não Se agradou. A intuição de necessidade, o reconhecimento de nossa pobreza e pecado, é a primeira condição para sermos aceitos por Deus. "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus." Mateus 5:3. PJ 76 1 Para cada um dos grupos representados pelo fariseu e o publicano, há uma lição na história do apóstolo Pedro. Na primeira parte de seu discipulado, Pedro tinha-se por forte. Semelhante ao fariseu, não era a seus olhos "como os demais homens". Lucas 18:11. Quando Cristo, na noite em que foi traído, preveniu Seus discípulos: "Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim", Pedro retrucou confiantemente: "Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu." Marcos 14:27, 29. Pedro não conhecia o perigo que o ameaçava. A confiança própria enganou-o. Julgou-se capaz de resistir à tentação; mas poucas horas depois veio a prova e, com blasfêmia e perjúrio, negou seu Senhor. PJ 76 2 Quando o cantar do galo lhe lembrou as palavras de Cristo, surpreso e atônito pelo que acabava de fazer, voltou-se e olhou a seu Mestre. Simultaneamente Cristo olhou a Pedro e sob aquele olhar aflito em que se misturavam amor e compaixão por ele, Pedro conheceu-se. Saiu e chorou amargamente. Aquele olhar de Cristo lhe partiu o coração. Pedro chegara ao ponto decisivo, e amargamente se arrependeu de seu pecado. Foi como o publicano em sua contrição e arrependimento, e como o publicano achou também graça. O olhar de Cristo lhe assegurou o perdão. PJ 76 3 Findou aí sua confiança própria. Nunca mais foram repetidas as velhas afirmações de auto-suficiência. PJ 76 4 Depois da ressurreição, três vezes provou Cristo a Pedro. "Simão, filho de Jonas", disse, "amas-Me mais do que estes?" João 21:15. Pedro agora não se exaltou sobre os irmãos. Apelou Àquele que podia ler o coração. "Senhor", respondeu, "Tu sabes tudo; Tu sabes que eu Te amo." João 21:17. PJ 76 5 Recebeu então Sua incumbência. Foi-lhe apontada uma obra mais ampla e mais delicada que antes. Cristo lhe ordenou apascentar as ovelhas e os cordeiros. Confiando-lhe ao cuidado as pessoas pelas quais o Salvador depusera a vida, deu Cristo a Pedro a maior prova de estar convencido de sua reabilitação. O discípulo outrora inquieto, orgulhoso, confiante em si mesmo, tornara-se submisso e contrito. Desde então, seguiu o seu Senhor em abnegação e sacrifício próprio. Era participante dos sofrimentos de Cristo; e quanto Ele Se assentar no trono de Sua glória, Pedro será um participante da mesma. PJ 77 1 O mesmo mal que levou Pedro à queda e excluiu da comunhão com Deus o fariseu, torna-se hoje a ruína de milhares. Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável. A queda de Pedro não foi repentina, mas gradual. A confiança em si mesmo induziu-o à crença de que estava salvo, e desceu passo a passo o caminho descendente até negar a Seu Mestre. Jamais podemos confiar seguramente em nós mesmos ou sentir, aquém do Céu, que estamos livres da tentação. Nunca se deve ensinar aos que aceitam o Salvador, conquanto sincera sua conversão, que digam ou sintam que estão salvos. Isso é enganoso. Deve-se ensinar cada pessoa a acariciar esperança e fé; mas, mesmo quando nos entregamos a Cristo e sabemos que Ele nos aceita não estamos fora do alcance da tentação. A Palavra de Deus declara: "Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados." Daniel 12:10. Só aquele que "sofre a tentação... receberá a coroa da vida". Tiago 1:12. PJ 77 2 Os que aceitam a Cristo e dizem em sua primeira confiança: "Estou salvo!" estão em perigo de depositar confiança em si mesmos. Perdem de vista a sua fraqueza e necessidade constante do poder divino. Estão desapercebidos para as ciladas de Satanás, e quando tentados, muitos, como Pedro, caem nas profundezas do pecado. Somos advertidos: "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:12. Nossa única segurança está na constante desconfiança de nós mesmos e na confiança em Cristo. PJ 77 3 Era necessário que Pedro conhecesse seus próprios defeitos de caráter e a necessidade de receber de Cristo poder e graça. O Senhor não podia livrá-lo da tentação, mas sim salvá-lo da derrota. Estivesse Pedro disposto a aceitar a advertência de Cristo, teria vigiado em oração. Teria andado com temor e tremor para que seus pés não tropeçassem. E teria recebido auxílio divino, de modo que Satanás não teria alcançado a vitória. PJ 77 4 Foi pela presunção que Pedro caiu; e por arrependimento e humilhação seus pés foram firmados novamente. No relatório de sua experiência todo pecador penitente pode achar encorajamento. Embora Pedro tivesse pecado gravemente, não foi abandonado. As palavras de Cristo: "Roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça", estavam-lhe escritas no mais íntimo do ser. Lucas 22:32. Em sua amarga agonia de remorso, esta oração e a lembrança do terno e misericordioso olhar de Cristo, deram-lhe esperança. Depois da ressurreição, lembrou-se Cristo de Pedro e deu ao anjo a mensagem para as mulheres: "Ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis." Marcos 16:7. O arrependimento de Pedro foi aceito pelo Salvador compassivo. PJ 78 1 E a mesma compaixão manifestada para salvar a Pedro é oferecida a todo indivíduo que caiu em tentação. É o ardil especial de Satanás levar o homem ao pecado e, então, deixá-lo desamparado e tremente, receando suplicar perdão. Por que devemos temer, se Deus disse: "Que se apodere da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo."? Isaías 27:5. Foram tomadas todas as providências para nossas fraquezas e oferecido todo encorajamento para nos chegarmos a Cristo. PJ 78 2 Cristo ofereceu Seu corpo quebrantado para readquirir a herança de Deus, para dar ao homem outra prova. "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Hebreus 7:25. Por Sua vida imaculada, obediência e morte na cruz do Calvário, intercedeu Cristo pela raça perdida. E agora o Príncipe de nossa salvação não intercede por nós como mero peticionário, mas como um Conquistador que reclama a vitória. Seu sacrifício está consumado e como nosso Intercessor cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs, apresentando a Deus o incensário que contém os Seus méritos imaculados e as orações, confissões e ações de graças de Seu povo. Perfumados com a fragrância de Sua justiça, sobem como cheiro suave a Deus. A oferenda é inteiramente aceitável, e o perdão cobre todas as transgressões. Cristo Se comprometeu a ser nosso substituto e fiador, e não despreza ninguém. Ele, que não pôde ver seres humanos sujeitos à ruína eterna sem entregar Sua vida à morte por eles, contemplará com piedade e compaixão todo aquele que reconhece não poder salvar-se a si próprio. Não contemplará nenhum trêmulo suplicante, sem soerguê-lo. Ele, que pela expiação proveu ao homem um infinito tesouro de força moral, não deixará de empregar esse poder em nosso favor. Podemos depositar a Seus pés nossos pecados e cuidados; pois Ele nos ama. Mesmo Seu olhar e palavras despertam nossa confiança. Formará e moldará nosso caráter segundo Sua vontade. PJ 78 3 Em todo o poderio satânico não há força para vencer uma única pessoa que se rende confiante a Cristo. "Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor." Isaías 40:29. PJ 78 4 "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 João 1:9. O Senhor diz: "Somente reconhece a tua iniqüidade, que contra o Senhor, teu Deus, transgrediste." Jeremias 3:13. "Então, espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei." Ezequiel 36:25. PJ 79 1 Todavia precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes de podermos achar perdão e paz. O fariseu não sentia convicção de pecado. O Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida apoiava-se numa couraça de justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e desferidas pelos anjos, não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador. Veio "a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos". Lucas 4:18, 19. Mas "não necessitam de médico os que estão sãos". Lucas 5:31. Precisamos conhecer nossa verdadeira condição, do contrário não sentiremos nossa carência do auxílio de Cristo. Precisamos compreender nosso perigo, senão não correremos ao refúgio. Precisamos sentir a dor de nossas feridas, senão não desejaremos cura. PJ 79 2 O Senhor diz: "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:17, 18. O ouro provado no fogo é a fé que opera por amor. Somente isto nos pode pôr em harmonia com Deus. Podemos ser ativos, podemos executar muito trabalho; mas sem o amor, amor como o que há no coração de Cristo, jamais podemos ser contados na família celestial. Nenhum homem pode de si mesmo entender seus erros. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" Jeremias 17:9. Os lábios podem exprimir uma pobreza de espírito que o coração não reconhece. Ao passo que fala a Deus de pobreza de espírito, pode o coração ensoberbecer-se com a presunção de sua humildade superior e exaltada justiça. Só de um modo o verdadeiro conhecimento do próprio eu pode ser alcançado. Precisamos olhar a Cristo. O desconhecimento dEle é que dá aos homens uma tão alta idéia de sua própria justiça. Ao contemplarmos Sua pureza e excelência, veremos nossa fraqueza, pobreza e defeitos, como realmente são. Ver-nos-emos perdidos e sem esperança, vestidos com o manto da justiça própria, como qualquer pecador. Veremos que se afinal formos salvos, não será por nossa própria bondade, mas pela graça infinita de Deus. PJ 79 3 A oração do publicano foi ouvida porque denotava submissão, empenhando-se para apoderar-se da Onipotência. O próprio eu nada parecia ao publicano senão vergonha. Assim precisa ser considerado por todos os que buscam a Deus. Pela fé -- fé que renuncia a toda confiança própria -- precisa o necessitado suplicante apropriar-se do poder infinito. PJ 80 1 Nenhuma cerimônia exterior pode substituir a simples fé e a renúncia completa do eu. Todavia ninguém se pode esvaziar a si mesmo do eu. Somente podemos consentir em que Cristo execute a obra. Então a linguagem da alma será: Senhor, toma meu coração; pois não o posso dar. É Tua propriedade. Conserva-o puro; pois não posso conservá-lo para Ti. Salva-me a despeito de mim mesmo, tão fraco e tão dessemelhante de Cristo. Molda-me, forma-me e eleva-me a uma atmosfera pura e santa, onde a rica corrente de Teu amor possa fluir por minha alma. PJ 80 2 Não é só no princípio da vida cristã que esta entrega do próprio eu deve ser feita. Deve ser renovada a cada passo dado em direção do Céu. Todas as nossas boas obras dependem de um poder que não está em nós. Portanto deve haver um contínuo almejar do coração após Deus, uma contínua, fervorosa, contrita confissão de pecado e humilhação da alma perante Ele. Só podemos caminhar com segurança por uma constante negação do próprio eu e confiança em Cristo. PJ 80 3 Quanto mais nos achegarmos a Jesus e mais claramente discernirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claramente discerniremos a extraordinária malignidade do pecado, e tanto menos teremos a tendência de nos exaltar. Aqueles a quem o Céu considera santos, são os últimos a alardear sua própria bondade. O apóstolo Pedro tornou-se um fiel servo de Cristo e foi grandemente honrado com luz e poder divinos; e tomou parte ativa na edificação da igreja de Cristo; entretanto, Pedro jamais se esqueceu da tremenda experiência de sua humilhação; seu pecado foi perdoado; contudo bem sabia que unicamente a graça de Cristo lhe podia valer naquela fraqueza de caráter que lhe ocasionou a queda. Em si mesmo nada achava de que se gloriar. PJ 80 4 Nenhum dos apóstolos e profetas jamais pretendeu estar isento de pecado. Homens que viveram mais achegados a Deus, homens que sacrificariam antes a vida a cometer conscientemente uma ação injusta, homens que Deus honrou com luz e poder divinos, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Nunca confiaram na carne, nunca pretenderam ser justos em si mesmos, mas confiaram inteiramente na justiça de Cristo. O mesmo se dará com todos os que contemplam a Cristo. PJ 80 5 A cada avanço na experiência cristã nosso arrependimento aprofundar-se-á. Justamente àqueles a quem Deus perdoou e reconhece como Seu povo, diz Ele: "Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos, que não foram bons; e tereis nojo em vós mesmos das vossas maldades e das vossas abominações." Ezequiel 36:31. Outra vez, diz: "Estabelecerei o Meu concerto contigo, e saberás que Eu sou o Senhor; para que te lembres, e te envergonhes, e nunca mais abras a tua boca, por causa da tua vergonha, quando Me reconciliar contigo de tudo quanto fizeste, diz o Senhor Jeová." Ezequiel 16:62, 63. Então nossos lábios não se abrirão para nos gloriarmos. Saberemos que só em Cristo temos suficiência. Faremos nossa a confissão do apóstolo: "Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum." Romanos 7:18. "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14. PJ 81 1 Em harmonia com esta experiência está o mandamento: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:12, 13. Deus não vos ordena temer que deixará de cumprir Suas promessas, que Sua paciência se cansará ou que Sua compaixão há de faltar. Temei que vossa vontade não seja mantida em sujeição à vontade de Cristo, que vossos traços de caráter herdados e cultivados vos dominem a vida. "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Temei que o próprio eu se interponha entre vosso espírito e o grande Artífice. Temei que vossa obstinação frustre o elevado propósito que, por vosso intermédio, Deus deseja alcançar. Temei confiar na própria força; temei retirar da mão de Cristo a vossa mão e tentar caminhar pela estrada da vida sem Sua presença permanente. PJ 81 2 Precisamos evitar tudo quanto estimule o orgulho e a presunção; portanto, devemos acautelar-nos de fazer ou receber lisonjas ou louvores. Lisonjear é obra de Satanás. Procede ele tanto com bajulações, quanto acusando e condenando. Deste modo procura causar a ruína da alma. Aqueles que louvam os homens, são usados por Satanás como agentes seus. Esquivem-se os obreiros de Cristo de toda palavra de elogio. Elimine-se de vista o próprio eu. Cristo, somente, deve ser exaltado. Dirija-se todo olhar e ascenda o louvor de cada coração "Àquele que nos ama, e em Seu sangue no lavou dos nossos pecados". Apocalipse 1:5. PJ 81 3 A vida em que é acariciado o temor do Senhor não será uma vida de tristeza e melancolia. É a ausência de Cristo que torna triste a fisionomia, e a vida uma peregrinação de gemidos. Quem muito se considera e está cheio de amor-próprio, não sente a necessidade de união vital e pessoal com Cristo. O coração que não caiu sobre a Rocha, vangloria-se de sua integridade. Os homens desejam uma religião dignificada. Desejam caminhar num caminho fácil para admitir seus bons predicados. Seu amor-próprio e sua ambição de popularidade e elogio excluem do coração o Salvador, e sem Ele só há melancolia e sombra. Mas Cristo habitando na vida é uma fonte de alegria. Para todos os que O aceitam, a nota predominante da Palavra de Deus é o regozijo. PJ 82 1 "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. PJ 82 2 Foi quando Moisés estava oculto na fenda da rocha, que mirou a glória de Deus. E quando nos escondemos na Rocha partida é que Cristo nos cobrirá com Sua mão traspassada e ouviremos o que o Senhor diz a Seus servos. A nós como a Moisés, Deus Se revelará como "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado". Êxodo 34:6, 7. PJ 82 3 A obra da redenção envolve conseqüências das quais é difícil ao homem ter qualquer concepção. "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. Aproximando-se o pecador da cruz erguida, e prostrando-se junto à mesma, atraído pelo poder de Cristo, dá-se uma nova criação. É-lhe dado um novo coração. Torna-se uma nova criatura em Cristo Jesus. A santidade acha que nada mais há para requerer. Deus mesmo é "justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. E "aos que justificou, a esses também glorificou". Romanos 8:30. Grande como seja a vergonha e degeneração pelo pecado ainda maior será a honra e exaltação pelo amor redentor. Aos seres humanos que lutam por conformidade com a imagem divina, será concedido um suprimento do tesouro celeste, uma excelência de poder que os colocarão acima dos próprios anjos que jamais caíram. PJ 82 4 "Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o seu Santo, à alma desprezada, ao que as nações abominam, ... os reis O verão e se levantarão; os príncipes diante de Ti se inclinarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu." Isaías 49:7. PJ 82 5 "Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado." Lucas 18:14. ------------------------Capítulo 14 -- A fonte do poder vencedor PJ 83 0 Este capítulo é baseado em Lucas 18:1-8. PJ 83 1 Cristo falara do período justamente antes de Sua segunda vinda e dos perigos que Seus seguidores teriam que atravessar. Com especial referência àquele tempo, relatou-lhes a parábola "sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer". Lucas 18:1. PJ 83 2 "Havia numa cidade um certo juiz", disse, "que nem a Deus temia, nem respeitava homem algum. Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva e ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E, por algum tempo, não quis; mas, depois, disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça." Lucas 18:2-8. PJ 83 3 O juiz que nos é descrito, não tinha respeito ao direito, nem piedade pelos sofredores. A viúva que lhe apresentou sua causa com insistência, foi repelida pertinazmente. Repetidas vezes a ele apelara, porém, só para ser tratada com desprezo e expulsa do tribunal. O juiz sabia que a causa era justa, e poderia havê-la auxiliado imediatamente, mas não o quis. Desejava mostrar seu poder arbitrário, e comprazia-se em deixá-la suplicar e pedir em vão. Todavia ela não quis deixar-se desanimar. Apesar da indiferença e dureza de coração dele, tanto insistiu em sua petição, que o juiz enfim consentiu em atender sua causa. "Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens", disse, "todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito." Lucas 18:4, 5. Para preservar sua reputação e evitar tornar pública sua sentença arbitrária e parcial, fez justiça à perseverante mulher. PJ 83 4 "E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça." Lucas 18:6-8. Cristo traça aqui um vivo contraste entre o juiz injusto e Deus. O juiz cedeu ao pedido da viúva só por egoísmo e para esquivar-se à contínua importunação. Não sentia por ela compaixão nem piedade; sua indigência lhe era indiferente. Que diversa é a atitude de Deus para com os que O procuram! Os apelos dos necessitados e aflitos são atendidos com infinita misericórdia. PJ 83 5 A mulher que rogava ao juiz justiça, perdera o marido; pobre e sem amigos, não tinha meios para readquirir suas propriedades arruinadas. Assim, pelo pecado, o homem perdeu sua ligação com Deus. Em si mesmo não tem meios de salvação; entretanto, por Cristo, somos aproximados do Pai. Os eleitos de Deus são caros a Seu coração; são aqueles que chamou das trevas para a maravilhosa luz, para anunciar Seu louvor, e para brilhar como luzes em meio das trevas do mundo. O injusto juiz não tinha interesse particular na viúva que o importunava pelo veredicto; porém, para subtrair-se a suas súplicas comoventes, ouviu a petição, e fez-lhe justiça contra o adversário. Deus, porém, ama Seus filhos com infinito amor. O mais caro objeto na Terra Lhe é a Sua igreja. PJ 84 1 "Porque a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a parte da Sua herança. Achou-o na terra do deserto e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho." Deuteronômio 32:9, 10. "Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Depois da glória, Ele Me enviou às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho." Zacarias 2:8. PJ 84 2 A petição da viúva: "Faze-me justiça contra o meu adversário" (Lucas 18:3), representa a oração dos filhos de Deus. Satanás é o grande adversário. É "o acusador de nossos irmãos", que os acusa de dia e de noite perante Deus. Apocalipse 12:10. Instantemente trabalha para mal representar e acusar, para enganar e destruir o povo de Deus. Nesta parábola, Cristo ensina os discípulos a pedirem salvação do poder de Satanás e de seus instrumentos. PJ 84 3 Na profecia de Zacarias é esclarecida a obra acusadora de Satanás e a obra de Cristo em resistir ao adversário de Seu povo. Diz o profeta: "E me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor. Mas o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende: não é este um tição tirado do fogo? Ora, Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo." Zacarias 3:1-3. PJ 84 4 O povo de Deus é aqui representado como um delinqüente, em juízo. Josué como sumo sacerdote, pede uma bênção para seu povo que está em grande aflição. Enquanto suplica a Deus, Satanás está à sua direita, como antagonista. Acusa os filhos de Deus e faz seu caso parecer tão desesperador quanto possível. Expõe ao Senhor seus pecados e faltas. Aponta seus erros e fracassos, esperando que pareçam aos olhos de Cristo num caráter tal, que não lhes prestará auxílio em sua grande necessidade. Josué, como representante do povo de Deus, está sob condenação, cingido de vestes imundas. Consciente dos pecados de seu povo está opresso de desânimo. Satanás carrega a pessoa com um sentimento de culpa que a faz sentir-se quase sem esperança. Todavia, ali permanece como suplicante, com Satanás disposto contra ele. PJ 84 5 A obra de Satanás como acusador, começou no Céu. Desde a queda do homem, esta tem sido sua obra na Terra, e sê-lo-á num sentido especial à medida que nos aproximarmos do fim da história deste mundo. Vendo que tem pouco tempo, trabalhará com maior fervor para iludi-los e destruí-los. Está irado porque vê aqui na Terra homens que, mesmo em sua fraqueza e pecaminosidade, manifestam respeito à lei de Jeová. Decidiu que não devem obedecer a Deus. Deleita-se em sua indignidade, e arma ciladas a cada alma para que todas sejam enredadas e alienadas de Deus. Tenta acusar e condenar a Deus e a todos os que se empenham em levar a efeito neste mundo Seus desígnios em graça e amor, compaixão e clemência. PJ 85 1 Toda manifestação do poder de Deus em favor de Seu povo, provoca a inimizade de Satanás. Toda vez que Deus opera em prol deles, Satanás e seus anjos também operam com vigor renovado para lhes ocasionar a ruína. Inveja todos quantos fazem de Cristo sua força. Seu objetivo é instigar o mal, e se alcança êxito, lança toda a culpa sobre os tentados. Aponta-lhes as vestes imundas e o caráter imperfeito. Apresenta-lhes a sua fraqueza, loucura, os pecados de ingratidão e a dessemelhança de Cristo, a qual tem desonrado seu Redentor. Tudo isso expõe como argumento para provar o direito de destruí-los. Tenta terrificar o ser humano pelo pensamento de que seu caso é sem esperança, e nunca poderão ser lavadas as manchas de sua contaminação. Espera desse modo destruir-lhes a fé para que se rendam completamente à tentação e se desviem de sua fidelidade a Deus. PJ 85 2 O povo do Senhor não pode por si mesmo refutar as acusações de Satanás. Ao olharem a si mesmos estão prestes a desesperar. Mas eles apelam para o Advogado divino. Invocam os méritos do Redentor. Deus pode ser "justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. Com confiança, os filhos de Deus a Ele clamam para silenciar as acusações de Satanás e aniquilar seus planos. "Faze-me justiça contra o meu adversário" (Lucas 18:3), oram; e com o poderoso argumento da cruz, Cristo faz calar o ousado acusador. PJ 85 3 "O Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende; ó Satanás, sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?" Zacarias 3:2. Em tentando Satanás denegrir os filhos de Deus e arruiná-los, Cristo Se interpõe. Embora tivessem pecado, Cristo tomou sobre a Sua própria alma a culpa de seus pecados. Arrebatou a humanidade como um tição do fogo. Pela natureza humana, está ligado ao homem, enquanto, pela divina, é um com o infinito Deus. É posto auxílio ao alcance das almas moribundas. O adversário é repreendido. PJ 86 1 "Ora Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo. Então, falando, ordenou aos que estavam diante dele, dizendo: Tirai-lhe estas vestes sujas. E a ele lhe disse: Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade e te vestirei de vestes novas. E disse eu: Ponham-lhe uma mitra limpa sobre a sua cabeça. E puseram uma mitra limpa sobre sua cabeça e o vestiram de vestes." Zacarias 3:3-5. Com a autoridade do Senhor dos Exércitos protestou o anjo a Josué, o representante do povo, solenemente: "Se andares nos Meus caminhos e se observares as Minhas ordenanças, também tu julgarás a Minha casa e também guardarás os Meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui" -- mesmo entre os anjos que circundam o trono de Deus. Zacarias 3:7. PJ 86 2 A despeito das faltas do povo de Deus, Cristo não abandona o objeto de Seu cuidado. Tem poder para mudar-lhes as vestes. Remove as vestes imundas, envolve com Seu manto de justiça os crentes e arrependidos, e, junto a seus nomes, escreve nos relatórios do Céu o perdão. Confessa-os como Seus, perante o universo celeste. Satanás, o adversário, é desmascarado como acusador e enganador. Deus fará justiça a Seus escolhidos. PJ 86 3 A petição: "Faze-me justiça contra o meu adversário" (Lucas 18:3), aplica-se não só a Satanás, como também aos agentes que instiga para mal representar, tentar e destruir os filhos de Deus. Aqueles que decidem prestar obediência aos mandamentos de Deus saberão, por experiência própria, que têm adversários dominados por um poder inferior. Tais adversários assaltavam Cristo a cada passo, e tão contínua e resolutamente como jamais nenhum ser humano poderá saber. Os discípulos de Cristo estão, como o Mestre, expostos a constantes tentações. PJ 86 4 As Sagradas Escrituras descrevem as condições do mundo, justamente antes da segunda vinda de Cristo. O apóstolo Tiago descreve-nos a cobiça e a opressão que hão de prevalecer. Diz ele: "Eia, pois, agora vós, ricos. ... Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Deliciosamente, vivestes sobre a Terra, e vos deleitastes, e cevastes o vosso coração, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu." Tiago 5:1, 3-6. É este o quadro das condições modernas. Exercendo os homens opressão e extorsão de toda espécie, acumulam fortunas colossais, enquanto sobem a Deus os clamores da humanidade abatida. PJ 86 5 "Pelo que o juízo se tornou atrás, e a justiça se pôs longe, porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar. Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado." Isaías 59:14, 15. Isso se cumpriu na vida de Cristo na Terra. Foi leal aos mandamentos de Deus, pondo de parte tradições e exigências humanas que tinham sido elevadas ao primeiro plano. Por esse motivo foi odiado e perseguido. A história repete-se. Leis e tradições de homens são exaltadas acima da lei de Deus, e quem é fiel aos mandamentos de Deus sofre vexame e perseguição. Por Sua fidelidade a Deus, Cristo foi incriminado de ser transgressor do sábado e blasfemo. Diziam que estava possuído do diabo, e foi denunciado como Belzebu. Da mesma maneira serão acusados Seus seguidores e expostos em uma falsa luz. Satanás espera, por esse meio, induzi-los a pecar e desonrar a Deus. PJ 87 1 O caráter do juiz, na parábola, que não temia a Deus nem respeitava os homens, foi apresentado por Cristo para mostrar a espécie de justiça então exercida, e que seria brevemente testemunhada em Seu julgamento. Deseja que, em todo o tempo, os Seus reconheçam quão pouco, no dia da adversidade, podem confiar em governantes e juízes terrestres. Freqüentemente o povo eleito de Deus precisa comparecer perante homens que desempenham funções oficiais, e não fazem da Palavra de Deus seu guia e conselheiro, antes seguem seus próprios impulsos não consagrados nem disciplinados. PJ 87 2 Na parábola do juiz injusto, mostrou Cristo o que devemos fazer. "E Deus não fará justiça a Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite?" Lucas 18:7. Cristo, nosso exemplo, nada fez para Se justificar e livrar. Confiou Sua causa a Deus. Assim Seus seguidores não devem acusar nem condenar, ou recorrer à violência, para se livrarem. PJ 87 3 Se surgem provações que parecem inexplicáveis, não devemos permitir que nossa paz nos seja roubada. Conquanto sejamos tratados injustamente, não demonstremos raiva. Alimentando o espírito de represália, prejudicamo-nos a nós mesmos. Destruímos nossa confiança em Deus e entristecemos o Espírito Santo. Ao nosso lado está uma Testemunha, um Mensageiro celestial, que levantará o estandarte contra o inimigo. Envolver-nos-á com os brilhantes raios do Sol da Justiça. Além disso, Satanás não pode penetrar. Não pode atravessar esse escudo de luz sagrada. PJ 87 4 Enquanto o mundo progride na perversidade, nenhum de nós se lisonjeie de que não terá dificuldades. Todavia, justamente essas dificuldades nos levam à sala de audiência do Altíssimo. Podemos pedir conselho Àquele que é infinito em sabedoria. PJ 87 5 O Senhor diz: "Invoca-Me no dia da angústia." Salmos 50:15. Convida-nos a Lhe expormos nossas perplexidades e carências, e nossa necessidade de auxílio divino. Exorta-nos a perseverar na oração. Logo que surjam dificuldades, devemos apresentar-Lhe nossas petições sinceras e francas. Pelas orações insistentes evidenciamos nossa forte confiança em Deus. O senso de nossa necessidade nos induz a orar com fervor, e nosso Pai celestial é movido por nossas súplicas. PJ 88 1 Muitas vezes aqueles que por sua fé sofrem afrontas e perseguições, são tentados a pensar que Deus os esqueceu. Aos olhos dos homens são a minoria. Segundo toda a aparência, os inimigos triunfarão sobre eles. Entretanto, não devem violentar a consciência. Aquele que por eles padeceu e suportou suas aflições e cuidados, não os desamparou. PJ 88 2 Os filhos de Deus não foram deixados sós e indefesos. A oração move o braço do Onipotente. As orações "venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo" -- saberemos o que isto significa, quando ouvirmos o relato de mártires que morreram por sua fé -- "puseram em fugida os exércitos dos estranhos". Hebreus 11:33, 34. Se consagrarmos a vida a Seu serviço, nunca chegaremos a situações para as quais Deus não haja feito provisão. Qualquer que seja nossa situação, temos um Guia para nos dirigir o caminho; quaisquer que sejam nossas perplexidades, temos um conselheiro infalível; quaisquer que sejam nossas aflições, privações ou solidão, temos um Amigo compassivo. Se em nossa ignorância dermos passos errados, Cristo não nos abandona. Ouviremos Sua voz clara e distinta: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida." João 14:6. "Livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude." Salmos 72:12. PJ 88 3 O Senhor declara que é honrado por aqueles que a Ele se achegam e O servem fielmente. "Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti." Isaías 26:3. O braço do Todo-poderoso está estendido para nos conduzir avante e sempre avante. Avançai, diz o Senhor, enviar-vos-ei socorro. Para a glória de Meu nome é que pedis e vos será concedido. Serei honrado diante daqueles que espreitam vosso fracasso. Eles verão Minha Palavra triunfar gloriosamente. "E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis." Mateus 21:22. PJ 88 4 Invoquem a Deus todos os que estão em tribulações ou são maltratados. Desviai-vos daqueles cujo coração é como o aço, e tornai conhecidas as vossas petições ao vosso Criador. Ele jamais repele alguém que a Ele recorre com coração contrito. Nenhuma oração sincera se perde. Em meio das antífonas do coro celestial, Deus ouve o clamor do mais débil ser humano. Derramamos o desejo do nosso coração em secreto, murmuramos uma oração enquanto seguimos nosso caminho, e nossas palavras atingem o trono do Monarca do Universo. Podem não ser audíveis aos ouvidos humanos, porém não podem morrer no silêncio, nem perder-se no tumulto dos afazeres diários. Nada pode sufocar o desejo da alma. Alça-se sobre o barulho das ruas e a confusão da multidão, às cortes celestiais. É a Deus que falamos e nossa oração é atendida. PJ 89 1 Você que se sente o mais indigno, não tema confiar seu caso a Deus. Quando Se entregou a Si mesmo em Cristo pelos pecados do mundo, assumiu Ele o caso de todo pecador. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. Não cumprirá Ele a graciosa palavra que nos deu para nos animar e fortalecer? PJ 89 2 Cristo nada mais anela que redimir do domínio de Satanás Sua herança. Todavia, antes de sermos libertos do poder de Satanás exteriormente, precisamos ser redimidos de seu poder interior. O Senhor permite provações, para sermos purificados do mundanismo, do egoísmo, de traços de caráter grosseiros e não semelhantes aos de Cristo. Tolera que passem sobre nosso ser as águas profundas da tribulação, para que O conheçamos, e a Jesus Cristo, a quem enviou, para que experimentemos o desejo intenso de ser purificados de toda a contaminação, e saiamos da prova mais puros, santos e felizes. Muitas vezes entramos na fornalha da provação com a alma entenebrecida pelo egoísmo; se, porém, permanecermos pacientes sob a prova cruciante, refletiremos, ao dela sair, o caráter divino. Se Seu propósito na aflição for alcançado, "fará sobressair a tua justiça como a luz; e o teu juízo, como o meio-dia". Salmos 37:6. PJ 89 3 Não há perigo de que o Senhor despreze as orações de Seu povo. O perigo está em que desanimem na tentação e prova e deixem de perseverar em oração. PJ 89 4 O Salvador demonstrou divina compaixão para com a mulher siro-fenícia. Comoveu-Se-Lhe o coração ao ver sua aflição. Anelava dar-lhe imediata segurança de que sua oração fora atendida; porém desejava dar aos discípulos uma lição, e por um tempo pareceu desprezar o clamor daquele coração torturado. Depois de ser manifesta a Sua fé, falou-lhe palavras de louvor e enviou-a com a preciosa bênção pela qual orava. Os discípulos jamais esqueceram essa lição; e foi registrada para mostrar o resultado da oração perseverante. PJ 89 5 Cristo mesmo colocou no coração daquela mãe a persistência que não se deixa repelir. Cristo foi quem deu àquela suplicante viúva, ânimo e resolução perante o juiz. Cristo foi quem, séculos atrás, no misterioso conflito junto ao Jaboque, inspirou a Jacó a mesma perseverante fé; e não deixou de recompensar a confiança que Ele mesmo implantara. Ele, que mora no santuário celeste, julga justamente. Tem mais prazer em Seus filhos que pelejam com as tentações num mundo de pecado, do que na multidão de anjos que Lhe circunda o trono. PJ 90 1 Nesta pequena Terra manifesta todo o universo celeste o maior interesse; pois Cristo pagou preço infinito pelas almas que aqui habitam. O Redentor do mundo ligou a Terra ao Céu por laços de compreensão; pois aqui estão os remidos do Senhor. Seres celestiais ainda visitam a Terra, como nos dias que andavam e falavam com Abraão e Moisés. Em meio da atividade rumorosa das grandes cidades, por entre as multidões que se apinham nas ruas e casas de negócio, onde os homens trabalham da manhã à noite, como se negócio, esporte e prazer fossem tudo na vida, onde tão poucos contemplam as realidades invisíveis -- mesmo aqui tem o Céu os seus vigias e santos. Agentes invisíveis observam cada palavra e ação dos seres humanos. Em toda assembléia de negócio ou prazer, em toda reunião de culto, há mais ouvintes que os que podem ser vistos pelos olhos naturais. Freqüentemente os seres celestiais retiram o véu que tolda o mundo invisível, para que nossos pensamentos se retraiam do burburinho da vida e considerem que há testemunhas invisíveis de tudo quanto fazemos ou dizemos. PJ 90 2 Devemos compreender melhor a missão dos visitantes angélicos. Bem faremos em meditar que em toda a nossa obra temos a cooperação e o cuidado de seres celestiais. Invisíveis esquadrões de luz e poder acompanham os mansos e humildes crentes que reclamam as promessas de Deus. Querubins, serafins e anjos excelsos em poder -- miríades de miríades e milhares de milhares -- estão à Sua destra, "todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação". Hebreus 1:14. Por esses mensageiros é mantido um relato fiel das palavras e atos dos filhos dos homens. Cada ação cruel ou injusta contra os filhos de Deus, tudo que precisam sofrer pelo poder dos ímpios, é registrado no Céu. PJ 90 3 "Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça." Lucas 18:7, 8. PJ 90 4 "Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará." Hebreus 10:35-37. "Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia. Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração; porque já a vinda do Senhor está próxima." Tiago 5:7, 8. PJ 90 5 A longanimidade de Deus é maravilhosa. Longamente espera a justiça enquanto a graça intercede com o pecador. Mas "justiça e juízo são a base do Seu trono". Salmos 97:2. "O Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em força e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o Seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos Seus pés." Naum 1:3. PJ 91 1 O mundo tornou-se ousado na transgressão da lei de Deus. Por causa de Sua longa clemência os homens Lhe espezinharam a autoridade. Fortaleceram-se na opressão e crueldade contra Sua herança, dizendo: "Como o sabe Deus? Ou: Há conhecimento no Altíssimo?" Salmos 73:11. Há, porém, um limite além do qual não podem passar. Próximo está o tempo em que atingirão o limite prescrito. Mesmo agora quase excederam os termos da longanimidade de Deus, e a medida de Sua graça e misericórdia. O Senhor Se interporá para vindicar Sua própria honra, para livrar Seu povo e reprimir os excessos da injustiça. PJ 91 2 Nos tempos de Noé os homens desprezaram a lei de Deus, até que a lembrança do Criador fora quase banida da Terra. Sua iniqüidade tornara-se tão grande que o Senhor fez vir um dilúvio sobre a Terra e consumiu seus ímpios habitantes. PJ 91 3 De tempos a tempos o Senhor tornou pública a maneira de Seu proceder. Ao sobrevir uma crise, revelou-Se e interpôs-Se para impedir a execução do plano de Satanás. Muitas vezes deixou que uma crise chegasse aos povos, famílias e indivíduos, para que Sua intervenção se tornasse notada. Então manifestava que havia um Deus em Israel que mantinha Suas leis e vindicava Seu povo. PJ 91 4 Neste tempo, em que prevalece a iniqüidade, podemos saber que a grande e última crise está à porta. Quando o desafio da lei de Deus for quase universal, quando o Seu povo for oprimido e atormentado por seus semelhantes, o Senhor intervirá. PJ 91 5 Próximo está o tempo em que dirá: "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade; e a Terra descobrirá o seu sangue e não encobrirá mais aqueles que foram mortos." Isaías 26:20, 21. Homens que pretendem ser cristãos podem defraudar e oprimir os pobres; podem roubar aos órfãos e viúvas; condescender com seu ódio satânico por não poderem dominar a consciência dos filhos de Deus; porém Deus trará tudo isto a juízo. "Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia." Tiago 2:13. Brevemente estarão perante o Juiz de toda a Terra, para prestar contas pelos sofrimentos físicos e morais infligidos à Sua herança. Podem agora entregar-se a acusações falsas, podem injuriar os que Deus apontou para Sua obra, podem entregar os crentes à prisão, aos grilhões, ao desterro e à morte; todavia serão argüidos por toda a agonia de sofrimento e toda lágrima vertida. Deus lhes pagará dobradamente por seus pecados. Referente a Babilônia, o símbolo da igreja apóstata, diz a Seus ministros de juízo: "Os seus pecados se acumularam até ao Céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela. Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro." Apocalipse 18:5, 6. PJ 92 1 Da Índia, da África, da China, das ilhas do mar, dos milhões de oprimidos dos países chamados cristãos, sobe para Deus o clamor do tormento humano. Esse clamor não permanecerá muito tempo sem ser atendido. Deus purificará a Terra da corrupção moral, porém não por um mar de água como nos dias de Noé, mas com um mar de fogo, que não será apagado por artifício humano algum. PJ 92 2 "Haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o Teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro." Daniel 12:1. PJ 92 3 De cortiços, de pobres choças, de prisões, de cadafalsos, das montanhas e desertos, das cavernas da Terra e dos abismos do mar, Cristo recolherá Seus filhos. Na Terra tinham sido destituídos, afligidos e atormentados. Milhões baixaram ao túmulo carregados de infâmia, porque recusaram render-se às enganosas pretensões de Satanás. Por tribunais humanos os filhos de Deus foram condenados como os mais vis criminosos. Mas próximo está o dia em que "Deus mesmo é o juiz". Salmos 50:6. Então as sentenças dadas na Terra serão invertidas. Então "tirará o opróbrio do Seu povo de toda a Terra". Isaías 25:8. Vestes brancas dar-se-ão a todos eles. Apocalipse 6:11. "E chamar-lhes-ão povo santo, os remidos do Senhor." Isaías 62:12. Qualquer que tenha sido a cruz que suportaram, quaisquer as perdas sofridas, qualquer a perseguição que padeceram, mesmo a perda da vida temporal, os filhos de Deus serão amplamente recompensados. "Verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome." Apocalipse 22:4. ------------------------Capítulo 15 -- A esperança da vida PJ 93 0 Este capítulo é baseado em Lucas 15:1-10. PJ 93 1 Congregando-se os "publicanos e pecadores" em volta de Cristo, os rabinos exprimiram seu desagrado. "Este recebe pecadores", disseram, "e come com eles." Lucas 15:1, 2. PJ 93 2 Por esta acusação insinuaram que Cristo tinha prazer em associar-Se com os pecadores e vis, e era insensível à sua impiedade. Os rabinos ficaram desapontados com Jesus. Por que era que Aquele que pretendia ter tão elevado caráter não Se relacionava com eles, e não seguia seus métodos de ensino? Por que andava tão despretensiosamente, atuando entre todas as classes? Se fosse profeta verdadeiro, diziam, estaria em harmonia com eles e trataria os publicanos e pecadores com a indiferença que mereciam. Irritava a esses guardiões da sociedade, que Aquele com quem tinham constantes disputas, cuja pureza de vida os aterrorizava e condenava, Se relacionasse em aparente simpatia com os párias da sociedade. Não Lhe aprovavam os métodos. Consideravam-se muito ilustrados, cultos e preeminentemente religiosos; mas o exemplo de Cristo lhes desmascarou o egoísmo. Enfadava-os também que os que manifestavam unicamente desprezo aos rabinos, e nunca eram vistos nas sinagogas, se agregassem ao redor de Jesus e, com atenção arrebatada, Lhe escutassem as palavras. Os escribas e fariseus sentiam-se reprovados naquela presença pura; mas como se podia dar que os publicanos e pecadores se sentissem atraídos a Jesus? PJ 93 3 Não sabiam que a explicação estava justamente nas palavras que pronunciaram, como insultuosa acusação: "Este recebe pecadores." Lucas 15:2. As pessoas que iam ter com Jesus sentiam em Sua presença que mesmo para elas havia escape do abismo do pecado. Os fariseus para elas só tinham escárnio e condenação; Cristo, porém, as saudava como filhos de Deus, que na verdade se afastaram da casa paterna, mas não foram esquecidas pelo coração do Pai. Justamente sua miséria e pecados os tornavam tanto mais o objeto de Sua compaixão. Quanto mais dEle se haviam desviado, tanto mais ardoroso o desejo e maior o sacrifício para salvá-los. PJ 93 4 Tudo isto os mestres de Israel podiam ter estudado no Sagrado Volume de que se gloriavam ser os guardas e expositores. Não escrevera Davi -- Davi que caíra em pecado mortal: "Desgarrei-me como a ovelha perdida; busca o Teu servo"? Salmos 119:176. Não revelara Miquéias o amor de Deus aos pecadores, dizendo: "Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniqüidade e que Te esqueces da rebelião do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade." Miquéias 7:18. A ovelha perdida PJ 94 1 Cristo não lembrou aos Seus ouvintes desta vez as palavras da Escritura. Apelou ao testemunho de sua própria experiência. Os planaltos que se estendiam ao longe, ao oriente do Jordão, ofereceriam abundantes pastagens para rebanhos, e, pelos desfiladeiros e colinas arborizadas, desgarrava-se muita ovelha perdida, para ser procurada e trazida de volta pelo cuidado do pastor. Entre a multidão que rodeava a Jesus, havia pastores e também homens que investiam dinheiro em rebanhos e gado; e todos podiam apreciar Sua ilustração. "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la?" Lucas 15:4. PJ 94 2 Estas almas que vós desprezais, dizia Jesus, são propriedade de Deus. Pertencem-Lhe pela criação e redenção, e a Seus olhos são de grande valor. Assim como o pastor ama as ovelhas e não pode sossegar enquanto uma única lhe falta, também Deus, em grau infinitamente mais alto, ama todo perdido. Os homens podem negar as reivindicações de Seu amor. Podem dEle desviar-se, podem escolher outro mestre; contudo, pertencem a Deus, e Ele anela recuperar Sua propriedade. Diz: "Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as Minhas ovelhas; e as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão." Ezequiel 34:12. PJ 94 3 Na parábola, o pastor sai em busca de uma ovelha -- o mínimo que pode ser numerado. Assim, se houvesse apenas uma alma perdida, Cristo por ela teria morrido. PJ 94 4 A ovelha desgarrada do rebanho é a mais desamparada de todas as criaturas. Precisa ser procurada pelo pastor, pois não pode, sozinha, encontrar o caminho de volta. O mesmo se dá com a alma que se desviou de Deus; está tão desamparada quanto a ovelha perdida, e se o amor divino não fosse salvá-la, jamais poderia achar o caminho para Deus. PJ 94 5 O pastor que descobre a ausência de uma ovelha, não contempla indiferentemente o rebanho que está seguro no redil, dizendo: "Tenho noventa e nove, e custar-me-á muita perturbação ir em busca da desgarrada. Ela que volte; abrir-lhe-ei a porta do redil e a deixarei entrar." Não; logo que a ovelha se afasta, o pastor enche-se de cuidados e apreensões. Conta e reconta o rebanho. Quando se certifica de que realmente uma ovelha se perdeu, não dormita. Deixa as noventa e nove no redil, e sai em busca da ovelha desgarrada. Quanto mais escura e tempestuosa a noite, e quanto mais perigoso o caminho, tanto maior é a apreensão do pastor e tanto mais diligentemente a procura. Faz todos os esforços possíveis para encontrar a ovelha perdida. PJ 95 1 Com que alívio ouve a distância o primeiro fraco balido! Seguindo o som, sobe às mais íngremes alturas, chega, com o perigo da própria vida, até à borda do precipício. Deste modo procura, enquanto o balido mais e mais fraco lhe diz que a ovelha está prestes a sucumbir. Por fim seu esforço é recompensado; achou a perdida. Não a repreende por lhe haver causado tanta fadiga; não a bate com chicote, nem tenta guiá-la para casa. Em sua alegria toma sobre os ombros a criatura trêmula; se está magoada, acolhe-a nos braços, e aperta-a de encontro ao peito para que o calor de seu próprio coração lhe comunique vida. Jubiloso porque sua diligência não foi em vão, carrega-a de volta ao redil. PJ 95 2 Graças a Deus, Ele não nos apresentou à imaginação o quadro de um pastor aflito, voltando sem a ovelha. A parábola não fala de fracasso, mas de êxito e alegria pela recuperação. Eis a garantia divina, de que nenhuma das ovelhas extraviadas do redil de Deus é desprezada, nem abandonada sem socorro. Cristo salvará a cada um que se queira deixar redimir do abismo da corrupção e dos espinheiros do pecado. PJ 95 3 Alma abatida, anime-se, embora tendo procedido impiamente. Não pense que Deus talvez lhe perdoe as transgressões e permita ir à Sua presença. Deus deu o primeiro passo. Enquanto você estava em rebelião contra Ele, saiu a sua procura. Com o terno coração de Pastor, deixou as noventa e nove e foi ao deserto para buscar a que se perdera. Envolve em Seus braços de amor a alma ferida e quebrantada, prestes a perecer e leva-a com alegria ao aprisco seguro. PJ 95 4 Os judeus ensinavam que o pecador devia arrepender-se antes de lhe ser oferecido o amor de Deus. A seu parecer, o arrependimento é obra pela qual os homens ganham o favor do Céu. Foi esse pensamento que induziu os fariseus atônitos e irados a exclamarem: "Este recebe pecadores." Lucas 15:2. Conforme sua suposição, não devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se ter arrependido. Mas na parábola da ovelha perdida, Cristo ensina que a salvação não é alcançada por procurarmos a Deus, mas porque Deus nos procura. "Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram." Romanos 3:11, 12. Não nos arrependemos para que Deus nos ame, porém Ele nos revela Seu amor para que nos arrependamos. PJ 95 5 Quando a ovelha extraviada é recolhida afinal, o júbilo do pastor se exprime em cânticos melodiosos de regozijo. Convoca seus amigos e vizinhos e lhes diz: "Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida." Lucas 15:6. Igualmente o Céu e a Terra unem-se em ações de graças e júbilo quando um pecador é achado pelo grande Pastor de ovelhas. PJ 96 1 "Assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:7. Vós, fariseus, disse Cristo, vos considerais os favoritos do Céu. Julgai-vos seguros na vossa própria justiça. Sabei, pois, que se não necessitais de arrependimento, Minha missão não é para vós. Estas pobres almas que sentem sua destituição e pecaminosidade, são justamente aquelas, para cuja salvação Eu vim. Os anjos celestiais estão interessados nos perdidos que desprezais. Murmurais e zombais quando uma dessas almas vem a Mim; sabei, porém, que os anjos se regozijam e nas arcadas celestes ecoa o cântico de triunfo. PJ 96 2 Os rabinos tinham um dito, segundo o qual há alegria no Céu, quando alguém que pecou contra Deus é destruído; contudo Jesus ensinava que a obra de destruição é estranha a Deus. Aquilo em que todo o Céu se compraz é a restauração da imagem de Deus nos homens por Ele criados. PJ 96 3 Quando alguém que vagou longe no pecado procura voltar para Deus, encontrará suspeita e crítica. Há os que duvidarão de que o arrependimento seja genuíno, ou insinuarão: "Ele não tem estabilidade; não creio que resista." Tais pessoas não fazem a obra de Deus, porém a de Satanás, que é o acusador dos irmãos. Por suas críticas, o maligno espera desencorajá-las, afastá-las ainda mais da esperança e de Deus. Contemple o pecador arrependido a alegria do Céu pela volta daquele que se perdera. Confie no amor de Deus e não desanime de maneira alguma pelo escárnio e suspeita dos fariseus. PJ 96 4 Os rabinos compreendiam que a parábola de Cristo se aplicava aos publicanos e pecadores; mas tinha uma significação mais ampla. Cristo representava pela ovelha perdida, não somente o pecador individual, mas o mundo que apostatou e se arruinou pelo pecado. Este mundo é apenas um átomo no vasto domínio sobre que Deus preside; contudo este pequeno mundo perdido -- a única ovelha extraviada -- é mais precioso a Seus olhos, que as noventa e nove que não se desviaram do redil. Cristo, o amado Comandante das cortes celestiais, desceu de Sua alta posição, depôs a glória que possuía junto ao Pai, para salvar o único mundo perdido. Por este, deixou os mundos sem pecado nas alturas, os noventa e nove que O amavam, e veio à Terra para ser "ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades". Isaías 53:5. Deus Se entregou a Si mesmo em Seu Filho, para que tivesse a alegria de recuperar a ovelha que se perdera. PJ 96 5 "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. E Cristo diz: "Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo" (João 17:18), para que cumpram "o resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a igreja". Colossences 1:24. Todo pecador que Cristo salvou, é chamado a atuar em Seu nome pela salvação dos perdidos. Essa obra fora negligenciada em Israel. Não é também hoje negligenciada pelos que professam ser seguidores de Cristo? PJ 97 1 Quantos afastados, caro leitor, procuraste e trouxeste ao redil? Reconheces que desprezas os que Cristo procura, quando te desvias dos que parecem pouco promissores e não atraentes? Justamente no momento em que te esquivas deles, podem carecer muito de tua compaixão. Em toda assembléia de culto, há os que anseiam descanso e paz. Podem parecer como se vivessem indiferentemente, mas não são insensíveis à influência do Espírito Santo. Muitos deles podem ser ganhos para Cristo. PJ 97 2 Se a ovelha perdida não é trazida ao aprisco, vagueia até perecer. E muitas almas descem à ruína pela falta de uma mão estendida para salvá-las. Estes errantes podem aparentar ser endurecidos e indiferentes, mas se tivessem tido os mesmos privilégios que outros, poderiam ter revelado muito maior nobreza de caráter e maior talento para utilidade. Os anjos se compadecem desses errantes. Eles choram, enquanto os olhos humanos estão enxutos e os corações cerrados à compaixão. PJ 97 3 Oh, que falta de profunda e tocante simpatia pelos tentados e errantes! Oh, se houvesse mais do espírito de Cristo e menos, muito menos do próprio eu! PJ 97 4 Os fariseus entenderam a parábola de Cristo como uma repreensão a eles feita. Em vez de aceitar a crítica de Sua obra, reprovou-lhes a negligência dos publicanos e pecadores. Não o fez abertamente, para que contra Ele não cerrassem o coração; todavia a ilustração lhes apresentava justamente a obra que Deus deles exigia e tinham deixado de executar. Se fossem verdadeiros pastores, esses guias de Israel teriam efetuado a obra de um pastor. Teriam manifestado a misericórdia e amor de Cristo, e ter-se-iam unido a Ele em Sua missão. Sua recusa de fazê-lo demonstrou a falsidade de sua pretensa piedade. Muitos rejeitaram, então, a reprovação de Cristo; mas alguns se convenceram por Suas palavras. Sobre estes veio o Espírito Santo, depois de Sua ascensão, e uniram-se aos discípulos na mesma obra esboçada na parábola da ovelha perdida. A dracma perdida PJ 97 5 Depois de dar a parábola da ovelha perdida, Cristo pronunciou outra, dizendo: "Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?" Lucas 15:8. PJ 97 6 No oriente, as casas dos pobres consistiam usualmente em um único quarto freqüentemente sem janelas, e escuro. O quarto raramente era varrido, e uma moeda que caísse era facilmente coberta pelo pó e lixo. Para encontrá-la, mesmo durante o dia era preciso acender uma candeia e varrer a casa diligentemente. PJ 98 1 O dote de casamento da mulher comumente consistia em moedas que ela guardava cuidadosamente como seu maior tesouro, para transmitir às filhas. A perda de uma dessas moedas era considerada séria calamidade, e sua recuperação era causa de grande alegria, de que as vizinhas participavam prontamente. PJ 98 2 "E, achando-a", disse Cristo, "convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." Lucas 15:9, 10. PJ 98 3 Essa parábola, como a anterior, descreve a perda de alguma coisa que por diligente procura, pode ser recobrada, e isto com grande alegria. As duas parábolas representam classes diversas. A ovelha perdida sabe que está perdida. Deixou o pastor e o rebanho, e não pode salvar-se por si. Representa os que reconhecem estar separados de Deus, e estão numa nuvem de perplexidades, em humilhação e muito tentados. A dracma perdida representa os que estão perdidos em delitos e pecados, mas não estão conscientes de sua condição. Estão alienados de Deus, mas não o sabem. Sua vida está em perigo, porém estão disso inconscientes e PJ 98 4 "Desgarrei-me como a ovelha perdida; busca o teu servo, pois não me esqueci dos Teus mandamentos." Salmos 119:176. descuidados. Nesta parábola Cristo ensina que mesmo os que são indiferentes às reivindicações de Deus são objeto de Seu amor piedoso. Precisam ser procurados para serem reconduzidos a Deus. PJ 98 5 A ovelha afastou-se do redil; vagava no deserto ou nas montanhas. A dracma foi perdida em casa. Estava próxima. Contudo só podia ser descoberta por meio de busca diligente. PJ 98 6 Nesta parábola há uma lição para as famílias. No círculo familiar há muitas vezes grande indiferença quanto à condição espiritual de seus componentes. Pode haver um dentre eles que esteja separado de Deus; mas quão pouca ansiedade é sentida na família, pela perda de uma das dádivas confiadas por Deus! PJ 98 7 Embora esteja sob pó e lixo, a moeda é ainda de prata. O possuidor procura-a porque é de valor. Assim todo ser humano, embora degradado pelo pecado, é precioso aos olhos de Deus. Como a moeda traz a imagem e a inscrição do poder reinante, igualmente, quando foi criado, o homem trazia a imagem e a inscrição de Deus. E conquanto agora manchada e desfigurada pela influência do pecado, permanecem em toda alma os traços dessa inscrição. Deus deseja recobrar essa alma e sobre ela gravar Sua própria imagem em justiça e santidade. PJ 99 1 A mulher da parábola busca diligentemente a dracma perdida. Acende a candeia e varre a casa. Remove tudo que possa impedir sua procura. Embora uma única dracma esteja perdida, não cessam seus esforços até encontrá-la. Semelhantemente na família, se algum membro estiver perdido para Deus, deve ser empregado todo meio possível para recuperá-lo. Por parte de todos, haja um diligente e cuidadoso exame próprio. Observem-se os costumes de vida. Vede se não se comete uma falta ou erro no governo do lar, pelo qual se confirme na impenitência. Se na família um filho não estiver consciente de sua condição pecaminosa, os pais não devem descansar. Acenda-se a candeia! Examinai a Palavra de Deus e à sua luz procurai diligentemente tudo que houver na casa, para ver por que esse filho está perdido. Examinem os pais o próprio coração e esquadrinhem seus hábitos e costumes. Os filhos são a herança do Senhor e Lhe somos responsáveis pela administração de Sua propriedade. PJ 99 2 Há pais e mães que anelam trabalhar em qualquer missão estrangeira; muitos há que são ativos no serviço cristão fora da família, enquanto para seus próprios filhos são estranhos o Salvador e Sua compaixão. A obra de ganhar os filhos para Cristo muitos pais confiam ao pastor ou ao professor da Escola Sabatina; porém, assim fazendo, negligenciam a responsabilidade imposta por Deus. A educação e instrução dos filhos para serem cristãos é o mais elevado serviço que os pais podem prestar a Deus. É uma tarefa que requer paciência, esforço de toda a vida, diligente e perseverante. Pela negligência desse trabalho a nós confiado provamo-nos mordomos infiéis, e Deus não a desculpará. PJ 99 3 Todavia os que incorreram em tal desleixo, não desesperem. A mulher que perdeu a dracma, procurou-a até achá-la. Trabalhem igualmente os pais para a família com amor, fé e oração, até que possam ir a Deus com alegria e dizer: "Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor." Isaías 8:18. PJ 100 1 Isto é verdadeiro serviço missionário no lar, e é tão útil para os que o fazem, como para aqueles por quem é feito. Por interesse fiel pelo círculo do lar, nós nos tornamos aptos para trabalhar pelos membros da família de Deus, com os quais, se permanecermos leais a Cristo, viveremos durante toda a eternidade. Devemos manifestar, pelos irmãos e irmãs em Cristo, o mesmo interesse que demonstramos em família. PJ 100 2 É plano de Deus que tudo isso nos habilite a trabalhar por outros ainda. Ampliando-se-nos a simpatia e engrandecendo o amor, acharemos em toda parte alguma obra. A grande família humana de Deus abrange o mundo, e nenhum de seus membros deve ser esquecido por menosprezo. PJ 100 3 Onde quer que estejamos, a dracma perdida espera nossa procura. Procuramo-la? Dia após dia encontramo-nos com pessoas que não tomam interesse em coisas religiosas; falamos com as mesmas e as visitamos; manifestamos interesse pelo seu bem-estar espiritual? Expomos-lhes Cristo como um Salvador que perdoa os pecados? Falamos-lhes do amor de Cristo que nos inflamou o coração? Se não, como as enfrentaremos -- perdidas, eternamente perdidas -- quando juntos estivermos perante o trono de Deus? PJ 100 4 Quem pode calcular o valor de uma pessoa? Se quiserdes conhecê-lo, ide ao Getsêmani, e vigiai lá com Cristo durante aquelas horas de angústia, quando suava grandes gotas de sangue. Contemplai o Salvador crucificado! Ouvi o brado de desespero: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Marcos 15:34. Vede a fronte ferida, o lado traspassado, os pés perfurados! Lembrai que Cristo tudo arriscou! Para a nossa redenção o próprio Céu esteve em jogo. Meditando junto à cruz, que Cristo teria dado Sua vida por um único pecador, podeis apreciar o valor de uma pessoa. Se você estiver em comunhão com Cristo, valorizará todo ser humano como Ele o fez. Sentirá pelos outros o mesmo profundo amor que Cristo sentiu por você. Então estará apto para cativar e não afugentar, atrair e não repelir aqueles por quem Ele morreu. Ninguém seria jamais reconduzido a Deus se Cristo por ele não fizesse um esforço pessoal; e é por esse trabalho pessoal que podemos salvá-lo. Quando você vir os que baixam à sepultura, não descansará em tranqüila indiferença e sossego. Quanto maior o pecado deles e mais profunda sua miséria, tanto mais sinceros e ternos serão os esforços para sua recuperação. Discernirá a necessidade dos que sofrem, que pecaram contra Deus e são oprimidos pelo fardo da culpa. Seu coração transbordará de simpatia por eles, e estender-lhes-á uma mão auxiliadora. Nos braços de sua fé e amor levá-los-á a Cristo. Cuidará deles e os animará, e sua simpatia e confiança tornar-lhes-á difícil cair de sua estabilidade. PJ 101 0 Nesta obra todos os anjos do Céu estão prontos a cooperar. Todos os recursos do Céu estão à disposição dos que procuram salvar os perdidos. Os anjos o auxiliarão a alcançar os mais indiferentes e empedernidos. E quando alguém é reconduzido a Deus, todo o Céu se alegra; serafins e querubins tocam suas harpas douradas, e cantam louvores a Deus e ao Cordeiro, por Seu amor e misericórdia pelos filhos dos homens. ------------------------Capítulo 16 -- A reabilitação do homem PJ 101 1 Este capítulo é baseado em Lucas 15:11-32. PJ 101 2 As parábolas da ovelha e da dracma perdidas, e do filho pródigo, apresentam em traços claros, o misericordioso amor de Deus para com os que dEle se desviam. Embora se tenham dEle apartado, Deus não os abandona na miséria. Está cheio de amor e terna compaixão para com todos os que estão expostos às tentações do astucioso inimigo. PJ 101 3 Na parábola do filho pródigo é-nos apresentado o procedimento do Senhor com aqueles que uma vez conheceram o amor paterno, mas consentiram ao tentador levá-los cativos a sua vontade. PJ 101 4 "Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua." Lucas 15:11-13. PJ 101 5 O filho mais novo cansara-se das restrições da casa paterna. Pensou que sua liberdade era reprimida. O amor e cuidado do pai foram mal-interpretados, e determinou seguir os ditames de sua própria inclinação. O jovem não reconhece qualquer obrigação para com o pai, e não exprime gratidão, contudo reclama o privilégio de filho para participar dos bens de seu pai. Deseja receber logo a herança que lhe caberia pela morte do pai. Pensa só na alegria presente, e não se preocupa com o futuro. PJ 102 1 Depois de receber seu patrimônio, sai da casa paterna para "uma terra longínqua". Com dinheiro em profusão e podendo fazer o que bem entende, lisonjeia-se de ter alcançado o desejo de seu coração. Ninguém há, agora, que lhe diga: não faças isto porque há de prejudicar-te, ou: faze aquilo porque é bom. Maus companheiros ajudam-no a abismar-se mais e mais no pecado; e "desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente". PJ 102 2 A Bíblia fala de homens que "dizendo-se sábios, tornaram-se loucos". Romanos 1:22. E esta é a história do jovem da parábola. A fazenda que de forma egoísta pedira de seu pai, dissipou com meretrizes. Os tesouros de sua varonilidade foram esbanjados. Os preciosos anos de vida, a força do intelecto, as brilhantes visões da juventude, as aspirações espirituais -- tudo foi consumido no fogo do prazer. PJ 102 3 Houve uma grande fome na Terra; ele começou a padecer necessidade, e foi-se a um cidadão do país, que o mandou ao campo para apascentar porcos. Para um judeu esta ocupação era a mais vil e degradante. O jovem que se gloriava de sua liberdade, vê-se agora escravo. Está na pior das escravaturas -- "com as cordas do seu pecado, será detido". Provérbios 5:22. O brilho falso que o atraía desapareceu, e sente o peso dos seus grilhões. Naquela terra desolada e atingida pela fome, sentado no chão, sem outros companheiros senão os porcos, é constrangido a encher o estômago com as bolotas com que eram alimentados os animais. De todos os alegres companheiros que o rodeavam nos seus dias prósperos, e que comiam e bebiam a sua custa, nem um único ficou para animá-lo. A que se reduziu a sua orgíaca alegria? Sufocando a consciência e aturdindo os sentimentos, achava-se feliz; porém agora, sem dinheiro, com fome não saciada, com o orgulho humilhado, a natureza moral atrofiada, a vontade enfraquecida e indigna de confiança, seus sentimentos mais nobres aparentemente mortos, é o mais miserável dos mortais. PJ 102 4 Que quadro nos é apresentado da condição do pecador! Embora envolto pelas bênçãos do amor de Deus, nada há que o pecador, inclinado à satisfação própria e aos prazeres pecaminosos, mais deseje do que a separação de Deus. Como o filho ingrato, reclama as boas coisas de Deus, como suas por direito. Recebe-as como coisa muito natural, não agradece nem presta serviço algum de amor. Como Caim saiu da presença do Senhor para procurar morada; como o filho pródigo partiu "para uma terra longínqua" (Lucas 15:13), assim, no esquecimento de Deus, procuram os pecadores a felicidade. Romanos 1:28. PJ 102 5 Qualquer que seja a aparência, toda vida centralizada no eu, está arruinada. Todo aquele que procura viver separado de Deus, dissipa seus bens. Desperdiça os preciosos anos, esbanja as forças do intelecto, do coração e da alma, e trabalha para a sua eterna perdição. O homem que se aliena de Deus, para servir a si mesmo, é escravo de Mamom. A mente, que Deus criou para a companhia de anjos, degradou-se no serviço do que é terreno e animal. Este é o fim a que tende quem serve o próprio eu. PJ 103 1 Se você escolheu uma tal vida, sabe então que gasta dinheiro com o que não é pão, e trabalho com o que não satisfaz. Virão dias em que reconhecerá a sua degradação. Só, na longínqua terra, você sente a miséria, e brada em desespero: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. As palavras do profeta contêm a afirmação de uma verdade universal: "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto e não sentirá quando vem o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável." Jeremias 17:5, 6. Deus "faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos". Mateus 5:45. O homem, porém, tem o poder de se retrair do Sol e da chuva. Semelhantemente, quando o Sol da Justiça brilha, e os chuveiros da graça caem indiscriminadamente sobre todos, podemos, separando-nos de Deus, ser "como a tamargueira no deserto". PJ 103 2 O amor de Deus anela sempre aquele que dEle se afastou, e põe em operação influências para fazê-lo tornar à casa paterna. O filho pródigo, em sua miséria, voltou a si. O poder ilusório que Satanás sobre ele exercia, foi quebrado. Viu que o sofrimento era conseqüência de sua própria loucura, e disse: "Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai." Lucas 15:17, 18. Miserável como era, o pródigo achou esperança na convicção do amor do pai. Era aquele amor que o estava impelindo para o lar. Assim, a certeza do amor de Deus é que move o pecador a voltar para Ele. "A benignidade de Deus te leva ao arrependimento." Romanos 2:4. Uma cadeia dourada, a graça e compaixão do amor divino, é atada ao redor de toda pessoa em perigo. O Senhor declara: "Com amor eterno te amei; também com amorável benignidade te atraí." Jeremias 31:3. PJ 103 3 O filho resolve confessar sua culpa. Quer ir ter com o pai e dizer-lhe: "Pai, pequei contra o Céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho." Mas, mostrando como é limitada a sua concepção do amor do pai, acrescenta: "Faze-me como um dos teus trabalhadores." Lucas 15:18, 19. PJ 103 4 O jovem volta-se da manada de porcos e das bolotas, e dirige o olhar para casa. Tremente de fraqueza e abatido pela fome, põe-se a caminho com diligência. Não tem uma capa para ocultar suas vestes esfarrapadas; mas sua miséria venceu o orgulho e apressa-se a suplicar a posição de trabalhador, onde outrora estava como filho. PJ 104 1 O jovem, alegre e despreocupado, quando abandonou a mansão paterna, pouco imaginou a dor e saudade deixadas no coração do pai. Quando dançava e folgava com os companheiros devassos, pouco meditava na sombra que caíra sobre a casa paterna. E agora, enquanto percorre o caminho de volta, com cansados e doloridos passos, não sabe que alguém aguarda a sua volta. Mas "quando ainda estava longe" o pai distingue o vulto. O amor tem bons olhos. Nem o definhamento causado pelos anos de pecados pode ocultar o filho aos olhos do pai. "E se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço" num abraço terno e amoroso. Lucas 15:20. PJ 104 2 O pai não permite que olhos desdenhosos vejam a miséria e as vestes esfarrapadas do filho. Toma de seus próprios ombros o manto amplo e valioso, e lança-o em volta do corpo combalido do filho, e o jovem soluça seu arrependimento, dizendo: "Pai, pequei contra o Céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho." Lucas 15:21. O pai toma-o consigo e leva-o para casa. Não lhe é dada a oportunidade de pedir a posição do trabalhador. É um filho que deve ser honrado com o melhor que a casa pode oferecer, e ser servido e respeitado pelos criados e criadas. PJ 104 3 O pai diz aos servos: "Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se." Lucas 15:22-24. PJ 104 4 Em sua irrequieta juventude, o filho pródigo considerava o pai inflexível e austero. Que diferente é sua concepção dele agora! Assim também os engodados por Satanás consideram Deus áspero e severo. Vêem-nO esperando para os denunciar e condenar, como se não tivesse vontade de receber o pecador enquanto houver uma desculpa legítima para não o auxiliar. Consideram Sua lei uma restrição à felicidade humana, jugo opressor de que se alegram em escapar. Todavia o homem cujos olhos foram abertos por Cristo, reconhecerá a Deus como cheio de compaixão. Não lhe parece um tirano inexorável, mas um pai ansioso por abraçar o filho arrependido. O pecador, com o salmista, exclamará: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem." Salmos 103:13. PJ 104 5 Na parábola não é acusada nem censurada a má conduta do filho pródigo. O filho sente que o passado está perdoado, esquecido e apagado para sempre. E assim fala Deus ao pecador: "Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados, como a nuvem." Isaías 44:22. "Porque perdoarei a sua maldade e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados." Jeremias 31:34. "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:7. "Naqueles dias e naquele tempo, diz o Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel e não será achada; e os pecados de Judá, mas não se acharão." Jeremias 50:20. PJ 105 1 Que segurança da voluntariedade de Deus em receber o pecador arrependido! Escolheste, caro leitor, teu próprio caminho? Vagaste longe de Deus? Aspiraste desfrutar os frutos da transgressão, só para vê-los desfazerem-se em cinzas nos lábios? E agora que os teus bens estão dissipados, teus planos malogrados e mortas as tuas esperanças, estás solitário e desolado? Agora, aquela voz que te falou longamente ao coração, mas para a qual não atentaste, chega a ti clara e distinta: "Levantai-vos e andai, porque não será aqui o vosso descanso; por causa da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente." Miquéias 2:10. Volta ao lar do Pai. Ele te convida, dizendo: "Torna-te para Mim, porque Eu te remi." Isaías 44:22. PJ 105 2 Não dê ouvidos à sugestão do inimigo, de permanecer afastado de Cristo até que se faça melhor, até que você seja bastante bom para ir a Deus. Se esperar até lá, nunca você irá a Ele. Se Satanás te apontar as vestes imundas, repete a promessa de Jesus: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora." João 6:37. Dize ao inimigo que o sangue de Cristo purifica de todo o pecado. Faze tua a oração de Davi: "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve." Salmos 51:7. PJ 105 3 Levante-se e vá ter com seu Pai. Ele irá ao seu encontro quando ainda estiver longe. Se aproximar-se um passo que seja, em arrependimento, Ele se apressará para cingi-lo com os braços de infinito amor. Seu ouvido está aberto ao clamor da alma contrita. O primeiro anseio do coração por Deus Lhe é conhecido. Jamais é proferida uma oração, por vacilante que seja, jamais uma lágrima vertida, por mais secreta, e jamais alimentado um sincero anelo de Deus, embora débil, que o Espírito de Deus não saia a satisfazê-lo. Antes mesmo de ser pronunciada a oração, ou expresso o desejo do coração, sai graça de Cristo para juntar-se à graça que opera na pessoa. PJ 106 1 Seu Pai celestial te tirará as vestes manchadas de pecados. Na bela profecia de Zacarias, o sumo sacerdote Josué, que estava em pé diante do anjo do Senhor, com vestimentas imundas, representa o pecador. E o Senhor disse: "Tirai-lhe estas vestes sujas. E a ele lhe disse: Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade e te vestirei de vestes novas. ... E puseram uma mitra limpa sobre sua cabeça e o vestiram de vestes." Zacarias 3:4, 5. Assim Deus o vestirá de "vestes de salvação", e o cobrirá com o "manto da justiça". Isaías 61:10. "Ainda que vos deiteis entre redis, sereis como as asas de uma pomba, cobertas de prata, com as suas penas de ouro amarelo." Salmos 68:13. PJ 106 2 Levá-lo-á à sala do banquete, e o Seu estandarte sobre você será o amor. Cantares 2:4. "Se andares nos Meus caminhos", declara, "te darei lugar entre os que estão aqui", mesmo entre os santos anjos que circundam Seu trono. Zacarias 3:7. PJ 106 3 "E, como o noivo se alegra com a noiva, assim Se alegrará contigo o teu Deus." Isaías 62:5. "Ele Se deleitará em ti com alegria; calar-Se-á por Seu amor, regozijar-Se-á em ti com júbilo." Sofonias 3:17. E o Céu e a Terra unir-se-ão ao Pai em cânticos de alegria: "Porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado." Lucas 15:24. PJ 106 4 Até aqui, na parábola do Salvador, não há nota discordante para destoar a harmonia da cena de júbilo; agora, porém, Cristo introduz novo elemento. Ao voltar o filho pródigo, o primogênito estava "no campo"; e chegando-se à casa ouviu a música e a dança. Lucas 15:25. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que significavam essas coisas. Retrucou-lhe este: "Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar." Lucas 15:27, 28. Este irmão mais velho não participara da ansiedade e expectativa do pai por aquele que se perdera. Não partilha por isso da alegria paterna pela volta do errante. Os cânticos de alegria não lhe inflamam contentamento ao coração. Pergunta a um servo pelo motivo da festa, e a resposta aviva-lhe o ciúme. Não quer entrar para dar as boas-vindas ao irmão perdido. O favor mostrado ao pródigo, considera-o um insulto a si próprio. PJ 106 5 Quando o pai sai para argumentar com ele, o orgulho e maldade de sua natureza são revelados. Expõe sua vida na casa paterna como um ciclo de serviço não reconhecido, e então contrasta de modo ingrato o favor mostrado ao filho que acabava de voltar. Demonstra que seu serviço era antes o de servo e não de filho. Ao passo que devia ter constante alegria na presença do pai, seus pensamentos estavam dirigidos aos lucros a serem acumulados por sua vida circunspecta. Suas palavras mostram que por essa razão se privou dos prazeres do pecado. Agora esse irmão deve partilhar das dádivas do pai, o filho mais velho julga que lhe fazem injustiça. Inveja a boa acolhida proporcionada ao irmão. Mostra claramente que se estivesse na posição do pai não receberia o pródigo. Nem mesmo o reconhece como irmão, porém dele fala friamente como "teu filho". Lucas 15:30. PJ 107 1 Contudo, o pai tratou-o com brandura. "Filho", diz ele "tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas." Lucas 15:31. Durante todos esses anos da vida dissoluta de teu irmão, não tiveste o privilégio de minha companhia? PJ 107 2 Tudo que podia favorecer a felicidade de seus filhos, estava-lhes à disposição. O filho não precisa esperar uma recompensa ou dádiva. "Todas as minhas coisas são tuas." Só deves confiar em meu amor, e tomar o dom que é oferecido gratuitamente. PJ 107 3 Um filho rompera algum tempo com a família por não discernir o amor do pai. Mas agora voltara, e a onda de alegria varre todo pensamento perturbante. "Este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado." Lucas 15:32. PJ 107 4 Foi levado o irmão mais velho a ver seu espírito mesquinho e ingrato? Chegou a reconhecer, que embora o irmão tivesse agido impiamente, era, ainda e sempre, seu irmão? Arrependeu-se o irmão mais velho de seu amor-próprio e dureza de coração? Com referência a isso, Jesus guardou silêncio. A parábola ainda não terminara, e restava que os ouvintes determinassem qual seria o epílogo. PJ 107 5 Pelo irmão mais velho foram representados os impenitentes judeus contemporâneos de Cristo, como também os fariseus de todas as épocas, que olhavam com desprezo àqueles que consideravam publicanos e pecadores. Porque eles mesmos não caíram no mais degradante vício, enchiam-se de justiça própria. Jesus enfrentou essa gente ardilosa em seu próprio terreno. Como o filho mais velho da parábola, desfrutavam de especiais privilégios de Deus. Diziam-se filhos na casa de Deus, mas tinham o espírito de mercenários. Não trabalhavam movidos por amor, mas pela esperança de recompensa. A seus olhos, Deus era um feitor severo. Viam como Cristo convidava os publicanos e pecadores para receber livremente as dádivas de Sua graça -- dádivas que os rabinos pensavam assegurar-se somente por trabalho e penitência -- e ofenderam-se. A volta do filho pródigo, que encheu o coração paterno de alegria, provocava-lhes o ciúme. PJ 107 6 Na parábola, a intercessão do pai junto do primogênito era o terno apelo do Céu aos fariseus. "Todas as Minhas coisas são tuas" -- não como salário mas como dádiva. Como o pródigo, somente podeis recebê-las como concessões imerecidas do amor paterno. PJ 108 1 A justiça própria conduz os homens não somente a representar a Deus falsamente, como os torna impiedosos e críticos para com seus irmãos. O filho mais velho, em seu egoísmo e inveja, estava pronto a observar o irmão, criticar todas as suas ações, e culpá-lo da menor falta. Acusaria todo engano e exageraria quanto possível todo ato errado. Desse modo pretendia justificar seu espírito irreconciliável. Muitos fazem hoje o mesmo. Enquanto a pessoa enfrenta a primeira luta contra um turbilhão de tentações, estão ao lado de zombeteiros, obstinados, reclamando e acusando. Podem professar ser filhos de Deus, mas manifestam o espírito de Satanás. Por seu procedimento para com os irmãos, estes acusadores se colocam onde Deus não pode fazer brilhar a luz de Seu semblante. PJ 108 2 Quantos não perguntam constantemente: "Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite?" Miquéias 6:6, 7. Mas "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:8. PJ 108 3 Esse é o culto que o Senhor escolheu: "Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo... e não te escondas daquele que é da tua carne." Isaías 58:6, 7. Quando vos considerardes pecadores salvos unicamente pelo amor do Pai celestial, então tereis amor e compaixão por outros que sofrem no pecado. Então não mais defrontareis a miséria e o arrependimento com ciúme e censura. Quando o gelo do amor-próprio se derreter de vosso coração, estareis em simpatia com Deus, e partilhareis de Sua alegria na salvação do perdido. PJ 108 4 Verdade é que professas ser filho de Deus; porém, se esta declaração for verdade, é "teu irmão", que estava "morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado". Lucas 15:32. Ele se acha ligado a ti pelos vínculos mais íntimos; porque Deus o reconhece como filho. Nega teu parentesco com ele, e mostrarás que és apenas mais um empregado na casa paterna, não um filho da família de Deus. PJ 108 5 Embora não te associes à recepção ao pródigo, a alegria prosseguirá, o restaurado tomará seu lugar ao lado do Pai e em Sua obra. Aquele a quem muito se perdoou, ama também muito. Tu, porém, estarás fora, nas trevas; pois "aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor". 1 João 4:8. ------------------------Capítulo 17 -- Alento nas dificuldades PJ 109 0 Este capítulo é baseado em Lucas 13:1-9. PJ 109 1 Em Seus ensinos Cristo relacionava com a advertência de juízo o convite da graça. "O Filho do homem não veio", disse Ele, "para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las." Lucas 9:56. "Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele." João 3:17. Sua misericordiosa missão, no que se refere à justiça e ao juízo divinos, é ilustrada pela parábola da figueira estéril. PJ 109 2 Cristo advertira os homens da vinda do Reino dos Céus, e censurara-lhes severamente a ignorância e indiferença. Os sinais no céu que prediziam o tempo, reconheciam rapidamente, mas os sinais do tempo que apontavam tão claramente Sua missão, não eram discernidos. PJ 109 3 Os homens de então estavam tão prontos, porém, como hoje estão, para concluir que são os favoritos do Céu, e que a mensagem de advertência destina-se para os outros. Os ouvintes contaram a Jesus de um acontecimento que acabava de causar grande sensação. Algumas medidas de Pôncio Pilatos, o governador da Judéia, escandalizaram o povo. Houvera um levante em Jerusalém, e Pilatos tentara sufocá-lo pela violência. Numa ocasião seus soldados invadiram o átrio do templo, e degolaram alguns peregrinos galileus, no ato de oferecer seus sacrifícios. Os judeus consideravam a calamidade um castigo motivado pelos pecados das vítimas; e aqueles que narravam esse ato de violência, faziam-no com satisfação íntima. Segundo seu modo de ver, sua felicidade era prova de serem muito melhores, e por isso mais favorecidos de Deus do que aqueles galileus. Esperavam ouvir de Jesus palavras de condenação sobre esses homens que, sem dúvida, haveriam merecido a pena. PJ 109 4 Os discípulos de Jesus não aventuravam exprimir sua própria opinião sem ter ouvido a de seu Mestre. Ele lhes dera lições adequadas no tocante a julgar o caráter de outros homens e a medir a retribuição conforme seu juízo acanhado. Contudo esperavam que Cristo denunciasse esses homens como mais pecadores que os demais. Grande foi sua surpresa pela resposta. PJ 110 1 Voltando-se para a multidão, o Salvador disse: "Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis." Lucas 13:2, 3. Estas terríveis calamidades tinham por finalidade induzi-los a humilhar o coração e arrepender-se de seus pecados. A tempestade da vingança acumulava-se, para desencadear-se logo sobre todos os que não acharam refúgio em Cristo. PJ 110 2 Falando Jesus aos discípulos e à multidão, olhava com visão profética para o futuro, e via Jerusalém sitiada por exércitos. Ouvia o barulho dos estranhos que marchavam contra a cidade escolhida, e via-os, aos milhares, perecendo no cerco. Muitos judeus eram então assassinados como aqueles galileus no átrio do templo, no próprio ato de oferecerem o sacrifício. As calamidades que sobrevieram a alguns indivíduos, eram advertências divinas a uma nação igualmente culpada. "Se vos não arrependerdes", disse Jesus, "todos de igual modo perecereis." O tempo da graça duraria ainda um pouco para eles. Ainda podiam conhecer as coisas que diziam respeito à sua paz. PJ 110 3 "Um certo homem", prosseguiu Ele, "tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi procurar nela fruto, não o achando. E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não o acho; corta-a. Por que ocupa ainda a terra inutilmente?" Lucas 13:6, 7. PJ 110 4 Os ouvintes de Cristo não podiam interpretar mal a aplicação de Suas palavras. Davi cantara de Israel como uma vide tirada do Egito. Isaías escrevera: "Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das Suas delícias." Isaías 5:7. A geração à qual o Salvador tinha vindo, era representada pela figueira na vinha do Senhor, dentro do círculo de Seus cuidados e bênçãos especiais. PJ 110 5 O propósito de Deus para com Seu povo, e as gloriosas possibilidades que tinham perante si foram descritos nas belas palavras: "A fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado." Isaías 61:3. Jacó, agonizante, dissera de seu filho predileto, por inspiração do Espírito: "José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro." Gênesis 49:22. Mais adiante diz: "Pelo Deus de teu Pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos Céus de cima, com bênçãos do abismo que está debaixo." Gênesis 49:25. Assim Deus plantara a Israel como uma vide frutífera junto à fonte da vida. Tinha Sua "vinha em um outeiro fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides". Isaías 5:1, 2. PJ 111 1 "E esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas." Isaías 5:2. O povo do tempo de Cristo fazia maior ostentação de piedade do que os judeus de épocas anteriores; porém eram ainda mais destituídos das suaves graças do Espírito de Deus. Os preciosos frutos de caráter, que tornaram a vida de José tão fragrante e bela, não se manifestavam no povo judeu. PJ 111 2 Deus, por Seu Filho, procurara frutos mas não encontrou nenhum. Israel era um estorvo à terra. Toda a sua existência era uma maldição, pois ocupava na vinha o lugar que uma árvore frutífera poderia preencher. Roubava o mundo das bênçãos que Deus intencionava dar. Os israelitas mal representavam Deus aos povos. Não eram somente inúteis, mas decididamente um embaraço. Sua vida religiosa iludia em alto grau, e em vez de salvação acarretava ruína. PJ 111 3 Na parábola, o vinhateiro não questiona a sentença de que se a árvore permanecesse infrutífera, deveria ser decepada; porém, conhece e partilha do interesse do proprietário na árvore estéril. Nada lhe podia dar mais alegria que vê-la crescer e frutificar. Responde ao desejo do proprietário, dizendo: "Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará." Lucas 13:8, 9. PJ 111 4 O jardineiro não recusa trabalhar numa planta tão pouco promissora; está pronto a prestar-lhe ainda maiores cuidados. PJ 111 5 "Julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?" Isaías 5:3, 4. Quer tornar o ambiente mais propício, e prodigalizar-lhe maior atenção. PJ 111 6 O proprietário e o vinhateiro têm o mesmo interesse na figueira. Assim o Pai e o Filho eram um no amor ao povo escolhido. Cristo dizia aos ouvintes que lhes seriam dadas maiores oportunidades. Todo meio que o amor de Deus podia sugerir, seria empregado para tornarem-se árvores de justiça, e produzirem frutos para bênção do mundo. PJ 111 7 Jesus não disse, na parábola, qual seria o resultado do trabalho do jardineiro. Neste ponto, interrompeu a história. A conclusão dependia da geração que Lhe ouvia as palavras. À mesma foi dada a severa advertência: "Se não, depois a mandarás cortar." Dependia deles se estas palavras irrevogáveis seriam pronunciadas. O dia da vingança estava próximo. Pelas calamidades sobrevindas a Israel, o proprietário da vinha advertia-os misericordiosamente da aniquilação da árvore estéril. PJ 111 8 Esta advertência é também dirigida a nós que vivemos nesta geração. És tu, ó coração indiferente, uma árvore infrutífera na vinha do Senhor? Será esta sentença endereçada em breve a ti? Quanto tempo recebeste Suas dádivas? Quanto tempo tem Ele vigiado e esperado uma retribuição de amor? Que privilégio tens, em ser plantado em Sua vinha, e estar sob a proteção do jardineiro! Com quanta freqüência a terna mensagem do evangelho te comoveu o coração! Tomaste o nome de Cristo, exteriormente és membro da igreja que é Seu corpo; contudo estás consciente de nenhuma ligação viva com o grande coração de amor. A corrente de Sua vida não flui através de ti; as doces graças de Seu caráter, "os frutos do Espírito", não são vistos em tua vida. A árvore estéril recebe a chuva, os raios do Sol e os cuidados do jardineiro; suga alimento do solo. Mas seus ramos infrutíferos só ensombram o chão, de modo que árvores produtoras não podem florescer sob sua copa. Igualmente as dádivas de Deus a ti concedidas não transmitem bênçãos para o mundo. Roubas a outros o privilégio que, se não fosse teu, seria deles. PJ 112 1 Embora talvez obscuramente, reconheces que és um empecilho ao solo. Contudo, Deus em Sua grande misericórdia não te cortou. Não te contempla friamente. Não Se volta com indiferença, nem te abandona à destruição. Olhando a ti, clama, como clamou há tantos séculos, referindo-se a Israel, "Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? ... Não executarei o furor da Minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque Eu sou Deus e não homem." Oséias 11:8, 9. O misericordioso Salvador diz, concernente a ti: Poupa-a ainda este ano, até que Eu a escave e a esterque. Com que incansável amor Cristo servia ao povo de Israel durante o adicional período de graça! Na cruz, orava: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. Depois da ascensão, o evangelho foi pregado primeiramente em Jerusalém. Ali foi derramado o Espírito Santo. Ali a primeira igreja revelou o poder do Salvador ressurreto. Ali testemunhou Estêvão -- "seu rosto como o rosto de um anjo" -- e depôs sua vida. Atos dos Apóstolos 6:15. Tudo que o Céu podia dar foi prodigalizado. "Que mais se podia fazer à Minha vinha", disse Cristo, "que Eu lhe não tenha feito?" Isaías 5:4. Assim Seu cuidado e trabalho não foi diminuído, porém aumentado. Ainda hoje diz: "Eu, o Senhor, a guardo e, a cada momento, a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei." Isaías 27:3. PJ 112 2 "Se der fruto, ficará; e, se não, depois..." Lucas 13:9. PJ 112 3 O coração que não atende às instâncias divinas se endurece até tornar-se insensível à influência do Espírito Santo. Então, sim, é dito: "Corta-a. Por que ela ocupa ainda a terra inutilmente?" Lucas 13:7. PJ 113 0 Hoje te convida: "Converte-te-; ó Israel, ao Senhor teu Deus. ... Eu sararei a sua perversão, Eu voluntariamente os amarei. ... Eu serei, para Israel, como orvalho; ele florescerá como o lírio e espalhará as suas raízes como o Líbano. ... Voltarão os que se assentarem à sua sombra; serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide. ... De Mim é achado o teu fruto." Oséias 14:1, 4, 5, 7, 8. ------------------------Capítulo 18 -- Um convite generoso PJ 113 1 Este capítulo é baseado em Lucas 14:1, 12-24. PJ 113 2 O Salvador era convidado no banquete de um fariseu. Aceitava convites tanto de ricos como de pobres, e consoante Seu costume, vinculava com Suas lições da verdade a cena que tinha diante de Si. Entre os judeus o banquete sagrado era associado com todas as suas épocas de júbilo nacional e religioso. Era-lhes um tipo das bênçãos da vida eterna. O grande banquete em que se assentariam à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto os gentios estariam de fora, olhando cobiçosamente, era tema sobre que se deleitavam em falar. A lição de advertência e instrução que Cristo desejava dar, ilustrou agora pela parábola da grande ceia. Os judeus pretendiam circunscrever a si as bênçãos divinas para esta vida e a futura. Negavam a misericórdia de Deus para com os gentios. Pela parábola Cristo mostrou que nesse mesmo momento eles rejeitavam o convite de misericórdia, a chamada para o reino de Deus. Demonstrou que o convite que desdenhavam estava para ser dirigido àqueles a quem desprezavam, e de quem se retraíam como de leprosos. PJ 113 3 Na escolha dos convidados para o banquete, consultara o fariseu o próprio interesse egoísta. Cristo lhe disse: "Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14. PJ 114 1 Cristo repetia aqui as instruções que dera a Israel por Moisés. Em seus banquetes sagrados ordenara o Senhor que "o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas", viessem, comessem e se saciassem. Deuteronômio 14:29. Essas reuniões deveriam ser para Israel lições objetivas. Sendo ensinada deste modo a alegria da verdadeira hospitalidade, o povo deveria cuidar durante todo o ano dos pobres e indigentes. E essas ceias encerravam uma lição mais ampla. As bênçãos espirituais, prodigalizadas a Israel, não eram para eles somente. Deus lhes dera o pão da vida, para que o repartissem com o mundo. PJ 114 2 Essa tarefa não executaram. As palavras de Cristo eram-lhes uma censura ao egoísmo. Desagradavam aos fariseus. Desejando desviar o rumo da conversa, um deles exclamou com ares de beato: "Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Esse homem falou com grande confiança, como se estivesse certo de um lugar no reino. Sua atitude era semelhante à dos que se alegram com ser salvos por Cristo, conquanto não preencham as condições sob que a salvação é prometida. Seu espírito era idêntico ao de Balaão, quando orava: "A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu." Números 23:10. O fariseu não pensava em sua aptidão para o Céu, mas naquilo em que esperava deleitar-se lá. Sua observação destinava-se a desviar do tema de seus deveres práticos, a atenção dos convidados à ceia. Desejava dirigi-los da vida presente ao remoto tempo da ressurreição dos justos. PJ 114 3 Cristo leu o coração do dissimulador e, dirigindo-lhe o olhar, expôs aos convidados o caráter e o valor de seus privilégios presentes. Indicou-lhes que, a fim de partilharem das bem-aventuranças futuras, tinham uma obra para fazer neste tempo. PJ 114 4 "Um certo homem", disse, "fez uma grande ceia e convidou a muitos." Lucas 14:16. Chegado o tempo da celebração, o que convidava enviou seus servos com uma segunda mensagem aos hóspedes esperados: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Estranha indiferença manifestou-se, porém. "Todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir." Lucas 14:18-20. PJ 115 1 Nenhuma das escusas tinha base em necessidade real. O homem que precisava sair a ver seu campo, já o comprara. Sua pressa de ir vê-lo era devida a que seu interesse estava absorvido pela aquisição. Os bois, também, tinham sido comprados. O exame dos mesmos só devia satisfazer à curiosidade do comprador. Também a terceira desculpa não tinha melhor motivo. A circunstância de o convidado haver contraído núpcias, não precisava impedir sua presença à festa. Sua esposa também seria bem-vinda. Fizera, porém, seus próprios planos de prazer, e estes lhe pareciam mais desejáveis do que comparecer à festa, como prometera. Aprendera a achar prazer noutra companhia que não a do anfitrião. Não pediu desculpas, nem mesmo usou de cortesia em escusar-se. O "não posso ir" era unicamente um véu para a verdade -- "não faço questão de ir". PJ 115 2 Todas as escusas denunciavam espírito preocupado. Estes convidados ficaram absortos pelo interesse em outras coisas. O convite que se comprometeram a aceitar, foi rejeitado, e o generoso amigo, ofendido por sua indiferença. PJ 115 3 Pela grande ceia, Cristo representa as bênçãos oferecidas pelo evangelho. A provisão é nada menos que o próprio Cristo. Ele é o pão que desceu do Céu; e dEle procedem as torrentes da salvação. Os mensageiros do Senhor anunciaram aos judeus a vinda do Salvador, apontaram a Cristo como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. No banquete que preparou, Deus lhes ofereceu a maior dádiva que o Céu podia conceder -- uma dádiva que excede todo o entendimento. O amor de Deus supriu o custoso banquete, e proveu inesgotáveis recursos. "Se alguém comer desse pão", disse Cristo, "viverá para sempre." João 6:51. PJ 115 4 Todavia, para aceitar o convite ao banquete do evangelho, precisariam subordinar seus interesses materiais ao propósito de receber a Cristo e Sua justiça. Deus prodigalizou tudo ao homem, e lhe pede colocar Seu serviço acima de todas as considerações terrenas e egoístas. Não pode aceitar um coração indiferente. O coração absorto em afeições terrenas não pode ser entregue a Deus. A lição é para todo o tempo. Devemos seguir o Cordeiro de Deus, aonde quer que vá. Deve ser escolhida Sua direção, e Sua companhia apreciada mais que a de amigos terrenos. Cristo diz: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim." Mateus 10:37. PJ 115 5 Ao redor da mesa, quando partiam o pão cotidiano, muitos repetiam, nos dias de Cristo, as palavras: "Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus!" Lucas 14:15. Mas Cristo mostra como é difícil encontrar hóspedes à mesa provida por preço infinito. Aqueles que Lhe escutavam as palavras sabiam que tinham desprezado o misericordioso convite. Posses terrenas, riquezas e prazeres eram-lhes todo-absorventes. De consenso unânime escusaram-se. PJ 116 1 O mesmo se dá hoje. As desculpas apresentadas ao recusar o convite para o banquete encerram todos os motivos apresentados para recusar o convite do evangelho. Declaram que não podem prejudicar suas perspectivas materiais dando ouvidos às reivindicações do evangelho. Consideram seus propósitos temporais de maior valor que as coisas da eternidade. Justamente as bênçãos que receberam de Deus se tornam um empecilho que lhes separa a alma do Criador e Redentor. Não querem ser interrompidas em suas empresas mundanas, e dizem ao mensageiro da graça: "Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te chamarei." Atos dos Apóstolos 24:25. Outros insistem nas dificuldades que surgiriam nas relações sociais se obedecessem ao convite de Deus. Dizem que não podem estar em desarmonia com seus parentes e conhecidos. Deste modo denunciam fazer o mesmo que os descritos na parábola. O anfitrião considera-lhes as desculpas fúteis, e demonstrativas de desprezo ao convite. PJ 116 2 O homem que disse: "Casei e, portanto, não posso ir" (Lucas 14:20), representa uma grande classe. Muitos há que permitem que a esposa ou o marido os impeçam de atender ao convite de Deus. Diz o esposo: "Não posso seguir minha convicção do dever enquanto minha senhora é a isso contrária. Sua influência me tornaria excessivamente difícil fazê-lo." A esposa ouve o misericordioso convite: "Vinde, que tudo já está preparado", e diz: "Rogo-Te que me hajas por escusada. Meu marido recusa o convite de misericórdia. Diz que seu negócio é um embaraço. Preciso acompanhar meu marido, e por isso não posso ir." O coração dos filhos é impressionado. Desejam ir. Mas, amam o pai e a mãe, e como estes não atendem ao convite do evangelho, pensam que sua presença não é esperada. Também dizem: "Gostaria de ser dispensado." PJ 116 3 Todos esses não atendem ao convite do Salvador, porque temem causar divisão no círculo da família. Pensam que negando obediência a Deus, asseguram a paz e a prosperidade do lar; porém, isto é uma ilusão. Quem semeia egoísmo, colherá egoísmo. Rejeitando o amor de Cristo rejeitam aquilo que, somente, pode emprestar ao amor humano pureza e estabilidade. Não só perderão o Céu como também a verdadeira felicidade pela qual o Céu foi sacrificado. PJ 117 1 Na parábola, o doador da ceia ouviu como seu convite fora recebido, e, "indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade e traze aqui os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos". Lucas 14:21. PJ 117 2 O hospedeiro voltou-se daqueles que menosprezaram sua bondade e convidou uma classe não privilegiada, que não possuía casas nem terras. Convidou os pobres e PJ 117 3 "Disseram-Lhe, pois: ... Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do Céu. Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do Céu, mas Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu. Porque o pão de Deus é Aquele que desce do Céu e dá vida ao mundo. ... Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede." João 6:30-33, 35. famintos, que apreciariam a generosidade. "Os publicanos e as meretrizes", disse Cristo, "entram adiante de vós no reino de Deus." Mateus 21:31. Por mais miseráveis que sejam os espécimes da humanidade, de quem outros zombam e se retraem, não são baixos, nem miseráveis demais para a atenção e amor de Deus. Cristo anseia que homens aflitos, cansados e opressos, a Ele vão. Anseia dar-lhes luz, alegria e paz não encontradas em qualquer outra parte. Os piores pecadores são objeto da Sua profunda, ardente misericórdia e amor. Envia o Espírito Santo para sobre eles vigiar com ternura, procurando atraí-los a Si. PJ 117 4 O servo que fez entrar os pobres e cegos, disse ao Mestre: "Senhor, feito está como mandaste, e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a minha casa se encha." Lucas 14:22, 23. Cristo apontou aqui a obra do evangelho fora dos limites do judaísmo, nos caminhos e valados do mundo. PJ 117 5 Obedientes a este mandado, Paulo e Barnabé declaravam aos judeus: "Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da Terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se e glorificavam a Palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna." Atos dos Apóstolos 13:46-48. PJ 117 6 A mensagem evangélica, pregada pelos discípulos de Cristo, era a anunciação de Sua primeira vinda ao mundo. Trouxe aos homens as boas-novas de salvação pela fé nEle. Apontava para Sua segunda vinda em glória para redimir Seu povo, e deu aos homens a esperança de partilhar da herança dos santos na luz pela fé e obediência. Esta mensagem é dada à humanidade hoje em dia, e, neste tempo, está ligada à anunciação da breve volta de Cristo. Os sinais de Sua vinda dados por Ele mesmo, cumpriram-se; e assim, pelos ensinos da Palavra de Deus podemos saber que o Senhor está à porta. PJ 118 1 João, no Apocalipse, prediz a proclamação da mensagem do evangelho, justamente antes da vinda de Cristo. Viu "outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque vinda é a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:6, 7. PJ 118 2 A esta advertência do Juízo e às mensagens com ela relacionadas segue-se, na profecia, a volta do Filho do homem nas nuvens do céu. A proclamação do Juízo é uma anunciação de que a segunda vinda de Cristo está próxima. E esta proclamação é chamada o evangelho eterno. Deste modo é mostrado que a pregação da segunda vinda de Cristo ou a anunciação de sua brevidade, é parte essencial da mensagem evangélica. PJ 118 3 A Bíblia declara que nos últimos tempos os homens estariam absortos em empresas mundanas, prazeres e enriquecimento. Estariam cegos para as realidades eternas. Cristo diz: "E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:37-39. PJ 118 4 O mesmo se dá hoje. Os homens lançam-se à caça de lucro e satisfação própria como se não houvesse Deus, nem Céu, nem vida futura. Nos dias de Noé foi dada a advertência do dilúvio vindouro para despertar os homens de sua impiedade e convidá-los ao arrependimento. Assim a mensagem da próxima vinda de Cristo visa a despertar os homens de seu enlevo nas coisas temporais. Destina-se a acordá-los para o senso das realidades eternas, para que atendam ao convite para a ceia do Senhor. PJ 119 1 O convite do evangelho deve ser dado a todo o mundo -- "a toda nação, e tribo, e língua, e povo". Apocalipse 14:6. A última mensagem de advertência e misericórdia deve iluminar com sua glória toda a Terra. Deve alcançar todas as classes sociais -- ricos e pobres, elevados e humildes. "Sai pelos caminhos e atalhos", diz Cristo, "e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha." Lucas 14:23. PJ 119 2 O mundo perece pela carência do evangelho. Há fome da Palavra de Deus. Poucos pregam a Palavra não misturada com tradições humanas. Embora tenham os homens nas mãos a Bíblia, não recebem as bênçãos que, para eles, Deus nela colocou. O Senhor chama Seus servos para levar a mensagem ao povo. A Palavra da vida eterna deve ser dada aos que perecem em seus pecados. PJ 119 3 Na ordem de ir pelos caminhos e valados, Cristo apresenta a tarefa, a todos os que chama, de ministrar em Seu nome. Todo o mundo é o campo para os ministros de Cristo. Toda a família humana está compreendida em sua congregação. O Senhor deseja que Sua Palavra de misericórdia seja levada a toda pessoa. PJ 119 4 Isso deve ocorrer principalmente pelo serviço pessoal. Era o método de Cristo. Sua obra consistia grandemente em entrevistas pessoais. Tinha fiel consideração pelo auditório de uma só pessoa. Por esse único ouvinte, a mensagem, muitas vezes, era proclamada a milhares. PJ 119 5 Não devemos esperar que as pessoas venham a nós; precisamos procurá-las onde estiverem. Quando a Palavra é pregada do púlpito, o trabalho apenas começou. Há multidões que nunca serão alcançadas pelo evangelho se ele não lhes for levado. PJ 119 6 O convite para o banquete foi dado primeiramente ao povo judeu, ao povo que fora escolhido para ser professor e guia entre os homens, ao povo em cujas mãos estavam os escritos proféticos que prediziam o advento de Cristo, e a quem fora confiado o serviço simbólico que prefigurava Sua missão. Tivessem os sacerdotes e o povo atendido ao convite, ter-se-iam unido aos mensageiros de Cristo para estender ao mundo o convite evangélico. A verdade foi-lhes enviada para que a comunicassem a outros. Escusando-se ao convite, foi este enviado aos pobres, aleijados, mancos e cegos. Publicanos e pecadores aceitaram o convite. Quando o convite do evangelho é dirigido aos gentios, continua o mesmo plano de trabalho. A mensagem deve ser proclamada primeiramente "pelos caminhos" -- aos homens que têm parte ativa no trabalho do mundo, aos mestres e guias do povo. PJ 120 1 Os mensageiros do Senhor devem manter isto em mente. Deve atingir os pastores do rebanho, os mestres divinamente ordenados, como uma advertência a ser atendida. Aqueles que pertencem às camadas sociais mais elevadas devem ser procurados com terna afeição e respeito fraternal. Homens de negócios, em altas posições de confiança, homens de faculdades inventivas e intuição científica, intelectuais, mestres do evangelho, cuja atenção não foi dirigida para as verdades especiais deste tempo -- esses devem ser os primeiros a ouvir o convite. A eles deve ser feito o convite. PJ 120 2 Há uma obra que deve ser feita em prol dos ricos. Precisam ser despertados para reconhecer sua responsabilidade como a quem foram confiados dons do Céu. Devem ser lembrados de que precisam prestar contas Àquele que julgará os vivos e os mortos. Os ricos necessitam de seu trabalho no amor e temor de Deus. Muitíssimas vezes confiam eles nas riquezas, e não sentem o perigo. Seus olhos da mente precisam ser atraídos para as coisas de valor duradouro. Precisam reconhecer a autoridade da verdadeira bondade, que diz: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. PJ 120 3 Aqueles que por sua instrução, riqueza ou fama, ocupam posição saliente no mundo, raramente são abordados pessoalmente sobre os interesses da alma. Muitos obreiros cristãos hesitam em aproximar-se destas classes. Mas isto não deve acontecer. Se um homem se estivesse afogando, não permaneceríamos imóveis, vendo-o perecer, porque é advogado, negociante ou juiz. Se víssemos pessoas rolando a um precipício, não hesitaríamos em socorrê-las, qualquer que fosse sua posição ou profissão. Semelhantemente, não devemos hesitar em advertir os homens do perigo da alma. PJ 120 4 Ninguém deve ser negligenciado por causa da aparente devoção às coisas materiais. Muitos da alta camada social estão pesarosos e cansados da vaidade; anseiam uma paz que não possuem. Nas mais elevadas classes da sociedade há homens que têm fome e sede de salvação. Muitos receberiam auxílio se os obreiros do Senhor deles se aproximassem pessoalmente de maneira cortês, com o coração sensibilizado pelo amor de Cristo. PJ 120 5 O êxito da mensagem evangélica não depende de discursos estudados, de testemunhos eloqüentes nem de argumentos profundos. Depende da simplicidade da mensagem e de sua adaptação às almas que têm fome do pão da vida. "Que é necessário que eu faça para me salvar?" (Atos dos Apóstolos 16:30) -- é a necessidade da alma. PJ 121 1 Milhares podem ser alcançados pelo modo mais simples e modesto. Os mais intelectuais, considerados os homens e mulheres mais prendados do mundo, são muitas vezes refrigerados pelas palavras simples de alguém que ama a Deus e fala desse amor tão naturalmente como os mundanos o fazem das coisas que mais profundamente lhes interessam. PJ 121 2 Freqüentemente as palavras bem preparadas e estudadas têm pouca influência. Mas a expressão verdadeira e sincera de um filho ou filha de Deus, dita em simplicidade natural, tem poder para abrir a porta do coração que durante muito tempo esteve cerrada para Cristo e Seu amor. PJ 121 3 Lembrem os obreiros de Cristo que não têm que trabalhar em sua própria força. Apoderem-se do trono de Deus com fé em Seu poder de salvar. Instem com Deus em oração, e trabalhem então com todas as facilidades que Deus lhes proporcionou. O Espírito Santo é provido como sua eficiência. Anjos ministradores estarão a seu lado para impressionar os corações. PJ 121 4 Que centro missionário não seria Jerusalém, se seus guias e mestres houvessem recebido a verdade por Cristo! O Israel apóstata teria sido convertido. Um grande exército se teria congregado para o Senhor. Com que rapidez não teriam levado o evangelho a todas as partes do mundo! Assim, agora, que obra não poderia ser realizada para levantar os caídos, asilar os desterrados e pregar as boas-novas da salvação, se homens influentes e de grande capacidade fossem ganhos para Cristo! Rapidamente poderia ser feito o convite, e reunidos os convidados para a mesa do Senhor. PJ 121 5 Contudo, não devemos pensar somente nos grandes e talentosos homens com desprezo das classes mais pobres. Cristo instrui Seus mensageiros para ir também pelos caminhos e valados, aos pobres e humildes da Terra. Nos cortiços e vielas das grandes cidades, nos caminhos solitários do campo, há famílias e indivíduos -- talvez estrangeiros em Terra estranha -- que não pertencem a nenhuma igreja, e na solidão chegam a sentir que Deus deles Se esqueceu. Não sabem o que devem fazer para serem salvos. Muitos sucumbem no pecado. Muitos estão acabrunhados. Estão opressos pelos sofrimentos e dificuldades, incredulidade e desespero. Acometem-nos doenças de toda espécie, da alma e do corpo. Anelam encontrar consolo para os tormentos, e Satanás tenta-os a procurá-lo nos prazeres e divertimentos que conduzem à ruína e morte. Oferece-lhes os pomos de Sodoma, que se reduzirão a cinzas em seus lábios. Gastam dinheiro naquilo que não é pão, e trabalham por aquilo que não satisfaz. PJ 121 6 Devemos ver nesses sofredores aqueles a quem Cristo veio salvar. Seu convite é: "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas, e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. ... Ouvi-Me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os ouvidos e vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá." Isaías 55:1-3. PJ 122 1 Deus deu um mandamento especial, pelo qual devemos estimar o estrangeiro, o desterrado, e as pobres almas destituídas de poder moral. Muitos que aparentam completa indiferença pelas coisas religiosas, no coração anseiam descanso e paz. Embora tenham caído no mais profundo abismo do pecado, há possibilidades de salvá-los. PJ 122 2 Os servos de Cristo devem seguir-Lhe o exemplo. Andando de lugar em lugar, consolava Ele os sofredores e curava os enfermos. Apresentava-lhes, então, as grandes verdades sobre Seu reino. Esta é a obra de Seus seguidores. Aliviando os sofrimentos do corpo, achareis caminho para socorrer as necessidades da alma. Podereis apontar ao Salvador exaltado, e contar do amor do grande Médico, que, unicamente, tem o poder de restaurar. PJ 122 3 Diga aos pobres desanimados e corrompidos, que não desesperem. Embora hajam errado, e não tenham formado bom caráter, Deus tem alegria em restabelecer-lhes a alegria da salvação. Compraz-Se em tomar material aparentemente sem esperança -- aqueles por quem Satanás operou -- e fazê-los súditos de Sua graça. Deleita-Se em livrá-los da ira que virá sobre o desobediente. Dizei-lhes que há purificação e salvação para todo ser humano. Há um lugar para eles à mesa do Senhor. Ele espera dar-lhes as boas-vindas. PJ 122 4 Quem sai pelos caminhos e valados, encontrará outros de caráter inteiramente oposto, que necessitam de seu auxílio. Há homens que vivem em harmonia com toda a luz que possuem, e servem a Deus da melhor maneira que sabem. Mas reconhecem que há uma grande obra para ser feita em proveito deles e dos que os cercam. Anelam maior conhecimento de Deus, porém apenas começaram a ter um vislumbre de maior luz. Oram com lágrimas para que Deus lhes envie a bênção que vislumbram ao longe, pela fé! Em meio da impiedade dos grandes centros podem ser encontradas muitas dessas pessoas. Algumas estão em ambiente humilde, e por isso são desconhecidas ao mundo. Há muitas, das quais nada sabem ministros e igrejas; porém, são testemunhas do Senhor nos lugares humildes e miseráveis. Podem ter tido pouca luz e poucas oportunidades de instrução cristã, mas em meio à nudez, fome e frio, procuram ministrar a outros. Procurem estas almas os mordomos da múltipla graça de Deus; visitem seus lares e, pelo poder do Espírito Santo, remedeiem suas dificuldades. Estudai com elas a Bíblia e orai com elas com aquela simplicidade que o Espírito Santo inspira. Cristo dará aos Seus servos uma mensagem que será, para a alma, o pão do Céu. A preciosa bênção será levada de coração a coração, de família a família. PJ 123 1 A ordem dada na parábola, "força-os a entrar" (Lucas 14:23), tem sido freqüentemente mal-interpretada. Tirou-se daí a conclusão de que deveríamos obrigar os homens a aceitarem o evangelho. Denota, porém, de preferência, a urgência do convite e a eficácia dos estímulos apresentados. O evangelho jamais emprega força para conduzir homens a Cristo. Sua mensagem é: "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas." Isaías 55:1. "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! ... E quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. O poder do amor e da graça de Deus nos constrange a aceitar o convite. PJ 123 2 O Salvador diz: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo." Apocalipse 3:20. Não é repelido por menosprezo nem desviado por ameaças, antes procura constantemente o perdido, e diz: "Como te deixaria?" Oséias 11:8. Embora Seu amor seja repelido pelo coração obstinado, volta a suplicar com mais força: "Eis que estou à porta e bato." Apocalipse 3:20. O poder prevalecente de Seu amor, impele a alma a entrar; e diz a Cristo: "A Tua mansidão me engrandeceu." Salmos 18:35. PJ 123 3 Cristo quer implantar nos mensageiros o mesmo amor comovente que tem em procurar os perdidos. Não só devemos dizer: "Vem!" Há homens que escutam o convite; porém, seus ouvidos são demasiado surdos para compreender. Seus olhos são muito cegos para ver alguma coisa boa reservada para eles. Muitos reconhecem sua grande degradação. Dizem: Não posso mais ser socorrido, deixai-me sozinho. Mas os obreiros não devem desistir. Com terno e piedoso amor, aproximai-vos. Dêem-lhes seu ânimo, sua esperança, sua força. Bondosamente impele-os a entrar. "E apiedai-vos de alguns que estão duvidosos; e salvai alguns, arrebatando-os do fogo." Judas 22, 23. PJ 123 4 Se os servos de Deus com Ele andarem pela fé, Ele lhes dará força à mensagem. Estarão aptos para apresentar de tal modo Seu amor e o perigo da rejeição da graça de Deus, que os homens serão constrangidos a aceitar o evangelho. Cristo realizará milagres maravilhosos, se os homens executarem a tarefa dada por Deus. Pode ser operada uma tão grande transformação no coração humano, hoje em dia, como o foi sempre nas gerações passadas. João Bunyan foi redimido da impiedade e orgia, João Newton do tráfico de escravos, para proclamar o Salvador exaltado. Um Bunyan e um Newton podem ser redimidos dentre os homens, hoje em dia. Por agentes humanos que cooperam com os divinos, muito pobre desterrado poderá ser ganho, e por sua vez procurará restaurar a imagem de Deus em outros. Aos que tiveram poucas oportunidades, e andaram no caminho do mal por não conhecerem um melhor, advirão raios de luz. Como a Palavra de Cristo veio a Zaqueu: "Hoje, Me convém pousar em tua casa" (Lucas 19:5), assim a Palavra virá a eles; e aqueles que eram considerados pecadores inveterados, serão achados com coração terno como o de uma criança, porque Cristo Se dignou notá-los. Muitos volverão do mais vil erro e pecado, e tomarão o lugar de outros que tiveram privilégios e oportunidades, mas não os apreciaram. Serão contados entre os escolhidos do Senhor, eleitos e preciosos; e quando Cristo vier em Seu reino, estarão junto ao Seu trono. PJ 124 1 Mas, "vede que não rejeiteis ao que fala". Hebreus 12:25. Jesus disse: "Nenhum daqueles varões que foram convidados provará a Minha ceia." Lucas 14:24. Rejeitaram o convite e nenhum deles seria convidado novamente. Rejeitando a Cristo, os judeus endureciam o coração e entregavam-se ao poder de Satanás, de modo que se lhes tornaria impossível aceitar a graça de Jesus. O mesmo acontece hoje em dia. Se o amor de Deus não for apreciado, e não se tornar um princípio que habite em nós, para abrandar e sujeitar a alma, estaremos completamente perdidos. O Senhor não pode proporcionar maior revelação de amor que a por Ele demonstrada. Se o amor de Jesus não sensibilizar o coração, não há outro meio pelo qual podemos ser alcançados. PJ 124 2 Toda vez que recusais ouvir a mensagem da graça, fortificai-vos na incredulidade. Toda vez que deixardes de abrir a porta do coração para Cristo, ficareis menos e menos inclinados a atender à voz dAquele que fala. Diminuis as probabilidades de atender ao último apelo da graça. Não seja escrito de vós como do antigo Israel: "Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o." Oséias 4:17. Não deixeis Jesus chorar por vós, como chorou por Jerusalém, dizendo: "Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se vos deixará deserta." Lucas 13:34, 35. PJ 124 3 Vivemos no tempo em que a última mensagem da graça, o convite final, está sendo enviado aos homens. A ordem "sai pelos caminhos e atalhos" (Lucas 14:23), está atingindo seu cumprimento final. A toda pessoa será apresentado o convite de Cristo. Os mensageiros estão dizendo: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Os anjos celestes ainda cooperam com os agentes humanos. O Espírito Santo apresenta todo o estímulo para vos constranger a ir. Cristo aguarda algum sinal que demonstre que o ferrolho está sendo puxado, e a porta de vosso coração Lhe está sendo aberta. Os anjos esperam levar para o Céu a boa nova de que outro pecador perdido foi achado. Os exércitos celestiais aguardam, prontos para tocar suas harpas e cantar um hino de alegria, porque mais um pecador aceitou o convite para a ceia do evangelho. ------------------------Capítulo 19 -- Como é alcançado o perdão PJ 125 0 Este capítulo é baseado em Mateus 18:21-35. PJ 125 1 Pedro se achegou a Cristo, com a pergunta: "Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?" Mateus 18:21. Limitavam os rabinos o exercício do perdão até três ofensas. Pedro, que, como cuidava, seguia os ensinos de Cristo, ampliou-o até sete, o número que indica perfeição. Cristo, porém, ensinou que nunca nos devemos fatigar de perdoar. Não "até sete", disse Ele, "mas até setenta vezes sete". Mateus 18:22. PJ 125 2 Mostrou, então, o verdadeiro motivo pelo qual o perdão deve ser concedido, e o perigo de acariciar espírito irreconciliável. Numa parábola, contou o procedimento de um rei para com os oficiais que administravam os negócios de seu domínio. Alguns desses oficiais recebiam grandes somas de dinheiro pertencentes ao Estado. E quando o rei investigava a administração desse depósito, foi-lhe apresentado um homem cuja conta mostrava uma dívida para com seu senhor, da imensa soma de dez mil talentos. Nada tinha ele com que pagar e, segundo o costume, o rei ordenou que fosse vendido com tudo quanto tinha, para que se fizesse o pagamento. Terrificado, porém, o homem prostrou-se aos seus pés, e suplicou-lhe, dizendo: "Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então, o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. PJ 125 3 "Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu companheiro, prostrando-se aos seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara. Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia." Mateus 18:26-34. PJ 126 1 Esta parábola apresenta pormenores necessários ao remate do quadro, mas não têm homólogos em sua significação espiritual. A atenção não deve ser divergida para eles. São ilustradas certas verdades importantes, e estas devemos entender. PJ 126 2 O perdão concedido por esse rei representa o perdão divino de todo pecado. Cristo é representado pelo rei que, movido de compaixão, perdoou a dívida de seu servo. O homem estava sob a condenação da lei quebrantada. Não podia salvar-se por si mesmo, e por esse motivo veio Cristo ao mundo, velando Sua divindade com a humanidade, e deu Sua vida -- o Justo pelo injusto. Entregou-Se por nossos pecados, e oferece livremente a todos o perdão comprado com Seu sangue. "No Senhor há misericórdia, e nEle há abundante redenção." Salmos 130:7. PJ 126 3 Eis a razão por que devemos ter compaixão de pecadores como nós também. "Se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros." 1 João 4:11. "De graça recebestes", diz Cristo, "de graça dai." Mateus 10:8. PJ 126 4 Na parábola, quando o devedor solicitou um prazo, com a promessa: "Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei", a sentença foi revogada. Foi cancelada toda a dívida. E logo lhe foi concedida a oportunidade de seguir o exemplo do mestre que lhe tinha perdoado. Saindo, encontrou um conservo que lhe devia uma pequena soma. A ele lhe haviam sido perdoados dez mil talentos, o conservo devia-lhe cem dinheiros. Todavia, ele que havia sido tratado tão misericordiosamente, procedeu com o conservo de maneira inteiramente oposta. O devedor fez-lhe um apelo semelhante ao que fizera ao rei, porém, com resultado diferente. Ele, que fora perdoado recentemente, não foi magnânimo nem piedoso. O perdão que lhe foi demonstrado, não o exerceu em relação a seu conservo. Não atendeu ao pedido de ser generoso. A diminuta soma a ele devida era tudo o que pensava o servo ingrato. Exigiu tudo que cuidava lhe ser devido, e levou a efeito uma sentença idêntica à que lhe fora revogada tão graciosamente. PJ 126 5 Quantos hoje em dia não manifestam o mesmo espírito! Quando o devedor pediu ao seu senhor misericórdia, não tinha verdadeiro conhecimento do vulto da dívida. Não reconheceu seu estado irremediável. Tinha esperança de livrar-se a si mesmo. "Sê generoso para comigo", disse ele, "e tudo te pagarei." Assim há muitos que esperam por suas próprias obras merecer a graça de Deus. Não reconhecem a própria incapacidade. Não aceitam como dádiva liberal a graça de Deus, antes procuram apoiar-se em justiça própria. Seu coração não está quebrantado nem humilhado por causa do pecado, e são severos e irreconciliáveis para com os outros. Seus próprios pecados contra Deus, comparados com os do irmão para com eles, são como dez mil talentos contra cem dinheiros -- quase um milhão contra um, e ainda ousam ser irreconciliáveis. PJ 127 1 Na parábola, o senhor intimou à sua presença o devedor malvado e disse-lhe: "Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia." Mateus 18:32-34. "Assim", disse Jesus, "vos fará também Meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas." Mateus 18:35. Aquele que recusa perdoar, rejeita a única esperança de perdão. PJ 127 2 Os ensinos dessa parábola não devem ser mal-aplicados, porém. O perdão de Deus não nos diminui de modo algum o nosso dever de obedecer-Lhe. Assim também o espírito de perdão para com nosso próximo não diminui o direito de justa obrigação. Na oração que Cristo ensinou aos discípulos, disse: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Mateus 6:12. Com isso não queria Ele dizer que para nos serem perdoados os pecados não devemos requerer de nossos devedores nossos justos direitos. Se não puderem pagar, embora isso seja o resultado de má administração, não devem ser lançados na prisão, oprimidos ou mesmo tratados severamente; todavia a parábola tampouco nos ensina a animar a indolência. A Palavra de Deus declara: "Se alguém não quiser trabalhar, não coma também." 2 Tessalonicenses 3:10. O Senhor não requer do trabalhador diligente que suporte outros na ociosidade. Para muitos, a causa de sua pobreza é um desperdício de tempo, uma falta de esforço. Se essas faltas não forem corrigidas por aqueles que com elas condescendem, tudo que se fizer em seu auxílio será como pôr riquezas em saco sem fundo. Todavia há uma pobreza inevitável, e devemos manifestar ternura e compaixão para com os desafortunados. Devemos tratar os outros como quereríamos ser tratados sob circunstâncias idênticas. PJ 127 3 Diz-nos o Espírito Santo, pelo apóstolo Paulo: "Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja entre vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filipenses 2:1-5. PJ 128 1 Mas, não se deve fazer pouco caso do pecado. O Senhor nos ordenou não tolerar injustiça em nosso irmão. Diz: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o." Lucas 17:3. O pecado deve ser chamado pelo verdadeiro nome, e deve ser claramente exposto ao delinqüente. PJ 128 2 Na admoestação a Timóteo, Paulo diz, por inspiração do Espírito Santo: "Instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." 2 Timóteo 4:2. E a Tito escreve: "Há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores. ... Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé." Tito 1:10, 13. "Se teu irmão pecar contra ti", disse Cristo "vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." Mateus 18:15-17. PJ 128 3 Nosso Senhor ensina que dificuldades entre cristãos devem ser resolvidas dentro da igreja. Não devem ser declaradas aos que não temem a Deus. Se um cristão for ofendido por seu irmão, não deve ir a um tribunal apelar a incrédulos. Siga a instrução dada por Cristo. Em vez de procurar vindicar-se, procure salvar o irmão. Deus protegerá os interesses dos que O temem e amam; e podemos entregar com toda a confiança nosso caso Àquele que julga justamente. PJ 128 4 Freqüentemente demais, quando faltas são cometidas vez após vez, e o ofensor confessa sua culpa, o ofendido se cansa, e pensa que já perdoou demais. Mas o Salvador disse claramente como devemos tratar os faltosos: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe." Lucas 17:3. Não o consideres indigno de confiança. Olha "por ti mesmo, para que não sejas também tentado". Gálatas 6:1. PJ 128 5 Se vossos irmãos erram, deveis perdoar-lhes. Quando vos procuram com confissão, não deveis dizer: Não creio que são bastante humildes. Não creio que sintam a confissão. Que direito tendes de julgá-los como se pudésseis ler o coração? A Palavra de Deus diz: "Se ele se arrepender, perdoa-lhe; e, se pecar contra ti sete vezes no dia e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me, perdoa-lhe." Lucas 17:3, 4. E não somente sete vezes, porém setenta vezes sete -- tantas vezes quantas Deus te perdoa a ti. PJ 128 6 Nós mesmos devemos tudo à livre graça de Deus. A graça do concerto é que prescreveu nossa adoção. A graça do Salvador efetua nossa redenção, regeneração e exaltação a co-herdeiros de Cristo. Que esta graça seja revelada a outros. PJ 129 1 Não dê ao perdido ocasião para desânimo. Não permita intervir uma severidade farisaica para ferir seu irmão. Não surja amargo escárnio no espírito ou no coração. Não manifeste sinal de desprezo na voz. Se falar uma palavra de você mesmo, se tomar atitude de indiferença, ou denotar suspeita ou desconfiança, poderá causar a ruína de uma vida. Carece ela de um irmão com o coração simpatizante do Irmão mais velho para que lhe toque o coração humano. Sinta ela o aperto de uma mão simpatizante, e ouça o sussurro: Oremos. Deus dará rica experiência a ambos. A oração une-nos um ao outro e a Deus. A oração traz Jesus ao nosso lado, e dá à alma fatigada e perplexa novas forças para vencer o mundo, a carne e o diabo. A oração desvia os ataques de Satanás. PJ 129 2 Quando alguém se volta da imperfeição humana para contemplar a Jesus, dá-se uma divina transformação no caráter. O Espírito de Cristo que opera no coração conforma-o a Sua imagem. Seja pois vosso esforço exaltar a Jesus. Que os olhos do espírito se dirijam ao "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Empenhando-vos nesta obra, lembrai-vos de que "aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados". Tiago 5:20. PJ 129 3 "Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:15. Nada pode justificar o espírito irreconciliável. Aquele que não é misericordioso para com os outros, mostra não ser participante da graça perdoadora de Deus. No perdão de Deus, o coração do perdido é atraído ao grande coração do Infinito Amor. A torrente da compaixão divina derrama-se no espírito do pecador e, dele, na de outros. A benignidade e misericórdia que em Sua própria vida preciosa Cristo revelou, serão vistas também naqueles que se tornam participantes de Sua graça. "Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle." Romanos 8:9. Está alienado de Deus e apto unicamente para a eterna separação dEle. PJ 129 4 É verdade que pode uma vez haver sido perdoado; porém, seu espírito impiedoso mostra que agora rejeita o amor perdoador de Deus. Está separado de Deus e na mesma condição em que estava antes de ser perdoado. Desmentiu seu arrependimento, e os pecados sobre ele estão como se não se tivesse arrependido. PJ 129 5 Mas a grande lição da parábola está no contraste entre a compaixão de Deus e a dureza de coração do homem -- no fato de que a misericórdia perdoadora de Deus deve ser a medida da nossa própria. "Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?" Mateus 18:33. PJ 129 6 Não nos é perdoado porque perdoamos, porém, como o fazemos. O motivo de todo perdão acha-se no imerecido amor de Deus; mas, por nossa atitude para com os outros denotamos se estamos possuídos desse amor. Por isto Cristo diz: "Com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. ------------------------Capítulo 20 -- O maior perigo do homem PJ 130 0 Este capítulo é baseado em Lucas 12:13-21. PJ 130 1 Cristo estava ensinando, e, como de costume, reuniram-se em redor outras pessoas, além dos discípulos. Falara aos discípulos de cenas em que em breve tomariam parte. Deviam proclamar as verdades a eles confiadas, e seriam levados a conflitos com os governantes deste mundo. Por Sua causa seriam intimados a tribunais, e perante juízes e reis. Prometeu-lhes sabedoria que ninguém poderia contradizer. Suas palavras que moviam o coração da multidão e confundiam os sagazes adversários, testemunhavam do poder daquele Espírito imanente, que prometera a Seus seguidores. PJ 130 2 Havia muitos, porém, que ansiavam a graça do Céu unicamente para servir a seus propósitos egoístas. Reconheciam o maravilhoso poder de Cristo de expor a verdade em clara luz. Ouviam a promessa a Seus seguidores, de sabedoria para falar perante governadores e juízes. Não lhes concederia também poder para seu proveito material? PJ 130 3 "E disse-Lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança." Lucas 12:13. Deus dera por Moisés instruções a respeito da transmissão de propriedade. O primogênito recebia uma porção dobrada das posses do pai (Deuteronômio 21:17), enquanto os mais jovens recebiam o restante em partes iguais. Este homem julga que seu irmão o defraudou de sua herança. Seus próprios esforços falharam para ganhar o que considerava seu de direito; porém, se Cristo Se interpusesse, a intenção certamente seria alcançada. Ele ouvira os fortes apelos de Cristo e Suas solenes denúncias contra os escribas e fariseus. Se palavras de tal autoridade fossem dirigidas a este irmão, não ousaria recusar ao queixoso sua cota. PJ 131 1 No meio da solene instrução que Cristo dera, este homem revelou sua disposição egoísta. Podia apreciar aquela habilidade do Senhor que serviria à promoção de seus negócios temporais; porém, as verdades espirituais não lhe impressionavam a mente nem o coração. A obtenção da herança era o tema que o enlevava. Jesus, o Rei da glória, que era rico mas por nossa causa Se tornou pobre, lhe estava abrindo os tesouros do amor divino. O Espírito Santo com ele pleiteava para que se tornasse herdeiro do tesouro "incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar". 1 Pedro 1:4. Vira as evidências do amor de Cristo. Agora tinha a oportunidade de falar ao grande Mestre e de exprimir o mais íntimo desejo do coração. Como o homem com o ancinho na alegoria de Bunyan, seus olhos estavam fixos na Terra. Não viu a coroa sobre sua cabeça. Como Simão Mago, estimava a dádiva de Deus como meio de alcançar lucros materiais. PJ 131 2 A missão do Salvador na Terra estava próxima do fim. Restavam-Lhe poucos meses para concluir aquilo a que viera, isto é, estabelecer o reino de Sua graça. Contudo, a cobiça humana tentava desviá-Lo de Sua obra para resolver a contenda sobre um pedaço de terra. Mas Jesus não podia ser distraído de Sua missão. Retrucou: "Homem, quem Me pôs a Mim por juiz ou repartidor entre vós?" Lucas 12:14. PJ 131 3 Jesus podia ter dito a esse homem justamente o que era correto. Sabia quem neste caso tinha razão; porém os irmãos estavam em desavença porque eram avarentos. Cristo disse, com efeito: Não Me compete a Mim a tarefa de decidir controvérsias de tal espécie. Viera com outro propósito, isto é, pregar o evangelho e assim despertar os homens para o senso das realidades eternas. PJ 131 4 Na atitude de Cristo nesse caso há uma lição para todos os que ministram em Seu nome. Quando enviou os doze, disse: "E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:7, 8. Não tinham que resolver as questões temporais do povo. Sua obra era persuadir os homens para que se reconciliassem com Deus. Nesta obra consistia seu poder para abençoar a humanidade. O único remédio para os pecados e sofrimentos dos homens é Cristo. Unicamente o evangelho de Sua graça pode curar os males que amaldiçoam a sociedade. A injustiça do rico para com o pobre, e o ódio dos pobres para com os ricos, ambos têm a raiz no egoísmo; e este, somente pode ser desarraigado pela submissão a Cristo. Ele, unicamente, substitui o cobiçoso coração do pecado pelo novo coração de amor. Preguem os servos de Cristo o evangelho com o Espírito enviado do Céu e como Ele trabalhem para o benefício dos homens. Então, hão de se manifestar no abençoar e soerguer a humanidade, resultados cuja realização seria totalmente impossível pelo poder humano. PJ 132 1 Nosso Senhor bateu na raiz da questão que turbava este interlocutor e de todas as disputas semelhantes, dizendo: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui." Lucas 12:15. PJ 132 2 "E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus." Lucas 12:16-21. PJ 132 3 Pela parábola do rico insensato mostrou Cristo a loucura dos que fazem do mundo seu tudo. Este homem recebera tudo de Deus. Ao Sol fora permitido brilhar sobre sua propriedade; pois seus raios caem sobre justos e injustos. A chuva desce do céu do mesmo modo sobre maus e bons. O Senhor fizera que a vegetação florescesse e os campos produzissem abundantemente. O rico estava em perplexidade sobre o que devia fazer com a colheita. Seus celeiros estavam superabarrotados, e não tinha lugar para o excedente. Não pensou em Deus, de quem vieram todas as dádivas. Não reconheceu que Deus o fizera mordomo de Seus bens, para que socorresse os necessitados. Tinha a abençoada oportunidade de se tornar distribuidor das bênçãos de Deus, porém unicamente pensou em administrar ao próprio conforto. PJ 132 4 A situação do pobre, do órfão, da viúva, do enfermo, do aflito, foi trazida à atenção desse rico. Havia muitos lares nos quais distribuir seus bens. Podia ele facilmente privar-se de uma porção de sua abundância e muitas famílias poderiam ser libertas das privações, muito faminto poderia ser saciado, vestido muito nu, muito coração alegrado, respondida muita súplica por pão e roupa, e uma melodia de louvor teria ascendido ao Céu. O Senhor ouvira a oração do necessitado, e em Sua bondade tomara providência para o pobre. Salmos 68:10. Havia na bênção outorgada ao rico abundante provisão para a indigência de muitos. Cerrou ele, porém, o coração ao clamor do indigente, e disse aos servos: "Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.." Lucas 12:18, 19. PJ 133 1 A aspiração desse homem não era mais elevada que a das bestas que perecem. Vivia como se não houvesse Deus, nem Céu, nem vida futura; como se tudo que possuía lhe pertencesse, e nada devesse a Deus nem aos homens. Descreve o salmista esse rico, ao dizer: "Disseram os néscios no seu coração: Não há Deus." Salmos 14:1. PJ 133 2 Esse homem vivera e planejara para o eu. Vê que há bastante provisão para o futuro; nada mais lhe resta agora senão entesourar e desfrutar o fruto de seu trabalho. Considera-se favorecido sobre os outros homens, e confere a si mesmo a honra de ter administrado sabiamente. É honrado pelos concidadãos como homem de bom discernimento e próspero. Porque "os homens" te louvam, "quando faz bem a si mesmo". Salmos 49:18. PJ 133 3 Mas "a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus". 1 Coríntios 3:19. Enquanto o rico está prevendo anos de prazeres, o Senhor faz planos muito diferentes. Veio a este mordomo infiel a mensagem: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma." Eis uma exigência que o dinheiro não pode satisfazer. O tesouro por ele acumulado não pode alcançar revogação. Num momento torna-se sem valor aquilo para cujo ganho trabalhara a vida toda. "E o que tens preparado para quem será?" Lucas 12:20. Seus largos campos e celeiros abarrotados escapam a seu controle. "Amontoam riquezas e não sabem quem as levará." Salmos 39:6. PJ 133 4 A única coisa que lhe seria de valor agora, não a adquiriu. Vivendo para o próprio eu, rejeitou o amor divino, que fluiria em misericórdia para com seus concidadãos. Assim obrando, rejeitou a vida; porque Deus é amor, e amor é vida. Este homem escolheu o material em vez do espiritual, e com o material tem que sucumbir. "O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem." Salmos 49:20. "Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus." Lucas 12:21. A ilustração é aplicável a todos os tempos. Podeis planejar meramente para a própria satisfação egoísta, acumular tesouros, construir mansões grandes e altas como os arquitetos da antiga Babilônia; porém, não podeis arquitetar um muro tão alto e um portal tão forte que exclua os mensageiros da vingança. O rei Belsazar dava um grande banquete, e louvava "aos deuses de ouro, de prata, de cobre, de ferro, de madeira e de pedra". Daniel 5:4. Mas a mão do Invisível escreveu na parede aquelas palavras de condenação, e o ruído do exército inimigo foi ouvido nos portões do palácio. "Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus", e um rei estrangeiro subiu ao trono. Daniel 5:30. PJ 134 0 Viver para si mesmo é perecer. A avareza, o desejo de beneficiar a si próprio, compromete a vida. É de Satanás o espírito de ganhar e atrair para si. De Cristo é o espírito de dar e sacrificar-se em benefício dos outros. "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em Seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida." 1 João 5:11, 12. PJ 134 1 Portanto diz: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui." Lucas 12:15. ------------------------Capítulo 21 -- Como é decidido nosso destino PJ 134 2 Este capítulo é baseado em Lucas 16:19-31. PJ 134 3 Na parábola do rico e Lázaro, Cristo mostra que nesta vida os homens decidem seu destino eterno. Durante o tempo da graça de Deus, esta é oferecida a toda a humanidade. Mas, se os homens desperdiçam as oportunidades na satisfação própria, afastam-se da vida eterna. Não lhes será concedida nova oportunidade. Por sua própria escolha cavaram entre eles e Deus um abismo intransponível. PJ 134 4 Essa parábola traça um contraste entre o rico que não confiara em Deus e o pobre que nEle depositara confiança. Cristo mostra que se está aproximando o tempo em que a posição das duas classes será invertida. Os que, embora pobres nos bens deste mundo confiam em Deus e são pacientes no sofrimento, um dia serão exaltados sobre os que agora ocupam as mais elevadas posições que o mundo pode dar, mas não submeteram sua vida a Deus. PJ 134 5 "Ora, havia um homem rico", disse Cristo, "e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico." Lucas 16:19-21. PJ 135 1 O rico não pertencia à classe representada pelo juiz injusto, que declarava abertamente seu desrespeito a Deus e ao homem. Professava ser filho de Abraão. Não maltratava o mendigo nem exigia que se retirasse porque sua aparência lhe era repugnante. Se este pobre e asqueroso espécime da humanidade era confortado por contemplá-lo ao passar os portais, o rico consentia que lá permanecesse. Mas era de forma egoísta indiferente às necessidades de seu irmão sofredor. PJ 135 2 Não havia então hospitais onde os enfermos pudessem ser cuidados. Os sofredores e necessitados eram trazidos ao conhecimento daqueles a quem Deus confiara riquezas, para que deles recebessem auxílio e simpatia. Assim se dava com o mendigo e o rico. Lázaro estava em grande necessidade, pois não tinha amigos, casa, dinheiro, nem alimento. Contudo era deixado ficar nesse estado dia após dia, enquanto toda necessidade do nobre rico era suprida. Ele, a quem seria tão fácil aliviar os sofrimentos de seu próximo, vivia para si mesmo, como o fazem muitos hoje em dia. PJ 135 3 Hoje, em nossa vizinhança, muitos há famintos, nus e sem teto. Se negligenciarmos repartir nossos meios com esses necessitados e sofredores, pomos sobre nós um fardo de culpa, que um dia temeremos enfrentar. Toda avareza é condenada como idolatria. Toda condescendência egoísta é aos olhos de Deus uma ofensa. PJ 135 4 Deus fizera do rico um mordomo de Seus meios, com a obrigação de atender justamente a casos tais como o do mendigo. Fora dada a ordem: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder" (Deuteronômio 6:5); e "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Levítico 19:18. O rico era judeu, e como tal conhecia os mandamentos de Deus. Esqueceu, porém, que teria que prestar contas pelo uso dos meios e capacidades a ele concedidos. As bênçãos do Senhor sobre ele repousavam abundantemente, mas as empregou de forma egoísta para a própria honra e não de seu Criador. Proporcional à abundância era a sua obrigação de usar as dádivas para erguer a humanidade. Este era o mandamento do Senhor. Mas o rico não pensara na obrigação para com Deus. Emprestava dinheiro e recebia juros do mesmo, mas não devolvia juros do que Deus lhe emprestara. Possuía conhecimento e talentos, mas não os aperfeiçoava. Esquecendo sua responsabilidade para com Deus, devotara todas as energias ao prazer. Tudo de que era rodeado, o círculo de divertimentos, os louvores e lisonjas de seus amigos, lhe satisfazia o prazer egoísta. Tão enlevado estava na companhia dos amigos, que perdeu todo o senso da responsabilidade de cooperar com Deus em Seu ministério de misericórdia. Tinha oportunidade de compreender a Palavra de Deus e praticar seus ensinos, mas a sociedade amante de prazeres que escolhera lhe ocupava tanto o tempo, que esqueceu o Deus da eternidade. PJ 135 5 Veio o tempo em que se deu uma mudança na condição dos dois homens. O pobre sofrera dia após dia, porém suportara com paciência e tranqüilidade. Afinal morreu e foi sepultado. Ninguém por ele chorou, porém testemunhara de Cristo pela paciência no sofrimento, suportara a prova de sua fé, e na morte nos é representado como havendo sido levado pelos anjos ao seio de Abraão. PJ 136 1 Lázaro representa o pobre sofredor que crê em Cristo. Quando a trombeta soar e todos os que estão nas sepulturas ouvirem a voz de Cristo e ressurgirem, receberão a recompensa; pois sua fé em Deus não era mera teoria, mas realidade. "E morreu também o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama." Lucas 16:22-24. PJ 136 2 Nesta parábola Cristo Se acercava do povo no próprio terreno deles. A doutrina de um estado consciente de existência entre a morte e a ressurreição era mantida por muitos dos que ouviam as palavras de Cristo. O Salvador lhes conhecia as idéias e compôs Sua parábola de modo a inculcar verdades importantes em lugar dessas opiniões preconcebidas. Apresentou aos ouvintes um espelho em que se pudessem ver em sua verdadeira relação para com Deus. Usou a opinião predominante para exprimir a idéia de que desejava todos ficassem imbuídos, isto é, que nenhum homem é apreciado por suas posses; porque tudo que lhe pertence é unicamente emprestado por Deus. O mau emprego destas dádivas colocá-lo-á abaixo dos mais pobres e afligidos que amam a Deus, e nEle confiam. PJ 136 3 Cristo desejava que Seus ouvintes compreendessem a impossibilidade do homem assegurar-se a salvação da alma depois da morte. Abraão é apresentado como a responder: "Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá." Lucas 16:25, 26. Deste modo Cristo mostra a completa falta de esperança em aguardar uma segunda oportunidade. Esta vida é o único tempo dado ao homem para preparar-se para a eternidade. PJ 136 4 O rico não abandonara a crença de ser filho de Abraão, e em sua aflição é apresentado como a pedir-lhe socorro. "Abraão, meu pai", orou ele, "tem misericórdia de mim." Lucas 16:24. Não orou a Deus, mas a Abraão. Assim mostrava que colocava Abraão acima de Deus, e confiava na salvação pelo parentesco com ele. O ladrão na cruz endereçou sua oração a Cristo. "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino" (Lucas 23:42), disse ele, e imediatamente veio a resposta: Na verdade, na verdade te digo hoje (quando estou suspenso na cruz, em humilhação e sofrimento), estarás comigo no Paraíso. O rico, porém, orou a Abraão, e sua petição não foi atendida. Cristo somente está exaltado a "Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados". Atos dos Apóstolos 5:31. "E em nenhum outro há salvação." Atos dos Apóstolos 4:12. PJ 137 1 O rico passara a vida em complacência própria, e demasiado tarde viu que não fizera provisão para a eternidade. Reconheceu sua loucura, e pensou nos irmãos que como ele procederiam, vivendo para se comprazerem. Suplicou, então: "Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes [Lázaro] à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham para este lugar de tormento." Mas "disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lucas 16:27-31. PJ 137 2 Quando o rico solicitava evidência adicional para seus irmãos foi-lhe dito claramente que mesmo que esta evidência fosse dada, não seriam persuadidos. Seu pedido lançava uma injúria a Deus. Era como se o rico dissesse: Se me tivesses advertido mais cabalmente, eu não estaria aqui agora. Por sua resposta, Abraão é apresentado como a dizer: Teus irmãos têm sido suficientemente advertidos. Foi-lhes dada luz, porém não quiseram ver; foi-lhes apresentada a verdade, porém não quiseram ouvir. "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lucas 16:31. Essas palavras demonstraram-se verdadeiras na história da nação judaica. O último e mais importante milagre de Cristo foi a ressurreição de Lázaro de Betânia, após estar morto quatro dias. Aos judeus foi concedida esta maravilhosa demonstração da divindade do Salvador, mas rejeitaram-na. Lázaro ressurgiu dentre os mortos e apresentou-lhes seu testemunho, porém eles empederniram o coração contra toda evidência, e até tentavam tirar-lhe a vida. João 12:9-11. PJ 137 3 A lei e os profetas são os meios designados por Deus para a salvação dos homens. Cristo disse: Atentem para estas evidências. Se não ouvem a voz de Deus em Sua Palavra, o testemunho de alguém que se levantasse dentre os mortos não seria atendido. PJ 137 4 Aqueles que ouvem a Moisés e aos profetas não requererão maior luz que a que Deus deu; mas se os homens rejeitam a luz e deixam de apreciar as oportunidades a eles proporcionadas, não escutariam alguém que, dentre os mortos, se lhes acercasse com uma mensagem. Não seriam convencidos nem por esta evidência; porque os que rejeitam a lei e os profetas, endurecem o coração, ao ponto de repelir toda a luz. PJ 138 1 A conversação entre Abraão e o homem outrora rico é figurativa. A lição a ser tirada dela é que a todo homem é dada suficiente luz para o desempenho dos deveres dele exigidos. As responsabilidades do homem são proporcionais às suas oportunidades e privilégios. Deus outorga a todos luz e graça suficientes para executar a obra que lhes deu para fazer. Se o homem deixar de fazer o que uma pequena luz mostra ser seu dever, maior luz somente revelaria infidelidade e negligência no aperfeiçoamento das bênçãos concedidas. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. Quem recusa ser iluminado por Moisés e pelos profetas, e pede a execução de algum milagre maravilhoso, não seria persuadido se seu desejo se cumprisse. PJ 138 2 A parábola do rico e Lázaro mostra como são avaliadas as duas classes representadas por estes homens no mundo invisível. Não é pecado ser rico, se a riqueza não for alcançada por injustiça. Um rico não é condenado por possuir riquezas; mas a condenação sobre ele paira se os meios a ele confiados forem despendidos de forma egoísta. Muito melhor faria, se depositasse seu dinheiro ao lado do trono de Deus, usando-o para fazer o bem. A morte não empobrecerá ninguém que assim se devote a procurar riquezas eternas. Mas, o homem que acumula dinheiro para si, nada poderá levar aos Céus; demonstrou-se um mordomo infiel. Durante a vida teve boas coisas; mas esqueceu-se do dever para com Deus; deixou de assegurar-se o tesouro celeste. PJ 138 3 O rico que teve tantos privilégios nos é apresentado como alguém que deveria haver cultivado seus dons de modo que suas obras atingissem o grande além, levando consigo as aperfeiçoadas vantagens espirituais. É propósito da redenção não somente extirpar o pecado, mas restituir ao homem os dons espirituais perdidos pelo poder atrofiante do pecado. Dinheiro não pode ser introduzido na vida futura; ele não é necessário lá; mas as boas obras feitas para conquistar almas para Cristo, são levadas às mansões celestes. Mas os que desperdiçam de forma egoísta as dádivas do Senhor, que deixam seus semelhantes sem auxílio, e nada fazem para a promoção da obra de Deus neste mundo, desonram seu Criador. Roubo a Deus está escrito junto a seus nomes nos livros do Céu. O rico tinha tudo quanto podia ser adquirido por dinheiro; mas não as riquezas que teriam conservado sua conta justa com Deus. Vivera como se tudo quanto possuía lhe pertencesse. Desdenhou o apelo de Deus e o clamor do pobre sofredor. Mas finalmente lhe chega um convite a que não pode deixar de atender. Por um poder que não pode questionar nem resistir, lhe é ordenado que entregue os bens de que não será mais mordomo. O homem que fora rico está reduzido a uma pobreza desesperadora. As vestes da justiça de Cristo, tecidas no tear do Céu, jamais podem cobri-lo. Ele, que uma vez usara a mais rica púrpura, o mais fino linho, está reduzido à nudez. Sua oportunidade findou. Nada trouxe ao mundo, e nada pode levar dele. PJ 139 1 Cristo levantou a cortina e apresentou este quadro aos sacerdotes e maiorais, escribas e fariseus. Olhai-o vós que sois ricos nos bens deste mundo, e não sois ricos para com Deus. Não quereis contemplar esta cena? O que é mais estimável entre os homens é abominável à vista de Deus. Cristo diz: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" Marcos 8:36, 37. Aplicação à nação judaica PJ 139 2 Quando Cristo deu a parábola do rico e Lázaro, havia muitos na nação judaica na condição lastimosa do rico, usando os bens do Senhor para a própria satisfação egoísta, preparando-se para ouvir a sentença: "Pesado foste na balança e foste achado em falta." Daniel 5:27. O rico foi favorecido com todas as bênçãos temporais e espirituais, mas recusou cooperar com Deus no uso destas bênçãos. Isto se dava com a nação judaica. O Senhor fizera dos judeus depositários da verdade sagrada. Nomeou-os mordomos de Sua graça. Deu-lhes todas as vantagens temporais e espirituais, encarregou-os de partilhar estas bênçãos. Uma instrução especial fora-lhes dada a respeito do tratamento de irmãos empobrecidos, dos estrangeiros dentro de suas portas e dos pobres entre estes. Não deveriam procurar ganhar tudo para o proveito próprio, antes deveriam lembrar-se dos necessitados e repartir com eles. E Deus prometeu abençoá-los de acordo com as suas obras de amor e misericórdia. Como o rico, porém, não estendiam a mão auxiliadora para aliviar as necessidades temporais e espirituais da humanidade sofredora. Cheios de orgulho, consideravam-se o povo escolhido e favorecido de Deus; contudo não serviam nem adoravam a Deus. Depositavam confiança na circunstância de serem filhos de Abraão. "Somos descendência de Abraão", diziam, com altivez. João 8:33. Ao chegar a crise foi revelado que se tinham divorciado de Deus, e confiado em Abraão como se fosse Deus. PJ 139 3 Cristo ansiava iluminar os espíritos entenebrecidos do povo judeu. Dizia-lhes: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas, agora, procurais matar-Me a Mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isso." João 8:39, 40. PJ 139 4 Cristo não reconhecia virtude na estirpe. Ensinava que a ligação espiritual supera a natural. Os judeus diziam ser descendentes de Abraão; porém, deixando de fazer as obras de Abraão, provavam não ser seus verdadeiros filhos. Somente os que provam estar em harmonia espiritual com Abraão, obedecendo à voz de Deus, são tidos como da legítima descendência. Embora o mendigo pertencesse à classe pelos homens considerada inferior, Cristo o reconhecia como alguém a quem Abraão tomaria na mais íntima amizade. Embora o rico estivesse rodeado de todos os luxos da vida, era tão ignorante que colocava a Abraão onde devia estar Deus. Se tivesse apreciado seus elevados privilégios e permitisse que o Espírito de Deus lhe moldasse o espírito e coração, teria procedido de maneira muito diferente. O mesmo se dava com a nação que representava. Se tivessem atendido ao convite divino, seu futuro seria totalmente diverso. Teriam mostrado verdadeiro discernimento espiritual. Possuíam meios que Deus poderia multiplicar, tornando-os suficientes para abençoar e iluminar todo o mundo. Tinham-se, porém, afastado tanto das prescrições do Senhor, que toda a sua vida estava pervertida. Deixaram de usar as dádivas como mordomos de Deus de acordo com a verdade e justiça. A eternidade não era tomada em consideração, e o resultado de sua infidelidade foi ruína para toda a nação. PJ 140 1 Cristo sabia que na destruição de Jerusalém os judeus se lembrariam de Sua advertência. E assim foi. Ao vir a calamidade sobre Jerusalém, quando miséria e sofrimento de toda espécie sobrevieram ao povo, lembraram-se dessas palavras de Cristo e entenderam a parábola. Acarretaram sobre si mesmos sofrimento pelo menosprezo de fazer brilhar a luz dada por Deus ao mundo. Nos últimos dias PJ 140 2 As cenas finais da história deste mundo são-nos retratadas no final da história do rico. O rico professava ser filho de Abraão, porém foi alienado de Abraão por um abismo intransponível -- o caráter incorretamente formado. Abraão servia a Deus, seguindo Sua Palavra com fé e obediência. Mas o rico não pensava em Deus, nem nas carências da humanidade sofredora. O grande abismo posto entre ele e Abraão era o abismo da desobediência. Muitos há hoje em dia que estão seguindo a mesma trilha. Embora membros da igreja, não são conversos. Podem tomar parte no culto religioso e cantar o salmo: "Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por Ti, ó Deus!" (Salmos 42:1) porém, dão testemunho de falsidade. Aos olhos de Deus, não são mais justos que o maior pecador. O que se alegra com prazeres mundanos, que ama a ostentação, não pode servir a Deus. Como o rico da parábola, essa pessoa não tem pendor para combater os prazeres da carne. Anseia satisfazer o apetite. Escolhe a atmosfera do pecado. Repentinamente é arrastado pela morte e baixa ao túmulo com o caráter formado durante a vida em parceria com os agentes satânicos. Na cova não tem a possibilidade de escolher nada, seja bom ou mau; porque quando o homem morre, sua memória perece. Salmos 146:4; Eclesiastes 9:5, 6. PJ 141 1 Quando a voz de Deus despertar os mortos, virão eles da sepultura com os mesmos apetites e paixões, com os mesmos gostos e caprichos que nutriam quando vivos. Deus não faz milagres para regenerar um homem que não quis ser regenerado quando lhe era proporcionada toda oportunidade e favorecidos todos os meios. Durante a vida não se deleitava em Deus nem tinha prazer em Sua obra. Seu caráter não está em harmonia com Deus, e não poderia ser feliz na família celestial. PJ 141 2 Há em nosso mundo, hoje, uma classe cheia de justiça própria. Não são glutões, nem beberrões, não são incrédulos; porém, desejam viver para si mesmos e não para Deus. Ele não está em seus pensamentos; por isso são classificados com os descrentes. Caso lhes fosse possível entrar na cidade de Deus, não poderiam ter direito à árvore da vida; pois quando os mandamentos de Deus lhes foram apresentados com todas as reivindicações em vigor, disseram: Não. Não serviram a Deus aqui, por isso não haveriam de servi-Lo futuramente. Não poderiam viver em Sua presença, e sentiriam que qualquer lugar seria preferível ao Céu. PJ 141 3 Aprender de Cristo significa receber Sua graça, que é Seu caráter. Mas os que não apreciam nem aproveitam as preciosas oportunidades e sagradas influências a eles concedidas na Terra, não estão qualificados para tomar parte na pura devoção do Céu. Seu caráter não está moldado segundo a semelhança divina. Por sua própria negligência abriram uma voragem que nada pode transpor. Entre eles e o justo está posto um grande abismo. ------------------------Capítulo 22 -- O que tem mais valor diante de Deus PJ 142 0 Este capítulo é baseado em Mateus 21:23-32. PJ 142 1 "Um homem tinha dois filhos e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas, depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro." Mateus 21:28-31. PJ 142 2 No sermão da montanha, disse Cristo: "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus." Mateus 7:21. A prova de sinceridade não está nas palavras, mas nos atos. Cristo não diz a ninguém: Que dizeis mais do que os outros? porém: "Que fazeis de mais?" Mateus 5:47. Cheias de significação são Suas palavras: "Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes." João 13:17. As palavras não são de valor algum se não forem acompanhadas de atos equivalentes. Esta é a lição ensinada na parábola dos dois filhos. PJ 142 3 Esta parábola foi pronunciada na última visita de Cristo a Jerusalém, antes de Sua morte. Expulsara do templo os vendedores e compradores. Sua voz lhes falara ao coração com o poder de Deus. Assombrados e terrificados, obedeceram ao mando sem recusa nem resistência. PJ 142 4 Abatido o terror, os sacerdotes e anciãos, voltando ao templo, encontraram Cristo curando os enfermos e moribundos. Ouviram vozes de alegria e cânticos de louvor. No próprio templo as crianças, a quem restaurara a saúde, acenavam ramos de palmeiras e cantavam hosanas ao Filho de Davi. Criancinhas balbuciavam os louvores do poderoso Médico. Contudo para os sacerdotes e anciãos isto não bastava para vencer os preconceitos e ciúmes. PJ 142 5 Quando, no dia seguinte, Cristo ensinava no templo, os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo foram ter com Ele, e disseram: "Com que autoridade fazes isso? E quem Te deu tal autoridade?" Mateus 21:23. PJ 142 6 Os sacerdotes e anciãos tiveram uma insofismável demonstração do poder de Cristo. Na purificação do templo, viram a autoridade do Céu irradiando de Seu semblante. Não puderam resistir ao poder com que falara. Além disso, respondera-lhes pelas maravilhosas curas. Dera, de Sua autoridade, provas que não podiam ser refutadas. Mas não era evidência o que desejavam. Os sacerdotes e anciãos estavam ansiosos por Jesus Se proclamar o Messias, para mal interpretarem-Lhe as palavras e incitarem contra Ele o povo. Desejavam aniquilar Sua influência e matá-Lo. PJ 142 7 Jesus sabia que se não reconheciam a Deus na pessoa dEle, nem viam em Suas palavras a evidência de Seu divino caráter, não creriam no próprio testemunho de que era o Cristo. Em Sua resposta evitou a cilada a que esperavam induzi-Lo, e voltou sobre eles mesmos a condenação. "Também vos perguntarei uma coisa", disse Ele, "se ma disserdes, também Eu vos direi com que autoridade faço isso. O batismo de João donde era? Do Céu ou dos homens?" Mateus 21:24, 25. PJ 143 1 Os sacerdotes e maiorais ficaram perplexos. "E pensavam entre si, dizendo: Se dissermos: do Céu, Ele nos dirá: Então, por que não o crestes? E, se dissermos: dos homens, tememos o povo, porque todos consideram João como profeta. E, respondendo a Jesus, disseram: Não sabemos. Ele disse-lhes: Nem Eu vos digo com que autoridade faço isso." Mateus 21:25-27. PJ 143 2 "Não sabemos." Essa resposta era uma falsidade. Mas os sacerdotes viram a posição em que estavam e dissimularam, com o fim de se defender. João Batista viera testemunhando dAquele cuja autoridade então discutiam. Apontara a Ele, dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. Ele O batizara, e depois do batismo, quando Cristo orava, o Céu se abriu, e o Espírito de Deus repousou sobre Ele como uma pomba, enquanto se ouviu uma voz do Céu, dizendo: "Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo." Mateus 3:17. PJ 143 3 Lembrando-se de como João repetira as profecias a respeito do Messias, recordando a cena do batismo de Jesus, os sacerdotes e maiorais não ousaram dizer que o batismo de João era do Céu. Se reconhecessem a João como profeta, como criam que fosse, como poderiam negar seu testemunho de que Jesus de Nazaré era o Filho de Deus? E não podiam dizer que o batismo de João era dos homens por causa do povo que cria que João fosse profeta. Assim, disseram: "Não sabemos." PJ 143 4 Deu, então, Cristo a parábola do pai e dos dois filhos. Quando o pai foi ao primeiro, dizendo: "Vai trabalhar hoje na minha vinha", o filho prontamente respondeu: "Não quero." Mateus 21:28, 29. Recusou obedecer, e entregou-se a companhia e procedimentos ímpios. Mas depois se arrependeu e obedeceu ao chamado. PJ 143 5 O pai foi ao segundo, com a mesma ordem: "Vai trabalhar hoje na minha vinha." Esse filho replicou: "Eu vou, senhor"; porém, não foi. Mateus 21:30. PJ 143 6 Nessa parábola o pai representa Deus, a vinha, a igreja. Pelos dois filhos são representadas duas classes de pessoas. PJ 144 1 O filho que recusou obedecer à ordem, dizendo: "Não quero", representa aqueles que vivem em transgressão aberta, que não fazem profissão de piedade, que declaradamente recusam submeter-se ao jugo de restrição e obediência que a lei de Deus impõe. Muitos destes, porém, se arrependeram depois e obedeceram ao chamado divino. Quando o evangelho os atingiu, na mensagem de João Batista: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus", arrependeram-se e confessaram seus pecados. Mateus 3:2. PJ 144 2 No filho que disse: "Eu vou, senhor" (Mateus 21:30), e não foi, revelou-se o caráter dos fariseus. Como esse filho, os guias judeus eram impenitentes e presunçosos. A vida religiosa da nação judaica tornara-se formalidade. Ao ser proclamada a lei no monte Sinai, pela voz de Deus, todo o povo se comprometeu a obedecer. Disseram: "Eu vou, senhor", porém não foram. Quando Cristo veio em pessoa para lhes apresentar os princípios da lei, rejeitaram-nO. Cristo dera aos guias judeus de Seu tempo provas abundantes de Sua autoridade e poder divinos, e embora convictos, não quiseram aceitar a evidência. Cristo lhes mostrou que continuavam a descrer porque não possuíam o espírito que conduz à obediência. Declarara-lhes: "E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Mas em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens." Mateus 15:6, 9. PJ 144 3 Na multidão que estava perante Jesus, havia escribas e fariseus, sacerdotes e maiorais, e depois de ter apresentado a parábola dos dois filhos, Jesus perguntou: "Qual dos dois fez a vontade do pai?" Esquecendo-se de si mesmos os fariseus responderam: "O primeiro." Isto disseram sem perceber que pronunciavam sentença contra si mesmos. Então Cristo fez a denúncia: "Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho de justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isso, nem depois vos arrependestes para o crer." Mateus 21:31, 32. PJ 144 4 João Batista apresentou-se pregando a verdade, e por sua pregação os pecadores eram convencidos e convertidos. Estes entrariam no reino dos Céus antes daqueles que em justiça própria resistiam à solene advertência. Os publicanos e meretrizes eram ignorantes, porém estes homens cultos conheciam o caminho da verdade. Contudo recusavam andar no caminho que conduz ao Paraíso de Deus. A verdade que deveria haver sido para eles um cheiro de vida para vida, tornou-se um cheiro de morte para morte. Pecadores declarados, que se aborreciam a si mesmos, receberam das mãos de João o batismo, porém esses mestres eram hipócritas. Seu coração obstinado era o obstáculo para a aceitação da verdade. Resistiam à convicção do Espírito de Deus. Negavam obediência aos Seus mandamentos. PJ 144 5 Cristo não lhes disse: Vós não podeis entrar no reino do Céu; porém, mostrou que eles mesmos criavam o obstáculo que lhes embargava a entrada. A porta ainda estava aberta para esses guias judeus; o convite ainda era mantido. Cristo anelava vê-los convencidos e conversos. PJ 145 1 Os sacerdotes e anciãos de Israel passavam a vida em cerimônias religiosas que consideravam muito sagradas para ligá-las com negócios seculares. Por isso sua vida era tida como inteiramente religiosa. Eles, porém, executavam as cerimônias para serem vistos dos homens, para que fossem considerados pelo mundo piedosos e devotos. Ao passo que professavam obedecer, recusavam prestar obediência a Deus. Não eram praticantes da verdade que pretendiam ensinar. PJ 145 2 Cristo declarou que João Batista era um dos maiores profetas, e mostrou aos ouvintes que tinham prova suficiente de que João era um mensageiro de Deus. As palavras do pregador no deserto eram poderosas. Apresentou sua mensagem inflexivelmente, repreendendo os pecados dos sacerdotes e maiorais, e prescrevendo-lhes as obras do reino dos Céus. Apontou-lhes o desrespeito pecaminoso à autoridade de seu Pai por eximirem-se ao cumprimento da tarefa a eles imposta. Não condescendeu com o pecado, e muitos se arrependeram de sua injustiça. PJ 145 3 Fosse genuína a profissão dos guias judeus, e teriam recebido o testemunho de João e aceito a Jesus como o Messias. Mas não produziram os frutos do arrependimento e justiça. Justamente aqueles que desprezavam, os precediam no reino de Deus. PJ 145 4 Na parábola, o filho que disse: "Eu vou, senhor", apresenta-se como fiel e obediente; porém o tempo mostrou que sua pretensão não era real. Não tinha verdadeiro amor ao pai. Assim os fariseus orgulhavam-se de sua santidade; porém, quando provados, foram achados em falta. Quando era de seu interesse, cumpriam exatamente as exigências da lei; mas, ao ser-lhes requerido obediência, anulavam toda a força dos preceitos de Deus por meio de ardilosos enganos. Deles declarou Cristo: "Não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam." Mateus 23:3. Não possuíam verdadeiro amor a Deus e aos homens. Deus os chamou para serem Seus colaboradores no abençoar o mundo; mas se bem que nominalmente aceitavam a chamada, na prática negavam obediência. Confiavam em si mesmos e orgulhavam-se de sua bondade; mas desprezavam os mandamentos de Deus. Recusavam fazer a obra que Deus lhes prescrevera, e por causa de sua transgressão o Senhor estava prestes a divorciar-Se da nação desobediente. PJ 146 1 Justiça própria não é verdadeira justiça, e aqueles que a ela se apegam terão que sofrer as conseqüências de uma decepção fatal. Muitos hoje em dia presumem obedecer aos mandamentos de Deus, todavia não possuem no coração o amor de Deus para transmiti-lo a outros. Chama-os Cristo para se unirem com Ele em Sua obra de salvar o mundo, porém contentam-se com dizer: "Eu vou, Senhor." Não vão, entretanto. Não cooperam com aqueles que estão executando a obra de Deus. São ociosos. Como o filho infiel, fazem falsas promessas a Deus. Assumindo o solene convênio da igreja, comprometeram-se a receber a Palavra de Deus, obedecer-lhe, entregar-se a Seu serviço, porém não fazem isto. Nominalmente professam ser filhos de Deus, mas na vida e no caráter desmentem o parentesco. Não rendem a vontade a Deus. Vivem uma mentira. PJ 146 2 A promessa de obediência aparentam cumprir quando esta não exige sacrifício; mas quando são requeridas abnegação e renúncia, quando vêem a cruz para ser levada, retrocedem. Deste modo a convicção do dever desaparece, e a transgressão consciente dos mandamentos de Deus torna-se um hábito. O ouvido pode escutar a Palavra de Deus, mas, a percepção espiritual está desligada. O coração está endurecido, e a consciência cauterizada. PJ 146 3 Não pense que você serve a Cristo porque não Lhe manifesta aberta hostilidade. Desse modo enganamos a nós mesmos. Retendo aquilo que Deus nos outorgou para usar em Seu serviço, seja tempo ou meios ou qualquer outra dádiva por Ele concedida, trabalhamos contra Ele. PJ 146 4 Satanás usa a sonolenta e descuidada indolência de professos cristãos para se fortificar e conquistá-los para si. Muitos que presumem que embora não estejam trabalhando ativamente para Cristo, estão contudo a Seu lado, habilitam o inimigo a ocupar terreno e obter vantagens. Deixando de ser obreiros diligentes do Mestre, deixando deveres por cumprir e palavras por pronunciar, permitem que Satanás alcance domínio sobre as pessoas que podiam ser ganhas para Cristo. PJ 146 5 Jamais poderemos ser salvos na indolência e inatividade. Não há pessoa verdadeiramente convertida que viva vida inútil e ociosa. Não nos é possível deslizar para dentro do Céu. Nenhum preguiçoso pode entrar lá. Se não nos esforçarmos para conseguir entrada no reino, se não procurarmos sinceramente aprender o que constitui suas leis, não estaremos aptos para dele participar. Quem recusa cooperar com Deus na Terra, não cooperaria com Ele no Céu. Não seria seguro levá-los para lá. PJ 147 1 Mais esperança há para os publicanos e pecadores do que para os que conhecem a Palavra de Deus, e recusam obedecer-lhe. O homem que se vê pecador, sem paliativo para seu pecado, que sabe estar corrupto de alma, corpo e espírito perante Deus, torna-se alarmado, com medo de ser separado eternamente do reino dos Céus. Reconhece sua condição enferma, e procura remédio do grande Médico, que disse: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora." João 6:37. Essas pessoas o Senhor pode usar como obreiros em Sua vinha. PJ 147 2 O filho que por algum tempo negou obedecer ao mandado do pai não foi condenado por Cristo; mas, tampouco foi louvado. A classe que age como o primeiro filho, recusando obediência, não merece louvor por seu procedimento. Sua franqueza não deve ser considerada virtude. Santificada pela verdade e santidade tornaria os homens testemunhas destemidas para Cristo. Usada como é pelo pecador, porém, é insultante e arrogante, e aproxima-se da blasfêmia. O fato de um homem não ser hipócrita não lhe diminui a pecaminosidade. Quando os apelos do Espírito Santo atingirem ao coração, nossa única segurança está em a eles responder sem tardar. Quando vier o chamado: "Vai trabalhar hoje na Minha vinha", não recuseis o convite. "Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração." Hebreus 4:7. É perigoso postergar a obediência. Podeis nunca mais ouvir o convite. PJ 147 3 E ninguém se lisonjeie de que o pecado acariciado algum tempo pode ser deixado facilmente aos poucos. Não acontece assim. Todo pecado acariciado debilita o caráter e fortalece o hábito; a depravação física, mental e moral é a conseqüência. Podeis arrepender-vos do erro que cometestes, e pôr os pés no caminho justo, porém, o molde de vosso espírito e a familiaridade com o mal vos tornarão difícil distinguir entre o bem e o mal. Pelos maus hábitos formados, Satanás vos atacará sempre e sempre. PJ 147 4 No mandamento: "Vai trabalhar hoje na Minha vinha", é provada a sinceridade de todo ser humano. Haverá ações tão boas quanto as palavras? Utilizará o que foi chamado todo o conhecimento que possui, trabalhando fiel e desinteressadamente para o Proprietário da vinha? PJ 147 5 O apóstolo Pedro nos ensina a respeito do plano, segundo o qual devemos trabalhar. "Graça e paz vos sejam multiplicadas", disse ele, "pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude, pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo. PJ 148 1 "E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude, a ciência, e à ciência, a temperança, e à temperança, paciência, e à paciência, a piedade, e à piedade, o amor fraternal, e ao amor fraternal, a caridade." 2 Pedro 1:2-7. PJ 148 2 Se você cultivar fielmente a vinha de sua vida, Deus o fará colaborador Seu. E você terá que fazer uma obra não somente para você, mas também para os outros. Representando a igreja como a vinha, Cristo não nos ensina a restringir nossa simpatia e trabalho aos membros. A vinha do Senhor deve ser ampliada. Deseja Ele que se estenda a todas as partes da Terra. Recebendo instrução e graça de Deus, devemos ensinar a outros como devem ser tratadas as preciosas plantas. Assim ampliaremos a vinha do Senhor. Deus aguarda evidências de nossa fé, amor e paciência. Procura ver se usamos toda faculdade espiritual para nos tornarmos obreiros peritos em Sua vinha na Terra, para que possamos entrar no Paraíso de Deus, aquele lar do Éden, do qual Adão e Eva foram expulsos pela transgressão. PJ 148 3 A posição de Deus para com os Seus é a de um pai, e tem o direito de pai ao nosso serviço fiel. Considerai a vida de Cristo. Sendo a cabeça da humanidade, servindo o Pai, é um exemplo do que cada filho deve e pode ser. A obediência que Cristo prestava, Deus requer hoje da humanidade. Servia a Seu Pai com amor, voluntariedade e livremente. "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu", declarava Ele, "sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. Cristo não considerava sacrifício algum muito grande, nem trabalho algum pesado demais para executar a obra que viera fazer. Na idade de doze anos dizia: "Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?" Lucas 2:49. Ouvira o chamado, e iniciara a obra. Disse Ele: "A Minha comida é fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua obra." João 4:34. PJ 148 4 Assim devemos servir a Deus. Somente O serve aquele que age segundo a mais alta norma de obediência. Todos quantos querem ser filhos e filhas de Deus precisam provar ser coobreiros de Deus, de Cristo e dos anjos celestiais. Esta é a prova para cada alma. Daqueles que O servem fielmente o Senhor diz: "Eles serão Meus, ... naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve." Malaquias 3:17. PJ 148 5 O grande objetivo de Deus na execução de Suas providências é provar os homens e dar-lhes oportunidades para desenvolver o caráter. Deste modo prova se são obedientes ou não a Seus mandamentos. Boas obras não adquirem o amor de Deus, porém revelam que possuímos esse amor. Se rendermos a vontade a Deus, não trabalharemos com o fim de merecer o Seu amor. Seu amor, como dádiva livre, será acolhido no coração, e impelido pelo mesmo nos deleitaremos em obedecer aos Seus mandamentos. PJ 149 0 Há no mundo hoje somente duas classes, e somente essas duas serão reconhecidas no Juízo -- os que violam a lei de Deus, e os que a ela obedecem. Cristo nos dá a prova pela qual demonstramos nossa lealdade ou deslealdade. Diz Ele: "Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele. Quem não Me ama não guarda as Minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é Minha, mas do Pai que Me enviou." João 14:15, 21, 24. "Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; do mesmo modo que Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e permaneço no Seu amor." João 15:10. ------------------------Capítulo 23 -- Por que vem a ruína PJ 149 1 Este capítulo é baseado em Mateus 21:33-44. PJ 149 2 A parábola dos dois filhos seguiu-se a da vinha. Numa Cristo expôs aos mestres judeus a importância da obediência. Na outra apontou as ricas bênçãos concedidas a Israel, e nestas mostra o reclamo de Deus a sua obediência. Apresentou-lhes a glória do propósito de Deus, que pela obediência poderiam ter cumprido. Removendo o véu do futuro mostrou como pela omissão de cumprir Seu propósito, toda a nação estava perdendo as bênçãos e acarretando ruína sobre si. PJ 149 3 "Houve um homem, pai de família", disse Cristo, "que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe." Mateus 21:33. PJ 149 4 O profeta Isaías faz uma descrição dessa vinha: "Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha em um outeiro fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas." Isaías 5:1, 2. PJ 150 1 O lavrador escolhe um pedaço de terra no deserto; cerca, limpa, lavra e planta-o de vides seletas, antecipando rica colheita. Espera que esse pedaço de terra, por sua superioridade ao deserto inculto, o honre pelos resultados de seu cuidado e serviço. Assim Deus escolheu um povo do mundo para ser instruído e educado por Cristo. Diz o profeta: "A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias." Isaías 5:7. A este povo outorgou Deus grandes privilégios, abençoando-o ricamente com Sua profusa bondade. Esperava que O honrassem produzindo frutos. Deveriam revelar os princípios de Seu reino. No meio de um mundo decaído e ímpio deveriam representar o caráter de Deus. PJ 150 2 Como a vinha do Senhor, deveriam produzir frutos inteiramente diferentes dos das nações pagãs. Estes povos idólatras entregaram-se inteiramente à impiedade. Violência e crime, avareza e opressão, e as práticas mais corruptas eram permitidas sem restrições. Iniqüidade, degradação e miséria eram frutos da árvore corrupta. Em notável contraste deveriam ser os frutos da vinha do Senhor. PJ 150 3 Tinha a nação judaica o privilégio de representar o caráter de Deus como fora revelado a Moisés. Em resposta à súplica de Moisés: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória", o Senhor lhe prometeu: "Farei passar toda a Minha bondade por diante de ti." Êxodo 33:18, 19. "Passando, pois, o Senhor perante a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6, 7. Este era o fruto que Deus desejava receber de Seu povo. Na pureza do caráter, na santidade da vida, na misericórdia, e amor, e compaixão, deveriam mostrar que "a lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma". Salmos 19:7. PJ 150 4 Pela nação judaica era o propósito de Deus comunicar ricas bênçãos a todos os povos. Por Israel devia ser preparado o caminho para a difusão de Sua luz a todo o mundo. Por seguirem práticas corruptas perderam as nações da Terra o conhecimento de Deus. Contudo, em Sua misericórdia não as destruiu. Planejava dar-lhes a oportunidade de conhecê-Lo por intermédio de Sua igreja. Tinha em vista que os princípios revelados por Seu povo seriam o meio de restaurar no homem a imagem moral de Deus. PJ 150 5 Para o cumprimento deste propósito, foi que Deus chamou Abraão dentre seus parentes idólatras, e lhe mandou habitar na terra de Canaã. "E far-te-ei uma grande nação", disse, "e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção." Gênesis 12:2. PJ 151 1 Os descendentes de Abraão, Jacó e sua posteridade, foram levados ao Egito para que no meio daquela grande e ímpia nação revelassem os princípios do reino de Deus. A integridade de José e sua maravilhosa obra em preservar a vida de todo o povo egípcio, era uma representação da vida de Cristo. Moisés e muitos outros eram testemunhas de Deus. PJ 151 2 Tirando Israel do Egito, o Senhor novamente mostrou Seu poder e misericórdia. Suas maravilhosas obras no livramento da escravidão e Seu modo de proceder para com eles em suas peregrinações pelo deserto, não eram somente para seu próprio benefício. Deveriam ser uma lição objetiva para as nações circunvizinhas. O Senhor Se revelou como Deus sobre toda autoridade e grandeza humanas. Os sinais e maravilhas que operou a favor de Seu povo, revelaram Seu poder sobre a natureza e sobre o maior dos que a adoravam. Deus passou pelo altivo Egito como passará nos últimos dias por toda a Terra. Com fogo e tempestade, terremoto e morte, o grande "Eu Sou" livrou Seu povo; tirou-os da terra da escravidão. Conduziu-os através daquele "grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de secura". Deuteronômio 8:15. Fez sair água para eles "da rocha do seixal" (Deuteronômio 8:15), e alimentou-os com "trigo do Céu". Salmos 78:24. "Porque", disse Moisés, "a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a parte da Sua herança. Achou-o na terra do deserto e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas, assim, só o Senhor o guiou; e não havia com ele deus estranho." Deuteronômio 32:9-12. Deste modo atraiu-os a Si para que habitassem sob a sombra do Altíssimo. PJ 151 3 Cristo era o guia dos filhos de Israel em suas peregrinações no deserto. Envolto na coluna de nuvem durante o dia e na de fogo durante a noite, os conduziu e guiou. Preservou-os dos perigos do deserto; levou-os à terra da promessa, e diante de todas as nações que não conheciam a Deus, estabeleceu Israel como Sua possessão peculiar, a vinha do Senhor. PJ 151 4 A este povo foram confiados os oráculos de Deus. Eram circunvalados pelos preceitos de Sua lei, os eternos princípios de verdade, justiça e pureza. A obediência a estes princípios devia ser sua proteção, pois os salvaria de se destruírem por práticas pecaminosas. E como a torre na vinha, Deus colocou no meio da terra Seu santo templo. PJ 152 1 Cristo era o instrutor. Como estivera com eles no deserto, assim também continuaria a ser o mestre e guia. No tabernáculo e no templo Sua glória habitava no santo "shekinah" sobre o propiciatório. Em favor deles manifestou constantemente as riquezas de Seu amor e paciência. PJ 152 2 Deus desejava fazer do povo de Israel um louvor e glória. Todos os privilégios espirituais lhes foram concedidos. Deus nada reteve que pudesse ser útil para a formação do caráter que os tornaria representantes Seus. PJ 152 3 Sua obediência à lei de Deus os tornaria uma maravilha de prosperidade ante as nações do mundo. Ele que lhes podia dar sabedoria e perícia em todo artifício, continuaria a ser seu mestre, e os enobreceria e elevaria pela obediência a Suas leis. Se fossem obedientes seriam preservados das enfermidades que afligiam outras nações, e abençoados com vigor intelectual. A glória de Deus, Sua majestade e poder deveriam ser revelados em toda a sua prosperidade. Deveriam ser um reino de sacerdotes e príncipes. Deus lhes proveu toda a possibilidade de se tornarem a maior nação da Terra. PJ 152 4 De modo definido, mediante Moisés, apresentou-lhes Cristo o propósito de Deus, e esclareceu-lhes as condições de sua prosperidade. "Povo santo és ao Senhor, teu Deus", disse Ele: "O Senhor, teu Deus, te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há. Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos. Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e os juízos que hoje te mando fazer. Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o Senhor, teu Deus, te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais; e amar-te-á, e abençoar-te-á, e te fará multiplicar, e abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu cereal, e o teu mosto, e o teu azeite, e a criação das tuas vacas, e o rebanho do teu gado miúdo, na terra que jurou a teus pais dar-te. Bendito serás mais do que todos os povos. ... E o Senhor de ti desviará toda enfermidade; sobre ti não porá nenhuma das más doenças dos egípcios, que bem sabes." Deuteronômio 7:6, 9, 11-15. PJ 152 5 Se guardassem os mandamentos, Deus lhes prometeu dar o mais belo trigo e tirar-lhes mel da rocha. Com longa vida os havia de satisfazer e havia de mostrar-lhes Sua salvação. PJ 152 6 Por desobediência a Deus, Adão e Eva perderam o Éden, e por causa do pecado toda a Terra foi amaldiçoada. Mas se o povo de Deus seguisse as instruções, sua terra seria restaurada à fertilidade e beleza. Deus mesmo lhes dera ensinos quanto à cultura do solo, e deveriam cooperar em sua restauração. Assim, toda a Terra, sob a direção de Deus, se tornaria uma lição objetiva da verdade espiritual. Assim como, em obediência às leis naturais, a terra deve produzir seus tesouros, da mesma forma, como em obediência à Sua lei moral o coração do povo deveria refletir os atributos de Seu caráter em obediência à Sua lei moral. Até os pagãos reconheceriam a superioridade dos que servem e adoram o Deus vivo. PJ 153 1 "Vedes aqui", disse Moisés, "vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os, pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Só este grande povo é gente sábia e inteligente. Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que O chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós?" Deuteronômio 4:5-8. PJ 153 2 O povo de Israel deveria ocupar todo o território que Deus lhes designara. As nações que rejeitassem o culto ou o serviço do verdadeiro Deus deveriam ser desapossadas. Era propósito de Deus, porém, que pela revelação de Seu caráter por meio de Israel, os homens fossem atraídos a Ele. O convite do evangelho deveria ser transmitido a todo mundo. Pela lição do sacrifício simbólico, Cristo deveria ser exaltado perante as nações, e todos os que O olhassem viveriam. Todos os que, como Raabe, a cananéia, e Rute, a moabita, se volvessem da idolatria ao culto do verdadeiro Deus, deveriam unir-se ao povo escolhido. Quando o número de Israel aumentasse, deveriam ampliar os limites até que seu reino abarcasse o mundo. PJ 153 3 Deus desejava trazer todos os povos sob Seu governo misericordioso. Desejava que a Terra se enchesse de alegria e paz. Criou o homem para a felicidade, e anseia encher da paz do Céu o coração humano. Anela que as famílias da Terra sejam um tipo da grande família do Céu. PJ 153 4 Israel, porém, não cumpriu o propósito de Deus. O Senhor declarou: "Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para Mim uma planta degenerada, de vide estranha?" Jeremias 2:21. "Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo." Oséias 10:1. "Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que Eu hei de fazer à Minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada, nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque... esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor." Isaías 5:3-7. PJ 154 1 Por intermédio de Moisés o Senhor expôs ao povo as conseqüências da infidelidade. Recusando guardar Seu pacto, segregar-se-iam da vida de Deus, e Suas bênçãos não poderiam descer sobre eles. "Guarda-te", disse Moisés, "para que te não esqueças do Senhor, teu Deus, não guardando os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e os Seus estatutos, que hoje te ordeno; para que, porventura, havendo tu comido, e estando farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado as tuas vacas e as tuas ovelhas, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se não eleve o teu coração, e te esqueças do Senhor, teu Deus. ... E não digas no teu coração: A minha força e a fortaleza do meu braço me adquiriram este poder. Será, porém, que, se, de qualquer sorte, te esqueceres do Senhor, teu Deus, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu protesto contra vós que certamente perecereis. Como as gentes que o Senhor destruiu diante de vós, assim vós perecereis; porquanto não quisestes obedecer à voz do Senhor, vosso Deus." Deuteronômio 8:11-14, 17, 19, 20. PJ 154 2 A advertência não foi atendida pelo povo judeu. Esqueceram-se de Deus, e perderam de vista o alto privilégio de representantes Seus. As bênçãos que receberam não reverteram em bênçãos para o mundo. Todas as prerrogativas foram usadas para a glorificação própria. Roubaram a Deus do serviço que deles requeria, e roubaram a seus semelhantes a direção religiosa e o santo exemplo. Como os habitantes do mundo antediluviano, seguiam toda imaginação de seu coração mau. Assim faziam as coisas sagradas parecerem uma farsa, dizendo: "Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este" (Jeremias 7:4), ao passo que representavam falsamente o caráter de Deus, desonrando-Lhe o nome, e poluindo o Seu santuário. PJ 154 3 Os lavradores a quem Deus colocara como guardas de Sua vinha, foram infiéis à missão a eles confiada. Os sacerdotes e mestres não eram fiéis instrutores do povo. Não lhes expunham a bondade e misericórdia de Deus, e Seu direito a Seu amor e serviço. Esses lavradores procuravam a própria glória. Desejavam apropriar-se dos frutos da vinha. Era seu intento atrair para si a atenção e homenagem. PJ 154 4 A culpa destes guias de Israel não era a mesma que a do pecador vulgar. Estes homens estavam sob a mais solene obrigação para com Deus. Haviam-se comprometido a ensinar um "Assim diz o Senhor", e a prestar estrita obediência na vida prática. Em vez de assim proceder, estavam pervertendo as Escrituras. Sobrecarregavam os homens com pesados fardos, obrigando-os à prática de cerimônias que se relacionavam com cada passo da vida. O povo vivia em contínuo desassossego; porque não podiam cumprir todas as exigências impostas pelos rabinos. Ao verem a impossibilidade de guardar os mandamentos dos homens, tornaram-se negligentes em guardar os de Deus. PJ 155 1 O Senhor instruíra o povo de que Ele era o proprietário da vinha, e que todas as possessões somente lhes foram confiadas para usá-las para Ele. Os sacerdotes e mestres, porém, não executavam os deveres de seu ofício sagrado como se estivessem administrando a propriedade de Deus. Roubavam-Lhe sistematicamente os meios e recursos a eles confiados para o progresso da obra. Sua avareza e ganância levaram-nos a ser desprezados até pelos pagãos. Assim foi dada oportunidade aos gentios para interpretarem mal o caráter de Deus e as leis de Seu reino. PJ 155 2 Deus suportou Seu povo com coração de pai. Pleiteou com eles por bênçãos dadas e retiradas. Pacientemente lhe expôs seus pecados, e com longanimidade esperava seu reconhecimento. Profetas e mensageiros foram enviados para reclamar os direitos de Deus sobre os lavradores; mas em vez de serem bem-vindos, eram tratados como inimigos. Os lavradores perseguiam-nos e matavam-nos. Deus enviou ainda outros mensageiros, porém receberam o mesmo tratamento que os primeiros, apenas os lavradores mostraram ódio ainda mais decidido. PJ 155 3 Como último recurso, Deus enviou Seu Filho, dizendo: "Terão respeito a Meu filho." Mateus 21:37. Mas a sua resistência tornara-os vingativos, e disseram entre si: "Este é o herdeiro; vinde, matemo-Lo e apoderemo-nos da Sua herança." Mateus 21:38. Então ser-nos-á permitido possuir a vinha, e faremos o que nos aprouver com o fruto. PJ 155 4 Os maiorais judeus não amavam a Deus. Por isso romperam com Ele e rejeitaram todas as propostas para uma reconciliação justa. Cristo, o Amado de Deus, veio para reivindicar os direitos do Proprietário da vinha; mas os lavradores O trataram com declarado desprezo, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. Invejavam a beleza do caráter de Cristo. Sua maneira de ensinar era muito superior à deles e temiam Seu êxito. Argumentava com eles desmascarando-lhes a hipocrisia, e mostrando-lhes a conseqüência certa de seu procedimento. Isso lhes provocou a ira ao extremo. Torturavam-se ante as repreensões que não podiam silenciar. Odiavam o alto padrão de justiça que Cristo constantemente apresentava. Viam que Seus ensinos acabariam revelando seu egoísmo, e resolveram matá-Lo. Odiavam Seu exemplo de fidelidade e piedade, e a elevada espiritualidade revelada em tudo quanto fazia. Toda a Sua vida lhes era uma reprovação do egoísmo, e ao chegar a prova final, prova que significava obediência para vida eterna ou desobediência para morte eterna, rejeitaram o Santo de Israel. Ao ser-lhes pedido escolherem entre Cristo e Barrabás, exclamaram: "Solta-nos Barrabás." Lucas 23:18. E ao perguntar Pilatos: "Que farei, então, de Jesus?" gritaram: "Seja crucificado!" Mateus 27:22. "Hei de crucificar o vosso Rei?" interrogou Pilatos; e dos sacerdotes e maiorais veio a resposta: "Não temos rei, senão o César." João 19:15. Ao lavar Pilatos as mãos, dizendo: "Estou inocente do sangue deste justo", os sacerdotes uniram-se à turba ignorante, gritando exaltados: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos." Mateus 27:24, 25. PJ 156 1 Desse modo os guias judeus fizeram a escolha. Sua decisão foi registrada no livro que João viu na mão dAquele que estava assentado no trono, no livro que ninguém podia abrir. Essa decisão lhes será apresentada em todo o seu caráter reivindicativo naquele dia em que o livro há de ser aberto pelo Leão da tribo de Judá. PJ 156 2 O povo judeu acariciava a idéia de que eram os favoritos do Céu, e seriam sempre exaltados como igreja de Deus. Eram filhos de Abraão, declaravam, e o fundamento de sua prosperidade parecia-lhes tão firme, que desafiavam Terra e Céu para desapossá-los de seus direitos. Por sua conduta infiel, porém, estavam-se preparando para a condenação do Céu e separação de Deus. PJ 156 3 Na parábola da vinha, depois de retratar aos sacerdotes o ato culminante de sua impiedade, Cristo lhes fez a pergunta: "Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?" Mateus 21:40. Os sacerdotes acompanhavam com profundo interesse a narrativa, e sem considerar sua relação com o tema, uniram-se à resposta do povo: "Dará afrontosa morte aos maus e arrendará a vinha a outros lavradores, que, a seu tempo, lhe dêem os frutos." Mateus 21:41. PJ 156 4 Inconscientemente pronunciaram sua própria condenação. Jesus mirou-os, e sob Seu olhar esquadrinhador sabiam que lhes lia os segredos do coração. Sua divindade lampejava diante deles com poder inconfundível. Viram nos lavradores seu próprio retrato e exclamaram, involuntariamente: "Assim não seja." PJ 156 5 Solene e pesarosamente, perguntou Cristo: "Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isso e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó." Mateus 21:42-44. PJ 156 6 Cristo teria mudado o destino da nação judaica, se o povo O houvesse recebido. Inveja e ciúme os tornaram implacáveis, porém. Decidiram que não aceitariam a Jesus de Nazaré como o Messias. Rejeitaram a Luz do mundo, e daí em diante sua vida estava envolta em trevas tão densas como as da meia-noite. A predita ruína veio sobre a nação judaica. Suas próprias paixões violentas e irrefreadas lhes causaram a destruição. Em sua ira cega aniquilaram-se uns aos outros. Pelo orgulho rebelde e obstinado atraíram sobre si a ira dos conquistadores romanos. Jerusalém foi destruída, arrasado o templo, e seu sítio arado como um campo. Os filhos de Judá pereceram pelas mais horríveis formas de matança. Milhões foram vendidos para servirem como escravos nos países pagãos. PJ 157 1 Como povo os judeus deixaram de cumprir o propósito de Deus, e a vinha lhes foi tirada. Os privilégios de que abusaram e a obra que negligenciaram foram confiados a outros. A igreja moderna PJ 157 2 A parábola da vinha não se aplica somente à nação judaica. Ela tem uma lição para nós. À igreja desta geração Deus concedeu grandes privilégios e bênçãos, e espera os frutos correspondentes. PJ 157 3 Fomos redimidos por um resgate precioso. Somente pela grandeza do resgate podemos conceber seus resultados. Nesta Terra, a Terra cujo solo foi umedecido pelas lágrimas e pelo sangue do Filho de Deus, devem ser produzidos os preciosos frutos do Paraíso. As verdades da Palavra divina devem manifestar na vida dos filhos de Deus sua glória e excelência. Mediante Seu povo revelará Cristo Seu caráter e as bases do Seu reino. PJ 157 4 Satanás procura frustrar a obra de Deus, e instantemente incita os homens a aceitar seus princípios. Apresenta o povo escolhido de Deus como um povo iludido. É um delator dos irmãos, e dirige constantemente acusações contra os que trabalham fielmente. O Senhor deseja refutar por meio de Seu povo as acusações do diabo, mostrando os resultados da obediência a justos princípios. PJ 157 5 Esses princípios devem manifestar-se no cristão individual, na família, na igreja, e em toda instituição estabelecida para o serviço de Deus. Todos devem ser símbolos do que pode ser feito para o mundo. Devem ser tipos do poder salvador das verdades do evangelho. Todos são instrumentos para o cumprimento do grande propósito de Deus para a humanidade. PJ 157 6 Os guias judeus olhavam com orgulho ao magnífico templo, e aos ritos imponentes de seu culto religioso, mas careciam de justiça, da misericórdia e do amor de Deus. A glória do templo, o esplendor do culto, não podiam recomendá-los a Deus; porque aquilo que somente tem valor a Seus olhos, não Lhe ofereciam. Não Lhe apresentavam o sacrifício de um espírito contrito e humilde. Quando se perdem os princípios vitais do reino de Deus é que as cerimônias se tornam múltiplas e extravagantes. Quando a edificação do caráter é negligenciada, quando falta o adorno da alma, quando se perde de vista a simplicidade da devoção, é que o orgulho e amor à ostentação exigem templos magníficos, adornos valiosos e cerimônias pomposas. Deus não é honrado por nada disso, porém. Não Lhe é aceitável uma religião da moda -- que consiste em cerimônias, pretensão e ostentação. Em cultos tais os mensageiros celestes não tomam parte. PJ 158 1 A igreja é muito preciosa aos olhos de Deus. Ele não a avalia por suas prerrogativas exteriores, mas pela sincera piedade que a distingue do mundo. Estima-a segundo o crescimento dos membros no conhecimento de Cristo, segundo o progresso na experiência espiritual. PJ 158 2 Cristo anseia receber de Sua vinha os frutos da santidade e desinteresse. Espera os princípios de amor e benignidade. Toda a beleza da arte não pode ser comparada à do temperamento e caráter que devem ser revelados nos representantes de Cristo. A atmosfera de graça que circunda a alma do crente, o Espírito Santo que opera na mente e no coração, é que o faz um cheiro de vida para vida, e faculta a Deus o abençoar Sua obra. PJ 158 3 Uma congregação pode ser a mais pobre da Terra. Pode não ter atrativo algum de pompa exterior; mas se os membros possuírem os princípios do caráter de Cristo, terão Sua paz no espírito. Os anjos unir-se-ão a eles na adoração. O louvor e ação de graças de corações reconhecidos ascenderão a Deus como suave sacrifício. PJ 158 4 O Senhor deseja que façamos menção de Sua bondade e falemos de Seu poder. É honrado pela expressão de louvores e ações de graças. Diz: "Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará." Salmos 50:23. Quando jornadeava pelo deserto, o povo de Israel louvava a Deus com cânticos sacros. Os mandamentos e promessas de Deus eram postos em música, e durante toda a viagem cantavam-nos os viajantes peregrinos. E em Canaã, quando se congregassem nas festas sagradas, as maravilhosas obras de Deus deviam ser relembradas e oferecidas ações de graças ao Seu nome. Deus desejava que toda a vida de Seu povo fosse uma vida de louvor. Assim Seu caminho deveria tornar-se conhecido na Terra e "em todas as nações", a Sua "salvação". Salmos 67:2. PJ 158 5 Assim deve ser agora. O povo do mundo está adorando deuses falsos. Devem ser desviados do falso culto, não por ouvir denúncia contra seus ídolos, mas vendo alguma coisa melhor. A bondade de Deus deve tornar-se notória. "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus." Isaías 43:12. PJ 159 1 O Senhor deseja que apreciemos o grande plano da redenção, reconheçamos o alto privilégio como filhos de Deus, e andemos perante Ele em obediência e com ações de graças. Deseja que O sirvamos em novidade de vida, com alegria diária. Anseia ver exalar gratidão de nosso coração, porque nossos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro, por podermos lançar todos os nossos cuidados sobre Aquele que está solícito por nós. Quer que nos alegremos porque somos herança do Senhor, porque a justiça de Cristo é a veste branca de Seus santos, porque temos a bem-aventurada esperança da breve volta de nosso Salvador. PJ 159 2 Louvar a Deus em plenitude e sinceridade de coração é tanto um dever quanto o é a oração. Devemos mostrar ao mundo e a todos os seres celestiais que apreciamos o maravilhoso amor de Deus à humanidade decaída, e esperamos maiores bênçãos de Sua infinita plenitude. Muito mais do que o fazemos, precisamos falar dos capítulos preciosos de nossa experiência. Depois de um derramamento especial do Espírito Santo, nossa alegria no Senhor e nossa eficiência em Seu serviço aumentariam grandemente com o recontar Sua bondade e Suas maravilhosas obras a favor de Seus filhos. PJ 159 3 Essas práticas reprimem o poder de Satanás. Expelem o espírito de murmuração e queixa, e o tentador perde terreno. Cultivam aqueles atributos de caráter que habilitarão os moradores da Terra para as mansões celestes. PJ 159 4 Um tal testemunho terá influência sobre outros. Não pode ser empregado meio mais eficaz de conquistá-los para Cristo. PJ 159 5 Devemos louvar a Deus com total dedicação, fazendo todo esforço para promover a glória de Seu nome. Deus nos comunica Suas dádivas para que também demos, e deste modo revelemos Seu caráter ao mundo. Na dispensação judaica as dádivas e oferendas formavam uma parte essencial do culto a Deus. Os israelitas eram ensinados a consagrar ao serviço do santuário o dízimo de toda renda. Além disso deviam trazer ofertas expiatórias, ofertas voluntárias e ofertas de gratidão. Esses eram os meios para sustentar o ministério do evangelho naquele tempo. Deus não espera menos de nós do que do povo antigamente. A grande obra da salvação precisa ser levada avante. Pelo dízimo, ofertas e dádivas fez Ele provisão para esta obra. Desse modo pretende seja sustentada a pregação do evangelho. Reclama o dízimo como Sua propriedade, e o mesmo deveria ser sempre considerado uma reserva sagrada a ser depositada no Seu tesouro para o benefício de Sua causa. Pede também nossas ofertas voluntárias e dádivas de gratidão. Tudo deve ser consagrado para enviar o evangelho às partes mais remotas da Terra. PJ 160 1 O serviço a Deus inclui o ministério pessoal. Pelo esforço pessoal devemos com Ele cooperar para a salvação do mundo. A ordem de Cristo: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15), é dirigida a todos os Seus seguidores. Todos os que são chamados à vida de Cristo, o são também para trabalhar pela salvação do próximo. Seu coração palpitará em harmonia com o de Cristo. A mesma paixão que Ele sentiu pela humanidade será manifesta neles. Nem todos podem preencher o mesmo lugar na obra, mas há lugar e trabalho para todos. PJ 160 2 Nos tempos antigos, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés com sua mansidão e sabedoria, e Josué com suas várias aptidões, estavam todos alistados no serviço de Deus. A música de Miriã, a coragem e piedade de Débora, a afeição filial de Rute, a obediência e fidelidade de Samuel, a austera retidão de Elias, a influência enternecedora e subjugante de Eliseu -- foram todas necessárias. Assim, agora, quem participar das bênçãos de Deus deve responder por um serviço ativo; toda dádiva deve ser empregada na propagação de Seu reino, e glória de Seu nome. PJ 160 3 Todos os que aceitam a Cristo como Salvador pessoal devem demonstrar a verdade do evangelho e seu poder salvador na vida. Deus nada requer sem prover os meios para o cumprimento. Pela graça de Cristo podemos cumprir tudo quanto Deus exige. Todas as riquezas do Céu devem ser reveladas pelo povo de Deus. "Nisto é glorificado Meu Pai", disse Cristo, "que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos." João 15:8. PJ 160 4 Deus reclama toda a Terra como Sua vinha. Embora nas mãos do usurpador, pertence a Deus. É Sua não menos pela redenção que pela criação. Para o mundo foi feito o sacrifício de Cristo. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Por esta única dádiva são concedidas aos homens todas as outras. Diariamente todo o mundo recebe de Deus bênçãos. Cada gota de chuva, cada raio de luz que cai sobre esta geração ingrata, cada folha, e flor, e fruto testifica da longanimidade de Deus e de Seu grande amor. PJ 160 5 E que retribuição é feita ao grande Doador? Como tratam os homens os reclamos divinos? A quem dão as multidões o serviço de sua vida? Servem a "Mamom". Riqueza, posição, prazeres mundanos, são seu alvo. A riqueza é ganha pelo roubo não somente dos homens, mas de Deus. Os homens usam as dádivas para satisfazer seu egoísmo. Tudo de que podem apoderar-se é usado para servir a sua avareza e amor aos prazeres egoístas. PJ 160 6 O pecado do mundo moderno é o pecado que arruinou a Israel. Ingratidão para com Deus, menosprezo das oportunidades e bênçãos, a egoísta apropriação das dádivas de Deus, tudo isso estava compreendido no pecado que trouxe sobre Israel a ira de Deus. Isso está causando hoje a ruína do mundo. PJ 161 1 As lágrimas que Cristo derramou no Monte das Oliveiras, ao contemplar a cidade escolhida, não eram somente por Jerusalém. No destino de Jerusalém, viu a destruição do mundo. PJ 161 2 "Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus olhos." Lucas 19:42. PJ 161 3 "Neste teu dia." O dia está-se aproximando do fim. O período de graça e privilégio está prestes a findar. As nuvens da vingança estão-se acumulando. Os que rejeitaram a graça de Deus estão quase sendo tragados pela ruína rápida e inevitável. PJ 161 4 Contudo o mundo dorme. O povo não conhece o tempo de sua visitação. PJ 161 5 Nesta crise, onde se acha a igreja? Satisfazem seus membros os reclamos de Deus? Estão cumprindo Sua incumbência, e representam Seu caráter perante o mundo? Dirigem a atenção de seus semelhantes para a última misericordiosa mensagem de advertência? Os homens estão em perigo. Multidões perecem. Mas quão poucos dos professos seguidores de Cristo sentem responsabilidade por essas pessoas! O destino de um mundo pende na balança; mas isso mal comove mesmo aqueles que dizem crer na verdade mais abarcante já dada aos mortais. Há uma carência daquele amor que induziu Cristo a deixar Seu lar celeste e assumir a natureza humana, para que a humanidade tocasse a humanidade, e a atraísse à divindade. Há um estupor, uma paralisia sobre o povo de Deus, que o impede de compreender o dever do momento. PJ 161 6 Quando os israelitas entraram em Canaã, não cumpriram o propósito de Deus, apossando-se de toda a Terra. Depois de fazer conquista parcial, assentaram-se para comemorar o fruto das vitórias. Na incredulidade e amor à comodidade congregaram-se na parte já conquistada, em vez de avançar para ocupar novos territórios. Desse modo começaram a alienar-se de Deus. Por haverem deixado de executar Seu propósito, tornaram-Lhe impossível cumprir as promessas de bênção. Não está fazendo o mesmo a igreja moderna? Com todo o mundo diante de si, cristãos professos, necessitados do evangelho, congregam-se onde podem receber os privilégios do mesmo. Não sentem a necessidade de ocupar novos territórios, levando a mensagem da salvação às regiões longínquas. Recusam cumprir o mandado de Cristo: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. São menos culpados que a igreja judaica? PJ 161 7 Os pretensos seguidores de Cristo estão em prova diante de todo o universo celeste; mas a sua frieza de zelo e falta de empenho no serviço de Deus, qualifica-os de infiéis. Se o que fazem fosse o melhor que poderiam haver feito, sobre eles não pairaria condenação. Mas se seu coração estivesse dedicado à obra, poderiam fazer muito mais. PJ 162 1 Sabem, e o mundo também, que em alto grau perderam o espírito de abnegação e de carregar a cruz. Junto ao nome de muitos será escrito, nos livros do Céu: Não produtores, porém consumidores. Por muitos que levam o nome de Cristo, é obscurecida Sua glória, Sua beleza toldada, retida Sua honra. PJ 162 2 Muitos há, cujos nomes estão nos livros da igreja, mas não sob o governo de Cristo. Não Lhe ouvem as instruções, nem fazem Sua obra. Por isto estão sob o domínio do inimigo. Não fazem positivamente bem, por isto produzem dano incalculável. Por sua influência não ser cheiro de vida para vida, é cheiro de morte para morte. PJ 162 3 O Senhor diz: "Deixaria Eu de castigar estas coisas?" Jeremias 5:9. Por não haverem cumprido o propósito de Deus, os filhos de Israel foram abandonados e o convite divino foi estendido a outros povos. Se estes também se provarem infiéis, não serão da mesma maneira rejeitados? PJ 162 4 Na parábola da vinha foram os lavradores que Cristo declarou culpados. Foram eles que recusaram devolver a seu Senhor o fruto da terra. Na nação judaica foram os sacerdotes e mestres que, desviando o povo, roubaram a Deus do serviço que requeria. Foram eles que afastaram de Cristo a nação. PJ 162 5 A lei de Deus, não misturada com tradições humanas, foi apresentada por Cristo como o grande padrão de obediência. Isto provocou a inimizade dos rabinos. Tinham colocado ensinos humanos acima da Palavra de Deus, e de Seus preceitos desviaram o povo. Não quiseram ceder seus próprios mandamentos para obedecer às reivindicações da Palavra de Deus. Ao amor da verdade não quiseram sacrificar o orgulho da razão nem o louvor dos homens. Quando Cristo veio, apresentando à nação as reivindicações de Deus, os sacerdotes e anciãos Lhe negaram o direito de Se interpor entre eles e o povo. Não Lhe quiseram aceitar as reprovações e advertências, e propuseram-se a contra Ele instigar o povo e conseguir Sua morte. PJ 162 6 Eram responsáveis pela rejeição de Cristo e os resultados que se seguiram. O pecado e a ruína de todo o povo foram devidos aos guias religiosos. PJ 162 7 Em nossos dias não operam as mesmas influências? Dentre os lavradores da vinha do Senhor não estão muitos seguindo os passos dos guias judeus? Não estão mestres religiosos desviando os homens dos claros reclamos da Palavra de Deus? Em vez de educá-los na obediência à lei de Deus, não os estão educando na transgressão? De muitos púlpitos das igrejas, o povo é ensinado que a lei de Deus não lhes é obrigatória. Exaltam-se tradições, ordenanças e costumes humanos. São alimentados o orgulho e a satisfação própria pelas dádivas de Deus, ao passo que Seus direitos são ignorados. PJ 162 8 Pondo de lado a lei divina não sabem os homens o que estão fazendo. A lei de Deus é a expressão de Seu caráter. Nela estão contidos os princípios de Seu reino. Quem recusa aceitar estes princípios está-se excluindo do conduto por onde fluem as bênçãos de Deus. PJ 163 1 As gloriosas possibilidades apresentadas a Israel só poderiam ser realizadas pela obediência aos mandamentos de Deus. A mesma elevação de caráter, a mesma plenitude de bênçãos -- bênção no espírito, alma e corpo, bênção na casa e no campo, bênção para esta vida e para a vindoura, somente é possível pela obediência. PJ 163 2 No mundo espiritual como no natural, obediência às leis de Deus é condição para a produção de frutos. E quando se ensina ao povo a desrespeitar os mandamentos de Deus, impede-se que produzam frutos para Sua glória. São culpados de privar o Senhor dos frutos de Sua vinha. PJ 163 3 Os mensageiros de Deus vêm a nós sob as ordens do Mestre. Vêm, como Cristo o fez, requerendo obediência à Palavra de Deus. Apresenta Ele Seus direitos aos frutos da vinha, os frutos de amor, humildade e serviço abnegado. Como os guias judeus, não são incitados à ira muitos dos lavradores da vinha? Quando são expostas ao povo as reivindicações da lei de Deus, não usam esses mestres sua influência para induzir os homens a rejeitá-la? A tais mestres Deus chama servos infiéis. PJ 163 4 As palavras de Deus ao antigo Israel encerram uma advertência solene para a igreja moderna e seus guias. De Israel, diz o Senhor: "Escrevi para eles as grandezas da Minha lei; mas isso é para ele como coisa estranha." Oséias 8:12. E aos sacerdotes e mestres, declara: "O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei, ... visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos." Oséias 4:6. PJ 163 5 Permanecerão desatendidas as advertências divinas? Continuarão desaproveitadas as oportunidades para o serviço? Serão os professos seguidores de Cristo impedidos de servi-Lo pelo escárnio do mundo, o orgulho da razão, a conformação aos costumes e tradições humanos? Rejeitarão a Palavra de Deus, como os guias judeus rejeitaram a Cristo? A conseqüência do pecado de Israel está perante nós. Aceitará a igreja moderna a advertência? PJ 163 6 "Se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories. ... Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também." Romanos 11:17, 18, 20, 21. ------------------------Capítulo 24 -- Diante do supremo tribunal PJ 164 0 Este capítulo é baseado em Mateus 22:1-14. PJ 164 1 A parábola das bodas apresenta-nos uma lição da mais elevada importância. Pelas bodas é representada a união da humanidade com a divindade; a veste nupcial simboliza o caráter que precisa possuir todo aquele que há de ser considerado hóspede digno para as bodas. PJ 164 2 Nesta parábola, como na da grande ceia, são ilustrados o convite do evangelho, sua rejeição pelo povo judeu e o convite da graça aos gentios. Esta parábola, porém, apresenta-nos maior ofensa da parte dos que rejeitam o convite, e juízo mais terrível. O chamado para o banquete é um convite real. Procede de alguém que está investido de poder para ordenar. Confere grande honra. Contudo esta é desapreciada. A autoridade do rei é menosprezada. Ao passo que o convite do pai de família é considerado com indiferença, o do rei é recebido com insulto e morte. Trataram seus criados com escárnio e desprezo e os mataram. PJ 164 3 O pai de família, vendo repelido o seu convite, declarou que nenhum dos convidados provaria a ceia. Contra os que ofenderam o rei foi decretada mais que a exclusão de sua presença e de sua mesa. "Enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade." Mateus 22:7. Em ambas as parábolas o banquete é provido de convidados, mas o segundo mostra que uma preparação precisa ser feita por todos os que a ele assistem. Quem negligencia esta preparação é expulso. "O rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 22:11-13. PJ 164 4 O convite para o banquete foi transmitido pelos discípulos de Cristo. Nosso Senhor enviou os doze, e depois os setenta, proclamando que era chegado o reino de Deus, e convidando os homens a arrependerem-se e crerem no evangelho. O convite não foi atendido, porém. Os convidados para irem à festa não compareceram. Mais tarde os servos foram enviados com a mensagem: "Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas." Mateus 22:4. Esta foi a mensagem levada à nação judaica depois da crucifixão de Cristo; mas a nação, que se arrogava de ser o povo peculiar de Deus, rejeitou o evangelho a eles levado no poder do Espírito Santo. Muitos fizeram isso da maneira mais insolente. Outros ficaram tão exasperados com o oferecimento da salvação, e perdão por terem rejeitado o Senhor da glória, que se voltaram contra os mensageiros. Houve "uma grande perseguição". Atos dos Apóstolos 8:1. Muitos homens e mulheres foram lançados na prisão, e alguns dos portadores da mensagem do Senhor, como Estêvão e Tiago, foram mortos. PJ 165 1 Assim o povo judeu selou sua rejeição da misericórdia de Deus. O resultado foi predito por Cristo na parábola. O rei enviou "os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade". Mateus 22:7. O juízo pronunciado atingiu os judeus na destruição de Jerusalém e na dispersão do povo. PJ 165 2 O terceiro convite para o banquete representa a pregação do evangelho aos gentios. O rei disse: "As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas a todos os que encontrardes." Mateus 22:8, 9. PJ 165 3 Os servos do rei que foram pelos caminhos, "ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons". Mateus 22:10. Era um grupo misto. Alguns deles não tinham maior respeito ao doador da ceia do que os que haviam rejeitado o convite. A classe primeiramente convidada não podia, como pensava, sacrificar os privilégios mundanos para comparecer ao banquete do rei. E entre os que aceitaram o convite havia muitos que pensavam somente em se beneficiar. Foram para partilhar das provisões do banquete, mas não tinham desejo de honrar ao rei. PJ 165 4 Quando o rei entrou para ver os convidados, foi revelado o verdadeiro caráter de todos. A cada um foi provido um vestido de bodas. Essa veste era uma dádiva do rei. Usando-a, os convidados demonstravam respeito ao doador da festa. Um homem, porém, estava com seus trajes comuns. Recusara fazer a preparação exigida pelo rei. A veste provida para ele com grande custo, desdenhou usar. Deste modo insultou seu senhor. À pergunta do rei: "Como entraste aqui, não tendo veste nupcial?" (Mateus 22:12) nada pôde responder. Condenou-se a si mesmo. Então o rei disse: "Amarrai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas exteriores." Mateus 22:13. O exame dos convidados pelo rei representa uma cena de julgamento. Os convidados à ceia do evangelho são os que professam servir a Deus, cujos nomes estão escritos no livro da vida. Nem todos, porém, que professam ser cristãos, são discípulos verdadeiros. Antes que seja dada a recompensa final, precisa ser decidido quem está apto para participar da herança dos justos. Essa decisão deve ser feita antes da segunda vinda de Cristo, nas nuvens do céu; porque quando Ele vier, o galardão estará com Ele "para dar a cada um segundo a sua obra". Apocalipse 22:12. Antes de Sua vinda o caráter da obra de cada um terá sido determinado, e a cada seguidor de Cristo o galardão será concedido segundo seus atos. PJ 166 1 Enquanto os homens ainda estão sobre a Terra, é que a obra do juízo investigativo se efetua nas cortes celestes. A vida de todos os Seus professos seguidores é passada em revista perante Deus; todos são examinados de conformidade com os relatórios nos livros do Céu, e o destino de cada um é fixado para sempre de acordo com seus atos. PJ 166 2 Pela veste nupcial da parábola é representado o caráter puro e imaculado, que os verdadeiros seguidores de Cristo possuirão. Foi dado à igreja "que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente" (Apocalipse 19:8), "sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante". Efésios 5:27. O linho fino, diz a Escritura, "é a justiça dos santos". Apocalipse 19:8. A justiça de Cristo e Seu caráter imaculado, é, pela fé, comunicada a todos os que O aceitam como Salvador pessoal. PJ 166 3 A veste branca de inocência foi usada por nossos primeiros pais, quando foram postos por Deus no santo Éden. Viviam eles em perfeita conformidade com a vontade de Deus. Todas as suas afeições eram devotadas ao Pai celeste. Luz bela e suave, a luz de Deus, envolvia o santo par. Esse vestido de luz era um símbolo de suas vestes espirituais de celeste inocência. Se permanecessem leais a Deus, continuaria sempre a envolvê-los. Ao entrar o pecado, porém, cortaram sua ligação com Deus, e desapareceu a luz que os cingia. Nus e envergonhados, procuraram suprir os vestidos celestiais, cosendo folhas de figueira para uma cobertura. PJ 166 4 Isto fizeram os transgressores da lei de Deus desde o dia em que Adão e Eva desobedeceram. Coseram folhas de figueira para cobrir a nudez causada pela transgressão. Cobriram-se com vestidos de sua própria feitura; por suas próprias obras procuraram encobrir os pecados e tornar-se aceitáveis a Deus. PJ 166 5 Isto jamais pode ser feito, porém. O homem nada pode idear para suprir as perdidas vestes de inocência. Nenhuma vestimenta de folhas de figueira, nenhum traje mundano, pode ser usado por quem se assentar com Cristo e os anjos na ceia das bodas do Cordeiro. PJ 166 6 Somente as vestes que Cristo proveu, podem habilitar-nos a aparecer na presença de Deus. Estas vestes de Sua própria justiça, Cristo dará a todos os que se arrependerem e crerem. "Aconselho-te", diz Ele, "que de Mim compres... vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez." Apocalipse 3:18. PJ 167 1 Este vestido fiado nos teares do Céu não tem um fio de origem humana. Em Sua humanidade, Cristo formou caráter perfeito, e oferece-nos esse caráter. "Todas as nossas justiças" são "como trapo da imundícia." Isaías 64:6. Tudo que podemos fazer de nós mesmos está contaminado pelo pecado. Mas o Filho de Deus "Se manifestou para tirar os nossos pecados; e nEle não há pecado". 1 João 3:5. O pecado é definido como "o quebrantamento da lei". 1 João 3:4 (VT). Mas Cristo foi obediente a todos os reclamos da lei. De Si mesmo, disse: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração." Salmos 40:8. Quando esteve na Terra, disse aos discípulos: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 15:10. Por Sua obediência perfeita tornou possível a todo homem obedecer aos mandamentos de Deus. Ao nos sujeitarmos a Cristo, nosso coração se une ao Seu, nossa vontade imerge em Sua vontade, nosso espírito torna-se um com Seu espírito, nossos pensamentos serão levados cativos a Ele; vivemos Sua vida. Isso é o que significa estar trajado com as vestes de Sua justiça. Quando então o Senhor nos contemplar, verá não o vestido de folhas de figueira, não a nudez e deformidade do pecado, mas Suas próprias vestes de justiça que são a obediência perfeita à lei de Jeová. PJ 167 2 Os convidados às bodas foram inspecionados pelo rei. Só foram aceitos os que obedeceram aos seus requisitos e usaram o vestido nupcial. Assim ocorre com os convidados para a ceia do evangelho. Todos são examinados pelo grande Rei, e só serão recebidos os que trajarem as vestes da justiça de Cristo. PJ 167 3 Justiça é fazer o bem, e é pelos atos que todos serão julgados. Nosso caráter é revelado pelo que fazemos. As obras mostram se a fé é genuína. PJ 167 4 Não é bastante crermos que Jesus não é um impostor, e a religião da Bíblia não é uma fábula artificialmente composta. Podemos crer que o nome de Jesus é o único debaixo dos Céus pelo qual devemos ser salvos, e contudo podemos não torná-Lo pela fé nosso Salvador pessoal. Não é bastante crer na teoria da verdade. Não é bastante fazer profissão de fé em Cristo, e ter nosso nome registrado no rol da igreja. "Aquele que guarda os Seus mandamentos nEle está, e Ele nele. E nisto conhecemos que Ele está em nós: pelo Espírito que nos tem dado." 1 João 3:24. "E nisto sabemos que O conhecemos: se guardarmos os Seus mandamentos." 1 João 2:3. Esta é a evidência genuína da conversão. Qualquer que seja nossa profissão, nada valerá se Cristo não for revelado em obras de justiça. PJ 168 1 A verdade deve estar plantada no coração. Deve dirigir o espírito e regular as afeições. Todo o caráter deve ser estampado com a expressão divina. Cada jota e cada til da Palavra de Deus deve ser introduzido na vida diária. PJ 168 2 Aquele que se torna participante da natureza divina estará em harmonia com o grande padrão de justiça de Deus, Sua santa lei. Esta é a norma pela qual Deus mede as ações do homem. E esta será também a pedra de toque do caráter no juízo. PJ 168 3 Muitos há que dizem que na morte de Cristo a lei foi revogada, mas nisto contradizem as próprias palavras de Cristo: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas. ... Até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei." Mateus 5:17, 18. Foi para expiar a transgressão da lei pelo homem que Cristo depôs Sua vida. Pudesse a lei ser mudada ou posta de lado, Cristo não precisaria ter morrido. Por Sua vida na Terra, honrou a lei de Deus. Por Sua morte, estabeleceu-a. Deu Sua vida como sacrifício, não para destruir a lei de Deus, não para criar uma norma inferior, mas para que a justiça fosse mantida, para que fosse vista a imutabilidade da lei e permanecesse para sempre. PJ 168 4 Satanás declarara que era impossível ao homem obedecer aos mandamentos de Deus; e é verdade que por nossa própria força não lhes podemos obedecer. Cristo, porém, veio na forma humana, e por Sua perfeita obediência provou que a humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de Deus. PJ 168 5 "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome." João 1:12. Este poder não está no instrumento humano. É o poder de Deus. Quando uma alma recebe a Cristo, recebe também o poder de viver a vida de Cristo. PJ 168 6 Deus requer de Seus filhos perfeição. Sua lei é um transcrito de Seu caráter, e é o padrão de todo caráter. Essa norma infinita é apresentada a todos, para que não haja má compreensão no tocante à espécie de homens que Deus quer ter para compor o Seu reino. A vida de Cristo na Terra foi uma expressão perfeita da lei de Deus, e quando os que professam ser Seus filhos receberem caráter semelhante ao de Cristo, obedecerão aos mandamentos de Deus. Então o Senhor pode contá-los com toda a confiança entre os que formarão a família do Céu. Trajados com as vestes gloriosas da justiça de Cristo, participarão da ceia do Rei. Têm o direito de associar-se com a multidão lavada no sangue. PJ 168 7 O homem que foi à ceia sem a veste de bodas representa a condição de muitos hoje em dia. Professam ser cristãos e reclamam as bênçãos e privilégios do evangelho; contudo não sentem a necessidade de transformação de caráter. Nunca sentiram verdadeiro arrependimento dos pecados. Não reconhecem a necessidade de Cristo, nem exercem fé nEle. Não venceram suas inclinações para a injustiça, herdadas e cultivadas. Contudo pensam ser bastante bons em si mesmos, e confiam em seus próprios méritos em vez de nos de Cristo. Como ouvintes da Palavra, vão ao banquete, mas não tomaram a veste da justiça de Cristo. PJ 169 1 Muitos que se chamam cristãos são meros moralistas humanos. Recusaram a dádiva que, somente, podia habilitá-los para honrar a Cristo com representá-Lo ao mundo. A obra do Espírito Santo lhes é estranha. Não são praticantes da Palavra. Os princípios celestes que distinguem os que são um com Cristo dos que se unem ao mundo, tornaram-se quase indistintos. Os professos seguidores de Cristo não são mais um povo separado e peculiar. A linha de demarcação é imperceptível. O povo está-se subordinando ao mundo, às suas práticas, costumes e egoísmos. A igreja passou para o mundo, transgredindo a lei, quando o mundo devia passar para a igreja na obediência da mesma. Diariamente a igreja se está convertendo ao mundo. PJ 169 2 Todos estes esperam ser salvos pela morte de Cristo, ao passo que recusam viver Sua vida de abnegação. Exaltam as riquezas da livre graça, e procuram cobrir-se com a aparência de justiça, esperando assim ocultar os defeitos de caráter, mas seus esforços serão vãos no dia de Deus. PJ 169 3 A justiça de Cristo não encobrirá pecado algum acariciado. O homem pode ser intimamente transgressor da lei; todavia, se não comete um ato visível de transgressão, pode ser considerado, pelo mundo, possuidor de grande integridade. A lei de Deus, porém, lê os segredos do coração. Todo ato é julgado pelos motivos que o sugeriram. Somente quem estiver de acordo com os princípios da lei de Deus, permanecerá em pé no Juízo. PJ 169 4 Deus é amor. Demonstrou Ele este amor na dádiva de Cristo. Quando "deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16), nada reteve de Sua possessão adquirida. Deu todo o Céu, do qual podemos tirar poder e eficiência para não sermos repelidos nem derrotados por nosso grande adversário. Mas o amor de Deus não O leva a desculpar o pecado. Não o desculpou em Satanás; não o escusou em Adão ou em Caim; nem o desculpará em qualquer outro homem. Não tolerará nossos pecados, e não passará por sobre nossos defeitos de caráter. Espera que vençamos em Seu nome. PJ 169 5 Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo estão rejeitando os atributos de caráter que os constituiriam filhos e filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão para um lugar na ceia de bodas. PJ 170 1 Na parábola, ao perguntar o rei: "Como entraste aqui, não tendo veste nupcial?" (Mateus 22:12) o homem emudeceu. Assim será no grande dia de Juízo. Os homens agora podem justificar seus defeitos de caráter, mas naquele dia não apresentarão desculpas. PJ 170 2 As igrejas professas de Cristo nesta geração desfrutam dos mais altos privilégios. O Senhor Se tem revelado a nós numa luz sempre crescente. Nossos privilégios são muito maiores que os do antigo povo de Deus. Temos não somente a grande luz proporcionada a Israel, mas também a evidência crescente da grande salvação trazida a nós por Cristo. Aquilo que para os judeus era o tipo e símbolo, é para nós realidade. Eles tinham a história do Antigo Testamento; nós temos essa e a do Novo. Temos a certeza de um Salvador que veio, um Salvador que foi crucificado, ressurgiu, e, à borda do sepulcro de José, proclamou: "Sou a ressurreição e a vida." João 11:25. Em nosso conhecimento de Cristo e de Seu amor, o reino de Deus está posto no meio de nós. Cristo nos é revelado em sermões e cantado em hinos. O banquete espiritual é-nos apresentado em farta abundância. A veste de bodas provida com infinito custo, é oferecido liberalmente a toda pessoa. Pelos mensageiros de Deus nos são expostas a justiça de Cristo, a justificação, as excelentes e preciosas promessas da Palavra de Deus, o livre acesso ao Pai por Cristo, o conforto do Espírito, e a bem-fundada certeza da vida eterna no reino de Deus. Que poderia Deus fazer por nós, que não tenha feito em prover a grande ceia, o banquete celestial? No Céu é dito pelos anjos ministradores: Executamos a obra para que fomos enviados. Repelimos os exércitos dos anjos maus. Enviamos luz e claridade à mente dos homens, avivando-lhes a memória do amor de Deus expresso em Jesus. Atraímos-lhes os olhares para a cruz de Cristo. Seu coração foi movido profundamente pelo sentimento do pecado, que crucificou o Filho de Deus. Foram convencidos. Viram os passos que devem ser dados na conversão; sentiram o poder do evangelho; seu coração foi sensibilizado ao verem a excelência do amor de Deus. Contemplaram a beleza do caráter de Cristo. Mas com a maioria, foi tudo em vão. Não quiseram submeter seus próprios hábitos e caráter. Não quiseram depor as vestes terrenas para serem trajados com as do Céu. Seu coração era dado à avareza. Amavam mais a companhia do mundo do que a de Deus. PJ 170 3 Solene será o dia da decisão final. Em visão profética, o apóstolo João o descreve: "Vi um grande trono branco e O que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o Céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras." Apocalipse 20:11, 12. PJ 171 0 Triste será o retrospecto naquele dia em que os homens defrontarem face a face a eternidade. Toda a vida se apresentará justamente como foi. Os prazeres, riquezas e honras do mundo não parecerão tão importantes. Os homens hão de ver que somente a justiça que desprezaram é de valor. Verão que formaram o caráter sob a sedução enganadora de Satanás. As vestes que escolheram são o estigma de sua aliança ao primeiro grande apóstata. Então hão de ver a conseqüência de sua escolha. Terão conhecimento do que significa transgredir os mandamentos de Deus. PJ 171 1 Não haverá oportunidade futura em que os homens se poderão preparar para a eternidade. Nesta vida é que devemos trajar as vestes da justiça de Cristo. Esta é a nossa única oportunidade de formar caráter para o lar que Cristo preparou para os que obedecem aos Seus mandamentos. PJ 171 2 Rapidamente, os dias de graça estão terminando. O fim está próximo. É-nos feita a advertência: "Olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. Vigiai para que não vos encontre desapercebidos. Acautelai-vos para que não sejais achados na ceia do rei sem vestes nupciais. PJ 171 3 "Porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis." Mateus 24:44. "Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas." Apocalipse 16:15. ------------------------Capítulo 25 -- Como enriquecer a personalidade PJ 171 4 Este capítulo é baseado em Mateus 25:13-30. PJ 171 5 No Monte das Oliveiras, Cristo falara aos discípulos, do Seu segundo advento ao mundo. Especificara certos sinais que se manifestariam quando Sua vinda estivesse próxima, e ordenara aos discípulos que vigiassem e estivessem preparados. Novamente repetiu a advertência: "Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir." Mateus 25:13. Mostrou então o que significa aguardar Sua vinda. O tempo não deve ser gasto em vigilância ociosa, mas em trabalho diligente. Essa lição ensinou na parábola dos talentos. PJ 172 1 "O reino dos Céus", disse, "é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens, e a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe." Mateus 25:14, 15. PJ 172 2 O homem que partiu para longe representa Cristo, que, ao proferir esta parábola, estava prestes a partir da Terra para o Céu. Os "servos", ou escravos, da parábola, representam os seguidores de Cristo. Não somos de nós mesmos. Fomos "comprados por bom preço" (1 Coríntios 6:20), não "com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, ... mas com o precioso sangue de Cristo" (1 Pedro 1:18, 19); "para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou". 2 Coríntios 5:15. PJ 172 3 Todos os homens foram comprados por este infinito preço. Derramando toda a riqueza do Céu neste mundo, dando-nos todo o Céu em Cristo, Deus adquiriu a vontade, as afeições, a mente, a alma de todo ser humano. Crentes ou incrédulos, todos os homens são propriedade do Senhor. Todos são chamados para Seu serviço, e todos deverão, no grande dia do Juízo, prestar contas da maneira em que respondem a esta reivindicação. PJ 172 4 As reivindicações de Deus, porém, não são reconhecidas por todos. Os que professam ter aceito o serviço de Cristo, são representados como Seus servos, na parábola. PJ 172 5 Os seguidores de Cristo foram redimidos para ser úteis ao próximo. Nosso Senhor ensina que o verdadeiro objetivo da vida é servir. Cristo mesmo foi obreiro, e dá a todos os Seus seguidores a lei do serviço -- o serviço a Deus e ao próximo. Aqui Cristo apresentou ao mundo uma concepção mais elevada da vida, a qual jamais conheceram. Vivendo para servir aos outros, o homem é levado à comunhão com Cristo. A lei de servir torna-se o vínculo que nos liga a Deus e a nosso semelhante. PJ 172 6 Cristo confia a Seus servos "Seus bens" -- alguma coisa que deve ser usada para Ele. Dá "a cada um sua obra". Todos têm seu lugar no plano eterno do Céu. Todos devem colaborar com Cristo para a salvação de almas. Tão certo como nos está preparado um lugar nas mansões celestes, há também um lugar designado aqui na Terra, onde devemos trabalhar para Deus. Dons do Espírito PJ 173 1 Os talentos que Cristo confiou a Sua igreja representam especialmente os dons e bênçãos conferidos pelo Espírito Santo. "Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." 1 Coríntios 12:8-11. Nem todos os homens recebem os mesmos dons, porém a cada servo do Mestre é prometido algum dom do Espírito. PJ 173 2 Antes de deixar os discípulos, Cristo "assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo". João 20:22. Depois disse: "Eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai." Lucas 24:49. Somente depois da ascensão, porém, foi o dom recebido em sua plenitude. Apenas quando os discípulos se renderam plenamente à Sua operação em fé e súplicas, foi derramado sobre eles o Espírito Santo. Então os bens do Céu foram concedidos aos seguidores de Cristo em sentido especial. "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens." Efésios 4:8. "Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo" (Efésios 4:7), repartindo o Espírito particularmente "a cada um como quer". 1 Coríntios 12:11. Estes dons já são nossos em Cristo, mas a posse real depende de nossa recepção do Espírito de Deus. A promessa do Espírito não é apreciada devidamente. Seu cumprimento não é realizado como poderia sê-lo. A ausência do Espírito é que torna tão impotente o ministério evangélico. Pode-se possuir cultura, talento, eloqüência ou qualquer dote natural ou adquirido; mas sem a presença do Espírito de Deus não se tocará nenhum coração, nem se ganhará pecador algum para Cristo. De outro lado, se estão ligados com Cristo, e se possuem os dons do Espírito, os mais pobres e ignorantes de Seus discípulos terão um poder que falará aos corações. Deus faz deles condutos para a difusão, no Universo, das mais elevadas influências. Outros talentos PJ 173 3 Os dons especiais do Espírito não são os únicos talentos representados na parábola. Esta inclui todos os dons e dotes, originais ou adquiridos, naturais ou espirituais. Todos devem ser empregados no serviço de Cristo. Tornando-nos discípulos Seus, rendemo-nos a Ele com tudo que somos e temos. Devolve-nos Ele, então, essas dádivas purificadas e enobrecidas para que as utilizemos para Sua glória em abençoar nossos semelhantes. PJ 174 1 Deus deu a cada um "segundo a sua capacidade". Mateus 25:15. Os talentos não são distribuídos a esmo. Quem tem capacidade para usar cinco talentos recebe cinco. Quem só pode utilizar dois, recebe dois. Quem só pode usar sabiamente um, recebe um. Ninguém precisa lamentar que não recebeu maiores dons; porque Aquele que repartiu a cada um, é igualmente honrado pelo desenvolvimento de toda dádiva, seja ela grande ou pequena. Aquele a quem foram confiados cinco talentos, deve restituir o aumento dos cinco; a quem foi dado apenas um, o aumento de um. Deus espera a restituição "segundo o que qualquer tem e não segundo o que não tem". 2 Coríntios 8:12. O uso dos talentos PJ 174 2 Na parábola, aquele que "recebera cinco talentos negociou com eles e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois granjeou também outros dois". Mateus 25:16, 17. PJ 174 3 Os talentos, conquanto poucos, devem ser empregados. A questão que mais nos interessa não é: Quanto recebi? mas: O que faço com o que tenho? O desenvolvimento de todas as nossas faculdades é a primeira obrigação que devemos a Deus e a nossos semelhantes. Ninguém, que não esteja crescendo diariamente em capacidade e utilidade, estará cumprindo o propósito da vida. Fazendo profissão de fé em Cristo, comprometemo-nos a tornar-nos tudo quanto nos seja possível, como obreiros, para o Mestre, e devemos cultivar cada faculdade ao mais elevado grau de perfeição, para que possamos fazer o maior bem que formos capazes de realizar. PJ 174 4 O Senhor tem uma grande obra para realizar, e mais legará na vida futura aos que na presente serviram mais fiel e voluntariamente. O Senhor escolhe Seus agentes e dá-lhes cada dia, sob diferentes circunstâncias, oportunidades em Seu plano de operação. Escolhe Seus agentes em cada esforço sincero de levar a efeito o Seu plano, não porque sejam perfeitos, mas porque pela conexão com Ele podem alcançar a perfeição. PJ 174 5 Deus somente aceitará os que estão decididos a ter um alvo elevado. Coloca cada agente humano sob a obrigação de fazer o melhor. De todos é requerido perfeição moral. Nunca devemos abaixar a norma de justiça com o fim de acomodar à prática do mal, tendências herdadas ou cultivadas. Precisamos compreender que imperfeição de caráter é pecado. Todos os justos atributos de caráter habitam em Deus como um todo perfeito e harmonioso, e todo aquele que aceita a Cristo como Salvador pessoal, tem o privilégio de possuir estes atributos. PJ 175 1 E os que querem ser coobreiros de Deus devem esforçar-se para aperfeiçoar cada órgão do corpo e qualidade da mente. Verdadeira educação é o preparo das faculdades físicas, mentais e morais para a execução de todo dever; é o preparo do corpo, mente e intelecto para o serviço divino. Essa é a educação que perdurará para a vida eterna. PJ 175 2 Requer o Senhor de todo cristão crescimento em eficiência e capacidade em todo ramo. Cristo pagou nosso salário, Seu próprio sangue e sofrimento, para assegurar nosso serviço voluntário. Veio ao nosso mundo para dar um exemplo de como devemos trabalhar, e que espírito devemos introduzir em nossa labuta. Deseja que estudemos como melhor promover Sua obra e glorificar Seu nome no mundo, coroando com honras, com o maior amor e devoção, o Pai que "amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. PJ 175 3 Cristo, porém, não nos deu garantia alguma de que é fácil alcançar perfeição de caráter. Não se herda caráter perfeito e nobre. Não o recebemos por acaso. O caráter nobre é ganho por esforço individual mediante os méritos e a graça de Cristo. Deus dá os talentos e as faculdades mentais; nós formamos o caráter. É formado por combates árduos e relutantes com o próprio eu. As tendências herdadas devem ser banidas por um conflito após outro. Devemos esquadrinhar-nos detidamente e não permitir que permaneça traço algum incorreto. PJ 175 4 Ninguém diga: Não posso corrigir meus defeitos de caráter. Se chegardes a essa decisão, certamente deixareis de alcançar a vida eterna. A impossibilidade está em vossa própria vontade. Se não quiserdes não vencereis. A dificuldade real vem da corrupção de um coração não santificado, e da involuntariedade de se submeter à direção de Deus. Muitos a quem Deus capacitou para fazer trabalho excelente, pouco conseguem, porque pouco empreendem. Milhares passam esta vida como se não tivessem alvo definido pelo qual viver, nem norma para alcançar. Os tais receberão recompensa proporcional às suas obras. PJ 175 5 Lembre-se de que nunca alcançará mais elevada norma que a que se propuser. Fixe pois alto seu alvo e passo a passo, embora com esforços dolorosos, abnegação e sacrifício, subi até ao topo a escada do progresso. Que nada vos impeça. O destino não teceu tão firmemente suas malhas ao redor de qualquer homem, que precisasse permanecer desamparado e na incerteza. Circunstâncias adversas devem criar a firme determinação de vencê-las. A transposição de um obstáculo dará maior capacidade e ânimo para avançar. Insisti com resolução na direção correta, e então as circunstâncias serão vossas auxiliares, não empecilhos. PJ 176 1 Almeje cultivar toda graça do caráter para a glória do Mestre. Deveis agradar a Deus em cada aspecto da formação de vosso caráter. Isto podeis fazer, porque Enoque Lhe agradou, embora vivesse num século degenerado. E há Enoques em nosso tempo. PJ 176 2 Seja como Daniel, aquele fiel estadista, homem que nenhuma tentação podia corromper. Não desaponteis Aquele que tanto vos ama, que deu Sua vida para cancelar vossos pecados. Ele diz: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Lembrai-vos disso. Se tiverdes cometido erros, certamente alcançareis a vitória, ao reconhecerdes estes erros e os considerardes farol de advertência. Assim transformareis a derrota em vitória, desapontando o inimigo e honrando o vosso Redentor. PJ 176 3 O caráter formado segundo a semelhança divina é o único tesouro que deste mundo podemos levar para o futuro. Aqueles que nesta vida estão sob a instrução de Cristo, levarão consigo, para as mansões celestes, todo aprendizado divino. E no Céu deveremos progredir continuamente. Que importância tem, pois, nesta vida o desenvolvimento do caráter! PJ 176 4 Os seres celestiais cooperarão com o agente humano que procura com fé decidida a perfeição de caráter que se manifeste na ação perfeita. A todo que se empenha nesta obra, Cristo diz: Estou à tua destra, para te auxiliar. Colaborando a vontade do homem com a de Deus, ela se torna onipotente. Tudo que deve ser feito a Seu mando pode ser cumprido por Seu poder. Todas as Suas ordens são promessas habilitadoras. Faculdades mentais PJ 176 5 Deus requer o cultivo das faculdades mentais. É Seu desígnio que Seus servos possuam mais inteligência e mais claro discernimento que os mundanos, e Se desagrada dos que são muito descuidados ou muito indolentes para se tornarem obreiros eficientes e bem-preparados. Deus nos manda amá-Lo de todo o coração, de toda a alma, de toda a força, e de todo o entendimento. Isto nos impõe a obrigação de desenvolver o intelecto até a mais plena capacidade, para que com todo o entendimento conheçamos e amemos nosso Criador. PJ 176 6 Se for submetido à direção do Espírito, quanto mais perfeitamente cultivado o intelecto, tanto mais eficazmente poderá ser usado no serviço do Senhor. O homem iletrado que é consagrado a Deus e aspira a abençoar a outros, pode ser e é utilizado pelo Senhor em Seu serviço. Mas os que, com o mesmo espírito de consagração, tiveram o benefício de uma instrução completa, podem fazer obra muito mais extensa para Cristo. Estão em posição vantajosa. PJ 177 1 O Senhor deseja que obtenhamos toda instrução possível, com o objetivo em vista de partilhar com outros nosso conhecimento. Ninguém pode saber onde nem como será chamado para labutar ou falar para Deus. Somente nosso Pai celeste vê o que pode fazer do homem. Há perante nós possibilidades que nossa fraca fé não discerne. Nossa mente deve estar tão adestrada que, se necessário, possamos expor as verdades da Palavra de Deus perante as mais altas autoridades terrenas, de maneira tal que glorifique Seu nome. Não devemos perder oportunidade alguma de preparar-nos intelectualmente para a obra de Deus. PJ 177 2 Que os jovens que necessitam de instrução, empenhem-se com determinação para obtê-la. Não espereis uma oportunidade, mas forjai-a vós mesmos. Aproveitai qualquer meio que se apresente. Praticai a economia; não gasteis o vosso dinheiro na satisfação do apetite nem em divertimentos. Sede resolutos em vos tornardes úteis e eficientes como Deus o quer. Sede pontuais e fiéis em tudo quanto empreenderdes. Aproveitai toda oportunidade ao vosso alcance para fortalecer o intelecto. Seja o estudo de livros combinado com um útil trabalho manual, e assegurai-vos por esforço fiel, vigilância e oração, a sabedoria que é de cima. Isto vos dará educação completa. Assim podeis crescer no caráter e ter influência sobre outras mentes, habilitando-vos a conduzi-las no caminho da justiça e santidade. PJ 177 3 Poderia ser conseguido muito mais no trabalho de auto-educação, se estivéssemos alerta para as nossas próprias oportunidades e privilégios. Verdadeira instrução significa mais do que os colégios podem dar. Embora o estudo das ciências não deva ser negligenciado, deve ser obtida maior instrução mediante ligação vital com Deus. Tome cada estudante sua Bíblia e ponha-se em comunhão com o grande Mestre. Que a mente seja adestrada e disciplinada para lutar com os problemas difíceis na pesquisa da verdade divina. PJ 177 4 Os que têm fome de conhecimento para tornarem-se uma bênção para seus semelhantes, receberão eles mesmos bênçãos de Deus. Pelo estudo da Palavra, suas forças mentais serão estimuladas a uma atividade fervorosa. Haverá expansão e desenvolvimento das faculdades, e a mente adquirirá capacidade e eficiência. Cumpre a todo o que quiser ser obreiro de Deus, exercer o domínio de si mesmo. Isso efetuará mais que a eloqüência ou os talentos mais brilhantes. A mente vulgar, bem-disciplinada, realizará trabalho maior e mais elevado que o espírito mais altamente instruído, e que os maiores talentos, sem o domínio próprio. A linguagem PJ 178 1 O dom da palavra é um talento que deve ser cultivado cuidadosamente. De todos os dons que recebemos de Deus, nenhum é capaz de se tornar maior bênção que este. Com a voz convencemos e persuadimos, com ela elevamos orações e louvores a Deus, e também falamos a outros do amor do Redentor. Que importância tem, pois, que seja bem educada a fim de tornar-se mais eficaz para o bem! PJ 178 2 A cultura e o correto uso da voz são grandemente negligenciados até por pessoas de inteligência e de atividade cristã. Muitos há que lêem ou falam de maneira tão baixa ou tão rápida, que não podem ser compreendidos perfeitamente. Alguns possuem pronúncia pesada e indistinta, outros falam em tonalidade alta, em tons agudos e estridentes, desagradáveis aos ouvintes. Textos, hinos, relatórios e outras partes, apresentados em reuniões públicas, são às vezes lidos de maneira tal que não são entendidos, de modo que muitas vezes perdem toda a força e nada impressionam. PJ 178 3 Esse é um mal que pode e deve ser corrigido. A Bíblia nos dá instruções neste ponto. É dito dos levitas que liam as Escrituras ao povo nos dias de Esdras: "Leram no Livro, na lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse." Neemias 8:8. PJ 178 4 Por esforço diligente todos podem adquirir a capacidade de ler inteligivelmente e falar em tom claro e sonoro, e de maneira distinta e impressiva. Fazendo isso podemos desenvolver grandemente nossa eficiência como obreiros de Cristo. PJ 178 5 Cada cristão é chamado para anunciar a outros as inescrutáveis riquezas de Cristo; por isso deve procurar perfeição no falar. Deve apresentar a Palavra de Deus de maneira tal que a recomende ao auditório. Deus não pretende que Seus porta-vozes sejam incultos. Não é Sua vontade que o homem restrinja ou rebaixe a fonte celeste que por ela flui para o mundo. PJ 178 6 Devemos contemplar a Jesus como modelo perfeito; devemos solicitar o auxílio do Espírito Santo, e em Seu poder procurar adestrar todos os órgãos para um trabalho perfeito. PJ 178 7 Isso se aplica especialmente aos que são chamados para o ministério público. Todo pregador e todo instrutor deve lembrar que está dando ao povo uma mensagem que encerra interesses eternos. A verdade anunciada julgá-lo-á no dia do grande ajuste final. E para alguns a maneira de alguém apresentar a mensagem determinará sua aceitação ou rejeição. Seja pois falada a verdade de modo que apele ao entendimento e impressione o coração. Seja ela pronunciada compassada, distinta e solenemente, mas com toda a sinceridade que sua importância requer. PJ 179 1 A cultura e uso convenientes do dom da palavra relacionam-se com todos os ramos da obra cristã; penetra na vida familiar e em todo intercâmbio mútuo. Devemos acostumar-nos a falar em tom agradável, usando linguagem pura e correta, com palavras amáveis e corteses. Palavras suaves e bondosas são para o espírito como o orvalho e a chuva branda. A Escritura diz de Cristo, que havia em Seus lábios uma graça tal que sabia "dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado". Isaías 50:4. E o Senhor nos manda: "A vossa palavra seja sempre agradável" (Colossences 4:6), "para que dê graça aos que a ouvem". Efésios 4:29. Procurando corrigir ou reformar a outros devemos ter cuidado com nossas palavras. Serão um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. Quando censuram ou aconselham, muitos usam linguagem áspera e severa, palavras que não são adequadas para curar um coração ferido. Por essas expressões inadequadas é irritado o espírito, e os errantes são muitas vezes instigados à rebelião. Todos os que quiserem advogar os princípios da verdade precisarão receber o celeste óleo do amor. Sob todas as circunstâncias, a censura deve ser expressa com amor. Então nossas palavras reformarão e não hão de exasperar. Cristo pelo Espírito Santo suprirá o poder necessário. Essa é Sua obra. PJ 179 2 Não se deve proferir uma única palavra imprudentemente. Nenhuma maledicência, palavreado frívolo algum, nenhuma murmuração impertinente nem sugestão impura sairá dos lábios do seguidor de Cristo. Escrevendo por inspiração do Espírito Santo, diz o apóstolo Paulo: "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe." Efésios 4:29. Palavras torpes não significam somente palavras vis. Quer dizer qualquer expressão contrária aos santos princípios e à religião pura e imaculada. Inclui idéias impuras e insinuações malévolas. Se não forem repelidas imediatamente, conduzem a grande pecado. PJ 179 3 É dever de toda família e de cada cristão individualmente opor-se ao uso da linguagem corrupta. Quando em companhia de quem se deleita em palestras tolas, é nosso dever mudar o assunto da conversação, se possível. Com o auxílio da graça de Deus devemos calmamente proferir algumas palavras, ou introduzir um tema que oriente a conversa para terreno mais aproveitável. PJ 179 4 É obrigação dos pais inculcar nos filhos bons hábitos de linguagem. A melhor escola para a cultura da voz é o lar. Desde os primeiros anos deve a criança ser ensinada a falar respeitosamente e com amor, a seus pais e aos outros. Ensinar-se-lhe-á que somente palavras gentis, verdadeiras e puras lhe devem sair dos lábios. Os pais mesmos devem estudar diariamente na escola de Cristo. Assim poderão ensinar aos filhos, por preceito e exemplo, o uso da "linguagem sã e irrepreensível". Tito 2:8. Esse é um de seus maiores deveres e da maior responsabilidade. PJ 180 1 Como seguidores de Cristo, nossas palavras devem ser um auxílio e encorajamento a outros na vida cristã. Muito mais do que fazemos precisamos falar dos preciosos capítulos de nossa experiência. É bom falarmos da misericórdia e longanimidade de Deus, e da incomparável profundeza do amor do Salvador. Nossas palavras devem ser expressões de louvor e ações de graças. Se o coração e a mente estiverem cheios do amor de Deus, isso será revelado na conversação. Não nos será difícil transmitir aquilo que experimentamos na vida espiritual. Grandes pensamentos, aspirações nobres, percepção clara da verdade, propósitos liberais, anelos de piedade e santidade, produzirão frutos em palavras que revelam o caráter do tesouro do coração. Se Cristo for assim manifestado em nossa linguagem, a mesma terá o poder de conquistar almas para Ele. PJ 180 2 Devemos falar de Cristo aos que O não conhecem. Devemos fazer o que Cristo fez. Onde quer que estivesse, na sinagoga, à beira do caminho, no barco um tanto arredado da margem, no banquete do fariseu ou à mesa do publicano, falava aos homens das coisas pertinentes à vida mais elevada. As coisas da natureza, os acontecimentos da vida diária eram por Ele relacionados com as palavras da verdade. O coração dos ouvintes era atraído para Ele, porque lhes curara as enfermidades, confortara os aflitos, e tomara nos braços seus filhinhos e os abençoara. Quando abria os lábios para falar, a atenção deles se voltava para Ele, e toda palavra era para alguém um cheiro de vida para vida. Assim deve ser conosco. Onde quer que estejamos, devemos vigiar as oportunidades de falar do Salvador a outros. Se seguirmos o exemplo de Cristo em fazer o bem, os corações estarão abertos a nós como estiveram a Ele. Não abruptamente, mas com o tato oriundo do amor divino poderemos falar-lhes dAquele que "traz a bandeira entre dez mil", e é "totalmente desejável". Cantares 5:10, 16. Essa é a mais elevada obra em que podemos empregar o talento da linguagem. Foi-nos dado para que pudéssemos apresentar a Cristo como Salvador que perdoa os pecados. Influência PJ 180 3 A vida de Cristo foi uma influência sempre crescente e ilimitada; influência que O ligava a Deus e a toda a família humana. Mediante Cristo, Deus conferiu ao homem uma influência que lhe torna impossível viver para si próprio. Individualmente temos ligação com nossos semelhantes, parte da grande família de Deus, e estamos sob obrigações mútuas. Ninguém pode ser independente de seu próximo; porque o bem-estar de cada um afeta a outros. É propósito de Deus que cada um se sinta imprescindível ao bem-estar dos outros, e procure promover a sua felicidade. PJ 181 1 Toda alma está circundada de uma atmosfera própria, que pode estar carregada do poder vivificante da fé, do ânimo, da esperança, e perfumada com a fragrância do amor. Ou pode estar pesada e fria com as nuvens do descontentamento e egoísmo, ou intoxicada com o contato mortal de um pecado acariciado. Pela atmosfera que nos envolve, toda pessoa com quem nos comunicamos é consciente ou inconscientemente afetada. PJ 181 2 Esta é uma responsabilidade de que não nos podemos livrar. Nossas palavras, nossos atos, nosso traje, nosso procedimento, até a expressão fisionômica tem sua influência. Da impressão assim feita dependem conseqüências para bem ou para mal, que ninguém pode computar. Todo impulso assim comunicado é uma semente que produzirá sua colheita. É um elo na longa cadeia de eventos humanos que se estende não sabemos até aonde. Se por nosso exemplo ajudamos a outros na formação de bons princípios, estamos-lhes dando a capacidade de fazer o bem. Eles, por sua vez, exercem a mesma influência sobre outros, e estes sobre terceiros. Assim, por nossa influência inconsciente, podem ser abençoados milhares. PJ 181 3 Atirai uma pedra num lago, e forma-se uma onda, e a ela se seguem outras; e crescendo as mesmas, o círculo amplia-se até atingir a margem. O mesmo se dá com nossa influência. Além do nosso conhecimento e arbítrio ela atua em outros para bênção ou maldição. PJ 181 4 O caráter é um poder. O testemunho silencioso de uma vida sincera, desinteressada e piedosa, exerce influência quase irresistível. Manifestando em nossa vida o caráter de Cristo, com Ele cooperamos na obra de salvar almas. Somente revelando em nossa vida o Seu caráter é que podemos com Ele colaborar. PJ 181 5 E quanto mais vasta a esfera de nossa influência, tanto maior bem podemos fazer. Quando os que professam servir a Deus seguirem o exemplo de Cristo, praticando na vida diária os princípios da lei, quando todos os seus atos testemunharem de que amam a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos, então a igreja terá o poder de abalar o mundo. PJ 181 6 Contudo deve ser lembrado que a influência não deixa de ser um poder para o mal. É terrível alguém perder sua vida, mas causar a perdição de outras é-o ainda mais. Que nossa influência seja um cheiro de morte para morte é um pensamento horrível; contudo é possível. Muitos que professam ajuntar com Cristo, estão espalhando. Este é o motivo de a igreja ser tão fraca. Muitos tomam a liberdade de criticar e acusar. Expressando suspeita, inveja e descontentamento, entregam-se a Satanás como instrumentos. Antes que reconheçam o que estão fazendo, o adversário por meio deles conseguiu seu propósito. A impressão do mal foi feita, a sombra foi projetada, os dardos de Satanás atingiram o alvo. Desconfiança, incredulidade e degradante infidelidade tomaram posse daqueles que de outra maneira poderiam ter aceitado Cristo. Entrementes os obreiros de Satanás olham complacentemente aos que arrastaram ao ceticismo, e agora estão empedernidos contra toda admoestação e súplica. Lisonjeiam-se de que em comparação com essas pessoas são virtuosos e justos. Não reconhecem que esses pobres náufragos do caráter são vítimas de sua língua desenfreada e de seu coração rebelde. Por sua influência foi que esses tentados caíram. PJ 182 1 Assim a frivolidade, a condescendência egoísta e a indiferença despreocupada por parte de cristãos professos estão desviando muitos do caminho da vida. Muitos há que temerão enfrentar no tribunal de Deus os resultados de sua influência. Somente pela graça de Deus é que podemos utilizar sabiamente essa dádiva. Nada há em nós com que possamos influenciar a outros para o bem. Se reconhecermos nossa falta de recurso e a necessidade de poder divino, não confiaremos em nós mesmos. Não sabemos que conseqüências terão um dia, uma hora ou um momento, e nunca devemos começar o dia sem encomendar nossos caminhos ao Pai celeste. Anjos Seus são comissionados para cuidarem de nós, e se nos colocarmos sob sua proteção, no tempo de perigo estarão à nossa destra. Quando inconscientemente estivermos em perigo de exercer influência má, os anjos estarão ao nosso lado, orientando-nos para um melhor procedimento, escolhendo-nos as palavras, e influenciando-nos as ações. Assim, nossa influência pode ser silenciosa e inconsciente, mas forte para atrair outros a Cristo e ao mundo celeste. Tempo PJ 182 2 Nosso tempo pertence a Deus. Cada momento é Seu, e estamos sob a mais solene obrigação de aproveitá-lo para Sua glória. De nenhum talento que nos concedeu requererá Ele mais estrita conta do que de nosso tempo. PJ 182 3 O valor do tempo supera toda computação. Cristo considerava precioso todo momento, e assim devemos considerá-lo. A vida é muito curta para ser esbanjada. Temos somente poucos dias de graça para nos prepararmos para a eternidade. Não temos tempo para dissipar, tempo para devotar aos prazeres egoístas, tempo para contemporizar com o pecado. Agora é que nos devemos formar o caráter para a futura vida imortal. Agora é que nos devemos preparar para o juízo investigativo. PJ 182 4 A família humana apenas começou a viver quando principia a morrer, e o trabalho incessante do mundo findará em nada se não se adquirir verdadeiro conhecimento em relação à vida eterna. O homem que aprecia o tempo como seu dia de trabalho, habilitar-se-á para a mansão e para a vida que é imortal. Foi-lhe bom ter nascido. PJ 183 1 Somos advertidos a remir o tempo. O tempo esbanjado nunca poderá ser recuperado, porém. Não podemos fazer voltar atrás nem sequer um momento. A única maneira de podermos remir nosso tempo consiste em utilizar o melhor possível o que nos resta, tornando-nos coobreiros de Deus em Seu grande plano de redenção. PJ 183 2 Dá-se no homem que faz isto uma transformação de caráter. Torna-se um filho de Deus, um membro da família real, um filho do celeste Rei. É qualificado para a companhia dos anjos. Agora é o tempo de trabalharmos para a salvação de nossos semelhantes. Há quem pense que tudo quanto dele se exige é dar dinheiro para a causa de Cristo; o tempo precioso em que poderia fazer serviço pessoal, para Ele passa inutilmente. Mas o privilégio e dever de todos os que têm saúde e força, é prestar serviço ativo para Deus. Todos têm que trabalhar na conquista de almas para Cristo. Donativos não podem substituir isto. PJ 183 3 Todo momento está carregado de conseqüências eternas. Devemos estar preparados para prestar serviço em qualquer momento. A oportunidade que agora temos de falar palavras de vida a alguma alma necessitada, pode nunca mais apresentar-se. Deus pode dizer a alguém: "Esta noite te pedirão a tua alma" (Lucas 12:20), e por nossa negligência a mesma pode não estar preparada. No grande dia do juízo, como prestaremos contas a Deus? PJ 183 4 A vida é muito solene para ser absorvida em negócios terrenos e temporais, em um remoinho de cuidados e ansiedades pelas coisas terrenas que são apenas um átomo em comparação com as de interesse eterno. Contudo, Deus nos chamou para servi-Lo nos afazeres temporais da vida. Diligência nesta obra é tanto parte da religião verdadeira como a devoção. A Bíblia não apóia a ociosidade, que é a maior maldição de nosso mundo. Todo homem e mulher verdadeiramente convertidos serão diligentes trabalhadores. PJ 183 5 Do justo emprego do tempo depende nosso êxito no conhecimento e cultura mental. A cultura do intelecto não precisa ser tolhida por pobreza, origem humilde ou circunstâncias desfavoráveis, contanto que se aproveitem os momentos. Alguns momentos aqui e outros ali, que poderiam ser dissipados em conversas inúteis; as horas matutinas tantas vezes desperdiçadas no leito; o tempo gasto em viagens de bonde ou trem; ou em espera na estação; os minutos de espera pelas refeições, de espera pelos que são impontuais -- se se tivesse um livro à mão, e estes retalhos de tempo fossem empregados estudando, lendo ou meditando, que não poderia ser conseguido! O propósito resoluto, a aplicação persistente e cautelosa economia de tempo, habilitarão os homens para adquirirem conhecimento e disciplina mental que os qualificarão para quase qualquer posição de influência e utilidade. PJ 184 1 É o dever de todo cristão adotar hábitos de ordem, perfeição e presteza. Não há desculpa para a morosidade e imperfeição em trabalho de qualquer natureza. Quando alguém está sempre trabalhando, e a tarefa nunca está concluída, é porque a mente e o coração não estão na obra. Os vagarosos, e que trabalham sem o competente preparo, deveriam reconhecer que essas são faltas para serem corrigidas. Precisam exercitar a mente em planejar como utilizar o tempo para alcançar os melhores resultados. Com tino e método alguns conseguirão em cinco horas o mesmo trabalho que outros em dez. Muitos que são encarregados de tarefas domésticas estão sempre labutando, não porque tenham tanto para fazer, mas por não planejarem como poupar tempo. Por causa de suas maneiras morosas e lerdas fazem do pouco trabalho muito. Mas todos quantos quiserem podem vencer estes hábitos falhos e lentos. Devem ter um alvo definido em sua ocupação. Decidam quanto tempo requer certo trabalho, e então se esforcem para executá-lo no dado tempo. O exercício da força de vontade tornará as mãos mais ágeis. PJ 184 2 Pela falta de decisão de se reformarem radicalmente, as pessoas podem tornar-se arraigadas em maus costumes; ou, pelo cultivo de todas as suas faculdades, adquirir a capacidade de fazer o melhor serviço. Serão procuradas em toda e qualquer parte. Serão apreciadas por tudo de que são dignas. Muitas crianças e jovens dissipam o tempo que poderia ser empregado no desempenho de ocupações domésticas, o que mostraria interesse amoroso no pai e na mãe. Os jovens poderiam tomar sobre os ombros fortes muitas responsabilidades que alguém precisa suportar. PJ 184 3 A vida de Cristo, desde os mais tenros anos, foi uma vida de fervorosa atividade. Não vivia para satisfazer-Se. Era Filho do Deus infinito, não obstante trabalhava com Seu pai José na carpintaria. Seu ofício era significativo. Viera a este mundo para edificar caracteres, e como tal toda a Sua obra era perfeita. Em todo o Seu trabalho secular manifestou a mesma perfeição que nos caracteres que transformava por Seu divino poder. É nosso modelo. PJ 184 4 Os pais devem ensinar a seus filhos o valor e o bom uso do tempo. Ensinai-lhes que é digno esforçar-se para fazer algo que honre a Deus e abençoe a humanidade. Mesmo na infância podem ser missionários para Deus. PJ 185 1 Os pais não podem cometer pecado maior que permitir que seus filhos nada tenham para fazer. As crianças aprendem logo a amar a ociosidade, e tornam-se homens e mulheres inúteis e sem recursos. Quando tiverem idade suficiente para ganhar a sua subsistência e achar ocupação, trabalharão de modo negligente e preguiçoso, e contudo esperarão ser remunerados como se fossem fiéis. Há grande diferença entre esta classe de trabalhadores e a dos que reconhecem o dever de serem mordomos de confiança. PJ 185 2 Hábitos indolentes e descuidosos tolerados no trabalho secular serão introduzidos na vida religiosa, e nos tornarão incapazes de fazer obra eficiente para Deus. Muitos que pelo trabalho aplicado seriam uma bênção para o mundo, foram arruinados pela ociosidade. A falta de ocupação e de propósito inabalável abre a porta para milhares de tentações. Más companhias e hábitos viciosos depravam a mente e a alma, e a conseqüência é ruína para esta vida e para a vindoura. Qualquer que seja o ramo de trabalho em que estejamos empenhados, a Palavra de Deus nos ensina a não ser "vagarosos no cuidado", e a ser "fervorosos no espírito, servindo ao Senhor". Romanos 12:11. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças" (Eclesiastes 9:10), "sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis." Colossences 3:24. Saúde PJ 185 3 É a saúde uma bênção de que poucos apreciam o valor; contudo, dela depende em grande parte a eficiência de nossas forças mentais e físicas. Nossos impulsos e paixões têm sua sede no corpo, e o mesmo deve ser conservado na melhor condição física e sob as melhores influências espirituais, para que façamos o melhor uso de nossos talentos. PJ 185 4 Tudo que nos diminui a força física enfraquece a mente e a torna menos capaz de discernir entre o bem e o mal. Ficamos menos aptos para escolher o bem, e temos menos força de vontade para fazer aquilo que sabemos ser justo. PJ 185 5 O mau uso de nossas forças físicas abrevia o período de tempo em que nossa vida pode ser usada para a glória de Deus. E nos incapacita para cumprir a obra que Deus nos deu para fazer. Condescendendo com a formação de maus hábitos, recolhendo-nos tarde, satisfazendo o apetite com prejuízo da saúde, pomos os fundamentos da debilidade. Negligenciando os exercícios corporais, fatigando em excesso a mente ou o corpo, desequilibramos o sistema nervoso. Os que assim desconsiderando as leis naturais, encurtam a vida e se desqualificam para a obra, são culpados de roubo para com Deus. E também estão roubando a seus semelhantes. A oportunidade de abençoar a outros, que é justamente a obra para cuja execução Deus os enviou ao mundo, foi abreviada por seu próprio procedimento. E incapacitaram-se para fazer mesmo aquilo que poderiam ter realizado em espaço de tempo mais breve. O Senhor considera-nos culpados quando por nossos hábitos prejudiciais privamos o mundo do bem. PJ 186 1 Transgressão da lei física é transgressão da lei moral; pois Deus tanto é autor de uma como da outra. Sua lei está escrita com Seu próprio dedo em cada nervo, cada músculo e cada faculdade que confiou ao homem. E todo abuso de qualquer parte de nosso organismo é uma infração dessa lei. PJ 186 2 Todos devem ter inteligente conhecimento da anatomia humana, para poderem conservar o corpo em condição de executar a obra do Senhor. Cuidadosamente deve ser a vida física preservada e desenvolvida para que pela humanidade possa a natureza divina ser revelada em sua plenitude. A relação do organismo físico com a vida espiritual é um dos ramos mais importantes da educação. Deve receber cuidadosa atenção no lar e na escola. Todos precisam enfronhar-se em sua constituição física e nas leis que regem a vida natural. Quem permanece em ignorância voluntária das leis de seu físico, e as viola por ignorância, está pecando contra Deus. Todos devem colocar-se na melhor relação possível com a vida e a saúde. Nossos hábitos devem ser submetidos ao domínio de uma mente que por sua vez esteja sob a direção de Deus. PJ 186 3 "Não sabeis", diz o apóstolo Paulo, "que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Força PJ 186 4 Não só devemos amar a Deus de todo o coração, mente e alma, como também com todas as forças. Inclui isto o uso pleno e inteligente das forças físicas. PJ 186 5 Cristo era obreiro fiel tanto nas coisas temporais quanto nas espirituais, e em toda a Sua obra tinha a resolução de fazer a vontade do Pai. As coisas do Céu e da Terra têm conexão mais íntima, e estão mais diretamente sob a superintendência de Cristo, do que muitos reconhecem. Foi Cristo que planejou a disposição do primeiro tabernáculo terreno. Deu toda especificação a respeito do levantamento do templo de Salomão. Ele, que em Sua vida terrena trabalhava como carpinteiro na vila de Nazaré, foi o arquiteto celeste que ideou o plano do edifício sagrado onde Seu nome deveria ser honrado. PJ 187 1 Foi Cristo que deu sabedoria aos edificadores do tabernáculo para executarem o mais primoroso trabalho artístico. Disse: "Eis que Eu tenho chamado por nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência em todo artifício. E eis que Eu tenho posto com ele a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todo aquele que é sábio de coração, para que façam tudo o que te tenho ordenado." Êxodo 31:2, 3, 6. PJ 187 2 Deus deseja que Seus servos em todo ramo O contemplem como o Doador de tudo quanto possuem. Todas as boas invenções e melhoramentos têm origem nAquele que é maravilhoso em conselho e excelente em obra. O contato hábil da mão do médico, seu poder sobre nervo e músculo, seu conhecimento da delicada estrutura do corpo, são a sabedoria do poder divino que deve ser usada para auxiliar os sofredores. A perícia com que o carpinteiro usa o martelo, a força com que o ferreiro faz tinir a bigorna, vêm de Deus. Confiou aos homens talentos, e espera que Lhe peçam conselho. O que quer que façamos, qualquer que seja o ramo da obra em que nos empenhemos, deseja Ele dirigir-nos a mente para que façamos obra perfeita. PJ 187 3 Religião e ocupação não são duas coisas separadas; são uma. A religião da Bíblia deve estar entrelaçada com tudo quanto fazemos ou falamos. Os agentes divinos e humanos devem combinar tanto em empreendimentos espirituais quanto em temporais. Devem unir-se em todos os projetos humanos, nos trabalhos mecânicos e agrícolas, nas empresas mercantis e científicas. Deve haver cooperação em todos os ramos da atividade cristã. PJ 187 4 Deus proclamou os princípios pelos quais, somente, é possível esta cooperação. Sua glória deve ser o motivo de todos os Seus colaboradores. Tudo que fizermos deve originar-se no amor de Deus, e ser consoante Sua vontade. PJ 187 5 É tão importante fazer a vontade de Deus em estabelecer um edifício, como o é em tomar parte num culto religioso. E se os obreiros seguirem os justos princípios na formação do caráter, então na construção de cada edifício crescerão em graça e sabedoria. PJ 187 6 Mas Deus não aceitará os maiores talentos nem os mais esplêndidos cultos, se o eu não for apresentado como sacrifício vivo a consumir-se sobre o altar. A raiz precisa ser santa, senão não haverá frutos aceitáveis a Deus. PJ 187 7 O Senhor fez de Daniel e José administradores capazes. Podia por meio deles atuar porque não viviam para satisfazer às inclinações próprias, mas para agradar a Deus. PJ 187 8 O caso de Daniel tem uma lição para nós. Revela o fato de que o homem de negócios não é necessariamente homem astuto, esperto. Pode ser instruído por Deus a cada passo. Daniel, ao mesmo tempo em que era primeiro-ministro do reino de Babilônia, era profeta de Deus e recebia a luz da inspiração divina. Estadistas mundanos e ambiciosos são representados na Palavra de Deus como a relva que cresce, e como a flor da erva que fenece. Contudo o Senhor deseja ter a Seu serviço homens inteligentes, qualificados para os vários ramos da obra. Há necessidade de homens de negócios que entreteçam em todas as transações os grandes princípios da verdade. E seus talentos devem ser aperfeiçoados pelo mais completo estudo e prática. Se os homens em qualquer ramo de trabalho precisam aproveitar as oportunidades para se tornarem sábios e eficientes, tanto mais aqueles que empregam sua perícia em edificar o reino de Deus no mundo. De Daniel sabemos que em todas as suas transações comerciais, quando submetidas ao exame mais severo, não se podia encontrar uma falta ou erro. Era um modelo de como devem ser todos os homens de negócios. Sua história mostra o que pode ser conseguido por alguém que consagra ao serviço de Deus toda a energia do cérebro, ossos e músculos, do coração e da vida. Dinheiro PJ 188 1 Deus também confia aos homens meios. Dá-lhes a capacidade de ganhar riquezas. Umedece o solo com o orvalho do céu e com a chuva que refresca. Dá a luz do Sol que aquece a terra, despertando para a vida as coisas da natureza e fazendo com que floresçam e produzam fruto. E requer a devolução do que Lhe pertence. PJ 188 2 O dinheiro não nos foi dado para honrarmos e glorificarmos a nós mesmos. Como mordomos fiéis devemos usá-lo para a honra e glória de Deus. Alguns pensam que apenas parte de seus meios é do Senhor. Ao porem de parte uma cota para fins religiosos e caritativos, consideram o restante como sua propriedade, que podem usar como julgam conveniente. Erram nisso, porém. Tudo quanto possuímos é do Senhor, e Lhe somos responsáveis pelo uso que fazemos. No uso de cada centavo deve ser visto se amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. PJ 188 3 O dinheiro é de grande valor, porque pode realizar grande bem. Nas mãos dos filhos de Deus é alimento para o faminto, água para o sedento, vestido para o nu. É proteção para o opresso, e meio para socorrer o enfermo. Mas o dinheiro não é de mais valor que a areia, a não ser que o empreguemos para prover as necessidades da vida, para bênção de outros, e para o desenvolvimento da obra de Cristo. Riqueza acumulada não é somente inútil, como uma maldição. Nesta vida é uma armadilha para a pessoa, por desviar as afeições do tesouro celeste. No grande dia de Deus seu testemunho contra os talentos não usados e as oportunidades negligenciadas, condenará o seu possuidor. A Escritura diz: "Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tito 5:1-4. PJ 189 1 Cristo não sanciona, porém, o uso pródigo e extravagante dos bens. Sua lição de economia: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca" (João 6:12), é para todos os Seus seguidores. Quem reconhecer que seu dinheiro é um talento de Deus, utilizá-lo-á economicamente, e sentirá que o poupar para poder dar, lhe é um dever. PJ 189 2 Quanto mais gastarmos em ostentação e satisfação dos prazeres, tanto menos teremos para alimentar o faminto e vestir o nu. Todo níquel usado desnecessariamente tira a oportunidade preciosa de fazer o bem. Roubam-se a Deus a honra e glória que para Ele deviam refluir pelo aproveitamento dos talentos por Ele outorgados. Afeto e cordialidade PJ 189 3 O afeto, os impulsos generosos, e a pronta apreensão das coisas espirituais são talentos preciosos, e colocam o seu possuidor sob pesada responsabilidade. Todos devem ser empregados no serviço de Deus; porém, nisso muitos erram. Satisfeitos com essas qualidades, deixam de introduzi-las no serviço ativo por outros. Lisonjeiam-se de que se tivessem oportunidade, se as circunstâncias fossem favoráveis, fariam grande e boa obra. Aguardam, porém, a oportunidade. Desprezam a mesquinhez do pobre avarento que nega uma esmola até ao necessitado. Vêem que ele está vivendo para si e é responsável pelos talentos mal empregados. Com muita complacência fazem contraste entre eles e esses homens mesquinhos, sentindo que sua condição é mais favorável que a do vizinho desumano. Entretanto, enganam a si mesmos. As aptidões não usadas somente lhes aumenta a responsabilidade. Os que possuem grandes afeições estão sob a obrigação para com Deus de empregá-las não unicamente para com os amigos, mas para com todos os que necessitam de seu auxílio. Vantagens sociais são talentos e devem ser usados para benefício de todos os que estão ao alcance de nossa influência. O amor que mostra bondade somente com poucos, não é amor, mas egoísmo. De modo algum atuará para o bem nem para a glória de Deus. Os que assim não usam os talentos do Mestre, são ainda mais culpados que aqueles pelos quais sentem aversão. A eles será dito: Vocês souberam a vontade do Mestre mas não a cumpriram. Talentos multiplicados pelo uso PJ 190 1 Talento usado, talento multiplicado. O êxito não é resultado do acaso, nem do destino; é a operação da providência de Deus, a recompensa da fé e discrição, da virtude e do esforço perseverante. O Senhor deseja que utilizemos todos os dons que possuímos; e se assim fizermos teremos maiores dons para empregar. Não nos concede de maneira sobrenatural as qualidades de que carecemos, mas ao utilizarmos a que temos, trabalhará conosco, tonificando e fortalecendo cada faculdade. Por todo sacrifício sincero e cordial no serviço do Mestre, nossas faculdades aumentarão. Enquanto nos entregamos como instrumentos para a operação do Espírito Santo, a graça de Deus opera em nós para que reneguemos velhas e fortes tendências formando novos hábitos. Acariciando as sugestões do Espírito, e a elas obedecendo, nosso coração se dilatará para receber mais e mais de Seu poder, e para fazer maior e melhor obra. Energias adormecidas são despertadas, e faculdades paralisadas recebem nova vida. PJ 190 2 O obreiro humilde, que obedientemente responde ao apelo de Deus, pode estar certo de que receberá a assistência divina. Aceitar responsabilidade tão grande e sagrada, por si só eleva o caráter. Estimula à atividade as mais elevadas forças mentais e espirituais, e fortalece e purifica a mente e o coração. Pela fé no poder de Deus é maravilhoso quão forte se torna um homem débil, quão decididos seus esforços, quão fecundos de grandes resultados. Quem principia com pouco conhecimento, e de modo humilde fala o que sabe, ao passo que procura diligentemente mais sabedoria, achará todo o tesouro celestial aguardando seu pedido. Quanto mais procurar comunicar luz, mais luz receberá. Quanto mais alguém experimentar explicar a Palavra de Deus a outros com amor, mais clara ela se tornará para ele. Quanto mais usarmos nosso conhecimento e exercitarmos nossas faculdades, maior conhecimento e capacidade teremos. PJ 190 3 Todo esforço feito para Cristo reverterá em bênçãos para nós mesmos. Se usarmos nossos meios para Sua glória, Ele nos dará mais. Se tentarmos ganhar outros para Cristo, manifestando em nossas orações preocupação por eles, nosso coração palpitará pela influência vivificadora da graça de Deus; nossos próprios afetos arderão com mais divino fervor; toda a nossa vida cristã será mais e mais uma realidade, mais sincera e mais devota. PJ 190 4 O valor do homem é calculado no Céu de acordo com a capacidade do coração de conhecer a Deus. Esse conhecimento é a fonte da qual origina todo o poder. Deus criou o homem para que toda faculdade fosse faculdade da mente divina, e sempre procura pôr a mente humana em associação com a divina. Oferece-nos o privilégio de cooperar com Cristo, revelando Sua graça ao mundo, para que recebamos conhecimento crescente das coisas celestes. PJ 191 1 Olhando para Cristo adquirimos visão mais brilhante e distinta de Deus, e pela contemplação somos transformados. A benignidade e o amor para com nossos semelhantes tornam-se um instinto natural. Desenvolvemos caráter que é uma cópia do divino. Crescendo à Sua semelhança, ampliamos nossa capacidade de conhecer a Deus. Mais e mais entramos em comunhão com o mundo celeste, e temos poder incessantemente crescente de receber as riquezas do conhecimento e sabedoria da eternidade. O único talento PJ 191 2 O homem que recebeu um talento "foi, e cavou na terra, e escondeu o dinheiro do seu senhor". Mateus 25:18. PJ 191 3 O que recebera a menor dádiva deixou o talento improdutivo. Nisto é feita uma advertência a todos quantos pensam que a pequenez de seus dotes os dispense do trabalho para Cristo. Se pudessem fazer alguma grande coisa, com que boa vontade não a empreenderiam! Mas, por só poderem servir em coisas pequenas, cuidam ser justificados de nada fazer. Erram nisto. O Senhor prova o caráter na distribuição dos dons. O homem que negligenciou negociar com seu talento mostrou-se servo infiel. Se houvesse recebido cinco talentos, tê-los-ia enterrado como fez com o único. Seu mau emprego do talento único mostrou que desprezava as dádivas do Céu. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito." Lucas 16:10. A importância das coisas pequenas é muitas vezes desapreciada por serem insignificantes; porém suprem muito da real disciplina da vida. Realmente não há coisas não essenciais na vida cristã. A formação de nosso caráter será cheia de perigos, se avaliarmos mal a importância das coisas pequenas. PJ 192 4 "Quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito." Lucas 16:10. Pela infidelidade mesmo nos mínimos deveres, o homem rouba seu Criador do serviço que Lhe é devido. Esta infidelidade prejudica-o a ele próprio. Deixa de ganhar a graça, o poder, e a força de caráter que podem ser recebidos por uma entrega sem reservas a Deus. Vivendo apartado de Cristo está sujeito às tentações de Satanás e comete erros em sua obra para o Mestre. Por não ser guiado pelos justos princípios nas minúcias, deixa de obedecer a Deus nas grandes coisas que considera sua obra especial. Os defeitos acariciados no trato dos pormenores da vida, passam aos afazeres mais importantes. Procede segundo os princípios a que se acostumou. Assim as ações repetidas formam hábitos, os hábitos formam o caráter, e pelo caráter é decidido nosso destino para este tempo e para a eternidade. PJ 192 1 Somente pela fidelidade nas coisas pequenas é que a alma pode ser qualificada para agir com fidelidade sob responsabilidades maiores. Deus pôs Daniel e seus companheiros em contato com os grandes de Babilônia para que estes gentios conhecessem os princípios da verdadeira religião. Em meio duma nação de idólatras, Daniel devia representar o caráter de Deus. Como se tornou ele apto para uma posição de tanta confiança e honra? Foi a fidelidade nas minúcias que lhe deu integridade à vida toda. Honrava a Deus nos menores deveres, e o Senhor com ele cooperava. A Daniel e seus companheiros Deus outorgou "o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda visão e sonhos". Daniel 1:17. PJ 192 2 Assim como Deus chamou a Daniel para testemunhar dEle em Babilônia, também nos chama a nós para sermos Suas testemunhas no mundo hoje em dia. Deseja que revelemos aos homens os princípios de Seu reino, tanto nos menores como nos maiores afazeres da vida. PJ 192 3 Em Sua vida terrena, Cristo deu a lição da atenção cuidadosa às minúcias. A grande obra da redenção pesava-Lhe continuamente sobre a alma. Ensinando ou curando, exercia ao extremo todas as energias da mente e do corpo; contudo notava as coisas mais simples da vida e da natureza. Suas lições mais instrutivas foram aquelas com que ilustrou as grandes verdades do reino de Deus pelas coisas singelas da natureza. Não passava por alto as necessidades do mais humilde de Seus servos. Seu ouvido percebia todo clamor de necessidade. Estava alerta ao contato da mulher enferma em meio da turba; o mais leve toque da fé recebia resposta. Ao despertar da morte a filha de Jairo, recomendou aos pais que lhe dessem alguma coisa para comer. Quando por Sua força poderosa ressurgiu da sepultura, não desdenhou dobrar e colocar cuidadosamente no lugar apropriado a mortalha em que fora envolto. PJ 192 4 A obra a que como cristãos somos chamados é de cooperar com Cristo na salvação de almas. Por um pacto com Ele, comprometemo-nos a fazê-la. Negligenciar a obra é provar-se desleal a Cristo. Para cumprir esta tarefa, porém, precisamos seguir o Seu exemplo de atenção fiel e conscienciosa às coisas mínimas. Este é o segredo do êxito em cada ramo de esforço e influência cristã. PJ 193 1 O Senhor deseja que Seu povo alcance o último degrau da escada, para que possa glorificá-Lo por possuir as aptidões que outorga de boa vontade. Pela graça de Deus foi feita toda provisão para revelarmos ao mundo que procedemos consoante planos melhores que os por ele seguidos. Devemos mostrar superioridade de intelecto, compreensão, perícia e conhecimento; porque cremos em Deus e em Seu poder de atuar no coração humano. PJ 193 2 Os que, porém, não possuem grandes dons não devem desanimar. Utilizem o que têm, vigiando fielmente cada ponto fraco do caráter, e procurando fortalecê-lo pela graça de Deus. Em toda ação da vida devemos demonstrar fidelidade e lealdade, cultivando os predicados que nos habilitarão para cumprir a obra. PJ 193 3 Os hábitos de negligência devem ser vencidos resolutamente. Muitos apresentam o esquecimento como desculpa suficiente para os erros mais crassos. Não possuem, porém, tanto como outros, faculdades mentais? Por isso devem educar a mente a ser retentiva. É pecado esquecer; é pecado ser negligente. Se formardes o hábito da negligência, podereis negligenciar a salvação da própria alma, e finalmente verificareis que não estais preparados para o reino de Deus. PJ 193 4 As grandes verdades devem ser introduzidas nas pequenas coisas. A religião prática deve ser manifestada nos pequenos deveres da vida diária. A melhor habilitação que alguém pode ter é obedecer implicitamente à Palavra do Senhor. PJ 193 5 Porque não são ligados diretamente com algum trabalho religioso, muitos cuidam que sua vida é inútil; que nada estão fazendo para a promoção do reino de Deus. Isto é um erro, porém. Se seu trabalho é o que alguém precisa fazer, não devem acusar-se de inúteis na grande família de Deus. Os deveres mais humildes não devem ser desprezados. Todo trabalho honesto é uma bênção, e fidelidade no mesmo mostra aptidão para posições de maior confiança. PJ 193 6 Conquanto modesto, qualquer trabalho feito para Deus com completa abnegação, Lhe é tão aceitável quanto o serviço mais elevado. Não é pequena, oferta alguma dada de coração sincero e alegria de alma. PJ 193 7 Onde quer que estejamos, Cristo ordena cumprir o dever que se nos apresenta. Se for no lar, procurai de boa vontade e sinceramente torná-lo um lugar aprazível. Se sois mãe, educai os filhos para Cristo. Este trabalho é tão verdadeiramente para Deus como o é o do pastor no púlpito. Se vossa ocupação é na cozinha, procurai ser cozinheira perfeita. Preparai alimento que seja saudável, nutritivo e apetitoso. Empregando os melhores ingredientes na preparação do alimento, lembrai que também deveis ocupar a mente com os melhores pensamentos. Se vosso trabalho é lavrar a terra ou ocupar-vos em qualquer outro serviço ou negócio, fazei um sucesso do dever presente. Aplicai a mente no que estais fazendo. Representai a Cristo em toda a vossa obra. Fazei como Ele o faria em vosso lugar. PJ 194 1 Por menor que seja o vosso talento, Deus tem para ele um lugar. Esse único talento, usado sabiamente, cumprirá a obra designada. Pela fidelidade nos pequenos deveres, devemos trabalhar no plano da adição, e Deus por nós operará no de multiplicação. Estas minúcias tornar-se-ão então as mais preciosas influências na obra. PJ 194 2 Que uma fé viva se entreteça como fios de ouro na execução dos menores deveres. Então, a labuta diária toda promoverá o crescimento cristão. Contemplaremos então a Cristo continuamente. O amor a Ele dará força vital a tudo quanto empreendermos. Assim podemos, pelo bom uso de nossos talentos, ligar-nos por uma cadeia áurea ao mundo superior. Esta é a verdadeira santificação; porque a santificação consiste na realização alegre de nossos deveres cotidianos em obediência perfeita à vontade de Deus. PJ 194 3 Muitos cristãos esperam, porém, que lhes seja confiada grande obra. Por não poderem achar lugar assaz grande para satisfazer sua ambição, deixam de cumprir fielmente os deveres comuns da vida. Estes lhes parecem sem interesse. Dia após dia deixam escapar oportunidades de mostrar fidelidade a Deus. Enquanto esperam alguma grande tarefa, a vida passa, seus propósitos ficam por cumprir, sua obra por ser executada. Os talentos devolvidos PJ 194 4 "Muito tempo depois, veio o Senhor daqueles servos e ajustou contas com eles." Mateus 25:19. Quando o Senhor ajustar contas com Seus servos, será examinado o que foi ganho com cada talento. O trabalho feito revelará o caráter do obreiro. PJ 194 5 Os que receberam cinco e dois talentos devolveram ao Senhor as dádivas confiadas, com o acréscimo. Fazendo isso não reivindicaram para si mérito algum. Seus talentos são os que lhes foram entregues; ganharam outros talentos, mas não poderiam tê-los ganho sem o depósito. Vêem que apenas fizeram seu dever. O capital era do Senhor. O lucro é Seu. Se o Salvador não lhes houvesse concedido amor e graça, teriam falido para a eternidade. PJ 194 6 Porém, quando o Mestre recebe os talentos, aprova e recompensa os obreiros como se o mérito lhes fosse próprio. Seu semblante resplandece de alegria e satisfação. Deleita-se em poder outorgar-lhes bênçãos. Galardoa-os por todo o serviço e sacrifício, não por dever-lhes alguma coisa, mas porque Seu coração transborda de amor e ternura. PJ 195 1 "Bem está, servo bom e fiel", disse, "sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. PJ 195 2 É a fidelidade, a lealdade para com Deus, o serviço de amor, que obtém a aprovação divina. Todo impulso do Espírito Santo que leva os homens à bondade e a Deus, é anotado nos livros do Céu, e no dia de Deus serão louvados os obreiros pelos quais Ele operou. PJ 195 3 Entrarão no gozo do Senhor quando virem no reino aqueles que foram redimidos por seu intermédio. E terão o privilégio de participar de Sua obra lá, porque se habilitaram pela participação na mesma aqui. O que seremos no Céu, é o reflexo do que somos agora no caráter e no serviço sagrado. De Si mesmo, diz Cristo: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir." Mateus 20:28. Esta, Sua obra na Terra, é-o também no Céu. E nosso galardão por trabalhar com Cristo neste mundo, consiste na maior capacidade e mais amplo privilégio de colaborar com Ele no mundo por vir. "Chegando também o que recebera um talento disse: Senhor, eu conhecia-te, que és homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu." Mateus 25:24, 25. PJ 195 4 Assim desculpam os homens seu menosprezo das dádivas de Deus. Vêem a Deus como severo e tirano, que espreita para denunciar-lhes os erros, e puni-los com Seus juízos. Culpam-nO de exigir o que nunca deu, e ceifar o que não semeou. PJ 195 5 Muitos há que em seu coração acusam a Deus de ser Senhor severo, porque deles reclama posses e serviço. Nada, porém, podemos entregar a Deus, que já não Lhe pertença. "Porque tudo vem de Ti", disse o rei Davi, "e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. Todas as coisas são de Deus não somente pela criação como pela redenção. Todas as bênçãos desta vida e da futura nos são concedidas assinaladas com a cruz do Calvário. Portanto, falsa é a acusação de que Deus é um Senhor duro e que ceifa onde não semeou. PJ 195 6 O senhor não refuta a acusação do servo ímpio, embora injusta; porém, baseando-se em sua própria declaração, mostra-lhe que seu procedimento é indesculpável. Tinham sido providos os meios e as maneiras de o talento ser empregado para o proveito do proprietário. "Devias, então", disse ele, "ter dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o que é meu com os juros." Mateus 25:27. PJ 195 7 Nosso Pai celeste nada mais nem menos requer do que o que nos deu capacidade para executar. Não sobrecarrega Seus servos com fardos que não podem suportar. "Conhece a nossa estrutura; lembra-Se de que somos pó." Salmos 103:14. Tudo que requer de nós, podemos render-Lhe pela graça divina. PJ 195 8 "E a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá." Lucas 12:48. Seremos considerados individualmente responsáveis por fazer um jota menos do que somos capazes. O Senhor mede com exatidão toda possibilidade para o serviço. As capacidades não utilizadas serão levadas em conta, tanto quanto as que empregamos. Deus nos tem como responsáveis por tudo que nos poderíamos tornar pelo bom uso de nossos talentos. Seremos julgados de acordo com o que nos cumpria fazer, mas que não executamos por não usar nossas faculdades para glorificar a Deus. Mesmo que não percamos a salvação, reconheceremos na eternidade a conseqüência de não empregarmos nossos talentos. Haverá eterna perda por todo conhecimento e capacidade não alcançados, que poderíamos ter ganho. PJ 196 1 Mas se nos entregarmos completamente a Deus, e seguirmos Sua direção em nosso trabalho, Ele mesmo Se responsabilizará pelo cumprimento. Não quer que nos entreguemos a conjeturas sobre o êxito de nossos esforços honestos. Nem uma vez devemos pensar em fracasso. Devemos cooperar com Aquele que não conhece fracasso. PJ 196 2 Não devemos falar de nossa fraqueza e inaptidão. Com isso manifestamos desconfiança para com Deus, e negamos Sua palavra. Ao murmurarmos por causa de nossas cargas, ou recusarmos assumir as responsabilidades de que nos encarregou, estamos dizendo virtualmente que Ele é um Senhor severo e que requer o que não nos deu força para executar. PJ 196 3 Muitas vezes somos inclinados a chamar o espírito do servo preguiçoso, de humildade. A verdadeira humildade é muito diferente, porém. Sermos revestidos de humildade não significa devermos ser de intelecto medíocre, aspirações deficientes, e covardes em nossa vida, esquivando-nos de cargos com medo de não sermos bem-sucedidos. A verdadeira humildade cumpre o propósito de Deus, confiante no Seu poder. PJ 196 4 Deus opera por quem quer. Muitas vezes escolhe os instrumentos mais humildes para as maiores obras; porque Seu poder é revelado na fraqueza do homem. Temos nosso padrão e por ele declaramos uma coisa grande e outra pequena; mas Deus não avalia de conformidade com nossa medida. Não devemos supor que o que para nós é grande o é também para Deus, ou que o que para nós é pequeno também o é para Ele. Não nos compete julgar nossos talentos ou escolher nosso trabalho. Devemos aceitar as incumbências que Deus determinar, devemos suportá-las por Sua Causa, e sempre ir a Ele para obter descanso. Qualquer que seja nosso trabalho, Deus é honrado pelo serviço alegre e feito de todo coração. Compraz-Se ao cumprirmos nossos deveres com gratidão, e regozija-Se por sermos considerados dignos de colaborar com Ele. O talento removido PJ 197 1 A sentença proferida contra o servo preguiçoso foi: "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos." Mateus 25:28. Neste caso, como na recompensa do obreiro fiel, é indicado, não meramente o galardão do juízo final, mas o processo de retribuição gradual nesta vida. Como no mundo natural, assim é no espiritual: Toda habilidade não aproveitada enfraquecerá e definhará. Atividade é a lei da vida; ociosidade é morte. "A manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil." 1 Coríntios 12:7. Empregadas para abençoar a outros, suas dádivas aumentam. Restritas ao serviço do próprio eu, diminuem e são retiradas finalmente. Aquele que recusa repartir o que recebeu, finalmente achará que nada tem para dar. Consente em um processo que certamente atrofia e finalmente aniquila as faculdades da alma. PJ 197 2 Ninguém suponha que possa viver vida de egoísmo, e então, tendo servido aos próprios interesses, entrar no gozo do Senhor. Não puderam participar da alegria de um amor desinteressado. Não se adaptariam às cortes celestes. Não poderiam apreciar a pura atmosfera de amor que impregna o Céu. As vozes dos anjos e a música de suas harpas não lhes agradariam. Para sua mente a ciência do Céu seria um enigma. PJ 197 3 No grande dia de juízo, aqueles que não trabalharam para Cristo, que vagaram sem ter responsabilidade alguma, pensando em si mesmos, e agradando-se a si mesmos, serão postos pelo Juiz de toda a Terra com aqueles que praticaram o mal. Receberão a mesma condenação. PJ 197 4 Muitos que professam ser cristãos desprezam as reivindicações de Deus, e, contudo, não sentem que há injustiça nisso. Sabem que o blasfemo, o assassino, o adúltero, merecem punição; porém eles mesmos acham prazer no culto religioso. Gostam de ouvir a pregação do evangelho e por isto cuidam ser cristãos. Embora tenham passado toda a vida cuidando de si mesmos, ficarão tão surpreendidos como o servo infiel da parábola, ao ouvir a sentença: "Tirai-lhe, pois, o talento." Mateus 25:28. Como os judeus, confundem a honra das bênçãos com o uso que delas deveriam fazer. PJ 197 5 Muitos dos que se eximem de trabalhar para Cristo alegam sua incapacidade para a obra. Fê-los, porém, Deus assim incapazes? Não, nunca. Essa incapacidade é o produto da sua própria inércia, e perpetuada por sua escolha deliberada. Já em seu caráter reconhecem o efeito da sentença: "Tirai-lhe, pois, o talento." O contínuo mau emprego de seus talentos extinguir-lhes-á definitivamente o Espírito Santo, que é a única luz. A sentença: "Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores" (Mateus 25:30), imprime o selo do Céu sobre a escolha que eles mesmos fizeram para a eternidade. ------------------------Capítulo 26 -- Talentos que dão êxito PJ 198 0 Este capítulo é baseado em Lucas 16:1-9. PJ 198 1 Cristo viera num tempo de intenso mundanismo. Os homens tinham subordinado o eterno ao temporal, as exigências do futuro aos afazeres do presente. Tomavam fantasias em lugar de realidades, e realidades por fantasias. Não viam pela fé o mundo invisível. Satanás apresentava-lhes as coisas desta vida como todo-atrativas e todo-absorventes, e eles davam ouvidos às suas tentações. PJ 198 2 Cristo veio para mudar esta ordem de coisas. Procurou quebrar o encanto pelo qual os homens estavam apaixonados e enredados. Em Seus ensinos procurava ajustar as exigências do Céu e da Terra, e dirigir os pensamentos do homem, do presente para o porvir. Chamava-os da prossecução das coisas seculares, para fazer provisão para a eternidade. PJ 198 3 "Havia um certo homem rico", disse, "o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens." Lucas 16:1. O rico depositara todas as suas posses nas mãos deste servo, porém o servo era infiel, e o patrão foi convencido de que era defraudado sistematicamente. Determinou não mais tê-lo a seu serviço, e procedeu a uma análise de suas contas. "Que é isso que ouço de ti?" disse, "presta contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo." Lucas 16:2. PJ 198 4 Com a perspectiva da demissão, o mordomo viu três caminhos abertos à sua escolha. Precisava trabalhar, mendigar ou morrer de fome. E disse consigo mesmo: "Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua conta e, assentando-te já, escreve cinqüenta. Disse depois a outro: E tu quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta." Lucas 16:3-7. PJ 199 1 O servo infiel tornou a outros participantes de sua desonestidade. Defraudou a seu patrão para lhes ser útil e, aceitando este favor, colocavam-se sob a obrigação de recebê-lo como amigo em suas casas. PJ 199 2 "E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente." Lucas 16:8. O homem mundano louvou a sagacidade daquele que o defraudara. O elogio do rico não era, porém, o elogio de Deus. PJ 199 3 Cristo não louvou o mordomo injusto, mas usou de uma ocorrência notória para ilustrar a lição que desejava dar. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça", disse, "para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas 16:9. O Salvador fora censurado pelos fariseus por misturar-Se com os publicanos e pecadores; mas Seu interesse neles não foi diminuído, nem Seus esforços por eles cessou. Viu que seu emprego induzia-os à tentação. Estavam rodeados da sedução do mal. O primeiro passo errado era fácil, e rápida era a degradação a maior desonestidade e mais violentos crimes. Cristo procurava por todos os meios ganhá-los para aspirações mais elevadas e princípios mais nobres. Tinha em vista esse propósito na parábola do mordomo infiel. Havia entre os publicanos justamente tais casos como o apresentado na parábola, e na descrição de Cristo reconheceram seu próprio procedimento. Assim Cristo conseguiu sua atenção e pelo quadro de suas práticas desonestas muitos deles aprenderam uma lição de verdade espiritual. PJ 199 4 A parábola, apesar disso, era falada diretamente aos discípulos. O fermento da verdade fora-lhes dado primeiro, e por eles devia alcançar a outros. Os discípulos a princípio não entendiam muitos dos ensinos de Cristo, e muitas vezes parecia que Suas lições eram quase esquecidas. Sob a influência do Espírito Santo, porém, estas verdades lhes foram posteriormente PJ 199 5 "Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração." Salmos 62:10. PJ 199 6 "Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Porque, certamente, isso se fará asas e voará ao céu como a águia." Provérbios 23:5. "Aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele." Salmos 49:6, 7. PJ 200 1 reavivadas com clareza, e pelos discípulos eram apresentadas vividamente aos novos conversos que se associavam à igreja. PJ 200 2 E o Salvador falava também aos fariseus. Não perdia a esperança de que perceberiam o poder de Suas palavras. Muitos tinham sido convencidos profundamente, e quando ouvissem a verdade pela inspiração do Espírito Santo, não poucos se tornariam crentes em Cristo. PJ 200 3 Os fariseus tentaram difamar a Cristo, acusando-O de misturar-se com os publicanos e pecadores. Agora Ele voltou a condenação contra estes acusadores. A cena conhecida e ocorrida entre os publicanos, expôs aos fariseus, representando tanto sua conduta como mostrando a única maneira pela qual poderiam redimir seus erros. PJ 200 4 Os bens do senhor tinham sido confiados ao mordomo infiel para propósitos beneficentes, mas ele os usou para si. Assim fora com Israel. Deus escolhera a semente de Abraão. Com braço forte libertara-os da escravidão do Egito. Fizera-os depositários da verdade sagrada, para bênção do mundo. PJ 200 5 Confiara-lhes os oráculos vivos para que comunicassem luz aos outros. Mas Seus mordomos usaram essas dádivas para se enriquecerem e exaltarem. PJ 200 6 Os fariseus, cheios de importância e justiça própria, estavam dando má aplicação aos bens emprestados por Deus para usá-los para Sua glória. PJ 200 7 O servo da parábola não fizera provisão para o futuro. Os bens a ele confiados para o benefício de outros, usou-os para si mesmo; porém, pensou só no presente. Quando a mordomia lhe fosse tirada, nada teria que pudesse chamar seu. Mas os bens do senhor ainda estavam em suas mãos, e resolveu usá-los para precaver-se contra futuras dificuldades. Para conseguir isto precisava trabalhar conforme novo plano. Em vez de acumular para si, precisava repartir com outros. Deste modo poderia assegurar amigos que, quando fosse deposto, o haveriam de receber. O mesmo se dava com os fariseus. A mordomia estava prestes a ser deles tirada; e eram solicitados a prover para o futuro. Somente repartindo as dádivas de Deus na vida presente, poderiam prover para a eternidade. PJ 200 8 Depois de narrar a parábola, Cristo disse: "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz." Lucas 16:8. Isso quer dizer que os homens sábios segundo o mundo demonstram mais sabedoria e empenho em servirem-se, do que os professos filhos de Deus no serviço para Ele. Assim era nos dias de Cristo. Assim é hoje. Considerai a vida de muitos que professam ser cristãos. O Senhor os dotou de aptidões, poder e influência; confiou-lhes recursos, para que fossem Seus coobreiros no grande plano da redenção. Todos os Seus dons devem ser usados para abençoar a humanidade, para aliviar o sofredor e o necessitado. Devemos alimentar o faminto, vestir o nu, cuidar das viúvas e dos órfãos, e servir ao aflito e ao abatido. Nunca foi intenção de Deus que houvesse tanta miséria no mundo. Nunca pretendeu que um homem tivesse abundância dos luxos da vida, enquanto os filhos dos outros houvessem de chorar por pão. Os meios supérfluos às necessidades reais da vida são confiados ao homem para o bem e para beneficiar a humanidade. Diz o Senhor: "Vendei o que tendes, e dai esmolas." Lucas 12:33. "Repartam de boa mente e sejam comunicáveis." 1 Timóteo 6:18. "Quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos." Lucas 14:13. "... Que soltes as ligaduras da impiedade, ... desfaças as ataduras do jugo, ... deixes livres os quebrantados, e... despedaces todo o jugo." Isaías 58:6. ... "Repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados. ... Vendo o nu, o cubras" e fartes "a alma aflita." Isaías 58:7, 10. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. Esses são os mandamentos do Senhor. Está o grande corpo de cristãos professos fazendo esta obra? PJ 201 1 Ah! quantos se estão apropriando das dádivas de Deus! Quantos estão comprando uma casa após outra, um terreno após outro. Quantos estão gastando seu dinheiro em prazeres, na satisfação do apetite, em casas, mobílias e vestidos extravagantes. Seus semelhantes são abandonados à miséria e ao crime, à enfermidade e à morte. Multidões estão perecendo sem um olhar de compaixão, sem uma palavra ou ato de simpatia. PJ 201 2 Os homens são culpados de roubo para com Deus. Seu emprego egoísta dos meios rouba ao Senhor a glória que para Ele deveria refluir no alívio da humanidade sofredora e na salvação de pessoas. Estão dissipando os bens a eles confiados. O Senhor declara: "Chegar-Me-ei a vós para juízo, e serei uma testemunha veloz contra... os que defraudam o jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro. ... Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação." Malaquias 3:5, 8, 9. "Eia, pois, agora vós, ricos, ... as vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós. ... Entesourastes para os últimos dias. Deliciosamente, vivestes sobre a Terra, e vos deleitastes. ... Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tito 5:1-3, 5, 4. PJ 201 3 Será exigido de cada um que restitua os dons a ele confiados. No dia do juízo final as riquezas acumuladas pelo homem estarão sem valor. Nada têm que possam chamar seu. PJ 202 1 Aqueles que passam a vida amontoando tesouros, mostram menos sabedoria, e menos bom senso e cuidado pelo seu bem-estar eterno, do que o mordomo infiel quanto ao seu sustento material. Menos sábios que os filhos do mundo em sua geração, são estes professos filhos da luz. Estes são os de quem o profeta declara na visão do grande dia do juízo: "Naquele dia, os homens lançarão às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata e os seus ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem. E meter-se-ão pelas fendas das rochas e pelas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor e por causa da glória da Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra." Isaías 2:20, 21. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça", disse Cristo, "para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas 16:9. Deus, Cristo e os anjos estão todos ministrando aos enfermos, padecentes e pecadores. Entregai-vos a Deus para esta obra, usai Seus dons para este propósito, e entrareis em sociedade com os seres celestes. Vosso coração palpitará em harmonia com o deles. Assemelhar-vos-eis a eles no caráter. Não vos serão estranhos estes moradores dos tabernáculos eternos. Quando as coisas terrestres tiverem passado, os vigias nas portas do Céu vos chamarão bem-vindos. PJ 202 2 E os meios usados para abençoar a outros trarão recompensa. Riquezas bem-empregadas realizarão muito bem. Almas serão ganhas para Cristo. Aqueles que seguem o plano de vida de Cristo, verão nas cortes de Deus aqueles pelos quais trabalharam e se sacrificaram na Terra. Os redimidos com coração grato lembrar-se-ão daqueles que serviram de instrumento em sua salvação. O Céu será precioso para os que foram fiéis na obra da salvação. PJ 202 3 A lição dessa parábola é para todos. Todos serão responsáveis pela graça a eles concedida por Cristo. A vida é muito solene para ser absorvida em negócios temporais e terrenos. O Senhor deseja que transmitamos a outros aquilo que o eterno e invisível nos comunicou. PJ 202 4 Cada ano milhões e milhões de pessoas passam para a eternidade inadvertidas e não salvas. Hora a hora, nas variadas atividades da vida, apresentam-se oportunidades de alcançar e salvar pessoas. E estas oportunidades vêm e vão continuamente. Deus deseja que as aproveitemos o melhor possível. Dias, semanas e meses vão-se passando; temos menos um dia, uma semana, um mês em que fazer nossa obra. Quando muito alguns anos mais, e a voz a que não podemos deixar de responder será ouvida, dizendo: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. PJ 203 1 Cristo intima a cada um a ponderar. Prestai uma conta honesta. Ponde num prato da balança Jesus, que significa tesouro eterno, vida, verdade, Céu e a alegria de Cristo pelos redimidos; no outro, ponde toda a atração que o mundo pode oferecer. Num prato ponde a vossa perdição, e dos que poderíeis ser instrumento para salvar; no outro, para vós e para elas, uma vida que se compare com a vida de Deus. Pesai para agora e para a eternidade. Enquanto estais ocupado nisso, Cristo diz: "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" Marcos 8:36. PJ 203 2 Deus deseja que escolhamos o celestial em vez do terreno. Abre-nos as possibilidades de uma inversão celeste. Deseja prover encorajamento para nossas mais elevadas aspirações e segurança para nosso mais dileto tesouro. Declara: "Farei que um homem seja mais precioso do que o ouro puro e mais raro do que o ouro fino de Ofir." Isaías 13:12. Quando forem consumidas as riquezas que a traça devora e a ferrugem corrói (Mateus 6:19), os seguidores de Cristo poderão rejubilar-se em seu tesouro celeste, em suas riquezas imperecíveis. PJ 203 3 Melhor do que a companhia do mundo é a dos redimidos de Cristo. Melhor que um título para o mais nobre palácio da Terra é o título para as mansões que nosso Salvador foi preparar. E melhor que todas as palavras de louvor terreno, serão as do Salvador aos servos fiéis: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mateus 25:34. PJ 203 4 Aos que dissiparam Seus bens, Cristo ainda dá oportunidade para se assegurarem as riquezas duradouras. Diz Ele: "Dai, e ser-vos-á dado." Lucas 6:38. "Fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói." Lucas 12:33. "Manda aos ricos deste mundo, ... que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. PJ 203 5 Deixe, pois, que sua propriedade o preceda no Céu. Deposite seu tesouro ao lado do trono de Deus. Assegure seu título às inescrutáveis riquezas de Cristo. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas 16:9. ------------------------Capítulo 27 -- A verdadeira riqueza PJ 204 0 Este capítulo é baseado em Lucas 10:25-37. PJ 204 1 Entre os judeus a questão: "Quem é o meu próximo?" (Lucas 10:29) suscitava disputas intermináveis. Não tinham dúvidas quanto aos gentios e samaritanos. Estes eram estrangeiros e inimigos. Mas onde deveria ser feita a distinção entre seu povo e entre as diferentes classes da sociedade? A quem deveriam o sacerdote, o rabino, o ancião, considerar seu próximo? Consumiam a vida num ciclo de cerimônias para se purificarem. O contato com a multidão ignorante e descuidada, ensinavam causar uma mancha que requeria fatigantes esforços para remover. Deveriam eles considerar os "impuros" seu próximo? PJ 204 2 Na parábola do bom samaritano, Cristo respondeu a essa pergunta. Mostrou que nosso próximo não significa unicamente alguém da igreja ou fé a que pertencemos. Não faz referência a nacionalidade, cor ou distinção de classe. Nosso próximo é toda pessoa que carece de nosso auxílio. Nosso próximo é toda pessoa ferida e magoada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus. PJ 204 3 A parábola do bom samaritano foi inspirada pela pergunta de um doutor da lei a Cristo. Enquanto o Salvador estava ensinando, "eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-O e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Lucas 10:25. Os fariseus tinham sugerido esta pergunta ao doutor da lei na esperança de enredar a Cristo em Suas palavras, e espreitavam ansiosamente a resposta. Mas o Salvador não entrou em controvérsia. Exigiu do próprio interlocutor, a resposta. "Que está escrito na lei?" perguntou, "como lês?" Lucas 10:26. Os judeus ainda acusavam Jesus de menosprezar a lei dada no Sinai, mas Ele fez a salvação depender da guarda dos mandamentos de Deus. PJ 204 4 O doutor da lei disse: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. "Respondeste bem", disse Cristo; "faze isso e viverás." Lucas 10:28. PJ 204 5 O doutor da lei não estava satisfeito com a atitude e obras dos fariseus. Estivera estudando as Escrituras com o desejo de aprender sua significação verdadeira. Tinha interesse real na questão, e perguntou com sinceridade: "Que farei?" Lucas 10:25. Em sua resposta a respeito dos reclamos da lei, passou por alto toda a multidão de preceitos cerimoniais e rituais. A estes não deu importância, mas apresentou os dois grandes princípios de que dependem toda a lei e os profetas. O assentimento do Salvador a esta resposta colocou-O em posição vantajosa para com os rabinos. Não podiam condená-Lo por sancionar aquilo que fora proferido por um expositor da lei. PJ 205 1 "Faze isso e viverás", disse Cristo. Lucas 10:28. Em Seus ensinos sempre apresentava a lei como uma unidade divina, mostrando que é impossível guardar um preceito e violar outro; porque um mesmo princípio os anima a todos. O destino do homem será determinado pela obediência a toda a lei. PJ 205 2 Cristo sabia que ninguém poderia obedecer à lei por sua própria força. Desejava induzir o doutor da lei a um estudo mais esclarecido e minucioso para que achasse a verdade. Somente aceitando a virtude e a graça de Cristo podemos observar a lei. A fé na propiciação pelo pecado habilita o homem caído a amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. PJ 205 3 O doutor sabia que não guardara nem os primeiros quatro, nem os últimos seis mandamentos. Foi convencido pelas penetrantes palavras de Cristo, mas em vez de confessar o seu pecado, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, tentou mostrar quão difícil é cumprir os mandamentos. Deste modo esperava rebater a convicção e justificar-se aos olhos do povo. As palavras do Salvador lhe mostraram que a pergunta era desnecessária, pois ele mesmo estava apto para a ela responder. Contudo interrogou novamente, dizendo: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29. PJ 205 4 Outra vez recusou Cristo ser arrastado à controvérsia. Respondeu narrando um incidente, do qual os ouvintes estavam bem lembrados. "Descia um homem", disse, "de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto." Lucas 10:30. PJ 206 5 Na jornada de Jerusalém a Jericó, o viajante precisava atravessar parte do deserto da Judéia. O caminho passava numa garganta rochosa e deserta, infestada de ladrões, e era muitas vezes local de violências. Aí o viajante fora atacado, despojado de tudo quanto possuía de valor, e abandonado meio morto no caminho. Estando nessas condições, um sacerdote por lá passou, viu o homem ferido e maltratado, engolfado em sangue, porém deixou-o sem prestar-lhe auxílio. "Passou de largo." Lucas 10:31. Apareceu então um levita. Curioso de saber o que acontecera, deteve-se e contemplou o sofredor. Estava convicto de seu dever, mas não era um serviço agradável. Desejou não ter vindo por aquele caminho, de modo que não visse o ferido. Persuadiu-se de que não tinha nada com o caso, e também "passou de largo". PJ 206 1 Mas um samaritano que viajava pela mesma estrada, viu a vítima e fez o que os outros recusaram fazer. Com carinho e amabilidade tratou do ferido. "Vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele; e, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar." Lucas 10:33-35. Tanto o sacerdote como o levita professavam piedade, mas o samaritano mostrou que era verdadeiramente convertido. Não lhe era mais agradável fazer o trabalho do que o era para o levita e o sacerdote, porém, no espírito e nos atos provou estar em harmonia com Deus. PJ 206 2 Dando esta lição, Jesus apresentou os princípios da lei de maneira direta e incisiva, mostrando aos ouvintes que eles tinham negligenciado a prática destes princípios. Suas palavras eram tão definidas e acertadas que os ouvintes não podiam achar oportunidade de contestá-las. O doutor da lei não encontrou na lição nada que pudesse criticar. Seu preconceito a respeito de Cristo foi removido. Mas não tinha vencido suficientemente a aversão nacional, para recomendar por nome o samaritano. Ao perguntar Cristo: "Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?" Disse: "O que usou de misericórdia para com ele." Lucas 10:36, 37. PJ 206 3 "Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira." Lucas 10:37. Mostra o mesmo terno amor para com os necessitados. Assim demonstrarás que guardas toda a lei. PJ 206 4 A grande diferença entre judeus e samaritanos era uma diferença de crença religiosa, uma questão quanto ao que constitui o verdadeiro culto. Os fariseus não diziam nada de bom dos samaritanos, mas lançavam sobre eles as mais amargas maldições. Tão forte era a antipatia entre judeus e samaritanos, que para a mulher de Samaria foi estranho que Cristo lhe pedisse de beber. "Como", disse ela, "sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?" (porque, acrescenta o evangelista, "os judeus não se comunicam com os samaritanos"). João 4:9. E quando os judeus estavam tão cheios de ódio sanguinário contra Cristo que se levantaram no templo para apedrejá-Lo, não puderam achar melhores palavras para exprimir o seu ódio que: "Não dizemos nós bem que és samaritano e que tens demônio?" João 8:48. Além disso, o sacerdote e o levita negligenciaram justamente a obra de que o Senhor os incumbira, e deixaram a um samaritano odiado e desprezado servir a um seu compatriota. PJ 207 1 O samaritano cumprira o mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", mostrando assim ser mais justo que os que o condenavam. Arriscando a vida, tratou do ferido como se fosse seu irmão. Este samaritano representa Cristo. Nosso Salvador manifestou por nós um amor, que o amor humano jamais pode igualar. Quando estávamos moídos e à morte, compadeceu-Se de nós. Não passou de largo, não nos abandonou desamparados nem nos deixou perecer sem esperança. Não permaneceu no lar santo e feliz onde era amado por todos os anjos. Viu nossa cruel necessidade, advogou nossa causa e identificou Seus interesses com os da humanidade. Morreu para salvar os inimigos. Rogou por Seus assassinos. Apontando Seu próprio exemplo, diz aos seguidores: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros" (João 15:17), "como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34. PJ 207 2 O sacerdote e o levita haviam estado em adoração no templo cujo serviço Deus mesmo ordenara. Participar desse culto era grande e exaltado privilégio, e o sacerdote e o levita sentiram que sendo tão honrados, estava abaixo de sua dignidade servir a um sofredor desconhecido à beira da estrada. Assim, negligenciaram a oportunidade especial que Deus lhes deparara como agentes Seus para abençoar um semelhante. PJ 207 3 Muitos atualmente cometem erro semelhante. Dividem seus deveres em duas classes distintas. Uma classe consiste em grandes coisas reguladas pela lei de Deus; a outra, nas assim chamadas coisas pequenas, em que o mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 19:19), é passado por alto. Essa esfera de trabalho é deixada ao léu, e sujeita à inclinação e ao impulso. Desse modo o caráter é manchado e a religião de Cristo mal representada. PJ 207 4 Homens há que pensam ser humilhante para a sua dignidade o servirem a humanidade sofredora. Muitos olham com indiferença e desdém os que arruinaram seu corpo. Outros desprezam os pobres por diferentes motivos. Estão trabalhando, como crêem, na causa de Cristo, e procuram empreender algo de valor. Sentem que estão fazendo grande obra, e não se podem deter para notar as dificuldades do necessitado e do infeliz. Sim, até pode dar-se que, favorecendo sua suposta grande obra, oprimam os pobres. Podem colocá-los em circunstâncias difíceis e penosas, privá-los de seus direitos ou negligenciar-lhes as necessidades. Apesar disso acham que tudo isto é justificável, porque estão, como cuidam, promovendo a causa de Cristo. PJ 207 5 Muitos consentem em que um irmão ou vizinho se debata sob circunstâncias adversas, sem ampará-lo. Porque professam ser cristãos, pode ele ser induzido a pensar que em seu frio egoísmo estão representando a Cristo. Porque pretensos servos do Senhor não são Seus coobreiros, o amor de Deus que deles devia exalar é em grande parte interceptado de seus semelhantes. E muitos louvores e ações de graças do coração e lábios humanos são impedidos de refluir a Deus. Ele é destituído da glória devida ao Seu Santo nome. É espoliado das pessoas pelas quais Cristo morreu, pessoas que anela introduzir em Seu reino, para habitarem em Sua presença pelos séculos infindos. PJ 208 1 A verdade divina exerce pouca influência sobre o mundo, embora devesse exercer muita influência por nossa atitude. É bastante comum a simples profissão de religião, mas isso quase nada vale. Podemos professar ser seguidores de Cristo, podemos professar crer todas as verdades da Palavra de Deus; mas isto não fará bem ao nosso próximo, a não ser que nossa crença esteja entrelaçada com nossa vida diária. Nossa profissão pode ser tão alta quanto o Céu, mas não nos salvará a nós mesmos nem aos nossos semelhantes, a menos que sejamos cristãos. Um exemplo correto fará mais benefício ao mundo que qualquer profissão de fé. PJ 208 2 A causa de Cristo não pode ser favorecida por nenhum procedimento egoísta. Sua causa é a causa do oprimido e do pobre. Há necessidade de terna simpatia de Cristo no coração de Seus seguidores professos -- amor mais profundo aos que tanto avaliou que deu a própria vida para a sua salvação. Essas pessoas são preciosas, infinitamente mais preciosas do que qualquer outra oferenda que possamos apresentar a Deus. Se empenhamos toda a energia numa obra aparentemente grande, ao passo que desprezamos os necessitados ou privamos de seu direito o estrangeiro, nosso serviço não terá a aprovação divina. PJ 208 3 A santificação da alma pela operação do Espírito Santo é a implantação da natureza de Cristo na humanidade. A religião do evangelho é Cristo na vida -- um princípio vivo e atuante. É a graça de Cristo revelada no caráter e expressa em boas obras. Os princípios do evangelho não podem estar desligados de setor algum da vida diária. Todo ramo de trabalho e experiência cristãos deve ser uma representação da vida de Cristo. PJ 208 4 O amor é o fundamento da piedade. Qualquer que seja a fé, ninguém tem verdadeiro amor a Deus se não manifestar amor desinteressado pelo seu irmão. Mas nunca poderemos possuir esse espírito apenas tentando amar os outros. O que é necessário é o amor de Cristo no coração. Quando o eu está imerso em Cristo, o amor brota espontaneamente. A perfeição de caráter do cristão é alcançada quando o impulso de auxiliar e abençoar a outros brotar constantemente do íntimo -- quando a luz do Céu encher o coração e for revelada no semblante. PJ 208 5 Não é possível que o coração em que Cristo habita seja destituído de amor. Se amarmos a Deus, porque primeiro nos amou, amaremos a todos por quem Cristo morreu. PJ 209 1 Não podemos entrar em contato com a divindade, sem primeiro nos aproximarmos da humanidade; porque nAquele que Se assenta no trono do Universo a divindade e a humanidade estão combinadas. Unidos com Cristo, estamos unidos aos nossos semelhantes pelos áureos elos da cadeia do amor. Então a piedade e compaixão de Cristo serão manifestas em nossa vida. Não ficaremos esperando os pedidos dos necessitados e infortunados. Não será necessário ouvir clamores para sentir as aflições dos outros. Atender o indigente e o sofredor será tão natural para nós como o foi para Cristo fazer o bem. PJ 209 2 Onde quer que haja um impulso de amor e simpatia, onde quer que o coração se comova para abençoar e amparar os outros, é revelada a operação do Santo Espírito de Deus. Nas profundezas do paganismo os homens que não tiveram conhecimento da lei escrita de Deus, que nunca ouviram o nome de Cristo, têm sido bondosos com Seus servos, protegendo-os com o risco da própria vida. Seus atos mostram a operação de um poder divino. O Espírito Santo implantou a graça de Cristo no coração do selvagem, despertando nele a simpatia contrária à sua natureza e à sua educação. A "luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo" (João 1:9), está-lhe brilhando na alma; e esta luz, se atendida, lhe guiará os pés para o reino de Deus. PJ 209 3 "O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, ... e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, ... para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, O pudessem achar." Atos dos Apóstolos 17:24, 26, 27. "Olhei, e eis aqui uma multidão... de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos." Apocalipse 7:9. A glória do Céu consiste em erguer os caídos e confortar os infortunados. E onde quer que Cristo habite no coração humano, será revelado da mesma maneira. Onde quer que atue, a religião de Cristo abençoará. Onde quer que se manifeste, haverá claridade. PJ 209 4 Deus não reconhece distinção alguma de nacionalidade, etnia ou classe social. É o Criador de todo homem. Todos os homens são de uma família pela criação, e todos são um pela redenção. Cristo veio para demolir toda parede de separação e abrir todos os compartimentos do templo a fim de que todos possam ter livre acesso a Deus. Seu amor é tão amplo, tão profundo, tão pleno, que penetra em toda parte. Liberta das ciladas de Satanás os que foram por ele iludidos. Põe-nos ao alcance do trono de Deus, o trono circundado do arco-íris da promessa. PJ 210 1 Em Cristo não há nem judeu nem grego, servo nem livre. Todos são aproximados por Seu precioso sangue. Gálatas 3:28; Efésios 2:13. PJ 210 2 Qualquer que seja a diferença de crença religiosa, um clamor da humanidade sofredora precisa ser ouvido e atendido. Onde existirem amargos sentimentos por diferenças de religião, pode ser feito muito bem pelo serviço pessoal. O serviço amável quebrará os preconceitos e conquistará almas para Deus. PJ 210 3 Devemos atender às aflições, às dificuldades e às necessidades dos outros. Devemos partilhar das alegrias e cuidados tanto de nobres como de humildes, de ricos como de pobres. "De graça recebestes", disse Cristo, "de graça dai." Mateus 10:8. Ao redor de nós há almas pobres e tentadas que necessitam de palavras de simpatia e atos ajudadores. Há viúvas que carecem de simpatia e assistência. Há órfãos, aos quais Cristo ordenou aos Seus seguidores que recebessem como legado de Deus. Muitas vezes são abandonados. Podem ser maltrapilhos, grosseiros e, segundo toda a aparência, nada atraentes; contudo são propriedade de Deus. Foram comprados por preço, e aos Seus olhos são tão preciosos quanto nós. São membros da grande família de Deus, e os cristãos, como mordomos Seus, são por eles responsáveis. "Suas almas", disse, "requererei de tua mão." PJ 210 4 O pecado é o maior de todos os males, e é nosso dever compadecer-nos dos pecadores e auxiliá-los. Nem todos podem ser alcançados do mesmo modo, porém. Muitos há que ocultam sua pobreza de alma. Estes seriam grandemente auxiliados por uma palavra terna ou por uma boa lembrança. Outros estão na maior indigência, contudo não o sabem. Não reconhecem a terrível privação da alma. As multidões estão tão submersas no pecado, que perderam todo o senso das realidades eternas, perderam a semelhança de Deus, e mal sabem se têm alma para ser salva ou não. Não têm nem fé em Deus, nem confiança no homem. Alguns destes só podem ser alcançados por atos de beneficência desinteressada. Precisam ser primeiramente atendidas as suas necessidades materiais. Precisam ser alimentados, limpos e vestidos decentemente. Ao verem a prova de vosso amor desinteressado, ser-lhes-á mais fácil crerem no amor de Cristo. PJ 210 5 Muitos há que erram e sentem a sua vergonha e loucura. Consideram seus enganos e erros até serem arrastados quase ao desespero. Não devemos desprezar estas pessoas. Quando alguém tem que nadar contra a correnteza, toda a força da mesma o impele para trás. Estenda-se-lhes uma mão auxiliadora, como o fez a Pedro quando se afogava, a mão do Irmão mais velho. Fale-lhe palavras de esperança, palavras que fortaleçam a confiança e despertem amor. PJ 210 6 Seu irmão doente espiritualmente necessita de ti, como tu mesmo careceste do amor de um irmão. Necessita da experiência de alguém que fora tão fraco quanto ele, de alguém que possa com ele simpatizar e o auxilie. O conhecimento de nossa própria debilidade deve auxiliar-nos a ajudar a outros que estejam em amarga necessidade. Nunca devemos passar por uma alma sofredora sem tentar comunicar-lhe o conforto com que fomos consolados por Deus. PJ 211 1 A comunhão com Cristo, o contato pessoal com o Salvador vivo, é que habilita a mente, o coração e a alma a triunfar sobre a natureza inferior. Falai ao peregrino de uma Mão todo-poderosa que o levantará, e de uma infinita humanidade em Cristo que dele se compadece. Não lhe é suficiente crer em lei e força, em coisas que não têm piedade, e jamais ouvem um pedido de socorro. Necessita apertar uma mão cálida, confiar num coração cheio de ternura. Que sua mente se demore no pensamento de que Deus está ao seu lado, sempre contemplando-o com amor piedoso. Recomendai-lhe pensar no coração de um Pai que sempre se angustia pelo pecado, na mão sempre estendida de um Pai, e na voz de um Pai, que diz: "Que se apodere da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. PJ 211 2 Ocupando-vos nesta obra tendes companheiros invisíveis aos olhos humanos. Os anjos do Céu estavam ao lado do samaritano que cuidou do estrangeiro ferido. Os anjos das cortes celestes assistem a todos quantos fazem o serviço de Deus, cuidando dos semelhantes. E tendes a cooperação do próprio Cristo. Ele é o Restaurador, e se trabalhardes sob Sua superintendência, vereis grandes resultados. PJ 211 3 De sua fidelidade nessa obra não só depende o bem-estar de outros como também vosso destino eterno. Cristo procura erguer todos quantos querem ser alçados à Sua companhia para que sejamos um com Ele, como Ele é um com o Pai. Permite que tenhamos contato com o sofrimento e calamidade para nos tirar de nosso egoísmo; procura desenvolver em nós os atributos de Seu caráter -- compaixão, ternura e amor. Aceitando esta obra de beneficência entramos em Sua escola para sermos qualificados para as cortes de Deus. Rejeitando-a, rejeitamos Sua instrução, e escolhemos a eterna separação de Sua presença. PJ 211 4 "Se observares as Minhas ordenanças", declara o Senhor, "te darei lugar entre os que estão aqui" -- mesmo entre os anjos que circundam o Seu trono. Zacarias 3:7. Cooperando com os seres celestes em sua obra na Terra, preparamo-nos para a Sua companhia no Céu. "Espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação" (Hebreus 1:14), os anjos no Céu darão as boas-vindas àquele que na Terra viveu não "para ser servido, mas para servir". Mateus 20:28. Nesta abençoada companhia aprenderemos, para nossa alegria eterna, tudo que está encerrado na pergunta: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29. ------------------------Capítulo 28 -- O maior dos males PJ 212 0 Este capítulo é baseado em Mateus 19:16-30; 20:1-16; Marcos 10:17-31; Lucas 18:18-30. PJ 212 1 A verdade da livre graça de Deus fora quase perdida de vista pelos judeus. Os rabinos ensinavam que o favor de Deus devia ser alcançado por merecimento. Esperavam ganhar pelas próprias obras o galardão dos justos. Por isto seu culto todo era induzido por um espírito ávido e mercenário. Até os discípulos de Cristo não estavam totalmente livres deste espírito, e o Salvador aproveitava toda oportunidade para mostrar-lhes seu erro. Justamente antes de dar a parábola dos trabalhadores ocorreu um evento que Lhe ofereceu a oportunidade para apresentar os justos princípios. PJ 212 2 Indo Seu caminho, um jovem príncipe correu-Lhe ao encontro e, ajoelhando-se, saudou-O reverentemente. "Bom Mestre", disse, "que bem farei, para conseguir a vida eterna?" Mateus 19:16. PJ 212 3 O príncipe dirigiu-se a Cristo meramente como a um rabino honrado, não reconhecendo nEle o Filho de Deus. O Salvador disse: "Por que Me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus." Mateus 19:17. Em que sentido Me chamas bom? Deus unicamente é bom. Se Me reconheces como tal, precisas receber-Me como Seu Filho e representante. PJ 212 4 "Se queres, porém, entrar na vida", acrescentou, "guarda os mandamentos." Mateus 19:17. O caráter de Deus é expresso em Sua lei; e se queres estar em harmonia com Deus, os princípios de Sua lei devem ser o motivo de todas as tuas ações. PJ 212 5 Cristo não diminui as exigências da lei. Em linguagem inconfundível apresenta a obediência a ela como condição da vida eterna -- a mesma condição requerida de Adão antes da queda. O Senhor não espera agora menos de nós, do que esperava do homem no Paraíso, obediência perfeita, justiça irrepreensível. A exigência sob o pacto da graça é tão ampla quanto os requisitos ditados no Éden -- harmonia com a lei de Deus, que é santa, justa e boa. PJ 213 1 Às palavras: "Guarda os mandamentos", o jovem respondeu: "Quais?" Mateus 19:17, 18. Supôs que fossem alguns preceitos cerimoniais; mas Cristo falava da lei dada no Sinai. Mencionou diversos mandamentos da segunda tábua do decálogo, e resumiu-os todos no preceito: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 19:19. PJ 213 2 O jovem respondeu sem hesitação: "Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?" Mateus 19:20. Sua compreensão da lei era externa e superficial. Julgado segundo o padrão humano, preservara caráter irrepreensível. Em grande parte sua vida exterior fora isenta de culpa; acreditara realmente que sua obediência fora sem falha. Contudo tinha um receio íntimo de que nem tudo estava direito entre seu coração e Deus. Isso originou a pergunta: "Que me falta ainda?" PJ 213 3 "Se queres ser perfeito", disse Cristo, "vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me. E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades." Mateus 19:21, 22. O amante de si mesmo é transgressor da lei. Isto quis Jesus revelar ao jovem, e submeteu-o a uma prova de modo tal, que manifestaria o egoísmo de seu coração. Mostrou-lhe a nódoa do caráter. O jovem não desejou mais esclarecimento. Nutrira na alma um ídolo -- o mundo era o seu deus. Professava ter guardado os mandamentos, porém estava destituído do princípio que é o próprio espírito e vida de todos eles. Não possuía verdadeiro amor a Deus e ao homem. Esta falta era a carência de tudo quanto o qualificaria para entrar no reino do Céu. Em seu amor ao próprio eu e ao ganho terrestre, estava em desarmonia com os princípios do Céu. PJ 213 4 Quando este jovem príncipe foi ter com Jesus, sua sinceridade e fervor conquistaram o coração do Salvador. "Olhando para ele, o amou." Marcos 10:21. Nele viu alguém que poderia trabalhar como pregador da justiça. Teria recebido este jovem talentoso e nobre tão prontamente como recebera os pobres pescadores que O seguiam. Se devotasse sua aptidão à obra de salvar almas, poderia tornar-se obreiro diligente e bem-sucedido para Cristo. PJ 213 5 Precisava, porém, aceitar primeiramente as condições do discipulado. Precisava entregar-se a Deus sem reservas. Ao convite do Salvador, João, Pedro, Mateus e seus companheiros, deixando tudo, levantaram-se e O seguiram. Lucas 5:28. Era requerida a mesma consagração do jovem príncipe. E nisto Cristo não pediu maior sacrifício do que Ele próprio fizera. "Sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis." 2 Coríntios 8:9. O jovem tinha somente que seguir aonde Cristo o precedera. PJ 214 1 Cristo contemplou o rapaz e anelou seu coração. Desejava enviá-lo como mensageiro de bênçãos aos homens. Em vez daquilo que fora convidado a renunciar, Cristo lhe ofereceu o privilégio de Sua companhia. "Segue-Me", disse. Mateus 19:21. Este privilégio foi considerado uma alegria por Pedro, Tiago e João. O próprio jovem olhava a Cristo com admiração. Seu coração foi atraído ao Salvador. Não estava, porém, pronto para aceitar Seu princípio de abnegação. Preferiu suas riquezas a Cristo. Desejava a vida eterna, mas não queria receber na alma aquele amor desinteressado que, somente, é vida, e com coração triste saiu da presença de Cristo. PJ 214 2 Quando o jovem se retirou, Jesus disse aos discípulos: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas." Marcos 10:23. Estas palavras surpreenderam os discípulos. Haviam sido ensinados a considerar os ricos favorecidos do Céu; poder e riquezas mundanas, eles mesmos esperavam receber no reino do Messias; se os ricos não entrassem no reino, que esperança poderia haver para os demais homens? PJ 214 3 "Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. E eles se admiravam ainda mais." Marcos 10:24-26. Agora reconheceram que também eles estavam incluídos na solene advertência. À luz das palavras do Salvador, seu oculto anelo pelo poder e pelas riquezas foi revelado. Com maus pressentimentos quanto a si mesmos, exclamaram: "Quem poderá, pois, salvar-se?" Marcos 10:26. PJ 214 4 "Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis." Marcos 10:27. PJ 214 5 Um rico, como tal, não pode entrar no Céu. Sua riqueza não lhe outorga direito à herança dos santos na luz. Somente pela graça imerecida de Cristo pode alguém ter entrada na cidade de Deus. PJ 214 6 As palavras do Espírito são dirigidas tanto aos ricos como aos pobres: "Não sois de vós mesmos; porque fostes comprados por bom preço." 1 Coríntios 6:19, 20. Quando os homens crerem isto, considerarão suas posses um legado para ser usado como Deus dirigir, para salvação dos perdidos, e conforto dos sofredores e pobres. Para o homem isto é impossível, porque o coração se apega às posses terrestres. A alma presa ao serviço de "Mamom", está surda ao clamor da necessidade humana. Para Deus todas as coisas são possíveis, porém. Contemplando o imaculado amor de Cristo, o coração egoísta se enternecerá e será subjugado. Como o fariseu Saulo, o rico será induzido a dizer: "O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor." Filipenses 3:7, 8. Então nada estimarão seu. Jubilarão por considerarem-se mordomos da múltipla graça de Deus, e por Sua causa servos de todos os homens. PJ 215 1 Pedro foi o primeiro a reanimar-se da íntima convicção operada pelas palavras do Salvador. Pensou com satisfação no que ele e seus irmãos renunciaram por Cristo: "Eis que", disse ele, "nós deixamos tudo e Te seguimos." Mateus 19:27. Lembrando-se da promessa condicional ao jovem príncipe: "Terás um tesouro no Céu" (Mateus 19:21), perguntou o que ele e seus companheiros receberiam como recompensa por seu sacrifício. PJ 215 2 A resposta do Salvador comoveu o coração daqueles pescadores galileus. Cristo mencionou honras que ultrapassavam seus mais altos sonhos. "Em verdade vos digo que vós, que Me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem Se assentar no trono da Sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel." Mateus 19:28. E acrescentou: "Ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de Mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no século futuro, a vida eterna." Marcos 10:29, 30. PJ 215 3 Mas a pergunta de Pedro: "Que receberemos?" (Mateus 19:27) revelou um espírito que, não corrigido, incapacitaria os discípulos para serem mensageiros de Cristo; porque era espírito de mercenário. Embora houvessem sido atraídos pelo amor de Jesus, os discípulos não estavam completamente livres do farisaísmo. Ainda trabalhavam com o pensamento de merecer recompensa proporcional à sua obra. Nutriam espírito de exaltação e complacência próprias, e faziam distinções entre si. Se algum deles falhava em qualquer pormenor, os outros nutriam sentimentos de superioridade. PJ 215 4 Para que os discípulos não perdessem de vista os princípios do evangelho, Cristo lhes narrou uma parábola ilustrativa da maneira como Deus procede com Seus servos, e o espírito com que deseja que trabalhem para Ele. PJ 215 5 "O reino dos Céus", disse Ele, "é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha." Mateus 20:1. Era costume que os homens que procuravam trabalho esperassem nas praças, e lá iam os empreiteiros procurar servos. O homem da parábola é apresentado como indo a diferentes horas contratar operários. Os assalariados nas primeiras horas concordaram em trabalhar por uma soma combinada; os assalariados mais tarde deixaram o seu salário à discrição do pai de família. PJ 216 1 "Aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um; vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um." Mateus 20:8-10. PJ 216 2 O procedimento do pai de família com os trabalhadores em sua vinha representa o de Deus com a família humana. É contrário aos costumes que prevalecem entre os homens. Nos negócios mundanos, a compensação é dada de acordo com o trabalho executado. O trabalhador espera que lhe seja pago somente aquilo que ganhou. Mas na parábola, Cristo estava ilustrando os princípios de Seu reino -- um reino não deste mundo. Ele não é regido por qualquer norma humana. Diz o Senhor: "Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos. ... Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:8, 9. PJ 216 3 Na parábola, os primeiros obreiros concordaram em trabalhar por uma soma estipulada, e receberam a quantia especificada. Nada mais. Os assalariados mais tarde creram na promessa do mestre: "Dar-vos-ei o que for justo." Mateus 20:4. Mostraram confiança nele, nada perguntando a respeito do salário. Confiaram em sua justiça e eqüidade. Foram recompensados, não de acordo com o que trabalharam, mas segundo a generosidade do pai de família. PJ 216 4 Assim deseja Deus que confiemos nEle, que justifica o ímpio. Seu galardão é dado, não proporcionalmente ao nosso mérito, mas conforme Seu propósito, "que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor". Efésios 3:11. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou." Tito 3:5. E aos que nEle confiam fará "muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20. PJ 216 5 Não a soma do trabalho que executamos, nem seus resultados visíveis, mas o espírito com que o fazemos, é que o torna valioso para Deus. Os que foram à vinha à undécima hora, estavam gratos pela oportunidade de trabalhar. Seu coração estava cheio de gratidão àquele que os recebera; e quando no fim do dia o pai de família lhes pagou uma jornada completa, ficaram muito surpreendidos. Sabiam que não mereciam tal recompensa. E a bondade expressa no semblante de Seu amo encheu-os de júbilo. Jamais esqueceram a benignidade do patrão nem a generosa recompensa que receberam. Assim é com o pecador que, conhecendo sua indignidade, entrou na vinha do Mestre à undécima hora. Seu tempo de serviço parece tão curto, sente que não merece recompensa; porém, enche-se de alegria porque, sobretudo, Deus o aceitou. Labuta com espírito humilde e confiante, grato pelo privilégio de ser um coobreiro de Cristo. Deus Se deleita em honrar este espírito. PJ 217 1 O Senhor deseja que descansemos nEle sem pensar na medida do galardão. Quando Cristo habita na alma, o pensamento de remuneração não é supremo. Este não é o motivo impelente do nosso serviço. Verdade é que num sentido secundário devemos olhar à recompensa. Deus deseja que apreciemos as bênçãos prometidas; mas não que sejamos ávidos de remuneração, nem sintamos que para cada serviço devamos receber compensação. Não devemos estar tão ansiosos de obter o galardão, como de fazer o que é justo, independentemente de todo o lucro. O amor a Deus e a nossos semelhantes deve ser o nosso motivo. PJ 217 2 Esta parábola não desculpa os que ouvem o primeiro chamado para o trabalho, mas negligenciam entrar na vinha do Senhor. Quando o pai de família foi à praça à undécima hora, e encontrou homens desocupados, disse: "Por que estais ociosos todo o dia?" Mateus 20:6. A resposta foi: "Porque ninguém nos assalariou." Mateus 20:7. Nenhum dos chamados mais tarde, estava ali de manhã. Não recusaram a chamada. Os que recusam e depois se arrependem, fazem bem em arrepender-se; mas não é seguro menosprezar o primeiro apelo da graça. PJ 217 3 Quando os trabalhadores da vinha receberam "um dinheiro cada um" (Mateus 20:9), os que haviam começado a trabalhar mais cedo, ficaram ofendidos. Não haviam labutado eles doze horas? arrazoaram entre si, e não era justo que recebessem mais do que os que trabalharam apenas uma hora na parte mais amena do dia? "Estes últimos trabalharam só uma hora", disseram, "e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia." Mateus 20:12. PJ 218 1 "Amigo", retrucou o pai de família a um deles; "não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?" Mateus 20:13-15. PJ 218 2 "Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros, últimos, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Mateus 20:16. PJ 218 3 Os primeiros trabalhadores da parábola representam os que, por causa de seus serviços reclamam preferência sobre os demais. Empreendem sua obra com o espírito de engrandecimento, e não empregam nela abnegação e sacrifício. Podem haver professado servir a Deus toda a sua vida; podem destacar-se em suportar dificuldades, privação e provas, e por isso pensam ter direito a grande remuneração. Pensam mais na recompensa que no privilégio de serem servos de Cristo. A seu parecer, suas labutas e sacrifícios conferem-lhes o direito de receber mais honras que os outros, e por não ser reconhecido esse direito, ficam ofendidos. Se tivessem trabalhado com espírito amável e confiante, continuariam a ser os primeiros; mas sua disposição queixosa e lamuriante é dessemelhante da de Cristo, e demonstra que são indignos de confiança. Revela seu desejo de exaltação própria, desconfiança de Deus, e espírito ambicioso e de inveja para com os irmãos. A bondade e a liberalidade do Senhor lhes é motivo de murmuração. Assim demonstram não ter afinidade com Deus. Não conhecem a alegria da cooperação com o Obreiro por excelência. PJ 218 4 Nada mais ofensivo há para Deus que este espírito acanhado, e que cuida só de si. Não pode Ele operar com os que manifestam tais predicados. São insensíveis à operação de Seu Espírito. PJ 218 5 Os judeus foram os primeiros a serem chamados para a vinha do Senhor; e por isso eram altivos e cheios de justiça própria. Cuidavam que seus longos anos de trabalho os titulavam para receber galardão maior do que os outros. Nada lhes foi mais exasperante do que uma insinuação de que os gentios deveriam ser admitidos aos mesmos privilégios que eles nas coisas de Deus. PJ 218 6 Cristo advertiu os discípulos que primeiro foram chamados a segui-Lo, a que não acariciassem o mesmo mal. Viu que o espírito de justiça própria seria a causa da debilidade e maldição da igreja. Os homens pensariam que poderiam fazer alguma coisa para obter lugar no reino dos Céus. Imaginariam que quando tivessem feito certos progressos o Senhor viria para auxiliá-los. Assim haveria abundância do próprio eu e pouco de Jesus. Muitos que houvessem progredido um pouco se jactariam e considerariam superiores a outros. Seriam ávidos de lisonjas, invejosos se não fossem tidos por mais importantes. Cristo procurou proteger Seus discípulos contra este perigo. PJ 219 1 Não é cabível o vangloriar-nos de algum mérito. "Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23, 24. PJ 219 2 A recompensa não é pelas obras, para que ninguém se glorie, mas pela graça. "Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, porém crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça." Romanos 4:1-5. Portanto não há ocasião de alguém se gloriar sobre outro, ou de murmurar. Ninguém é mais privilegiado do que outro, nem pode alguém reclamar o galardão como um direito. PJ 219 3 O primeiro e o último devem ser participantes do grande galardão eterno, e o primeiro deve dar alegremente as boas-vindas ao último. Aquele que inveja o galardão de outro, esquece que ele mesmo é salvo unicamente pela graça. A parábola dos trabalhadores reprova toda ambição e suspeita. O amor regozija-se na verdade, e não estabelece comparações invejosas. Quem possui amor, compara somente seu próprio caráter imperfeito com a amabilidade de Cristo. PJ 219 4 Esta parábola é uma advertência a todos os obreiros que, embora longos seus serviços, embora fartas as labutas, estão sem amor aos irmãos e sem humildade perante Deus. Não há religião na entronização do próprio eu. Aquele, cujo alvo é a glorificação própria, se encontrará destituído daquela graça que, somente, pode torná-lo eficiente no serviço de Cristo. Quando é tolerado o orgulho e a complacência própria, a obra é arruinada. PJ 220 1 Não é a duração do tempo que labutamos, mas a voluntariedade e fidelidade em nosso trabalho que o torna aceitável a Deus. É requerida uma renúncia completa do próprio eu em todo o nosso serviço. O menor dever feito com sinceridade e desinteresse é mais agradável a Deus que a maior obra quando manchada pelo egoísmo. Ele olha para ver quanto nutrimos do espírito de Cristo, e quanto nosso trabalho revela da semelhança de Cristo. Considera mais o amor e a fidelidade com que trabalhamos do que a quantidade que fazemos. PJ 220 2 Somente quando o egoísmo estiver morto, banida a contenda pela supremacia, o coração repleto de gratidão e o amor houver tornado fragrante a vida -- somente então, Cristo nos está habitando na alma e somos reconhecidos como coobreiros de Deus. PJ 220 3 Por mais difícil que seja a labuta, os verdadeiros obreiros não a consideram fadiga. Estão prontos para gastarem-se e deixarem-se gastar; porém é uma obra prazenteira, feita de coração alegre. A alegria em Deus é expressa mediante Jesus Cristo. Sua alegria é a alegria proposta a Cristo: "Fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua obra." João 4:34. São cooperadores do Senhor da glória. Este pensamento suaviza toda fadiga, robustece a vontade, fortalece o espírito para tudo que suceder. Trabalhando com coração isento de egoísmo, enobrecidos por serem participantes dos sofrimentos de Cristo, partilhando de Suas simpatias e colaborando com Ele em Sua obra, ajudam a intensificar a Sua alegria e a acrescentar honra e louvor ao Seu nome exaltado. PJ 220 4 Esse é o espírito de todo serviço verdadeiro para Deus. Pela falta do mesmo, muitos que aparentam ser os primeiros se tornarão os últimos, enquanto os que o possuem, embora considerados os últimos, se tornarão os primeiros. PJ 220 5 Muitos há que se entregaram a Cristo, todavia não vêem oportunidade de realizar grande obra ou fazer grandes sacrifícios em Seu serviço. Estes podem achar conforto no pensamento de que não é necessariamente a abnegação do mártir que é mais aceitável a Deus; pode ser que o missionário que enfrente diariamente o perigo e a morte, não tome a mais elevada posição nos registros do Céu. O cristão que o é em sua vida particular, na renúncia diária do eu, na sinceridade de propósito e pureza de pensamento, em mansidão sob provocação, em fé e piedade, em fidelidade nas coisas mínimas, que na vida familiar representa o caráter de Cristo, esse pode ser mais precioso aos olhos de Deus que o missionário ou mártir de fama mundial. PJ 220 6 Oh, como são diferentes os padrões pelos quais Deus e o homem medem o caráter! Deus vê muitas tentações resistidas das quais o mundo e até os amigos íntimos nunca sabem -- tentações no lar e no coração. Vê a humildade da alma em vista de sua própria fraqueza; o arrependimento sincero, até de um pensamento que é mau. Vê a inteira devoção a Seu serviço. Anotou as horas de duros combates com o próprio eu -- combates que trouxeram vitória. Tudo isto os anjos e Deus sabem. Um memorial há escrito diante dEle, para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome. PJ 221 0 O segredo do êxito não é encontrado nem em nossa erudição, nem em nossa posição, nem em nosso número ou nos talentos a nós confiados, nem na vontade do homem. Cônscios de nossa deficiência devemos contemplar a Cristo, e por Ele que é a força por excelência, a expressão máxima do pensamento, o voluntário e obediente obterá uma vitória após outra. PJ 221 1 E por mais breve que seja o nosso serviço, ou mais humilde nossa obra, se seguirmos a Cristo com fé singela, não seremos desapontados pelo galardão. Aquilo que o maior e mais sábio não pode alcançar, o mais débil e mais humilde receberá. Os portões áureos do Céu não se abrem para os que se exaltam. Não são erguidos para os de espírito altivo. Os portais eternos abrir-se-ão ao trêmulo contato de uma criancinha. Abençoado será o galardão da graça para os que trabalharam para Deus com simplicidade de fé e amor. ------------------------Capítulo 29 -- A recompensa merecida PJ 221 2 Este capítulo é baseado em Mateus 25:1-13. PJ 221 3 Cristo e Seus discípulos estão assentados no Monte das Oliveiras. O Sol já desapareceu e as sombras da noite crescem sobre a Terra. Pode-se ver uma casa esplendorosamente iluminada como para uma festa. A luz jorra das aberturas, e um grupo expectante indica que um cortejo nupcial está prestes a aparecer. Em muitas regiões do oriente as festividades nupciais são realizadas à noite. O noivo parte ao encontro da noiva e a traz para casa. À luz de tochas, o cortejo dos nubentes sai da casa paterna para seu próprio lar, onde um banquete é oferecido aos convidados. Na cena que Cristo contemplava, um grupo espera o aparecimento do cortejo nupcial para a ele se ajuntar. PJ 222 1 Na adjacência do lar da noiva esperam dez virgens trajadas de branco. Todas levam uma lâmpada acesa e um frasco de óleo. Todas aguardam ansiosamente a vinda do esposo. Há, porém, uma tardança. Passa-se uma hora após outra, as vigias fatigam-se e adormecem. À meia-noite ouve-se um clamor: "Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro!" Mateus 25:6. Sonolentas despertam, de repente, e levantam-se. Vêem o cortejo aproximando-se resplandecente de tochas e festivo, com música. Ouvem as vozes do esposo e da esposa. As dez virgens tomam suas lâmpadas e começam a aparelhá-las, com pressa de partir. Cinco delas, porém, tinham deixado de encher seus frascos. Não previram demora tão longa, e não se prepararam para a emergência. Em aflição apelam para suas companheiras mais prudentes, dizendo: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam." Mateus 25:8. Mas as cinco outras, com suas lâmpadas há pouco aparelhadas, tinham seus frascos esvaziados. Não tinham óleo de sobra, e respondem: "Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós." Mateus 25:9. PJ 222 2 Enquanto foram comprar, o cortejo foi-se e as deixou. As cinco, com as lâmpadas acesas, se uniram à multidão, entraram na casa com o cortejo nupcial, e fechou-se a porta. Quando as virgens loucas chegaram à entrada da casa do banquete, receberam uma recusa inesperada. O anfitrião declarou: "Não vos conheço." Mateus 25:12. Foram abandonadas ao relento, na rua solitária, nas trevas da noite. PJ 222 3 Quando Cristo, sentado, contemplava o grupo que aguardava o esposo, contou aos discípulos a história das dez virgens, ilustrando, pela experiência delas, a da igreja que viveria justamente antes de Sua segunda vinda. PJ 222 4 Os dois grupos de vigias representam as duas classes que professam estar à espera de seu Senhor. São chamadas virgens porque professam fé pura. As lâmpadas representam a Palavra de Deus. Diz o salmista: "Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra e, luz para os meus caminhos." Salmos 119:105. O óleo é símbolo do Espírito Santo. Assim é representado o Espírito na profecia de Zacarias. "Tornou o anjo que falava comigo", diz ele, "e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono, e me disse: Que vês? E eu disse: Olho, e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com as suas sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E falei e disse ao anjo que falava comigo, dizendo: Senhor meu, que é isto? E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. E, falando-lhe outra vez, disse: Que são aqueles dois raminhos de oliveira que estão junto aos dois tubos de ouro e que vertem de si ouro? Então, Ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a Terra." Zacarias 4:1-4, 6, 12, 14. PJ 223 1 Das duas oliveiras o dourado óleo era vazado pelos tubos de ouro nas taças do castiçal, e daí nas lâmpadas de ouro que iluminavam o santuário. Assim, dos santos que estão na presença de Deus, Seu Espírito é comunicado aos que são consagrados para o Seu serviço. A missão dos dois ungidos é comunicar ao povo de Deus aquela graça celestial que, somente, pode fazer de Sua palavra uma lâmpada para os pés, e uma luz para o caminho. "Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6. PJ 223 2 Na parábola, todas as dez virgens saíram ao encontro do esposo. Todas tinham lâmpadas e frascos. Por algum tempo não se notava diferença entre elas. Assim é com a igreja que vive justamente antes da segunda vinda de Cristo. Todos têm conhecimento das Escrituras. Todos ouviram a mensagem da proximidade da volta de Cristo e confiantemente O esperam. Como na parábola, porém, assim é agora. Há um tempo de espera; a fé é provada; e quando se ouvir o clamor: "Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!" (Mateus 25:6), muitos não estarão preparados. Não têm óleo em seus vasos nem em suas lâmpadas. Estão destituídos do Espírito Santo. PJ 223 3 Sem o Espírito de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra. A teoria da verdade não acompanhada do Espírito Santo, não pode vivificar a mente, nem santificar o coração. Pode estar-se familiarizado com os mandamentos e promessas da Bíblia, mas se o Espírito de Deus não introduzir a verdade no íntimo, o caráter não será transformado. Sem a iluminação do Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa das tentações sutis de Satanás. PJ 223 4 A classe representada pelas virgens loucas não é hipócrita. Têm consideração pela verdade, advogaram-na, são atraídos aos que crêem na verdade, mas não se entregaram à operação do Espírito Santo. Não caíram sobre a rocha, que é Cristo Jesus, e não permitiram que sua velha natureza fosse quebrantada. Essa classe é representada, também, pelos ouvintes comparados ao pedregal. Recebem a Palavra prontamente; porém, deixam de assimilar os seus princípios. Sua influência não permanece neles. O Espírito trabalha no coração do homem de acordo com o seu desejo e consentimento, nele implantando natureza nova; mas a classe representada pelas virgens loucas contentou-se com uma obra superficial. Não conhecem a Deus; não estudaram Seu caráter; não tiveram comunhão com Ele; por isso não sabem como confiar, como ver e viver. Seu serviço para Deus degenera em formalidade. "Eles vêm a Ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de Ti como Meu povo, e ouvem as Tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza." Ezequiel 33:31. O apóstolo Paulo assinala que essa será a característica especial dos que vivem justamente antes da segunda vinda de Cristo. Diz: "Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos... mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela." 2 Timóteo 3:1-5. PJ 224 1 Essa é a classe que em tempo de perigo é encontrada bradando: Paz e segurança. Acalentam seu coração em sossego, e não sonham com o perigo. Quando despertos de sua indiferença, discernem sua destituição, e rogam a outros que lhes supram a falta; em assuntos espirituais, porém, ninguém pode remediar a deficiência de outros. A graça de Deus tem sido oferecida livremente a todos. Tem sido proclamada a mensagem do evangelho: "Quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. Todavia o caráter não é transferível. Ninguém pode crer por outro. Ninguém pode receber por outro o Espírito. Ninguém pode dar a outrem o caráter que é o fruto da operação do Espírito. "Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela (a Terra), vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam a sua própria alma pela sua justiça." Ezequiel 14:20. PJ 224 2 Numa crise é que o caráter é revelado. Quando a voz ardorosa proclamou à meia-noite: "Aí vem o Esposo! Saí-lhe ao encontro!" (Mateus 25:6), e as virgens adormecidas ergueram-se de sua sonolência, foi visto quem fizera a preparação para o evento. Ambos os grupos foram tomados de surpresa; porém, um estava preparado para a emergência, e o outro não. Assim agora uma calamidade repentina e imprevista, alguma coisa que põe a pessoa face a face com a morte, mostrará se há fé real nas promessas de Deus. Mostrará se está sustida na graça. A grande prova final virá no fim do tempo da graça, quando será tarde demais para se suprirem as necessidades do espírito. PJ 224 3 As dez virgens estão esperando na noite da história deste mundo. Todas dizem ser cristãs. Todas têm uma vocação, um nome, uma lâmpada, e todas pretendem fazer a obra de Deus. Todas aguardam, aparentemente, a volta de Cristo. Cinco, porém, estão desprevenidas. Cinco serão encontradas surpreendidas, aterrorizadas, fora do recinto do banquete. PJ 224 4 No dia final muitos hão de requerer admissão ao reino de Cristo, dizendo: "Temos comido e bebido na Tua presença, e Tu tens ensinado nas nossas ruas." Lucas 13:26. PJ 225 1 "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E, em Teu nome, não expulsamos demônios? E, em Teu nome, não fizemos muitas maravilhas?" Mateus 7:22. Mas a resposta será: "Digo-vos que não sei de onde vós sois; apartai-vos de mim." Lucas 13:27. Nesta vida não tiveram comunhão com Cristo; por isto não conhecem a linguagem do Céu, são estranhos às suas alegrias. "Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus." 1 Coríntios 2:11. PJ 225 2 As palavras mais tristes que caíram em ouvidos mortais são aquelas da sentença: "Não vos conheço." Mateus 25:12. Unicamente a comunhão do Espírito que desprezastes poderia unir-vos à multidão jubilosa que estará no banquete das bodas. Não podereis participar dessa cena. Sua luz incidiria sobre olhos cegos, e sua melodia em ouvidos surdos. Seu amor e alegria não fariam soar de júbilo corda alguma do coração entorpecido pelo mundo. Sois excluídos do Céu por vossa própria inaptidão para a sua companhia. PJ 225 3 Não podemos estar prontos para encontrar o Senhor, acordando ao ouvir o brado: "Aí vem o Esposo!" (Mateus 25:6) e então tomar nossas lâmpadas vazias para enchê-las. Não podemos viver apartados de Cristo aqui, e ainda assim estar aptos para a Sua companhia no Céu. PJ 225 4 Na parábola, as virgens prudentes tinham óleo em seus vasos com as lâmpadas. Suas lâmpadas arderam com chama contínua pela noite de vigília. Contribuíram para aumentar a iluminação em honra do esposo. Brilhando na escuridão, auxiliaram a iluminar o caminho para o lar do esposo, para a ceia de bodas. PJ 225 5 Assim, devem os seguidores de Cristo irradiar luz nas trevas do mundo. Pela atuação do Espírito Santo, a Palavra de Deus é uma luz quando se torna um poder transformador na vida de quem a recebe. Implantando-lhes no coração os princípios de Sua Palavra, o Espírito Santo desenvolve nos homens os predicados de Deus. A luz de Sua glória -- Seu caráter -- deve refletir-se em Seus seguidores. Assim devem glorificar a Deus, e iluminar o caminho para a mansão do esposo, para a cidade de Deus, e para o banquete de bodas do Cordeiro. PJ 225 6 A vinda do esposo foi à meia-noite -- a hora mais tenebrosa. Assim a vinda de Cristo será no período mais tenebroso da história deste mundo. Os dias de Noé e de Ló ilustram a condição do mundo exatamente antes da vinda do Filho do homem. Apontando para esse tempo, declaram as Escrituras que Satanás trabalhará com todo poder e "sinais, e prodígios de mentira". 2 Tessalonicenses 2:9. Sua obra é revelada claramente pelas trevas que se adensam rapidamente, pela multidão de erros, heresias e enganos destes últimos dias. Satanás não só leva cativo o mundo, porém suas ilusões infectam até as professas igrejas de nosso Senhor Jesus Cristo. A grande apostasia se desenvolverá em trevas tão densas como as da meia-noite, impenetráveis como a mais intensa escuridão. Para o povo de Deus será uma noite de prova, noite de lamentação, noite de perseguição por causa da verdade. Mas nessa noite de trevas brilhará a luz de Deus. PJ 226 1 Fez que "das trevas resplandecesse a luz". 2 Coríntios 4:6. Quando "a Terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz". Gênesis 1:2, 3. Também na noite das trevas espirituais a Palavra de Deus diz: "Haja luz." A Seu povo, diz Ele: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. PJ 226 2 "Eis", diz a Escritura, "que as trevas cobriram a Terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a Sua glória se verá sobre ti." Isaías 60:2. PJ 226 3 A escuridão do falso conceito acerca de Deus é que está envolvendo o mundo. Os homens estão perdendo o conhecimento de Seu caráter. Este tem sido mal compreendido e mal-interpretado. Neste tempo deve ser proclamada uma mensagem de Deus, uma mensagem de influência iluminante e capacidade salvadora. O caráter de Deus deve tornar-se notório. Deve ser difundida nas trevas do mundo a luz de Sua glória, a luz de Sua benignidade, misericórdia e verdade. PJ 226 4 Esta é a obra esboçada pelo profeta Isaías, nas palavras: "Tu, anunciador de boas novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. Eis que o Senhor Jeová virá como o forte, e o Seu braço dominará; eis que o Seu galardão vem com Ele, e o Seu salário, diante da Sua face." Isaías 40:9, 10. PJ 226 5 Os que aguardam a vinda do esposo devem dizer ao povo: "Eis aqui está o vosso Deus." Isaías 40:9. Os últimos raios da luz misericordiosa, a última mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino. Os filhos de Deus devem manifestar Sua glória. Revelarão em sua vida e caráter o que a graça de Deus por eles tem feito. PJ 226 6 A luz do Sol da Justiça deve irradiar em boas obras -- em palavras de verdade e atos de santidade. PJ 226 7 Cristo, o resplendor da glória do Pai, veio ao mundo como sua luz. Veio representar Deus aos homens, e dEle está escrito que foi ungido "com o Espírito Santo e com virtude", e "andou fazendo o bem". Atos dos Apóstolos 10:38. Na sinagoga de Nazaré, disse: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." Lucas 4:18, 19. Esta foi a obra de que encarregou os discípulos. "Vós sois a luz do mundo", disse Ele. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:14, 16. PJ 227 1 Esta é a obra que o profeta Isaías descreve, dizendo: "Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isaías 58:7, 8. PJ 227 2 Assim pois a glória de Deus deve brilhar mediante Sua igreja na noite de trevas espirituais, soerguendo os oprimidos e confortando os que choram. PJ 227 3 Em todo nosso redor ouvem-se os gemidos de um mundo de aflições. Em todos os lados há necessitados e miseráveis. Nosso dever é auxiliar a aliviar e abrandar as dificuldades e misérias da vida. PJ 227 4 O serviço prático será muito mais eficiente do que meramente pregar sermões. Devemos alimentar o faminto, vestir o nu e asilar o desabrigado. E somos chamados para fazer mais do que isto. As necessidades da alma só o amor de Cristo pode satisfazer. Se Cristo em nós habitar, nosso coração estará cheio de simpatia divina. Abrir-se-ão as fontes cerradas do zeloso amor cristão. Deus requer não somente as nossas dádivas para os necessitados, mas também nosso semblante amável, nossas palavras de esperança, nosso cordial aperto de mão. Quando curava os doentes Cristo punha sobre eles as mãos. Também devemos achegar-nos em contato íntimo com quem procuramos beneficiar. PJ 227 5 Muitos há que não têm mais esperança. Dai-lhes novamente a luz do Sol. Muitos perderam o ânimo. Dizei-lhes palavras de conforto. Orai por eles. Há os que carecem do pão da vida. Lede-lhes da Palavra de Deus. Muitos padecem de uma enfermidade da alma que bálsamo nenhum pode restaurar, médico algum curar. Orai por essas pessoas, encaminhai-as a Jesus. Contai-lhes que há um bálsamo e um Médico em Gileade. PJ 227 6 A luz é uma bênção, bênção universal que difunde seus tesouros sobre o mundo ingrato, ímpio e desmoralizado. Assim é com a luz do Sol da Justiça. Envolta, como está, nas trevas do pecado, aflição e padecimento, toda a Terra precisa ser iluminada com o conhecimento do amor de Deus. Nenhuma seita ou classe deve ser impedida de receber a luz que refulge do trono celeste. PJ 228 1 A mensagem de esperança e misericórdia tem que ser levada aos confins da Terra. Quem quiser pode aproximar-se, tomar do poder de Deus e fazer paz com Ele, e Ele fará paz. Não mais devem os pagãos estar envoltos em trevas da meia-noite. A escuridão deve desaparecer diante dos brilhantes raios do Sol da Justiça. O poder do inferno foi vencido. PJ 228 2 Mas ninguém pode dar aquilo que não possui. Na obra de Deus, a humanidade nada pode originar. Ninguém pode por seus próprios esforços tornar-se para Deus um portador de Luz. Vertido pelos mensageiros celestes nos tubos de ouro, para ser conduzido do áureo vaso às lâmpadas do santuário, o dourado óleo produzia luz contínua, clara e brilhante. O amor de Deus, continuamente transmitido ao homem, é que o habilita a comunicar luz. O áureo óleo do amor corre livremente no coração de todos os que pela fé estão unidos a Deus, para resplandecer novamente em boas obras, em serviço real e sincero para Ele. PJ 228 3 Na grande e incomensurável dádiva do Espírito Santo estão contidos todos os recursos celestes. Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não afluem para os homens, neste mundo. Se todos recebessem de bom grado, todos seriam cheios de Seu Espírito. PJ 228 4 Toda pessoa tem o privilégio de ser um conduto vivo, pelo qual Deus pode comunicar ao mundo os tesouros de Sua graça, as insondáveis riquezas de Cristo. Nada há que Cristo mais deseje do que agentes que representem ao mundo Seu Espírito e caráter. Não há nada de que o mundo mais necessite que da manifestação do amor do Salvador, mediante a humanidade. Todo o Céu está à espera de condutos pelos quais possa ser vertido o óleo santo para ser uma alegria e bênção para os corações humanos. PJ 228 5 Cristo tomou todas as providências para que Sua igreja seja um corpo transformado, iluminado pela Luz do mundo, possuindo a glória de Emanuel. É Seu propósito que cada cristão esteja envolto numa atmosfera espiritual de luz e paz. Deseja que revelemos em nossa vida a Sua própria alegria. PJ 228 6 A habitação do Espírito em nós será manifestada pelo amor celestial que de nós dimanará. A plenitude divina fluirá pelo consagrado agente humano, para ser partilhada com outros. PJ 228 7 O Sol da Justiça traz salvação "debaixo das Suas asas". Malaquias 4:2. Assim todo verdadeiro discípulo deve difundir uma influência de vida, ânimo, auxílio e verdadeira salvação. PJ 228 8 A religião de Cristo significa mais que o perdão dos pecados; significa remover nossos pecados e encher o vácuo com as graças do Espírito Santo. Significa iluminação divina e regozijo em Deus. Significa um coração despojado do próprio eu e abençoado pela presença de Cristo. Quando Cristo reina na alma há pureza e libertação do pecado. A glória, a plenitude, a perfeição do plano do evangelho são cumpridas na vida. A aceitação do Salvador traz paz perfeita, perfeito amor, segurança perfeita. A beleza e fragrância do caráter de Cristo manifestadas na vida, testificam de que em verdade Deus enviou Seu Filho ao mundo para o salvar. PJ 229 1 Cristo não manda Seus seguidores esforçarem-se para brilhar. Diz: Resplandeça a vossa luz. Se tendes recebido a graça de Deus, a luz está em vós. Removei os empecilhos, e a glória do Senhor será revelada. A luz resplandecerá para penetrar e dissipar a escuridão. Não podeis deixar de brilhar dentro do círculo de vossa influência. PJ 229 2 A revelação da glória do Senhor na forma humana, trará o Céu tão perto dos homens, que a beleza que adorna o templo interior será vista em todos em que o Salvador habita. Os homens serão cativados pela glória de um Cristo que vive em nós. E em torrentes de louvor e ações de graças dos muitos assim ganhos para Deus, refluirá glória para o grande Doador. PJ 229 3 "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. Essa mensagem é dada aos que saem ao encontro do esposo. Cristo vem com poder e grande glória. Vem com Sua própria glória e com a glória do Pai. Vem com todos os santos anjos. Ao passo que o mundo todo estará mergulhado em trevas, haverá luz em todos os lares dos santos. Eles hão de captar os primeiros raios de luz de Sua segunda vinda. A imaculada luz resplandecerá de Seu esplendor, e Cristo, o Redentor, será admirado por todos os que O serviram. Ao passo que os ímpios fugirão de Sua presença, os seguidores de Cristo rejubilarão. Vislumbrando o tempo do segundo advento de Cristo, disse o patriarca Jó: "Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, O verão." Jó 19:27. Dos fiéis seguidores, Cristo tem sido companheiro diário, amigo familiar. Viveram em contato íntimo, em comunhão constante com Deus. A glória de Deus resplandeceu sobre eles. Refletiu-se neles a luz do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Agora se regozijam nos raios não ofuscados do resplendor e glória do Rei, em Sua majestade. Estão preparados para a comunhão do Céu; pois têm o Céu no coração. PJ 229 4 De fronte erguida, os brilhantes raios do Sol da Justiça sobre eles resplandecendo, com júbilo porque sua redenção se aproxima, saem ao encontro do Esposo, dizendo: "Eis que Este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9. PJ 229 5 "E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! Pois já o Senhor, Deus todo-poderoso, reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. ... E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro." Apocalipse 19:6, 7, 9. "Porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com Ele, chamados, eleitos e fiéis." Apocalipse 17:14. ------------------------Patriarcas e Profetas PP 8 1 Capítulo 1 -- Por que Foi Permitido o Pecado PP 17 0 Capítulo 2 -- A Criação PP 24 0 Capítulo 3 -- A Tentação e a Queda PP 33 1 Capítulo 4 -- O Plano da Redenção PP 40 0 Capítulo 5 -- Caim e Abel Provados PP 46 0 Capítulo 6 -- Sete e Enoque PP 54 0 Capítulo 7 -- O Dilúvio PP 65 1 Capítulo 8 -- Depois do Dilúvio PP 70 1 Capítulo 9 -- A Semana Literal PP 75 1 Capítulo 10 -- A Torre de babel PP 80 1 Capítulo 11 -- A Vocação de Abraão PP 86 0 Capítulo 12 -- Abraão em Canaã PP 97 0 Capítulo 13 -- A Prova da Fé PP 105 0 Capítulo 14 -- A Destruição de Sodoma PP 116 0 Capítulo 15 -- O Casamento de Isaque PP 121 0 Capítulo 16 -- Jacó e Esaú PP 126 0 Capítulo 17 -- Fuga e Exílio de Jacó PP 134 0 Capítulo 18 -- A Noite de Luta PP 140 0 Capítulo 19 -- A Volta para Canaã PP 147 0 Capítulo 20 -- José no Egito PP 154 0 Capítulo 21 -- José e Seus Irmãos PP 168 0 Capítulo 22 -- Moisés PP 179 0 Capítulo 23 -- As Pragas do Egito PP 191 0 Capítulo 24 -- A Páscoa PP 196 0 Capítulo 25 -- O Êxodo PP 203 0 Capítulo 26 -- Do Mar Vermelho ao Sinai PP 213 0 Capítulo 27 -- Israel Recebe a Lei PP 223 0 Capítulo 28 -- Idolatria no Sinai PP 235 1 Capítulo 29 -- Inimizade de Satanás Contra a Lei PP 245 0 Capítulo 30 -- O Tabernáculo e os seus Serviços PP 256 0 Capítulo 31 -- O Pecado de Nadabe e Abiú PP 260 1 Capítulo 32 -- A Lei e os Concertos PP 269 0 Capítulo 33 -- Do Sinai a Cades PP 279 0 Capítulo 34 -- Os Doze Espias PP 286 0 Capítulo 35 -- A Rebelião de Coré PP 295 1 Capítulo 36 -- No Deserto PP 299 0 Capítulo 37 -- A Rocha Ferida PP 307 0 Capítulo 38 -- A Jornada em Redor de Edom PP 316 0 Capítulo 39 -- A Conquista de Basã PP 320 0 Capítulo 40 -- Balaão PP 331 0 Capítulo 41 -- Apostasia no Jordão PP 338 0 Capítulo 42 -- A Repetição da Lei PP 343 0 Capítulo 43 -- A Morte de Moisés PP 351 0 Capítulo 44 -- A Travessia do Jordão PP 356 0 Capítulo 45 -- A Queda de Jericó PP 365 0 Capítulo 46 -- As Bençãos e as Maldições PP 368 0 Capítulo 47 -- Aliança com os Gibeonitas PP 372 0 Capítulo 48 -- A Divisão de Canaã PP 381 0 Capítulo 49 -- As últimas Palavras de Josué PP 385 1 Capítulo 50 -- Dízimos e Ofertas PP 389 1 Capítulo 51 -- O Cuidado de Deus Para com os Pobres PP 394 0 Capítulo 52 -- As Festas Anuais PP 399 0 Capítulo 53 -- Os Primeiros Juízes PP 411 0 Capítulo 54 -- Sansão PP 418 0 Capítulo 55 -- O Menino Samuel PP 423 0 Capítulo 56 -- Eli e Seus Filhos PP 428 0 Capítulo 57 -- A Arca Tomada Pelos Filisteus PP 437 1 Capítulo 58 -- As Escolas dos Profetas PP 444 0 Capítulo 59 -- O Primeiro Rei de Israel PP 455 0 Capítulo 60 -- A Presunção de Saul PP 462 0 Capítulo 61 -- A Rejeição de Saul PP 470 0 Capítulo 62 -- A Unção de Davi PP 474 0 Capítulo 63 -- Davi e Golias PP 479 0 Capítulo 64 -- A Fuga de Davi PP 488 0 Capítulo 65 -- A Magnanimidade de Davi PP 498 1 Capítulo 66 -- A Morte de Saul PP 503 1 Capítulo 67 -- Feitiçaria Antiga e Moderna PP 508 0 Capítulo 68 -- Davi em Ziclague PP 514 0 Capítulo 69 -- Davi Chamdo ao Trono PP 519 0 Capítulo 70 -- O Reinado de Davi PP 529 0 Capítulo 71 -- O Pecado e Arrependimento de Davi PP 538 0 Capítulo 72 -- A Rebelião de Absalão PP 552 0 Capítulo 73 -- Os últimos Anos de Davi ------------------------Capítulo 1 -- Por que foi permitido o pecado? PP 8 1 "Deus é amor". 1 João 4:8. Sua natureza, Sua lei, são amor. Assim sempre foi; assim sempre será. "O Alto e o Sublime, que habita na eternidade" (Isaías 57:15), "cujos caminhos são eternos" (Habacuque 3:6), não muda. NEle "não há mudança nem sombra de variação". Tiago 1:17. PP 8 2 Toda manifestação de poder criador é uma expressão de amor infinito. A soberania de Deus compreende a plenitude de bênçãos a todos os seres criados. PP 8 3 Diz o salmista: "Forte é a Tua mão, e elevada a Tua destra. Justiça e juízo são a base de Teu trono; Misericórdia e verdade vão adiante do Teu rosto. Bem-aventurado o povo que conhece o som festivo: Andará, ó Senhor, na luz da Tua face. Em Teu nome se alegrará todo o dia, e na Tua justiça se exaltará. Pois Tu és a glória da sua força. [...] Porque o Senhor é a nossa defesa, e o santo de Israel o nosso Rei". Salmos 89:13-18. PP 8 4 A história do grande conflito entre o bem e o mal, desde o tempo em que a princípio se iniciou no Céu até o final da rebelião e extirpação total do pecado, é também uma demonstração do imutável amor de Deus. PP 8 5 O Soberano do Universo não estava só em Sua obra de beneficência. Tinha um companheiro -- um cooperador que poderia apreciar Seus propósitos, e participar de Sua alegria ao dar felicidade aos seres criados. "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus". João 1:1, 2. Cristo, o Verbo, o Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai -- um em natureza, caráter, propósito -- o único ser que poderia penetrar em todos os conselhos e propósitos de Deus. "O Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz". Isaías 9:6. Suas "saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Miquéias 5:2. E o Filho de Deus declara a respeito de Si mesmo: "O Senhor Me possuiu no princípio de Seus caminhos, e antes de Suas obras mais antigas. [...] Quando compunha os fundamentos da Terra, então Eu estava com Ele e era Seu aluno; e era cada dia as Suas delícias, folgando perante Ele em todo o tempo". Provérbios 8:22-30. PP 8 6 O Pai operou por Seu Filho na criação de todos os seres celestiais. "NEle foram criadas todas as coisas, [...] sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele". Colossences 1:16. Os anjos são ministros de Deus, radiantes pela luz que sempre flui de Sua presença, e rápidos no vôo para executarem Sua vontade. Mas o Filho, o Ungido de Deus, "a expressa imagem de Sua pessoa" (Hebreus 1:3), o "resplendor da Sua glória" (Isaías 66:11), "sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder" (Hebreus 1:3), tem a supremacia sobre todos eles. "Um trono de glória, posto bem alto desde o princípio" (Hebreus 1:3, 8), foi o lugar de Seu santuário; "cetro de eqüidade" é o cetro de Seu reino. Jeremias 17:12. "Glória e majestade estão ante a Sua face, força e formosura no Seu santuário". Salmos 96:6. "Misericórdia e verdade" vão adiante do Seu rosto. Salmos 89:14. PP 9 1 Sendo a lei do amor o fundamento do governo de Deus, a felicidade de todos os seres inteligentes depende da perfeita harmonia, com seus grandes princípios de justiça. Deus deseja de todas as Suas criaturas o serviço de amor, serviço que brote de uma apreciação de Seu caráter. Ele não tem prazer na obediência forçada; e a todos concede vontade livre, para que Lhe possam prestar serviço voluntário. PP 9 2 Enquanto todos os seres criados reconheceram a lealdade pelo amor, houve perfeita harmonia por todo o Universo de Deus. Era a alegria da hoste celestial cumprir o propósito do Criador. Deleitavam-se em refletir a Sua glória, e patentear o Seu louvor. E enquanto foi supremo o amor para com Deus, o amor de uns para com outros foi cheio de confiança e abnegado. Nenhuma nota discordante havia para deslustrar as harmonias celestiais. Sobreveio, porém, uma mudança neste estado de felicidade. Houve um ser que perverteu a liberdade que Deus concedera a Suas criaturas. O pecado originou-se com aquele que, abaixo de Cristo, fora o mais honrado por Deus, e o mais elevado em poder e glória entre os habitantes do Céu. Lúcifer, "filho da alva", era o primeiro dos querubins cobridores, santo, incontaminado. Permanecia na presença do grande Criador, e os incessantes raios de glória que cercavam o eterno Deus, repousavam sobre ele. "Assim diz o Senhor Jeová: Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a tua cobertura. [...] Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti". Ezequiel 28:12-15. PP 9 3 Pouco a pouco Lúcifer veio a condescender com o desejo de exaltação própria. Dizem as Escrituras: "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor". Ezequiel 28:17. "Tu dizias no teu coração: [...] acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. [...] Serei semelhante ao Altíssimo". Isaías 14:13, 14. Se bem que toda a sua glória proviesse de Deus, este poderoso anjo veio a considerá-la como pertencente a si próprio. Não contente com sua posição, embora fosse mais honrado do que a hoste celestial, arriscou-se a cobiçar a homenagem devida unicamente ao Criador. Em vez de procurar fazer com que Deus fosse o alvo supremo das afeições e fidelidade de todos os seres criados, consistiu o seu esforço em obter para si o serviço e lealdade deles. E, cobiçando a glória que o infinito Pai conferira a Seu Filho, este príncipe dos anjos aspirou ao poder que era a prerrogativa de Cristo apenas. PP 10 1 Quebrantou-se então a perfeita harmonia do Céu. A disposição de Lúcifer para servir a si em vez de ao Criador, suscitou um sentimento de apreensão ao ser observada por aqueles que consideravam dever a glória de Deus ser suprema. No conselho celestial os anjos insistiam com Lúcifer. O Filho de Deus apresentou perante ele a grandeza, a bondade e a justiça do Criador, e a natureza imutável, sagrada de Sua lei. O próprio Deus estabelecera a ordem do Céu; e, desviando-se dela, Lúcifer desonraria ao seu Criador, e traria a ruína sobre si. Mas a advertência, feita com amor e misericórdia infinitos, apenas despertou espírito de resistência. Lúcifer consentiu que prevalecessem seus sentimentos de inveja para com Cristo, e se tornou mais decidido. PP 10 2 Disputar a supremacia do Filho de Deus, desafiando assim a sabedoria e o amor do Criador, tornara-se o propósito desse príncipe dos anjos. Para tal objetivo estava ele a ponto de aplicar as energias daquela mente superior, que, abaixo da de Cristo, era a primeira dentre os exércitos de Deus. Mas Aquele que queria livres as vontades de todas as Suas criaturas, a ninguém deixou desprevenido quanto ao sofisma desconcertante por meio do qual a rebelião procuraria justificar-se. Antes que se iniciasse a grande luta, todos deveriam ter uma apresentação clara a respeito da vontade dAquele cuja sabedoria e bondade eram a fonte de toda a sua alegria. PP 10 3 O Rei do Universo convocou os exércitos celestiais perante Ele, para, em sua presença, apresentar a verdadeira posição de Seu Filho, e mostrar a relação que Este mantinha para com todos os seres criados. O Filho de Deus partilhava do trono do Pai, e a glória do Ser eterno, existente por Si mesmo, rodeava a ambos. Em redor do trono reuniam-se os santos anjos, em uma multidão vasta, inumerável -- "milhões de milhões, e milhares de milhares" (Apocalipse 5:11), estando os mais exaltados anjos, como ministros e súditos, a regozijar-se na luz que, da presença da Divindade, caía sobre eles. Perante os habitantes do Céu, reunidos, o Rei declarou que ninguém, a não ser Cristo, o Unigênito de Deus, poderia penetrar inteiramente em Seus propósitos, e a Ele foi confiado executar os poderosos conselhos de Sua vontade. O Filho de Deus executara a vontade do Pai na criação de todos os exércitos do Céu; e a Ele, bem como a Deus, eram devidas as homenagens e fidelidade daqueles. Cristo ia ainda exercer o poder divino na criação da Terra e de seus habitantes. Em tudo isto, porém, não procuraria poder ou exaltação para Si mesmo, contrários ao plano de Deus, mas exaltaria a glória do Pai, e executaria Seus propósitos de beneficência e amor. PP 10 4 Os anjos alegremente reconheceram a supremacia de Cristo, e, prostrando-se diante dEle, extravasaram seu amor e adoração. Lúcifer curvou-se com eles; mas em seu coração havia um conflito estranho, violento. A verdade, a justiça e a lealdade estavam a lutar contra a inveja e o ciúme. A influência dos santos anjos pareceu por algum tempo levá-lo com eles. Ao ascenderem os cânticos de louvores, em melodiosos acordes, avolumados por milhares de alegres vozes, o espírito do mal pareceu subjugado; indizível amor fazia fremir todo o seu ser; em concerto com os adoradores destituídos de pecado, expandia-se-lhe a alma em amor para com o Pai e o Filho. De novo, porém, achou-se repleto de orgulho por sua própria glória. Voltou-lhe o desejo de supremacia, e uma vez mais condescendeu com a inveja de Cristo. As altas honras conferidas a Lúcifer não eram apreciadas como um dom especial de Deus, e, portanto, não provocavam gratidão para com o seu Criador. Ele se gloriava em seu brilho e exaltação, e almejava ser igual a Deus. Era amado e reverenciado pelo exército celestial, anjos se deleitavam em executar suas ordens, e estava ele revestido de sabedoria e glória mais do que todos eles. Contudo, o Filho de Deus era mais exaltado do que ele, sendo um em poder e autoridade com o Pai. Partilhava dos conselhos do Pai, enquanto Lúcifer não penetrava assim nos propósitos de Deus. "Por que", perguntava este poderoso anjo, "deveria Cristo ter a primazia? Por que é Ele mais honrado do que Lúcifer?" PP 11 1 Deixando seu lugar na presença imediata do Pai, Lúcifer saiu a difundir o espírito de descontentamento entre os anjos. Ele agia em misterioso segredo, e durante algum tempo escondeu seu propósito real sob uma aparência de reverência para com Deus. Começou a insinuar dúvidas com respeito às leis que governavam os seres celestiais, dando a entender que, conquanto pudessem as leis ser necessárias para os habitantes dos mundos, não necessitavam de tais restrições os anjos, mais elevados por natureza, pois que sua sabedoria era um guia suficiente. Não eram eles seres que pudessem acarretar desonra a Deus; todos os seus pensamentos eram santos; não havia para eles maior possibilidade de errar do que para o próprio Deus. A exaltação do Filho de Deus à igualdade com o Pai, foi representada como sendo uma injustiça a Lúcifer, o qual, pretendia-se, tinha também direito à reverência e à honra. Se este príncipe dos anjos pudesse tão-somente alcançar a sua verdadeira e elevada posição, grande bem resultaria para todo o exército do Céu; pois era seu objetivo conseguir liberdade para todos. Agora, porém, mesmo a liberdade que eles até ali haviam desfrutado, tinha chegado a seu fim; pois lhes havia sido designado um Governador absoluto, e todos deveriam prestar homenagem à Sua autoridade. Tais foram os erros sutis que por meio dos ardis de Lúcifer estavam a propagar-se rapidamente nos lugares celestiais. PP 11 2 Não tinha havido mudança alguma na posição ou autoridade de Cristo. A inveja e falsa representação de Lúcifer, bem como sua pretensão à igualdade com Cristo, tornaram necessária uma declaração a respeito da verdadeira posição do Filho de Deus; mas esta havia sido a mesma desde o princípio. Muitos dos anjos, contudo, ficaram cegos pelos enganos de Lúcifer. PP 12 1 Tirando vantagem da amável e leal confiança nele depositada pelos seres santos que estavam sob suas ordens, com tal arte infiltrara em suas mentes a sua própria desconfiança e descontentamento que sua participação não foi percebida. Lúcifer havia apresentado os propósitos de Deus sob uma luz falsa, interpretando-os mal e torcendo-os, de modo a incitar a dissensão e descontentamento. Astuciosamente levou os ouvintes a dar expressão aos seus sentimentos; então eram tais expressões repetidas por ele quando isto servisse aos seus intuitos, como prova de que os anjos não estavam completamente de acordo com o governo de Deus. Ao mesmo tempo em que, de sua parte, pretendia uma perfeita fidelidade para com Deus, insistia que modificações na ordem e leis do Céu eram necessárias para a estabilidade do governo divino. Assim, enquanto trabalhava para provocar oposição à lei de Deus, e infiltrar seu próprio descontentamento na mente dos anjos sob seu mando, ostensivamente estava ele procurando remover o descontentamento e reconciliar anjos desafetos com a ordem do Céu. Ao mesmo tempo em que secretamente fomentava a discórdia e a rebelião, com uma astúcia consumada fazia parecer como se fosse seu único intuito promover a lealdade, e preservar a harmonia e a paz. PP 12 2 O espírito de descontentamento que assim se acendera, estava a fazer sua obra funesta. Conquanto não houvesse uma insurreição declarada, a divisão de sentimentos imperceptivelmente crescia entre os anjos. Alguns havia que olhavam com favor para as insinuações de Lúcifer contra o governo de Deus. Posto que tivessem estado até ali em perfeita harmonia com a ordem que Deus estabelecera, achavam-se agora descontentes e infelizes, porque não podiam penetrar Seus conselhos insondáveis; não estavam satisfeitos com Seu propósito de exaltar a Cristo. Estes se encontravam prontos para apoiar a exigência de Lúcifer para ter autoridade igual à do Filho de Deus. Entretanto, anjos que eram fiéis e verdadeiros sustentavam a sabedoria e justiça do decreto divino, e se esforçavam por reconciliar este ser desafeto com a vontade de Deus. Cristo era o Filho de Deus; tinha sido um com Ele antes que os anjos fossem chamados à existência. Sempre estivera Ele à destra do Pai; Sua supremacia, tão cheia de bênção a todos os que vinham sob Seu domínio benigno, não havia até então sido posta em dúvida. A harmonia do Céu nunca fora interrompida; por que deveria agora haver discórdia? Os anjos fiéis apenas podiam ver conseqüências terríveis para esta dissensão, e com rogos ansiosos aconselhavam os que estavam desafetos a renunciarem seu intuito e se mostrarem leais para com Deus, pela fidelidade ao Seu governo. PP 12 3 Com grande misericórdia, de acordo com o Seu caráter divino, Deus suportou longamente a Lúcifer. O espírito de descontentamento e desafeição nunca antes havia sido conhecido no Céu. Era um elemento novo, estranho, misterioso, inexplicável. O próprio Lúcifer não estivera a princípio ciente da natureza verdadeira de seus sentimentos; durante algum tempo receou exprimir a ação e imaginações de sua mente; todavia não as repeliu. Não via para onde se deixava levar. Entretanto, esforços que somente o amor e a sabedoria infinitos poderiam imaginar, foram feitos para convencê-lo de seu erro. Provou-se que sua desafeição era sem causa, e fez-se-lhe ver qual seria o resultado de persistir em revolta. Lúcifer estava convencido de que não tinha razão. Viu que "justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, e santo em todas as Suas obras" (Salmos 145:17); que os estatutos divinos são justos, e que, como tais, ele os deveria reconhecer perante todo o Céu. Houvesse ele feito isto, e poderia ter salvo a si mesmo e a muitos anjos. Ele não tinha naquele tempo repelido totalmente sua lealdade a Deus. Embora tivesse deixado sua posição como querubim cobridor, se contudo estivesse ele disposto a voltar para Deus, reconhecendo a sabedoria do Criador, e satisfeito por preencher o lugar a ele designado no grande plano de Deus, teria sido reintegrado em suas funções. Chegado era o tempo para um decisão final; deveria render-se completamente à soberania divina, ou colocar-se em franca rebelião. Quase chegou à decisão de voltar; mas o orgulho o impediu disto. Era sacrifício demasiado grande, para quem fora tão altamente honrado, confessar que estivera em erro, que suas imaginações eram errôneas, e render-se à autoridade que ele procurara demonstrar ser injusta. PP 13 1 Um compassivo Criador, sentindo terna piedade por Lúcifer e seus seguidores, procurava fazê-los retroceder do abismo de ruína em que estavam prestes a imergir. Sua misericórdia, porém, foi mal-interpretada. Lúcifer apontou a longanimidade de Deus como uma prova de sua superioridade, como indicação de que o Rei do Universo ainda concordaria com suas imposições. Se os anjos permanecessem firmes com ele, declarou, poderiam ainda ganhar tudo que desejassem. Persistentemente defendeu sua conduta, e entregou-se amplamente ao grande conflito contra seu Criador. Assim foi que Lúcifer, "o portador de luz", aquele que participava da glória de Deus, que servia junto ao Seu trono, tornou-se, pela transgressão, Satanás, o "adversário" de Deus e dos seres santos, e destruidor daqueles a quem o Céu confiou a sua guia e guarda. PP 13 2 Rejeitando com desdém os argumentos e rogos dos anjos fiéis, acusou-os de serem escravos iludidos. A preferência mostrada para com Cristo declarou ele ser um ato de injustiça tanto para si como para todo o exército celestial, e anunciou que não mais se sujeitaria a esta usurpação dos direitos, seus e deles. Nunca mais reconheceria a supremacia de Cristo. Resolvera reclamar a honra que deveria ter sido conferida a ele, e tomar o comando de todos os que se tornassem seus seguidores; e prometeu àqueles que entrassem para as suas fileiras um governo novo e melhor, sob o qual todos desfrutariam liberdade. Grande número de anjos deram a entender seu propósito de o aceitar como seu chefe. Lisonjeado pelo apoio com que suas insinuações eram recebidas, esperou conquistar todos os anjos para o seu lado, tornar-se igual ao próprio Deus, e ser obedecido por todo o exército celestial. PP 14 1 Os anjos fiéis ainda instavam com ele e com os que com ele simpatizavam, para que se submetessem a Deus; apresentavam-lhes o resultado inevitável caso se recusassem a isso: Aquele que os criara poderia subverter seu poder, e castigar de maneira notável sua revoltosa ousadia. Nenhum anjo poderia com êxito opor-se à lei de Deus, que é tão sagrada como Ele próprio. Advertiram todos a que fechassem os ouvidos ao raciocínio enganador de Lúcifer, e insistiram com este e seus seguidores para buscarem a presença de Deus sem demora, e confessarem o erro de pôr em dúvida Sua sabedoria e autoridade. PP 14 2 Muitos estiveram dispostos a dar atenção a este conselho, arrepender-se de sua desafeição, e procurar de novo ser recebidos no favor do Pai e de Seu Filho. Lúcifer, porém, tinha pronto outro engano. O grande rebelde declarou então que os anjos que com ele se uniram tinham ido muito longe para voltarem; que ele conhecia a lei divina, e sabia que Deus não perdoaria. Declarou que todos os que se sujeitassem à autoridade do Céu seriam despojados de sua honra, rebaixados de sua posição. Quanto a si, estava decidido a nunca mais reconhecer a autoridade de Cristo. A única maneira de agir que restava a ele e seus seguidores, dizia, consistia em vindicar sua liberdade, e adquirir pela força os direitos que não lhes haviam sido de boa vontade concedidos. PP 14 3 Tanto quanto dizia respeito ao próprio Satanás, era verdade que ele havia ido agora demasiado longe para que pudesse voltar. Mas não era assim com os que tinham sido iludidos pelos seus enganos. Para estes, os conselhos e rogos dos anjos fiéis abriram uma porta de esperança; e, se houvessem eles atendido a advertência, poderiam ter sido arrancados da cilada de Satanás. Mas ao orgulho, ao amor para com seu chefe, e ao desejo de uma liberdade sem restrições permitiu-se terem o domínio, e as instâncias do amor e misericórdia divinos foram finalmente rejeitadas. PP 14 4 Deus permitiu que Satanás levasse avante sua obra até que o espírito de desafeto amadurecesse em ativa revolta. Era necessário que seus planos se desenvolvessem completamente a fim de que todos pudessem ver sua verdadeira natureza e tendência. Lúcifer, sendo o querubim ungido, fora altamente exaltado; era grandemente amado pelos seres celestiais, e forte era sua influência sobre eles. O governo de Deus incluía não somente os habitantes do Céu, mas de todos os mundos que Ele havia criado; e Lúcifer concluiu que, se ele pôde levar consigo os anjos do Céu à rebelião, poderia também levar todos os mundos. Tinha ele artificiosamente apresentado a questão sob o seu ponto de vista, empregando sofisma e fraude, a fim de conseguir seus objetivos. Seu poder para enganar era muito grande. Disfarçando-se sob a capa da falsidade, alcançara uma vantagem. Todos os seus atos eram de tal maneira revestidos de mistério, que era difícil descobrir aos anjos a verdadeira natureza de sua obra. Antes que se desenvolvesse completamente, não poderia mostrar-se a coisa ruim que era; sua desafeição não seria vista como sendo rebelião. Mesmo os anjos fiéis não podiam discernir-lhe completamente o caráter, ou ver para onde sua obra estava a levar. PP 15 1 Lúcifer havia a princípio dirigido suas tentações de tal maneira que ele próprio não pareceu achar-se comprometido. Os anjos que ele não pôde trazer completamente para o seu lado, acusou-os de indiferença aos interesses dos seres celestiais. Da mesma obra que ele próprio estava a fazer, acusou os anjos fiéis. Consistia sua astúcia em perturbar com argumentos sutis, referentes aos propósitos de Deus. Tudo que era simples ele envolvia em mistério, e por meio de artificiosa perversão lançava a dúvida sobre as mais claras declarações de Jeová. E sua elevada posição, tão intimamente ligada com o governo divino, dava maior força a suas representações. PP 15 2 Deus apenas podia empregar meios que fossem coerentes com a verdade e justiça. Satanás podia usar o que Deus não podia -- a lisonja e o engano. Procurara falsificar a Palavra de Deus, e de maneira errônea figurara Seu plano de governo, pretendendo que Deus não era justo ao impor leis aos anjos; que, exigindo submissão e obediência de Suas criaturas, estava simplesmente a procurar a exaltação de Si mesmo. Era, portanto, necessário demonstrar perante os habitantes do Céu, e de todos os mundos, que o governo de Deus é justo, que Sua lei é perfeita. Satanás fizera com que parecesse estar ele procurando promover o bem do Universo. O verdadeiro caráter do usurpador e seu objetivo real devem ser compreendidos por todos. Ele deve ter tempo para manifestar-se pelas suas obras iníquas. PP 15 3 A discórdia que sua conduta determinara no Céu, Satanás lançara sobre o governo de Deus. Todo o mal declarou ele ser o resultado da administração divina. Alegava que era seu objetivo aperfeiçoar os estatutos de Jeová. Por isso permitiu Deus que ele demonstrasse a natureza de suas pretensões, a fim de mostrar o efeito de suas propostas mudanças na lei divina. A sua própria obra o deve condenar. Satanás pretendera desde o princípio que não estava em rebelião. O Universo todo deve ver o enganador desmascarado. PP 15 4 Mesmo quando foi expulso do Céu, a Sabedoria infinita não destruiu Satanás. Visto que unicamente o serviço de amor pode ser aceito por Deus, a fidelidade de Suas criaturas deve repousar em uma convicção de Sua justiça e benevolência. Os habitantes do Céu, e dos mundos, não estando preparados para compreender a natureza ou conseqüência do pecado, não poderiam ter visto então a justiça de Deus na destruição de Satanás. Houvesse ele sido imediatamente destruído, e alguns teriam servido a Deus pelo temor em vez de o fazer pelo amor. A influência do enganador não teria sido completamente destruída, tampouco o espírito de rebelião teria sido totalmente desarraigado. Para o bem do Universo todo, através dos intérminos séculos, ele deveria desenvolver mais completamente seus princípios, a fim de que suas acusações contra o governo divino pudessem ser vistas sob sua verdadeira luz, por todos os seres criados, e a justiça e a misericórdia de Deus, bem como a imutabilidade de Sua lei, pudessem para sempre ser postas fora de toda a questão. PP 16 1 A rebelião de Satanás deveria ser uma lição para o Universo, durante todas as eras vindouras -- perpétuo testemunho da natureza do pecado e de seus terríveis resultados. A atuação do governo de Satanás, seus efeitos tanto sobre os homens como sobre os anjos, mostrariam qual seria o fruto de se pôr de parte a autoridade divina. Testificariam que, ligado à existência do governo de Deus, está o bem-estar de todas as criaturas que Ele fez. Assim, a história desta terrível experiência com a rebelião seria uma salvaguarda perpétua para todos os seres santos, para impedir que fossem enganados quanto à natureza da transgressão, para salvá-los de cometer pecado, e de sofrerem sua pena. PP 16 2 Aquele que governa no Céu é O que vê o fim desde o princípio -- o Ser perante o qual os mistérios do passado e do futuro estão igualmente expostos, e que, para além da miséria, trevas e ruína que o pecado acarretou, contempla o cumprimento de Seus propósitos de amor e bênçãos. Se bem que "nuvens e obscuridade estão ao redor dEle, justiça e juízo são a base de Seu trono". Salmos 97:2. E isto os habitantes do Universo, tanto fiéis como infiéis, compreenderão um dia. "Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos juízo são; Deus é a verdade, e não há nEle injustiça: justo e reto é". Deuteronômio 32:4. ------------------------Capítulo 2 -- A criação PP 17 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 1; 2. PP 17 1 Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da Sua boca". Salmos 33:6, 9. "Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." "Lançou os fundamentos da Terra, para que não vacile em tempo algum". Salmos 104:5. PP 17 2 Quando a Terra saiu das mãos de seu Criador, era extraordinariamente bela. Variada era a sua superfície, contendo montanhas, colinas e planícies, entrecortadas por majestosos rios e formosos lagos; as colinas e montanhas, entretanto, não eram abruptas e escabrosas, tendo em grande quantidade tremendos despenhadeiros e medonhos abismos como hoje elas são; as arestas agudas e ásperas do pétreo arcabouço da terra estavam sepultadas por sob o solo fértil, que por toda parte produzia um pujante crescimento de vegetação. Não havia asquerosos pântanos nem áridos desertos. Graciosos arbustos e delicadas flores saudavam a vista aonde quer que esta se volvesse. As elevações estavam coroadas de árvores mais majestosas do que qualquer que hoje exista. O ar, incontaminado por miasmas perniciosos, era puro e saudável. A paisagem toda sobrepujava em beleza os terrenos ornamentados do mais soberbo palácio. A hoste angélica olhava este cenário com deleite, e regozijava-se com as obras maravilhosas de Deus. PP 17 3 Depois que a Terra com sua abundante vida animal e vegetal fora suscitada à existência, o homem, a obra coroadora do Criador, e aquele para quem a linda Terra fora preparada, foi trazido em cena. A ele foi dado domínio sobre tudo que seus olhos poderiam contemplar; pois "disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme à Nossa semelhança; e domine [...] sobre toda a Terra". "Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem; [...] homem e mulher os criou". Gênesis 1:26, 27. Aqui está claramente estabelecida a origem da raça humana; e o relato divino refere tão compreensivelmente que não há lugar para conclusões errôneas. Deus criou o homem à Sua própria imagem. Não há aqui mistério. Não há lugar para a suposição de que o homem evoluiu, por meio de morosos graus de desenvolvimento, das formas inferiores da vida animal ou vegetal. Tal ensino rebaixa a grande obra do Criador ao nível das concepções estreitas e terrenas do homem. Os homens são tão persistentes em excluir a Deus da soberania do Universo, que degradam ao homem, e o despojam da dignidade de sua origem. Aquele que estabeleceu os mundos estelares nos altos céus, e com delicada perícia coloriu as flores do campo, Aquele que encheu a Terra e os céus com as maravilhas de Seu poder, vindo a coroar Sua obra gloriosa a fim de pôr em seu meio alguém para ser o governador da linda Terra, não deixou de criar um ser digno das mãos que lhe deram vida. A genealogia de nossa raça, conforme é dada pela inspiração, remonta sua origem não a uma linhagem de micróbios, moluscos e quadrúpedes a se desenvolverem, mas ao grande Criador. Posto que formado do pó, Adão era filho "de Deus". Lucas 3:38. PP 18 1 Ele foi posto, como representante de Deus, sobre as ordens inferiores de seres. Estes não podem compreender ou reconhecer a soberania de Deus, todavia foram feitos com capacidade de amar e servir ao homem. Diz o salmista: "Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das Tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: [...] os animais do campo, as aves dos céus, [...] e tudo o que passa pelas veredas dos mares". Salmos 8:6-8. PP 18 2 O homem deveria ter a imagem de Deus, tanto na aparência exterior como no caráter. Cristo somente é a "expressa imagem" do Pai (Hebreus 1:3); mas o homem foi formado à semelhança de Deus. Sua natureza estava em harmonia com a vontade de Deus. A mente era capaz de compreender as coisas divinas. As afeições eram puras; os apetites e paixões estavam sob o domínio da razão. Ele era santo e feliz, tendo a imagem de Deus, e estando em perfeita obediência à Sua vontade. PP 18 3 Ao sair o homem das mãos do Criador era de elevada estatura e perfeita simetria. O rosto trazia a rubra coloração da saúde, e resplendia com a luz da vida e com alegria. A altura de Adão era muito maior do que a dos homens que hoje habitam a Terra. Eva era um pouco menor em estatura; contudo suas formas eram nobres e cheias de beleza. Esse casal, que não tinha pecados, não fazia uso de vestes artificiais; estavam revestidos de uma cobertura de luz e glória, tal como a usam os anjos. Enquanto viveram em obediência a Deus, esta veste de luz continuou a envolvê-los. PP 18 4 Depois da criação de Adão, toda criatura vivente foi trazida diante dele para receber seu nome; ele viu que a cada um fora dada uma companheira, mas que entre eles "não se achava adjutora que estivesse como diante dele". Gênesis 2:20. Entre todas as criaturas que Deus fez sobre a Terra, não havia uma igual ao homem. E disse "Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele". Gênesis 2:18. O homem não foi feito para habitar na solidão; ele deveria ser um ente social. Sem companhia, as belas cenas e deleitosas ocupações do Éden teriam deixado de proporcionar perfeita felicidade. Mesmo a comunhão com os anjos não poderia satisfazer seu desejo de simpatia e companhia. Ninguém havia da mesma natureza para amar e ser amado. PP 18 5 O próprio Deus deu a Adão uma companheira. Proveu-lhe uma "adjutora" -- ajudadora esta que lhe correspondesse -- a qual estava em condições de ser sua companheira, e que poderia ser um com ele, em amor e simpatia. Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como igual, e ser amada e protegida por ele. Como parte do homem, osso de seus ossos, e carne de sua carne, era ela o seu segundo eu, mostrando isto a íntima união e apego afetivo que deve existir nesta relação. "Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta". Efésios 5:29. "Portanto deixará o varão a seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne". Gênesis 2:24. PP 19 1 Deus celebrou o primeiro casamento. Assim esta instituição tem como seu originador o Criador do Universo. "Venerado [...] seja o matrimônio" (Hebreus 13:4); foi esta uma das primeiras dádivas de Deus ao homem, e é uma das duas instituições que, depois da queda, Adão trouxe consigo além das portas do Paraíso. Quando os princípios divinos são reconhecidos e obedecidos nesta relação, o casamento é uma bênção; preserva a pureza e felicidade do gênero humano, provê as necessidades sociais do homem, eleva a natureza física, intelectual e moral. PP 19 2 "E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente; e pôs ali o homem que tinha formado". Gênesis 2:8. Tudo o que Deus havia feito era a perfeição da beleza, e nada parecia faltar do que pudesse contribuir para a felicidade do santo par; deu-lhes, contudo, o Criador ainda outra demonstração de Seu amor, preparando um jardim especialmente para ser o seu lar. Neste jardim havia árvores de toda variedade, muitas das quais carregadas de deliciosos frutos. Havia lindas trepadeiras, que cresciam eretas, apresentando todavia um graciosíssimo aspecto, com seus ramos pendendo sob a carga de tentadores frutos, dos mais belos e variados matizes. Era o trabalho de Adão e Eva amoldar os ramos da trepadeira de maneira a formar caramanchéis, fazendo assim, para si, com as árvores vivas, moradas cobertas com folhagem e frutos. Havia fragrantes flores de toda cor, em grande profusão. No meio do jardim estava a árvore da vida, sobrepujando em glória a todas as outras árvores. Seu fruto assemelhava-se a maçãs de ouro e prata, e tinha a propriedade de perpetuar a vida. PP 19 3 A criação estava agora completa. "Os céus, e a Terra e todo o seu exército foram acabados". Gênesis 2:1. "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom". Gênesis 1:31. O Éden florescia sobre a Terra. Adão e Eva tinham franco acesso à árvore da vida. Nenhuma mancha de pecado ou sombra de morte deslustrava a formosa criação. "As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. PP 19 4 O grande Jeová lançara os fundamentos da Terra; ornamentara o mundo inteiro nas galas da beleza, e enchera-o de coisas úteis ao homem; criara todas as maravilhas da Terra e do mar. Em seis dias a grande obra da Criação se cumprira. E Deus "descansou no sétimo dia de toda Sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra, que Deus criara e fizera". Gênesis 2:2, 3. Deus olhou com satisfação para a obra de Suas mãos. Tudo era perfeito, digno de seu Autor divino; e Ele descansou, não como alguém que estivesse cansado, mas satisfeito com os frutos de Sua sabedoria e bondade, e com as manifestações de Sua glória. PP 20 1 Depois de repousar no sétimo dia, Deus o santificou, ou pô-lo à parte, como dia de repouso para o homem. Seguindo o exemplo do Criador, deveria o homem repousar neste santo dia, a fim de que, ao olhar para o céu e para a Terra, pudesse refletir na grande obra da criação de Deus; e para que, contemplando as provas da sabedoria e bondade de Deus, pudesse seu coração encher-se de amor e reverência para com o Criador. PP 20 2 No Éden, Deus estabeleceu o memorial de Sua obra da criação, depondo a Sua bênção sobre o sétimo dia. O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a família humana. Sua observância deveria ser um ato de grato reconhecimento, por parte de todos os que morassem sobre a Terra, de que Deus era seu Criador e legítimo Soberano; de que eles eram a obra de Suas mãos, e súditos de Sua autoridade. Assim, a instituição era inteiramente comemorativa, e foi dada a toda a humanidade. Nada havia nela prefigurativo, ou de aplicação restrita a qualquer povo. PP 20 3 Deus viu que um repouso era essencial para o homem, mesmo no Paraíso. Ele necessitava pôr de lado seus próprios interesses e ocupações durante um dia dos sete, para que pudesse de maneira mais ampla contemplar as obras de Deus, e meditar em Seu poder e bondade. Necessitava de um sábado para, de maneira mais vívida, o fazer lembrar de Deus, e para despertar-lhe gratidão, visto que tudo quanto desfrutava e possuía viera das benignas mãos do Criador. PP 20 4 Era o desígnio de Deus que o sábado encaminhasse a mente dos homens à contemplação de Suas obras criadas. A natureza fala aos sentidos, declarando que há um Deus vivo, Criador e supremo Governador de tudo. "Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite". Salmos 19:1, 2. A beleza que reveste a Terra é um sinal do amor de Deus. Podemos vê-Lo nas colinas eternas, nas árvores altaneiras, no botão que se entreabre, e nas delicadas flores. Tudo nos fala de Deus. O sábado, apontando sempre para Aquele que tudo fez, ordena aos homens abrirem o grande livro da natureza, e rastrear ali a sabedoria, o poder e o amor do Criador. PP 20 5 Nossos primeiros pais, se bem que criados inocentes e santos, não foram colocados fora da possibilidade de praticar o mal. Deus os fez como entidades morais livres, capazes de apreciar a sabedoria e benignidade de Seu caráter, e a justiça de Suas ordens, e com ampla liberdade de prestar obediência ou recusá-la. Deviam desfrutar comunhão com Deus e com os santos anjos; antes, porém, que pudessem tornar-se eternamente livres de perigo, devia ser provada sua fidelidade. No início mesmo da existência do homem, um empecilho fora posto ao desejo de satisfação própria, paixão fatal que está na base da queda de Satanás. A árvore da ciência, que se achava próxima da árvore da vida, no meio do jardim, devia ser uma prova da obediência, fé e amor de nossos primeiros pais. Ao mesmo tempo em que se lhes permitia comer livremente de todas as outras árvores, era-lhes proibido provar desta, sob pena de morte. Deviam também estar expostos às tentações de Satanás; mas, se resistissem à prova, seriam finalmente colocados fora de seu poder, para desfrutarem o favor perpétuo de Deus. PP 21 1 Deus pôs o homem sob a lei, como condição indispensável de sua própria existência. Ele era um súdito do governo divino, e não pode haver governo sem lei. Deus poderia ter criado o homem sem a faculdade de transgredir a Sua lei; poderia ter privado a mão de Adão de tocar no fruto proibido; neste caso, porém, o homem teria sido, não uma entidade moral, livre, mas um simples autômato. Sem liberdade de opção, sua obediência não teria sido voluntária, mas forçada. Não poderia haver desenvolvimento de caráter. Tal maneira de agir seria contrária ao plano de Deus ao tratar Ele com os habitantes de outros mundos. Seria indigna do homem como um ser inteligente, e teria apoiado a acusação, feita por Satanás, de governo arbitrário por parte de Deus. PP 21 2 Deus fez o homem reto; deu-lhe nobres traços de caráter, sem nenhum pendor para o mal. Dotou-o de altas capacidades intelectuais, e apresentou-lhe os mais fortes incentivos possíveis para que fosse fiel a seu dever. A obediência, perfeita e perpétua, era a condição para a felicidade eterna. Sob esta condição teria ele acesso à árvore da vida. PP 21 3 O lar de nossos primeiros pais deveria ser um modelo para outros lares, ao saírem seus filhos para ocuparem a Terra. Aquele lar, embelezado pela mão do próprio Deus, não era um suntuoso palácio. Os homens, em seu orgulho, deleitam-se com edifícios magnificentes e custosos, e gloriam-se com as obras de suas mãos; mas Deus colocou Adão em um jardim. Esta era a sua morada. O céu azul era a sua cúpula; a terra, com suas delicadas flores e tapete de relva viva, era o seu pavimento; e os ramos folhudos das formosas árvores eram o seu teto. De suas paredes pendiam os mais magnificentes adornos -- obra do grande e magistral Artífice. No ambiente em que vivia o santo par havia uma lição para todos os tempos, a lição de que a verdadeira felicidade é encontrada, não na satisfação do orgulho e luxo, mas na comunhão com Deus mediante Suas obras criadas. Se os homens dessem menos atenção às coisas artificiais, e cultivassem maior simplicidade, estariam em muito melhores condições de corresponderem com o propósito de Deus em Sua criação. O orgulho e a ambição nunca se satisfazem; aqueles, porém, que são verdadeiramente sábios encontrarão um prazer real e enobrecedor nas fontes de alegria que Deus colocou ao alcance de todos. PP 22 1 Aos moradores do Éden foi confiado o cuidado do jardim, "para o lavrar e o guardar". Sua ocupação não era cansativa, antes agradável e revigoradora. Deus indicou o trabalho como uma bênção para o homem, a fim de ocupar-lhe o espírito, fortalecer o corpo e desenvolver as faculdades. Na atividade mental e física Adão encontrava um dos mais elevados prazeres de sua santa existência. E quando, como resultado de sua desobediência, foi ele expulso de seu belo lar, e obrigado a lutar com o obstinado solo para ganhar o pão cotidiano, aquele mesmo trabalho, se bem que grandemente diverso de sua deleitável ocupação no jardim, foi uma salvaguarda contra a tentação, e fonte de felicidade. Aqueles que consideram o trabalho como maldição, acompanhado embora de cansaço e dor, estão acalentando um erro. Os ricos freqüentemente olham com desdém para as classes trabalhadoras; mas isto está inteiramente em desacordo com o propósito de Deus ao criar o homem. O que são as posses do mais rico mesmo, em comparação com a herança proporcionada ao nobre Adão? Contudo, Adão não devia estar ocioso. Nosso Criador, que compreende o que é necessário para a felicidade do homem, designou a Adão o seu trabalho. A verdadeira alegria da vida é encontrada apenas pelos homens e mulheres do trabalho. Os anjos são diligentes obreiros; são ministros de Deus para os filhos dos homens. O Criador não preparou lugar algum para a prática estagnante da indolência. PP 22 2 Enquanto permanecessem fiéis a Deus, Adão e sua companheira deveriam exercer governo sobre a Terra. Deu-se-lhes domínio ilimitado sobre toda a coisa vivente. O leão e o cordeiro brincavam pacificamente em redor deles, ou deitavam-se-lhes os pés. Os ditosos pássaros esvoaçavam ao seu redor, sem temor; e, ao ascenderem seus alegres cantos em louvor ao Criador, Adão e Eva uniam-se a eles em ações de graças ao Pai e ao Filho. PP 22 3 O santo par não era apenas filhos sob o cuidado paternal de Deus, mas estudantes a receberem instrução do Criador todo-sabedoria. Eram visitados pelos anjos, e concedia-se-lhes comunhão com seu Criador, sem nenhum véu protetor de separação. Estavam cheios do vigor comunicado pela árvore da vida, e sua capacidade intelectual era apenas pouco menor do que a dos anjos. Os mistérios do Universo visível -- "maravilhas dAquele que é perfeito nos conhecimentos" (Jó 37:16) -- conferiam-lhes uma fonte inesgotável de instrução e deleite. As leis e operações da natureza, que têm incitado o estudo dos homens durante seis mil anos, estavam-lhes abertas à mente pelo infinito Construtor e Mantenedor de tudo. Entretinham conversa com a folha, com a flor e a árvore, aprendendo de cada uma os segredos de sua vida. Com cada criatura vivente, desde o poderoso leviatã que folga entre as águas, até o minúsculo inseto que flutua no raio solar, era Adão familiar. Havia dado a cada um o seu nome, e conhecia a natureza e hábitos de todos. A glória de Deus nos Céus, os mundos inumeráveis em suas ordenadas revoluções, "o equilíbrio das grossas nuvens" (Jó 37:16), os mistérios da luz e do som, do dia e da noite, tudo estava patente ao estudo de nossos primeiros pais. Em cada folha na floresta, ou pedra nas montanhas, em cada estrela brilhante, na terra, no ar, e no céu, estava escrito o nome de Deus. A ordem e harmonia da criação falavam-lhes de sabedoria e poder infinitos. Estavam sempre a descobrir alguma atração que lhes enchia o coração de mais profundo amor, e provocava novas expressões de gratidão. PP 23 1 Enquanto permanecessem fiéis à lei divina, sua capacidade para saber, vivenciar e amar, cresceria continuamente. Estariam constantemente a adquirir novos tesouros de saber, a descobrir novas fontes de felicidade, e a obter concepções cada vez mais claras do incomensurável, infalível amor de Deus. ------------------------Capítulo 3 -- A tentação e a queda PP 24 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 3. PP 24 1 Não mais se achando livre para instigar a rebelião no Céu, encontrou a inimizade de Satanás contra Deus um novo campo, ao tramar a ruína do gênero humano. Na felicidade e paz do santo casal do Éden, contemplou um quadro da ventura que para ele estava para sempre perdida. Movido pela inveja decidiu-se a incitá-los à desobediência, e trazer sobre eles a culpa e o castigo do pecado. Mudaria o seu amor em desconfiança, seus cânticos de louvor em exprobrações a seu Criador. Assim não somente mergulharia estes seres inocentes na mesma miséria que ele próprio suportava, mas lançaria desonra a Deus, e ocasionaria pesares no Céu. PP 24 2 Nossos primeiros pais não foram deixados sem avisos do perigo que os ameaçava. Mensageiros celestiais expuseram-lhes a história da queda de Satanás, e suas tramas para sua destruição, explicando mais completamente a natureza do governo divino, que o príncipe do mal estava procurando transtornar. Foi pela desobediência às justas ordens de Deus que Satanás e seu exército caíram. Quão importante, pois, que Adão e Eva honrassem aquela lei pela qual somente é possível manter-se a ordem e a eqüidade! PP 24 3 A lei de Deus é tão sagrada como Ele próprio. É uma revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter, expressão do amor e sabedoria divinos. A harmonia da criação depende da perfeita conformidade de todos os seres, de todas as coisas, animadas e inanimadas, com a lei do Criador. Deus determinou leis, não somente para o governo dos seres vivos, mas para todas as operações da natureza. Tudo se encontra sob leis fixas, que não podem ser desrespeitadas. Todavia, ao mesmo tempo em que tudo na natureza é governado por leis naturais, o homem unicamente, dentre todos os que habitam na Terra, é responsável perante a lei moral. Ao homem, a obra coroadora da criação, Deus deu o poder de compreender o que Ele requer, a justiça e beneficência de Sua lei, e as santas reivindicações da mesma para com ele; e do homem se exige inabalável obediência. PP 24 4 Semelhantes aos anjos, os moradores do Éden haviam sido postos sob prova; seu feliz estado apenas poderia ser conservado sob a condição de fidelidade para com a lei do Criador. Poderiam obedecer e viver, ou desobedecer e perecer. Deus os fizera receptáculos de ricas bênçãos; mas, se desatendessem a Sua vontade, Aquele que não poupou os anjos que pecaram, não os poderia poupar; a transgressão privá-los-ia de seus dons, e sobre eles traria miséria e ruína. PP 25 1 Os anjos os advertiram a que estivessem de sobreaviso contra os ardis de Satanás; pois seus esforços para os enredar seriam incansáveis. Enquanto fossem obedientes a Deus, o maligno não lhes poderia fazer mal; pois sendo necessário, todos os anjos do Céu seriam enviados em seu auxílio. Se com firmeza repelissem suas primeiras insinuações, estariam tão livres de perigo como os mensageiros celestiais. Se, porém, cedessem uma vez à tentação, sua natureza se tornaria tão depravada que não teriam em si poder nem disposição para resistir a Satanás. PP 25 2 A árvore da ciência se tornara a prova de sua obediência e amor a Deus. O Senhor achara conveniente não lhes impor senão uma proibição quanto ao uso de tudo que estava no jardim; mas, se desatendessem a Sua vontade neste particular, incorreriam na culpa de transgressão. Satanás não os acompanharia com tentações contínuas; poderia ter acesso a eles unicamente junto à árvore proibida. Se eles tentassem examinar a natureza da mesma, estariam expostos aos seus ardis. Foram admoestados a dar cuidadosa atenção à advertência que Deus lhes enviara, e estarem contentes com as instruções que Ele achara conveniente comunicar-lhes. PP 25 3 A fim de realizar a sua obra sem que fosse percebido, Satanás preferiu fazer uso da serpente como médium, disfarce este bem adaptado ao seu propósito de enganar. A serpente era então uma das mais prudentes e belas das criaturas da Terra. Tinha asas, e enquanto voava pelos ares apresentava uma aparência de brilho deslumbrante, tendo a cor e o brilho de ouro polido. Pousando nos ramos profusamente carregados da árvore proibida, e saboreando o delicioso fruto, era seu objetivo chamar a atenção e deleitar os olhos de quem a visse. Assim, no jardim da paz emboscava-se o destruidor, a observar a sua presa. PP 25 4 Os anjos haviam advertido Eva de que tivesse o cuidado de não se afastar do esposo enquanto se ocupavam com seu trabalho diário no jardim; junto dele estaria em menor perigo de tentação, do que se estivesse sozinha. Mas, absorta em sua aprazível ocupação, inconscientemente se desviou de seu lado. Percebendo que estava só, sentiu uma apreensão de perigo, mas afugentou seus temores, concluindo que ela possuía sabedoria e força suficientes para discernir o mal e resistir-lhe. Esquecida do aviso do anjo, logo se achou a contemplar, com um misto de curiosidade e admiração, a árvore proibida. O fruto era muito belo, e ela perguntava a si mesma por que seria que Deus os privara do mesmo. Era então a oportunidade do tentador. Como se fosse capaz de distinguir as cogitações de seu espírito, a ela assim se dirigiu: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?" Gênesis 3:1. PP 25 5 Eva ficou surpresa e admirada quando assim pareceu ouvir o eco de seus pensamentos. Mas a serpente continuou, com voz melodiosa, com sutis louvores à superior beleza de Eva; e suas palavras não lhe eram desagradáveis. Em vez de fugir do local, deteve-se, maravilhada, a ouvir uma serpente falar. Houvesse se dirigido a ela um ser semelhante aos anjos, e ter-se-iam despertado seus receios; ela, porém, não tinha idéia alguma de que a fascinadora serpente pudesse tornar-se o intermediário do adversário decaído. PP 26 1 À pergunta ardilosa do tentador, ela responde: "Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." PP 26 2 Participando desta árvore, declarou ele, atingiriam uma esfera mais elevada de existência, e entrariam para um campo mais vasto de saber. Ele próprio havia comido do fruto proibido, e como resultado adquirira o dom da fala. E insinuou que o Senhor cuidadosamente desejava privá-los do mesmo, para que não acontecesse serem exaltados à igualdade para com Ele. Foi por causa de suas maravilhosas propriedades, que comunicavam sabedoria e poder, que Ele lhes havia proibido prová-lo, ou mesmo nele tocar. O tentador insinuou que a advertência divina não devia ser efetivamente cumprida; destinava-se simplesmente a intimidá-los. Como seria possível morrerem eles? Não haviam comido da árvore da vida? Deus estivera procurando impedi-los de atingir um desenvolvimento mais nobre, e de encontrarem maior felicidade. PP 26 3 Tal tem sido a obra de Satanás desde os dias de Adão até o presente, e com a mesma tem ele prosseguido com grande êxito. Ele tenta os homens a desconfiarem do amor de Deus, e a duvidarem de Sua sabedoria. Está constantemente procurando despertar um espírito de irreverente curiosidade, um inquieto, inquiridor desejo de penetrar os segredos da sabedoria e poder divinos. Em seus esforços para pesquisarem o que Deus foi servido recusar-lhes, multidões descuidam-se das verdades que Ele revelou, e que são essenciais para a salvação. Satanás tenta os homens à desobediência, levando-os a crer que estão a entrar em um maravilhoso campo de saber. Mas tudo isto é um engano. Desvanecendo-se com suas idéias de progresso, acham-se eles desprezando os mandamentos de Deus, colocando os pés na senda que leva à degradação e morte. PP 26 4 Satanás fez parecer ao santo par que eles ganhariam, violando a lei de Deus. Não ouvimos hoje idêntico raciocínio? Muitos falam da estreiteza daqueles que obedecem aos mandamentos de Deus, enquanto afirmam possuir idéias mais amplas e desfrutar de maior liberdade. O que é isto senão um eco da voz do Éden: "No dia em que dele comerdes", isto é, transgredirdes a ordem divina, "sereis como Deus"? Gênesis 3:5. Satanás alegou ter recebido grande benefício, comendo do fruto proibido, mas não deixou transparecer que pela transgressão viera a ser expulso do Céu. Embora houvesse achado que do pecado resulta infinita perda, ocultou sua própria miséria, a fim de arrastar outros à mesma posição. Assim hoje o transgressor procura disfarçar seu verdadeiro caráter; ele pode pretender ser santo; mas a sua elevada profissão apenas o torna mais perigoso como enganador. Acha-se ele do lado de Satanás, pisando a lei de Deus, e levando outros a fazerem o mesmo para a sua ruína eterna. PP 27 1 Eva creu realmente nas palavras de Satanás, mas a sua crença não a salvou da pena do pecado. Descreu das palavras de Deus, e isto foi o que a levou à queda. No Juízo, os homens não serão condenados porque conscienciosamente creram na mentira, mas porque não acreditaram na verdade, porque negligenciaram a oportunidade de aprender o que é a verdade. Apesar do sofisma de Satanás indicando o contrário, é sempre desastroso desobedecer a Deus. Devemos aplicar o coração a conhecer o que é a verdade. Todas as lições que Deus fez com que fossem registradas em Sua Palavra, são para a nossa advertência e instrução. São dadas para nos salvar do engano. Da negligência às mesmas resultará ruína a nós mesmos. O que quer que contradiga a Palavra de Deus, podemos estar certos de que procede de Satanás. PP 27 2 A serpente apanhou o fruto da árvore proibida e colocou-o nas mãos de Eva, que estava meio relutante. Fê-la então lembrar-se de suas próprias palavras de que Deus lhes proibira tocar nele, para que não morressem. Não receberiam maior mal comendo o fruto, declarou ele, do que nele tocando. Não percebendo maus resultados do que fizera, Eva ficou mais ousada. Quando viu "que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu". Gênesis 3:6. Era agradável ao paladar; e, enquanto comia, pareceu-lhe sentir um poder vivificador, e imaginou-se a entrar para uma esfera mais elevada de existência. Sem receio apanhou e comeu. E agora, havendo ela transgredido, tornou-se o agente de Satanás para efetuar a ruína de seu esposo. Em um estado de exaltação estranha e fora do natural, com as mãos cheias do fruto proibido, procurou a presença dele, e relatou tudo que ocorrera. PP 27 3 Uma expressão de tristeza sobreveio ao rosto de Adão. Mostrou-se atônito e alarmado. Às palavras de Eva replicou que isto devia ser o adversário contra quem haviam sido advertidos; e pela sentença divina ela deveria morrer. Em resposta insistiu com ele para comer, repetindo as palavras da serpente, de que certamente não morreriam. Ela raciocinava que isto deveria ser verdade, pois que não sentia evidência alguma do desagrado de Deus, mas ao contrário experimentava uma influência deliciosa, alegre, a fazer fremir toda a faculdade de uma nova vida, influência tal, imaginava ela, como a que inspirava os mensageiros celestiais. PP 27 4 Adão compreendeu que sua companheira transgredira a ordem de Deus, desrespeitara a única proibição a eles imposta como prova de sua fidelidade e amor. Teve uma terrível luta íntima. Lamentava que houvesse permitido desviar-se Eva de seu lado. Agora, porém, a ação estava praticada; devia separar-se daquela cuja companhia fora sua alegria. Como poderia suportar isto? Adão havia desfrutado da companhia de Deus e dos santos anjos. Havia olhado para a glória do Criador. Compreendia o elevado destino manifesto à raça humana, se permanecessem fiéis a Deus. Todavia, estas bênçãos todas foram perdidas de vista com o receio de perder ele aquela única dádiva, que, a seus olhos, sobrepujava todas as outras. O amor, a gratidão, a lealdade para com o Criador, tudo foi suplantado pelo amor para com Eva. Ela era uma parte dele, e ele não podia suportar a idéia da separação. Não compreendia que o mesmo Poder infinito que do pó da terra o havia criado, como um ser vivo e belo, e amorosamente lhe dera uma companheira, poderia preencher a falta desta. Resolveu partilhar sua sorte; se ela devia morrer, com ela morreria ele. Afinal, raciocinou, não poderiam ser verdadeiras as palavras da sábia serpente? Eva estava diante dele, tão bela, e aparentemente tão inocente como antes deste ato de desobediência. Exprimia maior amor para com ele do que antes. Nenhum sinal de morte aparecia nela, e ele se decidiu a afrontar as conseqüências. Tomou o fruto, e o comeu rapidamente. PP 28 1 Depois da sua transgressão, Adão a princípio imaginou-se a entrar para uma condição mais elevada de existência. Mas logo o pensamento de seu pecado o encheu de terror. O ar, que até ali havia sido de uma temperatura amena e uniforme, parecia resfriar o culpado casal. Desapareceram o amor e paz que haviam desfrutado, e em seu lugar experimentavam uma intuição de pecado, um terror pelo futuro, uma nudez de alma. A veste de luz que os rodeara, agora desapareceu; e para suprir sua falta procuraram fazer para si uma cobertura, pois enquanto estivessem nus, não podiam enfrentar o olhar de Deus e dos santos anjos. PP 28 2 Começaram então a ver o verdadeiro caráter de seu pecado. Adão censurou a companheira pela sua insensatez em sair de seu lado, e deixar-se enganar pela serpente; mas ambos acalentaram a esperança de que Aquele que lhes tinha dado tantas provas de Seu amor, perdoaria esta única transgressão, ou de que não seriam submetidos a um tão horrendo castigo como haviam receado. PP 28 3 Satanás exultou com seu êxito. Tinha tentado a mulher a desconfiar do amor de Deus, a duvidar de Sua sabedoria, e a transgredir a Sua lei e, por meio dela, ocasionara a derrota de Adão. PP 28 4 Entretanto, o grande Legislador estava para tornar conhecidas a Adão e Eva as conseqüências de sua transgressão. Manifestou-se no jardim a presença divina. Em sua inocência e santidade tinham eles alegremente recebido a aproximação de seu Criador; mas agora fugiram aterrorizados, e procuraram esconder-se nos mais profundos recessos do jardim. Mas "chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?" Gênesis 3:11. PP 29 1 Adão não podia negar nem desculpar seu pecado; mas, em vez de manifestar arrependimento, esforçou-se por lançar a culpa sobre a esposa, e assim sobre o próprio Deus: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e eu comi". Gênesis 3:12. Aquele que, por amor a Eva, havia deliberadamente preferido perder a aprovação de Deus, o seu lar no Paraíso, e uma vida eterna de alegria, podia, agora, depois de sua queda, procurar tornar sua companheira, e mesmo o próprio Criador, responsável pela transgressão. Tão terrível é o poder do pecado. PP 29 2 Quando foi interrogado à mulher: "Por que fizeste isto?" ela respondeu: "A serpente me enganou, e eu comi". Gênesis 3:13. "Por que criaste a serpente? Por que lhe permitiste entrar no Éden?" -- Tais eram as perguntas envolvidas em sua desculpa apresentada pelo pecado. Assim, como fizera Adão, lançou sobre Deus a responsabilidade de sua queda. O espírito de justificação própria originou-se com o pai da mentira; foi alimentado por nossos primeiros pais logo que se renderam à influência de Satanás, e tem sido apresentado por todos os filhos e filhas de Adão. Em vez de humildemente confessarem os pecados, procuram escudar-se lançando a culpa sobre outros, sobre as circunstâncias, ou sobre Deus, fazendo mesmo de Suas bênçãos um motivo para murmuração contra Ele. PP 29 3 O Senhor então pronunciou sentença sobre a serpente: "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campos; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida". Gênesis 3:14. Visto que havia sido empregada como o intermediário de Satanás, a serpente devia participar da visitação do juízo divino. Da mais linda e admirada das criaturas do campo, devia tornar-se na mais rasteira e detestada de todas elas, temida e odiada tanto pelo homem como pelos animais. As palavras dirigidas em seguida à serpente aplicam-se diretamente ao próprio Satanás, indicando de antemão sua final derrota e destruição: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar". Gênesis 3:15. PP 29 4 Referiram-se a Eva a tristeza e a dor que deveriam dali em diante ser o seu quinhão. E disse o Senhor: "O teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará". Gênesis 3:16. Na criação Deus a fizera igual a Adão. Se houvessem eles permanecido obedientes a Deus -- em harmonia com Sua grande lei de amor -- sempre estariam em harmonia um com o outro; mas o pecado trouxera a discórdia, e agora poderia manter-se a sua união e conservar-se a harmonia unicamente pela submissão por parte de um ou de outro. Eva fora a primeira a transgredir; e caíra em tentação afastando-se de seu companheiro, contrariamente à instrução divina. Foi à sua solicitação que Adão pecou, e agora foi posta sob a sujeição de seu marido. Se os princípios ordenados na lei de Deus tivessem sido acariciados pela raça decaída, esta sentença, se bem que proveniente dos resultados do pecado, ter-se-ia mostrado ser uma bênção para o gênero humano; mas o abuso da supremacia assim dada ao homem tem tornado a sorte da mulher mui freqüentemente bastante amargurada, fazendo de sua vida um fardo. PP 30 1 Eva tinha sido perfeitamente feliz ao lado do esposo, em seu lar edênico; mas, semelhante às inquietas Evas modernas, lisonjeou-se com a esperança de entrar para uma esfera mais elevada do que aquela que Deus lhe designara. Tentando erguer-se acima de sua posição original, caiu muito abaixo da mesma. Idêntico resultado será alcançado por todas as que estão indispostas a assumir com bom ânimo os deveres da vida, de acordo com o plano de Deus. Em seus esforços para atingirem posições para as quais Ele não as adaptou, muitas estão deixando vago o lugar em que poderiam ser uma bênção. Em seu desejo de uma esfera mais elevada, muitas têm sacrificado a verdadeira dignidade feminil, e a nobreza de caráter, e deixaram por fazer precisamente o trabalho que o Céu lhes designou. PP 30 2 A Adão disse o Senhor: "Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás". Gênesis 3:17-19. PP 30 3 Não era a vontade de Deus que o casal sem pecados conhecesse algo do mal. Livremente lhes dera o bem, e lhes recusara o mal. Mas, contrariamente à Sua ordem, haviam comido da árvore proibida, e agora continuariam a comer dela, isto é, teriam a ciência do mal, por todos os dias de sua vida. Desde aquele tempo o gênero humano seria afligido pelas tentações de Satanás. Em vez do trabalho feliz até então a eles designado, a ansiedade e a labuta seriam seu quinhão. Estariam sujeitos ao desapontamento, pesares, dor, e finalmente à morte. PP 30 4 Sob a maldição do pecado, a natureza toda devia testemunhar ao homem o caráter e resultado da rebelião contra Deus. Quando Deus fez o homem, Ele o fez governador sobre a Terra e todas as criaturas viventes. Enquanto Adão permanecesse fiel ao Céu, toda a natureza estaria sob a sua sujeição. Quando, porém, se rebelou contra a lei divina, as criaturas inferiores ficaram em rebelião contra o seu domínio. Assim o Senhor, em Sua grande misericórdia, mostraria aos homens a santidade de Sua lei, e os levaria por sua própria experiência a ver o perigo de a pôr de lado, mesmo no mínimo grau. PP 30 5 E a vida de labutas e cuidados que dali em diante deveria ser o quinhão do homem, foi ordenada com amor. Uma disciplina que se tornara necessária pelo seu pecado, foi o obstáculo posto à satisfação do apetite e paixão, e o desenvolvimento de hábitos de domínio próprio. Fazia parte do grande plano de Deus para a restauração do homem, da ruína e degradação do pecado. A advertência feita a nossos primeiros pais -- "No dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gênesis 2:17), não implicava que devessem eles morrer no próprio dia em que participassem do fruto proibido. Mas naquele dia a irrevogável sentença seria pronunciada. A imortalidade lhes era prometida sob condição de obediência; pela transgressão despojar-se-iam da vida eterna. Naquele mesmo dia estariam condenados à morte. PP 31 1 A fim de possuir uma existência eterna, o homem devia continuar a participar da árvore da vida. Privado disto, sua vitalidade diminuiria gradualmente até que a vida se extinguisse. Era o plano de Satanás que Adão e Eva pela desobediência incorressem no desprazer de Deus; e então, se deixassem de obter o perdão, esperava que comessem da árvore da vida, e assim perpetuassem uma existência de pecado e miséria. Depois da queda do homem, porém, santos anjos foram imediatamente comissionados para guardarem a árvore da vida. Em redor desses anjos chamejavam raios de luz, tendo a aparência de uma espada inflamada. A nenhum da família de Adão foi permitido passar aquela barreira para participar do fruto doador de vida; logo, não há nenhum pecador imortal. PP 31 2 A onda de desgraças que emanou da transgressão de nossos primeiros pais, é considerada por muitos como uma conseqüência demasiado terrível para um pecado tão pequeno; e acusam a sabedoria e justiça de Deus em Seu trato com o homem. Mas, se eles olhassem mais profundamente para esta questão, poderiam discernir o seu erro. Deus criou o homem à Sua semelhança, livre do pecado. A Terra devia ser povoada com seres algo inferiores aos anjos; mas a sua obediência seria provada, pois que Deus não permitiria que o mundo se enchesse daqueles que desrespeitassem a Sua lei. Contudo, em Sua grande misericórdia, não designou a Adão uma prova severa. E a própria leveza da proibição tornou o pecado excessivamente grande. Se Adão não pôde suportar a menor das provas, não poderia ter resistido a uma prova maior, caso houvessem sido confiadas a ele maiores responsabilidades. PP 31 3 Se tivesse sido designada a Adão alguma prova grande, aqueles cujo coração, se inclina para o mal desculpar-se-iam então, dizendo: "Isto é uma coisa trivial, e Deus não é tão exigente a respeito de coisas pequenas". E haveria contínua transgressão em coisas consideradas pequenas, as quais ficam sem reprovação humana. O Senhor, porém, tornou patente que o pecado, em qualquer grau, é ofensivo para Ele. PP 31 4 A Eva pareceu coisa pequena desobedecer a Deus provando o fruto da árvore proibida, e tentar o esposo a transgredir também; entretanto, o pecado deles abriu as portas ao dilúvio das desgraças sobre o mundo. Quem pode saber, no momento da tentação, as terríveis conseqüências que advirão de um passo errado? PP 32 5 Muitos que ensinam que a lei de Deus não está em vigor para o homem, insistem que é impossível a este obedecer aos seus preceitos. Mas, se isto fosse verdade, por que sofreu Adão a pena da transgressão? O pecado de nossos primeiros pais acarretou a culpa e a tristeza sobre o mundo, e se não fora a bondade e misericórdia de Deus, teria mergulhado a raça humana em irremediável desespero. Que ninguém se engane. "O salário do pecado é a morte". Romanos 6:23. A lei de Deus não pode ser transgredida hoje com menos impunidade do que quando fora pronunciada a sentença sobre o pai da humanidade. PP 32 1 Depois de seu pecado Adão e Eva não mais deviam habitar no Éden. Encarecidamente rogaram para que pudessem permanecer no lar de sua inocência e alegria. Confessaram que haviam perdido todo o direito àquela feliz morada, mas comprometeram-se para no futuro prestar estrita obediência a Deus. Declarou-se-lhes, porém, que sua natureza ficara depravada pelo pecado; haviam diminuído sua força para resistir ao mal, e aberto o caminho para Satanás ganhar mais fácil acesso a eles. Em sua inocência tinham cedido à tentação; e agora, em estado de culpa consciente, teriam menos poder para manter sua integridade. PP 32 2 Com humildade e indizível tristeza despediram-se de seu belo lar, e saíram para habitar na Terra, onde repousava a maldição do pecado. A atmosfera, que fora tão amena e constante em sua temperatura, estava agora sujeita a assinaladas mudanças, e o Senhor misericordiosamente lhes proveu uma veste de peles, como proteção contra os extremos de calor e frio. PP 32 3 Testemunhando eles, no murchar da flor e no cair da folha, os primeiros sinais da decadência, Adão e sua companheira choraram mais profundamente do que os homens hoje fazem pelos seus mortos. A morte das débeis e delicadas flores era na verdade um motivo para tristeza; mas, quando as formosas árvores derrubaram as folhas, esta cena levou-lhe vividamente ao espírito o fato cruel de que a morte é o quinhão de todo o ser vivente. PP 32 4 O jardim do Éden permaneceu na Terra muito tempo depois que o homem fora expulso de seus agradáveis caminhos. Gênesis 4:16. Foi permitido à raça decaída por muito tempo contemplar o lar da inocência, estando a sua entrada vedada apenas pelos anjos vigilantes. À porta do Paraíso, guardada pelos querubins, revelava-se a glória divina. Para ali iam Adão e seus filhos a fim de adorarem a Deus. Ali renovaram seus votos de obediência àquela lei cuja transgressão os havia banido do Éden. Quando a onda de iniqüidade se propagou pelo mundo, e a impiedade dos homens determinou sua destruição por meio de um dilúvio de água, a mão que plantara o Éden o retirou da Terra. Mas, na restauração final de todas as coisas, quando houver "um novo céu e uma nova Terra" (Apocalipse 21:1), será restabelecido, mais gloriosamente adornado do que no princípio. PP 32 5 Então os que guardaram os mandamentos de Deus respirarão um vigor imortal, por sob a árvore da vida (Apocalipse 2:7; 22:14); e, através de infindáveis séculos, os habitantes dos mundos que não pecaram contemplarão no jardim de delícias um modelo da obra perfeita da criação de Deus, sem qualquer sinal da maldição do pecado -- modelo do que teria sido a Terra inteira se tão-somente houvesse o homem cumprido o plano glorioso do Criador. ------------------------Capítulo 4 -- O plano da redenção PP 33 1 A queda do homem encheu o Céu todo de tristeza. O mundo que Deus fizera estava manchado pela maldição do pecado, e habitado por seres condenados à miséria e morte. Não parecia haver meio pelo qual pudessem escapar os que tinham transgredido a lei. Os anjos cessaram os seus cânticos de louvor. Por toda a corte celestial havia pranto pela ruína que o pecado ocasionara. PP 33 2 O Filho de Deus, o glorioso Comandante do Céu, ficou tocado de piedade pela raça decaída. Seu coração moveu-se de infinita compaixão ao erguerem-se diante dEle os ais do mundo perdido. Entretanto o amor divino havia concebido um plano pelo qual o homem poderia ser remido. A lei de Deus, quebrantada, exigia a vida do pecador. Em todo o Universo não havia senão um Ser que, em favor do homem, poderia satisfazer as suas reivindicações. Visto que a lei divina é tão sagrada como o próprio Deus, unicamente um Ser igual a Deus poderia fazer expiação por sua transgressão. Ninguém, a não ser Cristo, poderia redimir da maldição da lei o homem decaído, e levá-lo novamente à harmonia com o Céu. Cristo tomaria sobre Si a culpa e a ignomínia do pecado -- pecado tão ofensivo para um Deus santo que deveria separar entre Si o Pai e o Filho. Cristo atingiria as profundidades da miséria para libertar a raça que fora arruinada. PP 33 3 Perante o Pai pleiteou Ele em prol do pecador, enquanto a hoste celestial aguardava o resultado com um interesse de tal intensidade que palavras não o poderão exprimir. Mui prolongada foi aquela comunhão misteriosa -- o "conselho de paz" (Zacarias 6:13) em prol dos decaídos filhos dos homens. O plano da salvação fora estabelecido antes da criação da Terra; pois Cristo é "o Cordeiro morto desde a fundação do mundo" (Apocalipse 13:8); foi, contudo, uma luta, mesmo para o Rei do Universo, entregar Seu Filho para morrer pela raça culposa. Mas "Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Oh, que mistério da redenção! o amor de Deus por um mundo que O não amou! Quem pode conhecer as profundidades daquele amor que "excede todo o entendimento?" Durante séculos eternos, mentes imortais, procurando entender o mistério daquele amor incompreensível, maravilhar-se-ão e adorarão. PP 33 4 Deus ia ser manifesto em Cristo, "reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. O homem se tornara tão degradado pelo pecado que lhe era impossível, por si mesmo, andar em harmonia com Aquele cuja natureza é pureza e bondade. Mas Cristo, depois de ter remido o homem da condenação da lei, poderia comunicar força divina para se unir com o esforço humano. Assim, pelo arrependimento para com Deus e fé em Cristo, os caídos filhos de Adão poderiam mais uma vez tornar-se "filhos de Deus". 1 João 3:2. PP 34 1 O plano pelo qual poderia unicamente conseguir-se a salvação do homem, abrangia o Céu todo em seu infinito sacrifício. Os anjos não puderam regozijar-se ao desvendar-lhes Cristo o plano da redenção; pois viram que a salvação do homem deveria custar a indizível mágoa de seu amado Comandante. Com pesar e admiração escutaram Suas palavras ao contar-lhes Ele como deveria descer da pureza e paz do Céu, de sua alegria, glória e vida imortal, e vir em contato com a degradação da Terra, para suportar suas tristezas, ignomínia e morte. Ele deveria ficar entre o pecador e a pena do pecado; poucos, todavia, O receberiam como o Filho de Deus. Deixaria Sua elevada posição como a Majestade do Céu, apareceria na Terra e humilhar-Se-ia como um homem, e, pela Sua própria experiência, familiarizar-Se-ia com as tristezas e tentações que o homem teria de enfrentar. Tudo isto seria necessário a fim de que Ele pudesse socorrer os que fossem tentados. Hebreus 2:18. Quando Sua missão como ensinador estivesse terminada, deveria ser entregue nas mãos de homens ímpios, e ser submetido a todo insulto e tortura que Satanás os poderia inspirar a infligir. Deveria morrer a mais cruel das mortes, suspenso entre o céu e a Terra como um pecador criminoso. Deveria passar longas horas de agonia tão terrível que anjos não poderiam olhar para isso, mas velariam o rosto para não verem aquele quadro. Deveria suportar aflição de alma, a ocultação da face do Pai, enquanto a culpa da transgressão -- o peso dos pecados do mundo inteiro -- estivessem sobre Ele. PP 34 2 Os anjos prostraram-se aos pés de Seu Comandante, e ofereceram-se para serem sacrifício para o homem. Mas a vida de um anjo não poderia pagar a dívida; apenas Aquele que criara o homem tinha poder para o redimir. Contudo, deveriam os anjos ter uma parte a desempenhar no plano da redenção. Cristo havia de fazer-Se "um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte". Hebreus 2:9. Tomando Ele sobre Si a natureza humana, Sua força não seria igual à deles, e deveriam eles ministrar-Lhe, fortalecê-Lo em Seus sofrimentos, e mitigar-Lhos. Deveriam também ser espíritos ministradores, enviados para ministrarem a favor daqueles que seriam herdeiros da salvação. Hebreus 1:14. Eles guardariam os súditos da graça, do poder dos anjos maus, e das trevas arremessadas constantemente em redor deles por Satanás. PP 34 3 Quando os anjos testemunhassem a agonia e humilhação de seu Senhor, encher-se-iam de dor e indignação, e desejariam livrá-Lo de Seus assassinos; mas não deveriam intervir a fim de evitar qualquer coisa que vissem. Fazia parte do plano da redenção que Cristo sofresse o escárnio e mau trato de homens ímpios; e Ele consentiu com tudo isto quando Se tornou o Redentor do homem. PP 35 1 Cristo assegurou aos anjos que pela Sua morte resgataria a muitos, e destruiria aquele que tinha o poder da morte. Recuperaria o reino que o homem perdera pela transgressão, e os remidos deveriam herdá-lo com Ele, e nele habitar para sempre. Pecado e pecadores seriam extintos, para nunca mais perturbarem a paz do Céu ou da Terra. Ele ordenou que o exército angélico estivesse de acordo com o plano que Seu Pai aceitara, e se alegrasse de que, pela Sua morte, o homem decaído pudesse reconciliar-se com Deus. PP 35 2 Então alegria, inexprimível alegria, encheu o Céu. A glória e bem-aventurança de um mundo remido sobrepujaram mesmo a angústia e sacrifício do Príncipe da vida. Pelos paços celestiais ecoaram os primeiros acordes daquele cântico que deveria soar por sobre as colinas de Belém: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens". Lucas 2:14. Com mais intensa alegria então do que no enlevo da criação recém-feita, "as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam". Jó 38:7. PP 35 3 Para o homem, a primeira indicação de redenção foi dada na sentença pronunciada sobre Satanás, no jardim. Declarou o Senhor: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar". Gênesis 3:15. Esta sentença, proferida aos ouvidos de nossos primeiros pais, foi para eles uma promessa. Ao mesmo tempo em que predizia guerra entre o homem e Satanás, declarava que o poder do grande adversário finalmente seria quebrado. Adão e Eva achavam-se como criminosos diante do justo Juiz, esperando a sentença em que pela transgressão tinham incorrido; mas antes que ouvissem da vida de lutas e tristezas que devia ser a sua porção, ou o decreto de que deviam voltar ao pó, escutaram palavras que não poderiam deixar de lhes dar esperança. Posto que devessem sofrer pelo poder de seu forte adversário, poderiam olhar no futuro para a vitória final. PP 35 4 Quando Satanás ouviu que existiria inimizade entre ele e a mulher, e entre sua semente e a semente dela, viu que sua obra de degenerar a natureza humana seria interrompida; que por algum meio o homem se habilitaria a resistir a seu poder. Sendo, contudo, o plano da salvação mais amplamente patenteado, Satanás regozijou-se com seus anjos de que, tendo ocasionado a queda do homem, faria baixar o Filho de Deus de Sua exaltada posição. Declarou que até ali haviam sido os seus planos muito bem-sucedidos na Terra, e que, quando Cristo tomasse sobre Si a natureza humana, Ele também poderia ser vencido, e desta maneira ser impedida a redenção da raça decaída. PP 35 5 Anjos celestiais de maneira mais ampla patentearam a nossos primeiros pais o plano que fora concebido para a sua salvação. Afirmou-se a Adão e sua companheira que, apesar de seu grande pecado, não seriam eles abandonados ao domínio de Satanás. O Filho de Deus Se oferecera, para expiar, com Sua própria vida, a transgressão deles. Um período de graça lhes seria concedido e, mediante o arrependimento e a fé em Cristo, poderiam de novo tornar-se filhos de Deus. PP 36 1 O sacrifício exigido por sua transgressão, revelava a Adão e Eva o caráter sagrado da lei de Deus; e viram, como nunca antes o fizeram, a culpabilidade do pecado, e seus funestos resultados. Em seu remorso e angústia rogaram que a pena não recaísse nAquele cujo amor havia sido a fonte de toda a sua alegria; antes, que repousasse sobre eles e sua posteridade. PP 36 2 Foi-lhes dito que, visto ser a lei de Jeová o fundamento de Seu governo no Céu assim como na Terra, mesmo a vida de um anjo não poderia ser aceita como sacrifício por sua transgressão. Nenhum de seus preceitos poderia ser anulado ou mudado para valer ao homem em sua condição decaída; mas o Filho de Deus, que criara o homem, poderia fazer expiação por ele. Assim como a transgressão de Adão tinha trazido miséria e morte, o sacrifício de Cristo traria vida e imortalidade. PP 36 3 Não somente o homem mas também a Terra tinha pelo pecado vindo sob o poder do maligno, e deveria ser restaurada pelo plano da redenção. Ao ser criado, foi Adão posto no domínio da Terra. Mas, cedendo à tentação, foi levado sob o poder de Satanás. "Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo". 2 Pedro 2:19. Quando o homem se tornou cativo de Satanás, o domínio que exercera passou para o seu vencedor. Assim Satanás se tornou o "deus deste século". 2 Coríntios 4:4. Ele usurpou aquele domínio sobre a Terra, que originalmente fora dado a Adão. Cristo, porém, pagando pelo Seu sacrifício a pena do pecado, não somente remiria o homem mas restabeleceria o domínio que ele perdera. Tudo que foi perdido pelo primeiro Adão será restaurado pelo segundo. Diz o profeta: "E a Ti, ó Torre do rebanho, monte da filha de Sião, a Ti virá; sim, a Ti virá o primeiro domínio". Miquéias 4:8. E o apóstolo Paulo aponta para a "redenção da possessão de Deus". Efésios 1:14. Deus criou a Terra para ser a morada de seres santos, felizes. O Senhor "formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada". Isaías 45:18. Aquele propósito se cumprirá, quando, renovada pelo poder de Deus, e libertada do pecado e tristeza, se tornar a eterna habitação dos remidos. "Os justos herdarão a Terra, e habitarão nela para sempre". Salmos 37:29. "E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os Seus servos O servirão". Apocalipse 22:3. PP 36 4 Adão, em sua inocência, havia desfrutado ampla comunhão com seu Criador; mas o pecado opera separação entre Deus e o homem, e unicamente a obra expiatória de Cristo poderia transpor o abismo, e tornar possível a comunicação de bênçãos ou salvação, do Céu à Terra. O homem ainda estava desligado de uma aproximação direta com o seu Criador, mas Deus Se comunicaria com ele por meio de Cristo e os anjos. PP 37 1 Assim, foram revelados a Adão fatos importantes na história da humanidade, desde o tempo em que a sentença divina fora pronunciada no Éden, até o dilúvio, e, a seguir, até o primeiro advento do Filho de Deus. Mostrou-se-lhe que, conquanto o sacrifício de Cristo fosse de valor suficiente para salvar o mundo inteiro, muitos prefeririam uma vida de pecado em vez de arrependimento e obediência. O crime aumentaria durante gerações sucessivas, e a maldição do pecado repousaria mais e mais pesadamente sobre o gênero humano, sobre os animais e sobre a Terra. Os dias do homem seriam abreviados pela sua própria conduta de pecado; degenerar-se-ia ele em sua estatura e resistência física, e em sua faculdade moral e intelectual, até que o mundo se enchesse de misérias de todo o tipo. Mediante a satisfação do apetite e paixão, tornar-se-iam os homens incapazes de apreciar as grandes verdades do plano da redenção. Cristo, no entanto, fiel ao propósito pelo qual deixou o Céu, continuaria Seu interesse pelos homens, e ainda os convidaria a esconder nEle suas fraquezas e deficiências. Supriria as necessidades de todos os que a Ele viessem pela fé. E sempre haveria alguns que preservariam o conhecimento de Deus, e permaneceriam incontaminados por entre a iniqüidade que prevaleceria. PP 37 2 As ofertas sacrificais foram ordenadas por Deus a fim de serem para o homem uma perpétua lembrança de seu pecado, e um reconhecimento de arrependimento do mesmo, bem como seriam uma confissão de sua fé no Redentor prometido. Destinavam-se a impressionar a raça decaída com a solene verdade de que foi o pecado que causou a morte. Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia dolorosíssima. Sua mão deveria erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus podia dar. Foi a primeira vez que testemunhava a morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido morte de homem ou animal. Ao matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado deveria derramar o sangue do imaculado Cordeiro de Deus. Esta cena deu-lhe uma intuição mais profunda e vívida da grandeza de sua transgressão, que coisa alguma a não ser a morte do amado Filho de Deus poderia expiar. E maravilhou-se com a bondade infinita que daria tal resgate para salvar o culpado. Uma estrela de esperança iluminou o futuro tenebroso e terrível, e o aliviou de sua desolação total. PP 37 3 Mas o plano da redenção tinha um propósito ainda mais vasto e profundo do que a salvação do homem. Não foi para isto apenas que Cristo veio à Terra; não foi simplesmente para que os habitantes deste pequeno mundo pudessem considerar a lei de Deus como devia ela ser considerada; mas foi para reivindicar o caráter de Deus perante o Universo. Para este resultado de Seu grande sacrifício, ou seja, a influência do mesmo sobre os entes de outros mundos, bem como sobre o homem, olhou antecipadamente o Salvador quando precisamente antes de Sua crucifixão disse: "Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim". João 12:31, 32. O ato de Cristo ao morrer pela salvação do homem, não somente tornaria o Céu acessível à humanidade, mas perante todo o Universo justificaria a Deus e Seu Filho, em Seu trato com a rebelião de Satanás. Estabeleceria a perpetuidade da lei de Deus, e revelaria a natureza e os resultados do pecado. PP 38 1 Desde o princípio a grande controvérsia fora a respeito da lei de Deus. Satanás procurara provar que Deus era injusto, que Sua lei era defeituosa, e que o bem do Universo exigia que ela fosse mudada. Atacando a lei, visava ele subverter a autoridade de seu Autor. Mostrar-se-ia no conflito se os estatutos divinos eram deficientes e passíveis de mudança, ou perfeitos e imutáveis. PP 38 2 Quando Satanás foi arremessado do Céu, resolveu tornar a Terra o seu reino. Quando tentou e venceu Adão e Eva, achou que havia adquirido posse deste mundo; "porque", dizia ele, "escolheram a mim como seu príncipe". Alegava que era impossível ser concedido o perdão ao pecador, e, portanto, a raça decaída constituía legítimos súditos seus, e seu era o mundo. Mas Deus dera o Seu amado Filho -- igual a Ele mesmo, a fim de suportar a pena da transgressão, e assim proveu um caminho pelo qual pudessem ser restabelecidos ao Seu favor, e de novo trazidos ao seu lar edênico. Cristo empreendeu redimir o homem, e livrar o mundo das garras de Satanás. O grande conflito iniciado no Céu devia ser decidido no próprio mundo, no próprio campo que Satanás alegara como seu. PP 38 3 Foi maravilha para todo o Universo que Cristo Se humilhasse para salvar o homem decaído. Que Aquele que passara de uma estrela para outra, de um mundo para outro, dirigindo tudo, suprindo pela Sua providência as necessidades de toda a ordem de seres em Sua vasta criação -- que Ele consentisse em deixar Sua glória e tomar sobre Si a natureza humana, era um mistério que os seres sem pecado de outros mundos desejavam compreender. Quando Cristo veio ao nosso mundo sob a forma humana, todos estavam profundamente interessados em acompanhá-Lo, ao percorrer Ele, passo a passo, a vereda ensangüentada a partir da manjedoura ao Calvário. O Céu observou o insulto e zombaria que Ele recebeu, e sabia que isto foi por instigação de Satanás. Notaram a operação das forças contrárias a avançar, impelindo Satanás constantemente trevas, tristezas e sofrimento sobre a raça, e estando Cristo a reagir contra isso. Observaram a batalha entre a luz e as trevas, enquanto a mesma se tornava mais forte. E ao clamar Cristo em Sua aflição mortal sobre a cruz: "Está consumado" (João 19:30), um brado de triunfo repercutiu por todos os mundos, e pelo próprio Céu. A grande contenda que estivera em andamento durante tanto tempo neste mundo, estava agora decidida, e Cristo era vencedor. Sua morte resolveu a questão de terem ou não o Pai e o Filho amor suficiente pelo homem para exercerem a abnegação e um espírito de sacrifício. Havia Satanás revelado seu verdadeiro caráter de mentiroso e assassino. Viu-se que o mesmo espírito, com que governara os filhos dos homens que estiveram sob o seu poder, ele teria manifestado se lhe fora permitido governar os seres do Céu. Unanimemente o Universo fiel uniu-se no engrandecimento da administração divina. PP 39 1 Se a lei pudesse ser mudada, ter-se-ia podido salvar o homem sem o sacrifício de Cristo; mas o fato de que foi necessário Cristo dar a vida pela raça caída prova que a lei de Deus não livrará o pecador de suas reivindicações sobre ele. Está demonstrado que o salário do pecado é a morte. Quando Cristo morreu, ficou assegurada a destruição de Satanás. Mas, se a lei foi abolida na cruz, como muitos pretendem, a agonia e morte do amado Filho de Deus foram suportadas unicamente para dar a Satanás exatamente o que ele pedia; triunfou então o príncipe do mal, foram sustentadas suas acusações contra o governo divino. O próprio fato de que Cristo suportou a pena da transgressão do homem, é um poderoso argumento a todos os seres criados, de que a lei é imutável; que Deus é justo, misericordioso, e abnegado; e que a justiça e misericórdia infinitas unem-se na administração de Seu governo. ------------------------Capítulo 5 -- Caim e Abel provados PP 40 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 4:1-15. PP 40 1 Caim e Abel, filhos de Adão, diferiam grandemente em caráter. Abel tinha um espírito de fidelidade para com Deus; via justiça e misericórdia no trato do Criador com a raça decaída, e com gratidão aceitou a esperança da redenção. Caim, porém, acariciava sentimentos de rebeldia, e murmurava contra Deus por causa da maldição pronunciada sobre a Terra e sobre o gênero humano, em virtude do pecado de Adão. Permitiu que a mente se deixasse levar pelo mesmo conduto que determinara a queda de Satanás, condescendendo com o desejo de exaltação própria, e pondo em dúvida a justiça e autoridade divinas. PP 40 2 Esses irmãos foram provados, assim como o fora Adão antes deles, para mostrar se creriam na Palavra de Deus e obedeceriam à mesma. Estavam cientes da providência tomada para a salvação do homem, e compreendiam o sistema de ofertas que Deus ordenara. Sabiam que nessas ofertas deveriam exprimir fé no Salvador a quem tais ofertas tipificavam, e ao mesmo tempo reconhecer sua total dependência dEle, para o perdão; e sabiam que, conformando-se assim ao plano divino para a sua redenção, estavam a dar prova de sua obediência à vontade de Deus. Sem derramamento de sangue não poderia haver remissão de pecado; e deviam eles mostrar sua fé no sangue de Cristo como a expiação prometida, oferecendo em sacrifício o primogênito do rebanho. Além disto, as primícias da terra deviam ser apresentadas diante do Senhor em ação de graças. PP 40 3 Os dois irmãos de modo semelhante construíram seus altares, e cada qual trouxe uma oferta. Abel apresentou um sacrifício do rebanho, de acordo com as instruções do Senhor. "E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta". Gênesis 4:4. Lampejou o fogo do Céu, e consumiu o sacrifício. Mas Caim, desrespeitando o mandado direto e explícito do Senhor, apresentou apenas uma oferta de frutos. Não houve sinal do Céu para mostrar que era aceita. Abel instou com seu irmão para aproximar-se de Deus da maneira divinamente prescrita; mas seus rogos apenas tornaram Caim mais decidido a seguir sua própria vontade. Sendo mais velho, achava que lhe não condizia ser aconselhado por seu irmão, e desprezou o seu conselho. PP 40 4 Caim veio perante Deus com íntima murmuração e incredulidade, com respeito ao sacrifício prometido e necessidade de ofertas sacrificais. Sua dádiva não exprimia arrependimento de pecado. Achava, como muitos agora, que seria um reconhecimento de fraqueza seguir exatamente o plano indicado por Deus, confiando sua salvação inteiramente à expiação do Salvador prometido. Preferiu a conduta de dependência própria. Viria com seus próprios méritos. Não traria o cordeiro, nem misturaria seu sangue com a oferta, mas apresentaria seus frutos, produtos de seu trabalho. Apresentou sua oferta como um favor feito a Deus, pelo qual esperava obter a aprovação divina. Caim obedeceu ao construir um altar, obedeceu ao trazer um sacrifício, prestou, porém, apenas uma obediência parcial. A parte essencial, o reconhecimento da necessidade de um Redentor, ficou excluída. PP 41 1 Quanto ao que respeitava ao nascimento e instrução religiosa, esses irmãos eram iguais. Ambos eram pecadores e ambos reconheciam o direito de Deus à reverência e adoração. Segundo a aparência exterior, sua religião era a mesma até certo ponto; mas, além disto, a diferença entre os dois era grande. PP 41 2 "Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim". Hebreus 11:4. Abel apreendeu os grandes princípios da redenção. Viu-se como um pecador, e viu o pecado e sua pena de morte entre sua alma e a comunhão com Deus. Trazia morta a vítima, aquela vida sacrificada, reconhecendo assim as reivindicações da lei, que fora transgredida. Por meio do sangue derramado olhava para o futuro sacrifício, Cristo a morrer na cruz do Calvário; e, confiando na expiação que ali seria feita, tinha o testemunho de que era justo, e de que sua oferta era aceita. PP 41 3 Caim tivera, como Abel, a oportunidade de saber e aceitar estas verdades. Não foi vítima de um intuito arbitrário. Um irmão não fora eleito para ser aceito por Deus, e o outro para ser rejeitado. Abel escolheu a fé e a obediência; Caim, a incredulidade e a rebeldia. Nisto consistia toda a questão. PP 41 4 Caim e Abel representam duas classes que existirão no mundo até o final do tempo. Uma dessas classes se prevalece do sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se a confiar em seus próprios méritos; o sacrifício desta é destituído da virtude da mediação divina, e assim não é apto para levar o homem ao favor de Deus. É unicamente pelos méritos de Jesus que nossas transgressões podem ser perdoadas. Aqueles que não sentem necessidade do sangue de Cristo, que acham que sem a graça divina podem pelas suas próprias obras conseguir a aprovação de Deus, estão cometendo o mesmo erro de Caim. Se não aceitam o sangue purificador, acham-se sob condenação. Não há outra providência tomada pela qual se possam libertar da escravidão do pecado. PP 41 5 A classe de adoradores que segue o exemplo de Caim inclui a grande maioria do mundo; pois quase toda a religião falsa tem-se baseado no mesmo princípio -- de que o homem pode confiar em seus próprios esforços para a salvação. Alguns pretendem que a espécie humana necessita, não de redenção mas de desenvolvimento -- que ela pode aperfeiçoar-se, elevar-se e regenerar-se. Assim como Caim julgava conseguir o favor divino com uma oferta a que faltava o sangue de um sacrifício, assim esperam estes exaltar a humanidade à norma divina, independentemente da expiação. A história de Caim mostra qual deverá ser o resultado. Mostra o que o homem se tornará separado de Cristo. A humanidade não tem poder para regenerar-se. Ela não tende a ir para cima, para o que é divino, mas para baixo, para o que é satânico. Cristo é a nossa única esperança. "Nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos." "Em nenhum outro há salvação". Atos dos Apóstolos 4:12. PP 42 1 A verdadeira fé, que confia inteiramente em Cristo, manifestar-se-á pela obediência a todos os mandamentos de Deus. Desde o tempo de Adão até o presente, o grande conflito tem sido com referência à obediência à lei de Deus. Em todos os séculos houve os que pretendiam ter direito ao favor de Deus, mesmo enquanto estavam a desatender algumas de Suas ordens. Mas as Escrituras declaram que pelas obras a "fé foi aperfeiçoada", e que, sem as obras da obediência, a fé "é morta". Tiago 2:22, 17. Aquele que faz profissão de conhecer a Deus, "e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade". 1 João 2:4. PP 42 2 Quando Caim viu que sua oferta era rejeitada, ficou irado com o Senhor e com Abel; ficou irado de que Deus não aceitasse o substituto do homem em lugar do sacrifício divinamente ordenado, e irado com seu irmão por preferir obedecer a Deus a unir-se em rebelião contra Ele. Apesar do descaso de Caim pelo mandado divino, Deus não o deixou entregue a si; mas condescendeu em arrazoar com o homem que tão sem razão se mostrara. E o Senhor disse a Caim: "Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?" Gênesis 4:6. Por meio de um mensageiro angélico foi transmitida a advertência divina: "Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à tua porta". Gênesis 4:7. A escolha dependia de Caim mesmo. Se confiasse nos méritos do Salvador prometido, e obedecesse às ordens de Deus, desfrutaria de Seu favor. Mas, se persistisse na incredulidade e transgressão, não teria motivos de queixa por ser rejeitado pelo Senhor. PP 42 3 Mas, em vez de reconhecer o seu pecado, Caim continuou a queixar-se da injustiça de Deus, e acalentar inveja e ódio a Abel. Rancorosamente censurou seu irmão, e tentou arrastá-lo à controvérsia com respeito ao trato de Deus para com eles. Com mansidão, se bem que destemida e firmemente, Abel defendeu a justiça e bondade de Deus. Indicou o erro de Caim, e procurou convencê-lo de que a falta estava com ele. Acentuou a compaixão de Deus ao poupar a vida de seus pais, quando Ele os poderia ter punido com morte instantânea, e insistiu em que Deus os amava, ou então não haveria dado a Seu Filho, inocente e santo, para sofrer a pena em que eles tinham incorrido. Tudo isto fez com que a ira de Caim mais se acendesse. A razão e a consciência lhe diziam que Abel tinha razão; mas ele estava enraivecido de que aquele que estivera acostumado a atender seus conselhos pretendesse agora discordar dele, e de que não pudesse ganhar simpatia em sua rebeldia. No furor de seu ódio, matou o irmão. PP 43 1 Caim odiou e matou o irmão, não por qualquer falta que Abel houvesse cometido, mas "porque as suas obras eram más, e as de seu irmão justas". 1 João 3:12. Assim, em todos os tempos os ímpios têm odiado os que eram melhores do que eles. A vida de Abel, de obediência e inabalável fé, era para Caim uma reprovação perpétua. "Todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas". João 3:20. Quanto mais brilhante for a luz celestial que se reflete do caráter dos fiéis servos de Deus, tanto mais claramente se revelam os pecados dos ímpios, e mais decididos serão seus esforços para destruir os que lhes perturbam a paz. PP 43 2 O assassínio de Abel foi o primeiro exemplo da inimizade que Deus declarou existiria entre a serpente e a semente da mulher -- entre Satanás e seus súditos, e Cristo e Seus seguidores. Por meio do pecado do homem, Satanás ganhara domínio sobre a raça humana, mas Cristo a habilitaria a sacudir este jugo. Quando quer que pela fé no Cordeiro de Deus uma alma renuncie o serviço do pecado, acende-se a ira de Satanás. A vida santa de Abel testificava contra a pretensão de Satanás de que é impossível ao homem guardar a lei de Deus. Quando Caim, movido pelo espírito do maligno, viu que não podia dominar Abel, irou-se de tal maneira que lhe destruiu a vida. E onde quer que haja alguém que esteja pela reivindicação da justiça da lei de Deus, o mesmo espírito se manifestará contra ele. É o espírito que através de todos os séculos acendeu a fogueira ardente para os discípulos de Cristo. Mas essas crueldades amontoadas sobre os seguidores de Jesus são instigadas por Satanás e sua hoste, porque não podem eles obrigá-los a sujeitar-se ao seu domínio. É a cólera de um adversário vencido. Todo o mártir por Jesus morreu como vencedor. Diz o profeta: "Eles o venceram [aquela 'antiga serpente, chamada o diabo, e Satanás'] pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte". Apocalipse 12:11, 9. PP 43 3 Caim, o homicida, logo foi chamado para responder por seu crime. "E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei: sou eu guardador de meu irmão?" Gênesis 4:9. Caim tinha avançado tanto no pecado que perdera a intuição da contínua presença de Deus e de Sua grandeza e onisciência. Assim recorreu à falsidade para esconder a sua culpa. PP 43 4 De novo diz o Senhor a Caim: "Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a Mim desde a terra". Gênesis 4:10. Deus dera a Caim oportunidade para confessar seu pecado. Tivera tempo para refletir. Compreendera a enormidade da ação que praticara, e da falsidade que proferira para a ocultar; mais ainda, foi rebelde, e a sentença não mais se procrastinou. A voz divina que tinha sido ouvida em solicitações e admoestações, pronunciou as terríveis palavras: "E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na Terra". Gênesis 4:11. PP 44 1 Apesar de Caim haver merecido a sentença de morte pelos seus crimes, um Criador misericordioso ainda lhe poupou a vida, e concedeu-lhe oportunidade para o arrependimento. Mas Caim viveu apenas para endurecer o coração, para incentivar a rebelião contra a autoridade divina, e tornar-se o chefe de uma linhagem de pecadores ousados e perdidos. Esse único apóstata, dirigido por Satanás, tornou-se o tentador para outros; e seu exemplo e influência exerceram uma força desmoralizadora, até que a Terra se corrompeu e se encheu de violência a ponto de reclamar a sua destruição. PP 44 2 Poupando a vida do primeiro homicida, Deus apresentou diante de todo o Universo uma lição que dizia respeito ao grande conflito. A tenebrosa história de Caim e seus descendentes foi uma ilustração do que teria sido o resultado de permitir ao pecador viver para sempre, para prosseguir com sua rebelião contra Deus. A paciência de Deus apenas tornou o ímpio mais ousado e desafiador em sua iniqüidade. Quinze séculos depois de pronunciada a sentença sobre Caim, o Universo testemunhou os frutos de sua influência e exemplo, no crime e corrupção que inundaram a Terra. Tornou-se manifesto que a sentença de morte pronunciada contra a raça decaída, pela transgressão da lei de Deus, era não somente justa mas misericordiosa. Quanto mais vivessem os homens em pecado, mais perdidos se tornariam. A sentença divina, abreviando uma carreira de desenfreada iniqüidade, e livrando o mundo da influência dos que se tornaram endurecidos na rebeldia, era uma bênção e não maldição. PP 44 3 Satanás está constantemente em atividade, com intensa energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal, Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu trato com o mal. PP 44 4 Os santos habitantes de outros mundos estavam a observar com o mais profundo interesse os acontecimentos que se desenrolavam na Terra. Na condição do mundo que existira antes do dilúvio, viram o exemplo dos resultados da administração que Lúcifer se esforçara por estabelecer no Céu, rejeitando a autoridade de Cristo, e pondo à parte a lei de Deus. Naqueles arrogantes pecadores do mundo antediluviano, viram os súditos sobre os quais Satanás exercia domínio. Os pensamentos do coração dos homens eram só maus continuamente. Gênesis 6:5. Cada emoção, cada impulso e imaginação estava em conflito com os divinos princípios de pureza, paz e amor. Isto foi um exemplo da terrível depravação resultante da astúcia de Satanás, de remover das criaturas de Deus a restrição de Sua santa lei. PP 45 1 Pelos fatos manifestos no andamento do grande conflito, Deus demonstrará os princípios de Suas regras de governo, que foram falsificadas por Satanás e por todos os que ele enganou. Sua justiça será finalmente reconhecida pelo mundo inteiro, embora este reconhecimento haja de se fazer demasiado tarde para salvar os rebeldes. Deus tem consigo a simpatia e aprovação do Universo inteiro, enquanto passo a passo Seu grande plano avança para o completo cumprimento. Tê-la-á consigo na extirpação final da rebelião. Ver-se-á que todos os que abandonaram os preceitos divinos colocaram-se ao lado de Satanás, em luta contra Cristo. Quando o príncipe deste mundo for julgado, e todos os que com ele se uniram participarem de sua sorte, o Universo inteiro, como testemunha da sentença, declarará: "Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos". Apocalipse 15:3. ------------------------Capítulo 6 -- Sete e Enoque PP 46 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 4:25-6:2. PP 46 1 A Adão foi dado outro filho, para ser o herdeiro da promessa divina, herdeiro da primogenitura espiritual. O nome de Sete, dado a este filho, significava "designado", ou "compensação"; "porque", disse a mãe, "Deus me deu outra semente em lugar de Abel; porquanto Caim o matou". Gênesis 4:25. Sete era de estatura mais nobre do que Caim ou Abel, e parecia-se muito mais com Adão do que os demais filhos. Tinha caráter digno, seguindo as pegadas de Abel. Contudo não herdou mais bondade natural do que Caim. Com referência à criação de Adão, acha-se dito: "À semelhança de Deus o fez"; mas o homem, depois da queda, "gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem". Gênesis 5:1, 3. Ao passo que Adão foi criado sem pecado, à semelhança de Deus, Sete, como Caim, herdou a natureza decaída de seus pais. Mas recebeu também conhecimento do Redentor, e instrução em justiça. Pela graça divina serviu e honrou a Deus; e trabalhou, como o teria feito Abel caso ele vivesse, para volver a mente dos homens pecadores à reverência e obediência a seu Criador. PP 46 2 "E a Sete mesmo também nasceu um filho: e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor". Gênesis 4:26. Os fiéis haviam antes adorado a Deus; mas, como aumentassem os homens, a distinção entre as duas classes se tornou mais assinalada. Havia uma franca profissão de fidelidade para com Deus por parte de uma, assim como de desdém e desobediência havia por parte da outra. PP 46 3 Antes da queda, nossos primeiros pais tinham guardado o sábado, que fora instituído no Éden; e depois de sua expulsão do Paraíso continuaram sua observância. Haviam provado os amargos frutos da desobediência, e aprenderam o que todos os que pisam os mandamentos de Deus mais cedo ou mais tarde aprenderão: que os preceitos divinos são sagrados e imutáveis e que a pena da transgressão certamente será infligida. O sábado foi honrado por todos os filhos de Adão que permaneceram fiéis para com Deus. Mas Caim e seus descendentes não respeitaram o dia em que Deus repousara. Escolheram o seu próprio tempo para o trabalho e para o descanso, sem consideração para com o mandado expresso de Jeová. PP 46 4 Recebendo a maldição de Deus, Caim se retirou da casa do pai. Escolheu a princípio para si a ocupação de cultivador do solo, e então fundou uma cidade, chamando-a pelo nome de seu filho mais velho. Gênesis 4:17. Saíra da presença do Senhor, rejeitara a promessa do Éden restaurado, a fim de buscar suas posses e alegrias na Terra sob a maldição do pecado, ficando assim à frente daquela grande classe de homens que adoram o deus deste mundo. No que diz respeito aos meros progressos terrestres e materiais, distinguiram-se os seus descendentes. Não tomavam, porém, em consideração a Deus, e estavam em oposição aos Seus propósitos em relação ao homem. Ao crime de assassínio, para o qual Caim abrira o caminho, Lameque, o quinto descendente, acrescentou a poligamia e, desafiador jactancioso, reconhecia a Deus apenas para inferir da vingança sobre Caim a certeza para a sua própria segurança. Abel levara vida pastoral, habitando em tendas ou barracas, e os descendentes de Sete seguiram o mesmo método de vida, considerando-se "estrangeiros e peregrinos na Terra", a buscar uma pátria "melhor, isto é, a celestial". Hebreus 11:13, 16. PP 47 1 Por algum tempo as duas classes permaneceram separadas. A descendência de Caim, espalhando-se do lugar em que a princípio se estabeleceu, dispersou-se pelas planícies e vales onde os filhos de Sete haviam habitado; e os últimos, para escaparem de sua influência contaminadora, retiraram-se para as montanhas, e ali fizeram sua morada. Enquanto durou esta separação, mantiveram em sua pureza o culto a Deus. Mas com o correr do tempo arriscaram-se pouco a pouco a misturar-se com os habitantes dos vales. Esta associação produziu os piores resultados. "Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas". Gênesis 6:2. Os filhos de Sete, atraídos pela beleza das filhas dos descendentes de Caim, desagradaram ao Senhor casando-se com elas. Muitos dos adoradores de Deus foram seduzidos ao pecado pelos engodos que constantemente estavam agora diante deles, e perderam seu caráter peculiar e santo. Misturando-se com os depravados, tornaram-se semelhantes a eles, no espírito e nas ações; as restrições do sétimo mandamento eram desatendidas, "e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram". Os filhos de Sete "entraram pelo caminho de Caim" (Judas 11); fixaram a mente na prosperidade e alegrias mundanas, e negligenciaram os mandamentos do Senhor. Os homens "se não importaram de ter conhecimento de Deus"; "em seus discursos se desvaneceram, e seu coração insensato se obscureceu". Por isso "Deus os entregou a um sentimento perverso". Romanos 1:21, 28. O pecado propagou-se largamente na Terra como uma lepra mortal. PP 47 2 Durante quase mil anos, Adão viveu entre os homens, como testemunha dos resultados do pecado. Procurou fielmente opor-se à onda do mal. Fora-lhe ordenado instruir sua posteridade no caminho do Senhor; e cuidadosamente guardou como um tesouro aquilo que o Senhor lhe revelou, e repetiu-o a sucessivas gerações. A seus filhos, e filhos de seus filhos, até a nona geração, descreveu a santa e feliz condição do homem, no Paraíso, e repetia a história de sua queda, falando-lhes dos sofrimentos pelos quais Deus lhe ensinara a necessidade de estrita adesão à Sua lei, e explicando-lhes as misericordiosas providências para a sua salvação. Todavia, poucos houve que deram atenção às suas palavras. Freqüentemente defrontava ele com amargas exprobrações pelo pecado que acarretara tal desgraça à sua posteridade. PP 48 1 A vida de Adão foi de tristeza, humildade e contrição. Quando deixou o Éden, o pensamento de que ele deveria morrer fazia-o estremecer de horror. Pela primeira vez teve ciência da realidade da morte na família humana, quando Caim, seu primogênito, se tornou o assassino de seu irmão. Cheio do mais profundo remorso pelo seu pecado, e duplamente despojado pela morte de Abel e rejeição de Caim, Adão prostrou-se com angústia. Testemunhou a corrupção que vastamente se propagava, a qual deveria finalmente determinar a destruição do mundo por um dilúvio; e, posto que a sentença de morte pronunciada contra ele por seu Criador tivesse a princípio parecido terrível, contudo, após contemplar durante quase mil anos os resultados do pecado, compreendeu que havia misericórdia da parte de Deus ao dar fim a uma vida de sofrimento e tristeza. PP 48 2 Apesar da impiedade do mundo antediluviano, aquela época não era, como freqüentemente tem sido suposto, de ignorância e barbárie. Ao povo concedeu-se a oportunidade de atingir uma elevada norma de moral e adiantamento intelectual. Possuíam grande força física e mental, e suas vantagens para adquirirem tanto conhecimento religioso como científico eram sem rival. É um erro supor que, porque vivessem até uma prolongada idade, seu espírito tardiamente amadurecia; suas faculdades intelectuais logo se desenvolviam, e os que acalentavam o temor de Deus e viviam em harmonia com a Sua vontade, continuavam a crescer em ciência e sabedoria durante toda a vida. Se se pudessem colocar em contraste os ilustres sábios de nosso tempo com os homens da mesma idade que viveram antes do dilúvio, mostrar-se-iam os primeiros grandemente inferiores não só em força intelectual como física. Assim como os anos do homem diminuíram, e diminuiu sua resistência física, assim suas capacidades mentais se reduziram. Há homens que hoje se aplicam ao estudo durante um período de vinte a cinqüenta anos, e o mundo se enche de admiração com as suas realizações. Mas quão limitadas são tais aquisições em comparação com as de homens cujas capacidades mentais e físicas estiveram a desenvolver-se durante séculos! PP 48 3 É verdade que o povo dos tempos modernos tem o benefício das realizações de seus predecessores. Os homens dotados de mente superior, que planejaram, estudaram e escreveram, deixaram sua obra para aqueles que se seguiram. Mas mesmo sob este ponto de vista, e tanto quanto respeita aos meros conhecimentos humanos, quão maiores as vantagens dos homens daqueles antigos tempos! Tiveram entre si durante centenas de anos aquele que fora formado à imagem de Deus, a quem, o próprio Criador declarou "bom" (Gênesis 1:31) -- o homem que Deus instruíra em toda a sabedoria relativa ao mundo material. Adão aprendera do Criador PP 49 1 a história da criação; ele mesmo testemunhara os acontecimentos de nove séculos; e comunicou seu saber aos seus descendentes. Os antediluvianos não tinham livros, não tinham registros escritos; mas com o seu grande vigor físico e mental possuíam forte memória, capaz de apreender e reter aquilo que lhes era comunicado, e por sua vez transmiti-lo intato à posteridade. E durante centenas de anos houve sete gerações vivendo na Terra contemporaneamente, tendo a oportunidade de consultarem entre si, e aproveitar cada uma dos conhecimentos e experiência de todas. PP 49 2 As vantagens dos homens daquela época para adquirirem conhecimento de Deus mediante Suas obras, nunca foram desde então igualadas. E, assim, longe de ser uma era de trevas religiosas, foi ela de grande luz. Todo o mundo teve oportunidade de receber instrução de Adão, e os que temiam ao Senhor tinham também a Cristo e os anjos como seus instrutores. E tiveram uma testemunha silenciosa da verdade, no jardim de Deus, que durante tantos séculos permaneceu entre os homens. Na porta do Paraíso, guardada pelos querubins, revelava-se a glória de Deus, e para ali vinham os primeiros adoradores. Ali erguiam os seus altares, e apresentavam suas ofertas. Foi ali que Caim e Abel trouxeram seus sacrifícios, e Deus condescendeu em comunicar-Se com eles. PP 49 3 O ceticismo não podia negar a existência do Éden enquanto este permanecesse precisamente à vista, com sua entrada vedada pelos anjos vigilantes. A ordem na criação, o objetivo do jardim, a história de suas duas árvores tão intimamente unidas com o destino do homem, eram fatos indiscutíveis. E a existência e suprema autoridade de Deus, a obrigação imposta por Sua lei, eram verdades que os homens foram tardios em pôr em dúvida enquanto Adão esteve entre eles. PP 49 4 Apesar da iniqüidade que prevalecia, havia uma linhagem de homens santos que, elevados e enobrecidos pela comunhão com Deus, viviam como que na companhia do Céu. Eram homens de sólido intelecto, de maravilhosas conhecimentos. Tinham uma grande e santa missão: desenvolver um caráter de justiça, ensinar a lição da piedade, não somente para os homens de seu tempo, mas para as gerações futuras. Poucos apenas dos mais preeminentes são mencionados nas Escrituras, mas durante todos os séculos Deus teve fiéis testemunhas, adoradores dotados de coração sincero. PP 49 5 De Enoque está escrito que ele viveu sessenta e cinco anos, e gerou um filho. Depois disso andou com Deus trezentos anos. Durante aqueles primeiros anos, Enoque amara e temera a Deus, e guardara os Seus mandamentos. Fora um dos da linhagem santa, dos preservadores da verdadeira fé, pais da semente prometida. Dos lábios de Adão aprendera ele a triste narrativa da queda, e a história animadora da graça de Deus, conforme se vê na promessa; e confiou no Redentor vindouro. Mas depois do nascimento de seu primeiro filho, Enoque alcançou uma experiência mais elevada; foi atraído a uma comunhão mais íntima com Deus. Compreendeu mais amplamente suas obrigações e responsabilidade como filho de Deus. E, quando viu o amor do filho para com o pai, sua confiança singela em sua proteção; quando sentiu a ternura profunda e compassiva de seu próprio coração por aquele filho primogênito, aprendeu uma lição preciosa do maravilhoso amor de Deus para com os homens no dom de Seu Filho, e a confiança que os filhos de Deus podem depositar em seu Pai celestial. O infinito, insondável amor de Deus, mediante Cristo, tornou-se o assunto de suas meditações dia e noite; e com todo o fervor de sua alma procurou revelar aquele amor ao povo entre o qual vivia. PP 50 1 O andar de Enoque com Deus não foi em arrebatamento de sentidos ou visão, mas em todos os deveres da vida diária. Não se tornou um eremita, excluindo-se inteiramente do mundo; pois tinha uma obra a fazer para Deus no mundo. Na família e em suas relações com os homens, como esposo e como pai, como amigo, cidadão, foi ele um servo do Senhor, constante, inabalável. PP 50 2 Seu coração estava em harmonia com a vontade de Deus; pois "andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" Amós 3:3. E este andar santo continuou durante trezentos anos. Poucos cristãos há que não seriam muito mais fervorosos e dedicados se soubessem que tinham apenas pouco tempo para viver, ou que a vinda de Cristo estava prestes a ocorrer. A fé de Enoque, porém, tornou-se mais forte, o seu amor mais ardente, com o perpassar dos séculos. PP 50 3 Enoque era homem de espírito forte e altamente cultivado, e de extenso saber; era honrado com revelações especiais de Deus; todavia, estando em constante comunhão com o Céu, achando-se sempre diante dele a intuição da grandeza e perfeição divina, foi um dos homens mais humildes. Quanto mais íntima a ligação com Deus, mais profunda era a intuição de sua própria fraqueza e imperfeição. PP 50 4 Angustiado pela crescente iniqüidade dos ímpios, e temendo que a deslealdade deles pudesse diminuir sua reverência para com Deus, Enoque evitava a associação constante com os mesmos, e passava muito tempo na solidão, entregando-se à meditação e oração. Assim permanecia ele perante o Senhor, buscando um conhecimento mais claro de Sua vontade, para que a pudesse fazer. Para ele a oração era como a respiração da alma; vivia na própria atmosfera do Céu. PP 50 5 Por meio de santos anjos Deus revelou a Enoque Seu propósito de destruir o mundo por um dilúvio, e também lhe revelou amplamente o plano da redenção. Pelo Espírito de Profecia levou-o através das gerações que viveriam após o dilúvio, e mostrou-lhe os grandes acontecimentos ligados à segunda vinda de Cristo e ao fim do mundo. PP 50 6 Enoque estivera perturbado com respeito aos mortos. Parecia-lhe que os justos e os ímpios iriam para o pó juntamente, e que este seria o seu fim. Não podia ver a vida do justo além da sepultura. Em visão profética foi instruído com relação à morte de Cristo, e foi-lhe mostrada a Sua vinda em glória, acompanhado por todos os santos anjos, para, da sepultura, resgatar o Seu povo. Viu também o estado corrupto do mundo, no tempo em que Cristo aparecesse pela segunda vez, ou seja, que haveria uma geração jactanciosa, presumida, voluntariosa, negando o único Deus e o Senhor Jesus Cristo, pisando a lei, e desprezando a obra expiatória. Viu os justos coroados de glória e honra, e os ímpios banidos da presença do Senhor, e destruídos pelo fogo. PP 51 1 Enoque se tornou um pregador da justiça, tornando conhecido do povo o que Deus lhe revelara. Aqueles que temiam ao Senhor procuravam este santo homem, para partilharem de sua instrução e orações. Trabalhavam publicamente também, apregoando a mensagem de Deus a todos os que desejavam ouvir as palavras de advertência. Seus labores não se restringiam aos setitas. Na terra em que Caim procurara fugir da presença divina, o profeta de Deus tornou conhecidas as maravilhosas cenas que haviam passado ante a sua visão. "Eis", declarou ele, "que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade". Judas 14, 15. PP 51 2 Ele foi destemido reprovador do pecado. Enquanto pregava ao povo de seu tempo o amor de Deus em Cristo, e insistia com eles para abandonarem seus maus caminhos, censurava a iniqüidade prevalecente, e advertia os homens de sua geração de que o juízo cairia sobre o transgressor. Era o Espírito de Cristo que falava por meio de Enoque; aquele Espírito se manifesta não somente em expressões de amor, compaixão e rogos; não são somente coisas agradáveis que são faladas pelos homens santos. Deus põe no coração e lábios de Seus mensageiros verdades penetrantes, incisivas como a espada de dois gumes. PP 51 3 O poder de Deus que operava em Seu servo era sentido pelos que o ouviam. Alguns atenderam à advertência, e renunciaram a seus pecados; mas as multidões zombaram da solene mensagem, e continuaram com mais ousadia em seus maus caminhos. Os servos de Deus devem levar uma mensagem semelhante ao mundo nos últimos dias, e esta também será recebida com incredulidade e zombaria. O mundo antediluviano rejeitou as palavras de advertência daquele que andava com Deus. Assim a última geração escarnecerá das advertências dos mensageiros do Senhor. PP 51 4 Em meio de uma vida de trabalhos ativos, Enoque perseverantemente manteve comunhão com Deus. Quanto maiores e mais insistentes eram os seus trabalhos, mais constantes e fervorosas eram as suas orações. Ele continuava a segregar-se em certos períodos, de toda a sociedade. Depois de permanecer por algum tempo entre o povo, trabalhando para os beneficiar pela instrução e exemplo, retirava-se para passar algum tempo em solidão, tendo fome e sede daquele conhecimento divino que somente Deus pode comunicar. Tendo desta maneira comunhão com Deus, Enoque vinha a refletir cada vez mais a imagem divina. Seu rosto estava radiante de uma santa luz, da própria luz que resplandece no semblante de Jesus. Saindo ele dessas comunhões divinas, mesmo os ímpios contemplavam com admiração a impressão celestial em seu rosto. PP 52 1 A impiedade dos homens atingira tal ponto que foi pronunciada destruição contra eles. À medida em que se iam passando os anos, cada vez mais profunda se tornava a onda da culpabilidade humana, cada vez mais negras se acumulavam as nuvens do juízo divino. Enoque, todavia, a testemunha da fé, mantinha-se em seu posto, advertindo, apelando, rogando, esforçando-se para fazer retroceder a onda de culpabilidade, para deter os dardos da vingança. Posto que suas advertências fossem desatendidas por um povo pecador e amante de prazeres, tinha ele o testemunho da aprovação de Deus, e continuou a batalhar fielmente contra o mal prevalecente, até que Deus o removeu de um mundo de pecado para as puras alegrias do Céu. PP 52 2 Os homens daquela geração zombaram da loucura daquele que não procurara juntar ouro ou prata, ou adquirir posses neste mundo. Mas o coração de Enoque estava nos tesouros eternos. Ele estimava a cidade celestial. Vira o Rei em Sua glória no meio de Sião. Seu espírito, seu coração, sua conversação, eram sobre coisas celestiais. Quanto maior era a iniqüidade existente, mais ardente era o seu anelo pelo lar de Deus. Enquanto ainda se encontrava na Terra, habitou pela fé no reino da luz. PP 52 3 "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus". Mateus 5:8. Durante trezentos anos, Enoque estivera procurando pureza de alma, para que pudesse estar em harmonia com o Céu. Durante três séculos, andara com Deus. Dia após dia, almejara uma união mais íntima; cada vez mais estreita se tornara a comunhão até que Deus o tomou para Si. Estivera no limiar do mundo eterno, havendo apenas um passo entre ele e o país da bem-aventurança; e, agora, abriram-se os portais; o andar com Deus durante tanto tempo praticado em terra continuou, e ele passou pelas portas da santa cidade -- o primeiro dentre os homens a entrar ali. PP 52 4 Foi sentida a sua falta na Terra. Notava-se a ausência daquela voz que fora ouvida dia após dia em advertência e instrução. Alguns houve, tanto dos justos como dos ímpios, que testemunharam sua partida; e, esperando que pudesse ter sido transportado para algum de seus lugares de retiro, aqueles que o amavam fizeram diligentes pesquisas para o encontrar, como mais tarde procuraram os filhos dos profetas a Elias, mas sem resultado. Referiram que não mais era encontrado, pois que Deus o tomara. PP 52 5 Por meio da trasladação de Enoque, o Senhor tencionava ensinar uma lição importante. Havia perigo que os homens se entregassem ao desânimo, por causa dos terríveis resultados dos pecados de Adão. Muitos estavam prontos para exclamar: "Que proveito há que tenhamos temido ao Senhor, e observado Suas leis, visto que uma pesada maldição repousa sobre o gênero humano, e a morte é o quinhão de todos nós?" Mas as instruções que Deus dera a Adão, e que foram repetidas por Sete e exemplificadas por Enoque, extinguiram as sombras e as trevas, e deram esperança ao homem, de que, assim como por Adão veio a morte, viriam por meio do Redentor prometido vida e imortalidade. Satanás estava impondo aos homens a crença de que não há recompensa para os justos ou castigo para os ímpios, e de que era impossível ao homem obedecer aos estatutos divinos. Mas no caso de Enoque, Deus declara que "Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam". Hebreus 11:6. Ele mostra o que fará pelos que guardam os Seus mandamentos. Ensinava-se aos homens que é possível obedecer à lei de Deus; que, vivendo embora em meio dos pecadores e corruptos, eram capazes, pela graça de Deus, de resistir à tentação, e tornar-se puros e santos. Viram em seu exemplo a bênção de uma vida tal; e sua trasladação foi uma evidência da verdade de sua profecia relativa ao além, com sua recompensa de alegria, glória e vida eterna aos obedientes, e condenação, miséria e morte ao transgressor. PP 53 1 Pela fé Enoque "foi trasladado para não ver a morte, [...] visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus". Hebreus 11:5. Em meio de um mundo condenado à destruição por sua iniqüidade, viveu Enoque uma vida de tão íntima comunhão com Deus que não lhe foi permitido cair sob o poder da morte. O caráter piedoso deste profeta representa o estado de santidade que deve ser alcançado por aqueles que hão de ser "comprados da Terra" (Apocalipse 14:3), por ocasião do segundo advento de Cristo. Então, como no mundo antes do dilúvio, a iniqüidade prevalecerá. Seguindo os impulsos de seu coração corrompido e os ensinos de uma filosofia enganadora, os homens rebelar-se-ão contra a autoridade do Céu. Mas, como Enoque, o povo de Deus procurará pureza de coração, e conformidade com Sua vontade, até que reflitam a semelhança de Cristo. Como Enoque, advertirão o mundo da segunda vinda do Senhor, e dos juízos que cairão sobre os transgressores; e pela sua santa conversação e exemplo condenarão os pecados dos ímpios. Assim como Enoque foi trasladado para o Céu antes da destruição do mundo pela água, assim os justos vivos serão trasladados da Terra antes da destruição desta pelo fogo. Diz o apóstolo: "Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta". 1 Coríntios 15:51, 52. "Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus"; "a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." "Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras". 1 Tessalonicenses 4:16-18. ------------------------Capítulo 7 -- O dilúvio PP 54 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 6; 7. PP 54 1 Nos dias de Noé uma dupla maldição repousava sobre a Terra, em conseqüência da transgressão de Adão e do homicídio cometido por Caim. Isto, contudo, não havia grandemente modificado a face da natureza. Existiam indícios evidentes de decadência, mas a Terra ainda era rica e bela com os dons da providência de Deus. As colinas estavam coroadas de árvores majestosas, que sustentavam os ramos carregados de frutos das trepadeiras. As planícies vastas e semelhantes a jardins estavam revestidas de verdor, e exalavam a fragrância de milhares de flores. Os frutos da Terra eram de grande variedade, e quase sem limites. As árvores sobrepujavam em tamanho, beleza e proporção perfeita, a qualquer que hoje exista; sua madeira era de belo veio e dura substância, assemelhando-se em muito à pedra, e quase tão durável como esta. Ouro, prata e pedras preciosas existiam em abundância. PP 54 2 A raça humana conservava ainda muito do seu primitivo vigor. Apenas poucas gerações se passaram desde que Adão tivera acesso à árvore que devia prolongar a vida; e a existência do homem ainda se media por séculos. Houvesse aquele povo de longa vida, com suas raras capacidades para planejar e executar, se dedicado ao serviço de Deus, e teriam feito do nome de seu Criador um louvor na Terra, e correspondido ao propósito por que Ele lhes dera a vida. Eles, porém, deixaram de fazer isto. Havia muitos gigantes, homens de grande estatura e força, afamados por sua sabedoria, hábeis ao imaginar as mais artificiosas e maravilhosas obras; sua culpa, porém, ao dar rédeas soltas à iniqüidade, estava em proporção com sua perícia e habilidade mental. PP 54 3 Deus outorgara a esses antediluvianos muitas e ricas dádivas; mas usaram a Sua generosidade para se glorificarem, e as tornaram em maldição, fixando suas afeições nos dons em vez de no Doador. Empregaram o ouro e a prata, as pedras preciosas e as madeiras finas, na construção de habitações para si, e se esforçaram por sobrepujar uns aos outros no embelezamento de suas moradas, com a mais destra mão-de-obra. Procuravam tão-somente satisfazer os desejos de seu orgulhoso coração, e folgavam em cenas de prazer e impiedade. Não desejando conservar a Deus em seu conhecimento, logo vieram a negar a Sua existência. Adoravam a natureza em lugar do Deus da natureza. Glorificavam o gênio humano, adoravam as obras de suas próprias mãos, e ensinavam seus filhos a curvar-se ante imagens de escultura. PP 55 1 Nos campos verdejantes, e à sombra das esplêndidas árvores, construíram os altares de seus ídolos. Bosques extensos, que conservavam a folhagem durante o ano todo, eram dedicados ao culto dos deuses falsos. A estes bosques ligavam-se belos jardins, sobrepondo-se, às suas longas e serpeantes ruas, árvores frutíferas de todos os tipos, sendo essas alamedas adornadas com estátuas, e dotadas de todas as coisas que poderiam deleitar os sentidos ou servir aos desejos pecaminosos do povo, e assim induzi-los a participar do culto idólatra. PP 55 2 Os homens excluíram a Deus de seu conhecimento, e adoraram as criaturas de sua própria imaginação; e, como resultado, se tornaram mais e mais desprezíveis. O salmista descreve o efeito que sobre o adorador de ídolos é produzido por tal culto. Diz ele: "Tornam-se semelhantes a eles os que os fazem, e todos os que neles confiam". Salmos 115:8. É uma lei do espírito humano que, pelo contemplar, somos transformados. O homem não se elevará acima de suas concepções sobre a verdade, pureza e santidade. Se o espírito nunca é exaltado acima do nível da humanidade, se não é pela fé elevado a contemplar a sabedoria e o amor infinitos, o homem estará constantemente a submergir mais e mais. Os adoradores de deuses falsos vestiram suas divindades com atributos e paixões humanas, e assim sua norma de caráter se degradou à semelhança da humanidade pecadora. Corromperam-se conseqüentemente. "Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a Terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente." "A Terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a Terra de violência". Gênesis 6:5, 11. Deus dera ao homem os Seus mandamentos, como regra da vida; mas Sua lei era transgredida, e todos os pecados imagináveis foram o resultado. A impiedade do homem era franca e ousada, a justiça pisada no pó, e os clamores dos opressos chegava até o Céu. PP 55 3 A poligamia fora logo introduzida, contrária às disposições divinas dadas ao princípio. O Senhor dera a Adão uma só esposa, mostrando Sua ordem a tal respeito. Mas, depois da queda, os homens preferiram seguir os seus próprios desejos pecaminosos; e, como resultado, o crime e a miséria aumentaram rapidamente. Nem a relação do casamento nem os direitos de propriedade eram respeitados. Quem quer que cobiçasse as mulheres ou as posses de seu próximo, tomava-as pela força, e os homens exultavam com suas ações de violência. Deleitavam-se na destruição da vida de animais; e o uso da carne como alimento tornava-os ainda mais cruéis e sanguinolentos, até que vieram a considerar a vida humana com espantosa indiferença. PP 55 4 O mundo estava em sua infância; todavia a iniqüidade se tornara tão aprofundada e esparsa que Deus não mais a podia suportar; e Ele disse: "Destruirei, de sobre a face da Terra, o homem que criei". Gênesis 6:7. Declarou que Seu Espírito não contenderia para sempre com a raça decaída. Se não cessassem de poluir com seus pecados o mundo e os seus ricos tesouros, Ele os eliminaria de Sua criação, e destruiria as coisas com que Se deleitara em abençoá-los; devastaria os animais do campo, e a vegetação que fornecia tão abundante provisão de alimento, e transformaria a formosa Terra em um vasto cenário de desolação e ruína. PP 56 1 Por entre a corrupção prevalecente, Matusalém, Noé, e muitos outros, trabalhavam para conservar vivo o conhecimento do verdadeiro Deus, e conter a onda dos males morais. Cento e vinte anos antes do dilúvio, o Senhor, por meio de um santo anjo declarou a Noé o Seu propósito, e ordenou-lhe construir uma arca. Enquanto construía a arca, deveria ele pregar que Deus traria um dilúvio de água sobre a Terra para destruir os ímpios. Os que cressem na mensagem, e se preparassem para aquele acontecimento pelo arrependimento e reforma de vida, encontrariam perdão, e seriam salvos. Enoque repetiu a seus filhos o que Deus lhe mostrara com relação ao dilúvio, e Matusalém e seus filhos, que viveram até alcançar a pregação de Noé, ajudaram na construção da arca. PP 56 2 Deus deu a Noé as dimensões exatas da arca, e instruções explícitas com relação à sua construção em todos os pormenores. A sabedoria humana não poderia ter concebido uma estrutura de tão grande resistência e durabilidade. Fora Deus que fizera a planta da mesma, e Noé o construtor-chefe. Foi construída semelhante ao casco de um navio, para que pudesse flutuar sobre a água; mas nalguns sentidos muito mais se parecia com uma casa. Tinha uma altura de três andares, com apenas uma porta, que ficava ao lado. A luz entrava por cima, e os diversos compartimentos eram de tal maneira arranjados que todos eram iluminados. O material empregado na construção da arca era o cipreste, ou madeira de Gofer, a qual estaria isenta de apodrecimento durante centenas de anos. A edificação desta imensa arca foi uma operação lenta, trabalhosa. Devido ao grande tamanho das árvores, e a natureza da madeira, muito mais trabalho era então exigido do que hoje para preparar a madeira, mesmo com a força maior que possuíam os homens. Tudo o que o homem podia fazer, se fazia, para tornar perfeito o trabalho; contudo, a arca não podia por si ter resistido à tempestade que deveria sobrevir à Terra. Unicamente Deus podia preservar Seus servos das águas tempestuosas. PP 56 3 "Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas que ainda se não viam, temeu, e, para salvação de sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé". Hebreus 11:7. Enquanto Noé estava a apregoar sua mensagem de advertência ao mundo, suas obras testificavam de sua sinceridade. Assim foi que sua fé se aperfeiçoou, e se evidenciou. Ele deu ao mundo o exemplo de crer precisamente o que Deus diz. Tudo quanto possuía, empregou na arca. Ao começar a construir aquele imenso barco em terra seca, vinham de todos os lados multidões para verem a estranha cena, e ouvir as palavras sinceras, fervorosas, do pregador original. Cada pancada desferida na arca era um testemunho para o povo. PP 57 1 Muitos a princípio pareceram receber a advertência; não se voltaram, todavia, para Deus, com verdadeiro arrependimento. Não estavam dispostos a renunciar seus pecados. Durante o tempo que se passou antes da vinda do dilúvio, sua fé foi provada, e não conseguiram suportar a prova. Vencidos pela incredulidade prevalecente, uniram-se afinal a seus companheiros anteriores, rejeitando a solene mensagem. Alguns ficaram profundamente convencidos, e teriam atendido às palavras de aviso; mas tantos havia para zombar e ridicularizar, que eles partilharam do mesmo espírito, resistiram aos convites da misericórdia, e logo se acharam entre os mais ousados e arrogantes escarnecedores; pois ninguém é tão descuidado e tão longe vai no pecado como aqueles que tiveram uma vez a luz, mas resistiram ao convincente Espírito de Deus. PP 57 2 Os homens daquela geração não eram todos, na mais ampla acepção do termo, idólatras. Muitos professavam ser adoradores de Deus. Pretendiam que seus ídolos eram representações da divindade, e que por meio deles o povo poderia obter uma concepção mais clara do Ser divino. Esta classe estava entre as principais a rejeitarem a pregação de Noé. Esforçando-se eles para representarem a Deus por meio de objetos materiais, cegavam a mente à Sua majestade e poder; deixavam de compenetrar-se da santidade de Seu caráter, ou da natureza sagrada e imutável de Seus mandamentos. Generalizando-se o pecado, pareceu cada vez menos maligno, e declararam finalmente que a lei divina não mais estava em vigor; que era contrário ao caráter de Deus castigar a transgressão; e negaram que Seus juízos viessem a cair sobre a Terra. Houvessem os homens daquela geração obedecido à lei divina, e teriam reconhecido a voz de Deus na advertência de Seu servo; sua mente, porém, se havia tornado tão cega pela rejeição da luz, que realmente criam ser a mensagem de Noé uma ilusão. PP 57 3 Não eram as multidões, ou a maioria, os que se encontravam do lado direito. O mundo se achava arregimentado contra a justiça de Deus e Suas leis, e Noé era considerado um fanático. Satanás, quando tentou Eva a desobedecer a Deus, disse-lhe: "Certamente não morrereis". Gênesis 3:4. Grandes homens, mundanos e honrados, e homens sábios, repetiam o mesmo. "As ameaças de Deus", diziam eles, "têm por fim intimidar, e nunca se cumprirão. Não necessitais de estar alarmados. Tal acontecimento como a destruição do mundo por Deus, que o fez, e o castigo dos seres que Ele criou, nunca sucederá. Estai em paz; não temais. Noé é um fanático extravagante." O mundo divertia-se com a loucura do velho iludido. Em vez de humilhar o coração perante Deus, continuaram na desobediência e impiedade, como se Deus não lhes houvera falado por meio de Seu servo. PP 57 4 Mas Noé permanecia semelhante a uma rocha em meio da tempestade. Rodeado pelo desdém e ridículo popular, distinguia-se por sua santa integridade e fidelidade inabalável. Um poder assistia a suas palavras; pois era a voz de Deus ao homem por meio de Seu servo. A ligação com Deus tornava-o forte, na força do poder infinito, enquanto durante cento e vinte anos sua voz solene soou aos ouvidos daquela geração, com referência a acontecimentos que, tanto quanto poderia julgar a sabedoria humana, eram impossíveis. PP 58 1 O mundo antediluviano raciocinava que durante séculos as leis da natureza tinham estado fixas. As estações, periódicas, tinham vindo em sua ordem. Até ali nunca havia caído a chuva; a terra era regada por uma neblina ou orvalho. Os rios jamais haviam passado os seus limites, mas com segurança tinham levado suas águas para o mar. Imutáveis decretos tinham impedido as águas de transbordarem. Mas tais raciocinadores não reconheceram a mão dAquele que conteve as águas dizendo: "Até aqui virás, e não mais adiante". Jó 38:11. PP 58 2 Passando-se o tempo, sem qualquer mudança aparente na natureza, os homens cujo coração tinha por vezes tremido pelo receio, começaram a refazer-se. Raciocinavam, como muitos fazem hoje, que a natureza está acima do Deus da natureza, e que suas leis são tão firmemente estabelecidas que o próprio Deus não as pode mudar. Raciocinando que a natureza se desviaria de seu curso, se a mensagem de Noé fosse correta, tornavam aquela mensagem, na mente do povo uma ilusão, um grande engano. Manifestavam seu desprezo pela advertência de Deus, fazendo exatamente como haviam feito antes que fosse apregoada. Continuaram com suas festas e banquetes de glutonaria; comiam e bebiam, plantavam e edificavam, fazendo seus planos com referência às vantagens que esperavam adquirir no futuro; e mais longe foram eles em impiedade, em desatenção arrogante às ordens de Deus, a fim de testemunharem que não tinham medo do Ser infinito. Afirmavam que, se havia alguma verdade no que Noé dissera, os homens de fama -- os sábios, os prudentes, os grandes homens -- compreenderiam essa questão. PP 58 3 Se os antediluvianos tivessem acreditado na advertência, e se houvessem arrependido de suas más ações, o Senhor teria desviado Sua ira, como mais tarde fez em relação a Nínive. Entretanto, pela sua obstinada resistência às reprovações da consciência e advertências do profeta de Deus, aquela geração encheu a medida de sua iniqüidade, e se tornou madura para a destruição. PP 58 4 Seu período de graça estava se aproximando do fim. Noé tinha fielmente seguido as instruções dadas por Deus. A arca estava concluída em todas as suas partes, exatamente como Deus determinara, e estava provida de alimento para o homem e os animais. E agora o servo de Deus fez o seu último e solene apelo ao povo. Com um desejo angustioso, que as palavras não podem exprimir, solicitou que buscassem refúgio enquanto ainda se poderia achar. De novo rejeitaram suas palavras, e levantaram a voz em zombaria e escárnio. Subitamente veio silêncio sobre a turba zombadora. Animais de toda a espécie, os mais ferozes bem como os mais mansos, foram vistos vindo das montanhas e florestas, e encaminhando-se silenciosamente para a arca. Ouviu-se o rumor de um vento impetuoso, e eis que aves estavam a ajuntar-se de todos os lados, escurecendo-se o céu pela sua quantidade; e em perfeita ordem passaram para a arca. Os animais obedeciam ao mandado de Deus, enquanto os homens eram desobedientes. Guiados por santos anjos, "entraram de dois em dois para Noé na arca" (Gênesis 7:9), e os animais limpos em porções de sete. O mundo olhava com admiração, e alguns com medo. Foram chamados filósofos para explicarem a singular ocorrência, mas em vão. Era um mistério que eles não podiam penetrar. Mas os homens se haviam tornado tão endurecidos pela sua persistente rejeição da luz, que mesmo esta cena não produziu senão uma impressão momentânea. Ao contemplar a raça condenada, o Sol a resplandecer em sua glória, e a Terra vestida quase em edênica beleza, baniram seus temores crescentes com divertimento ruidoso, e, com suas ações de violência, pareciam convidar sobre si o castigo da ira de Deus já despertada. PP 59 1 Deus ordenou a Noé: "Entra tu e toda a tua casa na arca, porque te hei visto justo diante de Mim, nesta geração". Gênesis 7:1. A advertência de Noé tinha sido rejeitada pelo mundo, mas de sua influência e exemplo resultaram bênçãos para a sua família. Como recompensa de sua fidelidade e integridade, Deus salvou com ele todos os membros de sua família. Que animação para a fidelidade paternal! PP 59 2 A misericórdia havia cessado os seus rogos pela raça culpada. Os animais do campo e as aves do céu tinham entrado no lugar de refúgio. Noé e sua casa estavam dentro da arca; "e o Senhor os fechou por fora". Gênesis 7:16. Viu-se um lampejo de luz deslumbrante, e uma nuvem de glória, mais vívida que o relâmpago, desceu do céu e pairou diante da entrada da arca. A porta maciça, que era impossível àqueles que dentro estavam fechar, girou vagarosamente ao seu lugar por meio de mãos invisíveis. Noé ficou encerrado, e os que rejeitaram a misericórdia de Deus, excluídos. O selo do Céu estava naquela porta; Deus a havia fechado, e somente Deus a poderia abrir. Assim, quando Cristo terminar Sua intercessão pelo homem culpado, antes de Sua vinda nas nuvens do céu, fechar-se-á a porta da misericórdia. A graça divina não mais restringirá os ímpios, e Satanás terá pleno domínio sobre aqueles que rejeitaram a misericórdia. Esforçar-se-ão por destruir o povo de Deus, mas como Noé estava abrigado na arca, assim os justos estarão protegido pelo poder divino. PP 59 3 Durante sete dias depois que Noé e sua família entraram na arca, não apareceu sinal da tempestade vindoura. Fora durante este tempo provada a sua fé. Foi um tempo de triunfo para o povo, lá fora. A aparente demora confirmava-os na crença de que a mensagem de Noé era uma ilusão, e de que o dilúvio jamais viria. Apesar das cenas solenes que haviam testemunhado, a saber, os animais e as aves entrando na arca, e o anjo de Deus fechando a porta, continuaram eles ainda com seu divertimento e orgia, fazendo mesmo zombaria daquelas assinaladas manifestações do poder de Deus. Reuniam-se em multidões em redor da arca, escarnecendo dos que dentro se encontravam, com uma arrogante violência a que nunca antes se haviam arriscado. PP 60 1 Mas, ao oitavo dia, nuvens negras se espalharam pelo céu. Seguiram-se o murmúrio do trovão e o lampejo do relâmpago. Logo, grandes gotas de chuva começaram a cair. O mundo nunca havia testemunhado coisa alguma semelhante a isto, e o coração dos homens foi tocado pelo medo. Todos estavam secretamente indagando: "Será que Noé tinha razão e que o mundo está condenado à destruição?" Cada vez mais negros se tornavam os céus, e mais rápida vinha a chuva. Os animais estavam vagueando de um lado para outro no mais desenfreado terror, e seus gritos discordantes pareciam lamentar seu próprio destino e a sorte dos homens. Então "se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram". Gênesis 7:11. A água parecia vir das nuvens em grandes cataratas. Os rios romperam os seus limites, e inundaram os vales. Jatos de água irrompiam da terra, com força indescritível, arremessando pedras maciças a muitos metros para o ar; e ao caírem, sepultavam-se profundamente no solo. PP 60 2 O povo viu a princípio a destruição das obras de suas mãos. Seus esplêndidos edifícios, e os belos jardins e bosques em que haviam colocado seus ídolos, eram destruídos pelos raios do céu, e as ruínas se espalhavam por toda parte. Os altares em que se haviam oferecido sacrifícios humanos, eram derribados, e tremiam os adoradores ante o poder do Deus vivo, e por saber que fora a sua corrupção e idolatria que atraíram a sua destruição. PP 60 3 Aumentando a violência da tempestade, árvores, edifícios, pedras e terra, eram arrojados a todos os lados. O terror do homem e dos animais era indescritível. Por sobre o estrondo da tempestade, ouvia-se o pranto de um povo que tinha desprezado a autoridade de Deus. O próprio Satanás, que fora obrigado a permanecer no meio dos elementos em fúria, temeu pela sua existência. Ele se havia deleitado em dirigir uma raça tão poderosa, e desejara que vivessem para praticar suas abominações, e continuar com sua rebelião contra o Governador do Céu. Agora proferia imprecações contra Deus, acusando-O de injustiça e crueldade. Muitos dentre o povo, semelhantes a Satanás, blasfemavam de Deus, e, pudessem eles, tirá-Lo-iam do trono do poder. Outros tomavam-se de frenesi, pelo terror, estendendo as mãos para a arca, e rogando sua admissão ali. Seus rogos, porém, foram em vão. Despertou-se-lhes finalmente a consciência para saberem que há um Deus que governa nos Céus. Chamaram por Ele com ardor, mas os Seus ouvidos não estavam abertos ao seu clamor. Naquela terrível hora viram que a transgressão da lei de Deus determinara a sua ruína. Todavia, ao mesmo tempo em que pelo medo do castigo reconheciam o seu pecado, não sentiam verdadeira contrição, nem horror ao mal. Teriam voltado ao seu desafio ao Céu, caso houvesse sido removido o juízo. Semelhantemente, quando os juízos de Deus caírem sobre a Terra, antes de seu dilúvio de fogo, os impenitentes saberão precisamente onde pecaram, e em que consiste seu pecado: o desprezo à Sua santa lei. Contudo, não terão o verdadeiro arrependimento mais do que tiveram os pecadores do mundo antigo. PP 61 1 Alguns, em seu desespero, esforçavam-se por penetrar na arca; porém, a firme estrutura resistiu aos seus esforços. Alguns apegaram-se à arca até que foram arrebatados pelas águas revoltas, ou foi seu apego interrompido pela colisão com as rochas e árvores. A pesada arca estremecia em cada fibra, ao ser batida pelos ventos impetuosos, e arremessada de uma vaga para outra. Os gritos dos animais, dentro, exprimiam o seu medo e dor. Mas, por entre os elementos em luta, continuou a flutuar com segurança. Anjos "magníficos em poder" foram comissionados para a guardar. PP 61 2 Os animais, expostos à tempestade, lançavam-se sobre o homem, como que a esperar dele auxílio. Alguns dentre o povo amarraram seus filhos e a si mesmos em cima de animais poderosos, sabendo que estes tinham grande apego à vida, e subiriam aos pontos mais altos para escaparem das águas que se elevavam. Alguns ataram-se a árvores altas, no cimo das colinas ou montanhas; mas as árvores foram desarraigadas, e com seu fardo de seres vivos arrojadas às vagas fervilhantes. Um lugar após outro que prometia segurança foi abandonado. Levantando-se as águas cada vez mais, o povo fugiu em busca de refúgio às mais altas montanhas. Freqüentemente homens e animais lutavam entre si, por um lugar, até que uns e outros eram varridos. PP 61 3 Dos mais altos montes olhavam os homens ao longe sobre um oceano sem praias. As solenes advertências do servo de Deus não mais pareciam assunto para o ridículo e escárnio. Quanto anelavam aqueles pecadores condenados as oportunidades que haviam desdenhado! Quanto pleitearam eles uma hora de graça, mais um privilégio de misericórdia, um apelo dos lábios de Noé! Mas a doce voz de misericórdia, não mais seria ouvida por eles. O amor, não menos que a justiça, exigia que os juízos de Deus pusessem um paradeiro ao pecado. As águas vingadoras varreram o último retiro, e os desprezadores de Deus pereceram nas negras profundidades. PP 61 4 "Pela Palavra de Deus [...] pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio. Mas os céus e a Terra que agora existem, pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios". 2 Pedro 3:5-7. Está a vir outra tempestade. A Terra de novo será varrida pela ira desoladora de Deus, e o pecado e os pecadores serão aniquilados. PP 62 1 Os pecados que atraíram a vingança sobre o mundo antediluviano, existem hoje. O temor de Deus baniu-se do coração dos homens, e Sua lei é tratada com indiferença e desprezo. A grande mundanidade daquela geração é igualada pela da geração que hoje vive. Disse Cristo: "Assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos -- assim será também a vinda do Filho do homem". Mateus 24:38, 39. Deus não condenou os antediluvianos por comerem e beberem; dera-lhes os frutos da terra em grande abundância para suprirem suas necessidades físicas. Seu pecado consistia em tomar esses dons sem gratidão para com o Doador, e aviltar-se condescendendo com o apetite sem restrições. Era-lhes lícito casarem. O matrimônio estava dentro da ordem determinada por Deus; foi uma das primeiras instituições que Ele estabeleceu. Deu instruções especiais concernentes a esta ordenança, revestindo-a de santidade e beleza; estas instruções, porém, foram esquecidas, e o casamento foi pervertido, e feito com que servisse às paixões. PP 62 2 Uma idêntica condição de coisas existe hoje. Aquilo que em si mesmo é lícito, é levado ao excesso. O apetite é satisfeito sem restrições. Professos seguidores de Cristo estão hoje comendo e bebendo com os ímpios, enquanto seus nomes permanecem nos honrados registros da igreja. A intemperança embota as faculdades morais e espirituais, e prepara o caminho para a satisfação das más paixões. Multidões não se sentem sob qualquer obrigação moral de reprimirem seus desejos sensuais, e tornam-se escravos da luxúria. Os homens estão vivendo para os prazeres dos sentidos, para este mundo e para esta vida unicamente. A extravagância invade todas as rodas da sociedade. A integridade é sacrificada pelo luxo e ostentação. Aqueles que se apressam em se fazerem ricos pervertem a justiça e oprimem os pobres; e "corpos" e "almas de homens" ainda são comprados e vendidos. Fraude, suborno e roubo ostentam-se, sem que sejam repreendidos, nos meios altos e baixos. As edições do prelo estão cheias de relatos de assassínios, crimes cometidos com tanto sangue frio e sem motivos que parece como se todo o instinto de humanidade estivesse extinguido. E estas atrocidades se tornam uma ocorrência tão comum que dificilmente provocam um comentário ou despertam surpresa. O espírito de anarquia está se insinuando em todas as nações, e as explosões sociais que de tempos em tempos provocam horror ao mundo não são senão indicações dos fogos contidos das paixões e ilegalidade, os quais, havendo escapado à sujeição, encherão a Terra com miséria e ruína. O quadro que a Inspiração nos deu do mundo antediluviano representa mui verdadeiramente a condição a que rapidamente a sociedade moderna caminha. Mesmo agora, no século presente, e nos países que professam ser cristãos, há crimes cometidos diariamente, tão negros e terríveis como aqueles pelos quais os pecadores do velho mundo foram destruídos. PP 63 1 Antes do dilúvio, Deus enviou Noé para advertir o mundo, a fim de que o povo pudesse ser levado ao arrependimento, e assim escapar da destruição ameaçada. Ao aproximar-se o tempo do segundo aparecimento de Cristo, o Senhor envia Seus servos com uma advertência ao mundo para que este se prepare para aquele grande acontecimento. Multidões têm estado a viver em transgressão à lei de Deus, e agora Ele, misericordiosamente, os chama para obedecerem aos Seus sagrados preceitos. A todos os que abandonarem seus pecados pelo arrependimento para com Deus e fé em Cristo, se oferece o perdão. Muitos, porém, acham que requer um sacrifício demasiado grande abandonar o pecado. Porque sua vida não se harmoniza com os princípios puros do governo moral de Deus, rejeitam-Lhe as advertências, e negam a autoridade de Sua lei. PP 63 2 Dentre a vasta população da Terra antes do dilúvio, apenas oito almas creram na Palavra de Deus por intermédio de Noé, e lhe obedeceram. Durante cento e vinte anos o pregador da justiça avisou o mundo da destruição vindoura; mas sua mensagem foi rejeitada e desprezada. Assim será agora. Antes que o Legislador venha para punir os desobedientes, os transgressores são avisados para que se arrependam, e voltem à sua fidelidade; mas, em relação à maioria, serão em vão estas advertências. Diz o apóstolo Pedro: "Nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio". 2 Pedro 3:3, 4. Não ouvimos estas mesmas palavras repetidas, não simplesmente pelos declaradamente ímpios, mas por muitos que ocupam o púlpito em nosso país? "Não há motivo para alarme", exclamam eles. "Antes que Cristo venha, todo o mundo se converterá, e a justiça reinará durante mil anos. Paz! paz! todas as coisas continuam como eram desde o princípio. Que ninguém se perturbe com a excitante mensagem desses alarmistas." Mas tal doutrina do milênio não se harmoniza com os ensinos de Cristo e Seus apóstolos. Jesus fez a significativa pergunta: "Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?" Lucas 18:8. E, conforme vimos, Ele declara que o estado do mundo será como nos dias de Noé. Paulo nos adverte que podemos esperar a iniqüidade aumentar ao aproximar-se o fim: "O Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios". 1 Timóteo 4:1. O apóstolo diz que "nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos". 2 Timóteo 3:1. E ele dá uma lista surpreendente de pecados que se encontrarão entre os que têm uma forma de piedade. PP 63 3 Estando a encerrar-se o seu tempo de graça, entregavam-se os antediluvianos a divertimentos e festas empolgantes. Os que possuíam influência e poderio aplicavam-se em conservar a mente do povo ocupada com júbilo e prazer, para que não acontecesse alguém ficar impressionado pela última e solene advertência. Não vemos o mesmo repetido em nossa época? Enquanto os servos de Deus estão a dar a mensagem de que o fim de todas as coisas está às portas, o mundo se absorve em divertimentos e busca de prazeres. Há uma constante seqüência de sensações que ocasiona a indiferença para com Deus, e impede o povo de se impressionar com as verdades que, unicamente, o podem salvar da destruição vindoura. PP 64 1 No tempo de Noé, declaravam os filósofos que era impossível ser o mundo destruído pela água; assim, há hoje homens de ciência que se esforçam por provar que o mundo não pode ser destruído pelo fogo, ou seja, que isto seria incoerente com as leis da natureza. Mas o Deus da natureza, o autor e dirigente das leis da mesma natureza, pode fazer uso das obras de Suas mãos para servirem ao Seu propósito. PP 64 2 Quando os grandes e sábios provaram para a sua satisfação que era impossível ser o mundo destruído pela água, quando os temores do povo se acalmaram, quando todos consideraram a profecia de Noé como uma ilusão, e o olhavam como a um fanático, então é que veio o tempo de Deus. "Romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram" (Gênesis 7:11), e os escarnecedores foram submersos nas águas do dilúvio. Com toda a sua orgulhosa filosofia, demasiado tarde acharam os homens que sua sabedoria era loucura, que o Legislador é maior do que as leis da natureza, e que à Onipotência não faltam meios para cumprir os Seus propósitos. "E, como aconteceu nos dias de Noé", "assim será no dia em que o Filho do homem Se há de manifestar". Lucas 17:26, 30. "O dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão". 2 Pedro 3:10. Quando os raciocínios da filosofia houverem banido o temor dos juízos de Deus; quando ensinadores religiosos estiverem a apontar no futuro para longas eras de paz e prosperidade, e o mundo estiver absorto em sua rotina de negócios e prazeres, plantando e construindo, banqueteando-se e divertindo-se, rejeitando as advertências de Deus e zombando de Seus mensageiros, então é que súbita destruição lhes sobrevirá, e não escaparão. 1 Tessalonicenses 5:3. ------------------------Capítulo 8 -- Depois do dilúvio PP 65 1 As águas subiram quinze côvados acima das mais altas montanhas. Pareceu muitas vezes à família, que estava dentro da arca, que deveriam perecer, tendo sido o seu barco durante cinco longos meses arremessado de um lado para outro, aparentemente por conta do vento e das ondas. Foi uma prova severa; mas a fé de Noé não vacilou, pois tinha certeza de que a mão divina estava ao leme. PP 65 2 Começando a baixar as águas, o Senhor fez com que a arca flutuasse para um lugar protegido por um grupo de montanhas, que por Seu poder haviam sido preservadas. Essas montanhas estavam a pouca distância uma das outras, e a arca moveu-se em direção àquele abrigo calmo, e não mais foi levada sobre o ilimitado oceano. Isto deu grande alívio aos viajantes cansados e arremessados pela tempestade. PP 65 3 Noé e sua família ansiosamente esperaram o recuo das águas; pois almejavam sair de novo à terra. Quarenta dias depois que os altos das montanhas se tornaram visíveis, enviaram um corvo, ave de fino olfato, para revelar se a terra se tornara enxuta. Esta ave, nada encontrando senão água, continuou a voar da arca para fora e de fora para a arca. Sete dias mais tarde, uma pomba foi enviada, a qual, não encontrando onde pousar, voltou à arca. Noé esperou mais sete dias, e de novo enviou a pomba. Quando ela voltou à tarde com uma folha de oliveira no bico, houve grande regozijo. Depois "Noé tirou a cobertura da arca, e olhou, e eis que a face da terra estava enxuta". Gênesis 8:13. Ainda ele esperou pacientemente dentro da arca. Havendo entrado por ordem de Deus, esperou instruções especiais para retirar-se. PP 65 4 Finalmente um anjo desceu do Céu, abriu a pesada porta, e mandou o patriarca e sua casa saírem à terra, e tomarem consigo todos os seres vivos. Na alegria de seu livramento, Noé não se esqueceu dAquele por cujo gracioso cuidado haviam sido preservados. Seu primeiro ato ao deixar a arca foi construir um altar, e oferecer de toda a espécie de animal e ave limpa um sacrifício, manifestando assim sua gratidão para com Deus pelo livramento, e sua fé em Cristo, o grande sacrifício. Esta oferta foi agradável ao Senhor; e uma bênção resultou não somente ao patriarca e sua família, mas a todos os que vivessem sobre a Terra. "E o Senhor cheirou o suave cheiro, e disse o Senhor em Seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a Terra por causa do homem. [...] Enquanto a Terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão". Gênesis 8:21, 22. Aqui havia uma lição a todas as gerações que se sucedessem. Noé saíra para uma terra desolada; mas antes de preparar casa para si, construiu um altar a Deus. Seu suprimento de gado era pequeno, e havia sido preservado com grande despesa; contudo, deu alegremente uma parte ao Senhor, em reconhecimento de que tudo era dEle. De modo semelhante, deve ser o nosso primeiro cuidado render nossas ofertas voluntárias a Deus. Toda a manifestação de Sua misericórdia e amor para conosco deve ser gratamente reconhecida, tanto por atos de devoção como por meio de dádivas à Sua causa. PP 66 1 Para que não acontecesse que a acumulação de nuvens e queda da chuva enchessem os homens de um terror constante, proveniente do medo de um outro dilúvio, o Senhor animou a família de Noé com uma promessa: "Eu convosco estabeleço o Meu concerto, [...] não haverá mais dilúvio para destruir a Terra. [...] O Meu arco tenho posto na nuvem; este será por sinal do concerto entre Mim e a Terra. E acontecerá que, quando Eu trouxer nuvens sobre a Terra, aparecerá o arco nas nuvens. [...] E Eu o verei, para Me lembrar do concerto eterno entre Deus e toda a alma vivente". Gênesis 9:11-16. PP 66 2 Quão grande é a condescendência de Deus, e Sua compaixão por Suas criaturas falíveis, colocando assim o belo arco-íris nas nuvens como sinal de Seu concerto com os homens! O Senhor declara que, ao olhar Ele o arco, lembrar-Se-á de Seu concerto. Isto não implica que houvesse de esquecer-Se; Ele, porém, fala-nos em nossa linguagem para que melhor O possamos compreender. Era o propósito de Deus que, quando os filhos das gerações posteriores perguntassem a significação do arco glorioso que abrange os céus repetissem seus pais a história do dilúvio, e lhes dissessem que o Altíssimo distendeu o arco, e o colocou nas nuvens como uma segurança de que as águas nunca mais inundariam a Terra. Assim, de geração a geração testificaria do amor divino para com o homem, e fortaleceria sua confiança em Deus. PP 66 3 No Céu, uma semelhança de arco-íris rodeia o trono, e estende-se como uma abóbada por sobre a cabeça de Cristo. Diz o profeta: "Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor [do trono]. Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor". Ezequiel 1:28. O escritor do Apocalipse declara: "Eis que um trono estava posto no Céu, e Um assentado sobre o trono. [...] E o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda". Apocalipse 4:2, 3. Quando o homem pela sua grande impiedade convida os juízos divinos, o Salvador, intercedendo junto ao Pai em seu favor, aponta para o arco nas nuvens, para o arco celeste em redor do trono e acima de Sua cabeça, como sinal da misericórdia de Deus para com o pecador arrependido. PP 67 1 Com a certeza dada a Noé com relação ao dilúvio, o próprio Deus ligou uma das mais preciosas promessas de Sua graça: "Pois jurei que as águas de Noé não inundariam mais a Terra; assim jurei que não Me irarei mais contra ti, nem te repreenderei. Porque as montanhas se desviarão, e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti". Isaías 54:9, 10. PP 67 2 Ao olhar Noé para as poderosas feras rapinantes que saíram com ele da arca, temeu que sua família, contando apenas oito pessoas, fosse destruída por elas. Mas o Senhor enviou um anjo a Seu servo com a mensagem asseguradora: "E será o vosso temor e o vosso pavor sobre todo o animal da Terra, e sobre toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a Terra, e todos os peixes do mar, na vossa mão são entregues. Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde". Gênesis 9:2, 3. Antes deste tempo Deus não havia dado ao homem permissão para comer alimentos animais; era Seu desígnio que a espécie humana se mantivesse inteiramente com as produções da terra; mas agora que toda a erva verde tinha sido destruída, permitiu-lhes comer a carne dos animais limpos que haviam sido preservados na arca. PP 67 3 A superfície toda da Terra ficou transformada com o dilúvio. Uma terceira maldição terrível repousou sobre ela em conseqüência do pecado. Começando a água a baixar, as colinas e montanhas ficaram rodeadas de um mar vasto, ameaçador. Todos os lugares estavam juncados de corpos mortos de homens e animais. O Senhor não permitiria que estes ficassem a decompor-se e contaminar o ar; fez, portanto, da Terra um vasto cemitério. Um vento violento que fez soprar com o fim de enxugar as águas, removeu-os com grande força, levando mesmo em alguns casos os cumes das montanhas, e amontoando árvores, pedras e terra em cima dos corpos dos mortos. Pelo mesmo meio a prata e o ouro, a madeira escolhida e as pedras preciosas, que tinha enriquecido e adornado o mundo antes do dilúvio, e que os habitantes haviam idolatrado, foram escondidos da vista e alcance dos homens, acumulando a ação violenta das águas, terra e pedras sobre esses tesouros, e nalguns casos formando mesmo montanhas sobre eles. Deus viu que quanto mais Ele enriquecia e prosperava os homens pecadores, mais corrompiam seus caminhos diante dEle. Os tesouros que os deviam ter levado a glorificar o generoso Doador, foram adorados, enquanto Deus fora desonrado e desprezado. PP 67 4 A Terra apresentava um aspecto de confusão e desolação impossível de descrever-se. As montanhas, que haviam sido tão belas em sua perfeita simetria, ficaram despedaçadas e irregulares. Pedras, lajes e rochas irregulares estavam agora espalhadas pela superfície da Terra. Em muitos lugares, colinas e montanhas tinham desaparecido, não deixando vestígio do lugar em que se achavam; planícies haviam dado o lugar a cadeias de montanhas. Estas transformações eram mais acentuadas em alguns lugares do que em outros. Onde estiveram os mais ricos tesouros da Terra, em ouro, prata e pedras preciosas, viam-se os mais acentuados indícios da maldição. E sobre os territórios que não eram habitados, e aqueles em que houvera o menor número de crimes, a maldição repousou mais brandamente. PP 68 1 Nesse tempo imensas florestas foram sepultadas. Estas foram depois transformadas em carvão, formando as extensas camadas carboníferas que hoje existem, e também fornecendo grande quantidade de óleo. O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam debaixo da superfície da Terra. Assim as rochas são aquecidas, queimada a pedra de cal, e derretido o minério de ferro. A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e minério, há violentas explosões subterrâneas, as quais repercutem como soturnos trovões. O ar se acha quente e sufocante. Seguem-se erupções vulcânicas; e, deixando estas muitas vezes de dar vazão suficiente aos elementos aquecidos, a própria terra é agitada, o terreno se ergue e dilata-se como as ondas do mar, aparecem grandes fendas, e algumas vezes cidades, vilas, e montanhas a arder são tragadas. Estas assombrosas manifestações serão mais e mais freqüentes e terríveis precisamente antes da segunda vinda de Cristo e do fim do mundo, como sinais de sua imediata destruição. PP 68 2 As profundidades da Terra são o arsenal do Senhor, donde foram retiradas as armas empregadas na destruição do mundo antigo. Águas jorrando da Terra uniam-se com as águas do céu para cumprirem a obra de desolação. Desde o dilúvio, o fogo bem como a água tem sido o agente de Deus para destruir cidades muito ímpias. Estes juízos são enviados a fim de que aqueles que consideram levianamente a lei de Deus e menosprezam Sua autoridade, possam ser levados a tremer ante o Seu poder, e confessar Sua justa soberania. Vendo os homens montanhas ardentes a derramar fogo e chamas, e torrentes de minério derretido a secar rios, submergindo cidades populosas, e por toda parte espalhando a ruína e desolação, o mais arrogante coração tem-se enchido de terror, e os incrédulos e blasfemos têm sido constrangidos a reconhecer o infinito poder de Deus. PP 68 3 Disseram os antigos profetas, referindo-se a cenas como essas: "Oh! se fendesses os céus, e descesses! e os montes se escoassem diante da Tua face! Como quando o fogo inflama a lenha, e faz ferver as águas, para fazeres notório o Teu nome aos Teus adversários, assim as nações tremessem da Tua presença! Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes se escoavam diante da Tua face." "O Senhor tem o Seu caminho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos Seus pés. Ele repreende o mar, e o faz secar, e esgota todos os rios". Naum 1:3, 4. PP 68 4 Manifestações mais terríveis do que as que o mundo jamais viu, serão testemunhadas por ocasião do segundo advento de Cristo. "Os montes tremem perante Ele, e os outeiros se derretem; e a Terra se levanta na Sua presença; o mundo e todos os que nele habitam. Quem parará diante do Seu furor? e quem subsistirá diante do ardor da Sua ira?" Naum 1:5, 6. "Abaixa, ó Senhor, os Teus céus, e desce; toca os montes, e fumegarão. Vibra os Teus raios, e dissipa-os; envia as Tuas flechas, e desbarata-os". Salmos 144:5, 6. PP 69 1 "Farei aparecer prodígios em cima, no céu; e sinais embaixo na Terra, sangue, fogo e vapor de fumo". Atos dos Apóstolos 2:19. "E houve vozes, e trovões, e relâmpagos, e um grande terremoto, como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra; tal foi este tão grande terremoto." "E toda ilha fugiu; e os montes não se acharam. E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento". Apocalipse 16:18, 20, 21. PP 69 2 Unindo-se os raios do céu com o fogo na Terra, as montanhas arderão como uma fornalha, e derramarão terríveis correntes de lava, submergindo jardins e campos, vilas e cidades. Massas fervilhantes derretidas, ao serem arremessadas nos rios, farão com que as águas entrem em ebulição, arremetendo rochas maciças com indescritível violência, e espalhando seus fragmentos sobre a terra. Rios tornar-se-ão secos. A Terra se convulsionará; por toda parte haverá tremendos terremotos e erupções. PP 69 3 Assim destruirá Deus os ímpios da Terra. Mas os justos serão preservados em meio destas comoções, como o foi Noé na arca. Deus será o seu refúgio, e sob Suas asas eles estarão confiados. Diz o salmista: "Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a Tua habitação. Nenhum mal te sucederá". "No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; no oculto do Seu tabernáculo me esconderá." A promessa de Deus é: "Pois que tão encarecidamente Me amou, também Eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o Meu nome". Salmos 91:9, 10, 14; 27:5. ------------------------Capítulo 9 -- A semana literal PP 70 1 Semelhante ao sábado, a semana originou-se na criação, e foi preservada e trazida até nós através da história bíblica. O próprio Deus mediu a primeira semana como um modelo para as semanas sucessivas até o final do tempo. Como todas as outras, consistiu de sete dias literais. Seis dias foram empregados na obra da criação; no sétimo dia Deus repousou, e então o abençoou e o separou como dia de descanso para o homem. PP 70 2 Na lei dada no Sinai, Deus reconheceu a semana, e os fatos sobre os quais ela se baseava. Depois de dar o mandamento: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar", e especificar o que deve ser feito nos seis dias e o que não deve ser feito no sétimo, Ele declara a razão para assim observar a semana, apontando para o Seu próprio exemplo: "Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou". Êxodo 20:8-11. Esta razão parece bela e impõe-se quando compreendemos serem literais os dias da criação. Os seis primeiros dias de cada semana são dados aos homens para o trabalho, porque Deus empregou o mesmo período da primeira semana na obra da criação. No sétimo dia o homem deve abster-se do trabalho, em comemoração ao repouso do Criador. PP 70 3 Mas a admissão de que os acontecimentos da primeira semana exigiram milhares de milhares de anos, fere diretamente a base do quarto mandamento. Representa o Criador a ordenar aos homens observarem a semana de dias literais em comemoração de períodos vastos, indefinidos. Isto não está conforme o Seu método de tratar com Suas criaturas. Torna indefinido e obscuro o que Ele fizera muito claro. É a incredulidade em sua forma mais traiçoeira, e portanto mais perigosa; seu verdadeiro caráter se acha tão disfarçado que é tal opinião mantida e ensinada por muitos que professam crer na Bíblia. PP 70 4 "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da Sua boca." "Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu". Salmos 33:6, 9. A Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente evoluiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que consistiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado da obra do Criador. Faz-se esta declaração no fim do relato da primeira semana: "Estas são as origens do céu e da Terra, quando foram criados". Gênesis 2:4. Mas isto não confere a idéia de que os dias da criação eram diversos de dias literais. Cada dia foi chamado uma origem ou geração, porque nele Deus gerou, ou produziu alguma nova porção de Sua obra. PP 71 1 Pretendem geólogos achar prova na própria Terra de que ela é muitíssimo mais velha do que ensina o registro mosaico. Ossos de homens e animais, bem como instrumentos de guerra, árvores petrificadas, etc., muito maiores do que qualquer que hoje exista, ou que tenha existido durante milhares de anos, foram descobertos, e disto conclui-se que a Terra foi povoada muito tempo antes da era referida no registro da criação, e por uma raça de seres grandemente superiores em tamanho a quaisquer homens que hoje vivam. Tal raciocínio tem levado muitos crentes professos na Bíblia a adotar a opinião de que os dias da criação foram períodos vastos, indefinidos. PP 71 2 Mas, fora da história bíblica, a geologia nada pode provar. Aqueles que tão confiantemente raciocinam acerca de suas descobertas, não têm uma concepção adequada do tamanho dos homens, animais e árvores anteriores ao dilúvio, ou das grandes mudanças que então ocorreram. Restos encontrados na terra dão prova de condições que em muitos aspectos diferiam do presente; mas o tempo em que essas condições existiram apenas pode ser descoberto pelo Registro Inspirado. Na história do dilúvio a inspiração explicou aquilo que a geologia por si só nunca poderia sondar. Nos dias de Noé, homens, animais e árvores, muitas vezes maiores do que os que hoje existem, foram sepultados, e assim conservados, como prova para as gerações posteriores de que os antediluvianos pereceram por um dilúvio. Era o desígnio de Deus que a descoberta dessas coisas estabelecesse fé na história inspirada, mas os homens, com seus vãos raciocínios, caem no mesmo erro em que caiu o povo anterior ao dilúvio -- as coisas que Deus lhes dera como benefício, mudam eles em maldição, fazendo delas mau uso. PP 71 3 É um das armadilhas de Satanás levar o povo a aceitar as fábulas do ateísmo; pois ele pode assim obscurecer a lei de Deus, em si mesma muito clara, e tornar audazes os homens para se rebelarem contra o governo divino. Seus esforços são especialmente dirigidos contra o quarto mandamento, porque tão claramente aponta para o Deus vivo, o Criador dos céus e da Terra. PP 71 4 Há um esforço constante, feito com o fim de explicar a obra da criação, como resultado de causas naturais; e o raciocínio humano é aceito mesmo pelos cristãos professos, em oposição aos claros fatos escriturísticos. Muitos há que se opõem ao estudo das profecias, especialmente as de Daniel e Apocalipse, declarando serem tão obscuras que não podemos entendê-las; contudo estas mesmas pessoas recebem avidamente as suposições dos geólogos, em contradição com o registro mosaico. Mas se aquilo que Deus revelou é tão difícil de entender, quão incoerente é aceitar meras suposições com relação àquilo que Ele não revelou! PP 72 1 "As coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus; porém, as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre". Deuteronômio 29:29. Precisamente como Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível como a Sua existência. PP 72 2 Deus permitiu que uma inundação de luz fosse derramada sobre o mundo, tanto nas ciências como nas artes; mas quando professos cientistas tratam estes assuntos de um ponto de vista meramente humano, chegarão certamente a conclusões errôneas. Pode ser inofensivo pesquisar além do que a Palavra de Deus revelou, se nossas teorias não contradizem fatos encontrados nas Escrituras; mas aqueles que deixam a Palavra de Deus e procuram explicar Suas obras criadas por meio de princípios científicos, estão vagando sem mapa nem bússola em um oceano desconhecido. PP 72 3 Os maiores espíritos, se não são guiados pela Palavra de Deus em sua pesquisa, desencaminham-se em suas tentativas de traçar as relações entre a ciência e a revelação. Visto acharem-se o Criador e Suas obras tão além de sua compreensão que são incapazes de os explicar pelas leis naturais, consideram a história bíblica como indigna de confiança. Os que duvidam da exatidão dos registros do Antigo e Novo Testamentos, serão levados um passo mais, e duvidarão da existência de Deus; e então, tendo perdido sua âncora, são abandonados a baterem de um lado para outro nas rochas da incredulidade. PP 72 4 Essas pessoas perderam a simplicidade da fé. Deve haver uma fé estabelecida na autoridade divina da santa Palavra de Deus. A Bíblia não deve ser provada pelas idéias científicas de homens. O saber humano é um guia indigno de confiança. Céticos que lêem a Bíblia com o fim de cavilar, podem, mediante uma compreensão imperfeita, quer da ciência quer da revelação, pretender achar contradições entre elas; mas, corretamente entendidas, estão em perfeita harmonia. Moisés escreveu sob a guia do Espírito de Deus; e uma teoria correta de geologia nunca terá a pretensão de descobertas que não possam conciliar-se com suas declarações. Toda verdade, quer na natureza quer na revelação, é coerente consigo mesma em todas as suas manifestações. PP 72 5 Na Palavra de Deus surgem muitas perguntas que os mais profundos sábios jamais poderão responder. A atenção é chamada para estes assuntos, para nos mostrar, mesmo entre as coisas comuns da vida diária, quanta coisa há que mentes finitas, com toda a sua vangloriada sabedoria, jamais poderão compreender amplamente. PP 72 6 Contudo, homens de ciência julgam poder compreender a sabedoria de Deus, aquilo que Ele fez ou pode fazer. A idéia de que Ele é restrito pelas Suas próprias leis, prevalece largamente. Os homens ou negam ou ignoram a Sua existência, ou julgam explicar tudo, mesmo a operação de Seu Espírito sobre o coração humano; e não mais reverenciam o Seu nome nem temem o Seu poder. Não crêem no sobrenatural, não compreendendo as leis de Deus, ou o Seu poder infinito para executar Sua vontade por meio deles. Conforme é usualmente empregada, a expressão "leis da natureza" compreende o que o homem tem podido descobrir com relação às leis que governam o mundo físico; mas quão limitado é o seu conhecimento, e quão vasto é o campo em que o Criador pode operar, em harmonia com Suas próprias leis, e todavia inteiramente além da compreensão de seres finitos! PP 73 1 Muitos ensinam que a matéria possui força vital: que certas propriedades são comunicadas à matéria, e que então fica ela a agir por meio de sua própria energia inerente; e que as operações da natureza são dirigidas de acordo com leis fixas, nas quais o próprio Deus não pode interferir. Isto é ciência falsa, e não é apoiado pela Palavra de Deus. A natureza é serva de seu Criador. Deus não anula Suas leis, nem age contrariamente a elas; mas está continuamente a empregá-las como Seus instrumentos. A natureza testifica de uma inteligência, de uma presença, de uma energia ativa, que opera em suas leis e por meio das mesmas leis. Há na natureza a operação contínua do Pai e do Filho. Cristo diz: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também". João 5:17. PP 73 2 Os levitas, em seu hino registrado por Neemias, cantaram: "Tu só és Senhor, Tu fizeste o céu, o Céu dos céus, e todo o seu exército; a Terra e tudo quanto nela há; [...] e Tu os guardas em vida a todos". Neemias 9:6. PP 73 3 Quanto ao que respeita a este mundo, a obra de Deus, da criação, está completa; pois as obras estavam "acabadas desde a fundação do mundo". Hebreus 4:3. Mas a Sua energia ainda é exercida ao sustentar os objetivos de Sua criação. Não é porque o mecanismo, que uma vez fora posto em movimento, continue a agir por sua própria energia inerente que o pulso bate, que respiração se segue a respiração; mas cada respiração, cada pulsar do coração é uma prova daquele cuidado que tudo penetra, por parte dAquele em quem "vivemos, e nos movemos, e existimos". Atos dos Apóstolos 17:28. Não é por causa de um poder inerente que ano após ano a Terra produz seus dons, e continua seu movimento em redor do Sol. A mão de Deus guia os planetas, e os conserva em posição na sua marcha ordenada através dos céus. Ele "produz por conta o Seu exército", "a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará". Isaías 40:26. É pelo Seu poder que a vegetação floresce, que as folhas aparecem e as flores desabrocham. Ele "faz produzir erva sobre os montes", e por Ele os vales se tornam férteis. Todos os animais da floresta buscam seu sustento de Deus (Salmos 147:8; 104:20, 21), e toda a criatura vivente, desde o menor inseto até o homem, depende diariamente de Seu cuidado providencial. Tais são as belas palavras do salmista: "Todos esperam de Ti [...] Dando-lho Tu, eles o recolhem; abres a Tua mão, e enchem-se de bens". Salmos 104:27, 28. Sua palavra governa os elementos; cobre os céus de nuvens, e prepara a chuva para a terra. "Dá a neve como lã, esparge a geada como cinza". Salmos 147:16. "Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há arruído de águas no céu, e sobem os vapores da extremidade da Terra; Ele faz os relâmpagos para a chuva, e faz sair o vento dos seus tesouros". Jeremias 10:13. PP 74 1 Deus é o fundamento de todas as coisas. Toda verdadeira ciência está em harmonia com Suas obras; toda verdadeira educação conduz à obediência ao Seu governo. A ciência desvenda novas maravilhas à nossa vista; faz altos vôos, e explora novas profundidades; mas nada traz de suas pesquisas que esteja em conflito com a revelação divina. A ignorância pode procurar apoiar opiniões falsas a respeito de Deus apelando para a ciência; mas o livro da natureza e a Palavra escrita derramam luz um sobre o outro. Somos assim levados a adorar o Criador, e a depositar uma confiança inteligente em Sua Palavra. PP 74 2 Nenhuma mente finita pode compreender completamente a existência, o poder, a sabedoria, ou as obras do Ser infinito. Diz o escritor sagrado: "Porventura alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno, que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a Terra; e mais larga do que o mar". Jó 11:7-9. Os mais poderosos intelectos da Terra não podem compreender a Deus. Os homens podem estar sempre a pesquisar, sempre a aprender, e ainda há, para além, o infinito. PP 74 3 Todavia as obras da criação testificam do poder e grandeza de Deus. "Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos". Salmos 19:1. Aqueles que tomam a Palavra escrita como seu conselheiro, encontrarão na ciência um auxílio para compreender a Deus. "As Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas". Romanos 1:20. ------------------------Capítulo 10 -- A torre de Babel PP 75 1 Para repovoar a Terra desolada, da qual tão recentemente havia o dilúvio varrido a corrupção moral, Deus tinha preservado apenas uma família, a casa de Noé, a quem Ele declarou: " [...] te hei visto justo diante de Mim nesta geração". Gênesis 7:1. Contudo, nos três filhos de Noé rapidamente se desenvolveu a mesma grande distinção que se via no mundo anterior ao dilúvio. Em Sem, Cão e Jafé, que seriam os fundadores do gênero humano, estava prefigurado o caráter de sua posteridade. PP 75 2 Noé, falando por inspiração divina, predisse a história das três grandes raças que se originariam desses pais da humanidade. Seguindo a linhagem de Cão, por meio do filho em vez de o pai, declarou ele: "Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos". Gênesis 9:25. O atentado aos sentimentos de afeição natural por parte de Cão, declarou que a reverência filial muito tempo antes havia sido repelida de sua alma; e revelou a impiedade e vileza de seu caráter. Estas más características perpetuaram-se em Canaã e sua posteridade, cujo delito, continuado, atraiu-lhes os juízos de Deus. PP 75 3 Do outro lado, a reverência de Sem e Jafé por seu pai, e assim pelos estatutos divinos, prometia um futuro mais brilhante aos seus descendentes. Com relação a esses filhos foi declarado: "Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-Lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo". Gênesis 9:26, 27. A linhagem de Sem deveria ser a do povo escolhido, do concerto de Deus, do Redentor prometido. Jeová era o Deus de Sem. Dele devia descender Abraão, e o povo de Israel, por intermédio do qual Cristo devia vir. "Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor". Salmos 144:15. E Jafé "habite nas tendas de Sem". Das bênçãos do evangelho os descendentes de Jafé deveriam especialmente participar. PP 75 4 A posteridade de Canaã desceu às mais degradantes formas de paganismo. Posto que a maldição profética os condenasse à escravidão, esta condenação foi retida durante séculos. Deus suportou sua impiedade e corrupção até que eles passaram os limites da longanimidade divina. Então foram despojados, e se tornaram escravos dos descendentes de Sem e Jafé. PP 75 5 A profecia de Noé não foi uma manifestação arbitrária de ira ou uma declaração de favor. Ela não fixou o caráter e destino de seus filhos. Mas mostrou qual seria o resultado da conduta de vida que cada um havia escolhido, e o caráter que tinham desenvolvido. Era uma expressão do propósito de Deus para com eles e sua posteridade, em vista de seu próprio caráter e conduta. Em regra, os filhos herdam as disposições e tendências dos pais, e imitam-lhes o exemplo, de modo que os pecados dos pais são praticados pelos filhos de geração em geração. Assim a vileza e irreverência de Cão foram reproduzidas em sua posteridade, acarretando-lhes maldição por muitas gerações. "Um só pecador destrói muitos bens". Eclesiastes 9:18. PP 76 1 De outro lado, quão ricamente galardoado foi o respeito de Sem para com seu pai! e que ilustre estirpe de homens santos aparece em sua posteridade! "O Senhor conhece os dias dos retos", "a sua descendência é abençoada". Salmos 37:18, 26. "Saberás pois que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos". Deuteronômio 7:9. PP 76 2 Durante algum tempo os descendentes de Noé continuaram a habitar entre as montanhas onde a arca repousara. Aumentando o seu número, a apostasia logo determinou a divisão. Aqueles que desejavam esquecer-se de seu Criador, e lançar de si as restrições de Sua lei, sentiam um incômodo constante pelo ensino e exemplos de seus companheiros tementes a Deus; e depois de algum tempo resolveram separar-se dos adoradores de Deus. Portanto viajaram para a planície de Sinear, nas margens do rio Eufrates. Eram atraídos pela beleza do local e fertilidade do solo; e nesta planície decidiram-se a fazer sua morada. PP 76 3 Ali resolveram edificar uma cidade, e nela uma torre de altura tão estupenda que havia de torná-la uma maravilha do mundo. Estes empreendimentos destinavam-se a impedir que o povo se espalhasse ao longe, em colônias. Deus determinara que os homens se dispersassem pela Terra toda, para povoá-la e subjugá-la; mas estes construtores de Babel resolveram conservar unida a sua comunidade, em um corpo, e fundar uma monarquia que finalmente abrangesse a Terra inteira. Assim, a sua cidade tornar-se-ia a metrópole de um império universal; sua glória imporia a admiração e homenagem do mundo, e tornaria ilustres os fundadores. A magnificente torre, atingindo os céus, tinha por fim permanecer como um monumento do poder e sabedoria de seus construtores, perpetuando a sua fama até as últimas gerações. PP 76 4 Os moradores da planície de Sinear não criam no concerto de Deus de que não mais traria um dilúvio sobre a Terra. Muitos deles negavam a existência de Deus, e atribuíam o dilúvio à operação de causas naturais. Outros criam em um Ser supremo, e que fora Ele que destruíra o mundo antediluviano; e seu coração, como o de Caim, ergueu-se em rebelião contra aquele Ser. Um objetivo que tinham na construção da torre era garantir sua segurança em caso de outro dilúvio. Elevando a construção a uma altura muito maior do que a que foi atingida pelas águas do dilúvio, julgavam colocar-se fora de toda possibilidade de perigo. E, como pudessem subir à região das nuvens, esperavam certificar-se da causa do dilúvio. Todo o empreendimento destinava-se a exaltar ainda mais o orgulho dos que o projetaram, e desviar de Deus a mente das futuras gerações e levá-las à idolatria. PP 77 1 Quando a torre se completara parcialmente, parte dela foi ocupada como habitação de seus construtores; outros compartimentos, esplendidamente aparelhados e ornamentados, eram dedicados a seus ídolos. O povo regozijava-se com o seu êxito, e louvava os deuses de prata e ouro, e colocavam-se em oposição ao Governador do Céu e da Terra. Súbito sustou-se a obra que estivera avançando tão prosperamente. Anjos foram enviados para reduzir a nada o propósito dos edificadores. A torre havia alcançado uma grande altura, e era impossível aos trabalhadores no cimo comunicar-se diretamente com os que estavam na base; portanto foram estacionados homens em diferentes pontos, devendo cada um receber os pedidos de material de que se necessitava, ou outras instruções relativas à obra, e transmiti-las ao que estava imediatamente abaixo. Passando assim os avisos de um para o outro, foi confundida a língua, de modo que se pedia material de que não havia necessidade, e as instruções transmitidas eram muitas vezes o contrário das que tinham sido dadas. Seguiram-se a confusão e o desânimo. Todo o trabalho paralisou-se. Não mais podia haver harmonia ou cooperação. Os edificadores eram inteiramente incapazes de dar a razão dos estranhos mal-entendidos entre eles, e em sua raiva e decepção, censuravam uns aos outros. Terminou sua confederação em contenda e carnificina. Raios do céu, como prova do desagrado de Deus, quebraram a parte superior da torre, e a lançaram ao solo. Os homens foram levados a compenetrar-se de que há um Deus que governa nos Céus. PP 77 2 Até aquele tempo todos os homens falavam a mesma língua; agora, aqueles que compreendiam a fala uns dos outros, uniram-se em grupos; alguns foram para um lado, outros para outro. "O Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a Terra". Gênesis 11:8. Esta dispersão foi o meio de povoar a Terra; e assim o propósito do Senhor se cumpriu pelo próprio meio que os homens haviam empregado para impedir a sua realização. PP 77 3 Mas com que perda para aqueles que se colocaram contra Deus! Era Seu propósito que, ao saírem os homens para fundarem nações nas várias partes da Terra, levassem consigo o conhecimento de Sua vontade, para que a luz da verdade pudesse resplandecer com todo o brilho às gerações que se sucedessem. Noé, o fiel pregador da justiça, viveu trezentos e cinqüenta anos depois do dilúvio, e Sem quinhentos anos; e assim seus descendentes tiveram oportunidade de familiarizar-se com os mandos de Deus e a história de Seu trato para com os pais. Estavam, porém, indispostos a ouvir estas verdades, que lhes desagradavam; não tinham o desejo de conservar a Deus em seu conhecimento; e pela confusão das línguas ficaram em grande medida excluídos do intercâmbio com aqueles que lhes poderiam proporcionar luz. PP 78 1 Os edificadores de Babel tinham alimentado o espírito de murmuração contra Deus. Em vez de se lembrarem com gratidão de Sua misericórdia para com Adão, e de Seu gracioso concerto com Noé, queixaram-se de Sua severidade ao expulsar do Éden o primeiro par, e destruir o mundo por um dilúvio. Entretanto enquanto murmuravam contra Deus, como sendo arbitrário e severo, estavam a aceitar o governo do mais cruel dos tiranos. Satanás estava procurando levar o desdém às ofertas sacrificais que prefiguravam a morte de Cristo; e, obscurecendo-se a mente do povo pela idolatria, ele os levou a falsificar essas ofertas, e a sacrificar seus próprios filhos sobre os altares de seus deuses. Desviando-se de Deus os homens, os atributos divinos de justiça, pureza e amor foram suplantados pela opressão, violência e brutalidade. PP 78 2 Os homens de Babel tinham-se decidido a estabelecer um governo que fosse independente de Deus. Alguns houve entre eles, entretanto, que temiam ao Senhor, mas tinham sido enganados pelas pretensões dos ímpios, e arrastados aos seus desígnios. Por amor a estes fiéis, o Senhor retardou os Seus juízos, e deu ao povo tempo para revelar o seu verdadeiro caráter. Desenvolvendo-se este, os filhos de Deus trabalharam para os demover de seu intuito; mas o povo estava completamente unido em seu empreendimento que se atrevia contra o Céu. Houvessem eles continuado sem serem impedidos, e teriam aviltado o mundo em sua infância. A confederação foi fundada de modo revoltoso; estabelecido fora um reino para a exaltação própria, mas no qual Deus não deveria ter domínio ou honra. Houvesse sido permitida esta confederação, e uma grande potência teria exercido o domínio para banir da Terra a justiça, e com esta a paz, a felicidade e a segurança. Os homens estavam a esforçar-se por substituir os estatutos divinos, que são justos, santos e bons (Romanos 7:12), por leis que conviessem aos intuitos de seu coração egoísta e cruel. PP 78 3 Os que temiam ao Senhor clamavam a Ele para que interviesse. "Então desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam". Gênesis 11:5. Usando de misericórdia para com o mundo, frustrou o propósito dos edificadores da torre, e transtornou o memorial de sua ousadia. Misericordiosamente confundiu-lhes a língua acabando com seus propósitos de rebelião. Deus suporta longamente a perversidade dos homens, dando-lhes ampla oportunidade para o arrependimento; mas nota todos os seus expedientes para resistirem à autoridade de Sua santa e justa lei. De tempos em tempos a mão invisível que segura o cetro do governo estende-se para restringir a iniqüidade. Prova inequívoca é dada de que o Criador do Universo, o Ser infinito em sabedoria, amor e verdade, é o supremo governador do Céu e da Terra, e de que ninguém pode impunemente desafiar o Seu poder. PP 79 1 Os planos dos construtores de Babel terminaram com vergonha e derrota. O monumento ao seu orgulho tornou-se no memorial de sua loucura. Os homens, todavia, estão continuamente a prosseguir no mesmo caminho, confiando em si mesmos e rejeitando a lei de Deus. É o princípio que Satanás procurou pôr em prática no Céu; o mesmo que governou Caim ao apresentar ele a sua oferta. PP 79 2 Há edificadores de torre em nosso tempo. Os incrédulos constroem suas teorias pelas supostas deduções da Ciência, e rejeitam a Palavra revelada de Deus. Pretendem dar sentença contra o governo moral de Deus; desprezam Sua lei e vangloriam-se da suficiência da razão humana. Então, "visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal". Eclesiastes 8:11. PP 79 3 No professo mundo cristão, muitos se desviam dos claros ensinos da Bíblia, e edificam um credo com especulações humanas e fábulas aprazíveis; e apontam para a sua torre como um caminho para subir ao Céu. Os homens ficam tomados de admiração ante a eloqüência, enquanto esta ensina que o transgressor não morrerá, que a salvação pode ser conseguida sem a obediência à lei de Deus. Se os professos seguidores de Cristo aceitassem a norma de Deus, esta os levaria à unidade; mas enquanto a sabedoria humana for exaltada sobre a Sua santa Palavra, haverá divisões e dissensão. A confusão existente entre credos e seitas em conflito uns com os outros, é apropriadamente representada pelo termo "Babilônia", que a profecia aplica às igrejas amantes do mundo, dos últimos dias. Apocalipse 14:8; 18:2. PP 79 4 Muitos procuram fazer um Céu para si mesmos, obtendo riquezas e poderio. "Tratam maliciosamente de opressão; falam arrogantemente" (Salmos 73:8), pisando os direitos humanos, e desrespeitando a autoridade divina. O orgulhoso pode por algum tempo estar em grande poderio, e pode ver o êxito em tudo que empreende; mas no fim encontrará apenas decepção e desgraça. PP 79 5 O tempo do juízo de Deus está próximo. O Altíssimo descerá para ver o que os filhos dos homens têm edificado. Revelar-se-á Seu poder soberano; derribar-se-ão as obras do orgulho humano. "O Senhor olha desde os Céus, e está vendo a todos os filhos dos homens; da Sua morada contempla todos os moradores da Terra". Salmos 33:13, 14. "O Senhor desfaz o conselho das nações, quebranta os intentos dos povos. O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do Seu coração de geração em geração". Salmos 33:10, 11. ------------------------Capítulo 11 -- A vocação de Abraão PP 80 1 Depois da dispersão de Babel, a idolatria tornou-se novamente quase universal, e o Senhor deixou afinal os empedernidos transgressores que seguissem seus maus caminhos, enquanto escolheu a Abraão, da linhagem de Sem, e o fez guardador de Sua lei para as gerações futuras. Abraão tinha crescido em meio de superstição e paganismo. Mesmo a casa de seu pai, pela qual o conhecimento de Deus tinha sido preservado, estava a entregar-se às influências sedutoras que os rodeavam, e "serviram a outros deuses" (Josué 24:2) em vez de Jeová. Mas a verdadeira fé não devia extinguir-se. Deus sempre preservou um remanescente para O servir. Adão, Sete, Enoque, Matusalém, Noé, Sem, em linha ininterrupta, preservaram, de época em época, as preciosas revelações de Sua vontade. O filho de Terá se tornou o herdeiro deste sagrado depósito. A idolatria acenava-lhe de todo o lado, mas em vão. Fiel entre os infiéis, incontaminado pela apostasia prevalecente, com perseverança apegou-se ao culto do único verdadeiro Deus. "Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam em verdade". Salmos 145:18. Ele comunicou Sua vontade a Abraão, e deu-lhe um conhecimento distinto das exigências de Sua lei, e da salvação que se realizaria por meio de Cristo. PP 80 2 Foi feita a Abraão a promessa de uma posteridade numerosa e de grandeza nacional, promessa especialmente acatada pelo povo daquela época: "Far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção". E a isto acrescentou-se esta certeza, mais preciosa do que todas as outras para o herdeiro da fé, de que o Redentor do mundo viria de sua linhagem: "Em ti serão benditas todas as famílias da Terra". Gênesis 12:2, 3. Contudo, como primeira condição de cumprimento, deveria haver uma prova para a fé; um sacrifício foi exigido. PP 80 3 Veio a Abraão a mensagem de Deus: "Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei". Gênesis 12:1. A fim de que Deus o pudesse habilitar para a sua grande obra, como guardador dos oráculos sagrados, Abraão devia desligar-se das relações de sua vida anterior. A influência de parentes e amigos incompatibilizar-se-ia com o ensino que o Senhor Se propunha a dar a Seu servo. Agora que Abraão estava, em sentido especial, ligado ao Céu, devia habitar entre estranhos. Seu caráter devia ser peculiar, diferindo de todo o mundo. Ele não podia nem mesmo explicar sua maneira de proceder, de modo que fosse compreendido por seus amigos. As coisas espirituais são discernidas espiritualmente, e seus intuitos e ações não eram entendidos por seus parentes idólatras. PP 81 1 "Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia". Hebreus 11:8. Aquela obediência expedita de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé a serem encontradas em toda Bíblia. Para ele, a fé era "o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem". Hebreus 11:1. Confiando na promessa divina, sem a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a terra natal, e saiu, sem saber para onde, a fim de seguir aonde Deus o levasse. "Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiro com ele da mesma promessa". Hebreus 11:9. PP 81 2 Não fora uma pequena prova aquela a que foi assim submetido Abraão, nem pequeno o sacrifício que dele se exigira. Fortes laços havia para o prender ao seu país, seus parentes, seu lar. Ele, porém, não hesitou em obedecer ao chamado. Não teve perguntas a fazer concernentes à terra da promessa -- se o solo era fértil, e o clima saudável, se o território oferecia um ambiente agradável, e proporcionaria oportunidades para se acumularem riquezas. Deus falara, e Seu servo devia obedecer; o lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele se achasse. PP 81 3 Muitos ainda são provados como o foi Abraão. Não ouvem a voz de Deus falando diretamente do Céu, mas Ele os chama pelos ensinos de Sua Palavra e acontecimentos de Sua providência. Pode ser-lhes exigido abandonarem uma carreira que promete riqueza e honra, deixarem associações agradáveis e proveitosas, e separarem-se dos parentes, para entrarem naquilo que parece ser apenas uma senda de abnegação, dificuldades e sacrifícios. Deus tem uma obra para eles fazerem; mas uma vida de comodidade, e a influência de amigos e parentes, embaraçariam o desenvolvimento dos traços essenciais para a sua realização. Ele os chama para fora das influências e auxílio humanos, e os leva a sentirem a necessidade de Seu auxílio, e a confiarem nEle somente, para que Ele possa revelar-Se-lhes. Quem está pronto, ao chamado da Providência, para renunciar planos acariciados e relações familiares? Quem aceitará novos deveres e entrará em campos não experimentados, fazendo a obra de Deus com um coração firme e voluntário, considerando por amor a Cristo suas perdas como ganho? Aquele que deseja fazer isto tem a fé de Abraão, e com ele partilhará daquele "peso eterno de glória mui excelente" (2 Coríntios 4:17), com o qual "as aflições deste tempo presente não são para comparar". Romanos 8:18. PP 81 4 A chamada do Céu primeiramente viera a Abraão enquanto ele morava em "Ur dos Caldeus" (Gênesis 11:31), e em obediência à mesma ele se mudou para Harã. Até este ponto a família de seu pai o acompanhou; pois, juntamente com sua idolatria, uniam-se ao culto ao verdadeiro Deus. Ali permaneceu Abraão até a morte de Terá. Apenas sepultado seu pai, a voz divina mandou-lhe que prosseguisse. Seu irmão Naor, com a família, apegaram-se a seu lar e seus ídolos. Além de Sara, mulher de Abraão, apenas Ló, filho de Harã, falecido havia muito, optara partilhar da vida peregrina do patriarca. Foi, contudo, uma grande multidão a que partiu da Mesopotâmia. Abraão já possuía extensos rebanhos e gado, o que era a riqueza do Oriente, e estava cercado de numeroso grupo de servos e agregados. Estava ele a partir da terra de seus pais, para nunca mais voltar, e levou consigo tudo o que tinha, "a sua fazenda, que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã". Gênesis 12:5. Entre estas achavam-se muitos que eram levados por considerações mais elevadas do que as de serviço ou interesse particular. Durante sua permanência em Harã, tanto Abraão como Sara haviam levado outros à adoração e ao culto do verdadeiro Deus. Estes apegaram-se à casa do patriarca, e o acompanharam à terra da promessa. "E saíram para irem à terra de Canaã; e vieram à terra de Canaã". Gênesis 12:5. PP 82 1 O lugar em que se detiveram a princípio foi Siquém. À sombra dos carvalhos de Moré, em um vale extenso e relvoso, com seus bosques de oliveiras, e fontes a jorrar, entre o Monte Ebal de um lado e o Monte Gerizim do outro, fez Abraão o seu acampamento. Era um belo e formoso território aquele em que o patriarca havia entrado -- "terra de ribeiros d'águas, de fontes, e de abismos, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides, e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, abundante de azeite e mel". Deuteronômio 8:7, 8. Mas para o adorador de Jeová, uma densa sombra repousava sobre a colina coberta de árvores e fértil planície. "Estavam então os cananeus na terra." Abraão atingira o alvo de suas esperanças de encontrar um país ocupado por uma raça estranha, entre a qual estava propagada a idolatria. Achavam-se estabelecidos nos bosques os altares dos deuses falsos, e sacrifícios humanos eram oferecidos nos lugares altos que ficavam próximos. Conquanto ele se apegasse à promessa divina, não foi sem angustiosos pressentimentos que armou sua tenda. Então "apareceu o Senhor a Abraão, e disse: À tua semente darei esta terra". Gênesis 12:7. Sua fé fortaleceu-se pela certeza de que a presença divina estava com ele, de que ele não fora abandonado nas mãos dos ímpios. "E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera". Gênesis 12:7. Ainda como um peregrino, logo se mudou para um lugar próximo de Betel, e de novo construiu um altar, e invocou o nome do Senhor. PP 82 2 Abraão, o amigo de Deus, dá-nos um digno exemplo. A sua vida foi uma vida de oração. Onde quer que ele armasse a tenda, junto construía o altar, convocando todos os que faziam parte de seu acampamento para o sacrifício da manhã e da tarde. Quando a tenda era removida, o altar ficava. Nos anos subseqüentes, houve os que entre os cananeus errantes receberam instrução de Abraão; e, quando quer que um desses vinha àquele altar, sabia quem havia estado ali antes; e, depois de armar a tenda, reparava o altar, e ali adorava o Deus vivo. PP 83 1 Abraão continuou a viajar para o Sul; e de novo foi provada sua fé. Os céus retiveram a chuva, cessaram os ribeiros de correr nos vales, e a relva secou-se nas planícies. Os rebanhos e gado não encontravam pasto, e a morte pela fome ameaçava todo o acampamento. Não pôs agora o patriarca em dúvida a direção da Providência? Não retrocedeu ele os seus olhares saudosos para a abundância das planícies da Caldéia? Todos estavam avidamente atentos para ver o que Abraão faria, ao sobrevir-lhe dificuldade após dificuldade. Enquanto sua confiança pareceu estar inabalável, pressentiam que havia esperança; estavam certos de que Deus era seu amigo, e de que ainda os estava guiando. PP 83 2 Abraão não podia explicar a direção da Providência; não realizara as suas expectativas; mas mantinha com firmeza a promessa: "Abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção". Gênesis 12:2. Com oração fervorosa considerava ele como preservar a vida de seu povo e de seus rebanhos, mas não consentia que as circunstâncias lhe abalassem a fé na palavra de Deus. Para escapar da fome desceu ao Egito. Não abandonou Canaã, nem, em sua situação angustiosa, voltou para a Caldéia, donde viera, e onde não havia falta de pão; mas buscou um refúgio temporário tão perto quanto possível da terra da promessa, tencionando voltar em breve para o lugar em que Deus o colocara. PP 83 3 O Senhor em Sua providência trouxera esta prova a Abraão a fim de lhe ensinar lições de submissão, paciência e fé, lições que deveriam ser registradas para benefício de todos os que mais tarde fossem chamados a suportar a aflição. Deus dirige Seus filhos por um caminho que eles não conhecem; mas não Se esquece dos que nEle põem a confiança, nem os rejeita. Permitiu que a aflição sobreviesse a Jó, mas não o abandonou. Consentiu que o amado João fosse exilado para a solitária ilha de Patmos, mas o Filho de Deus o encontrou ali, e sua visão esteve repleta de cenas de glória imortal. Deus permite que as provações assaltem Seu povo, a fim de que pela sua constância e obediência possam eles mesmos enriquecer espiritualmente, e possa o seu exemplo ser uma fonte de força aos outros. "Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal". Jeremias 29:11. As mesmas provações que da maneira mais severa provam a nossa fé, e fazem parecer que Deus nos abandonou, devem levar-nos para mais perto de Cristo, para que possamos depor todos os nossos fardos a Seus pés, e experimentar a paz que Ele, em troca, nos dará. PP 83 4 Deus sempre tem provado o Seu povo na fornalha da aflição. É no calor da fornalha que a escória se separa do verdadeiro ouro do caráter cristão. Jesus vigia a prova; Ele sabe o que é necessário para purificar o precioso metal, para que este possa refletir o brilho de Seu amor. É por meio de sofrimentos severos, decisivos, que Deus disciplina Seus servos. Ele vê que alguns têm capacidades que poderão ser empregadas no avançamento de Sua obra, e põe tais pessoas à prova; em Sua providência Ele as leva a posições que provem seu caráter, e revelem defeitos e fraquezas que têm estado ocultas ao seu próprio conhecimento. Dá-lhes oportunidade para corrigirem tais defeitos e adaptarem-se ao Seu serviço. Mostra-lhes suas fraquezas, e os ensina a buscar nEle o apoio; pois que Ele é o seu único auxílio e salvaguarda. Assim é alcançado o Seu objetivo. São educados, adestrados, disciplinados, preparados para desempenharem o grandioso propósito para o qual lhes foram dadas as suas capacidades. Quando Deus os chama à atividade, eles se acham prontos, e anjos celestiais podem unir-se-lhes na obra a ser cumprida na Terra. PP 84 1 Durante sua permanência no Egito, Abraão deu prova de que não estava livre de fraqueza e imperfeição humana. Ocultando o fato de que Sara era sua esposa, evidenciou desconfiança no cuidado divino, falta daquela fé e coragem sublime tão freqüente e nobremente exemplificada em sua vida. [...] Sara era "formosa à vista", e ele não duvidou de que os egípcios de pele morena, cobiçariam a bela estrangeira, e que, a fim de consegui-la, não teriam escrúpulo de matar a seu marido. Raciocinou que não seria culpado de falsidade ao apresentar Sara como sua irmã; pois que era filha de seu pai, posto que não de sua mãe. Mas esta ocultação da verdadeira relação entre eles, era engano. Nenhum desvio da estrita integridade pode encontrar a aprovação de Deus. Devido à falta de fé por parte de Abraão, Sara foi posta em grande perigo. O rei do Egito, sendo informado de sua beleza, fez com que ela fosse levada ao seu palácio, tencionando fazer dela sua esposa. Mas o Senhor, em Sua grande misericórdia, protegeu a Sara, enviando juízos sobre a casa real. Por este meio o rei soube a verdade a tal respeito; e, indignado pelo engano praticado para com ele, reprovou Abraão, e restituiu-lhe a esposa, dizendo: "Que é isto que me fizeste? [...] Por que disseste: É minha irmã? de maneira que a houvera tomado por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te". Gênesis 12:18, 19. PP 84 2 Abraão tinha sido grandemente favorecido pelo rei; mesmo agora Faraó não permitiu que se fizesse mal a ele ou à sua multidão, antes ordenou que uma guarda os conduzisse em segurança para fora de seus domínios. Por esse tempo fizeram-se leis que proibiam aos egípcios relações tais com os pastores estrangeiros que os levassem a ter familiaridade para comerem ou beberem com eles. A despedida de Faraó a Abraão foi amável e generosa; mas ordenou-lhe que deixasse o Egito, pois não ousava permitir-lhe que aí permanecesse. Sem o saber estivera a ponto de lhe fazer um grave mal; mas Deus interviera e salvara o rei de cometer tão grande pecado. Faraó viu neste estrangeiro um homem a quem o Deus do Céu honrava, e receou ter em seu reino alguém que de maneira tão evidente se achava sob o favor divino. Se Abraão ficasse no Egito, sua crescente riqueza e honra seriam de molde a despertar a inveja e a cobiça dos egípcios, e algum agravo lhe poderia ser feito, pelo qual o rei seria considerado como responsável, e o qual de novo poderia acarretar juízos sobre a casa real. PP 85 1 A advertência feita a Faraó demonstrou ser uma proteção para Abraão em suas relações posteriores com os povos gentios; pois tal coisa não pode ser conservada em segredo, e viu-se que o Deus que Abraão adorava, protegeria a Seu servo, e que qualquer mal a ele feito seria vingado. Coisa perigosa é ocasionar dano a um dos filhos do Rei do Céu. O salmista se refere a este capítulo da experiência de Abraão, quando diz, falando do povo escolhido, que Deus "por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis nos Meus ungidos, e não maltrateis os Meus profetas". Salmos 105:14, 15. PP 85 2 Há uma semelhança interessante entre a experiência de Abraão no Egito e a de sua posteridade, séculos mais tarde. Ambos desceram ao Egito por causa de uma fome, e ambos ali residiram temporariamente. Mediante as manifestações dos juízos divinos em seu favor o seu temor caiu sobre os egípcios; e, enriquecidos pelas dádivas dos gentios, saíram com muitos recursos. ------------------------Capítulo 12 -- Abraão em Canaã PP 86 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 13-15; 17:1-16; 18. PP 86 1 Abraão voltou para Canaã "muito rico em gado, em prata, e em ouro". Gênesis 13:1-9. Ló ainda estava com ele, e novamente vieram a Betel, e armaram suas tendas ao lado do altar que haviam construído anteriormente. Logo acharam que os bens acrescentados traziam maiores dificuldades. Em meio de dificuldades e provações tinham morado juntos, em harmonia, mas em sua prosperidade havia perigo de contenda entre eles. Os pastos não eram suficientes para os rebanhos e gado de ambos, e as freqüentes discussões entre os pastores eram trazidas para ajuste aos seus senhores. Era claro que deviam separar-se. Abraão era superior a Ló em idade, e em parentesco, riqueza e posição; no entanto foi o primeiro a propor planos para conservarem a paz. Se bem que a terra toda lhe houvesse sido dada pelo próprio Deus, cortesmente declinou de seu direito. PP 86 2 "Ora não haja contenda", disse ele, "entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque irmãos somos. Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; se escolheres a esquerda, irei para a direita; e, se a direita escolheres, eu irei para a esquerda." Aqui se ostentou o nobre e abnegado espírito de Abraão. Quantos, em circunstâncias idênticas, não se apegariam com todo o risco aos seus direitos e preferências individuais! Quantos lares não se têm desta maneira esfacelado. Quantas igrejas não se têm desagregado, tornando a causa da verdade objeto de zombaria e injúria entre os ímpios! "Não haja contenda entre mim e ti", disse Abraão, "porque irmãos somos", não somente pelo parentesco natural, mas como adoradores do verdadeiro Deus. Os filhos de Deus, pelo mundo inteiro, são uma família, e o mesmo espírito de amor e conciliação os deve governar. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Romanos 12:10) -- é o ensino de nosso Salvador. A cultura de uma cortesia uniforme, de uma disposição para fazer aos outros conforme desejaríamos que nos fizessem, extinguiria a metade dos males da vida. O espírito de engrandecimento próprio é o espírito de Satanás; mas o coração em que o amor de Cristo é acalentado, possuirá aquela caridade que não busca o seu próprio proveito. Tal coração dará atenção ao mandado divino: "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros". Filipenses 2:4. PP 86 3 Embora Ló devesse a prosperidade à sua conexão com Abraão, não manifestou gratidão ao seu benfeitor. A cortesia determinava que ele cedesse à escolha de Abraão; mas, em lugar disso, esforçou-se egoistamente por tomar todas as vantagens. "E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, [...] e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar". Gênesis 13:10-13. A região mais fértil de toda a Palestina era o vale do Jordão, lembrando o Paraíso perdido aos que a viam, e igualando a beleza e produtividade das planícies enriquecidas pelo Nilo, que tão recentemente haviam deixado. Havia também cidades, ricas e belas, convidando ao comércio lucrativo em seus concorridos mercados. Deslumbrado pela visão de proveitos mundanos, Ló não tomou em consideração os males morais e espirituais, que ali se encontrariam. Os habitantes da planície eram "grandes pecadores contra o Senhor"; mas a respeito disto ele estava em ignorância, ou, se o sabia, não o ponderou muito. Ele "escolheu para si toda a campina do Jordão", e "armou as suas tendas até Sodoma". Quão pouco previu ele os terríveis resultados daquela escolha egoísta! PP 87 1 Depois da separação de Ló, Abraão de novo recebeu do Senhor uma promessa de todo o país. Logo depois disto ele se mudou para Hebrom, construindo sua tenda sob os carvalhos de Manre, e erguendo ao lado um altar ao Senhor. Ao ar livre daqueles planaltos, com seus bosques de oliveiras e vinhedos, com seus campos de cereais a ondearem, e as vastas pastagens das colinas circunjacentes, morou ele muito contente, com sua vida simples e patriarcal, deixando a Ló o luxo perigoso do vale de Sodoma. PP 87 2 Abraão era honrado pelas nações circunvizinhas como um poderoso príncipe, e chefe sábio e capaz. Ele não excluía de seus vizinhos a sua influência. Sua vida, bem como caráter, em assinalado contraste com a dos adoradores de ídolos, exercia uma influência eloqüente em favor da verdadeira fé. Sua fidelidade para com Deus era inabalável, enquanto sua afabilidade e beneficência inspiravam confiança e amizade, e sua grandeza sem afetação impunha respeito e honra. PP 87 3 Não considerava sua religião como um tesouro precioso a ser guardado cuidadosamente, e unicamente desfrutado pelo seu possuidor. A verdadeira religião não pode assim ser tida; pois tal espírito é contrário aos princípios do evangelho. Enquanto Cristo habita no coração, é impossível esconder a luz de Sua presença, ou que aquela luz se enfraqueça. Ao contrário, tornar-se-á cada vez mais resplandecente, enquanto, dia após dia, os brilhantes raios do Sol da justiça dissipam as névoas do egoísmo e do pecado que envolvem a alma. PP 87 4 O povo de Deus são os Seus representantes na Terra, e é Seu desígnio que eles sejam luzes nas trevas morais deste mundo. Espalhados por todo o país, nas cidades, vilas e aldeias, são eles as testemunhas de Deus, os condutos pelos quais Ele comunicará a um mundo incrédulo o conhecimento de Sua vontade e as maravilhas de Sua graça. É Seu plano que todos os que são participantes da grande salvação, sejam para Ele missionários. A piedade dos cristãos constitui a norma pela qual os mundanos julgam o evangelho. Provações pacientemente suportadas, bênçãos recebidas com agradecimento, mansidão, bondade, misericórdia, e amor, manifestados habitualmente, são as luzes que resplandecem no caráter perante o mundo, revelando o contraste com as trevas que vêm do egoísmo do coração natural. PP 88 1 Rico na fé, nobre em generosidade, inabalável na obediência, e humilde na simplicidade de sua vida peregrina, Abraão era também sábio em diplomacia, e corajoso e hábil na guerra. Apesar de saber-se que ele era ensinador de uma nova religião, três régios irmãos, governadores das planícies dos amorreus, na qual ele habitava, manifestaram sua amizade, convidando-o a entrar em aliança com eles para maior segurança; pois o país estava cheio de violência e opressão. Uma ocasião logo se apresentou para ele aproveitar-se desta aliança. PP 88 2 Quedorlaomer, rei de Elão, tinha invadido Canaã catorze anos antes, e a tornara sua tributária. Vários dos príncipes revoltaram-se agora, e o rei elamita, com quatro aliados, de novo marchou contra o país para os reduzir à submissão. Cinco reis de Canaã uniram suas forças, e enfrentaram os invasores no vale de Sidim, mas tão-somente para serem completamente derrotados. Grande parte do exército foi trucidada; e os que escaparam fugiram para as montanhas em busca de segurança. Os vitoriosos saquearam as cidades da planície, e partiram com rico despojo e muitos cativos, entre os quais se encontrava Ló com sua família. PP 88 3 Abraão, habitando em paz nos carvalhais de Manre, soube por um dos fugitivos a história da batalha, e a calamidade que sobreviera ao sobrinho. Não alimentara qualquer lembrança desagradável da ingratidão de Ló. Despertou-se toda a sua afeição por ele, e decidiu que devia ser libertado. Procurando antes de tudo o conselho divino, Abraão preparou-se para a guerra. Do seu próprio acampamento convocou trezentos e dezoito servos adestrados, homens ensinados no temor de Deus, no serviço de seu senhor, e no uso das armas. Seus aliados, Manre, Escol e Aner, uniram-se a ele com os seus grupos, e juntos partiram em perseguição dos invasores. Os elamitas e seus aliados tinham-se acampado em Dã, na fronteira ao Norte de Canaã. Entusiasmados pela vitória, e não tendo receio de um assalto por parte de seus adversários vencidos, entregaram-se à orgia. O patriarca dividiu suas forças de modo a aproximar-se por diversas direções, e veio sobre o acampamento à noite. Seu ataque, tão vigoroso e inesperado, resultou em uma rápida vitória. O rei de Elão foi morto, e suas forças, tomadas de pânico foram postas em fuga. Ló e sua família, com todos os prisioneiros e seus bens, foram recuperados, e um rico despojo caiu nas mãos dos vitoriosos. A Abraão, abaixo de Deus, foi devido o triunfo. O adorador de Jeová não somente havia prestado um grande serviço ao país, mas mostrara-se ser um homem de valor. Viu-se que a justiça não é covardia, e que a religião de Abraão tornava-o corajoso ao manter o direito e defender os oprimidos. Seu heróico ato deu-lhe uma dilatada influência entre as tribos circunvizinhas. À sua volta, o rei de Sodoma saiu com seu séquito para honrar o vencedor. Rogou-lhe que tomasse os bens, pedindo tão-somente que os prisioneiros fossem restituídos. Pelos usos da guerra, o despojo pertencia aos vencedores; mas Abraão não empreendera esta expedição com o intuito de lucros, e recusou-se a tirar vantagem daquele que fora infeliz, estipulando apenas que seus aliados recebessem a parte a que tinham direito. PP 89 1 Poucos, sendo submetidos a tal prova, ter-se-iam mostrado tão nobres como Abraão. Poucos teriam resistido à tentação de adquirir um despojo tão rico. Seu exemplo é uma reprovação aos espíritos egoístas e mercenários. Abraão tomava em consideração os direitos da justiça e humanidade. Sua conduta ilustra a máxima inspirada: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Levítico 19:18. "Levantei minha mão ao Senhor", disse ele, "o Deus altíssimo, o Possuidor dos Céus e da Terra, que desde um fio até à correia dum sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu, para que não digas: Eu enriqueci a Abraão". Gênesis 14:17-24. Ele não lhes daria ocasião para pensarem que se empenhara em guerra por amor ao ganho, ou para atribuírem sua prosperidade a dádivas ou favor deles. Deus prometera abençoar Abraão, e a Ele seria atribuída a glória. PP 89 2 Outro que viera para dar as boas-vindas ao patriarca vitorioso, foi Melquisedeque, rei de Salém, que trouxe pão e vinho para alimento de seu exército. Como "sacerdote do Deus altíssimo, pronunciou uma bênção sobre Abraão, e deu graças ao Senhor que operara um tão grande livramento por meio de Seu servo. E Abraão "deu-lhe o dízimo de tudo". PP 89 3 Abraão voltou com alegria para as suas tendas e rebanhos; mas seu espírito estava perturbado por pensamentos que o incomodavam. Tinha sido um homem de paz, excluindo tanto quanto possível a inimizade e a contenda; e com horror lembrava-se das cenas de carnificina que testemunhara. Mas as nações cujas forças ele havia derrotado, sem dúvida renovariam a invasão de Canaã, e dele fariam o objeto especial de sua vingança. Envolvendo-se desta maneira em questões nacionais, quebrar-se-ia a calma pacífica de sua vida. Demais, ele não havia entrado na posse de Canaã, tampouco poderia ter então esperança de um herdeiro, a quem pudesse cumprir-se a promessa. PP 89 4 Em uma visão da noite ouviu de novo a voz divina. "Não temas, Abraão", foram as palavras do Príncipe dos príncipes; "Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão". Gênesis 15:1-5. Mas sua mente estava tão oprimida com sinais que ele não pôde então apreender a promessa com implícita confiança, como antes fazia. Orou pedindo alguma prova palpável de que ela se cumpriria. E como deveria cumprir-se a promessa do concerto, enquanto o dom de um filho lhe era recusado? "Que me hás de dar", disse ele, "pois ando sem filhos?" Gênesis 15:2. "E eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro". Gênesis 15:3. Propôs fazer de seu fiel servo Eliézer seu filho adotivo, e herdeiro de suas posses. Mas foi-lhe assegurado que um filho dele mesmo seria o seu herdeiro. Levado para fora de sua tenda, foi-lhe dito que olhasse para as incontáveis estrelas a resplandecer nos céus; e, fazendo ele isto, foram proferidas estas palavras: "Assim será a tua semente". Gênesis 15:5. "Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça". Romanos 4:3. PP 90 1 O patriarca pediu ainda algum sinal visível em confirmação de sua fé, e como prova para as gerações posteriores de que os propósitos de Deus, cheios de graça, para com elas, seriam cumpridos. O Senhor condescendeu em fazer um concerto com Seu servo, empregando as mesmas formas que eram usuais entre os homens para a ratificação de um contrato solene. Por determinação divina, Abraão sacrificou uma bezerra, uma cabra e um carneiro, cada um de três anos, dividindo os corpos, e pondo os pedaços a pequena distância entre si. A estes acrescentou ele uma rola e um pombinho, que, entretanto, não foram divididos. Isto feito, reverentemente passou entre as partes do sacrifício, fazendo a Deus um voto solene de perpétua obediência. Atento e perseverante permaneceu ao lado dos corpos mortos, até baixar-se o Sol, a fim de os guardar de serem contaminados ou comidos pelas aves de rapina. Aproximadamente ao pôr-do-sol, caiu em um profundo sono; "e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele". Gênesis 15:7-18. Ouvida a voz de Deus, ordenando-lhe que não esperasse a posse imediata da terra prometida, e indicando no futuro os sofrimentos de sua posteridade antes de seu estabelecimento em Canaã. O plano da redenção foi-lhe desvendado, tanto em relação à morte de Cristo, o grande sacrifício, como à Sua vinda em glória. Abraão viu também a Terra restabelecida à sua beleza edênica, para lhe ser dada em possessão eterna, como o cumprimento final e completo da promessa. PP 90 2 Como garantia deste concerto de Deus com os homens, um forno de fumo e uma tocha de fogo, símbolos da presença divina, passaram por entre as vítimas repartidas, consumindo-as totalmente. E de novo foi ouvida por Abraão uma voz, confirmando a dádiva da terra de Canaã a seus descendentes, "desde o rio Egito até o grande rio Eufrates". PP 90 3 Quando Abraão tinha estado quase vinte e cinco anos em Canaã, o Senhor lhe apareceu e disse-lhe: "Eu sou o Deus todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito". Gênesis 17:1-16. Com temor reverente, o patriarca prostrou-se, rosto em terra, e a mensagem continuou: "Eis o Meu concerto contigo é, e serás o pai de uma multidão de nações". Gênesis 17:4. Em sinal do cumprimento deste concerto, seu nome, que até ali era Abrão, foi mudado para Abraão, que significa: "pai de uma multidão". Gênesis 17:5. O nome de Sarai tornou-se Sara -- "princesa", "porque", disse a voz divina, "será mãe das nações; reis de povos sairão dela". Gênesis 17:16. PP 90 4 Nesta ocasião o rito da circuncisão foi dado a Abraão como "selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão". Romanos 4:11. Deveria ser observado pelo patriarca e seus descendentes como sinal de que eram dedicados ao serviço de Deus e assim separados dos idólatras, e de que Deus os aceitava como Seu tesouro peculiar. Por meio deste rito comprometiam-se a satisfazer, por sua parte, as condições do concerto feito com Abraão. Não deveriam contrair matrimônio com os gentios; pois, assim fazendo, perderiam sua reverência para com Deus e Sua santa lei; seriam tentados a entregar-se às práticas pecaminosas de outras nações, e seduzidos à idolatria. PP 91 1 Deus conferiu grande honra a Abraão. Anjos do Céu andavam e falavam com ele como faz um amigo a outro. Quando juízos estavam para cair sobre Sodoma, este fato não lhe foi oculto e ele se tornou intercessor junto a Deus pelos pecadores. Sua entrevista com os anjos apresenta também um belo exemplo de hospitalidade. PP 91 2 Na hora de maior calor de um dia de verão, o patriarca estava assentado à porta de sua tenda, olhando para a silenciosa paisagem, quando viu a distância três viajantes aproximando-se. Antes que chegassem à sua tenda, os estranhos pararam, como que consultando a respeito de seu caminho. Sem esperar que pedissem qualquer favor, Abraão levantou-se rápido e, quando aparentemente estavam a tomar outra direção, foi apressado após eles, e com a maior cortesia insistiu que o honrassem, detendo-se um pouco para uma merenda. Com as próprias mãos trouxe água para que lavassem de seus pés o pó da viagem. Ele mesmo escolheu o alimento, e, enquanto estavam a descansar à fresca sombra, preparou-se a refeição, e respeitosamente permaneceu-lhes ao lado enquanto participavam de sua hospitalidade. Este ato de cortesia Deus considerou de importância suficiente para registrar-se em Sua Palavra; e, séculos mais tarde, foi-lhe feita referência por um apóstolo inspirado: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos". Hebreus 13:2. PP 91 3 Abraão vira em seus hóspedes apenas três viajantes cansados, mal supondo que entre eles estava Um, a quem poderia adorar sem pecado. Mas o verdadeiro caráter dos mensageiros celestiais foi agora revelado. Se bem que estivessem a caminho como ministros da ira, contudo a Abraão, o homem da fé, falaram a princípio de bênçãos. Posto que Deus seja estrito em notar a iniqüidade, e em punir a transgressão, não tem prazer na vingança. A obra de destruição é uma "estranha obra" (Isaías 28:21) para Aquele que é infinito no amor. PP 91 4 "O segredo do Senhor é para os que O temem". Salmos 25:14. Abraão tinha honrado a Deus, e o Senhor o honrou, dando-lhe parte em Seus conselhos e revelando-lhe Seus propósitos. "Ocultarei Eu a Abraão o que faço?" disse o Senhor. "O clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se com efeito tem praticado segundo este clamor, que é vindo até Mim; e, se não, sabê-lo-ei". Gênesis 18:17-33. O Senhor bem sabia a medida do delito de Sodoma; exprimiu-Se, porém, segundo a maneira dos homens, para que a justiça de Seu trato pudesse ser compreendida. Antes de trazer o juízo sobre os transgressores, Ele próprio iria proceder a um exame de sua conduta; se não houvessem passado os limites da misericórdia divina, conceder-lhes-ia tempo para se arrependerem. PP 92 1 Dois dos mensageiros celestes partiram, deixando Abraão só com Aquele que agora soube ser o Filho de Deus. E o homem de fé pleiteou pelos habitantes de Sodoma. Uma vez ele os salvara com a espada; agora se esforçava por salvá-los pela oração. Ló e sua casa ainda eram moradores ali; e o abnegado amor que prontificara Abraão para os livrar dos elamitas, procurava agora salvá-los da calamidade dos juízos divinos, se tal fosse a vontade de Deus. PP 92 2 Com profunda reverência e humildade insistiu em seu rogo: "Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza". Gênesis 18:27. Não havia qualquer confiança em si próprio, nem jactância pela sua justiça. Não pretendia graça pelo motivo de sua obediência, ou dos sacrifícios que fizera ao cumprir a vontade de Deus. Sendo ele próprio pecador, rogava em prol do pecador. Tal espírito devem possuir todos os que se aproximam de Deus. Abraão manifestava contudo a confiança de uma criança a rogar a seu amado pai. Achegou-se ao mensageiro celeste, e instou fervorosamente com a sua petição. Conquanto Ló se tornasse morador em Sodoma, não participava da iniqüidade de seus habitantes. Abraão julgava que naquela populosa cidade deveria haver outros adoradores do verdadeiro Deus. E em vista disto rogou ele: "Longe de Ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; [...] longe de Ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a Terra?" Gênesis 18:25. Abraão não pediu simplesmente uma vez, mas muitas vezes. Tornando-se mais ousado, ao serem satisfeitos os seus pedidos, continuou até obter certeza de que, se mesmo dez pessoas justas pudessem achar-se nela, a cidade seria poupada. PP 92 3 O amor pelas almas que pereciam, inspirava a oração de Abraão. Ao mesmo tempo em que lhe repugnavam os pecados daquela cidade corrupta, desejava que os pecadores pudessem salvar-se. Seu profundo interesse por Sodoma mostra a ansiedade que devemos experimentar pelos impenitentes. Devemos alimentar ódio ao pecado, mas piedade e amor para com o pecador. Em redor de nós existem almas que descem à ruína, tão irremediável, tão terrível, como aquela que recaiu sobre Sodoma. Cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia. E onde estão as vozes de aviso e rogo, mandando o pecador fugir desta condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para o fazer retroceder do caminho da morte? Onde estão os que com humildade e fé perseverante intercedem junto a Deus por ele? PP 92 4 O espírito de Abraão era o espírito de Cristo. O Filho de Deus é o grande intercessor em favor do pecador. Aquele que pagou o preço pela redenção da alma humana, sabe o valor de uma alma. Com tal antagonismo ao mal, que unicamente pode existir em uma natureza imaculadamente pura, Cristo manifestou para com o pecador um amor que apenas a infinita bondade poderia conceder. Nas agonias da crucifixão, Ele próprio sobrecarregado com o peso medonho dos pecados do mundo inteiro, orou por aqueles que O aviltavam e assassinavam: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Lucas 23:34. PP 93 1 De Abraão está escrito que "foi chamado o amigo de Deus" (Tiago 2:23), "pai de todos os que crêem". Romanos 4:11. O testemunho de Deus com relação a este fiel patriarca, é: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gênesis 26:5. E outra vez: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado". Gênesis 18:19. Alta honra aquela a que Abraão foi chamado, para ser o pai do povo que durante séculos foram os guardas e preservadores da verdade de Deus para o mundo, sim, daquele povo por meio do qual todas as nações da Terra seriam benditas no advento do Messias prometido. Mas Aquele que chamou o patriarca julgou-o digno. É Deus quem fala. Aquele que de longe compreende os pensamentos, e dos homens faz justa apreciação, diz: "Eu o tenho conhecido". Não haveria por parte de Abraão qualquer traição à verdade por intuitos egoístas. Ele guardaria a lei, e procederia justa e retamente. E não somente temeria ele próprio o Senhor, mas cultivaria em seu lar a religião. Instruiria a família na justiça. A lei de Deus seria a regra em sua casa. PP 93 2 A casa de Abraão compreendia mais de mil pessoas. Aqueles que eram levados pelos seus ensinos a adorar o único Deus, encontravam um lar em seu acampamento; e ali, como em uma escola, recebiam a instrução que os habilitaria a serem representantes da verdadeira fé. Assim, grande responsabilidade repousava sobre ele. Estava a educar chefes de famílias, e seus métodos de governo seriam levados para as casas a que eles presidiriam. PP 93 3 Nos tempos primitivos o pai era o governador e sacerdote de sua família, e exercia autoridade sobre os filhos, mesmo depois que estes tinham suas próprias famílias. Os descendentes eram ensinados a considerá-lo como seu chefe, tanto em assuntos religiosos como seculares. Este sistema de governo patriarcal Abraão esforçou-se por perpetuar, sendo que o mesmo favorecia a conservar o conhecimento de Deus. Era necessário ligar os membros da casa conjuntamente, para edificar-se uma barreira contra a idolatria, que se havia tornado tão espalhada e profundamente estabelecida. Abraão procurou por todos os meios ao seu alcance guardar os domésticos de seu acampamento de se misturarem com os gentios e de testemunharem suas práticas idólatras; pois sabia que a familiaridade com os maus corromperia insensivelmente os princípios. O máximo cuidado foi exercido para excluir toda a forma de religião falsa, e impressionar o espírito com a majestade e glória do Deus vivo como o verdadeiro objeto de culto. PP 94 1 Foi uma sábia disposição, que o próprio Deus tomara, a de separar Seu povo, tanto quanto possível, da ligação com os gentios, fazendo do mesmo um povo que habitasse só, e que não fosse contado entre as nações. Ele havia separado Abraão de sua parentela idólatra, para que o patriarca pudesse ensinar e educar a família, afastados das influências sedutoras que os cercariam na Mesopotâmia, e para que a verdadeira fé pudesse ser preservada em sua pureza pelos descendentes, de geração em geração. PP 94 2 A afeição de Abraão para com seus filhos e sua casa, levou-o a guardar a fé religiosa dos mesmos, a comunicar-lhes o conhecimento dos estatutos divinos, como o legado mais precioso que ele lhes poderia transmitir, e por meio deles ao mundo. A todos se ensinava que estavam sob o governo do Deus do Céu. Não deveria haver opressão por parte dos pais, nem desobediência por parte dos filhos. A lei de Deus havia indicado a cada um os seus deveres, e apenas na obediência a ela poderia alguém conseguir felicidade e prosperidade. PP 94 3 Seu próprio exemplo, a influência silenciosa de sua vida diária, eram uma lição constante. A persistente integridade, a beneficência e cortesia abnegada, que haviam conquistado a admiração dos reis, eram ostentadas em seu lar. Havia uma fragrância em torno de sua vida, uma nobreza e formosura de caráter, que revelavam a todos que ele estava em ligação com o Céu. Ele não negligenciava a alma do mais humilde servo. Em sua casa não havia uma lei para o senhor e outra para o servo; um régio caminho para o rico, e outro para o pobre. Todos eram tratados com justiça e compaixão, como herdeiros com ele da graça da vida. PP 94 4 Ele "há de ordenar a sua casa". Gênesis 26:5. Não haveria uma negligência pecaminosa em restringir as más propensões de seus filhos, tampouco qualquer favoritismo fraco, imprudente, condescendente; nem renúncia à sua convicção do dever ante as exigências de uma afeição mal-entendida. Abraão não somente dava a instrução exata, mas mantinha a autoridade de leis justas e retas. PP 94 5 Quão poucos há em nossos dias que seguem este exemplo! Por parte de muitos pais há um sentimentalismo cego e egoísta, impropriamente chamado amor, que se manifesta deixando-se as crianças, com o juízo ainda por formar-se e as paixões indisciplinadas, à direção de sua própria vontade. Isto é a máxima crueldade para com a juventude, e grande mal ao mundo. A condescendência por parte dos pais ocasiona desordem nas famílias e na sociedade. Confirma no jovem o desejo de seguir a inclinação, em vez de se submeter aos mandamentos divinos. Assim crescem com um coração adverso a fazer a vontade de Deus, e transmitem o espírito irreligioso e insubordinado a seus filhos, e filhos de seus filhos. Como Abraão, devem os pais ordenar as suas casas depois deles. Que a obediência à autoridade paterna seja ensinada e imposta como o primeiro passo na obediência à autoridade de Deus. PP 95 1 A pouca estima em que a lei de Deus é tida, mesmo pelos dirigentes religiosos, tem sido causa de grandes males. O ensino que se tornou tão espalhado, de que os estatutos divinos não mais vigoram para os homens, é o mesmo que a idolatria em seu efeito sobre a moral do povo. Aqueles que procuram diminuir as reivindicações da santa lei de Deus, estão ferindo diretamente o fundamento do governo das famílias e nações. Pais religiosos, que deixam de andar em Seus estatutos, não ordenam sua casa de modo a observarem o caminho do Senhor. Não se faz da lei de Deus a regra da vida. Os filhos, ao constituírem lar, não se sentem na obrigação de ensinar a seus filhos aquilo em que eles mesmos nunca foram ensinados. E esta é a razão por que há tantas famílias sem Deus; é a razão por que a depravação é tão profunda e espalhada. PP 95 2 Antes que os próprios pais andem na lei do Senhor com coração perfeito, não estarão preparados para ordenar a seus filhos depois deles. Necessita-se de uma reforma neste sentido, reforma que seja profunda e extensa. Os pais necessitam de reformar-se; pastores o necessitam; necessitam de Deus em suas casas. Se desejam ver um estado de coisas diverso, devem proporcionar a Palavra de Deus a suas famílias, e dela fazer seu conselheiro. Devem ensinar aos filhos que ela é a voz de Deus a eles dirigida e que lhe devem obedecer implicitamente. Devem pacientemente instruir seus filhos, amável e incansavelmente ensinar-lhes como viver de modo a agradar a Deus. Os filhos de tal casa estão preparados para enfrentar os sofismas da incredulidade. Aceitaram a Bíblia como a base de sua fé, e têm um fundamento que não pode ser varrido pela maré invasora do ceticismo. PP 95 3 Em muitos lares a oração é negligenciada. Os pais entendem que não possuem tempo para o culto da manhã e da noite. Não podem economizar alguns momentos para serem dispendidos em ações de graças a Deus pelas Suas abundantes misericórdias -- pela bendita luz do Sol e pela chuva, as quais fazem com que a vegetação floresça, e pela guarda dos santos anjos. Não têm tempo para fazerem oração pedindo auxílio e guia divinos, e rogando a contínua presença de Jesus na casa. Saem para o trabalho como o boi ou o cavalo, sem um pensamento de Deus ou do Céu. Têm almas tão preciosas que, em vez de consentir o Filho do homem ficassem elas perdidas, deu Ele a vida para resgatá-las; eles, porém, têm pouco mais apreciação de Sua grande bondade do que a têm os animais que perecem. PP 95 4 Semelhantes aos patriarcas da antiguidade, os que professam amar a Deus devem construir um altar ao Senhor onde quer que armem sua tenda. Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de demorar-Se. PP 96 1 De todo lar cristão deve resplandecer uma santa luz. O amor deve revelar-se nas ações. Deve promanar de toda a relação doméstica, mostrando-se em uma bondade meditada, em uma cortesia gentil, abnegada. Há lares em que esse princípio é praticado, lares em que Deus é adorado, e em que reina o mais verdadeiro amor. Destes lares as orações matutinas e vespertinas sobem a Deus como incenso suave, e Suas misericórdias e bênçãos descem sobre os suplicantes como o orvalho da manhã. PP 96 2 Uma casa cristã bem ordenada é um poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã, argumento que o incrédulo não pode contradizer. Todos podem ver que há na família uma influência em atividade, a qual afeta os filhos, e que o Deus de Abraão está com eles. Se os lares dos professos cristãos tivessem um molde religioso correto, exerceriam uma poderosa influência para o bem. Seriam na verdade "a luz do mundo". Mateus 5:14. O Deus do Céu fala a todo o pai fiel, nas palavras dirigidas a Abraão: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado". Gênesis 18:19. ------------------------Capítulo 13 -- A prova da fé PP 97 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 16; 17:18-20; 21:1-14; 22:1-19. PP 97 1 Abraão aceitara sem pôr em dúvida a promessa de um filho, mas não esperou que Deus cumprisse a palavra no tempo e maneira que Ele o entendia. Foi permitida uma demora para provar sua fé no poder de Deus; mas ele não pôde suportar a prova. Achando impossível que lhe fosse dado um filho em sua avançada idade, Sara sugeriu, como um plano pelo qual o propósito divino poderia cumprir-se, que uma de suas servas fosse tomada por Abraão como segunda mulher. A poligamia se tornara tão espalhada que deixara de ser considerada como pecado; mas nem por isso deixava de ser uma violação da lei de Deus, e era de resultado fatal à santidade e paz na relação da família. Do casamento de Abraão com Hagar resultaram males, não somente para a sua própria casa, mas para as gerações futuras. PP 97 2 Lisonjeada pela honra de sua nova posição como esposa de Abraão, e esperando ser a mãe da grande nação que dele descenderia, Hagar se tornou orgulhosa, jactanciosa, e tratou sua senhora com desprezo. Ciúmes recíprocos perturbavam a paz do lar que fora feliz. Obrigado a escutar as queixas de ambas, Abraão inutilmente se esforçou por estabelecer de novo a harmonia. Se bem que fosse pelos rogos encarecidos de Sara que ele desposara Hagar, ela o censurava agora como o faltoso. Desejava banir sua rival; mas Abraão recusou-se a consentir nisto; pois Hagar seria mãe de seu filho, como ele ansiosamente esperava, o filho da promessa. Ela era serva de Sara, contudo; e ele a deixou ainda sob o domínio de sua senhora. O espírito altivo de Hagar não tolerava a aspereza que sua própria insolência provocara. "E afligiu-a Sarai, e ela fugiu da sua face". Gênesis 16:6-13. PP 97 3 Hagar se encaminhou para o deserto, e, quando repousava ao lado de uma fonte, sozinha e sem amigos, apareceu-lhe um anjo do Senhor, sob a forma humana. Dirigindo-se a ela como "Hagar, serva de Sarai" (Gênesis 16:8), para a fazer lembrar de sua posição e deveres, ordenou-lhe: "Torna-te para a tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos". Gênesis 16:9. Todavia, com a repreensão houve, de mistura, palavras de consolação. "O Senhor ouviu a tua aflição." "Multiplicarei sobremaneira a tua semente, que não será contada, por numerosa que será". Gênesis 16:9. E, como uma lembrança perpétua de Sua misericórdia, foi-lhe ordenado chamar a seu filho, Ismael -- "Deus ouvirá". PP 97 4 Quando Abraão tinha quase cem anos de idade, a promessa de um filho foi-lhe repetida, com a informação de que o futuro herdeiro seria filho de Sara. Mas Abraão ainda não compreendeu a promessa. Sua mente de pronto volveu para Ismael, apegando-se à crença de que por meio dele os propósitos graciosos de Deus deveriam cumprir-se. Em sua afeição para com o filho, exclamou: "Oxalá que viva Ismael diante de Teu rosto". Gênesis 17:18-20. De novo foi feita a promessa, com palavras que não poderiam ser malcompreendidas: "Na verdade, Sara tua mulher te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei o Meu concerto." Deus, contudo, não Se esqueceu da oração do pai. "E quanto a Ismael", disse Ele, "também te tenho ouvido; eis aqui o tenho abençoado, [...] e dele farei uma grande nação." PP 98 1 O nascimento de Isaque, trazendo a realização de suas mais caras esperanças, após uma espera da duração de uma vida, encheu de alegria as tendas de Abraão e Sara. Mas para Hagar este acontecimento foi a destruição de suas aspirações enternecidamente acalentadas. Ismael, agora um rapaz, fora considerado por todos no acampamento como o herdeiro da riqueza de Abraão, e das bênçãos prometidas a seus descendentes. Agora foi subitamente posto de lado; e, em seu desapontamento, mãe e filho odiaram o filho de Sara. O regozijo geral aumentou a sua inveja, até que Ismael ousou zombar abertamente do herdeiro da promessa de Deus. Sara viu na disposição turbulenta de Ismael uma fonte perpétua de discórdias, e apelou para Abraão, insistindo que Hagar e Ismael fossem despedidos do acampamento. O patriarca foi lançado em grande angústia. Como poderia banir a Ismael, seu filho, ainda ternamente amado? Em sua perplexidade rogou a direção divina. O Senhor, por meio de um santo anjo, determinou-lhe satisfazer o desejo de Sara; seu amor por Ismael ou Hagar não lho deveria impedir pois apenas assim poderia ele restabelecer a harmonia e a felicidade à sua família. E o anjo lhe fez a promessa consoladora de que, ainda que separado do lar de seu pai, Ismael não seria abandonado por Deus; sua vida seria preservada, e ele se tornaria o pai de uma grande nação. Abraão obedeceu à palavra do anjo, mas não sem uma dor aguda. O coração do pai estava oprimido por mágoa indizível, quando despediu Hagar e seu filho. PP 98 2 A instrução proporcionada a Abraão, no tocante à santidade da relação matrimonial, deve ser uma lição para todos os tempos. Declara que os direitos e a felicidade desta relação devem ser cuidadosamente zelados, mesmo com grande sacrifício. Sara era a única esposa legítima de Abraão. Seus direitos como esposa e mãe, nenhuma outra pessoa tinha a prerrogativa de partilhar. Reverenciava seu marido, e nisto é apresentada no Novo Testamento como um digno exemplo. Mas não queria que as afeições de Abraão fossem dadas a outra; e o Senhor não a reprovou por exigir o banimento de sua rival. Tanto Abraão como Sara não confiaram no poder de Deus, e foi este erro que determinou o casamento com Hagar. PP 98 3 Deus havia chamado Abraão para ser o pai dos fiéis, e sua vida devia ser um exemplo de fé para as gerações subseqüentes. Mas sua fé não tinha sido perfeita. Mostrara falta de confiança em Deus, ocultando o fato de que Sara era sua esposa, e novamente com o seu casamento com Hagar. Para que atingisse a mais elevada norma, Deus o sujeitou a outra prova, a mais severa que o homem jamais foi chamado a suportar. Em uma visão da noite foi-lhe determinado que se dirigisse à terra de Moriá, e ali oferecesse seu filho em holocausto sobre um monte que lhe seria mostrado. PP 99 1 No tempo em que recebeu esta ordem, havia Abraão atingido a idade de cento e vinte anos. Era considerado como homem idoso, mesmo em sua geração. Em seus anos anteriores fora forte para suportar dificuldades e enfrentar o perigo; mas agora passara o ardor da juventude. Qualquer, no vigor da varonilidade, pode com coragem enfrentar dificuldades e aflições que lhe fariam desfalecer o coração em sua vida posterior, quando os pés estiverem vacilantes a caminhar para a sepultura. Mas Deus guardara Sua última e mais rigorosa prova a Abraão, até que o fardo dos anos fosse pesado sobre ele, e ele almejasse o repouso das ansiedades e trabalhos. PP 99 2 O patriarca estava morando em Berseba, rodeado de prosperidade e honra. Era muito rico, e acatado pelos governadores da Terra como príncipe poderoso. Milhares de ovelhas e cabeças de gado cobriam as planícies que se estendiam para além de seu acampamento. De todos os lados estavam as tendas de seus dependentes, os lares, de centenas de servos fiéis. O filho da promessa havia crescido até à idade adulta ao seu lado. O Céu parecia ter coroado com sua bênção uma vida de sacrifício, ao suportar pacientemente o adiamento das esperanças. PP 99 3 Na obediência da fé, Abraão havia abandonado o país natal: afastara-se dos túmulos de seus pais, e do lar de sua parentela. Vagueara como um estrangeiro na terra de sua herança. Tinha esperado por muito tempo pelo nascimento do herdeiro prometido. Por ordem de Deus despedira seu filho Ismael. E agora, quando o filho que fora desejado durante tanto tempo chegava à varonilidade, e o patriarca parecia poder divisar os frutos de suas esperanças, uma prova maior do que todas as outras estava diante dele. PP 99 4 A ordem foi expressa em palavras que deveriam ter contorcido angustiosamente aquele coração de pai: "Toma agora o teu filho, o teu único filho Isaque, a quem amas, [...] e oferece-o ali em holocausto". Gênesis 22:2. Isaque era-lhe a luz do lar, a consolação da velhice, e acima de tudo o herdeiro da bênção prometida. A perda de tal filho por desastre, ou moléstia, teria despedaçado o coração do pai extremoso; teria curvado sua encanecida cabeça pela dor; entretanto, foi-lhe ordenado derramar o sangue daquele filho, com sua própria mão. Pareceu-lhe uma terrível impossibilidade. PP 99 5 Satanás estava a postos para sugerir que ele devia estar enganado, pois que a lei divina ordena: "Não matarás" (Êxodo 20:13), e Deus não exigiria o que uma vez proibira. Saindo ao lado de sua tenda, Abraão olhou para o calmo resplendor do céu sem nuvens, e lembrou-se da promessa feita quase cinqüenta anos antes, de que sua semente seria numerosa como as estrelas. Se esta promessa devia cumprir-se por meio de Isaque, como poderia ele ser morto? Abraão foi tentado a crer que poderia estar iludido. Em sua dúvida e angústia prostrou-se em terra e orou, como nunca antes orara, pedindo alguma confirmação da ordem quanto a dever ele cumprir essa terrível incumbência. Lembrou-se dos anjos enviados para revelar-lhe o propósito de Deus de destruir Sodoma, e que lhe trouxeram a promessa deste mesmo filho Isaque, e foi para o lugar em que várias vezes encontrara os mensageiros celestiais, esperando encontrá-los outra vez, e receber algumas instruções mais; mas nenhum veio em seu socorro. As trevas pareciam envolvê-lo; mas a ordem de Deus estava a soar-lhe aos ouvidos: "Toma agora o teu filho, o teu único filho Isaque, a quem tu amas". Gênesis 22:2. Aquela ordem devia ser obedecida, e não ousou demorar-se. O dia se aproximava, e ele devia estar a caminho. PP 100 1 Voltando à sua tenda, foi ao lugar em que Isaque, deitado, dormia o sono profundo, calmo, da juventude e inocência. Por um momento o pai olhou para o rosto querido do filho; voltou então a tremer. Foi ao lado de Sara, que também estava a dormir. Deveria despertá-la, para que mais uma vez pudesse abraçar o filho? Deveria falar-lhe do mandado de Deus? Anelava aliviar o coração, falando a ela, e partilhar juntamente com ela desta terrível responsabilidade; mas se conteve pelo temor de que o pudesse impedir. Isaque era a alegria e o orgulho dela; sua vida estava ligada a ele, e o amor de mãe poderia recusar-se ao sacrifício. PP 100 2 Finalmente Abraão chamou o filho, falando-lhe da ordem de oferecer sacrifício em uma montanha distante. Isaque tinha freqüentes vezes ido com o pai a adorar em algum dos vários altares que assinalavam suas peregrinações, e esta chamada não provocou surpresa. Fizeram-se rapidamente os preparativos para a viagem. Preparou-se a lenha, puseram-na sobre o jumento, e com dois servos partiram. PP 100 3 Lado a lado, pai e filho viajavam silenciosamente. O patriarca, ponderando seu cruel segredo, não tinha ânimo para falar. Seus pensamentos estavam naquela mãe ufana e extremosa, e considerava o dia em que sozinho deveria voltar a ela. Bem sabia que a faca lhe cortaria o coração, quando tirasse a vida de seu filho. PP 100 4 Aquele dia -- o mais comprido que jamais Abraão experimentara -- arrastava-se vagarosamente ao seu termo. Enquanto seu filho e os moços dormiam, passou ele a noite em oração, esperando ainda que algum mensageiro celestial pudesse vir dizer que a prova já era suficiente, que o jovem poderia voltar ileso para sua mãe. Nenhum alívio, porém, lhe veio à alma torturada. Outro longo dia, outra noite de humilhação e oração, enquanto a ordem que o deveria deixar desfilhado lhe repercutia sempre no ouvido. Perto estava Satanás para insinuar dúvidas e incredulidade; mas Abraão resistiu a suas sugestões. Quando estavam a ponto de iniciar a viagem do terceiro dia, o patriarca, olhando para o Norte, viu o sinal prometido, uma nuvem de glória pairando sobre o Monte Moriá, e compreendeu que a voz que lhe falara era do Céu. PP 101 1 Mesmo agora não murmurou contra Deus, mas fortaleceu a alma pensando nas provas da bondade e fidelidade do Senhor. Este filho fora dado inesperadamente; e não tinha Aquele que conferira a preciosa dádiva o direito de reclamar o que era Seu? Então a fé repetiu a promessa: "Em Isaque será chamada a tua semente" (Gênesis 21:12) -- semente numerosa como os grãos de areia na praia. Isaque fora filho de um milagre, e não poderia o poder que lhe dera vida restaurá-lo? Olhando para além daquilo que era visível, Abraão apreendeu a palavra divina, considerando "que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar". Hebreus 11:19. PP 101 2 Todavia, ninguém senão Deus poderia compreender quão grande era o sacrifício do pai, ao entregar seu filho à morte; Abraão não quis que ninguém, a não ser Deus, testemunhasse a cena da separação. Mandou a seus servos que ficassem atrás, dizendo: "Eu e o moço iremos até ali; e, havendo adorado, tornaremos a vós". Gênesis 22:5-8. A lenha foi posta sobre Isaque, aquele que seria oferecido; o pai tomou a faca e o fogo, e, juntos, subiram para o cume da montanha, considerando o jovem em silêncio de onde deveria vir a oferta, tão longe de apriscos e rebanhos. Finalmente falou: "Meu pai", "eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" Oh, que prova foi esta! Quanto as carinhosas palavras -- "meu pai", feriram o coração de Abraão! Ele não lhe poderia dizer por enquanto. "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho" (Gênesis 22:8), disse ele. PP 101 3 No lugar indicado construíram o altar, e sobre o mesmo colocaram a lenha. Então, com voz trêmula, Abraão desvendou a seu filho a mensagem divina. Foi com terror e espanto que Isaque soube de sua sorte; mas não opôs resistência. Poderia escapar deste destino, se o houvesse preferido fazer; o ancião, ferido de pesares, exausto com as lutas daqueles três dias terríveis, não poderia ter-se oposto à vontade do vigoroso jovem. Isaque, porém, tinha sido educado desde a meninice a uma obediência pronta e confiante, e, ao ser o propósito de Deus manifesto perante ele, entregou-se com voluntária submissão. Era participante da fé de Abraão, e sentia-se honrado sendo chamado a dar a vida em oferta a Deus. Com ternura procurou aliviar a dor do pai, e auxiliou-lhe as mãos desfalecidas a amarrarem as cordas que o prendiam ao altar. PP 101 4 E agora as últimas palavras de amor são proferidas, as últimas lágrimas derramadas, o último abraço dado. O pai levanta o cutelo para matar o filho, quando o braço subitamente lhe é detido. Um anjo de Deus chama do Céu o patriarca: "Abraão, Abraão!" Ele rapidamente responde: "Eis-me aqui." E de novo se ouve a voz: "Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não Me negaste o teu filho, o teu único". Gênesis 22:11-18. PP 102 1 Então Abraão viu "um carneiro detrás dele, travado pelas suas pontas num mato", e prontamente trazendo a nova vítima, ofereceu-a "em lugar de seu filho". Em sua alegria e gratidão, Abraão deu um novo nome ao lugar sagrado -- "Jeová-jire", "o Senhor proverá". Gênesis 22:14. PP 102 2 No Monte Moriá Deus outra vez renovou Seu concerto, confirmando com juramento solene a bênção a Abraão e sua semente, por todas as gerações vindouras: "Por Mim mesmo, jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não Me negaste o teu filho, o teu único, que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua semente serão benditas todas as nações da Terra; porquanto obedeceste à Minha voz." PP 102 3 O grande ato de fé, de Abraão, permanece como uma coluna de luz, iluminando o caminho dos servos de Deus em todos os séculos subseqüentes. Abraão não procurou esquivar-se de fazer a vontade de Deus. Durante aquela viagem de três dias, ele teve tempo suficiente para raciocinar, e para duvidar de Deus se estivesse disposto a isto. Poderia ter raciocinado que o tirar a vida a seu filho fá-lo-ia ser considerado como um homicida, um segundo Caim; que isto faria com que seu ensino fosse rejeitado e desprezado, e assim destruiria o seu poder para fazer bem a seus semelhantes. Poderia ter alegado que a idade o dispensaria da obediência. Mas o patriarca não procurou refúgio em qualquer dessas desculpas. Abraão era humano; suas paixões e afeições eram semelhantes às nossas; mas não se deteve a discutir como a promessa poderia cumprir-se caso Isaque fosse morto. Não se deteve a arrazoar com o seu coração dolorido. Sabia que Deus é justo e reto em todas as Suas reivindicações, e à risca obedeceu à ordem. PP 102 4 "E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus." Tiago 2:23. E Paulo diz: "Os que são da fé são filhos de Abraão". Gálatas 3:7. Mas a fé de Abraão foi manifesta pelas suas obras. "O nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada." Tiago 2:21, 22. Há muitos que não podem compreender a relação da fé com as obras. Dizem eles: "Crê apenas em Cristo, e estás salvo. Nada tens que ver com a guarda da lei." Mas a fé genuína se manifestará pela obediência. Disse Cristo aos judeus incrédulos: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão". João 8:39. E, com relação ao pai dos fiéis, declara o Senhor: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gênesis 26:5. Diz o apóstolo Tiago: "A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:17. E João, que tão amplamente se ocupa com o amor, diz-nos: "Este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos". 1 João 5:3. PP 103 1 Por símbolos e por promessas, Deus "anunciou primeiro o evangelho a Abraão". Gálatas 3:8. E a fé do patriarca fixou-se no Redentor vindouro. Disse Cristo aos judeus: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se". João 8:56. O carneiro oferecido em lugar de Isaque representava o Filho de Deus, que seria sacrificado em nosso lugar. Quando o homem foi condenado à morte pela transgressão da lei de Deus, o Pai, olhando para o Filho, disse ao pecador: "Vive, Eu achei um resgate." PP 103 2 Foi para impressionar o espírito de Abraão com a realidade do evangelho, bem como para lhe provar a fé, que Deus o mandou matar seu filho. A angústia que ele sofreu durante os dias tenebrosos daquela terrível prova, foi permitida para que compreendesse por sua própria experiência algo da grandeza do sacrifício feito pelo infinito Deus para a redenção do homem. Nenhuma outra prova poderia ter causado a Abraão tal tortura de alma, como fez a oferta de seu filho. Deus deu Seu Filho a uma morte de angústia e ignomínia. Aos anjos que testemunharam a humilhação e angústia de alma do Filho de Deus, não foi permitido intervirem, como no caso de Isaque. Não houve nenhuma voz a clamar: "Basta." A fim de salvar a raça decaída, o Rei da glória rendeu a vida. Que prova mais forte se pode dar da infinita compaixão e amor de Deus? "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. PP 103 3 O sacrifício exigido de Abraão não foi somente para seu próprio bem, nem apenas para o benefício das gerações que se seguiram; mas também foi para instrução dos seres destituídos de pecado, no Céu e em outros mundos. O campo do conflito entre Cristo e Satanás -- campo este em que o plano da salvação se encontra formulado -- é o compêndio do Universo. Porquanto Abraão mostrara falta de fé nas promessas de Deus, Satanás o acusara perante os anjos e perante Deus de ter deixado de satisfazer as condições do concerto, e de ser indigno das bênçãos do mesmo concerto. Deus desejou provar a lealdade de Seu servo perante o Céu todo, para demonstrar que nada menos que perfeita obediência pode ser aceito, e para patentear de maneira mais ampla, perante eles, o plano da salvação. PP 103 4 Seres celestiais foram testemunhas daquela cena em que a fé de Abraão e a submissão de Isaque foram provadas. A prova foi muito mais severa do que aquela a que Adão havia sido submetido. A conformação com a proibição imposta a nossos primeiros pais, não envolvia sofrimentos; mas a ordem dada a Abraão exigia o mais angustioso sacrifício. O Céu inteiro contemplava com espanto e admiração a estrita obediência de Abraão. O Céu todo aplaudiu sua fidelidade. As acusações de Satanás demonstraram-se falsas. Deus declarou a Seu servo: "Agora sei que temes a Deus [a despeito das acusações de Satanás], e não Me negaste o teu filho, o teu único." O concerto de Deus, confirmado a Abraão por um juramento perante os seres de outros mundos, testificou que a obediência será recompensada. PP 104 1 Tinha sido difícil, mesmo para os anjos, apreender o mistério da redenção, isto é, compreender que o Comandante do Céu, o Filho de Deus, devia morrer pelo homem culposo. Quando foi dada a Abraão a ordem para oferecer seu filho, isto assegurou o interesse de todos os entes celestiais. Com ânsia intensa, observavam cada passo no cumprimento daquela ordem. Quando à pergunta de Isaque -- "Onde está o cordeiro para o holocausto?" Abraão respondeu: "Deus proverá para Si o cordeiro" (Gênesis 22:7, 8), e quando a mão do pai foi detida estando a ponto de matar seu filho, e fora oferecido o cordeiro que Deus provera em lugar de Isaque, derramou-se então luz sobre o mistério da redenção, e mesmo os anjos compreenderam mais claramente a maravilhosa providência que Deus tomara para a salvação do homem. 1 Pedro 1:12. ------------------------Capítulo 14 -- A destruição de Sodoma PP 105 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 19. PP 105 1 Como a mais bela entre as cidades do vale do Jordão, achava-se Sodoma, situada em uma planície que era "como o jardim do Senhor" (Gênesis 13:10), pela sua fertilidade e beleza. Ali florescia a luxuriante vegetação dos trópicos. Ali era a terra da palmeira, da oliveira e da videira, e flores derramavam o seu perfume através de todo o ano. Ricas plantações revestiam os campos, e rebanhos e gado cobriam as colinas circunvizinhas. A arte e o comércio contribuíam para enriquecer a orgulhosa cidade da planície. Os tesouros do Oriente adornavam seus palácios, e as caravanas do deserto traziam seus abastecimentos de coisas preciosas para lhe suprir os mercados. Com pouca preocupação ou trabalho, toda a necessidade da vida podia ser suprida, e o ano inteiro parecia um ciclo de festas. PP 105 2 A profusão que reinava por toda parte deu origem ao luxo e ao orgulho. A ociosidade e a riqueza tornam endurecido o coração que nunca foi oprimido pela necessidade ou sobrecarregado de tristeza. O amor ao prazer era favorecido pela riqueza e lazer, e o povo entregou-se à satisfação sensual. "Eis que", diz o profeta, "esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de Mim; pelo que as tirei dali, vendo Eu isto". Ezequiel 16:49, 50. Nada há mais desejável entre os homens do que riqueza e lazer, e contudo estas coisas dão origem aos pecados que acarretaram destruição às cidades da planície. Sua vida inútil, ociosa, tornou-os presa das tentações de Satanás, e desfiguraram a imagem de Deus, tornando-se satânicos em vez de divinos. A ociosidade é a maior maldição que pode recair ao homem; pois que o vício e o crime seguem em seu cortejo. Enfraquece o espírito, perverte o entendimento, e avilta a alma. Satanás fica de emboscada, pronto para destruir aqueles que estão desprevenidos, cujo tempo vago lhe dá oportunidade para insinuar-se sob alguns disfarces atraentes. Ele nunca é mais bem-sucedido do que quando vem aos homens em suas horas ociosas. PP 105 3 Em Sodoma havia regozijo e orgia, banquetes e bebedice. As mais vis e brutais paixões não eram refreadas. O povo desafiava abertamente a Deus e à Sua lei, e deleitava-se em ações de violência. Posto que tivessem diante de si o exemplo do mundo antediluviano, e soubessem como a ira de Deus se manifestara em sua destruição, seguiam contudo o mesmo caminho de impiedade. PP 106 1 Por ocasião da mudança de Ló para Sodoma, a corrupção não havia ainda se tornado geral, e Deus em Sua misericórdia permitiu que raios de luz resplandecessem por entre as trevas morais. Quando Abraão libertou dos elamitas os cativos, foi chamada a atenção do povo para a verdadeira fé. Abraão não era um estranho para o povo de Sodoma, e seu culto ao Deus invisível fora assunto para ridículo entre eles; mas sua vitória sobre forças grandemente superiores e sua disposição magnânima dos prisioneiros e despojos, provocaram espanto e admiração. Enquanto sua habilidade e bravura eram exaltadas, ninguém podia evitar a convicção de que o fizera vencedor um poder divino. E seu espírito nobre e abnegado, tão estranho aos habitantes de Sodoma, que só procuravam o proveito próprio, foi outra prova da superioridade da religião que ele honrara pela sua coragem e fidelidade. PP 106 2 Melquisedeque, conferindo a bênção a Abraão, reconhecera Jeová como a fonte de sua força e autor da vitória: "Bendito seja Abraão do Deus altíssimo, o Possuidor dos céus e da Terra; e bendito seja o Deus altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos". Gênesis 14:19, 20. Deus estava a falar àquele povo pela Sua providência, mas o último raio de luz foi rejeitado, assim como foram todos os anteriores. PP 106 3 E agora a última noite de Sodoma estava a aproximar-se. Já as nuvens da vingança lançavam as sombras sobre a cidade condenada. Os homens, porém, não o perceberam. Enquanto anjos se aproximavam em sua missão de destruição, homens sonhavam com prosperidade e prazer. O último dia foi como todos os outros que tinham vindo e ido. A tarde caía sobre cenas de encanto e segurança. Uma paisagem de beleza sem-par era banhada pelos raios do Sol poente. A frescura da tarde chamara para fora de casa os habitantes da cidade, e as multidões em busca de divertimentos passavam de um lado para outro, preocupadas com os prazeres daquela hora. PP 106 4 Ao entardecer, dois estrangeiros se aproximaram da porta da cidade. Eram aparentemente viajantes, vindo para pernoitarem. Ninguém poderia discernir naqueles humildes viajantes os poderosos arautos do juízo divino, e mal sonhava a multidão alegre e descuidada que, em seu tratamento a esses mensageiros celestiais naquela mesma noite, atingiriam o auge do crime que condenou sua orgulhosa cidade. Houve, porém, um homem que manifestou amável atenção para com os estranhos, e os convidou para sua casa. Ló não sabia do verdadeiro caráter deles, mas a polidez e a hospitalidade eram nele habituais; faziam parte de sua religião -- lições que ele havia aprendido pelo exemplo de Abraão. Se ele não houvesse cultivado o espírito de cortesia, poderia ter sido deixado a perecer com o resto de Sodoma. Muita casa, fechando suas portas a um estranho, excluiu o mensageiro de Deus, que teria trazido bênção, esperança e paz. PP 106 5 Cada ato da vida, por pequeno que seja, tem sua influência para o bem ou para o mal. A fidelidade ou a negligência naquilo que aparentemente são os menores deveres, pode abrir a porta para as mais ricas bênçãos da vida ou para as suas maiores calamidades. São as pequenas coisas que provam o caráter. São os atos despretensiosos de abnegação diária, praticados com um coração prazenteiro e voluntário, que Deus aprova. Não devemos viver para nós mesmos, mas para outrem. E é apenas pelo esquecimento de nós mesmos, alimentando um espírito amorável, auxiliador, que podemos tornar nossa vida uma bênção. As pequenas atenções, as cortesias pequenas e singelas, muito representam no perfazer o total da felicidade da vida; e a negligência destas coisas constitui não pequena participação na desgraça humana. PP 107 1 Vendo o desacato a que os estranhos estavam expostos em Sodoma, Ló tornou um de seus deveres guardá-los ao entrarem, oferecendo-lhes acolhimento em sua casa. Estava assentado à porta quando os viajantes se aproximavam, e, observando-os, levantou-se de seu lugar para os encontrar, e curvando-se polidamente disse: "Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite". Eles pareciam declinar de sua hospitalidade, dizendo: "Não, antes na rua passaremos a noite". Gênesis 19:2. Seu objetivo nesta resposta foi duplo: provar a sinceridade de Ló, e também parecer ignorar o caráter dos homens de Sodoma, como se supusessem livre de perigo ficar na rua à noite. Sua resposta tornou Ló mais resolvido a não deixá-los à disposição da turba infame. Insistiu com o convite até que cederam, e o acompanharam para casa. PP 107 2 Ele esperava esconder sua intenção aos ociosos que estavam à porta, trazendo os estrangeiros a sua casa por um caminho indireto; mas a hesitação e demora deles, e o empenho persistente de Ló, fizeram com que fossem observados, e, à noite, antes que se acomodassem, uma multidão iníqua reuniu-se em redor da casa. Era um grupo imenso, jovens e velhos, igualmente inflamados pelas mais vis paixões. Os estranhos estiveram a fazer indagações quanto ao caráter da cidade, e Ló advertira-os a não se arriscarem a sair de suas portas naquela noite, quando as vaias e zombarias da turba eram ouvidas, reclamando que os homens lhes fossem trazidos para fora. PP 107 3 Sabendo que, sendo provocados à violência, poderiam facilmente penetrar em sua casa, Ló saiu para experimentar sobre eles o efeito da persuasão. "Meus irmãos", disse ele, "rogo-vos que não façais mal", empregando o termo "irmãos" no sentido de vizinhos, e esperando conciliá-los e envergonhá-los de seus maus intuitos . Mas suas palavras foram como gasolina sobre as chamas. A ira deles se tornou semelhante ao rugido da tempestade. Zombaram de Ló, como que fazendo-se juiz sobre eles, e ameaçaram tratá-lo pior do que se propuseram fazer para com os seus hóspedes. Ruíram sobre ele, e o teriam reduzido a pedaços, se não tivesse sido livrado pelos anjos de Deus. Os mensageiros celestiais "estenderam sua mão, e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta". Gênesis 19:10. Os fatos que se seguiram, revelam o caráter dos hóspedes que ele acolhia. "Feriram de cegueira os varões que estavam à porta da casa, desde o menor até o maior, de maneira que se cansaram para achar a porta." Se não tivessem sido visitados com dupla cegueira, entregando-se à dureza de coração, o toque de Deus contra eles tê-los-ia feito temer, e desistir de sua má obra. Aquela noite não se distinguiu por maiores pecados do que muitas outras anteriores; a misericórdia, porém, durante tanto tempo desprezada, cessara finalmente de pleitear. Os habitantes de Sodoma haviam passado os limites da paciência divina -- "os limites ocultos entre a paciência de Deus e a Sua ira". Os fogos de Sua vingança estavam prestes a acender-se no vale de Sidim. PP 108 1 Os anjos revelaram a Ló o objetivo de sua missão: "Nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo." Os estranhos que Ló se esforçara por proteger, prometeram agora protegê-lo, e salvar também todos os membros de sua família que com ele fugissem da ímpia cidade. A turba cansara-se e se retirara, e Ló foi avisar seus filhos. Repetiu as palavras dos anjos: "Levantai-vos, saí deste lugar; porque o Senhor há de destruir a cidade." Mas ele lhes pareceu como quem zombava. Riram-se daquilo que chamavam seus receios supersticiosos. Suas filhas eram influenciadas pelos maridos. Estavam muito bem ali onde se encontravam. Não podiam ver sinais de perigo. Tudo estava exatamente como havia sido. Possuíam muitos bens, e não podiam crer fosse possível que a bela Sodoma houvesse de ser destruída. PP 108 2 Ló voltou triste para casa, e referiu a história de seu insucesso. Então os anjos o mandaram levantar-se, e tomar a esposa e duas filhas que ainda estavam em casa, e deixar a cidade. Ló, porém, demorava-se. Se bem que diariamente angustiado ao ver cenas de violência, não tinha uma concepção verdadeira da iniqüidade aviltante e abominável praticada naquela vil cidade. Não se compenetrava da terrível necessidade de darem os juízos de Deus um paradeiro ao pecado. Alguns de seus filhos apegaram-se a Sodoma, e sua esposa recusou-se a partir sem eles. O pensamento de deixar aqueles a quem ele tinha como os mais caros na Terra, parecia ser mais do que poderia suportar. Era duro abandonar sua casa luxuosa, e toda a riqueza adquirida pelos trabalhos de sua vida inteira, a fim de sair como um errante destituído de bens. Pasmo pela tristeza, demorava-se, relutante em partir. Se não foram os anjos de Deus, todos teriam perecido na ruína de Sodoma. Os mensageiros celestiais tomaram pela mão a ele, sua esposa e filhas, e os levaram fora da cidade. PP 108 3 Ali os anjos os deixaram, e voltaram a Sodoma para cumprirem sua obra de destruição. Um outro -- Aquele com quem Abraão estivera a pleitear -- aproximou-Se de Ló. Em todas as cidades da planície, não se puderam achar nem mesmo dez pessoas justas; mas, em resposta à oração do patriarca, o único homem que temia a Deus foi arrancado à destruição. Foi dada esta ordem com surpreendente veemência: "Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças". Gênesis 19:17. A hesitação e a demora seriam agora fatais. Lançar um olhar demorado à cidade amaldiçoada, deter-se por um instante, pela tristeza de deixar tão belo lar, ter-lhes-ia custado a vida. A tormenta do juízo divino estava apenas a esperar que estes pobres fugitivos pudessem escapulir. PP 109 1 Mas Ló, confuso e aterrorizado, alegava que não podia fazer conforme lhe era exigido, para que não acontecesse surpreendê-lo algum mal, e ele morresse. Morando naquela ímpia cidade, em meio de incredulidade, sua fé se enfraquecera. O Príncipe do Céu estava a seu lado, contudo rogava ele pela sua vida como se Deus, que manifestara tal cuidado e amor para com ele, não mais o guardasse. Deveria ter-se confiado inteiramente ao Mensageiro divino, entregando sua vontade e sua vida nas mãos do Senhor, sem duvidar ou discutir. Mas, semelhante a tantos outros, esforçou-se por fazer planos por si: "Eis agora aquela cidade está perto, para fugir para lá, e é pequena; ora para ali me escaparei (não é pequena?), para que minha alma viva". Gênesis 19:20. A cidade aqui mencionada era Bela, mais tarde chamada Zoar. Ficava apenas a poucos quilômetros de Sodoma e, como esta, era corrupta, e estava condenada à destruição. Mas Ló pediu que ela fosse poupada, insistindo que isto não era senão pequeno pedido; e seu desejo foi atendido. O Senhor assegurou-lhe: "Tenho-te aceitado também neste negócio, para não derribar esta cidade, de que falaste". Gênesis 19:21. Oh, quão grande é a misericórdia de Deus para com Suas erradias criaturas! PP 109 2 De novo foi dada a ordem solene de apressar-se, pois a terrível tormenta demorar-se-ia apenas um pouco mais. Mas um dos fugitivos aventurou-se a lançar um olhar para trás, para a cidade condenada, e se tornou um monumento do juízo de Deus. Se o próprio Ló não houvesse manifestado hesitação em obedecer à advertência do anjo, antes tivesse ansiosamente fugido para as montanhas, sem uma palavra de insistência ou súplica, sua esposa teria também podido escapar. A influência de seu exemplo a teria salvo do pecado que selou a sua perdição. Mas a hesitação e demora dele fizeram com que ela considerasse levianamente a advertência divina. Ao mesmo tempo em que seu corpo estava sobre a planície, o coração apegava-se a Sodoma, e ela pereceu com Sodoma. Rebelara-se contra Deus porque Seus juízos envolviam na ruína as posses e os filhos. Posto que tão grandemente favorecida ao ser chamada da ímpia cidade, entendeu que era tratada severamente, porque a riqueza que tinha levado anos para acumular devia ser deixada para a destruição. Em vez de aceitar com gratidão o livramento, presunçosamente olhou para trás, desejando a vida daqueles que haviam rejeitado a advertência divina. Seu pecado mostrou ser ela indigna da vida, por cuja preservação tão pouca gratidão sentira. PP 110 1 Devemos estar apercebidos contra o tratar levianamente as providências graciosas de Deus para a nossa salvação. Há cristãos que dizem: "Não me incomodo com salvar-me, a menos que minha esposa e filhos se salvem comigo." Acham que o Céu não seria Céu para eles, sem a presença dos que lhes são tão caros. Mas têm os que alimentam tais sentimentos uma concepção exata de sua relação para com Deus, em vista de Sua grande bondade e misericórdia para com eles? Esqueceram-se de que estão ligados, pelos mais fortes laços de amor, honra e lealdade, ao serviço de seu Criador e Redentor? Os convites de misericórdia são dirigidos a todos; e porque nossos amigos rejeitam o insistente amor do Salvador, desviar-nos-emos também? A redenção da alma é preciosa. Cristo pagou um preço infinito pela nossa salvação, e ninguém que aprecie o valor deste grande sacrifício, ou o preço de uma alma, desprezará a misericórdia de Deus, que se lhe oferece, porque outros preferem fazê-lo. O próprio fato de que outros ignoram Suas justas reivindicações, deve despertar-nos a maior diligência, para que nós mesmos possamos honrar a Deus e levar a todos, a quem podemos influenciar, a aceitar o Seu amor. PP 110 2 "Saía o Sol sobre a terra, quando Ló entrou em Zoar". Gênesis 19:23. Os brilhantes raios da manhã pareciam falar apenas de prosperidade e paz, às cidades da planície. Começou a agitação da vida ativa nas ruas; homens seguiam seus vários caminhos, preocupados com os negócios ou os prazeres do dia. Os genros de Ló estavam divertindo-se à custa dos temores e advertências do velho, já de espírito enfraquecido. Súbita e inesperadamente, como se fora o estrondo de um trovão provindo de um céu sem nuvens, desencadeou a tempestade. O Senhor fez chover do Céu enxofre e fogo sobre as cidades e a fértil planície; seus palácios e templos, custosas habitações, jardins e vinhedos, e as multidões divertidas, à caça de prazeres, as quais ainda na noite anterior insultaram os mensageiros do Céu -- tudo foi consumido. O fumo da conflagração subia como o fumo de uma grande fornalha. E o belo vale de Sidim tornou-se uma desolação, um lugar que nunca mais seria construído ou habitado -- testemunha a todas as gerações da certeza dos juízos de Deus sobre os transgressores. PP 110 3 As chamas que consumiram as cidades da planície derramaram sua luz de advertência, até mesmo aos nossos tempos. É-nos ensinada a lição terrível e solene de que, ao mesmo tempo em que a misericórdia de Deus suporta longamente o transgressor, há um limite além do qual os homens não podem ir no pecado. Quando é atingido aquele limite, os oferecimentos de misericórdia são retirados, e inicia-se o ministério do juízo. PP 110 4 O Redentor do mundo declara que há maiores pecados do que aqueles pelos quais Sodoma e Gomorra foram destruídas. Aqueles que ouvem o convite do evangelho chamando os pecadores ao arrependimento, e não o atendem, são mais culpados perante Deus do que o foram os moradores do vale de Sidim. E ainda maior pecado é o daqueles que professam conhecer a Deus e guardar os Seus mandamentos, e contudo negam a Cristo em seu caráter e vida diária. À luz da advertência do Salvador, a sorte de Sodoma é um aviso solene, não simplesmente para os que são culpados de pecado declarado, mas a todos que têm em pouca conta a luz e privilégios enviados pelo Céu. PP 111 1 Disse a Testemunha Verdadeira à igreja de Éfeso: "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres". Apocalipse 2:4, 5. O Salvador aguarda a resposta a Seus oferecimentos de amor e perdão, com uma compaixão mais terna do que aquela que move o coração de um pai terrestre para perdoar um filho transviado e sofredor. Ele clama aos errantes: "Tornai-vos para Mim, e Eu tornarei para vós". Malaquias 3:7. Mas se aquele que vagueia, recusa persistentemente atender à voz que o chama com amor compassivo e terno, será finalmente deixado em trevas. O coração que durante muito tempo desdenhou a misericórdia de Deus, torna-se endurecido no pecado, e não mais é susceptível à influência da graça de Deus. Terrível será a sorte da alma da qual o Salvador, pleiteando por sua defesa, declarará finalmente: "Está entregue aos ídolos; deixa-o". Oséias 4:17. Haverá menos rigor no dia do Juízo para as cidades da planície do que para aqueles que conheceram o amor de Cristo, e contudo se desviaram à escolha dos prazeres de um mundo de pecado. PP 111 2 Vós que estais a desdenhar os oferecimentos da misericórdia, pensai nos inúmeros registros que contra vós se acumulam nos livros do Céu: pois há um relatório feito das impiedades das nações, das famílias, dos indivíduos. Deus pode suportar muito enquanto a conta prossegue; e convites ao arrependimento e oferecimentos de perdão podem ser feitos; contudo, tempo virá em que a conta se completará, em que se fez a decisão da alma, em que se fixou o destino do homem pela sua própria escolha. Dar-se-á então o sinal para ser executado o juízo. PP 111 3 Há motivo para alarmar-nos na condição do mundo religioso hoje. Tem-se tido em pouca conta a misericórdia de Deus. A multidão anula a lei de Jeová, "ensinando doutrinas que são preceitos de homens". Mateus 15:9. A incredulidade prevalece em muitas das igrejas de nosso país; não a incredulidade em seu sentido mais amplo, como franca negação da Bíblia, mas uma incredulidade vestida no traje do cristianismo, ao mesmo tempo em que se acha a solapar a fé na Bíblia como revelação de Deus. A devoção fervorosa e a piedade vital deram lugar ao formalismo oco. Como conseqüência prevalecem a apostasia e o sensualismo. Cristo declarou: "Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: [...] assim será no dia em que o Filho do homem Se há de manifestar". Lucas 17:28-30. O registro diário dos acontecimentos que se passam, testifica do cumprimento de Suas palavras. O mundo rapidamente está a amadurecer para a destruição. Logo deverão derramar-se os juízos de Deus, e pecado e pecadores ser consumidos. PP 112 1 Disse o Salvador: "Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra" -- todos cujos interesses estão centralizados neste mundo. "Vigiai pois em todo o tempo, orando para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem". Lucas 21:34-36. PP 112 2 Antes da destruição de Sodoma, Deus enviou uma mensagem a Ló: "Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças". Gênesis 19:17. A mesma voz de advertência foi ouvida pelos discípulos de Cristo, antes da destruição de Jerusalém: "Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes". Lucas 21:20, 21. Não deviam demorar-se para conseguir coisa alguma de suas posses, mas antes aproveitar-se da oportunidade para fugir. PP 112 3 Houve uma saída, uma decidida separação dos ímpios, uma escapada para salvar a vida. Assim foi nos dias de Noé; assim nos dias de Ló; assim aconteceu com os discípulos antes da destruição de Jerusalém; e assim será nos últimos dias. De novo se ouve a voz de Deus em uma mensagem de advertência, mandando Seu povo separar-se da iniqüidade que prevalece. PP 112 4 O estado de corrupção e apostasia que nos últimos dias existiria no mundo religioso, foi apresentado ao profeta João, na visão de Babilônia, "a grande cidade que reina sobre os reis da Terra". Apocalipse 17:18. Antes de sua destruição será feito do Céu o convite: "Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas". Apocalipse 18:4. Como nos dias de Noé e Ló, tem de haver uma separação distinta do pecado e pecadores. Não pode haver transigência entre Deus e o mundo, nem um retrocesso para se conseguirem tesouros terrestres. "Não podeis servir a Deus e a Mamom". Mateus 6:24. PP 112 5 Como os habitantes do vale de Sidim, o povo está sonhando com prosperidade e paz. "Escapa-te por tua vida" -- é a advertência dos anjos de Deus; mas outras vozes são ouvidas a dizer: "Não te deixes excitar; não há motivos para sustos". As multidões clamam: "Paz e segurança" (1 Timóteo 5:3), quando o Céu declara que repentina destruição está para sobrevir ao transgressor. Na noite prévia à sua destruição entregaram-se as cidades da planície aos prazeres turbulentos, e caçoaram dos temores e avisos do mensageiro de Deus; mas esses escarnecedores pereceram nas chamas; naquela mesma noite a porta da misericórdia fechou-se para sempre aos ímpios e descuidados habitantes de Sodoma. Deus não será sempre zombado; não será por muito tempo menosprezado. "Eis que o dia do Senhor vem, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a Terra em assolação, e destruir os pecadores dela". Isaías 13:9. A maioria no mundo rejeitará a misericórdia de Deus, e submergir-se-á na repentina e irreparável ruína. Mas aquele que atender à advertência, habitará "no esconderijo do Altíssimo", e "à sombra do Onipotente descansará". "Sua verdade" será seu "escudo e broquel". Para ele é a promessa: "Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a Minha salvação". Salmos 91:1, 4, 16. PP 113 1 Apenas pouco tempo habitou Ló em Zoar. A iniqüidade prevalecia ali como em Sodoma, e ele temeu ficar pelo receio de ser destruída a cidade. Não muito tempo depois Zoar foi consumida, conforme fora o intuito de Deus. Ló encaminhou-se para as montanhas e habitou em uma caverna, despojado de tudo aquilo por cujo amor ousara sujeitar sua família às influências de uma cidade ímpia. Mas a maldição de Sodoma seguiu-o mesmo ali. A conduta pecaminosa de suas filhas foi o resultado das más associações naquele vil lugar. A corrupção moral do mesmo se entretecera de tal maneira com o caráter delas que não podiam discernir entre o bem e o mal. A única posteridade de Ló, os moabitas e amonitas, foram tribos vis, idólatras, rebeldes a Deus, e inimigos de Seu povo. PP 113 2 Em grande contraste com a vida de Abraão estava a de Ló! Já tinham sido companheiros, adorando no mesmo altar, morando ao lado um do outro em suas tendas de peregrinos; mas quão diversamente diferençados agora! Ló escolhera Sodoma para seu prazer e proveito. Deixando o altar de Abraão e seu sacrifício diário ao Deus vivo, permitira a seus filhos misturar-se com um povo corrupto e idólatra; retivera contudo em seu coração o temor de Deus, pois declaram as Escrituras ter sido ele um homem "justo"; sua alma justa enfadava-se com a conversação vil que diariamente vinha a seus ouvidos, e ele era impotente para impedir a violência e o crime. Foi finalmente salvo como "um tição tirado do fogo" (Zacarias 3:2), despojado contudo de suas posses, privado da esposa e filhos, habitando em cavernas, como os animais selvagens, coberto de infâmia em sua velhice; e deu ao mundo, não uma raça de homens justos, mas duas nações idólatras, em inimizade com Deus e a guerrear contra o Seu povo, até que, enchendo-se sua taça de iniqüidade, foram destinadas à destruição. Quão terríveis foram os resultados que se seguiram a um passo desacertado! PP 113 3 Diz o sábio: "Não te canses para enriqueceres; dá de mão à tua própria sabedoria". Provérbios 23:4. "O que se dá à cobiça perturba a sua casa, mas o que aborrece as dádivas viverá". Provérbios 15:27. E o apóstolo Paulo declara: "Os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína". 1 Timóteo 6:9. PP 113 4 Quando Ló entrou em Sodoma, inteiramente se propunha ele conservar-se livre da iniqüidade, e ordenar a sua casa depois dele. Mas, de maneira bem patente, fracassou. As influências corruptoras em redor dele tiveram efeito sobre sua fé, e a relação de seus filhos para com os habitantes de Sodoma ligaram até certo ponto seus interesses com os deles. O resultado está diante de nós. PP 114 1 Muitos ainda estão cometendo erro semelhante. Escolhendo um lar, olham mais para as vantagens temporais que podem adquirir do que para as influências morais e sociais que cercarão a eles e suas famílias. Escolhem um território belo e fértil, ou mudam-se para alguma cidade florescente, na esperança de conseguir maior prosperidade; mas seus filhos se acham rodeados de tentações, e muitas vezes formam camaradagens que são desfavoráveis ao desenvolvimento da piedade e à formação de um caráter reto. A atmosfera de moralidade frouxa, de incredulidade, de indiferença às coisas religiosas, tem uma tendência para contrariar a influência dos pais. Exemplos de rebelião contra a autoridade paternal, e divina, estão sempre diante dos jovens; muitos fazem amizades com ateus e incrédulos, e lançam sua sorte com os inimigos de Deus. PP 114 2 Ao escolhermos uma residência, Deus quer que consideremos antes de tudo as influências morais e religiosas que nos rodearão, a nós e a nossas famílias. Podemos achar-nos em situações difíceis, pois que muitos não podem ter o seu ambiente conforme quereriam; e, onde quer que o dever nos chame, Deus nos habilitará a permanecer incontaminados, se orarmos e vigiarmos, confiando na graça de Cristo. Mas não devemos expor-nos desnecessariamente a influências desfavoráveis à formação de caráter cristão. Quando voluntariamente nos colocamos em uma atmosfera de mundanismo e incredulidade, desagradamos a Deus, e de nossos lares repelimos os santos anjos. PP 114 3 Aqueles que procuram para seus filhos riquezas e honras mundanas, às expensas de seus interesses eternos, acharão no fim que estas vantagens são uma perda terrível. Semelhantes a Ló, muitos vêem seus filhos na perdição, e apenas conseguem salvar sua própria alma. Perde-se o trabalho de sua vida; esta é um triste malogro. Se tivessem exercido verdadeira sabedoria, seus filhos poderiam ter tido menos prosperidade mundana, mas ter-se-iam assegurado um título à herança imortal. PP 114 4 A herança que Deus prometeu a Seu povo não está neste mundo. Abraão não teve possessão na Terra, "nem ainda o espaço de um pé". Atos dos Apóstolos 7:5. Ele possuía muitos recursos, e deles fazia uso para a glória de Deus e para o bem de seus semelhantes; mas não olhava para este mundo como sua pátria. PP 114 5 O Senhor o chamara para deixar seus patrícios idólatras, com a promessa da terra de Canaã em possessão eterna; todavia nem ele, nem seu filho, nem o filho de seu filho, a recebeu. Quando Abraão quis um lugar para sepultar seus mortos teve de comprá-lo aos cananeus. Sua única possessão na terra da promessa foi aquele túmulo cavado na pedra, na caverna de Macpela. PP 115 1 A palavra de Deus, porém, não havia falhado; tampouco teve ela o seu cumprimento final na ocupação de Canaã pelo povo judeu. "As promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade". Gálatas 3:16. O próprio Abraão deveria participar da herança. O cumprimento da promessa de Deus pode parecer achar-se muito demorado, pois "um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" (2 Pedro 3:8); pode parecer tardar; mas no tempo adequado "certamente virá, não tardará". Hebreus 2:3. A dádiva a Abraão e sua semente incluirá não simplesmente a região de Canaã, mas a Terra toda. Assim, diz o apóstolo: "A promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé". Romanos 4:13. E a Bíblia claramente ensina que as promessas feitas a Abraão devem cumprir-se por meio de Cristo. Todos os que são de Cristo são "descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa" -- herdeiros de uma "herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar" (Gálatas 3:19; 1 Pedro 1:4), a saber, a Terra livre da maldição do pecado. Pois "o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos, debaixo de todo o céu, serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Daniel 7:27); e "os mansos herdarão a Terra, e se deleitarão na abundância de paz". Salmos 37:11. PP 115 2 Deus proporcionou a Abraão uma perspectiva desta herança imortal, e com esta esperança ele se contentou. "Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus". Hebreus 11:9, 10. PP 115 3 A respeito da posteridade de Abraão está escrito: "Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas, vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na Terra". Hebreus 11:13. Devemos morar neste mundo como peregrinos e estrangeiros se quisermos alcançar uma pátria "melhor, isto é, a celestial". Hebreus 11:16. Aqueles que são filhos de Abraão estarão a procurar a cidade que ele estava, "da qual o artífice e construtor é Deus". ------------------------Capítulo 15 -- O casamento de Isaque PP 116 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 24. PP 116 1 Abraão se tornara velho, e esperava logo morrer; todavia, restava-lhe cumprir um ato, assegurando o cumprimento da promessa à sua posteridade. Isaque era o que fora divinamente designado para suceder-lhe como guarda da lei de Deus, e ser pai do povo escolhido; ele, porém, ainda era solteiro. Os habitantes de Canaã eram dados à idolatria, e Deus havia proibido casamentos entre o Seu povo e aqueles, sabendo que tais casamentos conduziriam à apostasia. O patriarca receou o efeito das influências corruptoras que rodeavam seu filho. A fé habitual de Abraão em Deus, e sua submissão à vontade dEle, refletiam-se no caráter de Isaque; mas as afeições do jovem eram fortes, e ele era de uma disposição gentil e dócil. Unindo-se a alguém que não temesse a Deus, ele estaria em perigo de sacrificar os princípios por amor à harmonia. No espírito de Abraão, a escolha de uma esposa para seu filho era assunto de muita importância; estava desejoso de que ele se casasse com uma que não o afastasse de Deus. PP 116 2 Nos tempos antigos, os contratos de casamento eram geralmente feitos pelos pais; e este era o costume entre os que adoravam a Deus. De ninguém se exigia casar com aquele a quem não podia amar; mas na concessão de suas afeições o jovem era guiado pelo discernimento de seus pais experientes e tementes a Deus. Era considerado uma desonra para os pais, e mesmo crime, seguir caminho contrário a este. PP 116 3 Isaque, confiando na sabedoria e afeição de seu pai, estava satisfeito com a entrega desta questão a ele, crendo também que o próprio Deus dirigiria na escolha a fazer-se. Os pensamentos do patriarca volveram para os parentes de seu pai, na terra de Mesopotâmia. Posto que não estivessem livres de idolatria, acalentavam o conhecimento e o culto do verdadeiro Deus. Isaque não devia sair de Canaã para ir a eles; mas poderia ser que se encontrasse entre eles alguma mulher que quisesse deixar seu lar, e unir-se a ele para manter em sua pureza o culto ao Deus vivo. Abraão confiou este importante assunto "ao seu servo, o mais velho", homem de piedade, experiência, e juízo são, que lhe havia prestado prolongado e fiel serviço. Exigiu que este servo fizesse um juramento solene perante o Senhor, de que não tomaria esposa para Isaque dentre os cananeus, mas que escolheria uma moça da família de Naor, na Mesopotâmia. Ele o incumbiu de não levar Isaque para lá. Se não pudesse encontrar uma jovem que quisesse deixar seus parentes, o mensageiro estaria desobrigado de seu juramento. O patriarca animou-o em seu difícil e delicado empreendimento, com a segurança de que Deus coroaria de êxito a sua missão. "O Senhor, Deus dos Céus", disse ele, "que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, [...] enviará o Seu anjo adiante da tua face". Gênesis 24:7. PP 117 1 O mensageiro partiu sem demora. Levando consigo dez camelos para uso de seu próprio grupo e do cortejo nupcial que com ele poderia voltar, provido também de presentes para a esposa em perspectiva e pessoas da amizade desta, fez a longa viagem para além de Damasco, e, a seguir, até as ricas planícies que margeiam o grande rio do Oriente. Chegando a Harã, "a cidade de Naor", parou fora dos muros, perto do poço aonde vinham as mulheres do lugar, à tarde, a buscar água. Foi um momento de ansiosos pensamentos para ele. Importantes resultados, não somente para a casa de seu senhor, mas para as gerações futuras, poderiam seguir-se da escolha que ele fizesse; e como deveria ele sabiamente escolher entre pessoas completamente estranhas? Lembrando-se das palavras de Abraão, de que Deus enviaria com ele o Seu anjo, orou fervorosamente pedindo uma direção positiva. Na família de seu senhor ele estava acostumado ao exercício constante da bondade e hospitalidade, e agora pediu que um ato de cortesia indicasse a jovem que Deus escolhera. PP 117 2 Apenas proferira a oração, e a resposta fora dada. Entre as mulheres que estavam reunidas junto ao poço, as maneiras corteses de uma atraíram sua atenção. Retirando-se ela do poço, o estranho foi ao seu encontro, pedindo um pouco de água do cântaro sobre os seus ombros. O pedido recebeu amável resposta, juntamente com um oferecimento para tirar água para os camelos também, serviço este que era costume mesmo às filhas dos príncipes fazerem para os rebanhos e gado de seus pais. Assim foi dado o sinal desejado. A jovem "era mui formosa à vista", e sua diligente cortesia deu prova de bom coração, e uma natureza ativa, enérgica. Até aí a mão divina estivera com ele. Depois de reconhecer sua bondade por meio de ricos presentes, o mensageiro perguntou quem eram os seus parentes, e, sabendo que ela era filha de Betuel, sobrinho de Abraão, "inclinou-se" e "adorou o Senhor". Gênesis 24:26. PP 117 3 O homem havia pedido acolhida em casa do pai da moça e nas expressões de agradecimento por parte dele revelara o fato de sua ligação com Abraão. Voltando para casa, a moça contou o que acontecera, e Labão, seu irmão, logo se apressou a levar o estranho e os que o acompanhavam para participarem da hospitalidade deles. PP 117 4 Eliézer não quis participar do alimento antes que houvesse transmitido sua mensagem, falado sobre sua oração ao lado do poço, juntamente com todas as circunstâncias que a acompanharam. Então disse ele: "Agora, pois, se vós haveis de mostrar beneficência e verdade a meu senhor, fazei-mo saber; e se não, também mo fazei saber, para que eu olhe à mão direita, ou à esquerda." A resposta foi: "Do Senhor procedeu este negócio; não podemos falar-te mal ou bem. Eis que Rebeca está diante da tua face; toma-a, e vai-te; seja a mulher do filho de teu senhor, como tem dito o Senhor". Gênesis 24:50, 51. PP 118 1 Depois de obter-se o consentimento da família, a própria Rebeca foi consultada quanto a ir ela a uma tão grande distância da casa de seu pai para casar-se com o filho de Abraão. Ela acreditava, pelo que havia tido lugar, que Deus a escolhera para ser a esposa de Isaque, e disse: "Irei". Gênesis 24:58. PP 118 2 O servo, prevendo a alegria de seu senhor pelo êxito de sua missão, estava ansioso por partir; e pela manhã puseram-se a caminho para casa. Abraão morava em Berseba, e Isaque, que estivera cuidando dos rebanhos nos territórios circunvizinhos, voltara à tenda de seu pai a fim de esperar a chegada do mensageiro, de Harã. "E Isaque saíra a orar no campo, sobre a tarde; e levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os camelos vinham. Rebeca também levantou seus olhos, e viu a Isaque, e lançou-se do camelo. E disse ao servo: Quem é aquele varão que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu, e cobriu-se. E o servo contou a Isaque todas as coisas que fizera. E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe". Gênesis 24:63-67. PP 118 3 Abraão tinha notado o resultado dos casamentos mistos entre aqueles que temiam a Deus e os que O não temiam, desde os dias de Caim até o seu tempo. As conseqüências de seu próprio casamento com Hagar, e das alianças matrimoniais de Ismael e de Ló, estavam perante ele. Da falta de fé por parte de Abraão e Sara tinha resultado o nascimento de Ismael, mistura da semente justa com a ímpia. A influência do pai sobre seu filho era contrariada pela dos parentes idólatras da mãe, e pela ligação de Ismael com esposas gentias. A inveja de Hagar, e das esposas que ela escolhera para Ismael, rodeou sua família com uma barreira que Abraão em vão se esforçou por sobrepujar. PP 118 4 Os primeiros ensinos de Abraão não foram destituídos de efeito sobre Ismael, mas a influência de suas mulheres teve como resultado estabelecer a idolatria em sua família. Separado do pai, e amargurado pela contenda e discórdia de um lar destituído do amor e temor de Deus, Ismael foi compelido a escolher a vida selvagem e pilhante de chefe do deserto, sendo sua mão contra todos e a mão de todos contra ele. Gênesis 16:12. Em seus últimos dias arrependeu-se de seus maus caminhos, e voltou ao Deus de seu pai; mas permaneceu o cunho de caráter dado à sua posteridade. A poderosa nação que dele descendera foi um povo turbulento, gentio, que sempre foi um incômodo e aflição aos descendentes de Isaque. PP 118 5 A esposa de Ló foi mulher egoísta, irreligiosa, e sua influência exerceu-se no sentido de separar de Abraão o seu marido. A não ter sido por causa dela, Ló não teria permanecido em Sodoma, privado do conselho do patriarca sábio e temente a Deus. A influência de sua esposa e as relações entretidas naquela ímpia cidade, tê-lo-iam levado a apostatar de Deus, se não tivesse sido a instrução fiel que cedo recebera de Abraão. O casamento de Ló e sua escolha de Sodoma como residência, foram os primeiros elos em uma cadeia de acontecimentos repletos de males para o mundo durante muitas gerações. PP 119 1 Pessoa alguma que tema a Deus, pode, sem perigo, ligar-se a outra que O não tema. "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" Amós 3:3. A felicidade e prosperidade da relação matrimonial depende da unidade dos cônjuges; mas entre o crente e o incrédulo há uma diferença radical de gostos, inclinações e propósitos. Estão a servir dois senhores, entre os quais não pode haver concórdia. Por mais puros e corretos que sejam os princípios de um, a influência de um companheiro ou companheira incrédula terá uma tendência para afastar de Deus. PP 119 2 A pessoa que entrou para a relação matrimonial quando ainda não convertida, coloca-se pela sua conversão sob uma obrigação maior de ser fiel ao consorte, por mais que difiram com respeito à fé religiosa; todavia, as reivindicações de Deus devem ser postas acima de toda a relação terrena, mesmo que provas e perseguições possam ser o resultado. Com espírito de amor e mansidão, esta fidelidade pode ter influência no sentido de ganhar o descrente. Mas o casamento de cristãos com ímpios é proibido na Bíblia. A instrução do Senhor é: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis". 2 Coríntios 6:14. PP 119 3 Isaque foi altamente honrado por Deus, sendo feito herdeiro das promessas pelas quais o mundo deveria ser bendito; entretanto, aos quarenta anos de idade, sujeitou-se ao ensino de seu pai ao designar seu servo experimentado e temente a Deus, a fim de escolher-lhe uma esposa. E o resultado daquele casamento, conforme é apresentado nas Escrituras, é um quadro terno e belo, de felicidade doméstica: "E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a. Assim, Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe". Gênesis 24:67. PP 119 4 Que contraste entre o procedimento de Isaque e o que é praticado pelos jovens de nossos tempos, mesmo entre os professos cristãos! Os jovens mui freqüentemente acham que a entrega de suas afeições é uma questão na qual o eu apenas deveria ser consultado, questão esta que nem Deus nem os pais de qualquer modo deveriam dirigir. Muito antes de atingirem a idade de homens ou mulheres feitos, julgam-se competentes para fazer sua escolha, sem o auxílio de seus pais. Alguns anos de vida conjugal são usualmente bastantes para mostrar-lhes seu erro, mas muitas vezes demasiado tarde para impedir seus resultados funestos. Pela mesma falta de prudência e domínio próprio que determinaram a escolha precipitada, dá-se ocasião a que o mal se agrave, até que a relação matrimonial se torne um jugo mortificante. Muitos assim fizeram naufragar sua felicidade nesta vida, e sua esperança da vida futura. PP 120 1 Se há um assunto que deve ser cuidadosamente considerado, e no qual se deve procurar o conselho de pessoas mais velhas e experientes, é o do casamento; se a Bíblia já foi necessária como conselheira, se a direção divina em algum tempo deveria ser procurada em oração, é antes de dar um passo que liga pessoas entre si para toda a vida. Os pais nunca devem perder de vista sua responsabilidade pela felicidade futura de seus filhos. O respeito de Isaque aos conselhos de seu pai foi o resultado do ensino que o habilitou a amar uma vida de obediência. Ao mesmo tempo em que Abraão exigia de seus filhos que respeitassem a autoridade paterna, sua vida diária testificava que essa autoridade não era um domínio egoísta ou arbitrário, mas que se fundava no amor, e tinha em vista o bem-estar e felicidade deles. PP 120 2 Pais e mães devem sentir que se lhes impõe o dever de guiar as afeições dos jovens, a fim de que possam ser colocadas naqueles que hajam de ser companheiros convenientes. Devem sentir como seu dever, pelo seu próprio ensino e exemplo, com a graça auxiliadora de Deus, modelar de tal maneira o caráter de seus filhos desde os seus mais tenros anos, que sejam puros e nobres, e sejam atraídos para o bem e para o verdadeiro. Os semelhantes atraem os semelhantes; os semelhantes apreciam os semelhantes. Que o amor pela verdade, pureza e bondade seja cedo implantado na alma, e o jovem procurará a companhia daqueles que possuem essas características. PP 120 3 Procurem os pais, em seu próprio caráter e vida doméstica, exemplificar o amor e a beneficência do Pai celestial. Que no lar prevaleça uma atmosfera prazenteira. Isto será de muito mais valor para vossos filhos do que terras ou dinheiro. Que o amor doméstico se conserve vivo em seus corações, para que possam volver o olhar ao lar de sua meninice como um lugar de paz e felicidade, abaixo do Céu. Os membros da família não têm todos o mesmo cunho de caráter, e haverá freqüentes ocasiões para o exercício da paciência e longanimidade; mas, pelo amor e disciplina própria, todos poderão estar ligados na mais íntima união. PP 120 4 O verdadeiro amor é um princípio elevado e santo, inteiramente diferente em seu caráter daquele amor que se desperta por um impulso e que subitamente morre quando severamente provado. É pela fidelidade para com o dever na casa paterna que os jovens devem preparar-se para os próprios lares. Pratiquem eles aqui a abnegação, e manifestem bondade, cortesia e simpatia cristã. Desse modo o amor será mantido cálido em seu coração, e aquele que parte de um lar assim, para se colocar como chefe da própria família, saberá como promover a felicidade daquela que escolheu para companheira de toda a vida. O casamento, em vez de ser o final do amor, será tão-somente seu começo. ------------------------Capítulo 16 -- Jacó e Esaú PP 121 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 25:19-24; 27. PP 121 1 Jacó e Esaú, os filhos gêmeos de Isaque, apresentam um notável contraste, tanto no caráter como na vida. Esta dessemelhança foi predita pelo anjo de Deus antes de seu nascimento. Quando em resposta à aflita oração de Rebeca, Ele declarou que dois filhos lhe seriam dados, revelou-lhe a história futura dos mesmos, de que cada um se tornaria a cabeça de uma poderosa nação, mas que um seria maior do que o outro, e que o mais moço teria preeminência. PP 121 2 Esaú cresceu amando a satisfação própria, e centralizando todo o seu interesse no presente. Não tolerando restrições, deleitava-se na liberdade selvagem da caça, e cedo escolhera a vida de caçador. Contudo, era o favorito do pai. O pastor silencioso e amante da paz era atraído pela ousadia e vigor desse filho mais velho, que destemidamente percorria montanhas e desertos, voltando para casa com caça para seu pai, e com narrativas sensacionais de sua vida aventurosa. Jacó, ponderado, diligente e cuidadoso, pensando sempre mais no futuro do que no presente, contentava-se com permanecer em casa, ocupado no cuidado dos rebanhos e no cultivo do solo. Sua paciente perseverança, economia e previsão eram apreciadas pela mãe. Suas afeições eram profundas e fortes, e suas atenções gentis e incansáveis contribuíam muito mais para a felicidade dela do que o fazia a amabilidade turbulenta e ocasional de Esaú. Para Rebeca, Jacó era o filho mais querido. PP 121 3 As promessas feitas a Abraão e confirmadas a seu filho, eram tidas por Isaque e Rebeca como o grande objetivo de seus desejos e esperanças. Com estas promessas Esaú e Jacó estavam familiarizados. Foram ensinados a considerar a primogenitura como coisa de grande importância, pois que incluía não somente a herança das riquezas terrestres, mas a preeminência espiritual. Aquele que a recebia devia ser o sacerdote de sua família; e na linhagem de sua posteridade viria o Redentor do mundo. De outro lado, havia obrigações que repousavam sobre o possuidor da primogenitura. Aquele que herdasse suas bênçãos devia dedicar a vida ao serviço de Deus. Como Abraão, devia ser obediente aos mandos divinos. Em seu casamento, nas relações familiares, na vida pública, devia consultar a vontade de Deus. PP 121 4 Isaque fez saber a seus filhos esses privilégios e condições, e claramente declarou que Esaú, como o mais velho, era o que tinha direito à primogenitura. Esaú, porém, não tinha amor à devoção nem inclinação para uma vida religiosa. Os requisitos que acompanhavam a primogenitura espiritual eram para ele uma restrição importuna e mesmo odiosa. A lei de Deus, que era a condição do concerto divino com Abraão, era considerada por Esaú como um jugo de escravidão. Propenso à satisfação própria, nada desejava tanto como a liberdade para fazer conforme lhe agradasse. Para ele, poderio e riquezas, festas e orgias, eram felicidade. Ele se gloriava na liberdade sem restrições de sua vida selvagem e errante. Rebeca lembrava-se das palavras do anjo, e lia com mais clara penetração do que o fazia seu marido, o caráter de seus filhos. Estava convicta de que a herança da promessa divina destinava-se a Jacó. Ela repetia a Isaque as palavras do anjo; mas as afeições do pai centralizavam-se no filho mais velho, e ele era inabalável em seu propósito. PP 122 1 Jacó soubera por sua mãe da indicação divina de que a primogenitura lhe recairia, e encheu-se de um indescritível desejo de obter os privilégios que a mesma conferia. Não era a posse da riqueza de seu pai o que ele desejava ansiosamente; a primogenitura espiritual era o objeto de seu anelo. Ter comunhão com Deus, como fizera o justo Abraão, oferecer o sacrifício expiatório por sua família, ser o pai do povo escolhido, e do Messias prometido, e herdar a posse imortal que estava compreendida nas bênçãos do concerto -- eis aí os privilégios e honras que acendiam os seus mais ardentes desejos. Seu espírito estava sempre a penetrar o futuro, e procurava apreender suas bênçãos invisíveis. PP 122 2 Com um anelo secreto escutava tudo que seu pai dizia com relação à primogenitura espiritual; entesourava cuidadosamente o que aprendera de sua mãe. Dia e noite o assunto lhe ocupava os pensamentos, até que se tornou o interesse absorvente de sua vida. Mas, conquanto Jacó assim estimasse as bênçãos eternas mais do que as temporais, não tinha um conhecimento experimental do Deus a quem ele venerava. Seu coração não se havia renovado pela graça divina. Acreditava que a promessa relativa a si não se poderia cumprir enquanto Esaú retivesse os direitos de primogênito, e procurava constantemente descobrir um meio pelo qual pudesse conseguir a bênção que em tão pouca conta era tida por seu irmão, mas que para ele era tão preciosa. PP 122 3 Quando Esaú, um dia, voltando da caça desfalecido e cansado, pediu o alimento que Jacó estava preparando, este, para quem um pensamento era sempre preeminente, aproveitou-se da situação, e ofereceu-se para matar a fome de seu irmão pelo preço da primogenitura. "Eis que estou a ponto de morrer", exclamou o caçador descuidado e condescendente consigo mesmo, "e para que me servirá logo a primogenitura?" Gênesis 25:32. E por um prato de guisado vermelho desfez-se de sua primogenitura, e confirmou a transação por meio de um juramento. Um pouco de tempo, quando muito, ter-lhe-ia assegurado alimento nas tendas de seu pai; mas para satisfazer o desejo do momento, indiferente fez permuta da gloriosa herança que o próprio Deus prometera a seus pais. Todo o seu interesse estava no presente. Estava pronto para sacrificar as coisas celestes pelas terrestres, para trocar um bem futuro por uma satisfação momentânea. "Assim desprezou Esaú a sua primogenitura". Gênesis 25:34. Dispondo dela, experimentou uma sensação de alívio. Agora seu caminho estava desimpedido; podia fazer como quisesse. Por este prazer desenfreado, erroneamente chamado liberdade, quantos ainda estão a vender o seu direito de primogenitura a uma herança pura e incontaminada, eterna, nos Céus! PP 123 1 Sempre sujeito às meras aparências e atrações terrenas, Esaú tomou duas mulheres das filhas de Hete. Eram adoradoras de deuses falsos, e sua idolatria acarretava uma dor amargurada para Isaque e Rebeca. Esaú tinha violado uma das condições do concerto, que proibia o casamento misto entre o povo escolhido e os gentios; Isaque, todavia, ainda estava inabalável em sua intenção de conferir-lhe a primogenitura. O raciocínio de Rebeca, o desejo veemente de Jacó pela bênção, e a indiferença de Esaú pelas obrigações da mesma bênção, não tiveram o efeito de modificar o intuito do pai. PP 123 2 Passaram-se anos, até que Isaque, velho e cego, e esperando logo morrer, resolveu não mais demorar a concessão da bênção a seu filho mais velho. Mas, sabendo da oposição de Rebeca e Jacó, decidiu-se a realizar a solene cerimônia em segredo. De acordo com o costume de fazer um banquete em tais ocasiões, o patriarca deu ordem a Esaú: "Sai ao campo, e apanha para mim alguma caça, e faze-me um guisado saboroso, [...] para que minha alma te abençoe, antes que morra". Gênesis 27:3, 4. PP 123 3 Rebeca adivinhou o seu propósito. Ela estava certa de que isto era contrário ao que Deus revelara como Sua vontade. Isaque estava no perigo de incorrer no desagrado divino, e de privar seu filho mais moço da posição para a qual Deus o chamara. Em vão, ela tentou argumentar com Isaque; e decidiu recorrer à sutileza. PP 123 4 Mal partira Esaú em sua incumbência, Rebeca entregou-se à realização de seu intuito. Contou a Jacó o que acontecera, insistindo na necessidade de ação imediata para impedir a concessão da bênção, de maneira final e irrevogável, a Esaú. E afirmou a seu filho que, se seguisse suas instruções, poderia obtê-la, conforme Deus prometera. Jacó não consentiu facilmente no plano que ela propunha. O pensamento de enganar a seu pai causava-lhe grande angústia. Sentia que tal pecado traria maldição em vez de bênção. Mas seus escrúpulos foram vencidos, e começou a pôr em execução as sugestões de sua mãe. Não era sua intenção proferir uma falsidade direta; mas, uma vez na presença de seu pai, pareceu-lhe ter ido demasiado longe para voltar, e obteve pela fraude a cobiçada bênção. PP 123 5 Jacó e Rebeca foram bem-sucedidos em seu propósito, mas ganharam apenas inquietações e tristeza por seu engano. Deus declarara que Jacó receberia a primogenitura, e Sua palavra ter-se-ia cumprido ao tempo que Lhe aprouvesse, se tivessem pela fé esperado por Ele a fim de operar em favor deles. Mas, semelhantes a muitos que hoje professam ser filhos de Deus, não estiveram dispostos a deixar esta questão em Suas mãos. Rebeca arrependera-se amargamente do mau conselho que dera a seu filho; tal fora o meio de separá-lo dela, e nunca mais lhe viu o rosto. Desde a hora em que recebeu a primogenitura, Jacó sentiu sobre si o peso da condenação própria. Tinha pecado contra o pai, o irmão, a própria alma, e contra Deus. Em uma rápida hora, efetuara uma ação para o arrependimento de uma vida. Vívida se achava esta cena diante dele nos anos posteriores, quando o procedimento ímpio de seus próprios filhos lhe oprimia a alma. PP 124 1 Apenas saíra Jacó da tenda de seu pai, entrou Esaú. Posto que ele houvesse vendido sua primogenitura, e confirmado esta transferência por meio de um juramento solene, estava agora resolvido a obter as bênçãos da mesma, sem tomar em consideração o direito de seu irmão. Com a primogenitura espiritual estava ligada a temporal, a qual lhe proporcionaria a chefia da família, e a posse de uma porção da riqueza de seu pai. Tais eram as bênçãos a que ele dava apreço. "Levanta-te, meu pai, e come da caça de teu filho", disse ele, "para que me abençoe a tua alma". Gênesis 27:19. PP 124 2 A tremer de espanto e angústia, o velho pai cego soube do engano que havia sido praticado contra ele. Suas esperanças, prolongada e ternamente acalentadas, tinham-se frustrado, e sentiu profundamente o desapontamento que deveria sobrevir a seu filho mais velho. Contudo, subitamente passou-lhe pela mente a convicção de que fora a providência de Deus que frustrara seu propósito e fazendo acontecer o que ele havia resolvido impedir. Lembrou-se das palavras do anjo a Rebeca, e, apesar do pecado de que Jacó era agora culpado, viu nele o que em melhores condições estava para cumprir os propósitos de Deus. Enquanto as palavras de bênçãos estavam em seus lábios, havia ele sentido sobre si o Espírito de inspiração; e agora, conhecendo todas as circunstâncias, ratificou a bênção involuntariamente pronunciada sobre Jacó: "Abençoei-o; também será bendito". Gênesis 27:33. PP 124 3 Esaú havia tido em pouca conta a bênção enquanto esta parecia ao seu alcance, mas desejava possuí-la agora que a mesma se havia dele retirado para sempre. Toda a força de sua natureza impulsiva e apaixonada despertou-se, e sua dor e raiva foram terríveis. Clamou com um brado excessivamente amargo: "Abençoa-me também a mim, meu pai." "Não reservaste pois para mim bênção alguma?" Gênesis 27:38, 36. Mas a promessa dada não devia ser revogada. A primogenitura que ele tão descuidadamente dera em troca, não a poderia readquirir agora. "Por um manjar", ou seja, por uma satisfação momentânea do apetite, o qual nunca fora restringido, Esaú vendeu sua herança; mas, quando viu sua loucura, era demasiado tarde para recuperar a bênção. "Não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou". Hebreus 12:16, 17. A Esaú não foi excluído o privilégio de buscar o favor de Deus pelo arrependimento; mas não podia encontrar meios para recuperar a primogenitura. Sua mágoa não se originava da convicção do pecado; não desejava reconciliar-se com Deus. Entristecia-se por causa dos resultados de seu pecado, mas não pelo próprio pecado. PP 125 1 Devido à sua indiferença para com as bênçãos e preceitos divinos, Esaú é nas Escrituras chamado "profano". Hebreus 12:16. Representa aqueles que têm em pouco valor a redenção a eles comprada por Cristo, e estão prontos para sacrificar sua herança no Céu por amor às coisas perecíveis da Terra. Multidões vivem para o presente, sem qualquer pensamento ou cuidado pelo futuro. Como Esaú, clamam: "Comamos e bebamos que amanhã morreremos". 1 Coríntios 15:32. São governados pela inclinação; e de preferência a praticar a abnegação renunciam às mais valiosas considerações. No caso em que uma destas coisas deva ser abandonada -- ou a satisfação de um apetite depravado, ou as bênçãos celestiais prometidas somente ao abnegado e temente a Deus -- prevalecem as exigências do apetite, e Deus e o Céu são virtualmente desprezados. Quantos, mesmo dos professos cristãos, aderem a certas satisfações que são prejudiciais à saúde, e que embotam as sensibilidades da alma! Quando se apresenta o dever de se purificarem de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus, escandalizam-se. Vêem que não podem reter estas nocivas satisfações e ao mesmo tempo alcançar o Céu; e concluem que, visto ser o caminho da vida eterna tão estreito, não mais andarão nele. PP 125 2 Multidões estão a vender seu direito de primogenitura pela satisfação sensual. A saúde é sacrificada, as faculdades mentais enfraquecidas, e perdido o Céu; e tudo por um simples prazer temporário -- condescendência que debilita e avilta ao mesmo tempo. Assim como Esaú despertou-se para ver a loucura de sua permuta precipitada quando era demasiado tarde para recuperar sua perda, assim será no dia de Deus para aqueles que houverem trocado sua herança no Céu pela satisfação egoísta. ------------------------Capítulo 17 -- Fuga e exílio de Jacó PP 126 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 28-31. PP 126 1 Ameaçado de morte pela ira de Esaú, Jacó saiu da casa de seu pai como fugitivo; mas levava consigo a bênção paterna; Isaque lhe havia renovado a promessa do concerto, e mandara-lhe como herdeiro da mesma, procurar uma esposa na família de sua mãe, na Mesopotâmia. Foi, todavia, com coração profundamente perturbado que Jacó partiu em sua viagem solitária. Apenas com um bastão na mão, teve de viajar centenas de quilômetros através de território habitado por tribos selvagens e errantes. Em seu remorso e timidez, procurou evitar os homens, com receio de que a pista lhe fosse descoberta pelo irado irmão. Temia que houvesse perdido para sempre a bênção que fora o propósito de Deus proporcionar-lhe; e Satanás estava a postos a fim de oprimi-lo com tentações. PP 126 2 A noite do dia seguinte encontrou-o longe das tendas de seu pai. Sentia-se como um rejeitado; e sabia que toda esta inquietação fora trazida sobre ele pelo seu próprio procedimento errado. As trevas do desespero oprimiam-lhe a alma, e atrevia-se dificilmente a orar. Mas achava-se tão completamente só que sentiu necessidade da proteção de Deus, como nunca antes a sentira. Com pranto e profunda humilhação confessou seu pecado, e rogou uma prova de que ele não estava inteiramente abandonado. O coração sobrecarregado não encontrou ainda alívio. Havia perdido toda a confiança em si, e receava que o Deus de seus pais o houvesse rejeitado. PP 126 3 Mas Deus não abandonou Jacó. Sua misericórdia ainda se estendia a Seu servo, e errante e destituído de confiança. O Senhor, com compaixão, revelou precisamente o que Jacó necessitava -- um Salvador. Ele tinha pecado; seu coração, porém, se enchera de gratidão, ao ver ele revelado um caminho pelo qual podia ser restabelecido ao favor de Deus. PP 126 4 Cansado da jornada, o viajante deitou-se no chão, tendo uma pedra como travesseiro. Dormindo, viu uma escada, brilhante e resplendente, cuja base repousava na terra, enquanto o cimo alcançava o Céu. Por esta escada, anjos estavam a subir e a descer; por sobre ela estava o Senhor da glória, e dos Céus foi ouvida a Sua voz: "Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque." A terra em que estava deitado como um exilado e fugitivo, foi prometida a ele e sua posteridade, com esta declaração: "Em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da Terra". Gênesis 28:13, 14. Esta promessa tinha sido feita a Abraão e Isaque, e agora foi renovada a Jacó. Então, em atenção especial à sua solidão e angústia, naquele momento, foram proferidas estas palavras de conforto e animação: "Eis que Eu estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito". Gênesis 28:13-15. PP 127 1 O Senhor conhecia as más influências que cercariam Jacó, e os perigos a que estaria exposto. Misericordiosamente patenteou o futuro ante o fugitivo arrependido, para que ele pudesse compreender o propósito divino com relação a si, e estar preparado para resistir às tentações que certamente lhe viriam quando só entre homens idólatras e ardilosos. Sempre estaria diante dele a elevada norma que devia visar; e o conhecimento de que por meio dele o propósito de Deus estava a atingir sua realização, prontificá-lo-ia constantemente à fidelidade. PP 127 2 Nesta visão o plano da redenção foi apresentado a Jacó, não completamente, mas nas partes que para ele eram essenciais naquela ocasião. A escada mística que lhe fora revelada no sonho era a mesma a que Cristo Se referiu em Sua conversa com Natanael. Disse Ele: "Vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do homem". João 1:51. Até o tempo da rebelião do homem contra o governo de Deus, tinha havido livre comunicação entre Deus e o homem. Mas o pecado de Adão e Eva separou a Terra do Céu, de modo que o homem não podia ter comunhão com seu Criador. Todavia, o mundo não foi deixado em uma solitária desesperança. A escada representa Jesus, o meio designado para a comunicação. Não houvesse Ele com Seus próprios méritos estabelecido uma passagem através do abismo que o pecado efetuou, e os anjos ministradores não podiam ter comunhão com o homem decaído. Cristo liga o homem em sua fraqueza e desamparo, à fonte do poder infinito. PP 127 3 Tudo isto foi revelado a Jacó no sonho. Se bem que sua mente de pronto apreendesse parte da revelação, as grandes e misteriosas verdades da mesma foram o estudo de sua vida toda, e mais e mais se lhe desvendava à compreensão. PP 127 4 Jacó despertou do sono no profundo silêncio da noite. As formas resplandecentes da visão haviam desaparecido. Apenas o obscuro contorno das colinas solitárias, e acima delas, o céu resplendente de estrelas, encontravam agora o seu olhar. Tinha porém, uma intuição solene de que Deus estava com ele. Uma presença invisível enchia a solidão. "Na verdade o Senhor está neste lugar", disse ele, "e eu não o sabia. [...] Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos Céus". Gênesis 28:16, 17. PP 127 5 "Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela". Gênesis 28:18. De acordo com o costume de comemorar acontecimentos importantes, Jacó construiu um memorial da misericórdia de Deus, para que quando quer que passasse por aquele caminho pudesse demorar-se naquele local sagrado para adorar ao Senhor. E chamou o lugar Betel, ou "casa de Deus". Com profunda gratidão repetiu a promessa de que a presença de Deus seria com ele; e então fez este voto solene: "Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestidos para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo". Gênesis 28:20-22. PP 128 1 Jacó não estava aqui a fazer um contrato com Deus. O Senhor já lhe havia prometido prosperidade, e este voto era o transbordar de um coração cheio de gratidão pela certeza do amor e misericórdia de Deus. Jacó entendia que Deus tinha direitos sobre ele, os quais ele devia reconhecer, e que os sinais especiais do favor divino a ele concedidos exigiam retribuição. Assim, toda a bênção que nos é concedida reclama uma resposta ao Autor de todas as nossas vantagens. O cristão deve muitas vezes rever sua vida passada, e relembrar com gratidão os preciosos livramentos que Deus operou em favor dele, amparando-o na provação, abrindo caminho diante dele quando tudo parecia escuro e vedado, refrigerando-o quando pronto a desfalecer. Deve reconhecê-los todos como provas do cuidado vigilante dos anjos celestiais. Em vista destas bênçãos inumeráveis, deve muitas vezes perguntar, com coração submisso e grato: "Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?" Salmos 116:12. PP 128 2 Nosso tempo, nossos talentos, nossa propriedade devem ser, de maneira santa, dedicados Àquele que nos confiou estas bênçãos. Quando quer que um livramento especial seja operado em nosso favor, ou novas e inesperadas bênçãos nos são concedidas, devemos reconhecer a bondade de Deus não simplesmente exprimindo nossa gratidão com palavras, mas, como Jacó, por meio de dádiva e ofertas à Sua causa. Assim como estamos continuamente a receber as bênçãos de Deus, assim devemos estar continuamente a dar. PP 128 3 "De tudo quanto me deres", disse Jacó, "certamente Te darei o dízimo". Gênesis 28:22. Deveremos nós, que desfrutamos a plena luz e os privilégios do evangelho, estar contentes com dar menos a Deus do que foi dado por aqueles que viveram na dispensação anterior, menos favorecida? Ao contrário, sendo que as bênçãos que fruímos são maiores, não se acham nossas obrigações aumentadas de modo correspondente? Que pequeno o preço! Como é vão o esforço de medir com regras matemáticas, o tempo, dinheiro e amor, em face de um amor e sacrifício imensuráveis e que não se podem avaliar. Dízimos para Cristo! Oh, mesquinha esmola, vergonhosa recompensa daquilo que tanto custou. Da cruz do Calvário Cristo pede uma consagração sem reservas. Tudo que temos, tudo que somos, deve ser dedicado a Deus. PP 128 4 Com uma fé nova e permanente nas promessas divinas e certo da presença e guarda dos anjos celestiais, Jacó prosseguiu em sua jornada para "a terra dos filhos do Oriente". Gênesis 29:1. Mas quão diferente foi sua chegada da do mensageiro de Abraão, quase cem anos antes! O servo chegara com um séquito de ajudantes viajando em camelos, e com ricos presentes de ouro e prata; Jacó era um viajante solitário, tendo magoados os pés, sem nada possuir a não ser seu bastão. Como o servo de Abraão, Jacó se deteve ao lado de um poço, e foi aqui que ele se encontrou com Raquel, a filha mais moça de Labão. Agora foi Jacó que prestou serviço, volvendo a pedra do poço, e dando a beber aos rebanhos. Dando a conhecer o seu parentesco, foi bem recebido na casa de Labão. Se bem que tivesse vindo desprovido e desacompanhado, poucas semanas mostraram o valor de sua diligência e habilidade, e insistiu-se com ele que ficasse. Foi combinado que devia prestar sete anos de serviço a Labão pela mão de Raquel. PP 129 1 Nos tempos primitivos, exigia o costume que o noivo, antes da confirmação do contrato de casamento, pagasse uma soma de dinheiro, ou seu equivalente em outras propriedades, conforme as suas circunstâncias, ao pai da noiva. Isto era considerado como uma salvaguarda à relação matrimonial. Os pais não julgavam de bom aviso confiar a felicidade de suas filhas a homens que não haviam feito as devidas provisões para a manutenção de uma família. Se não possuíam tino econômico suficiente e energia para dirigir negócios e adquirir gado ou terras, receava-se que sua vida se mostrasse inútil. Mas tomava-se providência para provar aqueles que nada tinham para pagar por uma esposa. Permitia-se-lhes trabalhar para o pai, cuja filha amavam, sendo a duração do tempo determinada pelo valor do dote exigido. Quando o pretendente era fiel em seu trabalho, e provava ser digno em outros sentidos, obtinha a filha como esposa; e geralmente o dote que o pai recebera era dado a ela por ocasião do casamento. Tanto no caso de Raquel como no de Léia, reteve entretanto Labão, egoistamente, o dote que lhes teria sido dado; referiram-se a isto quando disseram, precisamente antes da mudança de Mesopotâmia: "Vendeu-nos, e comeu todo o nosso dinheiro". Gênesis 31:15. PP 129 2 O antigo costume, se bem que algumas vezes do mesmo se abusasse, assim como o fizera Labão, produzia bons resultados. Quando se exigia do pretendente prestar serviços, a fim de obter a sua noiva, evitava-se um casamento precipitado, e havia oportunidade de provar-se a profundidade de seu afeto, bem como sua habilidade para prover as necessidades de uma família. Em nossos tempos, muitos males resultam de seguir uma conduta oposta. Freqüentemente dá-se o caso que pessoas, antes do casamento, têm pouca oportunidade de se familiarizarem com os hábitos e disposições uma da outra, e, quanto ao que se refere à vida diária, são virtualmente estranhas quando no altar unem os seus interesses. Muitos acham, demasiado tarde, que não se adaptam um ao outro, e a desgraça por toda a vida é o resultado de sua união. Freqüentes vezes a esposa e os filhos sofrem pela indolência e inépcia, ou pelos hábitos viciosos do marido e pai. Se o caráter do pretendente houvesse sido provado antes do casamento, conforme o antigo costume, poder-se-ia ter evitado grande infelicidade. PP 130 1 Sete anos de serviço fiel Jacó prestou em atenção a Raquel, e os anos que ele serviu "foram aos seus olhos como poucos dias, pelo muito que a amava". Gênesis 29:20. Mas o egoísta e ganancioso Labão, desejando reter um auxiliar tão valioso, praticou um cruel engano substituindo Raquel por Léia. O fato de que a própria Léia fez parte da trapaça, fez Jacó pressentir que a não poderia amar. Sua censura feita com indignação a Labão foi defrontada com o oferecimento de Raquel por outros sete anos de trabalho. Insistia, porém, o pai que Léia não fosse despedida, visto que isto acarretaria ignomínia à família. Jacó foi posto assim em uma posição mui dolorosa e probante; decidiu-se finalmente a conservar Léia e desposar Raquel. Esta foi sempre a mui amada; mas a preferência dele por ela provocava inveja e ciúme, e sua vida se amargurava pela rivalidade entre as esposas-irmãs. PP 130 2 Durante vinte anos, Jacó permaneceu na Mesopotâmia, trabalhando ao serviço de Labão, que, desatendendo os laços de parentesco, aplicava-se a obter para si todos os benefícios da ligação que entre eles havia. Catorze anos de labuta ele exigira por suas duas filhas; e, durante o tempo restante, o salário de Jacó foi dez vezes mudado. Era, contudo, diligente e fiel o serviço de Jacó. Suas palavras a Labão, em sua última entrevista, descrevem vividamente a vigilância incansável que exercera aos interesses do exigente patrão: "Estes vinte anos eu estive contigo, as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho. Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia e o furtado de noite da minha mão o requerias. Estava eu de sorte que de dia me consumia o calor e, de noite a geada; e o meu sono foi-se dos meus olhos". Gênesis 31:38-40. PP 130 3 Era necessário que o pastor vigiasse seus rebanhos de dia e de noite. Estavam em perigo de ladrões, e também dos animais selvagens, que eram numerosos e audazes, fazendo muitas vezes grande estrago nos rebanhos que não eram fielmente guardados. Jacó tinha muitos auxiliares ao cuidar dos vastos rebanhos de Labão; mas ele mesmo era tido como o responsável por todos. Durante algumas partes do ano era-lhe necessário estar em pessoa, constantemente, com os rebanhos, para os guardar na estação seca de perecerem de sede, e durante os meses frios de se enregelarem com a pesada geada noturna. Jacó era o pastor-chefe; os servos que ele empregava eram pastores-ajudantes. Se algumas das ovelhas faltavam, o pastor-chefe sofria o prejuízo; e ele chamava os servos a quem confiara o cuidado do rebanho a prestar conta estrita, se o mesmo não era encontrado em condições prósperas. PP 130 4 A vida de diligência e cuidados do pastor, e sua terna compaixão pelas desajudadas criaturas confiadas à sua guarda, têm sido empregadas pelos escritores inspirados para ilustrar algumas das verdades mais preciosas do evangelho. Cristo, em Sua relação para com Seu povo, é comparado a um pastor. Depois da queda viu Suas ovelhas condenadas a perecerem nos caminhos tenebrosos do pecado. Para salvar a esses seres errantes, deixou as honras e glórias da casa de Seu Pai. Diz Ele: "A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei." "Eu livrarei as Minhas ovelhas, para que não sirvam mais de rapina", e "a besta fera da terra nunca mais as comerá". Ezequiel 34:16, 22, 28. Sua voz é ouvida chamando-as ao Seu aprisco, "para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e contra a chuva". Isaías 4:6. Seu cuidado pelo rebanho é incansável. Fortalece as fracas, alivia as que sofrem, ajunta os cordeiros em Seus braços, e leva-os em Seu seio. Suas ovelhas O amam. "De modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos". João 10:5. PP 131 1 Diz Cristo: "O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ora o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o bom Pastor e conheço as Minhas ovelhas, e das Minhas sou conhecido". João 10:11-14. PP 131 2 Cristo, o Pastor-chefe, confiou o cuidado de Seu rebanho a Seus ministros, como pastores-ajudantes; e ordena-lhes que tenham o mesmo interesse que Ele manifestou, e sintam a responsabilidade sagrada do encargo que lhes cometeu. Mandou-lhes solenemente que sejam fiéis, que alimentem o rebanho, que fortaleçam as fracas, que reanimem as desfalecidas, e as defendam dos lobos devoradores. PP 131 3 Para salvar Suas ovelhas Cristo depôs a própria vida; e Ele indica a Seus pastores o amor assim manifestado, como exemplo para eles. Mas "o mercenário, [...] de quem não são as ovelhas" (João 10:12), não tem interesse verdadeiro no rebanho. Trabalha meramente por amor ao ganho, e apenas cuida de si. Preocupa-se com seu próprio proveito, em vez do interesse de seu cargo; e, em tempo de risco ou perigo, fugirá, e deixará o rebanho. PP 131 4 O apóstolo Pedro admoesta os pastores-auxiliares: "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho". 1 Pedro 5:2, 3. Paulo diz: "Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue. Porque eu sei isto, que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho". Atos dos Apóstolos 20:28, 29. Todos os que consideram como uma tarefa desagradável os cuidados e encargos que caem por sorte ao fiel pastor, são reprovados pelo apóstolo: "Não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto". 1 Pedro 5:2. A todos os servos assim infiéis o Pastor-chefe de boa vontade dispensará. A igreja de Cristo foi comprada com o Seu sangue, e cada pastor deve compenetrar-se de que as ovelhas sob seu cuidado custaram um sacrifício infinito. Deve considerar a cada uma delas como tendo um valor inapreciável, e ser incansável em seus esforços por conservá-las em estado salutar e próspero. O pastor que estiver embebido do espírito de Cristo imitará Seu exemplo abnegado, trabalhando constantemente pelo bem-estar de seu rebanho; e este prosperará sob seu cuidado. PP 132 1 Todos serão chamados a prestar contas estritas de seu ministério. O Mestre exigirá de cada pastor: "Onde está o rebanho que se te deu, e as ovelhas de tua glória?" Jeremias 13:20. Aquele que for encontrado fiel, receberá um rico galardão. "Quando aparecer o Sumo Pastor", diz o apóstolo, "alcançareis a incorruptível coroa de glória". 1 Pedro 5:4. PP 132 2 Quando Jacó, tornando-se cansado ao serviço de Labão, propôs voltar para Canaã, disse ao sogro: "Deixa-me ir, que me vá ao meu lugar, e à minha terra. Dá-me as minhas mulheres, e os meus filhos, pelas quais te tenho servido, e ir-me-ei; pois tu sabes o meu serviço que te tenho feito." Mas Labão instou com ele para que ficasse, declarando: "Tenho experimentado que o Senhor me abençoou por amor de ti". Gênesis 30:25-27. Ele viu que sua propriedade estava aumentando sob o cuidado do genro. PP 132 3 Disse Jacó: "O pouco que tinhas antes de mim, é aumentado até uma multidão". Gênesis 30:30. Mas, passando-se o tempo, Labão ficou invejoso da prosperidade maior de Jacó, que "cresceu" "em grande maneira, e teve muitos rebanhos, e servas, e servos, e camelos, e jumentos". Gênesis 30:43. Os filhos de Labão partilhavam da inveja do pai, e suas palavras maliciosas vieram aos ouvidos de Jacó: Ele "tem tomado tudo o que era de nosso pai, e do que era de nosso pai fez ele toda esta glória. Viu também Jacó o rosto de Labão, e eis que não era para com ele como dantes". Gênesis 31:2. PP 132 4 Jacó teria deixado seu enganoso parente muito tempo antes, se não fora o receio de encontrar-se com Esaú. Agora via ele que estava em perigo por parte dos filhos de Labão, os quais, olhando para a sua riqueza como se fora deles, poderiam procurar apossar-se dela pela violência. Achava-se em grande perplexidade e angústia, não sabendo que rumo tomar. Mas, lembrando-se da graciosa promessa de Betel, levou o seu caso a Deus, e procurou direção da parte dEle. Em um sonho foi respondida a sua oração: "Torna à terra dos teus pais, e à tua parentela, e Eu serei contigo". Gênesis 31:3. PP 132 5 A ausência de Labão ofereceu oportunidade para a partida. Os rebanhos e gado foram reunidos depressa e mandados adiante, e, com suas mulheres, filhos e servos, Jacó atravessou o Eufrates, apressando-se para Gileade, nas fronteiras de Canaã. Depois de três dias, Labão soube da fuga deles, e pôs-se em seu encalço, alcançando a multidão no sétimo dia de viagem. Estava ardendo em ira, e resolvido a fazê-los voltar, o que não duvidava poder fazer, visto que seu grupo era muito mais forte. Os fugitivos estavam na verdade em grande perigo. PP 133 1 O não haver ele levado a efeito seu plano hostil foi devido ao fato de que Deus mesmo interviera em proteção de Seu servo. "Poder havia em minha mão para vos fazer mal", disse Labão, "mas o Deus de vosso pai me falou ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal" (Gênesis 31:29); isto é, ele não deveria obrigá-lo a voltar, ou instar com o mesmo, mediante propostas lisonjeiras. PP 133 2 Labão tinha retido para si o dote matrimonial de suas filhas, e sempre tratara a Jacó com engano e aspereza; mas com uma dissimulação característica censurou-o agora pela sua partida secreta, a qual não dera ao pai oportunidade de fazer uma festa para a partida, ou mesmo para dizer adeus a suas filhas e filhos delas. PP 133 3 Em resposta Jacó apresentou claramente o procedimento egoísta e ambicioso de Labão, e apelou para ele como testemunha de sua própria fidelidade e honestidade. "Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão, e o temor de Isaque, não fora comigo", disse Jacó, "por certo me enviarias agora vazio. Deus atendeu a minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite". Gênesis 31:42. PP 133 4 Labão não pôde negar os fatos apresentados, e propôs então entrar em um concerto de paz. Jacó consentiu na proposta, e uma pilha de pedras foi erguida como sinal do pacto. A esta pilha deu Labão o nome de Mispa, "torre de vigia", dizendo: "Atente ou 'vigie' o Senhor entre mim e ti, quando nós estivermos apartados um do outro." PP 133 5 "Disse mais Labão a Jacó: Eis aqui este mesmo montão, e eis aqui essa coluna que levantei entre mim e ti. Esse montão seja testemunha, e esta coluna seja testemunha, que eu não passarei este montão para lá, e que tu não passarás este montão e esta coluna para cá, para mal. O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus de seu pai julgue entre nós. E jurou Jacó pelo temor de seu pai Isaque". Gênesis 31:52, 53. Para confirmar o tratado, os dois partidos realizaram um banquete. A noite foi passada em comunhão agradável; e, ao romper da aurora, Labão e seu grupo partiram. Com esta separação cessou todo o traço de conexão entre os filhos de Abraão e os moradores da Mesopotâmia. ------------------------Capítulo 18 -- A noite de luta PP 134 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 32-33. PP 134 1 Se bem que Jacó houvesse saído de Padã-Arã em obediência à instrução divina, não foi sem muitos pressentimentos que repassou a estrada que havia palmilhado como fugitivo vinte anos antes. Seu pecado por ter enganado seu pai estava sempre diante dele. Sabia que seu longo exílio era o resultado direto daquele pecado, e ponderava nestas coisas dia e noite, tornando muito triste a sua jornada as exprobrações de uma consciência acusadora. Ao aparecerem as colinas de sua terra natal diante dele, à distância, o coração do patriarca moveu-se profundamente. Todo o passado surgiu vividamente diante dele. Com a lembrança de seu pecado veio também o pensamento do favor de Deus para com ele, e as promessas de auxílio e guia divinos. PP 134 2 Aproximando-se mais do fim de sua viagem, a lembrança de Esaú trouxe muitos pressentimentos perturbadores. Depois da fuga de Jacó, Esaú considerou-se como único herdeiro das posses de seu pai. A notícia da volta de Jacó despertaria o temor de que ele viesse para reclamar a herança. Esaú era agora capaz de fazer grande mal a seu irmão, se estivesse disposto a tal, e poderia ser levado à violência contra ele, não somente pelo desejo de vingança, mas a fim de, tranqüilamente, obter a posse da riqueza que durante tanto tempo havia considerado como sua. PP 134 3 De novo o Senhor concedeu a Jacó um sinal do cuidado divino. Enquanto ele viajava do Monte Gileade, em direção ao sul, dois exércitos de anjos celestiais pareciam cercá-lo, atrás e adiante, avançando com o seu grupo, como que para protegê-los. Jacó lembrou-se da visão em Betel tanto tempo antes, e o coração sobrecarregado se lhe tornou mais leve com esta prova de que os mensageiros divinos que lhe haviam trazido esperança e coragem em sua fuga de Canaã, deveriam ser os guardas de sua volta. E ele disse: "Este é o exército de Deus. E chamou o nome daquele lugar Maanaim" -- "dois exércitos ou bandos". Gênesis 32:2. PP 134 4 Todavia Jacó entendeu que tinha algo a fazer para conseguir sua própria segurança. Expediu, portanto, mensageiros com uma saudação conciliatória a seu irmão. Instruiu-os nas próprias palavras pelas quais deveriam dirigir-se a Esaú. Tinha sido predito antes do nascimento dos irmãos que o mais velho serviria ao mais moço; e, para que a lembrança disto não fosse causa de amargura, Jacó disse aos servos que eles eram enviados a "meu senhor Esaú"; quando se encontrassem diante dele, deveriam referir-se a seu senhor como "Jacó, teu servo"; e para afastar o receio de que estivesse a voltar como um errante destituído de bens, a fim de exigir a herança paternal, Jacó teve o cuidado de declarar em sua mensagem: "Tenho bois e jumentos, ovelhas, e servos, e servas; e enviei para o anunciar a meu senhor, para que ache graça em teus olhos". Gênesis 32:5. PP 135 1 Mas os servos voltaram com as novas de que Esaú se aproximava com quatrocentos homens, e resposta alguma se enviava à amigável mensagem. Parecia certo que ele vinha para tirar desforra. O terror invadiu o acampamento. "Jacó temeu muito, e angustiou-se". Gênesis 32:7. Não podia voltar, e receava avançar. Seu grupo, desarmado e indefeso, estava inteiramente despreparado para um encontro hostil. Em conformidade com isto dividiu-os em dois bandos, de modo que se um fosse atacado o outro poderia ter oportunidade de escapar. Enviou de seus vastos rebanhos presentes generosos a Esaú, com uma mensagem amigável. Fez tudo ao seu alcance para expiar a falta para com seu irmão, e afastar o perigo ameaçado; e então, com humilhação e arrependimento, rogou a proteção divina: Tu "me disseste: Torna à tua terra, e à tua parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que tiveste com teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos: Livra-me, peço-Te, da mão de meu irmão, da mão de Esaú; porque o temo, que porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos". Gênesis 32:9-11. Tinham agora chegado até o rio Jaboque, e, ao sobrevir a noite, Jacó enviou sua família através do vau do rio, enquanto ele ficou só, atrás. Decidira-se a passar a noite em oração, e desejou estar a sós com Deus. Deus poderia abrandar o coração de Esaú. NEle estava a única esperança do patriarca. PP 135 2 Isto foi em uma região solitária, montanhosa, retiro de animais selvagens, e esconderijo de ladrões e assassinos. Sozinho e desprotegido, Jacó prostrou-se em terra com profunda angústia. Era meia-noite. Tudo que lhe tornava cara a vida estava à distância, exposto ao perigo e à morte. Mais amargo do que tudo era o pensamento de que fora o seu próprio pecado o que acarretara este perigo sobre os inocentes. Com ansiosos clamores e lágrimas fez sua oração perante Deus. Subitamente uma mão forte foi posta sobre ele. Julgou que um inimigo estivesse a procurar sua vida, e esforçou-se por desvencilhar-se dos punhos do assaltante. Nas trevas os dois lutaram pelo predomínio. Nenhuma palavra se falou, porém Jacó empregou toda a força, e não afrouxou seus esforços nem por um momento. Enquanto estava assim a batalhar em defesa de sua vida, a intuição de sua falta lhe oprimia a alma; seus pecados levantavam-se diante dele para o separarem de Deus. Mas, em sua terrível situação, lembrou-se das promessas de Deus, e todo o coração se lhe externou em petições pela Sua misericórdia. A luta continuou até perto do romper do dia, quando o estranho colocou o dedo à coxa de Jacó, e este ficou manco instantaneamente. O patriarca discerniu então o caráter de seu antagonista. Soube que estivera em conflito com um mensageiro celestial, e por isto foi que seu esforço quase sobre-humano não ganhara a vitória. Era Cristo, o "Anjo do concerto", que Se havia revelado a Jacó. O patriarca estava agora inválido, e sofria a mais cruciante dor, mas não O quis largar. Todo arrependido e quebrantado, apegou-se ao Anjo; "chorou, e Lhe suplicou" (Oséias 12:4), invocando uma bênção. Tinha de ter a certeza de que seu pecado estava perdoado. A dor física não era suficiente para lhe desviar o espírito deste objetivo. Sua decisão se tornou mais forte, sua fé mais fervorosa e perseverante, até mesmo ao fim. O Anjo experimentou livrar-Se; insistiu: "Deixa-Me ir, porque já a alva subiu"; mas Jacó respondeu: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares". Gênesis 32:26. Tivesse sido isto uma confiança vangloriosa e presumida, e Jacó teria sido instantaneamente destruído; mas sua confiança era daquele que confessa sua própria indignidade, e, contudo, confia na fidelidade de um Deus que guarda o concerto. PP 136 1 Jacó "lutou com o Anjo, e prevaleceu". Oséias 12:4. Pela humilhação, arrependimento e entrega de si mesmo, este pecaminoso e falível mortal prevaleceu com a Majestade do Céu. Firmara suas mãos trêmulas nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não podia desviar o rogo do pecador. PP 136 2 O erro que determinara o pecado de Jacó ao obter pela fraude a primogenitura, achava-se agora apresentado claramente diante dele. Não havia confiado nas promessas de Deus, mas procurara pelos seus próprios esforços efetuar aquilo que Deus teria cumprido no tempo e modo que Lhe aprouvessem. Como prova de que fora perdoado, seu nome foi mudado de um nome que lembrava seu pecado para outro que comemorava sua vitória. "Não se chamará mais o teu nome Jacó" [suplantador], disse o Anjo, "mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste". Gênesis 32:28. PP 136 3 Jacó tinha recebido a bênção que seu coração havia anelado. Seu pecado como suplantador e enganador fora perdoado. Era passada a crise de sua vida. A dúvida, a perplexidade e o remorso lhe tinham amargurado a existência, mas agora tudo estava transformado; e doce era a paz de reconciliação com Deus. Jacó não mais receava encontrar seu irmão. Deus, que lhe perdoara o pecado, poderia mover o coração de Esaú também para aceitar sua humilhação e arrependimento. PP 136 4 Enquanto Jacó estava a lutar com o Anjo, outro mensageiro celeste foi enviado a Esaú. Em sonho viu Esaú seu irmão, que durante vinte anos fora um exilado da casa de seu pai, testemunhou-lhe a dor ao encontrar morta a mãe, viu-o rodeado pelos exércitos de Deus. Este sonho foi relatado por Esaú aos seus soldados, com a ordem de não fazerem mal a Jacó; pois o Deus de seu pai estava com ele. PP 136 5 Os dois grupos finalmente se aproximaram um do outro, conduzindo o chefe do deserto seus homens de guerra, e estando Jacó com suas esposas e filhos, acompanhados dos pastores e servas, e seguidos de longas fileiras de rebanhos e gado. Apoiado em seu cajado, o patriarca saiu para a frente a fim de encontrar-se com o grupo de soldados. Estava pálido e inutilizado em conseqüência de seu recente conflito, e andava vagarosa e penosamente, parando a cada passo; mas tinha o rosto iluminado por alegria e paz. PP 137 1 À vista daquele sofredor coxo, "Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram". Gênesis 33:4. Ao olharem para esta cena, mesmo os rudes soldados de Esaú ficaram tocados. Não obstante haver-lhes ele contado seu sonho, não podiam ver a razão da mudança que sobreviera a seu capitão. Posto que vissem a enfermidade do patriarca, mal imaginavam que esta sua fraqueza se tornara a sua força. PP 137 2 Em sua noite de angústia, ao lado do Jaboque, quando a destruição parecia estar precisamente diante dele, ensinara-se a Jacó quão vão é o auxílio do homem, quão destituída de fundamento é toda a confiança na força humana. Viu que seu único auxílio devia vir dAquele contra quem tão ofensivamente pecara. Desamparado e indigno, rogou a promessa de misericórdia de Deus, ao pecador arrependido. Aquela promessa foi a sua certeza de que Deus lhe perdoaria e o aceitaria. Mais facilmente poderiam o céu e a Terra passar do que falhar aquela palavra; e foi isto o que o alentou durante aquele terrível conflito. PP 137 3 A experiência de Jacó durante aquela noite de luta e angústia, representa a prova pela qual o povo de Deus deverá passar precisamente antes da segunda vinda de Cristo. O profeta Jeremias, em santa visão, olhando para este tempo, disse: "Ouvimos uma voz de tremor, de temor mas não de paz [...] Por que se têm tornado macilentos todos os rostos? Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela". Jeremias 30:5-7. PP 137 4 Quando Cristo cessar a Sua obra como mediador em prol do homem, então começará este tempo de angústia. Ter-se-á então decidido o caso de toda alma, e não haverá sangue expiatório para purificar do pecado. Ao deixar Jesus Sua posição como intercessor do homem junto a Deus, faz-se o solene anúncio: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda". Apocalipse 22:11. Então o Espírito repressor de Deus é retirado da Terra. Assim como Jacó foi ameaçado de morte por seu irmão irado, o povo de Deus estará em perigo por parte dos ímpios, que procurarão destruí-los. E assim como o patriarca lutou toda a noite para conseguir livramento da mão de Esaú, clamarão os justos a Deus dia e noite por livramento dos inimigos que os cercam. PP 137 5 Satanás acusara Jacó diante dos anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de seu pecado; levara Esaú a marchar contra ele; e, durante a longa noite de luta do patriarca, Satanás esforçou-se por impor-lhe a intuição de sua culpa, a fim de o desanimar, e romper o seu apego com Deus. Quando, em sua angústia, Jacó lançou mão do Anjo, e com lágrimas suplicou, o Mensageiro celeste, a fim de provar-lhe a fé, lembrou-o também de seu pecado, e esforçou-se por escapar dele. Mas Jacó não quis demover-se. Aprendera que Deus é misericordioso, e lançou-se à Sua misericórdia. Fez referência ao arrependimento de seu pecado, e implorou livramento. Ao rever a sua vida, foi impelido quase ao desespero; mas segurou firmemente o Anjo, e com brados ardorosos, aflitivos, insistiu em sua petição, até que prevaleceu. PP 138 1 Tal será a experiência do povo de Deus em sua luta final com os poderes do mal. Deus lhes provará a fé, a perseverança, a confiança em Seu poder para os livrar. Satanás esforçar-se-á por aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos são sem esperança; que seus pecados foram demasiado grandes para receberem perdão. Terão uma intuição profunda de seus fracassos; e, ao reverem a vida, perder-lhes-ão as esperanças. Lembrando-se, porém, da grandeza da misericórdia de Deus, e de seu próprio arrependimento sincero, alegarão Suas promessas feitas por meio de Cristo aos pecadores desamparados e arrependidos. Sua fé não faltará por não serem suas orações respondidas imediatamente. Apoderar-se-ão da força de Deus, assim como Jacó lançou mão do Anjo; e a expressão de sua alma será: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares". Gênesis 32:26. PP 138 2 Se Jacó não se houvesse arrependido previamente do pecado de obter a primogenitura pela fraude, Deus não poderia ter ouvido sua oração e misericordiosamente preservado sua vida. Assim no tempo de angústia, se o povo de Deus houvesse de ter pecados não confessados, para aparecerem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, abater-se-iam; o desespero lhes cortaria a fé, e não poderiam ter confiança para pleitearem com Deus seu livramento. Mas, conquanto tenham uma intuição profunda de sua indignidade, não terão faltas ocultas a revelar. Seus pecados ter-se-ão apagado pelo sangue expiatório de Cristo, e eles não os podem trazer à lembrança. PP 138 3 Satanás leva muitos a crer que Deus não tomará em consideração a sua infidelidade nas menores coisas da vida; mas o Senhor mostra em Seu trato com Jacó que Ele não pode de maneira alguma sancionar ou tolerar o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder seus pecados, e permitem que eles permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados ou perdoados, serão vencidos por Satanás. Quanto mais exaltada for a sua profissão, e mais honrada a posição que ocupam, mais ofensiva é a sua conduta aos olhos de Deus, e mais certo a vitória do grande adversário. PP 138 4 Contudo, a história de Jacó é uma segurança de que Deus não repelirá aqueles que foram atraídos ao pecado, mas que voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Foi pela entrega de si mesmo e por uma fé tranqüilizadora que Jacó alcançou o que não conseguira ganhar com o conflito em sua própria força. Deus assim ensinou a Seu servo que o poder e a graça divina unicamente lhe poderiam dar a bênção que ele desejava com ardor. De modo semelhante será com aqueles que vivem nos últimos dias. Ao rodearem-nos os perigos, e ao apoderar-se da alma o desespero, devem confiar unicamente nos méritos da obra expiatória. Nada podemos fazer de nós mesmos. Em toda a nossa desajudada indignidade, devemos confiar nos méritos do Salvador crucificado e ressuscitado. Ninguém jamais perecerá enquanto fizer isto. A lista longa e negra de nossos delitos está diante dos olhos do Ser infinito. O registro é completo; nenhuma de nossas ofensas é esquecida. Aquele, porém, que ouviu os clamores de Seus servos na antiguidade, ouvirá a oração da fé, e perdoará as nossas transgressões. Ele o prometeu, e cumprirá a Sua palavra. PP 139 1 Jacó prevaleceu porque foi perseverante e resoluto. Sua experiência testifica do poder da oração insistente. É agora que devemos aprender esta lição de oração que prevalece, de uma fé que não cede. As maiores vitórias da igreja de Cristo, ou do cristão em particular, não são as que são ganhas pelo talento ou educação, pela riqueza ou favor dos homens. São as vitórias ganhas na sala de audiência de Deus, quando uma fé cheia de ardor e agonia lança mão do braço forte da oração. PP 139 2 Aqueles que não estiverem dispostos a abandonar todo o pecado e buscar fervorosamente a bênção de Deus, não a obterão. Mas todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como fez Jacó, e forem tão fervorosos e perseverantes como ele o foi, serão bem-sucedidos como ele. "E Deus não fará justiça a Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça". Lucas 18:7, 8. ------------------------Capítulo 19 -- A volta para Canaã PP 140 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 34; 35, 37. PP 140 1 Atravessando o Jordão, "chegou Jacó salvo à cidade de Siquém, que está na terra de Canaã". Gênesis 33:18. Assim, a oração do patriarca em Betel, para que Deus o trouxesse novamente em paz à sua terra, fora deferida. Durante algum tempo ele habitou no vale de Siquém. Foi aqui que Abraão, mais de cem anos antes, fizera seu primeiro acampamento, e construíra seu primeiro altar, na terra da promessa. Ali Jacó "comprou uma parte do campo em que estendera a sua tenda, da mão dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro. E levantou ali um altar, e chamou-o Deus, o Deus de Israel". Gênesis 33:19, 20. Como Abraão, Jacó erguera ao lado de sua tenda um altar ao Senhor, convocando os membros de sua casa para o sacrifício da manhã e da tarde. Foi ali também que ele cavou o poço, ao qual, dezessete séculos mais tarde, veio o Filho de Jacó, o Salvador, e ao lado do qual, descansando durante o calor do dia, falou aos Seus ouvintes maravilhados daquela "fonte d'água que salte para a vida eterna". João 4:14. PP 140 2 A permanência de Jacó e seus filhos em Siquém terminou em violência e mortandade. A única filha da casa fora levada ao opróbrio e tristeza; dois irmãos ficaram envolvidos no crime de assassínio; uma cidade inteira fora entregue à ruína e morticínio, em represália da ação ilegal de um jovem temerário. O princípio que determinara resultados tão terríveis foi o ato da filha de Jacó, a qual "saiu" a "ver as filhas da terra" (Gênesis 34), arriscando-se desta maneira à camaradagem com os ímpios. Aquele que procura prazeres entre os que não temem a Deus, está a colocar-se no terreno de Satanás, e a convidar suas tentações. PP 140 3 A crueldade traiçoeira de Simeão e Levi não foi sem provocação; contudo, em sua conduta para com os siquemitas cometeram um grave pecado. Haviam cuidadosamente ocultado a Jacó suas intenções, e a notícia de sua vingança encheu-o de horror. Com o coração magoado pelo engano e violência de seus filhos, ele apenas disse: "Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra, [...] sendo eu pouco povo em número; ajuntar-se-ão, e ficarei destruído, eu e minha casa." Mas a dor e a aversão com que ele olhou para o seu ato sanguinolento, são reveladas pelas palavras com que, quase cinqüenta anos mais tarde, ele se referiu àquele ato, enquanto jazia em seu leito de morte, no Egito: "Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação minha glória não se ajunte. [...] Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura". Gênesis 49:5-7. PP 141 1 Jacó entendeu que havia motivo para uma profunda humilhação. Crueldade e falsidade se manifestaram no caráter de seus filhos. Havia deuses falsos no acampamento, e a idolatria tinha até certo ponto ganho terreno mesmo em sua casa. Se o Senhor os tratasse de acordo com seus méritos, não os deixaria à vingança das nações circunvizinhas? PP 141 2 Enquanto Jacó estava assim prostrado com a angústia, o Senhor ordenou-lhe que viajasse para o sul, a Betel. A lembrança deste lugar recordava ao patriarca não somente a sua visão dos anjos, e as misericordiosas promessas de Deus, mas também o voto que ali fizera, de que o Senhor deveria ser o seu Deus. Decidiu que antes de ir a esse lugar sagrado, sua casa deveria estar livre da contaminação da idolatria. Deu, portanto, instruções a todos no acampamento: "Tirai os deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai os vossos vestidos. E levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado". Gênesis 35:2, 3. PP 141 3 Com profunda emoção Jacó repetiu a história de sua primeira visita a Betel, quando deixou a tenda de seu pai como um errante solitário, fugindo para salvar a vida, e como o Senhor lhe apareceu na visão noturna. Revendo ele o trato maravilhoso de Deus para consigo, seu próprio coração se enterneceu, seus filhos também foram tocados por um poder que os constrangia; ele lançara mão do meio mais eficaz para os preparar a fim de tomarem parte no culto de Deus quando chegassem a Betel. "Então deram a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém". Gênesis 35:4. PP 141 4 Deus fizera com que um temor caísse sobre os habitantes da terra, de modo que não fizessem tentativa alguma para vingarem o morticínio de Siquém. Os viajantes chegaram a Betel sem serem molestados. Ali o Senhor apareceu de novo a Jacó, e renovou-lhe a promessa do concerto. "E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com Ele, uma coluna de pedra". Gênesis 35:14. PP 141 5 Em Betel, Jacó veio a chorar a perda de uma pessoa que durante muito tempo fora um membro honrado na família de seu pai -- Débora, a ama de Rebeca, que havia acompanhado a sua senhora, da Mesopotâmia à terra de Canaã. A presença dessa mulher idosa fora para Jacó um laço precioso que o ligava à sua vida primitiva, e especialmente à mãe cujo amor para com ele havia sido tão forte e terno. Débora foi sepultada com expressões de tão grande tristeza que o carvalho, sob o qual sua sepultura foi feita, foi chamado "carvalho de pranto". Não deveria passar despercebido que a memória de sua vida de fiel serviço, e do pranto por esta amiga da casa, foi tida por digna de ser preservada na Palavra de Deus. PP 142 1 De Betel havia apenas dois dias de viagem para Hebrom; mas esta viagem trouxe a Jacó uma severa dor pela morte de Raquel. Duas vezes o serviço de sete anos prestara ele por amor a ela, e seu amor tornara leve o trabalho. Quão profundo e constante foi aquele amor, revelou-se quando, muito mais tarde, achando-se Jacó no Egito, no leito, próximo de sua morte, José veio visitar o pai, e o idoso patriarca, lançando um olhar à sua vida passada, disse: "Vindo pois eu de Padã, me morreu Raquel na terra de Canaã, no caminho, quando ainda ficava um pequeno espaço de terra para vir a Efrata; e eu a sepultei ali, no caminho de Efrata". Gênesis 48:7. Na história de sua longa e trabalhosa vida, em relação à sua família, unicamente a perda de Raquel foi lembrada. PP 142 2 Antes de sua morte, Raquel deu à luz um segundo filho. Com o último alento deu ela à criança o nome de Benoni, "filho de minha dor". Mas seu pai chamou-o Benjamim, "filho da destra", ou "minha força". Raquel foi sepultada onde morreu, e uma coluna foi erguida no local para perpetuar sua memória. PP 142 3 No caminho para Efrata, outro crime tenebroso manchou a família de Jacó, fazendo com que a Rúben, o filho primogênito, fossem negados os privilégios e honras da primogenitura. PP 142 4 Finalmente Jacó chegou ao fim de sua viagem, "a seu pai Isaque, a Manre, [...] (que é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque". Ali ficou ele durante os anos finais da vida de seu pai. A Isaque, enfermo e cego, as bondosas atenções desse filho havia tanto tempo ausente, foram um conforto durante anos de solidão e privação de seus entes queridos. PP 142 5 Jacó e Esaú encontraram-se junto ao leito de morte de seu pai. Uma ocasião o irmão mais velho olhara antecipadamente para este acontecimento como uma oportunidade para vingança; seus sentimentos, porém, haviam-se mudado grandemente desde então. E Jacó, satisfeito com as bênçãos espirituais da primogenitura, resignou ao irmão mais velho a herança da riqueza de seu pai -- a única herança que Esaú buscava ou apreciava. Não mais eram separados pela inveja ou ódio; todavia apartaram-se, mudando-se Esaú para o Monte Seir. Deus, que é rico em bênçãos, concedera a Jacó riquezas seculares, em acréscimo ao bem mais elevado que ele procurara. Os bens dos dois irmãos eram muitos "para habitarem juntos; e a terra de suas peregrinações não os podia sustentar por causa do seu gado". Gênesis 36:7. Esta separação estava de acordo com o propósito divino relativo a Jacó. Desde que os dois irmãos diferiam tão grandemente com relação à fé religiosa, era melhor que morassem separados. PP 142 6 Esaú e Jacó tinham sido instruídos de modo semelhante no conhecimento de Deus, e ambos estavam em liberdade para andar em Seus mandamentos e receber Seu favor; porém, não preferiram ambos fazer isto. Os dois irmãos tinham andado em caminhos diferentes, e suas veredas continuariam a divergir mais e mais uma da outra. PP 143 1 Não houve uma preferência arbitrária da parte de Deus, pela qual ficassem excluídas de Esaú as bênçãos da salvação. Os dons de Sua graça por Cristo são gratuitos a todos. Não há eleição senão a própria, pela qual alguém possa perecer. Deus estabeleceu em Sua Palavra as condições pelas quais todos são candidatos à vida eterna: obediência aos Seus mandamentos, pela fé em Cristo. Deus elegeu um caráter de acordo com Sua lei, e qualquer que atinja a norma que Ele exige, terá entrada no reino de glória. O próprio Cristo diz: "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida". João 3:36. "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus". Mateus 7:21. E no Apocalipse Ele declara: "Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas". Apocalipse 22:14. Quanto ao que respeita à salvação final do homem, esta é a única eleição referida na Palavra de Deus. PP 143 2 Eleita é toda alma que opera a sua própria salvação com temor e tremor. É eleito aquele que cingir a armadura, e combater o bom combate da fé. É eleito quem vigiar e orar, quem examinar as Escrituras, e fugir da tentação. Eleito é aquele que continuamente tiver fé, e que for obediente a toda a palavra que sai da boca de Deus. As providências tomadas para a redenção, são franqueadas a todos; os resultados da redenção serão desfrutados por aqueles que satisfizeram as condições. PP 143 3 Esaú havia desprezado as bênçãos do concerto. Dera mais valor aos bens temporais do que aos espirituais, e recebera o que desejava. Foi pela sua própria e deliberada escolha que se separou do povo de Deus. Jacó escolhera a herança da fé. Esforçara-se por obtê-la pela astúcia, traição e falsidade; Deus, porém, permitira que seu pecado operasse a correção ao mesmo. Todavia, durante toda a amarga experiência de seus últimos anos, Jacó nunca se afastou de seu intuito nem renunciou a sua preferência. Aprendera que, recorrendo à habilidade e astúcia humana, para conseguir a bênção, estivera a guerrear contra Deus. Como homem diferente, saíra Jacó daquela noite de luta ao lado do Jaboque. Desarraigara-se a confiança própria. Dali em diante não mais se viu aquele primitivo artifício. Em lugar da astúcia e engano, sua vida assinalou-se pela simplicidade e verdade. Aprendera a lição de confiança singela no Braço todo-poderoso; e por entre provações e aflição curvava-se em humilde submissão à vontade de Deus. Os elementos inferiores de seu caráter foram consumidos na fornalha de fogo, o verdadeiro ouro foi refinado, até que a fé de Abraão e de Isaque apareceu aclarada em Jacó. PP 143 4 O pecado de Jacó e o séquito de acontecimentos que determinou, não deixaram de exercer influência para o mal, influência esta que revelou seu amargo fruto no caráter e vida de seus filhos. Chegando esses filhos à virilidade, desenvolveram graves defeitos. Os resultados da poligamia foram manifestos na casa. Este terrível mal tende a secar as próprias fontes do amor, e sua influência enfraquece os laços mais sagrados. O ciúme das várias mães havia amargurado a relação da família; os filhos cresceram contenciosos, e sem a devida sujeição; e a vida do pai obscureceu-se pela ansiedade e dor. PP 144 1 Houve um, entretanto, de caráter grandemente diverso -- o filho mais velho de Raquel, José, cuja rara beleza pessoal não parecia senão refletir uma beleza interior do espírito e do coração. Puro, ativo e alegre, o rapaz dava prova também de ardor e firmeza moral. Escutava as instruções do pai, e gostava de obedecer a Deus. As qualidades que depois o distinguiram no Egito -- gentileza, fidelidade e veracidade, já eram manifestas em sua vida diária. Morrendo-lhe a mãe, suas afeições prenderam-se mais intimamente ao pai, e o coração de Jacó estava ligado a este filho de sua velhice. Ele "amava a José mais do que a todos os seus filhos". Gênesis 37:3. PP 144 2 Mas mesmo esta afeição deveria tornar-se causa de perturbações e tristezas. Jacó imprudentemente manifestou sua preferência por José, e isto provocou a inveja dos outros filhos. Testemunhando José a má conduta dos irmãos, ficava grandemente incomodado; arriscou-se delicadamente a chamar-lhes a atenção, mas isto apenas suscitou ainda mais o seu ódio e indignação. Não podia suportar vê-los a pecar contra Deus, e apresentou esta questão a seu pai, esperando que sua autoridade os pudesse levar a corrigir-se. PP 144 3 Jacó evitou cuidadosamente suscitar a ira deles pela aspereza e severidade. Com profunda emoção exprimiu sua solicitude pelos filhos, e implorou que lhe respeitassem os cabelos brancos, e não trouxessem o opróbrio a seu nome, e, acima de tudo, que não desonrassem a Deus com tal desrespeito a Seus preceitos. Envergonhados de que sua impiedade fosse conhecida, os moços pareceram estar arrependidos, mas tão-somente esconderam seus verdadeiros sentimentos, que se tornaram mais amargos ao serem patenteadas as suas faltas. PP 144 4 O indiscreto presente do pai feito a José, de um manto, ou túnica, de grande preço, tal como a usavam comumente pessoas de distinção, pareceu-lhes outra prova de sua parcialidade, e provocou-lhes a suspeita de que ele tencionava preterir seus filhos mais velhos e conferir a primogenitura ao filho de Raquel. Sua maldade ainda mais aumentou ao contar-lhes um dia o menino um sonho que tivera. "Eis que", disse ele, "estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho". Gênesis 37:7. PP 144 5 "Tu pois deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós?" (Gênesis 37:8), exclamaram seus irmãos com cólera, cheios de inveja. Logo teve outro sonho, de idêntica significação, que também relatou: "Eis que o Sol, e a Lua, e onze estrelas se inclinavam a mim". Gênesis 37:9. Este sonho foi interpretado tão facilmente como o primeiro. O pai, que estava presente, falou reprovando: "Que sonho é este que sonhaste? Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?" Gênesis 37:10. Apesar da severidade aparente de suas palavras, Jacó acreditava que o Senhor estava revelando o futuro a José. PP 145 1 Achando-se o rapaz perante os irmãos, brilhando seu belo rosto pelo Espírito de inspiração, não puderam deixar de admirá-lo; porém não optaram pela renúncia de seus maus caminhos, e odiaram a pureza que lhes reprovava os pecados. O mesmo espírito que atuava em Caim, abrasava-se em seus corações. PP 145 2 Os irmãos eram obrigados a mudar-se de um lugar para outro a fim de conseguirem pasto para seus rebanhos, e freqüentemente ficavam ausentes de casa durante meses seguidos. Depois das circunstâncias que se acabam de referir, foram ao lugar que seu pai comprara em Siquém. Passou-se algum tempo, sem que viessem notícias, e o pai começou a temer pela segurança deles, por causa de sua crueldade anterior para com os siquemitas. Mandou, pois, José a encontrá-los, e trazer-lhe notícia como iam. Se Jacó tivesse conhecido o sentimento real de seus filhos para com José, não o teria confiado sozinho a eles; isso, porém, haviam eles cuidadosamente ocultado. PP 145 3 Com o coração alegre José despediu-se de seu pai, não sonhando o idoso varão e nem o jovem, o que aconteceria antes que de novo se encontrassem. Quando, depois de sua longa e solitária viagem, José chegou a Siquém, não encontrou os irmãos e os rebanhos. Indagando a respeito deles, encaminharam-no a Dotã. Já havia viajado mais de setenta e cinco quilômetros, e agora uma distância adicional de vinte e dois achava-se diante dele; foi-se, porém, à pressa, esquecendo seu cansaço com o pensamento de aliviar a ansiedade do pai, e encontrar os irmãos, a quem, apesar de sua maldade, ainda amava. PP 145 4 Seus irmãos viram-no aproximar-se; porém nenhum pensamento da longa viagem que fizera para os encontrar, de seu cansaço e fome, do direito à sua hospitalidade e amor fraternal, abrandou a amargura de seu ódio. A vista da capa, sinal do amor de seu pai, encheu-os de agitação. "Eis lá vem o sonhador-mor!" (Gênesis 37:19) exclamaram zombeteiramente. A inveja e a vingança, durante muito tempo secretamente acalentadas, agora os dominavam. "Matemo-lo", disseram, "e lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma besta fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos". Gênesis 37:20. PP 145 5 Teriam executado seu intento, se não fora Rúben. Ele se negou a participar do assassínio de seu irmão, e propôs que José fosse lançado vivo em uma cova, e ali deixado a perecer, sendo, entretanto, seu intuito secreto, livrá-lo, e devolvê-lo ao pai. Tendo persuadido todos a consentirem neste plano, Rúben deixou o grupo, receando que não pudesse dominar seus sentimentos, e fossem descobertas suas verdadeiras intenções. PP 145 6 José chegou, sem suspeitar do perigo, e alegre de que o objetivo de sua longa pesquisa estivesse cumprido; mas em vez da esperada saudação aterrorizou-se pela ira e olhares vingativos que encontrou. Agarraram-no e tiraram-lhe a capa. Zombarias e ameaças revelavam um propósito mortal. Seus rogos não foram atendidos. Estava inteiramente em poder daqueles homens enfurecidos. Arrastando-o rudemente para uma profunda cova, lançaram-no ali, e, tendo-se certificado de que não havia possibilidade de escapar, deixaram-no para perecer de fome, enquanto "assentaram-se a comer pão". Gênesis 37:25. PP 146 1 Alguns deles, porém, não estavam à vontade, não sentiam a satisfação que tinham tido em perspectiva pela sua vingança. Logo foi visto a aproximar-se um grupo de viajantes. Era uma caravana de ismaelitas de além Jordão, a caminho para o Egito, com especiarias e outras mercadorias. Judá propôs então vender seu irmão àqueles mercadores gentios, em vez de o deixar a morrer. Ao mesmo tempo em que ele seria eficazmente posto fora de seu caminho, permaneceriam limpos de seu sangue; "porque", insistiu, "ele é nosso irmão, nossa carne". Gênesis 37:27. Com essa proposta todos concordaram, e José foi rapidamente tirado da cova. PP 146 2 Ao ver ele os mercadores, a terrível verdade passou como relâmpago por seu espírito. Tornar-se escravo era uma sorte para se temer mais do que a morte. Na aflição do terror apelou para um e outro de seus irmãos, mas em vão. Alguns foram movidos de dó, mas o medo de caçoada conservou-os em silêncio; todos achavam que haviam então ido longe demais para desistirem. Se José fosse poupado, sem dúvida relataria o feito deles ao pai, que não deixaria de tomar em consideração a sua crueldade para com o filho predileto. Empedernindo o coração aos seus rogos, entregaram-no às mãos dos mercadores gentios. A caravana prosseguiu, e logo perdeu-se de vista. PP 146 3 Rúben voltou ao fosso, mas José ali não estava. Alarmado e censurando-se, rasgou sua roupa, e procurou os irmãos, exclamando: "O moço não aparece, e eu aonde irei?" Sabendo do que ocorrera com José, e que agora seria impossível recuperá-lo, Rúben foi induzido a unir-se aos demais, na tentativa de ocultar seu crime. Havendo morto um cabrito, mergulharam a capa de José no sangue, e levaram ao pai, dizendo-lhe que haviam achado no campo, e que receavam fosse de seu irmão. "Conhece agora", disseram, "se esta será ou não a túnica de teu filho." Tinham olhado antecipadamente para esta cena com receio, mas não estavam preparados para a angústia e a dor que foram obrigados a testemunhar. "É a túnica de meu filho", disse Jacó, "uma besta fera o comeu; certamente foi despedaçado José." Em vão seus filhos e filhas tentaram consolá-lo. "Rasgou os seus vestidos, e pôs saco sobre os seus lombos, e lamentou a seu filho muitos dias." O tempo não parecia trazer-lhe alívio ao pesar. "Com choro hei de descer a meu filho até à sepultura", era o seu desesperado clamor. Os moços, aterrorizados com o que tinham feito, e, contudo, temendo as reprovações do pai, ocultavam ainda em seu coração o conhecimento de seu crime, que mesmo para eles parecia muito grande. ------------------------Capítulo 20 -- José no Egito PP 147 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 39-40. PP 147 1 Enquanto isso, José com seus detentores estava a caminho do Egito. Jornadeando a caravana para o Sul, em direção das fronteiras de Canaã, o rapaz podia discernir a distância as colinas entre as quais se achavam as tendas de seu pai. Chorou amargamente à lembrança daquele pai amoroso, em sua solidão e aflição. Novamente a cena em Dotã veio diante de si. Viu seus irmãos irados, e sentiu os olhares furiosos que lhe dirigiam. As palavras pungentes, insultantes, que seus aflitos rogos encontraram, estavam a soar-lhe nos ouvidos. Com o coração a tremer olhou para o futuro. Que mudança na situação -- de um filho ternamente acalentado para o escravo desprezado e desamparado! Só e sem amigos, qual seria sua sorte na terra estranha a que ele ia? Por algum tempo, José entregou-se a uma dor e pesar incontidos. PP 147 2 Mas, na providência de Deus, mesmo esta experiência seria uma bênção para ele. Aprendeu em poucas horas o que de outra maneira anos não lhe poderiam ter ensinado. Seu pai, forte e terno como havia sido seu amor, fizera-lhe mal com sua parcialidade e indulgência. Esta preferência imprudente havia encolerizado seus irmãos, e os incitara à ação cruel que o separara de seu lar. Os efeitos dessa preferência eram também manifestos em seu caráter. Defeitos haviam sido acariciados, que agora deveriam ser corrigidos. Ele se estava tornando cheio de si e exigente. Acostumado à ternura dos cuidados de seu pai, viu que não se achava preparado para competir com as dificuldades que diante dele estavam, na vida amarga e desconsiderada de estrangeiro e escravo. PP 147 3 Então seus pensamentos volveram para o Deus de seu pai. Na meninice fora ensinado a amá-Lo e temê-Lo. Muitas vezes na tenda do pai, ouvira a história da visão que Jacó tivera quando se retirava de seu lar, como exilado e fugitivo. Contaram-lhe a respeito das promessas do Senhor a Jacó, e como tinham elas se cumprido -- como, na hora de necessidade, os anjos de Deus tinham vindo instruí-lo, consolá-lo e protegê-lo. E aprendera acerca do amor de Deus, provendo um Redentor aos homens. Todas estas lições preciosas vinham agora vividamente diante dele. José acreditava que o Deus de seus pais seria o seu Deus. Ali mesmo se entregou então completamente ao Senhor, e orou para que o Guarda de Israel estivesse com ele na terra do exílio. PP 147 4 Sua alma fremiu ante a elevada resolução de mostrar-se fiel a Deus -- de agir, em todas as circunstâncias, como convinha a um súdito do Reino do Céu. Serviria ao Senhor com inteireza de coração; enfrentaria as provações de sua sorte, com coragem, e com fidelidade cumpriria todo o dever. A experiência de um dia foi o ponto decisivo na vida de José. Sua terrível calamidade transformara-o de uma criança mimada em um homem ponderado, corajoso e senhor de si. PP 148 1 Chegando ao Egito, José foi vendido a Potifar, capitão da guarda do rei, a cujo serviço ficou durante dez anos. Ali foi exposto a tentações nada triviais. Estava em meio da idolatria. O culto aos deuses falsos era rodeado de toda a pompa da realeza, apoiado pela riqueza e cultura da nação mais altamente civilizada então existente. José, todavia, preservou sua simplicidade e fidelidade para com Deus. As cenas e ruídos do vício estavam ao redor dele; porém, era ele como quem não via e não ouvia. Aos seus pensamentos não permitia ocupar-se com assuntos proibidos. O desejo de alcançar o favor dos egípcios não o poderia fazer esconder os seus princípios. Se tivesse tentado fazer isto, teria sido vencido pela tentação; mas não se envergonhava da religião de seus pais, e não fazia esforços para esconder o fato de ser adorador de Jeová. PP 148 2 "E o Senhor estava com José, e foi varão próspero." Viu "o seu senhor que o Senhor estava com ele, e que tudo que ele fazia o Senhor prosperava em sua mão". Gênesis 39:2, 3. A confiança de Potifar em José aumentava diariamente, e finalmente o promoveu a seu mordomo, com amplo governo sobre todas as suas posses. "E deixou tudo o que tinha na mão de José, de maneira que de nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia". Gênesis 39:6. PP 148 3 A assinalada prosperidade que acompanhava todas as coisas postas aos cuidados de José, não era resultado de um milagre direto; mas sim a sua operosidade, zelo e energia eram coroados pela bênção divina. José atribuía seu êxito ao favor de Deus, e mesmo seu senhor idólatra aceitava isto como o segredo de sua prosperidade sem-par. Sem um esforço perseverante e bem dirigido jamais poderia, entretanto, haver conseguido o êxito. Deus era glorificado pela fidelidade de Seu servo. Era Seu propósito que em pureza e correção o crente em Deus se mostrasse em assinalado contraste com os adoradores de ídolos -- para que assim a luz da graça celestial pudesse resplandecer entre as trevas do paganismo. PP 148 4 A gentileza e fidelidade de José ganharam o coração do capitão-mor, o qual veio a considerá-lo como filho, em vez de escravo. O jovem foi levado em contato com homens de posição e saber, e adquiriu conhecimentos de ciências, línguas e negócios, educação necessária para o futuro primeiro-ministro do Egito. PP 148 5 A fé e integridade de José deveriam, porém, ser experimentadas por terríveis provas. A esposa de seu senhor esforçou-se por seduzir o jovem a transgredir a lei de Deus. Até ali ele permanecera incontaminado da corrupção que enchia aquela terra gentílica; mas esta tentação tão súbita, forte e sedutora, como poderia ser enfrentada? José bem sabia qual seria a conseqüência da resistência. De um lado estavam o encobrimento, os favores e as recompensas; do outro a desgraça, a prisão, a morte talvez. Toda sua vida futura dependia da decisão do momento. Triunfariam os princípios? Seria José ainda fiel a Deus? Com inexprimível ansiedade os anjos olhavam para aquela cena. PP 149 1 A resposta de José revela o poder do princípio religioso. Ele não trairia a confiança de seu senhor na Terra, e, quaisquer que fossem as conseqüências, seria fiel ao seu Senhor no Céu. Sob o olhar examinador de Deus e dos santos anjos, muitos tomam liberdades de que não se achariam culpados na presença de seus semelhantes; porém, o primeiro pensamento de José foi Deus. "Como pois faria eu este tamanho mal, e pecaria contra Deus?" disse ele. Gênesis 39:9. PP 149 2 Se acalentássemos uma impressão habitual de que Deus vê e ouve tudo que fazemos e dizemos, e conserva um registro fiel de nossas palavras e ações, e de que devemos deparar tudo isto, teríamos receio de pecar. Lembrem-se sempre os jovens de que, onde quer que estejam, e o que quer que façam, acham-se na presença de Deus. Parte alguma de nossa conduta escapa à observação. Não podemos ocultar nossos caminhos ao Altíssimo. As leis humanas, embora algumas vezes severas, são muitas vezes transgredidas sem que isto seja descoberto, e, portanto, impunemente. Não assim, porém, com a lei de Deus. A mais escura meia-noite não é uma cobertura para o criminoso. Ele pode julgar-se só, mas para cada ação há uma testemunha invisível. Os próprios motivos de seu coração estão patentes à inspeção divina. Cada ato, cada palavra, cada pensamento, é tão distintamente notado como se apenas houvesse uma pessoa no mundo inteiro, e a atenção do Céu nela estivesse centralizada. PP 149 3 José sofreu pela sua integridade; pois sua tentadora vingou-se acusando-o de um crime detestável, e fazendo com que ele fosse lançado na prisão. Houvesse Potifar acreditado na acusação feita pela esposa, contra José, e teria o jovem hebreu perdido a vida; mas a modéstia e correção que haviam uniformemente caracterizado sua conduta, eram prova de sua inocência; e, contudo, para salvar a reputação da casa de seu senhor, foi entregue à vergonha e ao cativeiro. PP 149 4 A princípio, José foi tratado com grande severidade pelos seus carcereiros. Diz o salmista, falando de José: "Cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros; até o tempo em que chegou a Sua Palavra; a palavra do Senhor o provou". Salmos 105:18, 19. Mas o verdadeiro caráter de José resplandece, mesmo nas trevas da masmorra. Ele reteve com firmeza sua fé e paciência; seus anos de serviço fiel foram pagos da maneira mais cruel, todavia isto não o tornou obstinado ou desconfiado. Tinha a paz que vem de uma inocência consciente, e confiava seu caso a Deus. Não ficava a acalentar as ofensas que recebera, mas esquecia-se de suas tristezas procurando aliviar as de outrem. Achou uma obra a fazer mesmo na prisão. Deus o estava preparando, na escola da aflição, para maior utilidade, e ele não recusou a necessária disciplina. Testemunhando na prisão os resultados da opressão e tirania, e os efeitos do crime, aprendeu lições de justiça, simpatia e misericórdia, que o prepararam para exercer o poder com sabedoria e compaixão. PP 150 1 José gradualmente ganhou a confiança do guarda da prisão, e foi-lhe finalmente confiado o cuidado de todos os presos. Foi a parte que ele desempenhou na prisão -- integridade de sua vida diária e simpatia por aqueles que estavam em perturbação e angústia -- o que abriu o caminho para a sua prosperidade e honra futura. Todo o raio de luz que derramamos sobre outrem, reflete-se em nós mesmos. Toda palavra amável e cheia de simpatia proferida aos tristes, todo ato feito para aliviar os oprimidos, e todo dom aos necessitados, se é determinado por um impulso justo, resultará em bênçãos ao doador. PP 150 2 O padeiro-mor e o copeiro-mor do rei tinham sido lançados na prisão por qualquer falta, e vieram a ficar sob o encargo de José. Uma manhã, observando que se mostravam muito tristes, amavelmente indagou a causa, e disseram que cada um tivera um sonho notável, de que estavam ansiosos por saber a significação. "Não são de Deus as interpretações?" disse José; "contai-mo, peço-vos". Gênesis 40:8. Tendo cada um relatado o seu sonho, José fê-los saber a significação: em três dias o copeiro seria reintegrado em seu cargo, e daria o copo nas mãos de Faraó, como antes, mas o padeiro-mor seria morto por ordem do rei. Em ambos os casos ocorreu o acontecimento conforme fora predito. PP 150 3 O copeiro do rei dissera possuir a maior gratidão para com José, tanto pela interpretação consoladora de seu sonho como por muitos atos de bondosa atenção; e, por sua vez, este, referindo-se da maneira mais tocante ao seu injusto cativeiro rogou que seu caso fosse levado perante o rei. "Lembra-te de mim", disse ele, "quando te for bem; e rogo-te que uses comigo de compaixão, e que faças menção de mim a Faraó, e faze-me sair desta casa; porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e tampouco aqui nada tenho feito para que me pusessem nesta cova". Gênesis 40:14, 15. O copeiro-mor viu realizar-se o sonho em todos os pormenores; quando, porém, foi restabelecido ao favor real, não mais pensou em seu benfeitor. Durante mais dois anos José ficou como prisioneiro. A esperança que se lhe acendera no coração, gradualmente morrera; e a todas as outras provações acrescentou-se a amargura da ingratidão. PP 150 4 Uma mão divina, porém, estava prestes a abrir as portas da prisão. O rei do Egito teve em uma noite dois sonhos, que indicavam aparentemente o mesmo acontecimento, e pareciam prefigurar alguma grande calamidade. Não podia determinar sua significação, e no entanto continuavam a perturbar o seu espírito. Os magos e sábios de seu reino não puderam dar a interpretação. A perplexidade e angústia do rei aumentavam, e o terror espalhou-se por seu palácio. A agitação geral evocou à mente do copeiro-mor as circunstâncias de seu próprio sonho; com este veio a lembrança de José, e uma compunção de remorso pelo seu esquecimento e ingratidão. Ele informou de pronto ao rei como o seu sonho e o do padeiro-mor foram interpretados por um cativo hebreu, e como se cumpriram as predições. PP 151 1 Foi humilhante a Faraó volver dos mágicos e sábios de seu reino para consultar um estrangeiro e escravo; mas estava pronto para aceitar o mais humilde serviço caso pudesse seu espírito perturbado encontrar alívio. Mandaram chamar imediatamente a José; tirou suas roupas de prisioneiro, barbeou-se, pois o cabelo crescera muito durante o tempo de opróbrio e reclusão. Foi então conduzido à presença do rei. PP 151 2 "E Faraó disse a José: Eu sonhei um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó". Gênesis 41:15. A resposta de José ao rei, revela sua humildade e fé em Deus. Modestamente não se atribui a honra de possuir em si sabedoria superior. "Isso não está em mim". Gênesis 41:16. Unicamente Deus pode explicar estes mistérios. PP 151 3 Faraó então se põe a relatar os sonhos: "Estava eu em pé na praia do rio, e eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne e formosas à vista, e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam após estas, muito feias à vista, e magras de carne; não tenho visto outras tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito. E as vacas magras e feias comiam as primeiras sete vacas gordas; e entraram em suas entranhas, mas não se conhecia que houvessem entrado em suas entranhas; porque o seu parecer era feio como no princípio. Então acordei. Depois vi em meu sonho, e eis que dum mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas; e eis que sete espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu disse-o aos magos, mas ninguém houve que mo interpretasse". Gênesis 41:17-24. PP 151 4 "O sonho de Faraó é um só", disse José. "O que Deus há de fazer, notificou-o a Faraó". Gênesis 41:25. Haveria sete anos de grande abundância. Campos e hortas produziriam mais abundantemente do que nunca haviam produzido. E este período seria seguido de sete anos de fome. "E não será conhecida a abundância na terra, por causa daquela fome que haverá depois; porquanto será gravíssima". Gênesis 41:31. A repetição do sonho era prova tanto da certeza como da proximidade do cumprimento. "Portanto", continuou ele, "Faraó se proveja agora dum varão entendido e sábio, e o ponha sobre a terra do Egito. Faça isso Faraó, e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte da terra do Egito nos sete anos de fartura. E ajuntem toda a comida destes bons anos que vêm, e amontoem trigo debaixo da mão de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem; assim será o mantimento para provimento da terra, para os sete anos de fome". Gênesis 41:33-36. PP 152 1 A interpretação foi tão razoável e coerente, e a política que a mesma recomendava tão sólida e sagaz era, que sua correção não poderia ser posta em dúvida. Mas a quem se poderia confiar a execução do plano? Da sabedoria desta escolha dependia a preservação da nação. O rei estava perturbado. Por algum tempo foi considerada a questão desta indicação. Pelo copeiro-mor soubera o rei da sabedoria e prudência demonstradas por José na administração da prisão; era evidente que ele possuía habilidade administrativa em grau preeminente. O copeiro, cheio agora de reprovação a si mesmo, esforçava-se por reparar sua anterior ingratidão, mediante o mais caloroso elogio ao seu benfeitor; e novas indagações feitas pelo rei demonstraram a correção do que referia ele. Em todo o reino foi José o único homem dotado de sabedoria para indicar o perigo que ameaçava o país, e o preparo necessário para enfrentá-lo; e o rei estava convencido de que ele era o mais bem qualificado para executar os planos que propusera. Era evidente que um poder divino estava com ele, e que ninguém havia entre os ministros de Estado do rei tão habilitado para dirigir os negócios da nação em tal momento crítico. O fato de que ele era hebreu e escravo, era de pouca importância quando ponderado em confronto com sua sabedoria evidente e são juízo. "Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de Deus?" (Gênesis 41:38) disse o rei aos conselheiros. PP 152 2 Esta indicação foi decidida, e a José foi feito o surpreendente anúncio: "Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo; somente no trono eu serei maior que tu". Gênesis 41:39, 40. O rei pôs-se em seguida a investir José com as insígnias de seu elevado cargo. "E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs na mão de José, e o fez vestir vestidos de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai". Gênesis 41:42, 43. PP 152 3 "Fê-lo senhor da sua casa, e governador de toda a sua fazenda; para, a seu gosto, sujeitar os seus príncipes, e instruir os seus anciãos". Salmos 105:21, 22. Do calabouço José foi elevado a governador sobre toda a terra do Egito. Era uma posição de alta honra, e, contudo, assediada de dificuldades e perigo. Ninguém pode ficar a uma elevada altura, isento de perigo. Assim como a tempestade deixa ilesa a humilde flor do vale, ao mesmo tempo em que desarraiga a majestosa árvore no cimo da montanha, também aqueles que têm mantido sua integridade na vida humilde podem ser arrastados ao abismo pelas tentações que assaltam o êxito e as honras mundanas. Mas o caráter de José resistiu de modo semelhante à prova da adversidade e da prosperidade. A mesma fidelidade que manifestou para com Deus quando estava na cela de prisioneiro, manifestou no palácio dos Faraós. Ele era ainda um estrangeiro em uma terra gentílica, separado de seus parentes, adoradores de Deus; mas cria completamente que a mão divina lhe havia dirigido os passos, e com uma constante confiança em Deus desempenhava fielmente os deveres de seu cargo. Por meio de José a atenção do rei e dos grandes homens do Egito foi dirigida ao verdadeiro Deus; e, embora se apegassem à sua idolatria, aprenderam a respeitar os princípios revelados na vida e caráter do adorador de Jeová. PP 153 1 Como se habilitou José a efetuar um registro tal de firmeza de caráter, correção e sabedoria? -- Em seus primeiros anos, havia ele consultado o dever em vez da inclinação; e a integridade, a singela confiança, a natureza nobre, do jovem, produziram frutos nas ações do homem. Uma vida pura e simples favorecera o desenvolvimento vigoroso tanto das faculdades físicas como das intelectuais. A comunhão com Deus mediante Suas obras, e a contemplação das grandiosas verdades confiadas aos herdeiros da fé, haviam elevado e enobrecido sua natureza espiritual, alargando e fortalecendo o espírito como nenhum outro estudo o poderia fazer. A atenção fiel ao dever em todos os postos, desde o mais humilde até o mais elevado, estivera educando toda a faculdade para o seu mais elevado serviço. Aquele que vive de acordo com a vontade do Criador, está a assegurar para si o mais verdadeiro e nobre desenvolvimento de caráter. "O temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência". Jó 28:28. PP 153 2 Poucos há que se compenetram da influência das pequenas coisas da vida sobre o desenvolvimento do caráter. Nada com que temos de tratar é realmente pequeno. As circunstâncias variadas que deparamos dia após dia, são destinadas a provar nossa fidelidade, e habilitar-nos a maiores encargos. Pelo apego aos princípios nas transações da vida usual, a mente se habitua a considerar as exigências do dever acima das do prazer e da inclinação. Espíritos assim disciplinados não estão a vacilar entre o direito e o que não o é, como a vara a tremer ao vento; são fiéis ao dever porque se educaram aos hábitos de fidelidade e verdade. Pela fidelidade naquilo que é o mínimo, adquirem forças para serem fiéis em coisas maiores. PP 153 3 Um caráter reto é de maior valor do que o ouro de Ofir. Sem ele ninguém pode subir a uma altura honrosa. Mas não se herda o caráter. Não pode ser comprado. A excelência moral e as belas qualidades mentais não são o resultado do acaso. Os mais preciosos dons não são de valor algum a menos que sejam aperfeiçoados. A formação de um caráter nobre é obra de uma vida inteira, e deve ser o resultado de esforço diligente e perseverante. Deus dá as oportunidades; o êxito depende do aproveitamento das mesmas. ------------------------Capítulo 21 -- José e seus irmãos PP 154 0 Este capítulo é baseado em Gênesis 41:54-56; 42-50. PP 154 1 Logo no início dos anos produtivos, começaram-se os preparativos para a fome que se aproximava. Sob a administração de José imensos depósitos foram construídos em todos os lugares principais, por toda a terra do Egito, e tomadas amplas disposições para preservar o excedente da colheita que se esperava. A mesma orientação foi continuada durante os sete anos de abundância, até que a quantidade de trigo posta em depósito se achava além de estimativa. PP 154 2 E então começaram a vir os sete anos de escassez, conforme a predição de José. "E havia fome em todas as terras, mas em toda a terra do Egito havia pão. E tendo toda a terra do Egito fome, clamou o povo a Faraó por pão; e Faraó disse a todos os egípcios: Ide a José; o que ele vos disser, fazei. Havendo pois fome sobre toda a terra, abriu José tudo em que havia mantimento, e vendeu aos egípcios". Gênesis 41:54-56. PP 154 3 A fome estendeu-se à terra de Canaã, e foi severamente sentida naquela parte do país em que Jacó habitava. Ouvindo falar da provisão abundante feita pelo rei do Egito, dez dos filhos de Jacó viajaram para ali a fim de comprar trigo. À sua chegada foram encaminhados ao agente do rei e juntamente com outros pretendentes vieram apresentar-se perante o governador da terra. E eles "inclinaram-se ante ele com a face na terra". "José, pois, conheceu os seus irmãos; mas eles não o conheceram". Gênesis 42:6, 8. Seu nome hebreu tinha sido mudado por outro, concedido pelo rei; e pouca semelhança havia entre o primeiro-ministro do Egito e o rapaz que haviam vendido aos ismaelitas. Quando José viu os irmãos curvarem-se e fazerem-lhe mesuras, seus sonhos vieram-lhe à mente, e as cenas do passado surgiram vividamente diante dele. Seu olhar penetrante, examinando o grupo, descobriu que Benjamim não estava entre eles. Teria ele também caído como vítima da traiçoeira crueldade daqueles homens ferozes? Decidiu-se a saber a verdade. "Vós sois espias", disse ele severamente; "e viestes para ver a nudez da terra". Gênesis 42:9. PP 154 4 Eles responderam: "Não, senhor meu; mas teus servos vieram comprar mantimento. Todos nós somos filhos de um varão: somos homens de retidão; os teus servos não são espias." Desejou saber se possuíam o mesmo espírito altivo que tinham quando com eles estava; e bem assim tirar deles alguma informação com relação à sua casa; bem sabia, contudo, quão enganadoras poderiam ser as suas declarações. Repetiu a acusação, e eles replicaram: "Nós, teus servos, somos doze irmãos, filhos de um varão da terra de Canaã; e eis que o mais novo está com nosso pai hoje; mas um já não existe". Gênesis 42:10, 13. PP 155 1 Dizendo-se estar em dúvida quanto à veracidade de sua história, e considerá-los ainda como espias, o governador declarou que os provaria, exigindo deles que ficassem no Egito até que um deles fosse e trouxesse seu irmão mais moço. Se não consentissem nisto, deveriam ser tratados como espias. Mas com tal disposição os filhos de Jacó não poderiam concordar, visto que o tempo exigido para levá-la a efeito faria com que suas famílias sofressem pela falta de alimento; e quem entre eles empreenderia a viagem sozinho, deixando seus irmãos na prisão? Como poderia esse encontrar o pai, em tais circunstâncias? Parecia provável que seriam mortos ou escravizados; e, se Benjamim fosse trazido, poderia ser apenas para participar da sorte deles. Decidiram-se a ficar e sofrer juntos, em vez de trazerem novas tristezas ao pai pela perda do único filho que lhe restava. Em conformidade com isto foram lançados na prisão, onde ficaram três dias. PP 155 2 Durante os anos em que José estivera separado dos irmãos, estes filhos de Jacó se haviam mudado em seu caráter. Invejosos, turbulentos, enganadores, cruéis e vingativos tinham eles sido; mas agora, quando provados pela adversidade, mostraram-se abnegados, leais uns para com os outros, dedicados ao pai, e, sendo eles homens de idade mediana, sujeitos à sua autoridade. PP 155 3 Os três dias na prisão egípcia foram de amargurada tristeza, ao refletirem os irmãos em seus pecados passados. A menos que Benjamim pudesse ser trazido, parecia certa a convicção a respeito deles como espias; e pouca esperança tinham de obter o consentimento de seu pai para a ausência de Benjamim. No terceiro dia, José fez com que os irmãos fossem trazidos perante ele. Não ousava detê-los por mais tempo. Seu pai e as famílias que com ele estavam poderiam já estar a sofrer falta de alimento. "Fazei isto, e vivereis", disse ele; "porque eu temo a Deus. Se sois homens de retidão, que fique um de vossos irmãos, preso na casa de vossa prisão; e vós ide, levai trigo para a fome de vossa casa, e trazei-me o vosso irmão mais novo, e serão verificadas as vossas palavras, e não morrereis". Gênesis 42:18-20. Esta proposta concordavam em aceitar, exprimindo embora pouca esperança de que seu pai deixasse Benjamim vir com eles. José se comunicara com eles mediante um intérprete, e, não fazendo idéia que o governador os compreendesse, conversavam livremente um com outro em sua presença. Acusavam-se com relação ao tratamento que deram a José: "Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia de sua alma, quando nos rogava; nós, porém, não ouvimos; por isso vem sobre nós esta angústia." Rúben, que havia formulado o plano de entregar em Dotã, acrescentou: "Não vo-lo dizia eu, dizendo: Não pequeis contra o moço? Mas não ouvistes; e vedes aqui, o seu sangue também é requerido". Gênesis 42:21, 22. José, ouvindo, não pôde dominar suas emoções, e saiu e chorou. À sua volta, ordenou fosse Simeão amarrado perante eles, e de novo entregue à prisão. No tratamento cruel a seu irmão, Simeão fora o instigador e principal ator, e foi por esta razão que a escolha recaiu sobre ele. PP 156 1 Antes de permitir que seus irmãos partissem, José deu ordens para que fossem supridos de trigo, e também que o dinheiro de cada homem fosse colocado secretamente na boca do respectivo saco. Forragem para os animais, durante a viagem para casa, também foi suprida. Em caminho, um do grupo, abrindo o saco ficou surpreendido por encontrar o seu saquitel contendo o dinheiro de prata. Dando a conhecer o fato aos demais, ficaram alarmados e perplexos, e disseram uns aos outros: "Que é isto que Deus nos tem feito?" (Gênesis 42:28) -- pois que deveriam considerar isso como um bom sinal da parte do Senhor, ou permitira Ele que tal acontecesse para os castigar de seus pecados e mergulhá-los ainda mais na aflição? Reconheciam que Deus vira seus pecados, e que agora os estava castigando. PP 156 2 Jacó estava inquieto, esperando a volta dos filhos, e à sua chegada todo o acampamento reuniu-se ansiosamente em redor deles enquanto relatavam ao pai tudo que havia ocorrido. O espanto e a apreensão enchiam todos os corações. O proceder do governador egípcio parecia implicar algum mau desígnio, e seus temores se confirmaram, quando ao abrirem os respectivos sacos, o dinheiro do possuidor foi encontrado em cada um deles. Em sua angústia o idoso pai exclamou: "Tendes-me desfilhado; José já não existe, e Simeão não está aqui; agora levareis a Benjamim. Todas estas coisas vieram sobre mim." Rúben respondeu: "Mata os meus dois filhos, se to não tornar a trazer; dá-mo em minha mão, e to tornarei a trazer." Este arrebatado discurso não aliviou o espírito de Jacó. Sua resposta foi: "Não descerá meu filho convosco; porquanto seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe sucede algum desastre no caminho por onde fordes, faríeis descer minhas cãs com tristeza à sepultura". Gênesis 42:36-38. PP 156 3 Mas a seca continuou, e, com o correr do tempo, o suprimento de trigo que fora trazido do Egito estava quase esgotado. Os filhos de Jacó bem sabiam que seria em vão voltar ao Egito sem Benjamim. Tinham pouca esperança de mudar a resolução de seu pai, e aguardavam o desenlace daquilo em silêncio. Cada vez mais negra se tornava a sombra da fome que se aproximava; no rosto ansioso de todos no acampamento, lia o ancião a necessidade deles; e finalmente disse: "Tornai, comprai-nos um pouco de alimento". Gênesis 43:2. PP 156 4 Judá respondeu: "Fortemente nos protestou aquele varão, dizendo: Não vereis a minha face, se o vosso irmão não vier convosco. Se enviares conosco o nosso irmão, desceremos, e te compraremos alimento; mas se não enviares, não desceremos; porquanto aquele varão nos disse: Não vereis a minha face se o vosso irmão não vier convosco". Gênesis 43:3-5. Vendo que a resolução de seu pai começava a vacilar, acrescentou: "Envia o mancebo comigo, e levantar-nos-emos, e iremos para que vivamos, e não morramos, nem nós, nem tu, nem os nossos filhos" (Gênesis 43:8); e se ofereceu como fiador por seu irmão, e para assumir a culpa para sempre se deixasse de restituir Benjamim a seu pai. PP 157 1 Jacó não mais podia recusar o seu consentimento, e determinou a seus filhos que se preparassem para a viagem. Ordenou-lhes também que levassem ao governador um presente das coisas que o país devastado pela fome, oferecia: "um pouco de bálsamo, e um pouco de mel, especiarias, mirra, terebinto, e amêndoas", bem como uma dobrada porção de dinheiro. "Tomai também a vosso irmão, e levantai-vos", disse ele, "e voltai àquele varão." Quando seus filhos estavam para partir para a sua viagem duvidosa, o idoso pai levantou-se e erguendo as mãos para o Céu, proferiu esta oração: "E Deus todo-poderoso vos dê misericórdia diante do varão, para que deixe vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado, desfilhado ficarei". Gênesis 43:11, 13, 14. PP 157 2 De novo viajaram ao Egito, e apresentaram-se perante José. Caindo seu olhar sobre Benjamim, o filho de sua própria mãe, ficou ele profundamente comovido. Ocultou, entretanto, a sua emoção, mas ordenou que fossem levados para sua casa, e que se fizessem preparativos para comerem com ele. Sendo conduzidos ao palácio do governador, os irmãos estavam grandemente alarmados, receando ser chamados a dar contas do dinheiro encontrado nos sacos. Pensavam que tivesse sido propositalmente colocado ali, para dar motivo de os fazer escravos. Em sua aflição consultaram o mordomo da casa, relatando-lhe as circunstâncias de sua visita ao Egito; e em prova de sua inocência o informaram de que haviam novamente trazido o dinheiro encontrado nos sacos, como também mais dinheiro para comprar alimento; e acrescentaram: "Não sabemos quem tenha posto o nosso dinheiro nos nossos sacos". Gênesis 43:22. O homem respondeu: "Paz seja convosco, não temais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai, vos tem dado um tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim". Gênesis 43:23. Sua ansiedade aliviou-se; e, quando Simeão, que fora liberto da prisão, uniu-se com eles, entenderam que na verdade Deus lhes era gracioso. PP 157 3 Quando o governador de novo os encontrou, apresentaram seus presentes, e humildemente "inclinaram-se a ele até à terra". De novo seus sonhos lhe vieram à mente, e, depois de saudar os seus hóspedes, apressou-se a perguntar: "Vosso pai, o velho de quem falastes, está bem, ainda vive?" "Bem está o teu servo, nosso pai vive ainda", foi a resposta, enquanto de novo se inclinaram. Então seu olhar repousou em Benjamim, e disse: "Este é o vosso irmão mais novo de quem me falastes?" "Deus te abençoe, meu filho"; mas, dominado pelos sentimentos de ternura, nada mais pôde dizer. "Entrou na câmara, e chorou ali". Gênesis 43:27-30. PP 158 1 Tendo recuperado o domínio de si, voltou, e todos deram início ao banquete. Pelas leis de castas, aos egípcios era vedado comer com o povo de qualquer outra nação. Os filhos de Jacó tinham portanto uma mesa para si, enquanto o governador, por causa de sua elevada posição, comia só, e os egípcios também tinham mesas separadas. Quando todos estavam sentados, os irmãos ficaram surpresos por ver que estavam dispostos na ordem exata, segundo suas idades. José "apresentou-lhes as porções que estavam diante dele"; mas a de Benjamim foi cinco vezes mais a de qualquer deles. Por este sinal de favor para com Benjamim esperava averiguar se o irmão mais moço era olhado com a inveja e ódio que para com ele foram manifestados. Supondo ainda que José não compreendia a sua língua, os irmãos conversavam livremente uns com os outros; assim teve ele boa oportunidade de conhecer seus verdadeiros sentimentos. Desejava ainda prová-los mais, e antes de sua partida ordenou que seu próprio copo de prata fosse escondido no saco do mais moço. PP 158 2 Alegremente partiram para a sua volta. Simeão e Benjamim estavam com eles, seus animais estavam carregados de trigo, e todos entendiam haver escapado em segurança dos perigos que pareciam cercá-los. Todavia, apenas tinham alcançado os arredores da cidade quando foram surpreendidos pelo mordomo do governador, que proferiu a incisiva pergunta: "Por que pagastes mal por bem? Não é este o copo por que bebe meu senhor? e em que ele bem adivinha? Fizestes mal no que fizestes". Gênesis 44:4, 5. Supunha-se possuir aquela taça o poder de descobrir qualquer substância venenosa na mesma colocada. Naquele tempo, taças desta espécie tinham alto valor como salvaguarda contra o assassínio pelo envenenamento. PP 158 3 À acusação do despenseiro responderam os viajantes: "Por que diz meu senhor tais palavras? Longe estejam teus servos de fazerem semelhante coisa. Eis que o dinheiro, que temos achado nas bocas dos nossos sacos, te tornamos a trazer desde a terra de Canaã; como pois furtaríamos da casa de teu senhor prata ou ouro? Aquele dos teus servos em quem for achado, morra; e ainda nós seremos escravos do meu senhor". Gênesis 44:7-9. PP 158 4 "Ora seja também conforme as vossas palavras", disse o mordomo; "aquele em quem se achar será meu escravo, porém vós sereis desculpados". Gênesis 43:10. PP 158 5 Começou-se imediatamente a verificação. "Eles apressaram-se, e cada um pôs em terra o seu saco" (Gênesis 44:11), e o mordomo examinou cada um, começando com o de Rúben, e fazendo-o por ordem, até o do mais moço. No saco de Benjamim foi encontrado o copo. PP 158 6 Os irmãos rasgaram as vestes em sinal de completa desgraça, e vagarosamente voltaram à cidade. Em virtude de sua própria promessa, Benjamim estava condenado a uma vida de escravidão. Acompanharam o mordomo até o palácio, e, encontrando ainda ali o governador, prostraram-se diante dele: "Que é isto que fizestes?" disse ele. "Não sabeis vós que tal homem como eu bem adivinha?" Gênesis 44:15. José tencionava extorquir-lhes o reconhecimento de seu pecado. Nunca pretendera o poder de adivinhação, mas queria fazê-los crer que podia ler seus segredos. PP 159 1 Judá respondeu: "Que diremos a meu senhor? que falaremos? e como nos justificaremos? Achou Deus a iniqüidade de teus servos; eis que somos escravos de meu senhor, tanto nós como aquele em cuja mão foi achado o copo". Gênesis 44:16. PP 159 2 "Longe de mim que eu tal faça", foi a resposta; "o varão em cuja mão o copo foi achado, aquele será meu servo; porém vós subi em paz para vosso pai". Gênesis 44:17. PP 159 3 Em sua profunda angústia Judá aproxima-se então do governador, e exclama: "Ai senhor meu, deixa, peço-te, o teu servo dizer uma palavra aos ouvidos de meu senhor, e não se acenda a tua ira contra o teu servo; porque tu és como Faraó." Com palavras de tocante eloqüência descreveu a dor de seu pai pela perda de José, e sua relutância em deixar Benjamim vir com eles ao Egito, visto ser ele o único filho que restava de sua mãe Raquel, a quem Jacó amava tão ternamente. "Agora pois", disse ele, "indo eu a teu servo meu pai, e o moço não indo conosco, como a sua alma está atada com a alma dele, acontecerá que, vendo ele que o moço ali não está, morrerá; e teus servos farão descer as cãs de teu servo, nosso pai, com tristeza, à sepultura. Porque teu servo se deu por fiador por este moço para com meu pai, dizendo: Se não to tornar, eu serei culpado a meu pai todos os dias. Agora, pois, fique teu servo em lugar deste moço por escravo de meu senhor, e que suba o moço com seus irmãos. Por que como subirei eu a meu pai, se o moço não for comigo? para que não veja eu o mal que sobrevirá a meu pai". Gênesis 44:18, 30-34. PP 159 4 José estava satisfeito. Vira em seus irmãos os frutos do verdadeiro arrependimento. Ouvindo o nobre oferecimento de Judá, deu ordens para que todos, exceto aqueles homens, se retirassem; então, chorando em voz alta, exclamou: "Eu sou José; vive ainda meu pai?" Gênesis 45:3. PP 159 5 Seus irmãos ficaram imóveis, mudos de temor e espanto. Era governador do Egito seu irmão José, aquele irmão a quem invejavam e teriam morto, e que finalmente venderam como escravo! Todos os seus maus-tratos ao mesmo passaram diante deles. Lembraram-se como tinham desprezado seus sonhos, e agido para impedir o seu cumprimento. Haviam contudo desempenhado o seu papel no cumprimento desses sonhos; e, agora que estavam completamente em seu poder, vingar-se-ia ele indubitavelmente do mal que tinha sofrido. PP 159 6 Vendo sua confusão, disse bondosamente: "Peço-vos, chegai-vos a mim"; e, aproximando-se eles, continuou: "Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face". Gênesis 45:4, 5. Entendendo que já haviam sofrido muito pela sua crueldade para com ele, procurou nobremente banir seus temores, e diminuir a amargura da exprobração a si mesmos. PP 160 1 "Porque", continuou ele, "já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito. Apressai-vos, e subi a meu pai, e dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho José: Deus me tem posto por senhor em toda a terra do Egito; desce a mim, e não te demores; e habitarás na terra de Gósen, e estarás perto de mim, tu e os teus filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e tudo o que tens. E ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos de fome, para que não pereças de pobreza, tu e tua casa, e tudo o que tens. E eis que vossos olhos vêem, e os olhos de meu irmão Benjamim, que é minha boca que vos fala. PP 160 2 "E lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim chorou também ao seu pescoço. E beijou a todos os seus irmãos, e chorou sobre eles; e depois seus irmãos falaram com ele". Gênesis 45:6-15. Confessaram humildemente seu pecado, e rogaram perdão. Haviam muito tempo sofrido de ansiedade e remorso, e agora regozijavam-se de que ele ainda estivesse vivo. PP 160 3 A notícia do que tivera lugar rapidamente fora levada ao rei, o qual, ansioso por manifestar sua gratidão para com José, confirmou o convite do governador a sua família, dizendo: "O melhor de toda a terra do Egito será vosso". Gênesis 45:20. Os irmãos foram enviados abundantemente supridos de provisões e carros, e de todas as coisas necessárias para a mudança de todas as famílias e subordinados para o Egito. A Benjamim, José concedeu presentes mais valiosos do que aos outros. Então, receando que surgissem entre eles discussões durante a viagem para casa, fez-lhes esta recomendação, ao estarem eles prestes a partir: "Não contendais pelo caminho". Gênesis 45:24. PP 160 4 Os filhos de Jacó voltaram a seu pai com estas alegres novas: "José ainda vive, e ele também é regente em toda a terra do Egito." A princípio o ancião ficou abismado; não podia crer o que ouvia; mas, quando viu o longo séquito de carros e animais carregados, e Benjamim se achou de novo com ele, convenceu-se e, na plenitude de sua alegria, exclamou: "Basta; ainda vive meu filho José, eu irei, e o verei antes que morra". Gênesis 45:26, 28. PP 160 5 Outro ato de humilhação restava aos dez irmãos. Confessaram agora ao pai o engano e crueldade que durante tantos anos haviam amargurado a sua vida e a deles. Jacó não suspeitara serem capazes de pecado tão vil, mas viu que tudo tinha sido encaminhado para o bem, e perdoou e abençoou seus filhos erradios. PP 161 1 O pai e seus filhos, juntamente com as famílias destes, os seus rebanhos e gado, e numerosos agregados, logo estavam a caminho para o Egito. Com alegria de coração prosseguiram em sua viagem, e, quando chegaram a Berseba, o patriarca ofereceu gratos sacrifícios, e rogou ao Senhor que lhes concedesse a segurança de que com eles iria. Em visão da noite veio-lhe a palavra divina: "Não temas descer ao Egito, porque Eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e certamente te farei tornar a subir". Gênesis 46:3, 4. PP 161 2 A afirmação -- "Não temas descer ao Egito, porque Eu te farei ali uma grande nação" -- era significativa. A Abraão fora feita a promessa de uma posteridade inumerável como as estrelas; mas por enquanto o povo escolhido não havia aumentado senão vagarosamente. E agora a terra de Canaã não oferecia campo para o desenvolvimento de uma nação tal como fora predita. Estava na posse de poderosas tribos gentílicas, que não deveriam ser despojadas até "a quarta geração". Gênesis 15:16. Se os descendentes de Israel deviam ali tornar-se um povo numeroso, teriam de, ou expulsar os habitantes da terra, ou dispersar-se entre eles. Não podiam fazer de acordo com a primeira alternativa, em conformidade com a disposição divina; e, se eles se misturassem com os cananeus estariam em perigo de serem seduzidos à idolatria. O Egito, contudo, oferecia as necessárias condições para o cumprimento do propósito divino. Uma região do país, bem regada e fértil, foi-lhes aberta ali, proporcionando toda a vantagem para o seu rápido aumento. E a antipatia que deveriam encontrar no Egito, por causa de sua ocupação -- pois que todo pastor era "abominação para os egípcios" (Gênesis 43:32) -- habilitá-los-ia a permanecer como um povo distinto e separado, e serviria assim para os excluir da participação na idolatria do Egito. PP 161 3 Chegando ao Egito, a multidão encaminhou-se diretamente para a terra de Gósen. Ali chegou José em seu carro oficial, acompanhado de uma comitiva principesca. O esplendor do que o cercava e a dignidade de sua posição foram semelhantemente esquecidos; um pensamento apenas lhe enchia a mente, um anelo fremia seu coração. Vendo ele os viajantes que se aproximavam, o amor cujos anseios por tantos longos anos haviam sido reprimidos, não mais foi dominado. Saltou do carro e apressou-se a dar as boas-vindas ao pai. E "lançou-se ao seu pescoço, e chorou sobre o seu pescoço longo tempo. E Israel disse a José: Morra eu agora, pois já tenho visto o teu rosto, que ainda vives". Gênesis 46:30. PP 161 4 José levou cinco de seus irmãos para os apresentar a Faraó, e recebeu dele a concessão da terra para a sua futura morada. A gratidão para com o seu primeiro-ministro teria levado o rei a honrá-los, designando-os para cargos de Estado; José, porém, fiel ao culto a Jeová, procurou salvar seus irmãos das tentações a que estariam expostos em uma corte gentílica; portanto, aconselhou-os a que, quando fossem interrogados pelo rei, lhe contassem francamente sua ocupação. Os filhos de Jacó seguiram este conselho, tendo também o cuidado de declarar que tinham vindo para peregrinar na terra, não para se tornarem habitantes permanentes ali, reservando assim o direito de partirem, se o quisessem. O rei indicou-lhes uma morada, oferecida "no melhor da terra" (Gênesis 47:6), o território de Gósen. PP 162 1 Não muito tempo depois de sua chegada, José trouxe também a seu pai para ser apresentado a Faraó. O patriarca era um estranho nas cortes reais; mas entre as cenas sublimes da natureza tinha tido comunhão com um Rei mais poderoso; e agora, em uma consciente superioridade, levantou as mãos e abençoou a Faraó. PP 162 2 Em sua primeira saudação a José, Jacó falara como estivesse pronto a morrer, depois daquele feliz termo à sua longa ansiedade e tristeza. Mas dezessete anos deveriam ainda ser-lhe concedidos no retiro pacífico de Gósen. Estes anos estiveram em feliz contraste com aqueles que os precederam. Viu em seus filhos provas de verdadeiro arrependimento; viu sua família rodeada de todas as condições necessárias ao desenvolvimento de uma grande nação; e sua fé apegou-se à segura promessa de seu futuro estabelecimento em Canaã. Ele próprio estava cercado de todo o indício de amor e favor que o primeiro-ministro do Egito poderia conferir; e, feliz na companhia de seu filho durante tanto tempo perdido, desceu calma e pacificamente à sepultura. PP 162 3 Sentindo aproximar-se a morte, mandou chamar José. Atendo-se ainda firmemente à promessa de Deus relativa à posse de Canaã, disse: "Rogo-te que me não enterres no Egito, mas que eu jaza com meus pais; por isso me levarás do Egito, e me sepultarás na sepultura deles". Gênesis 47:29, 30. José prometeu fazê-lo, mas Jacó não estava satisfeito; exigiu um juramento solene para o depor ao lado de seus pais na cova de Macpela. PP 162 4 Outro assunto importante reclamava atenção; os filhos de José deveriam ser com as devidas formalidades incluídos entre os filhos de Israel. José, vindo para a última entrevista com seu pai, trouxe consigo Efraim e Manassés. Estes jovens estavam ligados, por sua mãe, à mais elevada ordem do sacerdócio egípcio; e a posição de seu pai abria-lhes as portas da riqueza e distinção, caso preferissem eles unir-se aos egípcios. Era, entretanto o desejo de José que eles se unissem ao seu próprio povo. Manifestou sua fé na promessa do concerto, renunciando em favor de seus filhos todas as honras que a corte do Egito oferecia, e isto para ter um lugar entre as desprezadas tribos de pastores, às quais foram confiados os oráculos de Deus. PP 162 5 Disse Jacó: "Os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus; Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão". Gênesis 48:5. Deviam ser adotados como seus, e tornar-se cabeças de tribos distintas. Assim um dos privilégios da primogenitura, que Rúben havia perdido, recairia em José -- uma dupla porção em Israel. PP 163 1 A vista de Jacó estava obscurecida pela idade, e não notara a presença dos moços; agora, porém, percebendo o contorno de suas formas, disse: "Quem são estes?" Sendo-lhe dito quem eram, acrescentou: "Peço-te, trazemos aqui, para que os abençoe." Aproximando-se eles, o patriarca abraçou-os e beijou-os, pondo-lhes solenemente as mãos sobre a cabeça, para abençoá-los. Proferiu então esta oração: "O Deus, em cuja presença andaram os meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou, desde que eu nasci até este dia; o Anjo que me livrou de todo o mal, abençoe estes rapazes". Gênesis 48:8, 9, 15, 16. Não havia então o espírito de dependência de si mesmo, nem confiança no poder e sagacidade humanos. Deus tinha sido o seu preservador e apoio. Não havia queixa dos maus dias do passado. Suas provações e tristezas não mais eram consideradas como coisas que vieram sobre ele. Gênesis 42:36. A memória apenas trazia a lembrança da misericórdia e amorável bondade de Deus, que com ele estiveram durante toda a sua peregrinação. PP 163 2 Terminada a bênção, Jacó fez a seu filho esta afirmação (deixando às gerações vindouras, através de longos anos de cativeiro e tristeza, este testemunho de sua fé): "Eis que eu morro, mas Deus será convosco, e vos fará tornar à terra de vossos pais". Gênesis 48:21. PP 163 3 Finalmente todos os filhos de Jacó foram reunidos em redor de seu leito de morte. E Jacó chamou os filhos e disse: "ajuntai-vos, e ouvi, filhos de Jacó; e ouvi a Israel vosso pai", "e anunciar-vos-ei o que vos há de acontecer nos últimos dias". Gênesis 49:2, 1. Muitas vezes, e com ansiedade, havia pensado no futuro deles, e se esforçara por figurar a si mesmo a história das diferentes tribos. Agora, quando os filhos esperavam receber sua última bênção, o Espírito de inspiração repousou sobre ele; e, em visão profética, desvendou-se-lhe o futuro de seus descendentes. Um após outro, os nomes de seus filhos foram mencionados, descrito o caráter de cada um, e de modo breve predita a futura história da tribo. PP 163 4 "Rúben, tu és meu primogênito, minha força, e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza, o mais excelente em poder". Gênesis 49:3. PP 163 5 Assim o pai descreveu qual teria sido a posição de Rúben como filho primogênito; mas seu grave pecado em Edar fê-lo indigno da bênção da primogenitura. Continuou Jacó: PP 163 6 "Inconstante como a água, não serás o mais excelente". Gênesis 49:4. PP 163 7 O sacerdócio foi designado a Levi, o reino e a promessa messiânica a Judá, e a dupla porção da herança a José. A tribo de Rúben nunca sobressaiu em Israel; não foi tão numerosa como Judá, José, ou Dã, e achou-se entre as primeiras que foram levadas em cativeiro. PP 163 8 Seguindo-se pela idade a Rúben estavam Simeão e Levi. Eles estiveram unidos em sua crueldade para com os siquemitas, e foram também os mais culpados de ser José vendido. Foi declarado com respeito a eles: PP 164 1 "Eu os dividirei em Jacó, e os espalharei em Israel". Gênesis 49:7. PP 164 2 No recenseamento de Israel, precisamente antes de sua entrada em Canaã, Simeão era a menor tribo. Moisés em sua última bênção, não fez referência a Simeão. No estabelecimento das tribos em Canaã, teve esta unicamente uma pequena parte do quinhão de Judá, e as famílias que mais tarde se tornaram poderosas formaram diferentes colônias, e estabeleceram-se territórios fora das fronteiras da Terra Santa. Levi também não recebeu herança, a não ser quarenta e oito cidades espalhadas em diferentes partes da terra. No caso desta tribo, entretanto, sua fidelidade a Jeová, quando as outras tribos apostataram, assegurou a designação da mesma ao serviço sagrado do santuário, e assim a maldição se transformou em bênção. PP 164 3 As bênçãos da primogenitura, mais importantes que todas as outras, foram transferidas a Judá. A significação do nome, que denota louvor, desvenda-se na história profética desta tribo: PP 164 4 "Judá, a ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu. Encurva-se, e deita-se como um leão, e como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos". Gênesis 49:8-10. PP 164 5 O leão, rei das selvas, é um símbolo apropriado desta tribo, da qual veio Davi, e o Filho de Davi, Siló, o verdadeiro "Leão da tribo da Judá", perante quem todos os poderes finalmente se encurvarão, e todas as nações prestarão homenagem. PP 164 6 Para a maior parte de seus filhos Jacó predisse um futuro próspero. Chegou finalmente ao nome de José, e o coração do pai transbordou ao invocar ele bênçãos sobre a cabeça daquele que "foi separado de seus irmãos" (Gênesis 49:26): PP 164 7 "José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro. Os flecheiros lhe deram amargura, e o flecharam e aborreceram. O seu arco, porém, susteve-se no forte, e os braços de suas mãos foram fortalecidos pelas mãos do Valente de Jacó (Donde é o pastor e a pedra de Israel), PP 164 8 Pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos Céus de cima, com bênçãos do abismo que está debaixo, com bênçãos dos peitos e da madre. As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais, até à extremidade dos outeiros eternos; elas estarão sobre a cabeça de José, e sobre o alto da cabeça do que foi separado de seus irmãos". Gênesis 49:22-26. PP 164 9 Jacó fora sempre homem de afeição profunda e ardorosa; seu amor para com os filhos era forte e terno, e o testemunho que lhes proferiu à hora da morte, não foi uma declaração de parcialidade ou ressentimento. Ele lhes perdoara a todos, e os amou até o fim. Sua ternura paternal teria encontrado expressão apenas em palavras de animação e esperança; mas o poder de Deus repousou sobre ele, e sob a influência da inspiração foi constrangido a declarar a verdade, ainda que penosa. PP 165 1 Pronunciadas as últimas bênçãos, Jacó repetiu a incumbência relativa ao seu sepultamento: "Eu me congrego ao meu povo; sepultai-me com meus pais, [...] na cova que está no campo de Macpela." "Ali sepultaram a Abraão, e a Sara sua mulher; ali sepultaram a Isaque, e a Rebeca sua mulher; e ali eu sepultei a Léia". Gênesis 49:29-31. Assim o último ato de sua vida foi manifestar fé na promessa de Deus. PP 165 2 Os últimos anos de Jacó trouxeram uma tarde de tranqüilidade e repouso após um dia cheio de inquietações e cansaço. Acumularam-se nuvens negras por sobre o seu caminho; contudo, claro se pôs o seu sol, e o brilho do céu iluminou suas últimas horas. Dizem as Escrituras: "No tempo da tarde haverá luz". Zacarias 14:7. "Nota o homem sincero, e considera o que é reto, porque o futuro desse homem será de paz". Salmos 37:37. PP 165 3 Jacó tinha pecado, e havia sofrido profundamente. Muitos anos de labuta, cuidados e tristeza ele os havia tido desde o dia em que seu grande pecado fê-lo fugir das tendas de seu pai. Como fugitivo sem lar, separado de sua mãe, a quem nunca mais viu, trabalhando sete anos por aquela que amava, apenas para ser vilmente enganado; labutando vinte anos ao serviço de um parente ávido e ganancioso, vendo sua riqueza aumentar, e seus filhos crescerem em redor de si, mas encontrando pouca alegria na casa contenciosa e dividida; angustiado pela desonra de sua filha, pela vingança dos irmãos da mesma, pela morte de Raquel, pelo crime desnatural de Rúben, pelo pecado de Judá, pelo engano e malícia cruéis praticados para com José -- quão longo e tenebroso é o catálogo de males que se estende à vista! Muitas vezes colheu ele o fruto daquela primeira ação errada. Em freqüentes ocasiões viu repetir-se entre seus filhos os pecados de que ele próprio fora culpado. Mas, amarga como fora a disciplina, cumprira ela a sua obra. O castigo, se bem que atroz, produzira "um fruto pacífico de justiça". PP 165 4 A Inspiração registra fielmente as faltas de homens bons, daqueles que se distinguiram pelo favor de Deus; efetivamente, suas faltas são apresentadas de modo mais completo do que as virtudes. Isto tem sido objeto para a admiração de muitos e tem dado aos incrédulos ocasião para escarnecerem da Bíblia. É, porém, uma das mais fortes provas da verdade das Escrituras, não serem os fatos explicados de maneira que os favoreça, nem suprimidos os pecados de seus principais personagens. A mente dos homens é tão sujeita ao preconceito que não é possível serem as histórias humanas absolutamente imparciais. Houvesse a Bíblia sido escrita por pessoas não inspiradas, e teria sem dúvida apresentado o caráter de seus homens honrados sob uma luz mais lisonjeira. Mas, assim como é, temos um registro exato de suas experiências. PP 166 1 Homens a quem Deus favoreceu, e a quem confiou grandes responsabilidades, foram algumas vezes vencidos pela tentação, e cometeram pecado, mesmo como nós, presentemente, esforçamo-nos, vacilamos, e freqüentemente caímos em erro. Sua vida, com todas as suas faltas e loucuras, estão patentes diante de nós, tanto para a nossa animação como advertência. Se eles fossem representados como estando sem faltas, nós, com a nossa natureza pecaminosa, poderíamos desesperar-nos pelos nossos erros e fracassos. Mas, vendo onde outros lutaram através de desânimos semelhantes aos nossos, onde caíram sob a tentação como o temos feito, e como todavia se reanimaram e venceram pela graça de Deus, animemo-nos em nosso esforço para alcançar a justiça. Como eles, embora algumas vezes repelidos, recuperaram o terreno, e foram abençoados por Deus, assim nós também podemos ser vencedores na força de Jesus. De outro lado, o registro de sua vida pode servir como advertência para nós. Mostra que Deus de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Ele vê o pecado nos seus mais favorecidos, e trata com o mesmo neles mais estritamente até do que naqueles que têm menos luz e responsabilidade. PP 166 2 Depois do sepultamento de Jacó, o temor encheu novamente o coração dos irmãos de José. Apesar de sua bondade para com eles, uma culpabilidade consciente fê-los desconfiados e suspeitosos. Poderia ser que tão-somente houvesse ele retardado a vingança por consideração a seu pai, e que agora por seu crime trouxesse sobre eles o castigo, por tanto tempo adiado. Não ousaram aparecer diante dele, pessoalmente, mas enviaram uma mensagem: "Teu pai mandou, antes da sua morte, dizendo: assim direis a José: Perdoa, rogo-te, a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado, porque te fizeram mal; agora pois rogamos-te que perdoes a transgressão dos servos do Deus do teu pai." Esta mensagem afetou José até as lágrimas, e, animados com isto, seus irmãos vieram e prostraram-se diante dele, com as palavras: "Eis-nos aqui por teus servos." O amor de José por seus irmãos era profundo e abnegado, e ele ficou compungido com o pensamento de que o julgassem capaz de acariciar um espírito de vingança para com eles. "Não temais", disse ele, "porque porventura estou eu no lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida um povo grande; agora pois não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos meninos". Gênesis 50:16-21. PP 166 3 A vida de José ilustra a de Cristo. Foi a inveja que moveu os irmãos de José a vendê-lo como escravo; tiveram a esperança de impedir que se tornasse maior do que eles. E, quando foi levado para o Egito, lisonjearam-se de que não mais seriam perturbados com os seus sonhos; de que haviam removido toda a possibilidade de sua realização. Mas sua conduta foi dirigida por Deus a fim de levar a efeito o mesmo acontecimento que tencionavam impedir. Semelhantemente os sacerdotes e anciãos judeus estavam invejosos de Cristo, receando que deles atraísse a atenção do povo. Mataram-nO para impedir que se tornasse rei, mas estiveram desta maneira a efetuar este mesmo resultado. PP 167 1 José, mediante seu cativeiro no Egito, tornou-se um salvador para a família de seu pai; contudo, este fato não diminuiu a culpa de seu irmãos. Semelhantemente, a crucificação de Cristo, pelos Seus inimigos, dEle fez o Redentor da humanidade, o Salvador de uma raça decaída, e Governador do mundo inteiro; mas o crime de Seus assassinos foi precisamente tão hediondo como se a mão providencial de Deus não houvesse dirigido os acontecimentos para Sua glória e o bem do homem. PP 167 2 Assim como José foi vendido aos gentios por seus próprios irmãos, foi Cristo vendido aos piores de Seus inimigos por um de Seus discípulos. José foi acusado falsamente e lançado na prisão por causa de sua virtude; assim Cristo foi desprezado e rejeitado porque Sua vida justa, abnegada, era uma repreensão ao pecado; e, se bem que não tivesse a culpa de falta alguma, foi condenado pelo depoimento de testemunhas falsas. E a paciência e humildade de José sob a injustiça e a opressão, seu perdão pronto e a nobre benevolência para com seus irmãos desnaturados, representam o resignado sofrimento do Salvador, pela malícia e maus-tratos de homens ímpios, e Seu perdão não somente aos Seus assassinos, mas a todos que a Ele têm vindo confessando seus pecados e buscando perdão. PP 167 3 José sobreviveu a seu pai cinqüenta e quatro anos. Viveu até ver "os filhos de Efraim, da terceira geração; também os filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os joelhos de José". Gênesis 50:23. Ele testemunhou o aumento e prosperidade de seu povo, e através de todos os anos permaneceu inabalável sua fé de que Deus restauraria a Israel a Terra da Promessa. PP 167 4 Quando viu que seu fim estava perto, convocou os parentes ao redor de si. Conquanto houvesse sido honrado na terra dos Faraós, o Egito para ele não era senão lugar de seu exílio; seu último ato deveria significar que sua sorte fora lançada com Israel. Foram suas últimas palavras: "Deus certamente vos visitará, e vos fará subir desta terra para a terra que jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó." E obteve um juramento solene dos filhos de Israel de que levariam seus ossos consigo à terra de Canaã. "E morreu José da idade de cento e dez anos; e o embalsamaram, e o puseram num caixão no Egito". Gênesis 50:24, 26. E por todos os séculos de labutas que se seguiram, aquele ataúde, lembrança das últimas palavras de José, testificou a Israel de que apenas eram peregrinos no Egito, e ordenava-lhes conservar fixas as suas esperanças na Terra da Promessa, pois que o tempo do livramento certamente haveria de vir. ------------------------Capítulo 22 -- Moisés PP 168 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 1-4. PP 168 1 O povo do Egito, a fim de suprir-se de alimento durante a fome, vendera à coroa seu gado e terras, e finalmente prendera-se à servidão perpétua. José proveu sabiamente o seu livramento; permitiu-lhes que se tornassem arrendatários reais, conservando as terras do rei, e pagando um tributo anual de um quinto dos produtos de seu trabalho. PP 168 2 Mas os filhos de Jacó não estavam na necessidade de adotar essas condições. Por causa do serviço que José prestara à nação egípcia, não somente lhes foi concedida uma parte do país como morada, mas estiveram isentos de imposto, e foram liberalmente supridos de alimento enquanto perdurou a fome. O rei publicamente reconhecia que fora pela misericordiosa interferência do Deus de José que o Egito desfrutava abundância, enquanto outras nações estavam a perecer de fome. Via, também, que a administração de José havia enriquecido grandemente o reino, e sua gratidão cercou a família de Jacó do favor real. PP 168 3 Mas, passando-se o tempo, o grande homem a quem o Egito tanto devia, e a geração abençoada pelos seus labores, desceram ao túmulo. E "levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José". Não que ignorasse os serviços de José à nação, mas não desejava reconhecê-los, e, quanto possível, queria sepultá-lo no olvido. "Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos sabiamente para com ele, para que não se multiplique, e aconteça que, vindo guerra, ele também se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra nós, e suba da terra". Êxodo 1:8-10. PP 168 4 Os israelitas já se haviam tornado muito numerosos; "frutificaram, e aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles". Sob o cuidado amparador de José, e o favor do rei que então governava, tinham-se eles espalhado rapidamente pelo país. Mas haviam-se conservado como uma raça distinta, nada tendo em comum com os egípcios, nos costumes, ou na religião; e seu número crescente despertava agora os temores do rei e de seu povo, não acontecesse em caso de guerra se unissem eles com os inimigos do Egito. Contudo, a prudência vedava o seu banimento do país. Muitos deles eram hábeis e inteligentes operários, e contribuíam grandemente para a riqueza da nação; o rei necessitava de tais trabalhadores para a construção de seus magnificentes palácios e templos. Por isso, ele os equiparou aos egípcios que, com suas posses, se haviam vendido ao reino. Logo foram postos sobre eles maiorais de tarefas, e tornou-se completa a sua escravidão. "E os egípcios faziam servir os filhos de Israel com dureza; assim lhes fizeram amargar a vida, com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço, em que os serviam com dureza." "Mas quanto mais o afligiam, tanto mais se multiplicava, e tanto mais crescia". Êxodo 1:7, 13, 12. PP 169 1 O rei e seus conselheiros tiveram a esperança de subjugar os israelitas com rude trabalho, e assim diminuir seu número e aniquilar-lhes o espírito independente. Fracassando na realização de seu propósito, recorreram a medidas mais cruéis. Foram expedidas ordens às mulheres cujo emprego lhes dava oportunidade para executar o mandado, a fim de destruírem as crianças hebréias do sexo masculino ao nascerem. Satanás foi o instigador disto. Sabia que um libertador deveria levantar-se entre os israelitas; e, levando o rei a destruir seus filhos, esperava frustrar o propósito divino. As mulheres, porém, temiam a Deus, e não ousavam executar o cruel mandado. O Senhor aprovou o procedimento delas, e prosperou-as. O rei, irado pelo fracasso de seu desígnio, tornou a ordem mais insistente e ampla. A nação inteira foi chamada a dar caça e a matar as suas vítimas indefesas. "Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida". Êxodo 1:22. PP 169 2 Enquanto este decreto estava em pleno vigor, um filho foi nascido a Anrão e Joquebede, israelitas devotos da tribo de Levi. A criança era "um menino formoso" (Êxodo 2:2); e os pais, crendo que o tempo do libertamento de Israel se estava aproximando, e que Deus levantaria um libertador para Seu povo, resolveram que seu filhinho não fosse sacrificado. A fé em Deus fortalecia o seu coração, "e não temeram o mandamento do rei". Hebreus 11:23. PP 169 3 A mãe conseguiu esconder a criança durante três meses. Então, achando que não mais a poderia conservar sem perigo, preparou uma pequena arca de junco, tornando-a impermeável por meio de betume e piche; e, pondo nela a criança, colocou-a entre os juncos, à margem do rio. Não ousou ficar para vigiá-la, com receio de que a vida da criança e a sua própria vida se perdessem; mas sua irmã Miriã, deteve-se perto, aparentemente indiferente, mas observando ansiosa para ver o que seria de seu irmãozinho. E havia outros vigias. As orações fervorosas da mãe haviam confiado seu filho ao cuidado de Deus; e anjos, invisíveis, pairavam por sobre o seu humilde lugar de descanso. Os anjos encaminharam a filha de Faraó para ali. Sua curiosidade foi provocada pela pequena cesta, e, ao olhar para a linda criança que dentro estava, leu a história num relance. As lágrimas do bebê despertara-lhe a compaixão, e suas simpatias se estenderam à mãe desconhecida que recorrera a tal meio para preservar a vida de seu precioso pequerrucho. Resolveu que ele deveria ser salvo; ela o adotaria como seu. PP 170 1 Miriã estivera a notar secretamente tudo que se passava; percebendo que a criança era olhada com ternura, arriscou-se a aproximar-se, e disse finalmente: "Irei eu a chamar uma ama das hebréias, que crie este menino para ti?" Êxodo 2:7. E a permissão foi dada. PP 170 2 A irmã correu para a mãe com a feliz nova, e sem demora voltou com ela à presença da filha de Faraó. "Leva este menino, e cria-mo; eu te darei teu salário", disse a princesa. Êxodo 2:9. PP 170 3 Deus tinha ouvido as orações da mãe; fora recompensada a sua fé. Com profunda gratidão foi que ela deu início à sua tarefa, agora sem perigos e feliz. Fielmente aproveitou a oportunidade para educar seu filho para Deus. Confiava em que ele fora preservado para alguma grande obra, e sabia que breve deveria ser entregue à sua régia mãe, para ser cercado de influências que tenderiam a desviá-lo de Deus. Tudo isto a tornava mais diligente e cuidadosa em sua instrução do que na dos demais filhos. Esforçou-se por embeber seu espírito com o temor de Deus e com o amor à verdade e justiça, e fervorosamente orava para que ele pudesse preservar-se de toda a influência corruptora. Mostrou-lhe a loucura e o pecado da idolatria, e cedo o ensinou a curvar-se e a orar ao Deus vivo, que unicamente poderia ouvi-lo e auxiliá-lo em toda a emergência. PP 170 4 Ela conservou consigo o rapaz tanto quanto pôde; foi, porém, obrigada a entregá-lo quando ele teve aproximadamente doze anos. Foi levado de sua humilde choupana ao palácio real, para a filha de Faraó, e se tornou seu filho. Contudo, mesmo ali, ele não perdeu as impressões recebidas na infância. As lições aprendidas ao lado de sua mãe, não as esquecia. Eram uma proteção contra o orgulho, a incredulidade e o vício, que cresciam por entre os esplendores da corte. PP 170 5 De que grande alcance em seus resultados foi a influência daquela mãe hebréia, sendo ela entretanto uma exilada e escrava! Toda a vida futura de Moisés, a grande missão que ele cumpriu como chefe de Israel, testificam da importância da obra de uma mãe cristã. Não há outro trabalho que possa igualar a este. Em parte muito grande, a mãe tem nas mãos o destino de seus filhos. Ela trata com mentes e caracteres em desenvolvimento, trabalhando não somente para o tempo, mas para a eternidade. Está a semear sementes que brotarão e frutificarão, quer para o bem quer para o mal. Ela não tem a desenhar formas de beleza na tela, ou esculpi-las no mármore, mas imprimir na alma humana a imagem do divino. Especialmente durante os primeiros anos recai sobre ela a responsabilidade de formar o caráter de seus filhos. As impressões então produzidas na mente destes, em desenvolvimento, permanecerão com eles por toda a vida. Os pais devem dirigir a instrução e ensino de seus filhos enquanto muito pequenos, com o objetivo de poderem eles ser cristãos. São postos sob o nosso cuidado para serem ensinados, não como herdeiros do trono de um reino terrestre, mas como reis para Deus, a fim de reinarem pelos séculos eternos. PP 171 1 Que toda mãe sinta serem inapreciáveis os seus momentos; sua obra será provada no dia solene do ajuste de contas. Achar-se-á então que muitos dos fracassos e crimes de homens e mulheres, resultaram da ignorância ou negligência daqueles cujo dever era guiar os pés infantis no caminho direito. Ver-se-á então que muitos que têm abençoado o mundo com a luz do gênio, da verdade e santidade, devem os princípios que foram a mola mestra de sua influência e êxito, a uma mãe cristã, que orava. PP 171 2 Na corte de Faraó, Moisés recebeu o mais elevado ensino civil e militar. O rei resolvera fazer de seu neto adotivo o seu sucessor no trono, e o jovem foi educado para a sua elevada posição. "E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras". Atos dos Apóstolos 7:22. Sua habilidade como chefe militar tornou-o favorito dos exércitos do Egito, e era geralmente considerado personagem notável. Satanás fora derrotado em seu propósito. O mesmo decreto que condenava as crianças hebréias à morte, tinha sido encaminhado por Deus de modo a favorecer o ensino e educação do futuro chefe de Seu povo. PP 171 3 Os anciãos de Israel foram instruídos pelos anjos de que o tempo para o seu libertamento estava próximo, e que Moisés era o homem que Deus empregaria para realizar esta obra. Os anjos também instruíam a Moisés quanto a havê-lo Jeová escolhido para quebrar o cativeiro de Seu povo. Supondo que deveriam obter sua liberdade, pela força das armas, tinha ele a expectativa de levar o exército hebreu contra as hostes do Egito e, tendo isto em vista, prevenia-se contra suas afeições, receando que, pelo seu apego à mãe adotiva ou a Faraó, não estivesse livre para fazer a vontade de Deus. PP 171 4 Pelas leis do Egito, todos os que ocupavam o trono dos Faraós deviam fazer-se membros da sacerdócio; e Moisés, como o herdeiro presumível, deveria iniciar-se nos mistérios da religião nacional. Este dever foi confiado aos sacerdotes. Mas, ao mesmo tempo em que era um estudante ardoroso e incansável, não pôde ser induzido a participar do culto aos deuses. Foi ameaçado com a perda da coroa, e advertiu-se-lhe de que seria repudiado pela princesa caso persistisse em sua adesão à fé hebréia. Mas ele foi inabalável em sua decisão de não prestar homenagem a não ser ao único Deus, o Criador do céu e da Terra. Arrazoava com os sacerdotes e adoradores, mostrando a loucura de sua veneração supersticiosa a objetos insensíveis. Ninguém lhe podia refutar os argumentos nem mudar o propósito; contudo, provisoriamente foi tolerada a sua firmeza, por causa de sua elevada posição, e do favor em que era tido pelo rei, bem como pelo povo. PP 171 5 "Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa". Hebreus 11:24-26. Moisés estava em condições para ter preeminência entre os grandes da Terra, para brilhar nas cortes do mais glorioso dentre os reinos e para empunhar o cetro do poder. Sua grandeza intelectual o distingue, acima dos grandes homens de todos os tempos. Como historiador, poeta, filósofo, general de exércitos e legislador, não tem par. Todavia, com o mundo diante de si, teve a força moral para recusar as lisonjeiras perspectivas da riqueza, grandeza e fama, "escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado". PP 172 1 Moisés fora instruído com relação à recompensa final a ser dada aos humildes e obedientes servos de Deus, e as vantagens mundanas tombaram na insignificância que lhes é própria em comparação com aquela recompensa. O palácio luxuoso de Faraó e seu trono foram apresentados como um engano a Moisés; sabia ele, porém, que os prazeres pecaminosos que fazem os homens se esquecerem de Deus, achavam-se nos palácios senhoriais. Ele olhava para além do magnífico palácio, para além da coroa do rei, para as altas honras que serão conferidas aos santos do Altíssimo, em um reino incontaminado pelo pecado. Viu pela fé uma coroa incorruptível que o Rei do Céu colocaria sobre a fronte do vencedor. Esta fé o levou a desviar-se dos nobres da Terra, e unir-se à nação humilde, pobre e desprezada que preferira obedecer a Deus a servir ao pecado. PP 172 2 Moisés ficou na corte até a idade de quarenta anos. Seus pensamentos volviam muitas vezes à condição vil de seu povo, e visitava os irmãos em sua servidão, e os animava com a segurança de que Deus agiria em seu livramento. Muitas vezes, compungindo até à indignação à vista da injustiça e opressão, ardia por vingar suas afrontas. Um dia, em que estava fora, vendo um egípcio ferir um israelita, lançou-se entre eles e matou o egípcio. Exceto o israelita, não houvera testemunha dessa ação; e Moisés imediatamente sepultou o corpo na areia. Ele se mostrara agora pronto para sustentar a causa de seu povo, e esperava vê-los levantar-se a fim de recuperar sua liberdade. "Ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam". Atos dos Apóstolos 7:25. Ainda não estavam preparados para a liberdade. No dia seguinte Moisés viu dois hebreus que contendiam entre si, estando um deles evidentemente em falta, Moisés reprovou o delinqüente, que logo se desforrou daquele que o reprovava, negando o seu direito de intervir, e vilmente acusando-o de crime. "Quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós?" disse ele. "Pensas matar-me, como mataste ao egípcio?" Êxodo 2:14. PP 172 3 Toda a questão depressa se tornou conhecida pelos egípcios, e, grandemente exagerada, logo chegou aos ouvidos de Faraó. Fez-se parecer ao rei que este ato significava muito; que Moisés tencionava levar seu povo contra os egípcios, subverter o governo, e sentar-se no trono; e que não poderia haver segurança para o reino enquanto ele vivesse. De pronto foi resolvido pelo rei que ele morresse; mas, apercebendo-se de seu perigo, escapou, e fugiu rumo da Arábia. PP 173 1 O Senhor dirigiu os seus passos, e ele encontrou acolhida em casa de Jetro, sacerdote e príncipe de Midiã, que também era adorador de Deus. Depois de algum tempo, Moisés desposou uma das filhas de Jetro; e ali, ao serviço de seu sogro, como guardador de seus rebanhos, permaneceu quarenta anos. PP 173 2 Matando o egípcio, Moisés caíra no mesmo erro tantas vezes cometido por seus pais, de tomar nas próprias mãos a obra que Deus prometera fazer. Não era vontade de Deus libertar o Seu povo pela guerra, como Moisés pensava, mas pelo Seu próprio grande poder, para que a glória Lhe fosse atribuída a Ele tão-somente. Todavia, mesmo este ato precipitado foi ainda encaminhado por Deus a fim de cumprir Seus propósitos. Moisés não estava preparado para a sua grande obra. Tinha ainda a aprender a mesma lição de fé que havia sido ensinada a Abraão e Jacó -- não confiar na força e sabedoria humanas, mas no poder de Deus, para o cumprimento de Suas promessas. E havia outras lições que, em meio da solidão das montanhas, devia Moisés receber. Na escola da abnegação e dificuldades, ele devia aprender a paciência, a moderar as suas paixões. Antes que pudesse governar sabiamente, devia ser ensinado a obedecer. Seu coração devia estar completamente em harmonia com Deus, antes de poder ele ensinar o conhecimento de Sua vontade a Israel. Pela sua própria experiência devia estar preparado a exercer um cuidado paternal sobre todos os que necessitavam de seu auxílio. PP 173 3 O homem teria dispensado aquele longo período de labuta e obscuridade, julgando-o uma grande perda de tempo. Mas a Sabedoria infinita chamou aquele que se tornaria o dirigente de Seu povo, a passar quarenta anos no humilde trabalho de pastor. Os hábitos de exercer o cuidado, do esquecimento de si mesmo, e de terna solicitude pelo seu rebanho, assim desenvolvidos, prepará-lo-iam a tornar-se o compassivo e longânimo pastor de Israel. Proveito algum que o ensino ou a cultura humana pudessem outorgar, poderia ser um substituto para esta experiência. PP 173 4 Moisés estivera a aprender muito que tinha de desaprender. As influências que o haviam cercado no Egito -- o amor de sua mãe adotiva, sua própria posição elevada como o neto do rei, a dissipação de todos os lados, o requinte, a subtileza e o misticismo de uma religião falsa, o esplendor de um culto idólatra, a solene grandiosidade da arquitetura e escultura -- tudo deixara profundas impressões em sua mente em desenvolvimento, e modelara, até certo ponto, seus hábitos e caráter. O tempo, a mudança de ambiente e a comunhão com Deus podiam remover estas impressões. Renunciar o erro e aceitar a verdade requeria da parte de Moisés mesmo uma luta tremenda; mas Deus seria seu auxiliador quando o conflito fosse demasiado severo para a força humana. PP 173 5 Em todos os que têm sido escolhidos para cumprir uma obra para Deus, vê-se o elemento humano. Todavia não foram homens de hábitos e caráter estereotipados, que estavam satisfeitos com permanecer naquela condição. Fervorosamente desejavam obter sabedoria de Deus, e aprender a trabalhar para Ele. Diz o apóstolo: "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada." Tiago 1:5. Deus, porém, não comunicará aos homens luz divina, enquanto estiverem contentes com permanecerem em trevas. A fim de receber o auxílio de Deus, o homem deve compenetrar-se de sua fraqueza e deficiência; deve aplicar seu próprio espírito na grande mudança a ser operada em si; deve despertar para a oração e esforço fervorosos e perseverantes. Maus hábitos e costumes devem ser repelidos; e é apenas pelo esforço decidido no sentido de corrigir tais erros, e conformar-nos aos princípios retos, que a vitória pode ser ganha. Muitos jamais atingem a posição que poderiam ocupar, porque esperam que Deus faça por eles aquilo que Ele lhes deu poder para fazerem por si mesmos. Todos os que se habilitam a ser úteis devem ser adestrados pela mais severa disciplina mental e moral; e Deus os ajudará, unindo o poder divino ao esforço humano. PP 174 1 Encerrado nas fortificações das montanhas, Moisés estava a sós com Deus. Os templos magnificentes do Egito não mais lhe impressionavam o espírito, com sua superstição e falsidade. Na grandiosidade solene das colinas eternas via ele a majestade do Altíssimo, e em contraste compreendia quão impotentes e insignificantes eram os deuses do Egito. Por toda parte estava escrito o nome do Criador. Moisés parecia achar-se em Sua presença, e à sombra de Seu poder. Ali o seu orgulho e presunção foram varridos. Na simplicidade severa de sua vida no deserto, os resultados do ócio e luxo do Egito desapareceram. Moisés tornou-se paciente, reverente e humilde, "mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra" (Números 12:3), e, contudo, forte na fé que ele tinha no poderoso Deus de Jacó. PP 174 2 Enquanto os anos se passavam, e vagueava ele com seus rebanhos nos lugares solitários, ponderando na situação opressa de seu povo, reconsiderava o trato de Deus para com seus pais e as promessas que eram a herança da nação escolhida, e suas orações por Israel ascendiam de dia e de noite. Anjos celestiais derramavam sua luz em redor dele. Ali, sob a inspiração do Espírito Santo, escreveu o livro do Gênesis. Os longos anos passados nas solidões do deserto foram ricos de bênçãos, não somente para Moisés e seu povo, mas para o mundo em todos os séculos subseqüentes. PP 174 3 "E aconteceu depois de muitos destes dias, morrendo o rei do Egito, que os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa da sua servidão. E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se Deus do Seu concerto com Abraão, com Isaque, e com Jacó; e atentou Deus para os filhos de Israel, e conheceu-os Deus". Êxodo 2:23-25. Era vindo o tempo para o livramento de Israel. Mas o propósito de Deus devia cumprir-se de maneira a lançar o desdém sobre o orgulho humano. O libertador devia ir como um humilde pastor, apenas com uma vara na mão; Deus, porém, faria daquela vara o símbolo de Seu poder. Guiando seus rebanhos um dia perto de Horebe, "o monte de Deus" (Êxodo 3:1), Moisés viu uma sarça em chamas, estando ramos, folhagem e tronco tudo a arder, não parecendo todavia consumir-se. Aproximou-se para ver a maravilhosa cena, quando uma voz da labareda o chamou pelo nome. Com lábios trêmulos respondeu: "Eis-me aqui." Advertiu-se-lhe que não se aproximasse irreverentemente: "Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. [...] Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó". Êxodo 3:4-6; Êxodo 3; Êxodo 4:1-26. Era Aquele que, como o Anjo do concerto, Se revelara aos pais nos séculos passados. "E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus". Êxodo 3:6. PP 175 1 A humildade e a reverência devem caracterizar o comportamento de todos os que vão à presença de Deus. Em nome de Jesus podemos ir perante Ele com confiança; não devemos, porém, aproximar-nos dEle com uma ousadia presunçosa, como se Ele estivesse no mesmo nível que nós outros. Há os que se dirigem ao grande, Todo-poderoso e santo Deus, que habita na luz inacessível, como se se dirigissem a um igual, ou mesmo inferior. Há os que se portam em Sua casa conforme não imaginariam fazer na sala de audiência de um governador terrestre. Tais devem lembrar-se de que se acham à vista dAquele a quem serafins adoram, perante quem os anjos velam o rosto. Deus deve ser grandemente reverenciado; todos os que em verdade se compenetram de Sua presença, prostrar-se-ão com humildade perante Ele, e, como Jacó, ao contemplar a visão de Deus, exclamarão: "Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; esta é a porta dos Céus." PP 175 2 Esperando Moisés, com um temor reverente, diante de Deus, continuaram as palavras: "Tenho visto atentamente a aflição do Meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel. [...] Vem agora, pois, e Eu te enviarei a Faraó, para que tires o Meu povo [os filhos de Israel] do Egito". Êxodo 3:7, 8, 10. PP 175 3 Admirado e aterrorizado com a ordem, Moisés recuou, dizendo: "Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?" A resposta foi: "Certamente Eu serei contigo; e isto te será por sinal de que Eu te enviei: Quando houveres tirado este povo do Egito, servireis a Deus neste monte". Êxodo 3:11, 12. PP 175 4 Moisés pensou nas dificuldades que seriam encontradas, na cegueira, ignorância e incredulidade de seu povo, muitos dos quais estavam quase destituídos do conhecimento de Deus. "Eis que quando vier aos filhos de Israel", disse ele, "e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós, e eles me disserem: qual é o Seu nome? Que lhes direi?" A resposta foi: "Eu Sou o Que Sou." "Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós". Êxodo 3:13, 14. PP 176 1 Moisés recebeu ordem de congregar primeiramente os anciãos de Israel, os mais nobres e justos entre eles, os quais desde muito se haviam afligido por causa de seu cativeiro, e declarar-lhes uma mensagem de Deus, com uma promessa de livramento. Devia então ir com os anciãos perante o rei, e dizer-lhe: "O Deus dos hebreus nos encontrou; portanto, deixa-nos agora ir caminho de três dias no deserto, para que ofereçamos sacrifícios ao Senhor". Êxodo 3:18. PP 176 2 Moisés fora prevenido de que Faraó resistiria ao apelo de deixar ir Israel. Todavia a coragem do servo de Deus não devia faltar; pois o Senhor com isto aproveitaria a ocasião para manifestar Seu poder perante os egípcios e perante o Seu povo. "Eu estenderei a Minha mão, e ferirei ao Egito com todas as Minhas maravilhas que farei no meio dele; depois vos deixará sair". Êxodo 3:20. PP 176 3 Foram também dadas instruções quanto às provisões que deviam fazer para a viagem. O Senhor declarou: "Acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá à sua vizinha, e à sua hóspeda, vasos de prata, e vasos de ouro, e vestidos". Êxodo 3:21, 22. Os egípcios tinham enriquecido pelo trabalho injustamente exigido dos israelitas, e como estes estavam para partir em viagem para a sua nova morada, era justo que reclamassem a recompensa de seus anos de labuta. PP 176 4 Deviam pedir artigos de valor, que pudessem ser facilmente transportados, e Deus lhes daria graça aos olhos dos egípcios. Os grandes prodígios operados para o seu livramento, aterrorizariam os opressores, de maneira que o pedido dos escravos seria satisfeito. PP 176 5 Moisés viu diante de si dificuldades que pareciam insuperáveis. Que prova poderia ele dar a seu povo de que Deus na verdade o enviara? "Eis que me não crerão", disse ele, "nem ouvirão a minha voz, porque dirão: O Senhor não te apareceu." Provas que apelavam aos seus sentidos foram-lhe então dadas. Foi-lhe dito que atirasse sua vara ao chão. Fazendo-o ele, "tornou-se em cobra"; "e Moisés fugia dela". Recebeu ordem de apanhá-la, e em sua mão se tornou em vara. Foi-lhe mandado pôr a mão no seio. Obedeceu, "e, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca como a neve". Êxodo 4:1-6. Dizendo-se-lhe que de novo a pusesse no seio, viu, ao retirá-la que se tornara como a outra. Por estes sinais o Senhor assegurou a Moisés que Seu povo bem como Faraó convencer-se-iam de que um Ser mais poderoso do que o rei do Egito Se manifestava entre eles. PP 176 6 Mas o servo de Deus ainda se deixava vencer pelo pensamento da estranha e maravilhosa obra que diante dele estava. Em sua aflição e temor, agora alegava como desculpa a falta de uma fala desembaraçada: "Ah Senhor! eu não sou homem eloqüente, nem de ontem nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado a Teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua". Êxodo 4:10. Durante tanto tempo havia ele estado afastado dos egípcios, que não tinha um conhecimento tão claro e um uso tão pronto da língua, como quando estivera entre eles. PP 177 1 O Senhor lhe disse: "Quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou Eu, o Senhor?" A isto acrescentou-se outra segurança do auxílio divino: "Vai pois agora, e Eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar". Êxodo 4:11, 12. Mas Moisés ainda rogou que fosse escolhida uma pessoa mais competente. Estas escusas a princípio procederam da humildade e retraimento; mas depois que o Senhor prometera remover todas as dificuldades, e dar-lhe afinal o êxito, qualquer nova recusa e queixa a respeito de sua inaptidão, mostravam falta de confiança em Deus. Isto envolvia um receio de que Deus fosse incapaz de habilitá-lo para a grande obra, para a qual o chamara, ou de que houvesse Ele cometido um erro na escolha do homem. PP 177 2 Moisés então foi mandado ir ter com Arão, seu irmão mais velho, que, tendo estado em uso diário da língua dos egípcios, podia falá-la perfeitamente. Foi-lhe dito que Arão vinha ao seu encontro. As palavras seguintes do Senhor foram uma ordem positiva: PP 177 3 "Tu lhe falarás e porás as palavras na sua boca; Eu serei com a tua boca, e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. E ele falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus. Toma pois esta vara na tua mão, com que farás os sinais". Êxodo 4:15-17. Moisés não mais poderia opor resistência; pois todo o motivo de escusa fora removido. PP 177 4 A ordem divina dada a Moisés encontrou-o sem confiança em si, tardo no falar, e tímido. Sentia-se vencido pela intuição de sua incapacidade de ser o porta-voz de Deus para Israel. Havendo, porém, aceito o trabalho, deu-lhe início com todo o coração, depositando toda a confiança no Senhor. A grandeza de sua missão chamava à atividade as melhores faculdades de seu espírito. Deus lhe abençoou a pronta obediência, e ele se tornou eloqüente, esperançoso e senhor de si, e bem adaptado para a maior obra que já foi entregue ao homem. Isto é um exemplo do que Deus faz para fortalecer o caráter daqueles que nEle confiam amplamente, e dar-lhes, sem reserva, as Suas ordens. PP 177 5 O homem adquirirá força e eficiência ao aceitar as responsabilidades que Deus põe sobre ele, e procurar de toda sua alma qualificar-se para dela se desincumbir devidamente. Por humilde que seja a sua posição ou limitada a sua habilidade, atingirá a verdadeira grandeza o homem que, confiando na força divina, procura efetuar sua obra com fidelidade. Houvesse Moisés confiado em sua própria força e sabedoria, e com avidez aceito o grande encargo, e teria evidenciado sua completa inaptidão para tal obra. O fato de que um homem sente a sua fraqueza, é ao menos alguma prova de que ele se compenetra da magnitude da obra a ele designada, e de que fará de Deus seu conselheiro e força. PP 178 1 Moisés voltou a seu sogro, e exprimiu o desejo de visitar seus irmãos no Egito. Jetro deu-lhe consentimento, com a bênção: "Vai em paz". Êxodo 4:18. Com a esposa e os filhos, Moisés pôs-se em caminho. Não ousara dar a conhecer o objetivo de sua missão, receando não fosse permitido que o acompanhassem. Antes de chegar ao Egito, entretanto, ele mesmo achou melhor, para segurança deles, mandá-los voltar para casa, em Midiã. PP 178 2 Um temor secreto de Faraó e dos egípcios, cuja ira se acendera contra ele quarenta anos antes, tornara Moisés ainda mais relutante em voltar ao Egito; mas, depois que se dispusera a obedecer à ordem divina, o Senhor lhe revelou que seus inimigos eram mortos. PP 178 3 Em caminho, quando vinha de Midiã, Moisés recebeu uma advertência assustadora e terrível, a respeito do desagrado do Senhor. Um anjo apareceu-lhe de maneira ameaçadora, como se o fosse imediatamente destruir. Explicação alguma se dera; Moisés, porém, lembrou-se de que havia desatendido um dos mandos de Deus; cedendo à persuasão de sua esposa, negligenciara efetuar o rito da circuncisão em seu filho mais moço. Deixara de satisfazer a condição pela qual seu filho poderia ter direito às bênçãos do concerto de Deus com Israel; e tal negligência por parte do dirigente escolhido de Israel não poderia senão diminuir a força dos preceitos divinos sobre o povo. Zípora, temendo que seu marido fosse morto, efetuou ela mesma o rito, e o anjo então permitiu a Moisés que prosseguisse com a jornada. Em sua missão junto a Faraó, devia Moisés ser colocado em posição de grande perigo; sua vida unicamente podia preservar-se pela proteção de santos anjos. Enquanto vivesse, porém, na negligência de um dever conhecido, não estaria livre de perigo; pois que não poderia estar protegido pelos anjos de Deus. PP 178 4 No tempo de angústia, precisamente antes da vinda de Cristo, os justos serão preservados pelo ministério de anjos celestiais; não haverá segurança para o transgressor da lei de Deus. Os anjos não poderão proteger, então, aqueles que estão a desrespeitar um dos preceitos divinos. ------------------------Capítulo 23 -- As pragas do Egito PP 179 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 5-10. PP 179 1 Arão, sendo instruído pelos anjos, saiu ao encontro de seu irmão, de quem estivera tanto tempo separado; e encontraram-se em meio da solidão do deserto, perto de Horebe. Ali conversaram, e Moisés disse a Arão "todas as palavras do Senhor, que o enviara, e todos os sinais que lhe mandara". Êxodo 4:28. Juntos viajaram para o Egito; e, tendo chegado à terra de Gósen, puseram-se a congregar os anciãos de Israel. Arão referira-lhes todo o trato de Deus para com Moisés, e então os sinais que Deus dera a Moisés foram exibidos perante o povo. "O povo creu; e ouviram que o Senhor visitava aos filhos de Israel, e que via sua aflição; e inclinaram-se e adoraram". Êxodo 4:31. PP 179 2 Moisés fora também encarregado de uma mensagem ao rei. Os dois irmãos entraram no palácio dos Faraós como embaixadores do Rei dos reis, e em Seu nome falaram: "Assim diz o Senhor Deus de Israel: Deixa ir o Meu povo, para que Me celebre uma festa no deserto". Êxodo 5:1. PP 179 3 "Quem é o Senhor, cuja voz Eu ouvirei, para deixar ir Israel?" perguntou o rei; "não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel". Êxodo 5:2. PP 179 4 A resposta deles foi: "O Deus dos hebreus nos encontrou; portanto deixa-nos agora ir caminho de três dias ao deserto, para que ofereçamos sacrifícios ao Senhor e Ele não venha sobre nós com pestilência ou com espada". Êxodo 5:3. PP 179 5 As notícias a respeito deles e do interesse que estavam provocando entre o povo, já haviam atingido o rei. Sua ira se acendeu. "Moisés e Arão, por que fazeis cessar o povo das suas obras?" disse ele; "ide a vossas cargas." Já havia o reino sofrido perda pela interferência desses estrangeiros. Pensando nisto ele acrescentou: "Eis que o povo da terra já é muito, e vós os fazeis abandonar as suas cargas". Êxodo 5:4, 5. PP 179 6 Em seu cativeiro tinham os israelitas até certo ponto perdido o conhecimento da lei de Deus, e haviam-se afastado de seus preceitos. O sábado tinha sido geralmente desrespeitado, e as cobranças dos maiorais de tarefas tornaram sua observância aparentemente impossível. Mas Moisés mostrara a seu povo que a obediência a Deus era a primeira condição de livramento; e os esforços feitos para restaurar a observância do sábado vieram a ser notados pelos seus opressores. PP 179 7 O rei, inteiramente desperto, suspeitou dos israelitas o intuito de se revoltarem de seu serviço. O descontentamento era o resultado da ociosidade; ele faria com que nenhum tempo lhes fosse deixado para se formularem planos perigosos. E imediatamente adotou medidas para cerrar os seus vínculos e aniquilar o seu espírito independente. No mesmo dia foram expedidas ordens que tornassem seu trabalho ainda mais cruel e opressivo. O material de construção mais comum naquele país era o tijolo cozido ao sol; dele eram feitas as paredes dos mais belos edifícios, e então forradas com pedra; e a manufatura do tijolo empregava grande número de escravos. Sendo palha cortada misturada com barro, a fim de o segurar, grandes quantidades de palha eram necessárias para este trabalho; o rei determinou então que não mais se fornecesse palha; os trabalhadores deviam procurá-la por si mesmos, sendo-lhes, porém, exigida a mesma quantidade de tijolo. PP 180 1 Essa ordem produziu grande aflição entre os israelitas, por toda a terra. Os maiorais de tarefa egípcios tinham indicado oficiais hebreus para fiscalizar o trabalho do povo, e estes oficiais eram responsáveis pelo trabalho efetuado pelos que estavam sob o seu encargo. Quando o mandado do rei entrou em vigor, o povo espalhou-se por toda a terra, a colher restolho em lugar de palha; mas acharam impossível fazer a quantidade usual de trabalho. Por este malogro os oficiais hebreus foram cruelmente espancados. PP 180 2 Esses oficiais supuseram que sua opressão vinha dos seus maiorais de tarefas, e não do próprio rei; e a ele foram com seus pesares. Sua representação foi defrontada por Faraó, com sarcasmo: "Vós sois ociosos; vós sois ociosos; por isso dizeis: Vamos, sacrifiquemos ao Senhor." Ordenou-se-lhes que voltassem ao trabalho, com a declaração de que seus encargos em caso algum deveriam ser aliviados. Voltando, encontraram Moisés e Arão, e exclamaram a eles: "O Senhor atente sobre nós, e julgue isso, porquanto fizestes o nosso cheiro repelente diante de Faraó, e diante de seus servos, dando-lhes a espada nas mãos, para nos matar". Êxodo 5:17, 21. PP 180 3 Escutando Moisés estas censuras, ficou grandemente angustiado. Os sofrimentos do povo tinham aumentado muito. Por todo o país se erguia um clamor de desespero de velhos e jovens, e todos se uniam em acusá-lo da mudança desastrosa em sua condição. Com amargura de alma foi perante Deus, com o clamor: "Senhor, por que fizeste mal a este povo? por que me enviaste? Porque desde que entrei a Faraó, para falar em Teu nome, ele maltratou a este povo; e de nenhuma sorte livraste Teu povo." A resposta foi: "Agora verás o que hei de fazer a Faraó; porque por uma mão poderosa os deixará ir, sim, por uma mão poderosa, os lançará de sua terra". Êxodo 5:22, 23. Novamente foi-lhe indicado o concerto que Deus fizera com os pais, e assegurou-se-lhe que o mesmo seria cumprido. PP 180 4 Durante todos os anos de servidão no Egito tinha havido entre os israelitas alguns que se apegavam ao culto de Jeová. Estes ficavam dolorosamente perturbados ao verem seus filhos diariamente testemunharem as abominações dos gentios, e mesmo curvarem-se aos seus deuses falsos. Em sua angústia clamaram ao Senhor, pedindo livramento do jugo egípcio, para que pudessem estar livres da influência corruptora da idolatria. Não escondiam sua fé, mas declaravam aos egípcios que o objeto de seu culto era o Criador do céu e da Terra, o único Deus verdadeiro e vivo. Reconsideravam as provas de Sua existência e poder, desde a criação até os dias de Jacó. Os egípcios tiveram assim oportunidade de familiarizar-se com a religião dos hebreus; mas, desdenhando ser instruídos por seus escravos, experimentaram seduzir os adoradores de Deus com promessas de recompensas, e, falhando isto, por meio de ameaças e crueldade. PP 181 1 Os anciãos de Israel esforçaram-se por suster a fé dos irmãos, que estava a sucumbir, repetindo-lhes as promessas feitas a seus pais, e as palavras proféticas de José antes de sua morte, predizendo o livramento deles do Egito. Alguns escutavam e criam. Outros, olhando para as circunstâncias que os cercavam, rejeitaram as esperanças. Os egípcios, estando informados do que se divulgava entre seus escravos, zombavam de suas expectativas, e escarnecedoramente negavam o poder de seu Deus. Apontavam para a situação deles como uma nação de escravos, e com sarcasmo diziam: "Se vosso Deus é justo e misericordioso, e possui poder superior ao dos deuses egípcios, por que não faz de vós um povo livre?" Chamavam a atenção para a sua própria condição. Adoravam divindades que os israelitas chamavam de deuses falsos, no entanto eram uma nação rica e poderosa. Declaravam que seus deuses os haviam abençoado com prosperidade, dando-lhes os israelitas como servos, e vangloriavam-se em seu poder de oprimir e destruir os adoradores de Jeová. O próprio Faraó jactava-se de que o Deus dos hebreus não os podia livrar de suas mãos. PP 181 2 Palavras como estas destruíam as esperanças de muitos dos israelitas. O caso se lhes afigurava tal qual os egípcios o haviam representado. Era certo que eram escravos, e deviam suportar o que quer que seus cruéis maiorais de tarefas entendessem infligir-lhes. Seus filhos haviam sido perseguidos e mortos, e sua própria vida era um peso. Estavam contudo adorando o Deus do Céu. Se Jeová fosse na verdade superior a todos os deuses, não os deixaria desta maneira como escravos a idólatras. Mas aqueles que eram fiéis a Deus compreendiam que fora por causa de Israel haver-se afastado dEle -- por causa de sua disposição para casar com nações gentílicas, sendo assim levados à idolatria -- que o Senhor permitira ficassem escravos; e confiantemente afirmavam a seus irmãos que Ele logo quebraria o jugo do opressor. PP 181 3 Os hebreus tinham esperado obter sua liberdade sem qualquer prova especial de sua fé, ou qualquer sofrimento ou dificuldade real. Ainda não estavam, porém, preparados para o livramento. Tinham pouca fé em Deus, e estavam indispostos a suportar pacientemente suas aflições até que Ele achasse oportuno operar em prol deles. Muitos se contentavam com permanecer em cativeiro, de preferência a enfrentar as dificuldades atinentes à mudança para uma terra estranha; e os costumes de alguns se haviam tornado tão parecidos com os dos egípcios que preferiam ficar no Egito. Por isso o Senhor não os livrou pela primeira manifestação de Seu poder perante Faraó. Ele encaminhou os acontecimentos de maneira mais ampla, a fim de desenvolver o espírito tirânico do rei egípcio, e também para revelar-Se a Seu povo. Vendo Sua justiça, Seu poder e amor, prefeririam deixar o Egito, e entregar-se ao Seu serviço. A tarefa de Moisés teria sido muito menos difícil, se muitos dos israelitas não se houvessem tornado tão corrompidos que não queriam deixar o Egito. PP 182 1 O Senhor ordenou a Moisés ir de novo ao povo, e repetir a promessa de livramento, com nova segurança de favor divino. Ele foi conforme fora mandado, mas não quiseram ouvir. Dizem as Escrituras: "Eles não ouviram [...] por causa da ânsia do espírito e da dura servidão." De novo a mensagem divina veio a Moisés: "Entra, e fala a Faraó, rei do Egito, que deixe sair os filhos de Israel da sua terra." Com desânimo ele replicou: "Eis que os filhos de Israel me não têm ouvido; como pois me ouvirá Faraó?" Êxodo 6:9, 11, 12. Foi-lhe dito que levasse Arão consigo, e fosse diante de Faraó, e novamente pedisse que despedisse os filhos de Israel de sua terra. PP 182 2 Ele foi informado de que o rei não cederia antes que Deus mandasse juízos sobre o Egito, e tirasse Israel por meio de uma assinalada manifestação de Seu poder. Antes de ser infligida cada uma das pragas, Moisés devia descrever sua natureza e efeitos, para que o rei pudesse salvar-se da mesma se o quisesse. Cada castigo rejeitado seria seguido por outro mais severo, até que seu coração orgulhoso se humilhasse, e ele reconhecesse o Criador do céu e da Terra como o Deus verdadeiro e vivo. O Senhor daria aos egípcios oportunidade de verem quão vã era a sabedoria de seus homens poderosos, quão fraco o poder de seus deuses, quando em oposição aos mandos de Jeová. Ele castigaria o povo do Egito por sua idolatria, e reduziria ao silêncio sua jactância a respeito de bênçãos recebidas de suas insensíveis divindades. Deus glorificaria o Seu próprio nome, para que outras nações pudessem ouvir acerca de Seu poder, e tremer ante os Seus potentes atos, e para que Seu povo fosse levado a volver de sua idolatria e prestar-Lhe um culto puro. PP 182 3 Outra vez Moisés e Arão entravam nos nobres salões do rei do Egito. Ali, rodeados por altas colunas e resplandecentes adornos, de ricos quadros e imagens esculpidas de deuses gentios, perante o governador do reino mais poderoso então existente, achavam-se os dois representantes da raça escravizada, a fim de repetirem a ordem de Deus para o livramento de Israel. O rei pediu um prodígio como prova de sua missão divina. Tinha sido indicado a Moisés e Arão como agir no caso em que tal pedido fosse feito, e Arão tomou agora a vara, e lançou-a perante Faraó. Ela se tornou serpente. O rei mandou chamar seus "sábios e encantadores" (Êxodo 7:11), dos quais "cada um lançou sua vara, e tornaram-se em serpentes; mas a vara de Arão tragou as varas deles". Êxodo 7:12. Então o rei, mais decidido do que nunca, declarou serem os seus magos iguais em poder a Moisés e Arão; acusou os servos do Senhor como impostores, e sentiu-se fora de perigo ao resistir a seus pedidos. Todavia, ao mesmo tempo em que desprezava sua mensagem, foi reprimido pelo poder de Deus, de lhes fazer mal. PP 183 1 Foi a mão de Deus, e não influência ou poder humano possuído por Moisés e Arão, o que operou os prodígios que exibiram perante Faraó. Estes sinais e prodígios eram destinados a convencer Faraó de que o grande "EU SOU" (Êxodo 3:14) enviara Moisés, e de que era dever do rei deixar Israel ir, para que pudessem servir ao Deus vivo. Os magos também exibiram sinais e prodígios; pois agiam não somente pela sua própria habilidade, mas pelo poder de seu deus, Satanás, que os ajudava a contrafazer a obra de Jeová. PP 183 2 Os magos não fizeram realmente suas varas transformar-se em serpentes; mas, pela mágica, auxiliados pelo grande enganador, foram capazes de produzir esta aparência. Estava além do poder de Satanás transformar as varas em serpentes vivas. O príncipe do mal, possuindo embora toda a sabedoria e poder de um anjo decaído, não tem o poder de criar ou dar a vida; isto é prerrogativa de Deus somente. Mas tudo que estava no poder de Satanás fazer, ele o fez; produziu uma contrafação. À vista humana as varas tinham sido transformadas em cobras. E que assim fosse, acreditavam Faraó e sua corte. Nada havia em sua aparência para distingui-las da serpente produzida por Moisés. Se bem que o Senhor fizesse com que a serpente verdadeira tragasse as serpentes espúrias, contudo mesmo isto foi considerado por Faraó, não como uma obra do poder de Deus, mas como o resultado de uma espécie de mágica superior à de seus servos. PP 183 3 Faraó desejava justificar sua obstinação em resistir à ordem divina, e daí procurava ele algum pretexto para não tomar em consideração os prodígios que Deus operara por meio de Moisés. Satanás deu-lhe exatamente o que ele desejava. Pela obra que operara por intermédio dos magos, fez parecer aos egípcios que Moisés e Arão eram apenas magos e encantadores, e que a mensagem que traziam não podia impor respeito como provinda de um Ser superior. Assim a falsificação de Satanás cumpriu o seu objetivo de tornar ousados os egípcios em sua rebelião, e fazer com que Faraó endurecesse o coração contra a convicção. Satanás esperava também abalar a fé de Moisés e Arão na origem divina de sua missão, para que pudessem prevalecer os seus instrumentos. Não queria que os filhos de Israel fossem libertos do cativeiro, para servirem ao Deus vivo. PP 183 4 Todavia, tinha ainda o príncipe do mal um objetivo de maior alcance ao manifestar seus prodígios por meio dos magos. Ele bem sabia que Moisés, quebrando o jugo do cativeiro de sobre os filhos de Israel, prefigurava Cristo, que devia destruir o reino do pecado na família humana. Sabia que quando Cristo aparecesse, grandes milagres seriam operados como prova para o mundo de que Deus O enviara. Satanás temia perder o seu poder. Contrafazendo a obra de Deus, efetuada por meio de Moisés, esperava não somente evitar o livramento de Israel, mas exercer influência através dos séculos futuros, para destruir a fé nos milagres de Cristo. Satanás está constantemente procurando contrafazer a obra de Cristo, e estabelecer seu poder e pretensões. Leva os homens a explicar os milagres de Cristo, fazendo parecer que são o resultado da perícia e poder humanos. Destrói assim em muitas mentes a fé em Cristo como o Filho de Deus, e os leva a rejeitar os graciosos oferecimentos de misericórdia pelo plano da redenção. PP 184 1 Foi determinado a Moisés e Arão que visitassem a margem do rio na manhã seguinte, aonde o rei costumava dirigir-se. Sendo o transbordamento do Nilo a fonte dos alimentos e riqueza para todo o Egito, era o rio adorado como um deus, e o rei ia para ali diariamente a fim de render as suas devoções. Ali os dois irmãos repetiram-lhe de novo a mensagem, e então estenderam a vara e feriram a água. A corrente sagrada mudou-se em sangue, os peixes morreram, e o rio exalou mau cheiro. A água nas casas, o suprimento preservado nas cisternas, foram semelhantemente transformados em sangue. Mas "os magos do Egito também fizeram o mesmo com os seus encantamentos", e "virou-se Faraó, e foi para sua casa; nem ainda nisto pôs seu coração". Êxodo 7:11, 23. Durante sete dias continuou a praga, mas sem resultado. PP 184 2 De novo foi estendida a vara sobre as águas, e rãs subiram do rio, e espalharam-se pela terra. Percorriam as casas, apoderavam-se dos quartos de dormir, e mesmo dos fornos e amassadeiras. A rã era considerada sagrada pelos egípcios, e não as destruíam; mas tal praga viscosa se tornara agora intolerável. Enxameavam mesmo no palácio dos Faraós, e o rei estava ansioso por vê-las removidas. Tinha parecido que os magos haviam produzido rãs, mas eles não as podiam remover. Vendo isto, Faraó ficou algo humilhado. Mandou chamar Moisés e Arão, e disse: "Rogai ao Senhor que tire as rãs de mim e do meu povo; depois deixarei ir o povo, para que sacrifiquem ao Senhor". Êxodo 8:8. Depois de fazerem lembrar ao rei a sua anterior jactância, pediram-lhe designar um tempo em que devessem orar para a remoção da praga. Ele marcou o dia seguinte, esperando intimamente que no intervalo as rãs desaparecessem por si, salvando-o assim da amarga humilhação de sujeitar-se ao Deus de Israel. A praga, entretanto, continuou até o tempo especificado, em que por todo o Egito as rãs morreram; mas seus corpos deteriorados, que haviam ficado, poluíam a atmosfera. PP 184 3 O Senhor poderia tê-las feito voltar ao pó em um instante; mas não fez isto para que não acontecesse depois de sua remoção declararem o rei e seu povo ser aquilo o resultado da feitiçaria ou encantamento, como a obra dos magos. As rãs morreram, e foram então reunidas em montes. Nisto o rei e todo o Egito tiveram uma prova, a qual sua vã filosofia não podia contradizer, de que esta obra não fora cumprida pela magia, antes era um juízo do Deus do Céu. PP 185 1 "Vendo Faraó que havia descanso, agravou o seu coração." Por ordem de Deus Arão estendeu a mão, e o pó da terra se tornou em piolhos por toda a terra do Egito. Faraó chamou os magos para fazerem o mesmo, mas não puderam. Mostrou-se assim ser a obra de Deus superior à de Satanás. Os próprios magos reconheceram: "Isto é o dedo de Deus". Êxodo 8:15, 19. Mas o rei ainda não se abalou. PP 185 2 Ineficazes o apelo e a advertência, outro juízo foi infligido. O tempo de sua ocorrência foi predito, para que se não pudesse dizer ter vindo por acaso. Moscas encheram as casas e enxamearam por sobre a terra, de modo que "a terra foi corrompida destes enxames". Estas moscas eram grandes e venenosas; sua picada era extremamente dolorosa ao homem e aos animais. Como fora predito, esta visitação não se estendeu à terra de Gósen. PP 185 3 Faraó ofereceu então aos israelitas permissão para sacrificarem no Egito; mas recusaram-se a aceitar tais condições. "Não convém que façamos assim", disse Moisés, "por que sacrificaríamos ao Senhor nosso Deus a abominação dos egípcios; eis que se sacrificássemos a abominação dos egípcios perante os seus olhos, não nos apedrejariam eles?" Os animais que os hebreus deviam sacrificar, estavam entre os que eram considerados sagrados pelos egípcios; e tal era a reverência em que eram tidas essas criaturas que matar uma delas mesmo acidentalmente, era um crime punível com a morte. Seria impossível aos hebreus prestarem culto no Egito sem escandalizar os seus senhores. Moisés novamente propôs irem caminho de três dias ao deserto. O rei consentiu, e pediu que os servos de Deus intercedessem para que a praga fosse removida. Prometeram fazer isto, mas o advertiram quanto a tratar enganosamente com eles. A praga cessou, mas o coração do rei se havia endurecido pela rebelião persistente, e ainda recusou-se a ceder. PP 185 4 Seguiu-se um golpe mais terrível: peste em todo o gado do Egito que estava nos campos. Tanto os animais sagrados como as bestas de carga -- vacas, bois e ovelhas, cavalos, camelos e jumentos, foram destruídos. Havia sido distintamente declarado que os hebreus seriam isentos; e Faraó, enviando mensageiros à casa dos israelitas, constatou a veracidade de tal declaração de Moisés. "Do gado dos filhos de Israel não morreu nenhum." Ainda o rei se achava obstinado. PP 185 5 Ordenou-se em seguida a Moisés que tomasse cinzas do forno, e as espalhasse "para o céu diante dos olhos de Faraó". Este ato era profundamente significativo. Quatrocentos anos antes, mostrara Deus a Abraão a opressão futura de Seu povo, sob a figura de uma fornalha fumegante e uma tocha de fogo. Declarara que mandaria juízos sobre os seus opressores, e tiraria os cativos com grande riqueza. No Egito, Israel durante muito tempo desfalecia na fornalha da aflição. Este ato de Moisés era-lhes segurança de que Deus Se lembrava de Seu concerto, e de que era vindo o tempo para o seu livramento. PP 186 1 Ao ser a cinza espalhada para o céu, as minúsculas partículas espalharam-se por toda a terra do Egito, e onde quer que caíam produziam sarna, que arrebentava "em úlceras nos homens e no gado". Os sacerdotes e magos até ali haviam incentivado Faraó em sua obstinação, mas agora viera um juízo que atingia mesmo a eles. Acometidos de uma moléstia repugnante e dolorosa, tornando-se seu alardeado poder apenas desprezível, não mais podiam contender contra o Deus de Israel. A nação inteira foi levada a ver a loucura de confiar nos magos, quando não eram eles capazes de proteger mesmo sua própria pessoa. PP 186 2 Ainda o coração de Faraó se tornou mais endurecido. E então o Senhor lhe enviou uma mensagem, declarando: "Esta vez enviarei todas as Minhas pragas sobre o teu coração, e sobre os teus servos, e sobre o teu povo, para que saibais que não há outro como Eu em toda a terra. [...] Mas deveras para isto te mantive, para mostrar o Meu poder em ti." Não que Deus lhe tivesse dado existência para este fim; mas Sua providência encaminhara os acontecimentos de modo a colocá-lo no trono, no próprio tempo destinado ao libertamento de Israel. Embora este altivo tirano houvesse pelos seus crimes se privado das misericórdias de Deus, todavia a vida lhe fora preservada para que mediante sua teimosia, o Senhor pudesse manifestar Seus prodígios na terra do Egito. A disposição nos acontecimentos é da providência de Deus. Ele poderia ter posto no trono um rei mais misericordioso, que não tivesse ousado resistir às poderosas manifestações do poder divino. Mas nesse caso os propósitos do Senhor não se teriam cumprido. Foi permitido que Seu povo experimentasse a esmagadora crueldade dos egípcios, para que não se enganassem com relação à influência aviltante da idolatria. Em Seu trato com Faraó, o Senhor manifestou Seu ódio à idolatria, e Sua decisão de punir a crueldade e a opressão. PP 186 3 Deus havia declarado com referência a Faraó: "Eu endurecerei o seu coração, para que não deixe ir o povo". Êxodo 4:21. Não houve o exercício de poder sobrenatural para endurecer o coração do rei. Deus deu a Faraó a mais notável prova do poder divino; mas o rei obstinadamente se recusou a atender à luz. Cada manifestação do poder infinito, por ele rejeitada, tornava-o mais resoluto em sua rebelião. As sementes de rebelião que semeara quando rejeitou o primeiro prodígio, produziram a sua colheita. Como ele continuasse a aventurar-se em sua conduta, indo de um grau de teimosia a outro, seu coração se tornou mais e mais endurecido, até que ele foi chamado para olhar o rosto frio e morto dos primogênitos. PP 186 4 Deus fala aos homens por meio de Seus servos, dando avisos e advertências, e repreendendo o pecado. Dá a cada um oportunidade para corrigir seus erros antes que eles se fixem no caráter; mas, se alguém recusa ser corrigido, o poder divino não intervém a fim de contrariar a tendência de sua ação. Essa pessoa acha mais fácil repetir a mesma conduta. Está a endurecer o coração contra a influência do Espírito Santo. Nova rejeição da luz a coloca onde uma influência muito mais forte será ineficaz para produzir uma impressão duradoura. PP 187 1 Aquele que cedeu uma vez à tentação, cederá mais facilmente segunda vez. Cada repetição do pecado diminui seu poder de resistência, cega os seus olhos, e suprime a convicção. Cada semente de condescendência, que é semeada, produzirá fruto. Deus não opera milagre para impedir a ceifa. "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará". Gálatas 6:7. Aquele que manifesta dura incredulidade, uma obstinada indiferença à verdade divina, não está senão a colher o fruto do que ele próprio semeou. É assim que multidões vêm a escutar, com rígida indiferença, verdades que outrora lhes abalavam a própria alma. Semearam negligência e resistência à verdade, e tal é a colheita que fazem. PP 187 2 Aqueles que estão a acalmar a consciência culpada, com o pensamento de que podem modificar um caminho de males quando o desejarem, de que podem ter em pouca conta os convites de misericórdia, e ser contudo repetidas vezes impressionados, seguem tal caminho com perigo para si. Acham que depois de lançarem toda a sua influência ao lado do grande rebelde, em momento de maior angústia, quando o perigo os rodeia, mudarão de chefes. Mas isto não se faz tão facilmente. A experiência, a educação, a disciplina de uma vida de satisfação pecaminosa, tão completamente modelaram o caráter que não podem então receber a imagem de Jesus. Se nenhuma luz lhes houvesse mostrado o caminho, o caso teria sido diferente. A misericórdia poderia interpor-se, e dar-lhes oportunidade de aceitar suas providências; mas, depois que durante muito tempo a luz foi rejeitada e desprezada, será enfim retirada. PP 187 3 Faraó foi em seguida ameaçado com uma praga de saraiva, dando-se-lhe o aviso: "Agora pois envia, recolhe o teu gado e tudo o que tens no campo; todo o homem e animal, que for achado no campo, e não for recolhido a casa, a saraiva cairá sobre eles, e morrerão." A chuva ou a saraiva não eram comuns no Egito, e uma tempestade como a que fora predita nunca havia sido testemunhada. A notícia espalhou-se rapidamente, e todos os que creram na palavra do Senhor recolheram seu gado, enquanto os que desdenharam o aviso o deixaram no campo. Assim, em meio do juízo, ostentou-se a misericórdia de Deus, o povo foi provado, e mostrou-se quantos foram levados a temer a Deus pela manifestação de Seu poder. PP 187 4 A tempestade veio conforme fora predita: trovão e saraiva, e fogo misturado com a mesma, "mui grave, qual nunca houve em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação. E a saraiva feriu em toda a terra do Egito, tudo quanto havia no campo, desde os homens até os animais; também a saraiva feriu a toda a erva do campo, e quebrou todas as árvores do campo". A ruína e a desolação assinalavam o caminho do anjo destruidor. Unicamente a terra de Gósen foi poupada. Ficou demonstrado aos egípcios que a Terra está sob a direção do Deus vivo, que os elementos obedecem a Sua voz, e que a única segurança está na obediência a Ele. PP 188 1 Todo o Egito tremeu ante a terrível visitação do juízo divino. Faraó apressadamente mandou chamar os dois irmãos e clamou: "Esta vez pequei; o Senhor é justo, mas eu e o meu povo somos ímpios. Orai ao Senhor (pois que basta) para que não haja mais trovões de Deus nem saraiva; e eu vos deixarei ir, e não ficareis mais aqui." A resposta foi: "Em saindo da cidade, estenderei minhas mãos ao Senhor; os trovões cessarão, e não haverá mais saraiva; para que saibas que a terra é do Senhor. Todavia, quanto a ti e a teus servos, eu sei que ainda não temereis diante do Senhor Deus." PP 188 2 Moisés saiba que a contenda não estava finalizada. As confissões e promessas de Faraó não eram o resultado de qualquer mudança radical em seu espírito ou coração, mas foram extorquidas dele pelo terror e angústia. Moisés prometeu, entretanto, atender-lhe o pedido; pois não lhe daria ocasião para mais obstinação. O profeta saiu, sem tomar em consideração a fúria da tempestade, e Faraó e todo o seu exército foram testemunhas do poder de Jeová para preservar Seu mensageiro. Tendo saído fora da cidade, Moisés "estendeu suas mãos ao Senhor; e cessaram os trovões e a saraiva, e a chuva não caiu mais sobre a terra". Mas, mal se refez o rei de seus temores, voltou seu coração à perversidade. PP 188 3 Então disse o Senhor a Moisés: "Entra a Faraó, porque tenho agravado o seu coração, e o coração de seus servos, para fazer estes Meus sinais no meio dele. E para que contes aos ouvidos de teus filhos, e dos filhos de teus filhos, as coisas que obrei no Egito, e os Meus sinais, que tenho feito entre eles; para que saibais que Eu sou o Senhor." O Senhor estava a manifestar o Seu poder, para confirmar a fé de Israel nEle, como o único Deus vivo e verdadeiro. Daria prova inequívoca da diferença que estabelecera entre eles e os egípcios, e faria com que todas as nações soubessem que os hebreus, a quem tinham desprezado e oprimido, estavam sob a proteção do Deus do Céu. PP 188 4 Moisés advertiu o rei de que se ainda permanecesse obstinado, seria enviada uma praga de gafanhotos, que cobriria a face da terra, e comeria toda a coisa verde que restasse; encheriam as casas, mesmo o palácio; tal flagelo, disse ele, seria "como nunca viram teus pais, nem os pais dos teus pais, desde os dias em que eles foram sobre a terra até o dia de hoje". PP 188 5 Os conselheiros de Faraó ficaram estarrecidos. A nação tinha experimentado grande perda com a morte do gado. Muitas pessoas haviam sido mortas pela saraiva. As florestas estavam derribadas, e as colheitas destruídas. Estavam perdendo rapidamente tudo que havia sido ganho com o trabalho dos hebreus. Toda a terra estava ameaçada de morrer de fome. Príncipes e cortesãos acercavam-se do rei, e com ira pediam: "Até quando este nos há de ser por laço? deixa ir os homens, para que sirvam ao Senhor seu Deus; ainda não sabes que o Egito está destruído?" PP 189 1 Moisés e Arão foram de novo convocados, e o rei lhes disse: "Ide, servi ao Senhor vosso Deus. Quais são os que hão de ir?" PP 189 2 A resposta foi: "Havemos de ir com os nossos meninos, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque festa do Senhor temos." PP 189 3 O rei se encheu de ira. "Seja o Senhor assim convosco", exclamou ele, "como eu vos deixarei ir a vós e a vossos filhos; olhai que há mal diante da vossa face. Não será assim; andai agora vós, varões, e servi ao Senhor; pois isso é o que pedistes. E os lançaram da face de Faraó." Faraó se esforçava por destruir os israelitas pelo trabalho rude; agora, porém, pretendia ter um profundo interesse em seu bem-estar e terno cuidado pelas suas crianças. Seu verdadeiro objetivo era conservar as mulheres e crianças como garantia da volta dos homens. PP 189 4 Moisés estendeu então a vara sobre a terra, e soprou um vento oriental, que trouxe gafanhotos. "Mui gravosos foram; antes destes nunca houve tais gafanhotos, nem depois deles virão outros tais." Encheram o céu até que a terra se escureceu; e devoraram toda a vegetação que restava. Faraó mandou chamar às pressas os profetas, e disse: "Pequei contra o Senhor vosso Deus, e contra vós. Agora, pois, peço-vos que perdoeis o meu pecado somente desta vez, e que oreis ao Senhor vosso Deus que tire de mim somente esta morte." Assim fizeram, e um forte vento ocidental levou os gafanhotos para o Mar Vermelho. O rei ainda persistiu em sua pertinaz resolução. PP 189 5 O povo do Egito estava ao ponto do desespero. Os açoites que já haviam caído sobre eles pareciam quase além do que se podia suportar, e estavam cheios de temor pelo futuro. A nação tinha adorado a Faraó como o representante de seu deus; mas muitos agora estavam convencidos de que ele se achava opondo-se a um Ser que fez de todas as forças na natureza ministros de Sua vontade. Os escravos hebreus, tão miraculosamente favorecidos, estavam se tornando confiantes no livramento. Seus maiorais de tarefas não ousavam oprimi-los como até ali haviam feito. Por todo o Egito havia um temor secreto de que a raça escravizada se levantasse e vingasse seus males. Por toda parte homens estavam a indagar, com desalento: o que será depois disto? PP 189 6 Subitamente repousou sobre a terra uma escuridão, tão densa e negra que parecia "trevas que se apalpem". Não somente estava o povo despojado de luz, mas a atmosfera era muito opressiva, de maneira que a respiração era difícil. "Não viu um ao outro, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; mas todos os filhos de Israel tinham luz em suas habitações." O Sol e a Lua eram objetos de culto para os egípcios; nestas trevas misteriosas o povo e seus deuses foram de modo semelhante atingidos pelo poder que tomara a Si a causa dos escravos. Contudo, por medonho que tivesse sido, este juízo é uma prova da compaixão de Deus e de Sua indisposição para destruir. Ele dava ao povo tempo para refletir e arrepender-se, antes de trazer sobre eles a última e mais terrível das pragas. PP 190 1 A segunda praga trouxe rãs sobre a terra do Egito. Êxodo 8:6. As rãs eram consideradas sagradas pelos egípcios, e supunha-se que uma de suas divindades, a deusa Heqa, com cabeça de rã, possuía poder criador. Quando as rãs, como resultado da ordem de Moisés, se multiplicaram a tal ponto que encheram o país de um extremo a outro, os egípcios devem ter perguntado por que Heqa estava afligindo os seus fervorosos adoradores, ao invés de protegê-los. Destarte, os egípcios não somente foram punidos pela segunda praga, mas também supuseram estar sendo cobertos de ignomínia por um de seus deuses (Êxodo 9:3), muitos dos quais representavam poderosos deuses no panteão egípcio. Para mencionar apenas alguns, verificamos que o boi Ápis era dedicado a Ptah, o pai de todos os deuses, e a vaca sagrada a Hator, uma das divindades femininas mais amplamente adoradas na região do Nilo; ao passo que o carneiro representava vários deuses, como Khnemu e Amon, de cabeça de carneiro, que foi o principal deus do Egito no período do Novo Império. Por conseguinte, a doença que matou os animais dedicados a suas divindades revelou aos egípcios a inutilidade dos seus deuses na presença do Deus dos desprezados hebreus. O medo finalmente arrancou de Faraó mais uma concessão. No fim do terceiro dia de trevas, chamou Moisés, e consentiu na partida do povo, contanto que se permitisse ficarem os rebanhos e gado. "Nem uma unha ficará", replicou o resoluto hebreu. "Não sabemos com que havemos de servir ao Senhor, até que cheguemos lá." A ira do rei explodiu desenfreada. "Vai-te de mim", exclamou ele, "guarda-te que não mais vejas o meu rosto; porque no dia em que vires o meu rosto, morrerás." PP 190 2 A resposta foi: "Bem disseste; eu nunca mais verei o teu rosto." PP 190 3 "O varão Moisés era mui grande na terra do Egito, aos olhos dos servos de Faraó, e aos olhos do povo." Moisés era considerado com temor pelos egípcios. O rei não ousava fazer-lhe mal, pois o povo o considerava como o único que tinha poder para remover as pragas. Desejavam que aos israelitas fosse permitido deixar o Egito. Eram o rei e os sacerdotes que se opunham em extremo aos pedidos de Moisés. ------------------------Capítulo 24 -- A páscoa PP 191 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 11; 12,1-32. PP 191 1 Quando o pedido para o livramento de Israel fora pela primeira vez apresentado ao rei do Egito, fizera-se a advertência das mais terríveis pragas. Foi ordenado a Moisés dizer a Faraó: "Assim diz o Senhor: Israel é Meu filho, Meu primogênito. E Eu te tenho dito: Deixa ir o Meu filho, para que Me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que Eu matarei a teu filho, o teu primogênito". Êxodo 4:22, 23. Posto que desprezados pelos egípcios, os israelitas haviam sido honrados por Deus, tendo sido separados para serem os depositários de Sua lei. Nas bênçãos e privilégios especiais a eles conferidos, tinham preeminência entre as nações, como tinha o filho primogênito entre seus irmãos. PP 191 2 O juízo de que o Egito fora em primeiro lugar advertido, deveria ser o último a ser mandado. Deus é longânimo e cheio de misericórdia. Tem terno cuidado pelos seres formados à Sua imagem. Se a perda das suas colheitas, rebanhos e gado, houvesse levado o Egito ao arrependimento, os filhos não teriam sido atingidos; mas a nação obstinadamente resistiu à ordem divina, e agora o golpe final estava prestes a ser desferido. PP 191 3 A Moisés tinha sido proibido, sob pena de morte, aparecer outra vez à presença de Faraó; mas uma última mensagem da parte de Deus deveria ser proferida ao rebelde rei, e novamente Moisés veio perante ele, com o terrível anúncio: "Assim o Senhor tem dito: À meia-noite Eu sairei pelo meio do Egito; e todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta com ele sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da mó, e todo o primogênito dos animais. E haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve semelhante e nunca haverá; mas contra todos os filhos de Israel nem ainda um cão moverá a sua língua, desde os homens até aos animais, para que saibais que o Senhor fez diferença entre os egípcios e os israelitas. Então todos estes teus servos descerão a mim, e se inclinarão diante de mim, dizendo: Sai tu, e todo o povo que te segue as pisadas; e depois eu sairei". Êxodo 11:4-8. PP 191 4 Antes da execução desta sentença, o Senhor por meio de Moisés deu instruções aos filhos de Israel relativas à partida do Egito, e especialmente para a sua preservação no juízo por vir. Cada família, sozinha ou ligada com outras, deveria matar um cordeiro ou cabrito "sem mácula", e com um molho de hissopo espargir seu sangue "em ambas as ombreiras, e na verga da porta" da casa, para que o anjo destruidor, vindo à meia-noite, não entrasse naquela habitação. Deviam comer a carne, assada, com pão asmo e ervas amargosas, à noite, conforme disse Moisés, com "os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do Senhor". Êxodo 12:1-28. PP 192 1 O Senhor declarou: "Passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos. [...] E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo Eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando Eu ferir a terra do Egito." PP 192 2 Em comemoração a este grande livramento, uma festa devia ser observada anualmente pelo povo de Israel, em todas as gerações futuras. "Este dia vos será por memória, e celebrá-lo-eis por festa ao Senhor; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo." Ao observarem esta festa nos anos futuros, deviam repetir aos filhos a história deste grande livramento, conforme lhes ordenou Moisés: "Direis: Este é o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas." Ademais, os primogênitos tanto de homens como de animais deviam ser do Senhor, podendo ser reavidos apenas por meio de resgate, em reconhecimento de que, quando os primogênitos do Egito pereceram, os de Israel, se bem que graciosamente preservados, estiveram, com justiça, expostos à mesma sorte se não fora o sacrifício expiatório. "Todo o primogênito Meu é", declarou o Senhor; "desde o dia em que feri a todo o primogênito na terra do Egito, santifiquei para Mim todo o primogênito em Israel, desde o homem até ao animal: Meus serão". Números 3:13. Depois da instituição do culto do tabernáculo, o Senhor escolheu para Si a tribo de Levi para a obra do santuário, em lugar dos primogênitos do povo. "Eles, do meio dos filhos de Israel, Me são dados", disse Ele. "Em lugar [...] do primogênito de cada um dos filhos de Israel, para Mim os tenho tomado". Números 8:16. Exigia-se ainda, entretanto, de todo o povo, em reconhecimento da misericórdia de Deus, pagar certo valor pelo resgate do filho primogênito. Números 18:15, 16. PP 192 3 A páscoa devia ser tanto comemorativa como típica, apontando não somente para o livramento do Egito, mas, no futuro, para o maior livramento que Cristo cumpriria libertando Seu povo do cativeiro do pecado. O cordeiro sacrifical representa o "Cordeiro de Deus", em quem se acha nossa única esperança de salvação. Diz o apóstolo: "Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós". 1 Coríntios 5:7. Não bastava que o cordeiro pascal fosse morto, seu sangue devia ser aspergido nas ombreiras; assim os méritos do sangue de Cristo devem ser aplicados à alma. Devemos crer que Ele morreu não somente pelo mundo, mas que morreu por nós individualmente. Devemos tomar para o nosso proveito a virtude do sacrifício expiatório. PP 193 1 O hissopo empregado na aspersão do sangue era símbolo da purificação, assim sendo usado na purificação da lepra e dos que se achavam contaminados pelo contato com cadáveres. Na oração do salmista vê-se também a sua significação: "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve". Salmos 51:7. PP 193 2 O cordeiro devia ser preparado em seu todo, não lhe sendo quebrado nenhum osso; assim, osso algum seria quebrado do Cordeiro de Deus, que por nós devia morrer. Êxodo 12:46; João 19:36. Assim também representava-se a inteireza do sacrifício de Cristo. PP 193 3 A carne devia ser comida. Não basta mesmo que creiamos em Cristo para o perdão dos pecados; devemos pela fé estar recebendo constantemente força e nutrição espiritual dEle, mediante Sua Palavra. Disse Cristo: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue, tem a vida eterna." E para explicar o que queria dizer, ajuntou: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida". João 6:53, 54, 63. Jesus aceitou a lei de Seu Pai, levou a efeito em Sua vida os princípios da mesma, manifestou-lhe o espírito, e mostrou o seu benéfico poder no coração. Diz João: "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e verdade". João 1:14. Os seguidores de Cristo devem ser participantes de Sua experiência. Devem receber e assimilar a Palavra de Deus de modo que esta se torne a força impulsora da vida e das ações. Pelo poder de Cristo devem ser transformados à Sua semelhança, e refletir os atributos divinos. Devem comer a carne e beber o sangue do Filho do homem, ou não haverá vida neles. O espírito e a obra de Cristo devem tornar-se o espírito e obra de Seus discípulos. PP 193 4 O cordeiro devia ser comido com ervas amargosas, indicando isto a amargura do cativeiro egípcio. Assim, quando nos alimentamos de Cristo, deve ser com contrição de coração, por causa de nossos pecados. O uso dos pães asmos era também significativo. Era expressamente estipulado na lei da Páscoa, e de maneira igualmente estrita observado pelos judeus, em seu costume, que fermento algum se encontrasse em suas casas durante a festa. De modo semelhante, o fermento do pecado devia ser afastado de todos os que recebessem vida e nutrição de Cristo. Assim Paulo escreve à igreja dos coríntios: "Alimpai-vos pois do fermento velho, para que sejais uma nova massa. [...] Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Pelo que façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade". 1 Coríntios 5:7, 8. PP 193 5 Antes de obterem liberdade, os escravos deviam mostrar fé no grande livramento prestes a realizar-se. O sinal de sangue devia ser posto em suas casas, e deviam, com as famílias, separar-se dos egípcios e reunir-se dentro de suas próprias habitações. Houvessem os israelitas desrespeitado em qualquer particular as instruções a eles dadas, houvessem negligenciado separar seus filhos dos egípcios, houvessem morto o cordeiro mas deixado de aspergir o sangue nas ombreiras, ou tivesse alguém saído de casa, e não teriam estado livres de perigo. Poderiam honestamente ter crido haver feito tudo quanto era necessário, mas não os teria salvo a sua sinceridade. Todos os que deixassem de atender às instruções do Senhor, perderiam o primogênito pela mão do destruidor. PP 194 1 Pela obediência, o povo devia dar prova de fé. Assim, todos os que esperam ser salvos pelos méritos do sangue de Cristo, devem compenetrar-se de que eles próprios têm algo a fazer para conseguir a salvação. Conquanto seja apenas Cristo que nos pode remir da pena da transgressão, devemos desviar-nos do pecado para a obediência. O homem deve ser salvo pela fé, e não pelas obras; contudo, a fé deve mostrar-se pelas obras. Deus deu Seu Filho para morrer como propiciação pelo pecado, Ele manifestou a luz da verdade, o caminho da vida, Ele concedeu oportunidades, ordenanças e privilégios; e agora o homem deve cooperar com esses instrumentos de salvação; deve apreciar e usar os auxílios que Deus proveu -- crer e obedecer a todas as reivindicações divinas. PP 194 2 Quando Moisés relatou a Israel as providências tomadas por Deus para o seu livramento, "o povo inclinou-se e adorou". Êxodo 12:27. A alegre esperança de liberdade, o tremendo conhecimento de juízo iminente sobre os opressores, os cuidados e afazeres de que dependia a sua rápida partida, tudo naquela ocasião foi absorvido pela gratidão para com seu Libertador, cheio de graça. Muitos dos egípcios foram levados a reconhecer o Deus dos hebreus como o único verdadeiro Deus, e pediram agora que se lhes permitisse encontrar abrigo nos lares de Israel, quando o anjo destruidor passasse pela terra. Foram alegremente recebidos, e comprometeram-se dali em diante a servir ao Deus de Jacó, e saírem do Egito com Seu povo. PP 194 3 Os israelitas obedeceram às instruções que Deus dera. Rápida e secretamente fizeram os preparativos para a partida. Suas famílias reuniram-se, o cordeiro pascal foi morto, a carne foi assada ao fogo, e preparados os pães asmos e as ervas amargosas. O pai e sacerdote da casa aspergiu o sangue nas ombreiras, e reuniu-se à família dentro de casa. Às pressas e em silêncio comeu-se o cordeiro pascal. Com temor respeitoso, o povo orava e vigiava, estando o coração do primogênito, desde o homem forte até a criancinha, a palpitar de um terror indefinível. Pais e mães cingiam nos braços seus amados primogênitos, ao pensarem no golpe terrível que deveria ser desferido aquela noite. Mas nenhuma habitação de Israel foi visitada pelo anjo distribuidor da morte. O sinal de sangue -- sinal de proteção de um Salvador -- encontrava-se em suas portas, e o destruidor não entrou. PP 194 4 À meia-noite "havia grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto". Todo primogênito na terra, "desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere e todos os primogênitos dos animais" (Êxodo 12:29-33), haviam sido feridos pelo destruidor. Por todo o vasto reino do Egito, o orgulho de cada casa fora derribado. Os gritos e prantos dos que lamentavam enchiam o ar. Rei e cortesãos, com rosto lívido e membros a tremerem, ficaram estarrecidos ante o horror que a todos dominava. Faraó lembrou-se de como certa vez exclamara: "Quem é o Senhor, cuja voz Eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel." Agora, estando aquele seu orgulho, que afrontava aos Céus, humilhado até o pó, "chamou a Moisés e Arão, de noite, e disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; e ide, servi ao Senhor, como tendes dito. Levai convosco vossas ovelhas e vossas vacas, como tendes dito; e ide, e abençoai-me também a mim". Os conselheiros do rei igualmente, e o povo, rogavam aos israelitas que partissem, "apressando-se para lançá-los da terra; porque diziam: Todos seremos mortos". ------------------------Capítulo 25 -- O êxodo PP 196 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 12:34-51; 13-15. PP 196 1 Com os lombos cingidos, sapatos nos pés, e cajado à mão, o povo de Israel permanecera em pé, silenciosos, com respeitoso temor, mas expectantes, aguardando o mandado real que lhes ordenaria saíssem. Antes que a manhã raiasse, estavam a caminho. Durante as pragas, quando a manifestação do poder de Deus acendera a fé no coração dos escravos, e lançara o terror sobre seus opressores, os israelitas gradualmente se haviam reunido em Gósen; e, apesar da precipitação da sua fuga, algumas disposições já haviam sido tomadas para a necessária organização e direção das multidões em movimento, sendo estas divididas em grupos, sob dirigentes designados para isso. PP 196 2 E partiram, "coisa de seiscentos mil de pé, somente de varões, sem contar os meninos. E subiu também com eles uma mistura de gente". Êxodo 12:34-39. Nesta multidão havia não somente os que eram movidos pela fé no Deus de Israel, mas também um número muito maior dos que desejavam somente escapar das pragas, ou que seguiam o andar das multidões em movimento, meramente levados pela agitação e curiosidade. Esta classe foi sempre um estorvo e cilada para Israel. PP 196 3 O povo levou também consigo "ovelhas, e vacas, e uma grande quantidade de gado". Isto era propriedade dos israelitas, que nunca venderam suas posses ao rei, como fizeram os egípcios. Jacó e seus filhos haviam trazido consigo rebanhos e gado para o Egito, onde tinham aumentado grandemente. Antes de deixar essa terra, o povo, por instrução de Moisés, exigiu uma recompensa pelo seu trabalho que não fora pago; e os egípcios estavam por demais desejosos de se livrarem da presença deles para que lho recusassem. Os cativos saíram carregados dos despojos de seus opressores. PP 196 4 Naquele dia, completou-se a história revelada a Abraão em visão profética, séculos antes: "Peregrina será a tua semente em terra que não é sua, e servi-los-ão; e afligi-los-ão quatrocentos anos; mas também Eu julgarei a gente, a qual servirão, e depois sairão com grande fazenda". Gênesis 15:13, 14. Os quatrocentos anos haviam-se cumprido. "E aconteceu naquele mesmo dia que o Senhor tirou os filhos de Israel da terra do Egito, segundo os seus exércitos". Êxodo 12:40, 41, 51; 13:19. À sua partida do Egito os israelitas levaram consigo um precioso legado, os ossos de José, que tanto tempo esperaram o cumprimento da promessa de Deus, e que, durante os anos tenebrosos do cativeiro, haviam sido uma lembrança para o livramento de Israel. PP 197 1 Em vez de seguirem pelo caminho direto para Canaã, o qual passa através do país dos filisteus, o Senhor determinou a sua rota para o Sul, em direção às praias do Mar Vermelho. "Porque Deus disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito". Êxodo 13:17, 18, 20-22. Se tivessem tentado passar pela Filístia, seu prosseguimento teria sido impedido; pois os filisteus, considerando-os como escravos escapados aos seus senhores, não teriam hesitado em mover-lhes guerra. Os israelitas estavam mal preparados para um encontro com aquele povo poderoso e aguerrido. Tinham pouco conhecimento de Deus e pequena fé nEle, e ter-se-iam aterrorizado e desanimado. Estavam desarmados, e não tinham o costume de guerrear; seu espírito estava deprimido pelo longo cativeiro, e sentiam-se embaraçados pelas mulheres e crianças, ovelhas e gado. Guiando-os pelo caminho do Mar Vermelho, o Senhor revelou-Se como um Deus de compaixão bem como de discernimento. PP 197 2 "Assim partiram de Sucote, e acamparam em Etã, à entrada do deserto. E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite". Êxodo 13:21, 22. Diz o salmista: "Estendeu uma nuvem por coberta, e um fogo para os alumiar de noite". Salmos 105:39. O estandarte de seu Chefe invisível estava sempre com eles. De dia a nuvem guiava as suas jornadas, ou estendia-se como uma cobertura por sobre a multidão. Servia de proteção contra o calor ardente, e pela sua frescura e umidade proporcionava agradável refrigério no deserto ressequido e sedento. À noite, tornava-se em coluna de fogo, iluminando-lhes o acampamento, e assegurando-lhes constantemente a presença divina. PP 197 3 Em uma das mais belas e consoladoras passagens da profecia de Isaías, faz-se referência à coluna de nuvem e de fogo para representar o cuidado de Deus pelo Seu povo, na grande luta final com os poderes do mal: "E criará o Senhor sobre toda a habitação do Monte de Sião, e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia, e uma fumaça, e um resplendor de fogo chamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção. E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade, e contra a chuva". Isaías 4:5, 6. PP 197 4 Através de um caminho assustador e semelhante a um deserto, jornadeavam eles. Já começavam a considerar para onde sua marcha os iria levar; estavam tornando-se cansados com o caminho dificultoso, e em alguns corações começou a surgir receio de perseguição pelos egípcios. Mas a nuvem ia adiante, e a seguiam. E agora determinou o Senhor a Moisés passar ao lado de um desfiladeiro rochoso, e acampar-se junto do mar. Foi-lhe revelado que Faraó os perseguiria, mas que Deus seria honrado em seu livramento. PP 198 1 No Egito espalhou-se a notícia de que os filhos de Israel, em vez de se deterem a adorar no deserto, iam avante em direção ao Mar Vermelho. Os conselheiros de Faraó declararam ao rei que seus cativos tinham fugido, para nunca mais voltar. O povo deplorou-lhes a loucura de atribuírem a morte dos primogênitos ao poder de Deus. Seus grandes homens, refazendo-se dos temores, explicavam as pragas como o resultado de causas naturais. "Por que fizemos isso, havendo deixado ir Israel, para que nos não sirva?" -- foi o grito amargurado. Êxodo 14:5-9. PP 198 2 Faraó reuniu suas forças, "seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito", cavaleiros, capitães e infantaria. O próprio rei, acompanhado pelos grandes homens de seu reino, encabeçava o exército de ataque. A fim de conseguirem o favor dos deuses, e assim garantir o êxito de seu empreendimento, os sacerdotes também os acompanharam. O rei estava resolvido a intimidar os israelitas por meio de uma grandiosa ostentação de seu poder. Os egípcios temiam acontecesse que sua submissão forçada ao Deus de Israel os submetesse ao escárnio de outras nações; mas, se agora saíssem com uma grande mostra de poder e trouxessem de volta os fugitivos, salvariam a sua glória, bem como recuperariam os serviços de seus escravos. PP 198 3 Os hebreus estavam acampados ao lado do mar, cujas águas apresentavam uma barreira aparentemente intransponível diante deles, enquanto, ao Sul, uma áspera montanha lhes obstruía o avançamento. Subitamente viram a distância a armadura luzente e os carros a moverem-se, pressagiando a guarda avançada de um grande exército. Aproximando-se a força, os exércitos do Egito logo foram vistos em plena perseguição. O terror encheu os corações de Israel. Alguns clamavam ao Senhor, mas a grande maioria ia apressadamente a Moisés com suas queixas: "Não havia sepulcros no Egito, para nos tirares de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, que nos tens tirado do Egito? Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? pois que melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto". Êxodo 14:10-22. PP 198 4 Moisés ficou grandemente perturbado por seu povo manifestar tão pouca fé em Deus, apesar de terem repetidamente testemunhado a manifestação de Seu poder em favor deles. Como poderiam acusá-lo dos perigos e dificuldades de sua situação, quando ele havia seguido o mando expresso de Deus? Na verdade, não havia possibilidade de salvamento, a menos que o próprio Deus interviesse para os livrar; mas, tendo sido levados àquela situação em obediência à instrução divina, Moisés não tinha receio das conseqüências. Sua resposta calma e afirmativa ao povo foi: "Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis." PP 199 1 Não era coisa fácil conservar as hostes de Israel em espera, perante o Senhor. Faltando-lhes disciplina e domínio próprio, tornavam-se violentos e desarrazoados. Esperavam cair imediatamente nas mãos de seus opressores, e seus prantos e lamentações eram altos e intensos. A maravilhosa coluna de nuvem tinha sido seguida como sinal de Deus, para prosseguirem; mas agora entre si discutiam se acaso não poderia ela prefigurar alguma grande calamidade; pois que não os havia a mesma conduzido pelo lado errado da montanha, para um caminho intransitável? Assim o anjo de Deus pareceu às suas iludidas mentes como o prenúncio da desgraça. PP 199 2 Agora, porém, que o exército egípcio se aproximava, esperando deles fazer fácil presa, a coluna de nuvem levantou-se majestosamente para o céu, passou sobre os israelitas, e desceu entre eles e os exércitos do Egito. Um muro de trevas se interpôs entre perseguidos e perseguidores. Os egípcios não mais puderam divisar o acampamento dos hebreus, e foram obrigados a parar. Mas, intensificando-se as trevas da noite, o muro de nuvem se tornou uma grande luz para os hebreus, inundando o acampamento todo de claridade. PP 199 3 Então a esperança voltou aos corações de Israel. E Moisés alçou a voz ao Senhor. "Então disse o Senhor a Moisés: por que clamas a Mim? dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco." PP 199 4 O salmista, descrevendo a passagem do mar por Israel, cantou: "Pelo mar foi Teu caminho, e Tuas veredas pelas grandes águas; e as Tuas pegadas não se conheceram. Guiaste o Teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e de Arão". Salmos 77:19, 20. Estendendo Moisés a vara, as águas se dividiram, e Israel entrou para o meio do mar, pisando em terra enxuta, enquanto as águas ficavam de cada lado como um muro. A luz da coluna de fogo de Deus resplandecia nas ondas encimadas de espuma e iluminava o caminho que era talhado como um sulco enorme através das águas do mar, e se perdia na obscuridade da praia oposta. PP 199 5 "Os egípcios seguiram-nos e entraram atrás deles todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até o meio do mar. E aconteceu que, na vigília daquela manhã, o Senhor, na coluna do fogo e da nuvem, viu o campo dos egípcios; e alvorotou o campo dos egípcios". Êxodo 14:23, 24. A nuvem misteriosa transformou-se em uma coluna de fogo ante seus olhos espavoridos. Os trovões ribombaram, chamejaram os relâmpagos. "Grossas nuvens se desfizeram em água; os céus retumbaram; as Tuas flechas correram de uma para outra parte. A voz do Teu trovão repercutiu-se nos ares; os relâmpagos alumiaram o mundo; a terra se abalou e tremeu". Salmos 77:17, 18. PP 199 6 Os egípcios ficaram tomados de confusão e espanto. Em meio da fúria dos elementos, na qual ouviam a voz de um Deus irado, esforçaram-se por voltar pelo mesmo caminho, e fugir para a praia que haviam deixado. Moisés, porém, estendeu a vara, e as águas acumuladas, sibilando, rugindo, e ávidas de sua presa, uniram-se violentamente, e tragaram o exército egípcio em suas negras profundidades. PP 200 1 Quando rompeu a manhã, esta revelou às multidões de Israel tudo que restava do seu poderoso adversário: os corpos, vestidos de malha, arremessados à praia. Do mais terrível perigo restara um completo livramento. Aquela vasta e indefesa multidão -- escravos não acostumados à batalha, mulheres, crianças e gado, com o mar diante de si, e os poderosos exércitos do Egito fazendo pressão na retaguarda -- vira seu caminho aberto através das águas e os inimigos submersos no momento do esperado triunfo. Apenas Jeová lhes trouxera livramento, e para Ele volveram os corações com gratidão e fé. Sua emoção encontrou expressão em cânticos de louvor. O Espírito de Deus repousou sobre Moisés, que dirigiu o povo em uma antífona triunfante de ações de graças, a primeira e uma das mais sublimes que pelo homem são conhecidas. PP 200 2 "Cantarei ao Senhor, porque sumamente Se exaltou; Lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. O Senhor é a minha força, e o meu cântico; Ele me foi por Salvação; Este é o meu Deus, portanto Lhe farei uma habitação; Ele é o Deus de meu pai, por isso O exaltarei. O Senhor é varão de guerra; O Senhor é o Seu nome. Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; E os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho. Os abismos os cobriram; Desceram às profundezas como pedra. A Tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em potência; A Tua destra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo [...] Ó Senhor, quem é como Tu entre os deuses? Quem é como Tu glorificado em santidade, terrível em louvores, obrando maravilhas? [...] Tu, com a Tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; Com a Tua força o levaste à habitação da Tua santidade. Os povos o ouvirão, eles estremecerão. [...] Espanto e pavor cairá sobre eles; Pela grandeza do Teu braço emudecerão como pedra; Até que o Teu povo haja passado, ó Senhor, até que passe este povo que adquiriste. Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da Tua herança, no lugar que Tu, ó Senhor, aparelhaste para a Tua habitação." Êxodo 15:1-17. PP 200 3 Semelhante à voz do grande abismo, surgiu das vastas hostes de Israel aquela sublime tributação de louvor. Deram-lhe início as mulheres de Israel, indo à frente Miriã, irmã de Moisés, ao saírem elas com tamboril e danças. Longe, por sobre o deserto e o mar, repercutia o festivo estribilho, e as montanhas ecoavam as palavras de seu louvor: "Cantai ao Senhor, porque sumamente Se exaltou". PP 201 1 Esse cântico e o grande livramento que ele comemora, produziram uma impressão que nunca se dissiparia da memória do povo hebreu. De século em século era repercutido pelos profetas e cantores de Israel, testificando que Jeová é a força e livramento daqueles que nEle confiam. Aquele cântico não pertence ao povo judeu unicamente. Ele aponta, no futuro, a destruição de todos os adversários da justiça, e a vitória final do Israel de Deus. O profeta de Patmos vê a multidão vestida de branco, dos que "saíram vitoriosos", em pé sobre o "mar de vidro misturado com fogo", tendo as "harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro". Apocalipse 15:2, 3. PP 201 2 "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Teu nome dá glória, por amor da Tua benignidade e da Tua verdade". Salmos 115:1. Tal era o espírito que penetrava o cântico do livramento de Israel, e é o espírito que deveria habitar no coração de todos os que amam e temem a Deus. Libertando nossas almas do cativeiro do pecado, Deus operou para nós um livramento maior do que o dos hebreus no Mar Vermelho. Como a hoste dos hebreus, devemos louvar ao Senhor com o coração, com a alma, e com a voz, pelas Suas maravilhosas obras aos filhos dos homens. Aqueles que meditam nas grandes bênçãos de Deus, e não se esquecem de Suas menores dádivas, cingir-se-ão de alegria, e entoarão sinceros hinos ao Senhor. As bênçãos diárias que recebemos das mãos de Deus, e acima de tudo, a morte de Jesus para trazer a felicidade e o Céu ao nosso alcance, devem ser objeto de gratidão constante. Que compaixão, que amor incomparável, mostrou-nos Deus, a nós pecadores perdidos, ligando-nos consigo, para que Lhe sejamos um tesouro particular! Que sacrifício foi feito por nosso Redentor, para que possamos ser chamados filhos de Deus! Devemos louvar a Deus pela bem-aventurada esperança que nos expõe o grande plano da redenção; devemos louvá-Lo pela herança celestial, e por Suas ricas promessas; louvá-Lo pelo fato de que Jesus vive para interceder por nós. PP 201 3 "Aquele que oferece sacrifício de louvor", diz o Criador, "Me glorificará". Salmos 50:23. Todos os habitantes do Céu se unem a louvar a Deus. Aprendamos o cântico dos anjos agora, para que o possamos entoar quando nos unirmos a suas fileiras resplendentes. Digamos com o salmista: "Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto viver". Salmos 146:2. "Louvem-Te a Ti, ó Deus, os povos; louvem-Te os povos todos". Salmos 67:5. PP 201 4 Deus, em Sua providência, trouxe os hebreus ao aperto das montanhas, diante do mar, para que pudesse manifestar Seu poder no livramento deles, e humilhar de maneira extraordinária o orgulho de seus opressores. Ele os poderia ter salvo de qualquer outro modo, mas escolheu este, a fim de lhes provar a fé e fortalecer a confiança nEle. O povo estava cansado e aterrorizado; todavia, se se tivessem conservado para trás quando Moisés lhes ordenou avançar, Deus nunca lhes haveria aberto o caminho. Foi "pela fé" que "passaram o Mar Vermelho, como por terra seca". Hebreus 11:29. Descendo em marcha para a própria água, mostraram que acreditavam na palavra de Deus, conforme fora proferida por Moisés. Fizeram tudo que estava em seu poder, e então o Poderoso de Israel dividiu o mar a fim de preparar um caminho para os seus pés. PP 202 1 A grande lição ali ensinada é para todos os tempos. Freqüentemente a vida cristã é assediada de perigos, e o dever parece difícil de cumprir-se. A imaginação desenha uma ruína iminente perante nós, e, atrás, o cativeiro ou a morte. Contudo, a voz de Deus fala claramente: "Avante!" Devemos obedecer a esta ordem mesmo que nossos olhares não possam penetrar nas trevas, e sintamos as frias vagas em redor de nossos pés. Os obstáculos que embaraçam o nosso progresso nunca desaparecerão diante de um espírito que se detém ou duvida. Aqueles que adiam a obediência até que toda a sombra da incerteza desapareça, e não fique perigo algum de fracasso ou derrota, nunca absolutamente obedecerão. A incredulidade fala ao nosso ouvido: "Esperemos até que os impedimentos sejam removidos, e possamos ver claramente nosso caminho"; mas a fé corajosamente insiste em avançar, esperando tudo, em tudo crendo. PP 202 2 A nuvem que era uma grande parede de trevas para os egípcios, para os hebreus era uma grande inundação de luz, iluminando o acampamento todo, e derramando todo o brilho no caminho diante deles. Assim, o trato da Providência traz aos incrédulos trevas e desespero, enquanto à alma confiante é repleta de luz e paz. A senda por onde Deus guia, pode estender-se através do deserto ou do mar, mas é um caminho seguro. ------------------------Capítulo 26 -- Do Mar Vermelho ao Sinai PP 203 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 15:22-27; 16-18. PP 203 1 Do Mar Vermelho as tribos de Israel puseram-se novamente a viajar, guiadas pela coluna de nuvem. O cenário em redor deles era o mais impressionante -- montanhas áridas, de aspecto desolador, planícies estéreis, e o mar estendendo-se até ao longe, com as praias juncadas dos corpos de seus inimigos; estavam, contudo, cheios de alegria, conscientes de sua liberdade, e silenciara todo pensamento de descontentamento. PP 203 2 Mas, durante três dias, enquanto viajavam, não puderam achar água. O suprimento que tinham trazido consigo, estava esgotado. Nada havia para lhes acalmar a sede ardente, enquanto se arrastavam fatigadamente pelas planícies queimadas de sol. Moisés, que estava familiarizado com esta região, sabia o que os outros ignoravam, ou seja, que em Mara, a mais próxima estação onde se poderiam encontrar fontes, as águas eram impróprias para o uso. Com ansiedade intensa observava a nuvem que os guiava. Com o coração a abater-se, ouviu alegre aclamação: "Água! Água!" a repercutir ao longo do séquito. Homens, mulheres e crianças em alegre precipitação apinharam-se junto à fonte, quando, eis, irrompe da multidão um grito de angústia -- a água era amarga. PP 203 3 Em seu terror e desespero censuraram a Moisés por tê-los guiado por aquele caminho, não se lembrando de que a presença divina naquela nuvem misteriosa o estivera guiando, bem como a eles mesmos. Em sua dor e angústia, Moisés fez o que eles haviam deixado de fazer; clamou fervorosamente a Deus, pedindo auxílio. "E o Senhor mostrou-lhe um lenho que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces". Êxodo 15:25. Ali foi feita a Israel, por intermédio de Moisés, esta promessa: "Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e obrares o que é reto diante dos Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque Eu sou o Senhor que te sara". Êxodo 15:26. PP 203 4 De Mara o povo foi para Elim, onde encontrou "doze fontes de água e setenta palmeiras". Ali permaneceram vários dias antes de entrarem no deserto de Sim. Quando fez um mês que se achavam ausentes do Egito, fizeram seu primeiro acampamento no deserto. O suprimento de provisões começara agora a escassear. Era insuficiente a erva do deserto, e seus rebanhos estavam diminuindo. Como se deveria suprir o alimento para aquelas vastas multidões? Dúvidas enchiam-lhes o coração, e de novo murmuraram. Mesmo os príncipes e anciãos do povo se uniram nas queixas contra aqueles dirigentes que por Deus tinham sido designados: "Quem dera que nós morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! porque nos tendes tirado para este deserto para matardes de fome a toda esta multidão". Êxodo 16:3. PP 204 1 Não haviam por enquanto sofrido fome; suas necessidades presentes eram supridas, mas temiam pelo futuro. Não podiam compreender como essas extensas multidões deveriam manter-se em suas viagens pelo deserto, e em imaginação viam seus filhos a perecer de fome. O Senhor permitiu que as dificuldades os rodeassem, e que escasseasse o suprimento de alimentos, para que seu coração pudesse volver-se Àquele que até ali lhes havia sido o Libertador. Se em sua necessidade O invocassem, Ele ainda lhes concederia sinais manifestos de Seu amor e cuidado. Ele prometera que, se obedecessem aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade lhes sobreviria; e era pecaminosa incredulidade de sua parte considerar antecipadamente que eles ou seus filhos poderiam morrer de fome. PP 204 2 Deus prometera ser o seu Deus, tomá-los para Si como um povo, e guiá-los a uma terra vasta e boa; mas eles estavam prontos a desfalecer a cada obstáculo encontrado no caminho para aquela terra. De maneira maravilhosa Ele os tirara do cativeiro no Egito, para que os pudesse elevar e enobrecer, e fazer deles um louvor na Terra. Mas, era-lhes necessário encontrar dificuldades e suportar privações. Deus estava a tirá-los de um estado de degradação, e a adaptá-los a ocuparem uma posição honrosa entre as nações, e receberem importantes e sagrados encargos. Houvessem tido fé nEle, em vista de tudo que operara por eles, e teriam de bom ânimo suportado incômodos, privações, e mesmo o verdadeiro sofrimento; mas estavam indispostos a confiar no Senhor a não ser que testemunhassem as contínuas provas de Seu poder. Esqueceram-se de sua amarga servidão no Egito. Perderam de vista a bondade e poder de Deus, manifestados em prol deles, em seu livramento do cativeiro. Esqueceram-se de como seus filhos foram poupados quando o anjo destruidor matou todos os primogênitos do Egito. Olvidaram a grande mostra do poder divino no Mar Vermelho. Perderam de memória que, enquanto atravessaram sem perigo pelo caminho que lhes havia sido aberto, os exércitos de seus inimigos, tentando segui-los, foram submersos nas águas do mar. Viam e sentiam unicamente seus incômodos e provações presentes; e, em vez de dizerem: "Deus fez grandes coisas por nós; conquanto tenhamos sido escravos, está a fazer de nós uma grande nação", falavam eles das dificuldades do caminho e consideravam quando terminaria sua cansativa peregrinação. PP 205 1 A história da vida de Israel no deserto foi registrada para o benefício do Israel de Deus até o final do tempo. O registro do trato de Deus aos errantes no deserto, em todas as suas marchas de um para outro lado, em sua exposição a fome, sede e cansaço, e nas notáveis manifestações de Seu poder em auxílio deles, acha-se repleto de advertências e instruções para o Seu povo, em todos os tempos. A experiência variada dos hebreus era uma escola preparatória para o seu lar prometido em Canaã. Deus quer que Seu povo nestes dias reveja com humilde coração e espírito dócil as provações pelas quais passou o antigo Israel, a fim de que possa instruir-se em seu preparo para a Canaã celestial. PP 205 2 Muitos consideram os israelitas daquele tempo, e admiram-se de sua incredulidade e murmuração, achando que, se tivessem estado em lugar deles, não teriam sido tão ingratos; mas, quando sua fé é provada, mesmo com pequenas aflições, não manifestam maior fé ou paciência do que fez o antigo Israel. Quando levados a situações angustiosas, murmuram contra o meio que Deus escolheu para os purificar. Posto que sejam supridas suas necessidades presentes, muitos não estão dispostos a confiar em Deus para o futuro, e se acham em constante ansiedade, receosos de que a pobreza lhes sobrevenha, e seu filhos venham a sofrer. Alguns estão sempre a ver antecipadamente o mal, ou a aumentar as dificuldades que realmente existem, de modo que seus olhos ficam cegos às muitas bênçãos que lhes reclamam gratidão. Os obstáculos que encontram em vez de os levar a buscar auxílio de Deus, a única Fonte de força, separam-nos dEle, porque despertam inquietação e descontentamento. PP 205 3 Fazemos bem em ser assim duvidosos? Por que deveríamos ser ingratos e desconfiados? Jesus é nosso amigo; todo o Céu se interessa em nosso bem-estar; e nossa ansiedade e temor entristecem ao Espírito Santo de Deus. Não devemos condescender com cuidados que apenas nos impacientem e fatiguem, mas não nos auxiliam a suportar as provações. Nenhum lugar deve dar-se àquela desconfiança para com Deus, a qual nos leva a fazer dos preparativos para as futuras necessidades a principal preocupação da vida, como se nossa felicidade consistisse nessas coisas terrestres. Não é vontade de Deus que Seu povo se sobrecarregue de cuidados. Nosso Senhor, porém, não nos diz que não há perigos em nosso caminho. Não Se propõe tirar Seu povo do mundo de pecado e mal, mas aponta-nos um refúgio que nunca falha. Convida o cansado e carregado de cuidados: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Deponde o jugo da ansiedade e cuidados mundanos que vos impusestes, e "tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas". Mateus 11:28, 29. Podemos encontrar descanso e paz em Deus, lançando sobre Ele todos os nossos cuidados; pois Ele cuida de nós. 1 Pedro 5:7. PP 206 1 Diz o apóstolo Paulo: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo". Hebreus 3:12. Em vista de tudo que Deus tem feito por nós, nossa fé deve ser forte, ativa e duradoura. Em vez de murmurarmos e queixarmo-nos, a expressão de nosso coração deve ser: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios". Salmos 103:1, 2. PP 206 2 Deus não Se esquecia das necessidades de Israel. Disse a seu guia: "Eis que vos farei chover pão dos céus." E foram dadas instruções para que o povo apanhasse uma porção para cada dia, e porção dupla no sexto dia, para que se pudesse manter a sagrada observância do sábado. PP 206 3 Moisés afirmou à congregação que suas necessidades haviam de ser supridas: "Isso será quando o Senhor à tarde vos der carne para comer, e pela manhã pão a fartar." E acrescentou: "Quem somos nós? As vossas murmurações não são contra nós, mas sim contra o Senhor." Mandou, ainda, Arão dizer-lhes: "Chegai-vos para diante do Senhor, porque ouviu as vossas murmurações." Enquanto Arão estava a falar, "eles se viraram para o deserto, eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem". Êxodo 16:8-10. Um esplendor qual nunca antes haviam testemunhado, simbolizava a presença divina. Por meio de manifestações que se dirigiam aos seus sentidos, deviam obter conhecimento de Deus. Devia ensinar-se-lhes que o Altíssimo, e não meramente o homem Moisés, era seu dirigente, a fim de que temessem o Seu nome e Lhe obedecessem à voz. PP 206 4 Ao cair da noite, o acampamento foi rodeado de vastos bandos de codornizes, bastantes para suprirem toda a multidão. Pela manhã, jazia na superfície do solo "uma coisa miúda, redonda; miúda como a geada". "Era como semente de coentro branco." O povo chamou-o maná. Disse Moisés: "Este é o pão que o Senhor vos deu para comer". Êxodo 16:14, 15, 31. O povo apanhou o maná, e viu que havia um suprimento abundante para todos. "Em moinhos o moía, ou num gral o pisava, e em panelas o cozia, e dele fazia bolos". Números 11:8. Era "seu sabor como bolos de mel". Êxodo 16:31. Determinou-se-lhes apanhar diariamente um gômer [aproximadamente três litros] para cada pessoa; e dele não deveriam deixar para a manhã seguinte. Alguns tentaram guardar uma porção até o dia seguinte, mas achou-se então estar impróprio para alimento. A provisão para o dia deveria ser colhida na manhã; pois tudo que ficava no solo derretia-se com o sol. PP 206 5 No colher o maná verificou-se que alguns obtinham mais e alguns menos do que a quantidade estipulada; mas "medindo-o com o gômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco". Êxodo 16:18. Uma explicação desta passagem bem como uma lição prática da mesma, é dada pelo apóstolo Paulo em sua segunda epístola ao Coríntios: Diz ele: "Não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve de menos". 2 Coríntios 8:13-15. PP 207 1 No sexto dia, o povo colhia dois gômeres para cada pessoa. Os príncipes foram apressadamente informar a Moisés do que se havia feito. Sua resposta foi: "Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde em guarda até amanhã." Assim fizeram, e acharam que ficara inalterado. E Moisés disse: "Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá". Êxodo 16:23, 25, 26. PP 207 2 Deus exige que Seu santo dia seja observado hoje de maneira tão sagrada como no tempo de Israel. A ordem dada aos hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de Jeová. Deve fazer-se do dia anterior ao sábado um dia de preparação, a fim de que tudo possa estar em prontidão para as suas horas sagradas. Em caso algum devemos permitir que nossas ocupações usurpem o tempo santo. Deus determinou que se cuidasse dos doentes e sofredores; o trabalho exigido para lhes proporcionar conforto é uma obra de misericórdia, e não é violação do sábado; mas todo o trabalho desnecessário deve ser evitado. Muitos descuidadamente deixam até o princípio do sábado pequenas coisas que poderiam ter sido feitas no dia de preparação. Isto não deve ser assim. O trabalho que é negligenciado até o início do sábado, deve ficar por fazer-se até que haja passado este dia. Esta maneira de proceder pode auxiliar a memória daqueles que são imprudentes, e torná-los cuidadosos no fazerem seu trabalho nos seis dias a isto destinados. PP 207 3 Cada semana, durante sua longa peregrinação no deserto, os israelitas testemunharam tríplice milagre, destinado a impressionar-lhes o espírito com a santidade do sábado: uma dobrada quantidade de maná caía no sexto dia, nada caía no sétimo, e a porção necessária para o sábado conservava-se fresca e pura, enquanto qualquer quantidade que se deixava de um dia para outro, em outra ocasião, se tornava imprópria para o uso. PP 207 4 Nas circunstâncias que se ligam à concessão do maná, temos prova conclusiva de que o sábado não foi instituído, conforme muitos pretendem, quando a lei foi dada no Sinai. Antes de chegarem os israelitas ao Sinai, compreendiam ser-lhes obrigatório o sábado. Sendo obrigados a recolher toda sexta-feira dupla porção de maná, como preparo para o sábado, no qual nada caía, a natureza sagrada do dia de repouso os impressionava continuamente. E quando alguns, dentre o povo, saíram no sábado para apanhar maná, o Senhor perguntou: "Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?" PP 208 1 "Comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada; comeram maná até que chegaram aos termos da terra de Canaã". Êxodo 16:35. Durante quarenta anos, por meio desta maravilhosa provisão, trazia-se-lhes diariamente à lembrança o cuidado infalível e o terno amor de Deus. Segundo as palavras do salmista, Deus lhes deu "do trigo do Céu. Cada um comeu o pão dos anjos", isto é, alimento que lhes foi provido pelos anjos. Salmos 78:24, 25. Sustentados pelo "trigo do Céu", diariamente se lhes ensinava que, tendo as promessas de Deus, estavam tão seguros contra a necessidade como se estivessem rodeados pelos campos ondulantes de trigo nas férteis planícies de Canaã. PP 208 2 O maná, caindo do céu para o sustento de Israel, era um tipo dAquele que veio de Deus para dar vida ao mundo. Disse Jesus: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do Céu. [...] Se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo". João 6:48-51. E entre as promessas de bênçãos ao povo de Deus na vida futura, está escrito: "Ao que vencer darei Eu a comer do maná escondido". Apocalipse 2:17. PP 208 3 Depois de partir do deserto de Sim, os israelitas acamparam-se em Refidim. Ali não havia água, e de novo não confiaram na providência de Deus. Em sua cegueira e presunção, o povo chegou-se a Moisés com a exigência: "Dá-nos água para beber." Mas a paciência não lhe faltou. "Por que contendeis comigo?" disse, "por que tentais ao Senhor?" Eles clamaram com ira: "Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, e aos nossos filhos, e ao nosso gado?" Êxodo 17:1-7. Quando foram tão abundantemente supridos de alimento, lembraram-se com vergonha de sua incredulidade e murmuração, e prometeram para o futuro confiar no Senhor; mas logo se esqueceram da promessa, e fracassaram na primeira prova de fé. A coluna de nuvem que os guiava parecia velar um terrível mistério. E Moisés -- quem era ele? perguntavam; e qual poderia ser seu objetivo ao tirá-los do Egito? A suspeita e a desconfiança lhes encheram o coração, e ousadamente o acusaram de tencionar matá-los, a eles e seus filhos, pelas privações e dificuldades, a fim de que pudesse enriquecer-se com seus bens. No tumulto da raiva e indignação estavam prestes a apedrejá-lo. PP 208 4 Com angústia clamou Moisés ao Senhor: "Que farei a este povo?" Foi-lhe determinado tomar os anciãos de Israel e a vara com que operara prodígios no Egito, e ir perante o povo. E o Senhor lhe disse: "Eis que Eu estarei ali, diante de ti, sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas, e o povo beberá." Ele obedeceu, e as águas irromperam como uma torrente viva que abundantemente supriu o acampamento. Em vez de mandar Moisés levantar a vara e invocar alguma praga terrível semelhante àquelas do Egito, sobre os chefes daquela ímpia murmuração, o Senhor em Sua grande misericórdia fez da vara Seu instrumento para operar o livramento do povo. PP 209 1 "Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr águas como rios". Salmos 78:15, 16. Moisés feriu a rocha, mas era o Filho de Deus que, velado na coluna de nuvem, estava ao lado de Moisés e fazia correr a água doadora de vida. Não somente Moisés e os anciãos, mas toda a congregação que permanecia a distância, viram a glória do Senhor; fosse, porém, removida a nuvem, e teriam sido mortos pelo terrível fulgor dAquele que nela habitava. PP 209 2 Em sua sede o povo tentara a Deus, dizendo: "Está o Senhor no meio de nós, ou não?" "Se Deus nos trouxe aqui, por que não nos dá água assim como nos deu pão?" A incredulidade assim manifesta era criminosa, e Moisés receou que os juízos de Deus repousassem sobre eles. E ele chamou aquele lugar pelo nome de Massá, "tentação", e Meribá, "contenda", em lembrança de seu pecado. PP 209 3 Um novo perigo os ameaçava agora. Por causa de sua murmuração contra Ele, o Senhor permitiu que fossem atacados pelos inimigos. Os amalequitas, tribo feroz e guerreira que habitava aquela região, saíram contra eles, e feriram aqueles que, desfalecidos e cansados, tinham ficado na retaguarda. Moisés, sabendo que a totalidade do povo não estava preparada para a batalha, ordenou a Josué que escolhesse das diferentes tribos um corpo de soldados, e os guiasse na manhã seguinte contra o inimigo, enquanto ele próprio estaria em um ponto eminente próximo, com a vara de Deus na mão. Em conformidade com isto, no dia seguinte Josué e seu grupo atacaram o inimigo, enquanto Moisés, Arão e Hur estavam estacionados em uma colina, acima do campo de batalha. Com os braços estendidos para o céu, e segurando a vara de Deus em sua destra, Moisés orava pelo êxito dos exércitos de Israel. Com o prosseguimento da batalha, observou-se que, enquanto suas mãos estavam estendidas para cima, Israel prevalecia; mas, quando se abaixavam, o inimigo era vitorioso. Cansando-se Moisés, Arão e Hur lhe ampararam as mãos até o pôr-do-sol, quando o inimigo foi posto em fuga. PP 209 4 Apoiando Arão e Hur as mãos de Moisés, mostravam ao povo o dever de ampará-lo em seu árduo trabalho, enquanto de Deus recebia a palavra para lhes falar. E o ato de Moisés também era significativo, mostrando que Deus tinha o seu destino em Suas mãos; enquanto nEle depositassem confiança, por eles combateria e lhes subjugaria os inimigos; mas, quando se deixassem de apegar a Ele, e confiassem em sua própria força, seriam mesmo mais fracos do que os que não tinham conhecimento de Deus, e os inimigos prevaleceriam contra eles. PP 209 5 Assim como os hebreus triunfavam quando Moisés estendia as mãos para o céu, e intercedia em favor deles, assim o Israel de Deus prevalece quando pela fé lança mão da força de seu poderoso Auxiliador. Todavia, a força divina deve ser combinada com o esforço humano. Moisés não acreditava que Deus vencesse os adversários deles enquanto Israel permanecesse inativo. Enquanto o grande líder pleiteava com o Senhor, Josué e os seus bravos seguidores faziam os maiores esforços para repelir os inimigos de Israel e de Deus. PP 210 1 Depois da derrota dos amalequitas, Deus determinou a Moisés: "Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos filhos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus". Êxodo 17:14. Precisamente antes de sua morte, o grande líder confiou a seu povo esta solene incumbência: "Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito; como te saiu ao encontro no caminho, e te derrubou na retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus [...] Apagarás a memória de Amaleque de debaixo dos céus; não te esqueças". Deuteronômio 25:17-19. Com referência a este povo ímpio, o Senhor declarou: "A mão de Amaleque está contra o trono de Jeová". Êxodo 17:16. PP 210 2 Os amalequitas não desconheciam o caráter de Deus, nem Sua soberania; mas, em vez de O temerem, puseram-se a desafiar o Seu poder. Os prodígios operados por Moisés diante dos egípcios, foram assunto de zombaria para o povo de Amaleque, e os temores das nações circunvizinhas eram ridicularizados. Fizeram juramento pelos seus deuses de que destruiriam os hebreus, de modo que nem um escapasse, e vangloriavam-se de que o Deus de Israel seria impotente para lhes resistir. Não haviam sido ofendidos ou ameaçados pelos israelitas. Seu assalto não foi motivado por qualquer provocação. Foi para manifestar seu ódio e desconfiança para com Deus que procuraram destruir Seu povo. Os amalequitas havia muito que eram grandes pecadores, e seus crimes clamavam vingança a Deus; contudo, a misericórdia divina ainda os chamava ao arrependimento; quando, porém, os homens de Amaleque caíram sobre as cansadas e indefesas fileiras de Israel, selaram a sorte de sua nação. Os cuidados de Deus estão sobre os mais fracos de Seus filhos. Ato algum de crueldade ou opressão para com eles, deixa de ser notado pelo Céu. Sobre todos aqueles que O amam e temem, Sua mão se estende como uma proteção; cuidem os homens que não firam aquela mão, pois que ela maneja a espada da justiça. PP 210 3 Não longe do lugar em que agora se achavam acampados os israelitas, estava a casa de Jetro, sogro de Moisés. Jetro ouvira falar do livramento dos hebreus, e agora parte para visitá-los e restituir a Moisés a esposa e os dois filhos. O grande chefe foi informado pelos mensageiros a respeito de sua aproximação; e com alegria saiu para os encontrar, e, terminados os primeiros cumprimentos, conduziu-os à sua tenda. Fizera voltar sua família quando estava a caminho dos perigos que encontraria ao retirar Israel do Egito; mas agora poderia de novo ter o consolo e conforto de sua companhia. A Jetro contou ainda o trato maravilhoso de Deus para com Israel, e o patriarca regozijou-se e bendisse o Senhor; e, juntamente com Moisés e os anciãos, uniu-se a oferecer sacrifícios e realizar uma festa solene em comemoração da misericórdia de Deus. PP 211 1 Estando Jetro no acampamento, logo viu quão pesados eram os encargos que repousavam sobre Moisés. Manter a ordem e a disciplina naquela multidão vasta, ignorante e indisciplinada, era na verdade uma tremenda tarefa. Moisés era o seu reconhecido chefe e magistrado, e não somente lhe eram referidos os interesses e deveres gerais do povo, mas também as controvérsias que surgiam entre eles. Permitira isto, pois que lhe dava oportunidade de instruí-los, conforme disse: "e lhes declare os estatutos de Deus, e as Suas leis". Mas Jetro protestou a isto, dizendo: "Este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer." "Totalmente desfalecerás"; e aconselhou a Moisés indicar pessoas idôneas como maiorais de milhares, e outras como maiorais de cem, e outras de dez. Deviam ser "homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza". Êxodo 18:13-26. Estes deviam julgar em todas as questões de menor importância, enquanto os casos mais difíceis e relevantes ainda seriam levados perante Moisés, o qual, disse Jetro, devia ser "pelo povo diante de Deus", e levar causas a Deus; e declarar-lhes os estatutos e as leis, e fazer-lhes saber o caminho em que deviam andar, e a obra que deviam fazer. Este conselho foi aceito, e não somente trouxe alívio a Moisés, mas teve como resultado estabelecer uma ordem mais perfeita entre o povo. PP 211 2 O Senhor havia honrado a Moisés grandemente, e operara prodígios pela sua mão; mas o fato de que fora escolhido para instruir a outros não o levou a concluir que ele próprio não necessitava de instrução. O escolhido dirigente de Israel ouviu alegremente as sugestões do piedoso sacerdote de Midiã, e adotou-lhe o plano como uma sábia disposição. PP 211 3 De Refidim o povo continuou viagem, seguindo o movimento da coluna de nuvem. Sua rota seguia através de áridas planícies, íngremes encostas, e desfiladeiros rochosos. Freqüentemente, quando atravessavam as incultas regiões arenosas, viam diante de si montanhas escabrosas, semelhantes a gigantescos baluartes, amontoados diretamente através de seu percurso, e parecendo vedar de todo o prosseguimento. Mas, aproximando-se eles, apareciam aqui e acolá aberturas na muralha montanhosa, e, para além, outra planície abria-se-lhes à vista. Através de uma dessas profundas e pedregosas passagens, eram então conduzidos. Era uma cena grandiosa e impressionante. Entre as escarpas rochosas que se erguiam a centenas de metros de cada lado, fluíam qual maré viva, até onde podia atingir a vista, as hostes de Israel com seus rebanhos e gado. E agora, diante deles, com solene majestade, erguia o Monte Sinai a fronte maciça. A coluna de nuvem repousou em seu cume, e o povo, embaixo, espalhou suas tendas pela planície. Ali seria a sua morada durante quase um ano. À noite, a coluna de fogo assegurou-lhes a proteção divina; e, enquanto estavam entregues ao sono, o pão do Céu caía suavemente sobre o acampamento. PP 211 4 A aurora dourava a crista negra das montanhas, e os áureos raios do Sol penetravam nas profundas gargantas, parecendo-se a esses cansados viajantes com os raios de misericórdia procedentes do trono de Deus. De todos os lados, extensas colinas pedregosas pareciam em sua solitária grandeza falar de permanência e majestade eternas. Ali, tinha o espírito a impressão de solenidade e de respeitoso temor. O homem era levado a sentir sua ignorância e fraqueza na presença dAquele que "pesou os montes e os outeiros em balanças". Isaías 40:12. Ali deveria Israel receber a revelação mais maravilhosa que por Deus já foi feita aos homens. Ali o Senhor reunira Seu povo para que os pudesse impressionar com a santidade de Seus mandamentos, declarando de viva voz a Sua santa lei. Grandes e radicais mudanças deviam operar-se neles; pois que a influência degradante da servidão e a prolongada associação com a idolatria lhes haviam deixado seus traços nos hábitos e caráter. Deus estava a agir a fim de erguê-los a um nível moral mais elevado, outorgando-lhes um conhecimento de Si. ------------------------Capítulo 27 -- Israel recebe a lei PP 213 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 19-24. PP 213 1 Logo depois de se acamparem no Sinai, Moisés foi chamado à montanha a encontrar-se com Deus. Sozinho subiu a íngreme e áspera vereda, e aproximou-se da nuvem que assinalava o lugar da presença de Jeová. Israel ia ser agora tomado em uma relação íntima e peculiar para com o Altíssimo -- sendo incorporado como uma igreja e nação sob o governo de Deus. A mensagem dada a Moisés, para o povo, foi: PP 213 2 "Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a Mim; agora pois, se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o Meu concerto, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a Terra é Minha. E vós Me sereis um reino sacerdotal e o povo santo". Êxodo 19:4-6. PP 213 3 Moisés voltou ao acampamento, e, tendo convocado os anciãos de Israel, repetiu-lhes a mensagem divina. Sua resposta foi: "Tudo o que o Senhor tem falado, faremos." Assim entraram em um concerto solene com Deus, comprometendo-se a aceitá-Lo como seu Governador, pelo que se tornavam, em sentido especial, súditos sob Sua autoridade. PP 213 4 De novo seu líder subiu a montanha; e o Senhor lhe disse: "Eis que Eu virei a ti numa nuvem espessa, para que o povo ouça, falando Eu contigo, e para que também te creiam eternamente." Quando deparavam dificuldades no caminho, estavam dispostos a murmurar contra Moisés e Arão, e acusá-los de tirar as hostes de Israel do Egito para as destruir. O Senhor queria honrar Moisés perante eles, a fim de que pudessem ser levados a confiar em suas instruções. PP 213 5 Deus Se propunha fazer da ocasião em que falaria a Sua lei uma cena de terrível grandeza, à altura do exaltado caráter da mesma. O povo deveria receber a impressão de que todas as coisas ligadas ao serviço de Deus, deviam ser consideradas com a maior reverência. O Senhor disse a Moisés: "Vai ao povo, e santifica-os hoje e amanhã, e lavem eles os seus vestidos; e estejam prontos para o terceiro dia; porquanto no terceiro dia o Senhor descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o Monte Sinai." Durante esses dias intermediários, todos deviam ocupar o tempo em preparação solene para comparecer perante Deus. Suas pessoas e vestes deviam estar livres de impureza. E, ao indicar-lhes Moisés os pecados, deviam dedicar-se à humilhação, jejum e oração, a fim de que o coração deles da fosse limpo da iniqüidade. PP 214 1 A preparação fora feita, conforme o mandado; e, em obediência a outra ordem, determinou Moisés que fosse colocado um obstáculo em redor do monte, para que nem homem nem animal pudesse introduzir-se no recinto sagrado. Se algum se arriscasse a tão-somente tocá-lo, o castigo seria a morte instantânea. PP 214 2 Na manhã do terceiro dia, volvendo-se os olhares de todo o povo para o monte, o cimo deste estava coberto de uma nuvem densa, que se tornou mais negra e compacta, descendo até que toda a montanha foi envolta em trevas e terrível mistério. Então se ouviu um som como de trombeta, convocando o povo para encontrar-se com Deus; e Moisés guiou-os ao pé da montanha. Da espessa treva chamejavam vívidos relâmpagos, enquanto os ribombos do trovão ecoavam e tornavam a ecoar por entre as montanhas circunvizinhas. "E todo o Monte de Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e o seu fumo subiu como fumo de um forno, e todo o monte tremia grandemente." "A glória do Senhor era como fogo devorador no cume do monte", à vista da multidão congregada. "E o sonido da buzina ia crescendo em grande maneira." Tão terríveis eram os sinais da presença de Jeová que as hostes de Israel tremeram de medo, e caíram prostrados perante o Senhor. Mesmo Moisés exclamou: "Estou todo assombrado, e tremendo". Hebreus 12:21. PP 214 3 E então cessaram os trovões; não mais se ouviu a trombeta; a terra ficou calada. Houve um tempo de solene silêncio, e então se ouviu a voz de Deus. Falando da espessa escuridão que O envolvia, encontrando-Se Ele sobre o monte, rodeado de um acompanhamento de anjos, o Senhor deu a conhecer a Sua lei. Moisés, descrevendo esta cena, diz: "O Senhor veio de Sinai, e lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o monte Parã, e veio com dez milhares de santos; à Sua direita havia para eles o fogo da lei. Na verdade ama os povos; todos os Seus santos estão na Tua mão; postos serão no meio, entre os Teus pés, cada um receberá das Tuas palavras". Deuteronômio 33:2, 3. PP 214 4 Jeová revelou-Se não somente na terrível majestade de juiz e legislador, mas como um compassivo guarda de Seu povo: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão". Êxodo 20:2. Aquele a quem já haviam conhecido como seu guia e libertador, que os trouxera do Egito, preparando-lhes caminho através do mar e subvertendo Faraó e seus exércitos, que assim Se mostrara superior a todos os deuses do Egito, Esse era o que agora falava a Sua lei. PP 214 5 A lei não fora proferida naquela ocasião exclusivamente para o benefício dos hebreus. Deus os honrou, fazendo deles os guardas e conservadores de Sua lei, mas esta deveria ser considerada como um depósito sagrado para todo o mundo. Os preceitos do Decálogo são adaptados a toda a humanidade, e foram dados para a instrução e governo de todos. Dez preceitos breves, compreensivos, e dotados de autoridade, abrangem os deveres do homem para com Deus e seus semelhantes; e todos baseados no grande princípio fundamental do amor. "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo". Lucas 10:27; Deuteronômio 6:4, 5; Levítico 19:18. Nos Dez Mandamentos estes princípios são apresentados pormenorizadamente, e aplicáveis às condições e circunstâncias do homem. PP 215 1 "Não terás outros deuses diante de Mim" (Êxodo 20:3) -- Jeová, o Ser eterno, existente por Si mesmo, incriado, sendo o originador e mantenedor de todas as coisas, é o único que tem direito a reverência e culto supremos. Proíbe-se ao homem conferir a qualquer outro objeto o primeiro lugar nas suas afeições ou serviço. O que quer que acariciemos que tenda a diminuir nosso amor para com Deus, ou se incompatibilize com o culto a Ele devido, disso fazemos um deus. PP 215 2 "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na Terra, nem nas águas debaixo da Terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás." -- O segundo mandamento proíbe o culto ao verdadeiro Deus por meio de imagens ou semelhanças. Muitas nações gentílicas pretendiam que suas imagens eram meras figuras ou símbolos pelos quais adoravam a Divindade; mas Deus declarou que tal culto é pecado. A tentativa de representar o Eterno por meio de objetos materiais, rebaixaria a concepção do homem acerca de Deus. A mente, desviada da perfeição infinita de Jeová, seria atraída para a criatura em vez de o ser para o Criador. E, rebaixando-se suas concepções acerca de Deus, semelhantemente degradar-se-ia o homem. PP 215 3 "Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso." A íntima e sagrada relação de Deus para com Seu povo é representada sob a figura do casamento. Sendo a idolatria o adultério espiritual, é o desprazer de Deus contra a mesma apropriadamente chamado ciúme. PP 215 4 "Visito a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que Me aborrecem." É inevitável que os filhos sofram as conseqüências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e exemplo os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado. PP 215 5 "Faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos." Proibindo o culto aos falsos deuses, o segundo mandamento envolve a ordem de adorar o verdadeiro Deus. E aos que são fiéis em Seu serviço, promete-se a misericórdia, não meramente à terceira e quarta geração, como é ameaçada a ira contra os que O aborrecem, mas a milhares de gerações. PP 216 1 "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão" (Êxodo 20:7) -- Este mandamento não somente proíbe os falsos juramentos e juras comuns mas veda-nos o uso do nome de Deus de maneira leviana ou descuidada, sem atentar para a sua terrível significação. Pela precipitada menção de Deus na conversação comum, pelos apelos a Ele feitos em assuntos triviais, e pela freqüente e impensada repetição de Seu nome, nós O desonramos. "Santo e tremendo é o Seu nome". Salmos 111:9. Todos devem meditar em Sua majestade, pureza e santidade, para que o coração possa impressionar-se com uma intuição de Seu exaltado caráter; e Seu santo nome deve ser pronunciado com reverência e solenidade. PP 216 2 "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou, portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou" (Êxodo 20:8-11) -- O sábado não é apresentado como uma nova instituição, mas como havendo sido estabelecido na criação. Deve ser lembrado e observado como a memória da obra do Criador. Apontando para Deus como Aquele que fez os céus e a Terra, distingue o verdadeiro Deus de todos os falsos deuses. Todos os que guardam o sétimo dia, dão a entender por este ato que são adoradores de Jeová. Assim, é o sábado o sinal de submissão a Deus por parte do homem, enquanto houver alguém na Terra para O servir. O quarto mandamento é o único de todos os dez em que se encontra tanto o nome como o título do Legislador. É o único que mostra pela autoridade de quem é dada a lei. Assim contém o selo de Deus, afixado à Sua lei, como prova da autenticidade e vigência da mesma. PP 216 3 Deus deu aos homens seis dias nos quais trabalhar, e exige que seus trabalhos sejam feitos nos seis dias destinados a isso. Atos necessários e misericordiosos são permitidos no sábado; os doentes e sofredores em todo o tempo devem ser tratados; mas o trabalho desnecessário deve ser estritamente evitado. "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade..." Isaías 58:13. Tampouco fica nisto a proibição. "Nem falar as tuas próprias palavras", diz o profeta. Aqueles que no sábado discutem assuntos de negócios ou fazem planos, são considerados por Deus como se estivessem empenhados na própria transação de negócio. Para santificar o sábado não devemos mesmo permitir que nosso espírito se ocupe com coisas de caráter mundano. E o mandamento inclui todos dentro de nossas portas. Os que convivem na casa devem durante as horas sagradas pôr de parte suas ocupações mundanas. Todos devem unir-se a honrar a Deus por meio de um culto voluntário em Seu santo dia. PP 217 1 "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na Terra que o Senhor teu Deus te dá" (Êxodo 20:12) -- Os pais têm direito ao amor e respeito em certo grau que a nenhuma outra pessoa é devido. O próprio Deus, que pôs sobre eles a responsabilidade pelas almas confiadas aos seus cuidados, ordenou que durante os primeiros anos da vida estejam os pais em lugar de Deus em relação aos seus filhos. E aquele que rejeita a lícita autoridade de seus pais, rejeita a autoridade de Deus. O quinto mandamento exige que os filhos não somente tributem respeito, submissão e obediência a seus pais, mas também lhes proporcionem amor e ternura, aliviem os seus cuidados, zelem de seu nome, e os socorram e consolem na velhice. Ordena também o respeito aos ministros e governantes, e a todos os outros a quem Deus delegou autoridade. PP 217 2 Este, diz o apóstolo, "é o primeiro mandamento com promessa". Efésios 6:2. Para Israel, esperando em breve entrar em Canaã, era um penhor, ao obediente, de uma vida longa naquela boa terra; mas tem ele uma significação mais ampla, incluindo todo o Israel de Deus e prometendo vida eterna sobre a Terra, quando esta estiver livre da maldição do pecado. PP 217 3 "Não matarás" (Êxodo 20:13) -- Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhe mal (pois "qualquer que aborrece seu irmão é homicida"); uma negligência egoísta de cuidar dos necessitados e sofredores; toda a condescendência própria ou desnecessária privação, ou trabalho excessivo com a tendência de prejudicar a saúde -- todas estas coisas são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento. PP 217 4 "Não adulterarás" (Êxodo 20:14) -- Este mandamento proíbe não somente atos de impureza, mas pensamentos e desejos sensuais, ou qualquer prática com a tendência de os excitar. A pureza é exigida não somente na vida exterior, mas nos intuitos e emoções secretos do coração. Cristo, que ensinou os deveres impostos pela lei de Deus, em seu grande alcance, declarou ser o mau pensamento ou olhar tão verdadeiramente pecado como o é o ato ilícito. PP 217 5 "Não furtarás" (Êxodo 20:15) -- Tanto pecados públicos como particulares são incluídos nesta proibição. O oitavo mandamento condena o furto de homens e tráfico de escravos, e proíbe a guerra de conquista. Condena o furto e o roubo. Exige estrita integridade nos mínimos detalhes dos negócios da vida. Veda o engano no comércio, e requer o pagamento de débitos e salários justos. Declara que toda a tentativa de obter-se vantagem pela ignorância, fraqueza ou infelicidade de outrem, é registrada como fraude nos livros do Céu. PP 218 1 "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo" (Êxodo 20:16) -- Aqui se inclui todo falar que seja falso a respeito de qualquer assunto, toda tentativa ou intuito de enganar nosso próximo. A intenção de enganar é o que constitui a falsidade. Por um relance de olhos, por um movimento da mão, uma expressão do rosto, pode-se dizer falsidade tão eficazmente como por palavras. Todo exagero intencional, toda sugestão ou insinuação calculada a transmitir uma impressão errônea ou desproporcionada, mesmo a declaração de fatos feita de tal maneira que iluda, é falsidade. Este preceito proíbe todo esforço no sentido de prejudicar a reputação de nosso próximo, pela difamação ou suspeitas ruins, pela calúnia ou intrigas. Mesmo a supressão intencional da verdade, pela qual pode resultar o agravo a outrem, é uma violação do nono mandamento. PP 218 2 "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo" (Êxodo 20:17) -- O décimo mandamento fere a própria raiz de todos os pecados, proibindo o desejo egoísta, do qual nasce o ato pecaminoso. Aquele que em obediência à lei de Deus se abstém de condescender mesmo com um desejo pecaminoso daquilo que pertence a outrem, não será culpado de um ato mau para com seus semelhantes. PP 218 3 Tais foram os sagrados preceitos do Decálogo, proferidos entre trovões e chamas, e com maravilhosa manifestação de poder e majestade do grande Legislador. Deus acompanhou a proclamação de Sua lei com mostras de Seu poder e glória, para que Seu povo nunca se esquecesse daquela cena, e tivesse a impressão de uma profunda veneração pelo Autor da lei, o Criador do Céu e da Terra. Desejava mostrar também a todos os homens a santidade, a importância e a permanência de Sua lei. PP 218 4 O povo de Israel estava dominado pelo pavor. O terrível poder da fala de Deus parecia tal que o não poderiam suportar seus trêmulos corações. Pois, ao ser apresentada diante deles a grande regra de justiça de Deus, compenetraram-se, como nunca antes, do caráter ofensivo do pecado, e de sua própria culpabilidade à vista de um Deus santo. Recuaram da montanha com medo e espanto. A multidão clamou a Moisés: "Fala tu conosco, e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que não morramos". Êxodo 20:19-21. O líder respondeu: "Não temais, que Deus veio para provar-vos, e para que o Seu temor esteja diante de vós, para que não pequeis." O povo, entretanto, permaneceu à distância, olhando com terror a cena, enquanto Moisés "se chegou à escuridade onde Deus estava". PP 218 5 A mente do povo, cega e aviltada pela escravidão ao paganismo, não estava preparada para apreciar completamente os princípios de grande alcance dos dez preceitos de Deus. Para que pudessem os deveres expressos no Decálogo ser entendidos e impostos mais plenamente, deram-se preceitos adicionais, ilustrando os princípios dos Dez Mandamentos e dando-lhes aplicação. Estas leis foram chamadas juízos, tanto porque eram organizadas com sabedoria e eqüidade infinitas, como porque deveriam os magistrados julgar de acordo com elas. Diferente dos Dez Mandamentos, foram transmitidas particularmente a Moisés, que as deveria comunicar ao povo. PP 219 1 A primeira destas leis referia-se aos servos. Nos tempos antigos, os criminosos eram algumas vezes vendidos como escravos pelos juízes; nalguns casos os devedores eram vendidos pelos seus credores; e a pobreza levava mesmo pessoas a vender a si ou a seus filhos. Um hebreu, porém, não podia ser vendido como escravo para toda a vida. Seu prazo de serviço limitava-se a seis anos; no sétimo deveria ser posto em liberdade. O furto de homens, o assassínio premeditado, e a rebelião contra a autoridade paterna, eram punidos com a morte. Era permitida a manutenção de escravos que não fossem israelitas de nascimento, mas sua vida e pessoa eram estritamente guardadas. O assassino de um escravo devia ser castigado; um agravo infligido a um deles pelo seu senhor, ainda que fosse a perda de um dente, dava o direito à liberdade. PP 219 2 Os próprios israelitas tinham sido recentemente escravos, e agora que iam ter servos sob suas ordens, deviam guardar-se de alimentar um espírito de crueldade e extorsão, de que haviam sofrido sob os maiorais de tarefas no Egito. A lembrança de sua amarga servidão devia habilitá-los a colocar-se no lugar do servo, levando-os a ser benévolos e compassivos, a tratar os outros como desejariam fossem eles mesmos tratados. PP 219 3 Os direitos das viúvas e órfãos eram especialmente resguardados, e ordenava-se uma escrupulosa atenção à sua desajudada condição. "Se de alguma maneira os afligirdes", declarou o Senhor, "e eles clamarem a Mim, Eu certamente ouvirei o seu clamor. E a Minha ira se acenderá, e vos matará à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos". Êxodo 22:23, 24. Os estrangeiros que se uniam a Israel deviam ser protegidos de mal ou opressão. "Não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito". Êxodo 23:9. PP 219 4 Era proibido tomar usura do pobre. As vestes ou o cobertor de um homem pobre tomados em penhor, deviam ser-lhes restituídos à tarde. Exigia-se daquele que era culpado de furto restituir o dobro. Ordenava-se o respeito aos magistrados e príncipes, e advertia-se aos juízes contra o perverter o juízo, auxiliando uma causa falsa, ou recebendo suborno. A mentira e a calúnia eram proibidas, e ordenados atos de bondade, mesmo para com inimigos pessoais. PP 219 5 De novo lembrou-se ao povo a sagrada obrigação do sábado. Designaram-se festas anuais, nas quais todos os homens da nação deviam congregar-se perante o Senhor, trazendo-Lhe suas ofertas de gratidão, e as primícias de Sua generosidade. O objetivo de todo este regulamento foi declarado: não procediam esses preceitos do exercício de mera soberania arbitrária; foram todos dados para o bem de Israel. O Senhor disse: "Ser-Me-eis homens santos" (Êxodo 22:31) -- dignos de ser reconhecidos por um Deus santo. PP 220 1 Estas leis deviam ser registradas por Moisés, e qual tesouro cuidadosamente guardadas como fundamento da lei nacional; e, juntamente com os dez preceitos para ilustração dos quais foram dadas, deviam ser a condição para o cumprimento das promessas de Deus a Israel. PP 220 2 Foi-lhes então dada esta mensagem da parte de Jeová: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde neste caminho, e te leve ao lugar que te tenho aparelhado. Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz, e não O provoques à ira, porque não perdoará a vossa rebelião; porque o Meu nome está nEle. Mas, se diligentemente ouvires a Sua voz, e fizeres tudo o que Eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários". Êxodo 23:20-22. Durante todas as vagueações de Israel, Cristo, na coluna de nuvem e fogo, foi o seu dirigente. Ao mesmo tempo em que havia tipos que apontavam para um Salvador vindouro, havia também um Salvador presente, que dava ordens a Moisés para o povo, e que diante deles fora posto como o único conduto de bênção. PP 220 3 Ao descer do monte, Moisés veio e contou ao povo todas as palavras e estatutos do Senhor; então o povo respondeu a uma voz, e disse: "Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos". Êxodo 24. Este compromisso, juntamente com as palavras do Senhor a que o mesmo os obrigava a obedecer, foi escrito por Moisés em um livro. PP 220 4 Seguiu-se então a ratificação do concerto. Foi construído um altar ao pé da montanha, e ao lado dele ergueram-se doze colunas, "segundo as doze tribos de Israel", em testemunho de sua aceitação do concerto. Foram então apresentados sacrifícios pelos moços escolhidos para tal ato. PP 220 5 Havendo aspergido o altar com o sangue das ofertas, Moisés "tomou o livro do concerto, e o leu aos ouvidos do povo". Assim foram solenemente proferidas as condições do concerto, e todos ficaram na liberdade de escolherem conformar-se com as mesmas ou não. Tinham a princípio prometido obedecer à voz de Deus; mas haviam depois disto ouvido proclamar a Sua lei; e seus princípios tinham sido particularizados, para que pudessem saber o quanto este concerto abrangia. Outra vez o povo respondeu unanimemente: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos." "Havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue [...] e aspergiu não só o próprio livro como também todo o povo, dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos tem mandado". Hebreus 9:19, 20. PP 220 6 Deviam agora tomar-se disposições para o amplo estabelecimento da nação escolhida, sob a direção de Jeová como seu Rei. Moisés havia recebido a ordem: "Sobe ao Senhor, tu e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel; e inclinai-vos de longe. E só Moisés se chegará ao Senhor." Esses homens escolhidos foram chamados ao monte, enquanto o povo adorava junto ao mesmo. Os setenta anciãos deviam ajudar a Moisés no governo de Israel, e Deus pôs sobre eles Seu Espírito, e honrou-os dando-lhes uma visão de Seu poder e grandeza. "E viram o Deus de Israel, e debaixo de Seus pés havia como uma obra de pedra de safira, e como o parecer do céu na sua claridade." Não viram a Divindade, mas viram a glória de Sua presença. Antes disso não poderiam ter suportado tal cena; mas a exibição do poder de Deus, infundindo-lhes temor, levou-os ao arrependimento; estiveram a contemplar Sua glória, pureza e misericórdia, até que puderam aproximar-se mais dAquele que era o objeto de suas meditações. PP 221 1 Moisés e "Josué seu servidor" foram agora chamados a encontrar-se com Deus. E, como devessem ficar algum tempo ausentes, o chefe designou Arão e Hur, auxiliados pelos anciãos, para agirem em seu lugar. "E, subindo Moisés ao monte, a nuvem cobriu o monte. E habitava a glória do Senhor sobre o monte de Sinai." Durante seis dias a nuvem cobriu o monte, como sinal da presença especial de Deus; contudo, não fez revelação alguma de Si, nem comunicação de Sua vontade. Durante este tempo Moisés permaneceu à espera de um chamado à audiência com o Altíssimo. Havia-lhe sido determinado: "Sobe a Mim ao monte, e fica lá"; e, se bem que sua paciência e obediência fossem provadas, não se tornou cansado de esperar nem abandonou o posto. Este período de espera foi-lhe um tempo de preparo, de íntimo exame próprio. Mesmo este servo favorecido de Deus não poderia de pronto aproximar-se de Sua presença, e resistir às manifestações de Sua glória. Seis dias deviam ser empregados em dedicar-se a Deus, mediante o exame próprio, meditação e oração, antes de poder estar preparado para comungar diretamente com seu Criador. PP 221 2 No sétimo dia, que era o sábado, Moisés foi chamado para dentro da nuvem. A espessa nuvem abriu-se à vista de todo o Israel, e a glória do Senhor irrompeu semelhante a um fogo devorador. "Moisés entrou no meio da nuvem, depois que subiu ao monte; e Moisés esteve no monte quarenta dias e quarenta noites." Os quarenta dias de permanência no monte não incluíam os seis dias de preparo. Durante os seis dias Josué esteve com Moisés, e juntos comiam do maná e bebiam do ribeiro que descia do monte. Mas Josué não entrou com Moisés na nuvem. Ficou fora e continuou a comer e a beber diariamente enquanto esperava a volta de Moisés; Moisés, porém, jejuou durante todos os quarenta dias. PP 221 3 Durante sua permanência no monte, Moisés recebeu instruções para a construção de um santuário, no qual a presença divina se manifestaria de modo especial. "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles", foi a ordem de Deus. Êxodo 25:8. Pela terceira vez foi ordenada a observância do sábado. "Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre", declarou o Senhor, "para que saibais que Eu sou o Senhor que vos santifica. Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós: [...] qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio de seu povo". Êxodo 31:17, 13, 14. Acabavam de ser dadas instruções para o levantamento imediato do tabernáculo para o serviço de Deus; e agora, sendo que o objeto em vista era a glória de Deus, e também porque tinham grande necessidade de um lugar de culto, poderia o povo concluir que estariam justificados trabalhando naquela construção ao sábado. Para os guardar de tal erro, foi feita uma advertência. Mesmo a santidade e urgência daquela obra especial para Deus não os deviam levar a infringir o Seu santo dia de repouso. PP 222 1 Dali em diante o povo seria honrado com a presença permanente de seu Rei. "Habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei por Deus", "para que por Minha glória sejam santificados" (Êxodo 29:45, 43), foi a segurança dada a Moisés. Como símbolo da autoridade de Deus, e incorporação de Sua vontade, foi entregue a Moisés uma cópia do Decálogo gravada pelo dedo do próprio Deus em duas tábuas de pedra (Deuteronômio 9:10; Êxodo 32:15, 16), para que, de maneira sagrada, fosse encerrada no santuário, o qual, depois de feito, deveria ser o centro visível do culto da nação. PP 222 2 De uma raça de escravos os israelitas haviam sido exaltados acima de todos os povos, para serem o tesouro peculiar do Rei dos reis. Deus os separara do mundo a fim de que lhes pudesse confiar um sagrado depósito. Deles fizera os guardas de Sua lei, e propunha-Se, por meio deles, conservar entre os homens o Seu conhecimento. Assim a luz do Céu resplandeceria a um mundo rodeado de trevas, e ouvir-se-ia uma voz apelando para todos os povos para voltarem de sua idolatria a fim de servirem ao Deus vivo. Se os israelitas fossem fiéis ao seu encargo, tornar-se-iam um poder no mundo. Deus seria a sua defesa, e Ele os elevaria acima de todas as outras nações. Sua luz e verdade seriam reveladas por meio deles, e achar-se-iam sob o Seu governo sábio e santo, como um exemplo da superioridade de Seu culto sobre toda a forma de idolatria. ------------------------Capítulo 28 -- Idolatria no Sinai PP 223 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 32-34. PP 223 1 A ausência de Moisés foi um tempo de espera e apreensão para Israel. O povo sabia que ele subira ao monte com Josué, e havia entrado na nuvem de densas trevas que podia ser vista da planície abaixo, repousando sobre o pico da montanha, iluminado de quando em quando pelos relâmpagos da presença divina. Esperavam ansiosamente a sua volta. Acostumados como tinham estado no Egito com as representações materiais da divindade, fora-lhes difícil confiar em um ser invisível, e tinham vindo a depender de Moisés para lhes sustentar a fé. Agora ele lhes fora tirado. Dia após dia, semana após semana passavam-se, e ainda ele não voltava. Embora a nuvem ainda estivesse à vista, parecia a muitos no acampamento que seu chefe deles desertara, ou que fora consumido pelo fogo devorador. PP 223 2 Durante este período de espera, houve tempo para meditarem na lei de Deus que tinham ouvido, e prepararem o coração para receber novas revelações que Ele lhes poderia fazer. Não tinham tempo demasiado para este trabalho; e se houvessem estado assim a procurar uma compreensão mais clara dos mandamentos de Deus, e a humilhar seus corações diante dEle, teriam sido protegidos contra a tentação. Mas não fizeram isto; e logo se tornaram descuidados, desatentos e desordenados. Era este o caso especialmente com a "mistura de gente". Êxodo 12:38. Estavam impacientes por se verem em caminho para a Terra da Promessa, aquela terra que manava leite e mel. Era unicamente sob a condição de obediência que a bela terra lhes fora prometida; mas haviam perdido de vista esse fato. Alguns havia que sugeriam a volta para o Egito; mas a maior parte do povo estava decidida a não mais esperar por Moisés, quer fosse para seguir para Canaã quer fosse para voltar para o Egito. PP 223 3 Sentindo o seu desamparo na ausência do dirigente, voltaram às suas velhas superstições. Aquela "mistura de gente" foram os primeiros a se entregarem à murmuração e impaciência, e foram os chefes da apostasia que se seguiu. Entre as coisas consideradas pelos egípcios como símbolos da divindade, estava o boi ou o bezerro; e foi pela sugestão dos que haviam praticado esta forma de idolatria no Egito, que então foi feito e adorado um bezerro. O povo desejava alguma imagem para representar a Deus, e ir diante deles em lugar de Moisés. Deus não dera espécie alguma de semelhança de Si, e proibia qualquer representação material para tal fim. Os grandes prodígios feitos no Egito e no Mar Vermelho destinavam-se a estabelecer nEle fé, como o Ajudador de Israel, invisível e todo-poderoso, o único verdadeiro Deus. E o desejo de alguma manifestação visível de Sua presença fora satisfeito com a coluna de nuvem e de fogo que guiava os seus exércitos, e pela revelação de Sua glória sobre o Monte Sinai. Mas, com a nuvem de Sua presença ainda diante deles, volveram em seus corações à idolatria do Egito, e representaram a glória do Deus invisível pela semelhança de um bezerro! PP 224 1 Na ausência de Moisés a autoridade judiciária fora delegada a Arão, e uma vasta multidão reuniu-se em redor de sua tenda, com o pedido: "Faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu". Êxodo 32:1. A nuvem, disseram eles, que até ali os havia guiado, repousava agora permanentemente sobre o monte; não mais dirigiria as suas viagens. Queriam ter uma imagem em seu lugar; e se, como havia sido sugerido, resolvessem voltar ao Egito, teriam o favor dos egípcios, levando essa imagem diante de si, e reconhecendo-a como seu deus. PP 224 2 O culto de Ápis era acompanhado da mais grosseira licenciosidade, e o relato das Escrituras denota que a adoração ao bezerro levada a efeito pelos israelitas foi acompanhada por toda a devassidão usual no culto pagão. Lemos: "No dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se para comer e beber, e levantou-se para divertir-se". Êxodo 32:6. A palavra hebraica traduzida "divertir-se", significa divertir-se com saltos, cânticos e danças. Estas danças, especialmente entre os egípcios, eram sensuais e indecentes. A palavra traduzida "corrompeu" no versículo seguinte, onde se lê: "O teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu", é a mesma palavra usada em Gênesis 6:11, 12, onde lemos que a Terra estava corrompida, "porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na Terra". Isto explica a terrível ira do Senhor, e por que Ele desejava consumir o povo de uma vez. Tal ocasião crítica exigia um homem de firmeza, decisão e coragem inflexível; um homem que tivesse a honra de Deus em maior conta do que o favor popular, a segurança pessoal, ou a própria vida. Mas o atual líder de Israel não era deste caráter. Arão, com fraqueza, apresentou objeções ao povo, mas sua vacilação e timidez no momento crítico apenas os tornou mais decididos. O tumulto aumentou. Um frenesi, cego e desarrazoado, pareceu apoderar-se da multidão. Alguns houve que permaneceram fiéis ao seu concerto com Deus; mas a maior parte do povo aderiu à apostasia. Uns poucos que se arriscaram a denunciar a proposta execução da imagem como sendo idolatria, foram atacados e rudemente tratados, e na confusão e agitação perderam finalmente a vida. PP 224 3 Arão temia pela sua própria segurança; e, em vez de manter-se nobremente pela honra de Deus, rendeu-se às exigências da multidão. Seu primeiro ato foi ordenar que os brincos de ouro fossem reunidos dentre todo o povo e trazidos a ele, esperando que o orgulho os levasse a recusar tal sacrifício. Voluntariamente, porém, cederam os seus ornamentos; e destes fez um bezerro fundido, à imitação dos deuses do Egito. O povo proclamou: "Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito." E Arão vilmente permitiu se fizesse este insulto a Jeová. Fez mais. Vendo com que satisfação o deus de ouro era recebido, construiu um altar diante dele, e fez esta proclamação: "Amanhã será festa ao Senhor". Êxodo 32:4, 5. O anúncio foi apregoado por trombeteiros, de grupo em grupo pelo acampamento todo. "E no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantaram-se a folgar". Êxodo 32:6. Sob o pretexto de realizarem uma "festa ao Senhor", entregaram-se à glutonaria, à folgança licenciosa. PP 225 1 Quantas vezes em nossos próprios dias é o amor aos prazeres disfarçado por uma "aparência de piedade"! 2 Timóteo 3:5. Uma religião que permite aos homens, enquanto observam os ritos do culto, entregarem-se à satisfação egoísta ou sensual, é tão agradável às multidões hoje como o foi nos dias de Israel. E ainda há Arãos flexíveis, que ao mesmo tempo em que mantêm posições de autoridade na igreja, cederão aos desejos dos que não são consagrados, e assim os induzirão ao pecado. PP 225 2 Poucos dias apenas se haviam passado desde que os hebreus fizeram um concerto solene com Deus, para obedecerem à Sua voz. Tinham estado a tremer de terror diante do monte, ouvindo as palavras do Senhor: "Não terás outros deuses diante de Mim". Êxodo 20:3. A glória de Deus ainda pairava sobre o Sinai à vista da congregação; mas desviaram-se e pediram outros deuses. "Fizeram um bezerro em Horebe, e adoraram a imagem fundida. E converteram a Sua glória na figura de um boi". Salmos 106:19, 20. Como se poderia ter mostrado maior ingratidão ou feito insulto mais ousado Àquele que Se lhes revelara como um pai terno e rei todo-poderoso! PP 225 3 Moisés no monte foi avisado da apostasia no acampamento, e ordenou-se-lhe voltar sem demora. "Vai, desce", foram as palavras de Deus; "porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido. E depressa se tem desviado do caminho que Eu lhes tinha ordenado; fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram." Deus poderia ter sustado aquele movimento ao início; mas permitiu que chegasse a este ponto, para que pudesse ensinar a todos uma lição em Seu castigo à traição e apostasia. PP 225 4 O concerto de Deus com Seu povo havia sido anulado e Ele declarou a Moisés: "Deixa-Me, que o Meu furor se acenda contra eles, e os consuma; e Eu farei de ti uma grande nação". Êxodo 32:7, 8, 10. O povo de Israel, especialmente aquela multidão mista, estaria constantemente disposto a rebelar-se contra Deus. Murmurariam também contra seu chefe, e o magoariam pela sua incredulidade e obstinação; e tarefa laboriosa e mui probante seria guiá-los até a Terra Prometida. Seus pecados já os haviam privado do favor de Deus, e a justiça exigia sua destruição. O Senhor, então, propôs-Se a destruí-los e fazer de Moisés uma poderosa nação. PP 226 1 "Deixa-Me, que os consuma", foram as palavras de Deus. Se Deus Se propusera a destruir Israel, quem poderia pleitear em seu favor? Quantos não teriam deixado os pecadores entregues à sua sorte! Quantos não teriam alegremente trocado um quinhão de labutas, encargos e sacrifício, pagos com ingratidão e maledicência, por uma posição de comodidade e honra, quando era o próprio Deus que oferecia o livramento! PP 226 2 Moisés, porém, entrevia bases para esperança onde apenas apareciam desânimo e ira. As palavras de Deus: "Deixa-Me", compreendeu ele não proibirem, mas sim, alentarem a intercessão, implicando que coisa alguma a não ser as orações de Moisés poderia salvar Israel; mas que, sendo assim rogado, Deus pouparia a Seu povo. Ele "suplicou ao Senhor seu Deus, e disse: Ó Senhor, por que se acende o Teu furor contra o Teu povo, que Tu tiraste da terra do Egito, com grande força e com forte mão?" Êxodo 32:11. PP 226 3 Deus dera a entender que renunciara a Seu povo. Falara deles a Moisés como "o teu povo, que fizeste subir do Egito". Mas Moisés, humildemente, não arrogou a si a chefia de Israel. Não eram dele, mas de Deus: "Teu povo, que Tu tiraste [...] com grande força e com forte mão. Por que", insistiu ele, "hão de falar os egípcios, dizendo: Para mal os tirou, para matá-los nos montes, e para destruí-los da face da Terra". Êxodo 32:7, 11, 12. PP 226 4 Durante os poucos meses depois que Israel partira do Egito, a notícia de seu maravilhoso livramento se espalhara por todas as nações circunvizinhas. O medo, bem como terríveis sinais, repousava sobre os gentios. Todos estavam em observação para verem o que o Deus de Israel faria por Seu povo. Se fossem agora destruídos, seus inimigos triunfariam, e Deus seria desonrado. Os egípcios alegariam que suas acusações eram verdadeiras; em vez de levar Seu povo ao deserto para sacrificar, fizera com que fossem sacrificados. Não tomariam em consideração os pecados de Israel; a destruição do povo ao qual de uma maneira tão assinalada honrara, lançaria a injúria sobre o Seu nome. Quão grande era a responsabilidade que repousava sobre aqueles a quem Deus tão altamente honrara, de fazerem de Seu nome um louvor na Terra! Com que cuidado deviam guardar-se de cometer pecado, atrair os Seus juízos, e fazer com que Seu nome fosse acusado pelos ímpios! PP 226 5 Intercedendo Moisés por Israel, desapareceu-lhe a timidez ante seu profundo interesse e amor por aqueles, em favor dos quais havia sido nas mãos de Deus, o meio para se fazerem tão grandes coisas. O Senhor ouviu-lhe os rogos, e atendeu a sua abnegada oração. Deus havia provado o Seu servo; provara-lhe a fidelidade, e o amor por aquele povo ingrato e propenso ao erro, e, nobremente, resistira Moisés à prova. Seu interesse por Israel não se originara em qualquer intuito egoísta. A prosperidade do povo escolhido de Deus era-lhe mais valiosa do que a honra pessoal, mais apreciada do que o privilégio de tornar-se o pai de uma poderosa nação. Deus Se agradava de sua fidelidade, simplicidade de coração e integridade, e confiou-lhe como a um fiel pastor, o grande encargo de guiar Israel à Terra Prometida. PP 227 1 Descendo do monte, Moisés e Josué, trazendo o primeiro "as tábuas do testemunho", ouviram as aclamações e algazarra da multidão exaltada, evidentemente em estado de selvagem alvoroço. Para Josué, soldado, o primeiro pensamento foi um ataque de seus inimigos. "Alarido de guerra há no arraial", disse ele. Mas Moisés julgou com mais exatidão a natureza daquela comoção. O ruído não era de combate, mas de orgia. "Não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam eu ouço". Êxodo 32:15, 17, 18. PP 227 2 Aproximando-se do acampamento, viram o povo a aclamar e dançar, em redor de seu ídolo. Era uma cena de alvoroço gentílico, imitação das festas idólatras do Egito; mas quão diverso do solene e reverente culto de Deus! Moisés ficou consternado. Acabava de vir da presença da glória de Deus, e, embora tivesse sido avisado do que estava acontecendo, não estava preparado para aquela hedionda mostra de degradação em Israel. Acendeu-se-lhe a ira. Para mostrar aversão pelo crime do povo, arrojou as tábuas de pedra, e elas se quebraram à vista de todos, significando com isto que, assim como haviam quebrantado seu concerto com Deus, assim Deus quebrava Seu concerto com eles. PP 227 3 Entrando no acampamento, Moisés passou através das multidões entregues à dissolução, e, lançando mão do ídolo, atirou-o ao fogo. Em seguida reduziu-o a pó, e, havendo-o derramado sobre a torrente que descia do monte, fez com que o povo dela bebesse. Assim se mostrou a completa inutilidade do deus que estiveram a adorar. PP 227 4 O grande líder chamou a seu irmão culposo, e perguntou-lhe severamente: "Que te tem feito este povo, que sobre ele trouxeste tamanho pecado?" Arão esforçou-se por defender-se, alegando o clamor do povo; declarando que, se não se tivesse conformado com seus desejos, teria sido morto. "Não se acenda a ira do meu senhor", disse ele; "tu sabes que este povo é inclinado ao mal; e eles me disseram: faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque não sabemos o que sucedeu a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito. Então eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o; e deram-mo, e lancei-o no forno, e saiu este bezerro". Êxodo 32:21-24. Ele queria levar Moisés a crer que se operara um prodígio: que o ouro fora lançado no forno, e por um poder sobrenatural se transformara em um bezerro. Suas desculpas e prevaricações, porém, de nada valeram. Foi com justiça tratado como o principal culpado. PP 227 5 O fato de que Arão fora muito mais abençoado e honrado do que o povo, foi o que tornou o seu pecado tão hediondo. Foi Arão, "o santo do Senhor" (Salmos 106:16), que fizera o ídolo e anunciara a festa. Foi aquele que fora designado como o porta-voz de Moisés, e a respeito de quem o próprio Deus testificou: "Eu sei que ele falará muito bem" (Êxodo 4:14), foi ele que não pôde sustar os idólatras no seu intento de afronta ao Céu. Aquele por intermédio de quem Deus agira ao trazer juízo tanto sobre os egípcios como seus deuses, ouvira inabalável a proclamação ante a imagem fundida: "Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito". Êxodo 32:8. Fora aquele que estivera com Moisés no monte, e ali vira a glória do Senhor, que vira que na manifestação daquela glória nada havia de que se pudesse fazer uma imagem, sim, foi ele que mudou aquela glória na semelhança de um boi. Aquele a quem Deus confiara o governo do povo na ausência de Moisés, foi encontrado a sancionar a sua rebelião. "O Senhor Se irou muito contra Arão para o destruir". Deuteronômio 9:20. Mas em resposta à fervorosa intercessão de Moisés, sua vida foi poupada; e, com arrependimento e humilhação pelo seu grande pecado, foi restabelecido no favor de Deus. PP 228 1 Se Arão tivesse tido coragem para se pôr do lado do direito, sem se incomodar com as conseqüências, poderia ter impedido aquela apostasia. Se houvesse inabalavelmente mantido sua fidelidade para com Deus, se houvesse mencionado ao povo os perigos do Sinai, e os tivesse feito lembrar de seu concerto solene com Deus, para obedecerem a Sua lei, ter-se-ia sustado o mal. Mas sua conformação com os desejos do povo, e a calma segurança com que se pôs a executar os seus planos, fizeram com que se atrevessem a ir mais longe, no pecado, do que antes lhes viera à mente fazer. PP 228 2 Quando Moisés, voltando ao acampamento, se defrontou com os rebeldes, a severa repreensão e a indignação que ostentou, ao quebrar as tábuas sagradas da lei, foram pelo povo contrastadas com os discursos aprazíveis e o porte fidalgo de seu irmão, e suas simpatias estavam com Arão. Para justificar-se, Arão esforçou-se por tornar o povo responsável pela sua fraqueza de ceder ao seu pedido; mas, apesar disto, estavam cheios de admiração por sua gentileza e paciência. Mas Deus não vê como o homem. O espírito condescendente de Arão e seu desejo de agradar, haviam-lhe cegado os olhos à enormidade do crime que estava a sancionar. Seu procedimento ao emprestar sua influência para o pecado em Israel, custou a vida de milhares. Que contraste entre isto e a conduta de Moisés, o qual, ao mesmo tempo que executava fielmente os juízos de Deus, mostrava que o bem-estar de Israel lhe era mais caro do que a prosperidade, a honra ou a vida. PP 228 3 De todos os pecados que Deus punirá, nenhum é mais ofensivo à Sua vista do que aquele que incentiva o outro a fazer o mal. Deus quer que Seus servos demonstrem sua lealdade, repreendendo fielmente a transgressão, por penoso que seja este ato. Aqueles que são honrados com uma missão divina, não devem ser fracos e flexíveis servidores de ocasião. Não devem ter como seu objetivo a exaltação própria, nem afastar de si os deveres desagradáveis, mas sim efetuar a obra de Deus com inabalável fidelidade. PP 229 1 Posto que Deus houvesse atendido à oração de Moisés poupando a Israel da destruição, a apostasia deste havia de ser castigada de maneira assinalada. A iniqüidade e insubordinação em que Arão permitira caíssem, se não fossem prontamente aniquiladas, passariam de motim à perversidade, e envolveriam a nação em ruína irreparável. Com terrível severidade devia o mal ser excluído. De pé à porta do acampamento, Moisés chamou ao povo: "Quem é do Senhor, venha a mim". Êxodo 32:26. Aqueles que se não haviam unido à apostasia, deviam tomar posição à destra de Moisés; os que eram culpados, mas que se arrependeram, ficariam à esquerda. A ordem foi obedecida. Verificou-se que a tribo de Levi não tomara parte no culto idólatra. Dentre outras tribos grande número havia dos que, embora houvessem pecado, exprimiam agora o seu arrependimento. Mas uma grande multidão, maior parte daquela mistura de gente que instigara a execução do bezerro, obstinadamente persistiu em sua rebelião. Em nome do "Senhor Deus de Israel", Moisés agora ordenou àqueles à sua direita, que se haviam conservado inculpados de idolatria, que cingissem suas espadas e matassem a todos os que persistiam na rebelião. "E caíram do povo aquele dia uns três mil homens". Êxodo 32:28. Sem consideração para com posição, parentesco ou amizade, os cabeças daquele ímpio motim foram eliminados; mas todos os que se arrependeram e se humilharam foram poupados. PP 229 2 Aqueles que efetuaram esta terrível obra de juízo, estiveram a agir com autoridade divina, executando a sentença do Rei do Céu. Os homens, em sua cegueira humana, devem acautelar-se de como julgam e condenam seus semelhantes; mas, quando Deus lhes ordena executar Sua sentença sobre a iniqüidade, Ele deve ser obedecido. Aqueles que realizaram este doloroso ato, manifestaram desta maneira sua aversão à rebelião e idolatria, e mais completamente se consagraram ao serviço do verdadeiro Deus. O Senhor honrou-lhes a fidelidade, conferindo distinção especial à tribo de Levi. PP 229 3 Os israelitas haviam sido culpados de traição, e esta contra o Rei que os cumulara de benefícios, e cuja autoridade voluntariamente se comprometeram a obedecer. A fim de que se pudesse manter o governo divino, devia executar-se justiça sobre os traidores. Todavia, mesmo nisto, ostentou-se a misericórdia de Deus. Ao mesmo tempo em que Ele mantinha a Sua lei, concedia liberdade de escolha, e oportunidade para o arrependimento a todos. Apenas foram eliminados aqueles que persistiram na rebelião. PP 229 4 Era necessário que este pecado fosse punido, como testemunho às nações circunvizinhas do desagrado de Deus pela idolatria. Executando justiça sobre os criminosos, Moisés, como instrumento de Deus, devia deixar registrado um protesto solene e público contra o seu delito. Quando os israelitas devessem dali em diante condenar a idolatria das tribos vizinhas, seus inimigos lhes lançariam a acusação de que o povo que pretendia ter a Jeová como seu Deus, fizera um bezerro e o adorara em Horebe. Então, compelidos embora a reconhecer a infeliz verdade, Israel poderia indicar a sorte terrível dos transgressores, como prova de que seu pecado não fora sancionado ou desculpado. PP 230 1 O amor, não menos que a justiça, exigia que, para este pecado, fosse infligido o juízo. Deus é o guarda, bem como o soberano de Seu povo. Ele exclui aqueles que se acham decididos à rebelião, para que não levem outros à ruína. Poupando a vida a Caim, Deus demonstrou ao Universo qual seria o resultado de permitir que o pecado ficasse sem punição. A influência exercida sobre seus descendentes por sua vida e ensino, determinou o estado de corrupção que exigiu a destruição do mundo inteiro pelo dilúvio. A história dos antediluvianos atesta que a vida longa não é uma bênção para o pecador; a grande paciência de Deus não reprimiu sua impiedade. Quanto mais viveram os homens, tanto mais corruptos se tornaram. PP 230 2 Assim seria com a apostasia no Sinai. A menos que o castigo de pronto tivesse sido executado sobre os transgressores, ter-se-iam visto de novo os mesmos resultados. A Terra ter-se-ia tornado tão corrompida como nos dias de Noé. Houvessem sido poupados esses transgressores, e ter-se-iam seguido males maiores do que os que resultaram de poupar a vida de Caim. Foi pela misericórdia de Deus que milhares devessem sofrer, para evitar a necessidade de executar juízos sobre milhões. A fim de salvar a muitos, Ele tinha de castigar a poucos. Ademais, como o povo rejeitara sua submissão a Deus, privara-se da proteção divina, e, despojados de sua defesa, a nação toda estava exposta ao poder dos inimigos. Se o mal não tivesse sido prontamente eliminado, logo teriam eles caído presa de seus numerosos e poderosos adversários. Era necessário para o bem de Israel, e também como lição a todas as gerações subseqüentes, que o crime fosse imediatamente castigado. E não menos misericórdia era para os próprios pecadores que fossem suprimidos em seu mau caminho. Se sua vida houvesse sido poupada, o mesmo espírito que os levara a rebelar-se contra Deus ter-se-ia manifestado em ódio e contenda entre eles mesmos, e ter-se-iam finalmente destruído uns aos outros. Foi por amor ao mundo, por amor a Israel e mesmo pelos transgressores, que o crime foi punido com uma severidade breve e terrível. PP 230 3 Apercebendo-se o povo da enormidade de sua falta, o terror invadiu todo o arraial. Receava-se que todos os culpados devessem ser extirpados. Compadecido da angústia deles, Moisés prometeu mais uma vez pleitear com Deus em seu favor. PP 230 4 "Vós pecastes grande pecado", disse ele, "agora, porém, subirei ao Senhor; porventura farei propiciação por vosso pecado." Ele foi, e em sua confissão diante de Deus disse: "Ora, este povo pecou pecado grande, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado, senão risca-me, peço-Te, do Teu livro, que tens escrito." A resposta foi: "Aquele que pecar contra Mim, a este riscarei Eu do Meu livro. Vai pois agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o Meu Anjo irá adiante de ti; porém, no dia da Minha visitação visitarei neles o seu pecado". Êxodo 32:30-34. PP 231 1 Na oração de Moisés, nosso espírito é dirigido para os registros celestiais, nos quais estão inscritos os nomes de todos os homens, e fielmente registradas as suas ações, quer sejam boas quer más. O livro da vida contém os nomes de todos os que já entraram ao serviço de Deus. Se quaisquer destes se afastam dEle, e por uma obstinada persistência no pecado se tornam finalmente endurecidos à influência do Espírito Santo, seus nomes serão no juízo apagados do livro da vida, e eles serão votados à destruição. Moisés se compenetrava de quão terrível seria a sorte do pecador; todavia, se o povo de Israel devesse ser rejeitado pelo Senhor, desejava ele que seu nome fosse apagado com o deles; não poderia resistir ao ver caírem os juízos de Deus sobre aqueles que haviam sido tão graciosamente libertos. A intercessão de Moisés em prol de Israel ilustra a mediação de Cristo pelo homem pecador. Mas o Senhor não permitiu que Moisés carregasse, como fez Cristo, a culpa do transgressor. "Aquele que pecar contra Mim", disse Ele, "a este riscarei do Meu livro". Êxodo 32:33. PP 231 2 Com profunda tristeza o povo sepultou os seus mortos. Três mil haviam sucumbido pela espada; logo uma praga irrompeu no acampamento; e então lhes veio a mensagem de que a presença divina não mais os acompanharia em suas jornadas. Declara Jeová: "Eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo obstinado, para que te não consuma Eu no caminho." E foi dada a ordem: "Tira de ti os teus atavios, para que Eu saiba o que te hei de fazer." Houve então lamentação por todo o acampamento. Com penitência e humilhação, "os filhos de Israel se despojaram de seus atavios, ao pé do monte de Horebe". Êxodo 33:3, 6. PP 231 3 Por instrução divina, a tenda que servira como lugar temporário de culto, foi removida "longe do arraial". Isto consistia ainda mais prova de que Deus retirara deles a Sua presença. Ele Se revelaria a Moisés, mas não a um povo tal. Esta repreensão foi sentida fundamente; e, para as multidões, feridas na consciência, parecia um prenúncio de grande calamidade. Não tinha o Senhor separado a Moisés do acampamento para que pudesse destruí-los completamente? Não foram, porém, deixados sem esperança. A tenda foi armada fora do arraial, mas Moisés chamou-a "a tenda da congregação". Êxodo 33:7. Todos os que estavam verdadeiramente arrependidos, e desejavam voltar ao Senhor, eram instruídos a dirigirem-se para ali a fim de confessarem seus pecados e buscarem Sua misericórdia. Quando regressavam a suas tendas, Moisés entrava na tenda da congregação. Com aflitivo interesse o povo aguardava algum sinal de que suas intercessões em prol deles foram aceitas. Se Deus condescendesse em encontrar-Se com eles, podiam esperar que não seriam inteiramente consumidos. Quando a coluna de nuvem desceu, e ficou à entrada, o povo chorou de alegria, e "se levantou, e inclinaram-se cada um à porta da sua tenda". Êxodo 33:8. PP 232 1 Moisés bem conhecia a perversidade e cegueira daqueles que foram postos sob os seus cuidados; sabia das dificuldades com que devia lutar. Mas tinha aprendido que, a fim de prevalecer com o povo, deveria ter auxílio da parte de Deus. Pleiteou uma revelação mais clara da vontade de Deus, e uma segurança de Sua presença: "Eis que Tu me dizes: Faze subir a este povo; porém, não me fazes saber a quem hás de enviar comigo; e Tu disseste: Conheço-te por teu nome, também achaste graça aos Meus olhos. Agora pois, se tenho achado graça a Teus olhos, rogo-Te que agora me faças saber o Teu caminho, e conhecer-Te-ei, para que ache graça aos Teus olhos; e atenta que esta nação é o Teu povo." PP 232 2 A resposta foi: "Irá para a Minha presença contigo para te fazer descansar." Moisés, porém, ainda não estava satisfeito. Oprimia-lhe a alma a intuição dos terríveis resultados no caso em que Deus deixasse Israel entregue à dureza e impenitência. Ele não podia admitir que seus interesses estivessem separados dos de seus irmãos, e orava para que se restabelecesse o favor de Deus a Seu povo, e para que o sinal de Sua presença continuasse a guiar as suas jornadas: "Se a Tua presença não for conosco, não nos faças subir daqui. Como pois se saberá agora que tenho achado graça aos Teus olhos, eu e o Teu povo? acaso não é por andares Tu conosco e separados seremos, eu e o Teu povo, de todo o povo que há sobre a face da Terra?" PP 232 3 E o Senhor disse: "Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos Meus olhos, e te conheço por nome." Não deixou ainda o profeta de pleitear. Cada uma das orações havia sido atendida, mas ele estava sedento por maiores indícios do favor de Deus. Fez então um pedido que ser humano algum jamais fizera antes: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória." PP 232 4 Deus não censurou o seu pedido como sendo presunçoso; mas foram proferidas as palavras cheias de graça: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti". Êxodo 33:12-19. A glória de Deus, desvendada, homem algum neste estado mortal poderá ver, e viver; mas a Moisés assegurou-se que ele veria, tanto quanto poderia suportar, da glória divina. De novo foi chamado ao cimo da montanha; então a mão que fizera o mundo, aquela mão que "transporta as montanhas, sem que o sintam" (Jó 9:5), tomou esta criatura de pó, este poderoso homem de fé, e o colocou na fenda da rocha, enquanto a glória de Deus e toda a Sua bondade passaram diante dele. PP 232 5 Esta experiência -- e acima de tudo mais, a promessa de que a presença divina o acompanharia -- foi para Moisés uma certeza de êxito na obra que tinha diante de si; e ele considerava isto de valor infinitamente maior do que todo o saber do Egito ou todas as suas realizações como estadista ou chefe militar. Nenhum poder, habilidade ou sabedoria terrestre pode suprir o lugar da presença duradoura de Deus. PP 232 6 Para o transgressor é coisa terrível cair às mãos do Deus vivo; mas Moisés esteve sozinho na presença do Eterno, e não ficou amedrontado; pois tinha a alma em harmonia com a vontade de seu Criador. Diz o salmista: "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá". Salmos 66:18. Mas "o segredo do Senhor é para os que O temem; e Ele lhes fará saber o Seu concerto". Salmos 25:14. PP 233 1 A Divindade proclamou a respeito de Si: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente". Moisés "apressou-se, e inclinou a cabeça à terra, encurvou-se". Novamente rogou que Deus perdoasse a iniqüidade de Seu povo e os tomasse como Sua herança. Sua oração foi atendida. O Senhor graciosamente prometeu renovar Seu favor para com Israel, e em prol deles operar maravilhas quais não tinham sido feitas "em toda a Terra, nem entre gente alguma". Êxodo 34:6, 8, 10. Quarenta dias e noites Moisés permaneceu no monte; e, durante este tempo, como a princípio, foi miraculosamente alimentado. A homem algum foi permitido subir com ele; nem durante o tempo de sua ausência ninguém deveria aproximar-se do monte. Por ordem de Deus, preparara duas tábuas de pedra, e levara-as consigo ao cume; e outra vez o Senhor "escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os Dez Mandamentos". PP 233 2 Durante aquele prolongado tempo despendido em comunhão com Deus, a face de Moisés refletira a glória da presença divina; sem o saber, seu rosto resplandecia com uma luz deslumbrante quando ele desceu do monte. Tal luz iluminou o rosto de Estêvão quando fora levado perante seus juízes; "então todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo". Atos dos Apóstolos 6:15. Arão, assim como o povo, recuava de Moisés, e "temeram de chegar-se a ele". Êxodo 34:30. Vendo sua confusão e terror, mas sem saber a causa, insistiu com eles para que se aproximassem. Apresentou-lhes a garantia da reconciliação com Deus, e lhes assegurou o restabelecimento de Seu favor. Nada perceberam em sua voz a não ser amor e solicitude, e finalmente aventurou-se um a aproximar-se dele. Muito atônito para que pudesse falar, silenciosamente apontou para o rosto de Moisés e então para o céu. O grande chefe compreendeu o que queria dizer. Em sua consciente culpabilidade, sentindo-se ainda sob o desagrado divino, não podiam suportar a luz celestial, a qual, se houvessem eles sido obedientes a Deus, tê-los-ia enchido de alegria. O medo acompanha a culpa. A alma que está livre de pecado não deseja esconder-se da luz do Céu. PP 233 3 Moisés tinha muito a comunicar-lhes; e, compadecendo-se de seus temores, pôs um véu sobre o rosto, e continuou a fazer assim dali em diante sempre que voltava ao acampamento depois de ter comunhão com Deus. PP 233 4 Por essa luz era o intuito de Deus impressionar Israel com o caráter sagrado e exaltado de Sua lei, e a glória do evangelho revelado por meio de Cristo. [...] Enquanto Moisés estava no monte, Deus apresentou-lhe não somente as tábuas da lei, mas também o plano da salvação. Ele viu que o sacrifício de Cristo era prefigurado por todos os tipos e símbolos da era judaica; e era a luz celestial que fluía do Calvário, não menos que a glória da lei de Deus, que derramava tal brilho no rosto de Moisés. Aquela iluminação divina simbolizava a glória da dispensação de que Moisés era o mediador visível, representante do único verdadeiro Intercessor. PP 234 1 A glória refletida no semblante de Moisés ilustra as bênçãos a serem recebidas, pela mediação de Cristo, pelo povo que guarda os mandamentos de Deus. Testifica de que, quanto mais íntima for nossa união com Deus, e mais claro o nosso conhecimento de Suas ordens, tanto mais plenamente nos adaptaremos à divina imagem, e mais facilmente nos tornaremos participantes da natureza divina. PP 234 2 Moisés era um tipo de Cristo. Como intercessor de Israel, velou o rosto, porque o povo não podia resistir ao ver a glória do mesmo; assim Cristo, o Mediador divino, velou Sua divindade na humanidade quando veio à Terra. Se tivesse vindo revestido do resplendor do Céu, não poderia ter obtido acesso aos homens em seu estado pecaminoso. Estes não poderiam suportar a glória de Sua presença. Portanto Ele humilhou-Se, e foi feito "em semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3), para que pudesse chegar até a raça decaída e levantá-la. ------------------------Capítulo 29 -- Inimizade de Satanás contra a lei PP 235 1 O primeiro esforço de Satanás para destruir a lei de Deus -- esforço este feito entre os santos habitantes do Céu -- pareceu por algum tempo ser coroado de êxito. Grande número de anjos foram seduzidos; mas o triunfo aparente de Satanás redundou em derrota e perda, separação de Deus e banimento do Céu. PP 235 2 Quando se renovou o conflito na Terra, Satanás de novo alcançou uma aparente vantagem. Pela transgressão, o homem se tornou seu escravo, e o reino do homem também foi entregue nas mãos do maioral dos rebeldes. Parecia agora aberto o caminho para Satanás estabelecer um reino independente, e desafiar a autoridade de Deus e de Seu Filho. Mas o plano da salvação possibilitou ao homem ser de novo trazido à harmonia com Deus, e prestar obediência à Sua lei; e tanto ao homem como à Terra serem finalmente redimidos do poder do maligno. PP 235 3 Foi outra vez derrotado Satanás, e outra vez recorreu ao engano, na esperança de converter sua derrota em vitória. Para suscitar a rebelião na raça decaída, representou agora a Deus como injusto por ter permitido ao homem transgredir a Sua lei. "Por que", disse o ardiloso tentador, "permitiu Deus que o homem fosse posto à prova, para pecar, e trazer a miséria e a morte, quando Ele sabia qual seria o resultado?" E os filhos de Adão, esquecidos da longânima misericórdia que concedera ao homem outra prova, não tomando em consideração o sacrifício admirável e terrível que sua rebelião custara ao Rei do Céu, deram ouvidos ao tentador, e murmuraram contra o único Ser que os podia salvar do poder destruidor de Satanás. PP 235 4 Milhares existem hoje repercutindo a mesma queixa revoltosa contra Deus. Não vêem que o despojar o homem da liberdade de escolha seria privá-lo de sua prerrogativa de um ser inteligente, e fazer dele um mero autômato. Não é propósito de Deus coagir a vontade. O homem foi criado como um ser moral livre. Como os habitantes de todos os outros mundos, devia ser sujeito à prova da obediência; mas nunca é levado a uma posição tal em que render-se ao mal se torne coisa forçosa. Nenhuma tentação ou prova se permite vir àquele que é incapaz de resistir. Deus nos proveu de tão amplos recursos, que o homem jamais ter-se-ia encontrado na contingência de ser derrotado no conflito com Satanás. PP 236 1 Aumentando-se os homens sobre a Terra, quase o mundo todo se uniu às fileiras da rebelião. Mais uma vez pareceu Satanás haver ganho a vitória. Mais uma vez, porém, a Onipotência suprimiu a operação da iniqüidade, e a Terra foi pelo dilúvio purificada de sua contaminação moral. PP 236 2 Diz o profeta: "Havendo os Teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça. Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; [...] e não atenta para a majestade do Senhor". Isaías 26:9, 10. Assim foi depois do dilúvio. Livres de Seus juízos, os habitantes da Terra de novo se rebelaram contra o Senhor. Duas vezes o concerto de Deus e Seus estatutos foram rejeitados pelo mundo. Tanto o povo anterior ao dilúvio como os descendentes de Noé rejeitaram a autoridade divina. Então Deus entrou em um concerto com Abraão, e tomou para Si um povo que se tornasse os depositários de Sua lei. A fim de seduzir e destruir este povo, Satanás logo começou a lançar as suas ciladas. Os filhos de Jacó foram tentados a contrair matrimônio com os gentios, e a adorar os seus ídolos. Mas José foi fiel a Deus, e sua fidelidade foi um constante testemunho da verdadeira fé. Foi para apagar esta luz que Satanás trabalhou por meio da inveja dos irmãos de José a fim de fazer com que ele fosse vendido como escravo para um país gentílico. Deus, entretanto, encaminhou os acontecimentos de maneira que o Seu conhecimento fosse dado ao povo do Egito. PP 236 3 Tanto na casa de Potifar como na prisão, José recebeu uma educação e ensino que, com o temor de Deus, o prepararam para a sua elevada posição de primeiro-ministro da nação. Do palácio dos Faraós foi sentida a sua influência por todo o país, e o conhecimento de Deus propagou-se larga e extensamente. Os israelitas no Egito também se tornaram prósperos e ricos; e, enquanto foram fiéis a Deus, exerceram dilatada influência. Os sacerdotes idólatras ficaram alarmados ao verem a nova religião alcançar favor. Inspirados por Satanás com a inimizade deste para com o Deus do Céu, aplicaram-se a apagar a luz. Aos sacerdotes era confiada a educação do herdeiro do trono, e era este espírito de decidida oposição a Deus e de zelo pela idolatria o que modelava o caráter do futuro rei, e determinou crueldade e opressão para com os hebreus. PP 236 4 Durante os quarenta anos que se seguiram à fuga de Moisés do Egito, a idolatria pareceu ter vencido. Ano após ano, as esperanças dos israelitas tornavam-se mais débeis. Tanto o rei como o povo exultavam em seu poderio, e zombavam do Deus de Israel. Este espírito desenvolveu-se até que culminou no Faraó que foi enfrentado por Moisés. Quando o chefe hebreu chegou perante o rei com uma mensagem do "Senhor Deus de Israel", não foi a ignorância acerca do verdadeiro Deus, senão o desafio ao Seu poder, o que inspirou a resposta: "Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei? [...] Não conheço o Senhor". Êxodo 5:2. De princípio a fim, a oposição de Faraó ao mando divino não foi o resultado da ignorância, mas do ódio e desafio. PP 237 1 Posto que os egípcios houvessem durante tanto tempo rejeitado o conhecimento de Deus, o Senhor ainda lhes deu oportunidade para o arrependimento. Nos dias de José, o Egito fora um abrigo para Israel; Deus fora honrado pela bondade manifesta a Seu povo; e agora aquele Ser longânimo, tardio em iras e cheio de compaixão, deu a cada juízo prazo para realizar a sua obra; os egípcios, recebendo maldição por meio dos mesmos objetos que adoravam, tiveram prova do poder de Jeová, e todos que o quisessem poderiam sujeitar-se a Deus e escapar de Seus juízos. O fanatismo e obstinação do rei tiveram como resultado espalhar o conhecimento de Deus, e levar muitos dos egípcios a entregarem-se a Seu serviço. PP 237 2 Foi porque os israelitas estivessem tão dispostos a unir-se com os gentios e imitar-lhes a idolatria que Deus lhes permitiu descerem ao Egito, onde a influência de José era largamente sentida, e onde as circunstâncias lhes eram favoráveis para permanecerem como um povo distinto. Ali também a grosseira idolatria dos egípcios e sua crueldade e opressão durante a última parte da peregrinação dos hebreus, devia ter inspirado neles aversão à idolatria, e os devia ter levado a fugir para o Deus de seus pais em busca de refúgio. Esta providência tornara Satanás um meio para servir a seu propósito, obscurecendo a mente dos israelitas, e levando-os a imitar as práticas de seus senhores pagãos. Devido à veneração supersticiosa em que pelos egípcios eram tidos os animais, não se permitia aos hebreus, durante seu cativeiro, apresentar ofertas sacrificais. Assim sua mente não era dirigida por este culto ao grande Sacrifício, e enfraqueceu-se-lhes a fé. Quando chegou o tempo para o livramento de Israel, Satanás se pôs a resistir aos propósitos de Deus. Era seu firme intuito que aquele grande povo, que contava mais de dois milhões de almas, fosse conservado na ignorância e superstição. Aquele povo a quem Deus prometera abençoar e multiplicar, e tornar um poderio na Terra, e por meio do qual Ele revelaria o conhecimento de Sua vontade -- povo de quem Ele faria os guardas de Sua lei -- aquele mesmo povo estava Satanás procurando conservar na obscuridade e cativeiro, para que pudesse extinguir de seus espíritos a lembrança de Deus. PP 237 3 Quando se operaram os prodígios perante o rei, Satanás estava a postos para contrariar a sua influência, e impedir Faraó de reconhecer a supremacia de Deus, e obedecer à Sua ordem. Satanás fez tudo em seu alcance para contrafazer a obra de Deus e resistir à Sua vontade. O único resultado foi preparar o caminho para maiores exibições de poder e glória divinos, e tornar mais visíveis, tanto para israelitas como para todo o Egito, a existência e soberania do Deus verdadeiro e vivo. PP 237 4 Deus libertou Israel com grandiosas manifestações de Seu poder, e com juízos sobre todos os deuses do Egito. "Tirou dali o Seu povo com alegria, e os Seus escolhidos com regozijo. [...] Para que guardassem os Seus preceitos, e observassem as Suas leis". Salmos 105:43-45. Ele os livrou de seu estado servil, para que os pudesse levar a uma boa terra -- terra esta que em Sua providência lhes fora preparada como refúgio de seus inimigos, onde pudessem habitar sob a sombra de Suas asas. Ele os levaria para Si mesmo, e os cingiria em Seus eternos braços; e em troca de toda a Sua bondade e misericórdia para com eles, exigia-se-lhes que não tivessem outros deuses diante dEle, o Deus vivo, e exaltassem Seu nome e o fizessem glorioso na Terra. PP 238 1 Durante o cativeiro no Egito muitos israelitas haviam perdido em grande parte o conhecimento da lei de Deus, e misturaram seus preceitos com costumes e tradições gentílicos. Deus os levou ao Sinai, e ali de viva voz declarou Sua lei. PP 238 2 Satanás e anjos maus estavam a postos. Mesmo enquanto Deus estava a proclamar a lei a Seu povo, Satanás achava-se a tramar no intuito de tentá-los a pecar. Deste povo que Deus escolhera, ele queria apoderar-se, em presença mesmo do Céu. Conduzindo-os à idolatria, destruiria a eficácia de todo o culto; pois como poderá o homem elevar-se, adorando o que não é mais elevado do que ele próprio, e que pode ser o símbolo de sua própria obra? Se o homem pudesse tornar-se tão cego ao poder, majestade e glória do Deus infinito, que O representasse por uma imagem esculpida, ou mesmo por um quadrúpede ou réptil; se pudesse de tal maneira esquecer-se de sua própria relação para com a Divindade, formado como é ele à imagem de seu Criador, que se prostrasse ante esses objetos repelentes e inanimados, estaria então aberto o caminho para a detestável licenciosidade; as más paixões do coração estariam desenfreadas, e Satanás teria amplo domínio. PP 238 3 Junto mesmo do Sinai Satanás começou a executar seus planos para subverter a lei de Deus, levando assim avante a mesma obra que iniciara no Céu. Durante os quarenta dias em que Moisés se achava no monte, com Deus, Satanás esteve ocupado provocando dúvida, apostasia e rebelião. Enquanto Deus escrevia a Sua lei, a fim de ser confiada ao Seu povo do concerto, os israelitas, negando sua fidelidade para com Jeová, estavam a pedir deuses de ouro! Quando Moisés veio da terrível presença da glória divina, com os preceitos da lei que se haviam comprometido a obedecer, encontrou-os em franco desafio aos mandos da mesma, curvando-se em adoração perante uma imagem de ouro. PP 238 4 Levando Israel a este ousado insulto e blasfêmia dirigidos a Jeová, Satanás planejara efetuar a sua ruína. Visto que se mostraram tão completamente degradados, tão insensíveis aos privilégios e bênçãos que Deus lhes oferecera, e aos seus próprios compromissos solenes e repetidos de fidelidade, o Senhor Se divorciaria deles, acreditava ele, e os votaria à destruição. Assim se asseguraria a extinção da descendência de Abraão, aquela descendência da promessa que deveria preservar o conhecimento do Deus vivo, e por meio da qual Ele deveria vir, a saber, a verdadeira Semente, a qual deveria vencer Satanás. O grande rebelado havia projetado destruir Israel, e assim transtornar o propósito de Deus. Mas de novo foi derrotado. Por pecador que fosse, o povo de Israel não foi destruído. Enquanto aqueles que obstinadamente se dispuseram ao lado de Satanás foram extirpados, o povo, humilhado e arrependido, foi misericordiosamente perdoado. A história deste pecado ficaria como testemunho perpétuo da culpabilidade e castigo da idolatria, e da justiça e longânima misericórdia de Deus. PP 239 1 O Universo inteiro foi testemunha das cenas do Sinai. Nos efeitos das duas administrações viu-se o contraste entre o governo de Deus e o de Satanás. De novo os habitantes destituídos de pecado, de outros mundos, viram os resultados da apostasia de Satanás, e a espécie de governo que ele teria estabelecido no Céu, caso lhe houvesse sido permitido exercer domínio. PP 239 2 Fazendo os homens violarem o segundo mandamento, visava Satanás rebaixar suas concepções acerca do Ser divino. Pondo de lado o quarto, fá-los-ia esquecer-se completamente de Deus. A reivindicação divina à reverência e culto, acima dos deuses dos gentios, baseia-se no fato de que Ele é o Criador, e que a Ele todos os outros seres devem sua existência. Assim é isto apresentado na Bíblia. Diz o profeta Jeremias: "O Senhor Deus é a verdade; Ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno. [...] Os deuses que não fizeram os céus e a Terra desaparecerão da Terra e debaixo deste céu. Ele fez a Terra pelo Seu poder; Ele estabeleceu o mundo por Sua sabedoria e com a Sua inteligência estendeu os céus." "Todo o homem se embruteceu, e não tem ciência; envergonha-se todo o fundidor da sua imagem de escultura; porque sua imagem fundida mentira é, e não há espírito nelas. Vaidade são, obra de enganos; no tempo da Sua visitação virão a perecer. Não é semelhante a estes a porção de Jacó; porque Ele é o Criador de todas as coisas". Jeremias 10:10-12, 14-16. O sábado, como um memorial do poder criador de Deus, designa-O como o que fez os céus e a Terra. Daí o ser ele uma testemunha constante de Sua existência, e lembrança de Sua grandeza, Sua sabedoria e Seu amor. Houvesse sido o sábado sempre observado de maneira sagrada, e nunca poderia ter havido um ateu ou idólatra. PP 239 3 A instituição do sábado, que se originou no Éden, é tão antiga como o próprio mundo. Foi observado por todos os patriarcas, desde a criação. Durante o cativeiro no Egito, os israelitas foram obrigados por seus maiorais de tarefas a violar o sábado; e em grande parte perderam o conhecimento de sua santidade. Quando a lei foi proclamada no Sinai, as primeiras palavras do quarto mandamento foram: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar" (Êxodo 20:8), mostrando que o sábado não foi instituído então; aponta-se-nos a sua origem na criação. A fim de obliterar a lembrança de Deus da mente dos homens, visava Satanás destruir este grande memorial. Se pudessem os homens ser levados a esquecer seu Criador, não fariam esforços para resistir ao poder do mal, e Satanás estaria certo de sua presa. PP 240 1 A inimizade de Satanás à lei de Deus compeliu-o a fazer guerra contra cada preceito do Decálogo. Com o grande princípio de amor e fidelidade para com Deus, o Pai de todos, relaciona-se intimamente o princípio do amor e obediência filial. O desdém à autoridade paterna logo determinará o desdém pela autoridade de Deus. Daí os esforços de Satanás para diminuir a obrigação imposta pelo quinto mandamento. Entre os povos gentílicos, o princípio estipulado neste preceito era pouco atendido. Em muitas nações os pais eram abandonados, ou mortos, logo que a idade os tornava incapazes de proverem por si as suas necessidades. Na família, a mãe era tratada com pouco respeito, e pela morte de seu marido exigia-se-lhe submeter-se à autoridade do filho mais velho. A obediência filial foi ordenada por Moisés; mas, afastando-se os israelitas do Senhor, o quinto mandamento, juntamente com outros, veio a ser desrespeitado. PP 240 2 Satanás foi "homicida desde o princípio" (João 8:44); e, logo que obteve poder sobre a raça humana, não somente os dispôs a odiar e matar uns aos outros, mas, para mais ousadamente desafiar a autoridade de Deus, fez da violação do sexto mandamento uma parte da religião deles. PP 240 3 Mediante concepções pervertidas acerca dos atributos divinos, nações gentílicas foram levadas a crer serem necessários os sacrifícios humanos a fim de conseguirem o favor de suas divindades; e as mais horríveis crueldades têm sido perpetradas sob várias formas de idolatria. Entre estas estava o costume de fazer seus filhos passarem pelo fogo, perante seus ídolos. Quando um deles saía ileso desta prova, o povo acreditava que suas ofertas eram aceitas; aquele, que assim se livrava, era considerado como especialmente favorecido pelos deuses, era cumulado de benefícios, e a seguir sempre tido em grande estima; e, por mais graves que fossem os seus crimes, nunca era punido. Mas, se acontecesse ser algum queimado ao passar pelo fogo, estaria selada a sua sorte; acreditava-se que a ira dos deuses podia ser aplacada unicamente tirando a vida da vítima, e era ela, de acordo com isto, oferecida em sacrifício. Em tempos de grande apostasia prevaleceram estas abominações, até certo ponto, entre os israelitas. PP 240 4 A violação do sétimo mandamento cedo também foi praticada em nome da religião. Os mais licenciosos e abomináveis ritos foram incluídos como parte do culto gentílico. Os próprios deuses eram representados como impuros, e seus adoradores davam rédeas soltas às suas vis paixões. Prevaleciam vícios contra a natureza, e as festas religiosas eram caracterizadas por uma franca e geral impureza. PP 240 5 A poligamia foi praticada em época primitiva. Foi um dos pecados que acarretaram a ira de Deus sobre o mundo antediluviano. Todavia, depois do dilúvio, tornou-se novamente muito espalhada. Era o esforço calculado de Satanás perverter a instituição do casamento, a fim de enfraquecer as obrigações próprias à mesma, e diminuir a sua santidade; pois de nenhuma outra maneira poderia ele com maior certeza desfigurar a imagem de Deus no homem, e abrir as portas à miséria e ao vício. PP 241 1 Desde o início do grande conflito, tem sido o propósito de Satanás representar mal o caráter de Deus, e provocar a rebelião contra a Sua lei; e esta obra parece ser coroada de êxito. As multidões dão ouvidos aos enganos de Satanás, e dispõem-se contra Deus. Mas, em meio da operação do mal, os propósitos de Deus avançam perseverantemente ao seu cumprimento; a todos os seres criados está Ele a tornar manifestas Sua justiça e benevolência. Por meio das tentações de Satanás o gênero humano todo se tornou transgressor da lei de Deus; mas, pelo sacrifício de Seu Filho, abriu-se um caminho por onde podem voltar a Deus. Mediante a graça de Cristo, podem habilitar-se a prestar obediência à lei do Pai. Assim, em todos os séculos, do meio da apostasia e rebelião, Deus reúne um povo que Lhe é fiel, povo em cujo coração está a Sua lei. Isaías 51:7. PP 241 2 Foi por meio do engano que Satanás seduziu os anjos; dessa forma tem ele em todos os tempos levado avante sua obra entre os homens, e continuará com esta maneira de agir até ao fim. Declarasse ele abertamente achar-se a guerrear contra Deus e Sua lei, e os homens estariam acautelados; ele porém, se disfarça e mistura a verdade com o erro. As mais perigosas falsidades são as que se encontram misturadas com a verdade. É assim que se recebem erros que cativam e arruínam a alma. Por este meio Satanás leva o mundo consigo. Aproxima-se, porém, o dia em que seu triunfo para sempre se finalizará. PP 241 3 O trato de Deus com a rebelião terá como resultado desmascarar completamente a obra que durante tanto tempo se tem continuado encobertamente. Os resultados do governo de Satanás, os frutos de se porem de lado os estatutos divinos, serão patenteados a todas as inteligências criadas. A lei de Deus ficará inteiramente reivindicada. Ver-se-á que todo o trato de Deus foi orientado com referência ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que Ele criara. O próprio Satanás, na presença do Universo como testemunha, confessará a justiça do governo de Deus, e a retidão de Sua lei. PP 241 4 Não muito longe está o tempo em que Deus Se levantará a fim de reivindicar Sua autoridade insultada. "O Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade". Isaías 26:21. "Mas quem suportará o dia da Sua vinda? e quem subsistirá, quando Ele aparecer". Malaquias 3:2. Ao povo de Israel, por causa de sua pecaminosidade, foi vedado aproximar-se do monte, quando Deus estava para descer sobre ele e proclamar Sua lei, não acontecesse que fossem consumidos pela ardente glória de Sua presença. Se tais manifestações do poder de Deus assinalaram o local escolhido para a proclamação de Sua lei, quão terrível deverá ser o Seu tribunal quando Ele vier para a execução destes estatutos sagrados! Como suportarão Sua glória no grande dia da paga final, aqueles que desprezaram Sua autoridade? Os terrores do Sinai deviam representar ao povo as cenas do juízo. O som de uma trombeta convocou Israel a encontrar-se com Deus. A voz do Arcanjo e a trombeta de Deus convocarão, da Terra toda, tanto os vivos como os mortos, à presença de seu Juiz. O Pai e o Filho, acompanhados por uma multidão de anjos, estavam presentes no monte. No grande dia do juízo, Cristo virá "na glória de Seu Pai, com os Seus anjos". Mateus 16:27. Ele Se assentará então no trono de Sua glória, e diante dEle reunir-se-ão todas as nações. PP 242 1 Quando a presença divina Se manifestou no Sinai, a glória do Senhor era como fogo devorador à vista de todo o Israel. Mas quando Cristo vier em glória com os Seus santos anjos, a Terra toda será grandemente iluminada com a terrível luz de Sua presença. "Virá o nosso Deus, e não Se calará; adiante dEle um fogo irá consumindo, e haverá grande tormenta ao redor dEle. Chamará os céus, do alto, e a Terra, para julgar o Seu povo". Salmos 50:3, 4. Uma torrente abrasada irromperá e sairá de diante dEle, a qual fará com que os elementos se derretam com intenso calor, e a Terra, bem como as obras que nela há, se queimarão. Manifestar-se-á "o Senhor Jesus desde o Céu com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho". 2 Tessalonicenses 1:7, 8. PP 242 2 Nunca, desde que o homem foi criado, se testemunhou uma manifestação de poder divino como a que houve quando a lei foi proclamada do Sinai. "A Terra abalava-se, e os céus destilavam perante a face de Deus; o próprio Sinai tremeu na presença de Deus, do Deus de Israel". Salmos 68:8. Por entre as mais tremendas convulsões da natureza, a voz de Deus, semelhante a uma trombeta, foi ouvida da nuvem. A montanha abalou-se da base ao cume, e as hostes de Israel, pálidas e a tremer de terror, caíram sobre seus rostos em terra. Aquele cuja voz então abalou a Terra, declarou: "Ainda uma vez comoverei, não só a Terra, senão também o céu". Hebreus 12:26. Dizem as Escrituras: "O Senhor desde o alto bramirá, e fará ouvir a Sua voz desde a morada de Sua santidade" (Jeremias 25:30); "e os céus e a Terra tremerão". Joel 3:16. Naquele grande dia vindouro o próprio céu se afastará "como um livro que se enrola". Apocalipse 6:14. E todo o monte e ilha mover-se-ão de seus lugares. "De todo vacilará a Terra como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá, e nunca mais se levantará". Isaías 24:20. PP 242 3 "Pelo que todas as mãos se debilitarão", todos os rostos se farão lívidos, "e o coração de todos os homens se desanimará. E assombrar-se-ão, e apoderar-se-ão deles dores e ais." "E visitarei sobre o mundo a maldade" (Isaías 13:7, 8, 11, 13), diz o Senhor; "farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos". Jeremias 30:6. PP 242 4 Quando Moisés veio da presença divina, no monte, onde havia recebido as tábuas do testemunho, o culpado Israel não podia suportar a luz que lhe glorificava o rosto. Quanto menos poderão os transgressores olhar para o Filho de Deus, quando Ele aparecer na glória de Seu Pai, rodeado por todo o exército celestial, para executar o juízo sobre os transgressores de Sua lei e os que rejeitaram a Sua obra expiatória! Aqueles que desrespeitaram a lei de Deus, e pisaram a pés o sangue de Cristo -- os reis da Terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos -- esconder-se-ão, "nas cavernas e nas rochas das montanhas", e dirão às montanhas e às rochas: "Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:15-17. "Naquele dia o homem lançará às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro [...] e meter-se-á pelas fendas das rochas, e pela cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por causa da glória a Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra". Isaías 2:20, 21. PP 243 1 Ver-se-á então que da rebelião de Satanás contra Deus resultou ruína a si mesmo, e a todos os que escolheram fazer-se seus súditos. Ele fizera parecer que grande bem resultaria da transgressão; ver-se-á, porém, que "o salário do pecado é a morte". Romanos 6:23. "Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo". Malaquias 4:1. Satanás, a raiz de todo o pecado, e todos os malfeitores, que são os seus ramos, serão inteiramente extirpados. E dar-se-á fim ao pecado, com toda a desgraça e ruína que dele resultaram. Diz o salmista: "Destruíste os ímpios; apagaste o seu nome para sempre e eternamente. Oh! inimigo! Consumaram-se as assolações". Salmos 9:5, 6. PP 243 2 Entretanto, em meio da tempestade do juízo divino, os filhos de Deus não terão motivos para receios. "O Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel". Joel 3:16. O dia que traz terror e destruição aos transgressores da lei de Deus, trará aos obedientes "gozo inefável e glorioso". 1 Pedro 1:8. "Congregai os Meus santos", diz o Senhor, "aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios. E os céus anunciarão a Sua justiça; pois Deus mesmo é o Juiz". Salmos 50:5, 6. PP 243 3 "Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus, e o que O não serve". Malaquias 3:18. "Ouvi-Me, vós, que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a Minha lei." "Eis que Eu tomo da tua mão o cálice da vacilação; [...] nunca mais dele beberás." "Eu, Eu sou Aquele que vos consola". Isaías 51:7, 22, 12. "Porque as montanhas se desviarão, e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti". Isaías 54:10. PP 243 4 O grande plano da redenção tem como resultado trazer de novo o mundo ao favor de Deus, de maneira completa. Tudo que se perdera pelo pecado é restaurado. Não somente o homem é redimido, mas também a Terra, a fim de ser, a eterna habitação dos obedientes. Durante seis mil anos, Satanás tem lutado para manter posse da Terra. Agora se cumpre o propósito original de Deus ao criá-la. "Os santos do Altíssimo receberão o reino, e possuirão o reino para todo o sempre, e de eternidade em eternidade". Daniel 7:18. PP 244 1 "Desde o nascimento do Sol até ao ocaso, seja louvado o nome do Senhor". Salmos 113:3. "Naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome." "E o Senhor será Rei sobre toda a Terra". Zacarias 14:9. Dizem as Escrituras: "Para sempre, ó Senhor, a Tua Palavra permanece no Céu". Salmos 119:89. São "fiéis todos os Seus mandamentos. Permanecem firmes para todo o sempre". Salmos 111:7, 8. Os santos estatutos que Satanás odiara e procurara destruir, serão honrados por todo um Universo sem pecados. E "como a terra produz os seus renovos, e como o horto faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações". Isaías 61:11. ------------------------Capítulo 30 -- O tabernáculo e suas cerimônias PP 245 0 Este capítulo é baseado em Êxodo 25-40; Levítico 4; 16. PP 245 1 Foi comunicada a Moisés, enquanto se achava no monte com Deus, esta ordem: "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8), e foram dadas instruções completas para a construção do tabernáculo. Em virtude de sua apostasia, os israelitas ficaram despojados da bênção da presença divina, e por algum tempo impossibilitaram a construção de um santuário para Deus, entre eles. Mas, depois de novamente haverem sido recebidos no favor do Céu, o grande líder procedeu à execução da ordem divina. PP 245 2 Homens escolhidos foram especialmente dotados por Deus de habilidade e sabedoria para a construção do sagrado edifício. O próprio Deus deu a Moisés o plano daquela estrutura, com instruções específicas quanto ao seu tamanho e forma, materiais a serem empregados, e cada peça que fazia parte do aparelhamento que deveria a mesma conter. Os lugares santos, feitos a mão, deveriam ser "figura do verdadeiro", "figuras das coisas que estão no Céu" (Hebreus 9:24, 23) -- uma representação em miniatura do templo celestial, onde Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, depois de oferecer Sua vida em sacrifício, ministraria em prol do pecador. Deus expôs perante Moisés, no monte, uma visão do santuário celestial, e mandou-lhe fazer todas as coisas de acordo com o modelo a ele mostrado. Todas estas instruções foram cuidadosamente registradas por Moisés, que as comunicou aos chefes do povo. PP 245 3 Para a edificação do santuário, grandes e dispendiosos preparativos eram necessários; grande quantidade dos materiais mais preciosos e caros era exigida; todavia o Senhor apenas aceitava ofertas voluntárias. "De todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta" (Êxodo 25:2), foi a ordem divina repetida por Moisés à congregação. A devoção a Deus e o espírito de sacrifício eram os primeiros requisitos ao preparar-se uma morada para o Altíssimo. PP 245 4 Todo o povo correspondeu unanimemente. "E veio todo o homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou, e trouxeram a oferta alçada ao Senhor para a obra da tenda da congregação; e para todo o seu serviço, e para os vestidos santos. E assim vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração: trouxeram fivelas, e pendentes, e anéis, e braceletes, todo o vaso de ouro; e todo o homem oferecia oferta de ouro ao Senhor". Êxodo 35:21, 22. PP 246 1 "E todo o homem que se achou com azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabra, e peles de carneiro tintas de vermelho, e peles de texugos, os trazia; todo aquele que oferecia oferta alçada de prata ou de metal, a trazia por oferta alçada ao Senhor; e todo aquele que se achava com madeira de setim, a trazia para toda a obra do serviço. PP 246 2 "E todas as mulheres sábias de coração fiavam com as suas mãos, e traziam o fiado, o azul e a púrpura, o carmesim, e o linho fino. E todas as mulheres, cujo coração as moveu em sabedoria, fiavam os pêlos das cabras. E os príncipes traziam pedras sardônicas, e pedras de engastes para o éfode e para o peitoral, e especiarias, e azeite para a luminária, e para o óleo da unção, e para o incenso aromático". Êxodo 35:23-28. PP 246 3 Enquanto a construção do santuário estava em andamento, o povo, velhos e jovens -- homens, mulheres e crianças -- continuou a trazer suas ofertas até que aqueles que tinham a seu cargo o trabalho acharam que tinham o suficiente, e mesmo mais do que se poderia usar. E Moisés fez com que se proclamasse por todo o acampamento: "Nenhum homem nem mulher faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais". Êxodo 36:6. As murmurações dos israelitas e as visitações dos juízos de Deus por causa de seus pecados, estão registradas como advertência às gerações posteriores. E sua devoção, zelo e liberalidade, são um exemplo digno de imitação. Todos os que amam o culto a Deus, e prezam as bênçãos de Sua santa presença, manifestarão o mesmo espírito de sacrifício ao preparar-se uma casa onde Ele possa encontrar-Se com eles. Desejarão trazer ao Senhor uma oferta do melhor que possuem. Uma casa construída para Deus não deve ser deixada em dívida, pois desta maneira Ele é desonrado. Uma porção suficiente para realizar o trabalho deve ser dada livremente, a fim de que os operários digam, como fizeram os construtores do tabernáculo: "Não tragais mais ofertas." PP 246 4 O tabernáculo foi construído de tal maneira que podia ser todo desmontado e levado com os israelitas em todas as suas jornadas. Era, portanto, pequeno, não tendo mais de vinte metros de comprimento, e seis de largura e altura. Contudo, era uma estrutura magnificente. A madeira empregada para a edificação e seu aparelhamento era a acácia, menos sujeita a arruinar-se do que qualquer outra que se podia obter no Sinai. As paredes consistiam em tábuas verticais colocadas em encaixes de prata, e mantidas firmemente por colunas e barras que as ligavam; e todas estavam cobertas de ouro, dando ao edifício a aparência de ouro maciço. O teto era formado de quatro jogos de cortinas, sendo a mais interior de "linho fino torcido, e azul, púrpura, e carmesim; com querubins as farás de obra esmerada" (Êxodo 26:1); as outras três eram respectivamente de pêlo de cabras, pele de carneiro tingida de vermelho, e pele de texugo, dispostas de tal maneira que proporcionassem proteção completa. PP 247 1 O edifício era dividido em dois compartimentos por uma rica e linda cortina, ou véu, suspensa de colunas chapeadas de ouro; e um véu semelhante fechava a entrada ao primeiro compartimento. Estes véus, como a cobertura interior que formava o teto, eram das mais belas cores, azul, púrpura e escarlata, lindamente dispostas, ao mesmo tempo que trabalhados a fios de ouro e prata havia neles querubins para representarem a hoste angélica, que se acha em conexão com o trabalho do santuário celestial, e são espíritos ministradores ao povo de Deus na Terra. PP 247 2 A tenda sagrada ficava encerrada em um espaço descoberto chamado o pátio, que estava rodeado de cortinas ou anteparos, de linho fino, suspensos de colunas de cobre. A entrada para este recinto ficava na extremidade oriental. Era fechado com cortinas de custoso material e bela confecção, se bem que inferiores às do santuário. Sendo os anteparos do pátio apenas da metade da altura das paredes do tabernáculo aproximadamente, o edifício podia ser perfeitamente visto pelo povo do lado de fora. No pátio, e bem perto da entrada, achava-se o altar de cobre para as ofertas queimadas, ou holocaustos. Sobre este altar eram consumidos todos os sacrifícios feitos com fogo ao Senhor, e as suas pontas eram aspergidas com o sangue expiatório. Entre o altar e a porta do tabernáculo, estava a pia, que também era de cobre, feita dos espelhos que tinham sido ofertas voluntárias das mulheres de Israel. Na pia os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés sempre que entravam nos compartimentos sagrados ou se aproximavam do altar para oferecerem uma oferta queimada ao Senhor. PP 247 3 No primeiro compartimento, ou lugar santo, estavam a mesa dos pães da proposição, o castiçal ou candelabro, e o altar de incenso. A mesa com os pães da proposição ficava do lado do norte. Com a sua coroa ornamental era ela coberta de ouro puro. Sobre esta mesa os sacerdotes deviam cada sábado colocar doze pães, dispostos em duas colunas, e aspergidos com incenso. Os pães que eram removidos, sendo considerados santos, deviam ser comidos pelos sacerdotes. Do lado do sul estava o castiçal de sete ramos, com as suas sete lâmpadas. Seus ramos eram ornamentados com flores artisticamente trabalhadas, semelhantes a lírios, e o todo era feito de uma peça de ouro maciço. Não havendo janelas no tabernáculo, nunca ficavam apagadas todas as lâmpadas a um tempo, mas espargiam sua luz dia e noite. Precisamente diante do véu que separava o lugar santo do santíssimo e da presença imediata de Deus, achava-se o áureo altar de incenso. Sobre este altar o sacerdote devia queimar incenso todas as manhãs e tardes; suas pontas eram tocadas com o sangue da oferta para o pecado, e era aspergido com sangue no grande dia de expiação. O fogo neste altar fora aceso pelo próprio Deus, e conservado de maneira sagrada. Dia e noite o santo incenso difundia sua fragrância pelos compartimentos sagrados, e fora, longe, em redor do tabernáculo. PP 248 1 Além do véu interior estava o santo dos santos, onde se centralizava a cerimônia simbólica da expiação e intercessão, e que formava o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Nesse compartimento estava a arca, uma caixa feita de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, e tendo uma coroa de ouro em redor de sua parte superior. Fora feita para ser o receptáculo das tábuas de pedra, sobre as quais o próprio Deus escrevera os Dez Mandamentos. Daí o ser ela chamada a arca do testemunho de Deus, ou a arca do concerto, visto que os Dez Mandamentos foram a base do concerto feito entre Deus e Israel. PP 248 2 A cobertura da caixa sagrada chamava-se propiciatório. Este era feito de uma peça inteiriça de ouro, e encimado por querubins do mesmo metal, ficando um de cada lado. Uma asa de cada anjo estendia-se ao alto, enquanto a outra estava fechada sobre o corpo em sinal de reverência e humildade. Ezequiel 1:11. A posição dos querubins, tendo o rosto voltado um para o outro, e olhando reverentemente abaixo para a arca, representava a reverência com que a hoste celestial considera a lei de Deus, e seu interesse no plano da redenção. PP 248 3 Acima do propiciatório estava o shekinah, manifestação da presença divina; e dentre os querubins Deus tornava conhecida a Sua vontade. Mensagens divinas às vezes eram comunicadas ao sumo sacerdote por uma voz da nuvem. Algumas vezes uma luz caía sobre o anjo à direita, para significar aprovação ou aceitação; ou uma sombra ou nuvem repousava sobre o que ficava ao lado esquerdo, para revelar reprovação ou rejeição. PP 248 4 A lei de Deus, encerrada na arca, era a grande regra de justiça e juízo. Aquela lei sentenciava a morte ao transgressor; mas acima da lei estava o propiciatório, sobre o qual se revelava a presença de Deus, e do qual, em virtude da obra expiatória, se concedia o perdão ao pecador arrependido. Assim na obra de Cristo pela nossa redenção simbolizada pelo ritual do santuário, "a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". Salmos 85:10. PP 248 5 Nenhuma linguagem pode descrever a glória do cenário apresentado dentro do santuário -- as paredes chapeadas de ouro que refletiam a luz do áureo castiçal, os brilhantes matizes das cortinas ricamente bordadas com seus resplendentes anjos, a mesa e o altar de incenso, brilhante pelo ouro; além do segundo véu a arca sagrada, com os seus querubins, e acima dela o santo shekinah, manifestação visível da presença de Jeová; tudo não era senão um pálido reflexo dos esplendores do templo de Deus no Céu, o grande centro da obra pela redenção do homem. PP 248 6 Aproximadamente meio ano foi ocupado na construção do tabernáculo. Quando este se completou, Moisés examinou toda a obra dos construtores, comparando-a com o modelo a ele mostrado no monte, e com as instruções que de Deus recebera. "Como o Senhor a ordenara, assim a fizeram; então Moisés os abençoou". Êxodo 39:43. Com ávido interesse as multidões de Israel juntaram-se em redor para ver a estrutura sagrada. Enquanto estavam a contemplar aquela cena com satisfação reverente, a coluna de nuvem pairou sobre o santuário e, descendo, envolveu-o. "E a glória do Senhor encheu o tabernáculo". Êxodo 40:34. Houve uma revelação da majestade divina, e por algum tempo mesmo Moisés não pôde entrar ali. Com profunda emoção o povo viu a indicação de que a obra de suas mãos fora aceita. Não houve ruidosas manifestações de regozijo. Temor solene repousava sobre todos. Mas sua alegria de coração transbordou em lágrimas de regozijo, e murmuravam em voz baixa ardorosas palavras de gratidão de que Deus houvesse condescendido em habitar com eles. PP 249 1 Por determinação divina a tribo de Levi foi separada para o serviço do santuário. Nos tempos primitivos cada homem era o sacerdote de sua própria casa. Nos dias de Abraão, o sacerdócio era considerado direito de primogenitura do filho mais velho. Agora, em lugar dos primogênitos de todo o Israel, o Senhor aceitou a tribo de Levi para a obra do santuário. Por meio desta honra distinta manifestou Ele Sua aprovação à fidelidade da mesma, tanto por aderir ao Seu serviço como por executar Seus juízos quando Israel apostatou com o culto ao bezerro de ouro. O sacerdócio, todavia, ficou restrito à família de Arão. A este e seus filhos, somente, permitia-se ministrar perante o Senhor; o resto da tribo estava encarregada do cuidado do tabernáculo e de seu aparelhamento, e deveria auxiliar os sacerdotes em seu ministério, mas não deveria sacrificar, queimar incenso, ou ver as coisas sagradas antes que estivessem cobertas. PP 249 2 De acordo com as suas funções, foi indicada ao sacerdote uma veste especial. "Farás vestidos santos a Arão teu irmão, para glória e ornamento" (Êxodo 28:2) -- foi a instrução divina a Moisés. A veste do sacerdote comum era de linho alvo, e tecida em uma só peça. Estendia-se até quase aos pés, e prendia-se à cintura por um cinto branco de linho, bordado de azul, púrpura e vermelho. Um turbante de linho, ou mitra, completava seu traje exterior. A Moisés, perante a sarça ardente, foi determinado que tirasse as sandálias, porque a terra em que estava era santa. Semelhantemente os sacerdotes não deveriam entrar no santuário com sapatos nos pés. Partículas de pó que a eles se apegavam, profanariam o lugar santo. Deviam deixar os sapatos no pátio, antes de entrarem no santuário, e também lavar tanto as mãos como os pés, antes de ministrarem no tabernáculo, ou no altar dos holocaustos. Desta maneira ensinava-se constantemente a lição de que toda a contaminação devia ser removida daqueles que se aproximavam da presença de Deus. PP 249 3 As vestes do sumo sacerdote eram de custoso material e de bela confecção, em conformidade com a sua elevada posição. Em acréscimo ao traje de linho do sacerdote comum, usava uma vestimenta de azul, também tecida em uma única peça. Ao longo das franjas era ornamentada com campainhas de ouro, e romãs de azul, púrpura e escarlate. Por sobre isso estava o éfode, uma vestidura mais curta, de ouro, azul, púrpura, escarlate e branco. Era preso por um cinto das mesmas cores, belamente trabalhado. O éfode não tinha mangas, e em suas ombreiras bordadas de ouro achavam-se colocadas duas pedras de ônix, que traziam os nomes das doze tribos de Israel. PP 250 1 Sobre o éfode estava o peitoral, a mais sagrada das vestimentas sacerdotais. Este era do mesmo material que o éfode. Era de forma quadrada, media um palmo, e estava suspenso dos ombros por um cordão de azul, por meio de argolas de ouro. As bordas eram formadas de uma variedade de pedras preciosas, as mesmas que formam os doze fundamentos da cidade de Deus. Dentro das bordas havia doze pedras engastadas de ouro, dispostas em fileiras de quatro, e como as das ombreiras, tendo gravados os nomes das tribos. As instruções do Senhor foram: "Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor continuamente". Êxodo 28:29. Assim Cristo, o grande Sumo Sacerdote, pleiteando com Seu sangue diante do Pai, em prol do pecador, traz sobre o coração o nome de toda alma arrependida e crente. Diz o salmista: "Eu sou pobre e necessitado; mas o Senhor cuida de mim". Salmos 40:17. PP 250 2 À direita e à esquerda do peitoral havia duas grandes pedras de grande brilho. Estas eram conhecidas por Urim e Tumim. Por meio delas fazia-se saber a vontade de Deus pelo sumo sacerdote. Quando se traziam perante o Senhor questões para serem decididas, uma auréola de luz que rodeava a pedra preciosa à direita, era sinal do consentimento ou aprovação divina, ao passo que uma nuvem que ensombrava a pedra à esquerda, era prova de negação ou reprovação. PP 250 3 A mitra do sumo sacerdote consistia no turbante de alvo linho, tendo presa ao mesmo, por um laço de azul, uma lâmina de ouro que trazia a inscrição: "Santidade ao Senhor". Êxodo 28:36. Todas as coisas ligadas ao vestuário e conduta dos sacerdotes deviam ser de molde a impressionar aquele que as via, dando-lhe uma intuição da santidade de Deus, santidade de Seu culto, e pureza exigida daqueles que iam à Sua presença. PP 250 4 Não somente o santuário em si mesmo, mas o ministério dos sacerdotes, deviam servir "de exemplar e sombra das coisas celestiais". Hebreus 8:5. Assim, foi isto de grande importância; e o Senhor, por meio de Moisés, deu a mais definida e explícita instrução concernente a cada ponto deste ritual típico. O ministério no santuário consistia em duas partes: um serviço diário e outro anual. O cerimonial diário era efetuado no altar dos holocaustos, no pátio do tabernáculo, bem como no lugar santo; ao passo que o rito anual o era no lugar santíssimo. PP 250 5 Nenhum olho mortal a não ser o do sumo sacerdote devia ver o compartimento interno do santuário. Apenas uma vez ao ano podia o sacerdote entrar ali, e isto depois da mais cuidadosa e solene preparação. Com tremor entrava perante Deus, e o povo, com reverente silêncio, aguardava a sua volta, tendo erguido o espírito em oração fervorosa pela bênção divina. Diante do propiciatório o sumo sacerdote fazia expiação por Israel; e na nuvem de glória Deus Se encontrava com ele. Sua demora ali, além do tempo costumeiro, enchia-os de receio de que, por causa de seus pecados ou dos dele, houvesse sido morto pela glória do Senhor. PP 251 1 O culto cotidiano consistia no holocausto da manhã e da tarde, na oferta de incenso suave no altar de ouro, e nas ofertas especiais pelos pecados individuais. E também havia ofertas para os sábados, luas novas e solenidades especiais. PP 251 2 Toda manhã e tarde, um cordeiro de um ano era queimado sobre o altar, com sua apropriada oferta de manjares, simbolizando assim a consagração diária da nação a Jeová, e sua constante necessidade do sangue expiatório de Cristo. Deus ordenara expressamente que toda oferta apresentada para o ritual do santuário fosse "sem mácula". Êxodo 12:5. Os sacerdotes deviam examinar todos os animais levados para sacrifício, e rejeitar todo aquele em que se descobrisse algum defeito. Apenas uma oferta "sem mácula" poderia ser um símbolo da perfeita pureza dAquele que Se ofereceria como "um cordeiro imaculado e incontaminado". 1 Pedro 1:19. O apóstolo Paulo aponta para esses sacrifícios como uma ilustração do que os seguidores de Cristo devem tornar-se. Diz ele: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Romanos 12:1. Devemos entregar-nos ao serviço de Deus e procurar que a oferta se aproxime o máximo possível da perfeição. Deus não Se agradará de coisa alguma inferior ao melhor que podemos oferecer. Aqueles que O amam de todo o coração, desejarão dar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão constantemente procurando pôr toda a faculdade de seu ser em harmonia com as leis que promoverão sua habilidade para fazerem a Sua vontade. PP 251 3 Na oferta do incenso o sacerdote era levado mais diretamente à presença de Deus do que em qualquer outro ato do ministério diário. Como o véu interno do santuário não se estendia até ao alto do edifício, a glória de Deus, manifestada por cima do propiciatório, era parcialmente visível no primeiro compartimento. Quando o sacerdote oferecia incenso perante o Senhor, olhava em direção à arca; e, subindo a nuvem de incenso, a glória divina descia sobre o propiciatório e enchia o lugar santíssimo, e muitas vezes ambos os compartimentos, de tal maneira que o sacerdote era obrigado a afastar-se para a porta do santuário. Como naquele cerimonial típico o sacerdote olhava pela fé ao propiciatório que não podia ver, assim o povo de Deus deve hoje dirigir suas orações a Cristo, seu grande Sumo Sacerdote que, invisível aos olhares humanos, pleiteia em seu favor no santuário celestial. PP 251 4 O incenso que subia com as orações de Israel, representa os méritos e intercessão de Cristo. Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída ao Seu povo, e que unicamente pode tornar aceitável a Deus o culto de seres pecadores. Diante do véu do lugar santíssimo, estava um altar de intercessão perpétua; diante do lugar santo, um altar de expiação contínua. Pelo sangue e pelo incenso deveriam aproximar-se de Deus -- símbolos aqueles que apontam para o grande Mediador, por intermédio de quem os pecadores podem aproximar-se de Jeová, e por meio de quem unicamente, a misericórdia e a salvação podem ser concedidas à alma arrependida e crente. PP 252 1 Quando os sacerdotes, pela manhã e à tardinha, entravam no lugar santo à hora do incenso, o sacrifício diário estava pronto para ser oferecido sobre o altar, fora, no pátio. Esta era uma ocasião de intenso interesse para os adoradores que se reuniam junto ao tabernáculo. Antes de entrarem à presença de Deus pelo ministério do sacerdote, deviam empenhar-se em ardoroso exame de coração e confissão de pecado. Uniam-se em oração silenciosa, com o rosto voltado para o lugar santo. Assim ascendiam suas petições com a nuvem de incenso, enquanto a fé se apoderava dos méritos do Salvador prometido prefigurado pelo sacrifício expiatório. As horas designadas para o sacrifício da manhã e da tardinha eram consideradas sagradas, e, por toda a nação judaica, vieram a ser observadas como um tempo reservado para a adoração. E, quando, em tempos posteriores, os judeus foram espalhados como cativos em países distantes, ainda naquela hora designada voltavam o rosto para Jerusalém e proferiam suas petições ao Deus de Israel. Neste costume têm os cristãos um exemplo para a oração da manhã e da noite. Conquanto Deus condene um mero ciclo de cerimônias, sem o espírito de adoração, olha com grande prazer àqueles que O amam, prostrando-se de manhã e à noite, a fim de buscar o perdão dos pecados cometidos e apresentar seus pedidos de bênçãos necessitadas. PP 252 2 Os pães da proposição eram conservados sempre perante o Senhor como uma oferta perpétua. Assim, era isto uma parte do sacrifício cotidiano. Era chamado o pão da proposição, ou "pão da presença", porque estava sempre diante da face do Senhor. Êxodo 25:30. Era um reconhecimento de que o homem depende de Deus, tanto para o pão temporal como o espiritual, e de que este é recebido apenas pela mediação de Cristo. Deus alimentara Israel no deserto com pão do Céu e ainda dependiam eles de Sua generosidade tanto para o pão temporal como para as bênçãos espirituais. Tanto o maná como o pão da proposição apontavam para Cristo, o pão vivo, que sempre está na presença de Deus por nós. Ele mesmo disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do Céu". João 6:48-51. O incenso era posto sobre os pães. Quando o pão era retirado cada sábado, para ser substituído por outro, fresco, o incenso era queimado sobre o altar, em memória, perante Deus. PP 252 3 A parte mais importante do ministério diário era a oferta efetuada em prol do indivíduo. O pecador arrependido trazia a sua oferta à porta do tabernáculo e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o sacrifício inocente. Pela sua própria mão era então morto o animal, e o sangue era levado pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a arca que continha a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimônia, mediante o sangue, o pecado era figuradamente transferido para o santuário. Nalguns casos o sangue não era levado ao lugar santo; mas a carne deveria então ser comida pelo sacerdote, conforme instruiu Moisés aos filhos de Arão, dizendo: "O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação". Levítico 10:17. Ambas as cerimônias simbolizavam semelhantemente a transferência do pecado, do penitente para o santuário. PP 253 1 Tal era a obra que dia após dia continuava, durante o ano todo. Os pecados de Israel, sendo assim transferidos para o santuário, ficavam contaminados os lugares santos, e uma obra especial se tornava necessária para sua remoção. Deus ordenara que se fizesse expiação por cada um dos compartimentos sagrados, assim como pelo altar, para o purificar "das imundícias dos filhos de Israel", e o santificar. Levítico 16:19. PP 253 2 Uma vez ao ano, no grande dia da expiação, o sacerdote entrava no lugar santíssimo para a purificação do santuário. O cerimonial ali efetuado completava o ciclo anual do ministério. PP 253 3 No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, "uma sorte pelo Senhor, e a outra sorte pelo bode emissário". O bode sobre o qual caía a primeira sorte deveria ser morto como oferta pelos pecados do povo. E o sacerdote deveria levar seu sangue para dentro do véu, e aspergi-lo sobre o propiciatório. "Assim fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e assim fará para a tenda da congregação que mora com eles no meio das suas imundícias". Levítico 16:16. PP 253 4 "E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária". Levítico 16:21, 22. Antes que o bode tivesse desta maneira sido enviado não se considerava o povo livre do fardo de seus pecados. Cada homem deveria afligir sua alma, enquanto prosseguia a obra da expiação. Toda ocupação era posta de lado, e toda a congregação de Israel passava o dia em humilhação solene perante Deus, com oração, jejum e profundo exame de coração. PP 253 5 Importantes verdades concernentes à obra expiatória eram ensinadas ao povo por meio deste serviço anual. Nas ofertas para o pecado apresentadas durante o ano, havia sido aceito um substituto em lugar do pecador; mas o sangue da vítima não fizera completa expiação pelo pecado. Apenas provera o meio pelo qual este fora transferido para o santuário. Pela oferta do sangue, o pecador reconhecia a autoridade da lei, confessava a culpa de sua transgressão, e exprimia sua fé nAquele que tiraria o pecado do mundo; mas não estava inteiramente livre da condenação da lei. No dia da expiação, o sumo sacerdote, havendo tomado uma oferta para a congregação, ia ao lugar santíssimo com o sangue e o aspergia sobre o propiciatório, em cima das tábuas da lei. Assim se satisfaziam os reclamos da lei, que exigia a vida do pecador. Então, em seu caráter de mediador, o sacerdote tomava sobre si os pecados e, saindo do santuário, levava consigo o fardo das culpas de Israel. À porta do tabernáculo colocava as mãos sobre a cabeça do bode emissário e confessava sobre ele "todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados", pondo-as sobre a cabeça do bode. E, assim como o bode que levava esses pecados era enviado dali; tais pecados, juntamente com o bode, eram considerados separados do povo para sempre. Este era o cerimonial efetuado como "exemplar e sombra das coisas celestiais". Hebreus 8:5. PP 254 1 Como foi declarado, o santuário terrestre fora construído por Moisés, conforme o modelo a ele mostrado no monte. Era uma figura para o tempo então presente, no qual se ofereciam tanto dons como sacrifícios; seus dois lugares santos eram "figuras das coisas que estão no Céu" (Hebreus 9:9, 23); Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é "ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Hebreus 8:2. Sendo em visão concedida a João uma vista do templo de Deus no Céu, contemplou ele ali "sete lâmpadas de fogo" (Apocalipse 4:5) que ardiam diante do trono. Viu um anjo, "tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono". Apocalipse 8:3. Com isto permitiu-se ao profeta ver o primeiro compartimento do santuário celestial; e viu ali as "sete lâmpadas de fogo" e o "altar de ouro" representados pelo castiçal de ouro e o altar de incenso no santuário terrestre. Novamente, "abriu-se no Céu o templo de Deus" (Apocalipse 11:19), e ele olhou para dentro do véu interno, no santo dos santos. Ali viu a "arca do Seu concerto", representada pelo escrínio sagrado construído por Moisés a fim de conter a lei de Deus. PP 254 2 Moisés fizera o santuário terrestre "segundo o modelo que tinha visto". Atos dos Apóstolos 7:44. Paulo declara que "o tabernáculo e todos os vasos do ministério", quando se acharam completos, eram "figuras das coisas que estão no Céu". Hebreus 9:21, 23. E João diz que viu o santuário no Céu. Aquele santuário em que Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de que o santuário construído por Moisés era uma cópia. PP 254 3 Do templo celestial, morada do Rei dos reis, onde milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão diante dEle (Daniel 7:10), templo repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus guardas resplandecentes, velam o rosto em adoração; sim, desse templo, nenhuma estrutura terrestre poderia representar a vastidão e glória. Todavia, importantes verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali prosseguida em prol da redenção do homem, deveriam ser ensinadas pelo santuário terrestre e seu cerimonial. PP 255 1 Depois de Sua ascensão, nosso Salvador iniciaria Sua obra como nosso Sumo Sacerdote. Diz Paulo: "Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus". Hebreus 9:24. Assim como o ministério de Cristo devia consistir em duas grandes divisões, ocupando cada uma delas um período de tempo e tendo um lugar distinto no santuário celeste, semelhantemente o ministério típico consistia em duas divisões -- o serviço diário e o anual -- e a cada um deles era dedicado um compartimento do tabernáculo. PP 255 2 Assim como Cristo, por ocasião de Sua ascensão, compareceu à presença de Deus, a fim de pleitear com Seu sangue em favor dos crentes arrependidos, assim o sacerdote, no ministério diário, aspergia o sangue do sacrifício no lugar santo em favor do pecador. PP 255 3 O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria registrado no santuário até à expiação final; assim, no cerimonial típico, o sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas este permanecia no santuário até ao dia da expiação. PP 255 4 No grande dia da paga final, os mortos devem ser "julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". Apocalipse 20:12. Então, pela virtude do sangue expiatório de Cristo, os pecados de todo o verdadeiro arrependido serão eliminados dos livros do Céu. Assim o santuário estará livre ou purificado, do registro de pecado. No tipo, esta grande obra de expiação, ou cancelamento de pecados, era representada pelas cerimônias do dia da expiação, a saber, pela purificação do santuário terrestre, a qual se realizava pela remoção dos pecados com que ele ficara contaminado, remoção efetuada pela virtude do sangue da oferta para o pecado. PP 255 5 Assim como na expiação final os pecados dos verdadeiros arrependidos serão apagados dos registros do Céu, para não mais serem lembrados nem virem à mente, assim no serviço típico eram levados ao deserto, para sempre separados da congregação. PP 255 6 Visto que Satanás é o originador do pecado, o instigador direto de todos os pecados que ocasionaram a morte do Filho de Deus, exige a justiça que Satanás sofra a punição final. A obra de Cristo para a redenção dos homens e purificação do Universo da contaminação do pecado, encerrar-se-á pela remoção dos pecados do santuário celestial e deposição dos mesmos sobre Satanás, que cumprirá a pena final. Assim no cerimonial típico, o ciclo anual do ministério encerrava-se com a purificação do santuário e confissão dos pecados sobre a cabeça do bode emissário. Em tais condições, no ministério do tabernáculo e do templo que mais tarde tomou o seu lugar, ensinavam-se ao povo cada dia as grandes verdades relativas à morte e ministério de Cristo, e uma vez ao ano sua mente era transportada para os acontecimentos finais do grande conflito entre Cristo e Satanás, e para a final purificação do Universo, de pecado e pecadores. ------------------------Capítulo 31 -- O pecado de Nadabe e Abiú PP 256 0 Este capítulo é baseado em Levítico 10:1-11. PP 256 1 Depois da dedicação do tabernáculo, os sacerdotes foram consagrados ao seu ofício sagrado. Estas cerimônias ocuparam sete dias, cada um assinalado por cerimônias especiais. No oitavo dia, deram início ao seu ministério. Auxiliado por seus filhos, Arão ofereceu os sacrifícios que Deus ordenara, e levantou as mãos e abençoou o povo. Tudo havia sido feito conforme Deus indicara, e Ele aceitou o sacrifício, e revelou Sua glória de maneira notável; fogo veio do Senhor e consumiu a oferta sobre o altar. O povo olhou para esta maravilhosa manifestação de poder divino. Com espanto e intenso interesse, nela viram o sinal da glória e favor de Deus, e alçaram uma aclamação geral de louvor e adoração, caindo sobre seu rosto como se estivessem na presença imediata de Jeová. PP 256 2 Mas logo depois uma calamidade repentina e terrível caiu sobre a família do sumo sacerdote. À hora do culto, enquanto ascendiam a Deus as orações e louvor do povo, dois dos filhos de Arão tomaram cada um o seu incensário e queimaram incenso fragrante no mesmo, para elevar perante o Senhor um cheiro suave. Mas transgrediram a Sua ordem pelo uso de "fogo estranho". Números 3:4. Para queimar o incenso apanharam fogo comum em vez do fogo sagrado que o próprio Deus acendera e ordenou fosse usado para tal fim. Por causa deste pecado, saiu fogo do Senhor e os devorou à vista do povo. PP 256 3 Abaixo de Moisés e Arão, Nadabe e Abiú eram os mais preeminentes em Israel. Tinham sido honrados de modo especial pelo Senhor, tendo-se-lhes permitido juntamente com os setenta anciãos verem Sua glória no monte. Sua transgressão não deveria, entretanto, desculpar-se ou ser considerada levianamente. Tudo isto tornava mais ofensivo o seu pecado. Porque os homens receberam grande luz, porque tenham como príncipes de Israel subido ao monte, e hajam alcançado o privilégio de ter comunhão com Deus e demorar-se na luz da Sua glória, não se lisonjeiem eles de que podem depois pecar impunemente; de que, visto terem sido de tal maneira honrados, Deus não será rigoroso no castigo de sua iniqüidade. Isto é erro fatal. A grande luz e privilégios concedidos exigem uma retribuição de virtude e santidade correspondente à luz outorgada. Nada menos que isto poderá Deus aceitar. Grandes bênçãos e privilégios nunca devem embalar-nos em segurança ou despreocupação. Nunca devem dar liberdade ao pecado, nem fazer com que os que os recebem entendam que Deus não será exigente com eles. Todas as vantagens que Deus tem dado, são os Seus meios para lançar fervor no espírito, zelo no esforço e vigor no executar Sua santa vontade. PP 257 1 Nadabe e Abiú não haviam sido em sua juventude ensinados nos hábitos de domínio próprio. A disposição transigente do pai, sua falta de firmeza pelo que é reto, haviam-no levado a negligenciar a disciplina dos filhos. Havia-lhes permitido seguirem suas próprias inclinações. Hábitos de condescendência própria, durante muito tempo acalentados, alcançaram sobre eles um domínio que mesmo a responsabilidade do mais sagrado ofício não teve poder para quebrar. Não haviam sido ensinados a respeitar a autoridade do pai, nem se compenetravam da necessidade de estrita obediência aos mandos de Deus. A mal-entendida indulgência de Arão com os filhos preparou-os para se tornarem objetos dos juízos divinos. PP 257 2 O propósito de Deus era ensinar ao povo que devem dEle aproximar-se com reverência e temor, e da maneira indicada por Ele mesmo. Não pode Ele aceitar uma obediência parcial. Não era bastante que nesta hora solene de culto quase tudo tivesse sido feito conforme Ele determinara. Deus pronunciou uma maldição sobre aqueles que se afastam de Seus mandamentos e não fazem diferença entre as coisas comuns e as coisas santas. Declara pelo profeta: "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade. [...] Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos! [...] Dos que justificam o ímpio por presentes, e ao justo negam justiça! [...] Rejeitaram a lei do Senhor dos exércitos, e desprezaram a Palavra do Santo de Israel". Isaías 5:20-24. Ninguém se engane com a crença de que uma parte dos mandamentos de Deus não é essencial, ou que Ele aceitará uma substituição daquilo que exigiu. Disse o profeta Jeremias: "Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?" Lamentações 3:37. Deus não pôs em Sua Palavra ordem alguma a que os homens possam obedecer ou desobedecer à vontade e não sofrer as conseqüências. Se os homens escolhem qualquer outro caminho que não o da estrita obediência, acharão que "o fim dele são os caminhos da morte". Provérbios 14:12. PP 257 3 "Moisés disse a Arão e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossos vestidos, para que não morrais; porque está sobre vós o azeite da unção do Senhor". Levítico 10:6, 7. O grande líder lembrou a seu irmão as palavras de Deus: "Serei santificado naqueles que se cheguem a Mim, e serei glorificado diante de todo o povo". Levítico 10:3. Arão ficou em silêncio. A morte de seus filhos, extirpados sem aviso em tão terrível pecado -- pecado que ele via agora ser o resultado de sua própria negligência ao dever -- contorcia de angústia o coração do pai; ele, porém, não deu expansão a seus sentimentos. Por manifestação alguma de pesar devia ele parecer simpatizar com o pecado. A congregação não devia ser levada a murmurar contra Deus. PP 258 1 O Senhor queria ensinar Seu povo a reconhecer a justiça de Seus corretivos, a fim de que outros viessem a temer. Havia em Israel aqueles a quem o aviso deste terrível juízo preservaria de contarem tanto com a paciência divina que por sua vez selassem enfim o próprio destino. A reprovação divina vem contra aquela falsa simpatia pelo pecador, a qual se esforça por lhe desculpar o pecado. O efeito do pecado é o amortecimento das percepções morais, de modo que o malfeitor não se compenetra da enormidade da transgressão; e sem o poder convincente do Espírito Santo fica em cegueira parcial em relação ao seu pecado. Têm os servos de Cristo o dever de mostrar aos que assim erram, o seu perigo. Aqueles que destroem o efeito da advertência, cegando os olhos aos pecadores ante o caráter e resultados verdadeiros do pecado, muitas vezes se gabam de que assim dão provas de caridade; estão, porém, agindo diretamente no sentido de opor-se ao Espírito Santo de Deus e estorvar-Lhe a obra; estão acalentando o pecador para que descanse à beira da destruição; estão-se fazendo participantes de sua culpa, e incorrendo em terrível responsabilidade pela sua impenitência. Muitos, muitos, têm descido à ruína como resultado desta falsa e enganosa simpatia. PP 258 2 Nadabe e Abiú nunca teriam cometido aquele pecado fatal, se não se houvessem primeiramente em parte intoxicado pelo livre uso do vinho. Compreendiam que o mais cuidadoso e solene preparo era necessário antes de se apresentarem no santuário, onde era manifestada a presença divina; pela intemperança, porém, perderam a idoneidade para o seu santo ofício. A mente se lhes tornou confusa e embotadas as percepções morais, de modo que não podiam discernir a diferença entre o sagrado e o comum. A Arão e a seus filhos sobreviventes foi feito este aviso: "Vinho nem bebida forte, tu e teus filhos contigo não bebereis, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será este entre as vossas gerações; e para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo, e para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes tem falado". Levítico 10:9-11. O uso de bebidas alcoólicas tem o efeito de enfraquecer o corpo, confundir a mente e rebaixar a moral. Impede aos homens de se compenetrarem do caráter sagrado das coisas santas ou da vigência das ordens de Deus. Todos os que ocupavam posições de responsabilidade sagrada, deviam ser homens de estrita temperança, para terem mente clara, a fim de discernirem entre o reto e o que o não é, para terem firmeza de princípios, e sabedoria para administrar justiça e mostrar misericórdia. PP 258 3 A mesma obrigação repousa sobre todo seguidor de Cristo. O apóstolo Pedro declara: "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido". 1 Pedro 2:9. É-nos exigido por Deus que preservemos toda faculdade na melhor condição possível, a fim de que prestemos serviço aceitável a nosso Criador. Quando se usam bebidas embriagantes, seguir-se-ão os mesmos resultados do caso daqueles sacerdotes de Israel. A consciência perderá sua sensibilidade ao pecado e uma operação de endurecimento para a iniqüidade certissimamente ocorrerá, até que o comum e o sagrado percam toda a diferença de significação. Como podemos então atingir a norma dos requisitos divinos? "Acaso não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes recebido de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais são de Deus". 1 Coríntios 6:19, 20. "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus". 1 Coríntios 10:31. À igreja de Cristo em todos os tempos é dirigido este aviso solene e terrível: "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo". 1 Coríntios 3:17. ------------------------Capítulo 32 -- A lei e os concertos PP 260 1 Adão e Eva, ao serem criados, tinham conhecimento da lei de Deus; estavam familiarizados com os reclamos da mesma relativamente a si; seus preceitos estavam escritos em seu coração. Quando o homem caiu pela transgressão, a lei não foi mudada, mas estabelecido um plano que remediasse a situação trazendo novamente o homem à obediência. Foi feita a promessa de um Salvador e prescritas ofertas sacrificais que apontavam ao futuro, para a morte de Cristo como a grande oferta pelo pecado. Mas, se a lei de Deus nunca houvesse sido transgredida, não teria havido morte, tampouco haveria necessidade de um Salvador; conseqüentemente não teria havido necessidade de sacrifícios. PP 260 2 Adão ensinou a seus descendentes a lei de Deus, e esta foi transmitida de pai a filho através de gerações sucessivas. Mas apesar das graciosas providências para a redenção do homem, poucos houve que as aceitaram e lhes prestaram obediência. Pela transgressão o mundo se envileceu tanto que foi necessário, pelo dilúvio, limpá-lo de suas corrupções. A lei foi preservada por Noé e sua família, e Noé ensinou a seus descendentes os Dez Mandamentos. Como os homens de novo se afastassem de Deus, o Senhor escolheu Abraão, a respeito de quem declarou: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandamento, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gênesis 26:5. A ele foi dado o rito da circuncisão, que era um sinal de que os que o recebiam eram dedicados ao serviço de Deus -- garantia de que permaneceriam separados da idolatria e obedeceriam à lei de Deus. O fracasso dos descendentes de Abraão para manterem este compromisso, conforme se revela em sua disposição para formar alianças com os gentios e adotar-lhes os costumes, foi a causa de sua peregrinação e cativeiro no Egito. Mas, em seu intercâmbio com os idólatras e forçada submissão aos egípcios, os preceitos divinos tornaram-se ainda mais corrompidos com os ensinos vis e cruéis do paganismo. Portanto, quando o Senhor os tirou do Egito, desceu sobre o Sinai, cercado de glória e rodeado de Seus anjos, e com terrível majestade proferiu Sua lei aos ouvidos de todo o povo. PP 260 3 Mesmo então não confiou Seus preceitos à memória de um povo tão propenso a esquecer os Seus mandos, mas escreveu-os em tábuas de pedra. Queria remover de Israel toda a possibilidade de misturar tradições gentílicas com Seus santos preceitos, ou de confundir Seus mandos com ordenações e costumes humanos. Mas não Se limitou a dar-lhes os preceitos do Decálogo. O povo mostrara deixar-se transviar tão facilmente, que Ele não deixaria indefesa nenhuma entrada para a tentação. Ordenou-se a Moisés escrever, conforme Deus lhe mandasse, juízos e leis que davam minuciosas instruções quanto ao que era requerido. Estas instruções relativas ao dever do povo para com Deus, de uns para com outros e para com o estrangeiro, eram apenas os princípios dos Dez Mandamentos, ampliados e dados de maneira específica, para que ninguém estivesse no caso de errar. Destinavam-se a resguardar a santidade dos dez preceitos gravados nas tábuas de pedra. PP 261 1 Se o homem houvesse guardado a lei de Deus conforme fora dada a Adão depois de sua queda, preservada por Noé e observada por Abraão; não teria havido necessidade de se ordenar a circuncisão. E, se os descendentes de Abraão houvessem guardado o concerto, do qual a circuncisão era um sinal, nunca teriam sido induzidos à idolatria; tampouco lhes teria sido necessário sofrer vida de cativeiro no Egito; teriam conservado na mente a lei de Deus, e não teria havido necessidade de que ela fosse proclamada no Sinai, nem gravada em tábuas de pedra. E, se o povo houvesse praticado os princípios dos Dez Mandamentos, não teria havido necessidade das instruções adicionais dadas a Moisés. PP 261 2 O sistema sacrifical, entregue a Adão, foi também pervertido por seus descendentes. Superstição, idolatria, crueldade e licenciosidade, corrompiam o culto simples e significativo que Deus instituíra. Mediante o prolongado trato com os idólatras, o povo de Israel misturara com seu culto muitos costumes gentílicos; portanto o Senhor lhes deu no Sinai instruções definidas com relação aos sacrifícios. Depois de completar-se o tabernáculo, Ele Se comunicou com Moisés da nuvem de glória em cima do propiciatório, e deu-lhe instruções completas a respeito do sistema das ofertas e das formas de culto a serem mantidas no santuário. A lei cerimonial foi assim dada a Moisés, e por ele escrita em um livro. Mas a lei dos Dez Mandamentos, proferida do Sinai, foi escrita pelo próprio Deus em tábuas de pedra, e sagradamente conservada na arca. PP 262 3 Muitos há que procuram confundir estes dois sistemas, usando os textos que falam da lei cerimonial para provar que a lei moral foi abolida; mas isto é perversão das Escrituras. Ampla e clara é a distinção entre os dois sistemas. O cerimonial era constituído de símbolos que apontavam para Cristo, para o Seu sacrifício e sacerdócio. A lei ritual, com seus sacrifícios e ordenanças, devia ser cumprida pelos hebreus até que o tipo encontrasse o antítipo, na morte de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Então cessariam todas as ofertas sacrificais. Foi esta a lei que Cristo "tirou do meio de nós, cravando-a na cruz". Colossences 2:14. Mas, com referência à lei dos Dez Mandamentos, declara o salmista: "Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no Céu". Salmos 119:89. E Cristo mesmo diz: "Não cuideis que vim destruir a lei. [...] Em verdade vos digo" -- tornando a asserção tão expressiva quanto possível -- "que até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido". Mateus 5:17, 18. Ele ensina aqui, não simplesmente o que os reclamos da lei tinham sido, e eram então, mas que tais reclamos se manterão enquanto durarem os céus e a Terra. A lei de Deus é tão imutável quanto o Seu trono. Ela manterá suas reivindicações em relação à humanidade, em todos os tempos. PP 262 1 Com referência à lei proclamada no Sinai, diz Neemias: "Sobre o monte de Sinai desceste, e falaste com eles desde os Céus; e destes-lhes juízos retos, e leis verdadeiras, estatutos e mandamentos bons". Neemias 9:13. E Paulo, "apóstolo dos gentios", declara: "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom". Romanos 7:12. Essa lei não pode ser outra senão o decálogo; pois é a que diz: "Não cobiçarás". Êxodo 20:17. PP 262 2 Conquanto a morte do Salvador pusesse termo à lei dos tipos e sombras, não diminuiu no mínimo a obrigação imposta pela lei moral. Ao contrário, o próprio fato de que foi necessário Cristo morrer a fim de expiar a transgressão daquela lei, prova ser ela imutável. PP 262 3 Aqueles que pretendem ter Cristo vindo a fim de anular a lei de Deus e abolir o Antigo Testamento, falam da era judaica como sendo era de trevas, e representam a religião dos hebreus como que consistindo em meras formas e cerimônias. Mas isto é erro. Através de todas as páginas da história sagrada, nas quais o trato de Deus com Seu povo escolhido se acha registrado, há indícios frisantes do grande EU SOU. Nunca deu Ele aos filhos dos homens manifestações mais claras de Seu poder e glória do que quando foi reconhecido como o único governador de Israel, e deu a lei a Seu povo. Ali estava um cetro empunhado por mão não humana; e as majestosas saídas do Rei invisível de Israel eram indescritivelmente grandiosas e terríveis. PP 262 4 Em todas estas revelações da presença divina, a glória de Deus se manifestava por meio de Cristo. Não somente por ocasião do advento do Salvador, mas através de todos os séculos após a queda e promessa de redenção, "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo". 2 Coríntios 5:19. Cristo era o fundamento e centro do sistema sacrifical, tanto da era patriarcal como da judaica. Desde o pecado de nossos primeiros pais, não tem havido comunicação direta entre Deus e o homem. O Pai entregou o mundo nas mãos de Cristo, para que por Sua obra mediadora remisse o homem, e reivindicasse a autoridade e santidade da lei de Deus. Toda a comunhão entre o Céu e a raça decaída tem sido por meio de Cristo. Foi o Filho de Deus que fez a nossos primeiros pais a promessa de redenção. Foi Ele que Se revelou aos patriarcas. Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó e Moisés compreenderam o evangelho. Esperavam a salvação por meio do Substituto e Fiador do homem. Esses santos homens da antiguidade entretinham comunhão com o Salvador que viria ao nosso mundo em carne humana; e alguns falaram com Cristo e os anjos celestiais, face a face. PP 263 1 Cristo não somente foi o guia dos hebreus no deserto -- o Anjo em quem estava o nome de Jeová, e que, velado na coluna de nuvem, ia diante das hostes -- mas foi também Ele que deu a Israel a lei. Por entre a tremenda glória do Sinai, Cristo declarou aos ouvidos de todo o povo os dez preceitos da lei de Seu Pai. Foi Ele que deu a Moisés a lei gravada em tábuas de pedra. PP 263 2 Foi Cristo que falou a Seu povo por intermédio dos profetas. Escrevendo à igreja cristã, diz o apóstolo Pedro que "os profetas profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir". 1 Pedro 1:10, 11. É a voz de Cristo que nos fala através do Antigo Testamento. "O testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia". Apocalipse 19:10. PP 263 3 Em Seus ensinos, enquanto Se achava pessoalmente entre os homens, Jesus encaminhava a mente do povo para o Antigo Testamento. Disse Ele aos judeus: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam". João 5:39. Nesse tempo os livros do Antigo Testamento eram a única parte da Bíblia que existia. Outra vez declarou o Filho de Deus: "Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos." E acrescentou: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite". Lucas 16:29, 31. PP 263 4 A lei cerimonial foi dada por Cristo. Mesmo depois que ela não mais devia ser observada, Paulo apresentou-a aos judeus em sua verdadeira posição e valor, mostrando o seu lugar no plano da redenção e sua relação para com a obra de Cristo; e o grande apóstolo declara gloriosa esta lei, digna de seu divino Originador. O serviço solene do santuário tipificava as grandiosas verdades que seriam reveladas durante gerações sucessivas. A nuvem de incenso que ascendia com as orações de Israel, representa a Sua justiça que unicamente pode tornar aceitável a Deus a oração do pecador; a vítima sangrenta sobre o altar do sacrifício, dava testemunho de um Redentor vindouro; e do santo dos santos resplandecia o sinal visível da presença divina. Assim, através de séculos e séculos de trevas e apostasia, a fé se conservou viva no coração dos homens até chegar o tempo para o advento do Messias prometido. PP 263 5 Jesus era a luz de Seu povo -- a luz do mundo -- antes que viesse à Terra sob a forma humana. O primeiro raio de luz a penetrar a sombra em que o pecado envolveu o mundo, veio de Cristo. E dEle tem vindo todo raio da luz celestial que tem incidido sobre os habitantes da Terra. No plano da redenção, Cristo é o Alfa e o Ômega -- o Primeiro e o Derradeiro. PP 264 1 Desde que o Salvador verteu Seu sangue para a remissão dos pecados, e subiu ao Céu para "comparecer por nós perante a face de Deus" (Hebreus 9:24), tem estado a fluir luz da cruz do Calvário e dos lugares santos do santuário celestial. Mas a luz mais clara que nos é concedida não nos deve levar a desprezar a que nos primeiros tempos foi recebida mediante os tipos que indicavam o Salvador vindouro. O evangelho de Cristo esparge luz sobre a economia judaica, e dá significação à lei cerimonial. Sendo reveladas novas verdades, e sendo a que fora conhecida desde o princípio trazida para uma luz mais clara, tornam-se manifestos o caráter e propósitos de Deus em Seu trato com o povo escolhido. Cada novo raio de luz que recebemos nos dá compreensão mais clara do plano da redenção, que é a operação da vontade divina na salvação do homem. Vemos nova beleza e força na Palavra inspirada, e com interesse mais profundo e absorvente estudamos suas páginas. PP 264 2 Muitos têm a opinião de que Deus colocou um muro de separação entre os hebreus e o mundo exterior; de que Seu cuidado e amor, retirados em grande parte do resto da humanidade, centralizaram-se em Israel. Mas não era intuito de Deus que Seu povo levantasse uma parede separatória entre si e seus semelhantes. O coração do Amor infinito expandia-se a todos os habitantes da Terra. Posto que O houvessem rejeitado, estava Ele constantemente procurando revelar-Se-lhes, e fazê-los participantes de Seu amor e graça. Sua bênção foi concedida ao povo escolhido, a fim de que pudessem abençoar a outros. PP 264 3 Deus chamou Abraão, fê-lo prosperar e o honrou; e a fidelidade do patriarca foi uma luz para o povo em todos os países de sua peregrinação. Abraão não se excluiu do povo em redor de si. Manteve relações amistosas com os reis das nações circunvizinhas, por alguns dos quais ele era tratado com grande respeito; e sua integridade e abnegação, seu valor e benevolência, estavam a representar o caráter de Deus. Na Mesopotâmia, em Canaã, no Egito, e mesmo aos habitantes de Sodoma, o Deus do Céu foi revelado por meio de Seu representante. PP 264 4 Assim, ao povo do Egito e de todas as nações ligadas com aquele poderoso reino, Deus Se manifestou por meio de José. Por que razão quis o Senhor exaltar a José tão grandemente entre os egípcios? Ele poderia ter provido outro meio para o cumprimento de Seus propósitos em relação aos filhos de Jacó; mas desejou fazer de José uma luz, e colocou-o no palácio do rei, a fim de que a iluminação celeste pudesse estender-se longe e perto. Por sua sabedoria e justiça, pela pureza e benevolência de sua vida diária, pela sua dedicação aos interesses do povo -- e aquele povo era uma nação de idólatras -- José foi um representante de Cristo. Em seu benfeitor, para quem todo o Egito se voltava com gratidão e louvor, deveria aquele povo gentio ver o amor do Criador e Redentor deles. Assim também, na pessoa de Moisés, Deus pôs uma luz ao lado do trono do maior reino da Terra, a fim de que todos que o quisessem pudessem aprender acerca do Deus verdadeiro e vivo. E toda essa luz foi dada aos egípcios antes que sobre eles se estendesse a mão de Deus em juízos. PP 265 1 No livramento de Israel, do Egito, espalhou-se amplamente o conhecimento do poder de Deus. Tremeu o povo belicoso da fortaleza de Jericó. "Ouvindo isto", disse Raabe, "desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus, e embaixo na Terra". Josué 2:11. Séculos após o êxodo, os sacerdotes dos filisteus lembravam ao seu povo as pragas do Egito, e os advertiam a não resistirem ao Deus de Israel. PP 265 2 Deus chamou Israel, e o abençoou e exaltou, não para que pela obediência à Sua lei recebessem eles, unicamente, o Seu favor, e se tornassem os exclusivos recipientes de Suas bênçãos, mas a fim de revelar-Se por meio deles a todos os habitantes da Terra. Foi para a realização deste mesmo propósito que Ele os mandou conservar-se distintos das nações idólatras em redor deles. PP 265 3 A idolatria e todos os pecados que seguem em seu cortejo, são aborrecíveis a Deus, e Ele ordenou a Seu povo que se não misturasse com outras nações, para fazerem "conforme às suas obras" (Êxodo 23:24), e se esquecerem de Deus. Proibiu-lhes casamento com idólatras, para que não acontecesse ser seu coração desviado dEle. Era perfeitamente tão necessário naquele tempo, como o é hoje, que o povo de Deus fosse puro, incontaminado do mundo. Deviam conservar-se livres de seu espírito, porque é ele oposto à verdade e à justiça. Mas não era intuito de Deus que Seu povo, em seu exclusivismo de justiça própria, se subtraísse do mundo, de modo que nenhuma influência tivesse sobre ele. PP 265 4 Como seu Mestre, os seguidores de Cristo deveriam em todo o tempo ser a luz do mundo. Disse o Salvador: "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos os que estão na casa" -- isto é, o mundo. E acrescenta: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus". Mateus 5:14-16. Isto foi precisamente o que Enoque, Noé, Abraão, José e Moisés fizeram. É precisamente o que era intuito de Deus que Seu povo Israel fizesse. PP 265 5 Foi o seu coração mau, incrédulo, dirigido por Satanás, que os levou a ocultar sua luz, em vez de espargi-la sobre os povos vizinhos; foi esse mesmo espírito de fanatismo que fez com que ou seguissem as práticas iníquas dos gentios, ou se encerrassem em um orgulhoso exclusivismo, como se o amor e cuidado de Deus estivessem somente sobre eles. PP 265 6 Assim como a Bíblia apresenta duas leis, uma imutável e eterna, e outra provisória e temporária, assim há dois concertos. O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os homens este concerto oferecia perdão, e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência mediante a fé em Cristo. Prometia-lhes também vida eterna sob condição de fidelidade para com a lei de Deus. Assim receberam os patriarcas a esperança da salvação. PP 266 1 Este mesmo concerto foi renovado a Abraão, na promessa: "Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra". Gênesis 22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim Abraão a compreendeu (Gálatas 3:8, 16), e confiou em Cristo para o perdão dos pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O concerto com Abraão mantinha também a autoridade da lei de Deus. O Senhor apareceu a Abraão e disse: "Eu sou o Deus todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito". Gênesis 17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi: "Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e as Minhas leis". Gênesis 26:5. E o Senhor lhe declarou: "Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente depois de ti". Gênesis 17:7. PP 266 2 Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei de Deus. PP 266 3 Outro pacto, chamado nas Escrituras o "velho" concerto, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. O concerto abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o "segundo", ou o "novo" concerto, porque o sangue pelo qual foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro concerto. Que o novo concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, "duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta". Hebreus 6:18. PP 266 4 Mas, se o concerto abraâmico continha a promessa da redenção, por que se formou outro concerto no Sinai? -- Em seu cativeiro, o povo em grande parte perdera o conhecimento de Deus e os princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho -- onde, perseguidos pelos egípcios, parecia impossível escaparem -- a fim de que se compenetrassem de seu completo desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes operou o livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e de confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de seu Libertador do cativeiro temporal. PP 267 1 Havia, porém, uma verdade ainda maior a ser-lhes gravada na mente. Vivendo em meio de idolatria e corrupção, não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, de sua completa incapacidade para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e de sua necessidade de um Salvador. Tudo isto deveria ser-lhes ensinado. PP 267 2 Deus os levou ao Sinai; manifestou Sua glória; deu-lhes Sua lei, com promessa de grandes bênçãos sob condição de obediência: "Se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o Meu concerto, então [...] Me sereis um reino sacerdotal e o povo santo". Êxodo 19:5, 6. O povo não compreendia a pecaminosidade de seus corações, e que sem Cristo lhes era impossível guardar a lei de Deus; e prontamente entraram em concerto com Deus. Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria justiça, declararam: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos". Êxodo 24:7. Haviam testemunhado a proclamação da lei, com terrível majestade, e tremeram aterrorizados diante do monte; e no entanto apenas algumas semanas se passaram antes que violassem seu concerto com Deus e se curvassem para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o favor de Deus mediante um concerto que tinham violado; e agora, vendo sua índole pecaminosa e necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do Salvador revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais. Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do cativeiro do pecado. Estavam então, preparados para apreciar as bênçãos do novo concerto. PP 267 3 As condições do "velho concerto" eram: Obedece e vive -- "cumprindo-os [estatutos e juízos] o homem, viverá por eles" (Ezequiel 20:11; Levítico 18:5); mas "maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei". Deuteronômio 27:26. O "novo concerto" foi estabelecido com melhores promessas: promessas do perdão dos pecados, e da graça de Deus para renovar o coração, e levá-lo à harmonia com os princípios da lei de Deus. "Este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração. [...] Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados". Jeremias 31:33, 34. PP 267 4 A mesma lei que fora gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os "frutos do Espírito". Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo: "Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei está dentro do Meu coração". Salmos 40:8. E, quando esteve entre os homens, disse: "O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada". João 8:29. PP 268 1 O apóstolo Paulo apresenta claramente a relação entre a fé e a lei, no novo concerto. Diz ele: "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo". Romanos 5:1. "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei". Romanos 3:31. "Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne" -- ou seja, ela não podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar -- "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito". Romanos 8:3, 4. PP 268 2 A obra de Deus é a mesma em todos os tempos, embora haja graus diversos de desenvolvimento e diferentes manifestações de Seu poder, para satisfazerem as necessidades dos homens nas várias épocas. Começando com a primeira promessa evangélica, e vindo através da era patriarcal e judaica, e mesmo até ao presente, tem havido um desenvolvimento gradual dos propósitos de Deus no plano da redenção. O Salvador tipificado nos ritos e cerimônias da lei judaica, é precisamente o mesmo que se revela no evangelho. As nuvens que envolviam Sua divina pessoa foram removidas; o nevoeiro e as sombras desapareceram; e Jesus, o Redentor do mundo, Se acha revelado. Aquele que do Sinai proclamou a lei e entregou a Moisés os preceitos da lei ritual, é o mesmo que proferiu o sermão do monte. Os grandes princípios de amor a Deus, que estabeleceu como fundamento da lei e dos profetas, são apenas uma repetição do que Ele dissera por meio de Moisés ao povo hebreu: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder". Deuteronômio 6:4, 5. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Levítico 19:18. O ensinador é o mesmo em ambas as dispensações. As reivindicações de Deus são as mesmas. Os mesmos são os princípios de Seu governo. Pois tudo procede dAquele "em quem não há mudança nem sombra de variação". Tiago 1:17. ------------------------Capítulo 33 -- Do Sinai a Cades PP 269 0 Este capítulo é baseado em Números 11-12. PP 269 1 A construção do tabernáculo não se iniciou senão algum tempo depois que Israel chegou ao Sinai; e tal edificação sagrada foi pela primeira vez erguida no início do segundo ano a partir do êxodo. A isto se seguiram a consagração dos sacerdotes, a celebração da Páscoa, o recenseamento do povo e a conclusão de vários arranjos essenciais à sua organização civil ou religiosa, de modo que passaram quase um ano no acampamento junto ao Sinai. Ali o seu culto tomara forma mais definida, foram dadas as leis para o governo da nação, e levara-se a efeito uma organização mais eficaz como preparo para a sua entrada na terra de Canaã. PP 269 2 O governo de Israel caracterizou-se pela organização mais completa, maravilhosa tanto pelo seu acabamento como pela sua simplicidade. A ordem, tão admiravelmente ostentada na perfeição e arranjo de todas as obras criadas por Deus, era manifesta na economia hebréia. Deus era o centro da autoridade e do governo, o Soberano de Israel. Moisés desempenhava o papel de seu chefe visível, em virtude de indicação divina, a fim de administrar as leis em Seu nome. Dos anciãos das tribos foi mais tarde escolhido um concílio de setenta, para auxiliar a Moisés nos negócios gerais da nação. Vinham em seguida os sacerdotes, que consultavam o Senhor no santuário. Chefes ou príncipes governavam as tribos. Abaixo destes estavam os capitães de milhares, capitães de cem, capitães de cinqüenta, e capitães de dez; e, por último, oficiais que poderiam ser empregados no desempenho de deveres especiais. Deuteronômio 1:15. PP 269 3 O arraial dos hebreus estava arranjado em ordem exata. Estava dividido em três grandes partes, tendo cada uma a sua posição designada no acampamento. No centro estava o tabernáculo, a morada do Rei invisível. Em redor estavam estacionados os sacerdotes e levitas. Além destes estavam acampadas todas as outras tribos. PP 269 4 Aos levitas foi confiado o cuidado do tabernáculo e de tudo que ao mesmo se referia, tanto no acampamento como em viagem. Quando o arraial se punha em marcha, deveriam desarmar a tenda sagrada; ao chegarem a um ponto de parada, deveriam armá-la. A pessoa alguma de outra tribo se permitia aproximar-se, sob pena de morte. Os levitas estavam separados em três divisões, conforme os descendentes dos três filhos de Levi; e a cada uma foi designada sua posição e obra especial. Na frente do tabernáculo, e mais próximo dele, estavam as tendas de Moisés e Arão. Ao Sul estavam os coatitas, cujo dever era cuidar da arca e de outros aparelhamentos; ao Norte estavam os meraritas, que foram encarregados das colunas, dos encaixes, das tábuas, etc.; na retaguarda os gersonitas, a quem foi confiado o cuidado das cortinas. PP 270 1 Especificou-se também a posição de cada tribo. Cada uma deveria marchar e acampar-se ao lado de sua própria bandeira, conforme o Senhor havia ordenado: "Os filhos de Israel assentarão as suas tendas, cada um debaixo da sua bandeira, segundo as insígnias da casa de seus pais; ao redor, defronte da tenda da congregação, assentarão as suas tendas." "Como assentaram as suas tendas, assim marcharão, cada um no seu lugar, segundo as suas bandeiras". Números 2:2, 17. Àquela multidão mista que do Egito acompanhara Israel não foi permitido ocupar as mesmas seções das tribos; deveriam, porém, morar nos arredores do acampamento; e deveria a sua descendência ser excluída da comunidade até a terceira geração. Deuteronômio 23:7, 8. PP 270 2 Foi ordenada uma limpeza escrupulosa bem como uma ordem estrita por todo o arraial e arredores. Pôs-se em execução um regulamento sanitário completo. A toda pessoa que estivesse imunda por qualquer motivo, era vedado entrar no acampamento. Tais medidas eram indispensáveis para a conservação da saúde em meio de uma multidão tão vasta; e também necessário era que se mantivessem ordem e pureza perfeitas, para que Israel pudesse desfrutar da presença de um Deus santo. Assim Ele declarou: "O Senhor teu Deus anda no meio do teu arraial, para te livrar e entregar os teus inimigos diante de ti: pelo que o teu arraial será santo." PP 270 3 Em todas as jornadas de Israel, "a arca do concerto do Senhor caminhou diante deles [...] para lhes buscar lugar de descanso". Números 10:33. Levado pelos filhos de Coate, o receptáculo sagrado que continha a santa lei de Deus devia ir na vanguarda. Diante dele iam Moisés e Arão; e os sacerdotes, levando trombetas de prata, estavam estacionados perto. Esses sacerdotes recebiam ordens de Moisés, as quais comunicavam ao povo por meio das trombetas. Era dever dos dirigentes de cada companhia dar instruções definidas com respeito a todos os movimentos a serem feitos, conforme eram indicados pelas trombetas. Quem quer que negligenciasse conformar-se com as instruções dadas, era punido de morte. PP 270 4 Deus é um Deus de ordem. Tudo que se acha em conexão com o Céu, está em perfeita ordem; a sujeição e a perfeita disciplina assinalam os movimentos da hoste angélica. O êxito apenas pode acompanhar a ordem e a ação harmoniosa. Deus requer ordem e método em Sua obra hoje, não menos do que nos dias de Israel. Todos os que estão a trabalhar para Ele devem fazê-lo inteligentemente, não de maneira descuidada, casual. Ele quer que Sua obra seja feita com fé e exatidão, para que sobre ela ponha o sinal de Sua aprovação. PP 270 5 Deus mesmo dirigiu os israelitas em todas as suas viagens. O local para o seu acampamento era indicado pela descida da coluna de nuvem; e enquanto devessem permanecer acampados a nuvem repousava sobre o tabernáculo. Quando deviam continuar sua jornada, ela se elevava muito acima da tenda sagrada. Uma invocação solene ao Senhor assinalava tanto as paradas como as partidas. "Era pois que, partindo a arca, Moisés dizia: Levanta-Te, Senhor, e dissipados sejam os Teus inimigos, e fujam diante de Ti os aborrecedores. E, pousando ela, dizia: Volta, ó Senhor, para os muitos milhares de Israel". Números 10:35, 36. PP 271 1 Uma distância de apenas onze dias de viagem existia entre o Sinai e Cades, nas fronteiras de Canaã; e foi com a perspectiva de logo entrarem na esplêndida terra que as hostes de Israel retomaram sua marcha, quando finalmente a nuvem deu sinal para prosseguir. Jeová operara prodígios, tirando-os do Egito; e que bênçãos não poderiam eles esperar, agora que haviam solenemente pactuado aceitá-Lo como seu Soberano, e sido reconhecidos como o povo escolhido do Altíssimo? PP 271 2 Todavia foi com quase relutância que muitos deixaram o lugar em que por tanto tempo estiveram acampados. Tinham vindo quase a considerá-lo como sua morada. Dentro do abrigo daquelas rochas, Deus reunira Seu povo, separados de todas as outras nações, a fim de lhes declarar Sua santa lei. Gostavam de olhar para o monte sagrado, em cujos picos esbranquiçados e áridas saliências tantas vezes se mostrara a glória divina. O cenário estava tão intimamente associado com a presença de Deus e dos santos anjos, que parecia demasiado sagrado para que fosse deixado com indiferença, ou mesmo alegremente. PP 271 3 Ao sinal das trombetas, contudo, o acampamento todo se pôs em marcha, sendo o tabernáculo carregado ao centro, e estando cada tribo na sua designada posição, sob a sua própria bandeira. Todos os olhares estavam volvidos ansiosamente para ver em que direção a nuvem seguiria. Quando ela se moveu em direção ao Oriente, onde apenas havia aglomerações montanhosas, negras e desoladas, um sentimento de tristeza e dúvida surgiu em muitos corações. PP 271 4 Avançando eles, o caminho se tornou mais difícil. Seu percurso estendia-se através de barrancos e desolação estéril. Tudo em redor deles era o grande deserto -- "terra de charnecas e de covas", "terra de sequidão e sombra de morte", "terra em que ninguém transitava, e na qual não morava homem algum". Jeremias 2:6. As gargantas de pedra, de longe e de perto, estavam repletas de homens, mulheres e crianças, com animais e carros, e longas fileiras de rebanhos e gado. Sua marcha era necessariamente lenta e trabalhosa; e as multidões, depois de seu longo acampamento, não estavam preparadas para suportar os perigos e incômodos do caminho. PP 271 5 Depois de três dias de viagem, ouviram-se francas queixas. Estas se originaram com a mistura de gente, muitos dentre a qual não se achavam unidos completamente com Israel e estavam continuamente a espreitar qualquer motivo de censura. Os queixosos não se agradavam com a direção da marcha, e estavam continuamente a achar defeito no modo como Moisés os estava a guiar, embora bem soubessem que ele, assim como todos, estavam seguindo a nuvem que os guiava. O descontentamento é contagioso, e logo espalhou-se pelo arraial. PP 272 1 Novamente começaram a clamar pedindo carne para comer. Se bem que abundantemente supridos de maná, não estavam satisfeitos. Os israelitas, durante seu cativeiro no Egito, tinham sido compelidos a passar com o mais trivial e simples alimento; mas o bom apetite provocado pela privação e árduo trabalho tornava-o saboroso. Muitos dos egípcios, entretanto, que agora se achavam entre eles, tinham estado acostumados a regime farto; e estes foram os primeiros a queixar-se. Ao dar o maná, precisamente antes de Israel chegar ao Sinai, o Senhor lhes concedera carne em resposta aos seus clamores; mas esta lhes foi fornecida apenas um dia. PP 272 2 Deus poderia tão facilmente tê-los provido de carne como de maná; impôs-se-lhes, porém, uma restrição, para o seu bem. Era Seu propósito supri-los de alimento mais adaptado às suas necessidades do que o regime estimulante a que muitos se haviam acostumado no Egito. O apetite pervertido devia ser posto em uma condição mais sadia, a fim de que pudessem usar o alimento originariamente provido ao homem: os frutos da Terra, que Deus dera a Adão e Eva no Éden. Foi por esta razão que os israelitas foram em grande medida privados do alimento cárneo. PP 272 3 Satanás tentou-os a considerar esta restrição como injusta e cruel. Fê-los cobiçar coisas proibidas, porque viu que a satisfação desenfreada do apetite tenderia a produzir a sensualidade, e por este meio o povo poderia ser mais facilmente submetido ao seu domínio. O autor da moléstia e da miséria assaltará os homens no ponto em que ele pode ter o maior êxito. Por meio de tentações que visam o apetite, tem ele, em grande parte, levado homens ao pecado, desde o tempo em que induziu Eva a comer do fruto proibido. Foi por este mesmo meio que levou Israel a murmurar contra Deus. A intemperança no comer e no beber, determinando, como o faz, a satisfação das paixões baixas, prepara aos homens o caminho para desrespeitarem todos os deveres morais. Ao serem assaltados pela tentação, pouco poder têm eles para resistir. PP 272 4 Deus tirou do Egito os israelitas para que os pudesse estabelecer na terra de Canaã como um povo puro, santo e feliz. Para a realização deste objetivo, sujeitou-os a um processo de disciplina, tanto para o seu bem como para o bem de sua posteridade. Estivessem eles dispostos a vencer o apetite, em obediência às Suas sábias restrições, e teriam sido desconhecidas entre eles a fraqueza e a moléstia. Seus descendentes teriam possuído força tanto física como mental. Teriam tido clara percepção da verdade e do dever, discernimento penetrante e são juízo. Mas sua falta de vontade para se sujeitarem às restrições e reclamos de Deus, impediu-os em grande parte de alcançarem a elevada norma que desejava atingissem, bem como de receberem as bênçãos que estava pronto para lhes conferir. PP 273 1 Diz o salmista: "Tentaram a Deus nos seus corações, pedindo carne para satisfazerem o seu apetite. E falaram contra Deus, e disseram: Poderá Deus porventura preparar-nos uma mesa no deserto? Eis que feriu a penha, e águas correram dela; rebentaram ribeiros em abundância: poderá também dar-nos pão, ou preparar carne para o Seu povo? Pelo que o Senhor os ouviu, e Se indignou". Salmos 78:18-21. Murmurações e tumultos tinham sido freqüentes durante a jornada do Mar Vermelho ao Sinai; mas, compadecendo-Se de sua ignorância e cegueira, Deus não visitara então o pecado com juízos. Mas desde aquele tempo Ele Se lhes revelara em Horebe. Haviam recebido grande luz, visto que tinham sido testemunhas da majestade, do poder e da misericórdia de Deus; e sua incredulidade e descontentamento incorriam em maior delito. Ademais, haviam eles pactuado aceitar a Jeová como seu Rei, e obedecer à Sua autoridade. Sua murmuração era agora rebelião, e como tal devia receber imediato e assinalado castigo, para que Israel fosse preservado da anarquia e ruína. "O fogo do Senhor ardeu entre eles, e consumiu os que estavam na última parte do arraial". Números 11:1. Os mais culpados dos queixosos foram mortos pelo relâmpago da nuvem. PP 273 2 O povo, aterrorizado, rogou a Moisés que pedisse ao Senhor por eles. Moisés o fez, e o fogo apagou-se. Em lembrança deste juízo ele deu àquele lugar o nome de Taberá, que quer dizer, "queima". PP 273 3 Mas o mal logo foi pior do que antes. Em vez de levar os sobreviventes à humilhação e ao arrependimento, este terrível juízo pareceu apenas aumentar-lhes a murmuração. Em todas as direções o povo estava reunido à porta de suas tendas, chorando e lamentando. "E o vulgo [a mistura de gente], que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos. Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos". Números 11:4-6. Assim manifestaram seu descontentamento pelo alimento que o Criador lhes provera. Tinham, contudo, prova constante de que o mesmo se adaptava às suas necessidades; pois, apesar das fadigas que suportavam, não havia um que fosse fraco, em todas as suas tribos. PP 273 4 O coração de Moisés desfaleceu. Pleiteara que Israel não fosse destruído, mesmo que sua própria posteridade se tornasse então uma grande nação. Em seu amor por eles, rogara fosse antes o seu nome riscado do livro da vida do que se deixassem eles a perecer. Por eles arriscara tudo, e este era o modo em que correspondiam. Todas as suas dificuldades, mesmo os sofrimentos imaginários, atribuíam a ele; e suas ímpias murmurações tornavam duplamente pesado o fardo de cuidados e responsabilidades sob que ele cambaleava. Em sua angústia foi tentado mesmo a não confiar em Deus. Sua oração foi quase uma queixa. "Por que fizeste mal a Teu servo, e por que não achei graça a Teus olhos, que pusesses sobre mim o cargo de todo este povo? [...] Donde teria eu carne para dar a todo este povo? porquanto contra mim choram, dizendo: Dá-nos carne a comer. Eu só não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim". Números 11:11, 13, 14. PP 274 1 O Senhor atendeu-lhe à oração, e ordenou-lhe convocar dos anciãos de Israel setenta homens, não somente avançados em idade, mas que possuíssem dignidade, juízo são e experiência. "E os trarás perante a tenda da congregação, e ali se porão contigo", disse Ele. "Então Eu descerei e ali falarei contigo e tirarei do Espírito que está sobre ti, e O porei sobre eles; e contigo levarão o cargo do povo, para que tu só o não leves". Números 11:16, 17. PP 274 2 O Senhor permitiu a Moisés escolher por si mesmo os homens mais fiéis e aptos para com ele participarem da responsabilidade. Sua influência ajudaria a sustar a violência do povo e sufocar a insurreição; contudo, graves males resultariam finalmente de sua promoção. Eles nunca teriam sido escolhidos caso Moisés houvesse manifestado uma fé que correspondesse às provas que tivera do poder e bondade de Deus. Mas ele exagerara seus encargos e trabalhos, quase perdendo de vista que era apenas o instrumento pelo qual Deus operara. Não tinha desculpa, por condescender, por pouco que fosse, com o espírito de murmuração, que era a maldição de Israel. Se tivesse depositado inteira confiança em Deus, o Senhor tê-lo-ia guiado continuamente, e lhe teria dado forças para toda emergência. PP 274 3 Determinou-se a Moisés preparar o povo para o que Deus estava prestes a fazer para eles. "Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do Senhor, dizendo: Quem nos dará carne a comer, pois bem nos ia no Egito? Pelo que o Senhor vos dará carne, e comereis. Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias; mas um mês inteiro, até vos sair pelos narizes, até que vos enfastieis dela; porquanto rejeitastes ao Senhor, que está no meio de vós, e chorastes diante dEle, dizendo: Por que saímos do Egito?" PP 274 4 "Seiscentos mil homens de pé é este povo, no meio do qual estou", exclamou Moisés; "e Tu tens dito: Dar-lhes-ei carne, e comerão um mês inteiro. Degolar-se-ão para eles ovelhas e vacas, que lhes bastem? ou ajuntar-se-ão para eles todos os peixes do mar?" PP 274 5 Foi-lhe reprovada a falta de confiança: "Será pois encurtada a mão do Senhor? Agora verás se a Minha palavra acontecerá ou não". Números 11:18-23. PP 274 6 Moisés repetiu à congregação as palavras do Senhor, e anunciou a designação dos setenta anciãos. O encargo imposto pelo grande dirigente àqueles homens escolhidos, bem poderia servir de modelo de integridade judicial para os juízes e legisladores dos tempos modernos: "Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele. Não atentareis para pessoa alguma em juízo, ouvireis assim o pequeno como o grande. Não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus". Deuteronômio 1:16, 17. PP 275 1 Moisés convocou agora os setenta ao tabernáculo. "Então o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava sobre ele, O pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram, mas depois nunca mais". Números 11:25. Como os discípulos no dia de Pentecostes, foram dotados de "poder do alto". Lucas 24:49. Aprouve assim ao Senhor prepará-los para a Sua obra, e honrá-los na presença da congregação, a fim de que se estabelecesse confiança neles como homens divinamente escolhidos para se unirem com Moisés no governo de Israel. PP 275 2 De novo se demonstrou o espírito nobre e abnegado do grande chefe. Dois dos setenta, considerando-se humildemente como indignos de uma posição de tal responsabilidade, não se reuniram com seus irmãos no tabernáculo; mas o Espírito de Deus veio sobre eles onde se achavam, e também exerceram o dom de profecia. Sendo informado a tal respeito, Josué quis pôr cobro a tal irregularidade, receando que a mesma tendesse para divisão. Zeloso pela honra de seu senhor, disse ele: "Senhor meu, Moisés, proíbe-lho." A resposta foi: "Tens tu ciúmes por mim? Oxalá que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito!" PP 275 3 Um vento forte, soprando do mar, trouxe então bandos de codornizes, "quase caminho dum dia de uma banda, e quase caminho dum dia doutra banda, à roda do arraial, e quase dois côvados sobre a terra". Números 11:28, 29, 31. Todo aquele dia e aquela noite, e o dia seguinte, o povo trabalhou ajuntando alimento miraculosamente provido. Obtiveram imensa quantidade. "O que menos tinha, colhera dez ômeres". Números 11:32. Tudo que não era necessário usar-se no momento, foi conservado, secando-se de modo que o suprimento, conforme fora prometido, foi suficiente para um mês inteiro. PP 275 4 Deus deu ao povo aquilo que não era para seu máximo bem, porque persistiram em desejá-lo; não queriam satisfazer-se com as coisas que se mostrariam ser para eles um benefício. Seus rebeldes desejos foram satisfeitos, mas foram entregues ao sofrimento das conseqüências. Comeram sem restrições, e seus excessos foram prontamente punidos. "E feriu o Senhor o povo com uma praga mui grande". Números 11:33. Grande número foi ceifado pela febre ardente, enquanto os mais culpados entre eles foram feridos logo que provaram o alimento cobiçado. PP 275 5 Em Hazerote, o próximo acampamento depois de saírem de Taberá, uma prova ainda mais amarga esperava Moisés. Arão e Miriã tinham ocupado posição de grande honra e de chefia em Israel. Ambos eram favorecidos com o dom de profecia e, por determinação divina, tinham estado ligados a Moisés no livramento dos hebreus. "E pus diante de ti a Moisés, Arão, e Miriã" (Miquéias 6:4), são as palavras do Senhor pelo profeta Miquéias. A força de caráter de Miriã cedo se mostrara, quando criança vigiara ao lado do Nilo a pequena cesta em que estava escondido o bebê Moisés. De seu domínio próprio e tato Deus Se servira como instrumento para preservar o libertador de Seu povo. Dotada abundantemente dos dons da poesia e música, Miriã dirigira as mulheres de Israel no cântico e na dança, à margem do Mar Vermelho. Na afeição do povo e honras do Céu, estava ela apenas abaixo de Moisés e Arão. Entretanto, o mesmo mal que a princípio trouxera discórdia no Céu, surgiu no coração desta mulher de Israel, e ela não deixou de encontrar quem com ela simpatizasse em seu descontentamento. PP 276 1 Na designação dos setenta anciãos, Miriã e Arão não tinham sido consultados, e seus ciúmes despertaram-se contra Moisés. Por ocasião da visita de Jetro, enquanto os israelitas estavam a caminho do Sinai, a pronta aceitação por parte de Moisés do conselho de seu sogro despertou em Arão e Miriã um receio de que sua influência junto ao grande chefe excedesse à deles. PP 276 2 Na organização do conselho dos anciãos, entenderam que sua posição e autoridade haviam sido desprezadas. Miriã e Arão nunca haviam conhecido o peso dos cuidados e responsabilidades que repousava sobre Moisés; contudo, visto que tinham sido escolhidos para o auxiliarem, consideraram-se co-participantes seus e na mesma medida, do cargo da liderança, e acharam desnecessária a designação de mais auxiliares. PP 276 3 Moisés compenetrara-se da importância da grande obra a ele confiada, como nenhum outro jamais a sentira. Estava ciente de sua própria fraqueza, e fez de Deus o seu Conselheiro. Arão tinha-se em mais elevada conta, e confiava menos em Deus. Fracassara quando se lhe confiara responsabilidade, dando prova de fraqueza de caráter pela sua vil condescendência na questão do culto idólatra no Sinai. Miriã e Arão, porém, cegos pela inveja e ambição, perderam isto de vista. Arão fora altamente honrado por Deus pela designação de sua família para o ofício sagrado do sacerdócio; todavia, mesmo isto aumentava agora o desejo de exaltação própria. "Porventura falou o Senhor somente por Moisés? não falou também por nós?" Números 12:2. Considerando-se igualmente favorecidos por Deus, entenderam ter direito à mesma posição e autoridade. PP 276 4 Cedendo ao espírito de descontentamento, Miriã achou motivos de queixa nos acontecimentos que Deus de maneira especial dirigira. O casamento de Moisés lhe fora desagradável. O haver ele escolhido uma mulher de outra nação, em vez de tomar esposa dentre os hebreus, foi uma ofensa à sua família e ao orgulho nacional. Zípora era tratada com mal-disfarçado desprezo. PP 276 5 Embora fosse chamada "mulher cusita" (Números 12:1), era a esposa de Moisés midianita e, assim, descendente de Abraão. Na aparência pessoal ela diferia dos hebreus, tendo a pele de cor um pouco mais escura. Se bem não fosse israelita, Zípora era adoradora do verdadeiro Deus. Tinha disposição tímida, acanhada, e era gentil, afetuosa, e grandemente sensível à vista do sofrimento; e foi por esta razão que Moisés, quando a caminho para o Egito, consentiu que ela voltasse a Midiã. Ele quis poupar-lhe a dor de testemunhar os juízos que deveriam cair sobre os egípcios. PP 277 1 Quando Zípora se reuniu a seu povo no deserto, viu que os encargos dele lhe estavam esgotando as forças, e deu a conhecer seus temores a Jetro, que sugeriu medidas para o aliviarem. Nisso estava a principal razão da antipatia de Miriã para com Zípora. Doendo-se muito da suposta negligência manifestada a ela e Arão, considerou a esposa de Moisés como a causa, concluindo que sua influência o impedira de os tomar em seus conselhos como antes fazia. Houvesse Arão permanecido firme pelo que era reto, e poderia ter reprimido o mal; mas, em vez de mostrar a Miriã a pecaminosidade de sua conduta, compartilhou-lhe os sentimentos, deu ouvidos às suas palavras de queixa, e assim veio a partilhar de seus ciúmes. PP 277 2 Suas acusações foram suportadas por Moisés em paciente silêncio. Foi a experiência ganha durante os anos de labuta e espera em Midiã -- aquele espírito de humildade e longanimidade ali desenvolvidos -- que preparou Moisés para defrontar com paciência a incredulidade e murmuração do povo, e o orgulho e inveja daqueles que deveriam ser seus inabaláveis auxiliadores. Moisés era "mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra" (Números 12:3), e foi por isto que se lhe conferiu sabedoria e guia divinas mais do que aos outros. Dizem as Escrituras: "Guiará os mansos retamente, e aos mansos ensinará o Seu caminho". Salmos 25:9. Os mansos são guiados pelo Senhor, porque são dóceis e dispostos a serem instruídos. Eles têm o desejo sincero de conhecer e fazer a vontade de Deus. A promessa do Salvador é: "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá". João 7:17. E Ele declara pelo apóstolo Tiago: "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada". Tiago 1:5. Mas esta promessa é apenas para aqueles que estão dispostos a seguir inteiramente ao Senhor. Deus não força a vontade de ninguém; daí o não poder Ele levar aqueles que são demasiado orgulhosos para serem ensinados, os quais se inclinam a ter o seu próprio caminho. Quanto ao homem de coração dobre -- aquele que procura seguir sua própria vontade, ao mesmo tempo que professa fazer a vontade de Deus -- está escrito. "Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa". Tiago 1:7. PP 277 3 Deus escolhera a Moisés, e sobre ele pusera o seu Espírito; e Miriã e Arão, pelas suas murmurações, eram culpados de deslealdade, não somente para com o chefe que lhes fora designado, mas para com o próprio Deus. Os sediciosos faladores foram convocados ao tabernáculo, e levados perante Moisés. "Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e Se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã." Sua pretensão ao dom profético não foi negada; podia ser que Deus lhes tivesse falado em visões e sonhos. Mas a Moisés, a quem o Senhor mesmo declarou "fiel em toda a Minha casa", uma comunhão mais íntima fora concedida. Com ele o Senhor falava boca a boca. "Por que pois, não tiveste temor de falar contra o Meu servo, contra Moisés? Assim, a ira do Senhor contra eles se acendeu; e foi-Se." A nuvem desapareceu do tabernáculo em sinal do desprazer de Deus, e Miriã foi castigada. Ela ficou "leprosa, como a neve". Números 12:5-10. Arão foi poupado, mas teve severa repreensão no castigo de Miriã. Agora, com o orgulho humilhado até ao pó, Arão confessou seu pecado, e rogou que sua irmã não fosse deixada a perecer por aquele flagelo repugnante e mortal. Em resposta às orações de Moisés, a lepra foi purificada. Miriã foi, contudo, excluída do acampamento durante sete dias. O símbolo do favor divino não repousou de novo sobre o tabernáculo até que ela fosse banida do acampamento. Em atenção à sua elevada posição, pesarosos pelo golpe que sobre ela fora desferido, a multidão toda permaneceu em Hazerote, esperando sua volta. PP 278 1 Esta manifestação do desprazer do Senhor destinava-se a ser um aviso a todo o Israel, para reprimir o crescente espírito de descontentamento e insubordinação. Se a inveja e descontentamento de Miriã não houvessem sido repreendidos de maneira assinalada, disto teria resultado um grande mal. A inveja é uma das mais satânicas características que podem existir no coração humano, e uma das mais funestas em seus efeitos. Diz o sábio: "Cruel é o furor e a impetuosa ira, mas quem parará perante a inveja?" Provérbios 27:4. Foi a inveja que a princípio causou a discórdia no Céu, e a condescendência com a mesma acarretou males indizíveis entre os homens. "Onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa." Tiago 3:16. PP 278 2 Não deve ser considerado coisa vã falar mal de outros, ou fazer-nos juízes de seus intuitos ou ações. "Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz." Tiago 4:11. Não há senão um juiz, a saber, Aquele que "trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações". 1 Coríntios 4:5. E qualquer que tomar a si o julgar e condenar seus semelhantes, está usurpando a prerrogativa do Criador. PP 278 3 A Bíblia nos ensina especialmente a nos precavermos quanto a fazer acusações contra aqueles a quem Deus chamou para agirem como Seus embaixadores. O apóstolo Pedro, descrevendo uma classe de declarados pecadores, diz: "Atrevidos, obstinados, não receando blasfemar das dignidades; enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor". 2 Pedro 2:10, 11. E Paulo, em suas instruções àqueles que são postos na administração da igreja, diz: "Não aceiteis acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas". 1 Timóteo 5:19. Aquele que pôs sobre os homens a pesada responsabilidade de chefes e instrutores de Seu povo, responsabilizará o povo pela maneira por que tratam os Seus servos. Devemos honrar aqueles a quem Deus honrou. O juízo que caiu sobre Miriã deveria ser uma repreensão a todos os que se entregam à inveja, e murmuram contra aqueles sobre quem Deus põe o encargo de Sua obra. ------------------------Capítulo 34 -- Os doze espias PP 279 0 Este capítulo é baseado em Números 13-14. PP 279 1 Onze dias depois de partir do Monte Horebe, as tribos hebréias acamparam-se em Cades, no deserto de Parã, que não ficava longe das fronteiras da Terra Prometida. Ali foi proposto pelo povo que fossem enviados espias a fim de examinarem o país. Isto foi apresentado ao Senhor por Moisés, e Ele lhes concedeu permissão, com a instrução de que um dos príncipes de cada tribo fosse escolhido para tal fim. Os homens foram escolhidos, conforme ficara determinado, e Moisés mandou-os ir ver o país: qual era o mesmo, sua situação e vantagens naturais, e o povo que nele habitava, notando se eram fortes ou fracos, poucos ou muitos; bem como deveriam observar a natureza do solo e sua produtividade, e trazer do fruto da terra. PP 279 2 Eles foram e examinaram a terra toda, entrando pela fronteira ao sul e indo até à extremidade norte. Voltaram depois de uma ausência de quarenta dias. O povo de Israel estava acariciando grandes esperanças, e os aguardavam com ávida expectação. A notícia da volta dos espias foi levada de tribo a tribo, e saudada com regozijo. O povo precipitou-se ao encontro dos mensageiros, que saíram ilesos dos perigos de sua arriscada empresa. Os espias trouxeram amostras do fruto, que comprovavam a fertilidade do solo. Era o tempo da maturação das uvas, e trouxeram um cacho tão grande que era carregado entre dois homens. Trouxeram também figos e romãs que ali cresciam em abundância. PP 279 3 O povo regozijava-se de que devesse entrar na posse de uma terra tão boa, e escutaram atentamente ao ser o relatório apresentado a Moisés, a fim de que nenhuma palavra se lhes escapasse. "Fomos à terra a que nos enviaste", começaram os espias; "e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o fruto". Números 13:17-33. O povo ficou entusiasmado; queriam com avidez obedecer à voz do Senhor, e subir sem demora a possuir a terra. Mas, depois de descreverem a beleza e fertilidade da terra, todos os espias, com exceção de dois, exageraram as dificuldades e perigos que estavam diante dos israelitas caso empreendessem a conquista de Canaã. Enumeraram as poderosas nações localizadas nas várias partes do país, e disseram que as cidades eram muradas e muito grandes, e o povo que nelas habitava era forte; e seria impossível vencê-los. Declararam também que tinham visto ali gigantes, os filhos de Enaque, e era inútil pensar em possuir a terra. PP 280 1 Agora a cena mudou. A esperança e o ânimo deram lugar ao desespero covarde, ao proferirem os espias os sentimentos de seu coração incrédulo, que estava cheio de desânimo inspirado por Satanás. Sua incredulidade lançou escura sombra à congregação, e o grande poder de Deus, tantas vezes manifesto em prol da nação eleita, foi esquecido. O povo não se deteve a refletir; não raciocinou que Aquele que os trouxera até ali certamente lhes daria a terra; não se lembravam de quão maravilhosamente Deus os libertara de seus opressores, abrindo caminho através do mar, e destruindo as hostes perseguidoras de Faraó. Puseram a Deus fora da questão, e agiram como se devessem confiar apenas no poder das armas. PP 280 2 Em sua incredulidade limitaram o poder de Deus, e não confiaram na mão que até ali os guiara com segurança. E repetiram seu erro anterior de murmurar contra Moisés e Arão. "Este, pois, é o fim de todas as nossas grandes esperanças?" disseram. "É esta a terra para possuir a qual viajamos desde o Egito." Acusaram seus chefes de enganar o povo, e acarretar angústia sobre Israel. PP 280 3 O povo ficou desesperado em seu desapontamento e aflição. Ergueu-se um pranto agoniado, e misturou-se com o murmúrio confuso das vozes. Calebe compreendeu a situação e, bastante ousado para tomar a defesa da palavra de Deus, fez tudo ao seu alcance para desfazer a má influência de seus companheiros infiéis. Por um momento o povo ficou em silêncio para ouvir-lhe as palavras de esperança e ânimo, com respeito à boa terra. Ele não contradizia o que já havia sido dito; os muros eram altos, e fortes os cananeus. Mas Deus prometera a Israel a terra. "Subamos animosamente, e possuamo-la em herança", insistiu Calebe; "porque certamente prevaleceremos contra ela." PP 280 4 Mas os dez, interrompendo-o descreveram os obstáculos em cores mais negras do que ao princípio. "Não podemos subir contra aquele povo", declararam; "porque é mais forte do que nós. [...] Todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos". Números 13:31-33. PP 280 5 Estes homens, tendo enveredado por um mau caminho, insistentemente se puseram contra Calebe e Josué, contra Moisés, e contra Deus. Cada passo para frente os tornava mais decididos. Estavam resolvidos a frustrar todo o esforço para se apossarem de Canaã. Torciam a verdade a fim de sustentar sua influência nociva. "É terra que consome seus moradores" (Números 13:32), disseram eles. Isto era não somente uma notícia ruim, mas também mentirosa. Era incoerente. Os espias tinham declarado ser o país frutífero e próspero, e o povo de estatura gigantesca, coisas estas que seriam impossíveis se o clima fosse tão insalubre que se pudesse dizer da terra que consumia os habitantes. Mas quando os homens entregam o coração à incredulidade, colocam-se sob o domínio de Satanás, e ninguém poderá dizer até aonde ele os levará. PP 281 1 "Então levantou-se toda a congregação, e alçaram a sua voz; e o povo chorou naquela mesma noite." Revolta e franca sedição seguiram-se rapidamente; pois Satanás teve pleno domínio, e o povo parecia despojado da razão. Amaldiçoaram Moisés e Arão, esquecendo-se de que Deus escutava suas ímpias palavras, e que, cercado pela coluna de nuvem, o Anjo de Sua presença estava a testemunhar a terrível explosão de ira por parte deles. Com amargura exclamaram: "Ah! se morrêramos na terra do Egito! ou, ah! se morrêramos neste deserto!" Então seus sentimentos se insurgiram contra Deus: "Por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão, e voltemos ao Egito." Desta maneira não somente acusavam a Moisés, mas ao próprio Deus, de os enganar, prometendo-lhes uma terra que eram incapazes de possuir. E chegaram a ponto de designar um capitão para os guiar de volta à terra de seu sofrimento e cativeiro, da qual haviam sido libertos pelo braço forte da Onipotência. PP 281 2 Com humilhação e angústia, "Moisés e Arão caíram sobre os seus rostos perante todo o ajuntamento dos filhos de Israel" (Números 14:1-5), não sabendo o que fazer para os desviar de seu precipitado e apaixonado propósito. Calebe e Josué tentaram acalmar o tumulto. Rasgando as vestes em sinal de pesar e indignação, arrojaram-se entre o povo, e suas vozes penetrantes foram ouvidas acima da tormenta das lamentações e mágoa revoltosa: "A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão. Retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais". Números 14:7-9. PP 281 3 Os cananeus tinham enchido a medida de sua iniqüidade, e o Senhor não mais os suportaria. Sendo removida a sua proteção, seriam presa fácil. Pelo concerto de Deus, a terra estava assegurada a Israel. Mas o relato falso dos espias infiéis foi aceito, e por meio dele toda a congregação foi iludida. Os traidores haviam feito a sua obra. Se apenas dois homens houvessem trazido o mau relato, e todos os dez os animassem a possuir a terra em nome do Senhor, teriam também adotado o conselho dos dois de preferência ao dos dez, por causa de sua ímpia incredulidade. Mas dois apenas haviam advogado o que era reto, enquanto dez estavam do lado da rebelião. PP 281 4 Os espias infiéis denunciavam em alta voz a Calebe e Josué, e levantou-se o clamor para os apedrejar. A turba insana apanhou pedras para matar aqueles homens fiéis. Avançaram com uivos de furor, quando subitamente as pedras lhes caíram das mãos, tombou sobre eles um silêncio, e tremeram de medo. Deus interviera para impedir o seu desígnio assassino. A glória de Sua presença, como uma luz chamejante, iluminou o tabernáculo. Todo o povo viu o sinal do Senhor. Alguém que era mais poderoso do que eles Se revelara, e ninguém ousava prosseguir com a resistência. Os espias que trouxeram o mau relatório, agacharam-se tomados de terror, e com a respiração contida procuraram suas tendas. PP 282 1 Moisés levantou-se então e entrou no tabernáculo. O Senhor declarou-lhe: "Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei; e farei de ti povo maior". Números 14:12. Mas de novo Moisés pleiteou em favor de seu povo. Não podia consentir em que fossem destruídos, e dele se fizesse uma nação mais poderosa. Apelando para a misericórdia de Deus, disse: "Rogo-Te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo, e grande em beneficência. [...] Perdoa pois a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da Tua benignidade; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui". Números 14:17-19. PP 282 2 O Senhor prometeu poupar Israel de destruição imediata; mas, por causa de sua incredulidade e covardia, não poderia manifestar Seu poder para subjugar os inimigos deles. Portanto, em Sua misericórdia ordenou-lhes, como o único meio seguro, que volvessem em direção ao Mar Vermelho. PP 282 3 Em sua rebelião o povo declarara: "Ah! se morrêramos neste deserto!" Números 14:2. Agora esta oração devia ser atendida. O Senhor declarou: "Como falastes aos Meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos e para cima. [...] Mas os vossos filhos de que dizeis: Por presa serão, meterei nela, e eles saberão da terra que vós desprezastes." E quanto a Calebe, Ele disse: "Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-Me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá". Números 14:28, 29, 31, 24. Assim como os espias haviam despendido quarenta dias em sua viagem, deveriam semelhantemente as hostes de Israel vaguear pelo deserto quarenta anos. PP 282 4 Quando Moisés fez saber ao povo a decisão divina, a ira deste transformou-se em lamentação. Sabiam que seu castigo era justo. Os dez espias infiéis, feridos por determinação divina pela praga, pereceram diante dos olhos de todo o Israel; e em sua sorte o povo leu sua própria condenação. PP 282 5 Agora pareciam arrepender-se sinceramente de sua conduta pecaminosa; mas entristeciam-se por causa do resultado de seu mau caminho, em vez de o ser pela intuição de sua ingratidão e desobediência. Quando viram que o Senhor não Se abrandava na execução de Seu decreto, surgiu de novo sua voluntariosidade, e declararam que não voltariam ao deserto. Ordenando-lhes que se retirassem da terra de seus inimigos, Deus pusera à prova a sua aparente submissão, e demonstrara que a mesma não era real. Sabiam ter pecado gravemente consentindo em que seus sentimentos temerários os dominassem, e procurando matar os espias que insistiam com eles para que obedecessem a Deus; mas apenas estavam aterrorizados por achar que tinham cometido um erro terrível, cujas conseqüências se lhes mostrariam desastrosas. Seu coração não estava mudado, e tão-somente necessitavam de um pretexto para darem lugar a outra rebelião semelhante. Este se apresentou quando Moisés, pela autoridade de Deus, lhes ordenou voltarem ao deserto. PP 283 1 O decreto de que Israel não deveria entrar em Canaã antes de passarem quarenta anos, foi um amargo desapontamento para Moisés e Arão, Calebe e Josué; todavia, sem murmurar, aceitaram a decisão divina. Mas aqueles que estiveram a queixar-se do trato de Deus para com eles, e a declarar que voltariam ao Egito, choraram e lamentaram grandemente quando as bênçãos que desprezaram lhes foram tiradas. Haviam-se queixado de coisas irreais, e agora Deus lhes deu motivo para chorar. Houvessem deplorado o seu pecado, quando este se lhes apresentou lealmente, não teria sido pronunciada aquela sentença; mas lamentavam pelo motivo do juízo; sua tristeza não era arrependimento, e não poderia obter a revogação da sentença. PP 283 2 Passaram a noite em lamentação; porém, com a manhã veio a esperança. Resolveram reparar sua covardia. Quando Deus lhes mandara subir e tomar a terra, tinham-se recusado; e agora que lhes determinava retroceder estavam igualmente rebeldes. Decidiram-se a tomar a terra e possuí-la; poderia ser que Deus lhes aceitasse o trabalho, e modificasse Seu propósito em relação a eles. PP 283 3 Deus tornara privilégio e dever deles entrar na terra no tempo por Ele designado; mas, pela sua voluntariosa negligência, fora retirada aquela permissão. Satanás conseguira seu objetivo impedindo-os de entrar em Canaã; e agora, em face da proibição divina, insistia com eles para que fizessem a mesma coisa que se haviam recusado a fazer quando Deus a ordenara. Assim o grande enganador alcançou a vitória, levando-os à rebelião pela segunda vez. Não haviam confiado no poder de Deus a operar juntamente com seus esforços ao se apoderarem eles de Canaã; todavia contavam agora com sua própria força para efetuarem o trabalho independente do auxílio divino. "Pecamos contra o Senhor", exclamaram; "nós subiremos e pelejaremos, conforme a tudo o que nos ordenou o Senhor nosso Deus". Deuteronômio 1:41. Tão terrivelmente cegos ficaram eles pela transgressão. O Senhor nunca lhes mandara "subir e pelejar". Não era Seu propósito que adquirissem a terra pela guerra, mas pela obediência estrita às Suas ordens. PP 283 4 Se bem que seu coração não estivesse mudado, o povo fora levado a confessar a pecaminosidade e loucura de sua rebelião diante do relatório dos espias. Viam agora o valor da bênção que tão temerariamente haviam rejeitado. Confessaram que sua própria incredulidade os excluíra de Canaã. "Pecamos", disseram eles, reconhecendo que a falta estava neles mesmos, e não com Deus, a quem tão impiamente acusaram de deixar de cumprir Suas promessas para com eles. Se bem que sua confissão não partisse do verdadeiro arrependimento, serviu para reivindicar a justiça de Deus, em Seu trato com eles. PP 284 1 O Senhor ainda opera de modo semelhante para glorificar o Seu nome, levando homens a reconhecerem Sua justiça. Quando aqueles que professam amá-Lo se queixam de Sua providência, desprezam-Lhe as promessas e, cedendo à tentação, se unem com os anjos maus para frustrar os propósitos de Deus, o Senhor muitas vezes encaminha de tal maneira as circunstâncias que essas mesmas pessoas são levadas ao ponto em que se convençam de seu pecado e sejam constrangidas a reconhecer a impiedade de sua conduta, e a justiça e bondade de Deus em Seu trato com elas, e isto embora não tenham verdadeiro arrependimento. É assim que Deus põe em ação forças contrárias a fim de tornar manifestas as obras das trevas. E se bem que o espírito que inspirou a má conduta não esteja radicalmente transformado, fazem-se confissões para vindicar a honra de Deus, e justificar aqueles que da parte dEle reprovam fielmente, os quais sofreram oposição e foram caluniados. Assim será quando a ira de Deus for finalmente derramada. Quando o Senhor vier "com milhares de Seus santos para fazer juízo contra todos", convencerá "dentre eles todos os ímpios por todas as suas obras de impiedade". Judas 14, 15. Cada pecador será levado a ver e reconhecer a justiça de sua condenação. PP 284 2 Sem tomar em consideração a sentença divina, prepararam-se os israelitas para empreender a conquista de Canaã. Equipados de escudos e armas de guerra, achavam-se, quanto ao que calculavam, completamente preparados para a luta; mas eram deploravelmente deficientes à vista de Deus e de Seus entristecidos servos. Quando, quase quarenta anos mais tarde, o Senhor ordenou a Israel subir e tomar Jericó, prometeu ir com eles. A arca contendo a Sua lei foi levada diante dos exércitos deles. Os chefes que Ele designara deviam guiar-lhes os movimentos, sob a inspeção divina. Com tal direção, nenhum mal lhes poderia sobrevir. Mas agora, contrariamente ao mando de Deus e à proibição solene de seus chefes, sem a arca e sem Moisés, foram enfrentar os exércitos do inimigo. PP 284 3 A trombeta soou o alarma, e Moisés apressou-se após eles com o aviso: "Por que quebrantais o mandado do Senhor? pois isso não prosperará. Não subais, pois o Senhor não estará no meio de vós, para que não sejais feridos diante dos vossos inimigos. Porque os amalequitas e os cananeus estão ali diante da vossa face, e caireis à espada". Números 14:41-43. PP 284 4 Os cananeus tinham ouvido falar do poder misterioso que parecia guardar esse povo, e dos prodígios operados em seu favor; e agora convocaram uma força poderosa para repelir os invasores. O exército atacante não tinha chefe. Nenhuma oração fora feita para que Deus lhes desse a vitória. Saíram com o desesperado intuito de revogar a sua sorte ou morrer na batalha. Posto que não fossem experimentados na guerra, eram uma vasta multidão de homens armados, e esperavam por um assalto de surpresa suplantar toda oposição. Presunçosamente desafiaram o adversário que não ousara atacá-los. PP 285 1 Os cananeus tinham-se estacionado sobre um planalto rochoso, acessível apenas por desfiladeiros incômodos, e subidas íngremes e perigosas. O imenso número dos hebreus apenas poderia tornar sua derrota mais terrível. Vagarosamente enfileiraram-se pelas sendas das montanhas, expostos aos projéteis mortíferos de seus inimigos no alto. Rochas pesadas vinham trovejando abaixo, assinalando o seu caminho com o sangue dos mortos. Aqueles que atingiam o cimo, exaustos com a ascensão, eram atrozmente repelidos, e expulsos com grandes perdas. O campo de carnificina ficou juncado de cadáveres. O exército de Israel foi derrotado completamente. Destruição e morte foram o resultado daquela experiência revoltosa. PP 285 2 Obrigados finalmente à submissão, os sobreviventes voltaram e choraram perante o Senhor, mas o Senhor não ouviu a sua voz. Deuteronômio 1:45. Pela sua assinalada vitória, os inimigos de Israel, que antes haviam esperado com tremor a aproximação daquele poderoso exército, inspiraram-se de confiança para lhes resistir. Todas as notícias que tinham ouvido concernentes às coisas maravilhosas que Deus operara pelo Seu povo, consideravam agora falsas, e entendiam não haver motivos de receio. Aquela primeira derrota de Israel, inspirando os cananeus com coragem e resolução, aumentara grandemente as dificuldades da conquista. Nada restava a Israel senão recuar da face de seus vitoriosos adversários para o deserto, sabendo que ali deveria ser o túmulo de uma geração inteira. ------------------------Capítulo 35 -- A rebelião de Coré PP 286 0 Este capítulo é baseado em Números 16-17. PP 286 1 Os juízos com que foram atingidos os israelitas serviram durante algum tempo para restringir-lhes a murmuração e indisciplina, mas o espírito rebelde ainda estava no coração, e finalmente produziu os mais amargos frutos. As rebeliões anteriores tinham sido meros tumultos populares, surgindo dos impulsos momentâneos da multidão exaltada; agora, porém, formou-se uma conspiração muito bem fundamentada, como resultado de um propósito decidido de subverter a autoridade dos líderes designados pelo próprio Deus. PP 286 2 Coré, o espírito dirigente deste movimento, era levita, da família de Coate, e primo de Moisés; era homem de habilidade e influência. Embora designado para o serviço do tabernáculo, descontentara-se com sua posição, e aspirara à dignidade do sacerdócio. A concessão a Arão e sua casa do ofício sacerdotal, que anteriormente tocava ao filho primogênito de cada família, dera origem a inveja e dissabor, e por algum tempo Coré estivera secretamente a opor-se à autoridade de Moisés e Arão, se bem que não se arriscasse a um ato manifesto de rebelião. Finalmente concebeu o ousado plano de subverter tanto a autoridade civil como a religiosa. Não deixou de achar quem o apoiasse. Junto às tendas de Coré e dos coatitas, do lado sul do tabernáculo, achava-se o acampamento da tribo de Rúben, estando as tendas de Datã e Abirã, dois príncipes desta tribo, próximas da de Coré. Estes príncipes prontamente aderiram aos planos ambiciosos daquele. Sendo descendentes do filho mais velho de Jacó, pretendiam que a autoridade civil lhes pertencesse, e decidiram-se a dividir com Coré as honras do sacerdócio. PP 286 3 O estado dos sentimentos entre o povo favorecia os desígnios de Coré. Na amargura de seu desapontamento, voltaram-lhes as dúvidas, inveja e ódio anteriores, e de novo dirigiram queixas contra o paciente líder. Os israelitas estavam continuamente a perder de vista que se encontravam sob guia divina. Esqueciam-se de que o Anjo do concerto era seu diretor invisível, e que, velada pela coluna de nuvem, a presença de Cristo ia adiante deles, e dEle Moisés recebia todas as instruções. PP 286 4 Estavam indispostos a sujeitar-se à terrível sentença pela qual todos deviam morrer no deserto, e daí o acharem-se prontos a apanhar qualquer pretexto para crer que não era Deus mas Moisés que os estava guiando, e pronunciara a sua condenação. Os maiores esforços do homem mais manso da Terra não puderam abafar a insubordinação daquele povo; e, embora os sinais do desprazer de Deus por ocasião de sua perversidade anterior ainda estivessem diante deles, incompletos em suas fileiras, não levavam a sério a lição. Novamente foram vencidos pela tentação. PP 287 1 A vida humilde de Moisés, como pastor, fora muito mais pacífica e feliz do que sua posição atual como dirigente daquela vasta assembléia de espíritos turbulentos. Contudo Moisés não ousava fazer sua escolha. Em lugar do cajado de pastor fora-lhe dada uma vara de poder, a qual ele não poderia depor antes que Deus o desobrigasse. PP 287 2 Aquele que lê os segredos de todos os corações, notara os propósitos de Coré e seus companheiros, e dera a Seu povo aviso e instrução suficientes para os habilitarem a livrar-se do engano daqueles homens mal-intencionados. Tinham visto os juízos de Deus recaírem em Miriã por causa de sua inveja e queixas contra Moisés. O Senhor declarara que Moisés era maior do que profeta. "Boca a boca falo com ele." "Por que, pois", acrescentou Ele, "não tivestes temor de falar contra o Meu servo, contra Moisés?" Números 12:8. Estas instruções não se destinavam a Arão e Miriã somente, mas a todo o Israel. PP 287 3 Coré e seus companheiros de conspiração eram homens que haviam sido favorecidos com manifestações especiais do poder e grandeza de Deus. Faziam parte do número dos que subiram com Moisés ao monte, e viram a glória divina. Mas desde aquele tempo operara-se uma mudança. Uma tentação, leve a princípio, fora abrigada, e fortalecera-se ao ser alimentada, até que a mente foi dirigida por Satanás, e aventuraram-se a entrar em sua obra de desafeto. Dizendo ter grande interesse na prosperidade do povo, falaram a princípio, uns com outros, ocultamente, a respeito de seu descontentamento, e a seguir falaram aos homens dirigentes de Israel. Suas insinuações foram tão prontamente recebidas que se arriscaram ainda mais, e afinal acreditaram realmente estarem agindo pelo zelo de Deus. PP 287 4 Foram bem-sucedidos em aliciar duzentos e cinqüenta príncipes, homens de renome na congregação. Com este forte e influente apoio, sentiram-se confiantes em que fariam uma mudança radical no governo, e melhorariam grandemente a administração de Moisés e Arão. PP 287 5 O ciúme dera origem à inveja e a inveja à rebelião. Haviam discutido a questão do direito de Moisés a sua tão grande autoridade e honra, até que vieram a considerá-lo ocupante de uma posição muito invejável, que qualquer deles poderia deter tão bem quanto ele. E enganaram-se a si mesmos e uns aos outros, pensando que Moisés e Arão tinham por si mesmos assumido as posições que ocupavam. Os descontentes disseram que esses chefes se haviam exaltado sobre a congregação do Senhor, tomando para si o sacerdócio e o governo; mas sua casa não tinha direito à distinção de superioridade às outras de Israel; não eram mais santos do que o povo, e ser-lhes-ia bastante estar no mesmo nível de seus irmãos, que eram igualmente favorecidos com a presença e proteção especial de Deus. PP 288 1 A obra imediata dos conspiradores foi com o povo. Àqueles que estão no erro, e merecem reprovação, nada há mais agradável do que receber simpatia e louvor. E, assim, Coré e seus companheiros obtiveram a atenção e conseguiram o apoio do povo. A notícia de que as murmurações do povo acarretaram sobre eles a ira de Deus, declarou-se ser um engano. Disseram que a congregação não estava em falta, visto que não desejavam nada mais que seus direitos; mas que Moisés era um governador déspota; que ele reprovara o povo como pecadores, sendo eles um povo santo, e estando o Senhor entre eles. PP 288 2 Coré passou em revista a história de suas viagens através do deserto, onde haviam sido levados a situações angustiosas, e muitos pereceram por causa de sua murmuração e desobediência. Seus ouvintes julgaram ver claramente que suas dificuldades poderiam ter sido evitadas se Moisés tivesse adotado procedimento diverso. Concluíram que todos os seus fracassos eram atribuíveis a ele, e sua exclusão de Canaã fora em conseqüência da má administração de Moisés e Arão; que, se Coré fosse o seu dirigente, e os animasse ocupando-se com suas boas ações em vez de lhes reprovar os pecados, teriam uma jornada muito pacífica e próspera; em vez de vaguearem de um lado para outro no deserto, seguiriam diretamente para a Terra Prometida. PP 288 3 Nesta obra inspiradora de desafeição, houve maior união e harmonia entre os elementos discordantes da congregação do que já existira antes. O êxito de Coré junto ao povo aumentou-lhe a confiança, e confirmou-o em sua crença de que a usurpação da autoridade por Moisés, a não ser reprimida, seria fatal à liberdade de Israel; pretendia também que Deus lhe patenteara a questão, e o autorizara a fazer uma mudança no governo antes que fosse demasiado tarde. Muitos, porém, não estavam prontos a aceitar as acusações de Coré contra Moisés. A lembrança de seus pacientes e abnegados labores surgia diante deles, e a consciência se lhes perturbava. Era portanto necessário indicar algum motivo egoísta pelo seu profundo interesse para com Israel; e reiterou-se a antiga acusação de que ele os tirara a fim de perecerem no deserto, para que pudesse apoderar-se de seus bens. PP 288 4 Durante algum tempo esta obra foi promovida em segredo. Entretanto, logo que o movimento ganhou força suficiente para garantir uma explosão franca, Coré apareceu à frente do partido, e acusou publicamente a Moisés e Arão de usurparem a autoridade de que ele, Coré, e seus companheiros tinham igualmente direito de participar. Houve além disso a acusação de que o povo fora despojado de sua liberdade e independência. "Demais é já", disseram os conspiradores, "pois que toda a congregação é santa, todos eles são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?" PP 288 5 Moisés não suspeitara desta trama tão cuidadosamente urdida, e, quando sua terrível significação lhe ocorreu, caiu sobre seu rosto em um apelo silencioso a Deus. Levantou-se triste, em verdade, mas calmo e forte. Fora-lhe concedida direção divina. "Amanhã pela manhã", disse ele, "o Senhor fará saber quem é Seu, e quem o santo que Ele fará chegar a Si; e aquele a quem escolher fará chegar a Si." A prova deveria ser transferida até o dia seguinte, a fim de que todos pudessem ter tempo para refletir. Então aqueles que aspiravam ao sacerdócio deveriam vir cada um com o incensário, e oferecer incenso no tabernáculo, na presença da congregação. A lei era muito explícita de que unicamente os que haviam sido ordenados para o ofício sagrado deviam ministrar no santuário. E mesmo os sacerdotes Nadabe e Abiú tinham sido destruídos por se arriscarem a oferecer "fogo estranho", em desrespeito ao mandado divino. Todavia Moisés desafiou os seus acusadores a levar a questão perante Deus, caso ousassem recorrer a tão perigoso apelo. PP 289 1 Separando a Coré, e aos levitas seus companheiros, disse Moisés: "Porventura pouco para vós é que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a Si, a administrar o ministério do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe; e te fez chegar, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo; ainda também procurais o sacerdócio? Pelo que tu e toda a tua congregação congregados estais contra o Senhor; e Arão, que é ele, que murmurais contra ele?" PP 289 2 Datã e Abirã não haviam assumido atitude tão ousada como Coré; e Moisés, esperando que eles pudessem ter sido arrastados para a conspiração sem se haverem completamente corrompido, chamou-os para que comparecessem perante ele, a fim de poder ouvir suas acusações contra ele. Mas não quiseram ir, e insolentemente se recusaram a reconhecer a sua autoridade. Sua resposta, proferida aos ouvidos da congregação, foi: "Porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também totalmente te assenhoreias de nós? Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campos e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos". Números 16:5-14. PP 289 3 Assim eles aplicaram ao cenário de seu cativeiro a mesma expressão com que o Senhor descrevera a herança prometida. Acusaram Moisés de pretender agir sob guia divina, como meio para estabelecer sua autoridade; e declararam que não mais se sujeitariam a ser levados como homens cegos, ora para Canaã, e ora para o deserto, conforme melhor conviesse a seus ambiciosos intuitos. Assim, aquele que fora como um terno pai, um pastor paciente, foi representado no mais negro caráter de um tirano e usurpador. A exclusão de Canaã, como castigo aos seus próprios pecados, foi a ele atribuída. PP 289 4 Era evidente que as simpatias do povo estavam com o partido desafeto; mas Moisés não fez esforços para a reivindicação própria. Apelou solenemente a Deus, na presença da congregação, como testemunha da pureza de seus intuitos e correção de sua conduta, e implorou-Lhe que fosse seu Juiz. PP 290 1 No dia seguinte, os duzentos e cinqüenta príncipes, com Coré à sua frente, apresentaram-se com seus incensários. Foram levados ao pátio do tabernáculo, enquanto o povo se reuniu fora, para esperar o resultado. Não foi Moisés que reuniu a congregação para ver a derrota de Coré e seu grupo, mas sim os rebeldes, em sua cega presunção, congregaram-nos para testemunharem sua vitória. Grande parte da congregação tomou francamente o lado de Coré, cujas esperanças de provar suas acusações contra Arão eram grandes. PP 290 2 Enquanto estavam assim congregados diante de Deus, "a glória do Senhor apareceu a toda a congregação". Foi comunicada a Moisés e Arão a advertência divina: "Apartai-vos do meio desta congregação, e os consumirei como num momento." Mas eles caíram sobre o seu rosto, com esta oração: "Ó Deus, Deus dos espíritos de toda a carne, pecará um só homem, e indignar-Te-ás Tu tanto contra toda esta congregação?" PP 290 3 Coré retirara-se da assembléia a fim de reunir-se com Datã e Abirã, quando Moisés, acompanhado dos setenta anciãos, desceu com um último aviso aos homens que se haviam recusado a ir a ele. As multidões seguiram e, antes de comunicar sua mensagem, Moisés, por direção divina, ordenou ao povo: "Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes ímpios homens, e não toqueis nada do que é seu, para que porventura não pereçais em todos os seus pecados". Números 16:19-26. O aviso foi atendido, pois uma apreensão de juízo iminente repousava sobre todos. Os chefes dos rebeldes viram-se abandonados por aqueles a quem haviam enganado, mas sua dureza ficou inabalável. Permaneceram com suas famílias às portas de suas tendas, como que em desafio à advertência divina. PP 290 4 Em nome do Deus de Israel, Moisés declarou agora aos ouvidos da congregação: "Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem. Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se forem visitados como se visitam todos os homens, então o Senhor me não enviou. Mas, se o Senhor criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo que é seu, e vivos descerem ao sepulcro, então conhecereis que estes homens irritaram ao Senhor". Números 16:28-30. PP 290 5 Os olhares de todo o Israel estavam fixos em Moisés, enquanto se achavam aterrorizados e expectantes, aguardando os acontecimentos. Cessando ele de falar, a terra sólida partiu-se, e os rebeldes desceram vivos para o abismo, com tudo que lhes pertencia, e "pereceram no meio da congregação". Números 16:33. O povo fugiu, condenando-se a si próprio, como participantes do pecado. PP 290 6 Mas os juízos não haviam terminado. Fogo que flamejou da nuvem consumiu os duzentos e cinqüenta príncipes que tinham oferecido incenso. Estes homens, não sendo os primeiros na rebelião, não foram destruídos com os principais conspiradores. Foi-lhes permitido ver o fim daqueles, e ter oportunidade para o arrependimento; mas suas simpatias estavam com os rebeldes, e partilharam de sua condenação. PP 291 1 Quando Moisés estava rogando a Israel para que fugisse da destruição vindoura, poder-se-ia mesmo ter detido então o juízo divino, se Coré e seu grupo se arrependessem e buscassem perdão. Sua obstinada persistência, porém, selou-lhes a condenação. A congregação inteira foi participante de seu crime, pois que todos, em maior ou menor grau, haviam contemporizado com eles. Deus, todavia, em Sua grande misericórdia, fizera distinção entre os chefes da rebelião e aqueles a quem haviam conduzido. Ao povo que se deixara enganar concedeu-se ainda tempo para o arrependimento. Dera-se prova esmagadora de que estavam em erro, e de que Moisés estava com a razão. A notável manifestação do poder de Deus removera toda a incerteza. PP 291 2 Jesus, o Anjo que ia adiante dos hebreus, procurou salvá-los da destruição. O perdão continuava ainda ao seu alcance. Os juízos de Deus tinham vindo muito perto, incitando-os a que se arrependessem. Uma especial, irresistível intervenção do Céu, fizera deter sua rebelião. Agora, se correspondessem à interferência da providência de Deus, poderiam salvar-se. Mas, conquanto fugissem dos juízos pelo temor da destruição, sua rebelião não estava curada. Voltaram às suas tendas naquela noite, aterrorizados, mas não arrependidos. PP 291 3 Tinham sido lisonjeados por Coré e seu grupo a ponto de chegarem a crer que eram realmente um povo muito bom, e que haviam sido lesados e maltratados por Moisés. Caso admitissem que Coré e seu grupo estavam em erro, e Moisés com a razão, seriam então compelidos a reconhecer como palavra de Deus a sentença de que deveriam morrer no deserto. Não estavam dispostos a sujeitar-se a isto, e procuraram crer que Moisés os enganara. Tinham alimentado carinhosamente a esperança de que uma nova ordem de coisas estivesse prestes a estabelecer-se, na qual a reprovação seria substituída pelo louvor, e a ansiedade e conflito, pela comodidade. Os homens que pereceram haviam proferido palavras lisonjeiras, e dito possuir grande interesse e amor por eles; e o povo concluiu que Coré e seus companheiros deviam ter sido bons homens, e que Moisés por algum meio fora a causa de sua destruição. PP 291 4 Dificilmente poderão os homens cometer maior insulto a Deus do que desprezar e rejeitar os instrumentos que deseja usar para a salvação deles. Os israelitas não somente fizeram isto, mas propuseram-se a matar Moisés e Arão. Não compreendiam, entretanto, a necessidade de buscar o perdão de Deus, pelo seu enorme pecado. Aquela noite de prova não foi passada em arrependimento e confissões, mas à procura de algum meio para resistir às evidências que lhes mostravam serem os maiores pecadores. Alimentavam ódio contra os homens que haviam sido por Deus designados, e uniram-se a fim de resistirem à autoridade dos mesmos. Satanás estava a postos para perverter-lhes o discernimento e levá-los de olhos vendados à destruição. PP 292 1 Todo Israel fugira alarmado ao grito dos pecadores condenados que desceram ao abismo, pois disseram: "Para que porventura também nos não trague a terra a nós." "Mas no dia seguinte toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão, dizendo: Vós matastes o povo do Senhor." E estavam a ponto de fazer violência aos fiéis e abnegados chefes. PP 292 2 Viu-se na nuvem por cima do tabernáculo uma manifestação da glória divina, e uma voz da nuvem falou a Moisés e Arão: "Levantai-vos do meio desta congregação, e a consumirei como num momento". Números 16:34, 41, 45. PP 292 3 A culpa do pecado não recaía sobre Moisés, e portanto ele não receou, e não se apressou em retirar-se e deixar a congregação para que perecesse. Moisés demorou-se, manifestando neste terrível momento crítico o interesse do verdadeiro pastor pelo rebanho ao seu cuidado. Advogou para que a ira de Deus não destruísse inteiramente o povo de Sua escolha. Pela sua intercessão deteve o braço da vingança, para que o rebelde e desobediente Israel não tivesse um fim total. PP 292 4 Mas o ministrador da ira saíra; a praga estava a fazer a sua obra de morte. Por determinação de seu irmão, Arão tomou um incensário, e foi apressadamente ao meio da congregação para fazer "expiação por eles". "E estava em pé entre os mortos e os vivos". Números 16:48. Enquanto subia o fumo do incenso, as orações de Moisés no tabernáculo ascendiam a Deus; e a praga deteve-se, mas não antes que catorze mil de Israel jazessem mortos, como prova do crime de murmuração e rebelião. PP 292 5 Deu-se, entretanto, mais prova de que o sacerdócio fora estabelecido na família de Arão. Por determinação divina cada tribo preparou uma vara, e escreveu nela o nome da tribo. O nome de Arão estava na de Levi. As varas foram postas "perante o Senhor na tenda do testemunho". A florescência de qualquer vara deveria ser sinal de que o Senhor escolhera aquela tribo para o sacerdócio. Na manhã seguinte, "eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores, e brotara renovos e dera amêndoas". Foi mostrada ao povo, e depois posta no tabernáculo como testemunho às gerações subseqüentes. Este prodígio decidiu finalmente a questão do sacerdócio. PP 292 6 Ficou agora plenamente estabelecido que Moisés e Arão tinham falado por autoridade divina; e o povo foi constrangido a crer na desagradável verdade de que morreriam no deserto. PP 292 7 "Eis aqui, nós expiramos", exclamaram; "perecemos, nós perecemos todos". Números 17:7, 8, 12. Confessaram haver pecado, rebelando-se contra seus dirigentes, e ter Coré e seu grupo sofrido o justo juízo de Deus. PP 292 8 Na rebelião de Coré, vêem-se, em um cenário menor, os resultados do mesmo espírito que determinou a rebelião de Satanás no Céu. Foi o orgulho e a ambição que moveram Lúcifer a queixar-se do governo de Deus, e procurar subverter a ordem que fora estabelecida no Céu. Desde sua queda tem sido o seu objetivo infundir nas mentes humanas o mesmo espírito de inveja e descontentamento, a mesma ambição de posições e honras. Assim agiu ele na mente de Coré, Datã e Abirã, para suscitar o desejo de exaltação própria, e provocar inveja, falta de confiança e rebelião. Satanás, fazendo-os rejeitar os homens que Deus designara, fê-los rejeitar a Deus como seu líder. Contudo, ao mesmo tempo em que com sua murmuração contra Moisés e Arão blasfemavam de Deus, estavam tão iludidos que se julgavam justos, e consideravam como tendo sido dirigidos por Satanás aqueles que fielmente haviam reprovado seus pecados. PP 293 1 Não existem ainda os mesmos males que jazem no fundamento da ruína de Coré? O orgulho e a ambição estão espalhados; e, quando são acalentados, abrem a porta à inveja, e a uma luta pela supremacia; a alma é alienada de Deus, e inconscientemente arrastada às fileiras de Satanás. Semelhantes a Coré e seus companheiros, muitos, mesmo dos professos seguidores de Cristo, estão a pensar, projetar e agir com tanta avidez pela exaltação própria que, para o fim de alcançar a simpatia e o apoio do povo, estão prontos a perverter a verdade, atraiçoando e caluniando os servos do Senhor, e mesmo acusando-os dos motivos vis e egoístas que lhes inspira o próprio coração. Reiterando persistentemente a falsidade, e isso contra toda a evidência, chegam finalmente a crer ser ela verdade. Ao mesmo tempo em que se esforçam por destruir a confiança do povo nos homens que por Deus foram designados, acreditam realmente que se acham empenhados em uma boa obra, fazendo em verdade serviço para Deus. PP 293 2 Os hebreus não estavam dispostos a sujeitar-se às determinações e restrições do Senhor. Inquietavam-se com sofrerem restrições, e não se dispunham a ser reprovados. Tal era o segredo de sua murmuração contra Moisés. Ficassem livres para fazerem conforme lhes aprouvesse, e teria havido menos queixas contra seu chefe. Durante toda a história da igreja, os servos de Deus têm tido o mesmo espírito a defrontar. PP 293 3 Por uma condescendência pecaminosa é que os homens dão a Satanás acesso à sua mente, e vão de um grau de impiedade a outro. A rejeição da luz lhes entenebrece a mente e endurece o coração, de modo que lhes é mais fácil dar o passo imediato no pecado, e rejeitar luz ainda mais clara, até que afinal seus hábitos de fazerem mal se tornam fixos. O pecado deixa de lhes parecer pecaminoso. Aquele que com fidelidade prega a Palavra de Deus, condenando deste modo seus pecados, mui freqüentemente incorre no seu ódio. Indispostos a suportar a dor e o sacrifício necessários à sua correção, voltam-se contra o servo do Senhor e denunciam-lhe as reprovações como inoportunas e severas. Semelhantes a Coré, declaram que o povo não está em falta; é aquele que reprova que ocasiona toda a dificuldade. E, acalmando a consciência com esta falácia, os ciosos e desafetos combinam semear discórdia na igreja, e enfraquecer as mãos daqueles que a querem edificar. PP 294 1 Todo o progresso feito por aqueles a quem Deus chamou para tomar parte na direção de Sua obra, tem provocado suspeita; cada um de seus atos tem sido desvirtuado pelos que são invejosos e críticos. Assim foi no tempo de Lutero, dos Wesleys e de outros reformadores. Assim é hoje. PP 294 2 Coré não teria seguido o caminho por onde foi, se tivesse sabido que todas as instruções e reprovações comunicadas a Israel eram de Deus. Ele podia, entretanto, ter sabido isto. Deus dera prova esmagadora de que estava guiando Israel. Mas Coré e seus companheiros rejeitaram a luz até se tornarem tão cegos que mesmo as mais notáveis manifestações de Seu poder não bastavam para os convencer; atribuíam-nas todas a operações humanas ou satânicas. A mesma coisa fora feita pelo povo que, no dia seguinte ao da destruição de Coré e seu grupo, veio a Moisés e Arão, dizendo: "Vós matastes o povo do Senhor". Números 16:41. Apesar de terem tido a prova mais convincente do desagrado de Deus pela sua conduta, na destruição dos homens que os haviam enganado, ousaram atribuir Seus juízos a Satanás, declarando que, pelo poder do maligno, Moisés e Arão tinham ocasionado a morte de homens bons e santos. Foi este ato que selou a condenação deles. Haviam cometido o pecado contra o Espírito Santo, pecado este em virtude do qual o coração do homem eficazmente se endurece contra a influência da graça divina. "Se qualquer disser uma palavra contra o Filho do homem", disse Cristo, "ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado". Mateus 12:32. Estas palavras foram proferidas por nosso Salvador quando as obras cheias de graça que realizara pelo poder de Deus, foram atribuídas pelos judeus a Belzebu. É mediante a operação do Espírito Santo que Deus Se comunica com o homem; e aqueles que deliberadamente rejeitam esta operação como satânica, interceptaram o conduto que estabelece comunicação entre a pessoa e o Céu. PP 294 3 Deus opera pela manifestação de Seu Espírito para reprovar e convencer o pecador; e, se a obra do Espírito é finalmente rejeitada, nada mais há que Deus possa fazer pela alma. O último recurso da misericórdia divina foi empregado. O transgressor desligou-se de Deus; e o pecado não tem remédio para curar a si mesmo. Não há uma reserva de poder pela qual Deus possa operar para convencer e converter o pecador. "Deixa-o" (Oséias 4:17), é a ordem divina. Então, "já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários". Hebreus 10:26, 27. ------------------------Capítulo 36 -- No deserto PP 295 1 Durante quase quarenta anos, os filhos de Israel perdem-se de vista na obscuridade do deserto. "E os dias que caminhamos, desde Cades-Barnéia até que passamos o ribeiro de Zerede", diz Moisés, "foram trinta e oito anos, até que toda aquela geração dos homens de guerra se consumiu do meio do arraial, como o Senhor lhes jurara. Assim também foi contra eles a mão do Senhor, para os destruir do meio do arraial até os haver consumido". Deuteronômio 2:14, 15. PP 295 2 Durante esses anos, lembrava-se constantemente ao povo que se achavam sob a reprovação divina. Na rebelião em Cades tinham rejeitado a Deus; e Deus, durante aquele tempo, os rejeitara. Visto que se haviam mostrado infiéis para com o Seu concerto, não deveriam receber o sinal desse concerto: o rito da circuncisão. Seu desejo de voltar à terra da escravidão mostrara serem eles indignos da liberdade, e a ordenação da Páscoa, instituída para comemorar o livramento do cativeiro, não deveria ser observada. PP 295 3 Contudo, a continuação do serviço no tabernáculo, atestava que Deus não abandonara completamente Seu povo. E Sua providência supria-lhes ainda as necessidades. "O Senhor teu Deus te abençoou em toda a obra das tuas mãos", disse Moisés, referindo a história de suas peregrinações. "Ele sabe que andas por este grande deserto; estes quarenta anos o Senhor teu Deus esteve contigo, coisa alguma te faltou". Deuteronômio 2:7. E o hino dos levitas, registrado por Neemias, descreve vividamente o cuidado de Deus por Israel, mesmo durante aqueles anos de rejeição e banimento: "Tu, pela multidão das Tuas misericórdias, os não deixaste no deserto. A coluna de nuvem nunca deles se apartou de dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de fogo de noite, para os alumiar e mostrar o caminho por onde haviam de ir. E deste o Teu bom Espírito, para os ensinar; e o Teu maná não retiraste da sua boca; e água lhes deste na sua sede. Desse modo os sustentaste quarenta anos no deserto; [...] seus vestidos se não envelheceram, e os seus pés se não incharam". Neemias 9:19-21. PP 295 4 A peregrinação pelo deserto não foi simplesmente ordenada como um juízo sobre os rebeldes e murmuradores, mas servia à geração que crescia, como disciplina preparatória à sua entrada na Terra Prometida. Moisés declarou-lhes: "Como um homem castiga a seu filho, assim te castiga o Senhor teu Deus", "para te humilhar, e te tentar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os Seus mandamentos, ou não. E [...] te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem". Deuteronômio 8:5, 2, 3. PP 296 1 "Achou-o na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho". Deuteronômio 32:10. "Em toda a angústia deles foi Ele angustiado, e o Anjo da Sua face os salvou; pelo Seu amor, e pela sua compaixão Ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade". Isaías 63:9. PP 296 2 Todavia, os únicos relatos de sua vida no deserto são exemplos de rebelião contra o Senhor. Da revolta de Coré resultou a destruição de catorze mil pessoas de Israel. E houve casos isolados que mostram o mesmo espírito de desdém pela autoridade divina. PP 296 3 Uma ocasião, o filho de uma mulher israelita e um egípcio (sendo este da mistura de gente que com Israel subira do Egito), deixou a parte que lhe era própria no acampamento, e, entrando na dos israelitas, pretendeu ter direito de armar sua tenda ali. Isto a lei divina lhe vedava fazer, sendo os descendentes de um egípcio excluídos da congregação até à terceira geração. Uma contenda surgiu entre ele e um israelita, e a questão, sendo referida aos juízes, foi decidida contra o transgressor. PP 296 4 Enraivecido com esta decisão, amaldiçoou o juiz, e no ardor de sua paixão blasfemou do nome de Deus. Foi imediatamente levado perante Moisés. Havia sido dada esta ordem: "Quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá" (Êxodo 21:17); mas disposição alguma fora tomada para atender a este caso. Tão terrível era o crime que foi sentida a necessidade de direção especial de Deus. O homem foi posto em guarda até que se pudesse saber a vontade do Senhor. Deus mesmo pronunciou a sentença; por determinação divina o homem blasfemo foi conduzido para fora do acampamento e apedrejado. Aqueles que tinham sido testemunhas do pecado, colocaram as mãos sobre sua cabeça, testificando desta maneira solenemente da verdade da acusação contra ele. Então atiraram as primeiras pedras, e o povo que estava ao lado uniu-se a seguir na execução da sentença. PP 296 5 Isso foi seguido do anúncio de uma lei para enfrentar a faltas idênticas: "E aos filhos de Israel falarás, dizendo: Qualquer que amaldiçoar o seu Deus, levará sobre si o seu pecado. E aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto". Levítico 24:15, 16. PP 296 6 Há os que porão em dúvida o amor de Deus e Sua justiça, infligindo tão severo castigo por palavras faladas no ardor da paixão. Mas tanto o amor como a justiça exigem que se mostre serem as palavras inspiradas pela maldade contra Deus um grande pecado. A paga que recaiu sobre o primeiro transgressor seria um aviso para os outros, de que o nome de Deus deve ser tido em reverência. Mas caso se houvesse permitido que o pecado deste homem passasse sem punição, outros se teriam desmoralizado; e, como resultado, muitas vidas finalmente deveriam ser sacrificadas. PP 297 1 A mistura de gente que com os israelitas subira do Egito era uma fonte contínua de tentação e dificuldades. Professavam ter renunciado à idolatria, e adorar o verdadeiro Deus; mas sua primitiva educação e ensino lhes haviam modelado os hábitos de caráter, e estavam mais ou menos corrompidos pela idolatria e irreverência para com Deus. Eram os que mais freqüentemente suscitavam contendas e os primeiros a queixar-se, e contaminavam o acampamento com suas práticas idólatras e murmurações contra Deus. PP 297 2 Logo depois da volta ao deserto, ocorreu um caso de violação do sábado, sob circunstâncias que o tornavam de uma culpabilidade peculiar. O anúncio do Senhor de que deserdaria Israel, despertara um espírito de rebelião. Alguém do povo, irado por ser excluído de Canaã, e decidido a mostrar seu desafio à lei de Deus, atreveu-se a uma transgressão declarada do quarto mandamento, indo apanhar lenha no sábado. Durante a permanência no deserto fora estritamente proibido acender fogo no sétimo dia. A proibição não se estendia à terra de Canaã, onde muitas vezes a inclemência do clima tornaria necessário o fogo; mas no deserto o fogo não era necessário para aquecer. O ato deste homem foi uma violação voluntária e deliberada do quarto mandamento -- pecado este não cometido por inadvertência ou ignorância, mas por presunção. PP 297 3 Ele foi apanhado no ato e trazido a Moisés. Já havia sido declarado que a violação do sábado seria punida com a morte; mas ainda não fora revelado como a pena deveria ser infligida. O caso foi levado por Moisés perante o Senhor, que deu esta instrução: "Certamente morrerá o tal homem; toda a congregação com pedras o apedrejará para fora do arraial". Números 15:35. Os pecados de blasfêmia e voluntária violação do sábado recebiam o mesmo castigo, sendo igualmente uma expressão de desprezo pela autoridade de Deus. PP 297 4 Em nossos tempos muitos há que rejeitam o sábado da criação como uma instituição judaica, e insistem em que, se o mesmo deve ser guardado, a pena de morte deverá ser infligida pela sua violação; vemos, porém, que a blasfêmia recebia o mesmo castigo que a violação do sábado. Concluiremos pois que o terceiro mandamento também deve ser posto de lado como aplicável só aos judeus? No entanto o argumento tirado da pena de morte aplica-se ao terceiro, ao quinto, e na verdade a quase todos os dez preceitos, do mesmo modo que ao quarto. Posto que Deus não castigue hoje a transgressão de Sua lei com castigos temporais, Sua Palavra declara, todavia, que o salário do pecado é a morte; e na execução final do juízo achar-se-á que a morte é o quinhão daqueles que violam Seus sagrados preceitos. PP 298 1 Durante todos os quarenta anos no deserto, recordava-se semanalmente ao povo a sagrada obrigação do sábado, pelo milagre do maná. Contudo mesmo isto não os levava à obediência. Se bem que não se atrevessem a uma transgressão tão franca e ousada como a que recebera assinalada punição, havia, entretanto, grande frouxidão na observância do quarto mandamento. Deus declara pelo Seu profeta: "Profanaram grandemente os Meus sábados". Ezequiel 20:13-24. E isto se conta entre as razões para a exclusão da primeira geração, da Terra Prometida. Não obstante, seus filhos não aprenderam a lição. Tal foi sua negligência do sábado durante os quarenta anos de vagueação que, embora Deus os não impedisse de entrar em Canaã, declarou que deveriam ser espalhados entre os gentios depois de seu estabelecimento na Terra Prometida. PP 298 2 De Cades os filhos de Israel voltaram ao deserto; e, terminado o período de sua permanência no deserto "os filhos de Israel, a congregação toda, vieram ao deserto de Zim, no primeiro mês. Ficou o povo em Cades". Números 20:1. PP 298 3 Ali morreu Miriã e foi sepultada. Daquela cena de júbilo nas praias do Mar Vermelho, quando, com cântico e danças para celebrar a vitória de Jeová, saiu Israel, até à sepultura no deserto, a qual acabou com o peregrinar de toda a sua vida -- tal foi a sorte de milhões que com grandes esperanças haviam saído do Egito. O pecado lhes arrebatara dos lábios a taça de bênçãos. Aprenderia a lição a geração seguinte? PP 298 4 "Com tudo isto ainda pecaram, e não deram crédito às Suas maravilhas. [...] Pondo-os Ele à morte, então O procuravam; e voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. E lembravam-se de que Deus era a sua Rocha, e o Deus altíssimo o seu Redentor". Salmos 78:32-35. Não voltavam, todavia, a Deus com propósito sincero. Se bem que, quando aflitos por seus inimigos, buscavam auxílio dAquele que unicamente poderia livrar, no entanto "o seu coração não era reto para com Ele, nem foram fiéis ao Seu concerto. Mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniqüidade, e não os destruiu; antes muitas vezes desviou deles a Sua cólera, [...] porque Se lembrou de que eram carne, um vento que passa e não volta". Salmos 78:37-39. ------------------------Capítulo 37 -- A rocha ferida PP 299 0 Este capítulo é baseado em Números 20:1-13. PP 299 1 Da rocha ferida em Horebe fluiu pela primeira vez a torrente viva que refrigerou Israel no deserto. Durante todas as suas vagueações, onde quer que fosse necessário, eram supridos de água com um milagre da misericórdia de Deus. A água não continuou, entretanto, a brotar de Horebe. Onde quer que em suas jornadas necessitavam de água, esta jorrava ali das fendas da rocha, ao lado de seu acampamento. PP 299 2 Era Cristo, pelo poder de Sua palavra, que fazia com que a torrente refrigerante vertesse para Israel. "Beberam todos duma mesma bebida espiritual, porque bebiam da Pedra espiritual que os seguia; e a Pedra era Cristo". 1 Coríntios 10:4. Ele era a fonte de todas as bênçãos temporais bem como espirituais. Cristo, a verdadeira Rocha, estava com eles em todas as suas peregrinações. "E não tinham sede, quando os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendendo Ele as rochas, as águas manavam delas". Isaías 48:21. "Brotaram águas, que correram pelos lugares secos como um rio". Salmos 105:41. PP 299 3 A rocha ferida era uma figura de Cristo, e por meio deste símbolo são-nos ensinadas as mais preciosas verdades espirituais. Assim como as águas vivificadoras brotavam da rocha ferida, assim de Cristo, "ferido de Deus", "ferido pelas nossas transgressões", "quebrantado pelas nossas iniqüidades" (Isaías 53:4, 5), a torrente de salvação flui para uma raça perdida. Assim como a rocha foi ferida uma vez, semelhantemente Cristo deveria ser oferecido "uma vez para tirar os pecados de muitos". Hebreus 9:28. Nosso Salvador não deveria ser sacrificado segunda vez; e é tão-somente necessário àqueles que buscam as bênçãos de Sua graça pedi-las em nome de Jesus, derramando o desejo de seu coração em uma prece feita no espírito de arrependimento. Tal oração levará perante o Senhor dos exércitos os ferimentos de Jesus, e então de novo fluirá o sangue doador de vida, simbolizado pelo fluir da água viva para Israel. PP 299 4 A emanação da água da rocha do deserto foi celebrada pelos israelitas, depois de seu estabelecimento em Canaã, com demonstrações de grande regozijo. No tempo de Cristo esta celebração se tornara uma cerimônia muito impressionante. Ocorria por ocasião da Festa dos Tabernáculos, quando o povo de toda a terra se congregava em Jerusalém. Em cada um dos sete dias da festa, os sacerdotes saíam com música e coro dos levitas a tirar água da fonte de Siloé, em um vaso de ouro. Eram seguidos pelas multidões de adoradores, em tão grande número quanto podiam ficar perto da fonte, dela bebendo, enquanto surgiam os acordes jubilosos: "Vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação". Isaías 12:3. A água tirada pelos sacerdotes era então levada ao templo, por entre sons de trombetas e o canto solene: "Nossos pés estarão dentro dos teus muros, ó Jerusalém". Salmos 122:2. A água era derramada sobre o altar do holocausto, enquanto repercutiam cânticos de louvor, unindo-se as multidões em coros triunfantes com instrumentos musicais e trombetas de baixo diapasão. PP 300 1 O Salvador fez uso desse cerimonial para encaminhar a mente do povo às bênçãos que Ele lhes viera trazer. "No último dia, o grande dia da festa", foi ouvida Sua voz em tons que repercutiam pelos pátios do templo: "Se alguém tem sede venha a Mim, e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios d'água viva correrão de seu ventre." "Isto", declarou João, "disse Ele do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem". João 7:37-39. A água refrigerante, borbulhando na terra ressequida e estéril, fazendo com que o deserto floresça, e fluindo para dar vida aos que perecem, é um emblema da graça divina que apenas Cristo pode conferir, e é como água viva, purificando, refrigerando a alma. Aquele em quem Cristo habita tem dentro de si uma fonte incessante de graça e força. Jesus consola a vida e ilumina a senda de todo aquele que em verdade O busca. Seu amor, recebido no coração, expandir-se-á em boas obras para vida eterna. E não somente abençoa a alma em que ele se expande, mas a torrente viva fluirá em palavras e ações de justiça, para refrigerar os sedentos em redor daquela pessoa. PP 300 2 A mesma figura empregou Cristo em Sua conversa com a mulher de Samaria, no poço de Jacó. "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água, que salta para a vida eterna". João 4:14. Cristo combina os dois tipos. Ele é a rocha, Ele é a água viva. PP 300 3 As mesmas figuras, belas e expressivas, encontram-se em toda a Bíblia. Séculos antes do advento de Cristo, Moisés O indicou como a rocha da salvação de Israel (Deuteronômio 32:15); o salmista dEle cantou como sendo "Libertador meu" (Salmos 19:14), "Rocha da minha fortaleza" (Salmos 62:7), "Rocha que é mais alta do que eu" (Salmos 61:2), "Rocha de habitação" (Salmos 71:3), "Rocha do meu coração" (Salmos 73:26), "Rocha em que me refugiei". Salmos 94:22. No cântico de Davi Sua graça é também descrita como águas frescas, "tranqüilas" (Salmos 23:2), entre verdes pastos, ao lado das quais o Pastor celestial guia Seu rebanho. Outra vez: Tu "os farás beber da corrente das Tuas delícias; porque em Ti está o manancial da vida". Salmos 36:8, 9. E o sábio declara: "Ribeiro transbordante é a fonte da sabedoria". Provérbios 18:4. Para Jeremias Cristo é "manancial de águas vivas" (Jeremias 2:13); para Zacarias "fonte aberta [...] contra o pecado, e contra a impureza". Zacarias 13:1. PP 301 1 Isaías descreve-O como "uma Rocha eterna" (Isaías 26:4), "sombra de uma grande rocha em terra sedenta". Isaías 32:2. E ele recorda a preciosa promessa, trazendo vividamente à lembrança a torrente viva que flui para Israel: "Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas Eu, o Senhor os ouvirei, Eu o Deus de Israel os não desampararei". Isaías 41:7. "Derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca" (Isaías 44:3); "águas arrebentarão no deserto, e ribeiros no ermo". Isaías 35:6. Faz-se o convite: "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas". Isaías 55:1. E nas páginas finais do Volume Sagrado este convite soa de novo. O rio da água da vida, "claro como cristal", provém do trono de Deus e do Cordeiro; e o convite cheio de graça repercute através dos séculos: "Quem quiser, tome de graça da água da vida". Apocalipse 22:17. PP 301 2 Precisamente antes de os hebreus chegarem a Cades, cessou a torrente viva que durante tantos anos jorrara ao lado de seu acampamento. Deus Se propusera novamente provar Seu povo. Prová-los-ia para ver se confiariam em Sua providência ou imitariam a incredulidade de seus pais. PP 301 3 Estavam agora à vista das colinas de Canaã. Alguns dias de marcha levá-los-iam às fronteiras da Terra Prometida. Achavam-se a pequena distância de Edom, que pertencia à descendência de Esaú, e através de cujo território se estendia o itinerário pelo qual deveriam ir a Canaã. Fora dada a Moisés a direção: "Virai-vos para o norte. E dá ordem ao povo, dizendo: Passareis pelos termos de vossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir; e eles terão medo de vós. [...] Comprareis, por dinheiro, comida para comerdes; e também água para beber deles comprareis por dinheiro". Deuteronômio 2:3-6. Estas instruções deveriam ter sido suficientes para explicar por que lhes fora cortado o suprimento de água; estavam prestes a passar através de um território bem regado e fértil, em caminho direto para a terra de Canaã. Deus lhes prometera uma passagem isenta de incômodos através de Edom, e oportunidades de comprar alimento e água também, suficientes para suprir as hostes. A cessação da miraculosa emanação de água devia ter sido, portanto, motivo de regozijo, sinal de que terminara a vagueação pelo deserto. Não houvessem eles se tornado cegos pela sua incredulidade, e teriam compreendido isto. Mas o que deveria ter sido prova do cumprimento da promessa de Deus, tornou-se motivo para dúvida e murmuração. O povo parecia ter abandonado toda esperança de que Deus os levaria à posse de Canaã, e clamaram pelas bênçãos do deserto. PP 301 4 Antes que Deus lhes permitisse entrar em Canaã, deviam mostrar que criam em Sua promessa. A água cessou antes que chegassem a Edom. Ali estava uma oportunidade para andarem, por algum tempo, pela fé em vez de pela vista. Mas a primeira prova suscitou o mesmo espírito turbulento e ingrato, manifestado por seus pais. Mal se ouviu no acampamento o clamor por água, e se esqueceram da mão que durante tantos anos lhes suprira as necessidades; e, em vez de volverem a Deus em busca de auxílio, murmuraram contra Ele, exclamando em seu desespero: "Oxalá tivéssemos expirado quando expiraram nossos irmãos perante o Senhor!" (Números 20:3); isto é, desejavam ter sido do número dos que foram destruídos na rebelião de Coré. PP 302 1 Seus clamores eram dirigidos contra Moisés e Arão: "Por que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para que morramos ali, nós e os nossos animais? E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este lugar mau? lugar não de semente, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber." PP 302 2 Os chefes foram à porta do tabernáculo, e caíram sobre seu rosto. Novamente "a glória do Senhor lhes apareceu", e determinou-se a Moisés: "Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os seus olhos, e dará a sua água; assim lhes tirarás água da rocha". Números 20:4, 5, 8. PP 302 3 Os dois irmãos foram perante a multidão, indo Moisés com a vara de Deus na mão. Eles eram agora homens idosos. Muito tempo haviam suportado a rebelião e obstinação de Israel; mas agora, finalmente, mesmo a paciência de Moisés vacilou. "Ouvi, agora, rebeldes", exclamou ele: "porventura, faremos sair água desta rocha para vós outros?" Números 20:10. E, em vez de falar à rocha, como Deus lhe mandara, feriu-a duas vezes com a vara. PP 302 4 A água jorrou em abundância, satisfazendo as hostes. Mas uma grande falta fora cometida. Moisés falara com sentimento de irritação; suas palavras eram uma expressão de paixão humana, em vez de santa indignação porque Deus houvesse sido desonrado. "Ouvi, agora, rebeldes", disse ele. Esta acusação era verdadeira, mas mesmo a verdade não deve ser falada com paixão nem impaciência. Quando Deus mandara Moisés acusar Israel de rebelião, as palavras lhe foram dolorosas, e difícil lhes era suportarem-nas; contudo Deus o amparara ao transmitir a mensagem. Mas quando tomou sobre si o acusá-los, agravou o Espírito de Deus, e apenas fez mal ao povo. Sua falta de paciência e domínio próprio eram evidentes. Assim foi dada ao povo ocasião para porem em dúvida que sua atuação passada fora sob a direção de Deus, e desculparem seus próprios pecados. Moisés, bem como eles, haviam ofendido a Deus. Sua conduta, disseram, fora desde o princípio passível de crítica e censura. Tinham achado agora o pretexto que desejavam para rejeitarem todas as reprovações que Deus lhes enviara mediante Seu servo. PP 302 5 Moisés manifestou falta de confiança em Deus. "Faremos sair água?" perguntou, como se o Senhor não fizesse o que prometera. "Não Me crestes a Mim", declarou o Senhor aos dois irmãos, "para Me santificar diante dos filhos de Israel". Números 20:10-13. Na ocasião em que a água faltou, sua própria fé no cumprimento da promessa de Deus fora abalada pela murmuração e rebelião do povo. A primeira geração foi condenada a perecer no deserto, por causa de sua incredulidade; contudo o mesmo espírito apareceu em seus filhos. Deixariam estes também de receber a promessa? Cansados e desalentados, Moisés e Arão não fizeram esforço algum para opor-se à corrente do sentimento popular. Houvessem eles manifestado fé inabalável em Deus, e poderiam ter posto a questão perante o povo sob um prisma que os teria habilitado a suportar esta prova. Mediante o exercício pronto e decisivo da autoridade a eles investida como magistrados, poderiam ter abafado a murmuração. Tinham o dever de fazer todo esforço possível para melhorar o estado de coisas, antes de pedirem a Deus que fizesse por eles o trabalho. Se a murmuração em Cades tivesse sido sustada de pronto, que cortejo de males se poderia ter evitado! PP 303 1 Por seu ato precipitado, Moisés tirou a força da lição que Deus Se propunha ensinar. A rocha, sendo um símbolo de Cristo, fora ferida uma vez, assim como Cristo uma vez seria oferecido. A segunda vez, era necessário apenas falar à rocha, assim como temos apenas de pedir bênçãos em nome de Jesus. Ferindo-se pela segunda vez a rocha, foi destruída a significação desta bela figura de Cristo. PP 303 2 Mais do que isto: Moisés e Arão tinham assumido poder que apenas pertence a Deus. A necessidade de intervenção divina tornava a ocasião de grande solenidade, e os chefes de Israel deviam tê-la aproveitado para impressionar o povo a fim de terem reverência para com Deus, e lhes fortalecer a fé em Seu poder e bondade. Quando iradamente exclamaram: "Tiraremos água desta rocha para vós?" (Números 20:10) puseram-se no lugar de Deus, como se o poder estivesse com eles, homens possuidores de fragilidades e paixões humanas. Cansado com a contínua murmuração e rebelião do povo, Moisés perdera de vista o seu todo-poderoso Auxiliador; e sem a força divina veio a macular o relato de seus feitos com uma exibição de fraqueza humana. O homem que poderia ter permanecido puro, firme e abnegado até o final de sua obra, fora finalmente vencido. Deus fora desonrado perante a congregação de Israel, quando devia ter sido engrandecido e exaltado. PP 303 3 Deus não pronunciou nesta ocasião juízos sobre aqueles cuja ímpia conduta de tal maneira provocara a Moisés e Arão. Toda a reprovação recaiu sobre os dirigentes. Os que se achavam como os representantes de Deus não O haviam honrado. Moisés e Arão sentiram-se ofendidos, perdendo de vista que a murmuração do povo não era contra eles mas contra Deus. Foi por olharem a si mesmos, por apelarem para sua própria simpatia, que inconscientemente caíram em pecado, e deixaram de pôr perante o povo o seu grande delito para com Deus. PP 303 4 Amargo e profundamente humilhante foi o juízo imediatamente pronunciado. "Porquanto não Me crestes a Mim, para Me santificar diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação na terra que lhes tenho dado." Juntamente com o rebelde Israel deviam morrer antes de atravessarem o Jordão. Se Moisés e Arão houvessem estado a acalentar uma elevada opinião de si mesmos, ou condescender com um espírito apaixonado, em face da advertência e reprovação divina, sua culpa teria sido muito maior. Mas não se lhes atribuía pecado voluntário nem premeditado; haviam sido vencidos por uma tentação súbita, e sua contrição foi imediata e provinha do coração. O Senhor aceitou seu arrependimento, embora não pudesse remover a punição, por causa do mal que seu pecado poderia fazer entre o povo. PP 304 1 Moisés não ocultou a sua sentença, mas contou ao povo que, visto ter deixado de conferir glória a Deus, não os poderia guiar à Terra Prometida. Mandou-os notar o severo castigo com que fora atingido, e então considerarem como Deus devia olhar as suas murmurações, acusando um simples homem dos juízos que pelos seus pecados haviam trazido sobre si. Contara-lhes como rogara a Deus uma revogação da sentença, e isto fora negado. "O Senhor indignou-Se muito contra mim por causa de vós", disse ele; "e não me ouviu". Deuteronômio 3:26. PP 304 2 Em toda ocasião de dificuldade ou provação, os israelitas estavam prontos para acusarem a Moisés de os ter tirado do Egito, como se Deus não tivesse atuação alguma nesta questão. Por todas as suas jornadas, quando se queixavam das dificuldades do caminho, e murmuravam contra seus chefes, Moisés lhes dizia: "Vossas murmurações são contra Deus. Não fui eu que operei o vosso livramento, mas sim Deus." Mas suas precipitadas palavras diante da rocha: "Tiraremos água", eram uma admissão virtual daquilo de que eles os acusavam, e os confirmavam assim em sua incredulidade, justificando-lhes as murmurações. O Senhor queria remover-lhes para sempre do espírito esta impressão, vedando a Moisés de entrar na Terra Prometida. Ali estava a prova definitiva de que seu líder não era Moisés, mas o poderoso Anjo de quem o Senhor disse: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde neste caminho, e te leve ao lugar que te tenho aparelhado. Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz [...] porque o Meu nome está nEle". Êxodo 23:20, 21. PP 304 3 "O Senhor indignou-Se muito contra mim por causa de vós", disse Moisés. Os olhos de todo o Israel estavam em Moisés, e seu pecado refletiu em Deus, que o escolhera como chefe de Seu povo. A transgressão foi conhecida por toda a congregação; e, se tivesse passado sem a devida consideração, ter-se-ia dado a impressão de que a incredulidade e a impaciência sob grande provocação poderiam ser desculpadas naqueles que ocupam posições de responsabilidade. Quando, porém, foi declarado que Moisés e Arão não deveriam entrar em Canaã, por causa daquele único pecado, o povo soube que Deus não faz acepção de pessoas, e punirá certamente o transgressor. PP 304 4 A história de Israel devia ser registrada para a instrução e aviso das gerações vindouras. Homens de todos os tempos futuros deviam ver o Deus do Céu, como um Governador imparcial, não justificando de maneira alguma o pecado. Mas poucos se compenetram da excessiva malignidade do pecado. Lisonjeiam-se alguns homens de que Deus é bom demais para punir o transgressor. Mas, à luz da história bíblica, é evidente que a bondade de Deus e Seu amor O obrigam a tratar o pecado como um mal fatal à paz e felicidade do Universo. PP 305 1 Nem mesmo a integridade e fidelidade de Moisés podiam desviar a retribuição à sua falta. Deus perdoara ao povo maiores transgressões, mas não podia tratar com o pecado nos dirigentes do mesmo modo que naqueles que eram dirigidos. Honrara a Moisés mais do que a todos os outros homens na Terra. Revelara-lhe a Sua glória, e por meio dele comunicara Seus estatutos a Israel. O fato de que Moisés possuíra tão grande luz e saber, tornara mais grave seu pecado. A fidelidade passada não expiará um mau ato sequer. Quanto maior a luz e os privilégios concedidos ao homem, maior é sua responsabilidade, mais grave a sua falta, mais severo o seu castigo. PP 305 2 Conforme o juízo dos homens, Moisés não era culpado de um grande crime; seu pecado foi desses que ocorrem usualmente. O salmista diz que ele "falou imprudentemente com seus lábios". Salmos 106:33. Perante o juízo humano isto pode parecer coisa leve; mas, se Deus tratou tão severamente com este pecado em Seu servo mais fiel e honrado, não o desculpará em outros. O espírito de exaltação própria, a disposição para censurar os irmãos, são desagradáveis a Deus. Os que condescendem com a prática destes males lançam dúvida sobre a obra de Deus, e dão aos céticos uma desculpa para a sua incredulidade. Quanto mais importante é a posição de alguém, e maior sua influência, maior é a necessidade de que cultive a paciência e a humildade. PP 305 3 Se os filhos de Deus, especialmente os que ocupam posições de responsabilidade, puderem ser levados a tomar para si a glória que é devida a Deus, Satanás exultará. Terá alcançado uma vitória. Foi assim que ele caiu. Nesse ponto alcança ele mais êxito do que em outro qualquer, ao tentar outros à ruína. É para pôr-nos de sobreaviso contra seus ardis que Deus deu em Sua Palavra tantas lições que ensinam o perigo da exaltação própria. Não há um impulso de nossa natureza, nem uma faculdade do espírito ou inclinação do coração, que não necessite achar-se a todo o instante sob a direção do Espírito de Deus. Não há uma bênção que Deus confira ao homem, nem uma provação que permita recair sobre ele, de que Satanás não possa e não queira prevalecer-se para tentar, perturbar e destruir a alma, se lhe dermos a menor vantagem. Portanto, por maior que seja a luz espiritual de alguém, por mais que obtenha do favor e bênção de Deus, deve andar sempre humildemente perante o Senhor, rogando pela fé que Deus lhe dirija todo o pensamento e domine todo impulso. PP 305 4 Todos os que professam piedade estão sob a mais sagrada obrigação de guardar o espírito, e exercitar o domínio próprio sob a maior provocação. Os encargos colocados sobre Moisés eram muito grandes; poucos homens serão tão severamente provados como ele foi; contudo, isto não lhe permitiria desculpar o pecado. Deus fez amplas provisões para Seu povo; e, se depositarem confiança em Sua força, jamais se tornarão o joguete das circunstâncias. A tentação mais forte não pode desculpar o pecado. Por maior que seja a pressão exercida sobre a alma, a transgressão é o nosso próprio ato. Não está no poder da Terra nem do inferno compelir alguém a fazer o mal. Satanás ataca-nos em nossos pontos fracos, mas não é o caso de sermos vencidos. Por mais severo ou inesperado que seja o ataque, Deus nos proveu auxílio e em Sua força podemos vencer. ------------------------Capítulo 38 -- A jornada em redor de Edom PP 307 0 Este capítulo é baseado em Números 20:14-29; 21:1-9. PP 307 1 O acampamento de Israel em Cades ficava a pequena distância das fronteiras de Edom, e tanto Moisés como o povo desejavam grandemente seguir através deste país em seu itinerário para a Terra Prometida; em conformidade com isto enviaram uma mensagem, conforme Deus lhes ordenara, ao rei edomita: PP 307 2 "Assim diz teu irmão Israel: Sabes todo o trabalho que nos sobreveio; como nossos pais desceram ao Egito, e nós no Egito habitamos muitos dias; e como os egípcios nos maltrataram, a nós e a nossos pais; e clamamos ao Senhor, e Ele ouviu a nossa voz, e mandou um Anjo, e nos tirou do Egito; e eis que estamos em Cades, cidade na extremidade dos teus termos. Deixa-nos pois passar pela tua terra; não passaremos pelo campo, nem pelas vinhas, nem beberemos da água dos poços; iremos pela estrada real; não nos desviaremos para a direita nem para a esquerda, até que passemos pelos teus termos". Números 20:14-18. PP 307 3 A este pedido cortês, deu-se em resposta uma recusa ameaçadora: "Não passarás por mim, para que porventura eu não saia à espada ao teu encontro." PP 307 4 Surpresos com esta repulsa, os dirigentes de Israel enviaram um segundo apelo ao rei, com a promessa: "Subiremos pelo caminho igualado, e se eu e o meu gado bebermos das tuas águas, darei o preço delas; sem fazer alguma outra coisa deixa-me somente passar a pé." PP 307 5 "Não passarás" (Números 20:18, 19) foi a resposta. Bandos armados de edomitas já estavam postados em desfiladeiros difíceis, de maneira que qualquer avanço pacífico naquela direção era impossível, e aos hebreus era vedado recorrer à força. Deveriam fazer a longa jornada ao redor da terra de Edom. PP 307 6 Se o povo houvesse confiado em Deus, ao ser trazido à prova, o Capitão da hoste do Senhor tê-los-ia levado através de Edom, e o temor deles teria repousado sobre os habitantes da terra, de modo que, em vez de manifestarem hostilidade, ter-lhes-iam mostrado favor. Mas os israelitas não agiram de pronto conforme a Palavra de Deus, e, enquanto estavam a queixar-se e murmurar, passou-se a áurea oportunidade. Quando finalmente estavam prontos para apresentar ao rei seu pedido, este não foi atendido. Sempre, desde que saíram do Egito, estivera Satanás constantemente em atividade para lançar estorvos e tentações em seu caminho, a fim de não herdarem Canaã. E pela sua incredulidade lhe haviam repetidas vezes aberto a porta, para resistir ao propósito de Deus. PP 308 1 É de importância crer na palavra de Deus e com prontidão agir segundo ela, enquanto Seus anjos estão esperando para agir em nosso favor. Anjos maus estão prontos para disputar cada passo para a frente. E, quando a providência de Deus ordena a Seus filhos avançarem, quando Ele está pronto para fazer grandes coisas por eles, Satanás os tenta a desagradar ao Senhor pela hesitação e demora; procura acender um espírito de contenda ou despertar murmuração ou incredulidade, e assim despojá-los das bênçãos que Deus deseja outorgar. Os servos de Deus devem ser homens de ação, sempre prontos para se moverem tão depressa quanto Sua providência abre o caminho. Qualquer demora de sua parte, dá tempo para Satanás agir a fim de os derrotar. PP 308 2 Nas instruções dadas a princípio a Moisés concernentes à sua passagem por Edom, depois de declarar que os edomitas ficariam com medo de Israel, o Senhor proibiu a Seu povo fazer uso desta vantagem contra eles. Conquanto o poder de Deus estivesse empenhado em prol de Israel, e o temor dos edomitas deles fizesse fácil presa, nem por isso deveriam os hebreus depredá-los. A ordem a eles dada foi: "Porém guardai-vos bem. Não vos entremetais com eles, porque vos não darei da sua terra nem ainda a pisada da planta de um pé; porquanto a Esaú tenho dado a montanha de Seir por herança". Deuteronômio 2:4, 5. Os edomitas eram descendentes de Abraão e Isaque, e por amor a estes Seus servos, Deus mostrara favor aos filhos de Esaú. Ele lhes dera a montanha de Seir em possessão, e não deveriam ser perturbados a menos que pelos seus pecados se colocassem além do alcance de Sua misericórdia. Os hebreus deviam desapossar e destruir totalmente os habitantes de Canaã, que tinham enchido a medida de sua iniqüidade; mas os edomitas estavam ainda sob o tempo de graça, e em tais condições deviam ser tratados misericordiosamente. Deus Se deleita com a misericórdia e manifesta compaixão antes de infligir juízos. Ensina Israel a poupar o povo de Edom, antes de exigir que destruam os habitantes de Canaã. PP 308 3 Os antepassados de Edom e Israel eram irmãos, e bondade e cortesia fraternal deviam existir entre eles. Proibiu-se aos israelitas, quer naquela ocasião quer em qualquer tempo futuro, vingar a afronta que se lhes fizera com a recusa da passagem pela terra. Não deviam ter expectativa de possuir qualquer parte da terra de Edom. Conquanto os israelitas fossem o povo escolhido e favorecido de Deus, deviam atender às restrições que Ele lhes impunha. Deus lhes prometera uma boa herança; mas não deviam entender que somente eles tinham direitos na terra, e procurar excluir todos os outros. Foram instruídos a que se acautelassem, em todas as suas relações com os edomitas, de lhes fazer injustiça. Deviam negociar com eles, adquirindo por compra os suprimentos necessários, e pagando prontamente tudo que recebiam. Como incitamento a Israel a fim de confiar em Deus, e obedecer à Sua palavra, lembrou-se-lhes: "O Senhor teu Deus te abençoou; [...] coisa nenhuma te faltou". Deuteronômio 2:7. Não deviam depender dos edomitas; pois tinham um Deus farto em recursos. Não deviam pela força ou pela fraude procurar obter coisa alguma a eles pertencente; mas, em todas as suas relações, exemplificar o princípio da lei divina: "Amarás a teu próximo como a ti mesmo". Levítico 19:18. PP 309 1 Houvessem eles desta maneira passado por Edom, como fora propósito de Deus, a passagem ter-se-ia mostrado ser uma bênção, não somente para eles mesmos mas também aos habitantes da terra; pois lhes teria dado oportunidade de familiarizar-se com o povo de Deus e seu culto, e testemunhar como o Deus de Jacó prosperou aqueles que O amavam e temiam. Tudo isto, porém, a incredulidade de Israel impediu. Deus dera ao povo água em resposta aos seus clamores, mas permitiu que de sua incredulidade resultasse seu próprio castigo. Novamente deviam atravessar o deserto e matar sua sede pela fonte miraculosa, coisa esta de que não mais teriam necessidade caso houvessem confiado nEle. PP 309 2 Em conformidade com isto, as hostes de Israel voltaram novamente para o Sul, e seguiram através de áridas regiões, que pareciam mesmo mais medonhas depois de um relance aos pontos verdejantes entre as colinas e vales de Edom. Da cordilheira de montanhas sobranceira a este sombrio deserto, ergue-se o monte de Hor, em cujo cimo morreria e seria sepultado Arão. Quando os israelitas chegaram a esta montanha, foi dirigida a Moisés esta ordem divina: "Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte de Hor. E despe a Arão os seus vestidos, e veste-os a Eleazar, seu filho, porque Arão será recolhido, e morrerá ali". Números 20:25, 26. PP 309 3 Juntos, esses dois anciãos e o jovem afadigaram-se a galgar a altura da montanha. A cabeça de Moisés e a de Arão estavam brancas com a neve dos cento e vinte invernos. Sua vida longa e cheia de acontecimentos fora assinalada pelas mais sérias provações e maiores honras que já tocaram por sorte ao homem. Eram homens de grande habilidade natural, e todas as suas capacidades tinham-se desenvolvido, exaltado, dignificado, pela comunhão com o Ser infinito. Sua vida fora despendida em abnegado trabalho para Deus e seus semelhantes; seu rosto evidenciava grande capacidade intelectual, firmeza e nobreza de propósitos, e fortes afeições. PP 309 4 Muitos anos, Moisés e Arão haviam estado ao lado um do outro em seus cuidados e labores. Juntos tinham lutado com inumeráveis perigos, e juntos participaram de assinaladas bênçãos de Deus; mas perto estava o tempo em que deviam separar-se. Moviam-se muito vagarosamente, pois cada momento da companhia mútua era precioso. A subida era íngreme e fatigante; e, como muitas vezes paravam para descansar, conversavam sobre o passado e o futuro. Diante deles, tanto quanto a vista podia alcançar, estendia-se o cenário de suas vagueações pelo deserto. Na planície, abaixo, estavam acampadas as vastas hostes de Israel, pelas quais esses homens escolhidos de Deus haviam despendido a melhor parte de sua vida; por cujo bem-estar haviam sentido tão profundo interesse e feito tão grandes sacrifícios. Algures, para além das montanhas de Edom, estava o caminho que conduzia à Terra Prometida, terra cujas bênçãos Moisés e Arão não iriam desfrutar. Nenhum sentimento revoltoso encontrava guarida em seu coração, expressão alguma de murmuração lhes escapava dos lábios; todavia uma tristeza solene se estampava em seu rosto, ao lembrarem o que os privara da herança de seus pais. PP 310 1 A obra de Arão em prol de Israel estava concluída. Quarenta anos antes, com a idade de oitenta e três anos, Deus o chamara para unir-se a Moisés em sua grande e importante missão. Ele cooperara com seu irmão, ao tirar do Egito os filhos de Israel. Sustivera as mãos do grande líder quando as hostes hebréias davam batalha a Amaleque. Fora-lhe permitido subir ao Monte Sinai, aproximar-se da presença de Deus, e ver a glória divina. O Senhor conferira à família de Arão o ofício do sacerdócio, e o honrara com a santa consagração de sumo sacerdote. Ele o mantivera no ofício santo pelas terríveis manifestações de juízo divino, na destruição de Coré e seu grupo. Foi pela intercessão de Arão que a praga se deteve. Quando seus dois filhos foram mortos por desrespeitarem o mandado expresso de Deus, ele não se rebelou, nem mesmo murmurou. Contudo o relato de sua nobre vida fora deslustrado. Arão cometeu grave pecado quando se rendeu aos clamores do povo e fez o bezerro de ouro no Sinai; e novamente, quando se uniu a Miriã na inveja e murmuração contra Moisés. E, juntamente com Moisés ofendeu o Senhor em Cades, desobedecendo à ordem de falar à rocha para que esta vertesse sua água. PP 310 2 Era intuito de Deus que estes grandes dirigentes de Seu povo fossem representantes de Cristo. Arão trazia sobre o peito os nomes de Israel. Comunicava ao povo a vontade de Deus. Entrava no lugar santíssimo no dia da expiação, "não sem sangue", (Hebreus 9:7) como mediador de todo o Israel. Saía daquela obra para abençoar a congregação, assim como Cristo sairá para abençoar Seu povo expectante quando Sua obra de expiação em favor do mesmo se finalizar. Foi o caráter exaltado daquele sagrado ofício, como representante de nosso grande Sumo Sacerdote, que tornou o pecado de Arão em Cades de tamanha magnitude. PP 310 3 Com profunda tristeza Moisés removeu de Arão as santas vestes, e as pôs sobre Eleazar, que assim se tornou seu sucessor por determinação divina. Pelo seu pecado em Cades, foi proibido a Arão o privilégio de oficiar como sumo sacerdote de Deus em Canaã -- de oferecer o primeiro sacrifício na boa terra, e assim consagrar a herança de Israel. Moisés devia continuar em seu cargo, guiando o povo até as bordas de Canaã. Devia ele chegar até onde poderia avistar a Terra Prometida, mas ali não deveria entrar. Houvessem esses servos de Deus, quando se achavam perante a rocha em Cades, resistido, sem murmurar, à prova que ali lhes sobreveio, quão diferente lhes teria sido o futuro! Um mau ato jamais pode ser desfeito. Pode ser que o trabalho de uma vida inteira não recupere o que se perdeu em um simples momento de tentação ou mesmo de inadvertência. PP 311 1 A ausência no acampamento dos dois grandes chefes, e o haverem sido acompanhados por Eleazar, o qual, sabia-se, deveria ser o sucessor de Arão no sagrado ofício, despertaram sentimento de apreensão, e sua volta era ansiosamente esperada. Ao olhar o povo em redor de si, para a sua vasta congregação, viram que quase todos os adultos que saíram do Egito haviam perecido no deserto. Todos sentiram um mau sinal ao lembrarem-se da sentença pronunciada contra Moisés e Arão. Alguns estavam cientes do objetivo daquela jornada misteriosa ao cume do Monte de Hor, e sua solicitude para com os líderes aumentava em virtude de amarguradas lembranças e acusações contra si mesmos. PP 311 2 As formas de Moisés e Eleazar foram finalmente divisadas descendo vagarosamente a encosta da montanha; mas Arão não estava com eles. Sobre Eleazar estavam os trajes sacerdotais, mostrando que havia sucedido a seu pai no ofício sagrado. Quando o povo com coração pesaroso se reuniu em torno de seu líder, Moisés lhes disse que Arão morrera em seus braços, sobre o Monte Hor, e que eles o sepultaram ali. A congregação rompeu em pranto e lamentação, pois todos amavam Arão, embora lhe houvessem tantas vezes causado tristeza. "Choraram a Arão trinta dias, isto é, toda a casa de Israel". Números 20:29. PP 311 3 Com respeito ao sepultamento do sumo sacerdote de Israel, as Escrituras dão apenas este simples relato: "Ali faleceu Arão, e ali foi sepultado". Deuteronômio 10:6. Em que notável contraste com os costumes dos tempos atuais se acha este enterro, efetuado conforme o mandado expresso de Deus. Nos tempos modernos os funerais de um homem de alta posição, muitas vezes dão ensejo para ostentações aparatosas e extravagantes. Quando Arão morreu, sendo ele um dos mais ilustres homens que já viveram, houve apenas dois de seus mais chegados amigos para lhe testemunharem a morte e cuidar de seu enterro. E aquela sepultura solitária sobre o monte de Hor esteve para sempre oculta das vistas de Israel. Deus não é honrado com a grande ostentação tantas vezes feita nos sepultamentos, e com o extravagante dispêndio feito ao restituir o corpo ao pó. PP 311 4 A congregação inteira entristeceu-se pela falta de Arão; no entanto não poderia sentir essa perda tão intensamente como Moisés. A morte de Arão forçosamente lembrou a Moisés que seu fim estava próximo; mas, ainda que o tempo de sua permanência na Terra devesse ser breve, sentiu profundamente a perda de seu companheiro constante -- aquele que compartilhara de suas alegrias e tristezas, esperanças e temores, durante tantos longos anos. Moisés teria de continuar agora o trabalho, sozinho; mas sabia que Deus era seu amigo, e nEle se apoiou mais pesadamente. PP 312 1 Logo depois de partirem do Monte Hor, os israelitas sofreram revés em um combate com Harade, um dos reis cananeus. Mas, como fervorosamente buscassem auxílio de Deus, foi-lhes concedida a ajuda divina, e seus inimigos foram derrotados. Esta vitória, em vez de inspirar gratidão ao povo e levá-lo a sentir sua dependência de Deus, tornou-os jactanciosos e presunçosos. Logo caíram no velho hábito de murmurar. Estavam agora descontentes porque aos exércitos de Israel não fora permitido avançar contra Canaã imediatamente depois de sua rebelião por motivo do relato dos espias, quase quarenta anos antes. Declararam ser sua longa peregrinação pelo deserto uma demora desnecessária, raciocinando que poderiam ter vencido seus inimigos tão facilmente outrora como então. PP 312 2 Continuando sua jornada em direção ao Sul, estendia-se seu itinerário através de um vale quente, arenoso, destituído de sombra ou vegetação. O caminho parecia longo e difícil, e sofriam cansaço e sede. De novo não puderam suportar a prova de sua fé e paciência. Ocupando-se continuamente com o lado tenebroso de suas experiências, separaram-se mais e mais de Deus. Perderam de vista que, caso não houvessem murmurado quando cessou a água em Cades, ter-lhes-ia sido poupada a jornada em redor de Edom. Deus tivera o propósito de melhores coisas para eles. Devia ter-se-lhes enchido de gratidão o coração para com Ele, por haver-lhes punido de modo tão leve o pecado. Mas, em vez disto, lisonjeavam-se de que, se Deus e Moisés não houvessem intervindo, poderiam agora estar de posse da Terra Prometida. Depois de trazerem sobre si dificuldades, tornando sua sorte muito mais rigorosa do que era intuito de Deus, a Ele atribuíram todos os seus infortúnios. Assim alimentavam amargos pensamentos com relação ao Seu trato para com eles, e finalmente ficaram descontentes com tudo. O Egito parecia-lhes brilhante e mais desejável do que a liberdade, e do que a terra para a qual Deus os estava guiando. PP 312 3 Condescendendo os israelitas com o espírito de descontentamento, dispuseram-se para achar defeitos mesmo em suas bênçãos. "E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizeste subir do Egito, para que morrêssemos neste deserto? Pois nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil". Números 21:5. PP 312 4 Moisés apresentou com fidelidade ao povo o grande pecado deles. Fora o poder de Deus apenas que os preservara naquele "grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de secura, em que não havia água". Deuteronômio 8:15. Em cada dia das suas viagens tinham sido guardados por um milagre da misericórdia divina. Em todo o caminho, sob a guia de Deus, tinham encontrado água para refrescar os sedentos, pão do Céu para satisfazer a fome, e paz e segurança, debaixo da nuvem que dava sombra durante o dia, e debaixo da coluna de fogo à noite. Anjos lhes haviam ministrado enquanto subiam as montanhas rochosas, ou desfilavam pelas ásperas sendas do deserto. Apesar das dificuldades que tinham sofrido, nenhum havia que fosse fraco em todas as suas fileiras. Seus pés não se haviam inchado nas longas jornadas, tampouco se lhes envelheceu a roupa. Deus subjugara diante deles as feras rapinantes e os répteis venenosos da floresta e do deserto. Se com todos estes sinais de Seu amor o povo ainda continuava a queixar-se, o Senhor retiraria Sua proteção até que fossem levados a apreciar Seu misericordioso cuidado, e a voltar-se para Ele com arrependimento e humilhação. PP 313 1 Por que tivessem sido protegidos pelo poder divino, não se compenetraram dos incontáveis perigos de que se achavam continuamente rodeados. Em sua ingratidão e incredulidade, haviam desejado a morte, e agora o Senhor permitiu que esta viesse para eles. As serpentes venenosas que infestavam o deserto foram chamadas serpentes ardentes, por causa dos terríveis efeitos produzidos por sua mordedura, que causava inflamação violenta e morte rápida. Removendo-se de Israel a mão protetora de Deus, grande número de pessoas foram atacadas por esses animais venenosos. PP 313 2 Houve então terror e confusão por todo o acampamento. Em quase cada tenda havia moribundos ou mortos. Ninguém estava livre. Muitas vezes o silêncio da noite era interrompido por gritos penetrantes que significavam novas vítimas. Todos estavam ocupados em tratar dos sofredores, ou esforçando-se com um cuidado torturante por proteger os que ainda não tinham sido picados. Nenhuma murmuração escapava agora de seus lábios. Comparados com seu sofrimento presente, as dificuldade e provações anteriores pareciam indignas de qualquer consideração. PP 313 3 O povo humilhou-se agora perante Deus. Vieram a Moisés com suas confissões e rogos. "Havemos pecado", disseram, "porquanto temos falado contra o Senhor e contra ti". Números 21:7. Pouco antes, haviam-no acusado de ser o seu pior inimigo, a causa de todas as suas angústias e aflições. Mas sabiam que a acusação era falsa, mesmo quando as palavras estavam em seus lábios; e, mal chegara a dificuldade real, correram para ele como o único que poderia interceder junto a Deus por eles. "Ora ao Senhor", clamaram, "que tire de nós estas serpentes". Números 21:7. PP 313 4 Foi divinamente ordenado a Moisés fazer uma serpente de metal, assemelhando-se às serpentes vivas, e erguê-la entre o povo. Para esta todos os que haviam sido feridos deviam olhar, e encontrariam alívio. Ele assim fez, e repercutiu por todo o acampamento a alegre notícia de que todos os que houvessem sido mordidos poderiam olhar para a serpente de metal e viver. Muitos já haviam morrido e, quando Moisés ergueu a serpente sobre a haste, alguns não queriam crer que meramente o olhar para a figura de metal os curaria; estes pereceram em sua incredulidade. Muitos havia, contudo, que tinham fé no meio que Deus provera. Pais, mães, irmãos e irmãs estavam ansiosamente empenhados em ajudar amigos sofredores e moribundos a fixar na serpente seus desfalecidos olhares. Se estes, embora abatidos e moribundos, tão-somente pudessem olhar uma vez, eram perfeitamente restabelecidos. PP 314 1 O povo bem sabia que na serpente de metal não havia poder para causar tal mudança nos que a contemplavam. A virtude curadora provinha de Deus tão-somente. Em Sua sabedoria, escolheu Ele este meio de demonstrar Seu poder. Por essa maneira simples o povo foi levado a reconhecer que aquele mal lhes fora acarretado por seus pecados. Foi-lhes também afirmado que, enquanto obedecessem a Deus, não tinham motivo para temer; pois Ele os preservaria. PP 314 2 O levantamento da serpente de bronze deveria ensinar a Israel uma importante lição. Não poderiam salvar a si mesmos dos efeitos fatais do veneno em seus ferimentos. Apenas Deus os poderia curar. Contudo exigia-se-lhes mostrar fé no meio que Ele provera. Deviam olhar, a fim de viverem. A sua fé é que era aceitável diante de Deus; e, olhando a serpente, mostravam a sua fé. Sabiam que não havia virtude na serpente mesma, mas era ela um símbolo de Cristo; e a necessidade de fé em Seus méritos era-lhes assim apresentada ao espírito. Até ali muitos haviam trazido suas ofertas a Deus, e entendiam que assim fazendo efetuavam uma ampla expiação por seus pecados. Não depositavam sua confiança no Redentor vindouro, de quem essas ofertas eram apenas um tipo. O Senhor queria agora ensinar-lhes que seus sacrifícios em si mesmos, não tinham mais poder nem virtude do que a serpente de bronze, mas deviam, como aquela, dirigir a mente a Cristo, a grande oferta pelo pecado. PP 314 3 "Como Moisés levantou a serpente no deserto", assim foi levantado o Filho do homem, "para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:14, 15. Todos os que têm vivido na Terra, têm sentido a picada mortífera daquela "antiga serpente, chamada o diabo, e Satanás". Apocalipse 12:9. Os efeitos fatais do pecado podem apenas ser removidos pela provisão que Deus fez. Os israelitas salvaram a própria vida olhando para a serpente levantada. Aquele olhar envolvia fé. Viviam porque acreditavam na palavra de Deus, e confiavam no meio provido para o seu restabelecimento. Assim o pecador pode olhar a Cristo, e viver. Recebe perdão pela fé no sacrifício expiatório. Diferente do símbolo inerte e inanimado, Cristo tem poder e virtude em Si mesmo para curar o pecador arrependido. PP 314 4 Conquanto o pecador não possa salvar-se a si próprio, tem algo que fazer para conseguir a salvação. "O que vem a Mim", disse Cristo, "de maneira nenhuma o lançarei fora". João 6:37. Mas devemos ir a Ele; e, quando nos arrependemos de nossos pecados, devemos crer que Ele nos aceita e perdoa. A fé é dom de Deus, mas a faculdade de exercê-la é nossa. A fé é a mão pela qual a alma se apodera das ofertas divinas de graça e misericórdia. PP 314 5 Nada além da justiça de Cristo pode dar-nos direito às bênçãos do concerto da graça. Muitos há que durante longo tempo têm desejado e procurado obter essas bênçãos, mas não as têm recebido, porque têm acariciado a idéia de que podiam fazer algo para se tornarem dignos das mesmas. Eles não têm olhado fora de si, e crido que Jesus é um Salvador inteiramente capaz. Não devemos crer que nossos próprios méritos nos salvarão; Cristo é a nossa única esperança de salvação. "Debaixo do Céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos dos Apóstolos 4:12. PP 315 1 Quando confiarmos em Deus completamente, quando contarmos com os méritos de Jesus como um Salvador que perdoa o pecado, receberemos todo o auxílio que pudermos desejar. Que ninguém olhe para si, como se tivesse poder para salvar-se. Jesus por nós morreu porque éramos impotentes para fazer isso. NEle está a nossa esperança, nossa justificação, nossa justiça. Quando vemos nossa pecaminosidade, não devemos desalentar-nos, e recear que não temos Salvador, ou que Ele não tem pensamentos de misericórdia para conosco. Nessa mesma ocasião está Ele convidando-nos para chegar a Si, em nosso desamparo, e sermos salvos. PP 315 2 Muitos dos israelitas não reconheceram auxílio no remédio que o Céu havia indicado. Os mortos e moribundos estavam em redor deles, e sabiam que, sem ajuda divina, sua própria sorte era certa; mas continuavam a lamentar seus ferimentos, suas dores, sua morte certa, até que lhes desaparecia a força, e os olhos ficavam embaciados, quando poderiam ter tido cura instantânea. Se temos consciência de nossas necessidades, não devemos empregar nossas forças em lamentação por causa delas. Conquanto nos compenetremos de nossa condição de desamparo, sem Cristo, não devemos entregar-nos ao desânimo, mas confiar nos méritos de um Salvador crucificado e ressuscitado. Olhai e vivei. Jesus empenhou Sua palavra; Ele salvará todos os que a Ele se chegarem. Embora milhões que necessitam ser curados rejeitem Sua misericórdia que é oferecida, nenhum dos que confiam em Seus méritos será deixado a perecer. PP 315 3 Muitos não querem aceitar a Cristo antes que lhes fique claro todo o mistério do plano da salvação. Recusam o olhar da fé, embora vejam que milhares têm olhado para a cruz de Cristo e sentido a eficácia desse olhar. Muitos vagueiam nos labirintos da filosofia, em busca de razões e provas que nunca encontrarão, ao mesmo tempo que rejeitam as provas que Deus foi servido dar-lhes. Recusam-se a andar na luz do Sol da Justiça, antes que lhes seja explicada a razão de seu resplendor. Todos quantos persistirem nesta atitude deixarão de chegar ao conhecimento da verdade. Deus nunca removerá todo o motivo para a dúvida. Ele dá prova suficiente sobre que basear a fé e, se isto não é aceito, a mente é deixada em trevas. Se aqueles que foram picados pelas serpentes se tivessem detido para duvidar e discutir antes de se resolverem a olhar, teriam perecido. Temos o dever, primeiramente, de olhar; e o olhar de fé nos dará vida. ------------------------Capítulo 39 -- A conquista de Basã PP 316 0 Este capítulo é baseado em Deuteronômio 2; 3:1-11. PP 316 1 Depois de passarem para o sul de Edom, os israelitas voltaram-se para o norte, e novamente volveram o rosto em direção à Terra Prometida. Seu caminho agora se estendia por uma planície vasta, elevada, batida pelas aragens frescas e agradáveis das colinas. Foi isto uma mudança oportuna do vale ressequido através do qual tinham estado a viajar; e avançaram eufóricos e esperançosos. Tendo atravessado o ribeiro Zerede, passaram para o oriente da terra de Moabe; pois tinha sido dada esta ordem: "Não molestes a Moabe, e não contendas com eles em peleja, porque te não darei herança da sua terra; porquanto tenho dado Ar aos filhos de Ló". Deuteronômio 2:9. E a mesma determinação foi repetida com relação aos amonitas, que também eram descendentes de Ló. PP 316 2 Ainda avançando para o norte, as hostes de Israel logo chegaram ao país dos amorreus. Este povo forte e belicoso ocupava originariamente a parte sul da terra de Canaã; mas, aumentando em número, atravessaram o Jordão, fizeram guerra aos moabitas, e obtiveram posse de parte de seu território. Ali se fixaram, mantendo domínio indiscutível por toda a terra, desde o Arnom para o norte até o Jaboque. O caminho para o Jordão, pelo qual os israelitas desejavam prosseguir, estendia-se diretamente através deste território, e Moisés enviou uma mensagem amigável a Seom, o rei amorreu, em sua capital: "Deixa-me passar pela tua terra; somente pela estrada irei; não me desviarei para a direita nem para a esquerda. A comida que eu coma, vender-ma-ás por dinheiro, e dar-me-ás por dinheiro a água que beba; tão-somente deixa-me passar a pé". Deuteronômio 2:27, 28. A resposta foi uma decidida recusa; e todos os exércitos dos amorreus foram convocados para se oporem à marcha dos invasores. Esse formidável exército aterrorizou os israelitas, que estavam mal preparados para um encontro com forças bem armadas e disciplinadas. Tanto quanto dizia respeito à arte da guerra, os seus inimigos tinham a vantagem. Segundo toda a aparência humana, Israel teria um fim imediato. PP 316 3 Mas Moisés conservava seu olhar fixo na coluna de nuvem, e incentivava o povo com o pensamento de que o sinal da presença de Deus ainda estava com eles. Ao mesmo tempo determinou-lhes fazerem tudo que a força humana podia fazer no preparo para a guerra. Seus inimigos estavam ávidos de batalhar, e confiantes em que exterminariam da terra os israelitas, que não estavam preparados. Mas, do Possuidor de toda a Terra, havia saído a ordem para o líder de Israel: "Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis aqui na tua mão tenho dado Seom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra; começa a possuí-la, e contende com eles em peleja. Este dia começarei a pôr um terror e um temor de ti diante dos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama tremerão diante de ti e se angustiarão". Deuteronômio 2:24, 25. PP 317 1 Essas nações nas fronteiras de Canaã teriam sido poupadas, caso não se houvessem levantado em desafio à palavra de Deus para se oporem à marcha de Israel. O Senhor Se mostrara longânimo, de grande bondade e terna piedade, mesmo para com esses povos gentílicos. Quando a Abraão foi mostrado em visão que sua semente, os filhos de Israel, seriam estrangeiros em terra estranha, durante quatrocentos anos, o Senhor lhe fez uma promessa: "A quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia". Gênesis 15:16. Embora os amorreus fossem idólatras e houvessem com justiça perdido o direito à vida por causa de sua grande impiedade, Deus os poupou durante quatrocentos anos para dar-lhes prova inequívoca de que Ele era o único verdadeiro Deus, o Criador do céu e da Terra. Todos os Seus prodígios ao tirar Israel do Egito eram deles conhecidos. Prova suficiente fora dada; eles poderiam ter conhecido a verdade, caso tivessem estado dispostos a volver de sua idolatria e licenciosidade. Mas rejeitaram a luz e apegaram-se a seus ídolos. PP 317 2 Quando o Senhor pela segunda vez trouxe o Seu povo às fronteiras de Canaã, outra prova de Seu poder foi concedida àquelas nações gentílicas. Viram que Deus estava com Israel na vitória ganha sobre o rei Harade e os cananeus, e no milagre operado para salvar os que estavam a perecer da picada das serpentes. Posto que aos israelitas houvesse sido recusada passagem pela terra de Edom, sendo obrigados a fazer assim longo e difícil itinerário ao lado do Mar Vermelho, não haviam eles, contudo, em todas as suas jornadas e acampamentos junto a terra de Edom, Moabe e Amom, mostrado hostilidade, e nenhum mal fizeram ao povo ou às suas posses. Atingindo as fronteiras dos amorreus, Israel pedira permissão apenas para passar diretamente pelo país, prometendo observar as mesmas regras que tinham presidido a suas relações com outras nações. Quando o rei amorreu recusou satisfazer este atencioso pedido, e arrogantemente reuniu seus exércitos para a batalha, sua taça de iniqüidade estava cheia, e Deus agora exerceria Seu poder para os subverter. PP 317 3 Os israelitas atravessaram o rio Arnom e avançaram contra o adversário. Travou-se um combate, no qual os exércitos de Israel foram vitoriosos; e prosseguindo com a vantagem adquirida, logo ficaram de posse do país dos amorreus. Foi o Capitão do exército do Senhor que venceu os inimigos de Seu povo; e teria feito o mesmo trinta e oito anos antes, se Israel houvesse nEle confiado. PP 317 4 Cheio de esperança e ânimo, o exército de Israel avançava ardorosamente e, jornadeando ainda em direção ao norte, chegaram logo a um país que bem poderia pôr à prova seu ânimo e fé em Deus. Diante deles se achava o poderoso e populoso reino de Basã, cheio de grandes cidades de pedra que até hoje provocam a admiração do mundo: "sessenta cidades, [...] com altos muros, portas e ferrolhos; além de outras muitas cidades sem muros". Deuteronômio 3:1-11. As casas eram construídas de enormes pedras negras, de tamanho tão formidável que tornava os edifícios absolutamente inexpugnáveis a qualquer força que naqueles tempos pudesse ser levada contra eles. Era um território repleto de cavernas desertas, fundos precipícios, abismos hiantes e fortalezas rochosas. Os habitantes desta terra, descendentes de uma raça de gigantes, eram de estatura e força maravilhosas, e tão notados pela violência e crueldade que eram o terror de todas as nações circunvizinhas; e isto ao mesmo tempo em que Ogue, rei do país, era notável pela estatura e proezas, mesmo em uma nação de gigantes. PP 318 1 Mas a coluna de nuvem moveu-se para a frente, e guiando-se por elas as hostes hebréias avançavam para Edrei, onde o rei gigante, com suas forças, esperava a sua aproximação. Ogue havia habilmente escolhido o local para a batalha. A cidade de Edrei estava situada à margem de um tabuleiro que se erguia abruptamente da planície, e coberto de rochas vulcânicas pontiagudas. A ela só se podia chegar por veredas estreitas, íngremes e difíceis de subir. Em caso de derrota, suas forças poderiam encontrar refúgio naquele deserto de rochas, onde seria impossível aos estrangeiros seguirem-nas. PP 318 2 Confiante no êxito, o rei saiu com um imenso exército para a planície aberta; ao mesmo tempo aclamações de desafio eram ouvidas do tabuleiro acima, onde se podiam ver as lanças de milhares ávidos pela batalha. Quando os hebreus olharam para a figura excelsa daquele gigante de gigantes, sobressaindo por sobre os soldados de seu exército; ao verem as hostes que o rodeavam, e a fortaleza aparentemente inexpugnável, atrás da qual milhares invisíveis estavam entrincheirados, o coração de muitos em Israel estremeceu de temor. Moisés, porém, estava calmo e firme; o Senhor dissera com relação ao rei de Basã: "Não o temas, porque a ele e a todo o seu povo, e a sua terra, tenho dado na tua mão; e far-lhe-ás como fizeste a Seom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom". Deuteronômio 3:2. PP 318 3 A fé calma de seu líder inspirava ao povo confiança em Deus. Em tudo contavam com Seu onipotente braço, e Ele os não desamparou. Nem poderosos gigantes, nem cidades muradas, exércitos armados, nem pétreas fortalezas, poderiam subsistir perante o Capitão das hostes do Senhor. O Senhor guiou o exército; o Senhor desbaratou o inimigo; o Senhor venceu em prol de Israel. O rei gigante e seu exército foram destruídos; e os israelitas logo tomaram posse de todo o país. Assim foi tirado da terra aquele povo estranho, que se dera à iniqüidade e à idolatria abominável. PP 318 4 Na conquista de Gileade e Basã havia muitos que se recordavam dos acontecimentos que, quase quarenta anos antes, haviam em Cades condenado Israel à longa peregrinação no deserto. Viam que o relato dos espias a respeito da Terra Prometida era correto em muitos aspectos. As cidades eram muradas e muito grandes, e eram habitadas por gigantes, em comparação com estes os hebreus eram simples pigmeus. Mas podiam agora ver que o erro fatal de seus pais fora não confiar no poder de Deus. Isso, apenas, os impedira de entrar logo na boa terra. PP 319 1 Quando a princípio se estiveram preparando para entrar em Canaã, este empreendimento era acompanhado de muito menos dificuldade do que agora. Deus prometera a Seu povo que, se obedecessem à Sua voz, Ele iria adiante deles e por eles combateria; e enviaria também vespões para expelir os habitantes da terra. O temor das nações não tinha sido geralmente suscitado, e pouco preparo fora feito para resistir à sua marcha. Mas, mandando o Senhor agora Israel ir avante, deviam avançar contra adversários vigilantes e poderosos, e contender com exércitos grandes e bem treinados, que tinham estado a preparar-se para resistir a sua aproximação. PP 319 2 Em suas competições com Ogue e Seom, o povo fora trazido sob a mesma prova debaixo da qual seus pais fracassaram tão assinaladamente. Entretanto, a prova era agora muito mais severa do que quando Deus ordenara a Israel que avançasse. As dificuldades em seu caminho tinham aumentado grandemente desde que se recusaram a avançar, ao ser-lhes mandado assim fazer em nome do Senhor. É assim que Deus ainda prova Seu povo. E, se deixam de resistir à prova, Ele os traz de novo ao mesmo ponto; e a segunda vez a prova será mais rigorosa, e mais severa do que a precedente. Isto continua até que resistam à prova; ou, se ainda são rebeldes, Deus retira deles Sua luz, e os deixa em trevas. PP 319 3 Os hebreus lembraram-se agora de como uma vez, anteriormente, ao saírem suas forças para a batalha, foram derrotados, e milhares morreram. Mas tinham ido, então, em oposição direta à ordem de Deus. Haviam saído sem Moisés, o líder designado por Deus, sem a coluna de nuvem, símbolo da presença divina, e sem a arca. Agora, porém, Moisés estava com eles, fortalecendo-lhes o coração com palavras de esperança e fé; o Filho de Deus, encerrado na coluna de nuvem, abria o caminho; e a arca sagrada acompanhava o exército. Esta experiência tem uma lição para nós. O poderoso Deus de Israel é o nosso Deus. NEle podemos confiar; e se Lhe obedecermos as ordens Ele operará em nosso favor de maneira tão assinalada como fez para com Seu antigo povo. Todo aquele que procura seguir o caminho do dever, será às vezes assaltado por dúvidas e incredulidade. O caminho algumas vezes estará tão cheio de obstáculos, aparentemente insuperáveis, que abaterão os que cedem ao desânimo; mas Deus está a dizer a tais: Ide avante! Cumpri vosso dever custe o que custar. As dificuldades que parecem tão enormes, que vos enchem de terror a alma, se desvanecerão ao avançardes no caminho da obediência, confiando humildemente em Deus. ------------------------Capítulo 40 -- Balaão PP 320 0 Este capítulo é baseado em Números 22-24. PP 320 1 Voltando ao Jordão da conquista de Basã, os israelitas, em preparativos para a imediata invasão de Canaã, acamparam ao lado do rio Jordão, acima de sua foz no Mar Morto, e precisamente defronte da planície de Jericó. Estavam exatamente nas fronteiras de Moabe, e os moabitas estavam cheios de terror pela grande proximidade dos invasores. PP 320 2 O povo de Moabe não fora incomodado por Israel, todavia eles tinham observado com inquietadores pressentimentos tudo que ocorrera nos países circunvizinhos. Os amorreus, de diante dos quais eles tinham sido obrigados a bater em retirada, haviam sido vencidos pelos hebreus, e o território que tinham extorquido de Moabe estava agora de posse de Israel. Os exércitos de Basã haviam-se rendido diante do misterioso poder envolto na coluna de nuvem, e as gigantescas fortalezas foram ocupadas pelos hebreus. Os moabitas não ousaram arriscar contra ele um ataque; o recurso às armas seria inútil em vista das forças sobrenaturais que operavam em seu favor. Mas decidiram-se, como Faraó fizera, a pôr a seu serviço o poder da feitiçaria para contrariar a obra de Deus. Queriam acarretar uma maldição sobre Israel. PP 320 3 O povo de Moabe estava intimamente ligado com os midianitas, tanto pelo laços de nacionalidade como de religião. E Balaque, rei de Moabe, despertou os receios do povo aparentado, e conseguiu sua cooperação em seus intuitos contra Israel, por meio da mensagem: "Agora lamberá esta congregação tudo quanto houver ao redor de nós, como o boi lambe a erva do campo". Números 22-24. Dizia-se que Balaão, morador da Mesopotâmia, possuía poderes sobrenaturais, e sua fama chegou à terra de Moabe. Resolveu-se chamá-lo em seu auxílio. Nestas condições, mensageiros dos "anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas", foram enviados para conseguirem suas adivinhações e encantamentos contra Israel. PP 320 4 Os embaixadores logo se puseram a caminho em sua longa viagem, através de montanhas e de desertos, para a Mesopotâmia; e, encontrando Balaão, transmitiram-lhe a mensagem de seu rei: "Eis que um povo saiu do Egito; eis que cobre a face da terra e parado está defronte de mim. Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; para ver se o poderei ferir e o lançarei fora da terra; porque eu sei que a quem tu abençoares será abençoado e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado". Números 22:5, 6. PP 321 1 Balaão já havia sido um bom homem e profeta de Deus; mas apostatara e entregara-se à cobiça; todavia professava ainda ser servo do Altíssimo. Não ignorava a obra de Deus em prol de Israel; e, quando os enviados comunicaram sua mensagem, bem sabia que era seu dever recusar as recompensas de Balaque, e despedir os embaixadores. Mas arriscou-se a contemporizar com a tentação, e instou com os mensageiros para que ficassem com ele aquela noite, declarando que não poderia dar resposta decisiva antes que houvesse pedido conselho da parte do Senhor. Balaão sabia que sua conduta não poderia prejudicar Israel. Deus estava ao lado deles; e, enquanto fossem fiéis, nenhum poder adverso, da Terra ou do inferno, poderia prevalecer contra eles. Mas seu orgulho fora lisonjeado com as palavras dos embaixadores: "A quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado". Números 22:6. As seduções de valiosas dádivas e a exaltação em perspectiva provocaram-lhe a cobiça. Avidamente aceitou os tesouros oferecidos, e então, ao mesmo tempo em que professava obediência estrita à vontade de Deus, procurou satisfazer os desejos de Balaque. PP 321 2 À noite o anjo do Senhor veio a Balaão, com esta mensagem: "Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este povo, porquanto bendito é". Números 22:12. PP 321 3 Pela manhã, Balaão despediu relutantemente os mensageiros; mas não lhes referiu o que o Senhor dissera. Irado por se terem dissipado subitamente suas visões de lucro e honra, exclamou petulantemente: "Ide à vossa terra, porque o Senhor recusa deixar-me ir convosco". Números 22:13. PP 321 4 Balaão "amou o prêmio da injustiça". 2 Pedro 2:15. O pecado da cobiça, que Deus declara ser idolatria, dele fizera um servo de ocasião, e, mediante esta única falta, Satanás obteve inteiro domínio sobre ele. Foi isto que causou a sua ruína. O tentador está sempre a apresentar lucros e honras mundanas para aliciar os homens do serviço de Deus. Diz-lhes que são os seus demasiados escrúpulos de consciência que os impedem de alcançar a prosperidade. Assim muitos são induzidos ao risco de saírem do caminho da estrita integridade. Um passo errado torna o outro mais fácil, e eles se tornam cada vez mais presunçosos. Farão e ousarão as mais terríveis coisas quando uma vez se entregaram ao domínio da cobiça e do desejo de poderio. Muitos se lisonjeiam com a idéia de que podem afastar-se da integridade estrita durante algum tempo, por amor a alguma vantagem mundana, e que, tendo conseguido seu objetivo, podem mudar sua conduta quando lhes aprouver. Esses tais se acham a enredar-se na cilada de Satanás, e raramente escapam. PP 321 5 Quando os mensageiros deram parte a Balaque da recusa do profeta a acompanhá-los, não deram a entender que Deus lho proibira. Supondo que a demora de Balaão visava simplesmente conseguir uma recompensa mais valiosa, o rei enviou príncipes em maior número e mais dignos do que os primeiros, com promessas de mais altas honras, e com autorização de concordar com quaisquer condições que Balaão pudesse exigir. A urgente mensagem de Balaque ao profeta, era: "Rogo-te que não te demores em vir a mim, porque grandemente te honrarei, e farei tudo o que me disseres; vem pois, rogo-te, amaldiçoa-me este povo". Números 22:16, 17. PP 322 1 Segunda vez foi Balaão provado. Em resposta às solicitações dos embaixadores, ele se disse possuidor de muita consciência e integridade, afirmando-lhes que nenhuma quantidade de ouro ou prata poderia induzi-lo a ir de encontro à vontade de Deus. Mas anelava condescender com o pedido do rei; e, se bem que a vontade de Deus já se lhe houvesse tornado definidamente conhecida, insistiu com os mensageiros para que ficassem, a fim de que pudesse consultar outra vez a Deus; e isto como se o Ser infinito fosse um homem, para ser persuadido. PP 322 2 À noite, o Senhor apareceu a Balaão e disse: "Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que Eu te disser". Números 22:20. Até este ponto o Senhor permitiria que Balaão seguisse sua vontade, porque ele estava resolvido a isto. Não procurou fazer a vontade de Deus, mas escolheu seu próprio caminho e então esforçou-se por conseguir a sanção do Senhor. PP 322 3 Há na atualidade milhares que estão seguindo uma conduta semelhante. Não teriam dificuldade em compreender seu dever se este estivesse em harmonia com suas inclinações. Acha-se na Bíblia claramente posto diante deles, ou é evidentemente indicado pelas circunstâncias ou pela razão. Mas porque tais evidências são contrárias aos seus desejos e inclinações, freqüentemente as põem de lado, e ousam ir a Deus para saberem o seu dever. Aparentemente com grande consciência, oram demorada e fervorosamente rogando luz. Mas com Deus não se brinca. Ele muitas vezes permite que tais pessoas sigam seus desejos, e sofram o resultado. "O Meu povo não quis ouvir a Minha voz. [...] Pelo que Eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram segundo os seus próprios conselhos". Salmos 81:11, 12. Quando alguém vê claramente o dever, não tome a liberdade de ir a Deus com oração para que possa ser dispensado de o cumprir. Antes, deve com espírito humilde e submisso, rogar força e sabedoria divinas para satisfazer as exigências desse dever. PP 322 4 Os moabitas eram um povo degradado, idólatra; todavia, conforme a luz que haviam recebido, sua culpa não era tão grande à vista do Céu como era a de Balaão. Entretanto, como este professava ser profeta de Deus, tudo o que dissesse supor-se-ia proferido por autoridade divina. Portanto não lhe foi permitido falar como quisesse, mas devia transmitir a mensagem que Deus lhe desse. "Farás o que Eu te disser" (Números 22:20), foi a ordem divina. PP 322 5 Balaão recebera permissão de ir com os mensageiros de Moabe, se viessem pela manhã chamá-lo. Mas, contrariados com sua demora, e esperando nova recusa, partiram em viagem para seu país sem mais consulta com ele. Toda a desculpa para condescender com o pedido de Balaque fora agora removida. Mas Balaão estava decidido a obter a recompensa; e, tomando o animal em que estava habituado a viajar, pôs-se a caminho. Temia que mesmo agora a permissão divina fosse retirada, e avançou ansiosamente, inquieto e receoso de que de alguma maneira deixasse de ganhar a cobiçada recompensa. PP 323 1 Mas "o anjo do Senhor pôs-se-lhe no caminho por adversário". Números 22:22. O animal viu o mensageiro divino, que não era percebido pelo homem, e desviou-se da estrada para o campo. Com pancadas cruéis Balaão o trouxe novamente para o caminho; mas, outra vez, em um lugar estreito entre duas paredes apareceu o anjo, e o animal, procurando evitar a figura ameaçadora, apertou o pé do seu dono contra a parede. Balaão estava cego à intervenção celestial, e não sabia que Deus lhe estava obstruindo o caminho. O homem exasperou-se, e, surrando a jumenta impiedosamente, obrigou-a a prosseguir. PP 323 2 De novo, "num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita nem para a esquerda" (Números 22:26), apareceu o anjo, como antes, em atitude ameaçadora; e o pobre animal, tremendo de terror, parou, e caiu em terra sob aquele que o cavalgava. A raiva de Balaão não teve limites, e com o bordão espancou mais cruelmente do que antes o animal. Deus abriu então a boca deste, e, pelo "mudo jumento, falando com voz humana", "impediu a loucura do profeta". 2 Pedro 2:16. "Que te fiz eu", disse o animal, "que me espancaste estas três vezes?" Números 22:28. PP 323 3 Furioso por ser assim estorvado em sua viagem, Balaão respondeu ao animal como se teria dirigido a um ser racional: "Por que zombaste de mim; oxalá tivera eu uma espada na mão, porque agora te matara." Ali estava um mágico professo, a caminho para pronunciar uma maldição sobre um povo inteiro, com o intento de paralisar sua força, ao mesmo tempo em que não tinha poder mesmo para matar o animal que cavalgava! PP 323 4 Abrem-se agora os olhos de Balaão, e ele vê em pé o anjo de Deus com a espada desembainhada pronto para o matar. Aterrorizado, "inclinou a cabeça, e prostrou-se sobre a sua face". O anjo lhe disse: "Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser teu adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim. Porém a jumenta me viu, e já três vezes se desviou de diante de mim; se ela se não desviara de diante de mim, na verdade que eu agora te tivera matado, e a ela deixara com vida". Números 22:29-33. PP 323 5 Balaão devia a conservação de sua vida ao pobre animal que tratara tão cruelmente. O homem que pretendia ser profeta do Senhor, que declarou estar "de olhos abertos", e ver "a visão do Todo-poderoso" (Números 24:3, 4), estava tão cego pela cobiça e ambição que não pôde divisar o anjo de Deus, visível para seu animal. "O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos". 2 Coríntios 4:4. Quantos não se acham assim cegos! Arremessam-se em trilhas vedadas, transgredindo a lei divina, e não podem discernir que Deus e Seus anjos estão contra eles. Semelhantes a Balaão zangam-se com aqueles que querem impedir sua ruína. PP 324 1 Balaão dera prova do espírito que o dirigia, pelo seu tratamento ao animal. "O justo olha pela vida dos seus animais, mas as misericórdias dos ímpios são cruéis". Provérbios 12:10. Poucos se compenetram, quanto deveriam, da pecaminosidade de maltratar os animais, ou deixá-los sofrer pela negligência. Aquele que criou o homem fez os animais irracionais também, "e as Suas misericórdias são sobre todas as Suas obras". Salmos 145:9. Os animais foram criados para servirem ao homem, mas este não tem direito de causar-lhes dor com tratamento rude, ou cruel exigência. PP 324 2 É por causa do pecado do homem que "toda a criação geme e está juntamente com dores de parto". Romanos 8:22. O sofrimento e a morte foram assim impostos não somente ao gênero humano, mas aos animais. Certamente, pois, ao homem toca procurar aliviar o peso do sofrimento que sua transgressão acarretou sobre as criaturas de Deus, em vez de aumentá-lo. Aquele que maltrata os animais porque os tem em seu poder, é tão covarde quanto tirano. A disposição para causar dor, quer seja ao nosso semelhante quer aos seres irracionais, é satânica. Muitos não compreendem que sua crueldade haja de ser conhecida, porque os pobres animais mudos não a podem revelar. Mas, se os olhos desses homens pudessem abrir-se como os de Balaão, veriam um anjo de Deus, em pé, como testemunha, para atestar contra eles no tribunal celestial. Um relatório sobe ao Céu, e aproxima-se o dia em que se pronunciará juízo contra os que maltratam as criaturas de Deus. PP 324 3 Quando viu o mensageiro de Deus, Balaão exclamou aterrorizado: "Pequei, porque não soube que estavas neste caminho para te opores a mim; e agora, se parece mal aos teus olhos, tornar-me-ei". Números 22:34. O Senhor permitiu-lhe prosseguir em sua viagem, mas deu-lhe a entender que suas palavras seriam dirigidas pelo poder divino. Deus queria dar prova a Moabe que os hebreus estavam sob a guarda do Céu; e isto Ele fez de modo eficaz quando lhes mostrou quão impotente era Balaão mesmo para proferir uma maldição contra eles, sem permissão divina. PP 324 4 O rei de Moabe, sendo informado da aproximação de Balaão, saiu com grande acompanhamento às fronteiras do reino, para o receber. Quando se mostrou admirado com a demora de Balaão, em vista das ricas recompensas que o esperavam, a resposta do profeta foi: "Eis que eu tenho vindo a ti; porventura poderei eu agora de alguma forma falar alguma coisa? A palavra que Deus puser na minha boca essa falarei". Números 22:38. Balaão lamentava grandemente esta restrição; temia que seu propósito não pudesse efetuar-se, porque o poder dirigente do Senhor estava sobre ele. PP 324 5 Com grande pompa, o rei com os principais dignitários de seu reino, acompanharam Balaão "aos altos de Baal" (Números 22:41), donde ele podia avistar as hostes hebréias. Eis o profeta em pé sobre o elevado monte, olhando por sobre o acampamento do povo escolhido de Deus. Mal sabem os israelitas do que está a acontecer tão perto deles! Quão pouco conhecem o cuidado de Deus, sobre eles estendido de dia e de noite! Quão embotadas são as percepções do povo de Deus! Quão vagarosos são, em todos os tempos, para compreenderem Seu grande Amor e misericórdia! Se pudessem divisar o maravilhoso poder de Deus constantemente exercido em favor deles, não se lhes encheria o coração de gratidão pelo Seu amor, e de temor ao pensamento de Sua majestade e poder? PP 325 1 Balaão tinha algum conhecimento das ofertas sacrificais dos hebreus, e esperava que, sobrepujando-os em custosas dádivas, pudesse conseguir a bênção de Deus, e conseguir a realização de seus projetos pecaminosos. Assim, os sentimentos dos moabitas idólatras estavam a obter domínio sobre sua mente. Sua sabedoria se tornara em loucura; nublara-se-lhe a visão espiritual; trouxera sobre si a cegueira, rendendo-se ao poder de Satanás. PP 325 2 Por indicação de Balaão, foram construídos sete altares, e ele ofereceu um sacrifício em cada um deles. Então se retirou a um "lugar alto" (Números 23:3), para encontrar-se com Deus, prometendo tornar conhecido a Balaque o que quer que o Senhor revelasse. PP 325 3 Com os nobres e príncipes de Moabe, o rei ficou ao lado do sacrifício, enquanto em redor deles se reuniu a ansiosa multidão, aguardando a volta do profeta. Ele veio finalmente, e o povo esperou as palavras que para sempre paralisariam aquele estranho poder exercido a favor dos odiados israelitas. Disse Balaão: PP 325 4 "De Arã me mandou trazer Balaque, rei dos moabitas, das montanhas do Oriente, dizendo: Vem, amaldiçoa-me a Jacó; e vem, detesta Israel. Como amaldiçoarei o que Deus não amaldiçoa? E como detestarei, quando o Senhor não detesta? Porque do cume das penhas o vejo, e dos outeiros o contemplo: E eis que este povo habitará só, e entre as gentes não será contado. Quem contará o pó de Jacó, e o número da quarta parte de Israel? A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu". Números 23:7-10. PP 325 5 Balaão confessou que viera com o propósito de amaldiçoar Israel; mas as palavras que proferiu foram diretamente contrárias aos sentimentos de seu coração. Foi constrangido a pronunciar bênçãos, enquanto sua alma estava cheia de maldições. PP 325 6 Olhando Balaão para o acampamento de Israel, viu com espanto as provas de sua prosperidade. A ele haviam sido representados como uma multidão rude, desorganizada, que infestava o país em bandos errantes, os quais eram uma peste e terror às nações circunvizinhas; mas sua aparência era o inverso de tudo isto. Viu a grande extensão e o perfeito arranjo de seu acampamento, apresentando tudo os indícios de uma disciplina e ordem completas. Foi-lhe mostrado o favor com que Deus olhava a Israel, e o caráter distintivo de povo escolhido Seu. Não deveriam ficar no mesmo nível das outras nações, mas ser exaltados acima delas todas. "Este povo habitará só, e entre as gentes não será contado". Números 23:9. Na ocasião em que estas palavras foram faladas, os israelitas não tinham localização permanente, e seu caráter peculiar, usos e costumes, não eram familiares a Balaão. Mas quão notavelmente foi cumprida esta profecia na história posterior de Israel! Por todos os anos de seu cativeiro, através de todos os séculos desde que foram dispersos entre as nações têm eles permanecido como um povo distinto. Assim o povo de Deus -- o verdadeiro Israel -- embora disperso por todas as nações, não são na Terra senão peregrinos, cuja cidadania está no Céu. PP 326 1 Não somente foi mostrada a Balaão a história do povo hebreu como nação, mas ele viu o crescimento e prosperidade do verdadeiro Israel de Deus até o final do tempo. Viu o favor especial do Altíssimo acompanhando aqueles que O amam e temem. Viu-os amparados pelo Seu braço, ao entrarem no escuro vale da sombra da morte. E viu-os saírem de seus túmulos, coroados de glória, honra e imortalidade. Contemplou os resgatados regozijando-se nas glórias imarcescíveis da Terra renovada. Olhando para esta cena, exclamou: "Quem contará o pó de Jacó, e o número da quarta parte de Israel?" E, ao ver a coroa de glória em cada fronte, a alegria irradiando de cada semblante, e olhando para aquela vida intérmina de pura felicidade, proferiu a solene oração: "A minha alma morra a morte do justo, e seja o meu fim como o seu". Números 23:10. PP 326 2 Se Balaão tivesse tido disposição para aceitar a luz que Deus dera, teria então tornado verdadeiras para si as Suas palavras; teria de pronto cortado toda a conexão com Moabe. Não mais teria abusado da misericórdia de Deus, mas a Ele teria voltado com profundo arrependimento. Mas Balaão amava o salário da injustiça, e estava decidido a consegui-lo. PP 326 3 Balaque tinha confiantemente esperado uma maldição que caísse como uma praga definhadora sobre Israel; e, às palavras do profeta, exclamou com paixão: "Que me fizeste? Chamei-te para amaldiçoar os meus inimigos, mas eis que inteiramente os abençoaste." Balaão, procurando fazer da necessidade virtude, diz haver falado, em atenção conscienciosa para com a vontade de Deus, as palavras que foram forçadas aos seus lábios pelo poder divino. Sua resposta foi: "Porventura não terei cuidado de falar o que o Senhor pôs na minha boca?" Números 23:11, 12. PP 326 4 Balaque não pôde mesmo então abandonar o seu intento. Julgou que o espetáculo imponente apresentado pelo vasto acampamento dos hebreus, houvesse intimidado de tal maneira a Balaão que este não ousasse praticar suas adivinhações contra eles. Resolveu o rei levar o profeta a algum ponto onde visse apenas uma pequena parte das hostes. Se pudesse ser induzido a amaldiçoá-los em partes destacadas, todo o arraial logo seria votado à destruição. No cimo de uma elevação chamada Pisga, fez-se outra prova. Construíram-se novamente sete altares, sobre os quais foram colocadas as mesmas ofertas que ao princípio. O rei e seus príncipes permaneceram ao lado dos sacrifícios, enquanto Balaão se retirou para encontrar-se com Deus. Foi outra vez confiada ao profeta uma mensagem divina, que ele foi impotente para alterar ou reter. PP 327 1 Quando ele apareceu à multidão ansiosa e expectante, foi-lhe feita a pergunta: "Que coisa falou o Senhor?" A resposta, como antes, lançou o terror no coração do rei e dos príncipes: PP 327 2 "Deus não é homem, para que minta; Nem filho do homem, para que Se arrependa. Porventura diria Ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois Ele tem abençoado, e eu não o posso revogar. Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó; o Senhor seu Deus é com ele, e nele, e entre eles se ouve o alarido dum rei". Números 23:19-21. PP 327 3 Aterrado com tais revelações, Balaão exclamou: "Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel." O grande mágico tinha experimentado o seu poder de encantamentos, de acordo com o desejo dos moabitas; mas, com relação a esta mesma ocasião, dir-se-ia de Israel: "Que coisa Deus tem obrado!" Enquanto estavam sob a proteção divina, nenhum povo ou nação, embora auxiliado por todo o poder de Satanás, seria capaz de prevalecer contra eles. O mundo todo se maravilharia ante a obra admirável de Deus em prol de Seu povo -- de que um homem decidido a seguir uma conduta pecaminosa fosse de tal maneira dirigido pelo poder divino, que proferisse em vez de imprecações as mais ricas e preciosas promessas, na expressão da poesia sublime e exaltada. E o favor de Deus, manifesto a Israel nesta ocasião, deveria ser uma segurança de Seu cuidado protetor aos Seus filhos obedientes e fiéis, em todos os tempos. Quando Satanás inspirasse homens maus a caluniar, a perseguir e destruir o povo de Deus, esta mesma ocorrência lhes seria trazida à lembrança, e lhes fortaleceria o ânimo e a fé em Deus. PP 327 4 O rei de Moabe, desanimado e angustiado, exclamou: "Nem totalmente o amaldiçoarás, nem totalmente o abençoarás". Números 23:23, 25. Contudo uma vaga esperança ainda ficou em seu coração, e resolveu-se a fazer outra tentativa. Conduziu então Balaão ao Monte Peor, onde havia um templo dedicado ao culto licencioso de Baal, o deus deles. Ali foi construído o mesmo número de altares que antes, e ofereceu-se o mesmo número de sacrifícios; mas Balaão não foi só, como das outras vezes, para conhecer a vontade de Deus. Ele não tinha pretensões a feitiçaria, mas, em pé ao lado dos altares, olhava ao longe sobre as tendas de Israel. De novo o Espírito de Deus repousou sobre ele, e veio de seus lábios a mensagem divina: PP 328 1 "Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas são as tuas moradas, ó Israel! Como vales que se estendem, como jardins à beira dos rios, como árvores de sândalo que o Senhor plantou, como cedros junto às águas. Águas manarão de seus baldes, e as suas sementeiras terão águas abundantes; e o seu rei se levantará mais do que Agague, e o seu reino será exaltado. [...] Abaixou-se, deitou-se como leão e como leoa; quem o despertará?Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem". Números 24:5-7, 9. PP 328 4 A prosperidade do povo de Deus é aqui representada por algumas das mais belas figuras que se encontram na natureza. O profeta assemelha Israel com vales férteis cobertos de abundantes plantações; com jardins florescentes regados por fontes inesgotáveis; com o aromático sândalo e o imponente cedro. A última figura mencionada é uma das mais notavelmente belas e apropriadas que se encontram na Palavra inspirada. O cedro do Líbano era honrado por todos os povos do Oriente. A espécie de árvores a que ele pertence é encontrada onde quer que o homem haja ido, por toda a Terra. Desde as regiões árticas até a zona tropical, florescem, regozijando-se no calor, e ao mesmo tempo afrontando o frio; surgindo com grande pujança ao lado do rio, e ao mesmo tempo sobressaindo pelos ares por sobre a terra inculta, ressequida e sedenta. Penetram suas raízes profundamente por entre as pedras das montanhas, e erguem-se com ousadia em desafio à tempestade. Suas folhas estão frescas e verdes, quando tudo mais pereceu com o sopro do inverno. Acima de todas as outras árvores, distingue-se o cedro do Líbano pela sua força, firmeza, seu imperecível vigor; e isto é usado como símbolo daqueles cuja vida "está escondida com Cristo em Deus". Colossences 3:3. Diz a Escritura: "O justo [...] crescerá como o cedro". Salmos 92:12. A mão divina exaltou o cedro como o rei da floresta. "As faias não igualavam os seus ramos, e os castanheiros não eram como os seus renovos; nenhuma árvore no jardim de Deus se assemelhou a ele". Ezequiel 31:8. O cedro é repetidas vezes empregado como emblema da realeza; e seu uso nas Escrituras para representar os justos mostra como o Céu considera aqueles que fazem a vontade de Deus. PP 328 5 Balaão profetizou que o rei de Israel seria maior e mais poderoso do que Agague. Este era o nome dado aos reis dos amalequitas, que naquele tempo eram uma nação muito poderosa; mas Israel, sendo fiel a Deus, subjugaria todos os seus inimigos. O Rei de Israel era o Filho de Deus; e Seu trono seria um dia estabelecido na Terra, e Seu poder seria exaltado acima de todos os reinos terrestres. PP 328 6 Ouvindo as palavras do profeta, Balaque ficou dominado pela decepcionada esperança, pelo temor e raiva. Ficou indignado de que Balaão lhe tivesse dado uma mínima esperança de uma resposta favorável, quando tudo estava decidido contra ele. Considerou com escárnio a conduta transigente e enganadora do profeta. O rei exclamou iradamente: "Agora pois foge para o teu lugar; eu tinha dito que te honraria grandemente; mas eis que o Senhor te privou desta honra". Números 24:11. Balaão respondeu que o rei tinha sido advertido previamente de que ele apenas poderia falar a mensagem que lhe fora dada da parte de Deus. PP 329 1 Antes de voltar a seu povo, Balaão proferiu uma belíssima, sublime profecia acerca do Redentor do mundo, e a final destruição dos inimigos de Deus: PP 329 2 "Vê-Lo-ei, mas não agora; contemplá-Lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete". Números 24:17. PP 329 3 E finalizou predizendo a completa destruição de Moabe e Edom, de Amaleque e dos quenitas, não deixando assim ao rei moabita nenhum raio de esperança. PP 329 4 Decepcionado em suas esperanças de riqueza e honras, achando-se no desagrado do rei e estando cônscio de que incorrera no desprazer de Deus, Balaão voltou da missão que ele próprio desejara. Depois de chegar em casa, o poder dirigente do Espírito de Deus o deixou, e sua cobiça, que apenas estivera contida, prevaleceu. Estava disposto a recorrer a qualquer meio para ganhar a recompensa prometida por Balaque. Balaão sabia que a prosperidade de Israel dependia de sua obediência a Deus, e que não havia meio para ocasionar seu transtorno senão induzindo-os ao pecado. Resolveu conseguir agora o favor de Balaque, aconselhando aos moabitas o caminho a seguir a fim de acarretar maldição sobre Israel. PP 329 5 Voltou imediatamente à terra de Moabe, e expôs seus planos ao rei. Os próprios moabitas estavam convencidos de que, enquanto Israel permanecesse fiel a Deus, Ele seria o seu escudo. O plano proposto por Balaão era separá-los de Deus, induzindo-os à idolatria. Se pudessem ser levados a tomar parte no culto licencioso de Baal e Astarote, seu Protetor onipotente tornar-Se-ia seu inimigo, e eles logo seriam presa das nações cruéis e aguerridas em redor deles. Esse plano foi prontamente aceito pelo rei, e o próprio Balaão ficou para ajudar a executá-lo. PP 329 6 Balaão testemunhou o êxito de seu plano diabólico. Viu a maldição de Deus sobrevir a Seu povo, e milhares caindo sob Seus juízos; mas a justiça divina que puniu o pecado em Israel não permitiu que os tentadores escapassem. Na guerra de Israel contra os midianitas, Balaão foi morto. Tivera um pressentimento de que seu fim estivesse perto, quando exclamou: "A minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu". Números 23:10. Mas não preferira viver a vida dos justos, e seu destino fixou-se com os inimigos de Deus. PP 329 7 A sorte de Balaão foi semelhante à de Judas, e o caráter deles tem pronunciada semelhança entre si. Ambos estes homens experimentaram unir-se ao serviço de Deus e de Mamom, e defrontaram com malogro completo. Balaão reconhecia o verdadeiro Deus, e professava servi-Lo; Judas cria em Jesus como o Messias, e uniu-se com Seus seguidores. Mas Balaão esperava fazer do serviço de Jeová a escada pela qual adquirisse riquezas e honras mundanas; e, fracassando nisto, tropeçou, caiu, e foi quebrado. Judas esperava pela sua ligação com Cristo conseguir riqueza e posição naquele reino terrestre que, como acreditava, o Messias estava prestes a estabelecer. O malogro de suas esperanças impeliu-o à apostasia e ruína. Tanto Balaão como Judas haviam recebido grande luz e desfrutado privilégios especiais; mas um simples pecado que era acalentado lhes envenenou todo o caráter, e ocasionou a destruição de ambos. PP 330 1 É coisa perigosa permitir que uma característica infiel viva no coração. Um pecado acariciado pouco a pouco aviltará o caráter, levando todas as suas faculdades mais nobres em sujeição ao ruim desejo. A remoção de uma única salvaguarda da consciência, a condescendência com um mau hábito sequer, o descuido das elevadas exigências do dever, derribam as defesas da alma, e abrem o caminho para entrar Satanás e transviar-nos. O único meio seguro é fazer nossas orações subirem diariamente, de um coração sincero, como fazia Davi: "Dirige os meus passos nos Teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem". Salmos 17:5. ------------------------Capítulo 41 -- Apostasia no Jordão PP 331 0 Este capítulo é baseado em Números 25. PP 331 1 Com alegre coração e fé renovada em Deus, os exércitos vitoriosos de Israel haviam voltado de Basã. Já haviam ganho posse de valioso território, e estavam confiantes na conquista imediata de Canaã. Apenas o rio Jordão se achava entre eles e a Terra Prometida. Do outro lado do rio, precisamente, havia uma fértil planície, coberta de verdor, regada de torrentes oriundas de copiosas fontes, e sombreada de palmeiras luxuriantes. Na extremidade ocidental da planície erguiam-se as torres e palácios de Jericó, tão abrigada em seus bosques de palmeiras que era chamada "a cidade das palmeiras". Deuteronômio 34:3. PP 331 2 Do lado oriental do Jordão, entre o rio e o elevado planalto que estiveram a atravessar, havia também uma planície, com vários quilômetros de largura, e que se estendia a alguma distância ao longo do rio. Este vale abrigado tinha o clima dos trópicos; ali florescia o sitim, ou acácia, dando à planície o nome de "vale de Sitim". Números 25:1. Foi ali que os israelitas se acamparam, e nos bosques de acácia ao lado do rio encontraram um agradável retiro. PP 331 3 Mas, por entre aquele atrativo ambiente encontraram um mal mais cruel do que poderosos exércitos de homens armados, e animais ferozes do deserto. Aquele território, tão rico em vantagens naturais, tinha sido contaminado por seus habitantes. No culto público de Baal, a principal divindade, levavam-se constantemente a efeito as cenas mais degradantes e iníquas. De todos os lados havia lugares que eram notados pela idolatria e licenciosidade, oferecendo seus próprios nomes a sugestão da vileza e corrupção do povo. PP 331 4 Tal ambiente exercia uma influência corruptora sobre os israelitas. Suas mentes se tornaram familiares com os vis pensamentos constantemente sugeridos; sua vida de comodidade e inação produzia os seus efeitos desmoralizadores; e quase inconscientemente estavam a afastar-se de Deus e chegando a uma condição em que seriam fáceis presas da tentação. PP 331 5 Durante o tempo de seu acampamento ao lado do Jordão, Moisés esteve fazendo preparativos para a ocupação de Canaã. Neste trabalho o grande chefe esteve inteiramente empenhado; mas para o povo este tempo de trégua e expectação foi mais probante, e antes que se passassem muitas semanas sua história foi mareada pelos mais medonhos desvios da virtude e integridade. PP 331 6 A princípio pouca comunicação houve entre os israelitas e seus vizinhos gentios; mas, depois de algum tempo, mulheres midianitas começaram a entrar furtivamente no acampamento. Sua aparência não provocara alarme, e tão silenciosamente eram executados os seus planos que a atenção de Moisés não foi chamada para o caso. Era o objetivo dessas mulheres, em sua associação com os hebreus, seduzi-los a transgredir a lei de Deus, atrair sua atenção para os ritos e costumes pagãos, e levá-los à idolatria. Tais intuitos eram cuidadosamente ocultos sob o aspecto de amizade, de modo que não houve suspeita dos mesmos, até para os guardas do povo. PP 332 1 Por sugestão de Balaão, foi pelo rei de Moabe designada uma grande festa em honra a seus deuses, e arranjou-se secretamente que Balaão induzisse os israelitas a assistirem à mesma. Ele era considerado por estes como um profeta de Deus, e por isso teve pouca dificuldade em realizar seu propósito. Grande número de pessoas uniram-se a ele, testemunhando as festas. Aventuraram-se a ir ao terreno proibido, e foram enredados na cilada de Satanás. Iludidos pela música e dança, e seduzidos pela beleza das vestais gentílicas, romperam sua fidelidade para com Jeová. Unindo-se-lhes nos folguedos e festins, a condescendência com o vinho anuviou-lhes os sentidos e derribou as barreiras do domínio próprio. A paixão teve pleno domínio; e, havendo contaminado a consciência pela depravação, foram persuadidos a curvar-se aos ídolos. Ofereceram sacrifícios sobre os altares gentílicos, e participaram dos mais degradantes ritos. PP 332 2 Não demorou muito tempo para que o veneno se espalhasse, como uma infecção mortal, pelo acampamento de Israel. Aqueles que teriam conquistado seus inimigos na batalha, foram vencidos pelos ardis das mulheres gentílicas. O povo parecia ter endoidecido. Os príncipes e principais homens estavam entre os primeiros a transgredir, e eram tantos os culpados dentre o povo, que a apostasia se tornou nacional. Juntou-se pois "Israel a Baal-Peor". Números 25:3. Quando Moisés se apercebeu do mal, as tramas de seus inimigos tinham sido tão bem-sucedidas que não somente se achavam os israelitas a participar do culto licencioso do Monte Peor, mas os ritos pagãos estavam vindo a ser observados no acampamento de Israel. O idoso chefe encheu-se de indignação, e acendeu-se a ira de Deus. PP 332 3 As suas práticas iníquas fizeram para Israel aquilo que todos os encantamentos de Balaão não poderiam fazer -- separaram-nos de Deus. Por meio de juízos que se não fizeram esperar, o povo foi despertado para a enormidade de seu pecado. Uma pestilência terrível irrompeu no arraial, da qual dezenas de milhares de pronto foram presa. Deus ordenou que os líderes desta apostasia fossem mortos pelos magistrados. Esta ordem foi prontamente obedecida. Os transgressores foram mortos; então seus corpos foram suspensos à vista de todo o Israel, para que a congregação, vendo os dirigentes tão severamente tratados, pudesse ter uma intuição profunda da aversão de Deus ao seu pecado, e do terror de Sua ira contra eles. PP 332 4 Todos entendiam que o castigo era justo; e o povo foi apressadamente ao tabernáculo, e com lágrimas e profunda humilhação confessou seu pecado. Enquanto assim estavam a chorar diante de Deus, à porta do tabernáculo, ao mesmo tempo em que a praga ainda estava a fazer a sua obra de morte, e os magistrados cumpriam sua terrível missão, Zinri, um dos nobres de Israel, veio ousadamente ao acampamento, em companhia de uma meretriz midianita, princesa de importante casa de Midiã, a quem ele levara para a sua tenda. Nunca o vício foi mais ousado ou pertinaz. Inflamado pelo vinho, Zinri publicava seu pecado "como Sodoma"; gloriava-se em sua vergonha. Os sacerdotes e chefes haviam-se prostrado com pesar e humilhação, chorando "entre o alpendre e o altar" (Joel 2:17), e rogando ao Senhor que poupasse Seu povo, e não desse Sua herança ao opróbrio, enquanto esse príncipe de Israel fazia ostentação de seu pecado à vista da congregação, como que a desafiar a vingança de Deus, e zombar dos juízes da nação. Finéias, filho de Eleazar, sumo sacerdote, levantou-se dentre a congregação, e tomando uma lança "foi após do varão israelita até à tenda" (Números 25:8), e matou a ambos. Assim a praga cessou, enquanto o sacerdote que executara o juízo divino foi honrado perante todo o Israel, e o sacerdócio foi confirmado a ele e sua casa para sempre. PP 333 1 Finéias "desviou a Minha ira de sobre os filhos de Israel", foi a mensagem divina; "portanto dize: Eis que lhe dou o Meu concerto de paz, e ele, e a sua semente depois dele, terá o concerto do sacerdócio perpétuo; porquanto teve zelo pelo seu Deus, e fez propiciação pelos filhos de Israel". Números 25:11-13. PP 333 2 Os juízos que visitaram Israel, por causa de seu pecado, em Sitim, destruíram os sobreviventes daquela vasta multidão, que, quase quarenta anos antes, incorrera nesta sentença: "Certamente morrerão no deserto." A contagem do povo feita por determinação divina, durante seu acampamento nas planícies do Jordão, mostrou que "dos que foram contados por Moisés e Arão, o sacerdote, quando contaram aos filhos de Israel no deserto de Sinai, [...] nenhum deles ficou senão Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num". Números 26:64, 65. PP 333 3 Deus enviara juízos sobre Israel por haverem cedido às seduções dos midianitas; mas os tentadores não deveriam escapar da ira da justiça divina. Os amalequitas, que haviam atacado Israel em Refidim, caindo sobre aqueles que estavam desfalecidos e cansados na retaguarda das hostes, só muito tempo depois é que foram punidos; mas os midianitas, que os seduziram ao pecado, tiveram de sentir prontamente os juízos de Deus, como sendo os inimigos mais perigosos. "Vinga os filhos de Israel dos midianitas", foi a ordem de Deus a Moisés; "depois recolhido serás aos teus povos". Números 31:2. Esta ordem foi imediatamente obedecida. Mil homens foram escolhidos de cada tribo, e enviados sob a chefia de Finéias. "E pelejaram contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés. [...] Mataram mais, além dos que já foram mortos, os reis dos midianitas; [...] cinco reis dos midianitas; também a Balaão filho de Beor mataram à espada". Números 31:7, 8. As mulheres também, que foram feitas prisioneiras, pelo exército atacante, foram mortas por ordem de Moisés, como os mais culpados e perigosos dos adversários de Israel. PP 334 1 Tal foi o fim daqueles que imaginaram malefício contra o povo de Deus. Diz o salmista: "As gentes precipitaram-se na cova que abriram; na rede que ocultaram ficou preso o seu pé". Salmos 9:15. "Pois o Senhor não rejeitará o Seu povo, nem desamparará a Sua herança. Mas o juízo voltará a ser justiça." Quando os homens "acorrem em tropel contra a vida do justo", o Senhor "fará recair sobre eles a sua própria iniqüidade; e os destruirá na sua própria malícia". Salmos 94:14, 15, 21, 23. PP 334 2 Quando Balaão foi chamado para amaldiçoar os hebreus, não pôde com todos os seus encantamentos trazer mal sobre eles; pois o Senhor "não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó". Mas, quando em virtude de cederem à tentação transgrediram a lei de Deus, Sua defesa se afastou deles. Quando o povo de Deus é fiel aos Seus mandamentos, "contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel". Números 23:21, 23. Daí exercer Satanás todo o seu poder e seus ardis para os seduzir ao pecado. Se aqueles que professam ser depositários da lei de Deus se tornam transgressores de seus preceitos, separam-se de Deus, e serão incapazes de subsistirem perante seus inimigos. PP 334 3 Os israelitas, que não puderam ser vencidos pelas armas ou pelos encantamentos de Midiã, foram presa de suas meretrizes. Tal é o poder que a mulher, alistada ao serviço de Satanás, tem exercido para prender e destruir as almas. "A muitos feridos derribou, e são muitíssimos os que por ela foram mortos". Provérbios 7:26. Foi assim que os filhos de Sete foram desviados de sua integridade, e a semente santa se tornou corrupta. Assim foi José tentado. Assim traiu Sansão a sua força, a defesa de Israel, nas mãos dos filisteus. Nisto Davi tropeçou. E Salomão, o mais sábio dos reis, que três vezes fora chamado o amado de seu Deus, tornou-se escravo da paixão, e sacrificou sua integridade ao mesmo poder fascinante. PP 334 4 "Ora tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia". 1 Coríntios 10:11, 12. Satanás bem conhece o material com que tem a lidar no coração humano. Ele sabe -- pois tem estudado com diabólica intensidade durante milhares de anos -- quais os pontos que mais facilmente podem ser assaltados no caráter de cada um; e durante gerações sucessivas tem ele operado a fim de subverter os homens mais fortes, os príncipes de Israel, pelas mesmas tentações que tiveram tanto êxito em Baal-Peor. Todos os períodos da História se acham repletos de caracteres que naufragaram de encontro aos recifes da condescendência sensual. Aproximando-nos do final do tempo, ao achar-se o povo de Deus nas fronteiras da Canaã celestial, Satanás redobrará, como fez antigamente, os seus esforços para os impedir de entrar na boa terra. Arma as suas ciladas a toda a alma. Não é simplesmente o ignorante ou sem letras que necessita de ser guardado; ele preparará suas tentações para os que se encontram nas mais elevadas posições, no mais santo ofício; se ele os puder levar a poluir a alma, poderá por meio deles destruir a muitos. E ele agora emprega os mesmos fatores que empregou há três mil anos atrás. Por meio de amizades mundanas, pelos encantos da beleza, pela procura de prazeres, folguedos, festins ou bebidas, tenta ele à violação do sétimo mandamento. PP 335 1 Satanás seduziu Israel à depravação antes de os levar à idolatria. Aqueles que desonrarem a imagem de Deus e macularem Seu templo em suas próprias pessoas, não terão escrúpulos para praticarem qualquer desonra a Deus que satisfaça o desejo de seus depravados corações. A condescendência sensual enfraquece o espírito e avilta a alma. As faculdades morais e intelectuais ficam embotadas e paralisadas pela satisfação das inclinações animais; e é impossível ao escravo da paixão compenetrar-se da obrigação sagrada imposta pela lei de Deus, apreciar a obra expiatória, ou dar o devido valor à alma. Bondade, pureza e verdade, reverência para com Deus e amor pelas coisas sagradas -- e tudo isto são afeições santas e nobres desejos que ligam os homens ao mundo celestial -- são consumidos nos fogos da lascívia. A alma se torna um deserto enegrecido e desolado, habitação de espíritos maus, e "guarida de toda a ave hedionda e abominável". Seres formados à imagem de Deus são arrastados ao nível dos irracionais. PP 335 2 Foi associando-se com os idólatras e unindo-se às suas festas que os hebreus foram levados a transgredir a lei de Deus, e trazer Seus juízos sobre a nação. Assim, agora, é levando os seguidores de Cristo a associar-se com os ímpios e unir-se às suas diversões que Satanás é mais bem-sucedido ao induzi-los ao pecado. "Saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo". 2 Coríntios 6:17. Deus requer hoje de Seu povo uma distinção tão grande do mundo, nos costumes, hábitos e princípios, como exigia de Israel antigamente. Se fielmente seguirem os ensinos de Sua Palavra, existirá esta distinção; não poderá ser de outra maneira. As advertências feitas aos hebreus contra o identificarem-se com os gentios, não eram mais diretas ou explícitas do que as que vedam aos cristãos adaptar-se ao espírito e costumes dos ímpios. Cristo nos fala: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele". 1 João 2:15. "A amizade do mundo é inimizade contra Deus"; "portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. Os seguidores de Cristo devem separar-se dos pecadores, procurando sua companhia apenas quando há oportunidade de fazer-lhes bem. Nunca seríamos demasiado decididos em evitar a companhia daqueles que exercem influência para desviar-nos de Deus. Ao mesmo tempo em que oramos: "Não nos deixes cair em tentação" (Mateus 6:13), devemos excluir a tentação tanto quanto possível. PP 335 3 Foi quando os israelitas se achavam em uma condição de comodidade e segurança exterior que foram levados ao pecado. Deixaram de conservar a Deus sempre diante de si, negligenciaram a oração, e acariciaram um espírito de confiança em si próprios. A comodidade e condescendência consigo mesmos, deixaram desguarnecida a cidadela da alma, dando entrada a pensamentos aviltantes. Foram os traidores dentro dos muros que subverteram as fortalezas do princípio e traíram Israel ao poder de Satanás. É assim que Satanás ainda procura conseguir a ruína da alma. Uma longa operação preparatória desconhecida ao mundo, tem lugar no coração, antes que o cristão cometa francamente o pecado. A alma não desce de pronto da pureza e santidade à depravação, corrupção e crime. Leva tempo para que se degradem aqueles que foram formados à imagem de Deus, ao estado brutal e satânico. Pelo contemplar nos transformamos. Alimentando pensamentos impuros, o homem pode de tal maneira conduzir a mente que o pecado que uma vez lhe repugnava tornar-se-lhe-á agradável. PP 336 1 Satanás está empregando todos os meios para tornar populares o crime e o vício aviltante. Não podemos andar pelas ruas de nossas cidades sem encontrar notícias inflamantes de crimes, apresentadas em algum romance, ou a serem representados em algum teatro. A mente é educada de maneira a familiarizar-se com o pecado. A conduta seguida pelos que são baixos e vis é posta perante o povo nos jornais do dia, e tudo que pode provocar a paixão é trazido perante eles em histórias excitantes. Ouvem e lêem tanto acerca de crimes aviltantes que a consciência, que já fora delicada, e que teria recuado com horror de tais cenas, se torna endurecida, e ocupam-se com tais coisas com ávido interesse. PP 336 2 Muitos dos divertimentos populares do mundo hoje, mesmo entre aqueles que pretendem ser cristãos, propendem para os mesmos fins que os dos gentios, outrora. Poucos há na verdade entre eles, que Satanás não torne responsáveis pela destruição de almas. Por meio do teatro ele tem operado durante séculos para despertar a paixão e glorificar o vício. A ópera com sua fascinadora ostentação e música sedutora, o baile de máscaras, a dança, o jogo, Satanás emprega para derribar as barreiras do princípio e abrir a porta à satisfação sensual. Em todo ajuntamento onde é alimentado o orgulho e satisfeito o apetite, onde a pessoa é levada a esquecer-se de Deus e perder de vista os interesses eternos, está Satanás atando suas correntes. PP 336 3 "Guarda o teu coração", é o conselho do sábio, "porque dele procedem as saídas da vida". Provérbios 4:23. Conforme o homem "imaginou na sua alma, assim é". Provérbios 23:7. O coração deve ser renovado pela graça divina, ou será em vão procurar pureza de vida. Aquele que tenta edificar um caráter nobre, virtuoso, independente da graça de Cristo, está edificando sua casa sobre areia movediça. Nas cruéis tempestades da tentação certamente será ela derribada. A oração de Davi deve ser a petição de toda alma: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto". Salmos 51:10. E, tendo-nos tornado participantes do dom celestial, devemos prosseguir até à perfeição, sendo "mediante a fé" "guardados na virtude de Deus". 1 Pedro 1:5. PP 337 1 Temos todavia uma obra a fazer a fim de resistirmos à tentação. Aqueles que não querem ser presa dos ardis de Satanás devem bem guardar as entradas da alma; devem evitar ler, ver, ou ouvir aquilo que sugira pensamentos impuros. A mente não deve ser deixada a divagar ao acaso em todo o assunto que o adversário das almas possa sugerir. "Cingindo os lombos do vosso entendimento", diz o apóstolo Pedro, "sede sóbrios, [...] não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver". 1 Pedro 1:13-15. Diz Paulo: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai". Filipenses 4:8. Isto exigirá oração fervorosa e incessante vigiar. Devemos ser auxiliados pela influência permanente do Espírito Santo, que atrairá a mente para cima, e habituá-la-á a ocupar-se com coisas puras e santas. E devemos fazer estudo diligente da Palavra de Deus. "Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra. Escondi a Tua Palavra no meu coração", diz o salmista, "para eu não pecar contra Ti". Salmos 119:9, 11. PP 337 2 O pecado de Israel em Bete-Peor acarretou os juízos de Deus sobre a nação, e, embora os mesmos pecados hoje não sejam punidos tão prontamente, de um modo tão certo terão eles a sua paga. "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá". 1 Coríntios 3:17. A natureza determinou penas terríveis a estes crimes, penas estas que, mais cedo ou mais tarde, serão infligidas a todo o transgressor. São estes pecados mais do que outros quaisquer os que têm causado a terrível degeneração de nossa espécie, e o cortejo de moléstias e miséria que faz a desgraça do mundo. Os homens podem ter êxito ao esconder de seus semelhantes as suas transgressões, mas nem por isso deixarão de ceifar infalivelmente os resultados, em sofrimentos, moléstias, imbecilidade ou morte. E além desta vida encontra-se o tribunal do Juízo, com sentenças de eterna punição. "Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus" (Gálatas 5:21), mas com Satanás e os anjos maus terão parte naquele "lago de fogo", que é a "segunda morte". Apocalipse 20:14. PP 337 3 "Os lábios da mulher estranha destilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que o azeite; mas o seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois fios. Afasta dela o teu caminho e não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outro a tua honra, nem os teus anos a cruéis. Para que não se fartem os estranhos do teu poder, e todos os teus trabalhos entrem na casa do estrangeiro; e gemas no teu fim, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo". Provérbios 5:3, 4, 8-11. "Sua casa se inclina para a morte." "Todos os que se dirigem a ela não voltarão". Provérbios 2:18, 19. "Seus convidados estão nas profundezas do inferno". Provérbios 9:18. ------------------------Capítulo 42 -- A repetição da lei PP 338 0 Este capítulo é baseado em Deuteronômio 4-6; 28. PP 338 1 O Senhor anunciou a Moisés que o tempo designado para a posse de Canaã estava às portas; e, achando-se o idoso profeta em pé sobre as elevações sobranceiras ao rio Jordão e a Terra Prometida, contemplou com profundo interesse a herança de seu povo. Seria possível que a sentença pronunciada contra ele, por causa de seu pecado em Cades, pudesse ser revogada? Com grande ardor rogou: "Senhor Jeová! Já começaste a mostrar ao Teu servo a Tua grandeza, e a Tua forte mão; porque, que deus há nos céus e na Terra, que possa obrar segundo as Tuas obras, e segundo a Tua fortaleza? Rogo-Te que me deixes passar, para que veja esta boa terra que está de além do Jordão; esta boa montanha, e o Líbano". Deuteronômio 3:24-27. PP 338 2 A resposta foi: "Basta; não Me fales mais nesse negócio. Sobe ao cume de Pisga, e levanta teus olhos ao ocidente e ao norte, e ao sul, e ao oriente, e vê com os teus olhos; porque não passarás este Jordão." PP 338 3 Sem murmurar Moisés sujeitou-se ao decreto de Deus. E agora sua grande ansiedade era por Israel. Quem sentiria pelo bem-estar deles o interesse que ele sentira? De um coração repleto ele derramou esta oração: "O Senhor, Deus dos espíritos de toda a carne, ponha um homem sobre esta congregação, que saia diante deles, e que entre diante deles, e que os faça sair, e que os faça entrar; para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor". Números 27:16-23. PP 338 4 O Senhor ouviu a oração de Seu servo; e a resposta veio: "Toma para ti a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e põe a tua mão sobre ele. E apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação, e dá-lhe mandamentos aos olhos deles; e põe sobre ele da tua glória, para que obedeça toda a congregação dos filhos de Israel." Josué havia durante muito tempo auxiliado a Moisés; e, sendo homem de sabedoria, habilidade e fé, foi escolhido para suceder-lhe. PP 338 5 Mediante a imposição das mãos por Moisés, acompanhada de impressionante conjuração, Josué foi solenemente separado como chefe de Israel. Foi também admitido a participar desde então no governo. As palavras do Senhor concernentes a Josué vieram por meio de Moisés à congregação: "E se porá perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele consultará, segundo o juízo de Urim, perante o Senhor; conforme ao seu dito sairão, e conforme ao seu dito entrarão, ele e todos os filhos de Israel com ele, e toda a congregação". Números 27:18, 19, 21. PP 339 1 Antes de deixar sua posição como líder visível de Israel, determinou-se a Moisés repetir-lhes a história de seu libertamento do Egito, e suas viagens no deserto, e também recapitular-lhes a lei proferida do Sinai. Quando a lei fora dada, apenas poucos da presente congregação tinham idade suficiente para compreenderem a terrível solenidade da ocasião. Como devessem logo passar o Jordão, e tomar posse da Terra Prometida, Deus queria apresentar-lhes as reivindicações de Sua lei, e estipular-lhes a obediência como condição para a prosperidade. PP 339 2 Moisés ficou em pé perante o povo para fazer suas últimas advertências e admoestações. Seu rosto foi iluminado de uma santa luz. Tinha os cabelos brancos pela idade; mas o corpo estava ereto, o rosto exprimia o vigor não abatido da saúde, e os olhos eram claros e fortes. PP 339 3 Era uma ocasião solene, e com profundo sentimento descreveu ele o amor e misericórdia do Protetor todo-poderoso: "Pergunta agora aos tempos passados, que te precederam desde o dia em que Deus criou o homem sobre a Terra, desde uma extremidade do céu até a outra, se sucedeu jamais coisa tão grande como esta, ou se se ouviu coisa como esta? Ou se algum povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como tu a ouviste, ficando vivo? Ou se um deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo com provas, com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão forte, e com braço estendido, e com grandes espantos, conforme a tudo quanto o Senhor vosso Deus vos fez no Egito aos vossos olhos? A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão Ele". Deuteronômio 4:32-35. PP 339 4 "O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que jurara a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de faraó, rei do Egito. Saberás pois que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos". Deuteronômio 7:7-9. PP 339 5 O povo de Israel estivera pronto para atribuir suas dificuldades a Moisés; mas agora foram removidas suas suspeitas de que ele era governado pelo orgulho, ambição ou egoísmo, e escutavam com confiança as suas palavras. Moisés expôs-lhes fielmente os seus erros e as transgressões de seus pais. Haviam eles muitas vezes se sentido impacientes e revoltados, por causa de sua longa peregrinação pelo deserto; mas o Senhor não era o culpado por esta demora em possuírem Canaã; Ele Se afligia mais do que eles por não poder levá-los à posse imediata da Terra Prometida, e mostrar assim perante todas as nações Seu grande poder no libertamento de Seu povo. Com sua falta de confiança em Deus, com seu orgulho e incredulidade, não estavam preparados para entrarem em Canaã. De nenhuma maneira representariam o povo cujo Deus era o Senhor; pois não tinham o Seu caráter de pureza, bondade e benevolência. Se seus pais houvessem se entregado pela fé à direção de Deus, sendo governados pelos Seus juízos, e andando em Suas ordenações, teriam desde muito tempo se estabelecido em Canaã, como um povo próspero, santo e feliz. Sua demora para entrarem na boa terra desonrou a Deus, e desmereceu a Sua glória à vista das nações ao redor. PP 340 1 Moisés, que compreendia o caráter e valor da lei de Deus, assegurou ao povo que nenhuma outra nação tinha preceitos tão sábios, justos e misericordiosos, como os que foram dados aos hebreus. "Vedes aqui", disse ele, "vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus, para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida". Deuteronômio 4:5, 6. PP 340 2 Moisés chamou sua atenção para o "dia em que estiveste perante o Senhor em Horebe". Interpelou as hostes hebréias: "Que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que O chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós?" Hoje poderia repetir-se esta interpelação a Israel. As leis que Deus deu a Seu antigo povo eram mais sábias, melhores e mais humanas, do que as das nações mais civilizadas na Terra. As leis das nações trazem os indícios das debilidades e paixões do coração não renovado; mas a lei de Deus traz o cunho divino. PP 340 3 "O Senhor vos tomou, e vos tirou do forno de ferro do Egito", declarou Moisés, "para que Lhe sejais por povo hereditário". Deuteronômio 4:10, 7, 8, 20. A terra em que logo entrariam, e que deles deveria ser sob condição de obediência à lei de Deus, foi-lhes assim descrita, e, quanto não deveriam estas palavras ter comovido os corações de Israel, ao lembrarem-se eles de que aquele que tão resplendentemente descrevia as bênçãos da boa terra, fora, por causa do pecado deles, excluído da participação da herança de seu povo: PP 340 4 "O Senhor teu Deus te mete numa boa terra"; "não é como a terra do Egito, donde saístes, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta. Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas"; "terra de ribeiros de águas, de fontes, e de abismos, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides, e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, abundante de azeite e mel; terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre"; "terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até o fim do ano". Deuteronômio 8:7-9; 11:10-12. PP 340 5 "Havendo-te pois o Senhor teu Deus introduzido na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades, que tu não edificaste, e casas cheias de todo o bem, que tu não encheste, e poços cavados, que tu não cavaste, vinhas e olivais que tu não plantaste, e comeres e te fartares, guarda-te, e que te não esqueças do Senhor". Deuteronômio 6:10-12. "Guardai-vos de que vos esqueçais do concerto do Senhor vosso Deus [...] porque o Senhor teu Deus é um fogo que consome, um Deus zeloso". Deuteronômio 4:23, 24. Se fizessem mal à vista do Senhor, então, disse Moisés: "Certamente perecereis depressa da terra, a qual, passado o Jordão, ides possuir". Deuteronômio 4:25, 26. PP 341 1 Depois da repetição pública da lei, Moisés completou o trabalho de escrever todas as leis, estatutos e juízos que Deus lhe dera, e todas as regras relativas ao cerimonial dos sacrifícios. O livro que continha estas coisas foi posto sob os cuidados de oficiais competentes, e para ser guardado com segurança foi depositado ao lado da arca. Achava-se ainda o grande líder tomado de receio de que o povo se afastasse de Deus. Em um discurso mui sublime e palpitante expôs-lhes as bênçãos que seriam deles sob condição de obediência, e a maldição que seguiria à transgressão: PP 341 2 "Se ouvires a voz do Senhor teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os Seus mandamentos que eu te ordeno hoje", "bendito serás tu na cidade, e bendito serás no campo", no "fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; [...] bendito o teu cesto e a tua amassadeira; bendito serás ao entrares, e bendito serás ao saíres. O Senhor entregará os teus inimigos que se levantarem contra ti, feridos diante de ti. [...] O Senhor mandará que a bênção esteja contigo, nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão". Deuteronômio 28:1-8. PP 341 3 "Será porém que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em fazer todos os Seus mandamentos e os Seus estatutos, que hoje te ordeno, então sobre ti virão todas estas maldições", "e serás por pasmo, por ditado, e por fábula entre todos os povos a que o Senhor te levará." "E o Senhor vos espalhará entre todos os povos, desde uma extremidade da Terra até a outra extremidade da Terra; e ali servirás a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais; ao pau e à pedra. E nem ainda entre as mesmas gentes descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; porquanto o Senhor ali te dará coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma. E a tua vida como suspensa estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria vida. Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a noite! e à tarde dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! Pelo pasmo de teu coração, com que pasmarás, e pelo que verás com os teus olhos". Deuteronômio 28:15, 37, 64-67. PP 341 4 Pelo Espírito de inspiração, olhando através dos séculos, Moisés descreveu as terríveis cenas da subversão final de Israel como nação, e a destruição de Jerusalém pelos exércitos de Roma: "O Senhor levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da Terra, que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás; nação feroz de rosto, que não atentará para o rosto do velho, nem se apiedará do moço". Deuteronômio 28:49, 50. PP 341 5 A completa devastação da terra, os horríveis sofrimentos do povo durante o cerco de Jerusalém por Tito, séculos mais tarde, foram vividamente descritos: "Comerá o fruto dos teus animais, e o fruto da tua terra, até que sejas destruído; [...] e te angustiará em todas as tuas portas, até que venham a cair os teus altos e fortes muros, em que confiavas em toda a tua terra. [...] Comerás o fruto do teu ventre, a carne de teus filhos e de tuas filhas, que te der o Senhor teu Deus, no cerco e no aperto com que os teus inimigos te apertarão." "E quanto à mulher mais mimosa e delicada entre ti, que de mimo e delicadeza nunca tentou pôr a planta de seu pé sobre a terra, será maligno o seu olho contra o homem de seu regaço, [...] e por causa de seus filhos que tiver; porque os comerá às escondidas pela falta de tudo, no cerco e no aperto com que o teu inimigo te apertará nas tuas portas". Deuteronômio 28:51-53, 56, 57. PP 342 1 Moisés terminou com estas palavras impressionantes: "Os céus e a Terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas tu e a tua semente, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à Sua voz, e te achegando a Ele; pois Ele é a tua vida, e a longura dos teus dias, para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar". Deuteronômio 30:19, 20. PP 342 2 A fim de mais profundamente gravar em todos os espíritos estas verdades, o grande chefe incorporou-as em poesia sacra. Este cântico não era somente histórico, mas também profético. Ao mesmo tempo em que de novo referia o maravilhoso trato de Deus para com Seu povo no passado, prefigurava também os grandes acontecimentos do futuro, a vitória final dos fiéis quando Cristo vier a segunda vez, com poder e glória. Ordenou-se ao povo que confiasse à memória esta história poética, e a ensinasse a seus filhos, e filhos de seus filhos. Deveria ser cantada pela congregação quando se reunia para o culto, e ser repetida pelo povo ao saírem eles para o seu labor cotidiano. Era dever dos pais gravar estas palavras na mente sensível de seus filhos, de tal maneira que nunca pudessem ser esquecidas. PP 342 3 Visto que os israelitas deveriam ser, em sentido especial, os guardas e conservadores da lei de Deus, deveriam eles especialmente impressionar-se com a significação dos preceitos da mesma, e com a importância da obediência, e por meio deles os seus filhos, e filhos de seus filhos. O Senhor ordenou com relação aos seus estatutos: "E as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. [...] E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas". Deuteronômio 6:7-9. PP 342 4 Quando seus filhos perguntassem no futuro: "Quais são os testemunhos, e estatutos e juízos que o Senhor nosso Deus vos ordenou?" deviam os pais então repetir a história do trato de Deus, cheio de graça, para com eles: como o Senhor agira para o seu livramento, a fim de que pudessem obedecer à Sua lei; e declarar-lhes: "O Senhor nos ordenou que fizéssemos todos estes estatutos, para temer ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça quando tivermos cuidado de fazer todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado". Deuteronômio 6:20-25. ------------------------Capítulo 43 -- A morte de Moisés PP 343 0 Este capítulo é baseado em Deuteronômio 31-34. PP 343 1 Em todo o trato de Deus com o Seu povo, há, de mistura com Seu amor e misericórdia, a mais notável evidência de Sua justiça estrita e imparcial. Isto se exemplifica na história do povo hebreu. Deus conferira grandes bênçãos a Israel. Sua amorável bondade para com eles é descrita desta maneira tocante: "Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou". Deuteronômio 32:11, 12. E, contudo, que castigo rápido e severo caiu sobre eles pela sua transgressão! PP 343 2 O amor infinito de Deus foi manifesto no dom de Seu unigênito Filho, para redimir uma raça perdida. Cristo veio à Terra para revelar aos homens o caráter de Seu Pai, e Sua vida foi repleta de ações de ternura e compaixão divina. E no entanto Cristo mesmo declara: "Até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei". Mateus 5:18. A mesma voz que com um rogo paciente e amante convida o pecador a vir a Ele e encontrar perdão e paz, ordenará no Juízo aos que rejeitaram Sua misericórdia: "Apartai-vos de Mim, malditos". Mateus 25:41. Em toda a Bíblia Deus é representado não somente como um terno Pai, mas também como um justo Juiz. Posto que Ele Se deleite em mostrar misericórdia, e a perdoar a iniqüidade, a transgressão e o pecado, de nenhuma maneira, todavia, terá por inocente o culpado. Êxodo 34:7. PP 343 3 O grande Governador das nações havia declarado que Moisés não deveria conduzir a congregação de Israel à boa terra, e os rogos fervorosos do servo de Deus não puderam obter a revogação de sua sentença. Sabia que devia morrer. Todavia, nem por um momento sequer vacilou em seus cuidados por Israel. Procurara fielmente preparar a congregação para entrar na herança prometida. Por ordem divina Moisés e Josué se dirigiram ao tabernáculo, enquanto a coluna de nuvem veio e ficou sobre a porta. Ali o povo foi solenemente confiado aos cuidados de Josué. A obra de Moisés como dirigente de Israel estava terminada. Mas ainda ele se esquecia de si mesmo em seu interesse pelo povo. Na presença da multidão congregada, Moisés, em nome de Deus, dirigiu ao seu sucessor estas palavras de santa animação: "Esforça-te e anima-te; porque tu meterás os filhos de Israel na terra que lhes jurei; e Eu serei contigo". Deuteronômio 31:23. Volveu-se então aos anciãos e oficiais do povo, dando-lhes a solene incumbência de obedecer fielmente às instruções que ele lhes havia comunicado da parte de Deus. PP 344 1 Ao olhar o povo para o idoso homem, que tão em breve deles seria retirado, lembrava-se, com uma nova e mais profunda apreciação, de sua ternura paternal, de seus sábios conselhos, e de seus incansáveis labores. Quantas vezes, quando seus pecados haviam atraído os justos juízos de Deus, as orações de Moisés prevaleceram junto dEle para os poupar! Seu pesar acrescia pelo remorso. Amargamente lembravam-se de que sua própria perversidade havia provocado Moisés a cometer o pecado pelo qual devia morrer. PP 344 2 O desaparecimento de seu amado líder seria para Israel uma repreensão muito maior do que qualquer que pudessem haver recebido, caso tivesse sua vida e missão continuado. Deus queria levá-los a compreender que não deveriam tornar a vida de seu futuro chefe tão cheia de provações como fizeram a de Moisés. Deus fala a Seu povo pelas bênçãos concedidas; e, quando estas não são apreciadas, Ele lhes fala pelas bênçãos que lhes remove, a fim de que sejam levados a ver seus pecados, e voltem a Ele de todo o coração. PP 344 3 Naquele mesmo dia veio a Moisés a ordem: "Sobe [...] ao Monte Nebo, [...] e vê a terra de Canaã, que darei aos filhos de Israel por possessão. E morre no monte, ao qual subirás; e recolhe-te aos teus povos". Deuteronômio 32:49, 50. Moisés havia muitas vezes deixado o acampamento, em obediência aos chamados divinos, a fim de ter comunhão com Deus; mas agora deveria partir para um novo e misterioso propósito. Devia sair para entregar a vida nas mãos de seu Criador. Moisés sabia que iria morrer só; a nenhum amigo terrestre seria permitido atendê-lo em suas últimas horas. Havia um mistério e espanto em torno da cena que perante ele estava, da qual seu coração se retraía. A mais severa prova era sua separação do povo de seus cuidados e amor, povo este com o qual seu interesse e sua vida haviam tanto tempo estado unidos. Mas ele aprendera a confiar em Deus, e com implícita fé confiou-se e ao povo a Seu amor e misericórdia. PP 344 4 Pela última vez, Moisés achou-se na assembléia de seu povo. Novamente o Espírito de Deus repousou sobre ele, e na linguagem mais sublime e tocante pronunciou uma bênção sobre cada uma das tribos, finalizando com uma bênção sobre todas elas: PP 344 5 "Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus! Que cavalga sobre os céus para a tua ajuda, e com a Sua alteza sobre as mais altas nuvens. O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo sejam os braços eternos; e Ele lance o inimigo de diante de ti, e diga: Destrói-o. Israel pois habitará só, seguro, na terra da fonte de Jacó, na terra de grão e de mosto; e os seus céus gotejarão orvalho. Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro". Deuteronômio 33:26-29. PP 344 6 Moisés volveu da congregação, e em silêncio pôs-se, sozinho, a subir a encosta da montanha. Foi "ao Monte Nebo, ao cume de Pisga". Deuteronômio 34:1. Naquela solitária elevação pôs-se em pé, e com vista clara olhou para o cenário que se espalhava diante dele. Longe, do lado do ocidente, estendiam-se as águas azuis do Mar Grande; ao norte, o Monte Hermom levantava-se de encontro ao céu; ao oriente achava-se o tabuleiro de Moabe, e para além estava Basã, cenário da vitória de Israel; e afastado ao sul estendia-se o deserto de suas longas peregrinações. PP 345 1 Na solidão, Moisés reviu sua vida de lutas e dificuldades, desde que se retirou das honras da corte e de um reino que poderia ter em perspectiva no Egito, a fim de lançar sua sorte com o povo escolhido de Deus. Evocou à mente aqueles longos anos no deserto, com os rebanhos de Jetro, o aparecimento do Anjo na sarça ardente, e sua própria vocação para libertar Israel. Viu de novo os grandes prodígios do poder de Deus manifestos em prol do povo escolhido, e Sua longânima misericórdia durante os anos de sua peregrinação e rebelião. Apesar de tudo que Deus havia operado por eles, apesar das suas próprias orações e labores, apenas dois de todos os adultos do vasto exército que deixou o Egito, foram achados dignos de entrar na Terra Prometida. Revendo Moisés os resultados de seus trabalhos, sua vida de provações e sacrifícios parecia ter sido quase em vão. PP 345 2 Contudo não se lamentava dos encargos que havia assumido. Sabia que sua missão e trabalho foram designados pelo próprio Deus mesmo. Quando chamado a princípio para tirar Israel do cativeiro, arreceou-se desta responsabilidade; mas, visto que assumira o trabalho, não rejeitara o encargo. Mesmo quando o Senhor propusera desobrigá-lo, e destruir o rebelde Israel, não pôde Moisés consentir nisso. Se bem que tivessem sido grandes as suas provações, havia ele fruído sinais especiais do favor de Deus; obtivera uma rica experiência durante a permanência no deserto, testemunhando as manifestações do poder e glória de Deus, e tendo a comunhão de Seu amor; entendia haver feito uma sábia decisão preferindo sofrer aflição com o povo de Deus, a desfrutar por algum tempo o prazer do pecado. PP 345 3 Olhando retrospectivamente para suas experiências como chefe do povo de Deus, uma ação errada mareava a relação das mesmas. Se se pudesse apagar aquela transgressão, sentia que não teria receio da morte. Assegurou-se-lhe que o arrependimento, e a fé no sacrifício prometido, eram tudo que Deus exigia, e de novo Moisés confessou seu pecado, e implorou perdão em nome de Jesus. PP 345 4 Foi-lhe agora apresentada uma vista panorâmica da terra da promessa. Todas as partes do território estenderam-se diante dele, não desmaiadas e vagas à turva distância mas mostrando-se claras, distintas e belas à sua visão deleitada. Naquele quadro foi ela apresentada, não como então se mostrava, mas como se tornaria com a bênção de Deus, sob a posse de Israel. Parecia estar a olhar para um segundo Éden. Havia montanhas revestidas dos cedros do Líbano, colinas pardacentas pelos olivais, e olentes pelo perfume das vinhas; amplas e verdes planícies a brilhar com flores, e abundantes em frutos; aqui as palmeiras dos trópicos, ali os campos ondulantes de trigo e cevada; vales ensolarados, melodiosos com o murmúrio dos regatos e o cântico dos pássaros, boas cidades e belos jardins, lagos profusos na "abundância dos mares", rebanhos a pascerem nas colinas, e mesmo entre as rochas os acumulados tesouros da abelha silvestre. Era na verdade uma terra como a que Moisés, inspirado pelo Espírito de Deus, descrevera a Israel: "Bendita do Senhor [...] com o mais excelente dos céus, com o orvalho, e com o abismo que jaz abaixo, e com as mais excelentes novidades do Sol, [...] e com o mais excelente dos montes antigos, [...] e com o mais excelente da terra, e com a sua plenitude". Deuteronômio 33:13-16. PP 346 1 Moisés viu o povo escolhido estabelecido em Canaã, estando cada tribo em sua própria possessão. Teve uma perspectiva de sua história depois do estabelecimento na Terra Prometida; estendeu-se diante dele a história longa e triste de sua apostasia, e punição desta. Viu-os, por causa de seus pecados, dispersos entre os gentios, estando afastada a glória de Israel, em ruínas a sua bela cidade, e o povo desta cativo em terras estranhas. Viu-os restabelecidos na terra de seus pais, e finalmente trazidos sob o domínio de Roma. PP 346 2 Permitiu-se-lhe olhar através da corrente do tempo, e ver o primeiro advento de nosso Salvador. Viu Jesus como uma criancinha em Belém. Ouviu as vozes da hoste angélica romper em alegre cântico de louvor a Deus e paz na Terra. Viu no céu a estrela guiando os magos do Oriente a Jesus, e uma grande luz lhe inundou a mente ao recordar estas palavras proféticas: "Uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel". Números 24:17. Contemplou a humilde vida de Cristo em Nazaré, Seu ministério de amor e simpatia e Suas curas, Sua rejeição por uma nação orgulhosa e incrédula. Com espanto ouviu a jactanciosa exaltação da lei de Deus por parte deles, ao mesmo tempo em que desprezavam e rejeitavam Aquele por quem a lei foi dada. Viu Jesus sobre o Monte das Oliveiras ao despedir-Se com prantos da cidade que Ele amava. Quando Moisés contemplou a rejeição final daquele povo tão altamente abençoado pelo Céu, povo por quem havia labutado, orado e se sacrificado, por amor do qual estivera disposto a que seu próprio nome fosse riscado do livro da vida; quando ouviu aquelas terríveis palavras: "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (Mateus 23:38), seu coração contorceu-se de angústia, e lágrimas amargas lhe caíram dos olhos, compartilhando da tristeza do Filho de Deus. PP 346 3 Seguiu o Salvador ao Getsêmani, e viu a agonia no horto, a traição, a zombaria e os açoites -- e a crucifixão. Moisés viu que assim como levantara a serpente no deserto, do mesmo modo o Filho de Deus deveria ser levantado, para que quem quer que nEle cresse, não perecesse mas tivesse a vida eterna. João 3:15. Mágoa, indignação e horror encheram o coração de Moisés, ao ver a hipocrisia e ódio satânico manifestados pela nação judaica contra seu Redentor, o poderoso Anjo que havia ido diante de seus pais. Ouviu o grito agonizante de Cristo: "Meu Deus, Meu Deus, por que Me desamparaste?" Marcos 15:34. Viu-O jazendo no túmulo novo de José. As trevas da aflição sem esperanças pareciam rodear o mundo. Mas olhou de novo, e viu-O saindo como vencedor, e subindo ao Céu acompanhado por anjos em adoração, e levando uma multidão de cativos. Viu as portas resplendentes abrirem-se para O receberem, e a hoste celestial com cânticos de triunfo dar as boas-vindas ao seu Comandante. E aí foi-lhe revelado que ele mesmo seria um dos que serviriam ao Salvador, e abrir-Lhe-iam as portas eternas. Olhando para aquela cena, seu rosto resplandeceu com um santo brilho. Quão pequenas pareciam as provações e sacrifícios de sua vida, comparados com os do Filho de Deus! quão leves em contraste com o "peso eterno de glória mui excelente"! 2 Coríntios 4:17. Regozijou-se de que se lhe tivesse permitido, mesmo em pequena medida, ser participante dos sofrimentos de Cristo. PP 347 1 Moisés contemplou os discípulos de Jesus ao saírem para levar Seu evangelho ao mundo. Ele viu que, embora o povo de Israel "segundo a carne" (Romanos 9:3) houvesse deixado de alcançar o elevado destino a que Deus os chamara, e tivessem pela sua incredulidade deixado de tornar-se a luz do mundo; embora tivessem desprezado a misericórdia de Deus, e se despojado de suas bênçãos como povo escolhido, viu Moisés que Deus, todavia, não rejeitara a semente de Abraão; os gloriosos projetos que Ele empreendera realizar por meio de Israel seriam cumpridos. Todos os que por meio de Cristo devessem tornar-se filhos da fé, seriam contados como semente de Abraão; eram herdeiros das promessas do concerto; como Abraão eram chamados a guardar e tornar conhecidos ao mundo a lei de Deus e o evangelho de Seu Filho. Moisés viu a luz do evangelho a resplandecer, por intermédio dos discípulos de Jesus, àqueles que estavam assentados em trevas (Mateus 4:16), e milhares nas terras dos gentios a arrebanhar-se sob o resplendor daquela luz que se erguia. E, vendo, regozijou-se no crescimento e prosperidade de Israel. PP 347 2 E agora uma outra cena passa diante dele. Havia-se-lhe mostrado a obra de Satanás levando os judeus a rejeitarem a Cristo, enquanto professavam honrar a lei de Seu Pai. Vê agora o mundo cristão sob um engano idêntico, professando aceitar a Cristo enquanto rejeitam a lei de Deus. Ouvira dos sacerdotes e anciãos o grito frenético: "Fora", "Crucifica-O, crucifica-O" (João 19:15), e agora ouve dos professos ensinadores cristãos este brado: "Fora com a lei!" Viu o sábado pisado a pés, e uma instituição espúria estabelecida em seu lugar. Novamente Moisés se encheu de espanto e horror. Como poderiam aqueles que criam em Cristo rejeitar a lei proferida por Sua própria voz sobre o santo monte? Como poderia qualquer que tema a Deus pôr de lado a lei que é o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra? Com alegria Moisés viu a lei de Deus ainda honrada e exaltada por uns poucos fiéis. Viu a última grande luta dos poderes terrestres para destruir os que guardam a lei de Deus. Olhou antecipadamente para o tempo em que Deus Se levantaria para punir os habitantes da Terra, pela sua iniqüidade, e os que temeram o Seu nome estarão cobertos e ocultos no dia de Sua ira. Ouviu o concerto de paz de Deus com os que guardaram Sua lei, ao emitir Ele Sua voz de Sua santa habitação, e tremerem os céus e a Terra. Viu a segunda vinda de Cristo em glória, os justos mortos ressuscitados para vida imortal e os santos vivos trasladados sem ver a morte, juntos ascendendo com cânticos de alegria para a cidade de Deus. PP 348 1 Ainda outra cena se desdobrara à sua vista -- a Terra livre da maldição, mais linda do que a bela terra da promessa, que tão poucos momentos antes se estendera perante ele. Não há pecado, e a morte não pode entrar ali. Encontram, ali, as nações dos salvos o seu lar eterno. Com indizível alegria Moisés olha para a cena -- a realização de um livramento mais glorioso do que jamais esboçaram as suas mais radiosas esperanças. Passada para sempre sua peregrinação terrestre, entrou finalmente o Israel de Deus na boa terra. PP 348 2 Desvanece-se de novo a visão, e seus olhos repousam sobre a terra de Canaã, que se estende a distância. Então, como um guerreiro cansado, deita-se para repousar. "Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme ao dito do Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura". Deuteronômio 34:5, 6. Muitos que não estiveram dispostos a atender os conselhos de Moisés enquanto se achava com eles, estariam em perigo de cometer idolatria com o seu cadáver, caso soubessem o lugar de seu sepultamento. Por esta razão foi oculto aos homens. Anjos de Deus, porém, sepultaram o corpo de Seu fiel servo, e vigiavam a solitária sepultura. PP 348 3 "Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor enviou para fazer [...] em toda a mão forte, e em todo o espanto grande, que obrou Moisés aos olhos de todo o Israel". Deuteronômio 34:10-12. PP 348 4 Não houvesse a vida de Moisés sido maculada por aquele único pecado, deixando de dar a Deus a glória de tirar água da rocha, em Cades, e teria entrado na Terra Prometida, e seria trasladado para o Céu sem ver a morte. Mas não ficou muito tempo no túmulo. O próprio Cristo, com os anjos que sepultaram a Moisés, desceu do Céu para chamar o santo que dormia. Satanás exultara com seu êxito, fazendo Moisés pecar contra Deus, e cair assim sob o domínio da morte. O grande adversário declarou que a sentença divina -- "És pó, e em pó te tornarás" (Gênesis 3:19) -- lhe dava posse dos mortos. O poder da sepultura nunca havia sido quebrado, e todos os que se achavam no túmulo ele considerava como cativos seus, para jamais serem libertos da tenebrosa prisão. PP 348 5 Pela primeira vez estava Cristo para dar a vida aos mortos. Como o Príncipe da vida e os seres resplandecentes se aproximassem da sepultura, Satanás ficou apreensivo pela sua supremacia. Com seus anjos maus levantou-se para contestar a invasão do território que alegava ser de sua posse. Ufanava-se de que o servo de Deus se houvesse tornado seu prisioneiro. Declarou que mesmo Moisés não foi capaz de guardar a lei de Deus; que tomara para si a glória devida a Jeová -- o mesmo pecado que determinara o banimento de Satanás do Céu -- e viera pela transgressão sob o domínio de Satanás. O maior dos traidores reiterou as acusações originais que fizera contra o governo divino, e repetiu suas queixas da injustiça de Deus para com ele. PP 349 1 Cristo não Se rebaixou a entrar em controvérsia com Satanás. Poderia apresentar contra ele a obra cruel que seus enganos haviam operado no Céu, causando a ruína de um número enorme de seus habitantes. Poderia ter apontado às falsidades proferidas no Éden, as quais haviam determinado o pecado de Adão e acarretado a morte ao gênero humano. Poderia ter lembrado a Satanás que foi sua obra de tentar Israel à murmuração e à rebelião o que esgotara a longânima paciência de seu dirigente, e em um momento de descuido o surpreendera no pecado pelo qual caíra sob o poder da morte. Mas Cristo remeteu tudo isto a Seu Pai, dizendo: "O Senhor te repreenda". Judas 9. O Salvador não entrou em discussão com Seu adversário, mas naquele momento, ali mesmo, iniciou a obra de quebrar o poder desse adversário decaído, e de trazer o morto à vida. Ali estava uma prova que Satanás não podia contestar, relativa à supremacia do Filho de Deus. Tornou-se para sempre certa a ressurreição. Satanás foi despojado de sua presa; os justos mortos de novo viveriam. PP 349 2 Em conseqüência do pecado, Moisés viera sob o poder de Satanás. Em seus próprios méritos era o legítimo cativo da morte; mas foi ressurgido para a vida imortal, mantendo este título em nome do Redentor. Moisés saiu do túmulo glorificado, e ascendeu com seu Libertador à cidade de Deus. PP 349 3 Nunca, antes que fossem exemplificados no sacrifício de Cristo, foram a justiça e o amor de Deus mais notavelmente demonstrados do que em Seu trato com Moisés. Deus excluiu Moisés de Canaã, a fim de ensinar uma lição que jamais deveria ser esquecida -- de que Ele exige estrita obediência, e de que os homens devem acautelar-se em não tomarem para si a glória que é devida a seu Criador. Ele não podia atender a oração de Moisés, de que lhe fosse dado partilhar da herança de Israel; mas não Se esqueceu de Seu servo, nem o abandonou. O Deus do Céu compreendia os sofrimentos que Moisés havia suportado; notara cada ato de serviço fiel durante aqueles longos anos de conflito e provações. No cume de Pisga, Deus chamou Moisés a uma herança infinitamente mais gloriosa do que a Canaã terrestre. PP 349 4 No monte da transfiguração Moisés estava presente com Elias, que fora trasladado. Foram enviados como portadores de luz e glória da parte do Pai a Seu Filho. E assim a oração de Moisés, proferida havia tantos séculos antes, finalmente se cumpriu. Estava ele na "boa montanha" (Deuteronômio 3:25), dentro da herança de seu povo, dando testemunho dAquele em quem se centralizavam todas as promessas de Israel. Tal é a última cena revelada aos olhos mortais na história daquele homem tão altamente honrado pelo Céu. PP 350 1 Moisés foi um tipo de Cristo. Ele próprio declarou a Israel: "O Senhor teu Deus te despertará um Profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis". Deuteronômio 18:15. Deus achou conveniente disciplinar a Moisés na escola da aflição e pobreza, antes de poder preparar-se para guiar as hostes de Israel para a Canaã terrestre. O Israel de Deus, jornadeando para a Canaã celestial, tem um Capitão que não necessitou de ensino humano para O preparar para a Sua missão de divino Chefe; contudo Ele foi aperfeiçoado pelos sofrimentos; e, "naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados". Hebreus 2:18. Nosso Redentor não manifestou nenhuma fraqueza ou imperfeição humana; contudo morreu para obter-nos entrada na Terra Prometida. PP 350 2 "E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho sobre a Sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão-somente conservamos firmes a confiança e a glória da esperança até ao fim". Hebreus 3:5, 6. ------------------------Capítulo 44 -- A travessia do Jordão PP 351 0 Este capítulo é baseado em Josué 1-5:12. PP 351 1 Os israelitas prantearam sentidamente seu finado líder, e trinta dias foram dedicados a cerimônias especiais em honra à sua memória. Nunca, até que fosse retirado dentre eles, se compenetraram tanto do valor de seus conselhos sábios, de sua paternal ternura, e de sua fé inabalável. Com uma apreciação nova e mais profunda, recordaram-se das preciosas lições que dera enquanto ainda com eles se encontrava. PP 351 2 Moisés morrera, mas sua influência não desapareceu com ele. Deveria continuar a viver, reproduzindo-se nos corações de seu povo. A memória daquela vida santa, abnegada, durante muito tempo seria acariciada, modelando com um poder silencioso, persuasivo, a vida daqueles mesmos que haviam negligenciado suas palavras vivas. Assim como a luz do Sol poente ilumina os picos das montanhas muito tempo depois que o próprio Sol se haja imergido por trás das colinas, assim as obras dos puros, santos e bons derramam luz sobre o mundo muito tempo depois que os próprios atores se foram. Suas obras, suas palavras, seu exemplo, para sempre viverão: "O justo ficará em memória eterna". Salmos 112:6. PP 351 3 Conquanto estivessem cheios de pesar pela sua grande perda, o povo sabia que não fora deixado só. A coluna de nuvem repousava sobre o tabernáculo de dia, e à noite a coluna de fogo, como segurança de que Deus seria seu guia e auxiliador se andassem no caminho de Seus mandamentos. PP 351 4 Josué era agora o reconhecido líder de Israel. Havia sido conhecido principalmente como guerreiro, e seus dotes e virtudes eram especialmente valiosos nesta etapa da história de seu povo. Corajoso, resoluto e perseverante, rápido, incorruptível, despreocupado de interesses egoístas em seus cuidados pelos que se achavam confiados à sua guarda, e, acima de tudo, inspirado por uma fé viva em Deus -- tal era o caráter do homem divinamente escolhido para conduzir os exércitos de Israel em sua entrada na Terra Prometida. Durante a permanência no deserto agira como primeiro-ministro de Moisés, e pela sua fidelidade serena, despretensiosa, sua perseverança quando outros vacilavam, sua firmeza para manter a verdade em meio do perigo, dera prova de sua aptidão para suceder a Moisés, mesmo antes que fosse pela voz de Deus chamado. PP 351 5 Foi com grande ansiedade e desconfiança em si mesmo que Josué encarou a obra que se achava diante de si; seus temores, porém, foram removidos pela segurança dada por Deus: "Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. [...] Tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria." "Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé vo-lo tenho dado, como Eu disse a Moisés." Até às montanhas do Líbano à grande distância, até às praias do Mar Grande, e, ao longe, até às margens do Eufrates no Oriente -- tudo deveria ser deles. PP 352 1 A essa promessa foi acrescentada a ordem: "Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que Meu servo Moisés te ordenou." A determinação do Senhor foi: "Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite"; "não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda"; "porque então farás prosperar o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás". Josué 1:5, 6, 3, 7, 8. PP 352 2 Os israelitas estavam ainda acampados no lado oriental do Jordão, que apresentava a primeira barreira à ocupação de Canaã. "Levanta-te pois agora", fora a primeira mensagem de Deus a Josué, "passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que Eu dou aos filhos de Israel". Josué 1:2. Nenhuma instrução foi dada quanto ao modo por que deveriam fazer a passagem. Josué sabia, entretanto, que o que quer que Deus mandasse, Ele daria os meios para que Seu povo o fizesse, e nesta fé o intrépido chefe de pronto iniciou os preparativos para avançarem. PP 352 3 Poucos quilômetros além do rio, precisamente defronte do lugar em que os israelitas estavam acampados, achava-se a cidade de Jericó, grande e solidamente fortificada. Esta cidade era virtualmente a chave de todo o território, e apresentaria formidável obstáculo ao êxito de Israel. Josué enviou portanto dois moços como espias a fim de visitarem essa cidade, e verificarem algo quanto à sua população, seus recursos, e a resistência de suas fortificações. Os habitantes da cidade, aterrorizados e cheios de suspeita, estavam constantemente alerta, e os mensageiros estiveram em grande perigo. Foram contudo preservados por Raabe, mulher de Jericó, com perigo de sua própria vida. Como recompensa à sua bondade, deram-lhe a promessa de proteção quando a cidade fosse tomada. PP 352 4 Os espias voltaram sãos e salvos com a notícia: "Certamente o Senhor tem dado toda esta terra nas nossas mãos, pois até todos os moradores estão desmaiados diante de nós." Fora-lhes declarado em Jericó: "Temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Seom e a Ogue, que estavam de além do Jordão, os quais destruístes. Ouvindo isto, desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus e embaixo na Terra". Josué 2:10, 11. PP 352 5 Foram expedidas ordens a fim de se aprontarem para o avanço. O povo devia preparar um suprimento de alimentos para três dias, e o exército devia estar de prontidão para a batalha. Todos concordaram cordialmente aos planos de seu líder, e asseguraram-lhe sua confiança e apoio: "Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente que o Senhor teu Deus seja contigo, como foi com Moisés". Josué 1:16, 17. PP 353 1 Partindo de seu acampamento nos bosques de acácia de Sitim, a hoste desceu à margem do Jordão. Todos sabiam, entretanto, que sem auxílio divino não poderiam esperar fazer a passagem. Nesta época do ano, na primavera, a neve que derretia das montanhas havia de tal maneira avolumado o Jordão que o rio transbordou, tornando-se impossível atravessá-lo nos vaus usuais. Deus queria que a passagem de Israel no Jordão fosse miraculosa. Josué, por indicação divina, ordenou ao povo que se santificasse; deveriam remover seus pecados, e livrar-se de toda a impureza exterior; pois "amanhã", disse ele, "fará o Senhor maravilhas no meio de vós". A "arca do concerto" deveria abrir o caminho diante das hostes. Quando vissem o sinal da presença de Jeová, levado pelos sacerdotes, mudar-se de seu lugar para o centro do acampamento, e avançar em direção ao rio, deveriam então partir de seu lugar e segui-la. As circunstâncias da passagem foram minuciosamente descritas; e disse Josué: "Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós, e que de todo lançará de diante de vós aos cananeus. [...] Eis que a arca do concerto do Senhor de toda a Terra passa o Jordão diante de vós". Josué 3:5, 6, 10, 11. PP 353 2 No momento adequado, iniciou-se o movimento para a frente, indo a arca na vanguarda, aos ombros dos sacerdotes. Determinara-se ao povo ficar mais atrás, de modo que houvesse um espaço vazio de cerca de um quilômetro em redor da arca. Todos, com profundo interesse, estavam atentos ao avançarem os sacerdotes para a margem do Jordão. Viram-nos com a arca sagrada a moverem-se com firmeza para a frente, em direção à corrente encapelada, até que se mergulharam na água os pés dos portadores. Subitamente a correnteza estancou-se do lado de cima, enquanto a torrente continuou a fluir do lado de baixo; e o leito do rio ficou descoberto. PP 353 3 Ao mando divino os sacerdotes avançaram para o meio do canal, e ali ficaram de pé, enquanto descia a hoste inteira, e atravessava para o lado oposto. Assim impressionou as mentes de todo o Israel o fato de que o poder que deteve as águas do Jordão foi o mesmo que abrira o Mar Vermelho a seus pais, quarenta anos antes. Quando todo o povo havia passado, a arca mesma foi levada para a margem ocidental. Mal alcançara esta um lugar seguro, "e as plantas dos pés dos sacerdotes se puseram em seco" (Josué 4:18), as águas represadas, sendo soltas, arremeteram-se para baixo, como uma inundação irresistível, no canal natural da torrente. PP 353 4 As gerações vindouras não deveriam ficar sem testemunho deste grande prodígio. Enquanto os sacerdotes que levavam a arca ainda se achavam no meio do Jordão, doze homens previamente escolhidos, um de cada tribo, apanharam cada um uma pedra do leito do rio onde os sacerdotes estavam em pé, e as levaram para a margem ocidental. Estas pedras deviam ser erguidas como um monumento no primeiro lugar de acampamento além do rio. Ordenava-se ao povo contar a seus filhos e filhos de seus filhos a história do livramento que Deus operara em prol deles, conforme disse Josué: "Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias". Josué 4:24. PP 354 1 A influência deste prodígio, tanto sobre os hebreus como sobre seus inimigos, foi de grande importância. Foi uma segurança para Israel da presença e proteção contínua de Deus -- prova de que Ele agiria em prol deles por intermédio de Josué como operara por meio de Moisés. Tal certeza era necessária para fortalecer-lhes o coração, dando eles início à conquista da terra -- estupenda tarefa que havia esmorecido a fé de seus pais quarenta anos antes. O Senhor declarara a Josué antes da travessia: "Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo". Josué 3:7. E cumpriu-se a promessa. "Naquele dia o Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida". Josué 4:14. PP 354 2 Essa demonstração do poder divino em favor de Israel destinava-se também a aumentar o temor com que eram olhados pelas nações circunjacentes, e assim preparar o caminho para o seu triunfo mais fácil e completo. Quando a notícia de que Deus detivera as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, chegou aos reis dos amorreus e dos cananeus, seus corações tremeram de medo. Os hebreus já haviam matado os cinco reis de Midiã, o poderoso Seom, rei dos amorreus, e Ogue de Basã, e agora a passagem pelo Jordão, dilatado e impetuoso, encheu de terror todas as nações circunvizinhas. Para os cananeus, para todo o Israel, e para o próprio Josué, prova inequívoca fora dada de que o Deus vivo, o Rei do Céu e da Terra, estava entre Seu povo, e não os deixaria nem os desampararia. PP 354 3 À pequena distância do Jordão os hebreus fizeram seu primeiro acampamento em Canaã. Ali Josué "circuncidou aos filhos de Israel"; e os filhos de Israel acamparam-se em Gilgal, e "celebraram a Páscoa". Josué 5:3, 10, 9. A suspensão do rito da circuncisão desde a rebelião de Cades fora um testemunho constante a Israel de que seu concerto com Deus, do qual era aquela o símbolo designado, estivera invalidado. E a interrupção da Páscoa, memorial de seu livramento do Egito, fora prova do desagrado do Senhor pelo seu desejo de voltarem à terra do cativeiro. Agora, porém, estavam terminados os anos da rejeição. Mais uma vez Deus reconhecia a Israel como Seu povo, e restabeleceu-se o sinal do concerto. O rito da circuncisão foi levado a efeito em todo o povo nascido no deserto. E o Senhor declarou a Josué: "Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito" (Josué 5:9), e em alusão a isto o lugar de seu acampamento foi chamado Gilgal, que é "círculo" ou "roda". PP 355 1 Nações gentílicas tinham vituperado ao Senhor e Seu povo porque os hebreus não puderam tomar posse de Canaã, como era sua expectativa, logo depois de saírem do Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque Israel vagueara tanto tempo no deserto, e zombeteiramente haviam declarado que o Deus dos hebreus não era capaz de os levar à Terra Prometida. O Senhor manifestara agora de maneira assinalada o Seu poder e favor, abrindo o Jordão diante de Seu povo; e os inimigos deste não mais os podiam exprobrar. PP 355 2 "No dia catorze do mês, à tarde", a Páscoa foi celebrada nas planícies de Jericó. "E comeram do trigo da terra do ano antecedente, ao outro dia depois da Páscoa, pães asmos e espigas tostadas, no mesmo dia. E cessou o maná no dia seguinte depois que comeram do trigo da terra do ano antecedente; e os filhos de Israel não tiveram mais maná; porém, no mesmo ano comeram das novidades da terra de Canaã". Josué 5:9-12. Os longos anos de suas vagueações pelo deserto haviam-se findado. Os pés de Israel estavam finalmente a pisar na Terra Prometida. ------------------------Capítulo 45 -- A queda de Jericó PP 356 0 Este capítulo é baseado em Josué 5:13-15; 6; 7. PP 356 1 Os hebreus tinham entrado em Canaã, mas não a haviam sujeitado; e quanto às aparências humanas, a luta para obterem posse da terra deveria ser longa e difícil. Era habitada por uma raça poderosa, que se encontrava pronta para opor-se à invasão de seu território. As várias tribos se achavam coligadas pelo receio de um perigo comum. Seus cavalos e férreos carros de batalha, seu conhecimento do território, e seu adestramento na guerra dar-lhes-iam grande vantagem. Além disso, o território era guardado por fortalezas -- "cidades grandes, e muradas até aos céus". Deuteronômio 9:1. Unicamente na certeza de uma força que não lhes era própria, poderiam os israelitas esperar êxito no conflito que estava iminente. PP 356 2 Uma das mais poderosas fortalezas da Terra -- a grande e rica cidade de Jericó -- encontrava-se precisamente diante deles, a pouca distância apenas de seu acampamento em Gilgal. Nas bordas de uma planície fértil, abundante de ricas e variadas produções tropicais, com seus palácios e templos como habitação de luxo e do vício, apresentava esta orgulhosa cidade, por trás de suas sólidas muralhas, desafio ao Deus de Israel. Jericó era uma das principais sedes do culto idólatra, sendo dedicada especialmente a Astarote, a deusa da Lua. Ali se centralizava tudo que era mais vil e degradante na religião dos cananeus. O povo de Israel, em cuja mente se achavam frescas as lembranças dos resultados terríveis de seu pecado em Bete-Peor, apenas poderia olhar para esta cidade gentílica com repugnância e horror. PP 356 3 Submeter Jericó era considerado por Josué o primeiro passo na conquista de Canaã. Mas antes de tudo procurou certeza de guia divina; e esta lhe foi concedida. Retirando-se do acampamento a fim de meditar e orar para que o Deus de Israel fosse adiante de Seu povo, viu um guerreiro armado, de grande estatura e presença imponente, "que tinha na mão uma espada nua." À intimação de Josué: "És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos?" deu-se esta resposta: "Venho agora como Príncipe do Senhor." A mesma ordem dada a Moisés em Horebe: "Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo" (Josué 5:13-15), revelou o verdadeiro caráter do estranho misterioso. Era Cristo, o exaltado Ser, que estava em pé diante do chefe de Israel. Tomado de assombro, Josué caiu sobre seu rosto e adorou; e ouviu esta segurança: "Tenho dado na tua mão a Jericó e ao seu rei, os seus valentes e valorosos" (Josué 6:2); e recebeu instruções para a tomada da cidade. PP 357 1 Em obediência à ordem divina Josué arregimentou os exércitos de Israel. Nenhum assalto se deveria fazer. Apenas deviam fazer o circuito da cidade, levando a arca de Deus, e tocando trombetas. Em primeiro lugar iam os guerreiros, uma corporação de homens escolhidos, não para fazer agora a conquista pela sua própria habilidade e proeza, mas pela obediência às orientações a eles dadas por Deus. Seguiam-se sete sacerdotes com trombetas. Então a arca de Deus, rodeada de uma auréola de glória divina, era levada pelos sacerdotes vestidos nos trajes que denotavam seu sagrado ofício. Seguia-se o exército de Israel, estando cada tribo sob a sua bandeira. Tal foi o cortejo que circundou a cidade condenada. Nenhum som se ouvia a não ser o tropel daquela grande hoste e o estrondo solene das trombetas, ecoando pelas colinas, e ressoando através das ruas de Jericó. Concluído o circuito, o exército voltou em silêncio às suas tendas, e a arca foi de novo posta em seu lugar no tabernáculo. PP 357 2 Admiradas e alarmadas, as sentinelas da cidade notavam cada movimento, e o referiam às autoridades. Não sabiam a significação de toda esta manifestação; mas, quando viram aquela potente hoste a marchar em redor de sua cidade uma vez em cada dia, juntamente com a arca sagrada e os sacerdotes assistentes, o mistério da cena aterrorizou o coração de sacerdotes e povo. De novo inspecionaram suas fortes defesas, sentindo-se certos de que poderiam com êxito resistir ao mais poderoso ataque. Muitos punham a ridículo a idéia de que qualquer mal lhes pudesse advir por meio daquelas singulares demonstrações. Outros estavam aterrados contemplando o séquito que cada dia volteava a cidade. Lembravam-se de que o Mar Vermelho uma vez se abrira perante este povo, e que acabava de se lhes abrir uma passagem pelo rio Jordão. Não sabiam que mais prodígios Deus poderia operar por eles. PP 357 3 Durante seis dias, a hoste de Israel fez o circuito da cidade. Veio o sétimo dia, e com o primeiro alvor da manhã, Josué arregimentou os exércitos do Senhor. Determinou-se-lhes agora marchar sete vezes em redor de Jericó, e a um forte estrondo das trombetas dar uma aclamação em alta voz, pois Deus lhes havia entregue a cidade. PP 357 4 O vasto exército marchou solenemente em redor das condenadas muralhas. Tudo estava em silêncio -- apenas o passo cadenciado de muitos pés, e o som ocasional da trombeta, rompiam a quietude das primeiras horas da manhã. Os sólidos muros de pedra maciça pareciam desafiar o cerco dos homens. Os vigias sobre os muros olhavam com temor crescente, quando, ao terminar o primeiro circuito, seguiu-se um segundo, então um terceiro, quarto, quinto, sexto. Qual poderia ser o objetivo desses movimentos misteriosos? Que grande acontecimento se achava iminente? Não tiveram muito tempo a esperar. Completando-se a sétima volta, deteve-se a longa procissão. As trombetas, que durante um intervalo estiveram silenciosas, prorrompem agora em um som que sacode a própria terra. As muralhas de pedra sólida, com suas torres e seteiras maciças, cambaleiam e levantam-se de seus fundamentos, e com fragor caem em ruínas por terra. Os habitantes de Jericó ficam paralisados de terror, e as hostes de Israel entram e tomam posse da cidade. PP 358 1 Os israelitas não haviam ganho a vitória pela sua própria força; a conquista fora inteiramente do Senhor; e, como as primícias da terra, a cidade, com tudo que continha, deveria ser votada como sacrifício a Deus. Israel devia impressionar-se com o fato de que na conquista de Canaã não deveriam combater por si mesmos, mas simplesmente como instrumentos para executarem a vontade de Deus; não para buscarem riquezas ou exaltação própria, mas a glória de Jeová, o seu Rei. Antes da tomada havia sido dada esta ordem: "A cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela". "Guardai-vos do anátema, para que vos não metais em anátema [...] e assim façais maldito o arraial de Israel, e o turbeis". Josué 6:17, 18. PP 358 2 Todos os habitantes da cidade, com todo o ser vivo que nela se continha, "desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento", passaram ao fio da espada. Apenas a fiel Raabe, com sua casa, foi poupada, em cumprimento da promessa dos espias. A cidade foi queimada; seus palácios e templos, suas magnificentes moradas com todos os seus luxuosos pertences, ricas cortinas e custosos vestuários, foram entregues às chamas. Aquilo que não pôde ser destruído pelo fogo, "a prata, e o ouro, e os vasos de metal, e de ferro", foi dedicado ao serviço do tabernáculo. O próprio local da cidade foi maldito; Jericó nunca deveria ser reconstruída como fortaleza; ameaçaram-se juízos sobre qualquer que pretendesse restabelecer os muros que o poder divino havia derribado. Esta solene declaração foi feita na presença de todo o Israel: "Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; perdendo o seu primogênito a fundará, e sobre seu filho mais novo lhe porá as portas". Josué 6:21, 24, 26. PP 358 3 A destruição total do povo de Jericó não era senão um cumprimento das ordens previamente dadas por intermédio de Moisés, concernentes aos habitantes de Canaã: "Quando [...] o Senhor Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás." "Das cidades destas nações [...] nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida". Deuteronômio 7:2; 20:16. Para muitos estas ordens parecem ser contrárias ao espírito de amor e misericórdia estipulado em outras partes da Bíblia; mas eram na verdade os ditames da sabedoria e bondade infinitas. Deus estava para estabelecer Israel em Canaã, desenvolver entre eles uma nação e governo que fossem uma manifestação de Seu reino na Terra. Não somente deveriam ser os herdeiros da verdadeira religião, mas deveriam disseminar seus princípios por todo o mundo. Os cananeus haviam-se entregado ao mais detestável e aviltante paganismo; e era necessário que a terra fosse limpa daquilo que de maneira tão certa impediria o cumprimento dos graciosos propósitos de Deus. PP 359 1 Aos habitantes de Canaã havia sido concedida ampla oportunidade para o arrependimento. Quarenta anos antes, a abertura do Mar Vermelho e os juízos sobre o Egito haviam testificado do poder supremo do Deus de Israel. E agora a destruição dos reis de Midiã, de Gileade e Basã, tinha ainda mostrado que Jeová era superior a todos os deuses. A santidade de Seu caráter e Sua aversão à impureza haviam sido demonstradas nos juízos que recaíram sobre Israel pela sua participação nos ritos abomináveis de Baal-Peor. Todos estes fatos eram conhecidos dos habitantes de Jericó, e muitos havia que participavam da convicção de Raabe, embora se recusassem a obedecer à mesma, convicção esta de que o Deus de Israel "é Deus em cima nos Céus e embaixo na Terra". Semelhantes aos homens antediluvianos, os cananeus apenas viviam para blasfemar do Céu e contaminar a Terra. E tanto o amor como a justiça exigiam a imediata execução destes rebeldes a Deus, e adversários do homem. PP 359 2 Quão facilmente os exércitos do Céu derribaram os muros de Jericó, daquela cidade orgulhosa, cujos baluartes, quarenta anos antes, tinham lançado pânico aos espias incrédulos! O Poderoso de Israel havia dito: "Tenho dado na tua mão a Jericó." Contra aquela palavra, a força humana era impotente. PP 359 3 "Pela fé caíram os muros de Jericó". Hebreus 11:30. O Capitão do exército do Senhor comunicou-Se apenas com Josué; Ele não Se revelou a toda a congregação, e tocava a esta crer nas palavras de Josué ou duvidar das mesmas, obedecer às ordens por ele dadas em nome do Senhor, ou negar-lhe a autoridade. Não podiam ver a hoste de anjos que os acompanhava sob a chefia do Filho de Deus. Poderiam ter raciocinado: "Que movimentos sem significação são esses, e quão ridícula é a realização de uma marcha diária em torno dos muros da cidade, tocando trombetas de chifres de carneiro! Isto não pode ter efeito algum sobre aquelas proeminentes fortificações." Mas o próprio plano de continuar esta cerimônia durante tanto tempo antes da subversão final dos muros, proporcionou oportunidade para o desenvolvimento da fé entre os israelitas. Deveriam impressionar-se com o fato de que sua força não estava na sabedoria do homem, nem em seu poder, mas unicamente no Deus de sua salvação. Deviam assim acostumar-se a depositar inteira confiança em seu divino Líder. PP 359 4 Deus fará grandes coisas por aqueles que nEle confiam. A razão pela qual Seu povo professo não tem maior força, é que confiam tanto em sua própria sabedoria, e não dão ao Senhor oportunidade para revelar Seu poder em favor deles. Ele auxiliará os Seus filhos crentes em toda a emergência, se nEle puserem toda a confiança, e fielmente Lhe obedecerem. PP 359 5 Logo depois da queda de Jericó, Josué decidiu atacar Ai, pequena cidade entre barrancos a poucos quilômetros ao oeste do vale do Jordão. Espias enviados àquele lugar trouxeram a notícia de que poucos eram os habitantes, e que unicamente uma pequena força seria necessária para vencê-la. PP 360 1 A grande vitória que Deus lhes havia ganho, tornara os israelitas confiantes em si mesmos. Porque Ele lhes tivesse prometido a terra de Canaã, achavam-se livres de perigo, e deixaram de compenetrar-se de que só o auxílio divino lhes poderia dar êxito. Mesmo Josué fez seus planos para a conquista de Ai, sem procurar conselho da parte de Deus. PP 360 2 Os israelitas tinham começado a exaltar sua própria força, e a olhar com desdém para os seus adversários. Esperava-se uma vitória fácil, e acharam-se suficientes três mil homens para tomarem o lugar. Arremessaram-se ao ataque sem a segurança de que Deus estaria com eles. Avançaram quase até às portas da cidade, apenas para encontrarem a mais decidida resistência. Tomados de pânico ante o número e completo preparo de seus inimigos, fugiram em confusão pela escarpada descida abaixo. Os cananeus puseram-se em feroz perseguição; "seguiram-nos desde a porta. [...] e feriram-nos na descida". Posto que a perda fosse pequena quanto ao número, tendo sido mortos apenas trinta e seis homens, foi a derrota desanimadora para toda a congregação. "O coração do povo se derreteu e se tornou como água." Esta foi a primeira vez que se defrontaram com os cananeus em combate efetivo; e, se foram postos em fuga diante dos defensores desta pequena cidade, qual seria o resultado nos maiores conflitos que se achavam perante eles? Josué encarou o mau êxito como expressão do desagrado de Deus, e, angustiosamente, apreensivamente, "rasgou os seus vestidos, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até a tarde, ele e os anciãos de Israel, e deitaram pó sobre as suas cabeças". PP 360 3 "Ah Senhor Jeová!" exclamou ele, "por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer ? [...] Ah Senhor! que direi? pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos! Ouvindo isto, os cananeus e todos os moradores da terra nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao Teu grande nome?" PP 360 4 A resposta de Jeová foi: "Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel [...] transgrediu o Meu concerto que lhes tinha ordenado." Era este um momento para ação pronta e decidida, e não para desespero e lamentação. Havia pecado secreto no acampamento, e este devia ser descoberto e removido, antes que a presença e a bênção do Senhor pudessem estar com o Seu povo. "Não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós." PP 360 5 A ordem de Deus tinha sido desatendida por um dos encarregados de executar Seus juízos. E a nação foi considerada responsável pelo crime do transgressor: "Tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram." Deram-se instruções a Josué para a descoberta e castigo do criminoso. Dever-se-ia empregar a sorte para descobri-lo. O pecador não foi diretamente indicado, ficando a questão em dúvida por algum tempo, a fim de que o povo pudesse sentir sua responsabilidade pelos pecados existentes entre eles, e assim fosse levado ao exame de coração, e humilhação perante Deus. PP 361 1 De manhã bem cedo, Josué reuniu o povo, "segundo as suas tribos", e iniciou-se a cerimônia solene e impressionante. Passo a passo prosseguiu a investigação. Mais e mais minuciosa se tornava a terrível prova. Primeiro a tribo, depois a família, depois a casa, a seguir o homem, foram passados pela prova, e Acã, filho de Carmi, da tribo de Judá, foi indicado pelo dedo de Deus como o perturbador de Israel. PP 361 2 Para confirmar seu crime, fora de toda a dúvida, não deixando base para a acusação de que fora condenado injustamente, Josué, de modo solene, conjurou a Acã a reconhecer a verdade. O miserável homem fez ampla confissão de seu crime: "Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel. [...] Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda." Expediram-se imediatamente mensageiros para a tenda, onde removeram a terra no lugar indicado, e "eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata debaixo dela. Tomaram pois aquelas coisas do meio da tenda, e as trouxeram a Josué [...] e as deitaram perante o Senhor". PP 361 3 Pronunciou-se a sentença, e imediatamente foi executada. "Por que nos turbaste?" disse Josué; "o Senhor te turbará a ti este dia." Como o povo houvesse sido responsabilizado pelo pecado de Acã, e tivesse sofrido pelas suas conseqüências, deveria, mediante seus representantes, tomar parte no castigo àquele pecado. "Todo o Israel o apedrejou com pedras." PP 361 4 Então ergueu-se sobre ele um grande montão de pedras -- testemunho ao pecado e seu castigo. "Pelo que se chamou o nome daquele lugar o vale de Acor", isto é, "perturbação." No livro das Crônicas está escrita a sua memória: "Acar, o perturbador de Israel". 1 Crônicas 2:7. PP 361 5 O pecado de Acã foi cometido em desafio às advertências mais diretas e solenes e às mais grandiosas manifestações do poder de Deus. "Guardai-vos do anátema, para que vos não metais em anátema", tinha sido a proclamação a todo o Israel. A ordem fora dada imediatamente depois da passagem miraculosa do Jordão, e do reconhecimento do concerto de Deus pela circuncisão do povo -- após a observância da Páscoa, e o aparecimento do Anjo do concerto, o Capitão da hoste do Senhor. A ela se seguira a subversão de Jericó, dando provas da destruição que certo surpreenderá todos os transgressores da lei de Deus. O fato de que somente o poder divino dera a vitória a Israel, de que não entraram na posse de Jericó pela sua própria força, dava um peso solene à ordem que lhes proibia participar dos despojos. Deus, pelo poder de Sua palavra, vencera aquela fortaleza; a conquista era Sua, e a Ele, unicamente, a cidade com todas as coisas que nela se continham devia ser devotada. PP 362 1 Dentre os milhões de Israel apenas um homem houve que, naquela hora solene de triunfo e juízo, ousara transgredir a ordem de Deus. A cobiça de Acã foi despertada à vista daquela custosa capa de Sinear; mesmo quando ela o levou em face da morte, ele a chamou "uma boa capa babilônica". Um pecado arrastara outro, e ele se apropriou do ouro e da prata dedicados ao tesouro do Senhor -- roubou a Deus as primícias da terra de Canaã. PP 362 2 O mortal pecado que determinara a ruína de Acã teve suas raízes na cobiça, um dos mais comuns e mais levianamente considerados dentre todos os pecados. Enquanto outras faltas são descobertas e castigadas, quão raramente apenas desperta censura a violação do décimo mandamento. A enormidade deste pecado, e seus terríveis resultados, são a lição da história de Acã. PP 362 3 A cobiça é um mal de desenvolvimento gradual. Acã havia acariciado a avidez ao ganho até que isto se tornou um hábito, atando-o em grilhões quase impossíveis de quebrar. Enquanto alimentava este mal, ter-se-ia enchido de horror ao pensamento de acarretar desgraça sobre Israel; mas suas percepções se amorteceram pelo pecado, e, quando sobreveio a tentação, caiu como fácil presa. PP 362 4 Não são ainda cometidos pecados semelhantes em face de advertências tão solenes e explícitas? Proíbe-se-nos tão diretamente condescender com a cobiça como a Acã foi proibido apropriar-se dos despojos de Jericó. Deus declarou ser isto idolatria. Somos advertidos: "Não podeis servir a Deus e a Mamom". Mateus 6:24. "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza". Lucas 12:15. "Nem ainda se nomeie entre vós". Efésios 5:3; Colossences 3:5. Temos diante de nós a sorte terrível de Acã, de Judas, de Ananias e Safira. Antes de todos estes, temos a de Lúcifer, aquele "filho da alva", que, cobiçando mais elevada condição, perdeu para sempre o brilho e ventura do Céu. E, contudo, apesar de todas essas advertências, impera, de forma generalizada, a cobiça. PP 362 5 Por toda parte se vê o seu rastro viscoso. Cria o descontentamento e a dissensão nas famílias; provoca a inveja e ódio dos pobres contra os ricos; inspira a opressão cruel do rico ao pobre. E este mal não existe somente no mundo, mas na igreja também. Quão comum é achar mesmo ali o egoísmo, a avareza, a ganância, a negligência da caridade, e o roubo a Deus "nos dízimos e ofertas"! Entre membros da igreja, considerados idôneos e cumpridores do dever existem, triste é dizer, muitos Acãs! Muito homem vem majestosamente à igreja, e senta-se à mesa do Senhor, enquanto entre as suas posses se acham ocultos lucros ilícitos, coisas que Deus amaldiçoou. Por uma boa capa babilônica multidões sacrificam a aprovação da consciência e sua esperança do Céu. Multidões permutam sua integridade e capacidade para o que é útil por um saco de siclos de prata. Os clamores dos pobres que sofrem são desatendidos; a luz do evangelho é estorvada em seu caminho; instiga-se o escárnio dos mundanos pelas práticas que desmentem a profissão cristã; e no entanto o cobiçoso que professa a religião continua a amontoar tesouros. "Roubará o homem a Deus? todavia vós Me roubais", diz o Senhor. Malaquias 3:8. PP 363 1 O pecado de Acã trouxe revés a toda a nação. Pelo pecado de um homem, o desprazer de Deus repousará sobre Sua igreja até que a transgressão seja descoberta e removida. A influência que mais temida deve ser pela igreja não é a dos francos oponentes, incrédulos e blasfemos, mas dos que incoerentemente professam a Cristo. Estes são os que impedem as bênçãos de Deus de virem a Israel, e acarretam fraqueza ao Seu povo. PP 363 2 Quando a igreja se acha em dificuldade, quando existem a frieza e o declínio espiritual, dando ocasião a que os inimigos de Deus triunfem, então, em vez de cruzar os braços e lamentar sua infeliz condição, investiguem os membros se não há um Acã no acampamento. Com humilhação e exame de coração, procure cada qual descobrir os pecados ocultos que excluem a presença de Deus. PP 363 3 Acã reconheceu sua culpa, quando era demasiado tarde para que a confissão o beneficiasse. Vira os exércitos de Israel voltarem de Ai derrotados e desanimados; contudo não se apresentou para confessar seu pecado. Vira Josué e os anciãos de Israel curvados em terra, com uma dor demasiado grande para exprimir-se com palavras. Houvesse feito então confissão, e teria dado alguma prova de verdadeiro arrependimento; mas guardou ainda silêncio. Ouvira a proclamação de que um grande crime fora cometido, e ouvira mesmo especificar-se o caráter daquele crime. Seus lábios, porém, estavam fechados. Veio então a investigação solene. Como lhe fremiu a alma de terror, ao ver indicada sua tribo, a seguir sua família e depois sua casa! Mas ainda não proferiu confissão alguma, até que o dedo de Deus se pôs sobre ele. Então, quando o seu pecado não mais poderia ser escondido, admitiu a verdade. Quão freqüentemente se fazem confissões semelhantes! Há uma grande diferença entre admitir fatos depois que os mesmos foram provados, e confessar pecados apenas conhecidos por nós mesmos e Deus. Acã não teria confessado seu crime se não tivesse esperado com isso evitar as conseqüências do mesmo. Mas sua confissão apenas serviu para mostrar que seu castigo era justo. Não havia genuíno arrependimento do pecado, nem contrição, nem mudança de propósito, nem aversão ao mal. PP 363 4 Assim pelos culpados serão feitas confissões quando se encontrarem eles perante o tribunal de Deus, depois de haver sido decidido todo o caso, ou para a vida ou para a morte. As conseqüências que lhes resultarão, arrancarão de cada um o reconhecimento de seu pecado. Será extorquido da alma por um senso terrível de condenação e medonha expectativa de juízo. Mas tais confissões não poderão salvar o pecador. PP 364 1 Enquanto podem esconder suas transgressões, de seus semelhantes, muitos, como Acã, sentem-se livres de perigo, e lisonjeiam-se de que Deus não será severo ao notar a iniqüidade. Demasiado tarde seus pecados pô-los-ão a descoberto naquele dia em que para sempre não serão purificados com sacrifício nem com ofertas. Quando se abrirem os registros do Céu, o Juiz não declarará com palavras ao homem a sua culpa, mas lançará um olhar penetrante, convincente, e toda ação, todo cometimento da vida, gravar-se-á vividamente na memória do malfeitor. Não será necessário como nos dias de Josué que a pessoa seja pesquisada da tribo à família, mas seus próprios lábios confessarão sua vergonha. Os pecados ocultos ao conhecimento dos homens serão então proclamados ao mundo todo. ------------------------Capítulo 46 -- As bênçãos e as maldições PP 365 0 Este capítulo é baseado em Josué 8. PP 365 1 Depois da execução da sentença de Acã, Josué teve ordem de arregimentar todos os homens de guerra, e de novo avançar contra Ai. O poder de Deus estava com Seu povo, e logo ficaram de posse da cidade. PP 365 2 As operações militares agora foram suspensas, para que todo o Israel pudesse empenhar-se em um solene serviço religioso. O povo estava ansioso por estabelecer-se em Canaã; ainda não tinham casas nem terras para as suas famílias, e a fim de adquiri-las deveriam expulsar os cananeus; mas este importante trabalho devia ser adiado, pois que um dever maior reclamava sua primeira atenção. PP 365 3 Antes de tomarem posse de sua herança, deviam renovar seu concerto de fidelidade a Deus. Nas últimas instruções de Moisés, por duas vezes haviam sido dadas ordens para uma convocação das tribos nos montes Ebal e Gerizim, em Siquém, para o reconhecimento solene da lei de Deus. Em obediência a essas ordens expressas, todo o povo, não somente homens, mas mulheres, crianças e estrangeiros que andavam no meio deles (Josué 8:30-35), deixaram seu acampamento em Gilgal, e marcharam através do território de seus inimigos, ao vale de Siquém, próximo do centro daquela terra. Posto que cercados de adversários não vencidos, estavam seguros sob a proteção de Deus, enquanto Lhe fossem fiéis. Agora, como nos dias de Jacó, "o terror de Deus foi sobre as cidades que estavam ao redor deles" (Gênesis 35:5), e os hebreus não foram incomodados. PP 365 4 O lugar indicado para este serviço solene já era sagrado pela sua ligação com a história de seus pais. Ali foi que Abraão levantou seu primeiro altar a Jeová na terra de Canaã. Foi ali que Abraão e Jacó armaram suas tendas. O último comprara ali o campo em que as tribos deveriam sepultar o corpo de José. Ali, também, estava o poço que Jacó cavara, e o carvalho sob o qual sepultara os ídolos de sua casa. PP 365 5 O local escolhido era um dos mais belos de toda a Palestina, e digno de ser o teatro em que aquela grandiosa e impressionante cena deveria ser levada a efeito. O lindo vale, com seus campos verdejantes pontilhados de bosques de oliveiras, regados de riachos oriundos de fontes vivas, e adornado de flores silvestres, estendia-se de um modo convidativo entre as colinas áridas. Ebal e Gerizim, nos lados opostos do vale, quase se aproximam uma da outra, parecendo seus contrafortes inferiores formar um púlpito natural, sendo audíveis em uma delas distintamente todas as palavras proferidas na outra, ao mesmo tempo em que os lados da montanha, recuando, proporcionam um espaço para a vasta congregação. PP 366 1 Segundo as instruções dadas por Moisés, um monumento de grandes pedras foi construído no Monte Ebal. Sobre essas pedras, previamente preparadas por uma cobertura de argamassa, foi inscrita a lei -- não somente os dez preceitos proferidos no Sinai e gravados em tábuas de pedras, mas as leis comunicadas a Moisés, e por ele escritas em um livro. Ao lado deste monumento foi construído um altar de pedras não lavradas, sobre o qual foram oferecidos sacrifícios ao Senhor. O fato de ter construído o altar no Monte Ebal, monte este sobre o qual fora posta a maldição, era significativo, denotando que, por causa de sua transgressão à lei de Deus, Israel incorrera com justiça em Sua ira, e que esta cairia de pronto sobre eles, não fosse a obra expiatória de Cristo, representada pelo altar de sacrifício. PP 366 2 Seis das tribos, todas descendentes de Léia e Raquel, ficaram estacionadas no monte Gerizim, enquanto as que descenderam das servas, juntamente com Rúben e Zebulom, tomaram posição em Ebal, ocupando o vale entre elas os sacerdotes com a arca. Foi proclamado silêncio mediante o som da trombeta que dava os sinais; e, então, em profundo silêncio, e na presença desta vasta assembléia, Josué, em pé ao lado da arca sagrada, leu as bênçãos que deveriam seguir-se à obediência à lei de Deus. Todas as tribos em Gerizim responderam por um Amém. Então ele leu as maldições, e as tribos em Ebal, de modo semelhante, deram seu assentimento, unindo-se como a voz de um homem em resposta solene milhares de milhares de vozes. Em seguida teve lugar a leitura da lei de Deus, juntamente com os estatutos e juízos que lhes haviam sido entregues por Moisés. PP 366 3 Israel havia recebido a lei diretamente da boca de Deus, no Sinai; e os sagrados preceitos da mesma, escritos pela Sua própria mão, ainda se encontravam preservados na arca. Agora foi escrita novamente onde todos a poderiam ler. Todos tinham o privilégio de ver por si mesmos as condições do concerto mediante o qual deveriam manter a posse de Canaã. Todos deveriam exprimir sua aceitação aos termos do concerto, e dar seu assentimento às bênçãos ou maldições pela sua observância ou negligência. A lei não somente foi escrita sobre as pedras que serviam de memória, mas foi lida pelo próprio Josué ao ouvido de todo o Israel. Não fazia muitas semanas que Moisés dera todo o livro de Deuteronômio, em discursos, ao povo, contudo, de novo lê Josué agora a lei. PP 366 4 Não somente os homens de Israel, mas todas as mulheres e crianças, ouviram a leitura da lei; pois era de importância que também estas conhecessem e cumprissem seu dever. Deus ordenara a Israel com relação aos Seus estatutos: "Ponde pois estas Minhas palavras no vosso coração, e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos; ensinai-as a vossos filhos, [...] para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a Terra". Deuteronômio 11:18-21. PP 367 1 Cada sétimo ano, a lei inteira devia ser lida na assembléia de todo o Israel, conforme Moisés ordenou: "Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante o Senhor teu Deus, no lugar que Ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos. Ajunta o povo, homens, e mulheres, e meninos, e os teus estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam, e aprendam, e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei; e que seus filhos, que a não souberem, ouçam e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, a possuir". Deuteronômio 31:10-13. PP 367 2 Satanás está sempre em atividade, esforçando-se por perverter o que Deus falou, por cegar a mente e obscurecer a compreensão, e levar desta maneira os homens ao pecado. É por isso que o Senhor é tão explícito, tornando Suas reivindicações tão claras que ninguém está no caso de errar. Deus está constantemente procurando trazer os homens sob Sua íntima proteção, a fim de que Satanás não possa exercer sobre eles o seu poder cruel e enganador. Deus condescendeu em falar com eles de viva voz, escrever com Sua própria mão os oráculos vivos. E estas benditas palavras, todas animadas de vida e luminosas de verdade, são confiadas aos homens como um guia perfeito. Visto que Satanás está tão pronto para se apoderar da mente e desviar das promessas e requisitos do Senhor as afeições, necessita-se da maior diligência para fixá-las no espírito e gravá-las no coração. PP 367 3 Maior atenção deve ser dada pelos ensinadores religiosos à instrução do povo nos fatos e lições da história bíblica e nas advertências e ordens do Senhor. Estas coisas devem ser apresentadas em linguagem simples, adaptada à compreensão das crianças. Deve ser uma parte da obra tanto dos pastores como dos pais providenciar para que os jovens sejam instruídos nas Escrituras. PP 367 4 Os pais podem e devem interessar os filhos no conhecimento variado que se encontra nas páginas sagradas. Mas, se quiserem interessar seus filhos e filhas na Palavra de Deus, deverão eles próprios estar interessados na mesma. Devem estar familiarizados com seus ensinos, e, conforme Deus ordenou a Israel, falar a tal respeito "assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te". Deuteronômio 11:19. Aqueles que desejam que seus filhos amem e reverenciem a Deus, devem falar de Sua bondade, Sua majestade e Seu poder, conforme se acham revelados em Sua Palavra e nas obras da criação. PP 367 5 Cada capítulo e cada versículo da Bíblia é uma comunicação da parte de Deus aos homens. Devemos ligar seus preceitos como sinais sobre nossas mãos, e como testeiras entre nossos olhos. Sendo estudada e obedecida, haveria de guiar o povo de Deus, como guiados foram os israelitas, pela coluna de nuvem durante o dia, e pela coluna de fogo à noite. ------------------------Capítulo 47 -- Aliança com os Gibeonitas PP 368 0 Este capítulo é baseado em Josué 9-10. PP 368 1 De Siquém os israelitas voltaram ao seu acampamento em Gilgal. Aqui foram logo depois visitados por estranha delegação, que desejava entrar em um pacto com eles. Os embaixadores representavam ter vindo de um país distante, e isto parecia confirmar-se pela sua aparência. Suas vestes estavam velhas e gastas, remendadas as suas sandálias, bolorentas as suas provisões, e os couros que lhes serviam de odres de vinho, achavam-se rotos e atados, como que apressadamente reparados em viagem. PP 368 2 Em seu longínquo país, que diziam estar além das fronteiras da Palestina, declararam eles, seus patrícios ouviram falar nos prodígios que Deus operara pelo Seu povo, e os enviaram para fazer uma aliança com Israel. Os hebreus haviam sido especialmente advertidos contra o fazerem qualquer acordo com os idólatras de Canaã, e surgiu no espírito dos dirigentes dúvida quanto à veracidade das palavras dos estrangeiros. "Porventura habitais no meio de nós", disseram. A isto os embaixadores apenas replicaram: "Nós somos teus servos." Mas quando Josué lhes perguntou diretamente: "Quem sois vós, e donde vindes?" reiteraram sua declaração anterior, e acrescentaram como prova de sua sinceridade: "Este nosso pão tomamos quente das nossas casas para nossa provisão, no dia em que saímos para vir a vós, e ei-lo aqui agora já seco e bolorento; e estes odres, que enchemos de vinho, eram novos, e ei-los aqui já rotos; e estes nossos vestidos e nossos sapatos já se têm envelhecido, por causa do mui longo caminho." PP 368 3 Tais afirmações prevaleceram. Os hebreus "não pediram conselho à boca do Senhor. E Josué fez paz com eles e fez um concerto com eles, que lhes daria a vida; e os príncipes da congregação lhes prestaram juramento". Josué 9:14, 15. Assim se estabeleceu o tratado. Três dias depois descobriu-se a verdade. "Ouviram que eram seus vizinhos, e que moravam no meio deles." Sabendo que era impossível resistir aos hebreus, os gibeonitas recorreram a esse artifício para conservar a vida. PP 368 4 Grande foi a indignação dos israelitas ao saberem do engano que lhes havia sido impingido. Esta indignação aumentou quando, após três dias de viagem, chegaram às cidades dos gibeonitas, próximas do centro do país. "Toda a congregação murmurava contra os príncipes"; mas estes recusaram-se a romper o tratado, embora conseguido pela fraude, porque lhes haviam jurado "pelo Senhor Deus de Israel". "E os filhos de Israel os não feriram." Os gibeonitas haviam-se comprometido a renunciar à idolatria, e aceitar o culto a Jeová; e a conservação de sua vida não era uma violação da ordem de Deus para destruir os idólatras cananeus. Portanto os hebreus não se comprometeram pelo seu juramento a perpetrar pecado. E, se bem que o juramento fosse conseguido pelo engano, não deveria ser desrespeitado. O dever a que fica empenhada a palavra de qualquer pessoa, deve ser considerado sagrado, caso não a obrigue à prática de um ato mau. Nenhuma consideração de lucro, desforra, ou de interesse próprio, pode de qualquer maneira afetar a inviolabilidade de um juramento ou compromisso. "Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor". Provérbios 12:22. Aquele que "subirá ao monte do Senhor", e "estará no Seu lugar santo", é "aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda". Salmos 24:3; 15:4. PP 369 1 Permitiu-se aos gibeonitas que vivessem, mas ficaram como escravos ligados ao santuário, a fim de fazerem todo o trabalho servil. "E, naquele dia, Josué os deu como rachadores de lenha e tiradores de água para a congregação, e para o altar do Senhor." Tais condições eles aceitaram com gratidão, cônscios de que haviam estado em falta, e alegres por adquirirem a vida fosse qual fosse o modo. "Eis que agora estamos na tua mão", disseram a Josué; "faze aquilo que te pareça bom e reto que se nos faça." Durante séculos seus descendentes estiveram ligados ao serviço do santuário. PP 369 2 O território dos gibeonitas compreendia quatro cidades. O povo não estava sob o governo de um rei, mas eram governados por anciãos, ou senadores. Gibeom, a mais importante de suas cidades, "era uma cidade grande como uma das cidades reais", "e todos os seus homens valentes". Uma prova notável do terror que os israelitas haviam inspirado aos habitantes de Canaã consistia em que o povo de tal cidade tivesse recorrido a um expediente tão humilhante para salvar a vida. PP 369 3 Mas teria sido melhor aos gibeonitas se houvessem tratado honestamente com Israel. Conquanto sua submissão a Jeová lhes tivesse conseguido a conservação da vidas, a fraude acarretou-lhes somente desgraça e servidão. Deus havia tomado disposições para que todos os que renunciassem ao paganismo, e se unissem a Israel, partilhassem das bênçãos do concerto. Estavam incluídos na designação "o estrangeiro que peregrina entre vós", e com poucas exceções essa classe deveria desfrutar de favores e privilégios iguais aos de Israel. A instrução do Senhor foi: "E quando o estrangeiro peregrinar contigo na vossa terra, não o oprimireis. Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo". Levítico 19:33, 34. Com relação à Páscoa e à oferta de sacrifícios, foi ordenado: "Um mesmo estatuto haja para vós, ó congregação, e para o estrangeiro que entre vós peregrina; como vós, assim será o peregrino perante o Senhor". Números 15:15. PP 369 4 Tal era a posição em que os gibeonitas poderiam ter sido recebidos, não fora o engano a que tinham recorrido. Não era pequena humilhação para aqueles cidadãos de uma "cidade real", sendo "todos os seus homens valentes", fazerem-se rachadores de lenha e carregadores de água por todas as suas gerações. Haviam eles, porém, adotado a aparência de pobreza com o fim de enganar, e esta se lhes fixou como distintivo de servidão perpétua. Assim, em todas as suas gerações, sua condição servil testificaria do ódio de Deus à falsidade. PP 370 1 A submissão de Gibeom aos israelitas encheu de pavor os reis de Canaã. Deram-se imediatamente passos para tirar-se uma desforra daqueles que fizeram paz com os invasores. Sob a chefia de Adonizedeque, rei de Jerusalém, cinco dos reis cananeus entraram em confederação contra Gibeom. Seus movimentos foram rápidos. Os gibeonitas não estavam preparados para a defesa, e enviaram uma mensagem a Josué, em Gilgal: "Não retires as tuas mãos dos teus servos; sobe apressadamente a nós, e livra-nos, e ajuda-nos, porquanto todos os reis dos amorreus, que habitam na montanha, se ajuntaram contra nós". Josué 10:6. O perigo ameaçava não somente o povo de Gibeom, mas também Israel. Aquela cidade dominava as passagens para a Palestina central e do sul, e cumpria ser conservada, se se queria conquistar o território. PP 370 2 Josué preparou-se para ir logo em socorro de Gibeom. Os habitantes da cidade sitiada haviam receado que ele repelisse o seu apelo, por causa da fraude que haviam praticado; mas visto que se tinham submetido ao governo de Israel, e aceitaram o culto a Deus, ele se achou na obrigação de os proteger. Não agiu nesta ocasião sem o conselho divino, e o Senhor o animou àquele empreendimento. "Não os temas", foi a mensagem divina, "porque os tenho dado na tua mão; nenhum deles parará diante de ti." "Então subiu Josué de Gilgal, ele e toda a gente de guerra com ele, e todos os valentes e valorosos." PP 370 3 Marchando toda a noite, trouxe suas forças diante de Gibeom pela manhã. Mal haviam os príncipes confederados reunido seus exércitos em redor da cidade, quando Josué se achou sobre eles. O ataque resultou na completa derrota dos assaltantes. A imensa hoste fugiu de diante de Josué pela garganta da montanha, acima, para Bete-Horom; e, havendo galgado a altura, lançaram-se do outro lado pela descida em precipício. Ali uma tremenda saraiva irrompeu sobre eles. "O Senhor lançou sobre eles, do céu, grandes pedras. [...] E foram muitos mais os que morreram das pedras da saraiva do que os que os filhos de Israel mataram à espada." PP 370 4 Enquanto os amorreus continuavam na fuga precipitada, no intuito de encontrar refúgio nas fortalezas das montanhas, Josué, olhando do alto, viu que o dia seria curto demais para a realização de sua obra. Se não fossem inteiramente derrotados os seus inimigos, de novo se arregimentariam, e renovariam a luta. "Então Josué falou ao Senhor, [...] e disse aos olhos dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, Lua, no vale de Aijalom. E o Sol se deteve, e a Lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. [...] O Sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro." PP 371 1 Antes do cair da noite, a promessa de Deus a Josué fora cumprida. Toda a hoste do inimigo havia sido entregue em sua mão. Por longo tempo deviam os eventos daquele dia ficar na memória de Israel. "Não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor assim a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel." "O Sol e a Lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das Tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da Tua lança. Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste as nações. Tu saíste para salvamento do Teu povo". Habacuque 3:11-13. PP 371 2 O Espírito de Deus inspirou a oração de Josué, para que de novo se pudesse dar prova do poder do Deus de Israel. Portanto o pedido não ostentou arrogância, por parte do grande líder. Josué recebera a promessa de que Deus certamente subverteria aqueles inimigos de Israel; contudo, aplicou tão decididos esforços como se o êxito dependesse unicamente dos exércitos de Israel. Fez tudo que a energia humana podia fazer, e então pela fé clamou rogando auxílio divino. O segredo do êxito está na união do poder divino com o esforço humano. Aqueles que levam a efeito os maiores resultados são os que mais implicitamente confiam no Braço todo-poderoso. O homem que ordenou: "Sol, detém-te em Gibeom, e Tu, Lua, no vale de Aijalom", é o homem que durante horas jazeu prostrado em terra, em oração, no acampamento em Gilgal. Os homens de oração são os homens de poder. PP 371 3 Esse grande prodígio testifica que a criação está sob o governo do Criador. Satanás procura esconder dos homens a ação divina no mundo físico -- a fim de conservar fora das vistas a incansável operação da primeira grande causa. Neste prodígio, são repreendidos todos os que exaltam a natureza acima do Deus da natureza. PP 371 4 Pela Sua própria vontade Deus convoca as forças da natureza para transtornar o poder de Seus inimigos: "Fogo e saraiva, neve e vapores, e vento tempestuoso que executa a Sua palavra". Salmos 148:8. Quando os gentios amorreus se dispuseram a resistir aos Seus propósitos, Deus interveio, lançando "do céu grandes pedras" sobre os inimigos de Israel. Estamos informados de uma maior batalha a ocorrer nas cenas finais da história da Terra, quando "o Senhor abriu o Seu tesouro, e tirou os instrumentos de Sua indignação". Jeremias 50:25. "Entraste tu", pergunta Ele, "até aos tesouros da neve, e viste os tesouros da saraiva, que Eu retenho até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra?" Jó 38:22, 23. PP 371 5 O Revelador descreve a destruição que terá lugar quando a "grande voz do templo do Céu" anunciar: "Está feito." Diz ele: "Sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento". Apocalipse 16:17, 21. ------------------------Capítulo 48 -- A divisão de Canaã PP 372 0 Este capítulo é baseado em Josué 10:40-43; 11; 14-22. PP 372 1 A vitória em Bete-Horom foi rapidamente seguida pela conquista do sul de Canaã. "Feriu Josué toda aquela Terra, as montanhas, o sul, e as campinas. [...] E de uma vez tomou Josué todos estes reis, e as suas terras; porquanto o Senhor Deus de Israel pelejava por Israel. Então Josué, e todo o Israel com ele, se tornou ao arraial em Gilgal". Josué 10:40-43. PP 372 2 As tribos do norte da Palestina, aterrorizadas com o êxito que acompanhara os exércitos de Israel, entraram agora em aliança contra eles. À frente desta confederação estava Jabim, rei de Hazor, território que ficava ao oeste do lago Merom. "Saíram pois estes, e todos os seus exércitos com eles." Este exército era muito maior do que qualquer que os israelitas haviam encontrado antes em Canaã -- "muito povo, como a areia que está na praia do mar em multidão, e muitíssimos cavalos e carros. Todos estes reis se juntaram e vieram e se acamparam junto às águas de Merom, para pelejarem contra Israel." Novamente foi dada a Josué uma mensagem de animação: "Não temas diante deles; porque amanhã a esta mesma hora Eu os darei todos feridos diante dos filhos de Israel." PP 372 3 Perto do lago Merom caiu ele sobre o acampamento dos aliados, derrotando totalmente suas forças. "E o Senhor os deu na mão de Israel, e os feriram, e os seguiram, [...] até não lhes deixarem nenhum." Dos carros e cavalos que haviam sido o orgulho e vanglória dos cananeus, Israel não se deveria apropriar. Ao mando de Deus os carros foram queimados, e aleijados os cavalos, e assim tornados impróprios para batalha. Os israelitas não deviam pôr a confiança em carros e cavalos, mas "no nome do Senhor seu Deus". PP 372 4 Uma por uma foram tomadas as cidades, e Hazor, a fortaleza da confederação, foi queimada. A guerra continuou por vários anos, mas ao terminar achava-se Josué senhor de Canaã. "E a terra repousou da guerra." PP 372 5 Embora o poderio dos cananeus houvesse sido quebrado, não tinham eles sido totalmente desapossados. Ao oeste, os filisteus ainda conservavam uma planície fértil ao longo da costa marítima, enquanto ao norte deles estava o território dos sidônios. O Líbano também estava de posse deste último povo; e, ao sul, na direção do Egito, a terra estava ocupada pelos inimigos de Israel. PP 372 6 Josué não devia entretanto continuar a guerra. Havia outro trabalho para o grande líder realizar, antes que deixasse o comando de Israel. A terra inteira, tanto as partes já conquistadas, como as que ainda não se achavam subjugadas, devia ser repartida entre as tribos. E era o dever de cada tribo conquistar completamente sua própria herança. Se o povo se mostrasse fiel a Deus, Ele repeliria seus inimigos de diante deles; e prometeu-lhes ainda maiores possessões se tão-somente fossem fiéis ao Seu concerto. PP 373 1 A Josué, juntamente com Eleazar, o sumo sacerdote, e aos chefes das tribos, foi confiada a distribuição da terra, sendo a localização de cada tribo determinada por sorte. O próprio Moisés fixara os limites do país, conforme devia ser dividido entre as tribos, ao entrarem elas em posse de Canaã; e designara um príncipe de cada tribo para auxiliar na distribuição. A tribo de Levi, sendo dedicada ao serviço do santuário, não deveria ser contada neste aquinhoamento; porém, quarenta e oito cidades nas diferentes partes do país foram designadas aos levitas como sua herança. PP 373 2 Antes que entrasse em vigor a distribuição das terras, Calebe, acompanhado pelos chefes de sua tribo, veio à frente com um pedido especial. Com exceção de Josué, Calebe era agora o homem mais velho em Israel. Calebe e Josué eram os únicos entre os espias que haviam trazido uma boa notícia da terra da promessa, animando o povo a subir e possuí-la em nome do Senhor. Calebe lembrou então a Josué a promessa feita naquela ocasião, como recompensa de sua fidelidade: "A terra que pisou o teu pé será tua, e de teus filhos, em herança perpetuamente; pois perseveraste em seguir o Senhor". Josué 14:6-15. Apresentou portanto o pedido de que o Hebrom lhe fosse dado em possessão. Ali haviam habitado durante muitos anos Abraão, Isaque e Jacó; e, ali, na caverna de Macpela, foram sepultados. Hebrom era a sede dos temidos enaquins, cuja aparência formidável tanto havia aterrorizado os espias, e por meio destes destruíra a coragem de todo o Israel. Este lugar, de preferência a todos os outros, foi o que Calebe, confiando na força de Deus, escolheu para sua herança. PP 373 3 "Eis que o Senhor me conservou em vida", disse ele; "quarenta e cinco anos há agora, desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés. [...] E agora eis que já hoje sou de idade de oitenta e cinco anos. E ainda estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair e para entrar. Agora pois dá-me este monte de que o Senhor falou aquele dia; pois naquele dia tu ouviste que os enaquins estão ali, grandes e fortes cidades há ali. Porventura o Senhor será comigo para os expelir, como o Senhor disse." Este pedido foi apoiado pelos principais homens de Judá. O próprio Calebe, sendo um dos indicados daquela tribo para repartir a terra, escolhera esses homens para que a ele se unissem ao apresentar seu pedido, para que não houvesse a aparência de ter ele empregado sua autoridade para proveito próprio. PP 373 4 Seu pedido foi imediatamente satisfeito. A ninguém poderia a conquista daquela gigantesca fortaleza ser com mais segurança confiada. "Josué o abençoou, e deu a Calebe, filho de Jefoné, Hebrom em herança", "porquanto perserverara em seguir ao Senhor Deus de Israel." A fé de Calebe era agora precisamente o que fora quando seu testemunho havia contradito o mau relato dos espias. Acreditara na promessa de Deus de que Ele poria Seu povo na posse de Canaã, e nisto seguira inteiramente ao Senhor. Suportara juntamente com Seu povo a longa peregrinação no deserto, participando assim dos desapontamentos e trabalhos dos culpados; não apresentou contudo queixa contra isto, mas exaltou a misericórdia de Deus que o preservara em vida no deserto, quando foram eliminados seus irmãos. Entre todas as dificuldades, perigos e pragas, nas vagueações pelo deserto, e durante os anos de guerra desde que entraram em Canaã, preservara-o o Senhor; e agora, passados os oitenta anos, não se encontrava abatido o seu vigor. Ele não pedia para si uma terra já conquistada, mas o lugar que mais do que todos, os outros espias haviam julgado impossível subjugar. Com a ajuda de Deus ele arrancaria essa fortaleza daqueles mesmos gigantes, cujo poder fizera abalar a fé de Israel. Não foi o desejo de honras ou engrandecimento próprio que determinou o pedido de Calebe. O bravo e velho guerreiro estava desejoso de dar ao povo um exemplo que honraria a Deus, e incentivaria as tribos a subjugar completamente a terra que seus pais haviam imaginado invencível. PP 374 1 Calebe obteve a herança na qual tinha o coração durante quarenta anos; e, confiando em que Deus estava consigo, "expeliu Calebe dali os três filhos de Enaque". Josué 15:14. Havendo assim conseguido posse para si e sua casa, o zelo não se lhe abateu; não se estabeleceu a fim de desfrutar a herança, mas levou avante novas conquistas para o benefício da nação e para a glória de Deus. PP 374 2 Os covardes e rebeldes haviam perecido no deserto; mas os espias justos comeram das uvas de Escol. A cada um deles foi dado segundo sua fé. Os incrédulos viram cumprir-se seus temores. Apesar da promessa de Deus, declararam que era impossível herdar Canaã, e não a possuíram. Mas aqueles que confiaram em Deus, não olhando tanto para as dificuldade a se encontrarem, como para a força de seu Auxiliador todo-poderoso, entraram na boa terra. Foi pela fé que os antigos heróis "venceram reinos, [...] escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos". Hebreus 11:33, 34. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé". 1 João 5:4. PP 374 3 Outro pedido com relação à divisão da terra, revelou um espírito grandemente diverso do de Calebe. Foi apresentado pelos filhos de José, da tribo de Efraim juntamente com a meia tribo de Manassés. Em consideração ao seu número superior, essas tribos pediram uma porção dupla de território. O quinhão a eles designado era o mais rico da terra, incluindo a fértil planície de Sarom; porém muitas das cidades principais do vale estavam ainda de posse dos cananeus, e as tribos temiam executar a perigosa tarefa de conquistar suas possessões, e desejavam uma porção adicional de território já conquistado. A tribo de Efraim era uma das maiores em Israel, bem como aquela a que o próprio Josué pertencia; e seus membros naturalmente se julgavam com direito a consideração especial. "Por que me deste por herança só uma sorte e um quinhão", disseram eles, "sendo eu um tão grande povo?" Josué 17:14-18. Mas nenhum desvio da estrita justiça poder-se-ia obter do inflexível líder. PP 375 1 Sua resposta foi: "Se tão grande povo és, sobe ao bosque e corta para ti ali lugar na terra dos ferezeus e dos refains, pois que as montanhas de Efraim te são tão estreitas". Josué 17:15. PP 375 2 Sua réplica mostrou a causa real da queixa. Faltavam-lhe fé e coragem para expulsar os cananeus. "As montanhas nos não bastariam", disseram; "também carros ferrados há entre todos os cananeus que habitam na terra do vale". Josué 17:16. PP 375 3 O poder do Deus de Israel tinha sido empenhado em favor de Seu povo; e, caso possuíssem os efraimitas a coragem e a fé de Calebe, nenhum inimigo lhes teria feito frente. Seu desejo evidente de excluir dificuldades e perigos, foi com firmeza defrontado por Josué. "Grande povo és e grande força tens", disse ele; "expelirás os cananeus, ainda que tenham carros ferrados, ainda que sejam fortes". Josué 17:17, 18. Assim, seus próprios argumentos voltaram-se contra eles. Sendo um povo grande, como alegavam, eram perfeitamente capazes de seguir seu próprio caminho, como fizeram seus irmãos. Com o auxílio de Deus, não necessitavam temer os carros de ferro. PP 375 4 Até ali Gilgal fora o quartel-general da nação e a sede do tabernáculo. Agora, porém, o tabernáculo devia ser removido ao lugar escolhido para a sua localização permanente. Este foi Siló, cidadezinha na porção de Efraim. Achava-se perto do centro do país, e era de fácil acesso a todas as tribos. Ali, parte do território havia sido completamente subjugada, de maneira que os adoradores não seriam incomodados. "E toda a congregação dos filhos de Israel se ajuntou em Siló, e ali armaram a tenda da congregação". Josué 18:1. As tribos que ainda estavam acampadas quando o tabernáculo foi removido de Gilgal, seguiram-no, e armaram suas tendas próximo de Siló. Ali permaneceram essas tribos até que se dispersaram às suas possessões. PP 375 5 A arca ficou em Siló, durante trezentos anos, até que, por causa dos pecados da casa de Eli, caiu nas mãos dos filisteus, e Siló foi arruinada. A arca nunca mais voltou ao tabernáculo ali; o cerimonial do santuário transferiu-se finalmente para o templo em Jerusalém, e Siló tornou-se decadente. Apenas ruínas existem para assinalar o local em que se erguera. Muito tempo mais tarde fez-se uso de sua sorte como advertência a Jerusalém. "Ide agora ao Meu lugar, que estava em Siló", declarou o Senhor pelo profeta Jeremias, "onde, a princípio, fiz habitar o Meu nome, e vede o que lhe fiz, por causa da maldade de Meu povo Israel. [...] Farei também a esta casa que se chama pelo Meu nome, na qual confiais, e a este lugar que vos dei a vós e a vossos pais, como fiz a Siló". Jeremias 7:12, 14. PP 376 1 "Acabando pois de repartir a terra", e tendo todas as tribos sido aquinhoadas com sua herança, Josué apresentou seu pedido. A ele, bem como a Calebe, fora feita uma promessa especial de herança; contudo não pediu uma província extensa, mas tão-somente uma simples cidade. "Deram-lhe a cidade que pediu, [...] e reedificou aquela cidade, e habitou nela". Josué 19:49, 50. O nome dado à cidade foi: Timnate-Sera, "a porção que resta", e isto em testemunho permanente do caráter nobre e espírito abnegado do vencedor, que, em vez de ser o primeiro a apropriar-se dos despojos da conquista, adiou seu pedido até que os mais humildes de seu povo houvessem sido servidos. PP 376 2 Seis das cidades designadas aos levitas, sendo três de cada lado do Jordão, foram indicadas como cidades de refúgio, às quais os que matavam um homem poderiam fugir em busca de segurança. A designação dessas cidades fora ordenada por Moisés, "para que ali se acolha o homicida que ferir alguma alma por erro. E estas cidades vos serão por refúgio", disse ele, "para que o homicida não morra, até que esteja perante a congregação no juízo". Números 35:11, 12. Esta misericordiosa disposição tornou-se necessária por causa do antigo costume da vingança particular, pelo qual incumbia ao parente mais próximo, ou ao herdeiro imediato do morto, o castigo do assassínio. Nos casos em que claramente se provava a culpa, não era necessário esperar processo dos magistrados. O vingador podia perseguir o criminoso a qualquer parte, e matá-lo onde quer que fosse encontrado. O Senhor não achou conveniente abolir este costume naquela ocasião; mas tomou providências para garantir a segurança dos que, acidentalmente, tirassem a vida. PP 376 3 As cidades de refúgio achavam-se distribuídas de tal maneira que ficavam dentro do raio de meio dia de viagem, a partir de qualquer lugar da terra. As estradas que a elas se dirigiam deviam sempre ser conservadas em bom estado; ao longo de todo o caminho deviam ser erguidos postes com placas, trazendo em caracteres claros e flagrantes a palavra -- "Refúgio", a fim de que o fugitivo não tivesse de deter-se por um momento sequer. Qualquer pessoa -- hebreu, estrangeiro ou peregrino -- poderia aproveitar-se desta disposição. Mas, ao mesmo tempo em que o inocente não devia ser precipitadamente morto, tampouco deveria o culpado escapar do castigo. O caso do fugitivo cumpria ser devidamente julgado pelas autoridades competentes; e, unicamente quando se verificasse não ter o fugitivo culpa de assassínio voluntário, devia ele ser protegido na cidade de refúgio. O que era culpado era entregue ao vingador. E aqueles que tinham direito à proteção, apenas a poderiam receber sob condição de ficar dentro do refúgio indicado. Se alguém andasse fora dos limites prescritos, e fosse encontrado pelo vingador do sangue, sua vida pagaria a pena de seu desrespeito à disposição do Senhor. Por ocasião da morte do sumo sacerdote, entretanto, todos os que haviam buscado abrigo nas cidades de refúgio ficavam em liberdade para voltar às suas possessões. PP 377 1 No processo de assassínio o acusado não devia ser condenado pelo depoimento de uma testemunha, mesmo que as evidências circunstanciais fossem fortes contra ele. A instrução do Senhor era: "Todo aquele que ferir a alguma pessoa, conforme ao dito das testemunhas, matarão o homicida; mas uma só testemunha não testemunhará contra alguém, para que morra". Números 35:30. Foi Cristo que deu a Moisés aquelas determinações para Israel; e, quando Ele esteve em pessoa com Seus discípulos na Terra, ao ensinar-lhes como tratar os que erram, repetiu o grande Ensinador a lição de que o testemunho de um só homem não deve livrar ou condenar. As idéias e opiniões de um homem não devem resolver questões controvertidas. Em todos estes assuntos, dois ou mais devem estar associados, e juntos encarar a responsabilidade, "para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada". Mateus 18:16. PP 377 2 Se aquele que era julgado por motivo de assassínio se verificava culpado, nenhuma expiação ou resgate o poderia livrar. "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado". Gênesis 9:6. "Não tomareis expiação pela vida do homicida, que culpado está de morte; antes certamente morrerá", "tirá-lo-ás do Meu altar para que morra" (Números 35:31, 33), foi a ordem de Deus; "nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que se derramar nela, senão com o sangue daquele que o derramou". Êxodo 21:14. A segurança e pureza da nação exigiam que o pecado de homicídio fosse severamente punido. A vida humana, que apenas Deus podia dar, devia, de maneira sagrada, ser guardada. PP 377 3 As cidades de refúgio designadas ao antigo povo de Deus, eram símbolo do refúgio provido em Cristo. O mesmo Salvador misericordioso que designara aquelas cidades temporais de refúgio, proveu pelo derramamento de Seu próprio sangue aos transgressores da lei de Deus um retiro seguro, aonde podem eles fugir em busca de garantia contra a segunda morte. Nenhuma força pode tirar de Suas mãos as almas que a Ele recorrem em busca de perdão. "Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." "Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Romanos 8:1, 34); para que "tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta". Hebreus 6:18. PP 377 4 Aquele que fugia para a cidade de refúgio não se podia demorar. Família e emprego atrás ficavam. Não havia tempo para dizer adeus aos queridos. Sua vida estava em jogo, e todos os outros interesses deviam ser sacrificados a um único propósito -- chegar ao lugar de segurança. O cansaço era esquecido, desatendidas as dificuldades. O fugitivo não ousava por um momento moderar seu passo antes que estivesse dentro dos muros da cidade. PP 378 1 O pecador está exposto à morte eterna, até que encontre esconderijo em Cristo; e, como a perda de tempo e o descuido poderiam despojar o fugitivo de sua única oportunidade de vida, assim a demora e a indiferença podem mostrar-se ruína para a alma. Satanás, o grande adversário, está no encalço de todo o transgressor da santa lei de Deus, e aquele que não for sensível ao seu perigo e não buscar ansiosamente abrigo no refúgio eterno, será uma presa do destruidor. PP 378 2 O prisioneiro que em qualquer ocasião saía da cidade de refúgio, era abandonado ao vingador do sangue. Assim o povo foi ensinado a aderir aos métodos que a sabedoria infinita indicava para a sua segurança. Da mesma forma, não basta que o pecador creia em Cristo, para obter o perdão do pecado; deve, pela fé e obediência, permanecer nEle. "Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários". Hebreus 10:26, 27. PP 378 3 Duas das tribos de Israel, Gade e Rúben, com meia tribo de Manassés, haviam recebido sua herança antes de atravessarem o Jordão. Para um povo pastoril, os vastos planaltos e ricas florestas de Gileade e Basã, oferecendo extensas terras de pastagens para seus rebanhos e gado, tinham atrações que se não encontravam na própria Canaã; e as duas e meia tribos, desejando fixar-se ali, comprometeram-se a fornecer sua proporção de homens armados para acompanharem seus irmãos através do Jordão, e participar de suas batalhas até que entrassem também para a sua herança. Desobrigaram-se fielmente deste dever. Quando as dez tribos entraram em Canaã, quarenta mil dos "filhos de Rúben, e os filhos de Gade, e a meia tribo de Manassés, [...] armados passaram diante do Senhor para batalha, às campinas de Jericó". Josué 4:12, 13. Durante anos haviam combatido com bravura ao lado de seus irmãos. Chegado era agora o tempo para virem à terra de sua posse. Visto como se uniram com seus irmãos nos conflitos, partilharam dos despojos; e voltaram "com grandes riquezas, e com muitíssimo gado, com prata, e com ouro, e com metal, e com ferro, e com muitíssimos vestidos", coisas que deviam repartir com os que tinham ficado com as famílias e rebanhos. PP 378 4 Deviam agora morar distante do santuário do Senhor, e foi com o coração apreensivo que Josué assistiu à sua partida, sabendo quão fortes seriam as tentações, em sua vida isolada e errante, para caírem nos costumes das tribos gentílicas que habitavam nas suas fronteiras. PP 378 5 Enquanto a mente de Josué e as de outros chefes ainda estavam oprimidas pelos maus pressentimentos, notícias estranhas lhes chegavam. Além do Jordão, próximo do lugar da passagem miraculosa de Israel pelo rio, as duas e meia tribos haviam construído um grande altar, semelhante ao altar dos holocaustos em Siló. A lei de Deus proibia, sob pena de morte, o estabelecimento de outro culto, afora o que se efetuava no santuário. Se tal era o objetivo daquele altar, desviaria ele o povo da verdadeira fé, caso fosse permitida sua permanência. PP 379 1 Os representantes do povo, reunidos em Siló, e no calor de sua exaltação e indignação, propuseram fazer guerra imediata aos transgressores. Pela influência dos mais cautelosos, foi entretanto, decidido enviar primeiramente uma delegação para obter das duas e meia tribos explicação de sua conduta. Escolheram-se dez príncipes, sendo um de cada tribo. À sua frente achava-se Finéias, que se distinguira por seu zelo nos acontecimentos de Peor. PP 379 2 As duas e meia tribos haviam estado em falta, cometendo um ato que dava lugar a tão graves suspeitas, sem que dessem explicações para tal. Os embaixadores, tomando como coisa certa que seus irmãos estavam em culpa, a eles se dirigiram com ásperas censuras. Acusaram-nos de rebelar-se contra o Senhor, e mandaram que se lembrassem como juízos haviam sobrevindo a Israel por se unir a Baal-Peor. Em favor de todo o Israel, Finéias declarou aos filhos de Gade e Rúben que, se eles não desejavam habitar naquela terra sem um altar para sacrifício, seriam bem-vindos na participação das posses e privilégios de seus irmãos do outro lado. PP 379 3 Em resposta, os acusados explicaram que seu altar não se destinava a sacrifícios, mas simplesmente a ser uma testemunha de que, embora separados pelo rio, eram eles da mesma fé que seus irmãos de Canaã. Tinham receado que nos anos futuros pudessem seus filhos ser excluídos do tabernáculo, como que não tendo parte em Israel. Então, esse altar, construído segundo o modelo do altar do Senhor em Siló, seria uma testemunha de que seus construtores eram também adoradores do Deus vivo. PP 379 4 Com grande alegria os embaixadores aceitaram essa explicação, e imediatamente trouxeram de volta a notícia àqueles que os haviam enviado. Dissiparam-se todos os pensamentos de guerra, e o povo uniu-se em regozijo e louvor a Deus. PP 379 5 Os filhos de Gade e Rúben puseram agora em seu altar uma inscrição indicando o propósito pelo qual foi o mesmo construído; e disseram: "Para que seja testemunho entre nós que o Senhor é Deus." Assim se esforçaram por evitar equívocos futuros, e remover o que pudesse ser causa de tentação. PP 379 6 Quantas vezes sérias dificuldades surgem de uma simples má compreensão, mesmo entre aqueles que são impelidos pelos mais dignos intuitos; e, sem o exercício da cortesia e paciência, que resultados sérios e mesmo fatais podem seguir-se! As dez tribos lembraram como no caso de Acã, Deus repreendera a falta de vigilância para se descobrirem os pecados existentes entre eles. Agora resolveram agir pronta e seriamente; mas, procurando evitar seu primeiro erro, foram para o extremo oposto. Em vez de fazerem uma indagação cortês a fim de conhecerem os fatos reais, defrontaram seus irmãos com censura e condenação. Houvessem os homens de Gade e Rúben retorquido no mesmo espírito, a guerra teria sido o resultado. Ao mesmo tempo que é importante que de um lado seja evitada a frouxidão ao tratar com o pecado, é igualmente de importância que do outro se evite um juízo ríspido e infundada suspeita. PP 380 1 Conquanto muitos sejam bastante sensíveis à menor censura com relação à sua conduta, são demasiadamente severos ao tratar com aqueles que supõem estar em erro. Ninguém foi jamais recuperado de uma situação errônea, pela censura e acusação; mas muitos são assim mais repelidos do caminho direito, e levados a endurecer o coração contra a convicção. Um espírito de bondade, uma conduta cortês, paciente, podem salvar os que erram, e cobrir uma multidão de pecados. PP 380 2 A sabedoria mostrada pelos rubenitas e seus companheiros é digna de imitação. Ao mesmo tempo em que procuravam honestamente promover a causa da verdadeira religião, eram julgados falsamente e censurados com severidade; não manifestaram, todavia, ressentimento. Escutaram com cortesia e paciência as acusações de seus irmãos, antes de tentarem fazer sua defesa, e, então, explicaram amplamente seus intuitos e mostraram sua inocência. Assim a dificuldade que ameaçara conseqüências tão sérias, foi resolvida amigavelmente. PP 380 3 Mesmo sob uma acusação falsa, aqueles que estão com a razão podem estar calmos e ponderados. Deus está a par de tudo que é mal-compreendido e mal-interpretado pelos homens, e podemos com segurança deixar nosso caso em Suas mãos. Tão certamente reivindicará Ele a causa dos que nEle põem sua confiança, como investigou o crime de Acã. Aqueles que são compelidos pelo Espírito de Cristo, possuirão a caridade que é longânima e benévola. PP 380 4 É vontade de Deus que a união e o amor fraternal existam entre Seu povo. A oração de Cristo, precisamente antes de Sua crucifixão, foi para que Seus discípulos fossem um como Ele é um com o Pai, a fim de que o mundo pudesse crer que Deus O enviara. Essa oração mui tocante e maravilhosa atravessa os séculos, até mesmo aos nossos dias; pois Suas palavras foram: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim". João 17:20. Conquanto não devamos sacrificar um único princípio da verdade, deve ser nosso constante objetivo atingir este estado de unidade. Esta é a prova de nosso discipulado. Disse Jesus: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". João 13:35. O apóstolo Pedro exorta a igreja: "Sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis, não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção". 1 Pedro 3:8, 9. ------------------------Capítulo 49 -- As últimas palavras de Josué PP 381 0 Este capítulo é baseado em Josué 23-24. PP 381 1 As guerras de conquista terminaram, e Josué se retirara ao pacífico remanso de seu lar, em Timnate-Sera. "E sucedeu que, muitos dias depois que o Senhor dera repouso a Israel de todos os seus inimigos em redor, [...] chamou Josué a todo o Israel, aos seus anciãos, e aos seus cabeças, e as seus juízes, e aos seus oficiais." PP 381 2 Alguns anos haviam-se passado desde que o povo se estabelecera em suas posses, e já se podiam ver aparecendo os mesmos males que até então acarretaram juízos sobre Israel. Sentindo Josué as debilidades da idade a assaltarem-no, e compreendendo que sua obra logo deveria encerrar-se, encheu-se de ansiedade pelo futuro de seu povo. Foi com um interesse maior do que o de um pai que ele lhes falou, reunindo-se eles mais uma vez em redor de seu idoso chefe. "Vós já tendes visto", disse ele, "tudo quanto o Senhor vosso Deus fez a todas estas nações por causa de vós, porque o Senhor vosso Deus é o que pelejou por vós." Posto que os cananeus tivessem sido subjugados, ainda possuíam uma porção considerável da terra prometida a Israel; e Josué exortou o seu povo a não ficar em sossego, e esquecer-se da ordem do Senhor de desapossar inteiramente aquelas nações idólatras. PP 381 3 O povo em geral era vagaroso no completar a obra de expulsar os gentios. As tribos haviam-se dispersado às suas posses, o exército se debandara, e considerava-se uma empresa difícil e duvidosa renovar a guerra. Mas Josué declarou: "O Senhor vosso Deus as impelirá de diante de vós, e as expelirá de diante de vós; e vós possuireis a sua terra, como o Senhor vosso Deus vos tem dito. Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés, para que dele não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda." PP 381 4 Josué apelou para o próprio povo como testemunha de que, tanto quanto satisfizeram as condições, Deus havia fielmente cumprido Sua promessa para com eles. "Vós bem sabeis, com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma", disse ele, "que nem uma só palavra caiu de todas as boas palavras que falou de vós o Senhor vosso Deus; todas vos sobrevieram, nem delas caiu uma só palavra." Declarou-lhes que, como o Senhor cumprira Suas promessas, assim deveria cumprir Suas ameaças. "E será que, assim como sobre vós vieram todas estas boas coisas, que o Senhor vosso Deus vos disse, assim trará o Senhor sobre vós todas aquelas más coisas. [...] Quando traspassardes o concerto do Senhor vosso Deus, [...] então a ira do Senhor sobre vós se acenderá, e logo perecereis de sobre a boa terra que vos deu." PP 382 1 Satanás engana a muitos com a plausível teoria de que o amor de Deus para com o Seu povo é tão grande que Ele desculpará o pecado neles; ele faz figurar que, conquanto as ameaças da Palavra de Deus devam servir para certo propósito em Seu governo moral, nunca se devem elas cumprir literalmente. Mas, em todo o Seu trato com Suas criaturas, Deus tem mantido os princípios da justiça, revelando o pecado em seu verdadeiro caráter -- demonstrando que seu resultado certo é miséria e morte. Nunca houve nem nunca haverá perdão incondicional do pecado. Tal perdão mostraria o abandono dos princípios de justiça que constituem o próprio fundamento do governo de Deus. Isto encheria de consternação o universo dos seres não caídos. Deus indicou fielmente os resultados do pecado; e, se essas advertências não fossem verdadeiras, como poderíamos nós estar certos de que Suas promessas se cumpririam? A pretensa benevolência que quer pôr de parte a justiça, não é benevolência, mas fraqueza. PP 382 2 Deus é o doador da vida. Desde o princípio, todas as Suas leis foram ordenadas para toda a vida. Mas o pecado se intrometeu na ordem que Deus estabelecera, e seguiu-se a discórdia. Enquanto existir o pecado, sofrimento e morte serão inevitáveis. É unicamente porque o Redentor assimilou a maldição do pecado em nosso favor que o homem pode esperar livrar-se, em sua própria pessoa, dos horrendos resultados do pecado. PP 382 3 Antes da morte de Josué, os chefes e representantes das tribos, obedientes à sua convocação, congregaram-se de novo em Siquém. Nenhum lugar em todo o país possuía tantas recordações sagradas, transportando a mente para o concerto de Deus com Abraão e Jacó, e relembrando também seus próprios votos solenes por ocasião da entrada em Canaã. Ali estavam as montanhas de Ebal e Gerizim, testemunhas silenciosas daqueles votos que agora, na presença de seu chefe prestes a morrer, se reuniram para renovar. De cada lado havia evidências do que Deus operara por eles; como lhes dera uma terra para a qual não trabalharam, e cidades que não haviam construído, e vinhedos e olivais que não plantaram. Josué recordou mais uma vez a história de Israel, contando novamente as obras maravilhosas de Deus, para que todos pudessem ter uma intuição de Seu amor e misericórdia, e O servissem "com sinceridade e com verdade". PP 382 4 Por determinação de Josué, a arca fora trazida de Siló. A ocasião foi de grande solenidade, e este símbolo da presença de Deus aprofundaria a impressão que ele desejava produzir no povo. Depois de apresentar a bondade de Deus para com Israel, ele os convidou em nome de Jeová, a escolherem a quem serviriam. O culto aos ídolos era ainda até certo ponto praticado secretamente, e agora Josué se esforçou por levá-los à decisão de que baniriam de Israel este pecado. "Se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor", disse ele, "escolhei hoje a quem sirvais". Josué 24:15. Josué desejava levá-los a servir a Deus, não constrangidamente, mas de livre vontade. O amor a Deus é a base mesma da religião. Empenhar-nos em Seu serviço meramente pela esperança de recompensa ou medo do castigo, de nada serviria. A apostasia declarada não seria mais ofensiva a Deus do que a hipocrisia e o mero culto por formalidade. PP 383 1 O idoso líder instou com o povo para considerar, em todos os seus aspectos, o que havia sido posto perante eles, e decidir se realmente desejavam viver como viviam as degradadas nações idólatras em redor deles. Se lhes parecia mal servir a Jeová, fonte de poder e de bênçãos, que escolhessem naquele dia a quem serviriam -- se aos "deuses a quem serviram vossos pais", e do meio dos quais Abraão foi chamado a sair, "ou os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais". Estas últimas palavras foram uma censura veemente a Israel. Os deuses dos amorreus não tinham sido capazes de proteger seus adoradores. Por causa de seus pecados abomináveis e aviltantes, aquela ímpia nação fora destruída, e a boa terra que possuíam fora dada ao povo de Deus. Que loucura para Israel preferir as divindades por cuja adoração os amorreus haviam sido destruídos! "Porém eu e a minha casa", disse Josué, "serviremos ao Senhor". Josué 24:15. O mesmo zelo santo que inspirava o coração do chefe, comunicou-se ao povo. Seus apelos provocaram a resposta decisiva: "Nunca nos aconteça que deixemos ao Senhor para servirmos a outros deuses." PP 383 2 "Não podeis servir ao Senhor", disse Josué, "porquanto é Deus santo, [...] não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados." Antes que pudesse haver qualquer reforma permanente, o povo devia ser levado a sentir sua completa incapacidade de, por si mesmos, prestarem obediência a Deus. Haviam quebrantado a Sua lei; esta os condenava como transgressores, e não provia meio de livramento. Enquanto confiavam em sua própria força e justiça, era-lhes impossível conseguir o perdão de seus pecados; não podiam satisfazer as reivindicações da lei perfeita de Deus, e era em vão que se comprometiam a servi-Lo. Unicamente pela fé em Cristo é que poderiam conseguir o perdão do pecado, e receber força para obedecer à lei de Deus. Não mais deviam confiar em seus próprios esforços para alcançar a salvação; deviam confiar inteiramente nos méritos do Salvador prometido, se queriam ser aceitos por Deus. PP 383 3 Josué se esforçou por levar os ouvintes a pesarem bem suas palavras, e absterem-se de votos que não estariam preparados para cumprir. Com profundo fervor repetiram a declaração: "Não, antes ao Senhor serviremos." Consentindo solenemente com o testemunho contra si mesmos de que escolheram a Jeová, mais uma vez reiteraram seu compromisso de fidelidade: "Serviremos ao Senhor nosso Deus, e obedeceremos à Sua voz." PP 384 1 "Assim fez Josué concerto naquele dia com o povo, e lho pôs por estatuto e direito em Siquém." Tendo escrito um relatório deste feito solene, colocou-o juntamente com o livro da lei ao lado da arca. E levantou uma coluna em memória, dizendo: "Eis que esta pedra nos será por testemunho; pois ela ouviu todas as palavras que o Senhor nos tem dito; e também será testemunho contra vós, para que não mintais a vosso Deus. Então Josué despediu o povo, cada um para a sua herdade." PP 384 2 A obra de Josué em prol de Israel estava finalizada. Havia seguido inteiramente ao Senhor; e no Livro de Deus ele é chamado: "O servo do Senhor." O mais nobre testemunho em favor de seu caráter como líder público é a história da geração que fruíra seus labores: "Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué." ------------------------Capítulo 50 -- Dízimos e ofertas PP 385 1 Na economia hebréia um décimo da receita do povo era separado para o custeio do culto público de Deus. Assim Moisés declarou a Israel: "Todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor." "Tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, [...] o dízimo será santo ao Senhor". Levítico 27:30, 32. PP 385 2 Mas o sistema dos dízimos não se originou com os hebreus. Desde os primitivos tempos o Senhor reivindicava como Seu o dízimo; e tal reivindicação era reconhecida e honrada. Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, sacerdote do altíssimo Deus. Gênesis 14:20. Jacó, quando em Betel, exilado e errante, prometeu ao Senhor: "De tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo". Gênesis 28:22. Quando os israelitas estavam prestes a estabelecer-se como nação, a lei dos dízimos foi confirmada, como um dos estatutos divinamente ordenados, da obediência ao qual dependia a sua prosperidade. PP 385 3 O sistema dos dízimos e ofertas destinava-se a impressionar a mente dos homens com uma grande verdade -- verdade de que Deus é a fonte de toda bênção a Suas criaturas, e de que a Ele é devida a gratidão do homem pelas boas dádivas de Sua providência. PP 385 4 Ele "dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas". Atos dos Apóstolos 17:25. O Senhor declara: "Meu é todo o animal da selva, e as alimárias sobre milhares de montanhas". Salmos 50:10. "Minha é a prata, e Meu é o ouro." E é Deus quem dá aos homens o poder de adquirir riquezas. Ageu 2:8. Como reconhecimento de que todas as coisas provêm dEle, o Senhor determinou que parte de Seus abundantes dons Lhe fosse devolvida em dádivas e ofertas para manterem o Seu culto. PP 385 5 "As dízimas [...] são do Senhor". Levítico 27:30. É empregada aqui a mesma forma de expressão que se encontra na lei do sábado. "O sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus". Êxodo 20:10. Deus reservou para Si uma porção especificada do tempo do homem e de seus meios, e ninguém poderia impunemente apropriar-se de qualquer dessas coisas para seus próprios interesses. PP 385 6 O dízimo era dedicado exclusivamente ao uso dos levitas, a tribo que fora separada para o serviço do santuário. Mas este não era de nenhuma maneira o limite das contribuições para os fins religiosos. O tabernáculo, bem como mais tarde o templo, foi construído inteiramente pelas ofertas voluntárias; e, a fim de prover para os necessários reparos e outras despesas, Moisés determinou que todas as vezes que o povo fosse recenseado, cada um deveria contribuir com meio siclo para "o serviço do tabernáculo". No tempo de Neemias fazia-se anualmente uma contribuição para este fim. Êxodo 30:12-16; 2 Reis 12:4, 5; 2 Crônicas 24:4-13; Neemias 10:32, 33. De tempos em tempos eram trazidas a Deus ofertas pelo pecado e ofertas de gratidão. Estas eram apresentadas em grande número nas festas anuais. E fazia-se pelos pobres a mais liberal provisão. PP 386 1 Mesmo antes que o dízimo pudesse ser reservado, tinha havido já um reconhecimento dos direitos de Deus. Aquilo que em primeiro lugar amadurecia dentre todos os produtos da terra, era-Lhe consagrado. A primeira lã, quando as ovelhas eram tosquiadas; o primeiro trigo quando este era trilhado, o primeiro óleo e o primeiro vinho, eram separados para Deus. Assim também o eram os primogênitos de todos os animais; e pagava-se um resgate pelo filho primogênito. As primícias deviam ser apresentadas diante do Senhor no santuário, e eram então dedicadas ao uso dos sacerdotes. PP 386 2 Assim, lembrava-se constantemente ao povo que Deus era o verdadeiro proprietário de seus campos, rebanhos e gado; que Ele lhes enviava a luz do Sol e a chuva para a semeadura e a ceifa, e que tudo que possuíam era de Sua criação, e Ele os fizera mordomos de Seus bens. PP 386 3 Reunindo-se no tabernáculo os homens de Israel, carregados com as primícias do campo, dos pomares e dos vinhedos, fazia-se um reconhecimento público da bondade de Deus. Quando o sacerdote aceitava o donativo, o ofertante, falando como que na presença de Jeová, dizia: "Siro [Arameu] miserável foi meu pai" (Deuteronômio 26:5); e descrevia a permanência no Egito, e a aflição de que Deus livrara Israel "com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com milagres." E dizia: "E nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, terra que mana leite e mel. E eis que agora eu trouxe as primícias dos frutos da terra que Tu, ó Senhor, me deste". Deuteronômio 26:5, 8-11. PP 386 4 As contribuições exigidas dos hebreus para fins religiosos e caritativos, montavam a uma quarta parte completa de suas rendas. Uma taxa tão pesada sobre os recursos do povo poder-se-ia esperar que os reduzisse à pobreza; mas, ao contrário, a fiel observância destes estatutos era uma das condições de sua prosperidade. Sob a condição de sua obediência, Deus lhes fez esta promessa: "Por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril. [...] E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos exércitos". Malaquias 3:11, 12. PP 386 5 Uma notável ilustração dos resultados da retenção egoísta, mesmo das ofertas voluntárias, para não serem usadas na causa de Deus, foi dada nos dias do profeta Ageu. Depois de sua volta do cativeiro em Babilônia, os judeus empreenderam a reconstrução do templo do Senhor; mas, defrontando-se com decidida oposição por parte de seus inimigos, interromperam a obra; e uma seca rigorosa, pela qual ficaram reduzidos a real necessidade, convenceu-os de que era impossível completar a construção do templo. "Não veio ainda o tempo", diziam, "o tempo em que a casa do Senhor deve ser edificada." Mas uma mensagem lhes foi enviada pelo profeta do Senhor: "É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta? Ora pois, assim diz o Senhor dos exércitos: Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos. Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado". Ageu 1:6. E então é dada a razão: "Olhastes para muito, mas eis que alcançastes pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, Eu lhe assoprei. Por que causa? disse o Senhor dos exércitos; por causa da Minha casa, que está deserta, e cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso retêm os céus o seu orvalho, e a terra retém os seus frutos. E fiz vir a seca sobre a terra, e sobre os montes, e sobre o trigo, e sobre o mosto; e sobre o azeite, e sobre o que terra produz; como também sobre os homens, e sobre os animais, e sobre todo o trabalho das mãos." "Depois daquele tempo, veio alguém a um monte de vinte medidas, e havia somente dez; vindo ao lagar para tirar cinqüenta, havia somente vinte. Feri-vos com queimadura, e com ferrugem, e com saraiva, em toda a obra das vossas mãos". Ageu 2:16, 17. PP 387 1 Despertado por estas advertências, o povo se pôs a construir a casa de Deus. Então lhes veio a palavra do Senhor: "Ponde pois, Eu vos rogo, desde este dia em diante, desde o vigésimo quarto dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do Senhor, ponde o vosso coração nestas coisas. [...] Desde este dia vos abençoarei". Ageu 2:18, 19. PP 387 2 Diz o sábio: "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda". Provérbios 11:24. E a mesma lição é ensinada no Novo Testamento pelo apóstolo Paulo: "O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará." "Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra". 2 Coríntios 9:6, 8. PP 387 3 Era intuito de Deus que Seu povo Israel fosse portador de luz a todos os habitantes da Terra. Mantendo seu culto público estavam a dar testemunho da existência e soberania do Deus vivo. E era privilégio deles sustentar este culto, como expressão de sua fidelidade e amor para com Ele. O Senhor ordenou que a difusão da luz e verdade na Terra dependesse dos esforços e das ofertas daqueles que são participantes do dom celestial. Ele poderia ter feito dos anjos os embaixadores de Sua verdade; poderia tornar conhecida Sua vontade, assim como proclamara a lei do Sinai, com Sua própria voz; mas em Seu amor e sabedoria infinitos chamou os homens para se tornarem colaboradores Seus, escolhendo-os a fim de fazerem esta obra. PP 388 1 Nos dias de Israel os dízimos e as ofertas voluntárias eram necessários para manterem as ordenanças do culto divino. Deveria o povo de Deus dar menos neste tempo? O princípio estabelecido por Cristo é que nossas ofertas a Deus sejam em proporção à luz e privilégios recebidos. "A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá". Lucas 12:48. Disse o Salvador a Seus discípulos, quando os enviou: "De graça recebestes, de graça dai". Mateus 10:8. Aumentando-se as nossas bênçãos e privilégios -- e, acima de tudo, tendo nós presente o sacrifício sem-par do glorioso Filho de Deus -- não deveria a nossa gratidão ter expressão em dádivas mais abundantes a fim de levar a outros a mensagem da salvação? A obra do evangelho, ao ampliar-se, requer maior provisão para a sustentar do que era exigida antigamente; e isto torna agora a lei dos dízimos e ofertas de mais imperiosa necessidade mesmo do que sob a economia hebréia. Se o povo de Deus concorresse liberalmente para Sua causa pelas suas dádivas voluntárias, em vez de recorrer a métodos não cristãos e profanos a fim de encher o tesouro, Deus seria honrado, e muito mais pessoas seriam ganhas para Cristo. PP 388 2 O plano de Moisés para angariar meios para a construção do tabernáculo teve grande êxito. Nenhuma insistência foi necessária. Tampouco empregou qualquer dos expedientes a que as igrejas em nosso tempo tantas vezes recorrem. Não fez uma grande festa. Não convidou o povo para cenas de alegria, danças, diversões gerais; tampouco instituiu as loterias, nem qualquer coisa desta natureza profana, com o fim de obter meios para construir o tabernáculo de Deus. O Senhor ordenou a Moisés que convidasse os filhos de Israel a trazerem suas ofertas. Ele aceitava donativos de todos os que dessem voluntariamente, de coração. E as ofertas vieram em tão grande abundância que Moisés mandou o povo deixar de trazer, pois já haviam suprido mais do que poderia ser usado. PP 388 3 Deus fez dos homens os Seus administradores. A propriedade que Ele pôs em suas mãos são os meios que Ele proveu para a propagação do evangelho. Àqueles que se mostrarem mordomos fiéis Ele confiará maiores bens. Diz o Senhor: "Aos que Me honram honrarei". 1 Samuel 2:30. "Deus ama ao que dá com alegria" (2 Coríntios 9:7), e, quando Seu povo, de coração grato, Lhe trazem seus dons e ofertas, "não com tristeza, ou por necessidade", Sua bênção os acompanhará, conforme Ele prometeu. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos exércitos, se Eu vos não abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança". Malaquias 3:10. ------------------------Capítulo 51 -- O cuidado de Deus para com os pobres PP 389 1 A fim de promover a reunião do povo para serviço religioso, bem como para se fazerem provisões aos pobres, exigia-se um segundo dízimo de todo o lucro. Com relação ao primeiro dízimo, declarou o Senhor: "Aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel". Números 18:21. Mas em relação ao segundo Ele ordenou: "Perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o Seu nome, comereis os dízimos do teu grão, do teu mosto, e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias". Deuteronômio 14:23. Este dízimo, ou o seu equivalente em dinheiro, deviam por dois anos trazer ao lugar em que estava estabelecido o santuário. Depois de apresentarem uma oferta de agradecimento a Deus, e uma especificada porção ao sacerdote, os ofertantes deviam fazer uso do que restava para uma festa religiosa, da qual deviam participar os levitas, os estrangeiros, os órfãos e as viúvas. Assim, tomavam-se providências para as ações de graças e festas, nas solenidades anuais, e o povo era trazido à associação com os sacerdotes e levitas, para que pudesse receber instrução e animação no serviço de Deus. PP 389 2 Em cada terceiro ano, entretanto, este segundo dízimo devia ser usado em casa, hospedando os levitas e os pobres, conforme Moisés dissera: "Para que comam dentro das tuas portas, e se fartem". Deuteronômio 26:12. Este dízimo proveria um fundo para fins de caridade e hospitalidade. PP 389 3 Outra providência, ainda, se tomou em favor dos pobres. Nada há, depois do reconhecimento dos direitos de Deus, que mais caracterize as leis dadas por Moisés do que o espírito liberal, afetuoso e hospitaleiro ordenado para com os pobres. Embora Deus houvesse prometido abençoar grandemente Seu povo, não era Seu desígnio que a pobreza fosse inteiramente desconhecida entre eles. Ele declarou que os pobres nunca se acabariam na Terra. Sempre haveria entre Seu povo os que poriam em ação a simpatia, ternura e benevolência deles. Então, como agora, as pessoas estavam sujeitas a contratempos, enfermidade e perda de propriedade; todavia, enquanto seguiram as instruções dadas por Deus, não houve mendigos entre eles, nem qualquer que sofresse fome. PP 389 4 A lei de Deus dava aos pobres direito a certa parte dos produtos do solo. Estando com fome, tinha um homem liberdade de ir ao campo de seu vizinho, ou ao pomar ou à vinha, e comer do grão ou do fruto, para matar a fome. Foi de acordo com esta permissão que os discípulos de Jesus, ao passarem num dia de sábado por um campo de trigo, arrancaram espigas e comeram do grão. PP 390 1 Toda respiga dos campos, pomares e vinhas, pertencia aos pobres. "Quando no teu campo segares a tua sega", disse Moisés, "e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo. [...] Quando sacudires a tua oliveira, não tornarás atrás de ti a sacudir os ramos. [...] Quando vindimares a tua vinha, não tornarás atrás de ti a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. E lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito". Deuteronômio 24:19-22; Levítico 19:9, 10. PP 390 2 Cada sétimo ano eram tomadas providências especiais em favor dos pobres. O ano sabático, como era o mesmo chamado, começava no fim da ceifa. Na ocasião da sementeira, que se seguia à colheita, o povo não devia semear; não deviam podar a vinha na primavera; e não deviam estar na expectativa quer de ceifa quer de vindima. Daquilo que a terra produzisse espontaneamente, podiam comer enquanto novo; mas não deviam armazenar qualquer porção do mesmo em seus depósitos. A produção deste ano devia estar franqueada ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, e mesmo aos animais do campo. Êxodo 23:10, 11; Levítico 25:5. PP 390 3 Mas, se a terra produzia comumente apenas o bastante para suprir as necessidades do povo, como deveriam subsistir durante o ano em que nada colhessem? Para tal fim a promessa de Deus oferecia amplas provisões. "Mandarei Minha bênção sobre vós no sexto ano", disse Ele, "para que dê fruto por três anos. E no oitavo ano semeareis, e comereis da colheita velha até ao ano nono; até que venha a sua novidade comereis a velha". Levítico 25:21, 22. PP 390 4 A observância do ano sabático devia ser um benefício tanto para a terra como para o povo. O solo, ficando sem ser cultivado durante um ano, produzia mais abundantemente depois. O povo estava livre dos trabalhos apertados do campo; e, conquanto houvesse vários ramos de trabalhos que podiam ser efetuados durante este tempo, todos podiam se dedicar a maior lazer, o qual oferecia oportunidade para a restauração de suas capacidades físicas para os esforços dos anos seguintes. Tinham mais tempo para a meditação e oração, para se familiarizarem com os ensinos e mandados do Senhor, e para a instrução de sua casa. PP 390 5 No ano sabático, os escravos hebreus deviam ser postos em liberdade, e não deviam ser despedidos de mãos vazias. A instrução do Senhor foi: "Quando o despedires de ti forro, não o despedirás vazio. Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira e do teu lagar; daquilo com que o Senhor teu Deus te tiver abençoado lhe darás". Deuteronômio 15:13, 14. PP 390 6 O salário do trabalhador devia ser pago prontamente: "Não oprimirás o jornaleiro pobre e necessitado de teus irmãos, ou de teus estrangeiros, que estão na tua terra. [...] No seu dia lhe darás o seu jornal, e o Sol se não porá sobre isso: porquanto pobre é, e sua alma se atém a isso". Deuteronômio 24:14, 15. PP 391 1 Instruções especiais também foram dadas concernentes ao tratamento para com os que fugiam do serviço: "Não entregarás a seu senhor o servo que se acolher a ti de seu senhor; contigo ficará no meio de ti, no lugar que escolher em alguma das tuas portas, onde lhe estiver bem; não o oprimirás". Deuteronômio 23:15, 16. PP 391 2 Para os pobres, o sétimo ano era um ano de livramento de dívidas. Ordenava-se aos hebreus em todo o tempo auxiliar seus irmãos necessitados, emprestando-lhes dinheiro sem juro. Tomar usura de um pobre era expressamente proibido: "Quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino, para que viva contigo. Não tomarás dele usura nem ganho; mas do teu Deus terás temor, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com usura, nem darás o teu manjar por interesse". Levítico 25:35-37. Se a dívida ficava sem ser paga até o ano da remissão, o próprio capital não podia ser recuperado. Expressamente advertia-se ao povo contra o privar os seus irmãos da necessária assistência, por causa disto: "Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, [...] não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre. [...] Guarda-te que não haja vil pensamento no teu coração, dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao Senhor, e que haja em ti pecado." "Nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra", "livremente emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade". Deuteronômio 15:7-9, 11, 8. PP 391 3 Ninguém devia temer que sua liberalidade o levasse à necessidade. Da obediência aos mandamentos de Deus resultaria certamente prosperidade. "Emprestarás a muitas nações", disse Ele; "mas não tomarás empréstimos; e dominarás sobre muitas nações, mas elas não dominarão sobre ti". Deuteronômio 15:6. PP 391 4 Depois de "sete semanas de anos", "sete vezes sete anos", vinha o grande ano da remissão -- o jubileu. "Então [...] fareis passar a trombeta do jubileu [...] por toda a vossa terra. E santificareis o ano qüinquagésimo, e apregoareis a liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua possessão, e tornareis, cada um à sua família". Levítico 25:9, 10. PP 391 5 "No mês sétimo, aos dez do mês, [...] no dia da expiação", soava a trombeta do jubileu. Por toda a terra, onde quer que morasse o povo judeu, ouvia-se o som, convidando a todos os filhos de Jacó a darem as boas-vindas ao ano da remissão. No grande dia da expiação, oferecia-se reparação pelos pecados de Israel, e com verdadeira alegria o povo recebia o jubileu. PP 391 6 Como no ano sabático, não se devia semear nem colher, e tudo que a terra produzisse devia ser considerado como propriedade lícita dos pobres. Certas classes de escravos hebreus -- todos os que não recebiam liberdade no ano sabático -- ficavam agora livres. Mas aquilo que especialmente distinguia o ano do jubileu era a reversão de toda a propriedade territorial à família do possuidor original. Por determinação especial de Deus, a terra fora dividida por sorte. Depois que a divisão fora feita, ninguém tinha a liberdade de negociar sua terra. Tampouco devia vendê-la, a menos que a pobreza o compelisse a tal; e, então, quando quer que ele ou qualquer de seus parentes desejasse resgatá-la, o comprador não devia recusar-se a vendê-la; e, não sendo remida, reverteria ao seu primeiro possuidor ou seus herdeiros, no ano do jubileu. PP 392 1 O Senhor declarou a Israel: "A terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é Minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo". Levítico 25:23. O povo devia ser impressionado com o fato de que era a terra de Deus que se lhes permitia possuir por algum tempo; de que Ele era o legítimo possuidor, o proprietário original, e de que desejava se tivesse consideração especial pelos pobres e infelizes. A mente de todos devia ser impressionada com o fato de que os pobres têm tanto direito a um lugar no mundo de Deus como o têm os mais ricos. PP 392 2 Tais foram as disposições tomadas por nosso misericordioso Criador a fim de diminuir o sofrimento, trazer algum raio de esperança, lampejar uma réstia de luz na vida dos que são destituídos de bens e se acham angustiados. PP 392 3 O Senhor queria pôr obstáculo ao amor desordenado à propriedade e ao poderio. Grandes males resultariam da acumulação contínua da riqueza por uma classe, e da pobreza e degradação por outra. Sem alguma restrição, o poderio dos ricos se tornaria um monopólio, e os pobres, se bem que sob todos os aspectos perfeitamente tão dignos à vista de Deus, seriam considerados e tratados como inferiores aos seus irmãos mais prósperos. A consciência desta opressão despertaria as paixões das classes mais pobres. Haveria um sentimento de aflição e desespero que teria como tendência desmoralizar a sociedade e abrir as portas aos crimes de toda espécie. Os estatutos que Deus estabelecera destinavam-se a promover a igualdade social. As disposições do ano sabático e do jubileu em grande medida poriam em ordem aquilo que no intervalo anterior havia ido mal na economia social e política da nação. PP 392 4 Aqueles estatutos destinavam-se a abençoar os ricos não menos que os pobres. Restringiriam a avareza e a disposição para a exaltação própria, e cultivariam um espírito nobre e de beneficência; e, alimentando a boa vontade e a confiança entre todas as classes, promoveriam a ordem social, a estabilidade do governo. Nós nos achamos todos entretecidos na grande trama da humanidade, e o que quer que possamos fazer para beneficiar e elevar a outrem, refletirá em bênçãos a nós mesmos. A lei da dependência recíproca vigora em todas as classes da sociedade. Os pobres não dependem dos ricos mais do que estes dependem daqueles. Enquanto uma classe pede participação nas bênçãos que Deus conferiu aos seus vizinhos mais ricos, a outra necessita do serviço fiel, e da força do cérebro, ossos e músculos, coisas que são o capital do pobre. PP 393 1 Grandes bênçãos foram prometidas a Israel sob condição de obediência às instruções do Senhor. "Eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo", declarou Ele; "e a terra dará a sua novidade, e a árvore do campo dará o seu fruto; e a debulha se vos chegará à vindima, e a vindima se chegará à sementeira; e comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa terra. Também darei paz na terra, e dormireis seguros, e não haverá quem vos espante; e farei cessar os animais nocivos da terra, e pela vossa terra não passará espada. [...] Andarei no meio de vós, e Eu vos serei por Deus, e vós Me sereis por povo. [...] Mas, se Me não ouvirdes, e não fizerdes todos estes mandamentos, [...] para invalidar o Meu concerto, [...] semeareis debalde a vossa semente, e os vossos inimigos a comerão. E porei a Minha face contra vós, e sereis feridos diante de vossos inimigos; e os que vos aborrecerem de vós se assenhorearão, e fugireis, sem ninguém vos perseguir". Levítico 26:4-17. PP 393 2 Muitos há que insistem com grande entusiasmo que todos os homens deviam ter participação igual nas bênçãos temporais de Deus. Mas isto não foi o propósito do Criador. A diversidade de condições é um dos meios pelos quais é desígnio de Deus provar e desenvolver o caráter. Contudo, é Seu intuito que aqueles que têm haveres terrestres se considerem simplesmente como mordomos de Seus bens, estando-lhes confiados os meios a serem empregados para o benefício dos sofredores e necessitados. PP 393 3 Cristo disse que teremos os pobres sempre conosco; e Ele une Seu interesse com o de Seu povo sofredor. O coração de nosso Redentor compadece-se dos mais pobres e humildes de Seus filhos terrestres. Ele nos diz que são Seus representantes na Terra. Pô-los entre nós para despertar em nosso coração o amor que Ele sente pelos que sofrem e são oprimidos. A piedade e a benevolência a eles mostradas são aceitas por Cristo como se o fossem para com Ele mesmo. Um ato de crueldade ou negligência para com eles, é considerado como se fosse praticado a Ele. PP 393 4 Se a lei dada por Deus para o benefício dos pobres houvesse continuado a ser executada, quão diferente seria a condição presente do mundo, moralmente, espiritualmente e materialmente! O egoísmo e a importância atribuída a si próprio não se manifestariam como hoje, antes cada qual alimentaria uma consideração benévola pela felicidade e bem-estar de outros; e não existiria tão extensa falta do necessário como se vê hoje em muitas terras. PP 393 5 Os princípios que Deus ordenou impediriam os terríveis males que em todos os séculos têm resultado da opressão do rico ao pobre, e da suspeita e ódio do pobre para com o rico. Ao mesmo tempo em que poderiam impedir a acumulação de grandes riquezas, e a satisfação do luxo ilimitado, impediriam a conseqüente ignorância e degradação de dezenas de milhares, cuja servidão mal paga é exigida para acumular essas fortunas colossais. Trariam uma solução pacífica àqueles problemas que hoje ameaçam encher o mundo de anarquia e morticínio. ------------------------Capítulo 52 -- As festas anuais PP 394 0 Este capítulo é baseado em Levítico 23. PP 394 1 Havia três assembléias anuais de todo o Israel para adoração no santuário. Êxodo 23:14-16. Siló foi por algum tempo o local para essas reuniões; mas Jerusalém se tornou mais tarde o centro do culto da nação, e ali se congregavam as tribos para as festas solenes. PP 394 2 O povo estava rodeado de tribos ferozes, aguerridas, que se achavam ávidas por tomarem suas terras; contudo, três vezes ao ano, a todos os homens robustos, a toda a gente em condições de poder fazer viagem, ordenava-se que deixassem seus lares e se dirigissem ao lugar da assembléia, próximo do centro daquela terra. O que impediria seus inimigos de se lançarem sobre essas casas desprotegidas, e devastá-las pelo fogo e pela espada? O que impediria a invasão do país, a qual levaria Israel em cativeiro a algum adversário estrangeiro? -- Deus prometera ser o protetor de Seu povo. "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem, e os livra". Salmos 34:7. Enquanto os israelitas subiam para adorar, o poder divino imporia uma restrição aos seus inimigos. A promessa de Deus era: "Eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei o teu termo; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do Senhor teu Deus". Êxodo 34:24. PP 394 3 As primeiras destas solenidades, a Páscoa e a festa dos pães asmos, ocorriam em Abibe, o primeiro mês do ano judaico, correspondente ao fim de Março e princípio de Abril. Era passado o frio do inverno, terminara a chuva serôdia, e toda a natureza se regozijava no frescor e beleza da primavera. A relva era verde nas colinas e vales, e flores silvestres por toda parte adornavam os campos. A Lua, já quase cheia, tornava deleitosas as noites. Era a estação tão belamente descrita pelo cantor sagrado: PP 394 4 "Eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra; a figueira já deu os seus figuinhos, a as vides em flor exalam o seu aroma". Cânticos 2:11-13. PP 394 5 Por toda a terra bandos de peregrinos estavam a caminho para Jerusalém. Todos dirigiam os passos para o lugar em que se revelava a presença de Deus: os pastores deixavam seus rebanhos, os guardas do gado as suas montanhas, pescadores o Mar de Galiléia, os lavradores os seus campos, e os filhos dos profetas as escolas sagradas. Jornadeavam em pequenas etapas, pois que muitos iam a pé. As caravanas estavam constantemente a receber acréscimos, e freqüentemente se tornavam muito grandes antes de chegarem à santa cidade. PP 395 1 A alegria da natureza despertava nos corações de Israel júbilo e gratidão para com o Doador de todos os bens. Cantavam-se os grandiosos salmos hebreus, exaltando a glória e majestade de Jeová. Ao som da trombeta que dava os sinais, juntamente com a música dos címbalos, erguia-se o coro de ações de graças, avolumado por centenas de vozes: PP 395 2 "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor. Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém [...] Onde sobem as tribos do Senhor, [...] Para darem graças ao nome do Senhor. [...] Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam". Salmos 122:1-6. PP 395 3 E ao verem em redor de si as colinas onde os gentios costumavam acender os fogos de seus altares, cantavam os filhos de Israel: PP 395 4 "Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a Terra". Salmos 121:1, 2. PP 395 5 "Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Como estão os montes à roda de Jerusalém, Assim o Senhor está em volta do Seu povo, desde agora e para sempre". Salmos 125:1, 2. PP 395 6 Transpondo as colinas que ficavam à vista da santa cidade, olhavam com temor reverente para as multidões de adoradores que caminhavam para o templo. Viam o fumo do incenso a ascender, e, ao ouvirem as trombetas dos levitas anunciando o serviço sagrado, tomavam-se da inspiração do momento, e cantavam: PP 395 7 "Grande é o Senhor e mui digno de louvor, na cidade do nosso Deus, no Seu monte santo. Formoso de sítio, e alegria de toda a Terra é o monte de Sião sobre os lados do norte, a cidade do grande Rei". Salmos 48:1, 2. PP 395 8 "Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios." "Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas, e louvarei ao Senhor." "Pagarei os meus votos ao Senhor; que eu possa fazê-lo na presença de todo o meu povo, nos átrios da casa do Senhor, no meio de ti, ó Jerusalém! Louvai ao Senhor". Salmos 122:7; 118:19; 116:18, 19. PP 395 9 Todas as casas em Jerusalém eram amplamente abertas aos peregrinos, e forneciam-se aposentos gratuitamente; mas isto não era suficiente para a vasta assembléia, e armavam-se tendas em todo o espaço disponível na cidade e nas colinas adjacentes. PP 395 10 No décimo quarto dia do mês, à tarde, celebrava-se a Páscoa, comemorando as suas cerimônias solenes e impressionantes o livramento do cativeiro do Egito, e apontando ao futuro sacrifício que libertaria do cativeiro do pecado. Quando o Salvador rendeu Sua vida no Calvário, cessou a significação da Páscoa, e a ordenança da Ceia do Senhor foi instituída como memorial do mesmo acontecimento de que a Páscoa fora tipo. PP 396 1 A Páscoa era seguida pelos sete dias da festa dos pães asmos. O primeiro e sétimo dia eram dias de santa convocação, nos quais nenhum trabalho servil devia ser feito. No segundo dia da festa, as primícias da ceifa do ano eram apresentadas perante Deus. A cevada era o primeiro cereal a produzir-se na Palestina, e no início da festa estava começando a amadurecer. Um molho deste cereal era movido pelo sacerdote diante do altar de Deus, em reconhecimento de que todas as coisas eram dEle. Antes que esta cerimônia se realizasse não se devia fazer a colheita. PP 396 2 Cinqüenta dias depois, a partir da oferta das primícias, vinha o Pentecostes, também chamado a festa da ceifa, e festa das semanas. Como expressão de gratidão pelo cereal preparado como alimento, dois pães assados com fermento eram apresentados diante de Deus. O Pentecostes ocupava apenas um dia, que era dedicado ao culto religioso. PP 396 3 No sétimo mês vinha a festa dos tabernáculos, ou da colheita. Esta festa reconhecia a generosidade de Deus nos produtos do pomar, do olival e da vinha. Era a reunião festiva encerradora do ano. A terra havia outorgado o seu produto, as colheitas estavam guardadas nos celeiros; os frutos, o azeite e o vinho estavam armazenados, as primícias reservadas, e agora o povo vinha com seus tributos de ações de graças a Deus, que os havia assim abençoado ricamente. PP 396 4 A festa devia ser eminentemente uma ocasião para regozijo. Ocorria precisamente depois do grande dia da expiação, quando haviam obtido a certeza de que sua iniqüidade não mais seria lembrada. Em paz com Deus vinham agora diante dEle para reconhecer Sua bondade e louvá-Lo pela Sua misericórdia. Estando terminados os labores da ceifa, e ainda não iniciadas as labutas do novo ano, o povo estava livre de cuidados, e podia entregar-se às influências sagradas e jubilosas do momento. Embora unicamente aos pais e aos filhos fosse ordenado comparecer às festas, todavia, tanto quanto possível, a casa toda devia a elas assistir, e à hospitalidade daqueles eram bem-vindos os servos, os levitas, o estrangeiro, e os pobres. PP 396 5 Como a Páscoa, a Festa dos Tabernáculos era comemorativa. Em memória de sua vida peregrina no deserto, o povo devia agora deixar suas casas, e habitar em cabanas, ou em caramanchéis, formados dos ramos verdes "das formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores espessas, e salgueiros de ribeiros". Levítico 23:40, 42, 43. PP 396 6 O primeiro dia era uma santa convocação, e aos sete dias da festa acrescentava-se um oitavo, que era observado de modo semelhante. PP 396 7 Nessas assembléias anuais o coração de velhos e jovens se animava no serviço de Deus, ao mesmo tempo em que a associação da gente das várias regiões do país fortalecia os laços que os ligavam a Deus e uns aos outros. Bom seria que o povo de Deus na atualidade tivesse uma Festa dos Tabernáculos -- uma jubilosa comemoração das bênçãos de Deus a eles. Assim como os filhos de Israel celebravam o livramento que Deus operara a seus pais, e sua miraculosa preservação por parte dEle durante suas jornadas depois de saírem do Egito, devemos nós com gratidão recordar-nos dos vários meios que Ele ideou para nos tirar do mundo, e das trevas do erro, para a luz preciosa de Sua graça e verdade. PP 397 1 Para os que moravam distantes do tabernáculo, mais de um mês em cada ano deve ter sido ocupado com a assistência às festas anuais. Este exemplo de devoção a Deus deve dar ênfase à importância do culto religioso, e à necessidade de subordinar nossos interesses egoístas, mundanos, aos que são espirituais e eternos. Incorremos em perda quando negligenciamos o privilégio de nos associarmos, a fim de fortalecer-nos e encorajar-nos uns aos outros no serviço de Deus. As verdades de Sua Palavra perdem sua vivacidade e importância em nossa mente. Nosso coração deixa de iluminar-se e despertar-se pela influência santificadora, e nós decaímos em espiritualidade. Em nossas relações mútuas como cristãos, perdemos muito pela falta de simpatia de uns para com os outros. Aquele que se encerra dentro de si mesmo, não está preenchendo a posição que era desígnio de Deus ele ocupasse. Todos nós somos filhos de um mesmo Pai, dependentes uns dos outros para alcançar a felicidade. As reivindicações de Deus e da humanidade tocam a nós. É o cultivo apropriado dos elementos sociais de nossa natureza o que nos une intimamente com nossos irmãos, e nos proporciona felicidade em nossos esforços para sermos bênçãos aos outros. PP 397 2 A festa dos tabernáculos não era apenas comemorativa, mas também típica. Não somente apontava para a peregrinação no deserto, mas, como festa da ceifa, celebrava a colheita dos frutos da terra, e indicava, no futuro, o grande dia da colheita final, em que o Senhor da seara enviará os Seus ceifeiros para ajuntar o joio em feixes para o fogo, e colher o trigo para o Seu celeiro. Naquele tempo os ímpios todos serão destruídos. Eles se tornarão "como se nunca tivessem sido". Obadias 16. E toda voz, no Universo inteiro, unir-se-á em jubiloso louvor a Deus. Diz o escritor do Apocalipse: "Ouvi a toda a criatura que está no céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Apocalipse 5:13. PP 397 3 O povo de Israel louvava a Deus na Festa dos Tabernáculos, ao evocarem à mente a Sua misericórdia pelo seu livramento da escravidão no Egito, e o Seu terno cuidado para com eles durante sua vida peregrina pelo deserto. Regozijavam-se também pela consciência que tinham do perdão e aceitação, mediante o serviço do dia da expiação, apenas terminado. Mas, quando os resgatados do Senhor houverem sido com segurança recolhidos na Canaã celestial -- livres para sempre do cativeiro da maldição, sob o qual "toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Romanos 8:22) -- regozijar-se-ão com indizível alegria e plenos de glória. A grande obra expiatória de Cristo em prol do homem ter-se-á então completado, e seus pecados terão sido para sempre eliminados. PP 398 1 "O deserto e os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, e também regurgitará de alegria e exultará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, a excelência do nosso Deus. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se transformará em tanques, e a terra sedenta em mananciais de águas; e ali haverá um alto caminho, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles: Os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; mas os remidos andarão por ele. E os resgatados do Senhor voltarão, e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido". Isaías 35:1, 2, 5-10. ------------------------Capítulo 53 -- Os primeiros juízes PP 399 0 Este capítulo é baseado em Juízes 6-8; 10. PP 399 1 Depois de seu estabelecimento em Canaã, nenhum esforço vigoroso fizeram as tribos para completar a conquista da terra. Satisfeitas com o território já ganho, seu zelo se debilitou logo, e a guerra interrompeu-se. "Quando Israel cobrou mais forças, fez dos cananeus tributários; porém não os expeliu de todo". Juízes 1:28. PP 399 2 O Senhor havia cumprido fielmente, de Sua parte, as promessas feitas a Israel; Josué quebrara o poder dos cananeus, e distribuíra a terra às tribos. Apenas lhes restava, confiando na certeza do auxílio divino, completar a obra de desapossar os habitantes da terra. Mas isto eles deixaram de fazer. Entrando em aliança com os cananeus, transgrediram diretamente a ordem de Deus, e assim deixaram de cumprir a condição sob a qual Ele prometera colocá-los de posse de Canaã. PP 399 3 Desde a primeira comunicação da parte de Deus a eles no Sinai, haviam sido advertidos contra a idolatria. Imediatamente depois da proclamação da lei, foi-lhes enviada esta mensagem por intermédio de Moisés, concernente às nações de Canaã: "Não te inclinarás diante dos seus deuses, nem os servirás, nem farás conforme às suas obras; antes os destruirás totalmente, e quebrarás de todo as suas estátuas. E servireis ao Senhor vosso Deus, e Ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e Eu tirarei do meio de ti as enfermidades". Êxodo 23:24, 25. Deu-se-lhes a certeza de que enquanto permanecessem obedientes, Deus subjugaria seus inimigos diante deles: "Enviarei o Meu terror diante de ti, desconcertando a todo o povo aonde entrares, e farei que todos os teus inimigos te virem as costas. Também enviarei vespões diante de ti, que lancem fora os heveus, os cananeus, os heteus, diante de ti. Num só ano os não lançarei fora diante de ti para que a terra se não torne em deserto, e as feras do campo se não multipliquem contra ti. Pouco a pouco os lançarei de diante de ti, até que sejas multiplicado, e possuas a terra por herança. [...] Darei nas tuas mãos os moradores da terra, para que os lances fora de diante de ti. Não farás concerto algum com eles, ou com os seus deuses. Na tua terra não habitarão, para que não te façam pecar contra Mim; se servires aos seus deuses, certamente será um laço para ti". Êxodo 23:27-33. Estas instruções foram reiteradas da maneira mais solene por Moisés, antes de sua morte, e foram repetidas por Josué. PP 399 4 Deus colocara Seu povo em Canaã como poderoso parapeito, para deter a onda do mal moral, a fim de que este não inundasse o mundo. Sendo fiel a Ele, era o intuito de Deus que Israel prosseguisse de vitória em vitória. Ele daria em suas mãos nações maiores e mais poderosas do que os cananeus. A promessa era: "Se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que vos ordeno [...] também o Senhor de diante de vós lançará fora todas as nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até o mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém subsistirá diante de vós; o Senhor vosso Deus porá sobre toda a terra que pisardes o vosso terror e o vosso temor, como já vos tem dito". Deuteronômio 11:22-25. PP 400 1 Mas, sem consideração para com seu alto destino, preferiram o caminho da comodidade e da condescendência própria; deixaram escapar sua oportunidade para completarem a conquista da terra; e por muitas gerações foram afligidos pelos remanescentes desses povos idólatras, que, conforme predissera o profeta, eram como "espinhos nos vossos olhos", e como "aguilhões nas vossas ilhargas". Números 33:55. PP 400 2 Os israelitas "se misturaram com as nações, e aprenderam as suas obras". Ligaram-se matrimonialmente com os cananeus, e a idolatria espalhou-se como uma praga por toda a terra. "Serviram os seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço. Demais disso, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios. [...] E a terra foi manchada com sangue." "Pelo que se acendeu a ira do Senhor contra Seu povo, de modo que abominou a Sua herança". Salmos 106:34, 38, 40. PP 400 3 Antes que se extinguisse a geração que recebera instruções de Josué, a idolatria fez pequeno avanço; mas os pais haviam preparado o caminho para a apostasia de seus filhos. O desacato às restrições do Senhor por parte daqueles que entraram na posse de Canaã, disseminou sementes de males, as quais continuaram a produzir amargos frutos por muitas gerações. Os hábitos simples dos hebreus lhes haviam assegurado saúde física; mas a associação com os gentios determinou a condescendência com o apetite e paixão, o que diminuiu gradualmente a força física e enfraqueceu as capacidades mentais e morais. Pelos seus pecados os israelitas foram separados de Deus; Sua força foi removida deles, e não mais podiam prevalecer contra seus inimigos. Assim foram levados sob a sujeição das mesmas nações que por intermédio de Deus haviam subjugado. PP 400 4 "Deixaram ao Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito" (Juízes 2:12), "e os guiou pelo deserto como a um rebanho". Salmos 78:52. "Pois Lhe provocaram a ira com os seus altos, e despertaram-Lhe o zelo com as suas imagens de escultura". Salmos 78:58. Portanto o Senhor "desamparou o tabernáculo em Siló, a tenda que estabelecera como Sua morada entre os homens. E deu a Sua força em cativeiro; e a Sua glória à mão do inimigo". Salmos 78:60, 61. Todavia Ele não desamparou completamente o Seu povo. Houve sempre uns remanescentes que eram fiéis a Jeová; e de tempos em tempos o Senhor suscitava homens fiéis e valentes para derribar a idolatria e livrar os israelitas de seus inimigos. Mas quando morria o libertador, e o povo ficava livre de sua autoridade, voltavam gradualmente aos seus ídolos. E assim a história de apostasias e castigos, de confissão e livramento, repetia-se reiteradas vezes. PP 401 1 O rei da Mesopotâmia, o rei de Moabe, e depois destes os filisteus e os cananeus de Hazor, guiados por Sísera, tornaram-se por seu turno os opressores de Israel. Otniel, Sangar, Eúde, Débora e Baraque foram levantados como libertadores de seu povo. Mas, de novo, "os filhos de Israel fizeram o que parecia mal aos olhos do Senhor, e o Senhor os deu na mão dos midianitas". Até ali a mão do opressor não havia caído senão levemente sobre as tribos que moravam ao este do Jordão; mas na presente calamidade foram os primeiros a sofrer. PP 401 2 Os amalequitas ao sul de Canaã, bem como os midianitas na sua fronteira oriental e nos desertos além, eram ainda os implacáveis inimigos de Israel. Esta última nação havia sido quase destruída pelos israelitas nos dias de Moisés; mas desde então aumentaram grandemente, e se tornaram numerosos e poderosos. Tinham tido sede de vingança; e agora que a mão protetora de Deus se retirara de Israel, chegara a oportunidade. Não somente as tribos ao este do Jordão, mas todo o país sofreu com suas devastações. Os habitantes selvagens e cruéis do deserto, numerosos "como gafanhotos" (Juízes 6:5), vinham como enxame sobre a terra, com seus rebanhos e gado. Como uma praga devoradora, espalhavam-se pelo país, desde o rio Jordão até à planície filistéia. Vinham logo que as searas começavam a amadurecer e ficavam até que os últimos frutos da terra fossem colhidos. Despojavam os campos de seus produtos, e roubavam e maltratavam os habitantes; e então voltavam aos desertos. Assim os israelitas que moravam em território aberto eram obrigados a abandonar suas casas, e a congregar-se nas cidades muradas, a fim de procurar refúgio nas fortalezas, e mesmo a encontrar abrigo nas cavernas e no recesso das rochas, entre as montanhas. Por sete anos continuou esta opressão, e então, como o povo em sua angústia atendesse à reprovação do Senhor, e confessasse seus pecados, Deus levantou de novo um auxiliador para eles. PP 401 3 Gideão era filho de Joás, da tribo de Manassés. A divisão a que esta família pertencia não mantinha posição de destaque, mas a casa de Joás distinguia-se pela coragem e integridade. Quanto a seus valorosos filhos é dito: "Cada um ao parecer, como filhos de um rei". Juízes 8:18. Todos, com exceção de um, haviam tombado nas lutas contra os midianitas, e ele fizera com que seu nome fosse temido pelos invasores. A Gideão veio o chamado divino para libertar seu povo. Estava ocupado na ocasião a trilhar o trigo. Uma pequena quantidade deste cereal fora escondida, e, não ousando ele batê-lo na eira comum, recorrera a um local próximo do lagar; pois, estando ainda longe o tempo do amadurecimento das uvas, pouca observação se dava agora às vinhas. Enquanto Gideão trabalhava em segredo e silêncio, meditava com tristeza na condição de Israel, e considerava como o jugo do opressor poderia ser quebrado de seu povo. PP 402 1 Subitamente o "Anjo do Senhor" apareceu, e a ele Se dirigiu com estas palavras: "O Senhor é contigo, varão valoroso." "Ai, Senhor meu", foi a resposta, "se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? e que é feito de todas as Suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu na mão dos midianitas." O mensageiro do Céu replicou: "Vai nesta tua força, e livrarás Israel da mão dos midianitas; porventura não te enviei Eu?" PP 402 2 Gideão desejou algum sinal de que Aquele que agora Se lhe dirigia era o Anjo do Concerto, que, nos tempos passados, havia agido em prol de Israel. Anjos de Deus, que tiveram comunhão com Abraão, demoraram-se certa vez em sua casa a fim de participar de sua hospitalidade; e Gideão agora roga ao Mensageiro divino que fique como o seu hóspede. Indo apressadamente à sua tenda, preparou de seu escasso suprimento um cabrito e bolos asmos, que trouxe e pôs diante dEle. Mas o Anjo ordenou-lhe: "Toma a carne e os bolos asmos, e põe-os sobre esta penha e verte o caldo." Assim fez Gideão, e então foi dado o sinal que ele desejara: com o cajado que tinha na mão o Anjo tocou a carne e os bolos asmos, e uma chama que irrompeu da pedra consumiu o sacrifício. Então o Anjo desapareceu de sua vista. PP 402 3 O pai de Gideão, Joás, que partilhava da apostasia de seus patrícios, construíra em Ofra, onde morava, um grande altar a Baal, junto ao qual o povo da cidade adorava. Foi ordenado a Gideão destruir este altar, e erguer um altar a Jeová, sobre a rocha em que a oferta fora consumida, e ali apresentar um sacrifício ao Senhor. A oferta de sacrifício a Deus fora confiada aos sacerdotes, e se restringira ao altar em Siló; mas Aquele que estabelecera o culto ritual e para quem todas as ofertas daquele culto apontavam, tinha poder para mudar as estipulações do mesmo. O livramento de Israel deveria ser precedido por um protesto solene contra o culto de Baal. Gideão devia declarar guerra contra a idolatria, antes de sair para batalhar com os inimigos de seu povo. PP 402 4 A determinação divina foi fielmente posta em prática. Sabendo Gideão que encontraria oposição se aquilo fosse tentado abertamente, levou a efeito o trabalho em segredo; com auxílio de seus servos, fez tudo em uma noite. Grande foi a raiva dos homens de Ofra ao virem eles, na manhã seguinte, a prestar suas devoções a Baal. Teriam tirado a vida de Gideão, caso não houvesse Joás (a quem havia sido referida a visita do Anjo) tomado a defesa de seu filho. "Contendereis vós por Baal?" disse Joás. "Livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender ainda esta manhã será morto; se é deus, por si mesmo contenda; pois derribaram o seu altar." Se Baal não podia defender seu próprio altar, como se poderia confiar que ele protegesse seus adoradores? PP 403 1 Todos os pensamentos de violência para com Gideão se dissiparam; e, quando ele fez soar a trombeta de guerra, os homens de Ofra acharam-se entre os primeiros a reunir-se sob sua bandeira. Arautos foram expedidos à sua própria tribo de Manassés e também para Aser, Zebulom e Naftali, e todos corresponderam ao chamado. PP 403 2 Gideão não ousou colocar-se à frente do exército sem ainda novas provas de que Deus o chamara para este trabalho, e de que seria com ele. Ele orou: "Se hás de livrar a Israel por minha mão, como tens dito, eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e secura sobre toda a terra, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão como tens dito." Pela manhã, o velo estava úmido, enquanto a terra estava seca. Mas então surgiu uma dúvida, visto que a lã naturalmente absorve a umidade quando há alguma no ar; a prova não poderia ser decisiva. Daí o pedir ele que o sinal fosse invertido, rogando que sua extrema precaução não desagradasse ao Senhor. Seu pedido foi satisfeito. PP 403 3 Assim encorajado, Gideão guiou suas forças a dar combate aos invasores. "Todos os midianitas e amalequitas, e os filhos do oriente se ajuntaram num corpo, e passaram, e puseram o seu campo no vale de Jezreel." A força total sob o comando de Gideão contava apenas trinta e dois mil homens; mas, com o vasto exército dos inimigos estendendo-se diante dele, veio-lhe a palavra do Senhor: "Muito é o povo que está contigo, para Eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel se não glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou. Agora pois apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for covarde e medroso, volte, e vá-se apressadamente das montanhas de Gileade." Aqueles que não estavam dispostos a enfrentar perigos e dificuldades, ou cujos interesses mundanos atraíam da obra de Deus seu coração, não acrescentariam força aos exércitos de Israel. Sua presença mostrar-se-ia apenas uma causa de fraqueza. PP 403 4 Estabelecera-se como lei de Israel que, antes de irem à guerra, se fizesse a seguinte proclamação em todo o exército: "Qual é o homem que edificou casa nova e ainda a não consagrou? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre. E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não logrou fruto dela? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro o logre. E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda a não recebeu? vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba." E os oficiais deviam falar ainda ao povo, dizendo: "Qual é o homem medroso, e de coração tímido? vá, e torne-se à sua casa, para que o coração de seus irmãos se não derreta como o seu coração". Deuteronômio 20:5-8. PP 403 5 Pelo fato de seu exército ser tão pequeno em comparação com o do inimigo, Gideão se abstivera de fazer a proclamação usual. Ficou surpreso com a declaração de que seu exército era por demais grande. Mas o Senhor via o orgulho e a incredulidade que existiam no coração de Seu povo. Despertos pelos apelos estimulantes de Gideão, alistaram-se com prontidão; mas muitos ficaram cheios de medo quando viram as multidões dos midianitas. Entretanto, caso houvesse Israel triunfado, esses mesmos teriam tomado a glória para si próprios, em vez de atribuírem a vitória a Deus. PP 404 1 Gideão obedeceu à determinação do Senhor, e com coração pesaroso viu vinte e dois mil, ou mais de dois terços de sua força total, partirem para casa. De novo veio a ele a palavra do Senhor: "Ainda muito povo há; faze-os descer às águas, e ali tos provarei; e será que, aquele de que Eu te disser: Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele, de que Eu te disser: Esse não irá contigo, esse não irá." O povo foi levado ao lado da água, na expectativa de fazer um avanço imediato ao inimigo. Alguns apressadamente tomaram um pouco de água na mão e a beberam enquanto andavam; mas quase todos se curvaram sobre os joelhos e comodamente beberam da superfície da corrente. Os que tomaram água com as mãos foram apenas trezentos dentre os dez mil; todavia estes foram escolhidos; a todo o resto foi permitido voltar para casa. PP 404 2 O caráter muitas vezes é provado pelo meio mais simples. Aqueles que em tempo de perigo estavam preocupados com suprir suas necessidades, não eram os homens em quem se poderia confiar em uma emergência. O Senhor não tem lugar em Sua obra para os indolentes e condescendentes consigo mesmos. Os homens de Sua escolha foram os poucos que não permitiram que suas necessidades os detivessem no desempenho do dever. Os trezentos homens escolhidos não somente possuíam coragem e domínio próprio, mas eram homens de fé. Não se haviam contaminado com a idolatria. Deus os poderia dirigir, e por meio deles operar o livramento para Israel. O êxito não depende do número. Deus pode livrar tanto com poucos como com muitos. Ele é honrado nem tanto pelo grande número como pelo caráter daqueles que O servem. PP 404 3 Os israelitas estavam estacionados no cume de uma colina sobranceira ao vale em que se acampavam as hostes dos invasores. "E os midianitas, e amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale como gafanhotos em multidão; e eram inumeráveis os seus camelos, como a areia que há na praia do mar em multidão". Juízes 7:12. Gideão tremeu ao pensar no conflito do dia seguinte. Mas o Senhor falou-lhe à noite, e ordenou-lhe que, juntamente com Pura, seu auxiliar, descesse ao acampamento dos midianitas, dando a entender que ali ele ouviria algo para a sua animação. Ele foi, e esperando nas trevas e silêncio, ouviu um soldado relatar um sonho a seu companheiro: "Eis que um pão de cevada torrado rodava pelo arraial dos midianitas, e chegava até às tendas, e as feriu, e caíram, e as transtornou de cima para baixo; e ficaram abatidas." O outro respondeu com palavras que agitaram o coração do ouvinte invisível: "Não é isto outra coisa, senão a espada de Gideão, filho de Joás, varão israelita. Deus tem dado na sua mão aos midianitas, e a todo este arraial." Gideão reconheceu a voz de Deus falando-lhe por meio desses estrangeiros midianitas. Voltando aos poucos homens ao seu comando, disse: "Levantai-vos, porque o Senhor tem dado o arraial dos midianitas nas vossas mãos." PP 405 1 Por direção divina foi-lhe sugerido um plano de ataque, o qual imediatamente ele se pôs a executar. Os trezentos homens foram divididos em três companhias. A cada homem foi dada uma trombeta, e um archote escondido em um cântaro de barro. Os homens foram estacionados de tal maneira que se aproximassem do arraial midianita de diferentes direções. Tarde da noite, a um sinal da corneta de guerra de Gideão, as três companhias soaram suas trombetas; então, quebrando os cântaros, e ostentando os fachos luzentes, precipitaram-se sobre o inimigo com o terrível grito de guerra: "Espada do Senhor, e de Gideão." PP 405 2 O exército, que dormia, despertou subitamente. De todos os lados via-se a luz dos archotes em chamas. Em todas as direções ouvia-se o som das trombetas, com o clamor dos assaltantes. Julgando-se sob o ataque de uma força esmagadora, os midianitas ficaram tomados de pânico. Com gritos selvagens de espanto fugiram para salvar a vida, e, tomando seus próprios companheiros como inimigos, mataram-se uns aos outros. Espalhando-se a notícia da vitória, milhares de homens de Israel que haviam sido despedidos para suas casas, voltaram, e uniram-se em perseguição do inimigo que fugia. Os midianitas se encaminhavam para o Jordão, esperando atingir seu próprio território além do rio. Gideão enviou mensageiros à tribo de Efraim, incitando-os a interceptarem aos fugitivos a passagem para os vaus do sul. Nesse ínterim, com seus trezentos, "cansados, mas ainda perseguindo", Gideão atravessou o rio, logo após aqueles que já haviam ganho a margem oposta. Os dois príncipes, Zeba e Salmuna, que haviam estado no comando de todo o exército, e que escaparam com uma força de quinze mil homens, foram surpreendidos por Gideão, sendo essa força completamente dispersa, e os chefes capturados e mortos. PP 405 3 Nesta formidável derrota, pereceram nada menos de cento e vinte mil dos invasores. Quebrou-se o poder dos midianitas, de modo que nunca mais puderam fazer guerra contra Israel. As notícias espalharam-se rapidamente por longe e perto, de que o Deus de Israel de novo combatera por Seu povo. Palavra alguma pode descrever o terror das nações circunvizinhas, quando souberam quão simples meio prevalecera contra o poder de um povo ousado e guerreiro. PP 405 4 O dirigente a quem Deus escolhera para subverter os midianitas, não ocupava posição preeminente em Israel. Não era príncipe, sacerdote, nem levita. Julgava-se o menor na casa de seu pai. Mas Deus viu nele um homem de coragem e integridade. Não confiava em si próprio, e queria seguir a direção do Senhor. Deus nem sempre escolhe para a Sua obra homens dos maiores talentos; antes escolhe os que melhor pode usar. "Diante da honra vai a humildade". Provérbios 15:33. O Senhor pode operar com mais eficácia por meio daqueles que se acham mais cônscios de sua própria insuficiência, e que confiarão nEle como seu dirigente e fonte de poder. Ele os tornará fortes, unindo sua fraqueza ao Seu poder, e sábios ligando sua ignorância à Sua sabedoria. PP 406 1 O Senhor poderia fazer muito mais por Seu povo, se este acalentasse a verdadeira humildade; mas poucos há a quem possa ser confiada grande medida de responsabilidade ou êxito, sem que se tornem confiantes em si mesmos e esquecidos de sua dependência de Deus. É por isto que, ao escolher os instrumentos para Sua obra, o Senhor despreza aqueles que o mundo honra como grandes, talentosos e brilhantes. Estes muitas vezes são orgulhosos e confiantes em sua própria competência. Acham-se capazes de agir sem o conselho de Deus. PP 406 2 O simples ato de fazer soar a trombeta, pelo exército de Josué, à roda de Jericó, bem como pelo pequeno grupo de Gideão, em redor das hostes de Midiã, foi eficaz pelo poder de Deus para transtornar a força de seus inimigos. O plano mais completo que tenham os homens imaginado, independente do poder e sabedoria de Deus, mostrar-se-á um fracasso, ao passo que os métodos menos promissores terão êxito se forem divinamente indicados, e executados com humildade e fé. A confiança em Deus e a obediência à Sua vontade são tão necessárias ao cristão na luta espiritual como a Gideão e a Josué nos seus combates com os cananeus. Pelas repetidas manifestações de Seu poder em prol de Israel, queria Deus levá-los a ter fé nEle -- a fim de buscarem Seu auxílio, com toda a confiança, em todas as emergências. Ele está precisamente tão disposto a agir pelos esforços de Seu povo, hoje, e realizar grandes coisas por meio de fracos agentes. O Céu todo aguarda o nosso pedido de Sua sabedoria e força. Deus é "poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20. PP 406 3 Gideão voltou da perseguição aos inimigos da nação para encontrar censura e acusação por parte de seus próprios compatriotas. Quando ao seu chamado os homens de Israel foram arregimentados contra os midianitas, a tribo de Efraim ficara atrás. Consideravam aquele esforço como uma ação perigosa; e, como Gideão não lhes fizesse uma convocação especial, aproveitaram-se desta desculpa para não se unirem a seus irmãos. Mas, quando a notícia da vitória de Israel chegou a eles, os efraimitas ficaram com ciúmes, porque não haviam participado da mesma. Depois da derrota dos midianitas, os homens de Efraim haviam por determinação de Gideão se apoderado dos vaus do Jordão, impedindo assim a escapada dos fugitivos. Por este meio grande número de inimigos foram mortos, entre os quais estavam dois príncipes, Orebe e Zeebe. Assim, os homens de Efraim acompanharam o combate e auxiliaram na completa vitória. Não obstante, ficaram com inveja e irados, como se Gideão fora levado pela sua própria vontade e juízo. Não discerniram a mão de Deus na vitória de Israel, não apreciaram Seu poder e misericórdia no livramento deles; e este mesmo fato demonstrou-os indignos de serem escolhidos como Seus instrumentos especiais. PP 407 1 Voltando com os troféus da vitória, raivosamente censuraram a Gideão: "Que é isto que nos fizeste, que não nos chamaste, quando foste pelejar contra os midianitas?" "Que mais fiz eu agora do que vós?" disse Gideão. "Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? Deus vos deu na vossa mão aos príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; que mais pude eu logo fazer do que vós?" PP 407 2 O espírito de inveja poderia facilmente ter provocado uma contenda que haveria causado lutas e morticínio; mas a resposta modesta de Gideão abrandou a ira dos homens de Efraim, e eles voltaram em paz para casa. Firme e intransigente onde havia uma questão de princípios, e na guerra "varão valoroso", Gideão possuía também um espírito de cortesia que raramente se vê. PP 407 3 O povo de Israel, em gratidão pelo seu livramento dos midianitas, propôs a Gideão que ele se tornasse seu rei, e que o trono se confirmasse aos seus descendentes. Essa proposta estava em direta violação dos princípios da teocracia. Deus era o rei de Israel, e para este a colocação de um homem no trono seria a rejeição de seu Soberano divino. Gideão reconheceu este fato; sua resposta mostra quão verdadeiros e nobres eram os seus intuitos. "Sobre vós eu não dominarei", declarou ele, "nem tão pouco meu filho sobre vós dominará; o Senhor sobre vós dominará." PP 407 4 Mas Gideão caiu em outro erro, que acarretou desgraça à sua casa e a todo o Israel. O perigo de inatividade que se segue a uma grande luta acha-se muitas vezes repleto de maiores perigos do que o tempo de conflito. A este perigo estava Gideão agora exposto. Um espírito de inquietação o possuiu. Até ali se contentara com realizar o que Deus lhe determinava; mas agora, em vez de esperar guia divina, começou a fazer planos por si mesmo. Havendo os exércitos do Senhor ganho uma assinalada vitória, Satanás redobrara seus esforços para transtornar a obra de Deus. Assim, idéias e planos foram sugeridos à mente de Gideão, pelos quais o povo de Israel se transviou. PP 407 5 Porque lhe houvesse sido mandado oferecer sacrifício sobre a pedra onde o anjo lhe aparecera, concluiu Gideão que ele fora designado para oficiar como sacerdote. Sem esperar a aprovação divina, decidiu-se a arranjar um lugar conveniente, e instituir um sistema de culto semelhante àquele que se levava a efeito no tabernáculo. Com o forte sentimento popular a seu favor, não encontrou dificuldade ao executar seus planos. A seu pedido, todos os pendentes de ouro tomados aos midianitas lhe foram dados como sua participação do despojo. O povo também reuniu muitos outros materiais custosos, juntamente com as vestes ricamente adornadas dos príncipes de Midiã. Com o material assim fornecido, Gideão confeccionou um éfode e um peitoral, imitando os que eram usados pelo sumo sacerdote. Sua conduta demonstrou-se uma cilada para ele próprio e sua família, bem como a Israel. Aquele culto não autorizado levou muitos do povo afinal a esquecerem-se inteiramente do Senhor e servir aos ídolos. Depois da morte de Gideão, grande número de pessoas, entre as quais estava a sua própria família, uniu-se a esta apostasia. O povo desviou-se de Deus pelo mesmo homem que uma ocasião vencera a idolatria. PP 408 1 Poucos há que se compenetram de quão grande alcance é a influência de suas palavras e atos. Quantas vezes os erros dos pais produzem os mais desastrosos efeitos em seus filhos, e descendentes destes, muito tempo depois que os próprios autores foram postos nos túmulos! Cada um exerce uma influência sobre os outros, e será responsável pelo resultado dessa influência. Palavras e ações têm um poder eloqüente, e a longa vida do além mostrará o efeito de nossa vida aqui. A impressão produzida por nossas palavras e ações reagirá certamente sobre nós, trazendo bênção ou maldição. Tal pensamento confere uma terrível solenidade à vida, e deve atrair-nos a Deus, com humilde oração, a fim de que Ele nos guie pela Sua sabedoria. PP 408 2 Aqueles que ocupam as mais elevadas posições podem transviar outros. Os mais sábios erram; os mais fortes podem vacilar e tropeçar. Há necessidade de que constantemente se derrame em nosso caminho a luz do alto. Nossa única segurança está em confiar nosso caminho implicitamente Àquele que disse: "Segue-Me." PP 408 3 Depois da morte de Gideão, "os filhos de Israel se não lembraram do Senhor seu Deus, que os livrara da mão de todos os seus inimigos em redor. Nem usaram de beneficência com a casa de Jerubaal, a saber, de Gideão, conforme a todo o bem que ele usara com Israel". Esquecidos de tudo que deviam a Gideão, seu juiz e libertador, o povo de Israel aceitou seu filho Abimeleque, de nascimento vil, como seu rei, o qual, para sustentar seu poderio, assassinou todos os filhos legítimos de Gideão, com exceção de um. Quando os homens rejeitam o temor de Deus, não demora afastarem-se da honra e da integridade. Uma apreciação da misericórdia do Senhor determinará a apreciação daqueles que, como Gideão, foram usados como instrumentos para abençoar Seu povo. A conduta cruel por parte de Israel para com a casa de Gideão, foi o que se poderia esperar de um povo que manifestava tamanha ingratidão para com Deus. PP 408 4 Depois da morte de Abimeleque, o governo dos juízes que temiam ao Senhor serviu durante algum tempo para impedir a idolatria; mas não muito tempo depois o povo voltou às práticas das comunidades gentílicas que em redor deles havia. Entre as tribos do norte, os deuses da Síria e Sidom tinham muitos adoradores. Ao sudoeste os ídolos dos filisteus, e a leste os de Moabe e Amom haviam desviado os corações de Israel do Deus de seus pais. A apostasia, porém, de imediato trouxe o seu castigo. Os amonitas subjugaram as tribos orientais, e, atravessando o Jordão, invadiram o território de Judá e Efraim. Ao oeste, os filisteus subiram de sua planície ao lado do mar, queimando e pilhando por toda parte. Novamente Israel pareceu achar-se abandonado ao poder de seus inimigos implacáveis. PP 409 1 De novo o povo procurou auxílio dAquele a quem tanto haviam abandonado e insultado. "Os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: Contra Ti havemos pecado, porque deixamos a nosso Deus, e servimos aos baalins". Juízes 10:10-16. Mas a tristeza não operara o verdadeiro arrependimento. O povo lamentava porque seus pecados lhes haviam acarretado sofrimento, mas não porque tivessem desonrado a Deus pela transgressão de Sua santa lei. O verdadeiro arrependimento é mais que tristeza pelo pecado. É uma decidida renúncia ao mal. PP 409 2 O Senhor lhes respondeu por um de Seus profetas: "Porventura dos egípcios, e dos amorreus, e dos filhos de Amom, e dos filisteus, e dos sidônios, e dos amalequitas e dos maonitas, que vos oprimiam, quando a Mim clamastes, não vos livrei Eu então da sua mão? Contudo vós Me deixastes a Mim, e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei mais. Andai, e clamai aos deuses que escolhestes; que vos livrem eles no tempo do vosso aperto." PP 409 3 Essas solenes e terríveis palavras transportam o espírito para outra cena: o grande dia do juízo final, em que os que rejeitaram a misericórdia de Deus e desprezaram Sua graça serão trazidos em face de Sua justiça. Naquele tribunal devem prestar contas os que dedicaram os talentos que Deus lhes deu -- de tempo, meios ou inteligência -- ao serviço dos deuses deste mundo. Deixaram seu verdadeiro e amoroso Amigo, para seguirem o caminho da conveniência e dos prazeres mundanos. Tencionavam em algum tempo voltar a Deus; mas o mundo, com suas loucuras e enganos, absorveu-lhes a atenção. Os divertimentos frívolos, o orgulho no vestir, a satisfação do apetite, lhes endureceram o coração e embotaram a consciência, de maneira que não ouviram a voz da verdade. Foi desprezado o dever. Coisas de valor infinito foram estimadas levianamente, até que o coração perdeu todo o desejo de sacrificar-se por Aquele que tanto deu pelo homem. Mas no tempo da ceifa colherão o que semearam. PP 409 4 Disse o Senhor: "Porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão; [...] vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia, então a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento, e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos." "Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente, e estará descansado do temor do mal". Provérbios 1:24-31, 33. PP 410 1 Os israelitas humilharam-se agora perante o Senhor. "E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor." E o amoroso coração do Senhor "se angustiou" por causa da desgraça de Israel. Oh, que longânima misericórdia de nosso Deus! Quando Seu povo abandonou os pecados que haviam excluído Sua presença, Ele lhes ouviu as orações, e logo Se pôs a agir em prol deles. PP 410 2 Levantou-se um libertador na pessoa de Jefté, gileadita, o qual fez guerra contra os amonitas, e destruiu eficazmente o seu poderio. Durante dezoito anos, por este tempo, Israel havia sofrido sob a opressão de seus adversários; todavia a lição ensinada pelo sofrimento foi de novo esquecida. PP 410 3 Como o povo voltasse aos seus maus caminhos, o Senhor permitiu ainda que fossem oprimidos pelos seus poderosos inimigos, os filisteus. Por muitos anos foram constantemente perseguidos, e por vezes completamente subjugados, por aquela nação cruel e belicosa. Haviam-se misturado com esses idólatras, unindo-se com eles nos prazeres e no culto, até se confundirem com os mesmos, no espírito e nos interesses. Então esses professos amigos de Israel tornaram-se seus mais obstinados inimigos, e procuravam por todos os meios conseguir sua destruição. PP 410 4 Semelhantes a Israel, mui freqüentemente os cristãos se rendem à influência do mundo, e conformam-se aos seus princípios e costumes, a fim de obter a amizade dos ímpios; mas no fim achar-se-á que tais professos amigos são os mais perigosos adversários. A Bíblia claramente ensina que não pode haver harmonia entre o povo de Deus e o mundo. "Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos aborrece". 1 João 3:13. Diz nosso Salvador: "Sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim". João 15:18. Satanás opera por intermédio dos ímpios, sob a capa de uma pretensa amizade, para seduzir o povo de Deus ao pecado, a fim de que os possa separar dEle; e, quando é removida a sua defesa, leva então seus agentes a se voltarem contra eles e procurar efetuar sua destruição. ------------------------Capítulo 54 -- Sansão PP 411 0 Este capítulo é baseado em Juízes 13-16. PP 411 1 Em meio da ampla apostasia, os fiéis adoradores de Deus continuaram a pleitear com Ele o livramento de Israel. Posto que não fossem aparentemente atendidos, embora ano após ano o poder do opressor continuasse a repousar mais pesadamente sobre a terra, a providência de Deus lhes estava preparando auxílio. Mesmo nos primeiros anos da opressão dos filisteus, nascera uma criança por meio da qual era desígnio de Deus humilhar a força daqueles poderosos adversários. PP 411 2 À beira do território montanhoso, sobranceiro à planície da Filístia, achava-se a cidadezinha de Zorá. Ali morava a família de Manoá, da tribo de Dã, uma das poucas casas que em meio da deserção geral permaneceram fiéis a Jeová. À mulher de Manoá, a qual não tinha filhos, o "Anjo do Senhor" apareceu, com a mensagem de que ela teria um filho, por meio de quem Deus começaria a livrar Israel. Em vista disto o Anjo lhe deu instruções com relação aos seus próprios hábitos, e também quanto ao tratamento do filho: "Agora, pois, guarda-te de que bebas vinho, ou bebida forte, ou comas coisa imunda". Juízes 13:4. E a mesma proibição deveria ser imposta desde o princípio à criança, com o acréscimo de que o cabelo não lhe deveria ser cortado; pois que cumpria ser ele consagrado a Deus como nazireu desde o seu nascimento. PP 411 3 A mulher procurou o marido, e depois de descrever o Anjo, repetiu sua mensagem. Então, receosos de que cometessem algum erro na importante obra a eles confiada, orou o esposo: "Rogo-te que o homem de Deus, que enviaste, ainda venha para nós outra vez e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer". Juízes 13:8. PP 411 4 Quando o Anjo de novo apareceu, a ansiosa indagação de Manoá foi: "Qual será o modo de viver, e serviço do menino?" A instrução prévia foi repetida: "De tudo quanto Eu disse à mulher se guardará ela. De tudo quanto procede da vide de vinho não comerá, nem vinho nem bebida forte beberá, nem coisa imunda comerá; tudo quanto lhe tenho ordenado guardará." PP 411 5 Deus tinha uma importante obra para o prometido filho de Manoá realizar, e foi para assegurar-lhe as habilitações para esta obra que os hábitos de ambos, mãe e filho, deveriam ser cuidadosamente regulados. "Nem vinho nem bebida forte beberá" foi a instrução do Anjo à mulher de Manoá; "nem coisa imunda comerá: tudo quanto lhe tenho ordenado guardará". Juízes 13:12-14. O filho será influenciado para o bem ou para o mal pelos hábitos da mãe. Ela própria deve ser governada pelos princípios, e praticar a temperança e renúncia de si mesma, se quer o bem-estar do filho. Conselheiros imprudentes insistirão com a mãe quanto à necessidade de satisfazer todo o desejo e inclinação; mas tal ensino é falso e pernicioso. A mãe é colocada por ordem do próprio Deus sob a obrigação mais solene de exercer o domínio de si mesma. PP 412 1 E os pais, bem como as mães, acham-se incluídos nesta responsabilidade. Pai e mãe transmitem aos filhos suas características, mentais e físicas, e suas disposições e apetites. Como resultado da intemperança paterna, as crianças muitas vezes têm falta de força física, e de capacidade mental e moral. Alcoólatras e fumantes podem transmitir a seus filhos seu insaciável desejo, seu sangue inflamado e nervos irritáveis; e efetivamente o fazem. O libertino, muitas vezes, lega à prole, como herança, os seus desejos impuros, e mesmo doenças repugnantes. E, como os filhos têm menos poder para resistir à tentação do que o tiveram seus pais, a tendência é que cada geração decaia mais e mais. Em grau elevado, os pais são responsáveis não somente pelas paixões violentas e apetites pervertidos dos filhos, mas também pelas enfermidades de milhares que nascem mudos, cegos, doentes ou idiotas. PP 412 2 A indagação de cada pai e mãe deve ser: "Que faremos pelo filho que nos nascerá?" O efeito das influências pré-natais tem sido por muitos considerado levianamente; mas a instrução enviada do Céu àqueles pais hebreus, e duas vezes repetida da maneira mais explícita e solene, mostra como é este assunto considerado por nosso Criador. PP 412 3 E não era bastante que o filho prometido recebesse um bom legado dos pais. Este devia ser seguido de um ensino cuidadoso e da formação de hábitos corretos. Deus determinara que o futuro juiz e libertador de Israel fosse desde a infância ensinado na estrita temperança. Devia ser nazireu desde seu nascimento, achando-se assim posto sob proibição perpétua do uso do vinho ou de bebida forte. As lições de temperança, renúncia e governo de si mesmo devem ser ensinadas às crianças mesmo desde a primeira infância. PP 412 4 A proibição do Anjo incluía toda a "coisa imunda". Juízes 13:14. A distinção entre alimentos limpos e imundos não era um estatuto meramente cerimonial e arbitrário, mas baseava-se em princípios sanitários. À observância desta distinção pode atribuir-se em grande parte a maravilhosa vitalidade que durante milhares de anos tem distinguido o povo judeu. Os princípios de temperança devem ser mais abrangentes do que a mera abstenção de bebidas alcoólicas. O uso de alimento estimulante e indigesto é, muitas vezes, tão ofensivo à saúde como aquelas, e em muitos casos lança as sementes da embriaguez. A verdadeira temperança nos ensina a dispensar inteiramente todas as coisas nocivas, e usar judiciosamente aquilo que é saudável. Poucos há que se compenetram, como deviam, do quanto seus hábitos no regime alimentar têm que ver com sua saúde, seu caráter, sua utilidade neste mundo e seu destino eterno. O apetite deve sempre estar sob a sujeição das faculdades morais e intelectuais. O corpo deve ser o servo da mente, e não a mente a serva do corpo. PP 413 1 A promessa divina a Manoá foi cumprida no tempo devido com o nascimento de um filho, a quem foi dado o nome de Sansão. Crescendo o rapaz, tornou-se evidente que possuía extraordinária força física. Isto, entretanto, não dependia, conforme Sansão e seus pais bem sabiam, de seus compactos músculos, mas sim de sua condição de nazireu, de que o seu cabelo não cortado era símbolo. Houvesse Sansão obedecido às ordens divinas tão fielmente como fizeram seus pais, e seu destino teria sido mais nobre e mais feliz. Mas a associação com os idólatras o corrompeu. Achando-se a cidade de Zorá próxima do território dos filisteus, Sansão veio a travar relações amistosas com eles. Assim, em sua mocidade surgiram camaradagens cuja influência lhe obscureceu toda a vida. Uma jovem que habitava na cidade filistéia de Timnate, conquistou as afeições de Sansão, e ele decidiu fazer dela sua esposa. A seus pais tementes a Deus, que se esforçavam por dissuadi-lo de seu propósito, sua única resposta era: "Ela agrada aos meus olhos". Juízes 14:3. Os pais finalmente cederam aos seus desejos, e realizou-se o casamento. PP 413 2 Exatamente quando entrava para a varonilidade, época em que deveria executar sua missão divina -- tempo este em que mais do que em todos os outros deveria ser fiel a Deus -- ligou-se Sansão aos inimigos de Israel. Não procurou saber se poderia melhor glorificar a Deus estando unido ao objeto de sua escolha, ou se se encontrava a colocar-se em posição em que não poderia cumprir o propósito a ser realizado pela sua vida. A todos os que em primeiro lugar procuram honrá-Lo, Deus prometeu sabedoria; mas não há promessa àqueles que se inclinam a agradar a si mesmos. PP 413 3 Quantos não estão adotando a mesma conduta de Sansão! Quantas vezes se efetuam casamentos entre os que são tementes a Deus e os ímpios, porque a inclinação governa a escolha de marido ou mulher! As partes não pedem conselho de Deus, nem têm em vista a Sua glória. O cristianismo deve ter influência dominante na relação matrimonial; mas dá-se muitas vezes o caso de que os motivos que determinam esta união não se coadunam com os princípios cristãos. Satanás procura constantemente fortalecer o seu poder sobre o povo de Deus, induzindo-os a entrar em aliança com seus súditos; e a fim de realizar isto ele se esforça por despertar paixões impuras no coração. Mas o Senhor em Sua Palavra instruiu claramente Seu povo a não se unir àqueles nos quais não habita o amor para com Ele. "Que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?" 2 Coríntios 6:15, 16. PP 413 4 Em sua festa nupcial foi levado Sansão à associação familiar com os que odiavam ao Deus de Israel. Quem quer que voluntariamente entre para uma relação tal, sentirá a necessidade de se conformar até certo ponto com os hábitos e costumes de seus companheiros. O tempo assim despendido é mais que desperdiçado. Entretêm-se pensamentos e falam-se palavras que tendem a derribar as fortalezas dos princípios e enfraquecer a cidadela da alma. PP 414 1 A esposa, para cuja obtenção Sansão transgredira o mandado de Deus, mostrara-se traidora a seu esposo antes de encerrar-se a festa nupcial. Irado pela sua perfídia, Sansão abandonou-a por algum tempo, e foi sozinho para sua casa em Zorá. Quando, depois de acalmar-se, voltou em busca da esposa, encontrou-a como mulher de outro. Sua vingança, devastando todos os campos e vinhas dos filisteus, induziu-os a assassiná-la, embora as ameaças deles a houvessem compelido ao dolo com que tivera início aquela calamidade. Sansão já havia dado prova de sua força maravilhosa, matando sozinho um leão novo, bem como matando trinta dos homens de Asquelom. Agora, levado à cólera pelo bárbaro assassínio da esposa, atacou os filisteus, e feriu-os "com grande ferimento". Então, desejando um seguro refúgio de seus inimigos, retirou-se para a "rocha de Etã" (Juízes 15:8), na tribo de Judá. PP 414 2 Para aquele lugar foi ele perseguido por poderosa força, e os habitantes de Judá, grandemente alarmados, concordaram de maneira vil em entregá-lo a seus inimigos. Em conformidade com isto, três mil homens de Judá subiram a ele. Mas mesmo com tal disparidade não teriam ousado aproximar-se dele, se não se houvessem assegurado de que ele não faria mal a seus compatriotas. Sansão consentiu em ser ligado e entregue aos filisteus; mas primeiro exigiu dos homens de Judá a promessa de o não atacarem, e o compelirem assim a destruí-los. Permitiu-lhes que o amarrassem com duas cordas novas, e foi levado ao arraial de seus inimigos por entre demonstrações de grande alegria. Mas, enquanto suas aclamações estavam a despertar ecos nas colinas, "o Espírito do Senhor possantemente Se apossou dele". Juízes 15:14. Rebentou as fortes cordas novas como se fossem fios de linho queimados. Agarrando então a primeira arma à mão, a qual, embora fosse apenas a queixada de um jumento, foi mais eficaz do que espada ou lança, feriu os filisteus até que fugiram aterrorizados, deixando mil homens mortos no campo. PP 414 3 Estivessem os israelitas prontos a unir-se a Sansão, e continuar a vitória, e poderiam nesta ocasião ter-se livrado do poder dos opressores. Mas eles se haviam tornado desanimados e covardes. Negligenciaram a obra que Deus lhes ordenara fazer, desapossando os gentios, e uniram-se a eles nas suas práticas degradantes, tolerando-lhes a crueldade, e mesmo favorecendo-lhes a injustiça enquanto esta não se revertia contra eles. Ao serem trazidos sob o poder do opressor, submetiam-se timidamente à degradação de que poderiam ter escapado, caso houvessem tão-somente obedecido a Deus. Mesmo quando o Senhor lhes levantava um libertador, abandonavam-no com freqüência e uniam-se a seus inimigos. PP 415 1 Depois da vitória de Sansão, os israelitas o tornaram juiz, e governou Israel durante vinte anos. Mas um passo errado prepara o caminho para outro. Sansão tinha transgredido o mandado de Deus, tomando esposa dentre os filisteus, e outra vez aventurou-se a ir entre eles -- agora seus inimigos mortais -- com o fim de satisfazer paixões ilícitas. Confiando em sua grande força, que inspirara tamanho terror aos filisteus, foi ousadamente a Gaza visitar uma prostituta do lugar. Os habitantes daquela cidade souberam da sua presença, e estavam ansiosos de vingança. Seu inimigo estava encerrado com segurança dentro dos muros da mais potentemente fortificada de todas as suas cidades; estavam certos de sua presa, e apenas esperavam a manhã para completarem o seu triunfo. À meia-noite Sansão foi despertado. A voz acusadora da consciência encheu-o de remorsos, ao lembrar-se de que violara seus votos de nazireu. Mas, apesar de seu pecado, a misericórdia de Deus o não abandonara. Sua prodigiosa força de novo serviu para livrá-lo. Indo à porta da cidade, arrancou-a do lugar, e levou-a com as ombreiras e tranca ao cimo de uma colina no caminho de Hebrom. PP 415 2 Contudo, mesmo esta difícil escapada não lhe deteve a má conduta. Não se arriscou outra vez a ir entre os filisteus, mas continuou à procura daqueles prazeres sensuais que o estavam atraindo à ruína. Ele "se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque" (Juízes 16:4), não longe de seu próprio lugar de origem. O nome dela era Dalila -- "a consumidora". O vale de Soreque era célebre pelas suas vinhas; estas também ofereciam uma tentação ao vacilante nazireu que já havia condescendido com o uso do vinho, quebrando assim outro laço que o ligava à pureza e a Deus. Os filisteus observavam vigilantemente os movimentos de seu inimigo; e, quando este se degradou pela sua nova aliança, resolveram por meio de Dalila efetuar sua ruína. PP 415 3 Uma delegação composta de um dos principais homens de cada província filistéia, foi enviada ao vale de Soreque. Não ousavam tentar prendê-lo, enquanto estivesse de posse de sua grande força, antes era seu propósito saber, sendo possível, o segredo de seu poder. Subornaram, portanto, a Dalila, para o descobrir e revelar. PP 415 4 Importunando a traidora a Sansão com suas perguntas, ele a enganou declarando que a fraqueza de outros homens lhe sobreviria se fossem experimentados certos processos. Quando ela punha aquilo à prova, descobria-se o engano. Então ela o acusou de falsidade, dizendo: "Como dirás: Tenho-te amor, não estando comigo o teu coração? já três vezes zombaste de mim, e ainda me não declaraste em que consiste a tua força". Juízes 16:15. Três vezes Sansão teve a prova mais clara de que os filisteus se haviam coligado com aquela que o encantava, a fim de o destruir; mas, quando fracassava o propósito dela, tratava o caso como simples gracejo, e bania cegamente os seus receios. PP 416 1 Dia após dia, Dalila insistia com ele, até que "sua alma se angustiou até à morte"; contudo um poder sutil o conservava ao lado dela. Vencido finalmente, Sansão deu a conhecer o segredo: "Nunca subiu navalha à minha cabeça, porque sou nazireu de Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-se-ia de mim a minha força, e me enfraqueceria, e seria como todos os mais homens." Despachou-se imediatamente um mensageiro aos chefes dentre os filisteus, insistindo que viessem a ela, sem demora. Enquanto dormia o guerreiro, cortaram-lhe as pesadas porções de cabelo. Então, conforme fizera três vezes antes, ela chamou: "Os filisteus vêm sobre ti, Sansão." Despertando subitamente, pensou em exercer sua força como antes, e destruí-los; mas os braços impotentes recusaram-se a cumprir a sua ordem, e soube que "o Senhor Se tinha retirado dele". Juízes 16:16, 17, 20. Depois de ter sido rapado, Dalila começou a molestá-lo e a causar-lhe dor, pondo assim à prova a sua força; pois os filisteus não ousavam aproximar-se dele antes que estivessem completamente convencidos de que seu poder desaparecera. Então o agarraram, e havendo-lhe arrancado os olhos, levaram-no a Gaza. Ali foi preso com correntes e obrigado a trabalhos pesados. PP 416 2 Que mudança para aquele que fora juiz e campeão de Israel -- agora fraco, cego, preso, rebaixado ao trabalho mais servil! Pouco a pouco, tinha violado as condições de sua vocação sagrada. Deus tinha tido muita paciência com ele; mas, quando se entregara tanto ao poder do pecado que traiu o seu segredo, o Senhor Se afastou dele. Não havia virtude alguma em seu longo cabelo, mas este era sinal de fidelidade para com Deus; e, quando sacrificou este símbolo na satisfação da paixão, perdeu também as bênçãos de que ele era um sinal. PP 416 3 No sofrimento e humilhação, como joguete dos filisteus, Sansão aprendeu mais acerca de sua fraqueza do que jamais soubera antes; e as aflições o levaram ao arrependimento. Crescendo-lhe o cabelo, a força lhe voltava gradualmente; seus inimigos, porém, considerando-o um prisioneiro algemado e indefeso, não tinham apreensões. PP 416 4 Os filisteus atribuíram a vitória aos seus deuses; e, exultantes, desafiaram ao Deus de Israel. Foi marcada uma festa em honra a Dagom, o deus-peixe, "protetor do mar". Das cidades e dos campos, por toda a planície dos filisteus, o povo e seus grandes se congregaram. Multidões de adoradores enchiam o vasto templo e as galerias próximas do teto. Era uma cena de festa e regozijo. Havia a pompa do serviço sacrifical, seguido de música e banquetes. Então, como o máximo troféu do poder de Dagom, foi trazido Sansão. Aclamações de triunfo saudaram o seu aparecimento. O povo e os príncipes zombaram de seu estado miserável, e adoraram o deus que subvertera o "destruidor de seu país". Depois de algum tempo, Sansão, como se estivesse cansado, pediu permissão para recostar-se de encontro às duas colunas centrais em que se apoiava o teto do templo. Proferiu então silenciosamente a oração: "Senhor Jeová, peço-Te que Te lembres de mim, e esforça-me agora só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue dos filisteus." Com estas palavras, cingiu com os poderosos braços as colunas; e clamando: "Morra eu com os filisteus", curvou-se e o teto caiu, destruindo em um só fragor toda aquela vasta multidão. "E foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara na sua vida." PP 417 1 O ídolo e seus adoradores, sacerdotes e camponeses, guerreiros e nobres, foram juntamente sepultados sob as ruínas do templo de Dagom. E entre eles estava o corpo gigantesco daquele que Deus escolhera para ser o libertador de Seu povo. Notícias da terrível destruição foram levadas à terra de Israel, e os parentes de Sansão desceram de suas colinas, e, sem encontrarem oposição, recobraram o corpo do finado herói. E "subiram com ele, e sepultaram-no entre Zorá e Estaol, no sepulcro de Manoá, seu pai". Juízes 16:28-31. PP 417 2 A promessa de Deus de que por meio de Sansão começaria a "livrar a Israel da mão dos filisteus" (Juízes 13:5), foi cumprida; mas quão tenebroso e terrível é o relato daquela vida que poderia ter sido um louvor a Deus e uma glória para a nação! Se Sansão tivesse sido fiel à vocação divina, ter-se-ia cumprido o propósito de Deus em sua honra e exaltação. Mas ele rendeu-se à tentação, e mostrou-se infiel à sua incumbência; e sua missão cumpriu-se com a derrota, escravidão e morte. PP 417 3 Fisicamente falando, Sansão foi o homem mais forte da Terra; mas no domínio de si mesmo, na integridade e firmeza, foi um dos mais fracos. Muitos tomam erradamente as paixões fortes como caráter forte; mas a verdade é que aquele que é dominado por suas paixões é homem fraco. A verdadeira grandeza do homem é medida pela força dos sentimentos que ele domina, e não pelos sentimentos que o dominam. PP 417 4 O cuidado providencial de Deus estivera com Sansão, a fim de que ele pudesse estar preparado para realizar a obra que fora chamado a fazer. Mesmo no princípio da vida esteve cercado de condições favoráveis para a força física, vigor intelectual e pureza moral. Mas, sob a influência de companheiros ímpios, deixou aquele apego a Deus que é a única salvaguarda do homem, e foi arrastado pela onda do mal. Aqueles que no caminho do dever são levados à prova podem estar certos de que Deus os guardará; mas, se os homens voluntariamente se colocam sob o poder da tentação, cairão mais cedo ou mais tarde. PP 417 5 Justamente aqueles que Deus Se propõe usar como Seus instrumentos para uma obra especial, Satanás, empregando seu máximo poder procura transviar. Ele nos ataca em nossos pontos fracos, procurando, pelos defeitos do caráter, obter domínio sobre o homem todo; e sabe que, se tais defeitos são acalentados, terá bom êxito. Mas ninguém precisa ser vencido. O homem não é deixado só a vencer o poder do mal pelos seus fracos esforços. O auxílio está às mãos, e será dado a toda alma que realmente o desejar. Anjos de Deus, que sobem e descem pela escada que Jacó viu em visão, auxiliarão a toda alma, que o deseje, a subir mesmo aos mais altos Céus. ------------------------Capítulo 55 -- O menino Samuel PP 418 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 1; 2:1-11. PP 418 1 Elcana, levita do Monte Efraim, era homem de riqueza e influência, e um dos que amavam e temiam ao Senhor. Sua esposa, Ana, era mulher de piedade fervorosa. Meiga e humilde, distinguia-se o seu caráter por um grande ardor e fé elevada. PP 418 2 A bênção tão ansiosamente buscada por todo hebreu era negada a este bom casal; seu lar não se alegrava com vozes infantis; e o desejo de perpetuar seu nome levou o esposo -- assim como já havia levado muitos outros -- a contrair um segundo casamento. Mas este passo, motivado pela falta de fé em Deus, não trouxe felicidade. Filhos e filhas foram acrescentados à casa; mas a alegria e beleza da sagrada instituição de Deus foram mareadas, e interrompera-se a paz da família. Penina, a nova esposa, era ciumenta e dotada de espírito estreito, e conduzia-se com orgulho e insolência. Para Ana, parecia a esperança estar destruída, e ser a vida um fardo pesado; enfrentou, todavia, a prova com resignada mansidão. PP 418 3 Elcana observava fielmente as ordenanças de Deus. O culto em Siló ainda era mantido; mas, por causa de irregularidades no ministério, os serviços dele, Elcana, não eram exigidos no santuário, a que, sendo ele levita, deveria comparecer. Contudo subia com sua família para adorar e sacrificar, por ocasião das reuniões regulares. PP 418 4 Mesmo entre as solenidades sagradas ligadas ao serviço de Deus, intrometia-se o mau espírito que lhe infelicitara o lar. Depois de apresentarem as ofertas em ações de graças, toda a família, segundo o costume estabelecido, unia-se em uma festa solene mas prazenteira. Em tais ocasiões Elcana dava à mãe de seus filhos uma porção, para ela e para cada um dos filhos e filhas; e em sinal de atenção para com Ana dava-lhe porção dupla, significando que sua afeição por ela era a mesma como se ela tivesse um filho. Então a segunda esposa, ardendo em ciúmes, reclamava a preferência, como sendo ela altamente favorecida por Deus, e escarnecia de Ana em sua condição de mulher destituída de filhos como prova do desagrado do Senhor. Isto se repetia de ano em ano, até que Ana não mais o pôde suportar. Incapaz de ocultar sua mágoa, chorou sem constrangimento, e retirou-se da festa. Seu marido em vão a procurou consolar. "Por que choras? e por que não comes? e por que está mal o teu coração?" disse ele; "não te sou eu melhor do que dez filhos?" PP 419 1 Ana não proferiu censura alguma. O fardo que ela não podia repartir com amigo algum terrestre, lançou-o sobre Deus. Ansiosamente rogou que lhe tirasse a ignomínia, e lhe concedesse o precioso dom de um filho para o criar e educar para Ele. E fez um voto solene de que, se seu pedido fosse satisfeito, dedicaria o filho a Deus, mesmo desde o seu nascimento. Ana tinha-se aproximado da entrada do tabernáculo, e na angústia de seu espírito "orou, e chorou abundantemente". Contudo, entretinha em silêncio comunhão com Deus, não proferindo nenhuma palavra. Naqueles tempos ruins, tais cenas de adoração eram raramente testemunhadas. Festins irreverentes, e mesmo embriaguez, eram coisas comuns, mesmo nas festas religiosas; e Eli, o sumo sacerdote, observando Ana, supôs que estivesse dominada pelo vinho. Julgando administrar uma repreensão merecida, disse com severidade: "Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho." PP 419 2 Condoída e surpresa, Ana respondeu brandamente: "Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido, porém tenho derramado a minha alma perante o Senhor. Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora." PP 419 3 O sumo sacerdote ficou profundamente comovido, pois era homem de Deus; e em lugar de repreensão proferiu uma bênção: "Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a tua petição que Lhe pediste." PP 419 4 A oração de Ana foi atendida; recebeu a dádiva que tão fervorosamente havia rogado. Olhando para o filho, chamou-o Samuel -- "pedido a Deus". 1 Samuel 1:8, 10, 14-16, 20. Logo que o pequeno teve idade suficiente para separar-se de sua mãe, ela cumpriu seu voto. Amava o filho com toda a devoção de um coração de mãe; dia após dia, observando suas faculdades que se expandiam, e ouvindo seu balbuciar infantil, cingia-o mais estreitamente em suas afeições. Era seu único filho, uma dádiva especial do Céu; mas recebera-o como um tesouro consagrado a Deus, e não queria privar o Doador daquilo que Lhe era próprio. PP 419 5 Mais uma vez Ana viajou com o esposo para Siló, e apresentou ao sacerdote, em nome de Deus, sua preciosa dádiva, dizendo: "Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a minha petição, que eu Lhe tinha pedido. Pelo que também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver". 1 Samuel 1:27, 28. Eli ficou profundamente impressionado pela fé e devoção desta mulher de Israel. Ele próprio, pai por demais condescendente, ficou atemorizado e humilhado vendo o grande sacrifício desta mãe, separando-se de seu único filho, para que o pudesse dedicar ao serviço de Deus. Sentiu-se reprovado pelo seu amor egoísta, e com humilhação e reverência prostrou-se perante o Senhor e adorou. PP 419 6 O coração da mãe encheu-se de alegria e louvor, e ela almejava extravasar sua gratidão a Deus. O Espírito de inspiração lhe sobreveio; e orou Ana e disse: PP 420 1 "O meu coração exulta ao Senhor, o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na Tua salvação. Não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti, e rocha nenhuma há como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de altíssimas altivezas, nem saiam coisas árduas da vossa boca; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por Ele são as obras pesadas na balança. [...] O Senhor é o que tira a vida, e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; Abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da Terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos Seus Santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não prevalecerá pela força. Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará sobre eles. O Senhor julgará as extremidades da Terra; e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido". 1 Samuel 2:1-3, 6-10. PP 420 5 As palavras de Ana eram proféticas, tanto a respeito de Davi, que reinaria como rei de Israel, como do Messias, o ungido do Senhor. Referindo-se a princípio à jactância de uma mulher insolente e contenciosa, aponta o cântico para a destruição dos inimigos de Deus, e o triunfo final do Seu povo remido. PP 420 6 De Siló, Ana voltou silenciosamente para o seu lar em Ramá, deixando o menino Samuel para ser educado para o serviço da casa de Deus, sob a instrução do sumo sacerdote. Desde o primeiro despontar da inteligência do filho ela lhe ensinara a amar e reverenciar a Deus, e a considerar-se como sendo do Senhor. Por meio de todas as coisas conhecidas que o cercavam, procurou ela elevar seus pensamentos ao Criador. Depois de separada de seu filho, a solicitude da fiel mãe não cessou. Cada dia ele era objeto de suas orações. Cada ano ela lhe fazia, com suas próprias mãos, uma túnica para o serviço; e, subindo com o esposo para adorar em Siló, dava ao menino esta lembrança de seu amor. Cada fibra da pequena veste era tecida com uma oração para que ele fosse puro, nobre e verdadeiro. Não pedia para o filho grandezas mundanas, mas rogava fervorosamente que ele pudesse alcançar aquela grandeza a que o Céu dá valor -- que honrasse a Deus e abençoasse a seus semelhantes. PP 420 7 Que recompensa teve Ana! e que estímulo para a fidelidade é o seu exemplo! Há oportunidades de inestimável valor, interesses infinitamente preciosos, confiados a toda mãe. A humilde rotina dos deveres que as mulheres têm considerado como uma fastidiosa tarefa, deve ser encarada como obra grandiosa e nobre. É privilégio da mãe abençoar o mundo pela sua influência, e fazendo isto trará alegria a seu próprio coração. Ela pode fazer retas veredas para os pés de seus filhos, através de claridade e sombra, em direção às alturas gloriosas do Céu. Mas, unicamente quando procura em sua vida seguir os ensinos de Cristo, é que a mãe pode esperar formar o caráter de seus filhos segundo o modelo divino. O mundo está repleto de influências corruptoras. A moda e os costumes exercem forte poder sobre os jovens. Se a mãe falta em seu dever de instruir, guiar e restringir, os filhos naturalmente aceitarão o mal, e se desviarão do bem. Que toda mãe vá muitas vezes ao seu Salvador com a oração: "Ensina-nos o que faremos pela criança." Atenda ela à instrução que Deus dá em Sua Palavra, e ser-lhe-á dada sabedoria conforme a necessitar. PP 421 1 "O mancebo Samuel ia crescendo, e fazia-se agradável, assim para com o Senhor como também para com os homens". 1 Samuel 2:26. Se bem que a juventude de Samuel fosse passada no tabernáculo, dedicada ao culto de Deus, não se achava ele livre de influências más ou exemplos pecaminosos. Os filhos de Eli não temiam a Deus, nem honravam a seu pai; mas Samuel não procurava sua companhia nem seguia seus maus caminhos. Fazia esforço constante para tornar-se o que Deus queria que ele fosse. Este é o privilégio de todo jovem. Deus Se apraz mesmo quando as criancinhas se entregam ao Seu serviço. PP 421 2 Samuel fora posto sob os cuidados de Eli, e a beleza de seu caráter suscitou a afeição ardorosa do idoso sacerdote. Era amável, generoso, obediente e respeitoso. Eli, aflito pelo descaminho de seus filhos, obtinha descanso, consolo e bênção na presença daquele que estava sob seu encargo. Samuel era serviçal e afetivo, e nunca pai algum amou a seu filho mais ternamente do que Eli àquele jovem. Coisa singular era que, entre o magistrado principal da nação e a simples criança, existisse uma afeição tão ardorosa. Sobrevindo a Eli as debilidades próprias da idade, e enchendo-se ele de ansiedades e remorsos pelo procedimento dissoluto de seus filhos, voltou-se para Samuel em busca de consolo. PP 421 3 Não era costume entrarem os levitas para os seus serviços peculiares antes que tivessem vinte e cinco anos de idade; Samuel, porém, foi uma exceção a esta regra. Cada ano lhe eram confiados encargos de mais importância; e, quando ainda era criança, um éfode de linho foi posto sobre ele em sinal de sua consagração ao serviço do santuário. Jovem como era ao ser trazido para ministrar no tabernáculo, tinha Samuel mesmo então deveres a cumprir no serviço de Deus, conforme sua capacidade. Estes eram a princípio muito humildes, e nem sempre agradáveis; mas cumpria-os da melhor maneira que lhe permitia a habilidade, e com coração voluntário. Levava sua religião a todo dever da vida. Considerava-se servo de Deus, e o seu trabalho como o trabalho de Deus. Seus esforços eram aceitos, porque eram motivados pelo amor a Deus e por um desejo sincero de fazer a Sua vontade. Foi assim que Samuel se tornou cooperador do Senhor do Céu e da Terra. E Deus o habilitou a cumprir uma grande obra em favor de Israel. PP 422 1 Se as crianças fossem ensinadas a considerar a humilde rotina dos deveres diários como o caminho a elas indicado pelo Senhor, como uma escola na qual devem ser preparadas para a realização de um serviço fiel e eficiente, quão mais agradável e honroso lhes pareceria o seu trabalho! Cumprir todo dever como sendo ao Senhor, lança um encanto ao redor da mais humilde ocupação, ligando os obreiros na Terra com os seres santos que cumprem a vontade de Deus no Céu. PP 422 2 O bom êxito nesta vida, e no ganhar a vida futura, depende de uma atenção fiel e conscienciosa às coisas pequenas. Vê-se a perfeição nas menores das obras de Deus, não menos do que nas maiores. A mão que elevou os mundos no espaço é a mesma que fez com delicada perícia os lírios do campo. E assim como Deus é perfeito em Sua esfera de ação, devemos nós ser perfeitos na nossa. A estrutura simétrica de um caráter forte e belo baseia-se nos atos individuais do dever. E a fidelidade deve caracterizar nossa vida nos seus mínimos pormenores bem como nos máximos. A integridade nas pequenas coisas, a realização de pequenos atos de fidelidade e pequenas ações de bondade, alegrarão a senda da vida; e, quando terminar a nossa obra na Terra, verificar-se-á que cada um dos pequenos deveres fielmente cumpridos exerceu uma influência para o bem -- influência esta que jamais poderá perecer. PP 422 3 A juventude de nossos tempos pode tornar-se tão preciosa à vista de Deus, como o foi a de Samuel. Mediante a fiel manutenção de sua integridade cristã, podem os jovens exercer forte influência na obra de reforma. Necessita-se de tais homens neste tempo. Deus tem uma obra para cada um deles. Jamais alcançaram os homens maiores resultados em favor de Deus e da humanidade do que os que podem ser conseguidos em nosso tempo por aqueles que forem fiéis ao encargo que Deus lhes confiou. ------------------------Capítulo 56 -- Eli e seus filhos PP 423 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 2:12-36. PP 423 1 Eli era sacerdote e juiz em Israel. Ocupava as posições mais elevadas e de maior responsabilidade que havia entre o povo de Deus. Como homem divinamente escolhido para os sagrados deveres do sacerdócio, e posto no país como a autoridade judiciária mais elevada, era ele olhado como um exemplo, e exercia grande influência sobre as tribos de Israel. Mas, embora tivesse sido designado para governar o povo, não governava a sua própria casa. Eli era um pai transigente. Amando a paz e a comodidade, não exercia a sua autoridade para corrigir os maus hábitos e paixões de seus filhos. Em vez de contender com eles ou castigá-los, submetia-se à sua vontade e os deixava seguir seu próprio caminho. Em vez de considerar a educação de seus filhos como uma das mais importantes de suas responsabilidades, tratou desta questão como se fosse de pequena relevância. O sacerdote e juiz de Israel não foi deixado em trevas quanto ao dever de restringir e governar os filhos que Deus dera aos seus cuidados. Mas Eli recuou deste dever, porque o mesmo implicava contrariar a vontade de seus filhos, e tornaria necessário puni-los e repudiá-los. Sem pesar as terríveis conseqüências que se seguiriam à sua conduta, condescendeu com seus filhos no que quer que desejassem, e negligenciou a obra de os habilitar para o serviço de Deus e para os deveres da vida. PP 423 2 De Abraão disse Deus: "Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo". Gênesis 18:19. Eli, porém, permitiu que seus filhos o governassem. O pai se tornou sujeito aos seus filhos. A maldição da transgressão foi visível nas corrupções e males que assinalaram a conduta de seus filhos. Estes não tinham a devida apreciação do caráter de Deus nem da santidade de Sua lei. Para eles o Seu serviço era uma coisa comum. Desde a infância se haviam acostumado ao santuário e aos seus serviços; mas em vez de se tornarem mais reverentes perderam toda a intuição da santidade e significação do mesmo. O pai não lhes corrigira a falta de reverência para com a sua autoridade; não impedira ao desrespeito deles pelos serviços solenes do santuário; e, quando chegaram à maioridade, estavam cheios dos frutos mortíferos do ceticismo e da rebelião. PP 423 3 Se bem que totalmente incapazes para o ofício, foram postos como sacerdotes no santuário para ministrarem perante Deus. O Senhor dera as instruções mais específicas com relação à oferta de sacrifícios; mas estes homens ímpios levaram ao serviço de Deus o seu desrespeito à autoridade, e não deram atenção à lei das ofertas, que deveriam ser feitas da maneira mais solene. Os sacrifícios, que apontavam à morte de Cristo, no futuro, estavam destinados a conservar no coração do povo a fé no Redentor vindouro; daí o ser da máxima importância que as determinações do Senhor com relação aos mesmos fossem estritamente atendidas. As ofertas pacíficas eram especialmente uma expressão de ações de graças a Deus. Nestas ofertas apenas a gordura devia ser queimada no altar; certa porção especificada era reservada aos sacerdotes, mas a maior parte era devolvida ao ofertante, para ser por ele e seus amigos comida em uma festa sacrifical. Assim todos os corações deveriam ser com gratidão e fé encaminhados ao grande Sacrifício que deveria tirar o pecado do mundo. PP 424 1 Os filhos de Eli, em vez de se compenetrarem da solenidade deste serviço simbólico, apenas pensavam como poderiam dele fazer o meio para a satisfação própria. Não contentes com a parte que lhes tocava das ofertas pacíficas, exigiam uma porção adicional; e o grande número desses sacrifícios apresentados nas festas anuais dava aos sacerdotes oportunidade de se enriquecerem, à custa do povo. Não somente reclamavam mais daquilo a que tinham direito, mas recusavam-se mesmo a esperar até que a gordura estivesse queimada como oferta a Deus. Persistiam em reclamar qualquer porção que lhes agradasse, e, sendo-lhes negada, ameaçavam tomá-la pela violência. PP 424 2 A irreverência por parte dos sacerdotes logo despojou o serviço de sua significação santa e solene, e o povo "desprezava a oferta do Senhor". 1 Samuel 2:12-36. O grande sacrifício antitípico para o qual deveriam olhar em antecipação, não mais era reconhecido. "Era pois muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor." PP 424 3 Esses sacerdotes infiéis também transgrediam a lei de Deus e desonravam o ofício sagrado pelas suas práticas vis e degradantes; todavia, continuavam a poluir com sua presença o tabernáculo de Deus. Muitos dentre o povo, cheios de indignação ante o corrupto procedimento de Hofni e Finéias, deixaram de subir ao lugar designado para o culto. Assim o serviço que Deus ordenara era desprezado e negligenciado porque se achava ligado com os pecados de homens ímpios, ao mesmo tempo em que aqueles cujo coração era inclinado ao mal se tornavam audazes no pecado. A impiedade, a dissolução, e mesmo a idolatria, prevaleciam em terrível extensão. PP 424 4 Eli tinha errado grandemente em permitir que seus filhos ministrassem no ofício santo. Desculpando a sua conduta, sob um pretexto ou outro, tornou-se cego aos seus pecados; mas chegaram afinal a um ponto em que não mais ele podia cerrar os olhos aos crimes dos filhos. O povo se queixava das suas ações violentas, e o sumo sacerdote ficou pesaroso e angustiado. Não ousou permanecer em silêncio por mais tempo. Mas seus filhos haviam crescido sem a idéia de consideração para com qualquer pessoa a não ser para consigo mesmos; e agora não se preocupavam com quem quer que fosse. Viam a mágoa do pai, mas seus duros corações não se comoviam. Ouviam-lhe as brandas admoestações, mas não se impressionavam, tampouco modificavam sua má conduta, embora advertidos das conseqüências de seu pecado. Se Eli houvesse tratado com justiça seus ímpios filhos, teriam sido rejeitados do ofício sacerdotal, e punidos de morte. Temendo assim trazer a ignomínia e a condenação pública a seus filhos, manteve-os nos mais sagrados cargos de confiança. Permitiu também que misturassem sua corrupção com o santo serviço de Deus, e infligissem à causa da verdade um dano que os anos não poderiam apagar. Quando, porém, o juiz de Israel negligenciou sua obra, Deus tomou a questão em Suas mãos. PP 425 1 "Veio um homem de Deus a Eli, e disse-lhe: Assim diz o Senhor: Não Me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, na casa de Faraó? E Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para sacerdote, para oferecer sobre o Meu altar, para acender o incenso, e para trazer o éfode perante Mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que dais coices contra o sacrifício e contra a Minha oferta de manjares, que ordenei na Minha morada, e honras a teus filhos mais do que a Mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do Meu povo de Israel? Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha dito Eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de Mim perpetuamente; porém agora diz o Senhor: Longe de Mim tal coisa, porque aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão envilecidos. [...] E Eu suscitarei para Mim um sacerdote fiel que obrará segundo o Meu coração e a Minha alma, e Eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do Meu ungido". 1 Samuel 2:27-30, 35. PP 425 2 Deus acusou Eli de honrar seus filhos mais do que ao Senhor. Eli permitira que a oferta designada por Deus como uma bênção a Israel se tornasse coisa desprezível, e isto em vez de levar seus filhos a envergonhar-se por suas práticas ímpias e abomináveis. Aqueles que seguem suas próprias inclinações, com uma afeição cega para com seus filhos, condescendendo com eles na satisfação de seus desejos egoístas, e não fazem uso da autoridade de Deus para repreender o pecado e corrigir o mal, tornam manifesto que estão honrado seus ímpios filhos mais do que a Deus. Estão mais ansiosos por defender a reputação deles do que glorificar a Deus; mais desejosos de agradar a seus filhos do que comprazer ao Senhor e guardar o Seu serviço de toda a aparência do mal. PP 425 3 Deus responsabilizou Eli, como sacerdote e juiz de Israel, pela condição moral e religiosa de Seu povo, e, em sentido especial, pelo caráter de seus filhos. Ele devia a princípio ter tentado restringir o mal por meio de medidas brandas; mas, se estas não dessem resultado, devê-lo-ia ter subjugado pelos meios mais severos. Incorreu no desagrado do Senhor por não reprovar o pecado e executar a justiça no pecador. Não se pôde contar com ele para que Israel fosse conservado puro. Aqueles que têm muito pouca coragem para reprovar o mal, ou que pela indolência ou falta de interesse não fazem um esforço ardoroso para purificar a família ou a igreja de Deus, são responsáveis pelos males que possam resultar de sua negligência ao dever. Somos precisamente tão responsáveis pelos males que poderíamos ter impedido nos outros pelo exercício da autoridade paterna ou pastoral, como se esses atos tivessem sido nossos. PP 426 1 Eli não dirigiu sua casa segundo as regras de Deus para o governo da família. Seguiu seu próprio juízo. O extremoso pai deixou de tomar em consideração as faltas e pecados dos filhos, em sua meninice, comprazendo-se com o pensamento de que após algum tempo eles perderiam suas más tendências. Muitos estão hoje a cometer erro semelhante. Julgam que conhecem um meio melhor para educar os filhos do que aquele que Deus deu em Sua Palavra. Alimentam neles más tendências, insistindo nesta desculpa: "São muito novos para serem castigados. Esperemos que fiquem mais velhos, e possamos entender-nos com eles." Assim os maus hábitos são deixados a se fortalecerem até que se tornam uma segunda natureza. Os filhos crescem sem sujeição, com traços de caráter que são para eles uma maldição por toda a vida, e que podem reproduzir-se em outros. PP 426 2 Não há maior desgraça para os lares do que permitir que os jovens sigam o seu próprio caminho. Quando os pais tomam em consideração todo desejo dos filhos, e com estes condescendem no que sabem não ser para o seu bem, os filhos logo perdem todo o respeito para com os pais, toda a consideração pela autoridade de Deus e do homem e são levados cativos à vontade de Satanás. A influência de uma família mal dirigida é dilatada, e desastrosa a toda a sociedade. Acumula uma onda de males que afeta famílias, comunidades e governos. PP 426 3 Por causa da posição de Eli, sua influência era mais vasta do que se ele fora homem comum. Sua vida familiar era imitada em todo o Israel. Os funestos resultados de seu proceder negligente e amante da comodidade, eram vistos em milhares de lares que se modelaram pelo seu exemplo. Se se condescende com os filhos em práticas ruins, ao mesmo tempo em que os pais fazem profissão de religião, a verdade de Deus é levada ao opróbrio. A melhor prova de cristianismo de uma casa é o tipo de caráter gerado pela sua influência. As ações falam mais alto do que a mais positiva profissão de piedade. Se os que professam a religião, em vez de aplicarem esforços ardorosos, persistentes e diligentes para manter um lar bem dirigido em testemunho dos benefícios da fé em Deus, forem frouxos em seu governo, e condescendentes com os maus desejos de seus filhos, estarão a fazer como Eli, e trarão injúria à causa de Cristo e ruína sobre si e suas casas. Mas, por maiores que sejam os males da infidelidade paterna sob qualquer circunstância, são eles dez vezes maiores quando existentes nas famílias daqueles que são designados para ensinadores do povo. Quando estes deixam de governar sua casa, estão, pelo seu mau exemplo, transviando a muitos. Sua culpa é tanto maior do que a dos outros quanto sua posição é de maior responsabilidade. PP 427 1 Fora feita a promessa de que a casa de Arão andaria diante de Deus para sempre; mas esta promessa fora dada sob a condição de que se dedicassem eles à obra do santuário com singeleza de coração, e honrassem a Deus em todos os seus caminhos, não servindo ao eu, nem seguindo suas próprias inclinações perversas. Eli e seus filhos tinham sido provados, e o Senhor os encontrara inteiramente indignos da exaltada posição de sacerdotes ao Seu serviço. E Deus declarou: "Longe de Mim". 1 Samuel 2:30. Ele não pôde cumprir o bem que tencionara fazer-lhes, porque deixaram de desempenhar a sua parte. PP 427 2 O exemplo dos que administram em coisas santas deve ser de maneira que incuta no povo a reverência para com Deus, e o receio de O ofender. Quando os homens, servindo de embaixadores "da parte de Cristo" (2 Coríntios 5:20) para falar ao povo acerca da mensagem de misericórdia e reconciliação, enviada por Deus, fazem uso de sua vocação sagrada qual manto para encobrir a satisfação egoísta ou sensual, constituem-se eles os agentes mais eficazes de Satanás. Como Hofni e Finéias, fazem com que os homens desdenhem a oferta do Senhor. Podem prosseguir com sua má conduta, em segredo, por algum tempo; mas, quando finalmente é apresentado seu verdadeiro caráter, a fé do povo recebe um abalo de que muitas vezes resulta a destruição de sua confiança na religião. Fica na mente uma desconfiança contra todos os que professam ensinar a Palavra de Deus. A mensagem do verdadeiro servo de Cristo é recebida com dúvida. Surge constantemente a pergunta: "Não se mostrará este homem ser como aquele que julgávamos tão santo, e achamos tão corrupto?" Assim a Palavra de Deus perde o seu poder sobre as pessoas. PP 427 3 Na reprovação de Eli a seus filhos acham-se palavras de uma significação solene e terrível -- palavras que todos os que ministram em coisas sagradas bem fariam em ponderar: "Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele?" 1 Samuel 2:25. Houvessem seus crimes lesado unicamente seus semelhantes, e poderia o juiz ter feito a reconciliação, indicando uma pena, e exigindo a devida restituição; e assim os transgressores poderiam ter sido perdoados. Ou, se não tivessem eles sido culpados de um pecado de presunção, uma oferta para o pecado poderia ter sido apresentada por eles. Mas seus pecados estavam de tal maneira entretecidos com seu ministério de, na qualidade de sacerdotes do Altíssimo, oferecerem sacrifício pelo pecado, e a obra de Deus foi de tal maneira profanada e desonrada perante o povo, que nenhuma expiação por eles poderia ser aceita. Seu próprio pai, embora fosse sumo sacerdote, não ousou interceder em favor deles; não os podia defender da ira de um Deus santo. De todos os pecadores, são os mais culpados os que lançam o desdém aos meios que o Céu proveu para a redenção do homem -- pecadores estes que "de novo crucificam o Filho de Deus, e O expõem ao vitupério". Hebreus 6:6. ------------------------Capítulo 57 -- A Arca tomada pelos Filisteus PP 428 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 3-7. PP 428 1 Outra advertência deveria ser dada à casa de Eli. Deus não podia comunicar-Se com o sumo sacerdote e seus filhos; os pecados deles, qual densa nuvem, haviam excluído a presença de Seu Espírito Santo. Mas, em meio do mal, o menino Samuel permanecia fiel ao Céu, e dar a mensagem de condenação à casa de Eli foi sua missão, como profeta do Altíssimo que era. PP 428 2 "A palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta. E sucedeu naquele dia que, estando Eli deitado em seu lugar (e os seus olhos se começavam já a escurecer, que não podia ver), e, estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, em que estava a arca de Deus, o Senhor chamou a Samuel." Supondo ser a voz de Eli, o menino foi apressadamente para junto do leito do sacerdote, dizendo: "Eis-me aqui, porque tu me chamaste." A resposta foi: "Não te chamei eu, filho meu, torna a deitar-te". 1 Samuel 3:1-5. Três vezes Samuel foi chamado, e três vezes respondeu de modo semelhante. E então Eli se convenceu de que o misterioso chamado era a voz de Deus. O Senhor preterira o Seu servo escolhido, o homem de cabelos brancos, para comunicar-Se com uma criança. Isto em si mesmo era uma repreensão amarga, porém merecida, a Eli e sua casa. PP 428 3 Nenhum sentimento de inveja ou suspeita despertou-se no coração de Eli. Recomendou a Samuel que respondesse, se de novo fosse chamado: "Fala, Senhor, porque o Teu servo ouve." Mais uma vez foi ouvida a voz, e o menino respondeu: "Fala, porque o Teu servo ouve". 1 Samuel 3:9, 10. Tão aterrado ficou com o pensamento de que o grande Deus lhe falaria, que não pôde lembrar-se das palavras exatas que Eli mandou dizer. PP 428 4 "E disse o Senhor a Samuel: Eis aqui vou Eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas. Naquele mesmo dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa; começá-lo-ei e acabá-lo-ei. Porque já Eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos abomináveis, não os repreendeu. Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a iniqüidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares". 1 Samuel 3:11-14. PP 429 1 Antes de receber de Deus esta mensagem, "Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor"; isto é, ele não estava familiarizado com tais manifestações diretas da presença de Deus conforme eram concedidas aos profetas. Foi o propósito do Senhor revelar-Se de uma maneira inesperada, para que Eli viesse ouvir a tal respeito por meio da surpresa e indagação do jovem. PP 429 2 Samuel ficou cheio de temor e espanto, ante o pensamento de ter-lhe sido confiada uma mensagem tão terrível. Pela manhã se dirigiu aos seus deveres como de costume, mas com um grande peso em seu coração juvenil. O Senhor não o havia mandado revelar a terrível denúncia, donde o permanecer ele em silêncio, evitando, tanto quanto possível, a presença de Eli. Tremia, receoso de que alguma pergunta o compelisse a declarar os juízos divinos contra aquele a quem amava e reverenciava. Eli estava certo de que a mensagem predizia alguma grande calamidade, a ele e sua casa. Chamou Samuel, e ordenou-lhe que relatasse fielmente o que o Senhor revelara. O jovem obedeceu, e o idoso homem prostrou-se em humilde submissão à pavorosa sentença. "O Senhor é", disse ele; "faça o que bem parecer aos Seus olhos". 1 Samuel 3:7, 18. PP 429 3 Todavia, Eli não manifestou os frutos do verdadeiro arrependimento. Confessou sua falta, mas deixou de renunciar ao pecado. Ano após ano o Senhor retardava os Seus ameaçados juízos. Muito se poderia ter feito naqueles anos para remir as faltas do passado; mas o idoso sacerdote não adotou medidas eficazes para corrigir os males que estavam a poluir o santuário do Senhor, e levando em Israel milhares à ruína. A paciência de Deus deu lugar a que Hofni e Finéias endurecessem o coração, e se tornassem ainda mais audazes na transgressão. As mensagens de advertência e reprovação à sua casa foram por Eli dadas a conhecer à nação toda. Por este meio ele esperava até certo ponto contrariar a má influência de sua passada negligência. Mas as advertências foram desatendidas pelo povo, assim como haviam sido pelos sacerdotes. O povo das nações circunvizinhas também, o qual não ignorava as iniqüidades abertamente praticadas em Israel, tornou-se ainda mais audaz em sua idolatria e crime. Não experimentavam a intuição de culpa pelos seus pecados, como o teriam feito caso houvessem os israelitas preservado a sua integridade. Aproximava-se, porém, o dia da retribuição. A autoridade de Deus havia sido posta de lado e Seu culto negligenciado e desprezado; e tornou-se necessário intervir Ele para que se mantivesse a honra de Seu nome. PP 429 4 "E Israel saiu ao encontro, à peleja, aos filisteus, e se acamparam junto a Ebenézer; e os filisteus se acamparam junto a Afeque." Esta expedição foi empreendida pelos israelitas sem o conselho do Senhor, sem o apoio de sumo sacerdote ou profeta. "E os filisteus se dispuseram em ordem de batalha, para sair ao encontro a Israel; e, estendendo-se a peleja, Israel foi ferido diante dos filisteus, porque feriram na batalha, no campo, uns quatro mil homens." Voltando para o acampamento a força fragmentada e desalentada, "disseram os anciãos de Israel: Por que nos feriu o Senhor hoje diante dos filisteus?" A nação estava madura para os juízos de Deus, e no entanto não viam que seus próprios pecados haviam sido a causa daquele terrível revés. E disseram: "Tragamos de Siló a arca do concerto do Senhor, e venha no meio de nós, para que nos livre da mão de nossos inimigos." O Senhor não dera ordem ou permissão para que a arca fosse ao exército; contudo os israelitas estavam confiantes em que deles seria a vitória, e proferiram uma grande aclamação quando ela foi, pelos filhos de Eli, levada ao arraial. PP 430 1 Os filisteus consideravam a arca como o deus de Israel. Todas as grandes obras que Jeová fizera em prol de Seu povo, eram por eles atribuídas ao poder da mesma. Ao ouvirem as aclamações de júbilo pela sua aproximação, disseram: "Que voz de tão grande júbilo, é esta no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial. Pelo que os filisteus se atemorizaram; porque diziam: Deus veio ao arraial. E diziam mais: Ai de nós! que tal nunca jamais sucedeu antes. Ai de nós! quem nos livrará da mão destes grandiosos deuses? Estes são os deuses que feriram aos egípcios com todas as pragas junto ao deserto. Esforçai-vos, e sede homens, ó filisteus, para que porventura não venhais a servir aos hebreus, como eles serviram a vós; sede pois homens, e pelejai". 1 Samuel 4:2, 3, 6-9. PP 430 2 Os filisteus deram um encarniçado assalto, de que resultou a derrota de Israel, com grande morticínio. Trinta mil homens jaziam mortos em campo, e a arca de Deus foi tomada, tendo os dois filhos de Eli tombado enquanto combatiam para defendê-la. Deixou-se assim, novamente, nas páginas da História um testemunho para todos os séculos futuros, de que a iniqüidade do povo professo de Deus não ficará impune. Quanto maior for o conhecimento da vontade de Deus, tanto maior o pecado daqueles que a desatendem. A mais espantosa calamidade que poderia ocorrer, recaíra a Israel. A arca de Deus fora apreendida, e estava em poder do inimigo. A glória havia verdadeiramente se afastado de Israel quando o símbolo da presença e poder contínuos de Jeová foi removido do meio deles. Com aquele escrínio sagrado associavam-se as mais maravilhosas revelações da verdade e poder de Deus. Em tempos anteriores, vitórias miraculosas haviam sido conseguidas quando quer que o mesmo aparecia. Faziam-lhe sombras as asas dos querubins de ouro, e a glória indescritível do shekinah, símbolo visível do altíssimo Deus, repousara sobre ela no lugar santíssimo. Mas agora não trouxera vitória alguma. Não se mostrara ser uma defesa nesta ocasião, e havia pranto por todo o Israel. PP 430 3 Não se haviam compenetrado de que sua fé era simplesmente uma fé nominal, e perderam o poder da mesma para prevalecerem com Deus. A lei de Deus, contida na arca, era também um símbolo de Sua presença; mas haviam lançado o desprezo aos mandamentos, desdenharam suas reivindicações e contristaram o Espírito do Senhor de modo que Se retirou do meio deles. Quando o povo obedecia aos santos preceitos, o Senhor estava com eles, para agir em prol deles, com Seu poder infinito; mas, quando olharam para a arca, e não a puseram em relação com Deus, e tampouco honraram Sua vontade revelada pela obediência à Sua lei, serviu-lhes ela de pouco mais que uma caixa comum. Olhavam para a arca como as nações idólatras olhavam para os seus deuses, como se ela possuísse em si os elementos de poder e salvação. Transgrediam a lei que nela se continha; pois o seu mesmo culto à arca determinou a formalidade, a hipocrisia e a idolatria. Seu pecado os separara de Deus, e Ele não lhes poderia dar a vitória antes que se arrependessem e abandonassem sua iniqüidade. PP 431 1 Não bastava que a arca e o santuário estivessem no meio de Israel. Não bastava que os sacerdotes oferecessem sacrifícios, e que o povo fosse chamado filhos de Deus. O Senhor não toma em consideração o pedido daqueles que acariciam a iniqüidade no coração; está escrito que "o que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável". Provérbios 28:9. PP 431 2 Quando o exército saiu para a batalha, Eli, cego e velho, havia ficado em Siló. Foi com inquietadores pressentimentos que ele aguardou o resultado do conflito, "porquanto o seu coração estava tremendo pela arca de Deus". Tomando lugar fora da porta do tabernáculo, assentava-se todos os dias ao lado do caminho, esperando ansiosamente a chegada de um mensageiro do campo de batalha. PP 431 3 Finalmente, um benjamita do exército, "com os vestidos rotos e com terra sobre a cabeça", veio correndo pela subida que dava para a cidade. Passando descuidadamente pelo ancião, ao lado do caminho, arremessou-se à cidade, e referiu às multidões ansiosas as notícias da derrota e das perdas. PP 431 4 O ruído de choro e lamentação chegou àquele que ao lado do tabernáculo vigiava. O mensageiro foi-lhe trazido. E o homem disse a Eli: "Israel fugiu de diante dos filisteus, e houve também grande destroço entre o povo; e, demais disto, também teus dois filhos, Hofni e Finéias, morreram." Eli pôde suportar tudo isto, por terrível que fosse, pois ele o esperava. Mas quando o mensageiro acrescentou: "A arca de Deus é tomada", uma expressão de indizível angústia lhe passou pelo semblante. O pensamento de que seu pecado de tal maneira desonrara a Deus, e fizera com que Ele retirasse Sua presença de Israel, era mais do que podia suportar; deixaram-no suas forças, ele caiu, "e quebrou-se-lhe o pescoço, e morreu". PP 431 5 A mulher de Finéias, apesar da impiedade de seu marido, temia ao Senhor. A morte de seu sogro e de seu esposo, e, acima de tudo, a terrível notícia de que a arca de Deus fora tomada, causaram-lhe a morte. Compenetrou-se de que a última esperança de Israel havia desaparecido; e deu à criança nascida nesta hora de adversidade o nome de Icabode, ou "Inglório", dizendo, chorosa, com sua respiração moribunda, as palavras: "Foi-se a glória de Israel. Porquanto a arca de Deus foi levada presa". 1 Samuel 4:12, 11, 17-22. PP 432 1 Mas o Senhor não havia rejeitado o Seu povo inteiramente, tampouco toleraria por muito tempo a exultação dos gentios. Usara os filisteus como instrumento para punir Israel, e empregou a arca para castigar os filisteus. Nos tempos passados a presença divina a acompanhara, a fim de ser ela a força e glória de Seu povo obediente. Aquela Presença invisível ainda a acompanharia para levar o terror e a destruição aos transgressores de Sua santa lei. O Senhor muitas vezes emprega Seus piores inimigos para punir a infidelidade de Seu povo professo. Os ímpios podem triunfar por algum tempo, vendo Israel sofrer o castigo; mas virá o tempo em que eles também deverão defrontar-se com a sentença de um Deus santo, que odeia o pecado. Onde quer que a iniqüidade seja acalentada, seguir-se-ão, rápidos e infalíveis, os juízos de Deus. PP 432 2 Os filisteus levaram a arca, triunfalmente, para Asdode, uma de suas cinco cidades principais, e a colocaram na casa de seu deus Dagom. Pensaram que o poder que até ali havia acompanhado a arca seria deles, e que este, unido com o poder de Dagom, torná-los-ia invencíveis. Mas, ao entrar no templo no dia seguinte, viram um quadro que os encheu de consternação. Dagom tinha caído sobre seu rosto em terra, diante da arca de Jeová. Os sacerdotes reverentemente ergueram o ídolo, e o repuseram em seu lugar. Mas, na manhã seguinte, encontraram-no mutilado de maneira singular, jazendo de novo sobre a terra, diante da arca. A parte superior deste ídolo era semelhante à de um homem, e a inferior tinha a semelhança de peixe. Todas as partes que se assemelhavam à forma humana tinham sido agora separadas, e apenas permanecia o corpo de peixe. Sacerdotes e povo ficaram tomados de terror; consideraram este misterioso acontecimento como um mau agouro, anunciando destruição para eles e seus ídolos, diante do Deus dos hebreus. Mudaram então a arca de seu templo, e a colocaram em um edifício à parte. PP 432 3 Os habitantes de Asdode foram feridos de uma doença aflitiva e fatal. Lembrando-se das pragas que foram infligidas ao Egito pelo Deus de Israel, o povo atribuiu suas aflições à presença da arca entre eles. Foi resolvido transportá-la a Gate. Mas a praga seguiu de perto a sua mudança, e os homens daquela cidade a enviaram para Ecrom. Ali o povo a recebeu aterrorizado, exclamando: "Transportaram para mim a arca do Deus de Israel, para me matarem, a mim e ao meu povo." Volveram aos seus deuses em busca de proteção, como o povo de Gate e Asdode haviam feito; porém a obra do destruidor continuou até que em sua angústia "o clamor da cidade subia até o Céu". 1 Samuel 5:10, 12. Receando conservar por mais tempo a arca entre as casas dos homens, o povo em seguida colocou-a em pleno campo. Seguiu-se então uma praga de ratos, que infestou a terra, destruindo os produtos do solo, tanto nos celeiros como no campo. Completa destruição, pela doença e pela fome, ameaçava agora a nação. PP 433 1 Durante sete meses, a arca permaneceu na Filístia, e durante este tempo os israelitas não fizeram esforços para a recuperarem. Mas estavam agora os filisteus tão ansiosos para se livrarem de sua presença como haviam estado para a obterem. Em vez de ser uma fonte de força para eles, foi um grande peso e grave maldição. Contudo não sabiam o que fazer; pois aonde quer que ela ia, seguiam-se os juízos de Deus. O povo chamou os príncipes da nação, juntamente com os sacerdotes e adivinhos, e ansiosamente indagou: "Que faremos nós da arca do Senhor? Fazei-nos saber como a tornaremos a enviar ao seu lugar." Foram aconselhados a devolvê-la com uma valiosa oferta para expiação da culpa. "Então", disseram os sacerdotes, "sereis curados, e se vos fará saber porque a Sua mão se não tira de vós." PP 433 2 Para desviar ou remover uma praga, era antigamente costume entre os gentios fazer-se uma imagem de ouro, prata, ou outro material, daquilo que causava destruição, ou do objeto ou parte do corpo especialmente atacada. Isso era colocado sobre alguma coluna, ou em algum ponto bem visível, e supunha-se ser uma proteção eficaz contra os males assim representados. Costume semelhante ainda existe entre alguns povos gentílicos. Quando uma pessoa que sofre de alguma doença vai ao templo de seu ídolo em busca de cura, leva consigo uma figura da parte atacada, que apresenta como uma oferta ao seu deus. PP 433 3 Foi de acordo com esta superstição dominante, que os principais dos filisteus recomendaram ao povo fazer representações das pragas pelas quais tinham sido afligidos: "cinco hemorróidas de ouro e cinco ratos de ouro", "segundo o número dos príncipes dos filisteus"; "porquanto", disseram eles, "a praga é uma mesma sobre todos vós e sobre todos os vossos príncipes". 1 Samuel 6:2-4. PP 433 4 Aqueles magos reconheciam que um poder misterioso acompanhava a arca, poder este que eles não tinham sabedoria para enfrentar. Contudo não aconselhavam o povo a desviar-se de sua idolatria para servirem ao Senhor. Odiavam ainda ao Deus de Israel, embora compelidos pelos juízos esmagadores a submeter-se à Sua autoridade. Assim os pecadores podem convencer-se pelos juízos de Deus de que é inútil contender contra Ele. Podem ser obrigados a sujeitar-se ao Seu poder, enquanto no coração se rebelam contra o Seu domínio. Tal submissão não pode salvar o pecador. O coração deve render-se a Deus -- deve ser subjugado pela graça divina -- antes que o arrependimento do homem possa ser aceito. PP 433 5 Quão grande é a longanimidade de Deus para com os ímpios! Os filisteus idólatras e o relapso Israel haviam semelhantemente desfrutado dos dons de Sua providência. Dez milhares de bênçãos, sem que fossem notadas, estiveram a cair silenciosamente no caminho de homens ingratos e rebeldes. Cada bênção lhes falava do Doador, mas eles eram indiferentes ao Seu amor. A paciência de Deus era muito grande para com os filhos dos homens; mas, quando persistiam contumazes em sua impenitência, Ele removia deles Sua mão protetora. Recusaram-se a escutar a voz de Deus nas obras criadas, e nas advertências, conselhos e reprovações de Sua Palavra; e assim Ele foi obrigado a falar-lhes por meio de juízos. PP 434 1 Alguns houve entre os filisteus que estavam prontos a opor-se à volta da arca à sua própria terra. Tal reconhecimento do poder do Deus de Israel seria humilhante ao orgulho da Filístia. Mas "os sacerdotes e os adivinhadores" (1 Samuel 6:2) aconselharam o povo a não imitar a teimosia de Faraó e dos egípcios, e assim trazer sobre si ainda maiores aflições. Propuseram então um plano que ganhou o assentimento de todos, e imediatamente foi posto em execução. A arca, juntamente com a oferta feita de ouro, para a expiação da culpa, foi posta em um carro novo, prevenindo assim todo o perigo de contaminação; a este carro foram ligadas duas vacas sobre cujo pescoço nunca havia sido posto jugo. Seus bezerros foram presos em casa, e as vacas foram deixadas livres para irem onde quisessem. Se a arca fosse assim devolvida aos israelitas pelo caminho de Bete-Semes, a cidade mais próxima dos levitas, os filisteus aceitariam isto como prova de que o Deus de Israel lhes fizera aquele grande mal; "e, se não", disseram eles, "saberemos que não nos tocou a Sua mão, e que isto nos sucedeu por acaso". PP 434 2 Sendo deixadas à vontade, as vacas afastaram-se de seus bezerros, e, mugindo enquanto iam, tomaram a estrada direta para Bete-Semes. Sem serem guiados por mão humana, os pacientes animais se conservaram a caminho. A presença divina acompanhou a arca, e ela passou em segurança exatamente para o lugar designado. PP 434 3 Era então o tempo da ceifa do trigo, e os homens de Bete-Semes estavam a fazer a colheita no vale. "E, levantando os seus olhos, viram a arca, e vendo-a, se alegraram. E o carro veio ao campo de Josué, o bete-semita, e parou ali; e ali estava uma grande pedra; e fenderam a madeira do carro, e ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto." Os príncipes dos filisteus, que haviam acompanhado a arca "até o termo de Bete-Semes" (1 Samuel 6:9, 13, 14, 12), e foram testemunhas da recepção à mesma, voltaram então a Ecrom. A praga cessou, e ficaram convencidos de que suas calamidades foram um juízo do Deus de Israel. PP 434 4 Os homens de Bete-Semes rapidamente espalharam a notícia de que a arca estava em seu poder, e o povo do território circunvizinho reuniu-se para festejar a sua volta. A arca fora posta sobre a pedra que a princípio servira de altar, e diante dela sacrifícios adicionais foram oferecidos ao Senhor. Houvessem os adoradores se arrependido de seus pecados, e a bênção de Deus os teria acompanhado. Mas não estavam a obedecer fielmente à Sua lei; e, ao mesmo tempo que se regozijavam com a volta da arca como um precursor do bem, não tinham uma intuição verdadeira de sua santidade. Em vez de prepararem um local conveniente para sua recepção, permitiram que ela ficasse no campo da ceifa. Como continuassem a olhar para o receptáculo sagrado, e falar acerca da maneira maravilhosa por que havia sido recuperado, começaram a conjeturar sobre onde jazia o seu poder peculiar. Finalmente, vencidos pela curiosidade, removeram a cobertura, e arriscaram-se a abri-la. PP 435 1 Todo o Israel havia sido ensinado a olhar para a arca com temor e reverência. Quando se exigia mudá-la de um lugar para outro, os levitas nem sequer deveriam olhar para ela. Apenas uma vez ao ano permitia-se ao sumo sacerdote ver a arca de Deus. Mesmo os filisteus gentios não haviam ousado remover a sua cobertura. Anjos do Céu, invisíveis, sempre a acompanhavam em todas as suas viagens. A irreverente ousadia do povo de Bete-Semes foi prontamente punida. Muitos foram feridos de morte instantânea. PP 435 2 Os sobreviventes não foram levados por este juízo a arrepender-se de seu pecado, mas apenas a olhar para a arca com um temor supersticioso. Ansiosos por se livrarem de sua presença, e não ousando contudo afastá-la, os bete-semitas enviaram uma mensagem aos habitantes de Quiriate-Jearim, convidando-os a levá-la. Com grande alegria os homens deste lugar receberam o sagrado receptáculo. Sabiam que ele era o penhor do favor divino aos obedientes e fiéis. Com solene alegria levaram-na à sua cidade, e a colocaram na casa de Abinadabe, levita. Este homem designou seu filho Eleazar para cuidar da mesma, e ela ali ficou durante muitos anos. PP 435 3 Durante os anos que se passaram desde que o Senhor Se manifestara pela primeira vez ao filho de Ana, viera a vocação de Samuel ao ofício profético a ser reconhecida por toda a nação. Transmitindo fielmente a advertência divina à casa de Eli, por penoso e probante que tivesse sido este dever, Samuel dera prova de sua fidelidade como mensageiro de Jeová; "e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor". PP 435 4 Os israelitas, como uma nação, continuavam ainda em estado de irreligião e idolatria, e como castigo permaneceram sujeitos aos filisteus. Durante este tempo Samuel visitou as cidades e aldeias por todo o país, procurando volver o coração do povo ao Deus de seus pais; e seus esforços não ficaram sem bons resultados. Depois de sofrerem a opressão de seus inimigos durante vinte anos, os israelitas lamentavam "após o Senhor". Aconselhou-os Samuel: "Se com todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso coração ao Senhor, e servi a Ele só" (1 Samuel 7:3); aqui vemos que a piedade prática, a religião do coração, era ensinada nos dias de Samuel como o foi por Cristo quando Ele esteve na Terra. Sem a graça de Cristo, as formas exteriores da religião eram destituídas de valor para o antigo Israel. Elas são o mesmo para o Israel moderno. PP 435 5 Há hoje necessidade de um tal reavivamento da verdadeira religião do coração como o que foi experimentado pelo antigo Israel. O arrependimento é o primeiro passo que deve ser dado por todos os que desejam voltar a Deus. Ninguém pode efetuar isto por outrem. Devemos individualmente humilhar nossa alma perante Deus, e lançar fora nossos ídolos. Quando houvermos feito tudo o que pudermos, o Senhor nos manifestará a Sua salvação. PP 436 1 Com a cooperação dos cabeças das tribos, reuniu-se uma grande assembléia em Mispa. Ali teve lugar um jejum solene. Com profunda humilhação o povo confessou os seus pecados; e, como prova de sua resolução de obedecer às instruções que tinham ouvido, investiram a Samuel com a autoridade de juiz. PP 436 2 Os filisteus interpretaram essa reunião como um conselho de guerra, e com uma grande força saíram para dispersar os israelitas, antes que chegassem seus planos à maturidade. A notícia de sua aproximação causou grande terror em Israel. O povo rogou a Samuel: "Não cesses de clamar ao Senhor nosso Deus por nós, para que nos livre da mão dos filisteus". 1 Samuel 7:2, 3, 8. PP 436 3 Quando Samuel estava no ato de apresentar um cordeiro como holocausto, os filisteus se aproximaram para a batalha. Então o Ser poderoso que descera sobre o Sinai por entre fogo, fumo e trovões; que dividira o Mar Vermelho, e abrira caminho através do Jordão para os filhos de Israel, manifestou novamente o Seu poder. Uma terrível tempestade irrompeu sobre a hoste que avançava, e a terra ficou juncada dos cadáveres dos grandes guerreiros. PP 436 4 Os israelitas tinham ficado em silencioso pavor, a tremer, com esperança e medo. Quando viram a matança de seus inimigos, souberam que Deus havia aceito o seu arrependimento. Embora não estivessem preparados para a batalha, tomaram as armas dos filisteus mortos e perseguiram o exército fugitivo a Bete-Car. Esta assinalada vitória foi ganha no mesmo campo em que, vinte anos antes, Israel fora ferido diante dos filisteus, tendo sido mortos os sacerdotes, e tomada a arca de Deus. Para as nações bem como para os indivíduos, o caminho da obediência a Deus é o caminho da segurança e da felicidade, enquanto o da transgressão apenas leva ao revés e à derrota. Os filisteus foram agora subjugados de maneira tão completa que entregaram as fortalezas que haviam tomado a Israel, e abstiveram-se de atos de hostilidade por muitos anos. Outras nações seguiram este exemplo, e os israelitas desfrutaram paz até o fim da administração unipessoal de Samuel. PP 436 5 A fim de que essa ocasião não fosse jamais esquecida, Samuel ergueu, entre Mispa e Sem, uma grande pedra como memorial. Chamou o seu nome Ebenézer, "a pedra da ajuda", dizendo ao povo: "Até aqui nos ajudou o Senhor". 1 Samuel 7:12. ------------------------Capítulo 58 -- As escolas dos profetas PP 437 1 O Senhor mesmo dirigia a educação de Israel. Seus cuidados não se limitavam aos interesses religiosos deles; o que quer que afetava seu bem-estar mental ou físico era também objeto da divina providência, e incluía-se na esfera da lei divina. PP 437 2 Deus ordenara aos hebreus que ensinassem a seus filhos os Seus requisitos, e os tornassem familiares com todo o Seu trato com seus pais. Este era um dos deveres especiais de cada pai, dever que não seria delegado a um outro. Em lugar de lábios estranhos, o amante coração de pais e mães devia dar instrução a seus filhos. Pensamentos acerca de Deus deviam associar-se com todos os fatos da vida diária. As obras poderosas de Deus no livramento de Seu povo, e as promessas do Redentor vindouro, deviam ser muitas vezes contadas de novo nos lares de Israel; e o uso de figuras e símbolos fazia com que as lições dadas se fixassem mais firmemente na memória. As grandes verdades da providência de Deus e da vida futura gravavam-se na mente juvenil. Esta era ensinada a ver a Deus tanto nas cenas da natureza como nas palavras da revelação. As estrelas do céu, as árvores e flores do campo, as altas montanhas, as águas frisadas dos ribeiros -- tudo falava do Criador. A oferta solene do sacrifício e culto no santuário, e as palavras proferidas pelos profetas, eram uma revelação de Deus. PP 437 3 Tal foi a educação recebida por Moisés na humilde cabana que era o seu lar em Gósen; por Samuel, ministrada pela fiel Ana; por Davi, na sua morada nas colinas de Belém; por Daniel, antes que as cenas do cativeiro o separassem do lar de seus pais. Tal foi também o princípio da vida de Cristo, em Nazaré; tal o ensino pelo qual o menino Timóteo, dos lábios de sua "avó Lóide" (2 Timóteo 1:5), e sua "mãe Eunice" (2 Timóteo 3:15), aprendeu as verdades das Santas Escrituras. PP 437 4 Mais recursos foram providos para a instrução dos jovens pelo estabelecimento das escolas dos profetas. Se um jovem desejava examinar mais profundamente as verdades da Palavra de Deus, e buscar sabedoria de cima, a fim de que pudesse tornar-se um mestre em Israel, tais escolas lhe estavam abertas. As escolas dos profetas foram fundadas por Samuel, a fim de servirem como uma barreira contra a espalhada corrupção, proverem o bem-estar moral e espiritual da mocidade, e promoverem a futura prosperidade da nação, fornecendo-lhe homens habilitados para agirem no temor de Deus como dirigentes e conselheiros. Na realização deste objetivo, Samuel reuniu grupos de moços que eram pios, inteligentes e estudiosos. Estes eram chamados filhos dos profetas. Entretendo eles comunhão com Deus, e estudando Sua Palavra e Suas obras, acrescentava-se sabedoria do alto aos seus dotes naturais. Os instrutores eram homens não somente bastante versados na verdade divina, mas que haviam por sua vez desfrutado comunhão com Deus, e recebido a concessão especial de Seu Espírito. Possuíam o respeito e confiança do povo, tanto pelo saber como pela piedade. PP 438 1 No tempo de Samuel havia duas destas escolas: uma em Ramá, residência do profeta, e a outra em Quiriate-Jearim, onde a arca então se achava. Outras foram estabelecidas em tempos posteriores. PP 438 2 Os alunos destas escolas mantinham-se com o próprio trabalho, cultivando o solo ou ocupando-se em algum trabalho manual. Em Israel, isto não era considerado coisa estranha ou degradante; efetivamente, considerava-se um crime permitir que as crianças crescessem na ignorância do trabalho útil. Por ordem de Deus, a toda criança se ensinava algum ofício, mesmo que devesse ser educada para as funções sagradas. Muitos dos ensinadores religiosos mantinham-se pelo trabalho manual. Até mesmo nos tempos dos apóstolos, Paulo e Áquila não eram menos honrados porque ganhassem a subsistência pelo seu ofício de fazer tendas. PP 438 3 Os principais assuntos de estudo nessas escolas eram a lei de Deus, juntamente com as instruções dadas a Moisés, história sagrada, música sacra e poesia. O método de instruir era muito diverso do que há nas escolas teológicas da atualidade, onde muitos estudantes se formam com menos conhecimento real de Deus e verdade religiosa do que possuíam quando entraram. Naquelas escolas do passado o grandioso objetivo de todo estudo era aprender a vontade de Deus e o dever do homem para com Ele. Nos registros da História Sagrada acham-se traçadas as pegadas de Jeová. Referiam-se as grandes verdades apresentadas pelos tipos, e a fé apreendia o objetivo central de todo aquele conjunto cerimonial, a saber, o Cordeiro de Deus que deveria tirar o pecado do mundo. PP 438 4 Acariciava-se um espírito de devoção. Não somente se ensinava aos estudantes o dever de orar, mas ensinava-se-lhes como orar, como aproximar-se de seu Criador, como exercer a fé nEle, e como compreender os ensinos de Seu Espírito e obedecer-lhes. Intelectos santificados tiravam do tesouro de Deus coisas novas e velhas, e o Espírito de Deus Se manifestava na profecia e no cântico sagrado. PP 438 5 Fazia-se com que a música servisse a um santo propósito, a fim de erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre e edificante, e despertar na alma devoção e gratidão para com Deus. Que contraste entre o antigo costume, e os usos a que muitas vezes é a música hoje dedicada! Quantos empregam este dom para exaltar o eu, em vez de usá-lo para glorificar a Deus! O amor pela música leva os incautos a unir-se com os amantes do mundo nas reuniões de diversões aonde Deus proibiu a Seus filhos irem. Assim aquilo que é uma grande bênção quando devidamente usado, torna-se um dos mais bem-sucedidos fatores pelos quais Satanás distrai a mente, do dever e da contemplação das coisas eternas. PP 439 1 A música faz parte do culto de Deus, nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais. O devido cultivo da voz é um aspecto importante da educação, e não deve ser negligenciado. O cântico, como parte do culto religioso, é um ato de adoração, tanto como a prece. O coração deve sentir o espírito do cântico, a fim de dar a este a expressão correta. PP 439 2 Quão grande é a diferença entre aquelas escolas onde os profetas de Deus ensinavam, e as nossas modernas instituições de ensino! Quão poucas escolas há que não sejam governadas pelas máximas e costumes do mundo! Há uma falta deplorável da devida repressão e disciplina judiciosa. A ignorância que existe da Palavra de Deus, entre um povo que se professa cristão, é assustadora. Conversas superficiais, mero sentimentalismo, passam por instrução moral e religiosa. A justiça e a misericórdia de Deus, a beleza da santidade e a recompensa certa da conduta correta, o hediondo caráter do pecado e a certeza de seus terríveis resultados, não são gravados na mente dos jovens. Maus companheiros acham-se a instruir os jovens no caminho do crime, dissipação e licenciosidade. PP 439 3 Não há algumas lições que os educadores de nosso tempo possam com proveito aprender das antigas escolas dos hebreus? Aquele que criou o homem proveu as coisas necessárias para o seu desenvolvimento no corpo, no espírito e na alma. Daí, o êxito real na educação depende da fidelidade com que os homens executam o plano do Criador. PP 439 4 O verdadeiro objetivo da educação é restaurar a imagem de Deus na alma. No princípio Deus criou o homem à Sua semelhança. Dotou-o de nobres qualidades. Sua mente era bem equilibrada, e todas as faculdades de seu ser estavam em harmonia entre si. Mas a queda e seus efeitos perverteram estes dons. O pecado mareou e quase obliterou a imagem de Deus no homem. Foi para restaurar a mesma que se concebera o plano da salvação, e se concedera ao homem um tempo de graça. Levá-lo novamente à perfeição em que a princípio fora criado -- é o grande objetivo da vida, objetivo este que constitui a base de todos os outros. É o trabalho dos pais e professores, na educação da juventude, cooperar com o propósito divino; e, assim fazendo, são "cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. PP 439 5 Todas as variadas aptidões que os homens possuem -- de espírito, alma e corpo -- são-lhes por Deus dadas a fim de serem empregadas de tal maneira que atinjam o mais elevado grau possível de perfeição. Mas esta não pode ser uma cultura egoísta e exclusiva; pois o caráter de Deus, cuja semelhança devemos receber, é benevolência e amor. Cada faculdade, cada atributo de que o Criador nos dotou, deve ser empregado para a Sua glória, e para o reerguimento de nossos semelhantes. E neste emprego encontra-se o seu exercício mais puro, mais nobre e mais feliz. PP 440 1 Se a este princípio fosse dada a atenção que a importância do mesmo reclama, haveria uma modificação radical em alguns dos métodos usuais de educação. Em vez de apelar para o orgulho e para a ambição egoísta, acendendo um espírito de rivalidade, esforçar-se-iam os professores por despertar o amor pela bondade, verdade e beleza -- por suscitar o desejo de perfeição. O estudante procuraria o desenvolvimento em si dos dons de Deus, não para sobrepujar aos outros, mas para cumprir o propósito do Criador e receber a Sua semelhança. Em lugar de ser encaminhada às meras normas terrestres, ou ser movida pelo desejo de exaltação própria, que em si mesmo atrofia e deteriora, a mente se encaminharia ao Criador, a fim de O conhecer e tornar-se semelhante a Ele. PP 440 2 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e a ciência do Santo a prudência". Provérbios 9:10. A grande obra da vida é a formação do caráter; e o conhecimento de Deus é o fundamento de toda a verdadeira educação. Comunicar este conhecimento, e modelar o caráter em harmonia com o mesmo, deve ser o objetivo do trabalho do professor. A lei de Deus é o reflexo de Seu caráter. Daí o dizer o salmista: "Todos os Teus mandamentos são justiça"; "pelos Teus mandamentos alcancei entendimento". Salmos 119:172, 104. Deus Se nos revelou, em Sua Palavra e nas obras da criação. Mediante o inspirado volume e o livro da natureza, devemos obter o conhecimento de Deus. PP 440 3 É lei do espírito adaptar-se ele gradualmente aos assuntos de que é ensinado a ocupar-se. Se ele se ocupa apenas com coisas comuns, tornar-se-á definhado e enfraquecido. Se nunca lhe é exigido atracar-se com problemas difíceis, quase perderá depois de algum tempo a faculdade de crescimento. Como uma força educativa, a Bíblia é sem rival. Na Palavra de Deus a mente encontra assunto para os mais profundos pensamentos, para as mais elevadas aspirações. A Bíblia é a história mais instrutiva que os homens possuem. Ela proveio em seu frescor da fonte da verdade eterna, e uma mão divina tem preservado sua pureza através de todos os séculos. Ela aclara o mais remoto passado onde a pesquisa humana em vão procura penetrar. Na Palavra de Deus vemos o poder que depôs os fundamentos da Terra e que estendeu os céus. Unicamente ali podemos encontrar uma história de nossa espécie, não contaminada pelo preconceito ou orgulho humano. Ali estão registradas as lutas, as derrotas e as vitórias dos maiores homens que este mundo já conheceu. Ali se desvendam os grandes problemas do dever e do destino. O véu que separa o mundo visível do invisível, ergue-se, e contemplamos o conflito das forças opostas do bem e do mal, desde a entrada do pecado, a princípio, até o triunfo final da justiça e da verdade; e tudo não é senão uma revelação do caráter de Deus. Na contemplação reverente das verdades apresentadas em Sua Palavra, a mente do estudante é levada em comunhão com a mente infinita. Tal estudo não somente purificará e enobrecerá o caráter, mas também não poderá deixar de expandir e vigorar as faculdades mentais. PP 441 1 O ensino da Bíblia tem um papel de importância vital na prosperidade do homem em todas as relações da presente vida. Desvenda os princípios que são a pedra angular da prosperidade de uma nação -- princípios esses que se prendem ao bem-estar da sociedade, e que são a salvaguarda da família, princípios sem os quais ninguém pode chegar a ser útil, feliz e honrado nesta vida, ou esperar conseguir a vida futura e imortal. Não há posição alguma na vida, nem ramo da experiência humana, para os quais o ensino da Bíblia não seja um preparo essencial. Estudada e obedecida, a Palavra de Deus daria ao mundo homens de intelecto mais potente e ativo do que o fará a mais apurada aplicação aos assuntos todos que a filosofia humana abrange. Daria homens dotados de fortaleza e solidez de caráter, de fina percepção e juízo são -- homens que seriam uma honra a Deus e uma bênção ao mundo. PP 441 2 No estudo das ciências, também, devemos obter conhecimento do Criador. Toda verdadeira ciência não é senão uma interpretação da escrita de Deus no mundo material. A ciência traz de suas pesquisas apenas novas provas da sabedoria e poder de Deus. Corretamente entendidos, tanto o livro da natureza como a Palavra escrita nos familiarizam com Deus, ensinando-nos algo das sábias e benfazejas leis mediante as quais Ele opera. PP 441 3 O estudante deve ser levado a ver a Deus em todas as obras da criação. Os professores devem imitar o exemplo do grande Mestre, que, das cenas familiares da natureza, tirava ilustrações que simplificavam seus ensinos, e os gravavam mais fundamente no espírito de seus ouvintes. Os pássaros gorjeando nos ramos frondosos, as flores do vale, as excelsas árvores, as terras férteis, o cereal que germina, o solo árido, o sol poente dourando os céus com seus áureos raios -- tudo servia de meios para instrução. Ele ligava as obras visíveis do Criador com as palavras de vida que proferia, para que, onde quer que tais objetos fossem apresentados aos olhos de Seus ouvintes, pudessem seus pensamentos voltar-se às lições de verdade que com os mesmos Ele enlaçara. PP 441 4 Os indícios da Divindade, manifestos nas páginas da Revelação, são visíveis nas sobranceiras montanhas, nos fecundos vales, no vasto e profundo oceano. As coisas da natureza falam ao homem do amor de seu Criador. Ele nos prendeu a Si por meio de inúmeros sinais do céu e da Terra. Este mundo não é todo tristezas e misérias. "Deus é amor" -- acha-se escrito em cada botão que se desabrocha, nas pétalas de cada flor, em cada haste da relva. Embora a maldição do pecado tenha feito a terra produzir espinhos e cardos, há flores sobre os cardos, e os espinhos estão ocultos pelas rosas. Todas as coisas na natureza testificam do cuidado terno e paternal de nosso Deus, e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos. Suas proibições e ordens terminantes não se destinam simplesmente a ostentar Sua autoridade; antes, em tudo que Ele faz, tem em vista o bem-estar de Seus filhos. Ele não exige que estes abandonem coisa alguma que seria de seu máximo interesse conservar. PP 442 1 A opinião que prevalece entre algumas classes da sociedade, de que a religião não promove a saúde ou a felicidade, nesta vida, é um dos erros mais nocivos. Dizem as Escrituras: "O temor do Senhor encaminha para a vida; aquele que o tem ficará satisfeito". Provérbios 19:23. "Quem é o homem que deseja a vida, que quer largos dias para ver o bem? Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem enganosamente. Aparta-te do mal, e faze o bem; procura a paz, e segue-a". Salmos 34:12-14. As palavras da sabedoria "são vida para os que as acham, e saúde para o seu corpo". Provérbios 4:22. PP 442 2 A verdadeira religião leva o homem à harmonia com as leis de Deus -- físicas, mentais e morais. Ensina o domínio de si mesmo, a serenidade, a temperança. A religião enobrece o espírito, apura o gosto e santifica o juízo. Faz a alma participante da pureza celestial. A fé no amor de Deus e em Sua providência que todas as coisas dirige, alivia o fardo da ansiedade e cuidados. Enche o coração de alegria e contentamento, seja na mais elevada condição ou na mais humilde. A religião tende, diretamente, a promover a saúde, a prolongar a vida, e a aumentar a alegria que experimentamos em todas as suas bênçãos. Abre à alma uma fonte de felicidade que nunca cessa. Oxalá todos os que não escolheram a Cristo pudessem compenetrar-se de que Ele tem algo imensamente melhor para lhes oferecer do que aquilo que se acham eles a procurar para si. O homem se encontra a fazer o maior dano e injustiça à sua própria alma quando pensa e age contrariamente à vontade de Deus. Nenhuma verdadeira alegria pode ser encontrada no caminho proibido por Aquele que conhece o que é melhor, e que planeja o bem de Suas criaturas. A senda da transgressão conduz à miséria e à destruição; mas os caminhos da sabedoria "são caminhos de delícias, e todas as suas veredas paz". Provérbios 3:17. PP 442 3 A educação física bem como religiosa, praticada nas escolas dos hebreus, pode com proveito ser estudada. O valor de tal educação não é apreciado. Há uma íntima relação entre a mente e o corpo, e, a fim de atingir-se uma elevada norma de alcance moral e intelectual, devem ser atendidas as leis que governam o nosso ser físico. Para se conseguir um caráter forte e bem equilibrado, tanto as faculdades mentais como as físicas devem ser exercitadas e desenvolvidas. Que estudo pode ser mais importante para o jovem do que aquele que trata deste maravilhoso organismo que Deus nos confiou, e das leis pelas quais ele pode ser preservado em saúde? PP 442 4 E hoje, como foi nos dias de Israel, cada jovem deve ser instruído nos deveres da vida prática. Cada um deve adquirir conhecimento de algum ramo de trabalho manual, pelo qual, sendo necessário, possa obter subsistência. Isto é essencial, não somente como salvaguarda contra as dificuldades da vida, mas pela relação que tem com o desenvolvimento físico, mental e moral. Mesmo que fosse certo que alguém jamais necessitasse recorrer ao trabalho manual para a sua manutenção, deveria ainda ser ensinado a trabalhar. Sem o exercício físico, ninguém pode ter uma boa compleição e vigorosa saúde; e a disciplina do trabalho bem regulado não é menos essencial para se conseguir uma mente forte e ativa e um nobre caráter. PP 443 1 Cada estudante deve dedicar parte de cada dia ao trabalho ativo. Assim se formariam hábitos de indústria, e alentar-se-ia um espírito de confiança em si, ao mesmo tempo em que o jovem estaria protegido de muitos males e práticas degradantes que tantas vezes são o resultado da ociosidade. E tudo isto está de acordo com o objetivo primordial da educação; pois que incentivando a atividade, a diligência e a pureza, estamos nos pondo em harmonia com o Criador. PP 443 2 Que os jovens sejam levados a compreender o objetivo de sua criação: honrar a Deus, e abençoar seus semelhantes; que vejam o terno amor que o Pai celestial manifestou para com eles, e o elevado destino para o qual a disciplina desta vida os deve preparar -- a dignidade e honra a que são chamados, mesmo a se tornarem filhos de Deus; e milhares voltar-se-iam com desdém e repugnância dos alvos baixos e egoístas e dos prazeres frívolos que até então os preocuparam. Aprenderiam a odiar o pecado, e a excluí-lo, não meramente pela esperança de recompensa ou receio de castigo, mas por uma intuição da vileza inerente ao mesmo -- porque seria uma degradação de suas aptidões dadas por Deus, uma mácula em sua varonilidade à semelhança de Deus. PP 443 3 Deus não manda aos jovens terem menores aspirações. Os elementos de caráter que tornam um homem bem-sucedido e honrado entre os homens -- o desejo irreprimível de algum bem maior, a vontade indomável, o esforço tenaz, a incansável perseverança -- não devem ser esmagados. Pela graça de Deus devem ser encaminhados a objetivos tanto mais altos do que os meros interesses egoístas e temporais quanto os céus estão mais altos do que a Terra, a educação iniciada nesta vida continuará na vida vindoura. Dia após dia, as obras maravilhosas de Deus, as provas de Sua sabedoria e poder ao criar e manter o Universo, o mistério infinito do amor e sabedoria no plano da redenção, patentear-se-ão à mente com novas belezas. "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam". 1 Coríntios 2:9. Mesmo nesta vida podemos apreender vislumbres de Sua presença, e provar a alegria da comunhão com o Céu; porém, a plenitude dessa alegria e bênçãos será alcançada no além. Unicamente a eternidade poderá revelar o destino glorioso a que o homem, restabelecido à imagem de Deus, pode atingir. ------------------------Capítulo 59 -- O primeiro rei de Israel PP 444 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 8-12. PP 444 1 O governo de Israel era administrado em nome e pela autoridade de Deus. O trabalho de Moisés, o dos setenta anciãos, dos príncipes e juízes, era simplesmente pôr em execução as leis que Deus dera; não tinham eles autoridade para legislar para a nação. Esta foi, e continuou a ser a condição da existência de Israel como nação. De tempos em tempos homens inspirados por Deus eram enviados para instruírem o povo, e guiá-lo na execução das leis. PP 444 2 O Senhor previu que Israel desejaria um rei, mas não consentiu em uma mudança nos princípios sobre os quais foi fundado o Estado. O rei devia ser representante do Altíssimo. Deus devia ser reconhecido como o Líder da nação, e Sua lei executada como a lei suprema do país. PP 444 3 Quando, inicialmente, os israelitas se estabeleceram em Canaã, reconheciam os princípios da teocracia, e a nação prosperou sob o governo de Josué. Mas o aumento da população e o intercâmbio com outras nações acarretaram uma mudança. O povo adotou muitos dos costumes dos seus vizinhos gentílicos, e assim sacrificou, em grande proporção, seu próprio caráter peculiar e santo. Gradualmente perderam sua reverência para com Deus, e deixaram de apreciar a honra de ser Seu povo escolhido. Atraídos pela pompa e ostentação dos reis gentílicos, cansaram-se de sua própria simplicidade. Rivalidades e inveja surgiram entre as tribos. Dissensões internas debilitaram-nas; estavam continuamente expostas à invasão de seus adversários gentios, e o povo começava a crer que, a fim de manter sua posição entre as nações, deveriam as tribos unir-se sob um forte governo central. Afastando-se da obediência à lei de Deus, desejaram libertar-se do governo de seu divino Soberano; e assim o pedido para terem um rei generalizou-se por todo o Israel. PP 444 4 Desde os dias de Josué o governo nunca fora dirigido com tão grande sabedoria e êxito como sob a administração de Samuel. Investido divinamente com a tríplice função de juiz, profeta e sacerdote, trabalhara ele com incansável e desinteressado zelo pelo bem-estar de seu povo, e a nação prosperara sob sua sábia administração. A ordem havia sido restabelecida, promovida a piedade, e o espírito de descontentamento impedido durante aquele tempo. Mas, com o avançar dos anos, o profeta foi obrigado a repartir com outros os cuidados do governo, e ele designou seus dois filhos para agirem como seus auxiliares. Enquanto Samuel continuava com os deveres de seu ofício em Ramá, os moços se localizaram em Berseba para administrarem a justiça entre o povo, próximo da fronteira sul do país. PP 445 1 Foi com inteiro apoio da nação que Samuel designara seus filhos para o ofício; mas eles não se mostraram dignos da escolha de seu pai. Havia o Senhor, por meio de Moisés, dado instruções especiais a Seu povo, a fim de que os príncipes de Israel julgassem retamente, tratassem com justiça da viúva e do órfão, e não recebessem suborno. Mas os filhos de Samuel "se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo". Os filhos do profeta não atenderam aos preceitos que ele procurara gravar em suas mentes. Não imitaram a vida pura e abnegada de seu pai. A advertência feita a Eli não exercera sobre a mente de Samuel a influência que deveria ter exercido. Ele fora até certo ponto demasiado condescendente com seus filhos, e o resultado foi visível no caráter e na vida deles. PP 445 2 A injustiça desses juízes causava muito descontentamento, e forneceu-se assim um pretexto para se insistir na mudança que havia muito era secretamente desejada. "Todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações". 1 Samuel 8:3-5. Os casos de abusos praticados entre o povo não foram referidos a Samuel. Houvesse se tornado conhecida dele a má conduta de seus filhos, e ele os teria retirado sem demora; mas isto não era o que os suplicantes desejavam. Samuel viu que o seu objetivo real era o descontentamento e o orgulho, e que seu pedido era o resultado de um propósito deliberado e decidido. Nenhuma queixa fora feita contra Samuel. Todos reconheciam a integridade e sabedoria de sua administração; mas o idoso profeta considerou o pedido como uma censura a si, e um esforço direto para o pôr de parte. Não revelou, entretanto, os seus sentimentos; não proferiu qualquer exprobração, mas levou a questão ao Senhor em oração, e apenas dEle procurou conselho. PP 445 3 E o Senhor disse a Samuel: "Ouve a voz do povo em tudo quanto te disserem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a Mim Me têm rejeitado para Eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, pois a Mim Me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também te fizeram a ti". 1 Samuel 8:7, 8. O profeta foi reprovado por ofender-se com a conduta do povo em relação a si, individualmente. Não haviam manifestado desrespeito para com ele, mas para com a autoridade de Deus, que havia designado os príncipes de Seu povo. Aqueles que desprezam e rejeitam o fiel servo de Deus, mostram desdém, não meramente ao homem, mas ao Senhor que o enviou. São as palavras de Deus, Suas reprovações e conselhos, o que é anulado; é Sua autoridade que é rejeitada. PP 445 4 Os dias da máxima prosperidade de Israel foram aqueles em que reconheciam a Jeová como seu Rei -- em que as leis e governo que tinham sido estabelecidos eram considerados como superiores aos de todas as outras nações. Moisés declarara a Israel com relação aos mandamentos de Deus: "Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida". Deuteronômio 4:6. Mas, afastando-se da lei de Deus, os hebreus deixaram de se tornar o povo que Deus desejava fazer deles, e então todos os males que foram o resultado de seu próprio pecado e desatino atribuíram ao governo de Deus. Tão completamente cegos se haviam tornado pelo pecado. PP 446 1 Tinha o Senhor, mediante os Seus profetas, predito que Israel seria governado por um rei; mas não se segue que esta forma de governo fosse a melhor para eles, ou de acordo com Sua vontade. Ele permitiu que o povo seguisse sua própria escolha, porque se recusaram a ser guiados por Seu conselho. Oséias declara que Deus lhes deu um rei em Sua ira. Oséias 13:11. Quando os homens preferem seguir o seu próprio caminho, sem buscar conselho de Deus, ou em oposição à Sua vontade revelada, muitas vezes Ele satisfaz seus desejos, a fim de que, por meio da amarga experiência que se segue, possam ser levados a compenetrar-se de sua loucura e a arrepender-se de seu pecado. O orgulho e a sabedoria humana demonstrar-se-ão um guia perigoso. Aquilo que o coração deseja contrário à vontade de Deus, verificar-se-á, no fim, que é uma maldição em vez de bênção. PP 446 2 Deus desejava que Seu povo apenas olhasse para Ele como seu legislador e fonte de força. Sentindo sua dependência de Deus, seriam constantemente atraídos para mais perto dEle. Tornar-se-iam elevados e enobrecidos, adaptados ao alto destino a que Ele os chamara como Seu povo escolhido. Mas, quando fosse posto sobre o trono um homem, isto tenderia a desviar de Deus a mente do povo. Eles confiariam mais na força humana, e menos no poder divino, e os erros de seu rei levá-los-iam ao pecado, e separariam a nação de Deus. PP 446 3 Samuel foi instruído a satisfazer o pedido do povo, mas adverti-los da desaprovação do Senhor, e também dar a conhecer qual seria o resultado de sua conduta. "E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe pedia um rei." Expôs-lhes fielmente os encargos que seriam postos sobre eles, e mostrou o contraste entre tal estado de opressão e sua condição presente, relativamente livre e próspera. Seu rei imitaria de outros a pompa e o luxo, para sustentar os quais seriam necessários pesados impostos sobre suas pessoas e propriedades. O que melhor havia de entre seus moços ele exigiria para o seu serviço. Tornar-se-iam cocheiros, cavaleiros e batedores diante dele. Deveriam preencher as fileiras de seu exército, e exigir-se-lhes-ia cultivar seus campos, ceifar suas plantações, e fabricar implementos de guerra para o seu serviço. As filhas de Israel seriam tomadas como confeiteiras e padeiras para a casa real. Para manter sua condição régia, apoderar-se-ia do melhor de suas terras, concedidas ao povo pelo próprio Jeová. Os mais valiosos de seus servos, igualmente, e de seu gado, ele tomaria e os empregaria "no seu trabalho". Além de tudo isto o rei exigiria um dízimo de toda a sua receita, dos lucros de seu trabalho, ou dos produtos do solo. "Vós lhe servireis de criados", concluiu o profeta. "Então naquele dia clamareis por causa de vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia". 1 Samuel 8:10-18. Por mais pesadas que se achassem suas exigências, uma vez estabelecida a monarquia, não a poderiam eles depor à vontade. PP 447 1 Mas o povo deu a resposta: "Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras." PP 447 2 "Como todas as outras nações". 1 Samuel 8:19, 20. Os israelitas não compreendiam que serem neste sentido diferentes de outras nações era um privilégio e bênção especiais. Deus havia separado os israelitas de todos os outros povos, para deles fazer Seu tesouro peculiar. Eles, porém, não tomando em consideração esta alta honra, desejaram avidamente imitar o exemplo dos gentios! E ainda o anelo de conformar-se às práticas e costumes mundanos existe entre o povo professo de Deus. Afastando-se eles do Senhor, tornam-se ambiciosos dos proveitos e honras do mundo. Cristãos acham-se constantemente procurando imitar as práticas dos que adoram o deus deste mundo. Muitos insistem em que, unindo-se aos mundanos e conformando-se aos seus costumes, poderiam exercer uma influência mais forte sobre os ímpios. Mas todos os que adotam tal método de proceder, separam-se desta maneira da Fonte de sua força. Tornando-se amigos do mundo, são inimigos de Deus. Por amor à distinção terrestre, sacrificam a indizível honra a que Deus os chamou, honra esta de mostrarem os louvores dAquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. 1 Pedro 2:9. PP 447 3 Com profunda tristeza Samuel escutou as palavras do povo; mas o Senhor lhe disse: "Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei". 1 Samuel 8:22. O profeta cumprira o seu dever. Apresentara fielmente o aviso, e este fora rejeitado. Com pesaroso coração despediu o povo, e retirou-se a fim de preparar a grande mudança no governo. PP 447 4 A vida de pureza e devoção abnegada de Samuel era uma repreensão perpétua tanto para os sacerdotes e anciãos que só cuidavam de si, como para a congregação de Israel, orgulhosa e sensual. Embora não exibisse pompa nem fizesse ostentação, seus labores traziam o cunho do Céu. Ele foi honrado pelo Redentor do mundo, sob cuja guia governou a nação hebréia. Mas o povo se cansara de sua piedade e devoção; desprezaram sua humilde autoridade, e o rejeitaram preferindo um homem que os governasse como rei. PP 447 5 No caráter de Samuel vemos refletida a semelhança de Cristo. Foi a pureza da vida do Salvador que provocou a ira de Satanás. Aquela vida era a luz do mundo, e revelava a depravação oculta no coração dos homens. Foi a santidade de Cristo que suscitou contra Ele as mais cruéis paixões dos que com um coração falso professavam a piedade. Cristo não veio com a opulência e honras da Terra; contudo as obras que realizava mostravam possuir Ele poder maior do que de qualquer príncipe humano. Os judeus esperavam que o Messias viesse a quebrar o jugo do opressor; todavia, acariciavam os pecados que lhes haviam ligado esse jugo ao pescoço. Houvesse Cristo encoberto os pecados deles e aplaudido a sua piedade, e O teriam aceito como seu rei; mas não quiseram suportar Sua destemida repreensão aos seus vícios. A beleza de um caráter em que a benevolência, a pureza e a santidade reinavam supremas, que não alimentava ódio a não ser ao pecado, eles a desprezaram. Assim tem sido em todas as épocas do mundo. A luz do Céu traz condenação sobre todos os que se recusam a andar nela. Quando repreendidos pelo exemplo daqueles que odeiam ao pecado, tornam-se os hipócritas, agentes de Satanás para afligir e perseguir os fiéis. "Todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições". 2 Timóteo 3:12. PP 448 1 Se bem que tivesse sido predita na profecia a forma de governo monárquica para Israel, Deus Se reservara o direito de lhes escolher o rei. Os hebreus respeitaram a autoridade de Deus até ao ponto de deixarem a seleção inteiramente com Ele. A escolha recaiu sobre Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. PP 448 2 As qualidades pessoais do futuro líder eram de maneira que satisfaziam aquele orgulho íntimo que inspira o desejo de terem um rei. "Entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele". 1 Samuel 9:2. De porte nobre e digno, na flor da idade, garboso e alto, tinha ele a aparência de alguém que nascera para governar. No entanto, com tais atrações externas, Saul era desprovido daquelas qualidades mais elevadas que constituem a verdadeira sabedoria. Não tinha aprendido em sua mocidade a dominar suas paixões temerárias e impetuosas; nunca sentira o poder renovador da graça divina. PP 448 3 Saul era filho de um poderoso e rico chefe; todavia em conformidade com a simplicidade daqueles tempos, estava empenhado com seu pai nos humildes deveres de lavrador. Tendo-se alguns dos animais de seu pai extraviado nas montanhas, Saul foi com um servo à busca deles. Durante três dias fizeram infrutíferas buscas, quando, não estando eles longe de Ramá, a residência de Samuel, o servo propôs que indagassem do profeta a respeito dos animais que faltavam. "Ainda se acha na minha mão um quarto dum siclo de prata", disse ele, "o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho". 1 Samuel 9:8. Isso estava de acordo com o costume daqueles tempos. Uma pessoa que se aproximasse de um superior em posição social ou função, dava-lhe um pequeno presente, em sinal de respeito. PP 448 4 Aproximando-se eles da cidade, encontraram-se com algumas moças que tinham vindo tirar água, e indagaram delas acerca do vidente. Em resposta souberam que uma cerimônia religiosa estava para ocorrer, que o profeta já havia chegado, que deveria haver uma oferta no "lugar alto", e depois daquilo um sacrifício. Uma grande mudança se havia realizado durante a administração de Samuel. Quando o chamado de Deus veio a princípio a ele, os serviços do santuário eram tidos em desdém. "Os homens desprezavam a oferta do Senhor". 1 Samuel 2:17. Agora, porém, o culto de Deus era mantido por todo o país, e o povo manifestava interesse nos serviços religiosos. Não havendo trabalhos ministeriais no tabernáculo, os sacrifícios eram naquele tempo oferecidos em outra parte; e as cidades dos sacerdotes e levitas, aonde o povo acorria a receber instrução, foram escolhidas para este fim. Os pontos mais altos nessas cidades eram usualmente escolhidos como o lugar do sacrifício, e daí o serem chamados lugares altos. PP 449 1 À porta da cidade, Saul foi defrontado pelo próprio profeta. Deus tinha revelado a Samuel que naquela ocasião o escolhido rei de Israel se apresentaria diante dele. Estando em face um do outro, disse o Senhor a Samuel: "Eis aqui o homem de quem já te tenho dito. Este dominará sobre o Meu povo." PP 449 2 Ao pedido de Saul -- "Mostra-me, peço-te, onde está aqui a casa do vidente", Samuel replicou: "Eu sou o vidente." Assegurando-lhe também que os animais perdidos tinham sido encontrados, insistiu com ele para que ficasse e assistisse à festa, dando ao mesmo tempo alguma indicação do grande destino que o esperava: "Para quem é todo o desejo de Israel? porventura não é para ti, e para toda a casa de teu pai?" O coração daquele que ouvia fremiu com as palavras do profeta. Não podia perceber senão algo da significação das mesmas; pois o pedido de um rei se tornara o assunto de absorvente interesse à nação inteira. Todavia, depreciando-se modestamente, Saul replicou: "Porventura não sou eu filho de Benjamim, da mais pequena das tribos de Israel? E a minha família a mais pequena de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras?" 1 Samuel 9:18-21. PP 449 3 Samuel conduziu o estranho ao local da assembléia, onde estavam reunidos os homens principais da cidade. Entre eles, por determinação do profeta, o lugar de honra foi dado a Saul, e no festim o quinhão mais escolhido foi posto diante dele. Terminadas as cerimônias, Samuel levou o hóspede à sua casa, e ali, no eirado, conversou com ele, apresentando os grandes princípios sobre os quais o governo de Israel fora estabelecido, e procurando assim prepará-lo até certo ponto para o seu elevado cargo. PP 449 4 Quando Saul partiu, cedo na manhã seguinte, o profeta saiu com ele. Tendo atravessado a cidade, mandou que o servo passasse adiante. Então ordenou a Saul que parasse a fim de receber uma mensagem a ele enviada por Deus. "Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Porventura te não tem ungido o Senhor por capitão sobre a Sua herdade?" Como prova de que isto era feito por autorização divina, predisse os incidentes que ocorreriam em sua viagem para casa, e afirmou a Saul que ele seria habilitado pelo Espírito de Deus para o cargo que o esperava. "O Espírito do Senhor se apoderará de ti", disse o profeta, "e te mudarás em outro homem. E há de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão, porque Deus é contigo." PP 450 1 Tendo seguido Saul o seu caminho, tudo aconteceu conforme dissera o profeta. Perto dos termos de Benjamim foi informado de que os animais perdidos tinham sido achados. Na planície de Tabor encontrou três homens que iam adorar a Deus em Betel. Um deles levava três cabritos para o sacrifício, outro três pães, e o terceiro um odre de vinho, para a festa sacrifical. Fizeram a Saul a saudação usual, e também o presentearam com dois dos três pães. Em Gibeá, sua cidade, um grupo de profetas, voltando do "lugar alto", cantavam o louvor de Deus, com música de flautas e harpas, saltérios e tambores. Aproximando-se Saul deles, sobreveio-lhe o Espírito do Senhor e ele também tomou parte em seu cântico de louvor, e com eles profetizou. Falou com tão grande influência e sabedoria, e com tanto fervor se uniu ao culto, que aqueles que o conheciam exclamaram com espanto: "Que é o que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?" 1 Samuel 10:1-11. PP 450 2 Tendo-se unido Saul com os profetas em seu culto, uma grande mudança operou-se nele pelo Espírito Santo. A luz da pureza e santidade divinas resplandeceu nas trevas do coração natural. Ele viu a si mesmo como estava diante de Deus. Viu a beleza da santidade. Foi agora chamado para começar a luta contra o pecado e Satanás, e fez-se-lhe compreender que neste conflito sua força deveria vir inteiramente de Deus. O plano da salvação que antes parecera obscuro e incerto, desvendou-se-lhe ao entendimento. O Senhor dotou-o de coragem e sabedoria para o seu elevado cargo. Revelou-lhe a fonte de força e graça, iluminando-lhe o entendimento quanto às exigências divinas e ao seu próprio dever. PP 450 3 A unção de Saul como rei não fora levada ao conhecimento da nação. A escolha de Deus deveria ser publicamente manifesta por meio de sorte. Para tal fim Samuel convocou o povo de Mispa. Foi feita oração rogando-se guia divina; então seguiu-se a solene cerimônia de lançar a sorte. Em silêncio a multidão congregada aguardava o resultado. A tribo, a família e a casa foram sucessivamente designadas, e então Saul, o filho de Quis, foi indicado como o indivíduo escolhido. Mas Saul não estava na assembléia. Oprimido com uma intuição da grande responsabilidade prestes a cair sobre ele, retirara-se secretamente. Foi de novo trazido à congregação, que observou com orgulho e satisfação ter ele porte real e formas nobres, sendo "mais alto do que todo o povo desde o ombro para cima". Mesmo Samuel, quando o apresentou à assembléia, exclamou: "Vedes já a quem o Senhor tem elegido? pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele." E em resposta surgiu da vasta multidão uma demorada e ruidosa aclamação de alegria: "Viva o rei!" PP 451 1 Samuel então expôs ao povo "o direito do reino" (1 Samuel 10:23-25), declarando os princípios sobre os quais o governo monárquico se baseava, e pelos quais cumpria ser dirigido. O rei não deveria agir de forma absoluta, mas conservar seu poder em sujeição à vontade do Altíssimo. Este discurso foi registrado em um livro, no qual se estabeleciam as prerrogativas do príncipe e os direitos e privilégios do povo. Embora a nação houvesse desprezado a advertência de Samuel, o fiel profeta -- conquanto forçado a ceder aos seus desejos -- ainda se esforçou tanto quanto possível para acautelar as suas liberdades. PP 451 2 Ao mesmo tempo em que o povo em geral estava pronto para reconhecer a Saul como seu rei, havia um grande partido em oposição. Ser escolhido um rei de Benjamim, a menor das tribos de Israel, e isto em detrimento tanto de Judá como de Efraim, as maiores e mais poderosas -- era uma indiferença que não podiam tolerar. Recusaram-se a declarar submissão a Saul, ou trazer-lhe os presentes costumeiros. Os que foram os mais insistentes em seu pedido para terem um rei, eram os mesmos que se recusavam aceitar com gratidão o homem indicado por Deus. Os membros de cada facção tinham seu favorito, que desejavam ver colocado sobre o trono; e vários dentre os chefes haviam desejado a honra para si. A inveja e a desconfiança ardiam no coração de muitos. Os esforços do orgulho e da ambição haviam resultado na decepção e no desencanto. PP 451 3 Nesse estado de coisas, Saul não achou conveniente assumir a dignidade real. Deixando que Samuel administrasse o governo, como anteriormente, voltou a Gibeá. Foi honrosamente escoltado para ali por uma multidão, que, vendo a escolha divina em sua seleção, estava decidida a apoiá-lo. Mas ele não fez tentativas para manter pela força seu direito ao trono. Em seu lar, entre as terras altas de Benjamim, pacificamente ocupou-se com os deveres de lavrador, deixando inteiramente a Deus o estabelecimento de sua autoridade. PP 451 4 Logo depois da designação de Saul, os amonitas sob a administração de seu rei, Naás, invadiram o território das tribos ao oriente do Jordão, e ameaçaram a cidade de Jabes-Gileade. Os habitantes procuraram negociar a paz, oferecendo-se para se fazerem tributários dos amonitas. Com isto o cruel rei não quis consentir a não ser sob condição de poder arrancar o olho direito de cada um deles, tornando-os assim testemunhas duradouras de seu poder. PP 451 5 O povo da cidade sitiada pediu um prazo de sete dias. Com isto consentiram os amonitas, julgando assim aumentar a honra de seu esperado triunfo. Imediatamente foram expedidos de Jabes mensageiros, em busca de auxílio das tribos ao oeste do Jordão. Levaram a notícia a Gibeá, suscitando terror em vasta região. Saul, voltando à noite de acompanhar os bois no campo, ouviu o alto pranto que falava de alguma grande calamidade. Perguntou: "Que tem o povo, que chora?" Quando lhe foi repetida a vergonhosa história, despertaram-se todas as suas forças dormentes. "O Espírito de Deus Se apoderou de Saul. [...] E tomou um par de bois, e cortou-os em pedaços, e os enviou a todos os termos de Israel pelas mãos dos mensageiros, dizendo: Qualquer que não sair atrás de Saul e atrás de Samuel, assim se fará aos seus bois". 1 Samuel 11:5-7. PP 452 1 Trezentos e trinta mil homens se reuniram na planície de Bezeque, sob o comando de Saul. Imediatamente foram enviados mensageiros à cidade sitiada, com a afirmação de que poderiam esperar auxílio no dia seguinte, que era o próprio dia em que deveriam submeter-se aos amonitas. Por meio de uma rápida marcha noturna, Saul e seu exército atravessaram o Jordão, e chegaram diante de Jabes "pela vigília da manhã". Como Gideão, dividindo sua força em três companhias, caiu sobre o arraial dos amonitas naquela hora matutina, quando, não suspeitando perigo, estavam menos prevenidos. No pânico que se seguiu foram derrotados, com grande mortandade. E "os restantes se espalharam, que não ficaram dois deles juntos". 1 Samuel 11:11. PP 452 2 A prontidão e bravura de Saul, bem como suas aptidões de general ostentadas ao conduzir com êxito uma força tão grande, eram qualidades que o povo de Israel desejara em um rei, a fim de que pudessem competir com outras nações. Saudaram-no agora como seu rei atribuindo a honra da vitória a forças humanas, e esquecendo-se de que, sem a bênção especial de Deus, todos os seus esforços teriam sido nulos. Em seu entusiasmo propuseram alguns matar os que se tinham a princípio recusado a reconhecer a autoridade de Saul. Mas o rei interveio, dizendo: "Hoje não morrerá nenhum, pois hoje tem obrado o Senhor um livramento em Israel." Aqui deu Saul prova da mudança que se tinha operado em seu caráter. Em vez de tomar para si a honra, deu glória a Deus. Em vez de mostrar desejo de vingança, manifestou um espírito de compaixão e perdão. Isto é prova inequívoca de que a graça de Deus habita no coração. PP 452 3 Samuel propôs então que uma assembléia nacional fosse convocada em Gilgal, a fim de que o reino pudesse ali ser publicamente confirmado a Saul. Isto foi feito; "e ofereceram ali ofertas pacíficas perante o Senhor; e Saul se alegrou muito ali com todos os homens de Israel". 1 Samuel 11:13, 15. PP 452 4 Gilgal tinha sido o local do primeiro acampamento de Israel na Terra Prometida. Foi ali que Josué, por determinação divina, construiu uma coluna de doze pedras para comemorar a miraculosa passagem do Jordão. Ali fora renovada a circuncisão. Ali celebraram a primeira Páscoa, depois do pecado de Cades, e da peregrinação no deserto. Ali cessou o maná. Ali o Capitão do exército do Senhor Se revelou como comandante-em-chefe das tropas de Israel. Daquele ponto marcharam para a subversão de Jericó e conquista de Ai. Ali Acã recebeu a pena de seu pecado, e ali foi feito com os gibeonitas aquele tratado que puniu a negligência de Israel de aconselhar-se com Deus. Nessa planície, ligada com tantas lembranças comoventes, estavam em pé Samuel e Saul; e, quando cessaram as aclamações de boas-vindas ao rei, o idoso profeta proferiu suas palavras de despedida como governador da nação. PP 453 1 "Eis que ouvi a vossa voz", disse ele, "em tudo quanto me dissestes, e pus sobre vós um rei. Agora, pois, eis que o rei vai diante de vós, e já envelheci e encaneci, [...] e eu tenho andado diante de vós desde a minha mocidade até ao dia de hoje. Eis-me aqui, testificai contra mim, perante o Senhor, e perante o Seu ungido, a quem tomei o boi, a quem tomei o jumento, e a quem defraudei, a quem tenho oprimido, e de cuja mão tenho tomado presente e com ele encobri os meus olhos, e vo-lo restituirei." A uma voz o povo respondeu: "Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém". 1 Samuel 12:1-4. PP 453 2 Samuel não estava procurando meramente justificar sua conduta. Tinha previamente apresentado os princípios que deveriam governar tanto o rei como o povo, e desejava acrescentar às suas palavras o peso de seu exemplo. Desde a meninice havia estado ligado com a obra de Deus, e durante sua longa vida tivera sempre um único objetivo diante de si -- a glória de Deus e o máximo bem de Israel. PP 453 3 Antes que pudesse haver qualquer esperança de prosperidade para Israel, deveriam eles ser levados ao arrependimento diante de Deus. Em conseqüência do pecado, tinham perdido a fé em Deus e o discernimento acerca de Seu poder e sabedoria para governar a nação -- perderam a confiança em Sua habilidade para reivindicar Sua causa. Antes de poderem encontrar a verdadeira paz, deveriam ser levados a ver e confessar o próprio pecado de que haviam sido culpados. Tinham declarado ser este o objetivo no pedido de um rei: "O nosso rei nos julgará, e sairá diante de nós, e fará as nossas guerras". 1 Samuel 8:20. Samuel contou novamente a história de Israel, desde o dia em que Deus os tirou do Egito. Jeová, o Rei dos reis, tinha ido diante deles, e pelejara suas guerras. Muitas vezes seus pecados os haviam entregue em poder de seus inimigos, mas apenas se desviavam de seus maus caminhos e a misericórdia de Deus suscitava um libertador. O Senhor enviou Gideão e Baraque, "e a Jefté, e a Samuel; e livrou-vos da mão de vossos inimigos, em redor, e habitastes seguros". Contudo, quando ameaçados de perigo, declararam: "Reinará sobre nós um rei", sendo, disse o profeta, "o Senhor vosso Deus o vosso Rei". PP 453 4 "Agora, pois", continuou Samuel, "ponde-vos também agora aqui, vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos. Não é hoje a sega dos trigos? clamarei, pois, ao Senhor, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade que tendes feito perante o Senhor, pedindo para vós um rei. Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia." No tempo da colheita do trigo, em Maio e Junho, não caía chuva no Oriente. O céu estava sem nuvens, e o ar sereno e agradável. Uma tempestade tão violenta naquela ocasião encheu de temor todos os corações. Com humilhação o povo confessou agora o seu pecado, o próprio pecado de que haviam sido culpados: "Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei". 1 Samuel 12:11-19. PP 454 1 Samuel não deixou o povo em estado de desânimo, pois isto teria impedido todo o esforço para uma vida melhor. Satanás levá-los-ia a considerar Deus como severo e implacável, e assim estariam expostos a muitas tentações. Deus é misericordioso e perdoador, desejando sempre mostrar favor para com Seu povo, quando este obedece à Sua voz. "Não temais", foi a mensagem de Deus pelo Seu servo; "vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao Senhor, mas servi ao Senhor com todo o vosso coração. E não vos desvieis; pois seguiríeis as vaidades, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque vaidades são. Pois o Senhor não desamparará o Seu povo." PP 454 2 Samuel nada disse quanto à indiferença que havia sido mostrada para com ele; não proferiu exprobração pela ingratidão com que Israel havia pago sua longa vida de dedicação; antes, assegurou-lhes seu incessante interesse por eles: "Longe de mim que eu peque contra o Senhor, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o caminho bom e direito. Tão-somente temei ao Senhor, e servi-O fielmente com todo o vosso coração; porque vede quão grandiosas coisas vos fez. Porém, se perseverardes em fazer mal, perecereis, assim vós como o vosso rei". 1 Samuel 12:20-25. ------------------------Capítulo 60 -- A presunção de Saul PP 455 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 13-14. PP 455 1 Depois da assembléia em Gilgal, Saul dispensou o exército que se havia levantado ao seu chamado para subverter os amonitas, reservando apenas dois mil homens para ficarem localizados sob o seu comando em Micmas, e mil para auxiliar seu filho Jônatas em Gibeá. Nisto houve um grave erro. Seu exército estava cheio de esperança e coragem pela vitória recente; e, caso ele houvesse imediatamente prosseguido contra outros inimigos de Israel, poderia ter sido desferido um golpe eficaz em prol da liberdade da nação. PP 455 2 Enquanto isso, seus belicosos vizinhos, os filisteus, estavam em atividade. Depois da derrota em Ebenézer, tinham ainda conservado a posse de algumas fortalezas nas colinas, na terra de Israel; e agora estabeleceram-se no centro mesmo do país. Em recursos, armamentos e aparato militar, os filisteus tinham grande vantagem sobre Israel. Durante o longo período de seu domínio opressivo, esforçaram-se eles por fortalecer o seu poder, proibindo aos israelitas praticar o ofício de ferreiro, com o receio de que fizessem armas de guerra. Depois da conclusão da paz, os hebreus ainda haviam recorrido às guarnições filistéias para obter tais trabalhos conforme eram necessários. Dirigidos pelo amor à comodidade, e pelo espírito vil causado pela longa opressão, os homens de Israel tinham em grande parte negligenciado prover-se de armas de guerra. Arcos e fundas eram usados na guerra e estes podiam os israelitas obter; mas nenhum havia entre eles, com exceção de Saul e seu filho Jônatas, que possuísse lança ou espada. 1 Samuel 13:22. PP 455 3 Não foi senão no segundo ano do reinado de Saul que se fez uma tentativa para submeter os filisteus. O primeiro golpe foi desferido por Jônatas, o filho do rei, que atacou e venceu a guarnição deles em Geba. Os filisteus, exasperados por esta derrota, aprontaram-se para um ataque imediato a Israel. Saul fez agora proclamar a guerra pelo som da trombeta, por toda a terra, chamando a todos os homens de guerra, incluindo as tribos de além do Jordão, para se reunirem em Gilgal. Esta convocação foi atendida. PP 455 4 Os filisteus tinham reunido uma imensa força em Micmas -- "trinta mil carros, e seis mil cavaleiros, e povo em multidão como a areia que está à borda do mar". 1 Samuel 13:5. Quando a notícia chegou a Saul e seu exército, em Gilgal, o povo ficou assombrado ao ter idéia das forças poderosas que teriam de enfrentar em batalha. Não estavam preparados para defrontar-se com o inimigo, e muitos ficaram tão aterrorizados que não ousaram ir à prova de um encontro. Alguns atravessaram o Jordão, enquanto outros se esconderam em cavernas e covas, e entre as rochas que eram comuns naquela região. Aproximando-se o tempo do encontro, o número das deserções aumentou rapidamente, e aqueles que se não retiraram das fileiras estavam cheios de terror. PP 456 1 Quando Saul foi ungido rei de Israel, recebera de Samuel instruções explícitas concernentes à conduta a ser adotada no tempo em questão. "Tu porém descerás diante de mim a Gilgal", disse o profeta; "e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocaustos, e para oferecer ofertas pacíficas; ali sete dias esperarás, até que eu venha a ti, e te declare o que hás de fazer". 1 Samuel 10:8. PP 456 2 Dia após dia, Saul esperou, mas sem fazer decididos esforços para animar o povo e inspirar confiança em Deus. Antes que o tempo designado pelo profeta houvesse expirado completamente, ele se tornou impaciente com a demora, e deixou-se desanimar pelas circunstâncias difíceis que o cercavam. Em vez de procurar fielmente preparar o povo para a cerimônia que Samuel vinha realizar, alimentou incredulidade e maus pressentimentos. Buscar a Deus pelo sacrifício, era uma obra soleníssima e importante; e Deus exigia que Seu povo examinasse o coração e se arrependesse de seus pecados, a fim de que se pudesse fazer a oferta com aceitação perante Ele, e a bênção divina acompanhasse seus esforços para vencer o inimigo. Mas Saul se tornara inquieto; e o povo, em vez de confiar em Deus para obter auxílio, olhava para o rei a quem tinham escolhido, para que os guiasse e dirigisse. PP 456 3 Contudo o Senhor ainda cuidava deles, e os não abandonou aos reveses que lhes teriam sobrevindo se o frágil braço da carne houvesse sido o seu único apoio. Ele os levou a situações angustiosas, para que pudessem convencer-se da loucura de confiar no homem, e a Ele se voltassem como seu único auxílio. Havia chegado o tempo para a prova de Saul. Ele deveria agora mostrar se confiaria ou não em Deus, e se esperaria pacientemente conforme à Sua ordem, mostrando-se assim ser aquele com quem Deus poderia contar em situações difíceis, na qualidade de governador de Seu povo, ou se seria vacilante e indigno da responsabilidade sagrada que lhe fora entregue. O rei a quem Israel escolhera, ouviria ao Rei de todos os reis? Volveria ele a atenção de seus soldados esmorecidos para Aquele em quem estão a força e o livramento eternos? PP 456 4 Com impaciência crescente esperava a chegada de Samuel, e atribuiu a confusão, angústia e deserção de seu exército à ausência do profeta. Veio o tempo aprazado, mas o homem de Deus não apareceu imediatamente. A providência de Deus havia detido o Seu servo. O espírito inquieto e impulsivo de Saul, porém, não se restringiria por mais tempo. Entendendo que se deveria fazer algo para acalmar os temores do povo, decidiu-se a convocar uma assembléia para serviço religioso, e mediante sacrifício rogar o auxílio divino. Deus tinha determinado que unicamente os que eram consagrados ao ofício deviam apresentar sacrifícios diante dEle. Mas ordenou Saul "trazei-me aqui um holocausto"; e, cingido como estava de armaduras e armas de guerra, aproximou-se do altar, e ofereceu sacrifício diante de Deus. PP 457 1 "E sucedeu que, acabando ele de oferecer o holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar". 1 Samuel 13:9, 10. Samuel viu de pronto que Saul tinha procedido contrariamente à expressa instrução que lhe havia sido dada. O Senhor tinha falado pelo Seu profeta que nesta ocasião Ele revelaria o que Israel deveria fazer em tal crítica situação. Se Saul tivesse satisfeito as condições sob as quais fora prometido auxílio divino, o Senhor teria operado um maravilhoso livramento para Israel, com os poucos que eram fiéis ao rei. Mas Saul estava tão satisfeito consigo mesmo e com sua obra, que saiu ao encontro do profeta como alguém que devesse ser elogiado em vez de reprovado. PP 457 2 O semblante de Samuel estava cheio de ansiedade e angústia; mas, à sua pergunta -- "Que fizeste?" -- Saul apresentou desculpas de seu ato presunçoso. Disse ele: "Porquanto via que o povo se espalhava de mim, e tu não vinhas nos dias aprazados, e os filisteus já se tinham ajuntado em Micmas, eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e ainda à face do Senhor não orei. E violentei-me, e ofereci holocausto. PP 457 3 "Então disse Samuel a Saul: Obraste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor para Si um homem segundo o Seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja chefe sobre o Seu povo. [...] Então se levantou Samuel, e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim". 1 Samuel 13:11, 13-15. PP 457 4 Ou Israel deixaria de ser o povo de Deus, ou deveria ser mantido o princípio sobre o qual fora fundada a monarquia, e a nação seria governada por um poder divino. [...] Se Israel quisesse ser inteiramente do Senhor, se a vontade do que é humano e terrestre se mantivesse em sujeição à vontade de Deus, Ele continuaria a ser o governador de Israel. Enquanto o rei e o povo se conduzissem subordinados a Deus, poderia Ele ser a sua defesa. Mas monarquia alguma poderia prosperar em Israel se não reconhecesse em todas as coisas a autoridade suprema de Deus. PP 457 5 Se Saul tivesse mostrado consideração para com as ordens de Deus nesse tempo de provação, Deus poderia ter cumprido Sua vontade por meio dele. Seu fracasso provou agora que ele não era apto para ser o representante de Deus ao Seu povo. Ele transviaria Israel. Sua vontade, em vez da de Deus, seria força dominante. Se Saul tivesse sido fiel, seu reino teria sido estabelecido para sempre; mas, visto que fracassara, o propósito de Deus deveria cumprir-se por meio de um outro. O governo de Israel deveria ser confiado a alguém que governasse o povo segundo a vontade do Céu. PP 458 1 Não sabemos que grandes interesses podem estar em jogo em provarmos a Deus. Não há segurança alguma a não ser na obediência estrita à Palavra de Deus. Todas as Suas promessas são feitas sob condição de fé e obediência, e uma falta de conformação com as Suas ordens elimina de nós a plena utilização dos abundantes recursos providos nas Escrituras. Não devemos seguir nossos impulsos, tampouco confiar nos juízos dos homens; devemos olhar para a vontade revelada de Deus, e andar em conformidade com o Seu definido mandamento, sejam quais forem as circunstâncias que nos rodeiem. Deus cuidará dos resultados; pela fidelidade à Sua Palavra podemos em tempo de provações demonstrar perante os homens e os anjos que o Senhor pode depositar confiança em nós nas situações difíceis a fim de executar a Sua vontade, honrar o Seu nome, e abençoar o Seu povo. PP 458 2 Saul estava no desagrado de Deus, e no entanto indisposto a humilhar o coração em arrependimento. O que lhe faltava em piedade verdadeira, experimentava realizar pelo seu zelo nas formas de religião. Saul não ignorava a derrota de Israel quando a arca de Deus foi levada ao acampamento, por Hofni e Finéias; entretanto, sabendo de tudo isto, resolveu mandar buscar a sagrada arca e seu sacerdote assistente. Se ele pudesse por este meio inspirar confiança no povo, esperava reunir de novo seu exército esparso, e dar batalha aos filisteus. Dispensaria então a presença e o apoio de Samuel, e assim se livraria da crítica e das importunas reprovações do profeta. PP 458 3 O Espírito Santo havia sido concedido a Saul para lhe iluminar o entendimento e abrandar o coração. Recebera fiel instrução e reprovação do profeta de Deus. E no entanto quão grande era a sua perversidade! A história do primeiro rei de Israel apresenta um triste exemplo do poder dos maus hábitos nos verdes anos. Em sua mocidade Saul não amou nem temeu a Deus; e aquele espírito impetuoso, não adestrado à submissão em seus primeiros anos, estava sempre pronto para rebelar-se contra a autoridade divina. Aqueles que em sua juventude acalentam uma santa consideração pela vontade de Deus, e que fielmente cumprem os deveres de seu cargo, estarão preparados para o serviço mais elevado na vida posterior. Mas não podem os homens durante anos perverter as faculdades que Deus lhes deu, e então, quando quiserem efetuar uma mudança em si, encontrar tais faculdades frescas e desembaraçadas para seguirem um caminho inteiramente oposto. PP 458 4 Os esforços de Saul para despertar o povo mostraram-se inúteis. Encontrando sua força reduzida a seiscentos homens, ele partiu de Gilgal, e retirou-se para a fortaleza de Geba, tomada recentemente dos filisteus. Esta fortaleza estava do lado do sul de um vale profundo e escabroso, ou garganta, alguns quilômetros ao norte do local de Jerusalém. Ao lado do norte do mesmo vale, em Micmas, estava acampada a força filistéia, ao mesmo tempo em que tropas destacadas saíam em diferentes direções a fim de devastar o país. PP 459 1 Deus permitira que as coisas fossem assim levadas a uma situação crítica, a fim de poder repreender a perversidade de Saul, e ensinar a Seu povo uma lição de humildade e fé. Por causa do pecado de Saul em sua oferta presunçosa, o Senhor não lhe daria a honra de vencer aos filisteus. Jônatas, o filho do rei, homem que temia o Senhor, foi escolhido como instrumento para libertar Israel. Movido por um impulso divino, propôs ao seu pajem de armas que fizessem um ataque secreto ao arraial do inimigo. "Porventura", disse ele, "obrará o Senhor por nós, porque para com o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos." PP 459 2 O pajem de armas, que também era homem de fé e oração, incentivou este plano, e juntos retiraram-se do acampamento, secretamente, para que não acontecesse encontrar oposição o seu propósito. Com oração fervorosa ao Guia de seus pais, convieram em um sinal pelo qual poderiam determinar o que fazer. Descendo então para a garganta que separava os dois exércitos, silenciosamente seguiram seu caminho, à sombra do rochedo, e ocultos parcialmente pelas pedras e saliências do vale. Aproximando-se da fortaleza filistéia, ficaram à vista de seus inimigos, que, sarcasticamente, disseram: "Eis que já os hebreus saíram das cavernas em que se tinham escondido"; então os desafiaram: "Subi a nós, e nós vo-lo ensinaremos" (1 Samuel 14:11, 12), querendo dizer que puniriam os dois israelitas pela sua audácia. Este desafio era o sinal que Jônatas e seu companheiro tinham concordado aceitar como prova de que o Senhor favorecia seu empreendimento. Saindo agora das vistas dos filisteus, e escolhendo um caminho secreto e difícil, os guerreiros se dirigiram ao cume de uma rocha que tinha sido considerada inacessível, e não estava mui fortemente guarnecida. Assim penetraram no arraial do inimigo, e mataram as sentinelas, que, dominadas pela surpresa e temor, não ofereceram resistência. PP 459 3 Anjos celestiais escudavam a Jônatas e seu auxiliar, anjos combatiam ao seu lado, e os filisteus caíam diante deles. A terra tremia como se uma grande multidão com cavaleiros e carros se estivesse aproximando. Jônatas reconheceu os sinais do auxílio divino, e mesmo os filisteus viram que Deus estava agindo para o livramento de Israel. Grande temor apoderou-se do exército, tanto no campo como na guarnição. Na confusão, tomando seus próprios soldados por inimigos, os filisteus começaram a matar-se uns aos outros. PP 459 4 Logo se ouviu o rumor da batalha no acampamento de Israel. As sentinelas do rei referiram que havia grande confusão entre os filisteus, e que seu número estava decrescendo. Não se sabia, entretanto, que qualquer parte do exército hebreu houvesse deixado o acampamento. Feita a busca, verificou-se que ninguém estava ausente a não ser Jônatas e seu pajem de armas. Mas, vendo que os filisteus estavam sendo repelidos, Saul levou seu exército a unir-se ao assalto. Os hebreus que tinham desertado para o inimigo voltaram agora contra eles; grande número também saiu de seus esconderijos; e, fugindo os filisteus, destroçados, o exército de Saul infligiu terrível estrago nos fugitivos. PP 460 1 Decidido a tirar para si as maiores vantagens, o rei temerariamente proibiu a seus soldados tomarem alimento durante o dia todo, impondo a ordem por meio de uma solene imprecação: "Maldito o homem que comer pão até à tarde, para que me vingue de meus inimigos". 1 Samuel 14:24. A vitória já havia sido ganha, sem o conhecimento ou a cooperação de Saul; mas ele esperava distinguir-se pela completa destruição do exército vencido. A ordem para abstinência de alimento foi motivada pela ambição egoísta, e mostrou ser o rei indiferente às necessidades de seu povo quando estas estavam em conflito com seus desejos de exaltação própria. Confirmando esta proibição com um juramento solene, Saul se mostrou não somente temerário como também profano. As próprias palavras da imprecação dão prova de que o zelo de Saul era por si mesmo, e não pela honra de Deus. Ele declarou seu objetivo não ser que o Senhor fosse vingado de Seus inimigos, mas "que me vingue de meus inimigos". PP 460 2 A proibição teve como resultado levar o povo a transgredir o mandado de Deus. Eles tinham estado empenhados em guerra o dia todo, e desfaleciam pela falta de alimento; e apenas se passaram as horas da restrição, caíram sobre o despojo, e devoraram a carne com sangue, violando desta maneira a lei que proibia comer sangue. PP 460 3 Durante o dia de batalha, Jônatas, que não tinha ouvido acerca da ordem do rei, ignorantemente transgrediu comendo um pouco de mel quando passava através de um bosque. Saul teve conhecimento disto à tarde. Havia declarado que a violação deste edito seria punida com a morte; e, embora Jônatas não tivesse sido culpado de pecado voluntário, embora Deus lhe tivesse miraculosamente preservado a vida, e houvesse operado por meio dele, o rei declarou que a sentença devia ser executada. Poupar a vida de seu filho teria sido um reconhecimento da parte de Saul de que ele pecara fazendo um voto tão precipitado. Isto seria humilhante ao seu orgulho. "Assim me faça Deus, e outro tanto", foi a sua terrível sentença; "que com certeza morrerá, Jônatas." PP 460 4 Saul não podia pretender a honra da vitória, mas esperava ser honrado pelo seu zelo ao manter a santidade de seu voto. Mesmo com sacrifício de seu filho, queria impressionar seus súditos com o fato de que a autoridade real tinha de ser mantida. Em Gilgal, pouco tempo antes, Saul tomara a ousadia de oficiar como sacerdote, contrariamente ao mandado de Deus. Sendo reprovado por Samuel, obstinadamente justificou-se. Agora, quando sua própria ordem foi desobedecida -- embora esta ordem não fosse razoável, e tivesse sido violada por ignorância -- o rei e pai sentenciou o filho à morte. PP 461 1 O povo recusou-se a permitir que a sentença de morte fosse executada. Afrontando a ira do rei, declararam: "Morrerá Jônatas, que obrou tão grande salvação em Israel? Nunca tal suceda; vive o Senhor, que não lhe há de cair no chão um só cabelo da sua cabeça! Pois com Deus fez isso hoje". 1 Samuel 14:45. O orgulhoso rei não ousou desrespeitar este unânime veredicto, e a vida de Jônatas foi preservada. PP 461 2 Saul não pôde deixar de sentir que seu filho era preferido a ele, tanto pelo povo como pelo Senhor. O livramento de Jônatas foi uma severa exprobração à precipitação do rei. Teve um pressentimento de que suas maldições cairiam sobre sua cabeça. Não mais continuou a guerra com os filisteus, mas voltou para casa mal-humorado e descontente. PP 461 3 Aqueles que mais prontos estão para desculpar-se ou justificar-se no pecado, são muitas vezes os mais severos ao julgar e condenar os outros. Muitos, como Saul, trazem sobre si o desagrado de Deus, mas rejeitam o conselho e desprezam a reprovação. Mesmo quando convictos de que o Senhor não está com eles, recusam-se a ver em si a causa da perturbação. Alimentam um espírito orgulhoso, jactancioso, ao mesmo tempo em que condescendem em fazer um juízo cruel ou severa censura em relação a outros que são melhores do que eles. Bom seria que tais juízes, que a si mesmos se constituem, ponderassem estas palavras de Cristo: "Com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós". Mateus 7:2. PP 461 4 Freqüentemente aqueles que estão procurando exaltar-se são levados a posições em que se revela seu verdadeiro caráter. Assim foi no caso de Saul. Sua conduta convenceu o povo de que a honra e autoridade real eram para ele mais caras do que a justiça, misericórdia, ou benevolência. Assim o povo foi levado a ver o seu erro, por terem rejeitado o governo que Deus lhes havia dado. Tinham trocado o profeta piedoso, cujas orações haviam feito descer bênçãos, por um rei que em seu zelo cego tinha orado rogando uma maldição sobre eles. PP 461 5 Se os homens de Israel não se houvessem interposto a fim de salvar a vida de Jônatas, seu libertador teria perecido pelo decreto do rei. Com que pressentimentos deveria aquele povo posteriormente ter seguido a guia de Saul! Quão amargo lhes seria o pensamento de que ele havia sido posto no trono pelo seu próprio ato! O Senhor suporta por muito tempo os desvarios dos homens, e a todos Ele concede oportunidade para verem e abandonarem seus pecados; mas, conquanto possa parecer que Ele faz prosperar os que desrespeitam a Sua vontade e desprezam Suas advertências, ao Seu tempo certamente tornará manifesta a loucura deles. ------------------------Capítulo 61 -- A rejeição de Saul PP 462 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 15. PP 462 1 Saul deixara de resistir à prova da fé na situação probante em Gilgal, e acarretara a desonra ao serviço de Deus; mas seus erros ainda não eram irreparáveis, e o Senhor lhe concederia outra oportunidade para aprender a lição da fé implícita em Sua Palavra e obediência aos Suas ordens. PP 462 2 Quando foi repreendido pelo profeta em Gilgal, Saul não viu grande pecado na conduta que adotara. Entendeu que fora tratado injustamente, e esforçou-se por reivindicar suas ações, e apresentou desculpas pelo seu erro. Desde aquele tempo pouca comunicação teve com o profeta. Samuel amava a Saul como seu próprio filho, e este, ousado e ardoroso em seu temperamento, tinha tido o profeta em elevada consideração; mas ressentiu-se da censura de Samuel, e dali em diante o evitava quanto possível. PP 462 3 Mas o Senhor enviou o Seu servo com uma outra mensagem a Saul. Pela obediência poderia ainda provar fidelidade para com Deus, e dignidade para andar diante de Israel. Samuel veio ao rei e apresentou a palavra do Senhor. A fim de que o rei pudesse compenetrar-se da importância de atender à ordem, Samuel declarou expressamente que falava por determinação divina, pela mesma autoridade que chamara Saul ao trono. Disse o profeta: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito. Vai pois agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de mama, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos". 1 Samuel 15:3. Os amalequitas foram os primeiros a fazerem guerra a Israel no deserto; e por este pecado, juntamente com seu desafio a Deus e sua aviltante idolatria, o Senhor, por meio de Moisés, pronunciara sentença sobre eles. Por determinação divina, a história de sua crueldade para com Israel fora registrada, com a ordem: "Apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças". Deuteronômio 25:19. Por quatrocentos anos a execução desta sentença fora adiada; mas os amalequitas não se desviaram de seus pecados. O Senhor sabia que este povo ímpio eliminaria da terra, se possível fora, o Seu povo e o Seu culto. Agora era chegada a ocasião para ser executada a sentença, durante tanto tempo retardada. PP 462 4 A paciência que Deus tem exercido para com os ímpios, torna audazes os homens na transgressão; mas o seu castigo não será menos certo e terrível por ser tanto tempo retardado. "O Senhor Se levantará como no monte de Perazim, e irará, como no vale de Gibeom, para fazer a Sua obra, a Sua estranha obra, e para executar o Seu ato, o Seu estranho ato". Isaías 28:21. Para o nosso misericordioso Deus, o infligir castigo é um ato estranho. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva". Ezequiel 33:11. O Senhor é "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; [...] que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado". Todavia, "ao culpado não tem por inocente". Êxodo 34:6, 7. Conquanto Ele não Se deleite na vingança, executará juízo sobre os transgressores de Sua lei. É obrigado a fazer isto, para preservar os habitantes da Terra da depravação e ruína totais. A fim de salvar alguns deverá Ele eliminar os que se tornaram endurecidos no pecado. "O Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente". Naum 1:3. Reivindicará com terríveis manifestações a dignidade de Sua lei espezinhada. A severidade da retribuição que aguarda o transgressor pode ser julgada pela relutância do Senhor em executar justiça. PP 463 1 Mas, ao mesmo tempo em que infligia o juízo, Deus Se lembrava da misericórdia. Os amalequitas deviam ser destruídos, mas os queneus, que habitavam entre eles, foram poupados. Este povo embora não estivesse inteiramente livre da idolatria, eram adoradores de Deus, e mantinham amistosas relações com Israel. Dessa tribo era o cunhado de Moisés, Hobabe, que acompanhara os israelitas em suas viagens através do deserto, e, pelo seu conhecimento do território, prestara-lhes valioso auxílio. PP 463 2 Desde a derrota dos filisteus em Micmas, Saul tinha feito guerra contra Moabe, Amom e Edom, e contra os amalequitas e filisteus; e, para onde quer que volvesse suas armas, ganhava novas vitórias. Recebendo a incumbência contra os amalequitas, proclamou imediatamente a guerra. À sua própria autoridade foi acrescentada a do profeta, e ao chamado para a batalha os homens de Israel congregaram-se sob seu estandarte. Esta expedição não deveria ser iniciada com o propósito de engrandecimento próprio; não deveriam os israelitas receber quer a honra da vitória quer o despojo de seus inimigos. Deviam empenhar-se na guerra unicamente como um ato de obediência a Deus, a fim de executar Seu juízo sobre os amalequitas. Era intuito de Deus que todas as nações vissem a condenação daquele povo que desafiara a Sua soberania, e notassem que foram destruídos pelo mesmo povo que haviam desprezado. PP 463 3 "Feriu Saul os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito. E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas; porém a todo o povo destruiu ao fio da espada. E Saul e o povo perdoaram a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e às da segunda sorte, e aos cordeiros e ao melhor que havia, e não os quiseram destruir totalmente; porém a toda a coisa vil e desprezível destruíram totalmente". 1 Samuel 15:7-9. PP 464 1 Esta vitória sobre os amalequitas foi a mais brilhante que Saul alcançou, e serviu para suscitar novamente o orgulho de coração que era o seu maior perigo. O decreto divino que votava os inimigos de Deus à completa destruição, não foi cumprido senão em parte. Ambicionando aumentar a honra de sua volta triunfal, mediante a presença de um cativo real, Saul aventurou-se a imitar o costume das nações em redor, e poupou Agague, o cruel e belicoso rei dos amalequitas. O povo reservou para si o melhor que havia dos rebanhos, das vacas e das bestas de carga, desculpando o seu pecado sob o fundamento de que o gado era reservado para ser oferecido como sacrifício ao Senhor. Era, entretanto, seu propósito fazer uso do mesmo meramente como substituto, a fim de poupar o seu próprio gado. PP 464 2 Saul havia agora sido submetido à prova final. Sua arrogante desconsideração pela vontade de Deus, mostrando sua determinação de governar como um rei independente, provou que não se lhe poderia confiar poder real como representante do Senhor. Enquanto Saul e seu exército marchavam para casa no entusiasmo da vitória, havia profunda angústia no lar do profeta Samuel. Ele havia recebido uma mensagem do Senhor, denunciando o procedimento do rei: "Arrependo-Me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de Me seguir, e não executou as Minhas palavras". 1 Samuel 15:11. O profeta ficou profundamente magoado pela conduta do rei rebelde, e chorou e orou a noite toda pedindo uma revogação da terrível sentença. PP 464 3 O arrependimento de Deus não é como o do homem. "Aquele que é a Força de Israel não mente nem Se arrepende; porquanto não é um homem para que Se arrependa". 1 Samuel 15:29. O arrependimento do homem implica uma mudança de intuitos. O arrependimento de Deus implica uma mudança de circunstâncias e relações. O homem pode mudar sua relação para com Deus, conformando-se com as condições sob as quais pode ser levado ao favor divino; ou pode, de moto próprio, colocar-se fora da condição favorável; mas o Senhor é o mesmo "ontem, e hoje e eternamente". Hebreus 13:8. A desobediência de Saul mudou sua relação para com Deus; mas as condições de aceitação por parte de Deus ficaram inalteradas -- as reivindicações de Deus eram ainda as mesmas; pois nEle "não há mudança nem sombra de variação". Tiago 1:17. PP 464 4 Com coração dolorido o profeta partiu na manhã seguinte para encontrar-se com o rei, que procedia erradamente. Samuel acariciava a esperança de que, refletindo, pudesse Saul ter consciência de seu pecado, e, pelo arrependimento e humilhação, ser de novo restabelecido ao favor divino. Quando, porém, o primeiro passo é dado no caminho da transgressão, este caminho se torna fácil. Saul, aviltado por sua desobediência, veio ao encontro de Samuel com uma mentira nos lábios. Exclamou: "Bendito tu do Senhor; executei a palavra do Senhor." PP 464 5 Os sons que vinham aos ouvidos do profeta desmentiram a declaração do desobediente rei. À incisiva pergunta: "Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?" Saul respondeu: "De Amaleque as trouxeram; porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para as oferecer ao Senhor seu Deus; o resto porém, temos destruído totalmente". 1 Samuel 15:13-15. O povo havia obedecido às determinações de Saul; mas, a fim de defender-se, queria este atribuir a eles o pecado de sua desobediência. PP 465 1 A mensagem da rejeição de Saul trouxe indizível pesar ao coração de Samuel. Tinha ela de ser transmitida perante todo o exército de Israel, quando estava cheio de orgulho e regozijo triunfal por uma vitória que se atribuía ao valor e às aptidões de general de seu rei, pois que Saul não havia relacionado com Deus o êxito de Israel nesse conflito; mas, quando o profeta viu a prova da rebelião de Saul, foi tomado de indignação pelo fato de que aquele que fora tão altamente favorecido por Deus, transgredisse o mandamento do Céu, e levasse Israel ao pecado. Samuel não foi enganado pelo subterfúgio do rei. Com um misto de dor e indignação, declarou: "Espera, e te declararei o que o Senhor me disse esta noite. [...] Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de Israel? e o Senhor te ungiu rei sobre Israel." Repetiu a ordem do Senhor com relação a Amaleque, e perguntou os motivos da desobediência do rei. PP 465 2 Saul persistiu na justificação de si mesmo: "Antes dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o Senhor me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente. Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao Senhor teu Deus em Gilgal." PP 465 3 Com severas e solenes palavras o profeta varreu o refúgio de mentiras, e pronunciou a irrevogável sentença: "Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei." PP 465 4 Ao ouvir o rei esta terrível sentença, exclamou: "Pequei, porquanto tenho traspassado o dito do Senhor e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz." Aterrorizado pela acusação do profeta, Saul reconheceu a sua falta, que antes pertinazmente negara; mas ainda persistia em lançar a culpa ao povo, declarando que pecara por medo deles. PP 465 5 Não era a tristeza pelo pecado, mas o temor pelo castigo ao mesmo, o que influía no rei de Israel, ao rogar ele a Samuel: "Agora, pois, te rogo, perdoa-me o meu pecado; e volta comigo, para que adore ao Senhor". 1 Samuel 15:16, 17, 20-25. Se Saul tivesse tido o verdadeiro arrependimento, teria feito confissão pública de seu pecado; era, porém, sua maior ansiedade manter a autoridade, e conservar a fidelidade do povo. Desejava a honra da presença de Samuel a fim de fortalecer sua própria influência junto à nação. "Não tornarei contigo", foi a resposta do profeta; "porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, já te rejeitou o Senhor, para que não sejas rei sobre Israel". Volvendo-se Samuel para partir, o rei, na agonia do medo, lançou mão de seu manto para o fazer voltar, mas este rasgou-se em suas mãos. Com isto, o profeta declarou: "O Senhor tem rasgado de ti hoje o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo, melhor do que tu". 1 Samuel 15:26, 28. PP 466 1 Saul ficou mais perturbado com o afastamento de Samuel do que com o desagrado de Deus. Sabia que o povo tinha mais confiança no profeta do que nele mesmo. Se um outro fosse agora por ordem divina ungido rei, entendia Saul que seria impossível manter sua autoridade. Ele temia uma revolta imediata, caso Samuel o abandonasse inteiramente. Saul rogou ao profeta que o honrasse diante dos anciãos e do povo, unindo-se publicamente a ele em um serviço religioso. Por determinação divina, Samuel cedeu ao pedido do rei, para que se não desse ocasião a uma revolta. Mas ele ficou apenas como uma testemunha silenciosa daquele serviço religioso. PP 466 2 Um ato de justiça, severo e terrível, seria ainda realizado. Samuel devia publicamente reivindicar a honra de Deus, e repreender a conduta de Saul. Ordenou que o rei dos amalequitas fosse trazido perante ele. Dentre todos os que haviam sido vencidos pela espada de Israel, Agague era o mais criminoso e implacável; ele foi o que havia odiado e procurado destruir o povo de Deus, e cuja influência fora mais forte para promover a idolatria. Veio ele pela ordem do profeta, lisonjeando-se com a idéia de que o perigo de morte havia passado. Samuel declarou: "Assim como a tua espada desfilhou as mulheres, assim ficará desfilhada a tua mãe entre as mulheres. Então Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal". 1 Samuel 15:33. Isto feito, Samuel voltou à sua casa em Ramá, e Saul à sua em Gibeá. Apenas uma vez depois disso encontraram-se o profeta e o rei. PP 466 3 Quando foi chamado ao trono, Saul tinha uma opinião humilde de suas aptidões, e estava disposto a ser instruído. Era deficiente em conhecimentos e experiência, e tinha graves defeitos de caráter. Mas o Senhor concedeu-lhe o Espírito Santo como guia e auxiliador, e o colocou em uma posição em que poderia desenvolver as qualidades indispensáveis a um governador de Israel. Houvesse ele se conservado humilde, procurando constantemente ser guiado pela sabedoria divina, e ter-se-ia habilitado a desempenhar os deveres de seu elevado cargo, com êxito e honra. Sob a influência da graça divina, toda boa qualidade estaria a ganhar força, enquanto as más tendências teriam perdido o seu poder. Tal é a obra que o Senhor Se propõe fazer por todos os que se consagram a Ele. Há muitos a quem chamou para desempenhar cargos em Sua obra, porque possuem um espírito humilde e dócil. Em Sua providência Ele os coloca onde podem aprender dEle. Revelar-lhes-á seus defeitos de caráter, e a todos os que Lhe buscam o auxílio Ele dará força para corrigir seus erros. PP 467 1 Mas Saul atreveu-se em sua exaltação, e desonrou a Deus pela incredulidade e desobediência. Embora quando a princípio chamado ao trono fosse humilde e não tivesse confiança em si mesmo, o êxito tornou-o confiante em si próprio. Mesmo a primeira vitória de seu reino suscitara aquele orgulho de coração que foi o seu maior perigo. O valor e a habilidade militar ostentados no livramento de Jabes-Gileade, despertaram o entusiasmo da nação inteira. O povo honrou a seu rei, esquecendo-se de que ele não era senão o agente pelo qual Deus operara; e, posto que a princípio Saul atribuísse a glória a Deus, tomou mais tarde a honra para si. Perdeu de vista sua dependência de Deus, e em seu coração afastou-se do Senhor. Assim se preparou o caminho para o seu pecado de arrogância e sacrifício em Gilgal. A mesma cega confiança levou-o a rejeitar a reprovação de Samuel. Saul reconhecia que Samuel era um profeta enviado de Deus; portanto deveria ter aceitado a reprovação, ainda que não pudesse ver que havia pecado. Se ele estivesse disposto a ver e confessar o seu erro, esta amarga experiência se teria demonstrado uma salvaguarda para o futuro. PP 467 2 Se o Senhor tivesse então Se separado inteiramente de Saul, não lhe teria de novo falado pelo Seu profeta, confiando-lhe uma obra definida para a realizar, a fim de que pudesse corrigir os erros do passado. Quando alguém que professa ser filho de Deus, se torna descuidado ao fazer a Sua vontade, influenciando deste modo a outros a serem irreverentes, e a se esquecerem das ordens expressas do Senhor, é possível ainda que seus fracassos se tornem em vitórias se tão-somente aceitar a reprovação com verdadeira contrição de alma, e voltar-se a Deus com humildade e fé. A humilhação da derrota demonstra-se muitas vezes uma bênção, mostrando-nos a nossa incapacidade para fazer a vontade de Deus sem o Seu auxílio. PP 467 3 Quando Saul se desviou da reprovação a ele enviada pelo Espírito Santo de Deus, e persistiu em sua contumaz justificação própria, rejeitou o único meio pelo qual Deus poderia agir a fim de o salvar de si mesmo. Voluntariosamente ele se separara de Deus. Não poderia receber auxílio ou guia divina, antes que voltasse a Deus pela confissão de seu pecado. PP 467 4 Em Gilgal, Saul tinha tido a aparência de ser muito consciencioso, achando-se perante o exército de Israel a oferecer um sacrifício a Deus. Sua piedade, porém, não era genuína. Uma cerimônia religiosa realizada em oposição direta à ordem de Deus, servia apenas para enfraquecer as mãos de Saul, colocando-o fora do auxílio que Deus estava tão disposto a conceder-lhe. PP 467 5 Na expedição contra Amaleque, Saul julgara ter feito tudo que era essencial daquilo que o Senhor lhe ordenara; mas o Senhor não Se agradara da obediência parcial, nem estava disposto a revelar o que fora negligenciado por um motivo tão aceitável. Deus não deu aos homens liberdade para se afastarem de Seus mandados. O Senhor declarou a Israel: "Não fareis [...] cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos"; mas "guarda e ouve todas estas palavras que te ordeno". Deuteronômio 12:8, 28. Ao resolver sobre qualquer caminho a seguirmos em nossos atos, não devemos indagar se podemos ver que resultará mal do mesmo, mas se está de acordo com a vontade de Deus. "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Provérbios 14:12. PP 468 1 "O obedecer é melhor do que o sacrificar." As ofertas sacrificais não tinham em si mesmas nenhum valor à vista de Deus. Destinavam-se a exprimir da parte do ofertante o arrependimento do pecado e a fé em Cristo, e o compromisso de futura obediência à lei de Deus. Mas sem arrependimento, fé e um coração obediente, as ofertas eram inúteis. Quando, em violação direta ao mando de Deus, Saul se propôs a oferecer sacrifício daquilo que Deus votara à destruição, mostrou franco desdém pela autoridade divina. Tal adoração teria sido um insulto ao Céu. No entanto, com o pecado de Saul e seu resultado diante de nós, quantos não estão adotando uma conduta semelhante! Enquanto se recusam a crer e obedecer a alguma ordem do Senhor, perseveram em apresentar a Deus sua formal adoração. Não há nenhuma simpatia da parte do Espírito de Deus a semelhante culto. Não importa quão zelosos os homens possam ser em sua observância de cerimônias religiosas, o Senhor não pode aceitá-los se persistirem em deliberada violação de um de Seus mandamentos. PP 468 2 "A rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria". 1 Samuel 15:23. A rebelião originou-se com Satanás, e toda rebelião contra Deus é devida diretamente à influência satânica. Aqueles que se põem contra o governo de Deus entraram em aliança com o máximo apóstata, e este exercerá seu poder e engano para cativar os sentidos e desencaminhar o entendimento. Ele fará todas as coisas aparecerem sob uma luz falsa. Semelhantes aos nossos primeiros pais, os que se acham sob sua fascinação mágica vêem apenas os grandes benefícios a serem recebidos pela transgressão. PP 468 3 Não se pode dar prova maior do poder enganador de Satanás do que o fato de que muitos, que assim são levados por ele, enganam-se com a crença de que estão ao serviço de Deus. Quando Coré, Datã e Abirã se rebelaram contra a autoridade de Moisés, pensaram que apenas estavam se opondo a um dirigente humano, um homem como eles mesmos; e chegaram a crer que estavam em verdade a fazer o serviço de Deus. Mas, rejeitando o instrumento escolhido de Deus, rejeitaram a Cristo; insultaram o Espírito de Deus. Assim, nos dias de Cristo, os escribas e anciãos judeus, que professavam ter grande zelo pela honra de Deus, crucificaram a Seu filho. O mesmo espírito existe ainda nos corações daqueles que se põem a seguir sua própria vontade em oposição à de Deus. PP 468 4 Saul tivera a mais ampla prova de que Samuel era divinamente inspirado. O aventurar-se ele a desrespeitar a ordem de Deus dada por intermédio do profeta, era contra os ditames da razão e do são juízo. Sua fatal arrogância deve ser atribuída à feitiçaria satânica. Saul tinha manifestado grande zelo ao suprimir a idolatria e a feitiçaria; no entanto, em sua desobediência à ordem divina fora movido pelo mesmo espírito de oposição a Deus, e inspirado por Satanás tão realmente como são os que praticam a feitiçaria; e, ao ser reprovado, acrescentou a teimosia à rebelião. Não poderia ter oferecido maior insulto ao Espírito de Deus, se abertamente se tivesse unido aos idólatras. PP 469 1 É um perigoso passo menosprezar as reprovações e advertências da Palavra de Deus ou de Seu Espírito. Muitos, como Saul, rendem-se à tentação até que se tornam cegos ao verdadeiro caráter do pecado. Lisonjeiam-se de que tiveram em vista algum bom objetivo, e não fizeram mal por se afastarem dos mandados do Senhor. Assim descontentam o Espírito da graça até que Sua voz não mais é ouvida, e são abandonados às ilusões que escolheram. PP 469 2 Na pessoa de Saul Deus dera a Israel um rei segundo o coração deles, conforme Samuel dissera quando o reino se confirmou a Saul, em Gilgal: "Vedes aí o rei que elegestes, e que pedistes". 1 Samuel 12:13. Garboso em sua aparência pessoal, de nobre estatura e porte principesco, seu parecer estava de acordo com as concepções que tinham da dignidade real; e seu valor pessoal e sua habilidade para dirigir exércitos eram qualidades que consideravam mais bem calculadas para conseguirem o respeito e a honra de outras nações. Pouca solicitude experimentavam quanto a possuir o seu rei aquelas qualidades mais elevadas que unicamente poderiam habilitá-lo a governar com justiça e eqüidade. Não pediram alguém que tivesse a verdadeira nobreza de caráter, que possuísse o amor e o temor de Deus. Não procuraram o conselho de Deus quanto às qualidades que um governante deveria possuir, a fim de preservar o caráter distintivo e santo deles como Seu povo escolhido. Não estavam a procurar o caminho de Deus, mas o seu próprio caminho. Portanto Deus lhes deu um rei tal como desejavam -- rei este cujo caráter era o reflexo do deles. Seus corações não estavam em submissão a Deus, e seu rei também não era dominado pela graça divina. Sob o governo deste rei, obteriam a experiência necessária para poderem ver seu erro, e voltarem à sua fidelidade para com Deus. PP 469 3 Contudo, tendo o Senhor posto sobre Saul a responsabilidade do reino, não o deixou entregue a si mesmo. Fez com que o Espírito Santo repousasse sobre Saul para revelar-lhe suas fraquezas, e sua necessidade de graça divina; e, se Saul tivesse depositado confiança em Deus, teria Deus estado com ele. Enquanto sua vontade foi dirigida pela vontade de Deus, enquanto se entregou à disciplina de Seu Espírito, Deus pôde coroar de êxito os seus esforços. Mas, quando Saul preferiu agir independentemente de Deus, o Senhor não mais pôde ser seu guia, e foi obrigado a pô-lo de parte. Então Ele chamou ao trono "um homem segundo o Seu coração" (1 Samuel 13:14); não um que fosse irrepreensível em seu caráter, mas que, em vez de confiar em si, confiaria em Deus, e seria guiado por Seu Espírito; que, ao pecar, sujeitar-se-ia à reprovação e correção. ------------------------Capítulo 62 -- A unção de Davi PP 470 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 16:1-13. PP 470 1 A alguns quilômetros ao sul de Jerusalém, "a cidade do grande Rei", acha-se Belém, onde nasceu Davi, filho de Jessé, mais de mil anos antes que o menino Jesus tivesse por berço uma manjedoura, e fosse adorado pelos magos do Oriente. Séculos antes do advento do Salvador, Davi, no frescor da meninice, vigiava seus rebanhos enquanto pastavam nas colinas próximas a Belém. O singelo pastorzinho cantava as canções de sua própria composição, e a música de sua harpa lhe fazia um suave acompanhamento à melodia da límpida voz juvenil. O Senhor escolhera a Davi, e o estava preparando, em sua vida solitária com os seus rebanhos, para a obra que era Seu desígnio confiar-lhe nos anos posteriores. PP 470 2 Enquanto Davi estava assim a viver no retiro de sua vida humilde de pastor, o Senhor Deus estava a falar a respeito dele ao profeta Samuel. "Então disse o Senhor a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o Eu o rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite, e vem, enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos Me tenho provido de um rei. [...] Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos, e dize: Vim para sacrificar ao Senhor. E convidarás a Jessé ao sacrifício, e Eu te farei saber o que hás de fazer, e ungir-Me-ás a quem Eu te disser. Fez, pois, Samuel o que dissera o Senhor, e veio a Belém; então os anciãos da cidade saíram ao encontro, tremendo, e disseram: De paz é a tua vinda? E ele disse: É de paz". 1 Samuel 16:1, 5. Os anciãos aceitaram o convite ao sacrifício, e Samuel chamou também Jessé e seus filhos. O altar foi construído, e o sacrifício estava pronto. Toda a casa de Jessé estava presente, com exceção de Davi, o filho mais moço, que ficara a guardar as ovelhas, pois que não era seguro deixar os rebanhos sem proteção. PP 470 3 Quando terminou o sacrifício, e antes de participarem do banquete sacrifical, Samuel começou a sua inspeção profética dos filhos de Jessé, dotados de nobre aparência. Eliabe era o mais velho, e mais se parecia com Saul pela estatura e beleza do que os outros. Suas belas feições, e suas formas primorosamente desenvolvidas, atraíram a atenção do profeta. Ao olhar Samuel para o seu porte principesco, pensou: "Este é na verdade o homem que Deus escolheu para sucessor de Saul", e esperou a sanção divina para que o pudesse ungir. Mas Jeová não olhava para a aparência exterior. Eliabe não temia ao Senhor. Se ele tivesse sido chamado ao trono, teria sido um governante orgulhoso e opressor. A palavra do Senhor a Samuel foi: "Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." Nenhuma beleza exterior pode recomendar a alma a Deus. A sabedoria e a excelência reveladas no caráter e comportamento exprimem a verdadeira beleza do homem; e é o valor íntimo, a excelência do coração o que determina nossa aceitação por parte do Senhor dos exércitos. Quão profundamente devemos sentir esta verdade no juízo a nós mesmos e a outrem! Podemos aprender pelo engano de Samuel quão vã é a apreciação que repousa na beleza do rosto ou no porte nobre da estatura. Podemos ver quão incapaz é a sabedoria do homem para compreender os segredos do coração, ou os conselhos de Deus, sem esclarecimento especial do Céu. Os pensamentos e caminhos de Deus em relação às Suas criaturas estão acima da nossa mente finita; mas podemos estar certos de que Seus filhos serão levados a preencher precisamente o lugar para que estão habilitados, e estarão aptos para cumprir o próprio trabalho confiado às suas mãos, se tão-somente sujeitarem sua vontade a Deus, a fim de que Seus planos beneficentes não sejam frustrados pela perversidade do homem. PP 471 1 Eliabe saiu de sob a inspeção de Samuel, e os seis irmãos que estavam assistindo à cerimônia religiosa vieram a seguir, a ser observados sucessivamente pelo profeta; mas o Senhor não indicou a Sua escolha em favor de qualquer deles. Com uma incerteza dolorosa Samuel tinha olhado para o último dos moços; o profeta estava perplexo e confuso. Perguntou a Jessé: "Acabaram-se os mancebos?" O pai respondeu: "Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas." Samuel determinou que ele fosse chamado, dizendo: "Não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui". 1 Samuel 16:6, 7, 11. PP 471 2 O solitário pastor ficou sobressaltado com o inesperado chamado do mensageiro, que anunciou que o profeta viera a Belém e o mandara chamar. Com surpresa perguntou por que o profeta e juiz de Israel desejava falar com ele; mas sem demora obedeceu à chamada. "E era ruivo e formoso de semblante e de boa presença." Ao ver Samuel com prazer o pastorzinho formoso, viril e modesto, a voz do Senhor falou ao profeta, dizendo: "Levanta-te, e unge-o, porque este mesmo é." Davi havia-se mostrado bravo e fiel no humilde ofício de pastor, e agora Deus o escolhera para ser o capitão de Seu povo. "Então Samuel tomou o vaso do azeite, e ungiu-o no meio de [dentre] seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor Se apoderou de Davi". 1 Samuel 16:12, 13. O profeta tinha cumprido o trabalho que lhe havia sido designado, e com coração aliviado voltou a Ramá. PP 471 3 Samuel não tinha dado a conhecer a sua missão, mesmo à família de Jessé, e a cerimônia da unção de Davi fora efetuada secretamente. Foi aquilo uma indicação ao jovem acerca do alto destino que o aguardava, a fim de que, por entre todas as experiências variadas e perigos de seus anos vindouros, tal conhecimento pudesse inspirá-lo a ser fiel ao propósito de Deus que deveria ser cumprido por sua vida. PP 472 1 A grande honra conferida a Davi não teve como resultado ensoberbecê-lo. Apesar do elevado cargo que deveria ocupar, continuou silenciosamente com sua ocupação, contente com esperar o desenvolvimento dos planos do Senhor, no tempo e maneira que Lhe aprouvessem. Tão humilde e modesto como antes de sua unção, o pastorzinho voltou às colinas, e vigiava e guardava seus rebanhos com tanta ternura como sempre. Com nova inspiração, porém, compunha suas melodias, e tocava em sua harpa. Diante dele se estendia uma paisagem de rica e variada beleza. As videiras, com seus cachos, resplandeciam à luz solar. As árvores da floresta, com sua verde folhagem, inclinavam-se com a brisa. Via o Sol inundando os céus de luz, saindo como o noivo de sua câmara, e regozijando-se como um herói a percorrer o seu caminho. Havia os altivos cumes dos montes, dirigindo-se para os céus; a grande distância erguiam-se os áridos penhascos da muralha montanhosa de Moabe; por cima de tudo estendia-se o suave azul da abóbada dos céus. E além estava Deus. Ele não O podia ver, mas Suas obras estavam cheias de Seu louvor. A luz do dia, dourando a floresta e a montanha, prados e ribeiros, elevava a mente a ver o Pai das luzes, o Autor de toda a boa e perfeita dádiva. Revelações diárias do caráter e majestade de seu Criador enchiam o coração do jovem poeta, de adoração e regozijo. Na contemplação de Deus e Suas obras, as faculdades do espírito e coração de Davi estavam a desenvolver-se e a fortalecer para a obra de sua vida posterior. Ele diariamente vinha a ter uma comunhão mais íntima com Deus. Sua mente estava constantemente a penetrar novas profundidades, à busca de novos assuntos para inspirar seus cânticos e despertar a música de sua harpa. A pujante melodia de sua voz, derramada no ar, ecoava nas colinas como que em resposta ao regozijo do cântico dos anjos no Céu. PP 472 2 Quem pode medir os resultados daqueles anos de labuta e vaguear entre as solitárias colinas? A comunhão com a natureza e com Deus, o cuidado de seus rebanhos, os perigos e os livramentos, os pesares e as alegrias, coisas que eram próprias à sua humilde condição, não somente deviam modelar o caráter de Davi, e influenciar na sua vida futura, mas também deveriam, mediante os salmos do suave cantor de Israel, e em todas as eras vindouras, acender o amor e a fé nos corações do povo de Deus, levando-os mais perto do coração sempre amante dAquele em quem vivem todas as Suas criaturas. PP 472 3 Davi, na beleza e vigor de sua jovem varonilidade, estava se preparando para assumir uma elevada posição, entre os mais nobres da Terra. Seus talentos, como dons preciosos de Deus, eram empregados para exaltar a glória do Doador divino. Suas oportunidades para a contemplação e meditação serviam para enriquecê-lo daquela sabedoria e piedade, que o tornavam amado de Deus e dos anjos. Contemplando ele as perfeições de seu Criador, mais claras concepções de Deus desvendavam-se perante sua alma. Eram iluminados assuntos obscuros, dificuldades eram explanadas, harmonizadas perplexidades, e cada raio de nova luz provocava novas expansões de júbilo, e mais suaves antífonas de devoção, para a glória de Deus e do Redentor. O amor que o movia, as tristezas que o assediavam, os triunfos que o acompanhavam, tudo eram assuntos para o seu ativo pensamento; e, ao ver o amor de Deus em todas as providências de sua vida, seu coração palpitava com mais fervorosa adoração e gratidão, sua voz soava com mais magnificente melodia, sua harpa era dedilhada com alegria mais exultante; e o jovem pastor ia de força em força, de conhecimento em conhecimento; pois o Espírito do Senhor estava sobre ele. ------------------------Capítulo 63 -- Davi e Golias PP 474 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 16:14-23; 17. PP 474 1 Quando o rei Saul compreendeu que havia sido rejeitado por Deus, e quando sentiu a força das palavras de acusação que tinham sido dirigidas a ele pelo profeta, encheu-se de amargurada rebelião e desespero. Não era o verdadeiro arrependimento que curvava a cabeça orgulhosa do rei. Ele não tinha uma percepção clara do caráter ofensivo de seu pecado, e não se entregou ao trabalho de reformar sua vida, mas preocupava-se com o que julgava ser uma injustiça de Deus despojando-o do trono de Israel, e tirando de sua posteridade a sucessão. Estava sempre preocupado antevendo a ruína que havia sido acarretada sobre sua casa. Entendia que o valor que tinha ostentado no encontro com seus inimigos, removeria seu pecado de desobediência. Não aceitou com mansidão o castigo de Deus; mas desesperou-se o seu espírito altivo até que ele ficou a ponto de quase perder a razão. Seus conselheiros sugeriram-lhe procurar os serviços de um músico hábil, na esperança de que as notas calmantes de um instrumento suave lhe serenassem o espírito perturbado. Na providência de Deus, Davi, como hábil executor de harpa, foi trazido perante o rei. Seus acordes sublimes e de inspiração celestial tiveram o desejado efeito. A acalentada melancolia que, semelhante a uma nuvem negra, se fixara no espírito de Saul, desapareceu como por encanto. PP 474 2 Quando seus serviços não eram exigidos na corte de Saul, Davi voltava aos seus rebanhos entre as colinas, e continuava a manter sua simplicidade de espírito e maneiras. Quando quer que fosse necessário, era novamente chamado para servir perante Saul, a fim de suavizar a mente do conturbado rei até que o espírito mau se afastasse dele. Mas, embora Saul exprimisse seu deleite pela presença de Davi e pela sua música, o jovem pastor ia da casa do rei aos campos e colinas de suas pastagens com uma sensação de alívio e alegria. PP 474 3 Davi crescia no favor de Deus e dos homens. Ele tinha sido instruído no caminho do Senhor, e agora dispusera seu coração a fazer a vontade de Deus, mais amplamente do que nunca. Tinha novos assuntos para meditação. Estivera na corte do rei, e vira a responsabilidade da realeza. Descobrira algumas das tentações que assediavam a alma de Saul, e penetrara alguns dos mistérios no caráter e trato do primeiro rei de Israel. Vira a glória da realeza ensombrada pela escura nuvem da tristeza, e compreendeu que a casa de Saul, em sua vida particular, estava longe de ser feliz. Todas estas coisas serviam para trazer pensamentos inquietadores àquele que fora ungido para ser rei de Israel. Mas, quando se achava absorto em profunda meditação, e perseguido por pensamentos de ansiedade, volvia à sua harpa, e arrancava acordes que elevavam seu espírito ao Autor de todo o bem, e dissipavam-se as negras nuvens que pareciam obscurecer o horizonte do futuro. PP 475 1 Deus estava a ensinar a Davi lições de confiança. Assim como Moisés foi preparado para o seu trabalho, assim o Senhor estava habilitando o filho de Jessé a tornar-se o guia de Seu povo escolhido. Em seu vigilante cuidado pelos seus rebanhos, estava a adquirir uma apreciação dos cuidados que o grande Pastor tem pelas ovelhas de Seu pasto. PP 475 2 As solitárias colinas e barrancos bravios onde vagueava Davi com seus rebanhos, eram o esconderijo de feras rapinantes. Freqüentemente o leão dos matagais ao lado do Jordão, ou o urso saindo de seu covil entre as colinas, vinham, ferozes e famintos, atacar os rebanhos. Segundo o costume de seu tempo, Davi estava armado apenas com sua funda e com o cajado de pastor; contudo, cedo deu ele provas de sua força e coragem ao proteger o que se achava sob sua guarda. Depois de descrever estes encontros, ele disse: "E vinha um leão e um urso, e tomava uma ovelha do rebanho; e eu saí após ele, e o feri, e livrei-a da sua boca; e, levantando-se ele contra mim, lancei-lhe mão da barba, e o feri, e o matei". 1 Samuel 17:34, 35. Sua experiência nestas coisas provou o coração de Davi, e desenvolveu nele coragem, força e fé. PP 475 3 Mesmo antes que fosse chamado à corte de Saul, Davi se havia distinguido por ações de valor. O oficial que o levou ao conhecimento do rei, declarou ser ele "valente e animoso, e homem de guerra, e sisudo em palavras", e disse: "O Senhor é com ele". 1 Samuel 16:18. PP 475 4 Quando Israel declarou guerra contra os filisteus, três dos filhos de Jessé tomaram parte no exército sob o comando de Saul; Davi, porém, ficou em casa. Depois de algum tempo, entretanto, foi visitar o arraial de Saul. Por determinação de seu pai devia levar uma mensagem e um presente a seus filhos mais velhos, e saber se ainda estavam livres de perigo e em saúde. Mas, sem que Jessé o soubesse, o jovem pastor tinha sido incumbido de uma missão mais alta. Os exércitos de Israel estavam em perigo, e por um anjo fora determinado a Davi salvar o seu povo. PP 475 5 Aproximando-se Davi do exército, ouviu o ruído de uma comoção, como se uma luta estivesse prestes a ter início. E "o arraial saía em ordem de batalha, e a gritos chamavam à peleja". 1 Samuel 17. Israel e os filisteus tomaram posição, exército contra exército. Davi correu para o exército, aproximou-se e saudou seus irmãos. Enquanto estava a conversar com eles, Golias, o campeão dos filisteus, veio à frente, e com uma linguagem insultante menosprezou a Israel, e desafiou-os a que arranjassem um homem dentre suas fileiras que o quisesse enfrentar em um combate individual. Repetiu o desafio, e, quando Davi viu que todo Israel estava cheio de medo, e soube que a afronta do filisteu lhes era atirada dia após dia, sem que despertasse um campeão para silenciar o jactancioso, seu espírito se agitou dentro dele. Inflamou-se de zelo para preservar a honra do Deus vivo, e o crédito de Seu povo. PP 476 1 O exército de Israel estava abatido. Sua coragem faltara. Diziam uns aos outros: "Vistes aquele homem que subiu? pois subiu para afrontar a Israel." Com vergonha e indignação exclamou Davi: "Quem é, pois, este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?" 1 Samuel 17:25, 26. PP 476 2 Eliabe o irmão mais velho de Davi, quando ouviu estas palavras, bem compreendeu os sentimentos que agitavam a alma do jovem. Mesmo como pastor, Davi tinha manifestado ousadia, coragem e força, como raramente se vêem; e a visita misteriosa de Samuel à casa de seu pai, e sua partida silenciosa, haviam despertado na mente dos irmãos suspeitas do objetivo real de sua visita. Seu ciúme tinha sido suscitado, vendo Davi mais honrado do que eles; e não o consideraram com o respeito e amor devidos à sua integridade e ternura fraternal. Consideravam-no meramente como um rapaz pastor, e agora a pergunta que ele fez foi tida por Eliabe como uma censura à sua covardia por não fazer nenhuma tentativa para reduzir ao silêncio o gigante dos filisteus. O irmão mais velho exclamou com ira: "Por que desceste aqui? e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? bem conheço a tua presunção, e a maldade de teu coração, que desceste para ver a peleja." A resposta de Davi foi respeitosa, mas decidida: "Que fiz eu agora? porventura não há razão para isso?" PP 476 3 As palavras de Davi foram referidas ao rei, que chamou o jovem diante de si. Saul ouviu com espanto as palavras do pastor, quando ele disse: "Não desfaleça o coração de ninguém por causa dele; teu servo irá e pelejará contra este filisteu." Saul esforçou-se por demover a Davi de seu propósito, mas o jovem não podia ser abalado. Respondeu de maneira simples, despretensiosa, relatando suas experiências na guarda dos rebanhos de seu pai. E disse: "O Senhor me livrou da mão do leão e da do urso; Ele me livrará da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai-te embora, e o Senhor seja contigo." PP 476 4 Durante quarenta dias o exército de Israel havia tremido diante do altivo desafio do gigante filisteu. O coração desfalecia dentro deles ao olharem para suas formas sólidas, medindo de altura seis côvados e um palmo. Trazia à cabeça um capacete de bronze, e achava-se vestido de uma cota de malha que pesava cinco mil ciclos, e tinha grevas* de bronze sobre as pernas. A cota* era feita de lâminas de bronze que se sobrepunham umas às outras, semelhantes às escamas de um peixe, e estavam tão intimamente unidas que nenhum dardo, ou seta poderia de qualquer maneira penetrar na armadura. Às costas trazia o gigante um enorme dardo, ou lança, também de bronze. "A haste da sua lança era como eixo do tecelão, e o ferro da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o escudeiro". 1 Samuel 17:7. PP 477 1 Pela manhã e à tarde Golias havia se aproximado do acampamento de Israel, dizendo com grande voz: "Para que saireis a ordenar a batalha? Não sou eu filisteu e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça a mim. Se ele puder pelejar comigo, e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer, e o ferir, então sereis nossos servos, e nos servireis. Disse mais o filisteu: Hoje desafio as companhias de Israel, dizendo: Dai-me um homem, para que ambos pelejemos". 1 Samuel 17:29, 37, 10. PP 477 2 Embora Sul tivesse dado a Davi permissão para aceitar o desafio de Goleias, o rei tinha pouca esperança que Davi fosse bem-sucedido em sua ousada empresa. Foi dada ordem para vestir o jovem na própria armadura do rei. O pesado capacete de bronze foi-lhe posto na cabeça, e a cota de malha sobre o corpo; a espada do rei estava ao seu lado. Assim aparelhado saiu ele para desempenhar sua incumbência; mas não demorou muito para que começasse a retroceder. O primeiro pensamento na mente dos espectadores ansiosos, foi que Davi se resolvera a não arriscar sua vida enfrentando um antagonista em um encontro tão desigual. Mas isto estava longe do pensamento do bravo moço. Voltando a Saul, pediu permissão para tirar a pesada armadura, dizendo: "Não posso andar com isto, pois nunca o experimentei." Tirou a armadura do rei, e em lugar da mesma tomou apenas seu cajado, com seu alforje de pastor, e uma simples funda. Escolhendo cinco pedras lisas do ribeiro, pô-las no surrão, e, com a funda na mão, aproximou-se do filisteu. O gigante deu ousadamente grandes passos para a frente, esperando encontrar o mais poderoso dos guerreiros de Israel. Seu escudeiro ia adiante dele, e parecia como se nada lhe pudesse resistir. Ao aproximar-se mais de Davi, não viu senão um rapaz, que se podia dizer menino, pela sua idade. O rosto de Davi era rubro pela saúde, e seu talhe firme, desprotegido de armadura, mostrava-se exposto; contudo, entre seu perfil de moço e as sólidas proporções do filisteu havia um acentuado contraste. PP 477 3 Golias encheu-se de surpresa e ira. "Sou eu algum cão", exclamou ele, "para tu vires a mim com paus?" Então derramou sobre Davi as mais terríveis maldições por todos os deuses que conhecia. E bradou com escárnio: "Vem a mim, e darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo". 1 Samuel 17:44. PP 477 4 Davi não fraqueou diante do campeão dos filisteus. Dando passos à frente, disse ao seu antagonista: "Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão, e ferir-te-ei, e te tirarei a cabeça, e os corpos do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às bestas da terra; e toda a terra saberá que há Deus em Israel. E saberá toda esta congregação que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra, e Ele vos entregará na nossa mão". 1 Samuel 17:39, 43-47. PP 478 1 Havia um tom de intrepidez em sua voz, um aspecto de triunfo e regozijo em seu belo rosto. Tal discurso, feito com uma voz clara e melodiosa, repercutiu no ar, e foi ouvido distintamente pelos milhares que, arregimentados para a guerra, escutavam. A ira de Golias subiu até ao mais alto ponto. Em sua raiva empurrou o capacete que lhe protegia a testa, e lançou-se para a frente a fim de desforrar-se de seu oponente. O filho de Jessé preparava-se para o seu adversário. "E sucedeu que, levantando-se o filisteu e indo encontrar-se com Davi, apressou-se Davi e correu ao combate, a encontrar-se com o filisteu. E Davi meteu a mão no alforje, e tomou dali uma pedra, e com a funda lha atirou, e feriu o filisteu na testa, e a pedra se lhe cravou na testa, e caiu sobre o seu rosto em terra". 1 Samuel 17:48, 49. PP 478 2 O espanto estendeu-se pelas fileiras dos dois exércitos. Estavam certos de que Davi seria morto; mas, quando a pedra saiu zunindo pelo ar, diretamente ao alvo, viram o grande guerreiro tremer, distender as mãos, como se estivesse ferido de súbita cegueira. O gigante vacilou, cambaleou, e, qual carvalho ferido, tombou ao chão. Davi não esperou um momento sequer. Saltou sobre o corpo prostrado do filisteu, e com ambas as mãos apoderou-se da pesada espada de Golias. Um momento antes o gigante se jactara de que com ela separaria dos ombros a cabeça do jovem, e daria seu corpo às aves do céu. Agora foi ela erguida ao ar, então a cabeça do fanfarrão rolou desligando-se do tronco, e um brado de exultação subiu do acampamento de Israel. PP 478 3 Os filisteus foram tomados de terror, e a confusão que se seguiu teve como resultado uma retirada precipitada. As aclamações dos hebreus triunfantes ecoavam pelos cumes das montanhas e alcançavam os inimigos que fugiam; e eles "seguiram os filisteus, até chegar ao vale, e até às portas de Ecrom; e caíram os feridos dos filisteus pelo caminho de Saaraim até Gate e até Ecrom. Então voltaram os filhos de Israel de perseguirem os filisteus, e despojaram os seus arraiais. E Davi tomou a cabeça do filisteu, e a trouxe a Jerusalém; porém pôs as armas dele na sua tenda". 1 Samuel 17:48, 49, 52-54. ------------------------Capítulo 64 -- A fuga de Davi PP 479 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 18-22. PP 479 1 Depois de matar Golias, Saul conservou Davi consigo, e não permitiu que voltasse à casa de seu pai. E aconteceu que "a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma". Jônatas e Davi fizeram um concerto para serem unidos como irmãos, e o filho do rei "se despojou da capa que trazia sobre si, a deu a Davi, como também os seus vestidos, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto". A Davi foram confiadas importantes responsabilidades; todavia ele conservou sua modéstia, e ganhou a afeição do povo bem como da casa real. PP 479 2 "Saía Davi aonde quer que Saul o enviava, e conduzia-se com prudência, e Saul o pôs sobre a gente de guerra". 1 Samuel 18:1, 4, 5. Davi era prudente e fiel, e era evidente que a bênção de Deus estava com ele. Saul por vezes se compenetrava de sua própria inaptidão para o governo de Israel, e entendia que o reino estaria mais livre de perigo se pudesse haver ligado com ele alguém que recebesse instrução do Senhor. Saul esperava também que sua associação com Davi fosse uma salvaguarda para si mesmo. Visto que Davi era favorecido e defendido pelo Senhor, sua presença poderia ser uma proteção a Saul quando com ele saía a guerrear. PP 479 3 Foi a providência de Deus que ligou Davi a Saul. O cargo de Davi na corte dar-lhe-ia conhecimento dos negócios desta, em seu preparo para a sua futura grandeza. Habilitá-lo-ia a captar a confiança da nação. Os sofrimentos e dificuldades que lhe ocorreram, em virtude da inimizade de Saul levá-lo-iam a sentir sua dependência de Deus, e a depositar nEle toda a sua confiança. E a amizade de Jônatas por Davi era também da providência de Deus, a fim de preservar a vida do futuro governante de Israel. Em todas estas coisas, Deus estava levando a efeito Seus propósitos de graça, tanto em favor de Davi como do povo de Israel. PP 479 4 Saul, entretanto, não permaneceu muito tempo amigo de Davi. Quando Saul e Davi voltavam da batalha aos filisteus, "as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando, e dançando, com adufes, com alegria, e com instrumentos de música". Um grupo cantava: "Saul feriu os seus milhares", enquanto o outro grupo apanhava o estribilho, e respondia: "Porém Davi os seus dez milhares." O demônio da inveja entrou no coração do rei. Ficou irado porque Davi era mais exaltado que ele no cântico das mulheres de Israel. Em vez de subjugar estes sentimentos de inveja, manifestou a fraqueza de seu caráter, e exclamou: "Dez milhares deram a Davi, e a mim somente milhares; na verdade, que lhe falta senão só o reino?" 1 Samuel 18:6-8. PP 480 1 Um grande defeito no caráter de Saul era seu amor à aprovação. Esta característica tivera uma influência preponderante em suas ações e pensamentos; tudo se assinalava pelo seu desejo de louvor e exaltação própria. Sua norma para o que era reto e aquilo que o não era, consistia no baixo padrão do aplauso popular. A pessoa que vive para agradar aos homens, e não procura primeiramente a aprovação de Deus, não está livre de perigo. Era a aspiração de Saul ser o primeiro na estima dos homens; e, quando foi entoado este cântico de louvor, uma firme convicção entrou no espírito do rei, de que Davi ganharia o coração do povo, e reinaria em seu lugar. PP 480 2 Saul abriu o coração ao espírito de inveja de que sua alma estava envenenada. Apesar das lições que havia recebido do profeta Samuel, dando-lhe a instrução de que Deus cumpriria o que quer que Ele desejasse, e que ninguém O poderia impedir, o rei demonstrou que não tinha verdadeiro conhecimento dos planos de Deus. O rei de Israel estava opondo sua vontade à do Ser infinito. Saul não tinha aprendido, enquanto governava o reino de Israel, que devia governar seu próprio espírito. Permitiu que os ímpetos lhe dirigissem o discernimento, até mergulhar-se no furor da paixão. Tinha ataques de raiva, ocasiões em que se dispunha a tirar a vida de qualquer que ousasse opor-se à sua vontade. Deste frenesi passava a um estado de desalento e desprezo de si mesmo, e o remorso se apoderava de seu coração. PP 480 3 Gostava de ouvir Davi tocar harpa, e o espírito mau parecia afastar-se como por encanto durante aquele tempo; um dia, porém, quando o jovem estava a servir perante ele, e de seu instrumento arrancava música suave, acompanhando sua voz a cantar os louvores de Deus, subitamente arremessou Saul a lança contra o músico com o intuito de dar fim à sua vida. Davi foi preservado pela intervenção de Deus, e ileso fugiu da ira do enfurecido rei. PP 480 4 Aumentando o ódio de Saul contra Davi, tornou-se ele cada vez mais atento para encontrar uma oportunidade a fim de lhe tirar a vida; mas nenhum de seus planos contra o ungido do Senhor foi bem-sucedido. Saul entregou-se ao domínio do espírito mau que o governava, ao passo que Davi confiava nAquele que é poderoso em conselho, e forte para livrar. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Provérbios 9:10) e a oração de Davi era continuamente dirigida a Deus, para que pudesse andar diante dEle de uma maneira perfeita. PP 480 5 Desejando libertar-se da presença de seu rival, o rei "o desviou de si, e o pôs por chefe de mil. [...] Porém todo o Israel e Judá amava a Davi". 1 Samuel 18:13, 16. O povo bem depressa viu que Davi era pessoa competente, e que os negócios entregues às suas mãos eram dirigidos com sabedoria e perícia. Os conselhos do moço eram de caráter sábio e discreto, e demonstraram a conveniência de segui-los, enquanto o juízo de Saul era por vezes indigno de confiança, e não prudentes as suas decisões. PP 481 1 Posto que Saul estivesse sempre alerta procurando uma oportunidade para destruir a Davi, tinha receio dele, visto ser evidente que o Senhor estava com ele. O caráter irrepreensível de Davi suscitou a ira do rei; ele imaginava que a própria vida e presença de Davi lançavam opróbrio sobre ele, visto que contrastadamente apresentavam com desvantagem o seu caráter. Era a inveja o que infelicitava a Saul, e punha em risco o humilde súdito de seu trono. Que mal indescritível tem feito em nosso mundo este mau traço de caráter! A mesma inimizade que moveu o coração de Caim contra seu irmão Abel, porque as obras de Abel eram justas, e Deus o honrava, e as suas eram más, e o Senhor o não podia abençoar, essa mesma inimizade existiu no coração de Saul. A inveja é filha do orgulho, e, se é alimentada no coração, determinará o ódio, e finalmente a vingança e o assassínio. Satanás mostrou seu próprio caráter, incitando o furor de Saul contra aquele que nunca lhe fizera mal. PP 481 2 O rei mantinha estrita vigilância sobre Davi, esperando encontrar-lhe alguma ocasião de indiscrição ou precipitação que pudesse servir como desculpa para acarretar-lhe a desonra. Entendia que não poderia ficar satisfeito antes que tirasse a vida do moço e ainda assim estivesse justificado perante a nação pelo seu mau ato. Pôs uma cilada para os pés de Davi, instando com ele para que dirigisse a guerra contra os filisteus com um vigor ainda maior, e prometendo, como recompensa ao seu valor, casamento com a filha mais velha da casa real. A resposta modesta de Davi a esta proposta foi: "Quem sou eu, e qual é a minha vida e a família de meu pai em Israel, para vir a ser genro do rei?" O rei manifestou sua insinceridade, dando a princesa em casamento a outro. PP 481 3 Uma afeição a Davi por parte de Mical, a filha mais moça de Saul, proporcionou ao rei outra oportunidade para tramar contra seu rival. A mão de Mical foi oferecida ao moço sob condição de ser apresentada a prova de derrota e morticínio de certo número de seus adversários nacionais: "Saul tentava fazer cair a Davi pela mão dos filisteus"; Deus, porém, protegeu o Seu servo. Davi voltou vitorioso da batalha, para tornar-se genro do rei. "Mical, filha de Saul, o amava" (1 Samuel 18:18, 25, 20), e o rei, enraivecido, viu que suas tramas haviam resultado no engrandecimento daquele a quem procurava destruir. Estava ainda mais certo de que este era o homem que o Senhor dissera ser melhor do que ele, e que reinaria no trono de Israel, em seu lugar. Arremessando de si todo o disfarce, expediu uma ordem a Jônatas e aos oficiais da corte para tirarem a vida daquele a quem odiava. PP 481 4 Jônatas revelou a intenção do rei a Davi, e mandou-o que se escondesse, enquanto ele pleitearia com seu pai a fim de poupar a vida do libertador de Israel. Expôs ao rei o que Davi tinha feito para preservar a honra e mesmo a vida da nação, e que terrível crime repousaria sobre o assassino daquele que Deus usara para dispersar seus inimigos. Comoveu-se a consciência do rei, e abrandou-se-lhe o coração. "E jurou Saul: Vive o Senhor, que não morrerá". 1 Samuel 19:6. Davi foi trazido a Saul, e servia em sua presença, como havia feito anteriormente. PP 482 1 De novo foi declarada a guerra entre os israelitas e os filisteus, e Davi conduziu o exército contra os inimigos. Uma grande vitória foi ganha pelos hebreus, e o povo do reino louvou sua sabedoria e heroísmo. Isto serviu para instigar a anterior animosidade de Saul contra ele. Enquanto o moço tocava perante o rei, enchendo o palácio de suave harmonia, a paixão de Saul venceu-o e ele arremessou um dardo contra Davi, julgando pregar o músico na parede; mas o anjo do Senhor desviou a arma mortífera. Davi escapou e fugiu para sua casa. Saul mandou espias para que o prendessem quando saísse pela manhã, e dessem fim à sua vida. PP 482 2 Mical informou Davi do intuito de seu pai. Insistiu com ele para que fugisse para salvar a vida, e desceu-o pela janela, possibilitando-lhe assim escapar. Ele fugiu a Samuel em Ramá, e o profeta, sem temer o desagrado do rei, recebeu com satisfação o fugitivo. O lar de Samuel era um lugar pacífico em contraste com o palácio real. Foi ali, entre as colinas, que o honrado servo do Senhor continuou a sua obra. Um grupo de videntes estava com ele e estudavam minuciosamente a vontade de Deus, escutando com reverência as palavras de instrução que caíam dos lábios de Samuel. Preciosas foram as lições que Davi aprendeu do mestre de Israel. Davi acreditava que as tropas de Saul não receberiam ordem para invadir aquele local sagrado; mas lugar algum parecia sagrado à mente entenebrecida do desesperado rei. A ligação de Davi com Samuel suscitou o ciúme do rei, com o receio de que aquele que era por todo o Israel reverenciado como o profeta de Deus, emprestasse sua influência para a ascensão do rival de Saul. Quando o rei soube onde Davi se achava, enviou oficiais para o trazerem a Gibeá, onde tencionava executar seu intuito assassino. PP 482 3 Os mensageiros partiram, decididos a tirarem a vida a Davi; mas Alguém, que era maior do que Saul, dirigiu-os. Encontraram-se com anjos invisíveis, como se deu com Balaão quando estava a caminho para amaldiçoar Israel. Começaram a proferir dizeres proféticos sobre o que ocorreria no futuro, e proclamavam a glória e majestade de Jeová. Assim Deus governou a ira do homem, em prol de Seus intuitos, e manifestou Seu poder para restringir o mal, enquanto entrincheirou Seu servo com uma guarda de anjos. PP 482 4 A notícia chegou a Saul enquanto avidamente esperava ter Davi em seu poder; mas, em vez de sentir a repreensão de Deus, ficou ainda mais exasperado, e enviou outros mensageiros. Estes também foram superados pelo Espírito de Deus, e uniram-se aos primeiros a profetizar. Terceira embaixada foi enviada pelo rei; mas, quando chegaram aos profetas, a influência divina caiu sobre eles, também, e profetizavam. Saul então resolveu ir ele próprio, pois que sua atroz inimizade se tornara ingovernável. Decidiu-se a não esperar outra oportunidade para matar a Davi; logo que ele estivesse ao seu alcance tencionava matá-lo com sua própria mão, quaisquer que fossem as conseqüências. PP 483 1 Mas um anjo de Deus encontrou-o no caminho, e tomou domínio dele. O Espírito de Deus continha-o em Seu poder, e ele prosseguiu a dizer orações a Deus, entremeadas de predições e melodias sagradas. Profetizava a respeito do Messias vindouro, como o Redentor do mundo. Quando chegou à casa do profeta em Ramá, tirou as vestes de cima, que indicavam a sua posição social, e todo o dia e toda a noite manteve-se diante de Samuel e seus discípulos, sob a influência do Espírito divino. O povo juntou-se para ver esta cena estranha, e a experiência do rei foi relatada por toda parte. Assim, de novo, perto do final de seu reino, tornou-se um provérbio em Israel que Saul também estava entre os profetas. PP 483 2 Novamente fracassou o perseguidor em seus intuitos. Afirmou a Davi que estava em paz com ele; mas Davi tinha pouca confiança no arrependimento do rei. Aproveitou esta oportunidade para escapar, receoso de que a disposição de ânimo do rei mudasse, como anteriormente. Seu coração estava ferido dentro de si, e anelava ver mais uma vez seu amigo Jônatas. Cônscio de sua inocência, procurou o filho do rei, e fez um apelo muitíssimo tocante. "Que fiz eu?" perguntou ele; "qual é o meu crime? e qual é o meu pecado diante de teu pai, que procura tirar-me a vida?" Jônatas acreditava que seu pai tinha mudado de propósito, e não mais tencionava tirar a vida de Davi. E lhe disse: "Tal não seja; não morrerás. Eis que meu pai não faz coisa nenhuma grande, nem pequena, sem primeiro me dar parte; por que pois meu pai me encobriria este negócio? não é assim." Jônatas não podia crer que, depois da notável exibição do poder de Deus, seu pai ainda faria mal a Davi, visto que tal ato seria manifesta rebelião contra Deus. Mas Davi não estava convencido. Com grande veemência declarou a Jônatas: "Vive o Senhor, e vive a tua alma, que apenas há um passo entre mim e a morte". 1 Samuel 20:1, 2. PP 483 3 Por ocasião da lua nova, celebrava-se uma festividade sagrada em Israel. Esta festa ocorreu no dia seguinte ao da entrevista de Davi e Jônatas. Esperava-se que neste festim ambos os moços comparecessem à mesa do rei; mas Davi receou estar presente, e tomaram-se disposições para que ele fosse visitar seus irmãos em Belém. À sua volta devia esconder-se em um campo não longe da sala do banquete, ausentando-se durante três dias da presença do rei; e Jônatas notaria o efeito disto sobre Saul. Se este perguntasse sobre o paradeiro do filho de Jessé, Jônatas devia dizer que ele tinha ido à sua casa a fim de assistir ao sacrifício oferecido pela casa de seu pai. Se nenhuma demonstração de ira fosse dada pelo rei, mas respondesse ele: "Está bem", não haveria então perigo a Davi em voltar à corte. Mas, se ficasse irado com sua ausência, isto resolveria a questão da fuga de Davi. PP 484 1 No primeiro dia da festa o rei não fez pergunta alguma quanto à ausência de Davi; mas, quando seu lugar se achou vago no segundo dia, perguntou: "Por que não veio o filho de Jessé nem ontem nem hoje a comer pão? E respondeu Jônatas a Saul: Davi me pediu encarecidamente que o deixasse ir a Belém, dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto a nossa linhagem tem um sacrifício na cidade, e meu irmão mesmo me mandou ir; se pois agora tenho achado graça em teus olhos, peço-te que me deixes partir, para que veja meus irmãos. Por isso não veio à mesa do rei". 1 Samuel 20:7, 27-29. Quando Saul ouviu estas palavras, sua ira foi indomável. Declarou que, enquanto Davi vivesse, Jônatas não poderia subir ao trono de Israel, e exigiu que imediatamente se mandasse buscar a Davi a fim de que fosse morto. Jônatas de novo intercedeu por seu amigo, rogando: "Por que há de ele morrer? Que tem feito?" Este apelo ao rei apenas o tornou mais satânico em seu furor, e a lança que ele destinava a Davi arremessou-a contra seu filho. PP 484 2 O príncipe ficou magoado e indignado, e deixando a presença do rei, não mais foi conviva no festim. Sua alma estava abatida de tristeza, quando, na ocasião aprazada, compareceu ao local em que Davi saberia das intenções do rei em relação a ele. Caíram ao pescoço um do outro, e choraram amarguradamente. A negra paixão do rei lançava sombra à vida dos jovens, e seu pesar era por demais intenso para que se pudesse exprimir. As últimas palavras de Jônatas caíram aos ouvidos de Davi, ao separarem-se eles para seguirem seus caminhos diferentes: "Vai-te em paz. O que nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha semente e a tua semente, seja perpetuamente". 1 Samuel 20:32, 42. PP 484 3 O filho do rei voltou a Gibeá, e Davi apressou-se a chegar em Nobe, cidade poucos quilômetros distante, e também pertencente à tribo de Benjamim. O tabernáculo tinha sido levado de Siló a este lugar, e ali ministrava Aimeleque, sumo sacerdote. Davi não sabia para onde fugir em busca de refúgio, a não ser para o servo de Deus. O sacerdote olhou para ele com espanto, ao chegar à pressa, e aparentemente só, com o rosto assinalado pela ansiedade e tristeza. Indagou o que o levava ali. O moço estava com receio constante de ser descoberto, e em sua perplexidade recorreu ao engano. Davi disse ao sacerdote que fora enviado pelo rei com uma incumbência secreta, a qual exigia a máxima diligência. Nisto manifestou falta de fé em Deus, e seu pecado resultou em ocasionar a morte do sumo sacerdote. Tivesse declarado plenamente os fatos, e teria Aimeleque sabido o que fazer para lhe preservar a vida. Deus exige que a veracidade distinga Seu povo, mesmo no maior perigo. Davi pediu ao sacerdote cinco pães. Nada havia senão pão consagrado em poder do homem de Deus; mas Davi conseguiu remover seus escrúpulos e obteve os pães para matar a fome. PP 485 1 Um novo perigo apresentava-se agora. Doegue, o principal do pastores de Saul, que professara a fé dos hebreus, estava agora a pagar seus votos no lugar do culto. À vista deste homem, Davi resolveu arranjar à pressa outro lugar de refúgio, e obter alguma arma com que defender-se, caso se tornasse necessária a defesa. Pediu a Aimeleque uma espada, e foi-lhe dito não ter ele nenhuma, a não ser a de Golias, a qual fora guardada como uma relíquia no tabernáculo. Davi respondeu: "Não há outra semelhante; dá-ma". 1 Samuel 21:9. Sua coragem reviveu quando tomou a espada que uma ocasião usara para destruir o campeão dos filisteus. PP 485 2 Davi fugiu para Aquis, rei de Gate; pois achava que havia mais segurança no meio dos inimigos de seu povo do que nos domínios de Saul. Mas, referiu-se a Aquis que Davi era o homem que matara o campeão filisteu anos antes; e agora aquele que procurara refúgio entre os adversários de Israel, achou-se em grande perigo. Fingindo, porém, loucura, enganou seus inimigos, e assim escapou. PP 485 3 O primeiro erro de Davi foi sua falta de confiança em Deus, em Nobe, e o segundo seu engano diante de Aquis. Davi havia ostentado nobres traços de caráter, e seu valor moral conquistara-lhe favor entre o povo; mas, quando lhe sobreveio a provação, sua fé se abalou, e apareceu a fraqueza humana. Via em cada homem um espião e traidor. Em uma difícil emergência Davi olhara a Deus, com os olhos perseverantes da fé, e vencera o gigante filisteu. Acreditava em Deus, e avançou em Seu nome. Mas, ao ser perseguido, a perplexidade e angústia quase lhe esconderam da vista o Pai celestial. PP 485 4 Contudo, esta experiência estava servindo para ensinar sabedoria a Davi; pois levava-o a compenetrar-se de sua fraqueza, e da necessidade de constante dependência de Deus. Oh! quão preciosa é a doce influência do Espírito de Deus vindo ela às almas deprimidas e desesperançadas, encorajando os desfalecidos, fortalecendo os fracos, e comunicando coragem e auxílio aos provados servos do Senhor! Oh! que Deus é nosso Deus, o qual trata mansamente com os que erram, e manifesta Sua paciência e ternura na adversidade e quando somos vencidos por alguma grande tristeza! PP 485 5 Todo o fracasso por parte dos filhos de Deus é devido à sua falta de fé. Quando sombras rodeiam a alma, quando precisamos de luz e guia, devemos olhar para cima; há luz além das trevas. Davi não devia ter perdido a confiança em Deus por um momento sequer. Tinha motivos para confiar nEle: era o ungido do Senhor, e em meio de perigo havia sido protegido pelos anjos de Deus; fora armado de coragem para fazer coisas maravilhosas; e, se tão-somente afastasse seu espírito da situação angustiosa em que se achava colocado, e tivesse a lembrança do poder e majestade de Deus, teria estado em paz mesmo em meio das sombras da morte; podia com confiança ter repetido a promessa do Senhor: "As montanhas se desviarão, e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará". Isaías 54:10. PP 486 1 Entre as montanhas de Judá, procurou Davi refúgio da perseguição de Saul. Escapou para a caverna de Adulão, lugar este que, com uma pequena força, poderia ser mantido contra um grande exército. "E ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai, e desceram ali para ele." A família de Davi não podia considerar-se livre de perigo, sabendo que em qualquer ocasião as desarrazoadas suspeitas de Saul poderiam dirigir-se contra eles por causa de sua relação com Davi. Tinham agora sabido -- o que aliás estava sendo geralmente conhecido em Israel -- que Deus escolhera a Davi para futuro governante de Seu povo; e acreditavam que com ele estariam mais livres de perigos, embora fosse um fugitivo numa solitária caverna, do que poderiam estar enquanto expostos à fúria doida de um rei invejoso. PP 486 2 Na caverna de Adulão a família estava unida em simpatia e afeto. O filho de Jessé tangia a harpa e cantava melodiosamente: "Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!" Salmos 133:1. Ele tinha provado o amargor da desconfiança por parte de seus próprios irmãos; e a harmonia que tomara o lugar da discórdia trouxe alegria ao coração do exilado. Foi ali que Davi compôs o Salmo cinqüenta e sete. PP 486 3 Não demorou muito tempo que ao grupo de Davi se juntassem outras pessoas que desejavam escapar das exigências do rei. Havia muitos que tinham perdido a confiança no governante de Israel, pois podiam ver que não mais era ele guiado pelo Espírito do Senhor. "Todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso", recorreu a Davi, "e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens". 1 Samuel 22:2. Ali tinha Davi um pequeno reino, que lhe era próprio, e neste prevaleciam a ordem e a disciplina. Mas, mesmo em seu retiro nas montanhas, estava longe de se sentir livre de perigo; pois que recebia prova contínua de que o rei não havia abandonado seus propósitos homicidas. PP 486 4 Encontrou um refúgio para seus pais junto ao rei de Moabe, e então, advertido de perigo por um profeta do Senhor, fugiu de seu esconderijo para o bosque de Herete. A experiência por que Davi estava a passar, não era desnecessária ou infrutífera. Deus estava a proporcionar-lhe um curso disciplinar que o habilitaria a tornar-se um sábio general bem como um rei justo e misericordioso. Com seu grupo de fugitivos estava a adquirir preparo para assumir a obra que Saul, por causa de sua paixão assassina e cega indiscrição, estava se tornando inteiramente inapto a fazer. Os homens não podem afastar-se do conselho de Deus e conservarem ainda aquela calma e sabedoria que os habilitarão a agirem com justiça e discrição. Não há loucura tão terrível, tão sem esperanças, como a de seguir a sabedoria humana, sem a guia da sabedoria de Deus. PP 486 5 Saul estivera preparando-se para armar cilada a Davi, e capturá-lo na caverna de Adulão; e, quando foi descoberto que Davi havia deixado aquele lugar de refúgio, o rei ficou grandemente irado. A fuga de Davi era um mistério para Saul. Podia explicá-lo apenas pela crença de que tinha havido traidores no seu acampamento, os quais informaram o filho de Jessé quanto à sua aproximação e intuitos. PP 487 1 Afirmou a seus conselheiros que uma conspiração se formara contra ele, e, com o oferecimento de ricos presentes e cargos de honra, subornou-os para que revelassem a pessoa que entre seu povo favorecera a Davi. Doegue, o idumeu, fez-se informante. Movido pela ambição e cobiça, bem como pelo ódio ao sacerdote, que havia reprovado os seus pecados, relatou Doegue a visita de Davi a Aimeleque, apresentando isto sob uma luz tal que acendeu a ira de Saul contra o homem de Deus. As palavras daquela língua perniciosa, postas sobre o fogo do inferno, instigaram as piores paixões no coração de Saul. Enlouquecido de raiva, declarou que a família toda do sacerdote pereceria. E o terrível decreto foi executado. Não somente Aimeleque, mas os membros da casa de seu pai -- "oitenta e cinco homens que vestiam o éfode de linho" -- foram mortos por ordem do rei, pela mão assassina de Doegue. PP 487 2 "Também a Nobe, cidade destes sacerdotes, passou a fio de espada, desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de mama, e até os bois, jumentos e ovelhas". 1 Samuel 22:18, 19. Isto foi o que Saul pôde fazer sob o domínio de Satanás. Quando Deus dissera que a iniqüidade dos amalequitas estava completa, e lhe mandara destruí-los inteiramente, ele se julgou demasiadamente compassivo para executar a sentença divina, e poupou aquilo que estava votado à destruição; mas agora, sem ordem de Deus, sob a guia de Satanás, matou os sacerdotes do Senhor, e acarretou a destruição aos habitantes de Nobe. Tal é a perversidade do coração humano que recusa a guia de Deus. PP 487 3 Esse acontecimento encheu de horror todo o Israel. Fora o rei que eles tinham escolhido que cometera tal afronta; e fizera-o unicamente segundo a maneira dos reis de outras nações que não temiam a Deus. A arca estava com eles; mas os sacerdotes por meio de quem haviam feito indagação foram mortos com a espada. O que aconteceria a seguir? ------------------------Capítulo 65 -- A bondade de Davi PP 488 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 22:20-23; 23-27. PP 488 1 Depois do atroz morticínio dos sacerdotes do Senhor, ordenado por Saul, "escapou um dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, cujo nome era Abiatar, o qual fugiu atrás de Davi. E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor. Então Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que, estando ali Doegue, o idumeu, não deixaria de o denunciar a Saul. Eu dei ocasião contra todas as almas da casa de teu pai. Fica comigo, não temas, porque quem procurar a minha morte, também procurará a tua, pois estarás salvo comigo". 1 Samuel 22:20-23. PP 488 2 Ainda perseguido pelo rei, Davi não encontrou lugar de descanso ou segurança. Em Queila, seu bravo grupo salvou a cidade de ser tomada pelos filisteus; mas não estavam livres de perigo, mesmo entre o povo que haviam livrado. De Queila dirigiram-se ao deserto de Zife. PP 488 3 Naquela ocasião, em que havia tão poucos pontos claros no caminho de Davi, ele se regozijou ao receber a visita inesperada de Jônatas, que soubera do lugar de seu refúgio. Preciosos foram os momentos que estes dois amigos passaram na companhia um do outro. Relataram suas variadas experiências, e Jônatas fortaleceu o coração de Davi, dizendo: "Não temas, que não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe." Conversando eles acerca do trato maravilhoso de Deus para com Davi, o aflito fugitivo ficou grandemente encorajado. "E ambos fizeram aliança perante o Senhor; Davi ficou no bosque, e Jônatas voltou para a sua casa". 1 Samuel 23:17, 18. PP 488 4 Depois da visita de Jônatas, Davi animou a sua alma com cânticos de louvor, acompanhando a sua voz com a harpa, ao entoar: PP 488 5 "No Senhor confio; como dizeis, pois, à minha alma: Fugi para a vossa montanha como pássaro? Porque eis que os ímpios armam o arco, põem as flechas na corda, para com elas atirarem, a ocultas, aos retos de coração. Na verdade que já os fundamentos se transtornam: Que pode fazer o justo? O Senhor está no Seu santo templo, o trono do Senhor está nos Céus; os Seus olhos estão atentos, e as Suas pálpebras provam os filhos dos homens. O Senhor prova o justo; mas a Sua alma aborrece o ímpio e o que ama a violência". Salmos 11:1-5. PP 489 1 Os zifeus, para cujas regiões ermas Davi fora de Queila, enviaram uma comunicação a Saul, em Gibeá, de que sabiam onde Davi se encontrava escondido, e de que guiariam o rei ao seu retiro. Davi, porém, avisado das intenções deles, mudou sua posição, procurando refúgio nas montanhas que ficavam entre Maom e o Mar Morto. PP 489 2 Foi de novo enviada comunicação a Saul: "Eis que Davi está no deserto de En-Gedi. Então tomou Saul três mil homens, escolhidos entre todo o Israel, e foi à busca de Davi e de seus homens, até aos cumes das penhas das cabras monteses." Davi tinha apenas seiscentos homens em sua companhia, ao passo que Saul avançava contra ele com um exército de três mil. Em uma caverna isolada o filho de Jessé e seus homens aguardavam a direção de Deus quanto ao que deveria fazer-se. Estando Saul fazendo a ascensão das montanhas, desviou-se para um lado, e entrou, sozinho, na mesma caverna em que Davi e seu grupo estavam escondidos. Quando os homens de Davi viram isto, insistiram com seu chefe para que matasse Saul. O fato de que o rei estava agora em seu poder, era por eles interpretado como prova certa de que Deus mesmo entregara o inimigo em suas mãos, para que pudessem destruí-lo. Davi foi tentado a assumir esta opinião a tal respeito; mas a voz da consciência falou-lhe, dizendo: "Não toques no ungido do Senhor." PP 489 3 Os homens de Davi ainda não estavam dispostos a deixar Saul em paz, e lembraram ao seu comandante as palavras de Deus: "Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul". 1 Samuel 24:2-4, 6. Mas sua consciência o acusou depois, porque mesmo com isto deformara a veste do rei. PP 489 4 Saul levantou-se e saiu da caverna para continuar com suas pesquisas, quando uma voz atingiu seus ouvidos surpresos, dizendo: "Rei, meu senhor!" Voltou-se para ver quem se dirigia a ele, e, eis que era o filho de Jessé, o homem a quem havia tanto tempo desejava ter em seu poder, para que o pudesse matar. Davi inclinou-se ante o rei, reconhecendo-o como seu senhor. Então se dirigiu a Saul nestes termos: "Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o Senhor hoje te pôs em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do Senhor. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque, cortando-te eu a orla do manto, te não matei. Adverte, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem prevaricação nenhuma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares". 1 Samuel 24:8-11. PP 489 5 Quando Saul ouviu as palavras de Davi, ficou humilhado, e não pôde senão admitir a veracidade das mesmas. Seus sentimentos foram profundamente abalados, ao compenetrar-se de quão completamente estivera em poder do homem cuja vida procurava. Davi estava em pé diante dele, cônscio de sua inocência. Com um espírito abrandado, Saul exclamou: "É esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul alçou a sua voz e chorou." Declarou agora a Davi: "Mais justo és do que eu, pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. [...] Por que, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixaria ir por bom caminho? O Senhor pois te pague com bem, pelo que hoje me fizeste. Agora, pois, eis que bem sei que certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de ser firme na tua mão". 1 Samuel 24:16-20. E Davi fez um concerto com Saul, para que quando isto tivesse lugar ele considerasse favoravelmente a casa de Saul, e não suprimisse o seu nome. PP 490 1 Sabedor que era da conduta passada de Saul, Davi não podia depositar confiança nas afirmações do rei, tampouco esperar que sua condição penitente demorasse muito. Assim, voltando Saul para sua casa, permaneceu Davi nas fortalezas das montanhas. PP 490 2 A inimizade que é alimentada para com os servos de Deus por aqueles que se renderam ao poder de Satanás, modifica-se por vezes em um sentimento de reconciliação e favor; mas a mudança nem sempre se mostra duradoura. Depois que homens mal-intencionados se empenharam em fazer e dizer coisas ruins contra os servos do Senhor, a convicção de que estiveram em erro apodera-se algumas vezes profundamente de seu espírito. O Espírito do Senhor trabalha com eles, humilham seus corações diante de Deus e diante daqueles cuja influência procuram destruir, e podem modificar sua conduta em relação aos mesmos. Mas, abrindo novamente a porta às sugestões do maligno, revivem as velhas dúvidas, desperta-se a velha inimizade, e eles voltam a empenhar-se na mesma obra de que se arrependeram e que por algum tempo abandonaram. Novamente falam mal, acusando e condenando da maneira mais cruel os mesmos a quem fizeram a mais humilde confissão. Satanás pode usar tais almas com muito maior poder, depois que tal conduta haja sido seguida, do que o poderia antes, pois que pecaram contra uma luz maior. PP 490 3 "E faleceu Samuel, e todo o Israel se ajuntou, e o prantearam, e o sepultaram na sua casa, em Ramá". 1 Samuel 25:1. A morte de Samuel foi considerada uma perda irreparável pela nação de Israel. Um grande e bom profeta e juiz eminente sucumbira; e a dor do povo foi profunda e sentida. Desde sua mocidade Samuel andara diante de Israel na integridade de seu coração; embora Saul tivesse sido o rei reconhecido, Samuel exercera uma influência mais poderosa do que ele, porque o registro de sua vida era de fidelidade, obediência e devoção. Lemos que ele julgou Israel todos os dias de sua vida. PP 490 4 Contrastando o povo a conduta de Saul com a de Samuel, viam o erro que haviam cometido, desejando um rei para que não fossem diferentes das nações em redor deles. Muitos olhavam alarmados para as condições da sociedade, em que rapidamente se estendia o fermento da irreligião e da impiedade. O exemplo de seu governante estava exercendo uma dilatada influência, e bem poderia lamentar Israel que Samuel, o profeta do Senhor, fosse morto. PP 491 1 A nação havia perdido o fundador e diretor de suas escolas sagradas; mas isso não era tudo. Tinha perdido aquele a quem o povo se acostumara a ir com suas grandes dificuldades -- perdido aquele que constantemente intercedera junto a Deus em prol dos maiores interesses de seu povo. A intercessão de Samuel proporcionara um sentimento de segurança; pois "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos". Tiago 5:16. O povo sentia agora que Deus os estava abandonando. O rei parecia ser pouco menos que um louco. A justiça estava pervertida, e a ordem mudada em confusão. PP 491 2 Foi quando a nação era torturada por conflito interno, quando o conselho calmo e inspirado no temor de Deus, dado por Samuel, se mostrava mais necessário, foi então que Deus deu repouso ao seu idoso servo. Amargas foram as reflexões do povo, ao olharem para o seu silencioso lugar de descanso, e lembrarem-se de sua loucura rejeitando-o como seu governador; pois que ele tivera tão íntima ligação com o Céu que parecia ligar todo o Israel ao trono de Jeová. Fora Samuel que os ensinara a amar e a obedecer a Deus; mas, agora que ele estava morto, o povo sentia achar-se abandonado nas mãos de um rei que se unira a Satanás, e que de Deus e do Céu divorciaria o povo. PP 491 3 Davi não pôde estar presente ao sepultamento de Samuel; mas chorou-o tão sentida e ternamente como um filho fiel o poderia fazer por um pai dedicado. Sabia que a morte de Samuel rompera um outro laço que restringia as ações de Saul, e sentiu-se menos livre de perigo do que quando o profeta vivia. Enquanto a atenção de Saul estava ocupada em lamentação pela morte de Samuel, Davi aproveitou o ensejo para procurar um lugar de maior segurança; assim, fugiu para o deserto de Parã. Foi ali que compôs os salmos cento e vinte e cento e vinte e um. Naquelas desoladas regiões incultas, compenetrado de que o profeta era morto, e que o rei era seu inimigo, cantou: PP 491 4 "O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a Terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. [...] O Senhor te guardará de todo o mal; Ele guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre". Salmos 121:2-8. PP 491 5 Enquanto Davi e seus homens se encontravam no deserto de Parã, protegeram contra as depredações dos saqueadores os rebanhos e gado de um homem rico chamado Nabal, que tinha vastas posses naquela região. Nabal era descendente de Calebe, mas seu caráter era intratável e mesquinho. PP 491 6 Era o tempo da tosquia das ovelhas, a ocasião da hospitalidade. Davi e seus homens estavam em grande necessidade de provisões; e, de acordo com o costume daqueles tempos, o filho de Jessé enviou dez moços a Nabal, ordenando-lhes que o saudassem em nome de seu senhor; e acrescentou: PP 492 1 "Assim direis àquele próspero: Paz tenhas, e que a tua casa tenha paz, e tudo o que tens tenha paz! Agora, pois, tenho ouvido que tens tosquiadores. Ora os pastores que tens estiveram conosco; agravo nenhum lhes fizemos, nem coisa alguma lhes faltou todos os dias que estiveram no Carmelo. Pergunta-o aos teus mancebos, e eles to dirão; estes mancebos pois achem graça aos teus olhos, porque viemos em bom dia; dá pois a teus servos e a Davi, teu filho, o que achares à mão". 1 Samuel 25:6-8. PP 492 2 Davi e seus homens tinham sido como uma muralha protetora aos pastores e rebanhos de Nabal; e agora pedia-se àquele homem rico que fornecesse de sua abundância algum recurso à necessidade daqueles que lhe haviam prestado tão valioso serviço. Davi e seus homens poderiam ter-se servido dos rebanhos e gado; mas não o fizeram. Portaram-se honestamente. Sua bondade, entretanto, nada valera junto a Nabal. A resposta que este enviou a Davi indicava o seu caráter: "Quem é Davi, e quem o filho de Jessé? muitos servos há hoje, e cada um foge a seu senhor. Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e o daria a homens que eu não sei donde vêm?" 1 Samuel 25:10, 11. PP 492 3 Quando os moços voltaram com as mãos vazias, e relataram o acontecido a Davi, este ficou cheio de indignação. Ordenou que seus homens se aparelhassem para um encontro; pois que resolvera castigar o homem que lhe negara o que era de seu direito, e que ao dano acrescentara o insulto. Este movimento impetuoso estava mais em harmonia com o caráter de Saul do que com o de Davi; o filho de Jessé, porém, tinha ainda de aprender lições de paciência na escola da aflição. PP 492 4 Um dos servos de Nabal foi apressadamente a Abigail, esposa de Nabal, depois que este despedira os moços de Davi, e contou-lhe o que tinha acontecido. "Eis que Davi enviou mensageiros", disse ele, "desde o deserto a saudar o nosso amo, porém ele se lançou a eles. Todavia, aqueles homens têm-nos sido muito bons, e nunca fomos agravados deles, e nada nos faltou em todos os dias que conversamos com eles quando estávamos no campo. De muro em redor de nós nos serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com eles apascentando as ovelhas. Olha pois, agora, e vê o que hás de fazer, porque já de todo determinado está o mal contra o nosso amo e contra toda a sua casa". 1 Samuel 25:14-17. PP 492 5 Sem consultar o esposo, ou contar-lhe sua intenção, Abigail fez um amplo suprimento de provisões, que, posto sobre jumentos, enviou adiante sob o cuidado de servos, e ela partiu para encontrar-se com o grupo de Davi. Encontrou-os no encoberto de um monte. "Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, e desceu do jumento, e prostrou-se sobre o seu rosto diante de Davi, e se inclinou à terra. E lançou-se a seus pés, e disse: Ah, senhor meu, minha seja a transgressão; deixa, pois, falar a tua serva aos teus ouvidos". 1 Samuel 25:23, 24. Abigail dirigiu-se a Davi com tanta reverência como se falasse a um rei coroado. Nabal tinha escarnecedoramente exclamado: "Quem é Davi?" (1 Samuel 25:10) mas Abigail chamara-o "senhor meu." Com amáveis palavras ela procurou abrandar-lhe os sentimentos irritados, e pleiteou com ele em favor de seu esposo. Nada tendo de ostentação ou orgulho, antes cheia da sabedoria e amor de Deus, Abigail revelou a força de sua devoção para com sua casa, e esclareceu a Davi que o procedimento indelicado de seu marido de nenhuma maneira fora premeditado contra ele como uma afronta pessoal, mas que simplesmente tinha sido a explosão de uma natureza infeliz e egoísta. PP 493 1 "Agora, pois, meu senhor, vive o Senhor, e vive a tua alma, que o Senhor te impediu de vires com sangue, e de que a tua mão te salvasse; e, agora, tais quais Nabal sejam os teus inimigos e os que procuram mal contra o meu senhor." Abigail não tomou para si o crédito deste raciocínio a fim de demover a Davi de seu precipitado propósito, mas deu a Deus a honra e o louvor. Ofereceu então sua rica provisão como oferta pacífica aos homens de Davi, e ainda pleiteou como se ela mesma fora quem tivesse provocado o ressentimento do líder. PP 493 2 "Perdoa, pois, à tua serva esta transgressão", disse ela, "porque certamente fará o Senhor casa firme a meu senhor, porque meu senhor guerreia as guerras do Senhor, e não se tem achado mal em ti por todos os teus dias". 1 Samuel 25:26-28. Abigail apresentou por inferência a conduta que Davi deveria adotar. Ele faria as guerras do Senhor. Não deveria procurar vingança de ofensas pessoais, embora perseguido como um traidor. Ela continuou: "Levantando-se algum homem para te perseguir, e para procurar a tua morte, então a vida de meu senhor será atada no feixe dos que vivem com o Senhor teu Deus; [...] há de ser que, usando o Senhor com o meu senhor conforme a todo o bem que já tem dito de ti, e te tiver estabelecido chefe sobre Israel, então, meu senhor, não te será por tropeço, nem por pesar no coração o sangue que sem causa derramaste, nem tão pouco o haver-se salvado meu senhor a si mesmo; e quando o Senhor Deus fizer bem ao meu senhor, lembra-te então da tua serva". 1 Samuel 25:29-31. PP 494 3 Essas palavras poderiam apenas ter vindo dos lábios de quem tivesse participado da sabedoria do alto. A piedade de Abigail, semelhante ao perfume de uma flor, exalava de seu rosto, de suas palavras e ações, sem que disso ela se apercebesse. O Espírito do Filho de Deus habitava em sua alma. Seu discurso, adubado pela graça, e cheio de bondade e paz, derramava uma influência celestial. Melhores impulsos vieram a Davi, e ele tremeu ao pensar quais poderiam ser as conseqüências de seu intuito precipitado. "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus". Mateus 5:9. Oxalá houvesse muitos outros como esta mulher de Israel, que abrandassem os sentimentos irritados, esfriassem impulsos temerários, e com palavras de calma e bem dirigida sabedoria aplacassem grandes males! PP 494 1 Uma vida cristã consagrada está sempre a derramar luz, consolação e paz. Caracteriza-se pela pureza, tato, simplicidade e utilidade. É dirigida por aquele amor abnegado que santifica a influência. Está repleta de Cristo, e deixa um rasto de luz aonde quer que seu possuidor vá. Abigail tinha sabedoria para reprovar e aconselhar. A paixão de Davi esvaiu-se, sob o poder de sua influência e raciocínio. Ele ficou convicto de que assumira uma conduta imprudente, e perdera o domínio de seu próprio espírito. PP 494 2 Com humilde coração recebeu a repreensão em conformidade com suas próprias palavras: "Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo". Salmos 141:5. Ele deu graças e louvores porque ela o aconselhara retamente. Muitos há que, quando reprovados, julgam ser dignos de elogio se recebem a repreensão sem se tornarem impacientes; mas quão poucos recebem a reprovação com coração grato, e abençoam aqueles que os procuram salvar de seguirem por um mau caminho! PP 494 3 Quando Abigail voltou para casa, encontrou Nabal e seus hóspedes em um grande banquete, que tinham convertido em cenas de orgia e embriaguez. Não foi senão na manhã seguinte que ela relatou a seu esposo o que ocorrera em sua entrevista com Davi. Nabal era de ânimo covarde; e, quando se compenetrou de quão perto de uma morte súbita o havia trazido a sua loucura, pareceu achar-se atacado de paralisia. Receoso de que Davi ainda prosseguisse com seus intuitos de vingança, encheu-se ele de terror, e prostrou-se em uma condição de irremediável insensibilidade. Dez dias depois, morreu. A vida que Deus lhe dera tinha sido apenas uma maldição para o mundo. Em meio a seu regozijo e alegria, Deus lhe dissera, como disse ao homem rico da parábola: "Esta noite te pedirão a tua alma". Lucas 12:20. PP 494 4 Davi mais tarde desposou Abigail. Já era marido de uma mulher; mas o costume das nações de seu tempo tinha-lhe pervertido o discernimento, influenciando-o em suas ações. Mesmo grandes homens, e bons, têm errado, seguindo os costumes do mundo. O amargo resultado de desposar muitas mulheres foi dolorosamente sentido durante toda a vida de Davi. PP 494 5 Depois da morte de Samuel, Davi ficou em paz por alguns meses. Novamente se dirigiu à solidão dos zifeus; mas estes inimigos, esperando conseguir favor do rei, informaram a este do esconderijo de Davi. Tal conhecimento despertou o demônio da paixão que estivera a dormir no peito de Saul. Mais uma vez convocou seus homens de armas, e os levou à perseguição de Davi. Espias que lhe eram amigos, porém, levaram ao filho de Jessé a notícia de que Saul de novo o estava a perseguir; e com alguns de seus homens Davi partiu para saber o lugar em que estava seu inimigo. Era noite, quando, avançando cautelosamente, chegaram ao acampamento, e viram diante de si as tendas do rei e de seus auxiliares. Não foram notados; pois o arraial estava a dormir em silêncio. Davi chamou seus amigos, para irem com ele ao próprio meio de seus adversários. Em resposta à sua pergunta: "Quem descerá comigo a Saul ao arraial?" respondeu prontamente Abisai: "Eu descerei contigo". 1 Samuel 26:6. PP 495 1 Ocultos pelas densas sombras das colinas, Davi e seu auxiliar entraram no arraial do inimigo. Procurando certificar-se do número exato de seus adversários, chegaram a Saul, adormecido, estando sua lança cravada no solo, e uma bilha de água a sua cabeceira. Ao lado dele estava deitado Abner, chefe do exército, e ao redor deles estavam os soldados, entregues ao sono. Abisai levantou sua lança e disse a Davi: "Deus te entregou hoje nas tuas mãos a teu inimigo; deixa-mo, pois, agora encravar com a lança duma vez na terra, e não o ferirei segunda vez." Esperou a palavra que lhe desse permissão; caíram, porém, em seus ouvidos estas palavras cochichadas: "Nenhum dano lhe faças; porque quem estendeu a sua mão contra o ungido do Senhor, e ficou inocente? [...] Vive o Senhor, que o Senhor o ferirá, ou o seu dia chegará em que morra, ou descerá para a batalha e perecerá; o Senhor me guarde, de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor; agora, porém, toma lá a lança que está à sua cabeceira e a bilha da água, e vamo-nos. Tomou, pois, Davi a lança e a bilha da água, da cabeceira de Saul, e foram-se; e ninguém houve que o visse, nem que o advertisse, nem que acordasse; porque todos estavam dormindo, pois havia caído sobre eles um profundo sono do Senhor". 1 Samuel 26:8-12. Quão facilmente o Senhor pode enfraquecer o mais forte, remover a prudência dos prudentes, e zombar da perícia do mais atento! PP 495 2 Quando Davi se encontrou a uma distância do acampamento que o punha fora de perigo, pôs-se em pé no cimo de uma colina, e clamou com grande voz ao povo, e a Abner, dizendo: "Porventura não és varão? e quem há em Israel como tu, por que, pois, não guardaste tu o rei teu senhor? porque um do povo veio para destruir o rei teu senhor. Não é bom isto, que fizeste; vive o Senhor, que sois dignos de morte, vós que não guardastes a vosso senhor, o ungido do Senhor; vede, pois, agora onde está a lança do rei, e a bilha da água, que tinha à sua cabeceira. Então conheceu Saul a voz de Davi, e disse: Não é esta a tua voz, meu filho Davi? E disse Davi: Minha voz é, ó rei meu senhor. Disse mais: Por que persegue meu senhor assim o seu servo? Pois que fiz eu? E que maldade se acha nas minhas mãos? Ouve, pois, agora, te rogo, rei meu senhor, as palavras de teu servo." De novo caiu dos lábios do rei o reconhecimento: "Pequei; volta, meu filho Davi, porque não mandarei fazer-te mal; porque foi hoje preciosa a minha vida aos teus olhos. Eis que procedi loucamente, e errei grandissimamente. Davi então respondeu, e disse: Eis aqui a lança do rei; passe cá um dos mancebos, e leve-a." Embora Saul fizesse a promessa: "Não mais te farei mal" (1 Samuel 26:15-22), Davi não se pôs sob o seu poder. PP 495 3 Este segundo exemplo do respeito de Davi pela vida de seu soberano, produziu impressão ainda mais profunda no espírito de Saul, e alcançou dele um reconhecimento mais humilde de sua falta. Ficou admirado e vencido com tal manifestação de bondade. Despedindo-se de Davi, Saul exclamou: "Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás, e também prevalecerás". 1 Samuel 26:21. Mas o filho de Jessé não tinha esperança que o rei continuasse muito tempo nesta disposição de espírito. PP 496 1 Davi não esperava uma reconciliação com Saul. Parecia inevitável que finalmente ele tombasse como vítima da malícia do rei; e resolveu de novo buscar refúgio na terra dos filisteus. Com os seiscentos homens sob o seu comando, passou-se para Aquis, rei de Gate. PP 496 2 A conclusão de Davi, de que Saul certamente cumpriria seu intuito assassino, foi formulada sem o conselho de Deus. Mesmo quando Saul estava tramando e procurando levar a efeito a sua destruição, o Senhor agia com o fim de assegurar a Davi o reino. Deus efetua Seus planos, embora aos olhos humanos estejam velados em mistério. Os homens não podem compreender os caminhos de Deus; e, olhando às aparências, interpretam os sofrimentos, provações e experiências que Deus permite que venham sobre eles, como coisas que contra eles são, e que apenas farão a sua ruína. Assim Davi olhava para as aparências, e não para as promessas de Deus. Duvidava que algum dia viesse a ocupar o trono. Longas provações lhe tinham cansado a fé e esgotado a paciência. PP 496 3 O Senhor não mandou Davi, à busca de proteção, aos filisteus, os piores adversários de Israel. Esta nação, precisamente, estaria entre seus piores inimigos, até ao fim; e no entanto fugira para eles à procura de auxílio em seu tempo de necessidade. Tendo perdido toda a confiança em Saul e nos que o serviam, lançou-se à disposição dos inimigos de seu povo. Davi era um bravo general, e tinha-se mostrado guerreiro prudente e bem-sucedido; mas estava a agir diretamente contra seus próprios interesses quando foi aos filisteus. Deus o havia designado para levantar Seu estandarte na terra de Judá, e foi a falta de fé que o levou a abandonar seu posto de dever sem ordem da parte do Senhor. PP 496 4 Deus foi desonrado pela incredulidade de Davi. Os filisteus tinham temido a Davi mais do que a Saul e seus exércitos; e, colocando-se sob a proteção dos filisteus, Davi patenteara-lhes a fraqueza de seu povo. Assim ele animou esses implacáveis adversários a oprimirem Israel. Davi tinha sido ungido para ficar na defesa do povo de Deus; e o Senhor não queria que Seu servo animasse os ímpios, descobrindo-lhes a fraqueza de seu povo, ou dando uma aparência de indiferença pelo bem-estar do mesmo. Além disso, receberam seus irmãos a impressão de que ele fora aos gentios para servirem aos seus deuses. Por meio deste ato deu motivo a que fossem mal-interpretados os seus intuitos, e muitos foram levados a entreter preconceito contra ele. Davi foi levado a fazer exatamente o que Satanás desejava que ele fizesse; pois, procurando refúgio entre os filisteus, ele proporcionou grande exultação aos inimigos de Deus e de Seu povo. Davi não renunciou ao culto a Deus, nem cessou a devoção para com Sua causa; mas sacrificou a confiança nEle pela sua segurança pessoal, e assim maculou o caráter reto e fiel que Deus requer que Seus servos possuam. PP 497 1 Davi foi cordialmente recebido pelo rei dos filisteus. O calor desta recepção foi em parte devido ao fato de que o rei o admirava, e em parte ao fato de lisonjear à sua vaidade que um hebreu procurasse sua proteção. Davi sentia-se livre de perigo de traição nos domínios de Aquis. Levara sua família, sua casa e suas posses, e o mesmo fizeram seus homens; e segundo toda a aparência ali chegara ele a fim de fixar-se permanentemente na terra de Filístia. Tudo isto satisfazia a Aquis, que prometeu proteger os israelitas fugitivos. PP 497 2 Ao pedido feito por Davi para residir no campo, afastado da cidade real, concedeu o rei gentilmente Ziclague em possessão. Davi compenetrara-se de que seria perigoso para si e seus homens estarem sob a influência de idólatras. Em uma cidade inteiramente separada para si, poderiam adorar a Deus com mais liberdade do que se ficassem em Gate, onde os ritos pagãos não poderiam deixar de mostrar-se uma fonte de males e incômodos. PP 497 3 Enquanto morava naquela cidade isolada, Davi fez guerra aos gesuritas, aos gersitas e aos amalequitas, e a ninguém deixou vivo para levar a notícia a Gate. Quando voltou da batalha, deu a entender a Aquis que estivera a guerrear contra os de sua própria nação, os homens de Judá. Por esta dissimulação, ele serviu de meio para fortalecer a mão dos filisteus; pois disse o rei: "Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para sempre". 1 Samuel 27:12. Davi sabia que era a vontade de Deus que essas tribos gentílicas fossem destruídas, e sabia estar ele designado para fazer esta obra; mas não andava no conselho de Deus quando praticou o engano. PP 497 4 "E sucedeu naqueles dias que, juntando os filisteus os seus exércitos para a peleja, para fazer guerra contra Israel, disse Aquis a Davi: Sabe de certo que comigo sairás ao arraial, tu e os teus homens." Davi não tinha intenções de levantar a mão contra seu povo; mas não estava certo quanto ao que haveria de fazer, até que as circunstâncias indicassem seu dever. Respondeu ao rei evasivamente, e disse: "Assim saberás tu o que fará o teu servo". 1 Samuel 28:1, 2. Aquis compreendeu estas palavras como uma promessa de auxílio na guerra que se aproximava, e comprometeu sua palavra a conferir a Davi grande honra, e dar-lhe elevado cargo na corte filistéia. PP 497 5 Mas, embora a fé de Davi tivesse vacilado um pouco nas promessas de Deus, ele ainda se lembrou de que Samuel o ungira rei de Israel. Recordou as vitórias que no passado Deus lhe havia dado sobre seus inimigos. Reviu a grande misericórdia de Deus, guardando-o das mãos de Saul, e resolveu não trair um encargo sagrado. Mesmo que o rei de Israel tivesse procurado tirar-lhe a vida, ele não uniria suas forças com os inimigos de seu povo. ------------------------Capítulo 66 -- A morte de Saul PP 498 1 De novo foi declarada guerra entre Israel e os filisteus. "Ajuntaram-se os filisteus, e vieram e acamparam-se em Suném", na extremidade norte da planície de Jezreel, enquanto Saul e suas forças se acamparam a poucos quilômetros, ao pé do Monte Gilboa, na extremidade sul da planície. Foi nesta planície que Gideão, com trezentos homens, pusera em fuga o exército de Midiã. Mas o espírito que animava o libertador de Israel era inteiramente diverso do que agora agitava o coração do rei. Gideão saíra forte em sua fé no poderoso Deus de Jacó; mas Saul sentia-se só e sem defesa, porque Deus o abandonara. Olhando para o exército filisteu, "temeu, e estremeceu muito o seu coração". 1 Samuel 28:4, 5. PP 498 2 Saul soubera que Davi e sua força estavam com os filisteus, e esperava que o filho de Jessé aproveitasse esta oportunidade para vingar-se dos males que tinha sofrido. O rei estava em grande angústia. Fora a sua própria paixão incoerente, incitando-o a destruir o escolhido de Deus, que envolvera a nação em tão grande perigo. Ao mesmo tempo em que se ocupara na perseguição a Davi, negligenciara a defesa do seu reino. Os filisteus, tirando vantagem da condição desprotegida do reino, penetraram bem no centro do país. Assim, enquanto Satanás estivera a insistir com Saul para que empregasse toda a energia na caça a Davi, a fim de que o pudesse destruir, o mesmo espírito maligno inspirara os filisteus para que aproveitassem a oportunidade para levarem a efeito a ruína de Saul, e subverterem o povo de Deus. Quantas vezes é ainda o mesmo ardil empregado pelo adversário máximo! Ele instiga algum coração não consagrado para que acenda a inveja e a contenda na igreja, e então, tirando vantagem da condição dividida do povo de Deus, incita seus agentes a efetuar a sua ruína. PP 498 3 No dia seguinte, Saul deveria empenhar-se em batalha com os filisteus. As sombras de iminente condenação juntavam-se negras em redor dele; almejava auxílio e guia. Mas em vão procurou conselho da parte de Deus. "O Senhor lhe não respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas." O Senhor nunca Se desviou de uma alma que foi a Ele em sinceridade e humildade. Por que deixou Saul voltar sem resposta? O rei, por seu próprio ato, privara-se do benefício de todos métodos de inquirir a Deus. Rejeitara o conselho do profeta Samuel; exilara a Davi, o escolhido de Deus; matara os sacerdotes do Senhor. Poderia ele esperar ser atendido por Deus, quando interrompera os condutos de comunicação que o Céu determinara? Afastara pelo seu pecado o Espírito da graça, e poderia ser atendido por sonhos e revelações do Senhor? Saul não se voltou a Deus com humildade e arrependimento. Não era o perdão do pecado e a reconciliação com Deus, o que ele buscava, mas o livramento de seus adversários. Pela sua obstinação e rebelião, separara-se de Deus. Não poderia voltar a não ser por meio do arrependimento e contrição; mas o orgulhoso rei, em sua angústia e desespero, resolveu buscar auxílio de outra fonte. PP 499 1 Então disse Saul aos seus servos: "Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela e a consulte". 1 Samuel 28:6, 7. Saul tinha completo conhecimento do caráter da necromancia. Tinha sido expressamente proibida pelo Senhor, e fora pronunciada sentença de morte contra todos os que praticassem suas artes profanas. Durante a vida de Samuel, Saul ordenara que todos os encantadores e os que tinham espírito de feitiçaria fossem mortos; mas agora, na precipitação do desespero, recorre àquele oráculo que ele condenara como uma abominação. PP 499 2 Foi dito ao rei que uma mulher que possuía espírito de feitiçaria estava morando em um esconderijo, em En-Dor. Esta mulher entrara em concerto com Satanás, para entregar-se ao seu domínio, e cumprir seus propósitos; e, em troca, o príncipe do mal operava prodígios a ela, e revelava-lhe coisas secretas. PP 499 3 Disfarçando-se, Saul saiu de noite apenas com dois auxiliares, a fim de buscar o retiro da feiticeira. Oh! que deplorável cena! o rei de Israel levado cativo por Satanás, à sua vontade. Que vereda tão tenebrosa, para palmilharem pés humanos, aquela que fora escolhida por quem persistira em ter seu próprio caminho, resistindo às santas influências do Espírito de Deus! Que cativeiro há tão terrível como o daquele que se acha entregue ao domínio do pior dos tiranos? A confiança em Deus e a obediência à Sua vontade eram as únicas condições sob as quais Saul poderia ser rei de Israel. Se ele tivesse satisfeito estas condições durante todo o seu reinado, seu reino teria estado livre de perigo; Deus teria sido o seu guia, e seu escudo o Onipotente. Deus tivera muita paciência com Saul; e, embora sua rebelião e obstinação tivessem quase silenciado a voz divina na alma, havia ainda oportunidade para o arrependimento. Mas, quando em seu perigo se desviou de Deus para obter luz de um aliado de Satanás, rompera o último laço que o ligava ao seu Criador; colocara-se completamente sob o domínio daquele poder diabólico que durante anos tinha sido exercido sobre ele, e que o levara às bordas da destruição. PP 499 4 Sob o manto das trevas, Saul e seus auxiliares se encaminharam através da planície, e, passando com segurança pelas hostes filistéias, atravessaram o cume das montanhas, em direção à morada solitária da pitonisa de En-Dor. Ali a mulher com espírito de feitiçaria escondera-se para que pudesse secretamente continuar com seus profanos encantamentos. Embora disfarçado como estava, a alta estatura e porte real de Saul declararam que ele não era um soldado comum. A mulher suspeitou que seu visitante era Saul, e seus ricos presentes fortaleceram-lhe as suspeitas. Ao seu pedido: "Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser", respondeu a mulher: "Eis aqui tu sabes o que Saul fez, como tem destruído da terra os adivinhos e os encantadores; por que, pois me armas um laço à minha vida, para me fazer matar?" Então "Saul lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevirá por isso". E, quando ela disse: "A quem te farei subir?" ele respondeu: "a Samuel". PP 500 1 Depois de praticar seus encantamentos, ela disse: "Vejo deuses que sobem da terra. [...] Vem subindo um homem ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e se prostrou". 1 Samuel 28:8-14. PP 500 2 Não foi o santo profeta de Deus que veio com o poder dos encantamentos de uma pitonisa. Samuel não estava presente naquele antro de espíritos maus. A aparência sobrenatural apenas foi produzida pelo poder de Satanás. Ele poderia tão facilmente tomar a forma de Samuel como pôde tomar a de um anjo de luz quando tentou a Cristo no deserto. PP 500 3 As primeiras palavras da mulher sob o poder de seu encantamento foram dirigidas ao rei: "Por que me tens enganado? Pois tu mesmo és Saul". 1 Samuel 28:12. Assim, o primeiro ato do espírito mau que personificou o profeta, foi comunicar-se secretamente com aquela ímpia mulher, para avisá-la do engano que fora praticado para com ela. A mensagem a Saul do pretenso profeta foi: "Por que me desinquietaste, fazendo-me subir? Então, disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus Se tem desviado de mim e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso, te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer". 1 Samuel 28:15. PP 500 4 Quando Samuel vivia, Saul desprezara seu conselho, e ressentira-se de suas reprovações. Agora, porém, na hora de sua angústia e calamidade, sentia que a guia do profeta era sua única esperança; e, a fim de comunicar-se com o embaixador do Céu, recorreu em vão ao mensageiro do inferno! Saul se colocara inteiramente no poder de Satanás; e agora aquele cujo único deleite consiste em ocasionar miséria e destruição, prevaleceu-se da oportunidade para efetuar a ruína do infeliz rei. Em resposta ao agoniado rogo de Saul veio a terrível mensagem, que, pretendia-se, provinha dos lábios de Samuel: PP 500 5 "Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o Senhor te tem desamparado e se tem feito teu inimigo? Porque o Senhor tem feito para contigo como pela minha boca te disse, e o Senhor tem rasgado o reino da tua mão, e o tem dado ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do Senhor e não executaste o fervor da Sua ira contra Amaleque, por isso, o Senhor te fez hoje isso. E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus". 1 Samuel 28:16-19. PP 501 1 Em toda a sua conduta de rebelião, Saul fora lisonjeado e iludido por Satanás. É a obra do tentador fazer do pecado coisa insignificante, tornar o caminho da transgressão fácil e convidativo, cegar a mente às advertências e ameaças do Senhor. Satanás, pelo seu poder sedutor, levara Saul a justificar-se em desafio às reprovações e advertências de Samuel. Mas agora, em sua situação extrema, voltou-se a ele, apresentando a enormidade de seu pecado e a desesperança de perdão, para que o oprimisse até o ponto de chegar ao desespero. Nada poderia ter sido melhor escolhido para lhe destruir o ânimo e confundir o juízo, ou para o impelir ao desespero e destruição de si mesmo. PP 501 2 Saul estava debilitado pelo cansaço e jejum; estava aterrorizado e com a consciência ferida. Caindo a terrível predição aos seus ouvidos, o corpo cambaleou como um carvalho diante da tempestade, e caiu prostrado por terra. PP 501 3 A bruxa encheu-se de espanto. O rei de Israel jazia perante ela como morto. Caso ele perecesse em seu retiro, quais seriam as conseqüências para ela? Suplicou-lhe que se levantasse e tomasse alimento, insistindo que, visto haver corrido perigo de vida para lhe satisfazer o desejo, deveria ele ceder ao seu pedido, para a preservação de sua própria vida. Rogando-lhe o mesmo os seus servos, Saul cedeu finalmente e a mulher pôs diante dele a bezerra cevada, e bolos asmos preparados à pressa. Que cena! Na rústica caverna da feiticeira, em que poucos momentos antes haviam ecoado palavras de condenação, na presença do mensageiro de Satanás, aquele que fora ungido por ordem de Deus como rei sobre Israel sentava-se para comer, preparando-se para a luta mortífera do dia. PP 501 4 Antes do romper do dia voltou com seus auxiliares ao acampamento de Israel, para dispor-se ao conflito. Consultando aquele espírito das trevas, Saul destruíra a si mesmo. Opresso pelo terror do desespero, ser-lhe-ia impossível inspirar coragem ao seu exército. Separado da Fonte de força, não poderia guiar as mentes de Israel a olharem a Deus como seu auxiliador. Assim a predição de males operaria o seu próprio cumprimento. PP 501 5 Na planície de Suném e nas encostas do Monte Gilboa, os exércitos de Israel e as hostes dos filisteus empenharam-se em combate mortal. Embora a cena terrível na caverna de En-Dor lhe tivesse repelido do coração toda a esperança, Saul combateu com arrojada bravura em favor de seu trono e de seu reino. Mas foi em vão. "Os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram atravessados na montanha de Gilboa." Três bravos filhos do rei morreram ao seu lado. Os flecheiros apertaram Saul. Tinha visto seus soldados caírem em redor de si, e seus filhos príncipes cortados pela espada. Ele próprio, estando ferido, não podia nem combater nem fugir. Escapar era impossível; e, resolvido a não ser tomado vivo pelos filisteus, ordenou a seu pajem de armas: "Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela". 1 Samuel 31:1, 4. Recusando-se o homem a erguer a mão contra o ungido do Senhor, Saul tirou sua própria vida, lançando-se sobre a espada. PP 502 1 Assim pereceu o primeiro rei de Israel, com o crime de suicídio em sua alma. A vida fora-lhe um fracasso, e sucumbira com desonra e em desespero, porque pusera sua vontade própria e perversa contra a vontade de Deus. PP 502 2 A notícia da derrota espalhou-se larga e extensamente, levando o terror a todo o Israel. O povo fugia das cidades, e os filisteus tomavam posse destas, sem serem incomodados nisso. O reino de Saul, independente de Deus, se tinha quase mostrado a ruína de seu povo. PP 502 3 No dia seguinte ao da luta, os filisteus, examinando o campo da batalha para roubar aos mortos, descobriram os corpos de Saul e de seus três filhos. Para completarem seu triunfo, deceparam a cabeça de Saul e o despojaram de suas armas; então a cabeça e a armadura, exalando o cheiro de sangue, foram enviadas ao país dos filisteus como troféu de vitória, "a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre o povo". A armadura finalmente foi posta no "templo de Astarote", enquanto a cabeça foi fixa no templo de Dagom. Assim a glória da vitória foi atribuída ao poder desses falsos deuses, e o nome de Jeová foi desonrado. PP 502 4 Os cadáveres de Saul e seus filhos foram arrastados a Bete-Seã, cidade não distante de Gilboa, e próxima do rio Jordão. Ali foram suspensos com correntes, para serem devorados pelas aves de rapina. Mas os bravos homens de Jabes-Gileade, lembrando-se do livramento de sua cidade por Saul, em seus primeiros e felizes anos, manifestaram agora sua gratidão, retirando os corpos do rei e dos príncipes, e dando-lhes honrosa sepultura. Atravessando o Jordão à noite, "tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Se e, vindo a Jabes os queimaram e tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias". 1 Samuel 31:9-13. Assim a nobre ação, praticada quarenta anos antes, assegurou a Saul e seus filhos o sepultamento por mãos ternas e piedosas, na hora tenebrosa da derrota e desonra. ------------------------Capítulo 67 -- Feitiçaria antiga e moderna PP 503 1 O relato escriturístico da visita de Saul à mulher de En-Dor, tem sido uma fonte de perplexidade a muitos estudiosos da Bíblia. Há alguns que assumem a posição de que Samuel estava efetivamente presente na entrevista com Saul; mas a própria Bíblia oferece base suficiente para uma conclusão contrária. Se, como alguns pretendem, Samuel estava no Céu, ele deveria ter sido chamado dali, ou pelo poder de Deus, ou pelo de Satanás. Ninguém poderá crer por um momento sequer que Satanás tivesse poder para chamar do Céu o santo profeta de Deus para honrar os enganos de uma mulher perdida. Tampouco podemos concluir que Deus o chamasse à caverna da feiticeira; pois o Senhor já Se havia recusado a comunicar-Se com Saul, por meio de sonhos, por Urim, ou por profetas. 1 Samuel 28:6. Tais eram os meios indicados por Deus para a comunicação, e Ele os não preteriria para transmitir a mensagem pela operação de Satanás. PP 503 2 A própria mensagem traz prova suficiente de sua origem. Seu objetivo não foi levar Saul ao arrependimento, mas impeli-lo à ruína; e isto não é a obra de Deus, mas a de Satanás. Ademais, o ato de Saul ao consultar uma pitonisa é citado nas Escrituras como um motivo por que ele foi rejeitado por Deus e abandonado à destruição: "Morreu Saul por causa da sua transgressão com que transgrediu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para a consultar. E não buscou ao Senhor, pelo que o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé". 1 Crônicas 10:13, 14. Aqui declara-se distintamente que Saul consultou o espírito de adivinhação, e não ao Senhor. Ele não se comunicou com Samuel, o profeta de Deus; mas, mediante a feiticeira, entreteve comunicação com Satanás. Este não podia apresentar o verdadeiro Samuel, mas apresentou um falsificado, que serviu ao seu objetivo de enganar. PP 503 3 Quase todas as formas da antiga feitiçaria e encantamentos baseavam-se na crença da comunicação com os mortos. Aqueles que praticavam as artes da necromancia pretendiam ter relações com os espíritos dos mortos, e obter por meio deles conhecimento de acontecimentos futuros. A este costume de consultar os mortos se faz referência na profecia de Isaías: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; -- não recorrerá um povo ao seu Deus? a favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos?" Isaías 8:19. PP 504 1 Essa mesma crença na comunicação com os mortos formou a pedra fundamental da idolatria gentílica. Os deuses dos gentios acreditava-se que eram os espíritos deificados dos heróis mortos. Assim a religião dos gentios era um culto aos mortos. Isto se evidencia pelas Escrituras. No relato do pecado de Israel em Bete-Peor, declara-se: "E Israel deteve-se em Sitim, e o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas. E convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses. Juntando-se pois Israel a Baal-Peor". Números 25:1-3. O salmista nos diz a que espécie de deuses estes sacrifícios eram oferecidos. Falando da mesma apostasia dos israelitas, diz ele: "Juntaram-se com Baal-Peor, e comeram os sacrifícios dos mortos", isto é, sacrifícios que tinham sido oferecidos aos mortos. Salmos 106:28. PP 504 2 A deificação dos mortos tem tido lugar preeminente em quase todo sistema de paganismo, como também tem a suposta comunicação com os mortos. Acreditava-se que os deuses comunicavam sua vontade aos homens, e davam-lhes também conselhos, quando consultados. Desta natureza eram os famosos oráculos da Grécia e de Roma. PP 504 3 A crença na comunicação com os mortos é ainda mantida, mesmo nos países professos cristãos. Sob o nome de Espiritismo, a prática de comunicar-se com os seres que pretendem ser os espíritos dos mortos, tem-se espalhado largamente. É ela calculada a ganhar as simpatias daqueles que depuseram seus queridos na sepultura. Seres espirituais algumas vezes aparecem a pessoas sob a forma de seus amigos falecidos, e relatam incidentes ligados com sua vida, e efetuam atos que realizavam quando vivos. Deste modo levam os homens a crerem que seus amigos mortos são anjos que pairam sobre eles, e com eles se comunicam. Aqueles que assim pretendem ser espíritos dos mortos, são considerados com certa idolatria, e para muitos sua palavra tem maior valor do que a Palavra de Deus. PP 504 4 Muitos há contudo, que consideram o espiritismo como um simples engano. As manifestações pelas quais ele apóia suas pretensões a um caráter sobrenatural, são atribuídas à fraude por parte do médium. Mas, conquanto seja verdade que os resultados da velhacaria tenham sido muitas vezes apresentados como manifestações genuínas, tem havido também provas notáveis de poder sobrenatural. E muitos que rejeitam o espiritismo como resultado da esperteza ou astúcia humana, quando defrontados com manifestações que não possam explicar sob este ponto de vista, serão levados a reconhecer suas pretensões. PP 504 5 O espiritismo moderno, e as formas da antiga feitiçaria e adoração de ídolos -- tendo todos a comunicação com os mortos como seu princípio vital -- fundam-se naquela primeira mentira pela qual Satanás seduziu Eva no Éden: "Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes [...] sereis como Deus". Gênesis 3:4, 5. Baseados na falsidade e perpetuando esta, são semelhantemente oriundos do pai da mentira. PP 505 1 Aos hebreus era expressamente proibido empenhar-se, sob qualquer forma, em pretensa comunicação com os mortos. Deus fechou eficazmente esta porta quando disse: "Os mortos não sabem coisa nenhuma. [...] E já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol". Eclesiastes 9:5, 6. "Sai-lhes o espírito, e eles tornam-se em sua terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos". Salmos 146:4. E o Senhor declarou a Israel: "Quando uma alma se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir após deles, Eu porei a Minha face contra aquela alma, e a extirparei do meio do seu povo". Levítico 20:6. PP 505 2 Os "espíritos familiares" não eram espíritos dos mortos, mas anjos maus, mensageiros de Satanás. A antiga idolatria, que, como vimos, compreende tanto o culto aos mortos como a pretensa comunicação com eles, declara-se na Bíblia ter sido culto aos demônios. O apóstolo Paulo advertindo seus irmãos contra o participarem de qualquer maneira da idolatria de seus vizinhos pagãos, diz: "As coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios". 1 Coríntios 10:20. O salmista, falando de Israel, diz que "sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios"; e no versículo seguinte explica que os sacrificaram "aos ídolos de Canaã". Salmos 106:37, 38. Em seu suposto culto aos mortos, estavam na realidade adorando demônios. PP 505 3 O espiritismo moderno, repousando sobre a mesma base, não é senão um reavivamento, sob uma nova forma, da feitiçaria e culto aos demônios que Deus condenou e proibiu na antiguidade. Acha-se ele predito nas Escrituras, que declaram que "nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios". 1 Timóteo 4:1. Paulo, em segunda carta aos tessalonicenses, indica a operação especial de Satanás pelo espiritismo, como um acontecimento a ocorrer imediatamente antes do segundo advento de Cristo. Falando da segunda vinda de Cristo, declara que ela é "segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira". 2 Tessalonicenses 2:9. E Pedro, descrevendo os perigos a que a igreja estaria exposta nos últimos dias, diz que, assim como houve falsos profetas que levaram Israel ao pecado, haverá falsos ensinadores "que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou. [...] E muitos seguirão as suas dissoluções". 2 Pedro 2:1, 2. Aqui o apóstolo indicou uma das mais assinaladas características dos ensinadores espíritas. Eles se recusam a reconhecer a Cristo como o Filho de Deus. Com relação a tais instrutores o amado João declara: "Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai". 1 João 2:22, 23. O espiritismo, negando a Cristo, nega tanto ao Pai como ao Filho, e a Bíblia denuncia-o como manifestações do anticristo. PP 506 1 Pela predição da sorte de Saul, dada mediante a mulher de En-Dor, planejava Satanás enredar o povo de Israel. Esperava que se lhes inspirasse confiança na feiticeira, e fossem levados a consultar a mulher. Assim se desviariam de Deus como seu conselheiro, e colocar-se-iam sob a guia de Satanás. O engodo pelo qual o espiritismo atrai as multidões é o seu pretenso poder de descerrar o véu do futuro, e revelar aos homens o que Deus ocultou. Deus desvendou em Sua Palavra diante de nós os grandes acontecimentos do futuro -- tudo que nos é essencial sabermos; e deu-nos um guia seguro para nossos pés por entre todos os seus perigos; é, porém, intuito de Satanás destruir a confiança dos homens em Deus, torná-los descontentes com sua condição na vida, e levá-los a procurar conhecimento daquilo que Deus sabiamente lhes encobriu, e desprezar o que Ele revelou em Sua santa Palavra. PP 506 2 Há muitos que se tornam inquietos quando não podem saber o desfecho definido das questões. Não podem suportar a incerteza, e em sua impaciência recusam-se a esperar para verem a salvação de Deus. A apreensão de males impele-os quase à loucura. Dão lugar aos seus sentimentos de rebelião, correm de um lado para outro, com mágoa intensa, procurando entendimento a respeito daquilo que não foi revelado. Se tão-somente confiassem em Deus, e vigiassem e orassem, encontrariam consolo divino. Seu espírito se acalmaria pela comunhão com Deus. Os cansados e oprimidos encontrariam descanso para suas almas, se tão-somente fossem a Jesus; mas, quando rejeitam os meios que Deus ordenou para o seu conforto, e recorrem a outras fontes, esperando saber o que Deus recusou revelar, cometem o erro de Saul, e deste modo apenas obtêm conhecimento do mal. PP 506 3 Deus não Se agrada com esta conduta, e Ele o exprimiu nos termos mais explícitos. Esta impaciente pressa de rasgar o véu do futuro revela falta de fé em Deus, e deixa a alma aberta às sugestões do máximo enganador. Satanás leva os homens a consultar os que têm espíritos familiares; e, revelando coisas ocultas do passado, inspira confiança em seu poder para predizer coisas vindouras. Pela experiência adquirida através dos longos séculos, ele pode raciocinar partindo das causas aos efeitos, e predizer muitas vezes, com certo grau de precisão, alguns dos acontecimentos futuros da vida do homem. Assim está ele habilitado a enganar pobres almas transviadas, e levá-las sob seu poder, e conduzi-las cativas à sua vontade. PP 506 4 Deus nos deu esta advertência pelo Seu profeta: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; -- não recorrerá um povo ao seu Deus? a favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta Palavra, não haverá manhã para eles". Isaías 8:19, 20. PP 506 5 Aqueles que têm um Deus santo, infinito em sabedoria e poder, irão aos adivinhos, cujo saber vem de sua intimidade com o inimigo de nosso Senhor? Deus mesmo é a luz de Seu povo; Ele lhes manda fixar os olhos, pela fé, nas glórias que estão veladas à vista humana. O Sol da justiça envia ao coração Seus brilhantes raios; eles têm luz do trono dos Céus, e não têm o desejo de desviar-se da fonte de luz aos mensageiros de Satanás. PP 507 1 A mensagem do demônio a Saul, posto que fosse uma denúncia de pecado e uma profecia de castigo, não visava corrigi-lo, mas instigá-lo ao desespero e à ruína. Muitas mais vezes, porém, presta-se melhor aos intuitos do tentador atrair os homens à destruição pela lisonja. O ensino dos deuses-demônios, nos antigos tempos, favorecia a mais baixa licenciosidade. Os preceitos divinos, que condenam o pecado e impõem a justiça, eram postos de lado; a verdade era considerada levianamente, e a impureza não somente era permitida como também ordenada. O espiritismo declara que não há morte, pecado, juízo, ou condenação; que "os homens são semideuses não decaídos"; que o desejo é a mais elevada lei; e que o homem é apenas responsável a si. As barreiras que Deus ergueu para proteger a verdade, a pureza e a reverência, são afastadas, e muitos assim se tornam audazes no pecado. Não sugere tal ensino uma origem semelhante à do culto aos demônios? PP 507 2 O Senhor apresentou a Israel os resultados de entreterem comunicação com os espíritos maus, nas abominações dos cananeus: eles eram sem afeição natural, idólatras, adúlteros, homicidas e abomináveis por todo pensamento corrupto e prática revoltante. Os homens não conhecem seu próprio coração; pois "enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso". Jeremias 17:9. Mas Deus compreende as tendências da natureza depravada do homem. Naquele tempo, como agora, Satanás estava vigilante para acarretar condições favoráveis à rebelião, a fim de que o povo de Israel se tornasse tão aborrecível a Deus como foram os cananeus. O adversário das almas está sempre alerta para abrir canais à torrente livre de males sobre nós; pois deseja que sejamos arruinados e condenados diante de Deus. PP 507 3 Satanás estava decidido a conservar a posse da terra de Canaã; e, quando se tornou ela a habitação dos filhos de Israel, e a lei de Deus se fez a lei do país, ele odiou a Israel com ódio cruel e funesto, e tramou a sua destruição. Pela operação de espíritos maus, deuses estranhos foram introduzidos; e, por causa da transgressão, o povo escolhido foi finalmente disperso da terra da promessa. Esta história Satanás está esforçando para repetir em nosso tempo. Deus está tirando Seu povo das abominações do mundo, a fim de que guardem Sua lei; e, por causa disto, a ira do "acusador de nossos irmãos" não tem limites. "O diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo". Apocalipse 12:10, 12. A terra antitípica da promessa está precisamente diante de nós, e Satanás está resolvido a destruir o povo de Deus, e separá-lo de sua herança. O aviso: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Marcos 14:38), nunca foi mais necessário do que hoje. PP 507 4 A palavra do Senhor ao antigo Israel é também dirigida a Seu povo nesta época: "Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles" (Levítico 19:31); "pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor". Deuteronômio 18:12. ------------------------Capítulo 68 -- Davi em Ziclague PP 508 0 Este capítulo é baseado em 1 Samuel 29-30; 2 Samuel 1. PP 508 1 Davi e seus homens não tinham tomado parte na batalha entre Saul e os filisteus, posto que tivessem marchado com estes ao campo de lutas. Preparando-se os dois exércitos para se empenharem em combate, encontrou-se o filho de Jessé em uma situação de grande perplexidade. Esperava-se que ele batalhasse em favor dos filisteus. Caso abandonasse na luta o posto a ele designado, e se afastasse do campo, não somente ficaria com o estigma de covardia, mas de ingratidão e traição a Aquis, que o protegera e nele confiara. Tal ato cobriria seu nome de infâmia, e o exporia à ira de inimigos mais temíveis do que Saul. Contudo, não poderia absolutamente consentir em combater contra Israel. Caso fizesse isto, far-se-ia traidor ao seu país -- inimigo de Deus e de Seu povo. Tal lhe vedaria para sempre o caminho ao trono de Israel; e, se Saul fosse morto na luta, sua morte seria atribuída a Davi. PP 508 2 Davi foi levado a compenetrar-se de que tinha errado seu caminho. Muito melhor ter-lhe-ia sido refugiar-se nas potentes fortalezas de Deus, nas montanhas, do que entre os declarados inimigos de Jeová e Seu povo. Mas o Senhor, em Sua grande misericórdia, não castigou este erro de Seu servo, deixando-o entregue a si mesmo em sua angústia e perplexidade; pois, embora Davi, perdendo seu apego ao poder divino, houvesse vacilado, e se desviado da senda da estrita integridade, era ainda o propósito de seu coração ser fiel a Deus. Enquanto Satanás e sua hoste estavam ocupados, auxiliando os adversários de Deus e de Israel a fazerem planos contra um rei que abandonara a Deus, os anjos do Senhor estavam agindo para livrarem Davi do perigo em que caíra. Mensageiros celestiais atuavam nos príncipes filisteus para que protestassem contra a presença de Davi e sua força no exército, no conflito que se aproximava. PP 508 3 "Que fazem aqui estes hebreus?" exclamaram os príncipes filisteus, acercando-se de Aquis. Este, não querendo desfazer-se de um aliado tão importante, respondeu: "Não é este Davi, o criado de Saul, rei de Israel, que esteve comigo há alguns dias ou anos? e coisa alguma achei nele desde o dia em que se revoltou, até ao dia de hoje." PP 508 4 Mas os príncipes iradamente persistiram em seu pedido: "Faze voltar a este homem, e torne ao seu lugar em que tu o puseste, e não desça conosco à batalha, para que não se nos torne na batalha em adversário; porque com que aplacaria este a seu senhor? porventura não seria com as cabeças destes homens? Não é este aquele Davi, de quem uns aos outros respondiam nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi as suas dezenas de milhares?" A morte de seu famoso campeão e a vitória de Israel naquela ocasião ainda estavam vivos na memória dos príncipes filisteus. Não criam que Davi combatesse contra seu próprio povo; e, caso tomasse, no calor do combate, o lado deles, poderia infligir maior dano aos filisteus do que faria o exército todo de Saul. PP 509 1 Assim Aquis foi obrigado a ceder, e, chamando a Davi, disse-lhe: "Vive o Senhor, que tu és reto, e que a tua entrada e a tua saída comigo no arraial é boa aos meus olhos; porque nenhum mal em ti achei, desde o dia em que a mim vieste, até ao dia de hoje; porém aos olhos dos príncipes não agradas. Volta, pois, agora, e volta em paz, para que não faças mal aos olhos dos príncipes dos filisteus". 1 Samuel 29:3-7. PP 509 2 Davi, receando trair seus verdadeiros sentimentos, respondeu: "Por quê? que fiz? ou que achaste no teu servo desde o dia em que estive diante de ti, até ao dia de hoje, para que não vá e peleje contra os inimigos do rei meu senhor?" PP 509 3 A resposta de Aquis deve ter produzido um estremecimento de vergonha e remorso no coração de Davi, ao pensar quão indignos de um servo de Jeová eram os enganos a que se rebaixara. "Bem o sei; e que na verdade aos meus olhos és bom como um anjo de Deus", disse o rei; "porém disseram os príncipes dos filisteus: Não suba este conosco à batalha. Agora, pois, amanhã de madrugada levanta-te com os criados do teu senhor, que têm vindo contigo; e, levantando-vos pela manhã de madrugada, e havendo luz, parti". 1 Samuel 29:8-10. Deste modo a cilada em que Davi se enredara, rompera-se e ele ficou livre. PP 509 4 Depois de três dias de viagem, Davi e seu grupo de seiscentos homens chegaram em Ziclague, sua residência entre os filisteus. Mas seus olhos encontraram uma cena de desolação. Os amalequitas, tirando vantagem da ausência de Davi e sua força, tinham-se vingado de suas incursões em seu território. Haviam surpreendido a cidade, enquanto esta não se encontrava guardada, e, tendo-a saqueado e queimado, partiram, levando todas as mulheres e crianças como cativos, juntamente com muito despojo. PP 509 5 Mudos de horror e espanto, Davi e seus homens por algum tempo olharam em silêncio para as ruínas enegrecidas e a queimar-se lentamente. Então, quando um senso de sua terrível desolação os assaltou, aqueles guerreiros cheios de cicatrizes recebidas em batalhas "alçaram a sua voz, e choraram, até que neles não houve mais força para chorar". 1 Samuel 30:4. PP 509 6 Com isto foi Davi de novo castigado pela falta de fé que o levara a colocar-se entre os filisteus. Teve oportunidade de ver quanta segurança poderia obter-se entre os adversários de Deus e de Seu povo. Os seguidores de Davi voltaram-se contra ele, como causa de suas calamidades. Ele tinha provocado a vingança dos amalequitas pelo seu ataque contra eles; todavia, demasiado confiante em sua segurança em meio de seus inimigos, deixara desguarnecida a cidade. Loucos de dor e raiva, seus soldados estavam agora prontos para quaisquer medidas extremas, e ameaçaram mesmo apedrejar seu líder. PP 510 1 Davi parecia desligado de todo o apoio humano. Tudo que lhe era caro na Terra, dele havia sido arrebatado. Saul o expulsara de seu país; os filisteus o expulsaram do arraial; os amalequitas pilharam sua cidade; suas mulheres e filhos haviam sido feitos prisioneiros; e os próprios amigos de seu grupo ligaram-se contra ele, e o ameaçavam mesmo de morte. Nesta hora de extrema angústia, Davi, em vez de permitir que seu espírito se ocupasse com tais circunstâncias dolorosas, olhou com fervor a Deus à espera de auxílio. Ele "animou-se no Senhor". Reviu sua vida passada, cheia de peripécias. Em que o havia o Senhor abandonado? Sua alma refrigerou-se, lembrando-se das muitas provas do favor de Deus. Os seguidores de Davi, pelo seu descontentamento e impaciência, tornaram sua aflição duplamente atroz; mas o homem de Deus, tendo mesmo maior motivo de pesar, portou-se com coragem. "No dia em que eu temer, hei de confiar em Ti" (Salmos 56:3) -- era a expressão de seu coração. Embora ele mesmo não pudesse divisar um meio para sair da dificuldade, Deus podia vê-lo, e quis ensinar-lhe o que fazer. PP 510 2 Mandando chamar Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque, "consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu a esta tropa? alcançá-la-ei?" A resposta foi: "Persegue-a, porque decerto a alcançarás, e tudo libertarás". 1 Samuel 30:8. PP 510 3 A estas palavras o tumulto de mágoa e paixão cessou. Davi e seus soldados imediatamente se puseram em perseguição de seu adversário que fugia. Tão rápida foi a sua marcha que, em chegando ao ribeiro de Besor, que deságua perto de Gaza, no Mediterrâneo, duzentos do grupo foram obrigados pelo cansaço a ficar atrás. Mas Davi e os quatrocentos restantes avançaram impetuosamente, nada temendo. PP 510 4 Avançando, chegaram a um escravo egípcio, que estava aparentemente a ponto de morrer de cansaço e fome. Recebendo, porém, alimento e água, reanimou-se, e souberam que fora deixado a morrer, pelo seu cruel senhor, um amalequita pertencente à força invasora. Ele narrou a história da incursão e pilhagem; e, então, tendo exigido a promessa de que não seria morto ou entregue ao seu senhor, consentiu em guiar o grupo de Davi ao acampamento de seus inimigos. PP 510 5 Chegando à vista do arraial, defrontaram seus olhares uma cena de orgia. O exército vitorioso realizava uma grande festa. "Estavam espalhados sobre a face de toda a terra, comendo, e bebendo, e dançando, por todo aquele grande despojo que tomaram da terra dos filisteus e da terra de Judá". 1 Samuel 30:16. Ordenou-se um ataque imediato, e os perseguidores arremessaram-se ferozmente sobre sua presa. Os amalequitas ficaram surpresos e tomados de confusão. A batalha prolongou-se por toda aquela noite e o dia seguinte, até que quase todo o exército fosse morto. Apenas um grupo de quatrocentos homens, montados em camelos, conseguiu escapar. Cumpriu-se a palavra do Senhor. "Livrou Davi tudo quanto tomaram os amalequitas; também as suas duas mulheres livrou Davi. E ninguém lhes faltou, desde o menor até ao maior, e até os filhos e as filhas; e também desde o despojo até tudo quanto lhes tinham tomado, tudo Davi tornou a trazer". 1 Samuel 30:18, 19. PP 511 1 Quando Davi invadira o território dos amalequitas, passara ao fio da espada todos os habitantes que caíram em suas mãos. Se não fosse o poder repressor de Deus, os amalequitas ter-se-iam desforrado da mesma maneira, destruindo o povo de Ziclague. Resolveram poupar os prisioneiros, desejando aumentar a honra do triunfo em virtude de levar para seu país um grande número deles, e tencionando mais tarde vendê-los como escravos. Assim, sem o saber, cumpriram o propósito de Deus, conservando os prisioneiros isentos de qualquer mal, para serem restituídos aos seus maridos e pais. PP 511 2 Todos os poderes terrestres estão sob o domínio do Ser infinito. Ao mais poderoso governador, ao mais cruel opressor, diz Ele: "Até aqui virás, e não mais adiante". Jó 38:11. O poder de Deus é constantemente exercido para contrariar as forças do mal: Ele está sempre em ação entre os homens, não para os destruir, mas para corrigi-los e preservá-los. PP 511 3 Com grande regozijo os vitoriosos iniciaram a marcha em direção à sua terra. Chegando aos seus companheiros que tinham ficado atrás, os mais egoístas e desregrados dos quatrocentos insistiram em que aqueles que não tinham tomado parte na batalha não participassem dos despojos; que lhes bastava cada um recuperar sua esposa e filhos. Mas Davi não quis permitir tal disposição. "Não fareis assim, irmãos meus", disse ele, "com o que nos deu o Senhor. [...] Qual é a parte dos que desceram à peleja, tal também será a parte dos que ficaram com a bagagem; igualmente repartirão". 1 Samuel 30:23, 24. Assim foi resolvida a questão, e mais tarde tornou-se uma lei em Israel que todos os que com honra estivessem ligados a uma campanha militar devessem participar dos despojos, do mesmo modo que os que se achavam empenhados no próprio combate. PP 511 4 Além de recuperar todo o despojo que fora tomado de Ziclague, Davi e seu grupo apreenderam extensos rebanhos de ovelhas e vacas pertencentes aos amalequitas. Estes foram chamados "o despojo de Davi" (1 Samuel 30:20); e, voltando a Ziclague, enviou deste despojo presentes aos anciãos de sua própria tribo de Judá. Nesta distribuição foram lembrados todos os que ampararam a ele e seus seguidores nas fortalezas das montanhas, quando foi obrigado a fugir de um lugar para outro para conservar a vida. A bondade e a simpatia deles, tão preciosas ao perseguido fugitivo, foram dessa maneira gratamente reconhecidas. PP 511 5 Era o terceiro dia depois que Davi e seus guerreiros voltaram a Ziclague. Enquanto trabalhavam para restaurar suas casas arruinadas, aguardavam com coração ansioso notícias da batalha que sabiam dever ter sido ferida entre Israel e os filisteus. Subitamente um mensageiro entrou na cidade, "com vestidos rotos e com terra sobre a cabeça". 2 Samuel 1:2-12. Foi logo levado a Davi, diante de quem se curvou com reverência, exprimindo reconhecê-lo como um príncipe poderoso, cujo favor desejava. Davi indagou ansiosamente como tinha ido a batalha. O fugitivo referiu a derrota e morte de Saul, e a morte de Jônatas. Mas foi além de uma simples declaração dos fatos. Supondo evidentemente que Davi deveria alimentar inimizade para com o seu implacável perseguidor, o estrangeiro esperava conseguir honra para si como o matador do rei. Com um ar de vanglória, o homem pôs-se a relatar que durante a batalha encontrou o rei de Israel ferido, e mui assediado pelos seus adversários, e que pelo seu próprio pedido ele, o mensageiro, o matara. A coroa de sua cabeça e a pulseira de ouro que trazia no braço ele as trouxera a Davi. Confiantemente esperava que estas notícias fossem recebidas com alegria, e que receberia uma boa recompensa pela parte que desempenhara. PP 512 1 Mas "apanhou Davi os seus vestidos, e os rasgou, como também todos os homens que estavam com ele. E prantearam, e choraram, e jejuaram até à tarde por Saul, e por Jônatas, seu filho, e pelo povo do Senhor, e pela casa de Israel, porque tinham caído à espada". PP 512 2 Passado o primeiro abalo da terrível notícia, os pensamentos de Davi voltaram-se para o núncio estrangeiro, e para o crime de que, segundo sua própria declaração, ele era culpado. O líder perguntou ao moço: "Donde és tu?" E ele respondeu: "Sou filho de um homem estrangeiro, amalequita. E Davi lhe disse: Como não temeste tu estender a mão para matares ao ungido do Senhor?" Duas vezes Davi tivera Saul em seu poder; mas, quando insistiram para que o matasse, recusara-se levantar a mão contra aquele que fora consagrado por ordem de Deus para governar Israel. No entanto o amalequita não receara jactar-se de que matara o rei de Israel. Acusara a si mesmo de um crime digno de morte, e a pena foi infligida imediatamente. Disse Davi: "O teu sangue seja sobre a tua cabeça, porque a tua própria boca testificou contra ti, dizendo: Eu matei o ungido do Senhor". 2 Samuel 1:13-16. PP 512 3 A dor de Davi pela morte de Saul era sincera e profunda, demonstrando a generosidade de uma natureza nobre. Não exultou com a queda de seu inimigo. O obstáculo que lhe impedia o acesso ao trono de Israel estava removido, mas ele não se regozijou com isto. A morte apaga a lembrança das desconfianças e crueldade de Saul, e agora em coisa alguma de sua história pensava a não ser naquilo que era nobre e digno de um rei. O nome de Saul estava ligado com o de Jônatas, cuja amizade fora tão fiel e tão abnegada. PP 512 4 O cântico no qual Davi exprimiu os sentimentos de seu coração, tornou-se um tesouro para a sua nação, e para o povo de Deus em todas as eras subseqüentes: PP 513 1 "Ah, ornamento de Israel! nos teus altos fui ferido. Como caíram os valentes! Não o noticieis em Gate, não o publiqueis nas ruas de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos. Vós, montes de Gilboa, nem orvalho, nem chuva caia sobre vós, nem sobre vós, campos de ofertas alçadas. Pois aí desprezivelmente foi arrojado o escudo dos valentes, o escudo de Saul, como se não fora ungido com óleo. [...] Saul e Jônatas, tão amados e queridos na sua vida, também na sua morte se não separaram; eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes do que os leões. Vós, filhas de Israel, chorai por Saul, que vos vestia de escarlata em delícias, que vos fazia trazer ornamentos de ouro sobre os vossos vestidos. Como caíram os valentes no meio da peleja! Jônatas nos teus altos foi ferido. Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; quão amabilíssimo me eras! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres. Como caíram os valentes, e pereceram as armas de guerra!" 2 Samuel 1:19-27. ------------------------Capítulo 69 -- Davi chamado ao trono PP 514 0 Este capítulo é baseado em 2 Samuel 2-5:5. PP 514 1 A morte de Saul removeu os perigos que haviam feito de Davi um exilado. Estava agora aberto o caminho para ele voltar para a sua terra. Acabando-se os dias de lamentação por Saul e Jônatas, "Davi consultou ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá? E disse-lhe o Senhor: Sobe. E disse Davi: Para onde subirei? E disse: Para Hebrom". 2 Samuel 2:1. PP 514 2 Hebrom ficava a trinta quilômetros ao norte de Berseba, e a meio caminho entre esta cidade e o futuro local de Jerusalém. Chamava-se primitivamente Quiriate-Arba, a cidade de Arba, pai de Enaque. Mais tarde se chamou Manre, e ali foi o lugar em que foram sepultados os patriarcas, a "cova de Macpela". Gênesis 25:9. Hebrom tinha sido a possessão de Calebe, e era agora a cidade principal de Judá. Ficava em um vale rodeado de fértil região montesina e de terras produtivas. As mais belas vinhas da Palestina achavam-se em seus termos, juntamente com numerosas plantações de oliveiras e outras árvores frutíferas. PP 514 3 Davi e seus seguidores imediatamente se prepararam para obedecer à instrução que tinham recebido de Deus. Os seiscentos homens armados, juntamente com suas mulheres e filhos, seus rebanhos e vacas, logo se acharam em caminho para Hebrom. Entrando a caravana na cidade, os homens de Judá estavam esperando para darem as boas-vindas a Davi como futuro rei de Israel. Imediatamente se tomaram disposições para a sua coroação. "E ungiram ali a Davi rei sobre a casa de Judá". 2 Samuel 2:4. Mas não se fez nenhum esforço para estabelecer sua autoridade, pela força, sobre as outras tribos. PP 514 4 Um dos primeiros atos do rei recém-coroado foi exprimir sua afetuosa consideração pela memória de Saul e Jônatas. Tendo conhecimento da ação heróica dos homens de Jabes-Gileade, retirando os corpos dos chefes mortos, e dando-lhes honrosa sepultura, enviou Davi uma embaixada a Jabes com esta mensagem: "Benditos sejais vós do Senhor, que fizestes tal beneficência a vosso senhor, a Saul, e o sepultastes! Agora, pois, o Senhor use convosco de beneficência e fidelidade; e também eu vos farei este bem". 2 Samuel 2:5, 6. E anunciou sua subida ao trono de Judá, e pediu fidelidade por parte daqueles que haviam mostrado tão sincera lealdade. PP 514 5 Os filisteus não se opuseram à ação de Judá, tornando a Davi rei. Eles o haviam favorecido em seu exílio, a fim de molestar e enfraquecer o reino de Saul; e agora esperavam que por causa de sua anterior bondade para com Davi, a extensão do poder deste resultaria, afinal, em proveito deles. Mas o reinado de Davi não estaria livre de dificuldades. Com a sua coroação começou o negro registro de conspirações e rebeliões. Davi não sentou no trono de um traidor. Deus o escolhera para ser rei de Israel, e não tinha havido motivo para desconfiança e oposição. No entanto, mal havia sido sua autoridade reconhecida pelos homens de Judá, quando, pela influência de Abner, foi Isbosete, filho de Saul, proclamado rei e posto sobre um trono rival em Israel. PP 515 1 Isbosete não era senão um representante fraco e incompetente da casa de Saul, ao passo que Davi estava preeminentemente qualificado para assumir as responsabilidades do reino. Abner, o fator principal no levantamento de Isbosete ao poder real, tinha sido comandante-geral do exército de Saul, e era o homem mais distinto em Israel. Abner sabia que Davi tinha sido designado pelo Senhor ao trono de Israel; mas tendo-o tanto tempo afligido e perseguido, não estava agora disposto a que o filho de Jessé sucedesse no reino em que governara Saul. PP 515 2 As circunstâncias sob as quais Abner foi posto, serviram para desenvolver seu verdadeiro caráter, e mostraram ser ele ambicioso e sem escrúpulos. Tinha estado intimamente ligado a Saul, e fora influenciado pelo espírito do rei para desprezar o homem que Deus escolhera para reinar sobre Israel. Seu ódio aumentara pela censura incisiva que Davi lhe fizera na ocasião em que a bilha de água e a lança do rei foram tiradas de ao lado de Saul, enquanto ele dormia no acampamento. Lembrava-se de como Davi tinha bradado aos ouvidos do rei e do povo de Israel: "Porventura não és varão? e quem há em Israel como tu, por que, pois, não guardaste tu o rei teu senhor? [...] Não é bom isto, que fizeste; vive o Senhor, que sois dignos de morte, vós que não guardastes a vosso senhor, o ungido do Senhor". 1 Samuel 26:15, 16. Esta censura inflamara-se em seu peito, e resolveu executar seu propósito de vingança, e criar divisão em Israel, por meio do que poderia ele próprio exaltar-se. Empregou o representante da passada realeza para promover suas ambições e intuitos egoístas. Sabia que o povo amava Jônatas. Sua memória era acalentada, e as primeiras campanhas bem-sucedidas de Saul não foram esquecidas pelo exército. Com decisão digna de melhor causa, este líder revoltoso prosseguiu na execução de seus planos. PP 515 3 Maanaim, na outra margem do Jordão, foi escolhida para residência real, visto que oferecia a máxima segurança contra ataques, quer de Davi quer dos filisteus. Ali teve lugar a coroação de Isbosete. Seu reino foi primeiramente aceito pelas tribos ao este do Jordão, e estendeu-se finalmente por todo o Israel, com exceção de Judá. Durante dois anos o filho de Saul fruiu as suas honras em sua segregada capital. Mas Abner, no intuito de ampliar seu poder por todo o Israel, preparou-se para a guerra agressiva. E "houve uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi; porém Davi se ia fortalecendo, mas os da casa de Saul se iam enfraquecendo". 2 Samuel 3:1. PP 516 1 Finalmente a traição subverteu o trono que a malícia e a ambição estabeleceram. Abner, enchendo-se de ira contra o fraco e incompetente Isbosete, desertou para o lado de Davi, com o oferecimento de lhe trazer todas as tribos de Israel. Suas propostas foram aceitas pelo rei, e ele foi despedido com honra para cumprir o seu propósito. Mas a recepção favorável de tão valente e famoso guerreiro provocou a inveja de Joabe, o comandante-geral do exército de Davi. Havia uma dissensão mortal entre Abner e Joabe, tendo o primeiro morto a Asael, irmão de Joabe, durante a guerra entre Israel e Judá. Agora Joabe, vendo uma oportunidade para vingar a morte de seu irmão, e livrar-se de um que seria seu rival, aproveitou-se vilmente da ocasião para armar cilada a Abner e matá-lo. PP 516 2 Davi, ouvindo falar deste traiçoeiro assalto, exclamou: "Inocente sou eu, e o meu reino, para com o Senhor, para sempre, do sangue de Abner, filho de Ner. Fique-se sobre a cabeça de Joabe e sobre toda a casa de seu pai". 2 Samuel 3:28, 29. Em vista da condição incerta do reino, e do poderio e cargo dos assassinos -- pois que o irmão de Joabe, Abisai, estivera unido com ele -- Davi não pôde punir o crime com o justo castigo; contudo, manifestou publicamente sua aversão àquela cena de sangue. O sepultamento de Abner foi acompanhado de honras públicas. Exigiu-se que o exército, com Joabe à sua frente, tomasse parte nos atos de lamentação, com vestes rotas e vestidos de saco. O rei manifestou sua dor, observando um jejum no dia do sepultamento; acompanhou o séquito fúnebre como o principal pranteador; e junto à sepultura pronunciou uma homenagem que era uma censura cortante aos assassinos. E o rei, pranteando a Abner, disse: "Não morreu Abner como morre o vilão? As tuas mãos não estavam atadas, nem os teus pés carregados de grilhões de bronze, mas caíste como os que caem diante dos filhos da maldade!" 2 Samuel 3:33, 34. PP 516 3 O magnânimo reconhecimento por parte de Davi, com relação a um que fora seu inimigo atroz, conquistou a confiança e a admiração de todo o Israel. "O que todo o povo entendendo, pareceu bem aos seus olhos, assim como tudo quanto o rei fez pareceu bem aos olhos de todo o povo. E todo o povo e todo Israel entenderam naquele mesmo dia que não procedera do rei que matassem a Abner, filho de Ner." PP 516 4 No círculo particular dos conselheiros e assistentes que lhe mereciam confiança, o rei falou do crime, e reconhecendo sua própria incapacidade de punir os assassinos como o desejava, entregou-os à justiça de Deus: "Não sabeis que hoje caiu em Israel um príncipe e um grande? Que eu ainda sou tenro, ainda que ungido rei; estes homens, filhos de Zeruia, são mais duros do que eu. O Senhor pagará ao malfeitor conforme a sua maldade". 2 Samuel 3:36-39. PP 516 5 Abner tinha sido sincero em seus oferecimentos e representações a Davi; todavia seus intuitos eram vis e egoístas. Opusera-se persistentemente ao rei por Deus designado, na expectativa de conseguir honra para si. Era o ressentimento, o orgulho ferido, e a paixão o que o levou a abandonar a causa que durante tanto tempo havia servido; e, desertando para o lado de Davi, esperava receber a mais alta posição de honra ao seu serviço. Se ele tivesse sido bem-sucedido em seu propósito, seus talentos e ambição, sua grande influência e falta de piedade teriam feito perigar o trono de Davi e a paz e a prosperidade da nação. PP 517 1 "Ouvindo pois o filho de Saul que Abner morrera em Hebrom, as mãos se lhe afrouxaram; e todo o Israel pasmou". 2 Samuel 4:1. Era evidente que o reino não poderia manter-se por muito tempo. Logo outro ato de traição completou a queda do poder decadente. Isbosete foi miseravelmente assassinado por dois de seus capitães, os quais, decepando-lhe a cabeça, levaram-na apressadamente ao rei de Judá, esperando assim captar o seu favor. PP 517 2 Compareceram perante Davi com a sangrenta testemunha de seu crime, dizendo: "Eis aqui a cabeça de Isbosete, filho de Saul, teu inimigo, que te procurava a morte; assim o Senhor vingou hoje ao rei meu senhor de Saul e da sua semente." Mas Davi, cujo trono o próprio Deus estabelecera, e a quem Deus livrara de seus adversários, não desejava o auxílio da traição para estabelecer seu poderio. Contou aos assassinos a condenação que atingira aquele que se vangloriou de matar Saul. "Quanto mais", acrescentou ele, "a ímpios homens, que mataram um homem justo em sua casa, sobre a sua cama; agora, pois, não requereria eu o seu sangue de vossas mãos, e não vos exterminaria da Terra? E deu Davi ordem aos seus mancebos que os matassem. [...] Tomaram, porém, a cabeça de Isbosete, e a sepultaram na sepultura de Abner, em Hebrom". 2 Samuel 4:11, 12. PP 517 3 Depois da morte de Isbosete, houve um desejo geral entre os principais homens de Israel de que Davi fosse rei de todas as tribos. "Então todas as tribos de Israel vieram a Davi, a Hebrom, e falaram, dizendo: Eis-nos aqui, teus ossos e tua carne somos." Declararam: "Eras tu o que saías e entravas com Israel; e também o Senhor te disse: Tu apascentarás o Meu povo de Israel, e tu serás chefe sobre Israel. Assim, pois, todos os anciãos de Israel vieram ao rei, a Hebrom; e o rei Davi fez com eles aliança em Hebrom, perante o Senhor". 2 Samuel 5:1-3. Assim, pela providência de Deus, abrira-se-lhe o caminho para ir ao trono. Ele não tinha nenhuma ambição pessoal a satisfazer, pois não procurara a honra a que fora levado. PP 517 4 Mais de oito mil dos descendentes de Arão, e dos levitas, serviam a Davi. A mudança nos sentimentos do povo foi assinalada e decisiva. A revolução foi silenciosa e digna, adaptada à grande obra que estavam a fazer. Quase meio milhão de almas, os anteriores súditos de Saul, congregaram-se em Hebrom e arredores. As próprias colinas e vales pareciam vivas com as multidões. A hora da coroação foi designada; o homem que fora expulso da corte de Saul, que fugira às montanhas e colinas e às cavernas da terra, a fim de preservar a vida, estava prestes a receber a mais alta honra que ao homem pode ser conferida por seus semelhantes. Sacerdotes e anciãos, vestidos nos trajes de seu ofício sagrado; oficiais e soldados com lanças e capacetes resplandecentes; e estrangeiros, de longas distâncias, ali se achavam para assistirem à coroação do rei eleito. Davi estava vestido com os trajes reais. O óleo sagrado foi-lhe posto sobre a fronte pelo sumo sacerdote; pois a unção feita por Samuel fora profética em relação ao que teria lugar no início das funções do rei. Chegado era o tempo, e Davi, mediante uma cerimônia solene, foi consagrado para o seu ofício como representante de Deus. O cetro foi-lhe posto nas mãos. O concerto de sua justa soberania foi escrito, e o povo apresentou seus compromissos de fidelidade. Colocou-se-lhe na fronte o diadema, e estava terminada a cerimônia da coroação. Israel tinha um rei de indicação divina. Aquele que tinha esperado pacientemente pelo Senhor, viu cumprida a promessa de Deus. "E Davi se ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque o Senhor Deus dos exércitos era com ele". 2 Samuel 5:10. ------------------------Capítulo 70 -- O reinado de Davi PP 519 0 Este capítulo é baseado em 2 Samuel 5:6-25; 6-7; 9-10. PP 519 1 Logo que Davi se estabeleceu no trono de Israel, começou a procurar um lugar mais apropriado para a capital de seu reino. A trinta quilômetros de Hebrom, foi escolhido um lugar para a futura metrópole do reino. Antes que Josué tivesse guiado os exércitos de Israel pelo Jordão, chamava-se ele Salém. Perto deste lugar, Abraão tinha provado sua fidelidade a Deus. Oitocentos anos antes da coroação de Davi, fora a residência de Melquisedeque, o sacerdote do Deus Altíssimo. Ocupava uma posição central e elevada no território, e era protegida por inúmeras colinas. Estando nos limites de Benjamim e Judá, encontrava-se muito próxima de Efraim, e era de fácil acesso a todas as outras tribos. PP 519 2 A fim de conseguir este local, os hebreus tinham de desapossar um resto de cananeus, que mantinham uma posição fortificada nas colinas de Sião e Moriá. Esta fortaleza era chamada Jebus, e seus habitantes eram conhecidos por jebusitas. Durante séculos, Jebus fora considerada inexpugnável; mas foi sitiada e tomada pelos hebreus sob o comando de Joabe, que, como recompensa de seu valor, foi feito comandante-geral dos exércitos de Israel. Jebus tornou-se então a capital nacional, e seu nome pagão foi mudado para Jerusalém. PP 519 3 Hirão, rei da magnificente cidade de Tiro, no Mediterrâneo, procurou agora uma aliança com o rei de Israel, e ajudou a Davi na obra de construir um palácio em Jerusalém. Foram enviados de Tiro embaixadores, acompanhados de arquitetos e operários, e longas caravanas carregadas de valiosa madeira, troncos de cedro e outros materiais de valor. PP 519 4 A força crescente de Israel em sua união sob o governo de Davi, a aquisição da fortaleza de Jebus e a aliança com Hirão, rei de Tiro, provocaram a hostilidade dos filisteus, que invadiram de novo o território com uma grande força, tomando posição no vale de Refaim, a pequena distância de Jerusalém. Davi e seus homens de guerra, retiraram-se à fortaleza de Sião, para esperar a direção divina. "Subirei contra os filisteus? Entregar-mos-ás nas minhas mãos? E disse o Senhor a Davi: Sobe, porque certamente entregarei os filisteus nas tuas mãos". 2 Samuel 5:17-25. PP 519 5 Davi avançou contra o inimigo imediatamente, derrotou-os e destruiu-os, e tomou deles os deuses que tinham trazido consigo a fim de assegurarem a vitória. Exasperados pela humilhação da derrota, os filisteus ajuntaram uma força ainda maior, e voltaram ao conflito. E novamente "se estenderam pelo vale de Refaim". 2 Samuel 5:18. De novo Davi procurou ao Senhor e o grande EU SOU tomou a direção dos exércitos de Israel. PP 520 1 Deus instruiu a Davi dizendo: "Não subirás; mas rodeia por detrás deles, e virás a eles por defronte das amoreiras. E há de ser que, ouvindo tu um estrondo de marcha pelas copas das amoreiras, então te apressarás, porque o Senhor saiu então diante de ti, a ferir o arraial dos filisteus". 2 Samuel 5:23, 24. Se Davi, como Saul, tivesse escolhido seu próprio caminho, o êxito não o teria acompanhado. Mas ele fez conforme o Senhor mandou, e "feriram o exército dos filisteus desde Gibeom até Gezer. Assim se espalhou o nome de Davi por todas aquelas terras; e o Senhor pôs o seu temor sobre todas aquelas gentes". 1 Crônicas 14:16, 17. PP 520 2 Agora que Davi estava firmemente estabelecido no trono, e livre da invasão de adversários estrangeiros, volveu à realização de um acariciado propósito: trazer a arca de Deus a Jerusalém. Durante muitos anos a arca permanecera em Quiriate-Jearim, distante treze quilômetros; mas cumpria que a capital da nação fosse honrada com o sinal da presença divina. PP 520 3 Davi convocou trinta mil dos principais homens de Israel; pois era seu intuito tornar aquele ato um espetáculo de grande regozijo e imponente manifestação. O povo correspondeu alegremente ao convite. O sumo sacerdote, juntamente com seus irmãos no ofício sagrado, e os príncipes e homens principais das tribos, reuniram-se em Quiriate-Jearim. Davi estava radiante de santo zelo. A arca foi trazida da casa de Abinadabe, e colocada em um carro novo puxado por bois, enquanto dois dos filhos de Abinadabe a acompanhavam. PP 520 4 Os homens de Israel iam em seguimento, com exultantes aclamações, e com cânticos de regozijo, unindo-se melodiosamente uma multidão de vozes com o som de instrumentos músicos; "Davi, e toda a casa de Israel, alegravam-se perante o Senhor, [...] com harpas, e com saltérios, e com tamboris, e com pandeiros, e com címbalos". Fazia muito tempo que Israel não via uma cena de triunfo como aquela. Com alegria solene o vasto cortejo serpeava por entre colinas e vales em direção à santa cidade. PP 520 5 Mas, "chegando à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus, e teve a mão nela; porque os bois a deixavam pender. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta imprudência; e morreu ali junto à arca de Deus". 2 Samuel 6:6, 7. Um súbito terror caiu sobre a multidão jubilosa. Davi ficou espantado e grandemente alarmado, e intimamente pôs em dúvida a justiça de Deus. Ele estivera procurando honrar a arca como símbolo da presença divina. Por que, pois, havia sido aquele terrível juízo enviado para mudar a ocasião de alegria em dor e lamentação? Entendendo que não seria de bom aviso ter a arca perto de si, resolveu Davi deixá-la ficar onde estava. Foi encontrado perto, para ela, um lugar, na casa de Obede-Edom, o geteu. PP 520 6 A sorte de Uzá foi um juízo divino pela violação de um mandado explícito. Por meio de Moisés o Senhor dera instrução especial com relação ao transporte da arca. Ninguém, a não ser os sacerdotes, descendentes de Arão, devia tocá-la, ou mesmo olhar para ela, estando descoberta. A instrução divina era: "Os filhos de Coate virão para levá-lo; mas no santuário não tocarão, para que não morram". Números 4:15. Os sacerdotes deviam cobrir a arca, e então os coatitas deviam carregá-la pelas hastes, as quais eram colocadas em argolas de cada lado da arca, e nunca se removiam. Aos gersonitas e meraritas, que tinham a seu cargo as cortinas, as tábuas e as colunas do tabernáculo, Moisés deu carros e bois para o transporte daquilo que lhes era confiado. "Mas aos filhos de Coate nada deu, porquanto a seu cargo estava o santuário e o levavam aos ombros". Números 7:9. Assim, no trazer a arca de Quiriate-Jearim, houve uma desatenção direta e indesculpável às determinações do Senhor. PP 521 1 Davi e seu povo tinham-se congregado para efetuar uma obra sagrada, e à mesma entregaram-se com coração alegre e disposto; mas o Senhor não podia aceitar o serviço, porque não era efetuado de acordo com Suas orientações. Os filisteus, que não tinham conhecimento da lei de Deus, haviam colocado a arca em um carro quando a devolveram a Israel, e o Senhor aceitou o esforço que fizeram. Mas os israelitas tinham em suas mãos uma declaração compreensível da vontade de Deus em todas estas questões, e sua negligência a tais instruções desonrava a Deus. Em Uzá recaía a maior culpa de arrogância. A transgressão à lei de Deus diminuíra a intuição que ele tinha da santidade da mesma, e, tendo sobre si pecados não confessados, atrevera-se em face da proibição divina a tocar no símbolo da presença de Deus. Deus não pode aceitar uma obediência parcial, uma maneira frouxa de tratar os Seus mandamentos. Pelo juízo sobre Uzá, era Seu intuito impressionar todo o Israel quanto à importância de dar estrita atenção aos Seus requisitos. Assim a morte daquele homem, levando o povo ao arrependimento, poderia impedir a necessidade de infligir juízos sobre milhares. PP 521 2 Sentindo que seu próprio coração não era inteiramente reto para com Deus, Davi, vendo o golpe desferido em Uzá, temera a arca, receoso de que algum pecado de sua parte acarretasse juízo sobre si. Mas Obede-Edom, embora se regozijasse com temor, acolheu gratamente o símbolo sagrado como a garantia do favor de Deus aos obedientes. A atenção de todo o Israel dirigiu-se agora ao geteu e sua casa; todos estavam vigilantes para ver o que lhes aconteceria. "E abençoou o Senhor a Obede-Edom, e a toda a sua casa". 2 Samuel 6:12. PP 521 3 A reprovação divina cumpriu a sua obra em Davi. Foi levado a compenetrar-se, como nunca dantes, da santidade da lei de Deus, e da necessidade de obediência estrita. O favor manifesto à casa de Obede-Edom levou Davi novamente a esperar que a arca pudesse trazer uma bênção a ele e a seu povo. PP 521 4 No fim de três meses, resolveu fazer outra tentativa para mudar a arca, e dispensou agora cuidadosa atenção à execução das instruções do Senhor, em todo pormenor. De novo foram convocados os homens principais da nação; e uma vasta congregação se reuniu em torno da residência do geteu. Com reverente cuidado a arca foi agora posta sobre os ombros de homens divinamente designados, a multidão pôs-se em linha, e, com corações a tremer, o grande séquito partiu novamente. Depois de caminharem seis passos, a trombeta deu sinal de parada. Por determinação de Davi deveriam ser oferecidos sacrifícios de "bois e carneiros cevados". 2 Samuel 6:13. O júbilo então tomou o lugar do tremor e terror. O rei depusera suas vestes reais, e vestira-se com um simples éfode de linho, como o que era usado pelos sacerdotes. Não dava a entender por este ato que assumira as funções sacerdotais, pois que o éfode era algumas vezes usado por outros além dos sacerdotes. Antes, neste serviço santo ele queria, perante Deus, tomar lugar igual ao de seus súditos. Naquele dia, Jeová devia ser adorado. Devia Ele ser o único objeto de reverência. PP 522 1 Outra vez pôs-se em movimento o longo séquito, e a música de harpas e cornetas, trombetas e címbalos, ressoava em direção ao céu, misturada com a melodia de muitas vozes. "E Davi saltava. [...] diante do Senhor" (2 Samuel 6:14), acompanhando em sua alegria o ritmo do cântico. PP 522 2 A dança de Davi em júbilo reverente, perante Deus, tem sido citada pelos amantes dos prazeres para justificarem as danças modernas da moda; mas não há base para tal argumento. Em nosso tempo a dança está associada com a extravagância e as orgias noturnas. A saúde e a moral são sacrificadas ao prazer. Para os que freqüentam os bailes, Deus não é objeto de meditação e reverência; sentir-se-ia estarem a oração e o cântico de louvor deslocados, na assembléia deles. Esta prova deve ser decisiva. Diversões que tendem a enfraquecer o amor pelas coisas sagradas e diminuir nossa alegria no serviço de Deus, não devem ser procuradas por cristãos. A música e dança, em jubiloso louvor a Deus, por ocasião da mudança da arca, não tinham a mais pálida semelhança com a dissipação da dança moderna. A primeira tendia à lembrança de Deus, e exaltava Seu santo nome. A última é um ardil de Satanás para fazer os homens se esquecerem de Deus e O desonrarem. PP 522 3 O triunfal cortejo aproximou-se da capital, acompanhando o símbolo sagrado de seu Rei invisível. Então uma explosão de cânticos exigiu dos guardas sobre os muros que as portas da santa cidade se abrissem amplamente: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória." PP 522 4 Um grupo de cantores e instrumentistas respondeu: "Quem é este Rei da glória?" PP 522 5 De outro grupo veio a resposta: "O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra." PP 522 6 Então, centenas de vozes, unindo-se, avolumaram o coro triunfal: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória." PP 523 1 De novo se ouve a alegre interrogação: "Quem é este Rei da glória?" E a voz daquela grande multidão, "como o som de muitas águas", foi ouvida em arrebatadora resposta: "O Senhor dos exércitos; Ele é o Rei da glória". Salmos 24:7-10. PP 523 2 Então as portas se abriram amplamente, o cortejo entrou, e com temor reverente a arca foi depositada na tenda que tinha sido preparada para a sua recepção. Diante do recinto sagrado, foram construídos altares para sacrifício; a fumaça das ofertas pacíficas e holocaustos, e a nuvem de incenso, com os louvores e súplicas de Israel, ascendiam ao Céu. Terminado o serviço religioso, o próprio rei pronunciou uma bênção sobre seu povo. Então, com régia generosidade, ordenou que presentes de alimentos e vinho fossem distribuídos. PP 523 3 Todas as tribos estiveram representadas nesta cerimônia -- a celebração do acontecimento mais sagrado que até então assinalara o reinado de Davi. O Espírito de inspiração repousara sobre o rei; e agora, banhando os últimos raios do Sol poente o tabernáculo, com uma consagrada luz, seu coração se ergueu em gratidão a Deus por estar agora o símbolo de Sua presença tão perto do trono de Israel. PP 523 4 Assim meditando, volveu Davi ao seu palácio, "para abençoar a sua casa". Mas havia alguém que testemunhara a cena de regozijo, com um espírito grandemente diverso do que movia o coração de Davi. "Entrando a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração." Na amargura de sua paixão, ela não pôde esperar a volta de Davi ao palácio, mas saiu ao seu encontro, e à sua amável saudação derramou uma torrente de palavras amargas. Penetrante e incisiva foi a ironia de seu discurso: "Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre qualquer dos vadios". 2 Samuel 6:20, 16, 20. PP 523 5 Davi compreendeu que fora o serviço de Deus que Mical havia desprezado e desonrado, e respondeu severamente: "Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; e das servas, de quem falaste, delas serei honrado." A reprovação de Davi foi acrescentada a do Senhor: por causa de seu orgulho e arrogância Mical "não teve filhos, até ao dia da sua morte". 2 Samuel 6:21-23. PP 523 6 As cerimônias solenes que acompanharam a mudança da arca tinham produzido uma impressão duradoura no povo de Israel, despertando um interesse maior no serviço do santuário, e acendendo de novo seu zelo por Jeová. Davi se esforçara por todos os meios ao seu alcance por aprofundar estas impressões. O serviço do cântico tornou-se uma parte regular do culto religioso; e Davi compôs salmos, não somente para o uso dos sacerdotes no serviço do santuário, mas também para serem cantados pelo povo em suas jornadas ao altar nacional nas festas anuais. A influência assim exercida era de grande alcance, e teve como resultado libertar da idolatria a nação. Muitos dos povos circunvizinhos, vendo a prosperidade de Israel, eram levados a pensar favoravelmente acerca do Deus de Israel, que havia feito tão grandes coisas por Seu povo. PP 524 1 O tabernáculo construído por Moisés, juntamente com tudo que se relacionava com o serviço do santuário, com exceção da arca, ainda se encontrava em Gibeá. Era o propósito de Davi tornar Jerusalém o centro religioso da nação. Ele construíra um palácio para si, e achou que não era coerente ficar a arca de Deus dentro de uma tenda. Resolveu construir para ela um templo de tal magnificência que exprimisse a apreciação de Israel à honra conferida à nação pela contínua presença de Jeová, seu Rei. Comunicando seu propósito ao profeta Natã, recebeu a animadora resposta: "Vai, e faze tudo quanto está no teu coração; porque o Senhor é contigo". 2 Samuel 7:2, 3. PP 524 2 Mas, naquela mesma noite a palavra do Senhor veio a Natã, dando-lhe uma mensagem para o rei. Davi foi privado do privilégio de construir uma casa para Deus, mas concedeu-se-lhe a certeza do favor divino, a ele, a sua posteridade, e ao reino de Israel: "Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses o chefe sobre o Meu povo, sobre Israel. E fui contigo, por onde quer que foste, e destruí a teus inimigos diante de ti; e fiz para ti um grande nome, como o nome dos grandes que há na Terra. E preparei lugar para Meu povo, para Israel, e o plantarei, para que habite no seu lugar, e não mais seja movido, e nunca mais os filhos da perversidade o aflijam, como dantes". 2 Samuel 7:8-10. PP 524 3 Tendo Davi desejado construir uma casa para Deus, foi feita a promessa: "O Senhor te faz saber que o Senhor te fará casa. [...] Farei levantar depois de ti a tua semente. [...] Este edificará uma casa ao Meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre". 2 Samuel 7:11-13. PP 524 4 A razão por que Davi não devia construir o templo, foi declarada: "Tu derramaste sangue em abundância, e fizeste grandes guerras; não edificarás casa ao Meu nome. [...] Eis que o filho que te nascer será homem de repouso; porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos em redor; [...] Salomão [pacífico] será o seu nome, e paz e descanso darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao Meu nome". 1 Crônicas 22:8-10. PP 524 5 Embora o acariciado intento de seu coração fosse denegado, Davi recebeu a mensagem com gratidão. "Quem sou eu, Senhor Jeová?" exclamou ele; "e qual é a minha casa, que me trouxeste até aqui? E ainda foi isto pouco aos Teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da casa de Teu servo para tempos distantes" (2 Samuel 7:18); e então renovou seu concerto com Deus. PP 524 6 Davi sabia que seria uma honra a seu nome, e traria glória ao seu governo realizar a obra que em seu coração se tinha proposto fazer; mas estava disposto a submeter sua vontade à vontade de Deus. A grata resignação, assim manifesta, raro se vê, mesmo entre cristãos. Quantas vezes aqueles que têm passado pela força da varonilidade, apegam-se à esperança de realizar alguma obra em que põem seu coração, mas que não estão em condições de efetuar! A providência de Deus pode falar-lhes, como fez o Seu profeta a Davi, declarando que a obra que desejam tanto não lhes é confiada. A eles toca preparar o caminho para que outro o cumpra. Mas em vez de se submeterem com gratidão à direção divina, muitos se retraem como se fossem menosprezados e rejeitados, entendendo que, se não podem fazer a coisa que desejam, não farão nada. Muitos se apegam com desesperada energia as responsabilidades que são incapazes de assumir, e em vão se esforçam por cumprir uma obra para a qual estão despreparados, enquanto aquela que podem fazer continua negligenciada. E por causa desta falta de cooperação de sua parte, o trabalho maior é impedido ou frustrado. PP 525 1 Davi, em seu concerto com Jônatas, prometera que, quando ele tivesse descanso de seus inimigos, mostraria benignidade à casa de Saul. Em sua prosperidade, lembrando-se deste concerto, indagou o rei: "Há ainda alguém que ficasse da casa de Saul, para que lhe faça bem por amor de Jônatas?" 2 Samuel 9:1. Falaram-lhe acerca de um filho de Jônatas, Mefibosete, que tinha sido coxo desde a infância. Por ocasião da derrota de Saul pelos filisteus, em Jezreel, a ama desta criança, tentando fugir com ela, deixara-a cair, tornando-a assim um aleijado para toda a vida. Davi chamou agora o jovem à corte, e o recebeu com grande bondade. As posses particulares de Saul foram-lhe restituídas para a manutenção de sua casa; mas o filho de Jônatas deveria ser hóspede constante do rei, sentando-se diariamente à mesa real. Por meio de boatos por parte dos inimigos de Davi, Mefibosete fora levado a acalentar forte preconceito contra ele como um usurpador; mas a recepção generosa e cortês conquistou o coração do moço; ele se afeiçoou grandemente a Davi, e, como seu pai Jônatas, sentiu que seu interesse era o mesmo do rei que Deus escolhera. PP 525 2 Depois do estabelecimento de Davi no trono de Israel, a nação viveu um longo período de paz. Os povos circunvizinhos, vendo a força e unidade do reino, logo acharam prudente desistir de francas hostilidades; e Davi, ocupado com a organização e levantamento de seu reino, absteve-se de guerra agressiva. Entretanto, fez afinal guerra aos velhos inimigos de Israel, os filisteus, e aos moabitas, e conseguiu vencer a uns e outros, e torná-los tributários. PP 525 3 Formou-se então contra o reino de Davi uma vasta coligação das nações circunjacentes, da qual resultaram as maiores guerras e vitórias de seu reinado, e o maior acréscimo ao seu poderio. Esta aliança hostil, que realmente nasceu da inveja do poder crescente de Davi, não foi absolutamente provocada por ele. As circunstâncias que determinaram sua formação foram estas: PP 526 1 Foram recebidas em Jerusalém notícias anunciando a morte de Naás, rei dos amonitas, que mostrara bondade para com Davi, quando este fugia da ira de Saul. Agora, desejando exprimir sua grata apreciação pelo favor que lhe fora mostrado em sua situação angustiosa, Davi enviou embaixadores com uma mensagem de simpatia a Hanum, filho e sucessor do rei amonita. "Usarei de beneficência com Hanum, filho de Naás, como seu pai usou de beneficência comigo", disse Davi. PP 526 2 Mas seu ato de cortesia foi mal-interpretado. Os amonitas odiavam o Deus verdadeiro, e eram atrozes inimigos de Israel. A bondade aparente de Naás a Davi fora motivada inteiramente pela hostilidade para com Saul, como rei de Israel. A mensagem de Davi foi mal-interpretada pelos conselheiros de Hanum. Disseram "a seu senhor, Hanum: Porventura honra Davi a teu pai aos teus olhos, por que te enviou consoladores? porventura não te enviou Davi os seus servos para reconhecerem esta cidade, e para espiá-la, e para transtorná-la?" 2 Samuel 10:2, 3. Foi por sugestão a seus conselheiros que Naás, meio século antes, fora levado a formular a cruel condição exigida do povo de Jabes-Gileade, quando, sitiado pelos amonitas, solicitara um concerto de paz. Naás reclamara o privilégio de arrancar de todos o olho direito. Os amonitas ainda se lembravam vividamente de como o rei de Israel transtornara seu cruel desígnio, e livrara o povo que eles teriam humilhado e mutilado. O mesmo ódio a Israel ainda os movia. Não podiam conceber o espírito generoso que havia inspirado a mensagem de Davi. Quando Satanás domina a mente dos homens, ele desperta a inveja e a suspeita que levarão a mal mesmo as melhores intenções. PP 526 3 Dando ouvidos a seus conselheiros, Hanum considerou os mensageiros de Davi como espias, e os cumulou de escárnio e insulto. PP 526 4 Aos amonitas fora permitido executar os seus maus propósitos de coração, sem serem restringidos nisto, a fim de que pudesse revelar-se a Davi o seu verdadeiro caráter. Não era da vontade de Deus que Israel entrasse em aliança com esse traidor povo gentio. PP 526 5 Nos antigos tempos, como hoje, as funções de embaixador eram consideradas sagradas. Pela lei universal das nações asseguravam proteção contra violência ou insulto pessoal. Achando-se o embaixador como representante de seu soberano, qualquer ato indigno que se lhe fizesse exigia imediata desforra. Os amonitas, sabendo que o insulto dirigido a Israel certamente seria vingado, fizeram preparativos para a guerra. "Vendo pois os filhos de Amom que se tinham feito odiosos para com Davi, então enviou Hanum, e os filhos de Amom, mil talentos de prata, para alugarem para si carros e cavaleiros de Mesopotâmia, e da Síria de Maaca, e de Zobá. E alugaram para si trinta e dois mil carros, [...] também os filhos de Amom se ajuntaram das suas cidades, e vieram para a guerra". 1 Crônicas 19:6, 7. PP 526 6 Era na verdade uma aliança formidável. Os habitantes da região que ficava entre o Rio Eufrates e o Mar Mediterrâneo tinham-se aliado com os amonitas. O norte e o oriente de Canaã estavam cercados de adversários armados, agrupados a fim de esmagarem o reino de Israel. PP 527 1 Os hebreus não esperaram a invasão de seu território. Suas forças, sob o comando de Joabe, atravessaram o Jordão, e avançaram para a capital amonita. Conduzindo o capitão hebreu o seu exército para o campo, procurava animá-los para o conflito, dizendo: "Esforça-te, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades do nosso Deus, e faça o Senhor o que parecer bem aos Seus olhos". 1 Crônicas 19:13. As forças unidas dos aliados foram vencidas no primeiro encontro. Mas ainda não estavam dispostas a abandonar a competição, e no ano seguinte renovaram a guerra. O rei da Síria juntou suas forças, ameaçando Israel com um imenso exército. Davi, compreendendo o quanto dependia do resultado desta luta, assumiu o comando em pessoa, e pela bênção de Deus infligiu aos aliados uma derrota tão desastrosa que os sírios, desde o Líbano até o Eufrates, não somente abandonaram a guerra, mas tornaram-se tributários de Israel. Contra os amonitas Davi levou a guerra com vigor, até que caíram suas fortalezas, e toda a região ficou sob o domínio de Israel. PP 527 2 Os perigos que tinham ameaçado a nação de destruição completa, mostraram-se, mediante a providência de Deus, ser os próprios meios pelos quais ela se ergueu a uma grandeza sem precedentes. Comemorando seus livramentos notáveis, canta Davi: PP 527 3 "O Senhor vive; e bendito seja o meu rochedo, e exaltado seja o Deus da minha salvação. É Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim; o que me livra de meus inimigos; sim, Tu me exaltas sobre os que se levantam contra mim, Tu, me livras do homem violento. Pelo que, ó Senhor, Te louvarei entre as nações, e cantarei louvores ao Teu nome. É Ele que engrandece as vitórias do Seu rei, e usa de benignidade com o Seu ungido, com Davi, e com a sua posteridade para sempre". Salmos 18:46-50. PP 527 4 E em todos os cânticos de Davi, incutia-se no seu povo o pensamento de que Jeová era a sua força e seu libertador: PP 527 5 "Não há rei que se salve com a grandeza de um exército, nem o homem valente se livra pela muita força. O cavalo é vão para a segurança; não livra ninguém com a sua grande força". Salmos 33:16, 17. PP 527 6 "Tu és o meu Rei, ó Deus; ordena salvações para Jacó. Por Ti venceremos os nossos inimigos; pelo Teu nome pisaremos os que se levantam contra nós. Pois eu não confiarei no meu arco, nem a minha espada me salvará. Mas Tu nos salvaste dos nossos inimigos, e confundiste os que nos aborreciam". Salmos 44:4-7. PP 527 7 "Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus". Salmos 20:7. PP 528 1 O reino de Israel havia agora atingido em sua extensão o cumprimento da promessa feita a Abraão, e mais tarde repetida a Moisés: "À tua semente tenho dado esta terra, desde o rio Egito até ao grande rio Eufrates". Gênesis 15:18. Israel se tornara uma poderosa nação, respeitada e temida pelos povos circunvizinhos. Em seu reino, o poder de Davi se fizera mui grande. Ele se impunha às afeições e submissão de seu povo, como em todos os tempos poucos soberanos puderam fazer. Havia honrado a Deus, e Deus agora o honrava. PP 528 2 Mas em meio da prosperidade emboscava-se o perigo. No tempo de seu máximo triunfo exterior, Davi se encontrava no máximo perigo, e defrontou sua mais humilhante derrota. ------------------------Capítulo 71 -- O pecado e arrependimento de Davi PP 529 0 Este capítulo é baseado em 2 Samuel 11-12. PP 529 1 A Bíblia pouco tem a dizer em louvor ao homem. Pouco espaço é concedido para se narrarem as virtudes, mesmo dos melhores homens que já viveram. Este silêncio não é sem motivo; não é destituído de ensinos. Todas as boas qualidades que os homens possuem são dom de Deus; suas boas ações são realizadas pela graça de Deus mediante Cristo. Visto que tudo devem a Deus, a glória do que quer que sejam ou façam, a Ele pertence somente; não são senão instrumentos em Suas mãos. Mais que isto -- conforme ensinam todas as lições da história bíblica, é coisa perigosa louvar ou exaltar o homem; pois se alguém vem a perder de vista sua inteira dependência de Deus, e a confiar em sua própria força, é certo que cairá. O homem está a lutar com adversários mais fortes do que ele. "Não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais". Efésios 6:12. É impossível a nós, em nossa própria força, sustentar o conflito; e o que quer que desvie de Deus a mente, o que quer que leve à exaltação própria ou presunção, está certamente a preparar o caminho para a nossa derrota. O conteúdo da Bíblia visa a inculcar desconfiança na força humana e incentivar a confiança no poder divino. PP 529 2 Foi o espírito de confiança e exaltação própria que preparou o caminho para a queda de Davi. A lisonja e as sutis atrações do poderio e do luxo não deixaram de ter efeito sobre ele. Relações com as nações circunjacentes também exerceram influência para o mal. Segundo o costume que prevalecia entre os governantes orientais, crimes que não seriam tolerados nos súditos não eram condenados no rei; o qual não tinha o dever de observar as mesmas restrições que os súditos. Tudo isto tendia para diminuir o senso de Davi em relação à excessiva malignidade do pecado. E, em vez de confiar humildemente no poder de Jeová, começou a confiar em sua própria sabedoria e poder. Logo que Satanás consiga separar de Deus a alma, única fonte de força, procurará ele despertar os desejos impuros da natureza carnal do homem. A obra do inimigo não é feita abruptamente; não é, ao princípio, súbita e surpreendente; é uma ação secreta de minar as fortalezas dos princípios. Começa em coisas aparentemente pequenas -- negligência de ser fiel a Deus e de confiar nEle inteiramente, disposição para seguir costumes e práticas do mundo. PP 530 1 Antes da conclusão da guerra com os amonitas, Davi, deixando a liderança do exército a Joabe, voltou a Jerusalém. Os sírios já se haviam submetido a Israel, e a subversão total dos amonitas parecia certa. Davi estava cercado dos frutos da vitória e de honras pelo seu governo sábio e hábil. Foi agora, quando estava à vontade, e desprevenido, que o tentador aproveitou a oportunidade para lhe ocupar a mente. O fato de haver Deus tomado a Davi em ligação tão íntima com Ele, e de ter para com ele, Davi, manifestado tão grande favor dever-lhe-ia ter sido o mais forte incentivo para conservar irrepreensível o seu caráter. Mas quando, em sua comodidade e segurança, perdeu seu apego a Deus, Davi rendeu-se a Satanás, e trouxe sobre sua alma a mancha do crime. Ele, o chefe da nação indicado pelo Céu, escolhido por Deus para executar Sua lei, ele próprio pisou os seus preceitos. Aquele que deveria ter sido um terror aos malfeitores, pelo seu próprio ato lhes fortaleceu as mãos. PP 530 2 Entre os perigos da primeira parte de sua vida, Davi, consciente de sua integridade, podia confiar o seu caso a Deus. A mão do Senhor o havia conduzido com segurança através das inúmeras ciladas que tinham sido postas para seus pés. Mas agora, culpado e não arrependido, não rogava auxílio e guia do Céu, mas procurava desvencilhar-se dos perigos em que o pecado o envolvera. Bate-Seba, cuja beleza fatal se havia mostrado uma cilada ao rei, era a esposa de Urias, o heteu, um dos mais corajosos e fiéis oficiais de Davi. Ninguém poderia prever qual seria o resultado se o crime fosse conhecido. A lei de Deus declarava réu de morte o adúltero; e o soldado de espírito orgulhoso, tão vergonhosamente ofendido, poderia vingar-se tirando a vida do rei, ou provocando a nação à revolta. PP 530 3 Todo o esforço que Davi fez para esconder seu crime se mostrou inútil. Ele havia-se entregado ao poder de Satanás; o perigo o rodeava; a desonra, mais amarga do que a morte, estava diante dele. Não havia senão um meio para escapar, e, em seu desespero, apressou-se a acrescentar o assassínio ao adultério. Aquele que tinha tramado a destruição de Saul, procurava levar Davi também à ruína. Embora as tentações fossem diversas, levavam semelhantemente à transgressão da lei de Deus. Davi raciocinou que, se Urias fosse morto pela mão de inimigos na batalha, a culpa de sua morte não poderia ser atribuída ao rei; Bate-Seba estaria livre para ser a esposa de Davi, as suspeitas poderiam ser removidas, e mantida seria a honra real. PP 530 4 Urias foi feito portador de sua própria ordem de morte. Uma carta enviada pela sua mão a Joabe, da parte do rei, ordenava: "Ponde Urias na frente da maior força da peleja, e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra". 2 Samuel 11:15. Joabe, já manchado com o crime de um afrontoso assassínio, não hesitou em obedecer às instruções do rei, e Urias tombou pela espada dos filhos de Amom. PP 531 1 Até ali o registro de Davi como governante fora tal como poucos reis já o tiveram. Está escrito a respeito dele que "julgava e fazia justiça a todo o seu povo". 2 Samuel 8:15. Sua integridade conquistara a confiança e lealdade da nação. Mas, afastando-se ele de Deus, e entregando-se ao maligno, tornou-se durante aquele tempo agente de Satanás; contudo, ainda mantinha a posição e autoridade que Deus lhe dera, e por causa disto, exigiu obediência que poria em perigo a alma daquele que a ela se rendesse. E Joabe, cuja fidelidade fora protestada ao rei em vez de a Deus, transgrediu a lei de Deus porque o rei o ordenara. PP 531 2 O poder de Davi fora a ele dado por Deus, mas para ser exercido apenas de acordo com a lei divina. Ordenando ele o que era contrário à lei de Deus, tornava-se pecado obedecer. "As potestades que há foram ordenadas por Deus" (Romanos 13:1), mas não devemos obedecer-lhes contrariamente à lei de Deus. O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, expõe o princípio pelo qual devemos ser governados. Diz ele: "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo". 1 Coríntios 11:1. PP 531 3 Um relatório sobre a execução de sua ordem foi enviado a Davi, mas tão cuidadosamente enunciado que não comprometia nem Joabe nem ao rei. Joabe "deu ordem ao mensageiro, dizendo: Acabando tu de contar ao rei todo o sucesso desta peleja, e sucedendo que o rei se encolerize, [...] então dirás: Também morreu teu servo Urias, o heteu. E foi o mensageiro, e entrou, e fez saber a Davi tudo, para que Joabe o enviara". PP 531 4 A resposta do rei foi: "Assim dirás a Joabe: Não te pareça isto mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele; esforça a tua peleja contra a cidade, e a derrota. Esforça-o tu assim." PP 531 5 Bate-Seba observou os dias usuais de lamentação por seu marido; e, no seu final, "enviou Davi, e a recolheu em sua casa, e lhe foi por mulher". 2 Samuel 11:19-27. Aquele, cuja delicada consciência e elevado senso de honra não lhe permitiram, mesmo em perigo de vida, estender sua mão contra o ungido do Senhor, caíra de tal maneira que pôde afrontar e assassinar um de seus soldados mais fiéis e valentes, e desfrutar, sem ser incomodado, a recompensa de seu pecado. Ai! como o ouro fino perdera o brilho! como se transformara o ouro finíssimo! PP 531 6 Desde o princípio Satanás pintou aos homens as vantagens a serem ganhas pela transgressão. Assim ele seduziu os anjos. Assim tentou Adão e Eva a pecar. E assim está ainda a afastar multidões da obediência a Deus. A senda da transgressão faz-se com que pareça desejável; "mas o fim deles são os caminhos da morte". Provérbios 14:12. Felizes aqueles que, tendo-se arriscado a ir por este caminho, aprendem quão amargos são os frutos do pecado, e voltam em tempo. Deus, em Sua misericórdia, não deixou que Davi fosse atraído à ruína total pela sedutoras recompensas do pecado. PP 531 7 Por amor de Israel também, houve necessidade da intervenção de Deus. Passando-se o tempo, o pecado de Davi para com Bate-Seba se tornou conhecido, e despertou a suspeita de que ele projetara a morte de Urias. O Senhor foi desonrado. Ele tinha favorecido e exaltado a Davi, e o pecado deste representou falsamente o caráter de Deus, lançando ignomínia ao Seu nome. Tendia a abaixar a norma da piedade em Israel, e diminuir em muitos espíritos a aversão pelo pecado; ao mesmo tempo, os que não amavam nem temiam a Deus se tornaram por meio daquele pecado audazes na transgressão. PP 532 1 Ao profeta Natã foi ordenado levar uma mensagem de reprovação a Davi. Era uma mensagem terrível pela sua severidade. A poucos soberanos tal censura poderia ser feita, a não ser com o preço de morte certa a quem a fizesse. Natã transmitiu resolutamente a sentença divina, e, contudo, com tal sabedoria do alto, que captou a simpatia do rei, despertou-lhe a consciência e arrancou-lhe dos lábios a sentença de morte sobre si. Apelando para Davi como o guarda divinamente designado dos direitos de seu povo, o profeta referiu a história da falta e opressão que exigiam desagravo. PP 532 2 "Havia numa cidade dois homens", disse ele, "um rico e outro pobre. O rico tinha muitíssimas ovelhas e vacas; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e ela tinha crescido com ele e com seus filhos igualmente; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha. E, vindo ao homem rico um viajante, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para guisar para o viajante que viera a ele, e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o homem que viera a ele." PP 532 3 Despertou-se a ira do rei, e ele exclamou: "Vive o Senhor que digno de morte é o homem que fez isso. E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa, e porque não se compadeceu". 2 Samuel 12:5, 6. PP 532 4 Natã fixou ao olhos no rei; então, levantando sua destra para o céu, declarou solenemente. "Tu és esse homem." "Por que, pois", continuou ele, "desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos?" Os criminosos podem, como fizera Davi, tentar esconder dos homens o seu crime; podem procurar sepultar a má ação, para sempre, longe das vistas ou do conhecimento humano; mas "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar". Hebreus 4:13. "Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se". Mateus 10:26. PP 532 5 Natã declarou: "Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi sobre Israel, e Eu te livrei das mãos de Saul. [...] Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa. [...] Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo. [...] Porque tu o fizeste em oculto, mas Eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o Sol". 2 Samuel 12:7-12. PP 533 1 A censura do profeta tocou o coração de Davi; despertou-lhe a consciência; seu crime apareceu em toda a sua enormidade. Sua alma curvou-se arrependida diante de Deus. Com lábios trêmulos ele disse: "Pequei contra o Senhor." Todo o mal, feito a outrem, reflete do ofendido para Deus. Davi cometera um grave pecado, tanto para com Urias como para Bate-Seba, e intensamente o sentia. Mas infinitamente maior era seu pecado contra Deus. PP 533 2 Como não se encontrasse ninguém em Israel para executar a sentença de morte sobre o ungido do Senhor, Davi estremecia com o receio de que, estando em falta e não perdoado, fosse ele suprimido pelo rápido juízo de Deus. Mas foi-lhe enviada a mensagem pelo profeta: "Também o Senhor traspassou o teu pecado; não morrerás." Todavia a justiça deveria ser mantida. A sentença de morte foi transferida de Davi à criança de seu pecado. Assim ao rei foi dada oportunidade para o arrependimento, conquanto para ele o sofrimento e morte da criança, como parte de seu castigo, foram muito mais amargos do que poderia ter sido sua própria morte. Disse o profeta: "Porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá". 2 Samuel 12:13, 14. PP 533 3 Quando seu filho foi atacado pela doença, Davi, com jejum e profunda humilhação, rogou pela sua vida. Retirou as vestes reais, depôs a coroa, e noite após noite jazia prostrado em terra, intercedendo, com a dor de um coração quebrantado, pelo inocente que sofria por culpa dele. "Os anciãos da sua casa se levantaram e foram a ele, para o levantar da terra; porém, ele não quis". 2 Samuel 12:17. Muitas vezes quando foram pronunciados juízos sobre pessoas ou cidades, a humilhação e o arrependimento desviaram o golpe, e Aquele que é sempre misericordioso, pronto a perdoar, enviara mensageiros de paz. Animado com este pensamento, Davi perseverou em sua súplica enquanto a criança foi poupada em vida. Sabendo que era morta, silenciosamente submeteu-se ao decreto de Deus. O primeiro golpe fora desferido, naquela retribuição que ele próprio declarara justa; mas Davi, confiando na misericórdia de Deus, não ficou sem consolação. PP 533 4 Muitíssimas pessoas, lendo a história da queda de Davi, têm perguntado: "Por que se faz público tal registro? Por que achou Deus conveniente patentear ao mundo este negro episódio da vida de quem fora tão grandemente honrado pelo Céu?" O profeta, em sua reprovação a Davi, declarou com relação ao seu pecado: "Com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do Senhor blasfemem". 2 Samuel 12:14. Através de gerações sucessivas, os incrédulos têm apontado para o caráter de Davi, que traz esta negra mancha, e exclamado com triunfo e escárnio: "Este é o homem segundo o coração de Deus!" Atos dos Apóstolos 13:22. Assim foi trazido opróbrio à religião, Deus e Sua Palavra foram blasfemados, muitos se endureceram na incredulidade, e outros, sob um manto de piedade, se tornaram audazes no pecado. PP 534 1 Mas a história de Davi não fornece defesa ao pecado. Era quando ele andava no conselho de Deus que era chamado homem segundo o coração de Deus. Pecando, isto cessou de ser verdade com relação a ele, até que pelo arrependimento voltasse ao Senhor. A Palavra de Deus compreensivelmente declara: "Esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor". 2 Samuel 11:27. E o Senhor disse a Davi pelo profeta: "Por que, pois, desprezaste a Palavra do Senhor, fazendo o mal diante de Seus olhos? [...] Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto Me desprezaste". 2 Samuel 12:9, 10. Embora Davi se arrependesse de seu pecado, e fosse perdoado e aceito pelo Senhor, colheu os resultados da semente que ele próprio semeara. Os juízos sobre ele e sua casa testificam da aversão de Deus ao pecado. PP 534 2 Até ali a providência de Deus tinha preservado a Davi contra todas as conspirações de seus inimigos, e fora diretamente exercida para restringir a Saul. A transgressão de Davi mudou, porém, sua relação para com Deus. O Senhor de nenhuma maneira podia sancionar a iniqüidade. Ele não podia exercer Seu poder para proteger a Davi dos resultados de seu pecado, como o protegera da inimizade de Saul. PP 534 3 Houve uma grande mudança no próprio Davi. Ele ficou quebrantado em espírito pela consciência de seu pecado, e de seus resultados, que teriam grande alcance. Sentiu-se humilhado aos olhos de seus súditos. Sua influência se enfraqueceu. Até ali sua prosperidade fora atribuída à sua conscienciosa obediência aos mandamentos do Senhor. Mas agora seus súditos, tendo conhecimento de seu pecado, seriam levados a pecar mais livremente. Sua autoridade em sua própria casa, o direito ao respeito e à obediência de seus filhos, enfraqueceram. Uma intuição de sua culpa conservava-o silencioso quando ele teria condenado o pecado; tornava fraco o seu braço para executar justiça em sua casa. Seu mau exemplo exerceu influência sobre seus filhos, e Deus não interviria para impedir o resultado. Ele permitiria que as coisas tomassem seu curso natural, e assim Davi foi severamente castigado. PP 534 4 Durante um ano inteiro após sua queda, Davi viveu em aparente segurança; não havia prova externa do desagrado de Deus. Mas a sentença divina pairava sobre ele. Rápida e certamente aproximava-se um dia de juízo e condenação, o qual nenhum arrependimento poderia desviar, de angústia e vergonha que entenebreceriam toda a sua vida terrestre. Aqueles que, apontando para o exemplo de Davi, procuram diminuir a culpa de seus próprios pecados, deveriam aprender do registro bíblico que duro é o caminho da transgressão. Embora, semelhantes a Davi, se desviem de sua má conduta, achar-se-á que os resultados do pecado, mesmo nesta vida, são amargos e duros para se suportarem. PP 535 1 Era intuito de Deus que a história da queda de Davi servisse como advertência de que mesmo os que Ele abençoou e favoreceu grandemente não se devem sentir livres de perigo, e negligenciar a vigilância e a oração. E isso tem feito esta história àqueles que humildemente têm procurado aprender a lição que Deus tencionava dar. De geração em geração, milhares têm sido levados a compenetrar-se do perigo que correm em virtude do poder do tentador. A queda de Davi, que foi tão grandemente honrado pelo Senhor, despertou neles desconfiança do próprio eu. Sentiram que apenas Deus os poderia guardar pelo Seu poder, mediante a fé. Sabendo que nEle estavam sua força e segurança, recearam dar o primeiro passo no terreno de Satanás. PP 535 2 Mesmo antes que a sentença divina fosse pronunciada contra Davi, começara ele a colher o fruto da transgressão. Sua consciência estava inquieta. A aflição de espírito que então suportava é apresentada no Salmo trinta e dois. Diz ele: PP 535 3 "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. PP 535 4 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. PP 535 5 Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. PP 535 6 Porque de dia e de noite a Tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio". Salmos 32:1-4. PP 535 7 E o Salmo cinqüenta e um é uma expressão do arrependimento de Davi, quando lhe veio de Deus a mensagem de reprovação: PP 535 8 "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. [...] Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que Tu quebraste. Esconde a Tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os Teus caminhos, e os pecadores a Ti se converterão. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a Tua justiça". Salmos 51:1-14. PP 536 1 Dessa forma, em um cântico sagrado que havia de ser entoado nas assembléias públicas de seu povo, na presença da corte -- sacerdotes e juízes, príncipes e homens de guerra -- e que conservaria até a última geração o conhecimento de sua queda, relatou o rei de Israel o seu pecado, o seu arrependimento e sua esperança de perdão pela misericórdia de Deus. Em vez de se esforçar por ocultar seu crime, desejou que outros pudessem instruir-se pela triste história de sua queda. PP 536 2 O arrependimento de Davi foi sincero e profundo. Não houve esforço para atenuar seu delito. Nenhum desejo de escapar dos juízos ameaçados inspirou sua oração. Viu, porém, a enormidade de sua transgressão contra Deus; viu a contaminação de sua alma; repugnou-lhe seu pecado. Não era unicamente pelo perdão que ele orava, mas pela pureza de coração. Davi não abandonou a luta em desespero. Nas promessas de Deus aos pecadores arrependidos, via a prova de seu perdão e aceitação. PP 536 3 "Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus". Salmos 51:16, 17. PP 536 4 Embora Davi tivesse caído, o Senhor o levantou. Estava agora em mais completa harmonia com Deus e simpatia para com seus semelhantes, do que antes de cair. No júbilo de seu livramento, cantou: PP 536 5 "Confessei-Te o meu pecado, e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e Tu perdoaste a maldade do meu pecado. [...] Tu és o lugar em que me escondo; Tu me preservas da angústia; Tu me cinges de alegres cantos de livramento". Salmos 32:5-7. PP 536 6 Muitos têm murmurado a respeito daquilo que chamam injustiça de Deus ao poupar Davi, cujo crime foi tão grande, após haver Ele rejeitado a Saul pelo que lhes parece ser pecados muito menos flagrantes. Mas Davi humilhou-se e confessou seu pecado, ao passo que Saul desprezou a reprovação, e endureceu o coração na impenitência. PP 536 7 Este período da história de Davi está repleto de significação para o pecador arrependido. É uma das ilustrações mais flagrantes que nos são dadas das lutas e tentações da humanidade, do arrependimento genuíno para com Deus e da fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Durante todos os séculos, tem-se mostrado uma fonte de animação às almas que, tendo caído em pecado, achavam-se a lutar sob o fardo de sua culpa. Milhares de filhos de Deus, quando traídos pelo pecado e prontos a entregar-se ao desespero, têm-se lembrado como o arrependimento e confissão sincera de Davi foram aceitos por Deus, não obstante sofrer ele pela sua transgressão; e estes também se revestiram de coragem para arrepender-se, e procurar novamente andar no caminho dos mandamentos de Deus. PP 537 1 Quem quer que, sob a reprovação de Deus, humilhe a alma com confissão e arrependimento, como fez Davi, pode estar certo de que há esperança para ele. Quem quer que com fé aceite as promessas de Deus, encontrará perdão. O Senhor nunca lançará fora uma alma verdadeiramente arrependida. Ele fez esta promessa: "Apodere-se da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo". Isaías 27:5. "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar". Isaías 55:7. ------------------------Capítulo 72 -- A rebelião de Absalão PP 538 0 Este capítulo é baseado em 2 Samuel 13-19. PP 538 1 Tornará a dar o quadruplicado" (2 Samuel 12:6) foi a sentença dada por Davi a si mesmo sem o saber, ouvindo a parábola do profeta Natã; e de conformidade com sua própria sentença deveria ele ser julgado. Quatro de seus filhos deveriam cair, e a perda de cada um deles seria o resultado do pecado do pai. PP 538 2 O vergonhoso crime de Amnom, o primogênito, permitiu Davi que passasse sem ser punido nem repreendido. A lei pronunciava a pena de morte ao adúltero, e o crime desnatural de Amnom tornou-o duplamente culpado. Mas Davi, condenado por si mesmo pelo seu próprio pecado, deixou de fazer justiça ao transgressor. Durante dois anos completos, Absalão, o protetor natural da irmã tão ignominiosamente prejudicada, escondeu seu propósito de vingança, mas apenas para dar finalmente o golpe com mais segurança. Em uma festa dos filhos do rei, o bêbado e incestuoso Amnom foi morto por ordem de seu irmão. PP 538 3 Duplo juízo recebera Davi. Foi levada a ele esta terrível mensagem: "Absalão feriu a todos os filhos do rei, e nenhum deles ficou. Então o rei se levantou, e rasgou os seus vestidos, e se lançou por terra; da mesma maneira todos os seus servos estavam com vestidos rotos." Os filhos do rei, voltando alarmados para Jerusalém, revelaram a seu pai a verdade; somente Amnom havia sido morto; e eles "levantaram sua voz, e choraram; e também o rei e todos os seus servos choraram com mui grande choro". 2 Samuel 13:30, 31, 36. Mas Absalão fugiu a Talmai, rei de Gesur, pai de sua mãe. PP 538 4 Como os outros filhos de Davi, Amnom tinha sido deixado por conta das satisfações egoístas. Ele procurava satisfazer todo pensamento de seu coração, sem tomar em consideração os requisitos de Deus. Apesar de seu grande pecado, Deus tivera muita paciência com ele. Durante dois anos, lhe foi concedida oportunidade para arrependimento; mas ele continuou em pecado, e, com sua culpa sobre si, foi eliminado pela morte, para esperar o terrível tribunal do Juízo. PP 538 5 Davi tinha negligenciado o dever de punir o crime de Amnom, e, por causa da infidelidade do rei e pai, e da impenitência do filho, o Senhor permitiu que os acontecimentos tomassem seu curso natural, e não restringiu Absalão. Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade, Deus mesmo tomará o caso em mãos. Seu poder repressor será até certo ponto removido, das forças do mal, de modo que surgirá um séquito de circunstâncias que castigará o pecado com o pecado. PP 539 1 Os maus resultados da injusta condescendência de Davi para com Amnom não estavam terminados; pois agora é que começou o afastamento de Absalão, de seu pai. Depois que ele fugiu a Gesur, Davi, compreendendo que o crime de seu filho exigia algum castigo, recusou-lhe permissão para voltar. E isto teve como resultado aumentar em vez de diminuir o emaranhado de males em que o rei viera a ficar envolto. Absalão, enérgico, ambicioso e sem escrúpulos, excluído pelo seu exílio da participação nos negócios do reino, logo se deu a formular planos perigosos. PP 539 2 No fim de dois anos, Joabe resolveu efetuar a reconciliação entre o pai e o filho. E com este objetivo em vista conseguiu os serviços de uma mulher de Tecoa, afamada pela sua sabedoria. Instruída por Joabe, a mulher se fez passar a Davi por uma viúva, cujos dois filhos tinham sido sua única consolação e apoio. Em uma rixa, um destes matou o outro, e agora todos os parentes da família exigiam que o sobrevivente fosse entregue ao vingador do sangue. "Assim", disse a mãe, "apagarão a brasa que me ficou, de sorte que não deixam a meu marido nome, nem resto sobre a Terra". 2 Samuel 14:7. Os sentimentos do rei foram tocados com esse apelo, e ele assegurou à mulher a proteção real para seu filho. PP 539 3 Depois de arrancar dele repetidas promessas pela segurança do jovem, impetrou a clemência do rei, declarando que ele falara como alguém em falta, por não ter mandado buscar de volta para casa o seu exilado. "Porque", disse ela, "certamente morreremos, e seremos como águas derramadas na terra, que não se ajuntam mais: Deus, pois, lhe não tirará a vida, mas ideará pensamentos, para que se não desterre dEle o Seu desterrado". 2 Samuel 14:14. Este quadro terno e tocante do amor de Deus para com o pecador, vindo, como veio, de Joabe, o rude soldado, é uma prova notável da familiaridade dos israelitas com as grandes verdades da redenção. O rei, sentindo sua própria necessidade da misericórdia de Deus, não pôde resistir a este apelo. A Joabe foi dada a ordem: "Vai, pois, e torna a trazer o mancebo Absalão." PP 539 4 A Absalão foi permitido voltar a Jerusalém, mas não para comparecer à corte, ou encontrar seu pai. Davi tinha começado a ver os maus efeitos de sua condescendência para com os filhos; e embora amasse com ternura esse belo e prendado filho, achou necessário que, como uma lição tanto a Absalão como ao povo, fosse manifesta aversão por esse crime. Absalão viveu dois anos em sua própria casa, mas banido da corte. Sua irmã morava com ele, e sua presença conservava viva a lembrança do mal irreparável que sofrera. Na apreciação popular, o príncipe era um herói, em vez de um transgressor. E, tendo esta vantagem, pôs-se a conquistar o coração do povo. Sua aparência pessoal era de tal maneira que captava a admiração de todos os que o viam. "Não havia, porém, em todo o Israel homem tão belo e tão aprazível como Absalão; desde a planta do pé até à cabeça não havia nele defeito algum". 2 Samuel 14:21, 25. Não era prudente, da parte do rei, deixar um homem do caráter de Absalão -- ambicioso, impulsivo e apaixonado -- a acalentar durante dois anos supostas ofensas. E o ato de Davi, permitindo-lhe voltar a Jerusalém e contudo recusando-se a admiti-lo em sua presença, alistou as simpatias do povo a seu favor. PP 540 1 Tendo sempre diante de si a lembrança de sua própria transgressão à lei de Deus, Davi parecia moralmente paralisado; era fraco e irresoluto, quando antes de seu pecado era corajoso e decidido. Sua influência junto ao povo se havia enfraquecido. E tudo isto favorecia os planos de seu filho desnaturado. PP 540 2 Mediante a influência de Joabe, Absalão foi de novo admitido à presença de seu pai; mas, embora houvesse uma reconciliação externa, continuou ele com seus projetos ambiciosos. Assumiu agora uma condição quase régia, tendo carros e cavalos, e cinqüenta homens para correrem diante dele. E, enquanto o rei mais e mais se inclinava a desejar o retiro e a solidão, Absalão cortejava assiduamente o favor popular. PP 540 3 A influência da indiferença e irresolução de Davi estendeu-se a seus subordinados; a negligência e a demora caracterizavam a administração da justiça. Absalão ardilosamente mudava cada causa de descontentamento em proveito próprio. Dia após dia este homem de semblante nobre podia ser visto à porta da cidade, onde uma multidão de suplicantes esperava a fim de apresentar suas queixas e receber justiça. Absalão misturava-se com eles, e escutava seus agravos, exprimindo simpatia pelos seus sofrimentos, e pesar pela ineficiência do governo. Tendo assim ouvido a história de um homem de Israel, o príncipe replicava: "Os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei"; e acrescentava: "Ah, quem me dera ser juiz na Terra! para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça. Sucedia também que, quando alguém se achegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava." PP 540 4 Fomentado pelas artificiosas insinuações do príncipe, o descontentamento com o governo estava-se espalhando rapidamente. O elogio a Absalão estava nos lábios de todos. Era geralmente considerado como herdeiro do reino; o povo olhava para ele com orgulho, como sendo digno deste elevado cargo, e acendeu-se o desejo de que ele ocupasse o trono. PP 540 5 "Assim furtava Absalão o coração dos homens de Israel". 2 Samuel 15:4-6. No entanto, o rei, cego pelo afeto para com seu filho, de nada suspeitava. A condição principesca que Absalão havia assumido, era considerada por Davi como tendo em vista honrar a sua corte, ou seja, como uma expressão de alegria pela reconciliação. PP 540 6 Estando preparada a mente do povo para o que havia de seguir-se, Absalão secretamente enviou homens escolhidos por todas as tribos, a fim de combinar as necessárias providências para uma revolta. E agora o manto da devoção religiosa foi tomado para esconder seus intuitos traidores. Um voto feito muito tempo antes, quando ele estava no desterro, devia ser cumprido em Hebrom. Absalão disse ao rei: "Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao Senhor. Porque, morando eu em Gesur, em Síria, votou o teu servo um voto, dizendo: Se o Senhor outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao Senhor." Então o extremoso pai, reconfortado com esta prova de piedade em seu filho, despediu-o com sua bênção. A conspiração estava agora completamente amadurecida. O ato final de Absalão, inspirado na hipocrisia, destinava-se não somente a cegar o rei, mas estabelecer a confiança do povo, e assim levar este à rebelião contra o rei que Deus escolhera. PP 541 1 Absalão partiu para Hebrom, e foram com ele de Jerusalém "duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio". 2 Samuel 14:7-11. Estes homens iam com Absalão, mal imaginando que seu amor pelo filho os estava levando à rebelião contra o pai. Chegando em Hebrom, Absalão imediatamente chamou Aitofel, um dos principais conselheiros de Davi, homem de grande fama por sua sabedoria, cuja opinião se julgava ser tão segura e prudente como a de um oráculo. Aitofel aderiu aos conspiradores, e seu apoio fez com que parecesse certo o êxito à causa de Absalão, atraindo sob sua bandeira muitos homens de influência de todas as partes do país. Soando a trombeta de revolta, os espias do príncipe por todo o país espalharam a notícia de que Absalão era rei, e muitos do povo a ele se uniram. PP 541 2 Entrementes foi levado o alarme a Jerusalém, ao rei. Davi despertou-se de súbito, para ver a rebelião irrompendo junto a seu trono. Seu próprio filho, aquele filho que ele amara e em quem confiara, estivera a conspirar para lhe tomar a coroa, e sem dúvida para lhe tirar a vida. Em seu grande perigo, Davi sacudiu a depressão que durante tanto tempo sobre ele repousava, e com o espírito de seus primeiros anos preparou-se para enfrentar esta terrível emergência. Absalão estava arregimentando suas forças, em Hebrom, afastada apenas trinta quilômetros. Os rebeldes logo estariam às portas de Jerusalém. PP 541 3 De seu palácio, Davi olhava para a sua capital -- formosa de sítio, e "alegria de toda a Terra, [...] a cidade do grande Rei". Salmos 48:2. Estremecia ao pensamento de expô-la à carnificina e devastação. Deveria chamar em seu auxílio os súditos ainda fiéis ao seu trono, e assumir posição para manter sua capital? Deveria permitir que Jerusalém fosse inundada de sangue? Sua decisão estava tomada. Os horrores da guerra não deveriam recair sobre a cidade escolhida. Ele sairia de Jerusalém, e então provaria a fidelidade de seu povo, dando-lhes oportunidade para se arregimentarem em seu apoio. Nesta grande crise, era seu dever a Deus e a seu povo manter a autoridade de que o Céu o investira. O desenlace do conflito ele confiaria a Deus. PP 542 1 Com humildade e tristeza, Davi saiu pela porta de Jerusalém, repelido de seu trono, de seu palácio, da arca de Deus, pela insurreição de seu querido filho. O povo acompanhou-o em um séquito longo e triste, semelhante a um cortejo fúnebre. A guarda pessoal de Davi, constituída pelos quereteus, peleteus, e por seiscentos geteus de Gate, sob o comando de Itai, acompanhou o rei. Mas Davi, com sua abnegação característica, não pôde consentir que esses estrangeiros que tinham procurado sua proteção se envolvessem em sua calamidade. Exprimiu surpresa de que estivessem dispostos a fazer tal sacrifício por ele. Então disse o rei a Itai, o geteu: "Por que irias tu também conosco? Volta, e fica-te com o rei, porque estranho és, e também te tornarás a teu lugar. Ontem vieste, e te levaria eu hoje conosco a caminhar? Pois força me é ir aonde quer que puder ir; volta, pois, e torna a levar teus irmãos contigo, com beneficência e fidelidade." PP 542 2 Itai respondeu: "Vive o Senhor, e vive o rei meu senhor, que no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor." Estes homens tinham-se convertido do paganismo ao culto de Jeová, e nobremente provaram agora sua fidelidade a seu Deus e a seu rei. Davi, com coração grato, aceitou a dedicação deles à sua causa, que aparentemente ia abaixo, e todos passaram o ribeiro de Cedrom, a caminho do deserto. PP 542 3 De novo o cortejo parou. Um grupo trajado de vestes santas vinha se aproximando. "Eis que também Zadoque ali estava, e com ele todos os levitas que levavam a arca do concerto de Deus". 2 Samuel 15:19-21, 24. Os seguidores de Davi olharam para isto como um feliz sinal. A presença daquele símbolo sagrado era para eles um penhor de seu livramento e vitória final. Infundiria coragem ao povo para que se arregimentasse junto ao rei. A ausência da mesma em Jerusalém acarretaria terror aos partidários de Absalão. PP 542 4 À vista da arca, a alegria e a esperança por um breve momento fizeram fremir o coração de Davi. Mas logo outros pensamentos lhe vieram. Como aquele que fora designado para governar a herança de Deus, encontrava-se ele sob uma responsabilidade solene. Não o interesse pessoal, mas sim a glória de Deus e o bem de Seu povo deveriam ser objetivos preeminentes no espírito do rei de Israel. Deus, que habita entre os querubins, disse acerca de Jerusalém: "Este é o Meu repouso" (Salmos 132:14); e, sem autoridade divina, nem sacerdote nem rei tinha o direito de remover dali o símbolo de Sua presença. E Davi compreendeu que seu coração e sua vida deveriam estar em harmonia com os preceitos divinos, aliás a arca seria o meio para ocorrer desastre em vez de êxito. Seu grande pecado estava sempre diante dele. Reconhecia nesta conspiração o justo juízo de Deus. A espada que não deveria afastar-se de sua casa, fora desembainhada. Ele não sabia qual poderia ser o resultado da luta. Não lhe competia remover da capital da nação os estatutos sagrados que incorporavam a vontade de seu divino Soberano, os quais eram a constituição do reino e o fundamento de sua prosperidade. PP 543 1 Ele ordenou a Zadoque: "Torna a levar a arca de Deus à cidade; que, se achar graça nos olhos do Senhor, Ele me tornará a trazer para lá, e me deixará ver a ela e a sua habitação. Se, porém, disser assim: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça de mim como parecer bem aos Seus olhos." PP 543 2 Davi acrescentou: "Não és tu porventura o vidente?" -- homem designado por Deus para instruir o povo. "Torna, pois, em paz para a cidade, e convosco também vossos dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar. Olhai que me demorarei nas campinas do deserto até que tenha novas vossas". 2 Samuel 15:25-28. Na cidade os sacerdotes poderiam prestar-lhe bom serviço, sabendo dos movimentos e intuitos dos rebeldes, e comunicando-os secretamente ao rei por seus filhos Aimaás e Jônatas. PP 543 3 Voltando os sacerdotes a Jerusalém, uma sombra mais negra recaiu sobre a multidão que partia. Sendo seu rei fugitivo, sendo eles próprios rejeitados, abandonados mesmo pela arca de Deus, estava o futuro obscurecido de terror e maus prenúncios. "E subiu Davi pela subida das Oliveiras, subindo e chorando, e com a cabeça coberta, e caminhava com os pés descalços; e todo o povo que ia com ele cobria cada um a sua cabeça, e subiam chorando sem cessar. Então fizeram saber a Davi, dizendo: Também Aitofel está entre os que se conjuraram com Absalão." Novamente foi Davi obrigado a reconhecer em suas calamidades os resultados de seu próprio pecado. A deserção de Aitofel, o mais hábil e astuto dos dirigentes políticos, foi motivada pela vingança à desonra que sobreveio à família em virtude do dano feito a Bate-Seba, que era sua neta. PP 543 4 "Pelo que disse Davi: Ó Senhor, transtorna o conselho de Aitofel". 2 Samuel 15:30, 31. Chegando ao cume do monte, o rei curvou-se em oração, lançando sobre Deus o fardo de sua alma, e suplicando humildemente a misericórdia divina. Sua oração pareceu ser de pronto respondida. Husai, o arquita, conselheiro sábio e hábil, que se mostrara amigo fiel de Davi, veio então a ele com as vestes rotas, e com terra sobre sua cabeça, para lançar sua sorte com o rei destronado e fugitivo. Davi viu, como por iluminação divina, que este homem, fiel e de coração veraz, era aquele de quem se necessitava para servir aos interesses do rei nos conselhos, na capital. Ao pedido de Davi, Husai voltou a Jerusalém para oferecer seus serviços a Absalão, e dissipar o astucioso conselho de Aitofel. PP 543 5 Com esse raio de luz nas trevas, o rei e seus seguidores prosseguiram em seu caminho descendo a encosta oriental do Monte das Oliveiras, através de uma região inculta, rochosa e desolada, por entre quebradas bravias, e ao longo de caminhos pedregosos e íngremes, em direção ao Jordão. "E, chegando o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera, e, saindo, ia amaldiçoando. E apedrejava com pedras a Davi, e a todos os servos do rei Davi, ainda que todo o povo e todos os valentes iam à sua direita e à sua esquerda. E, amaldiçoando-o Simei, assim dizia: Sai, sai, homem de sangue, e homem de Belial. O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul, em cujo lugar tens reinado; já deu o Senhor o reino na mão de Absalão teu filho; e eis-te agora na tua desgraça, porque és um homem de sangue". 2 Samuel 16:5-8. PP 544 1 Na prosperidade de Davi, Simei não mostrara, quer por palavras quer por atos, que não era um súdito leal. Mas, na aflição do rei, este benjamita revelou seu verdadeiro caráter. Honrara a Davi em seu trono, mas amaldiçoara-o em sua humilhação. Vil e egoísta, olhava aos outros como sendo do mesmo caráter que ele, e, inspirado por Satanás, saciava seu ódio naquele a quem Deus castigara. O espírito que leva o homem a triunfar sobre alguém que está em aflição, a ultrajá-lo e angustiá-lo, é o espírito de Satanás. PP 544 2 As acusações de Simei contra Davi eram inteiramente falsas -- uma calúnia vil e perversa. Davi não fora culpado de mal a Saul ou à sua casa. Quando Saul estava inteiramente em seu poder, e o poderia ter matado, simplesmente cortou a franja de sua veste, e censurou a si próprio por mostrar mesmo este desrespeito pelo ungido do Senhor. PP 544 3 Do respeito sagrado de Davi pela vida humana, prova notável fora dada, mesmo quando ele próprio era perseguido como animal feroz. Um dia, quando se achava escondido na caverna de Adulão, volvendo-se seus pensamentos à imperturbável liberdade de sua vida de rapaz, exclamou o fugitivo: "Quem me dera beber da água da cisterna de Belém, que está junto à porta!" Belém estava naquele tempo nas mãos dos filisteus; mas três homens valorosos do grupo de Davi romperam através da guarda, e trouxeram da água de Belém a seu senhor. Davi não a pôde beber. "Guarda-me, ó Senhor", exclamou ele, "de que tal faça; beberia eu o sangue dos homens que foram a risco da sua vida?" 2 Samuel 23:13-17. E ele reverentemente derramou a água como oferta a Deus. Davi tinha sido um homem de guerra, e grande parte de sua vida fora despendida entre cenas de violência; mas, de todos os que passaram por essa prova, não muitos, em verdade, foram tão pouco afetados pela sua influência insensibilizadora e desmoralizadora, como o foi Davi. PP 544 4 Abisai, sobrinho de Davi, um dos mais valentes dos seus capitães, não pôde escutar com paciência as palavras insultantes de Simei. "Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei meu senhor?" exclamou ele. "Deixa-me passar, e lhe tirarei a cabeça." Mas o rei proibiu-lho. "Eis que meu filho", disse ele, "procura a minha morte; quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe; porque o Senhor lho disse. Porventura o Senhor olhará para a minha miséria, e o Senhor me pagará com bem a sua maldição deste dia". 2 Samuel 16:9-12. PP 544 5 A consciência estava a proferir verdades amargas e humilhantes a Davi. Enquanto seus súditos fiéis se admiravam com a sua súbita mudança de sorte, não era isto mistério para o rei. Ele muitas vezes tivera pressentimentos de uma hora como aquela. Admirara-se de que Deus tivesse tanto tempo suportado seus pecados, e retardado o castigo merecido. E agora, em sua fuga precipitada e triste, com os pés descalços, com as vestes reais mudadas em saco, com as lamentações dos que o acompanhavam a despertar os ecos das colinas, pensava ele em sua amada capital -- o lugar que fora o cenário de seu pecado; e, lembrando-se da bondade e longanimidade de Deus, não estava inteiramente sem esperança. Sentia que o Senhor ainda o trataria com misericórdia. PP 545 1 Muito malfeitor tem desculpado seu pecado, apontando para a queda de Davi; mas, quão poucos há que manifestam o arrependimento e a humildade de Davi! Quão poucos suportam a reprovação e o castigo, com a paciência e coragem que ele manifestou! Confessara seu pecado, e durante anos procurara cumprir seu dever como fiel servo de Deus; trabalhara para o reerguimento de seu reinado, e sob seu governo este atingira a uma força e prosperidade jamais alcançadas antes. Reunira grandes suprimentos de materiais para a edificação da casa de Deus; e agora deveria todo o trabalho de sua vida ser dissipado? Deveriam os resultados de anos de uma labuta consagrada, de trabalho criativo, dedicação, aptidão de estadista, passar para as mãos de seu filho descuidado e traidor, que não tinha consideração pela honra de Deus nem pela prosperidade de Israel? Quão natural teria parecido murmurar Davi contra Deus nesta grande aflição! PP 545 2 Mas ele viu a causa de sua inquietação em seu próprio pecado. Das palavras do profeta Miquéias transpira o espírito que animava o coração de Davi. "Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra Ele, até que julgue a minha causa, e execute o meu direito". Miquéias 7:8, 9. E o Senhor não abandonou Davi. Este capítulo de sua experiência, em que sob o mais cruel dano e insulto, ele se mostra humilde, abnegado, generoso e submisso, é um dos mais nobres em toda a sua experiência. Nunca foi o governador de Israel com mais verdade grande à vista do Céu do que nesta hora de sua mais profunda humilhação exterior. PP 545 3 Tivesse Deus permitido que Davi continuasse em pecado sem ser condenado, e permanecesse em paz e prosperidade em seu trono enquanto transgredia os preceitos divinos, e os céticos e incrédulos teriam motivo para citar a história de Davi como mácula à religião da Bíblia. Mas, na experiência por que Ele fez Davi passar, o Senhor mostra que não pode tolerar nem desculpar o pecado. E a história de Davi nos habilita a ver também o grande objetivo que Deus tem em vista com Seu trato com o pecado; habilita-nos a divisar, mesmo através dos mais tenebrosos juízos, a realização de Seus intuitos de misericórdia e beneficência. Ele fez Davi passar pela vara, mas não o destruiu; a fornalha é para purificar, mas não para consumir. Diz o Senhor: "Se profanarem os Meus preceitos, e não guardarem os Meus mandamentos, então visitarei com vara a sua transgressão, e a sua iniqüidade com açoites. Mas não retirarei totalmente dele a Minha benignidade, nem faltarei à Minha fidelidade". Salmos 89:31-33. PP 546 1 Logo depois que Davi saiu de Jerusalém, Absalão e seu exército entraram, e sem qualquer luta tomaram posse da fortaleza de Israel. Husai achou-se entre os primeiros a saudar o novo rei; e o príncipe ficou surpreso e satisfeito com a aquisição do velho amigo e conselheiro de seu pai. Absalão estava confiante no êxito. Até ali seus planos tinham sido bem-sucedidos, e, ansioso por fortalecer o trono e conseguir a confiança da nação, recebeu com alegria a Husai em sua corte. PP 546 2 Absalão estava agora cercado de uma grande força; mas esta era pela maior parte constituída de homens inexperientes na guerra. Ainda não tinham sido levados em conflito. Aitofel bem sabia que a situação de Davi estava longe de ser desesperadora. Uma grande parte da nação ainda estava fiel a ele; estava rodeado de guerreiros experimentados, que eram fiéis ao seu rei, e seu exército era comandado por generais hábeis e experientes. Aitofel sabia que, depois da primeira explosão de entusiasmo em favor do novo rei, viria uma reação. Caso falhasse a revolta, Absalão poderia ser capaz de conseguir reconciliação com seu pai; então Aitofel, como seu principal conselheiro, seria tido na conta do mais culpado pela rebelião; sobre ele recairia o mais severo castigo. Para impedir que Absalão retrocedesse, Aitofel o aconselhou a um ato que, aos olhos da nação inteira, tornaria impossível a reconciliação. Com engano infernal, este estadista, astuto e sem escrúpulos, insistiu com Absalão para acrescentar o crime de incesto ao de rebelião. À vista de todo o Israel deveria tomar para si as concubinas de seu pai, segundo o costume das nações orientais, declarando assim que sucedia a seu pai no trono. E Absalão levou a efeito a vil sugestão. Assim, cumpriu-se a palavra de Deus a Davi, pelo profeta: "Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo. [...] Porque tu o fizeste em oculto, mas Eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o Sol". 2 Samuel 12:11, 12. Não que Deus instigasse tais atos de impiedade; mas, por causa do pecado de Davi, Ele não exerceu Seu poder para os impedir. PP 546 3 Aitofel fora tido em grande estima pela sua sabedoria, mas era destituído do esclarecimento que vem de Deus. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Provérbios 9:10); e este, Aitofel não possuía, aliás dificilmente poderia ter baseado o êxito da traição no crime de incesto. Homens de coração corrupto tramam a impiedade, como se não houvesse Providência a dirigir superiormente as coisas, a fim de obstar seus desígnios; mas "Aquele que habita nos Céus se rirá; o Senhor zombará deles". Salmos 2:4. O Senhor declara: "Não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos simples os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá". Provérbios 1:30-32. PP 547 1 Tendo tido êxito na trama destinada a conseguir sua segurança, Aitofel insistiu com Absalão sobre a necessidade de ação imediata contra Davi. "Deixa-me escolher doze mil homens", disse ele, "e me levantarei, e seguirei após Davi esta noite. E irei sobre ele, pois está cansado e fraco das mãos; e o espantarei, e fugirá todo o povo que está com ele; e então ferirei o rei só. E farei tornar a ti todo o povo." Este plano foi aprovado pelos conselheiros do rei. Caso houvesse sido seguido, certamente Davi teria sido morto, a menos que o Senhor interviesse diretamente para o salvar. Uma sabedoria mais elevada, porém, do que a do afamado Aitofel, estava a dirigir os acontecimentos. "O Senhor o ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, para que o Senhor trouxesse o mal sobre Absalão". 2 Samuel 17:1-3, 14. PP 547 2 Husai não fora chamado ao conselho, e não se intrometeria sem que isto lhe fosse pedido, receoso de vir sobre si a suspeita de ser espião; mas, depois que se dispersou a assembléia, Absalão, que tinha grande consideração pelo juízo do conselheiro de seu pai, submeteu à sua apreciação o plano de Aitofel. Husai viu, que, se o plano proposto fosse seguido, Davi estaria perdido. E disse: "O conselho que Aitofel esta vez aconselhou não é bom. Disse mais Husai: Bem conheces a teu pai, e a seus homens, que são valorosos, e que estão com o espírito amargurado, como a ursa no campo, roubada dos cachorros; também teu pai é homem de guerra, e não passará a noite com o povo. Eis que agora está escondido nalguma cova, ou em qualquer outro lugar"; ele argumentava que, se as forças de Absalão perseguissem a Davi, não fariam prisioneiro ao rei; e, se sofressem um revés, isto tenderia a desanimá-las, e faria grande mal à causa de Absalão. "Porque", disse ele, "todo o Israel sabe que teu pai é valoroso, e homens valentes os que estão com ele." E sugeriu um plano atraente pela sua natureza vaidosa e egoísta, propenso à exibição de poder: "Eu, porém, aconselho que com toda a pressa se ajunte a ti todo o Israel desde Dã até Berseba, e multidão como areia do mar; e que tu em pessoa vás à peleja. Então iremos a ele, em qualquer lugar que se achar, e facilmente viremos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra; e não ficará dele e de todos os homens que estão com ele nem ainda um só. E, se ele se retirar para alguma cidade, todo o Israel trará cordas àquela cidade, e arrastá-la-emos até ao ribeiro, até que não se ache ali nem uma só pedrinha. PP 547 3 "Então disse Absalão a todos os homens de Israel: Melhor é o conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel". 2 Samuel 17:10-14. Mas houve um que não foi enganado -- um que previu claramente o resultado deste erro fatal de Absalão. Aitofel compreendeu que a causa dos rebeldes estava perdida. E viu que, qualquer que pudesse ser a sorte do príncipe, não havia esperança para o conselheiro que instigara os seus maiores crimes. Aitofel havia animado Absalão na rebelião; aconselhara-o à mais abominável impiedade, à desonra de seu pai; sugerira a morte de Davi, e fizera os planos para a sua realização; suprimira a última possibilidade de reconciliação com o rei; e agora outro era preferido a ele, mesmo por Absalão. Cheio de inveja, irado, e desesperado, Aitofel "foi para sua casa e para a sua cidade, e pôs em ordem a sua casa, e se enforcou, e morreu". 2 Samuel 17:23. Tal foi o resultado da sabedoria de quem, com todos os seus elevados dotes, não fez de Deus o seu conselheiro. Satanás engoda os homens com promessas lisonjeiras; mas no fim será descoberto por toda alma que "o salário do pecado é a morte". Romanos 6:23. PP 548 1 Husai, não tendo certeza de que seu conselho seria seguido pelo versátil rei, não perdeu tempo em avisar Davi para que escapasse para além do Jordão, sem demora. Husai enviou esta mensagem aos sacerdotes, os quais deveriam transmiti-la por seus filhos: "Assim e assim aconselhou Aitofel a Absalão e aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei eu. Agora, pois [...] não passes esta noite nas campinas do deserto, mas passa depressa à outra banda, para que o rei e todo o povo que com ele está não seja devorado". 2 Samuel 17:15, 16. PP 548 2 Houve suspeitas contra os moços, e foram perseguidos; todavia conseguiram levar a efeito sua perigosa missão. Davi, fatigado pelas labutas e mágoas depois daquele primeiro dia de fuga, recebeu a mensagem de que deveria atravessar o Jordão naquela noite, pois que seu filho procurava sua vida. PP 548 3 Quais seriam os sentimentos daquele pai e rei, tão cruelmente ultrajado, neste perigo terrível? Como homem valoroso, homem de guerra, e rei, cuja palavra era lei, traído por seu filho, a quem amara, com quem fora condescendente, e em quem imprudentemente confiara; ofendido e abandonado pelos súditos que a ele estavam ligados pelos mais fortes laços de honra e lealdade -- com que palavras derramou Davi os sentimentos de sua alma? Na hora de sua mais negra prova, o coração de Davi estava firme em Deus, e ele cantou: PP 548 4 "Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim. Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. Mas Tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamei ao Senhor, Ele ouviu-me desde o Seu santo monte. Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou. Não terei medo de dez milhares de pessoas que se puseram contra mim ao meu redor. [...] A salvação vem do Senhor; sobre o Teu povo seja a Tua bênção". Salmos 3:1-8. PP 548 5 Davi e todo o seu grupo -- guerreiros e estadistas, velhos e jovens, mulheres e crianças -- nas trevas da noite atravessaram o rio profundo e correntoso. "Pela luz da manhã nem ainda faltava um só que não passasse o Jordão". 2 Samuel 17:22. PP 549 1 Davi e sua força recuaram a Maanaim, que tinha sido a sede real de Isbosete. Esta era uma cidade poderosamente fortificada, rodeada de uma região montanhosa, favorável à retirada em caso de guerra. O território era bem provido, e o povo era amigo da causa de Davi. Ali muitos partidários se uniram a ele, enquanto ricos chefes de tribos vizinhas traziam abundantes presentes de provisões, e outros suprimentos necessários. PP 549 2 O conselho de Husai conseguira seu objetivo, obtendo para Davi oportunidade para escapar; mas o príncipe, precipitado e impetuoso, não pôde por muito tempo ser restringido, e logo se pôs em perseguição de seu pai. "E Absalão passou o Jordão, ele e todo o homem de Israel com ele". 2 Samuel 17:24. Absalão constituiu comandante-geral de suas forças a Amasa, filho de Abigail, irmã de Davi. Seu exército era grande, mas indisciplinado, e mal preparado para competir com os soldados experimentados de seu pai. PP 549 3 Davi dividiu suas forças em três batalhões sob o comando de Joabe, Abisai, e Itai, o geteu. Tinha sido seu propósito conduzir ele mesmo seu exército ao campo; mas contra isto os oficiais do exército, os conselheiros e o povo veemente protestaram. "Não sairás", disseram, "porque, se formos obrigados a fugir, não porão o coração em nós; e, ainda que metade de nós morra, não porão o coração em nós, porque ainda, tais como nós somos, ajuntarás dez mil. Melhor será, pois, que da cidade nos sirvas de socorro. Então Davi lhes disse: O que bem parecer aos vossos olhos, farei". 2 Samuel 18:3, 4. PP 549 4 Dos muros da cidade, as longas fileiras do exército rebelde estavam bem à vista. O usurpador era acompanhado de uma hoste vasta, em comparação com a qual a força de Davi não parecia senão um punhado. Mas, olhando o rei para as forças oponentes, o pensamento máximo em seu espírito não era a coroa e o reino, nem sua própria vida, que dependia da ação da batalha. O coração do pai estava cheio de amor e compaixão para com seu filho rebelde. Saindo em fileiras o exército pelas portas da cidade, Davi animou os seus fiéis soldados, mandando-lhes que saíssem confiantes em que o Deus de Israel lhes daria a vitória. Mas mesmo agora ele não pôde reprimir seu amor para com Absalão. Quando Joabe, o vencedor em cem campos de batalha, conduzindo a primeira coluna, passou pelo seu rei, curvou a altiva cabeça para ouvir sua última mensagem, que dizia com voz trêmula: "Brandamente tratai por amor de mim ao mancebo, a Absalão." E Abisai e Itai receberam a mesma incumbência: "Brandamente tratai por amor de mim ao mancebo, a Absalão." Mas a solicitude do rei, parecendo declarar que Absalão lhe era mais caro do que seu reino, e mais caro mesmo do que os súditos fiéis ao seu trono, apenas aumentou a indignação dos soldados contra o filho desnaturado. PP 549 5 O local da batalha foi um bosque próximo do Jordão, em que o grande número do exército de Absalão apenas lhe era uma desvantagem. Por entre os pontos espessos e os pantanais da floresta, aquelas tropas indisciplinadas se tornaram confusas e não mais podiam ser dirigidas. E "foi ferido o povo de Israel, diante dos servos de Davi; e naquele mesmo dia houve ali uma grande derrota de vinte mil". 2 Samuel 18:5, 7. Absalão, vendo que era perdida a causa, voltara-se para fugir, quando a cabeça lhe foi apanhada entre os ramos de uma árvore larga; e, saindo seu mulo de debaixo dele, foi deixado desamparadamente suspenso, como presa a seus inimigos. Em tal condição foi encontrado por um soldado, que, de medo de desagradar o rei, poupou Absalão, mas referiu a Joabe o que vira. Joabe não se restringiu por quaisquer escrúpulos. Havia favorecido a Absalão, tendo duas vezes conseguido sua reconciliação com Davi; e a confiança assim manifesta para com ele fora vergonhosamente traída. Se não fossem as vantagens alcançadas por Absalão mediante a intercessão de Joabe, esta rebelião, com todos os seus horrores, jamais poderia ter ocorrido. Agora estava nas mãos de Joabe destruir com um golpe o instigador de todo este mal. "E tomou três dardos e traspassou com eles o coração de Absalão. [...] E levaram Absalão, e o lançaram no bosque, numa grande cova, e levantaram sobre ele um mui grande montão de pedras". 2 Samuel 18:14, 17. PP 550 1 Assim pereceram os instigadores da rebelião em Israel. Aitofel morrera pela sua própria mão. O príncipe Absalão, cuja gloriosa beleza fora o orgulho de Israel, foi eliminado no vigor da juventude, sendo seu cadáver arremessado em uma cova, e coberto com um monte de pedras, em sinal de ignomínia eterna. Em vida, construíra Absalão para si um custoso monumento no vale do rei; mas a única lembrança que assinalou a sua sepultura foi o monte de pedras no deserto. PP 550 2 Morto o chefe da rebelião, Joabe chamou novamente seu exército, ao som da trombeta, da perseguição à hoste fugitiva, e logo foram expedidos mensageiros para levarem a notícia ao rei. PP 550 3 A sentinela sobre o muro da cidade, olhando para o campo de batalha, descobriu um homem a correr sozinho. Logo um segundo veio a ser visto. Aproximando-se o primeiro, o atalaia disse ao rei, que estava a esperar junto à porta: "Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Então disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas-novas. Gritou pois Aimaás, e disse ao rei: Paz. E inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o Senhor, que entregou os homens que levantaram a mão contra o rei meu senhor." À ansiosa pergunta do rei: "Vai bem com o mancebo, com Absalão?" Aimaás deu uma resposta evasiva. PP 550 4 O segundo mensageiro chegou, clamando: "Anunciar-se-á ao rei meu senhor que hoje o Senhor te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti." Novamente veio dos lábios do pai a pergunta que o absorvia: "Vai bem com o mancebo, com Absalão?" Sem poder esconder a triste notícia, o arauto respondeu: "Sejam como aquele mancebo os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para mal." Era bastante. Davi não fez mais perguntas, mas com a cabeça baixa "subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou; e andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" 2 Samuel 18:14-33. PP 551 1 O exército vitorioso, voltando do campo de batalha, aproximou-se da cidade, despertando suas aclamações de triunfo ecos nas colinas. Mas, ao entrarem pelas portas da cidade, findaram-se as aclamações, arrearam-se as bandeiras, e com o olhar baixo avançaram mais como os que sofreram derrota do que como vencedores; porque o rei não os estava esperando a fim de dar-lhes boas-vindas, mas do quarto em cima da porta ouvia-se o clamor de seu pranto: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!" 2 Samuel 18:33. PP 551 2 "Então a vitória se tornou naquele mesmo dia em tristeza para todo o povo, porque naquele mesmo dia o povo ouvira dizer: Mui triste está o rei por causa de seu filho. E aquele mesmo dia o povo entrou às furtadelas na cidade, como o povo de vergonha se escoa quando foge da peleja". 2 Samuel 19:2, 3. PP 551 3 Joabe ficou cheio de indignação. Deus lhes dera motivo de triunfo e alegria; a maior rebelião que já fora conhecida em Israel tinha sido suprimida; e no entanto esta grande vitória se transformara em lamentação por aquele cujo crime custara o sangue de milhares de bravos. O rude e áspero capitão encaminhou-se para a presença do rei, e disse com ousadia: "Hoje envergonhaste as caras de todos os teus servos, que livraram hoje a tua vida, e a vida de teus filhos, e de tuas filhas, [...] amando tu aos que te aborrecem, e aborrecendo aos que te amam. Porque hoje dás a entender que nada valem para contigo capitães e servos; porque entendo hoje que se Absalão vivesse, e todos nós hoje fôssemos mortos, então bem te parecera aos teus olhos. Levanta-te, pois, agora; sai, e fala conforme ao coração de teus servos. Porque pelo Senhor te juro que, se não saíres, nem um só homem ficará contigo esta noite; e maior mal te será isto do que todo o mal que tem vindo sobre ti desde a tua mocidade até agora". 2 Samuel 19:5-7. PP 551 4 Severa e mesmo cruel como foi a censura ao rei, ferido em seu coração, não se ressentiu Davi com a mesma. Vendo que seu general tinha razão, desceu à porta, e com palavras de coragem e aprovação saudou seus bravos soldados enquanto passavam diante dele. ------------------------Capítulo 73 -- Os últimos anos de Davi PP 552 0 Este capítulo é baseado em 2 Samuel 24; 1 Reis 1; 1 Crônicas 21; 28-29. PP 552 1 A subversão de Absalão não trouxe de pronto a paz ao reino. Havia-se unido à revolta uma parte tão grande da nação, que Davi não queria voltar à sua capital e reassumir sua autoridade sem um convite das tribos. Na confusão que se seguiu à derrota de Absalão, não houve ação pronta e decidida para chamar-se novamente o rei; e, quando finalmente Judá empreendeu fazer voltar a Davi, despertara-se a inveja de outras tribos, e seguiu-se uma contra-revolução. Esta, entretanto, foi rapidamente sufocada, e a paz voltou a Israel. PP 552 2 A história de Davi proporciona um dos mais impressionantes testemunhos que já foram dados quanto aos perigos que ameaçam a alma, provenientes do poderio, das riquezas e da honra do mundo -- coisas estas que são as mais avidamente desejadas entre os homens. Poucos já têm passado por uma experiência mais bem adaptada a prepará-los para suportarem tal prova. A primeira parte da vida de Davi, como pastor, com suas lições de humildade, trabalho paciente e terno cuidado pelos seus rebanhos; a comunhão com a natureza na solidão das colinas, desenvolvendo o seu gênio para a música e poesia, e dirigindo seus pensamentos ao Criador; a longa disciplina de sua vida no deserto, pondo em exercício a coragem, constância, paciência e fé em Deus, foi designada pelo Senhor como preparo para o trono de Israel. Davi desfrutara experiências preciosas do amor de Deus, e fora ricamente dotado do Seu Espírito; na história de Saul vira a completa inutilidade da mera sabedoria humana. E, todavia, o êxito e a honra mundanos de tal maneira enfraqueceram o caráter de Davi que ele foi repetidas vezes vencido pelo tentador. PP 552 3 Relações com os povos pagãos determinaram o desejo de seguir seus costumes nacionais, e despertaram a ambição das grandezas mundanas. Como o povo de Jeová deveria Israel ser honrado; mas, aumentando o orgulho e a confiança em si mesmos, os israelitas não estavam satisfeitos com esta distinção. Preocupavam-se de preferência com sua posição entre as outras nações. Tal espírito não poderia deixar de convidar à tentação. Com o objetivo de estender suas conquistas entre as nações estrangeiras, resolveu Davi aumentar seu exército, exigindo trabalho militar de todos os que estivessem em idade conveniente. Para levar isto a efeito, tornou-se necessário fazer o censo da população. Foram o orgulho e a ambição que motivaram este ato do rei. A contagem do povo mostraria o contraste entre a fraqueza do reino quando Davi subiu ao trono, e sua força e prosperidade sob seu governo. Isto teria a tendência de fomentar ainda mais a confiança em si mesmo, que já era grande, tanto do rei como do povo. Dizem as Escrituras: "Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel". 1 Crônicas 21. A prosperidade de Israel sob o governo de Davi fora devida à bênção de Deus, em vez de atribuível à habilidade do rei ou à força de seus exércitos. Mas o aumento dos recursos militares do reino daria às nações circunvizinhas a impressão de que a confiança de Israel estava em seus exércitos, e não no poder de Jeová. PP 553 1 Embora o povo de Israel tivesse orgulho de sua grandeza nacional, não olhavam com aprovação o plano de Davi, de estender tão grandemente o serviço militar. O alistamento proposto causou muito descontentamento; conseqüentemente, julgou-se necessário empregarem-se os oficiais militares em lugar dos sacerdotes e magistrados, que haviam anteriormente levantado o censo. O objetivo deste empreendimento era diretamente contrário aos princípios de uma teocracia. Mesmo Joabe objetou, embora sem escrúpulos como até ali se havia mostrado. Ele disse: "O Senhor acrescente ao Seu povo cem vezes tanto como é; porventura, ó rei meu senhor, não são todos servos do meu senhor? Por que procura isto o meu senhor? Por que seria isso causa de delito para com Israel? Porém a palavra do rei prevaleceu contra Joabe; pelo que saiu Joabe, e passou por todo o Israel; então voltou para Jerusalém." A contagem não estava terminada, quando Davi se convenceu de seu pecado. Condenando-se a si mesmo, "disse Davi a Deus: Gravemente pequei em fazer tal coisa; porém agora sê servido tirar a iniqüidade de Teu servo, porque obrei mui loucamente". 1 Crônicas 21:1-8. Na manhã seguinte foi levada uma mensagem a Davi, pelo profeta Gade: "Assim diz o Senhor: Escolhe para ti, ou três anos de fome, ou que três meses te consumas diante de teus adversários, e a espada de teus inimigos te alcance, ou que três dias a espada do Senhor, isto é, a peste na terra, e o anjo do Senhor destruam todos os termos de Israel: vê, pois, agora", disse o profeta, "que resposta hei de levar a quem me enviou". 1 Crônicas 21:10-12. PP 553 2 A resposta do rei foi: "Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as Suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu". 2 Samuel 24:14. PP 553 3 A terra foi ferida com pestilência, que destruiu setenta mil em Israel. O açoite ainda não havia entrado na Capital, quando "levantando Davi os seus olhos, viu o anjo do Senhor, que estava entre a terra e o céu, com a espada desembainhada na sua mão estendida contra Jerusalém. Então Davi e os anciãos, cobertos de sacos, se prostraram sobre os seus rostos". O rei pleiteou com Deus a favor de Israel: "Não sou eu o que disse que se contasse o povo? E eu mesmo sou o que pequei, e fiz muito mal; mas estas ovelhas que fizeram? Ah! Senhor, meu Deus, seja a Tua mão contra mim, e contra a casa de meu pai, e não para castigo de Teu povo." PP 554 1 O levantamento do censo causara descontentamento entre o povo; todavia eles próprios tinham acariciado os mesmos pecados que determinaram a ação de Davi. Assim como o Senhor pelo pecado de Absalão trouxe juízos sobre Davi, assim pelo erro de Davi Ele puniu os pecados de Israel. PP 554 2 O anjo destruidor detivera-se em seu caminho fora de Jerusalém. Ele ficou sobre o Monte Moriá, "na eira de Ornã, jebuseu". Por indicação do profeta, Davi foi ao monte, e ali construiu um altar ao Senhor, "e ofereceu nele holocaustos e sacrifícios pacíficos; e invocou o Senhor, o qual lhe respondeu com fogo do céu sobre o altar do holocausto". 1 Crônicas 21:16-26. "Assim o Senhor Se aplacou para com a terra, cessou aquele castigo de sobre Israel". 2 Samuel 24:25. PP 554 3 O local em que o altar foi construído, e que dali em diante seria para sempre considerado terra santa, foi oferecido ao rei por Ornã, como presente. Mas o rei recusou-se a recebê-lo deste modo. "Pelo seu valor a quero comprar", disse ele; "porque não tomarei o que é teu, para o Senhor; para que não ofereça holocausto sem custo. E Davi deu a Ornã por aquele lugar o peso de seiscentos siclos de ouro." Esse local, memorável como o sítio em que Abraão construíra o altar para oferecer seu filho, e agora consagrado por este grande livramento, foi depois escolhido como o local do templo construído por Salomão. PP 554 4 Ainda outra sombra deveria formar-se sobre o últimos anos de Davi. Ele atingira a idade de setenta anos. As dificuldades e situações perigosas por que passara em suas primitivas vagueações, suas muitas guerras, cuidados e aflições de seus últimos anos, haviam-lhe solapado a fonte da vida. Embora a mente retivesse sua clareza e força, a fraqueza e a idade, com seu desejo de recolhimento, impediam uma apreensão rápida do que se estava a passar no reino, e de novo surgiu a rebelião à própria sombra do trono. Outra vez se manifestou o fruto da condescendência paternal de Davi. Aquele que agora aspirava ao trono era Adonias, "mui formoso de parecer", em seu aspecto pessoal e em seu porte, mas sem escrúpulos e descuidado. Em sua juventude não estivera sujeito senão a poucas restrições; pois "nunca seu pai o tinha contrariado, dizendo: Por que fizeste assim?" 1 Reis 1:6. Agora ele se rebelou contra a autoridade de Deus, que havia designado Salomão ao trono. Tanto pelos dotes naturais como pelo caráter religioso, Salomão estava mais bem qualificado do que seu irmão mais velho, para tornar-se governador de Israel; contudo, se bem que a escolha de Deus tivesse sido claramente indicada, não deixou Adonias de encontrar quem o apoiasse. Joabe, embora culpado de muitos crimes, fora até ali fiel ao trono; mas agora aderiu à conspiração contra Salomão, como também o fizera o sacerdote Abiatar. PP 554 5 A rebelião estava madura; os conspiradores tinham-se reunido em uma grande festa junto à cidade para proclamar Adonias como rei, quando seus planos foram transtornados pela ação pronta de pessoas fiéis, estado entre as principais o sacerdote Zadoque, o profeta Natã, e Bate-Seba, mãe de Salomão. Representaram ao rei o estado em que se achavam as coisas, lembrando-o da determinação divina de que Salomão o sucedesse no trono. Davi de pronto abdicou em favor de Salomão, que imediatamente foi ungido e proclamado rei. Estava abafada a conspiração. Seus principais atores incorreram na pena de morte. A vida de Abiatar foi poupada, em atenção ao seu ofício e anterior fidelidade para com Davi; mas foi rebaixado da função de sumo sacerdote, que passou à linhagem de Zadoque. Joabe e Adonias foram poupados por algum tempo, mas depois da morte de Davi sofreram a pena de seu crime. A execução da sentença sobre o filho de Davi completou o quádruplo juízo que testificou da aversão de Deus ao pecado do pai. PP 555 1 Desde o início mesmo do reinado de Davi, um dos seus mais acariciados planos fora construir um templo ao Senhor. Embora não lhe tivesse sido permitido executar este desígnio, não manifestou menos zelo e fervor em prol do mesmo. Provera abundância do mais valioso material: ouro, prata, pedra de ônix e pedras de diversas cores; mármore e as mais preciosas madeiras. E agora esses valiosos tesouros que juntara, deveriam ser confiados a outros; pois que outras mãos deveriam construir a casa para a arca -- símbolo da presença de Deus. PP 555 2 Vendo que seu fim estava próximo, o rei convocou os príncipes de Israel, juntamente com homens de representação de todas as partes do reino, para receberem a incumbência deste legado. Desejava confiar-lhes sua última recomendação, e conseguir seu concurso e apoio na grande obra a ser realizada. Por causa de sua fraqueza física, não se esperava que ele assistisse pessoalmente àquela transferência de poderes; mas a inspiração de Deus veio sobre ele, e, com um fervor e poder maior do que lhe era usual, pôde, pela última vez, falar a seu povo. Falou-lhes de seu desejo de construir o templo, e da ordem do Senhor para que essa obra fosse entregue a Salomão, seu filho. A segurança divina era: "Teu filho Salomão, ele edificará a Minha casa e os Meus átrios, porque o escolhi para filho, e Eu lhe serei por pai. E estabelecerei o Meu reino para sempre, se perseverar em cumprir os Meus Mandamentos e os Meus juízos, como até ao dia de hoje." "Agora, pois", disse Davi, "perante os olhos de todo o Israel, a congregação do Senhor, e perante os ouvidos do nosso Deus, guardai e buscai todos os mandamentos do Senhor vosso Deus, para que possuais esta boa terra, e a façais herdar a vossos filhos depois de vós, para sempre". 1 Crônicas 28:6-8. PP 555 3 Davi aprendera por sua própria experiência quão duro é o caminho daquele que se afasta de Deus. Sentira a condenação da lei violada, e ceifara os frutos da transgressão; e toda a sua alma se agitava pela solicitude por que os dirigentes de Israel fossem fiéis a Deus, e Salomão obedecesse à lei de Deus, excluindo os pecados que enfraqueceram a autoridade de seu pai, amarguraram-lhe a vida, e desonraram a Deus. Davi sabia que seria necessário humildade de coração, confiança constante em Deus e incessante vigilância, para resistir às tentações que certamente assediariam Salomão em seu elevado cargo; pois que tais caracteres preeminentes são o alvo especial dos dardos de Satanás. Voltando-se a seu filho já reconhecido como seu sucessor no trono, disse Davi: "E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai, e serve-O com um coração perfeito e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o Senhor todos os corações, e entende todas as imaginações dos pensamentos. Se O buscares, será achado de ti; porém, se O deixares, rejeitar-te-á para sempre. Olha pois agora, porque o Senhor te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te, e faze a obra". 1 Crônicas 28:9, 10. PP 556 1 Davi deu a Salomão instruções minuciosas para a construção do templo, juntamente com desenhos de todas as partes, e de todos os instrumentos empregados em seu serviço, conforme lhe fora revelado por inspiração divina. Salomão ainda era moço, e recuava ante o peso das responsabilidades que lhe recairiam com a construção do templo e governo do povo de Deus. Disse Davi a seu filho: "Esforça-te e tem bom ânimo, e obra; não temas, nem te apavores; porque o Senhor Deus, meu Deus, há de ser contigo; não te deixará, nem te desamparará". 1 Crônicas 28:20. PP 556 2 De novo Davi apelou para congregação: "Salomão, meu filho, a quem só Deus escolheu, é ainda moço e tenro, e esta obra é grande; porque não é palácio para homem, senão para o Senhor Deus." Disse: "Com todas as minhas forças já tenho preparado para a casa de meu Deus"; e prosseguiu enumerando os materiais que juntara. E, mais ainda, disse: "E ainda, de minha própria vontade para a casa de meu Deus, o ouro e a prata particular que tenho de mais eu dou para a casa do meu Deus, afora tudo quanto tenho preparado para a casa do santuário; três mil talentos de ouro, do ouro de Ofir; e sete mil talentos de prata purificada, para cobrir as paredes das casas." "Quem, pois, está disposto", perguntou à multidão reunida, que trouxera suas dádivas liberais, "quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao Senhor?" 1 Crônicas 29:1-5. PP 556 3 Houve uma pronta resposta da assembléia. "Os chefes dos pais, e os príncipes das tribos de Israel, e os capitães dos milhares e das centenas, até os capitães da obra do rei, voluntariamente contribuíram; e deram para o serviço da casa de Deus cinco mil talentos de ouro, e dez mil dracmas, e dez mil talentos de prata, e dezoito mil talentos de cobre, e cem mil talentos de ferro. E os que se acharam com pedras preciosas, as deram para o tesouro da casa do Senhor. [...] O povo se alegrou do que deram voluntariamente; porque com coração perfeito voluntariamente deram ao Senhor; e também o rei Davi se alegrou com grande alegria. PP 556 4 "Pelo que Davi louvou ao Senhor perante os olhos de toda a congregação; e disse Davi: Bendito és Tu, Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eternidade em eternidade. Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque Teu é tudo quanto há nos céus e na Terra; Teu é, Senhor, o reino, e Tu Te exaltaste sobre todos como chefe. E riquezas e glória vêm de diante de Ti, e Tu dominas sobre tudo, e na Tua mão há força e poder; e na Tua mão está o engrandecer e dar força a tudo. Agora, pois, ó Deus nosso, graças Te damos, e louvamos o nome da Tua glória. Por que quem sou eu, e quem é o meu povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas? Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos. Porque somos estranhos diante de Ti, e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a Terra, e não há outra esperança. Senhor, Deus nosso, toda esta abundância, que preparamos, para Te edificar uma casa ao Teu santo nome, vem da Tua mão, e toda é Tua. E bem sei eu, Deus meu, que Tu provas os corações, e que da sinceridade Te agradas. PP 557 1 "Eu também na sinceridade de meu coração voluntariamente dei todas estas coisas; e agora vi com alegria que o Teu povo, que se acha aqui, voluntariamente Te deu. Senhor, Deus de nossos pais Abraão, Isaque, e Israel, conserva isto para sempre no intento dos pensamentos do coração de Teu povo; e encaminha o seu coração para Ti. E a Salomão, meu filho, dá um coração perfeito, para guardar os Teus mandamentos, os Teus testemunhos, e os Teus estatutos; e para fazer tudo, e para edificar este palácio que tenho preparado. Então disse Davi a toda a congregação: Agora louvai ao Senhor vosso Deus. Então toda a congregação louvou ao Senhor Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o Senhor". 1 Crônicas 29:6-20. PP 557 2 Com o mais profundo interesse o rei havia reunido o precioso material para a construção e embelezamento do templo. Tinha composto as gloriosas antífonas que nos anos posteriores ecoariam através de seus pátios. Agora seu coração se alegrava em Deus, ao corresponderem tão nobremente ao seu apelo os chefes dentre os pais e os príncipes de Israel, e oferecendo-se eles para a importante obra que tinham diante de si. E, dando eles o seu serviço, ficaram dispostos a fazer mais. Avolumaram as ofertas, dando de suas próprias posses à tesouraria. Davi sentira profundamente sua indignidade para reunir o material para a casa de Deus; e a expressão de lealdade na resposta pronta dos nobres de seu reino, ao dedicarem eles com coração voluntário os seus tesouros a Jeová, e devotarem-se ao Seu serviço, encheu-o de alegria. Mas foi unicamente Deus que comunicara esta disposição a Seu povo. Ele, e não o homem, devia ser glorificado. Fora Ele que provera o povo com as riquezas da terra, e Seu Espírito tornara-os dispostos a trazerem suas coisas preciosas para o templo. Tudo era do Senhor; se Seu amor não tivesse movido o coração do povo, os esforços do rei teriam sido em vão, e o templo nunca se teria construído. PP 557 3 Tudo que o homem recebe da generosidade de Deus, pertence ainda a Deus. O que quer que Deus tenha outorgado dentre as coisas valiosas e belas da Terra, é colocado nas mãos dos homens para os provar -- a fim de sondar a profundidade de seu amor para com Ele e sua apreciação de Seus favores. Quer sejam tesouros de riqueza ou de intelecto, devem ser postos como sacrifício voluntário aos pés de Jesus, dizendo ao mesmo tempo o doador, como Davi: "Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos". 1 Crônicas 29:14. PP 558 1 Ao pressentir Davi que a morte se aproximava, o peso sobre o seu coração ainda era por Salomão e pelo reino de Israel, cuja prosperidade deveria em tão grande parte depender da fidelidade de seu rei. "E deu ele ordem a Salomão, seu filho, dizendo: Eu vou pelo caminho de toda a terra; esforça-te, pois, e sê homem. E guarda a observância do Senhor teu Deus, para andares nos Seus caminhos, e para guardares os Seus estatutos, e os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e os Seus testemunhos, [...] para que prosperes em tudo quanto fizeres, para onde quer que te voltares. Para que o Senhor confirme a palavra, que falou de mim, dizendo: Se teus filhos guardarem o seu caminho, para andarem perante a Minha face fielmente, com todo o seu coração e com toda a sua alma, nunca, disse, te faltará sucessor ao trono de Israel". 1 Reis 2:1-4. PP 558 2 As "últimas palavras" de Davi, conforme foram registradas, são um cântico -- um cântico de confiança, do mais sublime princípio, e fé imortal: PP 558 3 "Diz Davi, filho de Jessé, e diz o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de Jacó, e o suave em salmos de Israel: O Espírito do Senhor falou por mim, [...] Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus e será como a luz da manhã, quando sai o Sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra. Ainda que a minha casa não seja tal para com Deus, contudo estabeleceu comigo um concerto eterno, que em tudo será bem ordenado e guardado, pois toda a minha salvação e todo o meu prazer está nEle". 2 Samuel 23:1-5. PP 558 4 Grande foi a queda de Davi, mas profundo foi o seu arrependimento, ardoroso o seu amor, e forte a sua fé. A ele muito fora perdoado, e portanto muito amava. Lucas 7:48. PP 558 5 Os salmos de Davi passam por uma série completa de experiências, desde as profundezas da culpabilidade consciente e condenação própria, até a fé mais sublime e mais exaltada comunhão com Deus. O registro de sua vida declara que o pecado apenas pode trazer ignomínia e desgraças, mas que o amor e a misericórdia de Deus podem alcançar as maiores profundidades, que a fé erguerá a alma arrependida para que participe da adoção de filhos de Deus. De todas as declarações que se contêm em Sua Palavra, é isto um dos mais fortes testemunhos da fidelidade, da justiça e da misericórdia de Deus em Seu concerto. PP 558 6 O homem "foge também como a sombra, e não permanece" (Jó 14:2), "mas a Palavra de nosso Deus subsiste eternamente". Isaías 40:8. "A misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade sobre aqueles que O temem, e a Sua justiça sobre os filhos dos filhos; sobre aqueles que guardam o Seu concerto, e sobre os que se lembram dos Seus mandamentos para os cumprirem". Salmos 103:17, 18. PP 559 1 "Tudo quanto Deus faz durará eternamente". Eclesiastes 3:14. PP 559 2 Gloriosas são as promessas feitas a Davi e sua casa, promessas essas que visam às eras eternas, e que encontram seu cumprimento total em Cristo. Declarou o Senhor: PP 559 3 "Jurei ao Meu servo Davi: [...] Com ele a Minha mão ficará firme, e o Meu braço o fortalecerá. [...] A Minha fidelidade e a Minha benignidade estarão com ele; e em Meu nome será exaltado o seu poder. E porei a sua mão no mar, e a sua direita nos rios. Ele Me invocará, dizendo: Tu és meu Pai, meu Deus, e a Rocha da minha salvação. Também por isso lhe darei o lugar de primogênito; fá-lo-ei mais elevado do que os reis da Terra. A Minha benignidade lhe guardarei para sempre, e o Meu concerto lhe será firme". Salmos 89:3-28. PP 559 4 "E conservarei para sempre a sua descendência, e o seu trono como os dias do céu". Salmos 89:29. PP 559 5 "Julgará os aflitos do povo, salvará os filhos do necessitado, e quebrantará o opressor. Temer-Te-ão enquanto durar o Sol e a Lua, de geração em geração. [...] Nos seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a Lua. Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra." "O seu nome permanecerá eternamente; o seu nome se irá propagando de pais a filhos, enquanto o Sol durar, e os homens serão abençoados nele; todas as nações lhe chamarão bem-aventurado". Salmos 72:4-8, 17. PP 559 6 "Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz". Isaías 9:6. PP 559 7 "Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, Seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim". Lucas 1:32, 33. ------------------------Profetas e Reis PR 5 12 A Vinha do Senhor PR 6 1 Capítulo 1 -- Salomão PR 12 1 Capítulo 2 -- O Templo e sua Dedicação PR 20 1 Capítulo 3 -- Orgulho da Prosperidade PR 26 1 Capítulo 4 -- Resultados da Transgressão PR 34 1 Capítulo 5 -- O Arrependimento de Salomão PR 41 1 Capítulo 6 -- O Reino é Rasgado PR 47 1 Capítulo 7 -- Jeroboão PR 52 1 Capítulo 8 -- Apostasia Nacional PR 57 0 Capítulo 9 -- Elias o Tesbita PR 62 0 Capítulo 10 -- A Voz de Severa Repreensão PR 70 0 Capítulo 11 -- O Carmelo PR 76 0 Capítulo 12 -- De Jezreel a Horebe PR 82 0 Capítulo 13 -- "Que Fazes Aqui?" PR 88 1 Capítulo 14 -- "No Espírito e Virtude de Elias" PR 95 1 Capítulo 15 -- Josafá PR 102 0 Capítulo 16 -- A Queda da Casa de Acabe PR 109 1 Capítulo 17 -- O Chamado de Eliseu PR 116 1 Capítulo 18 -- As Águas Purificadas PR 120 0 Capítulo 19 -- Um Profeta de Paz PR 125 0 Capítulo 20 -- Naamã PR 130 1 Capítulo 21 -- O Fim do Ministério de Eliseu PR 136 1 Capítulo 22 -- A "Grande Cidade de Nínive" PR 144 1 Capítulo 23 -- O Cativeiro Assírio PR 151 1 Capítulo 24 -- "Destruído Porque Lhe Faltou o Conhecimento" PR 155 1 Capítulo 25 -- O Chamado de Isaías PR 160 1 Capítulo 26 -- "Eis Aqui Está o Vosso Deus" PR 165 1 Capítulo 27 -- Acaz PR 170 1 Capítulo 28 -- Ezequias PR 175 1 Capítulo 29 -- Os Embaixadores de Babilônia PR 180 1 Capítulo 30 -- Libertos da Assíria PR 189 1 Capítulo 31 -- Esperança Para os Gentios PR 195 1 Capítulo 32 -- Manassés e Josias PR 201 1 Capítulo 33 -- O Livro da Lei PR 207 1 Capítulo 34 -- Jeremias PR 215 1 Capítulo 35 -- A Condenação Iminente PR 224 1 Capítulo 36 -- O Último Rei de Judá PR 231 1 Capítulo 37 -- Levados Cativos Para Babilônia PR 237 1 Capítulo 38 -- Luz em Meio às Trevas PR 243 0 Capítulo 39 -- Na Corte de Babilônia PR 250 0 Capítulo 40 -- O Sonho de Nabucodonosor PR 256 0 Capítulo 41 -- A Fornalha Ardente PR 262 0 Capítulo 42 -- A Verdadeira Grandeza PR 267 0 Capítulo 43 -- O Vigia Invisível PR 275 0 Capítulo 44 -- Na Cova dos Leões PR 280 1 Capítulo 45 -- A Volta do Exílio PR 288 1 Capítulo 46 -- "Os Profetas de Deus os Ajudavam" PR 297 1 Capítulo 47 -- Josué e o Anjo PR 303 1 Capítulo 48 -- "Não por Força nem por Violência" PR 306 1 Capítulo 49 -- Nos Dias da Rainha Ester PR 310 1 Capítulo 50 -- Esdras, o Sacerdote e Escriba PR 316 1 Capítulo 51 -- Um Reavivamento Espiritual PR 322 0 Capítulo 52 -- Um Homem Oportuno PR 326 0 Capítulo 53 -- Os Reconstrutores do Muro PR 332 0 Capítulo 54 -- Condenada a Extorsão PR 336 0 Capítulo 55 -- Cilada dos Pagãos PR 340 0 Capítulo 56 -- Instruídos na Lei de Deus PR 344 0 Capítulo 57 -- Reforma PR 350 1 Capítulo 58 -- A Vinda de um Libertador PR 361 1 Capítulo 59 -- "A Casa de Israel" PR 371 1 Capítulo 60 -- Visões de Glória Futura ------------------------A Vinha do Senhor PR 5 12 Foi com o propósito de transmitir os melhores dons do Céu a todos os povos da Terra, que Deus chamou Abraão do meio de sua parentela idólatra, e mandou-o habitar na terra de Canaã. "Far-te-ei uma grande nação", disse Deus, "e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção." Gên. 12:2. Foi uma alta honra aquela para a qual Abraão fora chamado – a de ser o pai do povo que por séculos devia ser o guardião e preservador da verdade de Deus para o mundo, povo esse por cujo intermédio todas as nações da Terra deveriam ser abençoadas no advento do prometido Messias. PR 5 13 Os homens haviam quase perdido o conhecimento do verdadeiro Deus. Sua mente estava entenebrecida pela idolatria; pois os estatutos divinos, que são santos, justos e bons (Rom. 7:12), haviam eles procurado substituir por leis em harmonia com os propósitos de seu próprio coração cruel e egoísta. Contudo, em Sua misericórdia Deus não os apagou da existência. Ele Se propôs dar-lhes a oportunidade de se familiarizarem com Ele por intermédio de Sua igreja. Foi Seu desígnio que os princípios revelados por intermédio de Seu povo seriam o meio de restaurar no homem a imagem moral de Deus. PR 5 14 A lei de Deus devia ser exaltada, sua autoridade mantida; e à casa de Israel foi entregue esta grande e nobre obra. Deus separou-os do mundo, para que pudesse confiar-lhes o sagrado encargo. Fê-los depositários de Sua lei, e propôs preservar por intermédio deles o conhecimento de Si mesmo entre os homens. Assim devia a lei do Céu brilhar no mundo envolvido em trevas, e uma voz devia ser ouvida apelando a todos os povos para que volvessem da idolatria, a fim de servirem ao Deus vivo. PR 5 15 "Com grande força e com forte mão" (Êxo. 32:11), Deus tirou Seu povo escolhido da terra do Egito. "Enviou Moisés, Seu servo, e Arão, a quem escolhera. Fizeram entre eles os seus sinais e prodígios, na terra de Cão". Sal. 105:26 e 27. "Repreendeu o Mar Vermelho e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto." Sal. 106:9. Ele os libertou de sua condição de servos, para que pudesse levá-los a uma boa terra – uma terra que em Sua providência havia-lhes preparado como refúgio de seus inimigos. Queria trazê-los para Si, e envolvê-los em Seus braços eternos; e em retribuição de Sua bondade e misericórdia deviam eles exaltar Seu nome e fazê-lo glorioso na Terra. PR 5 16 "Porque a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a corda da Sua herança. Achou-a na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho." Deut. 32:9-12. Assim trouxe o Senhor os israelitas para junto de Si, para que habitassem como que à sombra do Altíssimo. Miraculosamente preservados dos perigos do errante viajar pelo deserto, foram eles finalmente estabelecidos na terra da promessa como uma nação favorecida. PR 5 17 Mediante o uso de uma parábola, Isaías narrou com tocante sentimento a história do chamado e preparo de Israel para ser no mundo representante de Jeová, frutífero em toda boa obra: PR 5 18 "Agora cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito de sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil, e a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas." Isaías 5:1 e 2. PR 5 19 Por intermédio do povo escolhido, tinha Deus o propósito de abençoar toda a espécie humana. "A vinha do Senhor dos exércitos", declarou o profeta, "é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das Suas delícias." Isaías 5:7. PR 5 20 A esse povo foram confiados os oráculos de Deus. Estavam protegidos pelos preceitos de Sua lei, os eternos princípios da verdade, justiça e pureza. A obediência a esses princípios devia ser a sua proteção, pois os livraria de se destruírem a si mesmos por práticas pecaminosas. E, como uma torre na vinha, Deus colocou no meio da terra Seu santo templo. PR 5 21 Cristo era seu instrutor. Assim como havia sido com eles no deserto, devia ser ainda seu Mestre e Guia. No tabernáculo e no templo, Sua glória habitava no santo Shekinah, em cima do propiciatório. No benefício deles Ele manifestava constantemente as riquezas do Seu amor e paciência. PR 5 22 Por intermédio de Moisés os propósitos de Deus deviam ser-lhes expostos, e os termos de sua prosperidade tornados claros. "Porque povo santo és ao Senhor teu Deus", disse ele; "o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há." Deut. 7:6. PR 5 23 "Hoje declaraste ao Senhor que te será por Deus, e que andarás nos Seus caminhos, e guardarás os Seus estatutos, e os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e darás ouvidos à Sua voz. E o Senhor hoje te fez dizer que Lhe serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao Senhor teu Deus, como tem dito." Deut. 26:17-19. PR 5 24 Os filhos de Israel deviam ocupar todo o território que Deus lhes indicara. Aquelas nações que haviam rejeitado a adoração e serviço ao verdadeiro Deus, deviam ser despojadas. Mas era propósito de Deus que pela revelação de Seu caráter através de Israel, fossem os homens atraídos para Si. O convite do evangelho devia ser dado a todo o mundo. Mediante o ensino do sistema de sacrifícios, Cristo devia ser erguido perante as nações, e todos que olhassem para Ele viveriam. Todo aquele que, como Raabe, a cananita, e Rute, a moabita, tornassem da idolatria para o culto ao verdadeiro Deus, deviam unir-se ao Seu povo escolhido. À medida em que o número dos israelitas crescesse, deviam eles ampliar suas fronteiras, até que o seu reino envolvesse o mundo. PR 5 25 Mas o antigo Israel não cumpriu o propósito de Deus. O Senhor declarou: "Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel: como pois te tornaste para Mim uma planta degenerada, de vide estranha?" Jer. 2:21. "Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo." Osé. 10:1. "Agora pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? e como, esperando Eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas? Agora pois vos farei saber o que Eu hei de fazer à Minha vinha: tirarei a sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às chuvas darei ordem para que não derramem chuva sobre ela. Porque... esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor." Isaías 5:3-7. PR 5 26 O Senhor havia, por intermédio de Moisés, exposto perante o Seu povo os resultados da infidelidade. Recusando guardar Seu concerto, estariam se excluindo da vida de Deus, e Sua bênção não podia vir sobre eles. Às vezes essas advertências eram ouvidas, e ricas bênçãos eram concedidas à nação judaica e por meio deles aos povos em redor. Mas a maior parte das vezes em sua história eles se esqueceram de Deus, e perderam de vista seu elevado privilégio como povo que O representava. Roubaram-nO do serviço que deles requeria, e roubaram o próximo da guia religiosa e santo exemplo. Desejaram apropriar-se do fruto da vinha sobre a qual haviam sido postos como mordomos. Sua avidez e cobiça tornaram-nos desprezíveis aos olhos dos próprios pagãos. Assim deu-se ao mundo gentio a ocasião de interpretar mal o caráter de Deus e as leis de Seu reino. PR 5 27 Com coração paternal Deus tratou com Seu povo. Argumentou com eles sobre bênçãos concedidas e bênçãos retidas. Pacientemente pôs perante eles seus pecados, e em espírito de demência esperou por seu reconhecimento. Profetas e mensageiros foram-lhes enviados para apresentar Seus reclamos aos lavradores; mas em lugar de serem bem recebidos, esses homens de poder e discernimento espiritual foram tratados como inimigos. Os lavradores perseguiram-nos e mataram-nos. Deus enviou ainda outros mensageiros, mas receberam o mesmo tratamento dispensado aos primeiros, com a única diferença que os lavradores mostraram ainda mais determinado ódio. PR 5 28 A retenção do divino favor durante o período do exílio levou muitos ao arrependimento; não obstante após seu retorno à terra da promessa, o povo judeu repetiu os erros das gerações anteriores, e entrou em conflito político com as nações circunvizinhas. Os profetas a quem Deus enviara para corrigir os males prevalecentes, foram recebidos com a mesma desconfiança e escárnio com que foram tratados os mensageiros dos antigos tempos; e assim, de século em século, os guardas da vinha fizeram-se mais culpados. PR 5 29 A excelente vide plantada pelo divino Lavrador sobre os montes da Palestina fora desprezada pelos homens de Israel, e finalmente foi lançada fora da vinha; tripudiaram sobre ela, pisaram-na a pés, e esperavam que a tivessem destruído para sempre. O Lavrador removera a vinha, e a ocultara de suas vistas. Plantou-a de novo, mas do outro lado do muro, e de tal maneira que o tronco não mais ficou visível. As varas pendiam sobre o muro, de maneira que se poderiam nelas fazer enxertos, mas o tronco mesmo foi posto fora do alcance do homem e de poder este causar-lhe dano. PR 5 30 De especial valor para a igreja de Deus sobre a Terra hoje -- os guardas de Sua vinha -- são as mensagens de consolo e admoestação dadas através dos profetas que tornaram claro Seu eterno propósito em favor da humanidade. Nos ensinos dos profetas, Seu amor pela raça caída e Seu plano para a sua salvação claramente são revelados. A história do chamado de Israel, de seus sucessos e fracassos, sua restauração ao favor divino, a rejeição do Senhor da vinha e a execução do plano dos séculos por um bom remanescente a quem seriam cumpridas todas as promessas do concerto -- tal foi o tema dos mensageiros de Deus a Sua igreja através dos séculos já passados. E hoje a mensagem de Deus a Sua igreja -- aos que Lhe estão ocupando a vinha como fiéis lavradores -- não é outra senão aquela expressa pelo profeta do passado: PR 5 31 "Naquele dia haverá uma vinha de vinho tinto; cantai-lhe. PR 5 32 Eu, o Senhor, a guardo. PR 5 33 E a cada momento a regarei; PR 5 34 Para que ninguém lhe faça dano, PR 5 35 De dia e de noite a guardarei." Isaías 27:2, 3. PR 5 36 Espere Israel em Deus. O Senhor da vinha está mesmo agora reunindo dentre todas as nações e povos os preciosos frutos pelos quais tem há tanto tempo esperado. Logo Ele virá para o que é Seu; e nesse alegre dia, Seu eterno propósito para a casa de Israel será finalmente cumprido. "Jacó lançará raízes, e florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo." Isaías 27:6. ------------------------Capítulo 1 -- Salomão PR 6 1 No reinado de Davi e Salomão, Israel tornara-se forte entre as nações, e tivera muitas oportunidades de exercer poderosa influência em favor da verdade e do direito. O nome de Jeová era exaltado e tido em honra, e o propósito para o qual os israelitas haviam sido estabelecidos na terra da promessa dir-se-ia estar a alcançar seu cumprimento. Barreiras haviam sido derribadas, e os pesquisadores da verdade vindos de terras pagãs não retornavam insatisfeitos. Produziram-se conversões, e a igreja de Deus na Terra se ampliava e prosperava. PR 6 2 Salomão foi ungido e proclamado rei nos anos finais de seu pai Davi, o qual abdicara em seu favor. Os primeiros tempos de sua vida foram promissores, e era propósito de Deus que ele fosse de força em força, de glória em glória, aproximando-se cada vez mais da semelhança do caráter de Deus, inspirando assim Seu povo a cumprir sua sagrada incumbência, como depositários da verdade divina. PR 6 3 Davi sabia que o elevado propósito de Deus para com Israel só se realizaria se dirigentes e povo procurassem com incessante vigilância atingir a norma estabelecida para eles. Ele sabia que para que seu filho Salomão correspondesse à confiança com que Deus Se agradara em honrá-lo, o jovem governante não devia ser meramente um guerreiro, um estadista, um soberano, mas um homem forte, bom, um ensinador de justiça, um exemplo de fidelidade. PR 6 4 Com terno fervor Davi exortou Salomão a ser varonil e nobre, a mostrar misericórdia e magnanimidade a seus súditos, e em todo o seu trato com as nações da Terra honrar e glorificar o nome de Deus e tornar manifesta a beleza da santidade. As inúmeras experiências difíceis e notáveis pelas quais Davi passara durante o curso de sua vida haviam-lhe ensinado o valor das mais nobres virtudes, e levaram-no a declarar a Salomão, em suas instruções no leito de morte: "Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus. E será como a luz da manhã, quando sai o Sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor, e pela chuva, a erva brota da terra". 2 Samuel 23:3, 4. PR 6 5 Oh! que oportunidade a de Salomão Tivesse ele seguido a instrução divinamente inspirada de seu pai e seu reino teria sido um reino de justiça, tal como o descrito no Salmos 72: PR 6 6 "Ó Deus, dá ao rei os Teus juízos, e a Tua justiça ao filho do rei. Ele julgará ao Teu povo com justiça, e aos Teus pobres com juízo. [...] Ele descerá como a chuva sobre a erva ceifada, como chuveiros que umedecem a terra. Nos seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a Lua. Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da Terra. [...] Os reis de Seba e de Sabá oferecerão dons. Os reis de Társis e das ilhas trarão presentes; e todos os reis se prostrarão perante ele; Todas as nações o servirão. Porque ele livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude. [...] E continuamente se fará por ele oração; e todos os dias o bendirão. [...] O seu nome permanecerá eternamente; o seu nome se irá propagando de pais a filhos enquanto o Sol durar; e os homens serão abençoados nele: Todas as nações lhe chamarão bem-aventurado. Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só Ele faz maravilhas. E bendito seja para sempre o Seu nome glorioso: E encha-se toda a Terra da Sua glória. Amém e amém". Salmos 72:1-19. PR 7 7 Na juventude, Salomão fez sua a escolha que fizera Davi, e por muitos anos andou em retidão, sua vida marcada com estrita obediência aos mandamentos de Deus. Logo no início do seu reinado, foi ele com seus conselheiros de Estado a Gibeom, onde ainda estava o tabernáculo que havia sido construído no deserto, e ali uniu-se aos seus conselheiros escolhidos, "aos capitães dos milhares e das centenas", "e aos juízes, e a todos os príncipes em todo o Israel, chefes dos pais", em oferecer sacrifícios a Deus e em consagrar-se plenamente ao serviço do Senhor. 2 Crônicas 1:2. Compreendendo alguma coisa da magnitude dos deveres relacionados com o ofício real, Salomão sabia que os que levam pesados fardos precisam buscar a Fonte de sabedoria para orientação, se desejam desempenhar suas responsabilidades de maneira aceitável. Isto levou-o a encorajar seus conselheiros a se unirem com ele em sinceridade, a fim de estarem seguros da aceitação de Deus. PR 7 8 Acima de todo o bem terrestre, o rei desejava sabedoria e entendimento para a realização da obra que Deus lhe havia dado a fazer. Ele ansiava por acuidade mental, largueza de coração, brandura de espírito. Naquela noite, o Senhor apareceu em sonho a Salomão, e disse: "Pede o que quiseres que te dê." Em sua resposta o jovem e inexperiente príncipe deu expansão a seu sentimento de desamparo e seu desejo de auxílio: "De grande beneficência usaste Tu com Teu servo Davi meu pai", disse ele, "como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a Tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência, e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia. PR 8 1 "Agora, pois, ó Senhor meu Deus, Tu fizeste reinar a Teu servo em lugar de Davi meu pai. E sou ainda menino pequeno; nem sei como sair, nem como entrar. E Teu servo está no meio do Teu povo que elegeste; povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. A Teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a Teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque, quem poderia julgar a este Teu tão grande povo? PR 8 2 "E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, que Salomão pedisse esta coisa" "Porquanto pediste esta coisa", disse Deus a Salomão, "e não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos, mas pediste para ti entendimento para ouvir causas de juízo, eis que fiz segundo as tuas palavras. Eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual se não levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus dias. E, se andares nos Meus caminhos, guardando os Meus estatutos, e os Meus mandamentos, como andou Davi teu pai, também prolongarei os teus dias". 1 Reis 3:5-14. PR 8 3 Deus prometeu que assim como fora com Davi, seria com Salomão. Se o rei andasse perante o Senhor em retidão, se fizesse o que Deus lhe havia ordenado, seu trono seria estabelecido, e seu reino seria o meio de exaltar Israel como "gente sábia e entendida" (Deuteronômio 4:6), a luz das nações ao redor. PR 8 4 A linguagem usada por Salomão quando em oração a Deus diante do antigo altar de Gibeom, revela sua humildade e forte desejo de honrar a Deus. Ele sentia que sem o divino auxílio para desincumbir-se das responsabilidades impendentes sobre si, estaria tão ao desamparo como uma criancinha. Sabia que lhe faltava discernimento, e foi o senso de sua grande necessidade que o levou a buscar de Deus sabedoria. Em seu coração não havia aspiração egoísta de conhecimento para que se pudesse exaltar sobre outros. Ele desejava desempenhar fielmente os deveres que lhe foram impostos, e escolheu o dom que seria o meio de levar seu reino a glorificar a Deus. Salomão nunca foi tão rico ou tão sábio ou tão verdadeiramente grande como quando confessou: "Não passo de uma criança, não sei como conduzir-me". 1 Reis 3:7. PR 8 5 Os que ocupam hoje posições de responsabilidade devem procurar aprender a lição ensinada pela oração de Salomão. Quanto mais alta a posição que um homem ocupa, quanto maior a responsabilidade que tem de levar, mais ampla será a influência que exerce e maior sua necessidade de dependência de Deus. Deve lembrar-se sempre que com o chamado para o trabalho, vem o chamado para andar circunspectamente perante seus companheiros. Deve ele permanecer ante Deus na atitude de um discípulo. A posição não dá santidade de caráter. É por honrar a Deus e obedecer a Seus mandamentos que o homem se torna verdadeiramente grande. PR 9 1 O Deus que servimos não faz acepção de pessoas. Aquele que deu a Salomão o espírito de sábio discernimento, está desejoso de repartir as mesmas bênçãos a Seus filhos hoje. "Se algum de vós tem falta de sabedoria", declara Sua Palavra, "peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não o lança em rosto, e ser-lhe-á dada". Tiago 1:5. Quando o que leva um fardo opressivo deseja sabedoria mais que riquezas, poder, ou fama, não ficará desapontado. Tal pessoa aprenderá do grande Mestre não somente o que fazer, mas como fazê-lo de maneira a alcançar a divina aprovação. PR 9 2 Por todo o tempo em que permanecer consagrado, o homem a quem Deus dotou com discernimento e habilidade não manifestará anseios por alta posição, nem procurará dirigir ou governar. Necessariamente os homens precisam assumir responsabilidades; mas em vez de disputar a supremacia, aquele que é verdadeiro líder orará por um coração entendido, a fim de poder discernir entre o bem e o mal. PR 9 3 A situação dos homens que estão colocados como líderes não é fácil. Mas devem eles ver em cada dificuldade um chamado à oração. Jamais devem deixar de consultar a grande Fonte de toda a sabedoria. Fortalecidos e iluminados pelo Obreiro-Mestre, serão capacitados a permanecer firmes contra pecaminosas influências, e a discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal. Aprovarão o que Deus aprova, e empenhar-se-ão com todo o fervor contra a introdução de princípios errôneos em Sua causa. PR 9 4 A sabedoria que Salomão desejou acima de riquezas, honra, ou vida prolongada, Deus lhe deu. Sua petição por acuidade mental, largueza de coração e brandura de espírito foi satisfeita. "E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente, e do que toda a sabedoria dos egípcios. E era ele ainda mais sábio do que todos os homens, [...] e correu o seu nome por todas as nações em redor". 1 Reis 4:29-31. PR 9 5 "E todo o Israel [...] temeu o rei, por que viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça". 1 Reis 3:28. O coração de todo o povo tornou para Salomão, como se havia tornado para Davi, e lhe obedeceram em todas as coisas. "E Salomão [...] se esforçou no seu reino, e o Senhor seu Deus era com ele, e o magnificou grandemente". 2 Crônicas 1:1. PR 9 6 Durante muitos anos, a vida de Salomão foi marcada com devoção a Deus, com retidão e firme princípio, e com estrita obediência aos mandamentos de Deus. Ele promoveu todo empreendimento importante, e manejou sabiamente as questões de negócio relacionadas com o reino. Sua riqueza e sabedoria; as luxuosas construções e obras públicas que ele construiu durante os primeiros anos de seu reinado; a energia, piedade, justiça e magnanimidade que revelou em palavras e obras resultaram na lealdade de seus súditos e a admiração e homenagem dos governantes de muitas terras. PR 10 1 O nome de Jeová foi grandemente honrado durante a primeira parte do reinado de Salomão. A sabedoria e justiça reveladas pelo rei deram testemunho a todas as nações da excelência dos atributos do Deus que ele servia. Por algum tempo, Israel foi a luz do mundo, revelando a grandeza de Jeová. Não era na sua preeminente sabedoria, fabulosas riquezas, ou no vasto alcance do seu poder e fama que repousava a verdadeira glória do início do reinado de Salomão; mas na honra que ele levava ao nome do Deus de Israel, mediante sábio uso dos dons do Céu. PR 10 2 Ao passarem os anos, e aumentando a fama de Salomão, buscou ele honrar a Deus acrescentando sua força mental e espiritual e constantemente repartindo com outros as bênçãos recebidas. Ninguém compreendia melhor que ele, haver sido pelo favor de Jeová que entrara na posse do poder, sabedoria e entendimento, e que esses dons foram-lhe concedidos para que ele pudesse dar ao mundo o conhecimento do Rei dos reis. Salomão tomou especial interesse pela História Natural, mas suas pesquisas não estavam limitadas a um determinado ramo do saber. Mediante diligente estudo de todas as coisas criadas, tanto animadas como inanimadas, adquiriu clara concepção do Criador. Nas forças da natureza, no mundo mineral e animal, e em toda árvore, arbusto e flor, ele via a revelação da sabedoria de Deus; e ao procurar aprender mais e mais, seu conhecimento de Deus e seu amor por Ele constantemente aumentavam. PR 10 3 A divinamente inspirada sabedoria de Salomão encontrou expressão em cânticos de louvor e em muitos provérbios. "E disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano, até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis e dos peixes". 1 Reis 4:32, 33. PR 10 4 Nos provérbios de Salomão estão esboçados princípios de santo viver e elevados intentos; princípios oriundos do Céu e que conduzem à piedade; princípios que devem reger cada ato da vida. Foi a ampla disseminação desses princípios, e o reconhecimento de Deus como Aquele a quem pertence todo louvor e honra, que fez dos primeiros tempos do reinado de Salomão uma ocasião de reerguimento moral bem como de prosperidade material. PR 10 5 "Bem-aventurado o homem que acha sabedoria", escreveu ele, "e o homem que adquire conhecimento. Porque melhor é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que podes desejar não se pode comparar a ela. Aumento de dias há na sua mão direita; na sua esquerda riquezas e honra. Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas paz. É árvore da vida para os que a seguram, e bem-aventurados são todos os que a retêm". Provérbios 3:13-18. PR 10 6 "A sabedoria é a coisa principal, adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o conhecimento". Provérbios 4:7. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria". Salmos 111:10. "O temor do Senhor é aborrecer o mal; a soberba, e a arrogância, e o mau caminho, e a boca perversa, aborreço". Provérbios 8:13. PR 11 1 Oxalá tivesse Salomão em seus últimos anos atentado para estas maravilhosas palavras de sabedoria! Quem dera aquele que declarou: "Os lábios dos sábios derramarão o conhecimento" (Provérbios 15:7) e que ensinara, ele próprio, os reis da Terra a render ao Rei dos reis o louvor que haviam intentado dar a um governador terreno, não tivesse jamais tomado para si com "boca perversa", em "soberba" e "arrogância" a glória devida a Deus somente! ------------------------Capítulo 2 -- O templo e sua dedicação PR 12 1 Salomão pôs em execução sabiamente o plano tão longamente acariciado por Davi, de construir um templo ao Senhor. Durante sete anos Jerusalém esteve repleta de ocupados obreiros, empenhados em aplainar o local escolhido, abrir as grandes valas, assentar os amplos fundamentos -- "pedras grandes, e pedras preciosas, pedras lavradas" (1 Reis 5:17), talhar os pesados troncos vindos das florestas do Líbano, erguer o magnificente santuário. PR 12 2 Simultaneamente com a preparação da madeira e pedra, em cuja tarefa muitos milhares estavam aplicando suas energias, a manufatura do mobiliário para o templo ia progredindo constantemente, sob a liderança de Hirão, de Tiro, "um homem sábio de grande entendimento, [...]" hábil para "lavrar em ouro, e em prata, em bronze, em ferro, em pedras e em madeira, em púrpura, em azul, e em linho fino, e em carmesim". 2 Crônicas 2:13, 14. PR 12 3 Assim, à medida que o edifício sobre o Monte Moriá ia sendo silenciosamente erguido com pedras preparadas, "de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam" (1 Reis 6:7), os belos utensílios eram trabalhados conforme os modelos entregues por Davi a seu filho -- "todos os vasos que eram para a casa de Deus". 2 Crônicas 4:19. Eles compreendiam o altar de incenso, a mesa dos pães da proposição, o castiçal com as lâmpadas, os vasos e instrumentos relacionados com a ministração dos sacerdotes no lugar santo -- tudo "de ouro, do mais perfeito ouro". 2 Crônicas 4:21. O mobiliário de bronze -- o altar de ofertas queimadas, o grande lavatório sobre doze bois, as pias de menor tamanho, com muitos outros vasos -- "na campina do Jordão os fundiu o rei na terra argilosa, entre Sucote e Zeredá". 2 Crônicas 4:17. Esse mobiliário foi provido em abundância, para que não houvesse falta. PR 12 4 De inexcedível beleza e inigualável esplendor era o régio edifício que Salomão e seus homens construíram a Deus e ao Seu culto. Guarnecido de pedras preciosas, circundado por espaçosos átrios com magnificentes vias de acesso, revestido de cedro lavrado e ouro polido, a estrutura do templo, com suas cortinas bordadas e rico mobiliário, era apropriado emblema da igreja viva de Deus na Terra, a qual tem sido edificada através dos séculos segundo o modelo divino, com material que se tem comparado ao "ouro, prata e pedras preciosas", "lavradas como colunas de um palácio". Deste templo espiritual Cristo "é a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor". Efésios 2:20, 21. PR 13 1 Afinal o templo planejado pelo rei Davi e construído por seu filho Salomão estava concluído. "Tudo quanto Salomão intentou fazer na casa do Senhor e na sua casa, prosperamente o efetuou". 2 Crônicas 7:11. E agora, para que o palácio que coroava as elevações do Monte Moriá pudesse ser, sem dúvida, como Davi havia desejado, um lugar de habitação não "para homem, senão para o Senhor Deus" (1 Crônicas 29:1), restava a solene cerimônia da dedicação formal a Jeová e Seu culto. PR 13 2 O local em que o templo fora construído era, havia muito, considerado sagrado. Foi ali que Abraão, o pai dos fiéis, revelara sua disposição de sacrificar seu único filho, em obediência à ordem de Jeová. Ali renovara Deus com Abraão o concerto de bênção, que incluía a gloriosa promessa messiânica feita à espécie humana, de libertamento por meio do sacrifício do Filho do Altíssimo. Foi ali que, quando Davi ofereceu sacrifícios queimados e ofertas pacíficas para deter a espada punitiva do anjo destruidor, Deus lhe respondeu com fogo enviado do Céu. 1 Crônicas 21. E agora os adoradores de Jeová mais uma vez ali estavam, para encontrar-se com seu Deus e renovar-Lhe os votos de fidelidade. PR 13 3 O tempo escolhido para a dedicação fora o mais favorável -- o sétimo mês, quando o povo de todas as partes do reino estava acostumado a reunir-se em Jerusalém para celebrar a Festa dos Tabernáculos. Esta festa era preeminentemente uma ocasião de regozijo. Os labores da colheita haviam findado, as atividades do novo ano ainda não começara, o povo estava livre de cuidados e podia abandonar-se às influências sagradas, jubilosas do momento. PR 13 4 No tempo indicado, as tribos de Israel, com representantes de muitas nações estrangeiras ricamente vestidos, reuniram-se nos átrios do templo. A cena era de esplendor incomum. Salomão, com os anciãos de Israel, e os mais influentes homens dentre o povo, retornaram de outra parte da cidade, de onde haviam trazido a arca do testamento. Do santuário nos altos de Gibeom tinha sido transferida a antiga "tenda da congregação, com todos os vasos sagrados, que estavam na tenda" (2 Crônicas 5:5); e esses queridos relicários das mais remotas experiências dos filhos de Israel durante seu vaguear no deserto e a conquista de Canaã, encontravam agora uma morada permanente no esplêndido edifício que fora construído para ocupar o lugar da estrutura portátil. PR 13 5 Levando ao templo a arca sagrada que continha as duas tábuas de pedra em que, pelo dedo de Deus, haviam sido escritos os preceitos do decálogo, Salomão seguira o exemplo de seu pai Davi. A cada seis passos oferecia sacrifícios; e com canto e música e com grande cerimônia, "trouxeram os sacerdotes a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, à santidade das santidades". 2 Crônicas 5:7. Ao penetrarem no interior do santuário, tomaram os lugares que lhes eram designados. Os cantores -- levitas vestidos de linho branco, com címbalos, e com alaúdes, e com harpas -- permaneceram de pé para o oriente do altar, e com eles até cento e vinte sacerdotes que tocavam as trombetas. 2 Crônicas 5:12. PR 14 1 "Eles uniformemente tocavam as trombetas, e cantavam para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao Senhor; e levantando eles a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos músicos, e bendizendo ao Senhor, porque era bom, porque a Sua benignidade durava para sempre, a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a casa do Senhor, e não podiam os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus". 2 Crônicas 5:13, 14. PR 14 2 Compreendendo o significado desta nuvem, Salomão declarou: "O Senhor tem dito que habitaria nas trevas. E eu Te tenho edificado uma casa para morada, e um lugar para a Tua eterna habitação". 2 Crônicas 6:1, 2. PR 14 3 "O Senhor reina; Tremam as nações; Ele está entronizado entre os querubins; comova-se a Terra. O Senhor é grande em Sião, e mais elevado que todas as nações. Louvem o Teu nome, grande e tremendo, pois é santo. [...] Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de Seus pés, porque Ele é santo". Salmos 99:1-5. PR 14 4 "No meio do pátio" do templo havia sido erguida "uma base de metal", ou plataforma, "de cinco côvados de comprimento, e de cinco côvados de largura, e de três côvados de altura". Sobre esta base Salomão pôs-se em pé, e com as mãos erguidas abençoou a vasta multidão que tinha diante de si. "E toda a congregação de Israel estava em pé". 2 Crônicas 6:13, 3. PR 14 5 "Bendito seja o Senhor Deus de Israel", exclamou Salomão, "que falou pela Sua boca a Davi meu pai, e pelas Suas mãos o cumpriu, dizendo: Escolhi Jerusalém, para que ali estivesse o Meu nome". 2 Crônicas 6:4, 6. PR 14 6 Salomão pôs-se então de joelhos na plataforma, e aos ouvidos de todo o povo ofereceu a oração dedicatória. Levantando as mãos para o céu, enquanto a congregação permanecia ajoelhada com a face para o chão, o rei suplicou: "Senhor Deus de Israel, não há Deus semelhante a Ti, nem nos Céus nem na Terra; que guardas o concerto e a beneficência aos Teus servos que caminham perante Ti de todo o seu coração". PR 14 7 "Mas verdadeiramente habitará Deus com os homens na Terra? Eis que o Céu e o Céu dos Céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que tenho edificado? Atende pois à oração do Teu servo, e à sua súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvires o clamor, e a oração que o Teu servo ora perante Ti. Que os Teus olhos estejam dia e noite abertos sobre este lugar, de que dissestes que ali porias o Teu nome, para ouvires a oração que o Teu servo orar neste lugar. Ouve, pois, as súplicas do Teu servo, e do Teu povo Israel, que fizerem neste lugar; e ouve Tu do lugar da Tua habitação, desde os Céus; ouve pois, e perdoa. [...] PR 15 1 "Quando também o Teu povo Israel for ferido diante do inimigo, por ter pecado contra Ti, e eles se converterem, e confessarem o Teu nome, e orarem, e suplicarem perante Ti nesta casa, então ouve Tu desde os Céus, e perdoa os pecados de Teu povo Israel; e faze-os tornar à terra que lhes tens dado a eles e a seus pais. PR 15 2 "Quando os céus se cerrarem, e não houver chuva, por terem pecado contra Ti, e orarem neste lugar, e confessarem Teu nome, e se converterem dos seus pecados, quando Tu os afligires, então ouve Tu desde os Céus, e perdoa o pecado de Teus servos, e do Teu povo Israel, ensinando-lhes o bom caminho, em que andem; e dá chuva sobre a Tua terra, que deste ao Teu povo em herança. PR 15 3 "Havendo fome na terra, havendo peste, havendo queimadura dos trigos, ou ferrugem, gafanhotos, ou lagarta, cercando-a algum dos seus inimigos nas terras das suas portas, ou quando houver qualquer praga, ou qualquer enfermidade, toda a oração, e toda a súplica, que qualquer homem fizer, ou todo o Teu povo Israel, conhecendo cada um a sua praga e a sua dor, e estendendo as suas mãos para esta casa, então ouve Tu desde os Céus, do assento da Tua habitação, e perdoa e dá a cada um conforme a todos os seus caminhos, segundo conheces o seu coração [...] a fim de que Te temam, para andarem nos Teus caminhos, todos os dias que viverem na terra que deste a nossos pais. PR 15 4 "Assim também ao estrangeiro, que não for do Teu povo Israel, mas vier de terras remotas por amor do Teu grande nome, e da Tua poderosa mão, e do Teu braço estendido, vindo eles e orando nesta casa, então ouve Tu desde os Céus, do assento da Tua habitação, e faze conforme a tudo o que o estrangeiro Te suplicar, a fim de que todos os povos da Terra conheçam o Teu nome, e Te temam, como o Teu povo Israel; e a fim de saberem que pelo Teu nome é chamada esta casa que edifiquei. PR 15 5 "Quando o Teu povo sair à guerra contra os seus inimigos, pelo caminho que os enviares, e orarem a Ti para a banda desta cidade, que escolheste, e desta casa, que edifiquei ao Teu nome. Ouve então desde os Céus a sua oração, e sua súplica, e executa o seu direito. PR 15 6 "Quando pecarem contra Ti (pois não há homem que não peque), e Tu Te indignares contra eles, e os entregares diante do inimigo, para que os que os cativarem os levem em cativeiro para alguma terra, remota ou vizinha, e na terra, para onde forem levados em cativeiro, tornarem a si, e se converterem, e na terra do seu cativeiro a Ti suplicarem, dizendo: Pecamos, perversamente fizemos, e impiamente obramos; e se converterem a Ti com todo o seu coração e com toda a sua alma, na terra do seu cativeiro, a que os levarem presos, e orarem para a banda da sua terra, que deste a seus pais, e desta cidade que escolheste, e desta casa que edifiquei ao Teu nome, ouve então desde os Céus, do assento da Tua habitação, a sua oração e as suas súplicas, e executa o seu direito; e perdoa ao Teu povo que houver pecado contra Ti. PR 16 1 "Agora pois, ó meu Deus, estejam os Teus olhos abertos, e os Teus ouvidos atentos à oração deste lugar. Levanta-Te pois agora, Senhor Deus, para o Teu repouso, Tu e a arca da Tua fortaleza; os teus sacerdotes, ó Senhor Deus, sejam vestidos de salvação, e os Teus santos se alegrem do bem. Ah Senhor Deus, não faças virar o rosto do Teu ungido; lembra-Te das misericórdias de Davi Teu servo". 2 Crônicas 6:14-42. PR 16 2 Acabando Salomão de orar, "desceu o fogo do Céu, e consumiu o holocausto e os sacrifícios". Os sacerdotes não podiam entrar no templo, porque "a glória do Senhor encheu a casa do Senhor. E todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo, e a glória do Senhor sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao Senhor; porque é bom, porque a Sua benignidade dura para sempre". PR 16 3 Então o rei e o povo ofereceram sacrifícios perante o Senhor. "E o rei e todo o povo consagraram a casa de Deus". 2 Crônicas 7:1-5. Durante sete dias as multidões de todas as partes do reino, "desde a entrada de Hamate, até ao rio do Egito", "uma mui grande congregação" celebrou uma jubilosa festa. A semana seguinte foi pela feliz multidão dedicada à celebração da Festa dos Tabernáculos. Findo o tempo de reconsagração e júbilo, o povo retornou a seus lares, alegre "e de bom ânimo, pelo bem que o Senhor tinha feito a Davi, e a Salomão, e a Seu povo Israel". 2 Crônicas 7:8, 10. PR 16 4 O rei havia feito o que estava em suas forças para encorajar o povo a render-se inteiramente a Deus e Seu serviço, e a magnificar Seu santo nome. E agora uma vez mais, como no início de seu reinado em Gibeom, ao rei de Israel fora dada evidência da divina aceitação e bênção. Numa visão noturna, o Senhor lhe apareceu com a mensagem: "Ouvi tua oração, e escolhi para Mim este lugar para casa de sacrifício. Se Eu cerrar os céus, e não houver chuva; ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra; ou se enviar a peste entre o Meu povo; e se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então Eu ouvirei dos Céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. Agora estarão abertos os Meus olhos e atentos os Meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o Meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os Meus olhos e o Meu coração todos os dias". 2 Crônicas 7:12-16. PR 17 1 Tivesse Israel permanecido leal a Deus e este glorioso edifício teria permanecido para sempre, como perpétuo sinal de especial favor de Deus a Seu povo escolhido. "E aos filhos dos estrangeiros", declarou Deus, "que se chegarem ao Senhor, para O servirem, e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos Seus, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o Meu concerto, também os levarei ao Meu santo monte, e os festejarei na Minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no Meu altar, porque a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Isaías 56:6, 7. PR 17 2 Em conexão com a certeza de aceitação, o Senhor tornou claro o caminho do dever perante o rei. "E, quanto a ti", Ele declarou, "se andares diante de Mim, como andou Davi teu pai, e fizeres conforme a tudo que te ordenei e guardares os Meus estatutos e os Meus juízos, também confirmarei o trono do teu reino, conforme o concerto que fiz com Davi, teu pai, dizendo: Não te faltará varão que domine em Israel". 2 Crônicas 7:17, 18. PR 17 3 Tivesse Salomão continuado a servir ao Senhor em humildade, todo o seu reinado teria exercido poderosa influência para o bem sobre as nações circunvizinhas -- nações que tinham sido tão favoravelmente impressionadas pelo reinado de Davi, seu pai, e pelas sábias palavras e magnificentes obras dos primeiros anos de seu próprio reinado. Prevendo as terríveis tentações que acompanham a prosperidade e honras mundanas, Deus advertiu Salomão contra o mal da apostasia, e predisse os terríveis resultados do pecado. Até mesmo o belo templo que havia sido dedicado, declarou Ele, se tornaria como "provérbio e mote entre todas as gentes", se Israel deixasse "ao Senhor Deus de seus pais" (2 Crônicas 7:20-22), se persistisse na idolatria. PR 17 4 Fortalecido no coração e grandemente animado pela mensagem do Céu de que sua oração em favor do povo havia sido ouvida, Salomão entrava agora para o mais glorioso período de seu reinado, quando "todos os reis da Terra" começaram a buscar sua presença, "para ouvirem a sua sabedoria, que Deus lhe dera no seu coração". 2 Crônicas 9:23. Muitos vinham para ver o sistema de seu governo e para receber instrução quanto à maneira de se conduzirem nos assuntos difíceis. PR 17 5 Visitando essas pessoas a Salomão, ensinava-lhes ele a respeito de Deus como Criador de todas as coisas, e elas retornavam a seus lares com uma concepção mais clara do Deus de Israel, e de Seu amor pela raça humana. Nas obras da natureza contemplavam agora a expressão de Seu amor e uma revelação de Seu caráter; e muitos eram levados a adorá-Lo como seu Deus. PR 17 6 A humildade de Salomão ao tempo em que começou a levar a carga do Estado, quando ele reconheceu perante Deus: "Sou ainda menino pequeno" (1 Reis 3:7); seu marcado amor a Deus, profunda reverência pelas coisas divinas, sua desconfiança de si mesmo e exaltação do infinito Criador de tudo -- todos esses traços de caráter tão dignos de emulação, foram revelados durante os serviços relacionados com a conclusão do templo, quando durante sua oração dedicatória ele se ajoelhou, postando-se na humilde posição de suplicante. Os seguidores de Cristo hoje devem guardar-se da tendência de perder o espírito de reverência e piedoso temor. As Escrituras ensinam como devem os homens aproximar-se de seu Criador: com humildade e temor, mediante a fé num mediador divino. O salmista declarou: PR 17 7 "O Senhor é Deus grande, e Rei grande acima de todos os deuses. [...] Ó, vinde, adoremos, e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou". Salmos 95:3, 6. PR 18 2 Tanto no culto particular como no público, é nosso privilégio dobrar os joelhos perante Deus, quando a Ele oferecemos nossas petições. Jesus, nosso exemplo, "pondo-Se de joelhos, orava". Lucas 22:41. De Seus discípulos, falando de Pedro, se relata que também "pôs-se de joelhos e orou". Atos dos Apóstolos 9:40. Paulo declarou: "Ponho-me de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo". Efésios 3:14. Quando confessava perante Deus os pecados de Israel, Esdras se ajoelhou. Esdras 9:5. Daniel "se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante de seu Deus". Daniel 6:10. PR 18 3 A verdadeira reverência a Deus é inspirada pelo senso de Sua infinita grandeza e a noção de Sua presença. Com este senso do invisível, todo coração deve sentir-se profundamente impressionado. A ocasião e o lugar de oração são sagrados, porque Deus está ali. E ao ser a reverência manifestada em atitude e comportamento, o sentimento que a inspira será aprofundado. "Santo e tremendo é o Seu nome" (Salmos 111:9), declara o salmista. Os anjos, quando pronunciam este nome velam o rosto. Com que reverência, então, não devemos nós, que somos pecadores e caídos, tomá-lo em nossos lábios! PR 18 4 Bem fariam velhos e jovens em ponderar as palavras das Escrituras que mostram como deve ser considerado o lugar assinalado pela especial presença de Deus. "Tira os teus sapatos", ordenou Ele a Moisés junto à sarça ardente, "porque o lugar em que tu estás é terra santa". Êxodo 3:5. Jacó, havendo contemplado a visão do anjo, exclamou: "O Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. [...] Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos Céus". Gênesis 28:16, 17. PR 18 5 Naquilo que fora dito durante a cerimônia de dedicação, Salomão tinha procurado remover do espírito dos presentes as superstições em relação com o Criador, as quais haviam obscurecido a mente dos pagãos. O Deus dos Céus não está, como os deuses dos pagãos, confinado em templos feitos por mãos; todavia Ele Se encontraria com Seu povo por meio de Seu Espírito, quando se reunissem na casa dedicada a Sua adoração. PR 18 6 Séculos mais tarde Paulo ensinou a mesma verdade nas palavras: "O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do Céu e da Terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; [...] para que buscassem ao Senhor, se porventura tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; porque nEle vivemos, e nos movemos, e existimos". Atos dos Apóstolos 17:24-28. PR 18 7 "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para Sua herança. O Senhor olha desde os Céus e está vendo a todos os filhos dos homens; da Sua morada contempla todos os moradores da Terra". Salmos 33:12-14. PR 19 1 "O Senhor tem estabelecido o Seu trono nos Céus, e o Seu reino domina sobre tudo". Salmos 103:19. PR 19 2 "O Teu caminho, ó Deus, está no santuário. Que deus é tão grande como o nosso Deus? Tu és o Deus que fazes maravilhas; Tu fizeste notória a Tua força entre os povos". Salmos 77:13, 14. PR 19 3 Embora Deus não habite em templos feitos por mãos humanas, honra, não obstante, com Sua presença, as assembléias de Seu povo. Ele prometeu que quando se reunissem para buscá-Lo, reconhecendo seus pecados, e para orarem uns pelos outros, Ele Se reuniria com eles por meio de Seu Espírito. Mas os que se reúnem para adorá-Lo devem afastar de si toda coisa má. A menos que O adorem em espírito e em verdade e na beleza da Sua santidade, seu ajuntamento será de nenhum valor. Destes o Senhor declara: "Este povo honra-Me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me adoram". Mateus 15:8, 9. Os que adoram a Deus devem adorá-Lo em "espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem". João 4:23. PR 19 4 "O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra". Habacuque 2:20. ------------------------Capítulo 3 -- Orgulho da prosperidade PR 20 1 Enquanto Salomão exaltou a lei do Céu, Deus esteve com ele, e foi-lhe dada sabedoria para reger Israel com imparcialidade e misericórdia. A princípio, ao virem-lhe riquezas e honras mundanas, ele permaneceu humilde, e grande foi a extensão da sua influência. "E dominava Salomão sobre todos os reinos, desde o rio Eufrates até à terra dos filisteus, e até ao termo do Egito". "E tinha paz de todas as bandas em roda dele. E Judá e Israel habitavam seguros, cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira [...] todos os dias de Salomão". 1 Reis 4:21, 24, 25. PR 20 2 Mas depois de uma manhã grandemente promissora, sua vida foi entenebrecida pela apostasia. A história registra o melancólico fato de que aquele que havia sido chamado Jedidias -- amado do Senhor (2 Samuel 12:25) -- aquele que havia sido honrado por Deus de forma tão marcante com o toque do divino favor que sua sabedoria e retidão conquistaram para ele fama mundial; aquele que tinha levado outros a renderem honra ao Deus de Israel, voltara-se da adoração de Jeová para se curvar ante os ídolos do paganismo. PR 20 3 Centenas de anos antes que Salomão subisse ao trono, o Senhor, antevendo os perigos que cercariam aqueles que fossem escolhidos reis de Israel, deu a Moisés instruções para sua guia. Foi dada orientação para que o que se assentasse no trono de Israel escrevesse "para si um translado" dos estatutos de Jeová "num livro, do que está diante dos sacerdotes levitas". "E o terá consigo", disse o Senhor, "e nele lerá todos os dias de sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para fazê-los; para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita, nem para a esquerda; para que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel". Deuteronômio 17:18-20. PR 20 4 Em conexão com estas instruções, o Senhor particularmente alertou aquele que fosse ungido rei que não multiplicasse para si "mulheres, para que o seu coração não se" desviasse. "Nem prata, nem ouro", deveria multiplicar-se "muito para si". Deuteronômio 17:17. PR 20 5 Salomão estava familiarizado com estas advertências, e por algum tempo as guardou. Seu maior desejo era viver e reinar de acordo com os estatutos dados no Sinai. Sua maneira de conduzir os negócios do reino estava em evidente contraste com os costumes das nações de seu tempo -- nações que não temiam a Deus, e cujos reis tripudiavam sobre Sua santa lei. PR 21 1 Procurando fortalecer suas relações com o poderoso reino que ficava ao sul de Israel, Salomão aventurou-se no terreno proibido. Satanás conhecia os resultados que acompanhariam a obediência; e durante os primeiros anos do reinado de Salomão -- anos gloriosos por causa da sabedoria, beneficência e retidão do rei -- ele procurou introduzir influências que traiçoeiramente minassem a lealdade de Salomão ao princípio, e o levassem a separar-se de Deus. Que o inimigo foi bem-sucedido em seu esforço nós o sabemos pelo relato: "E Salomão se aparentou com Faraó rei do Egito; e tomou a filha de Faraó, e a trouxe à cidade de Davi". 1 Reis 3:1. PR 21 2 Do ponto de vista humano, este casamento, embora contrário aos ensinamentos da lei de Deus, parecia provar-se uma bênção; pois a esposa pagã de Salomão se converteu e uniu-se com ele na adoração ao verdadeiro Deus. Ademais, Faraó prestou assinalados serviços a Israel, tomando Gezer, matando "os cananeus que moravam na cidade", e dando-a "em dote a sua filha, mulher de Salomão". 1 Reis 9:16. Esta cidade foi por Salomão reconstruída, e assim aparentemente foi grandemente fortalecido seu reino ao longo da costa mediterrânea. Fazendo, porém, aliança com uma nação pagã, e selando o pacto pelo casamento com a princesa idólatra, Salomão temerariamente desconsiderou a sábia provisão que Deus fizera para manter a pureza de Seu povo. A esperança de que sua esposa egípcia se convertesse era apenas uma débil escusa para o pecado. PR 21 3 Por algum tempo Deus em Sua compassiva misericórdia passou por alto este terrível erro; e o rei, mediante sábia conduta, poderia ter contido ao menos em grande medida, as forças do mal que sua imprudência pusera em operação. Mas Salomão havia começado a perder de vista a Fonte de seu poder e glória. À medida que a inclinação ganhava ascendência sobre a razão, a confiança em si mesmo aumentava, e ele procurou executar o propósito de Deus a sua própria maneira. Arrazoava ele que alianças políticas e comerciais com as nações vizinhas levariam essas nações ao conhecimento do verdadeiro Deus; e entrou em aliança não santificada com nação após nação. Freqüentemente essas alianças eram seladas com casamento com princesas pagãs. Os mandamentos de Jeová foram postos de lado em favor dos costumes dos povos ao redor. PR 21 4 Salomão presumia que sua sabedoria e o poder do seu exemplo haveriam de levar suas esposas da idolatria à adoração do verdadeiro Deus, e também que as alianças assim formadas atrairiam as nações circunvizinhas em mais íntimo contato com Israel. Vã esperança! O erro de Salomão em considerar-se suficientemente forte para resistir às influências de associações pagãs foi fatal. E fatal foi também o engano que o levou a esperar que, não obstante a desconsideração de sua parte para com a lei de Deus, outros poderiam ser levados a reverenciá-la e obedecer-Lhe aos sagrados preceitos. PR 22 1 As alianças e relações comerciais do rei com as nações pagãs levaram-lhe reconhecimento, honra e riquezas deste mundo. Tornou-se-lhe possível trazer ouro de Ofir, e prata de Társis, em grande abundância. "E fez o rei que houvesse ouro e prata em Jerusalém como pedras, e cedros em tanta abundância como figueiras bravas que há pelas campinas". 2 Crônicas 1:15. Riquezas, com todas as suas conseqüentes tentações, vieram nos dias de Salomão a um número sempre maior de pessoas; mas o fino ouro do caráter minguara e se corrompera. PR 22 2 Tão gradual foi a apostasia de Salomão que antes que dela se advertisse, tinha-se afastado de Deus. Quase imperceptivelmente começara a confiar cada vez menos na divina guia e bênção, e a pôr a confiança em sua própria força. Pouco a pouco deixou de prestar a Deus aquela obediência retilínea que devia fazer de Israel um povo peculiar, e conformou-se cada vez mais intimamente aos costumes das nações ao redor. Rendendo-se às tentações resultantes de seu sucesso e honrada posição, ele esqueceu a Fonte de sua prosperidade. A ambição de exceder todas as outras nações em poder e grandeza levou-o a renegar por propósitos egoístas os dons celestiais até então empregados para a glória de Deus. O dinheiro que devia ter sido conservado em sagrado depósito para benefício de pobres merecedores e para expansão, através do mundo, dos princípios de santo viver, foi egoistamente absorvido em ambiciosos projetos. PR 22 3 Dominado por um subjugante desejo de superar outras nações em exibições exteriores, o rei subestimou a necessidade de adquirir beleza e perfeição de caráter. Procurando glorificar-se a si mesmo perante o mundo, vendeu sua honra e integridade. Os enormes lucros adquiridos através do comércio com muitas terras, foram suplementados por pesados tributos. Assim, o orgulho, a ambição, a prodigalidade e condescendência produziram os frutos da crueldade e da extorsão. O espírito considerado, consciencioso, que lhe havia assinalado o trato com o povo durante a primeira parte de seu reinado, estava agora mudado. Do mais sábio e mais misericordioso dos reis, ele se degenerou num tirano. Outrora guardião do povo, compassivo e temente a Deus, tornara-se opressor e despótico. Tributo após tributo era lançado sobre o povo, a fim de serem levantados meios que sustentassem a luxuosa corte. PR 22 4 O povo começou a queixar-se. O respeito e admiração que haviam outrora votado a seu rei mudou-se em desafeto e repulsa. Como uma salvaguarda contra a dependência do braço carnal, o Senhor havia advertido os que devessem reinar sobre Israel a que não multiplicassem cavalos para si. Mas em manifesta desconsideração a este mandamento "os cavalos que tinha Salomão, se traziam do Egito". 2 Crônicas 1:16. "E do Egito e de todas aquelas terras traziam cavalos a Salomão". 2 Crônicas 9:28. "Também ajuntou Salomão carros e cavaleiros, de sorte que tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros, e os levou às cidades dos carros, e outros ficaram junto ao rei em Jerusalém". 1 Reis 10:26. PR 23 1 Cada vez mais o rei apreciava o luxo, a consideração pessoal e o favor do mundo como indicações de grandeza. Mulheres belas e atrativas foram trazidas do Egito, Fenícia, Edom, Moabe e de muitos outros lugares. Essas mulheres se contavam por centenas. Sua religião era idólatra, e havia-lhes sido ensinada a prática de ritos cruéis e degradantes. Fascinado com sua beleza, o rei negligenciou seus deveres para com Deus e com seu reino. PR 23 2 Suas esposas exerciam forte influência sobre ele, e gradualmente prevaleceram no sentido de fazerem-no unir-se a elas em seu culto. Salomão tinha desconsiderado a instrução que Deus havia dado para servir de barreira contra a apostasia, e agora se entregara à adoração de falsos deuses. "Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como o coração de Davi seu pai. Porque Salomão andou em seguimento de Astarote, deusa dos sidônios, e em seguimento de Milcom, a abominação dos filhos de Amom". 1 Reis 11:4, 5. PR 23 3 Na elevação sul do Monte das Oliveiras -- oposto ao Monte Moriá onde se erguia o belo templo de Jeová -- Salomão ergueu um imponente bloco de edifícios para serem usados como santuários idólatras. Para satisfazer suas esposas, colocou enormes ídolos -- desproporcionadas imagens de madeira e pedra -- entre as alamedas de murta e oliveiras. Aí, diante dos altares das deidades pagãs -- "Quemós, a abominação dos moabitas", e "Moloque, a abominação dos filhos de Amom" (1 Reis 11:7) foram praticados os mais degradantes ritos do paganismo. PR 23 4 A conduta de Salomão trouxe sua inevitável penalidade. Sua separação de Deus pela comunhão com idólatras foi sua ruína. Renunciando sua aliança com Deus, perdeu o domínio de si mesmo. Sua eficiência moral desapareceu. Sua fina sensibilidade embotou-se, e cauterizou-se sua consciência. Aquele que no início de seu reinado havia demonstrado tanta sabedoria e simpatia em restituir um desamparado bebê a sua desafortunada mãe (1 Reis 3:16-28), caiu tão baixo a ponto de consentir na construção de um ídolo ao qual se ofereciam em sacrifício crianças vivas. Aquele que na sua juventude fora dotado de discrição e entendimento, e que em sua forte varonilidade havia sido inspirado a escrever: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte" (Provérbios 14:12), em seus últimos anos afastou-se tanto da pureza a ponto de favorecer ritos licenciosos e revoltantes relacionados com a adoração de Quemós e Astarote. Aquele que na dedicação do templo tinha dito a seu povo: "Seja o vosso coração perfeito para com o Senhor nosso Deus" (1 Reis 8:61), tornara-se um transgressor, negando no coração e na vida suas próprias palavras. Ele tomou licença por liberdade. Procurou -- mas a que preço -- unir a luz com as trevas, o bem com o mal, a pureza com a impureza, Cristo com Belial. PR 24 1 Depois de haver sido um dos maiores reis que já empunharam um cetro, Salomão tornou-se um libertino, instrumento e escravo de outros. Seu caráter, outrora nobre e viril, tornou-se debilitado e efeminado. Sua fé no Deus vivo foi suplantada por dúvidas ateístas. A incredulidade mareou sua felicidade, enfraqueceu-lhe os princípios e degradou-lhe a vida. A justiça e magnanimidade dos primórdios de seu reinado, transmudara-se em despotismo e tirania. Pobre, frágil natureza humana Pouco pode Deus fazer por homens que perdem o senso de dependência dEle. PR 24 2 Durante esses anos de apostasia, o declínio espiritual de Israel progrediu firmemente. Como poderia ser diferente se seu rei havia unido seus interesses com forças satânicas? Através desses agentes o inimigo operou para confundir a mente dos israelitas com respeito ao verdadeiro e ao falso culto; e eles se tornaram presa fácil. O comércio com outras nações levou-os a íntimo contato com os que não tinham amor a Deus, e seu próprio amor por Ele foi grandemente diminuído. Seu agudo senso do elevado e santo caráter de Deus foi amortecido. Recusando seguir na trilha da obediência, transferiram sua vassalagem para o inimigo da justiça. Tornou-se comum a prática de intercâmbio matrimonial com idólatras, e os israelitas depressa perderam sua repulsa pela idolatria. A poligamia foi tolerada. Mães idólatras levaram seus filhos a observar ritos pagãos. Na vida de alguns o puro culto religioso instituído por Deus foi substituído pela idolatria mais descarada. PR 24 3 Os cristãos devem manter-se distintos e separados do mundo, de seu espírito e influências. Deus é perfeitamente capaz de guardar-nos no mundo, mas nós não devemos pertencer ao mundo. O amor de Deus não é incerto e vacilante. Ele vigia sempre sobre Seus filhos com desmedido cuidado. Mas requer submissão integral. "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom". Mateus 6:24. PR 24 4 Salomão fora dotado com maravilhosa sabedoria; mas o mundo afastou-o de Deus. Os homens hoje não são mais fortes do que ele o era; são igualmente inclinados a ceder às influências que lhe provocaram a queda. Assim como Deus advertiu Salomão do perigo que o ameaçava, assim adverte Ele hoje a Seus filhos a que não ponham em perigo suas almas pela afinidade com o mundo. "Saí do meio deles", pede Ele, "e apartai-vos, [...] não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso". 2 Coríntios 6:17, 18. PR 24 5 No meio da prosperidade ronda o perigo. Através dos séculos, riquezas e honra sempre têm-se feito seguir do perigo para a humildade e espiritualidade. Não é o copo vazio que se torna difícil de ser transportado; é o copo cheio que precisa ser cuidadosamente equilibrado para ser conduzido. A aflição e adversidade podem causar tristeza, mas é a prosperidade que representa maior perigo para a vida espiritual. A menos que o ser humano esteja em constante submissão à vontade de Deus, a menos que seja santificado pela verdade, a prosperidade fará que ressurja a inclinação natural para a presunção. PR 25 1 No vale da humilhação, onde os homens dependem de Deus para serem ensinados e guiados em cada passo, há relativa segurança. Mas os homens que se plantam, por assim dizer, num elevado pináculo, e que, por causa de sua posição, presumem possuir grande sabedoria -- esses estão no mais grave perigo. A não ser que tais homens façam de Deus sua confiança, seguramente cairão. PR 25 2 Sempre que a ambição e o orgulho são tolerados, a vida é maculada; pois o orgulho, não sentindo necessidade, cerra o coração para as bênçãos infinitas do Céu. Aquele que faz da glorificação de si mesmo seu alvo encontrar-se-á destituído da graça de Deus, por cuja eficiência as verdadeiras riquezas e a mais satisfatória alegria são conquistadas. Mas o que tudo entrega e tudo faz por Cristo conhecerá o cumprimento da promessa: "A bênção do Senhor é que enriquece, e não acrescenta dores". Provérbios 10:22. Com o gentil toque da graça o Salvador expulsa da alma a inquieta e não santificada ambição, mudando a animosidade em amor, a incredulidade em confiança. Quando Ele Se dirige à alma, dizendo: "Segue-Me" (Mateus 9:9), o mágico encantamento do mundo é quebrado. Ao som de Sua voz, o espírito de avareza e ambição foge do coração, e os homens se erguem, emancipados, para segui-Lo. ------------------------Capítulo 4 -- Resultados da transgressão PR 26 1 Dentre as principais causas que levaram Salomão à extravagância e opressão destaca-se o seu fracasso em manter e alimentar o espírito de abnegação. PR 26 2 Quando, ao pé do Sinai, Moisés expôs ao povo a ordem divina: "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxodo 25:8), a resposta dos israelitas foi acompanhada de oferendas apropriadas. "E veio todo o homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o excitou" (Êxodo 35:21), e trouxeram ofertas. Para a construção do santuário foram necessários grandes e intensos preparativos; vasta quantidade do mais caro e precioso material fora requerida, mas o Senhor só aceitou ofertas voluntárias. "De todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada" (Êxodo 25:2), foi a ordem repetida por Moisés à congregação. Devoção a Deus e espírito de sacrifício foram os primeiros requisitos na preparação de um lugar de habitação para o Altíssimo. PR 26 3 Um convite semelhante ao espírito de abnegação foi feito quando Davi pôs sobre Salomão a responsabilidade da construção do templo. À multidão reunida ele fez a pergunta: "Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao Senhor?" 1 Crônicas 29:5. Este convite à consagração e espírito voluntário devia ter sido sempre conservado em mente por aqueles que tinham interesse na construção do templo. PR 26 4 Para a construção do tabernáculo do deserto, homens escolhidos foram dotados por Deus com sabedoria e habilidade especiais. "Disse Moisés aos filhos de Israel: Eis que o Senhor tem chamado por nome a Bezalel, [...] da tribo de Judá, e o espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento e ciência em todo o artifício. [...] Também lhe tem disposto o coração para ensinar a outros; a ele e Aoliabe [...] da tribo de Dã. Encheu-os de sabedoria do coração, para fazer toda a obra de Mestre, e a mais engenhosa, e a do bordador, [...] e a do tecelão, fazendo toda a obra. [...] Êxodo 35:30-35. Assim obraram Bezalel e Aoliabe, e todo o homem sábio de coração, a quem o Senhor dera sabedoria e inteligência". Êxodo 36:1. Inteligências celestiais cooperavam com os artífices a quem o próprio Deus havia escolhido. PR 27 1 Os descendentes desses homens herdaram em grande medida os talentos conferidos aos seus pais. Por algum tempo, esses homens de Judá e Dã conservaram-se humildes e altruístas; mas gradualmente, quase imperceptivelmente, perderam seu apego a Deus e o desejo de servi-Lo de maneira altruísta. Pediam salário cada vez mais alto por seus serviços, em virtude de sua superior habilidade como mestres das mais finas artes. Em alguns casos suas exigências eram satisfeitas, mas a maioria das vezes empregavam-se nas nações circunvizinhas. Em lugar do nobre espírito de abnegação que havia enchido o coração de seus ilustres ancestrais, abrigaram um espírito de cobiça, de ganância por ganhos cada vez maiores. Para que seus desejos egoístas fossem satisfeitos, usaram a habilidade que Deus lhes dera a serviço de reis pagãos e emprestaram seus talentos para a execução de obras que eram uma desonra para o seu Criador. PR 27 2 Foi entre esses homens que Salomão procurou um mestre-de-obras que superintendesse a construção do templo sobre o Monte Moriá. Minuciosas especificações, por escrito, referentes a cada parte da estrutura sagrada haviam sido confiadas ao rei; e ele poderia ter esperado com fé em que Deus proveria auxiliares consagrados, a quem seria outorgada habilidade especial para fazer com precisão a obra requerida. Mas Salomão perdeu de vista esta oportunidade de exercitar fé em Deus. Solicitou ao rei de Tiro um homem "sábio para trabalhar em ouro, e em prata, e em bronze, e em ferro, e em púrpura, e em carmesim, e em azul, e que saiba lavrar ao buril, juntamente com os sábios [...] em Judá e em Jerusalém". 2 Crônicas 2:7. PR 27 3 O rei fenício respondeu enviando Hirão Abiú, "filho de uma mulher das filhas de Dã, e cujo pai foi homem de Tiro". 2 Crônicas 2:14. Hirão Abiú era descendente, pela linhagem materna, de Aoliabe, a quem, centenas de anos antes, Deus havia dado sabedoria especial para a construção do tabernáculo. PR 27 4 Assim à frente do grupo de artífices de Salomão foi colocado um homem cujos esforços não eram impulsionados pelo desejo altruísta de prestar serviço a Deus. Ele servia ao deus deste mundo: Mamom. Todas as fibras de seu ser estavam entretecidas com os princípios do egoísmo. PR 27 5 Dada essa habilidade pouco comum, Hirão Abiú exigiu grandes salários. Gradualmente os princípios errôneos que ele acariciava vieram a ser aceitos por seus companheiros. Ao trabalharem com ele dia após dia, renderam-se à inclinação de comparar seu salário com o deles, e começaram a perder de vista a santidade do caráter de sua obra. Abandonou-os o espírito de abnegação, e em seu lugar introduziu-se o espírito de cobiça. O resultado foi uma demanda por salários mais altos, o que lhes foi concedido. PR 27 6 As funestas influências assim postas em operação permearam todos os ramos do serviço do Senhor, e se estenderam através do reino. Os elevados salários requeridos e recebidos deram a muitos uma oportunidade para se entregarem ao luxo e extravagância. O pobre foi oprimido pelo rico; o espírito de abnegação quase que se perdeu. No vasto alcance dos efeitos destas influências pode-se descobrir uma das principais causas da terrível apostasia daquele que fora uma vez chamado o mais sábio dos mortais. PR 28 1 O agudo contraste entre o espírito e motivos do povo que construiu o tabernáculo no deserto e o dos que se ocupavam na construção do templo de Salomão, encerra uma lição de profundo significado. O egoísmo que caracterizou os construtores do templo de Salomão encontra seu paralelo hoje no egoísmo que domina no mundo. O espírito de cobiça, de luta por posições mais altas e mais altos salários é predominante. O serviço voluntário e a deleitável abnegação dos obreiros do tabernáculo raramente se encontram. Mas este é o único espírito que deve atuar nos seguidores de Jesus. Nosso divino Mestre deu o exemplo de como devem Seus discípulos trabalhar. Àqueles a quem ordenou: "Vinde após Mim, e Eu vos farei pescadores de homens" (Mateus 4:19), não ofereceu Ele qualquer soma em paga de seus serviços. Eles deviam compartilhar com Ele da abnegação e sacrifício. PR 28 2 Não é pelo salário que recebemos que devemos trabalhar. O motivo que nos dispõe ao trabalho por Deus não deve ter em si coisa alguma que lembre serviço a si próprio. Abnegada devoção e espírito de sacrifício têm sido e serão sempre o primeiro requisito do culto aceitável. Nosso Senhor e Mestre deseja que nenhum fio de egoísmo seja entretecido em Sua obra. A nossos esforços devemos acrescentar o tato e habilidade, a precisão e sabedoria que o Deus da perfeição exigiu dos construtores do santuário terrestre; contudo, em todas as nossas atividades devemos lembrar que os maiores talentos e os mais esplêndidos serviços são aceitáveis somente quando o eu é posto sobre o altar para consumir-se como um sacrifício vivo. PR 28 3 Outro afastamento dos retos princípios que finalmente levou à queda o rei de Israel, foi o render-se à tentação de tomar para si a glória que pertence a Deus somente. PR 28 4 Desde o momento em que Salomão recebeu o encargo de construir o templo até que o mesmo ficou pronto, seu manifesto propósito foi "edificar uma casa ao nome do Senhor Deus de Israel". 2 Crônicas 6:7. Este propósito foi plenamente reconhecido perante as tribos de Israel reunidas por ocasião da dedicação do templo. Em sua oração o rei reconheceu o que Jeová havia dito: "O Meu nome estará ali". 1 Reis 8:29. PR 28 5 Uma das partes mais tocantes da oração dedicatória de Salomão foi sua súplica a Deus pelos estrangeiros que viessem dos países distantes para aprenderem mais dAquele cuja fama tinha sido amplamente espalhada entre as nações. "Porque ouvirão do Teu grande nome", o rei expressou, "e da Tua forte mão, e do Teu braço estendido". Em favor de cada um desses adoradores estrangeiros Salomão havia suplicado: "Ouve Tu [...] e faze conforme a tudo o que o estrangeiro a Ti clamar, a fim de que todos os povos da Terra conheçam o Teu nome para Te temerem como o Teu povo Israel, e para saberem que o Teu nome é invocado sobre esta casa que tenho edificado". 1 Reis 8:42, 43. PR 29 1 Ao encerramento do culto, Salomão exortara Israel a ser fiel e leal a Deus, "para que todos os povos da Terra" soubessem, disse ele, "que o Senhor é Deus e que não há outro". 1 Reis 8:60. PR 29 2 Alguém maior que Salomão fora o planejador do templo; a sabedoria e a glória de Deus estavam ali reveladas. Os que desconheciam este fato naturalmente admiravam e louvavam Salomão como o arquiteto e construtor; mas o rei recusava qualquer honra por este projeto e construção. PR 29 3 Assim foi quando a rainha de Sabá veio visitar Salomão. Ouvindo de sua sabedoria, e do magnificente templo que ele havia construído, ela se determinou "prová-lo por enigmas", e ver por si mesma suas famosas obras. Assistida por uma comitiva de servos, e "com camelos carregados de especiarias, e muitíssimo ouro, e pedras preciosas", ela fez a longa viagem para Jerusalém. "E veio a Salomão, e disse-lhe tudo quanto tinha no seu coração." Ela falou-lhe dos mistérios da natureza, e Salomão ensinou-lhe a respeito do Deus da natureza, o grande Criador, que habita no mais alto Céu, e domina sobre todos. 1 Reis 10:1-3. "E Salomão lhe declarou todas as suas palavras; nenhuma coisa se escondeu ao rei, que não lhe declarasse". 2 Crônicas 9:1, 2. PR 29 4 "Vendo, pois, a rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão, e a casa que edificara, [...] não houve mais espírito nela. [...] Foi verdade", reconheceu, "a palavra que ouvi na minha terra, das tuas coisas e da tua sabedoria. E eu não cria naquelas palavras, até que vim, e os meus olhos o viram; eis que me não disseram metade; sobrepujaste em sabedoria e bens a fama que ouvi. Bem-aventurados os teus homens, bem-aventurados estes teus servos que estão sempre diante de ti, que ouvem a tua sabedoria!" 1 Reis 10:3, 6-8. PR 29 5 No final de sua visita, a rainha havia sido tão completamente instruída por Salomão quanto à fonte de sua sabedoria e prosperidade, que foi constrangida, não a exaltar o agente humano, mas a exclamar: "Bendito seja o Senhor teu Deus, que teve agrado em ti, para te pôr no trono de Israel; porque o Senhor ama a Israel para sempre, por isso te estabeleceu rei, para fazeres juízo e justiça". 1 Reis 10:9. Esta a impressão que Deus designara fosse feita sobre todos os povos. E quando "todos os reis da Terra procuravam ver o rosto de Salomão, para ouvirem a sua sabedoria, que Deus lhe dera no seu coração" (1 Crônicas 9:23), Salomão por algum tempo honrou a Deus reverentemente, indicando-lhes o Criador dos Céus e da Terra, o Soberano do Universo, o Todo-sábio. PR 29 6 Houvesse Salomão continuado, em humildade de espírito, a volver a atenção dos homens de si para Aquele que lhe dera sabedoria e riquezas e honra, que história teria sido a sua Mas, conquanto a pena da inspiração registre suas virtudes, dá também fiel testemunho da sua queda. Elevado ao pináculo da grandeza, cercado com dádivas da fortuna, Salomão sentiu-se aturdido, perdeu o equilíbrio, e caiu. Constantemente exaltado pelos homens do mundo, foi finalmente inábil para resistir à lisonja de que era alvo. A sabedoria que lhe fora confiada para que glorificasse ao Doador, encheu-o de orgulho. Permitiu finalmente que os homens falassem de si como do mais digno de louvor pelo inigualável esplendor do edifício planejado e construído para honrar o "nome do Senhor Deus de Israel". PR 30 1 Assim foi que o templo de Jeová veio a ser conhecido através das nações como "o templo de Salomão". O agente humano tinha tomado para si a glória que pertencia ao "que mais alto é do que os altos". Eclesiastes 5:8. Mesmo até ao dia de hoje o templo que Salomão declarou: "Pelo Teu nome é chamada esta casa que edifiquei" (2 Crônicas 6:32), é mais freqüentemente mencionado, não como o templo de Jeová, mas como "templo de Salomão". PR 30 2 Não pode o homem mostrar maior fraqueza que permitir se lhe atribua a honra por dons que são outorgados pelo Céu. O verdadeiro cristão fará com que Deus seja o primeiro, o último e o melhor em tudo. Nenhum ambicioso motivo logrará arrefecer seu amor por Deus; firmemente, perseverantemente, fará que advenha honra a seu Pai celestial. É quando somos fiéis em exaltar o nome de Deus, que nossos impulsos são postos sob a divina supervisão e somos capacitados a desenvolver faculdades espirituais e intelectuais. PR 30 3 Jesus, o divino Mestre, sempre exaltou o nome de Seu Pai celestial. Ele ensinou Seus discípulos a orar: "Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome". Mateus 6:9. E eles não deviam esquecer de reconhecer: Tua é "a glória". Mateus 6:13. Tão cuidadoso foi o grande Médico em desviar a atenção de Si mesmo para a Fonte de Seu poder, que a maravilhada multidão "vendo os mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver", não O glorificavam a Ele, mas "glorificavam o Deus de Israel". Mateus 15:31. Na maravilhosa oração que fez pouco antes de Sua crucifixão, Cristo declarou: "Eu glorifiquei-Te na Terra". "Glorifica a Teu Filho", suplicou, "para que também o Teu Filho Te glorifique a Ti". "Pai justo, o mundo não Te conheceu, mas Eu Te conheci; e estes conheceram que Tu Me enviaste a Mim. E Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja". João 17:1, 4, 25, 26. PR 30 4 "Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor". Jeremias 9:23, 24. PR 30 5 "Louvarei o nome de Deus [...] e engrandecê-Lo-ei com ação de graças". Salmos 69:30. PR 31 1 "Digno és, Senhor, de receber glória, e poder". Apocalipse 4:11. PR 31 2 "Louvar-Te-ei, Senhor Deus meu, com todo o meu coração, e glorificarei o Teu nome para sempre". Salmos 86:12. PR 31 3 "Engrandecei ao Senhor comigo, e juntos exaltemos o Seu nome". Salmos 34:3. PR 31 4 A introdução de princípios tendentes a afastar do espírito de sacrifício para o de glorificação própria, foi ainda mais acompanhada por outra grosseira perversão do plano divino para Israel. Deus havia designado que Seu povo fosse a luz do mundo. Deles devia refletir a glória de Sua lei como revelada na vida prática. Para a concretização deste propósito, fizera Ele que Sua nação escolhida ocupasse uma posição estratégica entre as nações da Terra. PR 31 5 Nos dias de Salomão o reino de Israel se estendera desde Hamate ao Norte, até o Egito ao Sul, e do Mar Mediterrâneo ao Rio Eufrates. Através deste território corriam muitas vias naturais do mundo comercial, e as caravanas das terras distantes transpunham-nas constantemente. Assim foi dada a Salomão e a seu povo oportunidade para revelar aos homens de todas as nações o caráter do Rei dos reis, e ensinar-lhes reverência e obediência a Ele. A todo o mundo devia ser dado este conhecimento. Mediante o ensino contido nas ofertas sacrificais, Cristo devia ser exaltado perante as nações, para que todo o que desejasse pudesse viver. PR 31 6 Colocado como cabeça de uma nação que fora posta como um farol de luz para as nações ao redor, Salomão devia ter usado a sabedoria que Deus lhe dera e o poder de influência na organização e liderança de um grande movimento para iluminação dos que viviam na ignorância de Deus e Sua verdade. Assim, multidões teriam sido ganhas para obediência aos divinos preceitos, Israel teria ficado a salvo dos males praticados pelos pagãos, e o Senhor da glória teria sido grandemente honrado. Mas Salomão perdeu de vista este alto propósito. Deixou de usar suas esplêndidas oportunidades para iluminação dos que estavam continuamente passando através de seu território ou estacionando nas principais cidades. PR 31 7 O espírito missionário que Deus implantara no coração de Salomão e de todos os verdadeiros israelitas fora suplantado pelo espírito de comercialismo. As oportunidades propiciadas pelo contato com muitas nações foram usadas para exaltação pessoal. Salomão procurou fortalecer politicamente sua posição construindo cidades fortificadas nas passagens comerciais. Reconstruiu Gezer, próximo de Jope, que ficava ao longo da estrada entre Egito e Síria; Bete-Horom, a oeste de Jerusalém, dominando as passagens da estrada que ia do interior da Judéia a Gezer e à costa do mar; Megido, situada na estrada das caravanas de Damasco para o Egito, e de Jerusalém para o Norte; e "Tadmor, no deserto" (2 Crônicas 8:4), ao longo da rota das caravanas do Oriente. Todas estas cidades foram poderosamente fortificadas. As vantagens comerciais de uma passagem nas cabeceiras do Mar Vermelho foram ampliadas pela construção de naus em Esiom-Geber, "na praia do mar, na terra de Edom". 1 Reis 9:26, 28. Marinheiros treinados de Tiro, "com os servos de Salomão" (2 Crônicas 8:18), conduziam esses navios nas viagens para Ofir, e "traziam de Ofir muitíssima madeira de sândalo, e pedras preciosas". 1 Reis 10:11. PR 32 1 Os rendimentos do rei e de muitos de seus súditos foram grandemente aumentados, mas a que preço! Por causa da ambição e curteza de vistas daqueles a quem tinham sido confiados os oráculos de Deus, às incontáveis multidões que apinhavam as vias de transporte se permitiu que permanecessem na ignorância de Jeová. PR 32 2 Em saliente contraste com a conduta seguida por Salomão foi o procedimento de Cristo quando esteve na Terra. O Salvador, embora possuindo "todo o poder" (Mateus 28:18), jamais usou este poder para Seu próprio engrandecimento. Nenhum sonho de conquistas terrenas, de grandezas mundanas, maculou a perfeição de Seu serviço pela humanidade. "As raposas têm covis, e as aves dos céus ninhos", disse Ele, "mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça". Mateus 8:20. Os que em resposta ao chamado da hora, têm entrado no serviço do Obreiro-mestre, podem bem estudar Seus métodos. Ele tirou vantagem das oportunidades encontradas ao longo das movimentadas vias. PR 32 3 Nos intervalos de Suas jornadas de um para outro lado, Jesus permanecia em Cafarnaum, que passou a ser conhecida como "a Sua cidade". Mateus 9:1. Situada na estrada de Damasco para Jerusalém e Egito e para o Mar Mediterrâneo, era esta cidade bem apropriada como centro do trabalho do Salvador. Pessoas de muitas terras passavam através da cidade, ou nela se detinham para descanso. Aí Jesus Se encontrava com pessoas de todas as nações e categorias, e assim eram Suas lições levadas a outros países e a muitas famílias. Por este meio era despertado o interesse nas profecias que apontavam para o Messias, a atenção era dirigida para o Salvador, e Sua missão era levada perante o mundo. PR 32 4 Em nossos dias, as oportunidades de entrar-se em contato com homens e mulheres de todas as classes e diferentes nacionalidades são muito maiores que nos dias de Israel. As movimentadas vias de comunicação têm-se multiplicado por milhares. PR 32 5 Assim como fez Cristo, os mensageiros do Altíssimo devem hoje tomar posição nessas vias movimentadas, onde possam encontrar-se com multidões que passam de todas as partes do mundo. Como Ele Se ocultou em Deus, devem eles semear a semente do evangelho, expondo perante outros as preciosas verdades das Sagradas Escrituras, que lançarão profundas raízes na mente e no coração, e germinem para a vida eterna. PR 32 6 Solenes são as lições do fracasso de Israel durante os anos em que tanto o rei como o povo se desviaram do alto propósito que tinham sido chamados a cumprir. PR 33 1 Seja onde for que eles tenham sido fracos, a ponto mesmo de cair, o Israel de Deus hoje, os representantes do Céu que constituem a verdadeira igreja de Cristo, devem ser fortes, pois para eles é transferido o encargo de concluir a obra confiada ao homem, e de anunciar o dia do ajuste final. Contudo, as mesmas influências que prevaleceram contra Israel no tempo do reinado de Salomão ainda se lhes antepõem. As forças do inimigo de toda a justiça estão fortemente entrincheiradas; e a vitória só pode ser ganha mediante o poder de Deus. O conflito que temos diante de nós exige espírito de abnegação, desconfiança própria, confiança em Deus somente, e sábio uso de toda oportunidade para a salvação de almas. A bênção do Senhor será concedida a Sua igreja, à medida que esta avance unida, revelando a um mundo que está nas trevas do erro a beleza da santidade manifesta num espírito de abnegação semelhante ao de Cristo, na exaltação do divino em vez do humano, e no amoroso e incansável serviço pelos que tanto precisam das bênçãos do evangelho. ------------------------Capítulo 5 -- O arrependimento de Salomão PR 34 1 Duas vezes durante o reinado de Salomão o Senhor lhe havia aparecido com palavras de aprovação e conselho -- na visão noturna em Gibeom, quando a promessa de sabedoria, riquezas e honra foi acompanhada pela admoestação para que permanecesse humilde e obediente; e após a dedicação do templo, quando uma vez mais o Senhor o exortou à fidelidade. Claras foram as admoestações, maravilhosas as promessas, dadas a Salomão; não obstante, daquele que pelas circunstâncias, no caráter e na vida parecia abundantemente capacitado para aceitar o encargo e corresponder à expectação do Céu, está registrado: "Não guardou o que o Senhor lhe ordenara". "Desviara seu coração do Senhor Deus de Israel, o qual duas vezes lhe aparecera. E acerca desta matéria lhe tinha dado ordem que não andasse em seguimento de outros deuses". 1 Reis 11:9, 10. E tão completa foi sua apostasia, seu coração tão endurecido na transgressão, que seu caso parecia quase sem esperança. PR 34 2 Da alegria da divina comunhão, Salomão voltou-se em busca da satisfação nos prazeres do sentido. Desta experiência ele diz: "Fiz para mim obras magníficas: edifiquei para mim casas, plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, [...] Adquiri servos e servas, [...] amontoei também para mim prata e ouro, e jóias de reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens, e de instrumentos de música de toda a sorte. Engrandeci-me, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. [...] PR 34 3 "E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho. [...] E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do Sol. PR 34 4 "Então passei à contemplação da sabedoria, dos desvarios, e da doidice; porque, que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram. [...] Pelo que aborreci esta vida. [...] Também eu aborreci todo o meu trabalho, em que trabalhei debaixo do Sol". Eclesiastes 2:4-18. PR 35 1 Por sua própria amarga experiência, Salomão conheceu o vazio de uma vida que busca nas coisas terrenas seu mais elevado bem. Ele construiu altares aos deuses pagãos, apenas para verificar quão vã é sua promessa de repouso para o espírito. Pensamentos sombrios e importunos perturbavam-no dia e noite. Não havia mais para ele qualquer alegria de vida ou paz de mente, e o futuro se mostrava enegrecido com desespero. PR 35 2 Contudo, o Senhor não o desamparou. Por mensagens de reprovação e severos juízos, Ele procurou despertar o rei para a constatação de sua conduta pecaminosa. Removeu dele Seu cuidado protetor, e permitiu que adversários molestassem e enfraquecessem o reino. "Levantou, pois, o Senhor a Salomão um adversário, a Hadade, o edomeu. [...] Também Deus lhe levantou outro adversário, a Rezom, [...] capitão dum esquadrão, [...] porque detestava a Israel, e reinava sobre a Síria. Até Jeroboão, [...] servo de Salomão, [...] varão valente", "levantou a sua mão contra o rei". 1 Reis 11:14-28. PR 35 3 Por fim o Senhor, por intermédio de um profeta, enviou a Salomão a assustadora mensagem: "Pois que houve isto em ti, que não guardaste o Meu concerto e os Meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi teu pai; da mão de teu filho o rasgarei". 1 Reis 11:11, 12. PR 35 4 Despertado como de um sonho por esta sentença de juízo pronunciada contra si e sua casa, com a consciência ativada, Salomão começou a ver sua estultícia em sua verdadeira luz. Afligido em espírito, com a mente e corpo debilitados, ele se voltou fatigado e sedento das rotas cisternas terrenas, para beber uma vez mais da Fonte da vida. Para ele afinal a disciplina do sofrimento tinha realizado sua obra. Longo tempo tinha ele sido perseguido pelo temor de completa ruína, pela incapacidade de abandonar a insensatez; mas agora discerniu na mensagem dada um raio de esperança. Deus não o havia abandonado por completo, mas estava pronto a libertá-lo do cativeiro mais cruel que a sepultura, e do qual não tivera poder para se libertar a si mesmo. PR 35 5 Agradecido, Salomão reconheceu o poder e a amorável bondade dAquele que "mais alto é do que os altos" (Eclesiastes 5:8); em penitência ele começou a retroceder seus passos de onde tinha caído tanto, para o exaltado plano de pureza e santidade. Ele jamais poderia esperar escapar dos ruinosos resultados do pecado; jamais poderia libertar sua mente de toda lembrança da conduta indulgente para consigo mesmo que havia seguido; mas empenhar-se-ia com fervor em dissuadir outros de irem atrás dos desvarios. Confessaria humildemente o erro de seu procedimento, e ergueria a voz em advertência para que outros não se perdessem irremissivelmente em virtude das influências para o mal que ele tinha posto em operação. PR 36 1 O verdadeiro penitente não afasta da lembrança seus pecados passados. Não se mostra alheio aos erros que praticou, tão logo haja alcançado paz. Ele pensa nos que foram levados ao mal por sua conduta, e procura por todas as formas levá-los de volta ao verdadeiro caminho. Quanto mais clara a luz em que entrou, mais forte seu desejo de firmar os pés de outros no caminho reto. Ele não atenua sua perversa conduta, fazendo de seus erros coisa leve, mas levanta o sinal de perigo, para que outros sejam advertidos. PR 36 2 Salomão reconheceu que "o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade; que há desvarios no seu coração". Eclesiastes 9:3. E em outra oportunidade declarou: "Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal. Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temerem diante dEle. Mas ao ímpio não irá bem, e ele não prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que ele não teme diante de Deus". Eclesiastes 8:11-13. PR 36 3 Pelo espírito de inspiração, o rei relatou para as gerações futuras a história de seus anos de dissipação, com suas lições de advertência. E assim, embora a semente que semeou fosse colhida por seu povo em safras de males, não se perdeu inteiramente a obra de sua vida. Com mansidão e humildade, Salomão em seus últimos anos ensinou "sabedoria ao povo, [...] e atentou, e esquadrinhou, e compôs muitos provérbios". Ele "procurou achar palavras agradáveis; e o escrito é a retidão, palavras de verdade". "As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados pelos mestres das congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor. E, demais disto, filho meu, atenta". Eclesiastes 12:9-12. PR 36 4 "De tudo o que se tem ouvido, o fim é", escreveu ele, "teme a Deus, e guarda os Seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até o que está encoberto, quer seja bom quer seja mau". Eclesiastes 12:13, 14. PR 36 5 Os posteriores escritos de Salomão revelam que ao sentir mais e mais a impiedade de sua conduta, deu especial atenção a advertir a juventude contra o cair em erros que o tinham conduzido a dissipar por nada os mais escolhidos dons dos Céus. Com tristeza e vergonha confessou que no melhor de sua varonilidade, quando devia ter encontrado em Deus seu conforto, seu sustentáculo, sua vida, ele se desviou da luz do Céu e sabedoria de Deus, e pôs a idolatria no lugar da adoração a Jeová. E agora, havendo aprendido por triste experiência a loucura de semelhante vida, seu fervente desejo era salvar outros de sorverem a amarga experiência pela qual havia passado. PR 36 6 Com tocante ênfase ele escreveu a respeito dos privilégios e responsabilidades da juventude no serviço de Deus: "Verdadeiramente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o Sol. Mas se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade. Alegra-te, mancebo, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo. Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade". Eclesiastes 11:7-10. PR 37 1 "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos, dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o Sol, e a luz, e a Lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; no dia em que tremerem os guardas da casa, e se curvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas; e as duas portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar a voz das aves, e todas as vozes do canto se baixarem; como também quando temerem o que está no alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua eterna casa, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu". Eclesiastes 12:1-7. PR 37 2 A vida de Salomão está repleta de advertências não somente para a juventude, mas para os já amadurecidos, bem como os que estão descendo a encosta e enfrentando o ocaso da vida. Nós ouvimos de instabilidade, e isto vemos, em relação à juventude -- os jovens vacilando entre o que é certo e o que é errado, e a corrente de más paixões provando-se demasiado forte para eles. Nos de idade madura, não esperamos ver tal instabilidade e infidelidade; esperamos, isto sim, que o caráter esteja estabilizado, os princípios firmemente enraizados. Mas isto nem sempre é assim. Quando Salomão devia ter sido no caráter como um robusto carvalho, caiu desta posição firme sob o poder da tentação. Quando sua fortaleza devia ter sido a mais firme, encontrou-se como sendo a mais fraca. PR 37 3 De tais exemplos devemos aprender que em vigiar e orar encontra-se a única salvaguarda, tanto para os jovens como para os idosos. Não repousa a segurança em posições exaltadas e em grandes privilégios. Durante muitos anos pode uma pessoa ter desfrutado genuína experiência cristã, mas ainda está exposta aos ataques de Satanás. Na batalha contra o pecado de dentro e as tentações de fora, até mesmo o sábio e poderoso Salomão foi subjugado. Sua queda nos ensina que, sejam quais forem as qualidades intelectuais de um homem, ou quão fielmente possa haver ele servido a Deus no passado, não pode nunca em segurança confiar na sua própria sabedoria e integridade. PR 38 1 Em cada geração e em cada terra o verdadeiro fundamento e norma para a edificação do caráter tem sido o mesmo. A lei divina "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, [...] e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lucas 10:27), o grande princípio que se tornou manifesto no caráter e na vida de nosso Salvador, é o único fundamento seguro, o único seguro guia. "Haverá estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e ciência" (Isaías 33:6) -- a sabedoria e conhecimento que somente a Palavra de Deus pode oferecer. PR 38 2 Isso é tão verdade agora como quando foram ditas a Israel as palavras de obediência a Seus mandamentos: "Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos". Deuteronômio 4:6. Aqui está a única segurança para a integridade individual, a pureza do lar, o bem-estar da sociedade ou a estabilidade da nação. Em meio a todas as perplexidades e perigos e reivindicações em conflito da vida, a única salvaguarda e regra segura é fazer o que Deus diz. "Os preceitos do Senhor são retos" (Salmos 19:8), e "quem faz isto nunca será abalado". Salmos 15:5. PR 38 3 Os que atendem à advertência da apostasia de Salomão fugirão à primeira aproximação dos pecados que o derrotaram. Somente a obediência aos requisitos do Céu guardará o homem de apostatar-se. Deus tem concedido ao homem grande luz e muitas bênçãos; mas a menos que esta luz e estas bênçãos sejam aceitas, não estarão seguros contra a desobediência e apostasia. Quando aqueles a quem Deus tem exaltado a elevadas posições de confiança voltam-se dEle para a sabedoria humana, sua luz torna-se trevas. As habilidades que lhe foram confiadas tornam-se um laço. PR 38 4 Até que o conflito esteja terminado, haverá os que se afastarão de Deus. Satanás de tal modo configurará circunstâncias que, a menos que sejamos guardados pelo divino poder, debilitarão quase imperceptivelmente as fortificações da alma. Precisamos inquirir a cada passo: "É este o caminho do Senhor?" Por todo o tempo quanto durar a vida, haverá necessidade de guardar as afeições e paixões com um firme propósito. Nenhum momento nos podemos sentir seguros, exceto quando podemos confiar em Deus, a vida escondida com Cristo. Vigilância e oração constituem a salvaguarda da pureza. PR 38 5 Todos os que penetrarem na cidade de Deus, hão de fazê-lo pela porta estreita -- por angustiante esforço, pois "não entrará nela coisa alguma que contamine". Apocalipse 21:27. Mas ninguém que tenha caído deve se desesperar. Homens encanecidos, uma vez honrados por Deus, podem ter envilecido suas almas, sacrificando a virtude no altar da luxúria; mas se se arrependem, abandonam o pecado e voltam-se para Deus, há ainda esperança para eles. Aquele que declara: "Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Apocalipse 2:10), faz também o convite: "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar". Isaías 55:7. Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. "Eu sararei sua perversão", Ele declara, "Eu voluntariamente os amarei". Oséias 14:4. PR 39 1 O arrependimento de Salomão foi sincero; mas o dano que o exemplo de suas más práticas produzira não podia ser desfeito. Durante sua apostasia, houve no reino homens que permaneceram fiéis a seu encargo, mantendo sua pureza e lealdade. Muitos, porém, foram levados a se transviarem; e as forças do mal postas em operação pela introdução da idolatria e práticas mundanas não poderiam facilmente ser detidas pelo penitente rei. Sua influência para o bem fora grandemente enfraquecida. Muitos hesitavam em depositar inteira confiança em sua guia. Embora o rei confessasse o seu pecado, e escrevesse, para benefício das futuras gerações o registro de sua estultícia e arrependimento, não poderia ele jamais esperar destruir completamente a danosa influência de suas obras más. Encorajados por sua apostasia, muitos continuaram a praticar o mal, e o mal somente. E na conduta descendente de muitos dos príncipes que o seguiram, pode ser assinalada a má influência que levou à prostituição das faculdades que Deus lhe dera. PR 39 2 Na angústia de amarga reflexão sobre o mal da sua conduta, Salomão foi constrangido a declarar: "Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói muitos bens". Eclesiastes 9:18. "Ainda há um mal que vi debaixo do Sol, como o erro que procede do governador. Ao tolo assentam-no em grandes alturas". PR 39 3 "Assim como a mosca morta faz exalar mau cheiro, e inutilizar o ungüento do perfumador, assim é para o famoso em sabedoria, e em honra, um pouco de estultícia". Eclesiastes 10:5, 6, 1. PR 39 4 Entre as muitas lições ensinadas pela vida de Salomão, nenhuma é mais fortemente salientada que o poder da influência para o bem ou para o mal. Restrita como possa ser nossa esfera de ação, ainda exercemos uma influência para bem-estar ou aflição. Além de nosso conhecimento ou controle, ela atua sobre outros na forma de bênção ou maldição. Pode estar carregada com a melancolia do descontentamento e egoísmo, ou envenenada com a infecção mortal de algum pecado acariciado; ou pode estar saturada com o vivificante poder da fé, coragem e esperança, e dulcificada com a fragrância do amor. Mas ela será poderosa, sem dúvida, para o bem ou para o mal. PR 39 5 Que nossa influência seja um cheiro de morte para morte é um pensamento pavoroso, mas possível. Uma alma transviada, com a perda da eterna bem-aventurança -- quem pode avaliar o dano E no entanto um ato imprudente, uma palavra irrefletida de nossa parte, pode exercer tão profunda influência na vida de outro, que se provará a ruína de sua alma. Uma mancha no caráter pode afastar de Cristo a muitos. PR 40 1 Assim como a semente plantada produz uma colheita, quando esta é semeada, a colheita final é multiplicada. Em nossa relação com outros esta lei prova-se verdadeira. Cada ação, cada palavra, é uma semente que dará fruto. Cada ato de meditada bondade, de obediência, de abnegação, reproduzirá isso mesmo em outros, e por meio destes em outros ainda. Assim, cada ato de inveja, de malícia, de dissensão, é uma semente que produzirá uma "raiz de amargura" (Hebreus 12:15), pela qual muitos serão afetados. E quão maior número esses "muitos" envenenarão Assim, a semeadura do bem e do mal perdura pelo tempo e pela eternidade. ------------------------Capítulo 6 -- O reino é rasgado PR 41 1 E adormeceu Salomão com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi, seu pai; e Roboão, seu filho, reinou em seu lugar". 1 Reis 11:43. PR 41 2 Logo após sua ascensão ao trono, Roboão foi a Siquém, onde esperava receber reconhecimento formal de todas as tribos. "Todo o Israel tinha vindo a Siquém para o fazerem rei". 2 Crônicas 10:1. PR 41 3 Entre os presentes estava Jeroboão, filho de Nebate -- o mesmo Jeroboão que durante o reinado de Salomão tinha sido conhecido como "varão valente", e a quem o profeta Aías, o silonita, tinha levado a assustadora mensagem: "Eis que rasgarei o reino da mão de Salomão, e a ti darei as dez tribos". 1 Reis 11:28, 31. PR 41 4 O Senhor, por intermédio de Seu mensageiro, tinha falado claramente a Jeroboão com respeito à necessidade de dividir o reino. Esta divisão devia ocorrer, declarou Ele, "porque Me deixaram, e se encurvaram a Astarote, deusa dos sidônios, a Quemós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram pelos Meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos Meus olhos, a saber, os Meus estatutos e os Meus juízos, como Davi, seu pai". 1 Reis 11:33. PR 41 5 Jeroboão havia sido posteriormente instruído que o reino não devia ser dividido antes do fim do reinado de Salomão. "Porém não tomarei nada deste reino da sua mão", o Senhor declarou, "mas por príncipe o ponho por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, Meu servo, a quem elegi, o qual guardou os Meus mandamentos, e os Meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino, e to darei a ti, as dez tribos dele". 1 Reis 11:34, 35. PR 41 6 Embora Salomão tivesse ansiado por preparar o espírito de Roboão, seu sucessor escolhido, para que enfrentasse com sabedoria a crise predita pelo profeta de Deus, ele não fora jamais capaz de exercer forte influência modeladora para o bem sobre a mente de seu filho, cuja primeira educação tinha sido tão extremamente negligenciada. Roboão tinha recebido de sua mãe, uma amonita, a estampa de um caráter vacilante. Algumas vezes procurou servir a Deus, e foi agraciado com uma medida de prosperidade; mas não ficou firme, e afinal rendeu-se às más influências que o rodearam desde a infância. Nos erros da vida de Roboão e em sua apostasia final é revelado o trágico resultado da união de Salomão com mulheres idólatras. PR 42 1 As tribos vinham há muito sofrendo cruéis injustiças sob as medidas opressivas do governante anterior. A extravagância do reinado de Salomão durante sua apostasia levara-o a tributar o povo pesadamente, e a requerer dele muito trabalho servil. Antes de levar avante a coroação de um novo monarca, os líderes dentre as tribos determinaram assegurar-se se era ou não propósito do filho de Salomão aliviar aquelas cargas. "Veio, pois, Jeroboão com todo o Israel, e falaram a Roboão, dizendo: Teu pai fez duro o nosso jugo; alivia tu, pois, agora a dura servidão de teu pai, e o pesado jugo que nos tinha imposto, e servir-te-emos". PR 42 2 Desejoso de aconselhar-se com seus auxiliares, antes de expor sua política, Roboão respondeu: "Daqui a três dias tornai a mim. Então o povo se foi". "E teve Roboão conselho com os seus anciãos, que estiveram perante Salomão seu pai, enquanto viveu, dizendo: Como aconselhais vós que se responda a este povo? E eles falaram, dizendo: Se te fizeres benigno e afável com este povo, e lhe falares boas palavras, todos os dias serão teus servos". 2 Crônicas 10:3-7. PR 42 3 Não satisfeito, Roboão voltou-se para os jovens que com ele se tinham associado durante sua juventude e maturidade, e inquiriu deles: "Que aconselhais vós, que respondamos a este povo, que me falou, dizendo: Alivia-nos o jugo que teu pai nos impôs?" 1 Reis 12:9. Os jovens sugeriram que ele tratasse asperamente com os súditos de seu reino, e lhes tornasse claro que desde o princípio ele não admitiria interferência com os seus desejos pessoais. PR 42 4 Inflado pela perspectiva de exercer suprema autoridade, Roboão determinou desconsiderar o conselho dos homens mais idosos do seu reino, e fazer dos jovens seus conselheiros. Sucedeu então que no dia aprazado, quando "Jeroboão, e todo o povo", veio a Roboão em busca de uma resposta concernente ao programa que ele pretendia pôr em prática, Roboão "lhes respondeu asperamente [...] dizendo: Meu pai agravou o vosso jugo, porém eu lhe acrescentarei mais; meu pai vos castigou com açoites, porém eu vos castigarei com escorpiões". 1 Reis 12:12-14. PR 42 5 Tivessem Roboão e seus inexperientes conselheiros compreendido a vontade divina concernente a Israel, teriam eles dado ouvidos à solicitação do povo por reformas decididas na administração do governo. Mas na hora oportuna que se lhes apresentou na reunião de Siquém, deixaram de raciocinar da causa para o efeito, e assim enfraqueceram para sempre sua influência sobre grande parte do povo. Sua expressa determinação de perpetuar e acrescentar a opressão introduzida durante o reinado de Salomão estava em direto conflito com o plano de Deus para Israel, e deu ao povo ampla ocasião de duvidar da sinceridade de seus motivos. Nesta tentativa inepta e insensível de exercer poder, o rei e seus conselheiros escolhidos revelaram o orgulho da posição e autoridade. PR 43 1 O Senhor não permitiu a Roboão pôr em prática a política que ele havia esboçado. Havia entre as tribos muitos milhares que haviam ficado alerta quanto às opressivas medidas do reinado de Salomão, e esses sentiram agora que outra coisa não poderiam fazer senão rebelar-se contra a casa de Davi. "Vendo, pois, todo o Israel que o rei lhes não dava ouvidos, então o povo respondeu ao rei, dizendo: Que parte temos nós com Davi? Já não temos herança no filho de Jessé; Israel, cada um às suas tendas Olha agora pela tua casa, ó Davi. Assim todo o Israel se foi para as suas tendas". 1 Reis 12:16. PR 43 2 A brecha aberta com o ríspido discurso de Roboão provou-se irreparável. Daí em diante as doze tribos de Israel ficaram divididas, as tribos de Judá e Benjamim formando o reino mais abaixo, ou ao sul de Judá, sob o governo de Roboão, enquanto as dez tribos ao norte formaram e mantiveram um governo separado, conhecido como o reino de Israel, tendo Jeroboão como seu rei. Assim se cumpriu a predição do profeta concernente ao rasgamento do reino. "Esta revolta vinha do Senhor". 1 Reis 12:15. PR 43 3 Quando Roboão viu que as dez tribos retiravam dele sua obediência, despertou para a ação. Por intermédio de um dos homens influentes de seu reino, "Adorão, que estava sobre os tributos", fez um esforço para acalmá-las. Mas o embaixador da paz recebeu um tratamento que atestava dos sentimentos contra Roboão. "Todo o Israel o apedrejou com pedras, e morreu". Alertado por esta evidência de revolta, "o rei Roboão se animou a subir ao seu carro para fugir para Jerusalém". 1 Reis 12:18. PR 43 4 Em Jerusalém "ajuntou toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, cento e oitenta mil escolhidos, destros para a guerra, para pelejar contra a casa de Israel, para restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. Porém veio a palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a Benjamim, e ao resto do povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque Eu é que fiz esta obra. E ouviram a palavra do Senhor, e voltaram segundo a palavra do Senhor". 1 Reis 12:21-24. PR 43 5 Por três anos, Roboão procurou tirar proveito da triste experiência do início de seu reinado; e prosperou nesta tentativa. "Edificou cidades para fortalezas, em Judá, e fortificou fortalezas e pôs nelas maiorais, e armazéns de víveres, e de azeite, e de vinho". Ele teve o cuidado de fortificar essas cidades "em grande maneira". 2 Crônicas 11:5, 11, 12. Mas o segredo da prosperidade de Judá durante os primeiros anos do reinado de Roboão não se devia a estas medidas. Foi seu reconhecimento de Deus como Supremo Dominador, que pôs as tribos de Judá e Benjamim em plano de superioridade. Ao seu número foram acrescidos muitos homens tementes a Deus das tribos do Norte. "Também de todas as tribos de Israel, diz o relato, 'os que deram o seu coração a buscarem ao Senhor Deus de Israel, vieram a Jerusalém, para oferecerem sacrifícios ao Senhor Deus de seus pais. Assim fortaleceram o reino de Judá e corroboraram a Roboão, filho de Salomão, por três anos; porque três anos andaram no caminho de Davi e Salomão'". 2 Crônicas 11:16, 17. PR 44 1 Na seqüência viria a oportunidade de Roboão redimir em grande medida os erros do passado e restaurar a confiança em sua capacidade de governar com discrição. Mas a pena da inspiração traçou o triste registro do sucessor de Salomão como alguém que falhou em exercer uma forte influência para lealdade a Jeová. Por natureza obstinado, confiante em si, voluntarioso e inclinado à idolatria, tivesse ele, não obstante, colocado sua confiança inteiramente em Deus e teria desenvolvido fortaleza de caráter, firmeza de fé e submissão aos requisitos divinos. Mas com o passar do tempo, o rei pôs sua confiança no poder da posição e nas fortalezas que havia construído. Pouco a pouco ele deu curso a herdadas fraquezas, até que pôs sua inteira influência ao lado da idolatria. "Sucedeu pois que, havendo Roboão confirmado o reino, e havendo-se fortalecido, deixou a lei do Senhor, e com ele todo o Israel". 2 Crônicas 12:1. PR 44 2 Quão tristes, quão profundamente significativas as palavras: "E com ele todo o Israel" O povo ao qual Deus havia escolhido para ser como uma luz para as nações ao redor estava-se desviando de sua Fonte de força e procurando tornar-se como estas nações. Como foi com Salomão, assim foi com Roboão: a influência do mau exemplo levou muitos a se extraviarem. E como aconteceu com eles, assim sucede em maior ou menor grau com cada um que se entrega à prática do mal: a influência do erro praticado não se confina ao que o pratica. Ninguém vive para si. Ninguém perece sozinho em sua iniqüidade. Cada vida é uma luz que ilumina e alegra o caminho de outros, ou uma negra e desoladora influência que tende para o desespero e a ruína. Nós conduzimos outros ou para cima, para felicidade e vida imortal, ou para baixo, para a tristeza e morte eterna. E se por nossas obras fortalecemos ou pomos em atividade as faculdades más dos que estão ao nosso redor, compartilhamos de seu pecado. PR 44 3 Deus não permitiu que a apostasia do rei de Judá ficasse sem punição. "Pelo que sucedeu, no ano quinto do rei de Judá, que Sisaque, rei do Egito, subiu contra Jerusalém (porque tinham transgredido contra o Senhor) com mil carros, e com sessenta mil cavaleiros; e era inumerável a gente que vinha com ele do Egito. [...] E tomou as cidades fortes, que Judá tinha, e veio a Jerusalém. PR 44 4 "Então veio Semaías, o profeta, a Roboão e aos príncipes de Judá que se ajuntaram em Jerusalém por causa de Sisaque, e disse-lhes: Assim diz o Senhor: Vós Me deixastes a Mim, pelo que também Eu vos deixei na mão de Sisaque". 2 Crônicas 12:2-5. PR 45 1 O povo não tinha todavia ido a tal ponto na apostasia que desprezasse os juízos de Deus. Nas perdas sofridas pela invasão de Sisaque, eles reconheceram a mão de Deus, e por algum tempo se humilharam. "O Senhor é justo", reconheceram. PR 45 2 "Vendo, pois, o Senhor que se humilharam, veio a palavra do Senhor a Semaías, dizendo: Humilharam-se, não os destruirei; antes em breve lhes darei lugar de escaparem, para que o Meu furor se não derrame sobre Jerusalém, por mão de Sisaque. Porém serão seus servos, para que conheçam a diferença da Minha servidão e da servidão dos reinos da Terra. PR 45 3 "Subiu, pois, Sisaque, rei do Egito, contra Jerusalém, e tomou os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei; levou tudo. Também tomou os escudos de ouro, que Salomão fizera. E fez o rei Roboão em lugar deles escudos de cobre, e os entregou nas mãos dos capitães da guarda, que guardavam a porta da casa do rei. [...] E humilhando-se ele, a ira do Senhor se desviou dele, para que o não destruísse de todo; porque ainda em Judá havia boas coisas". 2 Crônicas 12:6-12. PR 45 4 Mas quando a mão da aflição foi removida, e a nação prosperou uma vez mais, muitos esqueceram seus temores, e tornaram de novo para a idolatria. Entre estes estava o próprio rei Roboão. Embora humilhado pela calamidade que havia caído sobre si, ele deixou de fazer de sua experiência um decisivo ponto de retorno em sua vida. Esquecendo a lição que Deus procurara ensinar-lhe, reincidiu nos pecados que haviam acarretado juízo sobre a nação. Depois de alguns anos obscuros, durante os quais "fez o que era mau, porquanto não preparou o seu coração para buscar ao Senhor", "Roboão dormiu com seus pais, e foi sepultado na cidade de Davi. E Abias, seu filho, reinou em seu lugar". 2 Crônicas 12:14-16. PR 45 5 Com a divisão do reino logo no início do reinado de Roboão, a glória de Israel começou a declinar, nunca mais sendo reconquistada em sua plenitude. Às vezes, durante os séculos que se seguiram, o trono de Davi fora ocupado por homens de caráter digno e previdente discernimento, e sob a administração desses soberanos as bênçãos que então repousavam sobre os homens de Judá se estendiam às nações circunvizinhas. Por vezes fora o nome de Jeová exaltado sobre todo deus falso, e Sua lei fora tida em reverência. De tempos em tempos surgiam poderosos profetas, a fim de fortalecerem as mãos dos governantes e encorajarem o povo para que continuasse fiel. Mas as sementes do mal em germinação já quando Roboão ascendeu ao trono, não seriam jamais completamente erradicadas; e às vezes o outrora favorecido povo de Deus caiu tão baixo a ponto de tornar-se um provérbio entre os pagãos. PR 45 6 Não obstante a perversidade dos que se inclinaram para práticas idólatras, Deus em misericórdia faria tudo que estivesse em Seu poder a fim de salvar de completa ruína o reino dividido. E como no decorrer dos anos, Seu propósito concernente a Israel parecesse completamente frustrado pelas artimanhas de homens inspirados por instrumentos satânicos, Ele ainda assim manifestou Seus beneficentes desígnios através do cativeiro e restauração da nação escolhida. PR 46 1 A divisão do reino foi apenas o início de uma história maravilhosa, pela qual se revelam a longanimidade e terna misericórdia de Deus. Do cadinho da aflição por que deviam passar devido a tendências para o mal, hereditárias e cultivadas, aqueles a quem Deus estava procurando purificar para Si como um povo peculiar, zeloso e de boas obras, deviam finalmente reconhecer que: "Ninguém há semelhante a Ti, ó Senhor; Tu és grande, e grande o Teu nome em força. Quem Te não temeria, ó Rei das nações? [...] Entre todos os sábios das nações, e em todo o seu reino, ninguém há semelhante a Ti." "Mas o Senhor Deus é a verdade; Ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno". Jeremias 10:6, 7, 10. PR 46 2 E os adoradores de ídolos deviam afinal aprender a lição de que os falsos deuses não têm o poder de se erguerem e salvar. "Os deuses que não fizeram os Céus e a Terra desaparecerão da Terra e de debaixo deste céu". Jeremias 10:11. Somente na submissão ao Deus vivo, o Criador de tudo e o Soberano sobre todos, pode o homem encontrar repouso e paz. PR 46 3 Unanimemente os castigados e penitentes de Israel e Judá renovariam afinal sua relação de concerto com Jeová dos exércitos, o Deus de seus pais; e a respeito dEle devia declarar: PR 46 4 "Ele fez a Terra pelo Seu poder; Ele estabeleceu o mundo por Sua sabedoria e com a Sua inteligência estendeu os céus. Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há ruído de águas nos céus, e sobem os vapores da extremidade da Terra; Ele faz os relâmpagos para a chuva, e faz sair o vento dos Seus tesouros. Todo o homem se embruteceu e não tem ciência; envergonha-se todo o fundidor da sua imagem de escultura; porque sua imagem fundida mentira é, e não há espírito nelas. Vaidade são, obra de enganos; no tempo da sua visitação virão a perecer. Não é semelhante a estes a porção de Jacó; porque Ele é o Criador de todas as coisas, e Israel é a vara da Sua herança. Senhor dos exércitos é o Seu nome". Jeremias 10:12-16. ------------------------Capítulo 7 -- Jeroboão PR 47 1 Elevado ao trono pelas dez tribos de Israel que se haviam rebelado contra a casa de Davi, Jeroboão, outrora servo de Salomão, estava em posição de proceder a sábias reformas tanto nos negócios civis como nos religiosos. Sob o governo de Salomão havia ele mostrado aptidão e sadio discernimento; e o conhecimento que havia adquirido durante anos de fiel serviço capacitava-o a governar com prudência. Mas Jeroboão deixou de pôr em Deus sua confiança. PR 47 2 O maior temor de Jeroboão era que em qualquer tempo no futuro o coração de seus súditos se deixasse cativar pelo ocupante do trono de Davi. Raciocinou ele que se às dez tribos fosse permitido visitar com freqüência a antiga sede da realeza judaica, onde os cultos do templo eram ainda dirigidos como nos anos do reinado de Salomão, muitos poderiam sentir-se inclinados a renovar sua submissão ao governo centralizado em Jerusalém. Trocando idéia com seus conselheiros, Jeroboão determinou, num ousado golpe, desfazer, tanto quanto possível, a probabilidade de uma revolta contra seu governo. Isto pretendia ele levar a termo criando dentro dos limites de seu recém-formado reino dois centros de adoração: um em Betel e o outro em Dã. Nesses lugares deviam as dez tribos ser convidadas a se reunir, em vez de em Jerusalém, para adorar a Deus. PR 47 3 Planejando esta transferência, intentava Jeroboão apelar à imaginação dos israelitas, colocando perante eles alguma representação visível para simbolizar a presença do Deus invisível. Conseqüentemente, mandou fazer dois bezerros de ouro, e estes foram postos dentro de nichos nos centros indicados para adoração. Nesta tentativa para representar a divindade, Jeroboão violou o claro mandamento de Deus: "Não farás para ti imagem de escultura. [...] Não te encurvarás a elas nem as servirás". Êxodo 20:4, 5. PR 47 4 Tão forte era o desejo de Jeroboão de conservar as dez tribos afastadas de Jerusalém, que perdeu de vista a fraqueza fundamental de seu plano. Ele deixou de tomar em consideração o grande perigo a que estava expondo os israelitas, pelo colocar perante eles o símbolo idólatra da divindade, com os quais seus ancestrais haviam estado tão familiarizados durante os séculos de seu cativeiro no Egito. A estada recente de Jeroboão no Egito devia tê-lo ensinado a loucura de colocar perante o povo tais representações pagãs. Mas seu decidido propósito de induzir as tribos do norte a não continuar sua visita anual à cidade santa, levou-o a adotar a mais imprudente das medidas. "Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém", insistiu ele; "vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito". 1 Reis 12:28. Assim foram eles convidados a se prostrarem perante imagens de ouro e a adotar estranhas formas de culto. PR 48 1 O rei procurara persuadir os levitas, alguns dos que estavam vivendo em seus domínios, a servirem como sacerdotes nos altares recém-erguidos em Betel e Dã; mas nesta tentativa ele foi ao encontro do fracasso. Foi então compelido a elevar ao sacerdócio homens "dos mais baixos do povo". 1 Reis 12:31. Alarmados com as perspectivas, muitos dos fiéis, incluindo-se um grande número de levitas, fugiram para Jerusalém, onde podiam adorar em harmonia com os divinos reclamos. PR 48 2 "E fez Jeroboão uma festa no oitavo mês, no dia décimo quinto do mês, como a festa que se fazia em Judá, e sacrificou no altar. Semelhantemente fez em Betel, sacrificando aos bezerros que fizera; também em Betel estabeleceu sacerdotes dos altos que fizera". 1 Reis 12:32. PR 48 3 O ousado desafio do rei a Deus ao pôr de lado instituições divinamente indicadas, não foi permitido passar sem repreensão. No momento mesmo em que ele estava oficiando e queimando incenso durante a dedicação do altar estranho que havia levantado em Betel, apareceu ali perante ele um homem de Deus do reino de Judá, enviado para denunciá-lo pela presunção em introduzir novas formas de culto. O profeta "clamou contra o altar [...] disse: Altar, altar assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos de homens que se queimarão sobre ti. PR 48 4 "E deu naquele mesmo dia um sinal, dizendo: Este é o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele está, se derramará". Imediatamente o "altar se fendeu, e a cinza se derramou do altar, segundo o sinal que o homem de Deus apontara pela palavra do Senhor". 1 Reis 13:2, 3, 5. PR 48 5 Ao ver isso, Jeroboão se encheu de um espírito provocador contra Deus, e procurou conter o que lhe tinha apresentado a mensagem. Cheio de ira, ele "estendeu a sua mão de sobre o altar, dizendo: Pegai dele". Seu ato impetuoso encontrou reprovação imediata. A mão estendida contra o mensageiro de Jeová tornou-se de súbito impotente e seca, e não a podia tornar a trazer a si. PR 48 6 Tomado de terror, o rei apelou ao profeta para que intercedesse por ele a Deus. "Ora à face do Senhor teu Deus", suplicou ele, "e roga por mim, que a minha mão se me restitua. Então o homem de Deus orou à face do Senhor, e a mão do rei se lhe restituiu, e ficou como dantes". 1 Reis 13:4, 6. PR 48 7 Inútil fora o esforço de Jeroboão para revestir de solenidade a dedicação de um altar estranho, cujo respeito haveria levado ao desrespeito pelo culto de Jeová no templo de Jerusalém. Pela mensagem do profeta, o rei de Israel deveria ter sido levado ao arrependimento, a renunciar seus ímpios desígnios, os quais estavam desviando o povo do verdadeiro culto de Deus. Mas ele endureceu o coração, e decidiu seguir o caminho de sua própria escolha. PR 49 1 Por ocasião da festa em Betel, o coração dos israelitas não estava completamente endurecido. Muitos eram suscetíveis à influência do Espírito Santo. O Senhor decidiu que os que estavam indo a passos rápidos para o caminho da apostasia deviam ser impedidos em seu curso antes que fosse demasiado tarde. Ele enviou Seu mensageiro para interromper o procedimento idólatra, e revelar ao rei e ao povo qual seria o resultado de sua apostasia. A ruptura do altar era um sinal da desaprovação de Deus à abominação que estava sendo praticada em Israel. PR 49 2 O Senhor procura salvar, não destruir. Ele Se deleita na libertação de pecadores. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio". Ezequiel 33:11. Por meio de advertências e rogos Ele convida o obstinado a cessar de praticar o mal, e a voltar-se para Ele e viver. Dá a Seus escolhidos mensageiros santa ousadia, para que os que ouvirem temam e sejam levados ao arrependimento. Quão firmemente o homem de Deus repreendeu o rei! E esta firmeza era essencial; de nenhuma outra maneira podiam os males existentes ter sido reprovados. O Senhor deu a Seu servo ousadia, para que impressão perdurável fosse feita nos que ouviram. Os mensageiros do Senhor não devem jamais temer a face do homem, mas sim permanecer inflexíveis pelo direito. Enquanto sua confiança estiver posta em Deus, não precisam temer; pois Aquele que lhes deu uma tarefa também lhes assegura Seu protetor cuidado. PR 49 3 Havendo apresentado sua mensagem, o profeta estava para retornar, quando Jeroboão lhe disse: "Vem comigo a casa, e conforta-te, e dar-te-ei um presente". "Ainda que me desses metade da tua casa", replicou-lhe o profeta, "não iria contigo, nem comeria pão nem beberia água neste lugar. Porque assim me ordenou o Senhor pela Sua palavra, dizendo: Não comerás pão nem beberás água, e nem voltarás pelo caminho por onde foste". 1 Reis 13:7-9. PR 49 4 Bom teria sido ao profeta se ele tivesse se apegado ao seu propósito de retornar sem demora à Judéia. Enquanto viajava por outra rota, foi surpreendido por um ancião que declarava ser profeta, e que se representou falsamente ante o homem de Deus, declarando: "Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou pela palavra do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa, para que coma pão e beba água". Insistentemente a mentira foi repetida, o convite inculcado, até que o homem de Deus foi persuadido a voltar. PR 49 5 Visto que o profeta verdadeiro concordou em tomar um curso contrário à linha do dever, Deus permitiu-lhe sofrer a penalidade da sua transgressão. Enquanto ele e o que o convidara a retornar a Betel estavam à mesa, a inspiração do Todo-poderoso veio ao falso profeta, e ele "clamou ao homem de Deus, que viera de Judá, dizendo: Assim diz o Senhor: Porquanto foste rebelde à boca do Senhor, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te mandara [...] teu cadáver não entrará no sepulcro de teus pais". 1 Reis 13:18-22. PR 50 1 Essa profecia de juízo foi logo literalmente cumprida. "E sucedeu que, depois que comeu pão, e depois que bebeu, albardou ele o jumento. [...] Foi-se, pois, e um leão o encontrou no caminho, e o matou; e o seu cadáver estava lançado no caminho, e o jumento estava parado junto a ele, e o leão estava junto ao cadáver. E eis que os homens passaram, e viram o corpo lançado no caminho, [...] e vieram, e o disseram na cidade onde o profeta velho habitava. E, ouvindo-o o profeta que o fizera voltar do caminho, disse: É o homem de Deus, que foi rebelde à boca do Senhor". 1 Reis 13:23-26. PR 50 2 A penalidade que alcançou o infiel mensageiro foi ainda uma posterior evidência à verdade da profecia proferida sobre o altar. Se, após desobedecer à palavra do Senhor, ao profeta fosse permitido ir a salvo, o rei teria usado este fato numa tentativa de vindicar sua própria desobediência. Na ruptura do altar, no secamento do braço e na terrível sorte daquele que ousara desobedecer uma ordem expressa de Jeová, Jeroboão deveria ter discernido o pronto desprazer de um Deus ofendido, e esses juízos deviam tê-lo advertido a não persistir na prática do mal. Mas longe de se arrepender, Jeroboão "dos mais baixos do povo tornou a fazer sacerdotes dos lugares altos". Assim não apenas pecou ele mesmo grandemente, mas "fez pecar a Israel". 1 Reis 13:33, 34. "E isso foi causa de pecado à casa de Jeroboão, para destruí-la e extingui-la da Terra". 1 Reis 14:16. PR 50 3 Ao final de um conturbado reinado de vinte e dois anos, Jeroboão sofreu desastrosa derrota numa guerra com Abias, sucessor de Roboão. "E Jeroboão não recobrou mais nenhuma força nos dias de Abias; porém o Senhor o feriu e morreu". 2 Crônicas 13:20. PR 50 4 A apostasia introduzida durante o reinado de Jeroboão tornou-se cada vez mais acentuada, até que finalmente resultou em ruína total do reino de Israel. Antes mesmo da morte de Jeroboão, Aías, o idoso profeta de Siló que muitos anos antes predissera a elevação de Jeroboão ao trono, declarou: "O Senhor ferirá a Israel, como se move a cana nas águas; e arrancará Israel desta boa terra que tinha dado a seus pais, e o espalhará para além do rio, porquanto fizeram os seus bosques, provocando o Senhor à ira. E entregará Israel por causa dos pecados de Jeroboão, o qual pecou, e fez pecar a Israel". 1 Reis 14:15, 16. PR 50 5 O Senhor, porém, não abandonou a Israel sem antes fazer tudo que poderia ser feito para levá-lo de volta à submissão a Si. Através dos longos, escuros anos quando rei após rei se puseram em ousado desafio ao Céu e levaram Israel a idolatria cada vez mais profunda, Deus enviou mensagem após mensagem a Seu transviado povo. Por intermédio de Seus profetas deu-lhes toda oportunidade de deter a maré da apostasia e retornar a Ele. Durante os anos que sucederiam à cisão do reino, Elias e Eliseu viveriam e trabalhariam, e os ternos apelos de Oséias, Amós e Obadias deviam ser ouvidos na terra. Jamais deveria o reino de Israel ser deixado sem nobres testemunhas do suficiente poder de Deus para salvar do pecado. Mesmo nas horas mais escuras, alguns permaneceriam leais ao seu divino Rei, e em meio da idolatria viveriam inculpáveis à vista de um Deus santo. Esses fiéis foram contados entre o piedoso remanescente por cujo intermédio o eterno propósito de Jeová devia ser finalmente cumprido. ------------------------Capítulo 8 -- Apostasia nacional PR 52 1 Desde a morte de Jeroboão até o aparecimento de Elias perante Acabe, o povo de Israel experimentou firme declínio espiritual. Governado por homens que não temiam a Jeová e que encorajavam formas estranhas de culto, a maioria das pessoas rapidamente perdeu de vista seu dever de servir ao Deus vivo, e adotou muitas das práticas da idolatria. PR 52 2 Nadabe, filho de Jeroboão, ocupou o trono de Israel apenas por alguns meses. Sua carreira maléfica foi subitamente interrompida por uma conspiração encabeçada por Baasa, um de seus generais, para obter o controle do governo. Nadabe foi morto, com toda a sua descendência na linhagem da sucessão, "conforme a palavra do Senhor que dissera pelo ministério de seu servo Aías, o silonita; por causa dos pecados de Jeroboão, o qual pecou, e fez pecar a Israel". 1 Reis 15:29, 30. PR 52 3 Assim pereceu a casa de Jeroboão. O culto idólatra introduzido por ele tinha levado sobre os culpados ofensores os juízos retributivos do Céu; e não obstante os reis que se seguiram -- Baasa, Elá, Zinri e Onri -- durante o período de aproximadamente quarenta anos, continuaram no mesmo curso fatal de perversidade. PR 52 4 Durante a maior parte deste período de apostasia em Israel, Asa reinava no reino de Judá. Por muitos anos "Asa fez o que era bom e reto aos olhos do Senhor seu Deus. Porque tirou os altares dos deuses estranhos, e os altos, e quebrou as estátuas, e cortou os bosques. E mandou a Judá que buscassem ao Senhor Deus de seus pais, e que observassem a lei e o mandamento. Também tirou de todas as cidades de Judá os altos e as imagens do Sol; e o reino esteve quieto diante dele". 2 Crônicas 14:2-5. PR 52 5 A fé de Asa foi posta em severa prova quando "Zerá, o etíope, saiu contra eles com um exército de milhares, e trezentos carros" (2 Crônicas 14:9), e invadiu-lhe o reino. Nesta crise Asa não pôs sua confiança nas "cidades fortes em Judá" que ele havia construído, com "muros e torres, portas e ferrolhos", nem nos "varões valentes" (2 Crônicas 14:6-8) de seu exército cuidadosamente treinado. A confiança do rei estava em Jeová dos exércitos, em cujo nome maravilhosos livramentos tinham sido operados em favor do Israel do passado. Pondo suas forças no campo de batalha, ele procurou o auxílio de Deus. PR 52 6 Os exércitos inimigos estavam agora frente a frente. Este era um tempo de prova para os que serviam ao Senhor. Fora confessado cada pecado? Tinham os homens de Judá plena confiança no poder de Deus para livrar? Tais eram os pensamentos que ocupavam a mente dos líderes. De todo ponto de vista humano, o vasto exército do Egito varreria tudo que se lhe antepusesse. Mas no tempo de paz, Asa não se havia entregue a divertimentos e prazeres; ele estivera se preparando para qualquer emergência. Tinha um exército preparado para o conflito; havia procurado levar seu povo a fazer sua paz com Deus. E agora, embora suas forças fossem em número inferior às do inimigo, sua fé nAquele em quem tinha posto sua confiança não enfraqueceu. PR 53 1 Havendo buscado ao Senhor nos dias de prosperidade, o rei podia agora, no dia da adversidade, descansar nEle. Suas petições mostravam que ele não era estranho ao maravilhoso poder de Deus. "Nada para Ti é ajudar", suplicou ele, "quer o poderoso quer o de nenhuma força; ajuda-nos, pois, Senhor nosso Deus, porque em Ti confiamos, e no Teu nome viemos contra esta multidão. Senhor, Tu és nosso Deus, não prevaleça contra Ti o homem". 2 Crônicas 14:11. PR 53 2 A oração de Asa é dessas que cada cristão crente pode apropriadamente oferecer. Estamos empenhados numa guerra, não contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e as potestades, e contra as maldades espirituais nos lugares celestiais. Efésios 6:12. No conflito da vida, temos de enfrentar os instrumentos do mal que se arregimentaram contra o direito. Nossa esperança não está no homem, mas no Deus vivo. Com plena certeza de fé, podemos esperar que Ele unirá Sua onipotência aos esforços de instrumentos humanos, para a glória de Seu nome. Revestidos com as armas de Sua justiça podemos obter a vitória sobre todo inimigo. PR 53 3 A fé do rei Asa foi assinaladamente recompensada. "E o Senhor feriu os etíopes diante de Asa, e diante de Judá; e fugiram os etíopes. E Asa e o povo que estava com ele os perseguiram até Gerar, e caíram tantos dos etíopes, que já não havia neles vigor algum, porque foram quebrantados diante do Senhor, e diante do Seu exército". 2 Crônicas 14:12, 13. PR 53 4 Ao retornarem os exércitos de Judá e Benjamim a Jerusalém, "veio o Espírito de Deus sobre Azarias, filho de Obede. E saiu ao encontro de Asa, e disse-lhe: Ouvi-me, Asa, e todo o Judá e Benjamim: O Senhor está convosco, enquanto vós estais com Ele, e, se O buscardes, O achareis; porém, se O deixardes, vos deixará". "Mas esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra tem uma recompensa". 2 Crônicas 15:1, 2, 7. PR 53 5 Grandemente incentivado por essas palavras, Asa logo promoveu uma segunda reforma em Judá. Ele "esforçou-se, e tirou as abominações de toda a terra de Judá e de Benjamim, como também das cidades que tomara nas montanhas de Efraim; e renovou o altar do Senhor, que estava diante do pórtico do Senhor. PR 53 6 "E ajuntou a todo o Judá, e Benjamim, e com eles os estrangeiros de Efraim e Manassés, e de Simeão; porque de Israel vinham a ele em grande número, vendo que o Senhor seu Deus era com ele. E ajuntaram-se em Jerusalém no terceiro mês, no ano décimo do reinado de Asa. E no mesmo dia ofereceram em sacrifício ao Senhor, do despojo que trouxeram, seiscentos bois e seis mil ovelhas. E entraram no concerto de buscarem ao Senhor, Deus de seus pais, com todo o coração, e com toda a sua alma". "E O acharam; e o Senhor lhes deu repouso em redor". 2 Crônicas 15:8-12, 15. PR 54 1 O longo relato do fiel serviço de Asa foi mareado por alguns erros, cometidos nas vezes em que ele deixou de pôr sua confiança inteiramente em Deus. Quando, certa ocasião, o rei de Israel entrou no reino de Judá e capturou Ramá, uma cidade fortificada distante apenas uns oito quilômetros de Jerusalém, Asa procurou livramento fazendo uma aliança com Ben-Hadade, rei da Síria. Esta falha em não confiar somente em Deus nos tempos de necessidade foi severamente reprovada por Hanani, o profeta, que apareceu perante Asa com a mensagem: PR 54 2 "Porquanto confiaste no rei da Síria, e não confiaste no Senhor teu Deus, portanto o exército do rei da Síria escapou da tua mão. Porventura não foram os etíopes e os líbios um grande exército, com muitíssimos carros e cavaleiros? Confiando tu, porém, no Senhor, Ele os entregou nas tuas mãos. Porque, quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a Terra, para mostrar-Se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele; nisto, pois, procedeste loucamente, porque desde agora haverá guerras contra ti". 2 Crônicas 16:7-9. PR 54 3 Em lugar de humilhar-se perante Deus por causa de seu erro, "Asa se indignou contra o vidente, e lançou-o na casa do tronco, porque disto grandemente se alterou contra ele; também Asa no mesmo tempo oprimiu a alguns do povo". 2 Crônicas 16:10. PR 54 4 "E caiu Asa doente de seus pés no ano trinta e nove do seu reinado; grande por extremo era a sua enfermidade, e contudo na sua enfermidade não buscou ao Senhor, mas antes aos médicos". 2 Crônicas 16:12. O rei morreu no quadragésimo primeiro ano do seu reinado, e foi sucedido por seu filho Josafá. PR 54 5 Dois anos antes da morte de Asa, Acabe começou a reinar em Israel. Seu reinado foi marcado desde o início por uma estranha e terrível apostasia. Seu pai, Onri, o fundador de Samaria, tinha feito "o que parecia mal aos olhos do Senhor; e fez pior do que todos quantos foram antes dele" (1 Reis 16:25); mas os pecados de Acabe foram ainda maiores. Ele "fez muito mais para irritar o Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que foram antes dele", agindo "como se fora coisa leve andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate". 1 Reis 16:33, 31. Não contente com encorajar as formas de adoração seguidas em Betel e Dã, ousadamente levou o povo a grosseiro paganismo, substituindo o culto de Jeová pelo de Baal. PR 55 1 Tomando por esposa a Jezabel, "filha de Etbaal, rei dos sidônios", e sumo sacerdote de Baal, Acabe "serviu a Baal, e se encurvou diante dele. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria". 1 Reis 16:31, 32. PR 55 2 Acabe não somente introduziu o culto de Baal na metrópole do reino, mas sob a liderança de Jezabel construiu altares pagãos em muitos "lugares altos", onde ao abrigo de bosques circundantes os sacerdotes e outros relacionados com esta sedutora forma de idolatria exerciam sua danosa influência, até que quase todo o Israel estava indo após Baal. "Ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor; porque Jezabel, sua mulher, o incitava. E fez grandes abominações, seguindo os ídolos, conforme a tudo o que fizeram os amorreus, aos quais o Senhor lançou fora da sua possessão, de diante dos filhos de Israel". 1 Reis 21:25, 26. PR 55 3 Acabe era fraco em capacidade moral. Sua união por casamento com uma mulher idólatra de caráter decidido e temperamento definido, resultou em desastre tanto para ele como para a nação. Destituído de princípio, e sem nenhuma alta norma de reto proceder, seu caráter foi facilmente modelado pelo espírito determinado de Jezabel. Sua natureza egoísta era incapaz de apreciar as bênçãos de Deus a Israel e seus próprios deveres como guardião e líder do povo escolhido. PR 55 4 Sob a danosa influência do reinado de Acabe, Israel afastou-se do Deus vivo, e corrompeu seus caminhos perante Ele. Por muitos anos tinham estado a perder o senso de reverência e piedoso temor; e agora parecia não haver ninguém que ousasse expor a vida colocando-se abertamente em oposição à predominante blasfêmia. A escura sombra da apostasia cobria toda a terra. Imagens de Baal e Astarote estavam em todo lugar para serem vistas. Templos idólatras e bosques consagrados em que se adoravam as obras das mãos dos homens foram multiplicados. O ar estava poluído com o fumo dos sacrifícios oferecidos aos falsos deuses. Montes e vales ressoavam com o perturbado clamor de um sacerdócio pagão que sacrificava ao Sol, à Lua e às estrelas. PR 55 5 Pela influência de Jezabel e de seus ímpios sacerdotes, o povo fora ensinado que os ídolos que haviam sido erguidos eram divindades que regiam por seu místico poder os elementos da terra, fogo e água. Todas as dádivas do Céu -- os regatos, as fontes de águas vivas, o suave orvalho, os chuveiros de águas que refrigeravam a terra e faziam que os campos produzissem com abundância -- eram atribuídos ao favor de Baal e Astarote, em vez de ao Doador de toda boa dádiva e todo dom perfeito. O povo esqueceu-se de que montes e vales, rios e fontes, estavam nas mãos do Deus vivo; que Ele controlava o Sol, as nuvens do céu e todos os poderes da natureza. PR 55 6 Por intermédio de fiéis mensageiros, o Senhor enviou repetidas advertências ao rei apóstata e ao povo; mas vãs foram essas palavras de reprovação. Em vão os inspirados mensageiros sustentaram o direito de ser Jeová o único Deus em Israel; em vão exaltaram as leis que Ele lhes havia confiado. Seduzidos pela suntuosa exibição e os fascinantes ritos da idolatria, o povo seguia o exemplo do rei e sua corte, e se entregava aos intoxicantes e degradantes prazeres de um culto sensual. Em sua cega loucura, preferiram rejeitar a Deus e Seu culto. A luz que lhes fora tão graciosamente concedida tornara-se em trevas. O fino ouro havia-se tornado fosco. PR 56 1 Ah como a glória de Israel se havia ido Nunca dantes o povo escolhido de Deus caíra tão baixo na apostasia. Havia "quatrocentos e cinqüenta" "profetas de Baal", além de "quatrocentos profetas de Asera". 1 Reis 18:19. Nada menos que o milagroso poder operador de Deus poderia preservar a nação de destruição total. Voluntariamente, Israel havia-se separado de Jeová; todavia o Senhor por compaixão ainda anelava por aqueles que haviam sido levados ao pecado, e estava prestes a enviar-lhes um de Seus mais poderosos profetas, por cujo intermédio poderiam ser levados de volta à fidelidade ao Deus de seus pais. ------------------------Capítulo 9 -- Elias, o tesbita PR 57 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 17:1-7. PR 57 1 Entre as montanhas de Gileade, ao oriente do Jordão, habitava nos dias de Acabe um homem de fé e oração cujo destemeroso ministério estava destinado a deter a rápida disseminação da apostasia em Israel. Distanciado de qualquer cidade de renome, e não ocupando nenhuma alta posição na vida, Elias o tesbita não obstante entregou-se a sua missão, confiante no propósito de Deus de preparar diante dele o caminho e dar-lhe abundante sucesso. A palavra de fé e poder estava em seus lábios, e toda a sua vida estava devotada à obra da reforma. Sua voz era a de quem clama no deserto para repreender o pecado e fazer refluir a maré do mal. E conquanto viesse ao povo como reprovador do pecado, sua mensagem oferecia o bálsamo de Gileade a toda alma enferma do pecado que desejasse ser curada. PR 57 2 Ao Elias ver Israel aprofundar-se mais e mais na idolatria, sua alma ficou angustiada e despertou-se-lhe a indignação. Deus havia feito grandes coisas por Seu povo. Tinha-o libertado do cativeiro e lhe dado "as terras das nações, [...] para que guardassem os Seus preceitos, e observassem as Suas leis". Salmos 105:44, 45. Mas os beneficentes desígnios de Jeová haviam sido agora quase esquecidos. A incredulidade estava depressa separando a nação escolhida da Fonte de sua força. Contemplando esta apostasia, do seu retiro na montanha, Elias sentiu-se oprimido pela tristeza. Em angústia de alma ele suplicou a Deus que detivesse em seu ímpio curso, o povo outrora favorecido, visitando-o com juízos, se necessário fosse, a fim de que pudesse ser levado a ver em sua verdadeira luz seu afastamento do Céu. Ele ansiava por vê-los levados ao arrependimento, antes que fossem tão longe na prática do mal a ponto de provocar o Senhor para que os destruísse completamente. PR 57 3 A oração de Elias foi respondida. Apelos constantemente repetidos, admoestações e advertências tinham falhado em levar Israel ao arrependimento. Havia chegado o tempo em que Deus devia falar-lhes por meio de juízos. Visto que os adoradores de Baal declaravam que os tesouros do céu, o orvalho e a chuva, não vinham de Jeová, mas das forças que regiam a natureza, e que pela energia criadora do Sol é que a terra era enriquecida e levada a produzir abundantemente, a maldição de Deus devia cair pesadamente sobre a terra corrompida. Às tribos apóstatas de Israel dever-se-ia mostrar a loucura de confiar no poder de Baal por bênçãos temporais. Não deveria cair sobre a terra nem chuva nem orvalho, até que voltassem para Deus em arrependimento, e O reconhecessem como a Fonte de toda a bênção. PR 58 1 A Elias fora confiada a missão de levar a Acabe a mensagem de juízo. Ele não pediu para ser o mensageiro do Senhor; a palavra do Senhor veio a ele. E, cioso da honra da causa de Deus, não hesitou em obedecer à intimação divina, embora a obediência parecesse um convite a imediata destruição às mãos do ímpio rei. O profeta pôs-se a caminho sem detença, e viajou dia e noite até alcançar Samaria. Chegando ao palácio não solicitou ser admitido, nem esperou ser formalmente anunciado. Vestido de roupas rústicas como comumente usavam os profetas da época, passou pelos guardas, aparentemente sem ser notado, e deteve-se um momento diante do rei atônito. PR 58 2 Elias não apresentou escusas por sua abrupta presença. Alguém maior que o rei de Israel tinha-o comissionado para falar; e, erguendo a mão em direção do céu, afirmou solenemente pelo Deus vivo que os juízos do Altíssimo estavam prestes a cair sobre Israel. "Vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou", declarou ele, "que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra". 1 Reis 17:1. PR 58 3 Foi somente pelo exercício de forte fé no infalível poder da palavra de Deus que Elias apresentou sua mensagem. Não possuísse ele implícita confiança nAquele a quem servia, e jamais teria aparecido perante Acabe. Em sua viagem para Samaria, Elias havia passado por correntes sempre a fluírem, montes cobertos de verdura, majestosas florestas que pareciam estar além do alcance da seca. Tudo em que seus olhos repousavam estava coberto de beleza. O profeta podia ter sido levado a duvidar de como poderiam essas fontes que jamais cessaram de fluir tornarem-se secas, ou esses montes e vales serem calcinados pela sequidão. Mas ele não deu lugar à incredulidade. Cria plenamente que Deus humilharia o apóstata Israel, e que mediante juízos eles seriam levados ao arrependimento. O decreto do Céu tinha sido pronunciado; a palavra de Deus não poderia falhar; e com perigo da própria vida Elias cumpriu destemidamente sua missão. Como um raio que partisse de um céu claro, a mensagem de juízo iminente caiu sobre os ouvidos do ímpio rei; mas antes que Acabe pudesse recobrar-se de seu espanto ou arquitetar uma resposta, Elias desapareceu tão repentinamente como havia chegado, sem esperar testemunhar os efeitos de sua mensagem. E o Senhor foi perante ele, aplainando o caminho. "Vai-te daqui, e vira-te para o Oriente", foi ordenado ao profeta, "e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro; e Eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem". 1 Reis 17:2-4. PR 58 4 O rei procurou diligentemente, mas o profeta não foi achado. A rainha Jezabel, irada com a mensagem que tinha fechado os tesouros do céu, sem perda de tempo confabulou com os sacerdotes de Baal, os quais se lhe uniram em amaldiçoar o profeta e desafiar a ira de Jeová. Não obstante seu desejo de encontrar aquele que havia pronunciado a palavra de calamidade, estava-lhes destinado o desapontamento. Não podiam eles ocultar de outros o conhecimento dos juízos pronunciados em conseqüência da predominante apostasia. A notícia da denúncia que Elias fizera dos pecados de Israel, e sua profecia da punição próxima a vir, espalhou-se rapidamente através da terra. Os temores de alguns foram despertados, mas em geral a mensagem celestial foi recebida com escárnio e ridículo. PR 59 1 As palavras do profeta tiveram cumprimento imediato. Os que a princípio estavam inclinados a escarnecer ao pensamento da calamidade, logo tiveram ocasião para reflexão séria, porque depois de poucos meses a terra, não refrigerada pelo orvalho nem pela chuva, tornou-se ressequida e secou-se a vegetação. Com o tempo, os rios de que nunca se ouvira houvessem secado, começaram a baixar, e os regatos a minguar. No entanto os dirigentes do povo instavam com ele a que confiassem no poder de Baal, e desprezassem como ociosas as palavras do profeta Elias. Os sacerdotes ainda insistiam em que era pelo poder de Baal que as chuvas caíam. Não temais o Deus de Elias, nem tremais diante de suas palavras, insistiam eles; é Baal quem produz as colheitas em sua estação própria, e provê para o homem e para os animais. PR 59 2 A mensagem de Deus a Acabe deu a Jezabel e seus sacerdotes, bem como a todos os seguidores de Baal e Astarote, a oportunidade de provar o poder de seus deuses, e, se possível, que a palavra de Elias era falsa. Contra as positivas afirmações de centenas de sacerdotes idólatras, a profecia de Elias permaneceu sozinha. Se, não obstante a declaração do profeta, Baal ainda pudesse dar orvalho e chuva, de maneira que as correntes continuassem a fluir e a vegetação a reflorir, que o rei de Israel então o adorasse, e o povo dissesse que ele era Deus. PR 59 3 Determinados a conservar o povo no engano, os sacerdotes de Baal continuam a oferecer sacrifícios a seus deuses, e a invocá-los noite e dia para que refrigerassem a terra. Mediante custosas oferendas os sacerdotes procuram acalmar a ira de seus deuses; com zelo e perseverança dignos de melhor causa, demoram-se em torno de seus altares pagãos, e pedem com insistência a chuva. Noite após noite através da terra condenada, erguem-se os seus gritos e rogos. Mas nenhuma nuvem aparece no céu durante o dia para esconder os causticantes raios do Sol. Nem orvalho nem chuva refrigeram a terra sedenta. A palavra de Jeová permanece imutável apesar de tudo quanto os sacerdotes de Baal possam fazer. PR 59 4 Passa-se um ano, e não há chuva. A terra está calcinada como que pelo fogo. O abrasador calor do Sol destrói a pouca vegetação que sobreviveu. Os rios secam, e os rebanhos mugindo e balando vagueiam desesperados de um para outro lugar. Campos outrora florescentes, tornam-se como escaldantes desertos de areia -- uma desoladora ruína. Os bosques dedicados ao culto dos ídolos estão desfolhados; as árvores das florestas, descarnados esqueletos da natureza, não dão sombra. O ar é seco e sufocante; tempestades de poeira cegam os olhos e quase impedem a respiração. Cidades e vilas outrora prósperas tornaram-se lugares de lamento. Fome e sede atingem homens e animais com terrível mortalidade. A inanição, com todos os seus horrores, aproxima-se cada vez mais. PR 60 1 Mas não obstante essas evidências do poder de Deus, Israel não se arrependeu nem aprendeu a lição que Deus intentava ensinar-lhe. Eles não viram que Aquele que criou a natureza controla suas leis, e pode fazer delas instrumento de bênção ou de destruição. Presumidos, enamorados de seu falso culto, não se dispunham a humilhar-se debaixo da potente mão de Deus, e começaram a refletir em busca de alguma outra causa à qual atribuir seus sofrimentos. PR 60 2 Jezabel recusou inteiramente reconhecer a seca como juízo de Jeová. Decidida em sua determinação de desafiar o Deus do Céu, uniu-se com aproximadamente todo o Israel em denunciar Elias como a causa de toda a sua miséria. Não havia ele dado testemunho contra suas formas de culto? Se tão-somente ele fosse afastado do caminho, argumentava ela, a ira de seus deuses se aplacaria, e seus problemas teriam fim. PR 60 3 Instigado pela rainha, Acabe instituiu a mais diligente busca para descobrir o lugar de esconderijo do profeta. Às nações circunvizinhas, de longe e de perto, enviou mensageiros em busca do homem que odiava, mas também temia; e em sua ansiedade por tornar a busca tão completa quanto possível, exigia desses reinos e nações um juramento de que nada sabiam do paradeiro do profeta. Mas a busca fora em vão. O profeta estava a salvo da maldade do rei cujos pecados tinham levado sobre a terra a denúncia de um Deus ofendido. PR 60 4 Fracassando em seus esforços contra Elias, Jezabel determinou vingar-se matando todos os profetas de Jeová em Israel. Nenhum devia ser deixado vivo. A enfurecida mulher executou o seu propósito no massacre de muitos servos de Deus. Nem todos, entretanto, pereceram. Obadias, mordomo da casa de Acabe, mas fiel a Deus, "tomou cem profetas", e com risco da própria vida "de cinqüenta em cinqüenta os escondeu numa cova, e os sustentou com pão e água". 1 Reis 18:4. PR 60 5 Passou o segundo ano de fome, e os céus inclementes ainda não deram sequer sinal de chuva. A sequidão e a fome continuavam sua devastação através do reino. Pais e mães, impotentes para aliviar os sofrimentos de seus filhos, eram forçados a vê-los morrer. Ainda assim o apóstata Israel recusou humilhar o coração perante Deus, e continuou a murmurar contra o homem por cuja palavra esses terríveis juízos haviam sido trazidos sobre eles. Pareciam incapazes de discernir em seus sofrimentos e angústias um chamado ao arrependimento -- uma interposição divina para salvá-los de dar o passo fatal para além dos limites do perdão do Céu. PR 61 1 A apostasia de Israel era um mal mais tremendo que todos os horrores multiplicados da fome. Deus estava procurando libertar o povo de seu engano, e levá-los a compreender sua responsabilidade para com Aquele a quem deviam a vida e todas as coisas. Estava procurando ajudá-los a recobrar sua fé perdida, e era necessário trazer sobre eles grande aflição. PR 61 2 "Desejaria Eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Jeová; não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?" "Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e criai em vós um coração novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei". Ezequiel 18:23, 31, 32. "Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel?" Ezequiel 33:11. PR 61 3 Deus havia enviado mensageiros a Israel, com apelos para que retornasse a sua fidelidade. Tivessem eles aceito esses apelos, houvessem retornado de Baal para o Deus vivo, e a mensagem de juízo de Elias jamais teria sido dada. Mas as advertências que deviam ter sido um cheiro de vida para vida, provou-se-lhes um cheiro de morte para morte. Fora ferido seu orgulho; sua ira suscitada contra os mensageiros; e agora devotavam intenso ódio ao profeta Elias. Se ele tão-somente lhes tivesse caído nas mãos, alegremente tê-lo-iam entregue a Jezabel -- como se fazendo calar sua voz pudessem impedir o cumprimento de suas palavras! Em face da calamidade, continuaram firmes na idolatria. Estavam assim aumentando a culpa que havia trazido os juízos do Céu sobre a terra. PR 61 4 Para o ferido Israel só havia um remédio -- afastarem-se dos pecados que haviam atraído sobre eles a mão punidora do Onipotente, e tornarem-se para o Senhor com inteiro propósito de coração. A eles fora dada a certeza: "Se Eu cerrar os céus, e não houver chuva, ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a terra, ou se enviar a peste contra o Meu povo; e se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então Eu ouvirei dos Céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra". 2 Crônicas 7:13, 14. Foi para fazer que chegasse a este bendito resultado, que Deus continuou a reter deles o orvalho e a chuva até que tivesse lugar uma decidida reforma. ------------------------Capítulo 10 -- Uma severa repreensão PR 62 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 17:8-24; 18:1-19. PR 62 1 Durante algum tempo, Elias permaneceu oculto nas montanhas junto ao ribeiro de Querite. Ali foi por muitos meses miraculosamente provido com alimento. Mais tarde, quando, devido à estiagem o ribeiro secou, Deus mandou Seu servo procurar refúgio numa terra pagã. "Levanta-te", Deus lhe ordenou, "e vai a Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que Eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente". 1 Reis 17:9. PR 62 2 Essa mulher não era israelita. Jamais havia ela tido os privilégios e bênçãos que o escolhido povo de Deus desfrutava; mas era uma crente no verdadeiro Deus, e tinha andado em toda a luz que brilhava em seu caminho. E agora, quando não havia segurança para Elias na terra de Israel, Deus o enviou a esta mulher, a fim de asilar-se em seu lar. PR 62 3 "Então, ele se levantou e se foi a Sarepta; e, chegando à porta da cidade, eis que estava ali uma mulher viúva apanhando lenha; e ele a chamou e lhe disse: Traze-me, peço-te, numa vasilha um pouco de água que beba. E, indo ela a buscá-la, ele a chamou e lhe disse: Traze-me, agora, também um bocado de pão na tua mão". 1 Reis 17:10, 11. PR 62 4 Nesse lar afligido pela pobreza, a fome apertava excessivamente; e o alimento lastimosamente escasso parecia estar por acabar-se. A chegada de Elias mesmo no dia em que a viúva temia ter que abandonar a luta pelo sustento, provou ao máximo sua fé no poder do Deus vivo para suprir suas necessidades. Mas mesmo em sua penúria extrema deu ela testemunho de sua fé, atendendo ao pedido do estrangeiro que lhe suplicava repartir com ele o último bocado. PR 62 5 Em resposta ao pedido de Elias por alimento e água, a viúva disse: "Vive o Senhor, teu Deus, que nem um bolo tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; e, vês aqui, apanhei dois cavacos e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que o comamos e morramos. E Elias lhe disse: Não temas; vai e faze conforme a tua palavra; porém faze disso primeiro para mim um bolo pequeno e traze-mo para fora; depois, farás para ti e para teu filho. Porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra". 1 Reis 17:12-14. PR 62 6 Nenhuma prova de fé maior que essa poderia ter sido requerida. A viúva tinha até então tratado todos os estrangeiros com bondade e liberalidade. Agora, indiferente aos sofrimentos que poderiam resultar a ela e seu filho, e confiando no Deus de Israel para suprir cada uma de suas necessidades, ela enfrentou esta suprema prova de hospitalidade, fazendo "conforme a palavra de Elias". 1 Reis 17:15. PR 63 1 Maravilhosa foi a hospitalidade mostrada ao profeta de Deus por esta mulher fenícia, e maravilhosamente foram sua fé e generosidade recompensadas. "E assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha se não acabou, e da botija o azeite não faltou, conforme a palavra do Senhor, que falara pelo ministério de Elias". 1 Reis 17:15, 16. PR 63 2 "E, depois destas coisas, sucedeu que adoeceu o filho desta mulher, da dona da casa; e a sua doença se agravou muito, até que nele nenhum fôlego ficou. Então, disse ela a Elias: Que fiz eu, ó homem de Deus? Vieste a mim para trazeres à memória a minha iniqüidade e matares o meu filho? PR 63 3 "Ele lhe disse: Dá-me o teu filho; tomou-o dos braços dela, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo se hospedava, e o deitou em sua cama. E, estendendo-se três vezes sobre o menino, clamou ao Senhor [...] O Senhor atendeu à voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. PR 63 4 "Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe, e lhe disse: Vê, teu filho vive. Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade". 1 Reis 17:17-19, 21-24. PR 63 5 A viúva de Sarepta repartiu seu bocado com Elias; e em retribuição, sua vida e a de seu filho foram preservadas. E a todos os que, em tempo de prova e carência, dão simpatia e assistência a outros mais necessitados, Deus prometeu grande bênção. Ele não mudou. Seu poder não é menor agora do que nos dias de Elias. Nem é a promessa menos verdadeira agora do que quando foi dita pelo Salvador: "Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta". Mateus 10:41. PR 63 6 "Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos". Hebreus 13:2. Essas palavras não perderam nenhuma força através do tempo. Nosso Pai celestial ainda continua a pôr no caminho de Seus filhos oportunidades que são bênçãos disfarçadas; e os que aproveitam essas oportunidades encontram grande regozijo. "Se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam". Isaías 58:10, 11. PR 63 7 A Seus fiéis servos hoje Cristo diz: "Quem vos recebe, a Mim Me recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou". Nenhum ato de bondade manifestado em Seu nome deixará de ser reconhecido e recompensado. E no mesmo terno reconhecimento Cristo inclui o mais fraco e mais humilde da família de Deus. "E qualquer que tiver dado só que seja um copo d'água fria", diz Ele, "a um destes pequenos" -- os que são como crianças em sua fé e seu conhecimento de Cristo -- "em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão". Mateus 10:40, 42. PR 64 1 Através dos longos anos de estiagem e fome, Elias orou fervorosamente para que o coração dos israelitas volvesse da idolatria para a fidelidade a Deus. Com paciência o profeta esperou, enquanto a mão do Senhor caía pesadamente sobre a terra flagelada. Ao ver as provas de sofrimento e privação multiplicarem-se por toda a parte, seu coração se confrangeu de tristeza, e almejou possuir o necessário poder para efetuar uma rápida reforma. Deus mesmo, porém, estava a realizar Seu plano, e tudo que Seu servo podia fazer era continuar orando, com fé, e aguardar a ocasião oportuna para agir decididamente. PR 64 2 A apostasia predominante nos dias de Acabe era o resultado de muitos anos de prática do mal. Passo a passo, ano após ano, Israel estivera-se afastando do caminho reto. Geração após geração havia recusado fazer veredas direitas para seus pés, e afinal a grande maioria do povo tinha-se rendido à direção dos poderes das trevas. PR 64 3 Cerca de um século tinha-se passado desde que, sob o governo do rei Davi, Israel prazerosamente se unira em cânticos de louvor ao Altíssimo, como reconhecimento de sua inteira dependência dEle para bênçãos diárias. Atentai para suas palavras de adoração quando cantaram: PR 64 4 "Ó Deus da nossa salvação; [...] Tu fazes alegres as saídas da manhã e da tarde. Tu visitas a Terra e a refrescas; Tu a enriqueces grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água; Tu lhe dás o trigo, quando assim a tens preparada; Tu enches de água os seus sulcos, regulando a sua altura; Tu a amoleces com a muita chuva; Tu abençoas as suas novidades; Tu coroas o ano da Tua bondade, e as Tuas veredas destilam gordura; destilam sobre os pastos do deserto, e os outeiros cingem-se de alegria. Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de trigo; por isso, eles se regozijam e cantam". Salmos 65:5, 8-13. PR 64 5 Israel havia então reconhecido a Deus como Aquele que "lançou os fundamentos da Terra". Como expressão de sua fé eles cantaram: PR 64 6 "Tu a cobres com o abismo, como com um vestido; as águas estavam sobre os montes. À Tua repreensão fugiram, à voz do Teu trovão se apressaram. Sobem aos montes, descem aos vales, até ao lugar que para elas fundaste. Limites lhes traçastes, que não ultrapassarão, para que não tornem mais a cobrir a Terra". Salmos 104:5-9. PR 64 7 É pela potente força do Ente Infinito que os elementos da natureza na terra e no mar e no céu são mantidos em seus limites. E esses elementos Ele usa para felicidade de Suas criaturas. "Seu bom tesouro" é livremente despendido "para dar chuva [...] no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos". Deuteronômio 28:12. PR 65 1 "Tu, que nos vales fazes rebentar nascentes, que correm entre os montes; dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos monteses, matam com ela a sua sede. Junto delas habitam as aves do céu, cantando entre os seus ramos. [...] Faz crescer a erva para os animais, e a verdura para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento; e o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o seu coração. [...] Ó Senhor, quão variadas são as Tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a Terra das Tuas riquezas. Tal é este vasto e espaçoso mar, onde se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes. [...] Todos esperam de Ti que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho Tu, eles o recolhem; abres a Tua mão, e enchem-se de bens". Salmos 104:10-15, 24-28. PR 65 2 Israel tivera abundantes ocasiões de rejubilar-se. A terra a qual o Senhor os levara era uma terra que manava leite e mel. Durante o jornadear pelo deserto, Deus lhes assegurara que os estava guiando a um país onde nunca teriam de sofrer por falta de chuva. "A terra que entras a possuir", declarou-lhes, "não é como a terra do Egito, donde saíste, em que semeavas a tua semente, e a regavas com o teu pé, como a uma horta; mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano". PR 65 3 A promessa de abundância de chuva tinha sido dada sob condição de obediência. "E será que", o Senhor declarou, "se diligentemente obedecerdes a Meus mandamentos que hoje te ordeno, de amar ao Senhor teu Deus, e de O servir de todo o teu coração e de toda a tua alma, então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, e o teu mosto e o teu azeite. E darei erva no teu campo aos teus gados, e comerás, fartar-te-ás. PR 65 4 "Guardai-vos", o Senhor admoestara a Seu povo, "que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles; e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche Ele os céus, e não haja água, e a terra não dê a sua novidade, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá". Deuteronômio 11:10-17. PR 65 5 "Se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os Seus mandamentos e os Seus estatutos, que hoje te ordeno", os israelitas haviam sido advertidos, "os teus céus que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. O Senhor por chuva da tua terra te dará pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças". Deuteronômio 28:15, 23, 24. PR 66 1 Esses estavam entre os sábios conselhos de Jeová ao antigo Israel. "Ponde, pois, estas Minhas palavras no vosso coração e na vossa alma", havia Ele ordenado a Seu povo escolhido. "E atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos. E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te". Deuteronômio 11:18, 19. Claras foram estas ordens; mas com o passar dos séculos, e gerações após gerações perderem de vista as provisões feitas para seu bem-estar espiritual, as ruinosas influências da apostasia ameaçaram subverter toda barreira da divina graça. PR 66 2 Assim, aconteceu que Deus estava agora visitando o Seu povo com os mais severos de Seus juízos. A predição de Elias estava tendo terrível cumprimento. Por três anos, o mensageiro do castigo tinha sido procurado em cidade após cidade e nação após nação. Por intimação de Acabe muitos reis tinham feito juramento de honra de que o estranho profeta não se encontrava em seus domínios. Contudo a busca continuava, pois Jezabel e os profetas de Baal odiavam Elias com ódio mortal, e não poupavam esforços para trazê-lo ao alcance de seu poder. E ainda não havia chovido. PR 66 3 Afinal "muito tempo depois, veio a palavra do Senhor a Elias, no terceiro ano, dizendo: Vai, apresenta-te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra". 1 Reis 18:1. PR 66 4 Em obediência à ordem "partiu, pois, Elias a apresentar-se a Acabe". 1 Reis 18:2. Aproximadamente ao tempo em que o profeta pôs-se de viagem para Samaria, Acabe havia proposto a Obadias, mordomo de sua casa, que fizessem rigorosa procura de fontes e ribeiros de águas, na esperança de encontrar pastagem para seu gado e rebanhos famintos. Até mesmo na corte real os efeitos da demorada estiagem foram agudamente sentidos. O rei, profundamente preocupado quanto ao futuro de sua casa, decidiu unir pessoalmente seus esforços aos de seu servo na busca de alguns pontos favoráveis onde pudesse haver pastagem. "E repartiram entre si a terra para passarem por ela; Acabe foi à parte por um caminho, e Obadias também foi à parte por outro caminho". PR 66 5 "Estando, pois, Obadias já em caminho, eis que Elias o encontrou; e, conhecendo-o ele, prostrou-se sobre o seu rosto e disse: És tu o meu senhor Elias?" PR 66 6 Durante a apostasia de Israel, Obadias tinha permanecido fiel. Seu senhor, o rei, fora incapaz de desviá-lo de sua fidelidade ao Deus vivo. Agora era honrado com uma comissão da parte de Elias, que lhe disse: "Vai, e dize a teu senhor: Eis que aqui está Elias". PR 66 7 Grandemente aterrado, Obadias exclamou: "Em que pequei, para que entregues teu servo na mão de Acabe, para que me mate?" Levar a Acabe uma mensagem como esta era o mesmo que cortejar morte certa. "Vive o Senhor teu Deus", explicou ele ao profeta, "que não houve nação nem reino aonde o meu senhor não mandasse em busca de ti; e dizendo eles: Aqui não está, então ajuramentava os reinos e as nações, se eles te não tinham achado. E agora dizes tu: Vai, dize a teu senhor: Eis que aqui está Elias. E poderia ser que, apartando-me eu de ti, o Espírito do Senhor te tomasse, não sei para onde, e, vindo eu a dar as novas a Acabe, e não te achando ele, me mataria". PR 67 1 Ardorosamente suplicou Obadias ao profeta que o não enviasse. "Eu, teu servo", instou, "temo ao Senhor desde a minha mocidade. Porventura não disseram a meu senhor o que fiz, quando Jezabel matava os profetas do Senhor, como escondi a cem homens dos profetas do Senhor, de cinqüenta em cinqüenta, numas covas, e os sustentei com pão e água? E agora dizes tu: Vai, dize a teu senhor: Eis que aqui está Elias; e me mataria". PR 67 2 Com solene juramento Elias prometeu a Obadias que a mensagem não seria em vão. "Vive o Senhor dos exércitos, perante cuja face estou", declarou ele, "que deveras hoje me mostrarei a ele". Assim tranqüilizado, "foi Obadias encontrar-se com Acabe, e lho anunciou". 1 Reis 18:6-16. PR 67 3 Num misto de espanto e terror o rei ouviu a mensagem do homem a quem temia e odiava, e a quem tão incansavelmente havia procurado. Bem sabia ele que Elias não arriscaria a vida meramente pelo prazer de encontrá-lo. Seria possível que o profeta estivesse em vias de pronunciar outro ai sobre Israel? O coração do rei estava carregado de temor. Ele se lembrava do braço de Jeroboão que havia secado. Acabe não fugiria de obedecer à intimação, nem ousaria levantar a mão contra o mensageiro de Deus. E assim, acompanhado por um corpo de guardas, o tremente rei saiu a encontrar-se com o profeta. PR 67 4 O rei e o profeta postam-se face a face. Embora Acabe esteja cheio de apaixonado ódio, contudo, na presença de Elias parece acovardado, impotente. Em suas primeiras vacilantes palavras: "És tu o perturbador de Israel?" (1 Reis 18:17) ele inconscientemente revela os íntimos sentimentos de seu coração. Acabe sabia que fora pela palavra de Deus que os céus se tinham tornado como bronze, embora procurasse lançar sobre o profeta a culpa pelos pesados juízos que caíam sobre a terra. PR 67 5 É natural que o causador do mal torne o mensageiro de Deus responsável pelas calamidades que vêm como seguro resultado do afastamento do caminho da justiça. Os que se colocam sob o poder de Satanás são incapazes de ver as coisas como Deus as vê. Quando o espelho da verdade é posto perante eles, ficam indignados ao pensamento de receber reprovação. Cegados pelo pecado, recusam-se arrepender-se; sentem que os servos de Deus se voltaram contra eles, e são dignos da mais severa censura. PR 67 6 Permanecendo em conscienciosa inocência perante Acabe, Elias não procura escusar-se ou lisonjear o rei. Nem busca fugir à ira do rei mediante as boas-novas de que a seca está para findar. Ele não tem desculpas a pedir. Com indignação e em zelo pela honra de Deus, devolve a imputação de Acabe, declarando audazmente ao rei que são os pecados dele, rei, e de seus pais, que trouxeram sobre Israel esta terrível calamidade. "Eu não tenho perturbado a Israel", sustentou ousadamente, "mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e seguistes a Baalim". PR 68 1 Há necessidade hoje da voz de severa repreensão, pois graves pecados têm separado de Deus o povo. A infidelidade está depressa tornando-se moda. "Não queremos que Este reine sobre nós" (Lucas 19:14), é a linguagem de milhares. Os sermões macios tão freqüentemente pregados não deixam impressão duradoura; a trombeta não dá um sonido certo. Os homens não são atingidos no coração pelas claras, cortantes verdades da Palavra de Deus. PR 68 2 Há muitos professos cristãos que, se expressassem seus reais sentimentos, diriam: Que necessidade há de falar tão claramente? Seria o mesmo que perguntar: Que necessidade havia de João Batista dizer aos fariseus: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?" Lucas 3:7. Que necessidade tinha ele de provocar a ira de Herodias dizendo a Herodes que não lhe era lícito possuir a mulher de seu irmão? O precursor de Cristo perdeu a vida por falar claramente. Por que não podia ele ter prosseguido sem incorrer no desprazer dos que estavam vivendo em pecado? PR 68 3 Assim homens que deviam permanecer como fiéis guardiões da lei de Deus têm argumentado, a ponto de a astúcia tomar o lugar da fidelidade, e o pecado ser deixado sem reprovação. Quando será a voz da fiel reprovação ouvida uma vez mais na igreja? PR 68 4 "Tu és este homem". 2 Samuel 12:7. Palavras indiscutivelmente claras como estas dirigidas por Natã a Davi, raramente são ouvidas nos púlpitos de hoje, raramente vistas na imprensa pública. Se não fossem tão raras, veríamos mais do poder de Deus revelado entre os homens. Os mensageiros do Senhor não devem queixar-se de que seus esforços não produzem frutos, enquanto não se arrependerem de seu próprio amor ao aplauso, e seu desejo de agradar aos homens, o que os leva à dissimular a verdade. PR 68 5 Os pastores que apreciam agradar aos homens, que clamam: Paz, paz, quando Deus não falou de paz, bem deviam humilhar o coração perante Deus, pedindo perdão por sua insinceridade e falta de coragem moral. Não é por amor ao próximo que eles abrandam a mensagem que lhes é confiada, mas porque são indulgentes para consigo mesmos e amam a vida fácil. O verdadeiro amor busca primeiro a honra a Deus e a salvação das almas. Os que possuem este amor não se esquivarão à verdade para se abrigarem dos incômodos resultados de falar claramente. Quando pessoas estão em perigo de se perderem, os ministros de Deus não considerarão o eu, mas falarão a palavra que lhes é ordenada, recusando desculpar ou atenuar o mal. PR 69 1 Seria ótimo se cada líder sentisse a inviolabilidade de seu ofício e a santidade de sua obra, e mostrasse a coragem revelada por Elias. Como mensageiros divinamente indicados, os pastores estão em posição de grave responsabilidade. Eles devem redargüir, repreender, exortar "com toda longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:2. Em lugar de Cristo devem eles trabalhar como despenseiros dos mistérios do Céu, encorajando o obediente e advertindo o desobediente. Para eles a mundana sagacidade não deve ter nenhum peso. Nunca devem desviar-se do caminho que Jesus lhes ordenou seguir. Devem prosseguir em fé, lembrando-se de que estão rodeados por uma nuvem de testemunhas. Não devem falar suas próprias palavras, mas as palavras que Alguém maior que os potentados da Terra lhes ordenou falar. Sua mensagem deve ser: "Assim diz o Senhor". Êxodo 4:22. Deus chama homens como Elias, Natã e João Batista -- homens que levarão fielmente Sua mensagem sem considerar as conseqüências; que corajosamente falarão a verdade, ainda que isso signifique sacrifício de tudo que possuem. PR 69 2 Deus não pode usar homens que, em tempos de perigo, quando a força, a coragem e a influência de todos são necessárias, temem tomar uma firme posição pelo direito. Ele chama a homens para que se empenhem fielmente na batalha contra o erro, guerreando contra principados e potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as forças espirituais da maldade nos lugares celestiais. A tais é que Ele dirigirá as palavras: "Bem está, bom e fiel servo [...] entra no gozo do teu Senhor". Mateus 25:23. ------------------------Capítulo 11 -- O Carmelo PR 70 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 18:19-40. PR 70 1 Uma vez perante Acabe, Elias propôs que todo o Israel fosse reunido juntamente com ele e os profetas de Baal e Astarote no Monte Carmelo. "Agora pois envia", ordenou, "ajunta a mim todo o Israel no Monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Asera, que comem à mesa de Jezabel". 1 Reis 18:19. PR 70 2 A ordem fora dada por alguém que parecia estar na própria presença de Jeová, e Acabe obedeceu-a de pronto, como se o profeta fosse o monarca e o rei o súdito. Velozes mensageiros foram despachados por todo o reino, com a intimação de se reunirem com Elias e os profetas de Baal e Astarote. Em cada cidade e vila, o povo se preparou para se reunir no tempo indicado. Ao caminharem para o lugar, o coração de muitos se enchia de estranhos pressentimentos. Algo fora do comum estava para acontecer; senão, por que a ordem para se reunirem no Carmelo? Que nova calamidade estava para desabar sobre o povo e a terra? PR 70 3 Antes da seca o Monte Carmelo era um lugar de beleza, seus ribeiros alimentando-se de fontes perenes e suas férteis escarpas cobertas de belas flores e luxuriantes bosques. Mas agora sua beleza empalideceu sob a fulminante maldição. Os altares erguidos para adoração de Baal e Astarote jaziam agora nos bosques desfolhados. Nas alturas de um dos mais elevados cumes, em marcante contraste com aqueles, estava o altar derribado de Jeová. PR 70 4 O Carmelo dominava vasta extensão do país; suas elevações eram visíveis de muitos lugares do reino de Israel. Ao sopé do monte havia vantajosos pontos de onde se podia ver muito do que se passava em cima. Deus havia sido assinaladamente desonrado pelo culto idólatra que se realizava sob o dossel de suas escarpas arborizadas; e Elias escolheu essa elevação como o lugar mais visível para a manifestação do poder de Deus e a vindicação da honra de Seu nome. PR 70 5 Logo na manhã do dia designado, as tribos do Israel reunido, em ansiosa expectativa aglomeraram-se próximo do cume do monte. Os profetas de Jezabel demandam o monte em marcha imponente. Com pompa real aparece o rei e toma posição à frente dos sacerdotes, e os idólatras saúdam-no com um grito de exclamação. Mas há apreensão no coração dos sacerdotes ao se lembrarem de que pela palavra do profeta a terra de Israel por três anos e meio fora privada de orvalho e chuva. Sentem com certeza que alguma terrível crise está iminente. Os deuses nos quais eles têm confiado não foram capazes de provar ser Elias um profeta falso. A seus gritos frenéticos, suas orações, suas lágrimas e humilhações, suas revoltantes cerimônias e sacrifícios custosos e constantes, os objetos de seu culto têm-se mostrado estranhamente indiferentes. PR 71 1 Diante do rei Acabe e dos falsos profetas, e rodeado das tribos reunidas de Israel está Elias, o único que apareceu para reivindicar a honra de Jeová. Aquele a quem todo o reino tinha responsabilizado por sua carga de flagelo, está agora perante eles, aparentemente sem defesa na presença do soberano de Israel, dos profetas de Baal, dos homens de guerra e dos milhares que o rodeavam. Mas Elias não está sozinho. Acima e ao redor dele estão as forças protetoras do Céu -- anjos magníficos em poder. PR 71 2 Sem se envergonhar nem temer, o profeta está perante a multidão, inteiramente consciente de sua comissão, para executar a ordem divina. Seu rosto está iluminado com impressionante solenidade. Em ansiosa expectativa o povo aguarda que ele fale. Olhando primeiramente para o altar derribado de Jeová, e depois para a multidão, Elias exclama de maneira clara, em voz como de trombeta: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o". 1 Reis 18:21. PR 71 3 O povo nada respondeu. Ninguém nesse vasto auditório ousou manifestar lealdade a Jeová. Como densa nuvem, o engano e cegueira se espalhara sobre Israel. Não fora de uma vez que esta fatal apostasia se fechara em torno deles, mas gradualmente, à medida que de tempos em tempos tinham deixado de ouvir as palavras de advertência e reprovação que o Senhor lhes enviara. Cada desvio do reto proceder, cada recusa de arrependimento, tinham aprofundado sua culpa e os afastaram mais do Céu. E agora, nesta crise, eles persistiam na recusa de se colocarem ao lado de Deus. PR 71 4 O Senhor aborrece a indiferença e deslealdade em tempo de crise em Sua obra. Todo o Universo está observando com inexprimível interesse as cenas finais da grande controvérsia entre o bem e o mal. O povo de Deus está-se aproximando do limiar do mundo eterno; que pode haver de mais importante para eles do que ser leais ao Deus do Céu? Em todos os séculos Deus tem tido heróis morais; e tem-nos agora -- os que como José, Elias e Daniel, não se envergonham de se reconhecerem como Seu povo peculiar. Suas bênçãos especiais acompanham os esforços de homens de ação; homens que não se desviarão da linha reta do dever, mas que perguntarão com divina energia: "Quem é do Senhor"? (Êxodo 32:26), homens que não se deterão apenas no perguntar, mas exigirão que os que escolherem identificar-se com o povo de Deus prossigam e demonstrem sem sombra de dúvida sua obediência ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Tais homens subordinam sua vontade e planos à lei de Deus. Por amor a Ele, não têm a sua vida por preciosa. Seu trabalho é captar a luz da Palavra e deixá-la brilhar para o mundo em raios claros e firmes. Fidelidade a Deus é sua divisa. PR 72 1 Enquanto Israel no Carmelo duvidava e hesitava, a voz de Elias de novo quebra o silêncio: "Eu só fiquei por profeta do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinqüenta homens. Dêem-se-nos, pois, dois bezerros; e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe metam fogo; e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe meterei fogo. Então invocai o nome do vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por fogo esse será Deus". 1 Reis 18:22-24. PR 72 2 A proposta de Elias era tão razoável que o povo não pôde mesmo fugir a ela; encontraram pois coragem para responder: "É boa esta palavra". Os profetas de Baal não ousaram erguer a voz para discordar; e dirigindo-se a eles, Elias lhes ordena: "Escolhei para vós um dos bezerros, e preparai-o primeiro, porque sois muitos, e invocai o nome do vosso deus, e não lhe metais fogo". 1 Reis 18:24, 25. PR 72 3 Aparentemente ousados e desafiadores, mas com o terror no coração culpado, os falsos sacerdotes preparam seu altar, pondo sobre ele a lenha e a vítima; e têm início suas fórmulas de encantamento. Seus estridentes gritos ecoam e reboam através das florestas e dos promontórios, enquanto invocam o nome do seu deus, dizendo: "Ah, Baal, responde-nos!" 1 Reis 18:26. Os sacerdotes se aglomeram em torno de seu altar, e com saltos e contorções e gritos histéricos, arrancando os cabelos e retalhando as próprias carnes, suplicam a seu deus que os ajude. PR 72 4 Passa-se a manhã, aproxima-se o meio-dia, e contudo não há evidência de que Baal ouça o clamor de seus enganados seguidores. Não há voz, nem resposta a suas frenéticas orações. O sacrifício permanece inconsumado. PR 72 5 Enquanto continuam com suas exaltadas devoções, os astutos sacerdotes estão continuamente procurando imaginar algum meio pelo qual possam acender o fogo sobre o altar e levar o povo a crer que o fogo viera diretamente de Baal. Mas Elias lhes vigia cada movimento; e os sacerdotes, esperando contra a esperança de alguma oportunidade para a fraude, prosseguem com suas insensatas cerimônias. PR 72 6 "E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles, e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; porventura dorme, e despertará. E eles clamavam a grandes vozes, e se retalhavam com facas e com lanças, conforme ao seu costume, até derramarem sangue sobre si. E sucedeu que, passado o meio-dia, profetizaram eles, até que a oferta de manjares se oferecesse; porém não houve voz nem resposta, nem atenção alguma". 1 Reis 18:27-29. PR 73 1 Alegremente Satanás teria vindo em socorro desses a quem havia enganado, e que eram devotados a seu serviço. Alegremente ele teria enviado o fogo para queimar o sacrifício. Mas Jeová havia fixado limites a Satanás -- restringira seu poder -- e nem todos os artifícios do inimigo podiam lançar sobre o altar de Baal uma única centelha. PR 73 2 Afinal, roucos de tanto gritar, as vestes maculadas com o sangue das feridas que a si mesmos se haviam infligido, os sacerdotes ficam desesperados. Com furor inquebrantável, misturam a suas súplicas terríveis maldições de seu deus-sol; e Elias continua a observar atentamente; ele sabe que se por qualquer artifício os sacerdotes lograrem lançar fogo sobre o altar, ele será feito em pedaços num momento. PR 73 3 É chegada a tarde. Os profetas de Baal estão fatigados, abatidos, confusos. Um sugere uma coisa, outro outra coisa, até que finalmente cessam seus esforços. Suas maldições e gritos estridentes não mais ressoam sobre o Carmelo. Em desespero retiram-se da luta. PR 73 4 Durante todo o longo dia, o povo havia testemunhado as demonstrações dos frustrados sacerdotes. Haviam contemplado seus saltos selvagens sobre o altar, como se desejassem captar os raios do Sol para que servissem a seus propósitos. Eles haviam olhado com horror para as bárbaras mutilações infligidas a si mesmos pelos sacerdotes, e tinham tido a oportunidade de refletir sobre a loucura da adoração de ídolos. Muitos dentre a multidão estão fartos das exibições de demonismo, e aguardam agora com o mais profundo interesse os movimentos de Elias. PR 73 5 É a hora do sacrifício da tarde, e Elias convida o povo: "Chegai-vos a mim". Aproximando-se eles a tremer, ele se volta para o altar derribado onde uma vez os homens haviam adorado ao Deus do Céu, e repara-o. Para ele esse montão de ruínas é mais precioso que todos os magnificentes altares do paganismo. PR 73 6 Na reconstrução deste antigo altar, Elias revelava seu respeito pelo concerto que o Senhor havia feito com Israel quando este transpôs o Jordão para a terra prometida. Escolhendo "doze pedras, conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, [...] edificou o altar em nome do Senhor". 1 Reis 18:30-32. PR 73 7 Os desapontados sacerdotes de Baal, exaustos pelos inúteis esforços, esperam para ver o que Elias fará. Eles odeiam o profeta por haver proposto uma prova que expusera as fraquezas e ineficiência de seus deuses; contudo temem o seu poder. O povo, igualmente temeroso, e com a respiração quase suspensa ante a expectativa, observa enquanto Elias continua seus preparativos. O porte calmo do profeta ergue-se em agudo contraste com o frenesi fanático e insensato dos seguidores de Baal. PR 73 8 Reconstruído o altar, o profeta, abre um rego em torno dele, e havendo posto a lenha em ordem e preparado o bezerro, coloca a vítima sobre o altar, e ordena ao povo que inunde com água o sacrifício e o altar. "Enchei de água quatro cântaros", ordenou, "e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. E disse: Fazei-o segunda vez; e o fizeram segunda vez. Disse ainda: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez. De maneira que a água corria ao redor do altar; e ainda até o rego encheu de água". 1 Reis 18:34, 35. PR 74 1 Trazendo à lembrança do povo a longa e continuada apostasia que havia despertado a ira de Jeová, Elias convida-os a humilhar seus corações e tornar para o Deus de seus pais, para que fosse removida a maldição de sobre a terra de Israel. Então inclinando-se reverente ante o invisível Deus, ele ergue as mãos para o céu, e oferece uma singela oração. Os sacerdotes de Baal haviam gritado e espumado e dado saltos desde a manhã até à tarde; mas com a oração de Elias, nenhum clamor insensato ecoa nas alturas do Carmelo. Ele ora como se soubesse que Jeová está ali, testemunhando a cena, atento a seu apelo. Os profetas de Baal haviam orado selvagemente, incoerentemente. Elias ora com simplicidade e fervor, pedindo que Deus mostre Sua superioridade sobre Baal, para que Israel pudesse ser reconduzido a Ele. PR 74 2 "Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó", o profeta suplica, "manifeste-se hoje que Tu és Deus em Israel, e que eu sou Teu servo, e que conforme a Tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me para que este povo conheça que Tu, Senhor, és Deus, e que Tu fizeste tornar o seu coração para trás". 1 Reis 18:36, 37. PR 74 3 Um silêncio opressivo em sua solenidade cai sobre todos. Os sacerdotes de Baal tremem de terror. Cônscios de sua culpa, temem imediata retribuição. PR 74 4 Mal havia a oração de Elias terminado, e chamas de fogo, como brilhantes relâmpagos, descem do céu sobre o altar erguido, consumindo o sacrifício, lambendo a água do rego e devorando as próprias pedras do altar. O brilho das chamas ilumina o monte e ofusca os olhos da multidão. Nos vales abaixo, onde muitos estão observando em ansiosa expectativa os movimentos dos que estão em cima, a descida do fogo é claramente vista, e todos ficam maravilhados com o espetáculo. Ele lembra a coluna de fogo que no Mar Vermelho separou das tropas egípcias os filhos de Israel. PR 74 5 O povo sobre o monte prostra-se em reverência perante o Deus invisível. Não se atrevem a olhar para o céu a enviar fogo. Temem ser eles próprios consumidos; e, convictos de seu dever em reconhecer o Deus de Elias como o Deus de seus pais, a quem devem obediência, clamam a uma voz: "Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!" 1 Reis 18:39. Com impressionante distinção o grito ressoa sobre o monte e ecoa pela planície. Afinal Israel está desperto, esclarecido, penitente. O povo vê por fim quão grandemente havia desonrado a Deus. O caráter do culto de Baal, em contraste com a sensata adoração requerida pelo verdadeiro Deus, está plenamente revelado. O povo reconhece a justiça e misericórdia de Deus em haver retido o orvalho e a chuva até que tivessem sido levados a confessar o Seu nome. Agora estão prontos a admitir que o Deus de Elias está acima de qualquer ídolo. PR 75 1 Os sacerdotes de Baal testemunham consternados a maravilhosa revelação do poder de Jeová. Não obstante em sua frustração e na presença da divina glória, recusam arrepender-se de suas obras más. Desejam ainda permanecer como profetas de Baal. Mostravam assim estar amadurecidos para a destruição. Para que o arrependido Israel possa ser protegido do engodo daqueles que lhe ensinaram a adoração a Baal, Elias recebe ordem de Deus para destruir esses falsos ensinadores. A ira do povo havia sido já ativada contra os líderes em transgressão; e quando Elias lhes deu a ordem: "Lançai mão dos profetas de Baal; que nenhum deles escape" (1 Reis 18:40), foram prontos em obedecer. Eles se apoderaram dos sacerdotes, e levaram-nos ao ribeiro de Quisom, e ali, antes que findasse o dia que havia marcado o início de decidida reforma, os sacerdotes de Baal são mortos. A nenhum é permitido viver. ------------------------Capítulo 12 -- De Jezreel a Horebe PR 76 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 18:41-46; 19:1-8. PR 76 1 Com a exterminação dos profetas de Baal, estava aberto o caminho para uma poderosa reforma espiritual entre as dez tribos do reino do norte. Elias havia exposto ao povo a sua apostasia; tinha-os convidado a humilhar o coração e tornar-se para o Senhor. Os juízos do Céu tinham sido executados; o povo havia confessado seus pecados e reconhecido o Deus de seus pais como o Deus vivo; e agora a maldição do Céu devia ser retirada e renovadas as bênçãos temporais de vida. A terra devia ser refrescada com chuva. "Sobe, come e bebe", disse Elias a Acabe, "porque ruído há de uma abundante chuva". 1 Reis 18:41. Então o profeta se dirigiu ao alto do monte para entregar-se a oração. PR 76 2 Não foi porque houvesse qualquer evidência externa de que águas estavam para desabar, que Elias tão confiantemente mandou que Acabe se preparasse para a chuva. O profeta não viu nenhuma nuvem nos céus; ele não ouvira nenhum trovão. Simplesmente proferira a palavra que o Espírito do Senhor o havia movido a falar em resposta a sua firme fé. Resolutamente havia ele feito a vontade de Deus através do dia, e havia manifestado implícita confiança nas profecias da Palavra de Deus; e agora, havendo feito tudo que estava em seu poder, sabia que o Céu outorgaria livremente as bênçãos preditas. O mesmo Deus que havia enviado a estiagem tinha prometido abundância de chuvas como recompensa do reto proceder; e agora Elias esperava pelo derramamento prometido. Em atitude de humildade, "o seu rosto entre os seus joelhos" (1 Reis 18:42), intercedeu com Deus em favor do penitente Israel. PR 76 3 Uma e outra vez Elias enviou seu servo a observar de um ponto que dominava o Mediterrâneo, a fim de verificar se havia qualquer sinal visível de que Deus tivesse ouvido sua oração. A cada vez o servo retornava com a resposta: "Não há nada". O profeta não se impacientou ou perdeu a fé, mas continuou sua fervente petição. Seis vezes o servo retornou com a declaração de que não havia nenhum sinal de chuva nos céus de bronze. Confiante, Elias enviou-o uma vez mais; e agora o servo retornou com a declaração: "Eis aqui uma pequena nuvem, como a mão dum homem, subindo do mar". PR 76 4 Isto bastou. Elias não esperou que os céus escurecessem. Na pequena nuvem ele contemplou pela fé uma abundância de chuva; e agiu em harmonia com sua fé, enviando depressa seu servo a Acabe com esta mensagem: "Aparelha o teu carro, e desce, para que a chuva te não apanhe". 1 Reis 18:43, 44. PR 77 1 Foi porque Elias era um homem de grande fé que Deus pôde usá-lo nesta grave crise na história de Israel. Enquanto orava, sua fé alcançou as promessas do Céu e agarrou-as; e perseverou na oração até que suas petições fossem respondidas. Ele não esperou pela inteira evidência de que Deus o ouvira, mas se dispôs a aventurar tudo ante o mais leve sinal do divino favor. E no entanto, tudo que ele foi habilitado a fazer sob a orientação de Deus, todos podem fazer em sua esfera de atividade no serviço de Deus; pois do profeta das montanhas de Gileade está escrito: "Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra". Tiago 5:17. PR 77 2 Fé semelhante é necessária no mundo hoje -- fé que descanse nas promessas da Palavra de Deus, e recuse desistir até que o Céu ouça. Fé semelhante a esta liga-nos intimamente com o Céu, e traz-nos força para batalhar com os poderes das trevas. Pela fé os filhos de Deus "venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos". Hebreus 11:33, 34. E pela fé devemos alcançar hoje os mais altos propósitos de Deus para nós. "Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê". Marcos 9:23. PR 77 3 A fé é um elemento essencial da oração perseverante. "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que O buscam". Hebreus 11:6. "Se pedirmos alguma coisa segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fazemos". 1 João 5:14, 15. Com a perseverante fé de Jacó, com a inquebrantável persistência de Elias, podemos apresentar nossas petições ao Pai, reclamando tudo o que nos tem prometido. A honra de Seu trono está comprometida no cumprimento de Sua palavra. PR 77 4 As sombras da noite envolveram o Monte Carmelo enquanto Acabe se preparava para descer. "E sucedeu que, entretanto, os céus se enegreceram com nuvens e ventos, e veio uma grande chuva; e Acabe subiu ao carro, e foi para Jezreel". 1 Reis 18:45. Enquanto viajava para a cidade real através das trevas e da ofuscante chuva, Acabe não podia enxergar o caminho diante de si. Elias que, como profeta de Deus, tinha nesse dia humilhado Acabe diante de seus súditos e morto seus sacerdotes, reconhecia ainda nele o rei de Israel; e agora, como um ato de homenagem, e fortalecido pelo poder de Deus, corria na frente da carruagem real, guiando o rei à entrada da cidade. PR 77 5 Nesse gracioso ato do mensageiro de Deus mostrado a um ímpio rei, há para todos que se dizem servos de Deus, mas que são exaltados em sua própria estima, uma lição. Há os que se sentem acima da obrigação de realizar tarefas que lhes parecem amesquinhantes. Hesitam em fazer até mesmo serviço necessário, temendo serem achados fazendo a obra de um servo. Esses têm muito que aprender do exemplo de Elias. Mediante sua palavra os tesouros do céu haviam por três e meio anos sido retidos de sobre a terra; havia ele sido significativamente honrado por Deus quando, em resposta a sua oração no Carmelo, descera fogo do céu e consumira o sacrifício; sua mão tinha executado o juízo de Deus no extermínio dos profetas idólatras; sua petição para que chovesse havia sido atendida. E contudo, após os assinalados triunfos com que Deus Se agradara honrar seu ministério público, ele se dispusera a realizar o trabalho de um servo. PR 78 1 À entrada de Jezreel, Elias e Acabe se separaram. O profeta, preferindo permanecer fora dos muros, envolveu-se em seu manto, e deitou-se sobre a terra nua para dormir. O rei, entrando na cidade, alcançou logo o resguardado abrigo de seu palácio, e aí relatou a sua esposa os maravilhosos acontecimentos do dia, e a admirável revelação do poder divino que provara a Israel ser Jeová o verdadeiro Deus e Elias Seu mensageiro escolhido. Contando Acabe à rainha o morticínio dos profetas idólatras, Jezabel, endurecida e impenitente, ficou enfurecida. Ela se recusou a reconhecer nos sucessos do Carmelo a soberana providência de Deus e, desafiadora ainda, ousadamente declarou que Elias devia morrer. PR 78 2 Nessa noite um mensageiro despertou o fadigado profeta e transmitiu-lhe a palavra de Jezabel: "Assim me façam os deuses, e outro tanto, se decerto amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles". 1 Reis 19:2. PR 78 3 Poderá parecer que depois de haver mostrado tão grande coragem, após haver triunfado tão completamente sobre o rei, sacerdotes e povo, Elias não devesse jamais haver dado caminho ao desânimo, nem ter sido levado à intimidação. Mas aquele que havia sido abençoado com tantas evidências do amorável cuidado de Deus, não estava acima das fragilidades humanas, e nesta hora escura sua fé e coragem abandonaram-no. Desorientado, despertou. A chuva caía dos céus, e havia trevas por todos os lados. Esquecendo que três anos antes Deus havia dirigido seus passos a um lugar de refúgio contra o ódio de Jezabel e as buscas de Acabe, o profeta agora escapava por sua vida. Alcançando Berseba, "deixou ali o seu moço. E ele se foi ao deserto, caminho de um dia". 1 Reis 19:4. PR 78 4 Elias não devia ter desertado de seu posto de dever. Devia ter enfrentado a ameaça de Jezabel, apelando para a proteção dAquele que o havia comissionado para que vindicasse a honra de Jeová. Ele devia ter dito ao mensageiro que o Deus em quem confiava o protegeria contra o ódio da rainha. Apenas poucas horas haviam decorrido desde que ele testemunhara a maravilhosa manifestação do poder divino, e isto devia ter-lhe dado a segurança de que ele não seria agora abandonado. Tivesse ele ficado onde estava, tivesse feito de Deus seu refúgio e fortaleza, permanecendo firme pela verdade, e teria sido abrigado do perigo. O Senhor lhe teria dado outra assinalada vitória, enviando Seus juízos sobre Jezabel; e a impressão feita sobre o rei e o povo teria dado lugar a uma grande reforma. PR 79 1 Elias havia esperado muito do milagre produzido no Carmelo. Supusera que depois daquela exibição do poder de Deus, Jezabel não mais teria influência sobre a mente de Acabe, e que haveria uma imediata reforma em todo o Israel. O dia todo no alto do Carmelo ele estivera em atividade, sem alimento. Contudo, quando guiava o carro de Acabe à entrada de Jezreel, sua coragem foi forte, a despeito da debilidade física sob a qual havia trabalhado. PR 79 2 Mas uma reação como a que freqüentemente segue elevada fé e gloriosos sucessos estava exercendo pressão sobre Elias. Ele temeu que a reforma iniciada no Carmelo não fosse duradoura; e a depressão se apoderou dele. Havia sido exaltado ao topo do Pisga; agora estava no vale. Enquanto sob a inspiração do Onipotente, ele tinha resistido à mais severa prova de fé; mas neste tempo de desencorajamento, com a ameaça de Jezabel soando-lhe aos ouvidos, e Satanás ainda aparentemente prevalecendo mediante a trama desta ímpia mulher, ele perdeu sua firmeza em Deus. Havia sido exaltado acima da medida, e a reação foi tremenda. Esquecendo-se de Deus, Elias fugia mais e mais, até que se encontrou num árido deserto, sozinho. Indescritivelmente cansado, assentou-se para repousar debaixo de um zimbro. Assentando-se aí, pediu a morte para si mesmo. "Já basta, ó Senhor", disse ele, "toma agora a minha vida, pois não sou melhor que meus pais". 1 Reis 19:4. Fugitivo, longe da habitação dos homens, o espírito causticado pelo amargo desapontamento, ele desejou nunca mais olhar a face de um homem. Afinal, extremamente exausto, adormeceu. PR 79 3 Na experiência de todos surgem ocasiões de profundo desapontamento e extremo desencorajamento -- dias em que só predomina a tristeza, e é difícil crer que Deus é ainda o bondoso benfeitor de Seus filhos na Terra; dias em que o dissabor mortifica a alma, de maneira que a morte pareça preferível à vida. É então que muitos perdem sua confiança em Deus, e são levados à escravidão da dúvida, ao cativeiro da incredulidade. Pudéssemos em tais ocasiões discernir com intuição espiritual o significado das providências de Deus, veríamos anjos procurando salvar-nos de nós mesmos, esforçando-se por firmar nossos pés num fundamento mais firme que os montes eternos; e nova fé, nova vida jorrariam para dentro do ser. PR 79 4 O fiel Jó, no dia de sua aflição e trevas, declarou: PR 79 5 "Pereça o dia em que nasci". "Oh! se a minha mágoa retamente se pesasse. E a minha miséria juntamente se pusesse numa balança!" "Quem dera que se cumprisse o meu desejo e que Deus me desse o que espero! E que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a Sua mão, e acabasse comigo! Isto ainda seria a minha consolação". Jó 3:3; 6:2, 8-10. PR 80 1 "Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na amargura da minha alma." "Pelo que a minha alma escolheria [...] Antes a morte do que estes meus ossos. A minha vida abomino, pois não viverei para sempre; retira-Te de mim, Pois vaidade são os meus dias". Jó 7:11, 15, 16. PR 80 2 Mas embora cansado da vida, a Jó não foi permitido morrer. Foram-lhe indicadas as possibilidades do futuro, e deu-se-lhe a mensagem de esperança: PR 80 3 "Estarás firme e não temerás. Porque te esquecerás dos trabalhos, e te lembrarás deles como das águas que já passaram. E a tua vida mais clara se levantará do que o meio-dia; ainda que haja trevas, será como a manhã. E terás confiança, porque haverá esperança. [...] E deitar-te-ás, E ninguém te espantará; muitos acariciarão o teu rosto. Mas os olhos dos ímpios desfalecerão, e perecerá o seu refúgio; e a sua esperança será o expirar da alma". Jó 11:15-20. PR 80 4 Das profundezas do desencorajamento e desânimo Jó se levanta para as alturas da implícita confiança na misericórdia e o poder salvador de Deus. Triunfantemente declarou: PR 80 5 "Ainda que Ele me mate, nEle esperarei; [...] Também isto será a minha salvação". Jó 13:15, 16. PR 80 6 "Por que eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, O verão". Jó 19:25-27. PR 80 7 "Depois disto o Senhor respondeu a Jó dum redemoinho" (Jó 38:1), e revelou a Seu servo a força do Seu poder. Quando Jó teve um vislumbre de seu Criador, abominou-se a si mesmo, e se arrependeu no pó e na cinza. Então o Senhor pôde abençoá-lo abundantemente, e fazer os seus últimos dias os melhores de sua vida. PR 80 8 Esperança e coragem são essenciais ao perfeito serviço para Deus. Esses são frutos da fé. O desânimo é pecaminoso e irrazoável. Deus está em condições e disposto a outorgar a Seus servos "mais abundantemente" a força de que necessitam para a tentação e prova. Os planos dos inimigos de Sua obra podem parecer bem assentados e firmemente estabelecidos; mas Deus pode subverter os mais fortes deles. E isto Ele faz em seu devido tempo e maneira, quando vê que a fé de Seus servos foi suficientemente testada. PR 80 9 Para o desalentado há um seguro remédio -- fé, oração e trabalho. Fé e atividade proverão segurança e satisfação que hão de aumentar dia após dia. Estais tentados a dar guarida a sentimentos de ansiedade ou obstinado desânimo? Nos dias mais negros, quando as aparências parecem mais agressivas, não temais. Tende fé em Deus. Ele conhece vossas necessidades; possui todo o poder. Seu infinito amor e compaixão são incansáveis. Não temais que Ele deixe de cumprir Sua promessa. Ele é eterna verdade. Jamais mudará o concerto que fez com os que O amam. E concederá a Seus fiéis servos a medida de eficiência que suas necessidades requerem. O apóstolo Paulo testificou: "E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. [...] Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Deus. Porque quando estou fraco, então sou forte". 2 Coríntios 12:9, 10. PR 81 1 Abandonou Deus a Elias em sua hora de provas? Oh, não! Ele não amava menos Seu servo quando este se sentiu abandonado de Deus e dos homens, do que quando, em resposta a sua oração, flamejou fogo do céu e iluminou o topo do monte. E agora, havendo Elias adormecido, um suave toque e delicada voz o despertou. Ele se ergue aterrado, como quem vai fugir, temendo que o inimigo o tivesse descoberto. Mas a face compassiva que se inclinava sobre ele não era a de um inimigo, mas de um amigo. Deus tinha enviado um anjo do Céu com alimento para Seu servo. "Levanta-te e come", disse o anjo. "E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água". 1 Reis 19:5, 6. PR 81 2 Depois de haver-se servido do alimento para ele preparado, Elias deitou-se de novo e adormeceu. Pela segunda vez veio o anjo. Tocando o exausto homem, disse com terna piedade: "Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho. Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus" (1 Reis 19:7, 8), onde encontrou refúgio numa caverna. ------------------------Capítulo 13 -- "Que fazes aqui?" PR 82 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 19:9-18. PR 82 1 O retiro de Elias no Monte Horebe, embora escondido dos homens, era conhecido de Deus; e o sofrido e desencorajado profeta não fora deixado a lutar sozinho com os poderes das trevas que o estavam pressionando. À entrada da caverna, onde Elias se refugiara, Deus encontrou-Se com ele, por meio de um poderoso anjo enviado para inquirir-lhe sobre suas necessidades e tornar claro o divino propósito para Israel. PR 82 2 Antes que Elias tivesse aprendido a confiar inteiramente em Deus não poderia completar sua obra por aqueles que haviam sido seduzidos pelo culto de Baal. O assinalado triunfo nas alturas do Carmelo tinha aberto o caminho para vitórias maiores ainda; no entanto Elias tinha recuado das maravilhosas oportunidades abertas perante ele, pelas ameaças de Jezabel. O homem de Deus devia ser levado a compreender as fraquezas de sua presente posição em comparação com o terreno vantajoso que o Senhor queria tivesse ele ocupado. PR 82 3 Deus veio ao encontro de Seu provado servo com a pergunta: "Que fazes aqui, Elias?" 1 Reis 19:9. Eu te enviei ao ribeiro de Querite, e mais tarde à viúva de Sarepta. Dei-te a comissão de retornar a Israel, e estar diante dos sacerdotes idólatras no Carmelo; cingi-te de força para guiares o carro do rei à entrada de Jezreel. Mas quem te enviou nesta fuga apressada para o deserto? Que missão tens aqui? PR 82 4 Em amargura de alma Elias externa sua queixa: "Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os Teus altares, e mataram os Teus profetas à espada; e eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem". 1 Reis 19:10. PR 82 5 Convidando o profeta a deixar a caverna, o anjo lhe ordena que se ponha perante o Senhor no monte e atente a Sua palavra. "E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto, também o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto um fogo, porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada. E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna". 1 Reis 19:11-13. PR 83 1 Não nas grandiosas manifestações do divino poder, mas na "voz mansa e delicada", Deus escolheu revelar-Se a Seu servo. Ele desejava ensinar a Elias que nem sempre a obra que faz as maiores demonstrações é a mais bem-suceda em realizar o Seu propósito. Enquanto Elias esperava pela revelação do Senhor, desabou uma tempestade, cintilaram relâmpagos e um fogo devorador passou varrendo. Mas Deus não estava em nada disto. Então veio a voz mansa e delicada, e o profeta cobriu a cabeça ante a presença do Senhor. Seus queixumes foram silenciados, seu espírito abrandado e submetido. Ele sabia agora que uma calma confiança, uma firme segurança em Deus, seriam para ele sempre um auxílio presente em tempo de necessidade. PR 83 2 Nem sempre é a mais brilhante apresentação da verdade de Deus que convence e converte a alma. Não pela eloqüência ou lógica é alcançado o coração dos homens, mas pela suave influência do Espírito Santo, a qual opera silenciosa conquanto seguramente na transformação e desenvolvimento do caráter. É ainda a voz mansa e delicada do Espírito de Deus que tem poder para mudar o coração. PR 83 3 "Que fazes aqui, Elias?" a voz interrogou; e de novo o profeta respondeu: "Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os Teus altares, e mataram os Teus profetas à espada; e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem". 1 Reis 19:9, 10. PR 83 4 O Senhor disse a Elias que os praticantes do mal em Israel não ficariam impunes. Homens iriam ser especialmente escolhidos para cumprir o propósito divino na punição do reino idólatra. Havia uma rígida obra a ser feita, para que a todos fosse dada a oportunidade de tomar posição ao lado da verdade de Deus. Elias mesmo devia retornar a Israel, e partilhar com os outros o fardo de levar a efeito uma reforma. PR 83 5 "Vai", o Senhor ordenou a Elias, "volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e vem, e unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. E há de ser que o que escapar da espada de Hazael, matá-lo-á Jeú: e o que escapar da espada de Jeú, matá-lo-á Eliseu". PR 83 6 Elias havia pensado que ele unicamente era adorador do verdadeiro Deus em Israel. Mas Aquele que lê o coração de todos revelou ao profeta que havia muitos outros que, nos longos anos de apostasia, tinham permanecido leais a Ele. "Também Eu fiz ficar em Israel sete mil": disse Deus, "todos os joelhos que se não dobraram a Baal, e toda a boca que o não beijou". 1 Reis 19:15-18. PR 83 7 Da experiência de Elias durante esses dias de desânimo e aparente derrota muitas lições podem ser tiradas -- lições de inapreciável valor para os servos de Deus neste século caracterizado pelo geral abandono do direito. A apostasia predominante hoje é similar à que predominou em Israel nos dias do profeta. Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal. Dúvida e incredulidade estão exercendo sua má influência sobre a mente e o coração, e muitos estão substituindo pelas teorias dos homens a Palavra de Deus. Publicamente se ensina que temos chegado a um tempo em que a razão humana deve ser exaltada sobre os ensinos da Palavra. A lei de Deus, a divina norma do direito, é declarada ser de nenhum efeito. O inimigo de toda a verdade está operando com enganoso poder para levar homens e mulheres a colocar instituições humanas onde Deus deve estar, e a esquecer aquilo que fora ordenado para a felicidade e salvação da humanidade. PR 84 1 Contudo, esta apostasia, apesar do vulto que tem assumido, não é universal. Nem todos no mundo são licenciosos e corruptos; nem todos tomaram posição com o inimigo. Deus tem muitos milhares cujos joelhos não se dobraram a Baal, muitos tardos em compreender mais plenamente o que se refere a Cristo e à lei, muitos que estão esperando, malgrado as perspectivas, que Jesus venha logo para pôr fim ao reinado do pecado e da morte. E há muitos que têm estado adorando a Baal ignorantemente, mas com quem o Espírito de Deus está ainda lutando. PR 84 2 Esses necessitam o auxílio pessoal dos que têm aprendido a conhecer a Deus e o poder de Sua Palavra. Em tal tempo como este, cada filho de Deus deve estar ativamente empenhado em ajudar a outros. Quando os que têm compreensão da verdade bíblica procuram buscar a homens e mulheres que estão ansiando por luz, anjos de Deus os assistem. E onde vão os anjos, ninguém precisa temer ir avante. Como resultado dos fiéis esforços de obreiros consagrados, muitos tornarão da idolatria para o culto do Deus vivo. Muitos cessarão de prestar homenagem a instituições de feitura humana, e se colocarão destemidamente ao lado de Deus e Sua lei. PR 84 3 Muita coisa está na dependência da incessante atividade dos que são verdadeiros e leais; e por essa razão Satanás põe todo o esforço possível no sentido de impedir o divino propósito a ser levado a efeito por meio do obediente. Ele leva alguns a perderem de vista sua alta e santa missão, e a se tornarem satisfeitos com os prazeres desta vida. Encaminha-os para o comodismo, ou, com o propósito de encontrar maiores vantagens terrenas, a se mudarem dos lugares onde poderiam ser uma força para o bem. Outros ele leva a, desanimados, fugirem do dever, em face de oposição ou perseguição. Mas todos estes são considerados pelo Céu com a mais terna piedade. A cada filho de Deus, cuja voz Satanás tenha conseguido silenciar, é dirigida a pergunta: "Que fazes aqui?" 1 Reis 19:9. Comissionei-te para que fosses a todo o mundo e pregasses o evangelho, a fim de que o povo fosse preparado para o dia de Deus. Por que estás aqui? Quem te mandou? PR 85 1 A alegria que estava diante de Cristo, a satisfação que O sustentou através de sacrifícios e sofrimento, foi o de ver pecadores salvos. Este deve ser o regozijo de cada seguidor Seu, o estímulo a sua ambição. Os que sentirem, mesmo em grau limitado, o que a redenção significa para si e para o próximo, compreenderão em alguma medida as amplas necessidades da humanidade. Seus corações serão movidos à compaixão ao verem a carência espiritual e moral de milhares que estão sob a sombra de terrível maldição, em comparação com o que o sofrimento físico é tido na conta de nada. PR 85 2 Tanto a famílias como a indivíduos é feita a pergunta: "Que fazes aqui?" 1 Reis 19:9. Em muitas igrejas há famílias bem instruídas nas verdades da Palavra de Deus que poderiam ampliar a sua esfera de influência mudando-se para lugares necessitados da ministração que elas estão aptas a prover. Deus chama famílias cristãs para que vão aos lugares escuros da Terra, e trabalhem sábia e perseverantemente pelos que estão envolvidos em sombras espirituais. A resposta a este chamado requer espírito de abnegação. Enquanto muitos estão esperando que cada obstáculo seja removido, almas estão morrendo, sem esperança e sem Deus. Por amor a vantagens seculares, a aquisição de conhecimentos científicos, os homens estão prontos a se aventurar nas regiões pestilentas, e a enfrentar dificuldades e privações. Onde estão os que se disponham a fazer tanto pelo amor de falar a outros do Salvador? PR 85 3 Se, sob circunstâncias difíceis, homens de poder espiritual, sob excessiva pressão tornam-se desanimados e desalentados; se às vezes nada vêem de apreciável na vida, para que desejem viver, isto não é nada estranho ou novo. Lembrem-se tais pessoas que um dos mais fortes profetas fugiu para salvar a vida ante a ira de uma mulher enfurecida. Fugitivo e fatigado pela viagem, o espírito torturado por amargo desapontamento, ele pediu a morte. Mas foi quando a esperança se desvanecia, e o trabalho de sua vida parecia ameaçado pela derrota, que ele aprendeu uma das mais preciosas lições de sua vida. Na hora de sua maior fraqueza ele aprendeu a necessidade e a possibilidade de confiar em Deus sob circunstâncias as mais desalentadoras. PR 85 4 Aqueles que, enquanto despendem as energias da vida em trabalho abnegado, são tentados a dar lugar à desconfiança e ao desânimo, podem encontrar coragem na experiência de Elias. O vigilante cuidado de Deus, Seu amor, Seu poder, são especialmente manifestados em benefício de Seus servos cujo zelo é mal apreciado ou não bem entendido, cujos conselhos e reprovações são menosprezados, e cujos esforços no sentido de uma reforma são recompensados com ódio e oposição. PR 85 5 É em tempos de maior fraqueza que Satanás assalta a alma com as mais ferozes tentações. Foi assim que ele esperou prevalecer sobre o Filho de Deus; pois por esse processo tinha ganho muitas vitórias sobre o homem. Quando o poder da vontade foi enfraquecido e a fé falhou, então os que haviam permanecido firme e valentemente pelo direito longo tempo, renderam-se à tentação. Moisés, extenuado por quarenta anos de peregrinação e incredulidade, perdeu por um momento seu apego ao poder infinito. Ele falhou justo no limiar da terra prometida. Assim também foi com Elias. Aquele que mantivera sua confiança em Jeová durante os anos de estiagem e fome; que permanecera sem temor perante Acabe; aquele que no dia probante sobre o Carmelo permanecera só perante toda a nação de Israel como a única testemunha do verdadeiro Deus, num momento de fadiga permitiu que o temor da morte derrotasse sua fé em Deus. PR 86 1 E assim é hoje. Quando somos envolvidos pela dúvida, aturdidos pelas circunstâncias, ou afligidos pela pobreza ou angústia, Satanás procura abalar nossa confiança em Jeová. É então que ele faz desfilar diante de nós nossos erros, e tenta-nos a desconfiar de Deus, a pôr em dúvida Seu amor. Ele espera desencorajar a alma e quebrar nossa firmeza em Deus. PR 86 2 Aqueles que, na vanguarda do conflito, são impelidos pelo Espírito Santo a fazer um trabalho especial, freqüentemente sentirão uma reação quando a pressão for removida. O desânimo pode abalar a fé mais heróica, e enfraquecer a mais firme vontade. Mas Deus compreende, e ainda Se compadece e ama. Ele lê os motivos e os propósitos do coração. Esperar pacientemente, confiar quando tudo parece escuro, eis a lição que os líderes na obra de Deus necessitam aprender. O Céu não lhes faltará no dia da adversidade. Nada está aparentemente mais ao desamparo, mas na realidade mais invencível, do que a alma que sente a sua nulidade, e confia inteiramente em Deus. PR 86 3 Não é somente para homens em posição de grande responsabilidade a lição da experiência de Elias em como aprender de novo a confiar em Deus na hora da prova. Aquele que foi a fortaleza de Elias é forte para sustentar cada um de Seus filhos em luta, não importa quão fraco seja. Ele espera lealdade de cada um, e a cada um concede poder de acordo com a necessidade. Em sua própria força o homem é fraco; mas no poder de Deus ele pode ser forte para derrotar o mal e ajudar outros a derrotá-lo. Satanás jamais obtém vantagem sobre quem faz de Deus sua defesa. "De mim se dirá: Deveras no Senhor, há justiça e força". Isaías 45:24. PR 86 4 Companheiro cristão, Satanás conhece tuas fraquezas; apega-te, pois, a Jesus. Permanecendo no amor de Deus, poderás resistir a cada prova. A justiça de Cristo unicamente pode dar-te poder para te opores à onda do mal que está inundando o mundo. Acrescenta fé à tua experiência. A fé faz leve cada fardo, alivia cada fadiga. Providências que são agora misteriosas poderás compreender por contínua confiança em Deus. Anda pela fé no caminho que Ele traçar. Sobrevirão provas; mas prossegue avante. Isto fortalecerá tua fé e te preparará para o serviço. Os registros da História Sacra são escritos, não meramente para que possamos ler e nos maravilhar, mas para que a mesma fé que operou nos servos de Deus no passado possa operar em nós. De maneira não menos acentuada o Senhor operará agora, onde quer que haja corações de fé para serem canais de Seu poder. PR 87 1 A nós, como a Pedro, é dito: "Eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça". Lucas 22:31, 32. Cristo jamais abandona aqueles por quem morreu. Nós podemos deixá-Lo, sendo esmagados pela tentação; mas Cristo jamais pode deixar aqueles por quem pagou o resgate com Sua própria vida. Pudesse nossa visão espiritual ser ativada, e veríamos almas curvadas sob a opressão e carregadas de aflição, oprimidas como uma carreta sob pesada carga, e quase a perecer em desencorajamento. Veríamos anjos voando velozes em auxílio desses tentados, forçando a retroceder as legiões do mal que os sitiavam, e colocando seus pés sobre firme plataforma. As batalhas entre os dois exércitos são tão reais como as travadas pelos exércitos deste mundo, e do resultado do conflito espiritual dependem destinos eternos. PR 87 2 Na visão do profeta Ezequiel havia a aparência de uma mão sob as asas dos querubins. Isso deve ensinar aos servos de Deus que é o divino poder que dá sucesso. Aqueles a quem Deus emprega como Seus mensageiros não devem sentir que a obra do Senhor depende deles. Seres finitos não são deixados a levar este fardo de responsabilidade. Aquele que não dormita, que está continuamente atento a Sua obra para a realização de Seus desígnios, promoverá Seu trabalho. Ele subverterá os propósitos dos ímpios, e levará a confusão aos conselhos dos que planejam contra Seu povo. Aquele que é o Rei, o Senhor dos Exércitos, assenta-Se entre os querubins; e em meio aos conflitos e tumultos das nações, Ele guarda Seus filhos ainda. Quando as fortalezas dos reis forem subvertidas, quando as setas da ira ferirem o coração de Seus inimigos, Seu povo estará seguro em Suas mãos. ------------------------Capítulo 14 -- "No espírito e virtude de Elias" PR 88 1 Através dos longos séculos que têm passado desde o tempo de Elias, o registro da atividade de sua vida tem levado inspiração e coragem aos que têm sido chamados a permanecer pelo direito em meio de apostasia. E para nós, "para quem já são chegados os fins dos séculos" (1 Coríntios 10:11), ele tem especial significação. A História está-se repetindo. O mundo hoje tem seus Acabes e suas Jezabéis. O presente século é tão verdadeiramente um século de idolatria como aquele em que Elias viveu. Pode não haver nenhum altar externamente visível; pode não haver nenhuma imagem sobre que os olhos repousem, contudo, milhares estão seguindo após os deuses deste mundo -- riquezas, fama, prazeres e as agradáveis fábulas que permitem ao homem seguir as inclinações do coração não regenerado. Multidões têm uma errônea concepção de Deus e Seus atributos, e estão servindo a um falso deus tão verdadeiramente como o estavam os adoradores de Baal. Muitos, mesmo entre os que se declaram cristãos, têm-se aliado com influências que são inalteravelmente opostas a Deus e Sua verdade. Assim, são levados a se afastarem do divino, e a exaltarem o humano. PR 88 2 O espírito predominante em nosso tempo é de infidelidade e apostasia -- espírito de professada iluminação por causa do conhecimento da verdade, mas na realidade da mais cega presunção. Teorias humanas são exaltadas, e postas onde deviam estar Deus e Sua lei. Satanás tenta homens e mulheres a desobedecerem, com a promessa de que na desobediência encontrarão liberdade e independência que os tornarão deuses. Há um visível espírito de oposição à clara Palavra de Deus, de idolátrica exaltação da sabedoria humana sobre a revelação divina. Os homens têm permitido que suas mentes se tornem tão entenebrecidas e confusas pela conformidade aos costumes e influências mundanos, que parecem haver perdido todo o poder de discriminação entre a luz e as trevas, a verdade e o erro. Tão longe têm-se afastado do caminho do direito a ponto de sustentarem as opiniões de uns poucos filósofos, assim chamados, como mais dignas de crédito do que as verdades da Bíblia. As instâncias e promessas da Palavra de Deus, suas ameaças contra a desobediência e a idolatria -- tudo parece não ter poder para tocar-lhes o coração. Uma fé como a que operou em Paulo, Pedro e João, eles a consideram como coisa do passado, misticismo, e indigna da inteligência dos modernos pensadores. PR 89 1 No princípio Deus deu Sua lei à humanidade como um meio de alcançar a felicidade e vida eterna. A única esperança de Satanás de poder frustrar o propósito de Deus é levar homens e mulheres à desobediência a essa lei; e seu constante esforço tem sido falsear seus ensinos e diminuir sua importância. Seu principal ataque tem sido a tentativa de mudar a própria lei, assim como levar os homens a violar seus preceitos enquanto professam obedecê-la. PR 89 2 Um escritor comparou a tentativa de mudar a lei de Deus a um antigo e maldoso costume de mudar a direção da flecha indicativa numa importante junção de duas estradas. A perplexidade e contratempo que esta prática muitas vezes causava foi grande. PR 89 3 Um marco indicativo foi construído por Deus para os que jornadeiam através deste mundo. Um braço desta tabuleta apontava espontânea obediência ao Criador como o caminho da felicidade e vida, enquanto o outro braço indicava a desobediência como a estrada da miséria e morte. O caminho da felicidade era tão claramente definido como o era o caminho da cidade de refúgio na dispensação judaica. Mas em má hora para a nossa raça, o grande inimigo de todo o bem virou a tabuleta, e multidões têm errado o caminho. PR 89 4 Através de Moisés o Senhor instruiu os israelitas: "Certamente guardareis Meus sábados; porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do povo [...] qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá. Guardarão pois o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se". Êxodo 31:13-17. PR 89 5 Nessas palavras o Senhor definiu claramente a obediência como o caminho para a cidade de Deus; mas o homem do pecado mudou o sinal indicativo, fazendo que indicasse direção errada. Ele estabeleceu o falso sábado, e levou homens e mulheres a pensar que repousando nesse falso sábado estavam obedecendo à ordem do Criador. PR 89 6 Deus declarou que o sétimo dia é o sábado do Senhor. Quando "os céus e a Terra foram acabados", Ele exaltou este dia como um memorial de Sua obra criadora. Repousando no sétimo dia "de toda a Sua obra que tinha feito", "abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou". Gênesis 2:1-3. PR 89 7 Por ocasião do Êxodo do Egito, a instituição sabática foi distintamente colocada perante o povo de Deus. Enquanto ainda no cativeiro, seus feitores tinham-nos tentado forçar ao trabalho no sábado, acrescentando trabalho ao requerido cada semana. Cada vez mais severas e mais inexoráveis tinham sido feitas as condições de trabalho. Mas os israelitas foram libertos do cativeiro, e levados a um lugar onde podiam observar todos os preceitos de Jeová sem serem molestados. No Sinai a lei foi proclamada; e uma cópia, em duas tábuas de pedra "escritas com o dedo de Deus" (Êxodo 31:18), foi entregue a Moisés. E através de quase quarenta anos de peregrinação, constantemente foi feito lembrar aos israelitas o dia de repouso de Deus, pela contenção da queda do maná cada sétimo dia, e a miraculosa preservação da porção dobrada que caía no dia da preparação. PR 90 1 Antes de entrar na terra prometida, os israelitas foram admoestados por Moisés a "guardar o dia de sábado, para o santificar". Deuteronômio 5:12. Era desígnio do Senhor que pela fiel observância do mandamento do sábado, Israel fosse continuamente lembrado de sua responsabilidade perante Ele como seu Criador e seu Redentor. Enquanto guardassem o sábado no devido espírito, a idolatria não poderia existir; mas fossem as exigências deste preceito do decálogo postas de lado como não mais vigentes, o Criador seria esquecido, e os homens adorariam a outros deuses. "Também lhes dei os Meus sábados", declarou Deus, "para que servissem de sinal entre Mim e eles; para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica". Contudo "rejeitaram os Meus juízos, e não andaram nos Meus estatutos, e profanaram os Meus sábados; porque o seu coração andava após os seus ídolos". Em Seu apelo para que tornassem a Ele, o Senhor lhes chamou a atenção outra vez para a importância da santificação do sábado. "Eu sou o Senhor vosso Deus", disse Ele; "andai nos Meus estatutos, e guardai os Meus juízos, e executai-os. E santificai os Meus sábados, e servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus". Ezequiel 20:12, 16, 19, 20. PR 90 2 Chamando a atenção de Judá para os pecados que finalmente acarretaram sobre eles o cativeiro babilônico, o Senhor declarou: "Os Meus sábados profanaste. [...] Por isso Eu derramei sobre eles a Minha indignação; com o fogo do Meu furor os consumi; fiz que o seu caminho recaísse sobre as suas cabeças". Ezequiel 22:8, 31. PR 90 3 Por ocasião da restauração de Jerusalém, nos dias de Neemias, a quebra do sábado foi confrontada com a severa inquirição: "Porventura não fizeram vossos pais assim, e nosso Deus não trouxe todo este mal sobre nós e sobre esta cidade? E vós ainda mais acrescentais o ardor de Sua ira sobre Israel, profanando o sábado". Neemias 13:18. PR 90 4 Cristo, durante Seu ministério terrestre, deu ênfase aos imperiosos reclamos do sábado; em todo o Seu ensino Ele mostrou reverência pela instituição que Ele mesmo dera. Em Seus dias o sábado tinha-se tornado tão pervertido que sua observância refletia o caráter de homens egoístas e arbitrários, antes que o caráter de Deus. Cristo pôs de lado o falso ensino pelo qual os que proclamavam conhecer a Deus O tinham deformado. Embora seguido com impiedosa hostilidade pelos rabis, Ele não pareceu sequer conformar-Se a suas exigências, mas prosseguiu retamente, guardando o sábado de acordo com a lei de Deus. PR 91 1 Em linguagem que não pode deixar de ser compreendida, Ele testificou de Sua consideração pela lei de Jeová. "Não cuideis que Eu vim destruir a lei ou os profetas", declarou; "não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer pois que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos Céus". Mateus 5:17-19. PR 91 2 Durante a dispensação cristã, o grande inimigo da felicidade do homem fez do sábado do quarto mandamento um objeto de ataque especial. Satanás diz: "Eu atravessarei os propósitos de Deus. Capacitarei meus seguidores a porem de lado o memorial de Deus, o sábado do sétimo dia. Assim, mostrarei ao mundo que o dia abençoado e santificado por Deus foi mudado. Esse dia não perdurará na mente do povo. Apagarei a lembrança dele. Porei em seu lugar um dia que não leve as credenciais de Deus, um dia que não seja um sinal entre Deus e Seu povo. Levarei os que aceitarem este dia a porem sobre ele a santidade que Deus pôs sobre o sétimo dia. PR 91 3 "Através de meu representante, engrandecerei a mim mesmo. O primeiro dia será exaltado, e o mundo protestante receberá este sábado falso como genuíno. Através da não observância do sábado que Deus instituiu, levarei Sua lei ao menosprezo. As palavras: 'Um sinal entre Mim e vós por todas as vossas gerações', farei que se prestem para o meu sábado. PR 91 4 "Assim o mundo tornar-se-á meu. Eu serei o governador da Terra, o príncipe do mundo. Controlarei assim as mentes sob meu poder para que o sábado de Deus seja um objeto especial de desprezo. Um sinal? -- eu farei a observância do sétimo dia um sinal de deslealdade para com as autoridades da Terra. As leis humanas serão feitas tão rígidas que os homens e mulheres não ousarão observar o sábado do sétimo dia. Pelo temor de que lhes venha a faltar alimento e vestuário, eles se unirão com o mundo na transgressão da lei de Deus. A Terra estará inteiramente sob meu domínio". PR 91 5 Através do estabelecimento de um falso sábado o inimigo pensou mudar os tempos e as leis. Mas tem tido ele realmente êxito em mudar a lei de Deus? As palavras do capítulo 31 de Êxodo são a resposta. Aquele que é o mesmo ontem, hoje e eternamente declarou do sábado do sétimo dia: "É um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações". "Será um sinal para sempre". Êxodo 31:13, 17. A placa virada está indicando um caminho caminho errado, mas Deus não mudou. Ele ainda é o poderoso Deus de Israel. "Eis que as nações são consideradas por Ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das balanças; eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante Ele; Ele considera-as menos do que nada e como uma coisa vã". Isaías 40:15-17. Ele é tão zeloso de Sua lei agora como o era nos dias de Acabe e de Elias. PR 92 1 Mas como é esta lei desrespeitada! Vede o mundo hoje em aberta rebelião contra Deus. Esta é na verdade uma geração obstinada, carregada de ingratidão, de formalismo, de insinceridade, de orgulho e apostasia. Os homens negligenciam a Bíblia e odeiam a verdade. Jesus vê Sua lei rejeitada, Seu amor desprezado, Seus embaixadores tratados com indiferença. Ele tem falado por intermédio de Suas misericórdias, mas estas não têm sido reconhecidas; tem falado por meio de advertências, mas estas não têm sido ouvidas. O santuário da alma humana tem-se tornado lugar de não santificado intercâmbio. Egoísmo, inveja, orgulho, malícia -- tudo é aí acariciado. PR 92 2 Muitos não hesitam em escarnecer da Palavra de Deus. Os que crêem nesta Palavra logo que a lêem são postos em ridículo. Há um crescente menosprezo pela lei e a ordem, oriundo diretamente da violação das claras ordenações de Jeová. A violência e o crime são o resultado do afastamento do caminho da obediência. Vede o infortúnio e miséria de multidões que adoram no altar de ídolos, e que buscam em vão felicidade e paz. PR 92 3 Considerai o quase universal desrespeito ao mandamento do sábado. Vede também a atrevida impiedade dos que, ao mesmo tempo que estão promulgando leis para a salvaguarda do supostamente santificado primeiro dia da semana, estão também legislando no sentido de legalizar o comércio do álcool. Revelando astuta sabedoria, eles procuram coagir a consciência dos homens, ao mesmo tempo que outorgam sua sanção a um mal que brutaliza e destrói os seres criados à imagem de Deus. É Satanás em pessoa que inspira tal legislação. Ele sabe muito bem que a maldição de Deus recairá sobre os que exaltam proposições humanas acima do divino; e faz tudo que está em seu poder para levar os homens à estrada larga que termina em destruição. PR 92 4 Tanto tempo têm os homens cultuado opiniões humanas e humanas instituições, que o mundo inteiro, quase, está indo após os ídolos. E aquele que se tem esforçado por mudar a lei de Deus está usando todo enganoso artifício para induzir homens e mulheres a se formarem contra Deus e contra o sinal pelo qual os justos são conhecidos. Mas o Senhor não permitirá sempre que Sua lei seja quebrada e desprezada com impunidade. Tempo virá quando "os olhos altivos dos homens, serão abatidos, e a altivez dos varões será humilhada, e só o Senhor será exaltado naquele dia". Isaías 2:11. O ceticismo pode ameaçar os reclamos da lei de Deus com zombaria e contestação. O espírito de mundanidade pode contaminar a muitos e controlar alguns; a causa de Deus pode conservar sua posição unicamente mediante grande esforço e contínuo sacrifício; mas no final a verdade triunfará gloriosamente. PR 93 1 Na consumação da obra de Deus na Terra, a norma de Sua lei será de novo exaltada. A falsa religião pode prevalecer, a iniqüidade se generalizar, o amor de muitos esfriar, a cruz do Calvário pode ser perdida de vista, e as trevas, como um manto de morte, podem espalhar-se sobre o mundo; toda a força da corrente popular pode ser voltada contra a verdade; trama após trama pode ser formada para aniquilar o povo de Deus; mas na hora de maior perigo, o Deus de Elias levantará instrumentos humanos para dar uma mensagem que não será silenciada. Nas populosas cidades da Terra, e nos lugares onde os homens têm ido mais longe em falar contra o Altíssimo, a voz de severa repreensão será ouvida. Corajosamente, homens indicados por Deus denunciarão a união da igreja com o mundo. Com fervor chamarão a homens e mulheres para que voltem da observância de uma instituição de feitura humana para a guarda do verdadeiro sábado. "Temei a Deus e dai-Lhe glória", proclamarão a toda nação, "porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas. [...] Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira". Apocalipse 14:7-10. PR 93 2 Deus não quebrará Seu concerto, nem alterará aquilo que saiu de Seus lábios. Sua Palavra permanecerá firme para sempre, tão inalterável como Seu trono. Por ocasião do juízo, este concerto será manifesto, claramente escrito com o dedo de Deus; e o mundo será citado perante a barra da Justiça Infinita para receber a sentença. PR 93 3 Hoje, como nos dias de Elias, a linha de demarcação entre o povo que guarda os mandamentos de Deus e os adoradores de falsos deuses está claramente definida. "Até quando coxeareis entre dois pensamentos?" clamou Elias; "se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o". 1 Reis 18:21. E a mensagem para hoje é: "Caiu, caiu a grande Babilônia. [...] Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao Céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela". Apocalipse 18:2, 4, 5. PR 93 4 Não está longe o tempo quando virá a prova a cada alma. A observância do falso sábado será imposta sobre todos. A controvérsia será entre os mandamentos de Deus e os mandamentos dos homens. Os que passo a passo têm-se rendido às exigências mundanas e se conformado a mundanos costumes, então render-se-ão aos poderes existentes, em vez de se sujeitarem ao escárnio, ao insulto, às ameaças de prisão e morte. Nesse tempo o ouro será separado da escória. A verdadeira piedade será claramente distinguida da piedade aparente e fictícia. Muitas estrelas que temos admirado por seu brilho tornar-se-ão trevas. Os que têm cingido os ornamentos do santuário, mas não estão vestidos com a justiça de Cristo, aparecerão então na vergonha de sua própria nudez. PR 94 1 Entre os habitantes do mundo, espalhados por toda a Terra, há os que não têm dobrado os joelhos a Baal. Como as estrelas do céu, que aparecem à noite, esses fiéis brilharão quando as trevas cobrirem a Terra, e densa escuridão os povos. Na África pagã, nas terras católicas da Europa e da América do Sul, na China, na Índia, nas ilhas do mar e em todos os escuros recantos da Terra, Deus tem em reserva um firmamento de escolhidos que brilharão em meio às trevas, revelando claramente a um mundo apóstata o poder transformador da obediência a Sua lei. Mesmo agora eles estão aparecendo em toda nação, entre toda língua e povo; e na hora da mais profunda apostasia, quando o supremo esforço de Satanás for feito no sentido de que "todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos" (Apocalipse 13:16), recebam, sob pena de morte, o sinal de submissão a um falso dia de repouso, esses fiéis, "irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa", resplandecerão "como astros no mundo". Filipenses 2:15. Quanto mais escura a noite, com maior brilho eles refulgirão. PR 94 2 Que estranha obra Elias teria feito enumerando Israel, quando os juízos de Deus estavam caindo sobre o povo apostatado Ele podia contar somente um do lado do Senhor. Mas quando disse: "Só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem", a palavra do Senhor o surpreendeu: "Fiz ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que se não dobraram a Baal". 1 Reis 19:14, 18. PR 94 3 Que nenhum homem procure numerar Israel hoje, mas cada um tenha um coração de carne, um coração de branda simpatia, um coração que, à semelhança do coração de Cristo, se expanda para a salvação de um mundo perdido. ------------------------Capítulo 15 -- Josafá PR 95 1 Até sua chamada ao trono, com a idade de 35 anos, Josafá tivera perante si o exemplo do bom rei Asa, que em quase toda crise fizera "o que parecia reto aos olhos do Senhor". 1 Reis 15:11. Durante um próspero reinado de vinte e cinco anos, Josafá procurou andar "em todos os caminhos de seu pai Asa", e "não se desviou deles". 1 Reis 22:43. PR 95 2 Em seus esforços para reinar sabiamente, Josafá procurou persuadir seus súditos a tomarem posição firme contra as práticas idólatras. Muitos dentre o povo em seu domínio "sacrificavam e queimavam incenso nos altos". 1 Reis 22:44. O rei não destruiu de vez esses santuários; mas desde o início procurou salvaguardar Judá dos pecados que caracterizavam o reino do norte sob o governo de Acabe, de quem fora contemporâneo durante muitos anos. Josafá era pessoalmente leal a Deus. Ele "não buscou a Baalins. Antes buscou ao Deus de seu pai, e andou nos Seus mandamentos, e não segundo as obras de Israel". Por causa de sua integridade, o Senhor era com ele, e "confirmou o reino na sua mão". 2 Crônicas 17:3-5. PR 95 3 "Todo o Judá deu presentes a Josafá; e teve riquezas e glória em abundância. E exaltou-se o seu coração nos caminhos do Senhor". 2 Crônicas 17:5, 6. Com o passar do tempo e o prosseguimento das reformas, o rei "tirou os altos e os bosques de Judá". 2 Crônicas 17:6. "Também desterrou da terra o resto dos rapazes escandalosos, que ficaram nos dias de seu pai Asa". 1 Reis 22:47. Assim, gradualmente os habitantes de Judá ficaram libertos de muitos dos perigos que estavam ameaçando seriamente retardar seu desenvolvimento espiritual. PR 95 4 Através do reino o povo estava necessitado de instrução na lei de Deus. Na compreensão desta lei estava a sua segurança; na conformação de sua vida aos seus requisitos, tornar-se-iam leais tanto a Deus como ao homem. Sabendo disto, Josafá tomou medidas para assegurar a seu povo integral instrução nas Santas Escrituras. Os príncipes que tinham o encargo das diferentes partes do seu domínio foram orientados no sentido de disporem para o fiel ministério de sacerdotes instrutores. Por real indicação, esses mestres, trabalhando sob a direta supervisão dos príncipes, "rodearam todas as cidades de Judá, e ensinaram entre o povo". 2 Crônicas 17:9. E como muitos procurassem compreender os reclamos de Deus e afastar o pecado, teve lugar um reavivamento. PR 96 1 A esta sábia provisão para as necessidades espirituais de seus súditos, Josafá deveu muito de sua prosperidade como governante. Na obediência à lei de Deus há grande ganho. Na conformidade aos divinos requisitos há um poder transformador que leva paz e boa vontade entre os homens. Se os ensinos da Palavra de Deus tivessem influência controladora na vida de todo homem e mulher, se a mente e o coração fossem postos sob seu poder moderador, os males que agora existem na vida nacional e social não teriam lugar. De cada lar emanaria uma influência que tornaria fortes homens e mulheres no discernimento espiritual e no poder moral, e assim nações e indivíduos seriam colocados em terreno vantajoso. PR 96 2 Por muitos anos Josafá viveu em paz, sem ser molestado pelas nações vizinhas. "Veio o temor do Senhor sobre todos os reinos da terra, que estavam em roda de Judá". 2 Crônicas 17:10. Dos filisteus recebia tributo em dinheiro e presentes; da Arábia, grandes rebanhos de ovelhas e cabras. "Cresceu, pois, Josafá e se engrandeceu extremamente; e edificou fortalezas e cidades de munições em Judá. [...] Gente de guerra, varões valentes em Jerusalém, [...] estavam no serviço do rei, afora os que o rei tinha posto nas cidades fortes por todo o Judá". 2 Crônicas 17:12-19. Abençoado abundantemente com "riquezas e glória" (2 Crônicas 18:1), estava ele capacitado a exercer poderosa influência em favor da verdade e da justiça. PR 96 3 Alguns anos depois de haver subido ao trono, Josafá, agora no auge de sua prosperidade, permitiu o casamento de seu filho, Jeorão, com Atalia, filha de Acabe e Jezabel. Por esta união foi formada entre os reis de Judá e de Israel uma aliança que não fora ordenada por Deus, e que num tempo de crise levou ao desastre o rei e muitos de seus súditos. PR 96 4 Numa ocasião, Josafá visitou o rei de Israel em Samaria. Honra especial foi mostrada para com o real hóspede de Jerusalém; e antes que encerrasse sua visita, foi ele persuadido a unir-se com o rei de Israel numa guerra contra os sírios. Acabe esperava que pela união de suas forças com as de Judá ele poderia reconquistar Ramote, uma das cidades de refúgio que, sustentava ele, por direito pertencia aos israelitas. PR 96 5 Conquanto num momento de fraqueza houvesse Josafá precipitadamente prometido unir-se ao rei de Israel em sua guerra contra os sírios, melhor juízo levou contudo a procurar saber a vontade de Deus concernente a este cometimento. "Consulta, hoje, peço-te, a palavra do Senhor", ele sugeriu a Acabe. Em resposta, Acabe reuniu quatrocentos dos profetas falsos de Samaria, e perguntou-lhes: "Iremos à guerra contra Ramote-Gileade, ou deixá-lo-ei?" E eles responderam: "Sobe, porque Deus a dará na mão do rei". 2 Crônicas 18:4, 5. PR 96 6 Não satisfeito, Josafá procurou conhecer com certeza a vontade de Deus. "Não há ainda aqui profeta algum do Senhor", perguntou ele, "para que o consultemos?" "Ainda há um homem por quem podemos consultar ao Senhor", respondeu Acabe, "porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim bem senão sempre mal; ele é Micaías, filho de Inlá". 1 Reis 22:8. Josafá ficou firme em seu pedido de que um homem de Deus fosse chamado; e ao apresentar-se diante deles e ser conjurado por Acabe a não dizer "senão a verdade em nome do Senhor", Micaías disse: "Vi a todo o Israel disperso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o Senhor: Estes não têm senhor; torne cada um em paz para a sua casa". 1 Reis 22:16, 17. PR 97 1 As palavras do profeta deviam ter sido suficientes para mostrar aos reis que seu projeto não era favorecido pelo Céu; mas nenhum dos dois governantes sentiu-se inclinado a acatar a advertência. Acabe havia traçado seu caminho, e estava determinado a segui-lo. Josafá havia empenhado sua palavra de honra: "Seremos contigo nesta guerra" (2 Crônicas 18:3); e depois de haver feito tal promessa, ficou relutante em retirar suas forças. "Assim o rei de Israel e Josafá, rei de Judá, subiram a Ramote de Gileade". 1 Reis 22:29. PR 97 2 Durante a batalha que se seguiu, Acabe foi acometido por uma flecha, e ao entardecer morreu. "E depois do Sol posto passou um pregão pelo exército, dizendo: Cada um para a sua cidade, e cada um para a sua terra". 1 Reis 22:36. Assim se cumpriu a palavra do profeta. PR 97 3 Dessa desastrosa batalha Josafá retornou a Jerusalém. Ao aproximar-se da cidade, o profeta Jeú veio-lhe ao encontro com a reprovação: "Devias tu ajudar ao ímpio, e amar aqueles que ao Senhor aborrecem? Por isso virá sobre ti grande ira de diante do Senhor. Boas coisas contudo se acharam em ti, porque tiraste os bosques da terra, e preparaste o teu coração, para buscar a Deus". 2 Crônicas 19:2, 3. PR 97 4 Os últimos anos do reinado de Josafá foram em grande parte gastos no fortalecimento da defesa nacional e espiritual de Judá. Ele "tornou a passar pelo povo desde Berseba até as montanhas de Efraim, e fez com que tornassem ao Senhor Deus de seus pais". 2 Crônicas 19:4. PR 97 5 Uma das importantes medidas tomadas pelo rei foi o estabelecimento e manutenção de eficientes tribunais de justiça. Ele "estabeleceu juízes na terra, em todas as cidades fortes, de cidade em cidade"; e no encargo que lhes dera admoestou: "Vede o que fazeis; porque não julgais da parte do homem, senão da parte do Senhor, e Ele está convosco no negócio do juízo. Agora, pois, seja o temor do Senhor convosco; guardai-o, e fazei-o, porque não há no Senhor nosso Deus iniqüidade nem aceitação de pessoas, nem aceitação de presentes". 2 Crônicas 19:5-7. PR 97 6 O sistema judicial foi aperfeiçoado pela fundação de uma Corte de Apelação em Jerusalém, onde Josafá "estabeleceu alguns dos levitas e dos sacerdotes e dos chefes dos pais de Israel sobre o juízo do Senhor, e sobre as causas judiciais". 2 Crônicas 19:8. PR 97 7 O rei exortou esses juízes a que fossem fiéis. "Assim andai no temor do Senhor com fidelidade, e com coração inteiro", ordenou-lhes. "E em toda a diferença que vier a vós de vossos irmãos, que habitam nas suas cidades, entre sangue e sangue, entre lei e mandamento, entre estatutos e juízos, admoestai-os, que se não façam culpados para com o Senhor, e não venha grande ira sobre vós, e sobre vossos irmãos. Fazei assim, e não vos fareis culpados. PR 98 1 "E eis aqui Amarias, o sumo sacerdote, presidirá sobre vós em todo o negócio do Senhor; e Zebadias, filho de Ismael, príncipe da casa de Judá, em todo o negócio do rei; também os oficiais, os levitas, estão perante vós. PR 98 2 "Esforçai-vos, pois, e fazei-o, e o Senhor será com os bons". 2 Crônicas 19:9-11. Nessa cuidadosa salvaguarda dos direitos e liberdade de seus súditos, Josafá deu ênfase à consideração que cada membro da família humana recebe do Deus de justiça, que governa sobre todos. "Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses". E todos os que são apontados para agir como juízes sob Sua administração, devem "defender o pobre e o órfão; fazer justiça ao aflito e necessitado", tirando-os "das mãos dos ímpios". Salmos 82:1, 3, 4. PR 98 3 Aproximando-se o fim do reinado de Josafá, o reino de Judá foi invadido por um exército ante cuja aproximação os habitantes da terra tinham razões para tremer. "Os filhos de Moabe, e os filhos de Amom, e com eles alguns outros dos amonitas, vieram à peleja contra Josafá". Notícias desta invasão haviam alcançado o reino através de um mensageiro, que apareceu com a alarmante palavra: "Vem contra ti uma grande multidão dalém do mar e da Síria; e eis que já estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi". 2 Crônicas 20:1, 2. PR 98 4 Josafá era um homem de coragem e valor. Durante anos, estivera fortalecendo seus exércitos e suas cidades fortificadas. Ele estava bem preparado para enfrentar praticamente qualquer inimigo; contudo, nesta crise não pôs sua confiança no braço de carne. Não mediante disciplinados exércitos e cidades muradas, mas por uma viva fé no Deus de Israel, poderia ele esperar alcançar a vitória sobre esses pagãos que se vangloriavam de seu poder para humilhar Judá aos olhos das nações. PR 98 5 "Então, Josafá temeu e pôs-se a buscar o Senhor, e apregoou jejum em todo o Judá. E Judá se ajuntou, para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá vieram para buscarem o Senhor". 2 Crônicas 20:3, 4. PR 98 6 Em pé no recinto do templo perante seu povo, Josafá derramou sua alma em oração, pleiteando as promessas de Deus, com confissão da fragilidade de Israel. "Ah Senhor, Deus de nossos pais", ele suplicava, "porventura não és Tu Deus nos Céus? Pois Tu és Dominador sobre todos os reinos das gentes, e na Tua mão há força e poder, e não há quem Te possa resistir. Porventura, ó Deus nosso, não lançaste Tu fora os moradores desta terra, de diante do Teu povo Israel, e não a deste à semente de Abraão, Teu amigo, para sempre? E habitaram nela, e edificaram nela um santuário ao Teu nome, dizendo: Se algum mal nos sobrevier, espada, juízo, peste, ou fome, nós nos apresentaremos diante desta casa e diante de Ti; pois Teu nome está nesta casa; e clamaremos a Ti na nossa angústia, e Tu nos ouvirás e livrarás. PR 99 1 "Agora, pois, eis que os filhos de Amom e de Moabe, e os das montanhas de Seir, pelos quais não permitiste que passasse Israel, quando vinham da terra do Egito, mas deles se desviaram e não os destruíram, eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da Tua herança, que nos fizeste herdar. Ah Deus nosso, porventura não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em Ti". 2 Crônicas 20:6-12. PR 99 2 Com confiança podia Josafá dizer ao Senhor: "Nossos olhos estão postos em Ti." Durante anos ele havia ensinado o povo a confiar nAquele que nos séculos passados tinha-Se interposto tantas vezes para salvar Seus escolhidos de completa destruição; e agora, quando o reino estava em perigo, Josafá não estava sozinho; "todo o Judá estava em pé perante o Senhor, como também as suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos". 2 Crônicas 20:13. Unidos jejuaram e oraram; unidos pleitearam com o Senhor para que pusesse seus inimigos em confusão, a fim de que o nome de Jeová fosse glorificado. PR 99 3 "Ó Deus, não estejas em silêncio; não cerres os ouvidos nem fiques impassível, ó Deus. Porque eis que Teus inimigos se alvoroçam, e os que Te aborrecem levantaram a cabeça. Astutamente formam conselho contra o Teu povo, e conspiram contra os Teus protegidos. Disseram: Vinde, e desarraiguemo-los, para que não sejam nação, nem haja mais memória do nome de Israel. Porque a uma se conluiaram; aliaram-se contra Ti. As tendas de Edom, e dos ismaelitas, de Moabe, e dos agarenos, de Gebal, e de Amom, e de Amaleque. [...] Faze-lhes como fizeste a Midiã, como a Sísera, como a Jabim na ribeira de Quisom; [...] Confundam-se e assombrem-se perpetuamente; envergonhem-se, e pereçam, para que saibam que Tu, cujo nome é Jeová, és o Altíssimo sobre toda a Terra". Salmos 83. PR 99 8 Unindo-se o povo ao rei em humilhar-se perante Deus, e suplicando dEle auxílio, o Espírito do Senhor veio sobre Jaaziel, "levita dos filhos de Asafe, e disse": "Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Josafá. Assim o Senhor vos diz: Não temais nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, senão de Deus. Amanhã descereis contra eles; eis que sobem pela ladeira de Ziz, e os achareis no fim do vale, diante do deserto de Jeruel. Nesta peleja não tereis que pelejar; parai, estai em pé, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco". PR 100 1 "Então Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo o Judá e os moradores de Jerusalém se lançaram perante o Senhor, adorando ao Senhor. E levantaram-se os levitas, dos filhos dos coatitas, e dos filhos dos coraítas, para louvarem ao Senhor Deus de Israel, com voz muito alta". PR 100 2 Pela manhã cedo se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa. Ao avançarem para a batalha, Josafá disse: "Ouvi-me, ó Judá, e vós moradores de Jerusalém: Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos Seus profetas, e sereis prosperados". "E aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores para o Senhor, que louvassem a Majestade santa". 2 Crônicas 20:14-21. Esses cantores iam diante do exército, erguendo suas vozes em louvor a Deus pela promessa de vitória. PR 100 3 Era uma maneira singular de ir à batalha contra o exército do inimigo -- louvando ao Senhor com cânticos, e exaltando o Deus de Israel. Este era seu hino de batalha. Eles possuíam a beleza da santidade. Se mais louvores de Deus tivessem lugar agora, esperança e coragem e fé aumentariam constantemente. E isto não fortaleceria as mãos dos valentes soldados que hoje estão firmes em defesa da verdade? PR 100 4 "O Senhor pôs emboscadas contra os filhos de Amom, e de Moabe e os das montanhas de Seir, que vieram contra Judá, e foram desbaratados. Porque os filhos de Amom e de Moabe se levantaram contra os moradores das montanhas de Seir, para os destruir e exterminar; e, acabando eles com os das montanhas de Seir, ajudaram uns aos outros a destruir-se. PR 100 5 "Entretanto chegou Judá à atalaia do deserto; e olharam para a multidão, e eis que eram corpos mortos, que jaziam em terra, e nenhum escapou". 2 Crônicas 20:22-24. PR 100 6 Deus foi a força de Judá nesta crise, e é Ele a força de Seu povo hoje. Não devemos confiar em príncipes, ou pôr o homem no lugar de Deus. Devemos lembrar que os seres humanos são falíveis e falhos, e que Aquele que tem todo o poder é nossa forte torre de defesa. Em qualquer emergência devemos sentir que a batalha é Sua. Seus recursos são ilimitados, e as aparentes impossibilidades farão que a vitória seja ainda maior. PR 100 7 "Salva-nos, ó Deus da nossa salvação, E ajuda-nos e livra-nos das nações, para que louvemos o Teu santo nome, e nos gloriemos no Teu louvor". 1 Crônicas 16:35. PR 100 8 Carregados com os despojos, os exércitos de Judá retornaram "com alegria, porque o Senhor os alegrara acerca dos seus inimigos. E vieram a Jerusalém com alaúdes, e com harpas, e com trombetas, para a casa do Senhor". 2 Crônicas 20:27, 28. Grande era seu motivo para júbilo. Em obediência à ordem: "Estai em pé, e vede a salvação do Senhor. [...] Não temais, nem vos assusteis" (2 Crônicas 20:17), eles tinham posto sua confiança inteiramente em Deus, e Ele Se havia provado sua fortaleza e Libertador. Agora podiam cantar com entendimento os inspirados hinos de Davi: PR 101 1 "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. [...] Ele [...] quebra o arco e corta a lança; queima os carros no fogo. Aquietai-vos, e sabei que Eu sou Deus; serei exaltado entre as nações, serei exaltado na Terra. O Senhor dos exércitos está conosco, o Deus de Jacó é o nosso refúgio". Salmos 46. PR 101 2 "Segundo é o Teu nome, ó Deus, assim é o Teu louvor, até aos fins da Terra: A Tua mão direita está cheia de justiça. Alegre-se o monte de Sião; alegrem-se as filhas de Judá Por causa dos Teus juízos. [...] Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será o nosso guia até a morte". Salmos 48:10, 11, 14. PR 101 3 Através da fé dos governantes de Judá e de seus exércitos, "veio o temor de Deus sobre todos os reinos daquelas terras, ouvindo eles que o Senhor havia pelejado contra os inimigos de Israel. E o reino de Josafá ficou quieto; e o seu Deus lhe deu repouso em redor". 2 Crônicas 20:29, 30. ------------------------Capítulo 16 -- A queda da casa de Acabe PR 102 0 Este capítulo é baseado em 1 Reis 21; 2 Reis 1. PR 102 1 A má influência que desde o início Jezabel havia exercido sobre Acabe continuou durante os últimos anos de sua vida, e deu frutos em obras de vergonha e violência, tais como raramente têm sido igualadas na História Sacra. "Ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor; porque Jezabel, sua mulher, o incitava". 1 Reis 21:25. PR 102 2 De uma disposição cobiçosa por natureza, Acabe, fortalecido e sustentado na prática do mal por Jezabel, tinha seguido os ditames de seu mau coração, até que ficou inteiramente controlado pelo espírito de egocentrismo. Não podia admitir qualquer recusa a seus desejos; o que desejava entendia que por direito devia ser seu. PR 102 3 Esse traço dominante em Acabe, que tão desastrosamente influenciou a sorte dos reinos sob seus sucessores, é revelado em um incidente que teve lugar enquanto Elias era ainda profeta em Israel. Bem junto ao palácio do rei estava uma vinha pertencente a Nabote, um jezreelita. Acabe assentou em seu coração possuir esta vinha; e propôs comprá-la, ou dar-lhe em troca outro pedaço de terra. "Dá-me a tua vinha", disse ele a Nabote, "para que me sirva de horta, pois está vizinha, ao pé da minha casa; e te darei por ela outra vinha melhor do que ela, ou, se parece bem aos teus olhos, dar-te-ei a sua valia em dinheiro". 1 Reis 21:2. PR 102 4 Nabote tinha sua vinha em alto valor, porque havia pertencido a seus pais, e recusava partilhá-la. "Guarde-me o Senhor", disse ela a Acabe, "de que eu te dê a herança de meus pais". 1 Reis 21:3. De acordo com o código levítico, nenhuma terra devia ser transferida permanentemente por venda ou troca; "os filhos de Israel se chegarão cada um à herança da tribo de seus pais". Números 36:7. PR 102 5 A recusa de Nabote fez adoecer o monarca egoísta. "Acabe veio desgostoso e indignado a sua casa, por causa da palavra que Nabote, o jezreelita, lhe falara. [...] E deitou-se na sua cama, e voltou o rosto, e não comeu pão". PR 102 6 Jezabel, informada logo dos pormenores, e indignando-se de que alguém recusasse o pedido do rei, assegurou a Acabe que ele não precisava mais estar triste. "Governas tu agora no reino de Israel?" disse ela. "Levanta-te, come pão, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jezreelita". PR 103 1 Acabe não cuidou dos meios pelos quais sua esposa poderia conseguir o desejado objeto, e Jezabel imediatamente deu curso a seu ímpio propósito. Ela escreveu cartas em nome do rei, e selou-as com seu sinete, enviando-as aos anciãos e nobres da cidade em que Nabote residia, dizendo: "Apregoai um jejum, e ponde a Nabote acima do povo. E ponde defronte dele dois homens, filhos de Belial, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei. E trazei-o fora, e apedrejai-o para que morra". PR 103 2 A ordem foi obedecida. "Os homens da sua cidade, os anciãos e os nobres que habitavam na sua cidade, fizeram como Jezabel lhes ordenara, conforme estava escrito nas cartas que lhes mandara". Então Jezabel foi ao rei, e ordenou-lhe que se levantasse e tomasse posse da vinha. E Acabe, indiferente às conseqüências, cegamente seguiu-lhe o conselho, e desceu para tomar posse da cobiçada propriedade. PR 103 3 Ao rei não foi permitido desfrutar, sem ser incriminado, aquilo que havia alcançado pela fraude e derramamento de sangue. "Então veio a palavra do Senhor a Elias, o tesbita, dizendo: Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria. Eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para a possuir. E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o Senhor: Porventura não mataste, e tomaste a herança?" E o Senhor deu a Elias posterior instrução para que pronunciasse sobre Acabe um terrível juízo. PR 103 4 O profeta deu pressa em executar a ordem divina. O governante culpado, encontrando o severo mensageiro de Jeová face a face na vinha, deu voz a seu súbito temor nas palavras: "Já me achaste, inimigo meu?" PR 103 5 Sem hesitação o mensageiro do Senhor replicou: "Achei-te; porquanto já te vendeste para fazeres o que é mau aos olhos do Senhor. Eis que trarei mal sobre ti, e arrancarei a tua posteridade". Nenhuma misericórdia devia ser mostrada. A casa de Acabe devia ser totalmente destruída, "como a casa de Jeroboão, filho de Nebate, e como a casa de Baasa, filho de Aías", declarou o Senhor por intermédio de Seu servo, "por causa da provocação, com que Me provocaste, e fizeste pecar a Israel". PR 103 6 E a respeito de Jezabel o Senhor declarou: "Os cães comerão a Jezabel junto ao antemuro de Jezreel. Aquele que de Acabe morrer na cidade, os cães o comerão; e o que morrer no campo, as aves do céu o comerão". PR 103 7 Quando o rei ouviu esta assustadora mensagem, "rasgou os seus vestidos, e cobriu a sua carne de saco, e jejuou; e jazia em saco, e andava mansamente. PR 103 8 "Então veio a Palavra do Senhor a Elias o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se humilha perante Mim? Porquanto, pois, se humilha perante Mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho trarei este mal sobre a sua casa". 1 Reis 21:4, 7, 9, 10, 17-29. PR 104 1 Foi menos de três anos mais tarde que o rei Acabe encontrou a morte às mãos dos sírios. Acazias, seu sucessor, "fez o que era mau aos olhos do Senhor; porque andou no caminho de seu pai, como também no caminho de sua mãe, e no caminho de Jeroboão". "E serviu a Baal, e se inclinou diante dele, e indignou ao Senhor Deus de Israel" (1 Reis 22:52, 53), como seu pai Acabe tinha feito. Mas os juízos seguiram de perto os pecados do rebelde rei. Uma guerra desastrosa com Moabe, e a seguir um acidente em que sua própria vida foi ameaçada, atestaram da ira de Deus contra ele. PR 104 2 Havendo caído "pelas grades de um quarto alto", Acazias, seriamente ferido, e temeroso de um possível desenlace, enviou alguns de seus servos para inquirirem de Baal-Zebube, deus de Ecrom, se se restabeleceria ou não. Supunha-se que o deus de Ecrom dava informações, através de um médium dentre seus sacerdotes, sobre futuros eventos. Grande número de pessoas ia inquiri-lo sobre isto; mas as predições ali formuladas, e as informações dadas, procediam do príncipe das trevas. PR 104 3 Os servos de Acazias encontraram-se com um homem de Deus, que fê-los retornar ao rei com a mensagem: "Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás". Havendo dado a sua mensagem, o profeta partiu. PR 104 4 Os admirados servos voltaram depressa ao rei, e repetiram-lhe as palavras do homem de Deus. O rei inquiriu: "Qual era o traje do homem que vos veio ao encontro e vos falou estas palavras?" Eles responderam: "Era um homem vestido de pêlos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro". "É Elias, o tesbita" (2 Reis 1:2-8), exclamou Acazias. Ele sabia que se o desconhecido a quem seus mensageiros tinham encontrado, fosse de fato Elias, as palavras de condenação pronunciadas seguramente se cumpririam. Ansioso por impedir, se possível, o ameaçado juízo, ele determinou mandar vir o profeta. PR 104 5 Duas vezes Acazias enviou uma companhia de soldados para intimidar o profeta, e duas vezes a ira de Deus caiu sobre eles em juízo. A terceira companhia de soldados humilhou-se perante Deus; e seu capitão, ao aproximar-se do mensageiro do Senhor, "pôs-se de joelhos diante de Elias, e suplicou-lhe, e disse-lhe: homem de Deus, seja, peço-te, preciosa aos teus olhos a minha vida, e a vida destes cinqüenta teus servos". PR 104 6 "Então o anjo do Senhor disse a Elias: Desce com este; não temas. E levantou-se, e desceu com ele ao rei. E disse-lhe: Assim diz o Senhor: Porque enviaste mensageiros a consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Porventura é por que não há Deus em Israel, para consultar a Sua palavra? Portanto desta cama, a que subiste, não descerás, mas certamente morrerás". 1 Reis 1:13-16. PR 104 7 Durante o reinado de seu pai, Acazias tinha testemunhado as maravilhosas obras do Altíssimo. Ele vira as terríveis evidências que Deus havia dado ao apostatado Israel, da maneira como Ele trata os que põem de lado obrigatórios reclamos de Sua lei. Acazias tinha agido como se essas terríveis realidades fossem apenas tolas histórias. Em vez de humilhar seu coração perante o Senhor, ele havia seguido após Baal, e afinal tinha arriscado sobre isto seu mais ousado ato de impiedade. Rebelde e não disposto a arrepender-se, Acazias morreu "conforme a palavra do Senhor, que Elias falara". 2 Reis 1:17. PR 105 1 A história do pecado do rei Acazias e sua punição traz em si uma advertência que ninguém pode subestimar impunemente. Homens de hoje podem não prestar homenagem a deuses pagãos, contudo milhares estão adorando no altar de Satanás tão verdadeiramente como o fizera o rei de Israel. O espírito de idolatria predomina no mundo hoje, embora, sob a influência de ciência e educação, tenha assumido formas mais refinadas e atrativas que nos dias em que Acazias procurou o deus de Ecrom. Cada dia acrescenta suas lastimáveis evidências de que a fé na segura Palavra da Profecia está em declínio, e que em seu lugar superstições e satânicos enganos estão cativando a mente de muitos. PR 105 2 Hoje os mistérios do culto pagão são substituídos pelas sessões e associações secretas, ocultismo e maravilhas dos médiuns espíritas. As revelações desses médiuns são avidamente recebidas por milhares que se recusam a aceitar a luz através da Palavra de Deus ou de Seu Espírito. Crentes no espiritismo podem falar com desdém dos mágicos do passado, mas o grande enganador ri triunfante ao se renderem eles a suas artes sob uma forma diferente. PR 105 3 Há muitos que recuam horrorizados ante o pensamento de consultar médiuns espíritas, mas são atraídos por formas mais agradáveis de espiritismo. Outros são levados ao extravio pelos ensinamentos da Ciência Cristã, e pelo misticismo da teosofia e outras religiões orientais. PR 105 4 Os apóstolos de quase todas as formas de espiritismo sustentam possuir poder para curar. Eles atribuem este poder à eletricidade, ao magnetismo, aos assim chamados "remédios de simpatia", ou a forças latentes contidas na mente do homem. E não são poucos, mesmo neste século cristão, os que vão a esses curandeiros, em vez de confiar no poder do Deus vivo e na habilidade de médicos bem qualificados. A mãe, vigiando junto ao leito de seu filhinho enfermo, exclama: "Nada mais posso fazer. Não há médico que tenha poder para restaurar meu filho?" Falam-lhe das maravilhosas curas realizadas por algum curandeiro clarividente ou magnetizador, e ela lhe confia seu ente querido, colocando-o nas mãos de Satanás tão verdadeiramente como se ele estivesse ao seu lado. Em muitos casos a vida futura da criança é controlada por um poder satânico que parece impossível quebrar. PR 105 5 Deus tinha motivos para desgostar-Se ante a impiedade de Acazias. Que não havia Ele feito para conquistar o coração do povo de Israel e inspirar-lhes confiança em Si? Durante séculos Ele estivera dando a Seu povo manifestações de bondade e amor nunca igualados. Desde o início mostrara que tinha as Suas "delícias com os filhos dos homens". Provérbios 8:31. Fora um auxílio sempre presente a todos que O buscavam em sinceridade. Contudo o rei de Israel, desviando-se agora de Deus para suplicar ajuda ao pior inimigo de seu povo, proclamava aos pagãos que tinha mais confiança nos seus ídolos do que no Deus do Céu. De igual maneira homens e mulheres desonram-nO quando tornam da Fonte de força e sabedoria para solicitar auxílio ou conselho dos poderes das trevas. Se a ira de Deus foi acesa pelo ato de Acazias, como considera Ele os que, tendo ainda maior luz, escolhem adotar uma conduta semelhante? PR 106 1 Os que se entregam aos enganos de Satanás podem presumir de grandes benefícios recebidos; mas prova isto que sua conduta é sábia ou prudente? Como seria se a vida fosse prolongada? Se vantagens temporais fossem concedidas? Valerá a pena no fim haver desrespeitado a vontade de Deus? Tais lucros aparentes provar-se-ão no final uma perda irreparável. Não podemos derribar impunemente uma única barreira que Deus tenha construído para guardar Seu povo do poder de Satanás. PR 106 2 Como Acazias não tivesse filhos, foi sucedido por Jorão, seu irmão, o qual reinou sobre as dez tribos por doze anos. Durante esses anos sua mãe, Jezabel, ainda viveu, e continuou a exercer sua má influência sobre os negócios da nação. Costumes idólatras eram ainda praticados por muitos dentre o povo. O próprio Jorão "fez o que era mau aos olhos do Senhor; porém não como seu pai, nem como sua mãe, porque tirou a estátua de Baal, que seu pai fizera. Contudo aderiu aos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, que fizera pecar a Israel; não se apartou deles". 2 Reis 3:2, 3. PR 106 3 Foi durante o reinado de Jorão sobre Israel que Josafá morreu, e seu filho, chamado Jeorão, subiu ao trono do reino de Judá. Por seu casamento com a filha de Acabe e Jezabel, Jeorão de Judá estava intimamente associado com o rei de Israel; e em seu reinado seguiu após Baal, "como fazia a casa de Acabe". "Também fez altos nos montes de Judá, e fez com que se corrompessem os moradores de Jerusalém, e até a Judá impeliu a isso". 2 Crônicas 21:6, 11. PR 106 4 Ao rei de Judá não foi permitido continuar com sua terrível apostasia sem reprovação. O profeta Elias não havia ainda sido trasladado, e ele não podia permanecer em silêncio enquanto o reino de Judá estava seguindo o mesmo curso que tinha levado o reino do norte à beira da ruína. O profeta enviou a Jeorão de Judá uma comunicação escrita, em que o ímpio rei leu as terríveis palavras: PR 106 5 "Assim diz o Senhor, Deus de Davi teu pai: Porquanto não andaste nos caminhos de Josafá, teu pai, e nos caminhos de Asa, rei de Judá, mas andaste nos caminhos dos reis de Israel, e fizeste corromper a Judá e aos moradores de Jerusalém, segundo a corrupção da casa de Acabe, e também mataste a teus irmãos, da casa de teu pai, melhores do que tu; eis que o Senhor ferirá com um grande flagelo ao teu povo, e a teus filhos, e às tuas mulheres, e a todas as tuas fazendas. Tu também terás uma grande enfermidade". PR 107 1 Em cumprimento desta profecia, despertou "o Senhor contra Jeorão o espírito dos filisteus e dos arábios, que estão da banda dos etíopes. Estes subiram a Judá, e deram sobre ela, e levaram toda a fazenda, que se achou na casa do rei, como também a seus filhos e a suas mulheres; de modo que lhe não deixaram filho, senão a Jeoacaz, Acazias, Azarias, o mais moço de seus filhos. PR 107 2 "E depois de tudo isto o Senhor o feriu nas suas entranhas com uma enfermidade incurável. E sucedeu que, depois de muitos dias, e chegado que foi o fim de dois anos [...] morreu de más enfermidades". 2 Crônicas 21:12-19. "E Acazias, seu filho, reinou em seu lugar". 2 Reis 8:24. PR 107 3 Jorão, o filho de Acabe, estava ainda reinando no reino de Israel quando seu sobrinho, Acazias, subiu ao trono de Judá. Acazias reinou apenas um ano, e durante este tempo, influenciado por sua mãe, Atalia, "sua conselheira, para obrar impiamente", "andou nos caminhos da casa de Acabe", "e fez o que era mau aos olhos do Senhor". 2 Crônicas 22:3, 4. Jezabel, sua avó, vivia ainda, e ele se aliou ousadamente com Jorão de Israel, seu tio. PR 107 4 Acazias de Judá logo encontrou um trágico fim. Os membros sobreviventes da casa de Acabe foram sem dúvida "seus conselheiros depois da morte de seu pai, para sua perdição". 2 Crônicas 22:3, 4. Enquanto Acazias estava em visita a seu tio em Jezreel, o profeta Eliseu foi divinamente dirigido para que enviasse um dos filhos dos profetas a Ramote-Gileade, a fim de ungir a Jeú como rei de Israel. As forças combinadas de Judá e Israel estavam nessa ocasião empenhadas numa campanha militar contra os sírios de Ramote-Gileade. Jorão havia sido ferido em combate, e retornara a Jezreel, deixando Jeú no comando dos exércitos reais. PR 107 5 Ao ungir Jeú, o mensageiro de Eliseu declarou: "Ungi-te rei sobre o povo do Senhor, sobre Israel". E então solenemente pôs sobre Jeú uma especial comissão do Céu. "E ferirás a casa de Acabe, teu senhor", o Senhor declarou por intermédio de Seu mensageiro, "para que Eu vingue o sangue de Meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor, da mão de Jezabel. E toda a casa de Acabe perecerá". 2 Reis 9:6-8. PR 107 6 Depois de haver sido proclamado rei pelo exército, Jeú dirigiu-se apressadamente para Jezreel, onde deu início à obra de execução de todos aqueles que deliberadamente haviam escolhido prosseguir no pecado e levar outros a pecar. Jorão de Israel, Acazias de Judá, e Jezabel, a rainha-mãe, "todos os restantes da casa de Acabe em Jezreel, como também a todos os seus grandes, e os seus conhecidos, e os seus sacerdotes", foram mortos. "Todos os profetas de Baal, todos os seus servos e todos os seus sacerdotes" que habitavam no centro do culto a Baal próximo de Samaria, foram passados a espada. As imagens idólatras foram quebradas e queimadas, e o templo de Baal foi feito em ruínas. E "assim Jeú destruiu a Baal de Israel". 2 Reis 10:11, 19, 28. PR 108 1 Notícias dessa execução geral chegaram até Atalia, filha de Jezabel, que ainda ocupava uma posição de autoridade no reino de Judá. Quando ela viu que seu filho, o rei de Judá, era morto, "levantou-se, e destruiu toda a descendência real". Neste massacre todos os descendentes de Davi que eram elegíveis ao trono foram destruídos, salvo um, uma criança de nome Joás, a quem a esposa de Joiada, o sumo sacerdote, escondeu nas recâmaras do templo. Durante seis anos a criança permaneceu ali escondida, enquanto "Atalia reinava sobre a terra". 2 Reis 10:11, 19, 28. PR 108 2 No fim deste tempo, "os levitas e todo o Judá" (2 Crônicas 23:8) uniram-se com Joiada, o sumo sacerdote, para coroar e ungir o pequeno Joás, aclamando-o rei. "E bateram as mãos, e disseram: Viva o rei". 2 Reis 11:12. PR 108 3 "Ouvindo, pois, Atalia a voz do povo que corria para louvar o rei, veio ao povo à casa do Senhor". "E olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, conforme o costume, e os capitães, e as trombetas junto ao rei, e todo o povo da terra estava alegre, e tocava as trombetas". PR 108 4 "Então Atalia rasgou os seus vestidos, e clamou: Traição! Traição!" 2 Reis 11:14. Mas Joiada ordenou a seus oficiais que a aprisionassem e a todos seus seguidores e os tirassem para fora do templo ao lugar da execução, onde deviam ser mortos. PR 108 5 Assim pereceu o último membro da casa de Acabe. O terrível mal que se produzira através de sua aliança com Jezabel continuou até que o último de seus descendentes foi destruído. Mesmo na terra de Judá, onde a adoração ao Deus verdadeiro jamais havia sido posta de lado, Atalia foi bem-sucedida em seduzir a muitos. Imediatamente após a execução da impenitente rainha, "todo o povo da terra entrou na casa de Baal, e a derribaram, como também os seus altares, e as suas imagens totalmente quebraram, e a Matã, sacerdote de Baal, mataram perante os altares". 2 Reis 11:18. PR 108 6 Seguiu-se uma reforma. Os que tomaram parte na aclamação de Joás como rei, tinham combinado solenemente que seriam "o povo do Senhor". E agora que a maléfica influência da filha de Jezabel tinha sido removida do reino de Judá, e os sacerdotes de Baal haviam sido mortos e seu templo destruído, "todo o povo da terra se alegrou, e a cidade repousou". 2 Crônicas 23:16, 21. ------------------------Capítulo 17 -- O chamado de Eliseu PR 109 1 Deus havia ordenado a Elias que ungisse outro para que fosse profeta em seu lugar. "A Eliseu, filho de Safate [...] ungirás profeta em teu lugar" (1 Reis 19:16), Ele dissera; e em obediência à ordem, Elias saiu em busca de Eliseu. Viajando em direção do norte, quão mudada estava a cena do que havia sido apenas pouco tempo antes Naquele tempo o solo estava crestado, os distritos agrícolas sem serem trabalhados, pois nem orvalho e nem chuva havia caído por três anos e meio. Agora por todos os lados a vegetação despontava, como que para compensar o tempo de sequidão e fome. PR 109 2 O pai de Eliseu era um rico fazendeiro, um homem cuja família estava entre aqueles que em tempo de apostasia quase universal não tinham dobrado os joelhos a Baal. O seu lar era desses onde Deus era honrado, e onde a lealdade à fé do antigo Israel era uma regra da vida diária. Em tal ambiente transcorreram os primeiros anos de vida de Eliseu. Na quietude da vida campestre, sob o ensino de Deus e da natureza e da disciplina do trabalho útil, recebeu ele a educação em hábitos de simplicidade e de obediência a seus pais e a Deus, educação que o ajudou a preparar-se para a alta posição que mais tarde deveria ocupar. PR 109 3 O chamado profético veio a Eliseu enquanto arava o campo com os servos de seu pai. Ele havia assumido o trabalho que estava mais próximo. Possuía ambas as qualidades: de um líder entre os homens e a mansidão de quem está pronto para servir. De espírito quieto e gentil, era não obstante enérgico e firme. Possuía integridade, fidelidade e o amor e temor de Deus; e na humilde rotina da labuta diária, ganhava força de propósito e nobreza de caráter, crescendo constantemente em graça e conhecimento. Enquanto cooperava com seu pai nos deveres do lar, estava aprendendo a cooperar com Deus. PR 109 4 Pela fidelidade em pequenas coisas, Eliseu estava-se preparando para encargos mais pesados. Dia a dia, mediante experiência prática, capacitava-se para uma obra mais ampla e mais alta. Ele aprendeu a servir; e havendo aprendido isto, aprendeu também como instruir e dirigir. A lição é para todos. Ninguém pode saber qual é o propósito de Deus em Sua disciplina; mas todos podem estar certos de que a fidelidade em pequenas coisas é a evidência da capacidade para responsabilidades maiores. Cada ato da vida é uma revelação do caráter; e unicamente aquele que nos pequenos deveres prova-se um "obreiro que não tem de que se envergonhar" (2 Timóteo 2:15), pode ser honrado por Deus com mais alto serviço. PR 110 1 Aquele que sente não ser de qualquer conseqüência a maneira como realiza suas pequenas tarefas, prova-se incapaz para uma posição mais honrosa. Ele pode imaginar-se inteiramente competente para assumir maiores encargos; mas Deus olha mais no fundo do que na superfície. Depois de testado e provado, está escrita contra ele a sentença: "Pesado foste na balança, e foste achado em falta". Daniel 5:27. Sua infidelidade reage sobre ele mesmo. Ele deixa de obter a graça, o poder, a força de caráter que se recebe mediante entrega sem reservas. PR 110 2 Muitos, por não estarem ligados diretamente a alguma atividade religiosa, acham que sua vida é inútil, que nada estão fazendo para o avançamento do reino de Deus. Se pudessem fazer alguma grande coisa, quão alegremente a empreenderiam! Mas porque só podem servir em pequenas coisas, julgam-se justificados em nada fazer. Erram nisto. Um homem pode estar no serviço ativo de Deus enquanto empenhado nos deveres comuns de cada dia -- enquanto derrubando árvores, abrindo clareiras ou indo após o arado. A mãe que educa seus filhos para Cristo está trabalhando para Deus, tão verdadeiramente como o pregador no púlpito. PR 110 3 Muitos anseiam por talento especial com que fazer uma obra maravilhosa, enquanto deveres que estão à mão e cuja realização tornariam a vida fragrante, são perdidos de vista. Tomem tais pessoas as atividades que estão diretamente em seu caminho. O sucesso não depende tanto de talento quanto de energia e boa vontade. Não é a posse de esplêndidos talentos que nos capacita a prestar serviço aceitável; mas a conscienciosa realização dos deveres diários, o espírito contente, o interesse sincero e sem afetação no bem-estar dos outros. Na mais humilde sorte pode ser encontrada verdadeira excelência. As tarefas mais comuns, executadas com amorável fidelidade, são belas à vista de Deus. PR 110 4 Passando Elias, divinamente dirigido na busca de um sucessor, pelo campo que Eliseu estava arando, lançou sobre os ombros do jovem o manto da consagração. Durante a fome, a família de Safate tinha-se relacionado com a obra e missão de Elias; e agora o Espírito de Deus impressionou o coração de Eliseu quanto ao significado do ato do profeta. Isto foi para ele o sinal de que Deus o havia chamado para ser o sucessor de Elias. PR 110 5 "Então deixou ele os bois, e correu após Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei". "Vai, e volta", foi a resposta de Elias, "porque, que te tenho eu feito?" Isto não era uma repulsa, mas um teste de fé. Eliseu devia considerar o preço -- decidir por si mesmo a aceitar ou rejeitar o chamado. Se seus desejos se apegassem ao lar e suas vantagens, ele estava livre para permanecer ali. Mas Eliseu compreendeu o significado do chamado. Sabia que viera de Deus, e não hesitou em obedecer. Não seria por qualquer vantagem terrena que ele iria renunciar à oportunidade de se tornar mensageiro de Deus, ou sacrificar o privilégio da associação com o Seu servo. Ele "tomou uma junta de bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia". 1 Reis 19:20, 21. Sem hesitação deixou um lar onde era amado, para assistir ao profeta em sua vida incerta. PR 111 1 Tivesse Eliseu perguntado a Elias o que se esperava dele -- qual seria sua obra -- e lhe teria sido respondido: Deus o sabe; Ele o fará conhecido de ti. Se esperares no Senhor, Ele responderá a todas as tuas inquirições. Podes vir comigo, se tens a evidência de que Deus te chamou. Sabe por ti mesmo que Deus me está sustentando, e que é Sua voz que ouves. Se podes considerar todas as coisas como escória, para que possas ganhar o favor de Deus, vem. PR 111 2 Semelhante ao chamado que veio a Eliseu foi a resposta dada por Cristo ao jovem doutor que Lhe fez a pergunta: "Que bem farei para conseguir a vida eterna?" "Se queres ser perfeito", disse Jesus, "vai, vende tudo o que tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me". Mateus 19:16, 21. PR 111 3 Eliseu aceitou o chamado para o serviço, não lançando um olhar sequer para trás, aos prazeres e confortos que estava deixando. O jovem doutor, quando ouviu as palavras do Salvador, "retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades". Mateus 19:22. Ele não estava disposto a fazer o sacrifício. Seu amor por suas posses era maior que seu amor por Deus. Recusando-se a renunciar tudo por Cristo, ele se provou indigno de um lugar no serviço do Mestre. PR 111 4 O chamado para depor tudo no altar do serviço vem a cada um. Não nos é pedido que sirvamos como Eliseu serviu, nem que vendamos tudo que possuímos; mas Deus nos pede que demos ao Seu serviço o primeiro lugar em nossa vida, e não permitamos se passe um só dia sem que façamos alguma coisa para avançar Sua obra na Terra. Ele não espera de todos a mesma espécie de serviço. Um pode ser chamado a servir em terras estrangeiras; outro pode ser chamado a dar de seus meios para o sustento do evangelho. Deus aceita a oferta de cada um. É a consagração da vida e de todos os seus interesses que é necessário. Os que fazem essa consagração, ouvirão e obedecerão ao chamado do Céu. PR 111 5 A todos que se tornam participantes de Sua graça, o Senhor aponta uma obra a ser feita em favor de outros. Individualmente devemos permanecer em nosso lugar, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim". Isaías 6:8. Quer seja um ministro da Palavra ou um médico, quer seja mercador ou fazendeiro, profissional ou mecânico, a responsabilidade repousa sobre ele. Sua obra deve revelar a outros o evangelho de sua salvação. Toda atividade em que se empenhe deve ser um meio para este fim. PR 111 6 Não foi grande a obra de início requerida de Eliseu; deveres comuns ainda constituíam sua disciplina. É dito dele que derramava água nas mãos de Elias, seu mestre. Ele estava disposto a fazer o que fosse que o Senhor ordenasse, e a cada passo aprendia lições de humildade e serviço. Como assistente pessoal do profeta, ele continuou a provar-se fiel nas pequenas coisas, enquanto com diário fortalecimento de propósito devotava-se à missão apontada por Deus. PR 112 1 A vida de Eliseu depois de unir-se a Elias não foi isenta de tentações. Provas ele as teve em abundância; mas em toda emergência confiou em Deus. Foi tentado a pensar no lar que havia deixado, mas não deu guarida a essa tentação. Havendo lançado mão do arado, resolveu não voltar atrás, e através de provações e lutas provou-se fiel a seu encargo. PR 112 2 O ministério compreende muito mais que pregar a Palavra. Significa educar jovens como Elias educou Eliseu, tirando-os de seus deveres comuns e dando-lhes responsabilidades para levarem na obra de Deus -- pequenos encargos a princípio, e maiores na medida em que ganharem força e experiência. Há no ministério homens de fé e oração, homens que podem dizer: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida; [...] o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos". 1 João 1:1-3. Obreiros jovens, inexperientes, devem ser treinados por trabalho prático em associação com esses experimentados servos de Deus. Assim, aprenderão como levar as cargas. PR 112 3 Os que assumem este treinamento de jovens obreiros estão fazendo um nobre serviço. O Senhor mesmo coopera com seus esforços. E os jovens sobre quem têm sido pronunciadas as palavras de consagração, cujo privilégio é estar em íntima associação com obreiros piedosos e fervorosos, devem aproveitar o máximo de suas oportunidades. Deus os tem honrado por havê-los escolhido para o Seu serviço e por havê-los colocado onde possam alcançar maior habilidade para isto; e eles devem ser humildes, fiéis, obedientes e dispostos para o sacrifício. Se se submeterem à disciplina de Deus, seguindo Suas indicações, e escolhendo Seus servos como seus conselheiros, redundarão em homens justos, firmes, e de princípios elevados, a quem Deus pode confiar responsabilidades. PR 112 4 Ao ser o evangelho proclamado em sua pureza, homens serão chamados do arado e das atividades comerciais comuns que ocupam em grande medida a mente, e serão educados em associação com homens de experiência. Ao aprenderem a trabalhar com eficácia, proclamarão a verdade com poder. Através das mais maravilhosas operações da divina providência, montanhas de dificuldades serão removidas e lançadas no mar. A mensagem que significa tanto para os habitantes da Terra será ouvida e entendida. Os homens saberão o que é a verdade. Para a frente, sempre para a frente a obra avançará, até que toda a Terra tenha sido advertida; e então virá o fim. PR 113 1 Por vários anos após o chamado de Eliseu, este e Elias trabalharam juntos, o mais jovem adquirindo diariamente maior preparo para a sua obra. Elias havia sido o instrumento para a derrota de gigantescos males. A idolatria que, sustentada por Acabe e a pagã Jezabel, tinha seduzido a nação, havia sido decididamente contida. Os profetas de Baal haviam sido mortos. Todo o povo de Israel tinha sido profundamente despertado, e muitos estavam retornando à adoração a Deus. Como sucessor de Elias, Eliseu, mediante instrução cuidadosa e paciente, devia procurar guiar Israel em caminho seguro. Sua associação com Elias, o maior profeta desde Moisés, preparou-o para a obra que deveria logo assumir sozinho. PR 113 2 Durante esses anos de ministério unido, Elias era de tempos em tempos chamado a opor-se a flagrantes males com severa repreensão. Quando o ímpio Acabe apoderou-se da vinha de Nabote, foi a voz de Elias que profetizou sua condenação e a condenação de toda sua casa. E quando Acazias, após a morte de seu pai Acabe, voltou-se do Deus vivo para Baal-Zebube, o deus de Ecrom, foi a voz de Elias que uma vez mais se fez ouvir em veemente protesto. PR 113 3 As escolas dos profetas, estabelecidas por Samuel, tinham entrado em decadência durante os anos da apostasia de Israel. Elias restabeleceu essas escolas, tomando providência para que os jovens adquirissem uma educação que os levasse a engrandecer a lei e fazê-la gloriosa. Três dessas escolas, uma em Gilgal, outra em Betel, e a terceira em Jericó, são mencionadas no registro. Pouco antes de Elias ser levado para o Céu, ele e Eliseu visitaram esses centros de educação. As lições que o profeta de Deus lhes havia propiciado em visitas anteriores, ele as repetiu agora. Especialmente instruiu-os com respeito ao alto privilégio de lealmente manterem obediência ao Deus do Céu. Imprimiu-lhes também na mente a importância de permitirem que a simplicidade marcasse cada aspecto de sua educação. Somente assim poderiam receber a modelagem do Céu, e saírem para trabalhar nos caminhos do Senhor. PR 113 4 O coração de Elias se encheu de júbilo quando viu o que estava sendo alcançado por meio dessas escolas. A obra de reforma não estava completa, mas ele podia verificar através do reino a exatidão da palavra do Senhor: "Também Eu fiz ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que se não dobraram a Baal, e toda a boca que o não beijou". 1 Reis 19:18. PR 113 5 Enquanto Eliseu acompanhava o profeta em sua rotineira visita de escola a escola, sua fé e resolução foram uma vez mais provadas. Em Gilgal, e também em Betel e Jericó, ele foi convidado pelo profeta a retornar. "Fica-te aqui", disse Elias, "porque o Senhor me enviou a Betel". 2 Reis 2:2. Mas em seu primitivo trabalho de guiar o arado, Eliseu havia aprendido a não fracassar nem se desencorajar; e agora que havia lançado mão do arado em outro ramo do dever, não poderia deixar-se desviar de seu propósito. Ele não se afastaria de seu mestre enquanto tivesse oportunidade de conseguir maior capacidade para o serviço. Desconhecida por Elias, a revelação de que estava para ser trasladado fora dada a conhecer aos seus discípulos nas escolas dos profetas, e em particular a Eliseu. E agora o provado servo do homem de Deus conservava-se bem junto a ele. Tantas vezes quantas lhe fora feito o convite para retornar, sua resposta foi: "Vive o Senhor, e vive a tua alma, que te não deixarei". PR 114 1 "E, assim, ambos foram juntos. [...] E eles ambos pararam junto ao Jordão. Então, Elias tomou o seu manto enrolou-o, e feriu as águas, as quais se dividiram para os dois lados; e passaram ambos em seco. Sucedeu, pois, que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti". 2 Reis 2:6-9. PR 114 2 Eliseu não pediu honras seculares, ou um lugar elevado entre os grandes homens da Terra. O que ele ambicionava era uma grande medida do Espírito que Deus havia derramado tão abundantemente sobre aquele que estava para ser honrado com a trasladação. Ele sabia que nada a não ser o Espírito que havia repousado sobre Elias, podia capacitá-lo a preencher em Israel o lugar para o qual Deus o havia chamado; assim respondeu: "Peço-te que haja porção dobrada do teu espírito sobre mim". 2 Reis 2:9. PR 114 3 Em resposta a este pedido, Elias disse: "Coisa dura pediste. Se me vires quando for tomado de ti, assim se fará; porém, se não, não se fará. E sucedeu que indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao Céu num redemoinho". 2 Reis 2:1-11. PR 114 4 Elias foi um tipo dos santos que estarão vivendo na Terra por ocasião do segundo advento de Cristo, e que serão "transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta" (1 Coríntios 15:51, 52), sem provar a morte. Foi como representante dos santos a serem assim trasladados que, ao aproximar-se o fim do ministério terrestre de Cristo, foi permitido a Elias estar com Moisés ao lado do Salvador no monte da transfiguração. Nesses entes glorificados os discípulos viram em miniatura a representação do reino dos redimidos. Eles contemplaram a Jesus revestido com a luz do Céu; ouviram uma voz que "saiu da nuvem" (Lucas 9:35), reconhecendo-O como o Filho de Deus; viram Moisés representando os que serão ressuscitados da morte por ocasião do segundo advento; e ali estava também Elias, representando os que, no fim da história terrestre, serão mudados do estado mortal para o imortal, e serão trasladados ao Céu sem ver a morte. PR 114 5 No deserto, em solidão e desencorajamento, Elias dissera que já havia vivido bastante, e orara pedindo a morte. Mas o Senhor em Sua misericórdia não o tomara pela palavra. Grande obra havia ainda para ser feita por Elias; e quando sua obra tivesse terminado, não devia ele ser deixado a perecer em desencorajamento e solidão. Não lhe estava reservado descer à tumba, mas ascender com os anjos de Deus à presença de Sua glória. PR 115 1 "O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, travando dos seus vestidos, os rasgou em duas partes. Também levantou a capa de Elias, que lhe caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o Senhor, Deus de Elias? Então feriu as águas, e se dividiram elas para uma e outra banda, e Eliseu passou. Vendo-o, pois os filhos dos profetas que estavam defronte, em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra". 2 Reis 2:12-15. PR 115 2 Quando o Senhor em Sua providência considera oportuno remover de Sua obra aqueles a quem tem dado sabedoria, Ele ajuda e fortalece seus sucessores, se se voltarem para Ele em busca de auxílio e andarem em Seus caminhos. Podem eles ser mesmo mais sábios que seus predecessores; pois podem tirar proveito de suas experiências e de seus erros adquirir sabedoria. PR 115 3 Daí em diante Eliseu ocupou o lugar de Elias. Aquele que havia sido fiel no mínimo, devia provar-se igualmente fiel no máximo. ------------------------Capítulo 18 -- As águas purificadas PR 116 1 Nos tempos patriarcais, a campina do Jordão "era toda bem regada [...] como o jardim do Senhor". Foi neste aprazível vale que Ló escolheu estabelecer seu lar, quando "armou as suas tendas até Sodoma". Gênesis 13:10, 12. No tempo em que as cidades da planície foram destruídas, a região em redor tornou-se como um desolado ermo, constituindo desde então parte do deserto da Judéia. PR 116 2 Uma porção da bela campina permaneceu, com suas fontes e torrentes vivificantes, para alegrar o coração do homem. Neste vale, rico de campos de cereais e florestas de tamareiras e outras árvores frutíferas, as tribos de Israel tinham acampado depois de cruzar o Jordão, e participavam pela primeira vez dos frutos da terra prometida. Perante eles erguiam-se os muros de Jericó, baluarte pagão, o centro do culto de Astarote, a mais vil e mais degradante de todas as formas cananéias de idolatria. Logo seus muros foram postos abaixo e seus habitantes mortos; e ao tempo de sua queda, foi feita na presença de todo o Israel a solene declaração: "Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; perdendo o seu primogênito a fundará, e sobre seu filho mais novo lhe porá as portas". Josué 6:26. PR 116 3 Cinco séculos se passaram. O local jazia desolado, amaldiçoado de Deus. Até mesmo os mananciais que haviam feito residência nesta porção da campina tão desejável, sofreram os efeitos causticantes da maldição. Mas nos dias da apostasia de Acabe, quando foi revivida a influência do culto de Astarote por intermédio de Jezabel, Jericó, a antiga sede desse culto, foi reconstruída, embora a terrível preço para o seu reconstrutor. Hiel, o betelita, "morrendo Abirão, seu primogênito, a fundou, e morrendo Segube, seu último, pôs as suas portas; conforme a palavra do Senhor". 1 Reis 16:34. PR 116 4 Não muito distante de Jericó, em meio de bosques frutíferos, estava uma das escolas dos profetas; e para lá se dirigiu Eliseu após a ascensão de Elias. Durante sua estada entre eles, os homens da cidade vieram ao profeta, e disseram: "Eis que boa é a habitação desta cidade, como o meu senhor vê; porém as águas são más, e a terra é estéril". A fonte que nos anos anteriores tinha sido pura e vivificante, e havia contribuído grandemente para suprir a cidade e os seus arredores com água, era agora imprópria para uso. PR 117 1 Em resposta ao apelo dos homens de Jericó, Eliseu disse: "Trazei-me uma salva nova, e ponde nela sal". Havendo recebido isto, "saiu ele ao manancial das águas, e deitou sal nele, e disse: Assim diz o Senhor: Sararei estas águas; não haverá mais nelas morte nem esterilidade". 2 Reis 2:19-21. PR 117 2 A purificação das águas de Jericó foi realizada, não por qualquer sabedoria da parte do homem, mas pela miraculosa interposição de Deus. Aqueles que haviam reconstruído a cidade eram indignos do favor do Céu; contudo Aquele que "faz que Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos" (Mateus 5:45), achou oportuno neste caso revelar, através do toque de Sua compaixão, Seu desejo de sarar Israel de seus males espirituais. PR 117 3 A restauração fora permanente; "ficaram, pois, sãs aquelas águas até ao dia de hoje, conforme a palavra que Eliseu tinha dito". 2 Reis 2:22. De século a século as águas têm fluído, tornando esta parte do vale um oásis de beleza. PR 117 4 Muitas são as lições espirituais a serem tiradas da história da cura das águas. A salva nova, o sal, o manancial -- tudo é altamente simbólico. PR 117 5 Lançando o sal no manancial amargo, Eliseu ensinava a mesma lição espiritual dada séculos mais tarde pelo Salvador a Seus discípulos, quando declarou: "Vós sois o sal da Terra". Mateus 5:13. O sal misturando-se com a fonte poluída purificou suas águas, e levou vida e bênção onde antes havia sequidão e morte. Quando Deus compara Seus filhos ao sal, Ele deseja ensinar-lhes que Seu propósito em fazê-los súditos de Sua graça é que possam tornar-se instrumentos na salvação de outros. O objetivo de Deus em escolher um povo perante todo o mundo, não foi apenas para que pudesse adotá-lo como Seus filhos e filhas, mas para que através deles o mundo pudesse receber a graça que resulta em salvação. Quando o Senhor escolheu Abraão, não foi somente para que ele fosse o especial amigo de Deus, mas um conduto dos privilégios peculiares que o Senhor desejava outorgar às nações. PR 117 6 O mundo necessita de evidências de sincero cristianismo. O veneno do pecado está em operação no coração da sociedade. Cidades e vilas estão mergulhadas em pecado e corrupção moral. O mundo está cheio de enfermidades, sofrimento, iniqüidade. Perto e longe estão almas em pobreza e ansiedade, carregadas com o senso da culpa, e perecendo por falta de uma influência salvadora. O evangelho da verdade é posto sempre perante eles, contudo eles perecem, porque o exemplo dos que deviam ser-lhes um cheiro de vida, é um cheiro de morte. Suas almas bebem amargura, porque as fontes estão envenenadas, quando deviam ser como uma fonte de água que salta para a vida eterna. PR 117 7 O sal deve ser misturado com a substância a que é adicionado; ele precisa penetrar, infundir-se nela, para que esta seja preservada. Assim, é através de associação e contato pessoal que os homens são alcançados pelo poder salvador do evangelho. Eles não são salvos como massas, mas como indivíduos. A influência pessoal é um poder. Ela deve operar com a influência de Cristo, para exaltar onde Cristo exalta, comunicar princípios corretos e deter o progresso da corrupção do mundo. Deve difundir aquela graça que somente Cristo pode repartir. Deve elevar, dulcificar a vida e caráter de outros pelo poder de um exemplo puro, unido a fervente fé e amor. PR 118 1 Do manancial de Jericó até então poluído, o Senhor declarou: "Sararei estas águas; não haverá mais nelas morte nem esterilidade". 2 Reis 2:19-21. A corrente poluída representa a alma que está separada de Deus. O pecado não somente separa de Deus, mas destrói na alma humana tanto o desejo como a capacidade de conhecê-Lo. Através do pecado todo o organismo humano fica transtornado, a mente é pervertida, corrompida a imaginação; as faculdades da alma se degradam. Há ausência de religião pura, de santidade de coração. O poder convertedor de Deus não opera na transformação do caráter. A alma fica debilitada, e por falta de força moral para vencer, é poluída e aviltada. PR 118 2 Para o coração que foi purificado, tudo está mudado. A transformação do caráter é o testemunho para o mundo de que Cristo habita no ser. O Espírito de Deus produz nova vida na alma, levando os pensamentos e os desejos à obediência à vontade de Cristo; e o homem interior é renovado segundo a imagem de Deus. Homens e mulheres fracos e falíveis mostram ao mundo que o poder remidor da graça faz com que o caráter falho se desenvolva em simetria e abundante fruto. PR 118 3 O coração que recebe a Palavra de Deus não é como um poço que se evapora, nem como uma cisterna rota que não retém suas águas. É como a torrente da montanha, alimentada por fontes permanentes, cujas águas frígidas e borbulhantes saltam de rocha em rocha, refrigerando o cansado, o sedento, o carregado de cargas. É como um rio a fluir constantemente, e que se torna mais profundo e mais amplo à medida que avança, até que suas vivificantes águas se espalham sobre toda a terra. A corrente que rola murmurejando em seu curso, deixa após si a dádiva da vegetação e frutos. A grama na encosta é mais fresca, as árvores mais ricas em verdura, as flores são mais abundantes. Quando a terra fica desnuda e escura sob o escaldante calor do verão, uma linha de verdura assinala o curso do rio. PR 118 4 Assim é com o verdadeiro filho de Deus. A religião de Cristo revela-se como um princípio vitalizante e dominante, uma energia espiritual operante e viva. Quando o coração é aberto à influência celestial da verdade e do amor, esses princípios fluirão de novo como torrentes no deserto, fazendo que apareçam frutos onde agora há esterilidade e penúria. PR 118 5 À medida que os que foram purificados e santificados através do conhecimento da verdade bíblica se empenham de coração na obra de salvação das almas, tornar-se-ão sem dúvida um cheiro de vida para a vida. E ao beberem diariamente das inesgotáveis fontes da graça e conhecimento, verificarão que seu próprio coração está a transbordar com o Espírito de seu Mestre, e que através de seu nobre ministério muitos são beneficiados física, mental e espiritualmente. Os cansados são refrigerados, é restaurada a saúde ao enfermo, e o carregado de pecados é libertado. Em países longínquos ouvem-se ações de graças dos lábios daqueles cujo coração foi convertido do serviço do pecado para a justiça. PR 119 1 "Dai, e ser-vos-á dado" (Lucas 6:38); pois a Palavra de Deus é "a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano". Cânticos 4:15. ------------------------Capítulo 19 -- Um profeta de paz PR 120 0 Este capítulo é baseado em 2 Reis 4. PR 120 1 A obra de Eliseu como profeta foi de algum modo muito diferente da de Elias. A Elias haviam sido confiadas mensagens de condenação e juízo; sua voz era de destemida reprovação, chamando rei e povo a voltarem de seus maus caminhos. A missão de Eliseu era mais pacífica; devia desenvolver e fortalecer a obra que Elias havia iniciado; ensinar ao povo o caminho do Senhor. A inspiração pinta-o como entrando em contato pessoal com o povo; rodeado pelos filhos dos profetas; produzindo cura e júbilo por intermédio de seus milagres e seu ministério. PR 120 2 Eliseu era um homem de espírito brando e bondoso; mas que podia também ser severo é mostrado pela maldição que lançou quando, a caminho de Betel, foi escarnecido por rapazes ímpios que haviam saído da cidade. Esses rapazes tinham ouvido da ascensão de Elias, e fizeram deste solene acontecimento o assunto de seus motejos, dizendo a Eliseu: "Sobe, calvo; sobe, calvo." Ao som de suas zombeteiras palavras o profeta voltou-se, e sob a inspiração do Todo-poderoso pronunciou uma maldição sobre eles. O terrível juízo que se seguiu foi de Deus. "Então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles pequenos". 2 Reis 2:23, 24. PR 120 3 Tivesse Eliseu permitido que a zombaria passasse despercebida, e teria continuado a ser ridicularizado e insultado pela turba, e sua missão para instruir e salvar em um tempo de grave perigo nacional poderia ter sido derrotada. Este único exemplo de terrível severidade foi suficiente para exigir respeito pelo resto de sua vida. Durante cinqüenta anos ele entrou e saiu pelas portas de Betel, e andou de um para outro lado em sua terra, de cidade em cidade, passando pelo meio de multidões indolentes, rudes e dissolutas de jovens; mas nenhum o injuriou ou fez caso omisso de suas qualificações como profeta do Altíssimo. PR 120 4 Até mesmo a bondade deve ter seus limites. A autoridade deve ser mantida mediante firme severidade, ou será recebida por muitos com zombaria e desdém. A assim chamada tolerância, lisonja, e indulgência, usadas para com a juventude por pais e responsáveis, é um dos piores males que lhes pode sobrevir. Em toda família, firmeza, decisão, exigências positivas, são essenciais. PR 120 5 A reverência, que faltava aos jovens que zombaram de Eliseu, é uma graça que deve ser cuidadosamente acariciada. Cada criança deve ser ensinada a mostrar verdadeira reverência para com Deus. Jamais deve o Seu nome ser pronunciado leviana ou irrefletidamente. Anjos, ao pronunciarem aquele nome, velam o rosto. Com que reverência não devemos nós, que somos caídos e pecadores, tomá-lo em nossos lábios! PR 121 1 Deve-se mostrar respeito para com os representantes de Deus -- pastores, professores, pais, os quais são chamados para falarem e agirem em Seu lugar. No respeito que lhes é manifestado, Deus é honrado. PR 121 2 A cortesia, também, é uma das graças do Espírito, e deve ser cultivada por todos. Ela tem poder para abrandar as naturezas que sem ela se desenvolveriam desgraciosas e rudes. Os que professam ser seguidores de Cristo, e são ao mesmo tempo ríspidos, desamáveis e descorteses, não têm aprendido de Jesus. Sua sinceridade pode não ser passível de dúvida, sua retidão pode ser indiscutível; mas sinceridade e retidão não se harmonizam com falta de bondade e de cortesia. PR 121 3 O espírito de bondade que habilitou Eliseu a exercer uma poderosa influência sobre a vida de muitos em Israel, é revelado na história de sua fraternal relação com a família de Suném. Em seu jornadear para um e outro lado através do reino, "sucedeu também um dia que, indo Eliseu a Suném, havia ali uma mulher rica, a qual o reteve a comer pão; e sucedeu que todas as vezes que passava, ali se dirigia a comer pão". A senhora da casa percebeu que Eliseu era "um santo homem de Deus", e disse a seu marido: "Façamos-lhe, pois, um pequeno quarto junto ao muro, e ali lhe ponhamos uma cama, e uma mesa, e uma cadeira e um candeeiro; e há de ser que, vindo ele a nós, para ali se retirará". 2 Reis 4:8-10. Para este retiro Eliseu muitas vezes se dirigiu, agradecido por sua quietude e paz. E Deus não Se esqueceu da bondade da mulher. Aquele tinha sido um lar sem filhos; e agora o Senhor recompensou-lhe a hospitalidade dando-lhe um filho. PR 121 4 Passaram-se os anos. A criança alcançou idade suficiente para sair aos campos com os segadores. Um dia ela foi vitimada pelo calor, "e disse a seu pai: Ai, a minha cabeça ai, a minha cabeça" O pai mandou que um moço levasse a criança a sua mãe; "e ele o tomou, e o levou a sua mãe; e esteve sobre os seus joelhos até ao meio-dia, e morreu. E subiu ela, e o deitou sobre a cama do homem de Deus, e fechou sobre ele a porta, e saiu". 2 Reis 4:19-21. PR 121 5 Em sua aflição, a sunamita se dispôs a ir em busca do auxílio de Eliseu. O profeta estava então no Monte Carmelo; e a mulher, acompanhada por um servo, partiu imediatamente. "E sucedeu que, vendo-a o homem de Deus de longe, disse a Geazi, seu moço: Eis aí a sunamita. Agora, pois, corre-lhe ao encontro e dize-lhe: Vai bem contigo? Vai bem com teu marido? Vai bem com teu filho?" O servo fez como lhe fora ordenado, mas só depois de ter-se encontrado com Eliseu, é que a mãe amargurada revelou a causa de sua tristeza. Ouvindo de sua perda, Eliseu ordenou a Geazi: "Cinge os teus lombos, e toma o meu bordão na tua mão, e vai. Se encontrares alguém, não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas; e põe o meu bordão sobre o rosto do menino." PR 122 1 Mas a mãe não se satisfez enquanto Eliseu em pessoa não fosse com ela. "Vive o Senhor, e vive a tua alma, que não te hei de deixar", declarou ela. "Então ele se levantou, e a seguiu. E Geazi passou adiante deles, e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não havia nele voz nem sentido. E voltou a encontrar-se com ele, e lhe trouxe aviso, dizendo: Não despertou o menino." PR 122 2 Quando eles alcançaram a casa, Eliseu entrou no aposento onde a criança jazia morta, "e fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao Senhor. E subiu, e deitou-se sobre o menino, e, pondo a sua boca sobre a boca dele, e os seus olhos sobre os olhos dele, e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre ele; e a carne do menino aqueceu. Depois voltou, e passeou naquela casa de uma parte para a outra, e tornou a subir, e se estendeu sobre ele; então o menino espirrou sete vezes, e o menino abriu os olhos". PR 122 3 Chamando Geazi, Eliseu lhe ordenou que chamasse a mãe do menino. "E veio a ele. E disse: Toma o teu filho. E veio ela, e se prostrou a seus pés, e se inclinou à terra; e tomou o seu filho, e saiu". 2 Reis 4:25-37. PR 122 4 Assim foi recompensada a fé desta mulher. Cristo, o grande Doador da vida, restaurou-lhe o filho. De igual maneira os Seus fiéis serão recompensados quando, em Sua vinda, a morte perder o seu aguilhão, e à sepultura for roubada a vitória que tem pretendido. Então Ele restaurará a Seus servos os filhos que a morte lhes tomou. "Assim diz o Senhor: Uma voz se ouviu em Ramá, lamentação, choro amargo; Raquel chora seus filhos, sem admitir consolação por eles, porque já não existem. Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas dos teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, pois eles voltarão da terra do inimigo. E há esperança no derradeiro fim para os teus descendentes, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos". Jeremias 31:15-17. PR 122 5 Jesus conforta nossa tristeza pelos mortos com uma mensagem de infinita esperança: "Eu os remirei da violência do inferno, e os resgatarei da morte. Onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua perdição?" Oséias 13:14. "Eu sou [...] o que vivo e fui morto, mas eis aqui, estou vivo para todo o sempre [...] e tenho as chaves da morte e do inferno". Apocalipse 1:17, 18. "Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor". 1 Tessalonicenses 4:16, 17. PR 122 6 Como o Salvador da humanidade, de quem foi um tipo, Eliseu em seu ministério entre os homens, combinou o trabalho de curar com o de ensinar. Fielmente, incansavelmente, através de seu longo e eficaz labor, Eliseu esforçou-se por nutrir e fazer avançar a importante obra educacional conduzida pelas escolas dos profetas. Na providência de Deus, suas palavras de instrução aos fervorosos grupos de jovens reunidos eram confirmadas por profundas manifestações do Espírito Santo, e às vezes por outras inconfundíveis evidências de sua autoridade como servo de Jeová. PR 123 1 Foi por ocasião de uma dessas visitas à escola estabelecida em Gilgal, que ele sarou a panela envenenada. "Havia fome naquela terra; e os filhos dos profetas estavam assentados na sua presença. E disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume, e faze um caldo de ervas para os filhos dos profetas. Então um saiu ao campo a apanhar ervas, e achou uma parra brava, e colheu dela a sua capa cheia de coloquíntidas; e veio, e as cortou na panela do caldo, porque as não conheciam. Assim tiraram de comer para os homens. E sucedeu que, comendo eles daquele caldo, clamaram e disseram: Homem de Deus, há morte na panela. Não puderam comer. Porém ele disse: Trazei, pois, farinha. E deitou-a na panela, e disse: Tirai de comer para o povo. Então não havia mal nenhum na panela". 2 Reis 4:38-41. PR 123 2 Em Gilgal, ainda, enquanto perdurava a penúria na terra, Eliseu alimentou cem homens com o presente a ele levado por "um homem de Baal-Salisa", presente que constava de "pães das primícias, vinte pães de cevada, e espigas verdes na sua palha". Havia com ele os que estavam em cruel necessidade de alimento. Quando chegou essa oferta, ele disse a seu servo: "Dá ao povo, para que coma. Porém seu servo disse: Como hei de eu pôr isto diante de cem homens? E disse ele: Dá ao povo para que coma; porque assim diz o Senhor: Comer-se-á, e sobejará. Então lhes pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do Senhor". 2 Reis 4:42-44. PR 123 3 Que condescendência da parte de Cristo, operar através de Seu mensageiro esse milagre a fim de saciar a fome! Uma e outra vez a partir de então, embora nem sempre de maneira tão marcante e notável, tem o Senhor Jesus operado para suprir a necessidade humana. Se tivéssemos mais claro discernimento espiritual, reconheceríamos mais prontamente do que o temos feito o trato compassivo de Deus com os filhos dos homens. PR 123 4 É a graça de Deus sobre a pequena porção que a torna absolutamente suficiente. A mão de Deus pode multiplicá-la ao cêntuplo. De Seus recursos Ele pode estender uma mesa no deserto. Pelo toque de Sua mão Ele pode fazer avultar a minguada provisão, tornando-a suficiente para todos. Foi Seu poder que multiplicou os pães e as espigas nas mãos dos filhos dos profetas. PR 123 5 Nos dias do ministério terrestre de Cristo, quando Ele realizou um milagre semelhante na alimentação de multidões, a mesma incredulidade foi manifestada como a dos que estavam associados ao profeta do passado. "Como hei de pôr isto diante de cem homens?" disse o servo de Eliseu. E quando Jesus ordenou a Seus discípulos que dessem de comer à multidão, eles objetaram: "Não temos senão cinco pães e dois peixes; salvo se nós próprios formos comprar comida para todo este povo". Lucas 9:13. Que é isto para tantos? PR 124 1 A lição é para os filhos de Deus em todas as eras. Quando o Senhor dá um trabalho para ser feito, não se detenham os homens a inquirir da plausibilidade da ordem ou o provável resultado de seus esforços antes de obedecer. O suprimento em suas mãos pode parecer muito aquém das necessidades a serem supridas; mas nas mãos do Senhor ele se provará mais que suficiente. O servo "lhes pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do Senhor". 2 Reis 4:44. PR 124 2 Mais elevado senso das relações de Deus para com aqueles a quem Ele comprou com a dádiva de Seu Filho, maior fé no progresso de Sua causa na Terra -- eis a grande necessidade da igreja hoje. Que ninguém gaste tempo em deplorar a escassez de seus recursos visíveis. As aparências podem não ser prometedoras; mas energia e confiança em Deus desenvolverão recursos. Ele multiplicará por Sua bênção a dádiva que Lhe é levada com gratidão e oração, como multiplicou o alimento dado aos filhos dos profetas e à multidão cansada. ------------------------Capítulo 20 -- Naamã PR 125 0 Este capítulo é baseado em 2 Reis 5. PR 125 1 E Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito, porque por ele o Senhor dera livramento aos sírios; e era este varão homem valoroso, porém leproso". PR 125 2 Ben-Hadade, rei da Síria, havia derrotado os exércitos de Israel na batalha em que resultou a morte de Acabe. Desde esse tempo os sírios tinham mantido contra Israel uma constante guerrilha; e numa de suas incursões, levaram prisioneira uma menina que, na terra do seu cativeiro, "ficou ao serviço da mulher de Naamã". Uma escrava distante do lar, esta pequena jovem era não obstante uma das testemunhas de Deus, cumprindo inconscientemente o propósito pelo qual Deus havia escolhido Israel como Seu povo. Enquanto servia nesse lar pagão, suas simpatias foram despertadas em favor de seu amo; e, lembrando os maravilhosos milagres de cura operados por Eliseu, ela disse a sua senhora: "Oxalá que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra". Ela sabia que o poder do Céu estava com Eliseu, e cria que por este poder Naamã seria curado. PR 125 3 A conduta da menina cativa, a maneira como se comportou neste lar pagão, é um forte testemunho do poder dos primeiros ensinamentos do lar. Não há mais alto encargo do que o confiado aos pais e mães no cuidado e educação de seus filhos. Os pais têm que tratar com os próprios fundamentos de hábito e caráter. Por seu exemplo e ensino é o futuro de seus filhos em grande medida decidido. PR 125 4 Felizes são os pais cuja vida é um verdadeiro reflexo da divindade, de maneira que as promessas e ordens de Deus despertem na criança gratidão e reverência; os pais cuja ternura e justiça e longanimidade interpretam para a criança o amor e a justiça e a longanimidade de Deus; que ensinam a criança a amá-los e obedecer-lhes, estão ensinando-as a amar ao Pai do Céu, a obedecer-Lhe e nEle confiar. Os pais que repartem com o filho tal dom o estão dotando com um tesouro mais precioso que as riquezas de todos os séculos -- um tesouro tão perdurável como a eternidade. PR 125 5 Nós não sabemos em que setor nossos filhos poderão ser chamados a servir. Eles podem despender sua vida no círculo do lar; podem empenhar-se nas ocupações comuns da vida, ou ir a terras pagãs como ensinadores do evangelho; mas todos são igualmente chamados como missionários para Deus, ministros de misericórdia para o mundo. Devem obter uma educação que os ajude a permanecer ao lado de Cristo em abnegado serviço. PR 126 1 Os pais da menina hebréia, ao ensinar-lhe a respeito de Deus, não sabiam o destino que lhe tocaria. Mas foram fiéis em seu ofício; e no lar do capitão do exército sírio, sua filha testemunhou do Deus a quem tinha aprendido a honrar. PR 126 2 Naamã ouvira a respeito das palavras que a menina dissera a sua senhora; e obtendo permissão do rei, saiu em busca da cura, tomando consigo "dez talentos de prata, e seis mil siclos de ouro e dez mudas de vestidos". Levou também uma carta do rei da Síria ao rei de Israel, na qual estava escrita a mensagem: "Eu te enviei Naamã, meu servo, para que o restaures da sua lepra". Quando o rei de Israel leu a carta, "rasgou os seus vestidos, e disse: Sou eu Deus, para matar e para vivificar, para que este envie a mim, para eu restaurar a um homem da sua lepra? Pelo que deveras notai, peço-vos, e vede que busca ocasião contra mim". PR 126 3 Notícias do acontecimento chegaram até Eliseu, e ele mandou uma mensagem ao rei, dizendo: "Por que rasgaste os teus vestidos? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel". PR 126 4 "Veio, pois, Naamã com os seus cavalos, e com o seu carro, e parou à porta da casa de Eliseu". Por intermédio de um mensageiro o profeta ordenou-lhe: "Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado". 2 Reis 5:1-10. PR 126 5 Naamã havia esperado ver alguma maravilhosa manifestação do poder do Céu. "Eis que eu dizia comigo", confessou ele, "certamente ele sairá, e pôr-se-á em pé, e invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso". Quando se lhe ordenou que se lavasse no Jordão, seu orgulho foi ferido, e em mortificação e desapontamento exclamou: "Não são porventura, Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar nelas, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação". PR 126 6 O orgulhoso espírito de Naamã rebelou-se contra o seguir o caminho indicado por Eliseu. Os rios mencionados pelo capitão sírio eram embelezados por circundantes bosques, e muitos acorriam às margens dessas deleitáveis correntes para adorar seus ídolos. A Naamã não custaria grande humilhação descer a uma dessas águas. Mas era unicamente seguindo as específicas indicações do profeta, que ele poderia alcançar a cura. Somente voluntária obediência traria o resultado desejado. PR 126 7 Os servos de Naamã insistiram com ele para que pusesse em prática as indicações de Eliseu. "Se o profeta te dissera alguma grande coisa, porventura não o farias?" apelaram eles. "Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado". A fé de Naamã estava sendo provada, enquanto o orgulho lutava por predominar. Mas a fé triunfou, e o arrogante sírio submeteu o orgulhoso coração, e curvou-se em submissão à vontade revelada de Jeová. Sete vezes ele mergulhou no Jordão, "conforme a palavra do homem de Deus". E sua fé foi honrada; "e a sua carne tornou como a carne dum menino, e ficou purificado". PR 127 1 Profundamente grato, "voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva", com o reconhecimento: "Eis que tenho conhecido que em toda a Terra não há Deus senão em Israel". 2 Reis 5:11-15. PR 127 2 Conforme o costume da época, Naamã pedia agora a Eliseu que aceitasse um custoso presente. Mas o profeta recusou. Não devia ele receber pagamento pela bênção que graciosamente Deus havia outorgado. "Vive o Senhor", disse, "em cuja presença estou, que a não tomarei". O sírio insistiu com ele, "mas ele recusou". PR 127 3 "E disse Naamã: Seja assim; contudo dê-se a este teu servo uma carga de terra dum jugo de mulas; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor. Nisto perdoe o Senhor a teu servo: Quando meu senhor entra na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encosta na minha mão, e eu também me tenha de encurvar na casa de Rimom, nisto perdoe o Senhor a teu servo". "E ele lhe disse: Vai em paz. E foi-se dele a uma pequena distância". 2 Reis 4:16-18. PR 127 4 Geazi, servo de Eliseu, tivera oportunidade, durante anos, para desenvolver o espírito de abnegação que caracterizava a vida de labores de seu mestre. Fora seu privilégio tornar-se um nobre porta-bandeira no exército do Senhor. Os melhores dons do Céu por muito tempo haviam estado ao seu alcance; contudo, voltando-lhes as costas, ao contrário cobiçara o brilho falso das riquezas mundanas. E agora os ocultos anseios do seu espírito avaro levaram-no a render-se a uma dominante tentação. "Eis", raciocinou consigo, "que meu senhor impediu a este sírio Naamã que da sua mão se desse alguma coisa do que trazia; porém [...] hei de correr atrás dele, e tomar dele alguma coisa". E assim em segredo "foi Geazi em alcance de Naamã". PR 127 5 "E Naamã, vendo que corria atrás dele, saltou do carro a encontrá-lo, e disse-lhe: Vai tudo bem? E ele disse: Tudo vai bem". Então Geazi proferiu uma deliberada mentira. "Meu senhor", disse ele, "me mandou dizer: Eis que agora mesmo vieram a mim dois mancebos dos filhos dos profetas da montanha de Efraim; dá-lhes, pois, um talento de prata e duas mudas de vestidos". Naamã alegremente concordou com esta solicitação, empenhando-se com Geazi para que levasse dois talentos de prata em vez de um, "com duas mudas de vestidos", e ordenou a seus servos para que levassem o tesouro. PR 127 6 Ao aproximar-se Geazi da casa de Eliseu, despediu os servos, e escondeu a prata e os vestidos. Isto feito, "entrou, e pôs-se diante de seu senhor"; e, para abrigar-se de censura, proferiu segunda mentira. Em resposta à indagação do profeta: "Donde vens, Geazi?" ele respondeu: "Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte". PR 128 1 Então veio a severa denúncia, mostrando que Eliseu sabia de tudo. "Porventura não foi contigo o meu coração", disse ele, "quando aquele homem voltou de sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isto ocasião para tomares prata, e para tomares vestidos, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois e servos e servas? Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua semente para sempre. Então saiu de diante dele leproso, branco como neve". 2 Reis 5:20-27. PR 128 2 Solenes são as lições ensinadas por esta experiência de uma pessoa a quem tinham sido dados altos e santos privilégios. A conduta de Geazi fora de molde a colocar uma pedra de tropeço no caminho de Naamã, sobre cuja mente havia incidido maravilhosa luz, e que estava favoravelmente disposto para a adoração do Deus vivo. Para o engano praticado por Geazi não podia haver qualquer desculpa. Até o dia de sua morte ele permaneceu leproso, amaldiçoado por Deus e evitado por seus semelhantes. PR 128 3 "A falsa testemunha não ficará inocente, e o que profere mentiras não escapará". Provérbios 19:5. Os homens podem pensar esconder suas más práticas aos olhos humanos; mas não podem enganar a Deus. "Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar". Hebreus 4:13. Geazi pensava enganar Eliseu, mas Deus revelou a Seu profeta as palavras que Geazi havia dito a Naamã, bem como todo o pormenor da cena que tivera lugar entre os dois homens. PR 128 4 A verdade é de Deus; o engano em suas variadas formas é de Satanás; e quem quer que de qualquer forma se afaste da linha reta da verdade, está-se entregando a si mesmo ao poder de Satanás. Os que têm aprendido de Cristo não se comunicarão "com as obras infrutuosas das trevas". Efésios 5:11. No falar, como no viver, serão simples, retos e verdadeiros; pois estão-se preparando para o companheirismo com os santos em cuja boca não se achou engano. Apocalipse 14:5. PR 128 5 Séculos depois de haver Naamã retornado a sua pátria, curado no corpo e no espírito, sua maravilhosa fé foi referida e louvada pelo Salvador como uma lição objetiva para todo aquele que professa servir a Deus. "Muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu", o Salvador declarou, "e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio". Lucas 4:27. Deus passou por alto a muitos leprosos em Israel, porque sua incredulidade lhes fechou a porta do benefício. Um nobre pagão que havia sido fiel a suas convicções do direito, e que sentira necessidade de auxílio, foi à vista de Deus mais digno de Sua bênção do que os afligidos em Israel, que haviam subestimado e menosprezado os privilégios que lhes haviam sido dados por Deus. Deus opera em benefício dos que apreciam Seus favores e respondem à luz que lhes é dada do Céu. PR 128 6 Há hoje em cada terra os que são honestos de coração, e sobre esses a luz do Céu está brilhando. Se eles continuarem fiéis em seguir o que entendem ser o dever, ser-lhes-á dada luz adicional, até que, como Naamã no passado, sejam constrangidos a reconhecer que "em toda a Terra não há Deus", senão o Deus vivo, o Criador. PR 129 1 A toda alma sincera "quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma", é feito o convite: "Confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus". Isaías 50:10. "Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de Ti, que trabalhe para aquele que nEle espera. Saíste ao encontro daquele que se alegrava e praticava justiça, daqueles que se lembram de Ti nos Teus caminhos". Isaías 64:4, 5. ------------------------Capítulo 21 -- O fim do ministério de Eliseu PR 130 1 Chamado ao ofício de profeta enquanto Acabe ainda reinava, Eliseu vivera o suficiente para ver muitas mudanças tomarem lugar no reino de Israel. Juízo sobre juízo, haviam alcançado os israelitas durante o reinado de Hazael, o sírio, que fora ungido para ser o aguilhão da nação apostatada. As severas medidas de reforma instituídas por Jeú tinham resultado no extermínio de toda a casa de Acabe. Em contínuas guerras com os sírios, Jeoacaz, sucessor de Jeú, tinha perdido algumas das cidades a leste do Jordão. Por algum tempo isto pareceu como se os sírios fossem tomar inteiro controle do reino. Mas a reforma começada por Elias e prosseguida por Eliseu tinha levado muitos a buscarem a Deus. Os altares de Baal estavam sendo abandonados, e lenta mas seguramente os propósitos de Deus iam-se cumprindo na vida dos que haviam escolhido servi-Lo de todo o coração. PR 130 2 Foi por causa de Seu amor pelo extraviado Israel que Deus permitiu aos sírios afligi-los. Foi por Sua compaixão para com aqueles cujo poder moral estava debilitado, que ele despertou Jeú para exterminar a ímpia Jezabel e toda a casa de Acabe. Uma vez mais, através de misericordiosa providência, os sacerdotes de Baal e Astarote foram postos de lado, e seus altares pagãos subvertidos. Deus em Sua sabedoria previu que se a tentação fosse removida, alguns abandonariam o paganismo, e voltariam a face para o Céu; e foi por isto que Ele permitiu que calamidade após calamidade caísse sobre eles. Seus juízos foram temperados com misericórdia; e quando Seu propósito foi cumprido, Ele fez refluir a maré em favor dos que haviam aprendido a buscá-Lo. PR 130 3 Enquanto influências para o bem e para o mal estavam disputando a supremacia, e Satanás procurando fazer tudo em seu poder para completar a ruína produzida durante o reinado de Acabe e Jezabel, Eliseu continuava a dar seu testemunho. Teve que enfrentar a oposição, mas nada pôde impugnar-lhe as palavras. Foi honrado e venerado através do reino. Muitos vieram a ele em busca de conselho. Enquanto Jezabel vivia ainda, Jorão, o rei de Israel, buscou seu conselho; e uma vez, estando em Damasco, ele foi visitado por mensageiros de Ben-Hadade, rei da Síria, que desejava saber se a enfermidade que então o possuía resultaria em morte. A todos o profeta deu fiel testemunho, num tempo quando, de todos os lados, a verdade estava sendo pervertida, e a grande maioria do povo estava em aberta rebelião contra o Céu. PR 131 1 E Deus jamais abandonou Seu mensageiro escolhido. Uma ocasião, durante a invasão síria, o rei da Síria procurou destruir Eliseu, em vista de sua atividade em alertar o rei de Israel quanto aos planos do inimigo. O rei da Síria havia-se aconselhado com seus servos, dizendo: "Em tal e em tal lugar estará o meu acampamento". Este plano foi revelado pelo Senhor a Eliseu, que "enviou ao rei de Israel, dizendo: Guarda-te de passares por tal lugar, porque os sírios desceram ali. Pelo que o rei de Israel enviou àquele lugar, de que o homem de Deus lhe falara, e de que o tinham avisado, e se guardou ali, não uma nem duas vezes. PR 131 2 "Então se turbou com este incidente o coração do rei da Síria, e chamou os seus servos, e lhes disse: Não me fareis saber quem dos nossos é pelo rei de Israel? E disse um dos seus servos: Não, ó rei meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir". PR 131 3 Disposto a se desembaraçar do profeta, o rei da Síria ordenou: "Vai, e vê onde ele está, para que envie, e mande trazê-lo". O profeta estava em Dotã; e, ouvindo isto, o rei "enviou para lá cavalos, e carros, e um grande exército, os quais vieram de noite, e cercaram a cidade. E o moço do homem de Deus se levantou mui cedo, e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros". PR 131 4 Aterrado, o servo de Eliseu procurou-o com a notícia: "Ai, meu senhor, que faremos?" disse ele. "Não temas"; foi a resposta do profeta, "porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles". 2 Reis 6:16. E então, para que o servo pudesse conhecer isto por si mesmo, "orou Eliseu e disse: Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu". 2 Reis 6:17. Entre o servo de Deus e a multidão dos inimigos armados estava um grupo circundante de anjos celestiais. Eles tinham vindo com grande poder, não para destruir, não para reclamar homenagem, mas para acampar em torno e ministrar aos desajudados e fracos servos do Senhor. PR 131 5 Quando o povo de Deus é posto em condições de dificuldades, e aparentemente não há escape para eles, somente o Senhor deve ser sua dependência. PR 131 6 Avançando a companhia de soldados sírios ousadamente, ignorante da presença dos invisíveis anjos do Céu, "Eliseu orou ao Senhor, e disse: Fere, peço-Te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu. Então Eliseu lhes disse: Não é este o caminho, nem é esta a cidade; segui-me, e guiar-vos-ei ao homem que buscais. E os guiou a Samaria". 2 Reis 6:8-19. PR 132 1 "E sucedeu que, chegando eles a Samaria, disse Eliseu: Ó Senhor, abre a estes os olhos para que vejam. O Senhor lhes abriu os olhos, para que vissem, e eis que estavam no meio de Samaria. E, quando o rei de Israel os viu, disse a Eliseu: Feri-los-ei, feri-los-ei, meu pai? Mas ele disse: Não os ferirás; feririas tu os que tomasses prisioneiros com a tua espada e com o teu arco? Põe-lhes diante pão e água, para que comam e bebam, e se vão para seu senhor. E apresentou-lhes um grande banquete, e comeram e beberam; e os despediu e foram para seu senhor". 2 Reis 6:20-22. PR 132 2 Depois disso Israel ficou livre por algum tempo dos ataques dos sírios. Porém mais tarde, sob a enérgica administração de um determinado rei, Hazael (neto do Hazael que havia sido ungido como aguilhoador de Israel), os exércitos sírios cercaram Samaria, sitiando-a. Nunca Israel havia sido levado a situação de tão grande dificuldade como durante este cerco. Os pecados dos pais estavam sem dúvida sendo visitados sobre os filhos e os filhos dos filhos. Os horrores de prolongada fome estavam impelindo o rei de Israel a medidas de desespero, quando Eliseu predisse livramento para o dia seguinte. PR 132 3 Quando o dia estava para amanhecer, o Senhor "fizera ouvir no arraial dos sírios ruídos de carros e ruídos de cavalos, como o ruído dum grande exército"; e eles, possuídos de temor, "se levantaram, e fugiram no crepúsculo", deixando "as suas tendas, e os seus cavalos, e os seus jumentos, e o arraial como estava", com ricas reservas de alimentos. Eles "fugiram para salvarem a sua vida", não se detendo até que tivessem transposto o Jordão. 2 Reis 7:6, 7. PR 132 4 Durante a noite da fuga, quatro leprosos junto à porta da cidade, desesperados pela fome, tomaram o propósito de ir ao acampamento dos sírios, entregando-se à misericórdia dos sitiantes, na esperança de aí despertar simpatia e conseguir alimento. Qual não foi seu espanto quando, penetrando no acampamento, viram que "lá não havia ninguém". Sem nada que os molestasse ou impedisse, "entraram numa tenda, e comeram e beberam, e tomaram dali prata, e ouro, e vestidos, e foram e os esconderam; então voltaram, e entraram em outra tenda, e dali também tomaram alguma coisa, e a esconderam. Então disseram uns aos outros. Não fazemos bem; este dia é dia de boas-novas, e nos calamos". Voltaram eles então depressa à cidade com as alegres novas. PR 132 5 Foi grande o espólio; tão abundantes foram os suprimentos nesse dia que "havia uma medida de farinha por um siclo, e duas medidas de cevada por um siclo", como fora predito por Eliseu no dia anterior. Uma vez mais o nome de Deus fora exaltado perante os pagãos, "conforme a palavra do Senhor", por intermédio de Seu profeta em Israel. 2 Reis 7:5-16. PR 132 6 Assim o homem de Deus continuou a trabalhar de ano a ano, associando-se intimamente ao povo em fiel ministério, e em tempos de crise ficando junto aos reis como sábio conselheiro. Os longos anos de apostasia idólatra da parte de governantes e povo tinham produzido seus maus resultados; a negra sombra da apostasia era ainda visível em toda parte, embora houvesse aqui e ali os que se haviam firmemente recusado a dobrar os joelhos a Baal. À medida que Eliseu continuava sua obra de reforma, muitos eram recuperados do paganismo, e esses aprendiam a se alegrar no serviço do verdadeiro Deus. O profeta sentia-se animar com esses milagres da divina graça, e fora inspirado com um grande anseio de alcançar todos os que eram honestos de coração. Onde quer que estivesse, procurava ser um ensinador de justiça. PR 133 1 Do ponto de vista humano, a perspectiva para a regeneração espiritual da nação era tão destituída de esperança como o é hoje para os servos de Deus que estão trabalhando nos lugares escuros da Terra. Mas a igreja de Cristo é o instrumento de Deus para a proclamação da verdade; ela é por Ele dotada de poder para fazer um trabalho especial; e se for leal a Deus, obediente a Seus mandamentos, com ela habitará a excelência do divino poder. Se ela for fiel a seu dever de obediência, não há poder que possa permanecer contra ela. As forças do inimigo não serão mais capazes de suplantá-la que a palha para resistir ao remoinho. PR 133 2 Está diante da igreja a aurora de um dia glorioso e brilhante, se ela se revestir do manto da justiça de Cristo, recusando toda vassalagem ao mundo. PR 133 3 Voltai para o Senhor, prisioneiros de esperança! Buscai de Deus, do Deus vivo, força! Mostrai fé humilde e não vacilante em Seu poder e disposição para salvar. Quando em fé nós nos apoderarmos de Sua força, Ele mudará, maravilhosamente mudará, as perspectivas mais desesperadas e desanimadoras. Isto Ele fará para glória do Seu nome. PR 133 4 Por todo o tempo que lhe foi possível viajar de lugar em lugar através do reino de Israel, Eliseu continuou a manifestar ativo interesse na edificação de escolas de profetas. Onde quer que estivesse, Deus estava com ele, dando-lhe palavras para falar, e poder para operar milagres. Uma ocasião "disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos diante da tua face, nos é estreito. Vamos, pois, até o Jordão, e tomemos de lá, cada um de nós, uma viga, e façamo-nos ali um lugar, para habitar ali". 2 Reis 6:1, 2. Eliseu foi com eles ao Jordão, encorajando-os por sua presença, dando-lhes instruções e mesmo realizando um milagre para ajudá-los em sua obra. "E sucedeu que, derribando um deles uma viga, o ferro caiu na água; e clamou, e disse: Ai, meu senhor porque era emprestado. E disse o homem de Deus: Onde caiu? E mostrando-lhe ele o lugar, cortou um pau, e o lançou ali, e fez nadar o ferro. E disse: Levanta-o. Então ele estendeu a sua mão e o tomou". 2 Reis 6:5-7. PR 133 5 Tão eficiente havia sido o seu ministério e tão vasta a sua influência que, em seu leito de morte, até mesmo o jovem rei Jeoás, idólatra com apenas um mínimo respeito por Deus, reconheceu no profeta um pai em Israel, e admitiu que sua presença entre eles fora de mais valor em tempo de prova do que a posse de um exército de cavalos e carros. No relato está escrito: "E Eliseu estava doente da sua doença de que morreu; e Jeoás, rei de Israel, desceu a ele, e chorou sobre o seu rosto, e disse: Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros". 2 Reis 13:14. PR 134 1 O profeta havia desempenhado em favor de muita alma turbada e necessitada de auxílio o papel de um pai sábio e compreensivo. No presente exemplo ele não voltou as costas ao jovem sem Deus que tinha diante de si, tão indigno da posição de confiança que estava ocupando, e contudo tão grandemente necessitado de conselho. Deus em Sua providência estava dando ao jovem rei uma oportunidade para redimir as faltas do passado, de molde a pôr o seu reino em terreno vantajoso. Os inimigos, os sírios, agora ocupando o território a leste do Jordão, deviam ser repelidos. Uma vez mais o poder de Deus devia ser manifestado em favor do extraviado Israel. PR 134 2 O moribundo profeta ordenou ao rei: "Toma um arco e flechas". Jeoás obedeceu. Então o profeta disse: "Põe a tua mão sobre o arco". Jeoás "pôs sobre ele a sua mão; e Eliseu pôs as suas mãos sobre as mãos do rei. E disse: Abre a janela para o oriente" -- para as cidades dalém do Jordão que estavam na posse dos sírios. Havendo o rei aberto a janela de treliças, Eliseu ordenou-lhe que disparasse a flecha. Percorrendo o dardo o seu caminho, foi o profeta inspirado a dizer: "A flecha do livramento do Senhor é a flecha do livramento contra os sírios; porque ferirás os sírios em Afeque, até os consumir". PR 134 3 Então o profeta provou a fé do rei. Ordenando que Jeoás tomasse as flechas, ele disse: "Fere a terra". Três vezes o rei feriu o chão, e então se deteve. "Cinco ou seis vezes a deverias ter ferido", Eliseu exclamou consternado, "então feririas os sírios até os consumir; porém agora só três vezes ferirás os sírios". 2 Reis 13:15-19. PR 134 4 A lição é para todos os que ocupam posição de confiança. Quando Deus abre o caminho para a realização de certa obra, e dá garantias de sucesso, o instrumento escolhido deve fazer tudo que estiver em seu poder para alcançar os resultados prometidos. O sucesso será proporcional ao entusiasmo e perseverança com que o trabalho é levado a cabo. Deus pode operar milagres em favor de Seu povo unicamente quando este desempenha sua parte com incansável energia. Ele reclama para Sua obra homens de devoção, homens de coragem moral, com ardente amor pelas almas e zelo que nunca esmorece. Tais obreiros não acharão nenhuma tarefa demasiado árdua, nenhuma perspectiva demasiado sem esperança; eles trabalharão, indômitos, até que a aparente derrota seja tornada em gloriosa vitória. Nem mesmo as paredes das prisões, ou o martírio em perspectiva, levá-los-á a mudar de rumo em seus propósitos de trabalhar unidos com Deus para a edificação de Seu reino. PR 135 1 Com o conselho e o encorajamento dado a Jeoás, estava finda a tarefa de Eliseu. Aquele sobre quem havia descido em grande medida o espírito que repousava sobre Elias, provara-se fiel até o fim. Nunca vacilara. Nunca perdera sua confiança no poder da Onipotência. Sempre, quando o caminho diante de si parecia inteiramente fechado, ainda avançara pela fé, e Deus honrara sua confiança e abrira diante dele o caminho. PR 135 2 Não foi dado a Eliseu seguir seu mestre num carro de fogo. Sobre ele o Senhor permitiu que viesse uma prolongada enfermidade. Durante as longas horas de sofrimento e fraqueza humana, sua fé permaneceu posta nas promessas de Deus, e ele sentiu sempre em torno de si mensageiros celestiais de conforto e paz. Como nos altos de Dotã ele vira os exércitos circundantes do Céu, os carros de fogo de Israel e seus cavaleiros, estava ele agora cônscio da presença cheia de simpatia dos anjos; e foi sustentado. Através de sua vida havia exercido forte fé; e ao avançar no conhecimento das providências de Deus e de Sua graciosa bondade, a fé havia amadurecido em inamovível confiança em Deus; e quando a morte o chamou, ele estava pronto para repousar de seus labores. PR 135 3 "Preciosa é à vista do Senhor a morte dos Seus santos". Salmos 116:15. "O justo até na sua morte tem esperança". Provérbios 14:32. Como o salmista, Eliseu podia dizer com toda a confiança: "Deus remirá a minha alma do poder da sepultura, pois me receberá". Salmos 49:15. E com alegria podia testificar. "Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim Se levantará sobre a Terra". Jó 19:25. "Quanto a mim, contemplarei a Tua face na justiça; satisfar-me-ei da Tua semelhança quando acordar". Salmos 17:15. ------------------------Capítulo 22 -- A "grande cidade de Nínive" PR 136 1 Entre as cidades do mundo antigo nos dias do reino de Israel dividido, uma das maiores foi Nínive, a capital do domínio assírio. Fundada sobre as férteis barrancas do Tigre, logo depois da dispersão da Torre de Babel, floresceu através dos séculos, até que se tornou "uma grande cidade, de três dias de caminho". Jonas 3:3. PR 136 2 No tempo de sua prosperidade temporal Nínive era um centro de crime e impiedade. A inspiração havia-a caracterizado como "cidade ensangüentada [...] toda cheia de mentiras e de rapina". Naum 3:1. Em linguagem figurada, o profeta Naum comparou Nínive a um leão cruel, rapinante. "Sobre quem", interroga o profeta, "não passou continuamente a tua malícia?" Naum 3:19. PR 136 3 Embora ímpia como havia-se tornado, Nínive não estava inteiramente entregue ao mal. Aquele que "está vendo a todos os filhos dos homens" (Salmos 33:13), e "descobre todas as coisas preciosas" (Jó 28:10), viu na cidade muitos que estavam procurando alguma coisa melhor e mais alta, os quais, se lhes fosse dada oportunidade para conhecer ao Deus vivo, afastariam de si as más obras, e O adorariam. E assim, em Sua sabedoria Deus Se revelou a eles de maneira inconfundível, a fim de levá-los, se possível, ao arrependimento. PR 136 4 O instrumento escolhido para esta obra foi o profeta Jonas, filho de Amitai. A ele veio a palavra do Senhor: "Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até Mim". Jonas 1:1, 2. PR 136 5 Como o profeta se pusesse a pensar nas dificuldades e aparentes impossibilidades desta comissão, foi tentado a pôr em dúvida a sabedoria do chamado. Do ponto de vista humano, parecia que nada se poderia ganhar em proclamar tal mensagem nesta cidade tão orgulhosa. Ele esqueceu por um momento que o Deus a quem servia era todo-sábio e todo-poderoso. Enquanto hesitava, duvidando ainda, Satanás sobrecarregou-o com o desencorajamento. O profeta foi tomado de grande temor, e "se levantou para fugir de diante da face do Senhor para Társis". Indo a Jope, e achando ali um navio pronto para zarpar, pagou a sua passagem, "e desceu para dentro dele, para ir com eles". Jonas 1:3. PR 136 6 No encargo que fora dado, havia sido confiada a Jonas uma pesada responsabilidade; contudo, Aquele que o havia mandado ir, estava apto a sustentar Seu servo e garantir-lhe o sucesso. Tivesse o profeta obedecido sem questionar, e ter-lhe-iam sido poupadas muitas experiências amargas e teria sido abundantemente abençoado. Não obstante, na hora do desespero de Jonas o Senhor não Se afastara dele. Através de uma série de provas e estranhas providências a confiança do profeta em Deus e em Seu infinito poder para salvar devia ser revivida. PR 137 1 Se, quando o chamado lhe veio pela primeira vez, Jonas se tivesse demorado em calma consideração, teria verificado quão tolo seria qualquer esforço de sua parte para escapar à responsabilidade imposta sobre ele. Mas não por muito tempo foi-lhe permitido prosseguir tranqüilamente em sua estulta fuga. "O Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava para quebrar-se. Então temeram os marinheiros, e clamava cada um ao seu deus, e lançavam no mar as fazendas, que estavam no navio, para o aliviarem do seu peso; Jonas, porém, desceu aos lugares do porão e se deitou, e dormia um profundo sono". Jonas 1:4, 5. PR 137 2 Enquanto os marinheiros buscavam seus deuses pagãos pedindo socorro, o mestre do navio, excessivamente angustiado, foi em busca de Jonas, e disse: "Que tens, dormente? levanta-te, e invoca o teu Deus; talvez assim Deus Se lembre de nós, para que não pereçamos". Jonas 1:6. PR 137 3 Mas as orações do homem que se tinha desviado do caminho do dever, não trouxeram qualquer auxílio. Os marinheiros, impressionados com o pensamento de que a estranha violência da tempestade refletia a ira dos seus deuses, propuseram como último recurso o lançamento de sortes, "para que saibamos", disseram, "por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Então lhe disseram: Declara-nos tu agora, por que razão nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? e donde vens? qual é a tua terra? e de que povo és tu? PR 137 4 "E ele lhes disse: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do Céu, que fez o mar e a terra seca. PR 137 5 "Então estes homens se encheram de grande temor, e lhe disseram: Por que fizeste tu isto? Pois sabiam os homens que fugia de diante do Senhor, porque ele lho tinha declarado. PR 137 6 "E disseram-lhe: Que te faremos nós, para que o mar se acalme? porque o mar se elevava e engrossava cada vez mais. E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade. PR 137 7 "Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra; mas não podiam, porquanto o mar se ia embravecendo cada vez mais contra eles. Então clamaram ao Senhor, e disseram: Ah! Senhor! nós Te rogamos! não pereçamos por causa da vida deste homem, e não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque Tu, Senhor, fizeste como Te aprouve. E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens ao Senhor com grande temor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor, e fizeram votos. PR 138 1 "Deparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe". Jonas 1:7-17. PR 138 2 "E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, E Ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, E Tu ouviste a minha voz. Porque Tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente me cercou; Todas as Tuas ondas e as Tuas vagas passaram por cima de mim. E eu disse: Lançado estou de diante dos Teus olhos; todavia tornarei a ver o templo da Tua santidade. As águas me cercaram até à alma. O abismo me rodeou, e as águas se enrolaram na minha cabeça. E eu desci aos fundamentos dos montes; os ferrolhos da terra correram sobre mim para sempre; mas Tu livraste a minha vida da perdição, ó Senhor meu Deus. Quando desfalecia em mim a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e entrou a Ti a minha oração, no templo da Tua santidade. Os que observam as vaidades vãs, deixam a sua própria misericórdia. Mas eu Te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei pagarei. Do Senhor vem a salvação". Jonas 2:1-9. PR 138 3 Jonas aprendera afinal que "a salvação vem do Senhor". Salmos 3:8. Com penitência e o reconhecimento da graça salvadora de Deus, veio o livramento. Jonas foi liberto dos perigos do profundo abismo, e foi lançado em terra seca. PR 138 4 Uma vez mais é o servo de Deus comissionado para advertir Nínive. "E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: Levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a pregação que Eu te disse". Desta vez ele não se deteve para questionar ou duvidar, mas obedeceu sem hesitação. "Levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor". Jonas 3:1-3. PR 138 5 Entrando na cidade, Jonas começou a pregar "contra ela" a mensagem: "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida". Jonas 3:4. De rua em rua ia ele fazendo soar a nota de advertência. PR 138 6 A mensagem não foi em vão. O clamor que soava através das ruas da ímpia cidade ia passando de lábio em lábio, até que todos os habitantes tivessem ouvido o assustador anúncio. O Espírito de Deus imprimiu a mensagem em cada coração, e levou multidões a tremerem por causa de seus pecados, e a se arrependerem em profunda humilhação. PR 138 7 "E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior, até o menor. Porque esta palavra chegou ao rei de Nínive, e levantou-se do seu trono, e tirou de si os seus vestidos, e cobriu-se de saco, e assentou-se sobre a cinza. E fez uma proclamação, que se divulgou em Nínive, por mandado do rei e dos grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê pasto, nem bebam água. Mas os homens e os animais estarão cobertos de sacos, e clamarão fortemente a Deus, e se converterão, cada um do seu mau caminho, e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se Se voltará Deus, e Se arrependerá, e Se apartará do furor da Sua ira, de sorte que não pereçamos?" Jonas 3:5-9. PR 139 1 Sendo que rei e nobres, com todo o povo, grandes e pequenos, "se arrependeram com a pregação de Jonas" (Mateus 12:41), e uniram-se em clamar ao Deus do Céu, Sua misericórdia foi-lhes assegurada. "Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus Se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez". Jonas 3:10. Sua condenação foi evitada; o Deus de Israel fora exaltado e honrado através do mundo pagão, e Sua lei foi reverenciada. Não seria senão muitos anos mais tarde que Nínive devia cair presa das nações vizinhas por causa do seu esquecimento de Deus e jactancioso orgulho. PR 139 2 Quando Jonas viu o propósito de Deus de poupar a cidade que, não obstante sua impiedade, tinha sido levada a se arrepender em saco e cinzas, devia ter sido o primeiro a se alegrar com a estupenda graça de Deus; mas ao contrário disto, ele permitiu que sua mente se demorasse sobre a possibilidade de ser considerado um falso profeta. Cioso de sua reputação, ele perdeu de vista o valor infinitamente maior das almas nessa cidade infortunada. A compaixão mostrada por Deus para com os arrependidos ninivitas desgostou "Jonas extremamente [...] e ficou todo ressentido". "Não foi isso o que eu disse", argumentou ele com o Senhor, "estando ainda na minha terra? Por isso me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso, e misericordioso, longânimo, e grande em benignidade, e que Te arrependes do mal". Jonas 4:1, 2. PR 139 3 Uma vez mais ele se rendeu a sua inclinação de questionar e duvidar, e uma vez mais foi oprimido com o desencorajamento. Perdendo de vista os interesses dos outros, e sentindo como se melhor lhe fora morrer do que viver para ver a cidade poupada, em seu descontentamento exclamou: "Ó Senhor, tira-me a minha vida, porque melhor me é morrer do que viver". PR 139 4 "É razoável esse teu ressentimento?" o Senhor inquiriu. "Então Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da cidade; e ali fez uma cabana, e se assentou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria. E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira". Jonas 4:3-6. PR 139 5 Então o Senhor deu a Jonas uma lição objetiva. Ele "enviou um bicho, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o Sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o Sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver". PR 140 1 De novo Deus Se dirige a Seu profeta: "É acaso razoável que assim te enfades por causa da aboboreira? E ele disse: É justo que me enfade a ponto de desejar a morte". PR 140 2 "E disse o Senhor: Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer; que numa noite nasceu, e numa noite pereceu. E não hei de Eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?" Jonas 4:7-11. PR 140 3 Confuso, humilhado e incapaz de compreender o propósito de Deus em poupar Nínive, Jonas havia, não obstante cumprido a comissão que lhe fora dada de advertir a grande cidade; e embora o acontecimento predito não se tivesse realizado, a mensagem de advertência não era de ninguém menos que de Deus. E ela cumpriu o propósito que Deus lhe designara. A glória de Sua graça fora revelada entre os pagãos. Os que havia muito estavam assentados "nas trevas e sombra da morte, presos em aflição e em ferro", "clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas necessidades. Tirou-os das trevas e sombra da morte, e quebrou as suas prisões. [...] Enviou a Sua palavra, e os sarou, e os livrou da sua destruição". Salmos 107:10, 13, 14, 20. PR 140 4 Cristo, durante Seu ministério terrestre, referiu-Se ao bem produzido pela pregação de Jonas em Nínive, e comparou os habitantes deste centro pagão com o professo povo de Deus em Seus dias. "Os ninivitas", declarou Ele, "ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas". Mateus 12:40, 41. A um mundo ocupado, cheio do burburinho do comércio e a altercação de transações, onde os homens estavam procurando obter tudo para si mesmos, Cristo viera; e acima da confusão, Sua voz foi ouvida como a trombeta de Deus: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" Marcos 8:36, 37. PR 140 5 Assim como a pregação de Jonas fora um sinal para os ninivitas, a pregação de Cristo era um sinal para a Sua geração. Mas que contraste na recepção da palavra. Embora em face de indiferença e de escárnio, o Salvador trabalhou sempre, até que concluiu Sua missão. PR 140 6 A lição é para os mensageiros de Deus hoje, quando as cidades das nações encontram-se tão verdadeiramente em necessidade do conhecimento dos atributos e propósitos do verdadeiro Deus, como os ninivitas do passado. Os embaixadores de Cristo devem apontar aos homens o mundo mais nobre, que tem sido em grande parte perdido de vista. De acordo com os ensinamentos das Sagradas Escrituras, a única cidade que permanece é aquela cujo artífice e construtor é Deus. Com os olhos da fé os homens podem contemplar o limiar do Céu, iluminado com a glória do Deus vivo. Por intermédio de Seus servos ministradores o Senhor Jesus está convidando os homens a que se empenhem com santificada ambição no sentido de assegurarem a herança imortal. Apela para eles a fim de que acumulem tesouros junto ao trono de Deus. PR 141 1 Rápida e seguramente está vindo uma culpabilidade quase universal sobre os habitantes das cidades, devido ao constante aumento de decidida impiedade. A corrupção que prevalece está além do poder da pena humana descrever. Cada dia traz novas revelações de atritos, suborno e fraudes; cada dia traz seu desalentador registro de violência e arbitrariedade, de indiferença para com o sofrimento humano, de destruição brutal e perversa da vida humana. Cada dia testifica sempre mais de insanidade, assassínio e suicídio. PR 141 2 De século a século Satanás, tem procurado conservar os homens na ignorância dos beneficentes desígnios de Jeová. Ele tem procurado desviar-lhes de vista os grandes fatos da lei de Deus -- os princípios de justiça, misericórdia e amor aí contidos. Os homens se gloriam do maravilhoso progresso e esclarecimento do século em que estão agora vivendo; mas Deus vê a Terra cheia de iniqüidade e violência. Declaram os homens que a lei de Deus foi anulada, que a Bíblia não é autêntica; e como resultado uma maré de males, tal como não se tem visto desde os dias de Noé e do apóstata Israel, está tomando conta do mundo. Nobreza de alma, gentileza, piedade são permutadas para satisfazer a cobiça por coisas proibidas. O negro registro de crimes cometidos pelo amor ao ganho é suficiente para fazer gelar o sangue e encher a alma de horror. PR 141 3 Nosso Deus é um Deus de misericórdia. Com longanimidade e terna compaixão Ele trata com o transgressor da Sua lei. E contudo, nestes nossos dias, quando homens e mulheres têm tantas oportunidades para se familiarizarem com a divina lei como revelada no Santo Escrito, o grande Governador do Universo não pode olhar com qualquer satisfação as ímpias cidades, onde reina a violência e o crime. O fim da tolerância de Deus com os que persistem na desobediência está se aproximando rapidamente. PR 141 4 Devem os homens ficar surpreendidos com uma súbita e inesperada mudança no trato do Supremo Governador com os habitantes do mundo caído? Devem eles ficar surpreendidos quando a punição segue a transgressão e a crescente criminalidade? Devem-se surpreender de que Deus leve a destruição e a morte sobre aqueles cujo ganho ilícito tem sido obtido através do engano e fraude? Muito embora o fato de que crescente luz com respeito aos reclamos de Deus tem estado a brilhar em seu caminho, muitos têm-se recusado a reconhecer a soberania de Jeová, e têm escolhido permanecer sob a bandeira do originador de toda rebelião contra o governo do Céu. PR 142 1 A longanimidade de Deus tem sido muito grande -- tão grande que quando consideramos o contínuo insulto a Seus santos mandamentos, ficamos maravilhados. O Onipotente tem estado a exercer um poder restringidor sobre Seus próprios atributos. Mas certamente Ele Se levantará para punir o ímpio, que tão ousadamente tem resistido aos justos reclamos do Decálogo. PR 142 2 Deus concede ao homem um período de graça; mas há um ponto além do qual a divina paciência se esgota, e os juízos de Deus se seguem seguramente. O Senhor trata pacientemente com os homens, e com cidades, misericordiosamente dando advertências para salvá-los da ira divina; mas virá o tempo quando não mais se ouvirão súplicas por misericórdia, e o elemento rebelde que continua a rejeitar a luz da verdade será riscado, em misericórdia para com eles mesmos, e para com aqueles que de outro modo seriam influenciados por seu exemplo. PR 142 3 É chegado o tempo em que haverá no mundo tristeza que nenhum bálsamo humano pode curar. O Espírito de Deus está sendo retirado. Catástrofes por mar e por terra seguem-se umas às outras em rápida sucessão. Quão freqüentemente ouvimos de terremotos e furacões, de destruição pelo fogo e inundações, com grandes perdas de vidas e propriedades! Aparentemente essas calamidades são caprichosos desencadeamentos de forças da natureza, desorganizadas e desgovernadas, inteiramente fora do controle do homem; mas em todas elas pode ler-se o propósito de Deus. Elas estão entre os instrumentos pelos quais Ele busca despertar a homens e mulheres para que sintam o perigo. PR 142 4 Os mensageiros de Deus nas grandes cidades não devem sentir-se desanimar com a impiedade, a injustiça, a depravação a que são chamados a enfrentar enquanto procuram proclamar as alegres novas da salvação. O Senhor aspira confortar cada um desses obreiros com a mesma mensagem que deu ao apóstolo Paulo na ímpia Corinto: "Não temas, mas fala, e não te cales; porque Eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade". Atos dos Apóstolos 18:9, 10. Lembrem-se, os que se empenham no ministério de salvar almas, que, conquanto haja muitos que não aceitarão o conselho de Deus em Sua Palavra, o mundo inteiro não se desviará da luz e verdade, dos convites de um Salvador perdoador e paciente. Em cada cidade, cheia como possa estar de violência e crime, há muitos que, devidamente ensinados aprendem a se tornar seguidores de Jesus. Milhares podem assim ser alcançados com a verdade salvadora e levados a receber Cristo como um Salvador pessoal. PR 142 5 A mensagem de Deus para os habitantes da Terra hoje é: "Estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis". Mateus 24:44. As condições predominantes hoje na sociedade, e especialmente nas grandes cidades das nações, proclamam com voz de trovão que a hora do juízo de Deus está próxima, e que o fim de todas as coisas terrestres é chegado. Estamos no limiar da crise dos séculos. Em rápida sucessão os juízos de Deus se seguirão uns aos outros -- fogo, inundações e terremotos, com guerras e derramamento de sangue. Nós não devemos ser surpreendidos neste tempo por eventos a um tempo grandes e decisivos; pois o anjo de misericórdia não pode ficar muito tempo mais a proteger o impenitente. PR 143 1 "Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade, e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais aqueles que foram mortos". Isaías 26:21. A tormenta da ira de Deus está-se acumulando; e subsistirão unicamente os que responderem ao convite de misericórdia, como os habitantes de Nínive pela pregação de Jonas, e se santificarem pela obediência às leis do divino Governante. Somente os justos serão escondidos com Cristo em Deus até que passe a desolação. Seja a linguagem da alma: PR 143 2 "Só em Ti eu tenho abrigo, aos Teus pés está o meu ser; Não me deixes, sê comigo, Teu conforto eu quero ter. Guarda-me ó bom Salvador, té o temporal passar, Guia-me em Teu terno amor, para o eterno e doce lar." ------------------------Capítulo 23 -- O cativeiro assírio PR 144 1 Os últimos anos do malfadado reino de Israel foram assinalados pela violência e derramamento de sangue como jamais havia sido testemunhado mesmo nos piores períodos de lutas e inquietação sob a casa de Acabe. Por mais de dois séculos os governantes das dez tribos haviam estado a semear ventos; agora colhiam tempestade. Rei após rei havia sido assassinado a fim de abrir caminho para que outros ambiciosos reinassem. "Eles fizeram reis", declara o Senhor a respeito desses ímpios usurpadores, "mas não por Mim; constituíram príncipes, mas Eu não o soube". Oséias 8:4. Todo princípio de justiça fora posto de lado; os que deviam ter-se posto ante as nações da Terra como depositários da graça divina, "aleivosamente se houveram contra o Senhor" (Oséias 5:7) e uns contra os outros. PR 144 2 Com as mais severas reprovações, Deus buscou despertar a nação impenitente para a realidade do iminente perigo de sua completa destruição. Por intermédio de Oséias e Amós Ele enviou às dez tribos mensagem após mensagem, exigindo amplo e completo arrependimento, e ameaçando-os com calamidades como resultado da contínua transgressão. "Lavrastes a impiedade", declarou Oséias, "segastes a perversidade, e comestes o fruto da mentira; porque confiaste no teu caminho, na multidão dos teus valentes. Portanto entre o teu povo se levantará um grande tumulto e todas as tuas fortalezas serão destruídas. [...] O rei de Israel de madrugada será totalmente destruído". Oséias 10:13-15. PR 144 3 De Efraim o profeta declarou: "Estrangeiros lhe comeram a força, e ele não o sabe; também as cãs se espalharam sobre ele, e não o sabe". Oséias 7:9. "Israel rejeitou o bem". Oséias 8:3. "Quebrantado no juízo" (Oséias 5:11), incapazes de discernir a desastrosa perspectiva de seu mau caminho, as dez tribos deviam logo andar como vagabundas "entre as nações". Oséias 9:17. PR 144 4 Alguns dos líderes em Israel sentiam agudamente sua perda de prestígio, e desejavam poder reconquistá-lo. Mas em vez de abandonar aquelas práticas que haviam levado o enfraquecimento ao reino, continuaram em iniqüidade, lisonjeando-se com o pensamento de que quando surgisse a ocasião, poderiam alcançar o poder político desejado, aliando-se com os pagãos. "Quando Efraim viu a sua enfermidade, e Judá a sua chaga, subiu Efraim à Assíria". Oséias 5:13. "Efraim é como uma pomba enganada, sem entendimento; invocam o Egito, vão para a Assíria". Oséias 7:11. "Fazem aliança com a Assíria". Oséias 12:1. PR 145 1 Por intermédio do homem de Deus que aparecera ante o altar de Betel, por intermédio de Elias e de Eliseu, de Amós e Oséias, o Senhor repetidamente expusera ante as dez tribos os males da desobediência. Não obstante as reprovações e rogos, Israel caiu cada vez mais baixo na apostasia. "Como uma vaca rebelde se rebelou Israel" (Oséias 4:16), declarou o Senhor; "Meu povo é inclinado a desviar-se de Mim". Oséias 11:7. PR 145 2 Ocasiões houve em que os juízos do Céu caíram pesadamente sobre o povo rebelde. "Por isso os abati pelos profetas", declarou Deus; "pela palavra de Minha boca os matei; e os Teus juízos sairão como a luz. Porque Eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus mais do que os holocaustos. Mas eles transpassaram o concerto, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra Mim". Oséias 6:5-7. PR 145 3 "Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel", foi a mensagem que finalmente lhes veio; "visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos. Como eles se multiplicaram, assim contra Mim pecaram; Eu mudarei a sua honra em vergonha. [...] Visitarei sobre eles os seus caminhos, e lhes darei a recompensa das suas obras". Oséias 4:1, 6-9. PR 145 4 A iniqüidade em Israel durante o último meio século antes do cativeiro assírio, era comparável à dos dias de Noé, e de qualquer outro século em que os homens tenham rejeitado a Deus e se entregado inteiramente à prática do mal. A exaltação da natureza acima do Deus da natureza, a adoração da criatura em lugar do Criador, tem sempre resultado nos mais crassos males. Assim, quando o povo de Israel, em seu culto a Baal e Astarote, renderam suprema homenagem às forças da natureza, desvincularam-se de tudo que é inspirador e enobrecedor e caíram presa fácil da tentação. Com as defesas da alma destruídas, não tinham os enganados adoradores qualquer barreira contra o pecado, e renderam-se às más paixões do coração humano. PR 145 5 Contra a indisfarçada opressão, a flagrante injustiça, o luxo inusitado e extravagante, despudorados banquetes e bebedeiras, a grosseira licenciosidade e deboche de seu tempo, os profetas ergueram a voz; mas seus protestos foram vãos, em vão foi a denúncia do pecado. "Aborrecem na porta aos que repreendem", declarou Amós, "e abominam o que fala sinceramente". "Afligis o justo, tomais resgate, e rejeitais os necessitados na porta". Amós 5:10, 12. PR 145 6 Tais eram alguns dos resultados que se tinham seguido ao estabelecimento de dois bezerros de ouro por Jeroboão. O primeiro afastamento das formas estabelecidas de adoração levara-os à introdução das mais grosseiras formas de idolatria, até que finalmente quase todos os habitantes da terra haviam-se entregue a sedutoras práticas de culto à natureza. Esquecendo o seu Criador, os filhos de Israel "mui profundamente se corromperam". Oséias 9:9. PR 146 1 Os profetas continuaram a protestar contra esses males, e a reclamar a prática do bem. "Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia", apelava Oséias, "lavrai o campo da lavoura; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós". Oséias 10:12. "Tu, pois, converte-te a teu Deus; guarda a beneficência e o juízo, e em teu Deus espera sempre". Oséias 12:6. Converte-te, ó Israel, ao Senhor teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído. [...] Dizei-Lhe: Expulsa toda a iniqüidade, e recebe o bem". Oséias 14:1, 2. PR 146 2 Aos transgressores foram dadas muitas oportunidades para se arrependerem. Em sua hora de mais profunda apostasia e maior necessidade, a mensagem de Deus a eles foi uma mensagem de perdão e esperança. "Para tua perda, ó Israel", Ele declarou, "tu te rebelaste contra Mim, contra o teu Ajudador. Onde está agora o teu rei, para que te guarde?" Oséias 13:9, 10. PR 146 3 "Vinde, tornemos para o Senhor", o profeta suplicava, "porque Ele despedaçou, e nos sarará; fez a ferida, e a ligará. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dEle. Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva será a Sua saída; e Ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra". Oséias 6:1-3. PR 146 4 Aos que tinham perdido de vista o plano dos séculos para o livramento dos pecadores iludidos pelo poder de Satanás, o Senhor ofereceu restauração e paz. "Eu sararei a sua perversão, Eu voluntariamente os amarei", o Senhor declarou; "porque a Minha ira se apartou dele. Eu serei para Israel como orvalho; ele florescerá como o lírio, e espalhará as suas raízes como o Líbano. Voltarão os que se assentarem à sua sombra; serão vivificados como o trigo, e florescerão como a vide; a sua memória será como o vinho do Líbano. Efraim dirá: Que mais tenho eu com os ídolos? eu o tenho ouvido, e isso considerarei; eu sou como a faia verde; de mim é achado o teu fruto. PR 146 5 "Quem é sábio, para que entenda estas coisas? Prudente, para que as saiba? Porque os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão". Oséias 14:4-9. PR 146 7 Os benefícios de buscar a Deus foram fortemente expostos. "Buscai-Me", convidou o Senhor, "e vivei. Mas não busqueis a Betel, nem venhais a Gilgal, nem passeis a Berseba, porque Gilgal certamente será levado cativo, e Betel será desfeito em nada". PR 146 8 "Buscai, o bem e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos exércitos, estará convosco, como dizeis. Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei o juízo na porta. Talvez o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha piedade do resto de José". Amós 5:4, 5, 14, 15. PR 147 1 A maioria dos que ouviram esses convites, recusaram-se a aproveitá-los. Tão contrárias aos maus desejos dos impenitentes eram as palavras dos mensageiros de Deus, que o sacerdote idólatra de Betel mandou dizer ao rei de Israel: "Amós tem conspirado contra ti, no meio da casa de Israel; a terra não poderá sofrer todas as suas palavras". Amós 7:10. PR 147 2 Por intermédio de Oséias o Senhor declarou: "Sarando Eu a Israel, se descobriu a iniqüidade de Efraim, como também as maldades de Samaria". "A soberba de Israel testificará em sua face; todavia, não voltarão para o Senhor seu Deus, nem O buscarão em tudo isto". Oséias 7:1, 10. PR 147 3 De geração em geração o Senhor tinha tratado pacientemente com Seus transviados filhos; e mesmo agora, em face de ousada rebelião, Ele ainda ansiava por revelar-Se a eles como desejoso de salvar. "Que te farei, ó Efraim", clamou Ele, "que te farei, ó Judá? porque a vossa beneficência é como a nuvem da manhã, e como o orvalho da madrugada, que cedo passa". Oséias 6:4. PR 147 4 Os males que se haviam espalhado sobre a terra tinham-se tornado incuráveis; e sobre Israel fora pronunciada a terrível sentença: "Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o". Oséias 4:17. "Chegaram os dias da visitação, chegaram os dias da retribuição; Israel o saberá". Oséias 9:7. PR 147 5 As dez tribos de Israel deviam agora ceifar o fruto da apostasia que se corporificara com o estabelecimento dos altares estranhos em Betel e Dã. A mensagem de Deus para eles foi: "O teu bezerro, ó Samaria, foi rejeitado; a Minha ira se acendeu contra eles; até quando serão eles incapazes de alcançar a inocência? Porque isso é mesmo de Israel; um artífice o fez, e não é Deus; mas em pedaços será desfeito o bezerro de Samaria". Oséias 8:5, 6. "Os moradores de Samaria serão atemorizados pelo bezerro de Bete-Áven; porquanto o seu povo se lamentará por causa dele, como também os seus sacerdotes. [...] À Assíria será levado como um presente ao rei Jarebe" (Senaqueribe). Oséias 10:5, 6. PR 147 6 "Eis que os olhos do Senhor Jeová estão contra este reino pecador, e Eu o destruirei de sobre a face da Terra; mas não destruirei de todo a casa de Jacó, diz o Senhor. Porque eis que darei ordem, e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode o grão no crivo, sem que caia na terra um só grão. Todos os pecadores do meu povo morrerão à espada, os quais dizem: Não se avizinhará nem nos encontrará o mal". Amós 9:8-10. PR 147 7 "E derribarei a casa de inverno com a casa de verão; e as casas de marfim perecerão, e as grandes casas terão fim, diz o Senhor". Amós 3:15. "Porque o Senhor, o Senhor dos exércitos, é o que toca a Terra, e ela se derrete, e todos os que habitam nela chorarão". Amós 9:5. "Teus filhos e tuas filhas cairão à espada, e a tua terra será repartida a cordel, e tu morrerás na terra imunda, e Israel certamente será levado cativo para fora da sua terra". Amós 7:17. "E porque isto te farei, prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus". Amós 4:12. PR 148 1 Por algum tempo, esses juízos preditos foram retidos, e durante o longo reinado de Jeroboão II, os exércitos de Israel alcançaram assinaladas vitórias; mas este tempo de aparente prosperidade não promoveu qualquer mudança no coração dos impenitentes, e foi finalmente decretado: "Jeroboão morrerá à espada, e Israel certamente será levado para fora de sua terra em cativeiro". Amós 7:11. PR 148 2 A ousadia deste pronunciamento de nada aproveitou ao rei e ao povo, tão longe tinham ido em sua impenitência. Amazias, o líder entre os sacerdotes idólatras de Betel, exaltado pelas claras palavras pronunciadas pelo profeta contra a nação e seu rei, disse a Amós: "Vai-te, ó vidente, foge para a terra de Judá, e ali come o pão, e ali profetiza; mas em Betel daqui por diante não profetizarás mais, porque é o santuário do rei e a casa do reino". Amós 7:12, 13. PR 148 3 A isto o profeta respondeu com firmeza: "Assim diz o Senhor: [...] Israel certamente será levado cativo". Amós 7:17. PR 148 4 As palavras proferidas contra as tribos apóstatas foram literalmente cumpridas; contudo a destruição do reino se processou gradualmente. No juízo o Senhor Se lembrou da misericórdia, e a princípio, quando "veio Pul, rei da Assíria, contra a terra", Menaém, então rei de Israel, não foi levado cativo, mas foi-lhe permitido permanecer no trono como vassalo do domínio assírio. "Menaém deu a Pul mil talentos de prata, para que a sua mão fosse com ele, a fim de firmar o reino na sua mão. E Menaém tirou este dinheiro de Israel, e de todos os poderosos e ricos, para o dar ao rei da Assíria". 2 Reis 15:19, 20. Havendo os assírios humilhado as dez tribos, voltaram por algum tempo para a sua própria terra. PR 148 5 Menaém, longe de arrepender-se do mal que havia acarretado a ruína de seu reino, continuou "nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar Israel". Pecaías e Peca, seus sucessores, também fizeram "o que parecia mal aos olhos do Senhor". 2 Reis 15:18, 24, 28. "Nos dias de Peca", que reinou vinte anos, Tiglate-Pileser, rei da Assíria, invadiu Israel, e retirou-se com a multidão de cativos dentre as tribos que habitavam na Galiléia e a leste do Jordão. "Os rubenitas e gaditas, e a meia tribo de Manassés", com os outros habitantes de "Gileade, e a Galiléia, e a toda a terra de Naftali" (1 Crônicas 5:26; 2 Reis 15:29), os quais foram espalhados entre os pagãos, removidos da Palestina para distantes terras. PR 148 6 Desse terrível golpe o reino do norte jamais se recuperou. O debilitado remanescente continuou as formas de governo, embora não mais possuísse autoridade. Apenas mais um governante, Oséias, devia suceder a Peca. Logo o reino devia ser varrido para sempre. Mas nesse tempo de tristeza e angústia Deus ainda Se lembrou da misericórdia, e deu ao povo outra oportunidade para abandonar a idolatria. No terceiro ano do reinado de Oséias, o bom rei Ezequias começou a reinar sobre Judá, e tão depressa quanto possível instituiu importantes reformas nas cerimônias do templo em Jerusalém. Fizeram-se arranjos para a celebração da Páscoa, e para esta festa foram convidados não somente as tribos de Judá e Benjamim, sobre as quais Ezequias havia sido ungido rei, mas também todas as tribos do norte. Uma proclamação soou "por todo o Israel, desde Berseba até Dã, para que viessem a celebrar a Páscoa ao Senhor, Deus de Israel, a Jerusalém; porque muitos a não tinham celebrado como estava escrito. PR 149 1 "Foram, pois, os correios com as cartas, da mão do rei e dos seus príncipes, por todo o Israel e Judá", com o incisivo convite: "Filhos de Israel, convertei-vos ao Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, para que Se volte para aqueles de vós que escaparam, e ficaram da mão dos reis da Assíria [...] Não endureçais agora a vossa cerviz, como vossos pais; dai a mão ao Senhor, e vinde ao Seu santuário que Ele santificou para sempre, e servi ao Senhor vosso Deus, para que o ardor da Sua ira se desvie de vós. Porque, em vos convertendo ao Senhor, vossos irmãos e vossos filhos acharão misericórdia perante os que os levaram cativos, e tornarão a esta terra; porque o Senhor vosso Deus é piedoso e misericordioso, e não desviará de vós o Seu rosto, se vos converterdes a Ele". 2 Crônicas 30:5-9. PR 149 2 E os correios enviados por Ezequias levaram a mensagem "de cidade em cidade, pela terra de Efraim e Manassés até Zebulom". Israel devia ter reconhecido neste convite um apelo ao arrependimento e para que voltassem a Deus. Mas o remanescente das dez tribos que ainda ficaram habitando o território do outrora florescente reino do norte, trataram os mensageiros reais de Judá com indiferença, e até mesmo com desdém. "Riram-se e zombaram deles". Houve uns poucos, entretanto, que alegremente atenderam. "Alguns de Aser, e de Manassés, e de Zebulom, se humilharam, e vieram a Jerusalém [...] para celebrar a festa dos pães asmos". 2 Crônicas 30:10-13. PR 149 3 Cerca de dois anos mais tarde, Samaria foi invadida pelos povos da Assíria, sob o comando de Salmaneser; e no cerco que se seguiu, multidões pereceram miseravelmente de fome e de enfermidades bem como pela espada. Caiu a cidade com a nação, e o humilhado remanescente das dez tribos foi levado cativo e espalhado entre as províncias do domínio assírio. PR 149 4 A destruição que abateu o reino do norte foi um juízo direto do Céu. Os assírios foram meramente o instrumento de que Deus Se serviu para realizar o Seu propósito. Por intermédio de Isaías, que começou a profetizar pouco antes da queda de Samaria, o Senhor Se referiu aos assírios como "a vara da Minha ira". "A Minha indignação", disse Ele, "é como bordão nas suas mãos". Isaías 10:5. PR 149 5 Gravemente haviam os filhos de Israel pecado "contra o Senhor seu Deus, [...] e fizeram coisas ruins". "Não deram ouvidos, antes [...] rejeitaram os Seus estatutos, e o Seu concerto, que fizera com seus pais, como também os Seus testemunhos, com que protestara contra eles". Foi porque "deixaram todos os mandamentos do Senhor seu Deus, e fizeram imagens de fundição, dois bezerros, e fizeram um ídolo do bosque, e se prostraram perante todo o exército do céu, e serviram a Baal", e recusaram decididamente a arrepender-se, que o Senhor "os oprimiu, e os deu nas mãos dos despojadores, até que os tirou de diante de Sua presença", em harmonia com as claras advertências que lhes enviara "pelo ministério de todos os Seus servos, os profetas". 2 Reis 17:7, 11, 14, 16, 20, 23. PR 150 1 "Assim foi Israel transportado de sua terra à Assíria", "porque não obedeceram à voz do Senhor seu Deus, antes traspassaram o Seu concerto; e tudo quanto Moisés, servo do Senhor, tinha ordenado". 2 Reis 18:12. PR 150 2 Nos terríveis juízos acarretados sobre as dez tribos, o Senhor tivera um sábio e misericordioso propósito. Aquilo que Ele não mais podia fazer por intermédio deles na terra de seus pais, procuraria realizar espalhando-os entre os pagãos. Seu plano para a salvação de todo aquele que escolhesse apropriar-se do perdão mediante o Salvador da raça humana devia de alguma forma ser cumprido; e nas aflições levadas a Israel, estava ele preparando o caminho para que Sua glória fosse revelada às nações da Terra. Nem todos os que foram levados cativos eram impenitentes. Entre eles havia alguns que tinham permanecido leais a Deus, e outros que se haviam humilhado perante Ele. Por intermédio desses, os "filhos do Deus vivo" (Oséias 1:10), Ele levaria multidões no reino assírio ao conhecimento dos atributos de Seu caráter e beneficência da Sua lei. ------------------------Capítulo 24 -- "Destruído porque lhe faltou o conhecimento" PR 151 1 O favor de Deus para com Israel fora sempre condicionado a sua obediência. Aos pés do Sinai, haviam eles entrado em relação de concerto com Ele como Sua "propriedade peculiar dentre todos os povos". Solenemente haviam prometido seguir na trilha da obediência. "Tudo que o Senhor tem dito faremos" (Êxodo 19:5, 8), disseram. E quando, poucos dias mais tarde, a lei de Deus foi proclamada do Sinai, e instruções adicionais na forma de estatutos e juízos lhes foram comunicadas por intermédio de Moisés, os israelitas a uma só voz haviam prometido: "Todas as palavras que o Senhor tem falado, faremos". Na ratificação do concerto, o povo uma vez mais em uníssono declarou: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos". Êxodo 24:3, 7. Deus havia escolhido Israel como Seu povo, e eles O haviam escolhido como seu Rei. PR 151 2 Próximo do fim da peregrinação pelo deserto, as condições do concerto haviam sido repetidas. Em Baal-Peor, mesmo nos limites da terra prometida, onde muitos caíram presa de sutil tentação, os que permaneceram fiéis renovaram seus votos de obediência. Por meio de Moisés foram advertidos sobre as tentações que os assaltariam no futuro; e foram fervorosamente exortados a que permanecessem separados das nações circunvizinhas e adorassem unicamente a Deus. PR 151 3 "Agora, pois, ó Israel", foi a instrução de Moisés, "ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes; para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá. Não acrescenteis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando. [...] Guardai-os pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida". Deuteronômio 4:1-6. PR 151 4 Os israelitas haviam sido especialmente advertidos a não perder de vista os mandamentos de Deus, em cuja obediência deviam encontrar força e bênção. "Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma", tinha sido a eles a palavra de Deus por intermédio de Moisés, "que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos". Deuteronômio 4:9. As impressionantes cenas relacionadas com a entrega da lei no Sinai não deviam jamais ser esquecidas. Claras e decididas foram as advertências então dadas a Israel contra os costumes idólatras predominantes entre as nações circunvizinhas. "Guardai pois com diligência as vossas almas" [...] foi o conselho dado; "para que não vos corrompais, e vos façais alguma escultura, semelhança de imagem", "e não levantes os teus olhos aos céus e vejas o Sol, e a Lua, e as estrelas, todo o exército dos céus, e sejas impelido a que te inclines perante eles, e sirvas àqueles que o Senhor teu Deus repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus". "Guardai-vos de que vos esqueçais do concerto do Senhor vosso Deus, que tem feito convosco, e vos façais alguma escultura, imagem de alguma coisa que o Senhor vosso Deus vos proibiu". Deuteronômio 4:15, 16, 19-23. PR 152 1 Moisés assinalou os males que resultariam do abandono dos estatutos de Jeová. Tomando o Céu e a Terra como testemunha, ele declarou que se depois de haverem habitado longo tempo na terra da promessa, o povo introduzisse formas corrompidas de adoração, e se curvasse perante as imagens de escultura, e se recusasse a voltar à adoração do verdadeiro Deus, a ira do Senhor seria despertada, e eles seriam levados cativos e espalhados entre os pagãos. "Certamente perecereis depressa da Terra, a qual, passado o Jordão, ides possuir", ele os advertiu. "Não prolongareis os vossos dias nela, antes sereis de todo destruídos. E o Senhor vos espalhará entre os povos, e ficareis poucos em número entre as gentes, às quais o Senhor vos conduzirá. E ali servireis a deuses que são obras de mãos de homens, madeira e pedra, que não vêem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram". Deuteronômio 4:26-28. PR 152 2 Essa profecia, cumprida em parte no tempo dos juízes, encontrou cumprimento mais completo e literal no cativeiro de Israel na Assíria, e de Judá em Babilônia. PR 152 3 A apostasia de Israel havia-se desenvolvido gradualmente. De geração a geração Satanás tinha feito repetidas tentativas para levar a nação escolhida a esquecer "os mandamentos, os estatutos e os juízos" (Deuteronômio 6:1) que eles haviam prometido guardar para sempre. Ele sabia que se pudesse levar Israel a esquecer-se de Deus, e a "andar após outros deuses, e servi-los, e adorá-los", "certamente" pereceriam. Deuteronômio 8:19. PR 152 4 O inimigo da igreja de Deus sobre a Terra não tinha, porém, tomado inteiramente em conta a natureza compassiva dAquele que "ao culpado não tem por inocente", e cuja glória é ser "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares, que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado". Êxodo 34:6, 7. A despeito dos esforços de Satanás para frustrar o propósito de Deus para Israel, embora mesmo em algumas das horas mais escuras de sua história parecesse que as forças do mal estavam para alcançar a vitória, o Senhor graciosamente Se revelou. Ele desdobrou perante Israel as preciosidades que deveriam ser para o bem-estar da nação. "Escrevi para eles as grandezas da Minha lei", Ele declarou por intermédio de Oséias, "mas isso é para ele como coisa estranha". Oséias 8:12. "Eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os pelos seus braços, mas não conheceram que Eu os curava". Oséias 11:3. Ternamente havia o Senhor tratado com eles, instruindo-os por intermédio de Seus profetas, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra. PR 153 1 Tivesse Israel aceito as mensagens dos profetas e teriam sido poupados à humilhação que se seguiu. Foi em virtude de haverem persistido no abandono de Sua lei, que Deus foi compelido a deixá-los ir em cativeiro. "O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento", foi a mensagem enviada a eles por meio de Oséias. "Porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei [...] visto que te esqueceste da lei do teu Deus". Oséias 4:6. PR 153 2 Em todos os séculos a transgressão da lei de Deus tem sido seguida pelo mesmo resultado. Nos dias de Noé, quando todo princípio de reto proceder fora violado, e a iniqüidade se tornara tão profunda e difusa que Deus não a pôde mais suportar, saiu o decreto: "Destruirei, de sobre a face da Terra o homem que criei". Gênesis 6:7. Nos dias de Abraão, o povo de Sodoma desafiava abertamente a Deus e Sua lei; e teve lugar aí a mesma impiedade, a mesma corrupção, a mesma incontida condescendência que haviam assinalado o mundo antediluviano. Os habitantes de Sodoma transpuseram os limites da divina paciência, e sobre eles se acendeu o fogo da vingança de Deus. PR 153 3 O tempo que precedeu o cativeiro das dez tribos de Israel foi de uma desobediência similar e similar impiedade. A lei de Deus era contada como de nenhuma importância, e isto abriu as comportas da iniqüidade sobre Israel. "O Senhor tem uma contenda com os habitantes da Terra", declarou Oséias, "porque não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na Terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios". Oséias 4:1, 2. PR 153 4 As profecias de juízo pronunciadas por Amós e Oséias foram acompanhadas por predição de glória futura. Às dez tribos, desde muito, rebeldes e impenitentes, não foi dada nenhuma promessa de completa restauração de seu anterior domínio na Palestina. Até o fim do tempo eles deviam ser "errantes entre as nações". Mas por intermédio de Oséias foi dada uma profecia que punha perante eles o privilégio de ter uma parte na restauração final que deve ser feita para o povo de Deus no fim da história da Terra, quando Cristo aparecerá como Rei dos reis e Senhor dos senhores. "Por muitos dias", o profeta declarou, as dez tribos deviam ficar "sem rei, e sem príncipe, e sem sacrifício, e sem estátua, e sem éfode ou terafim". "Depois", continuou o profeta, "tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao Senhor seu Deus, e a Davi, seu rei; e temerão ao Senhor, e a Sua bondade, no fim dos dias". Oséias 3:4, 5. PR 154 1 Em linguagem simbólica Oséias põe perante as dez tribos o plano de Deus de restauração em favor de toda a alma penitente que se unisse com Sua igreja na Terra, as bênçãos asseguradas a Israel nos dias de sua lealdade a Ele na terra prometida. Referindo-se a Israel como aquele a quem Ele ansiava por mostrar misericórdia, o Senhor declarou: "Eis que Eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei as suas vinhas dali, e o vale de Acor, por porta de esperança; e ali cantará, como nos dias de sua mocidade, e como no dia em que subiu da terra do Egito. E acontecerá naquele dia, diz o Senhor, que Me chamarás: Meu marido; e não Me chamarás mais: Meu Baal meu senhor. E da sua boca tirarei os nomes de Baalim, e os seus nomes não virão mais em memória". Oséias 2:14-17. PR 154 2 Nos últimos dias da história da Terra, o concerto de Deus com Seu povo que guarda os Seus mandamentos deve ser renovado. "E naquele dia farei por eles aliança com as bestas-feras do campo, e com as aves do céu, e com os répteis da terra; e da terra tirarei o arco, e a espada, e a guerra, e os farei deitar em segurança. E desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor. PR 154 3 "E acontecerá naquele dia que Eu responderei, diz o Senhor, Eu responderei aos céus, e estes responderão à terra; e a terra responderá ao trigo, e ao mosto, e ao óleo, e estes responderão a Jezreel. E semeá-la-ei para Mim na terra, e compadecer-Me-ei de Lo-Ruama; e a Lo-Ami direi: Tu és Meu povo; e ele dirá; Tu és meu Deus". Oséias 2:18-23. PR 154 4 "E acontecerá naquele dia que os resíduos de Israel, e os escapados da casa de Jacó [...] se estribarão sobre o Senhor, o Santo de Israel, em verdade". Isaías 10:20. "De toda a nação, e tribo, e língua, e povo", haverá alguns que alegremente responderão à mensagem: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo". Voltar-se-ão de todo ídolo que os retém na Terra, e adorarão "Aquele que fez o Céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas". Libertar-se-ão de todo o embaraço, e estarão perante o mundo como monumentos da misericórdia de Deus. Obedientes aos divinos reclamos, serão reconhecidos pelos anjos e pelos homens como os que têm guardado "os mandamentos de Deus, e a fé em Jesus". Apocalipse 14:6, 7, 12. PR 154 5 "Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que o que lavra alcançará ao que sega, e o que pisa as uvas ao que lança a semente; e os montes destilarão mosto, e todos os outeiros se derreterão. E removerei o cativeiro do Meu povo Israel, e reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas, e beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão o fruto. E os plantarei na sua terra, e não serão mais arrancados da sua terra que lhes dei, diz o Senhor teu Deus". Amós 9:13-15. ------------------------Capítulo 25 -- O chamado de Isaías PR 155 1 O longo reinado de Uzias (também conhecido como Azarias) na terra de Judá e Benjamim foi caracterizado por uma prosperidade maior que a de qualquer outro rei desde a morte de Salomão, cerca de dois séculos antes. Por muitos anos o rei governou com discrição. Sob as bênçãos do Céu, seus exércitos reconquistaram alguns dos territórios que tinham sido perdidos nos anos anteriores. Cidades foram reconstruídas e fortificadas, e a posição da nação entre os povos vizinhos foi grandemente fortalecida. Reavivou-se o comércio, e as riquezas das nações fluíram para Jerusalém. O nome de Uzias voou "até muito longe; porque foi maravilhosamente ajudado, até que se tornou forte". 2 Crônicas 26:15. PR 155 2 Essa prosperidade, no entanto, não foi acompanhada por um correspondente avivamento do poder espiritual. Os cultos do templo prosseguiram como nos anos anteriores, e multidões se reuniram para adorar ao Deus vivo; mas o orgulho e o formalismo gradualmente tomaram o lugar da humildade e sinceridade. Do próprio Uzias está escrito: "Mas, havendo-se já fortalecido, exaltou-se o seu coração até se corromper, e transgrediu contra o Senhor seu Deus". 2 Crônicas 26:16. PR 155 3 O pecado que produziu tão desastrosos resultados para Uzias foi o da presunção. Em violação de um claro mandamento de Jeová, segundo o qual ninguém que não os descendentes de Arão devia oficiar como sacerdote, o rei entrou no santuário "para queimar incenso no altar". O sumo sacerdote Azarias e seus associados protestaram, e suplicaram a Uzias que abandonasse seu propósito. "Transgrediste", disseram eles; "e não será isto para honra tua". 2 Crônicas 26:16, 18. PR 155 4 Uzias encheu-se de ira, que sendo ele o rei, fosse assim repreendido. Mas não lhe foi permitido profanar o santuário contra os protestos unidos dos que tinham autoridade. Enquanto permanecia ali, em irada rebelião, foi ele subitamente ferido pelo juízo divino. Em sua testa apareceu lepra. Atribulado, deixou o recinto do templo, para nunca mais aí entrar. Até o dia de sua morte, alguns anos mais tarde, Uzias ficou leproso -- um exemplo vivo da loucura de abandonar um claro "Assim diz o Senhor". Nem sua exaltada posição nem sua longa vida de serviço poderiam ser invocadas como desculpa pelo presunçoso pecado com que mareou os anos finais de seu reinado, atraindo sobre si o juízo do Céu. PR 156 1 Deus não faz acepção de pessoas. "A alma que fizer alguma coisa à mão levantada, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; e tal alma será extirpada do meio do seu povo". Números 15:30. PR 156 2 O juízo que caiu sobre Uzias pareceu ter tido sobre seu filho uma influência refreadora. Jotão levou pesadas responsabilidades durante os últimos anos do reinado de seu pai, e subiu ao trono após a morte de Uzias. De Jotão está escrito: "Fez o que era reto aos olhos do Senhor; fez conforme tudo quanto fizera seu pai Uzias. Tão-somente os altos se não tiraram; porque ainda o povo sacrificava e queimava incenso nos altos". 2 Reis 15:34, 35. PR 156 3 O reinado de Uzias estava chegando ao fim, e Jotão estava já levando muitas das tarefas do Estado, quando Isaías, da linhagem real, foi chamado, embora ainda jovem, para a missão profética. Os tempos em que Isaías devia trabalhar estavam repletos de perigos peculiares para o povo de Deus. O profeta devia testemunhar a invasão de Judá pelos exércitos combinados do norte de Israel e da Síria; devia ele contemplar as tropas assírias acampadas diante das principais cidades do reino. Durante a trajetória de sua vida, Samaria devia cair, e as dez tribos de Israel deviam ser espalhadas entre as nações. Judá seria mais de uma vez invadida pelos exércitos assírios, e Jerusalém devia sofrer um cerco do qual teria resultado sua queda, não Se tivesse Deus atuado miraculosamente. Graves perigos ameaçavam já a paz do reino do sul. A divina proteção estava sendo removida, e as forças assírias estavam prestes a se espalhar sobre a terra de Judá. PR 156 4 Mas os perigos de fora, esmagadores como pudessem parecer, não eram tão sérios quanto os perigos internos. Era a perversidade de seu povo que levava ao servo do Senhor a maior perplexidade e a mais profunda depressão. Por sua apostasia e rebelião, os que podiam ter permanecido como portadores de luz entre as nações, estavam atraindo os juízos de Deus. Muitos dos males que apressaram a rápida destruição do reino do norte, e que tinham sido recentemente denunciados em termos inequívocos por Oséias e Amós, depressa estavam corrompendo o reino de Judá. PR 156 5 A perspectiva era particularmente desencorajadora em referência à condição social do povo. Em seu desejo de ganho, estavam os homens adicionando casa a casa, herdade a herdade. Oséias 5:8. A justiça fora pervertida; e nenhuma piedade era mostrada ao pobre. A respeito desses males Deus declarou: "O espólio do pobre está em vossas casas". "Que tendes vós que afligir o Meu povo e moer as faces do pobre?" Isaías 3:14, 15. Mesmo os juízes, cujo dever era proteger o desajudado, faziam ouvidos moucos aos clamores do pobre e necessitado, das viúvas e dos órfãos. Isaías 10:1, 2. PR 156 6 Com a opressão e a opulência vieram o orgulho e o amor à ostentação (Isaías 2:11, 12), embriaguez e o espírito de orgia. Isaías 5:22, 11, 12. E nos dias de Isaías a própria idolatria já não provocava surpresa. Isaías 2:8, 9. Práticas iníquas tinham-se tornado tão predominantes entre todas as classes, que os poucos que permaneciam fiéis a Deus eram não raro tentados a perder o ânimo, dando lugar ao desencorajamento e desespero. Era como se o propósito de Deus para Israel estivesse para falhar, e a nação rebelde devesse sofrer sorte semelhante à de Sodoma e Gomorra. PR 157 1 Em face de tais condições, não é surpreendente que Isaías recuasse da responsabilidade, quando chamado a levar a Judá as mensagens de advertência e reprovação da parte de Deus, durante o último ano do reinado de Uzias. Ele bem sabia que haveria de encontrar obstinada resistência. Considerando sua própria incapacidade para enfrentar a situação, e tomando em conta a obstinação e incredulidade do povo para quem ia trabalhar, sua tarefa pareceu-lhe inexeqüível. Devia ele em desespero renunciar a sua missão, deixando Judá entregue a sua idolatria? Deviam os deuses de Nínive reger a terra em desafio ao Deus do Céu? PR 157 2 Tais eram os pensamentos que fervilhavam na mente de Isaías ao estar sob o pórtico do templo. Subitamente, pareceu-lhe que o portal e o véu interior do templo eram levantados ou afastados, e foi-lhe permitido olhar para dentro, sobre o santo dos santos, onde nem mesmo os pés do profeta podiam entrar. Ali surgiu ante ele a visão de Jeová assentado em Seu trono alto e sublime, enquanto o séquito de Sua glória enchia o templo. De cada lado do trono pairavam serafins, as faces veladas em adoração, enquanto ministravam perante seu Criador, e se uniam em solene invocação: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a Terra está cheia da Sua glória" (Isaías 6:3), de maneira que a coluna, o pilar e a porta de cedro pareciam sacudidos com o som, e a casa se encheu com seu tributo de louvor. PR 157 3 Contemplando Isaías esta revelação da glória e majestade de seu Senhor, sentiu-se oprimido com o senso da pureza e santidade de Deus. Quão saliente o contraste entre a incomparável perfeição de seu Criador, e a conduta pecaminosa dos que, como ele, havia muito foram contados entre o povo escolhido de Israel e Judá "Ai de mim", exclamou, "que vou perecendo porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos". Isaías 6:5. Em pé, por assim dizer, na plena luz da divina presença do santuário, ele sentiu que, se deixado a sua própria imperfeição e ineficiência, seria inteiramente incapaz de executar a missão para a qual havia sido chamado. Mas um serafim foi enviado para libertá-lo de sua angústia, e capacitá-lo para a sua grande missão. Uma brasa viva do altar foi colocada sobre seus lábios com as palavras: "Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado." Então a voz de Deus se fez ouvir dizendo: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?" e Isaías respondeu: "Eis-me aqui, envia-me a mim". Isaías 6:7, 8. PR 158 1 O celestial visitante ordenou ao expectante mensageiro: PR 158 2 "Vai, e dize a este povo: PR 158 3 Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; Não venha ele a ver com os olhos, e a ouvir com seus ouvidos, e a entender com o seu coração, e a converter-se, e a ser sarado". Isaías 6:9, 10. PR 158 4 O dever do profeta era claro; ele devia levantar sua voz em protesto contra os males predominantes. Mas assustava-o tomar a tarefa sem alguma segurança de sucesso. "Até quando, Senhor?" (Isaías 6:11) ele perguntou. Nenhum dentre Teu povo escolhido há de compreender, e arrepender-se e ser sarado? PR 158 5 Sua angústia de alma em favor do extraviado Judá não devia ser sofrida em vão. Sua missão não devia ser inteiramente infrutífera. Contudo os males que estiveram a se multiplicar por muitas gerações não seriam removidos em seus dias. No transcurso de sua vida ele teria que ser um corajoso e paciente ensinador -- um profeta da esperança, bem como da condenação. O divino propósito seria finalmente cumprido, os frutos de seus esforços e dos labores de todos os fiéis mensageiros de Deus, haveriam de aparecer. Um remanescente devia ser salvo. Para que isto pudesse ser alcançado, e as mensagens de advertência e súplica fossem levadas à nação rebelde, o Senhor declarou: PR 158 6 "Até que se assolem as cidades, e fiquem sem habitantes, e nas casas não fique morador, e a terra seja assolada de todo, e o Senhor afaste dela os homens e no meio da terra seja grande o desamparo". Isaías 6:11, 12. PR 158 7 Os pesados juízos que deviam cair sobre os impenitentes -- guerra, exílio, opressão, a perda de poder e prestígio entre as nações -- tudo isso devia vir, para que os que neles reconhecessem a mão de um Deus ofendido, pudessem ser levados ao arrependimento. As dez tribos do reino do norte deviam logo ser espalhadas entre as nações, e suas cidades ficariam em desolação; os exércitos destruidores de nações hostis deviam varrer sua terra vez após vez; até mesmo Jerusalém devia finalmente cair, e Judá devia ser levada cativa; contudo, a terra prometida não devia permanecer inteiramente abandonada para sempre. O celeste visitante de Isaías assegurou: PR 158 8 "Se ainda a décima parte dela ficar, tornará a ser pastada. Como o carvalho, e como a azinheira, que, depois de se desfolharem, ainda ficam firmes, assim a santa semente será a firmeza dela". Isaías 6:13. PR 158 9 Essa garantia do cumprimento final do propósito de Deus levou coragem ao coração de Isaías. Que importava que poderes terrestres se arregimentassem contra Judá? Que importava que o mensageiro do Senhor enfrentasse oposição e resistência? Isaías tinha visto o Rei, o Senhor dos exércitos; ouvira o cântico dos serafins: "Toda a Terra está cheia de Sua glória" (Isaías 6:3); ele tivera a promessa de que as mensagens de Jeová ao apostatado Judá seriam acompanhadas pelo convincente poder do Espírito Santo; e o profeta foi revigorado para a obra que tinha diante de si. Através de sua longa e árdua missão, levou consigo a lembrança desta visão. Durante sessenta anos ou mais ele permaneceu diante dos filhos de Judá como um profeta de esperança, tornando-se cada vez mais ousado em suas predições do futuro triunfo da igreja. ------------------------Capítulo 26 -- "Eis aqui está o vosso Deus" PR 160 1 Nos dias de Isaías as faculdades espirituais da humanidade haviam sido entenebrecidas por uma errônea compreensão de Deus. Durante muito tempo Satanás procurara levar os homens a olhar o seu Criador como o autor do pecado, do sofrimento e morte. Os que ele havia assim enganado, tinham a Deus na conta de duro e exigente. Imaginavam-nO como atento para denunciar e condenar, maldisposto em receber o pecador enquanto houvesse uma escusa legal para não auxiliá-lo. A lei de amor pela qual o Céu é regido, havia sido falsamente apresentada pelo arquienganador com uma restrição imposta à felicidade do homem, um pesado jugo do qual deviam sentir-se alegres por se verem livres. Ele declarou que os preceitos, dessa lei não podiam ser obedecidos, e que as penalidades da transgressão eram impostas arbitrariamente. PR 160 2 Havendo perdido de vista o verdadeiro caráter de Jeová, os israelitas ficaram sem escusa. Não raro havia Deus Se revelado a eles como "um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade". Salmos 86:15. PR 160 3 "Quando Israel era menino", Ele testificou, "Eu o amei, e do Egito chamei o Meu filho". Oséias 11:1. PR 160 4 Ternamente havia o Senhor tratado com Israel em seu livramento do cativeiro egípcio e em sua jornada para a terra prometida. "Em toda angústia deles foi Ele angustiado, e o anjo de Sua face os salvou; pelo Seu amor, e pela Sua compaixão Ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade". Isaías 63:9. PR 160 5 "Irá a Minha presença contigo" (Êxodo 33:14), foi a promessa feita durante a viagem através do deserto. Essa garantia foi acompanhada por uma maravilhosa revelação do caráter de Jeová, a qual capacitou Moisés a proclamar a todo o Israel a bondade de Deus, e a instruí-lo cabalmente quanto aos atributos do seu invisível Rei. "Passando pois o Senhor perante a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente". Êxodo 34:6, 7. PR 161 1 Foi sobre seu conhecimento da longanimidade de Jeová e de Seu infinito amor e misericórdia, que Moisés baseou sua maravilhosa intercessão pela vida de Israel quando, nos limites da terra prometida eles se recusaram a avançar em obediência ao mando de Deus. No clímax de sua rebelião o Senhor havia declarado: "Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei"; e Se propusera fazer dos descendentes de Moisés "povo maior e mais forte do que este". Números 14:12. Mas o profeta pleiteou a maravilhosa providência e promessas de Deus em favor da nação escolhida. E então, como o mais forte de todos os argumentos, lembrou o amor de Deus pelo homem caído. Números 14:17-19. PR 161 2 Graciosamente o Senhor respondeu: "Conforme à tua palavra lhe tenho perdoado". E então Ele fez Moisés participante, na forma de uma profecia, do conhecimento de Seu propósito concernente ao triunfo final de Israel: "Tão certamente como Eu vivo", Ele declarou, "que a glória do Senhor encherá toda a Terra". Números 14:20, 21. A glória de Deus, Seu caráter, Sua misericordiosa bondade e terno amor -- aquilo que Moisés havia pleiteado em favor de Israel -- devia ser revelado a toda a humanidade. E esta promessa de Jeová foi feita duplamente segura; foi confirmada por um juramento. Tão certamente como Deus vive e reina, seria anunciada "entre as nações a Sua glória; entre todos os povos as Suas maravilhas". Salmos 96:3. PR 161 3 Foi com respeito ao futuro cumprimento desta profecia que Isaías tinha ouvido os gloriosos serafins cantando perante o trono: "Toda a Terra está cheia da Sua glória". Isaías 6:3. O profeta, confiante na certeza destas palavras, declarara ousadamente mais tarde, ele próprio, a respeito daqueles que se curvavam ante imagens de madeira e pedra: "Eles verão a glória do Senhor, e a excelência do nosso Deus". Isaías 35:2. PR 161 4 Hoje esta profecia está encontrando rápido cumprimento. As atividades missionárias da igreja de Deus na Terra estão produzindo rico fruto, e logo a mensagem evangélica terá sido proclamada a todas as nações. "Para louvor e glória da Sua graça", homens e mulheres de toda raça, língua e povo estão sendo feitos "agradáveis a si no Amado", para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela benignidade para conosco em Cristo Jesus". Efésios 1:6; 2:7. "Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só Ele faz maravilhas. E bendito seja para sempre o Seu nome glorioso, e encha-se toda a Terra da Sua glória". Salmos 72:18, 19. PR 161 5 Na visão dada a Isaías no recinto do templo, foi-lhe propiciado ver claramente o caráter do Deus de Israel. "O alto e o sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo", havia-lhe aparecido em grande majestade; contudo, ao profeta fora feito compreender a natureza compassiva de seu Senhor. Aquele que habita "num alto e santo lugar", habita "também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos". Isaías 57:15. O anjo comissionado para tocar os lábios de Isaías levara-lhe a mensagem: "Tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado". Isaías 6:7. PR 162 1 Pelo contemplar a seu Deus, o profeta, como Saulo de Tarso às portas de Damasco, não tinha recebido somente visão de sua própria indignidade; ao seu coração humilhado viera a certeza de perdão, pleno e livre; e ele se tornara um homem mudado. Havia visto o seu Senhor. Apanhara um lampejo da amabilidade do caráter divino. Podia testificar da transformação que se operara pela contemplação do Infinito Amor. Daí em diante ele fora inspirado com o incontido desejo de ver o transviado Israel livre do fardo e penalidade do pecado. "Por que seríeis ainda castigados?" o profeta inquirira. "Vinde então, e argüi-Me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã". "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer bem". Isaías 1:5, 18, 16, 17. PR 162 2 O Deus a quem tinham estado professando servir, mas cujo caráter haviam mal compreendido, fora posto diante deles como o grande Médico da enfermidade espiritual. Que importava estivesse toda a cabeça enferma, e todo o coração fraco? que desde a planta do pé até à cabeça não houvesse coisa sã, senão feridas, e inchaços e chagas podres? Isaías 1:6. Aquele que estivera seguindo obstinadamente o caminho do seu coração podia encontrar cura volvendo para o Senhor. "Eu vejo os seus caminhos", o Senhor declarou, "e os sararei; também os guiarei, e lhes tornarei a dar consolações. [...] Paz, paz, para os que estão longe, e para os que estão perto, diz o Senhor, e Eu os sararei". Isaías 57:18, 19. PR 162 3 O profeta exaltou a Deus como o Criador de todos. Sua mensagem às cidades de Judá foi: "Eis aqui está o vosso Deus". Isaías 40:9. "Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a Terra, e a tudo quanto produz" (Isaías 42:5); "Eu sou o Senhor que faço todas as coisas" (Isaías 44:24); "Eu formo a luz, e crio as trevas;" "Eu fiz a Terra, e criei nela o homem; Eu o fiz: as Minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as Minhas ordens". Isaías 45:7, 12. "A quem pois Me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas, quem produz por conta o seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará". Isaías 40:25, 26. PR 162 4 Aos que temiam não ser recebidos se retornassem a Deus, o profeta declarou: PR 162 5 "Por que pois dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fatiga? não há esquadrinhação do Seu entendimento. Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão". Isaías 40:27-31. PR 163 1 O coração do Infinito Amor anseia pelos que se sentem desprovidos de forças para se livrarem dos laços de Satanás; e graciosamente Se oferece para fortalecê-los, a fim de que vivam para Ele. "Não temas", ordena Ele, "porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te esforço, Eu te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça". "Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, que Eu te ajudo. Não temas, ó bichinho de Jacó, povozinho de Israel; Eu te ajudo, diz o Senhor, e o teu Redentor é o Santo de Israel". Isaías 41:10, 13, 14. PR 163 2 Os habitantes de Judá eram todos indignos, contudo Deus não os abandonaria. Por eles Seu nome devia ser exaltado entre os pagãos. Muitos que eram inteiramente desconhecedores de Seus atributos, deviam ainda contemplar a glória do divino caráter. Foi com o propósito de tornar claros Seus misericordiosos desígnios que Ele persistiu em enviar Seus servos os profetas com a mensagem: "Convertei-vos agora cada um do seu mau caminho". Jeremias 25:5. "Por amor do Meu nome", declarou Ele a Isaías, "retardarei a Minha ira, e por amor do Meu louvor Me conterei para contigo, para que te não venha a cortar". "Por amor de Mim, por amor de Mim o farei, porque como seria profanado o Meu nome? e a Minha glória não a darei a outrem". Isaías 48:9, 11. PR 163 3 O chamado para arrependimento soara com inconfundível clareza, e todos foram convidados a retornar. "Buscai ao Senhor enquanto se pode achar", o profeta clamava, "invocai-O enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar". Isaías 55:6, 7. PR 163 4 Tem você, leitor, escolhido, o seu próprio caminho? Tem vagueado longe de Deus? Tem procurado banquetear-se com os frutos da transgressão, apenas para verificar que são cinza em seus lábios? E agora, subvertidos os planos de sua vida e suas esperanças fenecidas, assenta-se você em desolação e solidão? Aquela voz que há muito lhe tem falado ao coração, mas a que você não tem dado ouvidos, chega-lhe distinta e clara: "Levantai-vos, e andai, porque não será aqui o lugar do vosso descanso; por causa da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente". Miquéias 2:10. Retorne para a casa de seu Pai. Ele o convida, dizendo: "Torna-te para Mim, porque Eu te remi". Isaías 44:22. "Vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi". Isaías 55:3. PR 164 1 Não atenda à sugestão do inimigo de persistir longe de Cristo até que você mesmo tenha se tornado melhor; até que seja suficientemente bom para vir a Deus. Se esperar até então, jamais virá. Quando Satanás apontar para as suas vestes imundas, repita a promessa do Salvador: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora". João 6:37. Diga ao inimigo que o sangue de Jesus Cristo purifica de todo o pecado. Faça sua própria a oração de Davi: "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve". Salmos 51:7. PR 164 2 As exortações do profeta de Judá para que contemplassem o Deus vivo, e para que aceitassem Seu gracioso oferecimento, não foram em vão. Houve alguns que deram fervorosa atenção, e que voltaram de seus ídolos para o culto de Jeová. Em seu Criador eles aprenderam a ver amor, misericórdia e terna compaixão. E nos dias negros que estavam para sobrevir na história de Judá, quando apenas um remanescente devia ser deixado na terra, as palavras do profeta deviam continuar produzindo fruto em decidida reforma. "Naquele dia", declarou Isaías, "atentará o homem para o seu Criador, e os seus olhos olharão para o Santo de Israel. E não atentará para os altares, obra das suas mãos, nem olhará para o que fizeram seus dedos, nem para os bosques, nem para as imagens do Sol". Isaías 17:7, 8. PR 164 3 Muitos deveriam contemplar Aquele que é totalmente desejável, o que leva a bandeira entre dez mil. "Os teus olhos verão o Rei na Sua formosura", era a graciosa promessa a eles feita. Seus pecados deviam ser perdoados, e eles deviam exultar somente em Deus. Nesse alegre dia da redenção da idolatria, eles exclamariam: "O Senhor ali nos será grandioso, lugar de rios e correntes largas. [...] O Senhor é o nosso juiz; o Senhor é o nosso legislador; o Senhor é o nosso rei; Ele nos salvará". Isaías 33:21, 22. PR 164 4 As mensagens levadas por Isaías aos que escolhiam volver de seus maus caminhos, eram cheias de conforto e encorajamento. Ouvi a palavra do Senhor por intermédio do Seu profeta: PR 164 5 "Lembra-te destas coisas ó Jacó, e ó Israel, Porquanto és Meu servo; eu te formei; Meu servo és, ó Israel; não Me esquecerei de ti. Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi". Isaías 44:21, 22. PR 164 6 "E dirás naquele dia: Graças Te dou, ó Senhor, Porque, ainda que Te iraste contra mim, a Tua ira se retirou, e Tu me consolaste. Eis que Deus é a minha salvação; eu confiarei, e não temerei, porque o Senhor Jeová é a minha força e o meu cântico, e Se tornou a minha salvação. [...] Cantai ao Senhor, porque fez coisas grandiosas; saiba-se isto em toda a Terra. Exulta e canta de gozo, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti". Isaías 12. ------------------------Capítulo 27 -- Acaz PR 165 1 A ascensão de Acaz ao trono pôs Isaías e seus associados face a face com condições mais aterradoras do que as que até então tivera lugar no reino de Judá. Muitos que anteriormente haviam resistido às influências sedutoras de práticas idólatras, estavam agora sendo persuadidos a tomar parte na adoração de divindades pagãs. Príncipes em Israel estavam-se mostrando infiéis ao sua atividade; falsos profetas se levantavam com mensagens que levavam ao extravio, e até alguns dos sacerdotes estavam ensinando por interesse. Não obstante os líderes em apostasia ainda conservavam as formas do culto divino, e presumiam ser contados entre o povo de Deus. PR 165 2 O profeta Miquéias, que durante esses tempos conturbados deu o seu testemunho, declarou que os pecadores de Sião, ao mesmo tempo que afirmavam estar "encostados ao Senhor", e em blasfêmia se vangloriando: "Não está o Senhor no meio de nós? nenhum mal nos sobrevirá", continuavam a edificar "a Sião com sangue, e a Jerusalém com injustiça". Miquéias 3:11, 10. Contra esses males o profeta Isaías levantou a voz em severa repreensão: "Ouvi a palavra do Senhor, vós príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que Me serve a Mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. [...] Quando vindes para comparecerdes perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar os Meus átrios?" Isaías 1:10-12. PR 165 3 A Inspiração declara: "O sacrifício dos ímpios é abominação; quanto mais oferecendo-o com intenção maligna". Provérbios 21:27. O Deus dos Céus é "tão puro de olhos", que não pode "ver o mal, e a vexação" não pode "contemplar". Hebreus 1:13. Não é porque não esteja disposto a perdoar que Ele Se afasta do transgressor; mas porque o pecador se recusa a servir-se da abundante provisão de graça, torna-se impossível a Deus livrar do pecado. "A mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o Seu ouvido agravado, para que não possa ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça". Isaías 59:1, 2. PR 165 4 Salomão havia escrito: "Ai de ti, ó terra, cujo rei é criança". Eclesiastes 10:16. Assim foi com a terra de Judá. Em virtude de continuadas transgressões, seus reis haviam-se tornado como crianças. Isaías chamou a atenção do povo para a fraqueza da posição deste entre as nações da Terra; e mostrou que isto era o resultado da impiedade que se praticava nas altas esferas. "Eis", disse ele, "que o Senhor Deus dos Exércitos tirará de Jerusalém e de Judá o bordão e o cajado, todo o sustento de pão, e toda a sede de água; o valente, e o soldado, o juiz e o profeta, e o adivinho, e o ancião; o capitão de cinqüenta, e o respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloqüente; e dar-lhes-ei mancebos por príncipes, e crianças governarão sobre eles." "Porque Jerusalém tropeçou, e Judá caiu; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o Senhor". Isaías 3:1-4, 8. PR 166 1 "Os que te guiam", continuou o profeta, "te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas". Isaías 3:12. Durante o reinado de Acaz isto foi literalmente verdade; pois dele está escrito: "Andou nos caminhos dos reis de Israel, e, demais disto, fez imagens fundidas a Baalim. Também queimou incenso no vale do filho de Hinom, e queimou a seus filhos no fogo, conforme a todas as abominações dos gentios que o Senhor tinha desterrado de diante dos filhos de Israel". 2 Crônicas 28:2, 3; 2 Reis 16:3. PR 166 2 Esse foi sem dúvida um tempo de grande perigo para a nação escolhida. Poucos anos mais e as dez tribos do reino de Israel seriam espalhadas entre as nações gentílicas. E no reino de Judá também as perspectivas eram negras. As forças do bem estavam diminuindo rapidamente, e as do mal aumentando. O profeta Miquéias, em vista da situação foi constrangido a exclamar: "Pereceu o benigno da terra, e não há entre os homens um que seja reto." "O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que um espinhal". Miquéias 7:2, 4. "Se o Senhor dos Exércitos não nos deixara algum remanescente", exclamou Isaías, "já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra". Isaías 1:9. PR 166 3 Em todos os séculos, por amor dos que permaneceram leais, bem como em virtude do Seu infinito amor pelo transviado, Deus tem manifestado tolerância para com os rebeldes, e tem-nos admoestado a que abandonem seu mau caminho, e tornem para Ele. "Mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali" (Isaías 28:10), Ele tem ensinado aos transgressores o caminho da justiça por intermédio de homens por Ele indicados. PR 166 4 E assim foi durante o reinado de Acaz. Convite sobre convite foi enviado ao extraviado Israel para que retornasse à submissão a Jeová. Ternas foram as súplicas dos profetas; e ao estarem diante do povo, fervorosamente exortando ao arrependimento e reforma, suas palavras produziam fruto para a glória de Deus. PR 166 5 Através de Miquéias veio o maravilhoso apelo: "Ouvi agora o que diz o Senhor: levanta-te, contende com os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a contenda do Senhor, e vós, fortes fundamentos da Terra; porque o Senhor tem uma contenda com o Seu povo, e com Israel entrará em juízo. PR 167 1 "Ó povo Meu que te tenho feito? e em que te enfadei? testifica contra Mim. Certamente te fiz subir da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e pus diante de ti a Moisés, Arão e Miriã. PR 167 2 "Povo Meu, ora lembra-te da consulta de Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, desde Sitim até Gilgal, para que conheças as justiças do Senhor". Miquéias 6:1-5. PR 167 3 O Deus a quem servimos é longânimo; "Suas misericórdias não têm fim". Lamentações 3:22. Através de um período de graça, Seu Espírito está apelando aos homens para que aceitem o dom da vida. "Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos, pois por que razão morrereis, ó casa de Israel?" Ezequiel 33:11. É um especial artifício de Satanás levar o homem ao pecado, e então deixá-lo ali, desajudado e desesperançado, temendo buscar perdão. Mas Deus convida: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo". Isaías 27:5. Em Cristo cada provisão está feita, cada incentivo oferecido. PR 167 4 Nos dias da apostasia em Judá e Israel, muitos estavam inquirindo: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus altíssimo? virei perante Ele com holocaustos? com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil ribeiros de azeite?" A resposta é clara e positiva: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:6-8. PR 167 5 Insistindo sobre o valor da piedade prática, o profeta estava unicamente repetindo o conselho dado a Israel séculos antes. Por intermédio de Moisés, quando estavam para entrar na terra prometida, a palavra do Senhor havia sido: "Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que andes em todos os Seus caminhos, e O ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que guardes os mandamentos do Senhor, e os Seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem?" Deuteronômio 10:12, 13. De século em século esses conselhos foram repetidos pelos servos de Jeová aos que estavam em perigo de cair nos hábitos do formalismo e de esquecer de demonstrar misericórdia. Quando, durante o Seu ministério terrestre, o próprio Cristo foi assediado por um doutor da lei com a pergunta: "Mestre, qual é o grande mandamento da lei?" Sua resposta foi: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas". Mateus 22:36-40. PR 167 6 Estes claros pronunciamentos dos profetas e do próprio Mestre deviam ser recebidos por nós como a voz de Deus a cada alma. Não devemos perder oportunidade de praticar obras de benemerência, de terna previdência e cortesia cristã em favor do sobrecarregado e oprimido. Se mais não podemos fazer, devemos dizer palavras de coragem e esperança aos que não estão familiarizados com Deus, dos quais se pode com mais facilidade aproximar pelas avenidas da simpatia e do amor. PR 168 1 Ricas e abundantes são as promessas feitas aos que são atentos a oportunidades para levar alegria e bênção à vida de outros. "E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam". Isaías 58:10, 11. PR 168 2 A conduta idólatra de Acaz, em face dos ferventes apelos dos profetas, não podia ter senão um resultado. Veio grande ira do Senhor sobre Judá e Jerusalém, e os entregou à turbação, à assolação, e ao assobio". 2 Crônicas 29:8. O reino sofreu rápido declínio, e sua própria existência foi posta logo em perigo pelos exércitos invasores. "Então subiu Rezim, rei da Síria, com Peca, filho de Remalias, rei de Israel, a Jerusalém, à peleja; e cercaram a Acaz". 2 Reis 16:5. PR 168 3 Tivesse Acaz e os principais homens de seu reino sido leais ao Altíssimo, e nenhum temor manifestariam a respeito de aliança tão antinatural como a que se tinha formado contra eles. Mas a repetida transgressão tinha-os despojado de força. Atingidos por um enorme temor dos juízos de um Deus ofendido, "se moveu o coração do rei, e o coração do seu povo, como se movem as árvores do bosque com o vento". Isaías 7:2. Nesta crise, a palavra do Senhor veio a Isaías, ordenando-lhe que fosse ao encontro do rei amedrontado, e dissesse: PR 168 4 "Acautela-te e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração [...] porquanto a Síria teve contra ti maligno conselho, com Efraim e com o filho de Remalias, dizendo: Vamos subir contra Judá e atormentemo-lo, e repartamo-lo entre nós, e façamos reinar no meio dele o filho de Tabeal. Assim diz o Senhor Deus: Isto não subsistirá, nem tampouco acontecerá". O profeta declarou que o reino de Israel, bem como o da Síria, chegaria logo ao fim. "Se o não crerdes", concluiu, "não ficareis firmes". Isaías 7:4-7, 9. PR 168 5 Quão bom teria sido para o reino de Judá tivesse Acaz recebido esta mensagem como do Céu. Mas escolhendo apoiar-se no braço de carne, buscou ajuda de pagãos. Em desespero ele enviou uma mensagem a Tiglate-Pileser, rei da Assíria: "Eu sou teu servo e teu filho; sobe, e livra-me das mãos do rei da Síria, e das mãos do rei de Israel, que se levantam contra mim". O pedido foi acompanhado de um rico presente tirado do tesouro do rei e das reservas do templo. PR 168 6 O auxílio pedido foi enviado, e ao rei Acaz foi dado um alívio temporário, mas a que preço para Judá O tributo oferecido despertou a cupidez da Assíria, e esta nação pérfida logo ameaçou invadir Judá e espoliá-la. Acaz e seus infelizes súditos estavam agora mortificados pelo temor de cair completamente nas mãos dos cruéis assírios. PR 169 1 "O Senhor humilhou a Judá" por causa de sua continuada transgressão. Nesse tempo de correção, Acaz, em vez de se arrepender, "ainda mais transgrediu contra o Senhor [...] porque sacrificou aos deuses de Damasco". "Visto que os deuses da Síria os ajudam", disse ele, "eu lhes sacrificarei, para que me ajudem a mim". 2 Crônicas 28:19, 22, 23. PR 169 2 Ao aproximar-se o fim do reinado do apóstata, fez ele que as portas do templo fossem fechadas. O serviço sagrado foi interrompido. Não mais ficariam os castiçais acesos perante o altar. Não mais seriam oferecidas ofertas pelos pecados do povo. Não mais o suave incenso ascenderia ao alto na hora do sacrifício da manhã e da tarde. Tornando deserto o pátio da casa de Deus, e aferrolhando suas portas, os habitantes da ímpia cidade ousadamente ergueram altares para a adoração de divindades pagãs nas esquinas das ruas através de Jerusalém. Aparentemente o paganismo havia triunfado; os poderes das trevas haviam quase prevalecido. PR 169 3 Mas em Judá viviam alguns que mantiveram sua obediência a Jeová, recusando com firmeza serem levados à idolatria. Era para estes que Isaías e Miquéias e seus associados olhavam com esperança ao verem a ruína operada durante os últimos anos de Acaz. Seu santuário fora fechado, mas àqueles fiéis fora assegurado: "Deus é conosco". "Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor, e seja Ele o vosso assombro. Então Ele vos será santuário". Isaías 8:10, 13, 14. ------------------------Capítulo 28 -- Ezequias PR 170 1 Em evidente contraste com o governo displicente de Acaz, foi a transformação operada durante o próspero reinado de seu filho. Ezequias subiu ao trono determinado a fazer tudo que estivesse em seu poder para salvar Judá da sorte que estava tocando ao reino do norte. As mensagens dos profetas não davam margem a meias-medidas. Unicamente mediante a mais decidida reforma seriam evitados os juízos impendentes. PR 170 2 Nessa emergência, Ezequias provou ser um homem para a ocasião. Mal havia ele subido ao trono, começou a planejar e a executar. Voltou primeiramente sua atenção para a restauração das atividades do templo, havia tanto tempo negligenciadas; e nesta obra solicitou com fervor a cooperação de um grupo de sacerdotes e levitas que tinham permanecido leais a sua sagrada vocação. Seguro de sua leal cooperação, com eles falou livremente do seu desejo de instituir imediatas e profundas reformas. "Nossos pais transgrediram", confessou, "e fizeram o que era mal aos olhos do Senhor nosso Deus, e O deixaram, e desviaram os seus rostos do tabernáculo do Senhor". "Agora me tem vindo ao coração, que façamos um concerto com o Senhor, Deus de Israel, para que se desvie de nós o ardor da Sua ira". 2 Crônicas 29:6, 10. PR 170 3 Em poucas e bem escolhidas palavras, o rei passou em revista a situação que enfrentava: o templo fechado e a cessação de todas as cerimônias no seu recinto; a idolatria flagrante praticada nas ruas da cidade e através do reino; a apostasia de multidões que poderiam ter permanecido leais a Deus se os líderes de Judá lhes tivessem dado um exemplo reto; e o declínio do reino e sua perda de prestígio na estima das nações ao redor. O reino do norte estava rapidamente se desmoronando; muitos estavam perecendo à espada; já uma multidão havia sido levada cativa; logo Israel devia cair completamente nas mãos dos assírios, e seria inteiramente arruinado; e esta sorte tocaria certamente também a Judá, a menos que Deus operasse poderosamente por intermédio de representantes escolhidos. PR 170 4 Ezequias apelou diretamente aos sacerdotes para que se unissem a ele a fim de levarem a efeito as necessárias reformas. "Não sejais negligentes", ele os exortou, "pois o Senhor vos tem escolhido para estardes diante dEle para O servirdes, e para serdes Seus ministros e queimardes incenso". "Santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor, Deus de vossos pais". 2 Crônicas 29:11, 5. PR 171 1 Era esse um tempo para ação imediata. Os sacerdotes agiram com rapidez. Conseguindo a cooperação de outros de seu número que não haviam estado presentes durante esta conferência, empenharam-se de coração na obra de purificar e santificar o templo. Em vista dos anos de profanação e negligência, isto foi cercado de muitas dificuldades; mas os sacerdotes e levitas trabalharam infatigavelmente, e dentro de um intervalo de tempo consideravelmente curto foram capazes de dar sua tarefa por completa. As portas do templo foram reparadas e abertas de par em par; os vasos sagrados foram reunidos e postos no lugar; e tudo estava em ordem para o restabelecimento das atividades do santuário. PR 171 2 No primeiro culto celebrado, os príncipes da cidade uniram-se com o rei Ezequias e com os sacerdotes e levitas em buscar o perdão para os pecados da nação. Sobre o altar foram postas as ofertas pelo pecado, "para reconciliar a todo o Israel". "E acabando de o oferecer, o rei e todos quantos com ele se acharam se prostraram e adoraram". Uma vez mais as cortes do templo ressoaram com palavras de louvor e adoração. Os cânticos de Davi e de Asafe foram cantados com júbilo, ao sentirem os adoradores que estavam sendo libertados do cativeiro do pecado e apostasia. "E Ezequias, e todo o povo se alegraram, de que Deus tinha preparado o povo; porque apressuradamente se fez esta obra". 2 Crônicas 29:24, 29, 36. PR 171 3 Deus havia sem dúvida preparado o coração dos chefes em Judá para liderarem um decidido movimento de reforma, a fim de que a onda da apostasia pudesse ser detida. Por intermédio de Seus profetas Ele tinha enviado a Seu povo escolhido mensagem após mensagem de ferventes rogos -- mensagens que haviam sido desprezadas e rejeitadas pelas dez tribos do reino de Israel, agora entregues ao inimigo. Mas em Judá ficou um piedoso remanescente, e a esses os profetas continuaram a apelar. Ouvi Isaías instando: "Convertei-vos pois Àquele contra quem os filhos de Israel se rebelaram tão profundamente". Isaías 31:6. Ouvi Miquéias declarando com confiança: "Eu, porém, esperarei no Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá. Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra Ele; até que julgue a minha causa, e execute o meu direito. Ele me trará à luz, e eu verei a Sua justiça". Miquéias 7:7-9. PR 171 4 Essas e outras mensagens semelhantes reveladoras da boa disposição de Deus em perdoar e aceitar os que a Ele voltavam com inteireza de coração, haviam levado esperança a muitas almas debilitadas nos escuros anos em que as portas do templo estiveram fechadas; e agora, ao darem os líderes início a uma reforma, uma multidão do povo, cansada da servidão do pecado, estava pronta para responder. PR 171 5 Os que entraram pelo pátio do templo em busca de perdão e a fim de renovarem seus votos de consagração a Jeová, encontraram maravilhoso encorajamento nas porções proféticas da Escritura. As solenes advertências contra a idolatria, proferidas por intermédio de Moisés aos ouvidos de todo o Israel, haviam sido acompanhadas pelas profecias da boa vontade de Deus em ouvir e perdoar aos que em tempos de apostasia buscassem a Deus de todo o coração. "Então no fim de dias", Moisés havia dito, "te virarás para o Senhor teu Deus, e ouvirás a Sua voz. Porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem Se esquecerá do concerto que jurou a teus pais". Deuteronômio 4:30, 31. PR 172 1 E na oração profética oferecida por ocasião da dedicação do templo, cujas cerimônias Ezequias e seus companheiros estavam agora restaurando, Salomão havia suplicado: "Quando o Teu povo Israel for ferido diante do inimigo, por ter pecado contra Ti, e confessarem o Teu nome, e orarem e suplicarem a Ti nesta casa, ouve Tu então nos Céus, e perdoa o pecado do Teu povo Israel". 1 Reis 8:33, 34. O selo da aprovação divina havia sido posto sobre esta oração; pois ao ser ela concluída, fogo havia descido do Céu a fim de consumir a oferta queimada e os sacrifícios, e a glória do Senhor enchera o templo. 2 Crônicas 7:1. E à noite o Senhor havia aparecido a Salomão, para dizer-lhe que sua oração tinha sido ouvida, e que misericórdia seria mostrada aos que adorassem ali. Havia sido dada a graciosa certeza: "Se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a Minha face e se converter dos seus maus caminhos, então Eu ouvirei dos Céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra". 2 Crônicas 7:14. PR 172 2 Essas promessas encontraram abundante cumprimento durante a reforma levada a efeito por Ezequias. PR 172 3 O bom início ao tempo da purificação do templo foi seguido por um movimento mais amplo, do qual participaram tanto Israel como Judá. Em seu zelo para tornar as cerimônias do templo uma bênção real para o povo, Ezequias determinou reavivar o antigo costume de reunir os israelitas para a celebração conjunta da festa da Páscoa. PR 172 4 Por muitos anos a Páscoa não fora observada como festa nacional. A divisão do reino após o reinado de Salomão tinha feito que isto parecesse impraticável. Mas os terríveis juízos suspensos sobre as dez tribos estavam despertando no coração de alguns o desejo por coisas melhores; e as estimuladoras mensagens dos profetas estavam manifestando o seu efeito. Por intermédio de correios reais o convite para a Páscoa em Jerusalém foi ouvido amplamente, "de cidade em cidade, pela terra de Efraim e Manassés até Zebulom". Os portadores do gracioso convite foram geralmente repelidos. Os impenitentes levianamente se retraíram; não obstante, alguns, ansiosos de buscar a Deus para um conhecimento mais claro de Sua vontade, "se humilharam, e vieram a Jerusalém". 2 Crônicas 30:10, 11. PR 172 5 Na terra de Judá a resposta foi muito generalizada; pois sobre eles estava "a mão de Deus, dando-lhes um só coração, para fazerem o mandamento do rei e dos príncipes" (2 Crônicas 30:12) -- uma determinação de acordo com a vontade de Deus revelada por intermédio de Seus profetas. PR 173 1 A ocasião representava uma das maiores vantagens para a multidão reunida. As ruas profanadas da cidade foram limpas dos idólatras altares colocados ali durante o reinado de Acaz. No dia determinado a Páscoa foi observada; e a semana foi gasta pelo povo em oferecer ofertas pacíficas e em aprender o que Deus queria que fizessem. Diariamente os levitas "que tinham entendimento no bom conhecimento do Senhor ensinavam ao povo"; e os que haviam preparado o seu coração para buscarem a Deus encontraram perdão. Grande alegria tomou posse da multidão de adoradores; "os levitas e os sacerdotes louvaram ao Senhor de dia em dia, com instrumentos fortemente retinentes" (2 Crônicas 30:22, 21); todos estavam unidos no seu desejo de louvar Aquele que Se havia provado tão gracioso e misericordioso. PR 173 2 Os sete dias normalmente dedicados à festa da Páscoa passaram demasiado depressa, e os adoradores determinaram gastar outros sete dias em aprender mais amplamente o caminho do Senhor. Os sacerdotes instrutores continuaram sua obra de instrução do livro da lei; diariamente o povo se reunia no templo para oferecer seu tributo de louvor e gratidão; e quando o grande ajuntamento ia chegando ao fim, tornou-se evidente que Deus havia operado maravilhosamente na conversão do transviado Judá, e em deter a maré de idolatria que ameaçava arrastar tudo diante de si. As solenes advertências dos profetas não tinham sido proferidas em vão. "Houve grande alegria em Jerusalém, porque desde os dias de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, tal não houve em Jerusalém". 2 Crônicas 30:26. PR 173 3 Chegou o momento em que os adoradores deviam retornar a seus lares. "Então os sacerdotes, os levitas, se levantaram e abençoaram o povo; e a sua voz foi ouvida, porque a sua oração chegou até a Sua santa habitação, aos Céus". 2 Crônicas 30:27. Deus havia aceito os que com o coração quebrantado haviam confessado seus pecados, e com resoluto propósito haviam voltado para Ele em busca de perdão e auxílio. PR 173 4 Restava agora uma importante obra, na qual os que estavam retornando a seus lares deviam tomar parte ativa; e a execução desta obra trouxe a evidência da genuinidade da reforma operada. O relato diz: "Todos os israelitas que ali se achavam saíram às cidades de Judá e quebraram as estátuas, cortaram os bosques, e derribaram os altos e altares por toda Judá e Benjamim, como também por Efraim e Manassés, até que tudo destruíram. Então tornaram todos os filhos de Israel, cada um para a sua possessão, para as cidades deles". 2 Crônicas 31:1. PR 173 5 Ezequias e seus associados instituíram várias reformas para o levantamento dos interesses espirituais e temporais do reino. "Em todo o Judá" o rei "fez o que era bom, e reto, e verdadeiro perante o Senhor seu Deus. E em toda a obra que começou, [...] com todo o seu coração o fez, e prosperou". "No Senhor Deus de Israel confiou, [...] não se apartou de após Ele, e guardou os mandamentos que o Senhor tinha dado a Moisés. Assim o Senhor foi com ele". 2 Reis 18:5-7. PR 174 1 O reinado de Ezequias se caracterizou por uma série de marcantes providências, as quais revelaram às nações vizinhas que o Deus de Israel estava com o Seu povo. O êxito dos assírios em capturar Samaria e espalhar o quebrantado remanescente das dez tribos entre as nações, durante a primeira parte do seu reinado, estava levando muitos a pôr em dúvida o poder do Deus dos hebreus. Empolgados por seus sucessos, os ninivitas havia muito tinham posto de lado a mensagem de Jonas, e se tornaram insolentes em sua oposição aos propósitos do Céu. Poucos anos após a queda de Samaria, os exércitos vitoriosos reapareceram na Palestina, dirigindo desta vez as suas forças contra as cidades fortificadas de Judá, com alguma medida de sucesso; mas se contiveram por algum tempo, em virtude de dificuldades surgidas em outras partes de seu reino. Não seria senão alguns anos mais tarde, ao aproximar-se o fim do reinado de Ezequias, que devia ser demonstrado perante as nações do mundo se os deuses dos pagãos deviam afinal prevalecer. ------------------------Capítulo 29 -- Os embaixadores de Babilônia PR 175 1 Em meio ao seu próspero reinado, o rei Ezequias foi subitamente acometido de fatal enfermidade. Enfermo "de morte", seu caso estava além do poder do auxílio humano. E o último vestígio de esperança pareceu removido, quando o profeta Isaías surgiu perante ele com a mensagem: "Assim diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás". Isaías 38:1. PR 175 2 A perspectiva parecia extremamente ruim; contudo o rei podia ainda orar Àquele que até ali havia sido o seu "refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia". Salmos 46:1. E assim ele "virou o rosto para a parede, e orou ao Senhor, dizendo: Ah, Senhor Sê servido de Te lembrar de que andei diante de Ti em verdade, e com o coração perfeito, e fiz o que era reto aos Teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo". 2 Reis 20:2, 3. PR 175 3 Desde os dias de Davi, não havia reinado rei que atuasse tão poderosamente para o reerguimento do reino de Deus num tempo de apostasia e desencorajamento como o fizera Ezequias. O agonizante rei havia servido ao seu Deus fielmente, e tinha fortalecido a confiança do povo em Jeová como seu Supremo Senhor. E, como Davi, podia agora suplicar: PR 175 4 "Chegue a minha oração perante a Tua face, inclina os Teus ouvidos ao meu clamor; porque a minha alma está cheia de angústias, e a minha vida se aproxima da sepultura". Salmos 88:2, 3. PR 175 5 "Pois Tu és a minha esperança, Senhor Deus; Tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por Ti tenho sido sustentado." "Não me rejeites no tempo da velhice." "Ó Deus, não Te alongues de mim; Meu Deus, apressa-Te em ajudar-me." "Não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a Tua força a esta geração, e o Teu poder a todos os vindouros". Salmos 71:5, 6, 9, 12, 18. PR 175 6 Aquele cujas "misericórdias não têm fim" (Lamentações 3:22), ouviu a oração de Seu servo. "Sucedeu, pois, que, não havendo Isaías ainda saído do meio do pátio, veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Volta e dize a Ezequias, chefe do Meu povo: Assim diz o Senhor, Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; eis que Eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor. E acrescentarei aos teus dias quinze anos; e das mãos do rei da Assíria te livrarei, a ti e a esta cidade, e ampararei esta cidade por amor de Mim, e por amor de Davi, Meu servo". 2 Reis 20:4-6. PR 176 1 Jubiloso, o profeta voltou com as palavras de certeza e esperança. Ordenando que uma pasta de figos fosse posta sobre a parte enferma, Isaías entregou ao rei a mensagem de misericórdia, proteção e cuidado de Deus. PR 176 2 Como Moisés na terra de Midiã, como Gideão na presença do mensageiro celestial, como Eliseu momentos antes da ascensão de seu senhor, Ezequias pediu algum sinal de que a mensagem era do Céu. "Qual é o sinal", indagou, "de que o Senhor me sarará, e de que ao terceiro dia subirei à casa do Senhor?" PR 176 3 "Isto te será sinal da parte do Senhor", o profeta respondeu, "de que o Senhor cumprirá a palavra que disse: adiantar-se-á a sombra dez graus, ou voltará dez graus atrás?" "É fácil", disse Ezequias, "que a sombra decline dez graus; não, mas volte a sombra dez graus atrás". PR 176 4 Unicamente por interposição direta de Deus poderia a sombra no quadrante solar voltar atrás dez graus; e isto devia ser sinal a Ezequias de que o Senhor tinha ouvido sua oração. Concordando, "o profeta Isaías clamou ao Senhor; e fez voltar a sombra dez graus atrás, pelos graus que já tinha declinado no relógio de sol de Acaz". 2 Reis 20:8-11. PR 176 5 Restaurada a sua antiga força, o rei de Judá reconheceu em palavras de cântico as misericórdias de Jeová, e fez um voto de despender os restantes dias de sua vida em voluntário serviço ao Rei dos reis. Seu grato reconhecimento do compassivo trato de Deus para com ele é uma inspiração a todo que desejar gastar seus anos para a glória do seu Criador: PR 176 6 "Eu disse: Na tranqüilidade de meus dias, ir-me-ei às portas da sepultura; já estou privado do resto dos meus anos. Eu disse: Já não verei mais o Senhor na terra dos viventes; jamais verei o homem com os moradores do mundo. O tempo da minha vida se foi, e foi removido de mim, como choça de pastor; Cortei como tecelão a minha vida: Como que do tear me cortará; desde a manhã até à noite me acabarás. Eu sosseguei até à madrugada; como um leão quebrou todos os meus ossos; desde a manhã até à noite me acabarás. Como o grou, ou andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus olhos ao alto: Ó Senhor, ando oprimido fica por meu fiador. Que direi? Como mo prometeu, Assim o fez; assim passarei mansamente por todos os meus anos; na amargura de minha alma. Ó Senhor, com estas coisas se vive, e em todas elas está a vida do meu espírito; portanto, cura-me e faze-me viver. Eis que para minha paz, eu estive em grande amargura; Tu porém tão amorosamente abraçaste a minha alma, que não caiu na cova da corrupção; porque lançaste para trás das Tuas costas todos os meus pecados. Porque não pode louvar-Te a sepultura, nem a morte glorificar-Te; Nem esperarão em Tua verdade os que descem à cova. Os vivos, os vivos, esses Te louvarão como eu hoje faço; o pai aos filhos fará notória a Tua verdade. O Senhor veio salvar-me; pelo que, tangendo eu meus instrumentos, nós O louvaremos todos os dias de nossa vida na casa do Senhor". Isaías 38:10-20. PR 177 1 Nos férteis vales do Tigre e do Eufrates habitava um antigo povo que, embora nesse tempo estivesse sujeita à Assíria, estava destinada a governar o mundo. Havia entre o seu povo homens sábios que davam muita atenção ao estudo da astronomia; e quando notaram que a sombra do quadrante solar havia regredido dez graus, ficaram grandemente maravilhados. Seu rei, Merodaque-Baladã, tendo sido informado de que este milagre se realizara como um sinal ao rei de Judá de que o Deus do Céu lhe havia assegurado nova etapa de vida, enviou embaixadores a Ezequias a fim de com ele se congratular por seu restabelecimento, e se informar, se possível, mais a respeito do Deus que realizava tão grande maravilha. PR 177 2 A visita desses mensageiros do governante de tão distante terra dava a Ezequias a oportunidade de celebrar o Deus vivo. Quão fácil lhe teria sido falar-lhes de Deus, o sustentador de todas as coisas criadas, por cujo favor sua própria vida tinha sido poupada, quando todas as outras esperanças haviam desaparecido Que momentosas transformações poderiam ter ocorrido, caso esses pesquisadores da verdade, vindos das planícies da Caldéia, fossem levados ao conhecimento da suprema soberania do Deus vivo PR 177 3 Mas o orgulho e a vaidade tomaram posse do coração de Ezequias, e em exaltação própria expôs aos olhos cobiçosos os tesouros com que Deus havia enriquecido o Seu povo. O rei "lhes mostrou a casa do seu tesouro, a prata e o ouro, e as especiarias, e os melhores ungüentos, e toda a sua casa de armas, e tudo quanto se achava nos seus tesouros; coisa nenhuma houve, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio, que Ezequias lhes não mostrasse". Isaías 39:2. Não foi para glorificar a Deus que ele assim procedeu, mas para exaltar-se aos olhos dos príncipes estrangeiros. Ele não se deteve na consideração de que esses homens eram representantes de uma poderosa nação que não tinha o temor nem o amor de Deus no coração, e que era uma imprudência fazê-los seus confidentes quanto às riquezas da nação. PR 177 4 A visita dos embaixadores a Ezequias foi um teste de sua gratidão e devoção. O relato diz: "Contudo, no negócio dos embaixadores dos príncipes de Babilônia, que foram enviados a ele, a perguntarem acerca do prodígio que se fez naquela terra, Deus o desamparou, para tentá-lo, para saber tudo o que havia no seu coração". 2 Crônicas 32:31. Tivesse aproveitado a oportunidade que lhe era dada de testemunhar do poder, bondade e compaixão do Deus de Israel, o relatório dos embaixadores teria sido como luz espancando as trevas. Mas ele se engrandeceu a si mesmo acima do Senhor dos Exércitos. "Mas não correspondeu Ezequias ao benefício que se lhe fez, porque o seu coração se exaltou". 2 Crônicas 32:25. PR 178 1 Quão desastrosos os resultados que se deviam seguir. A Isaías foi revelado que os embaixadores que se retiravam estavam levando consigo um relato das riquezas que tinham visto, e que o rei de Babilônia e seus conselheiros planejariam enriquecer seu próprio país com os tesouros de Jerusalém. Ezequias havia pecado gravemente; "pelo que veio grande indignação sobre ele, e sobre Judá e Jerusalém". 2 Crônicas 32:25. PR 178 2 "Então o profeta Isaías veio ao rei Ezequias, e lhe disse: Que foi que aqueles homens disseram, e donde vieram a ti? E disse Ezequias: De uma terra remota vieram a mim, de Babilônia. E disse ele: Que foi que viram em tua casa? E disse Ezequias: Viram tudo quanto há em minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros, que eu deixasse de lhes mostrar. PR 178 3 "Então disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor dos Exércitos: Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o Senhor. E dos teus filhos, que procederem de ti, e tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei de Babilônia. PR 178 4 "Então disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do Senhor que disseste". Isaías 39:3-8. PR 178 5 Tomado de remorso, Ezequias se "humilhou pela soberba do seu coração, ele e os habitantes de Jerusalém; e a grande indignação do Senhor não veio sobre eles, nos dias de Ezequias". 2 Crônicas 32:26. Mas a má semente havia sido semeada, e no devido tempo iria produzir uma colheita de desolação e ais. Durante os seus anos restantes, o rei de Judá teria muita prosperidade em virtude do seu firme propósito de redimir o passado e levar honra ao nome do Deus a quem servia; não obstante sua fé seria severamente provada, e ele devia aprender que unicamente pela confiança posta inteiramente em Jeová poderia esperar triunfar sobre os poderes das trevas que estavam tramando sua ruína e a total destruição do seu povo. PR 178 6 A história da falta de Ezequias em se provar fiel a sua missão ao tempo da visita dos embaixadores, está pejada de importantes lições para todos. Necessitamos, muito mais do que o fazemos, falar dos preciosos capítulos em nossa experiência, sobre a misericórdia e amorável bondade de Deus, as incomparáveis profundezas do amor do Salvador. Quando a mente e o coração estão cheios do amor de Deus, não será difícil partilhar aquilo que faz parte da vida espiritual. Grandes pensamentos, nobres aspirações, clara percepção da verdade, propósitos altruístas, anelos de piedade e santidade, encontrarão expressão em palavras que revelem a qualidade dos tesouros do coração. PR 178 7 Aqueles com quem nos associamos dia a dia necessitam de nosso auxílio, nossa orientação. Eles podem encontrar-se em tal condição de mente que uma palavra dita a tempo será como um prego encravado no lugar certo. Amanhã algumas dessas almas poderão estar onde nunca mais as alcançaremos outra vez. Qual é nossa influência sobre esses companheiros de jornada? PR 179 1 Cada dia de nossa vida está carregado de responsabilidades que nós temos de enfrentar. Cada dia nossas palavras e atos estão fazendo impressão sobre aqueles com quem nos associamos. Quão grande é a necessidade que temos de pôr uma guarda em nossos lábios e vigiar cuidadosamente nossos passos. Um gesto desavisado, um passo imprudente e poderão surgir ondas de alguma forte tentação que podem levar uma alma para o sorvedouro. Não podemos arrancar os pensamentos que houverem sido plantados nas mentes humanas. Se foram maus, poderemos ter posto em movimento uma seqüência de circunstâncias, uma avalanche de males, que não seremos capazes de deter. PR 179 2 Por outro lado, se por nosso exemplo ajudamos a outros no desenvolvimento de bons princípios, damos-lhes capacidade para fazer o bem. Por seu turno eles exercem a mesma benéfica influência sobre outros. Assim centenas e milhares são ajudados pela nossa influência por nós despercebida. O verdadeiro seguidor de Cristo fortalece os bons propósitos de todos aqueles com quem entra em contato. Diante de um mundo incrédulo e amante do pecado, ele revela o poder da graça de Deus e a perfeição do Seu caráter. ------------------------Capítulo 30 -- Libertos da Assíria PR 180 1 Num tempo de grave perigo nacional, quando as tropas da Assíria invadiram as terras de Judá, e parecia como se nada pudesse livrar Jerusalém de total destruição, Ezequias reuniu as forças do seu reino para resistir com inquebrantável coragem a seus opressores pagãos e confiar no poder de Jeová para livrar. "Esforçai-vos, e tende bom ânimo; não temais, nem vos espanteis, por causa do rei da Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele", Ezequias exortou os homens de Judá, "porque há Um maior conosco do que com ele. Com ele está o braço de carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos ajudar, e para guerrear nossas guerras". 2 Crônicas 32:7, 8. PR 180 2 Não era sem razão que Ezequias podia falar com confiança sobre o resultado por vir. A orgulhosa Assíria, conquanto usada por Deus durante algum tempo como a vara da Sua ira (Isaías 10:5) para punição das nações, não devia prevalecer sempre. "Não temas [...] a Assíria", tinha sido a mensagem do Senhor por intermédio de Isaías alguns anos antes aos que habitavam em Sião; "porque daqui a bem pouco [...] o Senhor dos Exércitos suscitará contra ele um flagelo, como a matança de Midiã junto à rocha de Orebe, e como a sua vara sobre o mar, que contra ele se levantará, como sucedeu aos egípcios. E acontecerá naquele dia, que a sua carga será tirada do teu ombro, e o seu jugo do teu pescoço; e o jugo será despedaçado por causa da unção". Isaías 10:24-27. PR 180 3 Em outra mensagem profética, dada "no ano em que morreu o rei Acaz", o profeta havia declarado: "O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. Quebrarei a Assíria em Minha terra, e nas Minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte deles e a sua carga se desvie dos seus ombros. Este é o conselho que foi determinado sobre toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? e a Sua mão estendida está; quem pois a fará voltar atrás?" Isaías 14:28, 24-27. PR 180 4 O poder do opressor devia ser quebrado. Contudo Ezequias, nos primeiros anos do seu reinado, continuou a pagar tributo à Assíria, em harmonia com o que Acaz havia concordado. Entrementes o rei havia tomado "conselho com os seus príncipes e os seus varões", e haviam feito tudo que era possível para a defesa de seu reino. Havia providenciado para que houvesse abundância de água dentro dos muros de Jerusalém, enquanto fora devia haver escassez. "E ele se fortificou, e edificou todo o muro quebrado até às torres, e levantou o outro muro para fora, e fortificou a Milo na cidade de Davi, e fez armas e escudos em abundância. E pôs oficiais de guerra sobre o povo". 2 Crônicas 32:3, 5, 6. Nada que pudesse ser feito em preparação para um cerco, ficou por fazer. PR 181 1 Por ocasião da ascensão de Ezequias ao trono de Judá, já os assírios haviam levado cativos um grande número dos filhos de Israel do reino do norte; e poucos anos mais tarde ele havia começado a reinar, e enquanto estava ainda fortalecendo as defesas de Jerusalém, os assírios cercaram Samaria e a capturaram, e espalharam as dez tribos entre as muitas províncias do domínio assírio. As fronteiras de Judá ficavam apenas a poucos quilômetros, estando Jerusalém afastada de Samaria menos de noventa quilômetros; e os ricos despojos que seriam encontrados no interior do templo tentariam o inimigo a retornar. PR 181 2 Mas o rei de Judá se determinou fazer sua parte na preparação para resistir ao inimigo; e havendo feito tudo que o engenho humano e a energia podiam fazer, reuniu suas forças, e exortou-as a terem bom ânimo. "Grande é o Santo de Israel no meio de ti" (Isaías 12:6), tinha sido a mensagem do profeta Isaías a Judá; e o rei agora declarou com fé inabalável: "Está [...] conosco o Senhor nosso Deus, para nos ajudar, e para guerrear nossas guerras". 2 Crônicas 32:8. PR 181 3 Nada inspira fé mais depressa que o próprio exercício da fé. O rei de Judá havia-se preparado para a tempestade por vir; e agora, confiante em que a profecia contra a Assíria haveria de cumprir-se, descansou sua alma em Deus. "E o povo descansou nas palavras de Ezequias". 2 Crônicas 32:8. Que importava os exércitos da Assíria, acabados de sair da conquista das maiores nações da Terra, e triunfantes sobre Samaria e Israel, voltassem agora suas forças contra Judá? Que importava vangloriassem eles: "A minha mão alcançou os reinos dos ídolos, ainda que as suas imagens de escultura eram melhores do que as de Jerusalém e do que as de Samaria? Porventura como fiz a Samaria e aos seus ídolos, não o faria igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos?" Isaías 10:10, 11. Judá nada tinha a temer; pois sua confiança estava em Jeová. PR 181 4 A crise tão longamente esperada veio afinal. As forças da Assíria, avançando de triunfo em triunfo, apareceram na Judéia. Confiantes na vitória, os líderes dividiram suas forças em dois exércitos, um dos quais devia enfrentar o exército egípcio ao sul, enquanto o outro devia sitiar Jerusalém. PR 181 5 A única esperança de Judá estava agora posta em Deus. Todo possível auxílio do Egito havia sido cortado, e nação alguma havia próximo para estender uma mão amiga. PR 181 6 Os oficiais assírios, certos do poder de suas forças disciplinadas, dispuseram-se para uma conferência com os chefes de Judá, durante a qual insolentemente exigiram a rendição da cidade. Esta exigência fora acompanhada de insultos blasfemos contra o Deus dos hebreus. Dada a fraqueza e apostasia de Israel e Judá, o nome de Deus não mais era temido entre as nações, mas havia-se tornado assunto de contínuo descrédito. Isaías 52:5. PR 182 1 "Ora dizei a Ezequias", disse Rabsaqué, um dos principais oficiais de Senaqueribe: "Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é esta em que confias? Dizes tu (porém palavras de lábios é): Há conselho e poder para a guerra. Em quem, pois, agora confias, que contra mim te revoltas?" 2 Reis 18:19, 20. Os oficiais estavam conferenciando fora dos portões da cidade, mas ao alcance dos ouvidos das sentinelas sobre o muro. E como os representantes do rei da Assíria impusessem em altas vozes suas condições aos chefes de Judá, foi-lhes pedido que falassem em siríaco e não em judaico, a fim de não tomarem conhecimento do desenvolvimento da conferência os que estavam sobre o muro. Rabsaqué, desdenhando esta sugestão, levantou ainda mais a voz, e continuando a falar em judaico, disse: PR 182 2 "Ouvi as palavras do grande rei, do rei da Assíria. Assim diz o rei: Não vos engane Ezequias; porque não vos poderá livrar. Nem tampouco Ezequias vos faça confiar no Senhor, dizendo: Infalivelmente nos livrará o Senhor, e esta cidade não será entregue nas mãos do rei da Assíria. PR 182 3 "Não deis ouvidos a Ezequias; porque assim diz o rei da Assíria: Aliai-vos comigo, e saí a mim, e coma cada um de sua vide, e de sua figueira, e beba cada um da água de sua cisterna; até que eu venha, e vos leve para uma terra como a vossa; terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas. PR 182 4 "Não vos engane Ezequias, dizendo: O Senhor nos livrará. Porventura os deuses das nações livraram cada um a sua terra das mãos do rei da Assíria? Onde estão os deuses de Hamate e de Arpade? onde os deuses de Sefarvaim? Porventura livraram eles a Samaria da minha mão? Quais são eles, dentre todos os deuses destes países, os que livraram a sua terra das minhas mãos, para que o Senhor livrasse a Jerusalém das minhas mãos?" Isaías 36:13-20. PR 182 5 A esses insultos os filhos de Judá "não lhe responderam palavra". A entrevista chegara ao fim. Os representantes judeus voltaram a Ezequias "com os vestidos rasgados, e lhe fizeram saber as palavras de Rabsaqué". Isaías 36:21, 22. O rei, informado do blasfemo desafio, "rasgou os seus vestidos e se cobriu de saco, e entrou na casa do Senhor". 2 Reis 19:1. PR 182 6 Um mensageiro foi despachado a Isaías, a fim de informá-lo sobre o resultado da entrevista. "Este dia é dia de angústia, e de vituperação, e de blasfêmia", foi a mensagem que o rei enviou. "Bem pode ser que o Senhor teu Deus ouça todas as palavras de Rabsaqué, a quem enviou o seu senhor, o rei da Assíria, para afrontar o Deus vivo, e para vituperá-Lo com as palavras que o Senhor teu Deus tem ouvido. Faze, pois, oração pelo resto que se acha". 2 Reis 19:3, 4. PR 183 1 "O rei Ezequias, e o profeta Isaías, filho de Amós, oraram por causa disso, e clamaram ao Céu". 2 Crônicas 32:20. PR 183 2 Deus respondeu às orações de Seus servos. A Isaías foi dada a mensagem para Ezequias: "Assim diz o Senhor: Não temas as palavras que ouviste, com as quais os servos do rei da Assíria Me blasfemaram. Eis que meterei nele um espírito, e ele ouvirá um arruído, e voltará para a sua terra; à espada o farei cair na sua terra". 2 Reis 19:6, 7. PR 183 3 Os representantes assírios, depois de haverem deixado os chefes de Judá, comunicaram-se diretamente com o seu rei, que estava com a divisão de seu exército em guarda contra a aproximação do Egito. Ouvindo o relatório, Senaqueribe escreveu "cartas, para blasfemar do Senhor Deus de Israel, e para falar contra Ele dizendo: Assim como os deuses das nações das terras não livraram o seu povo da minha mão, assim também o Deus de Ezequias não livrará o Seu povo da minha mão". 2 Crônicas 32:17. PR 183 4 A atrevida ameaça foi acompanhada pela mensagem: "Não te engane o teu Deus, em quem confias, dizendo: Jerusalém não será entregue na mão do rei da Assíria. Eis que já tens ouvido o que fizeram os reis da Assíria a todas as terras, destruindo-as totalmente; e tu te livrarás? Porventura as livraram os deuses das nações, a quem destruíram, como a Gozã e a Harã, e a Rezefe, e aos filhos de Éden, que estavam em Telassar? Que é feito do rei de Hamate, e do rei de Arpade, e do rei da cidade de Sefarvaim, de Hena e de Iva?" 2 Reis 19:10-13. PR 183 5 Quando o rei de Judá recebeu as insultuosas cartas, levou-as ao templo, e "as estendeu perante o Senhor" (2 Reis 19:14), e orou com forte fé pelo auxílio do Céu, para que as nações da Terra soubessem que o Deus dos hebreus ainda vivia e reinava. A honra de Jeová estava em jogo; Ele somente poderia trazer livramento. PR 183 6 "Ó Senhor Deus de Israel, que habitas entre os querubins", suplicou Ezequias, "Tu mesmo, só Tu és Deus de todos os reinos da Terra; Tu fizeste os Céus e a Terra. Inclina, Senhor, o Teu ouvido, e ouve; abre, Senhor, os Teus olhos, e olha; e ouve as palavras de Senaqueribe, que enviou a este, para afrontar ao Deus vivo. Verdade é, ó Senhor, que os reis da Assíria assolaram as nações e as suas terras, e lançaram os seus deuses no fogo, porquanto deuses não eram, mas obra de mãos de homens, madeira e pedra; por isso os destruíram. Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, sê servido de nos livrar da sua mão; e assim saberão todos os reinos da Terra que só Tu és o Senhor Deus". 2 Reis 19:15-19. PR 183 7 "Ó Pastor de Israel, dá ouvidos; Tu que guias a José como a um rebanho, que Te assentas entre os querubins, resplandece. Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o Teu poder, e vem salvar-nos. Faze-nos voltar, ó Deus; faze resplandecer o Teu rosto, e seremos salvos. Ó Senhor Deus dos Exércitos. Até quando Te indignarás contra a oração do Teu povo? Tu os sustentas com pão de lágrimas, e lhes dás a beber lágrimas em abundância. Tu nos pões por objeto de contenção entre os nossos vizinhos; e os nossos inimigos zombam de nós entre si. Faze-nos voltar, ó Deus dos Exércitos; faze resplandecer o Teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma vinha do Egito; lançaste fora as nações, e a plantaste. Preparaste-lhe lugar, e fizeste com que ela aprofundasse raízes, e assim encheu a Terra. Os montes cobriram-se com a sua sombra, e como os cedros de Deus se tornaram os seus ramos. Ela estendeu a sua ramagem até ao mar, e os seus ramos até ao rio. Por que quebraste então os seus valados, de modo que todos os que passam por ela a vindimam? O javali da selva a devasta, e as feras do campo a devoram. Ó Deus dos Exércitos, volta-Te, nós Te rogamos, atende os Céus, e vê, e visita esta vinha; e a videira que a Tua destra plantou, e o sarmento que fortificaste para Ti. [...] Guarda-nos em vida, e invocaremos o Teu nome. Faze-nos voltar, Senhor dos Exércitos; faze resplandecer o Teu rosto, e seremos salvos". Salmos 80. PR 184 1 A súplica de Ezequias em favor de Judá e da honra do seu (Supremo Rei, estava em harmonia com a mente de Deus). Salomão, em sua oração de gratidão quando da dedicação do templo, havia orado para que o Senhor executasse "o juízo do Seu povo Israel, a cada qual no seu dia, para que todos os povos da Terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro". 1 Reis 8:59, 60. Especialmente devia o Senhor mostrar favor quando, em tempos de guerra ou de opressão por algum exército, os chefes de Israel entrassem na casa de oração e suplicassem livramento. 1 Reis 8:33, 34. PR 184 2 Ezequias não foi deixado sem esperança. Isaías mandou-lhe dizer: "Assim diz o Senhor Deus de Israel: O que Me pediste acerca de Senaqueribe, rei da Assíria, Eu o ouvi. Esta é a palavra que o Senhor falou dele: PR 184 3 "A virgem a filha de Sião, te despreza, de ti zomba; a filha de Jerusalém meneia a cabeça por detrás de ti. PR 184 4 "A quem afrontaste e blasfemaste? E contra quem alçaste a voz, e ergueste os teus olhos ao alto? Contra o Santo de Israel? Por meio de teus mensageiros afrontaste o Senhor, e disseste: Com a multidão de meus carros subo eu ao alto dos montes, aos lados do Líbano, e cortarei os seus altos cedros, e as suas mais formosas faias, e entrarei nas suas pousadas extremas, até no bosque do seu campo fértil. Eu cavei, e bebi águas estranhas; e com as plantas dos meus pés secarei todos os rios dos lugares fortes. PR 184 5 "Porventura não ouviste que já dantes fiz isto, e já desde os dias antigos o formei? Agora, porém, o fiz vir, para que fosses tu que reduzisses as cidades fortes a montões desertos. Por isso os moradores delas, com as mãos encolhidas, ficaram pasmados e confundidos; eram como a erva do campo, e a hortaliça verde, e o feno dos telhados, e o trigo queimado, antes que se levante. PR 185 1 "Porém o teu assentar, e o teu sair, e o teu entrar, Eu o sei, e o teu furor contra Mim. Por causa do teu furor contra Mim, e porque a tua revolta subiu aos Meus ouvidos, portanto porei o Meu anzol no teu nariz, e o Meu freio nos teus beiços, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste". 2 Reis 19:20-28. PR 185 2 A terra de Judá tinha sido devastada pelo exército de ocupação; mas Deus havia prometido milagrosamente prover para as necessidades do povo. A Ezequias veio a mensagem: "Isto te será por sinal: Este ano se comerá o que nascer por si mesmo, e no seguinte o que daí proceder; porém no terceiro ano semeai e segai, e plantai vinhas, e comei os seus frutos. Porque o que escapou da casa de Judá e ficou de resto, tornará a lançar raízes para baixo, e dará fruto para cima. Porque de Jerusalém sairá o restante, e do monte de Sião o que escapou; o zelo do Senhor fará isso. PR 185 3 "Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma; tampouco virá perante ela com escudo, nem levantará contra ela tranqueira alguma. Pelo caminho por onde vier, por ele voltará, porém nesta cidade não entrará, diz o Senhor. Porque Eu ampararei a esta cidade, para a livrar, por amor de Mim, e por amor do Meu servo Davi". 2 Reis 19:29-34. PR 185 4 Nessa mesma noite veio o livramento. "Saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles". 2 Reis 19:35. "Todos os varões valentes, e os príncipes, e os chefes no arraial do rei da Assíria" (2 Crônicas 32:21), foram mortos. PR 185 5 As novas deste terrível juízo sobre o exército que tinha sido enviado a Jerusalém logo chegou a Senaqueribe, que estava ainda guardando a entrada de Judá contra o Egito. Tomado de temor, o rei assírio apressou-se a partir, retornando "em vergonha de rosto à sua terra". 2 Crônicas 32:21. Mas ele não iria reinar muito tempo mais. Em harmonia com a profecia que havia sido proferida com respeito a seu súbito fim, foi ele assassinado por membros de sua própria casa, "e Esar-Hadom, seu filho, reinou em seu lugar". Isaías 37:38. PR 185 6 O Deus dos hebreus havia prevalecido sobre a orgulhosa Assíria. A honra de Jeová foi vindicada aos olhos das nações vizinhas. Em Jerusalém o coração do povo estava cheio de santo regozijo. Seus ferventes pedidos de livramento tinham sido misturados com confissão de pecado e com muitas lágrimas. Em sua grande necessidade eles haviam confiado inteiramente no poder de Deus para salvar, e Ele não lhes havia faltado. Agora o recinto do templo ressoava com cânticos de solene louvor. PR 185 7 "Conhecido é Deus em Judá, grande é o Seu nome em Israel. E em Salém está o Seu tabernáculo, e a Sua morada em Sião. Ali quebrou as flechas e o arco, o escudo, e a espada, e a guerra. Tu és mais ilustre, e glorioso, do que os montes de presa. Os que são ousados de coração foram despojados; dormiram o seu sono, e nenhum dos homens de força achou as suas mãos. À Tua repreensão, ó Deus de Jacó, Carros e cavalos são lançados num sono profundo. Tu, Tu és terrível; e quem subsistirá à Tua vista, se Te irares? Desde os Céus fizeste ouvir o Teu juízo; a Terra tremeu, e se aquietou, quando Deus Se levantou para julgar, para livrar a todos os mansos da Terra. Porque a cólera do homem redundará em Teu louvor, e o restante da cólera Tu o restringirás. Fazei votos, e pagai ao Senhor, vosso Deus; tragam presentes, os que estão em redor dEle, Àquele que é tremendo. Ele ceifará o espírito dos príncipes; é tremendo para com os reis da Terra". Salmos 76. PR 186 1 O surgimento e queda do império assírio é rico em lições para as nações de hoje. A Inspiração comparou a glória da Assíria no apogeu de sua prosperidade a uma nobre árvore no jardim de Deus, sobrepujando as árvores ao redor. PR 186 2 "A Assíria era um cedro no Líbano, de ramos formosos, de sombrosa ramagem e de alta estatura, e o seu topo estava entre os ramos espessos. [...] Todos os grandes povos se assentavam a sua sombra. Assim era ele formoso na sua grandeza, na extensão dos seus ramos, porque a sua raiz estava junto às muitas águas. Os cedros não o podiam escurecer no jardim de Deus; as faias não igualavam os seus ramos, e os castanheiros não eram como os seus renovos; nenhuma árvore no jardim de Deus se assemelhou a ele na sua formosura. [...] Todas as árvores do Éden, que estavam no jardim de Deus, tiveram inveja dele". Ezequiel 31:3-9. PR 186 3 Mas os senhores da Assíria, em vez de usar suas bênçãos incomuns para o benefício da humanidade, tornaram-se o flagelo de muitas terras. Destituídos de misericórdia, o pensamento ausente de Deus ou do próximo, perseguiram um plano determinado de levar todas as nações a reconhecerem a supremacia dos deuses de Nínive, que eles exaltavam acima do Altíssimo. Deus lhes havia enviado Jonas com uma mensagem de advertência, e por algum tempo eles se humilharam perante o Senhor dos Exércitos, e buscaram perdão. Mas logo retornaram ao culto dos ídolos e à conquista do mundo. PR 186 4 O profeta Naum, denunciando os malfeitores de Nínive, exclamou: PR 186 5 "Ai da cidade ensangüentada! Ela está toda cheia de mentiras e de rapina! Não se aparta dela o roubo. Estrépito de açoite há, e o estrondo do ruído das rodas; e os cavalos atropelam, e carros vão saltando. O cavaleiro levanta a espada flamejante, e a lança relampagueante, e haverá uma multidão de mortos. [...] Eis que Eu estou contra ti, diz o Senhor dos Exércitos". Naum 3:1-5. PR 186 6 Com infalível exatidão, o Infinito ainda ajusta conta com as nações. Enquanto Sua misericórdia é oferecida, com chamados para o arrependimento, esta conta permanece aberta; mas quando as cifras alcançam um certo montante que Deus tem prefixado, o ministério de Sua ira começa. A conta é encerrada. Cessa a divina paciência. A misericórdia não mais pleiteia em seu benefício. PR 187 1 "O Senhor é tardio em irar-Se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o Seu caminho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos Seus pés. Ele repreende o mar, e o faz secar, e esgota todos os rios; desfalecem Basã e Carmelo, e a flor do Líbano se murcha. Os montes tremem perante Ele, e os outeiros se derretem; e a Terra se levanta na Sua presença, e o mundo, e todos os que nele habitam. Quem parará diante do Seu furor? e quem subsistirá diante do ardor da Sua ira? a Sua cólera se derramou como um fogo, e as rochas foram por Ele derribadas". Naum 1:3-6. PR 187 2 Assim foi que Nínive, "a cidade alegre e descuidada, que dizia no seu coração: Eu sou, e não há outra além de mim", tornou-se "em assolação" (Sofonias 2:15), "vazia e esgotada e devastada", "o covil dos leões, e as pastagens dos leõezinhos, onde passeava o leão velho, e o cachorro do leão, sem que ninguém o espantasse". Naum 2:10, 11. PR 187 3 Olhando além para o tempo em que o orgulho da Assíria devia ser abatido, Sofonias profetizou de Nínive: "No meio dela repousarão os rebanhos, todos os animais dos povos; e alojar-se-ão nos seus capitéis assim o pelicano como o ouriço; a voz do seu canto retinirá nas janelas; a assolação estará no umbral, quando tiver descoberto a sua obra de cedro". Sofonias 2:14. PR 187 4 Grande era a glória do império assírio; grande foi sua queda. O profeta Ezequiel, levando mais longe a figura de um nobre cedro, claramente predisse a queda da Assíria por causa de seu orgulho e crueldade. Ele declarou: PR 187 5 "Assim diz o Senhor Jeová: [...] se levantou o seu topo no meio dos espessos ramos, o seu coração se exalçou na sua altura, Eu o entregarei na mão da mais poderosa das nações, que lhe dará o tratamento merecido pela sua impiedade; o lançarei fora. E estranhos, os mais formidáveis das nações, o cortaram e o deixaram; caíram os seus ramos sobre os montes e por todos os vales, e os seus renovos foram quebrados por todas as correntes da Terra; e todos os povos da Terra se retiraram da sua sombra e o deixaram. Todas as aves do céu habitavam sobre a sua ruína, e todos os animais do campo se acolheram sob os seus ramos; para que todas as árvores junto às águas não se exaltem na sua estatura. [...] PR 187 6 "Assim diz o Senhor Jeová: No dia em que ele desceu ao inferno, fiz Eu que houvesse luto; [...] e todas as árvores do campo por causa dele desfaleceram. Ao som da sua queda, fiz tremer as nações". Ezequiel 31:10-16. PR 187 7 O orgulho da Assíria e sua queda devem servir como lição objetiva para o fim do tempo. Às nações da Terra hoje, que em arrogância e orgulho se arregimentam contra Deus, Ele interroga: "A quem pois és semelhante em glória e em grandeza entre as árvores do Éden? todavia descerás com as árvores do Éden à terra mais baixa". Ezequiel 31:18. PR 188 1 "O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nEle. E com uma inundação transbordante acabará de uma vez" (Naum 1:7, 8) com todos os que se exaltam acima do Altíssimo. PR 188 2 "A soberba da Assíria, e o cetro do Egito se retirará". Zacarias 10:11. Isto é verdade não somente com respeito às nações que se arregimentaram contra Deus nos tempos antigos, mas também em relação às nações de hoje que deixam de cumprir o divino propósito. No dia da recompensa final, quando o justo Juiz de toda a Terra há de peneirar as nações (Isaías 30:28), e aos que têm sustentado a verdade for permitido entrar na cidade de Deus, as arcadas do Céu reboarão com os triunfantes cânticos dos redimidos. "Um cântico haverá entre vós", declara o profeta, "como na noite em que se celebra uma festa santa; e alegria de coração, como a daquele que sai tocando pífaro, para vir ao monte do Senhor, à Rocha de Israel. E o Senhor fará ouvir a glória da Sua voz. [...] Com a voz do Senhor será desfeita em pedaços a Assíria, que feriu com a vara. E a cada pancada do bordão do juízo, que o Senhor der, haverá tamboris e harpas". Isaías 30:29-32. ------------------------Capítulo 31 -- Esperança para os gentios PR 189 1 Por meio de seu ministério, Isaías deu um claro testemunho quanto ao propósito de Deus em favor dos povos gentios. Outros profetas haviam feito menção do plano divino, mas sua linguagem nem sempre foi compreendida. A Isaías foi dado tornar bem claro a Judá a verdade de que entre o Israel de Deus deviam ser contados muitos que não eram descendentes de Abraão segundo a carne. Este ensino não estava em harmonia com a teologia de seu século; não obstante ele proclamou destemidamente as mensagens que Deus lhe dera, e levou esperança a muitos corações ansiosos de alcançar as bênçãos espirituais prometidas à semente de Abraão. PR 189 2 O apóstolo dos gentios, em sua carta aos crentes de Roma, chama a atenção para esta característica do ensino de Isaías. "Isaías ousadamente", declara Paulo, "diz: Fui achado pelos que Me não buscavam, fui manifestado aos que por Mim não perguntavam". Romanos 10:20. PR 189 3 Não raro os israelitas pareceram incapazes ou indispostos de compreender os propósitos de Deus pelos gentios. Contudo fora este mesmo propósito que fizera deles um povo separado, e os havia estabelecido como uma nação independente entre as nações da Terra. Abraão, seu ascendente, a quem a promessa do concerto fora primeiramente feita, havia sido chamado a sair do meio de sua parentela e ir às regiões longínquas, a fim de que pudesse ser portador de luz aos gentios. Embora a promessa a ele incluísse uma posteridade tão numerosa quanto a areia do mar, não foi para qualquer propósito egoísta que ele devia tornar-se o fundador de uma grande nação na terra de Canaã. O concerto de Deus com ele envolvia todas as nações da Terra. "Abençoar-te-ei", declarou Jeová, "e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da Terra". Gênesis 12:2, 3. PR 189 4 Na repetição do concerto pouco antes do nascimento de Isaque, o propósito de Deus para a humanidade fora mais uma vez tornado claro. "Nele serão benditas todas as nações da Terra" (Gênesis 18:18), foi a afirmação do Senhor com respeito ao filho da promessa. E mais tarde, o visitante celestial uma vez mais declarou: "Em tua semente serão benditas todas as nações da Terra". Gênesis 22:18. PR 190 1 Os termos todo-abrangentes desse concerto eram familiares aos filhos de Abraão, e aos filhos de seus filhos. Fora para que os israelitas pudessem ser uma bênção às nações, e para que o nome de Deus fosse "anunciado em toda a Terra" (Êxodo 9:16), que eles foram libertos do cativeiro egípcio. Se obedientes a Seus reclamos, seriam colocados na vanguarda dos outros povos em sabedoria e entendimento; mas esta supremacia devia ser alcançada e mantida unicamente para que por meio deles o propósito de Deus para "todas as nações da Terra" pudesse ser cumprido. PR 190 2 As maravilhosas providências relacionadas com o libertamento de Israel do cativeiro egípcio e com sua posse da terra prometida, tinham levado muitos dos pagãos a reconhecerem o Deus de Israel como o Supremo Dominador. "Os egípcios saberão", tinha sido a promessa, "que Eu sou o Senhor, quando estender a Minha mão sobre o Egito, e tirar os filhos de Israel do meio deles". Êxodo 7:5. Até mesmo o orgulhoso Faraó foi constrangido a reconhecer o poder de Jeová. "Ide, servi ao Senhor", suplicou ele a Moisés e Arão, "e abençoai-me também a mim". Êxodo 12:31, 32. PR 190 3 Ao avançarem as multidões de Israel verificaram que o conhecimento das poderosas obras do Deus dos hebreus tinha-os precedido, e que alguns entre os pagãos tinham conhecimento de que Ele era o verdadeiro Deus. Na ímpia Jericó o testemunho de uma mulher pagã foi: "O Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus, e embaixo na Terra". Josué 2:11. O conhecimento de Jeová que assim tinha vindo a ela, provou ser sua salvação. Pela fé "Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos". Hebreus 11:31. E sua conversão não foi um caso isolado da misericórdia de Deus para com os idólatras que reconheceram Sua divina autoridade. No meio da terra um povo numeroso -- os gibeonitas -- renunciou ao seu paganismo, unindo-se com Israel e partilhando as bênçãos do concerto. PR 190 4 Nenhuma distinção em matéria de nacionalidade ou classe social, é reconhecida por Deus. Ele é o Criador de toda a humanidade. Os homens são pela criação membros de uma mesma família, e todos são um pela redenção. Cristo veio para desfazer todo muro de separação, para franquear cada compartimento das cortes do templo, a fim de que cada alma pudesse ter livre acesso a Deus. Seu amor é tão amplo, tão profundo, tão pleno, que penetra em toda parte. Ele subtrai à influência de Satanás os que foram iludidos por seus enganos, colocando-os dentro dos limites do trono de Deus, o trono circundado pelo arco-íris da promessa. Não há em Cristo judeu ou grego, servo ou livre. PR 190 5 Nos anos que se seguiram à ocupação da terra prometida, os beneficentes desígnios de Jeová para a salvação dos gentios foram quase totalmente perdidos de vista, e foi necessário que o Senhor expusesse de novo Seu plano. "Todos os limites da Terra", o salmista foi inspirado a cantar, "se lembrarão, e se converterão ao Senhor, e todas as gerações das nações adorarão perante a Tua face". Salmos 22:27. "Embaixadores reais virão do Egito; a Etiópia cedo estenderá para Deus as suas mãos". Salmos 68:31. "As nações temerão o nome do Senhor, e todos os reis da Terra a Tua glória". "Isto se escreverá para a geração futura, e o povo que se criar louvará ao Senhor. Porquanto olhará desde o alto do Seu santuário; desde os Céus o Senhor observou a Terra, para ouvir o gemido dos presos, para soltar os sentenciados à morte; a fim de que seja anunciado o nome do Senhor em Sião, e o Seu louvor em Jerusalém, quando os povos todos se congregarem, e os reinos, para servirem ao Senhor". Salmos 102:15, 18-22. PR 191 1 Tivesse Israel sido fiel ao seu legado e todas as nações da Terra teriam tomado parte em suas bênçãos. Mas o coração daqueles a quem havia sido confiado o conhecimento da verdade salvadora, não foi tocado pelas necessidades dos que lhes estavam ao redor. Havendo o propósito de Deus sido perdido de vista, foram os pagãos olhados como estando fora do alcance de Sua misericórdia. A luz da verdade foi sonegada, e as trevas prevaleceram. As nações foram cobertas com o véu da ignorância; o amor de Deus era pouco conhecido, e o erro e a superstição floresceram. PR 191 2 Tais eram as perspectivas que acenavam a Isaías quando ele foi chamado para a missão profética; mas ele não se desencorajou, pois em seus ouvidos soava o coro triunfal dos anjos ao redor do trono de Deus: "Toda a Terra está cheia da Sua glória". Isaías 6:3. E sua fé foi fortalecida pela visão de gloriosas conquistas da parte da igreja de Deus, quando a Terra devia estar "cheia do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar". Isaías 11:9. "A máscara do rosto, com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se escondem" (Isaías 25:7), deviam finalmente ser destruídos. O Espírito de Deus seria derramado sobre toda a carne. Os que tivessem fome e sede de justiça deviam ser contados entre o Israel de Deus. "Brotarão entre a erva, como salgueiros junto aos ribeiros das águas", disse o profeta. "Este dirá: Eu sou do Senhor; e aquele se chamará do nome de Jacó; e aquele outro escreverá com a sua mão: Eu sou do Senhor; e por sobrenome tomará o nome de Israel". Isaías 44:4, 5. PR 191 3 Ao profeta foi dada uma revelação do misericordioso propósito de Deus em espalhar a impenitente Judá entre as nações da Terra. "O Meu povo saberá o Meu nome", o Senhor declarou, "porque Eu mesmo sou o que digo: Eis-Me aqui". Isaías 52:6. E não somente eles mesmos deviam aprender a lição de obediência e confiança; nos lugares do seu exílio deviam também repartir com outros o conhecimento do Deus vivo. Muitos dentre os filhos dos estrangeiros deviam aprender a amá-Lo como seu Criador e seu Redentor; deviam começar a observância do Seu santo dia de sábado como um memorial ao Seu poder criador; e quando Ele desnudasse "o Seu santo braço perante os olhos de todas as nações", para livrar o Seu povo do cativeiro, "todos os confins da Terra" veriam a salvação de Deus. Isaías 52:10. Muitos desses conversos do paganismo desejariam unir-se inteiramente com os israelitas, e acompanhá-los no seu retorno à Judéia. Nenhum desses devia dizer: "De todo me apartará o Senhor do Seu povo" (Isaías 56:3); pois a palavra de Deus por meio de Seus profetas a esses que haveriam de se entregar a Ele e observar Sua lei, era que eles deviam daí em diante ser contados entre o Israel espiritual -- Sua igreja na Terra. PR 192 1 "E aos filhos dos estrangeiros, que se chegarem ao Senhor, para O servirem, e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos Seus, todos os que guardarem o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o Meu concerto, também os levarei ao Meu santo monte, e os festejarei na Minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no Meu altar; porque a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Assim diz o Senhor Jeová, que ajunta os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram". Isaías 56:6-8. PR 192 2 Ao profeta fora permitido perscrutar os séculos futuros, ao tempo do advento do prometido Messias. De início ele contemplou apenas "angústia e escuridão", entenebrecimento e "ânsias". Isaías 8:22. Muitos que estavam anelando pela luz da verdade estavam sendo desviados para os labirintos da filosofia e do espiritismo por falsos ensinadores; outros estavam pondo a sua confiança numa forma de piedade, mas não estavam levando verdadeira santidade à vida prática. As perspectivas pareciam desesperadoras; mas logo a cena mudou, e ante os olhos do profeta abriu-se maravilhosa visão. Ele viu surgir o Sol da Justiça, trazendo salvação sob Suas asas; e, absorto em admiração, exclamou: "Mas a terra que foi angustiada não será entenebrecida. Ele envileceu, nos primeiros tempos, a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz". Isaías 9:1, 2. PR 192 3 Essa gloriosa Luz do mundo devia levar a salvação a cada nação, tribo, língua e povo. Da obra que estava perante Ele, o profeta ouviu o eterno Pai declarar: "Pouco é que sejas o Meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os guardados de Israel; também Te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra". "No tempo favorável Te ouvi, e no dia da salvação Te ajudei; e Te guardarei, e Te darei por concerto do povo, para restaurares a Terra, e lhe dares em herança as herdades assoladas; para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei". "Eis que estes virão de longe, e eis que aqueles do norte, e do ocidente, e aqueles outros da terra Sinim". Isaías 49:6, 8, 9, 12. PR 192 4 Olhando ainda para mais longe através dos séculos, o profeta contemplou o cumprimento literal dessas gloriosas promessas. Viu os anunciadores das alegres novas da salvação saindo para os confins da Terra, a toda tribo e povo. Ouviu o Senhor dizer da igreja evangélica: "Eis que estenderei sobre ela a paz como um rio, e a glória das nações como um ribeiro que transborda" (Isaías 66:12); e ouviu a comissão: "Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; e a tua posteridade possuirá as nações". Isaías 54:2, 3. PR 193 1 Jeová declarou ao profeta que Ele enviaria as Suas testemunhas "às nações, a Társis, Pul, e Lude [...] a Tubal e Javã, até às ilhas de mais longe". Isaías 66:19. PR 193 2 "Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!" Isaías 52:7. PR 193 3 O profeta ouviu a voz de Deus chamando Sua igreja para a tarefa que lhe fora indicada, a fim de que o caminho pudesse ser preparado para a introdução de Seu reino eterno. A mensagem foi inconfundivelmente clara: PR 193 4 "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti. Porque eis que as trevas cobriram a Terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a Sua glória se verá sobre ti. E as nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu. "Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes já se ajuntaram, e vêm a ti; teus filhos virão de longe, e tuas filhas se criarão a teu lado." "E os filhos dos estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão; porque no Meu furor te feri, mas na Minha benignidade tive misericórdia de ti. E as tuas portas estarão abertas de contínuo; nem de dia nem de noite se fecharão; para que tragam a ti as riquezas das nações, e, conduzidos com elas, os seus reis". Isaías 60:1-4, 10, 11. PR 193 5 "Olhai, para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro". Isaías 45:22. PR 193 6 Essas profecias de grande despertamento espiritual em tempos de espessas trevas, estão sendo cumpridas hoje no progresso dos postos missionários que estão alcançando as regiões entenebrecidas da Terra. Os grupos de missionários em terras pagãs foram comparados pelo profeta a bandeiras erguidas para guia dos que estão em busca da luz da verdade. PR 193 7 "Acontecerá naquele dia", diz o profeta Isaías, "que as nações perguntarão pela raiz de Jessé, posta por pendão dos povos, e o lugar do seu repouso será glorioso. Porque há de acontecer naquele dia que o Senhor tornará a estender a Sua mão para adquirir outra vez os resíduos do Seu povo. [...] E levantará um pendão entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da Terra". Isaías 11:10-12. PR 193 8 O dia do livramento está às portas. Os olhos do Senhor "passam por toda a Terra, para mostrar-Se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele". 2 Crônicas 16:9. Dentre todas as nações, tribo e língua, Ele vê homens e mulheres que estão orando por luz e conhecimento. Suas almas estão insatisfeitas; há muito eles se têm apascentado de cinzas. Isaías 44:20. O inimigo de toda a justiça tem-nos posto de lado, e eles tateiam como cegos. Mas são sinceros de coração, e desejam conhecer um caminho melhor. Embora nas profundezas do paganismo, sem qualquer conhecimento da lei escrita por Deus, nem de Seu Filho Jesus, têm eles revelado de muitas maneiras a operação de um poder divino na mente e no caráter. PR 194 1 Às vezes os que não têm conhecimento de Deus além daquele que receberam sob a operação da graça divina, têm sido bons para com os servos do Senhor, protegendo-os com o risco da própria vida. O Espírito Santo está implantando a graça de Cristo no coração de muito nobre pesquisador da verdade, ativando suas simpatias contrariamente a sua natureza e à sua anterior educação. A "luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo" (João 1:9), está brilhando em sua alma; e esta luz, se aceita, guiará seus passos para o reino de Deus. O profeta Miquéias disse: "Se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. [...] Ele me trará a luz, e eu verei a Sua justiça". Miquéias 7:8, 9. PR 194 2 O divino plano de salvação é amplo bastante para abranger o mundo todo. Deus anseia por insuflar na prostrada humanidade o fôlego da vida. E Ele não permitirá fique desapontada qualquer alma que seja sincera em seu anelo de algo mais elevado e mais nobre que aquilo que o mundo possa oferecer. Constantemente está Ele enviando os Seus anjos aos que, conquanto rodeados por circunstâncias as mais desencorajadoras, oram com fé para que algum poder mais alto que eles mesmos tome posse deles, dando-lhes libertação e paz. Por várias maneiras Deus Se lhes revelará, e os colocará em contato com providências que estabelecerão sua confiança nAquele que Se deu a Si mesmo em resgate por todos, "para que pusessem em Deus a sua esperança, e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os Seus mandamentos". Salmos 78:7. PR 194 3 "Tirar-se-ia a presa ao valente? ou os presos justamente escapariam? Mas assim diz o Senhor: Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a presa do tirano escapará". Isaías 49:24, 25. "Tornarão atrás e confundir-se-ão de vergonha os que confiam em imagens de escultura, e dizem às imagens de fundição: Vós sois nossos deuses". Isaías 42:17. PR 194 4 "Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, e cuja esperança está posta no Senhor seu Deus". Salmos 146:5. "Voltai à fortaleza, ó presos de esperança". Zacarias 9:12. A todo coração sincero em terras pagãs -- o justo à vista do Céu -- "nasce luz nas trevas". Salmos 112:4. Deus tem dito: "Guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles, e as coisas tortas farei direitas. Estas coisas lhes farei, e nunca os desampararei". Isaías 42:16. ------------------------Capítulo 32 -- Manassés e Josias PR 195 1 O reino de Judá, próspero nos tempos de Ezequias, foi uma vez mais para o declínio durante os longos anos do ímpio reinado de Manassés, quando o paganismo foi reavivado, e muitos dentre o povo foram levados à idolatria. "Manassés tanto fez errar a Judá e aos moradores de Jerusalém, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído". 2 Crônicas 33:9. A gloriosa luz de gerações anteriores fora seguida pelas trevas da superstição e do erro. Graves males brotaram e floresceram -- a tirania, a opressão, o ódio a tudo que era bom. A justiça foi pervertida e prevaleceu a violência. PR 195 2 Não obstante esses maus tempos não ficaram sem testemunhas para Deus e o direito. As experiências difíceis pelas quais Judá havia passado em segurança durante o reinado de Ezequias, tinham desenvolvido no coração de muitos uma inflexibilidade de caráter que agora servia como baluarte contra a iniqüidade predominante. Seu testemunho em favor da verdade e da justiça despertou a ira de Manassés e seus associados em autoridade, os quais se esforçavam por se estabelecerem na prática do mal pelo silenciar toda voz de desaprovação. "Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até que encheu Jerusalém de um ao outro extremo". 2 Reis 21:16. PR 195 3 Um dos primeiros a cair foi Isaías, que durante mais de meio século estivera perante Judá como mensageiro apontado por Jeová. "Outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra". Hebreus 11:36-38. PR 195 4 Alguns dos que sofreram perseguição durante o reinado de Manassés foram comissionados para levar mensagens especiais de reprovação e juízo. O rei de Judá, declararam os profetas, "fez estas abominações, fazendo pior do que quanto fizeram [...] os que antes dele foram". Em virtude de sua impiedade, seu reino aproximava-se de uma crise; breve os habitantes da terra deviam ser levados cativos para Babilônia, para ali se tornarem "roubo e despojo para todos os seus inimigos". 2 Reis 21:11, 14. Mas o Senhor não esqueceria inteiramente aqueles que em terra estranha O reconhecessem como seu Rei; eles poderiam sofrer grande tribulação, mas Ele lhes levaria livramento na maneira e no tempo determinados. Os que pusessem sua confiança inteiramente nEle, encontrariam um seguro refúgio. PR 196 1 Fielmente os profetas continuaram suas advertências e exortações; destemidamente falaram a Manassés e a seu povo, mas as mensagens foram desprezadas; a transviada Judá não queria dar ouvidos. Como amostra do que poderia sobrevir ao povo se este continuasse impenitente, o Senhor permitiu que seu rei fosse capturado por um bando de soldados assírios, os quais "o amarraram com cadeias, e o levaram a Babilônia", sua capital temporária. Esta aflição trouxe o rei ao seu juízo; "ele, angustiado, orou deveras ao Senhor seu Deus, e humilhou-se muito perante o Deus de seus pais; e Lhe fez oração, e Deus Se aplacou para com ele, e ouviu a sua súplica, e o tornou a trazer a Jerusalém, ao seu reino. Então conheceu Manassés que o Senhor era Deus". 2 Crônicas 33:11-13. Mas esse arrependimento, notável embora, veio demasiado tarde para salvar o reino da influência corruptora de anos de prática idolátrica. Muitos haviam tropeçado e caído, não se levantando mais. PR 196 2 Entre aqueles cuja experiência da vida tinha sido influenciada além da possibilidade de recuperação pela fatal apostasia de Manassés, estava seu próprio filho, que subiu ao trono na idade de vinte e dois anos. Do rei Amom está escrito: "Andou em todo o caminho em que andara seu pai, e serviu os ídolos, a que seu pai tinha servido, e se inclinou diante deles. Assim deixou ao Senhor, Deus de seus pais". 2 Reis 21:21, 22. Ele "não se humilhou perante o Senhor, como Manassés, seu pai, se humilhara, antes multiplicou Amom os seus delitos". Ao ímpio rei não foi permitido reinar por muito tempo. Em meio de sua audaciosa impiedade, dois anos depois de haver ascendido ao trono, foi morto no palácio por seus próprios servos; e "o povo da terra fez reinar em seu lugar a Josias, seu filho". 2 Crônicas 33:23, 25. PR 196 3 Com a ascensão de Josias ao trono, onde devia reinar por trinta e um anos, os que haviam conservado a pureza de sua fé começaram a esperar que o declínio do reino fosse detido; pois o novo rei, embora tivesse apenas oito anos de idade, temia a Deus, e desde o início "fez o que era reto aos olhos do Senhor; e andou em todo o caminho de Davi, seu pai, e não se apartou dele nem para a direita nem para a esquerda". 2 Reis 22:2. Filho de um rei ímpio, perseguido por tentações para que seguisse nos passos do pai, e com poucos conselheiros para encorajá-lo no caminho direito, foi Josias não obstante leal ao Deus de Israel. Advertido pelos erros de passadas gerações, escolheu fazer o que era reto, em vez de descer ao baixo nível do pecado e degradação a que seu pai e seu avô haviam caído. Ele "não se desviou nem para a direita nem para a esquerda". Como alguém que devia ocupar uma posição de confiança, resolveu obedecer à instrução que tinha sido dada para a guia dos governantes de Israel; e sua obediência tornou possível que Deus o usasse como um vaso de honra. PR 197 1 Ao tempo em que Josias começou a reinar, e muitos anos antes, os sinceros em Judá perguntavam-se em dúvida se as promessas de Deus ao antigo Israel seriam cumpridas. Do ponto de vista humano, o propósito divino para a nação escolhida parecia quase impossível de ser realizado. A apostasia dos primeiros séculos havia angariado forças com o passar dos anos; dez das tribos tinham sido espalhadas entre os pagãos; apenas as tribos de Judá e Benjamim permaneceram, e essas mesmas pareciam agora às bordas da ruína nacional e moral. Os profetas tinham começado a predizer a completa destruição de sua aprazível cidade, onde se erguia o templo de Salomão e onde se centralizavam todas as suas esperanças de grandeza nacional. Seria possível que Deus estivesse prestes a tornar atrás em Seu juramentado propósito de levar livramento aos que nEle confiassem? Em face da longa perseguição dos justos, e da aparente prosperidade dos ímpios, poderiam os que haviam permanecido leais a Deus aguardar dias melhores? PR 197 2 Essas ansiosas interrogações foram pronunciadas pelo profeta Habacuque. Contemplando a situação dos fiéis em seus dias, ele expressou o peso que lhe ia no coração, inquirindo: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e Tu não me escutarás? gritarei: Violência e não salvarás? Por que razão me fazes ver a iniqüidade, e ver a vexação? Porque a destruição e a violência estão diante de mim; há também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca o justo, e sai o juízo pervertido". Hebreus 1:2-4. PR 197 3 Deus respondeu ao clamor de Seus filhos leais. Por intermédio de Seu porta-voz Ele revelou Sua determinação de levar a correção à nação que O tinha desprezado para servir aos deuses dos gentios. Nos dias mesmos de alguns que estavam então inquirindo com respeito ao futuro, Ele miraculosamente modelaria os planos das nações dominantes na Terra, levando Babilônia à ascendência. Esse povo caldeu, "horrível e terrível" (Hebreus 1:7), cairiam subitamente sobre a terra de Judá como um açoite divinamente apontado. Os príncipes de Judá e os mais distintos dentre o povo seriam levados cativos para Babilônia; as cidades e vilas da Judéia e os campos cultivados seriam devastados, a nada se poupando. PR 197 4 Confiante de que mesmo neste terrível juízo o propósito de Deus por Seu povo seria de alguma maneira cumprido, Habacuque rendeu-se em submissão à vontade revelada de Jeová. "Não és Tu desde sempre?" ele exclamou. E então sua fé viu além das desoladoras perspectivas do imediato futuro, e descansando nas preciosas promessas que revelam o amor de Deus por Seus confiantes filhos, o profeta acrescentou: "Nós não morreremos". Hebreus 1:12. Com esta declaração de fé, ele depôs sua causa, bem como a de cada crente israelita, nas mãos de um compassivo Deus. PR 197 5 Não foi esta a única experiência de Habacuque no exercício de forte fé. Uma ocasião, quando meditava sobre o futuro, ele disse: "Sobre a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que fala comigo". Graciosamente o Senhor lhe respondeu: "Escreve a visão, e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa. Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar, espera-o; porque certamente virá, e não tardará. Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá". Hebreus 2:1-4. PR 198 1 A fé que fortaleceu Habacuque e todos os santos e justos naqueles dias de grande provação, é a mesma que sustém o povo de Deus hoje. Nas horas mais escuras, sob as mais proibitivas circunstâncias, o crente cristão pode suster sua alma sobre a fonte de toda luz e poder. Dia a dia, pela fé em Deus, sua esperança e ânimo podem ser renovados, "o justo pela sua fé viverá". Hebreus 2:4. No serviço de Deus não precisa haver desalento, nem vacilação ou temor. O Senhor fará mais que cumprir as mais altas expectativas dos que nEle põem a sua confiança. Ele lhes dará a sabedoria que suas múltiplas necessidades demandam. PR 198 2 Da abundante provisão feita em favor de cada alma tentada, o apóstolo Paulo deu eloqüente testemunho. A ele foi dada a divina certeza: "A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Em gratidão e confiança, o provado servo de Deus respondeu: "De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte". 2 Coríntios 12:9, 10. PR 198 3 Devemos acariciar e cultivar a fé da qual testificaram profetas e apóstolos -- a fé que se apodera das promessas de Deus, e espera pelo livramento na ocasião e maneira apontados. A firme palavra da profecia encontrará seu final cumprimento no glorioso advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores. O tempo de espera pode parecer longo, a alma pode ser oprimida por desanimadoras circunstâncias, muitos daqueles em quem confiamos podem cair ao longo do caminho; mas como o profeta que procurou encorajar Judá em tempo de apostasia sem precedente, confiadamente declaramos: "O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra". Habacuque 2:20. Tenhamos sempre em mente a confortante mensagem: "A visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá. Se tardar espera-o; porque certamente virá, não tardará. [...] O justo pela sua fé viverá". Habacuque 2:3, 4. PR 198 4 "Aviva, ó Senhor, a Tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira lembra-Te da misericórdia. Deus veio de Temã, e o Santo do monte de Parã. A Sua glória cobriu os céus, e a Terra encheu-se do Seu louvor. E o Seu resplendor era como a luz, raios brilhantes saíam da Sua mão, E ali estava o esconderijo da Sua força. Adiante dEle ia a peste, e raios de fogo sob os Seus pés. Parou, e mediu a Terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados, os outeiros eternos se encurvaram; o andar eterno é Seu." "Tu saíste para salvamento do Teu povo, para salvamento do Teu ungido." "Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas; todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é a minha força". Habacuque 3:2-6, 13, 17-19. PR 199 1 Não foi Habacuque a única pessoa por cujo intermédio fora dada uma mensagem de esperança e de um futuro triunfo, bem assim de julgamento presente. Durante o reinado de Josias a palavra do Senhor veio a Sofonias, especificando claramente os resultados da continuada apostasia, e chamando a atenção da verdadeira igreja para a gloriosa perspectiva de além. Suas profecias de juízo impendente sobre Judá se aplicam com igual força aos juízos que devem cair sobre um mundo impenitente por ocasião da segunda vinda de Cristo: PR 199 2 "O grande dia do Senhor está perto está perto, e se apressa muito a voz do dia do Senhor; amargamente clamará ali o homem poderoso. Aquele dia é um dia de indignação, dia de angústia e de ânsia, dia de alvoroço e de desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortes e contra as torres altas". Sofonias 1:14-16. PR 199 3 "E angustiarei os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor; e o seu sangue se derramará como pó. [...] Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia do furor do Senhor; mas pelo fogo do Seu zelo toda esta Terra está consumida; porque certamente fará de todos os moradores da Terra uma destruição total e apressada". Sofonias 1:17, 18. PR 199 4 "Congrega-te, sim, congrega-te, ó nação que não tens desejo; antes que saia o decreto, e o dia passe como a pragana; antes que venha sobre vós a ira do Senhor, sim, antes que venha sobre vós o dia da ira do Senhor. Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da Terra, que pondes por obra o Seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor". Sofonias 2:1-3. PR 199 5 "Eis que naquele tempo procederei contra todos os que te afligem, e salvarei a que coxeia, e recolherei a que foi expulsa; e lhes darei um louvor e um nome em toda a Terra em que foram envergonhados. Naquele tempo vos trarei, naquele tempo vos recolherei; certamente vos darei um nome e um louvor entre todos os povos da Terra, quando conduzir vossos cativos diante dos vossos olhos, diz o Senhor". Sofonias 3:19, 20. PR 199 6 "Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te, e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O Senhor afastou os teus juízos, exterminou o teu inimigo; o Senhor, o Rei de Israel, está no meio de ti; tu não verás mais mal algum. Naquele dia se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se enfraqueçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para te salvar; Ele Se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por teu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo". Sofonias 3:14-17. ------------------------Capítulo 33 -- O livro da lei PR 201 1 As influências silenciosas mas poderosas postas em operação pelas mensagens dos profetas quanto ao cativeiro babilônio, muito fizeram para preparar o caminho para uma reforma que ocorreu no décimo oitavo ano do reinado de Josias. Este movimento de reforma, pelo qual os juízos pressagiados foram sustados por algum tempo, foi levado a efeito de maneira inteiramente inesperada graças à descoberta e estudo de uma porção da Sagrada Escritura que durante muitos anos havia estado estranhamente deslocada e perdida. PR 201 2 Cerca de um século antes, durante a primeira celebração da Páscoa por Ezequias, tomaram-se medidas para a leitura pública do livro da lei ao povo, por sacerdotes-instrutores. Foi a observância dos estatutos escritos por Moisés, especialmente os que haviam sido dados no livro do concerto, e que faziam parte do Deuteronômio, que fizera próspero o reinado de Ezequias. Porém Manassés ousara pôr de lado esses estatutos; e durante seu reinado a cópia do livro da lei que estava no templo, por negligência e descuido, havia-se perdido. Assim foi o povo durante muitos anos privado de maneira generalizada de sua instrução. PR 201 3 O manuscrito por tanto tempo perdido foi achado no templo por Hilquias, o sumo sacerdote, quando o edifício estava sob intensivos reparos, em harmonia com o plano do rei Josias para a preservação da estrutura sagrada. O sumo sacerdote passou o sagrado volume às mãos de Safã, um escriba letrado, que o leu, e o levou ao rei, com a história de sua descoberta. PR 201 4 Josias ficou impressionado ao ouvir pela primeira vez a leitura das exortações e advertências registradas neste antigo manuscrito. Nunca antes compreendera ele tão profundamente a clareza com que Deus havia posto perante Israel "a vida e a morte, a bênção e a maldição" (Deuteronômio 30:19); e quão repetidamente foram eles admoestados a escolher o caminho da vida, para que se tornassem um louvor na Terra, uma bênção a todas as nações. Deuteronômio 31:6. PR 201 5 O livro era abundante em declarações assegurando a disposição de Deus em salvar perfeitamente os que pusessem nEle sua inteira confiança. Como Ele operara em livrá-los do cativeiro egípcio, assim agiria poderosamente para estabelecê-los na terra da promessa e colocá-los como cabeça das nações da Terra. PR 202 1 Os estímulos oferecidos como recompensa da obediência foram acompanhados por profecias de juízo contra o desobediente; e ao ouvir o rei as inspiradas palavras, reconheceu, no quadro que lhe estava diante, condições similares às predominantes então no reino. Em conexão com essa retratação profética do afastamento de Deus, ele ficou alarmado ao encontrar afirmações claras de molde a concluir que o dia da calamidade seguir-se-ia depressa, e que não haveria remédio. A linguagem era clara; não se poderia compreender diferentemente o significado das palavras. E no encerramento do volume, num sumário do trato de Deus com Israel e uma repetição dos eventos futuros, esses assuntos foram tornados duplamente claros. Aos ouvidos de todo o Israel, Moisés havia declarado: PR 202 2 "Inclinai os ouvidos, ó Céus, e falarei; e ouça a Terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile o meu dito como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva. Porque apregoarei o nome do Senhor; dai grandeza a nosso Deus. Ele é a Rocha cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos juízos são; Deus é a verdade, e não há nEle injustiça; justo e reto é". Deuteronômio 32:1-4. PR 202 3 "Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de muitas gerações; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles to dirão. Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, pôs os termos dos povos, conforme ao número dos filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a corda da Sua herança. Achou-o na terra do deserto, e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho". Deuteronômio 32:7-10. PR 202 4 Mas Israel deixou a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação. Como deuses estranhos O provocaram a zelos; com abominações O irritaram. Sacrifícios ofereceram aos diabos, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, dos quais não se estremeceram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou, e em esquecimento puseste o Deus que te formou. O que, vendo o Senhor, os desprezou, provocado à ira contra Seus filhos e Suas filhas; e disse: Esconderei o Meu rosto deles, verei qual será o seu fim, porque são geração de perversidade, filhos em quem não há lealdade. A zelos Me provocaram com aquilo que não é Deus. Com as suas vaidades Me provocaram à ira; portanto Eu os provocarei a zelos com os que não são povo, com nação louca os despertarei à ira. Males amontoarei sobre eles, as Minhas setas esgotarei contra eles. Exaustos serão de fome, comidos de carbúnculo, e de peste amarga. Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Oxalá eles fossem sábios que isto entendessem, e atentassem para o seu fim! Como pode ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a sua Rocha os não vendera, E o Senhor os não entregara? Porque a sua rocha não é como a nossa Rocha, sendo até os nossos inimigos juízes disto. Não está isto encerrado comigo? Selado nos Meus tesouros? Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar". Deuteronômio 32:15-21, 23, 24, 28-31, 34, 35. PR 203 1 Essas passagens revelaram a Josias o amor de Deus por Seu povo e Sua aversão ao pecado. Lendo o rei as profecias de apressado juízo sobre os que persistissem na rebelião, tremeu ante o futuro. A perversidade de Judá havia sido grande; qual seria o resultado de sua continuada apostasia? PR 203 2 Em anos anteriores o rei não havia sido indiferente à predominante apostasia. "No oitavo ano do seu reinado, sendo ainda moço", ele se consagrou inteiramente ao serviço de Deus. Quatro anos mais tarde, com a idade de vinte anos, havia ele feito um fervoroso esforço para remover a tentação de seus súditos, purificando "a Judá e Jerusalém, dos altos e dos bosques, e das imagens de escultura e de fundição". "E derribaram perante ele os altares de Baalim; e cortou as imagens do Sol, que estavam acima deles; e os bosques, e as imagens de escultura e de fundição quebrou e reduziu a pó, e o espargiu sobre as sepulturas dos que lhes tinham sacrificado. E os ossos dos sacerdotes queimou sobre os seus altares, e purificou a Judá e a Jerusalém". 2 Crônicas 34:3-5. PR 203 3 Não contente com fazer uma obra total na terra de Judá, o jovem rei havia estendido seus esforços às partes da Palestina anteriormente ocupadas pelas dez tribos de Israel, de que permanecia apenas um fraco remanescente. "O mesmo fez nas cidades de Manassés", diz o relato, "e de Efraim, e de Simeão, e ainda até Naftali". Não antes que tivesse percorrido de extremo a extremo esta região de lares arruinados, "e tendo derribado os altares, e os bosques, e as imagens de escultura, até reduzi-los a pó", "tendo cortado todas as imagens do Sol em toda a terra de Judá" (2 Crônicas 34:6, 7) -- não antes retornou ele para Jerusalém. PR 203 4 Assim Josias, desde o limiar mesmo de sua varonilidade, havia-se empenhado em tirar partido de sua posição como rei para exaltar os princípios da santa lei de Deus. E agora, enquanto o escriba Safã lia para ele no livro da lei, o rei discerniu neste volume um tesouro de conhecimento, um poderoso aliado na obra de reforma que tanto desejava ver executada na terra. Resolveu andar na luz dos seus conselhos, e também fazer tudo que estivesse em seu poder para familiarizar seu povo com seus ensinos, e levá-los, se possível, a cultivar reverência e amor pela lei do Céu. PR 203 5 Seria, porém, possível levar a efeito a necessitada reforma? Israel havia alcançado, quase, os limites da divina paciência; logo Deus Se levantaria para punir os que haviam desonrado Seu nome. Já a ira do Senhor estava inflamada contra o povo. Oprimido pela tristeza e desânimo, Josias rasgou seus vestidos, e se prostrou perante Deus em agonia de espírito, suplicando perdão para os pecados de uma nação impenitente. PR 204 1 Por esse tempo vivia em Jerusalém próximo do templo a profetisa Hulda. O espírito do rei, carregado de ansiosos pressentimentos, voltou-se para ela, e ele se determinou interrogar o Senhor por intermédio desta mensageira escolhida, para saber, se possível, se por qualquer meio ao seu alcance poderia ele salvar o extraviado Judá, agora às bordas da ruína. PR 204 2 A gravidade da situação, e o respeito em que ele tinha a profetisa, levaram-no a escolher como mensageiros a ela, homens dentre os primeiros do reino. "Ide", lhes ordenara ele, "consultai ao Senhor por mim e pelos que restam em Israel e em Judá, sobre as palavras deste livro que se achou; porque grande é o furor do Senhor, que se derramou sobre nós, porquanto nossos pais não guardaram a palavra do Senhor, para fazerem conforme a tudo quanto está escrito neste livro". 2 Reis 22:13. PR 204 3 Por intermédio de Hulda o Senhor enviou a Josias a declaração de que a ruína de Jerusalém não seria evitada. Mesmo que o povo agora se humilhasse perante Deus, eles não escapariam à punição. Por tanto tempo os seus sentidos haviam sido insensibilizados pela prática do mal que se não viessem juízos sobre eles, logo retornariam às mesmas práticas pecaminosas. "Dizei ao homem que vos enviou a mim", declarou a profetisa: "Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre os seus habitantes, a saber: Todas as maldições que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá. Porque Me deixaram, e queimaram incenso perante outros deuses, para Me provocarem à ira com toda a obra das suas mãos; portanto o Meu furor se derramou sobre este lugar, e não se apagará". 2 Reis 22:15-17. PR 204 4 Mas visto que o rei havia humilhado o coração perante Deus, o Senhor reconheceria a sua pronta disposição de buscar perdão e misericórdia. A ele foi enviada a mensagem: "Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste os teus vestidos, e choraste perante Mim, também Eu te ouvi, diz o Senhor. Pelo que eis que Eu te ajuntarei a teus pais, e tu serás ajuntado em paz à tua sepultura, e os teus olhos não verão o mal que hei de trazer sobre este lugar". 2 Reis 22:19, 20. PR 204 5 O rei devia deixar com Deus os eventos do futuro; ele não poderia alterar os eternos decretos de Jeová. Mas ao anunciar os juízos retributivos do Céu, o Senhor não reteve a oportunidade para arrependimento e reforma; e Josias, discernindo nisto uma boa disposição da parte de Deus para temperar Seus juízos com misericórdia, determinou fazer tudo que estivesse em seu poder para executar decididas reformas. Ele promoveu de pronto uma grande convocação, para a qual foram convidados os anciãos e magistrados de Jerusalém e de Judá, juntamente com o povo comum. Estes, com os sacerdotes e levitas, reuniram-se ao rei no pátio do templo. PR 204 6 A esta vasta assembléia o próprio rei leu "aos ouvidos deles todas as palavras do livro do concerto, que se achou na casa do Senhor". 2 Reis 23:2. O real leitor estava profundamente comovido, e apresentou sua mensagem com o toque de um coração quebrantado. Seus ouvintes ficaram profundamente tocados. A intensidade de sentimento revelada na face do rei, a solenidade da mensagem em si, a advertência de iminente juízo -- tudo isto teve o seu efeito, e muitos se determinaram unir ao rei em busca de perdão. PR 205 1 Josias propôs então que os líderes se unissem ao povo num solene concerto perante Deus de que cooperariam uns com os outros num esforço para instituir decididas mudanças. "E o rei se pôs junto à coluna, e fez o concerto perante o Senhor, para andarem com o Senhor, e guardarem os Seus mandamentos, e os Seus testemunhos, e os Seus estatutos, com todo o coração, e com toda a alma, confirmando as palavras deste concerto, que estavam escritas naquele livro". A resposta foi mais generosa do que o rei ousara esperar. "Todo o povo esteve por este concerto". 2 Reis 23:3. PR 205 2 Na reforma que se seguiu, o rei voltou sua atenção para a destruição de todo vestígio de idolatria que havia permanecido. Por tanto tempo haviam os habitantes da Terra seguido os costumes das nações ao redor pelo ajoelhar-se perante imagens de madeira e pedra, que parecia estar quase além do poder do homem remover cada traço desses males. Mas Josias perseverou em seus esforços por purificar a terra. Enfrentou com dureza a idolatria, fazendo matar a "todos os sacerdotes dos altos"; "e também os adivinhos, e os feiticeiros, e os terafins, e os ídolos, e todas as abominações que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, os extirpou Josias, para confirmar as palavras da lei, que estavam escritas no livro que o sacerdote Hilquias achara na casa do Senhor". 2 Reis 23:20, 24. PR 205 3 Nos dias da divisão do reino, séculos antes, quando Jeroboão filho de Nebate, em ousado desafio ao Deus a quem Israel tinha servido, procurava desviar o coração do povo das cerimônias do templo em Jerusalém para novas formas de culto, ergueu ele um altar profano em Betel. Durante a dedicação deste altar, onde nos anos por vir muitos seriam seduzidos para práticas idólatras, apareceu subitamente um homem de Deus vindo da Judéia, com palavras de condenação para com as práticas sacrílegas. E ele "clamou contra o altar", declarando: PR 205 4 "Altar, altar assim diz o Senhor: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti". 1 Reis 13:2. Este pronunciamento havia sido acompanhado de um sinal de que a palavra falada fora do Senhor. PR 205 5 Três séculos haviam-se passado. Durante a reforma levada a efeito por Josias, o rei se encontrou em Betel, onde estava este antigo altar. A profecia pronunciada tantos anos antes na presença de Jeroboão, devia agora cumprir-se literalmente. PR 205 6 "O altar que estava em Betel, e o alto que fez Jeroboão, filho de Nebate, que tinha feito pecar a Israel, juntamente com aquele altar também o alto derribou; queimando o alto, em pó o desfez, e queimou o ídolo do bosque. PR 206 1 "E virando-se Josias, viu as sepulturas que estavam ali no monte, e enviou, e tomou os ossos das sepulturas, e os queimou sobre o altar, e assim o profanou, conforme a palavra do Senhor, que apregoara o homem de Deus, quando apregoou estas palavras. PR 206 2 "Então disse: Que é este monumento que vejo? E os homens da cidade lhe disseram: É a sepultura do homem de Deus que veio de Judá, e apregoou estas coisas que fizeste contra este altar de Betel. E disse: Deixa-o estar; ninguém mexa nos seus ossos. Assim deixaram estar os seus ossos, com os ossos do profeta que viera de Samaria". 2 Reis 23:15-18. PR 206 3 Na encosta sul do Olivete, fronteiro ao belo templo de Jeová sobre o Monte Moriá, estavam os altares e imagens que tinham sido postos ali por Salomão, para comprazer suas esposas idólatras. 1 Reis 11:6-8. Por mais de três séculos, as grandes e disformes imagens haviam estado sobre o "Monte da Ofensa", como testemunhas mudas da apostasia do mais sábio rei de Israel. Essas também foram removidas e destruídas por Josias. PR 206 4 Procurou mais o rei estabelecer a fé de Judá no Deus de seus pais realizando uma grande festa da Páscoa, em harmonia com as provisões feitas no livro da lei. Fizeram-se os preparativos da parte daqueles que tinham o encargo dos serviços sagrados, e no grande dia da festa fizeram-se ofertas livremente. "Nunca se celebrou tal Páscoa como esta desde os dias dos juízes que julgavam a Israel, nem em todos os dias dos reis de Israel, nem tão pouco dos reis de Judá". 2 Reis 23:22. Mas o zelo de Josias, aceitável embora a Deus, não podia expiar os pecados das passadas gerações; nem podia a piedade manifestada pelos seguidores do rei efetuar uma mudança de coração em muitos que obstinadamente recusavam voltar da idolatria para o culto do verdadeiro Deus. PR 206 5 Mais de uma década após a celebração da Páscoa, Josias continuou a reinar. Aos trinta e nove anos de idade ele encontrou a morte em batalha com as forças do Egito, "e o sepultaram nos sepulcros de seus pais. E todo o Judá e Jerusalém tomaram luto por Josias. E Jeremias fez uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras falaram de Josias nas suas lamentações, até ao dia de hoje; porque as deram por estatuto em Israel, e eis que estão escritas nas lamentações". 2 Crônicas 35:24, 25. Não houve rei semelhante a Josias, "que se convertesse ao Senhor com todo o seu coração, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças, conforme toda a lei de Moisés; e depois dele nunca se levantou outro tal. Todavia o Senhor Se não demoveu do ardor da Sua grande ira [...] por todas as provações com que Manassés o tinha provocado". 2 Reis 23:25, 26. Estava-se aproximando rapidamente o tempo em que Jerusalém seria inteiramente destruída, e os habitantes da terra levados cativos para Babilônia, para aí aprenderem as lições que tinham recusado aprender sob circunstâncias mais favoráveis. ------------------------Capítulo 34 -- Jeremias PR 207 1 Entre os que tinham esperado um permanente reavivamento espiritual como resultado da reforma levada a efeito por Josias, estava Jeremias, chamado por Deus para o ofício de profeta, quando ainda jovem, no décimo terceiro ano do reinado de Josias. Membro do sacerdócio levítico, Jeremias havia sido educado desde a infância para a santa função. Nesses felizes anos de preparação pouco imaginara ele que havia sido consagrado desde o nascimento para ser um profeta "às nações"; e quando veio o divino chamado, ele se sentiu oprimido com o senso de sua indignidade. "Ah Senhor Jeová" ele exclamou, "eis que não sei falar; porque sou uma criança". Jeremias 1:5, 6. PR 207 2 Na juventude de Jeremias Deus viu alguém que seria fiel a seu encargo, e que permaneceria pelo direito contra grande oposição. Na meninice ele se provara fiel; e agora enfrentaria durezas, como bom soldado da cruz. "Não digas: eu sou uma criança"; ordenou o Senhor ao Seu escolhido mensageiro; "porque aonde quer que Eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar dirás. Não temas diante deles; porque Eu sou contigo para te livrar". Jeremias 1:7, 8. "Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto Eu te mandar; não desanimes diante deles, porque Eu farei com que não temas na sua presença. Porque, eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque Eu sou contigo, para te livrar". Jeremias 1:17-19. PR 207 3 Por quarenta anos, Jeremias devia estar diante da nação como testemunha da verdade e da justiça. Num tempo de apostasia sem paralelo, devia ele exemplificar na vida e no caráter a adoração do verdadeiro Deus. Durante o terrível cerco de Jerusalém, ele seria o porta-voz de Jeová. Prediria a queda da casa de Davi, e a destruição do belo templo construído por Salomão. E quando aprisionado por causa de suas destemidas afirmações, devia ainda falar contra o pecado nos altos. Desprezado, odiado, rejeitado dos homens, havia ele de finalmente testemunhar o cumprimento literal de suas próprias profecias de iminente condenação, e partilhar da tristeza e dor que se seguiriam à destruição da cidade condenada. PR 208 1 Todavia em meio à ruína geral por que estava passando rapidamente a nação, muitas vezes foi permitido a Jeremias olhar para além das desoladoras cenas do presente às gloriosas perspectivas do futuro, quando o povo de Deus seria resgatado da terra do inimigo, e novamente plantado em Sião. Ele previu o tempo em que o Senhor haveria de renovar Sua relação de concerto com eles. "A sua alma será como um jardim regado, e nunca mais andarão tristes". Jeremias 31:12. PR 208 2 Com respeito ao seu chamado para a missão profética, o próprio Jeremias escreveu: "Estendeu o Senhor a Sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o Senhor: Eis que ponho as Minhas palavras na tua boca. Olha, ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derribares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares, e para plantares". Jeremias 1:9, 10. PR 208 3 Graças a Deus pelas palavras "para edificares e para plantares". Por essas palavras foi assegurado a Jeremias o propósito do Senhor de restaurar e sarar. Severas eram as mensagens a serem levadas nos anos que se seguiriam. Profecias de iminentes juízos a sobrevir deviam ser apresentadas com destemor. Das planícies de Sinear devia sobrevir "o mal sobre todos os habitantes da terra". "Eu pronunciarei contra eles os Meus juízos", o Senhor declarou, "por causa de toda a sua malícia, pois Me deixaram a Mim". Jeremias 1:14, 16. Mas o profeta devia fazer acompanhar essas mensagens da segurança de perdão a todos os que tornassem de suas más obras. PR 208 4 Como um sábio mestre construtor, Jeremias procurou no início mesmo de sua atividade encorajar os homens de Judá a assentar os fundamentos de sua vida espiritual de maneira ampla e profunda, praticando obras completas de arrependimento. De longa data vinham eles construindo com material a que o apóstolo Paulo assemelhou a madeira, feno e palha, e por Jeremias mesmo comparado a escória. "Prata rejeitada lhes chamarão", declarou ele da nação impenitente, "porque o Senhor os rejeitou". Jeremias 6:30. Agora eram eles animados a construir sabiamente e para a eternidade, lançando fora o refugo da apostasia e da incredulidade, usando como fundamento material o puro ouro, a prata refinada, as pedras preciosas -- fé, obediência e boas obras -- unicamente aceitáveis à vista de um Deus santo. PR 208 5 Por intermédio de Jeremias a palavra do Senhor a Seu povo foi: "Volta, ó rebelde Israel [...] e não farei cair a Minha ira sobre vós; porque benigno sou, diz o Senhor, e não conservarei para sempre a Minha ira. Somente reconhece a tua iniqüidade, que contra o Senhor teu Deus transgrediste. [...] Convertei-vos, ó filhos rebeldes, diz o Senhor; porque Eu vos desposarei". "Pai Me chamarás, e de Mim te não desviarás". "Volta, ó filhos rebeldes, Eu curarei as vossas rebeliões". Jeremias 3:12-14, 19, 22. PR 208 6 Além desses maravilhosos apelos, o Senhor deu a Seu povo extraviado as próprias palavras com que podiam voltar a Ele. Eles deviam dizer: "Eis-nos aqui, viemos a Ti, porque Tu és o Senhor nosso Deus. Certamente se confia nos outeiros e na multidão das montanhas: deveras no Senhor nosso Deus está a salvação de Israel. [...] Jazemos na nossa vergonha, e estamos cobertos da nossa confusão, porque pecamos contra o Senhor nosso Deus, nós e nossos pais, desde a nossa mocidade até ao dia de hoje; e não temos ouvido a voz do Senhor nosso Deus". Jeremias 3:22-25. PR 209 1 A reforma levada a efeito por Josias tinha purificado a terra dos altares idólatras, mas o coração da multidão não havia sido transformado. As sementes da verdade que haviam germinado com a promessa de abundante colheita, haviam sido sufocadas pelos espinhos. Outra apostasia semelhante a essa seria fatal; e o Senhor procurou despertar a nação para o reconhecimento do perigo. Unicamente provando-se leais a Jeová poderiam eles esperar divino favor e prosperidade. PR 209 2 Jeremias chamou-lhes repetidamente a atenção para os conselhos dados em Deuteronômio. Mais que qualquer outro profeta, deu ele ênfase aos ensinos da lei mosaica, e mostrou como esses ensinos poderiam levar à mais alta bênção espiritual para a nação, e a cada coração individualmente. "Perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai nele", suplicou, "e achareis descanso para as vossas almas". Jeremias 6:16. PR 209 3 Numa ocasião, por ordem do Senhor, o profeta se pôs numa das principais entradas da cidade, e aí apelou para a importância da santificação do sábado. Os habitantes de Jerusalém estavam em perigo de perder de vista a santidade do sábado, e foram solenemente advertidos contra o seguir seus interesses seculares nesse dia. Uma bênção fora prometida sob a condição de obediência. "Se diligentemente Me ouvirdes", o Senhor declarou, "e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele obra alguma, então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, assentados sobre o trono de Davi, andando em carros e montados em cavalos, eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será para sempre habitada". Jeremias 17:24, 25. PR 209 4 Essa promessa de prosperidade como recompensa de obediência foi acompanhada por uma profecia de terríveis juízos que cairiam sobre a cidade caso seus habitantes se provassem desleais a Deus e Sua lei. Se as admoestações para obediência ao Senhor Deus de seus pais e a santificação de Seu dia de sábado não fossem atendidas, a cidade e seus palácios seriam totalmente destruídos pelo fogo. PR 209 5 Assim o profeta manteve-se firmemente ao lado dos sãos princípios do reto viver tão claramente esboçados no livro da lei. Mas as condições prevalecentes na terra de Judá eram tais que somente pelas mais positivas medidas poderia ser efetuada uma mudança para melhor; daí trabalhar ele com o máximo fervor pelos impenitentes. "Lavrai para vós o campo da lavoura", ele pedia, "e não semeeis entre espinhos". "Lava o teu coração da malícia, ó Jerusalém, para que sejas salva". Jeremias 4:3, 14. PR 210 1 Mas o chamado ao arrependimento e reforma não foi atendido pela grande massa do povo. Desde a morte do bom rei Josias os que haviam reinado sobre a nação se mostraram infiéis ao seu encargo, tendo levado muitos ao extravio. Jeoacaz, deposto pela interferência do rei do Egito, fora seguido por Jeoaquim, o filho mais velho de Josias. Desde o início do reinado de Jeoaquim, Jeremias tivera pouca esperança de salvar sua amada terra da destruição e o povo do cativeiro. Mas não lhe foi permitido permanecer em silêncio enquanto total ruína ameaçava o reino. Os que haviam permanecido leais a Deus deviam ser encorajados a perseverar na prática do bem, devendo os pecadores, se possível, ser induzidos a voltarem-se da iniqüidade. PR 210 2 A crise pedia um esforço público e de longo alcance. Jeremias foi ordenado pelo Senhor a erguer-se na corte do templo e falar a todo o povo de Judá que passasse dentro e fora. Não devia ele suprimir uma só palavra das mensagens que lhe fossem dadas, a fim de que os pecadores de Sião tivessem a mais ampla oportunidade possível de ouvir, e voltar de seus maus caminhos. PR 210 3 O profeta obedeceu; permaneceu junto à porta da casa do Senhor, e aí ergueu a voz em advertência e rogos. Sob a inspiração do Todo-poderoso ele declarou: PR 210 4 "Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. Mas, se deveras melhorardes os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras fizerdes juízo entre um homem e entre o seu companheiro, se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, Eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, de século em século". Jeremias 7:2-7. PR 210 5 O pesar do Senhor por ter de castigar está aqui vividamente demonstrado. Ele retém os Seus juízos para que possa pleitear com os impenitentes. Aquele que exercita "beneficência, juízo e justiça na Terra" (Jeremias 9:24), demonstra misericórdia a Seus filhos errantes e por todas as maneiras possíveis busca ensinar-lhes o caminho da vida eterna. Ele tirara os israelitas do cativeiro para que Lhe pudessem servir a Ele, o único Deus vivo e verdadeiro. Embora eles tivessem andado longo tempo na idolatria, menosprezando Suas advertências, Ele contudo declara Sua disposição de não enviar o castigo, concedendo ainda outra oportunidade para arrependimento. Ele deixa claro o fato de que somente mediante a mais integral reforma do coração poderia a condenação impendente ser evitada. Em vão seria a confiança que depositassem no templo e suas atividades. Ritos e cerimônias não podiam expiar o pecado. Embora declarassem ser o escolhido povo de Deus, unicamente a reforma do coração e dos atos da vida os salvaria dos inevitáveis resultados da continuada transgressão. PR 211 1 Assim foi que "nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém", a mensagem de Jeremias a Judá foi: "Ouvi as palavras deste concerto" -- os claros preceitos de Jeová como registrados nas Sagradas Escrituras -- "e cumprias". Jeremias 11:6. E esta é a mensagem que ele proclamou ao estar nos pátios do templo no início do reinado de Jeoaquim. PR 211 2 A experiência de Israel desde os dias do Êxodo foi ligeiramente revivida. O concerto de Deus com eles tinha sido: "Dai ouvidos à Minha voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem". Aberta e repetidamente fora esse concerto quebrado. A nação escolhida tinha andado "nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante". Jeremias 7:23, 24. PR 211 3 "Por que" o Senhor inquiriu, "se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia contínua?" Jeremias 8:5. Na linguagem do profeta era porque eles não haviam obedecido à voz do Senhor seu Deus, e tinham recusado a ser corrigidos. Jeremias 5:3. "Já pereceu a verdade", lamentou ele, "e se arrancou da sua boca". Jeremias 7:28. "Até a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, e o grou e a andorinha observam o tempo de sua arribação; mas o Meu povo não conhece o juízo do Senhor". Jeremias 8:7. "Porventura por estas coisas não os visitaria? diz o Senhor; ou não se vingaria a minha alma de gente tal como esta?" Jeremias 9:9. PR 211 4 Chegara o tempo para profundo exame de coração. Enquanto Josias tinha sido seu rei, o povo tivera alguma base para esperança. Mas ele não podia mais interceder em seu benefício; pois havia caído em batalha. Os pecados da nação eram tais que o tempo para intercessão quase se escoara de todo. "Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de Mim", o Senhor declarou, "não seria a Minha alma com este povo; lança-os de diante de Minha face, e saiam. E será que, quando te disserem: Para onde iremos? dir-lhes-ás: Os que para a morte, para a morte; e os que para a espada, para a espada; e os que para a fome, para a fome; e os que para o cativeiro, para o cativeiro". Jeremias 15:1, 2. PR 211 5 Uma recusa de ouvir o convite de misericórdia que Deus estava agora oferecendo atrairia sobre a impenitente nação os juízos que haviam caído sobre o reino do norte de Israel havia mais de um século antes. A mensagem a eles agora era: "Se não Me derdes ouvidos para andardes na Minha lei, que pus diante de vós, para que ouvísseis as palavras dos Meus servos, os profetas, que Eu vos envio, madrugando e enviando, mas não ouvistes; então farei que esta casa seja como Siló, e farei desta cidade uma maldição para todas as nações da Terra". Jeremias 26:4-6. PR 212 1 Os que estavam no pátio do templo ouvindo o discurso de Jeremias, compreenderam claramente esta referência a Siló, e aos tempos nos dias de Eli, quando os filisteus derrotaram a Israel e levaram a arca do testamento. PR 212 2 O pecado de Eli tinha consistido em passar por alto a iniqüidade de seus filhos no sagrado ofício, bem como sobre os males prevalecentes através da terra. Sua negligência em corrigir esses males tinha atraído sobre Israel terrível calamidade. Seus filhos tinham sido mortos em combate, o próprio Eli perdeu a vida, a arca de Deus tinha sido levada da terra de Israel, trinta mil do povo haviam sido mortos -- tudo por se haver permitido que o pecado florescesse desembaraçada e livremente. Israel havia pensado em vão que, não obstante suas pecaminosas práticas, a presença da arca assegurar-lhes-ia a vitória sobre os filisteus. De igual maneira, durante os dias de Jeremias, os habitantes de Judá eram inclinados a crer que uma estrita observância das cerimônias do templo divinamente apontadas, preservá-los-ia de uma justa punição por sua ímpia conduta. PR 212 3 Que lição esta a homens em posição de responsabilidade hoje na igreja de Deus Que solene advertência quanto à necessidade de tratar-se fielmente os erros que levam desonra à causa da verdade! Que ninguém que declare ser depositário da lei de Deus, lisonjeie-se a si mesmo com o pensamento de que a deferência que externamente mostrarem para com os mandamentos de Deus os preservará da aplicação da justiça divina. Que ninguém se recuse a ser reprovado pela prática do mal, nem acuse os servos de Deus por serem demasiado zelosos em procurar limpar o campo de obras maléficas. Um Deus que odeia o pecado apela aos que se declaram guardadores de Sua lei, a que se afastem de toda iniqüidade. A negligência em se arrepender e render voluntária obediência acarretará sobre homens e mulheres hoje tão sérias conseqüências como as que vieram sobre o antigo Israel. Há um limite além do qual os juízos de Jeová não podem mais ser detidos. A desolação de Jerusalém nos dias de Jeremias é uma solene advertência ao moderno Israel, de que os conselhos e advertências dados por meio de pessoas escolhidas não podem ser desrespeitados impunemente. PR 212 4 A mensagem de Jeremias aos sacerdotes e povo despertou o antagonismo de muitos. Com violenta injúria eles clamaram: "Porque profetizaste no nome do Senhor, dizendo: Será como Siló esta casa, e esta cidade será assolada, de sorte que fique sem moradores. E ajuntou-se todo o povo contra Jeremias na casa do Senhor". Jeremias 26:9. Sacerdotes, falsos profetas e povo voltaram-se irados, contra aquele que lhes não falaria palavras suas ou profetizaria coisas deleitosas. Assim foi a mensagem de Deus desprezada e Seu servo ameaçado de morte. PR 212 5 Notícias das palavras de Jeremias foram levadas aos príncipes de Judá, e estes se apressaram do palácio do rei ao templo, a fim de se informarem por si mesmos sobre a veracidade do fato. "Então falaram os sacerdotes e os profetas aos príncipes e a todo o povo, dizendo: Este homem é réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com os vossos ouvidos". Jeremias 26:11. Mas Jeremias permaneceu ousadamente perante os príncipes e o povo, declarando: "O Senhor me enviou a profetizar contra esta casa, e contra esta cidade, todas as palavras que ouvistes. Agora, pois, melhorai os vossos caminhos e as vossas ações, e ouvi a voz do Senhor vosso Deus, e arrepender-Se-á o Senhor do mal que falou contra vós. Quanto a mim, eis que estou nas vossas mãos; fazei de mim conforme o que for bom e reto aos vossos olhos. Sabei, porém, com certeza que, se me matardes a mim, trareis sangue inocente sobre vós, e sobre esta cidade, e sobre os seus habitantes; porque, na verdade, o Senhor me enviou a vós, para dizer aos vossos ouvidos todas estas palavras". Jeremias 26:12-15. PR 213 1 Tivesse o profeta sido intimidado pela ameaçadora atitude dos que estavam em posição de alta autoridade, sua mensagem teria sido sem efeito, e ele teria perdido a vida; mas a coragem com que apresentou a solene advertência, conquistou o respeito do povo, e tornou os príncipes de Israel em seu favor. Eles arrazoaram com os sacerdotes e falsos profetas, mostrando-lhes quão pouco sábias seriam as medidas extremas por eles advogadas, e suas palavras produziram uma reação na mente do povo. Assim Deus suscitou defensores a Seu servo. PR 213 2 Os anciãos uniram-se igualmente no protesto contra a decisão dos sacerdotes sobre a sorte de Jeremias. Citaram o caso de Miquéias, que havia profetizado juízos contra Jerusalém, dizendo: "Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como os altos de um bosque". E perguntaram: "Mataram-no, porventura, Ezequias, rei de Judá, e todo o Judá? Antes não temeu este ao Senhor, e não implorou o favor do Senhor? e o Senhor Se arrependeu do mal que falara contra eles; e nós fazemos um grande mal contra as nossas almas". Jeremias 26:18, 19. PR 213 3 Graças aos apelos desses homens de influência, a vida do profeta foi poupada, embora muitos dos sacerdotes e falsos profetas, incapazes de enfrentar as condenadoras verdades que ele proferia, alegremente o teriam levado à morte sob pretexto de sedição. PR 213 4 Desde o dia do seu chamado até o fim do seu ministério, Jeremias permaneceu perante Judá como "torre e fortaleza" (Jeremias 6:27) contra a qual a ira do homem não podia prevalecer. "Pelejarão contra ti", o Senhor prevenira Seu servo, "mas não prevalecerão contra ti; porque Eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes". Jeremias 15:20, 21. PR 213 5 De natureza tímida e recolhida, Jeremias ansiava pela paz e quietude de uma vida de retraimento, onde não precisasse testemunhar a continuada impenitência de sua amada nação. Seu coração era torturado de angústia pela ruína operada pelo pecado. "Oxalá a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos numa fonte de lágrimas" ele lamentava, "então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Oxalá tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes então deixaria o meu povo, e me apartaria dele". Jeremias 9:1, 2. PR 214 1 Cruéis eram os motejos que ele fora chamado a suportar. Sua alma sensível era lanceada impiedosamente pela seta do escárnio desferidas contra ele por aqueles que lhe desprezavam as mensagens e consideravam levianamente o peso que ele sentia pela conversão deles. "Fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo, e a sua canção todo o dia" (Lamentações 3:14), declarou ele. "Sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim". "Todos os que têm paz comigo aguardam o meu manquejar, dizendo: Bem pode ser que se deixe persuadir; então prevaleceremos contra ele e nos vingaremos dele". Jeremias 20:7, 10. PR 214 2 Mas o fiel profeta era diariamente fortalecido para resistir. "Mas o Senhor está comigo como um valente terrível", ele declarou com fé, "por isso tropeçarão os meus perseguidores, e não prevalecerão; ficarão mui confundidos; como não se houveram prudentemente, terão uma confusão perpétua que nunca se esquecerá." "Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor, pois livrou a alma do necessitado da mão dos malfeitores". Jeremias 20:11, 13. PR 214 3 As experiências pelas quais Jeremias passou nos dias de sua juventude e também nos posteriores anos de seu ministério, ensinaram-lhe a lição de que "não é do homem o seu caminho nem do homem que caminha o dirigir os seus passos". Ele aprendeu a orar: "Castiga-me, ó Senhor, mas com medida, não na Tua ira, para que me não reduzas a nada". Jeremias 10:23, 24. PR 214 4 Quando chamado a beber o cálice da tribulação e tristeza, e quando em sua miséria era tentado a dizer: "Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor", recordava as providências de Deus em seu favor, e triunfantemente exclamava: "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as Suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a Tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nEle. Bom é ter esperança, e aguardar em paz a salvação do Senhor". Lamentações 3:18, 22-24. ------------------------Capítulo 35 -- A condenação iminente PR 215 1 Os primeiros anos do reinado de Jeoaquim foram cheios de advertências de próxima condenação. A palavra que o Senhor falara pelos profetas estava prestes a ser cumprida. O poder da Assíria, ao norte, supremo por tanto tempo, não mais devia reger as nações. O Egito ao sul, em cujo poder o rei de Judá estava inutilmente colocando a sua confiança, logo devia ser posto decididamente em xeque. Um novo poder mundial de todo inesperado -- o império babilônico -- estava surgindo a leste, e depressa lançando sombra sobre todas as nações. PR 215 2 Dentro de breves anos, o rei de Babilônia seria usado como instrumento da ira de Deus sobre o impenitente Judá. Uma e outra vez Jerusalém seria atacada e invadida pelos exércitos sitiantes de Nabucodonosor. Grupo após grupo -- de início uns poucos apenas, porém mais tarde milhares e dezenas de milhares -- seriam levados cativos para a terra de Sinear para ali viverem em forçado exílio. Jeoaquim, Joaquim, Zedequias -- todos esses reis judeus se tornariam por seu turno vassalos do governador de Babilônia, e todos por sua vez se rebelariam. Castigos cada vez mais severos seriam infligidos à nação rebelde, até que afinal toda a terra se tornasse uma desolação; Jerusalém seria devastada e queimada com fogo, o templo que Salomão construíra seria destruído, e o reino de Judá cairia, jamais voltando a ocupar sua anterior posição entre as nações da Terra. PR 215 3 Aqueles tempos de mudança, tão pejados de perigos para a nação israelita, foram marcados com muitas mensagens do Céu através de Jeremias. Assim o Senhor deu aos filhos de Judá ampla oportunidade de se libertarem das embaraçantes alianças com o Egito, e evitar conflito com os príncipes de Babilônia. Aproximando-se mais o ameaçador perigo, ele ensinou o povo por meio de uma série de parábolas encenadas, esperando assim despertá-los para a noção de suas obrigações para com Deus, e também encorajá-los a se manterem cordiais para com o governo babilônico. PR 215 4 Com o propósito de ilustrar a importância de render implícita obediência aos reclamos de Deus, Jeremias reuniu alguns recabitas nas câmaras do templo, e pôs perante eles vinho, convidando-os a que bebessem. Como era de esperar, ele enfrentou protestos e recusa absoluta. "Não beberemos vinho", declararam firmemente os recabitas, "porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos". PR 216 1 "Então veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Vai, e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Porventura nunca aceitareis instrução, para ouvirdes as Minhas palavras? diz o Senhor. As palavras de Jonadabe, filho de Recabe, que ordenou a seus filhos que não bebessem vinho, foram guardadas, pois não beberam até este dia, antes ouviram o mandamento de seu pai". Jeremias 35:6, 12-14. PR 216 2 Deus procurou assim criar agudo contraste entre a obediência dos recabitas e a desobediência e rebelião de Seu povo. Os recabitas haviam obedecido a ordem de seu pai, recusando-se agora a serem incitados à transgressão. Mas os homens de Judá não tinham dado ouvidos às palavras do Senhor, e estavam em conseqüência em vias de sofrer Seus mais severos juízos. PR 216 3 "A Mim, porém, que vos tenho falado a vós, madrugando e falando", o Senhor declarou, "vós não Me ouvistes. E vos enviei todos os Meus servos os profetas, madrugando, e enviando, e dizendo: Convertei-vos agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los, e assim ficareis na terra que vos dei a vós e a vossos pais; mas não inclinastes o vosso ouvido, nem Me obedeceste a Mim. Visto que os filhos de Jonadabe, filho de Recabe, guardaram o mandamento de seu pai, que ele lhes ordenou, mas este povo não Me obedeceu, por isso assim diz o Senhor, o Deus dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre Judá, e sobre todos os moradores de Jerusalém, todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho falado, e não ouviram, e clamei a eles, e não responderam". Jeremias 35:14-17. PR 216 4 Quando o coração dos homens é abrandado e subjugado pela influência constrangedora do Espírito Santo, darão ouvidos ao conselho; mas quando viram as costas à admoestação até que seus corações se tornem endurecidos, o Senhor lhes permite serem levados por outras influências. Recusando a verdade, aceitam a falsidade, a qual se torna um laço para a sua própria destruição. PR 216 5 Deus Se empenhara com Judá para que Lhe não provocasse a ira, mas não Lhe deram ouvidos. Finalmente foi pronunciada contra eles a sentença. Eles deviam ser levados cativos para Babilônia. Os caldeus iam ser usados como instrumento pelo qual Deus castigaria Seu povo desobediente. Os sofrimentos dos homens de Judá deviam estar na proporção da luz que haviam recebido e das advertências que haviam desprezado e rejeitado. Por muito tempo estivera Deus retardando Seus juízos; mas agora Ele faria cair sobre eles o Seu desprazer, como derradeiro esforço no sentido de detê-los em seu mau caminho. PR 216 6 Sobre a casa dos recabitas foi pronunciada uma bênção constante. O profeta declarou: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pois que obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, e guardastes todos os seus mandamentos, e fizestes conforme tudo quanto vos ordenou, portanto assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Nunca faltará varão a Jonadabe, filho de Recabe, que assista perante a Minha face todos os dias". Jeremias 35:18, 19. Assim ensinou Deus a Seu povo que a fidelidade e obediência se refletiriam sobre Judá em bênção, tal como foram os recabitas abençoados pela obediência à ordem de seu pai. PR 217 1 A lição é para nós. Se os requisitos de um pai bom e sábio, que usou o melhor e mais eficaz meio de garantir sua posteridade contra os males da intemperança, foram dignos de estrita obediência, sem dúvida a autoridade de Deus deve ser tida em muito maior reverência quão mais santo é Ele que o homem. Nosso Criador e Comandante, infinito em poder, terrível no juízo, procura por todos os meios levar os homens a ver seus pecados e deles se arrependerem. Por boca de Seus servos Ele predisse os perigos da desobediência; faz soar a nota de advertência, e fielmente reprova o pecado. Seu povo desfruta prosperidade unicamente por Sua misericórdia, graças ao vigilante cuidado de agentes escolhidos. Ele não pode sustentar e guardar um povo que rejeita Seu conselho e despreza Suas reprovações. Por algum tempo Ele pode conter Seus juízos retributivos; mas não pode reter sempre a Sua mão. PR 217 2 Os filhos de Judá foram numerados entre aqueles de quem Deus dissera: "Sereis um reino sacerdotal e o povo santo". Êxodo 19:6. Jamais em seu ministério Jeremias perdera de vista a importância vital da santidade de coração nas variadas relações da vida, e principalmente no serviço do altíssimo Deus. Claramente ele previu a queda do reino e a disseminação dos habitantes de Judá entre as nações; mas com os olhos da fé viu além de tudo isto para os tempos da restauração. Soando em seus ouvidos estava a promessa divina: "Eu mesmo recolherei o resto das Minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos. [...] Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará, e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na Terra. Em seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o Seu nome, com que o nomearão: O Senhor justiça nossa". Jeremias 23:3-6. PR 217 3 Assim profecias de juízo próximo foram misturadas com promessas de final e glorioso livramento. Os que escolhessem fazer paz com Deus, vivendo vida santa em meio a prevalecente apostasia, receberiam força para cada prova, e seriam capacitados para testificar dEle com forte poder. E nos séculos por vir o livramento que se havia de operar em benefício deles excederia em fama ao efetuado em favor dos filhos de Israel ao tempo do Êxodo. Aproximavam-se os dias, declarou o Senhor por intermédio do Seu profeta, em que eles não mais diriam: "Vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito; mas: Vive o Senhor, que fez subir, e que trouxe a geração da casa de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha arrojado; e habitarão na sua terra". Jeremias 23:7, 8. Tais eram as maravilhosas profecias proferidas por Jeremias durante os anos finais da história do reino de Judá, quando Babilônia estava se tornando soberana universal, e estavam mesmo levando o cerco de seus exércitos contra os muros de Sião. PR 218 1 Como a mais suave música essas promessas de livramento caíram nos ouvidos dos que se mantinham firmes na adoração a Jeová. Nos lares do elevado e do humilde, onde os conselhos de um Deus que guarda o concerto eram ainda tidos em reverência, as palavras do profeta foram repetidas uma e outra vez. Mesmo as crianças foram fortemente animadas, e em suas mente jovem e receptiva foram feitas duradouras impressões. PR 218 2 Foi sua conscienciosa observância das ordenações da Santa Escritura, que nos dias do ministério de Jeremias proporcionou a Daniel e seus companheiros oportunidades de exaltar o verdadeiro Deus perante as nações da Terra. A instrução que essas crianças hebréias haviam recebido no lar de seus pais, as tornou fortes na fé e constantes no seu serviço ao Deus vivo, o Criador dos Céus e da Terra. Quando, logo no início do reinado de Jeoaquim, Nabucodonosor pela primeira vez sitiou e capturou Jerusalém, e transportou a Daniel e seus companheiros, juntamente com outros especialmente escolhidos para o serviço na corte de Babilônia, a fé dos cativos hebreus foi provada ao máximo. Mas os que tinham aprendido a pôr a sua confiança nas promessas de Deus verificaram que estas eram todo-suficientes em cada experiência por que foram chamados a passar durante a sua estada numa terra estranha. As Escrituras provaram-se-lhes um guia e um arrimo. PR 218 3 Como intérprete do significado dos juízos que começavam a cair sobre Judá, Jeremias manteve-se nobremente na defesa da justiça de Deus e de Seus misericordiosos desígnios mesmo nos mais severos castigos. Incansavelmente o profeta laborou. Desejoso de alcançar todas as classes, estendeu a esfera de sua influência além de Jerusalém para os distritos circunjacentes, graças a freqüentes visitas a várias partes do reino. PR 218 4 Em seus testemunhos à igreja, Jeremias constantemente se referia aos ensinos do livro da lei que haviam sido tão grandemente honrados e exaltados durante o reinado de Josias. Deu ele nova ênfase à importância de manter-se uma relação de concerto com o todo-misericordioso e compassivo Ser que sobre as alturas do Sinai havia anunciado os preceitos do Decálogo. As palavras de advertência e ameaça da parte de Jeremias haviam alcançado cada parte do reino, e todos tiveram a oportunidade de conhecer a vontade de Deus concernente à nação. PR 218 5 O profeta tornara claro o fato de que nosso Pai celestial permite que Seus juízos caiam, "para que as nações saibam que são constituídas por meros homens". Salmos 9:20. "Se andares contrariamente para comigo, e não Me quiserdes ouvir", o Senhor prevenira a Seu povo, "Eu [...] vos espalharei entre as nações, e desembainharei a espada atrás de vós; e a vossa terra será assolada, e as vossas cidades serão desertas". Levítico 26:21, 28, 33. PR 219 1 Nesse mesmo tempo mensagens de juízo impendente foram levadas a príncipes e povo, e a seu governante Jeoaquim, que devia ter sido um líder espiritual sábio, o primeiro na confissão dos pecados e em reforma e boas obras, estava gastando o seu tempo em prazeres egoístas. "Edificarei para mim uma casa espaçosa", ele se propôs; e esta casa, "forrada de cedro e pintada de vermelhão" (Jeremias 22:14), foi construída com dinheiro e trabalho obtidos pela fraude e opressão. PR 219 2 A ira do profeta foi despertada, e ele foi inspirado a pronunciar juízo sobre o governante sem fé. "Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito", ele declarou, "que se serve do serviço do seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário do seu trabalho. [...] Reinarás tu, porque te encerras em cedro? acaso teu pai não comeu e bebeu, e não exerceu o juízo e a justiça? por isso lhe sucedeu bem? Julgou a causa do pobre e do necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-Me? diz o Senhor. Mas os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a tua avareza, e para o sangue inocente, a fim de derramá-lo, e para a opressão, e para a violência, a fim de levar isso a efeito. PR 219 3 "Portanto assim diz o Senhor acerca de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá: Não lamentarão por ele, dizendo: Ai, irmão meu, ou, ai, minha irmã nem lamentarão por ele, dizendo: Ai, Senhor, ou, ai, Majestoso Em sepultura de jumento o sepultarão, arrastando-o e lançando-o para bem longe, fora das portas de Jerusalém". Jeremias 22:13-19. PR 219 4 Dentro de poucos anos este terrível juízo recairia sobre Jeoaquim; mas antes o Senhor em Sua misericórdia informou a impenitente nação de Seu decidido propósito. No quarto ano do reinado de Jeoaquim, "falou o profeta Jeremias a todo o povo de Judá, e a todos os habitantes de Jerusalém", ressaltando o fato de que por mais de vinte anos, "desde o ano treze de Josias [...] até este dia" (Jeremias 25:2, 3), ele havia dado testemunho do desejo de Deus para salvar, mas que suas mensagens haviam sido desdenhadas. E agora a palavra do Senhor a eles era: PR 219 5 "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Visto que não escutastes as Minhas palavras, eis Eu enviarei, e tomarei a todas as gerações do norte, diz o Senhor, como também a Nabucodonosor, rei de Babilônia, Meu servo, e os trarei sobre esta terra, e sobre os seus moradores, e sobre todas estas nações em redor, e os destruirei totalmente, e pô-los-ei em espanto, e em assobio, e em perpétuos desertos. E farei perecer entre eles a voz de folguedo, e a voz de alegria, a voz do esposo, e a voz da esposa, o som das mós, e a luz do candeeiro. E toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; e estas nações servirão ao rei de Babilônia setenta anos". Jeremias 25:8-11. PR 219 6 Embora a sentença de condenação houvesse sido claramente pronunciada, seu horrível conteúdo mal podia ser compreendido pelas multidões que ouvia. Para que impressões mais profundas pudessem ser feitas, o Senhor procurou ilustrar o significado das palavras pronunciadas. Ele ordenou que Jeremias assemelhasse a sorte da nação à libação de um copo de vinho da ira divina. Entre os primeiros a beber deste copo de ai, deviam estar "Jerusalém, e as cidades de Judá, e os seus reis". Outros deviam partilhar do mesmo copo, a saber, "Faraó, rei do Egito, e seus servos, e seus príncipes, e todo o seu povo", e muitas outras nações da Terra, até que o propósito de Deus houvesse sido cumprido. Jeremias 25:18, 19. PR 220 1 A fim de melhor ilustrar a natureza dos juízos iminentes, o profeta recebeu ordem de tomar consigo "os anciãos do povo, e os anciãos dos sacerdotes", e ir "ao vale do filho de Hinom", e ali, depois de recapitular a apostasia de Judá, devia fazer em pedaços "uma botija de oleiro", e declarar em defesa de Jeová, cujo servo era ele: "Deste modo quebrarei Eu a este povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se". PR 220 2 O profeta fez como lhe fora ordenado. Então, retornando à cidade, ele se pôs no átrio do templo, e declarou aos ouvidos do povo: "Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre esta cidade, e sobre todas as suas cidades, todo o mal que pronunciei contra ela, porquanto endureceram a sua cerviz, para não ouvirem as Minhas palavras". Jeremias 19. PR 220 3 As palavras do profeta, em lugar de levar à confissão e arrependimento, suscitaram a ira dos que tinham posição de autoridade, e como conseqüência Jeremias ficou privado de sua liberdade. Preso e posto no cepo, o profeta continuou ainda assim a transmitir as mensagens do Céu aos que lhe estavam próximo. Sua voz não podia ser silenciada pela perseguição. A palavra da verdade, declarou ele, "foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fadigado de sofrer, e não posso". Jeremias 20:9. PR 220 4 Foi cerca deste tempo que o Senhor ordenou a Jeremias que escrevesse as mensagens que desejava levar àqueles por cuja salvação seu coração piedoso estava continuamente a arder. "Toma o rolo dum livro", ordenou o Senhor a Seu servo, "e escreve nele todas as palavras que te tenho falado de Israel, e de Judá, e de todas as nações, desde o dia em que Eu te falei a ti, desde os dias de Josias até hoje. Ouvirão talvez os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes; para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado". Jeremias 36:2, 3. PR 220 5 Em obediência a esta ordem, Jeremias chamou em seu auxílio um fiel amigo, o escriba Baruque, e ditou-lhe "todas as palavras do Senhor, que Ele lhe tinha revelado, no rolo de um livro". Jeremias 36:4. Estas palavras foram cuidadosamente escritas num rolo de pergaminho, e constituíam solene reprovação do pecado, uma advertência dos resultados infalíveis da constante apostasia, e um fervente apelo para renúncia a todo mal. PR 220 6 Quando o escrito ficou completo, Jeremias, que estava ainda prisioneiro, enviou Baruque para ler o rolo às multidões que se reuniam no templo por ocasião de um dia nacional de jejum, "no quinto ano de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá, no mês nono". "Pode ser", o profeta dissera, "que caia a sua súplica diante do Senhor, e se converta cada um do seu mau caminho; porque grande é a ira e o furor que o Senhor tem manifestado contra este povo". Jeremias 36:9, 7. PR 221 1 Baruque obedeceu, e o rolo foi lido perante todo o povo de Judá. Posteriormente foi o escriba convocado à presença dos príncipes, a fim de ler as palavras perante eles. Eles ouviram com grande interesse, e prometeram informar o rei sobre tudo o que tinham ouvido, mas aconselharam o escriba a se esconder, pois temiam que o rei rejeitasse o testemunho, e procurasse matar os que haviam preparado e apresentado a mensagem. PR 221 2 Quando o rei Jeoaquim foi informado pelos príncipes do que Baruque havia lido, imediatamente ordenou que o rolo fosse trazido e lido em sua presença. Um dos assistentes reais, de nome Jeudi, trouxe o rolo, e pôs-se a ler as palavras de reprovação e advertência. Era o tempo do inverno, e o rei e seus companheiros de Estado, os príncipes de Judá, estavam reunidos junto de uma crepitante lareira. Apenas uma pequena parte havia sido lida, quando o rei, longe de tremer ante o perigo pendente sobre si e seu povo, tomou o rolo, e num frenesi de ira, cortou-o "com um canivete de escrivão, e lançou-o no fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo". Jeremias 36:23. PR 221 3 Nem o rei nem seus príncipes temeram, "nem rasgaram os seus vestidos". Alguns dos príncipes, entretanto, pediram "ao rei que não queimasse o rolo, mas não lhes deu ouvido". Havendo sido destruído o escrito, a ira do ímpio rei se levantou contra Jeremias e Baruque, e prontamente os mandou prender; "mas o Senhor tinha-os escondido". Jeremias 36:24-26. PR 221 4 Levando à atenção dos adoradores do templo, e dos príncipes e rei, as admoestações escritas contidas no rolo inspirado, Deus estava graciosamente procurando advertir os homens de Judá para o seu bem. "Ouvirão talvez", disse Deus, "os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes; para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado". Jeremias 36:3. Deus Se compadece dos homens em luta na cegueira da perversidade; Ele procura iluminar a mente entenebrecida, enviando reprovações e ameaças destinadas a levar os mais exaltados a sentirem sua ignorância e deplorarem seus erros. Ele procura ajudar o indulgente consigo mesmo a se tornar insatisfeito com suas vãs realizações, e a buscar bênção espiritual por meio de íntima comunhão com o Céu. PR 221 5 O plano de Deus não é enviar mensageiros que lisonjeiem e adulem os pecadores; Ele não envia mensagens de paz para adormentar o não santificado em segurança carnal. Ao contrário, Ele coloca pesado fardo sobre a consciência do praticante do mal, e mortifica-lhe a alma com os aguilhões da convicção. Anjos ministradores lhe apresentam os terríveis juízos de Deus, a fim de aprofundar o senso da necessidade, levando o agonizante a clamar: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos dos Apóstolos 16:30. Mas a Mão que humilha até o pó, reprova o pecado e submete à vergonha o orgulho e a ambição, é a Mão que ergue o penitente e abatido. Com a mais profunda simpatia, Aquele que permite caia o castigo, interroga: "Que queres que Eu faça por ti?" PR 222 1 Quando o homem peca contra um Deus santo e misericordioso, não pode seguir mais nobre caminho que arrepender-se sinceramente, e confessar seus erros com lágrimas e amargura de alma. Isto Deus requer dele; Ele não aceita nada menos que um coração quebrantado e um espírito contrito. Mas o rei Jeoaquim e seus cortesões, em sua arrogância e orgulho, recusaram o convite de Deus. Eles não iriam aceitar a advertência e arrepender-se. A graciosa oportunidade que lhes fora ofertada quando o rolo sagrado foi lançado ao fogo, foi a última. Deus havia declarado que se então recusassem ouvir-Lhe a voz, Ele lhes daria terrível retribuição. Eles se recusaram ouvi-Lo, e Ele pronunciou Seu juízo final sobre Judá; e Ele visitaria com ira especial o homem que orgulhosamente havia-se levantado contra o Todo-poderoso. PR 222 2 "Assim diz o Senhor, acerca de Jeoaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sobre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor de dia, e à geada de noite. E visitarei sobre ele, e sobre a sua semente, e sobre os seus servos, a sua iniqüidade; e trarei sobre ele e sobre os moradores de Jerusalém, e sobre os homens de Judá, todo aquele mal que lhes tenho falado". Jeremias 36:30, 31. PR 222 3 A incineração do rolo não foi o fim da questão. As palavras escritas foram mais facilmente removidas do que a reprovação e advertência que elas continham e a iminente punição que Deus havia pronunciado contra o rebelde Israel e que estava prestes a vir. Mas até o próprio rolo escrito foi reproduzido. "Toma ainda outro rolo", o Senhor ordenou a Seu servo, "e escreve nele todas as palavras que estavam no primeiro volume, que queimou Jeoaquim, rei de Judá." O registro das profecias concernente a Judá e Jerusalém tinha sido reduzido a cinzas; mas as palavras estavam ainda vivas no coração de Jeremias, "como um fogo devorador", e foi permitido ao profeta reproduzir o que a ira do homem teria de bom grado destruído. PR 222 4 Tomando outro rolo, Jeremias deu-o a Baruque, "o qual escreveu nele da boca de Jeremias todas as palavras do livro que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado no fogo; e ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes". Jeremias 36:28, 32. A ira do homem tinha tentado impedir a ação do profeta de Deus; mas o próprio meio pelo qual Jeoaquim tinha procurado limitar a influência do servo de Jeová, proveu posterior oportunidade para tornar claros os divinos reclamos. PR 222 5 O espírito de oposição à reprovação, que levou à perseguição e aprisionamento de Jeremias, existe hoje. Muitos recusam atender a repetidas advertências, preferindo dar ouvidos a falsos mestres que lisonjeiam sua vaidade e revelam suas más obras. No dia da tribulação tais pessoas não terão refúgio certo, nem auxílio do Céu. Os servos escolhidos de Deus devem enfrentar com coragem e paciência as provas e sofrimentos que sobre eles recaem na forma de acusações, desprezo, deturpações. Devem eles continuar a desempenhar fielmente a obra que Deus lhes deu a fazer, sempre lembrando que os profetas do passado e o Salvador da humanidade e Seus apóstolos também suportaram abusos e perseguições por amor da Palavra. PR 223 1 Era propósito de Deus que Jeoaquim atendesse aos conselhos de Jeremias, e ganhasse o favor de Nabucodonosor, livrando-se de muitos pesares. O jovem rei havia jurado obediência ao rei de Babilônia. Tivesse ele permanecido fiel a sua promessa, e teria conquistado o respeito dos pagãos, e isto teria levado a preciosas oportunidades para a salvação de pecadores. PR 223 2 Desdenhando os privilégios fora do comum que lhe eram outorgados, o rei de Judá deliberadamente seguiu o caminho de sua própria escolha. Violou sua palavra de honra ao rei de Babilônia, e rebelou-se. Isto o levou, como também ao seu reino, a um caminho apertado. Contra ele foram enviadas "as tropas dos caldeus, e as tropas dos siros, e as tropas dos moabitas, e as tropas dos filhos de Amom" (2 Reis 24:2), e ele foi impotente para livrar a terra de invasão desses piratas. Dentro de poucos anos ele encerrou seu desastroso reinado em ignomínia, rejeitado do Céu, malquisto por seu povo e desprezado pelos senhores de Babilônia cuja confiança ele traíra -- e tudo isto como resultado de seu erro fatal de virar as costas aos propósitos de Deus como revelados por meio de Seu escolhido mensageiro. PR 223 3 Joaquim (também conhecido como Jeconias, e Conias), filho de Jeoaquim, ocupou o trono apenas três meses e dez dias, quando se rendeu aos exércitos caldeus que, em virtude da rebelião do rei de Judá, estavam uma vez mais cercando a cidade condenada. Nesta ocasião, Nabucodonosor "transportou Joaquim a Babilônia; como também a mãe do rei, e as mulheres do rei, e os seus eunucos, e os poderosos da terra", contando vários milhares, juntamente com "carpinteiros e ferreiros até mil". Juntamente com estes o rei de Babilônia levou "todos os tesouros da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei". 2 Reis 24:15, 16, 13. PR 223 4 O reino de Judá, debilitado em poder, roubado em sua força representada por homens e tesouros, teve não obstante ainda a permissão de continuar a existir como um governo separado. Como sua cabeça Nabucodonosor colocou a Matanias, jovem filho de Josias, mudando-lhe o nome para Zedequias. ------------------------Capítulo 36 -- O último rei de Judá PR 224 1 Zedequias, no início do seu reinado, desfrutou inteiramente a confiança do rei de Babilônia, e teve como experimentado conselheiro ao profeta Jeremias. Se tivesse prosseguido numa conduta honrosa para com o rei de Babilônia, e atendido às mensagens do Senhor por intermédio de Jeremias, ele teria conservado o respeito de muitos em posição de mando, e teria tido oportunidade de comunicar-lhes o conhecimento do verdadeiro Deus. Assim os cativos já exilados em Babilônia teriam sido postos em terreno vantajoso e granjeado muita liberdade; o nome de Deus teria sido honrado em toda parte, e os que haviam permanecido na terra de Judá teriam sido poupados a terríveis calamidades que finalmente vieram sobre eles. PR 224 2 Através de Jeremias, Zedequias e toda Judá, inclusive os que tinham sido levados para Babilônia, foram aconselhados a se submeterem pacificamente ao domínio temporário de seus conquistadores. Era especialmente importante que os que estavam no cativeiro buscassem a paz da terra para a qual tinham sido levados. Isto, entretanto, era contrário às inclinações do coração humano; e Satanás, tirando vantagem das circunstâncias, fez que se levantassem entre o povo falsos profetas, tanto em Jerusalém como em Babilônia, os quais declaravam que o jugo do cativeiro seria logo quebrado e o anterior prestígio da nação restaurado. PR 224 3 A aceitação de tais profecias assim lisonjeiras teria levado a fatais iniciativas da parte do rei e dos exilados, frustrando assim os misericordiosos desígnios de Deus em favor deles. A fim de evitar que fosse incitada uma insurreição seguida de grande sofrimento, o Senhor ordenou a Jeremias enfrentasse a crise sem delongas, advertindo o rei de Judá da infalível conseqüência da rebelião. Os cativos também foram admoestados, mediante comunicações escritas, a não se deixarem iludir quanto a estar próximo seu libertamento. "Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós", ele insistiu. Jeremias 29:8. Em relação com isto foi mencionado o propósito do Senhor de restaurar Israel após os setenta anos de cativeiro preditos por Seus mensageiros. PR 224 4 Com que terna compaixão Deus informa Seu povo cativo de Seus planos para Israel Ele sabia que se eles fossem persuadidos por falsos profetas a que esperassem por breve libertação, sua posição em Babilônia se tornaria muito difícil. Qualquer manifestação ou insurreição de sua parte despertaria a vigilância e severidade das autoridades caldeias, o que poderia conduzir a posterior restrição de suas liberdades. O resultado seria sofrimento e angústias. Ele desejava que se submetessem pacificamente a sua sorte, tornando sua servidão tão agradável quanto possível; e Seu conselho a eles foi: "Edificai casas e habitai-as e plantai jardins, e comei o seu fruto. [...] E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz". Jeremias 29:5-7. PR 225 1 Entre os falsos ensinadores que estavam em Babilônia, dois homens havia que alegavam ser santos, mas cuja vida era corrupta. Jeremias havia condenado a má conduta desses homens, e tinha-os advertido do perigo que corriam. Irados pela reprovação, procuraram eles opor-se à obra do fiel profeta, levando o povo a descrer de suas palavras e a agir contrariamente ao conselho de Deus quanto a se sujeitarem ao rei de Babilônia. O Senhor testificou através de Jeremias que os falsos profetas seriam entregues às mãos de Nabucodonosor e mortos perante seus olhos. Não muito tempo depois esta predição foi literalmente cumprida. PR 225 2 Até ao fim do tempo levantar-se-ão homens para criar confusão e rebelião entre os que se declaram representantes do verdadeiro Deus. Os que profetizam mentiras, encorajarão os homens a que olhem o pecado como coisa sem importância. Quando os terríveis resultados de suas más ações forem manifestos, eles procurarão, se possível, tornar responsáveis por suas dificuldades quem fielmente os tem advertido, exatamente como os judeus acusaram a Jeremias de ser o responsável por suas desventuras. Mas tão certamente como foram as palavras de Jeová vindicadas no passado por meio do Seu profeta, assim serão Suas mensagens estabelecidas hoje. PR 225 3 Desde o início, Jeremias seguira um caminho consistente em aconselhar submissão aos babilônios. Este conselho foi dado não somente a Judá, mas a muitas das nações ao redor. Na primeira parte do reinado de Zedequias, embaixadores dos reis de Edom, Moabe, Tiro e outras nações, visitaram o rei de Judá, para saberem se em sua opinião a ocasião era oportuna para uma revolta unida, e se ele se uniria a eles para lutar contra o rei de Babilônia. Enquanto esses embaixadores estavam esperando uma resposta, a palavra do Senhor veio a Jeremias, dizendo: "Faze umas prisões e jugos, e pô-los-ás sobre o teu pescoço. E envia-os ao rei de Edom, e ao rei de Moabe, e ao rei dos filhos de Amom, e ao rei de Tiro, e ao rei de Sidom, pelas mãos dos mensageiros que vêm a Jerusalém ter com Zedequias, rei de Judá". Jeremias 27:2, 3. PR 225 4 Jeremias foi mandado a instruir os embaixadores para que informassem a seus reis que Deus os havia dado na mão de Nabucodonosor, rei de Babilônia, e que eles o deviam servir "a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho, até que também venha o tempo da sua própria terra". Jeremias 27:7. PR 225 5 Os embaixadores foram além disso instruídos a declarar a seus senhores que se eles se recusassem a servir ao rei de Babilônia, seriam punidos "com espada, e com fome, e com peste", até serem consumidos. Especialmente deviam eles fugir dos ensinos dos falsos profetas que porventura os aconselhassem de outra forma. "Não deis ouvidos aos vossos profetas", o Senhor declarou, "e aos vossos adivinhos, e aos vossos sonhos, e aos vossos agoureiros, e aos vossos encantadores, que vos falam, dizendo: Não servireis ao rei de Babilônia. Porque mentira vos profetizam, para vos mandarem para longe de vossa terra, e para que Eu vos lance dela, e vós pereçais. Mas a nação que meter o seu pescoço sob o jugo do rei de Babilônia, e o servir, Eu a deixarei na sua terra, diz o Senhor, e lavrá-la-á e habitará nela". Jeremias 27:8-11. O castigo mínimo que um Deus misericordioso podia infligir a tão rebelde povo, era a submissão ao rei de Babilônia; mas se eles se rebelassem contra o Seu decreto de servidão, haviam de experimentar o pleno rigor dos Seus castigos. PR 226 1 O assombro do concílio de nações reunido não teve limites quando Jeremias, levando o jugo da sujeição em torno de seu pescoço, fez-lhes conhecida a vontade de Deus. PR 226 2 Contra a resoluta oposição Jeremias permaneceu firmemente a favor da política de submissão. Preeminente entre os que presumiam contraditar o conselho do Senhor, estava Hananias, um dos falsos profetas contra quem o povo havia sido advertido. Pensando ganhar o favor do rei e da corte real, ele levantou a sua voz em protesto, declarando que Deus lhe havia dado palavras de encorajamento para os judeus. Disse ele: "Assim fala o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Eu quebrei o jugo do rei de Babilônia. Depois de passados dois anos completos, Eu tornarei a trazer a este lugar todos os vasos da casa do Senhor, que deste lugar tomou Nabucodonosor, rei de Babilônia, levando-os para Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, e a todos os do cativeiro de Judá, que entraram em Babilônia, Eu tornarei a trazer a este lugar, diz o Senhor; porque quebrarei o jugo do rei de Babilônia". Jeremias 28:2-4. PR 226 3 Jeremias, na presença dos sacerdotes e povo, ferventemente lhes suplicou que se submetessem ao rei de Babilônia pelo tempo que o Senhor havia especificado. Ele mencionou aos homens de Judá as profecias de Oséias, Habacuque, Sofonias e outros, cujas mensagens de reprovação e advertência haviam sido semelhantes a suas mesmas. Referiu-lhes os eventos ocorridos em cumprimento das profecias de retribuição pelos pecados não arrependidos. No passado os juízos de Deus tinham sido derramados sobre os impenitentes em exato cumprimento de Seu propósito como revelado por meio de Seus mensageiros. PR 226 4 "O profeta que profetizar paz", propôs Jeremias em conclusão, "quando se cumpra a palavra desse profeta, será conhecido por aquele a quem o Senhor na verdade enviou". Jeremias 28:9. Se Israel escolhesse correr o risco, futuros desenvolvimentos com efeito decidiriam qual era o verdadeiro profeta. PR 227 1 As palavras de Jeremias aconselhando submissão levaram Hananias a um ousado desafio quanto à fidedignidade da mensagem apresentada. Tomando o jugo simbólico do pescoço de Jeremias, Hananias quebrou-o, dizendo: "Assim diz o Senhor: Assim quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, depois de passados dois anos completos". PR 227 2 "E Jeremias, o profeta, se foi no seu caminho". Jeremias 28:11. Aparentemente nada mais podia ele fazer senão retirar-se do cenário do conflito. Mas a Jeremias foi dada outra mensagem. "Vai", o Senhor lhe ordenou, "e fala a Hananias, dizendo: Assim diz o Senhor: Jugo de madeira quebraste, mas em vez deles farás jugo de ferro. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Jugo de ferro pus sobre o pescoço de todas estas nações, para servirem a Nabucodonosor, rei de Babilônia, e servi-lo-ão. [...] PR 227 3 "E disse Jeremias, o profeta, a Hananias, o profeta: Ouve agora, Hananias: Não te enviou o Senhor, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que assim diz o Senhor: Eis que te lançarei de sobre a face da Terra; este ano morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor. E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês". Jeremias 28:13-17. PR 227 4 O falso profeta tinha fortalecido a incredulidade do povo em Jeremias e sua mensagem. Impiamente havia-se declarado mensageiro do Senhor, e sofrera a morte como conseqüência. No quinto mês Jeremias profetizou a morte de Hananias, e no sétimo mês suas palavras se provaram verdadeiras pelo seu cumprimento. PR 227 5 O desassossego causado pelas declarações dos falsos profetas pôs Zedequias sob suspeita de traição, e não foi senão por ação imediata e decisiva de sua parte que lhe foi permitido continuar a reinar como vassalo. A oportunidade para tal ação se tornou propícia pouco tempo após o retorno dos embaixadores, de Jerusalém às nações circunvizinhas, quando o rei de Judá acompanhou Seraías, "um príncipe pacífico" (Jeremias 51:59), numa importante missão a Babilônia. Durante esta visita à corte caldaica, Zedequias renovou seu voto de submissão a Nabucodonosor. PR 227 6 Por intermédio de Daniel e outros dentre os hebreus cativos, o monarca babilônio tinha sido informado do poder e suprema autoridade do verdadeiro Deus; e quando Zedequias uma vez mais solenemente prometeu permanecer leal, Nabucodonosor requereu dele que fizesse esta promessa com juramento em nome do Senhor Deus de Israel. Tivesse Zedequias respeitado esta renovação do seu concerto com juramento, sua lealdade teria tido uma profunda influência sobre a mente de muitos que estavam observando a conduta daqueles que diziam reverenciar o nome e estimar a honra do Deus dos hebreus. PR 227 7 Mas o rei de Judá perdeu de vista seu alto privilégio de honrar o nome do Deus vivo. De Zedequias está escrito: "Fez o que era mau aos olhos do Senhor seu Deus; nem se humilhou perante o profeta Jeremias, que falava da parte do Senhor. Demais disto, também se rebelou contra o rei Nabucodonosor, que o tinha juramentado por Deus. Mas endureceu a sua cerviz, e tanto se obstinou no seu coração, que se não converteu ao Senhor, Deus de Israel". 2 Crônicas 36:12, 13. PR 228 1 Enquanto Jeremias continuava a dar o seu testemunho na terra de Judá, o profeta Ezequiel foi suscitado entre os cativos em Babilônia, para advertir e confortar os exilados, e também para confirmar a palavra do Senhor que fora exposta pelo profeta Jeremias. Durante os anos que restaram do reinado de Zedequias, Ezequiel tornou muito clara a loucura de confiar nas falsas predições dos que estavam levando os cativos a esperar para breve o retorno a Jerusalém. Ele foi também instruído a predizer, por meio de uma variedade de símbolos e solenes mensagens, o cerco e posterior destruição de Jerusalém. PR 228 2 No sexto ano do reinado de Zedequias, o Senhor revelou a Ezequiel em visão algumas das abominações que estavam sendo praticadas em Jerusalém, dentro das portas da casa do Senhor e até mesmo no átrio interior. As câmaras das imagens, os ídolos pintados, "toda a forma de répteis, e animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel" (Ezequiel 8:10), tudo passou em rápida sucessão ante o olhar atônito do profeta. PR 228 3 Os que deviam ter sido líderes espirituais entre o povo, "os anciãos da casa de Israel", setenta homens, foram vistos oferecendo incenso perante as representações idólatras que tinham sido introduzidas nas câmaras secretas dentro dos recintos sagrados do átrio do templo. "O Senhor não nos vê", lisonjeavam-se os homens de Judá ao se entregarem a práticas pagãs: "o Senhor abandonou a terra" (Ezequiel 8:11, 12), declaravam em blasfêmia. PR 228 4 Havia ainda "maiores abominações" para que o profeta contemplasse. À entrada da porta que levava do pátio exterior para o interior foram-lhe mostradas "mulheres assentadas chorando por Tamuz"; e dentro, no "átrio interior da casa do Senhor [...] à entrada do templo do Senhor, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do Senhor, e com os rostos para o Oriente [...] adoravam o Sol, virados para o Oriente". Ezequiel 8:13-16. PR 228 5 E agora o Ser glorioso que acompanhava Ezequiel nessa espantosa visão de impiedade nos lugares altos da terra de Judá, inquiriu do profeta: "Viste, filho do homem? há coisa mais leviana para a casa de Judá do que essas abominações que fazem aqui? havendo enchido a terra de violência, tornam a irritar-Me; e, ei-los a chegar o ramo ao seu nariz. Pelo que também Eu procederei com furor; o Meu olho não poupará, nem terei piedade. Ainda que Me gritem aos ouvidos com grande voz, Eu não os ouvirei". Ezequiel 8:17, 18. PR 228 6 Por intermédio de Jeremias o Senhor havia declarado a respeito dos homens ímpios que presunçosamente ousavam apresentar-se diante do povo em Seu nome: "Porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na Minha casa achei a sua maldade". Jeremias 23:11. Nas terríveis condenações de Judá como registradas no encerramento da narrativa do cronista do reinado de Zedequias, esta acusação de violarem a santidade do templo foi repetida. "Também", declara o escritor sagrado, "todos os chefes dos sacerdotes e o povo aumentavam de mais em mais as transgressões, segundo todas as abominações dos gentios; e contaminaram a casa do Senhor, que Ele tinha santificado em Jerusalém". 2 Crônicas 36:14. PR 229 1 O dia da condenação para o reino de Judá estava-se aproximando rapidamente. O Senhor não poderia mais pôr perante eles a esperança de evitar Seus mais severos juízos. "Ficareis vós totalmente impunes?" ele inquiriu. "Não, não ficareis impunes". Jeremias 25:29. PR 229 2 Mas até essas palavras foram recebidas com zombaria e irrisão. "Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda a visão", declarava o impenitente. Mas por intermédio de Ezequiel esta negação da segura palavra da profecia foi severamente condenada. "Dize-lhes", o Senhor declarou: "Farei cessar este ditado, e não se servirão mais dele como provérbio em Israel; mas dize-lhes: Chegarão dos dias e a palavra de toda a visão. Porque não haverá mais nenhuma visão vã, nem adivinhação lisonjeira, no meio da casa de Israel. Porque Eu, o Senhor, falarei, e a palavra que Eu falar se cumprirá; não será mais diferida; porque em vossos dias, ó casa rebelde, falarei uma palavra e a cumprirei, diz o Senhor Jeová. PR 229 3 "Veio mais a mim", testifica Ezequiel, "a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, eis que os da casa de Israel dizem: A visão que este vê é para muitos dias, e ele profetiza de tempos que estão longe. Portanto dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Não será mais diferida nenhuma de Minhas palavras, e a palavra que falei se cumprirá, diz o Senhor Jeová". Ezequiel 12:21-28. PR 229 4 Na dianteira entre os que estavam rapidamente levando a nação à ruína, estava Zedequias, seu rei. Desprezando inteiramente os conselhos do Senhor dados por intermédio dos profetas, esquecendo a dívida de gratidão jurada a Nabucodonosor, violando seu solene juramento de submissão feito em nome do Senhor Deus de Israel, o rei de Judá se rebelou contra os profetas, contra seu benfeitor e contra seu Deus. Na vaidade de sua própria sabedoria ele foi em busca do auxílio do antigo inimigo da prosperidade de Israel, "enviando os seus mensageiros ao Egito, para que se lhe mandassem cavalos e muita gente". PR 229 5 "Prosperará?" o Senhor inquiriu com respeito a quem tinha assim vilmente traído todo sagrado encargo; "escapará aquele que fez tais coisas? ou quebrantará o concerto, e escapará? Como Eu vivo, diz o Senhor Jeová, no lugar em que habita o rei que o fez reinar, cujo juramento desprezou, e cujo concerto quebrou, sim, com ele no meio de Babilônia certamente morrerá. E Faraó, nem com grande exército, nem com uma companhia numerosa, fará coisa alguma com ele em guerra, [...] pois que desprezou o juramento, quebrantando o concerto, e deu a sua mão; havendo feito todas estas coisas, não escapará". Ezequiel 17:15-18. PR 230 1 O dia de ajuste final tinha chegado para o "profano e ímpio príncipe". "Tira o diadema", o Senhor decretou, "e levanta a coroa." A Judá não seria mais permitido ter um rei até que Cristo mesmo estabelecesse o Seu reino. "Ao revés, ao revés, ao revés a porei", foi o edito divino com respeito ao trono da casa de Davi; "ela não será mais, até que venha Aquele a quem pertence de direito, e a Ele a darei". Ezequiel 21:25-27. ------------------------Capítulo 37 -- Levados cativos para Babilônia PR 231 1 No ano nono do reinado de Zedequias, "Nabucodonosor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército", a fim de sitiar a cidade. 2 Reis 25:1. A perspectiva para Judá era desesperadora. "Eis que sou contra ti", o Senhor mesmo declarou por intermédio de Ezequiel. "Eu o Senhor, tirei a Minha espada da bainha; nunca mais voltará a ela. [...] Todo o coração desmaiará, e todas as mãos se enfraquecerão, e todo o espírito se angustiará, e todos os joelhos de desfarão em águas." "Derramarei sobre ti a Minha indignação, assoprarei contra ti o fogo do Meu furor, entregar-te-ei nas mãos dos homens brutais, inventores de destruição". Ezequiel 21:3, 5-7, 31. PR 231 2 Os egípcios procuraram vir em socorro da cidade sitiada; e os caldeus, com o propósito de afastá-los, abandonaram por algum tempo o cerco da capital de Judá. A esperança repontou no coração de Zedequias, e ele enviou um mensageiro a Jeremias, pedindo-lhe que orasse a Deus em favor da nação hebréia. PR 231 3 A terrível resposta do profeta foi que os caldeus retornariam e destruiriam a cidade. O decreto havia saído; não mais poderia a impenitente nação evitar os juízos divinos. "Não enganeis as vossas almas", o Senhor advertiu a Seu povo. "Os caldeus [...] não se irão. Porque ainda que ferísseis a todo o exército dos caldeus, que peleja contra vós, e ficassem deles apenas homens trespassados, cada um se levantaria na sua tenda, e queimaria a fogo esta cidade". Jeremias 37:9, 10. O remanescente de Judá devia ir em cativeiro, a fim de que aprendesse através da adversidade as lições que tinha recusado aprender em circunstâncias mais favoráveis. Deste decreto do santo Vigia não haveria apelação. PR 231 4 Entre os justos que ainda restavam em Jerusalém, a quem tinha sido tornado claro o propósito divino, alguns havia que se determinaram colocar além do alcance das mãos cruéis a sagrada arca que continha as tábuas de pedra sobre a qual haviam sido traçados os preceitos do decálogo. Isto eles fizeram. Com lamento e tristeza esconderam a arca numa caverna, onde devia ficar oculta do povo de Israel e de Judá por causa de seus pecados, não mais sendo-lhes restituída. Esta sagrada arca ainda está oculta. Jamais foi perturbada desde que foi escondida. PR 232 1 Por muitos anos Jeremias havia estado perante o povo como uma fiel testemunha de Deus; e agora, estando a condenada cidade prestes a passar às mãos de pagãos, ele considerou sua obra como terminada, e preparou-se para se ausentar, mas foi impedido pelo filho de um dos falsos profetas, o qual o delatou como estando prestes a se unir aos babilônios, a quem ele repetidamente insistira com os homens de Judá a que se submetessem. O profeta negou a mentirosa acusação, mas não obstante, "os príncipes se iraram muito contra Jeremias, e o feriram, e o puseram na prisão". Jeremias 37:15. PR 232 2 As esperanças que haviam nascido no coração dos príncipes e povo quando os exércitos de Nabucodonosor voltaram-se para o sul a fim de enfrentar os egípcios logo caíram por terra. As palavras do Senhor tinham sido: "Eis-Me aqui contra ti, ó Faraó, rei do Egito." O poder do Egito era apenas uma cana quebrada. "E saberão todos os moradores do Egito", a Inspiração havia declarado, "que Eu sou o Senhor, porque se tornaram um bordão de cana para a casa de Israel". Ezequiel 29:3, 6. "Eu levantarei os braços do rei de Babilônia, mas os braços de Faraó cairão, e saberão que Eu sou o Senhor, quando Eu puser a Minha espada na mão do rei de Babilônia, e ele a estender sobre a terra do Egito". Ezequiel 30:25, 26. PR 232 3 Enquanto os príncipes de Judá estavam ainda esperando em vão o auxílio do Egito, o rei Zedequias com ansiedade pensava no profeta de Deus que tinha sido posto na prisão. Depois de muitos dias o rei mandou buscá-lo, e perguntou-lhe secretamente: "Há alguma palavra do Senhor?" Jeremias respondeu: "Há." E disse ainda: "Na mão do rei de Babilônia serás entregue. PR 232 4 "E disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que tenho pecado contra ti, e contra os teus servos, e contra este povo, para que me pusésseis na prisão? Onde estão agora os vossos profetas, que vos profetizavam, dizendo: O rei de Babilônia não virá contra vós, nem contra esta terra? Ora pois ouve agora, ó rei meu senhor: Caia agora a minha súplica diante de ti; não me deixes tornar à casa de Jônatas, o escriba, para que não venha a morrer ali". Jeremias 37:17-20. A isto ordenou Zedequias que eles "pusessem a Jeremias no átrio da guarda; e deram-lhe um bolo de pão cada dia, da rua dos padeiros, até que se acabou todo o pão da cidade. Assim ficou Jeremias no átrio da guarda". Jeremias 37:21. PR 232 5 O rei não ousou manifestar fé abertamente em Jeremias. Embora seu temor o impelisse a buscar informação privada da parte do profeta, era demasiado fraco para enfrentar a desaprovação de seus príncipes e do povo por submeter-se à vontade de Deus como manifesta pelo profeta. PR 232 6 Do átrio da guarda Jeremias continuou a aconselhar submissão ao rei de Babilônia. Oferecer resistência era cortejar morte certa. A mensagem do Senhor a Judá era: "O que ficar nesta cidade morrerá à espada, à fome e de pestilência; mas o que for para os caldeus viverá; porque a sua alma lhe será por despojo, e viverá". Claras e positivas eram as palavras proferidas. No nome do Senhor o profeta declarou ousadamente: "Esta cidade infalivelmente será entregue na mão do exército do rei de Babilônia, e ele a tomará". Jeremias 38:2, 3. PR 233 1 Afinal os príncipes, exasperados com os repetidos conselhos de Jeremias, que eram contrários à política de resistência por eles adotada, fizeram um vigoroso protesto perante o rei, insistindo em que o profeta era um inimigo da nação, e que suas palavras tinham enfraquecido as mãos do povo, e acarretado o infortúnio sobre eles; por isto ele devia ser condenado à morte. PR 233 2 O rei acovardado sabia que as acusações eram falsas, mas para cativar os que ocupavam posição elevada e de influência na nação, simulou crer em suas falsidades, e entregou-lhes às mãos a Jeremias para fazerem com ele o que quisessem. O profeta foi lançado "no calabouço de Malquias, filho do rei, que estava no átrio da guarda, e desceram a Jeremias com cordas; mas no calabouço não havia água, senão lama, e atolou-se Jeremias na lama". Jeremias 38:6. Mas Deus suscitou-lhe amigos, os quais procuraram o rei no interesse dele, e conseguiram que de novo fosse removido para o átrio da guarda. PR 233 3 Uma vez mais o rei em caráter privado mandou em busca de Jeremias, e ordenou-lhe que fielmente referisse os propósitos de Deus para com Jerusalém. Em resposta, Jeremias inquiriu: "Declarando-ta eu, com certeza não me matarás? e, aconselhando-te eu, ouvir-me-ás?" O rei entrou num pacto secreto com o profeta. "Vive o Senhor, que nos fez esta alma, que não te matarei", o rei prometeu, "nem te entregarei na mão destes homens que procuram a tua morte". Jeremias 38:15, 16. PR 233 4 Havia ainda oportunidade para que o rei revelasse disposição de acatar as advertências de Jeová, e assim temperar com misericórdia os juízos já então caindo sobre a cidade e a nação. "Se voluntariamente saíres aos príncipes do rei de Babilônia", foi a mensagem dada ao rei, "então viverá a tua alma, e esta cidade não se queimará a fogo, e viverás tu e a tua casa. Mas se não saíres aos príncipes do rei de Babilônia, então será entregue esta cidade nas mãos dos caldeus, e eles a queimarão a fogo, e tu não escaparás das mãos deles." PR 233 5 "Receio-me dos judeus, que se passaram para os caldeus", o rei replicou, "que me entreguem na sua mão, e escarneçam de mim." Mas o profeta prometeu: "Não te entregarão." E acrescentou um fervoroso apelo: "Ouve, te peço, a voz do Senhor, conforme a qual eu te falo; e bem te irá, e viverá a tua alma". Jeremias 38:17-20. PR 233 6 Assim até à última hora Deus tornou clara Sua disposição de mostrar misericórdia aos que escolhessem submeter-se a Seus justos reclamos. Tivesse o rei escolhido obedecer, a vida do povo teria sido poupada, e a cidade se salvaria da conflagração; mas ele pensou que tinha ido demasiado longe para recuar. Teve medo dos judeus, medo do ridículo, medo por sua vida. Depois de anos de rebelião contra Deus, Zedequias considerou ser demasiado humilhante dizer a seu povo: "Aceito a palavra do Senhor, conforme pronunciada pelo profeta Jeremias; não ouso aventurar-me à guerra contra o inimigo em face de todas estas advertências." PR 234 1 Com lágrimas, Jeremias suplicou a Zedequias para que se salvasse bem como a seu povo. Com angústia de espírito assegurou-lhe que a menos que ele aceitasse o conselho de Deus, ele não escaparia com vida, e todas as suas posses cairiam nas mãos dos babilônios. Mas o rei havia iniciado a marcha no mau caminho, e não conteria seus passos. Ele decidiu seguir os conselhos dos falsos profetas, e dos homens a quem na realidade ele desprezava, e que ridicularizavam sua fraqueza em se render tão prontamente nos desejos deles. Ele sacrificou sua nobre liberdade varonil e tornou-se um servil escravo da opinião pública. Sem nenhum propósito predeterminado de fazer o mal, era não obstante irresoluto em permanecer corajosamente ao lado do direito. Convicto como estivesse do valor dos conselhos dados por Jeremias, não tinha a energia moral para obedecer; e como conseqüência avançou firmemente na direção errada. PR 234 2 O rei com efeito demasiado fraco para concordar viessem seus cortesãos e povo a saber que ele tivera uma conferência com Jeremias, tal era o temor do homem que havia tomado posse de sua alma. Se Zedequias se tivesse portado corajosamente e declarado que cria nas palavras do profeta, já cumpridas pela metade, que desolação teria sido evitada Ele devia ter dito: "Obedecerei ao Senhor, e salvarei a cidade de total ruína. Não ouso desrespeitar as ordens de Deus por causa do temor ou favor do homem. Amo a verdade, odeio o pecado, e seguirei o conselho do Poderoso de Israel". PR 234 3 Então o povo teria respeitado seu corajoso espírito, e os que estavam vacilando entre a fé e a incredulidade teriam tomado firme posição ao lado do direito. O próprio destemor e justiça de sua conduta teriam inspirado a seus súditos admiração e lealdade. Ele teria alcançado amplo apoio; e Judá teria sido poupado dos inauditos ais da carnificina, da fome e do fogo. PR 234 4 A fraqueza de Zedequias foi um pecado pelo qual ele pagou terrível preço. O inimigo varreu como uma avalanche irresistível, e devastou a cidade. Os exércitos hebreus fugiram em confusão. A nação foi conquistada. Zedequias foi feito prisioneiro e seus filhos foram mortos diante dos seus olhos. O rei foi levado de Jerusalém como um cativo, seus olhos foram vazados, e uma vez chegado em Babilônia pereceu miseravelmente. O belo templo que por mais de quatro séculos coroara o cimo do Monte de Sião, não foi poupado pelos caldeus. "Queimaram a casa do Senhor, e derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os seus preciosos vasos". 2 Crônicas 36:19. PR 234 5 Ao tempo da invasão final de Jerusalém por Nabucodonosor, muitos haviam escapado dos horrores do longo assédio, apenas para perecer à espada. Dentre os que ainda restavam, alguns, notadamente o chefe dos sacerdotes e oficiais e dos príncipes do reino, foram levados para Babilônia e ali executados como traidores. Outros foram levados cativos, para viverem na servidão de Nabucodonosor e de seus filhos, "até ao tempo do reino da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Jeremias". 2 Crônicas 36:20, 21. PR 235 1 A respeito de Jeremias mesmo está registrado: "Nabucodonosor, rei de Babilônia, havia ordenado acerca de Jeremias, a Nabuzaradã, capitão dos da guarda, dizendo: Toma-o, e põe sobre ele os teus olhos, e não faças nenhum mal; antes, como ele te disser, assim procederás para com ele". Jeremias 39:11, 12. PR 235 2 Liberto da prisão pelos oficiais babilônios, o profeta escolheu lançar sua sorte com o debilitado remanescente, "os mais pobres da terra", deixados pelos caldeus para serem "vinheiros e para lavradores". Sobre esses os babilônios puseram a Gedalias como governador. Apenas poucos meses haviam passado quando o novo governador foi traiçoeiramente morto. O povo pobre, depois de haver passado por tantas provas, foi finalmente persuadido por seus líderes a buscar refúgio na terra do Egito. Contra esta medida Jeremias levantou sua voz em protesto. "Não entreis no Egito", apelou ele. Mas o conselho inspirado não foi ouvido, e "todo o resto de Judá [...] homens [...] mulheres [...] e meninos" fugiu para o Egito. "Não obedeceram à voz do Senhor, e vieram até Tafnes". Jeremias 43:5-7. PR 235 3 As profecias de condenação pronunciadas por Jeremias sobre o remanescente que se havia rebelado contra Nabucodonosor fugindo para o Egito, foram misturados com promessas de perdão aos que se arrependessem de sua loucura e estivessem prontos para voltar. Conquanto o Senhor não poupasse aos que deixavam o Seu conselho pelas sedutoras influências da idolatria egípcia, Ele mostraria misericórdia para com os que se mostrassem leais e fiéis. "Os que escaparem da espada tornarão da terra do Egito à terra de Judá", Ele declarou: "e saberá todo o resto de Judá, que entrou na terra do Egito, para peregrinar ali, se subsistirá a Minha palavra ou a sua". Jeremias 44:28. PR 235 4 A tristeza do profeta em vista da completa perversidade dos que deviam ter sido a luz espiritual do mundo, sua tristeza pela sorte de Sião e do povo levado cativo para Babilônia, é revelada nas lamentações que ele deixou registradas como memorial da estultícia de deixar os conselhos de Jeová pela sabedoria humana. Em meio à ruína operada, Jeremias pôde ainda declarar: "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos." E sua constante oração era: "Esquadrinhemos os nossos caminhos, experimentemo-los, e voltemos para o Senhor". Lamentações 3:22, 40. Embora Judá ainda fosse um reino entre as nações, ele inquirira de seu Deus: "De todo rejeitaste Tu a Judá? ou aborrece a Tua alma a Sião?" e ele tinha ousado suplicar: "Não nos rejeites por amor do Teu nome". Jeremias 14:19, 21. A fé absoluta do profeta no eterno propósito de Deus de fazer que da confusão surgisse ordem, e de demonstrar às nações da Terra e a todo o Universo Seus atributos de justiça e amor, levou-o agora a suplicar confiantemente em favor daqueles que tornassem do mal para a justiça. PR 236 1 Mas agora Sião estava inteiramente destruída; o povo de Deus fora levado em cativeiro. Subjugado pela dor, o profeta exclamou: "Como se acha solitária aquela cidade, dantes tão populosa tornou-se como viúva; a que foi grande entre as nações, e princesa entre as províncias, tornou-se tributária Continuamente chora de noite, e as suas lágrimas correm pelas suas faces; não tem quem a console entre todos os seus amadores; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos. PR 236 2 "Judá passou em cativeiro por causa da aflição, e por causa da grandeza da sua servidão; havia entre as nações, não acha descanso; todos os seus perseguidores a surpreenderam nas suas angústias. Os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem venha à reunião solene; todas as suas portas estão desoladas; os seus sacerdotes suspiram; as suas virgens estão tristes, e ela mesma tem amargura. Os seus adversários a dominaram, os seus inimigos prosperam; porque o Senhor a entristeceu, por causa da multidão das suas prevaricações; os seus filhos vão em cativeiro na frente do adversário". Lamentações 1:1-5. PR 236 3 "Como cobriu o Senhor de nuvens na Sua ira a filha de Sião derribou do céu à Terra a glória de Israel, e não Se lembrou do escabelo de Seus pés, no dia da Sua ira. Devorou o Senhor todas as moradas de Jacó, e não Se apiedou; derribou no furor as fortalezas da filha de Judá, e as abateu até à terra; profanou o reino e os seus príncipes. Cortou no furor da Sua ira toda a força de Israel; retirou para trás a Sua destra de diante do inimigo; e ardeu contra Jacó, como labareda de fogo que tudo consome em redor. Armou o Seu arco como inimigo, firmou a Sua destra como adversário, e matou todo o que era formoso à vista; derramou a Sua indignação como na tenda da filha de Sião." "Que testemunho te trarei? a quem te compararei, ó filha de Jerusalém? a quem te assemelharei, para te consolar a ti, ó virgem filha de Sião? porque grande como o mar é a tua ferida; quem te sarará?" Lamentações 2:1-4, 13. PR 236 4 "Lembra-Te, Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso opróbrio. A nossa herdade passou a estranhos, e as nossas casas a forasteiros. Órfãos somos sem pai, nossas mães são como viúvas. [...] Nossos pais pecaram, e já não existem; nós levamos as suas maldades. Servos dominam sobre nós; ninguém há que nos arranque da sua mão. [...] Por isso desmaiou o nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos." PR 236 5 "Tu, Senhor, permaneces eternamente, e o Teu trono de geração em geração. Por que Te esquecerias de nós para sempre? por que nos desampararias por tanto tempo? Converte-nos, Senhor, a Ti, e nós nos converteremos; renova os nossos dias como dantes". Lamentações 5:1-3, 7, 8, 17, 19-21. ------------------------Capítulo 38 -- Luz em meio às trevas PR 237 1 Os negros anos de destruição e morte que assinalaram o fim do reino de Judá, teriam levado desespero ao mais resoluto coração, não fosse o encorajamento das predições proféticas dos mensageiros de Deus. Por intermédio de Jeremias em Jerusalém, de Daniel na corte de Babilônia, de Ezequiel junto às barrancas do Quebar, o Senhor em misericórdia tornou claro Seu eterno propósito, e deu certeza de Sua disposição de cumprir para com Seu povo escolhido as promessas registradas nos escritos de Moisés. Aquilo que tinha prometido fazer pelos que se Lhe mostrassem fiéis, certamente haveria de realizar-se. A "palavra de Deus [...] permanece para sempre". 1 Pedro 1:23. PR 237 2 Nos dias da vagueação pelo deserto, o Senhor tomou suficientes providências para que Seus filhos tivessem em lembrança as palavras da Sua lei. Após o estabelecimento em Canaã, os divinos preceitos deviam ser repetidos diariamente em todos os lares; deviam ser claramente escritos nos umbrais e soleiras das portas, e espalhados sobre tabletes memoriais. Deviam ser musicados e cantados por jovens e velhos. Os sacerdotes deviam ensinar esses santos preceitos em assembléias públicas, e os governantes da terra deviam deles fazer estudo diário. "Medita nele dia e noite", o Senhor ordenou a Josué com respeito ao livro da lei, "para que tenhas o cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás". Josué 1:8. PR 237 3 Os escritos de Moisés foram ensinados por Josué a todo o Israel. "Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel, e das mulheres, e dos meninos, e dos estrangeiros que andavam no meio deles". Josué 8:35. Isto estava em harmonia com a ordem expressa de Jeová que determinava uma repetição pública das palavras do livro da lei cada sete anos, durante a Festa dos Tabernáculos. "Ajunta o povo, homens, e mulheres, e meninos e os teus estrangeiros que estão dentro de tuas portas", os líderes espirituais de Israel tinham sido instruídos, "para que ouçam, e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei. E que seus filhos, que a não souberem, ouçam, e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, a possuir". Deuteronômio 31:12, 13. PR 238 1 Tivesse este conselho sido ouvido através dos séculos seguintes, quão diferentes teria sido a história de Israel Somente pela reverência à Palavra santa de Deus no coração do povo, poderiam eles esperar cumprir o divino propósito. Foi o respeito pela lei de Deus que deu a Israel força durante o reinado de Davi e nos primeiros anos do reinado de Salomão; foi pela fé na viva Palavra que se operou a reforma nos dias de Elias e Josias. E foi para essas mesmas Escrituras de verdade -- a mais rica herança de Israel -- que Jeremias apelou em seus esforços no sentido da reforma. Onde quer que ministrasse, ele ia ao encontro do povo com o fervente apelo: "Ouvi as palavras deste concerto" (Jeremias 11:2), palavras que lhes daria a eles plena compreensão do propósito de Deus de estender a todas as nações o conhecimento da verdade salvadora. PR 238 2 Nos anos finais da apostasia de Judá, as exortações dos profetas foram aparentemente de pouco valor; e ao virem os exércitos dos caldeus pela terceira e última vez para sitiarem Jerusalém, a esperança fugiu dos corações. Jeremias predisse total ruína; e foi em virtude de sua insistência para que se rendessem que finalmente ele foi levado à prisão. Mas Deus não deixou em desespero sem remédio o fiel remanescente que ainda estava na cidade. Mesmo quando Jeremias estava mantido sob severa vigilância pelos que lhe repeliam as mensagens, vieram-lhe novas revelações concernentes à disposição do Céu para perdoar e salvar -- revelações que têm sido uma infalível fonte de conforto para a igreja de Deus nos dias que correm. PR 238 3 Descansando confiante nas promessas de Deus, Jeremias, mediante uma parábola representativa, ilustrou perante os habitantes da cidade condenada sua forte fé no cumprimento final do propósito de Deus por Seu povo. Na presença de testemunhas, e com cuidadosa observância de toda formalidade legal, ele comprou por dezessete siclos de prata um campo de família situado na vizinha vila de Anatote. PR 238 4 Do ponto de vista humano, a aquisição deste terreno já sob o controle dos babilônios, pareceria um ato de loucura. O profeta mesmo predissera a destruição de Jerusalém, a desolação da Judéia e a completa ruína do reino Ele profetizara de um longo período de cativeiro na distante Babilônia. Já avançado em anos, jamais poderia ele esperar receber os benefícios pessoais da compra que fizera. Entretanto, os estudos que havia feito das profecias registradas nas Escrituras, tinham criado em seu coração a firme convicção de que o Senhor Se propunha restaurar para os filhos do cativeiro sua antiga possessão na terra da promessa. Com os olhos da fé, Jeremias viu os exilados retornando ao fim dos anos de aflição, e reocupando a terra de seus pais. Comprando o campo de Anatote, inspiraria a outros a esperança que tanto conforto havia levado ao próprio coração. PR 238 5 Havendo assinado os papéis de transferência, com as respectivas assinaturas das testemunhas, Jeremias ordenou a Baruque, seu secretário: "Toma estes autos, este auto de compra, tanto o selado, como o aberto, e mete-o num vaso de barro, para que se possam conservar muitos dias. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, e campos, e vinhas nesta terra". Jeremias 32:14, 15. PR 239 1 Tão desencorajadoras eram as perspectivas para Judá ao tempo desta extraordinária transação, que imediatamente após formalizar os pormenores da compra e os arranjos para a preservação do registro escrito, a fé de Jeremias, inabalável como tivesse sido, era agora duramente provada. PR 239 2 Teria ele, em seus esforços por encorajar Judá, agido presunçosamente? Em seu desejo de estabelecer a confiança nas promessas da Palavra de Deus, teria ele dado lugar a uma falsa esperança? Os que haviam entrado em relação de concerto com Deus desde muito tinham menosprezado as provisões feitas em seu favor. Encontrariam as promessas feitas à nação escolhida completo cumprimento? PR 239 3 Perplexo em espírito, subjugado pela tristeza em virtude dos sofrimentos dos que se haviam recusado a arrepender-se de seus pecados, o profeta apelou a Deus por mais luz sobre o propósito divino para a humanidade. PR 239 4 "Ah Senhor Jeová" ele orou. "eis que Tu fizeste os céus e a Terra com o Teu grande poder, e com o Teu braço estendido; não Te é maravilhosa coisa alguma; Tu usas de benignidade com milhares e tornas a maldade dos pais ao seio dos filhos depois deles; o grande e poderoso Deus cujo nome é o Senhor dos Exércitos, grande em conselho, e magnífico em obras; porque os Teus olhos estão abertos sobre todos os caminhos dos filhos dos homens, para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas obras. Tu puseste sinais e maravilhas na terra do Egito até ao dia de hoje, tanto em Israel, como entre os outros homens, e Te criaste um nome, qual é o que tens neste dia. E tiraste o Teu povo Israel da terra do Egito, com sinais e com maravilhas, e com mão forte e com braço estendido, e com grande espanto; e lhes deste esta terra, que juraste a seus pais que lhes havia de dar; terra que mana leite e mel. E entraram nela, e a possuíram, mas não obedeceram a Tua voz, nem andaram na Tua lei; tudo o que lhes mandaste que fizessem, eles não o fizeram; pelo que ordenaste lhes sucedesse todo este mal". Jeremias 32:17-23. PR 239 5 Os exércitos de Nabucodonosor estavam prestes a tomar de assalto os muros de Sião. Milhares estavam perecendo numa tentativa final e desesperada de defender a cidade. Muitos milhares mais estavam morrendo de fome e enfermidades. A sorte de Jerusalém estava já selada. As torres sitiantes das forças inimigas estavam já superando os muros. "Eis aqui os valados" o profeta continuou em sua oração a Deus, "já vieram contra a cidade para tomá-la, e a cidade está dada nas mãos dos caldeus, que pelejam contra ela, pela espada, e pela fome, e pela pestilência; e o que disseste se cumpriu, e eis aqui o estás presenciando. Contudo me disseste, ó Deus: Compra para ti o campo por dinheiro, e faze que o atestem testemunhas, embora a cidade esteja já dada na mão dos caldeus". Jeremias 32:24, 25. PR 240 1 A oração do profeta foi graciosamente respondida. "A palavra do Senhor a Jeremias", nessa hora de prova, quando a fé do mensageiro da verdade estava sendo provada pelo fogo, foi: "Eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; seria qualquer coisa maravilhosa para Mim?" Jeremias 32:26, 27. A cidade deveria logo cair nas mãos dos caldeus; suas portas e palácios deviam ser queimados a fogo; mas não obstante o fato de que a destruição estava iminente, e os habitantes de Jerusalém devessem ser levados cativos, contudo o eterno propósito de Jeová para Israel devia ser cumprido. Em resposta posterior à oração de Seu servo, o Senhor declarou com respeito àqueles sobre quem Seus castigos estavam caindo: PR 240 2 "Eis que Eu os congregarei de todas as terras, para onde os houver lançado na Minha ira, e no Meu furor, e na Minha grande indignação; e os tornarei a trazer a este lugar, e farei que habitem nele seguramente. E eles serão o Meu povo, e Eu serei o seu Deus. E lhes darei um mesmo coração, e um mesmo caminho, para que Me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos, depois deles. E farei com eles um concerto eterno, que não se desviará deles, para lhes fazer bem; e porei o Meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de Mim. E alegrar-Me-ei por causa deles, fazendo-lhes bem; e os plantarei nesta terra certamente, com todo o Meu coração e com toda a Minha alma. PR 240 3 "Porque assim diz o Senhor: Como Eu trouxe sobre este povo todo este grande mal, assim Eu trarei sobre ele todo o bem que lhes tenho prometido. E comprar-se-ão campos nesta terra, da qual vós dizeis: Está deserta, sem homens nem animais; está dada na mão dos caldeus. Comprarão campos por dinheiro, e subscreverão os autos, e os selarão, e farão que os atestem testemunhas na terra de Benjamim, e nos contornos de Jerusalém, e nas cidades de Judá, e nas cidades das montanhas, e nas cidades das planícies, e nas cidades do sul; porque os farei voltar do seu cativeiro, diz o Senhor". Jeremias 32:37-44. PR 240 4 Em confirmação dessas afirmações de livramento e restauração, "veio a palavra do Senhor a Jeremias, segunda vez, estando ele ainda encerrado no pátio da guarda, dizendo: PR 240 5 "Assim diz o Senhor que faz isto, o Senhor que forma isto, para o estabelecer; o Senhor é o Seu nome. Clama a Mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes. Porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel, das casas desta cidade, e das casas dos reis de Judá, que foram derribadas com o trabuco e à espada. ... Eis que Eu farei vir sobre ela saúde e cura, e os sararei, e lhes manifestarei abundância de paz e de verdade. E removerei o cativeiro de Judá e o cativeiro de Israel, e os edificarei como ao princípio. E os purificarei de toda a sua maldade com que pecaram contra Mim; e perdoarei todas as suas iniqüidades. [...] E esta cidade Me servirá de nome de alegria, de louvor, e de glória, entre todas as nações da Terra, que ouvirem todo o bem que Eu lhe faço; e espantar-se-ão e perturbar-se-ão por causa de todo o bem, e por causa de toda a paz que Eu lhe dou. PR 241 1 "Assim diz o Senhor: Neste lugar (de que vós dizeis que está deserto, sem homens nem animais), nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém [...] ainda se ouvirá a voz de gozo, e a voz de alegria, e a voz de noivo e a voz de esposa, e a voz dos que dizem: Louvai ao Senhor dos Exércitos, porque bom é o Senhor, porque a Sua benignidade é para sempre; e dos que trazem louvor à casa do Senhor; pois farei que torne o cativo da terra como ao princípio, diz o Senhor. PR 241 2 "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda neste lugar, que está deserto, sem homens, e sem animais, e em todas as suas idades, haverá uma morada de pastores, que façam repousar o gado. Nas cidades das montanhas, nas cidades das planícies e nas cidades do sul, e na terra de Benjamim, e nos contornos de Jerusalém, e nas cidades de Judá, ainda passará o gado pelas mãos dos contadores, diz o Senhor. PR 241 3 "Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que cumprirei a palavra boa que falei à casa de Israel e à casa de Judá". Jeremias 33:1-14. PR 241 4 Assim foi a igreja de Deus confortada numa das horas mais escuras do seu longo conflito com as forças do mal. Satanás havia aparentemente triunfado em seus esforços para destruir a Israel; mas o Senhor estava no comando dos acontecimentos do presente, e durante os anos que se seguiriam, Seu povo deveria ter a oportunidade de redimir o passado. Sua mensagem para a igreja foi: PR 241 5 "Não temas pois tu, servo Meu Jacó; [...] nem te espantes, ó Israel; porque eis que te livrarei das terras de longe, e à tua descendência da terra do seu cativeiro; e Jacó tornará e descansará, e ficará em sossego, e não haverá quem o atemorize. Porque Eu sou contigo, diz o Senhor, para te salvar." "Porque te restaurarei a saúde, e te sararei as tuas chagas". Jeremias 30:10, 11, 17. PR 241 6 No alegre dia da restauração, as tribos do Israel dividido deviam ser reunidas num só povo. O Senhor devia ser reconhecido como rei sobre "todas as famílias de Israel". "Eles serão o Meu povo", Ele declarou. "Cantai sobre Jacó com alegria, e exultai por causa do Chefe das gentes; proclamai, cantai louvores, e dizei: Salva, Senhor, o Teu povo, o resto de Israel. Eis que o trarei da terra do norte, e os congregarei das extremidades da Terra; e com eles os cegos e os aleijados. [...] Virão com choro, e com súplicas os levarei; guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho direito em que não tropeçarão; porque sou um Pai para Israel, e Efraim é o Meu primogênito". Jeremias 31:1, 7-9. PR 241 7 Humilhados à vista das nações, os que uma vez tinham sido reconhecidos como favorecidos do Céu sobre todos os outros povos da Terra aprenderiam no exílio a lição da obediência tão necessária para sua futura felicidade. Até que tivessem aprendido esta lição, Deus não poderia fazer por eles tudo o que desejava. "Castigar-te-ei com medida, e de todo não te terei por inocente" (Jeremias 30:11), Ele declarou em esclarecimento do Seu propósito de castigá-los para o seu bem espiritual. Entretanto os que haviam sido objeto do Seu terno amor não foram postos de lado para sempre; perante todas as nações da Terra Ele demonstraria Seu plano de tirar vitória da aparente derrota, de salvar e não de destruir. Ao profeta fora dada a mensagem: PR 242 1 "Aquele que espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o pastor ao seu rebanho. Porque o Senhor resgatou a Jacó, e o livrou da mão do que era mais forte do que ele. Assim que virão, e exultarão na altura de Sião, e correrão aos bens do Senhor, ao trigo, e ao mosto, e ao azeite, aos cordeiros e as bezerros; e a sua alma será como um jardim regado, e nunca mais andarão tristes. [...] E tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e transformarei em regozijo a sua tristeza. E saciarei a alma dos sacerdotes de gordura, e o Meu povo se fartará dos Meus bens, diz o Senhor." PR 242 2 "Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda dirão esta palavra na terra de Judá, e nas suas cidades, quando Eu acabar o seu cativeiro: O Senhor te abençoe, ó morada de justiça, ó monte de santidade. E nela habitarão Judá, e todas as suas cidades juntamente; como também os lavradores e os que andam com o rebanho. Porque satisfiz a alma cansada, e toda a alma entristecida saciei." PR 242 3 "Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles invalidaram o Meu concerto, apesar de Eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o mais pequeno deles até ao maior, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados". Jeremias 31:10-14, 23-25, 31-34. ------------------------Capítulo 39 -- Na corte de Babilônia PR 243 0 Este capítulo é baseado em Daniel 1. PR 243 1 Entre os filhos de Israel que foram levados cativos para Babilônia no início dos setenta anos do cativeiro havia cristãos patriotas, homens que eram tão fiéis ao princípio como o aço, e que se não deixariam corromper pelo egoísmo, mas honrariam a Deus com prejuízo de tudo para si. Na terra de seu cativeiro esses homens deviam levar avante o propósito de Deus de dar às nações pagãs as bênçãos que vêm pelo conhecimento de Jeová. Deviam eles ser Seus representantes. Jamais deviam comprometer-se com idólatras; sua fé e seu nome como adoradores do Deus vivo deveriam ser levados como alta honra. E isto eles fizeram. Na prosperidade e na adversidade honraram a Deus; e Deus os honrou a eles. PR 243 2 O fato de esses homens, adoradores de Jeová, estarem cativos em Babilônia, e de os vasos da casa de Deus terem sido postos no templo dos deuses de Babilônia, era orgulhosamente citado pelos vencedores como evidência que sua religião e costumes eram superiores à religião e costumes dos hebreus. Embora por intermédio da própria humilhação que Israel chamara sobre si por haver-se afastado de Deus, Ele dera aos babilônios a prova de Sua supremacia, da santidade dos Seus reclamos e dos resultados certos da obediência. E este testemunho Ele deu, como unicamente poderia ser dado, por meio daqueles que Lhe foram leais. PR 243 3 Entre os que se mantiveram obedientes a Deus estavam Daniel e seus três companheiros -- nobres exemplos do que os homens podem tornar-se quando unidos com o Deus de sabedoria e poder. Da comparativa simplicidade de seu lar judaico, esses jovens de linhagem real foram levados à mais magnificente das cidades, e introduzidos na corte do maior monarca do mundo. Nabucodonosor "disse a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos nobres, mancebos em quem não houvesse defeito algum, formosos de parecer, e instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viverem no palácio. [...] PR 243 4 "E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias". Daniel 1:3-6. Vendo nesses jovens a promessa de habilidade digna de nota, Nabucodonosor determinou que fossem educados para ocupar importantes posições em seu reino. Para que pudessem ser plenamente capacitados para sua carreira, ele fez arranjos para que aprendessem a língua dos caldeus, e que por três anos lhes fossem asseguradas as vantagens incomuns da educação fornecida aos príncipes do reino. PR 244 1 Os nomes de Daniel e seus companheiros foram mudados para nomes que representavam divindades caldéias. Grande significação era atribuída aos nomes dados pelos pais hebreus a seus filhos. Freqüentemente representavam traços de caráter que os pais desejavam ver desenvolvidos no filho. O príncipe a cujo cargo foram os jovens cativos colocados "lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e Azarias o de Abede-Nego". Daniel 1:7. PR 244 2 O rei não compeliu os jovens hebreus a renunciarem sua fé em favor da idolatria, mas esperava alcançar isto gradualmente. Dando-lhes nomes significativos de idolatria, levando-os diariamente a íntima associação com costumes idólatras e sob a influência de sedutores ritos do culto pagão, ele esperava induzi-los a renunciar à religião de sua nação e unir-se ao culto dos babilônios. PR 244 3 Logo no princípio de sua carreira veio-lhes uma decisiva prova de caráter. Fora determinado que eles comessem o alimento e bebessem o vinho que se servia na mesa do rei. Nisto o rei pensava dar-lhes uma expressão do seu favor e sua solicitude pelo bem-estar deles. Mas como uma porção do alimento era oferecida aos ídolos, o alimento da mesa do rei era consagrado à idolatria; e quem deles participasse seria considerado como estando a oferecer homenagens aos deuses de Babilônia. A tal homenagem a lealdade de Daniel e seus companheiros a Jeová lhes proibiu de participar. A simples simulação de haver comido o alimento ou bebido o vinho seria uma negação de sua fé. Proceder assim era enfileirar-se ao lado do paganismo e desonrar os princípios da lei de Deus. PR 244 4 Não ousaram eles a se arriscarem ao enervante efeito do luxo e dissipação sobre o desenvolvimento físico, mental e espiritual. Eles estavam familiarizados com a história de Nadabe e Abiú, de cuja intemperança e seus resultados foi conservado o registro nos pergaminhos do Pentateuco; e sabiam que suas próprias faculdades físicas e mentais seriam danosamente afetadas pelo uso do vinho. PR 244 5 Daniel e seus companheiros tinham sido educados por seus pais nos hábitos da estrita temperança. Tinham sido ensinados que Deus lhes pediria contas de suas faculdades, e que jamais deveriam diminuí-las ou enfraquecê-las. Esta educação fora para Daniel e seus companheiros o meio de sua preservação entre as desmoralizantes influências da corte de Babilônia. Fortes eram as tentações que os rodeavam nessa corte corrupta e luxuosa, mas eles permaneceram incontaminados. Nenhuma força, nenhuma influência poderia afastá-los dos princípios que tinham aprendido no limiar da vida mediante estudo da Palavra e obras de Deus. PR 244 6 Tivesse Daniel desejado e teria encontrado em torno de si escusas plausíveis para afastar-se dos estritos hábitos de temperança. Ele poderia ter argumentado que, dependendo como estava do favor do rei e sujeito ao seu poder, não havia outro caminho a seguir senão comer do alimento do rei e beber do seu vinho; pois se se apegasse ao ensinamento divino, ofenderia o rei, e provavelmente perderia sua posição e a vida. Se transgredisse o mandamento do Senhor, ele reteria o favor do rei, e asseguraria para si vantagens intelectuais e lisonjeiras perspectivas mundanas. PR 245 1 Mas Daniel não hesitou. A aprovação de Deus era-lhe mais cara que o favor do mais poderoso potentado da Terra -- mais cara mesmo que a própria vida. Ele se determinou permanecer firme em sua integridade, fossem quais fossem os resultados. Ele "assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia". Daniel 1:8. E nesta resolução foi apoiado por seus três companheiros. PR 245 2 Tomando esta decisão, os jovens hebreus não agiram presunçosamente, mas em firme confiança em Deus. Não escolheram ser singulares, mas sê-lo-iam de preferência a desonrar a Deus. Tivessem eles se comprometido com o erro neste caso rendendo-se à pressão das circunstâncias, e este abandono do princípio ter-lhes-ia enfraquecido o senso do direito e sua capacidade de aborrecer o erro. O primeiro passo errado tê-los-ia levado a outros, de maneira que, cortada sua ligação com o Céu, eles seriam varridos pela tentação. PR 245 3 "Deu Deus a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos", e o pedido para que se não contaminassem foi recebido com respeito. Não obstante o princípio hesitou em concedê-lo. "Tenho medo do meu senhor o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida", explicou ele a Daniel; "por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que dos mancebos que são vossos iguais? assim arriscareis a minha cabeça para com o rei". Daniel 1:10. PR 245 4 Daniel apelou então a Aspenaz, o oficial a cujo cargo especial estavam os jovens hebreus, suplicando-lhe fossem eles dispensados de comer o alimento do rei e de beber o seu vinho. Pediu-lhe que fosse feita uma prova de dez dias, durante os quais os jovens hebreus seriam supridos com alimentos simples, enquanto seus companheiros comeriam as delícias do rei. PR 245 5 Aspenaz, embora temeroso de que condescendendo com este pedido pudesse incorrer no desagrado do rei, consentiu não obstante; e Daniel sabia que sua causa estava ganha. Ao fim dos dez dias de prova, o resultado se mostrou o oposto do que o príncipe temia. "Apareceram os seus semblantes melhores; eles estavam mais gordos do que todos os mancebos que comiam porção do manjar do rei." Na aparência pessoal os jovens hebreus mostraram marcada superioridade sobre seus companheiros. Como resultado, Daniel e seus companheiros tiveram permissão de continuar com a sua dieta simples em todo o período de sua educação. PR 245 6 Durante três anos, os moços hebreus estudaram para adquirir conhecimento "nas letras e na língua dos caldeus". Daniel 1:15, 17. Durante este tempo, eles conservaram firme sua submissão a Deus, e constantemente se mostraram dependentes do Seu poder. Aos seus hábitos de abnegação eles uniram o fervor de propósito, a diligência e firmeza. Não foi o orgulho ou ambição que os levou à corte do rei -- à companhia dos que não conheciam nem temiam a Deus; eram cativos em terra estranha, aí levados pela Infinita Sabedoria. Separados das influências do lar e de sagradas associações, eles procuraram desempenhar-se de maneira recomendável, para honra de seu povo oprimido, e para glória dAquele de quem eram servos. PR 246 1 O Senhor considerou com aprovação a firmeza e abnegação dos jovens hebreus, e sua pureza de motivos; e Sua bênção os assistiu. Ele lhes "deu o conhecimento e inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos". Daniel 1:17. Cumpriu-se a promessa: "Aos que Me honram honrarei". 1 Samuel 2:30. Apegando-se Daniel a Deus com inamovível fé, o espírito de poder profético veio sobre ele. Enquanto recebia instruções do homem nos deveres diários da corte, estava sendo ensinado por Deus a ler os mistérios do futuro, e a registrar para as gerações vindouras, mediante figuras e símbolos, eventos que cobrem a história deste mundo até o fim do tempo. PR 246 2 Quando chegou o tempo em que os jovens educandos deviam ser examinados, os hebreus o foram juntamente com outros candidatos, para o serviço do reino. Mas "entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael e Azarias". Sua aguda compreensão, seu conhecimento amplo, sua linguagem escolhida e adequada, davam testemunho da inalterada força e vigor de suas faculdades mentais. "Em toda a matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino; por isso permaneceram diante do rei". Daniel 1:19. PR 246 3 Na corte de Babilônia estavam reunidos representantes de todas as terras, homens do mais alto talento e mais ricamente dotados com dons naturais, e possuidores da cultura mais vasta que o mundo poderia oferecer; não obstante entre todos eles os jovens hebreus não tiveram competidor. Em força e beleza física, em vigor mental e dotes literários, não tinham rival. A forma ereta, o passo firme e elástico, a fisionomia agradável, os sentidos lúcidos, o hálito puro -- eram todos certificados mais que suficientes de bons hábitos, insígnia da nobreza com que a natureza honra aos que são obedientes a suas leis. PR 246 4 Na aquisição da sabedoria dos babilônios, Daniel e seus companheiros foram muito melhor sucedidos que seus colegas; mas sua cultura não veio por acaso. Eles obtiveram o conhecimento mediante o fiel uso de suas faculdades, sob a guia do Espírito Santo. Colocaram-se em conexão com a Fonte de toda sabedoria, tornando o conhecimento de Deus o fundamento de sua educação. Oraram com fé por sabedoria, e viveram as suas orações. Puseram-se onde Deus poderia abençoá-los. Evitaram o que lhes poderia enfraquecer as faculdades, e aproveitaram toda oportunidade de se tornarem versados em todo ramo do saber. Seguiram as regras da vida que não poderiam falhar em dar-lhes força de intelecto. Procuraram adquirir conhecimento para um determinado propósito -- para que pudessem honrar a Deus. Compreenderam que para poderem permanecer como representantes da verdadeira religião em meio das religiões falsas do paganismo, deviam possuir clareza de intelecto e aperfeiçoar o caráter cristão. E o próprio Deus era o seu professor. Orando constantemente, estudando conscienciosamente e mantendo-se em contato com o Invisível, andavam com Deus como andou Enoque. PR 247 1 O verdadeiro sucesso em cada setor de trabalho não é o resultado do acaso, ou acidente ou destino. É a operação da providência de Deus, a recompensa da fé e a prudência, da virtude e perseverança. Superiores qualidades mentais e elevado caráter moral não se adquirem por casualidade. Deus dá oportunidades; o êxito depende do uso que delas se fizer. PR 247 2 Enquanto Deus estava operando em Daniel e seus companheiros "tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade" (Filipenses 2:13), eles estavam operando a sua própria salvação. Nisto está revelado a operação do divino princípio de cooperação, sem o que nenhum verdadeiro sucesso pode ser alcançado. O esforço humano nada realiza sem o divino poder; e sem o empenho humano o esforço divino é em relação a muitos de nenhum proveito. Para tornar a graça de Deus nossa própria, precisamos desempenhar a nossa parte. Sua graça é dada para operar em nós o querer e o efetuar, mas nunca como substituto de nosso esforço. PR 247 3 Assim como o Senhor cooperou com Daniel e seus companheiros, Ele cooperará com todos os que se atêm a Sua vontade. E pela concessão do Seu Espírito Ele fortalecerá cada propósito veraz, cada nobre resolução. Os que andam nos caminhos da obediência encontrarão muitos embaraços. Influências fortes e sutis podem ligá-los ao mundo; mas o Senhor é capaz de tornar sem efeito cada esforço que opere para derrotar os Seus escolhidos; em Sua força eles podem vencer cada tentação, triunfar sobre cada dificuldade. PR 247 4 Deus pôs Daniel e seus companheiros em relação com os grandes homens de Babilônia, para que em meio de uma nação de idólatras pudessem representar o Seu caráter. Como se tornaram eles capacitados para uma posição de tão grande confiança e honra? Foi a fidelidade nas pequenas coisas que lhes deu capacidade para a vida toda. Eles honraram a Deus nos mínimos deveres, bem como nas maiores responsabilidades. PR 247 5 Assim como Deus chamou Daniel para testemunhar por Ele em Babilônia, Ele nos chama para sermos testemunhas Suas no mundo hoje. Tanto nos menores como nos maiores negócios da vida, Ele deseja que revelemos aos homens os princípios do Seu reino. Muitos estão esperando que uma grande obra lhes seja levada, ao mesmo tempo que perdem diariamente oportunidades para revelar fidelidade a Deus. Diariamente deixam de se desincumbir com inteireza de coração dos pequenos deveres da vida. Enquanto esperam por alguma grande obra em que possam exercitar talentos supostamente grandes, satisfazendo assim a ambiciosos anseios, seus dias passam. PR 248 1 Na vida do verdadeiro cristão nada há que não seja essencial; à vista da Onipotência todo dever é importante. O Senhor mede com exatidão cada possibilidade para serviço. As faculdades não usadas são postas na conta da mesma forma que as utilizadas. Seremos julgados por aquilo que devíamos ter feito e não fizemos porque não usamos nossas faculdades para glória de Deus. PR 248 2 Um caráter nobre não é resultado de acidente; não é devido a favores especiais ou dotações da Providência. É o resultado da autodisciplina, da sujeição da natureza mais baixa à mais alta, da entrega do eu ao serviço de Deus e do homem. PR 248 3 Através da fidelidade aos princípios de temperança mostrados pelos jovens hebreus, Deus está falando à juventude de hoje. Há necessidade de homens que, como Daniel, procedam com ousadia pela causa do direito. Corações puros, mãos fortes, coragem destemida, são necessários; pois a luta entre os vício e a virtude reclama incessante vigilância. A cada alma Satanás vem com tentação de formas variadas e sedutoras no ponto da condescendência para com o apetite. PR 248 4 É o corpo um meio muito importante pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Essa é a razão por que o adversário das almas dirige suas tentações no sentido do enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu sucesso neste ponto significa muitas vezes a entrega de todo ser ao mal. As tendências da natureza física, a menos que postas sob o domínio de um poder mais alto, seguramente obrarão ruína e morte. O corpo deve ser posto em sujeição às faculdades mais altas do ser. As paixões devem ser controladas pela vontade que, por sua vez, deve ela mesma estar sob o controle de Deus. O régio poder da razão, santificada pela graça divina, deve controlar a vida. Poder intelectual, vigor físico e longevidade dependem de leis imutáveis. Mediante a obediência a essas leis, pode o homem ser um conquistador de si mesmo, conquistador de suas próprias inclinações, conquistador de principados e potestades, dos "príncipes das trevas deste século", e das "hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. PR 248 5 No antigo ritual que é o evangelho em símbolo, nenhuma oferta maculada podia ser levada ao altar de Deus. O sacrifício que iria representar a Cristo devia ser sem mancha. A Palavra de Deus aponta para este fato como uma ilustração do que Seus filhos devem ser -- um "sacrifício vivo" (Romanos 12:1), "sem mácula, nem ruga". Efésios 5:27. PR 249 1 Os valorosos hebreus eram homens sujeitos às mesmas paixões que nós; mas não obstante as sedutoras influências da corte de Babilônia, eles permaneceram firmes, porque confiaram num poder infinito. Neles contemplou uma nação pagã a ilustração da bondade e beneficência de Deus e do amor de Cristo. E na sua experiência temos um exemplo do triunfo do princípio sobre a tentação, da pureza sobre a depravação, da devoção e lealdade sobre o ateísmo e a idolatria. PR 249 2 Os jovens de hoje podem ter o espírito de que estava possuído Daniel; eles podem beber na mesma fonte de força, possuir o mesmo poder de domínio próprio, e revelar a mesma graça em sua vida, mesmo sob circunstâncias igualmente desfavoráveis. Embora assediados por tentações a serem condescendentes consigo mesmo, especialmente em nossas grandes cidades, onde toda forma de satisfação sensual se mostra fácil e convidativa, os seus propósitos de honrar a Deus permanecem não obstante firmes pela graça divina. Mediante forte resolução e atenta vigilância podem resistir a cada tentação que assalta a alma. Mas a vitória será ganha unicamente por aquele que se determina fazer o que é direito só porque é direito. PR 249 3 Que carreira foi a desses nobres hebreus Ao dizerem adeus ao lar de sua meninice pouco sonhavam eles com o alto destino que lhes estava reservado. Fiéis e firmes, renderam-se à divina guia, de maneira que por meio deles Deus pôde cumprir Seu propósito. PR 249 4 As mesmas poderosas verdades que foram reveladas através desses homens, Deus deseja revelar por meio de Seus jovens e de Seus filhos hoje. A vida de Daniel e seus companheiros é uma demonstração do que o Senhor fará pelos que a Ele se rendem, e buscam de todo o coração realizar o Seu propósito. ------------------------Capítulo 40 -- O sonho de Nabucodonosor PR 250 0 Este capítulo é baseado em Daniel 2. PR 250 1 Logo depois que Daniel e seu companheiros entraram no serviço do rei de Babilônia, ocorreram acontecimentos que revelaram a uma nação idólatra o poder e a fidelidade do Deus de Israel. Nabucodonosor teve um sonho singular, pelo qual "seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o seu sono". Mas embora a mente do rei estivesse profundamente impressionada, foi-lhe impossível, quando despertou, recordar as particularidades. PR 250 2 Em sua perplexidade, Nabucodonosor reuniu os seus sábios -- "os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus" -- e pediu-lhes auxílio. "Tive um sonho", disse ele, "e para saber o sonho está perturbado o meu espírito." Com esta declaração da sua perplexidade, exigiu deles que lhe revelassem o que poderia trazer-lhe tranqüilidade à mente. PR 250 3 A isso os sábios responderam: "Ó rei, vive eternamente dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação". Daniel 2:1-4. PR 250 4 Não satisfeito com uma resposta evasiva, e desconfiado porque, a despeito de suas pretensiosas afirmações de poderem revelar os segredos dos homens, eles pareciam não obstante indispostos em prestar-lhes auxílio, o rei ordenou a seus sábios, com promessas de riqueza e honrarias ou por outro lado de ameaças de morte, que lhe dissessem não apenas a interpretação do sonho, mas o próprio sonho. "O que foi me tem escapado", disse ele; "se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo. Mas se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dons, e dádivas, e grande honra." PR 250 5 Os sábios responderam ainda: "Diga o rei o sonho a seus servos, e daremos a sua interpretação." PR 250 6 Nabucodonosor, agora inteiramente desperto e irado com a evidente perfídia daqueles em quem tinha confiado, declarou: "Percebo muito bem que vós quereis ganhar tempo, porque vedes que o que eu sonhei me tem escapado. Por conseqüência, se me não fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença até que se mude o tempo. Portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis dar a sua interpretação". Daniel 2:5-9. PR 251 1 Temerosos com as conseqüências do seu fracasso, os mágicos procuraram mostrar ao rei que seu pedido era irrazoável, e o que ele requeria estava além do que já havia solicitado em qualquer tempo ao homem. "Não há ninguém sobre a Terra", eles objetaram, "que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei há, senhor ou dominador, que requeira coisa semelhante de algum mago, ou astrólogo, ou caldeu. Porquanto a coisa que o rei requer é difícil, e ninguém há que a possa declarar diante do rei, senão os deuses, cuja morada não é com a carne." PR 251 2 "Então o rei muito se irou e enfureceu, e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia." PR 251 3 Entre as pessoas procuradas pelos oficiais que se estavam preparando para cumprir o estipulado no decreto real, estavam Daniel e seus companheiros. Quando informados que de acordo com o decreto também eles deviam morrer, Daniel inquiriu de Arioque, capitão da guarda do rei, "avisada e prudentemente": "Por que se apressa tanto o mandado da parte do rei?" Arioque contou-lhe a história da perplexidade do rei a respeito de seu notável sonho, e seu fracasso no sentido de conseguir auxílio da parte daqueles que até então tinham desfrutado sua mais plena confiança. Depois de ouvir isto, Daniel, tomando sua vida em suas mãos, aventurou-se a ir à presença do rei, e rogou-lhe tempo, para que pudesse suplicar ao seu Deus que lhe revelasse o sonho e a sua interpretação. PR 251 4 A este pedido o monarca concordou. "Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros". Daniel 2:10-17. Juntos buscaram sabedoria da Fonte de luz e conhecimento. Sua fé era forte na certeza de que Deus tinha-os colocado onde estavam, que eles estavam fazendo a Sua obra e cumprindo os reclamos do dever. Em tempos de perplexidade e perigo tinham-se voltado sempre para Ele em busca de guia e proteção, e Ele Se mostrara um auxílio sempre presente. Agora com coração contrito submetiam-se de novo ao Juiz da Terra, implorando que lhes desse livramento neste tempo de especial necessidade. E eles não suplicaram em vão. O Deus a quem tinham honrado, honrava-os agora. O Espírito do Senhor repousou sobre eles, e a Daniel, "numa visão da noite", foi revelado o sonho do rei e seu significado. PR 251 5 O primeiro ato de Daniel foi agradecer a Deus pela revelação que lhe fora dada. "Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre", ele exclamou, "porque dEle é a sabedoria e a força. E Ele muda os tempos e as horas; Ele remove os reis e estabelece os reis; Ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu Te louvo e celebro porque me deste sabedoria e força; e agora nos fizeste saber o que Te pedimos, porque nos fizeste saber este assunto do rei." PR 251 6 Dirigindo-se imediatamente a Arioque, a quem o rei tinha ordenado destruir os sábios, Daniel disse: "Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e darei ao rei a interpretação." Depressa o oficial introduziu Daniel à presença do rei, com as palavras: "Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual fará saber ao rei a interpretação". Daniel 2:19-25. PR 252 1 Eis o cativo judeu, calmo e senhor de si, na presença do monarca do mais poderoso império do mundo. Em suas primeiras palavras ele recusou honra para si mesmo, e exaltou a Deus como a fonte de toda sabedoria. À ansiosa inquirição do rei: "Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação?" ele respondeu: "O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos o podem descobrir ao rei; mas há um Deus nos Céus, o qual revela os segredos; Ele, pois, fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser no fim dos dias. PR 252 2 "O teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama", Daniel declarou, "são estas: estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos ao que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela os segredos te fez saber o que há de ser. E a mim me foi revelado este segredo, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses os pensamentos do teu coração. PR 252 3 "Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua. Esta estátua, que era grande e cujo esplendor era excelente, estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrível. A cabeça daquela estátua era de ouro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre; as pernas de ferro; e os seus pés em parte de ferro e em parte de barro. PR 252 4 "Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se fez um grande monte, e encheu toda a Terra. Daniel 2:26-35. PR 252 5 "Este é o sonho", Daniel declarou confiantemente; e o rei, considerando com a mais acurada atenção cada pormenor, reconheceu que este era o próprio sonho que o deixara tão turbado. Assim sua mente foi preparada para receber bem disposto a interpretação. O Rei dos reis estava prestes a comunicar grande verdade ao monarca de Babilônia. Deus iria revelar que Ele tem poder sobre os reinos do mundo -- poder para pôr e depor reis. A mente de Nabucodonosor devia ser desperta, se possível, para o senso de sua responsabilidade para com o Céu. Os acontecimentos do futuro, cujo alcance vai até o tempo do fim, deviam ser expostos perante ele. PR 252 6 "Tu, ó rei, és rei de reis", Daniel continuou, "pois o Deus do Céu te tem dado o reino, o poder, e a força, e a majestade. E onde quer que habitem filhos de homens, animais do campo, e aves do céu, Ele tos entregou na tua mão, e fez que dominasses sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro. PR 253 1 "E depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino de metal, o qual terá domínio sobre toda a Terra. PR 253 2 "E o quarto reino será forte como ferro; pois, como o ferro esmiúça e quebra tudo, como o ferro quebra todas as coisas, ele esmiuçará e quebrará. PR 253 3 "E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil. Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro." PR 253 4 "Mas, nos dias destes reis, o Deus do Céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre. Da maneira como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ela esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro, o Deus grande fez saber ao rei o que há de ser depois disto; e certo é o sonho, e fiel a sua interpretação". Daniel 2:37-45. PR 253 5 O rei estava convencido da verdade da interpretação, e em humildade e temor "caiu sobre o seu rosto e adorou", dizendo: "Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, pois pudeste revelar este segredo." PR 253 6 Nabucodonosor revogou o decreto de eliminação dos sábios. A vida deles fora poupada em virtude da união de Daniel com o Revelador dos segredos. E "o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e grandes dons e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também por principal governador de todos os sábios de Babilônia. E pediu Daniel ao rei, e constituiu ele sobre os negócios da província de Babilônia a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; mas Daniel estava às portas do rei". Daniel 2:46-49. PR 253 7 Nos anais da história humana, o desenvolvimento das nações, o nascimento e queda dos impérios, aparecem como que dependendo da vontade e proeza do homem; a configuração dos acontecimentos parece determinada em grande medida pelo seu poder, ambição ou capricho. Mas na Palavra de Deus a cortina é afastada, e podemos ver acima, para trás e pelos lados as partidas e contrapartidas do interesse, poder e paixões humanos -- os agentes do Todo-misericordioso -- executando paciente e silenciosamente os conselhos de Sua própria vontade. PR 253 8 Em palavras de incomparável beleza e ternura, o apóstolo Paulo expôs diante dos filósofos de Atenas o divino propósito na criação e distribuição dos povos e nações. "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há", declarou o apóstolo, "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar". Atos dos Apóstolos 17:24-27. PR 254 1 Deus tem tornado claro o fato de que quem quiser pode entrar "no vínculo do concerto". Ezequiel 20:37. Seu propósito na criação era que a Terra fosse habitada por seres cuja existência seria uma bênção para si mesmos e de uns para com outros, e uma honra para o seu Criador. Todos que o desejassem poderiam identificar-se com este propósito. Destes é dito: "Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor". Isaías 43:21. PR 254 2 Em Sua lei Deus tornou conhecidos os princípios que sustentam toda verdadeira prosperidade, tanto das nações como dos indivíduos. A respeito deste lei Moisés declarou aos israelitas: "Esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento". Deuteronômio 4:6. "Esta palavra não é vã, antes é a vossa vida". Deuteronômio 32:47. As bênçãos assim asseguradas a Israel são, nas mesmas condições e no mesmo grau, asseguradas a toda nação e a cada indivíduo sob o vasto céu. PR 254 3 Centenas de anos antes que certas nações viessem ao cenário da ação, o Onisciente lançou um olhar para os séculos por vir e predisse o surgimento e queda dos reinos universais. Deus declarou a Nabucodonosor que o reino de Babilônia devia cair, e um segundo reino surgiria, o qual também teria o seu período de prova. Deixando de exaltar o verdadeiro Deus, sua glória seria abatida, e um terceiro reino lhe ocuparia o lugar. Este também passaria; e um quarto, forte como ferro, submeteria as nações do mundo. PR 254 4 Tivessem os reis de Babilônia -- o mais rico de todos os reinos terrestres -- conservado sempre diante de si o temor de Jeová, e ter-lhes-iam sido dados sabedoria e força que os manteriam ligados a Ele, conservando-os fortes. Mas eles fizeram de Deus seu refúgio somente quando em angústia e perplexidade. Em tais ocasiões, não encontrando auxílio em seus grandes homens, buscavam-no de homens como Daniel -- homens que, sabiam eles, honravam ao Deus vivo, e eram por Ele honrados. A esses homens eles apelavam para que deslindassem os mistérios da Providência; pois embora os senhores da orgulhosa Babilônia fossem homens do mais alto intelecto, tinham-se afastado tanto de Deus pela transgressão que não podiam compreender as revelações e as advertências a eles dadas com referência ao futuro. PR 254 5 Na história das nações o estudante da Palavra de Deus pode contemplar o cumprimento literal da profecia divina. Babilônia, fragmentada e por fim quebrantada, passou porque em sua prosperidade seus governantes tinham-se considerado independentes de Deus, atribuindo a glória do seu reino a realizações humanas. O domínio medo-persa foi visitado pela ira do Céu porque nele a lei de Deus tinha sido calcada a pés. O temor do Senhor não encontrou lugar no coração da grande maioria do povo. Prevaleciam a impiedade, a blasfêmia e a corrupção. Os reinos que se seguiram foram ainda mais vis e corruptos; e desceram cada vez mais na escala da dignidade moral. PR 255 1 O poder exercido por todos os governantes da Terra é concedido pelo Céu; e seu sucesso depende do uso que fizerem dessa concessão. A cada um a palavra do divino Vigia é: "Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças". Isaías 45:5. E a cada um as palavras ditas a Nabucodonosor no passado representam a lição da vida: "Desfaze os teus pecados pela justiça, e as tuas iniqüidades usando de misericórdia com os pobres, se se prolongar a tua tranqüilidade". Daniel 4:27. Compreender estas coisas, isto é, que "a justiça exalta as nações" (Provérbios 14:34); que "com justiça se estabelece o trono" (Provérbios 16:12), e "com benignidade" ele se "sustém" (Provérbios 20:28); reconhecer a operação desses princípios na manifestação de Seu poder que "remove os reis, e estabelece os reis" -- reconhecer isto é compreender a filosofia da História. PR 255 2 Na Palavra de Deus, unicamente, é isto claramente estabelecido. Nela se nos mostra que a força tanto das nações como dos indivíduos não se encontra nas oportunidades ou facilidades que parecem torná-los invencíveis, nem na sua alardeada grandeza. Ela é medida pela fidelidade com que eles cumprem o propósito de Deus. ------------------------Capítulo 41 -- A fornalha ardente PR 256 0 Este capítulo é baseado em Daniel 3. PR 256 1 O sonho da grande imagem, que abriu perante Nabucodonosor acontecimentos que chegam ao fim do tempo, tinha-lhe sido dado para que ele pudesse compreender a parte que lhe tocava desempenhar na história do mundo, e a relação que seu reino teria com o reino do Céu. Na interpretação do sonho, fora ele claramente instruído quanto ao estabelecimento do reino eterno de Deus. "Nos dias destes reis", Daniel havia declarado, "o Deus do Céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre. [...] E certo é o sonho, e fiel a sua interpretação". Daniel 2:44, 45. PR 256 2 O rei havia reconhecido o poder de Deus, dizendo a Daniel: "Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses [...] e o revelador dos segredos". Daniel 2:47. Durante algum tempo Nabucodonosor sentiu-se influenciado pelo temor de Deus; contudo o seu coração não ficou purificado da ambição mundana e do desejo de exaltação. A prosperidade que acompanhou o seu reinado o encheu de orgulho. Em dado tempo ele cessou de honrar a Deus, e retomou seu culto idólatra com maior zelo e fanatismo. PR 256 3 As palavras: "Tu és a cabeça de ouro" (Daniel 2:38), tinham feito profunda impressão no espírito do rei. Os sábios do seu reino, tirando vantagem disto e do seu retorno à idolatria, propuseram-lhe que fizesse uma imagem semelhante àquela vista em sonho, e a erguesse em lugar onde todos pudessem contemplar a cabeça de ouro, que tinha sido interpretada como representando o seu reino. PR 256 4 Lisonjeado com a aduladora sugestão, ele se determinou levá-la a efeito, indo mesmo além. Em lugar de reproduzir a imagem como a tinha visto, ele excederia o original. Sua imagem não seria desigual em valor da cabeça aos pés, mas seria inteiramente de ouro, símbolo que representaria Babilônia como um reino eterno, indestrutível, todo-poderoso, que haveria de quebrar em pedaços todos os outros reinos, permanecendo para sempre. PR 256 5 A idéia de estabelecer um império e uma dinastia que perdurassem para sempre, apelou fortemente ao poderoso monarca cujas armas as nações da terra tinham sido incapazes de resistir. Com o entusiasmo nascido de ilimitada ambição e orgulho egoísta, ele tomou conselho com seus sábios quanto à maneira de levar avante o projeto. Esquecendo as assinaladas providências relacionadas com o sonho da grande imagem; esquecendo também que o Deus de Israel, por intermédio de Seu servo Daniel, tinha-lhe esclarecido o significado da imagem, e que em conexão com esta interpretação os grandes homens do reino tinham sido salvos de morte ignominiosa; esquecendo tudo, exceto o seu desejo de estabelecer o seu próprio poder e supremacia, o rei e seus conselheiros de Estado decidiram que todos os meios possíveis seriam utilizados para exaltar Babilônia como suprema, e digna de submissão universal. PR 257 1 A simbólica representação pela qual Deus tinha revelado ao rei e ao povo o Seu propósito para com as nações da Terra, ia agora servir para glorificação do poder humano. A interpretação de Daniel ia ser rejeitada e esquecida; a verdade ia ser mistificada e mal utilizada. O símbolo que o Céu designara servisse para desdobrar perante a mente dos homens importantes eventos do futuro, ia ser utilizado para impedir a divulgação do conhecimento que Deus desejava o mundo recebesse. Assim mediante a imaginação de homens ambiciosos, Satanás estava procurando frustrar o propósito divino em favor da raça humana. O inimigo da humanidade sabia que a verdade isenta de erro é uma força poderosa para salvar; mas que quando usada para exaltar o eu e favorecer os projetos dos homens, torna-se um poder para o mal. PR 257 2 Das ricas reservas do seu tesouro, Nabucodonosor mandou que se fizesse uma grande imagem de ouro, no seu aspecto geral semelhante a que tinha sido vista em visão, salvo no que respeitava ao material de que ia ser composta. Acostumados como estavam a magnificentes representações de suas divindades pagãs, os caldeus nunca dantes haviam produzido coisa mais imponente e majestosa que esta resplendente estátua, de sessenta côvados de altura, e seis de largura. E não é de surpreender que numa terra onde a idolatria era culto prevalecentemente universal, a imagem bela e sem preço erguida no campo de Dura, representando a glória de Babilônia e sua magnificência e poder, fosse consagrada como objeto de adoração. Em plena concordância com isto foi feita provisão, tendo sido expedido um decreto de que no dia da dedicação todos mostrassem sua suprema lealdade ao poder babilônico curvando-se diante da imagem. PR 257 3 O dia marcado chegou, e uma vasta multidão de todos os "povos, nações e línguas", se reuniu na planície de Dura. Em harmonia com o mandado do rei, quando o som de músicas foi ouvido, todos se prostraram, "e adoraram a estátua de ouro". Nesse dia memorável, os poderes das trevas pareciam haver ganho um assinalado triunfo; a adoração da imagem de ouro prometia tornar-se permanentemente relacionada com as formas estabelecidas de idolatria reconhecidas como religião do Estado no país. Satanás esperava dessa forma derrotar os propósitos de Deus de tornar a presença do cativo Israel em Babilônia um meio de abençoar a todas as nações do paganismo. PR 258 1 Mas Deus decidiu de outro modo. Nem todos haviam dobrado os joelhos ante o símbolo idólatra do humano poder. Em meio da multidão de adoradores havia três homens que estavam firmemente resolvidos a não desonrar assim ao Deus do Céu. O seu Deus era o Rei dos reis e Senhor dos senhores; a nenhum outro se curvariam. PR 258 2 A Nabucodonosor, inflado com o triunfo, foi levada a informação de que havia entre os seus súditos alguns que ousaram desobedecer ao seu mandado. Alguns dentre os sábios, enciumados pelas honras que tinham sido concedidas aos fiéis companheiros de Daniel, levavam agora ao rei o relato da sua flagrante violação aos desejos do rei. "Ó rei, vive eternamente" exclamaram. "Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem a estátua de ouro, que levantaste, adoraram." PR 258 3 O rei ordenou que os homens fossem levados perante ele. "É de propósito", ele perguntou, "que vós não servis a meus deuses nem adorais a estátua de ouro que levantei?" Ele procurou mediante ameaças induzi-los a se unirem com a multidão. Apontando para a fornalha ardente, lembrou-lhes a punição que os esperava se persistissem em sua recusa de obedecer a sua vontade. Mas firmemente os hebreus testificaram de sua fidelidade ao Deus do Céu, e de sua fé em Seu poder para livrar. O ato de se curvar ante a imagem fora compreendido por todos como um ato de adoração. Tal homenagem eles só poderiam render a Deus. PR 258 4 Ao estarem os três hebreus em presença do rei, este compreendeu que eles possuíam alguma coisa que faltava aos outros sábios do seu reino. Eles haviam sido fiéis no cumprimento de cada obrigação. Ele desejava dar-lhes outra oportunidade. Se tão-somente demonstrassem sua boa vontade em unir-se com a multidão em adoração à imagem, tudo iria bem com eles; "mas, se a não adorardes", ele aduziu, "sereis lançados, na mesma hora, dentro do forno de fogo ardente". Então com a mão estendida em desafio, exclamou: "E quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?" Daniel 3:9, 12-15. PR 258 5 Foram inúteis as ameaças do rei. Ele não logrou desviar os homens de sua obediência ao Governador do Universo. A história de seus pais lhes ensinara que a desobediência a Deus resulta em desonra, desastre e morte; e que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, o fundamento de toda verdadeira prosperidade. Enfrentando calmamente a fornalha eles responderam: "Não necessitamos de te responder sobre este negócio. Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; Ele nos livrará do forno de fogo ardente, e da tua mão, ó rei". Sua fé foi fortalecida ao declararem que Deus Se glorificaria em libertá-los, e com a triunfante segurança nascida da implícita confiança em Deus, acrescentaram: "E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste." PR 259 1 A ira do rei não conheceu limites. "Nabucodonosor se encheu de furor, e se mudou o aspecto do seu semblante contra Sadraque, Mesaque e Abede-Nego", representantes de uma raça cativa e desprezada. Ordenando que a fornalha fosse aquecida sete vezes mais que de costume, mandou que fortes homens de seu exército atassem os adoradores do Deus de Israel, como preparativo para a execução sumária. PR 259 2 "Então aqueles homens foram atados com as suas capas, seus calções, e seus chapéus, e seus vestidos, e foram lançados dentro do forno de fogo ardente. E, porque a palavra do rei apertava, e o forno estava sobremaneira quente, a chama do fogo matou aqueles homens que levantaram a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego". Daniel 3:16-22. PR 259 3 Mas o Senhor não esqueceu os Seus. Sendo Suas testemunhas lançadas na fornalha, o Salvador Se lhes revelou em pessoa, e junto com eles andava no meio do fogo. Na presença do Senhor do calor e do frio, as chamas perderam o seu poder de consumir. PR 259 4 Do seu real trono o rei olhava, esperando ver inteiramente consumidos os homens que o haviam desafiado. Mas seus sentimentos de triunfo subitamente mudaram. Os nobres que lhe estavam próximo viram sua face tornar-se pálida, enquanto ele descia do trono e olhava atentamente para dentro das chamas ardentes. Alarmado, o rei, voltando-se para os seus cortesãos, perguntou: "Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? [...] Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nada há de lesão neles; e o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses." PR 259 5 Como sabia o rei pagão a que era semelhante o Filho de Deus? Os cativos hebreus que ocupavam posição de confiança em Babilônia tinham representado a verdade diante dele na vida e no caráter. Quando perguntados pela razão de sua fé, tinham-na dado sem hesitação. Clara e singelamente tinham apresentado os princípios da justiça, ensinando assim aos que lhes estavam ao redor a respeito do Deus a quem adoravam. Eles tinham falado de Cristo, o Redentor vindouro; e na aparência do quarto no meio do fogo, o rei reconheceu o Filho de Deus. PR 259 6 E agora, esquecida sua própria grandeza e dignidade, Nabucodonosor desceu de seu trono, e encaminhando-se para a boca da fornalha, exclamou: "Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus altíssimo, saí e vinde". Daniel 3:24-26. PR 259 7 Então Sadraque, Mesaque e Abede-Nego saíram perante a vasta multidão, mostrando-se ilesos. A presença de seu Salvador tinha-os guardado de sofrerem dano, e unicamente suas amarras tinham-se queimado. "E ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, e os presidentes, e os capitães do rei, contemplando estes homens, e viram que o fogo não tinha tido poder algum sobre os seus corpos; nem um só cabelo de sua cabeça se tinha queimado, nem as suas capas se mudaram, nem cheiro de fogo tinha passado sobre eles." PR 260 1 Esquecida estava a grande imagem de ouro, erguida com tamanha pompa. Na presença do Deus vivo os homens temiam e tremiam. "Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego", o humilhado rei foi constrangido a reconhecer, "que enviou o Seu anjo, e livrou os Seus servos, que confiaram nEle, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem a algum outro deus, senão o seu Deus." PR 260 2 As experiências desse dia levaram Nabucodonosor a baixar um decreto, "pelo qual todo o povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, seja despedaçado, e suas casas sejam feitas um monturo". "Não há outro Deus", ele apresentou como razão para o decreto, "que possa livrar como Este". Daniel 3:27-29. PR 260 3 Com essas palavras e outras semelhantes o rei de Babilônia procurou espalhar entre todos os povos da Terra sua convicção de que o poder e autoridade do Deus dos hebreus eram dignos de suprema adoração. E Deus Se sentiu honrado com os esforços do rei para Lhe mostrar reverência e tornar a confissão real de obediência difundida por todo o domínio babilônico. PR 260 4 Era correto fazer o rei confissão pública, e procurar exaltar o Deus do Céu sobre todos os outros deuses; mas procurar forçar seus súditos a igual confissão de fé e mostrar semelhante reverência era exceder os seus direitos como soberano temporal. Não tinha ele maior direito, civil ou moral, de ameaçar os homens com a morte pela não adoração de Deus, do que tinha para fazer o decreto votando às chamas todos os que recusassem cultuar a imagem de ouro. Deus jamais compele o homem à obediência. A todos deixa livres para que escolham a quem desejam servir. PR 260 5 Pela libertação de Seus fiéis servos, o Senhor declarou que toma posição ao lado do oprimido, e repele todo poder terreno que se rebela contra a autoridade do Céu. Os três hebreus declararam a toda a nação babilônica sua fé nAquele a quem adoravam. Eles descansaram em Deus. Na hora de sua provação, lembraram-se da promessa: "Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti". Isaías 43:2. E de maneira maravilhosa sua fé no Deus vivo tinha sido honrada à vista de todos. A notícia de seu maravilhoso livramento fora levada a muitos países pelos representantes das diferentes nações que tinham sido convidadas por Nabucodonosor para a dedicação. Mediante a fidelidade de Seus filhos, Deus fora glorificado em toda a Terra. PR 260 6 Importantes são as lições a serem aprendidas da experiência dos jovens hebreus na planície de Dura. Nos dias atuais, muitos dos servos de Deus, embora inocentes de qualquer obra má, serão levados ao sofrimento, humilhação e abuso às mãos daqueles que, inspirados por Satanás, estão cheios de inveja e fanatismo religioso. A ira do homem será especialmente despertada contra os que santificam o sábado do quarto mandamento; e por fim um decreto universal denunciará a estes como dignos de morte. PR 261 1 Os tempos de provação que estão diante do povo de Deus reclamam uma fé que não vacile. Seus filhos devem tornar manifesto que Ele é o único objeto do seu culto, e que nenhuma consideração, nem mesmo o risco da própria vida, pode induzi-los a fazer a mínima concessão a um culto falso. Para o coração leal, as leis de homens pecaminosos e finitos se tornam insignificantes ao lado da Palavra do eterno Deus. A verdade será obedecida, embora o resultado seja prisão, exílio ou morte. PR 261 2 Como nos dias de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, no período final da história da Terra o Senhor operará poderosamente em favor dos que ficarem firmes pelo direito. Aquele que andou com os hebreus valorosos na fornalha ardente, estará com os Seus seguidores em qualquer lugar. Sua constante presença confortará e sustentará. Em meio do tempo de angústia -- angústia como nunca houve desde que houve nação -- Seus escolhidos ficarão firmes. Satanás com todas as forças do mal não pode destruir o mais fraco dos santos de Deus. Anjos magníficos em poder os protegerão, e em favor deles Jeová Se revelará como "Deus dos deuses" (Daniel 2:47), capaz de salvar perfeitamente os que nEle puseram a sua confiança. ------------------------Capítulo 42 -- A verdadeira grandeza PR 262 0 Este capítulo é baseado em Daniel 4. PR 262 1 Exaltado ao pináculo da honra mundana, e reconhecido mesmo pela Inspiração como "rei dos reis" (Ezequiel 26:7), Nabucodonosor não obstante algumas vezes tinha atribuído ao favor de Jeová a glória do seu reino e o esplendor do seu reinado. Este foi o caso quando do seu sonho da grande imagem. Seu espírito havia sido profundamente influenciado por esta visão, e pelo pensamento de que o império babilônico, embora universal, devia finalmente cair, e outros reinos haveriam de dominar, até que afinal todos os poderes da Terra fossem substituídos pelo reino a ser estabelecido pelo Deus do Céu, sendo que esse reino não seria jamais destruído. PR 262 2 A nobre concepção que Nabucodonosor tinha dos propósitos de Deus no tocante às nações fora perdido de vista posteriormente em sua experiência; e quando o seu orgulhoso espírito foi humilhado aos olhos da multidão no campo de Dura, ele uma vez mais reconheceu que o reino de Deus é "um reino eterno, e o Seu domínio de geração em geração". Idólatra por nascimento e educação, e cabeça de um povo idólatra, tinha ele contudo um inato senso da justiça e do direito, e Deus podia usá-lo como instrumento na punição dos rebeldes e para o cumprimento do propósito divino. Como um dos "mais formidáveis dentre as nações" (Ezequiel 28:7), foi dado a Nabucodonosor, após anos de paciência e infatigável labor, conquistar Tiro; o Egito também caiu presa de seus exércitos vitoriosos; e ao acrescentar ele nação após nação ao domínio babilônico, mais e mais cresceu a sua fama como o maior governante do século. PR 262 3 Não surpreende que o bem-sucedido monarca, tão ambicioso e de espírito tão exaltado, fosse tentado a desviar-se do caminho da humildade, o único que leva à verdadeira grandeza. Nos intervalos de suas guerras de conquista, dedicou-se muito a embelezar e fortificar sua capital, até que afinal a cidade de Babilônia se tornou a principal glória do seu reino, "a cidade dourada" (Isaías 14:4), o louvor de toda a Terra. Sua paixão como construtor, e seu assinalado sucesso em tornar Babilônia uma das maravilhas do mundo, trabalharam o seu orgulho, até que ele esteve no grave perigo de despojar o seu registro do fato de ser um sábio rei a quem Deus poderia usar como instrumento para executar o propósito divino. PR 262 4 Em misericórdia Deus deu ao rei outro sonho, para adverti-lo do perigo em que estava, e do engano a que tinha sido levado para sua ruína. Numa visão da noite, foi mostrado a Nabucodonosor uma grande árvore que crescia no meio da Terra, cujo topo alcançava o céu, e seus ramos se estendiam até as extremidades da Terra. Animais dos campos e montanhas se abrigavam sob sua sombra, e as aves do céu construíam ninhos em seus ramos. "A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos; [...] e toda carne se mantinha dela". Daniel 4:12. PR 263 1 Estando o rei a contemplar a árvore altaneira, viu ele que "um vigia, um santo" (Daniel 4:13), se aproximou da árvore, e em alta voz clamou: PR 263 2 "Derribai a árvore, e cortai-lhe os ramos, e sacudi as suas folhas, e espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela e as aves dos seus ramos. Mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais na grama da terra. Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigiadores, e esta ordem, por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens; e os dá a quem quer e até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles". Daniel 4:14-17. PR 263 3 Grandemente perturbado pelo sonho, que era evidentemente uma predição de adversidade, o rei repetiu-o para "os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores" (Daniel 4:7), mas embora o sonho fosse muito explícito, nenhum dos sábios pôde interpretá-lo. PR 263 4 Uma vez mais nessa nação idólatra devia ser dado testemunho do fato de que unicamente aqueles que amam e temem a Deus podem compreender os mistérios do reino do Céu. O rei em sua perplexidade mandou em busca de seu servo Daniel, homem estimado por sua integridade e constância e por sua inigualada sabedoria. PR 263 5 Quando Daniel, em resposta à convocação real, apresentou-se ante o rei, Nabucodonosor disse: "Beltessazar, príncipe dos magos, eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum segredo te é difícil; dize-me as visões do meu sonho que tive e a sua interpretação". Daniel 4:9. Após relatar o sonho, Nabucodonosor disse: "Tu, pois, Beltessazar, dize a interpretação; todos os sábios do meu reino não puderam fazer-me saber a interpretação, mas tu podes; pois há em ti o espírito dos deuses santos". Daniel 4:18. PR 263 6 Para Daniel o significado do sonho foi claro, e este significado o alarmou. Ele "esteve atônito quase uma hora, e os seus pensamentos o turbavam". Percebendo a hesitação e angústia de Daniel, o rei manifestou simpatia por seu servo. "Beltessazar", disse ele, "não te espante o sonho, nem a sua interpretação." PR 263 7 "Senhor meu", respondeu Daniel, "o sonho seja contra os que te têm ódio, e a sua interpretação, para os teus inimigos". Daniel 4:19. O profeta compreendeu que sobre ele tinha Deus colocado o solene dever de revelar a Nabucodonosor o juízo que estava para lhe sobrevir em virtude de seu orgulho e arrogância. Daniel precisava interpretar o sonho em linguagem que o rei pudesse compreender; e embora o seu terrível conteúdo o tivesse feito hesitar em muda estupefação, ele tinha que dizer a verdade, fossem quais fossem as conseqüências para si. PR 264 1 Então Daniel deu a conhecer o mandado do Todo-poderoso. "A árvore que viste", disse ele, "que cresceu e se fez forte, cuja altura chegava até ao céu, e que foi vista por toda a Terra; cujas folhas eram formosas, e o seu fruto, abundante, e em que para todos havia mantimento; debaixo da qual moravam os animais do campo, e em cujos ramos habitavam as aves do céu, és tu, ó rei, que cresceste e te fizeste forte; a tua grandeza cresceu e chegou até ao céu, e o teu domínio, até à extremidade da Terra. PR 264 2 "E, quanto ao que viu o rei, um vigia, um santo, que descia do céu e que dizia: Cortai a árvore e destruí-a, mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais do campo, até que passem sobre ele sete tempos, esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: serás tirado de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. E, quanto ao que foi dito, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o Céu reina". Daniel 4:20-26. PR 264 3 Havendo interpretado fielmente o sonho, Daniel apelou ao orgulhoso monarca para que se arrependesse e voltasse para Deus, para que pelo reto proceder ele pudesse desviar a calamitosa ameaça. "Ó rei", suplicou o profeta, "aceita o meu conselho e desfaze os teus pecados pela justiça e as tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres, e talvez se prolongue a tua tranqüilidade". Daniel 4:27. PR 264 4 Por algum tempo a impressão da advertência e o conselho do profeta exerceu forte influência sobre Nabucodonosor; mas o coração não transformado pela graça de Deus logo perde as impressões do Espírito Santo. A condescendência própria e ambição não haviam ainda sido erradicadas do coração do rei, e esses traços mais tarde reapareceram. Não obstante a instrução tão graciosamente dada, e as advertências da passada experiência, Nabucodonosor permitiu-se ser controlado pelo espírito de ciúmes em relação aos reinos que se deviam seguir. Seu governo, que até então havia sido em grande medida justo e misericordioso, tornou-se opressor. Endurecendo o seu coração, ele usou os talentos que Deus lhe dera para a glorificação de si mesmo, exaltando-se acima do Deus que lhe dera vida e poder. PR 264 5 Por meses, o juízo de Deus foi retardado. Mas em vez de ser levado ao arrependimento por esta tolerância, o rei acariciou o seu orgulho até que perdeu a confiança na interpretação do sonho, e riu de seus antigos temores. PR 265 1 Um ano depois que havia recebido a advertência, andando Nabucodonosor a passear em seu palácio, e pensando com orgulho sobre o seu poder como governante e sobre o seu sucesso como edificador, exclamou: "Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?" Daniel 4:30. PR 265 2 Enquanto a jactanciosa declaração estava ainda nos lábios do rei, uma voz do céu anunciou que o tempo indicado por Deus para o juízo havia chegado. Em seus ouvidos caiu o mandado de Jeová: "A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer". Daniel 4:31, 32. PR 265 3 Num momento a razão que Deus lhe havia dado foi tirada; o discernimento que o rei julgada perfeito, a sabedoria de que ele se orgulhava, foram removidos, e o até então poderoso governante tornou-se de momento um maníaco. Sua mão não pôde mais suster o cetro. As mensagens de advertência haviam sido desatendidas; agora, destituído do poder que o seu Criador lhe havia dado, e expulso dentre os homens, Nabucodonosor "passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves". Daniel 4:33. PR 265 4 Durante sete anos Nabucodonosor foi um espanto para todos os seus súditos; por sete anos foi humilhado perante todo o mundo. Então sua razão foi restaurada, e levantando os olhos em humildade ao Deus do Céu, ele reconheceu a mão divina no seu castigo. Numa proclamação pública ele admitiu a sua culpa, e a grande misericórdia de Deus em sua restauração. "Ao fim daqueles dias", ele disse, "eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da Terra são por Ele reputados em nada; e segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do Céu e os moradores da Terra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes? PR 265 5 "Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária grandeza". Daniel 4:34-36. PR 265 6 O outrora orgulhoso rei tinha-se tornado um humilde filho de Deus; o governante tirânico e opressor tornara-se um rei sábio e compassivo. Aquele que tinha desafiado o Deus do Céu e dEle blasfemado, reconhecia agora o poder do Altíssimo, e fervorosamente procurou promover o temor de Jeová e a felicidade dos seus súditos. Sob a repreensão dAquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, Nabucodonosor tinha afinal aprendido a lição que todos os reis precisam aprender -- de que a verdadeira grandeza consiste na verdadeira bondade. Ele reconheceu a Jeová como o Deus vivo, dizendo: "Eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do Céu, porque todas as Suas obras são verdadeiras, e os Seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba". Daniel 4:37. PR 266 1 O propósito de Deus de que o maior reino do mundo mostrasse o Seu louvor, estava agora cumprido. Esta proclamação pública, em que Nabucodonosor reconhecia a misericórdia, bondade e autoridade de Deus, foi o último ato de sua vida registrado na história sacra. ------------------------Capítulo 43 -- O vigia invisível PR 267 0 Este capítulo é baseado em Daniel 5. PR 267 1 Para o fim da vida de Daniel, grandes mudanças tiveram lugar na terra para a qual, havia mais de sessenta anos, ele e seus companheiros hebreus tinham sido levados cativos. Nabucodonosor, "o mais formidável dentre as nações" (Ezequiel 28:7), tinha morrido, e Babilônia, "a glória de toda a Terra" (Jeremias 51:41), tinha passado às mãos de desavisados sucessores, e a dissolução estava sendo o resultado gradual mas certo. PR 267 2 Graças à loucura e fragilidade de Belsazar, o neto de Nabucodonosor, a orgulhosa Babilônia devia logo cair. Admitido em sua juventude a partilhar da autoridade real, Belsazar se gloriou de seu poder, e exaltou-se em seu coração contra o Deus do Céu. Muitas tinham sido as suas oportunidades de conhecer a vontade divina, e compreender sua responsabilidade de render-Lhe obediência. Estava ele informado do banimento de seu avô, pelo decreto de Deus, da sociedade dos homens; e estava familiarizado com a conversão e miraculosa restauração de Nabucodonosor. Mas Belsazar permitiu que o amor dos prazeres e a glorificação do eu obliterassem as lições que jamais devia ter esquecido. Ele desperdiçou as oportunidades que graciosamente lhe foram providas, e negligenciou o uso dos meios que estavam ao seu alcance para se tornar mais amplamente familiarizado com a verdade. Aquilo que Nabucodonosor tinha finalmente alcançado a preço de inauditos sofrimentos e humilhação, Belsazar passou por alto com indiferença. PR 267 3 Não demorou que viessem os contratempos. Babilônia foi sitiada por Ciro, sobrinho de Dario, o medo, e comandante geral dos exércitos combinados da Média e da Pérsia. Mas dentro das fortalezas aparentemente inexpugnáveis, com suas muralhas maciças e seus portões de bronze, protegida pelo rio Eufrates, e com abundante provisão em estoque, o voluptuoso rei sentiu-se seguro, e passava seu tempo em folguedos e festança. PR 267 4 Em seu orgulho e arrogância, com um temerário senso de segurança, Belsazar "deu um grande banquete a mil dos seus grandes, e bebeu vinho na presença dos mil". Daniel 5:1. Todas as atrações que a riqueza e o poder podem proporcionar, acrescentavam esplendor à cena. Belas mulheres com seus encantos estavam entre os hóspedes em atendimento ao banquete real. Homens de talento e educação estavam presentes. Príncipes e estadistas bebiam vinho como água, e se aviltavam sob sua enlouquecedora influência. PR 268 1 A razão destronada pela despudorada intoxicação, os mais baixos impulsos e paixões agora em ascendência, o rei em pessoa tomou a dianteira na dissoluta orgia. Ao prosseguir a festa, ele "mandou trazer os vasos de ouro e de prata, que Nabucodonosor, [...] tinha tirado do templo que estava em Jerusalém, para que bebessem por eles". O rei queria provar que nada era demasiado sagrado para que suas mãos tocassem. "Então trouxeram os vasos de ouro [...] e beberam por eles o rei, os seus grandes, as suas mulheres e concubinas. Beberam o vinho, e deram louvores aos deuses de ouro, e de prata, de cobre, de ferro, de madeira, e de pedra". Daniel 5:2-4. PR 268 2 Mal imaginava Belsazar que havia uma Testemunha celestial de sua grosseira idolatria; que um divino Vigia, incógnito, olhava a cena de profanação, ouvia a sacrílega hilaridade, contemplava a idolatria. Mas logo o Hóspede não convidado fez sentir a Sua presença. Quando a orgia ia alta, uma pálida mão apareceu, e traçou na parede do palácio caracteres que luziam como fogo -- palavras que, embora desconhecidas ao vasto auditório, eram um sinal de condenação ao rei, agora ferido em sua consciência, e seus hóspedes. PR 268 3 Cessou a ruidosa festa, enquanto homens e mulheres, possuídos de terror, observavam a mão traçando os misteriosos caracteres. Perante eles passaram-se, como numa visão panorâmica, as obras de suas vidas más; parecia-lhes estarem citados ante o tribunal do eterno Deus, cujo poder eles acabavam de desafiar. Onde apenas poucos momentos antes havia hilaridade e ditos blasfemos, viam-se agora faces pálidas e exclamações de terror. Quando Deus faz os homens temerem, eles não podem ocultar a intensidade desse terror. PR 268 4 Belsazar era o mais aterrorizado de todos eles. Era ele que, sobre todos os demais, tinha sido responsável pela rebelião contra Deus, que nessa noite alcançara o seu apogeu no domínio babilônico. Na presença da invisível Testemunha, representante dAquele cujo poder tinha sido desafiado e cujo nome fora blasfemado, o rei sentiu-se paralisado de temor. A consciência despertou. "As juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro." Belsazar se levantara impiamente contra o Deus do Céu, e tinha confiado em seu próprio poder, não supondo que alguém ousasse dizer: "Por que fazes isto?" Mas agora sentia que precisava prestar contas da sua mordomia, e que por suas oportunidades malbaratadas e desafiadora atitude não podia apresentar justificativas. PR 268 5 Em vão o rei procurou ler as letras de fogo. Mas ali estava um segredo que ele não podia compreender e um poder que ele não podia nem compreender e nem contestar. Em desespero ele se voltou para os sábios do reino em busca de auxílio. Suas desvairadas exclamações irromperam na assembléia, chamando os astrólogos, os caldeus, os adivinhos, para que lhe lessem a escritura. "Qualquer que ler esta escritura", ele prometeu, "e me declarar a sua interpretação, será vestido de púrpura, e trará uma cadeira de ouro ao pescoço, e será no reino o terceiro dominador." Mas de nada adiantaram seus apelos a seus acreditados conselheiros com promessas de rica recompensa. A sabedoria celestial não pode ser comprada ou vendida. "Todos os sábios do rei [...] não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação". Daniel 5:6-8. Eles não eram mais capazes de ler os misteriosos caracteres do que tinham sido os sábios da geração anterior de interpretar os sonhos de Nabucodonosor. PR 269 1 Então a rainha-mãe se lembrou de Daniel que, cerca de meio século antes, tinha feito conhecer ao rei Nabucodonosor o sonho da grande imagem e sua interpretação. "Ó rei, vive para sempre" disse ela. "Não se turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. Há no teu reino um homem, que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses; e [...] o rei Nabucodonosor [...] o constituiu chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus, e dos adivinhadores; porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente, e ciência e entendimento, interpretando sonhos, e explicando enigmas, e solvendo dúvidas, ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar. Chame-se pois agora Daniel e ele dará a interpretação. PR 269 2 "Então Daniel foi introduzido à presença do rei." Fazendo um esforço para reconquistar sua compostura, Belsazar disse ao profeta: "És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá? Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos deuses está em ti, e que a luz, e o entendimento e a excelente sabedoria se acham em ti. Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e os astrólogos, para lerem esta escritura, e me fazerem saber a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas palavras. Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solver dúvidas. Agora, se puderes ler esta escritura, e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, e terás cadeia de ouro ao pescoço, e no reino serás o terceiro dominador". Daniel 5:10-16. PR 269 3 Diante dessa aterrorizada aglomeração, Daniel, insensível às promessas do rei, permanecia na tranqüila dignidade de um servo do Altíssimo, não para pronunciar palavras de adulação, mas para interpretar uma mensagem de condenação. "Os teus dons fiquem contigo", ele disse, "e dá os teus presentes a outro; todavia lerei ao rei a escritura, e lhe farei saber a interpretação." PR 269 4 O profeta primeiro lembrou a Belsazar assuntos que lhe eram familiares, mas que lhe não tinham ensinado a lição de humildade que poderia tê-lo salvo. Ele falou do pecado e queda de Nabucodonosor, e do trato do Senhor para com ele -- o domínio e glória que lhe foram concedidos, o juízo divino por seu orgulho e subseqüente reconhecimento do poder e misericórdia do Deus de Israel; e então com palavras ousadas e enfáticas ele repreendeu a Belsazar por sua grande impiedade. Ele trouxe o pecado do rei ante este, mostrando-lhe as lições que ele podia ter aprendido mas não aprendeu. Belsazar não tinha compreendido corretamente a experiência de seu avô, nem acatara as advertências de fatos tão significativos para si. A oportunidade de conhecer e obedecer ao verdadeiro Deus tinha-lhe sido dada, mas não tinha sido levada ao coração, e ele estava prestes a colher as conseqüências da sua rebelião. PR 270 1 "E tu [...] Belsazar", o profeta declarou, "não humilhaste o teu coração, ainda que soubesses tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do Céu, pois foram trazidos os vasos da casa dEle perante ti, e tu, os teus grandes, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho por eles; além disto, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de cobre, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e todos os teus caminhos, a Ele não glorificaste. Então dEle foi enviada aquela parte da mão, e escreveu-se esta escritura". PR 270 2 Tornando à mensagem do Céu escrita na parede, o profeta leu: "MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM." A mão que havia traçado os caracteres não se via mais, mas estas quatro palavras estavam ainda luzindo com terrível clareza; e agora com a respiração suspensa o povo estava atento enquanto o idoso profeta declarava: "Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino, e o acabou. TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta. PERES: Dividido foi o teu reino, e deu-se aos medos e aos persas". Daniel 5:17-28. PR 270 3 Nessa última noite de louca orgia, Belsazar e seus grandes tinham enchido a medida de sua culpa e da culpa do reino caldeu. A mão de Deus não mais desviaria o mal impendente. Através de multiformes providências, Deus tinha procurado ensinar-lhes reverência por Sua lei. "Queríamos sarar Babilônia", declarou Ele a respeito daqueles cujo juízo agora alcançava o Céu, "mas ela não sarou". Jeremias 51:9. Em virtude da estranha perversidade do coração humano, Deus achou ser necessário afinal passar a irrevogável sentença. Belsazar devia cair, e seu reino devia passar a outras mãos. PR 270 4 Havendo o profeta terminado de falar, o rei ordenou que fossem cumpridas as honras prometidas; e em harmonia com isto, "mandou Belsazar que vestissem a Daniel de púrpura, e que lhe pusessem uma cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem a respeito dele que havia de ser o terceiro dominador do reino". Daniel 5:29. PR 270 5 Mais de um século antes a Inspiração havia predito que "a noite que eu desejava", quando o rei e seus conselheiros se rivalizariam em blasfêmias contra Deus, seria mudada subitamente numa ocasião de destruição e temor. E agora, em rápida sucessão, momentosos eventos seguiam-se uns aos outros exatamente como tinham sido retratados pelas escrituras proféticas anos antes que os principais personagens do drama tivessem nascido. PR 271 1 Enquanto ainda no salão de festas, rodeado por aqueles cuja sorte tinha sido selada, o rei foi informado por um mensageiro que "a sua cidade foi tomada" pelo inimigo contra cujos planos ele se imaginara seguro; que "os vaus estão ocupados [...] e os homens de guerra ficaram assombrados". Jeremias 51:31, 32. No exato momento em que o rei e seus nobres estavam bebendo pelos vasos sagrados de Jeová, e louvando a seus deuses de prata e outro, os medos e persas, havendo desviado do seu leito o Eufrates, estavam marchando para o coração da cidade desguarnecida. O exército de Ciro estava agora sob os muros do palácio; a cidade estava cheia de soldados inimigos "como de pulgão" (Jeremias 51:14), e seus gritos triunfantes podiam ser ouvidos sobre o desesperado clamor dos foliões atônitos. PR 271 2 "Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus" (Daniel 5:30), e um rei estrangeiro ocupou o trono. PR 271 3 Os profetas hebreus haviam falado claramente sobre a maneira como Babilônia devia cair. Havendo-lhes Deus revelado em visão os eventos do futuro, eles exclamaram: "Como foi tomada Sesaque, e apanhada de surpresa a glória de toda a Terra como se tornou Babilônia um espanto entre as nações" "Como foi cortado e quebrado o martelo de toda a Terra! Como se tornou Babilônia em espanto entre as nações"! Jeremias 51:41. "Ao estrondo da tomada de Babilônia estremeceu a terra; e o grito se ouviu entre as nações". Jeremias 50:23, 46. PR 271 4 "Num momento caiu Babilônia." "Porque o destruidor vem sobre ela, sobre Babilônia, e os seus valentes serão presos, já estão quebrados os seus arcos; porque o Senhor, Deus das recompensas, certamente lhe retribuirá. E embriagarei os seus príncipes, e os seus sábios, e os seus capitães, e os seus magistrados, e os seus valentes; e dormirão um sono perpétuo, e não acordarão, diz o Rei, cujo nome é o Senhor dos Exércitos". Jeremias 51:8, 56, 57. PR 271 5 "Laços te armei, e também foste presa, ó Babilônia, e tu não o soubeste; foste achada, e também apanhada, porque contra o Senhor te entremeteste. O Senhor abriu o teu tesouro, e tirou os instrumentos da Sua indignação; porque o Senhor, o Senhor dos Exércitos, tem uma obra a realizar na terra dos caldeus." PR 271 6 "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os filhos de Israel e os filhos de Judá foram oprimidos juntamente; e todos os que os levaram cativos os retiveram, não os quiseram soltar. Mas o seu Redentor é forte, o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; certamente pleiteará a causa deles, para dar descanso à terra, e inquietar os moradores de Babilônia". Jeremias 50:24, 25, 33, 34. PR 271 7 Assim, "os largos muros de Babilônia" foram "totalmente derribados, e as suas portas excelsas [...] abrasadas pelo fogo". Assim Jeová dos Exércitos fez "cessar a arrogância dos atrevidos", e abateu "a soberba dos tiranos". Jeremias 51:58. Assim Babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos caldeus", tornou-se como Sodoma e Gomorra -- um lugar para sempre amaldiçoado. "Nunca mais será habitada", a Inspiração havia declarado, "nem reedificada de geração em geração; nem o árabe armará ali a sua tenda, nem tão pouco os pastores ali farão deitar os seus rebanhos. Mas as feras do deserto repousarão ali, e as suas casas se encherão de horríveis animais; e ali habitarão as avestruzes, e os sátiros pularão ali. E as feras que uivam gritarão umas às outras nos seus palácios vazios, como também os chacais nos seus palácios de prazer". Isaías 13:11, 19-22. "E reduzi-la-ei a possessão de corujas e a lagoas de águas, e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos". Isaías 14:23. PR 272 1 Ao último rei de Babilônia, como em tipo ao primeiro, viera a sentença do divino Vigia: "A ti se diz, ó rei: Passou de ti o reino". Daniel 4:31. PR 272 2 "Desce, e assenta-te no pó, ó virgem filha de Babilônia; assenta-te no chão; não há já trono. [...] Assenta-te silenciosa, e entra nas trevas, ó filha dos caldeus, porque nunca mais serás chamada senhora de reinos. Muito agastei contra o Meu povo, tornei profana a Minha herança, e os entreguei na tua mão; não usaste com eles de misericórdia. [...] E dizias: Eu serei senhora para sempre; até agora não tomaste estas coisas em teu coração, nem te lembraste do fim delas. Agora pois ouve isto, tu que és dada a delícias, que habitas tão segura, que dizes no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos. [...] Mas ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; em toda a sua força virão sobre ti, por causa da multidão das tuas feitiçarias, por causa da abundância dos teus muitos encantamentos. Porque confiaste na tua maldade, e disseste: Ninguém me pode ver. A tua sabedoria e a tua ciência, isto te fez desviar, e disseste no teu coração: Eu sou, e fora de mim não há outra. Pelo que sobre ti virá mal de que não saberás a origem, e tal destruição cairá sobre ti, que a não poderás afastar; porque virá sobre ti de repente tão tempestuosa desolação, que a não poderás conhecer. Deixa-te estar com os teus encantamentos, e com a multidão das tuas feitiçarias em que trabalhaste desde a tua mocidade, e ver se podes tirar proveito, ou, se porventura te podes fortificar. Cansaste-te na multidão dos teus conselheiros; levantem-se pois agora os agoureiros do céu, os que contemplavam os astros, e salvem-te do que há de vir sobre ti. Eis que serão como a pragana [...] Não poderão salvar a tua vida do poder da labareda [...] Ninguém te salvará". Isaías 47:1-15. PR 272 3 A cada nação que tem surgido no cenário da ação tem sido permitido ocupar o seu lugar na Terra, para que seja comprovado o fato de que ela cumpriu ou não os propósitos do Santo e Vigia. A profecia traçou o surgimento e progresso dos grandes impérios mundiais: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Com cada uma delas, bem como com as nações de menos poder, a história tem-se repetido. Cada uma tem o seu período de prova; cada uma tem falhado, sua glória fenecido e passado seu poder. PR 273 1 Conquanto as nações tenham rejeitado os princípios de Deus, e nesta rejeição tenham obrado a própria ruína, um divino e soberano propósito tem manifestamente estado a operar através dos séculos. Foi isto que o profeta Ezequiel viu na maravilhosa representação que lhe foi dada durante o exílio na terra dos caldeus, quando ante os seus olhos atônitos foram apresentados os símbolos que revelavam um Poder dominante que trata com os negócios dos soberanos terrestres. PR 273 2 Sobre as barrancas do rio Quebar, Ezequiel contemplou um vento tempestuoso que parecia vir do norte, "uma grande nuvem, como um fogo a revolver-se; e um resplendor ao redor dela, e no meio uma coisa como cor de âmbar". Uma porção de rodas intercaladas umas nas outras eram movidas por quatro seres viventes. E por cima de tudo "havia uma semelhança de trono, como de uma safira; e sobre a semelhança do trono havia como que a semelhança dum homem, no alto, sobre ele". Ezequiel 1:4, 26. "E apareceu nos querubins uma semelhança de mão de homem debaixo de suas asas". Ezequiel 10:8. As rodas eram de um arranjo tão complicado, que à primeira vista pareciam uma confusão; não obstante elas se moviam em perfeita harmonia. Seres celestiais, sustentados e guiados pela mão sob as asas dos querubins, estavam impelindo essas rodas; acima deles, sobre o trono de safira, estava o Eterno; e ao redor do trono havia um arco-íris, símbolo da divina misericórdia. PR 273 3 Assim como as rodas com aparência tão complicada estavam sob a guia da mão por baixo das asas dos querubins, também o complicado jogo dos eventos humanos está sob divino controle. Em meio a lutas e tumultos das nações, Aquele que Se assenta sobre querubins ainda guia os negócios da Terra. PR 273 4 A história das nações fala-nos a nós hoje. Deus tem designado um lugar em Seu grande plano para cada nação e cada indivíduo. Homens e nações estão sendo hoje testados pelo prumo na mão dAquele que não erra. Todos estão por sua própria escolha decidindo o seu destino, e Deus está superintendendo a tudo para a realização dos Seus propósitos. PR 273 5 As profecias que o grande EU SOU tem dado em Sua Palavra, unindo elo com elo na cadeia dos acontecimentos, da eternidade no passado à eternidade no futuro, dizem-nos onde estamos hoje na sucessão dos séculos, e o que se pode esperar no tempo por vir. Tudo o que a profecia tem predito que haveria de acontecer, até o presente, tem tomado lugar nas páginas da História, e podemos estar certos de que tudo quanto ainda está por suceder será cumprido no seu devido tempo. PR 273 6 Hoje os sinais dos tempos declaram que estamos no limiar de grandes e solenes eventos. Tudo em nosso mundo está em agitação. Ante nossos olhos cumprem-se as profecias do Salvador, de acontecimentos que precederiam Sua vinda. "E ouvireis de guerras e de rumores de guerra. [...] Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares". Mateus 24:6, 7. PR 274 1 O tempo presente é de dominante interesse para todo o vivente. Governadores e estadistas, homens que ocupam posições de confiança e autoridade, homens e mulheres pensantes de todas as classes, têm fixa a sua atenção nos fatos que se desenrolam em redor de nós. Acham-se a observar as relações tensas e inquietas que existem entre as nações. Observam a intensidade que está tomando posse de todo o elemento terrestre, e reconhecem que algo de grande e decisivo está para ocorrer, ou seja, que o mundo se encontra à beira de uma crise estupenda. PR 274 2 Só a Bíblia permite uma visão correta dessas coisas. Nela estão reveladas as grandes cenas finais da história de nosso mundo, acontecimentos que já estão lançando suas primeiras sombras, o som de cuja aproximação fazendo tremer a Terra, e o coração dos homens desmaiando de terror. PR 274 3 "Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores [...] porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão desolados". Isaías 24:1-6. PR 274 4 "Ah! aquele dia porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-poderoso. [...] A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns derribados, porque se secou o trigo. Como geme o gado as manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas são destruídos". "A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens". Joel 1:15-18, 12. PR 274 5 "Estou ferido no meu coração! [...] não me posso calar, porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. Quebranto sobre quebranto se apregoa; porque já toda a Terra está destruída". Jeremias 4:19, 20. PR 274 6 "Ah porque aquele dia é tão grande que não houve outro semelhante e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela". Jeremias 30:7. PR 274 7 "Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. PR 274 8 Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará a tua tenda". Salmos 91:9, 10. PR 274 9 "Ó filha de Sião [...] ali te remirá o Senhor da mão de teus inimigos. Agora se congregaram muitas nações contra ti, que dizem: Seja profanada, e os nossos olhos verão o seu desejo sobre Sião. Mas não sabem os pensamentos do Senhor, nem entendem o Seu conselho". Miquéias 4:10-12. Deus não faltará a Sua igreja na hora do maior perigo. Ele prometeu livramento. "Eis que acabarei o cativeiro das tendas de Jacó", Ele declarou, "e apiedar-Me-ei das suas moradas". Jeremias 30:18. PR 274 10 Então o propósito de Deus se cumprirá; os princípios do Seu reino serão honrados por todos os que habitam debaixo do Sol. ------------------------Capítulo 44 -- Na cova dos leões PR 275 0 Este capítulo é baseado em Daniel 6. PR 275 1 Quando Dario, o Medo, subiu ao trono anteriormente ocupado pelos reis babilônicos, tomou para logo medidas no sentido de reorganizar o governo. Ele constituiu "sobre o reino a cento e vinte presidentes [...] e sobre eles três príncipes, dos quais Daniel era um, aos quais estes presidentes dessem conta, para que o rei não sofresse dano. Então o mesmo Daniel se distinguiu destes príncipes e presidentes, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino". PR 275 2 As honras concedidas a Daniel despertaram o ciúme dos líderes do reino, e eles procuravam ocasião de queixa contra ele. Mas não podiam achar, "porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa". PR 275 3 A irrepreensível conduta de Daniel provocou ainda mais a inveja dos seus inimigos. "Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel", eles foram constrangidos a reconhecer, "se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus". Daniel 6:1-5. PR 275 4 Então presidentes e príncipes, em mútuo conselho, traçaram um plano pelo qual esperavam conseguir a destruição do profeta. Eles se determinaram pedir ao rei a assinatura de um decreto proibindo que qualquer pessoa no reino fizesse alguma petição a qualquer deus ou a qualquer homem, que não a Dario, o rei, pelo espaço de trinta dias. A violação deste decreto seria punida lançando-o o transgressor na cova dos leões. PR 275 5 De comum acordo os príncipes prepararam o referido decreto, e apresentaram-no a Dario para que este o assinasse. Apelando a sua vaidade, eles o persuadiram de que a execução deste decreto lhe acrescentaria grande honra e autoridade. Ignorando o sutil propósito dos príncipes, o rei não percebeu a animosidade deles no edito, e cedendo a sua lisonja assinou-o. PR 275 6 Os inimigos de Daniel deixaram a presença de Dario, exaltando-se a respeito do laço que seguramente haviam armado para o servo de Jeová. Na conspiração assim formada tinha Satanás desempenhado importante parte. O profeta havia sido exaltado em mando no reino, e os anjos maus temiam que sua influência pudesse enfraquecer-lhes o controle sobre seus governantes. Foram essas forças satânicas que impeliram os príncipes a sentir inveja e ciúmes; foram eles que inspiraram o plano da destruição de Daniel; e os príncipes, rendendo-se aos instrumentos do mal, levaram-nos à execução. PR 275 7 Os inimigos do profeta contavam com o firme apego de Daniel ao princípio para o sucesso de seu plano. E eles não estavam errados na estimativa do seu caráter. Ele percebeu logo o maligno propósito que tiveram na elaboração do decreto, mas não mudou a sua conduta num mínimo que fosse. Por que deveria ele deixar de orar agora, quando mais necessário era orar? Antes renunciaria à própria vida a renunciar a sua esperança de auxílio em Deus. Tranqüilamente ele desempenhou seus deveres como chefe dos príncipes; e na hora da oração dirigiu-se para o seu aposento, e com as janelas abertas para o lado de Jerusalém, de acordo com o costume, fez as suas petições ao Deus do Céu. Ele não procurou ocultar o seu ato. Embora soubesse muito bem quais as conseqüências de sua fidelidade a Deus, seu espírito não vacilou. Ante os que estavam tramando a sua ruína, ele não permitira sequer a aparência de que sua ligação com o Céu estava interrompida. Em todos os casos onde o rei tivesse o direito de ordenar, Daniel obedeceria; mas nem o rei nem o seu decreto poderiam fazê-lo desviar-se de sua obediência ao Rei dos reis. PR 276 1 Assim ousada, embora quieta e humildemente, o profeta declarou que nenhum poder terreno tem o direito de interpor-se entre a alma e Deus. Cercado por idólatras, ele era uma fiel testemunha desta verdade. Seu inquebrantável apego ao direito era uma brilhante luz nas trevas morais dessa corte pagã. Daniel está perante o mundo hoje como um digno exemplo do destemor e fidelidade cristãos. PR 276 2 Durante todo um dia os príncipes observaram Daniel. Três vezes viram-no dirigir-se ao seu aposento, e três vezes ouviram sua voz erguer-se em fervente intercessão a Deus. Na manhã seguinte fizeram sua denúncia perante o rei. Daniel, seu mais honrado e fiel estadista, tinha votado ao desprezo o decreto real. "Porventura não assinaste o edito", lembraram-lhe, "pelo qual todo o homem que fizesse uma petição a qualquer deus, ou qualquer homem, por espaço de trinta dias, e não a ti, ó rei, seria lançado na cova dos leões?" PR 276 3 "Esta palavra é certa", respondeu o rei, "conforme a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar". PR 276 4 Exultantemente informaram eles agora a Dario da conduta do seu mais acatado conselheiro. "Daniel, que é dos transportados de Judá", exclamaram, "não tem feito caso de ti, ó rei, nem do edito que assinaste, antes três vezes ao dia faz a sua oração". Daniel 6:12, 13. PR 276 5 Quando o rei ouviu essas palavras, viu de imediato o laço que havia sido armado para o seu fiel servo. Compreendeu que não fora o zelo pela honra e glória real, mas a inveja de Daniel, o que os levara a propor o decreto real. "Penalizado" pela parte que havia desempenhado no mal que se praticara, o rei "até o pôr-do-sol trabalhou" para salvar seu amigo. Os príncipes, prevendo este esforço da parte do rei, vieram a ele com as palavras: "Sabe, ó rei, que é uma lei dos medos e dos persas que nenhum edito ou ordenança, que o rei determine, se pode mudar." O decreto, embora feito de afogadilho, era inalterável, e devia produzir os seus efeitos. PR 277 1 "Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e o lançassem na cova dos leões. E, falando o rei, disse a Daniel: "O teu Deus, a quem tu continuamente serves, Ele te livrará." Uma pedra foi posta na boca da cova, e o próprio rei "a selou com o seu anel e com o anel dos seus grandes, para que se não mudasse a sentença acerca de Daniel. Então o rei dirigiu-se para o seu palácio, e passou a noite em jejum, e não deixou trazer a sua presença instrumentos de música, e fugiu dele o sono". Daniel 6:14-18. PR 277 2 Deus não impediu os inimigos de Daniel de lançarem-no na cova dos leões; Ele permitiu que anjos maus e homens ímpios chegassem a realizar o seu propósito; mas isto foi para que pudesse tornar o livramento do Seu servo mais marcante e mais completa a derrota dos inimigos da verdade e da justiça. "A cólera do homem redundará em Teu louvor" (Salmos 76:10), o salmista testificou. Graças à coragem deste único homem que escolheu seguir o direito antes que a astúcia, Satanás devia ser derrotado e o nome de Deus exaltado e honrado. PR 277 3 Logo na manhã seguinte, o rei Dario dirigiu-se depressa para a cova, e "chamou por Daniel com voz triste": "Daniel, servo do Deus vivo dar-se-ia o caso que o teu Deus a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?" A voz do profeta respondeu: "Ó rei, vive para sempre! O meu Deus enviou o Seu anjo, e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dEle; e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum." PR 277 4 "Então o rei muito se alegrou em si mesmo, e mandou tirar a Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus. PR 277 5 "E ordenou o rei, e foram trazidos aqueles homens que tinham acusado Daniel e foram lançados na cova dos leões, eles, seus filhos e suas mulheres; e ainda não tinham chegado ao fundo da cova quando os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos". Daniel 6:20-24. PR 277 6 Uma vez mais foi baixada uma proclamação da parte de um governador gentio, exaltando o Deus de Daniel como verdadeiro Deus. "O rei Dario escreveu a todos os povos, nações e gentes de diferentes línguas, que moram em toda a Terra: A paz vos seja multiplicada. Da minha parte é feito um decreto, pelo qual em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o Deus de Daniel; porque Ele é o Deus vivo e para sempre permanente, e o Seu reino não se pode destruir; o Seu domínio é até o fim. Ele livra e salva, e opera sinais e maravilhas no céu e na Terra; Ele livrou Daniel do poder dos leões." PR 277 7 A ímpia oposição ao servo de Deus estava agora completamente quebrada. "Este Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario, e no reinado de Ciro, o persa." E mediante a associação com ele, esses monarcas pagãos foram constrangidos a reconhecer o seu Deus como "o Deus vivo e para sempre permanente, e o Seu reino não se pode destruir". Daniel 6:25-28. PR 277 8 Da história do livramento de Daniel podemos aprender que em tempos de provação e tristeza, os filhos de Deus devem ser precisamente o que eram quando suas perspectivas brilhavam de esperança e estavam cercados de tudo o que poderiam desejar. Daniel na cova dos leões foi o mesmo Daniel que esteve perante o rei como o principal entre os ministros de Estado e como profeta do Altíssimo. Um homem cujo coração se firme em Deus será na hora de sua maior prova o mesmo que era em sua prosperidade, quando a luz e o favor de Deus e do homem incidiam sobre ele. A fé alcança o invisível, e se apega a realidades eternas. PR 278 1 O Céu está mais próximo daqueles que sofrem por amor da justiça. Cristo identifica os Seus interesses com os interesses do Seu fiel povo; Ele sofre na pessoa dos Seus santos; e seja o que for que toque em Seus escolhidos, toca nEle. O poder que está perto para libertar do dano físico e da angústia está perto também para salvar do mal maior, tornando possível ao servo de Deus manter sua integridade sob todas as circunstâncias, e triunfar através da graça divina. PR 278 2 A experiência de Daniel como estadista no reino de Babilônia e da Medo-Pérsia revela a verdade de que um homem de negócios não tem que ser necessariamente um homem ardiloso e astuto, mas pode ser um homem instruído por Deus em cada passo. Daniel, primeiro-ministro dos maiores reinos da Terra, foi ao mesmo tempo profeta de Deus, recebendo luz de celestial inspiração. Um homem sujeito às mesmas paixões que nós, é descrito pela pena da Inspiração como isento de falta. Suas transações de negócios, quando submetidas à mais apurada fiscalização dos seus inimigos, foram consideradas sem falha. Ele foi um exemplo do que cada homem de negócios pode tornar-se quando o seu coração é convertido e consagrado, e quando os seus motivos são retos à vista de Deus. PR 278 3 Estrita conformação com os reclamos do Céu traz bênçãos tanto temporais como espirituais. Inamovível em sua fidelidade a Deus, indomável no domínio de si mesmo, Daniel, por sua nobre dignidade e indeclinável integridade, conquanto fosse jovem, alcançou "graça e misericórdia" (Daniel 1:9) diante do oficial pagão a cujo cargo tinha sido posto. As mesmas características marcaram sua vida posterior. Ele ascendeu rapidamente à posição de primeiro-ministro do reino de Babilônia. Através do reinado de sucessivos monarcas, da queda da nação e o estabelecimento de outro império mundial, foram de tal natureza sua sabedoria e capacidade de estadista, tão perfeitos seu tato, cortesia, genuína bondade de coração e sua fidelidade ao princípio, que mesmo seus inimigos foram forçados a confessar que não podiam achar "ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel". Daniel 6:4. PR 278 4 Honrado pelos homens com as responsabilidades de Estado e os segredos de reinos que tinham alcance universal, Daniel foi honrado por Deus como Seu embaixador, sendo-lhe dadas muitas revelações dos mistérios dos séculos por vir. Suas maravilhosas profecias, tais como registradas por ele nos capítulos sete a doze do livro que traz o seu nome, não foram inteiramente compreendidas mesmo pelo próprio profeta; mas antes que findassem os labores de sua vida, foi-lhe dada a abençoada certeza de que "no fim dos dias", isto é, na conclusão do período da história deste mundo, ser-lhe-ia permitido outra vez estar na sua posição e lugar. Não lhe fora dado compreender tudo o que Deus tinha revelado do divino propósito. "Fecha estas palavras e sela este livro", foi-lhe ordenado quanto aos escritos proféticos; estes deviam ser selados "até ao fim do tempo." "Vai, Daniel", o anjo ordenou uma vez mais ao fiel mensageiro de Jeová, "porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. [...] Tu, porém, vai até ao fim; porque repousarás, e estarás na tua sorte, no fim dos dias". Daniel 12:4, 9, 13. PR 279 1 Ao nos aproximarmos do fim da história deste mundo, as profecias registradas por Daniel demandam nossa especial atenção, visto relacionarem-se com o próprio tempo em que estamos vivendo. Com elas devem-se ligar os ensinos do último livro das Escrituras do Novo Testamento. Satanás tem levado muitos a crer que as porções proféticas dos escritos de Daniel e João o revelador não podem ser compreendidas. Mas a promessa é clara de que bênção especial acompanhará o estudo dessas profecias. "Os sábios entenderão" (Daniel 12:10), foi dito com respeito às visões de Daniel que deviam ser abertas nos últimos dias; e da revelação que Cristo deu a Seu servo João para guia do povo de Deus através dos séculos, a promessa é: "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas". Apocalipse 1:3. PR 279 2 Do surgimento e queda das nações conforme expostos nos livros de Daniel e Apocalipse, precisamos aprender quão sem valor é a glória meramente terrena e externa. Babilônia, com todo o seu poder e magnificência, como nosso mundo jamais contemplou igual -- poder e magnificência que ao povo daquele tempo pareciam estáveis e permanentes -- quão completamente passou. "Como a flor da erva" (Tiago 1:10), pereceu. Assim pereceu o reino da Medo-Pérsia, e os reinos da Grécia e de Roma. E assim perece tudo o que não tem a Deus por fundamento. Apenas o que está vinculado ao Seu propósito, e expressa Seu caráter, pode perdurar. Seus princípios são a única coisa firme que o nosso mundo conhece. PR 279 3 Um cuidadoso estudo da operação do propósito de Deus na história das nações e na revelação das coisas por acontecer, nos ajudará a estimar no seu verdadeiro valor as coisas visíveis e as invisíveis, e a aprender o que é o verdadeiro alvo da vida. Assim, considerando os acontecimentos do tempo à luz da eternidade, podemos, como Daniel e seus companheiros, viver pelo que é verdadeiro, nobre e perdurável. E aprendendo nesta vida os princípios do reino de nosso Senhor e Salvador, esse abençoado reino que deve durar para todo o sempre, podemos estar preparados em Sua vinda para com Ele entrar em Sua posse. ------------------------Capítulo 45 -- A volta do exílio PR 280 1 A chegada do exército de Ciro ante os muros de Babilônia foi para os judeus um sinal de que o seu livramento do cativeiro estava muito perto. Mais de um século antes do nascimento de Ciro, a Inspiração lhe fizera menção do nome, e providenciara um registro da precisa obra que ele faria tomando Babilônia, estando esta desapercebida, e preparando o caminho para a libertação dos filhos do cativeiro. Por intermédio de Isaías havia sido dito: PR 280 2 "Assim diz o Senhor ao Seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face [...] para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão: Eu irei diante de ti, e endireitarei os caminhos tortos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro, e te darei os tesouros das escuridades, e as riquezas encobertas, para que possas saber que Eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome". Isaías 45:1-3. PR 280 3 Na inesperada penetração do exército do conquistador persa ao coração da capital de Babilônia, através do canal do rio cujas águas tinham sido desviadas; na sua entrada pelos portões internos que por descuido tinham sido deixados abertos e desguarnecidos, tiveram os judeus abundante evidência do cumprimento literal da profecia de Isaías concernente à súbita subversão dos seus opressores. E isto deve ter sido para eles um inconfundível sinal de que Deus estava moldando os negócios das nações em favor deles; pois inseparavelmente associada com a profecia que esboçava o modo como Babilônia seria capturada e cairia, estavam as palavras: PR 280 4 "Diz de Ciro: É Meu pastor, e cumprirá tudo o que Me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te". Isaías 44:28. "Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a Minha cidade, e soltará os Meus cativos, não por preço nem por presentes, diz o Senhor dos Exércitos". Isaías 45:13. PR 280 5 Não foram essas as únicas profecias sobre as quais os exilados tiveram a oportunidade de basear sua esperança de breve libertação. Os escritos de Jeremias estavam ao seu alcance, e neles era claramente estabelecido o tempo que devia ir até a restauração de Israel em sua terra. "Quando se cumprirem os setenta anos", o Senhor tinha predito por intermédio do Seu mensageiro, "visitarei o rei de Babilônia, e esta nação, diz o Senhor, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei deles uns desertos perpétuos". Jeremias 25:12. Mostrar-se-ia favor ao remanescente de Judá, em resposta à fervente oração. "Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos, e congregar-vos-ei de todas as nações, e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos transportei". Jeremias 29:14. PR 281 1 Daniel e seus companheiros haviam muitas vezes recorrido a essas e outras profecias que esboçavam o propósito de Deus para Seu povo. E agora, ao indicar o rápido curso dos acontecimentos a poderosa mão de Deus em operação entre as nações, Daniel dedicou especial atenção às promessas feitas a Israel. Sua fé na palavra profética levou-o ao fundo das experiências preditas pelos escritores sagrados. "Certamente que passados setenta anos em Babilônia", o Senhor havia declarado, "vos visitarei, e cumprirei sobre vós a Minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar. Porque Eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então Me invocareis, e ireis, e orareis a Mim, e Eu vos ouvirei. E buscar-Me-eis, e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso coração". Jeremias 29:10-13. PR 281 2 Pouco antes da queda de Babilônia, quando Daniel estava meditando nessas profecias, e buscando a Deus a fim de compreender os tempos, foi-lhe dada uma série de visões concernentes ao surgimento e queda de reinos. Com a primeira visão, segundo se acha registrada no sétimo capítulo do livro de Daniel, foi-lhe dada a interpretação, mas nem tudo ficou claro para o profeta. "Os meus pensamentos muito me espantavam", ele escreveu de sua experiência nesse tempo, "e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei estas coisas no meu coração". Daniel 7:28. PR 281 3 Mediante outra visão foi derramada luz adicional sobre os acontecimentos do futuro; e foi ao final desta visão que Daniel ouviu "um santo que falava; e disse a outro santo aquele que falava: Até quando durará a visão?" Daniel 8:13. A resposta: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado" (Daniel 8:14), encheu-o de perplexidade. Ferventemente procurou entender o significado da visão. Ele não podia compreender a relação dos setenta anos do cativeiro como preditos por Jeremias, para com os dois mil e trezentos anos que nessa visão ouvira o visitante declarar que decorreriam antes da purificação do santuário. O anjo Gabriel lhe deu uma interpretação parcial; mas quando o profeta ouviu as palavras: "Só daqui a muitos dias se cumprirá", ele desmaiou. "Eu, Daniel, enfraqueci", escreveu ele sobre esta experiência, "e estive enfermo alguns dias; então levantei-me, e trarei do negócio do rei. E espantei-me acerca da visão, e não havia quem a entendesse". Daniel 8:26, 27. PR 282 1 Levando ainda o fardo pelo bem de Israel, Daniel estudou de novo as profecias de Jeremias. Elas eram muito claras -- tão claras que ele compreendeu por esses testemunhos registrados em livros "que o número de anos de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos". Daniel 9:2. PR 282 2 Com fé fundada na segura palavra da profecia, Daniel pleiteou do Senhor o imediato cumprimento dessas promessas. Suplicou que a honra de Deus fosse preservada. Em sua petição ele se identificou plenamente com os que não tinham correspondido ao propósito divino, confessando os pecados deles como seus próprios. PR 282 3 "Eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus", declarou o profeta, "para O buscar com oração e rogos, com jejum, e saco e cinza. E orei ao Senhor meu Deus, e confessei". Daniel 9:3, 4. Embora Daniel estivesse havia muito na obra de Deus, e dele tivesse sido dito que era "mui amado", agora se apresentava ante Deus como um pecador, expondo veementemente a grande necessidade do povo que amava. Sua oração era eloqüente em sua simplicidade, e intensamente fervorosa. Escutai-lhe a súplica: PR 282 4 "Ah Senhor Deus grande e tremendo, que guardas o concerto e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os Teus mandamentos; pecamos, e cometemos iniqüidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos; e não demos ouvidos aos Teus servos, os profetas, que em Teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes, e nossos pais, como também a todo o povo da terra. PR 282 5 "A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como se vê neste dia; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel; aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa da sua prevaricação, com que prevaricaram contra Ti. [...] PR 282 6 "Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra Ele." "Ó Senhor, segundo todas as Tuas justiças, aparte-se a Tua ira e o Teu furor da Tua cidade de Jerusalém, e do Teu santo monte; porquanto por causa dos nossos pecados, e por causa das iniqüidades de nossos pais, tornou-se Jerusalém e o Teu povo um opróbrio para todos os que estão ao redor de nós. PR 282 7 "Agora, pois, ó Senhor nosso Deus, ouve a oração do Teu servo, e as suas súplicas, e sobre o Teu santuário assolado faze resplandecer o Teu rosto, por amor do Senhor. Inclina, ó Deus meu, os Teus ouvidos, e ouve; abre os Teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo Teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias. PR 282 8 "Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar; por amor de Ti mesmo, ó Deus meu, porque a Tua cidade e o Teu povo se chamam pelo Teu nome". Daniel 9:4-9, 16-19. PR 283 1 O Céu se curvou para ouvir a fervente súplica do profeta. Antes mesmo que ele tivesse terminado a sua súplica por perdão e restauração, o poderoso Gabriel apareceu-lhe outra vez, e chamou a sua atenção para a visão que ele tivera antes da queda de Babilônia e da morte de Belsazar. E então o anjo esboçou-lhe em pormenores o período das setenta semanas, que devia começar com "a ordem para restaurar e para edificar Jerusalém". Daniel 9:25. PR 283 2 A oração de Daniel tinha sido proferida "no ano primeiro de Dario" (Daniel 9:1), o rei medo cujo general, Ciro, tinha arrebatado de Babilônia o cetro do governo universal. O reinado de Dario foi honrado por Deus. A ele foi enviado o anjo Gabriel, "para o animar e fortalecer". Daniel 11:1. Após sua morte, cerca de dois anos depois da queda de Babilônia, Ciro o sucedeu no trono, e o início do seu reinado marcou o fim dos setenta anos desde que o primeiro grupo de hebreus tinha sido levado cativo por Nabucodonosor, de sua pátria judaica para Babilônia. PR 283 3 O livramento de Daniel da cova dos leões tinha sido usado por Deus para criar uma impressão favorável no espírito de Ciro o Grande. As excelentes qualidades do homem de Deus como estadista de vistas largas levou o governante persa a mostrar-lhe marcado respeito e a honrar suas decisões. E agora, justo no tempo em que Deus tinha dito que faria fosse o Seu templo em Jerusalém reconstruído, Ele moveu Ciro como Seu instrumento para discernir as profecias com respeito a ele mesmo, com as quais Daniel estava tão familiarizado, e a conceder ao povo judeu a sua libertação. PR 283 4 Tomando o rei conhecimento das palavras que prediziam, mais de um século antes do seu nascimento, a maneira pela qual Babilônia deveria ser tomada; ao ler a mensagem a ele dirigida pelo Rei do Universo: "Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças. Para que se saiba desde o nascente do Sol, e desde o poente, que fora de Mim não há outro"; ao ver diante dos seus olhos a declaração do eterno Deus: "Por amor de Meu servo Jacó, e de Israel, Meu eleito, Eu a ti te chamei pelo teu nome, pus-te o Meu sobrenome, ainda que Me não conhecesses"; ao descobrir o inspirado Registro: "Eu o despertei em justiça, e todos os seus caminhos endireitarei; ele edificará a Minha cidade, e soltará os Meus cativos, não por força nem por presentes" (Isaías 45:5, 6, 4, 13), o seu coração foi profundamente movido, e ele se determinou cumprir sua missão divinamente indicada. Ele libertaria os judeus cativos; ele os ajudaria a restaurar o templo de Jeová. PR 283 5 Numa proclamação escrita publicada "por todo o seu reino", Ciro fez conhecido o seu desejo de providenciar o retorno dos hebreus e a reconstrução do seu templo. "O Senhor Deus dos Céus me deu todos os reinos da Terra", o rei reconhecia com gratidão em sua proclamação pública; "e Ele me encarregou de Lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós, de todo o Seu povo, seja o seu Deus com ele, e suba a Jerusalém [...] e edifique a casa do Senhor Deus de Israel; Ele é o Deus que habita em Jerusalém. E todo aquele que ficar em alguns lugares em que andar peregrinando, os homens do seu lugar o ajudarão com prata, e com ouro, e com fazenda, e com gados, afora as dádivas voluntárias". Esdras 1:1-4. PR 284 1 "Esta casa se edificará", ordenou ele mais tarde com referência à estrutura do templo, para lugar em que se ofereçam sacrifícios, e seus fundamentos serão firmes; a sua altura de sessenta côvados, e a sua largura de sessenta côvados; com três carreiras de grandes pedras, e uma carreira de madeira nova, e a despesa se fará da casa do rei. Demais disto, os vasos de ouro e de prata da casa de Deus, que Nabucodonosor transportou do templo que estava em Jerusalém, e levou para Babilônia, se tornarão a dar, para que vão ao seu lugar, ao templo que está em Jerusalém". Esdras 6:3-5. PR 284 2 As novas deste decreto alcançaram as mais distantes províncias do domínio real, e em todo o lugar entre os filhos da dispersão houve grande alegria. Muitos, como Daniel, tinham estado a estudar as profecias e a buscar a prometida intervenção de Deus em favor de Sião. E agora suas orações estavam sendo respondidas; e com alegria de coração podiam unidos cantar: PR 284 3 "Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram de Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de cânticos. Então se dizia entre as nações: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres". Salmos 126:1-3. PR 284 4 "Então se levantaram os chefes dos pais de Judá e Benjamim, e os sacerdotes e os levitas, como todos aqueles cujo espírito Deus despertou" -- esse foi o piedoso remanescente, cerca de cinqüenta mil, dentre os judeus das terras do exílio, que se determinaram tirar vantagem da maravilhosa oportunidade a eles oferecida, "para subirem a edificar a casa do Senhor, que está em Jerusalém." Seus amigos não lhes permitiram sair com mãos vazias. "E todos os que habitavam nos arredores lhes confortaram as mãos com vasos de prata, com ouro, com fazenda, e com gados, e com coisas preciosas." A essas e muitas outras ofertas voluntárias foram acrescentados "os vasos da casa do Senhor, que Nabucodonosor tinha trazido de Jerusalém. [...] Estes tirou Ciro, rei da Pérsia, pela mão de Mitredate, o tesoureiro. [...] Todos os vasos de ouro e de prata foram cinco mil e quatrocentos", para uso no templo que ia ser reconstruído. Esdras 1:5-11. PR 284 5 Sobre Zorobabel (conhecido também como Sesbazar), um dos descendentes do rei Davi, Ciro colocou a responsabilidade de agir como governador do grupo que retornava para a Judéia; e com ele estava associado Jesus, o sumo sacerdote. A longa viagem através do árido deserto foi feita em segurança, e o feliz grupo, grato a Deus por Suas muitas bênçãos, imediatamente tomou a si a tarefa de reconstruir o que havia sido derrubado e destruído. "Alguns dos chefes dos pais" deram o exemplo em oferecer donativos para ajudar a enfrentar as despesas de reconstrução do templo; e o povo, seguindo seu exemplo, deu livremente de seus pobres recursos. Esdras 2:64-70. PR 285 1 Tão depressa quanto possível, foi construído um altar no sítio do antigo altar no recinto do templo. Para as solenidades relacionadas com a dedicação deste altar, o povo alegremente "se ajuntou como um só homem", e aí se uniram no restabelecimento das cerimônias que tinham sido interrompidas quando da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor. Antes de se separarem para habitar nos lares que estavam procurando reparar, "celebraram a festa dos tabernáculos". Esdras 3:1-6. PR 285 2 O levantamento do altar para o sacrifício diário alegrou sobremaneira o fiel remanescente. De coração entregaram-se à preparação necessária para a reconstrução do templo, ganhando alento à medida que esses preparativos progrediam de mês em mês. Durante muitos anos eles haviam estado privados dos visíveis sinais da presença de Deus. E agora, circundados como estavam por muitas recordações tristes da apostasia de seus pais, ansiavam por algum perdurável sinal do perdão e favor divinos. Acima da reconquista de propriedades pessoais e antigos privilégios, eles consideravam a aprovação de Deus. Maravilhosamente havia Ele operado em seu favor, e eles sentiam consigo a segurança de Sua presença; contudo desejavam maior bênção ainda. Com jubilosa antecipação olhavam para o tempo em que, com o templo reconstruído, poderiam contemplar o brilho de Sua glória vindo do interior. PR 285 3 Os obreiros empenhados na preparação do material de construção, encontraram entre as ruínas algumas das enormes pedras levadas ao local do templo nos dias de Salomão. Essas pedras foram preparadas para serem usadas, e muito material novo foi provido; e logo a obra chegou ao ponto em que a pedra fundamental devia ser posta. Isto foi feito na presença de milhares que se haviam reunido para testemunhar o progresso da obra e manifestar a expressão da sua alegria, tomando parte nela. Enquanto a pedra fundamental estava sendo posta em sua posição, o povo, acompanhado pelas trombetas dos sacerdotes e os címbalos dos filhos de Asafe, "cantava a revezes, louvando e celebrando ao Senhor; porque é bom; porque a Sua benignidade dura para sempre sobre Israel". Esdras 3:11. PR 285 4 A casa que estava prestes a ser reconstruída tinha sido objeto de muitas profecias concernentes ao favor que Deus desejava mostrar a Sião, e todos os que estavam presentes no lançamento dos alicerces devem ter estado, de coração, possuídos do espírito do momento. Mas em meio à música e às exclamações de louvor que se ouviam nesse dia feliz, houve um anota discordante. "Muitos dos sacerdotes, e levitas, e chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa, sobre o seu fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes". Esdras 3:12. PR 286 1 Era natural que a tristeza enchesse o coração desses homens encanecidos, ao considerarem os resultados da longa impenitência. Tivessem eles e a sua geração obedecido a Deus, executando o Seu propósito para Israel, e o templo construído por Salomão não teria sido destruído nem teria sido necessário o cativeiro. Mas em virtude da ingratidão e deslealdade, eles haviam sido espalhados entre as nações gentílicas. PR 286 2 Mudadas estavam agora as condições. Em terna misericórdia o Senhor havia visitado outra vez o Seu povo, e permitira-lhe retornar a sua própria terra. A tristeza pelos erros do passado devia ceder lugar a sentimentos de grande alegria. Deus tinha movido o coração de Ciro para que os ajudasse a reconstruir o templo, e isto devia ter despertado expressões de profunda gratidão. Mas alguns não discerniram as providências de Deus em operação. Em vez de se alegrarem, acariciaram pensamentos de descontentamento e desânimo. Haviam visto a glória do templo de Salomão, e lamentavam a inferioridade da construção a ser agora construída. PR 286 3 As murmurações e queixas, e a desfavorável comparação feita, tiveram uma influência deprimente sobre o espírito de muitos, e debilitaram as mãos dos construtores. Os trabalhadores levantaram a pergunta se deviam prosseguir com a construção de um edifício que já de início era tão francamente criticado e se tornava causa de tanta lamentação. PR 286 4 Havia muitos na congregação, no entanto, cuja maior fé e mais ampla visão não os tinha levado a considerar esta glória menor com tal descontentamento. "Muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não discernia o povo as vozes de alegria das vozes do choro do povo; porque o povo jubilava com tão grande júbilo que as vozes se ouviam de mui longe". Esdras 3:12, 13. PR 286 5 Se os que tinham deixado de rejubilar-se no lançamento dos fundamentos do templo, tivessem previsto os resultados de sua falta de fé nesse dia, teriam empalidecido. Pouco haviam eles imaginado o peso de suas palavras de desaprovação e desapontamento; pouco sabiam do muito que seu manifesto descontentamento haveria de retardar a terminação da casa do Senhor. PR 286 6 A beleza do primeiro templo, e os impressionantes ritos de seus cultos, haviam sido uma fonte de orgulho para Israel do seu cativeiro; mas a sua adoração havia não raro faltado aquelas qualidades que Deus considera como as essenciais. A glória do primeiro templo, e o esplendor de suas cerimônias, não poderiam recomendá-los a Deus; pois unicamente aquilo que é de valor a Sua vista eles não ofereciam. Eles não Lhe levavam o sacrifício de um espírito contrito e humilde. PR 286 7 É quando os princípios vitais do reino de Deus são perdidos de vista, que as cerimônias se tornam numerosas e extravagantes. É quando a edificação do caráter é negligenciada, quando falta o adorno da alma, quando é desprezada a simplicidade da piedade, que o orgulho e o amor da ostentação reclamam magnificentes igrejas, esplêndidos adornos e imponentes cerimônias. Mas em nada disto Deus é honrado. Ele avalia a Sua igreja, não pelas vantagens externas, mas pela sincera piedade que a distingue do mundo. Ele a estima de acordo com o crescimento dos seus membros no conhecimento de Cristo, segundo o seu progresso na experiência espiritual. Ele olha para os princípios de amor e bondade. Nem toda a beleza da arte pode ser comparada com a beleza da têmpera e do caráter que devem ser revelados naqueles que são representantes de Cristo. PR 287 1 Uma congregação pode ser a mais pobre da Terra. Pode não ter as atrações de exibição exterior; mas se os seus membros possuem os princípios do caráter de Cristo, os anjos se unirão com eles em seu culto. O louvor e ações de graças do coração agradecido ascenderão a Deus como suave oferenda. PR 287 2 "Louvai ao Senhor, porque Ele é bom; porque a Sua benignidade é para sempre. Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo". Salmos 107:1, 2. PR 287 3 "Cantai-Lhe, cantai-Lhe salmos; falai de todas as Suas maravilhas. Gloriai-vos no Seu santo nome; alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor". Salmos 105:2, 3. PR 287 4 "Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta". Salmos 107:9. ------------------------Capítulo 46 -- "Os profetas de Deus os ajudavam" PR 288 1 Próximo dos israelitas que tinham tomado a tarefa de reconstruir o templo, habitavam os samaritanos, uma raça mestiça que tinha surgido em conseqüência de cruzamento pelo matrimônio entre os colonos pagãos das províncias da Assíria com o remanescente das dez tribos que tinha sido deixado em Samaria e Galiléia. Nos últimos anos os samaritanos declaravam adorar o verdadeiro Deus; mas no coração e prática eram idólatras. Eles sustentavam, é certo, que seus ídolos eram apenas para lembrar-lhes o Deus vivo, o Governador do Universo; não obstante o povo era propenso a reverenciar imagens de escultura. PR 288 2 Durante o período da restauração, esses samaritanos vieram a ser conhecidos como "os adversários de Judá e Benjamim". Ouvindo eles "que os que tornaram do cativeiro edificavam o templo ao Senhor Deus de Israel", "chegaram-se a Zorobabel e aos chefes dos pais", e expressaram o desejo de se unirem com eles em sua construção. "Deixai-nos edificar convosco", propuseram, "porque, como vós, buscaremos a vosso Deus; como também já Lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos mandou vir para aqui." Mas o privilégio que pediam foi-lhes recusado. "Não convém que vós e nós edifiquemos casa a nosso Deus", os líderes de Israel declararam; "mas nós sós a edificaremos ao Senhor, Deus de Israel, como nos ordenou o rei Ciro, rei da Pérsia". Esdras 4:1-3. PR 288 3 Apenas um remanescente tinha escolhido voltar de Babilônia; e agora, ao empreenderem uma obra aparentemente além de suas forças, seus mais próximos vizinhos vêm com oferecimento de auxílio. Os samaritanos se referem a sua adoração do verdadeiro Deus, e manifestam o desejo de partilhar os privilégios e bênçãos relacionados com a atividade do templo. "Como vós, buscaremos a vosso Deus", declaram eles. "Deixai-nos edificar convosco." Mas tivessem os líderes judeus aceito esta oferta de assistência, e teriam aberto uma porta para a entrada da idolatria. Eles discerniram a insinceridade dos samaritanos. Compreenderam que o auxílio alcançado mediante uma aliança com esses homens seria como nada em comparação com as bênçãos que poderiam esperar receber se seguissem os claros mandamentos de Jeová. PR 289 1 Referindo-Se à relação que Israel poderia vir a manter com as nações ao redor, o Senhor havia declarado por intermédio de Moisés: "Não farás com elas concerto, nem terás piedade delas, nem darás tuas filhas a seus filhos; pois fariam desviar os teus filhos de Mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria". Deuteronômio 7:2-4. "Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há". Deuteronômio 14:2. PR 289 2 O resultado que se seguiria em face de um concerto com as nações ao redor foi claramente predito. "O Senhor vos espalhará entre todos os povos, desde uma extremidade da Terra até a outra", Moisés havia declarado; "e ali servirás a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais: ao pau e à pedra. E nem ainda entre as mesmas gentes descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; porque o Senhor ali te dará coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma. E a tua vida como suspensa estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não crerás na tua própria vida. Pela manhã dirás: Ah quem me dera ver a noite E à tarde dirás: Ah quem me dera ver a manhã pelo pasmo de teu coração, com que pasmará, e pelo que verás, com os teus olhos". Deuteronômio 28:64-67. "Então dali buscarás ao Senhor teu Deus", tinha sido a promessa, "e O acharás, quando O buscardes de todo o teu coração e de toda a tua alma". Deuteronômio 4:29. PR 289 3 Zorobabel e seus companheiros estavam familiarizados com essas e muitas outras passagens semelhantes das Escrituras; e no recente cativeiro, tiveram evidência após evidência do seu cumprimento. E agora havendo-se arrependido dos males que haviam acarretado sobre eles e seus pais os juízos tão claramente preditos por meio de Moisés; havendo voltado de todo o coração para Deus, e renovado sua relação de concerto com Ele, tiveram a permissão de retornar à Judéia, para que pudessem restaurar o que havia sido destruído. Deviam eles, já no início de sua empreitada, entrar em concerto com os idólatras? PR 289 4 "Não farás com elas concerto" (Deuteronômio 7:2), Deus dissera; e os que de novo se haviam dedicado ao Senhor junto ao altar erguido ante as ruínas de Seu templo, sentiram que a linha de demarcação entre o Seu povo e o mundo devia ser mantida perfeitamente distinta. Eles se recusaram a entrar em aliança com os que, tendo embora familiaridade com os requisitos da lei de Deus, não se rendiam a suas exigências. PR 289 5 Os princípios apresentados em Deuteronômio para instrução de Israel, devem ser erguidos pelo povo de Deus até ao fim do tempo. A verdadeira prosperidade depende da continuidade de nossa relação de concerto com Deus. Nunca podemos nos permitir compromisso de princípio fazendo aliança com os que O não temem. PR 289 6 Há o constante perigo de que cristãos professos venham a pensar que para exercer influência sobre os mundanos, necessitem conformar-se até certo ponto com o mundo. Mas embora tal conduta possa parecer como propiciando grandes vantagens, acaba sempre em perda espiritual. O povo de Deus deve guardar-se estritamente contra toda sutil influência que busque entrada mediante aduladoras insinuações dos inimigos da verdade. Eles são peregrinos e estrangeiros neste mundo; palmilhando um caminho juncado de perigos. Não devem dar atenção aos engenhosos subterfúgios e fascinantes razões que os tentem a afastar-se de sua obediência. PR 290 1 Não são os inimigos francos e confessos da causa de Deus os mais de temer. Aqueles que, como os adversários de Judá e Benjamim, vêm com palavras suaves e fala agradável, aparentemente procurando amigável aliança com os filhos de Deus, têm maior poder para enganar. Contra tais pessoas cada alma deve estar alerta, não suceda que algum engano magistral e cuidadosamente disfarçado o tome inadvertido. E especialmente hoje, enquanto a história da Terra caminha para o fim, o Senhor requer de Seus filhos uma vigilância que não conheça abrandamento. Mas embora o conflito seja incessante, ninguém é deixado a lutar sozinho. Anjos ajudam e protegem os que andam humildemente diante de Deus. O Senhor jamais trai a quem nEle confia. Quando Seus filhos dEle se aproximam em busca de proteção contra o mal, em piedade e amor Ele levanta para eles um estandarte contra o inimigo. Não lhes toque, Ele diz; pois são Meus. Tenho-os gravados nas palmas das Minhas mãos. PR 290 2 Incansáveis em sua oposição, os samaritanos "debilitavam as mãos do povo de Judá, e inquietavam-nos no edificar; e alugaram contra eles conselheiros para frustrarem o seu plano, todos os dias de Ciro, rei da Pérsia, até o reinado de Dario, rei da Pérsia". Esdras 4:4, 5. Mediante falsos relatórios, eles suscitaram suspeitas em espíritos facilmente levados a suspeitar. Mas durante muitos anos os poderes do mal foram mantidos em xeque, e o povo na Judéia teve liberdade para continuar sua obra. PR 290 3 Enquanto Satanás estava procurando influenciar as mais altas autoridades no reino da Medo-Pérsia para que não mostrassem favor ao povo de Deus, anjos trabalhavam no interesse dos exilados. Era uma controvérsia na qual todo o Céu estava interessado. Por intermédio do profeta Daniel é-nos dado um lampejo desta poderosa luta entre as forças do bem e as do mal. Durante três semanas Gabriel se empenhou em luta com os poderes das trevas, procurando conter as influências em operação na mente de Ciro; e antes que a contenda terminasse, o próprio Cristo veio em auxílio de Gabriel. "O príncipe do reino da Pérsia se pôs defronte de mim vinte e um dias", Gabriel declara; "e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia". Daniel 10:13. Tudo que o Céu podia fazer em favor do povo de Deus foi feito. A vitória foi finalmente ganha; as forças do inimigo foram contidas todos os dias de Ciro, e todos os dias de seu filho Cambisses, que reinou cerca de sete anos e meio. PR 291 1 Esse foi um tempo de maravilhosas oportunidades para os judeus. Os mais altos instrumentos do Céu estavam operando no coração dos reis, e o povo de Deus devia trabalhar com a máxima atividade para executar o decreto de Ciro. Não deviam eles poupar esforços no sentido de concluir a restauração do templo e suas cerimônias, e se restabeleceram em seus lares judaicos. Mas no dia do poder de Deus, muitos se provaram mal dispostos. A oposição dos seus inimigos era forte e determinada, e gradualmente os edificadores desanimaram. Alguns não podiam esquecer a cena do lançamento do alicerce, quando muitos tinham dado expressão a sua falta de confiança no empreendimento. E tornando-se os samaritanos mais ousados, muitos judeus punham em dúvida se, afinal de contas havia chegado o tempo para a reconstrução. O ressentimento logo se espalhou. Muitos dos obreiros, sem coragem ou ânimo, retornaram a seus lares, para assumirem seu curso comum de vida. PR 291 2 Durante o reinado de Cambisses, o trabalho do templo progrediu lentamente. E durante o reinado do falso Smerdis, chamado Artaxerxes em Esdras 4:7, os samaritanos induziram o inescrupuloso impostor a baixar um decreto proibindo os judeus de reconstruir sua cidade e templo. PR 291 3 Por mais de um ano o templo foi negligenciado, e quase abandonado. O povo habitava em seus lares, e tudo fazia por alcançar prosperidade temporal; mas sua situação era deplorável. Por mais que trabalhassem não prosperavam. Os próprios elementos da natureza, pareciam conspirar contra eles. Visto que haviam permitido continuasse o templo em ruínas, o Senhor enviou sobre seus recursos uma ruinosa estiagem. Deus lhes havia concedido os frutos do campo e dos pomares, o milho, o vinho, o óleo, como um sinal do Seu favor; mas como usassem essas abundantes dádivas tão egoistamente, a bênção foi retirada. PR 291 4 Tais eram as condições existentes durante a primeira parte do reinado de Dario Histaspes. Tanto do ponto de vista espiritual quando temporal, os israelitas estavam em estado deplorável. Tanto haviam murmurado e duvidado; tanto tempo tinham escolhido tratar de interesses pessoais primeiro, enquanto contemplavam com apatia o templo do Senhor em ruínas, que muitos haviam perdido de vista o propósito de Deus em fazê-los retornar à Judéia; e esses estavam dizendo: "Não veio ainda o tempo, o tempo em que a casa do Senhor deve ser edificada". Ageu 1:2. PR 291 5 Mas nem mesmo esta hora escura foi sem esperança para aqueles cuja confiança estava em Deus. Os profetas Ageu e Zacarias foram despertados para enfrentar a crise. Com encorajadores testemunhos esses mensageiros escolhidos revelaram ao povo a causa de suas dificuldades. A falta de prosperidade temporal era o resultado da negligência em dar prioridade aos interesses de Deus, os profetas afirmaram. Tivessem os israelitas honrado a Deus, tivessem-Lhe eles mostrado o devido respeito e cortesia, fazendo do reerguimento de Sua casa a primeira obra, e teriam convidado Sua presença e bênção. PR 292 1 Aos que haviam perdido o ânimo, Ageu dirigiu a penetrante pergunta: "É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta? Ora pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos." Por que tendes feito tão pouco? Por que vos preocupais com as vossas próprias casas, e não vos preocupais com a casa do Senhor? Onde está o zelo que uma vez sentistes pela restauração da casa do Senhor? Que tendes lucrado em servir-vos a vós mesmos? O desejo de fugir da pobreza tem-vos levado a negligenciar o templo, mas esta negligência acarretou sobre vós o que temíeis. "Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; vesti-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado". Ageu 1:4-6. PR 292 2 E então, em palavras que eles não podiam deixar de entender, o Senhor revelou a causa da penúria que padeciam: "Olhastes para muito, mas eis que alcançastes pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, Eu lhe assoprei. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da Minha casa, que está deserta, e cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso retêm os céus o seu orvalho, e a Terra retém os seus frutos. E fiz vir a seca sobre a terra, e sobre os montes, e sobre o trigo, e sobre o mosto, e sobre o azeite, e sobre o que a terra produz; como também sobre os homens, e sobre os animais, e sobre todo o trabalho das mãos". Ageu 1:9-11. PR 292 3 "Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos", o Senhor apelava. "Subi ao monte, e trazei e madeira, e edificai a casa, e dela me agradarei; e Eu serei glorificado, diz o Senhor". Ageu 1:7, 8. PR 292 4 A mensagem de conselho e reprovação dada por intermédio de Ageu foi recebida no coração pelos líderes e povo de Israel. Sentiram que Deus estava tratando a sério com eles. Não ousaram menosprezar a repetida instrução a eles enviada -- de que sua prosperidade, tanto temporal como espiritual, estava na dependência de sua fiel obediência aos mandamentos de Deus. Despertado pelas advertências do profeta, Zorobabel e Josué, "e todo o resto do povo", ouviram "a voz do Senhor seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como o Senhor seu Deus o tinha enviado". Ageu 1:12. PR 292 5 Tão logo Israel decidiu obedecer, as palavras de reprovação foram seguidas por uma mensagem de encorajamento. "Então Ageu [...] falou ao povo, conforme a mensagem do Senhor, dizendo: Eu sou convosco, diz o Senhor. E o Senhor levantou o espírito de Zorobabel" e de Josué, e "o espírito de todo o povo; e vieram, e trabalharam na casa do Senhor dos Exércitos, seu Deus". Ageu 1:13, 14. PR 292 6 Menos de um mês depois que a obra do templo foi retomada, os construtores receberam outra confortadora mensagem: "Esforça-te, Zorobabel", o próprio Senhor apelava por intermédio do Seu profeta; "e esforça-te, Josué [...] e esforçai-vos todo o povo da terra, diz o Senhor, e trabalhai; porque Eu sou convosco, diz o Senhor dos Exércitos". Ageu 2:4. PR 293 1 A Israel acampado diante do Monte Sinai o Senhor havia declarado: "Habitarei no meio dos filhos de Israel, e lhes serei por Deus. E saberão que Eu sou o Senhor Deus, que os tenho tirado da terra do Egito, para habitar no meio deles; Eu o Senhor seu Deus". Êxodo 29:45, 46. E agora, não obstante o fato de que eles tinham repetidamente sido "rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo" (Isaías 63:10), Deus uma vez mais através da mensagem do Seu profeta, estava estendendo Sua mão para salvar. Como reconhecimento de sua cooperação com o Seu propósito, Ele estava renovando o Seu concerto de que o Seu Espírito permaneceria entre eles; e Ele os animava: "Não temas." PR 293 2 A Seus filhos hoje, o Senhor declara: "Esforçai-vos [...] e trabalhai; porque Eu sou convosco." Os cristãos sempre tiveram no Senhor um forte ajudador. Podemos não conhecer a maneira como o Senhor ajuda; mas de uma coisa nós sabemos: Ele jamais falta aos que nEle põem a sua confiança. Se os cristãos soubessem quantas vezes o Senhor tem preparado o seu caminho, a fim de que o propósito do inimigo com respeito a eles não se realizasse, não andariam tropeçando e queixando-se. Sua fé estaria firme em Deus, e nenhuma provação teria poder para movê-los. Eles O reconheceriam como sua sabedoria e eficiência, e Ele poderia realizar aquilo que deseja por meio deles. PR 293 3 Os ferventes apelos e encorajamentos dados por meio de Ageu, receberam ênfase adicional por meio de Zacarias, a quem Deus suscitou para lhe ficar ao lado nos apelos a Israel para que executasse a ordem de levantar-se e edificar. A primeira mensagem de Zacarias foi uma garantia de que a Palavra de Deus jamais falha, e uma promessa de bênção aos que dessem ouvidos à segura palavra da profecia. PR 293 4 Com os campos devastados, as escassas reservas de provisões rapidamente se esgotando, e rodeados como estavam por povos inamistosos, os israelitas prosseguiam ainda assim com fé, em resposta ao chamado dos mensageiros de Deus, e trabalhavam diligentemente para restaurar o templo arruinado. Era uma obra que requeria firme confiança em Deus. Enquanto o povo procurava fazer sua parte, buscando uma renovação da graça de Deus no coração e na vida, mensagem após mensagem era dada por intermédio de Ageu e Zacarias, com a certeza de que sua fé seria ricamente recompensada, e que a Palavra de Deus concernente à futura glória do templo cujas paredes eles estavam reparando, não falharia. Nesse mesmo edifício apareceria, na plenitude do tempo, o Desejado de todas as nações como o Mestre e Salvador da humanidade. PR 293 5 Assim os construtores não foram deixados a lutar sozinhos; estavam "com eles os profetas de Deus, que os ajudavam" (Esdras 5:2); e o Senhor dos Exércitos havia declarado: "Esforçai-vos [...] e trabalhai; porque Eu sou convosco". Ageu 2:4. PR 294 1 Com arrependimento de coração e desejo de avançar pela fé, vieram as promessas de prosperidade temporal. "Desde este dia", o Senhor declarou, "vos abençoarei". Ageu 2:19. PR 294 2 A Zorobabel, seu líder -- aquele que, através de todos os anos desde o seu retorno de Babilônia, havia sido tão severamente provado -- foi dada a mais preciosa mensagem. O dia se aproximava, o Senhor declarou, quando todos os inimigos do Seu povo escolhido seriam abatidos. "Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, te tomarei, ó Zorobabel [...] Meu servo, diz o Senhor, e te farei como um anel de selar; porque te escolhi". Ageu 2:23. Agora o governador de Israel podia ver o significado da providência que o tinha levado através de desencorajamento e perplexidade; ele podia discernir em tudo isto o propósito de Deus. PR 294 3 Essa palavra pessoal a Zorobabel foi registrada para encorajamento dos filhos de Deus em todos os séculos. Deus tem um propósito em enviar a Seus filhos. Ele jamais os dirige de outra forma que não aquela mesma que eles escolheriam se pudessem ver o fim desde o princípio, e discernir a glória do propósito que estão preenchendo. Tudo que Ele traz sobre eles em provação e infortúnio vem para que sejam fortes a fim de agirem e sofrerem por Ele. PR 294 4 As mensagens dadas por Ageu e Zacarias despertaram o povo no sentido de fazer todo o esforço possível para a reconstrução do templo; mas enquanto trabalhavam foram maldosamente molestados pelos samaritanos e outros, que tramaram muitos embaraços. Uma ocasião os oficiais do reino medo-persa, governadores da província, visitaram Jerusalém, e pediram o nome da pessoa que havia autorizado a restauração do templo. Se nessa ocasião os judeus não tivessem confiado no Senhor para orientação, esta inquirição teria tido para eles resultados desastrosos. "Porém os olhos de Deus estavam sobre os anciãos dos judeus, e não os impediram, até que o negócio veio a Dario". Esdras 5:5. Os oficiais receberam uma resposta tão sábia que decidiram escrever uma carta a Dario Histaspes, então rei da Medo-Pérsia, chamando sua atenção para o decreto original feito por Ciro, o qual ordenara que a casa de Deus em Jerusalém fosse reconstruída, e que as despesas da mesma fossem pagas do tesouro do rei. PR 294 5 Dario pesquisou em busca deste decreto, e encontrou-o; ordenou então aos que tinham feito a inquirição que permitissem prosseguir a reconstrução do templo. "Deixai-os na obra desta casa de Deus", ele ordenou; "para que o governador dos judeus e os judeus edifiquem esta casa de Deus no seu lugar. PR 294 6 "Também por mim", Dario continuou, "se decreta o que haveis de fazer com os anciãos dos judeus, para que edifiquem esta casa de Deus, a saber: Que da fazenda do rei, dos tributos dalém do rio, se pague prontamente a despesa a estes homens, para que não sejam impedidos. E o que for necessário, como bezerros, e carneiros, e cordeiros, para o holocausto ao Deus dos Céus, trigo, sal, vinho e azeite, segundo o rito dos sacerdotes que estão em Jerusalém, dê-se-lhes, de dia em dia, para que não haja falta; para que ofereçam sacrifícios de cheiro suave ao Deus dos Céus, e orem pela vida do rei e de seus filhos". Esdras 6:7-10. PR 295 1 Além disso o rei decretou que severas penalidades seriam aplicadas a quem de alguma maneira pretendesse alterar o decreto; e ele concluiu com esta afirmação digna de nota: "O Deus, pois, que fez habitar ali o Seu nome derribe a todos os reis e povos que estenderem a sua mão para o mudarem e para destruírem esta casa de Deus, que está em Jerusalém. Eu Dario, dei o decreto; apressuradamente se execute". Esdras 6:12. Assim o Senhor preparou o caminho para a conclusão do templo. PR 295 2 Durante muitos meses antes que este decreto fosse baixado, os israelitas, estiveram a trabalhar pela fé, os profetas de Deus ainda os ajudando por meio de oportunas mensagens, pelas quais o propósito divino para Israel foi mantido perante os edificadores. Dois meses depois que a última mensagem registrada de Ageu foi dada, Zacarias teve uma série de visões referentes à obra de Deus na Terra. Essas mensagens, dadas na forma de parábolas e símbolos, vieram num tempo de grande incerteza e ansiedade, e foram de peculiar significação para os homens que estavam avançando em nome do Deus de Israel. Parecia aos líderes como se a permissão dada aos judeus para reconstruir estivesse prestes a sofrer impedimento; o futuro parecia muito negro. Deus viu que Seu povo estava em necessidade de ser sustido e animado por uma revelação de Sua infinita compaixão e amor. PR 295 3 Em visão, Zacarias ouviu o anjo do Senhor perguntar: "O Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém, e das cidades de Judá, contra as quais estiveste irado estes setenta anos? E respondeu o Senhor ao anjo que falava comigo", declarou Zacarias, "com palavras boas, palavras consoladoras." PR 295 4 "E o anjo que falava comigo me disse: Clama, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Com grande zelo estou zelando por Jerusalém e por Sião. E com grandíssima ira estou irado com as nações em descanso; porque estando Eu num pouco desgostoso, eles auxiliaram no mal. Portanto, o Senhor diz assim: Voltei-Me para Jerusalém com misericórdia; a Minha casa nela será edificada, e o cordel será estendido sobre Jerusalém". Zacarias 1:12-16. PR 295 5 O profeta foi agora autorizado a predizer: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: As Minhas cidades ainda aumentarão e prosperarão, porque o Senhor ainda consolará a Sião e ainda escolherá a Jerusalém". Zacarias 1:17. PR 295 6 Zacarias viu então "os poderes que dispersaram a Judá, a Israel e a Jerusalém", simbolizados por quatro cornos. Logo em seguida ele viu quatro ferreiros, representando os agentes usados pelo Senhor na restauração de Seu povo e da casa do Seu culto. Zacarias 1:18-21. PR 296 1 "Tornei a levantar os meus olhos", diz Zacarias, "e olhei, e vi um homem em cuja mão estava um cordel de medir. E eu disse: Para onde vais tu? E ele me disse: Medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual o seu comprimento. E eis que saiu o anjo que falava comigo, e outro anjo lhe saiu ao encontro, e lhe disse: Corre, fala a este mancebo, dizendo: Jerusalém será habitada como as aldeias sem muros, por causa da multidão, nela, dos homens e dos animais. E Eu, diz o Senhor, serei para ela um muro de fogo ao redor, e Eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória". Zacarias 2:1-5. PR 296 2 Deus havia determinado que Jerusalém fosse reconstruída; a visão da medição da cidade era uma garantia de que Ele daria conforto e força aos Seus afligidos, e cumpriria para com eles as promessas do Seu eterno concerto. Seu cuidado protetor, Ele havia declarado, seria como "um muro de fogo ao redor"; e por meio deles Sua glória seria revelada a todos os filhos dos homens. Aquilo que Ele estava realizando por Seu povo devia ser conhecido em toda a Terra. "Exulta e canta de gozo, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti". Isaías 12:6. ------------------------Capítulo 47 -- Josué e o anjo PR 297 1 O firme progresso realizado pelos construtores do templo aborreceu e alarmou grandemente as forças do mal. Satanás determinou dedicar maior esforço ainda para enfraquecer e desencorajar o povo de Deus, expondo diante deles suas imperfeições de caráter. Se os que tinham de longa data sofrido por causa da transgressão pudessem ser de novo induzidos a transgredir os mandamentos de Deus, seriam uma vez mais levados ao cativeiro do pecado. PR 297 2 Por que tivesse sido escolhido para preservar o conhecimento de Deus na Terra, Israel havia sido sempre objeto especial da inimizade de Satanás; o inimigo estava determinado a provocar sua destruição. Enquanto foram obedientes, ele não pôde fazer-lhes mal; por isso dispusera todo o seu poder e astúcia no sentido de induzi-los ao pecado. Enlaçados por suas tentações, eles tinham transgredido a lei de Deus, havendo-se tornado presa dos seus inimigos. PR 297 3 Muito embora tivessem eles sido levados cativos para Babilônia, Deus não os abandonara. Ele lhes enviou os Seus profetas com reprovações e advertências, e despertou-os para que vissem sua culpa. Quando se humilharam perante Deus, e voltaram-se para Ele com verdadeiro arrependimento, Ele lhes enviou então mensagens de encorajamento, declarando que os livraria do cativeiro, restaurá-los-ia ao Seu favor e uma vez mais os estabeleceria em sua própria terra. E agora que esta obra de restauração tinha começado, e um remanescente de Israel tinha já retornado à Judéia, Satanás estava determinado a frustrar a concretização do divino propósito e para este fim estava procurando mover as nações pagãs para que os destruíssem totalmente. PR 297 4 Mas nesta crise o Senhor fortaleceu o Seu povo com "palavras boas, palavras consoladoras". Zacarias 1:13. Através de uma ilustração impressiva da obra de Satanás e da obra de Cristo, Ele mostrou o poder do mediador deles para derrotar o acusador do Seu povo. PR 297 5 Em visão o profeta contemplou "o sumo sacerdote Josué", "vestido de vestidos sujos" (Zacarias 3:1, 3), o qual estava diante do anjo do Senhor, suplicando a misericórdia de Deus para o seu povo afligido. Enquanto ele suplicava o cumprimento das promessas de Deus, Satanás se apresentou ousadamente para resistir-lhe. Ele apresentou as transgressões de Israel como razão pela qual não poderiam ser reabilitados no favor de Deus. Reclamava-os como presa sua, e exigia que fossem entregues em suas mãos. PR 298 1 O sumo sacerdote não podia defender nem a si nem a seu povo das acusações de Satanás. Ele não afirma que Israel esteja isento de faltas. Em vestes sujas, simbolizando os pecados do povo -- pecados que ele levava como seu representante -- ele está perante o anjo, confessando os pecados deles, mas apontando para o seu arrependimento e humilhação, e descansando na misericórdia de um Redentor que perdoa o pecado. Em fé ele reclama as promessas de Deus. PR 298 2 Então o anjo, que é o próprio Cristo, o Salvador dos pecadores, reduz ao silêncio o acusador do Seu povo, declarando: "O Senhor te repreenda, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda: não é este um tição tirado do fogo?" Zacarias 3:2. Longo tempo havia Israel permanecido na fornalha da aflição. Por causa de seus pecados havia sido quase consumido no fogo que Satanás e seus agentes haviam acendido para a sua destruição; mas Deus tinha agora estendido a Sua mão para tirá-los. PR 298 3 Havendo sido aceita a intercessão de Josué, é dada a ordem: "Tirai-lhe estes vestidos sujos"; e a Josué o anjo diz: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos." "E puseram uma mitra limpa sobre a sua cabeça, e o vestiram de vestidos..." Zacarias 3:4, 5. Seus próprios pecados e os de seu povo foram perdoados. Israel fora vestido "de vestidos novos" -- a justiça de Cristo a eles imputada. A mitra posta sobre a cabeça de Josué era como a que os sacerdotes usavam, e levava a inscrição: "Santidade ao Senhor" (Êxodo 28:36), significando que não obstante suas anteriores transgressões, ele estava agora qualificado para ministrar perante Deus em Seu santuário. PR 298 4 O Anjo agora declarou a Josué: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se andares nos Meus caminhos, e se observares as Minhas ordenanças, também tu julgarás a Minha casa, e também guardarás os Meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui". Zacarias 3:7. Se obediente, ele seria honrado como juiz ou dirigente do templo e seus serviços; ele devia andar entre anjos assistentes, mesmo nesta vida, e afinal devia juntar-se à multidão de glorificados ao redor do trono de Deus. PR 298 5 "Ouve, pois, Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de ti, porque são homens portentosos; eis que Eu farei vir o Meu Servo, o Renovo". Zacarias 3:8. No Renovo, o Libertador por vir, repousava a esperança de Israel. Foi pela fé no Salvador vindouro que Josué e seu povo tinham recebido o perdão. Pela fé em Cristo haviam eles sido restaurados no favor de Deus. Pela virtude de Seus méritos, se andassem nos Seus caminhos e guardassem os Seus estatutos, seriam "homens portentosos", honrados como os escolhidos do Céu entre as nações da Terra. PR 298 6 Como Satanás acusou Josué e seu povo, assim em todos os séculos ele acusa os que buscam a misericórdia e o favor de Deus. Ele é o "acusador de nossos irmãos", e os acusa "de dia e de noite". Apocalipse 12:10. A controvérsia se repete em relação a cada alma que é liberta do poder do mal, e cujo nome é escrito no livro da vida do Cordeiro. Jamais é alguém recebido na família de Deus sem que se exalte a decidida resistência do inimigo. Mas Aquele que foi então a esperança de Israel, sua defesa, justiça e redenção, é a esperança da igreja hoje. PR 299 1 As acusações de Satanás contra os que buscam ao Senhor não são movidas pelo desprazer pelos pecados deles. Ele exulta nos defeitos do seu caráter; pois sabe que é unicamente por suas transgressões da lei de Deus que ele obtém poder sobre eles. Suas acusações nascem unicamente de sua inimizade por Cristo. Através do plano da salvação, Jesus está quebrando o poder de Satanás sobre a família humana, e libertando as almas do seu poder. Todo o ódio e malignidade do arqui-rebelde se inflamam quando ele contempla as evidências da supremacia de Cristo; e com diabólico poder e astúcia ele trabalha para tirar dEle os filhos dos filhos dos homens que aceitaram a salvação. Ele leva os homens ao ceticismo, procurando que percam a confiança em Deus e fiquem separados do Seu amor; tenta-os a quebrar a lei, e então os reclama como seus cativos, contestando o direito de Cristo os arrebatar. PR 299 2 Satanás sabe que os que buscam o perdão e a graça de Deus os obterão; por isto apresenta diante deles os seus pecados para os desencorajar. Ele está sempre buscando ocasião contra os que estão procurando obedecer e apresentar o melhor e mais aceitável serviço a Deus, fazendo parecer corruptas todas essas iniciativas. Mediante astúcias sem conta, as mais sutis e mais cruéis, procura ele assegurar a sua condenação. PR 299 3 O homem não pode, em sua própria força, enfrentar as acusações do inimigo. Com suas vestes manchadas de pecado e em confissão de culpa, ele está perante Deus. Mas Jesus, nosso Advogado, apresenta uma eficaz alegação em favor de todo aquele que, pelo arrependimento e fé, confiou a guarda de sua alma a Ele. Ele defende sua causa, e mediante os poderosos argumentos do Calvário, derrota o seu acusador. Sua perfeita obediência à lei de Deus deu-Lhe poder no Céu e na Terra, e Ele reclama de Seu Pai misericórdia e reconciliação para com o homem culpado. Ao acusador do Seu povo Ele declara: "O Senhor te repreenda, ó Satanás. Estes são os que foram comprados com o Meu sangue, tições tirados do fogo." E aos que nEle descansam em fé, Ele dá a certeza: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos". Zacarias 3:4. PR 299 4 Todos os que se vestiram da justiça de Cristo estarão perante Ele como escolhidos, e fiéis e leais. Satanás não tem poder para arrancá-los da mão do Salvador. Nenhuma alma que em penitência e fé reclame a Sua proteção, permitirá Cristo que passe para o poder do inimigo. Sua palavra está empenhada: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo". Isaías 27:5. A promessa dada a Josué é dada a todos: "Se observares as Minhas ordenanças [...] te darei lugar entre os que estão aqui". Zacarias 3:7. Anjos de Deus caminharão ao lado deles, mesmo neste mundo, e eles estarão afinal entre os anjos que circundam o trono de Deus. PR 300 1 A visão que de Josué e o anjo teve Zacarias se aplica com peculiar força à experiência do povo de Deus nas cenas finais do grande dia da expiação. A igreja remanescente será levada então a grande prova e angústia. Os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, experimentarão a ira do dragão e suas legiões. Satanás considera o mundo como seu súdito; e ele tem de fato alcançado o controle de muitos cristãos professos. Mas aqui está um pequeno grupo que tem resistido a sua supremacia. Se ele pudesse apagá-los da Terra, seu triunfo seria completo. Assim como ele influenciou as nações pagãs para que destruíssem a Israel, assim em próximo futuro ele instigará os ímpios poderes da Terra para que destruam o povo de Deus. Requerer-se-á dos homens que rendam obediência a editos humanos em violação da lei divina. PR 300 2 Os que forem fiéis a Deus serão ameaçados, denunciados, proscritos. Serão entregues "pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos" até mesmo à morte. Lucas 21:15. Sua única esperança está na misericórdia de Deus; sua única defesa será a oração. Como Josué suplicou perante o anjo, assim a igreja remanescente, com quebrantamento de coração e inabalável fé, suplicará perdão e livramento por meio de Jesus, seu Advogado. Estão inteiramente cônscios da pecaminosidade de suas vidas, vêem sua fraqueza e indignidade; e estão a ponto de desesperar. PR 300 3 O tentador se põe ao lado e os acusa, como o fez para resistir a Josué. Ele aponta para os seus vestidos sujos, seu caráter defeituoso. Apresenta sua fraqueza e leviandade, seus pecados de ingratidão, sua dessemelhança com Cristo, que tem desonrado ao seu Redentor. Ele procura aterrorizá-los com o pensamento de que seu caso é sem esperança, que a mancha de suas profanações nunca poderá ser lavada. Ele espera assim destruir-lhes a fé a fim de que se rendam a suas tentações, deixando sua obediência a Deus. PR 300 4 Satanás tem um acurado conhecimento dos pecados que tem levado o povo de Deus a cometer, e lança contra eles suas acusações, declarando que por seus pecados perderam o direito à proteção divina, afirmando que tem o direito de destruí-los. Pronuncia-os como tão dignos quanto ele mesmo de exclusão do favor de Deus. "São estes", ele diz, "o povo que deve tomar o meu lugar no Céu, e o lugar dos anjos que se uniram a mim? Eles professam obedecer a lei de Deus; mas têm guardado os seus preceitos? Não têm sido eles amantes do eu mais que amantes de Deus? Não têm colocado seus próprios interesses acima do Seu serviço? Não têm amado as coisas do mundo? Contemplai os pecados que têm marcado suas vidas. Vede seu egoísmo, sua malícia, o ódio de uns aos outros. Banirá Deus a mim e aos meus anjos de Sua presença, e no entanto recompensará aos que têm sido culpados dos mesmos pecados? Tu não podes, ó Senhor, com justiça, fazer isto. A justiça reclama que a sentença seja pronunciada contra eles." PR 301 1 Mas conquanto os seguidores de Cristo tenham pecado, eles não se entregaram ao controle das forças satânicas. Arrependeram-se de seus pecados, e procuraram o Senhor em humildade e contrição; e o Advogado divino pleiteia por eles. Aquele que tem sido abusado ao máximo pela ingratidão deles, Aquele que conhece os seus pecados e também a sua penitência, declara: "O Senhor te repreenda, ó Satanás. Eu dei a Minha vida por estas almas. Eles estão gravados na palma das Minhas mãos. Eles podem ter imperfeições de caráter; podem ter falhado em seus esforços; mas se arrependeram, e Eu os perdoei e aceitei." PR 301 2 Os assaltos de Satanás são fortes, seus enganos sutis; mas os olhos do Senhor estão sobre o Seu povo. Sua aflição é grande, o fogo da fornalha parece prestes a consumi-los; mas Jesus os apresentará como o ouro provado no fogo. Suas inclinações terrenas serão removidas, para que por meio deles a imagem de Cristo possa ser perfeitamente revelada. PR 301 3 Às vezes pode parecer que o Senhor esqueceu os perigos de Sua igreja, e o dano a ela feito por seus inimigos. Mas Deus não esqueceu. Nada neste mundo é tão caro ao coração de Deus como Sua igreja. Não é Sua vontade que métodos mundanos corrompam o seu registro. Ele não deixa que Seu povo seja vencido pelas tentações de Satanás. Ele punirá os que O representarem mal, mas será misericordioso para com todos os que sinceramente se arrependerem. Ele dará o necessário auxílio aos que O invocarem pedindo força para o desenvolvimento de um caráter cristão. PR 301 4 No tempo do fim, o povo de Deus suspirará e chorará por causa das abominações que se fazem na Terra. Com lágrimas advertirão os ímpios do seu perigo em tripudiar sobre a lei divina, e com indizível tristeza se humilharão perante o Senhor em penitência. Os ímpios zombarão de sua tristeza e ridicularizarão seus solenes apelos. Mas a angústia e humilhação do povo de Deus é uma segura evidência de que estão reconquistando a força e a nobreza de caráter perdidos em conseqüência do pecado. É porque se estão achegando mais a Cristo, porque seus olhos estão fixos em Sua perfeita pureza, que discernem assim claramente a excessiva malignidade do pecado. Mansidão e humildade são condições de sucesso e vitória. Uma coroa de glória espera os que se dobram ao pé da cruz. PR 301 5 Os fiéis de Deus em oração estão, por assim dizer encerrados com Ele. Eles mesmos não sabem quão seguramente estão abrigados. Instigados por Satanás, os governantes deste mundo estão procurando destruí-los; mas pudessem os olhos dos filhos de Deus serem abertos, como o foram os olhos do servo de Eliseu em Dotã, e veriam anjos de Deus acampados em torno deles, pondo em xeque as forças das trevas. PR 301 6 Afligindo o povo de Deus suas almas perante Ele, suplicando pureza de coração, é dada a ordem: "Tirai-lhe estes vestidos sujos", e são ditas as encorajadoras palavras: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos". Zacarias 3:4. As vestes imaculadas da justiça de Cristo são postas sobre os tentados filhos de Deus. Provados e fiéis o desprezado remanescente está vestido de vestes gloriosas, para não mais serem aviltados pelas corrupções do mundo. Seus nomes estão conservados no livro da vida do Cordeiro, inscritos entre os fiéis de todos os tempos. Eles resistiram aos ardis do enganador; não deixaram sua lealdade a Deus por causa do rugido do dragão. Agora estão eternamente livres dos enganos do tentador. Seus pecados são transferidos para o originador do pecado. Uma "mitra limpa" (Zacarias 3:5) lhes é posta sobre a cabeça. PR 302 1 Enquanto Satanás tem estado a fazer as suas acusações, anjos santos, invisíveis, estão passando de um para outro lado, pondo sobre os fiéis o selo do Deus vivo. Estes são os que estarão sobre o Monte de Sião com o Cordeiro, tendo o nome do Pai escrito em suas testas. Eles cantam o cântico novo diante do trono, esse cântico que ninguém pode aprender a não ser os cento e quarenta e quatro mil que são redimidos da Terra. "Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus". Apocalipse 14:4, 5. PR 302 2 Agora é alcançado o completo cumprimento das palavras do anjo: "Ouve, pois, Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de ti, porque são homens portentosos; eis que Eu farei vir o Meu servo, o Renovo". Zacarias 3:8. Cristo é revelado como Redentor e Libertador do Seu povo. Os remanescentes são agora sem dúvida "homens portentosos", quando as humilhações e as lágrimas de sua peregrinação dão lugar a exaltação e honra na presença de Deus e do Cordeiro. "Naquele dia o Renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória, e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel. E será que aquele que ficar em Sião e o que permanecer em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os vivos em Jerusalém". Isaías 4:2, 3. ------------------------Capítulo 48 -- "Não por força nem por violência" PR 303 1 Imediatamente após a visão que Zacarias teve de Josué e o anjo, o profeta recebeu uma mensagem referente à obra de Zorobabel. "E tornou o anjo que falava comigo", declara Zacarias, "e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono. E me disse: Que vês? E eu disse: Olho, e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com as suas sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. PR 303 2 "E falei, e disse ao anjo que falava comigo, dizendo: Senhor meu, que é isto? Então respondeu o anjo que falava comigo, e me disse: Não sabes tu o que isto é? E eu disse: Não, senhor meu. E respondeu, e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." PR 303 3 "Falei mais, e disse-lhe: Que são as duas oliveiras à direita do castiçal e à sua esquerda? E, falando-lhe outra vez, disse: Que são aqueles dois raminhos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem de si ouro? [...] Então ele disse: Estes são os dois filhos do óleo, que estão diante do Senhor de toda a Terra". Zacarias 4:1-6, 11-14. PR 303 4 Nessa visão as duas oliveiras que estão diante de Deus são representadas como vertendo de si o dourado óleo através de tubos para o receptáculo do castiçal. Daqui se alimentam as lâmpadas do santuário, para que possam produzir luz clara e contínua. Assim, dos ungidos que estão na presença de Deus, a plenitude da luz divina do amor e poder é repartida a Seu povo, para que este possa com outros repartir luz, alegria e refrigério. Os que assim são enriquecidos devem enriquecer a outros com os tesouros do amor de Deus. PR 303 5 Na reconstrução da casa do Senhor, Zorobabel tinha trabalhado em face de múltiplas dificuldades. Desde o início, os adversários tinham debilitado "as mãos do povo de Judá, e inquietava-os no edificar", "e os impediram à força de braço e com violência". Esdras 4:4, 23. Mas o Senhor Se interpusera em favor dos fiéis construtores, e agora falou por intermédio do Seu profeta, Zacarias, a Zorobabel, dizendo: [...] "Quem és tu, ó monte grande? diante de Zorobabel serás uma campina; porque ele trará a primeira pedra com aclamações: Graça, graça a ela". Zacarias 4:7. PR 304 1 Através da história do povo de Deus, grandes montanhas de dificuldades, aparentemente invencíveis, têm-se avultado diante dos que estiveram procurando executar os propósitos do Céu. Tais obstáculos ao progresso são permitidos pelo Senhor como uma prova de fé. Quando somos apertados de todos os lados, é sobretudo tempo de confiarmos em Deus e no poder do Seu Espírito. O exercício de uma fé viva significa aumento de força espiritual e desenvolvimento de firme confiança. É assim que a alma se torna um poder conquistador. Ante os reclamos da fé, os obstáculos postos por Satanás no caminho do cristão desaparecerão; pois os poderes do Céu virão em seu auxílio. "Nada vos será impossível". Mateus 17:20. PR 304 2 O caminho do mundo tem seu início com pompa e ostentação. O caminho de Deus deve tornar o dia das coisas pequenas o começo do glorioso triunfo da verdade e da justiça. Algumas vezes Deus disciplina Seus obreiros levando-os a desapontamentos e aparente fracasso. É Seu propósito que eles aprendam a dominar as dificuldades. PR 304 3 Muitas vezes os homens são tentados a fracassar ante os obstáculos e perplexidades que os defrontam. Mas se eles mantiverem o princípio de sua confiança firme até o fim, Deus fará que o caminho se torne claro. O sucesso lhes sobrevirá ao lutarem contra as dificuldades. Ante o intrépido espírito e firme fé de um Zorobabel, montanhas de dificuldades tornar-se-ão em planície; e aquele cujas mãos puseram os fundamentos, "também as suas mãos a acabarão". "Porque ele trará a primeira pedra com aclamações: Graça, graça a ela". Zacarias 4:9, 7. PR 304 4 O poder humano e a humana força não estabeleceram a igreja de Deus, nem a podem destruir. Não sobre a rocha da força humana, mas sobre Cristo Jesus, a Rocha dos Séculos, foi a igreja fundada, "e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Mateus 16:18. A presença de Deus dá estabilidade a Sua causa. "Não confieis em príncipes, nem em filhos dos homens", é a palavra a nós dirigida. "No sossego e na confiança estaria a vossa força". Isaías 30:15. A gloriosa obra de Deus, fundada nos eternos princípios do direito, jamais fracassará. Ela prosseguirá de poder em poder, "não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos". Zacarias 4:6. PR 304 5 A promessa: "As mãos de Zorobabel têm fundado esta casa; também as suas mãos a acabarão" (Zacarias 4:9), foi literalmente cumprida. "E os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando pela profecia do profeta Ageu, e de Zacarias, filho de Ido; e edificaram a casa e a aperfeiçoaram conforme ao mandado do Deus de Israel, e conforme ao mandado de Ciro e de Dario, e de Artaxerxes rei da Pérsia. E acabou-se esta casa no dia terceiro do mês de Adar, que era o sexto ano do reinado do rei Dario". Esdras 6:14, 15. PR 304 6 Pouco tempo depois, o templo restaurado foi dedicado. "E os filhos de Israel, os sacerdotes, e os levitas, e o resto dos filhos do cativeiro, fizeram a consagração desta casa de Deus com alegria"; e "celebraram a Páscoa no dia 14 do primeiro mês". Esdras 6:16, 17, 19. PR 305 1 O segundo templo não igualava o primeiro em magnificência, nem recebeu o toque visível da presença divina, como no caso do primeiro templo. Não houve manifestação de poder sobrenatural para assinalar sua dedicação. Nenhuma nuvem de glória foi vista inundar o santuário recém-erigido. Nenhum fogo desceu do Céu para consumir o sacrifício sobre o seu altar. O shekinah não mais habitava entre os querubins no santo dos santos; a arca, o propiciatório e as tábuas do testemunho não se encontravam ali. Nenhum sinal do Céu tornou conhecida ao sacerdote inquiridor a vontade de Jeová. PR 305 2 E contudo este era o edifício a cujo respeito o Senhor tinha declarado pelo profeta Ageu: "A glória desta última casa será maior que a da primeira." "Farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos". Ageu 2:9, 7. Durante séculos, homens eminentes têm procurado mostrar em que particular a promessa de Deus, dada a Ageu, tem sido cumprida; no entanto no advento de Jesus de Nazaré, o Desejado de todas as nações, que por Sua presença pessoal santificou o recinto e arredores do templo, muitos têm firmemente recusado ver qualquer significado especial. O orgulho e incredulidade têm cegado suas mentes para o verdadeiro significado das palavras do profeta. PR 305 3 O segundo templo foi honrado, não com a nuvem da glória de Jeová, mas com a presença dAquele em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Colossences 2:9) -- o próprio Deus "que Se manifestou em carne". 1 Timóteo 3:16. Na honra da presença pessoal de Cristo durante o Seu ministério terrestre, e nisto unicamente, o segundo templo excedeu o primeiro em glória. O "Desejado de todas as nações" (Ageu 2:7) viera de fato a seu tempo quando o Homem de Nazaré ensinou e curou no recinto sagrado. ------------------------Capítulo 49 -- Nos dias da rainha Ester PR 306 1 Graças ao favor que lhes fora mostrado por Ciro, aproximadamente cinqüenta mil dos filhos do cativeiro tinham tirado vantagem do decreto que lhes permitia voltar. Esses, entretanto, em comparação com as centenas de milhares espalhados através das províncias da Medo-Pérsia, eram apenas um simples remanescente. A grande maioria dos israelitas tinha escolhido permanecer na terra do seu exílio, antes que enfrentar as durezas da jornada de retorno e o restabelecimento de suas desoladas cidades e lares. PR 306 2 Uma vintena ou mais de anos havia passado, quando um segundo decreto, tão favorável quanto o primeiro, foi baixado por Dario Histaspes, o rei que governava então. Assim proveu Deus em misericórdia outra oportunidade para os judeus na Medo-Pérsia, a fim de que voltassem à terra de seus ancestrais. O Senhor previra os tempos turbulentos que se seguiriam durante o reinado de Xerxes -- o Assuero do livro de Ester -- e Ele não somente operou uma mudança de sentimentos no coração dos homens em autoridade, mas inspirou também Zacarias a que se empenhasse com os exilados para que voltassem. PR 306 3 "Olá, oh fugi agora da terra do norte", era a mensagem dada às tribos dispersas de Israel que se tinham estabelecido em muitas terras longe do seu antigo lar, "porque Eu vos espalhei como os quatro ventos do céu, diz o Senhor. Oh Sião livra-te tu, que habitas com a filha de Babilônia. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Depois da glória ele me enviou às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar em vós toca na menina do Seu olho. Porque eis aí levantarei a Minha mão sobre eles, e eles virão a ser a presa daqueles que os serviram; assim sabereis vós que o Senhor dos Exércitos me enviou". Zacarias 2:6-9. PR 306 4 Era ainda o propósito do Senhor como tinha sido desde o início, que Seu povo fosse um louvor na Terra, para glória do Seu nome. Durante os longos anos do seu exílio, Ele lhes havia dado muitas oportunidades de retornar a sua obediência a Ele. Alguns tinham escolhido ouvir e aprender; outros tinham encontrado salvação em meio de aflições. Muitos desses deviam ser contados entre o remanescente que retornaria. Eles foram assemelhados pela Inspiração ao "topo do cedro", que devia ser plantado "sobre um monte alto e sublime, no monte alto de Israel". Ezequiel 17:22, 23. PR 307 1 Eram esses aqueles "cujo espírito Deus despertou" (Esdras 1:5), que tinham retornado sob o decreto de Ciro. Mas Deus não cessou de apelar aos que voluntariamente permaneceram na terra do exílio; e através de múltiplas providências Ele tornou-lhes possível o retorno. O grande número, entretanto, dos que deixaram de responder ao decreto de Ciro, permaneceram insusceptíveis a posteriores influências; e mesmo quando Zacarias os advertiu a que fugissem de Babilônia sem mais delongas, eles não deram ouvidos ao convite. PR 307 2 Nesse tempo, as condições no reino da Medo-Pérsia estavam rapidamente mudando. Dario Histaspes, sob cujo reinado os judeus tinham recebido mostras de evidente favor, foi sucedido por Xerxes o Grande. Foi durante o seu reinado que aqueles judeus que haviam deixado de atender à mensagem para fugir, foram chamados a enfrentar terrível crise. Tendo recusado tomar vantagem do caminho de escape que Deus havia provido, foram agora postos face a face com a morte. PR 307 3 Por intermédio de Hamã o agagita, um homem inescrupuloso colocado em elevada autoridade na Medo-Pérsia, Satanás operou neste tempo para contrapor-se aos propósitos de Deus. Hamã acalentava amargo ódio a Mardoqueu, um judeu. Mardoqueu não havia feito a Hamã nenhum mal, mas simplesmente havia recusado mostrar-lhe reverência que traduzia culto. Desdenhando "pôr as mãos só em Mardoqueu", Hamã conspirou no sentido de "destruir todos os judeus que havia em todo o reino de Assuero, ao povo de Mardoqueu". Ester 3:6. PR 307 4 Mal orientado por falsas acusações de Hamã, Xerxes foi induzido a baixar um decreto determinando o massacre de todo povo judeu "espalhado e dividido entre os povos em todas as províncias" (Ester 3:8) do reino da Medo-Pérsia. Foi apontado um certo dia no qual os judeus deviam ser destruídos e suas propriedades confiscadas. Mal imaginava o rei os vastos resultados que teriam acompanhado a completa execução deste decreto. O próprio Satanás, o instigador oculto deste plano, estava procurando aliviar a Terra dos que preservavam o conhecimento do verdadeiro Deus. PR 307 5 "E em todas as províncias aonde a palavra do rei e a sua lei chegavam, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação, e muitos estavam deitados em saco e cinza". Ester 4:3. O decreto dos medos e persas não podia ser revogado; aparentemente não havia esperança; todos os israelitas estavam condenados à destruição. PR 307 6 Mas a trama do inimigo foi derrotada por um Poder que reina entre os filhos dos homens. Na providência de Deus, Ester, judia que temia ao Altíssimo, tinha sido escolhida como rainha do reino da Medo-Pérsia. Mardoqueu era um seu parente chegado. Na sua situação extrema, eles decidiram apelar a Xerxes em favor do seu povo. Ester devia aventurar-se a ir a sua presença como intercessora. "Quem sabe", dizia Mardoqueu, "se para tal tempo como este chegaste a este reino?" Ester 4:14. PR 308 1 A crise que Ester enfrentava demandava ação fervorosa e imediata; mas tanto ela como Mardoqueu sentiam que a menos que Deus operasse poderosamente em seu favor, seus próprios esforços seriam vãos. Assim Ester tomou tempo para comunhão com Deus, a fonte de sua força. "Vai", mandou ela dizer a Mardoqueu, "ajunta todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas moças também assim jejuaremos; e assim irei ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e, perecendo, pereço". Ester 4:16. PR 308 2 Os acontecimentos que se seguiram em rápida sucessão -- a apresentação de Ester perante o rei, o assinalado favor a ela mostrado, os banquetes do rei e da rainha com Hamã como o único comensal, o sono perturbado do rei, a honra pública mostrada a Mardoqueu, e a humilhação e queda de Hamã após a descoberta de sua ímpia trama -- tudo pertence a uma história familiar. Deus operou maravilhosamente por Seu penitente povo; e um decreto em contrapartida baixado pelo rei, permitindo-lhes lutar por sua vida, foi rapidamente comunicado a toda parte do reino por correios a cavalo, que "apressuradamente saíram, impelidos pela palavra do rei". E "em toda a província, e em toda a cidade, aonde chegava a palavra do rei e a sua ordem, havia entre os judeus alegria e gozo, banquetes e dias de folguedo; e muitos, entre os povos da terra, se fizeram judeus, porque o temor dos judeus tinha caído sobre eles". Ester 8:14, 16. PR 308 3 No dia apontado para a sua destruição, "os judeus nas suas cidades, em todas as províncias do rei Assuero, se ajuntaram para pôr as mãos naqueles que procuravam o seu mal; e nenhum podia resistir-lhes, porque o seu terror caiu sobre todos aqueles povos". Anjos magníficos em poder tinham sido comissionados por Deus para proteger Seu povo, enquanto eles se punham "em defesa de sua vida". Ester 9:2, 16. PR 308 4 A Mardoqueu foi dada a posição de honra anteriormente ocupada por Hamã. Ele foi "o segundo depois do rei Assuero, e grande para com os judeus, e agradável para com a multidão de seus irmãos" (Ester 10:3); e ele procurou promover o bem-estar de Israel. Assim Deus levou o Seu povo escolhido uma vez mais ao favor da corte medo-persa, tornando possível assim a promoção de Seu propósito de restituir-lhes a sua própria terra. Mas não foi senão sete anos mais tarde, no sétimo ano de Artaxerxes I, o sucessor de Xerxes o Grande, que um número considerável retornou a Jerusalém sob a liderança de Esdras. PR 308 5 As duras experiências que o povo de Deus enfrentara nos dias de Ester não foram peculiares a esse tempo somente. O Revelador, olhando para os séculos no fim do tempo, declarou: "O dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 12:17. Alguns que hoje estão vivendo na Terra verão cumpridas essas palavras. O mesmo espírito que nos séculos passados levou os homens a perseguirem a verdadeira igreja, levará no futuro à adoção de uma conduta similar para com os que mantêm sua lealdade a Deus. Mesmo agora estão sendo feitos preparativos para este último grande conflito. PR 309 1 O decreto que finalmente sairá contra o remanescente povo de Deus será muito semelhante ao que Assuero promulgou contra os judeus. Hoje os inimigos da verdadeira igreja vêem no pequeno grupo de guardadores do sábado, um Mardoqueu à porta. A reverência do povo de Deus por Sua lei, é uma constante repreensão aos que têm deixado o temor do Senhor, e estão pisando o Seu sábado. PR 309 2 Satanás suscitará indignação contra a minoria que recusa aceitar costumes populares e tradições. Homens de posição e reputação unir-se-ão com os marginais e os vis para tomar conselho contra o povo de Deus. Riqueza, gênio, educação, combinar-se-ão para cobri-los de desprezo. Governantes perseguidores, pastores e membros de igreja conspirarão contra eles. De viva voz e pela pena, ameaças e ridículo, procurarão subverter-lhes a fé. Mediante falsas representações e irados apelos, os homens suscitarão as paixões do povo. Não possuindo um "Assim dizem as Escrituras" para apresentar contra os advogados do sábado bíblico, eles recorrerão a opressivos preceitos de lei que lhes supram a falta. A fim de assegurar popularidade e sua aprovação, os legisladores se renderão aos reclamos de leis dominicais. Mas os que temem a Deus não podem aceitar uma instituição que viole um preceito do Decálogo. Neste campo se travará o último grande conflito na controvérsia entre a verdade e o erro. E nós não somos deixados em dúvida quanto ao desfecho. Hoje, como nos dias de Ester a Mardoqueu, o Senhor vindicará Sua verdade e Seu povo. ------------------------Capítulo 50 -- Esdras, o sacerdote e escriba PR 310 1 Cerca de setenta anos após o retorno do primeiro grupo de exilados sob a liderança de Zorobabel e Josué, Artaxerxes Longímano subiu ao trono da Medo-Pérsia. O nome deste rei está em relação com a História Sagrada por uma série de importantes providências. Foi durante o seu reinado que Esdras e Neemias viveram e trabalharam. Ele foi quem em 457 a.C. baixou o terceiro e final decreto para a restauração de Jerusalém. Seu reinado viu o retorno de um grupo de judeus sob Esdras, a conclusão dos muros de Jerusalém por Neemias e seus companheiros, a reorganização das cerimônias do templo e as grandes reformas religiosas instituídas por Esdras e Neemias. Durante seu longo reinado ele não raro mostrou favor ao povo de Deus; e em seus estimados amigos judeus merecedores de sua confiança, Esdras e Neemias, ele reconhecia homens indicados por Deus, despertados para uma obra especial. PR 310 2 A experiência de Esdras enquanto vivia entre os judeus que permaneceram em Babilônia, foi tão excepcional que atraiu a favorável atenção do rei Artaxerxes, com quem ele falou livremente com respeito ao poder do Deus do Céu, e o propósito divino de fazer voltar os judeus para Jerusalém. PR 310 3 Descendente dos filhos de Arão, Esdras havia recebido a educação sacerdotal; e em acréscimo a isto adquiriu familiaridade com os escritos dos magos, astrólogos e sábios do reino medo-persa. Mas não se sentiu satisfeito com sua condição espiritual. Suspirava por estar em plena harmonia com Deus; ansiava sabedoria para fazer a vontade divina. E assim preparou "o seu coração para buscar a lei do Senhor e para a cumprir". Esdras 7:10. Isso o levou a aplicar-se diligentemente ao estudo da história do povo de Deus, como se encontra relatado nos escritos dos profetas e reis. Ele estudou os livros históricos e poéticos da Bíblia, a fim de compreender por que tinha o Senhor permitido que Jerusalém fosse destruída e seu povo levado cativo a terras pagãs. PR 310 4 Esdras deu especial atenção às experiências de Israel desde o tempo em que a promessa foi feita a Abraão. Ele estudou a instrução dada no Monte Sinai, e através do longo período da peregrinação no deserto. Ao aprender mais e mais sobre o trato de Deus com Seus filhos, e compreender a santidade da lei dada no Sinai, o coração de Esdras foi tocado. Ele experimentou uma nova e completa conversão, e se determinou dominar os registros da História Sagrada, para que pudesse usar esse conhecimento de molde a levar bênção e luz ao seu povo. PR 311 1 Esdras procurou alcançar preparo de coração para a obra que cria ter diante de si. Ele procurou a Deus ferventemente, para que pudesse ser sábio mestre em Israel. À medida que aprendia a render a mente e a vontade ao divino controle, eram levados ao início de sua vida os princípios da verdadeira santificação que, nos últimos anos, tiveram modeladora influência, não somente sobre os jovens que buscavam sua instrução, mas sobre todos os que se associavam com ele. PR 311 2 Deus escolheu Esdras para ser um instrumento do bem para Israel, a fim de que pudesse levar honra ao sacerdócio, cuja glória tinha sido grandemente eclipsada durante o cativeiro. Esdras se desenvolveu num homem de extraordinária erudição, e tornou-se "escriba hábil na lei de Moisés". Esdras 7:6. Essas qualificações tornaram-no um homem eminente no reino da Medo-Pérsia. PR 311 3 Esdras tornou-se um porta-voz de Deus, educando nos princípios do governo do Céu aqueles que lhe estavam ao redor. Durante os anos restantes de sua vida, estivesse próximo à corte do rei da Medo-Pérsia ou em Jerusalém, sua principal tarefa era a de professor. Enquanto comunicava a outros a verdade que aprendia, sua capacidade para o trabalho aumentava. Ele se tornou um homem de piedade e zelo. Foi testemunha do Senhor ao mundo quanto ao poder da verdade para enobrecer a vida diária. PR 311 4 Os esforços de Esdras para reavivar o interesse no estudo das Escrituras receberam forma permanente, graças ao seu laborioso e constante esforço no sentido de preservar e multiplicar os Sagrados Escritos. Ele reuniu todos os exemplares da lei que pôde encontrar, mandando-os transcrever e distribuir. A Palavra pura, assim multiplicada e posta nas mãos de muitos, proveu o conhecimento que era de inestimável valor. PR 311 5 A fé que Esdras possuía de que Deus haveria de fazer uma poderosa obra por Seu povo, levou-o a falar a Artaxerxes do seu desejo de retornar a Jerusalém, a fim de reavivar o interesse no estudo da Palavra de Deus, e assistir seus irmãos na restauração da cidade santa. Como Esdras declarasse sua perfeita confiança no Deus de Israel como abundantemente capaz de proteger e cuidar de Seu povo, o rei ficou profundamente impressionado. Ele bem compreendeu que os israelitas estavam retornando a Jerusalém para que pudessem servir a Jeová; contudo, era tão grande a confiança do rei na integridade de Esdras, que lhe mostrou marcado favor, aceitando o seu pedido, e outorgando-lhe ricos dons para o serviço do templo. Ele o tornou um especial representante do reino medo-persa, e conferiu-lhe extensivos poderes para que pusesse em prática os propósitos que tinha em seu coração. PR 312 1 O decreto de Artaxerxes Longímano para a restauração e reedificação de Jerusalém, o terceiro desde a terminação dos setenta anos do cativeiro, é notável por suas expressões referentes ao Deus do Céu, por seu reconhecimento das realizações de Esdras e a liberalidade das concessões feitas ao remanescente povo de Deus. Artaxerxes se refere a Esdras como "o sacerdote Esdras, o escriba das palavras dos mandamentos do Senhor, e dos Seus estatutos sobre Israel"; "escriba da lei do Deus dos Céus". O rei uniu-se com seus conselheiros em oferecer livremente "ao Deus de Israel, cuja habitação está em Jerusalém"; e em acréscimo, tomou providência no sentido de se enfrentar as muitas despesas pesadas ordenando que fossem pagas "da casa dos tesouros do rei". Esdras 7:11, 12, 15, 20. PR 312 2 "Da parte do rei e dos seus sete conselheiros és mandado", declarou Artaxerxes a Esdras, "para fazeres inquirição em Judá e em Jerusalém, conforme a lei do teu Deus, que está na tua mão." E mais tarde decretou: "Tudo quanto se ordenar, segundo o mandado do Deus do Céu, prontamente se faça para a casa do Deus do Céu; porque, para que haveria grande ira sobre o reino do rei e de seus filhos?" Esdras 7:14, 23. PR 312 3 Ao dar permissão para os israelitas voltarem, Artaxerxes providenciou a restauração dos membros do sacerdócio a seus antigos ritos e privilégios. "Também vos fazemos saber acerca de todos os sacerdotes e levitas, cantores, porteiros, netinins, e ministros desta casa de Deus", ele declarou, "que se lhes não possa impor, nem direito, nem antigo tributo, nem renda." E tomou providências também para que fossem indicados funcionários civis para governar o povo legitimamente, de acordo com o código judaico de leis. "Tu, Esdras, conforme a sabedoria do teu Deus, que está na tua mão", ele ordenou, "põe regedores e juízes, que julguem a todo o povo que está dalém do rio, a todos os que sabem as leis do teu Deus, e ao que as não sabe as fareis saber. E todo aquele que não observar a lei do teu Deus e a lei do rei, logo se faça justiça dele: quer seja morte, quer degredo, quer multa sobre os seus bens, quer prisão". Esdras 7:24-26. PR 312 4 Assim, "segundo a boa mão do seu Deus sobre ele", Esdras persuadiu o rei a fazer abundante provisão para o retorno de todo o povo de Israel, e dos sacerdotes e levitas, no domínio medo-persa que, espontaneamente "quiser ir contigo a Jerusalém, vá". Esdras 7:9, 13. Assim outra vez foi dada oportunidade aos filhos da dispersão para voltarem à terra cuja posse estava vinculada às promessas à casa de Israel. Este decreto levou grande alegria aos que estiveram unidos com Esdras no estudo dos propósitos de Deus concernentes a Seu povo. "Bendito seja o Senhor Deus de nossos pais", Esdras exclamou, "que tal inspirou ao coração do rei, para ornarmos a casa do Senhor, que está em Jerusalém; e que estendeu para mim a Sua beneficência perante o rei e os seus conselheiros e todos os príncipes poderosos do rei". Esdras 7:27, 28. PR 313 1 Na promulgação deste decreto por Artaxerxes, foi manifestas a providência de Deus. Alguns discerniram isto, e alegremente tiraram vantagem do privilégio de voltar sob circunstâncias tão favoráveis. Foi designado um lugar geral para reunião; e no tempo apontado, os que estavam desejosos de ir à Jerusalém se reuniram para a longa viagem. "E ajuntei-os perto do rio que vai a Aava", diz Esdras, "e ficamos ali acampados três dias". Esdras 8:15. PR 313 2 Esdras havia esperado que um grande número retornasse a Jerusalém, mas o número dos que responderam ao chamado era desapontadoramente pequeno. Muitos que haviam adquirido casas e terras não tinham desejo de sacrificar essas posses. Eles amavam a tranqüilidade e o conforto, e sentiam-se satisfeitos por permanecer. Seu exemplo provou-se um embaraço a outros que de outra forma teriam escolhido lançar a sorte com os que estavam avançando pela fé. PR 313 3 Esdras, ao olhar o grupo reunido, ficou surpreso por não ver entre eles nenhum dos filhos de Levi. Onde estavam os membros da tribo que tinha sido posta de lado para o sagrado serviço do templo? Ao chamado: Quem está do lado do Senhor, os levitas deviam ter sido os primeiros a responder. Durante o cativeiro, como também depois, tinham-se-lhes concedido muitos privilégios. Eles haviam desfrutado a mais plena liberdade para ministrar às necessidades espirituais de seus irmãos no exílio. Sinagogas tinham sido construídas, nas quais os sacerdotes dirigiam o culto de Deus, e instruíam o povo. A observância do sábado, e a prática dos sagrados ritos peculiares à fé judaica, tinham sido permitidos livremente. PR 313 4 Mas com o passar dos anos depois do cativeiro, as condições mudaram, e muitas responsabilidades novas repousaram sobre os líderes de Israel. O templo de Jerusalém tinha sido reconstruído e dedicado, e mais sacerdotes eram necessários para a realização de suas cerimônias. Havia urgente necessidade de homens de Deus para atuar como ensinadores do povo. Demais disto, os judeus que permanecessem em Babilônia corriam o perigo de ter restringida sua liberdade religiosa. Por intermédio do profeta Zacarias, bem como pela recente experiência nos momentosos dias de Ester e Mardoqueu, os judeus na Medo-Pérsia tinham sido claramente advertidos a voltar para a sua própria terra. Chegara o tempo em que seria perigoso para eles a permanência por mais tempo no meio de influências pagãs. Em vista dessas condições modificadas, os sacerdotes em Babilônia deviam ter sido ligeiros em discernir na promulgação do decreto um chamado especial a eles para que retornassem para Jerusalém. PR 313 5 O rei e os príncipes tinham feito mais que sua parte em abrir o caminho para o retorno. Tinham provido abundantes meios; mas onde estavam os homens? Os filhos de Levi falharam no momento em que a influência de uma decisão de acompanhar seus irmãos teria levado outros a seguir-lhes o exemplo. Sua estranha indiferença é uma triste revelação da atitude dos israelitas em Babilônia em relação aos propósitos de Deus por Seu povo. PR 314 1 Uma vez mais Esdras apelou aos levitas, enviando-lhes um urgente convite para se unirem com o seu grupo. Para dar ênfase à importância de rápida ação, ele enviou com o seu apelo escrito vários dos seus "chefes" (Esdras 7:28) e "sábios". Esdras 8:16. PR 314 2 Enquanto os viajantes ficaram com Esdras, esses acreditados mensageiros retornaram depressa com o apelo para que "trouxessem ministros para a casa de Deus". Esdras 8:17. O apelo foi ouvido; alguns que estavam vacilantes, fizeram afinal a decisão de retornar. Ao todo, cerca de quarenta sacerdotes e duzentos e vinte netinins -- homens em quem Esdras podia confiar como sábios ministros e bons mestres e ajudadores -- foram levados ao acampamento. PR 314 3 Todos estavam agora prontos para partir. Diante deles estava uma jornada que levaria vários meses. Os homens tinham consigo suas esposas, filhos e posses, além de grande tesouro para o templo e seus serviços. Esdras fora advertido de que inimigos estavam de espreita pelo caminho, prontos para pilhar e destruir a ele e seu grupo; contudo não pedira ao rei nenhuma força armada para proteção. "Porque me envergonhei", ele explicou, "de pedir ao rei exército e cavaleiros para nos defender do inimigo no caminho, porquanto tínhamos falado ao rei, dizendo: A mão de nosso Deus é sobre todos os que O buscam para o bem, mas a Sua força e a Sua ira sobre todos os que O deixam". Esdras 8:22. PR 314 4 Nisso Esdras e seus companheiros viram uma oportunidade de magnificar o nome de Deus entre os pagãos. A fé no poder do Deus vivo seria fortalecida se os próprios israelitas revelassem agora implícita confiança no seu divino Guia. Determinaram-se, pois, depositar sua segurança inteiramente nEle. Não pediram nenhuma guarda de soldados. Não dariam aos pagãos qualquer ocasião de atribuir ao poder do homem a glória que somente a Deus pertence. Não permitiriam que surgisse na mente dos seus amigos pagãos qualquer dúvida quanto à sinceridade de sua dependência de Deus como Seu povo. A força seria obtida, não através de riquezas ou do poder e influência de idólatras, mas mediante o favor de Deus. Eles seriam protegidos exclusivamente pelo conservar diante de si a lei do Senhor, esforçando-se por obedecê-la. PR 314 5 Este conhecimento das condições sob as quais eles poderiam continuar contando com a propícia mão de Deus, infundiu uma solenidade mais que comum ao culto de consagração dirigido por Esdras e seu fiel grupo pouco antes da partida. "Apregoei ali um jejum junto ao rio Aava", Esdras declara desta experiência, "para nos humilharmos diante da face do nosso Deus, para Lhe pedirmos caminho direito para nós, e para nossos filhos, e para toda a nossa fazenda." "Nós, pois, jejuamos, e pedimos isto ao nosso Deus, e moveu-Se pelas nossas orações". Esdras 8:21, 23. PR 315 1 A bênção de Deus, entretanto, não tornava medidas de prudência e precaução desnecessárias. Como providência especial para salvaguardar o tesouro, Esdras separou "doze dos maiorais dos sacerdotes" -- homens cuja fidelidade e lealdade tinham sido provadas -- e pesou-lhes "a prata, e o ouro, e os vasos, que era a oferta para a casa do nosso Deus, a qual ofereceram o rei e os seus conselheiros, e os seus príncipes". Esses homens receberam o solene encargo de agir como vigilantes mordomos do tesouro confiado aos seus cuidados. "Consagrados sois do Senhor", Esdras declarou, "e sagrados são estes vasos, como também esta prata e este ouro, oferta voluntária, oferecida ao Senhor Deus de vossos pais. Vigiai, pois, e guardai-os, até que os peseis na presença dos maiorais dos sacerdotes e dos levitas, e dos príncipes dos pais de Israel, em Jerusalém, nas câmaras da casa de Deus". Esdras 8:24, 25, 28, 29. PR 315 2 O cuidado exercido por Esdras nas providências para o transporte e segurança do tesouro do Senhor, ensina uma lição digna de meditado estudo. Unicamente aqueles cuja lealdade tinha sido provada, foram escolhidos; e foram claramente instruídos com respeito à responsabilidade que sobre eles repousava. Na indicação de fiéis oficiais para funcionar como tesoureiros dos bens do Senhor, Esdras reconheceu a necessidade e o valor de ordem e organização em relação com a obra de Deus. PR 315 3 Durante os poucos dias que os israelitas se detiveram junto ao rio, completou-se toda a provisão para a longa jornada. "E partimos do rio de Aava", diz Esdras, "no dia doze do primeiro mês, para irmos para Jerusalém; e a mão do nosso Deus estava sobre nós, e livrou-nos da mão dos inimigos, e dos que nos armavam ciladas no caminho". Esdras 8:31. Cerca de quatro meses foram gastos na viagem, dado que a multidão que acompanhava Esdras, vários milhares ao todo, incluindo-se mulheres e crianças, precisava andar devagar. Mas tudo foi preservado com segurança. Seus inimigos foram impedidos de fazer-lhes mal. Foi próspera a sua viagem; e no primeiro dia do quinto mês, no sétimo ano de Artaxerxes, alcançaram Jerusalém. ------------------------Capítulo 51 -- Um reavivamento espiritual PR 316 1 A chegada de Esdras a Jerusalém foi oportuna. Havia grande necessidade de influência de sua presença. Sua vinda infundiu coragem e esperança ao coração de muitos que de longa data vinham trabalhando sob dificuldades. Desde o retorno do primeiro grupo de exilados sob a liderança de Zorobabel e Josué, havia mais de setenta anos antes, muito tinha sido realizado. O templo havia sido concluído, e as paredes da cidade parcialmente reparadas. Não obstante muito estava ainda por fazer. PR 316 2 Entre os que tinham voltado para Jerusalém nos primeiros anos, havia muitos que tinham permanecido leais a Deus enquanto viveram; mas um número considerável dos filhos e filhos dos filhos perderam de vista a santidade da lei de Deus. Até mesmo alguns dos homens revestidos de responsabilidade estavam vivendo em franco pecado. Sua conduta estava neutralizando grandemente os esforços feitos por outros para fazer progredir a causa de Deus; pois enquanto as flagrantes violações da lei haviam sido permitidas prosseguir sem condenação, as bênçãos do Céu não podiam repousar sobre o povo. PR 316 3 Foi da providência de Deus que os que retornaram com Esdras tivessem tido tempo especial de buscar ao Senhor. As experiências pelas quais tinham passado, em sua viagem de Babilônia, desprotegidos como tinham estado de qualquer poder humano, haviam-lhes ensinado ricas lições espirituais. Muitos tinham-se tornado fortes na fé; e ao se misturarem com os desencorajados e indiferentes em Jerusalém, sua influência foi um poderoso fator para a reforma pouco mais tarde instituída. PR 316 4 No quarto dia após a chegada, os tesouros de ouro e prata, com os vasos para o cerimonial do santuário, foram depositados pelos tesoureiros nas mãos dos oficiais do templo, na presença de testemunhas, e com a máxima exatidão. Cada artigo foi examinado "conforme ao número e conforme ao peso". Esdras 8:34. PR 316 5 Os filhos do cativeiro que tinham voltado com Esdras, "ofereceram holocaustos ao Deus de Israel", como sacrifício pelo pecado, e como sinal de seu reconhecimento e ação de graças pela proteção de santos anjos durante a viagem. "Então deram as ordens do rei aos sátrapas do rei, e aos governadores de aquém do rio; e ajudaram o povo e a casa de Deus". Esdras 8:35, 36. PR 317 1 Bem pouco tempo depois, uns poucos dos chefes de Israel se aproximaram de Esdras com uma séria denúncia. Alguns "de Israel, e os sacerdotes, e os levitas", tinham ido longe no desrespeito aos santos mandamentos de Jeová a ponto de cruzarem-se em casamento com os povos vizinhos. "Tomaram das suas filhas para si e para seus filhos", foi dito a Esdras, "e assim se misturou a semente santa com os povos" das terras pagãs; "até a mão dos príncipes e magistrados foi a primeira nesta transgressão". Esdras 9:1, 2. PR 317 2 Em seu estudo das causas que levaram ao cativeiro babilônico, Esdras havia verificado que a apostasia de Israel se devia em grande parte a sua mistura com nações pagãs. Ele notara que se eles tivessem obedecido à ordem de Jeová de se conservarem separados das nações que os cercavam, teriam sido poupados de muitas experiências tristes e humilhantes. Agora ao compreender que não obstante as lições do passado, homens preeminentes ousavam transgredir as leis dadas como salvaguarda contra a apostasia, seu coração se confrangeu. Ele se lembrou da bondade de Deus em outra vez dar a Seu povo permanência em sua terra nativa, e sentiu-se presa de justa indignação e aborrecido com a ingratidão deles. "Ouvindo eu tal coisa", ele diz, "rasguei o meu vestido e o meu manto, e arranquei os cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me assentei atônito. PR 317 3 "Então se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu me fiquei assentado atônito até ao sacrifício da tarde". Esdras 9:3, 4. PR 317 4 Ao tempo do sacrifício da tarde, Esdras se levantou, e uma vez mais rasgou os seus vestidos e o seu manto, e se pôs de joelhos, esvaziando sua alma em súplica ao Céu. Estendendo as mãos para o Senhor, ele exclamou: "Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a Ti a minha face, meu Deus; porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até aos céus. PR 317 5 "Desde os dias de nossos pais", o suplicante prosseguiu, "até ao dia de hoje, estamos em grande culpa, e por causa das nossas iniqüidades fomos entregues, nós, os nossos reis, e os nossos sacerdotes, na mão dos reis das terras, à espada, ao cativeiro, e ao roubo, e à confusão do rosto, como hoje se vê. E agora, como por um pequeno momento, se nos fez graça da parte do Senhor, nosso Deus, para nos deixar alguns que escapem, e para dar-nos uma estaca no Seu santo lugar, para nos alumiar os olhos, ó Deus nosso, e para nos dar uma pouca de vida na nossa servidão; porque servos somos; porém na nossa servidão não nos desamparou o nosso Deus, antes estendeu sobre nós beneficência perante os reis da Pérsia, para revivermos, para levantarmos a casa do Senhor nosso Deus, e para restaurarmos as suas assolações, e para que nos desse uma parede em Judá e em Jerusalém. PR 318 1 "Agora, pois, ó nosso Deus, que diremos depois disto? Pois deixamos os Teus mandamentos, os quais mandaste pelo ministério de Teus servos, os profetas. [...] E depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras, e da nossa grande culpa, ainda assim Tu, ó nosso Deus, estorvaste que fôssemos destruídos, por causa da nossa iniqüidade, e ainda nos deste livramento como este; tornaremos, pois, agora a violar os Teus mandamentos, e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não Te indignarias Tu assim contra nós até de todo nos consumires, até que não ficasse resto nem quem escapasse? Ah Senhor Deus de Israel, justo és, pois ficamos escapos, como hoje se vê. Eis que estamos diante de Ti no nosso delito; porque ninguém há que possa estar na Tua presença por causa disto". Esdras 9:6-15. PR 318 2 A tristeza de Esdras e seus associados com respeito aos males que traiçoeiramente haviam penetrado no próprio coração da obra do Senhor, produziu arrependimento. Muitos dos que haviam pecado, foram profundamente tocados. "O povo chorava com grande choro". Esdras 10:1. Em grau limitado começaram a sentir a odiosidade do pecado, e o horror com que Deus o considera. Eles viram a santidade da lei anunciada no Sinai, e muitos tremeram com medo de a transgredir. PR 318 3 Um dos presentes, de nome Secanias, reconheceu como justas todas as palavras de Esdras: "Nós temos transgredido contra o nosso Deus", ele confessou, "e casamos com mulheres estranhas do povo da terra; mas no tocante a isso, ainda há esperança para Israel." Secanias propôs que todos os que tinham transgredido fizessem um concerto com Deus de renunciar ao pecado, e que isto fosse adjudicado "conforme a lei." "Levanta-te", ele impôs a Esdras, "porque te pertence este negócio, e nós seremos contigo; esforça-te, e faze assim." "Então Esdras se levantou, e ajuramentou os maiorais dos sacerdotes e dos levitas, e a todo o Israel, de que fariam conforme a esta palavra". Esdras 10:2-5. PR 318 4 Esse foi o início de uma reforma maravilhosa. Com infinita paciência e tato, e com cuidadosa consideração pelos direitos e bem-estar de cada pessoa envolvida, Esdras e seus associados lutaram por levar os penitentes de Israel ao caminho reto. Esdras era sobretudo um ensinador da lei; e ao dar atenção pessoal ao exame de cada caso, ele procurou impressionar o povo com a santidade desta lei, e a bênção a ser alcançada pela obediência. PR 318 5 Onde quer que Esdras atuasse, aí se suscitava um reavivamento no estudo das Santas Escrituras. Mestres eram apontados para instruir o povo; a lei do Senhor era exaltada e honrada. Os livros dos profetas eram examinados, e as passagens que prediziam a vinda do Messias levavam esperança e conforto a muito coração triste e cansado. PR 318 6 Mais de dois mil anos se passaram desde que Esdras preparou "o seu coração para buscar a lei do Senhor e para a cumprir" (Esdras 7:10), mas o lapso de tempo não diminuiu a influência do seu piedoso exemplo. Através dos séculos, o registro de sua vida de consagração tem inspirado a muitos com a determinação de "buscar a lei do Senhor, e para a cumprir." PR 319 1 Os propósitos de Esdras eram altos e santos; em tudo que fizera fora movido por um profundo amor pelas almas. A compaixão e bondade que revelava para com os que haviam pecado, fosse em plena função da vontade, fosse por ignorância, deveria ser uma lição objetiva a todos os que procurassem promover reformas. Os servos de Deus devem ser tão firmes como a rocha onde retos princípios estiverem envolvidos; mas do mesmo modo devem manifestar simpatia e longanimidade. Como Esdras, devem ensinar aos transgressores o caminho da vida, inculcando-lhes princípios que são o fundamento de todo o reto proceder. PR 319 2 Nessa fase do mundo, quando Satanás está procurando, mediante múltiplas formas, cegar os olhos de homens e mulheres para com os impostergáveis reclamos da lei de Deus, há necessidade de homens que possam levar muitos a tremerem "ao mandado do nosso Deus". Esdras 10:3. Há necessidade de verdadeiros reformadores, que indiquem aos transgressores o grande Doador da lei, e lhes ensinem que "a lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma". Salmos 19:7. Há necessidade de homens poderosos nas Escrituras; homens dos quais cada palavra e cada ato exaltem os estatutos de Jeová; homens que procurem fortalecer a fé. São necessários mestres, e tanto que inspirem os corações com reverência e amor pelas Escrituras. PR 319 3 A abundante iniqüidade prevalecente hoje pode ser atribuída em grande medida à deficiência no estudo e obediência às Escrituras; pois quando a Palavra de Deus é posta de lado, é rejeitado o seu poder para restringir as más paixões do coração natural. Os homens semeiam na carne, e da carne ceifam corrupção. PR 319 4 Com o abandono da Bíblia tem vindo o abandono da lei de Deus. A doutrina segundo a qual os homens estão livres da obediência aos divinos preceitos, tem enfraquecido a força da obrigação moral, e aberto as comportas da iniqüidade sobre o mundo. A ilegalidade, dissipação e corrupção estão arrasando à semelhança de um irresistível dilúvio. Em todos os lugares se vêem inveja, suspeita, hipocrisia, indisposição, rivalidade, atritos, traição de sagrados encargos, condescendência para com a paixão sensual. Todo o sistema de princípios religiosos e doutrinas, que devia formar o fundamento e a estrutura da vida social, assemelha-se a uma massa vacilante, pronta para cair em ruínas. PR 319 5 Nos últimos dias da história da Terra, a voz que falou do Sinai está ainda declarando: "Não terás outros deuses diante de Mim". Êxodo 20:3. O homem tem posto sua vontade contra a vontade de Deus, mas não pode silenciar a palavra de ordem. A mente humana não pode fugir a suas obrigações para com um poder mais alto. Pode haver domínios das teorias e especulações; os homens podem opor a ciência à revelação, e assim afastar a lei de Deus; mas a ordem vem cada vez mais forte: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás". Mateus 4:10. PR 320 1 Não existe o que se possa chamar enfraquecimento ou fortalecimento da lei de Jeová. Ela é como tem sido. Tem sido, e será sempre santa, justa e boa, completa em si mesma. Não pode ser revogada ou mudada. "Honrá-la", ou "desonrá-la", é apenas a maneira de dizer dos homens. PR 320 2 Entre as leis de homens e os preceitos de Jeová, travar-se-á a maior batalha da controvérsia entre a verdade e o erro. Nesta batalha estamos agora entrando -- não uma batalha entre igrejas rivais lutando pela supremacia, mas entre a religião da Bíblia e as religiões de fábulas e tradição. As forças que se têm unido contra a verdade estão agora ativamente em operação. A santa Palavra de Deus, que tem chegado até nós ao preço tão alto de sofrimento e derramamento de sangue, é tida em pouco valor. Poucos há que realmente a aceitam como regra da vida. A infidelidade prevalece em medida alarmante, não apenas no mundo, mas na igreja. Muitos têm chegado a negar doutrinas que são colunas da fé cristã. Os grandes fatos da criação como apresentados pelos escritores inspirados; a queda do homem, a expiação, a perpetuidade da lei -- eis aí doutrinas praticamente rejeitadas por grande parte do professo mundo cristão. Milhares que se orgulham de seu conhecimento, consideram uma evidência de fraqueza a implícita confiança na Bíblia, e uma prova de erudição sofismar das Escrituras, e alegorizar e atenuar suas mais importantes verdades. PR 320 3 Os cristãos devem estar-se preparando para aquilo que logo irá cair sobre o mundo como terrível surpresa, e esta preparação deve ser feita mediante diligente estudo da Palavra de Deus e pelo levar a vida na conformidade com os seus preceitos. As tremendas questões de eternidade demandam de nossa parte algo mais que uma religião de pensamento, uma religião de palavras e formas, onde a verdade é mantida no recinto exterior. Deus pede um reavivamento e uma reforma. PR 320 4 As palavras da Bíblia, e a Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito. Mas a Bíblia tem sido roubada em seu poder, e o resultado é visto no rebaixamento do tono da vida espiritual. Em muitos sermões de hoje não existe aquela divina manifestação que desperta a consciência e comunica vida. Os ouvintes não podem dizer: "Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?" Lucas 24:32. Há muitos que estão clamando pelo Deus vivo, ansiando pela divina presença. Permiti que a Palavra de Deus lhes fale ao coração. Deixai que os que têm ouvido apenas tradição e teorias e máximas humanas ouçam a voz dAquele que pode preparar a pessoa para a vida eterna. PR 320 5 Grande luz jorrou dos patriarcas e profetas. Gloriosas coisas foram ditas de Sião, a cidade de Deus. Assim o Senhor deseja que a luz brilhe através dos Seus seguidores hoje. Se os santos do Antigo Testamento deram tão exaltado testemunho de lealdade, não deviam aqueles sobre quem está brilhando a luz acumulada de séculos, dar mais assinalado testemunho do poder da verdade? A glória das profecias derrama sua luz sobre nosso caminho. O tipo encontrou o antítipo na morte do Filho de Deus. Cristo ressuscitou dos mortos, proclamando sobre o sepulcro rompido: "Eu sou a ressurreição e a vida". João 11:25. Ele enviou o Seu Espírito ao mundo, para trazer todas as coisas à nossa lembrança. Por um milagre de poder Ele tem preservado Sua Palavra escrita através dos séculos. PR 321 1 Os reformadores cujo protesto nos deu o nome de protestantes, sentiram que Deus os havia chamado para levar a luz do evangelho ao mundo; e no esforço para fazer isto, estiveram prontos para sacrificar suas posses, sua liberdade e a própria vida. Em face de perseguição e morte, o evangelho foi proclamado longe e perto. A Palavra de Deus foi levada ao povo; e todas as classes, altos e baixos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, avidamente estudaram-na por si mesmos. Estamos nós, nesta batalha final do grande conflito, tão fiéis ao nosso encargo como os primeiros reformadores o foram ao seu? PR 321 2 "Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, proclamai um dia de proibição; congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos. [...] Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio." "Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração, e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não os vossos vestidos, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque Ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-Se, e grande em beneficência, e Se arrepende do mal. Quem sabe se Se voltará e Se arrependerá, e deixará após Si uma bênção?" Joel 2:15-17, 12-14. ------------------------Capítulo 52 -- Um homem oportuno PR 322 0 Este capítulo é baseado em Neemias 1-2. PR 322 1 Neemias, um dos exilados hebreus, ocupava uma posição de influência e honra na corte persa. Como copeiro do rei, era ele admitido livremente à presença real. Em virtude de sua posição, e graças a suas habilidades e fidelidade, ele se tornara amigo e conselheiro do rei. Embora objeto do favor real, conquanto rodeado pela pompa e esplendor, ele não esqueceu o seu Deus e o seu povo. Com o mais profundo interesse o seu coração se voltava para Jerusalém; suas esperanças e alegrias estavam vinculadas com a prosperidade dela. Por intermédio deste homem, preparado por sua residência na corte persa para a obra a que fora chamado, Deus propôs levar bênçãos a Seu povo na terra de seus pais. PR 322 2 Por mensageiros vindos da Judéia, soubera o patriota hebreu que dias de prova tinham vindo a Jerusalém, a cidade escolhida. Os exilados que haviam retornado estavam sofrendo aflições e vexame. O templo e partes da cidade tinham sido reconstruídos; mas a obra de restauração fora embaraçada, os ritos do templo haviam sido perturbados, e o povo vivia em constante alarma, pelo fato de estarem as paredes da cidade ainda arruinadas em grande parte. PR 322 3 Oprimido pela tristeza, Neemias não pôde comer nem beber; "chorei, e lamentei por alguns dias", diz ele. Em sua dor ele tornou para o divino Ajudador. "Estive jejuando", ele disse, "e orando perante o Deus dos Céus". Neemias 1:4. Fielmente ele fez confissão dos seus pecados e dos pecados do seu povo. Ele suplicou que Deus sustentasse a causa de Israel, restaurasse sua coragem e força, e os ajudasse a reconstruir os lugares devastados de Judá. PR 322 4 Orando Neemias, sua fé e coragem se fortaleceram. Sua boca se encheu de santos argumentos. Ele falou da desonra que seria lançada sobre Deus, se Seu povo, agora que tinha retornado para Ele, fosse deixado em fraqueza e opressão; e se empenhou com o Senhor para que tornasse realidade a Sua promessa: "Vós vos convertereis a Mim, e guardareis os Meus mandamentos, e os fareis; então ainda que os vossos rejeitados estejam no cabo do céu, de lá os ajuntarei e os trarei ao lugar que tenho escolhido para ali fazer habitar o Meu nome". Deuteronômio 4:29-31. Esta promessa tinha sido dada a Israel através de Moisés antes que tivessem entrado em Canaã; e durante os séculos tinha permanecido imutável. O povo de Deus tinha agora retornado para Ele em penitência e fé, e Sua promessa não faltaria. PR 323 1 Neemias tinha freqüentemente derramado a sua alma em favor do seu povo. Mas ao orar agora, um santo propósito formou-se em sua mente. Ele decidiu que se lograsse obter o consentimento do rei, e o necessário auxílio na aquisição de implementos e material, ele próprio tomaria a si a tarefa de reconstruir os muros de Jerusalém, e restaurar a força nacional de Israel. E ele suplicou ao Senhor que lhe permitisse alcançar favor aos olhos do rei, a fim de que este plano pudesse ser levado avante. "Faze prosperar hoje o Teu servo", ele suplicou, "e dá-lhe graça perante este homem". Neemias 1:11. PR 323 2 Neemias esperara quatro meses por uma oportunidade favorável de apresentar seu pedido ao rei. Durante este tempo, embora o seu coração estivesse carregado de dor, ele procurou mostrar-se alegre na presença real. Nas salas de luxo e esplendor, todos deviam parecer alegres e felizes. A tristeza não devia lançar sua sombra sobre a face de qualquer assistente da realeza. Mas no período de retraimento de Neemias, ocultas da vista dos homens, muitas foram as orações, as confissões, as lágrimas, ouvidas e testemunhadas por Deus e os anjos. PR 323 3 Finalmente a tristeza que oprimia o coração patriota não pôde mais ser oculta. Noites indormidas e dias cheios de cuidados deixaram sua marca em seu rosto. O rei, cioso de sua própria segurança, estava acostumado a ler fisionomias e a penetrar dissimulações, e viu que alguma perturbação secreta estava possuindo seu copeiro. "Por que está triste o teu rosto", ele inquiriu, "pois não estás doente? Isto não é senão tristeza de coração". Neemias 2:2. PR 323 4 A interrogação encheu Neemias de apreensão. Não ficaria o rei irado ao saber que enquanto aparentemente em seu serviço, os pensamentos do cortesão estavam longe com o seu aflito povo? O ofensor não perderia a vida? Seu acariciado plano de restaurar e fortificar Jerusalém -- estaria esse plano prestes a ser subvertido? "Então", ele escreve, "temi muito em grande maneira." Com lábios trêmulos e lágrimas nos olhos, ele revelou a causa de sua tristeza. "Viva o rei para sempre", ele respondeu. "Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?" PR 323 5 A exposição das condições de Jerusalém despertou a simpatia do monarca sem suscitar os seus preconceitos. Outra pergunta deu a Neemias a oportunidade por que tanto ansiava: "Que me pedes agora?" Mas o homem de Deus não se aventurou a responder enquanto não tivesse buscado a direção de Alguém mais alto que Artaxerxes. Ele tinha uma sagrada tarefa a cumprir, e esta requeria auxílio do rei; e sentiu que muito dependia de apresentar o assunto de tal maneira que lhe ganhasse a aprovação e garantisse o auxílio. "Então", diz ele, "orei ao Deus do Céu". Neemias 2:2-4. Nessa breve oração, Neemias se introduziu na presença do Rei dos reis, e teve do seu lado um poder capaz de mudar os corações como são desviados os cursos de água. PR 324 1 Orar como Neemias orou nessa hora de necessidade é um recurso à disposição do cristão, em circunstâncias em que outras formas de oração podem ser impossíveis. Os que labutam nas absorventes atividades da vida, assoberbados e quase subjugados pelas perplexidades, podem enviar uma petição a Deus, suplicando guia divina. Os que viajam por mar e por terra, quando ameaçados com algum grande perigo, podem-se encomendar à proteção do Céu. Em tempos de súbita dificuldade ou perigo, o coração pode enviar seu grito de socorro a Alguém que Se comprometeu a vir em auxílio de Seus fiéis e crentes, quando quer que chamem por Ele. Sob todas as circunstâncias, em cada condição, a alma carregada de dor e cuidado, ou ferozmente assaltada pela tentação, pode encontrar segurança, sustento e socorro no infalível amor e poder de um Deus que guarda o concerto. PR 324 2 Neemias, nesse breve momento de oração ao Rei dos reis, reuniu coragem para falar a Artaxerxes do seu desejo de ser dispensado por algum tempo dos seus deveres na corte; e pediu autoridade para reconstruir os lugares devastados de Jerusalém, e torná-la uma vez mais uma cidade forte e defensável. Momentosos resultados para a nação judaica estavam na dependência desta solicitação. "E o rei mas deu", declara Neemias, "segundo a boa mão de Deus sobre mim". Neemias 2:8. Havendo conseguido o auxílio que desejava, Neemias com prudência e reflexão procedeu aos arranjos necessários para se garantir o sucesso da empresa. Ele não negligenciou nenhuma precaução que poderia ser útil ao resultado. Nem mesmo aos seus próprios concidadãos ele revelou o seu propósito. Conquanto soubesse que muitos se alegrariam com o seu sucesso, temeu que alguns, por atos de indiscrição, pudessem despertar os ciúmes dos seus inimigos, e talvez pôr em risco a empreitada. PR 324 3 Seu pedido ao rei havia sido tão favoravelmente recebido que Neemias foi encorajado a solicitar ainda assistência adicional. Para dar dignidade e autoridade a sua missão, bem como para prover proteção na viagem, ele pediu e foi-lhe garantida uma escolta militar. Obteve cartas régias para os governadores das províncias além do Eufrates, território através do qual ele devia passar em sua viagem para a Judéia; e obteve também uma carta para o guarda da floresta real nas montanhas do Líbano, ordenando-lhe que fornecesse tanta madeira quanta fosse necessária. Para que não pudesse haver ocasião de queixa de que ele excedera sua missão, Neemias teve o cuidado de que os privilégios e autoridade que lhe eram conferidos estivessem claramente definidos. PR 324 4 Esse exemplo de sábia previdência e ação resoluta deve ser uma lição a todos os cristãos. Os filhos de Deus não devem apenas orar com fé, mas trabalhar com diligência e providente cuidado. Eles enfrentam muitas dificuldades, e não raro embaraçam a operação da Providência em seu favor, porque consideram que prudência e penoso esforço pouco têm que ver com religião. Neemias não considerou cumprido o seu dever depois de haver orado e chorado perante o Senhor. Ele uniu sua petição com os mais fervorosos, santos e piedosos esforços para o sucesso do empreendimento em que estava empenhado. Cuidadosa consideração e bem meditados planos são tão essenciais para o êxito de empreendimentos sagrados hoje como o foram no tempo da reconstrução dos muros de Jerusalém. PR 325 1 Neemias não se deixou ficar na dependência da incerteza. Os meios que lhe faltavam ele os solicitou dos que lho podiam fornecer. E o Senhor está ainda desejando mover o coração dos que têm a posse dos Seus bens, em favor da causa da verdade. Os que trabalham para Ele, devem servir-se do auxílio que Ele move os homens a dar. Esses dons podem abrir caminhos pelos quais a luz da verdade irá a muitas terras entenebrecidas. Os doadores podem não ter fé em Cristo, nem familiaridade com Sua Palavra; mas os seus dons não estão neste mesmo caso para serem recusados. ------------------------Capítulo 53 -- Os reconstrutores do muro PR 326 0 Este capítulo é baseado em Neemias 2-4. PR 326 1 A viagem de Neemias para Jerusalém foi feita em segurança. As cartas régias para os governadores das províncias ao longo de sua rota, garantiram-lhe honrosa recepção e pronta assistência. Nenhum inimigo ousou molestar o oficial que estava sob a guarda do poder do rei da Pérsia, e tratado com marcada consideração pelos governadores das províncias. Sua chegada a Jerusalém, no entanto, com uma escolta militar, mostrando que ele viera em alguma importante missão, despertou os zelos das tribos pagãs que viviam próximo à cidade, tribos essas que não raro haviam manifestado sua inimizade contra os judeus lançando sobre eles descrédito e insulto. Preeminentes nessa má obra estavam certos chefes dessas tribos, Sambalá o horonita, Tobias o amonita, e Gesém o arábio. Desde o princípio esses líderes observaram com olhos críticos os movimentos de Neemias, e procuraram por todos os meios ao seu alcance subverter seus planos e embaraçar-lhe a obra. PR 326 2 Neemias continuou a exercer a mesma cautela e prudência que até aí haviam marcado sua conduta. Sabendo que inimigos cruéis e decididos estavam prontos para se lhe oporem, ele ocultou a natureza de sua missão até que um estudo da situação o capacitasse a formular seus planos. Assim esperava assegurar a cooperação do povo e levá-lo a trabalhar antes que a oposição dos inimigos despertasse. PR 326 3 Escolhendo uns poucos homens que ele sabia serem dignos de confiança, Neemias falou-lhes das circunstâncias que o levaram a Jerusalém, o que ele tinha em vista realizar, e os planos que propusera seguir. O interesse deles na tarefa foi assegurado de pronto, bem assim sua assistência. PR 326 4 Na terceira noite depois de sua chegada, Neemias se levantou de noite, e com alguns companheiros fiéis saiu para ver com os seus próprios olhos a desolação de Jerusalém. Montando em seu animal, ele passou de uma à outra parte da cidade, contemplando os muros arruinados e as portas da cidade de seus pais. Dolorosas reflexões encheram o espírito do patriota judeu ao ver com o coração ferido de tristeza arruinadas as defesas de sua amada Jerusalém. Lembranças da passada grandeza de Israel vinham-lhe à mente em vívido contraste com as evidências de sua humilhação. PR 327 1 Em sigilo e silêncio Neemias completou o seu circuito em torno dos muros. "E não souberam os magistrados aonde eu fui", ele declara, "nem o que eu fazia; porque ainda até então nem aos judeus, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra, tinha declarado coisa alguma". Neemias 2:16. O resto da noite ele passou em oração; pois sabia que a manhã o chamaria a exercer fervente esforço no sentido de despertar e unir seus desanimados e divididos compatriotas. PR 327 2 Neemias levava uma comissão real que requeria cooperassem com ele os habitantes na reconstrução dos muros da cidade, mas ele não se fez dependente do exercício da autoridade. Procurou antes ganhar a confiança e simpatia do povo, sabendo que uma união de corações bem como de mãos era essencial na grande obra que tinha diante de si. Quando amanheceu ele convocou o povo, e apresentou argumentos calculadamente de molde a despertar suas energias adormecidas e unir seus elementos humanos dispersos. PR 327 3 Os ouvintes de Neemias não sabiam, nem ele lhes revelou, seu circuito noturno da noite anterior. Mas o fato de que ele tinha feito esta investigação contribuiu grandemente para o seu sucesso; pois sentiu-se apto a falar da condição da cidade com tanta exatidão que seus ouvintes ficaram pasmados. A impressão feita sobre ele, ao ver a fraqueza e degradação de Jerusalém, deu-lhe às palavras fervor e poder. PR 327 4 Neemias mostrou ante o povo o seu estado de opróbrio entre os pagãos -- sua religião desonrada, seu Deus blasfemado. Contou-lhes que numa terra distante ele ouvira de sua aflição, que havia buscado o favor do Céu no benefício deles, e que, enquanto orava, havia-se determinado pedir permissão ao rei para poder vir em seu auxílio. Ele havia pedido a Deus que fizesse que o rei não somente desse permissão, mas também o investisse de autoridade e lhe desse o auxílio necessário para a obra; e sua oração havia sido respondida de tal maneira que lhe mostrara que o plano era do Senhor. PR 327 5 Tudo isso ele relatou, e então, havendo mostrado que estava apoiado pela autoridade combinada do Deus de Israel e do rei persa, Neemias interrogou diretamente o povo, perguntando-lhe se aproveitariam a vantagem desta oportunidade para se levantarem e reconstruir o muro. PR 327 6 O apelo foi-lhes direto ao coração. O pensamento de como o favor do Céu se havia manifestado para com eles, envergonhou-os de seus temores, e com renovada coragem disseram a uma voz: "Levantemo-nos, e edifiquemos. E esforçaram as suas mãos para o bem." PR 327 7 Neemias empenhou-se de coração na empresa que havia assumido. Sua esperança, sua energia, seu entusiasmo, sua determinação, eram contagiosos, inspirando outros com a mesma coragem elevada e altaneiro propósito. Cada homem tornou-se por sua vez, um Neemias e ajudou a tornar mais forte o coração e as mãos do companheiro. PR 328 1 Quando os inimigos de Israel ouviram o que os judeus estavam com esperança de conseguir, riram com escárnio, dizendo: "Que é isto que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei?" Mas Neemias respondeu: "O Deus dos Céus é o que nos fará prosperar; e nós, Seus servos, nos levantaremos e edificaremos; mas vós não tendes parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém". Neemias 2:18-20. PR 328 2 Entre os primeiros a absorverem o espírito de zelo e fervor de Neemias estavam os sacerdotes. Graças a sua influente posição, esses homens muito podiam fazer para o progresso ou embaraço da obra; e sua pronta cooperação desde o início, contribuiu não pouco para o sucesso. A maioria dos príncipes e autoridades de Israel assumiram com nobreza o seu dever, e esses homens fiéis tiveram honrosa menção no livro de Deus. Houve uns poucos, os nobres de Tecoa, que "não meteram o seu pescoço ao serviço do seu Senhor". Neemias 3:5. O registro desses servos indolentes traz a marca da vergonha, e passou de geração a geração como advertência a todos no futuro. PR 328 3 Em cada movimento religioso há alguns que, conquanto não possam negar que a causa é de Deus, mantêm-se arredios, recusando fazer qualquer esforço para ajudar. Faria bem a tais pessoas lembrar o registro que é mantido no alto -- o livro no qual não há omissões, nem erro, e pelo qual serão julgados. Ali cada oportunidade negligenciada para o serviço de Deus é registrada; e ali, igualmente, cada ato de fé e amor é mantido em eterna lembrança. PR 328 4 Contra a inspiradora influência da presença de Neemias, o exemplo dos nobres de Tecoa teve pouco peso. O povo na generalidade fora inspirado por patriotismo e zelo. Homens de habilidade e influência organizaram as diferentes classes de cidadãos em grupos, ficando cada líder responsável pela edificação de certa parte do muro. E de alguns está escrito que construíram "defronte de sua casa". Neemias 3:10, 23. PR 328 5 E a energia de Neemias não se abateu, agora que a obra estava de fato começada. Com incansável vigilância ele superintendeu a reconstrução, dirigindo os obreiros, anotando os obstáculos e tomando providências para cada emergência. Ao longo de toda a extensão dos cinco quilômetros de muro, sua influência era constantemente sentida. Com palavras oportunas encorajava os tímidos, ativava os lentos, e aprovava os diligentes. E vigiava sempre os movimentos de seus inimigos, que de tempos em tempos se reuniam à distância, e se empenhavam em conversação, como se tramando alguma maldade, e então, aproximando-se mais dos obreiros, procuravam desviar-lhes a atenção. PR 328 6 Em suas inúmeras atividades, Neemias não esquecia a Fonte de sua força. Seu coração estava constantemente erguido para Deus, o grande Supervisor de tudo. "O Deus dos Céus", ele exclamava, "é o que nos fará prosperar" (Neemias 2:20); e as palavras ecoavam e tornavam a ecoar, comovendo o coração de todos os reconstrutores do muro. PR 329 1 Mas a restauração das defesas de Jerusalém não prosseguia sem embaraços. Satanás estava trabalhando para suscitar oposição e levar o desencorajamento. Sambalá, Tobias e Gesém, seus principais instrumentos neste movimento, empenharam-se agora em embaraçar a obra de reconstrução. Eles procuravam provocar divisão entre os obreiros. Ridicularizavam os esforços dos construtores, declarando ser o empreendimento uma impossibilidade, e predizendo o seu fracasso. PR 329 2 "Que fazem estes fracos judeus?" exclamou Sambalá com zombaria; "permitir-se-lhes-á isto? [...] vivificarão dos montes do pó as pedras que foram queimadas?" Tobias, ainda mais desdenhoso, acrescentou: "Ainda que edifiquem, vindo uma raposa derrubará facilmente o seu muro de pedra". Neemias 4:2, 3. PR 329 3 Os construtores ficaram logo cercados pela mais ativa oposição. Foram forçados a se manterem continuamente em guarda contra as ciladas dos seus adversários, que, professando amizade, procuravam de várias maneiras levar a confusão e perplexidade, e suscitar desconfianças. Procuravam destruir a coragem dos judeus; formavam conspiratas para atrair Neemias em suas malhas; e judeus insinceros mostraram-se prontos para auxiliar na traiçoeira empreitada. Espalhou-se o boato de que Neemias estava conspirando contra o monarca persa, intentando elevar-se como rei de Israel, e que todos que o ajudassem eram considerados traidores. PR 329 4 Mas Neemias continuou a buscar de Deus guia e sustento, e "o coração do povo se inclinava a trabalhar". Neemias 4:6. A tarefa prosseguiu até que as roturas começaram a desaparecer, e o muro em toda a sua extensão alcançou a metade da sua altura planejada. PR 329 5 Vendo os inimigos de Israel quão vãos foram os seus esforços, encheram-se de ira. Até então não haviam ousado empregar medidas de violência; pois sabiam que Neemias e seus companheiros estavam agindo sob comissão do rei, e temiam que uma oposição ativa contra ele pudesse levar contra eles o seu descontentamento. Mas agora em sua ira, eles próprios se tornavam culpados do crime de que tinham acusado Neemias. Reunindo-se para conselho, eles "ligaram-se entre si todos, para virem atacar Jerusalém". Neemias 4:8. PR 329 6 Nessa mesma ocasião em que os samaritanos estavam conspirando contra Neemias e sua obra, alguns dos líderes entre os judeus, tornando-se descontentes procuravam desencorajá-lo exagerando as dificuldades pertinentes ao empreendimento. "Já desfaleceram as forças dos acarretadores", eles diziam, "e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro." PR 329 7 Desencorajamento veio de outra fonte ainda. "Os judeus que habitavam entre" os que não estavam tomando parte na obra, reuniram as afirmações e relatórios dos inimigos, e usaram-nos para enfraquecer a coragem e criar desafeição. PR 330 1 Mas descrédito e ridículo, oposição e ameaças, pareciam apenas inspirar Neemias com mais firme determinação, e despertá-lo para maior vigilância. Ele reconheceu os perigos que tinha de enfrentar nesta luta com seus inimigos, mas sua coragem foi indomável. "Nós oramos ao nosso Deus", declara ele, "e pusemos uma guarda contra eles de dia e de noite". Neemias 4:10-12, 9. "Pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus ao povo pelas suas famílias com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas. PR 330 2 "E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos, e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra. E sucedeu que desde aquele dia metade dos meus moços trabalhava na obra, e a outra metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos, e as couraças. [...] Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas. E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam". Neemias 4:13-18. PR 330 3 Ao lado de Neemias ficava um trombeteiro, e nos diferentes pontos do muro foram estacionados sacerdotes portando trombetas sagradas. O povo foi espalhado em suas atividades; mas no caso de aproximação de perigo em qualquer ponto, era dado um sinal para que acorressem a reparar ali sem mais demora. "Assim trabalhamos na obra", diz Neemias; "e metade deles tinha as lanças desde a subida da alva até ao sair das estrelas". Neemias 4:21. PR 330 4 Os que estavam morando em cidades e vilas fora de Jerusalém foram agora convocados para que se estabelecessem do lado de dentro dos muros, tanto para guardar a obra como para estarem prontos para a obrigação da manhã. Isto preveniria retardamento desnecessário, e eliminaria a oportunidade que o inimigo, de outro modo, aproveitaria para atacar os obreiros ao irem e virem entre a casa e o trabalho. Neemias e seus companheiros não se esquivaram a dificuldades ou serviço árduo. Nem de dia e nem de noite, nem mesmo nos curtos períodos concedidos para o sono, eles tiraram suas vestes ou abandonaram suas armas. PR 330 5 A oposição e desencorajamento que os reconstrutores nos dias de Neemias tiveram de enfrentar da parte de inimigos declarados e falsos amigos, é típica da experiência dos que trabalham hoje para Deus. Cristãos são provados, não somente pela ira, desprezo e crueldade de inimigos, mas pela indolência, inconstância, frouxidão e perfídia de pretensos amigos e auxiliares. Zombaria e escárnio são-lhe endereçados. E o mesmo inimigo que promove o desdém, em oportunidade favorável usa medidas mais cruéis e violentas. PR 331 1 Satanás tira vantagem para a realização dos seus propósitos de todo elemento não consagrado. Entre os que professam ser sustentadores da causa de Deus, há os que se unem com os Seus inimigos, e assim Sua causa fica exposta abertamente aos ataques dos Seus mais ferrenhos inimigos. Mesmo alguns que desejam que a obra de Deus prospere enfraquecerão as mãos dos Seus servos ouvindo, repetindo e crendo em parte na difamação e ameaças dos Seus adversários. Satanás opera com maravilhoso sucesso por meio de seus instrumentos; e todos os que se rendem a sua influência estão sujeitos a um fascinante poder que destrói a sabedoria do sábio e o entendimento do prudente. Mas, como Neemias, o povo de Deus não deve temer nem tão pouco desprezar seus inimigos. Colocando sua confiança em Deus, devem prosseguir firmemente, fazendo Sua obra com altruísmo, e encomendando a Sua providência a causa que sustentam. PR 331 2 Em meio a grande desencorajamento, Neemias fez de Deus sua segura defesa, nEle pondo sua confiança. E Aquele que foi então o sustentador do Seu servo tem sido a confiança do Seu povo em todos os séculos. Em cada crise o Seu povo pode confiadamente declarar: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" Romanos 8:31. PR 331 3 Astuciosas como forem as ciladas de Satanás e seus agentes, Deus pode detê-las, anulando todos os seus conselhos. A resposta da fé hoje deve ser a que deu Neemias: "Nosso Deus pelejará por nós"; pois está no trabalho, e nenhum homem poderá impedir o seu sucesso final. ------------------------Capítulo 54 -- Condenada a extorsão PR 332 0 Este capítulo é baseado em Neemias 5. PR 332 1 Os muros de Jerusalém não haviam sido ainda completados quando a atenção de Neemias foi chamada para a infeliz situação das classes mais pobres do povo. Na condição desordenada em que se achava o país, a lavoura tinha sido um tanto negligenciada. Posteriormente, em virtude da conduta egoísta de alguns que tinham voltado para a Judéia, as bênçãos do Senhor não repousaram sobre sua terra, e houve escassez de cereais. PR 332 2 A fim de obter alimento para suas famílias, os pobres foram obrigados a comprar a crédito, e a preços exorbitantes. Foram também compelidos a tomar dinheiro emprestado a juros, para pagar as pesadas taxas a eles impostas pelos reis da Pérsia. Para acréscimo à angústia dos pobres, os mais ricos entre os judeus tinham tomado vantagem de suas necessidades, enriquecendo-se dessa maneira. PR 332 3 O Senhor havia ordenado a Israel por intermédio de Moisés, que em cada terceiro ano fosse levantado um dízimo em favor dos pobres; e além disso tomou-se providência para a suspensão dos trabalhos agrícolas cada sétimo ano, ficando a terra em repouso, e os frutos que espontaneamente produzisse eram deixados para os necessitados. A fidelidade em devotar essas ofertas para o alívio dos pobres e para outros atos de bondade, tenderia a conservar viva diante do povo a verdade de que Deus é o dono de tudo, e a oportunidade de eles serem canais de bênçãos. Era propósito de Jeová que os israelitas tivessem uma educação que lhes erradicasse o egoísmo, desenvolvendo-lhes a liberalidade e nobreza de caráter. PR 332 4 Deus havia também instruído a Moisés: "Se emprestares dinheiro ao Meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como um usurário; não lhe imporeis usura". Êxodo 22:25. "A teu irmão não emprestarás à usura: nem à usura de dinheiro, à usura de comida, nem à usura de qualquer coisa que se empreste à usura". Deuteronômio 23:19. Em outra ocasião Ele havia dito: "Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em algumas das tuas portas, na tua terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade." "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra". Deuteronômio 15:7, 8, 11. PR 333 1 Nos tempos após o retorno dos exilados de Babilônia, os judeus ricos tinham ido diretamente contra esses mandamentos. Quando os pobres foram obrigados a tomar emprestado a fim de pagar tributo ao rei, os ricos lhes haviam emprestado o dinheiro, mas mediante altos juros. Lançando hipotecas sobre as terras dos pobres, haviam gradualmente reduzido os infortunados devedores à mais profunda pobreza. Muitos tinham sido forçados a vender seus filhos e filhas como escravos; e parecia não haver esperança de que sua condição melhorasse, nem possibilidade de redimirem a seus filhos ou suas terras, nem qualquer outra perspectiva diante deles que não sofrimento sempre crescente, com perpétua carência e cativeiro. No entanto eles eram da mesma nação, filhos do mesmo concerto, como seus irmãos mais favorecidos. PR 333 2 Afinal o povo apresentou sua condição a Neemias: "Eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão sujeitas que já não estão no poder de nossa mão; e outros têm as nossas terras e as nossas vinhas." PR 333 3 Ouvindo Neemias desta cruel opressão, sua alma se encheu de indignação. "Ouvindo eu, pois, o seu clamor, e estas palavras", ele diz, "muito me enfadei". Neemias 5:5, 6. Ele viu que se quisesse ter êxito em derribar o opressivo costume de cobrança, precisava tomar posição decidida ao lado da justiça. Com característica energia e determinação, entregou-se à tarefa de levar alívio a seus irmãos. PR 333 4 O fato de que os opressores eram homens ricos, cujo apoio era grandemente necessário na obra de restauração da cidade, nem por um momento influiu em Neemias. Rijamente ele repreendeu aos nobres e juízes; e havendo reunido uma grande assembléia do povo, apresentou diante deles o que Deus pedia no tocante ao caso. PR 333 5 Chamou-lhes a atenção para fatos que ocorreram no reinado do rei Acaz. Repetiu a mensagem com que Deus nesse tempo enviou para repreender a Israel por sua crueldade e opressão. Os filhos de Judá, em virtude de sua idolatria, tinham sido entregues às mãos de seus irmãos ainda mais idólatras, o povo de Israel. Estes tinham suscitado a inimizade daqueles por haverem morto em batalha muitos milhares de homens de Judá, e tinham-se apoderado de todas as mulheres e crianças, com o propósito de conservá-las em cativeiro, ou vendê-las como escravas aos pagãos. PR 333 6 Por causa dos pecados de Judá, o Senhor não Se havia interposto para impedir a batalha; mas pelo profeta Obede Ele repreendeu o cruel desígnio do exército vitorioso: "Cuidais em sujeitar a vós os filhos de Judá e Jerusalém, como cativos e cativas; porventura não sois vós mesmos aqueles entre os quais há culpas contra o Senhor vosso Deus?" 2 Crônicas 28:10. Obede advertiu o povo de Israel de que a ira do Senhor estava inflamada contra eles, e que sua conduta de injustiça e opressão acarretaria Seus juízos. Ouvindo essas palavras, os homens armados deixaram os cativos e o espólio perante os príncipes e toda a congregação. Então alguns líderes da tribo de Efraim "tomaram os presos, e vestiram do despojo a todos os que dentre eles estavam nus, e os vestiram, e os calçaram, e lhes deram de comer e de beber, e os ungiram; e a todos os que estavam fracos levaram sobre jumentos, e os trouxeram a Jericó, à cidade das palmeiras, a seus irmãos". 2 Crônicas 28:15. PR 334 1 Neemias e outros haviam redimido alguns dos judeus que tinham sido vendidos aos pagãos, e ele agora colocava sua conduta em contraste com a dos que por amor de lucros mundanos estavam escravizando a seus irmãos. "Não é bom o que fazeis", disse ele; "porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?" Neemias 5:9. PR 334 2 Neemias mostrou-lhes que ele próprio, estando investido da autoridade do rei da Pérsia, podia ter requerido grandes contribuições para o seu benefício pessoal. Mas em vez disto, não havia tomado nem mesmo o que de justiça lhe pertencia, mas havia dado liberalmente para socorrer os pobres em suas necessidades. Ele instou com aqueles entre os juízes judaicos que haviam sido culpados de extorsão, para que pusessem fim a esta obra iníqua, restituíssem as terras dos pobres, bem como o dinheiro que lhes haviam arrancado na excessiva taxa de juros; e que lhes emprestassem sem hipoteca ou usura. PR 334 3 Essas palavras foram ditas na presença de toda a congregação. Tivessem os juízes escolhido justificar-se, e teriam tido oportunidade de fazê-lo. Mas não ofereceram escusas. "Restituir-lho-emos", eles declararam, "e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes." Nesta oportunidade Neemias chamou os sacerdotes, e os fez "jurar de que fariam conforme a esta palavra." "E toda a congregação disse: Amém E louvaram ao Senhor; e o povo fez conforme a esta palavra". Neemias 5:11, 12. PR 334 4 Esse relato nos ensina uma importante lição: "O amor do dinheiro é a raiz de todo o mal". 1 Timóteo 6:10. Nesta geração, o desejo de ganho é paixão dominante. A riqueza é muitas vezes obtida pela fraude. Há multidões lutando com a pobreza, sendo compelidos a trabalhar arduamente por pequeno salário, incapazes de assegurarem ganho para as menores necessidades da vida. Fadiga e privação, sem qualquer esperança de coisas melhores, tornam pesado o seu fardo. Atormentados e oprimidos, não sabem para onde se virar em busca de alívio. E tudo isto para que os ricos possam satisfazer a suas extravagâncias ou condescender com o seu desejo de enriquecimento PR 334 5 O amor do dinheiro e o amor da ostentação têm transformado este mundo num covil de ladrões e criminosos. As Escrituras pintam a ganância e opressão que prevalecerão precisamente antes da segunda vinda de Cristo. "Eia pois agora vós, ricos", escreve Tiago, "entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a Terra, e vos deleitastes; cevastes o vosso coração como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu." Tiago 5:1, 3-6. PR 335 1 Mesmo entre os que professam estar andando no temor do Senhor, há alguns que estão agindo outra vez segundo o curso perseguido pelos nobres de Israel. Estando em seu poder proceder assim, eles pedem mais do que é justo, tornando-se opressores. E porque a avareza e perfídia se vêem na vida dos que levam o nome de Cristo, porque a igreja conserva em seus livros os nomes dos que ganharam suas posses pela injustiça, a religião de Cristo é tida em desonra. Extravagância, excessos e extorsões estão corrompendo a fé de muitos, e destruindo sua espiritualidade. A igreja é em grande medida responsável pelos pecados dos seus membros. Ela encoraja o mal se deixa de levantar a voz contra isso. PR 335 2 Os costumes do mundo não são norma para o cristão. Ele não deve imitar suas práticas sutis, suas astúcias, suas extorsões. Todo ato injusto para com o próximo é uma violação da regra áurea. Cada erro praticado em relação aos filhos de Deus, é feito ao próprio Cristo na pessoa de Seus santos. Toda tentativa de tirar vantagem da ignorância, fraqueza ou infortúnio de outrem, é registrada como fraude no livro-razão do Céu. Aquele que sinceramente teme a Deus, preferiria antes labutar dia e noite e comer o pão da pobreza, a condescender com a paixão do ganho que oprima a viúva e o órfão, ou prive o estrangeiro do seu direito. PR 335 3 O mais leve afastamento da retidão quebra as barreiras, e prepara o coração para injustiça maior. É precisamente quando um homem chega ao ponto de tirar vantagem para si da desvantagem de outrem, que sua alma se tornará insensível à influência do Espírito de Deus. O ganho obtido a tal preço é uma terrível perda. PR 335 4 Nós éramos todos devedores à justiça divina; mas nada possuíamos para pagar o débito. Então o Filho de Deus, que de nós teve piedade, pagou o preço de nossa redenção. Ele Se fez pobre para que por Sua pobreza fôssemos enriquecidos. Mediante obras de liberalidade para com os Seus pobres, podemos provar a sinceridade de nossa gratidão pela misericórdia a nós estendida. "Façamos bem a todos", o apóstolo recomenda, "mas principalmente aos domésticos da fé". Gálatas 6:10. E suas palavras estão em harmonia com as do Salvador: "Sempre tendes os pobres convosco". Marcos 14:7. "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas". Mateus 7:12. ------------------------Capítulo 55 -- Ciladas dos pagãos PR 336 0 Este capítulo é baseado em Neemias 6. PR 336 1 Sambalá e seus confederados não ousavam fazer guerra aberta aos judeus; mas com crescente malícia continuaram os seus secretos esforços para os desencorajar, perturbar e injuriar. O muro em torno de Jerusalém estava indo depressa a caminho da conclusão. Quando estivesse concluído e suas portas assentadas, esses inimigos de Israel não poderiam esperar forçar entrada na cidade. Estavam, pois, desejosos o máximo de deter a obra o quanto antes. Por fim imaginaram um plano pelo qual esperavam afastar Neemias, do seu posto e uma vez tendo-o em seu poder matá-lo ou aprisioná-lo. PR 336 2 Sob o pretexto de conseguir um acordo entre as partes em oposição, eles procuraram uma conferência com Neemias, e convidaram-no a se encontrarem numa vila na planície de Ono. Mas esclarecido pelo Espírito Santo quanto ao real propósito que tinham em vista, ele recusou. "Enviei-lhes mensageiros, a dizer", ele escreve: "Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?" Mas os tentadores foram persistentes. Quatro vezes enviaram mensageiros com a mesma missão, e quatro vezes receberam idêntica resposta. PR 336 3 Verificando que esse esquema não funcionou, eles decidiram tentar um plano mais ousado. Sambalá enviou a Neemias um portador com uma carta aberta em que dizia: "Entre as gentes se ouviu, e Gasmu diz, que tu e os judeus intentais revoltar-vos, pelo que edificas o muro; e que tu te farás rei [...] E que puseste profetas, para pregarem de ti em Jerusalém, dizendo: Este é rei em Judá. Ora o rei o ouvirá, segundo estas palavras; vem, pois, agora e consultemos juntamente". Neemias 6:3-7. PR 336 4 Fosse verdade que tais boatos estavam circulando, e teria havido motivos para apreensão; pois logo o informe teria sido levado ao rei, que poderia determinar as mais severas medidas ante uma leve suspeita. Mas Neemias estava convicto de que a carta era inteiramente falsa, escrita para suscitar seus temores e fazê-lo cair no laço. Esta conclusão foi fortalecida pelo fato de que a carta havia sido enviada aberta, evidentemente para que as pessoas pudessem ler o que continha e ficarem alarmadas e intimidadas. PR 336 5 Neemias prontamente enviou a resposta: "De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu, mas tu do teu coração o inventas". Neemias 6:8. Neemias não ignorava os ardis de Satanás. Ele sabia que o que se fazia eram tentativas de enfraquecer as mãos dos construtores, e assim frustrar-lhes os esforços. PR 337 1 Vez após vez Satanás havia sido derrotado; e agora, com mais profunda malícia e engenho, ele tramou para o servo de Deus um ardil mais sutil e perigoso. Sambalá e seus companheiros assalariaram homens que professavam ser amigos de Neemias, para que lhe dessem maus conselhos como se partissem do Senhor. O mais empenhado nesta obra iníqua era Semaías, homem anteriormente tido em boa reputação por Neemias. Esse homem fechara-se numa câmara próxima ao santuário, como se temendo estar a sua vida em perigo. O templo estava então protegido por muros e portas, mas as portas da cidade ainda não tinham sido postas. Fingindo grande preocupação pela segurança de Neemias, Semaías aconselhou-o a buscar refúgio no templo. "Vamos juntamente à casa de Deus", ele propôs, "ao meio do templo, e fechemos as portas do templo, porque virão matar-te; sim, de noite virão matar-te". Neemias 6:10. PR 337 2 Tivesse Neemias seguido este conselho traiçoeiro, e teria sacrificado sua fé em Deus, e teria aparecido aos olhos do povo como covarde e desprezível. Em vista da importante obra que ele tinha assumido, e a confiança que professava ter no poder de Deus, teria sido absolutamente fora de propósito para ele esconder-se como se estivesse com medo. Espalhar-se-ia o alarma entre o povo, e cada um teria procurado sua própria segurança, ficando a cidade desprotegida, vindo a cair presa dos seus inimigos. Este procedimento desavisado da parte de Neemias seria uma virtual entrega de tudo o que tinha sido alcançado. PR 337 3 Neemias não demorou a penetrar o verdadeiro caráter e objetivo do seu conselheiro. "Conheci que eis que não era Deus quem o enviara", ele diz; "mas esta profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalá o subornaram. Para isto o subornaram, para me atemorizar, e para que eu assim fizesse, e pecasse, para que tivessem alguma coisa a fim de me infamarem, e assim me vituperarem." PR 337 4 O infamante conselho dado por Semaías fora apoiado por mais que um homem de alta reputação, que, enquanto professando amizade por Neemias, estavam secretamente aliados com seus inimigos. Mas não tiveram êxito com o seu engano. A destemida resposta de Neemias foi: "Um homem como eu fugiria? e quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei". Neemias 6:12, 13, 11. PR 337 5 Apesar das ciladas dos inimigos, a obra de reconstrução prosseguiu firmemente, e em menos de dois meses desde a chegada de Neemias a Jerusalém, a cidade havia sido circundada de defesas, e os construtores podiam andar sobre os muros e olhar lá embaixo os seus inimigos atônitos e derrotados. "Ouvindo-o todos os nossos inimigos, temeram, todos os gentios que havia em roda de nós, e abateram-se muito em seus próprios olhos", escreveu Neemias; "porque reconheceram que o nosso Deus fizera esta obra." PR 338 1 Mas nem mesmo esta evidência da mão controladora do Senhor fora suficiente para conter o descontentamento, a traição e rebelião entre os israelitas. "Alguns nobres de Judá escreveram muitas cartas, que iam para Tobias, e as cartas de Tobias vinham para eles. Porque muitos em Judá se lhe ajuramentaram, porque era genro de Secanias". Neemias 6:16-18. Aqui se vêem os maus resultados de mistura matrimonial com idólatras. Uma família de Judá se aparentara com os inimigos de Deus, e essa relação havia-se provado um laço. Muitos outros haviam feito o mesmo. Esses, como a multidão mestiça que viera com Israel do Egito, foram uma fonte de contínua perturbação. Eles não eram sinceros em seu serviço; e quando a obra de Deus demandou sacrifício, mostraram-se prontos para violar seu solene juramento de cooperação e ajuda. PR 338 2 Alguns que haviam estado na dianteira em planejar ciladas contra os judeus, passam a manifestar o desejo de estar em boa paz com eles. Os nobres de Judá que haviam sido enredados em casamentos idólatras, e que tinham mantido traiçoeira correspondência com Tobias, jurando servi-lo, apresentavam-no agora como um homem de habilidade com quem uma aliança seria de grande vantagem para os judeus. Ao mesmo tempo traiçoeiramente lhe levavam os planos e movimentos de Neemias. Assim era a obra de Deus exposta aos ataques dos seus inimigos, dando-se oportunidade a que as palavras e atos de Neemias fossem mal interpretados e sua obra embaraçada. PR 338 3 Quando os pobres e oprimidos apelaram a Neemias no sentido de que se reparasse o mal, ele se pusera corajosamente em sua defesa, e havia levado os que fizeram o mal a remover o reproche que sobre eles repousava. Mas a autoridade que ele havia exercido em favor dos seus concidadãos oprimidos, não a exerceu agora em seu próprio proveito. Seus esforços tinham sido resistidos por alguns com ingratidão e deslealdade, mas ele não usou o seu poder para levar punição aos traidores. Com a calma e altruísmo prosseguiu ele no serviço pelo povo, jamais afrouxando os seus esforços ou permitindo que o interesse diminuísse. PR 338 4 Os assaltos de Satanás sempre têm sido dirigidos contra os que têm procurado promover a obra e a causa de Deus. Embora muitas vezes frustrado, ele renova outro tanto os seus ataques com vigor igualmente renovado, usando meios até então não experimentados. Mas o que é mais de temer é a sua secreta operação por intermédio dos que se professam amigos da obra de Deus. A oposição aberta pode ser feroz e cruel, mas traz em si muito menos perigo para a causa de Deus que a inimizade secreta dos que, enquanto professando servir a Deus, são servos cordiais de Satanás. Esses têm em seu poder colocar toda vantagem nas mãos dos que usariam seu conhecimento para embaraçar a obra de Deus e lesar Seus servos. PR 338 5 Todo artifício que o príncipe das trevas pode sugerir será empregado para induzir os servos de Deus a formar uma confederação com os agentes de Satanás. Repetidas solicitações virão chamá-los do dever; mas como Neemias, eles devem firmemente responder: "Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer." Os obreiros de Deus podem manter-se a salvo com sua obra, permitindo que seus esforços refutem as falsidades que a malícia possa cunhar para prejudicá-los. Como os construtores dos muros de Jerusalém, devem recusar ser desviados de sua obra pelas ameaças, motejos ou falsidades. Nem por um momento devem relaxar sua atenção ou vigilância; pois os inimigos estão de contínuo em seu rastro. Devem orar sempre a Deus, e pôr "uma guarda contra eles, de dia e de noite". Neemias 4:9. PR 339 1 Ao aproximar-se o tempo do fim, as tentações de Satanás serão dirigidas com maior poder contra os obreiros de Deus. Ele empregará agentes humanos para insultar e desanimar os que "edificam o muro." Mas se os edificadores descerem para enfrentar esses ataques isto tão-somente retardaria a obra. Devem eles procurar derrotar os propósitos dos seus adversários; mas não devem permitir que coisa alguma os desvie de sua obra. A verdade é mais forte que o erro, e o direito prevalecerá sobre a injustiça. PR 339 2 Também não devem eles permitir que seus inimigos lhes conquistem a amizade e a simpatia, e assim induzi-los a desviarem-se do posto do dever. Aquele que por qualquer ato desavisado expõe a causa de Deus à vergonha, ou enfraquece as mãos dos seus coobreiros, põe sobre o próprio caráter uma nódoa não facilmente removível, e coloca um sério obstáculo no caminho de sua futura prestatividade. PR 339 3 "Os que deixam a lei louvam o ímpio". Provérbios 28:4. Quando os que se estão unindo com o mundo, embora proclamando grande pureza, reclamam união com os que sempre foram opositores da causa da verdade, devemos temer e evitá-los tão decididamente como o fez Neemias. Tal conselho é sugerido pelo inimigo de todo o bem. É o falar de oportunistas, e deve ser resistido tão resolutamente hoje como o foi então. Qualquer que seja a influência que tende a desviar a fé do povo de Deus em Seu poder guiador, deve ser firmemente resistida. PR 339 4 Na firme devoção de Neemias à obra de Deus, e sua confiança igualmente firme em Deus, está a razão da derrota dos seus inimigos em atraí-lo ao seu poder. A alma indolente facilmente cai presa da tentação; mas na vida que tem nobre alvo, absorvente propósito, o mal encontra pouco terreno. A fé de quem está constantemente avançando não se debilita; pois acima, embaixo, além, ele reconhece o Infinito Amor promovendo todas as coisas para realização do Seu bom propósito. Os verdadeiros servos de Deus trabalham com determinação que não falhará, porque estão na constante dependência do trono da graça. PR 339 5 Deus tem provido assistência para todas as emergências que superam os recursos humanos. Ele dá o Espírito Santo para ajudar em toda dificuldade, fortalecer a esperança e segurança, iluminar a mente e purificar o coração. Ele provê oportunidades e soluções. Se Seu povo estiver atento à Sua providência e pronto para cooperar com Ele, poderosos resultados serão vistos. ------------------------Capítulo 56 -- Instruídos na lei de Deus PR 340 0 Este capítulo é baseado em Neemias 8-10. PR 340 1 Era o tempo da Festa das Trombetas. Muitos estavam reunidos em Jerusalém. O cenário dava uma impressão lastimável. O muro de Jerusalém tinha sido reconstruído, e as portas assentadas; mas uma grande parte da cidade estava ainda em ruínas. PR 340 2 Sobre uma plataforma de madeira, erguida numa das ruas mais largas, e rodeado por todos os lados por tristes lembranças da antiga glória de Judá, estava Esdras, agora envelhecido. A sua direita e a sua esquerda reuniram-se seus irmãos levitas. Olhando do alto da plataforma, seus olhos percorreram o mar de cabeças. Os filhos do concerto tinham-se congregado de todos os recantos do país. "E Esdras louvou o Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém [...] e inclinaram-se, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra". Neemias 8:6. PR 340 3 Entretanto mesmo aqui estava a evidência do pecado de Israel. Através de casamento misto do povo com outras nações, a linguagem hebraica tinha-se tornado corrompida, e grande cuidado era necessário da parte dos oradores, para explicar a lei na linguagem do povo, a fim de que pudesse ser entendida por todos. Alguns dos sacerdotes e levitas uniram-se com Esdras na explicação dos princípios da lei. "E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse." PR 340 4 "E os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei". Neemias 8:8, 3. "Eles ouviam, absortos e reverentes, as palavras do Altíssimo. Sendo a lei explicada, eles se convenceram de sua culpa, e choraram por causa de suas transgressões. Mas esse era um dia festivo, um dia de regozijo, uma santa convocação, um dia no qual o Senhor tinha ordenado ao povo que se mostrasse alegre e jubiloso; e em vista disto foram chamados a restringir suas mágoas, e a se rejubilarem por causa da grande misericórdia do Senhor para com eles. "Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus", disse Neemias, "pelo que não vos lamenteis, nem choreis. [...] Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força". Neemias 8:9, 10. PR 340 5 A primeira parte do dia fora devotada a exercícios religiosos, e o povo despendeu o resto do tempo em grata reconsideração das bênçãos de Deus, e em desfrutar a abundância que Ele provera. Porções foram também enviadas aos pobres que nada tinham para preparar. Houve grande regozijo, por causa das palavras da lei que haviam sido lidas e entendidas. PR 341 1 No dia seguinte, a leitura e explicação da lei teve prosseguimento. E no tempo indicado -- no décimo dia do sétimo mês -- realizaram-se as solenes cerimônias do dia da expiação, de acordo com a ordenação de Deus. PR 341 2 Do décimo quinto ao vigésimo segundo dia do mesmo mês, o povo e seus chefes guardaram uma vez mais a Festa dos Tabernáculos. "E fizeram passar pregão por todas as suas cidades, e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte, e trazei ramos de oliveiras, e ramos de zambujeiros, e ramos de murtas, e ramos de palmeiras, e ramos de árvores espessas, para fazer cabanas, como está escrito. Saiu, pois, o povo, e de tudo trouxeram, e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço, e nos seus pátios, e nos átrios da casa de Deus. [...] E houve mui grande alegria. E de dia em dia ele Esdras lia no livro da lei de Deus, desde o primeiro dia até ao derradeiro". Neemias 8:15-18. PR 341 3 Ao atentar dia a dia para as palavras da lei, o povo ficara convencido de suas transgressões, e dos pecados de sua nação em passadas gerações. Viram que fora por causa do afastamento de Deus que Seu cuidado protetor tinha sido retirado, e que os filhos de Abraão tinham sido espalhados pelas terras estrangeiras; e se determinaram buscar Sua misericórdia e empenharem-se em andar nos Seus mandamentos. Antes de entrarem nesta solene cerimônia, que tivera lugar no segundo dia após o encerramento da Festa dos Tabernáculos, eles se separaram dos pagãos que havia entre eles. PR 341 4 Prostrando-se o povo ante o Senhor, e confessando os seus pecados e suplicando perdão, seus líderes os encorajaram a crer que Deus, segundo a Sua promessa, ouvira suas orações. Não deviam eles apenas lamentar e chorar e arrepender-se, mas deviam crer que Deus os perdoara. Deviam mostrar sua fé passando em revista Suas misericórdias e louvá-Lo por Sua bondade. "Levantai-vos", disseram esses ensinadores, "bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade." PR 341 5 Então da multidão reunida, ao se levantarem com as mãos estendidas para o céu, elevou-se o cântico: PR 341 6 "Bendigam o nome da Tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor. Tu só és Senhor, Tu fizeste o Céu, o Céu dos Céus, e todo o seu exército, a Terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e Tu os guardas em vida a todos, E o exército dos Céus Te adora". Neemias 9:5, 6. PR 341 7 Findo o cântico de louvor, os líderes da congregação relataram a história de Israel, mostrando quão grande tinha sido a bondade de Deus para com eles, e como tinha sido grande a ingratidão deles. Então toda a congregação entrou num concerto para guardar os mandamentos de Deus. Eles haviam sofrido a punição por seus pecados; agora reconheciam a justiça do trato que Deus lhes dispensara, e se comprometeram em obedecer a Sua lei. E para que este fosse "um firme concerto", sendo preservado em forma permanente, como um memorial da obrigação que haviam tomado sobre si, foi ele escrito, e os sacerdotes, levitas e príncipes o assinaram. Devia ele servir como um memorando do dever e uma barreira contra a tentação. O povo fez um solene juramento de que "andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo de Deus, e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do Senhor, nosso Senhor, e os Seus juízos e os Seus estatutos". O juramento feito nesse dia incluía a promessa de não se casarem com o povo da terra. PR 342 1 Antes que o dia de jejum findasse, o povo manifestou ainda sua determinação de retornar ao Senhor, comprometendo-se a cessar de profanar o sábado. Neemias não fizera nessa ocasião, como o fez mais tarde, valer sua autoridade para evitar que os mercadores pagãos entrassem em Jerusalém; mas num esforço para salvar o povo de se render à tentação, obrigou-os, por um solene concerto, a não transgredirem a lei do sábado comprando desses mercadores, na esperança de que isto desencorajasse os vendedores e pusesse fim ao seu comércio. PR 342 2 Tomou-se providência também para o sustento do culto público a Deus. Além do dízimo, a congregação se comprometeu a contribuir anualmente com uma soma estabelecida para o serviço do santuário. "Também lançamos sortes", escreve Neemias, "que também traríamos as primeiras novidades da nossa terra, e todos os primeiros frutos de todas as árvores, de ano em ano, à casa do Senhor; e os primogênitos dos nossos filhos, e os do nosso gado, como está escrito na lei; e que os primogênitos das nossas vacas e das nossas ovelhas traríamos à casa do nosso Deus". Neemias 10:35, 36. PR 342 3 Israel tinha voltado para Deus com profunda tristeza pela apostasia. Haviam feito confissão com lamentação e pranto. Haviam reconhecido a justiça do trato de Deus para com eles, e tinham feito o concerto para obedecer a Sua lei. Agora eles deviam manifestar fé em Suas promessas. Deus havia aceito o seu arrependimento; deviam agora alegrar-se na certeza do perdão dos pecados e na sua restauração ao favor divino. PR 342 4 Os esforços de Neemias para restaurar o culto do verdadeiro Deus tinham sido coroados de sucesso. Enquanto o povo fosse leal ao juramento feito, enquanto fosse obediente à Palavra de Deus, o Senhor cumpriria Sua promessa derramando ricas bênçãos sobre eles. PR 342 5 Há para os que estão convictos do pecado e carregados com o senso de sua indignidade lições de fé e encorajamento neste relato. A Bíblia apresenta fielmente o resultado da apostasia de Israel; mas ela pinta também a profunda humilhação e arrependimento, a fervente devoção e generoso sacrifício que assinalaram suas ocasiões de retorno para o Senhor. PR 343 1 Toda conversão verdadeira ao Senhor produz permanente alegria na vida. Quando um pecador se rende à influência do Espírito Santo, ele vê sua própria culpa e mácula em contraste com a santidade do grande Pesquisador dos corações. Ele se vê a si mesmo condenado como transgressor. Mas não deve por causa disto entregar-se ao desespero; pois o seu perdão já está assegurado. Ele pode alegrar-se na certeza do perdão dos pecados, no amor de um perdoador Pai celestial. É a glória de Deus envolver os seres humanos pecadores arrependidos nos braços do Seu amor, ligar suas feridas, purificá-los do pecado e vesti-los com os vestidos da salvação. ------------------------Capítulo 57 -- Reforma PR 344 0 Este capítulo é baseado em Neemias 13. PR 344 1 Solene e publicamente o povo de Judá se comprometera a obedecer à lei de Deus. Mas quando a influência de Esdras e Neemias esteve por algum tempo ausente, houve muitos que abandonaram o Senhor. Neemias havia voltado para a Pérsia. Durante sua ausência de Jerusalém, desenvolveram-se males que ameaçavam perverter a nação. Os idólatras não apenas haviam conseguido firmar pé na cidade, mas contaminaram por sua presença o próprio recinto do templo. Através de casamentos mistos, tinha surgido um parentesco entre Eliasibe, o sumo sacerdote, e Tobias o amonita, grande inimigo de Israel. Como resultado desta aliança ilícita, Eliasibe permitira a Tobias ocupasse um apartamento anexo ao templo, o qual era usado anteriormente para nele se recolherem o dízimo e as ofertas do povo. PR 344 2 Por causa da crueldade e traição dos amonitas e moabitas para com Israel, Deus havia declarado por intermédio de Moisés que eles seriam para sempre separados da congregação do seu povo. Deuteronômio 23:3-6. Em desafio desta palavra, o sumo sacerdote tinha lançado fora as ofertas armazenadas na câmara da casa de Deus, a fim de que houvesse lugar para este representante de uma raça proscrita. Não seria possível mostrar maior desprezo a Deus do que conferir favor semelhante a este inimigo de Deus e da Sua verdade. PR 344 3 Ao retornar da Pérsia, Neemias soube da ousada profanação, e tomou de pronto medidas para expulsar o intruso. "Muito me desagradou", ele declara; "de sorte que lancei todos os móveis da casa de Tobias fora da câmara. E, ordenando-o eu, purificaram as câmaras; e tornei a trazer ali os vasos da casa de Deus, com as ofertas de manjares e o incenso". Neemias 13:8, 9. PR 344 4 Não somente havia o templo sido profanado, mas as ofertas tinham sido mal empregadas. Isto estava desencorajando a liberalidade do povo. Haviam perdido seu zelo e fervor, e relutavam em pagar o dízimo. A tesouraria da casa do Senhor estava pobremente suprida; muitos dos cantores e outros empregados nos serviços do templo, não recebendo sustento suficiente, haviam deixado a obra de Deus para trabalharem em outras partes. PR 344 5 Neemias pôs mãos à obra para corrigir esses abusos. Reuniu todos os que tinham deixado a obra da casa do Senhor, e os restaurou "no seu posto". Isto inspirou confiança ao povo, e todo o Judá "trouxe os dízimos do grão, e do mosto, e do azeite aos celeiros". Homens "que se tinham achado fiéis" foram feitos "tesoureiros [...] sobre os celeiros", "e se lhes encarregou a eles a distribuição para seus irmãos". Neemias 13:11-13. PR 345 1 Outro resultado do intercâmbio com os idólatras foi a profanação do sábado, o sinal de distinção dos israelitas de todas as outras nações como adoradores do verdadeiro Deus. Neemias verificou que os mercadores pagãos e comerciantes dos países vizinhos que vinham a Jerusalém, tinham induzido muitos dos israelitas a se empenharem em negócios no sábado. Houve alguns que não puderam ser persuadidos a sacrificar o princípio; mas outros transgrediram, e se uniram aos pagãos em seus esforços para vencer os escrúpulos dos mais conscienciosos. Muitos ousaram violar o sábado abertamente. "Naqueles dias", escreve Neemias, "vi em Judá os que pisavam lagares no sábado e traziam feixes que carregavam sobre jumentos; como também vinho, uvas e figos, e toda a casta de carga, que traziam a Jerusalém no dia de sábado. [...] Também tírios habitavam dentro, que traziam peixe, e toda a mercadoria, que no sábado vendiam aos filhos de Judá, em Jerusalém." PR 345 2 Esse estado de coisas podia ter sido evitado se os chefes tivessem exercido a sua autoridade; mas o desejo de impulsionar os seus próprios interesses tinha-os levado a favorecer a impiedade. Neemias destemidamente repreendeu-os por sua negligência do dever. "Que mal é este que fazeis profanando o sábado?" ele inquiriu asperamente. "Porventura não fizeram vossos pais assim, e nosso Deus não trouxe todo este mal sobre nós e sobre esta cidade? E vós ainda mais acrescentais o ardor de Sua ira sobre Israel, profanando o sábado." E ordenou-lhes então que "dando das portas de Jerusalém já sombra antes do sábado", fossem elas fechadas, e não mais se abrissem até passado o sábado; e tendo mais confiança em seus próprios servos do que naqueles que os magistrados de Jerusalém pudessem apontar, ele os estacionou nas portas da cidade, para que as suas ordens fossem executadas. PR 345 3 Não dispostos a abandonar os seus propósitos, "os negociantes e os vendedores de toda a mercadoria passaram a noite fora de Jerusalém uma ou duas vezes", esperando encontrar oportunidade para comerciar, quer com os habitantes da cidade, quer com os do campo. Neemias advertiu-os de que seriam punidos se continuassem a assim proceder. "Por que passais a noite de fronte do muro?" ele perguntou. Se outra vez o fizerdes, hei de lançar mão de vós. Daquele tempo em diante não vieram no sábado". Neemias 13:15-21. Também ele mandou aos levitas que guardassem as portas, sabendo que imporiam mais respeito que o povo comum, pois que de sua íntima relação com a obra de Deus, era razoável esperar que seriam mais zelosos em exigir obediência a Sua lei. PR 345 4 Então Neemias voltou sua atenção para o perigo que ameaçava Israel representado pelas uniões matrimoniais e a associação com idólatras. "Vi também naqueles dias", ele escreve, "judeus que tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas; e seus filhos falavam meio asdodita, e não podiam falar judaico, senão segundo a língua de cada povo". Neemias 13:23, 24. PR 346 1 Essas alianças ilícitas estavam causando grande confusão em Israel; pois alguns que nelas entraram eram homens de alta posição, chefes a quem o povo tinha o direito de olhar em busca de conselho e exemplo. Prevendo a ruína ante a nação se fosse permitido que o mal prosseguisse, Neemias arrazoou fervorosamente com os que erraram. Chamando a atenção para o caso de Salomão, lembrou-lhes que entre todas as nações não tinha havido rei como este homem, a quem Deus tinha dado grande sabedoria; porém mulheres idólatras haviam desviado de Deus o seu coração, e seu exemplo havia corrompido Israel. "E dar-vos-íamos nós ouvidos", Neemias severamente questionou, "para fazermos todo este grande mal?" "Não dareis mais vossas filhas a seus filhos, e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos, nem para vós mesmos". Neemias 13:25. PR 346 2 Sendo-lhes apresentadas as leis de Deus e ameaças, e os terríveis juízos que visitaram Israel no passado por causa deste mesmo pecado, sua consciência foi despertada, e teve início uma obra de reforma que desviou a ira ameaçadora de Deus e recebeu Sua aprovação e bênção. PR 346 3 Alguns houve no sagrado ofício que pleitearam por suas esposas pagãs, declarando que não poderiam separar-se delas. Mas nenhuma distinção foi feita; nenhuma consideração foi mostrada por classe ou categoria. Quem quer entre os sacerdotes ou chefes que recusasse cortar sua relação com idólatras, era imediatamente separado do serviço do Senhor. Um neto do sumo sacerdote, havendo casado com uma filha do tristemente célebre Sambalá, não foi apenas removido do ofício, mas prontamente banido de Israel. "Lembra-Te deles, Deus meu", Neemias orou, "pois contaminaram o sacerdócio, como também o concerto do sacerdócio e dos levitas". Neemias 13:29. PR 346 4 Quanta angústia de espírito essa necessária severidade custou ao fiel obreiro de Deus, somente o juízo revelará. Houve uma constante luta com elementos opositores; e somente com jejum, humilhação e oração, o progresso foi conseguido. PR 346 5 Muitos que tinham casado com idólatras escolheram acompanhá-los ao exílio; e a estes, juntamente com os que tinham sido expulsos da congregação, uniram-se os samaritanos. Nessa direção alguns que tinham ocupado altos postos na obra de Deus encontraram o seu caminho, e depois de algum tempo lançaram sua sorte com eles. Desejando fortalecer esta aliança, os samaritanos prometeram adotar mais amplamente a fé e os costumes judaicos; e os apóstatas, determinados a superar seus antigos irmãos, construíram um templo no Monte Gerizim, em oposição à casa de Deus em Jerusalém. Sua religião continuou a ser um misto de judaísmo e paganismo; e sua pretensão de ser povo de Deus foi uma fonte de cisma, emulação e inimizade entre as duas nações, de geração a geração. PR 347 1 Na obra de reforma a ocorrer hoje, há necessidade de homens que, como Esdras e Neemias não obscureçam ou desculpem o pecado, nem se esquivem de vindicar a honra de Deus. Aqueles sobre quem repousa o fardo desta obra, não se sentirão em paz quando o erro é praticado, nem cobrirão o mal com o manto da falsa caridade. Eles se lembrarão que Deus não faz acepção de pessoas, e que a severidade para com uns poucos pode representar misericórdia para com muitos. Lembrar-se-ão também de que o Espírito de Cristo deve ser revelado naquele que repreende o mal. PR 347 2 Em sua obra, Esdras e Neemias se humilharam perante Deus, confessando os seus pecados e os pecados do seu povo, e pleiteando o perdão como se fossem eles os ofensores. Pacientemente labutaram, oraram e sofreram. O que tornou mais difícil a sua obra não foram as hostilidades abertas dos pagãos, mas a oposição secreta de pretensos amigos, que, colocando a sua influência a serviço do mal, aumentaram dez vezes o fardo dos servos de Deus. Esses traidores forneceram os inimigos do Senhor com material para ser usado em sua guerra contra o seu próprio povo. Suas más paixões e rebeldes desejos estavam sempre em conflito com os claros reclamos de Deus. PR 347 3 Os sucessos que acompanharam os esforços de Neemias mostram o que a oração, fé e ação sábia e enérgica podem realizar. Neemias não era sacerdote; não era profeta; não fez praça de altos títulos. Ele era um reformador surgido para um importante tempo. Seu alvo era pôr o seu povo em harmonia com Deus. Inspirado com grande propósito, ele pôs cada energia do seu ser na sua realização. Alta e irredutível integridade marcou os seus esforços. Ao entrar em contato com o mal e a oposição ao direito, tomou posição tão determinada que o povo foi despertado para trabalhar com vivo zelo e coragem. Eles não podiam mais que reconhecer sua lealdade, seu patriotismo e profundo amor a Deus; e vendo isto, sentiram-se desejosos de segui-lo aonde ele os levasse. PR 347 4 Diligência numa atividade apontada por Deus é uma importante parte da verdadeira religião. Os homens deviam apoderar-se das circunstâncias como sendo instrumentos de Deus com que executar a Sua vontade. Ação pronta e decisiva no tempo certo alcançará gloriosos triunfos, ao passo que demora e negligência resultam em fracasso e desonra para Deus. Se os líderes na causa da verdade não mostram zelo, se são indiferentes, vagos, a igreja será descuidada e indolente, e amante dos prazeres; mas se são cheios de santo propósito para servir a Deus e a Ele somente, o povo será unido, esperançoso, cheio de ânimo. PR 347 5 A Bíblia se sobressai em contrastes vivos e evidentes. O pecado e a santidade são postos lado a lado, para que, considerando-os, possamos fugir de um e aceitar o outro. As páginas que descrevem o ódio, a falsidade e traição de Sambalá e Tobias, descrevem também a nobreza, devoção e altruísmo de Esdras e Neemias. Somos deixados livres para escolher a quem queremos imitar. Os terríveis resultados da transgressão das leis de Deus são postos em contraste com as bênçãos da obediência. Nós mesmos devemos decidir se queremos sofrer as conseqüências de um ou desfrutar o prêmio do outro. PR 348 1 A obra de restauração e reforma realizada pelos que voltaram do exílio sob a liderança de Zorobabel, Esdras e Neemias, apresenta o quadro de uma obra de restauração espiritual que deve ocorrer nos últimos dias da história da Terra. O remanescente de Israel era um povo débil, exposto à vindita dos seus inimigos; mas por intermédio deles Deus Se propôs preservar na Terra o Seu conhecimento e de Sua lei. Eles foram os guardiões do verdadeiro culto, os guardadores do santos oráculos. Variadas foram as experiências que tiveram na reconstrução do templo e dos muros de Jerusalém; forte foi a oposição que tiveram de enfrentar. Pesada foi a carga levada pelos líderes nesta obra; mas esses homens prosseguiram com inamovível confiança, em humildade de espírito, e firmemente estribados em Deus, crendo que Ele levaria Sua vontade ao triunfo. Como o rei Ezequias, Neemias "se chegou ao Senhor, não se apartou de após Ele, e guardou os mandamentos que o Senhor tinha dado. [...] Assim foi o Senhor com ele". 2 Reis 18:6, 7. PR 348 2 A restauração espiritual de que a obra levada a efeito nos dias de Neemias era um símbolo, é esboçada nas palavras de Isaías: "Edificarão os lugares antigamente assolados e restaurarão os de antes destruídos, e renovarão as cidades assoladas". Isaías 61:4. "E os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar". Isaías 58:12. PR 348 3 O profeta descreve aqui um povo que, em tempo de geral abandono da verdade e da justiça, está procurando restaurar os princípios que são o fundamento do reino de Deus. São os reparadores das brechas que têm sido feitas na lei de Deus -- o muro posto em torno dos Seus escolhidos para a sua proteção, preceitos de justiça, verdade e pureza, cuja obediência é para sua perpétua salvaguarda. PR 348 4 Em palavras de importante significado, o profeta apresenta a obra específica desse remanescente que edifica o muro. "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra, e te sustentarei com a herança do teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse". Isaías 58:13, 14. PR 349 1 No tempo do fim, toda instituição divina deve ser restaurada. A brecha feita na lei quando o sábado foi mudado pelo homem, deve ser reparada. O remanescente de Deus, em pé diante do mundo como reformadores, deve mostrar que a lei de Deus é o fundamento de toda reforma perdurável, e que o sábado do quarto mandamento deve permanecer como memorial da criação, uma lembrança constante do poder de Deus. De maneira clara e distinta devem apresentar a necessidade de obediência a todos os preceitos do decálogo. Constrangidos pelo amor de Cristo, devem cooperar com Ele na reconstrução dos lugares assolados. Devem ser reparadores das roturas, e restauradores de veredas para morar. Isaías 58:12. ------------------------Capítulo 58 -- A vinda de um libertador PR 350 1 Através dos longos séculos de "angústia e escuridão" (Isaías 8:22) que marcaram a história da humanidade desde o dia em que nossos primeiros pais perderam o seu lar no Éden até o tempo em que o Filho de Deus apareceu como o Salvador dos pecadores, a esperança da raça caída esteve centralizada na vinda de um Libertador para livrar a homens e mulheres do cativeiro do pecado e da sepultura. PR 350 2 A primeira indicação de tal esperança foi dada a Adão e Eva na sentença pronunciada sobre a serpente no Éden, quando o Senhor declarou a Satanás aos ouvidos de nossos primeiros pais: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar". Gênesis 3:15. PR 350 3 Ao atentar o culpado para essas palavras, foram inspirados com esperança; pois na profecia concernente ao aniquilamento do poder de Satanás eles discerniram uma promessa de libertação da ruína que a transgressão havia operado. Embora devessem sofrer o poder de seu adversário, dado que tinham caído sob sua sedutora influência e haviam escolhido desobedecer aos claros mandamentos de Jeová, não precisavam contudo entregar-se ao completo desespero. O Filho de Deus Se oferecia para expiar com o Seu próprio sangue as transgressões deles. Ser-lhes-ia permitido um período de graça, durante o qual, pela fé no poder de Cristo para salvar, poderiam tornar-se uma vez mais filhos de Deus. PR 350 4 Satanás, em virtude do êxito que teve em desviar o homem do caminho da obediência, tornou-se "o deus deste século". 2 Coríntios 4:4. O domínio que uma vez pertenceu a Adão passou ao usurpador. Mas o Filho de Deus Se propôs vir à Terra a fim de pagar a penalidade do pecado, e assim não apenas redimir o homem, mas recobrar o domínio usurpado. É desta restauração que Miquéias profetizou quando disse: "A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio". Miquéias 4:8. O apóstolo Paulo a ela se referiu como a "redenção da possessão de Deus". Efésios 1:14. E o salmista tinha em mente a mesma restauração final do homem em sua herança original quando declarou: "Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre". Salmos 37:29. PR 350 5 Essa esperança de redenção por meio do advento do Filho de Deus como Salvador e Rei jamais se extinguiu no coração dos homens. Desde o início tem havido alguns cuja fé tem alcançado além das sombras do presente penetrando as realidades do futuro. Adão, Sete, Enoque, Matusalém, Noé, Sem, Abraão, Isaque e Jacó -- por meio destes e outros homens dignos o Senhor tem preservado as preciosas revelações de Sua vontade. Assim foi que aos filhos de Israel, povo escolhido por cujo intermédio devia ser dado ao mundo o Messias prometido, Deus partilhou o conhecimento dos reclamos de Sua lei, e da salvação a ser realizada graças ao sacrifício expiatório do Seu amado Filho. PR 351 1 A esperança de Israel foi incorporada na promessa feita quando do chamado a Abraão, e posteriormente repetida uma e outra vez a sua posteridade: "Em ti serão benditas todas as famílias da Terra". Gênesis 12:3. Ao ser desdobrado a Abraão o propósito de Deus quanto à redenção do homem, o Sol da Justiça brilhou em seu coração, e as trevas que nele havia foram dispersas. E quando, afinal, o Salvador mesmo andou entre os filhos dos homens e com eles falou, deu testemunho aos judeus sobre a gloriosa esperança do patriarca, de livramento através da vinda de um Redentor. "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia", Cristo declarou, "e viu-o e alegrou-se". João 8:56. PR 351 2 Essa mesma bem-aventurada esperança foi esboçada na bênção pronunciada pelo patriarca moribundo, Jacó, sobre seu filho Judá: PR 351 3 "Judá, a ti louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. [...] O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, Até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos". Gênesis 49:8-10. PR 351 4 Em outra ocasião, nos limites da terra prometida, a vinda do Redentor foi predita na profecia proferida por Balaão: PR 351 5 "Vê-Lo-ei, mas não agora; contemplá-Lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete." Números 24:17. PR 351 6 Por intermédio de Moisés, o propósito de Deus de enviar Seu Filho como redentor da raça caída, foi mantido perante Israel. Uma ocasião, pouco antes de sua morte, Moisés declarou: "O Senhor teu Deus te despertará um Profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a Ele ouvireis." Claramente havia sido Moisés instruído no interesse de Israel sobre a obra do Messias que havia de vir. "Eu lhes suscitarei um Profeta do meio de seus irmãos, como tu", foi a palavra de Jeová ao Seu servo; "e porei as Minhas palavras na Sua boca, e Ele lhes falará tudo o que Eu Lhe ordenar". Deuteronômio 18:15, 18. PR 351 7 Nos tempos patriarcais, as ofertas sacrificais relacionadas com o culto divino constituíam uma lembrança perpétua da vinda de um Salvador; e assim era com todo o ritual dos sacrifícios do santuário na história de Israel. Na ministração do tabernáculo, e do templo que posteriormente lhe tomou o lugar, o povo era ensinado cada dia, por meio de símbolos e sombras, a respeito das grandes verdades relativas ao advento de Cristo como Redentor, Sacerdote e Rei; e uma vez em cada ano tinham a mente voltada para os eventos finais do grande conflito entre Cristo e Satanás, a purificação final do Universo do pecado e pecadores. Os sacrifícios e ofertas do ritual mosaico deviam sempre apontar para uma adoração melhor, ou seja, celestial. O santuário terrestre era "uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios"; seus dois lugares santos eram "figura das coisas que estão no Céu" (Hebreus 9:9, 23); pois Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, é hoje "Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Hebreus 8:2. PR 352 1 Desde o dia que o Senhor declarou à serpente no Éden: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente" (Gênesis 3:15), Satanás tem conhecido que ele não pode jamais manter absoluto domínio sobre os habitantes deste mundo. Quando Adão e seus filhos começaram a oferecer os sacrifícios cerimoniais ordenados por Deus como um tipo da vinda do Redentor, Satanás reconheceu neles um símbolo da comunhão entre Terra e Céu. Durante os longos séculos que se têm seguido, tem sido seu constante esforço interceptar esta comunhão. Incansavelmente tem ele procurado representar a Deus falsamente, e interpretar com falsidade os ritos que apontam para o Salvador; e tem sido bem-sucedido com grande maioria da família humana. PR 352 2 Enquanto Deus desejava ensinar aos homens que do Seu próprio amor vem o Dom que os reconcilia com Ele, o arquiinimigo da humanidade tem procurado representar a Deus como alguém que Se deleita na destruição deles. Assim os sacrifícios e ordenanças designados pelo Céu para que revelem o divino amor, têm sido pervertidos de molde a servir como meio pelo qual os pecadores têm em vão esperado propiciar, com donativos e boas obras, a ira de um Deus ofendido. Ao mesmo tempo Satanás tem procurado despertar e fortalecer as más paixões dos homens, para que através de repetidas transgressões possam as multidões ser levadas cada vez mais longe de Deus, ficando sem esperança amarradas nos grilhões do pecado. PR 352 3 Quando a Palavra escrita de Deus foi dada por intermédio dos profetas hebreus, Satanás estudou com diligência as mensagens sobre o Messias. Ele sublinhou cuidadosamente as palavras que esboçavam com inconfundível clareza a obra de Cristo entre os homens como um sofredor sacrifício e como um rei conquistador. Nos rolos de pergaminho das Escrituras do Antigo Testamento ele leu que Aquele que devia aparecer, "como um cordeiro foi levado ao matadouro" (Isaías 53:7), que "o Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer". Isaías 52:14. O prometido Salvador da humanidade devia ser "desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores [...] ferido de Deus e oprimido" (Isaías 53:4) contudo devia Ele também exercer Seu grande poder para julgar "os aflitos do povo." Ele devia salvar "os filhos do necessitado", e quebrar "o opressor". Salmos 72:4. Estas profecias levaram Satanás a temer e tremer; mas ele não renunciou ao seu propósito de frustrar, se possível, as misericordiosas providências de Jeová para a redenção da ração perdida. Ele se determinou cegar os olhos do povo, tanto quanto fosse possível, para o real significado das profecias messiânicas, a fim de preparar o caminho para rejeição de Cristo em Sua vinda. PR 353 1 Durante os séculos que imediatamente precederam o dilúvio, Satanás tinha alcançado sucesso em seus esforços para levar a uma quase total rebelião do mundo contra Deus. E nem mesmo as lições do dilúvio foram tidas em lembrança por muito tempo. Com artificiosas insinuações Satanás mais uma vez levou os filhos dos homens passo a passo a ousada rebelião. De novo parecia estar ele prestes a triunfar; mas o propósito de Deus em favor do homem caído não devia ser assim posto de lado. Através da posteridade do fiel Abraão, da linhagem de Sem, o conhecimento dos desígnios beneficentes de Deus devia ser preservado no benefício de futuras gerações. De tempos em tempos mensageiros da verdade divinamente apontados deviam ser despertados para chamar a atenção para o significado das cerimônias sacrificais, e especialmente para a promessa de Jeová referente ao advento dAquele para quem todas as ordenanças do sistema sacrifical apontavam. Assim o mundo devia ser preservado da apostasia universal. PR 353 2 Não havia de ser sem a mais determinada oposição que o propósito de Deus seria levado a êxito. De toda maneira possível o inimigo da verdade e da justiça obrou para levar os descendentes de Abraão a esquecer seu alto e santo chamado e a se desviarem para a adoração a deuses falsos. E muitas vezes esses esforços quase alcançaram sucesso. Durante séculos antes do primeiro advento de Cristo, as trevas cobriram a Terra e densa escuridão os povos. Satanás lançou sua sombra infernal no caminho dos homens, a fim de que não tivessem conhecimento de Deus e do mundo futuro. Multidões estavam assentadas na sombra da morte. Sua única esperança era que essas trevas fossem espancadas, a fim de que Deus pudesse ser revelado. PR 353 3 Com visão profética Davi, o ungido de Deus, predissera que a vinda de Cristo seria "como a luz da manhã, quando sai o Sol, da manhã sem nuvens". 2 Samuel 23:4. E Oséias testificou: "Como a alva será a Sua saída". Oséias 6:3. Quieta e gentilmente a luz do dia irrompe sobre a Terra, dispersando a sombra de trevas, enchendo a Terra de vida. Assim devia o Sol da Justiça erguer-Se, "trazendo salvação sob as Suas asas. Malaquias 4:2. As multidões que "habitavam na região da sombra da morte" deviam ver "uma grande luz". Isaías 9:2. PR 353 4 O profeta Isaías, exultando por esta gloriosa libertação, exclamou: PR 353 5 "Um Menino nos nasceu um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz. Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, Sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar, Em juízo e em justiça, desde agora para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto". Isaías 9:6, 7. PR 354 1 Nos últimos séculos da história de Israel antes do primeiro advento, era geralmente entendido que a vinda do Messias fora referida na profecia: "Pouco é que sejas o Meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os guardados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra". Isaías 49:6. "A glória do Senhor se manifestará", o profeta tinha predito, "e toda a carne juntamente verá". Isaías 40:5. Foi desta luz dos homens que João Batista mais tarde testificou tão ousadamente, quando proclamou: "Eu sou a voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías". João 1:23. PR 354 2 Foi a Cristo que a promessa profética foi dada: "Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, o seu Santo, à alma desprezada, ao que as nações abominam. [...] Assim diz o Senhor: "E te guardarei, e te darei por concerto do povo, para restaurares a Terra, e lhe dares em herança as herdades assoladas; para dizeres aos presos: Saí; e aos que estão em trevas: Aparecei. [...] Nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o Sol os afligirá; porque o que Se compadece deles os guiará, e os levará mansamente aos mananciais de águas". Isaías 49:7-10. PR 354 3 Os inflexíveis na nação judaica, descendentes daquela linha santa por cujo intermédio o conhecimento de Deus fora preservado, fortaleceram sua fé na consideração dessas passagens e de outras similares. Com extraordinária satisfação eles leram como o Senhor ungiria Alguém "para pregar boas-novas aos mansos", "restaurar os contritos de coração", "proclamar liberdade aos cativos", e "apregoar o ano aceitável do Senhor". Isaías 61:1, 2. Contudo o seu coração se enchia de tristeza ao pensarem nos sofrimentos que Ele precisava enfrentar para cumprir o propósito divino. Com profunda humilhação de alma acompanhavam as palavras no rolo profético: PR 354 4 "Quem deu crédito a nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Porque foi subindo como renovo perante Ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para Ele, nenhuma beleza víamos, para que O desejássemos. Era desprezado, e o mais indigno entre os homens; homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dEle caso algum. Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; E quem contará o tempo da Sua vida? Porquanto foi cortado da Terra dos viventes; pela transgressão do Meu povo foi Ele atingido. E puseram a Sua sepultura com os ímpios, E com o rico na Sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na Sua boca". Isaías 53:1-9. PR 355 1 Com respeito aos sofrimentos do Salvador, Jeová mesmo declarou por intermédio de Zacarias: "Ó espada, ergue-te contra o Meu Pastor e contra o varão que é o Meu companheiro". Zacarias 13:7. Como substituto e garantia pelo pecado do homem, Cristo sofreria sob a justiça divina. Ele compreenderia o que justiça significa; saberia o que significa para o pecador estar sem intercessor na presença de Deus. PR 355 2 Pelo salmista o Redentor mesmo profetizara de Si: PR 355 3 "Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo: Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei. Deram-Me fel por mantimento, e na Minha sede Me deram a beber vinagre". Salmos 69:20, 21. PR 355 4 Sobre o tratamento que deveria receber, Ele profetizou: "Pois Me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores Me cercou, transpassaram-Me as mãos e os pés. Poderia contar todos os Meus ossos; eles vêem, e Me contemplam. Repartem entre si os Meus vestidos, e lançam sorte sobre a Minha túnica". Salmos 22:16-18. PR 355 5 Essas retratações do amargo sofrimento e cruel morte do Prometido, penosos como fossem, eram ricos em promessa; pois dAquele de quem se diz que "ao Senhor agradou moê-Lo, fazendo-O enfermar", para que Se pudesse tornar "uma oferta pelo pecado", Jeová declarou: PR 355 6 "A Sua posteridade, prolongará os dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na Sua mão. O trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito; com o Seu conhecimento o Meu Servo, o Justo, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre Si. Pelo que Lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá Ele o despojo; porquanto derramou a Sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas Ele levou sobre Si os pecados de muitos, e pelos transgressores intercede". Isaías 53:10-12. PR 355 7 Foi o amor pelos pecadores que levou Cristo a pagar o preço da redenção. "Viu que ninguém havia, e maravilhou-Se de que não houvesse intercessor"; nenhum outro poderia resgatar os homens e mulheres do poder do inimigo; "pelo que o Seu próprio braço Lhe trouxe a salvação, e a Sua própria justiça O susteve". Isaías 59:16. PR 356 1 "Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho; o Meu Eleito, em quem Se compraz a Minha alma; pus o Meu Espírito sobre Ele; Juízo produzirá entre os gentios". Isaías 42:1. PR 356 2 Em Sua vida nenhuma consideração pessoal devia estar presente. A honra que o mundo atribui a posição, riqueza e talento, devia ser estranha ao Filho de Deus. Nenhum dos meios que os homens empregam para conseguir submissão ou requerer homenagem, devia o Messias usar. Sua completa renúncia do eu foi prefigurada nas palavras: PR 356 3 "Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega". Isaías 42:2, 3. PR 356 4 O Salvador devia conduzir-Se entre os homens em marcante contraste com os ensinadores dos Seus dias. Em Sua vida nenhuma ruidosa batalha, nem ostensiva adoração, nem ato para ganhar aplausos deviam jamais ser testemunhados. O Messias devia estar oculto em Deus, e Deus devia ser revelado no caráter do Seu Filho. Sem o conhecimento de Deus, a humanidade estaria para sempre perdida. Sem o auxílio divino, homens e mulheres afundariam cada vez mais. Vida e poder deviam ser conferidos por Aquele que fez o mundo. As necessidades do homem não podiam ser satisfeitas de nenhum outro modo. PR 356 5 Ainda mais foi profetizado do Messias: "Não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo; e as ilhas aguardarão a Sua doutrina." O Filho de Deus devia "engrandecer a lei, e fazê-la gloriosa". Isaías 42:4, 21. Não devia diminuir sua importância e obrigatórios reclamos; ao contrário, devia exaltá-la. Devia ao mesmo tempo aliviar os preceitos divinos das fatigantes exigências sobre eles postas pelo homem, pelo que muitos eram levados ao desencorajamento em seus esforços para servir a Deus de maneira aceitável. PR 356 6 Sobre a missão do Salvador, a palavra de Jeová foi: "Eu o Senhor Te chamei em justiça, e Te tomarei pela mão, e Te guardarei, e Te darei por concerto do povo, e para luz dos gentios; para abrires os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas. Eu sou o Senhor; este é o Meu nome; a Minha glória pois a outrem não darei, nem o Meu louvor às imagens de escultura. Eis que as primeiras coisas passaram, e novas coisas Eu vos anuncio, e, antes que venham à luz, vo-las faço saber". Isaías 42:6-9. PR 356 7 Por meio da prometida semente, o Deus de Israel ia levar livramento a Sião. "Brotará um rebento do trono de Jessé, e das raízes um renovo frutificará". Isaías 11:1. "Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o Seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, até que Ele saiba rejeitar o mal e escolher o bem". Isaías 7:14, 15. PR 356 8 "E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, e Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-Se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos Seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos Seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres, e repreenderá com eqüidade os mansos da Terra; e ferirá a Terra com a vara de Sua boca, e com o sopro dos Seus lábios matará o ímpio. E a justiça será o cinto do Seus lombos, e a verdade o cinto dos Seus rins." "E acontecerá naquele dia que as nações perguntarão pela raiz de Jessé, posta por pendão dos povos, e o lugar do Seu repouso será glorioso". Isaías 11:2-5, 10. PR 357 1 "Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do Senhor. [...] E levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será como o sacerdote no Seu trono". Zacarias 6:12, 13. PR 357 2 Uma fonte devia ser aberta "contra o pecado, e contra a impureza" (Zacarias 13:1); os filhos dos homens deviam ouvir o bendito convite: PR 357 3 "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-Me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a Mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpétuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi". Isaías 55:1-3. PR 357 4 A Israel foi feita a promessa: "Eis que Eu O dei como testemunha aos povos, como Príncipe e Governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca Te conheceu correrá para Ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque Ele Te glorificou". Isaías 55:4, 5. PR 357 5 "Faço chegar a Minha justiça, e não estará ao longe, e a Minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião a salvação, e em Israel a Minha glória". Isaías 46:13. PR 357 6 Em palavras e em obras o Messias devia revelar à humanidade durante o Seu ministério terrestre a glória de Deus, o Pai. Cada ato de Sua vida, cada palavra proferida, cada milagre operado, devia ter em vista tornar conhecido à humanidade caída o infinito amor de Deus. PR 357 7 "Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe tu a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas, e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus! Eis que o Senhor Jeová virá como o forte, e o Seu braço dominará; eis que o Seu galardão vem com Ele, e o Seu salário diante da Sua face. Como pastor apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no Seu regaço; as que amamentam, Ele guiará mansamente". Isaías 40:9-11. PR 357 8 "Naquele dia os surdos ouvirão as palavras do Livro, e dentre a escuridão e dentre as trevas as verão os olhos dos cegos. E os mansos terão gozo sobre gozo no Senhor, e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel. E os errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão a doutrina". Isaías 29:18, 19, 24. PR 358 1 Assim, através dos patriarcas e profetas, bem como de símbolos e tipos, Deus falou ao mundo sobre a vinda de um Libertador do pecado. Uma longa linha de inspiradas profecias apontava para o advento do "Desejado de todas as nações". Ageu 2:7. Até mesmo o próprio lugar do Seu nascimento, e o tempo do Seu aparecimento, foram minuciosamente especificados. PR 358 2 O filho de Davi deveria nascer na cidade de Davi. De Belém, dissera o profeta, "Me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Miquéias 5:2. PR 358 3 "E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia Que há de apascentar o Meu povo de Israel". Mateus 2:6. PR 358 4 Diagrama das "setenta semanas" que foram decretadas para o povo de Deus. O advento de Cristo comprovou ser verdadeira a profecia. PR 358 5 O tempo do primeiro advento e de alguns dos principais eventos relacionados com as funções da vida do Salvador, foi feito conhecido pelo anjo Gabriel a Daniel. "Setenta semanas", disse o anjo, "estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos". Daniel 9:24. Um dia na profecia representa um ano. Números 14:34; Ezequiel 4:6. As setenta semanas, ou quatrocentos e noventa dias, representam quatrocentos e noventa anos. É dado um ponto de partida para este período: "Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas" (Daniel 9:25), sessenta e nove semanas, ou quatrocentos e oitenta e três anos. A ordem para restaurar e edificar Jerusalém, completada pelo decreto de Artaxerxes Longímano (Esdras 6:14; 7:1, 9), entrou em vigor no outono de 457 a.C. Partindo desta data os quatrocentos e oitenta e três anos se estendem até o outono de 27 d.C. De acordo com a profecia, este período devia alcançar o Messias, o Ungido (Em 27 d.C.), Jesus recebeu em Seu batismo a unção do Espírito Santo, e pouco depois deu início ao Seu ministério. Então foi proclamada a mensagem: "O tempo está cumprido". Marcos 1:15. PR 359 1 Então, disse o anjo: "Ele confirmará o concerto com muitos por uma semana sete anos." Durante sete anos desde o início do ministério do Salvador, o evangelho devia ser pregado especialmente aos judeus: três e meio anos pelo próprio Cristo e depois pelos apóstolos. "Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares". Daniel 9:27. Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário. Então o véu do templo fendeu-se em duas partes, mostrando que a santidade e o significado do sacrifício expiatório tinham findado. Chegara o tempo para que o sacrifício terrestre e a oferta de manjares cessassem. PR 359 2 A semana -- sete anos -- findou em 34 d.C. Então pelo apedrejamento de Estêvão os judeus selaram finalmente sua rejeição do evangelho; os discípulos que foram espalhados pela perseguição "iam por toda parte, anunciando a Palavra" (Atos dos Apóstolos 8:4); e pouco depois, Saulo o perseguidor foi convertido, e tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios. PR 359 3 As inúmeras profecias relacionadas com o advento do Salvador levaram os hebreus a viver em constante expectação. Muitos morreram na fé, sem terem recebido as promessas. Mas vendo-as de longe, e crendo-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na Terra. Desde os dias de Enoque as promessas repetidas através dos patriarcas e profetas mantiveram viva a esperança do aparecimento do Messias. PR 359 4 Não revelara Deus desde o início o tempo exato do primeiro advento; e mesmo quando a profecia de Daniel tornou este fato conhecido, nem todos interpretaram corretamente a mensagem. PR 359 5 Séculos após séculos passaram; finalmente as vozes dos profetas cessaram. A mão do opressor pesava sobre Israel. Como os judeus se afastaram de Deus, a fé decaiu, e a esperança quase deixou de iluminar o futuro. As palavras dos profetas foram incompreendidas por muitos; e aqueles cuja fé devia ter continuado forte, prontamente exclamaram: "Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda a visão?" Ezequiel 12:22. Mas no conselho do Céu a hora para a vinda de Cristo tinha sido determinada; e "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho [...] para remir aos que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos". Gálatas 4:4, 5. PR 360 1 As lições deviam ser dadas à humanidade na linguagem da humanidade. O Mensageiro do concerto devia falar. Sua voz devia ser ouvida no Seu próprio templo. Ele, o autor da verdade, devia separar da verdade a palha do falar humano, que a tinha tornado de nenhum efeito. Os princípios do governo de Deus e o plano da redenção deviam ser claramente definidos. As lições do Antigo Testamento deviam ser completamente expostas diante dos homens. PR 360 2 Quando o Salvador finalmente apareceu "na forma de homem" (Filipenses 2:7), e começou o Seu ministério de graça, Satanás pôde apenas ferir-Lhe o calcanhar, enquanto que pelo próprio ato de humilhação e sofrimento Cristo estava ferindo a cabeça do Seu adversário. A angústia que o pecado provocou, foi derramada no seio do Imaculado; e enquanto Cristo suportava a contradição dos pecadores contra Si, estava também pagando o débito do homem pecador, e quebrando o cativeiro em que a humanidade havia sido retida. Cada agonia, cada insulto, estava operando o livramento do ser humano. PR 360 3 Tivesse Satanás podido induzir Cristo a Se render à mais leve tentação, tivesse ele podido levá-Lo por um ato ou mesmo um pensamento a manchar Sua perfeita pureza, o príncipe das trevas teria triunfado sobre o Penhor do homem, e teria ganho para si toda a família humana. Mas embora Satanás pudesse angustiar, não poderia contaminar. Ele poderia causar agonia, mas não envilecimento. Ele tornou a vida de Cristo uma longa cena de conflito e provação; mas em cada ataque ele perdia seu domínio sobre a humanidade. PR 360 4 No deserto da tentação, no jardim de Getsêmani e sobre a cruz, nosso Salvador mediu armas com o príncipe das trevas. Suas feridas tornaram-se troféus de Sua vitória em favor da raça. Quando Cristo pendia agonizante da cruz, enquanto os espíritos do mal jubilavam, e homens ímpios injuriavam, Seu calcanhar estava então sendo ferido por Satanás. Mas por esse próprio ato estava esmagando a cabeça da serpente. Por meio da morte Ele destruiu "ao que tinha o império da morte, isto é, ao diabo". Hebreus 2:14. Este ato decidiu o destino do chefe rebelde, e tornou para sempre firme o plano de salvação. Na morte, Ele ganhou a vitória sobre o poder da morte; e ressuscitando, abriu as portas da sepultura para todos os Seus seguidores. Nesta última grande contenda, vemos cumprida a profecia: "Esta te ferirá a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar". Gênesis 3:15. PR 360 5 "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos". 1 João 3:2. Nosso Redentor abriu o caminho, para que o mais pecador, o mais necessitado, o mais oprimido e desprezado, possa encontrar acesso ao Pai. ------------------------Capítulo 59 -- "A casa de Israel" PR 361 1 Na proclamação das verdades do evangelho eterno a toda nação, tribo, língua e povo, a igreja de Deus na Terra está hoje cumprindo a antiga profecia: "Florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo". Isaías 27:6. Os seguidores de Jesus, em cooperação com inteligências celestiais, estão rapidamente ocupando os lugares solitários da Terra; e como resultado dos seus labores, uma abundante colheita de almas preciosas está em processo. Hoje, como nunca dantes, a disseminação da verdade bíblica por meio de uma igreja consagrada está levando aos filhos dos homens os benefícios prefigurados séculos antes na promessa a Abraão e a Israel -- promessa para a igreja de Deus na Terra em cada século: "Abençoar-te-ei [...] e tu serás uma bênção". Gênesis 12:2. PR 361 2 Essa promessa de bênção devia ter encontrado cumprimento em grande medida durante os séculos seguintes ao retorno dos israelitas das terras do seu cativeiro. Era desígnio de Deus que toda a Terra fosse preparada para o primeiro advento de Cristo, assim como hoje o caminho está sendo preparado para a Sua segunda vinda. Ao final dos anos, de humilhante exílio, Deus graciosamente deu a Seu povo Israel, por intermédio de Zacarias, esta certeza: "Voltarei para Sião, e habitarei no meio de Jerusalém; e Jerusalém chamar-se-á a cidade de verdade, e o monte do Senhor dos Exércitos monte de santidade." E de Seu povo Ele disse: "Eis que [...] Eu serei o seu Deus em verdade e em justiça". Zacarias 8:3, 7, 8. PR 361 3 Essas promessas estavam condicionadas à obediência. Os pecados que haviam caracterizado os israelitas anteriormente ao cativeiro, não deviam ser repetidos. "Executai juízo verdadeiro", o Senhor exortou os que estavam empenhados na reconstrução; "mostrai piedade e misericórdia cada um a seu irmão; e não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente o mal cada um contra o seu irmão no seu coração". Zacarias 7:9, 10. "Falai a verdade cada um com o seu companheiro; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas". Zacarias 8:16. PR 361 4 Rica era a recompensa, tanto temporal como espiritual, prometida aos que pusessem em prática esses princípios de justiça. "A semente prosperará", o Senhor declarou, "a vide dará o seu fruto, e os céus darão o seu orvalho, e farei que o resto deste povo herde tudo isto. E há de acontecer, ó casa de Judá, e ó casa de Israel, que, assim como fostes uma maldição entre as nações, assim vos salvarei, e sereis uma bênção". Zacarias 8:12, 13. PR 362 1 Graças ao cativeiro babilônico foram os israelitas de fato curados da adoração de imagens de escultura. Após o seu retorno, deram muita atenção às instruções religiosas e ao estudo do que tinha sido escrito no livro da lei e nos profetas concernente ao culto do verdadeiro Deus. A restauração do templo capacitou-os a pôr em prática integralmente os ritos do santuário. Sob a guia de Zorobabel, de Esdras e de Neemias, repetidamente eles concertaram guardar todos os mandamentos e ordenanças de Jeová. A fase de prosperidade que se seguiu, deu ampla evidência da boa vontade de Deus em aceitar e perdoar; e no entanto, com fatal curteza de vistas, eles se desviaram vezes e vezes do seu glorioso destino, e egoistamente conservaram para si aquilo que teria levado cura e vida espiritual a incontáveis multidões. PR 362 2 Essa falta no cumprimento do propósito divino era muito notória nos dias de Malaquias. Severamente o mensageiro do Senhor tratou com os males que estavam roubando Israel de sua prosperidade temporal e poder espiritual. Em suas repreensões aos transgressores o profeta não poupou nem os sacerdotes nem o povo. O "peso da Palavra do Senhor contra Israel" por intermédio de Malaquias era que as lições do passado não fossem esquecidas, e que o concerto feito por Jeová com a casa de Israel fosse guardado com fidelidade. Unicamente por sincero arrependimento poderiam as bênçãos de Deus tornar-se realidade. "Suplicai o favor de Deus", o profeta implorava, "e Ele terá piedade de nós". Malaquias 1:1, 9. PR 362 3 Não seria por alguma falha temporária de Israel, no entanto, que o plano dos séculos para a redenção da humanidade haveria de ser frustrado. Aqueles a quem o profeta estava falando, podiam deixar de ouvir a mensagem dada; mas os propósitos de Jeová deveriam ainda assim prosseguir firmemente até completo cumprimento. "Desde o nascente do Sol até o poente", o Senhor declarou através do Seu mensageiro, "será grande entre as nações o Meu nome; e em todo o lugar se oferecerá ao Meu nome incenso e uma oblação pura; porque o Meu nome será grande entre as nações". Malaquias 1:11. PR 362 4 O concerto "de vida e de paz" que Deus fez com os filhos de Levi -- concerto que, se guardado promoveria bênção inaudita -- o Senhor Se propunha agora renovar com os que uma vez tinham sido líderes espirituais, mas que pela transgressão se haviam tornado "desprezíveis e indignos diante de todo o povo. Malaquias 2:5, 9. PR 362 5 Solenemente foram os praticantes do mal advertidos sobre o dia do julgamento por vir, e do propósito de Jeová de visitar com imediata destruição cada transgressor. Todavia ninguém foi deixado sem esperança; as profecias de Malaquias sobre o juízo foram acompanhadas de convites ao impenitente para que fizesse paz com Deus. "Tornai vós para Mim", o Senhor apelava, "e Eu tornarei para vós". Malaquias 3:7. PR 363 1 Nenhum coração deve deixar de responder a tal convite. O Deus do Céu está apelando a Seus filhos para que voltem para Ele, a fim de que possam com Ele cooperar na condução de Sua obra na Terra. O Senhor estende Sua mão para tomar a mão de Israel, para ajudá-los no apertado caminho da abnegação e do altruísmo, de modo que possam partilhar com Ele a herança como filhos de Deus. Deixar-se-ão convencer? Discernirão sua única esperança? PR 363 2 Quão triste é o registro que temos, de que nos dias de Malaquias os israelitas hesitaram em render seu orgulhoso coração em pronta e amorável obediência e sincera cooperação A justificação própria é evidente em sua resposta: "Em que havemos de tornar?" PR 363 3 O Senhor revela a Seu povo um dos seus pecados especiais. "Roubará o homem a Deus?" Ele interroga. "Todavia vós Me roubais." Ainda não convencidos do pecado, os desobedientes inquirem: "Em que Te roubamos?" PR 363 4 Definida sem dúvida é a resposta do Senhor: "Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos". Malaquias 3:7-12. PR 363 5 Deus abençoa a obra das mãos dos homens, para que eles possam devolver-Lhe Sua porção. Dá-lhes a luz do Sol e a chuva; faz que a vegetação brote; dá saúde e habilidade para a aquisição de meios. Todas as bênçãos vêm de Suas pródigas mãos, e Ele deseja que homens e mulheres mostrem gratidão devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas -- em ofertas de gratidão, ofertas voluntárias e ofertas pelo pecado. Devem eles devotar seus meios a Seu serviço, para que Sua vinha não venha a ser um deserto estéril. Devem estudar o que o Senhor faria em lugar deles. A Ele devem levar em oração toda questão difícil. Devem revelar interesse altruísta na edificação de Sua obra em todas as partes do mundo. PR 363 6 Através de mensagens como as apresentadas por Malaquias, o último dos profetas do Antigo Testamento, bem como pela opressão de inimigos pagãos, os israelitas finalmente aprenderam a lição de que a verdadeira prosperidade depende da obediência à lei de Deus. Mas no caso de muitos dentre o povo, a obediência não era fruto da fé e amor. Seus motivos eram egoístas. O culto era prestado como meio de alcançar a grandeza nacional. O povo escolhido não se tornou a luz do mundo, mas encerrou-se ao abrigo do mundo como salvaguarda contra o ser seduzido pela idolatria. As restrições que Deus havia feito, proibindo o casamento entre o Seu povo e os pagãos, e proibindo Israel de se unir nas práticas idólatras com as nações circunvizinhas, foram tão pervertidas a ponto de se tornarem um muro de separação entre os israelitas e todos os outros povos, privando assim a outros das próprias bênçãos que Deus tinha-os comissionado para dar ao mundo. PR 364 1 Ao mesmo tempo os judeus, por seus pecados, estavam-se separando de Deus. Eram incapazes de discernir o profundo significado espiritual do seu sistema de sacrifícios. Em sua justiça própria confiaram em suas próprias obras, nos sacrifícios e ordenanças em si, em vez de descansar nos méritos dAquele a quem todas essas coisas apontavam. Assim, "procurando estabelecer a sua própria justiça" (Romanos 10:3), edificaram-se sobre um formalismo auto-suficiente. Faltando-lhes o Espírito e a graça de Deus, procuraram ressarcir a falta mediante rigorosa observância das cerimônias e ritos religiosos. Não contentes com as ordenanças que o próprio Deus havia designado, obstruíram os mandamentos divinos com incontáveis exigências por si mesmos tramadas. Quanto mais se distanciavam de Deus, mais rigorosos eram na observância dessas formas. PR 364 2 Com todas essas minuciosas e opressoras exigências, tornou-se uma impossibilidade prática para o povo a guarda da lei. Os grandes princípios de justiça expostos no Decálogo, e as gloriosas verdades delineadas no cerimonial simbólico, foram igualmente obscurecidas, sepultadas sob uma massa de tradições e preceitos humanos. Os que estavam realmente desejosos de servir a Deus, e que procuravam observar toda a lei como prescrita pelos sacerdotes e chefes, vergavam sob pesado fardo. PR 364 3 Como nação, o povo de Israel, conquanto desejando o advento do Messias, estava de tal modo separado de Deus no coração e na vida que não podia alcançar verdadeira concepção do caráter ou missão do prometido Redentor. Em lugar de desejar a redenção do pecado, e a glória e paz da santidade, tinham o coração posto no libertamento de seus inimigos nacionais, e a restauração do poder temporal. Eles esperavam por um Messias que viesse como conquistador, a fim de quebrar todo jugo, e exaltar Israel ao domínio de todas as nações. Assim havia Satanás alcançado sucesso em preparar o coração do povo para que rejeitasse o Salvador quando aparecesse. Seu próprio orgulho de coração e falsa concepção do caráter e missão do Messias, impediram-nos de pesar honestamente as evidências de Sua messianidade. PR 364 4 Durante mais de mil anos, o povo judeu tinha esperado a vinda do Salvador prometido. Suas esperanças mais brilhantes tinham repousado neste acontecimento. Durante mil anos, em cântico e profecia, nos ritos do templo e nas orações domésticas, Seu nome havia sido entesourado; e no entanto quando Ele veio, não O reconheceram como o Messias por quem haviam tão longamente esperado. "Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam". João 1:11. Para o Seu coração amante do mundo, o Amado do Céu era "como raiz de uma terra seca". Aos olhos deles Ele "não tinha parecer nem formosura"; nEle não discerniam qualquer beleza para que O desejassem. Isaías 53:2. PR 365 1 Toda a vida de Jesus de Nazaré entre o povo judeu era uma reprovação ao seu egoísmo revelado na indisposição de reconhecer os justos direitos do Senhor da vinha sobre os que tinham sido postos como lavradores. Eles odiavam o Seu exemplo de fidelidade e piedade; e quando veio a prova final, a prova que significava obediência para a vida eterna ou desobediência para a eterna morte, rejeitaram o Santo de Israel, e se tornaram responsáveis por Sua crucifixão no Calvário. PR 365 2 Na parábola da vinha, Cristo, nas proximidades do fim do Seu ministério terrestre, chamou a atenção dos mestres judeus para as ricas bênçãos outorgadas a Israel, e nelas mostrou o direito de Deus a sua obediência. Claramente Ele expôs perante eles a glória do propósito de Deus, propósito este que pela obediência eles poderiam ter cumprido. Afastando o véu que ocultava o futuro, mostrou-lhes como, em virtude do não cumprimento do Seu propósito, toda a nação fora privada de Suas bênçãos, sobre si acarretando ruína. PR 365 3 "Houve um homem pai de família", Cristo disse, "que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe". Mateus 21:33. PR 365 4 O Salvador Se referiu assim à "vinha do Senhor dos Exércitos", que o profeta Isaías séculos antes havia declarado ser "a casa de Israel". PR 365 5 "E, chegando o tempo dos frutos", Cristo continuou, o proprietário da vinha "enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos. E os lavradores, apoderando-se dos servos, feriram a um, mataram a outro, e apedrejaram a outro. Depois enviou outros servos, em maior número que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo; e por último enviou-lhes o seu filho. [...] Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram." PR 365 6 Havendo retratado ante os sacerdotes o seu ato final de impiedade, Cristo dirige-lhes agora a pergunta: "Quando pois vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?" Os sacerdotes haviam acompanhado a narrativa com profundo interesse; e sem considerar a relação que havia do assunto para com eles mesmos, uniram-se ao povo na resposta: "Dará afrontosa morte a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos." PR 365 7 Inadvertidamente haviam eles pronunciado sua própria condenação. Jesus olhou para eles, e sob Seu olhar pesquisador eles compreenderam que Ele havia lido os segredos do seu coração. Sua divindade se sobressaiu com inquestionável poder. Eles viram nos lavradores uma figura de si mesmos, e involuntariamente exclamaram: "Não seja assim" PR 366 1 Solene e pesaroso Cristo perguntou: "Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó". Mateus 21:33-44. PR 366 2 Cristo teria evitado a condenação da nação judaica se o povo O tivesse recebido. Mas a inveja e o ciúme tornaram-nos implacáveis. Decidiram que não receberiam a Jesus de Nazaré como o Messias. Rejeitaram a luz do mundo, e daí em diante suas vidas foram circundadas com o negror das trevas da meia-noite. A condenação predita veio sobre a nação judaica. Suas próprias paixões violentas, incontroladas, operaram sua ruína. Em sua cega ira destruíram-se uns aos outros. Seu orgulho rebelde e obstinado atraiu sobre eles a ira dos conquistadores romanos. Jerusalém foi destruída, o templo foi feito em ruínas, e o sítio onde se erguia foi lavrado como um campo. Os filhos de Judá pereceram pelas mais horríveis formas de morte. Milhões foram vendidos para servirem como escravos em terras pagãs. PR 366 3 Aquilo que Deus propôs realizar em favor do mundo por intermédio de Israel, a nação escolhida, Ele executará afinal por meio de Sua igreja na Terra hoje. Ele arrendou Sua vinha "a outros lavradores", isto é, ao Seu povo que guarda o concerto, e que fielmente dá "os seus frutos". Jamais esteve o Senhor sem verdadeiros representantes na Terra e que fazem do interesse de Deus o seu próprio interesse. Essas testemunhas do Senhor são contadas entre o Israel espiritual, e em relação a eles se cumprirão todas as promessas do concerto feitas por Jeová a Seu antigo povo. PR 366 4 Hoje a igreja de Deus é livre para levar a êxito o plano divino para a salvação de uma raça perdida. Por muitos séculos o povo de Deus sofreu restrição de sua liberdade. A pregação do evangelho em sua pureza foi proibida, e as mais severas penalidades aplicadas aos que ousaram desobedecer aos mandamentos de homens. Como conseqüência, a grande vinha moral do Senhor ficou quase inteiramente desabitada. O povo viu-se privado da luz da Palavra de Deus. As trevas do erro e da superstição ameaçavam obliterar o conhecimento da verdadeira religião. A igreja de Deus na Terra esteve tão verdadeiramente em cativeiro durante este longo período de feroz perseguição, como estiveram os filhos de Israel em Babilônia durante o período do exílio. PR 366 5 Mas, graças a Deus, Sua igreja não está mais em cativeiro. Ao Israel espiritual foram restaurados os privilégios concedidos ao povo de Deus por ocasião do seu livramento de Babilônia. Em todas as partes da Terra homens e mulheres estão respondendo à mensagem enviada do Céu, da qual João o revelador profetizou que seria proclamada antes da segunda vinda de Cristo: "Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo". Apocalipse 14:7. PR 367 1 Não mais têm as forças do mal poder para conservar cativa a igreja; pois "caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição" (Apocalipse 14:8); e ao Israel espiritual é dada a mensagem: "Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas". Apocalipse 18:4. Assim como os exilados ouviram a mensagem: "Saí do meio de Babilônia" (Jeremias 51:6), e foram restaurados à terra da promessa, assim os que temem a Deus hoje estão aceitando a mensagem para retirar-se da Babilônia espiritual, e logo devem permanecer como troféus da graça divina na Terra renovada, a Canaã celestial. PR 367 2 Nos dias de Malaquias, a pergunta escarnecedora dos impenitentes: "Onde está o Deus do juízo?" recebeu a solene resposta: "De repente virá ao Seu templo o Senhor [...] o Anjo do concerto. [...] Mas quem suportará o dia da Sua vinda? e quem subsistirá quando Ele aparecer? porque Ele será como o fogo do ourives, e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata. Então ao Senhor trarão ofertas em justiça. E a oferta de Judá e de Jerusalém será suave ao Senhor, como nos dias antigos, e como nos primeiros anos". Malaquias 2:17; 3:1-4. PR 367 3 Quando o Messias prometido estava prestes a aparecer, a mensagem do precursor de Cristo foi: Arrependei-vos, publicanos e pecadores; arrependei-vos, fariseus e saduceus; "porque é chegado o reino dos Céus". Mateus 3:2. PR 367 4 Hoje, no espírito e poder de Elias e de João Batista, mensageiros escolhidos por Deus estão chamando a atenção de um mundo em vias de julgamento para os solenes acontecimentos a terem lugar breve, em conexão com as horas finais de graça e o aparecimento de Cristo Jesus como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Logo cada homem deverá ser julgado segundo as obras feitas no corpo. A hora do juízo de Deus é chegada, e sobre os membros de Sua igreja na Terra repousa a solene responsabilidade de advertir aos que estão mesmo às bordas, por assim dizer, da eterna ruína. A cada ser humano em todo o mundo que estiver disposto a atender, devem-se tornar claros os princípios em jogo na grande controvérsia em curso, princípios dos quais pende o destino de toda a humanidade. PR 367 5 Nestas horas finais de graça para os filhos dos homens, quando a sorte de cada alma deve ser logo decidida para sempre, o Senhor do Céu e da Terra espera que Sua igreja desperte para a ação como nunca dantes. Os que foram feitos livres em Cristo pelo conhecimento da preciosa verdade, são considerados pelo Senhor Jesus como Seus escolhidos, favorecidos sobre todos os outros povos na face da Terra; e Ele está contando certo que eles manifestarão os louvores dAquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. As bênçãos tão liberalmente outorgadas devem ser comunicadas a outros. As boas-novas de salvação devem ir a cada nação, tribo, língua e povo. PR 368 1 Nas visões dos profetas do passado o Senhor da glória foi representado como concedendo luz especial a Sua igreja nos dias de trevas e incredulidade que precederiam Sua segunda vinda. Como Sol da Justiça, Ele devia brilhar sobre Sua igreja, "trazendo salvação debaixo de Suas asas. Malaquias 4:2. E de todo verdadeiro discípulo devia ser difundida influência para a vida, coragem, prestatividade e verdadeira cura. PR 368 2 A vinda de Cristo ocorrerá no mais escuro período da história da Terra. Os dias de Noé e de Ló retratam a condição do mundo imediatamente antes da vinda do Filho do homem. As Escrituras que apontam para este tempo declaram que Satanás operará com todo o poder e "com todo o engano da injustiça". 2 Tessalonicenses 2:9, 10. Sua operação é claramente revelada pelas trevas em rápido progresso, os inumeráveis erros, heresias e enganos destes últimos dias. Não somente está Satanás levando cativo o mundo, mas seus enganos estão fermentando as professas igrejas de nosso Senhor Jesus Cristo. A grande apostasia redundará em trevas profundas como a meia-noite. Para o povo de Deus será essa uma noite de provação, de lágrimas e de perseguição por amor da verdade. Mas da noite de trevas brilhará a luz de Deus. PR 368 3 Ele faz que das trevas resplandeça a luz. 2 Coríntios 4:6. Quando "a Terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo", "o Espírito de Deus Se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz. E houve luz". Gênesis 1:2, 3. Assim na noite de trevas espirituais a Palavra de Deus ordena: "Haja luz." A Seu povo Ele diz: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti". Isaías 60:1. PR 368 4 "Eis que as trevas cobriram a Terra", diz a Escritura, "e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor irá surgindo, e a Sua glória Se verá sobre ti". Isaías 60:2. Cristo, o resplendor da glória do Pai, veio ao mundo como Sua luz. Ele veio para representar Deus ante os homens, e dEle está escrito que foi ungido "com o Espírito Santo e com virtude", e que "andou fazendo bem". Atos dos Apóstolos 10:38. Na sinagoga de Nazaré Ele disse: "O espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor". Lucas 4:18, 19. Esta foi a obra que Ele comissionou Seus discípulos para que fizessem. "Vós sois a luz do mundo", Ele disse. "Resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus". Mateus 5:14, 16. PR 368 5 Esta é a obra que o profeta Isaías descreve quando diz: "Não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda". Isaías 58:7, 8. PR 369 1 Assim na noite de trevas espirituais a glória de Deus deve brilhar por meio de Sua igreja no erguer o abatido e confortar o triste. PR 369 2 Por toda parte ao nosso redor se ouvem lamentos de um mundo em tristeza. De todos os lados há necessitados e opressos. Pertence-nos ajudar a aliviar e suavizar as durezas e misérias da vida. Unicamente o amor de Cristo pode satisfazer as necessidades da alma. Se Cristo está habitando em nós, o nosso coração estará cheio de divina simpatia. As fontes contidas do amor fervente semelhante ao de Cristo, serão franqueadas. PR 369 3 Há muitas pessoas a quem a esperança abandonou. Restituí-lhes a luz. Muitos perderam a coragem. Falai-lhes palavras de ânimo. Orai por eles. Há os que necessitam do pão da vida. Lede-lhes da Palavra de Deus. Há muitos enfermos da alma, os quais nenhum bálsamo terrestre pode alcançar nem médico levar cura. Orai por essas almas. Levai-as a Jesus. Dizei-lhes que há Bálsamo e Médico em Gileade. PR 369 4 A luz é uma bênção, uma bênção universal a derramar seus tesouros sobre um mundo ingrato, injusto e pervertido. Assim é com a luz do Sol da Justiça. A Terra toda, envolvida embora nas trevas do pecado, do infortúnio e da dor, deve ser iluminada com o conhecimento do amor de Deus. A luz que brilha do trono do Céu não deve ser excluída de nenhuma seita, categoria ou classe de pessoas. PR 369 5 A mensagem de esperança e misericórdia deve ser levada aos confins da Terra. Todo o que quiser, pode lançar mão da força de Deus e fazer paz com Ele. Não mais devem os pagãos continuar submersos na escuridão da meia-noite. As trevas devem fugir ante os brilhantes raios do Sol da Justiça. PR 369 6 Cristo tomou toda providência para que Sua igreja seja um corpo transformado, iluminado com a Luz do mundo, na posse da glória de Emanuel. É Seu propósito que cada cristão seja circundado de uma atmosfera espiritual de luz e paz. Ele deseja que revelemos Seu próprio regozijo em nossa vida. PR 369 7 "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vem nascendo sobre ti". Isaías 60:1. Cristo virá com poder e grande glória. Virá revestido de Sua própria glória, e da glória do Pai. E os santos anjos O assistem no Seu trajeto. Enquanto todo o mundo está imerso em trevas, haverá luz em toda habitação dos santos. Eles surpreenderão a primeira luz de Seu segundo aparecimento. A luz imaculada irromperá do Seu esplendor, e Cristo o Redentor será admirado por todos os que O têm servido. Enquanto os ímpios fogem, os seguidores de Cristo regozijam-se em Sua presença. PR 369 8 É então que o redimido dentre os homens receberá sua prometida herança. Assim o propósito de Deus para Israel encontrará literal cumprimento. Aquilo que Deus propõe, o homem é impotente para anular. Mesmo em meio à operação do mal, o propósito de Deus tem prosseguido firmemente em direção do seu cumprimento. Foi assim com a casa de Israel através da história da monarquia dividida; assim é com o Israel espiritual de hoje. PR 370 1 O vidente de Patmos, olhando através dos séculos para o tempo desta restauração de Israel na Terra renovada, testificou: PR 370 2 "Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro". Apocalipse 7:9, 10. PR 370 3 "E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sob os seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre". Apocalipse 7:9-12. PR 370 4 "E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia: pois já o Senhor Deus todo-poderoso reina. Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe honra". Apocalipse 19:6, 7. Ele "é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com Ele, chamados, e eleitos, e fiéis". Apocalipse 17:14. ------------------------Capítulo 60 -- Visões da glória futura PR 371 1 Nos dias mais negros de seu longo conflito com o mal, à igreja de Deus têm sido dadas revelações do eterno propósito de Jeová. A Seu povo tem sido permitido olhar para além das provas do presente aos triunfos do futuro quando, findo o conflito, os redimidos entrarão na posse da Terra Prometida. Essas visões de glória futura, cenas pintadas pela mão de Deus, deviam ser estimadas por Sua igreja hoje, quando a controvérsia dos séculos está chegando rapidamente ao fim, e as bênçãos prometidas devem ser logo experimentadas em toda a sua plenitude. PR 371 2 Muitas foram as mensagens de conforto dadas à igreja pelos profetas do passado. "Consolai, consolai o Meu povo" (Isaías 40:1), foi a comissão dada por Deus a Isaías; e com a comissão foram dadas maravilhosas visões que têm sido a esperança e gozo dos crentes através dos séculos que se têm seguido. Desprezados dos homens, perseguidos, abandonados, os filhos de Deus em todos os séculos têm sido não obstante sustentados por Suas fiéis promessas. Pela fé têm olhado para o tempo em que Ele cumprirá para com Sua igreja a promessa: Eu "te porei uma excelência perpétua, um gozo de geração em geração". Isaías 60:15. PR 371 3 Não raro é a igreja militante chamada a sofrer prova e aflição; pois não é sem severo conflito que a igreja deverá triunfar. "Pão de angústia e água de aperto" (Isaías 30:20), pertencem à sorte de todos; mas ninguém que ponha a sua confiança nAquele que é poderoso para livrar será inteiramente subjugado. "Assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és Meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque Eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate, e Etiópia e Seba por ti. Enquanto foste precioso aos Meus olhos, também foste glorificado, e Eu te amei, pelo que dei os homens por ti, e os povos por tua alma". Isaías 43:1-4. PR 371 4 Há perdão com Deus; há aceitação plena e livre pelos méritos de Jesus, nosso Senhor crucificado e ressurreto. Isaías ouviu o Senhor declarar a Seus escolhidos: "Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim, e dos teus pecados Me não lembro. Procura lembrar-Me; entremos em juízo juntamente; apresenta as tuas razões, para que te possa justificar". Isaías 43:25, 26. "E saberás que Eu sou o Senhor, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Possante de Jacó". Isaías 60:16. PR 372 1 "Tirará o opróbrio do Seu povo" (Isaías 25:8), o profeta declarou. "E chamar-te-ão: Povo santo, remidos do Senhor". Isaías 62:12. Ele determinou "que se lhes dê ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, vestido de louvor por espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado". Isaías 61:3. PR 372 2 "Desperta, desperta, veste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te dos teus vestidos formosos, ó Jerusalém, cidade santa; porque nunca mais entrará em ti nem incircunciso e nem imundo. Sacode o pó, levanta-te, e assenta-te, ó Jerusalém; solta-te das ataduras de teu pescoço, ó cativa filha de Sião". Isaías 52:1, 2. PR 372 3 "Ó oprimida, arrojada com a tormenta e desconsolada eis que Eu porei as tuas pedras com todo o ornamento, e te fundarei sobre safiras. E as tuas janelas farei cristalinas, e as tuas portas de rubis, e todos os teus termos de pedras aprazíveis. E todos os teus filhos serão discípulos do Senhor; e a paz dos teus filhos será abundante. Com justiça serás confirmada; estarás longe da opressão, porque já não temerás; e também do espanto, porque não chegarão a ti. Eis que poderão vir a juntar-se, mas não será por Mim; quem se ajuntar contra ti, cairá por amor de ti [...] Toda a ferramenta preparada contra ti, não prosperará; e toda a língua que se levantar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a justiça que vem de Mim, diz o Senhor". Isaías 54:11-17. PR 372 4 Revestida da armadura da justiça de Cristo, a igreja deve entrar em seu conflito final. "Formosa como a Lua, brilhante como o Sol, formidável como um exército com bandeiras" (Cânticos 6:10), deve ela ir a todo o mundo, vencendo e para vencer. PR 372 5 A hora mais difícil da luta da igreja com os poderes do mal, é a que imediatamente precede o dia do seu livramento final. Mas ninguém que confie em Deus precisa temer; pois quando "o sopro dos opressores é como a tempestade contra o muro" Deus será para a Sua igreja como "um refúgio contra a tempestade". Isaías 25:4. PR 372 6 Naquele dia, unicamente aos justos é prometido livramento. "Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que arremessa para longe de si o ganho de opressões; o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de sangue, e fecha os seus olhos para não ver o mal. Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas". Isaías 33:14-16. PR 373 1 A palavra do Senhor aos Seus fiéis é: "Vai pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te, só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade". Isaías 26:20, 21. PR 373 2 Em visões do grande dia do juízo, aos inspirados mensageiros de Jeová foi dado ver ligeiramente a consternação dos que não estavam preparados para se encontrarem com o seu Senhor em paz. PR 373 3 "Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores. [...] Porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão desolados. [...] Cessou o folguedo dos tamboris, acabou o ruído dos que pulam de prazer, e descansou a alegria da harpa". Isaías 24:1-8. PR 373 4 "Ah aquele dia porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-poderoso. [...] A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns derribados, porque se secou o trigo. Como geme o gado as manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas são destruídos." "A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens". Joel 1:15-18, 12. PR 373 5 "Estou ferido no meu coração" Jeremias exclamou ao contemplar as desolações produzidas durante as cenas finais da história da Terra. "Não me posso calar, porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. Quebranto sobre quebranto se apregoa; porque já toda a Terra está destruída". Jeremias 4:19, 20. PR 373 6 "A altivez do homem será humilhada", declara Isaías com respeito ao dia da vingança de Deus, "e a altivez dos varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. E todos os ídolos totalmente desaparecerão. [...] Naquele dia o homem lançará às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata, e os seus ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem, e meter-se-á pelas fendas das rochas, e pelas cavernas das penhas, por causa da presença espantosa do Senhor, e por causa da glória da Sua majestade, quando Ele Se levantar para assombrar a Terra". Isaías 2:17-21. PR 373 7 Desses tempos de transição, quando o orgulho do homem há de ser abatido, Jeremias, testifica: "Observei a Terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia, e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor, diante do furor da Sua ira". Jeremias 4:23-26. "Ah porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela". Jeremias 30:7. PR 374 1 O dia da ira para os inimigos de Deus é o dia de final livramento para a Sua igreja. O profeta declara: PR 374 2 "Confortai as mãos fracas, e fortalecei os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Esforçai-vos, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; Ele virá, e vos salvará". Isaías 35:3, 4. PR 374 3 "Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Jeová as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do Seu povo de toda a Terra; porque o Senhor o disse". Isaías 25:8. E ao contemplar o profeta o Senhor da glória descendo do Céu, com todos os santos anjos, para congregar a igreja remanescente dentre todas as nações da Terra, ele ouve o povo expectante unir-se no exultante clamor: PR 374 4 "Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e Ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação gozaremos, e nos alegraremos". Isaías 25:9. PR 374 5 A voz do Filho de Deus é ouvida chamando os santos que dormem, e ao contemplar o profeta a sua saída das prisões da morte, exclama: "Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos". Isaías 26:19. PR 374 6 "Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará". Isaías 35:5, 6. PR 374 7 Nas visões do profeta, os que triunfaram sobre o pecado e a sepultura são agora vistos felizes na presença do seu Criador, com Ele falando livremente, assim como o homem falava com Deus no início. "Mas vós folgareis", o Senhor lhes declarou, "e exultareis perpetuamente no que Eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo gozo. E folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor". Isaías 65:18, 19. "E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido de sua iniqüidade". Isaías 33:24. PR 374 8 "Águas arrebentarão no deserto E ribeiros no ermo. E a terra seca se transformará em tanques, e a terra sedenta em mananciais de águas". Isaías 35:6, 7. PR 374 9 "Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta". Isaías 55:13. PR 374 10 "E ali haverá um alto caminho, um caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles: Os caminhantes, até os loucos, não errarão". Isaías 35:8. PR 374 11 "Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que já a sua malícia é acabada, que a sua iniqüidade está expiada e que já recebeu em dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados". Isaías 40:2. PR 375 1 Contemplando o profeta os redimidos como moradores da cidade de Deus, livres do pecado e de todos os sinais da maldição, exclama em exaltação: "Regozijai-vos com Jerusalém, e alegrai-vos por ela, vós todos os que a amais; enchei-vos por ela de alegria". Isaías 66:10. PR 375 2 "Nunca mais se ouvirá de violência na tua terra, de desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação, e às tuas portas louvor. Nunca mais te servirá o Sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a Lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória. Nunca mais se porá o teu Sol, nem a tua Lua minguará; porque o Senhor será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão. E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a Terra; serão renovos por Mim plantados, obra das Minhas mãos, para que Eu seja glorificado". Isaías 60:18-21. PR 375 3 O profeta ouviu ali o soar de música e cânticos, cânticos e música como, salvo nas visões de Deus, nenhum ouvido mortal ouviu ou a mente concebeu. "E os resgatados do Senhor voltarão, e virão a Sião, com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido". Isaías 35:10. "Gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia". Isaías 51:3. "E os cantores e tocadores de instrumentos entoarão". Salmos 87:7. "Estes alçarão a sua voz, e cantarão com alegria; por causa da glória do Senhor". Isaías 24:14. PR 375 4 Na Terra renovada, os redimidos empenhar-se-ão em ocupações e prazeres que levaram felicidade a Adão e Eva no início. Será vivida a vida edênica, entre o jardim e o campo. "E edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do Meu povo serão como os dias da árvore, e os Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos até à velhice". Isaías 65:21, 22. PR 375 5 Cada faculdade será desenvolvida, toda habilidade aumentada. Os maiores empreendimentos serão levados a êxito, as mais elevadas aspirações alcançadas, realizadas as mais altas ambições. E surgirão ainda novas alturas a serem alcançadas, novas maravilhas para serem admiradas, novas verdades a serem compreendidas, novos objetos de estudo a desafiarem as faculdades do corpo, da mente e do espírito. PR 375 6 Os profetas a quem essas grandes cenas foram reveladas, ansiaram por compreender-lhes o pleno significado. Eles "inquiriram e trataram diligentemente [...] indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava. [...] Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas". 1 Pedro 1:10-12. PR 375 7 A nós que estamos no próprio limiar do seu cumprimento, que momentosos e de vivo interesse não são esses sinais das coisas por vir -- eventos a cujo respeito, desde que nossos primeiros pais se encaminharam para fora do Éden, os filhos de Deus têm orado, e os quais têm ansiosamente aguardado! PR 376 1 Companheiro peregrino, estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas; mas logo nosso Salvador deverá aparecer para nos dar livramento e repouso. Olhemos pela fé ao bendito futuro, tal como a mão de Deus o pinta. Aquele que morreu pelos pecados do mundo, está franqueando as portas do Paraíso a todo que nEle crê. Logo a batalha estará terminada e a vitória ganha. Breve veremos Aquele em quem se têm centralizado nossas esperanças de vida eterna. Em Sua presença as provas e sofrimentos desta vida parecerão como se nada fossem. "Não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão". Isaías 65:17. "Não rejeiteis pois a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará". Hebreus 10:35-37. "Israel é salvo [...] com uma eterna salvação; pelo que não sereis envergonhados nem confundidos em todas as eternidades". Isaías 45:17. PR 376 2 É tempo de olhar para cima, olhar para cima, e permitir que nossa fé cresça continuamente. Permitir que esta fé nos guie pelo caminho estreito que leva através das portas da cidade para o grande além, o vasto e ilimitado futuro de glória que há para os redimidos. "Sede pois, irmãos, pacientes até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e a serôdia. Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima." Tiago 5:7, 8. PR 376 3 As nações dos remidos não conhecerão outra lei senão a lei do Céu. Todos serão uma família unida e feliz, revestida com as vestes de louvor e ações de graças. [...] Sobre essa cena, as estrelas da manhã cantarão em uníssono, e os filho de Deus exultarão de alegria, enquanto Deus e Cristo Se unirão proclamando: "Não haverá mais pecado nem morte." Apocalipse 21:4. PR 376 4 "E será que, desde uma festa da lua nova até à outra e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor". Isaías 66:23. "A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente verá". Isaías 40:5. "O Senhor Jeová fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações". Isaías 61:11. "Naquele dia o Senhor dos Exércitos será por coroa, e por grinalda formosa, para o restante do Seu povo". Isaías 28:5. PR 376 5 "O Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor". Isaías 51:3. "A glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom". Isaías 35:2. "Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais: Assolada; mas chamar-te-ão: Meu deleite e à tua terra: Beulá [...] porque o Senhor Se agradará de ti; e a tua terra se casará". Isaías 62:4, 5. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 1 T1 2 1 Prefácio para a quarta edição T1 5 1 Breve histórico do volume um T1 9 1 Capítulo 1 -- Minha Infância T1 14 1 Capítulo 2 -- Minha conversão T1 21 1 Capítulo 3 -- Sentimentos de desespero T1 35 1 Capítulo 4 -- Deixando a igreja Metodista T1 44 1 Capítulo 5 -- Oposição de irmãos formalistas T1 48 2 Capítulo 6 -- A experiência do advento T1 58 3 Capítulo 7 -- Minha primeira visão T1 62 1 Capítulo 8 -- Chamado para viajar T1 67 2 Capítulo 9 -- Visão da nova terra T1 71 2 Capítulo 10 -- Recusando a advertência T1 75 1 Capítulo 11 -- Casamento e trabalhos posteriores T1 87 1 Capítulo 12 -- Publicando e viajando T1 97 2 Capítulo 13 -- Mudança para Michigan T1 105 3 Capítulo 14 -- A morte de meu marido T1 113 2 Capítulo 15 -- Guardador dos irmãos T1 116 1 Capítulo 16 -- Tempo de início do Sábado T1 116 2 Capítulo 17 -- Opositores da verdade T1 118 2 Capítulo 18 -- Responsabilidade paterna T1 120 1 Capítulo 19 -- Fé em Deus T1 122 1 Capítulo 20 -- O grupo do Messenger T1 123 2 Capítulo 21 -- Preparo para encontrar o Senhor T1 127 2 Capítulo 22 -- Os dois caminhos T1 131 1 Capítulo 23 -- Conformidade com o mundo T1 137 1 Capítulo 24 -- Esposas de pastores T1 141 1 Capítulo 25 -- Zelo e arrependimento T1 146 3 Capítulo 26 -- O leste e o oeste T1 154 2 Capítulo 27 -- Jovens observadores do sábado T1 164 1 Capítulo 28 -- Provações na igreja T1 168 1 Capítulo 29 -- Tenham cuidado T1 170 4 Capítulo 30 -- O jovem rico T1 178 2 Capítulo 31 -- O privilégio e dever da igreja T1 179 3 Capítulo 32 -- A sacudidura T1 185 1 Capítulo 33 -- A igreja de Laodicéia T1 196 1 Capítulo 34 -- Casas de culto T1 197 1 Capítulo 35 -- Lições tiradas das parábolas T1 200 1 Capítulo 36 -- Fiadores de incrédulos T1 201 1 Capítulo 37 -- Prestar juramento T1 204 1 Capítulo 38 -- Erros no regime alimentar T1 210 1 Capítulo 39 -- Negligência censurada T1 216 2 Capítulo 40 -- Deveres para com os filhos T1 220 1 Capítulo 41 -- Doação sistemática T1 223 1 Capítulo 42 -- Nosso nome denominacional T1 224 3 Capítulo 43 -- Os Pobres T1 225 1 Capítulo 44 -- Especulações T1 227 1 Capítulo 45 -- Um mordomo infiel T1 228 3 Capítulo 46 -- Fanatismo em Wisconsin T1 233 1 Capítulo 47 -- Reprovações Escondidas T1 234 2 Capítulo 48 -- A Causa em Ohio T1 240 1 Capítulo 49 -- Inteira Consagração T1 244 1 Capítulo 50 -- Experiência Pessoal T1 250 1 Capítulo 51 -- A Causa no Oeste T1 251 2 Capítulo 52 -- Uma Pergunta Respondida T1 253 2 Capítulo 53 -- O Norte e o Sul T1 260 1 Capítulo 54 -- A Grande Angústia Vindoura T1 264 1 Capítulo 55 -- Escravidão e Guerra T1 268 3 Capítulo 56 -- Tempos Perigosos T1 270 3 Capítulo 57 -- Organização T1 272 1 Capítulo 58 -- Dever Para Com os Pobres T1 274 3 Capítulo 59 -- O Poder do Exemplo T1 287 2 Capítulo 60 -- Consagração T1 290 1 Capítulo 61 -- Filosofias e Vãs Sutilezas T1 303 2 Capítulo 62 -- Religião na Familia T1 311 1 Capítulo 63 -- Ciumes e Criticas T1 323 1 Capítulo 64 -- Unidade de Fé T1 326 1 Capítulo 65 -- Norte do Wisconsin T1 341 1 Capítulo 66 -- O poder de Satanás T1 347 1 Capítulo 67 -- As duas coroas T1 353 3 Capítulo 68 -- O futuro T1 355 2 Capítulo 69 -- A rebelião T1 368 2 Capítulo 70 -- Perigos e deveres dos pastores T1 382 1 Capítulo 71 -- Uso errôneo das visões T1 384 1 Capítulo 72 -- Pais e filhos T1 389 1 Capítulo 73 -- O trabalho no leste T1 390 2 Capítulo 74 -- Perigos dos jovens T1 405 2 Capítulo 75 -- Andar na luz T1 409 1 Capítulo 76 -- A causa no leste T1 422 2 Capítulo 77 -- A oração de Davi T1 424 1 Capítulo 78 -- Extremos no vestuário T1 426 1 Capítulo 79 -- Mensagens ao pastor Hull T1 438 1 Capítulo 80 -- Pastores não Consagrados T1 449 2 Capítulo 81 -- A Esposa do pastor T1 455 1 Capítulo 82 -- Direitos de Patente T1 456 1 Capítulo 83 -- A Reforma do Vestuário T1 466 1 Capítulo 84 -- Nossos pastores T1 485 2 Capítulo 85 -- A Reforma de Saúde T1 496 2 Capítulo 86 -- Mensagens Aos Jovens T1 514 1 Capítulo 87 -- Recreação Para Os Cristãos T1 521 1 Capítulo 88 -- O Traje da Reforma T1 526 1 Capítulo 89 -- Suspeitas Sobre Battle Creek T1 528 1 Capítulo 90 -- Transferindo responsabilidades T1 531 2 Capítulo 91 -- A devida observância do sábado T1 533 2 Capítulo 92 -- Sentimentos políticos T1 534 2 Capítulo 93 -- Avareza T1 536 1 Capítulo 94 -- O engano das riquezas T1 543 1 Capítulo 95 -- Obediência à verdade T1 549 2 Capítulo 96 -- Seguro de vida T1 551 1 Capítulo 97 -- Fazendo circular as publicações T1 552 2 Capítulo 98 -- O reformador da saúde T1 553 1 Capítulo 99 -- O instituto de saúde T1 564 1 Capítulo 100 -- Saúde e religião T1 567 1 Capítulo 101 -- Trabalho e divertimentos T1 569 2 Capítulo 102 -- Introdução T1 570 2 Capítulo 103 -- Resumo de experiências T1 585 1 Capítulo 104 -- Obreiros do Escritório de Publicações T1 592 4 Capítulo 105 -- Conflitos e Vitória T1 610 3 Capítulo 106 -- Resposta da igreja de Battle Creek T1 612 3 Capítulo 107 -- Magoar e ferir T1 621 1 Capítulo 108 -- O Perigo da Alta confiança T1 628 2 Capítulo 109 -- Não Se Enganem T1 630 2 Capítulo 110 -- Publicando Testemunhos Pessoais T1 633 1 Capítulo 111 -- O Instituto de Saúde T1 643 3 Capítulo 112 -- Resumos de Experiências T1 645 1 Capítulo 113 -- Pastores Ordem e Organização T1 653 1 Capítulo 114 -- Trabalhos Adicionais T1 666 3 Capítulo 115 -- Ana More T1 680 2 Capítulo 116 -- Cozinha Saudável T1 687 2 Capítulo 117 -- Livros e Folhetos T1 690 1 Capítulo 118 -- O Lema do Cristão T1 694 2 Capítulo 119 -- Simpatia no Lar T1 707 1 Capítulo 120 -- A Posição do Marido T1 713 1 Apêndice ------------------------Prefácio para a quarta edição T1 2 1 As muitas impressões que se fizeram necessárias para uma circulação cada vez maior dos Testemunhos Para a Igreja desgastaram as chapas tipográficas. Para satisfazer a demanda destes volumes tão fundamentais à prosperidade da igreja, foi necessário recompor os tipos. Esta impressão e as posteriores serão reproduzidas com as novas chapas. T1 2 2 A paginação desta quarta edição conforma-se à das edições anteriores, já em uso há tantos anos. O leitor apreciará o Índice Escriturístico e o Índice Geral ampliados que aparecem em cada um dos volumes. Estes foram ampliados para harmonizar-se com o Index to the Writings of Mrs. Ellen G. White. T1 2 3 Muitos anos se passaram desde que estas mensagens foram escritas. Sendo que o conhecimento das circunstâncias e problemas geralmente auxilia na melhor compreensão das mensagens à igreja, o leitor notará que em cada volume há um breve histórico acerca do espaço de tempo que cada volume abrange. Algumas notas de apêndice também serão de utilidade para o leitor que pode não estar familiarizado com as circunstâncias que exigiram o conselho do Senhor. Estas declarações foram preparadas pelos Depositários dos Escritos de Ellen G. White T1 2 4 As mensagens desta nova edição são reproduzidas sem mudanças ou correção de texto, exceto por pequenos ajustes necessários para conformar a nova edição às atuais regras de ortografia, gramática e pontuação. Não houve eliminações nem acréscimos. T1 2 5 Que os conselhos dos testemunhos que têm abençoado, orientado e guardado a igreja possam continuar seu serviço apontado por Deus nesta nova edição é o sincero desejo dos editores e dos Depositários dos Escritos de Ellen G. White, Washington, D.C., 1 de Maio de 1947. ------------------------Breve histórico do volume um T1 5 1 Os nove volumes de Testemunhos Para a Igreja, que totalizam 4.738 páginas de texto, consistem de artigos e cartas escritas por Ellen G. White, contendo instruções para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, pertinentes à sua prosperidade. Um panfleto de dezesseis páginas, impresso em Dezembro de 1855, marcou o início da série de tais conselhos que de tempos em tempos aparecia em panfletos e livros numerados consecutivamente. Estas mensagens naturalmente tratavam de problemas da época. Na maioria dos casos, porém, hoje nos confrontamos com os mesmos problemas, perigos e oportunidades que a igreja enfrentou em seus primeiros anos. T1 5 2 Os mais primitivos Testemunhos numerados foram publicados apenas sete anos após as memoráveis "Conferências Sobre o Sábado" de 1848, quando os adventistas que criam nas verdades recentemente reavivadas do sábado e do santuário lançaram os fundamentos das distintivas doutrinas sustentadas pela denominação dos Adventistas do Sétimo Dia. Durante esses poucos anos a obra avançara de modo notável. No início havia apenas três ou quatro pregadores, ou "mensageiros" como eles se chamavam, todos eles dependentes do que ganhavam com o trabalho braçal e das ofertas voluntárias dos poucos fiéis, os quais também eram pobres em bens deste mundo. Este começo ficou limitado quase que totalmente aos Estados da Nova Inglaterra, Estados Unidos. T1 5 3 Por volta de 1855, o ano do lançamento do primeiro panfleto dos Testemunhos, havia cerca de duas dezenas de pregadores das mensagens do sábado e do advento. O número de fiéis havia crescido de pouco mais de cem para bem mais de dois mil. T1 5 4 A obra de publicações, iniciada pelo Pastor White no verão de 1849 em Middletown, Connecticut, havia sido conduzida em vários lugares sob circunstâncias adversas. Em 1855 ela foi estabelecida em prédio próprio em Battle Creek, Michigan, Estados Unidos. T1 5 5 O espaço de tempo abrangido pelos primeiros catorze Testemunhos agora contidos no volume I, foi de treze anos. Mencionaremos algumas das experiências e progressos incluídos nestas mensagens ocorridos durante o período de 1855 a 1868. T1 6 1 A primeira deserção, a apostasia e oposição de alguns dos ex-irmãos de ministério, conhecida como o grupo do Messenger por causa da sua publicação, o Messenger of Truth [Mensageiro da Verdade], trouxe tristeza e perplexidade. Os primeiros conselhos falam deste movimento e predizem seu rápido fim em confusão. T1 6 2 Movimentos fanáticos, que tencionavam atrair pessoas conscienciosas por causa das infundadas esperanças da "santificação", apareceram em vários lugares, especialmente em alguns Estados do Leste e em Wisconsin. Em certos casos estes ensinos foram acompanhados de manifestações do suposto "dom de línguas". Instrução clara, porém, foi dada à igreja, o que salvou a obra de tais enganos do inimigo. T1 6 3 O lapso de tempo e o aparente atraso do segundo advento, mais a adesão à igreja de muitos que não participaram do movimento de 1844, com sua profunda consagração espiritual, resultou na perda daquele primeiro amor. Essa foi uma época de especulações lucrativas de terrenos e propriedades rurais quando os Estados do Oeste estavam sendo abertos aos colonizadores, entre eles um grande número de fiéis dos populosos Estados do Leste. Os mais fervorosos apelos e advertências foram feitos acerca do predominante perigo de conformidade com o mundo, convocando a igreja para mais sincera consagração. T1 6 4 Na última parte do ano 1856 chamou-se a atenção para a mensagem à "Laodicéia" em Apocalipse 3. Antigamente entendia-se que este conselho se aplicava aos crentes no advento que não haviam seguido a crescente luz da mensagem do terceiro anjo e que se haviam organizado numa outra igreja, que se opunha hostilmente à verdade do sábado. Agora viram a si mesmos como "mornos" e necessitando dar ouvidos ao conselho da Testemunha Verdadeira. Durante dois anos ou mais os cristãos foram fortemente agitados por essa mensagem, esperando que ela os conduzisse diretamente ao alto clamor do terceiro anjo. As severas mensagens dos Testemunhos a respeito deste movimento podem ser melhor compreendidas com o conhecimento destes fatos. T1 6 5 Foi uma época de discussões e debates. Muitos de nossos pastores foram desafiados a discutir o sábado e outras verdades e alguns até se tornavam agressivos em tais debates. Isto exigiu conselho divino. Um de nossos pastores preeminentes, Moses Hull, envolveu-se em debates com os espiritualistas, primeiro a desafio deles, e mais tarde por si mesmo. Como resultado desta ousada decisão, ele foi arrastado para dentro do labirinto do espiritualismo. Foi então que a irmã White publicou suas "Mensagens ao Pastor Hull", tornando públicas as cartas que ela lhe havia escrito durante anos anteriores e que, se atendidas, teriam salvado do naufrágio a fé daquele irmão. T1 7 1 Naqueles anos foram tomadas decisões para a organização da igreja. Contra isto, alguns que tinham passado pela experiência da mensagem do segundo anjo temiam que a organização da igreja fosse símbolo de "Babilônia". Os problemas da organização conforme foram enfrentados e discutidos entre os irmãos são apresentados em muitas das mensagens dadas à igreja através de Ellen White. Quando em 1860 a obra de publicações foi organizada, e quando, depois de muita discussão e algumas contestações, o nome de Adventista do Sétimo Dia foi adotado, foi mostrado que a decisão e o nome em si estavam em harmonia com a vontade divina. T1 7 2 Imediatamente após os passos finais na ordem da igreja marcados pela organização da Associação Geral em Maio de 1863, ocorreu a memorável visão em Otsego, no mês de Junho, quando foi dada a Ellen White uma idéia dos princípios daquilo que foi denominado "reforma de saúde", com uma revelação da relação existente entre obediência às leis de saúde e a obtenção do caráter necessário para preparar os membros da igreja para trasladação. Intimamente associado a isto estava a reforma do vestuário. Dois anos mais tarde, foi recebido o conselho de que "devíamos ter uma casa de saúde própria", o que resultou no estabelecimento do Instituto da Reforma de Saúde, para o qual e a respeito do qual muito conselho foi dado. À medida que a luz foi seguida, esta instituição cresceu até que se tornou uma das melhores do seu tipo no mundo. Durante o período de tempo abrangido por este volume, os princípios que governavam a instituição e que a levaram a alcançar êxito foram claramente definidos. Os problemas da Guerra Civil dos Estados Unidos foram também enfrentados nesta época, e os adventistas do sétimo dia sentiram então a necessidade de definir seu relacionamento com o governo civil em tempo de guerra. T1 7 3 A importância do lar na edificação do caráter cristão, e a responsabilidade dos pais, foi salientada, e muitas solenes mensagens direcionadas especialmente aos jovens foram destacadas nestas páginas. T1 7 4 Além de questões específicas que estavam intimamente ligadas ao movimento da época, houve muitos conselhos e advertências de natureza generalizada sobre a disciplina na igreja e o preparo para a trasladação. Este foi um período muito importante no desenvolvimento da igreja remanescente, e os conselhos dos Testemunhos exerceram grande influência em seu estabelecimento. Os Depositários dos Escritos de Ellen G. White, Traços biográficos. ------------------------Capítulo 1 -- Minha infância T1 9 1 Nasci em Gorham, Estado do Maine, em 26 de Novembro de 1827. Meus pais, Roberto e Eunice Harmon, residiram por muitos anos nesse Estado. Já em sua infância tornaram-se membros fervorosos e dedicados da Igreja Metodista Episcopal. Destacaram-se naquela igreja e trabalharam durante um período de quarenta anos, pela conversão de pecadores e em prol da causa de Deus. Durante esse tempo tiveram a alegria de ver seus filhos, em número de oito, convertidos e reunidos no aprisco de Cristo. A firme crença no segundo advento, porém, levou toda a família a separar-se da igreja metodista em 1843. T1 9 2 Sendo eu ainda criança, meus pais se mudaram de Gorham para Portland, Maine. Aí, com nove anos de idade, sofri um acidente que me afetaria a vida inteira. Em companhia de minha irmã gêmea e de uma de nossas colegas, eu atravessava uma praça da cidade, quando uma menina de treze anos aproximadamente, zangando-se por qualquer futilidade, começou a perseguir-nos, ameaçando bater-nos. Nossos pais haviam nos ensinado a nunca brigar com ninguém, mas a fugir para casa imediatamente toda vez que corrêssemos o risco de ser maltratados ou feridos. Estávamos fazendo exatamente isto, a toda pressa, mas a garota nos seguia com igual rapidez, tendo na mão uma pedra. Em dado momento, virei a cabeça para ver a que distância se achava ela, e, ao fazê-lo, a menina atirou a pedra que me atingiu o nariz. Fiquei aturdida com o golpe e caí ao chão, desmaiada. T1 10 1 Quando recuperei os sentidos, achava-me na loja de um comerciante; minhas roupas estavam encharcadas com o sangue que me jorrava do nariz e escorria para o chão. Um desconhecido amável ofereceu-se para levar-me para casa em sua carruagem. Mas eu, desconhecendo meu estado de fraqueza, disse-lhe que preferia ir a pé para não sujar-lhe a carruagem com sangue. Os presentes não se aperceberam de que meu ferimento fosse tão sério e deixaram-me ir. Mas, depois de andar apenas alguns metros, senti-me fraca e atordoada. Minha irmã gêmea e colega carregaram-me para casa. T1 10 2 Não tenho lembrança de coisa alguma ocorrida durante algum tempo após o acidente. Minha mãe disse que eu nada notava. Permaneci em estado de torpor durante três semanas. Ninguém, além dela, julgava possível que eu me restabelecesse; mas, por qualquer motivo, ela pressentia que eu havia de viver. Uma bondosa vizinha, que muito se interessara em meu caso, achou que eu estava morrendo. Ela queria comprar-me um vestido para meu sepultamento, mas minha mãe lhe disse: "Ainda não", pois algo lhe dizia que eu não morreria. T1 10 3 Ao recobrar o uso de minhas faculdades, parecia-me que estivera a dormir. Não lembrava o acidente, e ignorava a causa de minha enfermidade. Quando recobrei um pouco de força, minha curiosidade foi atraída ao ouvir casualmente aqueles que me visitavam dizer: "Que pena!" "Eu não a conhecia", etc. Pedi um espelho, e ao olhar-me nele fiquei chocada com a mudança ocorrida com minha aparência. Cada traço de meu rosto parecia mudado. Os ossos de meu nariz haviam-se fraturado, causando essa desfiguração. T1 10 4 O pensamento de ser forçada a carregar essa desgraça pela vida toda era insuportável. Não podia ver nenhuma felicidade em minha existência. Não queria mais viver, porém, tinha medo de morrer porque não me achava preparada. Os amigos que nos visitavam olhavam-me com piedade e aconselharam meu pai a processar o pai da menina que, como eles diziam, havia-me arruinado. Contudo, minha mãe, que era pela paz, disse que se essa atitude trouxesse de volta minha saúde e aparência, então alguma coisa seria ganha, mas, como isso era impossível, o melhor era não fazer inimigos por seguir tal conselho. T1 11 1 Os médicos achavam que um fio de prata poderia ser colocado em meu nariz para restaurar-lhe a forma. Isso teria sido muito doloroso e eles temeram que tal providência não fosse de muita utilidade, porque eu havia perdido muito sangue e passado por tal estado de choque, que minha recuperação era duvidosa. Mesmo que sobrevivesse, eles criam que eu não poderia viver por muito tempo. Fiquei reduzida quase a um esqueleto. T1 11 2 Comecei, nessa ocasião, a orar ao Senhor, a fim de preparar-me para a morte. Quando amigos cristãos visitavam a família, perguntavam à minha mãe se ela me havia falado a respeito de morrer. Entreouvi isso, o que me agitou. Desejei tornar-me cristã, e orei fervorosamente pelo perdão de meus pecados. Senti a paz de espírito que disso provinha, e amava a todos, sentindo-me desejosa de que todos estivessem com seus pecados perdoados e amassem a Jesus como eu o fazia. T1 11 3 Lembro-me bem de uma noite de inverno, quando a neve cobria o chão, que os céus foram iluminados e tinham um aspecto avermelhado e ameaçador, e pareciam abrir-se e fechar-se, enquanto a neve assemelhava-se a sangue. Nossos vizinhos ficaram muito atemorizados. Mamãe tirou-me da cama e tomando-me em seus braços levou-me até a janela. Fiquei feliz. Pensei que Jesus estava voltando; eu ansiava vê-Lo. Meu coração estava transbordante e bati palmas de alegria; pensei que meus sofrimentos haviam terminado. Mas fiquei desapontada. Aquele aspecto singular desapareceu dos céus e na manhã seguinte o Sol surgiu como de costume. T1 11 4 Eu recobrava forças muito vagarosamente. Quando pude tomar parte nos brinquedos com minhas amiguinhas, fui obrigada a aprender a amarga lição de que nossa aparência pessoal muitas vezes estabelece diferença no tratamento que recebemos. Por ocasião do acidente, meu pai estava na Geórgia. Ao chegar em casa, abraçou meu irmão e minhas irmãs e perguntou por mim. Recuei timidamente, enquanto minha mãe me apontava, mas meu próprio pai não me reconheceu. Foi-lhe muito difícil acreditar que eu era sua pequena Ellen, a quem ele deixara poucos meses antes como uma feliz e saudável criança. Isso feriu profundamente meus sentimentos, mas tentei parecer animada, embora com o coração despedaçado. T1 12 1 Inúmeras vezes na infância pude sentir profundamente meu infortúnio. A mágoa que sentia era forte e trazia-me grande infelicidade. Freqüentemente, com o orgulho ferido, mortificada e abatida de espírito, buscava um lugar solitário e tristemente pensava nos sofrimentos que cada dia estava destinada a suportar. T1 12 2 O consolo das lágrimas me era negado. Não podia chorar imediatamente, como minha irmã gêmea. Embora meu coração se achasse pesado e dolorido, como se tivesse sido despedaçado, eu não podia derramar uma só lágrima. Eu sentia que seria grande alívio lamentar minhas tristezas. Algumas vezes, a bondosa simpatia dos amigos bania-me o desânimo e removia, por um tempo, o peso que me oprimia o coração. Quão vãos e insignificantes me pareciam os prazeres terrenos. Quão mutável a amizade de meus jovens amigos. Não obstante, esses coleguinhas de escola não eram diferentes da maioria dos adultos. Um rosto bonito, um vestido elegante, os atrai; mas permita-se que a desgraça os atinja, e a frágil amizade esfria ou se rompe. Mas quando busquei a meu Salvador, Ele me confortou. Busquei fervorosamente ao Senhor na minha angústia, e recebi consolação. Senti-me segura de que Jesus também me amava. T1 12 3 Minha saúde parecia irremediavelmente prejudicada. Durante dois anos, não pude respirar pelo nariz, e pouco pude freqüentar a escola. Parecia-me impossível estudar e reter na memória o que aprendia. A mesma menina que fora a causa de minha infelicidade, foi por nossa professora nomeada monitora, e competia-lhe ajudar-me na escrita e em outras matérias. Ela se mostrava sempre sinceramente entristecida pelo grande mal que me causara, embora eu tivesse cuidado em não lhe lembrar isso. Era meiga e paciente comigo. Mostrava-se triste e pensativa quando me via lutando com sérias desvantagens para instruir-me. T1 13 1 Meu sistema nervoso estava abalado, e minhas mãos tremiam tanto que pouco progresso fiz na escrita, e não pude conseguir mais do que simples cópias com má caligrafia. Esforçando-me por concentrar-me nos estudos, as letras da página pareciam embaralhar-se, grandes gotas de suor afloravam-me ao rosto, e eu me atordoava e desfalecia. Tinha uma tosse rebelde, e meu organismo todo parecia debilitado. Minhas professoras aconselharam-me a abandonar a escola, e não retomar os estudos antes de minha saúde melhorar. Foi a mais forte luta de minha juventude, ceder à fraqueza e decidir que deveria abandonar os estudos e renunciar a toda esperança de instruir-me. T1 13 2 Três anos mais tarde, enfrentei mais dificuldades ao querer estudar novamente. Quando tentei prosseguir nos estudos, a saúde declinou rapidamente, e parecia que se permanecesse na escola, seria às custas da própria vida. Não mais pude ir à escola. Eu tinha doze anos de idade. T1 13 3 A ambição de instruir-me era muito grande, e quando pensava em minhas frustradas esperanças e que eu era uma inválida para toda a vida, fiquei inconformada com minha sorte e, às vezes, murmurava contra a providência de Deus por assim afligir-me. Se tivesse aberto o coração à minha mãe, ela poderia ter-me instruído, consolado e animado; porém, ocultei meus turbados sentimentos da família e dos amigos, temendo que não me pudessem compreender. Desapareceu a feliz confiança no amor de meu Salvador que eu fruíra durante minha enfermidade. Minha perspectiva de alegria terrena fora frustrada e o Céu me parecia fechado. ------------------------Capítulo 2 -- Minha conversão T1 14 1 Em Março de 1840, Guilherme Miller visitou Portland, Maine, e fez uma série de pregações sobre a segunda vinda de Cristo, que produziram grande sensação. A Igreja Cristã da rua Casco, onde foram realizadas, esteve repleta dia e noite. As reuniões não foram acompanhadas de uma agitação tola, mas profunda solenidade se apoderava do espírito dos ouvintes. Não somente na cidade se manifestou grande interesse, pois pessoas do campo afluíam dia após dia, trazendo cestas com seu lanche, e permanecendo desde a manhã até ao final da reunião da noite. T1 14 2 Em companhia de minhas amigas, assisti a essas reuniões e ouvi o alarmante anúncio da volta de Cristo para 1843, apenas um poucos anos no futuro. O Sr. Miller apresentou as profecias com uma precisão que convencia o coração dos ouvintes. Detinha-se a tratar dos períodos proféticos, e apresentava muitas provas para confirmar seu ponto de vista. Seus apelos e advertências, solenes e poderosos, feitos àqueles que não se achavam preparados, deixavam assustada a multidão. T1 14 3 Efetuaram-se reuniões especiais em que os pecadores podiam ter oportunidade de buscar a seu Salvador e preparar-se para os terríveis acontecimentos que breve ocorreriam. Terror e convicção espalharam-se por toda a cidade. Realizavam-se reuniões de oração, e havia um despertamento geral entre as várias denominações; pois todos sentiam, uns mais e outros menos, a influência do ensino da próxima vinda de Cristo. T1 14 4 Quando os pecadores foram convidados a ir à frente, para o lugar daqueles que desejavam auxílio cristão especial, centenas atenderam ao apelo. E eu me coloquei entre os que buscavam aquele auxílio. Pensava, porém, que jamais me poderia tornar digna de ser chamada filha de Deus. A falta de confiança própria e a convicção de que seria impossível fazer com que alguém compreendesse meus sentimentos, impediam-me de buscar conselho e auxílio de minhas amigas cristãs. Assim, vagueava desnecessariamente em trevas e desespero, enquanto elas, sem conhecer o meu íntimo, ignoravam completamente o meu estado. T1 15 1 Certa noite, meu irmão Roberto e eu estávamos voltando para casa, após um encontro onde havíamos ouvido a mais impressionante palestra sobre o vindouro reino de Cristo, seguida de um fervoroso e solene apelo dirigido a cristãos e pecadores, rogando-lhes que se preparassem para o Juízo e a vinda do Senhor. Meu coração agitou-se pelo que ouvi. E tão profunda foi minha convicção, que temi não ser poupada pelo Senhor. T1 15 2 Estas palavras ressoavam-me aos ouvidos: "O grande dia do Senhor está perto"! Sofonias 1:14. "Quem subsistirá, quando Ele aparecer?" Malaquias 3:2. A linguagem do meu coração era: "Poupa-me, ó Senhor, através da noite! Não me leves em meus pecados; tem piedade de mim; salva-me." Pela primeira vez, tentei explicar meus sentimentos a meu irmão Roberto, que era dois anos mais velho do que eu. Disse-lhe que não me atrevia a repousar ou dormir até que soubesse que Deus havia perdoado meus pecados. T1 15 3 Meu irmão não respondeu de pronto, mas o motivo de seu silêncio me era muito claro. Ele chorava em simpatia por meu sofrimento. Isso me animou a confiar nele ainda mais, a confessar-lhe que ansiei pela morte naqueles dias quando a vida me parecia um fardo demasiado pesado para eu levar. Mas agora, o pensamento de que eu poderia morrer em estado pecaminoso e perder-me eternamente, encheu-me de terror. Perguntei-lhe se ele achava que Deus pouparia minha vida por aquela noite, se eu a passasse angustiando-me em oração. Ele respondeu: "Penso que Ele o fará, se você buscá-Lo com fé e eu orarei por você e por mim. Ellen, nunca devemos esquecer as palavras que ouvimos esta noite." T1 16 1 Chegando em casa, passei a maior parte das longas horas da noite em oração e lágrimas. Uma das razões que me levou a esconder meus sentimentos dos amigos, foi o temor de ouvir palavras de desencorajamento. Minha esperança era tão pequena e minha fé tão fraca, que temi que se alguém soubesse de minha condição, eu imergiria em desespero. Entretanto, eu ansiava por alguém que me dissesse o que fazer para ser salva; que passos dar para encontrar meu Salvador e entregar-me inteiramente ao Senhor. Achei que ser cristão era algo muito elevado e que isso requeria esforço especial de minha parte. T1 16 2 Minha mente permaneceu nessa condição durante meses. Eu costumava assistir às reuniões na igreja metodista com meus pais, mas, desde que me interessara no breve aparecimento de Cristo, passei a ir aos encontros da rua Casco. No verão seguinte, meus pais foram à reunião campal metodista, em Buxton, Maine, levando-me com eles. Eu estava plenamente resolvida a buscar fervorosamente ao Senhor ali, e alcançar, se possível, o perdão de meus pecados. Havia grande anelo em meu coração pela esperança cristã e a paz que vem pela fé. T1 16 3 Muito me animei ouvindo um sermão sobre as palavras: "Irei ter com o rei, ... e, perecendo, pereço." Ester 4:16. Em suas considerações, o orador referiu-se àqueles que vagavam entre a esperança e o temor, anelando serem salvos de seus pecados e receberem o amor remidor de Cristo, e, no entanto, pela timidez e receio de fracasso, se conservavam em dúvida e escravidão. Aconselhava a tais pessoas que se entregassem a Deus, e sem mais demora confiassem em Sua misericórdia. Encontrariam um Salvador compassivo, pronto para lhes apresentar o cetro da misericórdia, assim como Assuero ofereceu a Ester o sinal de seu favor. Tudo que se exigia do pecador, trêmulo ante a presença de seu Senhor, era que estendesse a mão da fé e tocasse o cetro de Sua graça. Aquele toque asseguraria perdão e paz. T1 16 4 Aqueles que esperavam tornar-se mais dignos do favor divino antes de se arriscarem a alcançar as promessas de Deus, estavam cometendo um erro fatal. Somente Jesus purifica do pecado; apenas Ele pode perdoar nossas transgressões. Ele assumiu o compromisso de ouvir as petições e deferir as orações dos que pela fé a Ele recorrem. Muitos têm uma idéia vaga de que devem fazer algum esforço extraordinário a fim de alcançar o favor de Deus. Toda confiança própria, porém, é vã. É unicamente ligando-se a Jesus pela fé, que o pecador se torna filho de Deus, cheio de esperança e crença. Essas palavras me consolaram, e deram-me uma visão do que devia fazer para ser salva. T1 17 1 Passei então a ver mais claramente meu caminho, e as trevas começaram a dissipar-se. Fervorosamente busquei o perdão de meus pecados, e esforcei-me para entregar-me inteiramente ao Senhor. Meu espírito, porém, debatia-se muitas vezes em grande angústia, pois eu não experimentava o êxtase espiritual que considerava deveria ser a prova de minha aceitação da parte de Deus, e não ousava crer que, sem isso, estivesse convertida. Quanto necessitava eu de instrução no tocante à simplicidade da fé! T1 17 2 Enquanto permanecia curvada junto ao altar da oração em companhia de outros que buscavam ao Senhor, toda a linguagem do meu coração era: "Auxilia-me, Jesus; salva-me, eu pereço! Não cessarei de rogar enquanto minha oração não for ouvida e perdoados os meus pecados." Como nunca antes, sentia minha condição necessitada e desamparada. Enquanto me achava de joelhos em oração, meu fardo deixou-me, e meu coração se aliviou. A princípio me sobreveio um sentimento de susto e procurei retomar o meu fardo de angústias. Julgava não ter o direito de sentir-me alegre e feliz. Mas Jesus parecia estar perto de mim; sentia-me capaz de achegar-me a Ele com todos os meus pesares, infelicidade e provações, assim como o faziam os necessitados em busca de consolo, quando Ele esteve na Terra. Eu tinha no coração a certeza de que Ele compreendia minhas provações e comigo simpatizava. Nunca poderei esquecer essa segurança preciosa da compassiva ternura de Jesus para com alguém tão indigno de Sua atenção. Naquele curto período de tempo em que fiquei prostrada entre os que oravam, aprendi mais do que nunca acerca do caráter divino de Cristo. T1 18 1 Uma das mães em Israel aproximou-se de mim e disse: "Querida filha, você achou a Jesus?" Eu estava para responder "Sim", quando ela exclamou: "Verdadeiramente você O achou; Sua paz está com você, eu a vejo em seu semblante!" Repetidas vezes, disse comigo mesma: "Pode isso ser religião? Não estarei enganada?" Parecia-me demasiado pretender um privilégio excessivamente exaltado. Se bem que tímida demais para confessá-lo abertamente, eu sentia que o Salvador me abençoara e perdoara meus pecados. T1 18 2 Logo depois, encerrou-se a reunião, e partimos para casa. Eu tinha a mente repleta dos sermões, exortações e orações que ouvíramos. Tudo na Natureza parecia mudado. Durante as reuniões, nuvens e chuva haviam prevalecido na maior parte do tempo, e meus sentimentos estavam em harmonia com o tempo. Agora, o Sol resplandecia brilhante e luminoso, e inundava a Terra de luz e calor. As árvores e a relva eram de um verde mais vivo; o céu, de um azul mais profundo. A Terra parecia sorrir com a paz de Deus. Igualmente, os raios do Sol da Justiça haviam penetrado as nuvens e trevas do meu espírito, e afugentando a tristeza. T1 18 3 Parecia-me que todos deveriam estar em paz com Deus, e animados por Seu Espírito. Todas as coisas sobre as quais meu olhar repousava, parecia terem passado por uma mudança. As árvores eram mais bonitas, e os pássaros cantavam com mais suavidade do que nunca; com seus cânticos pareciam estar louvando o Criador. Eu não tinha desejo nem de falar, por temer que essa felicidade pudesse dissipar-se e eu perdesse a preciosa evidência do amor de Jesus por mim. T1 18 4 Enquanto nos aproximávamos de nossa casa, em Portland, passamos por uns homens que trabalhavam na estrada. Eles conversavam sobre assuntos comuns, mas meus ouvidos estavam surdos a tudo, exceto ao louvor de Deus, e suas palavras chegaram a mim como profundos agradecimentos e alegres hosanas. Volvendo-me para minha mãe, perguntei-lhe: "Por que esses homens estão todos louvando a Deus, sendo que não estiveram na reunião campal?" Eu não compreendia ainda por que sugiram lágrimas nos olhos de mamãe. Um terno sorriso aflorou-lhe na face enquanto ouvia minhas simples palavras, que a relembraram de uma experiência semelhante em sua vida. T1 19 1 Mamãe gostava muito de flores e tinha imenso prazer em cultivá-las, e assim tornar o lar mais agradável e atrativo a seus filhos. Mas nosso jardim nunca me pareceu tão encantador como naquele dia. Reconhecia uma expressão de amor de Jesus em cada arbusto, botão e flor. Essas belas coisas pareciam falar, em muda linguagem, do amor de Deus. T1 19 2 Havia uma bela flor rosada no jardim, conhecida como rosa de Sarom. Lembro de ter-me aproximado dela e tocado reverentemente suas delicadas pétalas; que pareciam sagradas aos meus olhos. Meu coração se encheu de ternura e amor por essas belas criações de Deus. Eu podia ver divina perfeição nas flores que enfeitavam a terra. Deus cuidava delas e as tinha sob Seus olhos que tudo vêem. Fora Ele quem as fizera e eis que eram boas. T1 19 3 "Ah", pensei, "se Ele tanto ama e cuida das flores, as quais ornou de beleza, quão mais ternamente guardará os filhos formados à Sua imagem." Eu repetia suavemente para mim mesma: "Sou uma filha de Deus; Seu amoroso cuidado me cerca. Serei obediente e de modo nenhum Lhe desagradarei, mas louvarei sempre Seu querido nome e amor por mim." T1 19 4 Minha vida aparecia-me sob uma luz diferente. A aflição que me obscurecera a infância, dir-se-ia ter intervindo misericordiosamente em meu favor, para minha felicidade, desviando-me o coração do mundo e de seus prazeres, que não satisfazem, inclinando-o para as atrações duradouras do Céu. T1 19 5 Logo depois de nossa volta da reunião campal, eu, juntamente com vários outros, fiz profissão de fé na igreja. Preocupava-me bastante o assunto do batismo. Jovem como era, não podia ver senão uma única maneira de batismo autorizada nas Escrituras, e essa era a imersão. Algumas de minhas irmãs metodistas procuraram em vão convencer-me de que a aspersão era batismo bíblico. O pastor metodista consentia em batizar os candidatos por imersão, se eles conscienciosamente preferissem aquele método, embora insinuasse que a aspersão fosse igualmente aceitável a Deus. T1 20 1 Finalmente, foi marcado o tempo em que receberíamos essa solene ordenança. Foi num dia de muito vento que nós, em número de doze, fomos ao mar para sermos batizados. As ondas encapelavam-se e batiam contra a praia; mas, tendo eu tomado essa pesada cruz, minha paz era semelhante a um rio. Quando saí da água, sentia-me quase sem forças, pois o poder do Senhor repousava sobre mim. Senti que dali em diante não era deste mundo, mas erguia-me daquele túmulo líquido, para uma novidade de vida. T1 20 2 No mesmo dia à tarde, fui recebida na igreja com todas as prerrogativas de membro. Uma jovem que se achava ao meu lado também era candidata à admissão na igreja. Minha mente encontrava-se feliz e em paz, até que notei anéis de ouro cintilando nos dedos daquela irmã, e grandes e vistosos brincos em suas orelhas. Então, observei que seu chapéu estava enfeitado com flores artificiais e decorado com custosas fitas, dispostas em laços e tufos. Minha alegria se dissipou diante dessa mostra de vaidade em alguém que professava ser seguidora do manso e humilde Jesus. T1 20 3 Eu esperava que o pastor dirigisse alguma discreta reprovação ou conselho a essa irmã, mas parece que ele estava desatento a seus vistosos adornos, e nenhuma repreensão foi feita. Ambas recebemos a destra da comunhão da igreja. A mão decorada com jóias foi apertada pelo representante de Cristo e nossos nomes foram registrados no livro da igreja. T1 20 4 Essa situação causou-me muita perplexidade e aflição quando me lembrava das palavras do apóstolo: "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." 1 Timóteo 2:9, 10. Esse ensino da Escritura pareceu ser abertamente desrespeitado por aqueles a quem eu via como consagrados cristãos e que eram mais experientes do que eu. Se fosse realmente pecaminoso, como eu supunha, imitar o vestuário extravagante dos mundanos, certamente esses cristãos compreenderiam isso e se conformariam aos padrões bíblicos. Propus-me, porém, seguir as convicções do dever. Eu sentia que era contrário ao espírito do evangelho dispensar tempo e dinheiro dados por Deus para a ornamentação pessoal; que a humildade e a abnegação seriam mais adequadas àqueles cujos pecados custaram o infinito sacrifício do Filho de Deus. ------------------------Capítulo 3 -- Sentimentos de desespero T1 21 1 Em Junho de 1842, o Sr. Miller fez a sua segunda série de conferências em Portland. Considerei grande privilégio haver assistido a essas conferências, pois eu caíra em desânimo e não me sentia preparada para encontrar-me com meu Salvador. Essa segunda série criou na cidade muito mais agitação do que a primeira. Com poucas exceções, as várias denominações fecharam as portas de suas igrejas ao Sr. Miller. Muitos pregadores, nos vários púlpitos, procuravam expor os pretensos erros fanáticos do conferencista; mas multidões de ouvintes ansiosos assistiam a suas reuniões, e, por falta de lugar, muitos ficavam sem poder entrar. T1 21 2 A congregação ficava silenciosa e atenta, contrariamente ao seu hábito. O estilo de pregar do Sr. Miller não era floreado nem retórico. Ele apresentava fatos claros e surpreendentes que arrancavam os ouvintes de sua despreocupada indiferença. No decorrer da pregação, confirmava suas declarações e teorias com provas das Escrituras. Acompanhava suas palavras um poder convincente que parecia assinalá-las como a linguagem da verdade. T1 21 3 Ele era cortês e simpático. Quando todos os assentos na casa estavam ocupados, e a plataforma e lugares em redor do púlpito pareciam literalmente cheios, eu o via sair do púlpito, descer à nave e tomar pela mão algum idoso ou idosa e achar-lhes um assento, voltando então e reatando o fio do seu discurso. Era, na verdade, justamente chamado "Pai Miller"; pois exercia cuidado vigilante sobre os que estavam sob o seu ministério. Era afetuoso em seu modo de agir, dotado de disposição jovial e coração terno. T1 22 1 Como orador era interessante, e suas exortações tanto a cristãos professos como aos impenitentes eram apropriadas e poderosas. Algumas vezes, uma solenidade tão assinalada, a ponto de ser comovente, apoderava-se de suas reuniões. Muitos se rendiam à convicção do Espírito de Deus. Homens de cabelos grisalhos e senhoras idosas procuravam com passos trêmulos o lugar dos que desejavam auxílio espiritual especial; aqueles que se achavam na força da idade madura, os jovens e crianças, eram profundamente abalados. Gemidos e vozes de choro e de louvor misturavam-se no período da oração. T1 22 2 Cri nas solenes palavras proferidas pelo servo de Deus, e doía-me o coração quando eram combatidas ou delas se zombava. Eu assistia freqüentemente às reuniões e cria que Jesus devia logo vir nas nuvens do céu; o que me preocupava, porém, era estar ponta para O encontrar. Eu pensava constantemente no assunto da santidade do coração. Acima de todas as coisas anelava obter essa grande bênção, e crer que eu era inteiramente aceita por Deus. T1 22 3 Ouvi muito a respeito da santificação entre os metodistas. Vi muitas pessoas perderem sua força física sob a influência de forte agitação mental, e ouvi falar que isso era positiva evidência de santificação. Mas, não pude compreender o que era necessário para ser plenamente consagrada a Deus. Meus amigos cristãos diziam-me: "Creia em Jesus agora! Creia que Ele a aceita agora." Tentei fazer como me disseram, mas descobri ser impossível acreditar que eu recebera a bênção, a qual, eu julgava, deveria eletrizar todo o meu ser. Admirei-me de minha própria dureza de coração, ao ser incapaz de experimentar a exaltação de espírito que outros haviam manifestado. Parecia-me que eu era diferente deles, e para sempre impedida de fruir a perfeita alegria da santidade de coração. T1 23 1 Minhas idéias a respeito da justificação e santificação eram confusas. Esses dois estados foram-me apresentados como sendo separados e distintos um do outro. Não pude compreender a diferença ou o significado dos termos, e todas as explicações dos pregadores aumentavam minhas dificuldades. Era incapaz de reivindicar a bênção para mim mesma e desejava saber se isso devia ser achado apenas entre os metodistas; e se, ao assistir às reuniões adventistas eu não estava me separando do que eu mais desejava, o santificador Espírito de Deus. T1 23 2 Observei ainda que alguns que se diziam santificados, manifestavam um espírito amargurado quando o assunto da breve volta de Jesus era apresentado. Isso não me parecia uma manifestação da santidade que professavam. Eu não compreendia por que os pastores, do púlpito, se opunham à doutrina da proximidade da segunda vinda de Cristo. Uma reforma se seguira a essa pregação, e muitos dos mais dedicados pastores e leigos haviam-na recebido como verdade. Eu tinha a impressão de que os que amavam sinceramente a Jesus deviam estar prontos para aceitar as boas novas de Seu retorno e rejubilar-se com sua proximidade. T1 23 3 Senti que apenas poderia reivindicar aquilo que eles chamavam de justificação. Li nas Escrituras que sem a santificação nenhum homem poderia ver a Deus. Nesse caso, havia alguma elevada consecução que eu deveria alcançar antes de estar segura da vida eterna. Estudei o assunto diligentemente, pois cria que Cristo estava prestes a vir e eu temia que Ele me achasse despreparada para encontrá-Lo. Palavras de condenação ressoavam dia e noite em meus ouvidos, e meu constante clamor a Deus era: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos dos Apóstolos 16:30. T1 23 4 Em minha mente, a justiça de Deus eclipsava Sua misericórdia e amor. Eu havia sido ensinada a crer num inferno continuamente a arder, e o aterrorizante pensamento que estava sempre diante de mim era que meus pecados eram tão grandes para serem perdoados, e que eu estava perdida para sempre. As assustadoras descrições que eu ouvira sobre os perdidos, marcaram-me profundamente. No púlpito, os pastores pintavam quadros vívidos da condição dos perdidos. Eles ensinavam que Deus não Se propôs salvar a ninguém, senão os santificados. Os olhos de Deus estavam sempre sobre nós; cada pecado era registrado e receberia sua justa punição. O próprio Deus mantinha os livros com a exatidão de Sua infinita sabedoria, e cada pecado que cometemos era fielmente anotado contra nós. T1 24 1 Satanás era representado como ávido por apoderar-se das presas e lançá-las na mais profunda angústia, exultando sobre seus sofrimentos nos horrores de um inferno eternamente a queimar, onde, depois de torturá-las por milhares e milhares de anos, vagas ardentes levariam à superfície contorcidas vítimas, que gritariam: "Até quando, Senhor, até quando?" Então, a resposta trovejaria no abismo: "Por toda a eternidade!" Novamente, as ondas fundidas engolfariam os perdidos, lançando-os nas profundidades do tormentoso mar de fogo. T1 24 2 Enquanto ouvia essas terríveis descrições, minha imaginação foi tão afetada que comecei a transpirar, e me foi difícil conter um grito de angústia, pois parecia-me já estar sentindo os tormentos da perdição. Nesse momento, o pastor começou a falar sobre a incerteza da vida. Num momento podemos estar aqui, e no inferno, no próximo; ou, num instante, sobre a Terra e noutro, no Céu. Escolheremos o lago de fogo e a companhia de demônios, ou, as alegrias do Céu com os anjos como nossos companheiros? Ouviremos vozes de lamento e a maldição dos perdidos por toda a eternidade, ou cantaremos louvores a Jesus diante do trono? T1 24 3 Nosso Pai celestial foi-me apresentado como um tirano que Se deleitava nas agonias dos condenados, e não como o terno e compassivo Amigo dos pecadores; que ama Suas criaturas com amor que ultrapassa todo entendimento, e que deseja vê-los salvos em Seu reino. T1 25 1 Meus sentimentos estavam muito abalados. Eu receava causar dor a qualquer criatura vivente. Quando via animais maltratados, meu coração se condoía. Talvez minhas simpatias fossem mais facilmente despertadas pelo sofrimento, porque eu mesma havia sido vítima de impensada crueldade, que resultou num dano que obscureceu minha infância. Mas quando tomou posse de minha mente o pensamento de que Deus tinha prazer em torturar Suas criaturas, que haviam sido formadas à Sua imagem, uma cortina de trevas pareceu separar-me dEle. Quando pensava que o Criador do Universo lançaria os ímpios no inferno, para queimarem nas infindáveis eras eternas, meu coração curvou-se atemorizado e perdi a esperança de que tão cruel e tirânico ser consentiria em salvar-me da condenação do pecado. T1 25 2 Pensava eu que o destino do pecador condenado seria o mesmo para mim -- sofrer eternamente nas chamas do inferno, enquanto Deus existisse. Essa impressão aprofundou-se em minha mente, a tal ponto que temi perder a razão. Eu observava os mudos animais com inveja, porque eles não tinham alma a ser punida após a morte. Muitas vezes tive o desejo de nunca ter nascido. T1 25 3 Escuridão total desceu sobre mim e pareceu-me não haver um caminho para fora dessas sombras. Pudesse a verdade, como agora a conheço, ser-me apresentada então, e muitas perplexidades e tristezas ter-me-iam sido poupadas. Se o amor de Deus houvesse sido mostrado mais demoradamente e menos Sua severa justiça, a beleza e a glória do caráter divino haveriam de inspirar-me com profundo e ardoroso amor por meu Criador. T1 25 4 Tenho pensado que muitos internados em asilos de loucos foram para ali levados por experiências semelhantes a minha própria. Sua consciência foi abalada por um senso de pecado, e sua tremente fé não ousava suplicar de Deus o prometido perdão. Ouviam as descrições do inferno ortodoxo até que parecia coagular o próprio sangue das veias, e imprimir com fogo uma impressão nas placas da memória. Andando ou dormindo, o terrível quadro estava sempre presente, até que a realidade se perdeu na imaginação, e eles só viam a rodeá-los as chamas de fabuloso inferno, e só ouviam os gritos dos condenados. A razão foi destronada, e o cérebro se encheu de confusa fantasia de um sonho terrível. Os que ensinam a teoria de um inferno perene fariam bem em cuidar com mais atenção de sua autoridade para manter crença tão cruel. T1 26 1 Até então, eu nunca orara em público, e tinha apenas falado algumas tímidas palavras na reunião de oração. Tive a impressão de que deveria buscar a Deus em oração, em nossas pequenas reuniões sociais. Isso não ousava fazer, receosa de me atrapalhar e não poder exprimir meus pensamentos. Impressionou-me, porém, tão fortemente o senso do dever que, quando tentei orar em particular, parecia que estava a gracejar com Deus, porque deixara de obedecer à Sua vontade. Venceu-me o desespero, e por três longas semanas nenhum raio de luz penetrou a escuridão que me rodeava. T1 26 2 Intensos eram os meus sofrimentos mentais. Algumas vezes, durante a noite toda, eu não ousava cerrar os olhos, mas esperava até que minha irmã gêmea dormisse profundamente; deixava então silenciosamente o leito e me ajoelhava no soalho, orando em silêncio, com uma agonia intensa que se não pode descrever. Os horrores de um inferno a arder eternamente estavam sempre diante de mim. Sabia que era impossível viver por muito tempo nesse estado, e não ousava morrer e enfrentar a terrível sorte do pecador. Com que inveja eu olhava àqueles que reconheciam a sua aceitação por parte de Deus! Quão preciosa parecia para meu coração agoniado a esperança cristã! T1 26 3 Freqüentemente, eu ficava prostrada em oração quase a noite toda, gemendo e tremendo, com angústia inexprimível e desespero indescritível. "Senhor, tem misericórdia!" era meu clamor, e semelhante ao pobre publicano eu não ousava levantar os olhos para o céu, mas curvava a fronte para o soalho. Fiquei muito magra e fraca, e não obstante ocultei meu sofrimento e desespero. T1 27 1 Enquanto me achava nesse estado de desânimo, tive um sonho que me produziu profunda impressão. Sonhei que via um templo em que muitas pessoas estavam se reunindo. Apenas os que se refugiassem naquele templo seriam salvos quando terminasse o tempo; todos os que ficassem fora estariam para sempre perdidos. A multidão que se achava fora e prosseguia com seus vários interesses, caçoava e ridicularizava os que estavam entrando no templo, e dizia-lhes que esse meio de segurança era um sagaz engano e que, de fato não havia perigo algum para se evitar. Chegaram a lançar mãos de alguns para impedir-lhes a entrada. T1 27 2 Receosa de ser escarnecida, achei melhor esperar até que a multidão se dispersasse ou até que eu pudesse entrar sem ser observada por eles. Mas o número aumentava em vez de diminuir e, receando ficar muito atrasada, saí apressadamente de casa e atravessei a multidão. Na minha ansiedade por atingir o templo, não notava a multidão que me cercava nem com ela me ocupava. Entrando no edifício, vi que o vasto templo era apoiado por uma imensa coluna, e a ela se achava amarrado um cordeiro todo ferido e ensangüentado. Nós que nos achávamos presentes parecíamos saber que esse cordeiro fora lacerado e ferido por nossa causa. Todos os que entravam no templo deveriam ir diante dele e confessar seus pecados. T1 27 3 Exatamente diante do cordeiro estavam assentos elevados, sobre os quais se sentava um grupo de pessoas que parecia muito feliz. A luz celeste parecia resplandecer-lhes no rosto, e louvavam a Deus e entoavam alegres cânticos de ação de graças que se assemelhavam à música dos anjos. Esses eram os que se haviam apresentado diante do Cordeiro, confessado seus pecados, recebido perdão, e agora, em alegre expectativa, aguardavam algum acontecimento feliz. T1 27 4 Mesmo depois que entrei no edifício, sobreveio-me um receio e uma sensação de vergonha de que eu devesse humilhar-me diante daquele povo. Mas eu parecia ser compelida a ir para a frente, e vagarosamente caminhei em redor da coluna a fim de defrontar-me com o cordeiro, quando uma trombeta soou, o templo foi abalado, brados de triunfo se levantaram dos santos reunidos, e um intenso brilho iluminou o edifício, então tudo passou a ser trevas intensas. Toda aquela gente feliz desaparecera com o brilho, e fui deixada só no silencioso terror da noite. Despertei em agonia de espírito, e não pude convencer-me de que estivera a sonhar. Parecia-me que minha sorte estava fixada; e que o Espírito do Senhor me havia abandonado para não mais voltar. T1 28 1 Logo depois disso, tive outro sonho. Parecia-me estar sentada em desespero aterrador, com as mãos no rosto, refletindo assim: Se Jesus estivesse na Terra, eu iria a Ele, e me lançaria a Seus pés, e Lhe contaria todos os meus sofrimentos. Ele não Se desviaria de mim; teria misericórdia, e eu O amaria e serviria sempre. Exatamente nesse momento se abriu a porta, e entrou uma pessoa de porte e semblante belos. Olhou para mim compassivamente e disse: "Você deseja ver a Jesus? Ele está aqui e você pode vê-Lo se desejar. Tome tudo que possui e siga-me." T1 28 2 Ouvi isso com indizível alegria, e alegremente ajuntei todas as minhas pequenas posses, e toda bugiganga que como tesouro eu guardava, e segui a meu guia. Ele me conduziu a uma escada íngreme e aparentemente frágil. Começando a subir os degraus, aconselhou-me a conservar o olhar fixo para cima a fim de que não me atordoasse e caísse. Muitos outros que estavam fazendo essa íngreme ascensão caíam antes de alcançar o topo. T1 28 3 Finalmente atingimos o último degrau e paramos diante de uma porta. Ali, meu guia me informou que eu devia deixar todas as coisas que trouxera. Alegremente, eu as depus. Então, ele abriu a porta e me mandou entrar. Em um instante, achei-me diante de Jesus. Não havia dúvida quanto àquele belo semblante; aquela expressão de benevolência e majestade não poderia pertencer a nenhum outro. Quando Seu olhar pousou sobre mim, vi logo que Ele estava familiarizado com todas as circunstâncias de minha vida e todos os meus íntimos pensamentos e sentimentos. T1 28 4 Procurei fugir de Seu olhar, sentindo-me incapaz de suportá-lo por ser tão penetrante. Ele, porém, Se aproximou com um sorriso, e, pondo a mão sobre minha cabeça, disse: "Não tema." O som de Sua doce voz agitou-me o coração com uma felicidade que nunca experimentara antes. Eu estava alegre demais para poder proferir uma palavra, e, vencida pela emoção, caí prostrada a Seus pés. Enquanto ali jazia inerte, cenas de beleza e glória passaram diante de mim, e parecia-me ter alcançado a segurança e paz do Céu. Finalmente, recuperei as forças e levantei-me. O olhar amorável de Jesus ainda estava sobre mim, e Seu sorriso enchia o meu coração de alegria. Sua presença despertou em mim santa reverência e amor inexprimível. T1 29 1 Meu guia abriu então a porta, e ambos saímos. Mandou que eu tomasse de novo todas as coisas que havia deixado fora. Isso feito, entregou-me um fio verde muito bem enovelado. Ele me disse que o colocasse perto do coração e, quando quisesse ver a Jesus, o tirasse do seio e o estirasse inteiramente. Preveniu-me de que o não deixasse ficar enrolado durante muito tempo, para que não se embaraçasse e fosse difícil desemaranhar. Coloquei o fio junto ao coração e, cheia de alegria, desci a estreita escada, louvando ao Senhor, e dizendo a todos com quem encontrei, onde poderiam achar Jesus. Este sonho deu-me esperança. O fio verde representava ao meu espírito a fé; e a beleza e simplicidade de confiar em Deus começaram a raiar em meu coração. T1 29 2 Agora, confiava todas as minhas tristezas e perplexidades a minha mãe. Ela me manifestava muita ternura e me animava, sugerindo-me que fosse aconselhar-me com o Pastor Stockman, que então pregava, em Portland, a doutrina do advento. Eu tinha grande confiança nele, pois era um dedicado servo de Cristo. Ouvindo minha história, pôs afetuosamente a mão sobre minha cabeça, dizendo com lágrimas nos olhos: "Ellen, você é tão criança! Sua experiência é muitíssimo singular, numa idade tenra como a sua. Jesus deve estar preparando você para algum trabalho especial." T1 29 3 Disse-me então que, mesmo que eu fosse uma pessoa de idade madura, e me achasse assim perseguida pela dúvida e desespero, ele me diria saber existir esperança para mim, mediante o amor de Jesus. A própria agonia de espírito que eu sofrera era uma prova evidente de que o Espírito do Senhor estava contendendo comigo. Disse que quando o pecador se torna endurecido no mal, não compreende a enormidade de sua transgressão, mas lisonjeia-se de que age corretamente e sem nenhum perigo. O Espírito do Senhor deixa-o, e ele se torna descuidado e indiferente, ou despreocupadamente arrogante. Aquele bom homem falou-me acerca do amor de Deus a Seus filhos errantes; disse que em vez de Se alegrar em sua destruição, Ele almeja atraí-los a Si com fé e confiança singela. Ele se demorou a falar no grande amor de Cristo e no plano da redenção. T1 30 1 O Pastor Stockman falou-me da infelicidade que eu tivera, e disse que na verdade era uma aflição atroz; mas pediu-me que cresse que a mão de um Pai amante não fora retirada de sobre mim; que na vida futura, ao dissipar-se a névoa que ora me obscurecia o espírito, eu iria discernir a sabedoria da Providência que me parecia tão cruel e misteriosa. Jesus disse a um de Seus discípulos: "O que Eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois." João 13:7. No grande futuro, não mais veremos obscuramente, como por meio de um espelho, mas havemos de conhecer os mistérios do divino amor. T1 30 2 "Vai em paz, Ellen", disse ele; "volte para a sua casa confiante em Jesus, pois Ele não retirará Seu amor de todo aquele que O busca verdadeiramente." Então orou fervorosamente por mim, e parecia-me que Deus certamente ouviria a oração de Seu santo, mesmo que minhas humildes petições não fossem atendidas. Saí de sua presença confortada e animada. T1 30 3 Durante os poucos minutos que passei recebendo instrução do Pastor Stockman, obtive mais conhecimento sobre o assunto do amor de Deus e de Sua compassiva ternura, do que de todos os sermões e exortações que já ouvira. Voltei para casa e de novo me pus perante o Senhor, prometendo fazer tudo que Ele pudesse exigir de mim, se tão-somente o sorriso de Jesus me animasse o coração. Foi-me apresentado o mesmo dever que antes me perturbara o espírito -- tomar a minha cruz entre o povo de Deus congregado. A oportunidade não tardou; naquela noite, houve uma reunião de oração à qual assisti. T1 31 1 Quando todos se ajoelharam para orar, prostrei-me com eles, trêmula. Depois de algumas pessoas haverem orado, alcei a voz em oração, antes que disso me apercebesse. Naquele instante, as promessas de Deus pareceram-me semelhantes a tantas pérolas preciosíssimas que deveriam ser recebidas apenas pelos que as pedissem. Enquanto orava, o peso e agonia de coração que havia tanto tempo eu suportava, deixaram-me, e a bênção do Senhor desceu sobre mim, semelhante a suave orvalho. Louvei a Deus de todo o meu coração. Tudo parecia excluído de mim, exceto Jesus e Sua glória, e perdi consciência do que se passava em redor. T1 31 2 O Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa aquela noite. Quando voltei para casa, no dia seguinte, grande mudança ocorrera em meu espírito. Dificilmente parecia ser eu a mesma pessoa que deixara a casa de meu pai na noite anterior. Esta passagem estava continuamente em meu pensamento: "O Senhor é meu pastor; nada me faltará." Salmos 23:1. Meu coração transbordava de felicidade, enquanto eu suavemente repetia essas palavras. T1 31 3 Minhas opiniões acerca do Pai estavam mudadas. Considerava-O agora um Pai bondoso e terno, ao invés de tirano severo que forçasse os homens a uma obediência cega. Meu coração deixava-se levar a Ele em amor profundo e fervoroso. A obediência à Sua vontade me parecia um prazer; era para mim uma alegria estar ao Seu serviço. Nenhuma sombra nublava a luz que me revelava a perfeita vontade de Deus. Experimentei a segurança de um Salvador que em mim habitava, e compreendi a verdade do que Cristo dissera: "Quem Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12. T1 31 4 Minha paz e felicidade estavam em tão assinalado contraste com minha tristeza e angústia anteriores que parecia como se eu houvesse sido libertada do inferno e transportada ao Céu. Podia até louvar a Deus pela desgraça que fora a provação de minha vida, pois se tornara o meio de fixar meus pensamentos na eternidade. De natureza orgulhosa e ambiciosa, eu poderia não ter-me inclinado a entregar o coração a Jesus, se não fosse a cruel aflição que me separara, de certa maneira, das glórias e vaidades do mundo. T1 32 1 Durante seis meses, nenhuma sombra me nublou o espírito, tampouco negligenciei um dever sequer que conhecesse. Todo o meu esforço visava a fazer a vontade de Deus e conservar Jesus e o Céu continuamente em vista. Estava surpresa e extasiada com as claras perspectivas que agora a mim se apresentavam do sacrifício expiatório e da obra de Cristo. Não mais tentei explicar minhas aflições de espírito; basta dizer que "as coisas velhas já passaram; ... tudo se fez novo". 2 Coríntios 5:17. Não havia uma nuvem para empanar minha perfeita ventura. Eu aspirava contar a história do amor de Jesus, mas não sentia disposição para entreter conversação habitual com qualquer pessoa. Meu coração estava tão cheio de amor a Deus e daquela "paz... que excede todo o entendimento" (Filipenses 4:7) que eu me comprazia em meditar e orar. T1 32 2 Na noite seguinte àquela em que recebi tão grande bênção, assisti à reunião adventista. Quando chegou a hora para os seguidores de Cristo falarem a favor dEle, não pude ficar em silêncio, mas levantei-me e relatei a minha experiência. Nenhum pensamento me viera à mente quanto ao que deveria dizer; mas a singela história do amor de Jesus para comigo caiu-me dos lábios com perfeita liberdade, e meu coração estava tão feliz por ter-se libertado de seu cativeiro de negro desespero, que perdi de vista o povo em redor de mim e parecia-me estar sozinha com Deus. Não encontrei dificuldade em expressar minha paz e felicidade, a não ser nas lágrimas de gratidão que me embargavam a voz quando falei do prodigioso amor que Jesus havia demonstrado para comigo. T1 32 3 O Pastor Stockman estava presente. Ele me vira recentemente em profundo desespero e, ao constatar agora a notável mudança que se realizara em minha aparência e sentimentos, emocionou-se. Ele chorou em voz alta, alegrando-se comigo e louvando a Deus por essa prova de Sua terna misericórdia e amorável bondade. T1 33 1 Não muito tempo depois de receber esta grande bênção, assisti a uma assembléia da Igreja Cristã, que o Pastor Brown dirigia. Fui convidada a relatar minha experiência, e não somente senti grande liberdade de expressão, mas também felicidade em contar minha singela história do amor de Jesus e da alegria de ser aceita por Deus. Enquanto eu falava com coração submisso e olhos lacrimosos, parecia ter a mente atraída para o Céu em ações de graças. O poder sensibilizador do Senhor apossou-se do povo congregado. Muitos choravam e outros louvavam a Deus. T1 33 2 Os pecadores foram convidados a levantar-se para que se fizessem orações em seu favor, e muitos atenderam. Meu coração estava tão grato a Deus pela bênção que me concedera, que almejava que outros participassem dessa alegria santa. Interessei-me profundamente por aqueles que poderiam estar sofrendo sob a convicção do desagrado do Senhor e do fardo do pecado. Enquanto relatava minha experiência, pressenti que ninguém poderia resistir à evidência do amor perdoador de Deus que em mim realizara uma mudança tão maravilhosa. A realidade da verdadeira conversão parecia-me tão evidente que eu desejava ajudar minhas jovens amigas a virem para a luz, aproveitando cada oportunidade para exercer minha influência nesse sentido. T1 33 3 Providenciei reuniões com minhas jovens amigas, algumas das quais eram consideravelmente mais velhas do que eu; e outras, em menor número, casadas. Várias delas eram frívolas e desatenciosas; minha experiência soava-lhes aos ouvidos como uma história ociosa e não davam crédito às minhas exortações. Decidi, porém, que meus esforços não cessariam sem que essas queridas pessoas, por quem eu tinha tão grande interesse, se entregassem a Deus. Despendi várias noites em oração fervorosa por aquelas pessoas que eu buscara e reunira com o propósito de com elas trabalhar e orar. T1 33 4 Algumas delas se haviam reunido conosco pela curiosidade de ouvir o que eu tinha para dizer; outras me julgavam fora de mim, por eu ser tão persistente em meus esforços, especialmente quando não manifestavam interesse algum. Mas em cada uma das nossas pequenas reuniões, continuei a exortar e a orar em prol de cada uma separadamente até que todas se entregaram a Jesus, reconhecendo os méritos de Seu amor perdoador. Todas se converteram a Deus. T1 34 1 Noite após noite, em meus sonhos, eu parecia estar trabalhando pela salvação de seres humanos. Em tais ocasiões, eram-me apresentados ao espírito casos especiais; estes eu procurava mais tarde, orando com as pessoas envolvidas. Com exceção de uma, todas essas pessoas se entregaram ao Senhor. Alguns dos nossos irmãos mais formalistas temiam que eu fosse demasiado zelosa pela conversão das pessoas. Mas o tempo parecia-me tão curto que eu cria devessem todos, que possuíssem a esperança de uma bem-aventurada imortalidade e aguardassem a próxima vinda de Cristo, trabalhar sem cessar por aqueles que ainda estavam em pecados e se encontravam à beira de terrível ruína. T1 34 2 Conquanto fosse muito jovem, o plano da salvação era-me tão claro, e minha experiência pessoal tão assinalada que, considerando a questão, compreendi ser meu dever continuar meus esforços pela salvação de vidas preciosas, orar e confessar a Cristo em toda oportunidade. Todo o meu ser foi consagrado ao serviço de meu Mestre. Tomei a determinação de, acontecesse o que acontecesse, agradar a Deus e viver como alguém que esperava o Salvador voltar e recompensar os fiéis. Sentia-me semelhante a uma criancinha que se dirigisse a Deus como a seu pai, perguntando-Lhe o que queria que fizesse. Então, como me fosse explicado o meu dever, em cumpri-lo eu sentia a maior das felicidades. Provações peculiares algumas vezes me assediavam. Os mais experimentados do que eu, esforçavam-se por deter-me e diminuir o ardor de minha fé; mas, com sorrisos de Jesus a iluminar minha vida, e o amor de Deus no coração, prossegui em meu caminho com alegria. T1 34 3 Sempre que me recordo da experiência de minha infância, meu irmão, o confidente de minhas esperanças e temores, o sincero simpatizante de minha vida cristã, vêm-me à lembrança numa torrente de ternas memórias. Ele foi um daqueles a quem o pecado apresentou poucas tentações. Naturalmente consagrado, ele nunca procurou a amizade dos jovens e dissolutos, mas preferiu antes a companhia de cristãos, cuja conversação o instruísse nos caminhos da vida. Sua conduta prudente estava bem além do comportamento dos de sua idade; ele era gentil e pacífico, e sua mente estava quase que constantemente voltada para as coisas religiosas. Aqueles que o conheceram o apontavam como modelo à juventude, um exemplo vivo da graça e beleza do verdadeiro cristianismo. ------------------------Capítulo 4 -- Deixando a igreja metodista T1 35 1 A família de meu pai, de quando em quando, freqüentava a igreja metodista, e também as reuniões para estudos, realizadas em casas particulares. Uma noite, meu irmão Roberto e eu fomos à reunião de estudos. O pastor, que a devia presidir, estava presente. Ao chegar a vez de meu irmão dar testemunho, ele falou com grande humildade, se bem que com clareza, acerca da necessidade de um completo preparo para encontrar nosso Salvador, quando vier nas nuvens do céu com poder e grande glória. Enquanto meu irmão falava, uma luz celeste enrubesceu-lhe o rosto, usualmente pálido. Pareceu ser levado em espírito acima do ambiente em que se achava, e falou como se estivesse na presença de Jesus. Quando fui convidada para falar, levantei-me, com o espírito livre, com o coração cheio de amor e paz. Contei a história do meu grande sofrimento sob a convicção do pecado, e como finalmente recebera a bênção que havia tanto procurava -- completa conformidade com a vontade de Deus -- e exprimi minha alegria nas boas-novas da breve vinda de meu Redentor para levar Seus filhos ao lar. T1 35 2 Em minha simplicidade, eu esperava que meus irmãos e irmãs metodistas compreendessem meus sentimentos e se alegrassem comigo. Mas, fiquei desapontada. Muitas irmãs suspiravam e moviam suas cadeiras ruidosamente, voltando-me as costas. Eu não podia imaginar nada que houvesse dito para ofendê-las; e falei com brevidade, sentindo o frio ambiente de sua desaprovação. Quando acabei de falar, o pastor B perguntou-me se não seria mais agradável viver uma longa vida de utilidade, fazendo bem aos outros, do que vir Jesus imediatamente e destruir os pobres pecadores. Repliquei que anelava a vinda de Jesus. Então o pecado teria fim e desfrutaríamos para sempre a santificação, sem que houvesse o diabo para nos tentar e transviar. T1 36 1 Então ele perguntou se eu não desejaria antes morrer pacificamente em meu leito, do que passar pela dor de ser transformada, ainda viva, da mortalidade para a imortalidade. Respondi-lhe que desejava que Jesus viesse e levasse Seus filhos; que eu estava disposta a viver ou morrer conforme Deus desejasse e que suportaria com facilidade a dor que dura um só momento, um abrir e fechar de olhos. Que eu desejava que as rodas do tempo girassem velozmente e trouxessem o bem-vindo dia, quando corpos vis serão mudados e modelados segundo o corpo glorioso de Cristo. Também falei que quanto mais próxima do Senhor eu vivia, mais ardentemente ansiava por Seu aparecimento. A essa altura, muitos dos presentes pareciam estar muito incomodados. T1 36 2 Ao dirigir-se à classe, o pastor que conduzia o encontro expressou grande regozijo por estar à espera do milênio temporal, quando "a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar". Isaías 11:9. Ele ansiava contemplar esse glorioso período. Depois de encerrada a reunião, percebi que era tratada com visível frieza por aqueles que anteriormente tinham sido benévolos e amáveis comigo. Meu irmão e eu voltamos para casa, sentindo-nos tristes por ser tão mal compreendidos pelos nossos irmãos, e pelo assunto da breve volta de Jesus despertar-lhes tão severa oposição. Nós, porém, estávamos agradecidos porque podíamos discernir a preciosa luz e regozijarmo-nos em aguardar a vinda do Senhor. T1 36 3 Não muito tempo depois disso, de novo assistimos à reunião de estudos. Queríamos uma oportunidade para falar do precioso amor de Deus que nos animava o coração. Eu, especialmente, desejava falar da bondade e misericórdia do Senhor para comigo. Realizara-se em mim uma tão grande mudança que parecia ser meu dever aproveitar toda oportunidade para testificar do amor de meu Salvador. T1 37 1 Ao chegar a minha vez de falar, relatei as evidências que provavam que eu fruía o amor de Jesus e olhava para a frente com alegre expectação de logo encontrar o meu Redentor. A crença de que a vinda de Cristo estava próxima me havia estimulado a mente a buscar mais fervorosamente a santificação do Espírito de Deus. Neste ponto, o dirigente da classe interrompeu-me, dizendo: "Você recebeu a santificação pelo Metodismo, pelo Metodismo, irmã, não por uma teoria errônea." Fui compelida a confessar a verdade de que não era pelo Metodismo que meu coração havia recebido nova bênção, mas pelas verdades estimuladoras relativas ao aparecimento pessoal de Jesus. Por meio delas eu encontrara paz, alegria e perfeito amor. Assim terminou o meu testemunho, o último que eu daria na reunião de estudos com meus irmãos metodistas. T1 37 2 Roberto então falou com mansidão, conforme era o seu modo, mas de maneira clara e tocante que alguns choraram e ficaram muito comovidos; outros, porém, tossiam em sinal de desagrado e pareciam muito constrangidos. Depois de sairmos da classe, falamos de novo sobre a nossa fé, e maravilhamo-nos de que nossos irmãos e irmãs cristãos, de tal maneira não pudessem suportar que se lhes falasse uma palavra referente à vinda do nosso Salvador. Nós pensávamos que se eles amassem a Jesus como deveriam, não seria incômodo ouvir sobre Seu segundo advento; pelo contrário, haveriam de saudá-Lo com alegria. T1 37 3 Convencemo-nos de que não mais devíamos freqüentar a reunião da classe. A esperança do glorioso aparecimento de Cristo nos enchia o coração, e disso falaríamos quando nos levantássemos para dar testemunho. Isto parecia acender a ira dos presentes contra as duas humildes crianças que ousavam, a despeito da oposição, falar da fé que lhes enchia o coração de paz e felicidade. Era evidente que não podíamos ter liberdade na reunião de estudos, pois nosso testemunho provocava ao final da reunião, escárnio e sarcasmo de irmãos e irmãs a quem tínhamos respeitado e estimado. T1 38 1 Nessa época, os adventistas mantinham reuniões no Beethoven Hall. Meu pai e toda a nossa família as freqüentavam com regularidade. Pensava-se que o segundo advento ocorreria em 1843. O tempo parecia tão curto para salvar pecadores, que eu resolvi fazer tudo o que estivesse ao meu alcance a fim de levar os pecadores à luz da verdade. Porém, parecia impossível a alguém tão jovem, e de saúde frágil, fazer muito nessa grande obra. T1 38 2 Eu tinha duas irmãs em casa: Sara, que era vários anos mais velha do que eu, e minha irmã gêmea Elizabeth. Trocamos idéias e decidimos ganhar o dinheiro que pudéssemos para empregar na compra de livros e folhetos para distribuição gratuita. Isso era o melhor que podíamos fazer, e alegremente fizemos esse pouco. Eu ganhava apenas vinte e cinco centavos por dia, mas meu vestuário era simples; nada era gasto em ornamentos desnecessários, pois a ostentação vã me parecia pecaminosa. Assim é que sempre tinha em depósito um pequeno fundo com que comprar livros convenientes. Estes eram colocados nas mãos de pessoas experientes a fim de os espalharem. T1 38 3 Cada folha destes impressos parecia preciosa aos meus olhos; pois era um mensageiro de luz ao mundo, ordenando às pessoas que se preparassem para o grande evento que estava às portas. Dia após dia eu me sentava em minha cama, apoiada por travesseiros, executando minha tarefa com dedos trêmulos. Quão cuidadosamente eu punha de lado as preciosas moedinhas de prata ganhas, que seriam gastas em literatura com o objetivo de iluminar os que estavam em trevas. Nenhuma tentação de gastar meus rendimentos em satisfação pessoal me assediava. A salvação de seres humanos era a responsabilidade que me preocupava, e meu coração doía por aqueles que se gabavam de estar vivendo em segurança, enquanto a mensagem de advertência estava sendo dada ao mundo. T1 39 1 Certo dia eu ouvi uma conversa entre mamãe e minha irmã, a respeito de uma palestra que haviam ouvido recentemente, sobre o fato de que a alma não possuía imortalidade natural. Alguns textos comprobatórios citados pelo pastor foram repetidos. Lembro-me de alguns que muito me impressionaram: "A alma que pecar, essa morrerá." Ezequiel 18:4. "Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma." Eclesiastes 9:5. "A qual, a seu tempo, mostrará o bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; Aquele que tem, Ele só, a imortalidade." 1 Timóteo 6:15, 16. Dará "a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção [imortalidade]." Romanos 2:7. "Por que", disse mamãe, após citar as passagens precedentes, "deveriam eles buscar por algo que já possuem?" Eu ouvia essas novas idéias com intenso e aflitivo interesse. Quando a sós com minha mãe, perguntei-lhe se ela realmente cria que a alma não era imortal. Ela respondeu que receava havermos estado em erro nesse assunto, bem como em outros. T1 39 2 "Mas, mamãe", volvi , "a senhora realmente crê que a alma repousa na sepultura até a ressurreição? Pensa que o cristão, quando morre, não vai imediatamente para o Céu, nem o pecador para o inferno?" T1 39 3 Ela respondeu: "A Bíblia não nos dá provas de que haja um inferno eternamente a queimar. Se houvesse tal lugar, ele deveria ser mencionado no Livro Sagrado." T1 39 4 "Ora, mamãe", exclamei espantada, "esta é uma estranha maneira de a senhora falar! Se a senhora crê nessa estranha teoria, não deixe ninguém ter conhecimento disso, pois temo que os pecadores se sentiriam seguros com essa crença e nunca desejariam buscar ao Senhor." T1 39 5 "Se essa é uma sólida verdade da Bíblia", replicou, "em lugar de impedir a salvação dos pecadores, será um meio de conquistá-los para Cristo. Se o amor de Deus não constranger o rebelde, os terrores de um inferno eterno não o levarão ao arrependimento. Além disso, não parece um modo apropriado ganhar pessoas para Jesus, apelando a uma das mais baixas faculdades da mente, o medo abjeto. O amor de Jesus atrai; ele subjugará o coração mais endurecido." T1 40 1 Não foi senão depois de alguns meses após essa conversa, que ouvi algo a respeito do assunto. Mas durante esse tempo, pensei muito sobre o tema. Quando ouvi uma pregação sobre ele, cri que devia ser verdade. Dessa ocasião em diante, a luz sobre o sono da morte raiou em minha mente, o mistério que envolvia a ressurreição desapareceu, e o próprio grande evento assumiu nova e sublime importância. Minha mente fora muito perturbada pelos esforços em reconciliar a imediata recompensa ou punição dos mortos, com os indubitáveis fatos da ressurreição e do juízo. Se após a morte a alma entrava na bem-aventurança ou na desgraça perpétua, onde cabia a necessidade da ressurreição do pobre e corruptível corpo? T1 40 2 Mas essa nova e bela crença ensinou-me a razão por que os escritores inspirados se demoraram tanto sobre a ressurreição do corpo. Foi porque o ser inteiro estava dormindo na sepultura. Eu podia agora perceber claramente o erro de nossa posição anterior sobre o tema. A confusão e inutilidade de um juízo final, após as pessoas terem sido julgadas uma vez e decidida sua sorte, tornaram-se-me muito claras agora. Vi que a esperança dos enlutados estava em olhar adiante, ao glorioso dia quando o Doador da vida romper os grilhões da sepultura e os justos mortos ressurgirem, abandonando seu cárcere para serem revestidos da gloriosa vida imortal. T1 40 3 Toda a nossa família ficou interessada na doutrina da breve volta do Senhor. Por muito tempo meu pai havia sido considerado um dos pilares da igreja metodista que freqüentava, e todos os nossos familiares haviam sido seus membros ativos. Mas não fizemos segredo de nossa nova crença, embora não tentássemos impô-la a outros, nem manifestássemos qualquer sentimento de hostilidade para com nossa igreja. O pastor metodista, porém, fez-nos uma visita especial, e aproveitou a ocasião para informar que nossa fé e o metodismo não poderiam harmonizar-se. Ele não quis saber das razões de nossa crença nem fez qualquer referência à Bíblia, de forma a convencer-nos de nosso erro, mas declarou que nós havíamos adotado uma nova e estranha crença, a qual a igreja metodista não podia aceitar. T1 41 1 Meu pai replicou dizendo que ele estava enganado em chamá-la nova e estranha doutrina, pois Cristo mesmo, em Seus ensinos aos discípulos, havia pregado o segundo advento. Ele disse: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver estejais vós também." João 14:2, 3. Quando ascendeu ao Céu diante dos olhos atônitos dos discípulos e uma nuvem O ocultou, estando Seus fiéis seguidores com os olhos fitos no Senhor que desaparecia, "eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o céu O vistes ir." Atos dos Apóstolos 1:10, 11. T1 41 2 "E", disse papai, entusiasmando-se com o assunto, "o inspirado apóstolo Paulo escreveu uma carta para encorajar seus irmãos tessalonicenses, dizendo: 'E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o Céu, com os anjos do Seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder, quando vier para ser glorificado nos Seus santos e para Se fazer admirável, naquele Dia, em todos os que crêem (porquanto nosso testemunho foi crido entre vós).' 'Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.' 2 Tessalonicenses 1:7-10; 1 Tessalonicenses 4:16-18. T1 42 1 "Essa é a mais alta autoridade para nossa fé. Jesus e Seus apóstolos trataram longamente do tema do segundo advento com alegria e triunfo, e os santos anjos proclamaram que Cristo, que subiu ao Céu, virá novamente. Esta é a nossa ofensa: Crer na palavra de Jesus e de Seus discípulos. Tal doutrina é antiga e não traz nenhum traço de heresia." T1 42 2 O pastor não tentou apresentar um simples texto que nos provaria estarmos em erro, mas desculpou-se sob pretexto de falta de tempo. Ele aconselhou que nos retirássemos discretamente da igreja e evitássemos dar publicidade ao fato. Estávamos conscientes de que outros irmãos se encontravam em situação similar pela mesma causa, e não desejávamos dar a entender que estávamos envergonhados de reconhecer nossa fé, ou incapazes de sustentá-la pelas Escrituras. Assim, meus pais insistiram que eles fossem informados das razões de nossa saída. T1 42 3 A única resposta a essa colocação foi uma evasiva declaração de que estávamos andando de modo contrário às normas da igreja, e o melhor caminho seria retirar-nos voluntariamente para evitar um processo regular de exclusão. Respondemos que preferíamos um processo regular e exigíamos saber de qual pecado nos acusavam, pois estávamos conscientes de que não havia nenhum erro em esperar e amar o aparecimento do Salvador. T1 42 4 Não muito tempo depois, fomos notificados para estar presentes na reunião a ser realizada na sacristia da igreja. Havia poucos presentes. A influência de papai e sua família era tal, que os oponentes não desejavam apresentar nosso caso diante de um grande número de membros. A única acusação feita foi que estávamos contrariando as normas da igreja. Como resposta à nossa pergunta de quais regras havíamos infringido, foi declarado após um instante de hesitação, que assistíramos a outras reuniões e negligenciáramos reunir-nos regularmente em nossa congregação. Declaramos que parte da família havia estado no campo por algum tempo, e que ninguém que ficou na cidade se ausentara das reuniões da igreja mais do que umas poucas semanas, e que foram moralmente compelidos a permanecer distantes porque o testemunho que davam encontrou acentuada desaprovação. Lembramos também que certas pessoas que não haviam assistido às reuniões por um ano, eram ainda mantidos como membros regulares. T1 43 1 Foi-nos perguntado se queríamos confessar que havíamos nos afastado das normas e que nos comprometíamos a respeitá-las no futuro. Respondemos que não nos atrevíamos a negar nossa fé ou a sagrada verdade de Deus; que não podíamos renunciar a esperança da breve volta de nosso Redentor; que, apesar de a terem chamado de heresia, nós continuaríamos a adorar ao Senhor. Meu pai recebeu, durante sua defesa, a bênção de Deus e todos deixamos a sacristia com o espírito livre, felizes com a percepção de termos agido corretamente e com o aprovador sorriso de Jesus. T1 43 2 No domingo seguinte, ao início do ágape*, o pastor que presidia a reunião leu nossos nomes, sete ao todo, como desligados da igreja. Ele declarou que não estávamos sendo cortados por qualquer erro ou conduta imoral, pois possuíamos caráter impoluto e invejável reputação, mas que éramos culpados de andar em oposição às normas da Igreja Metodista. Declarou que a porta estava agora aberta e que todos os que eram culpados de semelhante rompimento de normas, deveriam ser tratados da mesma maneira. T1 43 3 Havia na igreja muitos que aguardavam o aparecimento do Salvador, e essa ameaça fora feita com o propósito de amedrontá-los e submetê-los. Em alguns casos, essa política trouxe os resultados esperados, e o favor de Deus foi trocado por um lugar na igreja. Muitos criam, mas não ousavam confessar sua fé, com medo de que fossem expulsos da sinagoga. Mas outros a deixaram logo após e juntaram-se àqueles que estavam buscando ao Salvador. T1 43 4 Nesse tempo, as palavras do profeta foram inestimavelmente preciosas: "Vossos irmãos, que vos aborrecem e que para longe vos lançam por amor do Meu nome, dizem: O Senhor seja glorificado, para que vejamos a vossa alegria! Mas eles serão confundidos." Isaías 66:5. ------------------------Capítulo 5 -- Oposição de irmãos formalistas T1 44 1 Por seis meses, nenhuma nuvem se interpôs entre mim e meu Salvador. Onde quer que se apresentasse uma oportunidade, eu dava meu testemunho e era grandemente abençoada. Por vezes, o Espírito do Senhor vinha sobre mim com tal poder, que minhas forças diminuíam. Para alguns que haviam saído das igrejas tradicionais, isso era um teste, e faziam observações que muito me afligiam. Muitos não podiam acreditar que alguém pudesse ser tão plena do Espírito Santo, enquanto separada de todas as suas forças. Minha posição era extremamente penosa. Comecei a ponderar comigo mesma se não seria justificável deixar de testemunhar durante as reuniões e reprimir meus sentimentos, quando houvesse tal oposição no coração de alguns que eram mais avançados do que eu em idade e experiência. T1 44 2 Adotei, por um tempo, a estratégia do silêncio, tentando convencer-me de que omitir meu testemunho não impediria de viver fielmente minha religião. Muitas vezes fui fortemente impressionada de que era meu dever falar nas reuniões, mas deixei de assim fazer e senti que havia ofendido o Espírito de Deus. Afastei-me das reuniões algumas vezes, porque essas eram freqüentadas por aqueles a quem meu testemunho aborrecia. Contive-me para não ofender meus irmãos e permiti assim que o temor do homem rompesse a constante comunhão com Deus, que havia trazido bênção ao meu coração durante tantos meses. T1 44 3 Havíamos estabelecido diversos lugares na cidade para acomodar aqueles que desejavam assistir às reuniões de oração. A família que mais fortemente se opusera a mim, assistiu a uma dessas reuniões. Nessa ocasião, enquanto a congregação se achava em oração, o Espírito do Senhor Se fez presente à reunião, e um dos membros dessa família ficou prostrado como morto. Seus parentes choravam, friccionavam-lhe as mãos e procuravam reanimá-lo. Por fim, ele recuperou parcialmente as forças para louvar a Deus, abrandar seus temores e aclamar em triunfo a notável evidência do poder de Deus sobre si. O jovem não pôde voltar para casa naquela noite. T1 45 1 A família creu ser essa uma manifestação do Espírito de Deus, mas não se convenceu que foi o mesmo poder que repousara sobre mim, separando-me das forças e enchendo meu coração de paz e amor por Jesus. Eles atestaram que minha sinceridade e total honestidade não poderia ser posta em dúvida, mas consideravam que eu enganava a mim mesma, em tomar pelo poder de Deus o que era apenas resultado de esgotamento nervoso. T1 45 2 Minha mente estava em grande perplexidade em conseqüência dessa oposição, e como o tempo da reunião se aproximava, fiquei em dúvida se era bom para mim assistir ou não. Alguns dias antes, fui acometida de grande aflição por causa dos sentimentos manifestados contra mim. Finalmente decidi ficar em casa e assim estar a salvo das críticas dos irmãos. Ao tentar orar, repeti estas palavras várias vezes: "Senhor, que queres que [eu] faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. A resposta que senti em meu coração parecia ordenar-me que tivesse confiança em meu Pai celestial e esperasse pacientemente o conhecimento de Sua vontade. Entreguei-me ao Senhor em singela certeza, como a de uma criança, lembrando que Ele havia prometido àqueles que O seguissem que jamais andariam em escuridão. T1 45 3 Um senso de dever impeliu-me a ir à reunião. Fui com a plena segurança de que tudo correria bem. Enquanto estávamos curvados diante do Senhor, meu coração se dilatou em oração e se encheu com a paz que só Cristo pode proporcionar. Eu me regozijava no amor do Salvador e minhas forças desapareceram. Com fé semelhante a de uma criança eu apenas pude dizer: "O Céu é meu lar e Cristo é o meu Redentor." T1 46 1 Alguém da família antes mencionada que era contra as manifestações do poder divino sobre mim, nessa ocasião afirmou crer estar eu sob incitamento, e achava ser meu dever dominá-lo. Mas, pensava ele, em lugar de fazer isso eu estava incentivando essas emoções como evidência do favor divino. Suas dúvidas e oposição não me afetavam mais, pois eu parecia estar escudada pelo Senhor e erguida acima de todas as influências exteriores. Ele, porém, mal acabara de falar quando um homem forte, um consagrado e humilde cristão, foi prostrado por terra pelo poder de Deus, diante de seus olhos, e a sala encheu-se com a presença do Espírito Santo. T1 46 2 Depois de ele se recuperar, eu estava muito feliz por dar meu testemunho em favor de Cristo e falar de Seu amor por mim. Confessei a falta de fé nas promessas de Deus e meu erro em impedir as orientações do Espírito por medo dos homens, e reconheci que, apesar de minhas dúvidas, Ele havia me concedido provas surpreendentes de Seu amor e graça sustentadora. O irmão que se havia oposto a mim ergueu-se, e em lágrimas confessou que seus sentimentos a meu respeito haviam sido equivocados. Humildemente pediu-me perdão e disse: "Irmã Ellen, nunca mais porei sequer uma palha em seu caminho. Deus mostrou-me a frieza e obstinação de meu coração, que foram subvertidas pela demonstração de Seu poder. Eu estava muito errado." T1 46 3 Então, voltando-se para o povo, disse: "Quando a irmã Ellen me pareceu tão feliz, pensei: Por que eu não me sinto assim? Por que o irmão R não recebe tais evidências? pois sempre achei que ele era um devoto cristão, todavia, tal poder não repousou sobre ele. Ergui uma oração silenciosa para que, se fosse pela influência do Espírito de Deus, o irmão R tivesse essa experiência ainda naquela noite. T1 46 4 Quase no mesmo momento que esse desejo brotou no meu coração, o irmão R caiu prostrado por terra mediante o poder divino, clamando: "'Que o Senhor opere!' Jeremias 21:2. Meu coração está convencido de que tenho estado lutando contra o Espírito Santo, mas não mais desejo desgostá-Lo por minha obstinada incredulidade. Bem-vinda, luz! Bem-vindo, Jesus! Eu estava apostatado e endurecido, sentindo-me ofendido se alguém louvava a Deus e manifestava transbordante alegria em Seu amor; mas agora meus sentimentos mudaram, minha oposição acabou, Jesus abriu-me os olhos e ainda posso erguer-Lhe louvores. Eu dissera coisas amargas e cortantes sobre a irmã Ellen, pelas quais ainda me entristeço. Peço-lhe perdão e a todos os que se acham aqui presentes." T1 47 1 O irmão R deu, então, seu testemunho. Seu rosto estava iluminado com a glória do Céu, enquanto louvava ao Senhor pelas maravilhas que Ele realizara naquela noite. Disse ele: "Este lugar é terrivelmente solene por causa da presença do Altíssimo. Irmã Ellen, no futuro você terá nossa ajuda e encorajadora simpatia, em lugar da cruel oposição que lhe tem sido feita. Temos sido cegos às manifestações do Santo Espírito de Deus." T1 47 2 Todos os opositores foram levados a ver seu erro e a confessar que a obra era realmente do Senhor. Na reunião de oração que aconteceu logo em seguida, o irmão que havia confessado estar errado em sua oposição, experimentou o poder de Deus de tal maneira, que seu rosto brilhou com a luz celestial e ele caiu desamparado ao chão. Quando recobrou as forças, novamente reconheceu que havia ignorantemente lutado contra o Espírito do Senhor, nutrindo sentimentos antagônicos a meu respeito. Em um novo encontro de oração, outro membro da mesma família passou por experiência semelhante e deu o mesmo testemunho. Poucas semanas mais tarde, enquanto a grande família do irmão P estava reunida em oração, em sua casa, o Espírito de Deus moveu-Se através da sala e prostrou os curvados suplicantes. Meu pai chegou logo em seguida e os encontrou todos, pais e filhos, submetidos ao poder do Senhor. T1 48 1 A fria formalidade começou a se dissolver ante a poderosa influência do Altíssimo. Todos os que se haviam oposto a mim confessaram que haviam ofendido o Espírito Santo, e uniram-se comigo em simpatia e amor pelo Salvador. Meu coração estava jubiloso porque a misericórdia divina suavizara-me o caminho, e recompensara tão generosamente minha fé e confiança. Unidade e paz agora moravam entre nosso povo que aguardava a vinda do Senhor. ------------------------Capítulo 6 -- A experiência do advento T1 48 2 Com vigilância e tremor aproximávamo-nos do tempo* em que se esperava aparecesse o nosso Salvador. Com solene fervor, buscávamos, como um povo, purificar nossa vida a fim de estar prontos para O encontrar em Sua volta. Apesar da oposição de pastores e igrejas, o Beethoven Hall, na cidade de Portland, estava lotado todas as noites, especialmente aos domingos. O Pastor Stockman era um homem de profunda piedade. Não desfrutava de boa saúde, mas quando se punha perante o povo, parecia elevar-se acima de sua enfermidade física e sua face se iluminava com a percepção de estar ensinando a sagrada verdade de Deus. T1 48 3 Havia um solene e penetrante poder em suas palavras, que atingia muitos corações. Ele, às vezes, expressava um fervente desejo de viver até que pudesse saudar o Salvador vindo nas nuvens do céu. Sob seu ministério, o Espírito de Deus convencera a muitos pecadores e os levara ao aprisco de Cristo. Ainda se realizavam reuniões em casas particulares em diferentes partes da cidade, com os melhores resultados. Os crentes* animavam-se a trabalhar por seus amigos e parentes, e dia a dia multiplicavam-se as conversões. T1 49 1 Todas as classes acorriam às reuniões do Beethoven Hall. Ricos e pobres, grandes e humildes, pastores e leigos, estavam todos por vários motivos, ansiosos por ouvir a doutrina do segundo advento. Muitos vinham e, não encontrando lugar nem para ficarem de pé, voltavam desapontados. A ordem seguida nas reuniões era simples. Fazia-se usualmente uma breve e incisiva palestra, concedendo-se em seguida liberdade para exortações gerais. Havia, em regra, o maior silêncio possível a uma tão grande multidão. O Senhor continha o espírito de oposição enquanto Seus servos expunham as razões de sua fé. Algumas vezes o instrumento era fraco, mas o Espírito de Deus dava peso e poder à Sua verdade. Sentia-se a presença dos santos anjos na reunião, e várias pessoas eram acrescentadas diariamente ao pequeno núcleo de crentes. T1 49 2 Uma ocasião, enquanto o Pastor Stockman estava pregando, o Pastor Brown, pastor batista cristão, estava assentado à plataforma, escutando o sermão com intenso interesse. Ficou profundamente comovido e subitamente seu rosto empalideceu como o de um morto; vacilou na cadeira, e o Pastor Stockman tomou-o nos braços precisamente quando ia caindo ao chão, e o deitou no sofá atrás do estrado, onde ficou sem forças até o sermão terminar. T1 49 3 Levantou-se então, com o rosto ainda pálido, mas resplendente com a luz do Sol da Justiça, e deu um testemunho muito impressionante. Parecia receber santa unção do alto. Ele tinha por costume falar vagarosamente, de maneira fervorosa, sem qualquer agitação. Nessa ocasião, suas palavras solenes e comedidas traziam consigo um novo poder, enquanto advertia os pecadores e seus irmãos pastores a porem de lado a incredulidade, o preconceito e a fria formalidade e, semelhantemente aos nobres bereanos, pesquisarem os Sagrados Escritos, comparando escritura com escritura, para apurar se essas coisas eram ou não verdadeiras. Ele rogava aos pastores presentes que não se sentissem ofendidos pela maneira direta e penetrante pela qual o Pastor Stockman apresentava o solene assunto, que dizia respeito a todos. T1 50 1 Disse ele: "Desejamos alcançar o povo; queremos que os pecadores sejam convencidos e verdadeiramente se arrependam, antes que lhes seja muito tarde para serem salvos, a fim de que não se cumpram neles a lamentação: 'Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.' Jeremias 8:20. Irmãos pastores dizem que nossas setas os atingiram. Farão eles a gentileza de se pôr de lado e permitir que atinjamos o coração dos pecadores? Se eles fizeram a si mesmos alvos de nossas advertências, não têm razão para protestarem contra os ferimentos que receberam. Ponham-se à margem, irmãos, e vocês não serão atingidos." T1 50 2 Relatou sua experiência com tal simplicidade e candura, que muitos dos que antes haviam tido preconceito foram tocados até chorar. Sentia-se a influência do Espírito Santo em suas palavras, e via-se em seu rosto. Com santa exaltação, declarou ousadamente que havia tomado a Palavra de Deus como sua conselheira; que se lhe haviam dissipado as dúvidas e fortalecido a fé. Com fervor convidou seus irmãos os pastores, os membros da igreja, os pecadores e incrédulos para examinarem a Bíblia por si mesmos, e insistiu que não deixassem ninguém afastá-los do propósito de descobrir a verdade. T1 50 3 O Pastor Brown, nem na ocasião e nem depois, rompeu sua ligação com a Igreja Batista Cristã, e foi tido em grande consideração por seu povo. Ao terminar ele de falar, os que desejavam as orações do povo de Deus foram convidados a se levantar. Centenas atenderam ao convite. O Espírito Santo repousava sobre a reunião. O Céu e a Terra pareciam aproximar-se. A reunião durou até avançada hora da noite. O poder do Senhor foi sentido sobre jovens, adultos e idosos. T1 50 4 Enquanto voltávamos para nossas casas por diversos caminhos, uma voz louvando a Deus chegou até nós; e como que em resposta, outras vozes aqui e acolá aclamavam: "Glória a Deus; 'o Senhor reina'"! Salmos 96:10. Os homens iam para seus lares com louvores nos lábios e o alegre som ressoava pelo tranqüilo ar noturno. Ninguém que assistiu a essas reuniões pôde se esquecer daquelas cenas de profundo interesse. T1 51 1 Aqueles que sinceramente amam a Jesus podem apreciar os sentimentos dos que aguardavam com intenso anelo a vinda de seu Salvador. O ponto culminante estava próximo do cumprimento. O tempo em que esperávamos encontrá-Lo estava muito próximo. Aproximávamo-nos dessa hora com calma solenidade. Os verdadeiros crentes permaneciam em doce comunhão com Deus -- um penhor da paz que lhes estava garantida no brilhante futuro. Ninguém que experimentou essa esperança e fé poderá jamais esquecer aquelas preciosas horas de espera. T1 51 2 Os negócios seculares foram, pela maioria, postos de lado por algumas semanas. Cuidadosamente examinávamos cada pensamento e emoção de nosso coração, como se estivéssemos em nosso leito de morte e em poucas hora fôssemos fechar os olhos para sempre. Ninguém preparara "vestes de ascensão" para o grande evento; sentíamos a necessidade de evidência interior de que estávamos preparados para encontrar a Cristo, e nossas vestes brancas eram a pureza de coração, caráter limpo do pecado pelo sangue expiatório de nosso Salvador. T1 51 3 Mas o tempo de expectação passou. Esse foi o primeiro grande teste sobre aqueles que criam e esperavam que Jesus viesse nas nuvens do Céu. O desapontamento do expectante povo de Deus foi enorme. Os escarnecedores estavam triunfantes e conquistaram os fracos e covardes para suas fileiras. Alguns que pareciam possuir verdadeira fé pareciam ter sido persuadidos apenas pelo medo. Agora sua coragem retornara com o passar do tempo e se uniram audaciosamente aos zombadores, declarando que nunca foram enganados realmente pela doutrina de Miller, que era um louco fanático. Outros, naturalmente submissos ou vacilantes, abandonaram secretamente a causa. Eu pensava: Se Cristo tivesse realmente vindo, em que se tornariam aqueles fracos e mutáveis? Eles professavam amar e aguardar a vinda de Jesus, mas quando Ele não veio, pareciam muito aliviados e retornaram ao estado de descuido e desrespeito à verdadeira religião. T1 52 1 Estávamos perplexos e desapontados, todavia, não renunciamos à nossa fé. Muitos ainda se apegavam à esperança de que Jesus não retardasse por muito mais tempo a Sua vinda; a palavra do Senhor era certa, não poderia falhar. Sentimos que havíamos cumprido com nosso dever, que havíamos vivido de acordo com nossa preciosa fé. Ficamos decepcionados, mas não desanimados. Os sinais dos tempos indicavam que o fim de todas as coisas estava próximo; e que precisávamos vigiar e nos mantermos em prontidão para a vinda do Senhor em qualquer tempo. Devíamos aguardar com esperança e confiança, não negligenciando as reuniões para instrução, encorajamento e conforto, para que nossa luz pudesse brilhar em meio à escuridão do mundo. T1 52 2 O cálculo do tempo era tão simples e claro que mesmo uma criança podia entendê-lo. Desde a data do decreto do rei da Pérsia, encontrado em Esdras 7, que havia sido baixado em 457 a.C., os 2.300 anos de Daniel 8:14 deviam terminar em 1843. Dessa maneira, havíamos olhado para o fim desse ano como o tempo da vinda do Senhor. Ficamos tristemente desapontados quando o tempo se passou e o Salvador não veio. T1 52 3 Não foi percebido, de início, que se o decreto não entrou em vigor no princípio de 457 a.C., os 2.300 anos não se completariam no fim de 1843. Apurou-se que o decreto foi promulgado quase no final de 457 a.C., e portanto, o período profético deveria alcançar o outono de 1844. Por conseguinte, a visão do tempo não tardou, embora assim parecesse. Apoiamo-nos na linguagem do profeta: "Porque a visão ainda é para o tempo determinado, e até o fim falará, e não mentirá; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará." Habacuque 2:3. T1 52 4 Deus provou Seu povo na passagem do tempo em 1843. O erro cometido na contagem dos períodos proféticos não foi descoberto de uma vez, mesmo por homens cultos que se opunham aos pontos de vista daqueles que aguardavam a vinda de Cristo. Os eruditos declararam que o Sr. Miller estava correto em seu cálculo de tempo, embora o questionassem com respeito ao evento que ocorreria no fim desse período. Mas eles e o expectante povo de Deus incorreram em erro comum na questão de tempo. T1 53 1 Nós críamos plenamente que Deus, em Sua sabedoria, determinou que Seu povo enfrentasse tal desapontamento, o qual foi bem planejado para revelar o coração e o caráter dos que haviam professado esperar e rejubilar-se na vinda do Senhor. Aqueles que aceitaram a mensagem do primeiro anjo (ver Apocalipse 14:6, 7) por temor do juízo divino, e não por causa de amarem a verdade e desejarem uma herança celestial, agora surgiam em sua verdadeira condição. Esses estavam entre os primeiros a ridicularizar os desapontados, que sinceramente desejavam e amavam o aparecimento de Jesus. T1 53 2 Os que passaram pela decepção não foram deixados em trevas; pois, ao pesquisarem o período profético com fervorosa oração, o erro foi descoberto e o traçado da pena profética através do tempo de tardança visto claramente. Em meio à jubilosa expectativa da vinda de Cristo, a aparente demora da visão não havia sido levada em conta, tornando-se uma triste surpresa. Não obstante, essa aflição era necessária para desenvolver e fortalecer os crentes sinceros. T1 53 3 Nossas esperanças estavam agora centralizadas na vinda do Senhor para 1844. Esse também era o tempo para a mensagem do segundo anjo que, voando pelo meio do Céu, dizia em grande voz: "Caiu! caiu Babilônia, aquela grande cidade!" Apocalipse 14:8. Essa mensagem foi primeiramente proclamada pelos servos de Deus no verão de 1844. Como resultado, muitos abandonaram as igrejas caídas. Em ligação com essa mensagem, foi dado o clamor da meia-noite*: "Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro!" Mateus 25:6. Em toda parte do país, raiou a luz no tocante a essa mensagem e o clamor despertou a milhares. Foi de cidade a cidade, de aldeia a aldeia, às mais afastadas regiões do país. Atingiu os cultos e talentosos, bem como os obscuros e humildes. T1 54 1 Esse foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração transbordava de alegre expectativa; mas sentia grande dó e ansiedade pelos que se achavam desanimados e não tinham esperança em Jesus. Unimo-nos, como um só povo, em fervorosa oração para alcançar uma verdadeira experiência e inequívoca prova de nossa aceitação da parte de Deus. T1 54 2 Necessitávamos de grande paciência, pois os escarnecedores eram muitos. Éramos freqüentemente abordados com irônicas referências ao nosso desapontamento anterior. "Vocês ainda não subiram? Quando esperam subir?" e outras zombarias semelhantes eram muitas vezes lançadas sobre nós por nossos conhecidos mundanos, e mesmo por alguns professos cristãos que aceitavam a Bíblia, mas falharam em aprender suas grandes e importantes verdades. Seus olhos cegados nada pareciam ver senão um vago e distante significado na solene advertência: "Porquanto [Deus] tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo" (Atos dos Apóstolos 17:31), e na certeza de que os santos serão arrebatados para se encontrarem com o Senhor nos ares. T1 54 3 As igrejas ortodoxas usaram de todos os meios para impedir que se propagasse a crença na breve vinda de Cristo. Nas suas reuniões não se dava liberdade àqueles que costumavam mencionar sua esperança na breve vinda de Jesus. Os que professavam amar a Jesus escarnecedoramente rejeitavam as boas novas de que Aquele que diziam ser o seu melhor Amigo, devesse logo visitá-los. Estavam agitados e enraivecidos contra os que proclamavam as novas de Sua vinda e se regozijavam de muito breve contemplá-Lo em glória. T1 54 4 Cada momento me parecia ser da máxima importância. Eu pressentia que estávamos trabalhando para a eternidade, e que os descuidosos e indiferentes se achavam no maior perigo. Nada me obscurecia a fé, e eu me apegava às preciosas promessas de Jesus. Ele dissera a Seus discípulos: "Pedi, e recebereis." João 16:24. Eu cria firmemente que todo pedido de acordo com a vontade de Deus certamente me seria concedido. Prostrei-me humildemente aos pés de Jesus, com o coração em harmonia com a Sua vontade. T1 55 1 Muitas vezes visitava famílias e empenhava-me em fervorosa oração com aqueles que estavam oprimidos por temores e desânimo. Minha fé era tão forte que nunca duvidava, um momento que fosse, de que Deus atendesse as minhas orações. Sem uma única exceção, fruíamos a bênção e paz de Jesus em resposta às nossas humildes petições, e luz e alegria animavam o coração dos desesperados. T1 55 2 Com diligente exame de consciência e humildes confissões, chegamos devotadamente ao tempo da expectação. Todas as manhãs sentíamos que nosso primeiro trabalho era assegurar-nos de que nossa vida estava reta diante de Deus. Aumentava o nosso interesse de uns para com os outros; orávamos muito, juntos, e uns pelos outros. Congregávamo-nos nos pomares e bosques para ter comunhão com Deus e dirigir-Lhe nossas petições, sentindo nós mais completamente Sua presença quando rodeados por Suas obras naturais. As alegrias da salvação nos eram mais necessárias do que a comida e a bebida. Se nuvens nos obscureciam o espírito, não ousávamos repousar ou dormir antes que fossem varridas pela certeza de que éramos aceitos pelo Senhor. T1 55 3 Minha saúde não estava bem; meus pulmões haviam sido seriamente afetados e minha voz falhava. O Espírito de Deus freqüentemente repousava sobre mim com grande poder, e meu frágil organismo dificilmente podia suportar a glória que inundava meu coração. Parecia que eu respirava a atmosfera do Céu e jubilava ante a perspectiva de mui brevemente encontrar-me com meu Redentor e viver para sempre à luz de Sua face. T1 55 4 O povo expectante de Deus aproximava-se da hora em que ternamente esperava que suas alegrias se completassem na vinda do Salvador. Mas de novo passou o tempo, sem qualquer demonstração do advento de Jesus. Era difícil assumirmos os cuidados da vida que julgáramos para sempre deixados de lado. Foi amargo o desapontamento que atingiu o pequeno rebanho, cuja fé tinha sido tão forte, e tão elevada a esperança. Estávamos, porém, surpresos de que nos sentíssemos tão livres no Senhor, e tão fortemente fôssemos amparados por Sua força e graça. T1 56 1 A experiência do ano anterior, contudo, repetira-se em maior proporção. Grande número de pessoas renunciara a sua fé. Alguns que tinham sido muito confiantes, ficaram tão profundamente feridos em seu orgulho, que queriam como que fugir do mundo. Como Jonas, queixavam-se de Deus, e preferiam a morte à vida. Os que haviam baseado sua fé na evidência de outros, e não na Palavra de Deus, estavam de novo prontos para mudar de opinião. Os hipócritas que haviam pretendido iludir ao Senhor e a si mesmos com seu falso arrependimento e devoção, agora se sentiam aliviados do perigo iminente e abertamente se opunham à causa que haviam, há pouco, professado amar. T1 56 2 Os fracos e os ímpios uniram-se em declarar que não podia haver mais temores e expectativas agora. O tempo havia passado, o Senhor não viera, e o mundo permaneceria o mesmo por milhares de anos. O segundo grande teste revelara a massa de inúteis detritos que haviam sido arrastados pela poderosa corrente da fé adventista, e permanecido por algum tempo entre os verdadeiros crentes e sinceros obreiros. T1 56 3 Ficamos desapontados, mas não desanimados. Resolvemos submeter-nos pacientemente ao processo de purificação que Deus julgava necessário para nós, e aguardar com paciente esperança que o Salvador remisse Seus filhos provados e fiéis. T1 57 4 Estávamos firmes na crença de que a pregação do tempo definido era de Deus. Foi isso que levou os homens a examinar a Bíblia diligentemente, descobrindo verdades que antes não haviam percebido. Jonas foi mandado por Deus para proclamar nas ruas de Nínive que dentro de quarenta dias a cidade seria subvertida; Deus, porém, aceitou a humilhação dos ninivitas, e lhes prolongou o período de graça. Contudo, a mensagem que Jonas levara, foi enviada por Deus. Nínive foi provada de acordo com Sua vontade. O mundo olhava para a nossa esperança como uma ilusão, e nosso desapontamento como o seu conseqüente fracasso. T1 57 1 As palavras do Salvador na parábola do servo negligente aplicam-se mui eficazmente àqueles que ridicularizam a iminente vinda do Filho do homem: "Porém, se aquele mal servo disser consigo: Meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos, e a comer, e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas." Mateus 24:48-51. T1 57 2 Encontrávamos em todos os lugares os escarnecedores sobre os quais falou Pedro, dizendo que viriam nos últimos dias, andando segundo suas próprias paixões e dizendo: "Onde está a promessa da Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação." 2 Pedro 3:4. Mas aqueles que tinham esperado a vinda do Senhor não estavam sem consolação. Haviam obtido valioso conhecimento da pesquisa da Palavra. O plano da salvação estava mais claro em sua compreensão. Cada dia descobriam novas belezas nas páginas sagradas, e uma maravilhosa harmonia através delas todas, um texto explicando outro e não havendo nenhuma palavra empregada em vão. T1 57 3 Nosso desapontamento não foi tão grande como o dos discípulos. Quando o Filho do homem cavalgava triunfantemente para Jerusalém, esperavam que Ele fosse coroado Rei. O povo se ajuntava de toda a região em redor, e exclamava: "Hosana ao Filho de Davi!" Mateus 21:9. E quando os sacerdotes e anciãos pediram a Jesus que silenciasse a multidão, Ele declarou que, se eles se calassem, as próprias pedras clamariam, pois a profecia deveria cumprir-se. Não obstante, dentro de poucos dias esses mesmos discípulos viram seu amado Mestre, que acreditavam iria reinar no trono de Davi, estendido na torturante cruz, por sobre os fariseus zombadores e sarcásticos. Suas elevadas esperanças foram frustradas, e as trevas da morte os cercaram. T1 58 1 Cristo, porém, estava sendo fiel às Suas promessas. Doce foi a consolação que proporcionou a Seu povo, e rica a recompensa dos verdadeiros e fiéis. T1 58 2 O Sr. Miller e os que com ele se achavam supuseram que a purificação do santuário, de que fala (Daniel 8:14), significava a purificação da Terra pelo fogo antes de se tornar a habitação dos santos. Isso deveria ocorrer por ocasião do segundo advento de Cristo; portanto, esperávamos aquele acontecimento no fim dos 2.300 dias, ou anos. Depois de nosso desapontamento, porém, as Escrituras foram cuidadosamente pesquisadas, com oração e fervor; e após um período de indecisão derramou-se luz em nossas trevas; a dúvida e a incerteza foram varridas. Em vez de a profecia de Daniel 8:14 referir-se à purificação da Terra, era então claro que se referia ao trabalho de nosso Sumo Sacerdote a encerrar-se nos Céus, à conclusão da obra expiatória, e ao preparo do povo para suportar o dia de Sua vinda. ------------------------Capítulo 7 -- Minha primeira visão T1 58 3 Não muito tempo depois da passagem do tempo em 1844, foi-me concedida a primeira visão. Estava em Portland, em visita a uma querida irmã em Cristo, cujo coração estava enlaçado ao meu. Cinco de nós, todas mulheres, estávamos ajoelhadas silenciosamente no culto familiar. Enquanto estávamos orando, o poder de Deus me sobreveio como nunca o havia sentido antes. Parecia estar cercada de luz, e achar-me subindo mais e mais alto da Terra. Voltei-me para ver o povo do advento no mundo, mas não o pude achar, quando uma voz me disse: "Olha novamente, e olha um pouco mais para cima." Com isso, olhei mais para o alto, e vi um caminho reto e estreito, levantado em um lugar elevado do mundo. O povo do advento estava nesse caminho, a viajar para a cidade. Tinham uma luz brilhante colocada por trás deles no começo do caminho, a qual um anjo me disse ser o clamor da meia-noite. Essa luz brilhava em toda a extensão do caminho, e proporcionava claridade para seus pés, para que não tropeçassem. Se conservavam o olhar fixo em Jesus, que Se achava precisamente diante deles, guiando-os para a cidade, estavam seguros. Mas logo alguns ficaram cansados, e disseram que a cidade estava muito longe e esperavam ter entrado nela antes. Então Jesus os animava, levantando Seu glorioso braço direito; e de Seu braço saía uma luz que incidia sobre o povo do advento, e eles clamavam: "Aleluia!" Outros temerariamente negavam a existência da luz atrás deles e diziam que não fora Deus quem os guiara tão longe. A luz atrás deles desaparecia, deixando-lhes os pés em densas trevas; de modo que tropeçavam e, perdendo de vista o sinal e a Jesus, caíam do caminho para baixo, no mundo tenebroso e ímpio. T1 59 1 Logo ouvimos a voz de Deus semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus o tempo, verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com o esplendor da glória de Deus, como aconteceu com Moisés, na descida do Monte Sinai. T1 59 2 Os 144.000 estavam todos selados e perfeitamente unidos. Em sua testa estava escrito: "Deus, Nova Jerusalém", e tinham uma estrela gloriosa que continha o novo nome de Jesus. Por causa de nosso estado feliz e santo, os ímpios enraiveceram-se e arremeteram violentamente para lançar mão de nós, a fim de lançar-nos à prisão; mas quando estendemos a mão em nome do Senhor, eles caíram indefesos ao chão. Foi então que a sinagoga de Satanás conheceu que Deus nos havia amado a nós, que lavávamos os pés uns aos outros e saudávamos os irmãos com ósculo santo; e adoraram a nossos pés. T1 60 1 Logo nossos olhares foram dirigidos ao Oriente, pois aparecera uma nuvenzinha aproximadamente do tamanho da metade da mão de um homem, a qual todos soubemos ser o sinal do Filho do homem. Todos em silêncio solene olhávamos a nuvem que se aproximava e tornava mais e mais clara e esplendente, até converter-se numa grande nuvem branca. A parte inferior tinha aparência de fogo; o arco-íris estava sobre a nuvem, enquanto em redor dela se achavam dez milhares de anjos, entoando um cântico agradabilíssimo; e sobre ela estava sentado o Filho do homem. Os cabelos, brancos e anelados, caíam-Lhe sobre os ombros; e sobre a cabeça tinha muitas coroas. Os pés tinham a aparência de fogo; em Sua destra trazia uma foice aguda e na mão esquerda, uma trombeta de prata. Seus olhos eram como chamas de fogo, que profundamente penetravam Seus filhos. Então todos os rostos empalideceram; e o daqueles a quem Deus havia rejeitado se tornaram negros. Todos exclamamos então: "Quem poderá estar em pé? Estão as minhas vestes sem mancha?" Então os anjos cessaram de cantar, e houve algum tempo de terrível silêncio, quando Jesus falou: "Aqueles que têm mãos limpas e coração puro serão capazes de estar em pé; Minha graça vos basta." Com isso nosso rosto se iluminou e encheu de alegria o coração. E os anjos tocaram mais fortemente e tornaram a cantar, enquanto a nuvem mais se aproximava da Terra. Então a trombeta de prata de Jesus soou, ao descer Ele sobre a nuvem, envolto em labaredas de fogo. Olhou para as sepulturas dos santos que dormiam, ergueu então os olhos e mãos ao céu, e exclamou: Despertem! Despertem! Despertem! Vocês que habitam no pó, e levantem. Isaías 26:19. Houve um forte terremoto. As sepulturas se abriram, e os mortos saíram revestidos de imortalidade. Os 144.000 clamaram "Aleluia!", quando reconheceram os amigos que deles tinham sido separados pela morte, e no mesmo instante fomos transformados e "arrebatados juntamente com eles... a encontrar o Senhor nos ares". 1 Tessalonicenses 4:17. T1 60 2 Todos nós entramos juntos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro, aonde Jesus trouxe as coroas, e com Sua própria destra as colocou sobre nossa cabeça. Deu-nos harpas de ouro e palmas de vitória. Ali, sobre o mar de vidro, os 144.000 ficaram em quadrado perfeito. Alguns deles tinham coroas muito brilhantes; outros, não tanto. Algumas coroas pareciam repletas de estrelas, ao passo que outras tinham poucas. Todos estavam perfeitamente satisfeitos com sua coroa. E todos estavam vestidos com um glorioso manto branco, dos ombros aos pés. Havia anjos de todos os lados em redor de nós quando caminhávamos sobre o mar de vidro rumo à porta da cidade. Jesus levantou o potente e glorioso braço, segurou o portal de pérolas, fê-lo girar sobre seus luzentes gonzos e nos disse: "Vocês lavaram suas vestes em Meu sangue, permaneceram firmes pela Minha verdade; entrem." Todos entramos e sentíamos ter perfeito direito à cidade. T1 61 1 Ali vimos a árvore da vida e o trono de Deus. Do trono provinha um rio puro de água, e de cada lado do rio estava a árvore da vida. De um lado do rio havia um tronco da árvore, e do outro lado outro, ambos de ouro puro e transparente. A princípio pensei que via duas árvores. Olhei outra vez e vi que elas se uniam em cima numa só árvore. Assim estava a árvore da vida em ambos os lados do rio da vida. Seus ramos curvavam-se até o lugar em que nos achávamos, e seu fruto era esplêndido; tinha o aspecto de ouro, de mistura com prata. T1 61 2 Todos nós fomos debaixo da árvore, e sentamo-nos para contemplar a glória daquele lugar, quando os irmãos Fitch e Stockman, que tinham pregado o evangelho do reino, e a quem Deus depusera na sepultura para os salvar, se achegaram e nos perguntaram o que acontecera enquanto eles haviam dormido. Tentamos lembrar nossas maiores provações, mas pareciam tão pequenas em comparação com o "peso eterno de glória mui excelente" (2 Coríntios 4:17) que nos rodeava, que nada pudemos dizer-lhes, e todos exclamamos -- "Aleluia! muito fácil é adquirir o Céu!" -- e tocamos nossas harpas de ouro e fizemos com que as arcadas do Céu reboassem. ------------------------Capítulo 8 -- Chamado para viajar T1 62 1 Relatei essa visão aos crentes em Portland, os quais tinham plena confiança de que ela procedia de Deus. O Espírito do Senhor acompanhou o testemunho e uma solene sensação de eternidade repousou sobre nós. Uma indizível reverência tomou conta de mim porque eu, tão jovem e fraca, havia sido escolhida como instrumento pelo qual Deus enviaria luz a Seu povo. Enquanto sob o poder do Senhor, eu estava plena de alegria, parecendo estar cercada por santos anjos na gloriosa corte celestial, onde tudo é paz e alegria. Foi uma triste e amarga mudança ao despertar para as realidades da vida mortal. T1 62 2 Em minha segunda visão, cerca de uma semana depois da primeira, o Senhor me apresentou uma perspectiva das provas por que eu iria passar, e disse-me que eu deveria ir relatar a outros o que Ele me havia revelado. Foi-me mostrado que meus trabalhos encontrariam grande oposição, e meu coração seria ferido pela angústia; mas a graça de Deus seria suficiente para amparar-me em tudo. Fiquei imensamente perturbada com o assunto dessa visão, pois ela indicava o meu dever de ir entre o povo e apresentar a verdade. T1 62 3 Eu tinha a saúde tão debilitada que constantemente me encontrava em sofrimento físico, e pelas aparências, não tinha senão pouco tempo de vida. Eu tinha, então, apenas dezessete anos de idade, era pequena e franzina, não acostumada à sociedade, e naturalmente tão tímida e reservada que era penoso para mim enfrentar estranhos. Durante vários dias e até tarde da noite, orei para que este encargo fosse removido de mim e posto sobre alguém mais capaz de o suportar. Não se me alterou, porém, a consciência do dever, e soavam-se continuamente aos ouvidos as palavras do anjo: "Torne conhecido a outros o que lhe revelei." T1 63 1 Não me conformava em ter de sair pelo mundo e receava enfrentar seus escárnio e oposição. Eu tinha pouco autoconfiança. Até então, quando o Espírito de Deus comigo instava a respeito do meu dever, eu me dominava, esquecendo todo receio e timidez, pelo pensamento do amor de Jesus e da obra maravilhosa que Ele por mim fizera. A constante certeza de estar cumprindo meu dever e obedecendo à vontade do Senhor, dava-me uma confiança que me surpreendia. Nessas ocasiões eu me sentia disposta a fazer ou sofrer qualquer coisa, para ajudar outros a terem a luz e a paz de Jesus. T1 63 2 Parecia-me, porém, impossível realizar esse trabalho que me era apresentado. Achava que, se tentasse, seria fracasso certo. As provações que o acompanhariam me aparentavam ser mais do que poderia suportar. Como podia eu, ainda tão jovem, sair de um lugar para outro, para explicar ao povo as santas verdades de Deus? Meu coração estremecia de terror àquele pensamento. Meu irmão Roberto, apenas dois anos mais velho do que eu, não podia acompanhar-me, pois era de saúde frágil, e sua timidez maior do que a minha; nada o podia induzir a dar semelhante passo. Meu pai tinha a família para sustentar e não poderia abandonar suas ocupações; mas repetidas vezes me afirmava que se Deus me havia chamado para trabalhar noutros lugares, não deixaria de abrir o caminho para mim. Mas essas palavras de animação pouco conforto traziam ao meu desalentado coração; o caminho diante de mim parecia obstruído com dificuldades que eu era incapaz de superar. T1 63 3 Eu desejava a morte como livramento das responsabilidades que sobre mim convergiam. Finalmente a doce paz que havia tanto tempo eu sentia, deixou-me, e o desespero novamente me oprimia o coração. Todas as minhas orações pareciam inúteis e minha fé se fora. Palavras de conforto, reprovação ou animação eram iguais para mim, pois ninguém parecia compreender-me, exceto Deus, e Ele me desamparara. O grupo de crentes de Portland ignorava a preocupação de espírito que me prostrara nesse estado de desânimo; mas sabiam que por qualquer razão eu estava abatida e, considerando a maneira misericordiosa como o Senhor Se manifestara a mim, opinavam que esse meu desalento era pecaminoso. T1 64 1 Eu temia que Deus havia retirado de mim, para sempre, o Seu favor. Enquanto pensava sobre a luz que havia anteriormente iluminado meu coração, ela me pareceu duplamente mais preciosa em contraste com a escuridão que agora me envolvia. Realizavam-se reuniões em casa de meu pai, mas tão grande era a minha angústia de espírito, que a elas não assisti por algum tempo. Meu fardo tornava-se mais e mais pesado, até que minha agonia de espírito parecia ser superior às minhas forças. T1 64 2 Finalmente fui induzida a comparecer a uma das reuniões em minha própria casa. A igreja fez de meu caso um assunto especial de oração. O irmão Pearson que se opusera às manifestações do poder de Deus sobre mim nas minhas primeiras experiências, orava agora fervorosamente por mim e me aconselhava a submeter-me à vontade do Senhor. Como um pai carinhoso procurava animar-me e consolar-me, convidando-me a crer que não fora esquecida pelo Amigo dos pecadores. T1 64 3 Eu me sentia demasiadamente fraca e desanimada para fazer por mim mesma qualquer esforço especial; mas meu coração se unia às petições de meus amigos. Agora eu pouco me incomodava com a oposição do mundo, e sentia-me disposta a fazer qualquer sacrifício, se tão-somente pudesse reaver o favor de Deus. Enquanto se fazia oração por mim, dissiparam-se as densas trevas que me haviam rodeado, e uma súbita luz veio sobre mim. Faltaram minhas forças. Pareceu-me estar na presença dos anjos. Um destes seres santos, de novo repetiu as palavras: "Torne conhecido a outros o que lhe revelei." T1 64 4 Oprimia-me o grande receio de que, se eu obedecesse ao chamado do dever e fosse declarar-me favorecida do Altíssimo com visões e revelações para o povo, pudesse entregar-me à exaltação pecaminosa, e elevar-me acima da posição que me cumpria ocupar, bem como trazer sobre mim o desagrado de Deus e perder a própria alma. Eu sabia de casos tais, e meu coração recuava ante a severa prova. T1 65 1 Supliquei então que, se eu devesse ir relatar o que o Senhor me mostrara, fosse preservada de exaltação. Disse o anjo: "Suas orações são ouvidas e serão atendidas. Se esse mal que você receia a ameaçar, a mão de Deus estará estendida para salvá-la; por meio de aflições Ele a trará a Si, e preservará sua humildade. Apresente a mensagem fielmente; resista até ao fim, e você comerá do fruto da árvore da vida e beberá da água da vida." T1 65 2 Depois de readquirir consciência das coisas terrestres, entreguei-me ao Senhor, pronta para cumprir Sua ordem, fosse qual fosse. Providencialmente, o Senhor abriu o caminho para eu ir com meu cunhado visitar minhas irmãs em Poland, quarenta e cinco quilômetros distante de casa. Enquanto estava ali, tive oportunidade de dar meu testemunho. T1 65 3 Por três meses eu tivera a garganta e os pulmões tão doentes que apenas podia falar pouco, e isso mesmo em tom baixo e rouco. Nessa ocasião levantava-me em reunião e começava a falar como em cochicho. Continuava assim por uns cinco minutos, quando aquele estado de sensibilidade e obstrução passava, minha voz ficava clara e forte, e eu falava com toda a facilidade e liberdade por quase duas horas. Terminada a minha mensagem, enfraquecia-se-me a voz até que de novo me achasse perante o povo, quando a mesma singular restauração se repetia. Eu sentia uma constante certeza de que estava fazendo a vontade de Deus, e via assinalados resultados acompanhando meus esforços. T1 65 4 Providencialmente o caminho abriu-se para eu ir à parte oriental do Estado do Maine. O irmão Guilherme Jordan, acompanhado de sua irmã, devia ir a negócios a Orrington, e foi-me solicitado ir com eles. Como eu prometera ao Senhor andar no caminho que Ele abrisse diante de mim, não ousei recusar. Em Orrington encontrei o Pastor Tiago White. Ele era conhecido de meus amigos, e estava empenhado no trabalho da salvação de seres humanos. T1 65 5 O Espírito de Deus assistiu a mensagem que eu transmitia; os corações se tornavam jubilosos na verdade e os desesperançados eram consolados e animados a renovar sua fé. Em Garland, um grande número de pessoas procedentes de diversos lugares veio ouvir a mensagem. Mas meu coração estava abatido. Eu recebera uma carta de mamãe pedindo que retornasse para casa, pois estavam circulando boatos a meu respeito. Esse foi um golpe inesperado. Meu nome sempre havia estado livre da sombra de censura, e minha reputação me era muito cara. Também me afligi porque mamãe estava sofrendo por mim. Ela era muito dedicada aos filhos e extremamente sensível com respeito a eles. Se tivesse havido oportunidade, eu teria voltado para casa imediatamente, mas isso era impossível. T1 66 1 Minha tristeza era tão grande que me senti muito deprimida para falar naquela noite. Meus amigos insistiam comigo para que confiasse no Senhor; e finalmente, os irmãos empenharam-se em oração por mim. A bênção do Senhor logo veio sobre mim e pude dar meu testemunho com grande liberdade. Parecia que um anjo se colocara a meu lado para fortalecer-me. Brados de glória e vitória ecoaram naquela casa e a presença de Jesus foi ali sentida. T1 66 2 Em meu trabalho, fui chamada a opor-me à conduta de alguns, os quais, por seu fanatismo, estavam trazendo vergonha sobre a causa de Deus. Esses fanáticos pareciam pensar que a religião consistia em grande agitação e barulho. Falavam de um modo que irritava os descrentes e os compelia a odiá-los e às doutrinas que ensinavam, então, regozijavam-se por estarem sofrendo perseguição. Os incrédulos não podiam ver nenhuma coerência em suas atitudes. Os irmãos de alguns lugares foram impedidos de reunir-se para os cultos. O inocente sofria com o culpado. Tive de suportar tristeza e aflição por muito tempo. Parecia-me cruel que a causa de Cristo devesse ser prejudicada pelo procedimento desses homens insensatos. Eles não apenas estavam arruinando o próprio coração, como também pondo sobre a causa um estigma que não seria facilmente removido. Satanás apreciava que assim fosse. Era-lhe conveniente ver a verdade manipulada por homens não santificados; vê-la mesclada com o erro e então lançada ao pó. Ele via com triunfo o estado confuso e disperso dos filhos de Deus. T1 67 1 Um desses fanáticos trabalhou com certo sucesso para incitar meus amigos e familiares contra mim. Porque eu havia fielmente referido o que me fora mostrado com respeito à sua atitude não cristã, ele fez circular falsidades para destruir minha influência e justificar-se. Minha sorte parecia-me dura. O desânimo abateu-se pesadamente sobre mim. A condição do povo de Deus enchia-me de angústia, e tanto que, por duas semanas, fiquei prostrada e enferma. Meus amigos pensavam que eu não sobreviveria, mas os irmãos e irmãs que se solidarizaram comigo nessa aflição reuniram-se para orar por mim. Percebi de pronto que orações eficazes e fervorosas eram feitas em meu favor. A oração prevaleceu. O poder do forte inimigo foi subjugado e eu libertada. Imediatamente fui tomada em visão. Vi que se eu sentisse que a influência humana afetasse meu testemunho, não importava onde pudesse estar, apenas deveria clamar a Deus e um anjo seria enviado em meu auxílio. Eu já possuía um anjo da guarda a me assistir continuamente, mas, quando necessário, o Senhor enviaria outro para erguer-me acima do poder de toda influência terrena. ------------------------Capítulo 9 -- Visão da nova terra* T1 67 2 Com Jesus a nossa frente, descemos todos da cidade para a Terra, sobre uma grande e íngreme montanha que, incapaz de suportar a Jesus sobre si, partiu-se em duas, formando uma grande planície. Olhamos então para cima e vimos a grande cidade, com doze fundamentos, e doze portas, três de cada lado, e um anjo em cada porta. Todos exclamamos: "A cidade, a grande cidade, vem, vem de Deus descendo do Céu", e ela veio e se pôs no lugar em que nos achávamos. Pusemo-nos então a observar as coisas gloriosas fora da cidade. Vi ali casas belíssimas, que tinham a aparência de prata, apoiadas por quatro colunas entremeadas de pérolas preciosas, muito agradáveis à vista. Destinavam-se à habitação dos santos. Em cada uma havia uma prateleira de ouro. Vi muitos dos santos entrarem nas casas, tirarem sua coroa resplandecente, e pô-la na prateleira, saindo então para o campo ao lado das casas, para lidar com a terra. Não como temos de fazer com a terra aqui. Absolutamente. Uma gloriosa luz lhes resplandecia em redor da cabeça, e estavam continuamente louvando a Deus. T1 68 1 Vi outro campo repleto de todas as espécies de flores, e, quando as apanhei, exclamei: "Elas nunca murcharão." Em seguida vi um campo de relva alta, cujo belíssimo aspecto causava admiração; era uma vegetação viva, e tinha reflexos de prata e ouro quando magnificamente se agitava para glória do Rei Jesus. Entramos então num campo cheio de todas as espécies de animais: leão, cordeiro, leopardo, lobo. Todos em perfeita união. Passamos pelo meio deles, e pacificamente nos acompanharam. Dali entramos num bosque, não como os escuros bosques que aqui temos; não, absolutamente; mas claro e por toda parte glorioso. Os ramos das árvores agitavam-se de um lado para outro lado, e todos exclamamos: "Moraremos com segurança na solidão, e dormiremos nos bosques." Atravessamos os bosques, pois estávamos a caminho do Monte Sião. T1 68 2 No trajeto, encontramos uma multidão que também contemplava as belezas do lugar. Notei a cor vermelha na borda de suas vestes, o brilho das coroas e a alvura puríssima dos vestes. Quando os saudamos, perguntei a Jesus quem eram eles. Disse que eram mártires que, por Sua causa, haviam sido mortos. Com eles estava uma inumerável multidão de crianças que tinham também uma orla vermelha em suas vestes. O Monte Sião estava exatamente diante de nós, e sobre o monte um belo templo, em cujo redor havia sete outras montanhas, sobre as quais cresciam rosas e lírios. E vi as crianças subirem ou, se o preferiam, fazer uso de suas pequenas asas e voar ao cimo das montanhas e apanhar flores que nunca murcharão. Para embelezar o lugar, havia em redor do templo todas as espécies de árvores: o buxo, o pinheiro, o cipreste, a oliveira, o mirto, a romãzeira e a figueira curvada ao peso de seus figos maduros. Elas embelezavam aquele local. E quando estávamos para entrar no templo, Jesus levantou Sua bela voz e disse: "Somente os 144.000 entram neste lugar", e nós exclamamos: "Aleluia!" T1 69 1 Esse templo era apoiado por sete colunas, todas de ouro transparente, engastadas de pérolas belíssimas. As maravilhosas coisas que ali vi, não as posso descrever. Oh, se me fosse dado falar a língua de Canaã, poderia então contar um pouco das glórias do mundo melhor. Vi lá mesas de pedra, em que estavam gravados com letras de ouro os nomes dos 144.000. T1 69 2 Depois de contemplar a beleza do templo, saímos, e Jesus nos deixou e foi à cidade. Logo Lhe ouvimos de novo a delicada voz, dizendo: "Venham, povo Meu; vocês vieram de grande tribulação, e fizeram Minha vontade; vocês sofreram por Mim; venham à ceia, pois Eu Me cingirei e os servirei." Nós exclamamos: "Aleluia! Glória!" e entramos na cidade. E vi uma mesa de pura prata; tinha muitos quilômetros de comprimento, contudo nossos olhares podiam alcançá-la toda. Vi o fruto da árvore da vida, o maná, amêndoas, figos, romãs, uvas e muitas outras espécies de frutas. Pedi a Jesus que me deixasse comer do fruto. Disse Ele: "Agora não. Os que comem do fruto deste lugar, não mais voltam à Terra. Mas, dentro em pouco, se você for fiel, não somente comerá do fruto da árvore da vida mas beberá também da água da fonte." E disse: "Você deve novamente voltar à Terra, e relatar a outros o que lhe revelei." Então um anjo me trouxe mansamente a este mundo escuro. Algumas vezes pensei que não poderia ficar aqui por mais tempo; todas as coisas da Terra pareciam tão sombrias. Sentia-me tão só aqui, pois havia visto uma terra melhor. "Ah! Quem me dera asas como de pomba! Voaria, e estaria em descanso." Salmos 55:6. T1 70 1 O irmão Hyde, que estava presente durante essa visão, compôs os versos seguintes, os quais foram publicados em periódicos religiosos e em muitos hinários. Aqueles que os publicaram, leram e cantaram nem imaginaram que eles tiveram origem na visão de uma moça perseguida por seu humilde testemunho. T1 70 2 Ouvimos de uma terra santa e luminosa. Ouvimos e nosso coração se alegrou; Pois somos um grupo de solitários peregrinos, Cansados, alquebrados e tristes. Disseram-nos que peregrinos têm abrigo ali, Já não mais estarão sem lar; Sabemos que essa boa terra é formosa E nela corre o puro rio da vida. T1 70 3 Dizem que verdes campos ali balouçam, Que as pragas não são conhecidas, Os desertos selvagens florescem formosos, E crescem as rosas de Sarom. Amáveis pássaros cantam nos caramanchões, Suas melodias são jubilosas e doces; E seus gorjeios irrompem sempre novos, Saudados por harpejos angelicais. T1 70 4 Ouvimos de palmeiras, mantos e coroas, E da argêntea multidão de branco vestida; Da bela cidade dos portais de pérola, Toda radiante de luz. Ouvimos os anjos e os santos, Com suas harpas de ouro. Como cantam! Do monte e da frutífera árvore da vida. De suas folhas que curam. T1 70 5 O Rei desse país é justo, Ele é a alegria e a luz desse lugar. Em Sua beleza O veremos ali, E nos aqueceremos sob a luz de Seu sorriso. T1 71 1 Estaremos ali, estaremos ali dentro em breve, Unidos aos puros e abençoados. Teremos a palma, as vestes e a coroa, E para sempre repousaremos. ------------------------Capítulo 10 -- Recusando a advertência T1 71 2 Por volta dessa época, fui submetida a uma severa provação. Se o Espírito de Deus repousava sobre alguém na reunião, e esse glorificava a Deus, louvando-O, alguns levantavam o brado de mesmerismo; se o Senhor era servido dar-lhe uma visão na reunião, alguns diziam que era efeito da agitação e do mesmerismo. Aflita e desanimada, eu ia muitas vezes sozinha a um lugar solitário para derramar o coração diante dAquele que convida os cansados e oprimidos para irem a Ele e encontrarem descanso. Enquanto minha fé requeria as promessas, Jesus parecia muito próximo. A suave luz do Céu brilhava em meu redor; parecia-me estar enlaçada pelos braços de meu Salvador e, ali, era arrebatada em visão. Mas quando relatava o que Deus me revelara, a mim sozinha, onde nenhuma influência terrestre podia afetar-me, ficava aflita e espantada ao ouvir alguns insinuarem que os que viviam mais perto de Deus estavam mais sujeitos de ser enganados por Satanás. T1 71 3 De acordo com esse ensino, nossa única segurança contra o engano seria permanecer distantes de Deus, em estado de apostasia. Oh, pensava eu, como se chegou a esta situação? A ponto de aqueles que honestamente buscam ao Senhor somente para reivindicar Suas promessas e suplicar por salvação, serem acusados de estar sob a nociva influência do mesmerismo? Pediremos pão ao nosso generoso Pai celeste, para recebermos uma pedra ou um escorpião? Essas coisas feriam meu espírito e oprimiam-me o coração com atroz angústia, próxima ao desespero. Alguns quiseram fazer-me crer que não havia Espírito Santo, e que todas as atuações que os santos homens de Deus haviam experimentado, eram apenas o efeito do mesmerismo ou do engano de Satanás. T1 72 1 Alguns haviam adotado opiniões extremistas acerca de certos textos das Escrituras, abstendo-se completamente do trabalho, e rejeitando todos aqueles que não queriam aceitar suas idéias sobre estes e outros pontos considerados deveres religiosos. Deus revelou-me em visão esses erros, e enviou-me para instruir Seus filhos errantes; mais muitos deles rejeitaram inteiramente a mensagem e acusavam de conformar-me com o mundo. De outro lado, os adventistas nominais acusavam-me de fanatismo, e eu era falsamente apresentada como a dirigente do fanatismo, para cuja repressão eu trabalhava constantemente. T1 72 2 Diferentes ocasiões foram marcadas para a vinda do Senhor, e insistia-se a tal respeito com os irmãos. O Senhor, porém, mostrou-me que elas passariam, pois o tempo de angústia deveria ocorrer antes da vinda de Cristo; e que cada vez que se marcasse uma data, e esta passasse, isto enfraqueceria a fé do povo de Deus. Por esse motivo eu era acusada de ser o mau servo que dizia: "O meu Senhor tarde virá." Mateus 24:48. T1 72 3 Essas declarações referentes ao tempo determinado haviam sido publicadas trinta anos antes, e os livros que as continham haviam circulado por toda parte, entretanto, alguns pastores diziam estar bem familiarizados comigo, dizendo que eu havia fixado datas após datas para a volta do Senhor e todas passaram, portanto, minhas visões eram falsas. Indubitavelmente, muitos receberam essas mentirosas declarações como sendo verdade, mas ninguém que me conhecesse ou a meu trabalho podia, em sinceridade, fazer tais afirmações. Este é o testemunho que sempre dei, desde a passagem do tempo em 1844: "Datas serão fixadas, uma após outra, por diferentes pessoas e todas passarão; e a influência dessa marcação de tempo tenderá a destruir a fé do povo de Deus." Se eu houvesse contemplado em visão um tempo definido e dado meu testemunho sobre ele, não poderia ter escrito e publicado, por causa desse mesmo testemunho, que todos os tempos que fossem determinados passariam, pois o tempo de angústia virá antes da vinda de Cristo. Certamente, nos últimos trinta anos, isto é, desde a publicação dessa declaração, nunca me inclinei a apontar um tempo para a volta de Cristo, e assim colocar-me sob a mesma condenação daqueles a quem tenho reprovado. Até 1845 eu não tive nenhuma visão, ou seja após a passagem do tempo de expectativa em 1844. Então me foi mostrado o que eu devia declarar. T1 73 1 E não se cumpriu esse testemunho em cada detalhe? Os adventistas do primeiro dia têm marcado data após data, e, não obstante os repetidos fracassos, eles se munem de coragem para marcar novas datas. Deus não os tem guiado a esse respeito. Muitos deles rejeitaram o verdadeiro tempo profético e ignoraram o cumprimento da profecia, porque não sucedeu o evento previsto em 1844. Eles se voltaram contra a verdade e o inimigo tem exercido seu poder em lançar sobre eles poderosos enganos, para que creiam na mentira. A grande prova sobre o tempo aconteceu em 1843 e 1844; e todos os que marcaram data desde então, têm-se enganado a si mesmos e a outros. T1 73 2 Até minha primeira visão, eu não podia escrever. Minha mão tremente era incapaz de segurar firmemente a pena. Enquanto em visão, um anjo ordenava que a escrevesse. Eu obedecia e escrevia prontamente. Meus nervos eram fortalecidos e minha mão tornava-se firme. T1 73 3 Era muito penoso para mim, relatar aos que erravam o que, concernente a eles, me havia sido mostrado. Causava-me grande angústia ver outros perturbados ou entristecidos. E, sendo obrigada a declarar as mensagens, queria muitas vezes abrandá-las e fazê-las parecer tão favoráveis às pessoas quanto eu podia, e então ficava a sós e chorava em agonia de espírito. Eu olhava àqueles que pareciam ter apenas si mesmos para cuidar, e achava que, se estivesse em sua situação, não murmuraria. Era penoso descrever os testemunhos claros e incisivos a mim apresentados por Deus. Ansiosamente aguardava o resultado; e, se as pessoas reprovadas se rebelavam contra a reprovação, e mais tarde se opunham à verdade, eu me perguntava: Terei eu apresentado a mensagem exatamente como devia? Não haveria algum meio de os salvar? E então me oprimia o coração uma angústia tal que muitas vezes achava que a morte seria um bem-vindo mensageiro e a sepultura um suave lugar de descanso. T1 74 1 Não compreendia o perigo e pecado de tal procedimento, até que em visão fui levada à presença de Jesus. Ele me olhou com o semblante carregado, e desviou o rosto de mim. Não é possível descrever o terror e a agonia que então senti. Prostrei-me sobre o rosto diante dEle, mas não tinha ânimo para proferir uma palavra. Oh, quanto eu desejava ocultar-me e esconder-me daquela terrível expressão sombria! Pude compreender então até certo ponto quais serão os sentimentos dos perdidos, quando clamarem às montanhas e às rochas: "Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que está assentado no trono, e da ira do Cordeiro." Apocalipse 6:16. T1 74 2 Imediatamente um anjo me mandou levantar, e o quadro que meus olhos viram dificilmente poderá ser descrito. Diante de mim havia uma multidão de cabelos desgrenhados e vestes despedaçadas, e cujo rosto era a própria expressão do desespero e terror. Achegaram-se a mim, e roçaram suas vestes nas minhas. Quando olhei às minhas vestes, vi que estavam manchadas de sangue. De novo caí como morta aos pés do meu anjo assistente. Não podia alegar uma desculpa, e desejava estar fora daquele santo lugar. O anjo me pôs de pé, e disse: "Este não é o seu estado agora; mas esta cena lhe foi apresentada para que você saiba qual será sua situação, se negligenciar declarar a outros o que o Senhor lhe revelou. Mas se for fiel até o fim, você comerá da árvore da vida, e beberá da água da vida. Você terá de sofrer muito, mas a graça de Deus lhe basta." Então me senti disposta a fazer tudo que o Senhor exigisse de mim a fim de obter Sua aprovação, e não contemplar Sua terrível expressão de desagrado. ------------------------Capítulo 11 -- Casamento e trabalhos posteriores T1 75 1 Em 30 de Agosto de 1846 uni-me em casamento com o Pastor Tiago White. O Pastor White adquirira profunda experiência no movimento do advento, e seus trabalhos na proclamação da verdade tinham sido abençoados por Deus. Nossos corações uniram-se na grande obra e, juntos, viajamos e trabalhamos pela salvação de seres humanos. T1 75 2 Principiamos nossas atividades sem dinheiro, com poucos amigos e a saúde enfraquecida. Meu marido herdara uma constituição física vigorosa, mas sua saúde havia sido seriamente prejudicada por extrema dedicação ao estudo na escola, e às pregações. Eu tivera problemas de saúde desde a infância, como já relatei. Nessa condição, sem recursos, podendo contar com poucos simpatizantes de nosso trabalho, sem revistas e livros, iniciamos nossa obra. Não possuíamos casas de culto naquele tempo. E a idéia de usar uma tenda ainda não nos havia ocorrido. A maior parte de nossas reuniões era realizada em casas particulares. Nossas congregações eram pequenas. Raramente alguém vinha a nossas reuniões, excetuando-se os adventistas, a menos que fossem atraídos pela curiosidade de ouvir uma mulher falar. T1 75 3 No início, progredi muito lentamente no trabalho de falar em público. Se estivesse confiante, isso me vinha pelo Espírito Santo. Se falasse com liberdade e poder, era por concessão divina. Nossas reuniões eram geralmente realizadas de maneira tal que ambos tomávamos parte. Meu marido fazia um sermão doutrinário, então eu o seguia com uma exortação de certa extensão, buscando penetrar os sentimentos da congregação. Assim, meu marido semeava a semente da verdade, eu regava e Deus dava o crescimento. T1 75 4 No outono de 1846, começamos a observar o sábado bíblico, a ensiná-lo e defendê-lo. Minha atenção para o sábado foi primeiramente chamada enquanto eu estava em visita a New Bedford, Massachusetts, no início desse mesmo ano. Ali conheci o Pastor José Bates. Ele havia a princípio abraçado a fé do advento, e era trabalhador ativo na Causa. O Pastor Bates guardava o sábado, e salientava a sua importância. Eu não compreendia sua importância, e achava que ele errava em ocupar-se com o quarto mandamento mais do que com os outros nove. O Senhor, porém, me deu uma visão do santuário celestial, em que o templo de Deus foi aberto no Céu, e foi-me mostrada a arca de Deus coberta com o propiciatório. Em cada extremidade da arca havia um anjo com as asas estendidas sobre o propiciatório e a face voltada para ele. Isso, informou-me o meu anjo assistente, representava todo o exército celestial olhando com reverente temor para a lei divina, que foi escrita com o dedo de Deus. Jesus levantou a cobertura da arca, e contemplei as tábuas de pedra em que os Dez Mandamentos estavam escritos. Fiquei atemorizada quando vi o quarto mandamento bem no centro dos dez preceitos, com uma suave auréola de luz rodeando-o. Disse o anjo: "É o único dos dez que define o Deus vivo que criou os céus e a terra e todas as coisas que neles há." Quando foram postos os fundamentos da Terra, também foi posto o fundamento do sábado. T1 76 1 Foi-me mostrado que se o verdadeiro sábado houvesse sido guardado, jamais teria havido um incrédulo ou ateu. A observância do sábado teria preservado da idolatria o mundo. O quarto mandamento tem sido pisado a pés; por isso, somos chamados para reparar a brecha na lei de Deus e defender o sábado profanado. O homem do pecado, que se exalta acima de Deus, e pensou mudar os tempos e a lei, efetuou a mudança do sábado, do sétimo para o primeiro dia da semana. Fazendo isso, criou uma brecha na lei de Deus. Precisamente antes do grande dia de Deus, é enviada uma mensagem para exortar o povo a voltar à obediência à lei de Deus, quebrantada pelo anticristo. Por preceito e exemplo devemos chamar a atenção para a brecha feita na lei. Foi mostrado que o terceiro anjo, que proclama os mandamentos e a fé de Jesus (Apocalipse 14:9-14), representa o povo que recebe essa mensagem, e ergue a voz de advertência ao mundo para que guarde os mandamentos de Deus e a Sua lei como a menina dos olhos; e em resposta a esta advertência muitos abraçariam o sábado do Senhor. T1 77 1 Quando recebemos a luz sobre o quarto mandamento, já havia cerca de vinte e cinco adventistas no Maine que observavam o sábado; mas divergiam tanto sobre outros pontos de doutrina, e estavam tão espalhados que sua influência era muito pequena. Houve mais ou menos o mesmo número e em condições similares, em outras partes da Nova Inglaterra. Parecia ser nosso dever visitá-los com mais freqüência em seus lares, e fortalecê-los no Senhor e em Sua verdade, e, como estivessem muito dispersos, era-nos necessário permanecer na estrada a maior parte do tempo. Por falta de recursos, tomávamos os transportes particulares mais baratos, e viajávamos em vagões de segunda classe ou no convés inferior dos navios. Por causa de minha condição debilitada, procurava viajar por meios de transportes particulares mais cômodos. Quando em vagões de segunda classe, éramos geralmente envolvidos pela fumaça dos cigarros, cujo efeito me fazia desmaiar com freqüência. Quando em navios, no convés inferior, sofríamos os mesmos efeitos do fumo, além do praguejar e da conversação vulgar da tripulação e dos viajantes de camada social inferior. À noite, dormíamos sobre assoalhos duros, caixotes de mantimentos ou sacos de cereais, com malas de viagem como travesseiros, e sobretudos e xales como cobertas. Quando sofrendo os rigores do inverno, andávamos pelo convés para manter-nos aquecidos. Quando sob o calor do verão, íamos ao convés superior para usufruir do fresco ar noturno. Tudo isso me era muito cansativo, especialmente quando viajava com uma criança nos braços. Esse modo de vida não era, de forma alguma, de nossa escolha. Deus chamou-nos em nossa pobreza e conduziu-nos através da fornalha da aflição, para dar-nos uma experiência que nos seria de grande valor, e para que fôssemos um exemplo àqueles que posteriormente se uniriam a nós no trabalho. T1 78 1 Nosso Mestre foi um homem de dores; estava familiarizado com o sofrimento. E aqueles que sofrem com Ele, também com Ele reinarão. Quando o Senhor apareceu a Saulo, por ocasião de sua conversão, não procurou mostrar-lhe as boas coisas que poderia desfrutar, mas quanto importava sofrer pelo Seu nome. Sofrimento tem sido a porção do povo de Deus desde os dias do mártir Abel. Os patriarcas sofreram por serem verdadeiros a Deus e obedientes aos Seus mandamentos. O grande Líder da igreja sofreu por nossa causa; Seus primeiros apóstolos e a igreja primitiva sofreram; milhões de mártires padeceram; os reformadores também. E por que deveríamos nós, que temos a bendita esperança da imortalidade, a se consumar na breve volta de Cristo, recuarmos de uma vida de sofrimento? Fosse possível alcançar a árvore da vida no meio do Paraíso de Deus sem sofrimento, não fruiríamos com tanto gosto a rica recompensa pela qual não houvéssemos sofrido. Fugiríamos da glória; ficaríamos envergonhados na presença daqueles que combateram o bom combate, correram a carreira com paciência e lançaram mão da vida eterna. Mas, ninguém estará ali se, como Moisés, não escolher sofrer aflição com o povo de Deus. O profeta João viu uma multidão de redimidos, e um ancião perguntou quem eram. A imediata resposta foi: "Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro." Apocalipse 7:14. T1 78 2 Quando começamos a apresentar a luz sobre a questão do sábado, não tínhamos uma idéia bem definida da mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-12. O peso de nosso testemunho enquanto nos achávamos perante o povo era que o grande movimento da volta de Cristo era procedente de Deus; que a primeira e a segunda mensagens haviam sido pregadas e que a terceira devia ser proclamada. Vimos que a terceira mensagem se encerrava com estas palavras: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. E percebemos com a mesma clareza de agora, que essas palavras proféticas sugeriam a reforma do sábado; mas o que a adoração da besta mencionada na mensagem, ou sobre o que seriam a imagem e o sinal da besta, não tínhamos posição definida. T1 79 1 Por Seu Santo Espírito, Deus verteu luz sobre Seus servos, e o assunto foi-lhes pouco a pouco aberto à mente. Sua pesquisa exigiu muito estudo e ansiosa atenção, ponto por ponto. Por meio de cuidados, ansiedade e incessante empenho o trabalho progrediu, até as grandes verdades de nossa mensagem, num claro, completo e consolidado todo, serem transmitidas ao mundo. T1 79 2 Já tive a oportunidade de mencionar sobre como conheci o Pastor Bates. Descobri ser ele um verdadeiro cavalheiro cristão, polido e bondoso. Tratou-me com tanta ternura como se eu fosse sua própria filha. A primeira vez que me ouviu falar, demonstrou profundo interesse. Depois que parei de falar, levantou-se e disse: "Sou como o duvidoso Tomé. Não creio em visões. Se, porém, pudesse crer que o testemunho que a irmã deu esta noite é, realmente, a voz de Deus para nós, seria o mais feliz dos homens. Meu coração está profundamente comovido. Creio que a oradora é sincera, mas não consigo entender como lhe foram mostradas as coisas maravilhosas que ela nos relatou." T1 79 3 Poucos meses após meu casamento, assisti com meu esposo a uma assembléia em Topsham, Maine, na qual o Pastor Bates estava presente. Ele não cria então inteiramente que minhas visões provinham de Deus. Aquela reunião foi uma ocasião de muito interesse. O Espírito de Deus repousou sobre mim; tive uma visão da glória de Deus e, pela primeira vez, me foram mostrados outros planetas. Depois que voltei da visão, relatei o que vira. O Pastor Bates perguntou então se eu havia estudado astronomia. Disse-lhe que não tinha lembrança de já haver contemplado um livro de astronomia. Volveu ele, então: "Isto é do Senhor." Eu nunca o vira tão espontâneo e feliz. Seu rosto resplandeceu com a luz do Céu, e ele exortou a igreja com poder. T1 80 1 Da reunião voltei com meu marido a Gorham, onde então moravam meus pais. Caí muito doente, e sofri extremamente. Meus pais, marido e irmãs uniram-se em oração por mim, mas continuei a sofrer por três semanas. Freqüentemente desfalecia como morta, mas em resposta à oração me reanimava. Minha angústia era tão grande que eu rogava àqueles que me rodeavam que não orassem por mim, pois pensava que suas orações me estivessem prolongando os sofrimentos. Nossos vizinhos, já sem esperanças, abandonaram-me para morrer. Durante algum tempo, aprouve ao Senhor nos provar a fé. Por fim, quando meus amigos se reuniram para orar por mim, um irmão que estava presente e parecia muito sobrecarregado, e com o poder de Deus repousando sobre ele, levantou-se, atravessou o quarto, pôs as mãos sobre minha cabeça, dizendo: "Irmã Ellen, Jesus Cristo lhe dá saúde", e caiu para trás, prostrado pelo poder de Deus. Acreditei que aquilo era de Deus, e a dor deixou-me. Meu coração encheu-se de gratidão e paz. A linguagem de meu coração era: "Não há auxílio para nós senão em Deus. Podemos estar em paz unicamente quando descansamos nEle e esperamos Sua salvação." T1 80 2 No dia seguinte houve uma forte tempestade, e nenhum de nossos vizinhos pôde vir à nossa casa. Levantei-me e fui até a sala de estar; e como alguns viram abertas as janelas de meu quarto, acharam que eu havia morrido. Eles não sabiam que o Grande Médico esteve graciosamente em casa, repreendeu a enfermidade e me curou. No dia seguinte, viajamos sessenta quilômetros até Topsham. Os vizinhos perguntaram a papai a que horas seria o funeral. Meu pai perguntou: "Que funeral"? "O de sua filha", foi a resposta. Meu pai replicou: "Ela foi curada pela oração da fé e está a caminho de Topsham." T1 80 3 Poucas semanas depois, em viagem para Boston, embarcamos num navio em Portland. Uma violenta tempestade desabou sobre o navio e ficamos em grande perigo. A embarcação era terrivelmente sacudida e as ondas se chocavam contra as janelas das cabinas. Havia grande temor nos camarotes das senhoras. Muitas confessavam seus pecados e clamavam a Deus por misericórdia. Algumas pediam à Virgem Maria que as guardasse, enquanto outras faziam solenes votos a Deus, prometendo que se alcançassem a terra dedicariam a vida a Seu serviço. Tudo era terror e confusão. Enquanto o barco se agitava, uma senhora perguntou-me: "Você não está aterrorizada? Suponho que não chegaremos à terra." Disse-lhe que fizera de Cristo meu refúgio; e, se meu trabalho estava concluído, eu poderia jazer tanto no fundo do oceano quanto em qualquer outro lugar; se meu trabalho, porém, não estava terminado, todas as águas do oceano não poderiam afogar-me. Minha confiança estava em Deus. Se fosse para Sua glória, Ele nos faria aportar em segurança. T1 81 1 Nesse instante pude avaliar a esperança do cristão. A cena diante de mim trouxe-me vividamente ao espírito o dia da ira do Senhor, quando a tempestade de Sua ira se abater sobre o pobre pecador. Haverá então amargas lágrimas e clamores, confissão de pecados, súplicas por misericórdia, mas será tarde demais. "Porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o Meu conselho e não quisestes a Minha repreensão; também Eu Me rirei na vossa perdição e zombarei, vindo o vosso temor." Provérbios 1:24-26. T1 81 2 Pela misericórdia de Deus, todos desembarcamos sãos e salvos. Alguns dos passageiros, porém, que haviam demonstrado tanto pavor durante a tormenta, agora nem a mencionavam, a não ser para fazer troça de seus temores. Uma senhora que solenemente prometera tornar-se cristã, caso fosse preservada, exclamou zombeteiramente ao deixar o barco: "Glória a Deus! Estou feliz por pisar novamente em terra firme." Pedi-lhe que voltasse algumas horas no tempo e se lembrasse de seus votos a Deus. Ela, porém, evitou-me com um sorriso sarcástico. T1 81 3 Veio-me claramente à memória a questão do arrependimento de última hora. Alguns vivem para servirem a si mesmos e a Satanás, e então, quando lhes sobrevêm doenças ou enfrentam terríveis incertezas, demonstram alguma tristeza pelo pecado, e talvez digam que estão preparados para morrer. Seus amigos são persuadidos a crer que eles se converteram genuinamente, estando portanto qualificados para o Céu. Mas, se eles se recuperassem, continuariam a ser tão rebeldes como antes. Lembrei-me de Provérbios: "Vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia. Então a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão." Provérbios 1:27, 28. T1 82 1 Em Gorham, Maine, em 26 de Agosto de 1847, nasceu nosso filho mais velho, Henrique Nichols White. Em Outubro, o irmão e irmã Howland, de Topsham, amavelmente nos ofereceram uma parte de sua casa, que alegremente aceitamos e demos início às ocupações domésticas com mobília emprestada. Éramos pobres, e passamos por tempos apertados. Tínhamos resolvido não depender de ninguém, mas sustentar-nos a nós mesmos, e ter algo com que auxiliar outros. Mas não prosperávamos. Meu marido trabalhava muito arduamente transportando pedra na estrada de ferro, mas não ganhava o que lhe era devido por seu esforço. O irmão e irmã Howland liberalmente dividiam conosco sempre que podiam; mas eles também se encontravam em circunstâncias prementes. Criam amplamente na primeira e segunda mensagens, e haviam generosamente concedido de seus recursos para fazer avançar a obra, até que ficaram a depender de seu trabalho cotidiano. T1 82 2 Meu marido deixou de transportar pedra, e com seu machado foi à mata para rachar lenha. Com uma dor contínua no lado, trabalhava desde a madrugada até ao escurecer para ganhar cerca de cinqüenta centavos de dólar por dia. A dor severa o impedia de dormir à noite. Nós nos esforçávamos por conservar bom ânimo, e confiar no Senhor. Eu não murmurava. Pela manhã sentia-me grata a Deus por nos haver guardado mais uma noite, e à noite sentia-me agradecida por ter-nos guardado mais um dia. Certo dia em que se haviam acabado as nossas provisões, meu marido foi ao seu patrão para obter dinheiro ou provisões. Era um dia tempestuoso, e ele andou quase cinco quilômetros sob a chuva, tanto na ida quanto na volta. Trouxe para casa às costas um saco de provisões amarrado em várias porções, havendo desta maneira atravessado a aldeia de Brunswick, onde muitas vezes ele realizara conferências. Ao entrar ele em casa, muito cansado, meu coração desfaleceu dentro de mim. Minha primeira impressão foi que Deus nos havia abandonado. Disse ao meu marido: "Chegamos a este ponto? Deixou-nos o Senhor?" Não pude conter as lágrimas, e chorei amargamente durante horas, até que desmaiei. Fez-se oração em meu favor. Logo senti a influência animadora do Espírito de Deus, e lamentei que tivesse sucumbido ao desânimo. Desejamos seguir a Cristo e ser semelhantes a Ele; mas algumas vezes desfalecemos sob provações, e ficamos distantes dEle. Os sofrimentos e as provações aproximam-nos de Jesus. A fornalha consome a escória e dá brilho ao ouro. T1 83 1 Foi-me mostrado nessa ocasião que o Senhor estivera a provar-nos para o nosso bem, e para preparar-nos a fim de trabalhar pelos outros; que Ele nos estivera agitando o ninho para que não acontecesse ficarmos ali muito bem acomodados. Nossa obra consistia em trabalhar pelas pessoas; se prosperássemos materialmente, o lar se tornaria tão agradável que não teríamos desejo de o deixar. Deus permitiu que nos sobreviessem provações a fim de que estas nos preparassem para as lutas ainda maiores que encontraríamos em nossas viagens. Logo recebemos cartas dos irmãos de vários Estados, convidando-nos para visitá-los; não tínhamos, porém, meios para sair de nosso Estado. Nossa resposta foi que o caminho não estava aberto diante de nós. Eu achava que me seria impossível viajar com nosso filhinho. Não desejávamos depender de ninguém, e tínhamos o cuidado de viver dentro de nossos recursos. Estávamos resolvidos a sofrer, de preferência a contrair dívidas. Eu só usava cerca de meio litro de leite para mim e meu filho, cada dia. Certa manhã, antes de sair para o trabalho, meu marido deixou-me nove centavos para comprar leite durante três dias. Foi-me difícil decidir se devia comprar leite para mim e o bebê ou um casaquinho para ele. Desisti da idéia do leite e comprei o tecido para fazer um casaquinho que cobrisse os bracinhos nus de meu filho. T1 84 1 O pequenino Henrique logo caiu muito doente, e piorou tão depressa que ficamos bastante apreensivos. Estava em estado de torpor, com a respiração rápida e pesada. Demos-lhe remédios, mas sem resultados. Chamamos uma pessoa com prática de doença, a qual disse que seu restabelecimento era duvidoso. Tínhamos orado por ele, mas não houve mudança. Havíamos feito da criança uma desculpa para não viajar e trabalhar pelo bem de outros, e receávamos que o Senhor estivesse para tirá-lo de nós. De novo fomos perante o Senhor, orando para que tivesse compaixão de nós e poupasse a vida da criança, e comprometendo-nos solenemente a sair confiando em Deus, para onde quer que Ele nos mandasse. T1 84 2 Nossas orações eram fervorosas e aflitas. Reclamávamos pela fé as promessas de Deus, e cremos que Ele ouviu os nossos clamores. A luz do Céu rompeu as nuvens e resplandeceu sobre nós. Nossas orações foram misericordiosamente ouvidas. Desde aquela hora a criança começou a restabelecer-se. T1 84 3 Estando nós em Topsham, recebemos uma carta do irmão Chamberlain, de Connecticut, insistindo conosco para assistirmos a uma assembléia naquele Estado, em Abril de 1848. Decidimos que iríamos, se pudéssemos conseguir os meios. Meu marido ajustou contas com seu patrão, verificando que tinha dez dólares a receber. Com cinco desses comprei roupa, de que estávamos muito necessitados, e então remendei o casaco de meu marido, remendando mesmo os remendos, a tal ponto que era difícil dizer qual era o pano original das mangas. Tínhamos de resto cinco dólares, com que faríamos a viagem até Dorchester, Massachusetts. Nossa mala continha quase tudo que possuíamos na Terra; sentíamos, porém, paz de espírito e consciência limpa, e apreciávamos isso mais do que os confortos terrestres. Em Dorchester, fomos visitar o irmão Nichols e, ao sairmos dali, a irmã Nichols entregou a meu marido cinco dólares, com que custeamos nossa passagem para Middletown, Connecticut. Éramos estranhos naquela cidade, pois nunca tínhamos visto qualquer irmão de Connecticut. De nosso dinheiro não restavam senão cinqüenta centavos de dólar. Meu marido não se atreveu a gastá-los numa corrida de carruagem, de modo que pôs a nossa mala sobre uma pilha alta de tábuas em um terreno próximo em que se guardavam madeiras, e fomos a pé à procura de alguém que tivesse a mesma crença que nós. Logo encontramos o irmão Chamberlain, que nos recebeu em sua casa. T1 85 1 A reunião teve lugar em Rocky Hill, e realizou-se num aposento grande e inacabado da casa do irmão Belden. Os irmãos foram chegando até completarmos cinqüenta ouvintes, mas nem todos estavam plenamente fortalecidos na verdade. Nosso encontro foi interessante. O irmão Bates apresentou os mandamentos de Deus sob uma luz muito clara, e sua importância foi enfatizada através de poderosos testemunhos. A palavra teve como resultado firmar os que já haviam aceito a verdade, e despertar os que ainda não se haviam decidido. T1 85 2 Fomos convidados a visitar os irmãos no Estado de Nova Iorque no próximo verão. Os crentes eram pobres e não podiam prometer muito para custear nossas despesas. Não tínhamos meios com que viajar. A saúde de meu marido era precária, mas apresentou-se-lhe a oportunidade para trabalhar no corte de feno, e decidiu aceitar o trabalho. Pareceu-nos então que deveríamos viver pela fé. Quando nos levantávamos pela manhã, prostrávamo-nos ao lado da cama, e rogávamos a Deus que nos desse forças para trabalhar durante o dia, e não ficávamos satisfeitos a menos que tivéssemos certeza de que o Senhor ouvira nossas orações. Meu marido saía então para manejar a foice, não em sua própria força, mas na força do Senhor. À noite, quando voltava para casa, novamente rogávamos a Deus forças com que ganhar recursos a fim de disseminar a verdade. Éramos freqüentemente abençoados. Numa carta enviada ao irmão Howland, datada de Julho de 1848, meu marido escreveu: "Deus me concede forças para trabalhar arduamente o dia todo. Louvado seja o Seu nome! Espero ganhar alguns dólares para usá-los em Sua obra. Temos padecido com o trabalho e sofrido fadiga, dor, fome, frio e calor, enquanto nos esforçamos pelo bem de nossos irmãos e irmãs. Estamos prontos a sofrer mais, se assim a vontade de Deus dispuser. Regozijo-me porque o bem-estar, o prazer e os confortos desta vida já foram oferecidos em sacrifício no altar da fé e da esperança. Se nossa felicidade consiste em tornar os outros felizes, então somos realmente felizes. O verdadeiro discípulo não viverá para satisfazer o eu, mas para Cristo e para o bem dos Seus pequeninos. Ele está pronto a sacrificar sua comodidade, prazer, conforto, conveniência, vontade e desejos egoístas, pela causa de Cristo, ou nunca reinará com Ele em Seu trono." T1 86 1 Os recursos conseguidos no campo de feno foram suficientes para suprir nossas necessidades imediatas, e cobrir nossas despesas de ida e de volta à região ocidental de Nova Iorque. T1 86 2 Nossa primeira reunião em Nova Iorque teve lugar em Volney, no celeiro de um irmão. Cerca de 35 pessoas estavam presentes -- todos os que, naquele Estado, tinham condições de vir. Desses, contudo, dificilmente haveria dois que estivessem de acordo entre si. Alguns nutriam e defendiam erros graves, cada qual justificando arduamente seus próprios pontos de vista, e declarando estarem eles de acordo com a Bíblia. T1 86 3 Essas estranhas diferenças de opinião traziam-me grande peso ao coração, pois me parecia que Deus estava sendo desonrado; e desmaiei sob aquele fardo. Alguns recearam que eu estivesse morrendo, mas o Senhor ouviu as orações de Seus servos e restabeleceu-me. A luz do Céu repousou sobre mim e logo perdi a noção das coisas terrestres. Meu anjo assistente apresentou diante de mim alguns dos erros dos presentes, e também a verdade em contraste com seus erros. Essas opiniões contraditórias que eles diziam estar de acordo com a Bíblia, estavam tão-somente de acordo com seu modo pessoal de interpretar a Bíblia. Eles deviam submeter seus erros e unir-se em torno da terceira mensagem angélica. Nosso encontro encerrou-se triunfalmente. A verdade obteve a vitória. Os irmãos abandonaram seus erros e se uniram sob a terceira mensagem angélica. Deus os abençoou grandemente e aumentou seu número. T1 86 4 De Volney fomos a Port Gibson para assistir a uma reunião realizada no celeiro do irmão Edson. Havia entre os presentes aqueles que amavam a verdade, mas estavam ouvindo e acalentando erros. O Senhor atuou poderosamente em nosso favor antes do encerramento daquele encontro. Novamente me foi revelada em visão a importância dos irmãos do oeste de Nova Iorque porem de lado suas diferenças e se unirem sob a verdade bíblica. T1 86 5 Voltamos para Middletown, onde havíamos deixado nosso filho durante a viagem para o Oeste. Agora era-nos apresentado um doloroso dever. Pelo bem das pessoas, sentimos que precisávamos sacrificar a convivência com nosso pequeno Henrique, para poder entregar-nos sem reservas ao trabalho. Minha saúde era debilitada e ele certamente ocuparia grande parte do meu tempo. Essa foi uma prova dificílima, mas não ousei permitir que meu filho se interpusesse no caminho do dever. Eu cria que o Senhor poupara sua vida quando esteve gravemente enfermo e que, se eu consentisse que ele me estorvasse no cumprimento de meu dever, Deus o tiraria de mim. Sozinha diante do Senhor, com os mais penosos sentimentos e muitas lágrimas, fiz o sacrifício e entreguei meu único filho, então com cerca de um ano de idade, para que outra lhe manifestasse os sentimentos maternos e agisse como sua mãe. Nós o deixamos com a família do irmão Howland, em quem depositávamos extrema confiança. Eles estavam dispostos a assumir essa responsabilidade, a fim de deixar-nos tão livres quanto possível para trabalhar na causa de Deus. Sabíamos que podiam cuidar melhor de Henrique do que nós poderíamos enquanto em viagem, e que era para seu bem-estar ter um lar permanente e uma boa disciplina. Foi-me penoso partir sem meu filho. Seu rostinho triste no dia em que o deixei, estava dia e noite diante de mim, contudo, na força do Senhor, consegui retirá-lo de minha mente e procurar fazer o bem a outros. A família Howland cuidou de Henrique durante cinco anos. ------------------------Capítulo 12 -- Publicando e viajando T1 87 1 Em Junho de 1849, abriu-se-nos o caminho para instalarmos temporariamente nosso lar em Rocky Hill, Connecticut. Ali nasceu, em 28 de Julho, nosso segundo filho, Tiago Edson. T1 87 2 Enquanto morávamos nesse lugar, meu esposo ficou profundamente convencido de que chegara o tempo de ele escrever e publicar a verdade presente. Decidindo-se a fazer isso, sentiu-se grandemente animado e abençoado. De novo, porém, iria ficar em dúvida e perplexidade, visto estar sem dinheiro. Havia irmãos que tinham meios; mas estes preferiram guardá-los. Finalmente desistiu, desanimado; e decidiu-se a procurar um campo de feno para contratar a colheita. Quando ele saiu de casa, senti afligir-me um grande peso, e desmaiei. Fizeram-se orações por mim, e Deus me abençoou, arrebatando-me em visão. Vi que o Senhor abençoara e fortalecera meu esposo para trabalhar no campo um ano antes; que ele fizera emprego correto dos recursos ganhos ali; e teria cem vezes mais nesta vida e, se fosse fiel, uma preciosa recompensa no reino de Deus; mas que o Senhor não lhe daria agora forças para trabalhar no campo, pois Ele lhe destinava outro trabalho; que ele deveria andar pela fé, e escrever e publicar a verdade presente. Imediatamente começou a escrever, e quando chegava a alguma passagem difícil, uníamo-nos em oração a Deus, rogando a compreensão do verdadeiro sentido de Sua palavra. T1 88 1 Cerca da mesma época, ele começou a publicar um pequeno folheto intitulado The Present Truth (A Verdade Presente). O escritório de publicações ficava em Middletown, cerca de treze quilômetros distante de Rocky Hill, e ele andava essa distância, ida e volta, embora manquejasse. Quando ele trouxe o primeiro número da gráfica, nós nos ajoelhamos ao redor dos periódicos, pedindo ao Senhor, com coração humilde e muitas lágrimas, que abençoasse os débeis esforços de Seu servo. Então endereçou os periódicos àqueles que ele supunha iriam lê-los, e levou-os ao correio em uma maleta. Cada edição era levada de Middletown para Rocky Hill, e sempre antes de prepará-los para o correio os expúnhamos diante do Senhor e com fervorosas orações e lágrimas, rogávamos Sua bênção sobre os silenciosos mensageiros. Logo chegavam cartas com meios para publicar o periódico, e as boas novas de muitas pessoas aceitando a verdade. T1 88 2 Com o início desta obra de publicação, não cessamos nossos esforços de pregar a verdade, mas viajamos de um lugar para outro, proclamando as doutrinas que nos haviam trazido tão grande luz e alegria, animando os crentes, corrigindo erros e pondo as coisas em ordem na igreja. No intuito de levar avante o empreendimento das publicações, e ao mesmo tempo continuar nossa atividade nas várias partes do campo, o periódico, de tempos a tempos, era transferido de um lugar para outro. T1 89 1 Em 1850, o periódico foi publicado em Paris, Maine. Ali foi aumentado o formato e seu nome mudado para: Advent Review and Sabbath Herald (Revista do Advento e Arauto do Sábado). Os amigos da causa eram poucos e pobres em bens deste mundo e fomos ainda obrigados a lutar com a pobreza e grande desânimo. Trabalho excessivo, cuidados, ansiedades, falta de alimento próprio e nutriente, exposição ao frio em nossas longas viagens de inverno, tudo isso foi demais para meu marido, e ele cedeu ao peso desse fardo. Ficou tão fraco que dificilmente podia andar para a gráfica. Nossa fé foi provada ao extremo. Tínhamos voluntariamente suportado privações, trabalhos, sofrimentos; mas, não obstante nossos intuitos eram mal interpretados, e éramos olhados com desconfiança e inveja. Poucos daqueles por cujo bem havíamos sofrido, pareciam apreciar nossos esforços. Estávamos por demais perturbados para poder dormir ou repousar. As horas em que deveríamos ser refeitos pelo sono eram freqüentemente empregadas em responder a longa correspondência motivada pela inveja. Muitas horas, enquanto outros dormiam, passamos em prantos angustiosos e lamentações perante o Senhor. Finalmente disse meu marido: "Minha esposa, não vale a pena tentar lutar por mais tempo. Essas coisas estão me oprimindo demasiadamente, e logo me levarão ao túmulo. Não posso prosseguir. Escrevi uma nota para o periódico, em que declaro que não o publicarei mais." Quando ele saiu da sala para levar a nota à gráfica, eu desmaiei. Ele voltou e orou por mim. Sua oração foi atendida e fiquei aliviada. T1 89 2 Na manhã seguinte, durante o culto doméstico, caí em visão e fui instruída a respeito do assunto. Vi que meu marido não devia abandonar o periódico, pois Satanás estava experimentando impeli-lo a dar exatamente esse passo, e estava atuando por meio de seus agentes para tal fim. Foi-me mostrado que deveríamos continuar a publicar, e o Senhor nos ampararia. Que aqueles que eram culpados de lançar sobre nós tais acusações, deveriam ver o alcance de sua cruel atitude e confessar sua injustiça, ou o desagrado de Deus estaria sobre eles; que não era simplesmente contra nós que eles haviam falado e agido, mas contra Aquele que nos havia chamado para ocupar o lugar que Ele desejava; e que todas as suas suspeitas, ciúmes e secreta influência estavam fielmente registradas no Céu, as quais não seriam riscadas até que cada um visse a extensão de sua errônea conduta e a corrigisse. T1 90 1 O segundo volume da Review foi publicado em Saratoga Springs, Nova Iorque. Em Abril de 1852, mudamo-nos para Rochester, Nova Iorque. A cada passo éramos obrigados a avançar pela fé. Sentíamo-nos tolhidos pela pobreza, e compelidos a exercer a mais rígida economia e abnegação. Farei um breve resumo de uma carta à família do irmão Howland, datada de 16 de Abril de 1852. "Acabamos de estabelecer-nos em Rochester. Alugamos uma casa velha por cento e setenta e cinco dólares por ano. Temos o prelo na casa. Se não fosse isso, teríamos de pagar cinqüenta dólares anualmente por uma sala para a redação. Haveríeis de rir se nos vísseis e a nossa mobília. Compramos duas velhas armações de cama por vinte e cinco centavos de dólar cada. Meu marido trouxe para casa seis cadeiras velhas, dentre as quais não se acham duas iguais, pagando pelas mesmas um dólar. Logo presenteou-me com mais quatro cadeiras velhas sem assento, que lhe custaram sessenta e dois centavos de dólar. A armação era forte e fiz para elas assentos de lona. Manteiga é coisa tão cara que não a compramos, tampouco podemos nos abastecer de batatas. Usamos molho em lugar de manteiga, e nabos em vez de batatas. Nossas primeiras refeições foram tomadas numa tábua colocada sobre duas barricas vazias, de farinha. Estamos dispostos a suportar privações para que a obra de Deus possa avançar. Cremos que a mão do Senhor esteve sobre nós ao virmos para este lugar. Há um vasto campo para o trabalho, e os obreiros são poucos. Sábado passado, nossa reunião foi excelente. O Senhor nos confortou com Sua presença." T1 91 1 De tempos em tempos fazíamos conferências em diferentes partes do campo. Meu marido pregava, vendia livros e trabalhava para ampliar a circulação do periódico. Viajávamos em transporte particular e ao meio-dia parávamos ao lado da estrada para alimentar nosso cavalo e almoçar. Então, apanhando papel e lápis, meu marido escrevia artigos para a Review e a Instructor, sobre a tampa de nossa caixa de alimentos ou a copa de seu chapéu. O Senhor abençoou grandemente nossos trabalhos e a verdade atingiu a muitos corações. T1 91 2 No verão de 1853, fizemos nossa primeira viagem ao Estado de Michigan. Após a publicação de nossos apontamentos, meu marido ficou doente com febre. Unimo-nos em oração por ele, mas, embora tenha melhorado, ainda permanecia muito fraco. Estávamos em grande perplexidade. Deveríamos ser afastados do trabalho por enfermidades físicas? Seria permitido a Satanás exercer seu poder sobre nós e atentar contra nossa utilidade e vida, enquanto permanecêssemos neste mundo? Sabíamos que Deus podia limitar o poder de Satanás. Ele podia permitir que fôssemos provados na fornalha, mas nos traria dela purificados e melhor preparados para Seu trabalho. T1 91 3 A sós derramei meu coração em súplica diante de Deus, para que Ele repreendesse a doença e fortalecesse meu marido, de modo que pudesse suportar a viagem. O caso era urgente e minha fé apoderou-se firmemente das promessas de Deus. Obtive então a evidência de que, se prosseguíssemos viagem para Michigan, o anjo de Deus iria conosco. Quando relatei a meu marido o que se passara em minha mente, ele disse ter tido as mesmas impressões. Decidimos prosseguir, confiando no Senhor. A cada quilômetro que viajávamos ele se sentia mais fortalecido. O Senhor o susteve. E enquanto ele pregava, eu tive certeza de que os anjos de Deus estavam a seu lado sustendo-o nesse trabalho. T1 92 1 Nessa viagem, a mente de meu marido esteve muito concentrada no assunto do espiritualismo, e logo após nosso retorno, dedicou-se a escrever um livro intitulado Signs of the Times (Sinais dos Tempos). Ele ainda estava fraco e pouco podia dormir, mas o Senhor era o seu amparo. Quando seu espírito se encontrava em estado de confusão e sofrimento, curvávamo-nos diante de Deus, e em nossa angústia a Ele clamávamos. Ele ouvia nossas orações fervorosas e muitas vezes abençoou a meu marido de modo que, com o espírito reanimado, prosseguia com o trabalho. Muitas vezes durante o dia íamos assim perante o Senhor em fervorosa oração. Aquele livro, ele não o escreveu em sua própria força. T1 92 2 No inverno e na primavera, eu sofria muito por causa de uma enfermidade cardíaca. Era-me difícil respirar enquanto deitada, e não podia dormir a menos que ficasse numa posição quase sentada. Minha respiração freqüentemente interrompia-se e eu desmaiava. Eu apresentava sobre a pálpebra de meu olho esquerdo, um tumor que parecia ser câncer. Esse tumor foi aumentando gradualmente durante mais de um ano, até tornar-se muito doloroso e afetar-me a visão. Quando lendo ou escrevendo, eu me via obrigada a por uma venda nesse olho. Temi que ele fosse consumido por um câncer. Lembrei-me dos dias e noites despendidos em ler provas tipográficas, que tinham forçado minha vista, e pensei: Se eu perder meu olho e minha vida, eles terão sido sacrificados pela causa de Deus. T1 92 3 Por esse tempo, um famoso médico que dava consultas gratuitas visitou Rochester, e eu decidi visitá-lo para que examinasse meu olho. Ele achou que o tumor era realmente um câncer. Mas, após tomar minha pulsação ele disse: "Você está muito doente e morrerá de apoplexia antes que o tumor se rompa. A senhora se encontra sob perigosa condição em virtude da doença cardíaca." Isso não me surpreendeu, pois estava ciente que sem um imediato alívio, deveria baixar à sepultura. Duas mulheres que também se consultaram, estavam sofrendo da mesma enfermidade. O médico disse que eu estava em mais perigosa condição do que qualquer uma delas, e que dentro de no máximo três semanas seria atacada de paralisia. Perguntei-lhe se ele achava que um tratamento poderia curar-me. Ele não me deu muita esperança. Usei os remédios que me prescreveu, mas sem qualquer resultado positivo. T1 93 1 Depois de quase três semanas, desmaiei e cai ao chão, permanecendo inconsciente por cerca de trinta e seis horas. Eu estava temerosa de não sobreviver, mas, em resposta às orações, reanimei-me. Uma semana mais tarde, sofri paralisia de meu lado esquerdo. Tinha uma estranha sensação de frio e entorpecimento em minha mente e dores fortes nas têmporas. Minha língua parecia pesada e amortecida; eu não podia falar claramente. O braço e todo o lado esquerdo estavam paralisados. Pensei estar morrendo e minha grande ansiedade era ter evidência, em meus sofrimentos, de que o Senhor me amava. Durante meses sofri dores contínuas no peito, e meu espírito ficava constantemente deprimido. Tentava servir a Deus, por princípio e sem emoções, mas agora ansiava pela salvação divina e em obter Sua bênção, apesar dos meus sofrimentos físicos. T1 93 2 Os irmãos e irmãs uniram-se em oração especial a meu favor. Meu anseio foi atendido; recebi a bênção de Deus e a certeza de que Ele me amava. A dor, porém, continuava e eu me sentia mais fraca a cada hora. Novamente os irmãos se reuniram para apresentar meu caso ao Senhor. Eu estava tão debilitada que não podia orar em voz audível. Minha aparência parecia abalar a fé dos que me cercavam. Então as promessas de Deus foram dispostas perante mim como nunca eu havia contemplado antes. Parecia-me que Satanás estava empenhado em arrancar-me do convívio de meu marido e filhos e lançar-me no túmulo, e estas perguntas me sobrevieram à mente: Pode você crer nas claras promessas de Deus? Pode você andar pela fé, a despeito das aparências? Minha fé reviveu. Sussurrei aos ouvidos de meu marido: "Eu creio que serei curada." Ele me respondeu: "Eu gostaria de crer assim também." Recolhi-me aquela noite sem nenhum alívio, mas repousando com firme confiança nas promessas de Deus. Não pude dormir, mas continuei minha silenciosa oração. Pouco antes do amanhecer adormeci. T1 94 1 Pela manhã, levantei-me completamente livre de dores. O peso sobre o coração se foi e eu estava muito feliz. Oh, que mudança! Eu tinha a impressão de que um anjo celestial me tocara enquanto eu dormia. Enchi-me de gratidão. O louvor a Deus estava em meus lábios. Despertei meu marido e contei-lhe a maravilhosa obra que o Senhor fizera em mim. A princípio ele não compreendeu muito bem o que lhe disse, mas quando me levantei, vesti-me e andei pela casa, ele pôde louvar a Deus juntamente comigo. Meu olho afetado estava livre de dor. Em poucos dias o tumor desapareceu e minha visão foi totalmente restaurada. A obra fora completa. T1 94 2 Voltei ao médico e, tão logo sentiu minha pulsação, disse: "Senhora, houve uma total mudança em seu organismo, porém, aquelas mulheres que me haviam consultado da última vez que a senhora esteve aqui, morreram. Declarei-lhe que não fora o medicamento prescrito que me curara, pois eu não o tomara. Após eu ter saído da sala de consulta, o médico disse a uma amiga minha: "O caso dela é um mistério. Eu não posso entendê-lo." T1 94 3 Logo visitamos novamente Michigan, e eu suportei longas e cansativas viagens em estradas atravancadas de toras e através de brejos lamacentos; minhas forças não declinaram. Sentimos que o Senhor desejava que visitássemos Wisconsin e providenciou para que tomássemos o trem em Jackson, às dez horas da noite. T1 94 4 Enquanto nos preparávamos para tomar o trem, sentimos sobre nós certa solenidade e resolvemos unir-nos em oração. Ao nos confiarmos a Deus, não pudemos refrear as lágrimas. Fomos à estação ferroviária com sentimentos de profunda solenidade. Embarcamos e fomos a um vagão no qual havia assentos com espaldares altos, esperando poder dormir um pouco aquela noite. O vagão estava lotado e passamos ao seguinte. Ali pudemos assentar-nos. Eu tenho por costume, quando viajo à noite, dispensar minha touca, mas não o fiz desta vez, porém, apanhei minha mala de viagem como que esperando por alguma coisa. Ambos conversamos sobre nossos sentimentos singulares. T1 95 1 O trem estava a uns cinco quilômetros de Jackson, quando seu movimento tornou-se violento, dando solavancos para trás e para diante, até que parou. Abri a janela e vi um vagão com uma das extremidades erguidas. Ouvi gemidos agonizantes e havia grande confusão. A locomotiva havia sido lançada fora dos trilhos. Mas o vagão em que nos encontrávamos permaneceu sobre a linha e afastado cerca de três metros e meio dos demais. O vagão de bagagens não foi muito danificado e nosso grande baú de livros ficou intacto. O vagão da segunda classe foi esmagado e os pedaços, juntamente com os passageiros, foram lançados em ambos os lados dos trilhos. Aquele vagão no qual tentamos conseguir assentos ficou muito danificado, e uma de suas extremidades transformou-se num montão de ruínas. O engate não se rompera, mas o vagão em que estávamos foi desprendido daquele em que estava ligado, como se um anjo o houvesse separado. Quatro pessoas morreram ou ficaram mortalmente feridas, e muitas se feriram gravemente. Sentimos que Deus enviou um anjo para preservar-nos a vida. T1 95 2 Voltamos para Jackson e no dia seguinte tomamos o trem para Wisconsin. Nossa visita àquele Estado foi uma bênção de Deus. Pessoas se converteram como resultado de nossos esforços. O Senhor me deu forças para suportar a tediosa viagem. T1 95 3 Em 29 de Agosto de 1854, outra responsabilidade foi acrescentada à nossa família com o nascimento de Guilherme. Por essa ocasião recebemos o primeiro número de um falso periódico intitulado The Messenger of Truth (O Mensageiro da Verdade). Aqueles que nos caluniavam por meio dessa publicação, tinham sido reprovados por suas faltas e erros. Não quiseram suportar a reprovação e, a princípio de maneira secreta e depois mais abertamente, empregavam sua influência contra nós. Podíamos suportar isso, mas alguns desses que haviam permanecido conosco, foram influenciados por essas pessoas ímpias. Alguns em quem havíamos confiado e que reconheciam nossos trabalhos como abençoados por Deus de maneira assinalada, retiraram-nos sua simpatia e a deram aos que lhes eram relativamente estranhos. T1 96 1 O Senhor me havia mostrado o caráter e o desfecho daquele grupo; que Seu desagrado estava com os que se achavam ligados àquele periódico, e contra eles Sua mão; e, conquanto parecessem prosperar por algum tempo e algumas pessoas honestas fossem iludidas, a verdade, contudo, haveria de triunfar finalmente, e toda pessoa sincera romperia com o engano que a havia retido, retirando-se da influência daqueles homens ímpios; deveriam cair, visto que a mão de Deus estava contra eles. T1 96 2 Novamente a saúde de meu marido declinou. Ele estava com tosse e inflamação pulmonar, e seu sistema nervoso combalido. Suas ansiosas preocupações, as responsabilidades que assumira em Rochester, o trabalho no Escritório, doenças e mortes na família, a falta de simpatia daqueles que haviam partilhado seus esforços, juntamente com as viagens e pregações, foram demasiado para suas forças. Ele parecia estar sendo rapidamente consumido por uma tuberculose que o levaria à sepultura. Essa foi uma ocasião de aflição e trevas. Esparsos raios de luz ocasionalmente rompiam as densas nuvens, proporcionando-nos um pouco de esperança; outras vezes, caíamos em desespero. Às vezes parecia que Deus nos havia abandonado. T1 96 3 O grupo do Messenger criava toda espécie de falsidades a nosso respeito. Estas palavras do salmista vieram de maneira poderosa à minha mente: "Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniqüidade. Porque cedo serão ceifados como a erva e murcharão como a verdura." Salmos 37:1, 2. Alguns dos redatores desse periódico se alegravam com a doença de meu marido, dizendo que Deus tomaria conta dele, e o removeria do caminho. Quando Tiago leu isso durante sua enfermidade, sua fé reviveu e ele exclamou: "'Não morrerei, mas viverei, e contarei as obras do Senhor' (Salmos 118:17), e poderei ainda pregar no funeral deles." T1 97 1 Negras nuvens pareciam suspensas sobre nós. Homens maus professando piedade e sob o comando de Satanás apressaram-se em forjar falsidades e a unir suas forças contra nós. Se a causa de Deus fosse só nossa, poderíamos ter tremido, mas ela estava nas mãos dAquele que disse: "Ninguém as arrebatará das Minhas mãos." João 10:28. Sabíamos que Jesus vivia e reinava. Podíamos dizer diante do Senhor: "A causa é Tua e Tu sabes que isso não foi de nossa própria escolha, mas sob Tua ordem fizemos a parte que nos cabia." ------------------------Capítulo 13 -- Mudança para Michigan T1 97 2 Em 1855, os irmãos em Michigan abriram o caminho para que a obra de publicações fosse removida para Battle Creek. Naquele tempo, meu marido estava devendo de dois a três mil dólares; e tudo que ele tinha, além de um pequeno lote de livros, eram contas devedoras de livros, algumas das quais duvidosas. A causa havia aparentemente chegado a um impasse, os pedidos de publicações eram poucos e reduzidos, e Tiago temia morrer endividado. Os irmãos, em Michigan, ajudaram-nos a adquirir um terreno e construir uma casa. O contrato foi feito em meu nome, de modo que pudesse dispor da propriedade após a morte de meu marido. T1 97 3 Dias de tristeza foram aqueles. Eu olhava para meus três filhos que, como receava, logo deviam ficar órfãos; e dominavam-me pensamentos como estes: Meu marido morrerá de excesso de trabalho na causa da verdade presente; e quem compreenderá o que sofreu? Quem sabe dos encargos que durante anos ele suportou, os extremos cuidados que lhe oprimiam o ânimo e arruinaram a saúde, trazendo-lhe morte prematura, deixando a família sem recursos e sob a dependência de outros? A mim mesma fiz muitas vezes esta pergunta: Deus não cuida dessas coisas? Ele não as nota? Fiquei consolada por saber que há Alguém que julga retamente, e que cada sacrifício, cada ato de abnegação, e cada transe angustioso sofrido por Sua causa, é fielmente registrado no Céu, e terá o seu galardão. O dia do Senhor declarará e trará à luz coisas que ainda não são manifestas. T1 98 1 Foi-me revelado que era desígnio de Deus reerguer gradualmente meu marido; que deveríamos exercer uma forte fé, pois em cada esforço deveríamos ser esmurrados terrivelmente por Satanás; que não devíamos olhar às aparências, mas crer. Três vezes ao dia, recorríamos a Deus, e nos entregávamos à oração fervorosa pelo restabelecimento de sua saúde. Com freqüência um de nós era prostrado pelo poder de Deus. O Senhor graciosamente ouviu nossas ferventes orações e meu marido começou a recuperar-se. Por muitos meses nossas orações por saúde ascenderam ao Céu, três vezes por dia, para fazer a vontade de Deus. Esses períodos de oração eram muito preciosos. Éramos levados a uma sagrada proximidade com Deus e doce comunhão com Ele. Não posso externar melhor meus sentimentos desse tempo do que como os expressei nos seguintes textos de uma carta que escrevi à irmã Howland: T1 98 2 "Sinto-me muito grata porque agora posso ter meus filhos sob meus cuidados, e educá-los no caminho reto. Durante semanas tenho sentido fome e sede de salvação, e temos desfrutado quase ininterrupta comunhão com Deus. Por que ficarmos longe da Fonte, quando podemos chegar e beber? Por que morrermos à míngua de pão, quando há um armazém cheio? É nutritivo e grátis. Ó minha alma, coma regaladamente, e beba diariamente das alegrias celestes! Não poderei conter minha paz. O louvor de Deus está em meu coração e nos lábios. Podemos regozijar-nos na plenitude do amor de nosso Salvador. Podemos regalar-nos em Sua excelente glória. Meu coração testifica isso. Dissipou-se de mim a tristeza por essa preciosa luz, e nunca poderei esquecê-lo. Senhor, ajuda-me a conservar esta experiência viva na lembrança. Despertem, energias todas de meu coração! Despertem e adorem seu Redentor em virtude do Seu maravilhoso amor! T1 99 1 "As pessoas que nos circundam precisam ser despertas e salvas, ou perecerão. Não temos nem um minuto a perder. Todos exercemos uma influência que fala em favor da verdade ou contra ela. Desejo levar comigo as inconfundíveis evidências de que sou uma discípula de Cristo. Queremos algo além da religião do sábado. Necessitamos dos princípios vivos e de sentir diariamente nossa responsabilidade individual. Isso é evitado por muitos e seu resultado é descuido, indiferença, falta de vigilância e espiritualidade. Onde está a espiritualidade da igreja? Somos homens e mulheres cheios de fé e do Espírito Santo? Minha oração é: 'Purifica Tua igreja, ó Deus.' Por meses fruí plena liberdade e estou determinada a ordenar minha conversação e corrigir todos os meus caminhos diante do Senhor. T1 99 2 "Nossos inimigos podem triunfar. Podem falar palavras amargas, e sua língua forjar calúnia, engano e falsidade; contudo não seremos abalados. Sabemos em quem temos crido. Não temos corrido em vão nem trabalhado inutilmente. Aproxima-se um dia de ajuste de contas, em que todos serão julgados segundo o que houverem feito no corpo. É verdade que o mundo é tenebroso. A oposição pode tornar-se forte. O néscio e o escarnecedor podem tornar-se ousados em sua iniqüidade. Entretanto, nada disso nos moverá o ânimo, mas nos apoiaremos no braço do Todo-poderoso, em busca de forças. T1 99 3 "Deus está peneirando Seu povo. Ele terá uma igreja pura e santa. Não podemos ler o coração do homem. Mas o Senhor providenciou meios para manter Sua igreja pura. Têm surgido pessoas corrompidas que não poderiam viver com o povo de Deus. Elas desprezaram a reprovação e não gostavam de ser corrigidas. Tiveram oportunidade de reconhecer que sua conduta era injusta Tiveram tempo para arrepender-se de seus erros, mas o eu lhes era muito caro para morrer. Elas o acariciaram e fortaleceram, e se separaram do fiel povo de Deus, a quem Ele está purificando para Si mesmo. Todos temos razões para agradecer a Deus por ter Ele aberto um caminho para salvar a igreja. A ira de Deus cairá sobre nós se esses corruptos pretensiosos permanecerem em nosso meio. T1 100 1 "Cada pessoa sincera que for enganada por esses descontentes, receberá a verdadeira luz a respeito deles; cada anjo do Céu há de visitá-la e iluminar sua mente. Nada temos a temer a esse respeito. Quanto mais próximos do Juízo, todos manifestarão seu verdadeiro caráter, e se tornará claro a que partido pertencem. O peneiramento está em curso. Não venhamos a dizer: 'Detém Tua mão, ó Deus.' A igreja precisa ser purificada e isso acontecerá. Deus reina. Que Seu povo O louve. Não tenho sequer o mais leve pensamento de esmorecer. Tenciono ser justa e agir justamente. O Juízo está para ser iniciado e os livros abertos; seremos julgados de acordo com nossas obras. Todas as falsidades que possam lançar contra mim não me fazem qualquer mal nem bem, a não ser levar-me mais perto de meu Redentor." T1 100 2 O Senhor começou a "virar nosso cativeiro" (Jó 42:10) desde o tempo em que nos mudamos para Battle Creek. Encontramos amigos em Michigan, que simpatizavam conosco, e estavam dispostos a participar de nossos encargos e suprir nossas necessidades. Velhos e experimentados amigos no centro do Estado de Nova Iorque e na Nova Inglaterra, especialmente em Vermont, simpatizavam conosco em nossas aflições, e estavam prontos a ajudar-nos em tempos angustiosos. Na Assembléia de Battle Creek, em Novembro de 1856, Deus atuou em nosso favor. A mente de Seus servos foi dirigida à questão dos dons da igreja. Se o desagrado divino esteve sobre Seu povo por causa dos dons que haviam sido negligenciados e menosprezados, havia agora uma feliz perspectiva de que Seu sorriso aprovador novamente estaria sobre nós. Que Ele graciosamente restauraria os dons que permaneceriam na igreja para animar o coração desfalecido, e advertir e corrigir os errantes. Nova vida foi dada à causa e o sucesso seguia o trabalho de nossos pregadores. T1 101 3 Foram recebidos pedidos de literatura, e esta mostrou-se ser exatamente o que a causa exigia. O Messenger of Truth logo sucumbiu, e dispersaram-se os espíritos discordantes que por meio dele falavam. Meu marido pôde pagar todas as suas dívidas. A sua tosse cessou, bem como a dor e a sensibilidade dos pulmões e garganta, e ele gradualmente recuperou a saúde, de maneira que podia pregar três vezes aos sábados e aos domingos, com facilidade. Essa maravilhosa obra na restauração de sua saúde, proveio de Deus, e a Ele pertence toda a glória. T1 101 1 Quando meu marido ficou muito fraco, antes de nossa mudança de Rochester, desejou ver-se livre da responsabilidade da obra de publicações. Ele propunha que a igreja ficasse responsável pelo trabalho, e constituísse uma comissão de publicações; e que ninguém ligado ao Escritório obtivesse qualquer benefício financeiro disso, além dos salários recebidos por seu trabalho. T1 101 2 Embora o assunto fosse repetidamente apresentado a sua consideração, nossos irmãos não tomaram nenhuma atitude a respeito até 1861. Até essa época meu marido tinha sido o proprietário legal da casa publicadora e o único administrador da instituição. Ele usufruía a confiança dos amigos ativos da causa, que lhe confiavam a seu cuidado os recursos que eles doavam de tempos em tempos para desenvolver os empreendimentos editoriais, conforme a necessidade da causa em crescimento. Mas, embora a declaração de que a casa publicadora era virtualmente propriedade da igreja, fosse repetidamente publicada na Review, e como meu esposo era o único proprietário legal, nossos inimigos procuraram tirar vantagem da situação sob pretexto de especulação, e fizeram tudo o que lhes estava ao alcance para prejudicá-lo e retardar o progresso da obra. Sob essas circunstâncias ele apresentou o assunto de organização, o que resultou na incorporação da Sociedade de Publicações dos Adventistas do Sétimo Dia, de acordo com as leis de Michigan, na primavera de 1861. T1 101 3 Conquanto os cuidados que assumimos com relação à obra de publicações e outros ramos da causa nos enchessem de perplexidades, o que mais me pesava era o sacrifício a que fui chamada a fazer pela obra: deixar meus filhos ao cuidado de outros. T1 102 1 Henrique ficara cinco anos distante de nós, e Edson havia recebido muito pouco de nossos cuidados. Durante anos nossa família foi muito grande e nosso lar como um hotel, e ficávamos distantes de casa. Eu sentia profunda ansiedade por meus filhos, para que fossem protegidos dos maus hábitos. Ficava freqüentemente aflita enquanto pensava no contraste entre minha situação e a de outros que não tinham nenhuma preocupação e cuidados; que podiam estar sempre com seus filhos, aconselhá-los e instruí-los, e que despendiam seu tempo quase que exclusivamente com as famílias. Perguntei, então: "Requererá Deus tanto de nós e deixará outros sem responsabilidades? Isso é igualdade? Devemos ser assim tão solícitos em cuidar dos outros, e ter tão pouco tempo para dedicar a nossos filhos? Muitas noites, enquanto outros dormiam, eram por mim despendidas em amargo pranto. T1 102 2 Eu pretendia idear um plano que favorecesse meus filhos, mas surgiam objeções que me impediam de realizá-lo. Eu, lamentavelmente, era muito sensível às faltas de meus filhos, e cada erro que cometiam afligia-me e afetava minha saúde. Queria que algumas mães se colocassem, por um pouco de tempo, na situação que eu estava vivendo já por anos, para que pudessem avaliar as bênçãos que fruíam, e tivessem condição de se solidarizar comigo em minhas privações. Nós orávamos, trabalhávamos por nossos filhos e os controlávamos. Não negligenciávamos a vara, mas antes de usá-la nos empenhávamos em convencê-los a verem suas faltas e orávamos com eles. Procurávamos fazê-los compreender que o desagrado de Deus estaria sobre nós se desculpássemos seus pecados. Nossos esforços, em seu benefício, foram abençoados. Seu grande prazer era agradar-nos. Eles não estavam livres de faltas, mas críamos que seriam ovelhas do redil de Cristo. T1 102 3 Em 1860, a morte se deteve sobre nossa casa, e rompeu o mais jovem ramo da árvore de nossa família. O pequeno Herbert, nascido em 20 de Setembro de 1860, morreu em 14 de Dezembro do mesmo ano. Quando aquele tenro ramo se quebrou, nosso coração sangrou, e ninguém mais podia compreender-nos senão aqueles que depuseram seus pequeninos na sepultura. T1 103 1 Mas, oh, quando nosso nobre Henrique morreu*, com dezesseis anos de idade; quando nosso doce cantor desceu ao túmulo, e não mais ouvimos seus cânticos matutinos, nosso lar ficou vazio. Meu marido, eu e meus dois filhos restantes, sentimos de modo muito agudo o golpe. Mas Deus confortou-nos em nosso luto, e com fé e ânimo retomamos a obra que Ele nos havia dado, com a esperança de reencontrar nossos filhos, então tragados pela morte, em um mundo onde a doença e a morte não existirão. T1 103 2 Em Agosto de 1865, meu marido foi acometido de paralisia. Esse foi um duro golpe não apenas para mim e meus filhos, mas para a causa de Deus. As igrejas foram impedidas dos trabalhos de meu marido e dos meus. Satanás triunfou quando viu a obra de Deus assim obstruída. Mas, graças a Deus porque Ele não permitiu que fôssemos destruídos! Após ficarmos afastados do trabalho ativo por quinze meses, ousamos uma vez mais reiniciar o trabalho nas igrejas. T1 103 3 Havendo-me convencido de que meu marido não se recuperaria de sua prolongada doença enquanto permanecesse inativo, e de que havia chegado o tempo de sair e dar meu testemunho ao povo, decidi fazer uma viagem pela região Norte de Michigan, com meu marido, em sua condição de extrema debilidade, e no mais rigoroso frio do inverno. Requeria não pequeno grau de coragem moral e fé em Deus tomar essa decisão de arriscar tanto; mas eu sabia que eu tinha uma obra a fazer, e me parecia que Satanás estava determinado a conservar-me afastada dela. Eu havia esperado intensamente que nosso cativeiro fosse mudado, e temia que vidas preciosas pudessem perder-se pela demora. Permanecer mais tempo distanciada do campo de trabalho era para mim pior do que a morte, e deveríamos pôr-nos em ação para não perecer. Assim, em 19 de Dezembro de 1866, deixamos Battle Creek sob uma tempestade de neve, rumo a Wright, Michigan. Meu marido suportou a viagem de 145 quilômetros muito melhor do que eu esperava, e pareceu-me mais saudável ao chegarmos ao destino do que quando deixamos Battle Creek. T1 104 1 Ali iniciamos nossos primeiros trabalhos efetivos após sua enfermidade. Ele começou a trabalhar como nos primeiros tempos, embora sofrendo muita fraqueza. Ele pregava por trinta ou quarenta minutos no sábado pela manhã e no primeiro dia da semana, enquanto eu ocupava o restante do tempo e falava às tardes, por cerca de uma hora e meia. Éramos ouvidos com muita atenção. Vi que meu marido estava ficando mais forte, mais lúcido e mais claro em suas exposições. E quando, numa ocasião, ele falou cerca de uma hora com clareza e poder, com a responsabilidade da obra sobre ele como antes de sua doença, meus sentimentos de gratidão estavam além da expressão. Ergui-me em meio à congregação e por aproximadamente meia hora tentei externá-los em meio às lágrimas. A congregação ficou profundamente comovida. Senti que isso era o alvorecer de melhores dias para nós. T1 104 2 A mão de Deus em sua restauração era mais do que evidente. Provavelmente ninguém que tenha sofrido semelhante queda se recuperou. Entretanto, o severo ataque de paralisia que lhe afetara a mente com gravidade foi removido pela generosa mão divina, e novas forças foram-lhe concedidas tanto físicas quanto mentais. T1 104 3 Durante os anos que se seguiram à recuperação de meu marido, o Senhor abriu perante nós um vasto campo de trabalho. Embora, no início, eu subisse timidamente à plataforma para falar, entretanto, a providência de Deus abriu-me caminho e eu tinha confiança para apresentar-me confiantemente perante grandes auditórios. Juntos assistimos às reuniões campais e outros grandes encontros, desde o Maine até Dakota, do Michigan ao Texas e Califórnia. T1 105 1 O trabalho que se iniciara em fraqueza e obscuridade continuou a crescer e fortalecer-se. As casas publicadoras em Michigan e na Califórnia, e as missões na Inglaterra, Noruega e Suíça, testemunhavam seu crescimento. Em substituição à edição de nosso primeiro periódico transportada para o escritório numa maleta, cerca de cento e quarenta mil exemplares de nossos vários periódicos eram agora enviados mensalmente dos escritórios de publicações. A mão de Deus havia estado com Sua obra para prosperá-la e edificá-la. T1 105 2 Posteriormente, minha vida esteve envolvida em vários empreendimentos que surgiram entre nós, e com os quais meu trabalho havia estado intimamente ligado. Para o desenvolvimento dessas instituições, meu marido e eu trabalhamos com a pena e a voz. Falar, mesmo que brevemente, sobre a experiência desse ativos e ocupados anos, excederia os objetivos deste livro. Os esforços do inimigo para atrapalhar a obra e destruir os obreiros não cessaram, mas Deus cuidou de Seus servos e trabalho. ------------------------Capítulo 14 -- A morte de meu marido T1 105 3 Apesar dos trabalhos, cuidados e responsabilidades com os quais a vida de meu marido sempre esteve sobrecarregada, o sexagésimo ano encontrou-o mental e fisicamente ativo e vigoroso. Por três vezes sofreu ataques de paralisia, no entanto, pela bênção de Deus, por uma forte constituição física e pela estrita obediência às leis de saúde, foi capaz de superá-los. Novamente viajou, pregou e escreveu com seus costumeiros zelo e energia. Lado a lado trabalhamos na causa de Cristo por trinta e seis anos, e esperávamos permanecer juntos para testemunhar o glorioso final. Mas tal não era a vontade de Deus. O protetor eleito em minha juventude, o companheiro de minha vida, aquele que partilhara de meus trabalhos e aflições, foi-me arrebatado, e fiquei sozinha para concluir minha obra e ferir as batalhas. T1 106 1 Passamos juntos a primavera e o início do verão de 1881 em nosso lar, em Battle Creek. Meu marido esperava ordenar seus negócios para podermos viajar à costa do Pacífico e dedicar-nos ao preparo de literatura. Ele achou que havíamos cometido um erro ao permitir que as aparentes necessidades da causa e os apelos de nossos irmãos nos constrangessem ao trabalho ativo da pregação, quando deveríamos estar escrevendo. Ele desejava apresentar mais plenamente o glorioso assunto da redenção. Desde há muito eu pensara no preparo de livros importantes. Ambos achávamos que enquanto nossas energias mentais estivessem intactas, deveríamos empreender esses trabalhos, pois esse era um dever que nos impusemos e à causa de Deus, de repousarmos do calor da batalha e transmitir ao nosso povo a preciosa luz da verdade que Deus nos revelara. T1 106 2 Algumas semanas antes da morte de meu marido, insisti com ele sobre a importância de procurar um campo de trabalho onde pudéssemos ser aliviados das responsabilidades a nós impostas em Battle Creek. Em resposta, ele falou sobre vários assuntos que exigiam atenção antes que pudéssemos dedicar-nos a esse novo objetivo, deveres esses que alguém precisava cumprir. Então, com profunda emoção, perguntou: "Onde estão os homens para fazerem esta obra?" "Onde estão aqueles que mostrarão um abnegado interesse em nossas instituições, e que permanecerão pelo direito, não afetados por qualquer influência com as quais venham a entrar em contato?" T1 106 3 Com lágrimas externou sua ansiedade por nossas instituições em Battle Creek. Disse: "Minha vida tem sido empregada em erigi-las. Para mim, deixá-las é morrer. Elas são como meus filhos e não posso separar meus interesses dos delas. Essas instituições são instrumentos do Senhor para realizarem um trabalho específico. Satanás procura impedir e subverter cada um dos meios que o Senhor está usando para a salvação dos homens. Se o grande adversário puder moldá-las de acordo com os padrões mundanos, terá alcançado seu objetivo. É minha grande preocupação ter o homem certo no lugar certo. Se aqueles que estão em posição de responsabilidade são fracos em poder moral e vacilantes em princípios, inclinados ao mundo, acharão certamente a quem conduzir. Más influências não podem prevalecer. Eu desejaria antes morrer do que viver para ver essas instituições mal administradas ou desviadas do propósito para o qual foram criadas. T1 107 1 "Em meus laços com essa causa, estive por muito mais tempo intimamente ligado à obra de publicações. Por três vezes fui vitimado por paralisia em razão de minha dedicação a esse ramo da causa. Agora que Deus renovou minhas energias físicas e mentais, sinto que posso servir à Sua causa como nunca antes fui capaz de fazê-lo. Quero ver a obra de publicações prosperar. Ela está entrelaçada à minha própria existência. Se eu me esquecer dos interesses dessa obra, que minha mão direita se esqueça de sua mobilidade." T1 107 2 Nós havíamos agendado assistir a uma reunião em uma tenda, em Charlotte, nos dias 23 e 24 de Julho, respectivamente sábado e domingo. Como eu estivesse com a saúde prejudicada, decidimos viajar em transporte particular. De caminho, meu marido parecia animado, todavia, um solene sentimento transparecia em sua face. Ele repetidamente louvava a Deus pelas misericórdias e bênçãos recebidas e livremente expressava seus sentimentos quanto ao passado e ao futuro: "O Senhor é bom e digno de ser louvado. Ele é socorro bem presente em tempos de necessidade. O futuro parece nebuloso e incerto, mas o Senhor não permitiu que nos afligíssemos sobre essas coisas. Quando surgir a dificuldade, Ele nos dará graça para suportá-la. O que o Senhor tem sido para nós e tudo quanto fez por nós, devem fazer-nos tão agradecidos que jamais deveríamos murmurar ou lamentar. Nossos trabalhos, aflições e sacrifícios nunca serão plenamente apreciados por todos. Vejo que perdi minha paz mental e a bênção de Deus por permitir ser perturbado por essas coisas. T1 108 1 "Era-me difícil aceitar que meus motivos fossem mal-interpretados, e que meus melhores esforços para ajudar, encorajar, e fortalecer meus irmãos fossem freqüentemente voltados contra mim. Mas eu devia ter-me lembrado de Jesus e Suas decepções. Seu coração se afligia porque Ele não era apreciado por aqueles a quem viera abençoar. Eu tinha de deter-me mais sobre a misericórdia e a benignidade de Deus, louvando mais e lamentando menos a ingratidão de meus irmãos. Se eu houvesse deixado todas as minhas perplexidades com o Senhor, pensando menos no que outros diziam e faziam contra mim., teria mais paz e alegria. Desde agora buscarei primeiro guardar-me de ofender quer por palavras ou atos, e então ajudar meus irmãos a tornarem retos os caminhos para seus pés. Não me deterei para lamentar qualquer coisa que me fizerem de mal. Esperei mais dos homens do que deveria. Amo a Deus e a Sua obra, e também a meus irmãos." T1 108 2 Enquanto viajávamos, nem me passava pela cabeça que essa seria a última viagem que faríamos juntos. O tempo mudou repentinamente, de calor sufocante para frio intenso. Meu marido apanhou um resfriado, mas como sua saúde era boa então, não houve dano permanente. Ele trabalhava nas reuniões de Charlotte, apresentando a verdade com grande clareza e poder. Falava do prazer que sentia ao se dirigir a pessoas que manifestavam tão profundo interesse nos assuntos que lhe eram muito caros. "O Senhor me tem refrigerado o coração", ele disse, "enquanto estou partindo o pão da vida para os outros. Em todo o Michigan o povo está clamando ansiosamente por ajuda. Quanto almejo confortar, animar e fortalecê-los com as preciosas verdades próprias para este tempo!" T1 108 3 Em nossa volta para casa, meu marido reclamou de uma leve indisposição, todavia, dedicou-se ao seu trabalho, como de costume. Cada manhã visitávamos um bosque próximo e ali nos uníamos em oração. Estávamos ansiosos por conhecer nosso dever. Continuamente recebíamos cartas procedentes de vários lugares, convidando-nos a assistir às reuniões campais. Apesar da determinação de nos dedicarmos ao trabalho de escrever, era difícil recusar o encontro com nossos irmãos nessas importantes assembléias. Fervorosamente suplicávamos por sabedoria para saber qual o melhor caminho a seguir. T1 109 1 No sábado pela manhã, como fazíamos, fomos ao bosque, e meu marido por três vezes orou de maneira muito intensa. Ele parecia relutante em interromper seus rogos a Deus por guia especial e bênção. Suas orações foram ouvidas. Paz e luz encheram nosso coração. Ele orou ao Senhor, dizendo: "Agora, entrego tudo a Jesus. Sinto uma doce e celestial paz, uma certeza de que o Senhor nos mostrará nosso dever, pois desejamos fazer-Lhe a vontade." Ele me acompanhou ao tabernáculo e iniciou o culto com cântico e oração. Foi a última vez que ele esteve comigo no púlpito. T1 109 2 Na segunda-feira seguinte ele apanhou um forte resfriado, e no outro dia fui também acometida. Fomos ao hospital para tratamento. Na sexta-feira, eu estava melhor. O médico então me informou que meu marido estava se sentindo sonolento e que isto denotava perigo. Imediatamente dirigi-me ao seu aposento, e tão logo contemplei seu rosto, compreendi que meu marido estava morrendo. Tentei despertá-lo. Ele compreendia tudo que lhe era dito e respondia apenas às perguntas que pediam um sim ou um não como resposta. Parecia incapaz de falar mais do que isso. Quando lhe disse que achava estar ele à beira da morte, não manifestou nenhuma surpresa. Perguntei se Jesus lhe era precioso. Ele respondeu: "Sim, oh sim!" "Você ainda deseja viver?", perguntei-lhe. Respondeu-me: "Não." T1 109 3 Então nos ajoelhamos ao lado de sua cama e orei por ele. Uma expressão de paz iluminou-lhe a face. Eu lhe disse: "Jesus ama você. Os braços eternos o envolvem." Ele respondeu: "Sim, sim." T1 109 4 O irmão Smith e outros irmãos então oraram prostrados ao redor de sua cama e se retiraram depois para passar grande parte daquela noite em oração. Meu marido disse não estar sentindo nenhuma dor; mas ele estava definhando rapidamente. O Dr. Kellogg e seus auxiliares fizeram tudo o que estava ao seu alcance para livrá-lo da morte. Ele reanimou-se lentamente, mas continuava muito fraco. T1 110 1 Na manhã seguinte, ele parecia haver melhorado um pouco, mas ao meio-dia teve uma queda de temperatura, que o deixou inconsciente. Às 17h, num sábado, 6 de Agosto de 1881, ele expirou mansamente, sem reações ou gemidos. T1 110 2 O choque da morte de meu marido, tão súbito quanto inesperado, abateu-se sobre mim com peso esmagador. Em minha debilitada condição física, reuni forças para estar a seu lado até o final, mas quando vi seus olhos fechados pela morte, meu combalido organismo cedeu e fiquei completamente prostrada. Por algum tempo pareci estar entre a vida e a morte. A chama vital bruxuleava tão fracamente, que o mais leve sopro podia apagá-la. À noite, minha pulsação estava fraca e a respiração cada vez mais débil parecia prestes a parar. Somente a bênção de Deus e o incessante cuidado e vigilância do médico e seus assistentes preservaram minha vida. T1 110 3 Embora ainda não me houvesse erguido do leito após a morte de meu marido, pude ir ao Tabernáculo, no sábado, para assistir ao seu funeral. No encerramento do sermão, senti ser meu dever testificar sobre o valor da esperança do cristão na hora de sofrimento e luto. Quando me levantei, recebi forças e falei durante cerca de dez minutos, exaltando a misericórdia e o amor de Deus, na presença da congregação. Ao final do culto, acompanhei o corpo de meu marido até o cemitério de Oak Hill, onde ele desceu ao descanso até a manhã da ressurreição. T1 110 4 Minhas forças físicas estavam esgotadas pelo duro golpe que recebera, mas o poder da divina graça susteve-me durante o profundo pesar. Quando vi meu marido dar o último suspiro, senti então que Jesus me era mais precioso do que em qualquer outro momento de minha vida. Quando fiquei ao lado de meu primogênito e lhe fechei os olhos na morte, pude dizer: "O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor." Jó 1:21. Percebi, então, que tinha um consolador em Jesus. Quando meu filho caçula foi tomado de meus braços e não mais pude ver sua cabecinha no travesseiro, ao meu lado, também disse: "O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor." Jó 1:21. E quando me foi tomado aquele cujas profundas afeições eu fruíra e com quem havia trabalhado por trinta e seis anos, pude colocar as mãos sobre seus olhos e dizer: "Confio meu tesouro a Ti até a manhã da ressurreição." T1 111 1 Ao vê-lo morrer e nossos muitos amigos simpatizando comigo, pensei: "Que contraste com a morte de Jesus, quando Ele inclinou a cabeça sobre a cruz! Que contraste! Na hora de Sua agonia, os zombadores escarneciam dEle e O ridicularizavam. Mas Ele morreu e passou pela sepultura para iluminá-la, e aliviá-la, a fim de podermos ter a alegria e esperança mesmo em face da morte; e podermos dizer ao depormos nossos amigos ao descanso em Jesus: Nós os encontraremos novamente. T1 111 2 Por vezes penso que meu marido não deveria ter morrido. Mas estas palavras estão gravadas em minha mente: "Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus." Salmos 46:10. Sinto profundamente minha perda, mas não ouso abandonar-me a uma dor desnecessária. Ela não traria de volta meu esposo. Não sou tão egoísta para desejar, se possível fosse, trazê-lo de volta de seu pacífico sono e envolvê-lo novamente nas batalhas da vida. Como um cansado guerreiro, ele se deitou para dormir. Olho para sua sepultura com alegria. O melhor modo de meus filhos e eu honrarmos sua memória é retomar seu trabalho onde ele o deixou, e na força de Jesus levá-lo adiante até sua conclusão. Queremos ser gratos pelos anos de utilidade que lhe foram proporcionados e, por sua causa e por causa de Cristo, desejamos aprender por meio de sua morte uma lição que jamais esqueceremos. Desejamos que esses momentos de luto nos tornem mais bondosos e gentis, mais pacientes e solícitos com os vivos. T1 111 3 Retomo a obra de minha vida sozinha, com plena confiança de que meu Redentor estará comigo. Temos apenas pouco tempo para lutar nesta guerra, então Cristo virá e as cenas do conflito chegarão a seu final. Assim, nossos últimos esforços serão feitos para trabalhar com Cristo e fazer avançar Seu reino. Alguns que estão na frente da batalha resistindo bravamente às incursões do mal, caem em seu posto do dever; os vivos olham com tristeza aos heróis que se foram, mas não há tempo para interromper o trabalho. Eles precisam cerrar fileiras; apanhar a bandeira das mãos daqueles que tombaram na morte, e com renovada energia defender a verdade e a honra de Cristo. Como nunca antes, é necessário resistir ao pecado e aos poderes das trevas. O tempo exige atividade enérgica e determinada por parte daqueles que crêem na verdade presente. Se o tempo parecer longo à espera da vinda de nosso Libertador; se curvados pela aflição e alquebrados pelo trabalho exaustivo, nos sentirmos impacientes aguardando honrosa libertação, lembremo-nos -- e que essa lembrança impeça toda murmuração -- que fomos deixados na Terra para enfrentar conflitos e tormentas, para aperfeiçoar o caráter cristão, para conhecermos melhor a Deus nosso Pai, e a Cristo nosso Irmão mais velho, e trabalhar pelo Mestre ganhando muitas pessoas para Ele. "Os sábios, pois, resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam à justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente." Daniel 12:3. ------------------------Capítulo 15 -- Guardador dos irmãos T1 113 2 Em 20 de Novembro de 1885, enquanto me achava em oração, o Espírito do Senhor veio súbita e poderosamente sobre mim, e fui arrebatada em visão. T1 113 3 Vi que o Espírito do Senhor tem estado a extinguir-Se na igreja. Os servos de Deus têm confiado demasiado na força do argumento, e não têm mantido em Deus aquela firme confiança que deveriam ter. Vi que a mera discussão sobre a verdade não levará as pessoas a decidir colocar-se ao lado dos remanescentes; pois a verdade é impopular. Os servos de Deus devem ter a verdade no coração. Disse o anjo: "Eles a devem receber com o calor da glória, levá-la no próprio seio, e derramá-la com calor e zelo de coração para os que a ouvem." Uns poucos, que são conscienciosos, estão prontos a decidir segundo o peso da evidência; mas é impossível mover a muitos por meio de uma simples teoria da verdade. A verdade precisa ser acompanhada de poder, um testemunho vivo a impulsioná-los. T1 113 4 Vi que o inimigo está ocupado em destruir vidas humanas. A exaltação tem penetrado nas fileiras; importa que haja mais humildade. Há demasiada condescendência com a independência de espírito entre os mensageiros. Isto tem que ser posto de lado, e cumpre que os servos de Deus se unam mais uns aos outros. Tem havido muito do espírito que indaga: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Disse o anjo: "Sim, você é a guardadora de seu irmão. Deve ter por seu irmão vigilante cuidado, estar interessada em seu bem-estar, e nutrir para com ele um bondoso e amorável espírito. Avancem juntos, avancem juntos." É desígnio de Deus que os homens tenham o coração aberto e sincero, sem presunção, manso e humilde, com simplicidade. Esse é o princípio do Céu; assim o ordenou Deus. Mas o homem, frágil e pobre, buscou algo diferente -- seguir seu caminho, e atender cuidadosamente a seu interesse. T1 114 1 Indaguei do anjo por que a simplicidade fora excluída da igreja, e nela haviam penetrado o orgulho e a exaltação. Vi que esta foi a razão de quase havermos sido entregues à mão do inimigo. Disse o anjo: "Olhe e veja que predomina este sentimento: 'Sou eu guardador do meu irmão?'" Gênesis 4:9. E outra vez ele disse: "Você é a guardadora do seu irmão. Sua profissão, sua fé, exige que você negue a você mesma e sacrifique a Deus, ou será indigna da vida eterna; pois por alto preço foi ela comprada, isto é, pela angústia, os sofrimentos e o sangue do amado Filho de Deus." T1 114 2 Vi que muitos, em vários lugares, no leste e no oeste, estavam ajuntando sítio a sítio, e terra a terra, e casa a casa, fazendo da causa de Deus uma desculpa, dizendo que assim fazem para que possam ajudar a causa. Algemam-se a si mesmos de maneira que não podem ser senão de pouco benefício à causa. Alguns compram um pedaço de terra, e trabalham com todas as suas forças para pagá-lo. Seu tempo é tão ocupado, pouco é o que dele podem reservar para oração, e servir a Deus, e dele obter forças a fim de vencer suas tentações. Acham-se endividados, e quando a causa necessita de seu auxílio, não a podem ajudar; pois devem livrar-se primeiro da dívida. Mas tão depressa se vêem livres de uma dívida, estão mais longe de ajudar a causa do que antes: pois novamente se envolvem num acréscimo de sua propriedade. Lisonjeiam-se a si mesmos de que esta orientação é correta, de que empregarão o proveito na causa, quando na realidade estão é ajuntando tesouros aqui. Amam a verdade em palavras, mas não por obra. Mas amam a causa apenas tanto quanto suas obras o demonstram. Amam mais o mundo, e menos a causa de Deus; a atração do terrestre se fortalece, enquanto a do Céu enfraquece. O coração deles está com seu tesouro. Por seu exemplo dizem aos que os rodeiam que pretendem demorar-se aqui, que a Terra é a sua pátria. Disse o anjo: "Você é a guardadora do seu irmão." T1 115 1 Muitos se têm envolvido em despesas desnecessárias, unicamente para satisfazer os sentimentos, o gosto e os olhos, quando a causa precisava dos próprios recursos que eles usavam, e quando alguns dos servos de Deus andavam mal trajados, e tinham o seu trabalho entravado por falta de recursos. Disse o anjo: "Em breve passará o seu tempo de ação. Suas obras mostram que o próprio eu é seu ídolo, e a ele sacrificam." O próprio eu precisa ser satisfeito em primeiro lugar; seu sentimento é: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Muitos têm recebido advertência após advertência, mas não deram ouvidos. O eu é o objeto principal, e diante dele tudo se deve curvar. T1 115 2 Vi que a igreja tem quase perdido o espírito de abnegação e sacrifício; fazem do eu e do interesse próprio a primeira coisa, e então fazem pela obra o que julgam que podem e o que não podem fazer. Tal sacrifício, vi, é defeituoso, e não aceitável por Deus. Todos devem estar interessados em fazer o máximo para levar avante a causa. Vi que os que não têm propriedade mas possuem forças físicas, são perante Deus responsáveis por elas. Devem ser diligentes no trabalho e de espírito fervoroso; não devem deixar que os que têm posses façam todo o sacrifício. Vi que eles podem sacrificar, e que é seu dever fazê-lo, da mesma maneira que os que possuem propriedades. Muitas vezes, porém, os que não possuem bens não compreendem que se podem negar a si mesmos de muitas maneiras, podem gastar menos consigo mesmos e satisfazer menos seus gostos e apetites, e encontrar muito em que poupar para a causa, ajuntando assim tesouros no Céu. Vi que há amabilidade e beleza na verdade; mas tire-se o poder de Deus, e ela ficará impotente. ------------------------Capítulo 16 -- Tempo de início do Sábado* T1 116 1 Vi que isto era mesmo assim: "... Duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado." Levítico 23:32. Disse o anjo: "Tomem a Palavra de Deus, leiam-na, compreendam-na e vocês não errarão. Estudem-na cuidadosamente e ali descobrirão o que é tarde e quando começa." Perguntei-lhe se o desagrado de Deus esteve sobre Seu povo por iniciarem o sábado como haviam feito. Fui dirigida ao primeiro sábado observado pelos adventistas e acompanhei o povo de Deus até nossos dias, mas nada constatei que pudesse trazer sobre eles o desagrado divino. Indaguei por que as coisas haviam ocorrido dessa maneira e por que precisávamos mudar agora o tempo de início do sábado. Disse o anjo: "Vocês entenderão, mas não ainda, não ainda." E disse mais: "Se houvesse luz a respeito e essa luz fosse rejeitada, então haveria condenação e o desagrado divino, mas, antes que a luz venha não há pecado, pois não existe luz rejeitada." Vi que alguns achavam que o Senhor havia mostrado iniciar-se o sábado pontualmente às seis horas da tarde, quando, na verdade, eu apenas vira que ele começava à "tarde" e eles deduziram que "tarde" significava às seis horas. Vi que os servos de Deus precisavam unir-se e consolidar-se. ------------------------Capítulo 17 -- Opositores da verdade* T1 116 2 Foi-me mostrado o caso de Stephenson e Hall, de Wisconsin. Vi que, enquanto estávamos naquele Estado, em Julho de 1854, eles estavam convencidos de que as visões eram de procedência divina; mas depois de as examinarem e compararem com as posturas do movimento da Era Vindoura*, e por que as visões não se harmonizavam com os pontos de vista aceitos por essa instituição, abandonaram-nas. Enquanto viajavam pelo Leste, na última primavera, agiram de maneira errada e astuciosa. Estando equivocados com relação à Era Vindoura, achavam-se prontos a tomar qualquer atitude que visasse prejudicar a Review. Os amigos de nossa revista precisavam estar atentos e fazer o que estivesse ao seu alcance para salvar os filhos de Deus do engano. Esses homens haviam-se unido a pessoas corrompidas e mentirosas, e não lhes faltou evidências de que elas eram assim. Conquanto professando simpatia e apoio a meu marido, eles (especialmente Stephenson) o atacavam pelas costas como traiçoeiras víboras. Enquanto lhe diziam palavras suaves, incitavam o povo de Wisconsin contra a Review e seus dirigentes. Stephenson foi extremamente ativo nesse trabalho. Seu objetivo era fazer com que a Review publicasse o ensino da Era Vindoura, caso contrário, destruiria sua influência. Enquanto meu marido tinha um coração aberto e confiante, buscando por todas as maneiras remover-lhes os ciúmes, franqueando-lhes os negócios do Escritório e tentando ajudá-los, eles observavam tudo com malícia e inveja. Disse o anjo, enquanto eu os observava: "Pensa você, frágil homem, que pode impedir a obra de Deus? Um toque de Seu dedo pode lançá-lo por terra. Ele o tolerará apenas por um pouco mais." T1 117 1 Minha atenção foi chamada para o surgimento da doutrina do advento e mesmo antes disso. Vi que não havia termo de comparação com o engano, a deturpação e a falsidade praticada pelos partidários do Messenger, que na verdade era uma associação de corações corrompidos sob capa de religião. Algumas pessoas sinceras haviam sido influenciadas por eles, achando que deviam ter pelo menos alguma razão para suas afirmações, e julgando-os incapazes de proferir tão evidentes falsidades. Vi ainda que essa gente sincera haveria de ter evidências acerca da verdade sobre essas questões. A igreja de Deus deveria mover-se diretamente avante, como se aquela gente má não existisse no mundo. T1 117 2 Foi-me mostrado que devem ser feitos esforços decididos para mostrar os erros àqueles que não são verdadeiros cristãos, e que se eles não se reformarem, serão separados dos preciosos e santos; que Deus pode ter um povo puro e perfeito no qual deleitar-Se. Não O desonrem os homens mesclando ou unindo o puro com o impuro. T1 118 1 Vi alguns vindo do Leste para o Oeste. Esses não haviam deixado seu lugar e vindo para o Oeste para se enriquecerem, mas para ganhar pessoas para a verdade. Disse o anjo: "Que suas obras revelem que não é para sua honra ou para ajuntar tesouros na Terra que eles se mudaram, mas para empunhar e exaltar a bandeira da verdade." Observei que esses eram como homens que esperam seu Senhor. Disse o anjo: "Sejam exemplos vivos para os que vivem no Oeste. Que suas obras revelem que vocês são o povo peculiar de Deus e que têm uma obra especial a fazer: Dar a última mensagem de graça ao mundo. Que suas obras mostrem àqueles que os cercam, que este mundo não é seu lar." Vi que aqueles que criaram dificuldades para si mesmos deveriam romper os laços do inimigo e libertar-se. Não ajuntem tesouros na Terra, mas demonstrem através da vida que estão entesourando no Céu. Se Deus realmente os chamou para o Oeste, Ele tem um trabalho, um exaltado trabalho, para vocês fazerem. Que a fé e o conhecimento experimental de vocês auxiliem os que não obtiveram ainda uma viva experiência. Não permitam que a atenção seja atraída para esta pobre e escura parte do mundo, mas para o alto, para Deus, a glória e o Céu. Que nenhum cuidado e perplexidade das fazendas daqui lhes absorva a mente, mas que vocês possam concentrar-se na herança de Abraão. Possuímos uma herança imortal. Retirem as afeições da Terra e coloquem-nas nas coisas celestiais. ------------------------Capítulo 18 -- Responsabilidade paterna T1 118 2 Vi que grande responsabilidade repousa sobre os pais. Eles não devem ser dirigidos pelos filhos, mas dirigi-los a eles. Foi-me apresentado Abraão. Ele foi fiel em sua casa. Ordenou sua casa depois dele, e isto foi lembrado por Deus. T1 119 1 Foi-me então mostrado o caso de Eli. Ele não restringiu seus filhos, e eles se tornaram ímpios e vis, e por sua impiedade, desviaram a Israel. Havendo Deus dado a conhecer a Samuel os pecados deles, e a severa maldição que se devia seguir porque Eli não os reprimiu, disse que seus pecados jamais seriam expiados com sacrifício nem oferta. Ao contar-lhe Samuel o que o Senhor lhe mostrara, Eli submeteu-se, dizendo: "É o Senhor; faça o que bem parecer aos Seus olhos." 1 Samuel 3:18. Seguiu-se em breve a maldição de Deus. Aqueles ímpios sacerdotes foram mortos, e mortos foram também trinta mil dentre Israel, e a arca de Deus foi tomada pelos inimigos. E ao ouvir Eli que a arca de Deus fora tomada, caiu para trás e morreu. Todo esse mal veio em resultado da negligência de Eli em restringir seus filhos. Vi que se Deus foi tão exigente em observar essas coisas antigamente, não o será menos nestes últimos dias. T1 119 2 Os pais devem governar os filhos, corrigir-lhes as paixões e subjugá-las, do contrário Deus seguramente destruirá os filhos no dia de Sua ardente ira, e os pais que não controlaram os filhos não ficarão sem culpa. Especialmente os servos de Deus devem governar a própria família, mantendo-a em boa sujeição. Vi que eles não estão habilitados para julgar ou decidir os negócios da igreja, a menos que possam governar bem a própria casa. Devem ter primeiro ordem em casa, e então seu juízo e influência terão peso na igreja. T1 119 3 Vi que a razão por que as visões não têm sido mais freqüentes nos últimos tempos, é que não têm sido apreciadas pela igreja. A igreja quase perdeu sua espiritualidade e fé, e as reprovações e advertências não têm exercido sobre eles senão um pequeno efeito. Muitos dos que têm professado ter fé nelas, não as têm atendido. T1 119 4 Alguns têm tomado rumo imprudente; ao falarem de sua fé aos incrédulos, e ser-lhes pedida a prova da mesma, têm lido uma visão, em lugar de se voltarem para a Bíblia em busca de prova. Vi que esse proceder era incoerente, e suscitava nos incrédulos preconceitos contra a verdade. As visões não podem ter peso para os que nunca as viram, e nada sabem do espírito das mesmas. Não devemos a elas nos referir, em tais casos. ------------------------Capítulo 19 -- Fé em Deus T1 120 1 Quando em Battle Creek, Michigan, em 5 de Maio de 1855, vi que havia grande falta de fé por parte dos servos de Deus, bem como da igreja. Ficavam muito facilmente desanimados, eram demasiado inclinados a duvidar de Deus, muito dispostos a crer que tinham uma dura sorte e que Deus os abandonara. Vi que isto era cruel. Deus os amara a ponto de dar Seu bem-amado Filho para morrer por eles, e todo o Céu estava interessado na sua salvação; todavia, depois de tudo quanto por eles fora feito, era-lhes difícil crer e confiar em tão bondoso e benigno Pai. Ele disse que está mais disposto a dar o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem, do que os pais terrestres o estão para dar boas dádivas a seus filhos. Vi que os servos de Deus e a igreja desanimavam muito facilmente. Quando pediam ao Pai do Céu coisas que julgavam necessitar, e estas não vinham imediatamente, a fé lhes vacilava, fugia-lhes o ânimo, e deles se apoderava um sentimento de queixa. Isso, vi, desagradava a Deus. T1 120 2 Todo santo que se aproximar de Deus com coração verdadeiro, dirigindo-Lhe com fé suas sinceras petições, verá suas orações atendidas. Sua fé não deve largar as promessas de Deus, caso vocês não vejam ou sintam a imediata resposta a suas orações. Não temam confiar em Deus. Descansem em Sua firme promessa: "Pedi e recebereis." João 16:24. Deus é demasiado sábio para errar, e demasiado bom para negar qualquer coisa boa a Seus santos, que andam na retidão. O homem é falível, e embora suas orações sejam dirigidas ao alto por um coração sincero, nem sempre pede aquilo que lhe convém, ou que seja para a glória de Deus. Assim sendo, nosso sábio e bom Pai ouve nossas orações e, por vezes, responderá imediatamente; dá-nos, porém, aquilo que é para nosso máximo bem e Sua glória. Deus nos dá bênçãos; caso nos fosse possível penetrar Seus planos, veríamos claramente que Ele sabe o que é melhor para nós, e que nossas orações são atendidas. Não nos é concedida coisa alguma que seja prejudicial, mas a bênção de que necessitamos, em lugar daquilo que pedimos e que não nos faria bem, mas mal. T1 121 1 Vi que, se não recebermos resposta imediata a nossas orações, devemos apegar-nos firmemente a nossa fé, não permitindo que penetre a desconfiança, pois isto nos separará de Deus. Se nossa fé vacilar, nada receberemos dEle. Forte deve ser a confiança que temos em Deus; e quando mais dela necessitarmos, a bênção, qual chuveiro, cairá sobre nós. T1 121 2 Quando os servos de Deus oram por Seu Espírito e Sua bênção, estes vêm por vezes imediatamente; mas nem sempre é concedida então. Em tais ocasiões, não desfaleçam. Apegue-se sua fé com firmeza à promessa de que ela virá. Esteja sua confiança plenamente em Deus, e muitas vezes essa bênção virá quando mais dela necessitarem, e receberão inesperadamente auxílio de Deus ao estarem apresentando a verdade a incrédulos, e vocês serão habilitados a falar a palavra com clareza e poder. T1 121 3 Isto me foi representado como crianças que pedem um favor a seus pais terrestres, que os amam. Pedem alguma coisa que os pais sabem que lhes fará mal; dão-lhes então aquilo que será para seu bem, em lugar daquilo que desejavam. Vi que toda oração elevada ao Céu com fé, por um coração sincero, será ouvida por Deus, e aquele que dirige a petição terá a bênção quando mais dela necessitar, e excedendo ela muitas vezes a suas expectativas. Não se perderá nem uma oração feita por um santo fiel se feita com fé, por um coração sincero. ------------------------Capítulo 20 -- O grupo do Messenger* T1 122 1 Quando em Oswego, Nova Iorque, em Junho de 1855, foi-me mostrado que o povo de Deus tem criado obstáculos para si. Há Acãs no arraial. A obra de Deus tem progredido pouco, e muitos de Seus servos ficam desanimados porque a verdade não produz maiores resultados em Nova Iorque. Não são acrescentados novos membros à igreja. O grupo do Messenger surgiu e fomos obrigados a suportar alguns por causa de suas línguas mentirosas e falsidades, entretanto, suportamos tudo pacientemente. Agora que nos deixaram, não mais prejudicarão a causa de Deus tanto quanto poderiam fazê-lo por sua influência, se houvessem permanecido conosco. T1 122 2 A desaprovação divina é atraída sobre a igreja por causa de indivíduos corrompidos que ali estão. Esses desejam ser os primeiros, quando nem Deus nem seus irmãos os colocaram nessa posição. Egoísmo e exaltação própria têm lhes assinalado a vida. Abre-se agora um espaço aonde eles podem ir e encontrar pastagens com os de sua própria espécie. Deveríamos louvar a Deus porque, em Sua misericórdia, livrou a igreja desses indivíduos. Ele permite que essas pessoas sigam os próprios caminhos e se fartem dos frutos dos próprios atos. Entusiasmo e simpatia os movem agora e enganarão a alguns, mas cada pessoa honesta será esclarecida sobre a verdadeira condição dessa sociedade, e ficará com o povo especial de Deus, firmando-se na verdade, seguindo a humilde senda e sendo protegida contra a influência daqueles que abandonaram a Deus preferindo os próprios caminhos. Esses ceifarão o que semearam. Vi que Deus lhes havia dado oportunidade de se corrigirem, e os havia esclarecido sobre o amor que dedicavam ao próprio eu e outros pecados, mas não O atenderam. Não quiseram converter-se e Ele, misericordiosamente, livrou a igreja desses indivíduos. A verdade surtirá efeito se os servos de Deus e a igreja se consagrarem a Ele e à Sua causa. T1 123 1 Vi que o povo de Deus precisa erguer-se e cingir a armadura. Cristo está voltando e a grande obra da última mensagem de misericórdia é de muita importância para que a deixemos e nos ocupemos em responder a falsidades, deturpações e difamações que o grupo do Messenger criou e espalhou. Devemos firmar-nos na verdade, a verdade presente. Estamos "fazendo uma grande obra e não" podemos "descer". Neemias 6:3. Satanás está por trás de tudo isso, buscando desviar nossa mente da verdade presente e da volta de Jesus. Disse o anjo: "Jesus sabe de tudo isso." Dentro em pouco chegará para eles o dia do ajuste de contas. Todos serão julgados de acordo com o que fizerem no corpo. A língua mentirosa será detida. Provérbios 12:19. Os pecadores de Sião estarão atemorizados; o medo surpreenderá os hipócritas. ------------------------Capítulo 21 -- Preparo para encontrar o Senhor T1 123 2 Vi que não devemos retardar a vinda do Senhor. Disse o anjo: "Preparem-se, preparem-se para o que há de vir sobre a Terra. Correspondam suas obras à fé que vocês professam." Vi que a mente deve estar firme em Deus, e que nossa influência deve testemunhar de Deus e Sua verdade. Não podemos honrar o Senhor quando somos descuidosos e indiferentes. Não O podemos glorificar quando estamos desalentados. Cumpre-nos ser sinceros para assegurar a salvação do próprio ser, e para salvar a outros. Devemos dar a isto toda a importância, e tudo mais deve vir em segundo lugar. T1 123 3 Vi a beleza do Céu. Ouvi os anjos cantarem seus cânticos arrebatadores, rendendo louvor, honra e glória a Jesus. Pude então avaliar alguma coisa do assombroso amor do Filho de Deus. Ele abandonou toda a glória, toda a honra que tinha no Céu, e tão interessado estava em nossa salvação, que suportou paciente e mansamente toda a indignidade e desprezo que o homem sobre Ele pôde amontoar. Foi ferido, machucado, moído; foi estendido na cruz do Calvário, e sofreu a mais angustiosa das mortes, para que da morte nos salvasse; para que fôssemos lavados em Seu sangue, e ressuscitados para viver com Ele nas mansões que está preparando para nós, e pudéssemos desfrutar a luz e a glória do Céu, ouvir os anjos cantarem, e com eles cantarmos também. T1 124 1 Vi que todo o Céu está interessado em nossa salvação; e seremos nós indiferentes? Seremos descuidosos, como se fosse coisa de pouca importância o sermos salvos ou perdidos? Menosprezaremos o sacrifício feito por nós? Alguns assim têm feito. Têm brincado com a misericórdia que lhes é oferecida, e o desagrado de Deus está sobre eles. O Espírito de Deus não será para sempre ofendido. Retirar-Se-á, caso seja ofendido por um pouco mais de tempo. Depois de ter sido feito tudo quanto Deus podia fazer para salvar os homens, caso eles mostrem por sua vida que menosprezam a oferecida misericórdia de Jesus, a morte será o quinhão deles e elevado o preço a ser pago. Será uma terrível morte; pois terão de sofrer a angústia sentida por Cristo, na cruz, a fim de adquirir para eles a redenção que recusaram. E compreenderão aí o que perderam -- a vida eterna, a herança imortal. O grande sacrifício feito para salvar vidas humanas, mostra-nos o valor delas. Uma vez perdida a preciosa vida, está perdida para sempre. T1 124 2 Vi um anjo com balanças na mão, pesando os pensamentos e interesses do povo de Deus, especialmente dos jovens. Num prato estavam os pensamentos e interesses que tendiam para o Céu; no outro achavam-se os que se inclinavam para a Terra. E nessa balança era lançada toda leitura de romances, pensamentos acerca do vestuário e exibição, vaidade, orgulho, etc. Oh! que momento solene! Os anjos de Deus em pé com balanças, pesando os pensamentos de Seus professos filhos -- aqueles que pretendem estar mortos para o mundo e vivos para Deus! O prato cheio dos pensamentos da Terra, vaidade e orgulho, desceu rapidamente, e não obstante peso após peso rolou do prato. O que continha os pensamentos e interesses que se voltavam para o Céu subiu ligeiro enquanto o outro descia e, oh! quão leve estava ele! Posso relatar isso pelo que vi, mas nunca poderei dar a impressão solene e vívida gravada em minha mente, ao ver o anjo com a balança pesando os pensamentos e interesse do povo de Deus. Disse o anjo: "Podem esses entrar no Céu? Não, não, nunca. Diga-lhes que a esperança que agora possuem é vã, e a menos que se arrependam depressa e obtenham a salvação, hão de perecer." T1 125 1 Uma forma de piedade não salvará ninguém. Todos devem possuir profunda e viva experiência. Unicamente isto os salvará no tempo de angústia. Então será provada de que espécie é sua obra; e se ela for ouro, prata e pedras preciosas, eles serão ocultos no Seu pavilhão. Mas, se sua obra for madeira, feno ou palha, coisa alguma os poderá proteger do furor da ira de Jeová. T1 125 2 Dos jovens, bem como dos de mais idade, será exigida uma razão da esperança que têm. Mas a mente destinada por Deus para coisas melhores, formada para servi-Lo perfeitamente, tem-se fixado em coisas insensatas, em vez de nos interesses eternos. A mente que é deixada a vaguear aqui e ali está tão apta a compreender a verdade, a prova escriturística da observância do sábado e o verdadeiro fundamento da esperança cristã, como a estudar a aparência, as maneiras, o vestuário, etc. E os que dão rédea solta à mente para divertir-se com histórias tolas e contos ociosos, alimentam a imaginação, mas o brilho da Palavra de Deus lhes fica eclipsado. A mente é diretamente desviada de Deus. É destruído o interesse em Sua preciosa Palavra. T1 125 3 Foi-nos dado um livro para nos guiar os pés através dos perigos deste mundo escuro, rumo ao Céu. Diz-nos como podemos escapar da ira de Deus, e conta-nos também os sofrimentos de Cristo por nós, o grande sacrifício feito a fim de sermos salvos e desfrutarmos para sempre a presença de Deus. E se alguém estiver em falta afinal, tendo ouvido a verdade como tem ouvido nesta nação esclarecida, será sua própria culpa; será indesculpável. A Palavra de Deus diz-nos como nos podemos tornar cristãos perfeitos, e escapar às sete últimas pragas. Mas eles não tiveram nenhum interesse em verificar isto. Outras coisas lhes distraíam a mente, acariciaram ídolos, e a santa Palavra de Deus foi negligenciada e desprezada. Por professos cristãos Deus foi considerado de pouca importância, e quando Sua santa Palavra os julgar no último dia, serão encontrados em falta. Essa Palavra que eles negligenciaram por tolos livros de histórias, lhes servirá de prova para a existência. Ela é a norma; seus motivos, palavras e obras, e a maneira por que empregam o tempo, serão todos comparados com a Palavra de Deus escrita; e se estiverem em falta então, seus casos estarão decididos para sempre. T1 126 1 Vi que muitos se comparam entre eles mesmos, e comparam sua vida com a de outros. Não deve ser assim. Ninguém, senão Cristo, nos é dado como exemplo. Ele é nosso verdadeiro modelo, e todos devem esforçar-se por imitá-Lo. Ou somos coobreiros de Cristo, ou coobreiros do inimigo. Ou ajuntamos com Cristo, ou espalhamos. Ou somos cristãos decididos, de todo o coração, ou nada somos. Diz Cristo: "Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca." Apocalipse 3:15, 16. T1 126 2 Vi que muitos mal sabem ainda o que seja abnegação ou sacrifício, ou o que seja sofrer por amor da verdade. Mas ninguém entrará no Céu sem fazer algum sacrifício. Cumpre cultivar o espírito de abnegação e sacrifício. Alguns não se sacrificaram a si mesmos, a seu corpo, sobre o altar de Deus. Condescendem com o temperamento caprichoso, impulsivo, satisfazem os próprios apetites e cuidam dos próprios interesses egoístas, sem consideração para com a causa de Deus. Os que estiverem dispostos a fazer qualquer sacrifício pela vida eterna, tê-la-ão; e vale a pena que soframos por sua causa, que por ela crucifiquemos o próprio eu, e sacrifiquemos todo ídolo. O excelente peso eterno de glória absorve tudo, e eclipsa todo prazer terreno. ------------------------Capítulo 22 -- Os dois caminhos T1 127 2 Na assembléia de Battle Creek (Michigan), em 27 de Maio de 1856, foram-me em visão mostradas algumas coisas que dizem respeito à igreja em geral. Foram-me mostradas a glória e a majestade de Deus. Disse o anjo: "Ele é terrível em Sua majestade, contudo vocês não O compreendem; terrível em Sua ira, e no entanto O ofendem diariamente. 'Porfiai por entrar pela porta estreita' (Lucas 13:24); 'porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.'" Mateus 7:13, 14. Estes caminhos são distintos, separados, em direções opostas. Um leva à vida eterna, o outro à morte eterna. Vi a distinção entre esses caminhos, e também a diferença entre as multidões que neles viajam. Os caminhos são opostos; um é largo e suave; o outro, estreito e acidentado. Semelhantemente as duas multidões que os percorrem são opostas no caráter, na vida, no vestuário e na conversa. T1 127 3 Os que viajam pelo caminho estreito conversam a respeito da alegria e felicidade que terão no fim da viagem. Seu rosto muitas vezes está triste, e, todavia, brilha freqüentemente com piedosa e santa alegria. Não se vestem como a multidão do caminho largo, nem falam ou procedem como eles. Um modelo lhes foi dado. "Um Homem de dores, e experimentado nos trabalhos" (Isaías 53:3) lhes abriu aquele caminho e o palmilhou. Seus seguidores vêem-Lhe os rastos, e ficam consolados e animados. Ele o percorreu em segurança; assim também poderão fazer os da multidão, se seguirem Suas pegadas. T1 128 1 Na estrada larga todos estão preocupados com sua pessoa, suas vestes, seus prazeres. Dão-se livremente ao riso e à zombaria e não pensam no termo da viagem nem na destruição certa, no fim do caminho. Cada dia se aproximam mais de sua destruição; contudo loucamente se lançam, mais e mais depressa. Oh, como me pareceu terrível isso! T1 128 2 Vi, percorrendo a estrada larga, muitos que tinham sobre si escritas estas palavras: "Morto para o mundo. Próximo está o fim de todas as coisas. Estejam vocês também preparados." Pareciam precisamente iguais a todas aquelas pessoas frívolas que em redor se achavam, com a diferença única de uma sombra de tristeza que lhes notei no rosto. Sua conversa era perfeitamente igual à daqueles que, divertidos e inconscientes, se encontravam em redor; mas de quando em quando mostravam com grande satisfação as letras sobre suas vestes, convidando outros a tê-las sobre si. Estavam no caminho largo, e no entanto professavam pertencer ao número dos que viajavam no caminho estreito. Os que em redor deles estavam, diziam: "Não há distinção entre nós. Somos iguais; vestimos, falamos e procedemos semelhantemente." T1 128 3 Foi-me então dirigida a atenção para os anos de 1843 e 1844. Havia naquela ocasião um espírito de consagração que hoje não existe. Que aconteceu com o povo que professa ser o povo peculiar de Deus? Vi a conformidade com o mundo, a indisposição de sofrer em prol da verdade. Vi grande falta de submissão à vontade de Deus. Foi-me chamada a atenção para os filhos de Israel, depois que saíram do Egito. Deus misericordiosamente os chamou dentre os egípcios para que pudessem adorá-Lo sem impedimento nem restrição. Atuou em prol deles, no caminho, por meio de milagres; provou-os e experimentou-os pondo-os em situações angustiosas. Depois do maravilhoso trato de Deus com eles, e seu livramento muitas vezes, murmuravam quando por Ele provados ou experimentados. Suas expressões eram: "Quem dera houvéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito!" Êxodo 16:3. Cobiçavam os porros e as cebolas de lá. T1 129 1 Vi que muitos que professam crer na verdade para estes últimos dias, acham estranho que os filhos de Israel murmurassem enquanto viajavam; que depois do maravilhoso trato de Deus com eles, fossem tão ingratos que esquecessem o que por eles fizera. Disse o anjo: "Vocês têm feito pior do que eles." Vi que Deus deu a Seus servos a verdade tão clara, tão compreensível, que é impossível negá-la. Onde quer que estejam, têm certa a vitória. Seus inimigos não poderão fugir à convincente verdade. A luz foi derramada com tanta clareza que os servos de Deus podem levantar-se em qualquer parte e fazer com que a verdade, clara e harmoniosa, ganhe a vitória. Esta grande bênção não tem sido apreciada nem compreendida. Se surge alguma provação, alguns começam a olhar para trás, e pensam que passam por um tempo difícil. Alguns dos professos servos de Deus não sabem o que sejam provações purificadoras. Algumas vezes suscitam eles próprios as provações, imaginam-nas, e desanimam tão facilmente, tão prontamente se magoam, e ressentem-se tão depressa, que fazem mal a si próprios, ofendem a outros e prejudicam a causa de Deus. Satanás faz parecer grandes as suas provações, e incute-lhes no espírito pensamentos que, a serem satisfeitos, lhes destruirão a influência e utilidade. T1 129 2 Alguns se têm sentido tentados a retirar-se da obra, a fim de trabalhar por conta própria. Vi que se a mão de Deus fosse retirada deles, e ficassem sujeitos à enfermidade e à morte, saberiam então o que são dificuldades. Coisa terrível é murmurar contra Deus. Eles não têm em mente que o caminho que trilham é áspero, cheio de abnegação, e de crucifixão do próprio eu, e não deveriam esperar que tudo corresse tão suavemente como se estivessem andando no caminho largo. T1 129 3 Vi que alguns dos servos de Deus, mesmo pastores, desanimam tão facilmente, tão prontamente se magoa o seu eu, que se julgam menosprezados e ofendidos quando não acontece tal coisa. Acham ruim a sua sorte. Tais pessoas não compreendem como se sentiriam se Deus as desamparasse, e passassem por angústia de coração. Achariam então sua sorte dez vezes pior do que antes, quando se achavam empregadas na obra de Deus, sofrendo provações e privações, mas tendo a aprovação do Senhor. Alguns dos que trabalham na causa de Deus não sabem quando têm um tempo suave. Sofreram tão poucas privações, tão pouco sabem de necessidades, trabalho exaustivo ou contrariedades que, passando bem e sendo favorecidos por Deus, e quase inteiramente livres de angústias de espírito não reconhecem as provações e as acham grandes. Vi que, a menos que tais pessoas tenham espírito de abnegação, e estejam dispostas a trabalhar alegremente, não poupando a si mesmas, Deus as dispensará. Ele não as reconhecerá como Seus servos abnegados, mas suscitará quem trabalhe, não indolentemente, mas com fervor, e reconheça quando desfrutam de bem-estar. Os servos de Deus deveriam sentir responsabilidade pelo trabalho em prol das pessoas, e chorar entre o alpendre e o altar, clamando: "Poupa a Teu povo, ó Senhor!" Joel 2:17. T1 130 1 Alguns dos servos de Deus consagraram a vida à causa de Deus, até ao ponto de terem a saúde enfraquecida e ficarem quase consumidos pelo trabalho mental, cuidados incessantes, fadigas e privações. Outros não sentiram essa responsabilidade, ou não a quiseram assumir. Entretanto, justamente esses, por nunca terem experimentado dificuldades, acham que passam por um tempo difícil. Nunca foram batizados no quinhão do sofrimento, e nunca o serão enquanto manifestarem tanta fraqueza e tão pouca força, e amarem tanto a comodidade. Segundo o que Deus me mostrou, é preciso haver, entre os pastores, uma sacudidura, a fim de serem eliminados os negligentes, preguiçosos e comodistas, e permanecer um grupo fiel, puro e abnegado, que não busque seu bem-estar pessoal, mas administre fielmente na palavra e na doutrina, dispondo-se a sofrer e suportar todas as coisas por amor de Cristo, e salvar aqueles por quem Ele morreu. Sintam esses servos o "ai" que sobre eles pesa se não pregarem o evangelho, isto será o bastante; mas nem todos o sentem. ------------------------Capítulo 23 -- Conformidade com o mundo T1 131 1 Foi-me mostrada a conformidade de alguns professos observadores do sábado para com o mundo. Oh! vi que era uma desgraça à sua profissão, uma desgraça à causa de Deus. Desmentem sua profissão. Julgam que não são como o mundo, mas dele tanto se aproximam no vestuário, na conversação ou nos atos, que não há diferença. Vi-os adornando seu pobre corpo mortal, que há de ser tocado em qualquer momento pelo dedo de Deus e prostrado sobre o leito de dor. Oh! então, ao aproximar-se seu último momento, mortal angústia lhes oprime o corpo, e a grande pergunta será: "Estou preparado para morrer, comparecer diante de Deus no juízo, e subsistir na grande revista?" Perguntem-lhes então como se sentem quanto ao adorno do corpo, e se têm alguma idéia do que é estar preparado para comparecer perante Deus, e lhes dirão que se somente pudessem voltar a viver de novo o passado, corrigiriam a vida, evitariam as loucuras do mundo, sua vaidade e orgulho; e adornariam o corpo com roupas modestas, dando assim um exemplo aos que os rodeiam. Viveriam para a glória de Deus. T1 131 2 Por que é tão difícil viver uma vida abnegada, humilde? Porque os professos cristãos não estão mortos para o mundo. É fácil viver depois de estarmos mortos. Mas há muitos que desejam os porros e as cebolas do Egito. Inclinam-se a vestir e proceder o mais semelhante ao mundo possível, e todavia querem ir para o Céu. Esses sobem por outro caminho. Não entram pela porta estreita e pelo apertado caminho. T1 131 3 Foi-me mostrado o grupo presente à assembléia. Disse o anjo: "Alguns se tornarão alimento para os vermes,* outros, sujeitos às sete últimas pragas; alguns viverão e estarão sobre a Terra para serem trasladados na vinda de Jesus" T1 132 1 Que solenes palavras essas ditas pelo anjo! Perguntei-lhe por que tão poucos estavam interessados em seu bem-estar eterno e em se prepararem para a morte. Disse ele: "A Terra os atrai; seus tesouros lhes parecem valiosos." Eles encontram nessas coisas motivação suficiente para lhes ocupar a mente e o tempo que devia ser dedicado ao preparo para o Céu. Satanás está sempre pronto a imergi-los mais e mais profundamente nas dificuldades. Tão logo uma perplexidade lhes desocupam a mente, o inimigo incute-lhes o profano desejo por mais coisas terrenas; e assim o tempo passa, e quando é muito tarde, eles vêem que nada conseguiram de proveitoso. Agarraram-se às sombras e perderam a vida eterna. Esses não têm desculpas. T1 132 2 Muitos se vestem em conformidade com o mundo, a fim de terem influência. Cometem, porém, nisto, um erro lamentável e fatal. Se quiserem exercer verdadeira e salvadora influência, vivam segundo sua profissão de fé, mostrem essa fé pelas obras de justiça, e tornem grande a distinção entre os cristãos e o mundo. Vi que as palavras, o vestuário e as ações devem falar em favor de Deus. Então, difundir-se-á por todos uma santa influência, e todos conhecerão, vendo-os, que estiveram com Jesus. Os incrédulos verão que a verdade que professamos tem uma santa influência, e que a fé na vinda de Cristo afeta o caráter do homem ou da mulher. Se alguém deseja que sua influência fale em favor da verdade, viva segundo esta, imitando assim o humilde Exemplo. T1 132 3 Vi que Deus aborrece o orgulho, e que "todos os soberbos e todos os que cometem impiedade serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará". Malaquias 4:1. Vi que a terceira mensagem angélica deve ainda atuar como fermento no coração de muitos que professam nela crer, expurgando-os do orgulho, do egoísmo, da cobiça e amor do mundo. T1 133 1 Jesus está para vir; encontrará Ele um povo em harmonia com o mundo? e reconhecê-los-á Ele como Seu povo, que purificou para Si? Oh! não. Ninguém senão os puros e santos há de Ele reconhecer como Seus. Os que foram purificados e branqueados por meio do sofrimento, e se mantiveram separados, imaculados do mundo, receberá como Seus. T1 133 2 Ao ver eu o terrível fato de se achar o povo de Deus em conformidade com o mundo, não havendo distinção, exceto no nome entre muitos dos professos discípulos do manso e humilde Jesus, e os incrédulos, profunda foi a angústia de meu coração. Vi que Jesus era ferido e exposto a uma franca vergonha. Disse o anjo, ao ver, com tristeza, o professo povo de Deus amando o mundo, participando de seu espírito e seguindo-lhe as modas: "Desliguem-se! Desliguem-se! para que Ele não lhes dê sua parte com os hipócritas e os incrédulos do lado de fora da cidade. Sua profissão de fé só lhes causará maior angústia, e será maior o seu castigo, porque vocês souberam Sua vontade e a não fizeram." T1 133 3 Os que professam crer na terceira mensagem angélica, ofendem muitas vezes a causa de Deus pela leviandade, os gracejos, a frivolidade. Vi que esse mal se estendia por todas as nossas fileiras. Vi que devia haver humilhação diante do Senhor. O Israel de Deus devia rasgar o coração e não as vestes. A simplicidade infantil é raramente vista; pensa-se mais na aprovação dos homens do que no desagrado de Deus. Disse o anjo: "Ponham em ordem o coração, para que Deus não os visite em juízo, e seja cortado o frágil fio da vida, e venham a jazer na sepultura desamparados, despreparados para o juízo. Ou, se não fizerem no túmulo o seu leito, a menos que façam paz com Deus, e se desliguem do mundo, seu coração se tornará mais e mais endurecido, e descansarão num falso esteio, numa suposta preparação, e virão a descobrir seu engano demasiado tarde para conseguir uma bem fundada esperança." T1 134 1 Vi que alguns professos guardadores do sábado despendem horas, as quais são mais que desperdiçadas, apreciando esta ou aquela moda e adornando seu pobre corpo mortal. Enquanto vocês se assemelham ao mundo e procuram embelezar-se ao máximo, lembrem-se de que o mesmo corpo pode, em poucos dias, tornar-se alimento para os vermes. E enquanto vocês o adornam segundo seu gosto, para agradar aos olhos, estão morrendo espiritualmente. Deus odeia o orgulho ímpio e fútil, e olha para vocês como a sepulcros caiados, cheios de corrupção e impurezas. T1 134 2 Mães dão o exemplo de orgulho a seus filhos, e assim fazendo, lançam semente que crescerá e dará fruto. A colheita será abundante e certa. Aquilo que se semeia, será colhido. Não haverá falhas nessa ceifa. Pais, vi que para vocês é mais fácil dar aos filhos uma lição de orgulho do que de humildade. Satanás e seus anjos postam-se ao seu lado para tornar eficaz um ato ou uma palavra que proferirem, encorajando os filhos a se vestirem e, em seu orgulho, se misturarem com uma sociedade não santificada. Ó pais, vocês plantam em seu íntimo um espinho que lhes produzirá angústia. Quando tentarem desfazer a triste lição que ensinaram aos filhos, descobrirão o mal que produziram. É impossível vocês fazerem isso. Vocês podem negar aos filhos as coisas que lhes agradem o orgulho, contudo, ele ainda vive no coração, ansiando por ser satisfeito. Nada pode consumir esse orgulho, senão o Espírito de Deus. Quando Ele lhes penetrar o coração, agirá como fermento e extirpará dali o mal. T1 134 3 Vi que jovens e adultos negligenciam a Bíblia. Não fazem desse livro seu estudo e regra de vida como devem. Os jovens são especialmente culpados dessa negligência. A maioria deles está preparada e dispõe de todo o tempo para ler qualquer outro livro. Mas a Palavra que aponta para a vida, vida eterna, não é esquadrinhada e estudada diariamente. Esse importante e precioso livro, se mal estudado, os julgará no último dia. Histórias ociosas têm sido lidas atentamente, enquanto a Bíblia é desprezada. Virá o dia, um dia de nuvens e densas trevas, quando todos quererão estar totalmente supridos das claras e simples verdades da Palavra de Deus, para poderem mansa e decididamente dar a razão de sua esperança. 1 Pedro 3:15. Vi que a razão dessa esperança devia fortalecer-lhes o caráter para o feroz conflito. Sem isso, acham-se carentes e não podem possuir firmeza e decisão. T1 135 1 Os pais deveriam queimar os contos ociosos diários e as novelas tão logo cheguem a suas casas. Isso seria uma bênção para os filhos. Estimular a leitura desses livros é como praticar feitiçaria. Eles confundem e envenenam a mente. Pais, vi que, a menos que despertem para os interesses eternos de seus filhos, eles certamente se perderão por sua negligência. E a possibilidade de pais infiéis serem salvos é muito pequena. Os pais devem ser exemplos e exercer santa influência em sua família. Deveriam trajar vestes que primem pela modéstia, diferentes das do mundo que os cerca. Ao mesmo tempo em que valorizam os interesses eternos dos filhos, deveriam censurar-lhes o orgulho, reprovando-o fielmente ao invés de encorajá-lo, quer por atos quer por palavras. Oh, que orgulho me foi mostrado existir no professo povo de Deus! Esse foi crescendo a cada ano, até que agora é impossível distinguir os professos adventistas guardadores do sábado do mundo ao seu redor. Vi que esse orgulho precisa ser extirpado de nossas famílias. T1 135 2 Muito dinheiro tem sido gasto em fitas, rendas para toucas, golas* e outros artigos desnecessários para adornar o corpo, enquanto Jesus, o Rei da glória, que deu Sua vida para nos redimir, usou uma coroa de espinhos. Essa foi a maneira com que adornaram a sagrada fronte de nosso Mestre. Ele foi "um homem de dores e que sabe o que é padecer". "Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele e, pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:3, 5. Mas, aqueles que professam ter sido lavados no sangue de Jesus, por eles derramado, vestem-se com ostentação e enfeitam seu pobre corpo mortal e ainda ousam dizer que são seguidores do santo, abnegado e humilde Modelo. Oh, que todos pudessem ver como Deus observa essa questão e a revelou a mim! Ao contemplá-la, foi-me muito difícil de suportar e de resistir à angústia de coração que experimentei. Disse o anjo: "O povo de Deus é peculiar. Ele o está purificando para Si mesmo." Vi que a aparência exterior é indicativa do coração. Quando o exterior é enfeitado com laços, golas e artigos supérfluos, isso mostra claramente que o amor por todas essas coisas está no coração. A menos que tais pessoas sejam purificadas de sua corrupção, nunca verão a Deus; pois somente "os limpos de coração. ... verão a Deus". Mateus 5:8. T1 136 1 Vi que o machado precisa ser posto à raiz da árvore. Esse tipo de orgulho não deveria ser tolerado na igreja. São essas coisas que separam Deus de Seu povo e interceptam-lhes o acesso à arca. Israel tem estado inconsciente ao orgulho, à moda e à conformidade com o mundo que existe em meio ao arraial. A cada mês seu orgulho, egoísmo, cobiça e amor ao mundo progridem. Quando seu coração for alcançado pela verdade, haverá morte para o mundo, e os laços, rendas, e golas serão postos de lado; se estiverem mortos, a zombaria, o sarcasmo, e o escárnio dos descrentes não os perturbarão. Sentirão ansioso desejo, como seu Mestre, de se manterem separados do mundo. Não imitarão seu orgulho, modas ou costumes. O mais nobre objetivo estará sempre diante deles: glorificar a Deus, e ganhar a herança imortal. Essa perspectiva absorverá tudo quanto for de natureza terrena. Deus terá um povo separado e diferente do mundo. Se alguém sentir o desejo de imitar as modas do mundo e não subjugá-lo de imediato, Deus prontamente deixará de reconhecê-lo como filho. Esse é filho do mundo e das trevas. Ele anseia pelas cebolas e porros do Egito, isto é, deseja ser o mais possível semelhante ao mundo. Agindo assim, aqueles que professam estar revestidos de Cristo, na verdade esquivam-se dEle e mostram que são alheios à graça e estranhos ao manso e humilde Jesus. Se houvessem se familiarizado com Ele, andariam dignamente ao seu lado. ------------------------Capítulo 24 -- Esposas de pastores T1 137 1 Vi as esposas dos pastores. Algumas delas não são de nenhum auxílio para os maridos, e todavia professam a terceira mensagem angélica. Pensam mais em atender os próprios desejos e prazeres do que à vontade de Deus, e em como podem suster erguidas as mãos do esposo mediante suas fiéis orações e sua cuidadosa maneira de viver. Vi que algumas delas assumem uma conduta tão voluntariosa e egoísta, que Satanás as torna instrumentos seus, e trabalha por meio delas a fim de destruir a influência e utilidade dos maridos. Sentem-se na liberdade de queixar-se e murmurar caso sejam levadas a qualquer situação precária. Esquecem-se dos sofrimentos dos antigos cristãos por amor da verdade, e pensam que devem ter seus desejos satisfeitos e seguir a própria vontade. Esquecem o sofrimento de Jesus, seu Mestre. Esquecem o Homem de dores, experimentado nos trabalhos -- Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça. Não se importam de lembrar aquela santa fronte, ferida por uma coroa de espinhos. Esquecem-nO a Ele que, levando a própria cruz ao Calvário, desfaleceu ao peso dela. Não estava sobre Ele apenas o peso da cruz de madeira, mas o pesado fardo dos pecados do mundo. Esquecem os cravos cruéis enterrados nas tenras mãos e pés, e Seu angustioso brado ao expirar: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46; Marcos 15:34. Depois de todo esse sofrimento suportado por elas, sentem forte indisposição de sofrer por amor de Cristo. T1 138 1 Essas pessoas, vi, estão enganando a si mesmas. Não têm parte nem sorte na causa. Possuem a verdade mas a verdade não as possui. Quando a verdade, a solene e importante verdade delas se apoderar, há de morrer o próprio eu; então a linguagem não será: "Eu irei para lá; não ficarei aqui"; mas a sincera indagação será: "Onde quer o Senhor que eu esteja? Onde O glorificarei melhor, e onde serão mais benéficos os nossos esforços conjugados?" Sua vontade será absorvida na vontade de Deus. O espírito obstinado e a falta de consagração manifestados por algumas esposas de pastores, atravessar-se-á no caminho dos pecadores; o sangue de seres humanos estará em suas vestes. Alguns dos pastores têm dado vigoroso testemunho com relação ao dever e aos erros da igreja; mas isso não tem o efeito visado; pois suas companheiras precisavam de todo o incisivo testemunho dado, e a reprovação recaía sobre elas com grande peso. Eles deixaram que as companheiras os afetassem, e puxassem para baixo, incutindo-lhes no espírito preconceitos, e ficam perdidas a sua utilidade e influência; sentem-se desanimados e abatidos, e não compreendem a verdadeira origem do mal. Este se encontra bem perto, no lar. T1 138 2 Essas irmãs se acham intimamente relacionadas com a obra de Deus, se Ele chamou os maridos para pregarem a verdade presente. Estes servos, caso sejam realmente chamados por Deus, sentirão a importância da verdade. Encontram-se entre os vivos e os mortos, e devem zelar pelas pessoas como quem delas deva dar contas. Solene é sua vocação, e suas companheiras podem ser-lhes uma grande bênção ou uma grande maldição. Elas os podem animar quando desalentados, confortar quando deprimidos, e estimulá-los a olhar para cima e a confiar plenamente em Deus quando lhes desfalece a fé. Ou podem tomar rumo contrário, olhar ao lado sombrio, pensar que lhes cabe um tempo de provas, sem exercitar nenhuma fé em Deus, falar de suas provações e incredulidade aos companheiros, condescender com o espírito de queixa e murmuração, e serem-lhes um peso morto, e mesmo uma maldição. T1 139 1 Vi que a esposa do pastor deve ajudar o marido em seus esforços, e ser exata e cuidadosa quanto à influência que exerce; pois é observada, e espera-se mais dela do que das outras. Seu vestuário deve ser um exemplo. Sua vida e conversação também devem ser exemplares, recendendo um cheiro de vida e não de morte. Vi que deve assumir atitude humilde, mansa, e todavia exaltada, não se dando a conversações que não tendam a dirigir a mente para o Céu. A grande questão deve ser: "Como posso salvar a mim mesmo, e ser instrumento para salvar a outros?" Vi que neste assunto, não é aceitável a Deus uma obra de coração dividido. Ele quer todo o coração e todo o interesse, ou nada. A influência da esposa, ou fala decidida, inequivocamente em favor da verdade, ou contra ela. Ou ela ajunta com Jesus, ou espalha. Mateus 12:30. A esposa não santificada é a maior maldição que um pastor possa ter. Os servos de Deus que têm sido e são ainda bastante infelizes para terem em casa essa má influência, devem redobrar as orações e vigilância, assumir atitude firme e decidida, e não permitir que essas trevas os empurrem para baixo. Devem apegar-se mais a Deus, ser firmes e resolutos, governar bem a própria casa, e viver de maneira a receber a aprovação de Deus e o vigilante cuidado dos anjos. Mas se cederem aos desejos das não santificadas companheiras, estará sobre sua habitação o desagrado de Deus. A arca de Deus não pode permanecer na casa, pois eles condescendem com seus erros e os apóiam. T1 140 1 Nosso Deus é um Deus zeloso. Terrível coisa é brincar com Ele. No passado, Acã cobiçou uma barra de ouro e uma capa babilônica, e as escondeu, e todo o Israel sofreu; foram repelidos pelos inimigos. E quando Josué indagou a causa, o Senhor disse: "Levanta-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Anátema há no meio de ti, Israel; diante dos teus inimigos não poderás suster-te, até que tires o anátema do meio de vós." Josué 7:13. Acã pecara, e Deus o destruiu a ele e a toda a sua família, com tudo quanto possuíam, e tirou a maldição de Israel. T1 140 2 Vi que o Israel de Deus deve erguer-se, e renovar suas forças em Deus mediante a renovação e observância de seu concerto com Ele. A cobiça, o egoísmo, o amor do dinheiro e o amor do mundo, permeiam todas as fileiras dos observadores do sábado. Estes males estão destruindo o espírito de sacrifício entre o povo de Deus. Os que têm no coração essa cobiça, dela não se apercebem. Ela se apoderou deles imperceptivelmente, e a menos que seja desarraigada, sua destruição será tão certa quanto a de Acã. Muitos têm tirado o sacrifício de sobre o altar de Deus. Amam o mundo, o ganho e o lucro mundanos, e caso não haja neles inteira mudança, perecerão com o mundo. Deus lhes tem confiado meios; estes não lhes pertencem, mas o Senhor os fez mordomos Seus. E por isto eles chamam seus a esses recursos, e os acumulam. Mas oh! quão depressa, ao ser removida a mão de Deus, tudo é arrebatado em um momento! É preciso haver sacrifício para Deus, a negação do próprio eu por amor da verdade. Oh! como é frágil o homem! como é débil o seu braço! Vi que em breve será abatida a altivez humana, humilhado o seu orgulho! Reis e nobres, ricos e pobres, curvar-se-ão igualmente, e as consumidoras pragas de Deus cairão sobre eles. ------------------------Capítulo 25 -- Zelo e arrependimento T1 141 1 Prezados Irmãos e Irmãs: T1 141 2 O Senhor mostrou-me em visão algumas coisas concernentes à igreja em seu atual estado de mornidão, as quais lhes passo a relatar. A igreja me foi apresentada em visão. Disse o anjo à igreja: "Jesus lhe diz: 'Sê zeloso e arrepende-te'." Apocalipse 3:19. Esta obra, vi, deve ser empreendida com sinceridade. Há alguma coisa de que arrepender-se. O espírito mundano, o egoísmo e a cobiça têm estado a corroer a espiritualidade e a vida do povo de Deus. T1 141 3 O perigo do povo de Deus durante alguns anos passados, tem sido o amor do mundo. Disto têm brotado os pecados do egoísmo e da cobiça. Quanto mais tiram deste mundo, tanto mais aí colocam suas afeições; e ainda se esforçam por obter mais. Disse o anjo: "É mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." Lucas 18:25. Muitos, porém, que professam crer que estamos dando as últimas notas de advertência ao mundo, estão lutando com todas as energias para se colocarem em posição em que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que eles entrarem no reino do Céu. T1 141 4 Esses tesouros terrestres são bênçãos quando devidamente empregados. Os que os possuem devem compreender que os mesmos lhes são emprestados por Deus, e empregar alegremente seus recursos para o progresso de Sua causa. Não perderão aqui seu galardão. Serão benignamente considerados pelos anjos de Deus, ao mesmo tempo que ajuntarão um tesouro no Céu. T1 142 1 Vi que Satanás observa o temperamento peculiar, egoísta, cobiçoso de alguns que professam a verdade, e tentá-los-á pondo-os no caminho da prosperidade, oferecendo-lhes as riquezas deste mundo. Ele sabe que, se não vencerem seu temperamento natural, hão de tropeçar e cair pelo amor de Mamom, pela adoração de seu ídolo. O objetivo de Satanás é muitas vezes conseguido. O forte amor do mundo vence, absorve o amor da verdade. Os reinos do mundo são-lhes oferecidos, e eles se apoderam ansiosamente de seus tesouros, e pensam que estão sendo maravilhosamente prosperados. Satanás triunfa porque seu plano teve êxito. Abandonam o amor de Deus pelo amor do mundo. T1 142 2 Vi que os que são assim prosperados, poderão impedir o desígnio de Satanás, caso vençam sua cobiça egoísta mediante o pôr todas as suas posses no altar de Deus. E onde virem que são necessários meios para levar avante a obra da verdade e para ajudar a viúva, o órfão e o aflito, devem dar alegremente, entesourando assim no Céu. T1 142 3 Dêem ouvidos ao conselho da Testemunha Verdadeira. Comprem ouro provado no fogo, para serem ricos; vestidos brancos para que possam vestir-se; e colírio para que possam ver. Apocalipse 3:18. Façam algum esforço. Esses preciosos tesouros não cairão sobre nós sem esforço de nossa parte. Cumpre-nos comprar -- ser zelosos e arrepender-nos de nosso estado de mornidão. É preciso estarmos despertos para ver nossos erros, esquadrinhar nossos pecados, e arrepender-nos zelosamente deles. T1 142 4 Vi que os irmãos que possuem bens têm uma obra a fazer para se desligarem desses tesouros terrestres, e vencerem seu amor do mundo. Muitos deles amam este mundo, amam seu tesouro, mas não estão dispostos a reconhecer isto. Cumpre-lhes ser zelosos e arrependerem-se de sua cobiça egoísta, a fim de que o amor da verdade absorva tudo o mais. Vi que muitos dos que têm riquezas deixarão de comprar ouro, vestidos brancos e colírio. Seu zelo não possui intensidade e ardor proporcionais ao valor do objeto que buscam obter. T1 143 1 Vi esses homens enquanto se esforçavam pelos bens terrestres; que zelo manifestavam, que diligência, que energia para obter um tesouro terreno que em breve passará! Que frios cálculos faziam eles! Planejam e labutam desde cedo até tarde, e sacrificam a comodidade e o conforto pelo tesouro terrestre. Um zelo correspondente, de sua parte, para alcançarem o ouro, as vestes brancas e o colírio, levá-los-á à posse desses desejáveis tesouros, e à vida, vida eterna no reino de Deus. Vi que, se alguém necessita de colírio, são os que possuem bens deste mundo. Muitos deles estão cegos para a própria condição, cegos para o seu firme apego a este mundo. Oh! que eles possam ver! "Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apocalipse 3:20. Vi que muitos têm tanto lixo acumulado à porta do coração, que não a podem abrir. Alguns têm desinteligências a remover entre eles e os irmãos. Outros têm mau temperamento, ambição egoísta para afastar antes de poderem abrir a porta. Outros rolaram o mundo para a porta do coração, e isso também a impede de ser aberta. Todo esse entulho deve ser removido, e então poderão abrir a porta e dar aí as boas-vindas ao Salvador. T1 143 2 Oh! quão preciosa esta promessa, ao ser-me mostrada em visão! "Entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apocalipse 3:20. Oh! o amor, o assombroso amor de Deus! Depois de toda a nossa mornidão e pecado, Ele diz: "Volte para Mim, e Eu voltarei para você, e sararei todas as suas apostasias." Isto foi repetido pelo anjo várias vezes. "Volte para Mim, e Eu voltarei para você, e sararei todas as suas apostasias." T1 144 1 Alguns, vi eu, voltariam de boa vontade. Outros não permitirão que esta mensagem à igreja de Laodicéia tenha peso para com eles. Hão de deslizar caminho adiante, da mesma maneira por que antes o faziam, e serão vomitados da boca do Senhor. Unicamente os que se arrependem zelosamente hão de alcançar o favor de Deus. T1 144 2 "Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:21. Podemos vencer. Sim, plena e inteiramente. Jesus morreu a fim de prover-nos um caminho de escape, de modo a podermos vencer todo mau temperamento, todo pecado, toda tentação, e, por fim, sentar-nos com Ele. T1 144 3 Temos o privilégio de ter fé e salvação. O poder de Deus não diminuiu. Seu poder, vi, seria concedido agora tão abundantemente como outrora. É a igreja de Deus que tem perdido a fé para reivindicar, a energia para lutar como fez Jacó, clamando: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." Gênesis 32:26. A fé que persevera está a perecer. Ela deve ser reavivada no coração do povo de Deus. Precisamos suplicar Sua bênção. A fé, fé viva, leva sempre para cima -- para Deus e a glória; a incredulidade, para baixo -- para as trevas e a morte. T1 144 4 Vi que a mente de alguns na igreja não tem andado no devido rumo. Tem havido alguns temperamentos peculiares, que desenvolvem idéias próprias pelas quais julgam os irmãos. E se alguém não estava exatamente em harmonia com eles, havia imediatamente perturbação no acampamento. Alguns têm coado um mosquito, e engolido um camelo. Mateus 23:24. T1 144 5 Essas idéias têm sido nutridas e com elas alguns têm condescendido, por longo tempo. Apegam-se a qualquer palha, por assim dizer. E quando não há dificuldades reais na igreja, fabricam-se provações. A mente da igreja e os servos do Senhor são desviados de Deus, da verdade e do Céu, para se fixarem nas trevas. Satanás se deleita em que estas coisas prossigam; isto é uma festa para ele. Não são, porém, estas tribulações, que hão de purificar a igreja, e, no fim, aumentar a resistência do povo de Deus. T1 145 1 Vi que alguns estão definhando espiritualmente. Têm vivido por algum tempo a observar se seus irmãos andam retamente -- espreitando toda falta, para então os meter em dificuldades. E enquanto isto fazem, a mente não está em Deus, nem no Céu ou na verdade; mas simplesmente onde Satanás quer que esteja -- nos outros. Seu coração é negligenciado; raramente essas pessoas vêem ou sentem as próprias faltas, pois têm tido bastante que fazer em vigiar as faltas dos demais, sem sequer olhar para si mesmos, ou examinar o próprio coração. O vestido, o chapéu ou o avental lhes prendem a atenção. Precisam falar a este e àquele, e isto basta para os ocupar por semanas. Vi que toda a religião de alguns pobres corações, consiste em observar a roupa e os atos dos outros, e em os criticar. A menos que se reformem, não haverá no Céu lugar para elas, pois achariam defeitos no próprio Senhor. T1 145 2 Disse o anjo: "É uma obra individual o ser íntegro para com Deus." A obra é entre Deus e nós mesmos. Mas quando as pessoas têm tanto cuidado com as faltas dos outros, não cuidam de si mesmas. Essas pessoas imaginativas, críticas, muitas vezes se curariam desse hábito, se se dirigissem diretamente à pessoa que pensam estar errada. Isto seria tão desagradável, que abandonariam suas idéias, de preferência a ir ter com elas. Mas é mais fácil deixar a língua trabalhar livremente acerca deste e daquele, quando o acusado não está presente. T1 145 3 Pensam alguns que não é direito procurar observar ordem no culto de Deus. Vi, porém, que não é perigoso observar ordem na igreja do Senhor. Tenho visto que a confusão Lhe desagrada, e que deve haver ordem no orar e também no cantar. Não devemos chegar à casa de Deus para orar por nossa família, a menos que um profundo sentimento a isto nos induza, enquanto o Espírito de Deus as está convencendo. Em geral, o lugar apropriado para orar por nossa família é o altar da família. Quando os objetos de nossas orações se acham distantes, o aposento particular é o lugar apropriado para instar com Deus em favor deles. Quando na casa de Deus, devemos orar por uma bênção presente, e esperar que Ele nos ouça e atenda às petições. Essas reuniões serão vivas e interessantes. T1 146 1 Vi que todos devem cantar com o Espírito e também com entendimento. 1 Coríntios 14:15. Deus não Se agrada de barulho e desarmonia. O certo Lhe é sempre mais aprazível que o errado. E quanto mais perto puder chegar o povo de Deus do canto correto, harmonioso, tanto mais será Ele glorificado, a igreja beneficiada e os incrédulos impressionados favoravelmente. T1 146 2 Foi-me mostrada a ordem, a perfeita ordem do Céu, e senti-me arrebatada ao escutar a música perfeita que ali há. Depois de sair da visão, o canto aqui me soou muito áspero e dissonante. Vi grupos de anjos que se achavam dispostos em quadrado, tendo cada um uma harpa de ouro. Na extremidade inferior dela havia um dispositivo para virar, fixar a harpa, ou mudar os tons. Seus dedos não corriam pelas cordas descuidosamente, mas faziam vibrar diferentes cordas para produzir diferentes acordes. Há um anjo que dirige sempre, o qual toca primeiro a harpa a fim de dar o tom, depois todos se ajuntam na majestosa e perfeita música do Céu. Ela é indescritível. É melodia celestial, divina, enquanto cada semblante reflete a imagem de Jesus, irradiando glória indizível. ------------------------Capítulo 26 -- O leste e o oeste T1 146 3 Prezados irmãos: T1 146 4 O Senhor mostrou-me em visão algumas coisas com respeito às regiões do Leste e do Oeste, as quais senti ser meu dever apresentar-lhes. Vi que Deus abriu o caminho para a disseminação da verdade presente nos Estados do Oeste. Muito mais poder é exigido para persuadir o povo do Leste do que do Oeste, e atualmente, muito pouco tem sido realizado no Leste. Devemos agora concentrar esforços especiais nos lugares mais promissores. T1 147 1 As pessoas do Leste ouviram a proclamação da segunda vinda de Cristo e tiveram mostras do poder de Deus, mas caíram num estado de indiferença e falsa segurança, onde é quase impossível presentemente alcançá-los. Depois de se empregarem extraordinários esforços e os melhores talentos nesses Estados, quase nada foi conseguido. T1 147 2 Vi que o povo do Oeste era mais fácil de ser persuadido do que o do Leste. Esses não haviam tido a luz da verdade anteriormente e, portanto, não a rejeitaram. O coração deles é mais impressionável e sensível à verdade e ao Espírito de Deus. O coração de muitos no Oeste encontra-se já preparado para receber avidamente a verdade; e quando os servos de Deus saírem para trabalhar pela salvação de vidas preciosas, elas os encorajarão em seu árduo trabalho. Enquanto o povo está ansioso por ouvir e muitos abraçam a verdade, os dons que Deus conferiu a Seus servos são postos em ação e fortalecidos. Eles constatam que seus esforços foram bem-sucedidos. T1 147 3 Vi que, com o mesmo esforço, se realizou dez vezes mais no Oeste do que no Leste, e que o caminho está aberto para sucessos ainda maiores. Tenho visto que muito pode ser feito presentemente no Wisconsin, e mais ainda em Illinois. E que precisam ser feitos esforços para espalhar a verdade em Minnesota e Iowa. Ela surtirá efeito em muitos lugares ali. Um imenso campo de trabalho foi-me mostrado em visão, o qual ainda não havia sido penetrado. Mas não há suficiente e desprendido auxílio para alcançar metade das localidades onde já se acha preparado para ouvir a verdade, e muitos aptos a recebê-la. T1 147 4 Novos campos de trabalho precisam ser visitados. Muitos terão de ir à guerra com seus próprios recursos; penetrar os campos com a expectativa de terem de custear as próprias despesas. Conforme me foi mostrado, vi que há uma excelente oportunidade para os mordomos do Senhor desempenharem-se de sua obrigação, financiando aqueles que pregam a verdade nessas localidades. Seria para eles um grande privilégio devolver a Deus o que Lhe pertence. Assim fazendo, estarão cumprindo um dever escriturístico e se libertando de parte de suas posses terrenas, as quais são um fardo para os que as têm em abundância. Isso também aumentará seu tesouro no Céu. T1 148 1 A tenda do Leste, eu vi, não devia ser transportada tantas vezes dentro da mesma área. Se necessário for, aqueles que a acompanham devem ir para a batalha por conta própria. Montem a tenda onde a verdade não foi apresentada, e a provejam de obreiros. T1 148 2 Foi-me revelado ser um erro trabalhar sempre nos mesmos lugares, ano após ano, e com os mesmos talentos. Se possível, deveriam ser chamados obreiros com talentos mais satisfatórios. Seria melhor e mais producente se houvesse menos reuniões nas tendas e um grupo mais forte, com diferentes dons para o trabalho. Então haveria mais longa permanência onde o interesse houvesse sido despertado. Tem havido muita pressa para desarmar a tenda. Alguns começam a ser favoravelmente impressionados e, por conseguinte, é necessário que esforços perseverantes sejam feitos até que sua mente seja convencida e eles se comprometam com a verdade. Em muitos lugares onde a tenda tem sido armada, os pastores ali permanecem até que o preconceito se dissipe e alguns ouçam a mensagem com a mente isenta de preconceitos. Mas, justamente nessa altura, a tenda é desmontada e mandada para outro lugar. Os ciclos se repetem, gastam-se tempo e dinheiro, e os servos de Deus constatam pouco resultado nos trabalhos da tenda. Poucos são levados ao conhecimento da verdade, e os servos de Deus, tendo visto pouquíssimo fruto para animá-los e estimulá-los, e desafiar seus dons latentes, sofrem prejuízo em vez de obterem força, espiritualidade e poder. T1 148 3 Vi que devem ser feitos esforços especiais no Oeste, através das tendas; pois os anjos de Deus estão preparando a mente das pessoas para a recepção da verdade. Eis aí a razão por que Deus influenciou alguns adventistas a se mudarem do Leste para o Oeste. Seus dons podem produzir muito mais no Oeste do que no Leste. O peso do trabalho encontra-se no Oeste, e é da maior importância que os servos de Deus se desloquem de acordo com Sua oportuna providência. T1 149 1 Vi que quando a verdade crescer em poder, então a providência divina abrirá e preparará o caminho para o Leste, a fim de que o trabalho seja muito mais frutífero do que o seria agora. Deus enviará alguns de Seus servos com poder para visitar lugares onde pouco ou nada agora pode ser feito. Alguns que são agora indiferentes, serão despertados e levantar-se-ão e se apegarão à verdade.* T1 149 2 Vi que Deus advertiu aqueles que se mudaram do Leste para o Oeste. Mostrou-lhes seu dever, que não devia ser a obtenção de riquezas, mas fazer o bem às pessoas, viver a fé e falar aos que os cercam que este mundo não é o seu lar. T1 149 3 Essa advertência teria sido suficiente se fosse atendida, mas muitos não consideraram o que Deus havia mostrado. Agiram precipitadamente e se tornaram como bêbados com o espírito do mundo. "Olhem para trás", disse o anjo, "e considerem tudo quanto Deus mostrou a respeito daqueles que estão se mudando do Leste para o Oeste." Vocês obedeceram? Vi que agiram contrariamente ao que Deus ensinou, comprando muito e, em lugar das obras testemunharem aos outros que vocês estão buscando uma pátria melhor, elas claramente confessaram que seu lar e tesouro se encontram aqui. As obras de vocês negam sua fé. T1 149 4 E isso não é tudo. O amor que deveria existir entre irmãos está em falta. "Sou eu o guardador de meu irmão?" (Gênesis 4:9) é o que se tem dito. Um espírito egoísta e cobiçoso é abrigado no coração dos irmãos. Em vez de olharem pelos interesses dos irmãos, manifestam em seu relacionamento um espírito estreito e egoísta, ao qual Deus despreza. Aqueles que fazem tão alta confissão de sua fé e se têm na conta de povo peculiar de Deus, dizendo por sua profissão que são zelosos de boas obras, devem ser nobres e generosos e manifestar sempre boa disposição em favorecer a seus irmãos em lugar de a si mesmos, e conferir-lhes a melhor oportunidade. Generosidade atrai generosidade. Egoísmo chama egoísmo. T1 150 1 Vi que durante o verão passado, o espírito que prevaleceu foi a ganância de agarrar o mais possível deste mundo. Os mandamentos de Deus não foram guardados. Com a mente servimos à lei de Deus; mas a mente de muitos tem estado a servir ao mundo. Enquanto a mente de todos se ocupava com as coisas da Terra, servindo-se a si mesmos, eles não podiam servir à lei de Deus. O sábado não tem sido observado. Alguns têm prolongado o trabalho dos seis dias até o sétimo. Uma hora, ou mesmo mais, tem sido subtraída do começo e do encerramento do sábado. T1 150 2 Alguns dos guardadores do sábado que dizem ao mundo estarem esperando pela vinda de Cristo, e que crêem que temos a última mensagem de graça, e dão vazão a seus sentimentos naturais, negociando e comercializando, têm-se tornado um provérbio na boca dos descrentes por sua sagacidade e perspicácia, sempre levando a melhor nas negociações. Assim, seria melhor sofrer pequenas perdas e exercer maior influência no mundo, e influência mais feliz entre os irmãos, mostrando que o mundo não é seu deus. T1 150 3 Vi que os irmãos devem interessar-se uns pelos outros. Especialmente devem aqueles que são abençoados com saúde ter bondosa consideração e cuidado pelos doentes, procurando beneficiá-los. Devem lembrar-se da lição do bom samaritano ensinada por Jesus. T1 150 4 Disse o Senhor: "Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei." João 15:12. Quanto? Seu amor não pode ser descrito. Ele deixou a glória que tinha junto ao Pai antes que o mundo existisse. "Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados." Isaías 53:5. Pacientemente Ele suportou toda indignidade e todo escárnio. Contemplem Sua agonia no jardim enquanto orava para que o cálice pudesse ser retirado! Contemplem Seus sofrimentos no Calvário! Tudo isso pelo homem culpado e perdido. E Jesus disse: "Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei." João 13:34; 15:12. Quanto? O suficiente para dar a vida por um irmão. Mas como chegar a isso se o eu precisa ser atendido e a Palavra de Deus negligenciada? O mundo é seu deus. Eles o servem, o amam, e o amor de Deus é renunciado. Se vocês amam o mundo, o amor do Pai não está em vocês. 1 João 2:15. T1 151 1 A Palavra de Deus tem sido desprezada. Nela estão as advertências ao povo de Deus, as quais apontam para os perigos que correm. Mas eles têm se envolvido com tantos cuidados e perplexidades, que dificilmente se permitem tempo para orar. Tem havido mera e oca forma de piedade, sem o poder. Jesus orava, e, oh, quão ferventes eram Suas orações. E, todavia, Ele era o amado Filho de Deus! T1 151 2 Se Jesus manifestou tanto zelo, tanto esforço e agonia, quanto mais necessários são esses aos que Ele chamou como herdeiros da salvação, dependentes de Deus para obter toda força, e para ter sua alma movida para lutar com Deus e dizer: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." Gênesis 32:26. Mas, vi que os corações ficaram sobrecarregados com os cuidados da vida e que Deus e Sua Palavra foram desprezados. T1 151 3 Vi ser "que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino". Mateus 19:24. "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. T1 152 1 Vi que quando a verdade é apresentada, deve ser em poder e no Espírito. Que o povo seja levado à decisão. Mostrem-lhes a importância da verdade -- ela é vida ou morte. Com zelo apropriado, resgatem as pessoas do fogo. Mas, oh, que nociva influência tem sido exercida por homens que professam estar esperando por seu Senhor, porém, possuem extensas e atrativas terras. As fazendas têm pregado mais alto, sim, muito mais alto do que as palavras podem fazê-lo, de que este mundo é seu lar. O dia mau tem sido protelado. "Paz e segurança" reinam. 1 Tessalonicenses 5:3. Oh, debilitante e corroedora influência! Deus odeia tal inclinação mundana. "Cortem-nos, cortem-nos", foram as palavras do anjo. T1 152 2 Revelou-se-me que todos deveriam ter em vista a glória de Deus. Aqueles que têm posses estão sempre prontos a se desculparem por conta de esposa e filhos. Mas vi que com Deus não se brinca. Quando Ele fala, quer ser obedecido. Se a esposa ou filhos permanecem como tropeços no caminho, eles devem lhes dizer como Jesus a Pedro: "Para trás de Mim, Satanás." Mateus 16:23. Por que vocês me tentam a reter de Deus o que com justiça a Ele pertence, e arruinar a própria vida? Mantenham o olhar fixo na glória de Deus. T1 152 3 Vi que muitos precisam aprender o que é ser um cristão -- não apenas nominalmente, mas tendo "a mente de Cristo" (1 Coríntios 2:16), submetendo-se à vontade de Deus em todas as coisas. Especialmente devem os jovens, que não conhecem o que são privações ou dificuldades, que possuem uma vontade inamovível e não a submetem à glória de Deus, empreender uma grande obra. Avançam muito bem até ser sua vontade contrariada, então, perdem o controle. Eles não têm diante de si a vontade de Deus. Não estudam como melhor glorificar ao Senhor ou cooperar com o avanço de Sua causa, ou ainda, fazer o bem aos outros. Mas o eu, sempre o eu; como pode ele ser satisfeito? Tal religião não vale uma palha. Aqueles que a possuem serão pesados na balança e achados em falta. Daniel 5:27. T1 152 4 O verdadeiro cristão ansiará esperar e vigiar pelos ensinos de Deus e a guia do Seu Espírito. Mas para muitos, a religião é simplesmente uma forma. Falta-lhes a verdadeira piedade. Muitos ousam dizer: Farei isto ou aquilo, ou, não farei isso, mas o temor de ofender a Deus raramente lhes passa pela cabeça. Segundo pude ver, os que se encaixam nessa descrição não poderão entrar no Céu como estão. Podem até gabar-se de que serão salvos, mas Deus não tem prazer neles. Hebreus 10:38. A vida deles não Lhe agradam e suas orações são-Lhe uma ofensa. T1 153 1 Cristo novamente apela a cada um deles: "Sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:19. Bondosa e fielmente Ele os aconselha a comprarem ouro, vestes brancas e colírio. Eles podem escolher entre ser zelosos e participar abundantemente da salvação ou serem expelidos da boca do Senhor como repugnantes. Deus não os tolerará para sempre. Ele é terno e piedoso, contudo, há de ser esta a última vez que ofenderão Seu Espírito. A dulcíssima e misericordiosa voz não mais será ouvida. Suas últimas e preciosas notas extinguir-se-ão para sempre, e esses serão deixados a seguir os próprios caminhos e se fartarem com suas obras. T1 153 2 Vi que aqueles que professam estar aguardando a vinda do Senhor não deveriam ter um espírito estreito e mesquinho. Alguns dos que foram chamados a pregar a verdade e vigiar pelas pessoas como os que têm de dar conta delas, têm despendido muito do precioso tempo para economizar um pouquinho, quando seu tempo valia bem mais do o que conseguiram obter. Isso aborreceu a Deus. É certo economizar, mas alguns se têm empenhado, de modo mesquinho, em acumular tesouros que haverão de devorar sua carne como fogo, a menos que eles, como fiéis mordomos, administrem corretamente os bens de seu Senhor. ------------------------Capítulo 27 -- Jovens observadores do Sábado T1 154 2 Em 22 de Agosto de 1857, estando eu na casa de oração em Monterey, Michigan, foi-me mostrado que muitos ainda não ouviram a voz de Jesus, e a salvadora mensagem ainda não lhes tomou posse do coração, efetuando uma reforma na vida. Muitos dos jovens não têm o espírito de Jesus. O amor de Deus não lhes está no coração, portanto toda tentação natural tem a vitória, em vez de terem-na o Espírito de Deus e a salvação. T1 154 3 Os que possuem realmente a religião de Jesus, não se envergonharão da cruz nem temerão carregá-la perante os que têm mais experiência do que eles. Caso almejem fervorosamente ser corretos, desejarão todo auxílio que possam obter dos cristãos de mais idade. De boa vontade serão por eles ajudados; os corações que se acham aquecidos pelo amor de Deus, não serão entravados por bagatelas na carreira cristã. Falarão daquilo que o espírito de Deus atua no interior. Cantarão isto, orarão sobre isto. É a falta de religião, a falta de vida santa que torna os jovens tardios. Sua vida os condena. Sabem que não vivem como os cristãos devem viver, por isto não têm confiança em Deus, nem na igreja. T1 154 4 O motivo de se sentirem os jovens mais em liberdade quando os de mais idade estão ausentes, é que eles se acham com os de seu grupo. Cada um pensa que é tão bom quanto o outro. Todos deixam de atingir o alvo, mas se medem uns pelos outros, e uns aos outros se comparam, e negligenciam o único modelo perfeito e verdadeiro. Jesus é o modelo genuíno. Sua vida de sacrifício, eis nosso exemplo. T1 155 1 Vi quão pouco era tido em conta o Modelo, quão pouco exaltado diante deles. Quão pouco sofrem os jovens, ou se negam a si mesmos, por sua religião! Sacrificar-se, é coisa de que mal se pensa entre eles. Deixam inteiramente de imitar o Modelo neste sentido. Vi que a linguagem de sua vida é: O eu precisa ser satisfeito; é preciso condescender com o orgulho. Esquecem o "Homem de dores, e experimentado nos trabalhos". Isaías 53:3. Os sofrimentos de Jesus no Getsêmani, as grandes gotas de sangue no jardim, a coroa entretecida de espinhos que Lhe feriram a fronte santa, não os comovem. Ficaram entorpecidos. Suas sensibilidades estão embotadas, e perderam todo o senso do grande sacrifício por eles feito. Podem sentar-se e escutar a história da cruz, ouvir como os cravos cruéis foram pregados nas mãos e pés do Filho de Deus, sem que isto lhes mova as profundezas do ser. T1 155 2 Disse o anjo: "Fossem esses introduzidos na cidade de Deus, e fosse-lhes dito que toda a sua suntuosa beleza e esplendor lhes pertencia para a desfrutarem para sempre, e eles não teriam nenhuma compreensão do alto preço por que essa herança lhes fora adquirida. Jamais avaliariam as incomparáveis profundezas do amor do Salvador. Não beberam do cálice, nem foram batizados com o batismo. O Céu manchar-se-ia se tais pessoas houvessem de morar ali. Unicamente os que partilharam dos sofrimentos do Filho de Deus, 'vieram de grande tribulação, e lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro' (Apocalipse 7:14), podem desfrutar da indescritível glória e insuperável beleza do Céu." T1 155 3 A falta desta necessária preparação excluirá a maior parte dos jovens professos; pois não trabalharão com suficiente diligência e zelo para alcançar aquele "repouso" que ainda resta "para o povo de Deus". Hebreus 4:9. Não confessarão sinceramente seus pecados, para que sejam perdoados e apagados. Dentro de pouco tempo esses pecados serão revelados em toda a sua enormidade. Os olhos de Deus não repousam. Ele conhece todo pecado oculto aos olhos mortais. Os culpados sabem exatamente quais os pecados a confessar para que seu coração seja purificado diante de Deus. Jesus está-lhes concedendo agora oportunidade de confessar, de se arrependerem em profunda humildade, e purificarem a vida pela obediência e o viver a verdade. Agora é o tempo de se endireitarem os erros e os pecados serem confessados, ou eles aparecerão diante do pecador no dia da ira de Deus. T1 156 1 Os pais têm geralmente confiança demasiada nos filhos; pois muitas vezes, quando estão confiantes, eles se acham em encoberta iniqüidade. Pais, vigiem seus filhos com muito cuidado. Exortem, reprovem, aconselhem-nos ao se levantarem, e quando estiverem sentados; quando saírem, e quando entrarem; "regra sobre regra, mandamento sobre mandamento, um pouco aqui, um pouco ali". Isaías 28:10. Sujeitem seus filhos enquanto são pequenos. Isto é tristemente negligenciado por muitos pais. Não tomam posição tão firme e decidida como devem com relação aos filhos. Deixam que sejam semelhantes ao mundo, amem o vestuário e associem-se aos que aborrecem a verdade, e cuja influência é venenosa. Assim, fazendo, estimulam nos filhos disposição mundana. T1 156 2 Vi que deve haver sempre, da parte dos pais cristãos, o princípio de estarem unidos no governo dos filhos. Existe a este respeito uma culpa da parte de alguns pais -- a falta de união. Essa falta se encontra por vezes no pai, mas mais freqüentemente na mãe. A mãe afetuosa amima os filhos e com eles condescende. O trabalho do pai muitas vezes o afasta de casa e do convívio dos filhos. A influência da mãe é que atua. Seu exemplo contribui muito para formar o caráter das crianças. T1 156 3 Algumas mães afetuosas toleram nos filhos erros que não deveriam ser suportados nem por um momento. Os malfeitos deles são muitas vezes ocultos ao pai. Artigos de vestuário ou qualquer outra concessão é feita pela mãe, com entendimento de que o pai nada deva saber a esse respeito; pois ele reprovaria tais coisas. T1 157 1 Aí é ensinada eficazmente aos filhos uma lição de engano. Depois, se o pai descobre esses erros, são apresentadas desculpas, e a verdade é dita só pela metade. A mãe não é franca. Não considera como deve que o pai tem nos filhos o mesmo interesse que ela, e não deve ser mantido na ignorância dos erros ou tentações que precisam ser corrigidos neles enquanto jovens. Têm-se encoberto coisas. Os filhos conhecem a falta de união entre os pais, e isto tem seu efeito. E cedo começam a enganar, encobrir, dizer à mãe e ao pai de maneira diferente, do que na verdade as coisas são. O exagero torna-se hábito, e chegam a ser ditas grossas mentiras quase sem que a consciência se sinta acusada ou repreendida. T1 157 2 Esses erros começaram com a mãe ao esconder as coisas do pai, o qual deve ter igual interesse no caráter que os filhos estão formando. O pai devia ter sido consultado francamente. Tudo deveria ter-lhe sido exposto. O procedimento oposto, porém, tomado para ocultar os erros dos filhos, anima a disposição de enganar, a falta de veracidade e honestidade. T1 157 3 A única esperança desses filhos, professem eles a religião ou não, é converterem-se cabalmente. Todo o seu caráter deve ser mudado. Irrefletida mãe, sabe você, enquanto ensina seus filhos, que toda a vida religiosa deles é influenciada pelos ensinos que recebem na primeira idade? Submeta-os enquanto jovens; ensine-lhes a sujeitarem-se a você, e tanto mais rapidamente aprenderão a obedecer aos preceitos de Deus. Estimule neles disposição verdadeira e sincera. Nunca lhes dê ocasião de duvidarem de sua sinceridade e estrita veracidade. T1 157 4 Vi que os jovens professam ter mas não desfrutam o poder salvador de Deus. Falta-lhes religião, falta-lhes salvação. E oh! as ociosas e inaproveitáveis palavras que proferem! Há um fiel e terrível registro a seu respeito, e os mortais serão julgados segundo os atos praticados no corpo. Jovens amigos, seus atos e palavras ociosas estão escritos no Livro. Sua conversação não tem sido sobre as coisas eternas, mas sobre isto, e aquilo -- conversas comuns, mundanas, em que se não devem os cristãos empenhar. Tudo está escrito no Livro. T1 158 1 Vi que, se não houver inteira mudança na juventude, inteira conversão, podem eles perder a esperança do Céu. Do que me tem sido mostrado, não mais da metade dos jovens que professam a religião e a verdade, são verdadeiramente convertidos. Se houvessem se convertido, produziriam frutos para a glória de Deus. Muitos confiam numa suposta esperança, sem base real. A fonte não está purificada, portanto as correntes que dela procedem não são puras. Limpem a fonte, e puras serão as águas. Se reto for o coração, corretas hão de ser suas palavras, seu vestuário, suas ações. Falta a verdadeira piedade. Eu não desonraria meu Mestre a ponto de admitir que seja cristã a pessoa descuidosa, frívola, que não ora. Não; o cristão alcança a vitória sobre os pecados que o espreitam, sobre suas paixões. Há remédio para o coração enfermo de pecado. Esse remédio está em Jesus. Precioso Salvador! Sua graça é suficiente para o mais fraco dos seres; e o mais forte precisa também possuir Sua graça, do contrário perecerá. T1 158 2 Vi como essa graça pode ser obtida. Vão ao seu quarto e, ali a sós, roguem a Deus: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto." Salmos 51:10. Sejam fervorosos, sejam sinceros. "A oração" fervente "pode muito em seus efeitos". Tiago 5:16. À semelhança de Jacó, lutem em oração. Angustiem-se. Jesus, no jardim, suou grandes gotas de sangue; vocês devem fazer um esforço. Não deixem seu aposento enquanto não se sentirem fortes em Deus; então, vigiem, e enquanto vigiarem e orarem ser-lhes-á possível manter em sujeição esses maus assaltos, e a graça de Deus pode e há de aparecer em vocês. T1 158 3 Longe de mim que eu cesse de os admoestar. Jovens amigos, busquem ao Senhor de todo o coração. Vão com zelo, e quando sentirem sinceramente que sem o auxílio de Deus perecerão, quando anelarem por Ele "como o cervo brama pelas correntes das águas" (Salmos 42:1), então o Senhor presto os fortalecerá. Então a paz de vocês excederá "todo o entendimento". Filipenses 4:7. Se esperam salvação, precisam orar. Dediquem tempo. Não sejam apressados nem descuidosos em suas orações. Roguem a Deus que em vocês efetue completa reforma, que os frutos do Seu Espírito habitem em vocês, e brilhem como luzes no mundo. Não sejam obstáculo nem maldição para a causa de Deus; podem ser um auxílio, uma bênção. Diz-lhes Satanás que não é possível desfrutar plena e abundante salvação? Não acreditem. T1 159 1 Vi que é privilégio de todo cristão fruir as profundas atuações do Espírito de Deus. Uma doce paz celestial penetrará a mente, e dar-lhes-á prazer meditar em Deus e no Céu. Deleitar-se-ão nas gloriosas promessas de Sua Palavra. Mas saibam primeiro que vocês deram início à conduta cristã. Saibam que deram os primeiros passos no caminho da vida eterna. Não se enganem. Temo, ou antes, sei que muitos dentre vocês ignoram o que seja religião. Têm experimentado certa agitação, alguma emoção, mas nunca viram o pecado em sua enormidade. Jamais sentiram sua arruinada condição, desviando-se de seus maus caminhos com amarga dor. Nunca morreram para o mundo. São ainda amantes de seus prazeres; apreciam entreter-se em conversa sobre assuntos mundanos. Ao ser, porém, apresentada a verdade de Deus, nada têm a dizer. Por que assim silenciosos?! Por que tão tagarelas sobre coisas mundanas, e tão mudos sobre o assunto que mais os deve interessar -- um assunto que lhes deve ocupar inteiramente o coração? A verdade de Deus não habita em vocês. T1 159 2 Vi que muitos professam ser justos em sua profissão de fé, enquanto interiormente há corrupção. Não se enganem, professos crentes de coração falso. Deus "olha para o coração". "Do que há em abundância no coração, disso fala a boca." 1 Samuel 16:7; Mateus 12:34. Vi que o mundo está no coração desses, mas a religião de Jesus não está aí. Se os professos cristãos amam mais a Jesus que ao mundo, gostarão de falar nEle, o seu melhor amigo, em quem se concentram suas mais altas afeições. Ele veio em auxílio deles quando sentiram sua condição de perdidos prestes a perecer. Quando cansados e carregados de pecado, volveram-se para Ele. Jesus lhes removeu o fardo da culpa e do pecado, tirou-lhes a dor e o pranto, e mudou todo o rumo de suas afeições. As coisas que outrora amavam, agora aborrecem; e as que aborreciam, amam agora. T1 160 1 Processou-se acaso em vocês esta grande mudança? Não se enganem. Ou eu nunca proferiria o nome de Cristo, ou Lhe daria todo o meu coração, meu inteiro afeto. Devemos experimentar a mais profunda gratidão por Jesus aceitar essa oferenda. Ele requer tudo. Quando somos levados a render-nos a Suas solicitações, e a renunciar a tudo, então, e só então, lançar-nos-á Ele em torno os braços de misericórdia. Mas que damos nós quando tudo entregamos? O coração poluído do pecado para que Jesus o purifique, limpe por Sua misericórdia, salve-o da morte por Seu incomparável amor. E todavia eu vi que alguns achavam difícil entregar tudo. Envergonho-me de o ouvir, envergonho-me de o escrever. T1 160 2 Vocês falam em abnegação? Que deu Cristo por nós? Quando julgam ser demais que Cristo exija tudo, dirijam-se ao Calvário, e chorem ali por esse pensamento. Contemplem as mãos e os pés de seu Libertador, dilacerados pelos cravos cruéis, a fim de vocês serem lavados do pecado por Seu sangue! T1 160 3 Os que experimentam o amor de Deus, esse amor que compele, não perguntam quão pouco se pode dar para alcançar a recompensa celeste; não pedem a mais baixa norma, antes aspiram à perfeita conformidade com a vontade de seu Redentor. Com desejo ardente entregam tudo, e manifestam zelo proporcional ao valor do objeto que buscam. Qual é esse objeto? A imortalidade, a vida eterna. T1 160 4 Meus jovens amigos, muitos dentre vocês estão lamentavelmente iludidos. Têm se satisfeito com alguma coisa inferior à religião pura e incontaminada. Quero despertá-los. Os anjos de Deus estão procurando despertar vocês. Oh! que as importantes verdades da Palavra de Deus os despertem para o senso do perigo que correm, levando-os a cabal exame de si mesmos! Seu coração é ainda carnal. Não é sujeito "à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser". Romanos 8:7. Esse coração carnal deve mudar, para vocês verem tal beleza na santidade, que anelem por ela assim "como o cervo brama pelas correntes das águas". Salmos 42:1. Então amarão a Deus e amarão a Sua lei. Então o jugo de Cristo será suave e o Seu fardo leve. Mateus 11:30. Conquanto tenham provações, estas devidamente suportadas, tornam simplesmente o caminho mais precioso. A herança imortal destina-se ao cristão abnegado. T1 161 1 Vi que o cristão não deve dar valor demasiado ao entusiasmo dos seus sentimentos, nem depender muito disso. Esses sentimentos nem sempre são guias seguros. Todo cristão deve cuidar de servir a Deus, movido por princípios; não ser regido por sentimentos. Assim fazendo, exercitar-se-á a fé, e se desenvolverá. Foi-me mostrado que se o cristão viver vida humilde, abnegada, o resultado será paz e alegria no Senhor. Mas a felicidade máxima será experimentada mediante o fazer bem aos outros, em tornar outros felizes. Tal felicidade será perdurável. T1 161 2 Muitos jovens não têm princípio fixo para servir a Deus. Não exercem fé. Sucumbem sob qualquer nuvem. Não têm força de resistência. Não crescem na graça. Parece guardarem os mandamentos de Deus. Fazem de quando em quando uma oração formal, e são chamados cristãos. Os pais acham-se tão ansiosos a respeito deles, que aceitam qualquer coisa que lhes pareça favorável, e não trabalham com eles, não ensinam que a mente carnal deve morrer. Animam-nos a virem, e desempenharem uma parte; deixam, porém, de levá-los a esquadrinharem o próprio coração com diligência, a examinarem-se a si mesmos, e avaliarem o preço do que constitui ser cristão. O resultado é que os jovens professam ser cristãos, sem provar suficientemente os próprios motivos. T1 162 1 Diz a Testemunha Verdadeira: "Oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca." Apocalipse 3:15, 16. Satanás quer que vocês sejam cristãos nominais, pois assim poderão melhor servir aos seus desígnios. Se têm uma forma de piedade e não a piedade verdadeira, ele os pode usar para seduzir outros ao mesmo caminho, isto é, a se iludirem a si mesmos. Algumas pobres vidas olharão para vocês em vez de porem os olhos na norma bíblica, e não chegarão mais alto. São tão bons quanto vocês, e ficam satisfeitos. T1 162 2 Insiste-se muitas vezes com os jovens para cumprirem deveres, para falar ou orar nas reuniões; insiste-se para morrerem para o orgulho. São instigados a cada passo. Tal religião de nada vale. Transforme-se o coração carnal, e não lhes será tão enfadonha tarefa servir a Deus, ó vocês, professos de coração frio! Todo aquele amor do vestuário e orgulho da aparência desaparecerão. O tempo que passam diante do espelho arranjando os cabelos a fim de agradar à vista, deve ser empregado em oração, a fazer exame interior. Não haverá, no coração santificado, lugar para o adorno exterior; antes haverá diligente e ansiosa busca do adorno interior, as graças cristãs -- os frutos do Espírito de Deus. T1 162 3 Diz o apóstolo: "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:3, 4. T1 162 4 Subjuguem a mente carnal, reformem a vida, e a pobre estrutura mortal não será tão idolatrada. Caso o coração seja reformado, isto se demonstrará na aparência exterior. Se Cristo for em nós a "esperança da glória" (Colossences 1:27), nEle descobriremos tão incomparáveis atrativos, que o coração ficará enamorado. Apegar-se-á a Ele, preferirá amá-Lo, e, cheio de admiração por Ele, esquecerá o próprio eu. Jesus será magnificado e adorado, e o eu rebaixado e humilhado. A confissão religiosa, sem esse profundo amor, porém, é mera conversa, árida formalidade e enfadonha tarefa. Muitos dentre vocês talvez conservem na cabeça um pouco de religião, uma religião exterior, ao passo que o coração não está purificado. Deus olha para o coração; "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar". Hebreus 4:13. Ficará Ele satisfeito com coisa alguma que não a verdade no interior? Toda alma verdadeiramente convertida apresentará os inequívocos traços de estar subjugada a mente carnal. T1 163 1 Falo claramente. Não creio que isto desanime um verdadeiro cristão; e não quero que nenhum de vocês chegue ao tempo de angústia sem uma bem-fundada esperança em seu Redentor. Decidam conhecer o pior aspecto de seu caso. Certifiquem-se se têm uma herança no alto. Tratem sinceramente com o próprio coração. Lembrem-se de que Jesus apresentará a Seu Pai uma igreja sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante. T1 163 2 Como hão de saber que estão aceitos por Deus? Estudem com oração Sua Palavra. Não a deixem de lado por nenhum outro livro. Este Livro convence do pecado. Revela plenamente o caminho da salvação. Apresenta alta e gloriosa recompensa. Revela-lhes um Salvador completo e ensina-lhes que unicamente mediante Sua ilimitada misericórdia podem esperar a salvação. T1 163 3 Não negligenciem a oração particular, pois é a essência da religião. Com sincera e fervorosa oração, roguem pureza de coração. Supliquem tão ardente e fervorosamente, como o fariam por sua existência mortal, caso ela estivesse em jogo. Permaneçam perante Deus até que inexprimíveis anseios sejam em vocês gerados quanto à sua salvação, e seja obtida a doce certeza do perdão dos pecados. T1 163 4 A esperança da vida eterna não deve ser recebida sobre frágeis fundamentos. É um assunto que deve ser assentado entre Deus e a própria pessoa -- assentado para a eternidade. Uma suposta esperança, e nada mais, demonstrar-se-á a sua ruína. Uma vez que têm de subsistir ou cair pela Palavra de Deus, a essa Palavra é que devem olhar em busca de testemunho em seu caso. Aí podem ver o que lhes é exigido para se tornarem cristãos. Não deponham sua armadura, nem abandonem o campo de batalha enquanto não obtiverem a vitória, triunfantes em seu Redentor. ------------------------Capítulo 28 -- Provações na igreja T1 164 1 A visão que passo a descrever me foi dada em Ulysses, Pensilvânia, em 6 de Julho de 1857. Ela se refere à situação existente em _____ e em outras localidades de Nova Iorque. T1 164 2 Têm havido tantas provações com os irmãos nas igrejas do Estado de Nova Iorque, com as quais Deus nada tem a ver. A igreja perdeu sua força e os membros não sabem como recuperá-la. O amor de uns pelos outros desapareceu e um espírito acusador e descobridor de faltas tem prevalecido. Tem sido considerada uma virtude descobrir tudo o que os outros pareçam ter de errado e torná-lo pior do que em realidade o é. As "entranhas de misericórdia" (Colossences 3:12) que se comovem em amor e piedade para com os irmãos, não existem. A religião de alguns tem consistido em achar faltas, procurando com cuidado tudo o que tenha a aparência de erro, até que os nobres sentimentos do coração se definhem. A mente precisa ser treinada a demorar-se nas coisas eternas, no Céu e em seus tesouros e glórias, e a usufruir doce e santa satisfação nas verdades da Bíblia. Deve ter prazer em apropriar-se das preciosas promessas registradas na Palavra de Deus e delas extrair conforto; a erguer-se acima das trivialidades para as coisas de "peso eterno". 2 Coríntios 4:17. T1 164 3 Mas oh, quão diversamente tem sido a mente empregada, envolvendo-se com ninharias! As reuniões da igreja, como têm sido realizadas, são uma real maldição a muitos em Nova Iorque. Essas provações pré-fabricadas têm propiciado total liberdade a todo mal imaginável. São alimentados ciúmes. O ódio é estimulado, mas eles não o percebem. Uma errônea idéia tem se fixado na mente de alguns: reprovar sem amor, impingir aos outros seus conceitos acerca do que é direito, e não poupar a ninguém, mas abatê-los com peso esmagador. T1 165 1 Vi que muitos em Nova Iorque têm tido tanto cuidado com seus irmãos, para mantê-los no caminho reto, que negligenciam o próprio coração. Ficam tão temerosos de que seus irmãos não sejam zelosos e se arrependam, que se esquecem de que têm erros que precisam ser corrigidos. Com coração não santificado, tentam corrigir seus irmãos. O único meio de os irmãos e irmãs de Nova Iorque poderem erguer-se, é cada um cuidar da própria vida e pôr seu coração em ordem. Se há pecado patente num irmão, não o conte a outrem, mas com amor pela vida desse irmão, um coração pleno de compaixão e "entranhas de misericórdia", exponha-lhe o erro e deixe o assunto entre ele e o Senhor. Assim você cumpriu o seu dever. Não lhe compete julgar. T1 165 2 Tem sido considerado com certa indiferença o fato de controlar, condenar e manter um irmão sob reprovação. Tem havido "zelo de Deus, mas não com entendimento". Romanos 10:2. Se cada um puser sua vida em ordem, quando houver encontro dos irmãos seu testemunho será claro, procedente de um coração íntegro, e aqueles que não crêem na verdade serão impressionados. A manifestação do Espírito de Deus os convencerá de que vocês são filhos de Deus. O amor de uns pelos outros será patente a todos, convencerá e exercerá influência. T1 165 3 Vi que a igreja de Nova Iorque pode ressurgir. Lancem-se à obra individualmente, sejam zelosos e se arrependam; e, depois de corrigirem todos os erros conhecidos, então creiam que Deus os aceita. Que não se lamentem, mas tomem a Deus em Sua Palavra. Que O busquem diligentemente e creiam que Ele os recebe. Uma parte da obra é crer. "Porque fiel é O que prometeu." Hebreus 10:23. Exerçam fé. T1 165 4 Os irmãos de Nova Iorque, bem como os de outros lugares, podem erguer-se e beber da fonte de salvação de Deus. Podem agir de modo sensato, e cada um ter experiência individual na mensagem da Testemunha Fiel aos laodiceanos. A igreja sente que está caída, mas não sabe como levantar-se. As intenções de alguns podem ser muito boas e talvez eles as confessem; vi, contudo, que são observados com suspeita, e considerados ofensores por uma palavra, até que não tenham mais liberdade nem salvação. Eles não se atrevem a externar os mais simples sentimentos do coração porque são vigiados. É do agrado de Deus que Seu povo O tema e que tenham confiança uns nos outros. T1 166 1 Vi que muitos tiram vantagem do que Deus mostrou com respeito aos pecados e erros dos outros. Tiram conclusões extremadas do que me foi mostrado em visão, e usam-nas de tal maneira a enfraquecer a fé de muitos naquilo que Deus tem mostrado, e também desanimam a igreja. Um irmão deveria tratar o outro com terna compaixão. Lidar delicadamente com seus sentimentos. A obra de tratar com os erros dos outros é uma tarefa dificílima e muito importante. Com a mais profunda humildade deveria um irmão fazer isso, considerando as próprias fraquezas, temendo ser ele mesmo tentado. T1 166 2 Contemplei o grande sacrifício que Jesus fez para redimir o homem. Ele não considerou Sua vida tão preciosa que não pudesse sacrificá-la. Disse Cristo: "Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei." João 15:12. Quando um irmão erra, você sente que poderia dar sua vida para salvá-lo? Se esse é o seu sentimento, então você pode aproximar-se dele e tocar-lhe o coração; você é exatamente a pessoa indicada para visitá-lo. Mas é fato lamentável que muitos que professam ser irmãos, não estão dispostos a sacrificar nenhuma de suas opiniões ou julgamento, para salvar um irmão. Há muito pouco amor de uns pelos outros. Manifesta-se um espírito egoísta. T1 166 3 A igreja está desanimada. Eles tem amado o mundo, suas fazendas, rebanhos, etc. Agora Jesus os convida a se libertarem e ajuntarem tesouros no Céu; a comprarem ouro, vestes brancas e colírio. Esses são preciosos tesouros, pois darão ao possuidor entrada no reino de Deus. T1 167 1 O povo de Deus precisa agir com sensatez. Não deveriam ficar satisfeitos até que cada pecado conhecido seja confessado; então é seu privilégio e dever crer que Jesus os aceita. Não devem esperar que outros dissipem as trevas e obtenham para eles a vitória. Essa satisfação dura apenas até o encerramento das reuniões. Mas Deus deve ser servido por princípio e não por sentimentos. De manhã e à noite, ganhem a vitória nas próprias famílias. Que nenhum trabalho diário os afastem disso. Tomem tempo para orar, e quando estiverem orando, creiam que Deus os ouve. Misturem suas orações com fé. Nem sempre vocês obterão resposta imediata, mas é aí que a fé deve prevalecer. Vocês são provados para ver se confiarão em Deus, e se possuem fé viva e inabalável. "Fiel é o que vos chama, o qual também o fará." 1 Tessalonicenses 5:24. Andem pela estreita prancha da fé. Confiem em todas as promessas do Senhor. Confiem em Deus quando em meio às trevas. Esse é o tempo de exercer fé. Mas vocês permitem que os sentimentos os governem. Olham para os merecimentos próprios quando não se sentem confortados pelo Espírito de Deus, e se desesperam porque não os possuem. Não confiam o suficiente em Jesus, o precioso Jesus. Não fazem com que Seus méritos sejam absolutos. O melhor que vocês podem fazer não merecem o favor de Deus. São os méritos de Cristo que os salvarão, Seu sangue é que os purificará. Mas vocês têm algo por fazer. Devem fazer o que lhes for possível de sua parte. Sejam zelosos e arrependam-se; então creiam. T1 167 2 Não confundam fé com sentimentos. Eles são diferentes entre si. Cabe-nos exercitar fé. Creiam, creiam. Que a fé de vocês se apodere das bênçãos e elas lhes pertencerão. Os sentimentos nada têm a ver com a fé. Quando a fé atrai a bênção ao coração e vocês nela se regozijam, isso já não é mais fé, mas sentimento. T1 167 3 O povo de Deus em Nova Iorque precisa erguer-se resolutamente, sair das trevas e deixar sua luz brilhar. Eles estão impedindo a obra de Deus. Precisam permitir que a mensagem do terceiro anjo lhes atue no coração. Irmãos, Deus é desonrado por suas orações longas e desprovidas de fé. Não se concentrem na indignidade do próprio eu, e exaltem a Jesus. Falem de fé, de luz e do Céu, e vocês terão fé, luz, amor, paz e alegria no Espírito Santo. ------------------------Capítulo 29 -- Tenham cuidado! T1 168 1 Este testemunho foi dirigido a dois irmãos em _____; mas, como é aplicável a muitos, é dado para benefício da igreja. T1 168 2 Caros irmãos: Na visão a mim dada em sua casa, foi-me mostrada alguma coisa que diz respeito a ambos. O anjo os apontou e repetiu estas palavras: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. T1 168 3 Vi que ambos têm um grande conflito diante de si; vocês estarão em constante combate para manter este mundo fora do coração, pois o amam. A grande preocupação é como amar a Jesus e Seu serviço mais do que o mundo. Se vocês amam mais ao mundo, suas obras o testificarão. Se amam mais a Jesus e Seu serviço, as ações também o demonstrarão. Vi que vocês estão sendo observados por muitos mundanos. Muitos ficariam felizes com sua queda e outros com seu progresso. Satanás e seus anjos lhes apresentarão a glória dos reinos deste mundo. Se vocês o adorarem ou aos tesouros terrenos, ele os mostrará sob a mais atraente luz, a fim de conduzi-los a amarem e adorarem essas coisas. T1 168 4 Seus anjos da guarda e Jesus estão procurando desviar-lhes o olhar das fazendas, rebanhos e tesouros terrestres para o reino do Céu, para uma herança imortal, as riquezas eternas no reino da glória. Disse o anjo: "Vocês precisam morrer para este mundo." "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. T1 169 1 Vi que se as riquezas foram adquiridas segundo a providência divina, não há nenhum pecado em possuí-las; e se não se apresentam oportunidades de uso dos meios para fazer avançar a causa de Deus, não há pecado em ainda conservá-los. Mas, se as oportunidades se fazem presentes, convocando os irmãos a usarem sua propriedade para a glória de Deus e o avanço de Sua causa, e eles as retêm, então ser-lhes-á causa de tropeço. No dia da tribulação, seus tesouros acumulados serão uma afronta para eles. Então todas as oportunidades para usarem seus meios para a glória de Deus estarão no passado, e em angústia de espírito os "lançarão às toupeiras e aos morcegos". Isaías 2:20. Seu ouro e prata não poderão salvá-los naquele dia. Cair-lhes-á sobre a cabeça com peso esmagador a responsabilidade de dar conta de sua mordomia, sobre o que fizeram com o dinheiro de seu Senhor. O amor a si mesmos os fez crer que tudo era deles e que podiam retê-lo. Mas então sentirão, amargamente sentirão, e compreenderão que seus meios lhes foram apenas emprestados pelo Senhor para serem liberalmente empregados no avanço de Sua causa. Suas riquezas os enganaram. Sentiram-se pobres e viveram para si mesmos, e no final descobrirão que o que poderiam ter usado na causa de Deus, tornou-se-lhes agora em terrível fardo. T1 169 2 Disse o anjo de Deus: "Deponham tudo sobre o altar, como sacrifício vivo e consumidor. Atem-no com cordas se não puderem mantê-lo ali. Entreguem-se à oração. Vivam junto ao altar. Fortaleçam seus propósitos pelas promessas de Deus." "Vendei o que tendes, e daí esmolas, e fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos Céus que nunca acabem, aonde não chega ladrão, e a traça não rói." Lucas 12:33. "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu." Mateus 6:19, 20. T1 170 1 Vi que se Deus lhes tivesse dado riquezas acima dos mais modestos e pobres, isso os humilharia e colocaria sob grandes obrigações. Onde muito é dado, mesmo que sejam recursos materiais, muito será exigido. De acordo com esse princípio, vocês devem possuir disposição nobre e generosa. Procurem por oportunidades de fazer o bem com o que dispõem. "Ajuntai tesouros no Céu." Mateus 6:20. T1 170 2 Foi-me mostrado que o mínimo que era requerido dos cristãos do passado era possuir um espírito de liberalidade, e consagrar ao Senhor uma parte de sua renda. Cada cristão verdadeiro considerava isso um privilégio, mas alguns que o eram apenas de nome, tinham-no como obrigação. A graça e o amor de Deus nunca realizou neles a boa obra. Se assim fosse, eles alegremente fariam progredir a causa de seu Redentor. Mas dos cristãos que estão vivendo nos últimos dias, e que estão esperando por seu Senhor, é requerido fazer muito mais do que isso. Deus deles requer sacrifício. T1 170 3 Disse o anjo: "Jesus deixou um brilhante rasto para vocês seguirem. Andem exatamente em Suas pegadas. Participem de Sua vida de abnegação e sacrifício próprio, e herdem com Ele a coroa de glória." ------------------------Capítulo 30 -- O jovem rico T1 170 4 Em Monterey, Michigan, no dia 8 de Outubro de 1857, foi-me mostrado em visão que a condição de muitos observadores do sábado era semelhante à do jovem rico que veio a Jesus para saber o que deveria fazer para herdar a vida eterna. T1 170 5 "Eis que, aproximando-se dEle um jovem, disse-Lhe: Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna? E Ele disse-lhe: Por que Me chamas bom? Não há bom, se não um só que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-Lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-Lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me. E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. T1 171 1 "Disse, então, Jesus aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos Céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Os Seus discípulos, ouvindo isso, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois, salvar-se? E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível." Mateus 19:16-26. T1 171 2 Jesus citou cinco dos seis últimos mandamentos ao jovem rico, e também o segundo grande mandamento, no qual os seis se apóiam. O jovem achava que os havia guardado a todos. Jesus não mencionou os primeiros quatro, contendo nosso dever para com Deus. Em resposta à pergunta do jovem, "o que me falta ainda?", Jesus disse: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu." T1 171 3 Ele estava em falta. Falhara em guardar os primeiros quatro mandamentos e também os últimos seis. Não amara o próximo como a si mesmo. Disse Jesus: "Dá-o aos pobres." O Senhor tocara em suas posses. "Vende tudo o que tens, dá aos pobres." Nessa referência direta, Cristo identificou o ídolo do jovem. O amor pelas riquezas reinava supremo; portanto, era-lhe impossível amar a Deus "de todo o coração, de todo o entendimento, e de toda a alma". Marcos 12:33. E esse amor supremo às riquezas cegara-lhe os olhos para as necessidades do próximo. Ele não amava o próximo como a si mesmo, por conseguinte, fracassara em observar os seis últimos mandamentos. O coração estava posto nos tesouros. Fora tragado pelas posses terrenas. O jovem amava mais seus bens do que a Deus, mais do que o tesouro celeste. Ele ouviu da boca de Jesus as condições. Se houvesse vendido tudo e dado aos pobres, teria um tesouro no Céu. Essa seria uma prova do quanto ele considerava a vida eterna mais do que as riquezas. Desejava ele tomar posse da esperança da vida eterna? Estaria disposto a empenhar-se para remover o obstáculo que o impedia de ter um tesouro no Céu? Oh, não, "retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades". T1 172 1 Foram-me apontadas estas palavras: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." Mateus 19:24. Disse Cristo: "Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível." Mateus 19:26. Perguntou um anjo: "Permitirá Deus que os ricos retenham suas riquezas e ainda entrem no reino de Deus?" Outro anjo respondeu: "Não. Nunca!" T1 172 2 Vi que é plano de Deus que essas riquezas sejam usadas corretamente, empregadas para abençoar os necessitados e fazer progredir a causa de Deus. Se os homens amam mais as riquezas do que ao próximo, mais do que a Deus e às verdades de Sua Palavra; se seu coração está nas riquezas, não podem ter a vida eterna. Eles prefeririam antes abrir mão da verdade do que vender os bens e dar aos pobres. Nisso são eles testados para apurar-se o quanto amam a Deus, o quanto amam a verdade; e, como o jovem rico da Bíblia, muitos se retiram tristes porque não podem ter riquezas e também um tesouro no Céu. Não têm condições de possuir a ambos e arriscam-se à perda da vida eterna por bens terrenos. T1 172 3 "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." Mateus 19:24. "A Deus todo é possível." Mateus 19:26. A verdade, estabelecida no coração pelo Espírito de Deus, excluirá o amor pelas riquezas. O amor de Jesus e das riquezas não podem habitar no mesmo coração. O amor de Deus suplantará tanto o amor pelas riquezas que seu possuidor se libertará das mesmas e transferirá as afeições a Deus. Por meio do amor é ele então levado a atender às necessidades da causa de Deus. É seu grande prazer administrar de maneira correta os bens divinos. O amor a Deus e ao próximo predomina, e ele considera tudo o que tem não como seu. Fielmente cumpre seu dever como mordomo de Deus. Então pode observar os grandes mandamentos da lei: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento." Mateus 22:37. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. Desse modo é possível a um rico entrar no reino de Deus. "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do Meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos, primeiros." Mateus 19:29, 30. T1 173 1 Eis a recompensa daqueles que se sacrificam por Deus. Receberão cem vezes mais nesta vida, e herdarão a vida eterna. "Porém muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos, primeiros." Mateus 19:30. Foram-me mostrados aqueles que recebem a verdade mas não a vivem. Eles se apegam às suas posses e não estão dispostos a dar uma parte para o avanço da causa de Deus. Não possuem fé para se aventurarem e confiarem em Deus. Seu amor pelo mundo absorve-lhes a fé. Deus reivindica uma parte de seus recursos, mas eles não atendem. Arrazoam que trabalharam duro para conseguir o que têm, e não podem emprestar ao Senhor, pois podem vir a necessitar. Oh, "homens de pequena fé"! Mateus 8:26. O Deus que cuidou de Elias no tempo de fome, não passará por alto a nenhum de Seus abnegados filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça (Lucas 12:7; Mateus 10:30) cuidará deles, e nos dias de fome serão satisfeitos. Enquanto os ímpios estão perecendo ao redor por necessidade de pão, o pão e a água dos justos serão certos. Isaías 33:16. Aqueles que ainda se apegam aos seus tesouros terrenos e não dispõem fielmente daquilo que lhes foi emprestado por Deus, perderão o tesouro celestial; perderão a vida eterna. T1 174 1 Deus, em Sua providência, moveu o coração de alguns que possuem riquezas e os converteu à verdade, para que possam manter Sua obra em progresso. E se aqueles que são ricos não fizerem isso, se eles não cumprirem o propósito divino, Ele os ignorará e chamará outros para lhes tomarem o lugar e cumprirem o sagrado propósito; com suas posses alegremente distribuídas, atenderão às necessidades da causa do Senhor. Nisso eles serão os primeiros. Deus terá em Sua causa aqueles que farão isso. T1 174 2 Ele poderia perfeitamente mandar meios do Céu para promover Seu trabalho, mas isso está fora de Suas cogitações. Ele ordenou que os homens sejam Seus instrumentos; que, como um grande sacrifício foi feito para redimi-los, eles façam sua parte na obra de salvação, sacrificando-se uns pelos outros e mostrando o quanto prezam o sacrifício feito em favor deles. T1 174 3 Fui dirigida ao texto bíblico: "Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias." Tiago 5:1-3. T1 174 4 Vi que essas temíveis palavras se aplicam particularmente aos ricos que professam crer na verdade presente. O Senhor os chama para usarem os meios que lhes confiou e fazerem avançar Sua causa. As oportunidades lhes são apresentadas, mas eles fecham os olhos às necessidades da causa, e apegam-se fortemente ao tesouro terreno. Seu amor pelo mundo é maior do que o amor pela verdade, pelo semelhante e por Deus. Ele lhes requer os bens, mas egoísta e cobiçosamente eles os retêm do Senhor. Dão apenas um pouco ocasionalmente para acalmar a consciência mas não vencem o amor pelo mundo. Não se sacrificam por Deus. O Senhor chamou outros que prezam a vida eterna, que sentem e compreendem algo do valor de um ser humano, os quais livremente disporão de seus meios para fazerem progredir a causa de Deus. O trabalho está-se encerrando, e logo os meios dos que se apegaram às suas riquezas, suas grandes fazendas, rebanhos, etc., não serão mais necessários. Vi que o Senhor Se voltará contra eles em ira e repetirá estas palavras: "Vão agora, ricos." Ele clamou, mas vocês não ouviram. O amor deste mundo sufocou-Lhe a voz. Agora Ele não tem mais nenhuma utilidade para vocês e os deixa ir, declarando: "Vão agora, ricos." T1 175 1 Oh, vi que era terrível coisa ser abandonado pelo Senhor -- horrível coisa era apegar-se aos perecíveis tesouros deste mundo, quando Ele disse que se nós vendermos e dermos esmolas, ajuntaremos um tesouro no Céu. Foi-me mostrado que quando a obra estiver em conclusão e a verdade avançando com poder, esses ricos trarão seus meios e os depositarão aos pés dos servos de Deus, pedindo-lhes para aceitá-los. A resposta dos servos de Deus será: "Vão agora, ricos. Seus meios não são necessários. Vocês os retiveram quando eles poderiam fazer o bem no progresso da obra de Deus. Os necessitados sofreram; eles não foram abençoados por seus meios. Deus não aceitará suas riquezas agora. Vão agora, ricos." T1 175 2 Então fui dirigida a estas palavras: "Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tiago 5:4. Vi que Deus não está em todas as riquezas que são obtidas. Satanás freqüentemente tem muito mais a ver com a aquisição de propriedades do que Deus. Muitas delas são obtidas pela opressão dos assalariados. Os ricos cobiçosos obtêm suas riquezas pela opressão aos trabalhadores e tirando vantagens dos indivíduos onde puderem, acrescentando assim ao tesouro os bens que consumirão sua carne como fogo. T1 176 1 Alguns não têm seguido conduta estritamente honesta, honrosa. Esses devem tomar um rumo muito diferente, trabalhando firmemente para remir "o tempo". Efésios 5:16. Muitos observadores do sábado se acham em falta nesse ponto. Aproveitam-se até de seus irmãos pobres, e os que têm abundância exigem mais que o real valor das coisas, mais do que por elas pagariam, ao passo que esses irmãos se acham endividados e aflitos por falta de meios. Deus sabe de todas essas coisas. Todo ato egoísta, toda extorsão cobiçosa, trará sua recompensa. T1 176 2 Vi que é cruel e injusto não ter consideração pela situação de um irmão. Se está aflito ou pobre, fazendo todavia tudo quanto lhe é possível, deve-se fazer-lhe uma concessão, e mesmo não se lhe deve exigir o valor total das coisas que compre dos ricos; antes estes devem ter para com ele sentimentos de misericórdia. Deus aprovará tais atos de bondade, e os que os praticam não perderão sua recompensa. Haverá, porém, um terrível registro contra muitos observadores do sábado por atos mesquinhos e gananciosos. T1 176 3 Fui dirigida ao tempo em que não havia senão poucos que escutavam e abraçavam a verdade. Eles não possuíam muito dos bens deste mundo. As necessidades da Causa eram divididas entre bem poucos. Então foi necessário que alguns vendessem suas casas e terras, e procurassem um lugar mais barato para lhes servir de abrigo, ou de lar, enquanto seus recursos eram franca e generosamente emprestados ao Senhor para publicar a verdade, e para de outro modo ajudar o avanço da causa de Deus. Ao contemplar esses abnegados, vi que haviam sofrido privações para benefício da Causa. Vi um anjo postado ao seu lado, apontando-lhes o Céu, e dizendo: "Vocês têm bolsas no Céu! Têm no Céu bolsas que não envelhecem! Resistam até ao fim, e grande será o seu galardão." T1 176 4 Deus tem estado a tocar muitos corações. A verdade por que alguns tanto se sacrificaram, a fim de apresentá-la a outros, triunfou, e multidões a ela se apegaram. Em Sua providência, Deus tem tocado o coração dos que têm meios, trazendo-os para a verdade, para que, à medida que Sua obra aumenta, sejam satisfeitas as necessidades da Causa. Muitos recursos têm sido trazidos às fileiras dos observadores do sábado, e vi que atualmente Deus não pede as casas que Seu povo tem para morar, a menos que troque casas de muito preço por outras mais baratas. Mas se aqueles que possuem abundância não Lhe derem ouvidos, não se separarem do mundo e dispuserem de parte de sua propriedade e terras, nem se sacrificarem por Deus, Ele os passará por alto, e chamará aqueles que estão dispostos a fazer qualquer coisa para Jesus, até a venderem sua morada a fim de atender às necessidades da Causa. Deus terá ofertas voluntárias. Os que as fazem devem considerar um privilégio fazê-lo. T1 177 1 Alguns dão daquilo que lhes sobra e não lhes faz falta. Não se privam de alguma coisa em favor da causa de Cristo. Têm tudo o que o coração pode desejar. Dão liberalmente e com boa disposição. Deus observa cuidadosamente suas atitudes e motivos e os analisa. Eles não perderão sua recompensa. Vocês que não têm condições de dar tão liberalmente, não precisam desculpar-se por não poderem fazer como os outros. Façam aquilo que lhes estiver ao alcance. Privem-se de algum artigo que possam dispensar e sacrifiquem-se pela causa de Deus. Como a viúva, ponham no cofre as duas moedinhas. Vocês estarão certamente dando mais do que todos os que ofertam de sua abundância, e saberão o quão gratificante é negar-se a si mesmo e dar aos necessitados; sacrificar-se pela verdade e ajuntar tesouros no Céu. T1 177 2 Foi-me mostrado que os jovens, especialmente aqueles que fazem profissão da verdade, têm uma lição de abnegação a aprender. Se fizerem mais sacrifícios pela verdade, eles a estimarão mais intensamente. Ela transformaria o coração e purificar-lhes-ia a vida e eles a considerariam mais cara e sagrada. T1 178 1 Os jovens não levam os fardos da causa de Deus, nem sentem qualquer responsabilidade a seu respeito. Deus, porventura, os liberou de seus deveres? Oh, não; eles mesmos o fizeram por conta própria. Desobrigaram-se e os outros ficaram sobrecarregados. Não compreenderam que não são de si mesmos. Suas energias e tempo não lhes pertencem. Foram comprados por bom preço. Um sacrifício inestimável foi feito por eles e, a menos que possuam espírito de abnegação e sacrifício, nunca terão posse à herança imortal. ------------------------Capítulo 31 -- O privilégio e dever da igreja T1 178 2 Este testemunho refere-se à igreja de Battle Creek, mas descreve a condição e privilégios dos irmãos e irmãs que vivem em toda parte: T1 178 3 Vi que uma espessa nuvem os envolvia e que uns poucos raios de luz da parte de Jesus penetravam a nuvem. Olhei para ver aqueles que recebiam a luz, e vi indivíduos orando fervorosamente pela vitória. Haviam-se empenhado em servir a Deus. Sua fé perseverante foi galardoada. A luz do Céu foi derramada sobre eles, mas a nuvem escura sobre a igreja em geral era compacta. O povo estava indolente e entorpecido. Minha agonia de coração era grande. Perguntei ao anjo se aquela escuridão era necessária. Disse-me ele: "Veja." Então vi que a igreja se estava erguendo e pleiteando ferventemente com Deus; então, raios de luz começaram a penetrar as trevas e a nuvem foi dissipada. A pura luz celestial incidiu sobre eles, e com santa confiança sua atenção foi atraída para cima. Disse o anjo: "Esse é privilégio e dever deles." T1 178 4 Satanás desceu com grande poder, sabendo que tem pouco tempo. Seus anjos estão ocupados, e grande parte do povo de Deus permite ser embalada e posta a dormir. A nuvem novamente apareceu e pairou sobre a igreja. Vi que apenas mediante sincero esforço e perseverante oração esse encanto seria quebrado. T1 179 1 As alarmantes verdades da Palavra de Deus haviam despertado parcialmente o povo. De vez em quando faziam débeis esforços para vencer, mas logo se cansavam e voltavam ao mesmo estado de mornidão. Vi que não possuíam perseverança e firme determinação. Que os que buscam a salvação possuam a mesma energia e determinação que teriam se almejassem um tesouro terreno, e o objetivo será alcançado. Vi que a igreja tanto pode beber de uma taça plena como ter em sua mão ou boca um copo vazio. T1 179 2 Não é plano de Deus ter alguns obreiros sobrecarregados e outros aliviados. Alguns sentem o peso da responsabilidade da causa, e a necessidade de agir para que possam ajuntar com Cristo e não espalhar. Outros vivem livres de qualquer responsabilidade, agindo como se não tivessem influência alguma. Esses espalham. Deus não é parcial. Todos os que são feitos participantes de Sua salvação, que esperam partilhar das glórias do reino futuro, precisam ajuntar com Cristo. Cada um precisa conscientizar-se de que é responsável por si mesmo e pela influência que exerce sobre outros. Se se mantiverem em seu caminho cristão, Jesus será para eles "a esperança da glória" (Colossences 1:27), e apreciarão louvá-Lo para que possam ser refrigerados. A causa de seu Mestre lhes será muito cara. Será sua preocupação fazer avançar essa causa e honrá-la mediante uma vida santa. Disse o anjo: "De cada talento Deus requererá juros." Cada cristão deve avançar "de força em força" (Salmos 84:7) e empregar todas as suas energias na causa de Deus. ------------------------Capítulo 32 -- A sacudidura T1 179 3 Em 20 de Novembro de 1857 foi-me mostrado o povo de Deus, e vi-o fortemente sacudido. Alguns, com viva fé e agonizantes brados, pleiteavam com Deus. Tinham o semblante pálido e assinalado por profunda ansiedade, expressiva de suas lutas internas. Firmeza e grande fervor se exprimiam em seu semblante, enquanto grossas gotas de suor lhes caíam da fronte. De quando em quando seu rosto resplandecia com o sinal da aprovação de Deus, e de novo sobre eles pousava aquele olhar solene, fervoroso e ansioso.* T1 180 1 Anjos maus se aglomeravam em torno deles, circundando-os de trevas, para lhes afastar da vista a Jesus, a fim de que seus olhos fossem atraídos para as trevas que os cercavam, e eles desconfiassem de Deus e contra Ele murmurassem. Sua única segurança estava em manterem os olhos fitos no alto. Anjos de Deus eram encarregados da guarda de Seu povo, e quando a atmosfera intoxicada, da parte dos anjos maus, era impelida em volta daquelas pessoas ansiosas, os anjos sobre eles agitavam continuamente as asas, para afugentar as densas trevas. T1 180 2 Vi que alguns não participavam dessa obra de súplica intensa. Pareciam indiferentes e descuidosos. Não resistiam às trevas que os rodeavam, e os envolviam qual densa nuvem. Os anjos de Deus deixaram-nos, e vi-os apressar-se em auxílio dos que lutavam com todas as energias para resistir aos anjos maus, procurando ajudar-se a si mesmos invocando perseverantemente a Deus. Mas os anjos abandonaram os que não se esforçavam por ajudar-se a si mesmos, e perdi-os de vista. Enquanto os que oravam prosseguiram em seus clamores fervorosos, um raio de luz, provindo de Jesus, sobre eles incidia de quando em quando, a fim de os encorajar, e iluminar-lhes o semblante. T1 181 1 Perguntei qual o sentido da sacudidura que eu acabava de presenciar e foi-me mostrado que fora causada pelo positivo testemunho motivado pelo conselho da Testemunha fiel, aos laodiceanos. Esse testemunho terá o seu efeito sobre o coração do que o recebe, levando-o a exaltar a norma e declarar a positiva verdade. Alguns não suportarão esse claro testemunho. Opor-se-lhe-ão e isto causará uma sacudidura entre os filhos de Deus. T1 181 2 O testemunho da Testemunha fiel não foi atendido nem pela metade. O solene testemunho do qual depende o destino da igreja foi subestimado, se não rejeitado por completo. Esse testemunho tem que realizar arrependimento profundo, e todos os que de fato o receberem, obedecer-lhe-ão e serão purificados. T1 181 3 Disse o anjo: "Escute!" Logo ouvi uma voz que soava como muitos instrumentos de música, todos em acordes perfeitos, suaves e harmoniosos. Ultrapassava a qualquer música que eu já ouvira. Parecia plena de misericórdia, compaixão, e regozijo santo e enobrecedor. Atravessou-me todo o ser. Disse o anjo: "Olhe!" Minha atenção foi então dirigida para o grupo que eu vira, e que fora fortemente abalado. Foram-me mostrados os que eu antes vira a chorar e orar em agonia de espírito. O grupo de anjos da guarda em volta deles fora duplicado e achavam-se revestidos de uma armadura, da cabeça aos pés. Moviam-se em rigorosa ordem, firmes como um batalhão de soldados. Seu semblante exprimia o árduo conflito que haviam suportado, a difícil luta que atravessaram. Contudo sua fisionomia, assinalada por severa angústia íntima, resplandecia agora com a luz e glória do Céu. Haviam alcançado a vitória, e esta lhes trazia a mais profunda gratidão, e santo e nobre regozijo. T1 182 1 Diminuíra o número das pessoas que compunham esse grupo. Alguns, pela sacudidura, foram lançados fora, ficando à beira do caminho.* Os descuidosos e indiferentes, que não se uniam aos que haviam prezado a vitória e salvação o bastante para a suplicar com insistência, não a alcançaram, sendo deixados atrás, em trevas. Seu número, porém foi imediatamente preenchido por outros que aceitavam a verdade e cerravam fileiras. Ainda os anjos maus se lhes aglomeravam em torno, mas sobre eles não tinham poder.** T1 182 2 Ouvi os que se achavam revestidos da armadura proclamarem a verdade com grande poder. Isso surtiu efeito. Vi os que haviam estado presos -- algumas esposas haviam estado presas aos maridos, e alguns filhos aos pais. Os sinceros que haviam sido detidos ou impedidos de ouvirem a verdade agora dela se apoderavam ansiosamente. Desaparecera todo temor que tinham dos parentes. Para eles, unicamente a verdade era exaltada. Era-lhes mais querida e preciosa do que a vida. Tinham dela estado famintos e sedentos. Perguntei pela causa dessa grande mudança. Um anjo respondeu: "É a chuva serôdia, o 'refrigério pela presença do Senhor' (Atos dos Apóstolos 3:19), o alto clamor do terceiro anjo." T1 183 1 Grande poder acompanhava esses escolhidos. Disse o anjo: "Olhe!" Foi-me chamada a atenção para os ímpios, ou incrédulos. Estavam todos agitados. O zelo e poder do povo de Deus os haviam despertado e enraivecido. Confusão, confusão mostrava-se por toda parte. Vi que eram tomadas medidas contra esse grupo, que possuía o poder e a luz de Deus. Trevas adensavam-se-lhes em torno, e no entanto ali se achavam, aprovados de Deus e nEle confiantes. Vi-os perplexos. A seguir, ouvi-os clamarem fervorosamente ao Senhor. Através do dia e da noite seu clamor não cessava.* Ouvi as palavras: "Tua vontade, ó Deus, seja feita! Se for para a glória do Teu nome, abre um caminho de escape para o Teu povo! Livra-nos dos ímpios que nos rodeiam! Eles nos destinaram à morte; Teu braço, porém, pode efetuar a salvação." Essas são as palavras de que me recordo. Todos pareciam ter intuição profunda de sua indignidade e manifestavam inteira submissão à vontade de Deus. Entretanto, como Jacó, cada qual, sem uma única exceção, suplicava fervorosamente e pleiteava o livramento. T1 183 2 Logo depois de haverem começado seu fervoroso clamor, os anjos, compassivos, desejavam acudir em seu livramento. Mas um anjo alto e majestoso não lho permitiu. Disse ele: "A vontade de Deus não se cumpriu ainda. Eles devem beber a taça. Devem ser batizados com o batismo." T1 184 1 Logo ouvi a voz de Deus, que abalou Céus e Terra.* Houve grande terremoto. Edifícios ruíram por todos os lados. Ouvi então um triunfante brado de vitória, alto, harmonioso e claro. Contemplei aquele grupo que, pouco tempo antes, estivera em aflição e cativeiro. Seu cativeiro fora mudado. Jó 42:10. Uma luz resplandecente brilhava sobre eles. Como pareceram formosos então! Haviam desaparecido toda fadiga e sinais de ansiedade; saúde e beleza viam-se em todos os semblantes. Seus inimigos, os gentios que os cercavam, caíram por terra, como mortos. Não suportavam a luz que brilhava sobre os santos, libertos. Essa luz e resplendor sobre eles permaneceu até que Jesus foi visto nas nuvens do céu, e o grupo de fiéis e provados foram transformados "num momento, num abrir e fechar de olhos" (1 Coríntios 15:52), de glória em glória. Abriram-se os sepulcros e revestidos de imortalidade, surgiram os santos, bradando: "Vitória sobre a morte e a sepultura!" e em companhia dos santos vivos foram arrebatados, para encontrar seu Senhor nos ares, enquanto belos e harmoniosos brados de glória e vitória procediam de todos os lábios imortais. ------------------------Capítulo 33 -- A igreja de Laodicéia T1 185 1 Queridos irmãos e irmãs: T1 185 2 O Senhor visitou-me novamente com grande misericórdia. Fiquei muito aflita durante uns meses. A doença tem me premido pesadamente. Faz anos me afligem o edema e doença do coração, que têm tido a tendência de deprimir meu humor e abater minha fé e animação. A mensagem à Laodicéia não foi recebida pelo povo de Deus em zeloso arrependimento, conforme eu esperava ver, e minha perplexidade foi muito grande. A doença parecia evoluir e eu pensei que morreria. Eu não desejava mais viver e, portanto, não era capaz de apegar-me à fé e orar por minha recuperação. Freqüentemente, quando eu me retirava para o descanso noturno, percebia que poderia morrer antes do amanhecer. Nesse estado, desmaiei à meia-noite. Os irmãos Andrews e Loughborough vieram visitar-me e fervorosas súplicas foram dirigidas a Deus em meu favor. O abatimento e a grande opressão que sentia foram retirados de sobre meu dolorido coração, e fui tomada em visão. Vi, então, as coisas que passo a apresentar. T1 185 3 Vi que Satanás havia tentado levar-me ao desânimo e desespero, fazer-me desejar mais a morte do que a vida. Foi-me mostrado que não era da vontade de Deus que eu parasse de trabalhar e descesse à sepultura, porquanto os inimigos de nossa fé triunfariam e o coração dos filhos de Deus ficaria abatido. Vi que constantemente padeceria angústia de espírito e sofreria muito, todavia, eu tinha a promessa de que os que me estavam ao redor haveriam de animar-me e ajudar-me; que minha coragem e forças não falhariam conquanto ferozmente atacada pelo diabo. T1 186 1 Foi-me mostrado que o testemunho aos laodiceanos se aplica ao povo de Deus no tempo presente, e a razão por que não realizou uma obra muito maior é a dureza de coração. Mas Deus deu à mensagem tempo para realizar sua obra. O coração precisa ser purificado dos pecados que por tanto tempo excluem a Jesus. Essa terrível mensagem fará sua obra. Quando foi primeiramente apresentada, conduziu a um íntimo exame do coração. Os pecados foram confessados e em todos os lugares o povo de Deus foi sacudido. Quase todos creram que essa mensagem concluiria o alto clamor do terceiro anjo. Mas como o povo não viu a poderosa obra concluída em um curto espaço de tempo, muitos perderam o efeito da mensagem. Vi que essa mensagem não poderia cumprir seu propósito em uns poucos meses. Ela estava destinada a despertar o povo de Deus, a denunciar-lhes a apostasia e levá-los a um zeloso arrependimento, a fim de que muitos pudessem ser favorecidos com a presença de Jesus e estarem preparados para o alto clamor do terceiro anjo. Como esta mensagem atingiu o coração, levou o povo à profunda humilhação diante de Deus. Os anjos foram enviados em todas as direções a fim de preparar os descrentes para receberem a verdade. A causa de Deus começou a crescer e Seu povo estava ciente de sua posição. Se o conselho da Testemunha Verdadeira houvesse sido totalmente atendido, Deus teria atuado através de Seu povo com grande poder. Entretanto, os esforços feitos desde que a mensagem começou a ser dada, foram abençoados por Deus e muitas pessoas foram conduzidas do erro e trevas à alegria da verdade. T1 186 2 Deus provará Seu povo. Jesus lida com eles pacientemente, e não os vomita da boca em um momento. Disse o anjo: "Deus está pesando o Seu povo." Se a mensagem houvesse tido a breve duração que muitos de nós supunham, não teria havido tempo para desenvolver o caráter. Muitos agiam segundo os sentimentos, não por princípios e pela fé, e esta solene e terrível mensagem os sacudiu. Atuou sobre seus sentimentos, e despertou-lhes os temores, mas não realizou a obra que Deus designara que fizesse. Deus lê o coração. Para que Seu povo não se engane quanto a si mesmo, Ele lhes dá tempo para que passe a emoção, e então os prova para ver se obedecem ao conselho da Testemunha Verdadeira. T1 187 1 Deus conduz avante Seu povo, passo a passo. Leva-os a diferentes pontos, destinados a manifestar o que está no coração. Alguns resistem em um ponto, mas caem no seguinte. A cada ponto mais adiante, o coração é experimentado e provado um pouco mais de perto. Se o professo povo de Deus verifica estar o coração contrário a esta incisiva obra, isto os deve convencer de que têm alguma coisa a fazer a fim de vencer, uma vez que não queiram ser vomitados da boca do Senhor. Disse o anjo: "Deus atuará mais e mais rigorosamente a fim de experimentar e provar cada um entre Seu povo. Alguns são prontos em receber um ponto; mas quando Deus os leva a outro ponto difícil, recuam diante dele e ficam para trás, pois acham que isto golpeia diretamente algum ídolo acariciado. Aí têm eles oportunidade de ver o que, em seu coração, está excluindo a Jesus. Prezam alguma coisa mais que a verdade, e o coração não está preparado para receber a Jesus. Os indivíduos são experimentados e provados por um espaço de tempo a ver se sacrificarão seus ídolos e darão ouvidos ao conselho da Testemunha Verdadeira. Caso alguém não seja purificado pela obediência à verdade, e vença o egoísmo, o orgulho e as más paixões, os anjos de Deus têm a recomendação: "Estão entregues a seus ídolos; deixem-nos" (Oséias 4:17), e eles passarão adiante à sua obra, deixando esses com seus pecaminosos traços não subjugados, ao comando dos anjos maus. Os que satisfazem em todos os pontos e resistem a toda prova, e vencem, seja qual for o preço, atenderam ao conselho da Testemunha Verdadeira, e receberão a chuva serôdia, estando assim aptos para a trasladação. T1 188 1 Deus prova Seu povo neste mundo. Este é o lugar de preparação para aparecermos diante dEle. Aqui, neste mundo, nos últimos dias, as pessoas revelarão que poder lhes afeta o coração e lhes controla as ações. Se for o poder da verdade divina, ele conduzirá às boas obras. Elevará o recebedor e o tornará nobre e generoso, como seu divino Senhor. Mas se os anjos maus tomam conta do coração, isso será revelado de várias maneiras. O fruto será: egoísmo, cobiça, orgulho e más paixões. T1 188 2 "Enganoso é coração, mais do que todas as coisas, e perverso." Jeremias 17:9. Os que professam religião não estão dispostos a se examinarem intimamente para ver se permanecem na fé. É um temível fato que muitos estão se apoiando sobre falsas esperanças. Alguns se apóiam numa velha experiência que tiveram anos atrás, mas quando chega o tempo de provar o coração, quando todos precisam ter uma experiência diária, eles não têm nada que dizer a respeito. Pensam que uma mera profissão da verdade os salvará. Quando eles vencerem os pecados que Deus odeia, Jesus entrará e ceará com eles e eles com Ele. Apocalipse 3:20. Obterão divina força de Cristo então e crescerão nEle, sendo capazes de dizer, em santo triunfo: "Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 15:57. Seria mais aceitável ao Senhor se os mornos professos de religião nunca houvessem feito menção de Seu nome. Eles são um contínuo peso àqueles que desejam ser fiéis seguidores de Jesus. São uma pedra de tropeço aos descrentes, e os anjos maus exultam sobre eles e zombam dos anjos de Deus por causa de seu tortuoso caminho. Esses são uma maldição para a causa na pátria e no estrangeiro. Acercam-se de Deus "com seus lábios, mas o coração está longe" dEle. Mateus 15:8. T1 188 3 Foi-me mostrado que o povo de Deus não deve imitar as modas do mundo. Alguns têm feito isso e estão rapidamente perdendo seu caráter santo, peculiar, que deveria distingui-los como povo de Deus. Foi-me apontado o antigo povo de Deus e pude comparar seu vestuário com a moda destes últimos dias. Que diferença! Que mudança! As mulheres de outrora não eram tão ousadas como as de hoje. Quando em público, elas cobriam o rosto com um véu. Nestes últimos dias, as modas são imodestas e indecentes. Acham-se registradas na profecia e foram primeiramente introduzidas por uma classe sobre a qual Satanás tem inteiro controle, "os quais, havendo perdido todo o sentimento [sem qualquer convicção do Espírito de Deus], se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza". Efésios 4:19. Se o professo povo de Deus não se houvesse afastado tanto dEle, haveria agora marcante diferença entre seu vestuário e o do mundo. As toucas pequenas, expondo a face e a cabeça, mostram falta de modéstia. As saias-balão são vergonhosas. Os habitantes da Terra estão se tornando mais e mais corrompidos e a linha de distinção entre eles e o Israel de Deus precisa ser mais clara, ou a maldição que cairá sobre os mundanos os atingirá também. T1 189 1 Minha atenção foi chamada para as seguintes passagens escriturísticas. Disse o anjo: "Elas são 'para instruir' (2 Timóteo 3:16) o povo de Deus." "Do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." 1 Timóteo 2:9, 10. "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus." 1 Pedro 3:3-5. T1 189 2 Jovens e idosos, Deus os está provando agora. Vocês estão decidindo seu destino eterno. Seu orgulho e amor às modas do mundo, sua conversação vazia e insensata, seu egoísmo, estão todos postos na balança, e o peso do mal está temerariamente contra vocês. Vocês são pobres, miseráveis, cegos e nus. Enquanto o mal está crescendo e lançando profundas raízes, a boa semente lançada no coração é sufocada, e logo a palavra dirigida contra a casa de Eli será repetida pelos anjos celestiais com respeito a vocês: "Nunca jamais será expiada a iniqüidade da casa de Eli nem com sacrifício nem com oferta de manjares." 1 Samuel 3:14. Vi que muitos que estavam se gabando de serem bons cristãos, não tinham nem mesmo um simples raio de luz da parte de Jesus. Eles não sabem o que é ser renovado pela graça de Deus. Não possuem nenhuma experiência real nas coisas de Deus. Vi que o Senhor estava afiando Sua espada no Céu para abatê-los. Oxalá todo morno professo adventista compreenda a obra de purificação que Deus está prestes a efetuar entre o povo que professa pertencer-Lhe! Prezados amigos, não se iludam quanto a sua condição. Não podem enganar a Deus. Diz a Testemunha Verdadeira: "Eu sei as tuas obras." Apocalipse 2:2; 3:15. O terceiro anjo está, passo a passo, guiando um povo cada vez mais para cima. A cada passo eles serão provados. T1 190 1 O plano de doação sistemática* agrada a Deus. Foram-me apontados os dias dos apóstolos, e vi que Deus introduzira Seu plano pela descida do Espírito Santo e que, pelo dom de profecia, aconselharia Seu povo com respeito ao método de doação. Todos tomavam parte dessa obra de repartir as coisas temporais com aqueles que lhes ministravam as coisas espirituais. Também foram ensinados de que as viúvas e os órfãos lhes requeriam a caridade. A religião pura e imaculada é definida: "Visitar os órfãos e as viúvas e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. Vi que isso não era meramente simpatizar com eles em sua aflição através de palavras confortadoras; mas ajudá-los, se necessário, com nossos meios. Rapazes e moças a quem Deus tem dado saúde podem receber grandes bênçãos ao ajudarem as viúvas e os órfãos em suas tribulações. Vi que Deus exige dos jovens maior sacrifício pelo bem dos outros. Ele exige deles mais do que estão dispostos a dar. Se se mantiverem incontaminados do mundo, se abandonarem as modas e reservarem aquilo que os amantes dos prazeres despendem em artigos inúteis para atender ao orgulho, e dá-lo aos aflitos, e sustentarem a causa, eles terão a aprovação dAquele que disse: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. T1 191 1 Há ordem no Céu, e Deus Se agrada com os esforços de Seu povo no sentido de agirem com método e ordem em Sua obra sobre a Terra. Vi que deveria haver ordem na igreja de Deus, e que é necessário método para transmitirem com sucesso a grande mensagem de misericórdia ao mundo. Deus está conduzindo Seu povo no plano de doação sistemática, e esse é um dos muitos pontos nos quais o Senhor está educando esse povo. Ponto este que contrariará a alguns. Será para eles como o arrancar do braço ou do olho direito. Para outros, porém, será um grande auxílio. Para as pessoas nobres e generosas os reclamos parecem muito pequenos, e elas não estão contentes por darem tão pouco. Alguns possuem grandes bens e se eles os pouparem para fins caritativos, tal oferta lhes parecerá uma soma enorme. O coração egoísta apega-se firmemente a uma pequena oferta como se fosse grande, e faz com que a ínfima quantia pareça enorme. T1 191 2 Minha atenção foi dirigida aos tempos iniciais desta obra. Naquele tempo, alguns que amavam a verdade podiam com propriedade falar de sacrifícios. Davam muito para a causa de Deus, a fim de que a verdade fosse levada a outros. Ajuntavam com antecedência tesouros no Céu. Irmãos, vocês que receberam a verdade em período posterior e que possuem grandes bens, Deus os chamou para o campo, não simplesmente para que possam desfrutar da verdade, mas para que, com seus meios, auxiliem no avanço desta grande obra. E se vocês têm interesse nesta obra, nela se aventurarão, investirão algo para que outros possam ser salvos por seus esforços, e receberão a recompensa final. Grandes sacrifícios foram feitos e muitas privações suportadas para colocar a verdade sob clara luz perante vocês. Agora Deus os chama para que, por sua vez, façam grandes esforços e sacrifícios visando pôr a verdade diante daqueles que estão em trevas. Deus exige isso. Vocês que professam crer na verdade, deixem que as obras testifiquem desse fato. A menos que a fé atue, é morta. Nada senão uma viva fé os salvará das pavorosas cenas que se acham justamente diante de vocês. T1 192 1 Vi que é tempo de os que possuem grandes posses começarem a trabalhar com firmeza. É tempo de eles fazerem uma poupança, de acordo com a prosperidade que o Senhor lhes deu e dá. Nos dias dos apóstolos foram feitos planos para que alguns não ficassem isentos e outros sobrecarregados. Disposições foram aplicadas para que todos repartissem eqüitativamente as cargas da igreja de Deus, de acordo com suas variadas capacidades. Disse o anjo: "O machado" deve ser "posto à raiz das árvores." Mateus 3:10. Aqueles que, como Judas, põem o coração nos tesouros terrenos, lamentar-se-ão como ele o fez. Seu coração cobiçou o custoso ungüento derramado sobre Jesus, mas ele procurou ocultar o egoísmo sob uma piedosa e conscienciosa preocupação pelos pobres: "Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros, e não se deu aos pobres?" João 12:5. Ele desejou, na verdade, ter o perfume em suas mãos, afinal, este não deveria ter sido desperdiçado com o Salvador. Queria utilizá-lo em proveito próprio, vendê-lo e ficar com o dinheiro. Ele valorizava seu Senhor o suficiente para vendê-Lo aos ímpios por umas poucas peças de prata. Como Judas fez dos pobres um pretexto para seu egoísmo, assim, professos cristãos cujo coração é cobiçoso, procurarão ocultar seu egoísmo sob uma consciência fingida. Oh, eles temem que, adotando a doação sistemática estamos nos tornando como as igrejas nominais! "Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita." Mateus 6:3. Parecem possuir o consciencioso desejo de seguir exatamente a Bíblia, como eles a entendem acerca desse assunto, mas negligenciam completamente a clara admoestação de Cristo: "Vendei o que tendes, e dai esmolas." Lucas 12:33. T1 193 1 "Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles." Mateus 6:1. Alguns supõem que esse texto ensina que devem fazer mistério de suas obras de caridade. E realizam muito pouco, desculpando-se, porque não sabem exatamente como dar. Mas, Jesus explicou isso aos discípulos: "Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão." Mateus 6:2. Eles davam para serem vistos pelos homens como nobres e generosos. Recebiam o louvor dos homens, e Jesus ensinou Seus discípulos que essa era a única recompensa que teriam. Acontece com muitos que a mão esquerda não sabe o que a direita faz, pois a direita nada realiza que deva ser notado pela esquerda. Essa lição de Jesus aos discípulos tinha o objetivo de repreender aqueles que desejavam receber a glória dos homens. Davam esses suas esmolas em lugares de reunião pública e, antes disso, uma proclamação pública era feita anunciando sua generosidade diante do povo. Muitos davam grandes somas meramente para ter seu nome exaltado pelos homens. Os meios dados dessa maneira eram freqüentemente extorquidos de outros, pela opressão aos assalariados e aos pobres. T1 193 2 Foi-me mostrado que esse verso não se aplica àqueles que têm a causa de Deus no coração, e usam humildemente seus meios para fazê-la avançar. Minha atenção foi chamada para estes textos: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16, 20. Vi que esse testemunho das Escrituras é harmônico quando corretamente compreendido. As boas obras dos filhos de Deus são a mais efetiva pregação que os descrentes podem ouvir. Eles, os incrédulos, pensam que deve haver um forte motivo atuando no cristão para ele negar-se a si mesmo e usar seus bens na tentativa de salvar os semelhantes. Esse espírito é diferente daquele do mundo. Tais frutos testificam que seus possuidores são cristãos genuínos. Parece que estão constantemente rumando para cima, para um tesouro imperecível. T1 194 1 O doador deveria ter um desígnio apropriado em cada dádiva e oferta, não para sustentar alguém na inatividade, nem para ser visto pelos homens ou obter fama, mas para glorificar a Deus na divulgação de Sua causa. Alguns fazem grandes doações à obra de Deus, enquanto seu irmão, que é pobre, pode estar sofrendo ao seu lado, e eles nada estão fazendo para lhe aliviar o sofrimento. Pequenos atos de bondade feitos em favor de seu irmão, de modo discreto, uniriam os corações e seria notados no Céu. Vi que, em seus preços e salários, o rico deveria fazer diferença em favor dos aflitos, das viúvas e dos pobres dignos entre eles. Mas com freqüência se dá o caso de o rico tirar vantagem do pobre, obtendo todo benefício possível e exigindo pelos favores concedidos até o último centavo. Isso tudo está registrado no Céu. "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. T1 194 2 Hoje, o pecado predominante na igreja é a cobiça. Deus Se desagrada com Seu povo por seu egoísmo. Seus servos têm dispensado tempo e energias para levar-lhes a palavra da vida, mas muitos têm demonstrado por seus atos que a consideram de pouco valor. Se podem ajudar o servo de Deus de um jeito ou de outro, algumas vezes o fazem; freqüentemente, porém, deixam que se vá sem fazer quase nada por ele. Se empregam um operário diarista, precisam pagar-lhe o salário devido. Contudo, não procedem assim com o servo do Senhor. Ele trabalha por eles em palavra e doutrina; suporta pesadas cargas do trabalho sobre si; pacientemente lhes mostra pela Palavra de Deus os perigosos erros que prejudicam o ser humano. Destaca a necessidade de arrancar sem demora as ervas daninhas que sufocam a boa semente; retira do tesouro da Palavra coisas velhas e novas para alimentar o rebanho. Todos reconhecem terem sido beneficiados; mas a venenosa planta da cobiça está tão arraigada que eles permitem ao servo de Deus ir embora sem prover-lhe as coisas temporais. Prezam seu exaustivo trabalho tanto quanto seus atos o demonstram. Diz a Testemunha Verdadeira: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. T1 195 1 Vi que os servos de Deus não estão colocados além do alcance das tentações de Satanás. Com freqüência são eles terrivelmente assediados pelo inimigo e têm uma árdua batalha a ferir. Se pudessem ser liberados de sua comissão, alegremente trabalhariam com as próprias mãos. Seu trabalho é requerido por seus irmãos; mas quando eles o vêem considerado tão levianamente, ficam deprimidos. É verdade que eles olham para sua recompensa final e isso os sustém, mas suas famílias precisam de alimento e roupas. Seu tempo pertence à igreja de Deus e, portanto, não está à sua disposição. Eles sacrificam o convívio com suas famílias para beneficiar a outros, e ainda alguns beneficiários de seu trabalho pastoral são indiferentes às suas necessidades. Vi que é uma injustiça deixá-los seguir o caminho e frustrá-los. Eles pensam estar aprovados por Deus, quando Ele despreza seu egoísmo. Esses egoístas não apenas serão chamados a dar contas a Deus pelo uso que fizeram do dinheiro do Senhor, mas toda depressão e mágoas que causaram aos escolhidos servos de Deus e que debilitaram seus esforços, serão debitados na conta desses mordomos infiéis. T1 195 2 A Testemunha Verdadeira declara: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. O coração cobiçoso e egoísta, será provado. Alguns não estão dispostos a dedicar a Deus uma pequena parte das rendas de seu tesouro terreno. Esses recuariam horrorizados se você lhes falasse do capital. O que têm eles sacrificado por Deus? Nada. Professam crer que Jesus está voltando, mas suas obras negam-lhes a fé. Cada indivíduo viverá pela fé que possui. Professo de coração falso, Jesus conhece as suas obras. Ele odeia suas ofertas mesquinhas e seus sacrifícios defeituosos. ------------------------Capítulo 34 -- Casas de culto T1 196 1 Vi que muitos a quem Deus confiou recursos, sentem-se na liberdade de usá-los à vontade para o próprio bem-estar, arranjando lares aprazíveis aqui; quando, porém, constroem uma casa para o culto do grande Deus que habita na eternidade, não podem permitir que Ele use os meios que lhes emprestou. Não se esforça cada um por exceder o outro em manifestar sua gratidão a Deus pela verdade, fazendo tudo quanto pode para preparar um apropriado lugar de culto; antes alguns procuram fazer simplesmente o mínimo possível; e acham que são nada mais que perdidos os recursos que empregam em preparar um lugar em que o Altíssimo os visite. Tal oferta é defeituosa, e não é aceitável a Deus. Vi que seria muito mais aprazível a Deus se Seu povo mostrasse tanto entendimento em preparar-Lhe uma casa, quanto usa em suas próprias habitações. T1 196 2 Fora ordenado que os sacrifícios e ofertas dos filhos de Israel fossem sem mancha e sem defeito, o melhor do rebanho; e cada um dentre o povo era solicitado a partilhar dessa obra. A obra de Deus para este tempo será extensa. Se vocês constróem uma casa para o Senhor, não O ofendam nem se limitem com o fazer ofertas defeituosas. Dêem o melhor para uma casa construída para Deus. Seja o melhor que possuam; mostrem interesse em torná-la apropriada e confortável. Alguns pensam que isto não tem importância, visto que o tempo é curto. Façam então o mesmo em suas residências e em todos os seus arranjos mundanos. T1 196 3 Vi que Deus podia levar avante Sua obra sem qualquer auxílio humano; isto, porém, não é o Seu plano. O mundo atual destina-se a ser um cenário de provação para o homem. Ele está aqui a fim de formar um caráter que o acompanhe para o mundo eterno. O bem e o mal são colocados diante dele, e seu futuro estado depende da escolha que fizer. Cristo veio para mudar-lhe o rumo dos pensamentos e afeições. Seu coração deve ser tirado do tesouro terreno e colocado no celeste. Por sua abnegação, Deus pode ser glorificado. Em favor do homem foi feito o grande sacrifício, e agora ele será provado a ver se seguirá o exemplo de Jesus, e fará sacrifício por seus semelhantes. Satanás e seus anjos acham-se coligados contra o povo de Deus; mas Jesus está procurando purificar esse povo para Si. Requer que Lhe leve a obra avante. Deus colocou nas mãos de Seu povo neste mundo, o suficiente para promover o andamento de Sua obra sem embaraço, e é intenção Sua que os meios que lhes foram confiados sejam empregados cuidadosamente. "Vendei o que tendes e dai esmolas" (Lucas 12:33), é uma parte da sagrada Palavra de Deus. Os servos de Deus devem erguer-se, clamar em alta voz, e não poupar: "Anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Isaías 58:1. A obra de Deus deve tornar-se mais ampla, e se Seu povo seguir o conselho que Ele lhe dá, não haverá em suas mãos muitos recursos para serem consumidos na destruição final. Todos terão depositado seus tesouros onde a traça e a ferrugem não consomem; e o coração não terá uma ligação a prendê-lo à Terra. ------------------------Capítulo 35 -- Lições tiradas das parábolas T1 197 1 Foi-me mostrado que a parábola dos talentos não tem sido plenamente compreendida. Esta importante lição foi dada aos discípulos para benefício dos cristãos que viveriam nos últimos dias. E estes talentos não representam meramente a capacidade de pregar e instruir pela Palavra de Deus. A parábola aplica-se aos recursos temporais que Deus confiou a Seu povo. Aqueles a quem foram dados os cinco e os dois talentos, negociaram e duplicaram aquilo que lhes fora dado em depósito. Deus exige que os que possuem bens aqui, ponham seu dinheiro em giro para Ele -- ponham-no na causa para espalhar a verdade. E se a verdade habita no coração do recebedor, ele também, com seus recursos, ajudará a enviá-la a outros; e por meio de seus esforços, sua influência e seus meios, outras pessoas abraçarão a verdade, e começarão por sua vez a trabalhar para Deus. Vi que alguns dentre os que professam ser Seu povo, são como o homem que escondeu o talento na terra. Impedem que seus bens sejam de proveito na causa do Senhor. Pretendem que os mesmos lhes pertencem, e que eles têm o direito de fazer o que lhes aprouver com o que é seu; e não se salvam pessoas mediante cuidadosos esforços de sua parte, com o dinheiro de seu Senhor. Os anjos fazem um fiel relatório da obra de todo homem, e ao ser feito juízo sobre a casa de Deus, registra-se a sentença de cada um junto a seu nome, e o anjo é comissionado a não poupar os servos infiéis, mas a derribá-los no tempo da matança. E o que lhes fora confiado em depósito lhes é tirado. Seu tesouro terrestre é então dissipado, e perderam tudo. E as coroas que poderiam haver usado caso tivessem sido fiéis, serão colocadas na fronte dos que foram salvos pelos servos fiéis, cujos recursos estiveram constantemente em giro para Deus. E cada um que foi salvo por intermédio deles, acrescenta estrelas a sua coroa de glória, aumentando-lhes a recompensa eterna. T1 198 1 Foi-me mostrado também que a parábola do mordomo infiel nos deve ensinar uma lição. "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas 16:9. Caso empreguemos nossos bens para glória de Deus aqui, depositamos um tesouro no Céu; e quando todas as posses terrenas tiverem desaparecido, o mordomo fiel tem como amigos a Jesus e os anjos, para recebê-lo no lar, nas eternas moradas. T1 198 2 "Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito." Lucas 16:10. Aquele que é fiel em suas posses terrestres, que são o mínimo, fazendo cuidadoso emprego daquilo que Deus lhes emprestou aqui, será fiel a sua profissão de fé. "Quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito." Lucas 16:10. Aquele que retém de Deus aquilo que Ele lhe emprestou, será infiel a todos os respeitos nas coisas de Deus. "Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?" Lucas 16:11. Se nos demonstramos infiéis no uso do que Deus nos empresta aqui, Ele nunca nos dará a herança imortal. "E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?" Lucas 16:12. Jesus nos comprou a redenção. Esta nos pertence; somos, porém, colocados aqui em prova, a ver se nos demonstramos dignos da vida eterna. Deus nos prova confiando-nos bens terrenos. Se somos fiéis em dar abundantemente daquilo que Ele nos emprestou, para levar avante Sua causa, o Senhor nos pode confiar a herança imortal. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Lucas 16:13; Mateus 6:24. "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. T1 199 1 Deus Se desgosta com a maneira negligente, frouxa em que muitos dos que professam ser Seu povo dirigem seus negócios mundanos. Parecem ter perdido todo o senso de que a propriedade que estão usando pertence a Deus, e Lhe devem prestar contas de sua mordomia. Alguns têm os negócios seculares em total confusão. Satanás observa tudo isto, e dá o golpe no momento oportuno, tirando, por seu mau uso, muitos recursos das fileiras dos observadores do sábado. E esses meios vão para as fileiras dele. Alguns, já idosos, não querem tomar quaisquer providências quanto a seus negócios seculares e, inesperadamente, adoecem e morrem. Os filhos, que não têm interesse na verdade, tomam a propriedade. Satanás manobrou da maneira que lhe convinha. "Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?" Lucas 16:11, 12. T1 199 2 Foi-me mostrado o terrível fato de que Satanás e seus anjos têm tido mais que ver com o uso da propriedade do povo que professa ser de Deus, do que o próprio Senhor. Os mordomos dos últimos dias são imprudentes. Permitem que Satanás lhes controle as questões de negócios, e leve para as próprias fileiras aquilo que pertence à causa de Deus, e nela deveria estar. Deus observa vocês, mordomos infiéis; Ele os chamará a contas. Vi que os mordomos de Deus podem, mediante fiel e cuidadosa administração, manter seus negócios neste mundo ordenados, exatos e corretos. E é especialmente privilégio e dever dos idosos, dos fracos e dos que não têm filhos, colocarem os recursos de que dispõem onde eles possam ser empregados na causa de Deus, caso eles sejam subitamente tirados. Mas vi que Satanás e seus anjos exultam ante o êxito que obtêm nesse assunto. E os que devem ser sábios herdeiros da salvação quase deixam voluntariamente o dinheiro de seu Senhor escapar-lhes das mãos para as fileiras do inimigo. Por esta maneira, fortalecem o reino de Satanás, e parecem sentir-se muito sossegados a esse respeito! ------------------------Capítulo 36 -- Fiadores de incrédulos T1 200 1 Vi que Deus estava desgostoso com Seu povo por se tornarem fiadores de incrédulos. Minha atenção foi dirigida para estes textos: "Não estejas entre os que dão as mãos, e entre os que ficam por fiadores de dívidas." Provérbios 22:26. "De certo sofrerá severamente aquele que fica por fiador do estranho, mas o que aborrece a fiança estará seguro." Provérbios 11:15. Mordomos infiéis! Empenham aquilo que pertence a outro -- seu Pai celeste -- e Satanás está a postos para ajudar seus filhos a arrebatá-lo de suas mãos. Os observadores do sábado não devem ser sócios dos incrédulos. O povo de Deus confia demasiado nas palavras dos estranhos, e buscam-lhes o conselho, quando não o devem fazer. O inimigo os torna agentes seus, e por intermédio deles trabalha para desconcertar os filhos de Deus, e os prejudicar. T1 200 2 Alguns não têm tato para gerir sabiamente assuntos mundanos. Faltam-lhes as necessárias habilitações, e Satanás deles se aproveita. Quando assim é, essas pessoas não devem ignorar sua deficiência. Devem ser suficientemente humildes para, antes de executarem seus planos, aconselharem-se com seus irmãos, em cujo discernimento podem confiar. Fui encaminhada para este texto: "Levai as cargas uns dos outros." Gálatas 6:2. Alguns não são humildes bastante para deixar que os que possuem discernimento raciocinem por eles, enquanto não levarem a efeito os próprios projetos, e se virem envolvidos em dificuldades. Vêem então a necessidade do conselho e do juízo de seus irmãos; mas quão mais pesado é então o fardo do que a princípio! Os irmãos não devem descer a juízo, caso seja possível evitá-lo; pois dão assim grande vantagem ao inimigo para os enredar e desconcertar. Seria melhor entrar em entendimento, mesmo com prejuízo. ------------------------Capítulo 37 -- Prestar juramento T1 201 1 Vi que alguns dos filhos de Deus têm cometido um erro no que respeita a prestar juramento, e Satanás se tem aproveitado disto para os oprimir, e deles tirar o dinheiro de seu Senhor. Vi que as palavras de nosso Senhor: "de maneira nenhuma jureis", não se referem ao juramento judicial. "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disto é de procedência maligna." Mateus 5:34, 37. Isto se refere a conversações comuns. Alguns exageram em sua linguagem. Outros juram pela própria vida; outros, pela sua cabeça -- tão certo como eles viverem; tão certo como terem cabeça. Uns tomam o Céu e a Terra como testemunhas de que tais coisas são assim. Outros ainda esperam que Deus lhes tire a existência se o que estão dizendo não é verdade. É contra esta espécie de juramento comum que Jesus adverte Seus discípulos. T1 201 2 Temos homens que são colocados sobre nós como governadores, e leis para nos regerem. Não fosse por essas leis, e as condições do mundo seriam piores do que são agora. Algumas dessas leis são boas, outras más. Estas têm aumentado, e seremos ainda levados a situações apertadas. Mas Deus susterá o Seu povo para ser firme e viver à altura dos princípios de Sua Palavra. Quando as leis dos homens se chocam com a Palavra e a lei de Deus, cumpre-nos obedecer a estas, sejam quais forem as conseqüências. À lei de nossa terra que exige entregarmos um escravo a seu senhor, não devemos obedecer; e cumpre-nos sofrer as conseqüências de violar essa lei. O escravo não é propriedade de homem algum. Deus é seu legítimo senhor, e o homem não tem nenhum direito de tomar a obra de Deus em suas mãos, e pretender que é propriedade sua. T1 202 1 Vi que o Senhor tem ainda que ver com as leis do país. Enquanto Jesus está no santuário, o refreador Espírito de Deus é sentido por governantes e pelo povo. Mas Satanás domina em grande parte a massa do mundo, e não fossem as leis do pais, experimentaríamos muito sofrimento. Foi-me mostrado que, quando é realmente necessário, e eles são chamados a testemunharem de modo legal, não é violação da Palavra de Deus que Seus filhos tomem solenemente a Deus para testemunhar de que o que dizem é verdade, e coisa alguma senão a verdade. T1 202 2 O homem é tão corrupto que são feitas leis para lhe lançarem a responsabilidade sobre a própria cabeça. Alguns homens não temem mentir aos seus semelhantes; mas foram ensinados -- e o refreador Espírito de Deus os impressionou -- no sentido de ser coisa terrível mentir a Deus. O caso de Ananias e Safira, sua esposa, é-nos dado como exemplo. A questão é levada do homem para Deus, de maneira que se alguém der falso testemunho, não o faz para o homem, mas para o grande Deus, que lê o coração e conhece em todos os casos a exata verdade. Nossas leis consideram grave crime o juramento falso. Deus muitas vezes fez cair juízos sobre o que jura falsamente, e ainda quando o juramento estava em seus lábios, o anjo destruidor o abateu. Isso se destinava a aterrorizar os malfeitores. T1 202 3 Vi que, se existe na Terra alguém que possa coerentemente testemunhar sob juramento, esse é o cristão. Ele vive à luz do semblante de Deus. Ele se fortalece em Sua força. E quando questões de importância têm de ser resolvidas por lei, ninguém pode apelar para Deus com tanta justiça como o cristão. Ordenou-me o anjo que notasse que o próprio Deus jura por Si mesmo. Gênesis 22:16; Hebreus 6:13, 17. Jurou Ele a Abraão (Gênesis 26:3), a Isaque (Salmos 105:9; Jeremias 11:5), e a Davi (Salmos 132:11; Atos dos Apóstolos 2:30). Deus requeria dos filhos de Israel um juramento entre homem e homem. Êxodo 22:10, 11. Jesus submeteu-Se ao juramento na hora de Seu julgamento. Disse-Lhe o sumo sacerdote: "Conjuro-Te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus." Jesus respondeu: "Tu o disseste." Mateus 26:63, 64. Se Jesus, em Seus ensinos aos discípulos, Se referisse ao juramento judicial, Ele teria reprovado o sumo sacerdote, e ali mesmo reforçado os Seus ensinos, para o bem de Seus seguidores que se achavam presentes. Satanás tem-se agradado com o fato de alguns considerarem o juramento sob um prisma falso, pois isso lhe tem dado oportunidade de oprimi-los e tirar-lhes o dinheiro de seu Senhor. Os mordomos de Deus devem ser mais sábios, elaborar seus planos e preparar-se para resistir às armadilhas de Satanás; pois ele fará maiores esforços que nunca. T1 203 1 Vi que alguns têm preconceitos contra nossos governantes e contra as leis; mas se não fossem as leis, este mundo estaria em condição terrível. Deus refreia nossos governantes; pois o coração de todos está em Suas mãos. Estabelecem-se limites para além dos quais não podem ir. Muitos dos governantes pertencem ao número dos dirigidos por Satanás; mas vi que Deus tem os Seus agentes, mesmo entre os governantes. E alguns deles se converterão ainda à verdade. Estão agora desempenhando a parte que Deus deseja que desempenhem. Quando Satanás atua por meio de seus agentes, fazem-se propostas que, se executadas, impediriam a obra de Deus e produziriam grande mal. Os anjos bons atuam nesses agentes de Deus para que se oponham a essas propostas com razões fortes, às quais não podem resistir os agentes de Satanás. Uns poucos dos agentes de Deus terão poder para abater grande massa de males. Assim a obra prosseguirá até que a terceira mensagem tenha realizado sua obra, e por ocasião do alto clamor do terceiro anjo, esses agentes terão oportunidade de receber a verdade, e alguns deles se converterão, e atravessarão com os santos o tempo de angústia. Quando Jesus deixar o Santíssimo, Seu Espírito refreador será retirado dos governantes e do povo. Serão deixados ao controle dos anjos maus. Então serão feitas, por conselho e orientação de Satanás, leis que, se não fosse muito breve o tempo, nenhuma carne se salvaria. ------------------------Capítulo 38 -- Erros no regime alimentar T1 204 1 Caros irmão e irmã A: T1 204 2 O Senhor houve por bem, em Sua bondade, dar-me uma visão neste lugar; e entre as diversas coisas mostradas estavam algumas que lhes dizem respeito. Vi que algo não estava bem com vocês. O inimigo buscava sua destruição, esforçando-se para influenciar outros através de vocês. Vi que ambos assumiram uma exaltada posição que nunca lhes foi designada, e que se consideram muito adiante do povo de Deus. Eu os vi olhando para Battle Creek com ciúmes e suspeita. Pretendiam pôr as mãos ali e amoldar ações e comportamentos ao que consideram certo. Vocês reparam em pequenas coisas que não podem compreender e com as quais nada têm a ver, e que de modo nenhum lhes dizem respeito. Deus confiou Sua obra em Battle Creek a servos escolhidos. A responsabilidade pela obra está sobre eles. Os anjos de Deus são comissionados para supervisionar a obra e se ela não funciona do modo certo, aqueles que estão na liderança serão corrigidos e as coisas transcorrerão segundo a ordem divina, sem interferência deste ou daquele indivíduo. T1 204 3 Vi que Deus deseja que vocês voltem sua atenção para si mesmos. Examinem os próprios motivos. Os irmãos estão enganados com respeito a si mesmos. Têm uma aparência humilde e isso exerce influência sobre outros, levando-os a pensar que vocês estão muito avançados na vida cristã, mas quando suas opiniões particulares são tocadas, o eu se ergue imediatamente e vocês manifestam um espírito voluntarioso, inflexível. Essa é uma segura evidência de que os irmãos não possuem a verdadeira humildade. T1 205 1 Vi que vocês têm noções equivocadas sobre o afligir o corpo, e se privam de alimentos nutritivos. Tal atitude leva alguns da igreja a concluir que Deus certamente está com vocês, ou não se negariam a si mesmos praticando tais sacrifícios. Vi, porém, que nenhuma dessas coisas os tornará mais santos. Os ímpios fazem tudo isso, mas nada recebem como recompensa. Um espírito quebrantado e contrito é de grande valor à vista de Deus. Vi que suas concepções a respeito dessas coisas eram equivocadas, e que vocês estavam examinando a igreja, observando pequenas coisas, quando sua atenção deveria ser posta sobre assuntos de interesse da própria vida. Deus não pôs a responsabilidade de Seu rebanho sobre vocês. Os irmãos supõem que a igreja está em último plano porque não vê as coisas através de sua ótica particular, e não segue a mesma conduta rígida que vocês acham ser correta. Vi que os irmãos estão enganados com relação ao próprio dever e o dever dos outros. Alguns têm ido a extremos com respeito ao regime alimentar. Assumem uma posição inflexível e a mantêm até sua saúde ser abalada; a enfermidade se instala no organismo e o templo de Deus é debilitado. T1 205 2 Foi-nos recordada nossa experiência em Rochester, Nova Iorque. Vi que quando vivíamos ali, não ingeríamos alimentos nutritivos como deveríamos, e a doença quase nos levou à sepultura. Vi que, como Deus dá "aos Seus amados o sono" (Salmos 127:2), estava disposto a garantir-lhes alimentos apropriados para dar forças. O motivo que nos impelia era legítimo. Foi mediante a economia de meios que o periódico pôde ser mantido. Éramos pobres. Vi que a falta, então, estava na igreja. Aqueles que possuíam meios eram cobiçosos e egoístas. Se houvessem feito sua parte, a responsabilidade que estava sobre nossos ombros teria sido aliviada, mas como alguns não assumiram o que lhes competia, ficamos sobrecarregados e outros aliviados. Vi que Deus não requer que ninguém siga uma conduta de tão estrita economia, que chegue a ponto de enfraquecer ou prejudicar o templo de Deus. Há deveres e exigências em Sua Palavra para humilhar a igreja e induzi-los a afligir o próprio coração, e não há nenhuma necessidade de produzir cruzes e forjar deveres para afligir o corpo e gerar humildade. Tudo isso está em desacordo com a Palavra de Deus. T1 206 1 O tempo de angústia está precisamente diante de nós, e então premente necessidade requererá que o povo de Deus negue o próprio eu e coma meramente o suficiente para manter a vida, mas Deus nos preparará para esse tempo. Nessa terrível ocasião, nossa necessidade será a oportunidade de Deus para comunicar Seu poder fortalecedor e amparar seu povo. Mas agora Deus exige que trabalhem com as próprias mãos, naquilo que é bom, e poupem à medida que Ele os prosperar, fazendo sua parte em sustentar a causa da verdade. Esse é um dever imposto sobre todos os que não foram especialmente chamados para trabalhar em palavra e doutrina. Devem dedicar seu tempo a proclamar o caminho da vida e da salvação a outros. T1 206 2 Aqueles que fazem trabalho manual precisam nutrir-se de modo a se empenhar nesse tipo de serviço. Os que trabalham em palavra e doutrina devem alimentar-se convenientemente, pois Satanás e seus anjos maus estão guerreando contra eles para debilitá-los. Quando lhes for possível, devem descansar a mente e corpo por causa do estressante trabalho, e ingerir alimentos nutritivos que aumentem sua energia, pois serão obrigados a utilizar toda a força que puderem. Vi que Deus de modo algum é glorificado quando alguém de Seu povo produz um tempo de angústia para si mesmo. Há um tempo de angústia justamente diante do povo de Deus, e Ele o preparará para esse horrendo conflito. T1 206 3 Vi que suas idéias sobre a carne de porco* não seriam prejudiciais se vocês as retivessem para si mesmos, mas, em seu julgamento e opinião, os irmãos têm feito dessa questão uma prova, e seus atos têm demonstrado o que vocês crêem sobre isso. Se Deus achar por bem que Seu povo se abstenha da carne de porco, Ele os convencerá a respeito. Ele está tão disposto a mostrar o dever a Seus filhos sinceros, como também a indivíduos sobre quem o Senhor não confiou as responsabilidades de Sua obra. Se for dever da igreja abster-se da carne de porco, Deus o revelará a mais do que duas ou três pessoas. Ele ensinará à igreja o seu dever. T1 207 1 Deus está guiando Seu povo, não uns poucos e separados indivíduos aqui e acolá, um crendo de uma forma e outro diversamente. Os anjos de Deus estão fazendo a obra que lhes foi designada. O terceiro anjo está conduzindo e purificando um povo, o qual se moverá em união com ele. Alguns vão adiante dos anjos que estão dirigindo o povo, mas acabam tendo de rever cada passo e timidamente não seguir mais rápido do que os anjos dirigem. Vi que os anjos de Deus não levariam Seu povo mais depressa do que pudesse compreender e agir segundo as importantes verdades que lhe são comunicadas. Mas alguns espíritos inquietos não fazem mais do que a metade de seu trabalho. À medida que o anjo os conduz, anseiam por algo novo e apressam-se sem a divina guia, causando assim confusão e discórdia nas fileiras. Eles não falam nem agem em harmonia com a igreja. Vi que vocês têm que adotar, sem demora, uma atitude em que estejam dispostos a ser conduzidos em vez de pretenderem guiar, ou Satanás se aproveitará e os guiará a seu modo, segundo seu conselho. Alguns olham para as idéias fixas dos irmãos e as consideram prova de humildade. Eles estão enganados. Vocês estão fazendo uma obra da qual haverão de arrepender-se. T1 207 2 Irmão A, você é naturalmente mesquinho e cobiçoso. Você dizima o endro e o cominho, mas negligencia aquilo que é de maior valor. Quando o jovem rico veio a Jesus e perguntou o que deveria fazer para herdar a vida eterna, Cristo lhe disse para guardar os mandamentos. Ele declarou que havia feito isso. Jesus disse: "Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu." Marcos 10:21. Aconteceu que ele se retirou triste porque era dono de muitos bens. Vi que você mantém idéias equivocadas. Deus exige que Seu povo faça economia, mas alguns têm levado esse dever a extremos. Gostaria que o irmão pudesse ver a situação como de fato ela é. O verdadeiro espírito de sacrifício, que é aceitável a Deus, você não possui. Olha para os outros e os observa com atenção; se eles não seguem a mesma rígida conduta que você, o irmão nada faz por eles. Vocês estão definhando sob a nociva influência dos próprios erros. São fanáticos e acham que estão sendo dirigidos pelo Espírito de Deus. Enganam-se! Os irmãos não podem tolerar um testemunho claro e incisivo. Gostariam, na verdade, de receber um testemunho de aprovação, mas quando alguém lhes reprova os erros, quão depressa o eu se insurge. Vocês não são humildes e necessitam fazer uma obra por si mesmos. ... Tais atitudes, tal espírito, vi, eram fruto de seus erros e o resultado de pôr os próprios juízos e opiniões como regra para os outros e contra aqueles a quem Deus chamou. Os irmãos ultrapassaram os limites. T1 208 1 Vi que vocês pensavam que este ou aquele foram chamados a trabalhar no campo, quando, na verdade, nada conheciam do assunto. Vocês não podem ler o coração. Se houvessem bebido a largos goles da verdade da mensagem do terceiro anjo, não se sentiriam tão à vontade para dizer quem foi ou não chamado por Deus. O fato de alguém poder orar e falar bem, não é nenhuma evidência de que Deus o chamou. Cada um têm sua influência, e que essa fale em favor de Deus; mas a questão de dever este ou aquele dedicar seu tempo ao trabalho pelas pessoas é de profunda importância, e ninguém senão Deus pode decidir quem se alistará nessa solene missão. Havia homens bons nos tempos apostólicos, homens que podiam orar com poder e falar com autoridade; todavia, os apóstolos, que haviam recebido poder sobre os espíritos imundos e podiam curar enfermidades, não ousaram, fundados na própria sabedoria, designar alguém para o santo trabalho de ser porta-voz de Deus. Eles esperavam inequívocas evidências da manifestação do Espírito Santo. Vi que Deus incumbiu Seus escolhidos pastores do dever de decidir quem está apto para o santo trabalho; e em união com a igreja e sob as claras indicações do Espírito Santo, indicarem quem é ou não habilitado. Vi que se fosse deixado que uns poucos indivíduos, aqui e acolá, decidissem quem estaria capacitado para essa grande obra, haveria confusão e perturbação. T1 209 1 Deus tem repetidamente mostrado que não devem ser animados a ir para o campo como pastores, homens que não dêem inequívocas provas de haverem sido chamados por Deus. O Senhor não confia o cuidado de Seu rebanho a indivíduos não habilitados. Os que Deus chama, devem ser homens de profunda experiência, experimentados e provados, homens de um são discernimento, homens que ousem reprovar o pecado num espírito de mansidão, e que compreendam a maneira de alimentar o rebanho. Deus conhece os corações e sabe a quem escolher. O irmão e a irmã A podem dar seu parecer sobre esse assunto e estarem completamente errados. Seu julgamento é imperfeito e pode não acrescentar nada ao assunto. Vi que vocês estavam se afastando da igreja, e se continuarem assim, Deus permitirá que prossigam e enfrentem as conseqüências de seguir o próprio caminho. T1 209 2 Agora Deus os convida a se corrigirem, a pesar os motivos e andar em harmonia com Seu povo. Mannsville, Nova Iorque, 21 de Outubro de 1858. ------------------------Capítulo 39 -- Negligência censurada* T1 210 1 Caros irmãos e irmãs: T1 210 2 O Senhor novamente me visitou em misericórdia, num tempo de consternação e grande aflição. Em 23 de Dezembro de 1860, fui tomada em visão e vi os erros de certas pessoas os quais estavam afetando a causa. Não me atrevo a ocultar da igreja esse testemunho para poupar os sentimentos de indivíduos. T1 210 3 Foi-me mostrado o baixo nível do povo de Deus; que o Senhor não Se apartara deles mas que eles se afastaram de Deus e se tornaram mornos. Possuem esses a teoria da verdade, mas lhes falta seu poder salvador. À medida que nos aproximamos do fim do tempo, Satanás desce com grande poder, sabendo que tem pouco tempo. Seu poder é especialmente exercido sobre o remanescente. Ele pelejará contra eles e buscará dividi-los e espalhá-los, a fim de os enfraquecer e poder vencê-los mais facilmente. O povo de Deus precisa agir conscientemente e unir seus esforços. Deveriam ter a mesma intenção e o mesmo bom senso; então seus esforços não serão dispersados, mas falarão convincentemente em favor da causa da verdade presente. É necessário que a ordem seja observada, e que haja união em manter essa ordem, ou Satanás obterá vantagem. T1 210 4 Vi que o inimigo trabalharia de todos os modos possíveis para desencorajar, perturbar e confundir o povo de Deus, e que eles devem agir com discernimento, preparando-se para os ataques de Satanás. Assuntos que dizem respeito à igreja não devem ser deixados pendentes. Precisam ser tomadas providências com o objetivo de garantir o patrimônio da igreja para a causa de Deus, a fim de que o trabalho não seja impedido em seu progresso e que os meios que as pessoas desejarem dedicar à causa do Senhor não sejam desviados para as fileiras do inimigo. Vi que o povo de Deus deve agir sabiamente, e nada deixar por fazer para colocar os negócios da igreja em perfeita ordem. Então, depois de fazer tudo o que lhes estiver ao alcance, devem confiar no Senhor para que dirija essas coisas por eles, de maneira que Satanás não obtenha nenhuma vantagem sobre o povo remanescente de Deus. Agora é o tempo para Satanás agir. Um futuro tormentoso está diante de nós; e a igreja deve ser despertada para fazer um movimento de avanço, para que possa permanecer firme contra seus planos. É tempo de fazer-se alguma coisa. Deus não Se agrada quando Seu povo deixa os assuntos da igreja sem solução e permitem que o inimigo tenha toda vantagem e controle os negócios como melhor lhe pareça. T1 211 1 Foi me mostrada a errônea posição tomada pelo irmão B na Review a respeito de organização, e a perturbadora influência por ele exercida. Ele não considerou ponderadamente o assunto. Seus artigos foram perfeitamente dispostos a exercer influência dispersante, conduzir as mentes a conclusões erradas e encorajar a muitos em suas negligentes idéias sobre como tratar dos assuntos referentes à causa de Deus. Aqueles que não sentem a responsabilidade desta causa sobre si, também não percebem a necessidade de fazer algo para estabelecer ordem na igreja. Os que têm levado o fardo por tanto tempo olham para o futuro e pesam os assuntos. Eles estão convencidos de que são necessárias providências para colocar os negócios da igreja numa posição mais segura, onde Satanás não consiga levar vantagem. Os artigos do irmão B motivaram os que temem a organização a olhar com suspeita as sugestões dos irmãos que, por especial providência divina, lidam com os assuntos importantes da igreja. Quando ele viu que sua posição não era aceita, falhou em reconhecer francamente seu erro e não agiu para eliminar a má impressão que fez. T1 212 1 Vi que, em assuntos temporais, o irmão B era muito acomodado e negligente. Falta-lhe energia, e considera virtude deixar com o Senhor aquilo que o Senhor o incumbira de fazer. Somente em casos de grande emergência é que o Senhor intervém a nosso favor. Temos um trabalho a fazer, encargos e responsabilidades a assumir, e assim fazendo, obtemos experiência. O irmão B manifesta em assuntos espirituais a mesma disposição que revela em seus negócios temporais. Há falta de zelo e determinação em fazer uma obra completa. Todos devem agir com muito mais prudência e sabedoria com respeito às coisas de Deus, do que o fazem com relação às coisas temporais a fim de obter riquezas terrenas. T1 212 2 Mas conquanto o povo de Deus seja justificado em proteger o patrimônio da igreja de maneira legal, devem ser cuidadosos em manter seu peculiar e santo caráter. Vi que pessoas não consagradas tirariam proveito da posição que a igreja tomou recentemente, e ultrapassariam os limites, levando a questão a extremos e prejudicando a causa de Deus. Alguns agirão sem sabedoria ou discernimento, envolvendo-se em processos judiciais que podiam ser evitados, misturando-se com o mundo, participando de seu espírito e influenciando outros a seguirem seu exemplo. O professo cristão que age inadvertidamente provoca muitos danos à causa da verdade presente. A menos que o bem e o direito sejam cuidadosamente nutridos, eles enfraquecem enquanto o mal lança profundas raízes muito mais rapidamente, e floresce. T1 212 3 Foi-me apresentado, e vi que em todo movimento importante, em toda decisão feita ou conquista alcançada pelo povo de Deus, surgem alguns que levam a coisa ao extremo, e agem de maneira extravagante, o que desagrada aos incrédulos, aflige o povo de Deus e traz desonra sobre a causa de Deus. O povo a quem Deus está conduzindo nestes últimos dias, será afligido por essas coisas. Mas muito mal será evitado se os ministros de Cristo forem de um só pensamento, unidos em seus esforços e planos de ação. Se estiverem ligados entre si, sustentando-se uns aos outros e reprovando fielmente o mal, logo o impedirão. Mas Satanás tem exercido grande controle sobre esses assuntos. Membros da igreja e pregadores mostram simpatia aos descontentes reprovados por seus erros, resultando em divisão de sentimentos. Quem ousou assumir o desagradável dever de enfrentar o erro com fidelidade, foi afligido e magoado, e não conta com a simpatia de seus irmãos pregadores. Fica assim desanimado de assumir essas penosas obrigações, depõe a cruz e omite o testemunho apontado. Seu coração fica encerrado em trevas e a igreja sofre por falta do verdadeiro testemunho que Deus designou ser dado a Seu povo. Quando suprimido o fiel testemunho, o objetivo de Satanás é alcançado. Aqueles que tão prontamente simpatizam com o mal consideram isso uma virtude; mas não percebem que estão exercendo uma influência desagregadora, e colaborando com os planos de Satanás. T1 213 1 Vi que muitas vidas têm sido destruídas pelos irmãos quando deles recebem simpatia de forma imprudente, quando sua única esperança seria permitir que vissem e compreendessem a plena extensão de seus erros. Mas como ansiosamente aceitam o apoio desses irmãos imprudentes, entendem que foram injustiçados; e se tentam voltar atrás, fazem-no com desânimo. Discordam do assunto para satisfazer seus sentimentos naturais, lançam a culpa sobre quem os está censurando e encerram a questão. Não a examinam a fundo para resolvê-la e caem novamente no mesmo erro, porque não se humilham diante de Deus, permitindo-Lhe moldá-los. Esses falsos simpatizantes têm trabalhado em oposição direta à intenção de Cristo e dos anjos ministradores. T1 213 2 Os ministros de Cristo deveriam levantar-se e envolver-se na obra de Deus com todas as suas energias. Os servos de Deus ficam sem desculpa quando evitam o testemunho designado. Eles deveriam reprovar o erro e não tolerar pecado num irmão. Devo aqui apresentar alguns trechos de uma carta dirigida ao irmão C: T1 214 1 "Foi-me mostrado algo a seu respeito. Vi que o importante e vivo testemunho foi repelido na igreja. Você não estava de acordo com essa mensagem específica. Evitou posicionar-se efetivamente contra o mal e juntou-se àqueles que foram tentados a agir da mesma forma. Os dissidentes obtiveram sua simpatia. Isso o tornou um homem fraco. Você não aderiu ao cortante testemunho individual dado. T1 214 2 "Os servos de Deus não serão justificados se evitarem o testemunho designado. Eles devem reprovar o mal e não permitir nenhum pecado num irmão. Você estendeu os braços para proteger as pessoas da censura que elas mereciam, e a da correção que o Senhor pretendeu enviar-lhes. Se essas pessoas não se converterem, a falta será posta não na conta delas, mas na sua. Em vez de vigiar sobre os perigos que as ameaçam e adverti-las a respeito, você exerceu influência contra aqueles que buscaram seguir as convicções do dever, reprovando e advertindo os errantes. T1 214 3 "Estes são tempos perigosos para a igreja de Deus, e a grande ameaça agora é o auto-engano. Indivíduos que professam crer na verdade são cegos a seus próprios perigos e erros. Eles alcançam o padrão de piedade fixado por seus amigos e por eles mesmos; são apoiados por seus irmãos e estão satisfeitos, enquanto fracassam em atingir a norma do evangelho estabelecida por nosso divino Senhor. Se eles atenderem à iniqüidade no seu coração, o Senhor não os ouvirá. Salmos 66:18. Muitos não apenas a abrigam no coração, mas a colocam em prática na vida; todavia, em muitos casos, os malfeitores não recebem nenhuma repreensão. T1 214 4 "Foi-me chamada a atenção para _____. Seus sentimentos estavam errados nesse ponto. Você deveria ter estado lado a lado com o Pastor D e ter feito uma obra direta, reprovando erros individuais. A responsabilidade que o irmão transferiu ao Pastor D, deveria assumi-la você mesmo; por sua falta de coragem moral acobertou o erro e influenciou a outros. A boa obra que Deus designou fosse feita por determinados indivíduos não foi cumprida, e Satanás os envaideceu. Se você tivesse permanecido no conselho de Deus naquele momento, teria sido exercida uma boa influência em favor da causa de Deus. O Espírito do Senhor foi ofendido. Essa falta de união desencorajou aqueles sobre quem Deus pôs a responsabilidade de reprovar. T1 215 1 Foi-me revelado que você errou em dar apoio a E. A atitude tomada com respeito a ele anulou sua influência e prejudicou grandemente a causa de Deus. É impossível para o irmão E associar-se à igreja de Deus. Ele se colocou onde não pode ser ajudado pela igreja, nem ter com ela nenhuma comunhão ou vínculo. Ele se uniu ao povo por causa da luz e da verdade, mas escolheu obstinadamente o próprio caminho e recusou ouvir a reprovação. Seguiu as inclinações do coração corrompido, violou a santa lei de Deus e desgraçou a causa da verdade presente. Se ele arrepender-se sinceramente, a igreja não deve interferir em seu caso. Se for para o Céu, deverá ir sozinho, sem a comunhão da igreja. Uma permanente censura da parte de Deus e da igreja deve estar sobre ele, para que o padrão de moralidade não seja rebaixado ao pó. O Senhor está descontente com sua conduta a esse respeito. T1 215 2 "O irmão prejudicou a causa de Deus; seu procedimento voluntarioso feriu o coração do povo de Deus. Sua influência estimula um estado de frouxidão na igreja. Você deveria aceitar o testemunho vivo que lhe foi enviado. Afaste-se da obra de Deus e não se interponha entre Deus e Seu povo. O irmão tem resistido por muito tempo ao testemunho direto, e se levantado contra a severa reprovação que Deus envia contra os erros de indivíduos. Deus está corrigindo, provando e purificando Seu povo. Fique fora do caminho para que Sua obra não seja impedida. Ele não aceitará um testemunho abrandado. Os pastores têm de clamar em voz alta, sem atenuantes. O Senhor deu ao irmão um testemunho poderoso, designado a fortalecer a igreja e despertar os incrédulos. Mas você precisa corrigir-se naquilo em que está em falta, ou seu testemunho será débil e sua influência causará dano à causa de Deus. As pessoas o olham como um exemplo. Não os engane. Procure corrigir os erros em seu lar e na igreja." T1 216 1 Foi me mostrado que o Senhor está enviando um testemunho vivo e direto, que desenvolverá o caráter e purificará a igreja. Mas conquanto nos ordenem que nos separemos do mundo, não é necessário que sejamos ásperos e severos e nos rebaixemos a expressões comuns, tornando nossas observações tão rudes quanto possíveis. A verdade é designada a elevar o receptor, refinar-lhe o gosto e santificar seu discernimento. Precisa haver um esforço incansável e ininterrupto para imitar a sociedade a que logo esperamos nos unir; isto é, à companhia de anjos que nunca pecaram. O caráter precisa ser santo, os modos graciosos, as palavras sem malícia. Assim deveríamos seguir passo por passo até estarmos preparados para a trasladação. ------------------------Capítulo 40 -- Deveres para com os filhos T1 216 2 Foi-me mostrado que os pais em geral não têm seguido a devida conduta para com seus filhos. Não os têm restringido como deviam, mas permitido que condescendam com o orgulho, e sigam as próprias inclinações. Antigamente a autoridade paterna era considerada; então os filhos se achavam em sujeição aos pais, e temiam-nos e os reverenciavam; nestes últimos dias, porém, a ordem está invertida. Alguns pais estão sujeitos aos filhos. Temem contrariar a vontade deles, e portanto cedem. Mas enquanto os filhos se encontrarem sob o teto paterno, dependendo dos pais, devem estar subordinados ao seu domínio. Os pais devem agir com decisão, exigindo que seus pontos de vista do direito sejam seguidos. T1 217 1 Eli poderia ter restringido seus ímpios filhos, mas temia-lhes o desagrado. Tolerou que prosseguissem em sua rebelião, até que se tornaram uma maldição para Israel. Exige-se dos pais que reprimam seus filhos. A salvação dos filhos depende em muito da conduta seguida pelos pais. Em seu amor e afeição equivocados pelos filhos, muitos pais condescendem com eles para dano seu, nutrem-lhes o orgulho, e põem sobre eles enfeites e adornos que os tornam vãos, e os levam a julgar que a veste faz a senhora ou o cavalheiro. Um rápido conhecimento, porém, convence os que com eles se associam, de que a aparência exterior não basta para ocultar a deformidade de um coração destituído das graças cristãs, mas cheio de amor-próprio, altivez e paixões não controladas. Os que amam a mansidão, a humildade e a virtude, devem fugir de tal convívio, ainda que sejam filhos de observadores do sábado. Sua companhia é venenosa; sua influência conduz à morte. Os pais não avaliam a destruidora influência da semente que estão semeando. Ela brotará e dará frutos que farão com que os filhos desprezem a autoridade dos pais. T1 217 2 Mesmo depois que têm idade, exige-se dos filhos o respeito para com seus pais, e que cuidem de prover-lhes conforto. Devem dar ouvidos aos conselhos dos piedosos pais, não achando que, por terem mais alguns anos, já não têm mais dever para com eles. Há um mandamento acompanhado de promessa para os que honram a seu pai e sua mãe. Nestes últimos dias os filhos se fazem notar tanto por sua desobediência e desrespeito, que Deus os tem observado especialmente, e isto constitui um sinal da proximidade do fim. É um indício de que Satanás tem completo domínio sobre a mente dos jovens. Por parte de muitos, já não há respeito para com a idade. É considerado demasiado fora de moda respeitar as pessoas idosas; isto remonta aos dias de Abraão. Diz Deus: "Porque Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele." Gênesis 18:19. T1 218 1 Antigamente os filhos não tinham permissão de casar-se sem o consentimento dos pais. Estes escolhiam para os filhos. Era considerado crime um filho contratar casamento pela própria responsabilidade. O assunto era primeiramente exposto aos pais, e eles consideravam se a pessoa que devia ser posta em estreitas relações com eles era digna, e se as partes estavam em condições de sustentar uma família. Era por eles considerado da maior importância que eles, adoradores do verdadeiro Deus, não se casassem num povo idólatra, não fossem suas famílias levadas a desviar-se de Deus. Mesmo depois de os filhos estarem casados, achavam-se na mais solene obrigação para com seus pais. Seu discernimento não era então considerado suficiente sem o conselho dos pais, e era-lhes exigido respeitar e obedecer aos desejos deles, a menos que estes se achassem em contradição com os preceitos de Deus. T1 218 2 Fui novamente levada a considerar a condição dos jovens nestes últimos dias. Os filhos não são controlados. Pais, vocês devem começar sua primeira lição de disciplina quando seus filhos são criancinhas de colo. Ensinem-lhes a submeter sua vontade à de vocês. Isto se pode fazer mantendo a justiça e a firmeza. Os pais devem ter inteiro domínio sobre si mesmos, e com brandura mas com firmeza, dobrar a vontade da criança até que ela nada espere senão ceder aos desejos deles. T1 218 3 Os pais não começam a tempo. A primeira manifestação de mau temperamento não é reprimida, e os filhos crescem obstinados, o que aumenta à medida que eles crescem, e se arraiga à proporção que eles se fortalecem. Certos filhos, ao terem mais idade, julgam ser coisa natural que façam a própria vontade, e que os pais se submetam aos seus desejos. Esperam que os pais os sirvam. Impacientam-se com as restrições, e quando têm idade suficiente para serem úteis aos pais, não assumem as responsabilidades que devem. Foram eximidos de responsabilidades, e crescem inúteis em casa e lá fora. Não têm capacidade de resistência. Os pais suportaram as responsabilidades, e toleraram que eles crescessem na ociosidade, sem hábitos de ordem, de laboriosidade ou de economia. Não lhes foram ensinados hábitos de abnegação, mas foram mimados e favorecidos, satisfeitos seus apetites, e crescem com uma saúde débil. Suas maneiras e comportamento não são agradáveis. Sentem-se infelizes, e tornam infelizes os que os rodeiam. E enquanto os filhos são ainda crianças, enquanto necessitam ser disciplinados, é-lhes permitido saírem com outros e misturarem-se com os da mesma idade, e uns exercem uma influência corruptora sobre outros. T1 219 1 A maldição de Deus pesará sobre os pais infiéis. Eles não somente estão plantando espinhos que os hão de ferir aqui, mas encontrarão a própria infidelidade quando se assentar o Juízo. Muitos filhos se erguerão no juízo e condenarão os pais por não os haverem reprimido, e os acusarão de serem destruídos. A falsa compaixão e o amor cego dos pais, faz com que eles desculpem as faltas dos filhos, passando-as sem correção, e os filhos se perdem em conseqüência disto, e o seu sangue recairá sobre os pais infiéis. T1 219 2 Os filhos que são assim criados sem disciplina, têm tudo a aprender quando professam ser seguidores de Cristo. Toda a sua vida religiosa é afetada pela criação que tiveram na infância. Aparece o mesmo espírito obstinado; a mesma falta de abnegação, a mesma impaciência sob as reprovações, o mesmo amor-próprio e indisposição de buscar conselhos dos outros, ou de ser influenciado por juízo alheio, a mesma indolência, fuga das ocupações, falta de sentimento de responsabilidade. Tudo isto se vê em suas relações para com a igreja. É possível essas pessoas vencerem; mas quão dura é a batalha! Quão severo o conflito! Quão difícil é passar pelo curso da inteira disciplina que lhes é necessária para alcançarem a elevação do caráter cristão! Se, porém, eles vencerem afinal, é-lhes permitido ver, antes de serem trasladados, quão perto chegaram eles do precipício da destruição eterna, devido à falta de rigoroso preparo na juventude, à falta de aprenderem a submissão na infância. ------------------------Capítulo 41 -- Doação sistemática T1 220 1 Minha atenção foi chamada para o antigo Israel. Deus deles requeria, fossem ricos ou pobres, um sacrifício conforme à prosperidade concedida. Os pobres não estavam isentos porque não possuíam as riquezas de seus irmãos mais abastados. Eram-lhes requeridas economia e abnegação. E se alguém fosse tão pobre que não pudesse trazer uma oferta ao Senhor; se a doença ou o infortúnio o houvesse impedido da capacidade de doação, aqueles que eram ricos deveriam ajudá-los a dar uma pequena oferta, para que não comparecessem perante o Senhor de mãos vazias. Essa combinação preservava o interesse mútuo. T1 220 2 Alguns não se têm erguido e unido no plano da doação sistemática, desculpando-se de não estarem livres de dívidas. Alegam que primeiro a ninguém devem ficar devendo coisa alguma. Romanos 13:8. Mas o fato de terem dívidas não os isenta. Vi que devem dar "a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Mateus 22:21. Alguns são conscienciosos quanto a não dever "coisa alguma" (Romanos 13:8) a ninguém, e pensam que Deus nada pode exigir deles enquanto todas as suas dívidas não estiverem pagas. Aí é que eles se enganam. Deixam de dar a Deus o que Lhe pertence. Devem todos levar ao Senhor uma oferta agradável. Os que têm dívidas devem retirar a quantia que devem do que possuem, e dar uma parte proporcional do restante. T1 220 3 Algumas pessoas se sentem sob sagrado dever para com os filhos. A cada um devem dar sua parte, mas se acham incapazes de conseguir meios para auxiliar à causa de Deus. Dão a desculpa de que têm um dever para com os filhos. Pode isso ser certo, mas seu primeiro dever é para com Deus. Dêem a César aquilo que é de César e a Deus o que é de Deus. Não roubem a Deus pela retenção de dízimos e ofertas. O primeiro e sagrado dever é devolver a Deus a proporção devida. Não permitam que alguém introduza suas exigências, levando-os a roubar a Deus. Não permitam que seus filhos roubem suas ofertas do altar de Deus, usando-as para proveito próprio. T1 221 1 Vi que, antigamente, a cobiça de alguns os levou a reter a devida parcela. Eles faziam oferendas limitadas. Tal ato foi registrado no Céu, e eles foram amaldiçoados em suas colheitas e rebanhos na mesma proporção do que haviam retido. Alguns tiveram seus lares visitados pela aflição. Deus não aceita uma oferta defeituosa. Ela deve ser sem mancha, o melhor dos rebanhos e dos frutos de seus campos. Se quiserem ter a bênção do Senhor sobre suas famílias e posses, a oferta terá de ser voluntária. T1 221 2 O caso de Ananias e Safira foi-me apresentado para ilustrar a atitude daqueles que consideram sua propriedade abaixo do valor. Eles pretendiam fazer uma doação voluntária de suas posses ao Senhor. Pedro disse: "Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade?" A resposta foi: "Sim, por tanto." Atos dos Apóstolos 5:8. Alguns, nesta época degenerada, não consideram essa uma mentira. Mas o Senhor assim a julgou. Eles haviam vendido a propriedade por tanto, e muito mais. Haviam declarado consagrar tudo a Deus. Diante dEle tinham dissimulado, e a retribuição não tardou. T1 221 3 Vi que corações serão testados e provados pelas disposições da doação sistemática. É um teste vivo, constante. Elas levam o indivíduo a entender o próprio coração e provar se a verdade ou o amor ao mundo predomina em sua vida. Eis aí um teste aos de índole egoísta e cobiçosa. Eles calculam a menos o valor de suas propriedades. Aqui eles dissimulam. Disse o anjo: "Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente!" Jeremias 48:10. Os anjos estão observando o desenvolvimento do caráter, e os atos de tais pessoas são levados ao Céu por mensageiros divinos. Alguns serão visitados por Deus em razão dessas coisas e sua prosperidade decairá até o valor que calcularam. "Alguns há que espalham e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas é para sua perda. A alma generosa engordará, e o que regar também será regado." Provérbios 11:24, 25. T1 222 1 O interesse nesse trabalho é requerido de todos. Os que usam fumo, chá e café devem colocar esses ídolos de lado, e depositar-lhes o custo na tesouraria do Senhor. Alguns nunca fizeram um sacrifício pela causa de Deus, e estão entorpecidos quanto ao que Deus requer deles. Alguns dos mais pobres terão grande luta de negar a si mesmos o uso desses estimulantes. Esse sacrifício individual não é requerido porque a causa de Deus esteja sofrendo por falta de meios. Mas cada coração será testado e todo caráter desenvolvido. Esse é um princípio que deve nortear as ações do povo de Deus. O princípio vivo deve ser introduzido na vida. T1 222 2 "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:8-11. Vi que esse texto tem sido mal aplicado nas orações e sermões das reuniões. A profecia tem uma aplicação especial para os últimos dias, e ensina ao povo de Deus seu dever de ofertar espontânea e proporcionalmente de seus recursos ao Senhor. ------------------------Capítulo 42 -- Nosso nome denominacional T1 223 1 Foi-me mostrado o modo por que o povo remanescente de Deus obteve seu nome. Duas classes de pessoas me foram apresentadas. Uma abrangia as grandes corporações de cristãos professos. Esses transgrediam a lei divina, inclinando-se diante de uma instituição papal. Observavam o primeiro dia da semana em vez do sábado do Senhor. A outra classe, posto que pequena em número, tributava obediência ao grande Legislador. Esses guardavam o quarto mandamento. Os aspectos peculiares e destacados de sua fé são a observância do sétimo dia e a expectativa da volta de Cristo nas nuvens do céu. T1 223 2 O conflito que se estabelece é entre as reivindicações de Deus e as exigências da besta. O primeiro dia da semana, que é uma instituição papal, e contradiz diretamente o quarto mandamento, deverá ainda ser convertido em pedra de toque pela segunda besta. Então será proclamada a tremenda advertência da parte de Deus, anunciando o castigo que aguarda os que adoram a besta e sua imagem. Estes beberão do vinho da ira de Deus, não misturado no cálice da Sua ira. T1 223 3 Não podemos adotar outro nome melhor do que esse, que concorda com a nossa doutrina, exprime a nossa fé e nos caracteriza como povo peculiar. O nome Adventista do Sétimo Dia é uma contínua acusação ao mundo protestante. É aqui que está a linha divisória entre os que adoram a Deus e os que adoram a besta e recebem seu sinal. O grande conflito é entre os mandamentos de Deus e as exigências da besta. É porque os santos guardam todos os mandamentos de Deus, que o dragão lhes move guerra. Se rebaixassem seu padrão e cedessem nas particularidades de sua fé, o dragão estaria satisfeito; mas suscitam sua ira por ousarem exaltar o padrão e levantar o estandarte de oposição ao mundo protestante que reverencia uma instituição do papado. T1 224 1 O nome Adventista do Sétimo Dia exibe o verdadeiro caráter de nossa fé e será próprio para persuadir aos espíritos indagadores. Como uma flecha da aljava do Senhor, fere os transgressores da lei divina, induzindo ao arrependimento e à fé no Senhor Jesus Cristo. T1 224 2 Foi-me mostrado que quase todos os fanáticos, que surgem, no desejo de ocultar seus verdadeiros sentimentos a fim de iludir outros, afirmam pertencer à "Igreja de Deus". Esse nome havia, por isso, de despertar imediatamente suspeitas, porque é usado para ocultar os erros mais absurdos. É demasiadamente vago para designar o povo remanescente de Deus. Além disso, daria lugar à suspeita de que temos uma fé que desejamos ocultar. ------------------------Capítulo 43 -- Os pobres T1 224 3 Alguns que são pobres em bens deste mundo julgam-se aptos a aplicar o testemunho direto àqueles que possuem propriedades. Mas eles não compreendem que também têm uma obra a fazer. Deus deles requer um sacrifício. Ele os chama para sacrificarem seus ídolos. Deveriam abandonar o uso de danosos estimulantes como fumo, chá e café. Se forem submetidos a situações difíceis, enquanto se esforçam em fazer o melhor que podem, será um prazer a seus irmãos abastados ajudá-los a saírem das dificuldades. T1 224 4 Muitos carecem de controle e economia. Não pesam bem as questões nem agem com cautela. Não deveriam confiar em seu pobre juízo, mas tomar conselhos com seus irmãos de maior experiência. Mas esses faltosos na questão da economia e bom senso, freqüentemente não estão dispostos a buscar aconselhamento. Geralmente pensam que sabem como agir nos negócios temporais e não se acham inclinados a seguir recomendações. Erram e sofrem as conseqüências. Seus irmãos ficam aflitos por vê-los sofrer e os auxiliam nas dificuldades. Sua conduta desavisada afeta a igreja, pois impede que os meios cheguem ao tesouro de Deus, os quais deviam ser usados para o progresso da causa da verdade presente. Se esses irmãos pobres adotarem uma postura mais humilde e se dispuserem a ser orientados e aconselhados por seus irmãos, quando enfrentarem circunstâncias adversas, os irmãos sentirão ser seu dever livrá-los alegremente das dificuldades. Mas se escolherem seus caminhos e confiarem no discernimento próprio, serão deixados a encarar as plenas conseqüências de sua conduta insensata, aprendendo sob dura experiência, que "na multidão de conselheiros, há segurança". Provérbios 11:14. O povo de Deus deve sujeitar-se "uns aos outros". Efésios 5:21. Aconselharem-se uns com os outros, para que a necessidade de um seja suprida pela suficiência de outro. Vi que os mordomos do Senhor não têm a obrigação de ajudar aqueles que persistem em usar fumo, chá e café. ------------------------Capítulo 44 -- Especulações T1 225 1 Vi que alguns se têm negado a ajudar a causa de Deus por terem dívidas. Tivessem eles examinado cuidadosamente o próprio coração, e teriam descoberto que a verdadeira razão de não levarem a Deus oferta voluntária era o egoísmo. Alguns sempre continuarão devendo. Devido à sua cobiça, a mão prosperadora do Senhor não estará com eles, para lhes abençoar os empreendimentos. Amam mais a este mundo do que a verdade. Não estão sendo habilitados e preparados para o reino de Deus. T1 225 2 Se pelo país passa uma nova patente, homens que professam crer na verdade acham um meio de conseguir recursos para investir no empreendimento. Deus está familiarizado com cada coração. Todo motivo egoísta Lhe é conhecido, e Ele permite que se levantem circunstâncias para provar o coração do Seu povo professo, para os experimentar e desenvolver o caráter. Em alguns casos, o Senhor permitirá que os homens prossigam, e sofram completo fracasso. Sua mão está contra eles, para lhes desfazer as esperanças e espalhar o que possuem. Os que realmente se interessam pela causa de Deus, e estão dispostos a aventurar algo para o seu avanço, verificarão ser isso um investimento garantido e seguro. Alguns terão cem vezes tanto nesta vida, e no mundo vindouro, a vida eterna. Mas nem todos receberão cem vezes mais nesta vida, porque não o podem suportar. Se lhes fosse confiado muito, tornar-se-iam mordomos insensatos. O Senhor o retém para o bem deles; mas o seu tesouro no Céu estará seguro. Quanto melhor é um investimento como esse! T1 226 1 O desejo que alguns de nossos irmãos têm de ganhar recursos depressa, leva-os a se empenhar em um novo empreendimento e a investir meios, mas, freqüentemente, sua esperança de fazer dinheiro não se realiza. Enterram aquilo que poderiam ter empregado na causa de Deus. Há uma obsessão nesses novos empreendimentos. E, não obstante terem essas coisas sido executadas tantas vezes e terem diante de si o exemplo de outros que fizeram investimentos e se defrontaram com completo fracasso, ainda assim muitos são tardios em aprender. Satanás engoda-os e os embriaga com lucros antecipados. Quando suas esperanças se desfazem, sofrem muito desânimo em conseqüência de suas insensatas aventuras. Se se perde dinheiro, a pessoa considera isso um infortúnio para si -- como se fosse perda sua. Mas deve ela lembrar-se que é com os meios alheios que está lidando, que é apenas mordomo, e que Deus Se desagrada do uso insensato dos meios que poderiam ter sido usados para levar avante a causa da verdade presente. No dia do Juízo, deve o mordomo infiel dar contas de sua mordomia. ------------------------Capítulo 45 -- Um mordomo infiel T1 227 1 Mostrou-se-me que o Espírito de Deus tem tido cada vez menos influência sobre F, a ponto de ele não ter mais forças para vencer. O eu e os interesses próprios são proeminentes em sua vida. Orgulho, vontade inflexível, insubmissa e a indisposição de confessar e corrigir seus erros, produziram a incômoda posição em que se encontra. A causa vê-se prejudicada por sua conduta imprudente. T1 227 2 Ele tem sido tão exigente que estimula na igreja um espírito descobridor de faltas. É severo onde não precisa ser e procura dominar aqueles sobre quem tem autoridade. Suas orações e exortações fizeram com que os irmãos pensassem que ele era um cristão zeloso, o que os preparou para serem afetados por sua conduta irresponsável. É caprichoso e suas excentricidades têm exercido influência negativa sobre muitos. Alguns se enfraqueceram enquanto tentando imitar seu exemplo. Vi que ele havia causado à obra de Deus mais dano do que benefício. T1 227 3 Houvesse atendido as instruções de Deus e se corrigido, teria alcançado a vitória sobre seus fortes hábitos e fraquezas. Vi, porém, que ele tinha permitido que tais hábitos o dominassem por longo tempo que o poderoso inimigo o aprisionara. Suas ações não foram corretas. Sua desonestidade chegou a tal ponto que retirou da tesouraria meios a que não tinha direito, usando-os em proveito pessoal. Ele achou que tinha melhor discernimento de dispor dos meios do que seus irmãos. Quando os recursos chegavam às suas mãos para serem direcionados às pessoas apontadas pelo doador, ele agia por impulso tomando a liberdade de aplicá-los como bem lhe parecesse, não respeitando a vontade do doador e ainda usando parte em benefício próprio. Deus reprova tais coisas. A conduta desonesta tem ganhado terreno em sua vida. Ele se tem considerado como mordomo do Senhor e aplicado os meios, mesmo de outros, como melhor entende. Cada homem deve ser seu mordomo próprio. T1 228 1 Ele recusou o conselho e as recomendações de seus irmãos, seguiu a própria vontade e rejeitou todos os meios que pudessem corrigi-lo. Quando reprovado, as pessoas ou suas maneiras não conseguiram persuadi-lo, e assim o caminho para a reforma ficou obstruído. O Senhor não tem aceitado seus serviços há algum tempo. Ele tem trabalhado muito mais pelos próprios interesses do que pelos da causa. T1 228 2 Quando chega pela primeira vez a um lugar, suas orações e exortações produzem efeito, e os irmãos acham que ele é um perfeito cristão. Por ser considerado um pastor, recebe muitos favores. Mas, quando os irmãos se tornam mais familiarizados com ele, quão desapontados ficam ao testemunhar-lhe o egoísmo, a irritabilidade, a aspereza e excentricidades. Quase todos os dias são descobertas novas coisas a seu respeito. Sua mente está quase que constantemente preocupada em maquinar algo que lhe traga benefício. Então ele dispõe as coisas de tal modo que lhe produzam vantagens, e de novo o consegue. Sua determinação e planejamento tiveram uma influência debilitante e nociva sobre a causa de Deus. Seu procedimento é calculado para fragmentar e tem causado problemas em quase todos os lugares. Que exemplo para o rebanho! Ele tem sido muito egoísta em seu trato, e tirado vantagem daqueles com quem tem negociado. Deus não Se agradou do que ele fez. Uma árvore boa é conhecida por seus frutos! ------------------------Capítulo 46 -- Fanatismo em Wisconsin T1 228 3 Vi que, no último outono, o Senhor dirigiu especialmente meu marido para ir ao Oeste em vez do Leste, como ele havia decidido no início. Em Wisconsin havia um mal a ser corrigido. O trabalho de Satanás estava surtindo efeito e destruiria vidas se não fosse corrigido. O Senhor achou melhor escolher alguém que tivera experiência passada com o fanatismo, e testemunhado a atuação do poder de Satanás. Aqueles que receberam esse instrumento de Deus foram corrigidos, e vidas foram salvas da armadilha que Satanás lhes tinha preparado. T1 229 1 Foi-me mostrado que esse artifício de Satanás não teria resultados tão imediatos em Wisconsin, se a mente e o coração do povo de Deus houvessem estado unidos entre si e a obra. O espírito de ciúmes e suspeita ainda existia na mente de alguns. A semente semeada pelo grupo do Messenger não foi completamente desenraizada. E conquanto professando receber a mensagem do terceiro anjo, seus sentimentos e preconceitos anteriores não foram abandonados. Sua fé foi adulterada e eles preparados para o engano de Satanás. Os que partilharam do espírito do Messenger devem fazer uma obra honesta e lançar fora toda partícula que dele restar, recebendo o espírito da mensagem do terceiro anjo, ou ele os apartará como leprosos, facilitando seu afastamento de seus irmãos que crêem na verdade presente. Ser-lhes-á fácil pensar que podem seguir sozinhos para o Céu, como um grupo independente; mas fácil de serem apanhados na armadilha de Satanás, que está muito pouco disposto a abandonar sua influência em Wisconsin. Ele tem outros enganos preparados para aqueles que não estão unidos à igreja. T1 229 2 Vi que as pessoas envolvidas pelas trevas e enganos, e a quem Satanás não só tinha controlado a mente, mas o corpo, teriam de assumir um lugar mais humilde na igreja de Deus. O Senhor não confiará o cuidado de Seu rebanho a pastores insensatos que erram e lhe dão veneno em vez de alimento saudável. Deus terá homens cuidando do rebanho, que podem alimentá-lo com forragem limpa, totalmente peneirada. Oh, que mácula, que reprovação, esses movimentos fanáticos têm trazido sobre a causa de Deus! E aqueles que aderiram tão rapidamente a esse espírito fanático tenebroso, apesar das claras evidências de que procedia de Satanás, não são confiáveis e seu julgamento não deve ser considerado de qualquer peso. Deus enviou seus servos ao irmão e à irmã G. Eles menosprezaram a correção e escolheram o próprio caminho. O irmão G era ciumento e teimoso, e suas futuras atitudes precisam ser marcadas por grande humildade, pois ele se demonstrou não merecedor da confiança do povo de Deus. Seu coração não é reto para com Deus, e nem tem sido durante um longo tempo. T1 230 1 Vi que o objetivo de Satanás tem sido mergulhar as pessoas do Wisconsin em aberto fanatismo. Ele lhes domina a mente e os leva a agir sob o engano que aceitaram. Quando a satânica meta era atingida, e eles haviam percorrido todo o caminho que Satanás lhes determinara, ele fazia com que reconhecessem aquele erro, e os empurrava para o extremo oposto -- negar os dons e atuações do Espírito de Deus. Satanás tirou vantagem da falta de união do irmão e da irmã G com a igreja. Eles queriam tomar um rumo independente e conduzir, em vez de serem conduzidos. O irmão G tinha uma disposição ciumenta, a qual, juntamente com sua independência, o manteve do lado oposto, pois com esse espírito ele não poderia ser um verdadeiro companheiro de lutas de seus irmãos do ministério. A irmã G também é ciumenta e determinada. Falta-lhe experiência, sanidade de fé e união com o corpo de crentes. Seu coração se revoltou contra os dons da igreja. Havia falta de mansidão e humildade em seus artigos enviados à Review para publicação. T1 230 2 Tudo parecia preparado para o trabalho de Satanás. Ele convenceu muitos a porem de lado a razão e o discernimento e serem governados por impressões. O Senhor requer que Seu povo empregue a razão, e não a ponha de lado por impressões. Sua obra será compreensível a todos os Seus filhos. Seus ensinos serão de molde a se recomendarem ao entendimento das pessoas estudiosas. São designados a elevar a mente. O poder de Deus não é manifestado em toda ocasião. A necessidade do homem é a oportunidade de Deus. T1 230 3 Foram-me mostrados grupos em confusão, movidos por espírito equivocado, todos fazendo ruidosas orações, alguns clamando de um jeito, outros de outro; e era impossível dizer o que era som de flauta ou de harpa. "Deus não é Deus de confusão, senão de paz." 1 Coríntios 14:33. Satanás penetrou neles e controlou as coisas como bem quis. A razão e a saúde foram sacrificadas no altar desse engano. T1 231 1 Deus não quer que seu povo imite os profetas de Baal, afligindo o corpo, gritando e clamando, em desvairadas atitudes e sem nenhuma consideração para com a ordem, até se lhes esgotarem as forças. Religião não consiste em ruidosas manifestações; contudo, quando o coração está cheio do Espírito do Senhor, glorifica a Deus com suave e sincero louvor. Há os que professam ter grande fé em Deus, e ter dons especiais, e especiais respostas à oração, embora faltassem as evidências. Eles tomavam erradamente presunção, por fé. A oração da fé nunca se perde; mas dizer que será sempre atendida do próprio modo, e concedida a coisa particular que esperávamos, isso é presunção. T1 231 2 Quando os servos de Deus visitaram _____ e _____, o engano foi descoberto e a obra foi comprovada como falsa. Mas o espírito fanático mostrava-se obstinado e não se renderia à luz concedida. Oh, se os que estavam em erro se houvessem submetido à correção pelos servos de Deus a quem Ele enviara! O Senhor queria que reconhecessem ter sido movidos por um espírito equivocado. Então teria havido virtude na confissão de seus erros, e eles seriam preservados de posteriormente seguir os planos de Satanás, e não teriam progredido nesse pavoroso engano. Mas não se logrou convencê-los. O irmão G teve luz suficiente para assumir posição contra o fanatismo, mas não cedeu ao peso das evidências. Recusou render-se à luz trazida pelos servos de Deus, porque os considerava com suspeita e os viu com ciúmes. T1 232 1 Eu vi que quanto maior a rejeição da luz por parte dos indivíduos, maior será o poder do engano e das trevas que os envolverão. A rejeição da verdade torna os homens cativos, sujeitos ao engano de Satanás. Após as reuniões de _____ e _____, as vítimas desse engano mergulharam em escuridão maior ainda, trazendo sobre a causa de Deus uma mácula que não seria prontamente apagada. Terrível responsabilidade repousa sobre o irmão G. Enquanto professava ser um pastor permitiu que o devorador penetrasse o rebanho, e ficou apenas a observar enquanto as ovelhas eram dilaceradas e devoradas. O desagrado divino está sobre ele. Ele não vigiou pelas vidas como quem tem de prestar contas. T1 232 2 Vi que Deus não lhe estava abençoando os trabalhos desde há algum tempo. A mão do Senhor não estava com ele para edificação da igreja e a conversão de pessoas à verdade. Seu coração não é reto para com Deus. G não está possuído pelo espírito da mensagem do terceiro anjo. Ele se isolou do convívio e da simpatia do povo de Deus, antes do surgimento desse engano, e essa é a razão de ele ter permanecido em tal escuridão. Deus não permite que seus fiéis e consagrados servos sejam deixados em trevas, quanto ao caráter de um tal espírito fanático, que não ergue a sua voz para admoestar o povo. Quando os servos de Deus trouxeram a luz e ergueram a voz contra esse engano, o irmão G não reconheceu a voz do Verdadeiro Pastor falando por meio deles; seu ciúme e obstinação o levaram a considerá-la como a voz de um estranho. Os pastores do rebanho, acima de todos os outros, deveriam reconhecer a voz do Sumo Pastor. Deus quer que Seu povo seja santo e poderoso. Quando o espírito de santidade e perfeito amor transbordam do coração, atuando naqueles que professam o nome de Cristo, será como um fogo refinador que consumirá a escória e espancará a escuridão. Qualquer que partilha do espírito de Satanás, assumirá atitude de defesa e rapidamente promoverá a própria destruição. Mas a verdade triunfará. ------------------------Capítulo 47 -- Reprovações escondidas T1 233 1 A conduta de H e I foi-me revelada. Embora censurados, eles não corrigiram seus erros. O povo de Deus, especialmente no Estado de Nova Iorque, foi atingido por seu errôneo procedimento. Sua influência foi prejudicial à causa de Deus. Esses irmãos me têm sido apresentados em visão, nos últimos dez anos, e seus erros revelados. Tenho-lhes escrito a respeito dessas coisas. Mas eles cuidaram em esconder dos irmãos o fato de terem sido reprovados, temendo que isso pudesse destruir-lhes a influência. Aqueles que foram atingidos por suas ações errôneas teriam sido beneficiados com as repreensões a eles dirigidas. Eu teria colocado essas mensagens nas mãos de irmãos cuidadosos na igreja, se isso fosse necessário, para que todos pudessem receber a instrução que o Senhor achou por bem dar a Seu povo. Quando, porém, relatei a esses irmãos as mensagens que me foram dadas a seu respeito, eles me censuraram impiedosamente. Isto me causou tamanho sofrimento mental, que fui levada a guardar segredo do que o Senhor me havia revelado com respeito aos erros de indivíduos. T1 233 2 Foi o orgulho de coração que conduziu esses irmãos a manifestarem tanto medo de que outros soubessem que eles haviam sido corrigidos. Se houvessem humildemente confessado seus erros para a igreja, teriam representado a fé que professavam nas visões, e a igreja teria sido fortalecida para receber a correção e confessar suas faltas. Esses ensinadores permaneceram no caminho do rebanho. Deram-lhe um exemplo errado, e a igreja olhou para eles, e quando reprovada, perguntou: "Por que esses pastores não foram censurados, quando nós estamos seguindo seus ensinos?" Assim, abriu-se uma porta para Satanás tentá-los sobre a veracidade das visões. T1 233 3 Os irmãos foram enganados e prejudicados. Eles acreditaram que estávamos de acordo com esses ensinadores e seguiram suas instruções, quando estavam completamente errados. Escrevi a esses pastores em angústia de espírito, porque vira que a causa de Deus estava sendo atingida por seu comportamento imprudente. Quão ansiosamente esperei pelo resultado dessas mensagens. Mas eles as colocaram de lado, e não permitiram que os irmãos soubessem qualquer coisa sobre elas, não podendo assim ser beneficiados pelas instruções que o Senhor achou por bem conceder-lhes. T1 234 1 Meu trabalho tem sido muito desanimador, ao ver que aquilo que Deus designara não fora alcançado. Freqüentemente tenho perguntado em angústia: De que vale todo o meu trabalho? Esses irmãos assumiram esta posição: Cremos nas visões, mas a irmã White, ao escrevê-las, expressa-se em suas próprias palavras, e creremos na parte que julgamos seja de Deus, e não nos interessa a outra. Assim prosseguiram sem corrigirem sua vida. Professam crer nas visões, mas agem contrariamente a elas. Seu exemplo e influência levantaram dúvidas na mente de outros. Seria melhor para a causa da verdade presente se eles se opusessem aos dons. Então o povo não seria enganado e não teria tropeçado nesses guias cegos. Esperamos e oramos a fim de que se corrigissem e exercessem uma boa influência sobre o rebanho, mas nossa esperança se dissipou, e não ousaremos mais sacrificar nossa paz. Prejudicamos a igreja de Deus por não termos falado nisso antes. ------------------------Capítulo 48 -- A causa em Ohio T1 234 2 Desde nossa visita a Ohio, na primavera de 1858, H tem feito o que pode para opor-se a nós, e onde ele acha que pode influenciar as pessoas, faz circular boatos no intento de despertar errôneos sentimentos. Quando dessa visitação, foi-me dada uma mensagem com respeito a ele e sua família. Esse testemunho foi-lhe entregue, mas poucas pessoas sabiam que eu o havia dado. Rebelou-se contra a mensagem e, a exemplo de outros que haviam sido reprovados, achou que alguém me havia instigado o pensamento contra sua família, quando, na verdade, a visão salientava as faltas deles que eu vira repetidas vezes durante dez anos. Disse ele que cria em visões, mas que eu fora influenciada por outros ao escrever-lhes. T1 235 1 Que conclusão! O Senhor tem uma obra especial para alguém de reconhecidos dons realizar, mas tolera que a mensagem enviada sofra adulteração antes de chegar ao destinatário! De que servem as visões se as pessoas as consideram sob essa luz? Dão-lhes interpretação própria e se sentem na liberdade de rejeitar a parte delas que não se harmoniza com seus sentimentos. H sabe que cada palavra da visão dada a seu respeito em Ohio estava correta. E quando não mais pôde manter a mensagem oculta da igreja, (pois isso lhe foi exigido e leu-a na Assembléia de _____, no outono passado), reconhecendo-a como integralmente verdadeira. Manteve, porém, uma guerra cega contra aquilo mesmo que reconheceu estar correto. T1 235 2 Ele não governou bem a própria casa, e nos últimos dez anos foi reprovado por isso. O desagrado de Deus tem estado sobre ele por não controlar os filhos. Esses se tornaram corruptos e um provérbio de vergonha, exercendo nociva influência onde vivem. Cada vez que eles me são apresentados sou conduzida ao passado, até Eli, e lembrada da maldade de seus filhos incrédulos e do conseqüente juízo de Deus sobre eles. Foi-me mostrado que a família de H tem desagradado aos descrentes, e trazido desonra sobre a causa da verdade presente. A mensagem a mim dada na primavera de 1858, em Ohio, especialmente na cidade de _____, não foi recebida por muitos. Ela atingiu o íntimo, e os corações que não foram profundamente impregnados com o espírito da verdade se rebelaram contra ela. T1 236 1 Os pastores que trabalharam naquele Estado não exerceram uma influência correta. As sugestões e insinuações feitas contra o irmão e a irmã White e os dirigentes da obra em Battle Creek, tiveram pronta recepção no coração de muitos, especialmente dos ingênuos e críticos. Satanás sabe fazer seus ataques. Ele trabalha na mente das pessoas para despertar ciúmes e descontentamento com relação aos dirigentes da obra. Os dons são logo questionados, atribui-se-lhes pequeno valor e a instrução dada mediante a visão é desconsiderada. T1 236 2 Pastores que têm trabalhado em Ohio fizeram sua parte em causar descontentamento. H resolveu agir de modo sorrateiro e disseminar um espírito de descontentamento, escutando boatos, reunindo-os, e dizendo virtualmente: "Denunciai, e o denunciaremos." Jeremias 20:10. Ele trabalhou de maneira desleal, espalhando boatos com respeito ao nosso vestuário e influência em Ohio, e fomentou a idéia de que o irmão Tiago White andava especulando. Ele não quis a mais leve união conosco. Alimentou amargos sentimentos para conosco. E por quê? Simplesmente porque eu lhe relatei o que o Senhor havia me mostrado com relação à sua família e à maneira frouxa de educá-la, e que atraíra o desagrado divino. Ele ficou enciumado com a parte que desempenhamos na causa da verdade presente. T1 236 3 Os irmãos de Ohio foram levados a olhar com desconfiança e suspeita os que estão encarregados da obra em Battle Creek, e a discordarem das posições tomadas por eles. O irmão J sustentou firmemente sua posição sem levar em conta a congregação. Ele imagina que os males procedem da sede geral e que deve combatê-los. Ele dispôs-se para a batalha quando não havia nenhuma luta a ser travada. Preparou-se firmemente para resistir algo que nunca surgiu. Muitos irmãos de Ohio partilharam do mesmo sentimento, colocando-se em oposição a algo que nunca apareceu. Sua guerra tem sido insensata. Eles estiveram prontos a clamar: "Babilônia", até se tornarem eles mesmos uma completa Babilônia. T1 237 1 Pastores tornaram-se obstáculos no caminho da obra de Deus em Ohio. Devem ficar fora do caminho, para que Deus possa alcançar Seu povo. Eles se colocam entre Deus e Seu povo, desviando Seus propósitos. O irmão J exerceu tal influência em Ohio, que é preciso trabalhar muito para desfazê-la. Vi que houve aqueles, nesse Estado, que assumiriam a posição certa se lhes fossem dadas instruções corretas. Estiveram dispostos a sustentar a causa da verdade presente, mas viram tão pouca realização que ficaram desanimados. Suas mãos estão fracas e precisam ser sustentadas. Vi que a causa de Deus não será levada adiante com ofertas mirradas. Deus não as aceita. Esse assunto deve ser deixado totalmente a critério das pessoas. Elas não devem trazer simplesmente uma oferta anual, mas também apresentar voluntariamente ofertas semanais e mensais ao Senhor. Essa obra lhes compete, pois é para elas uma prova viva semanal e mensal. O sistema de dízimos, vi, desenvolveria o caráter e manifestaria o verdadeiro estado do coração. Se esse assunto for apresentado aos irmãos de Ohio em seu verdadeiro sentido, e se permitir que eles se decidam por si mesmos, verão sabedoria e ordem no sistema. T1 237 2 Os pastores não devem ser severos ao aproximar-se de alguém, forçando-o a dar ofertas. Se a pessoa não dá justamente quanto se pensa que deveria, eles não devem censurá-la e marginalizá-la. Devem ser pacientes e tolerantes como os anjos e trabalhar em união com Jesus. Cristo e os anjos estão observando o desenvolvimento do caráter e pesando o valor moral. O Senhor lida pacientemente com Seu povo errante. A verdade penetrará mais e mais profundamente no coração e abaterá um ídolo após outro, até que Deus reine supremo no coração de Seu consagrado povo. Vi que o povo de Deus deve trazer-Lhe uma oferta voluntária e que a responsabilidade deve estar totalmente sobre o indivíduo, quer ele dê muito ou pouco. Isso será registrado fielmente. Que o povo de Deus tome tempo para desenvolver o caráter. T1 238 1 Os pastores devem apresentar penetrante testemunho. As verdades vivas de Sua Palavra devem estar no coração. E quando as pessoas em Ohio têm um objetivo digno, aqueles cujo coração está ligado em simpatia à obra, liberalmente darão de seus meios para o progresso da causa de Deus. O Senhor está testando e provando Seu povo. Se alguém não põe o coração na obra e falha em trazer suas ofertas a Deus, Ele o visitará. Se eles continuam agarrados a sua cobiça, Ele os separará de Seu povo. Vi que precisa haver um sistema que envolva a todos. Rapazes e moças fortes e saudáveis não se têm preocupado muito com a obra. Eles são responsáveis diante de Deus por seu vigor, e devem trazer-Lhe ofertas voluntárias. Se não fizerem isso, Sua mão prosperadora será removida deles. T1 238 2 Vi que o especial favor de Deus não esteve com o trabalho em Ohio para prosperá-lo. Há um motivo. Deve haver, por parte dos pregadores e do povo, um exame íntimo, um fiel exame de coração, para achar o motivo de tão grande ausência do Espírito de Deus. Seus sacrifícios e ofertas quase deixaram de fluir. Por que as verdades da Palavra de Deus não aquecem o coração e conduzem à abnegação e sacrifício? Que os pastores procurem descobrir que espécie de influência têm exercido. O irmão J demonstra um espírito independente, o qual Deus não aprova. Sua influência não tem falado em favor da união do povo de Deus ou do progresso da causa. T1 238 3 Vi que aqueles que tiveram senão pequena experiência na causa da verdade presente, não são os que devem dirigir a obra. Esses devem manifestar sensibilidade ao tomar posições que entrarão em atrito com o parecer e opinião daqueles que testemunharam o surgimento da causa da verdade presente, cuja vida está ligada ao seu progresso. Deus não escolherá homens de pouca experiência para conduzir sua obra. Ele não optará por aqueles que não tiveram nenhuma experiência em suportar sofrimentos, tentações, oposição e privação para colocar esse trabalho no patamar que ele agora ocupa. Comparado com o que era antes, agora é fácil pregar a mensagem do terceiro anjo. Os que agora se empenham nesse trabalho e ensinam a verdade a outros, têm tudo nas mãos. Eles não podem experimentar tais privações como obreiros da verdade presente suportaram antes deles. A verdade lhes é apresentada. Os argumentos estão todos preparados. Quão cuidadosos devem ser em não se exaltar, com receio de serem derribados. Devem ter muito cuidado ao murmurarem contra aqueles que tanto sofreram no início da obra. T1 239 1 Esses experimentados obreiros, que labutaram debaixo do fardo quando esse era pesado e havia poucos para ajudar a suportá-lo, são apreciados por Deus. Tenham cuidado sobre como lhes chamam a atenção ou murmuram contra eles; pois isso seguramente será posto em sua conta, e a próspera mão de Deus não estará com vocês. Alguns irmãos que têm menos experiência, que ainda não sentiram nenhuma responsabilidade e fizeram pouco ou nada para o progresso da causa da verdade presente, e que não têm nenhum conhecimento do assunto de Battle Creek, são os primeiros a acharem faltas na administração da obra. E aqueles que não observam ordem nas coisas temporais e no governo de suas casas, são os que se opõem ao método que trará ordem à igreja de Deus. Eles não mostram nenhum bom senso em assuntos seculares e são contrários a qualquer coisa semelhante na igreja. Tais pessoas não devem ter voz ativa em assuntos da igreja.. Sua influência não deve ter o menor peso sobre outros. ------------------------Capítulo 49 -- Inteira consagração T1 240 1 Prezados irmãos K: T1 240 2 Em minha última visão foram-me mostradas algumas coisas relativamente a sua família. O Senhor tem a seu respeito pensamentos de misericórdia, e não os abandonará, a menos que O abandonem. L e M acham-se em um estado de mornidão. Eles devem despertar e fazer esforços pela salvação, ou perderão a vida eterna. Devem sentir uma responsabilidade individual, e obter experiência por si mesmos. Necessitam que o Espírito Santo atue em seu coração, levando-os a amar e escolher a companhia do povo de Deus de preferência a qualquer outra, e a se separarem dos que não têm amor pelas coisas espirituais. Jesus requer um sacrifício completo, uma inteira consagração. L e M, vocês não têm compreendido que Deus exige de vocês afeições não divididas. Têm feito uma santa profissão de fé, todavia têm descido ao baixo nível dos professos comuns. Vocês apreciam a companhia dos jovens que não têm nenhuma consideração pelas sagradas verdades que vocês professam. Têm-se assemelhado a seus companheiros, e se têm satisfeito com uma religião que os torne agradáveis a todos, sem incorrer na censura de ninguém. T1 240 3 Cristo exige tudo. Caso Ele exigisse menos, Seu sacrifício teria sido demasiado precioso, demasiado grande para nos levar a tal nível. Nossa santa fé clama por separação. Não nos devemos conformar com o mundo, nem com professos crentes mortos, sem coração. "Transformai-vos pela renovação do vosso entendimento." Romanos 12:2. Este é o caminho da renúncia. E quando pensarem que ele é demasiado estreito, que há demasiada abnegação neste caminho estreito; quando disserem: Quão duro é renunciar a tudo, dirijam a si mesmos a pergunta: Que renunciou Cristo por mim? Isto ofusca tudo quanto possamos chamar de abnegação. Contemplem-nO no jardim, suando grandes gotas de sangue. Um solitário anjo é enviado do Céu para fortalecer o Filho de Deus. Sigam-nO à sala do julgamento, enquanto é ridicularizado, escarnecido e insultado por aquela turba enfurecida. Contemplem-nO vestido com o velho manto real de púrpura. Ouçam os gracejos vulgares e a zombaria cruel. Vejam-nos a colocarem naquela nobre fronte a coroa de espinhos, batendo-Lhe depois com a cana, fazendo com que os espinhos se Lhe enterrem nas fontes, e o sangue a correr daquela fronte santa. Ouçam aquela turba assassina clamando ansiosamente pelo sangue do Filho de Deus. Ele é entregue em suas mãos, e conduzem dali o nobre Sofredor, pálido, fraco, desfalecido, ao lugar de Sua crucifixão. É estendido no madeiro, e os cravos são-Lhe enterrados nas tenras mãos e pés. Contemplem-nO pendurado na cruz durante aquelas horríveis horas de agonia, a ponto de os anjos cobrirem o rosto para ocultá-lo da horrorosa cena, e o Sol esconder sua luz, recusando-se a contemplá-la. Pensem nessas coisas, e então perguntem: É o caminho demasiado estreito? Não, não. T1 241 1 Em uma vida dividida, indiferente, vocês encontrarão dúvidas e obscuridade. Não poderão fruir as consolações da religião, nem a paz que o mundo oferece. Não se assentem na cadeira de descanso de Satanás, do pouco-fazer, mas ergam-se, e mirem à elevada norma que é privilégio seu atingir. Bendito é o privilégio de renunciar a tudo por Cristo. Não olhem a vida de outros nem os imitem, sem se elevar mais acima. Vocês só têm um único Modelo verdadeiro, infalível. Só é seguro seguir a Jesus. Decidam que, se outros procedem segundo o princípio da indolência espiritual, vocês os deixarão, e marcharão adiante, rumo a um elevado caráter cristão. Formem um caráter para o Céu. Não durmam em seu posto. Lidem fiel e sinceramente com a própria vida. T1 241 2 Vocês estão condescendendo com um mal que ameaça destruir-lhes a espiritualidade. Isto eclipsará toda a beleza e interesse das páginas sagradas. Este mal é o amor dos romances, contos e outras leituras que não exercem influência para o bem na mente que, de qualquer maneira, se acha consagrada ao serviço de Deus. Isso produz uma estimulação falsa e má, deturpa a imaginação, incapacita a mente para a utilidade e para qualquer exercício espiritual. Separa a mente da oração e do amor das coisas espirituais. A leitura que derrame luz sobre o volume sagrado e lhes estimule o desejo de estudá-lo e a diligência em fazê-lo, não é perigosa, antes benéfica. Vocês me foram apresentados com os olhos desviados do Sagrado Livro, e atentamente fixos em livros incitantes, que são morte para a religião. Quanto mais freqüentemente e com mais diligência vocês examinarem atentamente as Escrituras, tanto mais belas parecerão, e menos gosto hão de ter pelas leituras levianas. O estudo diário da Bíblia exercerá santificadora influência sobre o espírito. Vocês respirarão uma atmosfera celeste. Unam este precioso volume ao coração. Ele se lhes demonstrará amigo e guia na perplexidade. T1 242 1 Vocês têm tido objetivos na vida, e com quanta firmeza e perseverança trabalharam para alcançá-los! Calcularam e planejaram até que se realizassem suas expectativas. Há diante de vocês agora um objetivo digno de esforço infatigável de toda uma existência. É a salvação de seu ser -- a vida eterna. E isto requer abnegação, sacrifício e profundo estudo. Vocês podem ser purificados e enobrecidos. Falta-lhes a salvadora influência do Espírito de Deus. Vocês se misturam com seus companheiros, e se esquecem que levam o nome de Cristo. Procedem e vestem-se como eles. T1 242 2 Irmã K, vi que você tem uma obra a fazer. Precisa morrer para o orgulho, e pôr todo o seu interesse na verdade. Seu interesse eterno depende da conduta que tomar agora. Caso queira obter a vida eterna, precisa viver para ela, e negar-se a si mesma. Saia do mundo, e separe-se. Sua vida deve ser assinalada pela sobriedade, a vigilância e a oração. Os anjos observam o desenvolvimento do caráter e pesam o valor moral. Todas as nossas palavras e atos passam em revista diante de Deus. É um tempo terrível, solene. A esperança da vida eterna não deve ser colocada sobre frágeis fundamentos; ela deve ser assentada entre Deus e você. Alguns confiam no juízo e na experiência de outros, em vez de se darem ao trabalho de um profundo exame do próprio coração, e passam meses e anos, sem um testemunho do Espírito de Deus, ou uma prova de Sua aceitação. Enganam-se a si mesmos. Têm uma suposta esperança, mas carecem das qualidades essenciais a um cristão. Primeiro, deve haver uma obra cabal no coração, depois as maneiras tomarão aquele elevado e nobre caráter que assinala os verdadeiros seguidores de Cristo. Exige esforço e valor moral o viver nossa fé. T1 243 1 O povo de Deus é peculiar. Seu espírito não se pode misturar com o espírito e a influência do mundo. Você não deseja usar o nome de cristã, e todavia ser indigna dele. Não deseja encontrar-se com Cristo tendo meramente uma profissão de fé. Não deseja estar enganada em questão de tanta importância. Examine plenamente a base de sua esperança. Lide sinceramente com sua vida. Uma suposta esperança jamais a salvará. Acaso já calculou o preço? Temo que não. Decida agora se há de seguir a Cristo custe o que custar. Não pode fazer isto e ainda desfrutar a companhia dos que não dão atenção às coisas divinas. Seu espírito e o deles não se podem misturar mais do que o fariam o azeite e água. T1 243 2 Grande coisa é ser filho de Deus, e co-herdeiro de Cristo. Caso seja este seu privilégio, conhecerá a participação das aflições de Cristo. Deus olha ao coração. Vi que você deve buscá-Lo diligentemente, e elevar sua norma de piedade a mais alto nível, do contrário deixará por certo de alcançar a vida eterna. Talvez pergunte: "Viu a irmã White isto?" Sim; e procurei expô-lo diante de você, e dar-lhe as impressões que me foram transmitidas. Que o Senhor a ajude a dar ouvidos. T1 243 3 Prezados irmãos, zelem por seus filhos com muito cuidado. O espírito e a influência do mundo estão destruindo neles todo o desejo de serem genuínos cristãos. Que a sua influência seja no sentido de os desviar dos jovens companheiros que não têm nenhum interesse nas coisas divinas. Eles precisam fazer um sacrifício, se quiserem alcançar o Céu. ------------------------Capítulo 50 -- Experiência pessoal T1 244 1 No dia 20 de Setembro de 1860, meu quarto filho, John Herbert White, nasceu. Quando ele estava com três semanas, meu marido sentiu ser seu dever viajar. Ficou decidido em assembléia que o irmão Loughborough iria para o Oeste e Tiago para o Leste. Uns poucos dias antes de viajarem, meu marido ficou muito deprimido. Pensou que devesse desistir da viagem, mas temia fazê-lo. Sentiu que tinha algo a fazer, mas estava sob pesadas nuvens. Não podia descansar ou dormir. Sua mente estava em contínua agitação. Ele contou aos irmãos Loughborough e Cornell o que estava acontecendo, e ajoelhou-se juntamente com eles para pedir conselho ao Senhor. Então as nuvens se dissiparam e clara luz brilhou. Meu marido sentiu que o Espírito do Senhor o dirigia para o oeste e o irmão Loughborough ao leste. Depois disso, eles viram seu dever de modo mais claro e buscaram cumpri-lo. T1 244 2 Na ausência de meu marido, nós orávamos para que o Senhor o sustentasse e fortalecesse, e obtivemos a certeza de que Deus estaria com ele. Cerca de uma semana antes, enquanto ele estava visitando a cidade de Mauston, no Wisconsin, recebemos cartas da irmã G para publicação, pretendendo serem visões que o Senhor lhe havia dado. Enquanto líamos esse material, sentimo-nos entristecidos, pois sabíamos que essas visões não vinham da fonte legítima. E como meu marido nada sabia do que encontraria em Mauston, tememos que não estivesse preparado para encarar o fanatismo e que isso teria efeitos prejudiciais sobre sua mente. Já havíamos passado por muitas situações semelhantes em nossa experiência inicial, e sofrido muito por causa de gente descontrolada e irredutível, que temíamos entrar em contato com eles. Pedi à igreja de Battle Creek que orasse em favor de meu marido, e no altar de nossa família buscamos fervorosamente ao Senhor em favor dele. Com contrição de espírito e muitas lágrimas, buscamos firmar nossa débil fé nas promessas de Deus. Tivemos evidência de que nossas orações foram ouvidas e que Ele estaria com meu marido, dando-lhe sabedoria e conselhos. T1 245 1 Enquanto procurava na Bíblia um versículo para que Willie o decorasse e repetisse na Escola Sabatina, um verso chamou-me a atenção: "O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nEle." Naum 1:7. Chorei por causa dessas palavras, pois me pareceram tão apropriadas! Toda a minha preocupação era por meu marido e pela igreja no Wisconsin. Meu marido percebeu a bênção de Deus enquanto esteve ali. O Senhor era para ele uma fortaleza em tempos de tribulação e o susteve por Seu Espírito, enquanto ele dava um decidido testemunho contra o desenfreado fanatismo naquele local. T1 245 2 Enquanto em Mackford, Wisconsin, meu marido escreveu-me uma carta na qual declarava: "Temo que as coisas não estejam bem em casa. Tenho tido algumas impressões a respeito do bebê." Enquanto orando pela família, ele teve o pressentimento de que nosso filho estava muito doente. O bebê parecia estar diante dele com o rosto e a cabeça terrivelmente inchados. Quando recebi a carta, a criança estava tão bem como sempre; mas na manhã seguinte, ficou muito doente. Era um caso grave de erisipela que atacou o rosto e a cabeça. Quando meu marido chegou na casa do irmão Wick, próximo a Round Grove, no Illinois, recebeu um telegrama informando da doença da criança. Após lê-lo, ele declarou aos presentes não estar surpreso com as notícias, pois o Senhor o havia preparado para isso lhe mostrando que a cabeça e o rosto do bebê seriam muito atingidos. T1 245 3 Meu querido bebê sofreu muito. Por vinte e quatro dias e noites vigiamos sobre ele, usando todos os meios que podíamos para sua recuperação, e ferventemente apresentando seu caso ao Senhor. Por vezes eu não podia controlar minhas emoções ao ver-lhe os sofrimentos. Muito do meu tempo era gasto em lágrimas e humildes súplicas a Deus. Mas nosso Pai celeste achou melhor tirar nosso ente querido. T1 246 1 No dia 14 de Dezembro, ele ficou pior e eu fui chamada. Ao ouvir sua respiração ofegante e sentir seu fraco pulso, percebi que ele morreria. A mão gélida da morte já estava sobre ele. Aquela foi uma angustiosa hora para mim. Observávamos sua respiração débil e penosa até que ela cessou, e me senti grata porque seus sofrimentos haviam acabado. Enquanto meu bebê estava morrendo, eu não conseguia chorar. Meu coração doía como se estivesse rompido, mas eu não podia derramar uma lágrima. Desmaiei no funeral. Ficamos desapontados por não termos o irmão Loughborough para oficiar a cerimônia fúnebre, e meu marido falou na ocasião para as pessoas que lotavam a casa. Então acompanhamos nosso filho até o cemitério de Oak Hill, para que ali descansasse até que o Doador da Vida venha e quebre as cadeias do sepulcro e o chame para a vida imortal. T1 246 2 Após voltarmos do funeral, meu lar parecia vazio. Sentia-me rendida à vontade de Deus, mas desalentada e triste. Não podíamos erguer-nos para superar o desânimo do verão passado. Da situação do povo de Deus não sabíamos o que esperar. Satanás havia obtido o controle da mente de alguns que estavam intimamente ligados conosco na obra, mesmo de uns que se familiarizaram com nossa missão e viram o fruto de nossos trabalhos, e que não apenas haviam testemunhado a freqüente manifestação do poder de Deus, mas sentido sua influência sobre o próprio corpo. O que poderíamos esperar para o futuro? Enquanto meu filho vivia, eu pensava compreender meu dever. Estreitava meu filho ao coração e me alegrava de que, pelo menos por um inverno, estava livre de grandes responsabilidades, pois não seria meu dever viajar no inverno com meu bebê. Mas quando ele me foi tomado, fiquei novamente em grande perplexidade. T1 246 3 A condição da causa de Deus e do povo nos esmagava. Nossa felicidade sempre dependeu do estado da causa de Deus. Quando Seu povo está em próspera condição, sentimo-nos alegres, mas quando em apostasia e discórdia entre si, nada pode tornar-nos felizes. Nossos interesses e vida têm estado ligados ao surgimento e progresso da mensagem do terceiro anjo. Estamos ligados a ela, e quando ela não prospera, experimentamos grande sofrimento mental. T1 247 1 Por essa época, meu marido, ao rever o passado, começou a perder a confiança em quase todos. Muitos daqueles com quem havia tentado ser amigável, haviam agido como inimigos, e alguns a quem ajudara com sua influência e escassos recursos, estavam continuamente tentando caluniá-lo e afligi-lo. Certo sábado pela manhã, enquanto se dirigia à igreja, um tremendo senso de injustiça apoderou-se dele, a ponto de afastar-se e chorar alto, enquanto a congregação o aguardava. T1 247 2 Desde o início de nossos trabalhos, fomos chamados a dar um testemunho direto e claro, a reprovar erros e não omitir nada de ninguém. Mas sempre tem havido aqueles que se opõem aos nossos testemunhos, e continuam a dizer palavras agradáveis, rebocando com argamassa fraca, e destruindo a influência de nossos trabalhos. O Senhor nos guiaria ao enfrentarmos a oposição, e os indivíduos então se colocariam entre nós e o povo, para tornar nosso testemunho de nenhum efeito. Muitas visões foram dadas quanto ao fato de que não nos devemos esquivar de declarar o conselho do Senhor, mas assumir a posição de despertar o povo de Deus, porquanto está adormecido em seus pecados. Mas poucos têm simpatizado conosco e com aqueles que foram reprovados. Essas coisas nos afligiram e sentíamos não ter nenhum testemunho para dar à igreja. Não sabíamos em quem confiar. Quando todas essas coisas nos oprimiram, nossa esperança morreu. Recolhíamo-nos para descansar por volta de meia-noite, mas eu não podia dormir. Havia em meu coração uma tremenda dor, para a qual não achava alívio. Desmaiei várias vezes. T1 247 3 Meu marido chamou os irmãos Amadon, Kellogg e C. Smith. Suas orações fervorosas foram ouvidas, veio-me alívio e fui tomada em visão. Foi-me mostrado que tínhamos uma obra a fazer, que precisávamos dar nosso testemunho de maneira direta e enérgica. Foram-me mostrados indivíduos que tinham evitado o testemunho direto. Vi a influência de seus ensinos sobre o povo de Deus. T1 248 1 A condição do povo em _____ também me foi revelada. Possuem a teoria da verdade, mas não estão santificados por ela. Vi que quando os mensageiros penetram um novo campo, seu trabalho é mais que perdido, a menos que dêem um testemunho claro e direto. Eles devem manter distinção entre a igreja de Cristo, e os pretensos cristãos inativos. Havia uma falha a esse respeito em _____. O Pastor N estava temeroso de ofender, receoso de que as peculiaridades de nossa fé pudessem aparecer; o padrão foi rebaixado para satisfazer o povo. Deveria ser-lhe mostrado que possuímos verdades de importância vital, e que seu interesse eterno dependia de sua decisão. Para serem santificados pela verdade, seus ídolos teriam de ser abandonados, os pecados confessados e frutos dignos de arrependimento. T1 248 2 Os que se ocupam da solene obra de levar a terceira mensagem angélica, precisam agir com decisão, e destemidamente pregar a verdade no Espírito e poder de Deus, deixando-a atuar. Eles devem elevar o padrão da verdade e persuadir o povo a viver à altura dele. Muito freqüentemente ele tem sido rebaixado para ajustar-se às pessoas em sua condição de trevas e pecado. O testemunho direto é que as fará decidir. Um testemunho brando não tem esse poder. O povo tem o privilégio de ouvir esse tipo de ensino dos púlpitos populares; mas os servos de Deus, a quem Ele confiou uma solene e temível mensagem que deve preparar o povo para a vinda de Cristo, precisam dar um testemunho claro e direto. Nossa verdade é muito mais solene do que a dos professos nominais, "assim como os céus são mais altos do que a Terra". Isaías 55:9. T1 249 1 O povo encontra-se adormecido em seus pecados e precisa ser alertado antes que possa sacudir de si essa indiferença. Seus pastores têm pregado coisas suaves; mas os servos de Deus que possuem verdades sagradas e vitais, devem clamar em alta voz e nada reter, para que a verdade possa rasgar as vestes da falsa segurança e achar seu caminho para o coração. O testemunho direto que deveria ter sido dado às pessoas em _____, foi evitado pelos pastores; a semente da verdade "caiu entre espinhos" (Lucas 8:14) e ficou sufocada. As fraquezas malignas floresceram em alguns, e as graças divinas morreram. T1 249 2 Os servos de Deus têm de apresentar um testemunho direto, que penetre o coração natural e revele o caráter. Os irmãos N e O reprimiram completamente os servos Deus enquanto se achavam em _____. Tal pregação como houve ali jamais fará o trabalho que Deus lhe designou. Os pastores das igrejas nominais usam de muita bajulação, e ocultam as penetrantes verdades que repreendem o pecado. T1 249 3 A menos que as pessoas abracem a mensagem corretamente e seu coração esteja preparado para recebê-la, fariam melhor deixando-a em paz. O Senhor me revelou que a igreja de _____ precisa obter experiência, mas que isso lhe seria mais difícil agora, do que se houvesse aceitado o testemunho direto a ela dado, quando a princípio descobriu que estava em erro. Então os espinhos teriam sido mais facilmente arrancados. No entanto, vi que havia homens de valor moral em _____, alguns que ainda serão testados pela verdade presente. Se a igreja despertar e converter-se, o Senhor Se volverá para eles e lhe dará Seu Espírito. Então sua influência falará em favor da verdade. ------------------------Capítulo 51 -- A causa no oeste T1 250 1 Vi que os homens dignos que abraçaram a verdade no Oeste, ainda serão os pilares da causa. Quando puserem seus negócios temporais sob condições em que possam usar parte dos meios, terão feito sua parte em sustentar a causa. Vi também que alguns estavam dispostos a receber a verdade a eles trazida graças à liberalidade dos irmãos do Leste, sem que lhes custasse nada. Os irmãos do Oeste devem despertar e assumir as despesas de seus Estados. Deus requer isso de suas mãos e eles devem sentir ser um privilégio fazerem assim. O Senhor os provará para ver se retirarão suas afeições do mundo e aperfeiçoarão a fé através das obras. T1 250 2 Vi que a mão de Deus está estendida para recolher pessoas no Oeste. Ele tem trazido homens que podem ensinar a verdade a outros, cujo dever será levar a mensagem a novos campos. Vi que se os homens que se mudaram do Leste para o Oeste, e suportaram as dificuldades de adaptação a novas regiões, receberem a verdade presente compreensivamente, manifestarão perseverança e firme decisão com respeito à verdade, de modo semelhante àquela demonstrada no garantir posses temporais, e se ocuparão alegremente da missão de fazer avançar a verdade. Se falta esse zelo, a verdade ainda não exerceu sua salvadora e santificadora influência sobre eles. T1 250 3 Foi-me mostrada uma reunião em _____. O irmão P sentia responsabilidade pela causa, mas R nutria espírito de oposição. Seu testemunho não estava em harmonia com a obra de Deus, e produziu tristeza e dificuldade nos que estavam trabalhando para o seu avanço. Mas, teria sido melhor para a causa se os irmãos o houvessem suportado por um tempo mais longo e tolerado a confusão que ele causou. Vi que o irmão P não agiu sabiamente em seu caso. Ele concedeu vantagem a R e aos inimigos de nossa fé. O irmão P deveria ter esperado até que o caráter religioso de R se desenvolvesse mais completamente. Ele logo se teria unido ao povo remanescente de Deus ou se separado dele. Mas R obteve a simpatia por causa de sua idade. Ele tinha participado do espírito do grupo do Messenger, e toda a sua conduta foi obscurecida por isso. Sua esposa tem um espírito amargo e irritável, e tem sido muito ativa em espalhar boatos. Ela desempenha, junto a seu marido, o mesmo papel de Jezabel com Acabe, incitando-o a lutar contra os servos de Deus que sustentam o testemunho direto. T1 251 1 Pela influência deles, o Leste pôs-se decididamente contra o espírito da verdade, contra aqueles que devotaram a vida ao trabalho de fazê-la progredir. Há uma classe, no Leste, que professa crer na verdade, mas que nutre sentimentos secretos de insatisfação contra os que levam as cargas desse trabalho. Seus verdadeiros sentimentos não aparecem até que surja uma influência oposta ao trabalho de Deus, então eles manifestam seu verdadeiro caráter. Esses prontamente recebem, apreciam e fazem circular boatos sem qualquer fundamento de verdade, para destruir a influência dos que estão empenhados neste trabalho. Todos os que desejarem abandonar a congregação, terão oportunidade. Algo surgirá para provar a todos. O grande tempo do peneiramento está justamente diante de nós. Os ciumentos e os descobridores de faltas, que praticam o mal serão sacudidos para fora. Eles odeiam a reprovação e menosprezam a correção. Aqueles que amam o espírito da mensagem do terceiro anjo, não podem ter nenhuma união com o espírito de R e de sua esposa. ------------------------Capítulo 52 -- Uma pergunta respondida T1 251 2 A pergunta freqüentemente formulada pelos que estão sob a influência de meus inimigos é: "Está a irmã White ficando orgulhosa? Ouvi que ela usou uma touca cheia de laços e fitas." Espero não estar ficando orgulhosa. Minha maneira de vestir tem sido a mesma por muitos anos. Sou contrária ao uso de saias-balão, e usos desnecessários de laços e fitas. Usei uma touca de veludo por dois anos, sem mudança de cordões, exceto para lavá-los com sabão e água. Coloquei o mesmo veludo numa armação nova e a estou usando novamente neste inverno. Creio que os guardadores do sábado devem vestir-se modestamente e com economia. Quem quiser falar, falará, embora não lhe demos nenhuma ocasião. Não espero satisfazer cada gosto com respeito ao vestuário, mas acredito que é meu dever usar roupa durável, vestir-me de maneira decente e ordenada, e seguir meu próprio gosto desde que ele não discorde da Palavra de Deus. ------------------------Capítulo 53 -- O norte e o sul T1 253 2 No dia 4 de Janeiro de 1862, foram-me mostradas algumas coisas com respeito à nossa nação. Minha atenção foi chamada para a rebelião sulista. O Sul tinha se preparado para um conflito feroz, enquanto o Norte estava inconsciente de suas verdadeiras intenções. Antes de iniciar-se o governo do Presidente Lincoln, o Sul estava em grande vantagem. O governo anterior planejou e administrou em benefício do Sul, para roubar do Norte seus materiais bélicos. Eles tinham dois objetivos em vista: 1. Estavam pretendendo fazer uma rebelião, e precisavam preparar-se para isso. 2. Quando se rebelassem, o Norte estaria completamente despreparado. Assim ganhariam tempo, e por suas violentas ameaças e conduta implacável, pensavam que podiam intimidar o Norte que seria forçado a render-se, e deixá-los fazer tudo a seu modo. T1 254 3 O Norte não conseguiu perceber o ódio amargo e terrível do Sul, e estava desprevenido contra sua furtiva conspiração. O Norte havia-se gabado de seu poder e ridicularizou a idéia de o Sul deixar a União. Eles consideraram essa intenção como ameaças de uma criança voluntariosa e obstinada, pensando que o Sul reconsiderasse a questão e perdesse a disposição de deixar a União; que voltasse com humildes desculpas à fidelidade anterior. O Norte não tinha idéia do poder do sistema escravista. É isso, e isso tão-somente, que se encontra nos fundamentos da guerra. O Sul tem extorquido cada vez mais. Eles consideram perfeitamente legal se envolverem em tráfico humano, em negociar os escravos e a vida dos homens. Ficam aborrecidos e exasperados se não podem reivindicar todo o território que desejam. Eles demoliriam as fronteiras e levariam seus escravos a qualquer ponto que desejassem, amaldiçoando o solo com o trabalho escravo. A linguagem do Sul tem sido autoritária, e o Norte não tomou as medidas necessárias para fazê-lo silenciar. T1 254 1 A rebelião foi preparada tão cuidadosa e sorrateiramente, que muitos, que no princípio ficaram horrorizados com o pensamento de rebelião, foram influenciados pelos rebeldes a olharem-na como justa e correta. Milhares se uniram à Confederação Sulista, o que não aconteceria se houvessem sido tomadas medidas acertadas pelo governo no período inicial da rebelião, mesmo que estivessem então despreparados para a guerra. O Norte tem se preparado desde então para o conflito, mas a rebelião aumenta continuamente, e não há agora melhor perspectiva de reprimi-la do que há vários meses atrás. Milhares perderam a vida e muitos voltaram para casa mutilados e incapacitados para a vida, com a saúde abalada e as perspectivas terrenas para sempre destruídas. E quão pouco ganharam! Milhares foram induzidos a alistar-se com a idéia de que essa guerra era para eliminar a escravidão. Agora, porém, vêem que foram enganados e que o objetivo desta guerra não é abolir a escravidão, mas preservá-la exatamente como é. T1 254 2 Os que se aventuraram a deixar suas casas e sacrificar a vida para banir a escravidão, estão insatisfeitos. Eles não vêem nenhum resultado positivo nesta guerra, senão a preservação da União, e para isso milhares de vidas foram sacrificados e desolados os lares. Grande número de pessoas definhou e expirou em hospitais; outros foram levados prisioneiros pelos rebeldes, um destino mais temível do que a morte. Em vista de tudo isso, perguntam: Se tivermos sucesso em reprimir essa rebelião, o que se ganhará? Eles podem apenas responder abatidos: Nada! Aquilo que causou a rebelião não foi eliminado. O sistema escravista, que arruinou nossa nação, permanece vivo e incita outra rebelião. Os sentimentos de milhares de nossos soldados são dolorosos. Eles sofreram as maiores privações, as quais suportariam de boa vontade, mas descobriram que foram enganados e estão deprimidos. Nossos governantes estão perplexos; seu coração paralisado de medo. Eles temem proclamar liberdade para os escravos dos rebeldes, pois assim fazendo irritarão aquela área do Sul que não se uniu à rebelião, mas em cujo território é forte o sentimento escravista. Estão também receosos da influência de eminentes homens que estão em postos de responsabilidade e sustentam uma postura antiescravista. Receiam os efeitos de uma audaciosa e decidida decisão, porque isso atiçaria como uma chama o forte desejo de milhares de eliminar a causa dessa terrível rebelião, deixando "livres os oprimidos e" despedaçando "todo jugo". Isaías 58:6. T1 255 1 Muitos dos que estão em postos de comando, que ocupam cargos de responsabilidade, têm pouca consciência ou nobreza de caráter; eles podem exercer sua autoridade, até mesmo para a destruição dos que lhe estão sob as ordens. Isso é ignorado. Estes comandantes podem abusar do poder a eles dado, e fazer com que seus subordinados ocupem posições perigosas, onde estariam expostos a encontros fatais com os rebeldes, sem a menor esperança de vencê-los. Assim podem desfazer-se de homens corajosos, a exemplo do que Davi fez com Urias. 2 Samuel 11:14, 15. T1 255 2 Para se livrarem da forte influência antiescravista de homens valorosos, estes foram sacrificados. Alguns deles, de quem o Norte muito necessita nestes tempos críticos, e cujos serviços seriam do mais alto valor, não mais existem. Foram temerariamente sacrificados. As perspectivas de nosso país são desanimadoras, pois há aqueles que estão em postos de responsabilidade e que são rebeldes de coração. Há oficiais no comando que nutrem simpatia pelos rebeldes. Se bem que desejosos de preservar a União, desprezam os que são contrários à escravidão. Muitos dos que compõem os exércitos também partilham desses sentimentos; são tão opostos uns aos outros, que nenhuma união verdadeira existe em muitos regimentos. T1 256 1 Do modo como essa guerra me foi mostrada, parecia a mais incerta e estranha jamais ocorrida. Grande parte dos voluntários alistados criam plenamente que o resultado da guerra seria a abolição da escravatura. Outros se alistaram pretendendo manter a escravatura como está, mas dominar a rebelião e preservar a União. E então, para tornar a questão ainda mais desconcertante e duvidosa, alguns oficiais no comando são escravistas convictos, e manifestam simpatia pela causa do Sul, contudo, opõem-se a um governo independente. Parece impossível conduzir a guerra com sucesso, pois muitos de nossas próprias fileiras estão trabalhando continuamente em favor do Sul, e nossos soldados têm sido repelidos e impiedosamente mortos, por conta da administração desses partidários da escravidão. Alguns de nossos representantes no Congresso também trabalham para favorecer o Sul. Nesse estado de coisas, são emitidas proclamações para jejuns nacionais, a fim de orarem para que Deus conduza essa guerra a um final rápido e favorável. Fui dirigida a Isaías 58:5-7: "Seria este o jejum que Eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco grosseiro e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo-o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?" T1 257 1 Vi que esses jejuns nacionais eram um insulto a Jeová. Ele não aceita tal jejum. O anjo relator escreve com respeito a eles: "Eis que, para contendas e debates, jejuais e para dardes punhadas impiamente." Isaías 58:4. Foi-me mostrado como nossos principais dirigentes trataram os pobres escravos que vieram a eles em busca de proteção. Os anjos registraram esse fato. Em vez de quebrar-lhes o jugo e deixarem livres os oprimidos, esses homens tornaram-lhes o jugo mais torturante do que quando a serviço dos seus tirânicos senhores. O amor pela liberdade levou esses pobres escravos a deixarem seus senhores e arriscarem a vida para obter a liberdade. Eles nunca se aventurariam a deixar seus amos e se exporem às dificuldades e horrores de uma possível recaptura, se não tivessem forte apego à liberdade, assim como acontece conosco. Os fugitivos escravos suportaram sofrimentos indizíveis e perigos para obter sua liberdade, e sua última esperança, com o amor pela liberdade ardendo no peito, solicitaram proteção de nosso governo. Sua confiança, porém, foi tratada com extremo desprezo. Muitos deles foram cruelmente tratados porque cometeram o crime de buscar a liberdade. Grandes homens, professando ter coração bondoso, viram os escravos quase desnudos e famintos, e os maltrataram mandando-os de volta aos cruéis senhores e à escravidão sem esperança, para sofrerem impiedoso tratamento por ousarem buscar a sua liberdade. Alguns desses infelizes foram lançados em insalubres masmorras, sem que ninguém se importasse se iriam viver ou morrer. Impediam-nos da liberdade e do ar livre que o Céu nunca lhes negou, deixando-os sofrer por falta de alimento e vestes. Devido a tudo isso é proclamado um jejum nacional! Oh, que insulto a Jeová! O Senhor disse pela boca de Isaías 58:2: "Todavia, Me procuram cada dia, tomam prazer em saber os Meus caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus." T1 258 1 Os escravos que escaparam ouviram seus senhores dizer que os homens do Norte queriam ficar com eles para maltratá-los cruelmente; que os abolicionistas os tratariam pior do que eles os trataram enquanto eram escravos. Toda sorte de histórias terríveis foram repetidas aos seus ouvidos, para fazê-los detestar o Norte. Eles tinham idéias confusas acerca do que os nortistas sentiam por suas queixas, mas que fariam esforços para ajudá-los. Essa foi a única luz que raiou sobre sua angustiante e sombria escravidão. O modo como esses pobres escravos foram tratados fê-los crer que seus senhores lhes haviam dito a verdade. E ainda é proclamado um jejum nacional! Disse o Senhor: "Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo jugo?" Isaías 58:6. Quando nosso país observar o jejum que Deus escolheu, então Ele aceitará suas orações, até com relação à guerra; mas agora elas não entram em Seus ouvidos. Deus Se afasta deles; sente-Se ofendido. É por fazerem assim, desfazendo as ataduras da servidão e quebrando todo jugo, que alguns são criticados e removidos de seus cargos, e sua vida lesada por aqueles que "para contendas e debates" jejuam e para darem "punhadas impiamente". Isaías 58:4. T1 258 2 Foi-me mostrado que se o objetivo dessa guerra tivesse sido eliminar a escravidão, se o Norte o desejasse, a Inglaterra se disporia a ajudar. Mas a Inglaterra bem sabe das intenções existentes no governo; e que a guerra não é para acabar com a escravidão, mas somente preservar a União, o que não é de seu interesse. Nosso governo tem sido muito orgulhoso e independente. O povo deste país exaltou-se até o céu e olhou para baixo, aos governos monárquicos, e jactou-se de sua liberdade, enquanto que a escravidão, que era mil vezes pior do que a tirania exercida pelas monarquias, foi tolerada e alimentada.. Nesta terra de luz se aprecia um sistema que permite que uma parte da família humana escravize outra, rebaixando milhões de seres humanos ao nível dos animais. Esse pecado não é encontrado mesmo em terras pagãs. T1 259 1 Disse o anjo: "Ouçam, ó Céus, o clamor dos oprimidos, e recompensem duplamente os opressores por seus feitos." Esta nação ainda será humilhada até o pó. A Inglaterra está estudando se é melhor tirar proveito da presente condição do país, guerreando contra ele. Examina a questão e sonda outras nações. Teme que, se ela iniciar uma guerra no Exterior, enfraquecer-se-ia e outras nações poderiam tirar proveito da situação. Outros países estão fazendo preparativos silenciosos, todavia diligentes, para a luta armada e esperando que a Inglaterra combata os Estados Unidos, para então terem a oportunidade de vingar-se da exploração e injustiças de que foram vítimas no passado. Uma parte dos países sujeitos à rainha, está esperando por uma chance favorável para quebrar seu jugo; mas se a Inglaterra pensar que isso valerá a pena, não vacilará um momento para aumentar as chances de exercer o poder e humilhar nosso país. Quando a Inglaterra declarar guerra, todas as nações terão interesses próprios a atender, haverá guerra e confusão totais. A Inglaterra está familiarizada com a diversidade de sentimentos havidos por aqueles que estão buscando acabar com a rebelião. Ela bem sabe das perplexas condições de nosso governo e olha com expectativa ao prosseguimento da guerra, para a movimentação lenta e ineficiente de nossos exércitos e as nocivas despesas acarretadas ao país. A fraqueza de nosso governo está patente às outras nações, e elas concluem que isso se deve ao regime não-monárquico de governo, e ficam admiradas com seu sistema político, umas olhando-nos com certa piedade, outras com desprezo, a nós, a quem eles consideravam a nação mais poderosa do planeta. Se o país tivesse permanecido unido, seria forte, mas dividido, tem de desmoronar-se. ------------------------Capítulo 54 -- A grande angústia vindoura T1 260 1 Vi na Terra maior aflição do que nunca testemunhamos. Ouvi gemidos e gritos de aflição, e vi grandes grupos em diligente batalha. Ouvi o troar do canhão, o retinir das armas, a luta corpo-a-corpo, e os gemidos e orações dos moribundos. O campo estava coberto de feridos e cadáveres. Vi famílias desoladas, em desespero, e opressiva necessidade em muitas habitações. Mesmo agora, muitas famílias estão sofrendo privações, mas isto aumentará. O rosto de muitos estava abatido, pálido e desfigurado pela fome. T1 260 2 Vi que o povo de Deus deve estar estreitamente unido pelos laços da comunhão e do amor cristãos. Unicamente Deus pode ser nosso escudo e fortaleza nesse tempo de calamidades nacionais. O povo de Deus deve despertar. Suas oportunidades de disseminar a verdade devem ser melhor aproveitadas, pois não durarão muito. Foram-me mostradas aflições e perplexidade e fome na Terra. Satanás está agora procurando manter o povo de Deus em um estado de inatividade, para os impedir de desempenhar sua parte na propagação da verdade, a fim de que sejam afinal pesados na balança e encontrados em falta. T1 260 3 O povo de Deus deve acatar a advertência e discernir os sinais dos tempos. Os sinais da vinda de Cristo são demasiado claros para deles se duvidar; e em vista destas coisas, todo aquele que professa a verdade deve ser um pregador vivo. Deus chama a todos, tanto os pregadores como o povo, para que despertem. Todo o Céu está alerta. As cenas da história terrestre estão em rápido desfecho. Achamo-nos entre os perigos dos últimos dias. Maiores perigos se encontram diante de nós, e ainda não estamos despertos. Esta falta de atividade e fervor na causa de Deus, é terrível. Este mortal torpor vem de Satanás. Ele controla a mente dos não consagrados observadores do sábado, levando-os a terem inveja uns dos outros, a criticar, a serem reprovadores. É sua obra especial dividir os corações, para que a influência, a força e o trabalho dos servos de Deus se mantenham entre não consagrados observadores do sábado, e seu precioso tempo seja ocupado em ajustar pequenas desinteligências, quando devia ser empregado em proclamar a verdade aos incrédulos. T1 261 1 Foi-me mostrado o povo de Deus esperando que ocorresse alguma mudança -- que um compulsivo poder deles se apoderasse. Mas ficarão decepcionados, pois estão em erro. Precisam agir; precisam lançar por si mesmos mãos ao trabalho, e clamar fervorosamente a Deus por um genuíno conhecimento de si próprios. As cenas que estão passando diante de nós, são de magnitude suficiente a fazer-nos despertar, levando insistentemente a verdade ao coração de todos os que quiserem escutar. A seara da Terra está quase madura. T1 261 2 Foi-me mostrado quão importante é que sejam retos os pastores que se empenham nesta obra de responsabilidade solene, que é proclamar a terceira mensagem angélica. O Senhor não está limitado por causa de meios ou instrumentos com que realizar Sua obra. Ele pode falar em qualquer tempo, por intermédio de quem Lhe aprouver, e Sua palavra é poderosa, e cumprirá aquilo para que foi enviada. Mas se a verdade não tiver santificado, tornado puros e limpos as mãos e o coração daquele que ministra nas coisas santas, ele é capaz de falar segundo a própria e imperfeita experiência; e quando ele fala de si mesmo, segundo as decisões do próprio juízo não santificado, o conselho que dele procede então não é de Deus, mas dele próprio. Como o que é chamado por Deus é chamado para ser santo, assim aquele que é aprovado e separado dentre os homens deve dar testemunho de sua santa vocação, e mostrar por suas palavras e conduta que é fiel Àquele que o chamou. T1 261 3 Terríveis ais aguardam os que pregam a verdade, mas não são por ela santificados, e também os que consentem em receber e manter os não santificados para lhes ministrar por palavra e doutrina. Sinto-me alarmada pelo povo de Deus, o qual professa crer em solene e importante verdade; pois sei que muitos deles não se acham convertidos nem santificados por ela. Os homens podem ouvir e reconhecer toda a verdade, sem todavia conhecer coisa alguma do poder da piedade. Nem todos os que pregam a verdade, serão salvos por ela. Disse o anjo: "Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor." Isaías 52:11. T1 262 1 É chegado o tempo em que os que escolhem ao Senhor como sua presente e futura porção, devem confiar unicamente nEle. Todos quantos professam piedade devem possuir uma experiência individual. O anjo relator está fazendo um registro fiel das palavras e atos do povo de Deus. Os anjos estão observando o desenvolvimento do caráter, e pesando o valor moral. Os que professam crer na verdade devem ser, eles mesmos, justos, e exercer toda a sua influência para esclarecer e ganhar outros para a verdade. Suas palavras e obras são o meio através do qual são transmitidos ao mundo os puros princípios da verdade e da santidade. Eles são o sal da Terra, e a sua luz. Vi que olhando rumo ao Céu, veremos luz e paz; olhando, porém, ao mundo, verificaremos que todo o refúgio nos há de faltar em breve, e todo o bem brevemente passará. Não há para nós socorro senão em Deus; neste estado de confusão da Terra, só nos é possível estar serenos, fortes, ou seguros, no poder de uma fé viva; nem podemos estar em paz, a não ser que descansemos em Deus e esperemos em Sua salvação. Incide sobre nós maior luz do que brilhou sobre nossos pais. Não podemos ser aceitos ou honrados por Deus prestando o mesmo serviço, ou fazendo as mesmas obras que nossos pais. A fim de ser aceitos e abençoados por Deus como eles foram, cumpre-nos imitar sua fidelidade e seu zelo, aperfeiçoar nossa luz como eles fizeram à sua e fazer como eles teriam feito caso vivessem em nossos dias. Cumpre-nos viver segundo a luz que brilha sobre nós, do contrário, essa luz tornar-se-á em trevas. Deus requer de nós que manifestemos ao mundo, no caráter e nas obras a medida do espírito de união e unidade proporcional às sagradas verdades que professamos, e ao espírito das profecias que se estão cumprindo nestes últimos dias. A verdade que atingiu nosso entendimento e a luz que nos incidiu sobre a mente nos julgará e condenará, caso dela nos desviemos e recusemos ser por ela guiados. T1 263 1 Que direi a fim de despertar o povo remanescente de Deus? Foi-me mostrado que estão diante de nós terríveis cenas; Satanás e seus anjos estão reunindo todas as suas forças para oprimir o povo de Deus. Sabe que, se eles dormirem um pouco mais, está seguro quanto a eles, pois é certa sua destruição. Advirto a todos os que professam o nome de Cristo a que se examinem rigorosamente, e façam plena e cabal confissão de todos os seus erros, a fim de que os mesmos vão antecipadamente a juízo, e o anjo relator possa escrever ao lado de seus nomes o perdão. Meu irmão, minha irmã, caso estes preciosos momentos de misericórdia não sejam aproveitados, vocês serão deixados sem desculpa. Se não fizerem especial esforço para despertar, se não manifestarem zelo em arrepender-se, esses áureos momentos em breve passarão, e vocês serão pesados na balança e achados em falta. Então de nada hão de aproveitar seus brados de angústia. Aí se aplicarão as palavras do Senhor: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes rejeitastes todo o Meu conselho, e não quisestes a Minha repreensão; também Eu Me rirei na vossa perdição, e zombarei, vindo o vosso temor. Vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia, então a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento; e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho, e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos simples os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá. Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente, e estará descansado do temor do mal." Provérbios 1:24-33. ------------------------Capítulo 55 -- Escravidão e guerra T1 264 1 Deus está punindo esta nação pelo hediondo crime da escravidão. Ele tem o destino da nação em Suas mãos. Punirá o Sul pelo pecado da escravidão, e o Norte por tolerar tão longamente sua influência arrogante e extensa. T1 264 2 Na reunião em Roosevelt, Nova Iorque, no dia 3 de Agosto de 1861, quando os irmãos e irmãs estavam reunidos no dia estabelecido para jejum, humilhação e oração, o Espírito do Senhor repousou sobre mim e fui tomada em visão. Mostrou-se-me o pecado da escravidão, que tem sido de há muito uma maldição ao país. A lei contra fugas de escravos foi preparada para extinguir no coração de cada homem, os nobres sentimentos de simpatia pelos sofredores e oprimidos escravos. Isso está em direta oposição aos ensinos de Cristo. A punição divina está agora sobre o Norte, porque eles têm tolerado os avanços do poder escravista. O pecado dos escravistas do Norte é muito grande. Eles têm fortalecido o Sul em seu pecado, sancionando a extensão da escravatura e feito muito para levar o país até sua presente e angustiosa condição. T1 264 3 Foi-me mostrado que muitos não compreendem a extensão do mal que tem vindo sobre nós. Eles se têm gabado de que os problemas nacionais logo serão resolvidos e a confusão e a guerra findarão. Contudo, todos ficarão convencidos de que o assunto é mais grave do que pensam. Muitos esperavam que o Norte aplicasse um golpe e desse fim ao conflito. T1 264 4 Vi o antigo Israel enquanto escravo no Egito. O Senhor atuou através de Moisés e Arão para livrá-lo. Os milagres foram realizados diante de Faraó, para convencê-lo de que aqueles homens tinham sido especialmente enviados por Deus para fazê-lo deixar sair Israel. Mas o coração de Faraó estava endurecido contra os mensageiros de Deus, e questionou os milagres por eles realizados. Então os egípcios experimentaram os juízos de Deus. Eles foram visitados com pragas e, enquanto sofriam sob seus efeitos, Faraó concordava em deixar Israel ir. Mas tão logo o sofrimento era aliviado, seu coração obstinava-se. Os conselheiros da corte e os homens poderosos também resistiam a Deus e se esforçavam em explicar as pragas como o resultado de causas naturais. Cada visitação de Deus era mais severa do que a precedente, todavia, eles não libertaram os filhos de Israel, até que o anjo do Senhor matou os primogênitos dos egípcios. Desde o rei sobre o trono até o mais humilde, todos estavam se lamentando e chorando. Então Faraó ordenou que Israel fosse. Mas após os egípcios terem sepultado seus mortos, ele se arrependeu de ter permitido a saída de Israel. Seus conselheiros e homens poderosos tentaram achar justificativa para seu luto. Não admitiam que a visitação ou julgamento provinha de Deus e, portanto, perseguiram os filhos de Israel. T1 265 1 Quando os israelitas viram o exército egípcio em perseguição, com cavalos e carros e equipados para a guerra, o coração deles desfaleceu. O Mar Vermelho adiante e o exército egípcio atrás. Não podiam divisar um meio de escape. Um grito de triunfo irrompeu dentre os egípcios ao encontrarem Israel completamente em seu poder. Os israelitas estavam muito aterrorizados. Mas o Senhor mandou que Moisés ordenasse o avanço de Israel, erguesse seu cajado e estendesse a mão sobre o mar, dividindo-o. Ele assim o fez e eis que o mar se dividiu e os filhos de Israel passaram em seco. Faraó havia por tanto tempo resistido a Deus e endurecido o coração contra Suas poderosas e maravilhosas obras, que em sua cegueira avançou pelo caminho miraculosamente preparado por Deus para Seu povo. Novamente foi ordenado que Moisés estendesse a mão sobre o mar "e o mar retomou a sua força" (Êxodo 14:27), e as águas cobriram o exército egípcio, afogando-o. T1 266 1 Essa cena me foi apresentada para ilustrar o amor egoísta da escravatura, e as desesperadas medidas que o Sul adotaria para conservá-la, e ainda a terrível extensão a que chegariam, antes que se rendessem. O sistema escravista tem degradado e humilhado seres humanos ao nível dos animais, e a maioria dos senhores de escravos os considera como tais. A consciência desses senhores tornou-se cauterizada e endurecida, como a de Faraó; e se compelidos a libertar seus escravos, farão com que esses sintam tanto quanto possível seu poder opressor. Parece-me uma impossibilidade que a escravidão possa ser eliminada. Somente Deus pode arrancar o escravo das mãos de seus violentos e implacáveis opressores. Todo abuso e crueldade exercidos contra os escravos são com justiça atribuídos aos mantenedores desse sistema, quer sejam do Sul quer do Norte. T1 266 2 O Norte e o Sul me foram mostrados. O Norte tem estado enganado com respeito ao Sul. Os sulistas estão melhor preparados para a guerra do que parecem. A maioria de seus homens são habilidosos no uso dos armamentos, alguns deles soldados experimentados nas batalhas, outros, habituados a esportes. Eles superam o Norte neste ponto, mas não possuem, como regra geral, a bravura e a resistência dos homens do Norte. T1 266 3 Tive uma visão da trágica batalha de Manassas, na Virgínia. Foi a mais sangrenta e angustiante cena. O exército do Sul tinha tudo a seu favor e estava preparado para o terrível combate. O exército do Norte estava se movendo com triunfo, em nada duvidando de sua vitória. Muitos estavam descuidados e marchavam adiante orgulhosamente, como se a vitória já fosse sua. Quando se aproximavam do campo de batalha, muitos estavam quase desmaiando de cansaço e necessitando de imediato repouso. Eles não esperavam um combate tão feroz. Foram para a peleja e lutaram brava e intensamente. Havia mortos e moribundos de ambas as partes. Norte e Sul sofreram severamente. Os sulistas sentiram o ardor da batalha e fizeram um pequeno recuo. Os homens do Norte investiram sobre o inimigo, embora as baixas fossem grandes. Subitamente, um anjo desceu e agitou a mão. Instantaneamente houve confusão nas fileiras. Parecia aos nortistas que suas tropas estavam batendo em retirada, quando, na realidade, não era assim; começaram, então, uma precipitada fuga. Isto me pareceu maravilhoso. T1 267 1 Foi então revelado que Deus tinha esta nação em Suas mãos, e não desejava que as vitórias fossem obtidas mais rapidamente do que Ele permitisse, e não consentiria que os nortistas sofressem mais baixas que o necessário, conforme Sua sabedoria determinasse, para puni-los por seus pecados. Houvesse o exército do Norte, nesse tempo, se esforçado além de sua desfalecente e debilitada condição, o tremendo esforço e a destruição que os esperavam, teria proporcionado grande triunfo ao Sul. Deus não permitiria isso, e enviou um anjo para interferir. O súbito recuo das forças do Norte tem sido um mistério a todos. Eles não sabem que a mão de Deus se fez presente. T1 267 2 A destruição do exército sulista foi tão grande que eles não tiveram do que se gabar. A visão dos mortos, moribundos e feridos, deu-lhes pouca coragem para exultar. Essa destruição, acontecida quando eles tinham toda vantagem sobre o Norte, causou-lhes grande perplexidade. Eles sabiam que se o Norte tivesse chances iguais às deles, a vitória certamente seria do Norte. Sua única esperança era ocupar posições de difícil acesso, e então lançar ataques destruidores de todos os lados. T1 267 3 O Sul fortaleceu-se muito desde o começo da rebelião. Se medidas efetivas houvessem sido tomadas pelo Norte, a rebelião teria sido rapidamente esmagada. Mas essa, que era pequena a princípio, cresceu em força e número até tornar-se poderosa. Outras nações estão observando atentamente os Estados Unidos, com que propósito, eu não fui informada, e estão fazendo grandes preparativos para algum acontecimento. Há agora entre nossos dirigentes grande perplexidade e ansiedade. Escravocratas e traidores acham-se em seu meio, e enquanto se declaram favoráveis à União, exercem influência na tomada de decisões, algumas das quais em prol do Sul. T1 268 1 Foram-me mostrados os habitantes da Terra na maior confusão. Guerra, derramamento de sangue, privações, necessidades, fome e pestilência estavam por toda parte. À medida que estas coisas iam envolvendo o povo de Deus, eles começaram a unir-se, e a pôr de lado suas pequenas dificuldades. A dignidade própria não mais os controlava; profunda humildade tomou o seu lugar. O sofrimento, a perplexidade e a privação fizeram com que a razão fosse de novo entronizada, e os homens violentos e irrazoáveis se tornassem sãos, e agissem com discrição e sabedoria. T1 268 2 Minha atenção foi então desviada da cena. Parecia haver um pequeno tempo de paz. Mais uma vez os habitantes da Terra me foram apresentados; e novamente tudo se achava na maior confusão. Lutas, guerras e derramamento de sangue juntamente com fome e peste imperavam por toda parte. Outras nações se achavam empenhadas nesta luta e confusão. A guerra ocasionou a fome. A miséria e o derramamento de sangue deram lugar à pestilência. E então o coração dos homens desmaiou de terror, "na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo". Lucas 21:26. ------------------------Capítulo 56 -- Tempos perigosos T1 268 3 O mundo incrédulo logo terá algo para pensar além de vestuário e aparência; e quando sua mente for tirada dessas coisas pela angústia e perplexidade, não terão para onde se voltar. Eles não são "prisioneiros de esperança" (Zacarias 9:12 e), portanto, não se voltam para a Fortaleza. Seu coração definhará pela queixa e temor. Não fizeram de Deus seu refúgio, e Ele não lhes será o consolador, mas Se rirá de sua calamidade e zombará quando o temor lhes sobrevier. Provérbios 1:26. Menosprezaram e pisotearam as verdades da Palavra de Deus. Condescenderam com vestuário extravagante e gastaram a vida em divertimentos e prazeres. "Semearam ventos e segarão tormentas." Oséias 8:7. No tempo de angústia e perplexidade das nações, haverá muitos que não se entregaram inteiramente às influências corruptoras do mundo e ao serviço de Satanás, os quais se humilharão perante Deus, e a Ele se volverão de todo o coração, e serão aceitos e perdoados. T1 269 1 Aqueles entre os observadores do sábado que têm estado indispostos a fazer algum sacrifício, mas se renderam à influência do mundo, serão testados e provados. Os perigos dos últimos dias estão sobre nós, e sobre os jovens uma tentação a qual não esperam. Eles enfrentarão a mais aflitiva perplexidade. A genuinidade de sua fé será provada. Professam estar aguardando a vinda do Filho do homem, todavia, alguns deles têm sido um infeliz exemplo aos descrentes. Não estão dispostos a abandonar o mundo, mas com eles se unem. Têm participado de piqueniques e outras reuniões de prazer, lisonjeando-se de que estão envolvidos com divertimentos inocentes. Foi-me revelado que são justamente tais transigências que os têm separado de Deus, e os tornado filhos do mundo. Deus não considera o amante de prazeres como Seu seguidor. Ele não nos deu tal exemplo. Somente aqueles que se negam a si mesmos e vivem com sobriedade, humildade e santidade, são os verdadeiros seguidores de Jesus. E esses não podem envolver-se em frívola e vazia conversação com os amantes do mundo. T1 269 2 O dia da terrível angústia está diante de nós. Revelou-se-me que os testemunhos diretos devem ser dados, e que aqueles que vão em auxílio do Senhor receberão Sua bênção. Mas os observadores do sábado têm uma obra a fazer. Foi-me mostrado que as saias-balão são uma abominação, e a influência de todo observador do sábado deve ser uma repreensão a esta moda ridícula, que têm sido uma mostra de iniqüidade e que surgiu de uma casa de má fama em Paris. Foram-me mostradas mulheres que menosprezarão a instrução, mesmo que ela venha do Céu. Inventarão alguma desculpa para evitar o testemunho direto, e em desafio de toda a luz dada usarão saias-balão porque é moda, correndo o risco das conseqüências. T1 270 1 Foi-me apresentada a profecia de Isaías 3 como se aplicando a estes últimos dias; e suas reprovações são feitas às filhas de Sião que só pensam em aparência e exibição. Leia o verso 25: "Teus varões cairão à espada, e teus valentes, na peleja." Isaías 3:25. Vi que essa escritura será estritamente cumprida. Rapazes e moças professando ser cristãos, todavia sem nenhuma experiência cristã e não tendo suportado nenhum fardo e nem sentindo qualquer responsabilidade individual, serão provados. Eles serão humilhados e almejarão uma experiência nas coisas de Deus que não obtiveram antes. T1 270 2 "A guerra ergue o elmo à sua testa; Ó Deus, protege Teu povo agora." ------------------------Capítulo 57 -- Organização T1 270 3 Dia 3 de Agosto de 1861. Foi-me exposto que alguns temiam que nossas igrejas se tornassem Babilônia caso se organizasse; mas aqueles no centro do Estado de Nova Iorque têm sido uma babilônia perfeita, uma confusão. A menos que as igrejas sejam tão organizadas que possam impor a ordem, nada têm por que esperar; serão desfeitas em fragmentos. Ensinos anteriores nutriram os elementos de desunião. Alimenta-se mais o espírito de espionar e acusar do que o de edificar. Se os ministros de Deus assumissem, unidos, sua posição, e se com firmeza mantivessem sua decisão, haveria uma influência unificadora entre o rebanho de Deus. Os obstáculos separatistas seriam feitos em pedaços. Os corações se uniriam como gotas de água. Então, haveria poder e força nas fileiras dos observadores do sábado, que excederiam a tudo quanto temos testemunhado. T1 271 1 O coração dos servos de Deus fica entristecido quando vão de igreja em igreja e encontram oposição de outros irmãos do ministério. Há aqueles que estão prontos a se opor a todo avanço que o povo de Deus dá. Os que ousam arriscar-se são afligidos pela falta de ação unida por parte dos coobreiros. Estamos vivendo num tempo solene. Satanás e anjos maus estão trabalhando com muito poder e com o mundo a seu lado para ajudá-los. E os professos observadores do sábado, que alegam crer na solene e importante verdade, unem suas forças aos poderes das trevas para perturbar e destruir o que Deus quer edificar. A influência de tais pessoas é registrada como daqueles que retardam o avanço da reforma entre o povo de Deus. T1 271 2 A agitação do assunto da organização revelou grande falta de coragem moral por parte dos pastores que proclamam a verdade presente. Alguns que se convenceram de que a organização era correta, não se têm erguido corajosamente para defendê-la. Permitiram que apenas uns poucos entendessem que eram favoráveis a ela. Seria isso tudo o que Deus exigiu deles? Não; Ele ficou descontente com seu silêncio covarde e falta de ação. Temeram as críticas e a oposição. Observaram os irmãos em geral para ver-lhes as reações, antes de se pronunciarem corajosamente por aquilo que acreditavam ser correto. O povo esperou pela voz de seus pastores favoritos, e como não ouvisse nenhum apoio à organização, achou que ela era errada. T1 271 3 Assim, a influência de alguns dos pastores foi contra a organização, enquanto diziam estar a seu favor. Eles recearam perder sua influência. Mas alguém deve mudar, assumir a responsabilidade e pôr em jogo sua influência. E como a pessoa que fez isso era habituada a censurar e culpar, tem agora que suportar a mesma situação. Seus coobreiros que deveriam colocar-se a seu lado e levar uma parte do fardo, estão olhando para ver como ele se sai ferindo a batalha sozinho. Mas Deus anota sua angústia, lágrimas, desânimo e desespero, quando sua mente é exigida quase além dos limites de resistência. Quando ele está prestes a desfalecer, o Senhor o ergue e lhe indica o repouso do cansado, a recompensa do fiel, e põe-lhe novamente sobre os ombros a pesada carga. Vi que todos serão recompensados de acordo com suas obras. Os que se isentam de responsabilidades sofrerão perda, no final. O tempo de os pastores se unirem é quando a batalha prossegue acirrada. ------------------------Capítulo 58 -- Dever para com os pobres T1 272 1 São com freqüência feitas perguntas com respeito a nosso dever para com os pobres que abraçam a terceira mensagem angélica; e nós mesmos temos por muito tempo estado ansiosos de saber como lidar prudentemente no caso de famílias pobres que abraçam o sábado. A 3 de Agosto de 1861, porém, enquanto nos achávamos em Roosevelt, Nova Iorque, foram-me mostradas algumas coisas com relação aos pobres. T1 272 2 Deus não exige que nossos irmãos tomem a seu cargo toda família pobre que abraça a mensagem. Caso o fizessem, os pastores teriam de deixar de entrar em novos campos, pois os fundos ficariam esgotados. Muitos são pobres devido a sua própria falta de diligência e economia; eles não sabem manejar devidamente os recursos. Se fossem ajudados, isto lhes seria prejudicial. Alguns serão sempre pobres. Caso lhes fossem proporcionadas as melhores vantagens, isto não os ajudaria. Eles não calculam bem, e gastariam todos os meios que pudessem obter, fossem muitos ou poucos. Alguns nada sabem do que seja renúncia e economia para se manterem livres de dívidas, e juntarem um pouco para uma ocasião de necessidade. Se a igreja devesse ajudar tais pessoas em vez de deixá-las contar com os próprios recursos, isto afinal as prejudicaria; pois olham à igreja, e esperam receber auxílio dela, e não exercem abnegação e economia quando estão bem providas. E se não receberem auxílio de cada vez, Satanás as tenta e ficam suspeitosas, e cheias de escrúpulos por seus irmãos, temendo que eles deixem de fazer tudo quanto é seu dever para com elas. O erro está nelas próprias. Acham-se enganadas. Não são os pobres do Senhor. T1 273 1 As instruções dadas na Palavra de Deus quanto a ajudar os pobres, não dizem respeito a esses casos, mas aos infortunados e aflitos. Em Sua providência, Deus tem pessoas aflitas a fim de provar a outros. As viúvas e os inválidos estão na igreja para se demonstrarem uma bênção para ela. Fazem parte dos meios escolhidos por Deus para desenvolver o verdadeiro caráter dos professos seguidores de Cristo, e pôr em exercício os preciosos traços de caráter manifestados por nosso compassivo Redentor. T1 273 2 Muitos que mal podem viver enquanto solteiros, decidem casar-se e constituir família, quando sabem que nada têm com que a sustentar. E pior ainda, não têm governo de família. Todo o seu procedimento na família é assinalado por seus hábitos frouxos, negligentes. Pouco é o domínio que exercem sobre si mesmos, são violentos, impacientes e irritadiços. Quando essas pessoas abraçam a mensagem, sentem-se com direito à assistência de seus irmãos mais abastados; e se sua expectativa não é satisfeita, queixam-se da igreja, e acusam os irmãos de não viverem segundo a fé. Quais devem ser os sofredores nesse caso? Deve a causa de Deus ser saqueada e esgotado o tesouro em muitos lugares, para cuidar dessas grandes famílias pobres? Não. Os pais é que devem sofrer. Em geral eles não sofrerão mais necessidade depois de abraçarem o sábado, do que sofriam antes. T1 274 1 Há entre os pobres um mal que, a menos que o vençam, se demonstrará por certo sua ruína. Eles abraçaram a verdade com seus hábitos vulgares, rudes, não cultivados, e leva tempo até que vejam e compreendam sua vulgaridade, e que ela não está em harmonia com o caráter de Cristo. Olham para outros que são mais bem ordenados e mais polidos, como sendo orgulhosos, e vocês podem ouvi-los dizer: "A verdade nos rebaixa todos ao mesmo nível." É, porém, completo engano pensar que a verdade rebaixa a quem a recebe. Ela o eleva, apura-lhe o gosto, santifica-lhe o discernimento e, caso seja vivida, vai continuamente habilitando-o para a sociedade dos santos anjos na cidade de Deus. A verdade destina-se a elevar-nos todos a um nível. T1 274 2 Os mais capazes devem sempre desempenhar uma nobre e generosa parte em seu trato com os irmãos mais pobres, e dar-lhes também bons conselhos, e deixá-los então combater o combate da vida. Foi-me mostrado, porém, que repousa sobre a igreja um soleníssimo dever de cuidar especialmente das viúvas pobres, dos órfãos e dos inválidos. ------------------------Capítulo 59 -- O poder do exemplo T1 274 3 Na carta de Paulo a Tito, lemos: "Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo Seu, especial, zeloso de boas obras." Tito 2:13, 14. Essa grande obra deve ser feita apenas por aqueles que estão dispostos a ser purificados, a se tornarem peculiares e manifestarem zelo nas boas obras. Quantos evitam esse processo purificador! Não estão dispostos a viverem a verdade e parecerem diferentes aos olhos do mundo. É essa mescla com o mundo que destrói nossa espiritualidade, pureza e zelo. O poder de Satanás é constantemente exercido para entorpecer as sensibilidades do povo de Deus, a fim de que a consciência não seja sensível ao erro, e os sinais distintivos entre eles e o mundo sejam eliminados. T1 275 1 Tenho freqüentemente recebido cartas com perguntas acerca do vestuário, e alguns não têm compreendido corretamente o que escrevo. Uma classe que me tem sido apresentada como imitando as modas do mundo, tem sido muito vagarosa e a última a ser afetada ou reformada. Outra classe a quem falta gosto e ordem no vestir, tem tirado vantagem do que escrevi e ido ao extremo oposto. Considerando-se livres do orgulho, observam aqueles que se trajam com bom gosto e ordem como sendo orgulhosos. A esquisitice e o descuido no vestuário têm sido considerados por alguns especial virtude. Alguns tomam um rumo que lhes destrói a influência para com os descrentes. Desagradam aqueles a quem podiam beneficiar. T1 275 2 Conquanto as visões tenham reprovado o orgulho e a imitação das modas do mundo, também têm censurado aqueles que são descuidosos acerca de sua aparência e faltos de asseio pessoal e no vestuário. Tem-me sido especialmente apresentado que aqueles que professam a verdade presente devem ter particular cuidado em aparecer perante Deus, no sábado, de maneira a demonstrar que respeitamos o Criador, que santificou e honrou de maneira especial esse dia. Todos os que consideram o sábado devem ser limpos, asseados e ordeiros no vestir, pois devem aparecer diante de um Deus zeloso, que Se ofende com a sujeira e a desordem e que assinala cada mostra de desrespeito. Alguns têm achado errado usar qualquer coisa sobre a cabeça senão uma touca para proteger do sol. Esses vão a grandes extremos. Não pode ser classificado como orgulho o uso de uma touca de bom gosto, de palha lisa ou de seda. Nossa fé, se colocada em prática, nos conduzirá a sermos modestos no vestir e zelosos de boas obras, para podermos ser distinguidos como peculiares. Mas quando perdemos o gosto pela ordem e asseio no vestir, virtualmente deixamos a verdade, pois ela nunca degrada, mas eleva. Os descrentes observam os observadores do sábado como desprezíveis, e quando as pessoas são negligentes em seu vestuário, ásperos e rudes em suas maneiras, sua influência fortalece os incrédulos em suas conclusões. T1 276 1 Aqueles que professam ser cristãos em meio aos perigos dos últimos dias, e não imitam o humilde e abnegado Modelo, colocam-se nas fileiras do inimigo. Ele os considera como seus súditos e eles servem a seus propósitos como qualquer um de seus vassalos; porque têm nome de que vivem mas estão mortos. Apocalipse 3:1. Outros os tomam como exemplo e, por segui-los, perdem o Céu, quando, não houvessem eles professado ser cristãos, seu exemplo teria sido evitado. Esses não-consagrados professos estão inconscientes do peso de sua influência. Tornam a luta muito mais severa para aqueles que são o povo exclusivo de Deus. Paulo, faz referência ao povo que está aguardando o aparecimento de Cristo. Ele diz: "Fala disto, e exorta, e repreende com toda a autoridade. Ninguém te despreze." Tito 2:15. T1 276 2 Quando damos um testemunho contra o orgulho e a adoção de modas mundanas, enfrentamos desculpas e auto-justificativas. Alguns insistem no exemplo de outros. Tal irmã usa saias-balão; se é errado para mim usá-las, também o é para ela. Os filhos seguem o exemplo de outras crianças, cujos pais são adventistas. O irmão A é um diácono da igreja. Suas filhas usam saias-balão. Por que não posso usá-las, e elas podem? Aqueles que por seu exemplo fornecem aos não-consagrados, argumentos contra os que querem ser peculiares, estão sendo pedras de tropeço no caminho dos fracos. Esses darão contas a Deus por seu exemplo. Sou freqüentemente interrogada: "O que a senhora pensa sobre as saias-balão?" Respondo que já lhes mostrei a luz que me foi dada a esse respeito. Deus me revelou que as saias-balão são uma vergonha, e que não deveríamos dar a menor aprovação a uma moda levada a tamanho ridículo. T1 277 3 Surpreendo-me ao ouvir que "a irmã White diz que não é errado usar saias-balão pequenas". Ninguém me ouviu dizer isso. Após ter visto o que me foi mostrado a respeito das saias-balão, nada me induziria a dar o mais leve encorajamento a quem quer que seja para usá-las. Saias pesadas e saias-balão são igualmente desnecessárias. Aquele que nos criou nunca pretendeu que fôssemos deformadas pelas saias-balão ou qualquer coisa parecida. Mas o povo de Deus tem por tanto tempo sido conduzido pelas invencionices e modas do mundo, que não está disposto a agir independentemente delas. Quando estudo as Escrituras, fico alarmada por causa do Israel de Deus nestes últimos dias. São exortados a fugir da idolatria. Receio que estejam entorpecidos, e tão conformados com o mundo que seria difícil discernir entre o que serve a Deus e o que O não serve. Está aumentando a distância entre Cristo e Seu povo, e diminuindo entre eles e o mundo. Os sinais distintivos entre o professo povo de Cristo e o mundo quase que desapareceram. Como o Israel de outrora, seguem as abominações das nações que os cercam. T1 277 1 Pelo que me tem sido mostrado, as saias-balão são uma abominação. São indecentes; e o povo de Deus erra quando as aprova e adota, mesmo no mínimo que seja. Aqueles que professam ser o povo peculiar e escolhido de Deus devem excluir as saias-balão, e seu ato deve ser uma viva repreensão aos que as usam. Alguns podem alegar sua utilidade. Eu já viajei muito e vi grande inconveniência ao observar-lhe o uso. Muitos alegam necessidade, sob desculpa de saúde, de usá-las no inverno, quando na verdade há maior dano nelas do que nas saias acolchoadas. Quando viajo em carruagens e trens, tenho freqüentemente sido levada a exclamar: "Ó, modéstia, onde está o teu pudor!" Tenho visto muitas mulheres em vagões lotados. E quando tentam avançar, as saias-balão têm de ser erguidas e posicionadas de uma forma indecente. A exposição das formas é dez vezes maior naquelas que usam saias-balão, do que naquelas que não as usam. Se não fosse pela moda, aquelas que tão imodestamente se expõem não seriam vaiadas. Mas a modéstia e a decência precisam ser sacrificadas à deusa da moda. Que o Senhor livre Seu povo desse repugnante pecado! Deus não terá piedade daqueles que são escravos da moda. Supor, porém, que há uma pequena conveniência no uso de saias-balão, prova que elas devem ser usadas? Mude-se a moda e a conveniência não mais será mencionada. É dever de cada filho de Deus perguntar: "Em que estou me separando do mundo?" Suportemos as pequenas desvantagens e estaremos do lado certo. Que cruzes o povo de Deus carrega? Ele se mistura com o mundo, participa de seu espírito, veste-se, fala e age como ele. T1 278 1 Leia os seguintes versos: "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." 1 Timóteo 2:9, 10. E também: "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus e estavam sujeitas a seu próprio marido." 1 Pedro 3:3-5. T1 278 2 Grande é o poder do exemplo. A irmã A aventura-se a usar pequenas saias-balão. A irmã B pensa: Não é mais prejudicial para mim do que para a irmã A, usar saias-balão. Então ela usa uma saia um pouco maior. A irmã C imita o exemplo das irmãs A e B, e usa saias-balão um pouco maiores do que A e B, mas todas alegam que suas saias-balão são pequenas. T1 278 3 Os pais que pretendem ensinar seus filhos sobre os males de seguir as modas mundanas, têm uma dura batalha pela frente. Eles ouvem: "Por que, mamãe, as irmãs A, B e C usam saias-balão; se isso é errado para mim, também o é para elas." O que podem os pais dizer? Devem dar um exemplo correto aos filhos, e embora o exemplo dos professos seguidores de Cristo levem os filhos a pensar que seus pais são muito cautelosos e severos em suas restrições, todavia Deus abençoará os esforços desses pais conscienciosos. Se os pais não tomarem uma decidida e firme posição, seus filhos serão levados pela corrente, pois Satanás e seus anjos estão agindo sobre a mente deles, e o exemplo de professos não-consagrados torna muito mais trabalhosa a obra de convencê-los. Mas, com fé em Deus e fervorosa oração, os pais crentes devem trilhar a dura senda do dever. O caminho da cruz é para frente, e para o alto. E quando nele avançamos, buscando as coisas que são de cima, devemos deixar mais e mais a distância as coisas que pertencem à Terra. Enquanto o mundo e os professos não-convertidos marcham para baixo e para a morte, aqueles que escalam o monte têm de fazer esforços ou serão lançados abaixo com eles. T1 279 1 Os filhos que pertencem a este mundo são chamados filhos das trevas. Foram cegados pelo deus deste século e são guiados segundo o espírito do príncipe das trevas e não podem apreciar as coisas celestiais. Os filhos da luz têm suas afeições postas nas coisas do alto e deixam para trás as coisas deste mundo. Eles obedecem à ordem: "Saí dos meio deles, apartai-vos." E então a promessa condicional: "... e Eu vos receberei." 2 Coríntios 6:17. Desde o princípio, Cristo escolheu Seu povo do mundo e ordenou-lhe que fossem separados, não tendo nenhuma comunicação "com as obras infrutuosas das trevas". Efésios 5:11. Se amam a Deus e guardam Seus mandamentos, conservar-se-ão distantes das amizades e dos prazeres do mundo. Não há "concórdia entre Cristo e Belial". 2 Coríntios 6:15. T1 279 2 O profeta Esdras e outros fiéis servos da igreja judaica ficaram alarmados quando os príncipes vieram até eles, dizendo: "O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se têm separado dos povos destas terras, seguindo as [suas] abominações" "E, depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, ainda assim Tu, ó nosso Deus, estorvaste que fôssemos destruídos, por causa da nossa iniqüidade, e ainda nos deste livramento como este, tornaremos, pois, agora a violar os Teus mandamentos e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não Te indignarias Tu, assim, contra nós até de todo nos consumires, até que não ficasse resto nem quem escapasse? Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és, pois ficamos escapos, como hoje se vê; eis que estamos diante de Ti no nosso delito, porque ninguém há que possa estar na Tua presença por causa disso." Esdras 9:1, 13-15. T1 280 1 "Também todos os chefes dos sacerdotes e o povo aumentavam de mais em mais as transgressões, segundo todas as abominações dos gentios; e contaminaram a casa do Senhor, que Ele tinha santificado em Jerusalém. E o Senhor, Deus de seus pais, lhes enviou a Sua palavra pelos Seus mensageiros, madrugando e enviando-lhos, porque Se compadeceu do Seu povo e da Sua habitação. Porém zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as palavras, e escarneceram dos Seus profetas, até que o furor do Senhor subiu tanto, contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve. 2 Crônicas 36:14-16. T1 280 2 "Porém, vós guardareis os Meus estatutos, e os Meus juízos, e nenhuma dessas abominações fareis nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós; porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós; e a terra foi contaminada." Levítico 18:26, 27. T1 280 3 "Com deuses estranhos O provocaram a zelos; com abominações O irritaram. Sacrifícios ofereceram aos diabos, não a Deus; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, dos quais não se estremeceram seus pais. Esqueceste da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Deus que te formou. O que vendo o Senhor, os desprezou, provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; e disse: Esconderei o Meu rosto deles, e verei qual será o seu fim; porque são geração de perversidade, filhos em quem não há lealdade. A zelos Me provocaram com aquilo que não é Deus; com as suas vaidades Me provocaram à ira; portanto, Eu os provocarei a zelos com os que não são povo; com louca nação os despertarei à ira. Porque um fogo se acendeu na Minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno, e consumirá a terra com a sua novidade, e abrasará os fundamentos dos montes." Deuteronômio 32:16-22. T1 281 1 Lemos aqui as advertências que Deus deu ao antigo Israel. Não era da vontade divina que eles vagueassem por tanto tempo no deserto. Ele os teria levado rapidamente à terra prometida, houvessem eles se submetido e apreciado serem conduzidos pelo Senhor. Mas, porque muitas vezes O ofenderam no deserto, Ele jurou em Sua ira que eles não entrariam em Seu descanso (Hebreus 3:11), salvo duas pessoas que o seguiram plenamente. Deus requeria que o povo confiasse somente nEle. Ele não tencionava que eles recebessem auxílio de quem não O servia. T1 281 2 Por favor, leia o seguinte: "Ouvindo, pois, os adversários de Judá e Benjamim que os que tornaram do cativeiro edificavam o templo ao Senhor, Deus de Israel, chegaram-se a Zorobabel e aos chefes dos pais e disseram-lhes: Deixai-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a vosso Deus; como também já Lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos mandou vir para aqui. Porém Zorobabel, e Jesua, e os outros chefes dos pais de Israel lhes disseram: Não convém que vós e nós edifiquemos casa a nosso Deus; mas nós, sós, a edificaremos ao Senhor, Deus de Israel, como nos ordenou o rei Ciro, rei da Pérsia. Todavia, o povo da terra debilitava as mãos do povo de Judá e inquietava-os no edificar. E alugaram contra eles conselheiros para frustrarem o seu plano." Esdras 4:1-5. T1 282 1 Leia ainda: "Então, apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para Lhe pedirmos caminho direito para nós, e para nossos filhos, e para toda a nossa fazenda. Porque me envergonhei de pedir ao rei exército e cavaleiros para nos defenderem do inimigo no caminho, porquanto tínhamos falado ao rei, dizendo: A mão do nosso Deus é sobre todos os que O buscam para o bem, mas a Sua força e a Sua ira, sobre todos os que O deixam. Nós, pois, jejuamos e pedimos isso ao nosso Deus, e moveu-Se pelas nossas orações." Esdras 8:21-23. T1 282 2 O profeta e os líderes não viam o povo da terra como adoradores do verdadeiro Deus, e embora esses professassem amizade e desejassem ajudá-los, eles não ousaram unir-se com eles em nada que se referisse à adoração. Quando subiram a Jerusalém, para edificar o templo de Deus e restaurar Seu culto, eles não pediriam ajuda do rei para que os assistisse no caminho, mas com jejum e oração buscaram auxílio do Senhor. Eles criam que Deus defenderia e faria prosperar Seus servos em seus esforços para servi-Lo. O Criador de todas as coisas não necessita de ajuda dos inimigos para estabelecer Seu culto. Ele não pede sacrifícios de impiedade, nem aceita ofertas daqueles que têm outros deuses diante dEle. T1 282 3 Muitas vezes ouvimos a observação: "Vocês são muito exclusivistas." Como um povo, deveríamos fazer qualquer sacrifício para salvar as pessoas ou conduzi-las à verdade. Mas, não ousamos nos unir a elas, amar as coisas que elas amam e ter amizade com o mundo, pois estaríamos em inimizade contra Deus. T1 282 4 Pela leitura dos seguintes textos, veremos como Deus considerava o antigo Israel: T1 282 5 "Porque o Senhor escolheu para Si a Jacó e a Israel, para Seu tesouro peculiar." Salmos 135:4. T1 282 6 "Porque és povo santo ao Senhor, teu Deus, e o Senhor te escolheu de todos os povos que há sobre a face da Terra, para Lhe seres o Seu povo próprio." Deuteronômio 14:2. T1 283 1 "Porque povo santo és ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há. O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos." Deuteronômio 7:6, 7. T1 283 2 "Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos Teus olhos, eu e o Teu povo? Acaso, não é por andares Tu conosco, e separados seremos, eu e o Teu povo, de todo o povo que há sobre a face da Terra?" Êxodo 33:16. T1 283 3 Com que freqüência o antigo Israel se rebelava, e quão repetidamente eram eles visitados com juízos, e milhares morriam porque não atendiam às ordens do Deus que os havia escolhido! O Israel de Deus, nestes últimos dias, está em constante perigo de misturar-se com o mundo e perder todos os indícios de povo escolhido de Deus. Leia novamente. Tito 2:13-15. Fomos chamados para estes últimos dias, quando Deus está purificando para Si um povo peculiar. Provocá-Lo-emos como fez o antigo Israel? Atrairemos Sua ira sobre nós por abandoná-Lo e nos misturarmos com o mundo, seguindo as abominações das nações ao nosso redor? O Senhor escolheu para Si aquele que é piedoso; essa consagração a Deus e a separação do mundo é clara e positivamente ordenada em ambos os Testamentos. Há um muro de separação que o Senhor mesmo estabeleceu entre as coisas do mundo e as coisas que Ele escolheu do mundo e santificou para Si. A vocação e o caráter dos povo de Deus são peculiares, suas perspectivas são peculiares, e essas peculiaridades os distinguem de todos os outros povos. Todo o povo de Deus na Terra é um corpo, desde o princípio até o fim do tempo. Ele tem uma Cabeça que dirige e governa o corpo. A mesma imposição feita ao antigo Israel, pesa agora sobre o povo de Deus -- serem separados do mundo. O grande Líder da igreja não mudou. A experiência dos cristãos nestes dias é muito semelhante às viagens do antigo Israel. Por favor leia I Coríntios 10, especialmente os versos 6 até 15: T1 284 1 "E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. ... E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo." 1 Coríntios 10:6-15. T1 284 2 "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus. Por essa razão o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele mesmo." 1 João 3:1. T1 284 3 "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." 1 João 2:15-17. T1 284 4 "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro." 2 Pedro 2:20. T1 285 1 "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. T1 285 2 "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. T1 285 3 "Ensinando-nos que renunciando a impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século, sóbria, justa e piamente." Tito 2:12. T1 285 4 "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. T1 285 5 "Dei-lhes a Tua Palavra, e o mundo os odiou porque não são do mundo assim como Eu não Sou do mundo." "Não peço que os tires do mundo, mas, que os livres do mal." "Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade." João 17:14, 15, 17. T1 285 6 "Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mal, por causa do Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai, porque é grande o vosso galardão no Céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas." Lucas 6:22, 23. T1 285 7 "Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece." João 15:16-19. T1 285 8 "Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo. Do mundo são; por isso, falam do mundo, e o mundo os ouve." 1 João 4:4, 5. T1 286 1 "Mas qualquer que guarda a Sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nEle. Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:5, 6. T1 286 2 "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. T1 286 3 Quando lemos a Palavra de Deus, quão claro está que Seu povo deve ser peculiar e distinto do mundo incrédulo que o cerca. Nossa posição é interessante e temível. Vivendo nos últimos dias, quão importante é que imitemos o exemplo de Cristo, e andemos como Ele andou. "Se alguém quer vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. As opiniões e sabedoria dos homens não nos devem guiar ou governar. Elas sempre nos afastam da cruz. Os servos de Cristo não devem ter seu lar nem tesouros aqui. Que todos pudessem compreender que é apenas por que o Senhor reina, que nos é permitido habitar em paz e segurança entre nossos inimigos. Não é privilégio nosso reivindicar favores especiais do mundo. Devemos consentir em sermos pobres e desprezados entre os homens, até que o conflito termine e obtenhamos a vitória. Os membros do corpo de Cristo são chamados para saírem, separarem-se das amizades e espírito do mundo; sua força e poder consistem em serem escolhidos e aceitos por Deus. T1 286 4 O Filho de Deus é o herdeiro de todas as coisas, e o domínio e a glória dos reinos deste mundo Lhe foram prometidos. Quando, porém, Ele veio a este mundo, chegou sem riquezas ou esplendor. O mundo não compreendeu Sua união com o Pai; a excelência e glória de Seu divino caráter estavam ocultos deles. Ele foi, portanto, desprezado e rejeitado pelos homens e "nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido". Isaías 53:4. O que Cristo foi neste mundo, assim devem ser os Seus seguidores. Eles são os filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo; e o reino e o domínio lhes pertencem. O mundo não compreende seu caráter e santa vocação; eles não percebem sua adoção na família de Deus. Sua união e amizade com o Pai e o Filho não é manifesta, e enquanto o mundo contempla sua humilhação e vergonha, não se manifesta o que eles são, ou serão. São estrangeiros. O mundo não os conhece, nem aprecia seus motivos. T1 287 1 O mundo está maduro para sua destruição. Deus não tolerará os pecadores por muito mais tempo. Eles devem beber até os resíduos da taça de Sua ira, não misturada com misericórdia. Os que haverão de ser "herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo" (Romanos 8:17) na herança imortal, serão peculiares. Sim, tão peculiares que Deus porá uma marca sobre eles como Seus, totalmente Seus. Vocês pensam que Deus receberá, honrará e reconhecerá um povo tão misturado com o mundo que apenas difere dele no nome? Leia novamente Tito 2:13-15. Logo será conhecido quem está ao lado do Senhor e quem não se envergonhará de Jesus. Aqueles que não têm coragem moral para conscienciosamente assumir sua posição diante dos incrédulos, deixando as modas do mundo e imitando a abnegada vida de Cristo, envergonham-se dEle e não apreciam Seu exemplo. ------------------------Capítulo 60 -- Consagração T1 287 2 O povo de Deus será testado e provado. Uma íntima e minuciosa obra precisa ser efetuada entre os observadores do sábado. Como o antigo Israel, quão rapidamente nos esquecemos de Deus e de Suas maravilhosas obras, e nos rebelamos contra Ele. Alguns olham para o mundo, e desejam seguir-lhe as modas, e participar de seus prazeres, assim como os filhos de Israel olhavam para o Egito e cobiçavam as boas coisas que haviam desfrutado lá, as quais Deus achou por bem recusar-lhes para prová-los e assim testar-lhes a fidelidade. Ele desejava ver se Seu povo valorizaria Seu culto, e a liberdade que tão miraculosamente lhes dera, muito mais preciosa do que os privilégios que usufruíram no Egito, enquanto em servidão a um povo tirânico e idólatra. T1 288 1 Todos os verdadeiros seguidores de Jesus terão sacrifícios a fazer. Deus os provará, e testará a genuinidade de sua fé. Foi-me revelado que os verdadeiros seguidores de Jesus rejeitarão piqueniques, doações,* shows e outras reuniões de prazer. Eles não podem encontrar Jesus nesses lugares e nenhuma influência que os atraia para as coisas celestiais e aumente seu crescimento na graça. A Palavra de Deus, se obedecida, faz-nos sair de todas essas coisas e separar-nos. As coisas do mundo são procuradas e consideradas dignas de ser admiradas e desfrutadas por todos aqueles que não são devotados amantes da cruz e adoradores do Cristo crucificado. T1 288 2 Há palha entre nós; eis por que somos tão fracos. Alguns estão constantemente inclinando-se ao mundo. Suas perspectivas e sentimentos se harmonizam mais com o espírito do mundo do que com o dos abnegados seguidores de Cristo. É-lhes perfeitamente natural preferir a companhia daqueles cujo espírito mais se harmoniza com o seu. E esses tais têm exercido tremenda influência sobre o povo de Deus. Participam com eles, são mencionados entre eles, e também são assunto na boca dos incrédulos e dos fracos e não-consagrados da igreja. Essas pessoas de espírito dobre sempre farão objeções aos testemunhos apropriados e diretos que reprovam erros individuais. Neste tempo de purificação, essas pessoas ou serão completamente convertidas e santificadas pela obediência à verdade ou ficarão com o mundo ao qual pertencem, para receberem a recompensa juntamente com ele. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16, 20. Todos os seguidores de Cristo darão frutos para Sua glória. Sua vida testifica que boa obra foi efetuada pelo Espírito de Deus, e seu fruto é para santidade. Sua vida é elevada e pura. Os que não produzem fruto, não têm experiência nas coisas de Deus. Não estão ligados à Videira. Leia: "Estai em Mim, e Eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em Mim, e Eu nele, este dá muito fruto, porque sem Mim nada podereis fazer." João 15:4, 5. T1 289 1 Se desejarmos ser adoradores espirituais de Jesus Cristo, precisamos sacrificar cada ídolo, e obedecer integralmente aos primeiros quatro mandamentos. "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento." Mateus 22:37, 38. Os primeiros quatro mandamentos não nos permitem separar as afeições de Deus. Nada que afaste ou divida nosso supremo deleite nEle. O que quer que afaste nossas afeições e elimine da mente o supremo amor por Deus, assume a forma de um ídolo. Nosso coração carnal apega-se aos nossos ídolos e busca levá-los junto, mas não poderemos avançar até que nos descartemos deles, pois eles nos separam de Deus. O grande Líder da igreja escolheu do mundo Seu povo, e exige que sejam separados. É Seu desígnio que o espírito de Seus mandamentos os atraia para Si, e os separe do mundo. Amar a Deus e guardar os Seus mandamentos é afastar-se do amor aos prazeres e amizade do mundo. Não há "concórdia... entre Cristo e Belial". 2 Coríntios 6:15. O povo de Deus pode confiar seguramente nEle, e sem temor trilhar o caminho da obediência. ------------------------Capítulo 61 -- "Filosofias e vãs sutilezas" T1 290 1 Foi-me mostrado que temos de ser guardados de todos os lados e perseverantemente resistir às insinuações e astúcias de Satanás. Ele se "transfigura em anjo de luz" (2 Coríntios 11:14) e está enganando milhares, levando-os cativos. A vantagem que ele aproveita da ciência da mente humana é tremenda. Aqui, qual serpente, ele imperceptivelmente se introduz para corromper a obra de Deus. Os milagres e obras de Cristo ele quer fazer aparecer como resultado da habilidade e poder humanos. Se fizesse um aberto e ousado ataque ao cristianismo, isto poria os cristãos em apuros e angústia aos pés de seu Redentor, e o forte e poderoso libertador poria em fuga o ousado adversário. Ele, portanto, transforma-se em anjo de luz e atua sobre a mente, para afastar do único caminho seguro e justo. As ciências da frenologia, psicologia e mesmerismo são os condutos pelos quais ele chega mais diretamente a esta geração e atua com esse poder que deve caracterizar seus esforços próximo do fim do tempo de graça. T1 290 2 Leia: "E, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:8-12. T1 290 3 Satanás tem passado despercebido através dessas ciências e envenenado a mente de milhares, conduzindo-os à infidelidade. Ele fica satisfeito com a difusão dessas ciências. É um plano que ele mesmo ideou, porque através delas pode ganhar acesso à mente e influenciá-la como bem lhe apraz. Enquanto se acredita que a mente de um pode influenciar tão maravilhosamente a de outro, Satanás prontamente se insinua e atua de todas as maneiras. E enquanto aqueles que se dedicam a essas ciências, enaltecendo-as até os céus por causa das grandes e boas obras que se afirma realizar através delas, eles estão acariciando e glorificando ao próprio Satanás, que atua "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça". 2 Tessalonicenses 2:9, 10. Disse o anjo: "Assinale sua influência. O conflito entre Cristo e Satanás ainda não terminou." A penetração de Satanás por meio dessas ciências, é toda orientada por sua satânica majestade, e destruirá na mente de milhares a verdadeira fé em Cristo como o Messias, o Filho de Deus. T1 291 1 Minha atenção foi dirigida ao poder de Deus manifestado através de Moisés, quando o Senhor o enviou perante Faraó. Satanás compreendia o trabalho de Moisés e ficou de sobreaviso. Ele sabia que Moisés era o escolhido de Deus para romper o jugo de escravidão dos filhos de Israel, e que nessa missão ele prefigurava o primeiro advento de Cristo para subverter o poder de Satanás sobre a família humana e libertar aqueles que estavam cativos de seu poder. Satanás sabia que quando Cristo aparecesse, efetuaria poderosas obras e milagres, e que o mundo saberia que o Pai O enviara. Ele tremeu por causa de Seu poder. Consultou seus anjos sobre como realizar a obra que deve atender a um duplo propósito: 1. Anular a influência da obra executada por Deus através de Seu servo Moisés, agindo através de seus representantes e assim contrafazer a verdadeira obra de Deus; 2. Exercer uma influência através dos magos que ultrapassasse todas as eras e destruísse na mente de muitos a verdadeira fé nos poderosos milagres e obras feitas por Cristo, quando Ele viesse a este mundo. Ele sabia que seu reino sofreria, pois o poder que exerce sobre a humanidade seria sujeito a Cristo. Não foi por meio de influência ou poder humanos de Moisés que se produziram os milagres realizados diante de Faraó. Foi o poder de Deus. Aqueles sinais e maravilhas foram feitos através de Moisés, para convencer a Faraó que o grande "Eu Sou" (Êxodo 3:14) o enviara para ordenar que o rei do Egito deixasse Israel ir para poder servi-Lo. T1 292 1 Faraó chamou os magos da corte para efetuarem seus encantamentos. Eles também fizeram sinais e maravilhas, pois Satanás veio-lhes em auxílio e agiu por meio deles. Entretanto, mesmo assim a ação de Deus se mostrou superior ao poder de Satanás, pois os magos não puderam realizar todos os milagres que Deus efetuara mediante Moisés. Apenas lhes foi possível produzir uns poucos deles. As varas dos magos transformaram-se em serpentes*, mas a de Arão tragou-as todas. Após os magos tentarem produzir piolhos e não conseguirem, foram compelidos pelo poder de Deus a reconhecer diante de Faraó dizendo: "Isto é o dedo de Deus." Êxodo 8:19. Satanás agiu através dos magos de maneira calculada a endurecer o coração do tirânico Faraó contra as miraculosas manifestações do poder divino. Satanás pensava em abalar a fé de Moisés e Arão na origem divina de sua missão, fazendo com que seus agentes, os magos, prevalecessem. Ele não queria que o povo de Israel fosse libertado da servidão egípcia e servisse a Deus. Os magos fracassaram em produzir piolhos e não mais puderam imitar a Moisés e Arão. Deus não permitiria que Satanás fosse mais além, e os magos não puderam livrar-se das pragas. "De maneira que os magos não podiam parar diante de Moisés, por causa da sarna; porque havia sarna nos magos e em todos os egípcios." Êxodo 9:11. T1 292 2 O controlador poder de Deus eliminou o meio através do qual Satanás atuava, e ocasionou que os próprios a quem Satanás tinha usado tão maravilhosamente sentissem Sua ira. Foram dadas evidências suficientes para que Faraó cresse, se assim o desejasse. Moisés agiu pelo poder de Deus. Os magos atuaram não somente por sua ciência, mas pelo poder de seu deus, o diabo, que engenhosamente levava avante seu enganoso trabalho de contrafazer a obra de Deus. T1 293 1 Quanto mais nos aproximamos do fim dos tempos, mais a mente humana será afetada pelos enganos de Satanás. Ele conduz os enganados mortais a considerarem a obra e os milagres de Cristo sob princípios gerais. Satanás sempre tem ambicionado contrafazer a obra de Cristo, e estabelecer seu poder e direitos. Geralmente ele não faz isso de modo aberto, ousado. É artificioso e sabe que o modo mais eficaz de fazer seu trabalho é ir ao pobre e decaído homem em forma de um anjo de luz. Ele foi a Cristo no deserto com a forma de um belo jovem, mais semelhante a um rei do que a um anjo caído, com as Escrituras em seus lábios. Disse ele: "Está escrito!" Mateus 4:4. Nosso sofrido Salvador enfrentou-o com as Escrituras, dizendo: "Está escrito!" Satanás tentou obter vantagem da sofrida e debilitada condição de Cristo, que havia tomado sobre Si a natureza humana. T1 293 2 Continuem lendo: "Novamente, O transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse-Lhe: Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares. Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás. Então, o diabo O deixou; e, eis que chegaram os anjos e O serviram." Mateus 4:8-11. T1 293 3 Aqui Satanás mostrou o mundo a Cristo sob a mais atrativa luz e disse-Lhe que Ele não necessitava suportar tanto sofrimento para conquistar os reinos da Terra. Satanás cederia todos os seus direitos se Cristo apenas o adorasse. A insatisfação de Satanás começou no Céu, porque ele não podia ser o primeiro e o mais exaltado no comando, igual a Deus, colocado acima de Cristo. Daí rebelou-se e perdeu sua posição. Ele e seus simpatizantes foram lançados fora do Céu. No deserto esperou ele obter vantagem da sofrida e debilitada condição de Cristo, e conseguir a homenagem que não lograra no Céu. Mas Jesus, mesmo sob desfalecente e debilitada condição, não cederia à tentação de Satanás nem por um só momento, mas mostrar-lhe-ia Sua superioridade e exerceria autoridade para ordenar a Satanás: "Vai-te, Satanás!" (Mateus 4:10) -- ou, afasta-te, de Mim. Satanás ficou frustrado. Então ele estudou como poderia alcançar seus objetivos e receber da humanidade a honra que lhe fora recusada no Céu, e por Jesus na Terra. Fosse ele bem-sucedido em tentar a Cristo, o plano da salvação teria fracassado e o maligno alcançaria sucesso em trazer sobre a humanidade a miséria e a desesperança. Mas onde ele fracassou ao tentar a Cristo, tem bom êxito com o homem. T1 294 1 Se Satanás pudesse confundir e enganar os homens e levá-los a pensar que há um inerente poder em si mesmos para realizar grandes e boas obras, deixariam de confiar em Deus para fazer aquilo que eles imaginavam poder fazer por si mesmos. Não reconhecem um poder superior. Não dão a Deus a glória que Ele reivindica e que Lhe é devida por Sua exaltada e excelente majestade. O inimigo alcança assim seus objetivos e exulta que homens decaídos presunçosamente exaltem a si mesmos, assim como ele se exaltou no Céu e foi expulso de lá. Ele sabe que se o homem gloriar-se de si mesmo, sua ruína é tão certa quanto a dele. T1 294 2 Satanás fracassou em suas tentações a Cristo no deserto. O plano da salvação foi cumprido. Um preço infinito foi pago pela redenção do homem. Agora Satanás busca desarraigar o fundamento da esperança cristã e atrair a mente dos homens para um rumo onde eles não possam ser beneficiados ou salvos pelo grande sacrifício oferecido. Ele conduz os homens caídos através de "todo engano da injustiça" (2 Tessalonicenses 2:10), levando-os a crer que podem salvar-se sem a expiação; que eles não precisam depender de um Salvador crucificado e ressurreto; que os próprios méritos humanos os recomendará ao favor de Deus. E então ele destrói a confiança do homem na Bíblia, sabendo que, se tiver êxito nisso, e conseguir destruir a fé no instrumento que revela o seu caráter, estará seguro. Ele coloca na mente humana o engano de que não há um demônio pessoal, e os que crêem nisso não fazem nenhum esforço para resistir e lutar contra o que eles sabem não existir. Assim, pobres e cegos mortais finalmente adotam a máxima: "O que quer que seja, é certo." Eles não reconhecem nenhuma regra para medir sua conduta. T1 295 1 Satanás leva muitos a crer que orar a Deus é inútil; apenas uma formalidade. Ele bem sabe quão necessárias são a meditação e a oração para manter os seguidores de Cristo prontos a resistir às suas artimanhas e enganos. Por seus artifícios procura desviar a mente desses importantes exercícios espirituais, para que a pessoa não se apóie no Todo-poderoso e obtenha força para resistir a seus ataques. Foram-me mostradas as fervorosas e eficazes orações do antigo povo de Deus. "Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós" (Tiago 5:17), e orou fervorosamente. Daniel orava a Deus três vezes por dia. Satanás fica enfurecido ao som de uma fervente oração, pois ele sabe que sofrerá danos. Daniel foi exaltado acima dos "príncipes e presidentes, porque nele havia um espírito excelente". Daniel 6:3. Os anjos caídos temiam que sua influência debilitasse o controle que exerciam sobre os dirigentes do reino, pois Daniel pertencia ao alto comando. A multidão acusadora de anjos maus instigou os presidentes e príncipes a sentir ciúmes e inveja de Daniel, e passaram a observá-lo de perto a ver se encontravam alguma oportunidade de denunciá-lo ao rei. Mas, fracassaram. Então esses agentes de Satanás procuraram fazer de sua fé em Deus um motivo para destruí-lo. Anjos maus inventaram um plano para eles, e esses agentes prontamente o levaram a efeito. T1 295 2 O rei não estava sabendo da sutil artimanha preparada contra Daniel. Tendo pleno conhecimento do decreto real, Daniel ainda se ajoelhou diante de Deus, com as "janelas abertas". Daniel 6:10. Ele considerava a súplica a Deus de tão grande importância que preferiria sacrificar a vida do que abandoná-la. Por causa de suas orações a Deus, foi lançado na cova dos leões. Os anjos maus haviam conseguido seus objetivos. Mas Daniel continua a orar, mesmo na cova dos leões. Estava ele com medo de ser devorado? Se esquecera dele o Senhor? Oh, não! Jesus, o poderoso Comandante dos exércitos celestiais, enviou Seu anjo para fechar a boca daqueles famintos leões, para que não fizessem dano àquele homem de oração. Tudo agora era paz naquela terrível cova. O rei testemunhou a preservação de Daniel e o cumulou de honras. Satanás e seus anjos foram derrotados e ficaram enraivecidos. Os agentes que ele havia empregado foram sentenciados à morte da mesma horrível maneira pela qual intentavam destruir Daniel. T1 296 1 A oração da fé é a grande força do cristão, e com toda a certeza prevalecerá contra Satanás. Por isso é que ele insinua que não temos necessidade de orar. O nome de Jesus, nosso Advogado, ele detesta; e quando sinceramente vamos ter com Ele em busca de auxílio, os exércitos de Satanás se alarmam. O negligenciarmos o exercício da oração serve bem ao seu propósito, pois então seus prodígios de mentira são acolhidos mais depressa. Aquilo que ele deixou de conseguir ao tentar a Cristo, ele consegue pondo diante dos homens suas enganosas tentações. Às vezes ele vem na forma de um amável jovem ou sob bela aparência. Realiza curas e é adorado pelos enganados mortais como um benfeitor da humanidade. Frenologia e mesmerismo são por demais exaltados. Eles são bons em seu devido lugar, mas Satanás deles se utiliza como os mais poderosos instrumentos para enganar e destruir seres humanos. Suas artimanhas e enganos são recebidos como provenientes do Céu, e a fé na Revelação, a Bíblia, é destruída na mente de milhares. Satanás recebe a adoração dos homens que seguem sua satânica majestade. Milhares estão conversando com ele e recebendo as instruções desse deus demoníaco, e agindo de acordo com suas instruções. O mundo, que se julga muito beneficiado pela frenologia e o magnetismo animal, nunca foi tão corrompido. Satanás usa essas coisas para destruir a virtude e lançar os fundamentos do espiritualismo. T1 297 1 Minha atenção foi dirigida a este texto, como se aplicando especialmente ao espiritualismo moderno: "Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo." Colossences 2:8. Milhares, foi-me mostrado, têm-se arruinado mediante a filosofia da frenologia e do magnetismo animal, sendo impelidos à infidelidade. Caso a mente comece a soltar-se neste sentido, é quase certo ela perder o seu equilíbrio e ser controlada por um demônio. "Vãs sutilezas" enchem a mente dos pobres mortais. Pensam que há em si mesmos tal poder para realizarem grandes obras, que não sentem nenhuma necessidade de um poder superior. Seus princípios e sua fé são "segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo". Colossences 2:8. Jesus não lhes ensinou tal filosofia. Coisa alguma dessa espécie se pode encontrar em Seus ensinos. Ele não encaminhou a mente dos pobres mortais para si mesmos, a um poder possuído por eles próprios. Estava sempre a dirigir-lhes o espírito para Deus, o Criador do Universo, como fonte de sua força e sabedoria. Especial advertência é feita no versículo 18: "Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão." Colossences 2:18. T1 297 2 Os mestres do espiritualismo aproximam-se de maneira agradável e fascinante para os iludirem, e caso lhes dêem ouvidos às fábulas, vocês serão seduzidos pelo inimigo da justiça, e perderão por certo sua recompensa. Uma vez que a fascinadora influência do arquienganador chegue a vencê-los, vocês estão envenenados, e sua mortífera influência adultera e destrói a sua fé em Cristo como o Filho de Deus, e vocês deixam de confiar nos méritos de Seu sangue. Os que são enganados por esta filosofia, são iludidos quanto a sua recompensa, por meio dos enganos de Satanás. Confiam nos próprios méritos, exercem voluntária humildade, estão mesmo dispostos a fazer sacrifícios e rebaixam-se, e subordinam a mente à crença do supremo absurdo, recebendo as mais absurdas idéias por intermédio daqueles que acreditam ser seus queridos mortos. De tal forma lhes cegou Satanás os olhos e lhes perverteu o discernimento, que não percebem o mal; e seguem as instruções supondo serem de seus amados mortos, agora feitos anjos em uma esfera superior. T1 298 1 Satanás escolheu uma ilusão que é seguramente muito fascinante, ilusão talhada para apoderar-se da simpatia dos que depositaram no sepulcro entes queridos. Anjos maus tomam a forma dessas pessoas queridas, relatam incidentes relacionados com sua vida, fazem coisas que seus amigos costumavam fazer quando vivos. Por esta maneira, enganam e levam os parentes do falecido a crer que seus queridos mortos são anjos que estão ao seu redor, e com eles se comunicam. Estes são por eles considerados com certa idolatria, e o que eles disserem tem sobre eles maior influência do que a Palavra de Deus. Estes anjos maus que se fazem passar por amigos mortos, ou rejeitam inteiramente a Palavra de Deus como contos ociosos, ou, se lhes convém mais aos desígnios, procuram os pontos vitais que testificam de Cristo e apontam o caminho para o Céu, e mudam as positivas declarações da Palavra de Deus a fim de se ajustarem a sua própria natureza corrupta e arruinarem os seres humanos. Com a devida atenção para com a Palavra de Deus, todos se podem convencer, se quiserem, desta ilusão destruidora do ser. A Palavra de Deus declara em termos positivos que "os mortos não sabem coisa nenhuma". "Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tão pouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol." Eclesiastes 9:5, 6. T1 299 2 Iludidos mortais adoram os anjos maus, acreditando que eles são os espíritos de seus queridos mortos. A Palavra de Deus declara expressamente que os mortos não têm mais parte em coisa alguma do que se faz debaixo do Sol. Os espiritualistas dizem que os mortos sabem tudo que se faz debaixo do Sol; que eles se comunicam com seus amigos na Terra, dão valiosas informações, e realizam maravilhas. "Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio." Salmos 115:17. Transformado em anjo de luz, Satanás atua com todo o engano da injustiça. Aquele que pôde tomar o Filho de Deus -- feito um pouco menor do que os anjos -- e colocá-Lo no pináculo do templo, e levá-Lo a uma elevadíssima montanha para apresentar diante dEle os reinos deste mundo, é capaz de exercer seu poder sobre a família humana, grandemente inferior ao Filho de Deus em força e sabedoria, mesmo depois de Se haver Ele revestido da natureza do homem. T1 299 1 Nesta época degenerada, Satanás mantém controle sobre os que se afastam do direito e se arriscam em seu território. Sobre esses ele exerce seu domínio de maneira alarmante. Foi-me chamada a atenção para estas palavras: "Metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão." Colossences 2:18. Alguns, foi me mostrado, satisfazem sua curiosidade, e metem-se com o diabo. Não têm realmente fé no espiritualismo, e recuariam horrorizados à idéia de serem médiuns. Aventuram-se, todavia, e colocam-se em posição em que Satanás pode exercer poder sobre eles. Estes não pretendem aprofundar-se nessa obra; mas não sabem o que estão fazendo. Estão-se aventurando no terreno do diabo, e tentam-no a controlá-los. Esse poderoso destruidor os considera sua legítima presa, e sobre eles exerce domínio, e isto contra a vontade deles. Quando se querem governar, não podem. Subordinam a mente a Satanás, e ele não cede seus direitos, mas mantém-nos cativos. Coisa alguma pode libertar o coração enredado, senão o poder de Deus, em resposta às fervorosas orações de Seus fiéis seguidores. T1 300 1 A única segurança agora, é procurar como a tesouro escondido a verdade, tal como se acha revelada na Palavra de Deus. Os assuntos do sábado, da natureza do homem, e do testemunho de Jesus, eis as grandes e importantes verdades a serem compreendidas; estas se demonstrarão qual âncora para firmar o povo de Deus nestes tempos perigosos. A massa da humanidade, porém, despreza as verdades da Palavra de Deus, e prefere as fábulas. "Porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira." 2 Tessalonicenses 2:10, 11. T1 300 2 Os mais licenciosos e corruptos são altamente lisonjeados por esses espíritos satânicos, que eles crêem ser o espírito de seus queridos mortos, e estão vaidosamente inchados em sua compreensão carnal. "E não ligado à Cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus" (Colossences 2:19), eles negam Aquele que ministra força ao corpo, para que todo membro vá crescer com o aumento concedido por Deus. T1 300 3 Vã filosofia. Os membros do corpo são regidos pela cabeça. Os espiritualistas põem de lado a Cabeça, e crêem que todos os membros do corpo devem agir por si mesmos, e que leis fixas os levarão a um estado progressivo de perfeição sem uma cabeça. "Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o lavrador. Toda a vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto." "Estai em Mim, e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem." João 15:1, 2, 4-6. T1 301 1 Cristo é a fonte de nossa força. Ele é a videira, nós as varas. Devemos receber nutrição da Videira viva. Desprovidos da força e nutrição dessa Videira, somos como membros do corpo sem a cabeça, e encontramo-nos justamente na posição em que Satanás nos deseja ver, a fim de poder controlar-nos segundo lhe aprouver. Ele atua "com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira". 2 Tessalonicenses 2:10, 11. O espiritualismo é uma mentira. Baseia-se na grande mentira original: "Certamente não morrereis." Gênesis 3:4. Milhares de pessoas separam-se da Cabeça, e o resultado é que os membros agem sem a Cabeça, Jesus, e outro lhes dirige o corpo. São controlados por Satanás. T1 301 2 Foi-me mostrado que Satanás não pode controlar a mente, a menos que ela seja submetida a sua orientação. Os que se afastam do direito acham-se agora em sério risco. Separam-se de Deus e do vigilante cuidado de Seus anjos, e Satanás, sempre alerta para destruir vidas, começa a apresentar-lhes seus enganos. Essas pessoas estão em extremo perigo; e se elas vêem isto e procuram resistir aos poderes das trevas e libertar-se dos laços do inimigo, não é coisa fácil consegui-lo. Aventuraram-se a entrar no terreno de Satanás, e ele as reivindica. Não hesitará em empenhar todas as suas energias, e chama em seu auxílio todos os seus exércitos malignos a fim de arrebatar um único ser humano que seja, das mãos de Cristo. Os que têm tentado o diabo a tentá-los, terão de fazer desesperados esforços para se libertarem de seu poder. Quando, porém, começam a trabalhar por si mesmos, então os anjos de Deus, a quem eles ofenderam, virão em seu socorro. Satanás e seus anjos não querem perder a presa. Contendem e batalham com os santos anjos, e feroz é a luta. Mas, se os que erraram continuam a suplicar e, em profunda humildade, confessam seus erros, anjos magníficos em poder prevalecerão e os arrebatarão do poder dos anjos maus. T1 302 1 Ao ser erguida a cortina, e ser-me mostrada a corrupção desta época, meu coração se abateu, meu espírito quase desfaleceu dentro de mim. Vi que os habitantes da Terra estavam enchendo a medida da taça da iniqüidade. A ira de Deus está acesa, e não mais se acalmará até que os pecadores sejam destruídos da Terra. Satanás é o inimigo pessoal de Cristo. É o originador e líder de todas as espécies de rebelião no Céu e na Terra. Sua ira aumenta; não lhe avaliamos o poder. Caso nos fossem abertos os olhos para ver os anjos maus em atuação junto dos que se sentem à vontade e se consideram seguros, não nos sentiríamos tão em segurança. Os anjos maus estão em nosso encalço a cada momento. Da parte dos homens ímpios esperamos prontidão para agir segundo as sugestões de Satanás; mas, quando temos o espírito desapercebido contra seus invisíveis agentes, eles ocupam novo território, e realizam maravilhas e milagres a nossa vista. Estamos nós preparados para resistir-lhes pela Palavra de Deus, a única arma com que podemos ser bem-sucedidos? T1 302 2 Alguns serão tentados a aceitar essas maravilhas como sendo de Deus. Enfermos serão curados à nossa vista. Milagres se efetuarão aos nossos olhos. Estamos nós apercebidos para a prova que nos aguarda quando as mentirosas maravilhas de Satanás forem mais amplamente exibidas? Não serão muitas pessoas enredadas e arrebatadas? Separando-se dos positivos preceitos e mandamentos de Deus, e dando ouvido às fábulas, o espírito de muitos se está preparando para receber esses prodígios de mentira. Cumpre buscarmos todos armar-nos para o combate em que nos havemos de em breve empenhar. A fé na Palavra de Deus, o estudo apoiado pela oração e posto em prática, será nossa proteção contra o poder de Satanás, levando-nos à vitória pelo sangue de Cristo. ------------------------Capítulo 62 -- A religião na família T1 303 2 Foi-me mostrada a posição elevada e de responsabilidade que o povo de Deus deve ocupar. Eles são o sal da Terra e a luz do mundo, e devem andar assim como Cristo andou. Hão de passar por grande tribulação. O presente é um tempo de luta e prova. Diz nosso Salvador: "Ao quem vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu trono; assim como Eu venci, e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:21. A recompensa não é dada a todos quantos professam ser seguidores de Cristo, mas aos que vencerem assim como Ele venceu. Devemos estudar a vida de Cristo, e aprender o que seja confessá-Lo diante do mundo. T1 303 3 Se devemos confessar a Cristo, precisamos tê-Lo para confessar. Ninguém pode confessar verdadeiramente a Cristo a menos que nele estejam a mente e o espírito de Cristo. Se uma forma de piedade ou certo conhecimento da verdade fossem sempre confessar a Cristo, poderíamos dizer: Largo é o caminho que conduz à vida, e muitos há que o encontram. Precisamos compreender o que seja confessar a Cristo, e em que O negamos. É possível confessar a Cristo com os lábios, todavia negá-Lo com as obras. Os frutos do Espírito manifestados na vida, são uma confissão dEle. Se abandonamos tudo por Cristo, nossa vida será humilde, nossa conversação de caráter celeste, irrepreensível nossa conduta. A poderosa e purificadora influência da verdade no coração, e o caráter de Cristo exemplificado na vida, são uma confissão de nossa fé nEle. Se as palavras da vida eterna se acham semeadas em nosso coração, os frutos são justiça e paz. Podemos negar a Cristo em nossa vida pela condescendência com o comodismo e o amor-próprio, por gracejos e zombarias, e por buscar as honras mundanas. Podemos negá-Lo por nossa aparência exterior, pela conformidade com o mundo, por um ar orgulhoso ou vestes custosas. Unicamente por meio de constante vigilância e perseverante e quase contínua oração, poderemos manifestar em nossa vida o caráter de Cristo ou a santificadora influência da verdade. Muitos afugentam a Cristo de sua família por meio de um espírito impaciente e apaixonado. Estes têm alguma coisa a vencer nesse sentido. T1 304 1 Foi-me apresentada a condição de fraqueza atual da família humana. Cada geração se tem vindo enfraquecendo mais, e a humanidade é afligida por toda forma de enfermidade. Milhares de pobres mortais de corpo deformado, doentio, nervos em frangalhos e mente sombria, vão arrastando uma existência miserável. Cresce o poder de Satanás sobre a família humana. Não viesse em breve o Senhor e destruísse o seu poder, e não tardaria que a Terra estivesse despovoada. T1 304 2 Foi-me mostrado que o poder de Satanás é exercitado especialmente sobre o povo de Deus. Foram-me apresentados muitos em uma condição duvidosa, desesperadora. As enfermidades do corpo afetam a mente. Nossos passos são seguidos por um inimigo astuto e poderoso, o qual emprega sua força e habilidade em procurar desviar-nos do caminho reto. E demasiadas vezes acontece que o povo de Deus não está em guarda, ignorando-lhe portanto os ardis. Ele atua por meios que melhor o ocultem à vista, conseguindo muitas vezes seu objetivo. T1 304 3 Irmãos têm empregado recursos em direitos de patentes* e outros empreendimentos, e têm induzido a se interessarem outras pessoas que não podiam resistir à perplexidade e ao cuidado de tais negócios. Sua mente ansiosa, sobrecarregada, afetou seriamente o corpo, já combalido, e elas se entregaram ao desânimo, chegando ao desespero. Perdem toda a confiança em si mesmas, e pensam que Deus as desamparou, não ousando crer que lhes faça misericórdia. Estes pobres seres serão abandonados ao domínio de Satanás. Encontrarão caminho para sair das trevas, e novamente firmarão a trêmula fé nas promessas de Deus; Ele as livrará, e transformará a dor e o pranto em paz e alegria. Essas pessoas, porém, foi-me mostrado precisam aprender pelo que sofrem, a deixar em paz os direitos de patentes e essas várias empresas. Não devem permitir tampouco que seus irmãos com lisonjas as atraiam para tais empreendimentos; pois o que antecipam não se realizará, e depois serão lançadas no campo de batalha do inimigo, desarmadas para a luta. Os meios que devem ser postos no tesouro de Deus para levar avante Sua causa, são mais que perdidos ao serem empregados em alguns desses empreendimentos modernos. Se pessoas que professam a verdade se sentem livres para se empenharem nesses direitos de patente e nessas invenções, e capazes de fazê-lo, não devem andar pelo meio de seus irmãos, deles fazendo seu campo de atuação, antes procurem os incrédulos. Que o seu nome e sua profissão de fé adventista não seduzam os irmãos que desejam consagrar a Deus os recursos de que dispõem. Vão de preferência ao mundo, e que empregue seus meios aquela classe que não se importa com o avanço da causa do Senhor. T1 305 1 Foi-me mostrada a necessidade de abrir as portas de nossa casa e coração ao Senhor. Quando começarmos a trabalhar fervorosamente por nós mesmos e nossa família, então teremos auxílio de Deus. Foi-me mostrado que simplesmente observar o sábado e orar pela manhã e à noite, não são positivas provas de sermos cristãos. Estas formas exteriores podem ser todas estritamente observadas, e ainda faltar a verdadeira piedade. "O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras." Tito 2:14. Todos os que professam ser seguidores de Cristo, devem dominar o próprio espírito, não se permitindo falar impaciente, irritadamente. O marido e pai deve conter aquela palavra impaciente que está prestes a deixar escapar; ponderar o efeito de suas palavras, para que não deixem tristeza e mancha. T1 306 1 As enfermidades e doenças afetam especialmente as mulheres. A felicidade da família depende muito da esposa e mãe. Se ela é fraca e nervosa, e é deixada com sobrecarga de trabalho, a mente fica deprimida, pois sofre com a fadiga do corpo; e depois ela encontra muito freqüentemente a fria reserva do marido. Se tudo não corre tão bem como ele possa desejar, censura a esposa e mãe. Vive quase alheio a seus cuidados e cargas, e nem sempre sabe como simpatizar com ela. Não compreende que está cooperando com o grande inimigo em seu trabalho de destruir. Pela fé em Deus ele deve erguer um estandarte contra Satanás; mas parece cego aos próprios interesses e aos da esposa. Trata-a com indiferença. Ele não sabe o que está fazendo. Está trabalhando exatamente contra a própria felicidade, e destruindo a felicidade de sua família. A esposa fica desalentada e abatida. Desaparecem a esperança e satisfação. Ela prossegue maquinalmente em sua rotina diária, porque vê que o trabalho precisa ser feito. Sua falta de alegria e bom ânimo faz-se sentir no círculo da família. Há muitas dessas míseras famílias nas fileiras dos observadores do sábado. Os anjos levam ao Céu a vergonhosa notícia, e o anjo relator faz o registro de tudo isso. T1 306 2 O marido deve manifestar grande interesse em sua família. Em especial, deve ser muito delicado para com os sentimentos de uma esposa débil. Ele pode cerrar a porta a muita doença. Palavras bondosas, alegres, animadoras, demonstrar-se-ão mais eficazes do que os melhores remédios. Elas darão ânimo ao coração do desalentado e abatido, e a felicidade e a luz solar introduzidas na família por meio de atos de bondade e de palavras animadoras, recompensarão multiplicadamente o esforço feito. O marido deve lembrar que muito da responsabilidade de educar as crianças recai sobre a mãe; que ela tem muito que ver com o moldar-lhes o espírito. Isto deve chamar à atividade da parte dele os mais delicados sentimentos, fazendo-o aliviar cuidadosamente os fardos a sua esposa. Ele deve animá-la a descansar em sua ampla afeição, e encaminhar-lhe a mente ao Céu, onde há força e paz, e um repouso final para o cansado. Não deve voltar para casa com o semblante carregado, mas trazer com sua presença luz solar à família, e estimular a esposa a olhar para cima e confiar em Deus. Podem, unidos, rogar as promessas divinas, e atrair sobre a família Suas ricas bênçãos. As descortesias, queixas e zangas, excluem Jesus da habitação. Vi que os anjos de Deus fugirão de uma casa onde há palavras desagradáveis, irritação e contenda. T1 307 1 Foi-me mostrado também que muitas vezes há grande falta da parte da esposa. Ela não exerce grandes esforços para reger o próprio espírito e tornar o lar feliz. Há muitas vezes, de sua parte, irritação e desnecessárias queixas. O marido chega em casa, do trabalho, fatigado e perplexo, e encontra um rosto carrancudo em lugar de palavras alegres e animadoras. Ele é apenas humano, e seu afeto retrai-se da esposa; perde o amor do lar, sua estrada fica obscurecida e destruído seu ânimo. Perde o respeito de si mesmo e aquela dignidade que Deus dele requer. "O marido é a cabeça" da família, "como também Cristo é a cabeça da igreja" (Efésios 5:23); e qualquer conduta seguida pela esposa no sentido de diminuir-lhe a influência e fazê-lo descer daquela posição de dignidade e responsabilidade, é desagradável a Deus. É dever da esposa ceder seus desejos e sua vontade ao marido. Ambos devem estar dispostos a ceder, mas a Palavra de Deus dá preferência ao juízo do esposo. E não desmerecerá a dignidade da mulher ceder àquele a quem ela escolheu como seu conselheiro e protetor. O marido deve manter sua posição na família com toda a mansidão, todavia com decisão. Algumas mulheres têm perguntado: Devo eu estar em guarda e sentir continuamente uma restrição sobre mim? Foi-me mostrado que temos diante de nós uma grande obra quanto a esquadrinhar o próprio coração e vigiar-nos com cioso cuidado. Cumpre-nos saber onde faltamos, e então guardar-nos naquele ponto. Precisamos ter perfeito domínio sobre nosso espírito. "Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo." Tiago 3:2. A luz que incide sobre nosso caminho, a verdade que se recomenda à nossa consciência, condenará e destruirá a vida, ou santificá-la-á e transformá-la-á. Vivemos demasiado perto do fim do tempo da graça, para nos satisfazermos com uma obra superficial. A mesma graça que até aqui temos considerado suficiente, não nos susterá agora. Nossa fé deve crescer, e temos de tornar-nos mais semelhantes a Cristo na conduta e na disposição, a fim de suportar, e resistir com êxito às tentações de Satanás. A graça de Deus é suficiente para todo seguidor de Cristo. T1 308 1 Sinceros e perseverantes devem ser nossos esforços para resistir aos ataques de Satanás. Ele emprega sua força e habilidade em buscar desviar-nos do caminho reto. Observa nossa saída e nossa entrada, a fim de achar oportunidade de ferir-nos ou levar-nos à destruição. Trabalha mais eficazmente nas trevas, prejudicando os que são ignorantes de seus ardis. Não teria êxito caso seus métodos de ataque fossem bem compreendidos. Os instrumentos empregados por ele para efetuar seus desígnios e disparar seus dardos inflamados, são muitas vezes os membros de nossa própria família. T1 308 2 Os que amamos falarão ou agirão talvez inadvertidamente, o que nos poderá ferir muito fundo. Não era sua intenção fazer isto, mas Satanás amplia-lhes as palavras e atos, disparando assim um dardo de sua aljava para ferir-nos. Retesamo-nos para resistir àquele que julgamos nos ter ofendido e, assim fazendo, estimulamos as tentações do inimigo. Em vez de orar a Deus pedindo força para resistir a Satanás, permitimos que nossa felicidade seja prejudicada com o tentar colocar-nos na defesa do que chamamos "nossos direitos". Concedemos assim dupla vantagem ao adversário. Agimos em harmonia com nossos sentimentos ofendidos, e Satanás serve-se de nós como instrumentos para ferir e afligir aqueles que não nos pretendiam ofender. As exigências do marido podem às vezes parecer irrazoáveis à esposa quando, se ela calma e candidamente considerasse melhor o assunto, no melhor aspecto possível para ele, veria que ceder a própria vontade, e submeter-se ao juízo dele, mesmo que isto esteja em oposição aos seus sentimentos, poupá-los-ia ambos a desgostos, e lhes traria grande vitória sobre as tentações de Satanás. T1 309 1 Vi que o inimigo contenderá, ou pela utilidade ou pela vida dos piedosos, e procurará perturbar-lhes a paz enquanto viverem neste mundo. Seu poder, porém, é limitado. Talvez ele faça com que o forno seja aquecido, mas Jesus e os anjos protegerão o cristão confiante, para que nada seja consumido senão a escória. O fogo aceso por Satanás não pode ter poder para destruir ou prejudicar o metal verdadeiro. É importante cerrar todas as portas possíveis contra a entrada de Satanás. É o privilégio de toda família viver de tal maneira que Satanás não se aproveite de coisa alguma que façam ou digam para destruir um ao outro. Todo membro da família deve ter em mente que todos têm de fazer tanto quanto lhes for possível para resistir a nosso astuto inimigo, e com fervente oração e inabalável fé, cada um deve apoiar-se nos méritos do sangue de Cristo, e reivindicar-Lhe o poder salvador. T1 309 2 Os poderes das trevas se adensam em torno da mente e excluem Jesus ao nosso olhar, e por vezes só nos é possível, em espanto e aflição, esperar até que as nuvens passem. São terríveis, por vezes, esses períodos. Parece falhar a esperança, e de nós se apoderar o desespero. Nessas horas tremendas, precisamos aprender a confiar, a depender unicamente dos méritos da expiação, e em toda a nossa impotente indignidade, lançar-nos sobre os méritos do Salvador crucificado e ressurgido. Nunca pereceremos enquanto assim fizermos -- nunca! Quando resplandece a luz em nosso caminho, não é grande coisa ser forte no poder da graça. Mas esperar pacientemente com esperança quando nos achamos rodeados de nuvens, e tudo parece escuro, requer fé e submissão que fazem com que nossa vontade seja absorvida pela vontade de Deus. Ficamos muito facilmente desanimados, e clamamos ansiosamente para que seja removida de nós a provação, quando devemos é pedir paciência para resistir e graça para vencer. T1 310 1 "Sem fé é impossível agradar" a Deus. Hebreus 11:6. Podemos ter a salvação de Deus em nossa família, mas devemos crer neste sentido, viver neste sentido e ter constante, inabalável fé e confiança em Deus. Cumpre submetermos um temperamento impulsivo, e dominar nossas palavras; e a esse respeito conseguiremos grandes vitórias. A menos que controlemos nossas palavras e nosso temperamento, somos escravos de Satanás. Achamo-nos sujeitos a ele. Ele nos leva cativos. Todas as palavras de contestação, palavras desagradáveis, impacientes, irritadas, são uma oferta feita a sua satânica majestade. E é uma dispendiosa oferta, mais dispendiosa do que qualquer sacrifício que possamos fazer a Deus; pois ela destrói a paz e a felicidade de famílias inteiras, destrói a saúde, e finalmente é a causa de perder-se uma vida eterna de felicidade. A restrição que a Palavra de Deus nos impõe, é para nosso próprio bem. Essa restrição aumenta a felicidade de nossa família e de todos os que nos rodeiam. Apura-nos o gosto, santifica-nos o discernimento e traz paz de espírito e, no fim, a vida eterna. Sob essa santa restrição, cresceremos em graça e humildade, e tornar-se-á mais fácil falar retamente. O temperamento natural, apaixonado, será mantido em sujeição. A presença constante do Salvador em nosso íntimo nos fortalecerá a cada hora. Anjos ministradores demorar-se-ão em nossa morada, e levarão alegremente para o Céu as novas de nosso progresso na vida divina, e o anjo relator fará um registro animador e feliz. ------------------------Capítulo 63 -- Ciúmes e críticas T1 311 1 Irmão G: T1 311 2 Em _____ você me fez algumas perguntas sobre as quais pensei muito. Da conversa que tive com o irmão, fiquei convencida de que você não compreende a parte que deve desempenhar na causa de Deus, nem o prejuízo que lhe causou. Aquilo que foi me mostrado recentemente com relação ao irmão surgiu de modo muito vívido perante mim, e procurei compará-lo com o que me havia sido mostrado no Testemunho n 6, e não posso ver a menor desculpa para sua conduta. Antes de você participar do movimento fanático em Wisconsin, e exercer sua influência sobre ele, você não era reto para com Deus. T1 311 3 Irmão G, se você tivesse seguido honestamente a luz, nunca teria se comportado como o fez. Você tem obstinada e tenazmente seguido a própria conduta, e confiou em seu julgamento, recusando-se a ser orientado. O Senhor enviou-lhe auxílio, mas você se recusou a aceitá-lo. O que mais o Céu poderia ter feito por você? Quando pensou que outros eram mais benquistos que você, sentiu-se insatisfeito e irritado, e tornou-se distante e mal-humorado como uma criança mimada. Desejou ser altamente estimado, mas tomou atitudes que o levaram a decair na consideração daqueles por cuja aprovação ansiava. T1 311 4 Antes de seu procedimento fanático, você teve ciúmes daqueles que estavam em Battle Creek, e fez alusões que levantaram suspeitas. Teve ciúmes de meu marido e de mim, e fez errôneas suposições. Inveja e suspeita atuaram juntas. Sob aparência de honradez, o irmão sugeriu dúvidas com respeito às ações dos que estão arcando com a responsabilidade do trabalho em Battle Creek, e insinuou dúvidas com relação a assuntos dos quais era completamente ignorante e, portanto, incapaz de julgar retamente. O peso dos assuntos não foi posto sobre você. Foi-me mostrado que Deus jamais escolheria uma pessoa com mente como a sua, dando-lhe responsabilidades pesadas e chamando-a para ocupar posições de maior responsabilidade; pois seu auto-conceito seria tão grande, que seria desastroso para ela como para o povo de Deus. Se você se tivesse estimado em menos, não teria tanto ciúme e suspeita. T1 312 1 Irmão G, se você houvesse estado plenamente unido à igreja e em simpatia com aqueles a quem Deus julgou capazes de estar à testa da obra; houvesse aceito os dons que o Senhor concedeu à igreja e a eles se submetido; houvesse se estabelecido em todos os pontos da verdade presente, e estreitado laços com os experientes irmãos da obra, você e os seus ficariam seguros e livres desse engano. Teria uma âncora que o firmaria. Mas o irmão assumiu uma posição indefinida, temendo satisfazer os propósitos daqueles cujo coração se achava posto na obra e causa de Deus. O Senhor requer que você permaneça firme e decidido na plataforma com seus irmãos. Deus e os santos anjos ficaram descontentes com sua conduta, e não mais tolerariam sua loucura. Você foi deixado a seguir o próprio juízo, o qual tinha em tão alta estima, até que permitisse ser ensinado sem sentimentos de ciúmes, obstinação, sem murmurações e censuras a outros, e aprender desses que sentiram a responsabilidade e o peso da causa de Deus. Você adotou uma posição original ao buscar conduzir-se independentemente da organização, onde seria aprovado e enaltecido. Vi, então, que Deus permitiu você manifestar e seguir aquela sabedoria que julgava superior a dos outros, e foi assim deixado ao sabor de seu cego juízo para tomar parte no mais irrazoável, tolo, e desenfreado fanatismo que já amaldiçoou Wisconsin. T1 312 2 Ainda me foi mostrado que você não percebeu a influência de sua conduta passada sobre a causa, e sua presente posição e dever com respeito a esse fanatismo. Em vez de trabalhar com todas as forças para libertar-se e frustrar a influência que você anteriormente exerceu, desculpou-se e censurou aqueles que lhe foram enviados por Deus; foi pronto a sugerir e mesmo ordenar um plano mediante o qual o Senhor poderia interromper sua conduta através de Seus servos, de maneira diversa daquela que procuravam. Seu julgamento foi pervertido pelo poder de Satanás, e enquanto envolvido pelas trevas, foi incompetente para avaliar o melhor procedimento a ser adotado com relação a você. Se o irmão soubesse que conduta os servos de Deus estavam adotando para ajudá-lo, entenderia o suficiente para sair da situação por si mesmo. Deus lhe deu a oportunidade de escolher, de ser ensinado e instruído por Seus servos ou ir em frente, mantendo seu comportamento voluntarioso e mergulhando em desconcertante fanatismo. T1 313 1 O irmão escolheu seu caminho, e agora deve apenas culpar-se a si mesmo. Você professa ser um vigia sobre os muros de Sião, um pastor do rebanho, contudo, viu a pobre ovelha ferida e desgarrada e não deu nenhuma advertência. "Filho do homem, Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da Minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da Minha parte. Quando Eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não o avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei. Mas, se avisares o ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu caminho ímpio, ele morrerá na sua maldade, mas tu livraste a tua alma." "Mas, avisando tu o justo, para que o justo não peque, e ele não pecar, certamente viverá, porque foi avisado; e tu livraste a tua alma." Ezequiel 3:17-19, 21. T1 313 2 O pecado dos que se tornaram fanáticos no Wisconsin, repousa mais pesadamente sobre você, irmão G, do que sobre qualquer outro. Você foi um vigia infiel. Não discerniu o mal porque você era desleal. Deus enviou Seus fiéis vigias, os quais permaneceram na luz e discerniram o mal a fim de adverti-lo e ao rebanho erradio. Se você tivesse ouvido a advertência, uma grande quantidade de mal teria sido evitada. Sua influência teria sido mantida. Você teria de estar fora do caminho para que o testemunho dos servos de Deus pudesse atingir o descuidado rebanho. Os errantes não ouviriam a voz de Deus através de Seus servos escolhidos. Eles endureceram o espírito contra a advertência dos vigias que lhes foram enviados e se fortaleceram no rumo desarrazoado e enganoso. O pastor não quis ouvir; ficou ofendido porque o fanatismo foi tratado tão decididamente. Não percebeu o perigo; não viu nenhuma urgência no assunto. Ele teve luz suficiente para decidir, mas era muito voluntarioso e muito suspeitoso dos servos de Deus para submeter-se ao seu testemunho. T1 314 1 O irmão G quis esperar até que o fanatismo evoluísse, do jeito que Satanás desejava, e mostrasse seus terríveis resultados. Não havia manifestações razoáveis, sensatas para caracterizar aquele trabalho como sendo de Deus. Os servos do Senhor desincumbiram-se de sua missão, livrando suas vestes do sangue das pessoas e mantiveram-se limpos da perniciosa influência, enquanto você suporta o terrível peso do pecado desse deplorável fanatismo. Você o lamentou profundamente, todavia não percebe os próprios erros com relação a ele. Você censura e culpa a fraca e errante ovelha por desgarrar-se. Para que serve um vigia, a menos que detecte o mal e dê a advertência? Para que serve um pastor senão para vigiar sobre cada perigo que ameaça a ovelha de ferir-se e ser destruída por lobos? Que desculpa o pastor apresentaria para o desvio do rebanho de suas verdadeiras pastagens, e pelas ovelhas feridas, dispersas e devoradas pelos lobos? Como seria aceita a desculpa de um pastor, de que as ovelhas o fizeram desviar-se? Elas deixaram o verdadeiro pasto e o conduziram para fora do caminho? Tal argumento seria contado negativamente contra a capacidade de vigilância daquele pastor. Ele não seria mais confiável como um fiel pastor que cuida de ovelhas e as traz de volta quando se desviam do reto caminho. T1 315 1 O descrédito que a obra sofreu por causa da irmã A, também repousa pesadamente sobre o irmão. Você repetiu muitas das ações e experiências dela. Ela era fraca, contudo podia, em certa medida, ocupar seu lugar na família e manter unidos os filhos; mas, por um breve tempo, esteve distante de sua casa, antes de sofrer a perda da razão. O estado de apostasia dos professos observadores do sábado em _____, levou-o a influenciar a irmã A a deixar a família que necessitava de seus cuidados e ir para _____ a fim de prestar auxílio aos observadores do sábado de lá. Um doentio incitamento marcou sua conduta. Alguns indivíduos inexperientes foram enganados. A mente fraca da irmã A ficou sobrecarregada e a doença tomou conta do cérebro. A causa de Deus foi profundamente afetada e desonrada por causa disso. O irmão A foi prejudicado e deve agora sofrer vívida angústia e ver seus filhos serem dispersos. Aqueles cuja influência conduziu a essas tristes conseqüências têm um dever a cumprir em aliviar o irmão A e, por um reconhecimento pleno e fiel da pecaminosidade da conduta seguida e dos danos causados, tentar corrigir o mal tanto quanto possível. T1 315 2 Houvesse você atendido ao conselho de Deus, reconhecendo os dons do Seu Espírito como ocupando seu devido lugar na igreja; houvesse, em ligação e princípio com a Review, estabelecido sobre as sólidas verdades aplicáveis a este tempo; houvesse alimentado o povo de Deus no devido tempo, sua influência em _____ e arredores teria sido muito diferente. Você teria um testemunho direto a dar, em harmonia com aqueles que estão à testa dessa grande obra. Erros individuais teriam sido reprovados. Um trabalho fiel teria sido feito com os observadores do sábado naquele lugar, e eles não teriam ficado atrás de outras igrejas. Mas eles têm quase tudo a aprender. Você deveria ter dado um testemunho direto, impressionando-os com a necessidade de sacrifício e de fazerem sua parte em encarar as responsabilidades da causa. Você deveria tê-los esclarecido sobre a doação sistemática, levando-os a tomarem parte no avanço da causa da verdade. Sua posição duvidosa e o abandono de certos assuntos em _____ teve uma péssima influência ali. A oposição que você experimentou e sobre a qual falou abertamente com relação à organização e o progresso do povo de Deus, deu frutos que podem ser vistos em muitos lugares do Norte do Wisconsin. T1 316 1 Se você tivesse sido um obreiro ativo e íntegro, alerta às oportunidades da providência de Deus, o fruto agora manifesto seria de caráter inteiramente diverso. As pessoas se decidiriam a favor ou contra os mandamentos de Deus e outras verdades relacionadas à mensagem do terceiro anjo. Elas não estariam esperando nas fronteiras de Sião pesando aqueles que estivessem certos. Mas você não demonstrou fidelidade. Não fez um trabalho direto e completo. Não estimulou na igreja, através de uma direta aplicação da verdade, a necessidade de cada um pôr em prática harmoniosamente de acordo com sua profissão de fé. Muitos não estão dispostos a fazer algo para a divulgação da verdade, enquanto apenas apreciam ouvi-la. Eles amam a causa por palavra e profissão, mas não "por obra e em verdade". 1 João 3:18. T1 316 2 Sua posição levou muitos em _____ e arredores, a pensar depreciativamente com respeito à Review, mais do que o teriam feito de outro modo, e eles pouco apreciaram as verdades nela encontradas. A Review não pôde assim exercer influência sobre eles como o Senhor pretendia. E cada qual seguia o próprio caminho, e "fazia o que parecia direito aos seus olhos" (Juízes 17:6); conseqüentemente todos se distanciaram do conhecimento, e a menos que seja realizada uma obra completa de sua parte, serão pesados "na balança" e achados "em falta". Daniel 5:27. T1 317 1 Revelou-se-me que você busca lançar o resultado de seus erros sobre outros, mas como um vigia Deus o considera responsável. Você precisa fazer as mais humildes confissões em _____, _____, _____, e outros lugares onde sua influência se mostrou em oposição à dos servos de Deus. O irmão e a irmã B foram grandemente prejudicados por este fanatismo. Eles foram prejudicados tanto material como espiritualmente, e quase arruinados por este engano satânico. Irmão G, você foi muito longe na prática desse deplorável fanatismo; seu corpo, bem como a mente foram afetados, e agora você busca lançar a culpa sobre os outros. O irmão não tem consciência exata de sua posição e conduta passadas. Você se sente livre para expor aquilo que outros fizeram e aquilo que você não fez; porém, tem deixado de confessar o que fez. T1 317 2 Sua influência em _____ foi prejudicial. O irmão opôs-se à organização e pregou contra ela de um modo impreciso, não tão ousadamente como alguns poderiam ter feito, mas até onde se atreveu a ir. Desse modo você muitas vezes satisfez seus sentimentos invejosos e criou desconfiança e incerteza na mente de muitos, quando, caso houvesse se apresentado abertamente, teria sido bem compreendido e causaria apenas pequeno dano. Quando assaltado por sentimentos contrários à fé da igreja, não os percebeu, mas mistificou sua posição e fez parecer que seus irmãos o compreendiam mal, quando na verdade sabia o tempo todo que a acusação era legítima. Do jeito que se encontra agora, a igreja não pode depender de você. Quando manifestar os frutos de uma reforma total e der evidência de que está convertido, superando seus ciúmes, Deus então confiará Seu rebanho aos cuidados do irmão. Mas até que proceda a uma completa restituição, exerceria melhor influência estando em casa e não sendo vagaroso "no cuidado". Romanos 12:11. T1 317 3 Por seu posicionamento descomprometido e conduta fanática, você causou mais mal à causa de Deus no Wisconsin do que o bem realizado durante toda a sua vida. Nossa fé tem sido odiosa aos descrentes. Uma ferida, uma incurável ferida foi produzida na causa de Deus, todavia muitos, inclusive o irmão, parecem espantados de que tanto tenha sido falado e feito acerca desse fanatismo. Uma maligna semente cria raízes, cresce e dá frutos em abundante colheita. O mal floresce sem necessitar de cultivo, enquanto que a boa semente precisa ser regada, cuidadosamente cuidada e continuamente nutrida, ou a preciosa planta morrerá. Satanás, anjos maus e os ímpios estão tentando arrancá-la e destruí-la, e se requer grande vigilância e o mais constante cuidado o mantê-la viva e florescente. Já a semente do mal não pode ser facilmente extirpada. Ela se espalha e se desenvolve em todas as direções para aniquilar a preciosa semente, e se deixada a progredir, crescerá forte e impedirá que os raios do sol cheguem à boa planta, debilitando-a e matando-a. T1 318 1 Conhecemos os efeitos de sua influência em _____. A divisão existente não teria ocorrido se você procedesse corretamente e recebesse a palavra do Senhor através de Seus servos. Mas o irmão não o fez. Os servos de Deus tiveram de lidar de maneira franca com sua conduta errônea. Se tivessem se colocado em terreno firme e sido muito mais severos ao tratar da conduta do irmão, Deus os teria aprovado. Teria sido melhor se você tivesse estado ausente de _____, pois cada vez que os servos de Deus combatiam o fanatismo, o irmão G era reprovado, e você se retraía sentindo-se ofendido, desprezado, etc. Você prosseguiu em sua cega ação entre as diferentes famílias em _____, buscando simpatia e criando sentimentos antagônicos contra os irmãos C, D e E. Você se sentiu ofendido e menosprezado. Falou e agiu precipitadamente, criando assim ciúmes e desconfiança em muitos com respeito aos servos de Deus, a quem Ele lhe enviou especialmente. Suas atitudes destruíram a força do seu testemunho em algumas mentes; outros, porém, ficaram gratos pela luz. A armadilha de Satanás foi desarmada e eles escaparam. Outros se mostraram inflexíveis e se decidiram contra o testemunho dado, provocando divisão na igreja. Você tem a responsabilidade de tudo isso. Tivemos que trabalhar pela igreja em _____, com angústia de espírito para desfazer a influência negativa e impressões que o irmão produziu. Você tem um trabalho a fazer ali. T1 319 1 Vi que alguns se tornaram muito zelosos por você, achando que não foi tratado com justiça por seus irmãos do ministério. Esses deveriam manter-se de lado e ser honestos em confessar seus erros, deixando que você assuma a culpa das próprias faltas. Deus deseja que elas permaneçam até você removê-las por meio de arrependimento e confissão sincera. Esses que têm manifestado simpatia desvirtuada por você não podem ajudá-lo. Que eles manifestem zelo, arrependendo-se das próprias apostasias e deixando-o estar em pé por si mesmo. Você saiu completamente fora do caminho, e a menos que faça uma obra completa, confesse seus pecados sem censurar seus irmãos, e esteja disposto a ser instruído, não poderá ter nenhuma parte com o povo de Deus. T1 319 2 Você se tem mantido à distância daqueles sobre quem Deus pôs o pesado fardo de Sua obra. Enquanto meu marido assumia as responsabilidades do trabalho de três homens, você o magoou com observações e insinuações, e ainda influenciou outros a pôr mais fardos sobre os ombros dele. Você precisa compreender isso. Você não teve nenhum fardo especial sobre si, mas teve tempo para a reflexão e o estudo, o descanso e o sono, enquanto meu marido foi obrigado a trabalhar dia após dia, e freqüentemente à noite. Algumas vezes, quando ele se deitava para descansar, não podia dormir, mas só chorava e suspirava pela causa da verdade, e pela injustiça de seus irmãos para com ele, cuja vida e interesses foram todos dedicados à causa. T1 320 1 Ele tinha a seu cargo os cuidados e responsabilidades administrativas do escritório, do periódico e muita preocupação com as igrejas em vários Estados. Além disso, alguns de seus irmãos de ministério contribuíram para causar-lhe perplexidade e aflição por sua conduta insensata. Você e alguns outros têm considerado o irmão White como alguém de caráter empresarial, sem muito sentido religioso. Vocês não o conhecem. Satanás enganou a muitos com respeito a ele. Deus achou por bem encarregá-lo de Seu trabalho, e o escolheu para iniciar diferentes empreendimentos. Ele escolheu alguém que é sensível e pode simpatizar com o desafortunado; que é consciencioso e, contudo, independente; que não passará por alto o pecado, mas será pronto em ver e sentir o erro, reprovando-o e não lhe dando lugar, mesmo que tenha que permanecer sozinho em conseqüência de sua postura. Eis por que ele sofre tão profundamente. Seus irmãos geralmente não sabem nada sobre suas preocupações e alguns nem se importam com isso, mas por seu comportamento imprudente e desonesto, acrescentam-lhe cuidados e perplexidades. O Céu registra essas coisas. Homens que não têm nenhum fardo ou responsabilidade sobre si, que podem desfrutar horas de lazer sem nada em particular para fazer, que podem refletir, estudar e aprimorar a mente, são capazes de demonstrar grande moderação. Eles nada vêem que os constranja a manifestar especial zelo, e estão prontos a gastar horas em conversa particular. Alguns consideram tais pessoas como os melhores e mais santos homens sobre a Terra. Mas "o Senhor não vê como vê o homem, ... o Senhor olha para o coração". 1 Samuel 16:7. Os que assumem essa fácil postura, serão recompensados "segundo as suas obras". Mateus 16:27. T1 320 2 A posição ocupada por meu marido não é nada invejável. Requer a mais estrita atenção, cuidados e esforço mental. Exige são discernimento e sabedoria, abnegação, total dedicação e uma firme determinação de levar a termo os assuntos. Para essa importante posição, Deus terá um homem que se arrisque, se firme pelo direito, quaisquer que sejam as conseqüências; que enfrente obstáculos e não vacile, embora sua vida esteja em jogo. T1 321 1 O peso e a responsabilidade dessa obra demandam grande cuidado, causam noites de insônia e exigem sincera, fervente e angustiante oração a Deus. O Senhor tem levado meu marido a assumir uma posição de responsabilidade após outra. A censura por parte dos irmãos oprime-lhe o coração com angústia, contudo, ele não deve vacilar no trabalho. Companheiros de trabalho que têm "aparência de piedade" (2 Timóteo 3:5) opõem-se a todo avanço que Deus o estimula a fazer, e seu precioso tempo deve ser ocupado em viajar de um lugar para o outro, trabalhando sob angústia mental entre as igrejas para desfazer o que esses professos irmãos têm feito. Pobres mortais! Eles confundem as coisas; não têm verdadeiro senso do que é ser cristão. Os que foram impelidos a dar um claro e direto testemunho no temor de Deus para reprovar o erro, para trabalhar com todas as suas forças para edificar o povo de Deus, e estabelecê-lo em pontos importantes da verdade presente, têm muito freqüentemente recebido censuras em lugar de simpatia e auxílio, enquanto os que, como você, assumiram uma posição neutra, são considerados dedicados e possuidores de um espírito moderado. Deus não os considera assim. O precursor do primeiro advento de Cristo era um homem de fala franca. Ele reprovava o pecado e chamava as coisas pelo devido nome. Ele pôs o machado à raiz da árvore. Dirigiu-se a uma classe de professos convertidos que vinham até ele, no Jordão, para serem batizados, dizendo: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. ... E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo." Lucas 3:7-9. T1 321 2 Neste tempo terrível, justamente antes de Cristo vir pela segunda vez, os fiéis pregadores de Deus terão de dar um testemunho mais direto que o de João Batista. Um trabalho de alta responsabilidade acha-se diante deles, e aqueles que falam palavras suaves, Deus não reconhecerá como Seus pastores. Um terrível ai repousa sobre eles. T1 322 1 Esse estranho fanatismo no Wisconsin desenvolveu-se sobre uma falsa teoria de santidade advogada pelo irmão K, uma santidade não dependente da mensagem do terceiro anjo, e à margem da verdade presente. A irmã G ouviu dele essa falsa teoria, aceitando-a e zelosamente ensinando a outros. Isso quase destruiu seu amor pelas importantes verdades sagradas para este tempo, as quais, se ela as tivesse amado e obedecido, ter-lhe-iam provido uma âncora para firmá-la sobre o verdadeiro fundamento. Ela, porém, com muitos outros, fez dessa teoria de santidade ou consagração a coisa mais importante e as relevantes verdades da Palavra de Deus lhe foram de pequena importância, "se tão-somente o coração fosse reto". E as pobres pessoas foram deixadas sem uma âncora, para serem levadas a esmo por sentimentos, e Satanás veio, controlou mentes e produziu impressões e sentimentos que lhe fossem convenientes. Foram menosprezados a razão e o discernimento, e a causa de Deus cruelmente difamada. T1 322 2 O fanatismo no qual se envolveu deve levar você e outros a examinarem antes de decidir com respeito a essa aparência de consagração. Aparência não é evidência segura do caráter cristão. Você e outros estão temerosos de receberem um pouco mais de censura do que deviam, e observam diligentemente os aparentes erros e falhas nos outros, ou sua negligência, e se sentem ofendidos. Você também é muito exigente. Você esteve errado e enganou-se a si mesmo. Se outros o interpretaram mal em algumas coisas, isto é o que se poderia esperar considerando-se as circunstâncias. O irmão deve, com profunda tristeza e humilhação, lamentar sua triste fuga do direito, a qual deu ocasião para uma variedade de sentimentos, opiniões e expressões a seu respeito; e se em algum aspecto você não os considera corretos, deve deixá-los de lado, e não condenar os outros. O irmão precisa confessar suas faltas sem censurar a quem quer que seja, e deixar de queixar que seus irmãos o negligenciaram. Eles lhe deram mais atenção do que merecia, levando em conta a posição que você, por anos, ocupou. Se você pudesse ver essas coisas como Deus as vê, abandonaria as queixas que faz e se humilharia debaixo da mão de Deus. "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria." 1 Samuel 15:22, 23. ------------------------Capítulo 64 -- Unidade de fé T1 323 1 Os crentes professos de _____ e arredores não avançam com a obra nem praticam as verdades que professam. Uma nociva influência está sendo exercida sobre a causa no Norte do Wisconsin. Se todos tivessem tido com a Review a ligação que Deus lhes designara, seriam beneficiados e instruídos pelas verdades nela defendidas. Haveriam de ter uma fé correta, de assumir firme posição sobre a verdade aplicável para este tempo e teriam sido preservados desse fanatismo. As sensibilidades de muitos foram embotadas. Uma falsa exaltação destruiu-lhes o discernimento e a visão espiritual. É-lhes de suma importância agora agir com entendimento, para que o objetivo de Satanás de destruir os que tem enganado, não seja alcançado. T1 323 2 Quando os que têm testemunhado e experimentado falsos cultos, se convencem de seu engano, então Satanás se aproveita desses erros, e os põe constantemente diante deles de modo a atemorizá-los quanto a quaisquer cultos, e dessa maneira busca destruir-lhes a fé na verdadeira piedade. Porque foram uma vez enganados, temem fazer qualquer esforço por meio de fervorosa e sincera oração a Deus em busca de auxílio especial e vitória. Essas pessoas não devem deixar Satanás alcançar seu objetivo, e atirá-las ao frio formalismo e incredulidade. Precisam lembrar que o fundamento de Deus fica firme. "Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso." Romanos 3:4. Sua única segurança é colocar os pés sobre a firme plataforma, para ver e entender a terceira mensagem angélica, prezar, amar e obedecer à verdade. T1 324 1 Cristo está conduzindo Seu povo, levando-os à unidade de fé para que possam ser um, como Ele é com o Pai. Diferenças de opinião devem ser evitadas, para que todos possam se unir num só corpo e ser um em mente e discernimento. "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer." 1 Coríntios 1:10. "Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." Romanos 15:5, 6. "Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa." Filipenses 2:2. T1 324 2 Todo o povo de Deus deveria estar interessado em Sua causa. Tem havido uma falta de interesse entre os irmãos no Wisconsin. Há também falta de energia. Alguns pensam que não há pecado em desperdiçar tempo, enquanto outros que amam a preciosa causa da verdade, poupam tempo, e na força divina dedicam-se ao trabalho árduo para que suas famílias possam desfrutar de conforto e cuidado, e tenham algo mais para investir na causa, a fim de que possam fazer sua parte em manter a obra de Deus avançando e entesourando no Céu. Um não deve ser aliviado e outros sobrecarregados. Deus requer que aqueles que têm saúde e energia façam o que lhes estiver ao alcance, e usem suas energias para Sua glória, pois não pertencem a si mesmos. Esses são responsáveis perante Deus pelo uso que fazem do tempo e das forças que lhes são concedidos pelo Céu. T1 325 3 O dever de auxiliar no progresso da verdade não repousa apenas sobre os ricos. Todos têm uma parte a desempenhar. O homem que emprega seu tempo e energias em acumular riquezas é responsável pelo uso que faz de suas propriedades. Se alguém possui saúde e energia, que é seu capital, precisa fazer correto uso delas. Se despende horas em ociosidade e desnecessárias visitas e conversas, é relapso nos negócios, o que a Palavra de Deus proíbe. Esses têm uma trabalho a fazer para prover suas famílias e pôr de parte meios, para fins caritativos, conforme Deus os prosperar. 1 Coríntios 16:2. T1 325 1 Não fomos postos neste mundo meramente para cuidar de nós mesmos, mas nos é requerido que ajudemos na grande obra da salvação, imitando assim a abnegação, o sacrifício próprio e a vida de utilidade de Cristo. Aqueles que amam as facilidades mais do que a verdade de Deus, não estarão ansiosos em usar seu tempo e energias sabiamente, para que possam desempenhar uma parte na divulgação da verdade. Muitos jovens do Wisconsin não sentiram responsabilidade pela causa, nem necessidade de fazer algum sacrifício para promovê-la. Eles nunca obterão vigor até mudarem sua conduta e fazerem esforços especiais pela verdade, a fim de serem salvos. Alguns negam-se a si mesmos, demonstram interesse e trabalham dobrado, por causa de seus incansáveis esforços para manter a causa que amam. Fazem da causa de Deus uma parte de si mesmos. Se ela sofre, eles sofrem com ela; quando ela prospera, ficam felizes. T1 325 2 "Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares." Provérbios 3:9, 10. Os que são indolentes podem tranqüilizar-se com o pensamento de que Deus nada pede deles, porque não prosperam. Isso não lhes poderá servir de desculpa, pois se houvessem diligentemente empregado seu tempo; se não houvessem sido lentos nos negócios, teriam progredido. Se tivessem de modo resoluto separado algo para depositar no tesouro de Deus, caminhos seriam abertos perante eles, e teriam tido alguma coisa a dedicar à causa de Deus, depositando assim nos tesouros celestiais. ------------------------Capítulo 65 -- Norte do Wisconsin T1 326 1 Enquanto em Roosevelt, Nova Iorque, em 3 de Agosto de 1861, diversas igrejas e famílias me foram apresentadas em visão. Diferentes influências e seus resultados desanimadores também me foram mostrados. Satanás tem usado como seus agentes indivíduos que professam crer em parte da verdade presente, enquanto combatem outra parte. Dessa maneira ele pode obter mais sucesso do que com aqueles que estão movendo guerra total à nossa fé. Sua artificiosa estratégia de promover o erro através de crentes parciais na verdade tem enganado a muitos, e perturbado e desagregado sua fé. Essa é a causa das divisões no Norte do Wisconsin. Alguns recebem uma parte da mensagem e rejeitam outra. Uns aceitam o sábado e rejeitam a terceira mensagem angélica, todavia, porque aceitaram o sábado, reivindicam a companhia daqueles que crêem em toda a verdade presente. Então trabalham para atrair outros à mesma escuridão em que se encontram. Não são responsáveis e mantêm uma fé independente. É-lhes permitido exercer influência, quando nenhum espaço lhes deveria ser concedido, não obstante suas pretensões de honestidade. T1 326 2 Pessoas sinceras verão a cadeia direta da verdade presente. Perceberão suas harmoniosas conexões, elo após elo, unindo-se num grande todo e nela se firmarão. A verdade presente não é difícil de ser compreendida, e o povo a quem Deus está conduzindo estará unido sobre essa ampla e firme plataforma. Ele não utilizará indivíduos de fé, opiniões e pareceres diferentes, para espalhar e dividir. O Céu e os santos anjos estão trabalhando para unir, para conduzir à unidade de fé, em um só corpo. Satanás se opõe a isso e está determinado a dispersar e dividir e produzir os mais variados sentimentos, para que a oração de Cristo não seja respondida: "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:20, 21. Jesus determinou que a fé de Seu povo seja uma. Se uma pessoa sai pregando uma coisa, e outra uma coisa diferente, como pode alguém crer que sua palavra seja uma só? Haverá diferença de opiniões. T1 327 1 Vi que se o povo de Deus no Wisconsin quisesse prosperar, precisaria assumir decidida posição com respeito a essas coisas, e assim anular a influência daqueles que produzem perturbação e divisão, ensinando pontos de vista contrários à comunidade. Esses tais são como estrelas errantes. Parecem emitir alguma luz; professam levar consigo alguma verdade e assim enganam os inexperientes. Satanás os dota com seu espírito, mas Deus não está com eles; Seu Espírito não habita neles. Jesus orou para que Seus discípulos pudessem ser um, como Ele é um com o Pai, "para que o mundo creia que Tu Me enviaste". João 17:21. A unidade do povo remanescente de Deus produz no mundo poderosa convicção de que eles possuem a verdade e que são o povo peculiar, escolhido por Deus. Essa unidade desconcerta o inimigo, por isso ele está determinado a fazer com que ela não exista. A verdade presente, crida no coração e exemplificada na vida, torna o povo de Deus unido e lhe concede poderosa influência. T1 327 2 Houvessem os professos observadores do sábado do Wisconsin buscado diligentemente a união e trabalhado em conexão com a oração de Cristo, para serem um como Ele é um com o Pai, a obra de Satanás teria sido derrotada. Se todos procurassem unir-se ao corpo, o fanatismo que trouxe tamanho descrédito à causa da verdade presente no Norte do Wisconsin, não teria se levantado, pois esse é o resultado de apartar-se do corpo e de buscar ter uma fé original e independente, sem consideração para com a fé desse corpo. T1 327 3 Na última visão que me foi dada em Battle Creek, vi que uma atitude insensata estava tendo lugar em _____, com respeito às visões, quando por ocasião da organização da igreja ali. Havia alguns em _____ que eram filhos de Deus, mas duvidavam das visões. Outros havia que não lhes faziam nenhuma oposição, contudo não ousavam assumir atitude definida a seu respeito. Alguns eram céticos e tinham suficientes motivos para isso. As falsas visões e práticas fanáticas, bem como as conseqüências desastrosas que delas decorreram, exerceram sobre a causa em Wisconsin uma influência capaz de tornar as pessoas desconfiadas de tudo que se apresentasse com o nome de visões. Todas essas coisas devem ser tomadas em consideração, procedendo-se com sabedoria. Não se deve atribular nem forçar os que nunca tenham visto um indivíduo receber visões, e não possuem um conhecimento pessoal da sua influência. Essas pessoas não devem ser separadas dos benefícios e privilégios de membros da igreja, se no demais a sua vida cristã se prova correta, e tenham um bom caráter cristão. T1 328 1 Alguns, conforme me foi mostrado, receberiam as visões publicadas, julgando a árvore pelos seus frutos. Outros são como o duvidoso Tomé; não podem crer nos Testemunhos publicados, nem convencer-se deles pelo testemunho de outros, precisando ver e tirar a prova por si mesmos. Estes não devem por isso ser postos de lado, cumprindo tratá-los com paciência e amor fraternal até que tomem posição e tenham opinião definida contra ou a favor deles. Se, porém, começarem a combater as visões de que não têm conhecimento; se levarem a sua oposição ao ponto de opor-se àquilo de que não têm experiência, e se sentirem ofendidos quando aqueles que crêem que essas visões são de Deus falarem delas nas reuniões, e se confortarem com a instrução dada através delas, a igreja pode saber que eles não estão certos. O povo de Deus não deve curvar-se servilmente ou submeter-se a esses descontentes, e abrir mão de sua liberdade. Deus pôs os dons na igreja para que ela possa ser beneficiada por eles. E quando professos crentes na verdade se opõem aos dons e lutam contra as visões, pessoas ficam em perigo e é então tempo de trabalhar em favor delas, para que os fracos não sejam desviados por sua influência. T1 329 1 Tem sido muito difícil para os servos de Deus trabalhar em _____, pois ali há uma classe de pessoas cheias de justiça própria, tagarelas e insubordinadas, que se têm posto no caminho da obra de Deus. Se aceitas na igreja, haveriam de fazê-la em pedaços. Eles não se sujeitariam à congregação, e nunca estariam satisfeitas, a menos que as rédeas de governo da igreja estivessem em suas mãos. T1 329 2 O irmão G buscou agir com grande cautela. Ele sabia que a classe que se opunha às visões estava errada; que eles não eram crentes genuínos na verdade e, portanto, para livrar-se desses obstáculos, ele se propôs a não receber na igreja ninguém que não cresse na mensagem do terceiro anjo e nas visões. Essa medida afastou preciosas pessoas que não estavam contra as visões. Elas não ousavam unir-se à igreja, temendo comprometer-se com o que não compreendiam nem criam plenamente. E houve os que se aproximaram prontos a prejudicar essas pessoas conscienciosas, pondo diante delas os assuntos sob o pior aspecto possível. Alguns se sentiram magoados e ofendidos por causa da condição de membros, e desde a organização, seus sentimentos de insatisfação aumentaram muito. Fortes preconceitos os controlavam. T1 329 3 Foi-me mostrado o caso da irmã H. Ela me foi apresentada em ligação com uma irmã que fortemente se indispusera contra mim, meu marido e as visões. Esta indisposição a conduziu a aceitar e apreciar cada mentirosa informação a nosso respeito e às visões, passando-a à irmã H. Ela demonstrara amarga disposição contra mim, embora nem me conhecesse pessoalmente. Não estava familiarizada com meus trabalhos e nutria contra mim os piores sentimentos preconceituosos, influenciando a irmã H. As duas se uniram em suas amargas observações e conversas. A pessoa que me foi mostrada como em ligação com a irmã H, era determinada, de temperamento sangüíneo e com alto conceito sobre si mesma. Ela achava que suas opiniões estavam corretas e que outros deviam aceitar-lhe a palavra, quando apenas obscurecia o conselho por suas palavras, e manifestava o espírito das forças do dragão, para combater aqueles que estão unidos sob "os mandamentos de Deus e... o testemunho de Jesus". Apocalipse 12:17. T1 330 1 Desde que a irmã H esteve em _____, desprezou as visões e espalhou boatos como se fossem verdade. Ela não resiste a nenhuma influência que tenda a prejudicar-me. Não sabia que as visões procediam de Deus e não tinha nenhum relacionamento com o humilde instrumento, todavia, uniu-se a pessoas não-consagradas em _____ para exercer uma forte influência contra mim. Elas se têm fortalecido mutuamente por apreciar e espalhar falsas histórias provenientes de diversas fontes, nutrindo assim seu preconceito. Não há nenhum vínculo entre seu espírito e o espírito das mensagens que o Senhor vê por bem dar para benefício de Seu humilde povo. O sentimento que há no coração delas não se harmoniza com a luz dada por Deus. T1 330 2 Muitas pobres pessoas não sabem o que estão fazendo. Elas unem sua influência às forças de Satanás e o ajudam em sua obra. Manifestam grande zelo e diligência em sua cega oposição, como se estivessem verdadeiramente prestando um serviço a Deus ao lutar contra as visões. Todos os que desejam, podem familiarizar-se com os frutos dessas visões. Por dezessete anos o Senhor permitiu que sobrevivessem e se fortalecessem contra a oposição das forças satânicas, e a influência de agentes humanos que auxiliam Satanás em sua obra. T1 330 3 Foram-me mostradas outras mulheres em _____, que estavam em guerra contra a verdade. Uma delas me foi apresentada como aceitando uns poucos pontos da verdade, mas então abandonando o povo remanescente de Deus. Ela se achava superior e pensava que sabia tudo. Era sábia segundo sua própria opinião, e me foi mostrada como olhando constantemente para o passado e referindo-se a uma antiga experiência, por que havia recebido anteriormente um pouco de luz; engrandeceu-se e julgou que tinha luz e conhecimento suficientes para instruir toda a igreja. Sua fé era dispersa e desconexa. Muitas de suas idéias sobre a verdade estão equivocadas, no entanto, ela é egoísta e justa aos próprios olhos. É pronta a instruir, mas não a ser instruída. Despreza a instrução e rejeita os ensinos de Deus mediante Seus servos. Eu a vi apontando para sua justiça, sua devoção e sua vida de oração. Como os fariseus, enumera suas boas obras. "Ó Deus, graças Te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo." Lucas 18:11, 12. A oração do fariseu não foi considerada, mas o pobre publicano, que podia apenas dizer: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!", despertou compaixão no Senhor. Lucas 18:13. Sua oração foi aceita, enquanto que a do jactancioso fariseu rejeitada. "Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado." Lucas 18:14. T1 331 1 "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:17, 18. T1 331 2 A pessoa cujo rosto reconheci quando a vi, era conhecida como Sra. I. Vi que sua vida não se destacava pela humildade que deveria caracterizar os seguidores de Cristo. Quando pobres mortais, apesar de sua alta profissão de fé, tornam-se justos aos próprios olhos, então Jesus permite que se enganem a si mesmos. Vi que essa mulher influenciou a outros e alguns se uniram a ela para expor as visões ao ridículo. Esses irão responder a Deus por isso, pois cada palavra de menosprezo contra a luz que Deus achou conveniente comunicar pelo modo que Ele próprio escolheu, é registrada. T1 332 1 Foi me mostrada ainda outra mulher que não se uniu ao povo a quem Deus está dirigindo. O espírito da verdade não habita em seu coração e ela tem feito a obra que agrada ao inimigo de todo bem, para distrair e confundir as mentes. (Reconheci essa mulher no último dia de reunião, a qual ela deixou antes do encerramento.) Ela é uma grande faladora e está sempre pronta a ouvir e contar alguma coisa nova, demorando-se sobre o que ela entende ser erros dos outros, e declarando que suas más conjecturas são discernimento. Ela atribui luz à escuridão e a escuridão chama luz e, por qualquer pretexto, faz longas orações. Aprecia ser aprovada e considerada justa; assim, engana alguns. Tenciona ensinar a outros e pensa que Deus a instrui de modo especial, preterindo os demais. Mas a verdade não acha lugar em seu coração. T1 332 2 Foram-me mostradas algumas outras unindo sua influência com essa mulher que mencionei, e juntas fazem o que podem para afastar e causar confusão à comunidade. Sua influência traz descrédito sobre a causa de Deus. Jesus e os santos anjos estão edificando e unindo o povo de Deus numa só fé, para que possam todos ter o mesmo sentimento e o mesmo parecer. E enquanto estão sendo consolidados em unidade de fé, e de comum acordo sobre as solenes e importantes verdades para este tempo, Satanás atua para opor-se a seu avanço. Jesus trabalha mediante Seus instrumentos para juntar e unir. Satanás age através de seus agentes para espalhar e dividir. "Porque eis que darei ordem e sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como se sacode grão no crivo, sem que caia na terra um só grão." Amós 9:9. T1 332 3 Deus está agora experimentando e provando o Seu povo. O caráter está sendo aperfeiçoado. Os anjos estão pesando o valor moral, e mantendo fiel relatório de todos os atos dos filhos dos homens. Entre o povo professo de Deus há corações corruptos; serão, porém, experimentados e provados. Aquele Deus que lê o coração de todos, "trará à luz as coisas ocultas das trevas" (1 Coríntios 4:5) onde muitas vezes menos se suspeita, para que aquelas pedras de tropeço que têm prejudicado o progresso da verdade sejam removidas, e Deus tenha um povo puro e santo para declarar Seus estatutos e juízos. T1 333 1 O Capitão de nossa salvação leva, passo a passo, Seu povo adiante, purificando-o e habilitando-o para a trasladação, e deixando na retaguarda os que estão dispostos a separar-se do corpo, que não querem ser guiados, e se satisfazem com a própria justiça. "Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" Mateus 6:23. O espírito humano não pode ser enganado por maior ilusão do que a que induz os homens a condescenderem com um espírito de confiança em si mesmos para crerem que são justos e se acham na luz, quando se estão afastando do povo de Deus, e a luz que afagam são trevas. T1 333 2 O grupo de _____ que se tem afastado do corpo, possui um espírito amargo e endurecido contra aqueles a quem Deus está usando como instrumentos, para manter Seu povo unido sobre a única e verdadeira plataforma. Seu espírito se opõe à obra de Deus e sua influência tem trazido vergonha sobre a causa do Senhor, e feito com que nossa fé seja odiada pelos descrentes. Satanás exulta com isso. Aqueles que estão na igreja tentando servir a Deus podem, por algum tempo, sentir-se molestados com os que estão entre eles mas não são retos, os quais me foram mostrados como sendo farisaicos, justos aos próprios olhos. Mas se eles forem pacientes e andarem humildemente perante Deus, orando diligentemente por Seu poder e Espírito, certamente avançarão; e aqueles que são fracos na fé serão deixados para trás. T1 333 3 O irmão J me foi apresentado e vi que sua conduta não estava agradando a Deus. Ele é instável e foi confundido pela Era Vindoura. Como não há a menor harmonia entre a teoria da Era Vindoura e a mensagem do terceiro anjo, ele perdeu seu amor pela verdade e a fé na mensagem; sentiu-se irritado porque muito havia sido dito com respeito a ela. O terceiro anjo está proclamando a mais solene mensagem aos habitantes da Terra. Estará o povo escolhido de Deus indiferente a ela e não unirá sua voz para proclamar essa solene advertência? O irmão J está enganado e enganando outros. Seu assunto tem sido consagração, quando seu coração não é reto. Sua mente está dividida. Ele não possui nenhuma âncora para firmá-lo e tem estado flutuando sem uma firme fé. A maior parte de seu tempo é ocupada em referir a um e outro histórias e boatos destinados a distrair e desestabilizar as mentes. Ele tem tido muito a dizer com respeito a mim e meu marido e contra as visões. Assumiu a posição: "Denunciai, e o denunciaremos!" Jeremias 20:10. Deus não o enviou em tal missão. Ele não sabe a quem tem estado a servir. Satanás o usa para trazer confusão às mentes. A pequena influência que possui tem sido utilizada para criar preconceito contra a mensagem do terceiro anjo. Mediante falsidades, ele apresenta as visões sob luz equivocada e pessoas fracas que não estão estabelecidas em toda a verdade presente são alimentadas por essas coisas, em lugar da forragem limpa, cabalmente peneirada. Ele está enganado com relação à santificação. A menos que mude seu comportamento e esteja disposto a ser instruído, e aprecie a luz que lhe foi dada, será deixado por Deus a seguir o próprio rumo e julgamento imperfeito até que naufrague na fé e, por sua conduta insensata sirva de advertência àqueles que preferem agir independentemente da congregação. Deus abrirá os olhos das pessoas sinceras para que compreendam a terrível obra daqueles que espalham e dividem. Ele assinalará aqueles que causam divisões, para que cada pessoa sincera possa escapar da armadilha de Satanás. T1 334 1 O irmão J recebeu do Pastor K, uma falsa teoria de santificação, a qual se acha fora da terceira mensagem angélica, e onde quer que for recebida destrói o amor da mensagem. Foi-me mostrado que o Pastor K se encontrava em terreno perigoso. Ele não está em união com o terceiro anjo. Ele fruiu uma vez a bênção de Deus, mas agora não a tem, pois não apreciou nem alimentou a luz da verdade que lhe brilhou no caminho. Ele trouxe consigo uma teoria metodista de santificação, e apresenta-a, dando-lhe a maior importância. E as sagradas verdades próprias para este tempo são por ele tidas em pouca consideração. Ele tem seguido a própria luz, e ficado mais e mais em trevas, e se afastado mais e mais da verdade, até que ela não tenha sobre ele senão pequena influência. Satanás lhe tem dominado a mente, e ele tem ocasionado grande dano à causa da verdade no Norte do Wisconsin. T1 335 1 Foi essa teoria de santificação que a irmã G recebeu do Pastor K, e procurou seguir, que a levou àquele terrível fanatismo. O Pastor K tem desencaminhado e confundido muitas pessoas com essa teoria da santificação. Todos os que a abraçam perdem em grande parte o interesse e o amor pela terceira mensagem angélica. Esse ponto de vista da santificação é uma teoria atraente. Ela encobre as faltas de pobres seres em trevas, no erro e no orgulho. Dá-lhes aparência de serem bons cristãos, e de possuírem santidade, quando têm o coração corrupto. É uma teoria de paz e segurança, que não traz o mal à luz, nem reprova e repreende o erro. Ela cura "a ferida da filha do Meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz; quando não há paz." Jeremias 6:14; 8:11. Homens e mulheres de coração corrupto, lançam em volta de si as vestes da santificação, e são considerados como exemplo do rebanho, quando são agentes de Satanás por ele empregados para seduzir e enganar as pessoas sinceras para um atalho de modo a não sentirem a força e importância das solenes verdades proclamadas pelo terceiro anjo. T1 335 2 O Pastor K tem sido olhado como um exemplo, ao passo que tem sido um dano à causa de Deus. Sua vida não tem sido irrepreensível. Seus caminhos não têm estado em harmonia com a santa lei de Deus, ou com a imaculada vida de Cristo. Sua natureza corrupta não está subjugada; e todavia ele insiste muito na santificação, e assim engana a muitos. Fui encaminhada a seus trabalhos passados. Ele tem deixado de trazer pessoas para a verdade, e de estabelecê-las na terceira mensagem angélica. Apresenta como coisa de primeira importância uma teoria da santificação, ao passo que faz de pouco valor o veículo pelo qual nos vêm as bênçãos de Deus. "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. A verdade presente, que é o veículo, não é considerada, antes pisada a pés. Os homens podem clamar: Santidade! santidade! santificação! santificação! consagração! consagração! e todavia não saberem mais por experiência daquilo em que falam, do que o pecador com suas propensões corruptas. Deus há de em breve rasgar essas vestes caiadas de professa santificação, que alguns de mente carnal têm lançado sobre si para ocultar a deformidade do coração. T1 336 1 É mantido um fiel relatório dos atos dos filhos dos homens. Coisa alguma pode ser escondida aos olhos daquele que é alto e santo. Alguns tomam um rumo diretamente em oposição à lei de Deus, e depois, para encobrir seu pecaminoso caminho, professam ser consagrados a Deus. Esta profissão de santidade não se manifesta em sua vida diária. Não tem a tendência de elevar-lhes a mente, e levá-los a se absterem "de toda a aparência do mal". 1 Tessalonicenses 5:22. "Somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." 1 Coríntios 4:9. Nossa fé é blasfemada em conseqüência do torcido caminho dos que têm mente carnal. Eles professam parte da verdade, o que lhes dá influência, ao passo que não têm união com os que crêem e estão unidos em toda a verdade. Qual tem sido a influência do Pastor K? Quais têm sido os frutos de seus trabalhos? Quantos se têm convertido e estabelecido na verdade presente? Quantos ele tem trazido à unidade de fé? Ele não está ajuntando com Cristo. Sua influência é no sentido de espalhar. Mateus 12:30. Há falhas em sua pregação e falta a seus conversos aquilo que se provará uma rocha e defesa no dia da ira de Deus. Seus sermões são sem sal, insípidos. Ele não apresenta pessoas completamente convertidas à verdade, separando-as do mundo e unindo-as ao povo exclusivo de Deus. Seus conversos não possuem nenhuma âncora para firmá-los, e eles vagueiam aqui e acolá, até que muitos deles ficam desnorteados e se perdem no mundo. T1 337 1 O Pastor K não sabe de que espírito é. Ele está unindo sua influência com as forças do dragão, para se opor aos "que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 12:17. Ele enfrenta uma guerra terrível. Até onde o sábado está envolvido, ele ocupa a mesma posição como os batistas do sétimo dia. Separe o sábado das mensagens e ele perde sua força, mas quando conectado à mensagem do terceiro anjo, um poder o acompanha para convencer os incrédulos e infiéis, e apresentá-los com vigor para permanecerem, viverem, crescerem e florescerem no Senhor. É tempo de o povo de Deus no Wisconsin encontrar seu lugar. "Quem se porá ao Meu [do Senhor] lado?" (Salmos 94:16), deveria ser proclamado pelos fiéis e experientes em todo lugar. Deus requer que eles saiam e se desprendam das várias influências que os separariam um do outro e da grande plataforma da verdade, para a qual Deus está levando Seu povo. T1 337 2 Foi-me mostrado o caso do Sr. L. Ele tem muito a dizer sobre santificação, mas está enganado consigo mesmo, e outros estão enganados com ele. Sua santificação pode durar enquanto ele está na reunião, mas não suporta a prova. A santidade bíblica purifica a vida; mas o coração de L não está puro. O mal existe ali, e manifesta-se na vida, e os inimigos de nossa fé têm tido ocasião de censurar os observadores do sábado. Julgam a árvore pelos frutos. T1 337 3 "Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a Palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade." 2 Coríntios 4:2. T1 338 1 Muitos andam diretamente em oposição ao texto acima mencionado. Andam com astúcia, e falsificam a Palavra de Deus. Não exemplificam em sua vida a verdade. Exercitam-se especialmente sobre a santificação, todavia lançam para trás das costas a Palavra divina. Oram sobre santificação, cantam sobre santificação e clamam por santificação. Homens de coração corrupto tomam um ar de inocência, e professam ser consagrados; isto, porém, não é prova de serem retos. Seus atos os desmentem. Têm a consciência cauterizada, mas está para vir o dia da visitação divina, e manifestar-se-á a obra de todo homem, de que qualidade é. E todo homem receberá "segundo a sua obra". Apocalipse 22:12. T1 338 2 Disse o anjo ao apontar para L: "Que tens tu que recitar os Meus estatutos, e que tomar o Meu concerto na tua boca, pois aborreces a correção, e lanças as Minhas palavras para detrás de ti? Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros. Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano." Salmos 50:16-19. Deus espalhará e sacudirá para fora essas influências divisoras, e libertará Seu povo, caso os que professam a verdade venham "em socorro do Senhor". Juízes 5:23. T1 338 3 Não há santificação bíblica para os que lançam para trás de si parte da verdade. Há na Palavra de Deus suficiente luz, de modo que ninguém precisa errar. A verdade é bastante elevada para causar admiração aos maiores intelectuais, e é todavia simples bastante para ser compreendida pelo mais humilde e mais fraco dos filhos de Deus, e para dar-lhe instrução. Os que não vêem a beleza da verdade, que não dão nenhuma importância à mensagem do terceiro anjo, serão indesculpáveis; pois a verdade é clara. T1 338 4 "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Coríntios 4:3, 4. T1 339 1 "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." "E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade." João 17:17, 19. T1 339 2 "Purificando as vossas almas na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro." 1 Pedro 1:22. T1 339 3 "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. T1 339 4 "De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo." Filipenses 2:12-15. T1 339 5 "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado." João 15:3. T1 339 6 "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a Si mesma igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível." Efésios 5:25-27. T1 339 7 Aí está a santificação bíblica. Não é apenas uma simples exibição ou obra exterior. É a santificação recebida por intermédio da verdade. É a verdade recebida no coração, e praticamente vivida. T1 339 8 Como homem, Jesus era perfeito, e todavia cresceu em graça. "E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens." Lucas 2:52. Mesmo o mais perfeito cristão pode crescer continuamente no conhecimento e no amor de Deus. T1 340 1 "Pelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dEle sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz." "Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém." 2 Pedro 3:14, 18. T1 340 2 A santificação não é obra de um momento, uma hora, ou um dia. É um contínuo crescimento na graça. Não sabemos em um dia quão forte será nossa luta no dia seguinte. Satanás vive e está ativo, e precisamos cada dia clamar fervorosamente a Deus por auxílio e força para resistir-lhe. Enquanto Satanás reinar, teremos de subjugar o próprio eu, teremos assaltos a vencer, e não há lugar de parada, nenhum ponto a que possamos chegar e dizer que o atingimos plenamente. T1 340 3 "Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus." Filipenses 3:12. T1 340 4 A vida cristã é uma constante marcha avante. Jesus Se coloca como refinador e purificador de Seu povo; e quando Sua imagem estiver perfeitamente refletida neles, eles estarão perfeitos e santos, e preparados para a trasladação. Exige-se do cristão uma obra perfeita. Somos exortados a purificar-nos "de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. Aí vemos onde está a grande obra. Há um trabalho contínuo para o cristão. Toda vara da videira-mãe tem de tirar dela vida e força, a fim de dar fruto. João 15:4. ------------------------Capítulo 66 -- O poder de Satanás T1 341 1 O homem caído é legítimo cativo de Satanás. A missão de Cristo foi libertá-lo do poder de Seu grande adversário. O homem é naturalmente inclinado a seguir as sugestões de Satanás, e não pode resistir com êxito a tão terrível inimigo, a menos que Cristo, o poderoso vencedor, nele habite, guiando-lhe os desejos, e dando-lhe resistência. Unicamente Deus é capaz de limitar o poder do maligno. Este anda de um lado para outro na Terra, e anda por ela acima e abaixo. Não está desapercebido nem por um instante, temendo perder uma oportunidade de destruir pessoas. Importante é que o povo de Deus compreenda isto, a fim de escapar-lhe aos ardis. Satanás está preparando seus enganos, para que, na última campanha contra o povo de Deus, eles não compreendam que é ele. "E não é maravilha, porque o próprio Satanás, se transfigura em anjo de luz." 2 Coríntios 11:14. Enquanto algumas pessoas iludidas advogam a idéia de que ele não existe, ele as está levando cativas, e atuando grandemente por meio delas. Melhor que o povo de Deus, sabe Satanás o poder que esse povo pode ter sobre ele, quando fazem de Cristo a sua força. Quando eles rogam humildemente ao poderoso Vencedor que os auxilie, o mais fraco dos crentes na verdade, repousando firmemente em Cristo, pode com êxito repelir a Satanás e todo o seu exército. Ele é demasiado astuto para apresentar-se aberta e ousadamente com suas tentações; pois então as entorpecidas energias do cristão despertar-se-iam, e ele havia de apoiar-se no forte e poderoso Libertador. Aproxima-se, porém, despercebidamente, e atua de maneira disfarçada por meio dos filhos da desobediência que professam piedade. T1 341 2 Satanás irá até aonde dão suas forças para molestar, tentar e desencaminhar o povo de Deus. Aquele que ousou enfrentar, tentar e ridicularizar nosso Senhor, e teve poder para tomá-Lo nos braços e levá-Lo ao pináculo do templo, e ao cimo de uma montanha elevadíssima, exercitará extraordinariamente seu poder sobre a atual geração, incomparavelmente inferior em sabedoria a seu Senhor, e quase inteiramente ignorante da sutileza e força de Satanás. Ele afetará de maneira extraordinária o corpo dos que são naturalmente inclinados a fazer-lhe a vontade. Satanás exulta com o fato de ser considerado como uma ficção. Quando fazem pouco, e o representam por qualquer ilustração infantil, ou como um animal, isto lhe convém. Julgam-no tão inferior, que a mente dos homens se acha de todo desapercebida para seus planos, sabiamente delineados, e quase sempre ele é bem-sucedido. Caso seu poder e sutileza fossem compreendidos, muitos estariam preparados para resistir-lhe de maneira eficaz. T1 342 1 Todos devem compreender que Satanás foi uma vez um anjo exaltado. Sua rebelião excluiu-o do Céu, mas não lhe destruiu as faculdades nem o tornou um animal. Desde sua queda, tem voltado a poderosa força de que dispõe contra o governo do Céu. Tem crescido em sagacidade, e tem aprendido a maneira mais eficaz de aproximar-se, com suas tentações, dos filhos dos homens. T1 342 2 Satanás tem dado origem a fábulas para por meio delas enganar. Ele começou no Céu a combater contra a base do governo de Deus, e desde que caiu tem levado avante sua rebelião contra a lei de Deus, e levado a massa dos professos cristãos a pisar o quarto mandamento, que põe em foco o Deus vivo. Deitou por terra o sábado original do decálogo, substituindo-o por um dos dias de trabalho. T1 342 3 A grande mentira original dita por ele a Eva no Éden: "Certamente não morrereis" (Gênesis 3:4), foi o primeiro sermão pregado sobre a imortalidade da alma. Aquele sermão foi coroado de êxito, seguindo-se-lhe terríveis resultados. Ele tem levado a mente de muitos a receber esse sermão como sendo a verdade, e pastores pregam isto, cantam isto e sobre isto oram. T1 342 4 O não haver um diabo literal, e haver graça depois da volta de Cristo, estão-se tornando rapidamente fábulas populares. As Escrituras declaram positivamente que o destino de cada pessoa está para sempre determinado por ocasião da vinda do Senhor. "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:11, 12. T1 343 1 Satanás tem-se aproveitado dessas fábulas populares para ocultar-se. Ele se achega aos pobres, iludidos mortais, mediante o espiritualismo, que não põe limites às pessoas de mente carnal e, se colocado em prática, separa famílias, cria invejas e ódios, dando livre curso às mais degradantes inclinações. O mundo não conhece ainda senão pouca coisa da corruptora influência do espiritualismo. Ergueu-se a cortina, e foi-me revelado muito de sua horrível obra. Foram-me mostradas pessoas que tiveram experiência no espiritualismo, e que a ele renunciaram depois, e que tremem ao considerar quão perto estiveram da completa ruína. Haviam perdido o domínio de si mesmas, e Satanás as levava a fazer aquilo que elas detestavam. Mas mesmo essas pessoas não fazem senão uma pálida idéia do que seja o espiritualismo. Pastores, inspirados por Satanás, podem apresentar eloqüentemente esse horroroso monstro, ocultar-lhe a deformidade, e fazê-lo parecer belo aos olhos de muitos. Mas ele vem tão direto de sua satânica majestade, que reivindica o direito de controlar a todos quantos têm que ver com ele, porquanto se aventuraram a penetrar em terreno proibido, e perderam a proteção de seu Criador. T1 343 2 Algumas pobres pessoas que foram fascinadas com as eloqüentes palavras dos ensinadores do espiritualismo, e submeteram-se-lhe à influência, descobrem posteriormente seu caráter mortífero, e querem renunciar a ele e fugir-lhe, mas não conseguem. Satanás as segura por seu poder, e não as quer deixar libertarem-se. Sabe que são indubitavelmente suas enquanto as tem sob controle especial, mas que, se uma vez se libertarem de seu poder, nunca mais as poderá levar outra vez a crer no espiritualismo e a se colocarem tão diretamente sob seu domínio. O único meio de essas pobres pessoas se livrarem de Satanás, é discernirem entre a pura verdade bíblica, e as fábulas. Ao reconhecerem elas os reclamos da verdade, colocam-se na posição em que podem ser ajudadas. Elas devem rogar aos que têm experiência religiosa, e que possuem fé nas promessas de Deus, que pleiteiem com o poderoso Libertador em seu benefício. Será um combate difícil. Satanás reforçará os anjos maus que têm mantido essas pessoas em sujeição; mas se os santos de Deus, com profunda humildade, jejuarem e orarem, suas orações prevalecerão. Jesus comissionará santos anjos para resistirem a Satanás, e ele será repelido, e desfeito o seu poder sobre aquelas vítimas. "E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum." Marcos 9:29. T1 344 1 O ministério popular não pode resistir com êxito ao espiritualismo. Nada possuem com que proteger seus rebanhos dessa fatal influência. Muito dos tristes resultados do espiritualismo pesará sobre os pastores desta época; pois têm pisado a verdade a pés, e preferido em seu lugar as fábulas. O sermão pregado por Satanás a Eva sobre a imortalidade da alma -- "Certamente não morrereis" (Gênesis 3:4) -- têm eles reiterado do púlpito; e o povo o recebe como pura verdade bíblica. É o fundamento do espiritualismo. Em parte alguma ensina a Palavra de Deus ser a alma do homem imortal. A imortalidade é atributo unicamente de Deus. "Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém." 1 Timóteo 6:16. T1 344 2 A Palavra de Deus, devidamente compreendida e aplicada, é uma salvaguarda contra o espiritualismo. Um inferno ardendo eternamente, pregado do púlpito e conservado diante do povo, é uma injustiça ao benévolo caráter de Deus. Isto O apresenta como o maior tirano do Universo. Este espalhado dogma tem encaminhado milhares ao universalismo, à infidelidade e ao ateísmo. A Palavra de Deus é clara. É uma perfeita cadeia de verdades, e demonstrar-se-á uma âncora para os que estão dispostos a aceitá-la, ainda que tenham de sacrificar suas acariciadas fábulas. Ela os salvará dos terríveis enganos destes tempos perigosos. Satanás tem dirigido a mente dos pastores de várias igrejas de modo a se apegarem tenazmente a seus erros populares, da mesma maneira que induziu os judeus em sua cegueira, a apegarem-se a seus sacrifícios, e a crucificarem a Cristo. A rejeição da luz e da verdade deixa os homens cativos, sujeitos ao engano do inimigo. Quanto maior a luz que eles rejeitarem, tanto maior o poder do engano e as trevas que deles se hão de apoderar. T1 345 1 Foi-me mostrado que o verdadeiro povo de Deus é o sal da Terra e a luz do mundo. Mateus 5:13, 14. Deles requer Deus contínuo progresso no conhecimento da verdade, e no caminho da santidade. Então eles compreenderão a intromissão de Satanás, e no poder de Jesus, hão de resistir-lhe. Satanás chamará em sua ajuda legiões de seus anjos, para opor-se ao progresso de uma pessoa que seja, e, se possível, arrebatá-la da mão de Cristo. T1 345 2 Vi anjos maus contendendo por pessoas, e anjos de Deus a resistirem-lhes. Difícil foi a luta. Os anjos maus estavam corrompendo a atmosfera com sua influencia venenosa, e amontoando-se em torno dessas pessoas a fim de adormecer-lhes as sensibilidades. Santos anjos observavam ansiosamente e aguardavam para repelir o exército satânico. Não cabe, porém, aos anjos santos, o controlar a mente dos homens contra a sua vontade. Caso eles cedam ao inimigo, e não façam esforços para resistir-lhe, então os anjos de Deus pouco mais podem fazer do que restringir o exército de Satanás, para que não destrua, até que seja dada mais luz aos que estão em perigo, a fim de os mover a despertarem a volver-se para o Céu em busca de socorro. Jesus não comissionará os santos anjos a livrarem os que não fazem nenhum esforço para se ajudarem a si mesmos. T1 345 3 Se Satanás vê que está em perigo de perder uma pessoa, ele se ativa ao máximo para conservá-la. E quando o indivíduo é despertado para o perigo em que se encontra, e aflita e fervorosamente, busca forças em Jesus, o inimigo teme perder um cativo, e chama um reforço de seus anjos a fim de encurralarem a pobre pessoa, formando um muro de trevas em torno dela, de modo que a luz do Céu não chegue até onde ela está. Se, porém, a pessoa em perigo persevera, e em sua impotência se lança sobre os méritos do sangue de Cristo, nosso Salvador escuta a fervorosa oração da fé, e envia reforço daqueles anjos magníficos em poder, a fim de a libertar. Satanás não suporta que se apele para seu poderoso rival, pois teme e treme diante de Sua força e majestade. Ao som da fervorosa oração todo o exército de Satanás treme. Ele continua a chamar legiões de anjos maus para conseguir seu fim. E quando os anjos todo-poderosos, revestidos com a armadura celeste, chegam em auxílio da fraca e perseguida pessoa, o inimigo e seus anjos recuam, sabendo muito bem que sua batalha está perdida. Os voluntários súditos de Satanás são fiéis, ativos e unidos no mesmo objetivo. E se bem que eles se odeiem e guerreiem uns aos outros, aproveitam toda oportunidade para promover o interesse comum. Mas o grande Comandante do Céu e da Terra limitou o poder de Satanás. T1 346 1 Minha experiência tem sido singular, e por anos tenho sofrido peculiares provações de espírito. A condição do povo de Deus, e minha ligação com a Sua obra, têm-me trazido muitas vezes um peso de tristeza e desânimo inexprimíveis. Durante anos tenho considerado a sepultura como um aprazível lugar de descanso. Em minha última visão, indaguei do anjo que me assistia, por que eu era deixada a sofrer tal perplexidade de espírito, e era com tanta freqüência lançada no campo de batalha de Satanás. Roguei que, se eu devia estar tão estreitamente ligada à causa da verdade, fosse livrada dessas rigorosas provas. Há força e poder nos anjos de Deus, e supliquei que fosse protegida. T1 346 2 Então me foi apresentada nossa vida anterior e foi-me mostrado que Satanás procurara por várias maneiras destruir nossa utilidade. Muitas vezes fizera ele planos para tirar-nos da obra de Deus; aproximara-se em modos vários e por meio de instrumentos diversos para realizar seus fins. Mas, pelo ministério dos santos anjos fora derrotado. Vi que em nossas viagens de um lugar para outro, ele colocara freqüentemente seus anjos maus em nosso caminho a fim de provocar acidentes que nos tirassem a vida; mas anjos santos foram enviados ao local para nos livrar. Vários acidentes puseram em grande risco a vida de meu marido e a minha, e fomos maravilhosamente protegidos. Vi que tínhamos sido objetos especiais dos ataques do inimigo, devido ao nosso interesse pela obra de Deus, e nossa ligação com ela. Ao ver o grande cuidado que Deus tem a cada momento com aqueles que O temem e amam, foi-me inspirada confiança nEle, e senti-me reprovada por minha falta de fé. ------------------------Capítulo 67 -- As duas coroas T1 347 1 Em visão que me foi concedida em Battle Creek (Michigan), a 25 de Outubro de 1861, foi-me mostrada esta Terra, escura e triste. Disse o anjo: "Olha atentamente!" Então me foi mostrado o povo sobre a Terra. Alguns estavam rodeados de anjos de Deus, outros se achavam em completas trevas, cercados de anjos maus. Vi um braço estendido do Céu, segurando um cetro de ouro. Na extremidade superior do cetro havia uma coroa, cravejada de brilhantes. Cada brilhante emitia luz cintilante, clara e bela. Inscritas na coroa havia estas palavras: "Todos os que me conquistam são felizes, e terão vida eterna." T1 347 2 Embaixo desta coroa havia outro cetro, e sobre ele também outra coroa, em cujo centro havia jóias, ouro e prata, refletindo alguma luz. A inscrição sobre a coroa era: "Tesouros terrestres. A riqueza é um poder. Todos os que me conquistam têm honra e fama." Vi uma vasta multidão que lutava para alcançar essa coroa. Faziam grande rumor. Alguns, em sua avidez, pareciam desprovidos da razão. Empurravam-se uns aos outros, deixando para trás os mais fracos, pisando sobre os que, na pressa, caíam. Muitos avidamente se apoderavam dos tesouros que estavam na coroa, e os seguravam firmemente. A cabeça de alguns era branca como a prata, e seu rosto estava enrugado pelos cuidados e ansiedade. Não tomavam em consideração os próprios parentes, ossos de seus ossos e carne de sua carne; mas, enquanto para eles eram lançados olhares súplices, mais firmemente seguravam seus tesouros, como se estivessem receosos de que num momento de descuido perdessem um pouco, ou fossem induzidos a reparti-los com eles. Seus olhares ávidos muitas vezes se fixavam na coroa terrestre, e contavam e recontavam seus tesouros. Vultos que exprimiam necessidade e miséria, apareciam naquela multidão, olhavam cobiçosos os tesouros, e voltavam sem esperanças, visto que os mais fortes sobrepujavam e afastavam os mais fracos. Contudo não podiam assim desistir; mas, com uma multidão de deformados, enfermos e idosos, procuravam avançar para a coroa terrestre. Alguns morriam ao tentar alcançá-la; outros sucumbiam precisamente no ato de se apoderarem dela. Muitos morriam apenas se haviam dela apossado. Cadáveres se espalhavam pelo solo; todavia a multidão avançava, pisando os que estavam caídos e o cadáver de seus companheiros. Cada um que atingia a coroa, adquiria parte nela, e era ruidosamente aplaudido pela multidão interessada que se achava em redor. T1 348 1 Uma grande multidão de anjos maus estava ocupadíssima. Satanás estava no meio deles, e todos olhavam com a maior satisfação para a multidão que lutava pela coroa. Ele parecia lançar um encanto particular sobre os que avidamente a buscavam. Muitos que procuravam essa coroa terrestre eram cristãos professos. Alguns pareciam ter alguma luz. Olhavam interessados para a coroa celestial, e pareciam muitas vezes encantar-se com sua beleza, contudo não tinham o verdadeiro senso de seu valor e glória. Enquanto frouxamente estendiam uma das mãos à coroa celeste, a outra a estendiam avidamente à terrestre, decididos a possuí-la; e na sua diligência ansiosa por obter a terrestre, perdiam de vista a celeste. Ficavam em trevas, e mesmo assim andavam às apalpadelas, com ansiedade, buscando conseguir a coroa terrestre. Alguns se desgostavam da multidão que a procurava tão veementemente; pareciam ter intuição de seu perigo, e dele se desviavam, e diligentemente buscavam a coroa celestial. O rosto desses logo mudava de escuro para claro, de triste para prazenteiro e cheio de santa alegria. T1 349 1 Vi então um grupo comprimindo-se por entre a multidão, tendo os olhos atentamente fixos na coroa celestial. Enquanto com esforço procuravam caminho por entre a multidão desordenada, anjos os ajudavam, abrindo caminho para que avançassem. Aproximando-se eles da coroa celestial, a luz que dela emanava resplandecia sobre eles, e em redor deles, afugentava as trevas, e tornava-se mais clara e brilhante, até que eles pareciam transformar-se e assemelhar-se aos anjos. Não se detinham em olhar à coroa terrestre. Os que se estavam empenhando na conquista da coroa terrestre, escarneciam deles, e atiravam-lhes pelas costas bolas pretas. Estas não lhes faziam mal contanto que seus olhos se mantivessem fixos na coroa celestial; aqueles, porém, que volviam a atenção para as bolas pretas, eram por elas manchados. Foi-me apresentado o seguinte texto: T1 349 2 "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:19-24. T1 350 1 Então o que eu vira me foi explicado como segue: A multidão que tão avidamente se esforçava por alcançar a coroa terrestre, eram os que amam os tesouros deste mundo e se deixam enganar e lisonjear por suas efêmeras atrações. Alguns vi que, embora professem ser seguidores de Jesus, têm tanta ambição de obter os tesouros terrestres, que perdem o amor ao Céu, agem como o mundo e por Deus são considerados mundanos. Professam buscar uma coroa imortal, um tesouro nos Céus; mas seu interesse e principal empenho é adquirir tesouros terrestres. Aqueles que têm seus tesouros neste mundo, e amam suas riquezas, não podem amar a Jesus. Poderão supor que são justos e, ainda que com garras de avarento se apeguem a suas posses, não poderão ser levados a enxergar isto ou compreender que amam o dinheiro mais do que a causa da verdade ou o tesouro celeste. T1 350 2 "Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" Mateus 6:23. Houve um momento na experiência de tais pessoas, em que a luz que lhes fora dada não foi mantida, e se tornou em trevas. Disse o anjo: "Vocês não podem amar e adorar os tesouros da Terra, e ter as verdadeiras riquezas." Quando aquele jovem foi ter com Jesus e Lhe disse: "Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?" Mateus 19:16. Jesus lhe ofereceu esta escolha: Desfazer-se de suas posses e ter a vida eterna, ou reter aquelas e perder esta. Suas riquezas lhe eram de maior valor do que o tesouro celeste. A condição de desfazer-se de seus tesouros e dá-los aos pobres a fim de se tornar seguidor de Cristo e ter a vida eterna, esfriou-lhe o desejo, e ele se retirou, triste. T1 350 3 Aqueles que me foram apresentados como estando ansiosos pela coroa terrestre, são os que recorrerão a todos os meios para adquirir propriedades. Tornam-se doidos neste sentido. Todos os seus pensamentos e energias se dirigem para a aquisição de riquezas terrestres. Pisam os direitos de outrem, oprimem os pobres e os trabalhadores em seu salário. Se podem ter vantagem sobre os que são mais pobres e menos sagazes, e assim agir de maneira a aumentar suas riquezas, não hesitarão um momento em oprimi-los, e mesmo vê-los levados a mendicância. T1 351 1 Os homens cuja cabeça embranquecida pela idade, e de rosto enrugado pelos cuidados, e que no entanto avidamente agarravam os tesouros de dentro da coroa, eram homens idosos que poucos anos tinham diante de si. Contudo eram inflexíveis na defesa de seus tesouros terrestres. Quanto mais se aproximavam do túmulo, tanto mais ansiosos ficavam em apegar-se a eles. Os próprios parentes não eram beneficiados. Consentiam que os membros da própria família trabalhassem além de suas forças para economizar um pouco de dinheiro. Não o empregavam para o bem de outros, nem para o próprio bem. Bastava-lhes saber que o possuíam. Ao ser-lhes apresentado o dever de diminuir as necessidades dos pobres e de sustentar a causa de Deus, ficavam desgostosos. Alegremente aceitariam o dom da vida eterna, mas não queriam que lhes custasse coisa alguma. As condições são muito penosas. Mas Abraão, para tal fim não recusou o seu único filho. Em obediência a Deus, sacrificaria esse filho da promessa, mais facilmente do que muitos sacrificariam algumas de suas posses terrestres. T1 351 2 Era doloroso ver-se aqueles que deveriam estar a amadurecer para a glória e habilitar-se diariamente para a imortalidade, aplicando todas as suas forças na retenção de tesouros terrestres. Vi que esses tais não podiam dar valor ao tesouro celestial. Seu apego intenso às coisas terrenas, levam-nos a mostrar, pelas suas obras, que não estimam a herança celestial o bastante para por ela fazer qualquer sacrifício. O "jovem rico" manifestou vontade de guardar os mandamentos, contudo nosso Senhor lhe disse faltar alguma coisa. Mateus 19:20, 22. Desejava a vida eterna, mas amava mais as suas posses. Muitos se enganam a si mesmos. Não buscam a verdade como se fosse um tesouro escondido. Não tiram o melhor partido possível de suas faculdades. Sua mente, que poderia ter sido iluminada com a luz do Céu, fica perplexa e perturbada. "Os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera." Marcos 4:19. "Tais pessoas", disse o anjo, "estão sem desculpa." Vi a luz apagando-se para elas. Não desejavam compreender as solenes e importantes verdades para este tempo, e achavam que estavam bem sem as compreender. Foi-se-lhes a sua luz, e ficaram às apalpadelas, em trevas. T1 352 1 A multidão dos deformados e enfermos que se comprimia para alcançar a coroa terrestre, são aqueles cujos interesses e tesouros estão neste mundo. Conquanto de todos os modos sofram desapontamentos, não colocarão suas afeições no Céu, nem assegurarão para si naquele lugar um tesouro e um lar. Fracassam na busca das coisas terrestres, e no entanto perdem as celestiais enquanto pelejam por aquelas. Apesar do desapontamento, vida infeliz e morte daqueles que puseram todo o seu empenho na obtenção de riquezas terrestres, outros seguem o mesmo caminho. Atiram-se doidamente, sem tomar em consideração o fim miserável daqueles cujo exemplo estão seguindo. T1 352 2 Os que alcançaram a coroa e nela obtiveram parte, tendo por isso sido aplaudidos, são aqueles que conseguem o que constitui o único objetivo de sua vida: riquezas. Recebem a honra que o mundo confere aos que são ricos. Têm influência no mundo. Satanás e seus anjos maus estão satisfeitos. Sabem que esses são certamente deles, e que enquanto viverem em rebelião contra Deus, são poderosos agentes de Satanás. T1 352 3 Os que se desgostaram com a multidão que clamava pela coroa terrestre, são aqueles que notaram a vida e o fim de todos os que se esforçam por conseguir riquezas terrestres. Vêem que esses tais nunca estão satisfeitos, e que são infelizes; assustam-se e se separam daquela classe infeliz, e procuram as riquezas verdadeiras e duráveis. T1 353 1 Aqueles que lutam por passar através da multidão a fim de obter a coroa celeste, auxiliados pelos santos anjos, foi-me mostrado serem o fiel povo de Deus. Os anjos os conduzem, e eles são inspirados com zelo a fim de se esforçarem para prosseguir na aquisição do tesouro celeste. T1 353 2 As bolas pretas que eram atiradas às costas dos santos, eram as falsidades difamatórias postas em circulação contra o povo de Deus, por aqueles que amam e praticam a mentira. Devemos ter o máximo cuidado em viver vida irrepreensível, e abster-nos de toda a aparência do mal; e então é nosso dever avançar destemidamente, sem dar atenção às falsidades degradantes dos ímpios. Enquanto os justos mantiverem os olhares fixos no incalculável tesouro celeste, tornar-se-ão mais e mais semelhantes a Cristo, e assim serão transformados e dispostos para a trasladação. ------------------------Capítulo 68 -- O futuro T1 353 3 Na transfiguração, Jesus foi glorificado pelo Pai. Ouvimo-Lo dizer: "Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nEle." João 13:31. Assim, antes de ser traído, e crucificado, foi fortalecido para os últimos e terríveis sofrimentos. Ao se aproximarem os membros do corpo de Cristo do período de sua luta final, o "tempo de angústia para Jacó" (Jeremias 30:7), crescerão em Cristo, e partilharão grandemente de Seu espírito. À medida que a terceira mensagem se avoluma e se torna alto clamor, e que a obra final é acompanhada de grande poder e glória, o fiel povo de Deus participa dessa glória. É a chuva serôdia que os vivifica e fortalece para passar pelo tempo de angústia. Seu rosto brilhará com a glória daquela luz que acompanha a mensagem do terceiro anjo. T1 353 4 Vi que Deus preservara Seu povo, de maneira maravilhosa, durante o tempo de angústia. Como Jesus derramou Seu coração em agonia, no jardim, eles hão de fervorosamente clamar e angustiar-se dia e noite, pedindo libertação. Sairá o decreto para que eles rejeitem o sábado do quarto mandamento e honrem o primeiro dia, ou morram; eles não cederão, porém, para pisar a pés o sábado do Senhor e honrar uma instituição do papado. O exército de Satanás e homens ímpios os rodearão, e exultarão sobre eles, pois parecerá não haver escape para eles. Em meio, porém, de sua orgia e triunfo, ouve-se ribombo após ribombo dos mais estrondosos trovões. Os céus se enegrecem, sendo iluminados apenas pela brilhante luz e a terrível glória do céu ao fazer Deus soar Sua voz desde Sua santa habitação. T1 354 1 Abalam-se os fundamentos da Terra; os edifícios vacilam e caem com terrível fragor. O mar ferve como uma caldeira, e a Terra toda se acha em horrível comoção. Vira-se o cativeiro dos justos e, em suaves e solenes murmúrios, dizem uns aos outros: "Somos libertados. É a voz de Deus." Com solene respeito escutam eles as palavras da voz. Os ímpios ouvem, mas não entendem as palavras da voz de Deus. Temem e tremem, ao passo que os santos se regozijam. Satanás e seus anjos e os ímpios, que há pouco se regozijavam de que o povo de Deus se encontrasse no poder deles, para os destruírem da Terra, testemunham a glória conferida aos que honraram a santa lei de Deus. Contemplam o rosto dos justos iluminado e refletindo a imagem de Jesus. Os que estavam tão ansiosos de destruir os santos não podem resistir à glória que se manifesta sobre os libertados, e caem por terra como mortos. Satanás e os anjos maus, fogem da presença dos santos glorificados. Desaparece para sempre seu poder de os molestar. ------------------------Capítulo 69 -- A rebelião* T1 355 2 O terrível estado de nossa nação [Estados Unidos] clama por profunda humildade por parte do povo de Deus. A importantíssima pergunta que deveria agora ocupar a mente de cada um é: "Estou preparado para o dia do Senhor? Posso suportar a penosa prova que está diante de mim?" T1 355 3 Vi que Deus está purificando e provando Seu povo. Ele os refinará como ouro, até que a escória seja consumida e Sua imagem neles refletida. Muitos não têm o espírito de renúncia própria e aquela disposição para suportar dificuldades e sofrer por causa da verdade, como Deus requer. Sua vontade não foi subjugada e eles não se consagraram plenamente ao Senhor, não buscando prazer maior do que fazer Sua vontade. Pastores e povo têm falta de espiritualidade e da verdadeira piedade. Tudo o que puder ser sacudido, sê-lo-á. O povo de Deus será levado às mais difíceis situações e todos precisam ser estabelecidos, arraigados e solidificados na verdade, ou seus pés certamente resvalarão. Quando Deus conforta e alimenta o espírito com Sua inspiradora presença, ele pode suportar dificuldades, embora o caminho possa ser escuro e espinhoso. Pois a escuridão em breve passará e a verdadeira luz brilhará para sempre. Foram apontados os textos de Isaías 58; 59:1-15 e Jeremias 14:10-12, como uma descrição do presente estado de nossa nação. O povo deste país abandonou a Deus e se esqueceu dEle. Escolheram outros deuses e seguiram seus caminhos corrompidos, até que o Senhor os deixou. Os habitantes da Terra transgrediram a Lei de Deus e violaram Seu concerto eterno. T1 356 1 Foi-me revelada a agitação causada entre nosso povo pelo artigo da Review, intitulado "A Nação". Alguns o entendiam de um modo, outros de maneira diversa. As claras colocações foram distorcidas e forçadas a declarar aquilo que o autor não pretendia. Ele comunicou a melhor luz que até então já comunicara. Era necessário que alguma coisa fosse dita. A atenção de muitos se voltou para os observadores do sábado, porque eles não manifestavam maior interesse na guerra e não se alistaram como voluntários. Em alguns lugares eles eram considerados como simpatizantes dos confederados. Veio o tempo em que nossos verdadeiros sentimentos com relação à escravatura e a Confederação deviam ser conhecidos. Havia necessidade de agir com sabedoria para desfazer as suspeitas levantadas contra os guardadores do sábado. Devíamos agir com grande cautela. "Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens." Romanos 12:18. Devemos atender a essa admoestação e não sacrificar nenhum princípio de nossa fé. Satanás e seu exército estão em guerra contra os observadores dos mandamentos e agirão para colocá-los em situações difíceis. Os crentes não deverão, por falta de discrição, envolver-se nelas. T1 356 2 Foi-me revelado que alguns agiram de modo bastante indiscreto com relação ao artigo mencionado. Ele não estava, sob todos os pontos de vista, de acordo com suas opiniões, e em vez de calmamente pesarem o assunto e analisá-lo sob todos os seus ângulos, perturbaram-se, agitaram-se, e alguns apanharam a caneta e tiraram conclusões apressadas que não suportariam um exame. Alguns foram incoerentes e irrazoáveis. Fizeram o que Satanás sempre quis, isto é, agiram segundo os próprios sentimentos rebeldes. T1 356 3 Em Iowa eles levaram as coisas muito longe e se entremeteram com o fanatismo. Tomaram falso zelo e fanatismo por consciência. Em vez de serem guiados pela razão e julgamento sadios, permitiram que seus sentimentos assumissem o controle. Estavam prontos a se tornarem mártires por sua fé. Porventura todo esse sentimentalismo os conduziu a Deus? A maior humildade diante dEle? Levou-os a confiar em Seu poder para livrá-los de situações difíceis nas quais poderiam ser colocados? Oh, não! Em vez de fazerem suas petições ao Deus do Céu, e confiando somente em Seu poder, apelaram para a legislação e foram rejeitados. Revelaram sua fraqueza e expuseram sua falta de fé. Tudo isso só serviu para pôr essa classe peculiar, os guardadores do sábado, sob observação especial e expô-los a situações difíceis por aqueles que não nutrem nenhuma simpatia por eles. T1 357 1 Alguns têm sido prontos em descobrir faltas e contestar qualquer sugestão feita. Mas poucos têm tido sabedoria neste tempo difícil para pensar de modo isento de preconceito e imparcialmente dizer o que precisa ser feito. Vi que aqueles que têm se adiantado em falar tão decididamente sobre a recusa em obedecer a um recrutamento, não sabem do que estão falando. Houvessem eles realmente sido convocados e, recusando-se a obedecer, fossem ameaçados com encarceramento, tortura ou morte, eles recuariam, descobrindo então não estarem preparados para tal emergência. Não suportariam a prova de sua fé. Aquilo que pensavam ser fé, apenas se mostraria ser fanática presunção. T1 357 2 Os que estariam melhor preparados para sacrificar a própria vida se esta lhes fosse exigida, em vez de colocar-se numa posição em que não pudessem obedecer a Deus, teriam pouco a dizer. Não fariam qualquer alarde, mas se compenetrariam profundamente e meditariam muito, e suas ferventes orações subiriam ao Céu rogando sabedoria para agir e graça para resistir. Aqueles que, no temor de Deus, sentem não poder conscienciosamente empenhar-se nessa guerra, estarão muito calmos e, quando interrogados, declararão ao pesquisador somente o que for necessário, e então deixarão claro que não nutrem qualquer simpatia pela Confederação. T1 358 1 Há poucos nas fileiras dos observadores do sábado que simpatizam com os escravistas. Quando aceitaram a verdade, não deixaram para trás de si todos os erros que deveriam. Esses necessitam um gole mais profundo da purificadora fonte da verdade. Alguns trouxeram consigo velhos preconceitos políticos, os quais não estão em harmonia com os princípios da verdade. Eles defendem que o escravo é propriedade do dono e não deveria ser tomado dele. Classificam esses escravos como gado e dizem que é ser injusto com o proprietário privá-lo de seus escravos, assim como tomar-lhe o gado. Foi-me mostrado que não importava quanto o proprietário havia pago pela carne e a vida dos homens; Deus não lhe deu nenhum documento sobre seres humanos e ele não têm qualquer direito de tomá-los como sua propriedade. Cristo morreu por toda a família humana, sejam brancos ou negros. Deus fez o homem como agente moral livre, quer brancos quer negros. A instituição da escravatura põe fim a tudo isso e permite exercer sobre seu semelhante um poder que Deus nunca lhe conferiu, e que pertence somente ao Senhor. O senhor de escravos tem-se atrevido a assumir a responsabilidade que pertence a Deus com respeito a seu escravo, dessa maneira será ele responsável por pecados, ignorância e vícios do escravo. Ele será chamado a dar contas pelo poder que exerce sobre o escravo. A raça negra é propriedade divina. O Criador tão-somente é seu Senhor; e aqueles que se atrevem a acorrentar o corpo e o intelecto do escravo, para mantê-lo em degradação como os animais, sofrerão retribuição. A ira de Deus está contida, mas ela será despertada e derramada sem mistura de misericórdia. T1 358 2 Alguns têm sido muito indiscretos ao manifestar suas convicções escravistas, convicções essas não procedentes do Céu, mas de Satanás. Esses espíritos inquietos falam e agem de modo a atrair reprovação sobre a causa de Deus. Transcreverei em seguida o teor de uma carta escrita ao irmão A, do Condado de Oswego, Nova Iorque: T1 359 1 "Foram-me reveladas algumas coisas a seu respeito. Vi que você se engana sobre si mesmo. O irmão deu ocasião aos inimigos de nossa fé para blasfemarem e censurarem os observadores do sábado. Por seu comportamento indiscreto, você cerrou os ouvidos de alguns que poderiam ouvir a verdade. Vi que deveríamos ser 'prudentes como as serpentes e símplices como as pombas'. Mateus 10:16. Mas você não manifesta nem a prudência da serpente nem a inocência da pomba. T1 359 2 "Satanás é o líder máximo da rebelião. Deus está punindo o Norte porque eles têm por tanto tempo tolerado a existência do amaldiçoado pecado da escravidão, pois à vista do Céu é um pecado da mais tétrica espécie. Deus não está com o Sul e Ele os castigará terrivelmente no final. Satanás é o instigador de toda a rebelião. Eu vi que você, irmão A, permitiu que seus princípios políticos destruíssem sua capacidade de julgar seu amor pela verdade. Eles estão devorando a verdadeira piedade em seu coração. Você nunca olhou a escravidão sob a verdadeira luz, e suas concepções sobre esse assunto o impeliram para o lado da Confederação, a qual foi incitada por Satanás e suas forças. Suas opiniões sobre escravidão não podem harmonizar-se com as verdades sagradas e importantes para este tempo. Você tem de submeter seus pontos de vista ou abrir mão da verdade. Ambos não podem ser apreciados pelo mesmo coração, porque estão em guerra entre si. T1 359 3 "Satanás o tem incitado. Ele não lhe deu descanso até que você expressasse suas preferências ao lado dos poderes das trevas, fortalecendo assim as mãos dos ímpios a quem Deus amaldiçoou. Você hipotecou sua influência ao lado errado, com esses cujo modo de vida é semear espinhos e plantar miséria para os outros. Eu o vi empregar sua influência em favor de um grupo degradado -- um grupo dos desprotegidos de Deus; e os anjos de Deus retiraram-se de você entristecidos. Vi que você estava totalmente enganado. Se tivesse seguido a luz que Deus lhe enviara; se tivesse atendido às instruções de seus irmãos; se tivesse escutado seu conselho, teria sido resguardado e poupado de censura a preciosa causa. Mas, apesar de toda a luz enviada, você deu publicidade a seus sentimentos. A menos que você desfaça o que realizou, será dever do povo de Deus retirar publicamente sua simpatia e companheirismo do irmão para poupar impressão duvidosa com respeito a nós como um povo. Precisamos tornar conhecido que não aceitamos pessoas tais em nosso meio, e que não compactuamos com elas na igreja. T1 360 1 "Você dissipou a santificadora influência da verdade. Perdeu sua ligação com o exército celestial. O irmão se aliou ao primeiro grande rebelde e a ira de Deus recai sobre você, pois Sua sagrada causa sofre vergonha e a verdade é desacreditada perante os descrentes. Você ofendeu o povo de Deus e desprezou o conselho de Seus embaixadores sobre a Terra, os quais trabalham em parceria com Ele e estão rogando da parte de Cristo que as pessoas se reconciliem com Deus. T1 360 2 "Foi-me mostrado que, como um povo, todo o cuidado que tomarmos é pouco com relação à influência que exercemos; precisamos vigiar cada palavra. Quando, por palavras ou atos, nos colocamos em território inimigo, afastamos os santos anjos e estimulamos e atraímos multidões de anjos maus ao nosso redor. Você agiu assim, irmão A, e por sua conduta vulnerável e premeditada fez com que os descrentes observassem os observadores do sábado com suspeita. Estas palavras me foram apresentadas como se referindo aos servos de Deus: 'Quem vos ouve a vós a Mim Me ouve; e quem vos rejeita a vós a Mim Me rejeita; e quem a Mim Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou.' Lucas 10:16. Que Deus o ajude, meu iludido irmão, para que você possa conhecer-se como realmente é, e reatar seus laços com a congregação." T1 360 3 Nosso "reino não é deste mundo". João 18:36. Estamos aguardando nosso Senhor voltar do Céu à Terra para submeter toda autoridade e poder e estabelecer Seu reino eterno. Os poderes terrenos serão abalados. Não podemos e não devemos esperar união entre as nações da Terra. Nossa posição na imagem de Nabucodonosor é representada pelos dedos do pé, num Estado dividido e feitos de um material fragmentário, que não se une. A profecia nos mostra que o grande dia de Deus está às portas e se apressa grandemente. T1 361 1 Vi que o nosso dever em cada caso é obedecer às leis de nossa pátria, a menos que se oponham às que Deus proferiu com voz audível do Monte Sinai, e depois, com o próprio dedo, gravou em pedra. "Porei as Minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles Me serão por povo." Hebreus 8:10. Quem tem a lei de Deus escrita no coração, obedecerá mais a Deus do que aos homens, e preferirá desobedecer a todos os homens a desviar-se um mínimo que seja dos mandamentos de Deus. O povo de Deus, ensinado pela inspiração da verdade, e guiado por uma consciência pura a viver segundo toda Palavra de Deus, terá a Sua lei, escrita no coração, como única autoridade que reconhece ou consente em obedecer. Supremas são a sabedoria e a autoridade da lei divina. T1 361 2 Revelou-se-me que o povo de Deus, que é Seu tesouro particular, não pode envolver-se nessa desconcertante guerra, pois ela se opõe a todos os princípios de sua fé. No exército eles não podem obedecer à verdade e ao mesmo tempo atender às ordens de seus oficiais. Haveria uma contínua violação de consciência. Os homens mundanos são governados por princípios mundanos e não podem apreciar quaisquer outros. A política secular e a opinião pública encerram um princípio de ação que os governa e conduz à prática de uma forma de boas obras. Mas o povo de Deus não pode ser governado por esses motivos. As palavras e ordens divinas, escritas na mente, são espírito e vida. Há nelas um poder para submeter e motivar a obediência. Os dez preceitos de Jeová são o fundamento de todas as leis justas e boas. Aqueles que amam os mandamentos de Deus conformar-se-ão com toda boa lei da Terra. Mas se as exigências dos governantes são tais que conflitem com as leis de Deus, a única questão a ser assentada é: Obedeceremos a Deus ou ao homem? Em conseqüência da longa, contínua e progressiva rebelião contra a constituição e leis supremas, um sombrio manto de trevas e morte cobre a Terra. A Terra geme sob a carga de culpa acumulada e em todos os lugares os agonizantes mortais são compelidos a experimentar a desgraça inclusa no salário da injustiça. Foi-me mostrado que os homens têm cumprido os propósitos de Satanás pela malícia e o engano, e uma terrível calamidade aconteceu recentemente. Pode-se verdadeiramente dizer: "Pelo que o juízo se tornou atrás, e a justiça se pôs longe, porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar", "e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado". Isaías 59:14, 15. Em alguns dos Estados livres, o padrão de moralidade está declinando mais e mais. Homens com apetites depravados e vida corrupta têm agora a oportunidade de triunfar. Eles escolheram como seus governantes aqueles cujos princípios são baixos, que não reprimem o mal e os apetites corrompidos dos homens, mas os deixam ter pleno controle. Se os que escolhem tornar-se como os animais, bebendo veneno líquido, forem os únicos sofredores; se sozinhos colherem os frutos dos próprios atos, então o mal não será tão grande. Mas muitos, muitos mesmo, devem passar por intenso sofrimento em conseqüência dos pecados de outros. Esposas e filhos, embora inocentes, devem esgotar a amarga taça até as escórias. T1 362 1 Sem a graça de Deus, os homens amam praticar o mal. Eles andam na escuridão e não têm o poder do domínio próprio. Dão rédeas soltas às suas paixões e apetites, até perderem as mais finas sensibilidades e darem lugar às paixões animais. Tais homens necessitam sentir um poder controlador mais elevado que os constranja a obedecer. Se os governantes não exercem o poder para aterrorizar o malfeitor, esse descerá ao nível dos animais. A Terra está se tornando mais e mais corrompida. T1 363 1 Muitos foram cegados e grandemente enganados na última eleição, e seu voto foi usado para dar autoridade a homens que toleram o mal; homens que testemunhariam impassíveis um dilúvio de infortúnios e miséria, e cujos princípios são corruptos, que são simpatizantes do Sul e preservariam a escravatura nos moldes em que está. T1 363 2 Em posições de confiança nos exércitos do Norte estão homens que são rebeldes de coração, que não estimam a vida de um soldado mais do que a de um cão. Eles podem vê-los esfarrapados, mutilados e moribundos aos milhares, sem se impressionarem. Os oficiais do exército sulista estão constantemente recebendo informações com respeito aos planos do exército da União. Chegaram aos oficiais do Norte informações sobre os movimentos e a aproximação dos rebeldes, as quais foram desrespeitadas e desprezadas, porque o informante era negro. E por terem negligenciado preparar-se para o ataque, as forças da União foram surpreendidas e quase dizimadas, e o que é pior, muitos dos pobres soldados foram aprisionados e sofreram torturas piores do que a morte. T1 363 3 Se houvesse união no exército do Norte, essa rebelião logo seria subvertida. Os rebeldes sabem que têm muitos simpatizantes em todo o exército do Norte. As páginas da História estão se tornando mais e mais escuras. Homens leais que não têm qualquer simpatia pela rebelião, com a escravatura que a causa, foram enganados. Sua influência tem ajudado a colocar no poder homens a cujos princípios eles se opunham. T1 363 4 Tudo está se preparando para o grande dia de Deus. O tempo durará um pouco mais até que os habitantes da Terra tenham enchido a medida de sua iniqüidade, e então a ira de Deus, que por tanto tempo tem estado dormitando, se despertará, e esta terra de luz beberá da taça de Sua ira sem mistura. O devastador poder de Deus está sobre a Terra para despedaçar e destruir. Os habitantes da Terra estão destinados à espada, à fome e à pestilência. T1 363 5 Muitos homens em posição de autoridade, generais e oficiais agem em conformidade com as instruções dadas pelos espíritos. Os espíritos de demônios apresentando-se como guerreiros já falecidos e habilidosos generais, comunicam-se com os homens em autoridade e controlam muitos de seus movimentos. Um general recebe orientações desses espíritos para ordenar movimentos especiais e se envaidece com a esperança de sucesso. Outro recebe orientações que diferem totalmente daquelas dadas ao primeiro. Algumas vezes os que seguem as orientações dadas, obtêm uma vitória, porém, conhecem derrotas com mais freqüência. T1 364 1 Os espíritos algumas vezes passam a esses dirigentes militares um relato antecipado dos eventos a ocorrer nas batalhas nas quais estão prestes a se envolver, e daqueles que cairão nos campos de combate. Ocasionalmente, acontece justamente como esses espíritos predisseram, e isso fortalece a confiança dos que crêem nessas manifestações espiritistas. E novamente se descobre que não foram dadas informações corretas, mas os espíritos enganadores dão algum esclarecimento, o qual é aceito. O engano sobre a mente é tão grande que muitos não conseguem perceber os espíritos mentirosos que os estão conduzindo para a destruição certa. T1 364 2 O grande general rebelde, Satanás, está familiarizado com as atuações desta guerra e orienta seus anjos para assumir a forma de generais mortos, imitar seus modos e exibir seus traços peculiares de caráter. E os líderes militares realmente acreditam que os espíritos de seus amigos e de guerreiros mortos, os pais da Guerra Revolucionária, os estão guiando. Se eles não estivessem sob o mais poderoso e fascinante engano, começariam a pensar que os guerreiros no Céu (?) não manifestam bom e bem-sucedido generalato, ou se esqueceram de suas afamadas habilidades terrenas. T1 364 3 Em vez dos principais dirigentes desta guerra confiarem no Deus de Israel, e levarem seus exércitos a confiar no Único que pode livrá-los de seus inimigos, a maioria busca o príncipe dos demônios e nele confia. Deuteronômio 32:16-22. Disse o anjo: "Como pode Deus prosperar tais pessoas? Se elas O contemplassem e nEle confiassem; se tão-somente se achegassem onde Ele as pudesse ajudar, consoante Sua própria glória, Deus prontamente faria isso." T1 365 1 Vi que Deus não daria completamente o exército do Norte nas mãos dos rebeldes, para ser totalmente destruído por seus inimigos. Foi-me chamada a atenção para o seguinte texto: "Eu disse que por todos os cantos os espalharia; faria cessar a sua memória dentre os homens, se eu não receara a ira do inimigo, para que os seus adversários o não estranhem e para que não digam: A nossa mão está alta; o Senhor não fez tudo isso. Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Tomara eles fossem sábios, que isso entendessem e atentassem para o seu fim! Como pode ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a sua Rocha os não vendera, e o Senhor os não entregara?" Deuteronômio 32:26-30. T1 365 2 Há generais no exército que são totalmente dedicados e buscam fazer tudo para deter essa terrível rebelião e guerra desnaturada. Mas a maioria dos oficiais e homens de comando acalentam seu propósito egoísta. Cada um está procurando obter vitória para seu quartel, e muitos soldados verdadeiros e sinceros estão se tornando medrosos e desanimados. Nobremente desempenhariam sua parte quando em luta com o inimigo, mas o tratamento que têm recebido de seus próprios oficiais é desumano. Entre os soldados há homens sensíveis e independentes de espírito. Eles nunca foram acostumados a estar em contato com tão degradada classe de homens como a guerra reuniu, a ser tratados com tirania e abuso, como se fossem animais. É-lhes muito difícil suportar tudo isso. Muitos oficiais têm paixões animalescas, e quando postos em autoridade acham boa oportunidade de agir segundo sua natureza brutal. Tiranizam seus subordinados assim como os senhores do Sul oprimem os escravos. Essas coisas tornarão difícil o recrutamento para o exército. T1 366 1 Em alguns casos, quando os generais estavam envolvidos nos mais terríveis conflitos, onde seus homens caíam como chuva, um reforço de contingente no tempo certo lhes teria dado a vitória. Mas outros generais não se preocuparam nada pelas vidas perdidas, e em lugar de ajudar aqueles que estavam empenhados em combate, embora seus interesses fossem comuns, retiveram a ajuda necessária temendo que o general aliado recebesse a honra de ser bem-sucedido ao repelir o inimigo. Por causa da inveja e ciúmes eles exultaram em ver o inimigo ganhar a vitória e pôr em fuga os homens da União. Os sulistas possuem um espírito infernal nessa rebelião, mas os homens do Norte não são inocentes. Muitos deles são ciumentos e temem que outros obtenham honras, e sejam exaltados acima deles. Oh, quantos milhares de vidas foram sacrificados por conta disso! Os de outras nações que lutaram na guerra tinham um só interesse. Com um zelo desinteressado eles atacaram para conquistar ou morrer. Os líderes revolucionários agiram de modo unido e com zelo, assim ganharam sua independência. Mas os homens agora agem como demônios em vez de seres humanos. T1 366 2 Satanás, através de seus anjos, comunicou-se com oficiais que eram homens frios e calculistas quando agindo por si mesmos, e eles abriram mão do próprio discernimento, e foram conduzidos por esses espíritos enganadores a lugares muito difíceis, onde foram repelidos com terrível morticínio. Agradou a sua satânica majestade ver morte e carnificina na Terra. Ele gosta de ver os pobres soldados ceifados como grama. Vi que os rebeldes estiveram freqüentemente em posições onde poderiam ter sido subjugados sem muito esforço, mas as comunicações dos espíritos orientavam os generais do Norte e cegaram-lhes os olhos, até que os rebeldes ficaram fora de seu alcance. Alguns generais prefeririam permitir que os rebeldes escapassem sem atacá-los. Eles pensam mais na querida instituição da escravidão do que na prosperidade do país. Estas são algumas das razões do prolongamento da guerra. T1 367 1 As informações enviadas por nossos generais a Washington com relação ao movimento de nossos exércitos, poderiam ser quase como telegrafar diretamente às forças rebeldes. Há simpatizantes rebeldes justamente entre as autoridades de União. Essa guerra é diferente de qualquer outra. A grande falta de unidade de sentimento e ação, faz com que ela pareça sombria e desanimadora. Muitos dos soldados foram deixados em reclusão e caíram em um impressionante estado de degradação. Como pode Deus avançar com tal exército corrupto? Como pode Ele, de acordo com Sua honra, derrotar seus inimigos e conduzi-los à vitória? Há discórdia e disputa por honras, enquanto os pobres soldados estão morrendo aos milhares nos campos de batalha, por ferimentos, abandono e dificuldades. T1 367 2 Esta guerra é o mais estranho e ao mesmo tempo o mais horrível e deprimente conflito. Outras nações estão olhando desgostosas tanto as atuações dos exércitos do Norte como do Sul. Elas observam os esforços determinados para prolongar a guerra, com imenso sacrifício de vidas e dinheiro, ao mesmo tempo em que nada é realmente ganho. Parece-lhes ser uma competição para ver quem mata mais homens. Elas estão indignadas. T1 367 3 Vi que a rebelião tem estado a aumentar continuamente e que nunca foi mais determinada do que no momento presente. Muitos professos homens da União que se acham em posições importantes, são desleais. Seu único objetivo é lutar para preservá-la do jeito que está, e com ela a escravidão. Eles de bom grado sujeitariam o escravo à sua vida de mortificante servidão, se tivessem oportunidade. Esses tais possuem fortes laços de simpatia com o Sul. O sangue tem sido derramado como água e por nada. Em toda cidade e aldeia há lamentações. Esposas lamentam por seus maridos, mães pelos filhos, e irmãs por seus irmãos. Mas, apesar de todo esse sofrimento, elas não se voltam para Deus. T1 368 1 Vi que o Sul e o Norte estavam sendo punidos. Foi-me referido, com respeito ao Sul: "Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo em que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder se apressam a chegar. Porque o Senhor fará justiça ao Seu povo e Se arrependerá pelos Seus servos, quando vir que o seu poder se foi e não há fechado nem desamparado. Então, dirá: Onde estão os seus deuses, a rocha em quem confiavam"? Deuteronômio 32:35-37. ------------------------Capítulo 70 -- Perigos e deveres dos pastores T1 368 2 Foi-me mostrado que agora pode ser realizado mais pelo trabalho em lugares onde pouco foi promovido, do que em campos inteiramente novos, a menos que o campo novo seja muito bom. Uns poucos, em diferentes cidades, que crêem realmente na verdade, exercerão influência e suscitarão pesquisa com respeito à sua fé. Se sua vida for exemplar, a luz brilhará e promoverá uma ação unificadora. Vi, ainda, lugares onde a verdade não foi proclamada, os quais logo devem ser visitados. Mas o grande trabalho a ser realizado agora é levar o povo de Deus a envolver-se na obra, e exercer uma santa influência. Eles devem desempenhar o papel de operários. Com sabedoria, cautela e amor, devem trabalhar pela salvação de vizinhos e amigos. Há também um manifesto sentimento de distância. A cruz não foi tomada e sustentada como deveria ser. Todos devem sentir que são guardiães de seu irmão; que estão sob alto grau de responsabilidade pelos seres que os cercam. Os irmãos erram quando deixam todo o trabalho para os pastores. "A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros." Mateus 9:37. Os que têm boa reputação e cuja vida está de acordo com sua fé, podem ser obreiros. Podem conversar com outros, persuadindo-os sobre a importância da verdade. Não devem esperar pelos pastores e negligenciar um claro dever que Deus deixou que executassem. T1 369 1 Alguns de nossos pastores sentem pouca disposição para arcar com o fardo do trabalho de Deus, e trabalhar com aquela desinteressada benevolência que caracterizou a vida de nosso divino Senhor. As igrejas, como regra geral, estão mais adiantadas que alguns pastores. Elas tiveram fé nos testemunhos que Deus houve por bem dar e agiram segundo eles, enquanto alguns pregadores ficaram bem para trás. Esses professam crer nos testemunhos dados, e alguns agem muito mal fazendo deles uma regra férrea para os que não tiveram nenhuma experiência anterior com relação às mensagens, mas fracassam em atendê-los eles mesmos. Eles repetem testemunhos que são completamente desconsiderados. Sua conduta não é coerente. T1 369 2 O povo de Deus geralmente tem interesse unido na propagação da verdade. Alegremente dão liberal apoio àqueles que trabalham em palavra e doutrina. Vi que é dever dos que têm a responsabilidade de distribuir meios, ver que os recursos da igreja não sejam dissipados. Alguns desses irmãos liberais têm trabalhado durante anos com os nervos em frangalhos e o organismo enfraquecido, resultantes de trabalho excessivo para obter posses terrenas, e agora quando dão uma porção do que lhes custou muito, é dever daqueles que trabalham na palavra e na doutrina manifestar zelo e abnegação, pelo menos iguais aos demonstrados por esses irmãos. T1 369 3 Os servos de Deus devem ser livres. Eles devem saber em quem confiam. Há poder em Cristo e em Sua salvação para torná-los homens livres; e a menos que sejam livres nEle, não podem edificar Sua igreja e ganhar almas. Enviará Deus um homem para salvar pessoas da armadilha de Satanás, quando seus pés estão emaranhados na rede? Os servos de Deus não devem ser vacilantes. Se seus pés estão resvalando, como podem dizer aos de coração temeroso: "Sejam fortes"? Deus quer Seus servos sustentando as "mãos fracas" e fortalecendo os "joelhos trementes". Isaías 35:3. Os que não estão preparados para fazer isso, deveriam primeiro trabalhar por si mesmos e orar até ser dotados do poder do alto. T1 370 1 Deus não está satisfeito com a falta de abnegação vista em alguns de Seus servos. Eles não sentem o peso do trabalho sobre si mesmos. Parecem estar dominados por um estupor mortal. Os anjos de Deus ficam pasmados e envergonhados com essa falta de abnegação e perseverança. Enquanto o Autor de nossa salvação estava trabalhando e sofrendo por nós, negava-Se a Si mesmo, e toda a Sua vida foi uma continuada cena de labuta e privação. Ele poderia ter passado os Seus dias na Terra em tranqüilidade e fartura, e usufruir os prazeres desta vida, mas não considerou a própria conveniência. Viveu para fazer o bem aos outros. Sofreu para poupar sofrimento aos outros. Resistiu até o fim e consumou a obra que Lhe fora confiada. Tudo isso para nos salvar da ruína. Pode ser agora que nós, indignos objetos de tão grande amor, busquemos nesta vida uma posição melhor do que a que foi dada a nosso Senhor? Cada momento de nossa vida temos sido participantes das bênçãos de Seu grande amor, e por essa mesma razão não podemos perceber completamente a profundidade da ignorância e da miséria das quais fomos resgatados. Podemos olhar Aquele a quem nossos pecados traspassaram e não estarmos dispostos a beber com Ele o amargo cálice da humilhação e do sofrimento? Podemos olhar a Cristo crucificado e querer entrar em Seu reino de qualquer outro modo senão através de muita tribulação? T1 370 2 Nem todos os pregadores se entregam ao trabalho de Deus como lhes é exigido. Alguns sentem que a sorte do pregador é dura, porque são obrigados a ficar separados de suas famílias. Eles se esquecem que antes era muito mais difícil de trabalhar do que agora. Não havia senão poucos amigos da causa. Eles se esquecem daqueles sobre quem Deus pôs no passado a responsabilidade da obra. Havia então apenas alguns que recebiam a verdade como resultado de muito trabalho. Os escolhidos servos de Deus choravam e oravam para obter uma clara compreensão da verdade, e sofreram privações e exerceram muita abnegação para levá-la aos outros. Passo a passo prosseguiram conforme a providência de Deus os conduzia. Não levaram em conta a própria conveniência nem se furtaram a sofrimentos. Através desses homens Deus preparou o caminho e tornou a verdade clara à compreensão de toda mente sincera. Tudo foi posto nas mãos dos pastores que abraçaram a verdade desde então, todavia, alguns deles não sentiram a responsabilidade do trabalho. Eles procuraram uma sorte mais fácil, uma posição menos abnegada. Esta Terra não é o lugar de repouso dos cristãos, e muito menos dos escolhidos pastores de Deus. Eles se esquecem de que Cristo deixou Suas riquezas e glória no Céu e veio à Terra para morrer, e que Ele nos ordenou amarmo-nos "uns aos outros, assim como" Ele nos amou. João 15:12. Esquecem-se daqueles "dos quais o mundo não era digno", que "andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados". Hebreus 11:38, 37. T1 371 1 Foram-me mostrados os valdenses e o que eles sofreram por causa de sua religião. Eles estudavam conscienciosamente a Palavra de Deus e viviam segundo a luz que possuíam. Foram perseguidos e expulsos de seus lares; suas posses, obtidas mediante duro trabalho, foram-lhes confiscadas e suas casas queimadas. Fugiram para as montanhas e ali enfrentaram terríveis sofrimentos. Suportaram fome, fadiga, frio e nudez. A única veste que muitos puderam obter era a pele de animais. E, todavia, os dispersos e desabrigados se reuniam para unir as vozes em cânticos de louvor a Deus, porque eram tidos por dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Eles se encorajavam e animavam uns aos outros e eram mesmo gratos por seu miserável abrigo. Muitos de seus filhos ficaram doentes e morreram de frio e fome, contudo, os pais nem por um só momento pensaram em renunciar sua fé. Eles prezavam o amor e o favor de Deus acima de todas as facilidades e riquezas terrenas. Receberam consolação de Deus e com alegre esperança olhavam para a recompensa futura. T1 372 1 Foi-me também mostrado Martinho Lutero, a quem Deus chamou para uma obra especial. Quão precioso lhe era o conhecimento da verdade revelada na Palavra de Deus! Sua mente estava faminta por algo seguro sobre o qual edificar sua esperança de que Deus seria seu Pai e o Céu seu lar. A nova e preciosa luz que raiou sobre ele da Palavra do Senhor foi-lhe de inestimável valor, e pensou que se saísse e a propagasse, poderia convencer o mundo. Ele enfrentou a ira da igreja decaída e fortaleceu aqueles que com ele se deleitavam nas ricas verdades contidas na Palavra de Deus. Lutero foi um instrumento escolhido por Deus para arrancar os trajes hipócritas da igreja papal e expor sua corrupção. Ele ergueu sua voz zelosamente e pelo poder do Espírito Santo clamou contra os pecados dos líderes. Foram emitidos decretos condenando-o à morte onde quer que pudesse ser encontrado. Parecia ter sido deixado à mercê de um povo supersticioso e obediente ao líder da igreja romana. Entretanto, ele não considerava sua vida por preciosa. Lutero sabia que não estava seguro em nenhum lugar, mas não temeu. A luz que vira e na qual se deleitara era-lhe vida, e de maior valor do que todos os tesouros da Terra. Ele bem sabia que riquezas terrenas falhariam, mas as ricas verdades abertas à sua compreensão e atuando no coração subsistiriam e, se obedecidas, o conduziriam à imortalidade. T1 372 2 Quando intimado a comparecer em Augsburgo para responder por sua fé, atendeu. Aquele homem solitário que havia despertado a ira dos sacerdotes e do povo foi citado perante aqueles que fizeram o mundo tremer -- um manso cordeiro cercado de leões famintos. No entanto, por causa de Cristo e da verdade, ele permaneceu intrépido, e com santa eloqüência que somente a verdade pode inspirar, apresentou as razões de sua fé. Seus inimigos tentaram por vários meios silenciar o destemido advogado da verdade. Inicialmente o elogiaram e fizeram-lhe a promessa de que seria exaltado e honrado. Mas vida e honras eram para ele de pouco valor se conseguidas em troca do sacrifício da verdade. Mais brilhante e clara a Palavra de Deus luziu em sua compreensão, dando-lhe mais vívido senso dos erros, corrupções e hipocrisia do papado. Seus inimigos procuraram então intimidá-lo e fazer com que renunciasse a fé, mas ele intrepidamente permaneceu em defesa da verdade. Lutero estava pronto a morrer por sua fé se Deus assim o requeresse, mas ceder, nunca! Deus preservou sua vida. Enviou anjos para acompanhá-lo e frustrar a ira e os propósitos de seus inimigos, e conduzi-lo ileso através do tormentoso conflito. T1 373 1 O ânimo calmo e nobre de Lutero humilhou seus inimigos e aplicou o mais terrível golpe ao papado. Os grandes e orgulhosos homens do poder criam que o sangue do monge alemão expiaria os danos feitos à sua causa. Seus planos foram apresentados, mas um poder mais alto do que eles cuidava de Lutero. Sua obra ainda não estava terminada. Os amigos de Lutero apressaram sua saída de Augsburgo. Ele deixou a cidade à noite, desarmado, sem botas nem esporas e montado num cavalo sem rédeas. Em grande cansaço prosseguiu sua jornada até estar entre amigos. T1 373 2 Novamente acendeu-se a ira do papado e eles resolveram selar a boca do destemido defensor da verdade. Convocaram-no a Worms, totalmente determinados a fazê-lo responder por sua loucura. Lutero estava com a saúde debilitada, mas não se desculpou. Bem sabia dos perigos que correria. Sabia que seus poderosos inimigos adotariam qualquer medida para silenciá-lo. Estavam sedentos por seu sangue, assim como os judeus clamavam pelo sangue de Cristo. Ele, porém, confiava no Deus que preservara os três hebreus na fornalha ardente. Sua ansiedade e cuidados não eram por si mesmo. Não buscava a própria comodidade, mas a grande preocupação era que a verdade tão preciosa para ele, não fosse exposta aos insultos dos ímpios. Estava pronto a morrer antes que permitir que seus inimigos triunfassem. Quando entrou em Worms, milhares de pessoas o cercaram e o seguiram. Imperadores e outras eminentes autoridades não foram acompanhados por tão grande séquito. O entusiasmo era intenso e alguém naquela multidão, com voz penetrante e lamentosa, entoou um canto fúnebre para advertir Lutero do que o aguardava. Mas o reformador havia calculado o custo e estava pronto a selar seu testemunho com o próprio sangue, se Deus assim o quisesse. T1 374 1 Lutero estava para responder por sua fé perante a mais imponente assembléia, e esperava em Deus para fortalecê-lo. Por algum tempo sua coragem e fé foram provadas. Perigos sob todas as formas impendiam sobre ele. Entristeceu-se. Nuvens se acumulavam ao seu redor e o ocultavam da face divina. Ele ansiava ir adiante com confiante certeza de que Deus estaria a seu lado. Não ficaria satisfeito a menos que estivesse escondido em Deus. Com entrecortados clamores dirigiu sua angustiante oração ao Céu. Seu espírito às vezes parecia fraquejar quando imaginava os inimigos se multiplicando contra ele. Tremia diante do perigo iminente. Vi que Deus em Sua sábia providência o preparara dessa maneira para que ele não se esquecesse dAquele em quem havia confiado, e que não se lançasse presunçosamente ao perigo. Deus o estava preparando como Seu instrumento para a grande obra que lhe aguardava. T1 374 2 A oração de Lutero foi ouvida. Sua coragem e fé voltaram quando enfrentou seus inimigos. Manso como um cordeiro permaneceu ele, cercado pelos grandes homens da Terra, os quais, como lobos famintos, fixaram os olhos sobre ele esperando intimidá-lo com seu poder e grandeza. Mas ele recebera forças de Deus e não temeu. Suas palavras foram ditas com tal dignidade e poder que seus inimigos nada podiam fazer contra ele. Deus estava falando através de Lutero, e reunira imperadores e homens supostamente sábios para que pudesse reduzir publicamente a nada a sua sabedoria, e para que todos testemunhassem a força e a firmeza de um fraco mortal que se apoiara em Deus, sua eterna Rocha. T1 375 1 A postura calma de Lutero estava em impressionante contraste com a paixão e a ira manifestadas por aqueles que eram tidos por grandes homens. Eles não podiam obrigá-lo a retratar-se. Em nobre simplicidade e calma firmeza ele permaneceu como uma rocha. A oposição dos inimigos, sua ira e ameaças, como uma poderosa onda, encapelaram-se contra ele, e se desfizeram inofensivas a seus pés. Ele permaneceu inamovível. Os inimigos estavam humilhados porque seu poder, que haviam feito tremer reis e nobres, pudesse ser desprezado por um homem humilde, e desejavam fazê-lo conhecer sua ira pela tortura até à morte. Mas Alguém que é mais poderoso do que todos os potentados da Terra cuidava de Sua destemida testemunha. Deus tinha um trabalho para Lutero. Ainda deveria ele sofrer pela verdade. Ele devia vê-la prosseguir através de sangrentas perseguições. Devia vê-la vestida em pano de saco e difamada por fanáticos. Ele precisava viver para justificá-la e ser seu defensor quando as forças poderosas da Terra buscassem erradicá-la. Ele precisava viver para ver seu triunfo e extirpar os erros e superstições do papado. Lutero obteve em Worms uma vitória que abalou o papado. As novas se espalharam por outros reinos e nações. Isso foi um golpe eficaz em favor da Reforma. T1 375 2 Os pastores que estão pregando a verdade presente foram-me mostrados em contraste com os principais líderes da Reforma. A vida dedicada e zelosa de Lutero foi especialmente confrontada com a vida de alguns de nossos pregadores. Ele provou seu eterno amor pela verdade por sua coragem, firmeza e abnegação. Suportou aflições e sacrifícios, e muitas vezes sofreu profunda angústia de alma, enquanto em defesa da verdade, mas não murmurou. Foi caçado como um animal selvagem, mas suportou tudo alegremente por amor a Cristo. T1 375 3 A última mensagem de misericórdia foi confiada aos humildes e fiéis servos deste tempo. Deus tem guiado aqueles que não fogem das responsabilidades e os incumbe de deveres, e tem, através deles, apresentado a Seu povo um plano de doação sistemática no qual todos podem empenhar-se e trabalhar harmoniosamente. Esse sistema foi posto em prática e funcionou admiravelmente. Ele sustenta liberalmente os pregadores e a causa. Assim que os pregadores cessaram sua oposição e deixaram de levantar obstáculos, o povo respondeu ao chamado e apoiou o sistema. Tudo se tornou fácil e conveniente para os pregadores, a fim de que pudessem trabalhar livres de todo empecilho. Nosso povo aderiu com tal vontade e interesse que não encontramos em nenhuma outra classe. Deus Se desgosta com pregadores que se lamentam e deixam de empregar todas as suas energias nessa obra importantíssima. São indesculpáveis, e alguns estão enganados pensando que se sacrificam muito, que estão enfrentando tempos difíceis, quando em realidade nada sabem sobre sofrimento, abnegação ou necessidade. Podem por vezes sentir-se cansados, e assim estariam se dependessem de trabalho manual para seu sustento. T1 376 1 Alguns pensam que seria mais fácil trabalhar com as próprias mãos e freqüentemente manifestam seu desejo de fazê-lo. Eles não sabem, porém, do que estão falando. Enganam-se a si mesmos. Uns têm famílias grandes a sustentar e lhes falta capacidade de administração. Eles não compreendem que são devedores à causa de Deus por seus lares e tudo quanto possuem. Não compreendem também quanto custa viver. Houvessem se dedicado a trabalhos manuais, não estariam livres da ansiedade e do cansaço. Enquanto trabalhando pelo sustento de suas famílias, não poderiam estar assentados diante de suas lareiras. São poucas as horas que um trabalhador cuja família dependa dele para sustento, pode despender com os seus em casa. Alguns pastores não amam o trabalho diligente, e abrigam descontentamento muito irrazoável. Deus registra cada pensamento queixoso, cada palavra e sentimento. O Céu é insultado por tal demonstração de fraqueza e falta de devoção à causa de Deus. T1 377 1 Alguns deram ouvidos ao tentador e manifestaram incredulidade, prejudicando a causa. Satanás tem reivindicações sobre eles, porque não escaparam de sua armadilha. Eles se conduziram como crianças que estavam totalmente alheias às astúcias do tentador. Eles têm experiência suficiente e deveriam ter percebido as manobras do inimigo. Ele lhes sugeriu dúvidas à mente, e em lugar de repeli-las de vez, eles arrazoaram e parlamentaram com o arquienganador e ouviram seus motivos, como que encantados pela velha serpente. Alguns textos que não lhes eram perfeitamente claros à mente, foram suficientes para sacudir toda a estrutura da verdade e obscurecer os fatos mais simples da Palavra de Deus. Estes homens são pecadores mortais. Eles não possuem perfeita sabedoria e conhecimento em toda a Escritura. Algumas passagens estão além do alcance da mente humana, até o tempo em que Deus, em Sua sabedoria, achar conveniente revelá-las. Satanás tem conduzido alguns por um caminho que termina em certa infidelidade. Esses permitem que a própria incredulidade obscureça a cadeia harmoniosa e gloriosa da verdade, e agem como se fosse de sua alçada resolver cada passagem difícil da Escritura, e se nossa fé não os capacita a fazer isso, ela é imperfeita. T1 377 2 Vi que aqueles que possuem um perverso coração de incredulidade duvidarão, e pensarão ser nobreza e virtude duvidar da Palavra de Deus. Os que pensam ser virtude enganar com astúcia, terão bastante oportunidade de descrer da inspiração e das verdades da Palavra de Deus. Deus não compele ninguém a crer. Eles podem escolher confiar nas evidências que Ele Se dignou dar, ou duvidar, fingir e perecer. T1 377 3 Foi-me mostrado que esses que estão turbados por dúvidas e infidelidade não devem sair para trabalhar por outros. Que aquilo que está na mente tende a externar-se, e que eles não percebem o efeito de uma insinuação ou de uma pequena dúvida expressa. Satanás faz dela uma seta farpada. Ela age como veneno lento e antes que a vítima esteja consciente de seus perigos, afeta todo o organismo, destrói a boa constituição e finalmente produz a morte. Assim é também com o veneno da dúvida e da incredulidade sobre os fatos da Escritura. Alguém que tem influência expõe a outros o que Satanás lhe sugeriu, isto é, que um texto contradiga outro, e assim, de maneira capciosa, como se tivesse descoberto algum mistério maravilhoso que tinha sido ocultado dos crentes e santos de todas as épocas, ele lança as trevas da meia-noite sobre outras mentes. Eles perdem o prazer que uma vez tiveram na verdade, e se tornam infiéis. Tudo isso é obra de umas poucas palavras, que pareciam possuir um poder oculto porque achavam-se envoltas em mistério. T1 378 1 Esse é o trabalho de um demônio astuto. Os que são molestados por dúvidas e têm dificuldades que não sabem resolver, não devem lançar outras mentes débeis na mesma perplexidade. Alguns têm insinuado sua incredulidade ou nela falado, e prosseguido, mal imaginando os efeitos produzidos. Em alguns casos as sementes da incredulidade tiveram efeito imediato, ao passo que em outros ficaram enterradas por bastante tempo, até a pessoa seguir um procedimento errado, dando lugar ao inimigo, e a luz de Deus foi dela retirada, caindo ela sob as poderosas tentações de Satanás. Então as sementes da infidelidade, lançadas há tanto tempo, germinam. Satanás as alimenta, e elas produzem fruto. Qualquer coisa provinda de pastores, que deveriam estar na luz, tem uma poderosa influência. E se não andaram na clara luz de Deus, Satanás os tem usado como agentes seus, por eles lançando seus dardos inflamados a espíritos não preparados para resistir àquilo que proveio de seus pastores. T1 378 2 Vi que pastores, bem como o povo, têm diante de si uma luta para resistir a Satanás. O professo ministro de Cristo está em temerária posição quando servindo aos propósitos do tentador, por ouvir seus cochichos e permitir que a mente seja levada cativa e os pensamentos guiados pelo inimigo. O mais grave pecado do pastor à vista de Deus é dar vazão à sua incredulidade e desviar outras mentes para a escuridão, aceitando que Satanás o leve a cumprir um duplo propósito ao tentá-lo. Ele perturba a mente daquele cuja conduta atraiu suas tentações e o leva então a confundir a mente de muitos. T1 379 1 É tempo de os vigias sobre os muros de Sião entenderem a responsabilidade e a santidade de sua missão. Eles devem sentir que um ai repousa sobre eles se não fizerem o trabalho que Deus lhes confiou. Se forem infiéis, estão arriscando a segurança do rebanho de Deus, a causa da verdade, e expondo-a ao ridículo de nossos inimigos. Oh, que obra é essa! Ela certamente terá sua recompensa. Alguns pastores, bem como o povo, precisam converter-se. Eles precisam ser despedaçados e feitos novos. Seu trabalho nas igrejas é mais que perdido e, em sua presente fraqueza e vacilante condição, estariam agradando mais a Deus se cessassem seus esforços para ajudar a outros, e trabalhassem com as próprias mãos até estarem convertidos. Então poderiam fortalecer seus irmãos. T1 379 2 Os pastores precisam despertar. Eles professam ser generais no exército do grande Rei, mas ao mesmo tempo são simpatizantes do grande líder rebelde e suas forças. Alguns expuseram a causa de Deus, e as verdades sagradas de Sua Palavra às acusações das forças rebeldes. Eles removeram uma parte de sua armadura, e Satanás disparou suas setas envenenadas. Eles fortaleceram as mãos dos líderes rebeldes e se debilitaram, compelindo Satanás e seu clã infernal a erguer a cabeça em triunfo e exultar pela vitória que lhes deram. Oh, que falta de sabedoria! Que cegueira! Que generalato tolo, revelar os pontos mais fracos aos inimigos extremamente fatais! Quão diferente foi a conduta seguida por Lutero! Ele estava disposto a sacrificar a própria vida, se fosse necessário, mas a verdade, nunca. Suas palavras foram: "Cuidemos que o evangelho não seja exposto aos insultos dos ímpios, e que vertamos nosso sangue em sua defesa, de preferência a permitir que eles triunfem. Quem pode dizer se minha vida ou minha morte contribuirão para a salvação de meus irmãos?" T1 380 1 Deus não depende de qualquer homem para o avanço de Sua causa. Ele está chamando e qualificando homens para levar a mensagem ao mundo. Ele pode aperfeiçoar Sua força na fraqueza dos homens. O poder é de Deus. Desenvoltura, eloqüência, grandes talentos, não converterão uma só pessoa. Os esforços do púlpito podem despertar as mentes, os claros argumentos podem ser convincentes, mas Deus dá o crescimento. Homens piedosos, fiéis e santos, que vivem cada dia aquilo que pregam, exercerão uma influência salvadora. Um sermão poderoso feito do púlpito pode atingir a mente, mas um pouco de imprudência da parte do pastor fora do púlpito, a falta de seriedade e de verdadeira piedade na conversação, neutralizarão sua influência e desfarão as boas impressões feitas por ele. Os conversos serão seus; em muitos casos eles buscarão não subir mais alto do que o pregador. Não haverá neles uma obra completa no coração. Não são convertidos a Deus. A obra é superficial e sua influência será danosa àqueles que realmente estão buscando o Senhor. T1 380 2 O sucesso de um pastor depende muito de seu comportamento fora do púlpito. Quando ele termina de pregar e desce do púlpito, seu trabalho não está terminado; está apenas se iniciando. Ele deve pôr em prática o que pregou. Não deve agir imprudentemente, mas pôr uma guarda sobre si mesmo, a fim de nada fazer e dizer que dê vantagens ao inimigo e traga vergonha para a causa de Cristo. Todo o cuidado dos pastores é pouco, especialmente quando diante dos jovens. Eles não devem usar nenhuma palavra leviana, gracejos ou piadas, mas lembrar-se de que estão em lugar de Cristo, e que devem ilustrar pelo exemplo a vida de Cristo. "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. "E nós, cooperando também com Ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão." 2 Coríntios 6:1. T1 381 1 Foi-me mostrado que a utilidade de jovens pastores, casados ou solteiros, é destruída freqüentemente pela simpatia a eles demonstrada pelas jovens. Não percebem que outros olhos as observam e que seu comportamento tende a prejudicar a influência do pastor a quem dão tanta atenção. Se considerassem estritamente as regras do decoro, seria muito melhor para elas e seu pastor. Isso o coloca em posição desagradável, e leva os outros a vê-lo sob uma ótica errada. Vi ainda que a responsabilidade do assunto repousa sobre os próprios pastores. Devem mostrar desagrado por essas coisas, e se adotarem a postura que Deus deseja, não serão perturbados por muito tempo. Devem abster-se "de toda aparência do mal" (1 Tessalonicenses 5:22), e quando as moças forem muito sociáveis, é seu dever deixar-lhes claro que isso não lhes é agradável. Eles têm que repelir esse entusiasmo, mesmo que sejam considerados rudes. Essas coisas precisam ser reprovadas, de forma a poupar a causa de Deus de descrédito. Mulheres jovens que se converteram à verdade e a Deus, atenderão à repreensão e mudarão de atitude. T1 381 2 Os pastores devem acompanhar seus trabalhos públicos com esforços particulares, e trabalhar pessoalmente pelas pessoas sempre que houver uma oportunidade, conversando ao redor da lareira e apelar às pessoas que busquem as coisas que podem trazer-lhes paz. Nosso trabalho aqui deve logo findar, e "cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho". 1 Coríntios 3:8. Foi-me mostrada a recompensa dos santos, a herança imortal, e vi que aqueles que tinham suportado tudo pela causa da verdade não pensarão ter tido tempos difíceis, mas considerarão o Céu como muito fácil de ser ganho. ------------------------Capítulo 71 -- Uso errôneo das visões T1 382 1 Revelou-se-me que alguns, especialmente em Iowa, fazem das visões uma regra pela qual medem tudo, e adotam uma postura que meu marido e eu nunca adotamos. Alguns não estão familiarizados comigo e meus trabalhos, e são céticos sobre qualquer coisa que tenha o nome de visão. Tudo isso é natural e pode ser superado apenas pela experiência. Se as pessoas não estiverem bem estabelecidas com relação às visões, não devem ser pressionadas. A atitude a ser tomada com relação a elas está delineada no oitavo volume dos Testemunhos, p. 328, 329; espero que todos leiam o que ali se acha registrado. Os pastores devem ter compaixão de "alguns que estão duvidosos; e salvai alguns, arrebatando-os do fogo". Judas 22, 23. Os pastores devem ter sabedoria para dar a cada um o seu alimento e saber diferenciar entre as pessoas, conforme seu caso requeira. Em Iowa, a conduta de alguns que não estão familiarizados comigo, não foi cuidadosa e consistente. Os que não estavam habituados às visões têm sido tratados do mesmo modo que os que tiveram muita luz e experiências com respeito a elas. De alguns foi requerido que apoiassem as visões, quando não poderiam fazê-lo de sã consciência; assim, muitas pessoas sinceras foram levadas a assumir posicionamento contrário às visões e à congregação, o que nunca teria acontecido se a questão houvesse sido tratada com discrição e misericórdia. T1 382 2 Alguns de nossos irmãos têm tido larga experiência na verdade e por anos estado familiarizados comigo e o fruto das visões. Eles comprovaram a veracidade dos testemunhos e declararam sua crença neles. Sentiram a poderosa influência do Espírito de Deus sobre si ao testemunhar a legitimidade das visões. Se esses tais, quando reprovados, se insurgirem contra elas e trabalharem secretamente para prejudicar sua influência, devem ser tratados exemplarmente, pois sua atitude pode pôr em perigo os inexperientes. T1 383 1 Pastores da verdade presente, ao mesmo tempo que são portadores de um testemunho direto e reprovadores de males individuais, buscando banir os ídolos do acampamento de Israel, devem manifestar tolerância. Devem pregar a verdade em sua solenidade e importância, e se ela achar seu caminho ao coração, fará pelo receptor o que nada mais pode realizar. Mas se a verdade falada sob manifestação do Espírito, não elimina os ídolos, nenhum proveito haverá em denunciar e atacar o indivíduo. Pode parecer que alguns estejam apegados a seus ídolos. Vi, contudo, que devemos ser muito relutantes em abandonar esses pobres seres enganados. Devemos ter sempre em mente que todos somos pecadores mortais, e que Cristo manifesta muita compaixão por nossas fraquezas, e nos ama embora erremos. Se Deus nos tratasse como fazemos freqüentemente uns com os outros, seríamos consumidos. Enquanto os pastores pregam a clara e cortante verdade, devem permitir que a própria verdade corte e desbaste, e não fazê-lo eles mesmos. Devem pôr o machado, as verdades da Palavra de Deus, à raiz da árvore (Lucas 3:9), e deixar que elas concluam sua obra. Dêem o testemunho de maneira direta, como se encontra na Palavra de Deus, com o coração cheio da cálida e vivificante influência de Seu Espírito, com toda a ternura e anelo pelas pessoas, e a obra entre o povo de Deus será eficaz. A razão por que há tão pouco do Espírito de Deus, é que os pastores aprendem a trabalhar sem Ele. Falta-lhes a graça de Deus; falta-lhes paciência e tolerância; falta um espírito de consagração e sacrifício; e essa é a única razão por que alguns estão duvidando das evidências da Palavra de Deus. A dificuldade não está na Palavra de Deus, mas neles próprios. Falta-lhes a graça divina; devoção, piedade pessoal e santidade. Isso os faz instáveis e os lança freqüentemente no campo de batalha de Satanás. Vi, porém, que conquanto homens vigorosos possam ter defendido a verdade; conquanto possam parecer piedosos; quando começam a manifestar incredulidade com respeito a alguns textos escriturísticos, dizendo que esses criam dúvidas quanto à inspiração da Bíblia, deveríamos temê-los, pois Deus está a uma grande distância deles. ------------------------Capítulo 72 -- Pais e filhos T1 384 1 Foi-me mostrado que, enquanto os pais tementes a Deus restringem seus filhos, devem estudar-lhes a disposição e temperamento, e procurar satisfazer-lhes as necessidades. Alguns pais atendem cuidadosamente às necessidades temporais dos filhos; tratam-nos fiel e bondosamente na enfermidade, e pensam então haver cumprido seu dever. Nisto se enganam. Sua obra apenas começou. Importa cuidarem das necessidades do espírito. Requer-se habilidade para aplicar os remédios apropriados para curar uma mente magoada. As crianças têm provações tão difíceis de suportar, tão penosas em sua natureza, como as pessoas de mais idade. Os próprios pais não se sentem sempre da mesma maneira. Seu espírito se acha muitas vezes perplexo. Agem movidos por pontos de vista e sentimentos errados. Satanás os esbofeteia, e cedem-lhe às tentações. Falam irritados, e de maneira a despertar a ira dos filhos, e são às vezes exigentes e impacientes. As pobres crianças partilham do mesmo espírito, e os pais não se acham preparados para as ajudar, pois foram a causa do mal. Por vezes tudo parece dar errado. Há irritação ao redor, e todos passam momentos deploráveis e infelizes. Os pais lançam a culpa sobre os pobres filhos, e julgam-nos muito desobedientes e indisciplinados, as piores crianças do mundo, quando a causa da perturbação se encontra neles próprios. T1 384 2 Alguns pais suscitam muita tempestade por sua falta de domínio próprio. Em lugar de pedirem bondosamente aos filhos para fazerem isto ou aquilo, ordenam em tom de repreensão, tendo ao mesmo tempo nos lábios uma censura ou reprovação que as crianças não mereceram. Pais, essa conduta seguida para com seus filhos destrói-lhes a felicidade e a ambição. Fazem o que vocês ordenam, não por amor, mas porque não ousam proceder diversamente. Não têm o coração no que fazem. É um trabalho servil, em vez de um prazer, e isto os leva a esquecer-se de seguir suas orientações, o que lhes aumenta a irritação, e se torna ainda pior para as crianças. Repetem-se as censuras, sua má conduta é exibida diante delas em vivas cores, até que delas se apodera o desânimo, e não se incomodam se agradam ou não. Tomam-se de um espírito de "não me importo", e procuram fora de casa, fora dos pais, o prazer e satisfação que aí não encontram. Misturam-se com companheiros de rua, e ficam em breve tão corrompidos como os piores. T1 385 1 Sobre quem recai este grande pecado? Caso o lar houvesse sido tornado atrativo, se os pais houvessem manifestado afeição pelos filhos, procurando bondosamente ocupação para eles, e instruindo-os com amor na obediência a seus desejos, haveriam tocado uma corda sensível no coração deles, e teriam sido prontamente obedecidos por pés, mãos e coração voluntários. Controlando-se a si mesmos e falando bondosamente, e louvando as crianças quando se esforçam por fazer o que é direito, os pais podem estimular esses esforços, tornar as crianças muito felizes, e lançar sobre o círculo de família um encanto que afugentará toda sombra escura, aí introduzindo alegres raios de sol. T1 385 2 Os pais desculpam às vezes sua errônea conduta por não se sentirem bem. Sentem-se nervosos, e acham que não podem ser pacientes e calmos e falar de maneira agradável. Assim se enganam eles a si próprios, e agradam a Satanás, que exulta em que a graça de Deus não seja por eles considerada suficiente para vencer as fraquezas naturais. Eles podem e devem dominar-se sempre. Deus deles requer isto. Devem compreender que, quando cedem à impaciência e à irritação, fazem outros sofrer. Os que os rodeiam são afetados pelo espírito que manifestam, e se eles, por sua vez, procedem com o mesmo espírito, o mal aumenta, e tudo dá errado. T1 386 1 Pais, quando se sentirem irritados, vocês não devem cometer um pecado tão grande como o de envenenar toda a família com essa perigosa irritabilidade. Em tais ocasiões, ponham uma dupla guarda sobre vocês mesmos, e resolvam no coração não ofender com os lábios; que só proferirão palavras agradáveis, animadoras. Digam a vocês mesmos: "Não arruinarei a felicidade de meus filhos com uma palavra irritada." Controlando-se assim, vocês se tornarão mais fortes. Seu sistema nervoso não será tão sensitivo. Vocês serão fortalecidos pelos princípios do direito. A consciência de estarem se desempenhando fielmente de seu dever os fortalecerá. Os anjos de Deus aprovarão seus esforços, e os ajudarão. Quando se sentem impacientes, vocês pensam demasiadas vezes serem os filhos os culpados, e os censuram quando não o merecem. De outras vezes eles podem fazer exatamente as mesmas coisas, e tudo lhes parece suportável e justo. As crianças conhecem, e notam, e sentem essas irregularidades, e elas não são sempre as mesmas. Às vezes acham-se de algum modo preparadas para enfrentar as disposições mutáveis, e de outras estão nervosas e irritáveis, e não podem suportar censuras. Seu espírito se insurge contra isto. Os pais querem que se faça toda concessão ao seu estado mental, e todavia não vêem necessidade de fazer a mesma concessão a seus pobres filhos. Desculpam em si mesmos aquilo que, visto nas crianças que não têm os mesmos anos de experiência e disciplina, haviam de censurar grandemente. Alguns pais são de temperamento nervoso, e quando fatigados com trabalho ou opressos por cuidados, não mantêm um calmo estado de espírito, mas manifestam aos que mais caros lhes devem ser na Terra, uma irritação e falta de paciência que desagrada a Deus, e traz uma nuvem sobre a família. As crianças em suas perturbações, devem muitas vezes ser acalmadas com terna simpatia. A mútua bondade e paciência tornará o lar um paraíso, e atrairá os santos anjos ao círculo familiar. T1 387 1 A mãe pode e deve fazer muito no sentido de controlar os nervos e o espírito, quando deprimida; mesmo quando doente, ela pode, uma vez que se eduque, ser amável e alegre, e pode suportar mais ruído do que pensara outrora ser possível. Não deve fazer os filhos sofrerem as enfermidades dela e nublar-lhes a tenra e sensível mente com suas depressões de espírito, fazendo-os achar que a casa é um túmulo, e o quarto da mãe o lugar mais triste do mundo. A mente e os nervos adquirem vigor e resistência pelo exercício da vontade. A força de vontade demonstrar-se-á em muitos casos poderoso calmante para os nervos. T1 387 2 Não se mostrem aos seus filhos de rosto triste. Se eles cedem à tentação, e depois reconhecem seu erro e se arrependem, perdoem-lhes tão francamente como vocês esperam ser perdoados por seu Pai do Céu. Instruam-nos bondosamente, e os liguem ao coração. É um tempo crítico para as crianças. Influências serão exercidas sobre elas a fim de aliená-las de vocês, e cumpre-lhes contrabalançá-las. Ensinem-lhes a fazerem de vocês seus confidentes. Segredem-lhes elas ao ouvido suas provas e alegrias. Animando isto, poupá-las-ão a muitos laços preparados por Satanás para seus inexperientes pés. Não tratem seus filhos apenas com severidade, esquecendo a própria infância de vocês, e que eles não passam de crianças. Não esperem que sejam perfeitos, nem busquem torná-los de repente homens e mulheres em seus atos. Assim fazendo, fecharão a porta de acesso que, de outro modo, a eles vocês poderiam ter, e os impelirão a abrir outra porta às influências prejudiciais, a que outros lhes envenenem a mente juvenil antes que vocês despertem para o perigo que correm. T1 387 3 Satanás e seu exército estão fazendo os mais poderosos esforços para manejar a mente das crianças, e estas devem ser tratadas com imparcialidade, ternura e amor cristãos. Isto lhes dará uma forte influência sobre elas, e sentirão que podem depor ilimitada confiança em vocês. Lancem em torno de seus filhos os encantos do lar e do convívio de vocês. Se assim fizerem, eles não terão tanto desejo do convívio de companheiros jovens. Satanás trabalha por meio destes, levando-os a influenciar e corromper a mente uns dos outros. É o meio mais eficaz por que ele pode trabalhar. Os jovens têm poderosa influência uns sobre os outros. Sua conversa nem sempre é escolhida e elevada. Transmitem-se aos ouvidos más informações, as quais, a não serem decididamente combatidas, encontram guarida no coração, tomam raízes, e brotam e dão fruto, corrompendo os bons costumes. Devido ao mal que há agora no mundo, e à restrição que é necessário impor aos filhos, os pais devem ter duplo cuidado de os ligar ao próprio coração, fazendo-os ver que vocês desejam torná-los felizes. T1 388 1 Os pais não se devem esquecer dos anos de sua infância, de quanto anelavam simpatia e amor, e como se sentiam infelizes quando censurados e repreendidos com irritação. Devem ser novamente jovens em seus sentimentos, e levar a mente a compreender as necessidades das crianças. Mas com firmeza, misturada com amor, devem exigir obediência dos filhos. A palavra dos pais deve ser imediatamente obedecida. T1 388 2 Anjos de Deus estão observando as crianças com o mais profundo interesse, a ver o caráter que desenvolvem. Se Cristo lidasse conosco como nós muitas vezes fazemos uns com os outros e com nossos filhos, tropeçaríamos e cairíamos devido ao completo desânimo. Vi que Jesus conhece nossas fraquezas e partilhou, Ele próprio, de nossa experiência em todas as coisas, mas sem pecado; portanto, Ele preparou-nos um caminho adequado a nossa força e capacidade e, como Jacó, tem caminhado devagar e segundo o passo das crianças e sua capacidade de resistência, a fim de nos entreter pelo conforto de Sua companhia, e ser-nos guia perpétuo. Ele não despreza, nem negligencia ou deixa para trás, as crianças do rebanho. Não nos pediu que marchássemos avante e as deixássemos atrás. Não tem caminhado tão depressa que nos deixasse para trás com os pequenos. Oh, não! mas tem aplainado a estrada da vida, mesmo para as crianças. E requer-se dos pais, em Seu nome, que as conduzam ao longo do caminho estreito. Deus nos designou um caminho apropriado à resistência e capacidade das crianças. ------------------------Capítulo 73 -- O trabalho no leste T1 389 1 Foi-me revelado que chegou o tempo para um trabalho mais eficaz no Leste. Sente-se a necessidade de organização e ordem ali. Os pastores agora não serão mais obrigados a trabalhar sob circunstâncias desanimadoras como antes. O anjo da misericórdia está pairando sobre o Leste. Disse o anjo: "Fortaleçam as coisas que permanecem. Proclamem a mensagem àqueles que não a ouviram." Há alguns no Leste que estarão em perigo de ir a extremos quando o Senhor reavivar Sua obra entre eles. Esses devem lembrar-se de que o Senhor transferiu Sua obra para o Oeste para humilhá-los e subjugar o espírito independente e rebelde que neles havia, e conduzi-los a prezar mais os esforços de Seus servos fiéis. ------------------------Capítulo 74 -- Perigos dos jovens T1 390 2 A 6 de Junho de 1863 foram-me mostrados alguns dos perigos dos jovens. Satanás está controlando a mente da juventude, e dirigindo-lhes os inexperientes pés por sendas extraviadas. Eles ignoram-lhe os ardis, e nesses tempos perigosos, os pais devem estar alerta, trabalhando com perseverança e diligência para impedir a primeira aproximação do inimigo. Eles devem instruir os filhos quando saem e quando entram, quando se levantam e quando se sentam, dando "preceito e mais preceito; regra sobre regra ... um pouco aqui, um pouco ali". Isaías 28:10. T1 390 3 A obra da mãe começa com a criança. Ela deve dominar a vontade e o temperamento da criança, levando-a à sujeição, ensinando-a a obedecer. À medida que a criança vai crescendo, não deve ela afrouxar a mão. Toda mãe deve tomar tempo para raciocinar com seus filhos, para corrigir-lhes os erros, e ensinar-lhes pacientemente o caminho direito. Os pais cristãos devem saber que estão instruindo e preparando os filhos para se tornarem filhos de Deus. Toda a vida religiosa das crianças é influenciada pelas instruções dadas, e o caráter formado na infância. Caso a vontade não seja então submetida e levada a ceder à vontade dos pais, difícil será a tarefa de aprender a lição nos anos posteriores. Que luta difícil, que conflito, sujeitar aquela vontade que nunca foi subordinada, ao que Deus requer! Os pais que negligenciam esta importante obra, cometem grande erro, e pecam contra as pobres crianças, e contra Deus. T1 391 1 As crianças que vivem sob estrita disciplina sentir-se-ão por vezes, descontentes. Ficarão impacientes sob a restrição, e quererão fazer a própria vontade, e ir e vir como lhes aprouver. Especialmente da idade dos dez anos aos dezoito, acharão que não há nenhum mal em ir a piqueniques e a outras reuniões de jovens; todavia seus experientes pais podem ver perigo. Conhecem o temperamento de seus filhos, e sabem a influência dessas coisas sobre a mente deles e, pelo interesse que têm em sua salvação, afastam-nos desses divertimentos provocantes. Quando esses filhos decidem por si mesmos deixar os prazeres do mundo, e tornarem-se discípulos de Cristo, que peso é tirado do coração dos pais cuidadosos e fiéis! Ainda assim, sua obra não deve cessar. Os filhos não devem ser deixados na liberdade de seguir a própria conduta, e resolverem sempre por si mesmos. Eles apenas começaram a luta contra o pecado, o orgulho, a paixão, a inveja, o ciúme, o ódio e todos os males do coração natural. E os pais precisam vigiar e aconselhar os filhos, e resolver por eles, e mostrar-lhes que, se não prestarem voluntária e satisfeita obediência a seus pais, não podem obedecer voluntariamente a Deus, sendo-lhes impossível ser cristãos. T1 391 2 Os pais devem animar os filhos a confiar neles, e desabafar com eles o coração quando têm desgostos e em suas pequenas contrariedades e provas diárias. Assim podem os pais aprender a compadecer-se dos filhos, e podem orar com eles e por eles, para que Deus os proteja e guie. Devem encaminhá-los a seu infalível Amigo e Conselheiro, o qual será tocado pelo sentimento das fraquezas deles, pois "em tudo foi tentado" como nós somos, "mas sem pecado". Hebreus 4:15. T1 391 3 Satanás tenta os filhos a serem reservados com os pais, e a buscar como confidentes seus jovens e inexperientes companheiros; aqueles que os não podem ajudar, antes lhes dão maus conselhos. Moças e rapazes juntam-se, conversam, riem, gracejam, e afastam a Cristo do próprio coração e os anjos de sua presença, em virtude de sua tola tagarelice. Inúteis conversas sobre os atos de outros, sobre este rapaz e aquela moça, fazem definhar os pensamentos e sentimentos nobres e devocionais, e expelem do coração os desejos bons e santos, deixando-o frio e destituído de verdadeiro amor para com Deus e a Sua verdade. T1 392 1 Os filhos seriam poupados a muitos males, fossem eles mais familiares com seus pais. Estes devem estimular neles a disposição de ser abertos e francos com eles, a lhes levarem suas dificuldades, e quando se acharem perplexos quanto ao rumo certo a tomar, a exporem a questão diante de seus pais, tal como eles a vêem, pedindo-lhes conselho. Quem é tão capaz de ver e indicar o perigo que eles correm, como os pais piedosos? Quem pode, como eles, compreender o temperamento particular dos próprios filhos? A mãe que observou toda disposição de espírito desde a infância, estando assim familiarizada com a natural inclinação, está mais bem preparada para aconselhar seus filhos. Quem pode dizer tão bem quais os traços de caráter a combater e restringir, como a mãe, ajudada pelo pai? T1 392 2 Os filhos cristãos preferem o amor e aprovação de seus pais tementes a Deus, a toda bênção terrena. Amarão e honrarão a seus pais. Deve constituir um dos principais cuidados de sua vida saber como hão de tornar seus pais felizes. Nesta época rebelde, os filhos que não receberam a devida instrução e disciplina, têm bem pouca compreensão de sua obrigação para com os pais. Dá-se muitas vezes que, quanto mais os pais fazem por eles, tanto mais ingratos são, e menos os respeitam. As crianças que foram mimadas e servidas, esperam sempre isto; e caso sua expectativa não se realize, ficam decepcionadas e perdem o ânimo. Essa mesma disposição se manifestará através de toda a sua vida; serão incapazes, dependendo do auxílio de outros, esperando que outros os favoreçam, e lhes façam concessões. E caso encontrem oposição, mesmo depois de atingirem a idade adulta, julgam-se maltratados; e assim atravessam penosamente o caminho pelo mundo, mal sendo capazes de levar as próprias cargas, murmurando e irritando-se freqüentemente porque tudo não vai à medida de seus desejos. T1 393 1 Pais imprudentes estão ensinando a seus filhos lições que se lhes demonstrarão nocivas, e plantando ao mesmo tempo espinhos para os próprios pés. Julgam que, mediante o satisfazer aos desejos dos filhos, e deixá-los seguir as próprias inclinações, podem granjear-lhes o amor. Que erro! As crianças assim mimadas crescem sem restrições aos seus desejos, insubmissas na disposição, egoístas, exigentes e autoritárias, uma maldição para si mesmas e para os que as cercam. Em grande parte, os pais têm nas mãos a futura felicidade de seus filhos. Repousa sobre eles a importante obra de formar o caráter dos mesmos. Os ensinos ministrados na infância os acompanharão através da vida. Os pais semeiam as sementes que brotarão e darão frutos, seja para bem, seja para mal. Eles podem habilitar seus filhos e filhas para a felicidade ou para a miséria. T1 393 2 As crianças devem ser ensinadas desde muito cedo a serem úteis, a servirem a si mesmas e aos outros. Muitas filhas nestes tempos, podem sem remorso ver sua mãe labutando, cozinhando, lavando ou passando, enquanto elas se sentam na sala de visitas e lêem histórias, fazem tricô, crochê ou bordados. Têm o coração tão insensível como uma pedra. Mas onde se origina esse mal? Quais são os que têm a principal culpa nesse ponto, em geral? Os pobres e enganados pais. Passam por alto o futuro de seus filhos, e em seu errôneo afeto, deixam-nos sentar-se ociosamente, ou fazer o que é de pouca importância, que não exige exercício mental ou dos músculos, e depois desculpam as indolentes filhas por serem fracas. Que as tornou fracas? Em muitos casos, foi a errônea conduta dos pais. A devida quantidade de exercício em torno da casa, melhoraria tanto a mente como o corpo. Mas os filhos são desprovidos disto devido às falsas idéias, até que ficam avessos ao trabalho. Isto é desagradável, e não se harmoniza com as idéias que eles nutrem sobre gentileza. Julga-se impróprio de uma dama e mesmo vulgar, lavar louça, passar ou estar a um tanque de lavar roupa. Tal é o ensino da moda que se ministra aos filhos nesta época infeliz. T1 394 1 O povo de Deus deve ser governado por princípios mais elevados que os mundanos, que procuram pautar toda a sua conduta segundo a moda. Os pais tementes a Deus devem preparar os filhos para uma vida de utilidade. Não devem permitir que seus princípios de governo sejam manchados com as extravagantes idéias dominantes neste século, de que se devem acomodar às modas, e ser regidos pelas opiniões dos mundanos. Não devem permitir que os filhos escolham os próprios companheiros. Ensinem-lhes que vocês devem escolher para eles. Preparem-nos para assumir responsabilidades enquanto jovens. Se seus filhos forem desabituados ao trabalho, cansar-se-ão depressa. Queixar-se-ão de dor no lado, dor nas costas, cansaço dos membros; e vocês correm o risco de, por dó, fazer vocês mesmos o trabalho, do que deixá-los sofrerem um pouco. Que seja a princípio bem leve a responsabilidade a pesar sobre as crianças, e depois, dia a dia, aumentar, até que possam fazer a devida porção de trabalho sem se cansar. A inatividade é a maior causa de dor no lado e dor na costas entre as crianças. T1 394 2 Há uma classe de jovens senhoras, nesta época, que são simplesmente criaturas inúteis, que servem apenas para respirar, comer, vestir, e dizer tolices enquanto seguram nas mãos uma peça de bordado ou um crochê. Poucas jovens, porém, mostram real discernimento e bom senso. Vivem uma vida de borboletas, sem objetivo especial. Quando esta classe de companheiras mundanas se ajuntam, quase que vocês só podem ouvir algumas tolas observações sobre vestidos, ou qualquer assunto frívolo, e depois riem das próprias observações, que consideram muito inteligentes. Isto é freqüentemente feito em presença de pessoas de mais idade, que não podem deixar de entristecer-se por tal falta de respeito para com sua idade. Essas jovens parecem haver perdido todo o senso de modéstia e boas maneiras. O modo, porém, por que foram ensinadas as leva a julgar isto o cúmulo da gentileza. T1 395 1 Esse espírito é como uma doença contagiosa. O povo de Deus deve escolher o convívio de seus filhos, e ensinar-lhes a evitar a companhia desses mundanos fúteis. As mães devem levar consigo as filhas para a cozinha, e ensiná-las pacientemente. Sua constituição ficará melhor por fazer esse trabalho; seus músculos adquirirão vigor e resistência, e serão mais saudáveis suas meditações, e mais elevadas, quando chegar o fim do dia. Talvez se achem fatigadas, mas quão doce é o repouso depois de uma justa medida de trabalho! O sono, o suave restaurador da natureza, revigora o corpo fatigado, e prepara-o para os deveres do dia seguinte. Não dêem a entender a seus filhos que não importa se eles trabalham ou não. Ensinem-lhes que seu auxílio é necessário, seu tempo é valioso, e que vocês contam com seus serviços. T1 395 2 Foi-me mostrado que muito pecado é resultado da preguiça. Mãos e mentes ativas não acham tempo para dar ouvidos a toda tentação sugerida pelo inimigo; as mãos e os cérebros ociosos, porém, estão sempre em condições de ser controlados por Satanás. Quando não devidamente ocupada, a mente demora-se em coisas impróprias. Os pais devem ensinar a seus filhos que a ociosidade é pecado. Foi me mostrado este texto: "Eis que esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado." Ezequiel 16:49. T1 395 3 Os filhos devem sentir-se em dívida para com os pais, que lhes têm protegido na infância e cuidado deles nas enfermidades. Devem compreender que os pais têm sofrido muita ansiedade por causa deles. Especialmente têm os pais conscienciosos e piedosos sentido profundo interesse em que seus filhos sigam a conduta devida. Ao verem faltas neles, quão opresso lhes fica o coração! Pudessem os filhos que têm ocasionado esses desgostos ver o efeito de sua conduta, e haveriam de sensibilizar-se. Caso vissem as lágrimas de sua mãe e lhe ouvissem as orações a Deus em seu favor, se lhes fosse dado escutar-lhes os reprimidos e entrecortados suspiros, o coração lhes doeria, e confessariam prontamente suas faltas e pediriam perdão. Uma obra há a ser feita por idosos e jovens. Cumpre aos pais habilitarem-se melhor para se desempenhar de sua missão para com os seus filhos. Alguns pais não compreendem os filhos, e não se relacionam verdadeiramente com eles. Existe com freqüência grande separação entre aqueles e estes. Caso penetrassem os pais mais plenamente no sentimento dos filhos e verificassem o que lhes está no coração, isto exerceria sobre eles uma influência benéfica. T1 396 1 Cumpre aos pais lidarem fielmente com os seres a eles confiados. Não devem animar nos filhos o orgulho, o desperdício ou o amor da ostentação. Não lhes devem ensinar nem consentir que aprendam pequenas travessuras que parecem divertidas nos pequeninos, mas que terão de desaparecer e pelas quais terão de ser corrigidos quando forem mais velhos. Os hábitos primeiramente formados não são esquecidos facilmente. Pais, vocês devem começar a disciplinar o espírito de seus filhos enquanto bem novos, visando que venham a ser cristãos. Seja todo o seu esforço para sua salvação. Procedam como se eles fossem confiados aos seus cuidados a fim de serem preparados, qual jóias preciosas, para brilharem no reino de Deus. Acautelem-se, não os embalem para adormecerem à beira do abismo da destruição, com a errônea idéia de que não têm idade suficiente para serem responsáveis, para se arrependerem de seus pecados e professarem a Cristo. T1 396 2 Minha mente foi dirigida às muitas preciosas promessas registradas para aqueles que cedo buscam ao Salvador. "Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos, dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento." Eclesiastes 12:1. "Eu amo aos que Me amam, e os que de madrugada Me buscam Me acharão." Provérbios 8:17. O grande Pastor de Israel está a dizer ainda: "Deixai vir a Mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus." Lucas 18:16. Ensinem a seus filhos que a juventude é o melhor tempo de buscar ao Senhor. Nessa fase os fardos da vida não pesam sobre eles, e sua mente jovem não é perturbada pelos cuidados; enquanto são tão livres, devem consagrar o melhor de sua energia a Deus. T1 397 1 Vivemos em uma época infeliz para as crianças. Forte corrente está impelindo para baixo, para a perdição, e é necessário mais que a experiência da meninice e sua força para avançar contra esta corrente, sem ser por ela derribado. Os jovens parecem em geral ser cativos de Satanás, e ele e seus anjos os estão conduzindo a uma destruição certa. Satanás e seus anjos estão guerreando contra o governo de Deus, e a todos os que sentem o desejo de entregar-Lhe o coração e Lhe obedecerem aos mandamentos, o inimigo procurará desconcertar, e vencer com suas tentações, a fim de se desanimarem e abandonarem a luta. T1 397 2 Pais, ajudem a seus filhos. Despertem da indiferença de que se acham possuídos. Vigiem continuamente para cortar a corrente e sacudir o peso do mal que Satanás está impelindo sobre seus filhos. As crianças não podem fazer isto por si mesmas, mas os pais podem conseguir muito. Mediante fervorosa oração e viva fé, obter-se-ão grandes vitórias. Alguns pais não têm compreendido as responsabilidades que repousam sobre eles, e têm negligenciado a educação religiosa de seus filhos. Os primeiros pensamentos do cristão pela manhã, devem ser para Deus. Os trabalhos seculares e os interesses próprios devem vir em segundo lugar. Os filhos devem ser ensinados a respeitar e reverenciar a hora de oração. Antes de sair de casa para o trabalho, toda a família deve ser reunida, e o pai ou a mãe na ausência dele, deve rogar fervorosamente a Deus que os guarde durante o dia. Vão com humildade, coração cheio de ternura, e com o senso das tentações e perigos que se acham diante de vocês e de seus filhos; pela fé, atem-nos ao altar, suplicando para eles o cuidado do Senhor. Anjos ministradores hão de guardar as crianças assim consagradas a Deus. É o dever dos pais cristãos, de manhã e à tarde, pela fervente oração e fé perseverante, porem um muro em torno de seus filhos. Cumpre-lhes instruí-los pacientemente -- bondosa e infatigavelmente ensinem-lhes a viver de maneira a agradar a Deus. T1 398 1 A impaciência nos pais desperta impaciência nos filhos. A paixão manifestada pelos pais, cria paixões nos filhos, suscitando-lhes os males da própria natureza. Alguns pais corrigem os filhos severamente, num espírito de impaciência, e muitas vezes de paixão. Tais correções não produzem bons resultados. Procurando corrigir um mal, geram outro. O constante censurar e açoitar endurece as crianças e as afasta dos pais. Primeiro devem os pais aprender a se dominarem, depois poderão ser mais bem-sucedidos em controlar os próprios filhos. Toda vez que eles perdem o domínio de si mesmos, e falam e agem impacientemente, pecam contra Deus. Devem antes raciocinar com os filhos, apontar-lhes claramente seus erros, mostrar-lhes seu pecado, e impressioná-los com o pensamento de que não somente pecaram contra seus pais, mas contra o Senhor. Tendo o próprio coração submisso e cheio de piedade e dor por seus filhos errantes, orem com eles antes de corrigi-los. Então a disciplina não os levará a lhes aborrecerem. Hão de amá-los. Verão que não os castigam por haverem contrariado vocês, ou porque desejam descarregar sobre eles seu desagrado; mas por um sentimento de dever, para seu bem, para não serem deixados a crescer no pecado. T1 398 2 Alguns pais têm deixado de dar aos filhos educação religiosa, e também negligenciado sua instrução escolar. Nem uma nem outra devia ter sido esquecida. A mente das crianças é ativa, e, caso não seja empregada em trabalho físico, ou ocupada no estudo, estará exposta às más influências. É pecado os pais permitirem que seus filhos cresçam na ignorância. Devem fornecer-lhes livros bons e interessantes, e ensiná-los a trabalhar, a terem horas de labor físico, e horas para dedicarem ao estudo e à leitura. Os pais devem buscar elevar a mente de suas crianças, e desenvolver-lhes as faculdades mentais. A mente deixada a si mesma, inculta, é geralmente baixa, sensual e corrupta. Satanás aproveita sua oportunidade, e educa as mentes ociosas. T1 399 1 Pais, o anjo relator escreve toda palavra impaciente, irritada que vocês dirigem a seus filhos. Todo fracasso de sua parte em ministrar-lhes o devido ensino, e mostrar-lhes a excessiva malignidade do pecado, e o resultado final de uma conduta pecaminosa, é registrada contra seu nome. Toda palavra descuidada proferida diante deles, negligentemente ou em gracejo, toda palavra que não seja pura e elevada, o anjo relator assinala como uma mancha em seu caráter cristão. Todos os seus atos são registrados, sejam eles bons ou maus. T1 399 2 Os pais não podem ser bem-sucedidos no governo dos filhos enquanto não houverem primeiro aperfeiçoado o domínio de si mesmos. Precisam primeiro aprender a subjugarem-se a si, a dominarem as próprias palavras, e até a expressão da fisionomia. Não devem permitir que as inflexões de sua voz sejam perturbadas ou agitadas pela exaltação e a paixão. Poderão assim exercer decidida influência sobre os filhos. As crianças talvez desejem fazer o que é direito, talvez se proponham no coração a ser obedientes e bondosas para com seus pais ou responsáveis; mas necessitam da parte deles auxílio e animação. Farão boas resoluções, mas a menos que seus princípios sejam fortalecidos pela religião, e sua vida influenciada pela renovadora graça de Deus, deixarão de atingir o alvo. T1 399 3 Cumpre aos pais redobrarem de esforços pela salvação dos filhos. Devem instruí-los fielmente, não permitindo que obtenham como melhor puderem a própria educação. Não se deve permitir que os jovens aprendam o bem e o mal, indiscriminadamente, com a idéia de que um dia, no futuro, o bem predominará, e o mal perderá sua influência. O mal aumentará mais depressa do que o bem. É possível que o mal que eles aprenderam seja desarraigado depois de muitos anos; mas quem se arriscará a isto? O tempo é breve. É mais fácil e muito mais seguro semear sementes puras e boas no coração de seus filhos, do que arrancar mais tarde as ervas ruins. É dever dos pais vigiar para que influências ambientais não tenham efeito daninho sobre os filhos. É seu dever escolher os companheiros para eles, e não permitir que eles mesmos os escolham. Quem cuidará disto, se os pais não o fizerem? Poderão outros ter por seus filhos o interesse que vocês mesmos devem ter? Podem eles ter aquele constante cuidado e profundo amor nutrido pelos pais? T1 400 1 Os filhos dos observadores do sábado talvez se tornem impacientes com a restrição, e julguem os pais muito estritos; é possível até que se levantem maus sentimentos em seu coração, e que eles nutram idéias de descontentamento, fiquem ressentidos contra os que estão trabalhando pelo seu bem presente, futuro e eterno. Se, porém, a vida lhes for poupada por alguns anos, hão de bendizer os pais por aquele estrito cuidado e fiel vigilância sobre eles nos anos de sua inexperiência. Os pais devem expor e simplificar o plano da salvação a seus filhos, de modo que o tenro espírito dos mesmos o possa apreender. As crianças de oito, dez, ou doze anos, já têm idade suficiente para serem dirigidas ao tema da religião individual. Não ensinem seus filhos com referência a um tempo futuro em que eles terão idade bastante para se arrependerem e crerem na verdade. Caso sejam devidamente instruídas, crianças bem novas podem ter idéias corretas quanto a seu estado de pecadores, e ao caminho da salvação por meio de Cristo. Os pastores são em geral bastante indiferentes para com a salvação das crianças, e não se dirigem a elas tão pessoalmente como devem. Passam desaproveitadas, com freqüência, áureas oportunidades de impressionar a mente delas. T1 400 2 A má influência em torno de nossos filhos é quase avassaladora; ela lhes está corrompendo a mente e arrastando-os à perdição. O espírito da juventude é naturalmente inclinado à leviandade; e nos verdes anos, antes de o caráter estar formado e o discernimento amadurecido, manifestam freqüentemente preferência por companheiros que exercerão nociva influência sobre eles. Alguns se afeiçoam a pessoas de outro sexo, contrariamente aos desejos e rogos dos pais, e transgridem o quinto mandamento com o desonrá-los assim. É dever dos pais vigiarem o sair e o entrar de seus filhos. Devem estimulá-los e apresentar-lhes incentivos que os atraiam ao lar, e que os façam ver o interesse que os pais neles têm. Os líderes de família devem tornar o lar aprazível e alegre. T1 401 1 Pais e mães, falem bondosamente a seus filhos, lembrem-se de como vocês são sensíveis, e do efeito que as censuras têm sobre vocês; reflitam e reconheçam que eles são como vocês. O que vocês não podem suportar, não lancem sobre eles. Se não lhes é possível sofrer censura e acusação, tampouco podem suas crianças, mais fracas do que vocês, suportar tanto. Sejam sempre suas palavras aprazíveis, alegres, como raios de sol em sua família. Os frutos do domínio próprio, da solicitude e do esforço serão centuplicados. Os pais não têm direito de lançar uma nuvem sombria sobre a felicidade de seus filhos mediante críticas ou censuras severas por quaisquer pequeninos erros. Erros e pecados concretos devem ser apresentados tão pecaminosos como na verdade são, seguindo-se uma firme, resoluta orientação a fim de impedir sua reincidência. As crianças precisam ser impressionadas com o senso de seus erros, todavia não se deve deixá-las em um desesperançado estado de espírito, mas com certa medida de ânimo para que possam melhorar e conquistar sua confiança e aprovação. T1 401 2 Alguns pais se enganam em dar a seus filhos demasiada liberdade. Têm por vezes tanta confiança neles, que não lhes vêem as faltas. É errado permitir às crianças, com certa despesa, fazerem visitas a distância, sem estarem acompanhadas dos pais ou de um responsável. Isto tem um mau efeito sobre elas. Chegam a pensar que são muito importantes, e que lhes pertencem certos privilégios; caso estes lhes não sejam concedidos, acham que estão sendo tratadas injustamente. Referem-se a crianças que vão para lá e para cá, e têm muitas regalias, ao passo que elas as têm tão poucas. T1 402 1 E a mãe, receando que os filhos a julguem injusta, satisfaz-lhes os desejos, o que se demonstra afinal grandemente nocivo para eles. Visitantes jovens, não tendo sobre si os olhos vigilantes dos pais para verem e corrigirem-lhes as faltas, recebem muitas vezes impressões que levará meses para apagar. Minha atenção foi dirigida a casos de pais que tinham filhos bons e obedientes, os quais, tendo a maior confiança em certas famílias, confiaram em deixar seus filhos irem a certa distância para visitar esses amigos. Desse tempo em diante, houve inteira mudança na conduta e caráter de seus filhos. Antes estavam contentes e felizes em casa, e não tinham grande desejo de andar muito na companhia de outros jovens. Ao voltarem para os pais, a restrição parecia injustiça, e o lar se lhes assemelhava uma prisão. Tais gestos imprudentes dos pais decidem o caráter de seus filhos. T1 402 2 Por essas visitas, algumas crianças formam amizades que no fim se demonstram sua ruína. Pais, conservem, se puderem, seus filhos com vocês, e vigiem-nos com a mais profunda solicitude. Quando os deixam fazer visitas distantes de vocês, eles julgam ter idade suficiente para cuidarem de si mesmos, e decidirem por si. Assim deixados a si mesmos, os jovens têm muitas vezes conversas sobre assuntos que os não refinam e elevam, nem lhes aumentam o amor pelas coisas religiosas. Quanto mais têm permissão de fazer visitas, tanto maior será seu desejo de ir, e menos atraente lhes parecerá o lar. T1 402 3 Filhos, Deus achou por bem confiá-los aos cuidados de seus pais, para que os instruam e disciplinem, desempenhando assim sua parte na formação do caráter de vocês para o Céu. Cumpre, porém, a vocês o decidir se formarão um bom caráter cristão, mediante o aproveitar da melhor maneira as vantagens que lhes têm sido dadas por pais piedosos, fiéis, dados à oração. Não obstante toda a ansiedade e fidelidade dos pais em favor dos filhos, sozinhos eles não os podem salvar. Resta aos filhos uma obra a fazer. Cada filho tem um caso individual a atender. Pais crentes, uma obra de responsabilidade está diante de vocês, o de guiar os passos de seus filhos, mesmo em sua experiência religiosa. Quando amarem verdadeiramente a Deus, eles os bendirão e reverenciarão pelo cuidado que manifestaram por eles, e por sua fidelidade em restringir-lhes os desejos e sujeitar-lhes a vontade. T1 403 1 A influência dominante no mundo, é consentir que os jovens sigam a inclinação natural de seu espírito. E quando são muito desenfreados na juventude, os pais dizem que hão de endireitar depois de algum tempo, e quando estiverem com dezesseis ou dezoito anos, raciocinarão por si, e deixarão seus maus hábitos, tornando-se afinal homens e mulheres úteis. Que engano! Permitem por anos que um inimigo semeie o jardim do coração, admitem que os errôneos princípios se desenvolvam e assim, em muitos casos, todo o labor empregado posteriormente naquele solo, nada aproveitará. Satanás é um astucioso e perseverante operário, um inimigo mortal. Quando quer que uma palavra inadvertida for dita para prejuízo da juventude, seja em lisonja, seja para fazê-los considerar com menos aversão a algum pecado, Satanás aproveita-se disto, e nutre a má semente, para que ela deite raiz e dê colheita abundante. Alguns pais têm permitido que os filhos formem maus hábitos, cujos vestígios poderão ser vistos através de toda a vida. Pesa sobre os pais esse pecado. Esses filhos podem professar cristianismo, todavia, sem uma obra especial da graça em seu coração, e uma completa reforma na vida, seus hábitos passados se manifestarão em toda a sua existência e ostentarão justamente o caráter que os pais permitiram que eles formassem. T1 403 2 A norma da piedade é tão baixa entre os professos cristãos em geral, que os que desejam seguir a Cristo em sinceridade, acham essa tarefa muito mais trabalhosa e difícil do que de outro modo lhes seria. A influência dos professos cristãos mundanos é prejudicial aos jovens. A massa dos cristãos professos tem removido a linha divisória entre os cristãos e o mundo, e ao passo que professam viver para Cristo, estão vivendo para o mundo. Sua fé não tem senão uma pequena influência em restringir-lhes os prazeres; conquanto professem ser filhos da luz, andam em trevas, e são filhos da noite e das trevas. Os que andam nas trevas não podem amar a Deus e desejar sinceramente glorificá-Lo. Não se acham iluminados para discernir a excelência das coisas celestiais, e portanto não as podem amar. Professam ser cristãos porque isto é honroso, e não há para os seus ombros uma cruz. Seus motivos são freqüentemente egoístas. Alguns desses professos cristãos podem entrar na sala de baile, e participar de todos os divertimentos que ela oferece. Outros não chegam a esse ponto, mas sentem-se na liberdade de participar de reuniões de prazer, piqueniques, quermesses e espetáculos. E o mais atento dos olhos não poderia discernir nesses professos cristãos um sinal de cristianismo. Uma pessoa não distinguiria em seu aspecto qualquer diferença entre eles e o maior dos incrédulos. O professo cristão, o dissoluto, o franco escarnecedor da religião e o declarado profano, misturam-se todos como um só. E Deus os considera como um só no espírito e na prática. T1 404 1 Uma profissão de cristianismo sem a fé e as obras correspondentes, de nada aproveitará. Homem algum pode servir a dois senhores. Os filhos do maligno são servos de seu senhor; de quem se fazem servos para lhe obedecer, desses são servos (Romanos 6:16), e não podem ser servos de Deus enquanto não renunciarem ao diabo e a todas as suas obras. Não pode ser inofensivo para os servos do celeste Rei, o empenharem-se nos prazeres e diversões em que se empenham os servos de Satanás, embora eles repitam muitas vezes que tais diversões são inocentes. Deus tem revelado santas e sagradas verdades para separar Seu povo dos ímpios e purificá-los para Si. Os adventistas do sétimo dia devem viver sua fé. Os que obedecem aos Dez Mandamentos, vêem o estado do mundo e as coisas religiosas de um ponto de vista inteiramente diferente de como os vêem os professos cristãos que são amantes dos prazeres, que se esquivam à cruz e vivem na transgressão do quarto mandamento. No atual estado de coisas na sociedade, não é fácil tarefa os pais refrearem os filhos, e ensiná-los segundo a regra bíblica do direito. Os religiosos professos têm se afastado tanto da Palavra de Deus, que quando Seu povo volta para Sua sagrada Palavra, e quer educar os filhos segundo os preceitos dela e, como Abraão outrora, ordenar sua casa depois deles (Gênesis 18:19), as pobres crianças com tais influências ao seu redor julgam seus pais desnecessariamente restritos e por demais cuidadosos quanto a seus companheiros. Desejam naturalmente seguir o exemplo dos professos cristãos mundanos e amantes dos prazeres. T1 405 1 Nestes dias mal se conhecem a perseguição e o descrédito por amor de Cristo. Bem pouco é o sacrifício e a abnegação necessária para alguém se revestir de uma forma de piedade, ter o nome no livro da igreja; viver, porém, de tal maneira que nossos caminhos sejam agradáveis a Deus, e nossos nomes registrados no livro da vida, exigirá vigilância e oração, abnegação e sacrifício de nossa parte. Os professos cristãos não são de modo algum exemplo para a juventude, a não ser quando eles seguem a Cristo. As ações justas são inequívocos frutos da verdadeira piedade. O Juiz de toda a Terra dará a cada um segundo as suas obras. As crianças que seguem a Cristo têm diante de si uma batalha a travar; têm uma cruz diária a levar no sair do mundo, e serem separadas, e em imitarem a vida de Cristo. ------------------------Capítulo 75 -- Andar na luz T1 405 2 Foi-me mostrado que o povo de Deus demora demasiado sob nuvens. Não é vontade dEle que eles vivam em incredulidade. Jesus é luz, "e não há nEle treva nenhuma". 1 João 1:5. Seus filhos são "filhos da luz". 1 Tessalonicenses 5:5. São renovados à Sua imagem, e chamados "das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. Ele é "a luz do mundo", e assim é quem O segue. "Não andará em trevas, mas terá a luz da vida". João 8:12. Quanto mais rigorosamente se esforçar o povo de Deus para imitar a Cristo, tanto mais perseverantemente serão eles perseguidos pelo inimigo; sua proximidade de Cristo, porém, fortalece-os para resistir aos esforços de seu astuto inimigo para os alienar de Cristo. T1 406 1 Foi-me mostrado que há demasiado comparar-nos uns aos outros, tomando por exemplo mortais falíveis, quando temos um seguro e infalível Modelo. Não nos devemos medir pelo mundo, nem pelas opiniões dos homens, nem pelo que nós éramos antes de abraçarmos a verdade. Nossa fé e posição no mundo, porém, tais como são agora, devem ser comparados com o que poderiam ter sido, caso nossa conduta tivesse sido sempre para a frente e para cima, desde que professamos ser seguidores de Cristo. Esta é a única comparação digna de confiança que se pode fazer. Em qualquer outra haverá engano. Se o caráter moral e o estado espiritual do povo de Deus não correspondem às bênçãos, privilégios e luz a eles concedidos, são pesados na balança, e os anjos fazem o registro: EM FALTA. T1 406 2 Quanto a alguns, parece que lhes é oculto seu verdadeiro estado. Eles vêem a verdade, mas não lhe percebem a importância, ou suas reivindicações. Ouvem a verdade, mas não a compreendem plenamente, porque não harmonizam com ela sua vida, não sendo portanto santificados pela obediência à mesma. Eles, porém, descansam tão desinteressados e satisfeitos como se a nuvem de dia e a coluna de fogo à noite fossem adiante deles, sinal do favor de Deus. Professam conhecer a Deus, "mas negam-nO com as obras". Tito 1:16. Contam-se como Seu povo escolhido e peculiar, todavia Sua presença e poder de "salvar perfeitamente" (Hebreus 7:25) raro se manifestam entre eles. "Quão grandes" são as "trevas" (Mateus 6:23) dessas pessoas! no entanto elas não o sabem. A luz resplandece, elas, porém, não a compreendem. Não há mais forte ilusão a enganar os seres humanos, do que a que os faz crer que são justos, e que Deus aceita Suas obras, quando estão pecando contra Ele. Tomam a forma da piedade pelo espírito e poder da mesma. Julgam-se ricos, e que de nada têm falta, quando são pobres, miseráveis, cegos e nus, carecidos de tudo. Apocalipse 3:17. T1 407 1 Alguns há que professam ser seguidores de Cristo, e todavia não fazem nenhum esforço no sentido espiritual. Em todos os empreendimentos mundanos, desenvolvem esforços e manifestam ambição de conseguir seu objetivo, e realizar o desejado fim; no empreendimento da vida eterna, no entanto, em que tudo está em jogo e sua felicidade eterna depende de seu triunfo, procedem com tanta indiferença como se não fossem agentes morais, como se outro estivesse jogando a partida da vida por eles, e eles não tivessem nada a fazer senão aguardar os resultados. Oh, que loucura! que demência! Se todos manifestarem pela vida eterna tão-somente aquele grau de ambição, zelo e diligência que mostram em seus empreendimentos mundanos, serão vitoriosos. Todos, eu vi, têm de obter por si mesmos uma experiência; cada um tem de desempenhar bem e fielmente sua parte na partida da vida. Satanás vigia sua oportunidade de apoderar-se das preciosas graças, quando estamos desapercebidos, e teremos um difícil conflito com as forças das trevas para conservar essas graças ou readquirir uma graça celeste caso, por falta de vigilância, venhamos a perdê-la. T1 407 2 Foi-me mostrado, porém, que é privilégio dos cristãos alcançar de Deus força para conservar todo precioso dom. A oração fervente e eficaz será considerada no Céu. Quando os servos de Cristo tomam o escudo da fé como sua defesa, e a espada do Espírito para combater, há perigo no acampamento do adversário, e deve ser feita alguma coisa. A perseguição e a injúria apenas esperam que os que se acham dotados de poder do alto as chamem à ação. Quando a verdade em sua simplicidade e força prevalecer entre os crentes, e for posta contra o espírito do mundo, evidenciar-se-á que não há "concórdia" "entre Cristo e Belial". 2 Coríntios 6:15. Os discípulos de Cristo devem ser exemplos vivos da vida e espírito de seu Senhor. T1 408 1 Jovens e idosos têm diante de si um conflito, uma guerra. Não devem dormir nem por um momento. Um perigoso inimigo está constantemente alerta para os desencaminhar e vencer. Os crentes na verdade presente devem ser tão vigilantes como seu adversário, e manifestar sabedoria em resistir a Satanás. Farão eles isto? Perseverarão eles nesta peleja? Serão cuidadosos de afastar-se de toda iniqüidade? Cristo é negado de muitas maneiras. Podemos negá-Lo por falar em contrário da verdade, por falar mal dos outros, por conversas e gracejos tolos, ou por palavras ociosas. Nestas coisas manifestamos bem pouco tato ou sabedoria. Tornamo-nos fracos; são débeis nossos esforços para resistir a nosso grande inimigo, e somos vencidos. "Do que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mateus 12:34), e devido à falta de vigilância confessamos que Cristo não está em nós. Os que hesitam em consagrar-se sem reservas a Deus, fazem uma fraca obra no seguir a Cristo. Seguem-nO a tão grande distância que a metade do tempo não sabem se estão seguindo Suas pegadas, ou as do grande inimigo. Por que somos tão tardios em renunciar a nossos interesses nas coisas deste mundo, e tomar a Cristo como nossa única porção? Por que havemos nós de desejar conservar a amizade dos inimigos do Senhor, e seguir-lhes os costumes, e ser guiados por suas opiniões? Cumpre haver inteira entrega a Deus, entrega sem reservas, abandono e afastamento do amor do mundo e das coisas terrenas, ou não podemos ser discípulos de Cristo. T1 408 2 A vida e espírito de Cristo é a única norma de excelência e perfeição; e nossa única conduta segura é seguir-Lhe o exemplo. Se assim fizermos, Ele nos guiará por Seu conselho, recebendo-nos depois em glória. Precisamos esforçar-nos diligentemente, e estar dispostos a sofrer muito, a fim de seguir as pisadas de nosso Redentor. Deus está pronto a trabalhar por nós, a dar de Seu abundante Espírito, caso por isto nos esforcemos, vivamos para isto, e nisto creiamos; e então podemos andar na luz como Ele na luz está. Podemos nutrir-nos de Seu amor, e beber de Sua farta plenitude. ------------------------Capítulo 76 -- A causa no leste T1 409 1 O fanatismo que grassou no Leste, há alguns anos, produziu desoladores efeitos. Vi que Deus provou Seu povo sobre o tempo em 1844, mas que nenhum prazo estipulado desde então trouxe assinalados sinais de Sua mão. O Senhor não testou Seu povo sobre qualquer tempo em particular desde 1844. Estivemos e ainda estamos em paciente tempo de espera. Criou-se muita excitação em torno do tempo por volta de 1854, e muitos entenderam que esse movimento procedia de Deus, por ter tido grande extensão e alguns terem sido aparentemente convertidos por ele. Entretanto, tais conclusões não são consistentes. Muito do que foi pregado em relação ao tempo em 1854 era razoável e justo. Muita gente sincera aceitou a verdade e o erro juntamente, e sacrificou muito do que possuía para fazer avançar o erro. Após terem eles sofrido desapontamento, abandonaram tanto a verdade quanto o erro, achando-se agora em tal posição que torna difícil à verdade alcançá-los. Alguns dos que passaram pelo desapontamento viram as evidências da verdade presente, e tendo abraçado a mensagem do terceiro anjo estão agora lutando para pô-la em prática em sua vida. Mas onde há um que foi beneficiado por aceitar o movimento de 1854, há dez que foram prejudicados; muitos desses estão em situação que não serão mais persuadidos pela verdade, embora essa lhes seja apresentada com muita clareza. T1 409 2 A proclamação do tempo em 1854 foi acompanhada por um espírito que não procedia de Deus. Havia disposição ruidosa, áspera, desleixada e irritável. As manifestações ruidosas eram consideradas por muitos como essencial à verdadeira religião, e havia a tendência de baixar o nível em tudo . Muitos viam isso como humildade, mas ao serem seus pontos de vista contestados irritavam-se prontamente, manifestando espírito altivo e acusando aqueles que não concordavam com eles, de orgulho e resistência à verdade e ao poder de Deus. T1 410 1 Os santos anjos ficaram desgostosos e entristecidos pela maneira irreverente com que muitos tomam o nome de Deus, o grande Jeová. Os anjos mencionam esse sagrado nome com profunda reverência, sempre velando o rosto quando o pronunciam. O nome de Cristo é tão sagrado para eles, que o proferem com grande reverência. Quão oposto, no entanto, o espírito e a influência que prevaleceram no movimento de 1854. Alguns que ainda se acham sob a mesma influência, falam de Deus como se referissem a um cavalo ou qualquer outra coisa comum. Em suas orações usavam as palavras "Deus todo-poderoso" de maneira muito vulgar e irreverente. Aqueles que assim procedem não têm senso algum do exaltado caráter de Deus, de Cristo ou das coisas celestes. T1 410 2 Foi-me mostrado que quando Deus enviava antigamente Seus anjos para ministrar ou comunicar-se com indivíduos, e essas pessoas descobriam que haviam visto e falado com um anjo, ficavam extasiadas e temerosas a ponto de achar que iam morrer. Tinham idéias tão elevadas sobre a terrível majestade e poder de Deus, que achavam que seriam destruídas por terem estado em íntima ligação com alguém proveniente da direta e santa presença de Deus. Fui encaminhada a Juízes: "Então, conheceu Manoá que era o Anjo do Senhor. E disse Manoá à sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto Deus." Juízes 13:21, 22. "Então, viu Gideão que era o Anjo do Senhor; e disse Gideão: Ah! Senhor Jeová, que eu vi o Anjo do Senhor face a face. Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo; não temas, não morrerás." Juízes 6:22, 23. "E sucedeu que, estando Josué ao pé de Jericó, levantou os seus olhos, e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos inimigos? E disse ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do Senhor. Então, Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu Senhor ao seu servo? Então, disse o Príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." Josué 5:13-15. Se os anjos eram assim temidos e honrados porque vinham da presença de Deus, com que maior reverência deveria o próprio Deus ser considerado. T1 411 1 Muitos que se converteram mediante a influência do movimento de 1854, necessitam converter-se novamente. Agora é preciso dez vezes mais trabalho para corrigir o erro e as idéias equivocadas que receberam de seus mestres e levá-los a receber a verdade isenta de erros, a qual era necessária para pô-los no centro da mensagem do terceiro anjo. Essa classe precisa desaprender antes de poder ser novamente ensinada, senão as daninhas ervas do erro cresceriam exuberantemente e sufocariam as preciosas sementes da verdade. O erro deve ser primeiramente extirpado, então o solo estará preparado para que a boa semente possa germinar e produzir fruto para a glória de Deus. T1 411 2 O único remédio para o Leste é completa disciplina e organização. O espírito de fanatismo tem dominado certa classe de observadores do sábado ali [no Leste dos Estados Unidos]; eles não têm bebido senão levemente da fonte da verdade, e não estão familiarizados com o espírito da mensagem do terceiro anjo. Coisa alguma se pode fazer por essa classe enquanto seus pontos de vista fanáticos não forem corrigidos. Alguns que participaram do movimento de 1854, trouxeram consigo errôneos pontos de vista tais como a não-ressurreição dos ímpios e a era vindoura. Eles estão buscando unir esses pontos de vista e sua experiência passada com a mensagem do terceiro anjo. Não podem fazer isso; não há concórdia entre Cristo e Belial. A não-ressurreição dos ímpios e suas opiniões pessoais sobre a era vindoura são erros grosseiros que Satanás introduziu nas heresias dos últimos dias para servir a seu propósito de arruinar vidas. Esses erros não se harmonizam com a mensagem de origem celestial. T1 412 1 Algumas dessas pessoas têm formas de culto a que chamam dons, e dizem que o Senhor os pôs na igreja. Têm uma algaravia sem sentido a que chamam língua desconhecida, desconhecida não só ao homem, mas ao Senhor e a todo o Céu. Tais dons são manufaturados por homens e mulheres ajudados pelo grande enganador. O fanatismo, a exaltação, o falso falar línguas e os cultos ruidosos, têm sido considerados dons postos na igreja por Deus. Alguns têm sido iludidos a esse respeito. Os frutos de tudo isso não têm sido bons. "Pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:20. O fanatismo e o ruído têm sido considerados evidências especiais de fé. Algumas pessoas não se satisfazem com uma reunião, a menos que experimentem momentos de poder e de alegria. Esforçam-se por isso, e chegam a uma confusão dos sentimentos. A influência dessas reuniões, porém, não é benéfica. Ao passar o feliz entusiasmo de sentimento, essas pessoas imergem mais fundo que antes da reunião, pois sua satisfação não proveio da devida fonte. As mais proveitosas reuniões para o crescimento espiritual, são as que se caracterizam pela solenidade e o profundo exame do coração, cada um procurando conhecer-se a si mesmo e, com sinceridade e profunda humildade, buscando aprender de Cristo. T1 412 2 O irmão Lunt, de Portland, Maine, sofreu muito. Ele cria que o espírito prevalecente nas reuniões não estava em harmonia com a mensagem do terceiro anjo. Ele tivera experiência com o fanatismo que causara desolação no Leste, e isso o levou a olhar com suspeita a tudo o que se assemelhasse a fanatismo. As experiências passadas foram-lhe advertências e ele achava que devia afastar-se e falar claramente com aqueles que mostravam algum grau de fanatismo, pois sentia que eles e a causa de Deus estavam em perigo. Esse irmão tem considerado as coisas sob um ponto de vista acertado. T1 413 1 Há muitos espíritos desassossegados que não se submeterão à disciplina, ao sistema e à ordem. Julgam que sua liberdade seria restringida, caso tivessem de pôr de parte o juízo próprio e submeterem-se ao das pessoas de mais experiência. Não haverá progresso na obra de Deus, a menos que haja disposição para se submeterem à ordem, e expelirem de suas reuniões o espírito negligente e desordenado de fanatismo. As impressões e os sentimentos não são seguras provas de que uma pessoa esteja sendo dirigida pelo Senhor. Se não estivermos apercebidos, Satanás dará sentimentos e impressões. Estes não são guias seguros. Todos se devem familiarizar plenamente com as provas de nossa fé, e a grande preocupação deve ser adornarem sua profissão de fé, e produzirem frutos para glória de Deus. Ninguém deve adotar uma conduta que o leve a se tornar aborrecível aos que não são membros da igreja. Devemos ser castos, modestos e elevados na conversação, bem como irrepreensíveis na vida. Um espírito frívolo, gracejador, negligente, deve ser censurado. Não é nenhum indício de ter a graça de Deus no coração, uma pessoa falar e orar eloqüentemente nas reuniões, e depois entregar-se a uma descuidosa e rude maneira de falar e agir, quando lá fora. Tais pessoas são mesquinhos representantes de nossa fé; são um obstáculo para a causa de Deus. T1 413 2 Há estranha mistura de idéias entre os professos observadores do sábado em _____. Alguns não se acham em harmonia com o corpo da igreja, e conquanto continuem a ocupar a posição que têm agora, serão sujeitos às tentações de Satanás, e afetados pelo fanatismo e o espírito do erro. Alguns nutrem idéias fantasiosas, que lhes cegam os olhos para pontos importantes e vitais da verdade, levando-os a colocarem suas próprias e fantasiosas deduções no mesmo nível que a verdade vital. A aparência dessas pessoas, e o espírito que as acompanha, faz o sábado que elas professam muito objetável aos não-adventistas sensatos. Seria muito melhor para o progresso e êxito da terceira mensagem angélica, se essas pessoas deixassem a verdade. T1 414 1 De acordo com a luz que o Senhor me concedeu, haverá ainda um grande grupo que surgirá no Leste para obedecer coerentemente a verdade. Aqueles que seguem o rumo equivocado que escolheram, serão deixados a abraçar erros que finalmente os levarão à ruína. Eles, porém, serão pedras de tropeço por algum tempo para aqueles que deviam receber a verdade. Os pastores que trabalham na palavra e na doutrina, devem ser obreiros competentes, e apresentarem a verdade em sua pureza, todavia com simplicidade. Devem alimentar o rebanho com forragem limpa, cabalmente joeirada. Há estrelas errantes que professam ser pastores enviados por Deus, os quais andam pregando o sábado de lugar em lugar, mas que têm a verdade misturada com o erro, e estão lançando ao povo a massa de seus discordantes pontos de vista. Satanás os empurrou para dentro a fim de causar desagrado aos inteligentes e cuidadosos que não são membros. Alguns desses têm muito a dizer sobre os dons, e são muitas vezes especialmente agitados. Entregam-se a sentimentos violentos e desordenados e produzem sons ininteligíveis, a que chamam o dom de línguas, e certa classe parece encantada com essas estranhas manifestações. Reina entre essa classe um espírito estranho, que destruiria e passaria por cima de quem quer que os reprovasse. O Espírito de Deus não está nessa obra e não acompanha a tais obreiros. Eles têm outro espírito. Esses pregadores, porém, têm êxito entre certa classe. Isto, porém, aumenta grandemente o trabalho dos servos a quem Deus enviou, os quais se acham habilitados a apresentar perante o povo o sábado e os dons em seu devido aspecto, e cuja influência e exemplo são dignos de imitação. T1 414 2 A verdade deve ser apresentada de maneira a torná-la atrativa ao espírito inteligente. Não somos bem compreendidos como um povo, mas olhados como pobres, fracos de espírito, baixos e degradados. Quão importante é, pois, para todos os que ensinam e todos os que crêem na verdade, ser tão afetados por sua santificadora influência, que a vida coerente, elevada que vivem, mostre aos não-membros que eles se têm enganado com esse povo! Quão importante que a causa da verdade seja despojada de tudo que seja exaltação falsa e fanática, que a verdade se erga sobre os próprios méritos, revelando sua pureza e seu exaltado caráter naturais! T1 415 1 Vi que é de alta importância que os pregadores da verdade sejam refinados em suas maneiras, que fujam às esquisitices e excentricidades, e apresentem a verdade em sua pureza e clareza. Minha atenção foi dirigida a Tito 1:9: "Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes." Em seguida, Paulo fala de uma classe que professa conhecer a Deus, mas que O nega nas obras, sendo "reprovados para toda a boa obra". Tito 1:16. E então ele exorta Tito: "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Os velhos sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade, e na paciência. ... Exorta semelhantemente os mancebos a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós." Tito 2:1-8. Essas instruções acham-se escritas para benefício de todos aqueles a quem Deus chamou para pregar a Palavra, e também para benefício de Seu povo que dá ouvidos à Palavra. T1 415 2 A verdade de Deus jamais degradará, antes elevará ao que a recebe, apura-lhe o gosto, santifica-lhe o juízo, e aperfeiçoa-o para a companhia dos puros e santos anjos no reino de Deus. Alguns há a quem a verdade encontra vulgares, rudes, esquisitos, jactanciosos, prontos a aproveitar-se de seus semelhantes para se beneficiarem a si mesmos; erram por muitas maneiras, e todavia, quando a verdade é crida de coração por eles, efetuará inteira mudança em sua vida. Começarão imediatamente a obra de reforma. A pura influência da verdade elevará o homem todo. Em suas relações de negócio com os semelhantes, terá o temor de Deus diante de si e amará a seu próximo como a si mesmo, tratando como quereria ser tratado. Sua conversação será verdadeira, pura e de caráter tão elevado, que os descrentes não poderão se aproveitar dela, ou com justiça falar mal dele, nem ficar aborrecidos com suas maneiras descorteses e sua linguagem imprópria. Ele introduzirá a santificadora influência da verdade em sua família, e fará resplandecer de tal maneira diante deles sua luz que, vendo suas boas obras, possam glorificar a Deus. Em todas as situações da vida, há de exemplificar a vida de Cristo. T1 416 1 A lei de Deus não se satisfaz com coisa alguma que não seja a perfeição, a perfeita e inteira obediência a todos os seus reclamos. O chegar a meio caminho de suas reivindicações, e não prestar perfeita e completa obediência, de nada aproveitará. Os mundanos e infiéis admiram a coerência, e sempre se convenceram poderosamente de que Deus estava com Seu povo quando as obras desse povo correspondiam à fé que professavam. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:20. Toda árvore é conhecida por seus frutos. Nossas palavras e ações são os frutos que apresentamos. Há muitos que ouvem os ensinos de Cristo, mas não os praticam. Fazem profissão de fé, mas seus frutos são de molde a desgostar aos que não são membros. São jactanciosos, e oram e falam orgulhosamente, exaltando-se a si mesmos, contando suas boas ações e, como os fariseus, agradecendo por assim dizer a Deus porque não são como os outros homens. No entanto esses mesmos são fraudulentos, aproveitam-se de outros nos negócios. Não dão bons frutos. Suas palavras e atos são injustos, e ainda parecem cegos à própria condição destituída e miserável. T1 416 2 Foi-me mostrado que o texto seguinte é aplicável aos que se acham em tal ilusão: "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:21-23. T1 417 1 Aí está a maior ilusão que pode afetar o espírito humano; essas pessoas crêem que são justas, quando estão erradas. Julgam estar fazendo uma grande obra em sua vida religiosa, mas afinal Jesus arranca sua cobertura de justiça própria, e apresenta vividamente diante deles o verdadeiro quadro de sua própria condição, em todos os seus erros e deformidades de caráter religioso. São achados em falta quando é para sempre demasiado tarde para suprir-lhes as carências. Deus providenciou meios para corrigir o errante; todavia, se os que erram preferem seguir o próprio juízo, e desprezam os meios ordenados por Ele para os corrigir e uni-los na verdade, serão levados à posição descrita pelas palavras de nosso Senhor, acima citadas. T1 417 2 Deus está conduzindo um povo e preparando-o para apresentar-se como um, unido, para falar as mesmas coisas, e assim cumprir a oração de Cristo por Seus discípulos. "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:20, 21. T1 417 3 Erguem-se continuamente pequenos grupos que crêem que Deus está unicamente com os poucos, os dispersos, e sua influência é destruir e espalhar o que os servos de Deus constróem. Espíritos desassossegados, que desejam ver e crer constantemente alguma coisa nova, surgem de contínuo, uns aqui, outros ali, fazendo todos uma obra especial para o inimigo, e todavia pretendendo possuir a verdade. Eles ficam separados do povo a quem Deus está conduzindo e fazendo prosperar, e por meio de quem há de realizar Sua grande obra. Esses estão continuamente exprimindo seus temores de que o corpo de observadores do sábado se esteja tornando como o mundo; mas dificilmente há dois deles cujos pontos de vista se harmonizem. Acham-se dispersos e confundidos, e todavia se enganam a si mesmos a ponto de pensar que Deus está especialmente com eles. Alguns desses professam possuir os dons entre eles; mas são levados, mediante a influência e os ensinos desses dons, a pôr em dúvida aqueles a quem Deus confiou o especial encargo de Sua obra, e a tirar uma classe de pessoas do corpo da igreja. O povo que, segundo a Palavra de Deus, está se esforçando ao máximo para ser um, os que são estabelecidos na mensagem do terceiro anjo, são olhados com suspeita, pelo fato de estarem estendendo sua obra, e reunindo pessoas à verdade. São considerados mundanos, porque exercem influência sobre o mundo, e seus atos testificam de que eles estão esperando que Deus faça ainda uma obra grande e especial na Terra -- conduzir um povo e prepará-lo para o aparecimento de Cristo. T1 418 1 Essa classe não sabe realmente o que crê, ou as razões de sua crença. Eles estão sempre aprendendo, e nunca são capazes de chegar ao conhecimento da verdade. Surge um homem com idéias extravagantes, errôneas e pretende que Deus o enviou com nova e gloriosa luz e todos devem crer no que ele apresenta. Alguns que não têm fé estabelecida, que não se acham subordinados ao corpo de crentes, mas andam flutuando daqui para ali sem âncora que os firme, recebem aquele vento de doutrina. Sua luz resplandece de molde a fazer o mundo afastar-se dele, desgostoso, e aborrecê-lo. Então ele se coloca de maneira blasfema ao lado de Cristo, e alega que o mundo o aborrece pela mesma razão por que aborreceu a Cristo. Levanta-se outro, dizendo ser guiado por Deus, e advoga a heresia da não-ressurreição dos ímpios, a qual é uma das grandes obras-primas de erro satânico. Outro nutre errôneos pontos de vista com relação à era vindoura. Outro insiste zelosamente no traje americano. Todos querem plena liberdade religiosa, e cada um age independentemente dos outros, e pretendem todavia que Deus esteja atuando especialmente entre eles. T1 418 2 Alguns se regozijam e exultam em possuir os dons que os outros não têm. Que Deus guarde Seu povo de tais dons. Que fazem esses dons em benefício deles? São eles, mediante o exercício desses dons, levados à unidade da fé? E convencem os descrentes de que Deus está em verdade com eles? Quando esses dissidentes, sustentando suas várias idéias, se reúnem e há considerável agitação, e língua desconhecida, fazem sua luz brilhar de tal modo, que os descrentes dizem: Esta gente não está em seu juízo; são levados por um falso reavivamento, e conhecemos que não possuem a verdade. Esses tais colocam-se diretamente no caminho dos pecadores; sua influência é eficaz em impedir outros de aceitar o sábado. Essas pessoas serão recompensadas segundo suas obras. Prouvera a Deus que eles se reformassem ou abandonassem o sábado! Assim não se atravessariam no caminho dos descrentes. T1 419 1 Deus tem guiado homens que labutaram por anos, que têm estado prontos a fazer qualquer sacrifício, têm sofrido privações e suportado provas para apresentar a verdade ao mundo, e por sua vida coerente, remover o descrédito que os fanáticos têm trazido sobre a causa de Deus. Têm encontrado oposição em toda maneira. Têm labutado noite e dia na pesquisa das evidências de nossa fé, de modo a poderem fazer aparecer a verdade em toda a sua clareza, em forma organizada, a fim de poder resistir à oposição. O incessante trabalho e as provações mentais ligadas a esta grande obra, consumiram mais de um organismo, envelhecendo prematuramente muitas pessoas. Elas não se esgotaram em vão. Deus observou suas ferventes e angustiosas orações, feitas por entre lágrimas, a fim de poderem alcançar luz e verdade, e que esta pudesse brilhar em sua clareza perante os outros. Ele marcou os abnegados esforços que eles fizeram, e recompensá-los-á em harmonia com suas obras. T1 419 2 Por outro lado, aqueles que não labutaram para trazer à luz essas preciosas verdades, apareceram e receberam alguns pontos, como a verdade do sábado, pontos todos preparados, ao alcance de sua mão, e depois, toda a gratidão por eles manifestada pelo que nada lhes custou, mas custou tanto a outros, é levantarem-se como Coré, Datã e Abirã, e infamarem aqueles sobre quem Deus colocou a responsabilidade de Sua obra. Diziam: "Demais é já, pois que toda a congregação é santa, todos eles são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?" Números 16:3. Eles são estranhos à gratidão. Possuem um espírito determinado, que não cede à razão, e que os levará avante à própria ruína. T1 420 1 Deus tem abençoado Seu povo, que prosseguiu adiante, seguindo o caminho providencialmente aberto por Ele. O Senhor trouxe um povo, saído de todas as classes, para a grande plataforma da verdade. Infiéis têm-se convencido de que Deus estava com Seu povo, e têm humilhado o coração para obedecer à verdade. A obra de Deus avança decididamente. Não obstante, porém, todas as provas de que Deus tem estado a guiar o corpo de crentes, há e continuará a haver pessoas que professem o sábado agindo independentemente do corpo, e crendo e procedendo segundo lhes aprouver. Suas idéias são confusas. Sua condição dispersa é um permanente testemunho de que Deus não está com eles. O sábado e seus erros são postos pelo mundo no mesmo plano, e juntamente rejeitados. Deus está irado com os que seguem uma conduta de molde a fazer com que o mundo os odeie. Se um cristão é odiado por causa de suas boas obras e por seguir a Cristo, terá uma recompensa; mas se ele é aborrecido por não seguir orientação de molde a ser amado; aborrecido por causa de suas maneiras incultas e porque faz da verdade motivo de questões com os vizinhos, e vive de maneira a tornar o sábado o mais desagradável possível para eles, esse cristão é uma pedra de tropeço para os pecadores, um obstáculo para a verdade sagrada. A menos que ele se arrependa, "melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse lançado ao mar". Lucas 17:12. T1 420 2 Nenhuma ocasião deve ser dada aos descrentes para criticar nossa fé. Somos considerados esquisitos e diferentes, e não devemos seguir um procedimento que leve os descrentes a assim nos julgarem, mais do que nossa fé requer que sejamos. T1 421 1 Alguns que crêem na verdade podem pensar que seria mais saudável para as irmãs adotarem o traje americano, contudo, se esse traje prejudicar nossa influência sobre os descrentes, de modo que nosso acesso a eles seja impedido, não deveríamos adotá-lo de jeito algum, ainda que sofrêssemos muito em conseqüência. Alguns, porém, se enganam ao pensar que há muitos benefícios nesse vestuário. Embora se demonstre um beneficio para alguns, é prejudicial a outros.* Vi que a ordem divina tem sido invertida e Suas instruções específicas desatendidas por aqueles que adotam o traje americano. Minha atenção foi chamada para: "Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher; porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus." Deuteronômio 22:5. Deus não deseja que Seu povo adote o assim chamado vestuário da reforma. Ele é um traje imodesto, totalmente inadequado às humildes seguidoras de Cristo. T1 421 2 Há tendência crescente de fazer com que as mulheres usem vestuário tanto quanto possível semelhante ao do outro sexo, confeccionando suas roupas com talhe similar às dos homens, o que Deus considera ser abominação. Deus, porém, declara que isso é abominação. "Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia." 1 Timóteo 2:9. T1 421 3 Aqueles que se sentem chamados a se unir ao movimento em favor dos direitos da mulher e do vestuário reformado, podem igualmente romper toda conexão com a mensagem do terceiro anjo. O espírito que assiste a um não pode estar em harmonia com o outro. As Escrituras são claras sobre as relações e direitos de homens e mulheres. Os espiritualistas adotaram até certo ponto esse peculiar modo de vestir. Os adventistas do sétimo dia, que crêem na restauração dos dons, são freqüentemente estigmatizados como espiritualistas. Se adotarem esse traje, sua influência estará morta. As pessoas os colocariam no mesmo nível dos espiritualistas, recusando-se a lhes dar ouvidos. T1 422 1 A suposta reforma do vestuário é acompanhada de um espírito frívolo e audacioso. A modéstia e o recato parecem ter-se afastado de muitos que adotam esse estilo de vestuário. Foi-me mostrado que Deus requer que adotemos uma conduta coerente e explicável. Se as irmãs adotarem o traje americano, anularão a própria influência e a de seus maridos. Tornar-se-ão alvo de escárnio e ridículo. Nosso Salvador diz: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Há uma grande obra a fazer no mundo e Deus quer evitemos uma conduta que diminua ou destrua nossa influência sobre o mundo. ------------------------Capítulo 77 -- A oração de Davi T1 422 2 Foi-me mostrado Davi rogando ao Senhor que o não abandonasse quando fosse idoso, e o que foi que lhe inspirou essa fervorosa oração. Ele viu que a maioria das pessoas idosas que o rodeavam não eram felizes, e que os traços lamentáveis de caráter aumentavam especialmente com a idade. Se as pessoas eram naturalmente mesquinhas e cobiçosas, isto se acentuava desagradavelmente em sua velhice. Se eram ciumentas, irritáveis e impacientes, tornavam-se mais ainda quando idosas. T1 422 3 Davi afligia-se ao ver que reis e nobres que pareciam ter o temor de Deus diante de si enquanto se achavam no vigor da varonilidade, tornavam-se ciumentos de seus melhores amigos e parentes, quando se tornavam mais idosos. Receavam continuamente que houvesse motivos egoístas nas manifestações de interesse dos amigos para com eles. Davam ouvidos às sugestões e conselhos enganosos de estranhos com relação àqueles em quem deviam confiar. Seus não refreados ciúmes inflamavam-se por vezes, porque nem todos concordavam com seu juízo falível. Terrível era sua cobiça. Pensavam muitas vezes que os próprios filhos e parentes desejavam que eles morressem a fim de tomar-lhes o lugar e possuir-lhes as riquezas, e receber as homenagens que lhes haviam sido prestadas. E alguns eram de tal modo controlados pelos ciúmes e sentimentos de cobiça, que destruíam os próprios filhos. T1 423 1 Davi observava que, se bem que a vida de alguns houvesse sido justa enquanto se achavam no vigor dos anos, eles pareceram perder o domínio de si mesmos ao sobrevir-lhes a velhice. Satanás penetrou-lhes no espírito e os dirigiu, tornando-os desassossegados e descontentes. Viu Davi que muitos dos idosos pareciam abandonados por Deus, e se expunham ao ridículo e ao insulto por parte de seus inimigos. Davi sentia-se profundamente abalado; ficou aflito ao pensar nos anos futuros, quando estivesse idoso. Temia que Deus o deixasse, e que ele fosse tão infeliz como outros idosos cuja conduta ele observara, e exposto à desonra dos inimigos do Senhor. O coração opresso por isto, ele orou fervorosamente: "Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força." "Ensinaste-me, ó Deus, desde a minha mocidade; e até aqui tenho anunciado as Tuas maravilhas. Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a Tua força a esta geração, e o Teu poder a todos os vindouros." Salmos 71:9, 17, 18. Davi sentia a necessidade de guardar-se contra os males que acompanham a velhice. T1 423 2 Dá-se freqüentemente que os idosos não estão dispostos a compreender e reconhecer que sua força mental está falhando. Abreviam os próprios dias com o tomarem sobre si cuidados que pertencem a seus filhos. Satanás joga muitas vezes com a imaginação deles, e leva-os a sentirem contínua ansiedade com relação aos bens que possuem. Isto é seu ídolo, e amontoam com avareza. Privam-se muitas vezes dos confortos da vida, e trabalham além de suas forças, de preferência a empregar os meios que têm. Colocam-se assim em constante carência, por temor de que, em algum tempo futuro, venham a sofrer falta. Todos esses temores são originados por Satanás. Ele estimula os órgãos que levam aos temores servis e aos ciúmes que corrompem a nobreza do intelecto e destroem os pensamentos e sentimentos elevados. Essas pessoas são insensatas no que respeita ao dinheiro. Caso tomassem a atitude que Deus deseja que mantenham, seus últimos dias seriam os melhores e mais felizes. Os que têm filhos em cuja honestidade e cuidadoso governo têm motivos para confiar, devem permitir que eles os tornem felizes. A menos que façam isto, Satanás se aproveitará de sua falta de resistência mental, e manejará com eles. Devem pôr de lado a ansiedade e as preocupações, ocupar o tempo da maneira mais satisfatória possível, e amadurecerem para o Céu. ------------------------Capítulo 78 -- Extremos no vestuário T1 424 1 Cremos não estar de conformidade com a nossa fé vestir-se de acordo com o traje americano, usar saias-balão, ou ir ao extremo de vestir compridos vestidos que varrem as calçadas e ruas. Caso as mulheres usassem seus vestidos deixando um espaço de uma ou duas polegadas entre a sujeira das ruas, seus vestidos seriam mais modestos, e poderiam ser conservados limpos muito mais facilmente e durante mais tempo. Esses vestidos estariam de conformidade com a nossa fé. Tenho recebido diversas cartas de irmãs perguntando minha opinião a respeito de usar saias de alça. Essas perguntas foram respondidas em uma carta que enviei a uma irmã em Wisconsin. Transcreverei esta carta para o benefício de outras pessoas. T1 424 2 "Como um povo, não cremos que nosso dever de sair do mundo seja estarmos fora da moda. Se temos um tipo de vestuário de bom gosto, natural, modesto e confortável, e jovens descrentes escolhem vestir-se como o fazemos, devemos mudar essa maneira de vestir-nos a fim de ser diferentes do mundo? Não, não devemos ser excêntricos ou singulares em nosso vestuário para diferir do mundo, temendo que nos desprezem por assim fazermos. Os cristãos são a luz do mundo e o sal da Terra. Seu vestuário deve ser simples e modesto, sua conversação pura e celestial, intocável o seu comportamento. T1 425 1 "Como nos vestiremos? Se alguém usasse pesadas saias acolchoadas antes da introdução das saias-balão, apenas para mostrar-se, e não para conforto, pecaria contra si mesmo prejudicando sua saúde, a qual lhe cumpre preservar. Se alguém as usar agora apenas para imitar as saias-balão, comete pecado; pois está procurando imitar uma moda vergonhosa. Saias presas com alças foram usadas antes que se introduzissem as saias-balão. Tenho usado uma saia leve de alças desde que eu tinha catorze anos de idade, não para exibir-me, mas pelo conforto e decência. Pelo fato de terem sido introduzidas as saias-balão não deixarei por elas a minha saia de alças. Devo eu pô-la de lado agora porque a moda das saias-balão é introduzida? Não; isso seria levar o assunto a extremo. T1 425 2 "Cumpre-me ter sempre em mente que devo ser um exemplo, e portanto não devo correr atrás desta ou daquela moda, mas seguir uma conduta uniforme e independente e não ser induzida a extremos com relação ao vestuário. Pôr de lado minha saia de alças que foi sempre modesta e confortável, e pôr-me em uma fina saia de algodão, e dessa maneira parecer ridícula em outro extremo, seria um erro, pois assim eu não seria um exemplo correto, mas poria um argumento na boca das que usam saia-balão. Para se justificarem por usar saias-balão elas poderiam apontar-me como alguém que não as usa, e dizer que não se desonrariam daquela maneira. Ao irmos a tal extremo, destruiríamos toda influência que de outro modo poderíamos ter exercido, e levaríamos as que usam saias-balão a justificarem sua conduta. Devemos vestir-nos modestamente, sem a mínima consideração para com a moda da saia-balão. T1 425 3 "Existe uma posição intermediária nestas coisas. Oh! possamos todos encontrar sabiamente essa posição e conservá-la! Que todos examinemos nosso coração e neste tempo solene, arrependamo-nos dos nossos pecados e nos humilhemos diante de Deus. A obra está entre Deus e o próprio coração. É uma obra individual, e todos têm muito o que fazer sem ser criticar o vestuário, os atos e os motivos de seus irmãos e irmãs. "Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da Terra, que pondes por obra o Seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor." Sofonias 2:3. Eis nossa obra. Não é aos pecadores que se dirige esta mensagem, mas a todos os mansos da Terra, que põem por obra o Seu juízo, ou que guardam os Seus mandamentos. Há trabalho para todos, e se todos obedecerem veremos uma suave união nas fileiras dos guardadores do sábado." ------------------------Capítulo 79 -- Mensagens ao pastor Hull* T1 426 1 Em 5 de Novembro de 1862, vi a condição do irmão Hull. Ele se encontrava em estado alarmante. Sua falta de consagração e piedade vital o expôs às tentações de Satanás. Ele se tem amparado em suas próprias forças, em lugar de apoiar-se no forte braço do Senhor. O potente braço divino foi-lhe parcialmente removido. T1 426 2 Foi-me mostrado que a mais alarmante característica do caso do irmão Hull, é o fato de estar ele dormitando ante o perigo. Não se preocupa, mas se sente perfeitamente seguro e em paz, enquanto Satanás e seus anjos exultam com sua conquista. Quando em conflito, o irmão Hull tinha a mente controlada; houve então uma colisão de espíritos. Agora que parou de lutar, cessou o conflito. Sua mente está despreocupada e Satanás o deixou em paz. Oh, conforme me foi mostrado, quão perigosa era sua posição! Seu caso é quase sem esperança, porque ele não faz nenhum esforço para resistir a Satanás e livrar-se de sua terrível armadilha. T1 427 1 O irmão Hull foi tratado com fidelidade. Achava estar muito restringido, sem liberdade de ação. Enquanto o poder da verdade o influenciava com toda a sua força, sentia-se relativamente seguro. Mas, desfeitos a força e o poder da verdade sobre a mente, não há restrições; as propensões naturais tomam a dianteira e já não há detença. Ele se cansou da luta e por algum tempo desejou agir com mais liberdade, mas sentiu-se ofendido com a reprovação de seus irmãos. Ele me foi apresentado como estando à beira de terrível precipício, pronto para saltar. Se fizer isso, será seu fim; seu destino eterno estará selado para sempre. Ele está trabalhando e tomando decisões para a eternidade. A obra de Deus não depende do irmão Hull. Se ele abandonar as fileiras dos que levam a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel, e se unir àqueles que empunham a bandeira negra, será para sua própria perda e eterna destruição. T1 427 2 Vi que os que desejam, encontrarão bastante oportunidade para duvidar da inspiração e veracidade da Palavra de Deus. Deus não obriga ninguém a crer. Podem escolher confiar nas evidências que Ele houve por bem dar, ou podem duvidar e perecer. Isso é vida ou morte para você, irmão Hull. Vi uma nuvem de anjos maus o envolvendo. O irmão estava perfeitamente à vontade entre eles. Satanás tem-lhe contado uma agradável história sobre um meio mais fácil, de preferência a estar lutando permanentemente com espíritos contrários. Mas, se você preferir esse meio, descobrirá no final que terá de pagar um tributo pesado e terrível. T1 428 1 Vi que o irmão se sentia forte. Julgava ter argumentos que não podiam ser contestados. Você não se apoiava na força do Senhor. Com muita freqüência você penetrava o terreno de Satanás para enfrentar um opositor. Não esperou até saber se a causa de Deus e a verdade requeriam discussão, mas envolveu-se com os oponentes. Com um pouquinho de cautela você teria verificado que a verdade não progrediria, nem haveria benefício à causa de Deus. Tempo precioso foi assim desperdiçado. T1 428 2 Satanás foi testemunha do pesado golpe que o irmão Hull vibrou contra o espiritualismo em Battle Creek. Os espiritualistas perceberam-lhe o caráter e convenceram-se de que não seria vão fazer decidido esforço para arruinar aquele que tanto prejudicara sua causa. Ao discutir com os espiritualistas, você não enfrenta meramente a homens e seus argumentos, mas a Satanás e seus anjos. Nunca deveria um só homem ir debater com um espiritualista. Se a causa de Deus realmente demandar que confrontemos Satanás e seu exército representado por um médium espírita, se for preciso correr o risco de se envolver em tal discussão, então deverão ir várias pessoas juntas para que, com oração e fé, façam recuar as forças das trevas, e o pregador possa ser escudado por anjos magníficos em poder. T1 428 3 Irmão Hull, você me foi mostrado como estando sob uma enfeitiçante influência, que se provará fatal a menos que esse fascínio seja quebrado. Você parlamentou e arrazoou com Satanás, demorando-se em terreno proibido. O irmão exercitou a mente com coisas transcendentes demais e acariciou dúvidas e incredulidade. Atraiu anjos maus e afastou os puros e santos anjos de Deus. Se você tivesse resistido firmemente às sugestões de Satanás e buscado com determinação forças de Deus, teria rompido cada grilhão e afastado o inimigo espiritual, acercando-se de Deus e triunfando em Seu nome. Vi que foi presunção de sua parte enfrentar um espiritualista, quando você mesmo estava envolvido e confundido por nuvens de incredulidade. Você saiu à batalha contra Satanás e suas forças, sem armadura, e foi seriamente ferido. Mas está insensível ao ferimento. Receio muito que nem os trovões e relâmpagos do Sinai consigam dissuadi-lo. Você está comodamente estirado na espreguiçadeira de Satanás e não vê a terrível condição em que se encontra, nem faz qualquer esforço para se livrar. Se o irmão não despertar nem se libertar da armadilha do diabo, haverá de perecer. Os irmãos e irmãs querem salvá-lo, mas vi que não podiam fazê-lo. Você tem alguma coisa a fazer; precisa empregar diligentes esforços ou estará perdido. Vi que aqueles que se encontram sob a enfeitiçante influência do espiritualismo, não têm consciência dessa sua condição. O irmão está hipnotizado e encantado, contudo, não o percebe; assim, não faz o mínimo esforço para achegar-se à luz. T1 429 1 Vi que estamos agora no tempo da sacudidura. Satanás está atuando com todo o seu poder para arrebatar pessoas da mão de Cristo e compeli-las a pisar o Filho de Deus. Um anjo repetiu lenta e enfaticamente estas palavras: "De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?" Hebreus 10:29. O caráter está em desenvolvimento. Anjos de Deus estão pesando o valor moral. Deus está testando e provando Seu povo. Estas palavras me foram apresentadas pelo anjo: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim." Hebreus 3:12-14. Deus não Se agrada quando alguém de Seu povo que tenha conhecido o poder da Sua graça fala de dúvidas, tornando-se assim um canal para Satanás transmitir a outras mentes as suas tentações. Se a semente da descrença e do mal não for prontamente desarraigada, Satanás a nutrirá até que floresça e se torne forte. A boa semente semeada precisa ser nutrida, regada e cuidada com carinho, porque toda nociva influência é exercida para impedir-lhe o crescimento e aniquilá-la. T1 430 1 Os esforços de Satanás são agora mais poderosos do que nunca, pois ele sabe que seu tempo para enganar é curto. Irmão Hull, vi que você se prejudicou muito ao expor suas fraquezas e declarar suas dúvidas àqueles que são agentes satânicos. O irmão foi enganado por palavras suaves e conversas capciosas, e se expôs afoitamente aos ataques de Satanás. Como pôde ferir-se assim e atrair descrédito à Palavra de Deus? Você entrou precipitadamente no campo de batalha de Satanás e não admira que sua mente se tenha tornado tão rude e insensível. Através de seus agentes, Satanás já havia envenenado a atmosfera a seu redor; os anjos maus já haviam passado informações a seus representantes terrenos sobre a conduta a ser adotada a seu respeito. E este é quem Deus chamou para estar entre os vivos e os mortos. Este é um dos vigias postados sobre os muros de Sião para dizer ao povo as horas da noite. Uma pesada responsabilidade repousa sobre o irmão. Se você cair, não cairá sozinho, pois Satanás o utilizará como seu agente para levar pessoas à perdição. T1 430 2 Vi que os anjos de Deus o olhavam tristes. Haviam deixado o seu lado e, afastando-se pesarosos, enquanto Satanás e seus anjos, contentes riam de você. Se você mesmo tivesse lutado com as suas dúvidas, e não tivesse encorajado o diabo a tentá-lo a dar expressão a seu ceticismo e ter prazer em demorar nessa fala, não teria atraído os anjos caídos para junto de você em tão grande número. Você, porém, preferiu expressar suas trevas; preferiu demorar-se nisso; e quanto mais demoradamente falar, mais e mais sombrio se torna. Está excluindo de você mesmo todo lampejo da luz celeste, e está se formando um grande abismo entre você e os únicos que o podem ajudar. Se continuar da maneira em que começou, a miséria e a desgraça o esperam. A mão de Deus o prenderá de um modo que não lhe agradará. Sua ira não dormitará. Mas agora Ele o convida. Agora, justamente agora, Ele lhe pede que volte para Ele, sem demora, e Ele graciosamente perdoará e curará todas as suas apostasias. Deus está a guiar avante um povo que é peculiar. Ele os limpará e purificará, habilitando-os para a trasladação. Tudo o que é carnal será separado dos peculiares tesouros de Deus, até que se tornem como ouro purificado sete vezes. T1 431 1 Vi que a situação dos irmãos A e B era cruel, pois estavam servindo aos propósitos de Satanás ao aceitarem que ele os conduzisse pelos caminhos da incredulidade. Seu maior pecado era falar abertamente sobre essas sombrias dúvidas e tenebrosa incredulidade, atraindo outras mentes para a escuridão. T1 431 2 O povo de Deus será peneirado assim como o trigo é sacudido na peneira, até que toda a palha seja separada dos puros grãos. Devemos olhar a Cristo como exemplo e imitar o humilde Modelo. Você não aceita a disciplina de que necessita e não pratica a abnegação que Cristo requer daqueles que são verdadeiramente herdeiros da salvação. Aqueles que estão empenhados na obra de salvar pessoas são coobreiros de Cristo. Sua obra foi de desprendida benevolência e constante abnegação. Aqueles que apreciam o infinito sacrifício feito por eles, para que pudessem tornar-se participantes de sua celestial graça, farão, por seu turno, sacrifícios e se negarão a si próprios para auxiliar na grande obra de trazer outros ao conhecimento da verdade. O interesse próprio será posto de lado, os desejos egoístas e a comodidade própria não serão empecilhos à obra de salvar pessoas. Os pastores de Deus estão trabalhando em lugar de Cristo; são Seus embaixadores. Não devem consultar o próprio conforto, bem-estar, prazer, desejos ou conveniência. Cumpre-lhes sofrer por Cristo, ser com Ele crucificados e regozijar-se de poderem, no sentido lato da palavra, participar dos sofrimentos de Cristo. T1 432 1 Vi que os pastores que trabalham na pregação e na doutrinação têm diante de si uma grande obra. Pesada responsabilidade repousa sobre eles. Em seu trabalho, eles não se acercam o suficiente dos corações. Sua obra é demasiado genérica e muitas vezes dispersiva. Sua obra deve concentrar-se naqueles por quem estão trabalhando. Quando pregam do púlpito apenas começaram o trabalho. Devem então viver sua pregação, guardando-se sempre para não se tornarem uma reprovação à causa de Deus. Precisam tomar como exemplo a vida de Cristo. "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. "E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão." 2 Coríntios 6:1. A obra do pastor não está concluída ao retirar-se ele do púlpito. Não deve desfazer-se da responsabilidade e ocupar a mente com leitura ou escrita, a menos que isso seja realmente necessário. Deve ele acompanhar seus cultos públicos com esforços particulares, trabalhando pessoalmente pelas pessoas onde quer que uma oportunidade se apresente, conversando junto à lareira, em lugar de Cristo instando com as pessoas para que se reconciliem com Deus. Nossa obra aqui está prestes a terminar "mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho". 1 Coríntios 3:8. T1 432 2 Foi-me mostrada a recompensa dos santos, a herança imortal. Vi também o quanto o povo de Deus tem sofrido por causa da verdade, e que consideram o Céu muito fácil de alcançar. Reconhecem que os sofrimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória que lhes será revelada. O povo de Deus, nestes últimos dias, será provado. Em breve ocorrerá a prova final, e então receberão o dom da vida eterna. T1 432 3 Irmão Hull, você sofreu humilhação por causa da verdade. Experimentou o poder da verdade e de uma vida sem fim. Teve o testemunho do Espírito de Deus de que Lhe pertencia e por Ele era aceito. Vi que se você usar novamente a armadura e permanecer em seu posto, resistindo ao diabo e ferindo varonilmente as batalhas do Senhor, será vitorioso e brevemente haverá de depor sua armadura e cingir a coroa do conquistador. Oh, não é essa herança suficientemente preciosa? Não custou ela preço incomensurável -- a agonia e o sangue do Filho de Deus? Rogo-lhe, em nome do Senhor, que desperte. Desfaça o temível engano que Satanás lançou sobre você. Tome posse da vida eterna. Resista ao diabo. Anjos maus o cercam, sussurrando em seus ouvidos, visitando-o com sonhos enganosos, e você os ouve com deleite. Oh, por amor a Cristo, por amor a si mesmo, aparte-se dessa terrível influência antes de ofender definitivamente o Espírito de Deus. T1 433 1 No sábado, dia 6 de Junho de 1863, foram-me mostradas algumas coisas com relação à obra de Deus e à disseminação da verdade. Pregadores e povo têm uma fé mirrada, pouca devoção e mínima piedade genuína. O povo imita o pregador; assim, o pastor tem grande influência sobre ele. Irmão Hull, Deus deseja que você se chegue mais a Ele, para que possa apoderar-se de Sua força e por viva fé reivindicar Sua salvação e ser um homem forte. Se você fosse um homem piedoso e devotado, tanto no púlpito quanto fora dele, uma poderosa influência auxiliaria suas pregações. O irmão não procedeu a um exame íntimo do próprio coração. Você lê muitas obras para tornar suas pregações perfeitas, adequadas e agradáveis, mas negligencia o estudo maior e mais necessário: o estudo de você mesmo. Um completo conhecimento de você mesmo, a meditação e a oração têm sido coisas secundárias. Seu sucesso como pastor depende de guardar o próprio coração. Você receberá mais força despendendo uma hora por dia em meditação e em lamentar as próprias falhas e depravação do coração, e em suplicar o amor perdoador de Deus e a certeza dos pecados perdoados, do que gastando muitas horas e dias estudando os mais talentosos autores, e familiarizando-se com cada objeção à nossa fé e com as mais poderosas evidências em seu favor. T1 434 1 A razão por que nossos pregadores realizam tão pouco é que eles não andam com Deus. O Senhor está a um dia de viagem na frente da maioria deles. Quanto mais intimamente você vigiar o próprio coração, tanto mais atento e protegido estará, a fim de não desonrar a verdade por palavras ou atos e dar ocasião a que a língua dos maldizentes persiga a você e à verdade, e pessoas se percam por negligência de exame introspectivo, de esquadrinhamento do coração e da piedade vital. O comportamento santo do ministro de Cristo deve ser uma censura aos cristãos professos e frívolos. Os raios da verdade e santidade brilhando de sua conversação séria e celestial, convencerão a outros e os guiarão à verdade. Aqueles que o cercam serão compelidos a dizer: "Deus está verdadeiramente com este homem." É a negligência e a frouxidão dos professos ministros de Cristo que confere tão pouca influência. Há muitos professos, mas poucos homens de oração. Se nossos pregadores fossem homens mais dedicados à oração secreta, que pregassem na prática no seio de suas famílias, que governassem sua casa com dignidade e seriedade, sua luz sem dúvida brilharia sobre os que os cercam. T1 434 2 Foi-me mostrado, irmão Hull, que se você se dedicar a Deus, mantendo comunhão com Ele, meditando muito, exercendo vigilância sobre suas fraquezas, pranteando e lamentando diante do Senhor em profunda humildade e apoiando-se nEle, você estará envolvido com a mais proveitosa ocupação que jamais exerceu. Estará bebendo da fonte viva, e dando então de beber aos outros da mesma fonte que o reviveu e fortaleceu. T1 434 3 Querido irmão, a menos que haja uma mudança em seu caráter cristão, você não obterá a vida eterna, pois o nosso diligente inimigo porá armadilhas para seus pés. Se você não estiver próximo a Deus, cairá em seu alçapão. Você é inquieto e preocupado. Estudar é sua prioridade, mas algumas vezes você falha no objetivo. Quando deveria estudar o próprio coração, está empenhado em ler livros. Quando deveria aproximar-se de Cristo mediante a fé, você fica estudando. Vi que todo o seu estudo será inútil, a menos que você examine a si mesmo. Você não está familiarizado consigo mesmo, e sua mente pouco se demora em Deus. Você é muito autoconfiante e não se dá conta de que o eu tem de morrer, se o irmão quiser ser bem-sucedido ministro de Cristo. Falta-lhe sobriedade e prudência fora do púlpito. Essas coisas se contrapõem à sua pregação. T1 435 1 Quando seu caso me foi apresentado pela primeira vez em visão, vi que havia uma falta em você. Sua mente não é elevada. Quando no púlpito, o irmão trata das mais sagradas, santas e elevadas verdades de maneira competente, mas quando envolvido com os mais solenes temas, muitas vezes insere algo cômico para produzir risos, e isto destrói a força de toda a pregação. Você lida com verdades solenes com naturalidade, mas não as pratica. E esta é a razão por que está faltando o endosso do Céu. Muitos que o ouvem com prazer, falarão do ardente sermão, do hábil pregador, mas não estarão mais impressionados com a necessidade de obedecer à verdade do que ouvi-la. Eles continuam a transgredir a lei de Deus como antes. Foi o pastor que os agradou e não as verdades expressas. Você está tão distante de Deus que Seu poder não pode firmar a verdade em seu lar. Você deveria praticar a religião no lar, pois isso exerceria influência para elevar sua esposa e a família toda. Quando em casa, o irmão põe de lado toda restrição e age como um garoto. O peso da verdade e a responsabilidade da obra não repousam sobre você. Você não seleciona as palavras nem se ocupa com o exemplo que deve dar. T1 435 2 Sua única segurança reside em examinar a si mesmo, suas fraquezas e faltas. Não deixe de vigiar-se. Observe-se mais rigorosamente quando no lar. Observe-se quando distante do lar. Você negligencia deveres particulares, põe de lado sua armadura e permite-se adotar um espírito descuidado que afasta os anjos de você mesmo e de sua família. Não se omita em perscrutar o próprio coração no lar. Não dispense todas as suas afeições a sua família. Preserve os melhores afetos de seu coração para Jesus, que o redimiu por Seu sangue. Estando em casa, prepare-se o tempo todo para os negócios externos de seu Mestre. Se assim fizer, estará trajando a armadura a cada momento. O desejo mais elevado de seu coração será glorificar a Deus, cumprir Sua vontade na Terra. Você terá suave confiança e segurança nEle. Não se sentirá tão inquieto, mas terá um constante motivo para meditação, devoção e santidade. Minha atenção foi dirigida para o texto: "Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. O irmão tem uma obra a fazer em conhecer a si mesmo. Não se encante com os comentários que irmãos tolos e ignorantes possam fazer com respeito a suas realizações. Se elogiam sua pregação, não permita que isso o ensoberbeça. Se a bênção de Deus acompanhar seu trabalho, os frutos serão vistos. Sua pregação não somente agradará, mas conquistará almas. T1 436 1 Irmão Hull, você precisa guardar-se de todos os lados. Vi que o que quer que divida as afeições ou afaste do coração o supremo amor a Deus, ou impede que se tenha total segurança e confiança nEle, apropria-se do caráter e assume a forma de um ídolo. Foi-me mostrado o primeiro e grande mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento." Mateus 22:37. Não é permitida qualquer coisa que separe de Deus nossas afeições. Nada deve afastar dEle nosso supremo amor e deleite. Sua vontade, desejos, planos, aspirações e prazeres devem estar em inteira sujeição. Você tem algo a aprender para exaltar ao Senhor Deus em seu coração, em suas conversas e em todos os seus atos. Então Jesus pode ensiná-lo e auxiliá-lo quando você lançar sua rede do lado direito do barco, para trazê-la rompendo de peixes à praia. Mas sem o auxílio de Cristo para lançar sua rede, você pode levar semanas, meses e anos sem obter muito fruto em seu trabalho. T1 437 1 Vi que o irmão seria tentado a sentir que seus irmãos desejam bitolá-lo; que querem impor-lhe muitas restrições. Mas eles desejam apenas que você viva de acordo com as instruções da Palavra de Deus. Deus deseja conduzi-lo a esse ponto e Seus anjos estão observando-o com a mais profunda solicitude. Você precisa conformar sua vida à Palavra de Deus para que possa ser abençoado e fortalecido por Ele, ou cairá no caminho; e depois de pregar aos outros, você mesmo será reprovado. Mas o irmão pode tornar-se um vencedor e conquistar a vida eterna. Você está se recuperando das armadilhas de Satanás, mas ele está preparando outras ciladas. Deus o ajudará e fortalecerá, se o irmão O buscar diligentemente. Examine-se, porém, a si mesmo. Teste cada motivo e não seja sua meta pregar brilhantes sermões para exibir Moisés Hull, mas busque revelar a Cristo. Torne mais clara a verdade aos ouvintes, para que mesmo as mentes mais limitadas possam compreendê-la. Que suas pregações sejam claras, objetivas e solenes. Leve o povo à decisão. Faça com que sintam a força vital da verdade. Se alguns lhe disserem palavras lisonjeiras, chame-lhes severamente a atenção. Diga-lhes que Satanás tem estado a perturbá-lo por muito tempo com isso, e que eles não precisam auxiliá-lo nesse trabalho. T1 437 2 Quando entre irmãs, seja reservado. Não importa se elas pensarem ser isso falta de cortesia. Se as irmãs, sejam casadas ou solteiras, demonstrarem qualquer familiaridade, afaste-as. Seja firme e decidido para que entendam que você não encoraja tal fraqueza. Quando perante os jovens, e em todo o tempo, seja sério e ponderado. Vi que se o irmão Loughborough e você fizerem de Deus sua força, realizariam um bom trabalho em favor de Seu pobre povo, pois dois juntos podem ser um exército. Aproximem-se mais um do outro, orem juntos e separadamente, e tenham liberdade um com o outro. Irmão Hull, você deve confiar no julgamento do irmão Loughborough e ouvir seus conselhos e advertências. ------------------------Capítulo 80 -- Pastores não consagrados T1 438 1 Pastores que pregam a terceira mensagem deveriam trabalhar porque sentem que Deus pôs sobre eles o fardo da obra. Nossos pastores serão poupados de necessidades se exercerem alguma economia. Se falharem, porém, sofrerão privações, qualquer que seja a posição em que forem colocados. Dê-se-lhes a chance mais favorável e eles gastarão tudo o que recebem. Isso aconteceu com o Pastor Hull. Ele precisa de um fundo quase inesgotável para gastar de modo que fique satisfeito. T1 438 2 Aqueles que não administram sabiamente assuntos temporais, geralmente falham nas coisas espirituais. Fracassam em edificar a igreja. Eles podem possuir talentos naturais e serem tidos como hábeis pregadores, todavia, ainda lhes falta valor moral. Eles podem atrair grandes congregações e criar considerável entusiasmo, mas se buscam frutos de seu trabalho, verifica-se que a colheita é pequena, se qualquer fruto ainda puder ser encontrado. Tais homens freqüentemente se envaidecem por causa de seu trabalho e perdem o amor pela simplicidade do evangelho. Não são santificados pelas verdades que pregam. Foi o que aconteceu com o Pastor Hull. Faltou-lhe aquela graça que alicerça a mente, eleva e enobrece o caráter do homem. É bom para o coração ser firmado na graça. Essa é a nossa firmeza. T1 438 3 Em lugares onde o Pastor Hull realizou uma série de conferências, as pessoas gostaram de suas expressões espirituosas e estilo peculiar de pregação, contudo, poucas aceitaram a verdade como resultado de seus trabalhos. Mesmo dessas, uma grande proporção logo renunciou à fé. Muitos ficaram desapontados com os pequenos resultados de seu trabalho. Foi-me mostrada a razão. Estavam faltando humildade, simplicidade, pureza e santidade de vida. Ele pensava que seus esforços eram indispensáveis, e que a obra não existiria se estivesse fora dela. Mas, se ele pudesse saber da ansiedade que os verdadeiros obreiros da causa, os quais tentaram ajudá-lo, sofreram por causa dele, não teria em tão alta conta seus próprios esforços. Sua conduta era uma contínua carga à causa, a qual teria prosperado mais sem a sua influência. A ansiedade de seus irmãos para salvá-lo da queda, levou-os a fazer muito por ele com relação aos recursos. Eles estavam satisfeitos com seu talento oratório e alguns foram até indiscretos em enaltecê-lo, mostrando decidida preferência por ele em detrimento de outros pregadores, cuja influência diria mais em prol da divulgação da causa. Isso o prejudicou. Ele não teve humildade suficiente ou o bastante da graça de Deus para estar acima da lisonja de seus irmãos. Que Deus ajude esses a perceberem seu erro e a jamais se tornarem novamente culpados de prejudicar um jovem pastor mediante lisonja. T1 439 1 Todos os que desejam afastar-se do povo remanescente de Deus para seguir seu corrompido coração, lançam-se de boa vontade nas mãos de Satanás, e devem ser livres para fazê-lo. Há outros entre nós que estão em perigo. Eles têm uma elevada opinião sobre as próprias habilidades, enquanto sua influência, em muitos respeitos, tem sido apenas um pouco melhor do que a do Pastor Hull. A menos que se reformem completamente, a causa ficará melhor sem eles. Pastores não consagrados prejudicam a causa, e são pesada carga a seus irmãos. Eles precisam de alguém que os sigam para corrigir seus erros, endireitar as coisas e fortalecer aqueles que foram debilitados e prejudicados por sua influência. Eles têm ciúmes dos que assumem as responsabilidades da obra -- dos que sacrificariam mesmo a própria vida se necessário, para o progresso da causa da verdade. Eles acham que seus irmãos não têm motivos mais elevados do que eles. É prejudicial e um desperdício de meios fazer tanto por pastores que estão assim sujeitos às tentações de Satanás. Isso lhes concede influência e os coloca onde podem ferir profundamente seus irmãos e a causa de Deus. T1 440 1 Foi-me revelado que as dúvidas que expressam com respeito à veracidade de nossa posição e a inspiração da Palavra de Deus, não são causadas como muitos supõem. Essas dificuldades não estão com a Bíblia ou as evidências de nossa fé, mas em seu coração. Os reclamos da Palavra de Deus são muito restritos para sua natureza não santificada. "Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar." Romanos 8:7. Se os sentimentos do coração natural não são contidos e trazidos em sujeição à santificadora influência da graça de Deus mediante a fé, os pensamentos não serão puros e santos. As condições de salvação da Palavra de Deus são razoáveis, claras e positivas, não sendo nada menos que perfeita conformidade com a vontade divina e pureza de coração e vida. Devemos crucificar o eu com suas concupiscências. Precisamos purificar-nos "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. T1 440 2 Em quase todos os casos onde os indivíduos se tornam duvidosos com respeito à inspiração da Palavra de Deus, isso se deve a sua vida não consagrada que essa mesma Palavra condena. Eles não aceitam suas reprovações e ameaças, porque elas atingem diretamente sua conduta errônea. Eles não possuem nenhum respeito por aqueles que se esforçam por convertê-los e restringi-los. Dificuldades e dúvidas que desconcertam o coração maldoso, serão solucionadas para os que praticam os puros princípios da verdade. T1 440 3 Muitos possuem talentos que poderiam ser empregados na realização de muito bem, se santificados e usados na causa de Cristo; ou muito dano se empregados a serviço da incredulidade e de Satanás. A satisfação do próprio eu com suas concupiscências perverterá os talentos e os tornará uma maldição em vez de bênção. Satanás, o arquienganador, possui talentos maravilhosos. Ele foi, uma vez, um anjo exaltado, próximo a Cristo. Ele caiu por exaltar-se a si mesmo e levantou uma rebelião no Céu, levando muitos em sua queda. Então seus talentos e habilidades foram empregados contra o governo de Deus, para induzir a todos os que pudesse controlar a desprezarem a autoridade do Céu. Os que ficam encantados com a majestade satânica, podem escolher imitar esse general caído e afinal partilhar seu destino. T1 441 1 Pureza de vida concede refinamento, o qual conduzirá aqueles que o possuem a se afastar mais e mais da maldade e condescendência com o pecado. Eles não serão afastados da verdade ou deixados a duvidar da inspiração da Palavra de Deus. Pelo contrário, ocupar-se-ão do estudo diário da Palavra Sagrada com interesse sempre crescente, e as evidências do cristianismo e da inspiração farão impressão em sua mente e vida. Aqueles que amam o pecado desviar-se-ão da Bíblia, apreciarão duvidar dela e se tornarão indiferentes aos seus princípios. Eles aceitarão e defenderão falsas teorias. Esses atribuirão os pecados do homem às circunstâncias; e quando ele comete algum grande pecado, eles o tornam objeto de piedade em vez de considerá-lo como um criminoso a ser castigado. Essa disposição sempre acomodará o coração depravado, que com o correr do tempo desenvolverá os princípios da natureza decaída. Por um processo geral, os homens abolem de uma vez o pecado para evitar a desagradável necessidade de empenho e reforma individual. Para se livrarem da obrigação de esforçar-se, muitos estão prontos a declarar sem importância todo o trabalho e esforço de sua vida enquanto seguindo os princípios sagrados da Palavra de Deus. A necessidade filosófica do Pastor Hull tem sua fortaleza nas corrupções do coração. Deus está convocando os homens para trabalhar nos campos de colheita; se forem humildes, dedicados e piedosos, receberão as coroas que esses pastores perderam, os quais, no que respeita à fé, estão reprovados. T1 441 2 Em 5 de Novembro de 1862, foi-me mostrado que alguns homens enganam-se acerca de seu chamado. Pensam que se um homem não pode trabalhar com as próprias mãos, ou se ele não possui um caráter empresarial, deve tornar-se um pastor. Muitos cometem aqui um grande erro. Um homem que não tem nenhum tato empresarial pode tornar-se um pastor, mas lhe faltarão as qualificações que todo pastor precisa possuir para agir sabiamente na igreja e edificar a causa. Mas quando um pastor é bom no púlpito, e, como o Pastor Hull, falha na administração, nunca deveria sair só. Outro deveria ir junto para suprir-lhe as faltas e administrar por ele. E embora isso possa ser-lhe humilhante, ele deveria dar atenção ao julgamento e conselho desse companheiro, como um homem cego segue àquele que tem visão. Fazendo assim, evitará muitos perigos que se lhe provariam fatais fosse ele deixado só. T1 442 1 A prosperidade da causa de Deus depende muito dos pastores que trabalham no campo do evangelho. Aqueles que ensinam a verdade devem ser consagrados, abnegados e piedosos, que conheçam bem seu ofício e prossigam fazendo o bem, porque sabem que Deus os chamou para esse trabalho. Homens que sintam o valor das pessoas e suportem cargas e assumam responsabilidades. Um obreiro completo é conhecido pela perfeição de seu trabalho. T1 442 2 Há apenas uns poucos pregadores entre nós. E porque a causa de Deus parecia necessitar a ajuda de tanto auxílio, alguns foram levados a pensar que quase qualquer um que deseje ser pastor deve ser aceito. Certas pessoas acham que pela razão de uns poderem orar e exortar com certo grau de liberdade nas reuniões, acham-se qualificados para ser obreiros. E antes de serem testados, ou mesmo mostrarem algum bom fruto de seus trabalhos, foram encorajados homens a quem Deus não enviou, e que foram animados e lisonjeados por alguns irmãos de experiência deficiente. Mas seu trabalho exibe o próprio caráter do obreiro. Eles espalham e confundem; não ajuntam ou edificam. É verdade que uns poucos podem aceitar a verdade como resultado de seus trabalhos, mas esses geralmente não progridem mais do que aqueles que lhes ensinaram a verdade. A mesma carência que marca sua conduta é vista em seus conversos. T1 442 3 O sucesso desta causa não depende de termos um maior número de pastores. É, contudo, da maior importância que aqueles que trabalham ligados à causa de Deus sejam homens que realmente sintam a responsabilidade e a santidade da obra para a qual foram chamados. Uns poucos piedosos e abnegados homens, que se consideram pequenos aos próprios olhos, podem realizar maior volume de bem do que um grande número de homens desqualificados para a obra, contudo autoconfiantes e vangloriosos de seus talentos. Vários desses no campo, os quais deveriam ficar em casa, tornam necessário que constantemente os fiéis pastores despendam tempo em corrigir sua nociva influência. A utilidade futura de jovens pregadores depende muito da maneira com que iniciam seu trabalho. Irmãos que têm a causa de Deus no coração ficam tão ansiosos por ver o progresso da verdade, que se acham em perigo de fazer muito por pastores que ainda não foram testados, ajudando-os liberalmente com recursos e concessão de autoridade. Aqueles que adentram o campo evangélico devem ser deixados a obter por si mesmos a própria reputação, mesmo se sob lutas e privações. Deveriam primeiro dar prova cabal de seu ministério. T1 443 1 Irmãos experientes deveriam ser precavidos, e em lugar de esperar que esses jovens pregadores os auxiliem e conduzam, deveriam sentir a responsabilidade de encarregar-se deles, instruindo-os, aconselhando-os e orientado-os, demonstrando paternal cuidado por eles. Os pregadores jovens deveriam ter método, firme propósito e disposição para o trabalho, para não atraírem problemas de modo algum. Não devem ir de lugar em lugar mostrando alguns pontos de nossa fé que podem despertar preconceito, e deixando pela metade a apresentação da verdade presente. Esses jovens que pensam ter uma obrigação a cumprir na obra, não devem assumir a responsabilidade de ensinar a verdade sem antes se submeterem à influência de alguns pregadores experientes, que são sistemáticos em seu trabalho. Devem aprender destes, como os alunos de uma escola aprendem de seu professor. Não devem ir de um lugar para outro sem um objetivo definido ou planos amadurecidos para levar avante seu trabalho. T1 444 1 Alguns que têm pouca experiência e estão menos qualificados para ensinar a verdade, são os últimos a pedir conselho e orientação a seus irmãos mais experientes. Eles assumem o ministério e se colocam no mesmo nível com aqueles de maior experiência, e não se satisfazem a menos que possam dirigir, pensando que por serem pastores tudo sabem. A tais pregadores certamente falta um verdadeiro conhecimento de si mesmos. Não possuem a necessária modéstia e têm um conceito muito elevado a respeito das próprias habilidades. Pastores experientes, que compreendem a solenidade do trabalho e o peso da causa sobre si, são zelosos. Eles consideram um privilégio aconselharem-se com seus irmãos e não ficam ofendidos se são sugeridas melhorias em seus planos de trabalho ou na maneira de pregar. T1 444 2 Os pastores vindos de outras denominações para abraçar a terceira mensagem angélica, desejam freqüentemente ensinar quando deveriam ser aprendizes. Alguns precisam desaprender grande parte de sua instrução anterior, antes que possam compreender amplamente os princípios da verdade presente. Há pastores que prejudicam a causa de Deus por saírem a trabalhar em lugar de outros pastores, quando há muito trabalho a ser feito em prepará-los para sua obra, assim como gostariam de fazer pelos descrentes. Se estão desqualificados para o trabalho, requerer-se-ão os préstimos de dois ou três fiéis pastores para acompanhá-los e corrigir sua nociva influência. Seria menos dispendioso para a causa de Deus dar um bom apoio a esses pastores e deixá-los em casa, prevenindo assim prejuízos no campo. T1 444 3 Os pregadores são vistos por alguns como especialmente inspirados, como sendo apenas instrumentos através dos quais o Senhor fala. Se os que são idosos, experientes, vêem falhas num pastor e sugerem melhorias em suas maneiras, no tom de sua voz, em seus gestos, ele às vezes se sente melindrado, e raciocina que Deus o chamou assim como é, que o poder era de Deus e não de si mesmo e que o Senhor deve fazer o trabalho por ele, para que possa pregar não de acordo com a sabedoria humana, etc. É erro pensar que um homem não pode pregar, a menos que atinja um alto grau de entusiasmo. Homens que dependem assim de sentimentos, podem ser usados em exortar, quando se sentem inclinados a isso, mas nunca serão bons obreiros, portadores de pesadas responsabilidades. Quando a obra progride com dificuldade e tudo assume um aspecto desencorajador, aqueles que dependem dos sentimentos não se acham preparados para levar sua parte das cargas. Em tempos de desencorajamento e escuridão, quão importante é termos homens de temperamento calmo, que não dependem das circunstâncias, mas que confiam em Deus e trabalham tanto em trevas como na luz. Homens que servem a Deus por princípio, embora sua fé seja severamente provada, serão vistos como se apoiando firmemente no infalível braço de Jeová. T1 445 1 Jovens pregadores e homens que já foram pastores, cujas maneiras têm sido ásperas e desagradáveis, e cuja conversação não têm sido modesta e virtuosa, não estão capacitados a empenhar-se nesse trabalho, até que dêem evidência de inteira reforma. Uma palavra dita inadvertidamente pode causar mais dano, do que uma série de reuniões por eles realizada, faria de bem. Eles lançam o estandarte da verdade no pó diante da comunidade, o qual deveria ser sempre exaltado. Seus conversos geralmente não se erguem acima do padrão posto pelos pastores. Homens que estão entre os vivos e os mortos, deveriam ser pelo direito. O pastor não pode baixar a guarda nem por um só momento. Ele está trabalhando para erguer outros à plataforma da verdade. Que ele mostre aos homens o que a verdade fez por ele. Deve conscientizar-se do mal dessas descuidadas, ásperas e vulgares expressões, e livrar-se de tudo quanto se lhes assemelhe. A menos que faça isso, seus conversos o tomarão por padrão. E quando fiéis pastores o substituírem e trabalharem com esses conversos para corrigir-lhes os erros, eles se desculparão fazendo referências ao pastor que os instruíra. Se você condenar a conduta dele, eles lhe perguntarão: Por que você apóia e emprega sua influência em favor de homens como esse, enviando-os a pregar aos pecadores, quando eles mesmos são pecadores? T1 446 1 A obra na qual estamos empenhados é um trabalho responsável e elevado. Aqueles que pregam e ensinam a doutrina deveriam eles mesmos ser modelo de boas obras, exemplo em santidade, asseio e ordem. A aparência do servo de Deus dentro e fora do púlpito, deve ser a de um pregador vivo. Ele pode realizar muito mais por seu piedoso exemplo do que meramente pregando do púlpito, enquanto sua influência fora dele não for digna de imitação. Os que trabalham nessa causa estão levando ao mundo a mais elevada verdade jamais dada a mortais. T1 446 2 Homens escolhidos por Deus para trabalhar nessa causa, darão prova de sua elevada vocação e considerarão como seu mais alto dever crescer e aprimorar-se até se tornarem hábeis obreiros. Então, enquanto manifestam determinação em melhorar os talentos que Deus lhes confiou, deveriam ser ajudados cuidadosamente. Porém, o encorajamento a eles dado não deveria recender a bajulação, pois o próprio Satanás fará sua parte nesse trabalho. Homens que julgam ter o dever de pregar, não devem ser sustentados quando se lançam de uma vez, a si e suas famílias, a expensas dos irmãos. Eles não devem ser autorizados a estar sob esse esquema até que apresentem frutos de seu trabalho. Há agora o perigo de prejudicar os jovens pregadores e aqueles que possuem pouca experiência, pela lisonja e pelo alívio das responsabilidades da vida. Quando não estão pregando, deveriam estar fazendo o possível para prover o próprio sustento. Essa é a melhor maneira de testar a legitimidade de sua vocação para pregar. Se desejam pregar apenas para serem mantidos como pastores, e a igreja adotar uma conduta cuidadosa, eles logo perderão o interesse e trocarão a pregação por um negócio mais rentável. Paulo, o mais eloqüente dos pregadores, milagrosamente convertido a Deus para fazer uma obra especial não se isentava do trabalho. Ele diz: "Até esta presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos." 1 Coríntios 4:11, 12. "Nem, de graça, comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós." 2 Tessalonicenses 3:8. T1 447 1 Foi-me mostrado que muitos não estimam corretamente as pessoas talentosas que estão entre eles. Alguns irmãos não compreendem que o pregador talentoso é o melhor para o progresso da causa da verdade. Pensam apenas na momentânea satisfação de seus sentimentos. Sem cuidadosa reflexão, mostrarão preferência por um pregador que manifesta zelo apreciável em suas pregações, e conta anedotas que agradam ao ouvido e estimulam a mente por um momento, mas não deixam impressão duradoura. Ao mesmo tempo, têm em baixa estima um pregador que se preparou com oração para poder apresentar diante do povo os argumentos de nossa crença, de maneira calma e forma encadeada. Seu trabalho não é apreciado e ele é freqüentemente tratado com indiferença. T1 447 2 Um homem pode pregar animadamente e agradar ao ouvido, mas não apresentar nenhuma idéia nova ou pensamentos inteligentes. As impressões recebidas de tais pregações não permanecem por muito mais tempo do que enquanto a voz do pregador é ouvida. Quando são procurados frutos desse trabalho, bem pouco pode ser encontrado. Esses dons fugazes não são benéficos e eficazes no progresso da causa da verdade, como um dom confiável a ser exercido em lugares difíceis e trabalhosos. Na obra de ensinar a verdade é necessário que importantes pontos de nossa fé sejam bem apoiados com evidências escriturísticas. Afirmações podem fazer silenciar um descrente, mas não o convencem. Os crentes não são os únicos para cujo benefício os obreiros são enviados ao campo. A salvação de seres humanos é o grande objetivo. T1 448 1 Alguns irmãos erram a esse respeito. Eles pensavam que o irmão C era o homem certo para o trabalho em Vermont, e que ele podia fazer naquele Estado mais do que qualquer outro pastor. Esses irmãos não vêem o assunto por um correto ponto de vista. O irmão C pode falar de maneira a atrair o interesse da congregação, e se isso é tudo que é necessário para tornar um pregador bem-sucedido, então os irmãos e irmãs deveriam estar certos em sua avaliação a respeito dele. Mas ele não é um obreiro completo nem confiável. Quando, nos momentos difíceis, a igreja o necessita, não pode contar com ele. Ele não tem experiência, discernimento e critério para ser de algum benefício à igreja em dificuldades. Não é cuidadoso em assuntos temporais e, embora tenha uma família pequena, tem necessitado de certa assistência. A mesma falha se manifesta nas coisas espirituais. Se houvesse se adotado uma conduta correta a seu respeito quando iniciou o trabalho de pregação, ele poderia ser agora de alguma utilidade na causa. Seus irmãos o prejudicaram ao fazer muito por ele e deixá-lo com poucas responsabilidades na vida, até que o levaram a pensar que seu trabalho era de grande valor. Ele desejava que os irmãos em Vermont assumissem suas responsabilidades, enquanto ficava livre de cuidados. O irmão C não tem praticado uma quantidade adequada de exercícios físicos para dar tono e força a seus músculos e trazer-lhe benefícios à saúde. T1 448 2 Ele não é capaz de estabelecer igrejas. Quando experimentar um ai "se não anunciar o evangelho" (1 Coríntios 9:16), como os abnegados pregadores do passado experimentaram, então, como eles, trabalhará com as próprias mãos durante uma parte do tempo para conseguir meios de sustentar a família, a fim de não ser pesado à igreja. Aí ele sairá não meramente para pregar, mas para salvar pessoas. Esforços feitos com esse espírito realizarão alguma coisa. O irmão C se tem em alta conta. Julga-se no mesmo nível dos outros pregadores em Vermont e acha que deveria figurar na mesma classe deles, e ser consultado quanto aos negócios da igreja. Na verdade, ele nada fez por merecer tal reputação nem provou ser de valor. Que sacrifícios fez ou que dedicação manifestou pela igreja? Que perigos e sofrimentos suportou para que os irmãos o tenham como um obreiro digno de confiança, cuja influência seja positiva onde quer que vá? Até que possua um espírito inteiramente diferente e aja sob princípios de abnegação, seria melhor abandonar a idéia de pregar. T1 449 1 Os irmãos de Vermont têm passado por alto o valor moral de homens como os irmãos Bordeau, Pierce e Stone, os quais possuem larga experiência e cuja influência tem sido de molde a obter a confiança da comunidade. Sua vida industriosa e coerente fá-los diariamente pregadores vivos, e sua obra tem diminuído grandemente os preconceitos, estabelecido e consolidado igrejas. Contudo, os irmãos não apreciaram o trabalho desses homens, embora se tenham mostrado simpáticos com aqueles que não foram ainda provados e experimentados, e que podem apresentar apenas pequenos resultados em seu trabalho. ------------------------Capítulo 81 -- A esposa do pastor T1 449 2 Em 5 de Junho de 1863, foi-me mostrado que Satanás está sempre trabalhando para desalentar e desencaminhar os pastores que Deus escolheu para pregar a verdade. O modo mais eficaz por ele empregado é mediante influências domésticas, através de companheiras não consagradas. Quando consegue controlar-lhes a mente, pode por seu intermédio, obter acesso ao marido que está trabalhando através da pregação e da doutrina para salvar seres humanos. Minha atenção foi chamada para as advertências que Deus repetidamente tem enviado, e para os deveres da esposa de um pastor. Essas admoestações, porém, não têm tido influência duradoura. Os testemunhos dados não tiveram efeito senão por um breve tempo. A luz foi apenas atendida em parte. Obediência e devoção a Deus foram esquecidas, e muitas desrespeitam a sagrada obrigação que sobre elas pesa, de aproveitar a luz e os privilégios concedidos e andar como filhas da luz. Se o véu fosse afastado e todas pudessem ver justamente como seu caso é observado pelo Céu, haveria um despertamento e cada uma, com temor, perguntaria: Que devo fazer para ser salva? T1 450 1 A esposa do pastor que não é consagrada a Deus, é de nenhuma ajuda ao marido. Enquanto ele enfatiza a necessidade de levar a cruz e insiste sobre a importância da abnegação, o exemplo diário de sua esposa freqüentemente contradiz sua pregação, anulando-lhe a força. Desse modo, ela se torna um grande obstáculo e com freqüência o afasta de seus deveres e de Deus. Ela não compreende que pecado está cometendo! Em lugar de buscar ser útil, procurando com verdadeiro amor pelas pessoas ajudá-las em suas necessidades, exime-se da tarefa preferindo levar uma vida sem utilidade. Não é constrangida pelo poder do amor de Cristo e por princípios santos e altruístas. Não escolhe fazer a vontade divina, tornando-se coobreira de seu marido, dos anjos e de Deus. Quando a esposa do pastor o acompanha em sua missão de salvar pessoas, e se mostra descontente, comete grande pecado e prejudica-lhe o trabalho. Contudo, em lugar de participar de coração no trabalho do marido, buscando cada oportunidade para unir seus interesses e préstimos aos dele, freqüentemente estuda como pode tornar as coisas mais fáceis ou agradáveis para si mesma. Se as coisas não forem agradáveis como ela desejaria -- e nem sempre serão -- não deve ela condescender com sentimentos nostálgicos. Não deve, por não se agradar da situação ou por suas queixas, importunar o marido e tornar a tarefa dele mais difícil. Talvez por seu descontentamento o remova do lugar onde ele poderia fazer o bem. Não deve desviar a atenção do marido do trabalho de salvação de almas, para simpatizar com suas inquietações e satisfazer-lhe os sentimentos caprichosos. Se ela se esquecesse de si mesma e trabalhasse para prestar ajuda a outros; se orasse com as pobres pessoas e a elas falasse; se agisse como se a salvação delas fosse mais importante do que qualquer outro interesse, não teria tempo para ser nostálgica. Sentiria, dia após dia, uma doce satisfação como galardão de seu trabalho desprendido. Não posso chamar isso de sacrifício, porque muitas esposas de pastores não sabem o que é sacrificar ou sofrer pela causa da verdade. T1 451 1 Antigamente a esposa do pastor sofria necessidades e perseguições. Quando o marido padecia prisões e, por vezes, morte, aquelas nobres e abnegadas mulheres sofriam com ele, e sua recompensa será igual à que há de ser concedida ao marido. As Sras. Boardman e Judson padeceram pela verdade -- sofreram com seus companheiros. Em todo o sentido da palavra, sacrificaram pátria e amigos, a fim de ajudar os companheiros na obra de iluminar aqueles que se achavam assentados em trevas; de lhes revelar os mistérios ocultos da Palavra de Deus. Sua vida achava-se em constante perigo. Salvar pessoas era seu grande objetivo, e por ele sofriam de bom grado. T1 451 2 Foi-me apresentada a vida de Cristo. Quando Sua abnegação e Seu sacrifício são comparados com as provas e sofrimentos das esposas de alguns pastores, isso faz com que tudo o que possam elas chamar de sacrifício seja reduzido à insignificância. Se a esposa do pastor profere palavras de descontentamento e desânimo, a influência que exercerá sobre o marido é desencorajadora e tende a debilitá-lo no trabalho, especialmente se seu sucesso depender das influências que o rodeiam. Deve o ministro de Deus, nesses casos, ficar combalido ou retirado do campo de trabalho para atender aos sentimentos da esposa, surgidos da indisposição de render-se à inclinação do dever? A esposa deve harmonizar seus desejos e interesses ao dever, abrindo mão de seus sentimentos egoístas por amor a Cristo e à verdade. Satanás tem exercido muito controle sobre o trabalho dos pastores, através da influência de companheiras egoístas e amantes da comodidade. T1 452 1 Se a esposa do pastor o acompanha em viagens, não deve ir apenas para seu prazer, para visitar e ser servida, mas para com ele trabalhar. Deve ter os mesmos interesses que ele em fazer o bem. Convém que tenha boa vontade de acompanhar o marido, caso os cuidados da casa não a impeçam, e deve ajudá-lo em seus esforços para salvar almas. Com mansidão e humildade, mas todavia com nobre confiança em si mesma, deve exercer no espírito dos que a rodeiam uma influência orientadora, desempenhando seu papel e levando sua cruz e encargos na reunião, em torno do altar de família e na conversação no círculo familiar. O povo assim o espera, e tem o direito de esperar. Se essa expectativa não se realiza, mais da metade da influência do marido é destruída. A esposa do pastor pode fazer muito, se quiser. Se for dotada de espírito de abnegação, e tiver amor às pessoas, poderá fazer com o marido quase outro tanto de bem. T1 452 2 Uma irmã obreira na causa da verdade pode compreender e tratar, especialmente entre as irmãs, de certos casos que se acham fora do alcance do pastor. Repousa sobre a esposa do pastor uma responsabilidade a que ela não deve, nem pode levianamente eximir-se. Deus há de requerer dela, com juros, o talento que lhe foi emprestado. Cumpre-lhe trabalhar fiel e zelosamente, em conjunto com o marido, para salvar almas. Nunca deve insistir com seus próprios desejos, nem manifestar falta de interesse no trabalho do esposo, nem entregar-se a nostalgia e descontentamento. Todos esses sentimentos naturais devem ser vencidos. É preciso que tenha na vida um desígnio, o qual deve ser levado a efeito sem vacilação. Que fazer se isto se acha em conflito com os sentimentos, prazeres e gostos naturais? Estes devem ser pronta e resolutamente sacrificados, a fim de fazer o bem e salvar almas. T1 452 3 A esposa do pastor deve viver uma vida devota e de oração. Mas algumas gostariam de desfrutar uma religião em que não haja cruzes, nem exija abnegação e esforço de sua parte. Em lugar de se manterem nobremente por si mesmas, apoiando-se em Deus para obter a forças, e fazendo face a suas responsabilidades individuais, elas dependem de outros a maior parte do tempo, deles derivando sua vida espiritual. Se tão-somente se apoiassem plenamente em Deus, com confiança infantil, e concentrassem em Jesus suas afeições, recebendo sua vida de Cristo, a videira viva, que soma de bem não poderiam elas realizar, que auxílio poderiam ser a outros, que apoio para seus maridos! E que recompensa não seria a sua afinal! Bem está, serva boa e fiel -- havia de lhes soar qual música dulcíssima aos ouvidos. As palavras: "Entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25:21, 23), pagar-lhes-iam mil vezes todos os sofrimentos e provações suportados para salvar vidas preciosas. T1 453 1 Aqueles que não aprimoram o talento que Deus lhes deu, não alcançarão a vida eterna. Os que não têm senão pequena utilidade no mundo, serão recompensados de acordo com suas obras. Quando tudo corre às mil maravilhas, eles são levados pela maré, mas quando precisam remar determinada e incansavelmente, enfrentando ventos e correntes, parecem não ter suficiente força de caráter. Não encaram as dificuldades do trabalho, mas depõem os remos e permitem que a força das águas os leve corrente abaixo. Assim ficam até que alguns assumam suas responsabilidades e tarefas, e trabalhem diligente e energicamente para empurrá-los contra a maré. Toda vez que cedem à indolência, perdem força e inclinam-se menos ao trabalho na causa de Deus. Apenas o guerreiro fiel alcançará a glória eterna. T1 453 2 A esposa de pastor deve exercer sempre uma influência benéfica sobre a mente daqueles com quem se associa. Ela pode ser uma ajuda ou um empecilho. Ajunta com Cristo ou espalha. Está faltando um abnegado espírito missionário entre as esposas de nossos pastores. O eu vem em primeiro lugar e Cristo em segundo, talvez em terceiro. Um pastor nunca deveria levar a esposa consigo, a menos que soubesse que ela lhe possa ser uma ajuda espiritual; que porte as cargas junto com ele, e resista e sofra fazendo o bem e beneficiando as pessoas por amor a Cristo. As que acompanham o marido devem ir para trabalhar em união com ele. Não devem esperar ver-se livres de dificuldades e desapontamentos, nem pensar muito em alegres emoções. O que têm os sentimentos a ver com o dever? T1 454 1 Foi-me referido o caso de Abraão. Deus lhe disse: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que Eu te direi." Gênesis 22:2. E Abraão obedeceu a Deus. Não consultou os próprios sentimentos, mas com nobre fé e confiança em Deus preparou-se para sua jornada. Com o coração despedaçado pela angústia, olhou para a orgulhosa e amorosa mãe, e contemplando com profunda afeição o amado filho da promessa, partiu com ele. Abraão sofreu, todavia não permitiu que sua vontade se insurgisse contra a vontade divina. O dever, o duro dever, o impelia. Não ousou consultar seus sentimentos ou ceder a eles por um só momento. Seu único filho caminhava ao lado do pai determinado, sofredor e amoroso, conversando animadamente, pronunciando repetida vezes com afeição o nome do pai, e num dado momento perguntou: "Onde está o sacrifício?" Oh! que prova para o fiel pai! Os anjos contemplavam maravilhados aquela cena. O fiel servo de Deus amarrou o filho amado e o deitou sobre a lenha. O cutelo estava erguido, quando o anjo clamou: "Abraão, Abraão!... Não estendas a tua mão sobre o moço"! Gênesis 22:11, 12. T1 454 2 Vi que não é de pequena importância ser cristão. Professar o nome de cristão não é tão significativo, mas viver como cristão é algo grande e sagrado. Temos agora pouco tempo para assegurar a coroa imortal, ter um registro de boas ações e deveres cumpridos inscritos no Céu. Cada árvore é julgada por seus frutos. Cada um será julgado por suas obras e não por profissão de fé. Não será perguntado: Quanto você professou? Mas: Que frutos produziu? Se a árvore for má, o fruto é mau. Se a árvore for boa, não pode produzir mau fruto. ------------------------Capítulo 82 -- Direitos de patente T1 455 1 Muitos de nossos irmãos se envolvem em novos empreendimentos que parecem atraentes, mas em pouco tempo ficam desapontados e sem os recursos que deveriam ter sido usados para o sustento da família e desenvolvimento da causa da verdade presente. Então, vêm remorso, desgosto e auto-reprovação. Alguns, de consciência mais sensível, põem de lado sua confiança e perdem sua alegria espiritual e, como conseqüência de aflição mental prejudicam a saúde. T1 455 2 Aqueles que crêem na verdade devem praticar economia, usar alimentos simples e integrais, sempre fazendo uma regra de vida manter-se dentro de seus recursos. Os irmãos não deveriam empenhar-se em novos empreendimentos sem consultar os de mais experiência, bons administradores tanto das coisas materiais como das espirituais. Assim fazendo, serão poupados de muita perplexidade. T1 455 3 Seria melhor que os irmãos se contentassem com uma pequena renda e a empregassem prudentemente, do que arriscar-se a melhorar sua condição e sofrer contínuas perdas por isso. Alguns guardadores do sábado que se envolveram na venda de direitos de patente, viajaram com os irmãos para evitar despesas e os convenceram a investir seus meios em direitos de patente. Esses tais não serão inocentados diante de Deus até que indenizem as perdas que fizeram os irmãos sofrer. ------------------------Capítulo 83 -- A reforma do vestuário* T1 456 1 Caros irmãos e irmãs: T1 456 2 O motivo de eu chamar-lhes novamente a atenção para o assunto do vestuário é que alguns parecem não compreender o que escrevi anteriormente. Alguns que não estão dispostos a crer no que escrevi, estão fazendo esforços para confundir nossas igrejas sobre esse importante assunto. Muitas cartas me foram enviadas relatando dificuldades, as quais ainda não tive tempo de responder. Agora, respondendo às muitas questões, registro as seguintes afirmações esperando esclarecer definitivamente o problema no que se refere ao meu testemunho. T1 456 3 Alguns afirmam que o que escrevi no Testemunho Para a Igreja n 10, não concorda com as declarações feitas em meu trabalho intitulado How to Live. Elas foram escritas a partir da mesma visão, conseqüentemente, não são duas visões, uma contradizendo a outra, como alguns supõem. Se houver alguma diferença, é simplesmente na forma de expressão. No Testemunho Para a Igreja n 10, declarei o seguinte: T1 456 4 "Não se deve dar aos descrentes nenhuma ocasião de desonrar nossa fé. Somos considerados estranhos e singulares, e não devemos adotar uma conduta que leve os descrentes a pensar que o somos mais do que nossa fé requer que sejamos. Alguns que acreditam na verdade podem pensar que seria mais saudável para as irmãs adotarem o traje americano; todavia, se esse estilo de vestido prejudicar nossa influência entre os descrentes, de maneira que não nos seja possível ter tão fácil acesso a eles, não devemos de modo algum adotá-lo, ainda que soframos muito em conseqüência. Mas algumas pessoas estão enganadas em pensar que há tanto benefício nesse traje. Se bem que talvez se demonstre um benefício para algumas pessoas, é um dano para outras. T1 457 1 "Vi que a ordem de Deus foi invertida e Suas orientações especiais menosprezadas por aqueles que adotam o traje americano. Minha atenção foi chamada para o seguinte verso: 'Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher; porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus.' Deuteronômio 22:5. Deus não deseja que Seu povo adote essa pretensa reforma de vestuário. Trata-se de um vestuário ousado, completamente inadequado às modestas e humildes seguidoras de Cristo. T1 457 2 "Há uma crescente tendência de as mulheres usarem vestuário e adotarem aparência mais semelhantes aos do sexo oposto e escolherem seus trajes bem parecidos com os dos homens. Mas Deus declara que isso é abominação. 'Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia.' 1 Timóteo 2:9. T1 457 3 "Os que se sentem convocados a unir-se ao movimento em prol dos direitos da mulher e da suposta reforma do vestuário, podiam romper toda ligação com a mensagem do terceiro anjo. O espírito que acompanha um movimento não pode estar em harmonia com outro. As Escrituras são claras a respeito dos procedimentos e direitos de homens e mulheres. Os espiritualistas adotaram totalmente esse singular modo de trajar-se. Os adventistas do sétimo dia, que crêem na restauração dos dons, são muitas vezes tidos como espiritualistas. Adotem esse tipo de vestuário e sua influência se perderá. As pessoas os colocariam no mesmo nível dos espiritualistas, recusando-se a ouvi-los. T1 457 4 "A assim chamada reforma do vestuário porta um espírito de leviandade e ousadia que se ajusta perfeitamente ao vestuário adotado. Modéstia e recato parecem desviar-se daqueles que adotam esse estilo de vestir. Foi-me mostrado que Deus requer que tenhamos uma conduta coerente e sensata. Adotem as irmãs o traje americano, e destruirão a própria influência e a de seus maridos. Tornar-se-iam um provérbio e uma zombaria. Nosso Salvador diz: 'Vós sois a luz do mundo.' 'Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus.' Mateus 5:14, 16. Há uma grande obra para fazermos no mundo, e Deus não quer que adotemos uma conduta de molde a diminuir ou destruir nossa influência para com o mundo." T1 458 1 Esse testemunho me foi dado como reprovação para as irmãs que se sentem inclinadas a adotar um estilo de vestuário criado para os homens. Mas, ao mesmo tempo, foram-me mostrados os males de um estilo comum para as vestes femininas. Para corrigi-los, foi dado este testemunho encontrado em Testemunho Para a Igreja n 10: T1 458 2 "Cremos não estar de conformidade com a nossa fé vestir-se de acordo com o traje americano, usar saias-balão, ou ir ao extremo de vestir compridos vestidos que varrem as calçadas e ruas. Caso as mulheres usassem seus vestidos deixando um espaço de uma ou duas polegadas entre a sujeira das ruas, seus vestidos seriam mais modestos, e poderiam ser conservados limpos muito mais facilmente e durante mais tempo. Esses vestidos estariam de conformidade com a nossa fé." T1 458 3 Eis um trecho do que eu disse em outra parte sobre o assunto: T1 458 4 "As mulheres cristãs não se devem dar a trabalhos para se tornarem objeto de ridículo por vestir diferentemente do mundo. Mas, se seguindo suas convicções de dever a respeito do vestir modesta e saudavelmente, elas se acham fora da moda, não devem mudar de vestuário a fim de ser semelhantes ao mundo; porém manifestar nobre independência e coragem moral para ser corretas, ainda que o mundo inteiro delas difira. Caso o mundo introduza um modo de vestir decente, conveniente e saudável, que esteja em harmonia com a Bíblia, não muda nossa relação para com Deus ou para com o mundo ou adotar tal estilo de vestuário. As mulheres cristãs devem seguir a Cristo e fazer seus vestidos em conformidade com a Palavra de Deus. Devem evitar os extremos. Devem elas adotar humildemente uma conduta reta, apegando-se ao direito por ser direito, sem se preocupar com aplausos ou censuras. T1 459 1 "As mulheres devem agasalhar seus membros visando maior saúde e conforto. Seus pés e pernas devem estar protegidos -- assim como os dos homens. O comprimento dos trajes da moda é objetável por diversas razões: T1 459 2 1. É extravagante e desnecessário ter o vestido tão longo, varrendo a sujeira das calçadas e ruas. T1 459 3 2. Um vestido assim longo absorve o orvalho da grama e a lama das ruas, tornando-se assim uma falta de asseio. T1 459 4 3. Assim enlameado, o vestido entra em contato com tornozelos sensíveis, os quais não estando protegidos de modo conveniente, esfriam-se rapidamente arriscando a saúde e a vida. Eis aí uma das maiores causas da produção de catarro e inchações escrofulosas. T1 459 5 4. O comprimento exagerado é um peso adicional aos quadris e intestinos. T1 459 6 5. Embaraça o andar e às vezes atrapalha o movimento de outras pessoas. T1 459 7 "Existe ainda outro estilo de vestido adotado pela classe de supostas reformadoras do vestuário. Imitam o máximo possível o sexo oposto. Usam bonés, calças, coletes, paletós e botas, sendo estas últimas as partes mais destacadas no traje. Os que adotam e defendem essa moda, levam a pretensa reforma do vestuário a extremos muito objetáveis. Confusão é o resultado. Algumas das que adotam esse traje podem até estar certas em seus pontos de vista gerais sobre a questão de saúde, mas poderiam contribuir para promover maior bem, se não levassem a questão do vestuário a tais extremos. T1 459 8 "Nesse estilo de vestuário a ordem de Deus foi radicalmente invertida e desatendidas Suas instruções especiais. 'Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher; porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus.' Deuteronômio 22:5. Deus proíbe que Seu povo adote essa moda. Não é um traje decente, e também inadequado para mulheres modestas e humildes, que professam ser seguidoras de Cristo. As proibições de Deus são consideradas com leviandade por todas quantas defendem a abolição da diferença de vestuário entre homens e mulheres. A posição extremada de algumas reformadoras do vestuário sobre esse assunto lhes enfraquece a influência. T1 460 1 "Deus determinou que houvesse clara distinção entre trajes masculinos e femininos, e considerou o assunto de suficiente importância para dar explícitas instruções a esse respeito, pois se o mesmo traje for usado por ambos os sexos, causaria confusão e grande aumento de crime. Se o apóstolo Paulo estivesse vivo e contemplasse as mulheres que professam piedade usando esse tipo de vestuário, pronunciaria a repreensão: 'Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.' 1 Timóteo 2:9, 10. A maioria dos professos cristãos, desrespeitam totalmente os ensinos dos apóstolos, usando ouro, pérolas e vestidos custosos. T1 460 2 "O leal povo de Deus é a luz do mundo e o sal da Terra, e devem ter sempre em mente que sua influência tem valor. Se trocarem um vestido comprido demais por outro curto demais, destruirão grande parte de sua influência. Os descrentes, a quem é seu dever beneficiar e procurar conduzir ao Cordeiro de Deus, ficariam desgostosos com isso. Muitos melhoramentos podem ser feitos no vestuário feminino com relação à saúde, sem que sejam procedidas mudanças tão grandes que ofendam os observadores. T1 460 3 "A forma do corpo não deveria ser comprimida, no mínimo que fosse, com espartilhos e cintas. O vestido deve ser totalmente confortável, para que os pulmões e o coração possam desempenhar ação saudável. O vestido deve atingir um pouco abaixo da parte alta da bota, mas curto o suficiente para não varrer a sujeita das ruas e calçadas, sem precisar erguê-lo com a mão. Um vestido ainda mais curto do que esse seria apropriado, conveniente e saudável para as mulheres quando nas lides domésticas, especialmente para as que são obrigadas a executar trabalho ao ar livre. Com esse modelo de vestido, uma saia leve ou duas, no máximo, abotoadas na cintura ou presas por alças, é tudo o que é necessário. Os quadris não foram feitos para suportar grandes pesos. As saias pesadas que algumas mulheres usam, forçam os quadris para baixo e têm sido causa de várias doenças difíceis de ser curadas. As sofredoras parecem ignorar a razão de seus padecimentos e continuam a violar as leis de seu ser, comprimindo a cintura e usando saias pesadas, até que se tornam inválidas por toda a vida. Quando lhes é apontado o erro, muitas exclamam prontamente: 'Ora, pois, tal tipo de vestido seria fora de moda!' E se for assim? Eu desejaria que fôssemos antiquadas a respeito de muitas coisas. Se tivéssemos a antiga força que caracterizou as antigas mulheres das gerações passadas, seria bem melhor. Não falo desavisadamente quando digo que o modo como as mulheres se vestem, junto com sua condescendência com o apetite, são a maior causa de sua presente fraqueza e mórbida condição. Existe apenas uma entre mil que protege seus membros como deveria. Qualquer que seja o comprimento do vestido, as mulheres devem agasalhar os membros tão completamente como os homens. Isso pode ser feito usando-se calças forradas, franzidas por cordões presos ao redor dos tornozelos, ou calças largas que se afinam na parte inferior. Devem elas ser suficientemente compridas para atingir o nível dos calçados. As pernas e tornozelos são assim protegidos contra as correntes de ar. Se os pé e membros forem mantidos confortáveis com agasalhos quentes, a circulação será uniforme e o sangue se manterá puro e saudável, sem sofrer esfriamento ou bloqueios em sua passagem natural através do sistema circulatório. T1 462 1 A principal dificuldade na mente de muitos é o comprimento do vestido. Alguns insistem em que a expressão "o cano da bota" faz referência ao alto das botas usadas pelos homens, que alcançam quase até os joelhos. Se fosse costume das mulheres usar tais botas, então essas pessoas não teriam responsabilidade em entender o assunto dessa maneira. Mas as mulheres geralmente não usam tais botas. Elas, portanto, não têm o direito de entender como pretendem o que escrevi. T1 462 2 Para mostrar o que eu quis dizer e que há harmonia em meus testemunhos sobre o assunto, apresento aqui um trecho de meus manuscritos redigidos há cerca de dois anos: T1 462 3 "Desde que foi impresso em meu livro How to Live um artigo sobre vestuário, têm havido alguns que estão interpretando mal a idéia que eu quis comunicar. Eles têm levado a extremos o significado do que eu quis dizer com respeito ao comprimento do vestido, e evidentemente acharam difícil a questão. Com seus pontos de vista distorcidos sobre o assunto, discutiram a questão do encurtamento do vestido, até que sua visão espiritual tornou-se tão confusa que só podem ver os homens "como árvores que andam". Marcos 8:24. Pensavam ter achado contradições entre meu artigo sobre vestuário, recentemente publicado em How to Live, e o artigo sobre o mesmo assunto editado no Testemunho Para Igreja n 10. Devo afirmar que sou a melhor juíza das coisas que me foram apresentadas em visão, e ninguém precisa temer que eu contradiga meu próprio testemunho, ou não tenha percebido alguma contradição real nas visões que me foram dadas. T1 462 4 "Em meu artigo sobre vestuário em How to Live procurei apresentar um estilo saudável, conveniente, econômico, modesto e apropriado para uso das mulheres cristãs, se assim o escolherem. Tentei, talvez imperfeitamente, descrever tal vestido: 'O vestido deve ficar levemente abaixo do cano da bota, curto o suficiente para não roçar a sujeira das calçadas e ruas, sem ser preciso levantá-lo com a mão.' Alguns contestam que pela expressão 'cano da bota', eu me referi às botas masculinas. Mas por 'cano da bota' intentei dizer botas ou polainas comumente usadas pelas mulheres. Houvesse eu imaginado que seria mal-entendida, teria escrito mais claramente. Se as mulheres tivessem o hábito de usar botas de cano alto como os homens, eu poderia ver desculpa suficiente para essa interpretação errônea. Penso, porém, que o texto é bastante claro, e que ninguém precisa ficar em dúvida. Por favor, leiam outra vez. 'O vestido deve ficar pouco abaixo do cano da bota.' Agora, notem as qualificações: 'Deve, entretanto, ser suficientemente curto para não roçar a sujeira das calçadas e ruas, sem ser preciso levantá-lo com a mão. Um vestido ainda mais curto do que esse seria próprio, conveniente e saudável para as mulheres quando em suas lides domésticas, especialmente para as que são obrigadas a executar algum trabalho ao ar livre.' T1 463 1 "Não posso encontrar desculpa razoável para as pessoas entenderem mal e perverterem o que eu quis dizer. Ao falar do comprimento do vestido, se eu quisesse me referir às botas de cano alto que chegam quase até os joelhos, por que teria acrescentado 'conquanto deva ser suficientemente curto para não roçar a sujeira das calçadas e ruas, sem ser preciso levantá-lo com a mão'? Se quisesse referir-me a botas de cano alto, o vestido seria logicamente curto para não roçar a sujeira da rua sem ser erguido, e suficientemente curto para todas as atividades. Circulam informações de que a 'irmã White usa o traje americano', e que esse estilo de vestimenta é geralmente usado pelas irmãs de Battle Creek. Lembrei-me agora de um provérbio que diz: 'Uma mentira dá volta ao mundo enquanto a verdade põe as botas.' Uma irmã me disse muito seriamente que temia que o traje americano estivesse para ser adotado pelas irmãs guardadoras do sábado, e que se essa moda se tornasse uma imposição, ela não a aceitaria, pois jamais concordaria em usar tal vestido. T1 464 1 "Com relação ao uso de vestido curto, gostaria de dizer que tenho apenas um, que não é senão um dedo mais curto do que os vestidos que normalmente uso. Visto-o ocasionalmente. Eu me levantava cedo no inverno, e pondo meu vestido curto, que não necessitava ser erguido com a mão para não se arrastar na neve, fazia vigorosas caminhadas de dois a três quilômetros antes do desjejum. Usei-o várias vezes para ir ao Escritório, quando era obrigada a andar pela neve pouco densa, úmida e barrenta. Quatro ou cinco irmãs da igreja de Battle Creek fizeram para si vestidos curtos para usar quando empenhadas em lavar roupa ou na limpeza da casa. Um vestido assim nunca é usado quando saímos pelas ruas de Battle Creek nem nas reuniões. Minhas visões pretendiam corrigir a moda atual -- os vestidos longos demais que se arrastam pelo chão, bem como os vestidos curtos demais que chegam à altura dos joelhos e que são usados por certos grupos. Foi-me mostrado que devemos evitar ambos os extremos. Usando o vestido até a altura do cano da bota da mulher, mais ou menos, evitaremos os males do vestido extremamente longo, e escaparemos aos males e notoriedade do vestido extremamente curto. T1 464 2 "Gostaria de aconselhar aquelas que fazem para si mesmas vestidos curtos para o trabalho caseiro, a mostrarem bom gosto e simplicidade. Que sejam vestidos de bom caimento. Mesmo que destinados às lides domésticas, devem ser convenientes e ter talhe segundo um modelo. Irmãs, quando trajando vestidos para o trabalho do lar, não usem aqueles que as faria parecer um espantalho para afastar os pássaros-pretos do milharal. É mais agradável a seus maridos e filhos, do que a visitantes e estranhos, vê-las em traje adequado. Algumas esposas e mães parecem pensar que não tem importância sua aparência no trabalho caseiro, quando são vistas apenas por sua família. Mas são muito cuidadosas em se vestir com elegância para os olhos dos outros. Não devem o amor e a estima do marido e dos filhos serem mais prezados do que a simpatia de estranhos e amigos comuns? A felicidade do marido e dos filhos deveria ser de mais valor para a esposa e mãe do que a de todos os outros. As irmãs não devem, em tempo algum, usar roupas extravagantes, mas trajar-se sempre asseada, modesta e saudavelmente, conforme seu trabalho o permitir." O traje aqui descrito, cremos, é digno do nome de vestido curto reformado. Está sendo adotado no Instituto Ocidental da Reforma de Saúde, por algumas das irmãs de Battle Creek, e também em outros lugares onde o assunto é devidamente exposto ao povo. Em total oposição a esse sóbrio vestido, acha-se o chamado traje americano, parecendo mais com os trajes masculinos. Consiste de colete, calças e uma peça semelhante a um casaco, que vai até a metade da coxa. Oponho-me a esse tipo de vestimenta, pois me foi mostrado como estando em desacordo com a Palavra de Deus, enquanto que recomendo o outro como modesto, confortável, conveniente e saudável. T1 465 1 Outra razão pela qual chamo novamente a atenção para o assunto do vestuário, é que uma entre vinte irmãs que professam crer nos Testemunhos, deu o primeiro passo na reforma do vestuário. Poderá ser dito que a irmã White usa em público vestidos mais longos do que ela recomenda aos outros. A isso respondo: Quando visito um lugar para falar ao povo onde o assunto é inédito e existe preconceito, penso ser melhor tomar cuidado e não cerrar os ouvidos do povo usando um vestido que lhes causaria desagrado. Mas depois de expor-lhes o assunto e explicar-lhes completamente minha posição, apresento-me perante eles com o vestido reformado, que bem ilustra meus ensinamentos. T1 465 2 Quanto ao uso de saias-balão, a reforma do vestuário está inteiramente à frente delas. Não pode adotá-las. É na realidade muito tarde para falar sobre o uso de saias-balão, sejam grandes ou pequenas. Minha posição a esse respeito é justamente a que sempre foi, e espero não ser responsabilizada pelo que outros possam dizer sobre o assunto, ou pela conduta adotada por aquelas que as usam. Faço objeções contra a distorção que fazem de minhas conversas particulares sobre o assunto, e peço que seja observado como minha assentada posição aquilo que escrevi e publiquei a respeito. ------------------------Capítulo 84 -- Nossos pastores T1 466 1 Na visão que recebi em Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865, foi-me mostrado que está perante nós a mais solene obra. Sua importância e magnitude não são compreendidas. Quando notei manifesta indiferença em toda parte, fiquei alarmada por pastores e povo. Parecia haver paralisia sobre a causa da verdade presente. A obra de Deus parecia estagnada. Pastores e povo acham-se despreparados para o tempo em que estão vivendo, e quase todos os que professam crer na verdade presente são incapazes de compreender a obra de preparação para esse tempo. Em seu presente estado de ambição mundana, com sua falta de consagração a Deus e devoção a si mesmo, acham-se completamente sem condições de receber a chuva serôdia e, tendo feito tudo, permanecer contra a ira de Satanás, que por suas falsidades quer fazê-los naufragar na fé, prendendo-os a um agradável engano. Acham estar totalmente certos, quando estão totalmente errados. T1 466 2 Pastores e povo devem progredir mais na obra de reforma. Deveriam iniciá-la sem demora para corrigir seus errôneos hábitos de comer, beber, vestir e trabalhar. Vi que um grande número de pastores não está desperto para esse importante assunto. Não estão todos onde Deus gostaria que estivessem. O resultado é que alguns só podem mostrar pouco fruto em seu trabalho. Os pastores deveriam ser exemplos ao rebanho de Deus. Não estão, porém, a salvo das tentações de Satanás. É precisamente a eles que Satanás busca enganar. Se for bem-sucedido em iludir um pastor, fazendo-o sentir falsa segurança e desviando-lhe a mente da obra, ou ainda o enganando quanto à sua verdadeira condição diante de Deus, terá feito muito. T1 467 1 Vi que a causa de Deus não está progredindo como pode e deve. Os pastores falham em empenhar-se no trabalho com aquela energia, devoção e firme perseverança que a importância da obra demanda. Eles têm um adversário vigilante a enfrentar, e cuja diligência e perseverança são incansáveis. Os fracos esforços de pastores e povo não têm termo de comparação com os de seu adversário, o diabo. De um lado acham-se os pastores que lutam pelo direito e contam com a ajuda de Deus e dos santos anjos. Eles devem ser fortes e valorosos, totalmente consagrados à causa em que estão envolvidos, sem qualquer interesse pessoal. Não devem estar enredados com as coisas desta vida, para que possam agradar a Deus que os convocou como soldados. T1 467 2 Do outro lado estão Satanás e seus anjos, com todos os seus agentes na Terra, que empenham todos os esforços e usam todos os artifícios para fazer avançar o erro e o pecado, camuflando-lhes a malignidade e deformidade com roupagem agradável. Ao egoísmo, à hipocrisia e a cada tipo de engano Satanás reveste com trajes de aparente verdade e justiça, e exulta com seu sucesso sobre pastores e povo que se gabam de conhecer-lhe as astúcias. Quanto maior a distância que mantêm de Cristo, seu grande Líder, menos se assemelham a Ele no caráter, e mais se parecem com os servos do grande adversário na vida e no caráter, e fazem-no mais seguro de possuí-los afinal. Embora professem ser servos de Cristo, são escravos do pecado. Alguns pastores se preocupam demasiadamente com o salário que recebem. Trabalham por dinheiro e perdem de vista a santidade e a importância da obra. T1 467 3 Alguns se tornam frouxos e negligentes em seu trabalho. Transpõem o terreno, mas são fracos e malsucedidos em seus esforços. Seu coração não está posto na obra. A teoria da verdade é clara. Muitos deles não se empenham em buscar essa verdade por diligente estudo e ardente oração, e nada sabem de sua preciosidade e valor quando compelidos a sustentar sua posição contra a oposição inimiga. Não sentem necessidade de manter inteira consagração à obra. Seus interesses estão divididos entre eles e a obra. T1 468 1 Vi que antes de a obra de Deus poder fazer algum progresso definido, é necessário que os pastores sejam convertidos. Quando experimentarem a conversão , darão menor importância aos salários e maior valor à importante, solene e sagrada obra que receberam da mão de Deus para cumprir, a qual Ele exige seja feita fiel e esmeradamente, como aqueles que hão de prestar-Lhe estrita conta. Um fiel registro de todas as suas ações é feito diariamente pelos anjos relatores. Todos os seus atos, mesmo as intenções e propósitos do coração acham-se fielmente revelados. Nada está oculto aos olhos oniscientes dAquele com quem temos de tratar. Os que despenderam todas as suas energias na causa de Deus e que se arriscaram e investiram algo, sentirão que a obra de Deus é parte deles, e não trabalharão meramente por salário. Não serão espectadores buscando agradar-se, mas consagrarão a vida e todos os seus interesses a essa sagrada obra. T1 468 2 Em seus trabalhos públicos com as igrejas, alguns correm o perigo de cometer erros por não serem escrupulosos. É de seu interesse e do interesse da causa que se analisem interiormente, testando seus motivos. Que se certifiquem estar livres de egoísmo. Devem estar vigilantes para não suceder que, pregando a outros as solenes verdades, não pautem sua vida pelas mesmas, permitindo que Satanás substitua por outra coisa a profunda dedicação que devem ter à obra de Deus. Eles precisam ser exatos consigo mesmos e com a causa de Deus, temendo trabalhar por salário e perder de vista o importante e exaltado caráter da obra. Não devem permitir que o eu governe em lugar de Jesus, e precisam ser cuidadosos para não dizer aos pecadores de Sião que tudo vai bem, quando Deus pronunciou maldição contra eles. T1 469 1 Os pastores precisam despertar e manifestar vida, zelo e dedicação àquilo ao qual por tanto tempo negligenciaram, porque falharam em andar com Deus. A causa de Deus não progrediu em muitos lugares. É necessária uma obra feita de todo o coração. O povo está sobrecarregado "de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida". Lucas 21:34. Estão profundamente envolvidos com um espírito de empreendimentos mundanos. Ambicionam lucrar. Espiritualidade e consagração são artigos raros. O espírito prevalecente é trabalhar, acumular e aumentar o que antes já possuíam. Qual será o fim dessas coisas, é minha preocupação. T1 469 2 As reuniões da Associação não têm produzido nenhum bem permanente. Aqueles que assistem aos encontros levam consigo um espírito comercial. Pastores e povo levam freqüentemente suas mercadorias a esses grandes ajuntamentos, e as verdades proferidas do púlpito não impressionam o coração. A espada do Espírito, a Palavra de Deus, deixa de cumprir sua tarefa. Cai inofensivamente nos ouvidos dos presentes. A exaltada obra de Deus é associada estreitamente às coisas comuns. T1 469 3 Os pastores precisam converter-se antes de poderem fortalecer seus irmãos. Não devem pregar a si mesmos, mas a Cristo e Sua justiça. É necessária uma reforma entre o povo, mas essa deve começar seu trabalho purificador pelos pastores. Eles são os vigias sobre os muros de Sião, para fazer soar uma nota de advertência aos descuidados e imprudentes, e também retratar o destino dos hipócritas de Sião. Parece-me que alguns pastores se esqueceram de que Satanás continua vivo, perseverante, diligente e astuto como sempre, e que ainda procura afastar as pessoas do caminho da justiça. T1 469 4 Uma importante parte da obra pastoral é apresentar fielmente ao povo a ligação existente entre a reforma de saúde, em conexão com a mensagem do terceiro anjo como parte integrante da mesma obra. Não fiquem os pastores sem adotá-la em sua vida. Insistam a seu respeito com aqueles que professam crer na verdade. T1 470 1 Os pastores não devem ter nenhum outro interesse em separado da grande obra de levar pessoas à verdade. Suas energias são todas requeridas no trabalho divino. Não devem empenhar-se em negociar, mascatear ou outro negócio qualquer à parte dessa grande obra. A solene incumbência dada a Timóteo repousa com igual peso sobre eles, impondo-lhes as mais solenes obrigações e as mais pesadas responsabilidades. "Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na Sua vinda e no Seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." "Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério." 2 Timóteo 4:1, 2, 5. T1 470 2 Errôneos hábitos de vida reduzem nossas sensibilidades físicas e mentais, e todo o vigor que podemos adquirir por um correto modo de vida, colocando-nos na melhor relação com a saúde e a vida, deve ser dedicado totalmente à obra que o Senhor nos apontou. Não podemos dispor de nossas poucas e combalidas energias para servir às mesas, ou misturar comércio com o trabalho que Deus nos designou. Cada faculdade do corpo e da mente é agora necessária. A obra de Deus assim exige, e nenhum negócio em separado pode ser executado à parte dessa grande obra, sem despendermos tempo e energias mental e física, reduzindo o vigor e a força de nosso trabalho na causa de Deus. Os pastores que fazem assim não dispõem de muito tempo para meditação e oração, e carecem daquela força e clareza de mente que precisariam ter para entender os casos daqueles que necessitam de ajuda, e estar preparados para instar "a tempo e fora de tempo". 2 Timóteo 4:2. Uma palavra dita de modo apropriado e no devido tempo, pode salvar pobres, errantes, duvidosos e abatidos seres humanos. Paulo exorta a Timóteo: "Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos." 1 Timóteo 4:15. T1 471 1 Na comissão de Cristo a Seus discípulos, Ele diz: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. Se essa é a tremenda responsabilidade da obra dos ministros de Deus, quão importante é que se dediquem plenamente a ela, e velem pelas "almas, como aqueles que hão de dar conta delas". Hebreus 13:17. Deveria algum interesse egoísta ou não condizente ser aqui introduzido e apartar o coração da obra? Alguns pastores ficam muito tempo em casa, esgotam-se no sábado e então voltam e consomem suas forças na lavoura ou no atendimento de assuntos do lar. Trabalham para si mesmos durante a semana e então consomem o restante de suas abatidas energias no trabalho de Deus. Mas o Senhor não aceita esses débeis esforços. Eles ficam sem nenhuma energia mental ou física sobressalente. No melhor dos casos, seus esforços são muito fracos. Mas depois de se haverem absorvido e embaraçado o tempo todo com os cuidados e perplexidades desta vida durante a semana, acham-se inteiramente inabilitados para a nobre, sagrada e importante obra de Deus. O destino das pessoas repousa sobre a linha de conduta que seguem e as decisões que fazem. Quão importante é que sejam temperantes não somente no comer, mas em todas as coisas, inclusive no trabalho, para que suas plenas energias sejam dedicadas ao seu sagrado chamado. T1 471 2 Um tremendo erro tem sido cometido por aqueles que professam a verdade presente, ao misturarem atividades comerciais durante as séries de reuniões, fazendo com que a mente das pessoas se distraia do verdadeiro objetivo das mesmas. Se Cristo estivesse agora na Terra, mandaria embora esses mascates e ambulantes, quer fossem pastores ou povo, com um azorrague de pequenas cordas como fez antigamente, quando entrou no templo e "expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A Minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões". Mateus 21:12, 13. Esses negociantes poderiam ter se justificado dizendo que os artigos que vendiam eram para as ofertas sacrificais. Mas seu objetivo era ganhar dinheiro, obter meios e acumulá-los. T1 472 1 Foi-me mostrado que se as faculdades morais e intelectuais não estivessem entenebrecidas por errôneos hábitos de vida, pastores e povo seriam mais prontos em discernir os maus resultados da mistura do sagrado com o profano. Os pastores fazem os mais solenes sermões do púlpito e então introduzem o comércio e fazem o papel de vendedores na própria casa de Deus. Assim, desviam a mente dos ouvintes das impressões recebidas e destroem o fruto de seu trabalho. Se suas sensibilidades não estivessem embotadas, teriam discernimento suficiente para saber que estavam rebaixando as coisas sagradas ao nível das comuns. A responsabilidade pela venda de nossas publicações não deve repousar sobre os pastores que trabalham pregando e ensinando. Seu tempo e energia precisam ser reservados para que possam empregá-los nas séries de reuniões e não em vender nossos livros, os quais podem ser apropriadamente apresentados ao público por aqueles que não têm a responsabilidade de pregar a Palavra. Ao penetrar novos campos, é necessário que o pastor leve consigo nossas publicações para oferecer ao povo. Pode também ocorrer em certas circunstâncias que seja preciso vender livros e negociar pelo escritório de publicações. Mas tal trabalho deveria ser evitado quando puder ser feito por outros. T1 472 2 Os pastores têm tudo quanto precisam para pregar a Palavra. Após pregar a verdade presente ao povo, devem manter humilde dignidade como pregadores da exaltada verdade e seus representantes. Eles têm de descansar após terem feito duros esforços. Mesmo a venda de livros sobre a verdade presente é uma ansiedade, uma carga para a mente e T1 473 1 fadiga para o corpo. Há um importante trabalho para aqueles que ainda possuem uma reserva de energia e podem assumir maior carga sem sofrer danos; e ao apresentarem a verdade ao povo, isso é apenas o início. Então vem a pregação exemplar, o cuidado atento, a busca do bem dos outros, a conversação, as visitas de casa em casa, procurando perceber as condições e o estado espiritual daqueles que ouvem suas pregações; exortando este, reprovando aquele, admoestando outro, confortando o aflito, o sofredor e o desesperançado. A mente precisa estar tão livre de fadiga quanto possível, para que possam ser como combatentes sempre prontos para a ação, "a tempo e fora de tempo". 2 Timóteo 4:2. Devem eles obedecer à ordem de Paulo a Timóteo: "Medita estas coisas, ocupa-te nelas." 1 Timóteo 4:15. T1 473 2 A responsabilidade do trabalho é bem leve sobre alguns. Entendem que depois de cumprir sua obra no púlpito, o trabalho está feito. Para esses, fazer visitas é um peso, uma carga conversar. As pessoas que estão realmente desejosas de obter os benefícios que há para elas, que desejam ouvir e aprender para que possam ver claramente as coisas, não são favorecidas nem correspondidas. Esses pastores se desculpam porque estão cansados, todavia, consomem suas preciosas energias e gastam o tempo em trabalhos que outros poderiam fazer tão bem quanto eles. Precisam conservar o vigor físico e moral para que, como fiéis obreiros de Deus, possam dar plenas provas de seu ministério. T1 473 3 Em todos os lugares importantes deve haver um depósito de publicações. E alguém que aprecia realmente a verdade, deve interessar-se em fazer chegar esses livros às mãos de todos quantos os queiram ler. "A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros." Mateus 9:37. E esses poucos e experimentados obreiros no campo têm o dever de trabalhar na palavra e no ensino. Surgirão homens afirmando que Deus lhes deu a responsabilidade de ensinar a verdade a outros. Eles devem ser testados e provados. T1 474 1 Não se deve aliviá-los de todos os cuidados nem elevá-los de uma vez a posições de responsabilidade; se precisarem, devem ser animados a dar plenas provas de seu ministério. Não é o melhor caminho para eles interferir no trabalho de outros homens. Que trabalhem em ligação com alguém de experiência e discernimento, e essa pessoa logo verá se são capazes de exercer uma influência salvadora. Os pregadores jovens que nunca enfrentaram trabalho cansativo e nem sentiram o esgotamento de suas forças físicas e mentais, não devem ser estimulados a esperar por manutenção independente de seu trabalho físico. Isso os prejudicaria e acabaria se tornando uma tentação para seduzir homens a se alistarem na obra, sem nada compreenderem de seus encargos ou da responsabilidade que pesa sobre os escolhidos ministros de Deus. Tais indivíduos se achariam competentes para ensinar outros, quando eles mesmos pouco aprenderam dos princípios essenciais. T1 474 2 Muitos que professam a verdade não estão sendo santificados por ela, nem dotados de sabedoria; não são guiados nem ensinados por Deus. O povo de Deus, geralmente, tem mentalidade mundana e apartou-se da singeleza do evangelho. Esta é a causa da grande falta de discernimento espiritual em seu procedimento para com os pastores. Se um pastor prega com liberdade, alguns o elogiam em sua própria presença. Em vez de prestarem atenção nas verdades que ele proferiu e delas tirar proveito, mostrando assim não ser ouvintes esquecidos, mas "cumpridores da palavra" (Tiago 1:22), eles o exaltam, referindo-se ao que ele fez. Demoram-se nas virtudes de um pobre instrumento e se esquecem de Cristo, que Se utilizou do instrumento. Desde a queda de Satanás, que uma vez foi um glorioso e exaltado anjo, os pastores têm caído por causa da exaltação. Insensatos observadores do sábado têm agradado muito ao diabo ao louvar seus pastores. Estão eles cientes de que estão colaborando com Satanás nesse trabalho? Ficariam alarmados se compreendessem o que estão fazendo. Estão cegos. Foram cegados e não permanecem no conselho de Deus. Ergo minha voz de advertência contra louvar ou lisonjear os pastores. Vejo o mal, o terrível mal dessa atitude. Nunca, nunca falem palavras de louvor aos pastores diante deles. Exaltem a Deus. Respeitem um pastor fiel, reconheçam suas responsabilidades e busquem aliviá-las se possível, mas não os elogiem, porque Satanás está vigilante para fazer ele mesmo essa espécie de trabalho. T1 475 1 Os pastores não devem lisonjear nem fazer diferença de pessoas. Sempre tem havido, e ainda há, grande perigo de errarem nesse aspecto, dando preferência aos ricos ou lisonjeando-os com atenções especiais, se não por palavras. Existe o perigo de serem "aduladores dos outros por motivos interesseiros". Judas 16. Assim fazendo, põem em perigo seus interesses eternos. Pode o pastor ser o amigo íntimo de algum homem abastado, e pode este ser muito liberal para com ele; isso agrada ao pastor, que por sua vez não economiza louvores à beneficência de seu doador. Seu nome pode ser exaltado ao aparecer na imprensa, no entanto pode esse liberal doador ser completamente indigno do crédito que lhe é dado. Sua liberalidade não proveio de um profundo e vivo princípio de fazer o bem com seus recursos, para o avanço da causa de Deus porque a apreciava, mas por algum motivo egoísta, o desejo de ser julgado liberal. Pode ter dado por impulso, e sua liberalidade não ter princípios profundos. Pode ser que tenha sido movido ao ouvir comovente mensagem, que, no momento, lhe afrouxou os cordéis da bolsa; mas, apesar de tudo, sua liberalidade não tem motivo mais profundo. Dá por espasmos; sua bolsa se abre espasmodicamente e com a mesma certeza espasmodicamente se fecha. Não merece elogio, pois é, em todo o sentido da palavra, um homem mesquinho; e, a não ser que se converta completamente, bolsa e tudo, ouvirá a fulminante denúncia: "Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça." Tiago 5:1, 2. Esses acordarão, finalmente, de um horrível engano próprio. Os que lhes louvavam a espasmódica liberalidade, ajudaram Satanás a enganá-los, fazendo-os pensar que eram muito liberais, que se sacrificavam muito, quando nem conheciam os fundamentais princípios da liberalidade ou do sacrifício próprio. T1 476 1 Alguns homens e mulheres se enganam achando que não consideram as coisas desse mundo como de muito valor, e que prezam a verdade e seu progresso mais do que todo o ganho mundano. Muitos despertarão, afinal, para descobrir que foram enganados. Podem uma vez ter apreciado a verdade e, em comparação com ela, os tesouros terrestres ter-lhes parecido sem valor. Mas, após algum tempo, como seu tesouro terreno aumentou, tornaram-se menos consagrados. Embora tenham o suficiente para manter-se confortavelmente, todavia, todos os seus atos demonstram que não estão de forma alguma satisfeitos. Suas obras testificam de que seu coração está preso ao tesouro terrestre. Ganhar, ganhar é a sua política. Todos os membros da família participam de seu trabalho com essa finalidade. Dedicam pouco tempo à devoção e à oração. Trabalham desde cedo até tarde. Mulheres enfermas e crianças debilitadas apegam-se à sua mórbida ambição, esgotando a vitalidade e as forças que possuem para comprar um artigo, lucrar um pouco e fazer um pouco mais de dinheiro. Lisonjeiam-se de que assim fazendo podem ajudar a causa de Deus. Terrível engano! Satanás observa e ri, pois sabe que estão trocando a mente e o corpo pelo desejo de lucro. Estão continuamente apresentando desculpas incoerentes por se venderem em troca do ganho. Estão cegados pelo deus deste mundo. Cristo comprou-os com Seu sangue, mas eles roubam a Cristo e a Deus, e se arruínam tornando-se quase inúteis à sociedade. T1 476 2 Empregam bem pouco tempo ao desenvolvimento da mente e às alegrias sociais ou domésticas. Eles são de pouca utilidade para quem quer que seja. A vida deles é um terrível erro. Aqueles que abusam assim de si mesmos, acham que trabalhar infatigavelmente é algo digno de apreciação. Estão-se destruindo por seu presunçoso labor. T1 477 1 Estão arruinando o templo de Deus pela contínua violação das leis de seu ser através do excesso de trabalho e pensam ser isso uma virtude. Quando Deus lhes pedir contas; quando deles exigir com juros os talentos que lhes confiou, o que poderão dizer? Que desculpas apresentarão? Se fossem ímpios que nada soubessem do Deus vivo, e em seu cego zelo idólatra se lançassem sob o carro de Jagarnate*, seus casos seriam mais toleráveis. Mas eles têm a luz e receberam advertência sobre advertência para preservar nas mais saudáveis condições possíveis o corpo, o qual Deus chama de Seu templo, para poderem glorificá-Lo no corpo e espírito, os quais pertencem a Deus. Desprezam os ensinos de Cristo: "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. Eles permitem que os cuidados do mundo os enlacem. "Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína." 1 Timóteo 6:9. Adoram seus tesouros terrenos como os ignorantes pagãos fazem com seus ídolos. T1 477 2 Muitos se lisonjeiam com a idéia de que seu desejo de ganhar é para ajudar a causa de Deus. Alguns prometem que quando ganharem tal importância, farão muito bem com ela e contribuirão para o avanço da causa da verdade presente. Mas quando realizam suas expectativas, não estão mais prontos do que antes para ajudar a causa. Novamente garantem que após comprarem aquela sonhada casa ou terreno, e pagarem por eles, então negociarão com os meios para fazer avançar a causa de Deus. Contudo, uma vez que o desejo do seu coração é alcançado, mostram menos disposição do que nos dias de sua pobreza, para auxiliar no progresso da obra divina. "E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera." Mateus 13:22. O engano das riquezas os conduz, passo a passo, até perderem todo o amor pela verdade e ainda a se gabarem de nela crer. Amam "o mundo" e "o que no mundo há", mas "o amor de" Deus ou da verdade não está neles. 1 João 2:15. T1 478 1 A fim de ganharem um pouco de dinheiro, muitos organizam deliberadamente seus assuntos comerciais de tal maneira que estes trazem fatalmente uma grande parcela de trabalho árduo sobre aqueles que trabalham fora de casa, bem como sobre seus familiares no lar. Ossos, músculos e cérebro são sobrecarregados ao máximo. Está perante eles uma grande quantidade de trabalho para ser feito, e o argumento é que devem executar precisamente tudo quanto puderem, pois do contrário haverá prejuízo; alguma coisa será desperdiçada. Tudo deve ser poupado, sejam quais forem os resultados. Que têm os tais lucrado? Talvez tenham sido capazes de conservar o capital e aumentá-lo. Mas, por outro lado, que não perderam eles! Sua reserva de saúde, que é inestimável tanto para o pobre quanto para o rico, foi invariavelmente diminuída. A mãe e os filhos fizeram constantes saques em sua reserva de saúde e energia, imaginando que tão extravagante dispêndio jamais esgotasse seu capital, até serem finalmente surpreendidos ao descobrirem que sua vitalidade se esgotou. Eles nada deixaram para sacar em caso de emergência. Os encantos e as alegrias da vida são amargurados pelos torturantes sofrimentos e as noites insones. Tanto o vigor físico como o mental desapareceram. O marido e pai que, no interesse do ganho, tornou imprudente o arranjo dos seus negócios, talvez com o pleno consentimento da esposa e mãe, pode, como resultado, perder a mãe e um ou mais dos filhos. A saúde e a vida foram sacrificadas pelo amor ao dinheiro. "Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." 1 Timóteo 6:10. T1 478 2 Há uma grande obra a ser feita pelos observadores do sábado. Seus olhos precisam ser abertos para que possam ver sua real condição, serem zelosos e arrepender-se, ou perderão a vida eterna. O espírito mundano tomou posse deles e estão cativos dos poderes das trevas. Eles não ouvem a exortação do apóstolo Paulo: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. Predomina em muitos um espírito mundano, cobiçoso e egoísta. Aqueles que o possuem estão cuidando dos próprios interesses. O rico egoísta não se interessa nas coisas de seus semelhantes, a menos que possa obter vantagem para si. A nobreza e a semelhança com Deus são sacrificadas por interesses egoístas. "O amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males." 1 Timóteo 6:10. Ele cega a visão e impede que as pessoas discirnam suas obrigações para com Deus e os semelhantes. T1 479 1 Alguns se orgulham de ser liberais porque, às vezes, fazem donativos espontâneos aos pastores e para o progresso da verdade. Na realidade, esses supostos generosos acham-se envolvidos em seus negócios, sempre prontos a enganar. Possuem em abundância os bens deste mundo e isso depõe sobre eles grandes responsabilidades como mordomos de Deus. Ao tratar, porém, com o pobre trabalhador, seu irmão, são estritos até o último centavo. A parte do pobre numa negociação é a sua própria herança. Em lugar de favorecer seu irmão pobre, o rico exigente procura obter todas as vantagens e aumentar sua já tão grande riqueza, com o infortúnio alheio. Ele se orgulha de sua astúcia, mas, com sua riqueza, está acumulando para a própria perdição e pondo uma pedra de tropeço no caminho de seu irmão. Por sua mesquinhez e frio calculismo está arruinando a capacidade de beneficiar seu irmão mediante positiva influência religiosa. Tudo isso permanece na memória daquele irmão pobre, e as orações mais ferventes e testemunhos aparentemente zelosos procedentes dos lábios do irmão rico, somente produzirão queixas e desgostos. O pobre o vê como um hipócrita; brota-se "uma raiz de amargura" (Hebreus 12:15) por meio da qual muitos são afetados. O pobre não pode esquecer as vantagens dele obtidas, nem como foi posto em dificuldades porque estava disposto a assumir responsabilidades, enquanto que o irmão rico sempre dava prontas desculpas para não colocar seus ombros sob as cargas. O pobre, porém, pode estar tão imbuído do espírito de Cristo que perdoe os abusos de seu irmão rico. T1 480 1 Benevolência verdadeira, nobre e desinteressada é extremamente rara entre os ricos. Em sua ambição por riquezas, negligenciam os clamores da humanidade. Não podem ver ou sentir as dores e desagradáveis situações de seus irmãos pobres, que, talvez, tenham trabalhado tanto quando eles mesmos. Dizem como Caim: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. "Trabalhei duro pelo que tenho e devo conservá-lo." Em vez de orar: "Ajuda-me a sentir as aflições de meu irmão", sua constante preocupação é esquecer que eles têm aflições e reivindicações sobre sua simpatia e liberalidade. T1 480 2 Muitos ricos observadores do sábado são culpados de desprezar os pobres. Pensam eles que Deus ignora seus atos mesquinhos? Pudessem ser abertos os seus olhos e veriam um anjo seguindo-os aonde quer que vão, fazendo um fiel registro de todos os seus atos em casa e nos negócios. A Testemunha Fiel e Verdadeira está em seu caminho declarando: "Eu sei as tuas obras!" Apocalipse 2:2; 3:15. Quando vi esse espírito de defraudação, de engano, de mesquinhez entre aqueles que professam ser guardadores do sábado, chorei com espírito angustiado. Esse grande mal, essa terrível maldição, recai sobre alguns do Israel de Deus nestes últimos dias, tornando-os detestáveis mesmo aos descrentes de espírito nobre. Este é o povo que professamente está esperando a vinda do Senhor. T1 480 3 Há uma classe de irmãos pobres que não estão livres da tentação. Eles são maus administradores, não possuem bom senso. Desejam obter meios sem passar pelo demorado processo de trabalho diligente. Alguns têm tanta pressa de melhorar sua situação, que se envolvem em vários empreendimentos sem consultar homens de bom senso e experiência. Suas expectativas raramente se concretizam. Em lugar de ganhar, perdem, e então surge a tentação e a disposição de invejar os ricos. Eles realmente desejam ser beneficiados pela riqueza de seus irmãos, e quando não o são, afligem-se. Mas esses não são merecedores de ajuda especial. Eles sabem que seus esforços foram dispersivos. Mostram-se inconstantes nos negócios e cheios de ansiedade e cuidados que apresentam apenas pequeno retorno. Esses tais deveriam ouvir o conselho dos irmãos mais experientes. Freqüentemente, porém, são os últimos a buscar conselho. Pensam que possuem discernimento superior e não necessitam ser ensinados. T1 481 1 Não raro são eles os iludidos pelos espertos e astutos mascates dos direitos de patente, cujo sucesso depende da arte do engano. Deveriam aprender a não lhes dar confiança. Mas os irmãos são crédulos com relação às próprias coisas que deveriam suspeitar e evitar. Não têm presente a instrução de Paulo a Timóteo: "Mas é grande ganho a piedade com contentamento." "Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes." 1 Timóteo 6:6, 8. Que os pobres não pensem que os ricos são os únicos cobiçosos. Enquanto o rico se apega ao que tem com avidez e busca obter ainda mais, o pobre está em grande perigo de cobiçar a riqueza do rico. Há realmente muito poucos em nossa terra de abundância, que de fato sejam tão pobres que necessitem de ajuda. Caso seguissem uma conduta correta, poderiam em quase toda situação pôr-se acima das necessidades. Meu apelo aos ricos é: Tratem com liberalidade os irmãos pobres e usem seus meios para fazer avançar a causa de Deus. Que os pobres dignos, aqueles que foram vítimas de infortúnio e doença, mereçam seus cuidados e ajuda especial. "E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis." 1 Pedro 3:8. T1 482 1 Homens e mulheres que professam piedade e esperam ser trasladados ao Céu sem ver a morte, eu os advirto a ser menos ávidos por ganho, menos cobiçosos. Readquiram a varonilidade, a nobre feminilidade de procedência celestial, por nobres e desinteressados atos de benevolência. Desprezem de coração seu anterior espírito mesquinho e recobrem a verdadeira nobreza de caráter. Daquilo que Deus me mostrou, a menos que vocês zelosamente se arrependam, Cristo os vomitará de Sua boca. Os adventistas guardadores do sábado professam ser seguidores de Cristo, mas as obras de muitos deles renegam sua profissão. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus." Mateus 7:21. T1 482 2 Apelo a todos os que professam crer na verdade, que considerem o caráter e a vida do Filho de Deus. Ele é nosso exemplo. Sua vida foi marcada por desinteressada benevolência. Ele sempre Se condoía das aflições humanas; sempre fazia o bem. Não houve um só ato egoísta em toda a Sua vida. Seu amor pela humanidade caída, Seu desejo de salvá-la, eram tão grandes que suportou sobre Si a ira de Seu Pai e consentiu em sofrer a penalidade da transgressão que mergulhou o homem culpado na degradação. Ele sofreu os pecados do homem em Seu corpo. "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus." 2 Coríntios 5:21. T1 482 3 A verdadeira generosidade é freqüentemente destruída pela prosperidade e as riquezas. Homens e mulheres em adversidade ou miséria algumas vezes demonstrarão grande amor pela verdade, e especial interesse pela prosperidade da causa de Deus e a salvação de seus semelhantes, e dirão o que fariam se apenas tivessem os recursos. Deus freqüentemente os prova. Ele os prospera além de suas expectativas. Mas seu coração é enganoso. Suas boas intenções e promessas são semelhantes à areia movediça. Quanto mais têm, mais desejam. Quando mais prosperam, mais ávidos se tornam pelo ganho. Alguns deles, que em sua pobreza foram benevolentes, tornam-se avarentos e extorsivos. O dinheiro tornou-se seu deus. Agradam-se do poder que o dinheiro lhes confere e a honra que recebem por causa dele. Disse o anjo: "Note como eles procedem na prova. Observe o desenvolvimento do caráter sob a influência das riquezas." Alguns estavam oprimindo os pobres necessitados e obtendo seus préstimos por valores baixíssimos. Eram altivos; o dinheiro era-lhes o poder. Vi que os olhos de Deus estavam sobre eles. Eles estavam enganados. "E eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:12. T1 483 1 Alguns dos que são ricos não negam apoio aos pastores. Mantêm sua doação sistemática com exatidão e se orgulham de sua pontualidade e generosidade; pensam que aí se encerra seu dever. Assim deve ser, mas seu dever não termina nesse ponto. Deus tem sobre eles reclamos que não compreendem. A sociedade tem reclamos sobre eles; seus semelhantes tem reclamos sobre eles. Cada membro de sua família têm reclamos sobre eles. Todos eles precisam ser atendidos; nem um deles pode ser passado por alto ou negligenciado. Alguns homens dão suporte aos pastores com muita satisfação, como se isso os habilitasse ao Céu. Outros pensam nada precisar fazer para ajudar a causa de Deus, a menos que tenham constante aumento de seus recursos. Acham que não podem, em hipótese alguma, tocar no capital. Se nosso Salvador dissesse a eles as mesmas palavras que disse ao jovem rico: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me" (Mateus 19:21), muitos se retirariam tristes, escolhendo, como aquele, correr o risco de reter seus ídolos, as riquezas, antes que desfazer-se delas e assegurar um tesouro no Céu. Aquele príncipe alegava guardar todos os mandamentos de Deus desde a sua juventude e, confiante em sua fidelidade e justiça, e pensando ser já perfeito, perguntou: "Que me falta ainda?" Mateus 19:20. Jesus imediatamente fez estremecer seu senso de segurança ao referir-se a seus ídolos, as posses. Ele tinha outros deuses diante do Senhor que lhe eram de mais valor do que a vida eterna. Faltava-lhe o supremo amor a Deus. Assim ocorre com aqueles que professam crer na verdade. Eles pensam que são perfeitos; pensam estar isentos de faltas, quando na verdade estão longe da perfeição e entronizando ídolos que os manterão fora do Céu. T1 484 1 Muitos se compadecem dos escravos sulistas porque são forçados a trabalhar, quando existe escravidão no próprio lar. Mães e filhos são obrigados a trabalhar desde a manhã até à noite. Eles não têm recreação. Uma ininterrupta jornada de trabalho é-lhes imposta. Eles professam ser seguidores de Cristo, mas onde está o tempo para meditar e orar, alimentando o intelecto, para que a mente, com a qual servimos a Deus, não seja impedida em seu crescimento? Deus requer que cada pessoa use os talentos que lhe deu para Sua glória, e pelo aprimoramento desses, ganhar outros. Deus nos impõe a obrigação de beneficiar nosso semelhante. Nossa obra nesse mundo para o bem de outros não estará concluída até que Jesus diga no Céu: "Está feito!" Apocalipse 16:17. "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. T1 484 2 Muitos parecem não ter o verdadeiro senso de sua responsabilidade perante Deus. É-lhes requerido entrar pela porta estreita, porque muitos "procurarão entrar, e não poderão". Mateus 7:13. O Céu requer que tentem persuadir outros a também lutar por entrar pela porta estreita. A obra de trabalhar diligentemente não apenas para salvar a si mesmo como também a outros, está diante de jovens e idosos. Ninguém que raciocina deixa de exercer influência. Por sua indiferença em usar essa influência eles impedem as pessoas de entrar pela porta estreita, ou por seus fervorosos, perseverantes e incansáveis esforços, de persuadi-las da necessidade de lutar para entrar por ali. Ninguém desfruta neutralidade por nada fazer para animar outros ou impedi-los de entrar. Disse Cristo: "Quem comigo não ajunta espalha." Lucas 11:23. Ouçam jovens e idosos, ou vocês estão fazendo a obra de Cristo, salvando pessoas, ou a de Satanás, levando-as à perdição. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. T1 485 1 Os jovens podem exercer poderosa influência se renunciarem ao orgulho e egoísmo e se dedicarem a Deus; via de regra, porém, não levam cargas de outros. Estas terão eles mesmos de carregá-las. É chegado o tempo em que Deus requer uma mudança a esse respeito. Ele convida jovens e idosos a ser zelosos e arrepender-se. Se continuarem em seu estado de mornidão, vomitá-los-á da boca. Diz a Testemunha Fiel: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. Jovem, rapaz ou moça, suas obras são conhecidas, quer sejam boas, quer más. Vocês são ricos em boas obras? Jesus Se aproxima de vocês como conselheiro: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:18. ------------------------Capítulo 85 -- A reforma de saúde T1 485 2 Na visão que me foi dada em Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865, foi-me mostrado que nosso povo, os observadores do sábado, têm sido negligentes em agir sob a luz que Deus lhes deu com respeito à reforma de saúde; que ainda há uma grande obra diante de nós. Que, como um povo, temos estado atrás em seguir o caminho aberto por Deus. T1 486 1 Foi-me mostrado que se penetrou muito pouco na reforma de saúde até agora. Enquanto alguns examinam profundamente, e exercem sua fé na obra, outros permanecem indiferentes e mal deram o primeiro passo na reforma. Parece haver neles um sentimento de descrença, e quando esta reforma restringe o apetite concupiscente, muitos retrocedem. Têm outros deuses diante do Senhor. Seu paladar, seu apetite, é seu deus, e quando o machado é posto à raiz da árvore, e os que têm condescendido com o apetite pervertido a expensas da saúde são feridos, seu pecado apontado, mostrados os seus ídolos, eles não querem convencer-se; e embora a voz de Deus lhes fale diretamente para abandonarem esses hábitos destruidores da saúde, alguns querem ainda apegar-se às coisas prejudiciais de que gostam. Parecem entregues a seus ídolos, e Deus logo dirá aos Seus anjos: "Deixai-os." Mateus 15:14. T1 486 2 Foi-me mostrado, que a reforma de saúde faz parte da mensagem do terceiro anjo, e está tão intimamente ligada a ela como o braço e a mão estão ao corpo. Vi que, como um povo, devemos realizar um movimento de vanguarda nesta grande obra. Os pastores e o povo devem agir em harmonia. O povo de Deus não está preparado para o alto clamor do terceiro anjo. Têm a fazer por si mesmos uma obra que não devem deixar que Deus faça por eles. Deixou Ele esta obra para que eles a fizessem. É uma obra individual; um não a pode fazer por outro. "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. A glutonaria é o pecado prevalecente nesta época. O apetite concupiscente tem tornado homens e mulheres escravos, obscurecido seu intelecto e embotado suas sensibilidades morais a tal ponto que as sagradas e exaltadas verdades da Palavra de Deus não são apreciadas. As mais baixas propensões governam homens e mulheres. T1 486 3 A fim de estar preparado para a trasladação, o povo de Deus precisa conhecer a si mesmo. Devem ter compreensão de seu organismo para que possam ser capazes de exclamar com o salmista: "Eu Te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado." Salmos 139:14. Devem ter o apetite sob o controle das faculdades morais e intelectuais. O corpo deve ser servo da mente e não a mente serva do corpo. T1 487 1 Foi-me mostrado que há uma grande obra diante de nós, muito maior do que temos idéia, se quisermos garantir nossa saúde colocando-nos em correta relação com a vida. O Dr. A tem feito uma grande e boa obra no tratamento de doenças e em esclarecer àqueles que têm levado sua vida em completa ignorância com relação a comer, beber e trabalhar para conservação da saúde. Deus, em Sua misericórdia, deu a Seu povo luz através de um humilde instrumento, visando curar doenças. Para isso precisam negar seu apetite depravado e praticar temperança em todas as coisas. Deu-lhes grande luz a incidir sobre seu caminho. Deverão aqueles que estão "aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras" (Tito 2:13, 14), estar atrás dos outros que não têm fé na breve volta de nosso Salvador? O povo que Deus está purificando para Si mesmo, para ser trasladado ao Céu sem ver a morte, não deveria estar para trás em boas obras. Em seus esforços para purificar a si mesmos de toda imundícia da carne e espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus, não devem ser passados para trás por qualquer outra classe, assim como sua profissão de fé é mais elevada que a dos outros. T1 487 2 Alguns têm escarnecido da obra da reforma e dito que ela é de todo desnecessária; que é um incitamento para desviar as mentes da verdade presente. Dizem ainda que esse assunto estava sendo levado a extremos. Esses não sabem do que estão falando. Enquanto homens e mulheres que professam piedade estão enfermos desde os pés à cabeça; enquanto suas energias físicas, mentais e morais estão debilitadas pela condescendência com o apetite depravado e excesso de trabalho, como podem pesar as evidências da verdade e compreender os reclamos divinos? Se suas faculdades morais e intelectuais estão obscurecidas, eles não podem apreciar o valor da expiação ou o exaltado caráter da obra de Deus, nem deleitar-se no estudo de Sua Palavra. Como pode um dispéptico nervoso estar sempre preparado "para responder com mansidão e temor a qualquer que" lhe "pedir a razão da esperança que há" nele? 1 Pedro 3:15. Quão prontamente poderia alguém confuso e agitado ser levado por sua doentia imaginação a olhar assuntos de um modo geral sob luz equivocada, e pela falta daquela mansidão e tranqüilidade que caracterizou a vida de Cristo, causar desonra à verdade enquanto contendendo com homens irrazoáveis? Abordando certos assuntos de um alto ponto de vista religioso, precisamos ser completos reformadores a fim de nos tornarmos semelhantes a Cristo. T1 488 1 Vi que nosso Pai celestial outorgou-nos grande bênção na reforma de saúde, para que possamos obedecer aos reclamos que Ele estabeleceu e glorificá-Lo em nosso corpo e espírito os quais Lhe pertencem, e finalmente apresentar-nos sem mácula ante o trono de Deus. Nossa fé exige um elevado padrão e passos avançados. Enquanto muitos questionam a conduta seguida por outros reformadores de saúde, eles mesmos, como homens razoáveis, deveriam fazer alguma coisa. A humanidade está em deplorável condição, sofrendo doenças as mais variadas. Muitos apresentam doenças hereditárias e sofrem muito por causa dos errôneos hábitos de seus pais. Ainda seguem o mesmo caminho com respeito a si mesmos e a seus filhos. São ignorantes com respeito a si mesmos. Estão doentes e não descobrem que seus próprios hábitos errados estão lhes causando imenso sofrimento. T1 488 2 Há poucos que estão dispostos a compreender o quanto seus hábitos dietéticos têm a ver com sua saúde, caráter, utilidade neste mundo e destino eterno. Vi que é dever de todos os que recebem a luz do Céu e compreenderam o benefício de segui-la, manifestar grande interesse por aqueles que ainda estão sofrendo por falta de conhecimento. Os guardadores do sábado que estão aguardando o breve retorno de seu Salvador, deveriam ser os últimos a manifestar falta de interesse nessa grande obra de reforma. Homens e mulheres precisam ser instruídos; pastores e povo devem sentir que o peso da responsabilidade da obra incide sobre eles para agitar o assunto e apresentá-lo perante outros. T1 489 1 Vi que devemos providenciar um lar para os aflitos e aqueles que desejam aprender a cuidar de seu corpo, visando prevenir doenças. Não devemos ser indiferentes compelindo os que estão doentes e desejosos de viver a verdade a ir buscar as populares instituições hidroterápicas para recuperação da saúde, onde não há simpatia por nossa fé. Se recobram a saúde, isso pode ser às expensas de sua fé. Os que sofrem muito pelas enfermidades estão fracos mental e moralmente. Quando compreendem os benefícios originários da correta aplicação da água, do uso adequado do ar e de um regime alimentar próprio, são levados a crer que os médicos que souberam tratá-los com tanto sucesso, não podem estar em falta com sua fé religiosa; que como eles estão empenhados na grande e boa obra de beneficiar a sofredora humanidade, devem estar quase ou totalmente certos. Assim nosso povo está em perigo de ser enganado em seus esforços por recuperar a saúde nesses estabelecimentos. T1 489 2 Vi novamente que aqueles que estão fortalecidos pelos princípios religiosos e decididos a obedecer os reclamos de Deus, não podem receber das instituições populares de saúde os mesmos benefícios que os observadores de outro dia de guarda. Os guardadores do sábado são singulares em sua fé. Guardar todos os mandamentos de Deus como Ele requer, de forma a ser reconhecido e aprovado por Ele, é excessivamente difícil numa instituição hidroterápica popular. Devem eles levar consigo, em todo o tempo, o crivo do evangelho e peneirar tudo quanto ouvem, para que possam escolher o bem e recusar o mal. T1 490 1 A clínica hidroterápica de _____ tem sido a melhor instituição nos Estados Unidos. Seus dirigentes estão fazendo um bom trabalho no que diz respeito ao tratamento das doenças. Não podemos, porém, confiar em seus princípios religiosos. Enquanto professam ser cristãos, recomendam aos pacientes jogar cartas, dançar e assistir a teatro, atividades essas que tendem ao mal ou, para dizer o mínimo, têm a aparência do mal e são diretamente contrários aos ensinos de Cristo e Seus apóstolos. Os conscienciosos observadores do sábado que visitam essas instituições com o propósito de recuperar a saúde, não podem receber os benefícios que desejam se não se mantiverem constantemente em guarda para não comprometer sua fé, desonrar a causa de seu Redentor e escravizar o próprio ser. T1 490 2 Vi que os guardadores do sábado devem abrir um caminho para que aqueles de fé igualmente preciosa sejam beneficiados sem precisar despender meios em instituições onde sua fé e princípios religiosos corram perigo, e não encontrem simpatia ou harmonia em questões espirituais. Deus, em Sua providência, dirigiu o Dr. B a _____, para que pudesse obter uma experiência que de nenhum outro modo conseguiria, pois tinha um trabalho designado para ele na reforma de saúde. Como médico ele vinha, por anos, obtendo conhecimento do organismo humano e Deus agora intentava que ele aprendesse, por preceito e prática, como aplicar as bênçãos que Ele pôs ao alcance do homem. O Senhor quer prepará-lo para beneficiar os doentes e instruir aqueles que não sabem como preservar o vigor e a saúde que possuem, e como prevenir doenças pelo sábio uso dos remédios celestes -- água pura, ar e regime alimentar. T1 491 1 Foi-me mostrado que o Dr. B era um homem estritamente consciencioso e cauteloso, um homem amado por Deus. Tem ele passado por muitas tribulações que agiram a seu favor, embora quando sob tensão das provas, não pudesse ver como seria beneficiado por elas. O Dr. B é um homem que não se exaltará enquanto crer e seguir nos caminhos da verdade. Não é um homem arbitrário, dominador. É muito receoso de valer-se daquela dignidade que sua posição lhe permitiria. Ele aprecia aconselhar-se com outros e é de fácil relacionamento. Seu grande risco é a disposição de assumir responsabilidades e cargas que não deveria. Ele vê e sente o que precisa ser feito e corre o perigo de trabalhar demais. É extremamente sensível e solidário e se condói de todos os seus pacientes. Se lhe for permitido, assumirá responsabilidades tão pesadas que poderão esmagá-lo. T1 491 2 Homens e mulheres de influência deveriam apoiar o Dr. B com suas orações, simpatia, sincera cooperação, encorajamento, palavras de esperança e conselho. Ele apreciará tudo isso. Sua posição não é invejável. Quando ele assume tão grandes responsabilidades, não é por escolha própria nem para obter o seu sustento, pois pode fazê-lo de um modo muito mais fácil e evitar cuidados, ansiedades e perplexidades que tal posição traz sempre consigo. Unicamente o dever o moverá. E uma vez convicto do caminho do dever, segui-lo-á e permanecerá em seu posto sejam quais forem as conseqüências. Ele deve ter a simpatia e a cooperação daqueles que têm influência, a quem Deus quer que lhe estejam ao lado e o apóiem em seu difícil trabalho. T1 491 3 O Dr. B podia, no que diz respeito às oportunidades que este mundo oferece, estar muito melhor agora do que na posição que presentemente ocupa. Foi-me revelado que essa posição seria muito difícil. Muitos sem experiência não têm a menor idéia da magnitude do empreendimento e gostariam que as coisas caminhassem de acordo com suas idéias. Alguns se admiram por que os pobres não podem vir e ser tratados gratuitamente e são tentados a pensar que a instituição é eminentemente de fins lucrativos. Gostariam de ter algo a dizer e descobrir tantas faltas e falhas, a deixarem que as coisas caminhem naturalmente. Foi-me mostrado que alguns consideram uma virtude ser ciumentos, teimar e opor-se. Orgulham-se em não aceitar as coisas como acontecem. À semelhança de Tomé, vangloriam-se de sua incredulidade. Mas o que Jesus recomendou ao descrente Tomé? Embora lhe dando a evidência que ele pretendia ter antes de crer, Jesus lhe disse: "Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram." João 20:29. T1 492 1 Foi-me mostrado que não há falta de recursos entre os adventistas observadores do sábado. Seu maior perigo, atualmente, é o acúmulo de propriedades. Alguns, constantemente, estão amontoando seus cuidados e esforços; estão sobrecarregados. E o resultado é que Deus e as necessidades de Sua causa quase são por eles esquecidos; estão espiritualmente mortos. Deles se requer que façam um sacrifício a Deus, uma oferta. O sacrifício não aumenta, mas diminui e consome. Esse, foi-me mostrado, é um empreendimento digno de o povo de Deus empenhar-se e no qual podem investir meios para Sua glória e progresso da causa. Muitos dos meios, entre nosso povo, estão se demonstrando somente um mal para aqueles que a eles se apegam. T1 492 2 Nosso povo deve ter uma instituição própria e sob seu controle, para benefício dos doentes e sofredores entre nós, os quais desejam saúde e vigor para poderem glorificar a Deus em seu corpo e espírito, os quais Lhe pertencem. Se tal instituição for corretamente dirigida, haverá meios de divulgar nossos pontos de vista a muitos que dificilmente seriam alcançados pelos métodos comuns de pregar a verdade. Quando os descrentes freqüentam uma instituição dedicada ao tratamento bem-sucedido de doenças e dirigido por médicos observadores do sábado, são postos sob direta influência da verdade. Tornando-se relacionados com nosso povo e nossa fé, seu preconceito será superado e eles favoravelmente impressionados. Colocando-se assim sob a influência da verdade alguns não apenas obterão alívio para suas enfermidades físicas, mas encontrarão cura para seu coração perturbado pelo pecado. T1 493 1 Quando melhoram sob cuidadoso tratamento, os doentes passam a confiar naqueles que foram instrumentos na restauração de sua saúde. Seu coração se enche de gratidão e a boa semente da verdade encontrará terreno ali. Em alguns casos será nutrida, crescerá e dará fruto para a glória de Deus. Essas preciosas pessoas salvas serão de maior valor do que todos os meios necessários para estabelecer tal instituição. Alguns não têm suficiente coragem moral para ceder às próprias convicções. Podem estar convencidos de que os observadores do sábado têm a verdade, mas o mundo e parentes descrentes impedem-nos de recebê-la. Não concebem sacrificar tudo por Cristo. Entretanto, alguns sairão com o preconceito removido e se postarão como defensores da fé dos adventistas do sétimo dia. Muitos dos que recobraram a saúde ou foram grandemente beneficiados por sua permanência na instituição, serão condutos para a apresentação de nossa fé em novos lugares. Erguerão o estandarte da verdade onde antes teria sido impossível obter acesso, caso não houvessem sido desfeitas as idéias preconcebidas por sua permanência entre nosso povo, com o objetivo de obter saúde. T1 493 2 Outros sofrerão provações ao retornar à sua casa. Elas, porém, não os desanimarão ou impedirão seus esforços de fazer um bom trabalho. Satanás e seus agentes farão tudo o que puderem para estorvar, perturbar e oprimir os que corajosamente se empenham na obra de propagação dessa reforma. T1 494 1 Há um liberal suprimento de meios entre nosso povo e se todos sentirem a importância da obra, esse grande empreendimento poderá ser levado avante sem maiores problemas. Todos deveriam sentir um especial interesse em apoiá-lo, especialmente aqueles que têm meios para investir. Um edifício adequado deve ser erguido para a recepção de doentes, para que possam, pelo apropriado uso de meios e bênçãos de Deus, ser aliviados de suas enfermidades e aprender como cuidar de si mesmos, prevenindo assim doenças. T1 494 2 Muitos que professam a verdade estão se tornando mesquinhos e cobiçosos. Necessitam tomar consciência sobre si mesmos. Têm eles seu tesouro na Terra e o coração está posto nele. A maior parte de seus tesouros está neste mundo e muito pouco no Céu. Por conseguinte, suas afeições estão colocadas nas posses terrenas em lugar da herança celestial. Há agora uma boa oportunidade de usar seus meios em benefício da humanidade sofredora e também para o progresso da verdade. Esse empreendimento nunca deveria ser deixado a lutar com a pobreza. Esses mordomos a quem Deus confiou meios devem agora trabalhar e usar seus recursos para a glória do Senhor. Os que cobiçosamente retêm os meios verão que isso se provará uma maldição antes que bênção. T1 494 3 Aqueles a quem Deus confiou recursos deveriam prover um fundo a ser usado para benefício dos doentes pobres e necessitados, que não são capazes de arcar com as despesas de tratamento na instituição. Há os que são pobres preciosos e merecedores de apoio, cuja influência têm sido benéfica à causa de Deus. Deveria ser levantados fundos com o expresso propósito de fornecer tratamento a esses, enquanto a igreja que freqüentam decide se são dignos de ajuda. A menos que aqueles que têm abundância dêem com essa finalidade, sem esperar retorno, os pobres serão incapazes de usufruir os benefícios dos tratamentos na instituição, onde tantos recursos são requeridos para que o trabalho seja feito. Em sua fase inicial, tal instituição não deveria enfrentar lutas por causa da constante exigência de meios sem a obtenção de lucros. ------------------------Capítulo 86 -- Mensagens aos jovens T1 496 2 Os jovens guardadores do sábado são inclinados à busca de prazeres. Vi que não há nem um em vinte que saiba o que é religião experimental. Eles estão constantemente procurando algo para satisfazer seu desejo por novidades e divertimento. A menos que sejam conscientizados e suas sensibilidades despertadas, a fim de que possam dizer do fundo do coração: "Tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Filipenses 3:8), não serão dignos dEle e deixarão de alcançar a vida eterna. Os jovens geralmente estão sob terrível engano, e ainda professam piedade. Sua vida não consagrada é uma afronta ao nome de Cristo, e seu exemplo um laço para os outros. Eles são um tropeço aos pecadores, pois em quase todos os aspectos não são melhores do que os descrentes. Possuem a Palavra de Deus, mas desprezam suas advertências, admoestações, reprovações e correções, bem como suas promessas e estímulos ao obediente e fiel. As promessas de Deus são todas dadas sob condição de humilde obediência. Um só modelo é dado aos jovens, mas como a vida deles se compara com a vida de Cristo? Sinto-me alarmada ao testemunhar por toda a parte a frivolidade de jovens, rapazes e moças, que professam crer na verdade. Parece que Deus não está em suas cogitações. Têm a mente cheia de tolices. Sua conversa não passa de um falar vazio, frívolo. Têm ouvido agudo para a música, e Satanás sabe que órgãos estimular para animar, cativar e encantar a mente, de modo que Cristo não seja desejado. Falta o anseio espiritual do coração, em busca de conhecimento divino e de crescimento na graça. T1 497 1 Foi-me mostrado que a juventude precisa pôr-se em numa plataforma mais elevada e fazer da Palavra de Deus sua guia e conselheira. Responsabilidades solenes repousam sobre os jovens, às quais eles mal atentam. A introdução da música em seus lares, em lugar de estimular à santidade e espiritualidade, tem sido um meio de afastar a mente deles da verdade. Canções frívolas e partituras de músicas populares de sucesso parecem estar de acordo com seu gosto. Instrumentos musicais têm tomado o tempo que deveria ser empregado em oração. A música, quando bem utilizada, é uma grande bênção, mas quando mal-usada, uma terrível maldição. Ela agita, mas não confere aquela força e coragem que o cristão pode encontrar unicamente no trono da graça, enquanto humildemente torna conhecidas suas necessidades e com fortes clamores e lágrimas roga por forças do Céu para ser robustecido contra as poderosas tentações do maligno. Satanás lidera os jovens cativos. Oh, que posso eu dizer para levá-los a romper com esse poder fascinador! Satanás é um habilidoso sedutor, atraindo-os à perdição. Ouçam eles as instruções do inspirado Livro de Deus. Vi que Satanás tem cegado a mente dos jovens para que não compreendam as verdades da Palavra de Deus. Sua sensibilidade está de tal forma embotada que não consideram o conselho do apóstolo: T1 497 2 "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra." Efésios 6:1-3. "Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor." Colossences 3:20. Filhos que desonram e desobedecem aos pais, e não levam em conta seus conselhos e instruções, não podem ter parte na Terra feita nova. A Terra purificada não será lugar para o filho ou filha rebelde, desobediente, ingrato. A menos que aprendam obediência e submissão aqui, jamais a aprenderão; a paz dos redimidos não será mareada por filhos desobedientes, indisciplinados, insubmissos. Nenhum transgressor do mandamento pode herdar o reino do Céu. Por favor, pode a juventude ler o quinto mandamento da lei proclamada por Jeová no Sinai, gravada com Seu dedo sobre tábuas de pedra? "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá." Êxodo 20:12. T1 498 1 Fui encaminhada a muitas passagens da Escritura as quais mostram claramente aos jovens a vontade de Deus concernente a eles. Esses claros ensinos deverão eles enfrentar no Juízo. No entanto, não há nem mesmo um rapaz ou uma moça em vinte dos que professam a verdade, que atenda a esses ensinos bíblicos. A juventude não lê suficientemente a Palavra de Deus para conhecer-lhe as reivindicações a seu respeito. Essas verdades os julgarão no grande dia de Deus, quando jovens e idosos forem recompensados segundo suas obras. T1 498 2 João diz: "Jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno. Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." 1 João 2:14-17. T1 498 3 Essa exortação aos rapazes também é extensiva às moças. Sua juventude não os isenta das responsabilidades que pesam sobre eles. Eles são fortes e não abatidos pelos cuidados e o peso dos anos; suas afeições são ardentes e se as retirarem do mundo e colocarem em Cristo e no Céu, fazendo a vontade de Deus, terão esperança de uma vida melhor e mais duradoura, e permanecerão para sempre, sendo coroados com glória, honra, imortalidade, vida eterna. Se a juventude viver para satisfazer "a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (1 João 2:16), estão buscando as coisas do mundo, agradando a seu grande adversário e separando-se do Pai. Quando essas coisas passarem, suas esperanças serão dissipadas e suas expectativas perecerão. Separados de Deus, arrepender-se-ão amargamente da loucura de servir aos próprios prazeres, condescender com os próprios desejos e, por uns poucos e frívolos divertimentos, vender uma vida de felicidade que poderiam usufruir para sempre. T1 499 1 "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há" (1 João 2:15), disse o inspirado apóstolo. Então ele acrescenta a advertência: "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. É um fato alarmante como o amor do mundo predomina na mente dos jovens. Eles decididamente amam o mundo e as coisas que no mundo há, e por essa razão o amor de Deus não encontra guarida em seu coração. Acham prazer no mundo e nas coisas do mundo e são estranhos ao Pai e às graças de Seu Espírito. Deus é desonrado pela frivolidade e a moda, o modo fútil e o riso que caracterizam em geral a vida da juventude. Paulo exorta os jovens à sobriedade: "Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados. Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós." Tito 2:6-8. T1 499 2 Rogo à juventude que, por causa de sua vida, atenda a exortação do inspirado apóstolo. Todas essas bondosas instruções, advertências e reprovações serão um cheiro de vida para a vida ou de morte para a morte. Muitos jovens são descuidados em sua conversação. Preferem esquecer-se de que pelas suas palavras serão justificados ou condenados. Todos deveriam atender às palavras de nosso Salvador: "O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas Eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do Juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado." Mateus 12:35-37. Quão pouca atenção é dada mesmo às instruções do Mestre celestial. Muitos não estudam a Palavra de Deus ou não atendem a suas solenes verdades, e essas claras verdades se levantarão no julgamento e os condenarão. T1 500 1 Palavras e atos testemunham claramente do que há no coração. Se vaidade, orgulho, amor ao eu e ao vestuário enchem o coração, a conversação será sobre modas, vestuário, aparência, mas não sobre Cristo ou o reino do Céu. Se há inveja no coração, ela se manifestará em palavras e atos. Aqueles que se medem pelos outros, que fazem o que os outros fazem, que não se propõem a altas consecuções desculpando-se por causa das faltas e erros de outros, estão se nutrindo de cascas, e permanecerão anões espirituais enquanto agradam a Satanás pela condescendência com sentimentos ímpios. Alguns se demoram sobre o que comerão ou beberão e com que se vestirão. Esses pensamentos fluem da abundância do que há no coração, como se as coisas temporais fossem o grande objetivo da vida, seu mais alto propósito. Essas pessoas se esquecem das palavras de Cristo: "Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. T1 500 2 Os jovens têm o coração cheio de amor por si mesmos. Isto se manifesta em seu desejo de ver o próprio rosto reproduzido pelo artista; e não ficam satisfeitos com ser uma vez fotografados, mas pousam repetidamente para serem fotografados, esperando que o último retrato exceda a todos os esforços anteriores, parecendo na verdade mais bonito do que o original. O dinheiro de seu Senhor é assim esbanjado, e que se lucra com isto? Simplesmente pobres sombras sobre papel. As horas que deveriam ser dedicadas à oração são ocupadas com seu pobre ser; preciosas horas de experiência são assim desperdiçadas. T1 501 1 Satanás se agrada em que a atenção dos jovens seja atraída por qualquer coisa que distraia sua mente de Deus, de forma que o enganador possa suplantá-los e, como estejam despreparados para seus ataques, sejam apanhados na armadilha. Eles não estão cientes de que o grande Artista celestial tem conhecimento de cada ação, palavra e comportamento, e que até mesmo os pensamentos e intenções do coração estão fielmente delineados diante dEle. Cada defeito em seu caráter moral permanece patenteado aos olhos dos anjos, e eles terão de defrontar um quadro fiel de todas as suas deformidades na execução do Juízo. Aquelas vãs e frívolas palavras estão todas escritas no livro. Aqueles enganosos atos, cujos motivos estavam ocultos aos olhos humanos, mas discernidos pelo olho onisciente de Jeová, estão todos registrados em caracteres vivos. Cada ato egoísta está exposto. T1 501 2 Os jovens geralmente se conduzem como se as preciosas horas da graça, enquanto a miséria se estende, fossem um grande feriado e eles tivessem sido postos no mundo meramente para entretenimento próprio, para fruir uma contínua sucessão de incitamento. Satanás tem feito esforços especiais para induzi-los a buscar a felicidade em diversões mundanas, e justificar-se procurando mostrar que esses divertimentos são inofensivos, inocentes, e mesmo importantes para a conservação da saúde. Médicos há que têm dado a impressão de que a espiritualidade e devoção a Deus são prejudiciais à saúde. Isto agrada ao adversário dos seres humanos. Há pessoas de imaginação doentia, que não representam de modo devido a religião de Cristo; elas não possuem a religião pura da Bíblia. Alguns se flagelam através de toda a vida, por causa de seus pecados; tudo que podem ver é um Deus de justiça, ofendido. Deixam de ver a Cristo e Seu poder remidor nos méritos de Seu sangue. Esses não têm fé. Esta classe se compões geralmente de pessoas que não têm a mente bem equilibrada. Por causa da doença que lhes foi transmitida pelos pais e uma errônea educação na juventude, eles contraíram hábitos errôneos que lhes prejudicam a constituição e o cérebro, fazendo que os órgãos morais adoeçam, tornando-lhes impossível pensar e agir racionalmente em todos os pontos. Não têm mente bem equilibrada. Piedade e justiça não destroem a saúde, mas, ao contrário, são saúde para o corpo e força para o coração. Pedro diz: "Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons... aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males." 1 Pedro 3:10-12. "Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis". 1 Pedro 3:14. T1 502 1 A consciência de estar procedendo bem é o melhor remédio para corpos e mentes enfermos. A bênção especial de Deus repousando sobre o recebedor, é saúde e força. A pessoa cuja mente esteja calma e satisfeita em Deus, está no caminho para a saúde. Ter consciência de que os olhos do Senhor estão sobre nós e Seus ouvidos abertos a nossas orações é de fato uma satisfação. Saber que temos um amigo que nunca falha, ao qual podemos confiar todos os segredos do coração é um privilégio que jamais as palavras podem expressar. Aqueles cujas faculdades morais estão obscurecidas pela doença não são os que representam exatamente a vida cristã ou a beleza da santidade. Eles estão freqüentemente sob o fogo do fanatismo, a água da fria indiferença ou imperturbável melancolia. As palavras de Cristo são de maior valor do que as opiniões de todos os médicos do Universo. "Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. Eis o primeiro grande objetivo: o reino do Céu, a justiça de Cristo. Outros objetivos devem ficar num plano secundário a esse. T1 502 2 Satanás apresentará a senda da santidade como difícil, enquanto que as sendas do prazer mundano estão cobertas de flores. Em cores falsas e sedutoras o tentador mostrará a vocês o mundo e seus prazeres. A vaidade é um dos mais fortes traços de nossa natureza decaída, e ele sabe que pode apelar a ela com sucesso. Ele os lisonjeará através de seus agentes. Vocês podem receber elogios que alimentarão sua vaidade e cultivarão o orgulho e o amor-próprio. Pensarão vocês que com tais vantagens e atrações é realmente uma pena apartar-se do mundo, separar-se, tornar-se cristãos, abandonar seus companheiros e estar como mortos a seus louvores ou censuras. Satanás diz-lhes que com as vantagens que possuem, podem usufruir os prazeres do mundo em alto grau. Mas, considerem que os prazeres terrenos terão fim e que colherão o que semearem. São os atrativos pessoais, as habilidades ou talentos de tanto valor que não possam ser dedicados o Deus, o Criador; a Ele, que cuida de vocês o tempo todo? São suas qualificações tão preciosas para devotá-las a Deus? T1 503 1 Os jovens insistem que precisam de algo para estimular e distrair a mente. Vi que há satisfação na atividade, uma satisfação em viver com utilidade. Alguns argumentam que necessitam ter alguma coisa em que interessar-se quando não estão trabalhando, alguma ocupação mental ou divertimento que a mente possa ter para alívio e refrigério entre os cuidados e cansativo labor. É necessária, em verdade, a esperança do cristão. A religião provará ser um conforto para o crente, um guia seguro à Fonte de verdadeira felicidade. Os jovens devem estudar a Palavra de Deus e dar-se à meditação e oração. Então descobrirão que seus momentos de lazer não podem ser melhor empregados. Jovens amigos, vocês deveriam tomar tempo para examinar-se, a ver se estão no amor de Deus. "Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição". 2 Pedro 1:10. Depende da própria conduta se vocês proverão para si mesmos uma vida melhor. T1 503 2 "Os seus [da sabedoria] caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz." Provérbios 3:17. A futura habitação dos justos, sua eterna recompensa, eis enobrecedores temas para a contemplação dos jovens. Atentem para o maravilhoso plano da salvação, o grande sacrifício feito pelo Rei da glória a fim de serem elevados pelos méritos de Seu sangue, sendo afinal exaltados pela obediência ao trono de Cristo. Este assunto deve ocupar a mais nobre contemplação do espírito. Ser levado às boas graças de Deus -- que privilégio! Comungar com Ele -- o que mais pode elevar-nos, refinar-nos e exaltar-nos acima dos frívolos prazeres da Terra? Ter nossa corrompida natureza renovada pela graça, nossos apetites concupiscentes e propensões animalescas em sujeição; permanecer com nobre independência moral, conquistando vitórias diárias, dará paz de consciência que apenas pode provir de ações corretas. T1 504 1 Jovens amigos, vi que com uma ocupação e entretenimento dessa natureza, vocês poderiam ser felizes. O motivo, porém, de se sentirem desassossegados, é não buscarem a única Fonte verdadeira de felicidade. Vocês estão sempre procurando fora de Cristo a alegria que unicamente nEle se encontra. NEle as esperanças não sofrem decepção. A oração... oh! como é negligenciado este precioso privilégio! A leitura da Palavra de Deus prepara o espírito para a oração. Uma das maiores razões por que vocês têm tão pouca disposição de chegar mais perto de Deus mediante a oração, é se haverem incapacitado para essa sagrada obra por meio da leitura de histórias fascinantes, as quais têm estimulado a imaginação e despertado profanas paixões. A Palavra de Deus se torna desagradável, a hora de oração é esquecida. A oração é a força do cristão. Quando isolado, não se encontra só; sente a presença daquele que disse: "Eis que Eu estou convosco todos os dias." Mateus 28:20. T1 504 2 Os jovens precisam exatamente aquilo que lhes falta, isto é, religião. Coisa alguma pode tomar o lugar dela. A mera profissão nada é. Nomes são registrados nos livros da igreja, mas não no livro da vida. Vi que não existe um entre vinte jovens que saiba o que seja a religião experimental. Servem-se a si mesmos, e todavia professam ser servos de Cristo; a menos, porém, que se quebre o encanto que os domina, hão de em breve compreender que a porção do transgressor é a parte que lhes cabe a eles. Quanto à abnegação ou sacrifício por amor da verdade, acharam um caminho mais fácil que isto. No que respeita ao fervoroso suplicar com lágrimas e grande clamor a Deus por Sua perdoadora graça, e por forças do alto para resistir às tentações de Satanás, têm julgado desnecessário ser tão fervorosos e cheios de zelo; podem bem passar sem isto. Cristo, o Rei da glória, freqüentemente ia sozinho para as montanhas e os lugares desertos para derramar Seu coração em petições ao Pai; o homem pecador, no entanto, em quem não há nenhuma resistência, julga poder viver sem tanta oração. T1 505 1 Cristo é nosso Modelo; Sua vida, um exemplo de boas obras. Ele foi um homem de dores e familiarizado com a tristeza. Chorou sobre Jerusalém porque o povo não quis ser salvo pela aceitação da redenção que Ele lhes oferecia. Não foram a Ele para que pudessem ter vida. Comparem sua conduta com a do Mestre, que fez tão grande sacrifício para que vocês pudessem ser salvos. Não era incomum Ele passar a noite inteira na terra úmida em oração angustiante. Vocês estão buscando a própria satisfação. Ouçam a conversação frívola e vã; o riso, os gracejos, as pilhérias. É isso imitar o Modelo? Escutem ainda. É Jesus mencionado? É a verdade tema de conversação? Estão os que conversam gloriando-se na cruz de Cristo? O assunto desse rapaz ou daquela moça é essa moda, aquele chapéu, aquele vestido, ou as diversões que estão planejando. Que prazer! São os anjos atraídos e chamados a protegê-los contra as trevas em que Satanás está procurando envolvê-los? Oh, não! Eles se afastam com tristeza. Vejo lágrimas em sua face. Pode ser que os anjos de Deus chorem? Assim é. T1 505 2 As coisas eternas têm pouco peso para a juventude. Os anjos de Deus estão em lágrimas enquanto escrevem no livro as palavras e atos dos professos cristãos. Voam anjos em torno de uma habitação além. Jovens estão ali reunidos; ouvem-se sons de música vocal e instrumental. Cristãos acham-se reunidos nessa casa; mas que é que vocês ouvem? Uma canção, uma frívola cantiga, própria para o salão de baile. Vejam, os puros anjos recolhem para si a luz, e os que se acham naquela habitação são envolvidos pelas trevas. Os anjos afastam-se da cena. Têm a tristeza no semblante. Vejam como choram! Isso vi eu repetidamente pelas fileiras dos observadores do sábado, e especialmente em _____. A música tem ocupado as horas que deviam ser devotadas à oração. A música é o ídolo adorado por muitos professos cristãos observadores do sábado. Satanás não faz objeções à música, uma vez que a possa tornar um canal de acesso à mente dos jovens. Tudo quanto desviar de Deus a mente, e ocupar o tempo que devia ser devotado a Seu serviço, serve aos propósitos do inimigo. Ele atua através dos meios que mais forte influência exerçam para manter o maior número possível numa aprazível absorção, enquanto se acham paralisados por seu poder. Quando empregada para fins bons, a música é uma bênção; mas é muitas vezes usada como um dos mais atrativos instrumentos de Satanás para enredar pessoas. Quando mal empregada, leva os não consagrados ao orgulho, à vaidade, à insensatez. Quando se lhe permite tomar o lugar da devoção e da prece, é uma terrível maldição. Jovens reúnem-se para cantar e, se bem que cristãos professos, desonram freqüentemente a Deus e sua fé por frívolas conversas e a escolha que fazem da música. A música sacra não está em harmonia com seus gostos. Minha atenção foi dirigida aos positivos ensinos da Palavra de Deus, que haviam sido passados por alto. No Juízo todas essas palavras da Inspiração hão de condenar os que lhes não deram ouvidos. T1 506 1 O apóstolo Paulo exorta Timóteo "segundo o mandado de Deus, nosso Salvador, e do Senhor Jesus Cristo": "Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda. Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." 1 Timóteo 1:1; 2:8-10. T1 507 1 Pedro escreve à igreja: "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:13-16. T1 507 2 O inspirado apóstolo Paulo dirige-se a Tito para lhe dar instruções especiais concernentes à igreja de Cristo, para que "sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador". Tito 2:10. Ele diz: "Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras." Tito 2:12-14. T1 507 3 Pedro exorta as igrejas: "Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar." 1 Pedro 5:8. "E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração." 1 Pedro 4:7. Novamente diz ele: "Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo, porque melhor é que padeçais fazendo o bem (se a vontade de Deus assim o quer) do que fazendo o mal." 1 Pedro 3:15-17. T1 507 4 Estão os jovens em posição onde podem, com mansidão e temor, dar uma resposta a cada homem que pedir a razão da sua esperança? Vi que os jovens falham grandemente na compreensão de nossa posição. Terríveis cenas estão justamente diante deles, um tempo de provação que testará o valor do caráter. Então aqueles que têm a verdade no coração se desenvolverão. Aqueles que evitaram a cruz, negligenciaram a Palavra da vida e prestaram adoração ao próprio eu, serão achados em falta. Estão sendo enganados por Satanás e muito tarde descobrirão que cometeram um erro terrível. Os prazeres que sempre procuraram provar-se-ão amargos no final. Disse o anjo: "Sacrifiquem tudo a Deus. O eu precisa morrer. Os desejos e as propensões naturais do coração não santificado precisam ser subjugados." Corram para a negligenciada Bíblia; as palavras da inspiração estão falando a vocês; não as passem por alto. Vocês se defrontarão novamente com cada uma delas para dar conta se foram praticantes da Palavra, moldando a vida de acordo com os santos ensinos da Palavra de Deus. Requer-se santidade de coração e de vida. Todos os que tomaram o nome de Cristo e se alistaram a Seu serviço, devem ser bons soldados da cruz. Devem mostrar que estão mortos para o mundo, e que sua vida está escondida com Cristo em Deus. T1 508 1 Paulo escreveu a seus irmãos de Colossos: "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então, também vós vos manifestareis com Ele em glória." Colossences 3:1- 4. "E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai." Colossences 3:14-17. T1 509 1 Aos efésios ele escreveu: "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus. Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo." Efésios 5:15-20. T1 509 2 Deus é glorificado por hinos de louvor provindos de um coração puro e pleno de amor e devoção a Ele. Quando crentes consagrados se reúnem, sua conversação não será sobre as imperfeições dos outros nem trará vestígios de murmuração e queixumes. Caridade, ou amor, o vínculo da perfeição, os circundará. O amor a Deus e a seus irmãos flui naturalmente em palavras de afeição, simpatia e estima por seus irmãos. A paz de Deus reina no coração deles. Suas palavras não são fúteis, vazias e frívolas, mas para o conforto e edificação de uns para com os outros. Se os cristãos obedecerem às instruções a eles dadas por Cristo e Seus apóstolos inspirados, haverão de ornamentar a religião da Bíblia, e se pouparão de severas provas e muitas perplexidades, as quais atribuem às aflições que sofreram por crerem numa verdade impopular. Isto é um deplorável erro. Muitas de suas provações são produzidas por eles mesmos, por se desviarem da Palavra de Deus. Sujeitam-se ao mundo, colocam-se no campo de batalha do inimigo e tentam o diabo a tentá-los. Aqueles que se apegam estritamente às admoestações e instruções da Palavra de Deus, procurando em oração conhecer Sua justa vontade, não serão suscetíveis às injustiças sofridas diariamente. A gratidão que sentem e a paz de Deus reinante no íntimo, produz-lhes melodia ao Senhor no coração, e por suas palavras expressam o débito de amor e gratidão ao querido Salvador, que tanto os amou que morreu para que pudessem ter vida. Ninguém em cujo coração Jesus habite O desonrará diante dos homens, produzindo ao mesmo tempo num instrumento musical distorções que desviem de Deus e do Céu a mente, pondo-a sobre coisas volúveis e fúteis. T1 510 1 O que quer que façam os jovens mediante palavras ou ações, façam-no em nome de Jesus, dando graças a Deus, o Pai, por Ele. Vi que poucos jovens compreendem o que é ser cristãos, ser semelhantes a Cristo. Precisam aprender as verdades da Palavra de Deus antes de poderem conformar sua vida com o Modelo. Não há um jovem entre vinte que experimentou em sua vida aquela separação do mundo que o Senhor exige de todos os que se tornam membros de Sua família, filhos do Rei celestial. "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. T1 510 2 Que promessa é feita aqui sob condição de obediência! Estão vocês dispostos a libertar-se de amigos e parentes ao decidirem obedecer às elevadas verdades da Palavra de Deus? Tenham bom ânimo, Deus fez provisão para vocês. Seus braços estão abertos para recebê-los. Saiam do meio deles e separem-se; não toquem "nada imundo" (2 Coríntios 6:17), e Ele os receberá. Ele promete ser um Pai para vocês. Oh, que parentesco esse! Mais elevado e santo do que qualquer laço terrestre. Se fizerem o sacrifício, se for preciso deixar pai, mãe, irmãs, irmãos, esposa e filhos por amor a Cristo, vocês não ficarão sem amigos. Deus os adotará em Sua família; vocês se tornarão membros da casa real, filhos e filhas do Rei que governa no Céu dos céus. Podem vocês desejar posição maior do que a que é aqui prometida? Isso não é suficiente? Disse o anjo: "O que Deus poderia fazer pelos filhos dos homens que Ele já não o tenha feito? Se tal amor, tais excelsas promessas não forem apreciadas, podia Ele inventar algo mais alto, mais rico e sublime? Tudo o que Deus poderia fazer pela salvação do homem foi feito, todavia, o coração dos filhos dos homens se endureceu. Por causa da diversidade das bênçãos com as quais Deus os cercou, eles as recebem como coisas comuns e se esquecem de seu misericordioso Benfeitor." T1 511 1 Vi que Satanás é um inimigo vigilante, atento ao seu desígnio de dirigir a juventude num modo de proceder inteiramente contrário ao que Deus aprovaria. Ele bem sabe não haver outra classe que, como os rapazes e moças consagrados a Deus, possa fazer tanto bem. A juventude, quando reta, pode exercer poderosa influência. Pregadores ou leigos de idade avançada não podem ter, sobre a juventude, metade da influência que os jovens consagrados têm sobre seus companheiros. Estes deveriam sentir a responsabilidade que sobre eles pesa para tudo fazer por salvar seus mortais semelhantes, mesmo com o sacrifício de seus prazeres e desejos naturais. Tempo e mesmo meios, se tanto for preciso, devem ser consagrados a Deus. Todos os que professam piedade devem sentir o perigo dos que estão sem Cristo. Breve terminará seu tempo de graça. Os que poderiam ter exercido influência para salvar pessoas, se houvessem seguido o conselho de Deus, e no entanto não cumpriram seu dever por egoísmo, indolência ou por se envergonharem da cruz de Cristo, não só se perderão, mas terão sobre suas vestes o sangue dos pobres pecadores. Essas pessoas terão de dar contas do bem que poderiam ter feito se houvessem sido consagradas a Deus, porém não o fizeram por causa de sua infidelidade. Os que provaram as doçuras do amor remidor não repousarão, nem poderão fazê-lo, sem que todos com quem mantêm relações tenham entrado em contato com o plano da salvação. Os jovens devem perguntar: "'Senhor, que queres que faça?' Atos dos Apóstolos 9:6. Como posso honrar e glorificar Teu nome sobre a Terra?" Pessoas perecem em torno de nós, e que responsabilidade de ganhar pessoas para Cristo pesa sobre a juventude! Os que freqüentam escola poderiam exercer influência em favor do Salvador; mas quem menciona o nome de Cristo? e quem é visto insistindo com terna solicitude com seus companheiros, para que abandonem os caminhos do pecado e escolham a caminho da santidade? T1 512 1 Foi-me mostrado que essa é a conduta que os jovens crentes devem adotar, mas não o fazem; está mais em harmonia com seus sentimentos unirem-se aos pecadores no divertimento e no prazer. Os jovens têm uma vasta esfera de utilidade, mas não a vêem. Oh! se eles exercessem agora suas faculdades mentais em procurar meios de se aproximar dos pecadores prestes a perecer, a fim de lhes tornar conhecida a caminho da santidade, e, mediante oração e súplica, vir a conquistar ao menos uma pessoa para Cristo! Que nobre empreendimento! Alguém para louvar a Deus por toda a eternidade! Alguém para fruir a felicidade e a vida eterna! Uma pedra preciosa em sua coroa para brilhar qual estrela para todo o sempre! Porém, mesmo mais que uma pessoas pode ser levada a se desviar do erro para a verdade, do pecado para a santidade. Diz o Senhor por meio do profeta: "E os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas, sempre e eternamente." Daniel 12:3. Então os que se empenham com Cristo e os anjos na obra de salvar pessoas a perecer, são ricamente recompensados no reino do Céu. T1 512 2 Vi que muitos se salvariam, caso os jovens estivessem no lugar em que se deveriam achar, consagrados a Deus e à verdade; mas em geral assumem uma posição em que se lhes deve dedicar contínuo labor, do contrário eles próprios se tornarão do mundo. São uma constante fonte de ansiedade e aflição. Lágrimas são vertidas por sua causa, e são arrancadas do coração dos pais angustiosas súplicas em seu favor. Eles, todavia, prosseguem, descuidosos da dor produzida por seu procedimento. Cravam espinhos no peito dos que dariam a vida para os salvar, e fazer com que se tornassem aquilo que Deus designou que fossem, por meio dos méritos do sangue de Cristo. T1 512 3 Embora a juventude esteja exercitando suas habilidades para executar essa ou aquela bela peça de arte, não percebem que Deus deles requer que empreguem os talentos num objetivo superior; que ornem sua profissão de fé e busquem salvar pessoas por quem Cristo morreu. Uma única pessoas salva é de maior valor do que mundos. Ouro e riquezas terrenas não são para se comparar com a salvação de uma única pessoa. T1 513 1 Rapazes e moças, eu vi que Deus tem uma obra para vocês fazerem; tomem a sua cruz e sigam a Cristo, ou serão indignos dEle. Enquanto permanecem em descuidosa indiferença, como podem dizer qual seja a vontade de Deus a seu respeito? e como esperam ser salvos, a não ser que, como servos fiéis, façam a vontade de seu Senhor? Os que hão de possuir a vida eterna terão todos agido corretamente. O Rei da glória exaltá-los-á a Sua direita, enquanto lhes diz: "Bem está, servo bom e fiel." Mateus 25:21. Como poderão dizer quantas pessoas seria possível salvar da ruína se, em vez de atentar para seu prazer, estivessem buscando a obra que podem fazer na vinha do Mestre? Quantas pessoas essas reuniões de conversação e música têm podido salvar? Se vocês não podem apontar uma pessoa assim conquistada, mudem, oh! mudem sua conduta. Comecem a orar por pessoas, acheguem-se a Cristo, bem próximo a Seu lado ensangüentado. Seja sua vida adornada por um espírito manso e quieto, e ascendam a Ele suas fervorosas, contritas e humildes petições em busca de sabedoria a fim de terem êxito em salvar, não somente a si mesmo, mas a outros. Orem mais do que cantem. Não têm vocês mais necessidade de oração do que de cânticos? Rapazes e moças, Deus os chama a trabalhar, trabalhar para Ele. Efetuem inteira mudança em sua conduta. Vocês podem realizar uma obra que os que ministram em palavra e doutrina não podem fazer. É-lhes possível alcançar uma classe a quem ao pastor não é dado influenciar. ------------------------Capítulo 87 -- Recreação para os cristãos T1 514 1 Foi-me mostrado que os observadores do sábado, como um povo, trabalham demasiado e arduamente sem se permitirem mudanças ou períodos de repouso. A recreação é necessária aos que se acham ocupados em labor físico, e mais ainda, essencial àqueles cujo trabalho é especialmente mental. Não é essencial a nossa salvação, nem para a glória de Deus, manter o espírito em contínuo e excessivo labor, mesmo sobre temas religiosos. Há distrações, como a dança, o jogo de cartas, xadrez, damas, etc., que não podemos aprovar porquanto o Céu as condena. Estas diversões abrem a porta a grandes males. Não são benéficas em sua tendência, antes exercem efeito excitante, produzindo em alguns espíritos uma paixão por aquelas diversões que conduzem ao jogo e à dissipação. Todos esses divertimentos devem ser condenados pelos cristãos, e seu lugar ser substituído por qualquer coisa perfeitamente inofensiva. T1 514 2 Vi que não se devem passar nossos feriados a exemplo do mundo, mas não devemos passá-los por alto, pois isso traria descontentamento aos nossos filhos. Nestes dias em que há perigo de serem expostos às más influências e corrompidos pelos prazeres e atrações do mundo, estudem os pais o meio de proporcionar-lhes alguma coisa que substitua entretenimentos mais perigosos. Dêem a entender a seus filhos que vocês têm em vista seu bem-estar e felicidade. T1 514 3 Unam-se várias famílias que residem numa cidade ou vila, e deixem as ocupações que as cansaram física e mentalmente, e façam uma excursão ao campo, às margens de um belo lago, ou a um bonito bosque, onde seja lindo o cenário da Natureza. Devem prover-se de alimento simples e saudável, das melhores frutas e cereais, pondo a mesa à sombra de alguma árvore ou sob a abóbada celeste. A viagem, o exercício e o panorama despertarão o apetite e poderão desfrutar de uma refeição que causaria inveja aos próprios reis. T1 515 1 Nessas ocasiões, pais e filhos devem sentir-se livres dos cuidados, do trabalho e de toda preocupação. Os pais devem sentir-se pequenos com seus filhos, tornando-lhes tudo tão agradável quanto possível. Seja o dia todo uma contínua recreação. O exercício ao ar livre, para aqueles cujo trabalho é dentro de casa e sedentário, beneficiar-lhes-á a saúde. Todos os que podem, devem sentir o dever de seguir este procedimento. Nada se perderá; mas ganhar-se-á muito. Voltarão às suas ocupações com nova vida e novo ânimo para empreender de novo sua tarefa com mais zelo, e estarão melhor preparados para resistir à enfermidade. T1 515 2 Vi que poucos compreendem o trabalho constante e cansativo daqueles que têm sobre si a responsabilidade das tarefas no Escritório. Eles estão confinados atrás das portas, dia após dia e semana após semana, enquanto que uma carga pesada sobre suas energias mentais está certamente minando seu organismo e reduzindo sua expectativa de vida. Esses irmãos estão em perigo de prostrar-se repentinamente. Não são imortais, e sem uma mudança, eles se desgastarão e estarão incapacitados para o trabalho. T1 515 3 Os irmãos A, B e C são possuidores de dons preciosos. Não podemos aceitar que arruínem a saúde por excessivo confinamento e trabalho incessante. Onde poderíamos encontrar homens com sua experiência para ocupar-lhes o lugar? Dois deles trabalham no Escritório há catorze anos, diligente, consciente e abnegadamente prestando serviços para o progresso da causa de Deus. Raramente têm eles qualquer alteração em sua rotina, exceto quando atacados por febres ou enfermidades. Eles precisam alterar com freqüência seu ritmo, dedicando um dia inteiro à recreação com suas famílias, que estão quase que inteiramente separadas de sua presença. Nem todos podem deixar o trabalho ao mesmo tempo, mas devem ordenar suas ocupações para que um ou dois possam sair, deixando outros em seu lugar; e esses, por sua vez, ter a mesma oportunidade depois. T1 515 4 Vi que os irmãos A, B e C devem considerar como dever religioso cuidar da saúde e vitalidade que Deus lhes deu. O Senhor não requer que se tornem mártires por Sua causa. Não terão nenhuma recompensa por tal sacrifício, pois Deus quer que vivam. Eles podem servir à causa da verdade presente muito melhor vivos do que mortos. Se algum desses irmão for repentinamente prostrado pela doença, ninguém deve achar que isso foi um castigo do Senhor. Seria apenas o seguro resultado da transgressão das leis da Natureza. Deveriam eles atentar às advertências dadas, e não continuar a violar e sofrer pesadas conseqüências. T1 516 1 Vi que esses irmãos podem beneficiar a causa de Deus assistindo, tanto quanto possível, às reuniões de assembléia realizadas longe de seu lugar de trabalho. O trabalho que lhes foi dado é importante, e eles necessitam nervos e mente saudáveis, mas não é possível que sua mente seja aliviada e revigorada como Deus gostaria, enquanto confinados incessantemente no Escritório. Foi-me mostrado que será benéfico à obra em geral e aos que estão na administração da obra em Battle Creek, conhecerem seus irmãos de fora, associando-se com eles nas assembléias. Isso dará aos irmãos distantes maior confiança naqueles que têm sobre os ombros as responsabilidades da obra, e aliviará a tensão mental dos dirigentes, tornando-os melhor relacionados com o progresso da obra e as necessidades da causa. Isso fortalecerá sua esperança, renovará a fé e aumentará sua coragem. O tempo assim empregado não será perdido e proporcionará melhores vantagens. Esses irmãos têm qualidades que os tornam, em mais elevado grau, capazes de desfrutar a vida social. Devem hospedar-se nos lares de seus irmãos de outras localidades, beneficiando e sendo beneficiados pelo intercâmbio de idéias e pontos de vista. T1 516 2 Apelo especialmente ao irmão C para mudar o rumo de sua vida. Ele não pode exercitar-se como outros do Escritório. A atividade interna e sedentária o está preparando para um repentino colapso. Ele não pode continuar fazendo o que sempre fez. Deve passar mais tempo ao ar livre, com períodos de trabalho leve de natureza especial, ou algum exercício agradável de caráter recreativo. Um confinamento tal como o que ele se impôs abalaria o organismo do animal mais forte. Isso é cruel, pernicioso, um pecado contra si mesmo, contra o qual ergo minha voz em advertência. Irmão C, a maior parte de seu tempo deve ser gasta ao ar livre, cavalgando ou em outro exercício agradável, ou você morrerá, deixando sua esposa viúva e seus filhos órfãos, todos os que o amam. O irmão C está qualificado para instruir outros através da exposição da Palavra. Ele pode servir à causa de Deus e beneficiar-se, participando das grandes reuniões dos observadores do sábado e dando testemunho para a edificação daqueles que têm o privilégio de ouvi-lo. Essa mudança o manteria mais tempo ao ar livre. Sua circulação sangüínea é lenta, por necessidade do revigorante ar do céu. Ele tem desempenhado muito bem sua parte no trabalho do Escritório, mas ainda tem necessidade da eletrizante influência do ar puro e da luz solar, para tornar seu trabalho ainda mais espiritual e estimulante. T1 517 1 Em 5 de Junho de 1863, foi-me mostrado que meu marido devia conservar sua vitalidade e saúde, pois Deus ainda tinha uma grande tarefa para nós. Obtivéramos boa experiência desde o início da obra através de Sua providência, e assim nosso trabalho seria de grande importância para Sua causa. Vi que o constante e excessivo trabalho de meu marido estava consumindo suas reservas, as quais Deus desejava que ele preservasse, e que se ele continuasse a sobrecarregar suas capacidades físicas e mentais como estava fazendo, as esgotaria para o futuro e gastaria o capital. Destruir-se-ia prematuramente e a causa de Deus seria desprovida de seu trabalho. A maior parte de seu tempo ele dispensava ao trabalho que outros poderiam fazer no Escritório, ou envolvido em transações comerciais que devia evitar. Deus desejava que nós dois reservássemos nossas energias para serem especialmente usadas quando precisássemos realizar o trabalho que outros não pudessem fazer, e para o qual Ele nos designou, preservando-nos a vida e dando-nos valiosa experiência. Desse modo, poderíamos ser um benefício para Seu povo. T1 518 1 Não tornei isso público porque fora uma mensagem dada especialmente a nós. Se a admoestação houvesse sido plenamente atendida, a aflição pela qual meu marido passou teria sido evitada. A obra de Deus era urgente e parecia não permitir nenhum descanso ou afastamento. Meu marido era compelido a um constante e cansativo trabalho. A ansiedade por seus irmãos sujeitos ao serviço militar e também a rebelião em Iowa, manteve sua mente em contínua tensão e suas energias físicas se esgotaram totalmente. Em vez de ficarem mais leves, os fardos se tornaram mais pesados, e as preocupações, em lugar de diminuir, triplicaram. Mas, certamente havia um meio de escape, ou Deus não teria dado a advertência que deu, e não permitiria que meu marido sucumbisse sob esse pesado tributo. Vi que se ele não houvesse sido especialmente sustido por Deus, teria suas forças físicas e mentais prostradas antes do que ocorreu. T1 518 2 Quando Deus diz uma coisa, Ele quer dizer isso mesmo. Quando Ele adverte, é bom dar-Lhe ouvidos. A razão por que agora falo publicamente é que a mesma advertência feita a meu marido tem sido dada a outros que estão ligados ao Escritório. Vi que, a menos que mudem de conduta, estão sob o mesmo risco de ser atingidos como foi meu marido. Não desejo que outros sofram o que ele padeceu. Mas o que mais deve ser temido é que eles estariam perdidos por um tempo para a causa e o trabalho de Deus, quando o auxílio e a influência de todos eles são muito necessários. T1 518 3 Os que estão vinculados ao Escritório não podem suportar o volume de cuidados e trabalho que meu marido enfrentou por anos. Eles não possuem a mesma compleição e resistência de meu esposo. Eles podem não suportar as perplexidades e o trabalho constante e cansativo que ele, por vinte anos, agüentou. Não posso suportar o pensamento de que alguém no Escritório sacrifique sua saúde e energias mediante excessivo trabalho, de modo a comprometer prematuramente sua utilidade e ficar incapacitado para o trabalho na vinha do Senhor. Não são apenas os apanhadores dos frutos os trabalhadores essenciais. Todos quantos auxiliam cavando em volta das plantas, regando, podando e erguendo os ramos caídos da videira, dirigindo as gavinhas para se fixarem nas treliças, o seguro suporte, são obreiros que não podem ser dispensados. T1 519 1 Os irmãos, do Escritório, acham que não podem deixar o trabalho por uns dias para uma mudança de ares, para recreação, mas isso é um erro. Podem e devem fazê-lo. Mesmo que não se tenha podido fazer muito, seria melhor deixar o trabalho por uns poucos dias do que prostrar-se pela doença e afastar-se da obra de Deus por meses ou, talvez, para sempre. T1 519 2 Meu marido pensava que não era certo despender tempo em reuniões sociais. Não se dispunha a descansar. Achava que o trabalho no Escritório seria prejudicado. Mas depois que lhe sobreveio o golpe, causando-lhe prostração física e mental, seu serviço foi executado sem ele. Vi que os irmãos envolvidos em trabalhos de responsabilidade no Escritório, devem trabalhar sob um esquema diferente, e fazer seus planos para alterar a rotina. Se for necessária mais ajuda, obtenham-na, e que sejam aliviados aqueles que estão constantemente confinados e sujeitos à tensão mental. Eles devem assistir às convocações das assembléias. Precisam desfazer-se dos cuidados, partilhar da hospitalidade dos irmãos, desfrutar sua companhia e as bênçãos das reuniões. Assim receberão idéias novas e suas esgotadas energias despertarão para uma nova vida. Voltarão ao trabalho melhor qualificados para desempenhar sua parte, com maior compreensão das necessidades da causa. T1 520 1 Irmãos de outras partes, vocês estão dormindo a respeito desse assunto? Deverão espantar-se pela queda de outro dos obreiros de Deus a quem amam? Estes homens são propriedade da igreja. Suportariam vê-los sucumbir sob as cargas? Apelo que pensem de maneira diferente. Peço a Deus que a amarga experiência que tivemos nunca seja permitida a qualquer dos irmãos do Escritório. Recomendo especialmente que cuidem do irmão C. Deverá ele morrer por falta de ar, do vitalizante ar do céu? O procedimento que ele segue lhe está encurtando a vida. Por encerrar-se entre quatro paredes, seu sangue se tornou infetado e de circulação lenta; o fígado foi afetado e a atividade cardíaca é inadequada. A menos que ele mude, a Natureza tomará o trabalho em suas próprias mãos. Ela tentará livrar o organismo expelindo as impurezas do sangue. Convocará todas as forças vitais a atuar, e todo o corpo será afetado. Tudo isso pode redundar em paralisia ou apoplexia. Mesmo que supere a crise, a perda de tempo será grande e as probabilidades de recuperação muito pequenas. Se o irmão C não se conscientizar, aconselho que vocês que têm interesse na causa da verdade presente, tomem-no, assim como foi feito com Lutero por seus amigos, e o levem para bem longe do trabalho. T1 520 2 Depois de escrever o texto acima, tive conhecimento de que a maior parte de Thoughts on the Revelation (Reflexões Sobre o Apocalipse) foi escrita à noite, após o trabalho diário do autor. Esse também foi o caminho seguido por meu esposo. Protesto contra tal suicídio. Os irmãos que mencionei e que estão confinados no Escritório, serviriam melhor à causa de Deus assistindo às reuniões e usufruindo períodos de recreação. Assim conservariam suas faculdades físicas e mentais nas melhores condições para dedicá-las à causa. Não se deve permitir que se sintam incapacitados por não receberem salário. Seus pagamentos devem continuar sendo pagos e eles liberados. Estão fazendo uma grande obra. ------------------------Capítulo 88 -- O traje da reforma T1 521 1 Em resposta às cartas de muitas irmãs que faziam perguntas com respeito ao comprimento apropriado do vestido da reforma do vestuário, devo dizer que em nossa parte do Estado de Michigan, adotamos o comprimento uniforme de aproximadamente 23 centímetros acima do chão. Aproveito esta oportunidade para responder a essas perguntas, a fim de poupar o tempo requerido para atender às muitas cartas. Eu deveria ter falado antes, mas esperei até ver algo definido sobre esse ponto no Health Reformer (Reformador da Saúde). Recomendo enfaticamente que haja uniformidade no comprimento do vestido. Diria que aproximadamente 23 centímetros estão de acordo com minhas visões sobre o assunto. T1 521 2 Quando viajo de um lugar para outro, observo que o traje da reforma do vestuário não é corretamente representado, e sou levada a concluir que algo mais definido precisa ser dito para que possa haver uniformidade a esse respeito. Esse estilo de vestuário é impopular, e por essa razão simplicidade e bom gosto precisam ser exercidos por aquelas que o adotam. Já falei sobre esse ponto, mas algumas não seguiram os conselhos dados. Deveria haver uniformidade quanto à questão do comprimento do vestido da reforma entre os observadores do sábado. Aquelas que se tornam singulares por adotá-lo, não deveriam pensar sequer por um momento que é desnecessário mostrar ordem, bom gosto e simplicidade. Antes de adotar o vestido da reforma, nossas irmãs precisam adquirir modelos de calças e bata para usar com ele. É um grande prejuízo para a reforma do vestuário que pessoas apresentem à comunidade um estilo que necessita de reforma em cada particular, antes que possam representar devidamente o traje da reforma. Esperem, irmãs, até poderem usar o vestido certo. T1 521 3 Em alguns lugares há grande oposição ao vestido curto. Mas quando vejo alguns modelos usados pelas irmãs, não me espanto de que o povo esteja escandalizado, condenando o traje. Onde o vestido é apresentado como deveria ser, todas as pessoas sinceras são constrangidas a admitir que ele é modesto e conveniente. Tenho visto em algumas de nossas igrejas todos os tipos de vestidos da reforma, todavia, nenhum atende à descrição que me foi apresentada. Alguns vestidos aparecem com calças brancas de musselina, mangas brancas, enfeites de musselina negra e uma bata sem mangas, do mesmo tecido do vestido. Algumas têm um vestido de morim com calças cortadas segundo seus próprios moldes e não segundo o "modelo", sem goma ou entretela para lhes dar forma, e bem apertado nos membros. Certamente esses vestidos nada têm de bom gosto ou simplicidade. Eles não se recomendam a pessoas sensíveis e de bom discernimento. Em todos os sentidos da palavra, é um vestido deformado. T1 522 1 As irmãs cujos maridos se têm oposto ao uso do vestido mais curto, têm solicitado meu conselho. Aconselho-as a esperar. Não considero a questão do vestuário de tão vital importância quanto o sábado. Com respeito ao sábado, não pode haver nenhuma hesitação. Mas a oposição que muitos sofreriam se adotassem a reforma do vestuário, seria mais prejudicial à saúde do que os eventuais benefícios que o vestido poderia trazer. Muitas dessas irmãs me têm dito: "Meu marido aprecia seu modelo de vestido. Ele diz que não encontra defeito algum nele." Isso me tem levado a pensar sobre a necessidade de nossas irmãs representarem corretamente a reforma do vestuário, manifestando asseio, ordem e uniformidade no vestir. Tenho modelos preparados para levar comigo nas viagens, prontos para entregar às nossas irmãs com quem nos encontraremos, ou para enviar via correio a todas as que os pedirem. Nosso endereço será publicado na Review. T1 522 2 Aquelas que adotam o vestido mais curto deveriam demonstrar bom gosto na seleção de cores. Quem não puder comprar um vestido novo deve fazer o melhor que estiver ao seu alcance para mostrar bom gosto e singeleza ao reformar velhos vestidos, tornando-os como novos. Elas devem ser cuidadosas em ter as calças e o vestido do mesmo tecido e cor para não parecer extravagantes. Velhos vestidos podem ser talhados segundo o modelo correto e ajustados com bom gosto, parecendo novos. Solicito a vocês, irmãs, não confeccionem modelos segundo suas próprias idéias. Conquanto haja modelos corretos e de bom gosto, há também os impróprios e de mau gosto. T1 523 1 Esse vestido não precisa de armações e espero que ele nunca seja arruinado por elas. Nossas irmãs não necessitam de muitos saiotes para armar o vestido. É muito mais conveniente um caimento natural com um ou dois saiotes leves. O damasco de lã é um excelente tecido para saias externas; ele mantém sua firmeza e é durável. Se alguma outra coisa for usada com as saias, que seja moderada. Os acolchoados são desnecessários. Contudo, freqüentemente eu os vejo sendo usados, e algumas vezes indo um pouco abaixo do vestido, dando assim uma aparência imodesta e descuidada. Saiotes brancos usados com vestidos escuros, não tornam o vestido curto. Sejam cuidadosas, minhas irmãs, em manter seus saiotes limpos, simples e delicados. Confeccionem-nos de bom tecido e, em todos os modelos, uns oito centímetros mais curtos do que o vestido. Se for usado algo para armar a saia, que seja pequeno e distando cerca de 23 a 45cm da parte inferior do vestido ou saia externa. Se um cordel ou algo semelhante for colocado diretamente ao redor da barra da saia, ele simplesmente inflará essa parte, fazendo com que o vestido apareça inconveniente quando a usuária estiver sentada ou inclinada. T1 523 2 Ninguém precisa temer que eu faça da reforma do vestuário meu principal assunto enquanto viajamos de lugar em lugar. Aqueles que me ouviram falar sobre esse assunto agirão segundo a luz que lhes foi dada. Cumpri meu dever; dei meu testemunho. Os que me ouviram e leram o que escrevi devem agora assumir a responsabilidade de receber ou rejeitar a luz dada. Se se aventurarem em ser ouvintes esquecidos e que não "fazem a obra" (2 Reis 22:5), assumirão os próprios riscos e serão responsáveis diante de Deus pela conduta que seguirem. Estou livre de responsabilidade. Não devo obrigar ninguém nem condenar. Essa não é a obra que me foi confiada. Deus conhece Seus filhos humildes, obedientes e dispostos, e os recompensará de acordo com o fiel cumprimento da Sua vontade. Para muitos, a reforma do vestuário é muito simples e humilhante para ser adotada. Eles não podem erguer a cruz. Deus atua por meios simples para separar e distinguir Seus filhos do mundo, mas alguns estão tão afastados da simplicidade da obra e métodos de Deus, que estão acima dela e não nela. T1 524 1 Minha atenção foi chamada para o seguinte texto bíblico: "Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam borlas pelas suas gerações; e as borlas em cada canto presas por um cordão de azul. E as borlas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os cumprais; o não seguirdes os desejos do vosso coração, nem dos vossos olhos, após os quais andais adulterando. Para que vos lembreis de todos os Meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos ser por Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus." Números 15:38-41. Deus ordena expressamente um simplíssimo adorno de vestuário para os filhos de Israel, com o propósito de distingui-los das nações idólatras que os cercavam. Quando eles olhassem para essa peculiaridade de suas vestes, lembrar-se-iam de que eram o povo que guardava os mandamentos de Deus, e que Ele havia atuado de maneira miraculosa para livrá-los do cativeiro egípcio, a fim de que O servissem e Lhe fossem um povo santo. Eles não deviam atender aos próprios desejos ou imitar as nações idólatras, mas permanecer como um povo distinto, separado e que todos os que os olhassem pudessem dizer: Eis aqueles que Deus tirou da terra do Egito e que guardam a lei dos Dez Mandamentos. Um israelita deveria ser reconhecido tão logo fosse visto, pois Deus, através de meios simples, os distinguia como Seus. T1 524 2 A ordem dada por Deus aos filhos de Israel para colocarem uma fita azul em suas vestes, não deveria ter nenhuma influência direta sobre sua saúde. Apenas enquanto Deus os abençoasse e a fita mantivesse em sua memória as elevadas reivindicações de Jeová, seriam guardados de misturar-se com outras nações, participando de suas festas licenciosas e comendo carne de porco e ricos alimentos prejudiciais à saúde. Deus deseja agora que Seu povo adote o vestuário da reforma, não apenas para distingui-los do mundo como Seu povo peculiar, mas porque uma reforma no vestuário é essencial à sua saúde física e mental. O povo de Deus tem, em grande medida, perdido seus traços distintivos, gradualmente se modelando segundo o mundo e mesclando-se com ele, até que em muitos respeitos se torna semelhante a ele. Isso desagrada a Deus. Ele os dirige, assim como conduziu os filhos de Israel do passado, a saírem do mundo e abandonarem suas práticas idólatras, não seguindo o próprio coração (pois que esse não é santificado) ou sua visão, que os têm conduzido para longe de Deus e os unido ao mundo. T1 525 1 Algo deve ser feito para diminuir o envolvimento do povo de Deus com o mundo. O traje da reforma é simples e saudável, todavia, há uma cruz nele. Agradeço a Deus pela cruz e alegremente curvo-me para erguê-la. Temo-nos unido tanto ao mundo que perdemos de vista a cruz e não desejamos sofrer por amor a Cristo. T1 525 2 Não precisamos inventar uma cruz, mas se Deus no-la apresenta, deveríamos alegremente tomá-la. Ao aceitar a cruz, somos distinguidos do mundo, que não nos ama e ainda ridiculariza nossa peculiaridade. Cristo foi odiado porque Ele não era do mundo. Podem Seus seguidores esperar melhor sorte que seu Mestre? Se não sofremos censura ou desdém do mundo podemos ficar alarmados, pois é nossa conformidade com o mundo que nos torna tão semelhantes a ele, que não desperta seus ciúmes ou sua malícia. Não há confronto de caráter. O mundo despreza a cruz. "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus." 1 Coríntios 1:18. "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14.* ------------------------Capítulo 89 -- Suspeitas sobre Battle Creek T1 526 1 Em 1865, vi que alguns, movidos por sentimentos de inveja, sentiam-se em liberdade de falar levianamente da igreja de Battle Creek. Alguns olham com suspeita tudo o que ali acontece e ficam felizes se descobrem algo que supõem trará descrédito à igreja e lhes dará vantagem. Deus não Se agrada com tal espírito e conduta. De que fonte nossas igrejas de outros lugares obtêm luz e conhecimento da verdade? Isso tem provindo dos meios que Deus ordenou, cujo centro está em Battle Creek. Quem tem os fardos da obra? São aqueles que trabalham zelosamente em Battle Creek. Encargos e pesadas preocupações estão sobre aqueles que permanecem na frente de acirrada batalha. Perplexidades e tensão mental afligem a todos os que estão envolvidos em tomar decisões altamente importantes, em ligação com a obra de Deus. Nossos irmãos distantes que não têm sobre si esse fardo, deveriam sentir-se gratos e louvar a Deus por serem assim favorecidos, e os últimos a serem descobridores de faltas, ciumentos e invejosos, dizendo: "Denunciai, e o denunciaremos!" Jeremias 20:10. T1 526 2 A igreja de Battle Creek tem sustentado as cargas das Associações, as quais têm imposto pesados tributos sobre quase todos. Em conseqüência do trabalho extra, muitos têm ficado debilitados por vários meses. Eles têm suportado as responsabilidades prazerosamente, mas sentem-se tristes e desanimados pela insensível indiferença de alguns e o cruel ciúme de outros, após esses retornarem às várias igrejas de onde procedem. Irrefletidamente são feitos comentários, de modo intencional por uns e descuidoso por outros, concernentes aos que têm responsabilidades ali e aos que estão à testa da obra. Deus tem registrado todas essas conversas, o ciúme e a inveja que as motiva. É mantido um fiel registro. Muitos agradecem a Deus pela verdade e então torcem palavras, questionam e acham defeitos naqueles a quem o Céu ordenou torná-los o que são, ou o que deveriam ser. Deus ficaria muito mais satisfeito se eles agissem como Arão e Hur, sustentando as mãos daqueles que arcam com grandes e pesadas cargas da obra de Deus. Murmuradores e lamentadores deveriam permanecer em casa, onde estarão livres da tentação; onde não podem alimentar seus ciúmes, ruins suspeitas e críticas. Sua presença nas reuniões é um verdadeiro fardo. "São nuvens sem água." Judas 12. T1 527 1 Os que se sentem em liberdade de criticar e censurar aqueles a quem Deus escolheu para desempenhar um importante papel nessa última e grande obra, fariam melhor se se convertessem e obtivessem a mente de Cristo. Lembrem-se eles dos filhos de Israel que eram tão prontos em achar faltas em Moisés, a quem Deus designou para dirigir Seu povo a Canaã, e murmurar contra o próprio Deus. Todos esses murmuradores caíram no deserto. É fácil rebelar-se; fácil opor-se antes de considerar as questões racional e calmamente, e verificar se há realmente algo a combater. Os filhos de Israel são um exemplo para nós, "para quem os fins dos tempos são chegados". 1 Coríntios 10:11. T1 527 2 Muitos têm facilidade de questionar e achar falhas com respeito aos assuntos em Battle Creek, mais do que dizer o que deveria ser feito. Alguns até se aventuram a assumir essa responsabilidade, mas logo descobrem que são inexperientes e lançam o trabalho por terra. Se esses faladores e críticos fossem eles mesmos portadores de fardos, e orassem pelos obreiros, seriam abençoados e abençoariam a outros por seu piedoso exemplo, vida e influência santas. É simples para muitos falar mais do que orar. Faltam-lhes espiritualidade e santidade, e sua influência é um dano à causa de Deus. Em lugar de sentir que a obra em Battle Creek é seu trabalho e que eles têm interesse em seu progresso, ficam de lado como meros espectadores, questionando e descobrindo falhas. Aqueles que assim procedem são os mesmos que não têm experiência nessa obra e pouco sofreram pela causa da verdade. ------------------------Capítulo 90 -- Transferindo responsabilidades T1 528 1 Os irmãos observadores do sábado que passam a responsabilidade de sua mordomia para as mãos das esposas, enquanto eles mesmos estão em condições de assumi-la, são insensatos, e ao transferi-la desagradam a Deus. A mordomia do marido não pode ser transferida para a esposa. No entanto acontece às vezes tal coisa, com grande prejuízo para ambos. Às vezes o marido crente tem transferido sua propriedade para a companheira descrente, esperando assim satisfazê-la, desarmar-lhe a oposição, e finalmente induzi-la a crer na verdade. Mas isso não é nada mais do que uma tentativa de comprar a paz, ou subornar a esposa para crer na verdade. Os meios que Deus emprestou para levar avante Sua causa transfere o marido para alguém que nenhuma simpatia tem para com a verdade; que contas tal mordomo prestará quando o grande Mestre exigir o que é Seu com os juros? T1 528 2 Pais crentes têm, freqüentemente, transferido sua propriedade para filhos descrentes, tirando assim toda a possibilidade de darem a Deus o que Lhe pertence. Ao assim fazerem, eximem-se da responsabilidade que Deus sobre eles colocou e põem nas fileiras do inimigo meios que Deus lhes confiou para Lhe serem devolvidos e empregados em Sua causa quando deles o requerer. Não é plano de Deus que os pais que estão em condições de dirigir seus próprios negócios entreguem o controle de sua propriedade, mesmo a filhos que sejam da mesma fé. Raramente possuem eles a dedicação à causa de Deus que deveriam ter, e não têm passado pela escola da adversidade e da aflição, de modo a terem a mais elevada consideração pelo tesouro eterno e menos estima aos tesouros terrenos. Os meios colocados nas mãos de tais pessoas se tornam o maior dos males. É para eles uma tentação dedicar sua afeição ao que é terreno, confiar na propriedade, e achar que eles pouco mais necessitam além disso. Ao ficarem de posse dos meios que não adquiriram com seus próprios esforços, dificilmente os usam sabiamente. T1 529 1 O marido que transfere sua propriedade para a esposa, abre para ela uma larga porta de tentação, quer seja ela crente ou descrente. Se é crente, e de natureza mesquinha, inclinada ao egoísmo e a adquirir, a luta será muito maior para ela ao ter de manejar a mordomia do marido e a sua própria. Para poder ser salva, deve vencer todos esses maus traços que lhe são peculiares e imitar o caráter do seu divino Senhor, buscando a oportunidade de fazer bem aos outros e amando os outros como Cristo nos amou. Deve cultivar o precioso dom do amor que nosso Salvador possuía em tão grande escala. Sua vida era caracterizada por nobre e desinteressada benevolência. Toda ela não teve a mancha de um único ato egoísta. T1 529 2 Sejam quais forem os motivos do marido, pôs ele uma terrível pedra de tropeço no caminho da esposa, a lhe embaraçar a obra de vencer. E se a transferência for feita para os filhos, podem seguir-se os mesmos maus resultados. Deus lê seus motivos. Se ele for egoísta e tiver feito a transferência para encobrir sua cobiça e se justificar de fazer qualquer coisa para o avanço da causa, seguir-se-á certamente a maldição do Céu. Deus lê os propósitos e intenções do coração, e prova os motivos dos filhos dos homens. Pode ser que Seu assinalado e visível desagrado não se manifeste como no caso de Ananias e Safira, contudo, no fim, o castigo não será de modo algum mais leve do que o que lhes foi infligido. Procurando enganar os homens, estavam mentindo a Deus. "A alma que pecar, essa morrerá." Ezequiel 18:4. T1 530 1 Esses não suportarão o Juízo melhor do que o homem que recebeu um talento e o escondeu na terra. Quando chamado a prestar contas, acusou a Deus de injustiça: "Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu." Mateus 25:24. Disse Deus: "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez. ... Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 25:28, 30. Esse homem estava temeroso de que seu senhor fosse beneficiado com a melhoria de seu talento. T1 530 2 Vi que há muitos que envolveram seus talentos num lenço e os enterraram. Eles parecem pensar que cada centavo investido na causa de Deus está perdido, sem chance de recuperação. Para os que assim pensam, assim realmente acontece. Eles não receberão qualquer recompensa. Contribuem com relutância apenas porque se sentem obrigados a fazer algo. "Deus ama ao que dá com alegria." 2 Coríntios 9:7. Os que se gabam de poderem transferir sua responsabilidade sobre a esposa ou os filhos, estão sendo enganados pelo inimigo. A transferência de propriedade não lhes diminuirá a responsabilidade. Eles são responsáveis pelos meios que os Céus puseram sob os seus cuidados, e de modo algum se podem eximir de sua responsabilidade, enquanto delas não se desobrigarem por haverem devolvido a Deus o que Ele lhes confiou. T1 530 3 O amor do mundo separa de Deus. "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. É impossível alguém discernir a verdade enquanto o mundo possui suas afeições. O mundo se interpõe entre eles e Deus, obscurecendo a visão e amortecendo as sensibilidades de tal maneira que é impossível discernir as coisas sagradas. Deus lhes apela: "Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza." Tiago 4:8, 9. Aqueles que têm manchado suas mãos com a sujeira do mundo, devem purificar-se de sua imundícia. Aqueles que pensam poder servir ao mundo e ainda amar a Deus têm a mente dividida. Não podem servir "a Deus e a Mamom". Mateus 6:24. São homens de duplo ânimo, amando o mundo e perdendo todo o senso de suas obrigações para com Deus, e ainda professando ser seguidores de Cristo. Não são nem uma coisa nem outra. Perderão ambos os mundos, a menos que limpem as mãos e purifiquem o coração pela obediência aos puros princípios da verdade. "Aquele que diz que está nele também deve andar como ele andou." 1 João 2:6. "Nisto é perfeita a caridade para conosco, para que no dia do Juízo tenhamos confiança; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo." 1 João 4:17. "Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo." 2 Pedro 1:4. T1 531 1 A concupiscência do mundo está destruindo a verdadeira piedade. O amor ao mundo e às coisas que há no mundo está causando separação do Pai. A paixão pelo lucro mundano está aumentando entre os que professam estar aguardando o breve aparecimento de nosso Salvador. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida estão controlando até mesmo professos cristãos. Esses estão buscando as coisas do mundo com gananciosa cobiça, e muitos trocarão a vida eterna por lucro não santificado. ------------------------Capítulo 91 -- A devida observância do Sábado T1 531 2 Foi-me mostrado em 25 de Dezembro de 1865, que tem havido muita negligência com relação à observância do sábado. Não tem havido prontidão para cumprir os deveres seculares durante os seis dias de trabalho dados por Deus ao homem, nem cuidado de não infringir uma hora do santo e sagrado tempo que Ele reservou para Si mesmo. Não há ocupação humana que deva ser considerada de tanta importância que faça transgredir o quarto mandamento do Senhor. Há casos em que Cristo deu permissão de trabalhar mesmo no sábado para salvar a vida de homens e animais. Mas se violamos a letra do quarto mandamento para nosso próprio benefício, do ponto de vista de dinheiro, tornamo-nos transgressores do sábado, e culpados de transgressão de todos os mandamentos; pois se pecamos em um ponto, somos culpados de todos. Se a fim de salvar a propriedade quebramos o expresso mandamento do Senhor, onde está o ponto de parada? Onde estabeleceremos os limites? Transgridamos em uma pequena coisa, e consideremos isso como não sendo um pecado particular de nossa parte, e a consciência se torna endurecida, embotadas as sensibilidades, até que iremos ainda mais adiante, e faremos uma porção de serviço, e ainda nos lisonjearemos de ser observadores do sábado quando, segundo a norma de Cristo, estamos violando cada um dos santos preceitos de Deus. Há uma falta da parte dos observadores do sábado nesse sentido, mas Deus é muito exato, e todos os que julgam estar poupando um pouco de tempo, ou se beneficiando a si mesmos, por uma pequena infração do tempo do Senhor, cedo ou tarde terão prejuízo. Ele não os pode abençoar como seria Seu prazer fazê-lo, pois Seu nome é desonrado por eles, Seus preceitos considerados de pouca importância. A maldição de Deus repousará sobre eles, e perderão dez ou vinte vezes mais do que lucram. "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais ... vós, toda a nação." Malaquias 3:8, 9. T1 532 1 Deus deu ao homem seis dias em que trabalhar para si mesmo, mas reservou um dia em que Ele deve ser especialmente honrado. Deve ser glorificado, respeitada Sua autoridade. E todavia o homem rouba a Deus tirando um pouco do tempo que o Criador reservou para Si. Deus reservou o sétimo dia como um período de repouso para o homem, para o bem do homem, assim como para Sua própria glória. Ele viu que as necessidades do homem exigiam um dia de repouso da labuta e do cuidado, que sua saúde e vida seriam postas em perigo, sem um período de repouso do trabalho e da ansiedade dos seis dias. T1 533 1 O sábado foi feito para benefício do homem; e transgredir conscientemente o santo mandamento que proíbe o trabalho no sétimo dia é um crime à vista do Céu, o qual era sob a lei mosaica de tanta importância, que exigia a morte do ofensor. Isto, porém, não era tudo quanto o faltoso devia sofrer, pois Deus não levaria para o Céu um transgressor de Sua lei. Ele devia sofrer a segunda morte, a plena e última pena para o transgressor da lei de Deus. ------------------------Capítulo 92 -- Sentimentos políticos T1 533 2 Em Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865, foram-me mostradas muitas coisas relativas ao povo de Deus e sua obra para estes últimos dias. Vi que muitos professos observadores do sábado não alcançarão a vida eterna. Eles não conseguem extrair lições da conduta seguida pelos filhos de Israel e caem em alguns dos mesmos males. Se persistirem em seus pecados, arruinar-se-ão como os israelitas e nunca entrarão na Canaã celestial. "Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. T1 533 3 Vi que muitos cairiam deste lado do reino. Deus está testando e provando Seu povo, e muitos não suportarão o exame de caráter, a avaliação divina. Muitos terão de empreender uma rigorosa ação para vencer seus traços peculiares de caráter, e apresentar-se sem mancha ou ruga ou coisas tais, irrepreensíveis diante de Deus e dos homens. Muitos professos observadores do sábado não serão de especial benefício para a causa de Deus ou a igreja, sem uma completa reforma de sua parte. Muitos guardadores do sábado não são justos diante de Deus em seus pontos de vista políticos. Não estão em harmonia com a Palavra de Deus, ou em união com o corpo de crentes observadores do sábado. Suas perspectivas não estão de acordo com os princípios de nossa fé. Luz suficiente foi dada para corrigir a todos os que desejam ser corrigidos. Todos os que ainda mantêm sentimentos políticos que não estão em harmonia com o espírito da verdade, vivem na violação dos princípios do Céu. Enquanto assim permanecerem, não podem possuir o espírito de liberdade e santidade. T1 534 1 Seus princípios e posições em assuntos políticos são um tremendo impedimento a seu progresso espiritual. Esses lhes são uma constante armadilha e uma censura à fé. Os que conservam esses princípios serão levados justamente onde o inimigo terá prazer em aprisioná-los, onde serão por fim separados dos cristãos guardadores do sábado. Esses irmãos não podem receber a aprovação de Deus enquanto lhes faltar simpatia para com os oprimidos negros, e estiverem em discrepância com os puros princípios republicanos de nosso governo. Deus não nutre maior simpatia com a rebelião na Terra do que o fez com a revolta no Céu, quando o grande rebelde questionou os fundamentos do governo divino, e foi lançado fora com todos os que simpatizavam com ele em sua rebelião. ------------------------Capítulo 93 -- Avareza T1 534 2 Numa visão que me foi dada em Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865, foi-me revelado que a questão da cobrança de juros deve ser considerada pelos guardadores do sábado. Os ricos não têm o direito de cobrar juros de seus irmãos pobres, mas podem fazê-lo dos descrentes. "Quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. ... Não tomarás dele usura nem ganho; mas do teu Deus terás temor, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com usura, nem darás o teu manjar por interesse." Levítico 25:35-37. "A teu irmão não emprestarás à usura; nem à usura de dinheiro, nem à usura de comida, nem à usura de qualquer coisa que se empreste à usura. Ao estranho emprestarás à usura; porém a teu irmão não emprestarás à usura, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em tudo que puseres a tua mão, na terra, a qual passas a possuir." Deuteronômio 23:19, 20. T1 535 1 Deus fica descontente com os guardadores do sábado por seu espírito avarento. Seu desejo de obter lucro é tão grande que eles tiram vantagem dos pobres e desafortunados irmãos em sua aflição, para aumentar os seus já abundantes meios, enquanto esses pobres irmãos têm sofrido por carência desses mesmos recursos. "Sou eu guardador do meu irmão?" (Gênesis 4:9), é a linguagem de seu coração. T1 535 2 Poucos anos atrás alguns dos irmãos mais pobres estavam em perigo de perder-se por causa de errôneas impressões. Em toda parte Satanás os tentava a observar os ricos. Esses irmãos esperavam ser favorecidos, quando era seu dever depender das próprias forças. Houvessem sido beneficiados, seria a pior coisa que lhes poderia acontecer. Em meio às fileiras dos observadores do sábado Satanás buscava arruinar os de classe pobre com suas tentações. Alguns, a quem faltava discernimento e sabedoria, seguiram a própria conduta indispostos a tomar conselho ou a segui-lo. Esses tais tinham de sofrer como resultado de sua imprudência. Pretendiam ainda ser auxiliados por seus irmãos de posses. Essas coisas precisam ser corrigidas. Os pobres não compreendiam as responsabilidades que pesam sobre os ricos, nem a perplexidade e cuidados que enfrentam por causa de suas riquezas. Tudo o que podiam entender era que esses tinham recursos para ser usados, enquanto eles mesmos eram desprovidos dos mesmos. Os ricos observavam todos os pobres sob a mesma luz, quando há uma classe deles que estão fazendo o melhor que podem para glorificar a Deus, fazer o bem e viver a verdade. Essas pessoas têm dignidade sólida. Seu discernimento é bom, seu espírito precioso à vista de Deus e o volume de bem que praticam com seu modo despretensioso é dez vezes maior do que aquele feito pelos ricos, embora estes dêem grandes somas em algumas ocasiões. O rico falha em ver e compreender a necessidade de fazer o bem, de ser rico em boas obras, pronto para repartir, disposto a comunicar. ------------------------Capítulo 94 -- O engano das riquezas T1 536 1 Alguns dos que professam crer na verdade têm pouco discernimento e não podem apreciar a dignidade moral. Pessoas que se gabam de sua fidelidade à causa e falam como se soubessem de tudo, não são humildes de coração. Eles têm dinheiro e propriedades e isso é suficiente para lhes dar influência sobre alguns, mas não os ergue nem um jota no favor de Deus. O dinheiro tem poder e exerce poderosa influência. Excelência de caráter e valor moral são freqüentemente passados por alto, se possuídos por um homem pobre. Que interesse tem Deus pelo dinheiro e pela propriedade? O gado sobre milhares de montanhas é Seu. Salmos 50:10. O mundo e tudo que nele há são Seus. Os moradores da Terra "são para Ele como gafanhotos". Isaías 40:22. Homens e propriedades são semelhantes "ao pó miúdo das balanças". Isaías 40:l5. "Deus não faz acepção de pessoas." Atos dos Apóstolos 10:34. T1 536 2 Homens de posses olham muitas vezes para sua riqueza e dizem: "Por minha capacidade adquiri para mim essa riqueza." Mas quem lhes deu poder para adquirir riquezas? Deus concedeu-lhes a habilidade que possuem, mas em vez de dar-Lhe glória, eles a tomam para si mesmos. O Senhor os provará e experimentará e lançará sua glória ao pó. Ele suprimirá suas forças e espalhará seus bens. Em vez de bênção, eles lhes serão uma maldição. Um ato de injustiça ou opressão, um desvio do reto proceder, não seria mais tolerado num homem de posses do que naquele que nada possui. Todas as riquezas que o mais rico dos homens possa ter não é de valor suficiente para cobrir o menor pecado diante de Deus; elas não serão aceitas como resgate da transgressão. Unicamente arrependimento, verdadeira humildade, coração contrito e espírito abatido serão aceitos por Deus. Ninguém pode ter verdadeira humildade diante de Deus a menos que seja demonstrada diante de outros. Nada menos que arrependimento, confissão e abandono do pecado são aceitáveis a Deus. T1 537 1 Muitos ricos conseguiram sua fortuna através de negócios opressivos, obtendo vantagens sobre seus semelhantes mais pobres ou seus irmãos. Eles se vangloriam de sua perspicácia nas negociações. A maldição de Deus, porém, repousa sobre cada centavo assim obtido, bem como sobre seus lucros. Pude ver, quando essas coisas me foram mostradas, a força das palavras de nosso Salvador: "E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." Mateus 19:24. Aqueles que têm competência para adquirir riquezas precisam estar em constante vigilância, do contrário utilizarão essa habilidade para o mal e não manterão estrita honestidade. Assim muitos caem em tentação e astúcia, recebendo mais do que é justo por uma coisa, e sacrificando os princípios nobres, generosos e benevolentes de sua varonilidade por ganho sórdido. T1 537 2 Foi-me mostrado que muitos dos professos observadores do sábado amam tanto o mundo e as coisas que nele há, que se corromperam por seu espírito e influência; o divino desapareceu de seu caráter, e o satânico infiltrou-se, transformando-os para servir aos propósitos de Satanás e ser instrumentos de injustiça. Então, em contraste com esses homens, foram-me mostrados os pobres honestos e trabalhadores, que sempre estão prontos a ajudar a quem precisa; que preferem ser explorados por seus irmãos ricos, do que manifestar o espírito ganancioso que aqueles manifestam. Esses homens têm em alta estima uma consciência limpa e justa, mesmo nas pequenas coisas, e as valorizam mais do que as riquezas. Estão sempre tão prontos a ajudar as pessoas, sempre dispostos a fazer todo bem que estiver a seu alcance, que não acumulam riquezas. Suas posses terrenas não aumentam. Se há uma causa que exija recursos ou trabalho, são os primeiros a interessar-se em responder ao chamado, e freqüentemente vão além de sua capacidade real, negando-se a si mesmos algum bem necessário para realizar seus propósitos caritativos. T1 538 1 Como eles não podem orgulhar-se muito de tesouros terrenos, são olhados como deficientes em habilidade, discernimento e sabedoria. Podem não ser considerados como tendo valor especial, e sua influência pode não ser apreciada pelos homens. Mas como Deus vê esses sábios homens pobres? Como preciosos à Sua vista, e embora seus tesouros terrestres não se acumulem, estão ajuntando um incorruptível tesouro nos Céus. Por assim fazer, manifestam uma sabedoria muito superior à daqueles professos cristãos que se julgam sábios, previdentes e realizadores, assim como o divino é superior ao terreno, carnal e satânico. Deus considera o valor moral. Um caráter cristão não maculado pela avareza, calmo, manso e humilde é à Sua vista "mais precioso do que o ouro puro e mais raro do que o ouro fino de Ofir". Isaías 13:12. T1 538 2 Os ricos serão provados com mais rigor do que nunca. Se eles passarem pela prova e vencerem os defeitos de seu caráter, e como fiéis mordomos de Cristo devolverem ao Senhor as coisas que Lhe pertencem, ser-lhes-á dito: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21, 23. T1 538 3 Minha atenção foi chamada para a parábola do servo infiel. "E Eu vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?" Lucas 16:9-12. T1 539 1 Se os homens fracassarem em submeter a Deus aquilo que Ele lhes confiou para Sua glória e O roubarem, malograrão completamente. Ele lhes emprestou meios que devem empregar, não perdendo nenhuma oportunidade de fazer o bem, e entesourando constantemente nos Céus. Mas, se como o homem que tinha um só talento, o esconderem, temendo que Deus queira receber aquilo que o talento pode render, não apenas perderão o lucro com que finalmente seria beneficiado o fiel mordomo, como também o capital que Deus lhes deu para negociar. Porque roubaram a Deus, não depositaram um tesouro no Céu e perderam também o tesouro terrestre. Não têm habitação na Terra nem Amigo no Céu para recebê-los nas eternas moradas dos justos. T1 539 2 Cristo declara: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. Vocês também não podem servir a Deus e às riquezas. "E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas essas coisas e zombavam dEle." Lucas 16:14. Atentem para as palavras de Cristo a eles dirigidas: "Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, porque o que entre os homens é elevado [que são as riquezas adquiridas pela opressão, pelo engano, fraude, astúcia ou qualquer outra maneira desonesta] perante Deus é abominação." Lucas 16:15. Então Cristo apresenta dois indivíduos -- o homem rico que se "vestia... de púrpura e linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente" (Lucas 16:19), e Lázaro, que estava em terrível pobreza causando repugnância à vista, e mendigava as poucas migalhas que o rico desprezava. Nosso Salvador faz uma avaliação dos dois. Embora Lázaro estivesse em tão deplorável e miserável condição, possuía verdadeira fé, verdadeira dignidade moral, o que Deus considera de tão grande valor que colocou esse pobre e desprezado sofredor na mais elevada posição, enquanto que o honrado e rico amante da comodidade e dos tesouros terrenos foi lançado fora da presença de Deus e imerso em miséria e aflição indescritíveis. Deus não valorizou as riquezas desse homem porque ele não possuía verdadeira dignidade moral. Seu caráter era sem valor. Sua fortuna não o recomendava a Deus, nem exercia qualquer influência a seu favor. T1 540 1 Através dessa parábola Cristo desejava ensinar a Seus discípulos a não julgar ou avaliar os homens por suas riquezas ou pelas honras que recebem de outros. Assim agiam os fariseus que, conquanto possuíssem riquezas e honras mundanas, eram sem valor perante o Senhor. E mais do que isso: eram desprezados e rejeitados por Ele, lançados fora de Sua vista como desagradáveis porque não possuíam nenhuma integridade moral ou dignidade. Eram corruptos, pecaminosos e abomináveis à Sua vista. O pobre, desprezado por seus semelhantes mortais e odioso a seus olhos, era de mais valor perante o Senhor porque possuía integridade moral e dignidade, estando assim qualificado para ser introduzido na sociedade dos puros e santos anjos, e ser herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. T1 540 2 Na ordem de Paulo a Timóteo, ele o adverte sobre uma classe que não concorda com as sãs palavras e faz errônea avaliação das riquezas. Ele diz: "Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e desprovidos da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos tais. Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas." 1 Timóteo 6:3-12. "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas desfrutarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. T1 541 1 Em sua carta a Timóteo, Paulo queria impressionar-lhe a mente com a necessidade de passar tais instruções aos ricos, para livrá-los do engano que tão facilmente os acomete, e preveni-los quanto a pensar que são melhores que os pobres; que por causa da capacidade de acumular fortuna eles se considerem superiores em sabedoria e discernimento. Em resumo, que a piedade é lucro. Eis aí um terrível engano. Quão poucos ouvem a advertência que Paulo transmitiu a Timóteo para que esse passasse aos ricos. Quantos alardeiam que sua propensão para acumular riquezas é piedade. Paulo declara: "Mas é grande ganho a piedade com contentamento." 1 Timóteo 6:6. Embora os ricos possam dedicar toda a sua vida ao propósito de juntar riquezas, todavia, eles nada trouxeram ao mundo e nada levarão dele. Eles morrem e deixam o que lhes custou tanto trabalho obter. Eles arriscam tudo, até seus interesses eternos, para conseguir propriedades, e perderão ambos os mundos. T1 541 2 Paulo mostra os riscos que os homens correm para tornar-se ricos. Mas muitos estão determinados a ser ricos. Isto é seu propósito e em sua determinação as coisas eternas são marginalizadas. Foram cegados por Satanás e acreditam que seu desejo pelo ganho é visando a bons propósitos. Eles deformam a própria consciência, enganam a si mesmos e estão constantemente cobiçando as riquezas. Desviam-se da fé e atraem sobre si muitos males. Sacrificam os nobres e elevados princípios, trocando sua fé pelas riquezas. Se não se desapontarem com seus objetivos, ficarão frustrados com a felicidade que as supostas riquezas trariam. Estão embaraçados e sobrecarregados de cuidados. Fizeram-se escravos de sua própria avareza e levaram sua família à mesma escravidão. O lucro que obtiveram foi "muitas tristezas". "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos." 1 Timóteo 6:17. Os homens não devem acumular riquezas e delas não extrair nenhum bem, privando-se dos confortos da vida e tornando-se virtualmente escravos com o objetivo de aumentar e reter seu tesouro terreno. T1 542 1 O apóstolo Paulo mostra o único e legítimo uso das riquezas e diz a Timóteo para exortar os ricos a "que façam" o "bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro [referindo-se ao fim do tempo], para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:18, 19. Os ensinos de Paulo se harmonizam perfeitamente com as palavras de Cristo: "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." Lucas 16:9. "Mas é grande ganho a piedade com contentamento." 1 Timóteo 6:6. Eis aqui o verdadeiro segredo da felicidade e a prosperidade real da mente e do corpo. ------------------------Capítulo 95 -- Obediência à verdade T1 543 1 Caro irmão D: T1 543 2 Lembro-me de seu rosto entre muitos outros que me foram mostrados em visão na cidade de Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865. Vi que o irmão se pusera em segundo plano. Está convencido de que temos a verdade, mas ainda não experimentou sua santificadora influência. Não tem seguido de perto as pegadas de nosso Redentor, e portanto, não está preparado para andar como Ele andou. Enquanto você ouve as palavras da verdade, convence-se de que elas são corretas e não se contradizem. De pronto, porém, seu coração não santificado diz: "'Duro é este discurso; quem o pode ouvir?' João 6:60. Você faria melhor em desistir de seus esforços para acompanhar o povo de Deus, pois novas, estranhas e difíceis coisas estarão continuamente surgindo. Você terá de parar algum dia, e pode até parar agora mesmo. É melhor do que seguir adiante." T1 543 3 Você não pode concordar em professar a verdade e não vivê-la, pois sempre admirou uma vida condizente com a profissão de fé. Foi-me mostrado um livro no qual estavam escritos seu nome e os de muitos outros. Ao lado do seu nome havia um borrão negro. Você estava olhando para ele e dizendo: "Ele nunca será eliminado." Jesus levantou a mão ferida sobre ele e disse: "Somente Meu sangue pode apagá-lo. Se você quiser daqui para diante escolher o caminho da humilde obediência e confiar somente nos méritos do Meu sangue para cobrir suas transgressões passadas, 'Eu ... sou o que apaga as tuas transgressões ... e dos teus pecados Me não lembro.' Isaías 43:25. Mas se você escolher o caminho dos transgressores, deve ceifar a recompensa do transgressor. 'O salário do pecado é a morte.'" Romanos 6:23. T1 543 4 Vi anjos maus cercando o irmão e buscando desviar sua mente de Cristo, fazendo com que você olhasse para o Senhor como um Deus de justiça, e perdesse de vista o amor, a compaixão e a misericórdia do Salvador crucificado, que "pode salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus". Hebreus 7:25. Disse o anjo: "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. T1 544 1 Quando o irmão se acha sob a pressão de ansiedade mental; quando dá ouvidos às sugestões de Satanás, murmura e se queixa, um anjo ministrador é comissionado para levar-lhe o auxílio que necessita e envergonhar a linguagem de sua mente incrédula. Você desconfia do Senhor e de Seu poder para salvar perfeitamente. Desonra a Deus por essa cruel descrença e causa a si mesmo muito sofrimento desnecessário. Vi anjos celestes cercarem protetoramente o irmão. Eles afastavam os anjos maus, olhavam com piedade e tristeza para você e, apontando o Céu à coroa imortal, declaravam: "Aquele que quiser vencer precisa lutar." T1 544 2 Embora estivesse sob dúvidas e perplexidade, não se atreveu a romper inteiramente a conexão que havia entre você e o povo que guarda os mandamentos de Deus . Não renunciou, porém, a tudo por causa da verdade. Não rendeu o ser, nem a própria vontade. Você teme depor a si mesmo e tudo quanto tem sobre o altar de Deus, com receio de que seja exigida a devolução de alguma parte do que lhe foi concedido. Os anjos celestiais estão familiarizados com nossas palavras e ações e mesmo com os pensamentos e intenções do coração. Você, caro irmão, teme que a verdade lhe custe muito, mas isso é uma das sugestões de Satanás. Se ela exigisse tudo quanto você possui, ainda assim não custaria muito. O valor recebido, se corretamente estimado, é um eterno peso de glória. Quão pouco nos é requerido! Quão pequeno o sacrifício que fazemos em comparação com o que nosso divino Senhor fez por nós! E ainda o irmão manifesta espírito murmurador por causa do preço da vida eterna! Você, bem como outros de seus irmãos em _____, têm tido severos conflitos com o grande adversário do ser humano. Muitas vezes o irmão esteve próximo de ceder às lutas, mas a influência de sua esposa e filha mais velha prevaleceram. Esses membros de sua família obedeceriam à verdade de todo o coração, se pudessem contar com sua influência para sustê-los. T1 545 1 Suas filhas o olham como um exemplo, pois pensam que o pai deve estar correto. A salvação delas depende muito da conduta que você adotar. Se o irmão deixar de lutar pela vida eterna, exercerá uma poderosa influência para levar seus filhos consigo. Prostrará o espírito de sua fiel esposa, esmagará suas esperanças e reduzirá seu apego à vida. No Juízo, como poderá você enfrentar essas testemunhas levadas à ruína por sua infidelidade? T1 545 2 Vi que você cedeu muitas vezes às sugestões de Satanás para não mais se esforçar em viver a verdade, pois o tentador lhe dizia que você fracassaria em seus melhores esforços e que com todas as suas fraquezas e falhas era-lhe impossível manter uma vida consagrada. Foi-me mostrado que sua esposa e filha mais velha têm sido seus anjos bons, que se afligem por você e procuram animá-lo a resistir o quanto possível às poderosas sugestões de Satanás. E em seu amor por elas o irmão foi estimulado a tentar novamente fixar sua trêmula fé nas promessas de Deus. Satanás está esperando para arruiná-lo, para que possa alegrar-se com sua queda. Aqueles que estão pisoteando a lei de Deus estão sendo apoiados pelo irmão em sua rebelião. É impossível que você se torne forte até tomar uma decidida posição pela verdade. T1 545 3 A doação sistemática lhe parece desnecessária. Você passa por alto o fato de que ela se originou em Deus, cuja sabedoria é infalível. Esse plano foi ordenado para evitar confusões, eliminar a cobiça, avareza, egoísmo e idolatria. Esse sistema foi implantado para tornar a carga mais leve, embora pese devidamente sobre todos. A salvação do homem custou um altíssimo preço, a própria vida do Senhor da glória, que Ele espontaneamente deu para erguer o homem da degradação e torná-lo herdeiro do mundo. Deus ordenou que o homem ajude seu semelhante na grande obra da redenção. Aquele que se exime disso, que não está disposto a negar a si mesmo para que outros possam tornar-se participantes com ele das bênçãos celestes, mostra-se indigno da vida eterna e do tesouro celestial que custou tão imenso sacrifício. Deus não quer senão oferta voluntária; não quer sacrifícios compulsórios. Aqueles que estão inteiramente convertidos e que apreciam a obra de Deus, darão alegremente o pouco que lhes é requerido, considerando-se privilegiados em ofertar. T1 546 1 Disse o anjo: "Que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma." 1 Pedro 2:11. Você tem vacilado na reforma de saúde. Parece-lhe ser ela um apêndice desnecessário à verdade. Não é assim; ela é uma parte da verdade. Eis diante de você uma obra que se lhe tornará cada vez mais chegada e será mais difícil do que qualquer coisa que se lhe tenha imposto até agora. Enquanto você hesita e resiste, deixando de apoderar-se da bênção que é seu privilégio receber, você sofre perda. Você está tropeçando na bênção que o Céu lhe concedeu para tornar seu progresso menos difícil. Satanás apresenta-lhe a questão sob a mais objetável luz, para que você combata aquilo que lhe seria de grande benefício à saúde física e espiritual. De todos os homens, você é um dos que seriam mais beneficiados pela reforma de saúde. A verdade sobre cada ponto da reforma será de grande benefício quando recebida em cada um de seus pontos. Você é um homem a quem um regime alimentar simples traria grandes vantagens. O irmão esteve em perigo de ser acometido repentinamente por uma paralisia, onde teria metade de seu corpo inutilizado. A negação do apetite é sua salvação, contudo, você a vê como uma grande privação. T1 546 2 A razão por que a juventude de nossos dias não é mais inclinada à religião prende-se à sua educação deficiente. Não é verdadeiro amor aos filhos aquele que lhes permite ser condescendentes com as paixões, ou desobedientes às regras paternas sem ser punidos. "Para onde se dirigem os galhos, a árvore se inclina." A mãe sempre deveria ter a cooperação do pai em seus esforços para lançar o fundamento de um bom caráter cristão nos filhos. Um pai amoroso não fechará os olhos para as faltas dos filhos, por não ser agradável aplicar correção. Vocês dois precisam despertar e com firmeza, não de maneira áspera, mas com propósito determinado, fazer com que seus filhos saibam que têm o dever de obedecer aos pais. T1 547 1 O pai não deve ser como criança, movido meramente por impulso. Ele está ligado à sua família por laços sagrados. Cada membro da família se centraliza no pai. O significado de seu título -- marido [em inglês husband, do original house-band ou vínculo da casa] é a verdadeira definição de marido. Ele é o legislador, ilustrando por seu exemplo as virtudes austeras, energia, integridade, honestidade e utilidade prática. O pai é em certo sentido o sacerdote do lar, oferecendo sobre o altar de Deus os sacrifícios matutinos e vespertinos, enquanto que a esposa e os filhos se unem a ele em oração e louvor. Nesse lar Jesus se demorará e através de Sua estimulante influência despertará jubilosas exclamações dos pais, as quais serão ouvidas em meio às mais exaltadas cenas, dizendo: "Eis-me aqui, com os filhos que me deu o Senhor." Isaías 8:18. Salvos, salvos, eternamente salvos! Livres da corrupção que há no mundo pela concupiscência, e mediante os méritos de Cristo tornados herdeiros da imortalidade. Vi que poucos pais compreendem sua responsabilidade. Eles não aprenderam a controlar-se. Até que essa lição seja aprendida, farão eles um trabalho deficiente no governo dos filhos. Perfeito autocontrole cativará a família. Quando isso é conseguido, grande vitória é alcançada. Então podem ensinar aos filhos o domínio próprio. T1 547 2 Meu coração anseia pela igreja de _____, pois ali há uma obra a ser feita. É desígnio divino ter um povo naquele lugar. Há ali condições para formar-se uma boa igreja. Há, porém, uma extensa obra a ser feita para remover as rústicas arestas e preparar o povo para trabalhar ordenadamente, a fim de que todos possam atuar em união e puxem do mesmo lado da corda. Até agora a situação tem sido esta: quando um ou dois sentem a necessidade de erguer-se e permanecer unidos e firmes na elevada plataforma da verdade, outros nada fazem para acompanhar. Satanás desperta neles um espírito de rebeldia para desestimular aqueles que querem avançar. Eles recuam quando constrangidos a assumir a obra. Um espírito de resistência é manifestado por alguns, e quando deveriam ajudar se erguem em oposição. Alguns não se submeterão à plaina de Deus. Quando ela passa sobre eles e a superfície irregular é alterada, eles se queixam desse trabalho severo e estrito. Querem fugir da oficina de Deus para que seus defeitos permaneçam imperturbados. Parecem estar dormindo, inconscientes de sua condição. Sua única esperança, porém, é estar onde suas deficiências de caráter podem ser detectadas e corrigidas. T1 548 1 Alguns condescendem com um apetite lascivo que combate "contra a alma" (1 Pedro 2:11) e é um constante empecilho a seu progresso espiritual. Sua consciência constantemente os acusa e se verdades diretas são pronunciadas, sentem-se ofendidos. Condenam a si mesmos e acham que os assuntos abordados foram propositadamente escolhidos para tocar em seu caso. Sentem-se ofendidos e prejudicados, e retiram-se das assembléias dos santos. Desistem de reunir-se para que sua consciência não seja perturbada. Logo perdem o interesse pelas reuniões e seu amor pela verdade. A menos que sejam inteiramente transformados, recuarão e tomarão posição ao lado da forças rebeldes que estão arregimentadas sob a bandeira preta de Satanás. Se crucificarem as "concupiscências carnais que combatem contra a alma" (1 Pedro 2:11), estarão fora do caminho onde as flechas da verdade passarão sem feri-los. Mas enquanto condescenderem com apetites lascivos e acariciarem seus ídolos, serão alvo das setas da verdade. Quando a verdade é proferida, acaba por feri-los. Alguns pensam que não podem reformar-se, que a saúde seria sacrificada se abandonassem o chá, o fumo e alimentos cárneos. Isso é sugestão de Satanás. São esses nocivos estimulantes que estão certamente destruindo o organismo e preparando-o para doenças agudas, debilitando o delicado mecanismo da Natureza e abalando suas fortificações erigidas contra as enfermidades e decadência prematura. T1 549 1 Os que promovem uma mudança e abandonam esses estimulantes artificiais, sentirão sua abstinência e por algum tempo sofrerão consideravelmente sem eles, assim como o bêbado que fica desprovido de sua bebida. Tirem-lhe o álcool e ele sofrerá terrivelmente. Mas se persistir, logo vencerá a desagradável falta. A Natureza virá em seu socorro e com ele permanecerá até que as falsas colunas sejam substituídas. Alguns têm entorpecido tanto as finas sensibilidades da Natureza, que pode requerer algum tempo para ela se recuperar do abuso a que foi submetida por meio dos pecaminosos hábitos do homem, pela condescendência com o apetite depravado, o qual deprimiu e enfraqueceu suas forças. Dê-se à Natureza uma oportunidade e ela se recobrará e novamente desempenhará sua parte nobremente. O uso de estimulantes artificiais é nocivo à saúde e tem ação entorpecedora sobre a mente, tornando-a incapaz de apreciar as coisas eternas. Aqueles que adoram esses ídolos não podem valorizar corretamente a salvação que Cristo efetuou por eles através de uma vida de abnegação, contínuo sofrimento e vergonha, para finalmente render Sua imaculada vida a fim de salvar da morte o homem moribundo. ------------------------Capítulo 96 -- Seguro de vida T1 549 2 Foi-me mostrado que os adventistas observadores do sábado não devem meter-se em seguros de vida. Isto é um comércio com o mundo, que o Senhor não aprova. Os que se empenham nisso se estão unindo ao mundo, ao passo que Deus chama Seu povo a sair dentre eles, e a ser separado. Disse o anjo: "Cristo os comprou pelo sacrifício de Sua vida. Quê! 'não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus'. 1 Coríntios 6:19, 20. 'Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória.'" Colossences 3:3, 4. Eis o único seguro de vida sancionado pelo Céu. T1 550 1 O seguro de vida é um método mundano que leva nossos irmãos a nele se meterem a fim de se apartarem da simplicidade e pureza do evangelho. Todo afastamento assim enfraquecerá nossa fé e diminuirá nossa espiritualidade. Disse o anjo: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. Como um povo, somos do Senhor em sentido especial. Cristo nos comprou. Anjos magníficos em poder nos rodeiam. Nem um passarinho cai ao solo sem o conhecimento de nosso Pai celestial. Mesmo os cabelos de nossa cabeça estão contados. Deus tomou providências em favor de Seu povo. Tem por eles especial cuidado, e eles não devem desconfiar de Sua providência, metendo-se em um plano juntamente com o mundo. T1 550 2 É desígnio de Deus que conservemos em singeleza e santidade nosso caráter peculiar, como um povo. Os que se ligam a esse método mundano, depositam meios que pertencem a Deus, que Ele lhes confiou para que empreguem em Sua causa, para promover a divulgação de Sua obra. Poucos, porém, obterão quaisquer lucros do seguro de vida, e sem a bênção de Deus mesmo esses se demonstrarão prejuízo em vez de benefício. Aqueles a quem Deus fez mordomos Seus, não têm direito de colocar nas fileiras do inimigo os recursos que Ele lhes confiou para usar em sua causa. T1 550 3 Satanás está constantemente apresentando engodos ao povo escolhido de Deus, a fim de desviar-lhes o espírito da solene obra de preparo para as cenas futuras, precisamente diante de nós. Ele é, em todo o sentido da palavra, um enganador, um hábil encantador. Reveste seus planos e ardis de coberturas de luz tomadas emprestadas do Céu. Tentou Eva a comer do fruto proibido, fazendo-a crer que isto seria para ela grandemente vantajoso. Satanás leva seus agentes a introduzirem várias invenções e patentes, e outros empreendimentos, para que os adventistas guardadores do sábado que estão ansiosos de enriquecer, caiam em tentação, fiquem enredados, e se traspassem a si mesmos com muitas dores. Ele está inteiramente alerta, atarefadamente empenhado em levar o mundo cativo e, mediante a ação dos mundanos, mantém continuamente alguma aprazível armadilha para atrair os descuidados que professam crer na verdade, a se unirem com os mundanos. A concupiscência dos olhos, o desejo de excitação e de agradáveis entretenimentos, é uma tentação e laço para o povo de Deus. Satanás tem muitas redes finamente tecidas, perigosas, com aparência de inocentes, mas com as quais se prepara habilmente para absorver o povo de Deus. Há aprazíveis espetáculos, diversões, palestras sobre frenologia, e uma infindável variedade de empreendimentos que surgem de contínuo, e são calculados a levar o povo de Deus a amar "o mundo" e as coisas "que nele há". 1 João 2:15. Mediante esta união com o mundo, a fé se enfraquece, e os meios que deviam ser empregados na causa da verdade presente, são transferidos para as fileiras do inimigo. Por meio desses diferentes veículos, está Satanás drenando habilmente a bolsa do povo de Deus, e assim pesa sobre eles o desagrado do Senhor. ------------------------Capítulo 97 -- Fazendo circular as publicações T1 551 1 Foi-me mostrado que não estávamos cumprindo nosso dever quanto à distribuição gratuita de pequenas publicações. Existem muitas pessoas sinceras que poderiam ser levadas a abraçar a verdade unicamente por esse meio. Deve haver em cada exemplar desses pequenos folhetos uma propaganda de nossas publicações e o lugar onde podem ser adquiridas. A mesma medida deveria ser tomada nas edições de maior porte, na Review, no Instructor e Reformer (Revista Adventista, no Instrutor e Reformador). T1 552 1 Estes pequenos folhetos, de quatro, oito ou dezesseis páginas, podem ser fornecidos por uma bagatela, mediante um fundo feito pelas ofertas daqueles que têm verdadeiro interesse pela causa. Quando vocês escrevem a um amigo, podem incluir um ou mais deles, sem aumento de porte. Ao encontrarem nos trens, no navio, ou na estação, pessoas que pareçam dispostas a ouvir, passem-lhes um folheto. Esses folhetos não deveriam ser distribuídos indiscriminadamente como folhas de outono, mas entregues àqueles que provavelmente os apreciariam. Assim nossas obras e a Sociedade de Publicações serão divulgadas de uma maneira que resultará em grande bem. ------------------------Capítulo 98 -- O reformador da saúde T1 552 2 O povo está perecendo por falta de conhecimento. Diz o apóstolo: "Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude, a ciência." 2 Pedro 1:5. Após receber a fé evangélica, nossa primeira tarefa é buscar acrescentar virtuosos e puros princípios, e assim purificar a mente e o coração preparando-os para a recepção do verdadeiro conhecimento. Doenças de quase todos os tipos estão acometendo o povo, todavia, eles parecem dispostos a permanecer na ignorância dos meios de cura e dos caminhos a seguir para prevenir enfermidades. T1 552 3 Com o estabelecimento do Instituto de Saúde, foi desígnio de Deus não apenas divulgar o conhecimento para os poucos que o visitassem, mas que muitos fossem instruídos a fazer tratamentos nos próprios lares. O Reformador da Saúde é o meio através do qual raios de luz devem brilhar sobre o povo. Ele deve ser a melhor publicação sobre saúde de nosso país. Precisa ser adaptado às necessidades do povo comum, pronto para responder a questões próprias, explicar plenamente os princípios elementares das leis da vida e ensinar como obedecer-lhes e preservar a saúde. O grande objetivo a ter-se em vista com a publicação desse periódico é sua utilidade para o sofredor povo de Deus. O povo comum, especialmente os muito pobres para ser atendidos pelo Instituto, devem ser alcançados e instruídos pelo Reformador da Saúde. ------------------------Capítulo 99 -- O instituto de saúde T1 553 1 Numa visão a mim dada em 25 de Dezembro de 1865, notei que a reforma de saúde é um grande empreendimento, intimamente ligado à verdade presente, e que os adventistas do sétimo dia deveriam ter um estabelecimento para doentes, onde pudessem ser tratados de suas doenças e também aprender a cuidar de si mesmos e prevenir doenças. Vi que nosso povo não deve ficar indiferente a esse assunto e deixar que os ricos entre nós vão às populares instituições hidroterápicas para recuperar a saúde, e onde poderiam encontrar oposição, em vez de simpatia para com seus pontos de vista religiosos. Os que estão enfraquecidos por causa da doença, sofrem não apenas por necessidade de força física, mas também de energia mental e moral. E os conscienciosos observadores do sábado, não podem receber tanto benefício onde sentem que precisam estar constantemente em guarda para não comprometer a fé e desonrar sua religião. Isso não aconteceria numa instituição onde os médicos e dirigentes estão em consonância com as verdades ligadas à terceira mensagem angélica. T1 553 2 Quando as pessoas que têm suportado intenso sofrimento são aliviadas por um método inteligente de tratamento, consistindo em banhos, dieta saudável, apropriados períodos de descanso e exercício, e os benéficos efeitos do ar puro, são levados a concluir que aqueles que os tratam com tanto sucesso são corretos em assuntos religiosos, ou, pelo menos, não podem estar longe da verdade. Assim, se nosso povo for deixado a procurar aquelas instituições cujos médicos são corrompidos em termos de fé religiosa, estão em perigo de ser enredados. Vi (em 1865) que a instituição em _____ , era a melhor dos Estados Unidos. No que se refere ao tratamento de doentes, eles têm feito uma grande e boa obra, mas fazem com que seus pacientes dancem e joguem cartas; recomendam freqüência ao teatro e a lugares de diversão mundana, que estão em direta oposição aos ensinos de Cristo e dos apóstolos. T1 554 1 Os que trabalham no Instituto de Saúde, agora situado em Battle Creek, devem conscientizar-se de que fazem parte de uma importante e solene obra, e de modo algum devem seguir a conduta dos médicos da instituição de _____, em matéria de assuntos religiosos e recreação. Contudo, vi que haveria perigo de imitá-los em muitas coisas e perder de vista o exaltado caráter desta grande obra. Aqueles que estão ligados a esse grande empreendimento não devem cessar de olhar seu trabalho a partir da elevada perspectiva religiosa e rebaixar os exaltados princípios da verdade presente para imitar em teoria e prática aquelas instituições onde os doentes são tratados apenas visando a recuperação da saúde. A especial bênção de Deus não será concedida à nossa instituição, mais do que o seria sobre aquelas em que corruptas teorias são ensinadas e praticadas. T1 554 2 Vi que uma grande e extensa obra não poderia ser realizada a curto prazo, como se fosse coisa fácil encontrar médicos a quem Deus possa aprovar, e que trabalhem harmoniosa, desinteressada e zelosamente em favor da humanidade sofredora. Deve sempre ser mantido em destaque que o grande objetivo a ser alcançado por esse meio não é apenas a saúde, mas perfeição e santidade, as quais não podem ser conseguidas com corpo e mente doentes. E essa meta não será atingida com base em uma filosofia mundana. Deus suscitará homens e os capacitará a empenharem-se na obra, não apenas como médicos do corpo, mas da mente enferma pelo pecado, como pais espirituais para os jovens e inexperientes. T1 554 3 Foi-me mostrado que a posição do Dr. E com respeito ao entretenimento estava equivocada, e que seus pontos de vista sobre exercícios físicos também não eram corretos. O entretenimento que ele recomenda impede a recuperação da saúde em muitos casos, muito mais do que traz benefícios. Ele tem proibido decididamente o trabalho físico para os doentes, e seus ensinos se têm provado um grande prejuízo para eles. Exercícios mentais como jogar cartas, xadrez e damas, agitam, fatigam a mente e impedem a recuperação, enquanto que a luz solar e um agradável trabalho físico ocupar-lhes-ia o tempo, melhoraria a circulação, aliviaria e restauraria a mente e traria comprovados benefícios à saúde. Mas, retirar do inválido esse trabalho, e torná-lo inquieto, sujeito a uma imaginação doentia, levá-lo-á a ver seu caso como muito pior do que realmente é, propendendo-o à imbecilidade. T1 555 1 De tempos em tempos, e durante anos, tem-me sido mostrado que o doente deveria ser ensinado que é errado suspender todo trabalho físico para recuperar a saúde. Desse jeito, ele se torna inativo, o sangue circula lentamente e se torna cada vez mais impuro. Quando o paciente está sob risco de imaginar seu caso pior do que ele em verdade é, a indolência produzirá os mais desastrosos resultados. Trabalho bem dosado dá ao inválido a idéia de que ele não está totalmente incapacitado e que é, afinal, de alguma utilidade. Isso lhe dará satisfação, coragem e vigor, que nenhuma fútil diversão mental pode conceder. T1 555 2 A idéia de que aqueles que abusaram de suas forças físicas e mentais, ou que arruinaram mente e corpo, devem suspender todas as atividades para reaver a saúde, é um grande erro. Em muito poucos casos o repouso absoluto por um curto período pode ser necessário, mas eles são bem raros. Na maioria dos casos a mudança seria muito grande. Aqueles que abalaram sua saúde por intenso trabalho mental, deveriam repousar a mente. Mas dizer-lhes que é errado e mesmo perigoso exercitar as faculdades mentais até certo grau, levá-los-ia a considerar seu caso como pior do que é. Eles se tornam ainda mais nervosos e um grande problema e importunação para aqueles que deles cuidam. Em seu estado mental a recuperação se torna muito duvidosa. T1 556 1 Aqueles que se têm debilitado por esforço físico devem ter menos trabalho, e que esse seja leve e agradável. Privá-los, porém, de todo trabalho e exercício seria nocivo. A vontade acompanha o trabalho manual, e os que estão acostumados a trabalhar sentiriam que foram como máquinas acionadas pelos médicos e enfermeiros, e a imaginação se tornaria doentia. A inatividade é a maior maldição que lhes poderia sobrevir. Suas energias se tornam tão entorpecidas que lhes seria impossível resistir à doença e à debilidade e recobrar a saúde. T1 556 2 O Dr. E tem cometido um grande erro com respeito a exercícios e entretenimento, e outro ainda maior com relação à experiência e agitação religiosas. A religião da Bíblia não é prejudicial à saúde do corpo nem da mente. A elevadora influência do Espírito de Deus é o melhor remédio para o doente. O Céu é todo saúde e quanto mais as influências celestiais são sentidas, mais segura a restauração do crente enfermo. Os pontos de vista do Dr. E, tidos como avançados, têm-nos atingido em certo grau, como um povo. A saúde dos reformadores que guardam o sábado precisa estar livre de todos esses equívocos. A verdadeira e real reforma nos aproximará de Deus e do Céu, nos levará mais próximos de Cristo e aumentará nosso conhecimento das coisas espirituais, aprofundando-nos na santidade da experiência cristã. T1 556 3 É verdade que há mentes desequilibradas que se impõem jejuns que as Escrituras não ensinam, e orações e privação de repouso e sono que Deus nunca exigiu. Eles não são prosperados e apoiados em seus atos voluntários de justiça. Possuem uma religião que não procede de Cristo, mas é farisaica e criada por si mesmos. Confiam em suas boas obras para a salvação, esperando vãmente alcançar o Céu por suas obras meritórias, em lugar de apoiar-se, como todo pecador deve fazer, nos méritos de um Salvador crucificado, ressurreto e exaltado. É praticamente certo que se tornem doentes. Mas Cristo e a verdadeira piedade são saúde para o corpo e força para a mente. T1 557 1 Façam os doentes alguma coisa, em vez de ocupar a mente com alguma simples brincadeira, que os rebaixa em sua estima própria, levando-os a pensar que sua vida seja inútil. Conservem alerta a força da vontade, pois a vontade despertada e devidamente dirigida é poderoso calmante dos nervos. Os doentes são muito mais felizes se trabalharem, e sua restauração se efetua com mais facilidade. T1 557 2 Vi que a maior maldição sobrevinda a meu esposo e à irmã S, foi as instruções que receberam em _____, para que ficassem inativos a fim de recuperar-se. A imaginação de ambos foi afetada e sua falta de ação resultou em pensamentos e sentimentos de que seria perigoso à saúde e à vida exercitar-se, especialmente se lhes trouxesse fadiga. A maquinaria viva, tão raramente posta em movimento, perdeu sua elasticidade e força, de forma que quando se exercitava, as juntas se tornavam rígidas e os músculos debilitados. Cada movimento requeria grande esforço e produzia dor. Não obstante, esse cansaço lhes teria sido uma bênção se houvessem, a despeito dos sentimentos e dos desagradáveis sintomas, perseverado em resistir à inclinação de manter-se inativos. T1 557 3 Vi que seria muito melhor para a irmã F ficar com sua família, e assumir responsabilidades que lhe cabem. Assim despertaria suas dormentes energias. Foi-me mostrado que a fragmentação dessa querida família em _____ foi desfavorável à educação e treinamento dos filhos. Para o próprio bem, essas crianças deveriam ser ensinadas a assumir responsabilidades no trabalho caseiro e sentir que algumas obrigações recaem sobre elas. A mãe, empenhada na educação e preparo dos filhos, ocupa-se justamente da obra que lhe foi designada pelo Senhor, e por cuja causa Ele ouve misericordiosamente as orações feitas em favor de seu restabelecimento. Conquanto deva evitar trabalho cansativo, precisa acima de tudo esquivar-se de uma vida de inatividade. T1 558 1 Quando a visão me foi dada em Rochester, Nova Iorque, observei que seria muito melhor para esses pais e filhos organizar a família por si mesmos. Os filhos deveriam cumprir sua parte no trabalho da família, obtendo assim uma valiosa educação que não seria alcançada de outra maneira. A vida em _____ ou em qualquer outro lugar, cercada por copeiros e ajudantes, é o maior prejuízo a mães e filhos. Jesus convida a irmã F a achar descanso nEle, e deixar que sua mente receba um saudável tono ao demorar-se nas coisas celestiais, buscando diligentemente criar seu pequeno rebanho no cuidado e admoestação do Senhor. Deste modo pode auxiliar melhor o marido, aliviando-o da sensação de que ela precisa ser o objeto de tanta atenção, cuidado e simpatia. T1 558 2 Quanto às acomodações do Instituto de Saúde de Battle Creek, foi-me mostrado, como antes já declarara, que deveríamos ter uma instituição que fosse pequena de início, sendo criteriosamente aumentada quando bons médicos e auxiliares pudessem ser chamados, os meios angariados, e as necessidades dos doentes atendidas. Tudo deveria ser administrado em estrita harmonia com os princípios do espírito singelo da terceira mensagem angélica. Quando vi os cálculos precipitados feitos por aqueles que tinham a direção da obra, fiquei alarmada e, em muitas conversas particulares e cartas, aconselhei que esses irmãos agissem com cautela. A razão que apresentei foi que sem a especial bênção de Deus, há muitas maneiras de impedir esse empreendimento, pelo menos por um tempo, cada uma delas trazendo prejuízo à instituição e danos à causa do Senhor. Se os médicos não puderem, por doença, morte ou qualquer outro impedimento, preencher seus lugares, o trabalho sofrerá demora até que outros os substituam. Ou se faltarem recursos quando os grandes edifícios estiverem em construção e a obra parar, o capital seria perdido e o desânimo geral se abateria sobre todos. Poderia ainda ocorrer falta de pacientes para ocupar as atuais acomodações e conseqüente falta de meios para enfrentar as despesas. Com os esforços de cada departamento, exercidos de maneira correta e cuidadosa mais a bênção de Deus, a instituição se provará um grande sucesso, enquanto que um único fracasso em qualquer rumo, cedo ou tarde provocaria grande prejuízo. Não deveria ser esquecido que das muitas instituições de saúde fundadas nos Estados Unidos nos últimos vinte e cinco anos, poucas ainda se mantêm atualmente em visível funcionamento. T1 559 1 Tenho apelado publicamente a nossos irmãos em favor de uma instituição a ser estabelecida entre nós, e conversado nos mais elevados termos com o Dr. E, como o homem que obteve, mercê da providência divina, uma experiência para desempenhar sua parte como médico. Tudo isso eu disse com a autorização que Deus me concedeu. Se necessário, repetirei tudo sem hesitar. Não tenho qualquer desejo de suprimir uma sentença que tenha escrito ou dito. A obra é de Deus e deve prosseguir firmemente, todavia, de modo cauteloso. T1 559 2 A reforma de saúde está intimamente ligada à obra da mensagem do terceiro anjo, mas não é a mensagem em si. Nossos pregadores deveriam ensinar a reforma de saúde, entretanto, sem fazer dela o tema principal na ordem das mensagens. Seu lugar está posto entre os assuntos que apresentam a obra preparatória para enfrentar os eventos mostrados pela mensagem, entre os quais ela é proeminente. Deveríamos assumir cada reforma com entusiasmo, mas evitando dar a impressão de que somos vacilantes e fanáticos. Nosso povo deveria prover os meios para atender às necessidades do Instituto de Saúde, o qual está em franco crescimento, tanto quanto seja capaz, sem dar menos para atender às outras necessidades da causa. Que a reforma de saúde e o Instituto progridam assim como sucedeu com outros empreendimentos dignos, levando em conta nossa débil força no passado e nossa grande capacidade de fazer muito num curto período de tempo. Que o Instituto de Saúde cresça, a exemplo do que aconteceu com outros empreendimentos entre nós, com a rapidez e segurança possíveis, sem afetar outros ramos da grande obra que são de igual ou maior importância para este tempo. Seria errado um irmão dispor de grande parte de seu patrimônio para aplicar no Instituto, quer seja muito ou pouco, e não poder contribuir com outros setores da obra. Também não fazer nada seria outro erro grave. Com tantos apelos comoventes feitos ao nosso povo para direcionar meios ao Instituto, dever-se-ia tomar cuidado para não subtrair recursos de outros ramos da obra. Especialmente deveriam os pobres mas liberais ter sido avisados. Alguns pobres com família, sem casa própria, e sem condições de tratar-se no Instituto, investiram entre um quinto e um terço de todos os seus recursos no Instituto. Isso está errado. Alguns irmãos e irmãs têm vários títulos, quando não deveriam ter sequer um, e por um curto período, freqüentar o Instituto com as despesas pagas totalmente ou em parte, sacadas dos fundos de assistência social. Não vejo sabedoria em fazer grandes projeções para o futuro e deixar sofrer aqueles que necessitam agora de auxílio. Irmãos, não vão mais depressa do que a clara providência de Deus abrir o caminho. T1 560 1 A reforma de saúde é um ramo da especial obra de Deus em benefício de Seu povo. Vi que em uma instituição nossa, o maior perigo seria o de seus dirigentes se afastarem do espírito da verdade presente e da simplicidade que sempre deve caracterizar os discípulos de Cristo. Foi-me dada uma advertência contra o rebaixamento do padrão da verdade em tal instituição, a fim de obter o favor dos descrentes, e assim assegurar seu patrocínio. O grande objetivo de receber descrentes na instituição é levá-los a aceitar a verdade. Se o padrão for baixado, eles terão a impressão de que a verdade é de pouca importância, e assumirão uma postura muito mais resistente do que antes. T1 560 2 O pior mal resultante de tal atitude é sua influência sobre os pacientes crentes, pobres e aflitos, que afetaria a causa em geral. Esses irmãos foram ensinados a confiar na oração da fé, e o espírito de muitos se abate porque sua oração não é agora plenamente respondida. Vi que o motivo por que Deus não ouvia mais plenamente as orações de Seus servos pelos doentes entre nós, era que Ele não podia ser glorificado nisto enquanto eles estivessem violando as leis da saúde. E vi também ser Seu desígnio que a reforma de saúde e o Instituto de Saúde preparem o caminho para que a oração da fé possa ser plenamente atendida. A fé e as boas obras devem andar de mãos dadas no aliviar os aflitos que há entre nós, e em prepará-los para glorificar a Deus aqui e serem salvos na vinda de Cristo. Não permita Deus que esses sofredores fiquem decepcionados e ofendidos por verificarem que os dirigentes do Instituto trabalham apenas segundo o ponto de vista mundano, em vez de aliarem à prática da reforma de saúde, ao tratá-los, as virtudes e bênçãos de pais e mães em Israel. T1 561 1 Ninguém tenha a idéia de que o Instituto é um lugar a que se deva ir para ser restabelecido pela oração da fé. Ali é um lugar em que se deve ser aliviado das doenças mediante tratamento e corretos hábitos de vida, e aprender a evitar as enfermidades. Mas se há debaixo do céu um lugar em que, mais que em outros, sejam feitas por homens e mulheres devotos e de fé, orações de molde a acalmar, repletas de espírito compassivo, esse lugar deve ser um instituto dessa natureza. Os que tratam os doentes devem agir em sua importante obra, com forte confiança em Deus de que Suas bênçãos acompanhem os meios por Ele graciosamente providos, e para os quais em misericórdia nos chamou a atenção como um povo, isto é, o ar puro, o asseio, o saudável regime alimentar, os devidos períodos de trabalho e de repouso, e o emprego da água. Eles não deveriam ter qualquer interesse fora deste importante e solene trabalho. Cuidar adequadamente dos interesses físicos e espirituais do aflito povo de Deus, que tem posto quase que ilimitada confiança neles, e com grande custo para si mesmos submetem-se aos seus cuidados, requererá atenção total. Ninguém possui tanta capacidade ou habilidades que seja capaz de evitar que a obra seja imperfeita, mesmo após ter feito seu melhor. T1 562 1 Aqueles a quem foi comissionado cuidar dos interesses físicos, e em grande parte também dos interesses espirituais do aflito povo de Deus, devem tomar cuidado para que de nenhuma forma se insinuem políticas mundanas, interesses pessoais ou desejo de envolver-se numa obra ampla e popular, atraindo sobre si mesmos e sobre esse ramo da obra, o desagrado de Deus. Eles não devem depender exclusivamente de suas capacidades. Se a bênção, em vez do desprazer de Deus, repousar sobre a instituição, anjos assistirão os pacientes, auxiliares e médicos na obra de restauração, para que no final a glória seja dada a Deus e não a fracos mortais de curta visão. Esses homens podem adotar uma conduta secular e, envaidecendo-se-lhes o coração, dizer: "O meu poder e a força de minhas mãos fizeram isso." Deus permitirá que trabalhem sob grandes desvantagens em relação a outras instituições, em conhecimento, experiência e facilidades. Não poderão sequer realizar metade do que fazem as outras instituições. T1 562 2 Vi a benéfica influência do trabalho ao ar livre sobre os pacientes com vitalidade debilitada e circulação anormal, especialmente em mulheres que induziram essa condição por excessivo confinamento em casa. Seu sangue tornou-se impuro por falta de ar fresco e exercício. Em vez de entretenimentos que as mantêm em ambientes fechados, devem ser providenciados atrativos ao ar livre. Vi que o Instituto deve ter amplos jardins adornado com flores, vegetais e frutas. Ali as pessoas debilitadas encontrarão trabalho apropriado a seu sexo e condições, e em horários adequados. Esses terrenos devem estar sob os cuidados de um jardineiro experiente para cuidá-los de maneira ordenada e com bom gosto. T1 562 3 A relação que mantenho com essa obra exige que eu expresse francamente meus pontos de vista. Falo livremente e escolho esse meio para falar a todos os interessados. O que apareceu publicado no Testemunho n 11 concernente ao Instituto de Saúde não deveria ter sido impresso até que eu tivesse condições de passar a limpo tudo quanto vira a respeito. Eu nada pretendia dizer sobre o assunto no n 11, e enviei todos os manuscritos destinados a esse testemunho do Condado de Ottawa, onde estava a serviço do Escritório em Battle Creek, declarando que desejava apressar a publicação dessa pequena obra porque era muito necessária, e tão rápido quanto possível, eu iria escrever o n 12, no qual pretendia falar abertamente sobre o Instituto. Os irmãos de Battle Creek que estavam especialmente interessados no Instituto, sabiam que eu fora instruída a dizer que nosso povo deveria contribuir com meios para estabelecer tal instituição. Por essa razão, eles me escreveram dizendo que a influência de meu testemunho com relação ao Instituto foi necessária para que imediatamente os irmãos fossem mobilizados acerca da questão, e que a publicação do n 11 seria adiada até que eu pudesse escrever. T1 563 1 Isso me foi uma grande provação, pois eu sabia que não podia passar a limpo tudo o que havia visto, pois estava falando ao povo de seis a oito vezes por semana, fazendo visitas de casa em casa, e escrevendo centenas de páginas de testemunhos pessoais e cartas particulares. Essa quantidade de trabalho, com desnecessárias cargas e aflições sobre mim, não me permitiam fazer qualquer tipo de trabalho. Minha saúde era precária e meus sofrimentos mentais estavam além de descrição. Sob tais circunstâncias, cedi aos pedidos de outros e escrevi o que aparece em o n. 11 com relação ao Instituto de Saúde, sendo-me assim impossível relatar tudo quanto observara em visão. Nisso eu errei. Eu devia ter o direito de reconhecer meu próprio dever melhor do que outros o podem reconhecer por mim, especialmente a respeito de assuntos que o Senhor me revelou. Algumas pessoas me censurarão por falar como agora faço. Outros me criticarão por não ter falado antes. A disposição manifestada para apressar o assunto do instituto foi uma das mais severas provas que já suportei. Se todos os que usaram meu testemunho para conclamar os irmãos houvessem igualmente se mobilizado, eu ficaria mais satisfeita. Se eu postergasse um pouco mais a revelação de minhas visões e sentimentos, seria criticada por aqueles que achavam que eu deveria ter falado antes, e por outros que criam não dever eu dar qualquer advertência. Para o bem daqueles que dirigem a obra, para o bem da causa e dos irmãos e para prevenir-me de grandes aflições, tenho falado com franqueza. ------------------------Capítulo 100 -- Saúde e religião* T1 564 1 Deus deseja uma instituição de saúde estabelecida, cuja influência esteja intimamente ligada com a obra de preparar mortais para a imortalidade. Que não rebaixe os princípios religiosos de jovens e idosos, e que não recupere a saúde do corpo em detrimento do crescimento espiritual. O grande objetivo dessa instituição deveria ser melhorar a saúde do corpo para que os pacientes possam apreciar mais claramente as coisas eternas. Se esse objetivo não estiver sempre em mente, e não forem feitos esforços para esse fim, haverá maldição em lugar de bênção. A espiritualidade será tida como secundária e a saúde do corpo e a recreação postas em primeiro lugar. T1 564 2 Vi que o alto padrão não deveria de modo algum ser rebaixado para se obter o patrocínio de descrentes. Se esses optarem pelo instituto e seus dirigentes ocuparem a exaltada posição espiritual que Deus lhes designou, manifestar-se-á um poder que lhes penetrará o coração. Com Deus e os anjos a seu lado, o povo que Lhe observa os mandamentos será prosperado. Essa instituição não deve ser estabelecida com fins lucrativos, mas para propiciar ao povo de Deus tal condição física e mental que lhes permita apreciar corretamente as coisas da eternidade e avaliar devidamente a redenção adquirida a altíssimo custo pelos sofrimentos de nosso Salvador. Ela não é lugar para diversão ou recreação. Os que não podem viver sem grande agitação e diversão serão inúteis à sociedade. Ninguém será beneficiado por seu estilo de vida. Tanto faz estarem no mundo como fora dele. T1 565 1 Vi que o conceito de que a espiritualidade é prejudicial à saúde, o qual o Dr. E procurou introduzir na mente de outros, nada é senão engano diabólico. Satanás encontrou seu caminho para o Éden e fez Eva crer que necessitava de alguma coisa mais do que daquilo que Deus dera para sua felicidade; que o fruto proibido teria uma influência estimuladora sobre seu corpo e mente e a exaltaria até ser igual a Deus em conhecimento. Contudo, o conhecimento e o benefício que ela pensava conseguir, demonstrou-se-lhe uma terrível maldição. T1 565 2 Há pessoas de imaginação doentia, para quem a religião é um tirano, governando-as com vara de ferro. Essas pessoas estão continuamente lamentando sua depravação, e gemendo por um suposto mal. Não há amor em seu coração; têm sempre um semblante carregado. Ficam frias ao inocente riso da juventude ou de quem quer que seja. Consideram toda recreação ou diversão pecado, e pensam que a mente deve estar constantemente trabalhando no mesmo grau de severa tensão. Isto é um extremo. Outras acham que a mente deve estar de contínuo em tensão para inventar entretenimentos e diversões a fim de obter saúde. Aprendem a depender da estimulação, e ficam desassossegadas quando sem isso. Tais pessoas não são verdadeiros cristãos. Vão ao outro extremo. Os verdadeiros princípios do cristianismo abrem a todos uma fonte de felicidade, cuja altura e profundidade, comprimento e largura são incomensuráveis. É Cristo em nós, "uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". João 4:14. Fonte contínua da qual o cristão pode beber à vontade, sem nunca a esgotar. T1 566 1 O que traz doença ao corpo e à mente de quase todos, são os sentimentos de descontentamento, e as murmurações de quem está malsatisfeito. Não têm a Deus, não têm aquela esperança que é "como âncora da alma segura e firme e que penetra até ao interior do véu". Hebreus 6:19. Todos os que possuem essa esperança hão de purificar-se a si mesmos assim como Ele é puro. Estes se acham livres de desassossegados anseios, murmurações e descontentamento; não estão continuamente esperando o mal e aninhando emprestadas aflições. Vemos, porém, muitos que estão passando antecipadamente por um tempo de angústia; a ansiedade estampa-se em cada feição; parecem não encontrar consolo, e apresentam um aspecto de contínuo temor na expectativa de algum terrível mal. T1 566 2 Essas pessoas desonram a Deus, e desacreditam a religião de Cristo. Não possuem verdadeiro amor para com Deus, nem por seus companheiros e filhos. Suas afeições tornaram-se doentias. Vãos divertimentos, porém, jamais hão de corrigir a mente dos que são assim. Para serem felizes, eles necessitam a influência transformadora do Espírito de Deus. Precisam ser beneficiados pela mediação de Cristo, a fim de tornar a consolação mais real, divina e substancial. "Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males." 1 Pedro 3:10-12. Os que têm um conhecimento experimental desse texto são verdadeiramente felizes. Consideram eles a aprovação do Céu de mais valor do que qualquer divertimento terreno; Cristo neles a "esperança da glória" (Colossences 1:27) será saúde para o corpo e força para a mente. T1 566 3 A simplicidade do evangelho está desaparecendo rapidamente dos professos guardadores do sábado. Pergunto-me uma centena de vezes por dia: "Como pode Deus prosperar-nos?" Há tão pouca oração. De fato, a oração é quase obsoleta. Poucos estão dispostos a tomar a cruz de Cristo, que suportou a vergonhosa cruz por nós. Entendo que as coisas no Instituto não estão caminhando como Deus quer. Temo que Ele retire da instituição a luz de Seu rosto. Foi-me mostrado que os médicos e auxiliares devem ser da mais alta ordem -- pessoas que tenham um conhecimento experimental da verdade, que imponham respeito, e em cuja palavra se possa confiar. Devem ser pessoas que não possuam imaginação doentia, que tenham perfeito domínio próprio, que não sejam caprichosas ou inconstantes, que sejam destituídas de ciúmes e de ruins suspeitas; pessoas que tenham um poder de vontade que não se renda a pequenas indisposições, que sejam livres de preconceito, que não pensem mal, que reflitam e ajam calma e atenciosamente, tendo sempre em vista a glória de Deus e o bem dos outros. Jamais deve alguém ser exaltado a uma posição de responsabilidade simplesmente pelo fato de desejá-la. Devem-se escolher unicamente aqueles que estão qualificados para a posição. Os que devem assumir responsabilidades precisam ser primeiro provados e dar evidência de que são isentos de inveja, de que não tomam antipatia a esta ou aquela pessoa, enquanto têm alguns amigos favoritos e não fazem nenhum caso de outros. Praza a Deus que todos possam agir de maneira correta nessa instituição. ------------------------Capítulo 101 -- Trabalho e divertimentos T1 567 1 Caro irmão F: T1 567 2 Tenho pensado demoradamente em um ou dois pontos. Quando compreendo onde me encontro ao escrever-lhe cartas, noite após noite, em meu sono, penso já ser tempo de expressar-lhe minhas convicções do dever. Quando me foi mostrado que o Dr. E errava em alguns pontos com respeito às instruções dadas a seus pacientes, vi que você assimilou suas idéias em muitos pontos, mas que viria o tempo em que o irmão olharia a questão sob um prisma correto. Estes se referem a trabalho e divertimentos. Foi-me mostrado que se demonstraria de maior benefício à maioria dos pacientes, permitir trabalho leve, e mesmo insistir nisso com eles, do que instar que ficassem inativos e ociosos. Se o poder da vontade for conservado ativo em despertar as faculdades dormentes, isso será o maior auxílio para a restauração da saúde. Removam todo o trabalho desses que por toda a vida foram sobrecarregados, e em nove casos dentre dez a mudança será um dano. Isso se provou no caso de meu esposo. Foi-me mostrado que o exercício físico ao ar livre é muito preferível a fazê-lo dentro de casa; mas se isso não se conseguir, uma atividade leve, dentro de casa, ocuparia e distrairia a mente e a impediria de demorar o pensamento em sintomas e pequenas indisposições, e também preveniria a doença no lar. T1 568 1 Vi que esse programa de ociosidade havia sido uma grande maldição para sua esposa e para meu marido. Deus deu um trabalho ao primeiro casal no Éden, porque Ele sabia que seriam mais felizes quando ocupados. Pelo que me foi mostrado, esse programa de ociosidade é uma maldição para a mente e o corpo. Trabalho leve não estimulará ou sobrecarregará a mente ou as energias, mais do que qualquer divertimento.* Os doentes freqüentemente acham, quando concentrados em seus pobres sentimentos, que são completamente incapazes de fazer qualquer coisa. Se despertassem sua vontade e se esforçassem por fazer algum trabalho físico cada dia, seriam mais felizes e se recuperariam mais rapidamente. Escreverei mais amplamente sobre o assunto daqui por diante. T1 568 2 Li recentemente num jornal de Rochester, que o jogo de cartas não é mais praticado como recreação na instituição em _____. E. G. W., nota para a primeira edição. ------------------------Capítulo 102 -- Introdução T1 569 2 Sinto novamente ser meu dever falar ao povo do Senhor com muita clareza. É-me humilhante apontar os erros e a rebelião daqueles que estão familiarizados conosco e com nossa obra. Faço isso para corrigir declarações errôneas que têm circulado com respeito a mim e a meu marido, destinadas a prejudicar a causa, e também como advertência a outros. Se apenas nós sofrêssemos eu me calaria, mas quando a causa está em perigo de descrédito e infortúnio, devo falar. Hipócritas orgulhosos triunfarão sobre nossos irmãos porque estes são suficientemente humildes para confessar seus pecados. Deus ama Seu povo que guarda os Seus mandamentos e os reprova, não porque são os piores, mas porque eles são o melhor povo do mundo. "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo" (Apocalipse 3:19), diz Jesus. T1 569 3 Gostaria de chamar em especial a atenção para os extraordinários sonhos relatados neste pequeno trabalho, todos ilustrando harmônica e distintamente as mesmas coisas. Grande número de sonhos origina-se das coisas comuns da vida, com as quais o Espírito de Deus nada tem a ver. Há também falsos sonhos, bem como falsas visões que são inspiradas por Satanás. Mas os sonhos provenientes do Senhor estão classificados na Palavra de Deus com visões, e são tão verdadeiramente frutos do espírito de profecia como as visões. Tais sonhos, levando-se em conta as pessoas que os têm e as circunstâncias sob as quais foram dados, contêm suas próprias provas de genuinidade. T1 570 1 Possa a bênção de Deus repousar sobre esta pequena publicação. ------------------------Capítulo 103 -- Resumo de experiências T1 570 2 De 19 de Dezembro de 1866 a 20 de Outubro de 1867. T1 570 3 Estando plenamente convencida de que meu marido jamais se recuperaria de sua longa enfermidade enquanto permanecesse inativo, e que era chegado o tempo de sair e dar meu testemunho ao povo, decidi, contrariamente ao que pensavam os irmãos da igreja de Battle Creek, onde freqüentávamos na época, empreender uma viagem pelo Norte de Michigan, com meu marido em extremo estado de fraqueza e sob o mais severo frio de inverno. Requereu não pouca coragem moral e fé em Deus tomar a decisão de arriscar tanto, especialmente estando sozinha e tendo contra mim o parecer da igreja e dos irmãos dirigentes da obra em Battle Creek. T1 570 4 Mas eu sabia que tinha uma obra a fazer e parecia que Satanás estava determinado a manter-me afastada dela. Eu havia esperado muito tempo para que nosso cativeiro fosse mudado, e temia que vidas preciosas se perdessem se eu permanecesse distante do trabalho. Ficar longe do campo de trabalho era para mim pior do que a morte, mas se saíssemos poderíamos morrer. Assim, no dia 19 de Dezembro de 1866, deixamos Battle Creek sob uma tempestade de neve, com destino a Wright, no Condado de Ottawa, Michigan. Meu marido resistiu a longa e severa viagem de quase 150 quilômetros muito melhor do que eu esperava, e parecia estar muito bem quando chegamos à casa do irmão Root. Fomos bondosamente recebidos por sua querida família e cuidados tão carinhosamente, como os pais cristãos fazem com seus filhos doentes. T1 570 5 Encontramos a igreja local em más condições. As sementes da desunião e do descontentamento de uns para com os outros haviam sido plantadas na maior parte de seus membros, e um espírito mundano estava tomando posse deles. Não obstante sua condição, eles não tiveram muita oportunidade de receber os cuidados de nossos pregadores, e estavam famintos por alimento espiritual. Ali começamos nossos primeiros trabalhos desde o início da doença de meu marido. Ali ele deu início aos trabalhos como nos bons tempos, embora sob muita fraqueza. Tiago falava entre trinta e quarenta minutos nas manhãs de sábado e de domingo, e eu preenchia o restante do tempo, falando cerca de uma hora e meia nas tardes de cada dia. Éramos ouvidos com grande atenção. Percebi que meu marido estava ficando mais forte, mais claro e mais envolvido com seus assuntos. Certa vez, quando ele falou cerca de uma hora com clareza e poder, com o fardo do trabalho sobre si como no passado, meus sentimentos de gratidão estavam além do que eu podia expressar. Ergui-me na congregação e por quase meia hora tentei com lágrimas exteriorizá-los. A congregação ficou muito emocionada. Senti que essa era a aurora de melhores dias para nós. T1 571 1 Permanecemos ali por seis semanas. Tive a oportunidade de falar-lhes por vinte e cinco vezes, e meu marido doze vezes. Enquanto nossos trabalhos progrediam nessa igreja, casos individuais iam-me sendo revelados e comecei a escrever testemunhos para eles, chegando a cerca de cem páginas. Começamos a trabalhar com essas pessoas, à medida que vinham à casa do irmão Root, onde estávamos hospedados. Visitávamos alguns em seus lares. Atendíamos a outros nas próprias reuniões da igreja. Descobri que meu marido era de grande ajuda nesse trabalho. Sua longa experiência nesse tipo de trabalho, adquirida no passado enquanto trabalhávamos juntos, o havia qualificado para isso. E agora que o retomava, parecia manifestar toda aquela clareza de pensamento, são discernimento e fidelidade ao tratar com os errantes, como nos primeiros tempos. De fato, nenhum dos dois pastores que estavam conosco podiam prestar-me tal assistência. T1 571 2 Uma grande e boa obra foi feita em favor dessas queridas pessoas. Erros foram aberta e plenamente confessados, a união foi restaurada e a bênção de Deus repousou sobre o trabalho. Meu marido trabalhou para elevar a doação sistemática da igreja a níveis que poderiam ser adotados por todas as nossas igrejas. Seus esforços resultaram em crescimento de cerca de trezentos dólares no montante anual trazido à tesouraria daquela igreja. Aqueles que haviam estado em perplexidade em relação a alguns de meus testemunhos, principalmente na questão da reforma do vestuário, tornaram-se plenamente convencidos ao ouvir a explicação do assunto. As reformas de saúde e do vestuário foram adotadas, e uma grande oferta foi levantada em favor do Instituto de Saúde. T1 572 1 Penso ser meu dever declarar que quando essa obra estava em franco progresso, infelizmente um irmão rico do Estado de Nova Iorque visitou Wright, após visitar Battle Creek, sendo ali informado que havíamos iniciado o trabalho em desatendimento ao conselho e opinião da igreja e daqueles que dirigiam a obra em Battle Creek. Ele resolveu apresentar meu marido ante aqueles por quem havíamos trabalhado tanto, como parcialmente insano e seu testemunho, conseqüentemente, de nenhum valor. Sua influência na questão, como me foi declarada pelo irmão Root, o ancião da igreja, atrasou o trabalho em pelo menos duas semanas. Estou contando esse fato para mostrar que pessoas não consagradas podem, em seu estado de insensibilidade e cegueira, lançar em apenas uma hora uma influência que obrigaria os cansados servos do Senhor a gastar semanas para desfazer. Estávamos trabalhando pelos ricos, e Satanás viu que esse irmão abastado era justamente o homem que ele precisava. Possa o Senhor conduzi-lo aonde possa ver, e em humildade de coração confessar seu pecado. Com duas semanas a mais de trabalho e com a bênção do Senhor, fomos capazes de remover sua nefasta influência e dar ao querido povo plenas provas de que Deus nos havia enviado. Como resultado de nosso trabalho, sete pessoas foram logo batizadas pelo irmão Waggoner, e mais dois em Julho, por meu marido, na época de nossa segunda visita àquela igreja. T1 573 1 Aquele irmão de Nova Iorque retornou com sua esposa e filha a Battle Creek, num estado de espírito incapaz de dar um relatório exato do bom trabalho feito em Wright, ou serenar os ânimos na igreja de Battle Creek. Enquanto os fatos vinham à tona, pareceu que ele prejudicava a igreja e a igreja o prejudicava, em sua mútua satisfação de ir de casa em casa e provocar os mais desfavoráveis comentários acerca de nossa conduta, tornando-a tema de conversação. À medida que essa cruel obra prosseguia, tive o seguinte sonho: T1 573 2 Eu estava visitando Battle Creek em companhia de uma pessoa de maneiras refinadas e comportamento digno. Em meu sonho eu circulava ao redor das casas de nossos irmãos. Quando estávamos para entrar, ouvimos vozes. O nome de meu marido era freqüentemente mencionado. Eu estava aflita e atônita em ouvir aqueles que haviam professado ser nossos melhores amigos, relatar cenas e incidentes que haviam ocorrido durante a grave doença de meu marido, quando suas forças físicas e mentais ficaram muito abaladas. Afligi-me ouvindo a voz do professo irmão de Nova Iorque antes mencionado, referindo-se com determinação e exagerado enfoque, a incidentes sobre os quais aqueles de Battle Creek nada sabiam, enquanto nossos amigos de Battle Creek, por sua vez, apresentavam o que sabiam. Meu ânimo desfaleceu, e em meu sonho, quando estava prestes a cair, a mão de meu acompanhante me amparou e ele disse: "Ouça, você precisa saber disso, mesmo que seja duro de suportar." T1 573 3 Nas várias casas das quais nos aproximávamos, o tema das conversas era o mesmo. Isto era sua verdade presente. Eu disse: "Oh, eu não sabia disso! Ignorava que existissem tais sentimentos no coração daqueles a quem tínhamos como amigos nos tempos de prosperidade, e nossos amigos íntimos quando em sofrimento, aflição e adversidade. Gostaria de nunca ter sabido dessas coisas! Nós os tínhamos como os melhores e mais leais amigos. T1 574 1 A pessoa que estava comigo repetiu estas palavras: "Se eles apenas conversassem tão prontamente e com tanto empenho e zelo sobre seu Redentor, demorando-se sobre Seus incomparáveis encantos, Sua desinteressada benevolência, Seu gracioso perdão, Sua piedosa ternura para com o sofredor, Seu inexprimível amor e longanimidade, quanto mais preciosos seriam os frutos." T1 574 2 Eu então disse: "Sinto-me ofendida. Meu marido não se tem poupado para salvar almas. Ele suportou cargas que o esmagaram; ficou prostrado, alquebrado física e mentalmente, e agora, reúnem palavras e atos para usá-los a fim de destruir sua influência, mesmo após Deus ter posto Sua mão e erguê-lo para que sua voz pudesse novamente ser ouvida. Isso é cruel e injusto." T1 574 3 Meu acompanhante disse: "A conversação onde Cristo e as características de Sua vida são temas prevalecentes, traz refrigério ao espírito e seu fruto será para a santidade e a vida eterna." Então citou estas palavras: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. Essas palavras me impressionaram tanto que falei sobre elas no sábado seguinte. T1 574 4 Meu trabalho em Wright foi muito cansativo. Eu tinha muita preocupação com meu marido durante o dia, e algumas vezes à noite. Dava-lhe banhos e fazia-o caminhar, e duas vezes por dia, quer fizesse frio, chovesse ou estivesse ensolarado, saía com ele. Eu escrevia enquanto ele ditava seus artigos para a Review, e também redigia muitas cartas em acréscimo às muitas páginas de testemunhos pessoais e a maior parte do n. 11, além de visitar e falar com freqüência claramente e por tanto tempo quanto me fosse possível. O irmão e a irmã Root mostravam simpatia para com minhas provações e trabalhos, e vigiavam com terno cuidado para suprir todas as nossas necessidades. Nossas freqüentes orações eram para que o Senhor os abençoasse no cesto e na amassadeira (Deuteronômio 28:5), na saúde bem como em graça e força espiritual. Senti que uma bênção especial viria sobre eles. Apesar de a doença ter desde então atingido seu lar, soube pelo irmão Root que eles agora tinham muito melhor saúde que antes. Falou-me também que em termos de prosperidade temporal, seus campos de trigo haviam produzido 950 litros por acre (cerca de 4.000m2), algumas glebas produziram até 1.400, enquanto que a média conseguida por seus vizinhos foi de apenas 387 litros por acre. T1 575 1 No dia 29 de Janeiro de 1867, deixamos Wright e fomos até Greenville, no Condado de Montcalm, a uma distância de aproximadamente 64 quilômetros. Era o dia mais frio do inverno e estávamos felizes por encontrar abrigo do frio e da tormenta na casa do irmão Maynard. Sua família recebeu-nos muito bem em sua casa e no coração. Ficamos naquela redondeza durante seis semanas, trabalhando nas igrejas de Greenville e Orleans, e fazendo do hospitaleiro lar do irmão Maynard nosso quartel-general. T1 575 2 O Senhor concedeu-me liberdade para falar ao povo. Em cada esforço feito eu percebia Seu poder sustentador. E como estava plenamente convencida de que eu tinha um testemunho para o povo, o qual podia transmitir-lhes em ligação com o trabalho de meu marido, minha fé foi fortalecida no sentido de que ele ainda teria a saúde restabelecida para trabalhar na causa de Deus. Seus esforços foram bem recebidos pelo povo, e ele me foi de grande ajuda no trabalho. Sem ele eu poderia fazer muito pouco, mas com sua ajuda e na força de Deus, era capaz de realizar a tarefa que me fora designada. O Senhor o sustinha em cada esforço que fazia. Quando ele se arriscou, confiando em Deus, e sem considerar sua fraqueza, foi recuperando as forças e melhorando a cada esforço feito. Quando percebi que meu marido estava reavendo seu vigor físico e mental, minha gratidão foi imensa, em vista da perspectiva de que eu poderia ficar livre para empenhar-me de novo e mais diligentemente na obra de Deus, ficando ao lado de meu marido, trabalhando em união pelo povo de Deus. Antes de ficar doente, a posição que ele ocupava no Escritório o confinava ali a maior parte do tempo. E como eu não podia viajar sem ele, ficava em casa durante muito tempo. Senti que Deus desejava agora seu progresso enquanto trabalhava na palavra e no ensino, e se dedicava mais especialmente à pregação. Outros poderiam fazer o trabalho no Escritório, e nós estávamos convictos de que ele nunca mais ficaria confinado, mas sim livre para viajar comigo, para que ambos pudéssemos dar o solene testemunho que Deus nos havia dado para transmitir a Seu povo remanescente. T1 576 1 Eu sentia a má condição do povo de Deus, e cada dia estava mais ciente de que havia chegado aos limites de minhas forças. Enquanto em Wright, havíamos enviado meu manuscrito de número 11 ao Escritório de publicações. A cada momento livre, quando fora dos reuniões, eu procurava aprimorar o texto do número 12. Minhas energias físicas e mentais haviam sido severamente sobrecarregadas enquanto trabalhava na igreja de Wright. Eu achava que precisava descansar, mas não via oportunidade para isso. Eu falava ao povo várias vezes por semana e escrevia muitas páginas de testemunhos pessoais. O peso das almas estava sobre mim e as responsabilidades que sentia eram tão grandes que não tinha senão poucas horas para dormir cada noite. T1 576 2 Enquanto assim ocupada em falar e escrever, recebi de Battle Creek cartas de caráter desanimador. Ao lê-las senti uma inexprimível depressão de espírito, chegando a uma agonia mental, que por breve período como que paralisou minhas energias vitais. Por três noites não dormi quase nada. Meus pensamentos estavam perturbados, perplexos. Ocultei o mais que pude os meus sentimentos, de meu esposo e da família envolvida, com a qual nos achávamos. Ninguém sabia de minha labuta ou fardo mental, ao unir-me com a família no culto matinal e vespertino, procurando depor meu fardo sobre o grande Portador de Fardos. Mas minhas petições provinham de um coração tomado de angústia, e minhas orações eram interrompidas e desconexas, por motivo da incontrolável ansiedade. O sangue precipitou-se-me para o cérebro, levando-me freqüentemente a cambalear e quase cair. Tive hemorragia nasal muitas vezes, especialmente depois de fazer um esforço para escrever. Fui obrigada a pôr de lado minha escrita, mas não podia livrar-me do fardo da ansiedade e da responsabilidade que pesavam sobre mim. Achei que tinha testemunhos a dar para os outros, os quais era incapaz de apresentar. T1 577 1 Recebi ainda outra carta informando-me de que era melhor protelar a publicação do número 11, até que eu pudesse escrever o que me havia sido mostrado com relação ao Instituto de Saúde, porque seus dirigentes estavam sofrendo por falta de recursos e necessitavam da influência de meu testemunho para mobilizar os irmãos. Copiei uma parte do que me havia sido mostrado sobre o Instituto, mas não pude completar o trabalho por causa da pressão sangüínea no cérebro. Se eu soubesse que o número 12 teria a publicação adiada, de modo algum enviaria aquela porção do assunto contida no número 11. Eu supunha que após descansar alguns dias, poderia reassumir minha tarefa de escrever. Mas para minha grande dor, descobri que a condição de minha mente me tornava impossível escrever. A idéia de escrever testemunhos pessoais ou gerais foi abandonada e eu fiquei muito angustiada por não poder prepará-los. T1 577 2 Nessa situação decidi que deveríamos retornar a Battle Creek, e lá permanecer enquanto as estradas estivessem enlameadas e em péssimas condições, e que ali eu poderia completar o número 12. Meu marido estava muito ansioso para rever seus irmãos em Battle Creek e falar-lhes, alegrando-se com eles pela obra que o Senhor havia feito por ele. Reuni meus escritos e iniciamos nossa jornada. No caminho tivemos duas reuniões em Orange, com evidências de que a igreja havia sido beneficiada e animada. Fomos revigorados pelo Espírito do Senhor. Naquela noite sonhei que estava em Battle Creek, olhando para fora através da janelinha da porta. Então vi um grupo que marchava rumo a casa, de dois em dois. Eles pareciam inflexíveis e determinados. Eu os conhecia bem e voltei-me para abrir a porta da sala de visitas para recebê-los, mas pensei em olhar novamente. A cena mudara. O grupo agora parecia uma procissão católica. Um trazia em sua mão uma cruz e outro uma cana. Quando se aproximaram, aquele que carregava a cana fez um círculo ao redor da casa, dizendo três vezes: "Esta casa está interditada. Os bens devem ser confiscados. Eles falaram contra nossa santa ordem." O terror veio sobre mim e corri pela casa, saindo pela porta dos fundos, achando-me em seguida no meio do grupo, entre alguns que eu conhecia muito bem, mas não ousei dizer-lhes uma só palavra por medo de ser traída. Tentei procurar um lugar retirado onde pudesse chorar e orar sem encontrar ira e olhos inquisidores para onde quer que eu me voltasse. Eu repetia com freqüência: "Se eu pudesse apenas compreender o que está acontecendo! Se eles me falassem o que eu havia dito ou o que havia feito!" T1 578 1 Eu chorava e orava muito quando vi nossos bens confiscados. Tentei ver um pouco de simpatia ou piedade por mim no rosto daqueles que me cercavam e observar a fisionomia de muitos a quem eu julgava poder me dirigir para obter conforto, caso eles não temessem ser observados pelos outros. Fiz uma tentativa de escapar da multidão, mas vendo que estava sendo vigiada, ocultei minhas intenções. Comecei a chorar em alta voz e dizer: "Se eles apenas me dissessem o que fiz ou o que disse!" Meu marido, que estava dormindo em uma cama no mesmo quarto, ouviu-me chorar alto e despertou-me. Meu travesseiro estava úmido pelas lágrimas. Entrei em depressão. T1 578 2 O irmão e a irmã Howe nos acompanharam até West Windsor, onde fomos recebidos e saudados pelo irmão e a irmã Carman. No sábado e no domingo nos encontramos com os irmãos e irmãs das igrejas da vizinhança, e tive liberdade em transmitir-lhes meu testemunho. O revigorante Espírito do Senhor repousou sobre aqueles que sentiam especial interesse na obra de Deus. Nosso encontro foi muito bom e quase todos deram testemunho de que foram fortalecidos e grandemente animados. T1 579 1 Em poucos dias nos encontrávamos novamente em Battle Creek, após uma ausência de quase três meses. No sábado, 16 de Março, meu marido pregou na igreja um sermão sobre a santificação, que foi taquigrafado pelo editor da Review e publicado no vol. 29, n 18. Ele também falou com clareza à tarde, e na manhã do domingo. Dei meu testemunho com liberdade incomum. No sábado, dia 23, falei na igreja de Newton e trabalhei com a igreja de Convis no sábado e domingo seguintes. Pretendíamos retornar ao Norte e viajamos uns quarenta quilômetros. Mas fomos obrigados a voltar por causa da situação das estradas. Meu marido ficou terrivelmente desapontado pela fria recepção que encontrou em Battle Creek . Eu também fiquei aborrecida. Decidimos que não daríamos nosso testemunho a essa igreja até que desse melhor evidência de que desejavam nossos serviços, e que finalizaríamos nossos trabalhos em Convis e Monterey até que as estradas melhorassem. Nos dois sábados seguintes, estivemos em Convis e verificamos ter realizado ali um bom trabalho, cujos bons frutos podem agora ser vistos. T1 579 2 Voltei para casa em Battle Creek como uma criança cansada e que necessitava de confortadoras palavras e encorajamento. Foi-me penoso declarar ali que fomos recebidos com muita frieza por nossos irmãos, de quem, três meses antes, havíamos partido em perfeita união, salvo quanto à questão de havermos deixado nosso lar. Na primeira noite passada em Battle Creek, sonhei que havia estado trabalhando duramente e viajado com o propósito de assistir a um grande encontro. Eu estava muito cansada. As irmãs estavam arrumando meu cabelo e ajustando meu vestido. Dormi. Quando despertei, fiquei atônita e indignada ao descobrir que minhas vestes havia sido retiradas e me haviam trajado com trapos velhos, pedaços de acolchoados atados e costurados juntos. Eu disse: "O que vocês me fizeram? Quem fez esse trabalho vergonhoso de remover meu traje e substituí-lo com andrajos de mendigo?" Retirei os trapos e lancei-os de mim. Fiquei aflita e com angústia clamei: "Devolvam o traje que usei durante vinte e três anos e que nunca me trouxe vergonha por um instante sequer. A menos que vocês me devolvam minhas vestes, apelarei ao povo que contribuirá e me restituirá meu traje que usei por vinte e três anos." T1 580 1 Vi o cumprimento desse sonho. Em Battle Creek encontramos relatórios que estavam circulando para nos difamar, mas que na verdade não tinham qualquer fundamento. Haviam sido escritas cartas por alguns que se internaram no Instituto de Saúde e por outros que viviam em Battle Creek, às igrejas em Michigan e outros Estados, expressando temores, dúvidas e fazendo insinuações a nosso respeito. Eu estava muito angustiada quando ouvi uma acusação de um obreiro, companheiro nosso a quem eu respeitava, de que se falava em cada localidade coisas que eu havia dito contra a igreja de Battle Creek. Eu estava tão aflita que não sabia o que dizer. Enfrentamos um forte espírito acusador. Quando nos convencemos plenamente dos sentimentos existentes, ficamos abalados. Estávamos tão desapontados e aflitos que falei a dois de nossos irmãos dirigentes que não mais me sentia em casa; que encontramos desconfiança e positiva frieza em lugar de boas-vindas e encorajamento, e que eu tinha aprendido que essa era a conduta seguida para com aqueles que haviam sido abatidos pelo excesso de dedicação à obra de Deus. Disse mais: Que estávamos pensando em nos mudar de Battle Creek e ir para um lugar mais retirado. T1 580 2 Com espírito oprimido além dos limites, fiquei em casa, temendo ir a qualquer lugar entre os membros da igreja por medo de ficar magoada. Finalmente, como ninguém fizera um esforço para aliviar meus sofrimentos, senti que era meu dever chamar alguns irmãos e irmãs de experiência e enfrentar os relatos que estavam circulando a nosso respeito. Oprimida, desanimada e angustiada, enfrentei as acusações feitas contra mim, expondo detalhadamente minha viagem ao Leste e as penosas circunstâncias sob as quais fora feita. T1 581 1 Apelei aos presentes que julgassem se minha ligação com a obra e a causa de Deus ter-me-ia levado a falar levianamente da igreja de Battle Creek, da qual eu não tinha a mais leve mágoa. Não era meu interesse na causa e obra de Deus tão grande quanto o deles? Toda a minha vida e experiência estavam ligados a ela. Eu não tinha interesses separados da obra. Havia investido tudo nessa causa e considerado que nenhum sacrifício seria muito grande para mim para fazer avançá-la. Eu não permitira nem mesmo que a afeição às minhas queridas crianças me afastassem do cumprimento do dever que Deus requeria em Sua causa. O amor maternal palpitava tão fortemente em meu coração como no de qualquer outra mãe. Eu, porém, havia-me separado de meus filhos ainda lactentes e permitido que outra lhes servisse de mãe. Eu dera provas de inequívoco interesse e devoção à causa de Deus. Mostrei por minhas obras o quão cara ela me era. Será que alguém havia dado provas mais fortes do que eu? Foram eles zelosos na causa da verdade? Eu mais ainda. Foram eles dedicados a ela. Eu poderia provar maior dedicação do que qualquer pessoa envolvida no trabalho de Deus. Sofreram eles por causa da verdade? Eu muito mais. Não considerei a minha vida por preciosa. Não busquei evitar censura, sofrimento e durezas. Quando os amigos e parentes se desesperavam por causa de minha vida, porque a doença me atacava, era levada nos braços de meu marido aos barcos ou vagões de trens. Certa vez, após viajar até à meia-noite, achamo-nos sem recursos na cidade de Boston. Em duas ou três ocasiões andamos onze quilômetros pela fé. Viajávamos tanto quanto minhas forças permitiam. Então nos ajoelhávamos e orávamos por forças para prosseguir. Recebíamos vigor e éramos capazes de trabalhar diligentemente pelo bem das pessoas. Não permitíamos que nenhum obstáculo nos detivesse de cumprir o dever ou nos separasse da obra. T1 582 1 A disposição manifestada nesse encontro aborreceu-me muito. Voltei para casa com um peso no coração, pois os que estavam presentes não fizeram qualquer esforço para confortar-me, reconhecendo que eu fora caluniada e que suas suspeitas e acusações contra mim eram injustas. Não puderam condenar-me, mas também não fizeram qualquer esforço para absolver-me. T1 582 2 Por quinze meses meu marido permanecera tão fraco que não podia sequer carregar seu relógio ou carteira, ou conduzir sua parelha de animais quando em viagem. Mas neste ano ele já porta seu relógio e carteira, esta vazia em conseqüência de nossas grandes despesas, e pode conduzir os animais. Durante sua doença, ele se recusou diversas vezes a aceitar dinheiro de seus irmãos, no valor de aproximadamente mil dólares, dizendo-lhes que quando tivesse necessidade ele lhes comunicaria. Meu marido achava ser seu dever, antes de ficar dependente, vender aquilo que podíamos dispensar. Ele tinha poucas coisas no Escritório e dispersas entre os irmãos de Battle Creek. Coisas de pouco valor, que ele ajuntou e vendeu. Desfizemo-nos de alguns móveis no valor de aproximadamente cento e cinqüenta dólares. Meu marido tentou vender nosso sofá para uma sala de reuniões, fixando seu valor em dez dólares, mas não conseguiu. Por esse tempo, nossa única e valiosa vaca morreu. Pela primeira vez meu marido sentiu que poderia aceitar ajuda, e escreveu um bilhete a um irmão, dizendo que se a igreja quisesse dar alguma ajuda para compensar a perda da vaca, poderia fazê-lo. Além de nada ter sido feito sobre isso, ainda acusaram meu marido de ser incompetente em termos de dinheiro. Os irmãos conheciam-no suficientemente bem para saber que ele nunca pediria ajuda, a menos que extrema necessidade o obrigasse. E agora que ele o havia feito, julgaram acerca dos sentimentos dele e meus, e ninguém deu atenção ao assunto senão para afligir-nos em nossa necessidade e profunda aflição. T1 583 1 Nesse encontro, meu marido humildemente confessou que errara em muitas coisas dessa natureza, que ele nunca teria feito e não desejaria fazer senão por medo de seus irmãos e sempre movido pelo desejo de agir corretamente e em união com a igreja. Isso permitiu que seus acusadores evidentemente o desprezassem. Fomos humilhados até o pó, e angustiados além do que podemos exprimir. Nesse estado de coisas partimos para Monterey a fim de atender a um compromisso. Durante a viagem, sofri terrível angústia de espírito. Tentava explicar a mim mesma por que razão nossos irmãos não haviam compreendido nosso trabalho. Eu estava certa de que quando os encontrássemos eles nos entenderiam; que o Espírito de Deus que neles estava era o mesmo em nós, Seus humildes servos, e que haveria harmonia em emoções e sentimentos. Em vez disso, éramos olhados com suspeita e desconfiança, sendo causa de tremenda perplexidade para mim. Enquanto eu estava pensando, uma parte da visão recebida em Rochester, em 25 de Dezembro de 1865, veio como um relâmpago em minha mente. Imediatamente fiz referência disso a meu marido. T1 583 2 Foi-me mostrado um grupo de árvores, próximas umas das outras, formando um círculo. Subindo nessas árvores havia uma videira que as cobria até o topo e nelas se apoiava, formando um caramanchão. Em seguida vi as árvores oscilando para cá e para lá, como que movidas por um fortíssimo vento. Um ramo da videira após outro era sacudido até que a videira se desprendeu das árvores, exceto por umas poucas gavinhas que permaneceram agarradas aos ramos inferiores. Veio então uma pessoa e soltou as gavinhas remanescentes, lançando-as por terra. T1 583 3 A aflição e angústia mental que senti ao ver a vinha lançada ao solo foram indescritíveis. Muitos passavam e olhavam condoídos para ela. Eu esperava ansiosamente por uma mão amiga para erguê-la. Mas nenhuma ajuda foi oferecida. Perguntei por que ninguém ergueu a videira. Nesse momento, vi um anjo dirigindo-se até a aparentemente abandonada videira. Ele colocou seus braços debaixo da videira, ergueu-a e aprumou-a, dizendo: "Eleve-se ao céu e que suas gavinhas se apóiem em Deus. O apoio humano lhe foi retirado. Você pode firmar-se na força divina e nela florescer, sem depender dele. Ampare-se unicamente em Deus e você nunca o fará em vão, nem será sacudida daí." Senti um indescritível alívio, uma alegria transbordante quando vi que a vinha desprezada teve quem cuidasse dela. Voltei-me para o anjo e perguntei o que essas coisas significavam. Disse-me ele: "Você é a videira. Sentirá tudo isso e então, quando as coisas acontecerem, compreenderá plenamente a figura da videira. Deus será para você "socorro bem presente na angústia". Salmos 46:1. Desse tempo em diante fiquei plenamente convicta de meu dever e nunca me senti tão livre para dar meu testemunho às pessoas. Se eu já senti o braço do Senhor a me suster, foi naquela reunião. Meu marido também foi claro e livre em sua pregação, e o testemunho de todos era: Tivemos uma excelente reunião. T1 584 1 Após voltarmos de Monterey, achei ser meu dever convocar uma outra reunião, porquanto meus irmãos não fizeram caso de meus sentimentos. Decidi ir adiante na força de Deus e novamente expressar o que sentia, e defender-me das suspeitas e boatos que circulavam em prejuízo nosso. Dei meu testemunho e declarei coisas que me haviam sido mostradas com respeito à vida passada de alguns dos presentes, advertindo-os de seus perigos e reprovando seus erros e conduta. Disse que eu havia estado nas mais desagradáveis situações. Quando famílias e indivíduos me eram mostrados em visão, dava-se freqüentemente o caso de me serem mostradas coisas particulares a seu respeito, reprovando pecados secretos. Por muitos meses trabalhei com alguns em relação a erros dos quais os outros nada sabiam. Quando meus irmãos viam essas pessoas tristes e as ouviam expressar dúvidas a respeito de sua aceitação por Deus, e também sentimentos de desânimo, acusavam-me, como se eu fosse culpada por suas dificuldades. Os que me censuravam nada sabiam do que estavam falando. Protestei contra esses que se punham como inquisidores, julgando minha conduta. Tem sido um trabalho desagradável para mim reprovar pecados particulares. Se eu, para evitar suspeitas e ciúmes, desse amplas explicações para meus atos e tornasse público o que deveria ser mantido em privacidade, pecaria contra Deus e procederia mal para com as pessoas. Devo manter para mim mesma as reprovações individuais aos erros das pessoas. Que julguem como bem entenderem, mas eu nunca trairei a confiança em mim depositada pelos errantes e penitentes, ou revelarei a outros aquilo que somente deve ser apresentado aos culpados. Eu disse aos presentes que eles me deixassem em paz para agir no temor de Deus. Deixei a reunião livre de meu pesado fardo. ------------------------Capítulo 104 -- Obreiros do escritório de publicações T1 585 1 Darei aqui dois testemunhos, um dos quais escrito em Março de 1867 e dirigido a todos os que trabalham no Escritório da Review. O outro, dirigido aos jovens que ali trabalham. Sinto dizer que todos os que foram admoestados desatenderam, uns mais outros menos, aos testemunhos. Agora devo revelar que eles adotaram uma conduta contrária àquela apontada nas mensagens. Eis a primeira: T1 585 2 Enquanto em Rochester, Nova Iorque, no dia 25 de Dezembro de 1865, foram-me mostradas coisas referentes àqueles que trabalham no Escritório de Publicações, e também com respeito aos pastores a quem Deus chamou para trabalhar na pregação e no ensino. Nenhum deles devia envolver-se em comércio e negócios. Eles foram chamados para uma sagrada e excelsa obra e ser-lhes-ia impossível trabalhar com justiça para a obra e ainda gerir seus negócios. Os que estão empenhados no trabalho do Escritório, não deveriam ter interesses separados. Quando dão ao trabalho a atenção e o cuidado que ele demanda, fazem tudo o que lhes está alcance e não deveriam ser sobrecarregados. Se o comerciar, que não tem qualquer ligação com a obra de Deus, lhes absorve a mente e o tempo, o trabalho não pode ser feito de maneira integral e esmerada. Na melhor das hipóteses, aqueles que lá trabalham não possuem energia física e mental para despender. Todos estão, em maior ou menor grau, debilitados. Uma causa tal, um tal sagrado trabalho em que estão empenhados, exige muito das faculdades mentais. Eles não deveriam trabalhar mecanicamente, mas santificar-se para o serviço e agir como se a causa fosse uma parte deles próprios, como se houvessem investido alguma coisa nessa grande e solene obra. A menos que tomem interesse nessa questão, seus esforços não serão aceitáveis a Deus. T1 586 1 Satanás é muito astuto, diligente e ativo. Seu poder especial é exercido sobre aqueles que estão envolvidos na obra de pregação ou publicação da verdade presente. Todos aqueles que têm vínculos com esse trabalho necessitam vestir a armadura completa, pois são alvos especiais dos ataques de Satanás. Vi que há perigo de se tornarem desatentos e assim permitir que Satanás consiga entrar e imperceptivelmente desviar-lhes a mente da grande obra. Aqueles que preenchem cargos de responsabilidade no Escritório estão em perigo de ter a obra em menor conta, e perder a humildade e a simplicidade que sempre caracterizou esse trabalho. T1 586 2 Satanás tem como objetivo especial atingir um dos administradores da obra, o qual possui grande experiência quanto ao surgimento e progresso da verdade presente. Ele quer tirá-lo do caminho para poder afetar as mentes inexperientes e que não estão completamente consagradas à obra. O Senhor decidiu restaurar a saúde a meu marido, depois de outros se terem familiarizado com as responsabilidades que ele tinha, e sentiram um pouco do cansaço delas decorrente. Ao mesmo tempo, esses nunca empenharam totalmente suas energias físicas e mentais no trabalho, arriscando-se como Tiago se arriscou. Nunca teriam de fazer o que ele fez, pois não permaneceriam em seus postos se houvessem de passar pela vigésima parte do que ele passou. T1 587 1 Satanás pretende insinuar-se nesse Escritório, e a menos que haja esforço unido e total vigilância, ele alcançará seu objetivo. Alguns se elevarão acima da simplicidade da obra e sentirão que são capazes, quando sua força é completa fraqueza. Deus será glorificado nessa grande obra. Se eles não alimentarem uma profunda e constante humildade e firme confiança em Deus, confiarão em si mesmos, entregar-se-ão à auto-suficiência, e um ou mais deles provará o amargo cálice da aflição. À medida que a obra cresce, há grande necessidade de total confiança em Deus e dependência do Poder superior. Também de completo interesse e devoção ao trabalho. Interesses egoístas precisam ser postos de lado. Deve haver mais oração, mais meditação, pois essas são prioritariamente necessárias ao sucesso e prosperidade da obra. Um espírito mercantilista não deve ser tolerado em nenhum dos que trabalham no Escritório. Se for permitido, a obra será negligenciada e arruinada. As coisas comuns serão postas no nível das coisas sagradas. Há grande perigo de que os que estão ligados a essa obra trabalhem meramente por seus salários. Não manifestam nenhum interesse especial pela obra; seu coração não está nela e não possuem nenhum senso especial de seu sagrado e exaltado caráter. Há grande risco de que os que dirigem a obra se tornem presunçosos, exaltados, e prejudiquem a causa, marcando-a com impressões humanas em lugar das divinas. Satanás é muito atento e perseverante, mas Jesus vive e todos os que O tornam sua justiça e defesa, serão particularmente sustidos. T1 588 1 Foi-me mostrado que os irmãos A, B e C estavam em perigo de prejudicar sua saúde por ficar grande parte de seu tempo em salas quentes e abafadas. Esses irmãos precisam de mais exercício físico. Seu trabalho é sedentário e na maior parte do tempo eles respiram um ar impuro e aquecido. A falta de exercício produz circulação lenta e eles se arriscam a abalar permanentemente a saúde por desatendimento às leis de seu ser. Se violarem essas leis, padecerão a segura penalidade que de alguma forma meu marido sofreu. Não serão mais preservados do que ele o foi. Nenhum deles é capaz de suportar mesmo uma pequena parcela da sobrecarga física e mental que ele suportou. T1 588 2 Esses irmãos fizeram o trabalho enfrentando as mais cruentas batalhas, as mais dolorosas provas, para levar a causa da verdade até seu estado presente. Uma grande e solene obra, porém, está diante de nós e ela exige sua dedicação, e também do irmão D, que se acha sob perigo de presunção. Deus o provará e ele precisa estar cingido com a verdade e vestido com a armadura da justiça, ou cairá nas mãos do inimigo. Todos esses irmãos necessitam aderir mais estrita e perseverantemente a um regime alimentar simples e saudável, pois todos se acham em perigo de congestão cerebral, e paralisia para um ou mais, ou todos eles, se continuarem vivendo descuidosa ou imprudentemente. T1 588 3 Vi que Deus havia selecionado o irmão B para essa grande e exaltada obra. Ele teria cuidados e encargos, todavia, todos esses seriam mais facilmente suportados com verdadeira devoção e consagração à obra. Irmão B, você precisa de profundos goles da fonte da salvação e santificação. Sua vontade não está totalmente rendida à vontade de Deus. Você acha que não pode agir diferentemente. O irmão, porém, tem falhado em andar na prazenteira luz porque não pode ver que Cristo Jesus o precede no caminho. Ocupando o cargo que ocupa, você tem em tudo ferido a si próprio e influenciado outros. Se você andar contrariamente com Deus, Ele andará contrariamente com você. Levítico 26:27, 28. Deus deseja utilizá-lo, mas o irmão precisa morrer para o próprio eu e sacrificar seu orgulho. É desígnio do Senhor usá-lo em Sua causa se o irmão atender à Sua providência, santificar-se e purificar-se "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. T1 589 1 O que se segue é o segundo testemunho, escrito em Maio de 1867 e endereçado aos jovens que trabalhavam no Escritório: T1 589 2 Caros amigos jovens que estão empregados no Escritório de Publicações de Battle Creek. Estou muito preocupada com vocês. Tem-me sido repetidamente mostrado que todos os que estão ligados à obra de Deus na publicação da verdade, para ser espalhada por todas as partes do campo, devem ser cristãos, não apenas no nome, "mas por obra e em verdade". 1 João 3:18. Seu objetivo não deve ser meramente trabalhar por salários, mas todos empenhados nesta grande e solene obra devem sentir que seu interesse está no trabalho e que o mesmo é uma parte deles. Suas motivações e influência ao ligar-se com a grande e solene obra precisam suportar o teste do Juízo. A ninguém deveria ser permitido trabalhar no Escritório de Publicações, caso seja egoísta e orgulhoso. T1 589 3 Foi-me mostrado que leviandades, tolices, gracejos e risos não deveriam ser permitidos entre os obreiros do Escritório. Os que se empenham na solene obra de preparar a verdade para ir a cada parte do campo, devem compreender que seu comportamento tem influência. Se são descuidosos, gracejadores, contadores de piadas e folgazões, enquanto lêem e preparam as solenes verdades para publicação, revelam que seu coração não está no trabalho nem santificado pela verdade. Não discernem as coisas sagradas, mas lidam com a verdade que prova o caráter, verdade que é de origem celestial, como narrativa comum, uma história, que simplesmente é lida e logo esquecida. T1 590 1 Enquanto em Rochester, vi que tínhamos tudo a temer com relação ao Escritório do ponto de vista da saúde, e que ninguém a ele ligado compreendia a necessidade de uma ventilação adequada. Suas salas eram superaquecidas e o ambiente envenenado por impurezas resultantes de exalações pulmonares e outras causas. É impossível que a mente deles tenha saudável condição para ser corretamente impressionada pelas puras e santas verdades com as quais têm de lidar, a menos que dêem o devido valor ao puro vitalizante ar do céu. T1 590 2 Foi-me mostrado que caso os que se acham tão intimamente ligados à verdade revelada não derem em sua vida evidência especial de que estão se tornando melhores pela verdade que é mantida constantemente perante eles; se sua vida não testifica do fato que amam a verdade e seus sagrados reclamos mais e mais ferventemente, estão se tornando mais endurecidos e serão cada vez menos afetados pela verdade e trabalho de Deus, até que se achem destituídos das emoções do Espírito de Deus, mortos para a impressão das verdades celestes. Não discernirão as coisas eternas, mas antes serão postas num baixo nível, com as coisas comuns. Vi que esse era o caso de alguns que estão trabalhando no Escritório de Publicações e todos, em maior ou menor grau, têm sido remissos a esse respeito. T1 590 3 Vi que a obra da presente verdade deve atrair o interesse de todos. A publicação da verdade é um plano ordenado por Deus, como meio de advertir, confortar, reprovar, exortar ou convencer a todos cuja atenção o mensageiro silencioso e mudo vier a ser apresentado. Anjos de Deus têm sua parte a desempenhar no preparar corações para serem santificados pelas verdades publicadas, a fim de que possam preparar-se para as solenes cenas que se acham perante eles. Ninguém naquele Escritório está capacitado para a importante obra de administrar cuidadosamente assuntos ligados à publicação da verdade. Os anjos precisam estar-lhes próximos para guiá-los, aconselhá-los e contê-los, ou se manifestará a sabedoria e estultícia dos agentes humanos. T1 591 1 Vi que anjos estavam freqüentemente no Escritório, nos salões de dobragem e impressão. Pude ouvir o riso, os gracejos e a conversa ociosa e tola. Mais uma vez vi a vaidade, o orgulho e egoísmo. Os anjos pareciam tristes e se retiravam magoados. As palavras que ouvi, as mostras de vaidade, orgulho e egoísmo produziram-me suspiros de angústia, enquanto os anjos saíam da sala desgostosos. Disse um anjo: "Os mensageiros celestes vieram para abençoar, para que a verdade levada pelos pregadores silenciosos pudesse ter um santo poder para cumprir sua missão, mas os que estavam empenhados nessa obra estavam tão distantes de Deus, possuíam tão pouco do divino e se achavam tão conformados com o espírito mundano que os poderes das trevas os controlavam, insensibilizando-os às impressões divinas." Ao mesmo tempo, esses jovens estavam enganados e pensavam que eram ricos e cheios de bens, de nada tendo falta, e não sabiam que era pobres e miseráveis, cegos e nus. Apocalipse 3:17. Os que lidam com a preciosa verdade como se fosse areia, não sabem quantas vezes sua insensível indiferença para com as coisas eternas, sua vaidade, amor-próprio, orgulho, gracejos e tagarelice insensata, afastaram os mensageiros do Céu do Escritório. T1 591 2 Em comportamento, palavras e atos, todos no Escritório devem ser reservados, modestos, humildes e desinteressados como seu Modelo, Jesus, o querido Salvador. Deveriam buscar a Deus e obter justiça. Esse não é lugar para brincadeiras, visitação, ociosidade, risos ou palavras inúteis. Todos devem sentir que estão fazendo uma obra para seu Mestre. As verdades que lêem e preparam para enviar ao povo, são convites de misericórdia, reprovação, ameaças, advertências ou animação. Elas estão cumprindo seu papel como um cheiro de vida para a vida ou de morte para a morte. 2 Coríntios 2:16. Se forem rejeitadas, o Juízo decidirá o assunto. A oração de todos ali deve ser: "Ó Deus, torna essas verdades que são de vital importância, claras à compreensão das mentes mais humildes! Que os anjos acompanhem esses pregadores silenciosos e abençoem sua influência para que pessoas sejam salvas por esse humilde instrumento!" T1 592 1 O coração deve arder em fervente oração enquanto as mãos estão ocupadas. Satanás não terá liberdade para agir e a pessoa, em lugar de ser estimulada à vaidade, será constantemente refrigerada como jardim regado. Os anjos se deleitarão em estar perto de tais obreiros, pois sua presença será continuamente encorajada por eles. Um poder assistirá as verdades publicadas. Divinos raios de luz provindos do santuário celestial acompanharão as preciosas verdades, assim, os que as lerem serão refrigerados e fortalecidos, e os que se opõem à verdade serão convencidos e compelidos a dizer: "Essas coisas, de fato, são assim e não podem ser contestadas." T1 592 2 Todos devem sentir que o Escritório é um lugar santo, um lugar tão sagrado como a casa de Deus. Mas o Senhor tem sido desonrado pela frivolidade e leviandade acariciadas por alguns que estão ligados à obra. Vi que estrangeiros freqüentemente saíam do Escritório desapontados. Eles o haviam associado com tudo o que é sagrado; mas quando viram os jovens, ou outros ligados ao Escritório, possuindo tão pouca seriedade, descuidados em palavras e atos, questionavam se realmente esta era a obra de Deus que preparava um povo para ser trasladado para o Céu. T1 592 3 Possa Deus abençoar a todos quantos este testemunho se refere. ------------------------Capítulo 105 -- Conflitos e vitória T1 592 4 Voltamos para o Norte, e de passagem tivemos um ótimo encontro em West Windsor. Depois de havermos chegado em casa, tivemos reuniões em Fairplains e Orleans, e também demos alguma atenção ao assunto da construção, ao cultivo de nosso jardim e a plantação de uvas, amoras-pretas, framboesas e morangos. Depois, em companhia de uma boa delegação, voltamos para Associação Geral em Battle Creek. T1 593 1 Passamos o primeiro sábado em Orleans, onde observamos jejum. Foi um dia muito solene para nós. Buscamos humilhar-nos perante Deus, e com o coração contrito e muito pranto, todos rogamos ferventemente que o Senhor nos abençoasse e fortalecesse para cumprir Sua vontade na Associação. Tínhamos fé e esperança de que nosso cativeiro fosse desfeito naquela reunião. T1 593 2 Quando chegamos a Battle Creek descobrimos que nossos prévios esforços não haviam surtido o efeito que esperávamos. Ainda existiam boatos e suspeita. Meu coração se encheu de intensa angústia. Chorei alto por algumas horas, incapaz de conter minha dor. Conversando com um amigo que eu conhecia havia vinte e dois anos, ele me disse que os boatos que ouvira falavam que Tiago e eu éramos esbanjadores de recursos. Perguntei-lhe onde havíamos sido extravagantes. Ele mencionou a compra de uma custosa cadeira. Referi-lhe então as circunstâncias. Meu marido estava muito magro e lhe era muito cansativo e mesmo doloroso sentar-se por muito tempo numa cadeira de balanço comum. Por essa razão ele se deitava numa cama ou sofá a maior parte do tempo. Eu sabia que essa não era a melhor maneira de ele readquirir o vigor, por isso pedi-lhe que ficasse mais tempo assentado. Mas a cadeira era uma dificuldade. T1 593 3 Em minha ida para o Leste para atender a meu pai moribundo, deixei meu marido em Brookfield, Nova Iorque, e enquanto em Utica, procurei uma cadeira de molas estofada. Os lojistas não tinham nenhuma peça pelo preço que eu desejava pagar, que era cerca de quinze dólares, mas ofereceram-me uma excelente cadeira, com rodinhas em vez de osciladores, de trinta por dezessete dólares. Eu sabia que essa era uma cadeira que atenderia ao que queríamos. Mas o irmão que me acompanhava insistiu que eu esperasse e mandasse fazer uma cadeira, o que custaria uns três dólares a menos. A cadeira oferecida por dezessete dólares valia o preço pedido, mas cedi à sua opinião e esperei até que a cadeira mais barata fosse confeccionada. Paguei-a eu mesma e levei-a para meu marido. Foi em Wisconsin e Iowa que ouvi o boato sobre nossa extravagância em comprar essa cadeira. Mas quem pode condenar-me? Se tivesse de fazer isso de novo, eu o faria, com uma exceção: confiaria mais em meu julgamento próprio e compraria uma cadeira que custasse alguns dólares a mais e fosse duas vezes melhor do que aquela que adquiri. Satanás por vezes influência pessoas para destruir todos os sentimentos de misericórdia e compaixão. O coração parece tornar-se de ferro, e tanto o humano quanto o divino desaparecem. T1 594 1 Chegaram até a mim boatos de que uma irmã havia declarado em Memphis e Lapeer, que a igreja de Battle Creek não tinha a menor confiança nos testemunhos da irmã White. Foi perguntado se isso se referia ao testemunho escrito. A resposta foi: "Não, não se refere às visões publicadas mas aos testemunhos dados nas reuniões da igreja, porque sua vida os contradiz." Mais uma vez pedi uma entrevista com alguns irmãos e irmãs experientes, incluindo as pessoas que haviam feito circular os boatos. Pedi-lhes que me mostrassem onde minha vida não estava de acordo com os meus ensinamentos. Se minha vida havia sido tão incompatível para produzir a declaração de que a igreja de Battle Creek não tinha confiança em meu testemunho, não seria difícil apresentar provas de meu comportamento não-cristão. Nada puderam apresentar em justificativa às declarações feitas, e confessaram seu erro de circular os boatos, admitindo que suas suspeitas e ciúmes não tinham fundamento. Perdoei de coração àqueles que nos feriram e disse-lhes que tudo o que eu pedia era que desfizessem a influência que haviam exercido contra nós. Assim eu ficaria satisfeita. Eles prometeram fazer isso, mas não cumpriram. T1 595 1 Muitos outros rumores contra nós, todos igualmente falsos ou exagerados, foram livremente espalhados pelas diversas famílias, por ocasião da Assembléia, e a maioria nos olhava, especialmente a meu marido, com suspeita. Algumas pessoas de influência manifestaram disposição de nos esmagar. Como estávamos passando por necessidades e meu marido tentou vender nossa propriedade, acharam que ele estava errado. Ele havia declarado que sua boa vontade em permitir que os irmãos compensassem a perda de nossa vaca, fora considerada um pecado hediondo. Supondo que nossa propriedade em Battle Creek fosse boa para ser vendida, compramos um terreno em Greenville e começamos a construir. Mas não conseguimos vender a propriedade de Battle Creek, e em nossa difícil situação meu marido escreveu a diversos irmãos pedindo dinheiro emprestado. Foi condenado, por essa razão, como alguém ávido por dinheiro. E do pastor mais ativo nesta obra ouviram-se as palavras: "Não queremos que o irmão E compre o imóvel do irmão White, pois precisamos desse dinheiro para o Instituto de Saúde." Que podíamos fazer? Para onde quer que nos voltássemos, éramos acusados. T1 595 2 Sessenta e cinco horas antes de meu marido sofrer uma crise, ele ficou até a meia-noite numa igreja pedindo trezentos dólares para terminar de pagar por ela. Para dar força a seu apelo, encabeçou a lista de subscrição com dez dólares em seu nome e mais dez no meu. Antes da meia-noite a quantia estava praticamente completa. O ancião daquela igreja era um velho amigo, e em nossa extrema necessidade e desamparada condição, meu marido escreveu-lhe dizendo que estávamos em necessidade e se aquela igreja desejasse devolver os vinte dólares, nós os aceitaríamos. Por ocasião da Assembléia esse irmão nos exortou, fazendo do assunto um grave erro. Antes de visitar-nos em casa, ele fora contaminado de alguma forma pela influência geral. Lamentamos profundamente essas coisas, e se não houvéssemos sido sustidos pelo Senhor, não teríamos conseguido apresentar nosso testemunho na Assembléia com tamanho desembaraço. T1 596 1 Antes de regressarmos da Assembléia, os irmãos Andrews, Pierce e Bourdeau fizeram uma sessão especial de oração em nossa casa, na qual fomos grandemente abençoados, especialmente meu marido. Isso lhe deu coragem para voltar ao nosso novo lar. Então começaram dolorosos sofrimentos com os dentes, e nossos trabalhos noticiados na Review. Ele deixou de pregar apenas por uma semana por causa da falta de dentes, mas trabalhou em Orange e Wright, com a igreja em casa, em Greenbush e Bushnell, pregando e batizando como antes. T1 596 2 Depois de retornar da Assembléia, sobrevieram-me grandes incertezas em relação à prosperidade da causa de Deus. Eu tinha dúvidas sobre coisas que, seis meses antes, não me ocorriam à mente. Via o povo de Deus assimilando o espírito mundano, imitando-lhe as modas e abandonando a simplicidade de nossa fé. Parecia que a igreja de Battle Creek estava apostatando, e que era impossível despertar suas sensibilidades. Os testemunhos que Deus me dera tinham pequena influência, e em Battle Creek eram mais desconsiderados do que em qualquer outra parte do campo. Eu tremia pela causa de Deus. Sabia que o Senhor não havia abandonado Seu povo, mas que seus pecados e iniqüidades os haviam separado de Deus. Battle Creek é o grande coração da obra. Cada pulsação é sentida pelos membros do corpo espalhados por todo o campo. Se esse grande coração estiver com saúde, a circulação vital será sentida através de todo o corpo de observadores do sábado. Se o coração estiver debilitado, a mórbida condição de cada ramo da obra evidenciará o fato. T1 596 3 Meu interesse está nessa obra. Minha vida acha-se unida a ela. Quando Sião prospera, sou feliz; se ela enfraquece, fico triste, desesperançada, desanimada. Vi que o povo de Deus estava numa condição assustadora, e que Seu favor estava sendo retirado deles. Eu pensava nesse quadro dia e noite e suplicava em amarga angústia: "Ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio; ... porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?" Joel 2:17. Eu sentia que fora desligada de todos os líderes da obra, ficando virtualmente sozinha. Não me atrevia a confiar em ninguém. À noite, despertava meu marido para dizer-lhe: "Receio tornar-me infiel." Depois clamava ao Senhor para que me salvasse por Seu poderoso braço. Não podia ver quem houvesse atendido aos meus testemunhos e sustinha a idéia de que talvez meu trabalho na obra já tivesse terminado. Tínhamos compromisso em Bushnell, mas disse a meu marido que não poderia ir. Pouco depois ele voltou do correio trazendo a carta do irmão Matteson, que relatava o seguinte sonho: T1 597 1 "Prezado irmão White, que a bênção de Deus seja com você, e possam estas linhas encontrá-lo prosperando sempre e melhorando em saúde e força espiritual. Sou muito grato ao Senhor pela bondade que tem usado para com o irmão e espero que ainda possa desfrutar perfeita saúde e liberdade na proclamação da última mensagem. T1 597 2 "Tive um sonho excepcional com você e a irmã White, e sinto-me no dever de relatá-lo tanto quanto me recordo. Sonhei que estava relatando o sonho à irmã White, bem como sua interpretação, que também me foi dada no sonho. Quando acordei, alguma coisa me impeliu a registrá-lo em todos os seus pormenores para não esquecê-los; mas deixei de fazê-lo em parte porque estava cansado e em parte porque achava tratar-se simplesmente de um sonho. Mas, considerando que nunca sonhara com vocês antes, que esse sonho era de fácil compreensão e tão intimamente relacionado com vocês, que cheguei à conclusão que deveria contá-lo. O que passo a referir é tudo aquilo de que posso me lembrar: T1 597 3 "Estava eu numa casa ampla onde havia um púlpito semelhante àqueles que usamos em nossas igrejas. Sobre ele havia muitas lâmpadas acesas. Essas lâmpadas necessitavam de constante suprimento de óleo, e muitos de nós estávamos empenhados em transportar o óleo e supri-las. O irmão White e sua esposa estavam muito ocupados, e notei que a irmã White despejava mais óleo do que os demais. Então o Pastor White saiu pela porta que dava acesso a um armazém, onde havia muitos barris de óleo. Ele abriu a porta e entrou. A irmã White o seguiu. Precisamente nesse instante, um grupo de homens que os acompanhava, trazendo uma substância negra parecida com fuligem, lançaram-na sobre o irmão e a irmã White, cobrindo-os completamente. Fiquei preocupado e procurei ansiosamente ver como tudo aquilo terminaria. Podia ver o casal White trabalhando duramente para livrar-se da fuligem, e após muita luta, saíram tão limpos como antes, e tanto os homens maus quanto a fuligem desapareceram. Em seguida, o irmão e a irmã White novamente se empenharam mais fervorosamente do que nunca a suprir as lâmpadas com óleo, mas a irmã White ainda o precedia. T1 598 1 "Sonhei que esta era a interpretação: As lâmpadas representavam o povo remanescente. O óleo era a verdade e o amor celestial, dos quais o povo de Deus precisa de constante suprimento. As pessoas envolvidas no abastecimento das lâmpadas eram os servos de Deus trabalhando na colheita. Quem eram os maus indivíduos, eu particularmente não pude determinar, mas eram homens controlados pelo diabo, que exerciam más influências especialmente contra o irmão White e sua esposa. Estes sofreram grande angústia por algum tempo, mas foram por fim livrados pela graça de Deus e esforços próprios determinados. Finalmente, o poder de Deus repousou sobre eles e tiveram importante parte na proclamação da última mensagem de misericórdia. Mas a irmã White possuía mais rico suprimento que os demais em sabedoria celestial e amor. T1 598 2 "Esse sonho fortaleceu mais minha confiança de que o Senhor que iniciou a obra de restauração em vocês, a terminará, e que os irmãos mais uma vez desfrutarão o Espírito de Deus como nos tempos passados e até mais profusamente. Não se esqueçam de que a humildade é a porta que conduz aos ricos suprimentos da graça de Deus. Que o Senhor o abençoe, a sua esposa e os filhos, e nos permita encontrar-nos no reino celestial. Nos laços do amor cristão, John Matteson, Oakland, Wisconsin, 15 de Julho de 1867. T1 599 1 Esse sonho trouxe-me alento. Eu tinha confiança no irmão Matteson. Antes de vê-lo pessoalmente, seu caso foi-me mostrado em visão, em contraste com o de F, de Wisconsin. F era inteiramente indigno de portar o nome de cristão, quanto mais de ser um mensageiro, mas o irmão Matteson, foi-me mostrado como alguém humilde e que, se mantivesse sua consagração, estaria qualificado para levar pessoas ao Cordeiro do Deus. O irmão Matteson não tinha conhecimento de minhas tribulações de espírito. Nunca trocáramos uma linha e o sonho, vindo oportunamente e por meio desse irmão, pareceu-me como a mão de Deus estendida para socorrer-me. T1 599 2 Estávamos ansiosos por estar construindo com dinheiro emprestado, o que nos causava incertezas. Atendíamos a nossos compromissos e trabalhávamos diligentemente durante a estação mais quente. Por falta de meios, íamos ao campo juntos, capinando, cortando e limpando feno. Enquanto meu marido, com suas mãos enfraquecidas, lançava-me o feno, eu tomava meu forcado e o amontoava. Pegando um pincel, pintei grande parte do interior de nossa casa. Por causa disso tudo, estávamos muito cansados. Repentinamente, perdi as forças e nada mais pude fazer. Desmaiei durante várias manhãs, e meu marido teve de assistir, sem mim, às reuniões no bosque de Greenbush. T1 599 3 Nossa velha e dura carruagem quase nos matou e a nossa parelha de animais. As longas viagens, os trabalhos nas reuniões, os cuidados e labutas domésticos, foram demais para nós e eu temia haver chegado ao fim de meu trabalho. Meu marido tentou animar-me e insistiu para que retomássemos nossos compromissos em Orange, Greenbush e Ithaca. Finalmente resolvi sair de viagem, se não piorasse. Viajei dezesseis quilômetros ajoelhada na carruagem sobre uma almofada, recostando minha cabeça sobre outra almofada no colo de meu marido. Ele dirigia a carruagem e me amparava. Na manhã seguinte eu estava um pouco melhor e resolvi prosseguir. Deus nos ajudou a falar com poder ao povo de Orange, e um grande trabalho foi feito em favor dos que haviam abandonado a fé e dos pecadores. Em Greenbush tive liberdade e forças. Em Ithaca, o Senhor ajudou-nos a falar a uma grande congregação, a qual jamais tínhamos visto antes. T1 600 1 Em nossa ausência, os irmãos King, Fargo e Maynard acharam que, por amor a nós mesmos e a nossos animais, deveríamos ter uma carruagem mais leve e confortável. Assim que, ao retornarmos, levaram meu marido até Ionia e compraram a carruagem que ainda temos. Isso era exatamente o que necessitávamos e que nos pouparia muito cansaço nas viagens durante o verão. T1 600 2 Nesse tempo recebemos insistentes pedidos para assistirmos às assembléias no Oeste. Enquanto líamos esses comoventes apelos, choramos sobre eles. Meu marido me disse: "Ellen, não podemos assistir a essas reuniões. Na melhor das hipóteses, eu mal poderia cuidar de mim mesmo numa viagem como essa, e se você desmaiasse, o que eu faria? Mas, Ellen, precisamos ir." Enquanto ele falava, lágrimas embargavam-lhe a voz. Por minha vez, ao pensar sobre nossa débil condição, no estado da causa no Oeste e na necessidade que os irmãos tinham de nossos préstimos, eu disse: "Tiago, não podemos assistir a essas reuniões no Oeste, entretanto, precisamos ir." A essa altura, muitos dos fiéis irmãos, vendo nossa condição, ofereceram-se para ir conosco. Isso foi o bastante para decidir a questão. Partimos de Greenville em nossa nova carruagem, no dia 29 de Agosto, a fim de assistir à reunião geral em Wright. Quatro equipes nos acompanhavam. A viagem foi confortável e bastante agradável, em companhia de prestativos irmãos. O encontro foi vitorioso. T1 600 3 Nos dias 7 e 8 de Setembro tivemos preciosas sessões em Monterey, com os irmãos do Condado de Allegan. Lá encontramos o irmão Loughborough, que começou a perceber os erros existentes em Battle Creek e lamentava a parte que havia desempenhado com respeito a eles, os quais haviam prejudicado a causa e nos imposto cargas cruéis. A pedido nosso, ele nos acompanhou até Battle Creek. Mas antes de deixarmos Monterey, referiu-nos o seguinte sonho: T1 600 4 "Quando o casal White veio a Monterey, no dia 7 de Setembro, pediram-me que os acompanhasse até Battle Creek. Hesitei em ir, pensando ser meu dever atender aos interesses da causa em Monterey e, como lhes disse na ocasião, também achava haver pouca oposição a eles em Battle Creek. Depois de orar sobre o assunto por vários dias, fui dormir certa noite rogando que o Senhor me desse luz sobre a questão. T1 601 1 "Sonhei que, juntamente com outros membros da igreja de Battle Creek, estávamos em um trem de passageiros. Os vagões eram baixos e eu mal podia ficar em pé em seu interior. Eram mal ventilados e exalavam um odor, como se por meses não houvessem sido arejados. A via férrea sobre que passavam era muito irregular e os vagões estremeciam fortemente, fazendo com que, algumas vezes nossa bagagem caísse e alguns passageiros fossem lançados para fora. Tínhamos de ficar parando para reembarcar nossos passageiros e bagagem, ou consertar os trilhos. Parecia-nos que depois de trabalhar por algum tempo, fazíamos pouco ou nenhum progresso. Éramos realmente um grupo de passageiros melancólicos. T1 601 2 "Imediatamente chegamos a uma plataforma giratória, grande o suficiente para caber todo o trem. O irmão e a irmã White estavam ali de pé, e enquanto eu descia do trem, disseram: 'Tudo está errado neste trem. É preciso mudar de rumo.' Ambos se apoderaram das manivelas que moviam o maquinismo que girava a plataforma e puxaram-nas com toda a força. Nunca pessoas trabalharam tão arduamente manobrando um vagão, como eles nas manivelas da plataforma. Fiquei parado observando até que vi o trem começar a girar. Foi quando exclamei: 'Ele se move!' e corri para ajudá-los. Estávamos tão absortos em realizar o trabalho de girar o plataforma, que prestei pouquíssima atenção ao trem. T1 601 3 "Havendo concluído a tarefa, erguemos os olhos, e eis que o trem inteiro se havia transformado. Em lugar dos vagões baixos e mal ventilados em que havíamos viajado, havia carros espaçosos, altos e bem arejados, com janelas amplas e claras, todos decorados e arrumados da maneira mais esplêndida, e de maior bom gosto do que qualquer palácio ou carro-dormitório que eu jamais vira. Os trilhos eram nivelados, suaves e firmes. O trem estava lotado de passageiros cujos semblantes eram alegres e felizes, porém apresentando expressões de convicção e solenidade. Todos pareciam exprimir grande satisfação pela mudança que ocorrera e pela maior segurança na bem-sucedida transformação do trem. O casal White estava no trem e seu rosto brilhava com santa alegria. Quando o trem partiu, fiquei tão cheio de alegria, que despertei com a impressão de que o sonho se referia à igreja de Battle Creek e aos assuntos pertinentes à causa ali. Ficou perfeitamente claro em minha mente o dever de ir a Battle Creek e prestar meus serviços a obra nesse lugar. Agora estou feliz de ter estado aqui para ver a bênção do Senhor acompanhando os árduos trabalhos do irmão e da irmã White para pôr as coisas em ordem. J. N. Loughborough. T1 602 1 Antes de deixarmos Monterey, o irmão Loughborough contou-me outro sonho que teve por ocasião da morte de sua esposa. Esse sonho também me foi motivo de animação. T1 602 2 "'O profeta que teve um sonho, que conte o sonho.' Jeremias 23:28. T1 602 3 "Uma noite, após refletir nas aflições de Tiago e Ellen White, em sua relação com a obra da mensagem do terceiro anjo, na minha própria omissão em apoiá-los nas suas atribulações; e após confessar meus erros ao Senhor e implorar Sua bênção sobre eles, deitei-me para descansar. T1 602 4 "No sonho, eu me achava em minha cidade natal, na encosta de uma extensa colina. Eu falava com muito fervor, dizendo: 'Oh, que eu possa encontrar a fonte curadora!' Então um jovem belo e bem vestido se aproximou e disse amavelmente: 'Eu o levarei à fonte.' Ele foi à frente e eu tentei segui-lo. Subimos a encosta da colina, passando com muita dificuldade por três lugares úmidos e pantanosos, através dos quais fluíam pequenas correntes de água lamacenta. Não havia meio de cruzá-las, a não ser por seus vaus. Feito isso, chegamos a um terreno sólido e bom, onde havia uma saliência e também uma grande fonte de água puríssima e borbulhante. Um grande tonel fora posto ali, o qual era muito semelhante a uma tina de imersão do Instituto de Saúde de Battle Creek. Uma tubulação ligava a fonte a uma das extremidades da tina, e a água estava transbordando pela outra. O Sol brilhava refletindo seus raios na água. T1 603 1 "Enquanto nos aproximávamos da fonte, o jovem nada disse; apenas olhava para mim e sorria com expressão de satisfação. Então fez um sinal com a mão rumo à fonte, como que a perguntar-lhe: Você pensa que é uma fonte que cura tudo? Uma multidão, com o casal White à frente, veio à nascente pelo lado oposto em que estávamos. Eles pareciam alegres e bem dispostos, todavia, santa solenidade parecia estampada em seu semblante. T1 603 2 "O irmão White havia melhorado muito de saúde e estava animado e feliz, embora parecesse cansado como se tivesse caminhado longa distância. A irmã White tinha em sua mão um grande copo, o qual mergulhava na fonte, bebia sua água e passava-a para os demais. O irmão White falava ao grupo, dizendo-lhe: 'Agora vocês poderão ver os efeitos desta água.' Então ele a bebeu e instantaneamente se sentiu revigorado. Assim fizeram todos os outros. Sua aparência mostrava vigor e força. Enquanto o irmão White falava e tomava novos goles de água, colocava suas mãos nas bordas da tina e mergulhava três vezes. Cada vez que emergia estava mais forte do que antes, e mantinha-se falando o tempo todo, exortando os demais a vir e banharem-se na 'fonte', como ele a chamava, e beber de sua corrente sanadora. Sua voz, bem como a da irmã White, pareciam melodiosas. Alegrei-me porque havia descoberto a fonte. A irmã White dirigiu-se a mim ofertando-me um copo de água para beber, mas eu estava tão feliz que acordei antes de tomá-la. T1 604 1 "Que o Senhor me conceda beber a largos goles dessa água, pois creio que ela não é outra senão aquela de que Cristo falou que jorraria 'para a vida eterna'. João 4:14. J. N. Loughborough, Monterey, Michigan, 8 de Setembro de 1867. T1 604 2 Nos dias 14 e 15 de Setembro tivemos proveitosas reuniões em Battle Creek. Ali meu marido falou com liberdade para reprovar corajosamente alguns pecados daqueles que ocupavam altos cargos na causa, e pela primeira vez em vinte meses, assistiu a reuniões vespertinas e pregou à noite. Uma boa obra se iniciou e a igreja, conforme matéria publicada na Review, garantiu-nos apoio caso quiséssemos prosseguir trabalhando com eles em nosso retorno do Oeste. T1 604 3 Em companhia do casal Maynard e dos irmãos Smith e Olmstead, assistimos as grandes reuniões do Oeste, cujos principais sucessos foram amplamente divulgados pela Review. Enquanto assistíamos às reuniões em Wisconsin, fiquei muito debilitada. Eu trabalhara além de minhas forças em Battle Creek e quase desmaiei durante a viagem de trem. Por quatro semanas sofri muito com problemas pulmonares, e foi com dificuldade que falei ao povo. No sábado à noite, aplicaram-me uma fomentação na garganta e pulmões, mas o envoltório da cabeça foi esquecido, e o problema pulmonar transferiu-se para o cérebro. Quando me levantei pela manhã, senti uma estranha sensação no cérebro. As vozes pareciam vibrar e tudo parecia oscilar diante de mim. Ao tentar andar, cambaleei e quase caí ao chão. Tomei meu desjejum esperando ficar aliviada, mas o problema apenas aumentou. Fiquei pior e não conseguia sequer assentar-me. T1 604 4 Meu marido voltou para casa depois da reunião da manhã, dizendo que havia me indicado para falar na parte da tarde. Parecia-me impossível comparecer diante do público. Quando meu marido perguntou sobre qual assunto eu falaria, não pude formar uma só sentença em minha cabeça. Mas eu pensava: "Se o Senhor quiser que eu fale, Ele certamente há de dar-me forças. Aventurar-me-ei pela fé, e se falhar, é o máximo que me pode acontecer." Fui cambaleando até a tenda, com a mente muito confusa, mas disse aos irmãos pregadores que estavam na plataforma, que se me apoiassem com suas orações, eu falaria. Pus-me diante do povo com fé e em cerca de cinco minutos, minha cabeça e pulmões se descongestionaram, e falei sem a menor dificuldade por mais de uma hora a mil e quinhentos ouvintes ansiosos. Quando terminei, um senso da bondade e misericórdia de Deus repousou sobre mim, e não pude deixar de levantar-me novamente e falar a respeito de minha enfermidade e de como a bênção de Deus me sustentou enquanto eu falava. Desde aquele encontro, meus pulmões melhoraram muito, bem como minha saúde. T1 605 1 Enfrentamos, no Oeste boatos contra meu marido, os quais eram pouco menos que difamação. Esses boatos, que eram prevalecentes nas épocas de Assembléia Geral, foram levados a todas as partes do campo. Apresento um deles apenas como exemplo: Disseram que meu marido era tão louco por dinheiro, que se empenhara em vender garrafas velhas. Mas, os fatos são estes: quando estávamos para nos mudar, perguntei a meu marido o que faríamos com grande quantidade de garrafas velhas que tínhamos. Disse ele: "Vamos jogá-las fora." Justamente naquele momento, nosso filho Willie entrou e se ofereceu para lavá-las e vendê-las. Disse-lhe para fazer isso e que ficasse com o que conseguisse obter por elas. Quando meu marido foi ao correio, levou Willie e as garrafas na carruagem. T1 605 2 Ele não podia fazer menos por seu leal filhinho. Willie vendeu as garrafas e ficou com o dinheiro. A caminho do correio, meu marido deu carona a um irmão que trabalhava na Review. Tiveram uma conversa agradável pelo caminho à cidade. Porque vira então Willie descer da carruagem e perguntar ao pai sobre o valor das garrafas, e também por acompanhar a conversa que o farmacêutico teve com meu marido sobre o que tanto interessava a Willie, este irmão, sem dizer uma palavra a meu marido, começou imediatamente a espalhar que o irmão White tinha ido à cidade para vender garrafas velhas e portanto, devia estar louco. A primeira vez que ouvimos sobre esse assunto das garrafas foi em Iowa, cinco meses depois. T1 606 1 Essas coisas foram ocultas de nós, de modo que não pudéssemos dar nossa versão dos fatos, mas foram divulgadas como que pelas asas do vento por nossos professos amigos. Ficamos surpresos ao descobrir, por informação e pelas confissões de quase todos os membros dessa igreja, que a maioria dos boatos foram aceitos por quase todos, e que esses professos cristãos nutriam sentimentos de censura, amargura e crueldade contra nós, particularmente contra meu debilitado marido que lutava por vida e liberdade. Alguns manifestaram espírito ímpio e esmagador e o têm descrito como rico, contudo ávido por dinheiro. T1 606 2 Ao voltar de Battle Creek, meu marido convocou um conselho de irmãos para reunir-se com a igreja, a fim de examinar esse assunto e desfazer os boatos. Muitos irmãos vieram de diferentes partes do Estado, e meu marido destemidamente intimou todos a que dissessem o que tinham contra ele, a fim de que pudesse refutar abertamente as acusações e dar-lhes um fim. Os erros que ele havia anteriormente declarado na Review, voltou a confessá-los em reuniões públicas e encontros particulares, e também deu explicação a muitos assuntos nos quais se baseavam muitos dos boatos e tolas acusações, convencendo a todos da falsidade dessas acusações. T1 606 3 Enquanto considerava questões referentes ao valor real de nossa propriedade, descobrimos para sua grande surpresa e de todos os presentes, que ela era estimada em mil e quinhentos dólares, não incluindo os cavalos, a carruagem, algumas edições de livros e diagramas cuja venda, no ano anterior, conforme declarara o secretário, não havia sido igual aos juros do dinheiro que ele devia à Sociedade de Publicações. Esses livros e diagramas não podiam ser tidos por nós como de muito valor em nossa presente condição. T1 607 1 Quando estava com boa saúde, meu marido não tinha tempo para registros das contas, e durante sua doença, seus negócios ficavam nas mãos de outros. Levantou-se a questão: o que aconteceu com sua propriedade? Foi ela lesada? Houve erros em seus cálculos? Teria ele, na condição incerta de seus assuntos, dado a este ou àquele bons objetos, não se dando conta de sua real capacidade de dar e não sabendo o quanto deu? T1 607 2 Como positivo efeito de exame, a confiança naqueles que tinham a seu cargo a contabilidade de nossos assuntos manteve-se inabalável, e não temos nenhuma razão para concluir que nossos limitados meios pudessem ser atribuídos a erros contábeis. Portanto, ao examinar cuidadosamente os assuntos financeiros de meu marido durante dez anos, e sua maneira liberal de distribuir recursos para ajudar a obra em todos os seus ramos, a melhor e a mais bondosa conclusão é de que nossa propriedade foi usada na causa da verdade presente. Meu marido não manteve anotações de nossas contas, e o que ele deu está registrado apenas em nossa memória e nos recibos da Review. O fato de possuirmos tão pouco surge num momento em que meu marido foi descrito como rico e ávido por mais, e nos alegra porque é a melhor refutação das falsas acusações que ameaçavam nossa influência e reputação. T1 607 3 Podemos ficar sem nossa propriedade e ainda assim nos regozijaremos em Deus, se ela for empregada na divulgação de Sua causa. Temos alegremente despendido o melhor de nossa vida e forças, e quase chegamos ao ponto de esgotamento na obra, sofrendo enfermidades próprias da velhice prematura, mas ainda assim nos alegramos. Sentimos profundamente, porém, quando professos irmãos atacam nosso caráter e influência dizendo que somos mundanos, ricos e ávidos por mais. Permitam-nos desfrutar do caráter e da influência que temos conquistado a tão elevado preço, nos últimos vinte anos, mesmo com pobreza, pouca saúde e esta vida mortal, e nos regozijaremos e daremos prazerosamente à causa o pouco que ainda nos resta. T1 608 1 A verificação foi completa e como resultado ficamos livres das acusações que nos foram dirigidas, restaurando os sentimentos de perfeita união. Foram feitas confissões sinceras e contritas da cruel conduta adotada para conosco, e a bênção de Deus repousou sobre todos. Muitos apostatados voltaram à igreja, pecadores se converteram, e quarenta e quatro pessoas foram batizadas. Meu marido batizou dezesseis; e os irmãos Andrews e Loughborough, vinte e oito. Embora cansados, estávamos muito animados. Meu marido e eu temos levado as cargas da obra, que têm sido penosas e desgastantes. Como conseguimos, em nosso estado de fraqueza, passar pelo exame com quase todos contra nós, suportando os compromissos com pregações, exortações e tardias reuniões noturnas, e ao mesmo tempo preparar estes testemunhos, com meu marido me auxiliando, copiando-os, preparando-os para a impressão e lendo as provas, somente Deus sabe! No entanto, conseguimos passar por tudo isso e esperamos que Deus nos sustenha em nossos futuros trabalhos. T1 608 2 Acreditamos que muitos dos sonhos já referidos foram dados para ilustrar as tribulações procedentes dos erros existentes em Battle Creek, bem como nossa luta em defender-nos das desumanas acusações e, com a bênção de Deus, pôr as coisas em seus devidos lugares. Se este ponto de vista dos sonhos estiver certo, não poderemos esperar, de outras partes ainda não cumpridas, que tenhamos um futuro mais favorável que o passado? T1 608 3 Ao concluir esta exposição, gostaria de dizer que estamos vivendo em tempos muito solenes. Na última visão a mim dada, foi-me mostrado o alarmante fato de que apenas pequena porção dos que agora professam a verdade, serão santificados e salvos por ela. Muitos haverão de se pôr acima da simplicidade da obra. Conformar-se-ão com o mundo, adotando ídolos e tornando-se espiritualmente mortos. Os humildes e abnegados seguidores de Jesus buscarão a perfeição, deixando para trás os indiferentes e amantes do mundo. T1 609 1 Foi-me apontado o antigo Israel. Apenas dois dos adultos, dentre o vasto exército que deixou o Egito, entraram em Canaã. Seus cadáveres ficaram espalhados no deserto por causa de suas transgressões. O Israel moderno está em maior perigo de esquecer-se de Deus e ser levado à idolatria do que o antigo povo de Deus. Adoram-se muitos ídolos, mesmo entre os professos observadores do sábado. Deus advertiu Seu antigo povo a guardar-se da idolatria, pois se se desviassem do Deus vivo, Sua maldição recairia sobre eles, enquanto que se O amassem "de todo o coração, e de toda a alma, e de todas as forças" (Marcos 12:33), Ele abençoaria abundantemente o seu cesto e a sua amassadeira e removeria do meio deles toda enfermidade. T1 609 2 A bênção ou a maldição estão agora diante do povo de Deus -- a bênção se saírem do mundo, se se apartarem dele e andarem nos caminhos da humilde obediência; a maldição, se se unirem aos idólatras e desprezarem os altos reclamos do Céu. Os pecados e iniqüidades do rebelde Israel foram registrados e se apresentam diante de nós como advertência, mostrando-nos que se imitarmos seu exemplo transgressor e nos afastarmos de Deus, certamente cairemos como eles. "Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. ------------------------Capítulo 106 -- Resposta da igreja de Battle Creek T1 610 3 Achamos ser um privilégio e um dever responder às declarações da irmã White. Temos sido favorecidos por estar familiarizados, desde há muito, com os trabalhos desses servos do Senhor [Tiago e Ellen White]. T1 610 4 Sabemos alguma coisa de seus sacrifícios feitos no passado e testemunhado a bênção de Deus que tem acompanhado seu testemunho fiel, franco e penetrante. Já há muito estamos convictos de que os ensinos do Espírito Santo nessas visões foram indispensáveis ao bem-estar do povo que se está preparando para a trasladação ao reino de Deus. De nenhuma outra maneira podem os pecados secretos ser reprovados e os homens vis que se introduzem "com dissimulação" (Judas 4) no rebanho de Deus ser desmascarados e malogrados os seus maus desígnios. A longa experiência nos ensina que esse dom é de inestimável valor para o povo de Deus. Cremos também que Deus chamou o irmão White para dar um testemunho claro ao reprovar erros patentes, e que nesse trabalho ele deveria ter o apoio daqueles que verdadeiramente temem a Deus. T1 610 1 Aprendemos também por penosa experiência que, quando esses testemunhos silenciam, ou suas advertências consideradas superficialmente, frieza, apostasia, espírito mundano e espiritual escuridão toma posse da igreja. Não queremos dar glória ao homem, mas seríamos desleais ao senso de nosso dever se não falássemos, em linguagem forte e destacada, de nossos pontos de vista sobre a importância desses testemunhos. A temível apostasia daqueles que os menosprezam, que os desdenham, tem proporcionado muitas lamentáveis provas da perigosa conduta de desprezar o Espírito de graça. T1 610 2 Temos sido testemunhas da grande aflição pela qual passou os irmãos White, durante a grave e temível doença do irmão White. A mão de Deus em sua restauração é mais que evidente. Provavelmente nenhum outro sobre quem se abateu tal revés jamais se recuperou. Contudo, o gravíssimo ataque de paralisia afetou-lhe seriamente o cérebro, mas a boa mão divina repousou sobre ele concedendo-lhe novas forças físicas e mentais. T1 610 3 Acreditamos que a atitude da irmã White ao levar consigo o marido doente em sua excursão pelo Norte, no último mês de Dezembro, foi inspirada pelo Espírito de Deus e que nós, ao nos opormos a tal conduta, não agimos segundo o conselho do Senhor. Faltou-nos sabedoria celestial nesse assunto e assim nos desviamos do caminho reto. Reconhecemos que nos faltou então aquela profunda compaixão cristã requerida por tão grande aflição e que fomos muito vagarosos em ver a mão de Deus na recuperação do irmão White. Seus esforços e sofrimentos a nosso favor lhe davam o direito a nossa mais calorosa simpatia e apoio. Fomos, porém, cegados por Satanás no que respeita a nossa própria condição espiritual. T1 611 1 Um espírito de preconceito referente a meios se apoderou de nós durante o inverno passado, fazendo-nos suspeitar que o irmão White estivesse pedindo recursos de que não necessitava. Agora apuramos que justamente naquela ocasião ele realmente os necessitava, e que estávamos errados em não nos cientificarmos do caso como deveríamos. Reconhecemos que esse sentimento era infundado e cruel, embora causado por má compreensão dos fatos. T1 611 2 Aceitamos, com profunda tristeza de coração, a reprovação transmitida a nós através deste testemunho, e pedimos que assim como nos desviamos da retidão por causa da falta de discernimento espiritual, possamos receber o perdão de Deus e de Seu povo. T1 611 3 Os trabalhos do irmão e da irmã White conosco, poucos dias atrás, foram assistidos pela assinalada bênção de Deus. Não só foram feitas profundas e sinceras confissões de apostasia e pecados, mas solenes votos de arrependimento e retorno a Deus as acompanharam. O Espírito do Senhor pôs Seu selo sobre essa obra, de tal maneira que dela não podemos duvidar. Muitos jovens foram trazidos a Cristo, e quase todas as pessoas ligadas a esta igreja receberam bênçãos celestiais. T1 611 4 Que os irmãos de outros lugares possam compreender que nosso coração está ligado em simpatia ao casal White, que cremos que eles foram chamados por Deus para um trabalho de alta responsabilidade no qual estão empenhados, e que nos comprometemos a apoiá-los nesse trabalho. T1 612 1 Em nome da igreja, J. N. Andrews, J. N. Loughborough, Joseph Bates, D. T. Bourdeau, A. S. Hutchins, John Byington, A Comissão. T1 612 2 No dia 21 de Outubro, numa segunda-feira à noite, o precedente relatório foi unanimemente aprovado. Uriah Smith, G. W. Amadon, Pastores. ------------------------Capítulo 107 -- "Magoar e ferir" T1 612 3 Esta expressão é freqüentemente empregada para representar as maneiras e palavras de pessoas que reprovam aqueles que estão ou supostamente estejam em erro. É aplicada com propriedade aos que não têm o dever de reprovar seus irmãos, e todavia estão prontos para assumir esse trabalho de maneira precipitada e impiedosa. É indevidamente atribuída àqueles que estão sob o dever especial de reprovar os erros na Igreja. Essas pessoas têm responsabilidade e se sentem compelidas, por amor às preciosas almas, a lidar fielmente com o problema. T1 612 4 De tempos em tempos, durante vinte anos, foi-me mostrado que o Senhor qualificara meu marido para a obra de tratar fielmente com os errantes, que pusera sobre ele essa responsabilidade. Se ele deixasse de cumprir esse dever, incorreria no desagrado de Deus. Jamais considerei seu julgamento infalível, nem inspiradas as suas palavras, mas sempre cri que ele estava melhor qualificado para esse trabalho do que qualquer outro de nossos pregadores, por causa de sua longa experiência e porque eu havia visto que ele fora especialmente chamado e capacitado para essa tarefa. Também, em muitos casos onde as pessoas se insurgiram contra suas repreensões, foi-me mostrado que ele estava certo em seu julgamento e maneira de reprovar. T1 613 1 Nestes últimos vinte anos, aqueles que têm sido reprovados, juntamente com seus simpatizantes, têm manifestado um espírito acusador contra meu marido, o qual lhe trouxe abatimento maior do quaisquer outras das cruéis cargas que lhe foram injustamente impostas. E quando ele cedeu sob esses fardos, muitos daqueles que haviam sido reprovados, regozijaram-se. E a partir da equivocada idéia de uma visão que tive a seu respeito, em 25 de Dezembro de 1865, acharam que o Senhor o estava castigando por "magoar e ferir". Tudo isto está errado. Eu não vi tal coisa. A fim de que meus irmãos saibam o que realmente vi com relação a meu marido, relato a seguir o que escrevi e lhe entreguei no dia posterior à visão: T1 613 2 Em 25 de Dezembro de 1865, foi-me mostrado em visão o caso do servo do Senhor, meu marido, o Pastor Tiago White. Vi que o Senhor aceitou sua humilhação, e a aflição de espírito diante dEle, e sua confissão de falta de consagração a Deus e arrependimento das faltas e erros de conduta que lhe causaram tanta tristeza e abatimento mental durante sua prolongada enfermidade. T1 613 3 Foi-me revelado que seu maior erro no passado foi ter manifestado espírito implacável para com aqueles irmãos que prejudicaram sua influência na causa de Deus e, por seu errôneo procedimento, lhe ocasionaram extremo sofrimento mental. Ele não foi tão piedoso e compassivo como nosso Pai celestial o é com Seus errantes, pecadores e arrependidos filhos. Quando aqueles que lhe causaram grandes sofrimentos reconheceram seus erros franca e honestamente, ele podia perdoá-los, e perdoou, tornando a aceitá-los como irmãos. Mas, embora o erro tenha sido desfeito diante de Deus, algumas vezes ele ainda se lembrava do problema passado, sofrendo muito e se entristecendo. O fato dele ter sofrido muito no passado, o que, em sua opinião, poderia ter sido evitado, fez com que condescendesse com um espírito murmurador contra seus irmãos e contra o Senhor. Dessa maneira, demorou-se sobre o passado e reviveu aflições que deveriam estar no esquecimento, em lugar de amargar-lhe a vida com lembranças inúteis. Ele nem sempre compreendeu a piedade e o amor que deveria ter exercitado para com aqueles que foram tão infelizes em ceder às tentações de Satanás. Eles, sim, eram os verdadeiros sofredores e perdedores e não ele, enquanto permanecer inabalável, possuindo o Espírito de Cristo. Quando essas pessoas começaram a reconhecer seus erros, empenharam-se em dura batalha para pôr-se sob a luz, através de humilde confissão. Tinham que combater contra Satanás e vencer o próprio orgulho. Precisaram da ajuda daqueles que estavam na luz para livrá-los de sua cega e desalentadora condição, para obter esperança e vencer a Satanás. T1 614 1 Vi que meu marido foi muito rigoroso com os que estavam em erro e lhe causaram dano. Condescendeu com sentimentos de insatisfação que não produziram nenhum benefício aos errantes, e ainda o tornaram infeliz, roubando-lhe a paz de Deus, a qual o estimularia a dar graças em tudo. O Senhor permitiu que ele ficasse desanimado com respeito aos próprios erros e falhas, quase ao ponto do desespero, não porque seus pecados fossem de grande magnitude, mas para que aprendesse por experiência o quão penoso e torturante seria estar sem o perdão de Deus, e compreender o que diz a Escritura: "Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:15. Vi que se Deus fosse tão exigente como nós o somos e nos tratasse como tratamos uns aos outros, seríamos lançados num estado de total desespero. T1 614 2 Foi-me mostrado que Deus permitiu que nos sobreviesse essa aflição para ensinar-nos o que de outro modo não aprenderíamos em tão curto espaço de tempo. Foi de Sua vontade que fôssemos a _____, pois nossa experiência não teria sido completa sem isso. Ele queria que víssemos e compreendêssemos mais plenamente que é impossível para os que obedecem à verdade e guardam Seus mandamentos, viver à altura de suas convicções do dever e unir-se aos líderes de _____. No que diz respeito ao serviço de Deus, os princípios deles não se misturam como o óleo à água. Apenas os que possuem puros princípios e maior independência moral, que pensam e agem por si mesmos, tendo o temor de Deus diante de si e confiança nEle, podem estar seguros durante todo o tempo em _____. Os que não estão qualificados não devem ser aconselhados a ir àquela instituição, pois sua mente ficaria confusa com as palavras agradáveis de seus diretores e envenenada por seus satânicos enganos. T1 615 1 Sua influência e ensinos com respeito ao serviço de Deus e à vida religiosa estão em direta oposição aos ensinos de nosso Salvador e Seus discípulos. Por preceito e exemplo, baixam o padrão da piedade e dizem que não precisam sentir tristeza por seus pecados ou separar-se do mundo para ser seguidores de Cristo, mas podem misturar-se com o mundo e participar de seus prazeres. Esses líderes não estimulam seus simpatizantes a imitar a vida de Cristo em Sua sobriedade, piedade e dependência de Deus. Pessoas conscienciosas e firmes em sua confiança em Deus não podem receber ali metade do benefício, como lhes seria possível se tivessem confiança nos princípios religiosos dos líderes daquela instituição. Elas são forçadas a se opor à maioria de seus ensinos, tanto quanto com seus princípios religiosos, examinando tudo quanto ouvem, temendo ser enganados e dar a Satanás vantagem sobre eles. T1 615 2 Vi que, no que diz respeito a doenças e seus tratamentos, _____ é a melhor instituição dos Estados Unidos. Os líderes, porém, são somente homens e seu julgamento nem sempre é correto. O médico-chefe quer fazer com que seus pacientes creiam que seu critério é perfeito como o de Deus. Entretanto, ele comete equívocos com freqüência. Exalta-se como Deus e deixa de exaltar ao Senhor como se dEle não dependesse. Aqueles que não têm crença nem confiança em Deus nem podem ver beleza na santidade e na vida de abnegação, podem receber mais benefício em _____ do que em qualquer outra instituição de saúde dos Estados Unidos. O grande segredo do êxito desta clínica é o controle que os administradores exercem sobre a mente dos pacientes. T1 616 1 Vi que meu marido e eu não podíamos receber ali tão grande benefício quanto aqueles que possuem diferente experiência e fé. Disse o anjo: "Não é desígnio de Deus que a mente de Seu servo, a quem escolheu para um especial propósito, para um obra especial, seja controlada por qualquer mortal, porquanto essa prerrogativa é só dEle." Anjos de Deus nos guardaram enquanto estivemos em _____. Eles nos circundavam, sustendo-nos a todo instante. Mas chegou o tempo em que já não podíamos beneficiar nem ser beneficiados. Então a nuvem luminosa que havia ali repousado sobre nós se afastou e só pudemos encontrar descanso retirando-nos dali e indo para Rochester, em meio a nossos irmãos, onde a nuvem de luz se detivera. T1 616 2 Vi que Deus desejava que fôssemos a _____ por várias razões. Nossa posição enquanto ali estivemos, as fervorosas orações que oferecemos, nossa clara confiança em Deus, a satisfação, coragem, esperança e fé que Ele nos inspirou em meio às aflições, exerceram influência e foram um testemunho para todos de que o cristão tem uma fonte de força e felicidade, a que os amantes dos prazeres são estranhos. Deus nos concedeu um lugar no coração de todas as pessoas influentes de _____, e no futuro, quando os pacientes voltarem a seus lares, nossos trabalhos ainda chamarão mais uma vez sua atenção. E quando formos atacados, alguns, pelo menos, serão nossos defensores. Ao ir novamente para _____, o Senhor queria nos favorecer mediante uma experiência que não poderíamos obter em Battle Creek, cercados por irmãos e irmãs que nutrem simpatia por nós. Precisávamos estar separados deles a fim de não buscarmos seu apoio, mas dependermos somente do Senhor. Quase que inteiramente separados do povo de Deus, ficamos desprovidos de todo auxílio terreno e levados a olhar somente para Deus. Assim obtivemos uma experiência impossível de ser conseguida se não tivéssemos ido a _____. T1 617 1 Quando a coragem e esperança de meu marido começaram a vacilar, nós não pudemos proporcionar qualquer benefício às pessoas do lugar e também não podíamos ser favorecidos por experiência adicional. Foi da vontade de Deus que meu marido não permanecesse ali despojado de suas forças, mas que em seu estado de fraqueza estivesse entre seus irmãos que poderiam apoiá-lo em suas aflições. Enquanto afastados do povo de Deus e em nossas aflições, tivemos a oportunidade de refletir e recapitular cuidadosamente nossa vida, detectando nossos erros e falhas, humilhando-nos diante do Senhor e buscando Sua face mediante confissão, humildade e constante oração fervorosa. Enquanto envolvidos em ativo trabalho, levando as cargas de outros e premidos por muitos cuidados, era-nos impossível achar tempo para meditar e recapitular cuidadosamente o passado, aprendendo lições que Deus achava necessárias a nós. Foi-me então revelado que Deus não glorificaria Seu nome respondendo às súplicas de Seu povo, e restaurando a saúde de meu marido em resposta às suas orações, enquanto estivéssemos em _____. Isso seria como ligar Seu poder às forças das trevas. Houvesse Ele Se agradado em manifestar Seu poder na restauração de meu marido, os médicos teriam tomado para si a glória que somente Lhe pertencia. T1 617 2 Disse o anjo: "Deus será glorificado no restabelecimento de Seu servo. Ele ouviu as orações de Seus servos. Seus braços estão sustentando Seu aflito servo. Deus tem o caso em Suas mãos, e ele, embora aflito, deve desfazer-se de seus temores, ansiedade, dúvidas e descrença, e calmamente confiar no grande e misericordioso Deus, que tem piedade, ama e cuida dele. Ele terá conflitos com o inimigo, mas será sempre confortado com a lembrança de que Alguém mais forte que o adversário cuida dele e que não necessita temer. Pela fé deve ele apoiar-se nas evidências que Deus Se agradou em conceder-lhe, e gloriosamente triunfará no Senhor." T1 618 1 Vi que o Senhor nos estava proporcionando uma experiência que seria de grande valor no futuro, com relação a Sua obra. Estamos vivendo num tempo solene entre as cenas finais da história da Terra, e o povo de Deus não está desperto. Devem eles despertar e fazer maior progresso na reforma de seus hábitos de vida, alimentação, vestuário, trabalho e repouso. Em tudo isso devem glorificar a Deus, estar preparados para dar combate ao nosso grande inimigo e desfrutar as preciosas vitórias reservadas por Deus para os que exercem a temperança em todas as coisas, enquanto se empenham por alcançar uma coroa incorruptível. T1 618 2 Vi que Deus estava preparando meu marido para uma solene e sagrada obra de reforma que Ele desejava fosse feita entre Seu povo. É importante que os pastores recebam instruções com respeito a um viver temperante. Devem eles mostrar a relação existente entre comer, trabalhar, descansar e vestir-se e a saúde. Todos os que crêem na verdade para estes últimos dias, têm algo a fazer nesse aspecto. Isso lhes diz respeito e o Senhor requer que eles se ergam e se interessem nessa reforma. Ele não ficará satisfeito com sua conduta, se mostrarem indiferença nessa questão. T1 618 3 Os abusos com o estômago pela satisfação do apetite são a razão da maioria dos problemas da igreja. Aqueles que comem e trabalham imoderada e irracionalmente, falam e agem irracionalmente. Um homem intemperante não pode ser paciente. Não é preciso ingerir álcool para ser intemperante. O pecado do comer imoderadamente, em grandes quantidades e com muita freqüência alimentos requintados e não saudáveis, destrói a salutar ação dos órgãos digestivos, afetando o cérebro, pervertendo o juízo, impedindo um racional, calmo e saudável pensamento e ação. E essa é uma produtiva fonte de males na igreja. Portanto, para que o povo de Deus Lhe seja aceitável, glorificando-O em seu corpo e espírito que Lhe pertencem, precisam, com interesse e zelo, negar a satisfação do apetite e exercitar temperança em todas as coisas. Então poderão compreender a verdade em toda a sua beleza e clareza e levá-la a cabo em sua vida, por um cuidadoso, sábio e reto proceder, não dando aos inimigos de Deus ocasião para envergonhar a causa da verdade. Deus requer que todos os que crêem na verdade façam esforços especiais e perseverantes para pôr-se na melhor condição possível de saúde, pois uma solene e importante obra está perante nós. Saúde de corpo e mente é requerida para essa obra. Ela é essencial à experiência religiosa, ao avanço da vida cristã e ao progresso em santidade, assim como a mão ou o pé são necessários ao corpo. Deus requer que Seu povo se purifique de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor do Senhor. Todos os que são indiferentes e se eximem desse dever, esperando que o Senhor faça por eles aquilo que Ele pretende que façam, serão achados em falta quando os mansos da Terra, que têm exercido Seus juízos, forem "escondidos no dia da ira do Senhor". Sofonias 2:3. T1 619 1 Foi-me mostrado que, se o povo de Deus não fizer esforços, de sua parte, mas esperar apenas que sobre eles venha o refrigério, para deles remover os defeitos e corrigir os erros; se nisso confiarem para serem purificados da imundícia da carne e do espírito, e preparados para tomar parte no alto clamor do terceiro anjo, serão achados em falta. O refrigério ou poder de Deus só atingirá os que se houverem para ele preparado, fazendo o trabalho que Deus ordena, isto é, purificando-se "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. T1 619 2 Foi-me mostrado que em alguns respeitos o caso de meu marido é semelhante àqueles que estavam esperando por refrigério. Se ele esperasse pela cura divina para sentir-se são, antes de fazer esforços de acordo com sua fé, dizendo: "Quando o Senhor me curar, crerei e farei isto ou aquilo", não haveria nenhuma mudança, pois o cumprimento das promessas de Deus ocorre apenas para aqueles que crêem e agem de acordo com sua fé. Vi que ele deveria crer na Palavra de Deus e reivindicar suas promessas, pois elas nunca, nunca falharão. Que deveria andar pela fé, apoiando-se nas evidências que Deus Se agradou em dar-lhe, e tanto quanto possível esforçar-se para ser um homem são. Disse o anjo: "Deus o susterá. Sua fé precisa ser aperfeiçoada pelas obras, pois 'a fé sem as obras é morta'. Tiago 2:20. Uma fé viva é sempre manifestada pelas obras." T1 620 1 Vi que meu marido era inclinado a evitar fazer esforços em harmonia com sua fé. Temor e ansiedade a respeito de seu problema tornaram-no tímido. Ele leva em conta as aparências e mal-estares do corpo. Disse o anjo: "Sentimento não é fé. Fé é simplesmente tomar a Deus em Sua Palavra." Vi que em nome e na força de Deus meu marido deve resistir à doença e, por sua força de vontade, erguer-se acima de seus pobres sentimentos. Deve declarar sua liberdade em nome e no poder do Deus de Israel. Ele precisa parar de pensar e falar sobre si mesmo. Deve ser alegre e feliz. T1 620 2 *** T1 620 3 Vi, no dia 25 de Dezembro de 1865, como muitas vezes antes, que o Pastor F tem freqüentemente errado e causado muitos problemas por sua atitude precipitada e insensível para com aqueles que supõe estar em falta. Vi com freqüência, que seu trabalho se desenvolve em novos campos e que ele deve, ao apresentar a verdade presente a um grupo de pessoas, deixar o trabalho de discipliná-las a outros, pois seu modo de tratar proveniente de um espírito impetuoso, sua falta de paciência e bom senso, desqualificam-no para essa obra. Reproduzirei em seguida o testemunho que dei ao irmão F, escrito em 26 de Dezembro de 1865, para mostrar o que vi em seu caso, também pela aplicação geral da maior parte desse testemunho e ainda porque ele não deu qualquer resposta, mas apenas declarou aos outros que o Senhor, nessa visão, reprovou meu marido por "magoar e ferir". Gostaria de declarar que outro objetivo ao dar este testemunho é fazer com que nossos irmãos compreendam plenamente a obra do irmão F em novos campos, e que não ponham tropeços em seu caminho, fazendo-o abandonar o trabalho e insistindo para que trabalhe aqui e acolá entre as igrejas, ou se estabeleça neste ou naquele lugar. ------------------------Capítulo 108 -- O perigo da autoconfiança T1 621 1 Irmão F: T1 621 2 Em 25 de Dezembro de 1865 foi-me mostrado que iniciara no Maine uma boa obra. Foi-me mostrado especialmente o campo de trabalho onde foi despertado como fruto de seus trabalhos e do irmão Andrews, um grupo de pessoas que manifestou interesse e amor à verdade levantando uma casa de adoração. Há ainda grande obra a ser feita. A maioria se converteu à teoria da verdade. Poucos decidiram pelo peso da evidência. Viram beleza na coerente cadeia da verdade, que tudo unia num todo perfeito e harmonioso. Amaram os princípios da verdade, embora não lhe compreendessem a influência santificadora. Essas pessoas estão expostas aos perigos dos últimos dias. Satanás preparou enganos e armadilhas aos inexperientes. Ele está trabalhando mediante seus agentes, e mesmo através de pastores que desprezam a verdade e pisoteiam a lei de Deus, ensinando a todos os seus ouvintes a fazer o mesmo. T1 621 3 Esse grupo que recebeu uma verdade impopular apenas pode estar seguro fazendo de Deus sua confiança e sendo santificado pela verdade que professa. Eles deram um importante passo e agora precisam de uma experiência religiosa que os torne filhos e filhas do Altíssimo Deus e herdeiros da herança imortal para eles adquirida por Seu amado Filho. Aqueles que foram instrumentos para apresentar-lhes a verdade não devem suspender o trabalho neste importante período, mas ainda insistir em seus esforços até que essas pessoas sejam reunidas no aprisco de Cristo. Deve-se-lhes dar instruções suficientes para que por si mesmas obtenham inteligente evidência de que a verdade lhes é salvação. T1 622 1 Vi que Deus realizaria uma obra ainda maior no Maine, se todos quantos trabalham na causa se consagrarem a Ele, não confiando em sua própria força, mas no "Forte de Israel". Isaías 1:24. Você e o irmão Andrews têm trabalhado duro sem o descanso necessário à preservação da saúde. Você deve trabalhar com cautela e observar períodos de descanso. Assim procedendo, reterá seu vigor físico e mental e tornará seu trabalho muito mais eficiente. Irmão F, você é homem nervoso e age muito por impulso. A depressão mental influencia muito em seu trabalho. Certas ocasiões você sente necessidade de liberdade e pensa que é porque outros estejam em trevas ou em erro, ou que existe algo que você não sabe bem o que é, e faz uma campanha em algum lugar e contra alguém, e isto pode fazer grande mal. Se, quando nesse estado de desassossego e nervosismo, você aquietasse e repousasse, calmamente esperando em Deus e indagasse se o mal não está em você mesmo, deixaria de ferir o próprio coração e a preciosa causa de Deus. T1 622 2 Vi que o irmão F estava em perigo de exaltar-se se fosse capaz de, em suas pregações, mexer com os sentimentos da congregação. Ele freqüentemente pensa ser o mais talentoso pregador. Aqui é que ele se engana. Embora possa ser o pregador mais aceito, todavia falha em fazer maior bem. O pregador que pode arrebatar os sentimentos em alto grau, não dá com isso evidência de que é o mais útil. T1 623 1 Quando o irmão F é humilde e faz de Deus a sua confiança, pode realizar muito bem. Anjos vêm em seu auxílio e ele é abençoado com perspicácia e liberdade. Mas, após algum tempo de sucesso, ele muitas vezes se exalta achando que é alguma coisa, quando na verdade é apenas um instrumento nas mãos de Deus. Após esses períodos, os anjos de Deus o deixam entregue à sua fraqueza. Então, embora ele mesmo seja o único culpado, freqüentemente acusa os irmãos e o povo pelas trevas e fraqueza que sente. Enquanto nesse infeliz estado mental, muitas vezes oprime este e aquele e, mesmo quando não fez nem metade do trabalho, acha que deve ir embora e iniciar um trabalho em outro lugar. T1 623 2 Vi que o irmão F estava em perigo de sair à batalha confiando em si mesmo e descobrir que não possui forças para combater. Enquanto confiou em Deus foi muitas vezes bem-sucedido nos combates com os opositores de nossa fé. Mas algumas vezes se sentiu orgulhoso da vitória da verdade sobre o erro que Deus lhe dera e tomou para si mesmo a glória do triunfo. O eu foi exaltado a seus olhos. T1 623 3 Foi-me mostrado que em seus dois últimos debates, ele não demonstrou um espírito conveniente. Antes do primeiro, ele se exaltou com os elogios de homens que não amam a verdade. Enquanto ouvia e participava de um debate entre duas pessoas que não eram de nossa fé, exaltou-se e achou-se capaz de enfrentar qualquer um. Justamente quando se sentia tão confiante, foi desprovido de sua força. Deus não Se agradou de seu menosprezo ao conselho do irmão Andrews. Sua autoconfiança quase esteve próxima de tornar o debate um completo fracasso. A menos que haja positivo fruto nesses debates, eles são sempre danosos. Nunca se deve agir imprudentemente, mas que cada movimento seja feito com cuidado, muita sabedoria, pois há muito mais coisas pendentes do que numa guerra nacional. Satanás e seu exército estão ativos nesses debates entre a verdade e o erro, e se os advogados da verdade não forem à guerra na força divina, Satanás sempre os superará. T1 624 1 No segundo debate houve muita coisa em jogo. Contudo, o irmão F falhou novamente. Ao envolver-se no debate, não reconheceu sua fraqueza nem, com humildade e simplicidade, apoiou-se na força de Deus. Mas tornou a envaidecer-se. Seus sucessos passados o exaltaram. Achou que as vitórias que obtivera foram devidas à sua habilidade em usar os poderosos argumentos fornecidos pela Palavra de Deus. T1 624 2 Foi-me mostrado que os defensores da verdade não devem procurar debates. Sempre que for necessário para a propagação da causa da verdade e para a glória de Deus, que se enfrente um adversário, quão cautelosamente, e com que humildade deverão eles entrar no conflito! Com exame interior, confissão de pecado e sincera oração, e muitas vezes jejuando por algum tempo, devem eles suplicar que Deus lhes dê especial auxílio, concedendo à Sua salvadora e preciosa verdade uma vitória gloriosa, para que se possa mostrar o erro em sua verdadeira deformidade, e seus defensores sejam completamente derrotados. Os que se empenham pela verdade e contra seus oponentes, devem compreender que não enfrentam meros homens, mas que estão contendendo com Satanás e seus anjos, os quais se acham determinados em que o erro e as trevas sejam conservados, e a verdade oculta por eles. Como o erro está mais de acordo com o coração natural, é aceito como verdade. Os comodistas amam o erro e as trevas, e não estão dispostos a ser reformados pela verdade. Não querem vir para a luz para que suas obras não sejam reprovadas. T1 624 3 Se os que permanecem em defesa da verdade confiarem tão-somente no peso dos argumentos, demonstrando apenas fraca confiança em Deus e assim enfrentarem seus oponentes, nada será obtido em favor da verdade, mas haverá decidida perda. A menos que ocorra patente vitória em favor da verdade, a situação será pior do que antes do conflito. Aqueles que poderiam inicialmente ter tido convicções da verdade, acalmam sua mente e decidem em favor do erro, porque em seu estado de trevas não percebem a superioridade da verdade. Esses dois últimos debates fizeram muito pouco pelo progresso da causa de Deus, e teria sido melhor se não houvessem ocorrido. O irmão F não se envolveu neles com espírito de humildade e firme confiança em Deus. O inimigo o envaideceu e ele ficou possuído de um sentimento de auto-suficiência e confiança, impróprio a um humilde servo de Cristo. Ele vestiu sua própria armadura e não a de Deus. T1 625 1 Pastor F, Deus providenciou que estivesse com o irmão um obreiro de grande experiência, o mais capacitado do campo. Alguém experimentado e conhecedor dos ardis de Satanás e que passara pela mais intensa angústia mental. Foi-lhe permitido, na onisciente providência de Deus, sentir o calor da refinadora fornalha e ali aprender que todo refúgio, a não ser o de Deus, falharia, e que todo arrimo em que se amparasse se mostraria uma cana quebrada. O irmão deveria ter compreendido que o Pastor Andrews tinha tanto interesse nos debates quanto você, e atendido, em humildade, o seu conselho e se beneficiado de suas instruções. Mas Satanás tinha o objetivo de ganhar para anular o propósito de Deus, e apossando-se de sua mente, opôs-se à obra do Senhor. Você se precipitou à batalha confiando nas próprias forças e os anjos permitiram que seguisse avante. Mas Deus, em misericórdia para com Sua causa, não permitiu que os inimigos da verdade obtivessem decidida vitória, e em resposta às ferventes e angustiosas orações de Seu servo, enviou anjos para livrá-lo. Em vez de completa derrota, houve vitória parcial, para que os inimigos da verdade não exultassem sobre os crentes. Mas nada foi ganho por esse esforço, quando poderia ter havido um glorioso triunfo da verdade sobre o erro. Ao lado do irmão estavam dois dos mais hábeis defensores da verdade. Assim haveria três homens, com a força da verdade, para permanecer contra um só indivíduo que buscava encobrir a verdade com o erro. Em Deus você poderia ter sido como uma multidão, se houvesse entrado no debate de maneira correta. Sua auto-suficiência quase levou tudo ao fracasso. T1 626 1 Você nunca deve entrar num debate em que tanto se acha em jogo, fiando-se em sua habilidade no uso de poderosos argumentos. Se não é razoavelmente possível evitá-lo, tome parte no debate, mas faça-o com firme confiança em Deus, e em espírito de humildade, no espírito de Jesus, que lhe pediu que aprendesse dEle, que é "manso e humilde de coração". Mateus 11:29. E então, a fim de glorificar a Deus e exemplificar o caráter de Cristo, você jamais deve tirar proveito ilegítimo de seus oponentes. Ponha de lado o sarcasmo e o jogo de palavras. Lembre-se de que você está em combate contra Satanás e seus anjos, bem como contra os homens. Aquele que venceu a Satanás no Céu, que sobrepujou o adversário caído expulsando-o do Céu, e que morreu para redimir o homem caído de seu poder, quando diante da sepultura de Moisés, disputando a respeito de seu corpo, não ousou pronunciar juízo contra o diabo, mas disse: "O Senhor te repreenda." Judas 9. T1 626 2 Em seus dois últimos debates, o irmão desprezou o conselho e não deu ouvidos ao servo de Deus, cuja vida era totalmente consagrada à obra. Deus, em Sua providência, proveu-lhe um conselheiro cujos talentos e influência davam-lhe direito ao respeito e confiança de sua parte, e de nenhum modo haveria prejuízo para a dignidade do irmão ser guiado por seu experiente discernimento. Os anjos de Deus notaram a auto-suficiência do irmão e com pesar se afastaram. O Senhor não podia com segurança exercer poder em seu favor, pois você teria reivindicado a glória para si mesmo, e seus trabalhos futuros seriam de pequeno valor. Vi, irmão F, que você, em seus trabalhos, não deve apoiar-se no próprio julgamento, que tão freqüentemente o tem feito desviar-se. O irmão deve submeter-se à apreciação dos de maior experiência. Não seja cioso da própria dignidade, sentindo-se tão auto-suficiente que não possa tomar conselhos e orientações com colegas obreiros de experiência. T1 627 1 Sua esposa não lhe tem sido um auxílio especial, mas um estorvo. Houvesse ela ouvido e aceito os testemunhos que lhe foram enviados há mais de dois anos, seria agora, com você, uma competente ajudadora no evangelho. Mas não acatou as mensagens nem agiu de acordo com elas. Tivesse feito isso, sua conduta teria sido inteiramente diferente. Ela não é consagrada a Deus. Gosta da comodidade, evita responsabilidades e desconhece o que é abnegação. Condescende com a indolência e seu exemplo não é digno de imitação, mas um insulto à causa de Deus. Às vezes exerce forte influência sobre você, especialmente quando se sente infeliz ou melancólica. Ela também exerce influência sobre você nas questões da igreja. Forma sua opinião sobre este irmão ou aquela irmã, demonstrando antipatia ou forte simpatia, ao passo que muitas vezes tem sido o caso de ela abrigar no coração justamente aqueles que têm sido fonte de muitos problemas para a igreja. Seu estado de não-consagração a leva a sentir forte ligação com aqueles que lhe manifestam grande confiança e amor, enquanto vidas preciosas a quem Deus ama são friamente marginalizadas, porque não manifestam entusiásticas expressões de amizade para com ela e você, irmão F. O amor dessas pessoas, todavia, é verdadeiro e mais altamente apreciável do que o daqueles que professam consideração para com vocês. A opinião que sua esposa forma tem grande influência sobre sua mente. Muitas vezes o irmão acha que sua esposa está certa e o pensamento dela é o seu, e você age de acordo com ela nos assuntos da igreja. T1 627 2 Você precisa exemplificar a vida de Cristo, pois solenes responsabilidades repousam sobre o irmão. Sua esposa é responsável perante Deus pela conduta que ela segue. Se for um embaraço para você, há de dar contas a Deus. Algumas vezes ela cai em si, humilha-se diante do Senhor e se torna uma ajuda real, mas logo recua e mergulha no mesmo estado de inatividade, evitando responsabilidades e se recusando a trabalhar mental e fisicamente. Seu estado de saúde seria muito melhor se ela fosse mais ativa, se se empenhasse mais alegremente e de coração em trabalho físico e mental. Ela não tem falta de capacidade, mas falta-lhe disposição para agir e não persevera em cultivar o gosto pela atividade. Deus nada pode fazer por ela em sua presente condição. Sua esposa precisa fazer alguma coisa para despertar-se e dedicar a Deus suas energias físicas e mentais. Deus requer isso dela, e no dia de Deus será tida como serva inútil, a menos que haja uma completa reforma de sua parte e viva à altura da luz recebida. Enquanto isso não acontecer, não deve de forma alguma juntar-se ao marido em seus trabalhos. T1 628 1 Deus abençoará e susterá o irmão F se ele for avante em humildade, apoiando-se no bom senso de seus experientes companheiros de trabalho. ------------------------Capítulo 109 -- Não se enganem T1 628 2 É obra de Satanás enganar o povo de Deus e desviá-lo da conduta correta. Não deixará de utilizar todos os meios; atacá-los-á no ponto onde estiverem menos prevenidos. Daí a importância de fortalecer cada ponto. A igreja de Battle Creek não queria voltar-se contra nós. Ela é uma igreja boa. Mas há muita coisa em jogo em Battle Creek, e Satanás concentrará toda a sua artilharia contra a igreja se, assim procedendo, puder impedir-lhe a obra. Simpatizamos profundamente com a igreja em seu presente estado de humilhação, e dizemos: Que não haja um sentimento triunfalista em nenhum coração. Deus há de reparar todos os erros de Seu amado povo e, a apesar de tudo, os tornará o poderoso baluarte de Sua verdade, se andarem humildemente, vigiando e guardando cada ponto contra os ataques de Satanás. Esse povo é mantido continuamente sob fogo inimigo. Nenhuma outra igreja provavelmente resistiria tão bem. Portanto, olhem com piedosos olhos para seus irmãos de Battle Creek, e peçam a Deus para ajudá-los a ficar firmes. T1 629 1 Quando meu marido ficou inativo e fui obrigada a permanecer em casa por causa disso, Satanás ficou satisfeito e não instigou ninguém a lançar sobre nós tribulações como as mencionadas nas páginas anteriores. Mas quando retornamos, em 19 de Dezembro de 1866, ele viu que havia a perspectiva de realizarmos alguma coisa na causa de Cristo, contra sua causa, e que alguns de seus enganos sobre o rebanho de Deus seriam revelados. Percebeu que devia fazer algo para impedir-nos. E não havia outra maneira mais eficaz de fazer isso do que incitar nossos velhos amigos de Battle Creek a retirar de nós sua simpatia e lançar cargas sobre nós. O adversário extraiu vantagem de cada circunstância desfavorável e controlou as coisas com poder. T1 629 2 Mas graças a Deus que ele não pôde deter-nos nem esmagar-nos. Somos gratos ao Senhor por ainda estarmos vivos e por ter Ele novamente abençoado graciosamente Seu errante, mas agora arrependido e convertido povo. Irmãos, amemos mais o povo de Deus e oremos por ele, agora que Senhor manifesta Seu grande amor por Ele. ------------------------Capítulo 110 -- Publicando testemunhos pessoais T1 630 2 No testemunho n 13 apresentei breve esboço de nossos trabalhos e lutas, desde 19 de Dezembro de 1866 a 21 de Outubro de 1867. Nestas páginas relatarei as experiências menos traumáticas dos últimos cinco meses. T1 630 3 Durante esse período escrevi muitos testemunhos pessoais. E para muitas pessoas que encontrei em nosso campo de trabalho durante os últimos cinco meses, tive testemunhos ainda por escrever quando tiver tempo e energia. Mas qual é o meu dever perante essas pessoas, com relação a esses testemunhos pessoais, tem-me sido um assunto de não pouca ansiedade. Com algumas exceções, enviei-os às pessoas a que se destinavam, deixando que reagissem como achassem melhor. Vários foram os resultados: T1 630 4 1. Alguns receberam com gratidão os testemunhos e reagiram a eles favoravelmente, recebendo seus benefícios. Queriam que seus irmãos vissem esses testemunhos, e livre e plenamente confessassem suas faltas. T1 630 5 2. Outros reconheceram que os testemunhos a eles dados eram verdadeiros, mas depois de lê-los, puseram-nos de lado para guardar silêncio, enquanto não realizavam senão pequena mudança de vida. Esses testemunhos se referiam mais ou menos às igrejas a que pertenciam essas pessoas, as quais também poderiam ter sido beneficiadas por eles. Mas tudo se perdeu em conseqüência desses testemunhos terem sido mantidos em segredo. T1 631 1 3. Outros ainda se rebelaram contra os testemunhos. Alguns desses reagiram com espírito crítico. Outros manifestaram amargura, zanga e ira e, em retribuição a meu trabalho e lutas para escrever-lhes os testemunhos, voltaram-se contra nós para prejudicar-nos o mais que pudessem; enquanto outros ocuparam muito do meu tempo em entrevistas pessoais para derramar em meus ouvidos e em meu ferido coração suas queixas, murmurações e justificativas próprias, talvez apelando para a própria compaixão com pranto e perdendo de vista suas faltas e pecados. A influência dessas coisas foi terrível para mim e me têm causado muita perturbação. Os que têm seguido a conduta dessas pessoas não-consagradas e ingratas custam-me muito sofrimento e esgotam dez vezes mais minha coragem e saúde, do que todo o esforço de escrever os testemunhos. T1 631 2 Sofri tudo isso sem que meus irmãos e irmãs tomassem conhecimento do assunto. Eles não fazem idéia exata do volume de cansativo trabalho que fui obrigada a realizar, nem das obrigações e sofrimentos injustamente lançados sobre mim. Dei mensagens pessoais a alguns indivíduos em vários números de meus testemunhos e, em alguns casos, as pessoas ficaram ofendidas porque não publiquei todas essas mensagens. Por causa de seu volume, isso seria praticamente impossível e também impróprio, partindo-se do fato de que alguns deles se referem a pecados que não precisam nem devem ser tornados públicos. T1 631 3 Mas finalmente decidi que muitos desses testemunhos pessoais deviam ser publicados, porquanto contêm instruções e reprovações que se aplicam mais ou menos a centenas ou milhares de outros indivíduos em semelhantes condições. Eles precisam da luz que Deus achou conveniente enviar-lhes em razão de seus casos. É um erro impedir que essas pessoas os recebam, por enviá-los a uma única pessoa ou a um só lugar, onde ficam ocultos como "a candeia" que "se coloca debaixo do alqueire". Mateus 5:15. Minhas convicções de dever sobre essa questão foram muito fortalecidas pelo seguinte sonho: T1 632 1 Foi-me apresentado um bosque de ciprestes. Muitos estavam trabalhando entre eles, inclusive eu. Fui incumbida de inspecionar rigorosamente as árvores para ver se estavam florescendo. Observei que algumas estavam ficando curvadas e deformadas pela ação do vento, e necessitavam ser apoiadas por estacas. Cuidadosamente eu procurava remover os detritos das árvores debilitadas e que estavam morrendo, para apurar a causa de sua condição. Encontrei vermes nas raízes de algumas. Outras não haviam sido regadas devidamente e estavam morrendo de sequidão. As raízes de outras se tinham entrelaçado para seu dano. Meu trabalho era explicar aos trabalhadores as diferentes razões por que essas árvores não prosperavam. Isto era necessário pelo fato de as árvores em outros terrenos poderem ser afetadas como essas tinham sido, e devia ser conhecida a causa de não florescerem e como deviam ser cultivadas e tratadas. T1 632 2 Neste testemunho, falo livremente do caso da irmã Ana More, não por desejar entristecer a igreja de Battle Creek, mas pelo senso do dever. Eu amo a igreja a despeito de suas faltas. Desconheço uma outra igreja que em atos de benevolência e deveres em geral se desempenhe tão bem. Apresento os alarmantes fatos neste caso para despertar nosso povo em toda parte para o senso de seu dever. Nem um entre vinte daqueles que têm boa reputação como adventistas do sétimo dia, está vivendo de acordo com os abnegados princípios da Palavra de Deus. Que seus inimigos, destituídos dos princípios elementares da doutrina de Cristo, não tomem vantagem do fato de serem eles reprovados. Isso é evidência de que são filhos do Senhor. "Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos." Hebreus 12:8. Então, que esses filhos ilegítimos não se vangloriem sobre os filhos e filhas legítimos do Altíssimo. ------------------------Capítulo 111 -- O instituto de saúde T1 633 1 Nos números anteriores dos Testemunhos Para a Igreja falei da importância de os adventistas do sétimo dia estabelecerem uma instituição para benefício de doentes, especialmente aqueles dentre nós. Falei das possibilidades financeiras de nosso povo para fazer isso, e insisti que tendo em vista a importância desse ramo da grande obra de preparação para encontrar-se com o Senhor com alegria de coração, nosso povo deve sentir-se convocado, de acordo com sua capacidade, a investir parte de seus meios em tal instituição. Conforme se me apresentaram, também chamei a atenção para alguns dos perigos aos quais médicos, administradores e outros estariam expostos, na realização de tal empreendimento. Assim esperei que esses riscos fossem evitados. Nisso, todavia, nutri esperança por algum tempo, apenas para sofrer decepção e mágoa. T1 633 2 Eu havia tomado grande interesse na reforma de saúde e tinha grandes esperanças pela prosperidade do Instituto de Saúde. Sentia, como nenhum outro, a responsabilidade de falar a meus irmãos e irmãs, em nome do Senhor, sobre essa instituição e sobre seu dever de fornecer os meios necessários. Observei o progresso dessa obra com intenso interesse e ansiedade. Quando vi os que os administradores e dirigentes estavam se expondo aos perigos que me foram mostrados e sobre os quais eu os advertira publicamente e através de conversas particulares e cartas, terrível fardo caiu sobre mim. O que eu vira como um lugar onde nossos doentes sofredores podiam ser ajudados, era um centro onde sacrifício, hospitalidade, fé e piedade seriam princípios predominantes. Mas quando se fizeram inadequados apelos solicitando grandes somas de dinheiro, com a declaração de que esses fundos proporcionariam grande retorno; quando os irmãos que ocupavam posições na instituição pareciam desejosos de receber maiores salários do que aqueles que ocupavam postos igualmente importantes na grande causa da verdade e reforma, e estavam satisfeitos com seu salário; quando descobri, com pesar, que para tornar a instituição popular aos que não eram de nossa fé e granjear patrocínio, um espírito de condescendência estava rapidamente ganhando terreno no Instituto, manifestado no uso de formas de tratamento tais como "senhor", "senhorita" e "senhora", em lugar de "irmão" e "irmã", e em permitir ali diversões populares nas quais todos pudessem participar como se fosse divertimento relativamente inocente; quando vi essas coisas, disse: Isso não é o que me foi mostrado como uma instituição para enfermos, os quais deveriam compartilhar a assinalada bênção divina. Isso é outra coisa. T1 634 1 Faziam-se, porém, cálculos para a construção de mais edifícios e requeria-se mais investimentos. Do jeito que as coisas estavam sendo dirigidas no Instituto, achei, de modo geral, que ele estava sendo uma maldição. Embora alguns fossem beneficiados em termos de saúde, a influência sobre a igreja de Battle Creek e os irmãos e irmãs que visitavam essa clínica era tão negativa, que excedia todo o bem que fora feito. Essa influência estava atingindo igrejas deste e de outros Estados, sendo terrivelmente destrutiva à fé em Deus e à verdade presente. Vários irmãos que vieram a Battle Creek, cristãos humildes, consagrados e confiantes, foram embora quase como infiéis. A influência geral dessas coisas criava preconceitos contra a reforma de saúde em muitos de nossos melhores, mais dedicados e humildes irmãos e destruía a fé nos meus Testemunhos e na verdade presente. T1 634 2 Foi esse estado de coisas referentes à reforma de saúde e ao Instituto de Saúde, juntamente com outras situações, que tornaram meu dever falar como o fiz no Testemunho n 13. Eu bem sabia que ele produziria uma reação e preocupação em muitas mentes. Também sabia que precisava haver uma reação mais cedo ou mais tarde e, para o bem do Instituto e da causa de modo geral, quanto mais cedo melhor. Se as coisas tivessem tomado um rumo errado, para prejuízo de vidas preciosas e da causa em geral, quanto mais cedo fosse isso notado e corretamente tratado, melhor. Quanto maior o afastamento, pior a ruína, maior a reação e o desânimo geral. A obra mal administrada precisa sofrer uma auditoria. É necessário haver tempo para reparar erros e reiniciar no rumo certo. T1 635 1 A boa obra realizada pela igreja de Battle Creek no último outono, a completa reforma e retorno a Deus por parte de médicos, auxiliares e dirigentes do Instituto de Saúde; a harmonia geral de nossos irmãos em todas as partes do campo acerca do grande objetivo dessa instituição e a maneira como deve ser dirigida, à qual se somou a diversificada experiência de mais de um ano, não apenas no rumo errado mas também no certo; todas essas coisas me dão mais confiança de que a reforma de saúde e o Instituto de Saúde demonstrar-se-ão maior sucesso do que eu esperava. Continuo nutrindo esperança de ver o Instituto de Saúde de Battle Creek prosperando e sendo em todos os aspectos a clínica que me foi mostrada. Levará, porém, tempo para corrigir cabalmente e superar os erros do passado. Com a bênção de Deus isso pode e será feito. T1 635 2 Os líderes dessa obra têm solicitado recursos de nosso povo sob o pretexto de que a reforma de saúde é parte da grande obra ligada à mensagem do terceiro anjo. Nesse ponto estão certos. Ela é um ramo da grande, caritativa, liberal, abnegada e benevolente obra de Deus. Então, por que esses irmãos dizem: "Os recursos do Instituto de Saúde darão grande retorno", "a instituição é um bom investimento", "aplicação rentável"? Por que não falam tão bem da Sociedade de Publicações que paga alta porcentagem? Se esses são dois ramos da mesma grande e final obra de preparação para a vinda do Filho do homem, por que não? Ou por que não fazer de ambos alvo de liberalidade? Que a pena e a voz que apelaram aos amigos da causa em favor de fundos para publicação não se omitam a tais incentivos. Por que, pois, não expor aos ricos e cobiçosos observadores do sábado o fato de que eles podem fazer grande bem investindo seus meios no Instituto de Saúde, e ao mesmo tempo reter o capital e também receber grande retorno pelo simples emprego dele? Os irmãos foram solicitados a fazer contribuições para a Sociedade de Publicações, e nobre e alegremente sacrificaram ao Senhor, seguindo o exemplo daquele que fez o apelo, e a bênção de Deus repousou sobre esse ramo da grande obra. Mas é de se temer que o desagrado divino se manifeste contra a forma como foram levantados os fundos para o Instituto, e que a Sua bênção não acompanhe totalmente aquela instituição enquanto esse erro não for corrigido. Em meu apelo aos irmãos em favor de tal instituição, no Testemunho n 11, página 492, eu disse: T1 636 1 "Foi-me mostrado que não há falta de recursos entre os adventistas observadores do sábado. Seu maior perigo, atualmente, é o acúmulo de propriedades. Alguns, constantemente, estão amontoando seus cuidados e esforços; estão sobrecarregados. E o resultado é que Deus e as necessidades de Sua causa quase são por eles esquecidos; estão espiritualmente mortos. Deles se requer que façam um sacrifício a Deus, uma oferta. O sacrifício não aumenta, mas diminui e se consome." T1 636 2 Minha opinião sobre esse assunto de meios é que devia haver um sacrifício a Deus. Nunca pensei diferente. Mas se os acionistas precisam conservar o capital e obter determinados dividendos, onde está o decréscimo ou o sacrifício que se consome? Quais são os perigos dos guardadores do sábado que estão acumulando bens depreciáveis pelo presente plano de aquisição de ações do Instituto? Seus perigos apenas aumentam. E eis uma desculpa adicional para sua cobiça. Ao investirem em ações do Instituto, tido como um negócio de compra e venda como em qualquer outro bem, não fazem sacrifício. Sendo-lhes prometido grande lucro como incentivo, o espírito de lucro e não de sacrifício os leva a investir muito nas ações do Instituto, de modo que não dispõem senão de pouco ou quase nada para dar a outros ramos da obra ainda mais importantes. Deus requer que essas pessoas mesquinhas, cobiçosas e mundanas se sacrifiquem pela humanidade sofredora. Ele as exorta a reduzirem suas posses mundanas por causa dos aflitos que crêem em Jesus e na verdade presente. Elas devem ter uma oportunidade de agir com plena consciência das decisões do Juízo Final, como descritas nas seguintes ardorosas palavras do Rei dos reis: "Então, dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me. Então, os justos Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome e Te demos de comer? Ou com sede e Te demos de beber? E, quando Te vimos estrangeiro e Te hospedamos? Ou nu e Te vestimos? E, quando Te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-Te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:34-40. T1 637 1 "Então, dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; sendo estrangeiro, não Me recolhestes; estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes. Então, eles também Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não Te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim. E irão estes para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna." Mateus 25:41-46. T1 638 1 Novamente, na página 494 do Testemunho n 11, eu disse: "Há um liberal suprimento de meios entre nosso povo e se todos sentirem a importância da obra, esse grande empreendimento poderá ser levado avante sem maiores problemas. Todos deveriam sentir um especial interesse em apoiá-lo, especialmente aqueles que têm meios para investir. Um edifício adequado deve ser erguido para a recepção de doentes, para que possam, pelo apropriado uso de meios e bênçãos de Deus, ser aliviados de suas enfermidades e aprender como cuidar de si mesmos, prevenindo assim doenças. T1 638 2 "Muitos que professam a verdade estão se tornando mesquinhos e cobiçosos. Necessitam tomar consciência sobre si mesmos. Têm eles seu tesouro na Terra e o coração está posto nele. A maior parte de seus tesouros está neste mundo e muito pouco no Céu. Por conseguinte, suas afeições estão colocadas nas posses terrenas em lugar da herança celestial. Há agora uma boa oportunidade de usar seus meios em benefício da humanidade sofredora e também para o progresso da verdade. Esse empreendimento nunca deveria ser deixado a lutar com a pobreza. Esses mordomos a quem Deus confiou meios devem agora trabalhar e usar seus recursos para a glória do Senhor. Os que cobiçosamente retêm os meios verão que isso se provará uma maldição antes que bênção." T1 638 3 Naquilo que me foi mostrado e naquilo que disse, não recebi outra idéia nem desejei transmitir outro pensamento que não seja o do levantamento de recursos para este setor da obra, que devia ser uma questão de liberalidade, a mesma que se adota na sustentação de outros ramos da grande obra. Embora a mudança do plano atual para outro que tenha a plena aprovação do Senhor, possa ser acompanhada de dificuldades e requeira tempo e muito trabalho, penso que possa ser realizada com pequena perda das ações já adquiridas. Isso trará em resultado um sensível aumento do capital doado, para ser investido de maneira apropriada no alívio da humanidade sofredora. T1 639 1 Muitos que adquiriram ações não foram capazes de doá-las. Algumas dessas pessoas estão sofrendo pelo dinheiro que investiram em ações. Ao viajar de Estado a Estado, encontro pessoas aflitas à beira da sepultura, que devem passar algum tempo no Instituto, mas não podem devido à falta de meios que foram investidos nas ações dessa entidade. Elas não deveriam ter investido ali um dólar sequer. Mencionarei apenas um caso em Vermont. No início de 1850, um irmão tornou-se observador do sábado, e desde aquela data passou a contribuir liberalmente para os muitos empreendimentos da obra, até ficar com suas posses reduzidas. Quando, porém, veio o apelo urgente e inoportuno por parte do Instituto, ele adquiriu ações no montante de cem dólares. Na reunião em _____, ele apresentou o caso de sua esposa, que se achava muito debilitada e necessitava de assistência urgente. Ele expôs sua situação e disse que se pudesse resgatar os cem dólares aplicados naquela instituição, teria condições de enviar a esposa para tratamento. Caso contrário, não poderia enviá-la. Dissemos-lhe que jamais deveria ter investido um dólar sequer no Instituto; que havia algo de errado naquele assunto a respeito do qual não podíamos ajudá-lo. Isso pôs fim à questão. Não hesitei em dizer que aquela irmã tinha o direito ser tratada gratuitamente no Instituto, umas poucas semanas pelo menos. Seu marido mal podia pagar a passagem de ida e volta para Battle Creek. T1 639 2 Os amigos da bondade, da verdade e da santidade devem agir com referência ao Instituto, de acordo com o plano de sacrifício e liberalidade. Tenho quinhentos dólares em ações do Instituto as quais desejo doar, e se meu marido tiver sucesso com seu livro, ele doará mais quinhentos dólares. Aqueles que estiverem de acordo com esse plano, entrem em contato conosco em Greenville, Condado de Montcalm, Michigan, declarando a quantia que desejam doar ou investir em ações da Sociedade de Publicações. Quando isso for feito, que as doações entrem conforme as necessidade; quer o dinheiro seja muito ou pouco, que venha. Que os meios sejam investidos cuidadosamente. Que sejam cobrados dos pacientes preços os mais razoáveis. Que os irmãos contribuam para cobertura parcial das despesas de nossos doentes pobres e dignos. Que os debilitados sejam conduzidos ao ar livre, se puderem, para cultivar os belos campos de propriedade do Instituto. Que não façam isso com a estreita idéia de receber remuneração, mas com o pensamento generoso de que a despesa feita na aquisição desses terrenos foi um ato de benevolência em seu favor. Que esse trabalho seja parte de sua terapia, tanto quanto a utilização de banhos. Que a benevolência, a caridade, a bondade, o sacrifício pelo bem-estar alheio, sejam a idéia dominante entre os médicos, administradores, auxiliares e pacientes, e em entre todos os amigos de Jesus, de longe e de perto, em vez de salários, bons investimentos, negócio compensador e ações de boa rentabilidade. Que o amor a Cristo e às pessoas, a simpatia pela humanidade sofredora, governem tudo quanto dissermos e fizermos com relação ao Instituto de Saúde. T1 640 1 Por que deveria o médico cristão -- que crê, espera, aguarda, antecipa e anseia pela vinda e reino de Cristo, quando doença e morte não mais terão poder sobre os santos -- esperar maior pagamento por seus serviços do que o editor ou o pastor cristão? Ele pode dizer que seu trabalho é mais cansativo. Isso é passível de provas. Que ele trabalhe tanto quanto possa suportar sem violar as leis de vida que ensina a seus pacientes. Não há boas razões para ele trabalhar em excesso e receber por isso um salário superior ao do pastor e do editor. Que todos quantos desempenham sua parte no Instituto recebam o pagamento por seus serviços, agindo sobre o mesmo princípio liberal. Não se deve aceitar no Instituto a permanência de um obreiro que trabalha simplesmente por seu salário. Há gente competente que, por amor a Cristo, Sua causa e Seus discípulos sofredores, ocupará fiel, alegremente e com espírito de sacrifício, posições nesse Instituto. Os que não têm este espírito devem retirar-se e dar lugar aos que o possuem. T1 641 1 Tanto quanto sou capaz de analisar, metade dos enfermos de nosso povo, que deve passar semanas ou meses no Instituto, não pode pagar as despesas totais de viagem e internação ali. Deve a pobreza excluir esses amigos de nosso Senhor das bênçãos que Ele tão profusamente proveu? Devem eles ser deixados a lutar contra o duplo fardo de doença e pobreza? Os doentes ricos, que têm todos os confortos e comodidades da vida, e têm condições de pagar pelo árduo trabalho, poderão, com cuidado e repouso, obtendo informações e fazendo tratamento em casa, desfrutar de satisfatório estado de saúde sem ir ao Instituto. Mas que podem fazer nossos irmãos e irmãs pobres e doentes para recobrar a saúde? É possível que possam fazer algo, mas a pobreza os obriga a trabalhar além do que são realmente capazes. Eles não dispõem de todos os confortos da vida. Conveniências como acomodações, mobiliário, meios para banhos e arranjos para boa ventilação, eles não possuem. Talvez o único cômodo da casa esteja ocupado por um fogão, tanto no inverno como no verão. E pode ser que todos os livros que têm em casa, excetuando-se a Bíblia, caibam entre o polegar e o indicador. Eles não têm dinheiro para comprar livros para que possam ler e aprender como viver. Esses queridos irmãos são justamente os que necessitam de ajuda. Muitos deles são cristãos humildes. Eles podem ter falhas e algumas delas ser tão antigas que se tornam a causa de sua presente pobreza e miséria. Podem, porém, estar vivendo à altura de seu dever, muito mais do que nós que temos meios para melhorar nossa condição e a de outros. Eles devem ser pacientemente ensinados e ajudados de bom grado. T1 641 2 Mas eles precisam estar dispostos e ansiosos por ser ensinados. Precisam nutrir um espírito de gratidão a Deus e a seus irmãos pela ajuda que recebem. Tais pessoas geralmente não têm a menor idéia dos custos de tratamento, internação, aposentos, combustível, etc., no Instituto de Saúde. Elas não compreendem a magnitude da grande obra da verdade presente e reforma, e muitas apelam para a liberalidade de nosso povo. Não se dão conta de que o número de nossos pobres é muitas vezes maior do que o dos ricos. É possível que não se apercebam da força do terrível fato de que a maioria desses ricos está apegada às suas riquezas, e no rumo direto da perdição. T1 642 1 Essa gente pobre e aflita deve ser ensinada que quando se queixa de seu destino e murmura contra os ricos devido à cobiça, comete um grande pecado à vista do Céu. Devem primeiramente compreender que sua pobreza e doença são infortúnios geralmente oriundos dos próprios pecados, desatinos e erros, e se o Senhor põe no coração e na mente de Seu povo o impulso de ajudá-los, isso deve inspirar-lhes sentimentos de humilde gratidão a Deus e a Seu povo. Devem fazer tudo quanto estiver ao seu alcance para ajudar a si mesmos. Se possuem parentes que podem e querem custear suas despesas no Instituto, devem conceder-lhes esse privilégio. T1 642 2 Em vista do fato de que muitos pobres e aflitos que devem, em maior ou menor grau, ser objetos da caridade do Instituto, também por causa da falta de recursos e da atual necessidade de acomodações, sua permanência no Instituto deve ser curta. Devem internar-se com o propósito de obter, tão rápida e amplamente quanto possível, conhecimento prático do que devem ou não devem fazer para recuperar a saúde e viver de maneira saudável. As palestras que ouvirem enquanto no instituto, e os bons livros que lerem sobre como viver saudavelmente em casa, devem constituir sua principal segurança. Eles podem encontrar algum alívio durante as poucas semanas que permanecerem no Instituto, mas farão muito mais em casa ao praticar os mesmos princípios. Não devem esperar que os médicos os curem dentro de poucas semanas, mas precisam aprender a viver, dando à natureza uma oportunidade de realizar-lhes a cura. O processo de cura pode iniciar-se durante as poucas semanas de permanência no Instituto, e ainda requerer anos para completar a obra pela correta prática de hábitos no lar. T1 643 1 Um homem poderá despender tudo quanto tem neste mundo no Instituto de Saúde e encontrar grande alívio. Ao retornar, porém, à sua casa e a seu velho estilo de vida, dentro de poucas semanas ou meses estará em pior estado de saúde do que antes. Ele nada ganhou; gastou seus limitados meios por nada. O objetivo da reforma de saúde e do Instituto de Saúde não é, como uma dose de analgésico, aliviar as dores do momento. Não, realmente! Seu grande objetivo é ensinar o povo como viver de maneira a dar ao organismo a chance de remover a doença e a ela resistir. T1 643 2 Gostaria de dizer aos doentes dentre nosso povo: Não desanimem. Deus não abandonou Seu povo nem Sua causa. Que esses tornem conhecidos aos médicos seu estado de saúde e suas possibilidades de arcar com as despesas de internação, fazendo contato com o Instituto de Saúde em Battle Creek, Michigan. Se você estiver doente, cansado e debilitado, não deixe a questão até o ponto de seu caso tornar-se sem esperança. Escreva imediatamente. Devo dizer, contudo, aos irmãos pobres: No momento, pouco pode ser feito para ajudá-lo, em virtude do capital levantado estar sendo investido em material e construções. Façam todo o possível por si mesmos e outros haverão de ajudá-los. ------------------------Capítulo 112 -- Resumo de experiências T1 643 3 De 21 de Outubro de 1867 a 1 de Fevereiro de 1868 T1 643 4 Nosso trabalho com a igreja de Battle Creek estava quase concluído e, apesar de estarmos muito exaustos, fomos reconfortados por havermos testemunhado os bons resultados. Assim, animadamente nos juntamos ao irmão J. N. Andrews na longa viagem ao Maine. No caminho, realizamos uma reunião em Roosevelt, Nova Iorque. O Testemunho n 13 estava fazendo a sua obra, e aqueles irmãos que tomaram parte na descontentamento geral contra nós, começavam a ver as coisas em sua verdadeira luz. Esse encontro foi de trabalho árduo, no qual foram apresentados testemunhos diretos. Confissões foram feitas, seguidas de um retorno ao Senhor por parte de membros afastados da igreja e pecadores. T1 644 1 Nossos trabalhos no Maine começaram com a assembléia de Norridgewock, em 1 de Novembro. Foi uma grande reunião. Como usualmente fazíamos, meu marido e eu apresentamos claro e decisivo testemunho em favor da verdade e da disciplina apropriada, e contra as diversas formas de erro, confusão, fanatismo e desordem, decorrentes evidentemente da ausência dessa disciplina. Esse testemunho era especialmente aplicável à situação geral no Maine. Pessoas desordeiras que professavam observar o sábado estavam em rebelião, e trabalhavam para difundir o descontentamento através da assembléia. Satanás as ajudou e elas chegaram a ser relativamente bem-sucedidas. Os pormenores são demasiado penosos e de pouquíssima importância geral para serem aqui registrados. T1 644 2 Seria suficiente dizer que na ocasião, em conseqüência desse espírito de rebelião, de crítica e de uma espécie de ciúme infantil, murmuração e queixas por parte de alguns, nossa obra no Maine, que poderia ter sido feita em quinze dias, exigiu sete semanas das mais difíceis e desagradáveis lutas. Cinco semanas foram perdidas, sim, mais que perdidas, para a causa no Maine. Nosso povo de outras partes da Nova Inglaterra, Nova Iorque e Ohio ficou desprovido de cinco reuniões gerais, devido a nossa permanência no Maine. Mas quando deixamos esse Estado, fomos confortados com o fato de que todos haviam confessado sua rebelião, e que alguns tinham sido levados a buscar o Senhor e a abraçar a verdade. O que vem a seguir, referente a pastores, ordem e organização, tem especial aplicação à situação no Maine. ------------------------Capítulo 113 -- Pastores, ordem e organização T1 645 1 Alguns pastores têm caído no erro de pensar que não têm liberdade para falar, a menos que levantem a voz a um timbre agudo, falando alto e depressa. Eles devem entender que barulho e falar alto e depressa não são evidências da presença do poder de Deus. Não é a potência da voz que causa impressão duradoura. Os pastores devem ser estudantes da Bíblia e munir-se plenamente das razões de nossa fé e esperança. Então, com pleno controle da voz e das emoções, apresentá-las de tal modo que o povo possa calmamente pesar suas evidências e decidir sobre elas. E à medida que os pastores sentirem a força dos argumentos que apresentam em forma de solene e decisiva verdade, mostrarão zelo e fervor relativos ao conhecimento. O Espírito de Deus lhes santificará a alma e as verdades que apresentam a outros, "e o que regar também será regado". Provérbios 11:25. T1 645 2 Vi que alguns de nossos pastores não sabem como preservar suas forças, de forma a poderem realizar grande quantidade de trabalho sem ficarem esgotados. Eles não devem orar tão alto e por tanto tempo a ponto de esgotar as energias. Não é necessário cansar a garganta e os pulmões em oração. Os ouvidos de Deus estão sempre atentos para ouvir as sinceras petições de Seus humildes servos. Ele não exige que cansem seus órgãos da fala ao se dirigirem a Ele. Perfeita confiança, firme segurança, a constante súplica pelas promessas de Deus, a fé singela de "que Ele existe, e que é galardoador dos que diligentemente "O buscam" (Hebreus 11:6) -- eis o que importa para Deus. T1 645 3 Os pastores devem disciplinar-se e aprender como realizar maior volume de trabalho no breve período de que dispõem, e ainda ter considerável reserva de energias para que, se for requerido um esforço extra, tenham como dispor dela sem prejuízo para si mesmos. Por vezes é requerido que apliquem toda as energias que possuem em determinado ponto, e se eles já esgotaram previamente sua reserva de energias, e não têm condições de fazer frente a essa demanda, tudo quanto fizeram é perdido. Às vezes será preciso empregar todas as forças físicas e mentais para sustentar os mais fortes argumentos, para dispor as evidências na mais clara luz e apresentá-las ao povo da maneira mais enfática, dirigindo-lhes os mais fortes apelos. Quando as pessoas estão a ponto de abandonar as fileiras do inimigo e vir para o lado do Senhor, a batalha se torna mais severa e cruel. Satanás e seus anjos não toleram que alguém que tenha servido sob a bandeira das trevas, tome posição sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. T1 646 1 Foram-me mostrados exércitos opostos que haviam travado penoso combate. A vitória não fora conquistada por nenhum dos lados. Por fim os fiéis reconhecem que sua força e vigor estão-se dissipando e que serão incapazes de silenciar os inimigos, a menos que os ataquem e se apoderem de suas armas de guerra. É então que, com o risco da própria vida, reúnem todas as suas forças, e investem contra o inimigo. É uma batalha terrível, mas a vitória é conquistada e a fortaleza tomada. Se, no momento crítico, o exército estivesse tão exausto que lhe fosse impossível lançar a última carga e conquistar as fortificações inimigas, a batalha que se estendeu por dias, semanas e mesmo meses de lutas estaria perdida, e muitas vidas sacrificadas inutilmente. T1 646 2 Uma obra semelhante está perante nós. Muitos estão convencidos de que temos a verdade e, todavia, permanecem presos como com grilhões de ferro. Não ousam enfrentar as conseqüências de assumir uma posição ao lado da verdade. Muitos estão no vale da decisão, onde precisam ouvir apelos especiais, diretos e enfáticos, para que deponham suas armas de guerra e tomem posição ao lado do Senhor. Justamente nesse período crítico, Satanás os prende com fortíssimos laços. Se os servos de Deus estão todos exaustos porque esgotaram sua reserva física e mental, acham que nada mais pode ser feito e freqüentemente abandonam inteiramente o campo para iniciar atividades em outro lugar. Meios, tempo e trabalho, tudo ou quase tudo foi gasto sem qualquer resultado. Sim, é pior do que se nunca tivessem começado o trabalho naquele lugar, pois após o povo ter sido profundamente convencido pelo Espírito de Deus e levado ao ponto de decisão, e ser deixado a perder o interesse, e tomar decisão contrária às evidências, não pode outra vez tão facilmente ser levado a interessar-se no assunto. Terão, em muitos casos, tomado sua decisão final. T1 647 1 Se os pastores preservarem suas forças para, exatamente no momento em que tudo parecer desenrolar-se da maneira mais difícil, fazerem os mais diligentes esforços, os mais vigorosos apelos, os mais veementes pedidos e, como aguerridos soldados, no momento crítico, investirem contra o inimigo, obterão a vitória. As pessoas serão fortalecidas para romper as algemas de Satanás e fazer suas decisões para a vida eterna. O trabalho bem dirigido e no tempo certo tornará bem-sucedidos os esforços longamente desenvolvidos. Esse trabalho, mesmo se deixado por uns poucos dias, será um completo fracasso em muitos casos. Os pastores precisam dedicar-se ao trabalho como missionários e aprender como dirigir esforços a fim de obter a máxima vantagem. T1 647 2 Alguns pastores, no começo de uma série de reuniões, tornam-se muito zelosos e assumem encargos que Deus não lhes destinou, consomem assim suas forças cantando, orando e falando longamente e em alto volume. Esgotam-se e precisam ir para casa a fim de descansar. O que foi realizado através desse esforço? Literalmente nada. Os obreiros tinham entusiasmo e "zelo..., mas não com entendimento". Romanos 10:2. Não demonstraram sábia estratégia. Andaram sobre a carruagem dos sentimentos, mas não houve nenhuma vitória sobre o inimigo. Não penetraram e conquistaram sua fortaleza. T1 647 3 Foi-me mostrado que os ministros de Cristo devem disciplinar-se para a guerra. Grande sabedoria é requerida no comando da obra de Deus, muito mais do que a que se exige de generais envolvidos em batalhas. Os ministros de Deus estão empenhados numa grande obra. Estão combatendo não meramente contra homens, mas contra Satanás e seus anjos. Requer-se aqui um sábio comando. Devem eles tornar-se estudantes da Bíblia e dedicar-se completamente à obra. Quando iniciarem o trabalho num lugar, devem ser capazes de dar as razões de nossa fé, não de maneira rude nem turbulenta, mas com mansidão e temor. O poder convincente está nos fortes argumentos apresentados na mansidão e temor de Deus. T1 648 1 Talentosos ministros de Cristo são requeridos na obra para estes últimos dias de perigo. Sejam eles poderosos em palavra e doutrina, familiarizados com as Escrituras e sabedores das razões de nossa fé. Minha atenção foi dirigida para estes versículos, cujo significado não tem sido compreendido por alguns pastores: "Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." 1 Pedro 3:15. "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um." Colossences 4:6. "E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos." 2 Timóteo 2:24-26. T1 648 2 Requer-se que o homem de Deus, o ministro de Cristo, "seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra." 2 Timóteo 3:17. Um pastor pomposo, cheio de dignidade própria, não é necessário nesta boa obra. É necessário, porém, decoro no púlpito. Um ministro do evangelho não deveria ser descuidado com sua atitude. Se é representante de Cristo, seu comportamento, atitude e gestos devem ser de tal caráter que não firam os espectadores. Devem os pastores possuir refinamento. Devem descartar todas as maneiras, gestos e atitudes descorteses, promovendo a humilde dignidade da posição. Cumpre-lhes vestir-se de modo coerente com a dignidade de sua posição. Sua linguagem deve em todos os sentidos ser solene e bem escolhida. Foi-me mostrado que é errado usar expressões grosseiras e irreverentes, contar anedotas para divertir, ou apresentar ilustrações cômicas para produzir riso. Sarcasmo ou brincadeiras com as palavras de um oponente estão completamente fora do método de Deus. Os pastores não devem achar que não podem melhorar sua voz e maneiras. Muito pode ser feito. A voz pode ser cultivada de tal maneira que o falar longamente não prejudique os órgãos vocais. T1 649 1 Os pastores devem ser amantes da ordem e praticantes da autodisciplina. Então poderão com êxito disciplinar a igreja de Deus e ensiná-la a trabalhar em harmonia, semelhante a uma companhia de soldados bem preparada. Se a disciplina e a ordem são necessárias para uma ação bem-sucedida no campo de batalha, elas são tanto mais requeridas na luta em que estamos empenhados, assim quanto maior é o nosso objetivo a ser alcançado, pois no conflito em que estamos envolvidos, interesses eternos estão em jogo. T1 649 2 Os anjos trabalham harmoniosamente. Perfeita ordem caracteriza todos os seus movimentos. Quanto mais atentamente imitarmos a harmonia e a ordem da multidão angélica, tanto mais bem-sucedidos serão os esforços desses agentes celestiais em nosso favor. Se não virmos necessidade de ação harmoniosa, e formos desordenados, indisciplinados e desorganizados em nosso modo de agir, os anjos, que são totalmente organizados e se movem em perfeita ordem, não conseguem agir com sucesso em nosso favor. Eles se afastam entristecidos, pois não estão autorizados a abençoar confusão, desordem e desorganização. Todos os que desejarem a cooperação dos mensageiros celestiais, devem trabalhar em uníssono com eles. Os que possuem a unção do alto desejarão em todos os seus esforços estimular a ordem, a disciplina, a unidade de ação, e então os anjos de Deus podem cooperar com eles. Mas nunca, nunca esses mensageiros celestiais darão seu endosso à irregularidade, desorganização e desordem. Todos esses males são resultado dos esforços de Satanás para enfraquecer nossas forças, destruir o ânimo e impedir a ação bem-sucedida. T1 650 1 Satanás bem sabe que o sucesso só pode acompanhar a ação ordeira e harmoniosa. Sabe que tudo quanto se acha ligado ao Céu está em perfeita ordem, que sujeição e perfeita disciplina marcam os movimentos da multidão angélica. É seu estudado esforço levar os professos cristãos o mais distante possível dos arranjos feitos pelo Céu. Portanto, ele engana mesmo o professo povo de Deus, e o faz crer que a ordem e a disciplina são inimigas da espiritualidade; que a única segurança para eles é deixar que cada um siga a própria conduta e aja independentemente do corpo de crentes, que está unido e trabalhando para estabelecer disciplina e harmonia de ação. Todos os esforços feitos para estabelecer ordem são considerados perigosos, uma restrição da justa liberdade e, conseqüentemente, devem ser temidos como papismo. Essas pessoas enganadas consideram virtude gabar-se de sua liberdade de pensar e agir independentemente. Não aceitarão nada do que qualquer homem diz. Não se submetem a nenhum homem. Foi-me mostrado que é obra especial de Satanás levar os homens a achar que é o plano de Deus que eles se tornem auto-suficientes e escolham a própria conduta, independentemente de seus irmãos. T1 650 2 Minha atenção foi dirigida para os filhos de Israel. Logo depois de deixarem o Egito, estavam organizados e mais plenamente disciplinados. Deus havia, por Sua especial providência, qualificado Moisés para permanecer à testa dos exércitos de Israel. Ele havia sido um poderoso guerreiro no comando dos exércitos egípcios, jamais sobrepujado por nenhum outro em dom de comando. O Senhor não permitiu que Seu santo tabernáculo fosse transportado descuidadamente por qualquer tribo. Foi tão minucioso em especificar a ordem que deveria ser observada no transporte da arca, quanto em designar uma família específica da tribo dos levitas para carregá-la. Quando era para o bem do povo e para a glória de Deus que erguessem as tendas em determinado lugar, Deus manifestava Sua vontade fazendo com que a coluna de nuvem repousasse diretamente sobre o tabernáculo, onde permanecia até que novamente lhes desse ordem para partir. Em todas as suas jornadas lhes era requerido observar perfeita ordem. Cada tribo conduzia um estandarte com o emblema da casa de seu pai, e cada tribo devia acampar sob a própria bandeira. Quando a arca era movimentada, os exércitos se deslocavam e as diferentes tribos marchavam em ordem sob seus pendões. Os levitas foram designados por Deus como a tribo que deveria levar a arca. Moisés e Arão marchavam logo adiante da arca e os filhos de Arão seguiam próximo a eles, cada um com suas trombetas. Eles recebiam instruções de Moisés, as quais deviam transmitir ao povo através do toque das trombetas. Estes instrumentos produziam sons especiais que o povo compreendia e atendia, movimentando-se de acordo com eles. T1 651 1 Os trombeteiros tocavam um sinal especial para chamar a atenção do povo, então todos ficavam atentos e obedeciam ao som emitido. Não havia confusão de sons no toque das trombetas, portanto não havia desculpas para confusão nos movimentos. O comandante de cada companhia dava instruções definidas sobre os movimentos que deviam fazer, e ninguém que prestasse atenção ignorava o que fazer. Se alguém falhasse no cumprimento das exigências dadas pelo Senhor a Moisés e por Moisés ao povo, era punido com a morte. Ninguém podia alegar ignorância sobre a natureza das ordens, pois isso apenas evidenciaria desconhecimento voluntário e receberia a justa punição pela transgressão. Se alguém desconhecesse a vontade de Deus concernente a si, seria por culpa própria. Tinha as mesmas oportunidades de obter conhecimento como as outras pessoas, portanto, seu pecado de desconhecer, de não entender, era tão grande à vista de Deus como se tivesse ouvido e depois transgredido. T1 652 1 O Senhor designou uma família especial da tribo de Levi para transportar a arca. Outros levitas foram especialmente apontados por Deus para transportar o tabernáculo, seus móveis e utensílios, e também armá-lo e desarmá-lo. E se algum homem, por curiosidade ou falta de ordem, saísse de seu lugar e tocasse qualquer parte do santuário ou sua mobília, ou mesmo se aproximasse de algum trabalhador ali, sofreria a morte. Deus não permitia que Seu santo tabernáculo fosse transportado, montado e desmontado indiscriminadamente por qualquer tribo que escolhesse esse trabalho, mas pessoas eram escolhidas, as quais sabiam apreciar o caráter sagrado da obra na qual estavam empenhadas. Esses homens apontados por Deus eram instruídos a apresentar ao povo a especial santidade da arca e tudo quanto a ela pertencia, para que não olhassem para essas coisas sem compreender-lhes a santidade, e assim fossem apartados de Israel. Todas as coisas pertencentes ao lugar santíssimo tinham de ser olhadas com reverência. T1 652 2 As viagens dos filhos de Israel foram fielmente descritas. O livramento que o Senhor realizou em seu favor, sua perfeita organização e especial ordem, seu pecado de murmuração contra Moisés e desse modo contra Deus, suas transgressões, rebeliões, punições; seus cadáveres espalhados no deserto por causa da má vontade em submeter-se aos sábios desígnios de Deus, todo esse quadro fiel nos é mostrado como advertência, a fim de que não sigamos seu exemplo de desobediência e fracassemos como eles. T1 653 3 "Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar. E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil. E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:5-12. Deixou o Senhor de ser um Deus de ordem? Não. Ele é o mesmo tanto na presente dispensação como na passada. Diz Paulo: "Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz." 1 Coríntios 14:33. Ele é tão específico hoje como então. Deseja que aprendamos lições de ordem e organização a partir da perfeita ordem instituída nos dias de Moisés para benefício dos filhos de Israel. ------------------------Capítulo 114 -- Trabalhos adicionais T1 653 1 Experiências de 23 de Dezembro de 1867 a 1 de Fevereiro de 1868 T1 653 2 Farei agora um resumo dos incidentes ocorridos, e talvez não possa dar melhor idéia de nossos trabalhos até o tempo do encontro de Vermont, do que referindo aqui o teor de uma carta que escrevi a nosso filho em Battle Creek, em 27 de Dezembro de 1867: T1 653 3 "Meu querido filho Edson: Estou agora assentada à escrivaninha do irmão D. T. Bourdeau, em West Enosburgh, Vermont. Após o encerramento de nosso encontro em Topsham, Maine, estava excessivamente cansada. Enquanto arrumava minha mala, quase desmaiei de cansaço. O último trabalho que realizei ali foi convocar a família do irmão A e ter uma entrevista especial com eles. Falei-lhes palavras de exortação e conforto, e também de correção e conselho a um de seus membros. Tudo que eu disse foi plenamente aceito e seguido de confissão, pranto e grande alívio ao casal A. Essa me é uma obra penosa e muito cansativa. T1 653 4 "Após já estarmos no vagão, deitei e descansei por cerca de uma hora. Tínhamos um compromisso naquela noite, em Westbrook, Maine, para reunirmos com os irmãos de Portland e arredores. Ficamos hospedados no lar da bondosa família do irmão Martin. Eu não estava conseguindo ficar sentada, mas, tendo-me sido solicitado que estivesse na reunião da noite, fui à escola sentindo que não tinha forças para erguer-me e falar ao povo. O prédio estava repleto de ouvintes interessados. O irmão Andrews iniciou a reunião e falou pouco tempo. Seu pai, em seguida, fez algumas observações. Então eu me levantei, e tendo dito umas poucas palavras, senti-me revigorada. Todas as minhas fraquezas pareciam haver-me deixado, e falei durante quase uma hora com perfeita liberdade. Senti inexprimível gratidão por esse auxílio da parte de Deus, justamente no tempo que mais necessitava. Na noite de quarta-feira, falei com desembaraço por quase duas horas sobre as reformas de saúde e do vestuário. Ter minhas forças assim tão inesperadamente renovadas, quando me sentira completamente esgotada antes dessas duas reuniões, foi-me motivo de grande animação. T1 654 1 "Apreciamos estar com a família do irmão Martin e esperamos ver seus queridos filhos entregar o coração a Cristo, e, juntamente com seus pais, combaterem o bom combate cristão e receberem a coroa da imortalidade quando a vitória for alcançada. T1 654 2 "Na quinta-feira fomos novamente a Portland e jantamos com a família do irmão Gowell. Tivemos uma conversa particular com eles e esperamos obter dela bons resultados. Sentimos um profundo interesse pela esposa do irmão Gowell. Este coração de mãe foi ferido ao ver seus filhos sofrerem, morrerem e serem postos na silenciosa sepultura. Tudo vai bem com os que dormem. Que essa mãe também busque a verdade e acumule tesouros no Céu, para que, quando o Doador da vida libertar os cativos da grande prisão da morte, pai, mãe e filhos possam encontrar-se novamente, e os rompidos laços da família possam ser reatados para sempre. T1 654 3 "O irmão Gowell nos levou de carruagem até a estação. Tivemos apenas tempo suficiente de tomar o trem antes que partisse. Viajamos cinco horas e nos encontramos com o irmão A. W. Smith, na estação de Manchester. Ele nos esperava para conduzir-nos até sua casa naquela cidade. Ali pretendíamos descansar por uma noite, mas eis que muita gente estava esperando para nos receber. Tinham vindo de Amherst, cerca de quatorze quilômetros e meio de distância de Manchester, para passar a noite conosco. Tivemos uma reunião agradável, e esperamos, proveitosa para todos. Recolhemo-nos às dez horas. Cedo, na manhã seguinte, deixamos o confortável e hospitaleiro lar do irmão Smith, para prosseguir até Washington. Foi uma viagem lenta e tediosa. Desembarcamos em Hillsborough, onde encontramos uma carruagem esperando para nos levar a Washington, cerca de dezenove quilômetros distante. O irmão Colby tinha um trenó e cobertores, assim viajamos confortavelmente até a poucos quilômetros de nosso destino. A partir daí não havia neve suficiente para o trenó prosseguir. O vento começou a soprar e durante os últimos três quilômetros lançou granizo em nossos rostos e olhos, produzindo dor e quase nos enregelando. Afinal encontramos abrigo no lar aprazível do irmão C. K. Farnsworth. Sua família fez tudo ao seu alcance para nos proporcionar conforto, e tudo foi preparado para que descansássemos o máximo possível. Mas não conseguimos repousar muito. T1 655 1 "No sábado seu pai falou na parte da manhã e, depois de um intervalo de cerca de vinte minutos, eu apresentei um testemunho de reprovação a vários que usavam fumo, e também ao irmão Ball que havia apoiado nossos inimigos, ridicularizando as visões e publicando coisas amargas contra nós no Crisis (Crise), de Boston, e no Hope of Israel (Esperança de Israel), um jornal publicado em Iowa. A reunião da noite seria na casa do irmão Farnsworth. A igreja estava presente e ali seu pai pediu ao irmão Ball que apresentasse suas objeções às visões, e nos desse uma oportunidade para respondê-las. Assim passamos parte da noite. O irmão Ball manifestou muita obstinação e espírito de oposição. Ele admitiu ter ficado satisfeito em alguns pontos, mas manteve-se irredutível. O irmão Andrews e seu pai falaram claramente, explicando assuntos que foram malcompreendidos e condenando a conduta injusta para com os adventistas observadores do sábado. Todos sentimos que havíamos feito o melhor naquele dia para enfraquecer as forças inimigas. Nosso encontro se prolongou até depois das dez da noite. T1 656 1 "Na manhã seguinte assistimos novamente as reuniões na igreja. Seu pai falou na parte da manhã. Mas pouco antes dele falar, o inimigo fez um pobre e fraco irmão achar que tinha grande preocupação pela igreja. Ele andou sobre o banco, falou, gemeu e gritou, possuído por algo terrível que ninguém conseguia compreender. Nós estávamos tentando fazer com que aqueles que professavam a verdade vissem seu estado de terrível escuridão e infidelidade perante Deus, e confessassem humildemente seu extravio, tornando-se ao Senhor em arrependimento para que Ele Se voltasse para eles e curasse suas apostasias. Satanás procurou impedir esse trabalho fazendo com que esse pobre e conturbado homem desgostasse aqueles que desejavam agir com bom senso. Levantei-me e dei um franco testemunho a esse homem. Ele não comera por dois dias e Satanás o enganou, fazendo com que cometesse excessos. T1 656 2 "Em seguida seu pai pregou. Tivemos uns breves momentos de intervalo, e então tentei falar sobre as reformas de saúde e do vestuário, e dei um claro testemunho àqueles que estavam estorvando o caminho dos jovens e dos descrentes. Deus me ajudou a falar claramente ao irmão Ball, e dizer-lhe, no nome do Senhor, o que ele havia feito. Ele ficou muito impressionado. T1 656 3 "Tivemos novamente uma reunião noturna na casa do irmão Farnsworth. O tempo esteve tormentoso durante as reuniões, mas o irmão Ball não faltou a nenhuma delas. O mesmo assunto foi tratado -- o exame da conduta que ele havia seguido. Se alguma vez o Senhor ajudou um homem a falar, certamente Ele inspirou o irmão Andrews naquela noite a pregar sobre o tema do sofrimento por amor a Cristo. Falou sobre Moisés, que 'recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa'. Hebreus 11:24-26. O Pastor Andrews mostrou que este era um dos muitos exemplos em que 'o vitupério de Cristo' foi estimado acima das riquezas e honras mundanas, dos pomposos títulos, da coroa e glória de um reino. O olho da fé fixou-se na glória futura, e a recompensa foi tida como de tal valor que fez as coisas ricas deste mundo parecer como de nenhum valor. Os filhos de Deus 'experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados' (Hebreus 11:36, 37), mas, sustidos pela fé e esperança, consideraram leves essas aflições; tinham o futuro, a vida eterna, como de valor tão grande que achavam ser pequenos os próprios sofrimentos, em comparação com a futura recompensa. T1 657 1 "O irmão Andrews usou a ilustração de um fiel cristão que estava para ser martirizado por causa de sua fé. Um irmão de fé estivera conversando com ele a respeito do poder da esperança cristã, se esta seria forte o suficiente para sustentá-lo enquanto sua carne estivesse sendo consumida pelo fogo. Esse irmão pediu ao condenado que lhe desse um sinal indicando se a fé e a esperança eram mais fortes do que o fogo consumidor. Como estivesse esperando ser a próxima vítima, achou que isso o fortaleceria para enfrentar a fogueira. O crente que estava prestes a ser executado prometeu dar-lhe um sinal. Ele foi levado ao local da fogueira em meio aos insultos e zombarias da multidão ociosa e curiosa, ali reunida para testemunhar à execução do cristão. A lenha foi trazida e o fogo ateado. O irmão que antes conversara com o condenado fixou os olhos sobre o moribundo mártir, sentindo que dependia muito do sinal. O fogo ardia continuamente. A carne já estava carbonizada, mas o sinal não vinha. Seus olhos não se desviaram, em momento algum, da cena dolorosa. Os braços já estavam queimados. Não havia nenhum sinal de vida. Todos pensavam que o fogo havia feito sua obra e que já não havia mais vida naquele corpo. Mas, eis! Em meio às chamas, seus braços ergueram-se ao Céu. O cristão que observava, cujo coração já se desalentara, vendo o alegre sinal, sentiu uma vibração percorrer-lhe o corpo e renovar-lhe a fé, a esperança e a coragem. Derramou então lágrimas de alegria. T1 658 1 "Enquanto o irmão Andrews falava dos braços carbonizados erguendo-se entre as chamas, ele próprio chorava como criança. Quase toda a congregação foi levada às lágrimas. A reunião encerrou-se quase às dez horas. As nuvens escuras dissiparam-se totalmente. O irmão Hemingway levantou-se e disse que havia estado em completa apostasia, usando fumo, opondo-se às visões e perseguindo a esposa por crer nelas, mas prometeu não mais fazer isso. Pediu perdão à mulher e a todos nós. Sua esposa falou, muito comovida. Sua filha e muitos outros presentes se levantaram para orar. Ele declarou que o testemunho dado pela irmã White parecia ter vindo diretamente do trono divino, e que ele nunca mais ousaria opor-se a ele. T1 658 2 "O irmão Ball então disse que se as coisas eram como nós as víamos, seu caso era muito mau. Confessou que sabia ter estado em apostasia e que fora uma pedra de tropeço para os jovens. Agradecemos a Deus por essa confissão. Queríamos seguir viagem na segunda-feira cedo, a fim de cumprir um compromisso em Braintree, Vermont, reunindo-nos com cerca de trinta observadores do sábado. Mas fazia muito frio e o clima estava tempestuoso para percorrermos quarenta quilômetros, após termos trabalhado tanto. Finalmente decidimos permanecer e continuar o trabalho em Washington, até que o irmão Ball se decidisse pela verdade ou contra ela, e a igreja tivesse esse caso resolvido. T1 658 3 "A reunião iniciou-se às dez horas da manhã de segunda-feira. Os irmãos Rodman e Howard estavam presentes. O irmão Newell Mead, que estava muito doente e tenso, quase igual a seu pai no passado, foi convidado a assistir à reunião. Uma vez mais foi abordada a condição da igreja e foi feita uma severíssima censura àqueles que se interpunham no caminho de sua prosperidade. Com os mais ferventes rogos, suplicamos que se convertessem a Deus e dessem meia-volta. O Senhor nos auxiliou nesse trabalho. O irmão Ball sentiu-se impressionado, mas ficou hesitante. Sua esposa sentiu muito por ele. Nossa reunião encerrou-se às três ou quatro horas da tarde. Todas estas horas, um após o outro, estivemos trabalhando diligentemente pela juventude inconversa. Marcamos nova reunião para a noite, com início às seis horas. T1 659 1 "Justamente antes de entrar para a reunião, foram-me revividas algumas cenas interessantes que me haviam sido mostradas em visão, e falei aos irmãos Andrews, Rodman, Howard, Mead e muitos outros que estavam presentes. Parecia-me que os anjos estavam fazendo uma abertura na nuvem, para deixar passar raios de luz do Céu. O assunto apresentado muito impressivamente foi o caso de Moisés. Exclamei: 'Quem dera tivesse eu a habilidade de um artista para pintar a cena de Moisés sobre o monte!' Sua força estava inalterada. Não 'perdeu o seu vigor', é a expressão da Escritura. 'Seus olhos nunca se escureceram' com a idade, porém, ele subiu ao monte para morrer. Deuteronômio 34:7. Os anjos o sepultaram mas o Filho de Deus logo desceu e o ressuscitou, levando-o para o Céu. Antes, porém, Deus deu-lhe uma visão panorâmica da terra da promessa, com Sua bênção sobre ela. Era como um segundo Éden. Foi-lhe mostrado Cristo em Seu primeiro advento, Sua rejeição pela nação judaica e morte de cruz. Moisés então viu o segundo advento de Cristo e a ressurreição dos justos. Eu também falei do encontro dos dois Adões -- o primeiro Adão e Cristo, o segundo -- quando o Éden florescer novamente na Terra. Os pormenores desses pontos eu pretendo dar no Testemunho n 14. Os irmãos quiseram que eu repetisse o mesmo assunto na reunião da noite. T1 659 2 "Nossa reunião durante o dia foi muito solene. Eu sentia tal fardo sobre mim no domingo à noite, que chorei alto por quase meia hora. Na segunda-feira foram feitos solenes apelos, e o Senhor os enviou para casa. Entrei na reunião de terça à noite um pouco mais aliviada. Falei durante uma hora com muita liberdade sobre temas que contemplara em visão, aos quais eu já fizera referência. Nossa reunião foi bastante espontânea. Os irmãos Howard e Rodman choraram como crianças. O irmão Andrews falou de maneira fervorosa, tocante e com lágrimas. O irmão Ball se levantou e disse que parecia ter dois espíritos sobre ele naquela noite, um dizendo: Você ainda pode duvidar de que esses testemunhos da irmã White procedem do Céu? O outro espírito apresentava à sua mente as objeções que fazia diante dos inimigos de nossa fé. 'Oh! se eu me convencesse', disse ele, 'a respeito de todas essas objeções; se elas pudessem ser removidas, eu perceberia haver feito à irmã White um grande mal. Recentemente mandei um artigo para o jornal Hope of Israel. Se ainda o tivesse em mãos, jamais o enviaria!' Ele se comoveu profundamente e chorou muito. O Espírito do Senhor estava presente na reunião. Anjos de Deus pareciam próximos, afastando os anjos maus. Pastor e povo choravam como crianças. Sentimos estar progredindo e que os poderes das trevas estavam recuando. Nossa reunião terminou bem. T1 660 1 "Marcamos ainda outra reunião para as dez horas da manhã do dia seguinte. Falei sobre a humilhação e glorificação de Cristo. O irmão Ball sentou-se próximo a mim e chorou durante todo o tempo em que eu falava. Preguei por cerca de uma hora, e então começamos nosso trabalho com os jovens. Os pais vieram à reunião trazendo os filhos consigo para serem abençoados. O irmão Ball se levantou e fez humilde confissão, dizendo que não vivera como deveria diante de sua família. Confessou aos filhos e à esposa que estivera em apostasia, e que não fora de nenhum auxílio, antes um estorvo, a eles. As lágrimas fluíam copiosamente. Sua vigorosa estrutura estava abalada e soluços embargavam-lhe a voz. T1 660 2 "O irmão James Farnsworth havia sido influenciado pelo irmão Ball e não estivera em plena união com os adventistas observadores do sábado. Ele fez confissão com lágrimas. Então fizemos um apelo às crianças, e treze delas manifestaram o desejo de tornar-se cristãs. Os filhos do irmão Ball estavam entre elas. Um ou dois haviam deixado a reunião, sendo obrigados a voltar para casa. Um rapaz de aproximadamente vinte anos caminhou cerca de sessenta e três quilômetros para nos ver e ouvir acerca da verdade. Nunca havia professado religião, mas tomou posição ao lado do Senhor antes de ir embora. Esta foi uma das melhores reuniões. No final, o irmão Ball foi até seu pai e confessou em lágrimas que havia procedido mal para com ele e rogava-lhe o perdão. Depois se aproximou de mim e confessou que havia sido muito injusto comigo. 'A senhora pode perdoar-me e pedir a Deus que me perdoe?' Asseguramos que lhe perdoávamos tão cabalmente quanto esperávamos ser perdoados. Despedimo-nos com muitas lágrimas, sentindo a bênção do Céu sobre nós. Não tivemos nenhuma reunião à noite. T1 661 1 "Na quinta-feira, levantamo-nos às quatro da manhã. Chovera à noite e ainda estava chovendo, todavia nos aventuramos a ir até Bellows Falls, situada cerca de quarenta quilômetros de distância. Os primeiros seis quilômetros foram extremamente difíceis, porquanto havíamos escolhido uma trilha isolada que evitava as íngremes colinas. Passamos sobre pedras e áreas cultivadas, e quase fomos lançados para fora do trenó. Por volta do amanhecer o temporal havia passado e pudemos viajar melhor até atingir a estrada pública. O clima estava muito agradável. Nunca tivemos um dia tão bonito para viajar. Quando chegamos a Bellows Falls, descobrimos que estávamos uma hora atrasados para o trem expresso, e urna hora adiantados para o trem-leito. Não pudemos chegar a St. Albans senão às nove da noite. Tomamos nossos assentos num belo vagão, almoçamos e procuramos aproveitar nossa singela viagem. A seguir preparamo-nos para dormir, se pudéssemos. T1 661 2 "Enquanto eu estava dormindo, alguém me sacudiu vigorosamente os ombros. Acordei e vi uma senhora de boa aparência inclinando-se sobre mim. Ela disse: 'Você não me reconhece? Sou a irmã Chase. O trem está em White River. Desça por alguns minutos. Moro aqui perto e tenho vindo todos os dias desta semana e passado por todos os vagões para encontrá-la.' Então me lembrei de haver almoçado em sua casa em Newport. Ela estava muito feliz em nos ver. Ela e sua mãe guardam o sábado sozinhas. Seu marido é chefe de trem. Ela falava rápido. Disse que apreciava muito a Review (revista), porquanto não havia reuniões ali. Queria livros para distribuir a seus vizinhos, mas tinha de conseguir todo o dinheiro que gastava em livros e periódicos. Tivemos uma entrevista proveitosa, embora curta, pois o trem partiu e tivemos de nos separar. T1 662 1 "Em St. Albans encontramo-nos com os irmãos Gould e A. C. Bourdeau. O irmão Bordeau possuía uma bela carruagem coberta e dois cavalos, mas a conduzia de modo tão vagaroso que só chegamos a Enosburgh depois de uma da madrugada. Estávamos exaustos e enregelados. Fomos deitar logo após as duas e dormimos até depois das sete. T1 662 2 "Sábado de manhã. Há um grande afluência de pessoas ali, apesar do mau estado das estradas, que não permite o tráfego de trenós nem de carruagens. Estou indo para a reunião e devo despender algum tempo ali. Seu pai fala esta manhã, e eu à tarde. Que o Senhor nos ajude, é nossa oração. Veja que longa carta eu escrevi. Leia essa carta a quem se interessar, especialmente ao vovô e à vovó White. Como você vê, Edson, temos bastante trabalho a fazer. Espero que não se esqueça de orar por nós. Seu pai tem trabalhado duro, muito duro, até sacrificando sua saúde. Ele algumas vezes percebe a especial bênção de Deus, e isso lhe dá vigor e ânimo para o trabalho. Não temos podido descansar desde que viemos do Leste. Temos empregado todas as nossas forças no trabalho. Que o Senhor abençoe nossos débeis esforços em favor de Seu amado povo. T1 662 3 "Edson, espero que você adorne sua profissão de fé com uma vida bem ordenada e piedosa conversação. Oh, seja fervoroso! Zeloso e perseverante no trabalho. Vigie em oração. Cultive humildade e mansidão. Isto receberá a aprovação de Deus. Esconda-se em Jesus. Que o amor-próprio e o orgulho sejam sacrificados, e você, meu filho, seja suprido de rica experiência cristã, útil para qualquer posição que Deus queira confiar-lhe. Procure fazer uma obra completa, de coração. Uma experiência superficial não passará pela prova do Juízo. Busque uma transformação completa. Que suas mãos não estejam manchadas, o coração maculado, o caráter rebaixado, pelas corrupções do mundo. Mantenha-se diferente. Deus apela: 'Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso.' 2 Coríntios 6:17, 18. 'Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.' 2 Coríntios 7:1. T1 663 1 "Recai sobre nós a obra de obtermos perfeita santidade. Quando Deus vir que estamos fazendo tudo ao nosso alcance, então nos dará ajuda. Os anjos nos auxiliarão e seremos fortes mediante Cristo. Não negligencie a oração secreta. Ore por você mesmo. Cresça na graça. Avance. Não fique onde está nem recue. Para a frente, à vitória! Anime-se no Senhor, meu caro rapaz! Lute contra o grande adversário somente um pouco mais, e então o livramento virá e a armadura será deposta aos pés de nosso amado Redentor. Suplante cada obstáculo. Se o futuro parecer um tanto nebuloso, espere e creia. As nuvens desaparecerão e a luz novamente brilhará. Louve ao Senhor, diz meu coração, louve ao Senhor pelo que Ele tem feito por você, por seu pai e por mim. Inicie corretamente um novo ano." Sua mãe, E. G. W. T1 663 2 A reunião de West Enosburgh, Vermont, foi de profundo interesse. Achei muito bom voltar a encontrar velhos e experientes amigos daquele Estado. Uma grande e boa obra foi realizada em curto espaço de tempo. Esses amigos eram pessoas geralmente pobres, trabalhando por suas necessidades básicas num lugar onde um dólar é ganho com muito mais empenho do que dois no Oeste, todavia, foram liberais conosco. Muitos detalhes dessa reunião foram publicados na Review, e a carência de espaço nestas páginas impede sua repetição. Em nenhum Estado, os irmãos têm sido mais verdadeiros para com a causa do que no velho Vermont. T1 664 1 Em nossa viagem para Enosburgh, paramos para passar a noite com a família do irmão William White. O irmão C. A. White, seu filho, apresentou-nos o assunto da patente de sua máquina dupla de lavar e torcer, e pediu conselho. Como eu havia escrito contra nosso povo envolver-se em direitos de patente, ele quis saber justamente qual era minha opinião sobre essa patente. Falei-lhe francamente sobre o que quis e não quis dizer naquilo que havia escrito, e também o que queria dizer. Não disse que estava errado tudo quanto se relacionasse com direitos de patente, pois isto seria quase impossível, visto que a maioria das coisas com que temos de lidar diariamente são patenteadas. Nem pretendi transmitir a idéia de que era errado registrar patente, fabricar e vender qualquer artigo merecedor de patente. O que eu queria que nosso povo entendesse é que é errado permitir ser enganados e defraudados por homens que vão de um lado a outro do país vendendo direitos de propriedade para esta ou aquela máquina ou produto. Muitos desses artigos não são de nenhum valor nem de real benefício. E aqueles que os vendem são, com poucas exceções, uma classe de enganadores. T1 664 2 Alguns de nossos próprios irmãos se envolveram na venda de produtos patenteados, mesmo crendo que eles não eram aquilo que pareciam ser. É incrível que muitos de nosso povo, alguns dos quais já plenamente advertidos, ainda permitam ser enganados pelas falsas declarações desses vendedores de direitos de patente. Algumas patentes são realmente valiosas e poucos têm obtido proveito delas. É minha opinião, porém, que onde um dólar foi ganho, cem se perderam. Não se deve depositar confiança nessas garantias de direito de patentes. E o fato é que aqueles que se envolvem com elas, com poucas exceções, são inequivocamente enganadores e mentirosos, tornando difícil para um homem honesto que apresenta um produto legítimo, obter o crédito e o patrocínio que merece. T1 665 1 O irmão C. A. White apresentou sua máquina de lavar e torcer ao grupo, incluindo os irmãos Bourdeau, Andrews, meu marido e eu, e não pudemos senão olhar com favor para ela. Ele nos presenteou com uma unidade, a qual o irmão Corliss, do Maine, nosso empregado, montou em poucos instantes e a pôs a funcionar. A irmã Burgess, do Condado de Gratiot, nossa empregada doméstica, ficou muito contente com a máquina. Ela funciona bem e é rápida. Uma mulher débil, que tenha filho ou marido para acionar essa máquina, pode lavar grande quantidade de roupa em poucas horas, enquanto que ela nada mais fará do que supervisionar o trabalho. O irmão C. A. White enviou circulares a um grande número de pessoas, e quem tiver interesse poderá dirigir-se a nós, incluindo a postagem. T1 665 2 Nossa próxima reunião foi em Adams Center, Nova Iorque. Foi um grande encontro. Houve muitas pessoas nesse lugar e adjacências cujos casos me haviam sido mostrados e por quem eu sentia profundo interesse. Eram homens de moral digna. Alguns tinham tal condição de vida que tornava a cruz da verdade presente difícil de suportar, ou pelo menos eles pensavam assim. Outros, de meia-idade, foram educados desde a infância para guardar o sábado, mas não suportaram a cruz de Cristo. Estes se achavam numa posição da qual parecia difícil movê-los. Eles precisam ser sacudidos da confiança em suas boas obras e levados a sentir sua condição de perdidos sem Cristo. Não podíamos abandonar essas pessoas e trabalhamos muito para ajudá-las. Por fim, mudaram de pensamento e desde então tenho-me alegrado em receber boas notícias sobre todos eles. Esperamos que o amor do mundo não lhes exclua o amor de Deus do coração. O Senhor está convertendo homens ricos e trazendo-os para nossas fileiras. Se prosperarem na vida cristã, crescerem na graça e finalmente colherem rica recompensa, haverão de usar suas riquezas para fazer avançar a causa da verdade. T1 666 1 Depois de deixar Adams Center, ficamos alguns dias em Rochester e fomos para Battle Creek, onde permanecemos durante o sábado e o domingo. Dali retornamos para casa, onde passamos o sábado seguinte e o domingo, reunidos com irmãos de diversos lugares. T1 666 2 Meu marido tratou da questão do livro em Battle Creek, e essa igreja deu um nobre exemplo. Na reunião de Fairplains, ele falou sobre a colocação, nas mãos de todos os que não podiam comprar, de obras como Spiritual Gifts (Dons Espirituais), Appeal to Mothers (Apelo às Mães), How to Live (Como Viver), Appeal to Youth (Apelo à Juventude), Sabbath Readings (Leituras Sabáticas) e os diagramas com a Key of Explanation (Chave de Interpretação). O plano recebeu apoio geral. Mas acerca desse importante trabalho, falarei oportunamente. ------------------------Capítulo 115 -- Ana More T1 666 3 No sábado seguinte reunimo-nos na igreja de Orleans, onde meu marido apresentou o caso de nossa saudosa irmã Ana More. Quando o irmão Amadon nos visitou no último verão, disse que a irmã More havia estado em Battle Creek e, não encontrando ali emprego, foi até o Condado de Leelenaw para morar com uma velha amiga, que com ela trabalhara nos campos missionários da África Central. Meu marido e eu sentimos que essa querida serva de Cristo fosse forçada a separar-se do convívio de seus irmãos de fé, e decidimos mandar buscá-la para morar conosco. Escrevemos convidando-a a encontrar-nos em Wright, onde tínhamos compromisso, e vir para casa conosco. Ela não foi a Wright. Eis sua resposta à carta que lhe enviamos, datada de 29 de Agosto de 1867, que recebemos em Battle Creek: T1 666 4 "Irmão White, recebi esta semana sua bondosa correspondência. Como o carteiro só vem aqui uma vez por semana e vai embora amanhã, apresso-me em respondê-la. Estamos aqui em meio à selva, por assim dizer. Um índio traz a correspondência a pé, às sextas-feiras, e volta às terças-feiras. Consultei o irmão Thompson sobre o melhor e mais seguro roteiro para chegar até aí é tomar um barco até Milwaukee, e então para Grand Haven. T1 667 1 "Como gastei todo o meu dinheiro para vir até aqui e fui convidada a ficar com a família do irmão Thompson, tenho ajudado a irmã Thompson nas tarefas domésticas e na costura, a um dólar e meio por semana de cinco dias, porque eles não querem que eu trabalhe para eles no domingo e eu não trabalho no sábado do Senhor, o único dia de repouso que a Bíblia reconhece. Eles não desejam que eu vá embora, apesar de nossa diferença de crenças. Ele diz que posso ficar com eles, com a ressalva de não divulgar minha crença entre seu povo. Convidou-me até para atender seus compromissos enquanto está em viagem de pregação. Assim tenho feito. A irmã Thompson precisa de uma governanta para seus filhos por causa das perigosas influências externas e por serem as escolas muito pervertidas. Ela não está disposta a enviar seus queridos à escola, enquanto não se tornarem cristãos, como diz ela. Seu filho mais velho, hoje com dezesseis anos, é um jovem piedoso e consagrado. Eles adotaram em parte a reforma de saúde e penso que a aceitarão plenamente dentro em breve. O irmão Thompson encomendou o Health Reformer (Reformador da Saúde). Mostrei-lhe alguns exemplares que tinha comigo. T1 667 2 "Tenho esperança de que ele aceite o santo sábado, e oro por isso. Sua esposa já o aceita. Ele é tremendamente inflexível quanto a seus costumes, e acha que está certo. Se eu pudesse ao menos convencê-lo a ler os livros que trouxe, como History of the Sabbath (História do Sábado) e outros. Mas ele os olha e diz que são falsos, e que lhe parecem ter o erro estampado em suas capas. Se, contudo, lesse com cuidado o significado de nossos princípios, creio que os aceitaria como verdades bíblicas e veria sua beleza e coerência. Não tenho dúvida de que a irmã T ficaria feliz em tornar-se já uma adventista do sétimo dia, se seu marido não se opusesse tão severamente a isso. Tive a impressão de que tinha uma obra a fazer antes de vir para cá, mas a verdade se acha presente na família, e se eu não puder levá-la mais adiante, parece que minha obra está concluída, ou quase concluída. Não quero sentir vergonha de Cristo nem dos Seus, em meio a esta "geração perversa". Atos dos Apóstolos 2:40. Prefiro lançar minha sorte com os observadores do sábado e o povo escolhido de Deus. T1 668 1 "Necessito de pelo menos dez dólares para chegar até Greenville. O que, com o pouco que ganhei, poderia ser suficiente. Esperarei que os irmãos me escrevam e façam o que achar melhor em adiantar-me o dinheiro. Na primavera terei o suficiente para ir, e assim farei. Que o Senhor nos guie e abençoe em cada empreendimento, é o ardente desejo de meu coração. Que eu possa assumir a posição que meu Deus me destinou em Sua vinha moral, cumprindo com alegria cada dever, por penoso que possa parecer, de acordo com Seu consentimento, é meu sincero desejo e oração. T1 668 2 "ANA MORE." T1 668 3 Ao receber sua carta, decidimos enviar à irmã More o dinheiro necessário, tão logo tivéssemos tempo. Antes, porém, de nos empenharmos nisso, decidimos ir até o Maine, para retornar em poucas semanas, quando lhe mandaríamos a quantia antes que o período de navegação encerrasse. E quando decidimos permanecer no Maine, New Hampshire, Vermont e Nova Iorque, escrevemos a um irmão desse Condado para falar com os líderes da igreja e consultá-los sobre a possibilidade de mandar buscar a irmã More e conseguir-lhe um lar até nossa volta. O assunto, porém, foi negligenciado até que o período de navegação se encerrou. Quando voltamos descobrimos que ninguém se interessara em ajudar a irmã More a vir para esta região, onde ela poderia ficar conosco assim que chegássemos em casa. Ficamos tristes e aflitos, e na reunião em Orleans, no segundo sábado após nosso retorno, meu marido apresentou o caso dela aos irmãos. Um breve relatório do que foi dito e feito com relação à irmã More, foi apresentado por meu marido na Review de 18 de Fevereiro de 1868, como segue: T1 669 1 "Nessa reunião apresentamos o caso da irmã Ana More, agora residindo temporariamente no Noroeste de Michigan, com amigos que não observam o sábado bíblico. Declaramos que essa serva de Cristo aceitou o sábado enquanto realizava trabalho missionário na África Central. Quando esse fato se tornou conhecido, ela foi dispensada de seus serviços e voltou para a América do Norte, em busca de lar e emprego com aqueles da mesma fé. Entendemos que ela não está contente onde se encontra atualmente. Ninguém em particular pode ser responsabilizado nesse caso. Mas nos parece que há falta de condições adequadas em nosso sistema organizacional para animar e auxiliar tais pessoas, aproveitando-as num campo de trabalho útil. Ou houve negligência no cumprimento do dever por parte desses irmãos e irmãs que tiveram o prazer de conhecer a irmã More. Por voto unânime ela foi convidada a residir com os irmãos desta região, até o tempo da Assembléia da Associação Geral, quando seu caso deve ser apresentado a nosso povo. O irmão Andrews, ali presente, apoiou plenamente a ação dos irmãos." T1 669 2 Pelo que soubemos do frio e indiferente tratamento que a irmã More recebeu em Battle Creek, é evidente que, ao declarar que ninguém em especial era culpado no caso dessa irmã, meu marido assumiu uma postura bastante caridosa sobre o assunto. Quando todos os fatos se tornaram conhecidos, nenhum cristão pode ser responsabilizado, mas todos os membros dessa igreja que conheciam as circunstâncias em que a irmã vivia, e não manifestaram interesse individual por ela. Certamente era dever dos oficiais tomar providências e referi-las à igreja, se outros não se encarregassem do assunto. Mas cada membro dessa ou de qualquer outra igreja não deve achar que está livre de interessar-se em tais pessoas. Depois do que foi dito na Review acerca dessa abnegada serva de Cristo, cada leitor em Battle Creek, ao saber que ela chegara à cidade, teria sido desculpado se lhe fizesse uma visita pessoal e se informasse de suas necessidades. T1 670 1 A irmã Strong, esposa do Pastor P. Strong Jr., esteve em Battle Creek na mesma época que a irmã More. Ambas chegaram à cidade no mesmo dia e partiram na mesma hora. A irmã Strong, que está do meu lado, diz que a irmã More pediu que intercedesse por ela na obtenção de emprego, para que assim pudesse permanecer entre os observadores do sábado. A irmã More disse estar disposta a fazer qualquer coisa, embora preferisse ensinar. Pediu também ao Pastor A. S. Hutchins que apresentasse seu caso aos irmãos dirigentes do Escritório da Review e tentasse arranjar-lhe trabalho numa escola. Isso o irmão Hutchins fez alegremente. Mas nenhum encorajamento lhe foi dado, pois parecia não haver vaga. Ela também disse à irmã Strong que estava sem recursos e que, a menos que obtivesse emprego em Battle Creek, teria que voltar para o Condado de Leelenaw. Ela freqüentemente falava que lamentava o fato de ser obrigada a deixar os irmãos. T1 670 2 Então a irmã More escreveu ao Sr. Thompson dizendo que aceitava a oferta de morar com sua família e ficou esperando pela resposta. A irmã Strong andou, juntamente com ela, procurando um lugar para ficar até receber a resposta do Sr. Thompson. Num certo lugar foi-lhe dito que só podia ficar de quarta até sexta-feira de manhã, pois teriam de sair de casa. Essa irmã contou o caso da irmã More a uma sua irmã carnal que morava nas proximidades e que também guardava o sábado. Ao voltar, disse à irmã More que podia ficar com ela até sexta-feira de manhã, pois sua irmã dissera que não era conveniente hospedá-la. Mas a irmã Strong percebeu que a verdadeira desculpa se devia ao fato de a irmã More ser uma estranha na cidade. Essa irmã podia hospedá-la, mas não quis. T1 670 3 A irmã More pediu conselho à irmã Strong sobre o que fazer. A irmã Strong era quase desconhecida em Battle Creek, mas pensou que podia acomodar Ana na família de um irmão pobre, conhecido seu, que se havia mudado recentemente do Condado de Montcalm. Conseguiu sucesso. A irmã More permaneceu até terça-feira, quando partiu para o Condado de Leelenaw, via Chicago. Ali conseguiu dinheiro emprestado para completar a viagem. Alguns, pelo menos, de Battle Creek, estavam a par de suas necessidades, pois em resultado de tornar-se conhecida ali, não gastou nada em sua breve estada no Instituto. T1 671 1 Logo que voltamos do Leste, meu marido, tomando conhecimento de que nada do que pedíramos em relação à irmã More fora atendido, escreveu-lhe dizendo que viesse ter conosco o mais breve possível. Eis sua resposta: T1 671 2 "Leland, Condado de Leelenaw, Michigan, 20 de Fevereiro de 1868. T1 671 3 "Caro irmão White, recebi sua carta de 3 de Fevereiro. Estou com a saúde abalada por não estar acostumada a esses rigorosos invernos do Norte, com neve de noventa centímetros a um metro e vinte de altura. Nossa correspondência é trazida por um carteiro com sapatos de neve. T1 671 4 "Não me parece ser possível estar com os irmãos até a chegada da primavera. As estradas já são péssimas mesmo sem neve. Dizem que o melhor a fazer é esperar que até as rotas de navegação se abrirem, e então ir até Milwaukee, e daí para Grand Haven, onde devo tomar o trem até o ponto mais próximo da casa de vocês. Eu esperava estar entre nosso amado povo no último outono, mas esse privilégio não me foi permitido. T1 671 5 "As verdades em que acreditamos parecem mais e mais importantes, e nossa obra de preparar um povo para a vinda do Senhor não pode ser retardada. Precisamos não apenas possuir nossas vestes nupciais, mas ser fiéis em recomendar o preparo a outros. Gostaria de poder estar com os irmãos, mas parece impossível, ou pelo menos impraticável, em vista de meu delicado estado de saúde, empreender sozinha tal viagem em pleno inverno. Quando será a Assembléia Geral de que o irmão falou? E onde? Suponho que a Review informará oportunamente. T1 672 1 "Creio que minha saúde ficou abalada desde que passei a guardar o sábado sozinha em meu frio quarto. Creio também que não poderia observá-lo onde todas as formas de trabalho e conversação mundana eram a ordem do dia, como ocorre entre os observadores do domingo. Penso que o sábado é o dia mais laborioso para aqueles que observam o primeiro dia da semana. Realmente, não me parece que os mais leais observadores do domingo guardem qualquer dia adequadamente. Oh! quanto anseio estar novamente com os observadores do sábado! A irmã White gostará de ver-me com o vestuário da reforma. Que ela faça o favor de enviar-me um modelo, o qual lhe pagarei quando aí chegar. Entendo que devo estar vestida adequadamente quando estiver em seu meio. Gosto muito desse vestuário. A irmã Thompson acha que gostaria de adotar o vestuário da reforma. T1 672 2 "Faz mais de uma semana que não consigo dormir devido a dificuldades respiratórias ocasionadas, creio, pela chaminé do fogão que está quebrada e enche meu quarto de fumaça e gás na hora de dormir. Meu sono não é desfrutado num ambiente bem ventilado. Não achei, na ocasião, que a fumaça era tão nociva, nem considerei quão impuras eram as emanações produzidas pela mistura de lenha e carvão. Despertei com uma sensação de sufocamento tão grande que não conseguia respirar deitada, e passei o resto da noite sentada. Nunca antes havia sentido essa terrível sensação de asfixia. Comecei a recear que não pudesse dormir novamente. Portanto, pus-me nas mãos de Deus para viver ou morrer, rogando-Lhe que me poupasse, se ainda tivesse necessidade de mim em Sua vinha. De outro modo, não tinha mais vontade de continuar vivendo. Senti-me inteiramente reconciliada com a mão de Deus sobre mim. Mas também senti que as influências satânicas precisam ser resistidas. Por essa razão, ordenei a Satanás que se afastasse de mim, e disse ao Senhor que não ergueria minha mão para escolher nem a vida nem a morte, mas que O buscaria, pois Ele me conhece completamente. Meu futuro me é desconhecido, e portanto digo que a vontade do Senhor é melhor. A vida não tem importância para mim, assim como seus prazeres. Todas as suas riquezas e honras não são nada quando comparadas com a utilidade. Eu não as desejo. Elas não podem satisfazer ou preencher o doloroso vazio que me deixa o dever não cumprido. Não quero viver na inutilidade para ser uma nódoa ou um espaço em branco na vida. E embora pareça morte de mártir morrer assim, estou conformada se essa for a vontade de Deus. T1 673 1 "Eu havia dito à irmã Thompson no dia anterior: 'Se eu estivesse na casa do irmão White, eles orariam por mim e eu seria curada.' Ela me perguntou se não poderíamos mandar buscar o irmão e o Pastor Andrews, mas isso parecia impraticável, visto que eu não poderia, seguramente, sobreviver até que os irmãos chegassem. Eu sabia que o Senhor, com Seu grande poder e forte braço, poderia curar-me aqui, se isso fosse o melhor. Senti-me segura ao dizer isso a Ele. Sabia que Ele poderia enviar um anjo para resistir 'o que tinha o império da morte, isto é, o diabo' (Hebreus 2:14), e fiquei certa de que o faria, se isso fosse o melhor. Eu também achava que Ele poderia tomar, se fosse necessário, providências para a minha recuperação, e tive a certeza de que o faria. Logo melhorei e fui capaz de dormir um pouco. T1 673 2 "Assim você pode ver que ainda sou um exemplo vivo da misericórdia e fidelidade de Deus para com Seus filhos aflitos. 'Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.' Lamentações 3:33. Mas algumas vezes as provas são necessárias como uma disciplina, para nos desapegar da Terra. "'E manda-nos buscar real felicidade. T1 673 3 Além deste mundo passageiro.' T1 673 4 "Agora posso dizer como o poeta: T1 673 5 "'Senhor, não está sob meu domínio, Se hei de viver ou de morrer. Se a vida for longa, serei feliz Para que possa ansiar obedecer; Se curta for, por que ficaria eu infeliz? Pois esse mundo terá de passar. Cristo não me guia por lugares mais escuros Do que Ele antes palmilhou. Quem quer que venha ao Seu reino, Precisa entrar por Sua porta.' T1 674 1 "'Vem, Senhor, quando a graça me fez Teu bendito rosto ver; Pois se Tua obra na Terra é suave, Como será em Tua glória? Alegremente cessarei minhas queixas, E dias cansativos e pecaminosos, Para me unir aos santos triunfantes Que louvor entoam a Jeová! Pouco sei desse porvir, Meu olho da fé turvo está; Mas basta confiar que Cristo tudo sabe, E com Ele haverei de estar. -- Baxter. T1 674 2 "Tive períodos de insônia na última noite e hoje me sinto indisposta. Ore para que seja cumprida a vontade de Deus em mim e através de mim, qualquer que seja ela, quer em minha vida ou através de minha morte. Na esperança da vida eterna, Ana More. T1 674 3 "Se souber de algum modo de poder encontrar-me com você o mais breve possível, por favor informe-me. H. M." T1 674 4 Ela está morta e ainda fala. Suas cartas, as quais tenho em meu poder, serão lidas com profundo interesse por aqueles que tomaram conhecimento de seu obituário, em número recente da Review. Ela poderia ter sido uma bênção a todas as famílias observadoras do sábado que apreciassem seu valor, mas está dormindo. Nossos irmãos de Battle Creek e arredores poderiam ter-lhe dado mais do que boas-vindas a Jesus na pessoa dessa piedosa mulher. Mas a oportunidade se foi. Não era conveniente. Eles não procuraram relacionar-se com essa irmã. Ela era de idade avançada e poderia ter sido um fardo. Sentimentos desse tipo excluíram-na dos lares dos professos amigos de Jesus, que estão esperando por Seu próximo advento, e a afastaram daqueles a quem ela amava, enviando-a àqueles que se opunham à sua fé no Norte de Michigan, durante o inverno mais frio, para morrer congelada. Ela morreu como mártir do egoísmo e da cobiça dos professos guardadores dos mandamentos. T1 674 5 A Providência dirigiu, nesse caso, uma terrível reprovação à conduta daqueles que não acolheram essa estrangeira. Ela não era realmente uma estrangeira. Sua respeitabilidade era do conhecimento de todos, todavia, não foi ela acolhida. Muitos hão de ficar aborrecidos quando se lembrarem da irmã More que esteve em Battle Creek, mendigando um lar entre o povo que ela escolheu. Eles, em imaginação, a seguirão até Chicago, para tomar dinheiro emprestado a fim de custear as despesas de sua viagem até o descanso final. E quando pensarem naquela sepultura, no Condado de Leelenaw, onde repousa essa preciosa exilada, que Deus tenha piedade daqueles que têm culpa em seu caso. T1 675 1 Pobre irmã More! Ela dorme, mas nós fizemos aquilo que nos estava ao alcance. Quando estivemos em Battle Creek, em Agosto passado, recebemos a primeira de suas duas cartas, mas não tínhamos dinheiro para enviar-lhe. Meu marido solicitou recursos a Wisconsin e Iowa e recebeu setenta dólares para cobrir nossas despesas, a fim de assistirmos às assembléias no Oeste realizadas no último mês de Setembro. Esperávamos ter meios para enviar a ela imediatamente, quando retornássemos do Oeste, para custear suas despesas de viagem até nosso novo lar, no Condado de Montcalm. T1 675 2 Os liberais amigos West nos deram os meios necessários, mas quando decidimos acompanhar o irmão Andrews ao Maine, o assunto foi protelado até nosso retorno. Esperávamos permanecer no Leste não mais do que quatro semanas, o que nos daria muito tempo para mandar buscar a irmã More após nossa volta, e recolhê-la em nossa casa antes que as viagens de navio se encerrassem. Quando decidimos ficar no Leste algumas semanas a mais do que havíamos inicialmente pretendido, não perdemos tempo em fazer contato com vários irmãos, recomendando-lhes que mandassem buscar a irmã More e lhe dessem acolhida até nossa volta. Digo que fizemos o que podíamos. T1 675 3 Mas, por que deveríamos nos interessar nessa irmã mais que nos outros? O que pretendíamos com essa cansada missionária? Ela não poderia fazer nosso trabalho doméstico, e tínhamos apenas um filho em casa para ela ensinar. E certamente, não se poderia esperar muito de alguém tão esgotado e que havia atingido sessenta anos de idade. Não teríamos nenhuma utilidade para ela, em particular, a não ser para trazer a bênção de Deus ao nosso lar. Havia inúmeras razões para nossos irmãos demonstrarem no caso da irmã More muito mais interesse do que nós. Nós nunca a havíamos visto antes e não tivemos quaisquer outros meios de conhecer sua história, sua devoção à causa de Cristo e da humanidade, mais do que todos os leitores da Review. Nossos irmãos de Battle Creek haviam conhecido essa nobre mulher, e alguns deles conheciam alguma coisa de suas intenções e necessidades. Nós não tínhamos dinheiro para ajudá-la; eles tinham. Estávamos já sobrecarregados de preocupações e necessitávamos em nosso lar de pessoas que possuíssem a força e vivacidade da juventude. Precisávamos de ajuda, em vez de ajudar outros. Mas a maioria de nossos irmãos estava em tal situação, que a irmã More não lhes teria exigido o mínimo cuidado e nem lhes teria sido um peso. Eles têm tempo, energia e estão relativamente livres de cuidados. T1 676 1 Ninguém, contudo, manifestou interesse em seu caso como nós o fizemos. Eu mesma falei à grande congregação antes de viajarmos para o Leste, no outono, acerca de sua negligência do caso da irmã More. Falei sobre o dever de conferir honra a quem ela é devida. Romanos 13:7. Parecia-me que a sabedoria havia se colocado tão distante dos prudentes, que eles não eram capazes de apreciar a dignidade moral. Disse àquela igreja que havia muitos ali que achariam tempo para reunir-se, cantar e tocar seus instrumentos musicais; que poderiam pagar um artista para fazer seu retrato ou ainda, gastar dinheiro em divertimentos. Mas eles nada tinham para dar a uma cansada missionária, que abraçara de coração a verdade presente e tinha vindo para viver com aqueles que possuíam a mesma fé preciosa. Aconselhei-os a parar e considerar o que deveríamos fazer. Propus que não tocassem seus instrumentos musicais por três meses e tomassem tempo para humilharem-se a si mesmos diante de Deus em exame íntimo, arrependimento e oração, até que tivessem consciência das reivindicações que o Senhor tem sobre Seus professos filhos. Meu coração agitou-se com o pensamento da injustiça que havia sido feita a Jesus na pessoa da irmã More, e falei a muitos sobre isso. T1 677 1 Isso tudo não foi feito às escondidas. E apesar do assunto ser de domínio público, acompanhado por grande e boa obra na igreja de Battle Creek, nenhum esforço foi feito por essa igreja para redimir o passado e trazer a irmã More de volta. E a esposa de um de nossos pastores declarou posteriormente: "Não vejo necessidade do irmão e da irmã White fazer tal espalhafato por causa da irmã More. Penso que eles não entenderam o caso." Em verdade, nós não compreendemos a questão. Ela era pior do que supúnhamos. Se a tivéssemos entendido, nunca teríamos deixado Battle Creek até expor claramente diante da igreja seu pecado de obrigá-la a deixá-los, e até que fossem tomadas medidas para trazê-la de volta. T1 677 2 Um membro dessa igreja, conversando sobre o caso da irmã More, disse certa vez: "Ninguém acha que deve assumir responsabilidades em casos semelhantes. O irmão White sempre se encarregou deles." Sim, é verdade. Ele os levava para sua casa até que cada cadeira e cama estivessem ocupados, e então ia até seus irmãos e pedia-lhes que cuidassem dos necessitados que excedessem à sua capacidade. Se eles necessitassem de recursos, ele os daria e convidaria outros a seguir-lhe o exemplo. Deve haver em Battle Creek homens que façam o que ele tem feito, ou a maldição de Deus cairá sobre essa igreja. Não há apenas um homem, mas pelo menos cinqüenta que podem fazer, ou pouco ou muito, como ele tem feito. Foi-nos dito que precisamos voltar para Battle Creek. Ainda não estamos prontos para isso. Provavelmente esse nunca será nosso dever. Ali suportamos pesadas cargas até não podermos mais. Deus suscitará homens e mulheres fortes para dividir esses cuidados entre si. Aqueles que se mudaram para Battle Creek e que aceitaram posições ali, não estão preparados para fazer esse tipo de trabalho, e seria mil vezes melhor que estivessem em outros lugares. Há aqueles que podem ver, sentir e alegremente fazer o bem a Jesus na pessoa de Seus santos. Que tenham oportunidade de trabalhar. Que aqueles que não podem fazer o mesmo, vão para onde não atrapalhem a obra de Deus. T1 678 1 Isso é especialmente aplicável àqueles que se encontram à testa da obra. Se eles erram, tudo dá errado. Quanto maior a responsabilidade, maior a ruína em caso de infidelidade. Se os irmãos dirigentes não cumprem fielmente seu dever, os liderados também não atenderão aos seus. Os líderes da obra em Battle Creek precisam ser exemplos do rebanho em todos os lugares. Se fizerem isso, terão grande recompensa. Se falharem e ainda permanecerem em seus cargos, terão uma terrível conta a prestar. T1 678 2 Tudo o que nos foi possível fazer, fizemos. Se tivéssemos tido recursos nos últimos verão e outono, a irmã More estaria agora conosco. Quando nos inteiramos de nossa real situação financeira, como registrada no Testemunho n 13, olhamos à questão com alegria e dissemos não querer assumir a responsabilidade dos recursos. Esse foi um erro. Deus desejava que tivéssemos recursos para podermos, como em tempos passados, ajudar onde era necessário. Satanás quer atar-nos as mãos nessa questão e levar outros a serem descuidosos, insensíveis e cobiçosos, para que essa obra impiedosa prossiga, como no caso da irmã More. T1 678 3 Vemos marginalizados, viúvas, órfãos, pobres dignos e pastores em necessidade e muitas oportunidade de usar os recursos para a glória de Deus, a divulgação de Sua causa e o alívio dos santos sofredores, e eu desejo ter meios e usá-los para Deus. A experiência de quase um quarto de século em longas viagens, sentindo a condição daqueles que necessitam de ajuda, qualificam-nos a fazer cuidadoso uso do dinheiro de nosso Senhor. Tenho comprado meu próprio material de escritório, pago minha postagem e despendido muito de minha vida escrevendo para o bem de outros, e tudo o que recebi por esse trabalho, o qual me cansou e me desgastou, não pagaria a décima parte de minhas despesas postais. Quando me oferecem recursos, eu os recuso, ou aceito para fins caritativos como a Sociedade de Publicações. Não mais farei assim. Cumprirei meu dever como sempre o fiz, mas meus receios de receber recursos para usá-los para Senhor se desfizeram. O caso da irmã More despertou-me plenamente para ver a obra de Satanás em desprover-nos de recursos. T1 679 1 Pobre irmã More! Quando ouvimos que estava morta, meu marido sentiu terrivelmente. Ambos sentimos como se ela fosse nossa querida mãe por cuja companhia nosso coração ansiava. Alguns podem dizer: "Se estivéssemos em lugar daqueles que sabiam algo das necessidades e anseios da irmã, não teríamos agido como eles." Espero que vocês nunca sintam o remorso que alguns devem experimentar, os quais estiveram muito interessados nos próprios negócios e eximiram-se de assumir qualquer responsabilidade em seu caso. Que Deus tenha piedade daqueles que estavam tão receosos de ser enganados, que negligenciaram uma digna e abnegada serva de Cristo. A observação que se tornou uma desculpa para essa negligência foi: Temos sido enganados tantas vezes que temos medo de estranhos. Não nos instruíram, nosso Senhor e Seus discípulos, a sermos muito cuidadosos e não recebermos estranhos, a fim de não cometermos erros e sermos enganados, e tendo problemas ao cuidar de uma pessoa indigna? T1 679 2 Paulo exorta os hebreus: "Permaneça a caridade fraternal." Hebreus 13:1. Ninguém ache que haverá tempo em que essa exortação não seja necessária, quando o amor fraternal será extinto. Ele continua: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos." Hebreus 13:2. Por favor, leiam (Mateus 25), do verso 31 em diante. Leiam-no, irmãos, da próxima vez que vocês tomarem sua Bíblia nas devoções familiares da manhã ou da tarde. As boas obras realizadas por aqueles que serão bem-vindos ao reino, foram feitas para Cristo na pessoa de Seu povo sofredor. Aqueles que realizaram essas boas obras não acharam que estavam fazendo algo por Cristo. Achavam que não era mais que seu dever para com a humanidade sofredora. Os que estão à mão esquerda do Senhor não compreendem que haviam insultado a Cristo negligenciando as necessidades de Seu povo. Negligenciaram, porém, fazer algo por Jesus na pessoa de Seus santos, e por esse relaxamento sofrerão punição eterna. Um ponto definido desse desleixo é assim mencionado: "Sendo estrangeiro, não Me recolhestes." Mateus 25:43. T1 680 1 Essas coisas não dizem respeito apenas a Battle Creek. Estou aflita pelo egoísmo existente entre os professos guardadores do sábado em todos os lugares. Cristo foi preparar-nos mansões eternas e ainda Lhe recusamos um lar por poucos dias, na pessoa daqueles Seus santos que estão marginalizados? Ele deixou Seu lar na glória, Sua majestade e alto comando, para salvar o homem perdido. Tornou-Se pobre para que por Sua pobreza nos tornássemos ricos. Submeteu-Se a insultos para que o homem pudesse ser exaltado e proveu um lar incomparável em seus encantos, e duradouro como o trono de Deus. Os que finalmente vencerem e se assentarem com Cristo em Seu trono, seguirão o exemplo de Jesus e espontânea e alegremente se sacrificarão por Ele na pessoa de Seus santos. Aqueles que não fizerem isso de livre vontade, irão para o castigo eterno. ------------------------Capítulo 116 -- Cozinha saudável T1 680 2 Durante os últimos sete meses estivemos em casa apenas quatro semanas. Em nossas viagens nos assentamos à roda de diferentes mesas, desde Iowa até o Maine. Algumas pessoas a quem visitamos seguem a melhor luz que possuem. Outras, que têm as mesmas oportunidades de aprender a viver saudavelmente, dificilmente deram os primeiros passos na reforma. Elas lhe dirão que não sabem como cozinhar dessa nova maneira. Mas estão sem desculpas nessa questão, pois na obra How to Live (Como Viver) estão muitas receitas excelentes e a compra desse livro está ao alcance de todos. Não digo que o método culinário ensinado ali seja perfeito. Poderei brevemente fornecer um pequeno trabalho mais de acordo com o que penso. Mas, How to Live ensina uma arte culinária muito mais avançada do que qualquer pessoa poderia encontrar, mesmo entre alguns adventistas do sétimo dia. T1 681 1 Muitos não consideram esta uma questão de dever, por isso não procuram preparar alimento adequadamente. Este pode ser feito de maneira simples, saudável e fácil, sem usar banha, manteiga ou alimentos cárneos. A habilidade deve estar ligada à simplicidade. Para isso, as mulheres devem ler e, depois, transformar pacientemente em prática o que leram. Muitas estão sofrendo por não quererem dar-se ao incômodo de fazer isso. Digo a estas: É tempo de despertarem as suas energias entorpecidas e pôr-se em dia com a leitura. Aprendam a cozinhar com simplicidade e, não obstante, de maneira a conseguir o mais saboroso e saudável alimento. T1 681 2 Pelo fato de ser errado cozinhar apenas para agradar o paladar ou satisfazer o apetite, ninguém deve nutrir a idéia de que esteja certo um regime alimentar improvisado. Muitos estão debilitados pela doença e carecem de alimentos nutritivos, em abundância e bem cozidos. Temos visto freqüentemente pão integral pesado, azedo e apenas parcialmente assado. Isso é falta de interesse de aprender, e de cuidado em desempenhar-se do importante dever de cozinhar. Às vezes encontramos broas ou biscoitos, secos, não assados, e outras coisas dessa espécie. E depois as cozinheiras lhe dirão que se acham em condições de cozinhar bem no estilo antigo, mas, para dizer a verdade, seus familiares não gostam de pão de farinha integral; que eles morreriam de fome vivendo dessa maneira. T1 681 3 Tenho dito a mim mesma que não me admira isto. É a maneira de prepararem o alimento o que o torna tão sem sabor. Comer tal alimento levaria certamente a pessoa à dispepsia. Essas pobres cozinheiras, e os que têm de comer o seu alimento, dirão solenemente que a reforma de saúde não se lhes adapta. O estômago não tem poder para transformar em bom, o pão pobre, pesado e azedo; ao contrário esse pão pobre transformará em doente o estômago são. Os que usam tal alimento sabem que estão diminuindo o vigor. Não há uma causa? Algumas dessas pessoas se dizem reformadoras, mas não o são. Elas não sabem cozinhar. Preparam bolos, batatas e pão de farinha integral, mas há sempre a mesma rotina, com pouca variação, e o organismo deixa de ser fortalecido. Parece-lhes inútil o tempo empregado em obter uma experiência cabal no preparo de alimento saudável e saboroso. Alguns agem como se aquilo que comem fosse perdido e que tudo o que põem no estômago para enchê-lo faz tão bem quanto o alimento preparado com muito mais esmero. É importante que apreciemos o alimento ingerido. Se não o saboreamos mas comermos mecanicamente, não seremos nutridos como ocorreria se apreciássemos a comida. Somos feitos daquilo que comemos. Para produzir uma boa qualidade de sangue, devemos comer o tipo certo de alimento, preparado de maneira correta. T1 682 1 É dever religioso para os que cozinham aprenderem a preparar alimento saudável em diferentes maneiras, de modo a serem ingeridos com prazer. As mães devem ensinar seus filhos a cozinhar. Que ramo da educação de uma jovem pode ser tão importante como esse? A comida tem que ver com a vida. O alimento escasso, empobrecido, mal preparado, está continuamente empobrecendo o sangue mediante o enfraquecimento dos órgãos que o fazem. É altamente essencial que a arte culinária seja considerada uma das mais importantes matérias na educação. Poucas são as boas cozinheiras. As jovens acham que é descer a uma baixa ocupação tornar-se cozinheira. Não é assim. Elas não encaram a questão do devido ponto de vista. O conhecimento acerca do preparo do alimento saudável, do pão em especial, não é ciência inferior. T1 682 2 Em muitas famílias encontramos dispépticos e a razão freqüente disso é um pão empobrecido. A dona de casa decide que ele não deve ser jogado fora e todos o comem. É essa a maneira de usar um pão malfeito? Vocês o porão no estômago para ser convertido em sangue? Tem o estômago capacidade para transformar um pão ácido em bom artigo? Pesado em leve? Pão mofado em fresco? T1 682 3 As mães negligenciam esse ramo na educação de suas filhas. Assumem uma carga de trabalho e cuidados e logo se cansam, enquanto a filha fica livre para fazer visitas, crochê ou pensar no próprio prazer. Esse é um amor equivocado, bondade desacertada. A mãe está prejudicando a própria filha por toda a sua vida. Numa idade quando ela deveria ser capaz de assumir algumas responsabilidades da vida, acha-se desqualificada. Ela não toma sobre si cuidados e obrigações. Vive livre de cargas, eximindo-se de responsabilidades, enquanto a mãe é pressionada por preocupações e cuidados, como uma carroça debaixo dos feixes. Isso não quer significar que a filha seja insensível, mas que é descuidosa e negligente ou teria notado a face cansada ou a expressão de dor no semblante materno, e procuraria fazer sua parte, buscando levar a parte mais pesada da carga e aliviar a mãe, que deve ficar livre de cuidados, ou jazerá sobre um leito de dor e depois, de morte. T1 683 1 Por que as mães são tão cegas e negligentes na educação de suas filhas? Tenho-me afligido ao visitar diferentes famílias e ver a mãe carregando pesado fardo, enquanto a filha, que mostra espírito alegre e tem um bom grau de saúde e vigor, sente-se livre de cuidados e responsabilidades. Quando há grandes reuniões e as famílias são sobrecarregadas com a vinda de muitas pessoas, tenho observado a mãe assumir as responsabilidades, com todos os cuidados sobre ela, enquanto as filhas estão assentadas tagarelando com seus jovens amigos, como num encontro social. Considero essas coisas tão erradas, que dificilmente consigo me omitir de falar às descuidadas jovens e dizer-lhes que vão trabalhar. Aliviem sua mãe. Conduzam-na a uma poltrona na sala de visitas e peçam que ela descanse e aprecie o convívio com seus amigos. T1 683 2 Mas as filhas não são as únicas culpadas nessa questão. A mãe também está em falta. Ela não ensinou pacientemente às filhas como cozinhar. Ela sabe que elas não têm conhecimento sobre cozinha, e portanto não pode sentir-se aliviada do trabalho. Ela precisa estar atenta a tudo o que requeira cuidado e atenção. As moças devem ser cabalmente instruídas na cozinha. Sejam quais forem suas circunstâncias na vida, aí está um conhecimento que pode ser posto em prática. É o ramo da educação que tem influência mais direta sobre a vida humana, especialmente daqueles que mais queridos nos são. Muita esposa e mãe que não teve a devida educação, e a quem falta habilidade na arte culinária, apresenta diariamente a sua família comida mal preparada, a qual vai firme e seguramente destruindo os órgãos digestivos, preparando deficiente qualidade de sangue, e trazendo com freqüência ataques agudos de doença inflamatória, causando morte prematura. Muitos foram levados à morte por comerem pão pesado e azedo. Foi-me relatado o caso de uma menina empregada que fez uma fornada de pão azedo e pesado. Para ver-se livre dele e ocultar o caso, atirou-os a um casal de grandes porcos. Na manhã seguinte, o dono da casa encontrou os animais mortos e, examinando a gamela, encontrou pedaços daquele pão pesado. Fez verificações, e a jovem confessou o que fizera. Não pensara no efeito que tal pão teria nos porcos. Se pão azedo e pesado mata porcos, que podem devorar cascavéis, e quase tudo quanto é detestável, que efeito terá no delicado órgão que é o estômago humano? T1 684 1 É dever religioso de cada moça e senhora cristã aprender sem tardança a preparar pão bom e de fácil digestão, de farinha de trigo integral. As mães devem fazer-se acompanhar de suas filhas ainda bem jovens, na cozinha, e ensinar-lhes a arte de cozinhar. A mãe não pode esperar que suas filhas compreendam os mistérios da conservação do lar sem instrução. Deve ela instruí-las paciente e carinhosamente, e tornar o trabalho o mais agradável possível por sua fisionomia alegre e encorajadoras palavras de aprovação. Se elas errarem uma vez, duas ou três, não as censurem. O desânimo antecipado está realizando sua obra e tentando-as a dizerem: "Não adianta, não sou capaz de fazer isto." Esse não é o momento para censura. A vontade se está tornando enfraquecida. É necessário o incentivo de palavras encorajadoras, cordiais, esperançosas como: "Não se preocupe com os erros que cometeu. Você é apenas aprendiz, e deve considerar natural cometer erros. Experimente novamente. Ponha a mente no que está fazendo. Seja bem cuidadosa, e com certeza será bem-sucedida." T1 685 1 Muitas mães não consideram a importância dessa espécie de conhecimento e, em lugar de terem a preocupação e o cuidado de ensinar seus filhos e tolerar suas faltas e erros enquanto aprendem, preferem fazer tudo elas mesmas. E, ao cometerem suas filhas alguma falta ao se esforçarem, elas as mandam embora dizendo: "Não adianta, você não sabe fazer isto ou aquilo. Você me deixa perplexa e me atrapalha mais do que ajuda." T1 685 2 Dessa forma, os primeiros esforços das aprendizes são repelidos e, o primeiro erro arrefece de tal forma o seu interesse e ardor em aprender que elas temem fazer outra experiência e estão dispostas a costurar, fazer tricô, limpar a casa, qualquer coisa, menos cozinhar. Aqui a mãe está em grande falta. Ela deve instruí-las pacientemente para poderem, pela prática, obter uma experiência que removeria a ineficácia e remediaria os desajeitados movimentos da ajudante inexperiente. Aqui acrescento alguns trechos do Testemunho n 10, publicado em 1864: T1 685 3 "As crianças que foram mimadas e servidas, esperam sempre isto; e caso sua expectativa não se realize, ficam decepcionadas e perdem o ânimo. Essa mesma disposição se manifestará através de toda a sua vida; serão incapazes, dependendo do auxílio de outros, esperando que outros os favoreçam, e lhes façam concessões. E caso encontrem oposição, mesmo depois de atingirem a idade adulta, julgam-se maltratados; e assim atravessam penosamente o caminho pelo mundo, mal sendo capazes de levar as próprias cargas, murmurando e irritando-se freqüentemente porque tudo não vai à medida de seus desejos. T1 685 4 "Pais imprudentes estão ensinando a seus filhos lições que se lhes demonstrarão nocivas, e plantando ao mesmo tempo espinhos para os próprios pés. Julgam que, mediante o satisfazer aos desejos dos filhos, e deixá-los seguir as próprias inclinações, podem granjear-lhes o amor. Que erro! As crianças assim mimadas crescem sem restrições aos seus desejos, insubmissas na disposição, egoístas, exigentes e autoritárias, um tormento para si mesmas e para os que as cercam. Em grande parte, os pais têm nas mãos a futura felicidade de seus filhos. Repousa sobre eles a importante obra de formar o caráter dos mesmos. Os ensinos ministrados na infância os acompanharão através da vida. Os pais semeiam as sementes que brotarão e darão frutos, seja para bem, seja para mal. Eles podem habilitar seus filhos e filhas para a felicidade ou para a miséria. T1 686 1 "As crianças devem ser ensinadas desde muito cedo a serem úteis, a servirem a si mesmas e aos outros. Muitas filhas nestes tempos, podem sem remorso ver sua mãe labutando, cozinhando, lavando ou passando, enquanto elas se sentam na sala de visitas e lêem histórias, fazem tricô, crochê ou bordados. Têm o coração tão insensível como uma pedra. Mas onde se origina esse mal? Quais são os que têm a principal culpa nesse ponto, em geral? Os pobres e enganados pais. Passam por alto o futuro de seus filhos, e em seu errôneo afeto, deixam-nos sentar-se ociosamente, ou fazer o que é de pouca importância, que não exige exercício mental ou dos músculos, e depois desculpam as indolentes filhas por serem fracas. Que as tornou fracas? Em muitos casos, foi a errônea conduta dos pais. A devida quantidade de exercício em torno da casa, melhoraria tanto a mente como o corpo. Mas os filhos são desprovidos disto devido às falsas idéias, até que ficam avessos ao trabalho. Isto é desagradável, e não se harmoniza com as idéias que eles nutrem sobre a gentileza. Julga-se impróprio de uma dama e mesmo vulgar, lavar louça, passar ou estar a um tanque de lavar roupa. Tal é o ensino da moda que se ministra aos filhos nesta época infeliz. T1 686 2 "O povo de Deus deve ser governado por princípios mais elevados que os mundanos, que procuram pautar toda a sua conduta segundo a moda. Os pais tementes a Deus devem preparar os filhos para uma vida de utilidade. ... Preparem-nos para assumir responsabilidades enquanto jovens. Se seus filhos forem desabituados ao trabalho, cansar-se-ão depressa. Queixar-se-ão de dor no lado, dor nas costas, cansaço dos membros; e vocês correm o risco de, por dó, fazer vocês mesmos o trabalho, do que deixá-los sofrerem um pouco. Que seja a princípio bem leve a responsabilidade a pesar sobre as crianças, e depois, dia a dia, aumentar, até que possam fazer a devida porção de trabalho sem se cansar. A inatividade é a maior causa de dor no lado e dor na costas entre as crianças." T1 687 1 "As mães devem levar consigo as filhas para a cozinha, e ensiná-las pacientemente. Sua constituição ficará melhor por fazer esse trabalho; seus músculos adquirirão vigor e resistência, e serão mais saudáveis suas meditações, e mais elevadas, quando chegar o fim do dia. Talvez se achem fatigadas mas quão doce é o repouso depois de uma justa medida de trabalho! O sono, o suave restaurador da natureza, revigora o corpo fatigado, e prepara-o para os deveres do dia seguinte. Não dêem a entender a seus filhos que não importa se eles trabalham ou não. Ensinem-lhes que seu auxílio é necessário, seu tempo é valioso, e que vocês contam com seus serviços." ------------------------Capítulo 117 -- Livros e folhetos T1 687 2 A circulação adequada e a distribuição de nossas publicações é um dos mais importantes ramos da presente obra. Pouco pode ser feito sem ela. Nossos pastores podem fazer mais em prol dessa obra do que qualquer outra classe de pessoas. É verdade que há poucos anos muitos de nossos pregadores estavam levando o assunto da venda de livros muito além. Alguns deles acrescentavam ao seu estoque de venda não apenas publicações de pouco valor, como também mercadorias inúteis. T1 687 3 Eles agora adotam um ponto de vista contrário do que publiquei no Testemunho n 11, sobre a venda de nossas publicações. Um de nossos pastores no Estado de Nova Iorque, que não tinha sobre si pesada carga de trabalho e havia trabalhado como vendedor, tinha consigo uma boa variedade de publicações. Resolvendo não vender mais nada, escreveu ao Escritório dizendo que as publicações estavam disponíveis. Isso está errado. Eis aqui um trecho extraído do Testemunho n 11: T1 688 1 "A responsabilidade pela venda de nossas publicações não deve repousar sobre os pastores que trabalham pregando e ensinando. Seu tempo e energia precisam ser reservados para que possam empregá-los nas séries de reuniões e não em vender nossos livros, os quais podem ser apropriadamente apresentados ao público por aqueles que não têm a responsabilidade de pregar a Palavra. Ao penetrar novos campos, é necessário que o pastor leve consigo nossas publicações para oferecer ao povo. Pode também ocorrer em certas circunstâncias que seja preciso vender livros e negociar pelo escritório de publicações. Mas tal trabalho deveria ser evitado quando puder ser feito por outros." T1 688 2 A primeira porção desse trecho é qualificada pela última. Para ser um pouco mais definida, meus pontos de vista referem-se a pastores como Andrews, Waggoner, White e Loughborough, que têm sobre si a responsabilidade da supervisão da obra, e, conseqüentemente uma carga extra de trabalho, preocupações e cuidados, especialmente das reuniões campais e as da Associação Geral. O parecer foi dado para corrigir aqueles que, em tais encontros, descem da dignidade de sua obra para distribuir à multidão mercadoria que não tem qualquer ligação com a obra. T1 688 3 Nossos pastores que desfrutam bom estado de saúde podem, com grande propriedade, empenhar-se no devido tempo na venda de nossas importantes publicações. A venda e a circulação dessas obras conforme foi dito recentemente a nosso povo, exigem vigorosos esforços neste tempo. Em quatro semanas, em nossa viagem pelos Condados de Gratiot, Saginaw e Tuscola, meu marido deu aos pobres e também vendeu, livros no valor de quatrocentos dólares. Primeiramente ele expôs diante do povo a importância dessas publicações. Então, dispuseram-se a adquiri-los tão prontamente quanto ele, com o auxílio de outros, podia atendê-los. T1 689 1 Por que nossos irmãos não se comprometem liberalmente com o fundo pró-livros e folhetos? E por que nossos pastores não se empenham intensamente nessa obra? Nosso povo veria que essas publicações são justamente o que se precisa para auxiliar as pessoas em necessidade. Eis a oportunidade de investir recursos de acordo com o bendito plano de liberalidade. Podemos algumas vezes "ler" os homens quase tão claramente quanto lemos livros. Há alguns entre nós que aplicam entre cem e mil dólares ou mais no Instituto de Saúde, e têm investido apenas de cinco a vinte e cinco dólares na grande empreitada da publicação de livros, periódicos e folhetos, os quais apresentam verdades que têm a ver com a vida eterna. Um supunha que o investimento era lucrativo, outro, como pudemos ver da pequenez do compromisso, achava-o pura perda. T1 689 2 Não devemos nos calar sobre esse assunto. Nosso povo se porá à altura dessa obra. Os recursos virão. Dizemos aos que são pobres e querem possuir esses livros: "Mandem seus pedidos com a declaração de sua condição econômica. Nós enviaremos a vocês um pacote de livros contendo os quatro volumes de Spiritual Gifts, mais How to Live, Appeal to Youth, Appeal to Mothers, Sabbath Readings, e dois grandes diagramas com Key of Explanation (Chave de Interpretação). Se vocês já tiverem alguns deles, digam-nos quais e enviaremos outros em seu lugar, ou encomendem somente os livros que não possuem. Mandem cinqüenta centavos para pagar as despesas postais e nós lhes remeteremos um pacote de cinco dólares, e cobraremos quatro dólares do fundo.* T1 689 3 Nessa questão de benevolência em matéria de publicações todos devem agir segundo o grande plano de liberalidade, tal como ocorre com a publicação e venda de Bíblias e folhetos americanos. Em muitos respeitos a política dessas grandes sociedades é digna de imitação. A liberalidade é constatada em testamentos e doações e posta em prática em vendas e doações de Bíblias e folhetos. Os adventistas do sétimo dia devem estar muito à frente delas na questão de publicações e em outras coisas. Que Deus nos ajude. Nossos folhetos devem ser oferecidos às centenas pelo preço de custo, deixando apenas uma pequena margem para as despesas de embalagem e postagem. Pastores e povo devem empenhar-se na circulação de livros, panfletos e folhetos, como nunca antes. Vendam onde o povo tenha condições e esteja disposto a comprar. Onde não for possível, sejam os livros doados. ------------------------Capítulo 118 -- O lema do cristão T1 690 1 Caro irmão B: T1 690 2 Foi-me mostrado que o irmão é movido mais por sentimento do que por firme princípio. Falta-lhe uma profunda e completa experiência nas coisas de Deus. Você necessita converter-se inteiramente à verdade. Quanto o coração do homem está plenamente convertido, tudo o que ele possui é consagrado a Deus. Essa consagração você ainda não experimentou. Você ama a verdade "de palavra", mas não manifesta este amor "por obra" e por seus frutos. 1 João 3:18. As obras, os atos, são evidências da sinceridade de seu amor ou de indiferença perante Deus, Sua causa e os semelhantes. T1 690 3 Como Cristo manifestava Seu amor pelos pobres mortais? Pelo sacrifício de Sua glória, riquezas e mesmo da preciosa vida. Jesus consentiu com uma vida de humilhação e intenso sofrimento. Submeteu-Se às cruéis zombarias da enfurecida e criminosa multidão, e à uma terrível e agonizante morte sobre a cruz. Disse Ele: "O Meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando." João 15:12-14. Damos evidência de ser amigos de Cristo quando prestamos implícita obediência à Sua vontade. Não é uma questão de falar ou não, mas a evidência consiste em fazer, em obedecer. Quem está obedecendo ao mandamento de amar uns aos outros como Cristo os amou? Irmão B, você necessita ter um amor mais profundo, mais sólido e mais altruísta do que jamais possuiu, se obedecer ao mandamento de Cristo. T1 691 1 Falta-lhe benevolência. O irmão se empenha em livrar-se de cuidados, dificuldades e despesas com a causa de Deus. Você tem investido muito pouco na causa. Aquilo que o homem mais valoriza será visto através de seus investimentos. Se ele tem em mais alta estima as coisas eternas, mostrá-lo-á por suas obras; investirá o mais que puder e ousará o máximo naquilo que ele mais valoriza e que, no final, lhe trará maior proveito. T1 691 2 Os homens que professam a verdade se envolverão em projetos mundanos e investirão muito neles, correndo grandes riscos. Se perderem quase tudo quanto possuem, ficarão profundamente entristecidos, pois se perturbam com as perdas que tiveram. Não sentem, porém, que sua conduta imprudente privou a causa de Deus de meios, e que como Seus mordomos eles precisam dar conta da má administração do dinheiro do Senhor. Se lhes fosse pedido investir na causa de Deus pelo menos vinte e cinco por cento do que perderam com seus investimentos em coisas terrenas, achariam que o Céu custa muito. T1 691 3 As coisas eternas não são apreciadas. Você não é um homem rico, todavia, seu coração se apega tão aferradamente ao pouco que tem, como o rico aos seus tesouros. Pouco, muito pouco será o lucro obtido pelo irmão quando investe em empreendimentos mundanos, ao passo que, se empregar seus recursos na causa de Deus, fará dela uma parte de si e a amará como a si mesmo, estando disposto a sacrificar-se por seu progresso, demonstrando fé em seu triunfo final, e recolherá preciosa colheita se não nesta vida, na futura. Alcançará uma recompensa eterna, que é muito superior aos ganhos terrenos, assim como a imortalidade é bem superior àquilo que é perecível. T1 692 1 Irmão B, você parece ansioso por descobrir o que foi dito sobre sua posição na igreja, e qual era nosso pensamento a seu respeito. Foi justamente sobre isso que escrevi. Temi pelo irmão por causa do que me foi mostrado a respeito de suas peculiaridades. Você age por impulso. Ora apenas quando deseja e fala quanto tem vontade. Vai às reuniões quando está disposto ou fica em casa. Falta-lhe muito do espírito abnegado. O irmão tem consultado o próprio desejo e comodidade e procura agradar a si mesmo em vez sentir que deve agradar a Deus. Dever, dever! Em seu posto o tempo todo! Você alistou-se, porventura, como soldado da cruz de Cristo? Se assim é, seus sentimentos não o eximem do dever. O irmão precisa estar disposto a suportar dureza como um bom soldado. Vá para o campo, suportando o descrédito, pois assim fez o Capitão de sua salvação. As qualificações de um bispo, pastor ou diácono são: ser "irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante, retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina como para convencer os contradizentes." Tito 1:7-9. T1 692 2 Paulo enumera os preciosos e desejáveis dons e exorta os irmãos: "O que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade." Romanos 12:8-13. "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas desfrutarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. Eis aqui um investimento sábio e totalmente seguro. A prática de boas obras são especificadas e recomendadas para todos. Eis o ganho de real valor. Não haverá perigo de fracasso. Um tesouro pode ser assegurado no Céu, um constante acúmulo que dará ao investidor o título à vida eterna. E quando esta vida chegar ao fim e o tempo de prova terminar, o cristão poderá lançar mão da vida eterna. T1 693 1 Irmão B, você não é amigo da hospitalidade e evita responsabilidades. Acha que é uma sobrecarga alimentar os santos e cuidar de suas necessidades, e que tudo quanto fizer nesse sentido é perdido. Por favor, leia os versos bíblicos acima citados, e que Deus lhe dê compreensão e discernimento. Esta é minha sincera oração. Como família vocês precisam cultivar a liberalidade e ser menos preocupados consigo mesmos. Aprecie convidar o povo de Deus para ir à sua casa e, conforme se oferecer oportunidade, partilhe com eles corajosa e alegremente aquilo de que o Senhor o fez mordomo. Não faça esses pequenos favores de má vontade. Enquanto faz essas coisas aos discípulos de Cristo, a Ele você o faz. Quando nega aos santos a hospitalidade, nega-a a Cristo. T1 693 2 A reforma de saúde é essencial para você e sua esposa. A irmã B desistiu dessa boa obra e levantou-se em oposição contra algo que ela não conhecia. Ela resistiu ao conselho de Deus, lutando contra si mesma. O apetite intemperante trouxe-lhe debilidade e doença, enfraquecendo as aptidões morais e incapacitando-a para apreciar a sagrada verdade, o valor do sacrifício expiatório, que é vital à salvação. A irmã B ama este mundo. Suas afeições não foram retiradas do mundo, nem oferecidas sem reservas a Deus, como Ele requer. O Senhor não aceitará um sacrifício pela metade. Tudo, tudo, tudo pertence a Deus, e de nós se requer que Lhe prestemos serviço perfeito. Diz Paulo: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo [não morrendo], santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. Que privilégio nos é assim concedido: provar por nós mesmos, experimentalmente, a mente do Senhor e Sua vontade a nosso respeito! Louvado seja Seu querido nome por esse precioso dom! Foi-me mostrado que o apego da irmã B a este mundo deve ser rompido, antes dela poder possuir o certeza do mundo melhor. T1 694 1 Irmão B, você deve agir com cautela e manter o eu sob domínio. Seja paciente, manso e humilde. "Um espírito manso e quieto... é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:4. O irmão deve estimar aquilo que Deus julga ser de valor. Uma obra deve ser levada a efeito por você e sua esposa antes de poderem atingir o padrão divino. Trabalhem "enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. Permaneçam sob a clara luz e "assim resplandeça a vossa luz ... para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus". Mateus 5:16. Greenville, Michigan, 23 de Janeiro de 1868. ------------------------Capítulo 119 -- Simpatia no lar T1 694 2 Caros irmão e irmã C: T1 694 3 Seus casos me foram apresentados em visão. Ao contemplar a vida de vocês, pareceu-me ela um terrível equívoco. Irmão C, você não possui um temperamento alegre. E como o irmão não é feliz, não pode tornar os outros felizes. Você não tem cultivado afeição, ternura e amor. Sua esposa tem sofrido durante toda a sua vida conjugal por falta de simpatia. A união de vocês se parece muito com um deserto, apenas com pouquíssimos oásis para serem rememorados com satisfação. Isso não necessitava ser assim. T1 695 1 O amor não pode existir sem revelar-se em atos exteriores, assim como o fogo não poder ser mantido aceso sem combustível. Irmão C, você achou que ofenderia sua dignidade manifestar ternura mediante atos bondosos e aproveitar as oportunidades de externar afeto por sua esposa, mediante palavras de ternura e bondosa consideração. O irmão é mutável em seus sentimentos e muito influenciado pelas circunstâncias que o cercam. Não acha que é errado, desagradável a Deus, permitir que sua mente seja totalmente atraída pelo mundo, e depois trazer suas perplexidades para casa, permitindo assim que o adversário se introduza na família. É muito fácil para você abrir assim a porta, mas será muito difícil fechá-la. Será muito mais difícil expulsar o inimigo depois de tê-lo trazido para dentro do lar. Deixe suas preocupações, perplexidades e contrariedades profissionais quando sair do trabalho. Venha para casa com o rosto alegre, com simpatia, ternura e amor. Isso será melhor do que gastar dinheiro com remédios ou médicos para sua esposa. Será "saúde para o seu corpo" (Provérbios 4:22) e força para o coração. A vida de vocês tem sido muito infeliz. Ambos desempenharam uma parte em torná-la assim. Deus não Se agrada dessa miséria, que, por falta de autocontrole, trouxeram sobre si mesmos. T1 695 2 Você permite que os sentimentos oscilem. Pensa que está abaixo de sua dignidade manifestar amor e falar bondosa e afetuosamente. Você acha que todas essas ternas palavras sugerem frouxidão e fraqueza, e são desnecessárias. Mas em seu lugar profere palavras irritadiças, de discórdia, rivalidade e censura. Acha você que elas são nobres e varonis? Uma demonstração das rígidas virtudes do sexo masculino? Como quer que o irmão as considere, Deus as contempla com desprazer e as registra em Seu livro. Os anjos se afastam da habitação onde são trocadas palavras de discórdia, onde a gratidão é quase estranha ao coração e a censura brota dos lábios como bolas pretas, manchando as vestes e maculando o caráter cristão. T1 696 1 Quando você se casou, sua esposa o amava. Ela era extremamente sensível, todavia, com esforço de sua parte, e fortaleza da parte dela, a saúde dela não precisava ter sido o que é. Mas sua austera frieza fez de você um iceberg, enregelando o conduto de amor e afeição. Suas censuras e críticas têm sido qual desoladora saraivada a uma planta delicada. Tem gelado e quase destruído a vida da planta. Seu amor ao mundo está corroendo os bons traços de seu caráter. Sua esposa é de disposição diferente, e mais generosa. Mas quando ela, mesmo em questões de pouca importância, tem dado expressão aos seus instintos generosos, você tem sentido um recuo em seus sentimentos e a tem censurado. Você condescende com um espírito estreito e murmurador. Fazer a esposa sentir que é um peso, um fardo, e que não tem direito de praticar sua generosidade a expensas do marido. Todas essas coisas são de natureza tão desanimadora que ela se sente sem esperança e indefesa, e não tem a robustez necessária para suportar a carga, e se abate à força da rajada. A enfermidade dela é dor dos nervos. Se fosse agradável sua vida conjugal, ela possuiria bom grau de saúde. Mas através de toda sua vida conjugal o demônio tem sido hóspede de sua família, para alegrar-se com a sua miséria. T1 696 2 As esperanças frustradas têm infelicitado completamente a ambos. Os irmãos não terão nenhuma recompensa por esse sofrimento, pois ele foi produzido por vocês mesmos. As próprias palavras que proferem são como veneno letal sobre os nervos e a mente, os ossos e os músculos. Vocês colhem aquilo que semeiam. Não avaliam os sofrimentos um do outro. Deus Se aborrece com o espírito insensível, duro e mundano que manifestam. Irmão C, o "amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males". 1 Timóteo 6:10. Você tem amado o dinheiro e o mundo. Tem considerado a doença de sua esposa como um severo e terrível tributo, não compreendendo que, em grande medida, é por sua própria culpa que ela está assim. O irmão não possui os elementos de um espírito alegre. Demora-se sobre os próprios infortúnios, sobre necessidades imaginárias e uma suposta pobreza que o atingirá no futuro. Fica aflito, pesaroso e angustiado. Seu cérebro parece estar em chamas e seu espírito deprimido. Você não nutre o amor a Deus nem espírito de gratidão por todas as bênçãos que seu bondoso Pai celestial lhe concede. Você vê somente os desconfortos da vida. Uma insanidade mundana o envolve em pesadas nuvens de densa escuridão. Satanás exulta sobre você porque o irmão preferiu a miséria em lugar da paz e da felicidade que lhe estão ao alcance. T1 697 1 Você ouve um sermão, a verdade o afeta e as mais nobres faculdades da mente despertam para controlar suas ações. Vê quão pouco tem sacrificado para Deus; quão ferrenhamente o eu tem sido acariciado e como se tem inclinado para o que é reto por influência da verdade. Mas quando essa influência sagrada, santificadora e suavizante se dissipa, e porque você não possui a verdade firmada no próprio coração, logo cai no mesmo estado emocional árido e desanimador. Trabalhar, trabalhar, você precisa trabalhar. Cérebro, ossos e músculos são sobrecarregados ao máximo para obter meios que sua imaginação acha que você precisa, ou necessidades e fome serão o resultado. Esse é um engano de Satanás, uma de suas engenhosas armadilhas para levá-lo à perdição. "Basta a cada dia o seu mal." Mateus 6:34. O irmão, porém, antecipa para si mesmo um tempo de dificuldades. T1 697 2 Você não tem fé, amor e confiança em Deus. Se os tivesse, confiaria nEle. O irmão se preocupa distante dos braços de Cristo, temendo que Ele não cuide de você. A saúde é sacrificada. Deus não é glorificado em seu corpo e mente que Lhe pertencem. Não há uma suave e viva influência doméstica para enfrentar e atenuar o mal predominante em sua natureza. As elevadas e nobres faculdades da mente são dominadas pelas paixões inferiores; os maus traços de seu caráter são desenvolvidos. T1 698 1 O irmão é egoísta, severo e dominador. Isto não deve acontecer. Sua salvação depende de você agir por princípio, de servir a Deus por princípio e não por sentimento nem por impulso. Deus o ajudará quando você sentir necessidade de auxílio e empenhar-se no trabalho com resolução, confiando nEle de todo o coração. Freqüentemente o irmão se desanima sem razão plausível. Entrega-se a sentimentos semelhantes ao ódio. Suas preferências e aversões são fortes. Elas precisam ser restringidas. Controle a língua. "Se alguém não tropeça em palavra, esse é homem perfeito e capaz de refrear também todo o corpo." Tiago 3:2. A ajuda procede de Alguém que é poderoso. Ele será sua força e apoio, sua vanguarda e retaguarda. T1 698 2 Que preparo está você fazendo para uma vida melhor? Satanás é quem o faz pensar que todas as suas faculdades devem ser empregadas para ter sucesso neste mundo. Você teme e treme pelo futuro de sua vida, ao mesmo tempo que negligencia o futuro, a vida eterna. Onde está a ansiedade, a determinação, o zelo, a fim de não fracassar e encarar uma imensa perda? Perder um pouco neste mundo parece-lhe uma terrível calamidade que lhe custaria a própria vida. Mas o pensamento de perder o Céu não lhe produz nem metade dos temores manifestados. Empenhando cuidadosos esforços para preservar a vida, você se acha em perigo de perder a vida eterna. Você não pode dar-se ao luxo de perder o Céu, a vida eterna, o "peso eterno de glória". 2 Coríntios 4:17. Não pode permitir-se a perda de todas essas riquezas, dessa inexcedível, preciosa e imensurável felicidade. Por que o irmão não age como um homem sensato, e se torna diligente, zeloso e perseverante em seus esforços pela vida melhor, a coroa imortal, o eterno e imperecível tesouro, assim como faz por essa miserável e pobre vida e seus pobres e perecíveis tesouros terrenos? T1 698 3 Seu coração está apegado aos tesouros terrenos, portanto, não tem disposição para o que é celestial. As coisas que são vistas, as terrenas, eclipsam a glória das celestes. "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21. As palavras declaram, as ações demonstram, onde está localizado o seu tesouro. Se estiver neste mundo, no pequeno proveito da Terra, seus anseios serão manifestados nesse rumo. Se você estiver lutando pela herança imortal com diligência, zelo e energia proporcionais ao seu valor, então será um digno candidato à vida eterna, um herdeiro da glória. O irmão necessita converter-se cada dia; morrer cada dia para o próprio eu, mantendo sua língua como que com rédeas, controlando as palavras, cessando as murmurações e queixas, não permitindo que nenhuma palavra de censura escape de seus lábios. Isso requer grande esforço, mas você será grandemente recompensado por assim fazer. T1 699 1 Sua vida é agora infeliz, tomada de maus pressentimentos. Quadros sombrios surgem a sua frente; envolveu-o a escura incredulidade. Falando do lado da incredulidade, você se tornou cada vez mais sombrio; tem satisfação em demorar-se sobre temas desagradáveis. Se outros tentam falar esperançosamente, você esmaga neles todo sentimento esperançoso, falando tanto mais resoluta e severamente. Suas provas e aflições conservam sempre perante sua esposa o angustiante pensamento de que a considera uma carga, por causa da enfermidade dela. Se você ama as trevas e o desespero, fala deles, demora o pensamento neles, e angustia coração conjurando na imaginação tudo que você possa, para levá-lo a murmurar contra a família e contra Deus, e tornar o próprio coração qual campo pelo qual passou o fogo, destruindo toda a vegetação, deixando o solo seco, enegrecido e calcinado. T1 699 2 O irmão tem uma imaginação doentia e merece piedade. Mas ninguém pode ajudá-lo tão bem quanto você mesmo. Se necessita de fé, fale de fé, esperançosa e alegremente. Que Deus o ajude a ver a pecaminosidade de sua conduta. Você precisa da ajuda de sua esposa e filha nessa questão. Se permitir que Satanás lhe controle os pensamentos como ele tem feito, tornar-se-á um instrumento especial para seu uso e arruinará a si mesmo e a felicidade de sua família. Que influência terrível sua filha tem sofrido! A mãe, carecendo de amor e simpatia de sua parte, centraliza suas afeições na filha e a idolatra. Ela tem sido uma criança mimada e quase arruinada por seus caprichos atendidos em virtude de uma afeição imprudente. Sua educação tem sido lamentavelmente negligenciada. Houvesse sido instruída nos afazeres domésticos e ensinada a fazer sua parte nos deveres familiares, estaria agora mais saudável e feliz. É dever de cada mãe ensinar seus filhos a desempenhar sua parte na vida, a partilhar de seus fardos e não tornar-se como máquinas inúteis. T1 700 1 A saúde de sua filha seria bem melhor se ela fosse treinada a fazer trabalhos físicos. Seus músculos e nervos são fracos, débeis e sem vigor. Como poderia ser de outro modo, quando são tão pouco utilizados? Essa criança tem pouca resistência. Uma pequena quantidade de exercício físico já a fadiga e põe em risco sua saúde. Seus músculos e nervos não possuem elasticidade. Suas faculdades físicas têm estado há tanto tempo dormentes que sua vida tem sido de quase nenhuma utilidade. Equivocada mãe, você não sabe que ao conceder à filha tantos privilégios de aprendizado de ciências e não a educando para a utilidade e os trabalhos domésticos, causa-lhe grande prejuízo? Este exercício teria robustecido sua constituição física e lhe melhorado a saúde. Em lugar dessa ternura provar-se uma bênção, será uma terrível maldição. Se os encargos domésticos fossem partilhados com a filha, a mãe não ficaria sobrecarregada e poupar-se-lhe-ia muito sofrimento; a filha também seria beneficiada. Ela não deveria começar a trabalhar imediatamente e assumir responsabilidades como alguém em sua idade normalmente o faria, mas pode educar-se para realizar trabalho físico em maior extensão do que já desenvolveu em toda a sua vida. T1 700 2 A irmã C tem uma imaginação doentia. Ela evita tanto o ar fresco que não pode depois suportá-lo sem inconveniências. O calor de seu quarto é muito prejudicial à saúde. Sua circulação diminui. Ela tem vivido tanto tempo num ambiente aquecido que não pode suportar um passeio ao ar livre sem que haja mudança. Sua debilitada saúde se deve até certo grau à exclusão do ar puro, e ela se tornou tão suscetível que não pode expor-se ao ar livre sem ficar doente. Se ela continuar com sua imaginação doentia, dificilmente será capaz de respirar bem. A irmã C precisa manter abertas as janelas de seu quarto durante todo o dia, para que possa haver circulação de ar. Deus não Se agrada de vê-la suicidando-se. Isso é desnecessário. Ela se tornou assim tão sensível por condescender com sua mente enferma. Ar é o que ela precisa; ar é o que deve ter. Ela está destruindo não apenas a própria vitalidade, mas a de seu marido, a da filha e a de todos os que a visitam. O ar de seu quarto é definitivamente impuro e mortal; ninguém pode ter saúde habituando-se a tal ambiente. Nossa irmã tem condescendido tanto consigo mesma nessa questão, até chegar ao ponto de não poder visitar as casas de seus irmãos sem apanhar resfriados. Para o próprio bem e para o bem daqueles que vivem ao seu redor, ela precisa mudar. Deve habituar-se ao ar puro, permitindo que circule em sua casa um pouco por dia, até que possa aspirar o puro e vitalizante ar sem prejuízo. A superfície da pele está quase morta porque quase não tem ar para respirar. Seus milhões de poros estão fechados pela obstrução produzida pelas impurezas orgânicas e por necessitar de ar. Seria imprudência deixar que uma corrente de ar circulasse livremente pela casa durante o dia todo. Que isso aconteça aos poucos, gradualmente. Numa semana ela pode deixar as janelas abaixadas apenas cinco ou oito centímetros, dia e noite. T1 701 1 Os pulmões e o fígado estão enfermos porque ela se privou do ar vital. O ar é uma bênção gratuita do Céu destinada a fortalecer todo o organismo. Sem ele o corpo estará sujeito a doenças e tornar-se-á entorpecido, abatido e debilitado. Apesar disso, todos vocês têm vivido com uma limitada quantidade de ar puro durante todos esses anos. Assim fazendo, sua esposa leva outros a estar sob a mesma atmosfera venenosa em que ela vive. Nenhum de vocês pode possuir mente clara e tranqüila enquanto respiram um ar viciado. A irmã C teme sair de casa porque sente a mudança ambiental e contrai resfriado. Suas condições de saúde podem melhorar muito se ela tratar-se corretamente. Duas vezes por semana ela deve tomar um banho geral, tão frio quanto possa tolerar e com temperatura cada vez mais reduzida, até que a pele seja tonificada. T1 702 1 Ela não precisa perder mais tempo com sua doença, se você e sua família atenderem às instruções dadas pelo Senhor: "Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males." 1 Pedro 3:10-12. A mente satisfeita, o espírito alegre, é saúde para o corpo e força para o coração. Nada é tão eficaz para causar doenças do que a depressão, a melancolia e a tristeza. A depressão mental é terrível. Todos vocês sofrem dela. A filha é irritável, partilhando do mesmo espírito do pai. O ambiente abafado e opressivo priva o corpo de vitalidade e obscurece a mente sensível. Os pulmões se atrofiam e o fígado torna-se inativo. T1 702 2 Ar, ar, a preciosa dádiva do Céu, que todos podem ter, beneficiar-lhes-á com sua revigorante influência, caso lhe não recusem a entrada. Dêem-lhe as boas-vindas, tenham-lhe afeição e ele se revelará um precioso calmante dos nervos. O ar deve estar em constante circulação para manter-se puro. O efeito do ar puro e fresco é fazer com que o sangue circule de maneira saudável através do organismo. Ele refresca o corpo e tende a comunicar-lhe força e saúde, ao mesmo tempo que sua influência é claramente sentida sobre a mente, comunicando um certo grau de calma e serenidade. Desperta o apetite, torna mais perfeita a digestão dos alimentos e conduz a sono saudável e tranqüilo. T1 702 3 Os efeitos produzidos por permanecer em aposentos fechados e mal ventilados são os seguintes: O organismo torna-se fraco e doentio, a circulação diminui, o sangue corre lentamente através do organismo, porque não é purificado e vitalizado pelo puro, revigorante ar do céu. A mente torna-se deprimida e sombria, enquanto todo o organismo fica debilitado e febres e outras doenças agudas podem aparecer. Sua extremada exclusão do ar exterior e o medo da livre ventilação o deixa respirar o ar corrompido e insalubre exalado pelos pulmões dos que ocupam esses aposentos, o qual é venenoso e impróprio para o sustento da vida. O corpo fica debilitado, a pele se torna empalidecida, a digestão é retardada, e o organismo fica especialmente sensível ao frio. Uma leve exposição produz sérias doenças. Grande cuidado deve ser exercido para evitar permanecer num aposento frio e com correntes de ar, quando cansado ou transpirando. Você deve acostumar-se ao ar cuja temperatura não esteja acima de 18°C. T1 703 1 Vocês podem ser uma família feliz se fizerem o que Deus lhes deu para fazer, incumbindo-se disso como dever. Mas o Senhor não fará por vocês aquilo de que os encarregou. O irmão C merece compaixão. Ele se sente infeliz há tanto tempo, que a vida se lhe tornou um fardo. Não precisava ser assim. Sua imaginação é doentia, e ele tem conservado os olhos no quadro sombrio durante tanto tempo que, quando se depara com adversidade ou decepção, imagina que tudo vai desmoronar, que virá a sofrer necessidade, que tudo é contra ele, que tem uma vida mais difícil do que qualquer outro; e assim se lhe torna miserável a vida. Quanto mais pensa assim, tanto mais miserável ele torna a própria vida e a de todos os que o cercam. Ele não tem razão para sentir-se assim; é tudo obra de Satanás. Não deve permitir que o inimigo assim lhe controle a mente. Deve volver costas ao quadro sombrio e escuro para o do amoroso Salvador, a glória do Céu, e a rica herança preparada para todos os que são humildes e obedientes, e que possuem coração agradecido e permanente fé nas promessas de Deus. Isto lhe custará esforço, luta; mas precisa ser feito. Sua presente felicidade, e sua futura e eterna felicidade dependem de você fixar a mente em coisas aprazíveis, desviando os olhos do quadro escuro, que é imaginário, para os benefícios que Deus espalhou em seu caminho, e para além disso, para o invisível e eterno. T1 704 1 Você pertence a uma família que tem mente não muito equilibrada; sombria e deprimida, afetada pelo ambiente e susceptível a influências. A menos que cultive disposição mental alegre, feliz e agradecida, Satanás afinal o levará cativo de acordo com a vontade dele. Você pode ser um auxílio, uma força para a igreja onde reside, se obedecer às instruções do Senhor e não se deixar dirigir pelo sentimento, mas ser controlado pelo princípio. Nunca permita que uma censura lhe escape dos lábios, pois é qual desoladora saraivada aos que o cercam. Caiam de seus lábios palavras alegres, ternas e amoráveis. T1 704 2 Irmão C, seu organismo não está em condições de favorecer seu progresso espiritual, todavia, a graça de Deus pode fazer muito para corrigir seus defeitos de caráter e fortalecer e desenvolver mais perfeitamente as faculdades da mente que agora se acham debilitadas e precisam ser fortalecidas. Desse modo, você poderá controlar as faculdades inferiores que sobrepujaram as superiores. Você é como um homem cujas sensibilidades ficaram entorpecidas. A verdade precisa tomar conta do irmão e realizar uma completa reforma em sua vida. "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. Isso é o que você necessita, o que precisa experimentar -- a transformação que a santificação pela verdade pode efetuar em você. T1 704 3 Você crê que o fim de todas as coisas está próximo e que as cenas da história terrestre estão rapidamente chegando ao fim? Se assim é, demonstre sua fé pelas suas obras. Tiago 2:18. Um homem mostrará toda a fé que possui. Alguns pensam que possuem apreciável grau de fé, quando, se têm alguma, está morta pois não é sustentada pelas obras correspondentes. "A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:17. Poucos têm aquela fé genuína que age por amor e purifica o coração. Todos, porém, que são tidos por dignos da vida eterna devem possuir aptidão moral para ela. "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:2, 3. Essa é a obra que está diante do irmão, e você não terá tempo de sobra se empenhar-se nela com todo seu coração. T1 705 1 O irmão necessita experimentar a morte para o próprio eu e viver para Deus. "Se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus." Colossences 3:1. O eu não deve ser consultado. Orgulho, amor-próprio, egoísmo, avareza, cobiça, amor ao mundo, ódio, dúvidas, ciúme, más suspeitas, precisam ser subjugados e sacrificados para sempre. Quando Cristo aparecer, não será para corrigir esses males e conceder habilitação moral. Essa preparação necessita ser feita antes que Ele venha e deve ser assunto de meditação, estudo e sincera pesquisa. Que faremos para ser salvos? Qual deve ser nossa conduta para que possamos apresentar-nos aprovados diante de Deus? T1 705 2 Quando tentado a murmurar, censurar e condescender com a impaciência, ferindo aqueles que o cercam e também a si próprio, permita que uma profunda, sincera e ansiosa indagação proceda do interior de seu ser: Estarei eu sem faltas diante do trono de Deus? Apenas os inculpáveis ali estarão. Ninguém será trasladado ao Céu enquanto seu coração estiver cheio do entulho terreno. Cada defeito de caráter precisa ser eliminado, cada mancha removida pelo sangue purificador de Cristo, e vencidos todos os desagradáveis traços de caráter. T1 705 3 Quanto tempo você está dedicando no preparo para viver na glória, na sociedade dos anjos celestiais? No estado em que você e sua família presentemente se encontram, todo o Céu seria prejudicado se lá estivessem. A obra precisa ser feita aqui. A Terra é o lugar de preparo. Você não tem um minuto a perder. Tudo é harmonia, paz e amor no Céu. Nenhuma discórdia, nenhuma censura ou palavras descaridosas, nenhum semblante carregado nem asperezas se encontram ali. Ninguém que possua qualquer desses elementos destrutivos da paz e felicidade terá entrada ali. Procure ser rico em boas obras, pronto a distribuir, disposto a comunicar, lançando os bons fundamentos para o tempo por vir, para que possa lançar mão da vida eterna. T1 706 1 Pare com suas murmurações com respeito a esta pobre vida. Que a preocupação de seu coração seja sobre como garantir uma vida melhor, um título para as mansões preparadas para aqueles que são verdadeiros e fiéis até o fim. Se você errar aí, tudo estará perdido. Se o irmão dedicar todo o tempo para ajuntar tesouros terrenos e perder os bens eternos, descobrirá que cometeu um terrível erro. O irmão não pode possuir ambos os mundos. "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" Marcos 8:36, 37. Diz o inspirado apóstolo Paulo: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 2 Coríntios 4:17, 18. T1 706 2 As provações da vida são obreiras de Deus para remover as impurezas, debilidades e asperezas de nosso caráter, e preparar-nos para a sociedade dos puros anjos celestiais em glória. Contudo, enquanto passamos por essas tribulações, ao arder sobre nós os fogos de aflição, não devemos fixar nosso olhar neles, mas nas coisas que se não vêem: a "herança eterna", a vida imortal, o "peso eterno de glória". Hebreus 9:15; 2 Coríntios 4:17. Enquanto fizermos isso, o fogo não nos consumirá, mas apenas removerá a escória e ficaremos sete vezes purificados, trazendo a impressão do divino. Greenville, Michigan, 7 de Março de 1868. ------------------------Capítulo 120 -- A posição do marido T1 707 1 Prezado irmão e irmã D: T1 707 2 Enquanto falava na reunião de domingo à noite, quase não me pude conter de mencionar seus nomes e relatar algumas coisas que me foram mostradas. Vi que o irmão D não ocupa na família a posição que Deus lhe designou. A irmã D assume o controle. Ela possui uma vontade forte, que não se sujeita aos reclamos divinos. Ele, para agradar à esposa e livrá-la do desânimo, cede as suas vontades. A opinião da esposa sempre o faz vacilar e assim ele não tem sido um homem livre há vários anos. T1 707 3 Quando o irmão D se envolveu no início com a obra de ensinar a verdade, era pequeno aos próprios olhos, e Deus pôde usá-lo como Seu instrumento. Mas vi que, por algum tempo no passado, ele não se humilhou sob a mão de Deus. Ele tem confiado na própria sabedoria e julgamento deficiente. Assim Satanás obteve vantagens sobre ele. Em vez de apoiar-se apenas em Deus e valer-se de Sua força, seu discernimento foi pervertido pela influência da esposa. Ela quer ver, ouvir e entender tudo o que se passa ao seu redor. Se a irmã D possuísse discernimento santificado e sabedoria celestial, veria e ouviria as coisas de modo santificado. Faria uso correto dos olhos e dos ouvidos, mas não acontece assim. "Quem é cego, senão o Meu servo ou surdo como o Meu mensageiro, a quem envio?" Isaías 42:19. Deus não deseja que ouçamos tudo que existe para ser ouvido, nem vejamos tudo que existe para ser visto. É grande bênção fechar os ouvidos para que não ouçamos, e os olhos, para não vermos. Nossa maior ansiedade deve ser a de ter clara visão para discernir as próprias faltas, e ouvido aguçado para captar todas as instruções e repreensões necessárias, para que não as deixemos escapar nem nos tornemos ouvintes esquecidos, não cumpridores da obra, por nossa desatenção e descuido. T1 708 1 Irmão D, faz algum tempo que seus trabalhos não têm sido conduzidos de maneira sábia e bem-sucedida como no passado. Sua conduta não traz a impressão divina. Sua esposa administra seus negócios temporais e assume responsabilidades que lhe são muito pesadas, enquanto você está ausente. Isto desperta a simpatia do irmão e tende a perverter-lhe o discernimento, fazendo-o valorizar exageradamente as qualificações dela, pela capacidade de administrar os negócios. Satanás vigia cada oportunidade de obter toda a vantagem possível da confiança que o irmão deposita na esposa. Ele procura enredá-lo e destruir a ambos. Você tem confiado em grande parte a própria mordomia à sua esposa. Isso está errado. Ela deve fazer tudo quanto pode para desempenhar-se da própria responsabilidade sem assumir as do irmão, pelas quais Deus o considera responsável. T1 708 2 A irmã D tem-se enganado em alguns pontos. Ela tem pensado que Deus a tenha instruído em sentido especial, e ambos têm crido e agido de acordo com isso. O discernimento que ela julgava ter em um sentido especial, é um engano do inimigo. Ela é por natureza rápida para ver, rápida para compreender, rápida para antecipar, e é de natureza extremamente sensível. Satanás tem-se aproveitado desses traços de caráter, levando cativos a ambos. Irmão D, você é um escravo há muito tempo. Muito daquilo que a irmã D tem julgado ser discernimento, é ciúme. Ela se dispôs a tudo considerar com olhos ciumentos, ser suspeitosa, conjecturando o mal, desconfiada de quase tudo. Isto causa infelicidade mental, desalento e dúvida, onde devia existir fé e confiança. Estes infelizes traços de caráter levam-lhe os pensamentos para um conduto sombrio, onde ela condescende com um pressentimento do mal, enquanto o temperamento grandemente sensível a leva a imaginar negligência, menosprezo e ofensa, quando isto não existe. Todas essas coisas impedem o progresso espiritual de ambos e afetam outros até a extensão de sua ligação com a causa e a obra de Deus. Há uma obra que vocês precisam realizar: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte." 1 Pedro 5:6. Estes infelizes traços de caráter, com uma vontade forte e arraigada, têm de ser corrigidos e reformados, ou do contrário levarão ambos a sofrer o naufrágio da fé. T1 709 1 Irmão D, você tem um dever a cumprir. Assuma a mordomia que você renunciou e no temor de Deus tome seu lugar à testa da família. Deve o irmão livrar-se da influência da esposa e confiar mais plenamente em Deus, obtendo dEle orientação e guia. O Senhor não instruiu especialmente a irmã D ou lhe deu luz para ensinar a outros qual seja o seu dever. Nem o irmão nem sua esposa podem ocupar a posição que Deus lhes destinou, enquanto as coisas permanecerem como estão. Jamais você será confirmado, fortalecido e estabelecido até permitir que sua esposa assuma a posição que lhe é destinada. Quando ela ocupar o lugar que lhe é próprio atenda ao seu julgamento, consulte-a acerca dos planos, mas seja cauteloso para não achar que o juízo dela é como o divino. Consulte-se com seus irmãos a quem Deus achou conveniente confiar as responsabilidades da obra. Se você houvesse procurado aqueles cujo conselho deveria ouvir, não teria cometido erro tão grande, tão lamentável disparate, como no caso de E. A causa de Deus foi prejudicada e envergonhada nesse caso. Sua esposa pensava ter grande luz nessa questão. Mas suas impressões não procediam de Deus e sim do inimigo, porque viu a oportunidade de atingir o irmão. Sua confiança extremada nas opiniões da esposa é contrária aos planos celestiais. Satanás escolheu essa maneira para em grande parte excluí-lo da influência dos coobreiros e irmãos em geral. T1 710 1 Você tem tido aflições que poderiam ter sido evitadas se houvesse considerado a posição que sua esposa assumiu, na qual Deus não a pôs. O irmão tem implícita confiança no julgamento e sabedoria dela. Ela não tem sido uma pessoa consagrada a Deus e portanto seu julgamento também não o é. Ela não é feliz e a desventurada sucessão de idéias que sua mente adotou, produz grande dano à sua saúde física e mental. Satanás quer torná-lo inseguro, para que seus irmãos percam a confiança em sua capacidade de discernimento. O inimigo está procurando destruí-lo. Quando Deus chamar especialmente sua esposa para ensinar a verdade, então você deve apoiar-se em seu conselho e recomendações, e confiar em suas instruções. Deus pode dar a ambos, quando possuírem idêntico interesse e dedicação à obra, a qualificação para desempenhar destacada parte na mais solene obra de salvar pessoas. A grande obra que está diante da irmã D resume-se na diligência de procurar atender ao seu chamado e tornar certa a sua eleição, deixando de vigiar os outros e começando agora a obra de zelar por si mesma. Ela deve procurar abençoar a outros por seu piedoso exemplo, boa disposição, força, coragem, fé, esperança, alegria e perfeita confiança em Deus, que serão o resultado da santificação pela verdade. Ela precisa estar em perfeita conformidade com a vontade de Deus. Cristo lhe diz: "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." Mateus 22:37-40. T1 710 2 O texto acima foi escrito em Mount Pleasant, Iowa, em 4 de Outubro de 1867. Não tive tempo para concluir o testemunho e copiá-lo, assim, achei melhor terminá-lo quando voltasse do Leste para Greenville, Michigan, o que ocorreu em 30 de Janeiro de 1868. T1 711 1 Prezados irmão e irmã D: Os irmãos já deveriam ter esta em mãos há muito tempo, mas meus trabalhos têm sido tão intensos que não tive oportunidade de escrever a vocês. Todo lugar que visitávamos trazia-me à mente muito do que vira nos casos individuais, e eu escrevia durante as reuniões, mesmo enquanto meu marido estava pregando. T1 711 2 A visão me fora dada cerca de dois anos atrás. O inimigo impediu-me de todas as maneiras de enviar às pessoas a luz que Deus lhes enviava por meu intermédio. Primeiramente, o caso de meu marido foi tão desorientador, tão angustiante, que não pude escrever. Depois o desânimo que meus irmãos me causaram, deixou-me em tal condição de tristeza e aflição que eu não reunia condições para qualquer tipo de trabalho. Comecei a escrever quando iniciamos a viagem, no último verão, mas viajávamos tão rapidamente de um lugar para o outro, que tudo quanto podíamos fazer era assistir às reuniões. Havia muito trabalho a ser feito. Eu costumo levantar-me às quatro horas da manhã para escrever. Entretanto, o trabalho constante e agitado das reuniões sobrecarrega-me tanto o cérebro que me sentia incapaz de escrever. Minha mente está cansada. T1 711 3 Lastimo não ter podido enviar esta carta antes, mas mesmo assim, que Deus possa torná-la uma bênção a vocês, é minha sincera oração. Que você, meu caro irmão, possa ter percebido e corrigido essas coisas antes da chegada deste testemunho. Espero que assim tenha sido. Você e sua esposa têm nossas simpatias e orações. Temos interesse em ambos. A vida de sua esposa é preciosa. Rogamos-lhe em Cristo, que procure obter aquele espírito manso e quieto que é de grande valor à vista de Deus. Um anjo apontou-me a irmã D e repetiu estas palavras: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. Eis aqui o saudável rumo de pensamentos para a mente seguir. Quando ela se desviar para outro caminho, traga-a de volta. Controle a mente. Eduque-a a demorar-se nas coisas que promovam paz e amor. T1 712 1 Envio-lhes esta carta esperando e orando para que Deus possa abençoá-los, e que ambos possam ser tidos por dignos de alcançar a vida eterna. ------------------------Apêndice T1 713 1 As notas deste apêndice foram preparadas pelos Depositários dos Escritos de Ellen G. White como material auxiliar para a compreensão das circunstâncias que levaram certos testemunhos a serem dados. T1 713 2 Página 116. "Tempo de Início do Sábado" -- Durante um período de aproximadamente dez anos os adventistas do sétimo dia observaram o sábado a partir das seis horas da tarde da sexta-feira até as seis horas da tarde do sábado. Em seu primeiro panfleto sobre a perpetuidade do sábado do quarto mandamento, publicado em 1846, o Pastor José Bates havia dado razões para o suposto apoio escriturístico para a observância do sábado dessa maneira. Ele citou a parábola dos trabalhadores na vinha, alegando que o último grupo de trabalhadores fora chamado na "hora undécima" do dia e não trabalhara senão por uma hora. O ajuste de contas fora feito em "aproximando-se a noite". Mateus 20:6, 8, 12. Comparando isto com a indagação de Cristo "não há doze horas no dia?", ele argumentava que a "noite" iniciava na hora duodécima, ou às seis horas da tarde, calculando-se pelo horário equatorial ou o início do ano sagrado. O respeito por sua idade, experiência e vida piedosa pode ter sido a principal razão para se aceitar suas conclusões sem maior investigação. T1 713 3 Com o passar do tempo e com a divulgação da mensagem, um número cada vez maior de guardadores do sábado começou a questionar aquela prática e defender o horário do pôr-do-sol como o início do sábado. Minuciosa investigação bíblica acerca deste assunto foi feita pelo Pastor J. N. Andrews, o qual mais tarde escreveu um documento estabelecendo razões bíblicas em favor do horário do pôr-do-sol. Este documento foi apresentado e discutido no sábado, 17 de Novembro de 1855, na assembléia em Battle Creek, Michigan. Como resultado, quase todos os presentes, mas não todos, ficaram convencidos de que a conclusão do Pastor Andrews estava correta. A apresentação deste assunto à irmã White em visão, dois dias mais tarde, respondeu as indagações que pairavam na mente de alguns e efetuou a unidade entre os cristãos. Comentando sobre esta experiência, como que ilustrando o papel das visões para confirmar conclusões baseadas no estudo da Bíblia em vez de introduzir novos ensinos, o Pastor Tiago White mais tarde escreveu: T1 713 4 "A pergunta naturalmente surge: 'Se as visões são dadas para corrigir os que erram, por que ela não viu mais cedo o erro das seis horas da tarde?' Eu sou imensamente agradecido a Deus por haver corrigido o erro no Seu tempo oportuno, não permitindo que uma infeliz divisão existisse entre nós neste ponto. Mas, querido leitor, a obra do Senhor sobre este ponto está em perfeita harmonia com a posição correta acerca dos dons espirituais. Não parece ser desejo do Senhor ensinar Seu povo em questões bíblicas através do dom do Espírito até que Seus servos tenham diligentemente pesquisado a Palavra. Quando isto foi feito com respeito ao assunto do tempo de início do sábado e a maioria estava convencida, contudo alguns estavam em perigo de permanecer em desarmonia com o corpo da igreja neste assunto, então, sim, então, era o tempo certo para Deus demonstrar Sua bondade através da manifestação dos dons do Seu Espírito na realização desta obra." -- The Review and Herald, 25 de Fevereiro de 1868. T1 713 5 Páginas 116, 117, 122 e 123. "O Grupo do Messenger" -- No verão de 1854 apareceu entre os adventistas observadores do sábado a primeira deslealdade ou apostasia. Dois homens que haviam estado a pregar a mensagem foram reprovados através do espírito de profecia por seu espírito cruel e censurador, pela avareza e extravagância no uso de recursos colocados em suas mãos. Tornando-se ressentidos em vez de arrependidos, uniram-se com uns poucos outros numa injusta recriminação contra o Pastor e a irmã White e outros líderes, fazendo falsas acusações contra eles. Embora continuassem a defender a verdade do sábado, começaram a publicar um folheto difamatório ao qual chamaram de Messenger of Truth [Mensageiro da Verdade]. T1 713 6 A eles se uniram os pastores Stephenson e Hall de Wisconsin. Estes homens haviam sido pregadores adventistas do primeiro dia, que professaram aceitar a verdade da mensagem do terceiro anjo, mas continuavam mantendo a doutrina da Era Vindoura. De acordo com esta teoria deve haver, durante o milênio, uma "segunda oportunidade" para salvação. Eles concordaram em pregar a mensagem, sem defender esta questão, desde que a Review não publicasse artigos contra ela. Conforme indica o texto, no entanto, eles não mantiveram sua promessa e logo estavam se opondo à Review e aos que a apoiavam. T1 713 7 O rumo destes "opositores da verdade" foi logo mudado. Ambos, Pastor Stephenson e Pastor Hall, perderam a razão. O Messenger of Truth parou de ser publicado em 1857, e no início de 1858 o Pastor White declarou acerca do grupo: "Nem um dos dezoito mensageiros que eles uma vez alegaram estar a seu favor está agora dando testemunho público, e tanto quanto tenhamos conhecimento não há sequer um lugar de reuniões regulares entre eles." -- The Review and Herald, 14 de Janeiro de 1858. T1 713 8 Página 190. Doação Sistemática -- Nos primeiros dias da mensagem, homens movidos pelo impulso da convicção saíram para pregar as verdades recentemente encontradas. Para o seu sustento eles dependiam do apoio do próprio trabalho ou de ofertas voluntárias dos crentes. Este método incerto era geralmente espasmódico e flutuante. No início de 1859 sentiu-se a necessidade de um plano mais certo e cuidadosa consideração foi dada ao assunto. Desta consideração surgiu o plano chamado Doação Sistemática. Em harmonia com 1 Coríntios 16:2, foi recomendada a doação regular no primeiro dia da semana, e conforme é sugerido em 2 Coríntios 8:12-14, uma distribuição eqüitativa de responsabilidade financeira. O plano pedia que os irmãos colocassem de parte semanalmente entre cinco e vinte cinco centavos; as irmãs, entre dois e dez centavos; e os que possuíam propriedades deviam dar semanalmente entre um e cinco centavos de cada cem dólares do valor de seus bens. T1 713 9 O plano foi de modo geral bem aceito e agora recebera o endosso do espírito de profecia. O maior pecado na igreja foi apontado como sendo a cobiça. (Página 194). A Doação Sistemática não foi apresentada como um plano aperfeiçoado, pois foi também declarado que "Deus está conduzindo Seu povo" neste assunto, e "educando-o". (Página 191.) À medida que os planos para manutenção da obra e do ministério se ampliaram, o espírito de liberalidade foi encorajado mais e mais até que finalmente a luz das Escrituras revelou o sistema de dízimos e ofertas como hoje se conhece na igreja. T1 713 10 Página 210. Organização -- Até o ano 1860 não houve organização legal ou da igreja entre os adventistas observadores do sábado. Eles nem mesmo haviam adotado um nome. Referiam a si mesmos como o "Rebanho Espalhado", o "Pequeno Remanescente", ou alguma outra variação destas expressões. O Pastor White, entretanto, anunciara através da Review que precisava recusar continuar a assumir responsabilidade pessoal por dinheiro emprestado ao escritório da Review and Herald. Mais tarde ele manifestou a esperança de que chegasse logo o tempo em que "este povo estivesse na devida posição para ser capaz de colocar em seguro a propriedade da igreja, manter suas casas de reuniões de maneira adequada, para que as pessoas que fizerem testamentos ou desejarem fazê-lo possam destinar uma parte ao departamento de publicações". Convocou então os irmãos para fazerem sugestões sobre como realizar este desejo para que "nós como um povo" pudéssemos agir para conseguir as vantagens acima mencionadas. T1 713 11 Entre as primeiras respostas ao pedido estava a do irmão B, que é mencionado com respeito a esse assunto, na qual ele expressava a convicção de que de acordo com a lei seria um erro incorporar-se como um corpo religioso. Isto, ele alegava, seria "fazer-nos um nome", como era o propósito dos construtores da torre de Babel, e "consistiria no fundamento de Babilônia". Acerca de colocar em seguro as casas de reuniões, não eram elas propriedade do Senhor? Não poderia Ele cuidar do que era Seu sem o auxílio das companhias de seguro? Além disso, disse ele, aqueles que emprestam dinheiro para o escritório não devem insistir em receber uma promissória assinada por uma corporação legal, pois "emprestaram ao Senhor, e devem para tanto confiar nEle." -- The Review and Herald, 23 de Fevereiro e 22 de Março de 1860. T1 713 12 Depois de muita discussão, foram superadas as desconfianças com respeito à viabilidade de organizar legalmente o escritório de publicações e numa assembléia realizada em Setembro de 1860 foi formada a Sociedade de Publicações Advent Review. Poucos meses mais tarde o nome foi mudado para Sociedade de Publicações Adventista do Sétimo Dia. Mesmo depois deste passo, alguns ainda mantinham certa relutância quanto à organização da igreja e o assunto continuou sendo discutido. Com a maioria a favor da organização, no entanto, o movimento prosseguiu, primeiro organizando as igrejas, depois as associações por estados, e, finalmente em 1863, a Associação Geral. T1 713 13 O testemunho sobre "Organização" (páginas 270-272) fala da oposição manifestada pelo Estado de Nova Iorque contra este movimento e da visão que foi dada concernente ao assunto. T1 713 14 Página 292. Os mágicos na realidade não transformaram suas varas em serpentes; mas através de encantamentos e auxiliados pelo grande enganador, foram capazes de produzir essa aparência. Estava além do poder de Satanás transformar as varas em serpentes vivas. O príncipe do mal, embora possuindo a sabedoria e o poder de um anjo caído, não tem poder para criar ou dar vida; esta é prerrogativa de Deus somente. Tudo, porém, quanto estava em seu poder fazer, ele o fez. Produziu uma contrafação. À vista humana as varas transformaram-se em serpentes. Assim creram Faraó e sua corte. Nada havia em sua aparência que as distinguisse das serpentes produzidas por Moisés e Arão. Assim, o testemunho fala disso na linguagem própria das Escrituras; enquanto que o mesmo Espírito explica que as Escrituras falam do caso como ele pareceu. Ver Testemunhos Para a Igreja 5:501, 502. T1 713 15 Página 355. "A Rebelião" -- Na ocasião em que este testemunho foi escrito, no início de 1863, os adventistas do sétimo dia enfrentavam sério problema. A nação estava em guerra. Embora fossem não-combatentes de coração, a simpatia dos membros da igreja estava, quase que sem exceção, inteiramente a favor do governo em sua oposição à escravidão. À medida que o conflito progredia, mais e mais homens eram convocados para o exército. Em cada convocação todo distrito tinha a obrigação de fornecer um certo número de recrutas e quando o total de voluntários alistados ficava aquém daquele número, alguns nomes eram sorteados para compensar a falta. Durante algum tempo foi possível comprar um substituto mediante pagamento em dinheiro e assim liberar aqueles que havia sido sorteados. Como não havia provisão para designar adventistas do sétimo dia ao serviço como não-combatentes nem se permitia guardar o sábado, os observadores do sábado, quando convocados, geralmente compravam desta maneira sua isenção. Quando o indivíduo era incapaz de ganhar a importância necessária por si mesmo, ele era ajudado por um fundo especial para esse propósito. T1 713 16 Quando, porém, mais e mais homens se fizeram necessários e estava iminente uma lei nacional de recrutamento obrigatório sem os privilégios de isenção, nossos irmãos ficaram perplexos quanto à sua reação a essa convocação, onde talvez seriam compelidos a portar armas ou trabalhar no sábado. T1 713 17 Uns poucos meses antes de aparecer este testemunho, o Pastor White publicou um editorial na Review and Herald intitulado "A Nação", ao qual se faz referência na página 356. Ele cria que o governo era o melhor do mundo e que lutava por justa causa. O melhor conselho que ele pode dar na ocasião foi que no evento da convocação "seria loucura resistir", e acrescentou: T1 713 18 "Aquele que resistir até, na administração das leis militares, ser fuzilado, pensamos que vai longe demais em assumir a responsabilidade pelo suicídio." -- The Review and Herald, 12 de Agosto de 1862. T1 713 19 A natureza de algumas das correspondências que resultaram da publicação deste artigo, conforme a irmã White salienta, foi tal que levou o Pastor White a protestar contra a virtual acusação de "quebra do sábado e homicídio" feita contra ele. Por um lado estes extremistas foram reprovados pela irmã White, e por outro uma nota de advertência foi enviada aos que sentiam-se inclinados a alistar-se. T1 713 20 Em Julho de 1964, a lei nacional de recrutamento foi emendada revogando a cláusula dos 300 dólares de isenção. Imediatamente medidas foram tomadas para garantir aos jovens adventistas do sétimo dia os privilégios concedidos aos membros de denominações religiosas que conscientemente se opunham a portar armas -- de ser designado para serviço como não-combatente em plantões hospitalares e no cuidado de homens livres. Antes de se atingir uma séria crise, estes esforços obtiveram êxito. Em alguns casos jovens adventistas foram convocados para o exército e designados a servir em hospitais ou em outros serviços não-combatentes. Fosse qual fosse sua designação, eles procuravam deixar sua luz brilhar. Durante vários meses uma coluna foi publicada regularmente na Review and Herald listando recebimentos para o Fundo de Folhetos para os Soldados a fim de fornecer literatura para distribuição entre estes homens. T1 713 21 A experiência dos adventistas do sétimo dia com relação à Guerra Civil levou-os a tomar certas medidas que lhes garantiram o reconhecido status de não-combatentes, o que ao mesmo tempo os capacitava a seguir a injunção das Escrituras acerca de seu relacionamento com "as autoridades que há", as quais foram "ordenadas por Deus". T1 713 22 Páginas 421 e 456. Reforma do Vestuário -- Os vestidos geralmente usados pelas mulheres americanas na época em que isto foi escrito (1863 e 1867), eram muito nocivos à saúde. Eram especialmente objetáveis por seu comprimento extremo, o aperto da cintura pelo espartilho e o peso das saias que eram suspensas pelos quadris. Cerca de uma década antes, algumas mulheres de eminência nacional iniciaram um movimento para adotar um novo estilo de vestuário livre destas sérias objeções. O novo modelo de vestuário consistia de algo semelhante ao costume da Turquia que pode ser usado igualmente por homens e por mulheres. O movimento se tornou tão popular que por algum tempo convenções da "reforma do vestuário" foram realizadas anualmente. T1 713 23 "O costume americano", ao qual se refere a irmã White, era uma modificação do estilo anterior patrocinada pela Dra. Harriet Austin, de Dansville, Nova Iorque. Combinava a saia curta, cujo comprimento ia "até a metade da coxa" entre os quadris e os joelhos, com calças de aparência masculina, paletó e colete. Ver descrição na página 465. Este "assim chamado vestuário reformado" foi mostrado à irmã White em 1864 como sendo inadequado para ser adotado pelo povo de Deus. T1 713 24 Em 1865, Ellen White, através do How to Live, No. 6, apelou às nossas irmãs que adotassem um estilo de vestido que fosse modesto e saudável. No ano seguinte o Instituto de Reforma da Saúde recentemente aberto em Battle Creek tomou medidas para desenhar um modelo de vestido que corrigisse os extremos do costume americano curto e dos vestidos super-longos que eram comumente usados. T1 713 25 Em 1867, o Testemunho No. 11 apareceu com seu primeiro artigo, "Reforma do Vestuário". Ver páginas 456-466. Neste artigo a questão do vestido foi amplamente recapitulada e conselho adicional foi dado. Um modelo geral foi recomendado que combinava os princípios revelados à Ellen White e que foi referido como sendo "digno do nome de vestido curto da reforma". Nenhum modelo particular foi-lhe revelado em visão e discutindo esse assunto em data posterior, Ellen White declarou: T1 713 26 "Algumas supõem que o modelo dado era o modelo que todas deviam adotar. Isto não é assim. Mas algo simples como este modelo é o melhor que podemos adotar nestas circunstâncias. Nenhum estilo exato me foi dado como sendo a regra para guiar a todas em seu modo de vestir." -- Carta 19, 1897. Citada no livro The Story of Our Health Message, 145. T1 713 27 Com o passar dos anos, os estilos predominantes de vestuário feminino mudaram para melhor, tornando-se mais sensatos e saudáveis. O antigo vestido da reforma da saúde em seu modelo exato não era mais recomendado, mas Ellen White deu sempre um testemunho uniforme a respeito dos princípios fundamentais que deviam orientar o cristão neste assunto. Por isso em 1897 ela escreveu: T1 713 28 "Estejam nossas irmãs vestidas de maneira simples, como muitas o fazem, usando vestidos de tecido bom e durável, modestos, apropriados para a idade, e não permitam que o assunto do vestido lhes ocupe a mente." -- Idem, 146. T1 713 29 Página 525. Para posterior esclarecimento do assunto do vestuário, o leitor deve ler Testemunhos Para a Igreja, vol. 4, capítulo "A Simplicidade no Vestuário." T1 713 30 Página 689. Desde a organização da Sociedade de Folhetos em muitos Estados, o fornecimento de livros e folhetos às pessoas realmente pobres ficou a seu cargo. Algumas das obras aqui mencionadas estão atualmente esgotadas. Os Depositários dos Escritos de Ellen G. White. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 2 T2 5 1 Breve Histórico do Volume 2 T2 9 1 Introdução T2 10 2 Capítulo 1 -- Resumo de experiências T2 24 1 Capítulo 2 -- Trabalhando por Cristo T2 37 3 Capítulo 3 -- Vendendo os direitos de primogenitura T2 50 1 Capítulo 4 -- O falar pecaminoso T2 55 1 Capítulo 5 -- Egoísmo e amor ao mundo T2 60 2 Capítulo 6 -- Alimentos cárneos e estimulantes T2 66 2 Capítulo 7 -- Negligência da reforma de saúde T2 73 1 Capítulo 8 -- Amor pelos que erram T2 78 1 Capítulo 9 -- Religião diária T2 84 2 Capítulo 10 -- Reforma no lar T2 89 1 Capítulo 11 -- Uma consciência violada T2 93 1 Capítulo 12 -- Advertências e reprovações T2 112 1 Capítulo 13 -- Objetivo dos testemunhos pessoais T2 113 2 Capítulo 14 -- Mudança para Battle Creek T2 116 2 Capítulo 15 -- Advertência aos pastores T2 118 3 Capítulo 16 -- Olhando para Jesus T2 124 2 Capítulo 17 -- Separação do mundo T2 133 2 Capítulo 18 -- O verdadeiro amor T2 137 1 Capítulo 19 -- Entretenimentos no instituto T2 140 1 Capítulo 20 -- Negligência acerca de Ana More T2 145 1 Capítulo 21 -- Orações pelos doentes T2 150 1 Capítulo 22 -- O pastor precisa de coragem T2 152 1 Capítulo 23 -- Solidez nos negócios T2 156 1 Capítulo 24 -- Oprimindo o assalariado T2 162 1 Capítulo 25 -- Combatividade reprovada T2 165 3 Capítulo 26 -- Portadores de responsabilidades na igreja T2 173 2 Capítulo 27 -- Orgulho nos jovens T2 183 1 Capítulo 28 -- Mundanismo na Igreja T2 200 1 Capítulo 29 -- Os Sofrimentos de Cristo T2 216 1 Capítulo 30 -- Advertências à Igreja T2 225 3 Capítulo 31 -- Considerando o Casamento T2 229 2 Capítulo 32 -- O Perigo das Riquezas T2 232 2 Capítulo 33 -- Zelo Cristão T2 235 3 Capítulo 34 -- Responsabilidades dos jovens T2 237 2 Capítulo 35 -- Servos de Mamom T2 247 2 Capítulo 36 -- Sentimentalismo e arranjos de casamento T2 253 1 Capítulo 37 -- Severidade no Governo da Família T2 261 2 Capítulo 38 -- Uma carta de aniversário T2 268 2 Capítulo 39 -- O Engano das Riqeuzas T2 288 2 Capítulo 40 -- Jovens que enganam a si mesmos T2 291 1 Capítulo 41 -- A Verdadeira Conversão T2 296 3 Capítulo 42 -- Deveres do Marido e da Esposa T2 307 1 Capítulo 43 -- Carta a um Órfão T2 314 3 Capítulo 44 -- Membro Indisciplinado T2 318 2 Capítulo 45 -- Conforto na Alfição T2 320 1 Capítulo 46 -- Espírito Arrogante e Dominador T2 321 3 Capítulo 47 -- Ouvinte Esquecido T2 323 2 Capítulo 48 -- Remédio Para o Sentimentalismo T2 327 2 Capítulo 49 -- Deveres Para Com os Órfãos T2 334 2 Capítulo 50 -- Apelo aos Pastores T2 346 1 Capítulo 51 -- Poluição Moral T2 354 1 Capítulo 52 -- Temperança Cristã T2 377 1 Capítulo 53 -- Extremos na Reforma de Saúde T2 390 1 Capítulo 54 -- Sensualidade nos Jovens T2 411 1 Capítulo 55 -- O Verdadeiro Amor no Lar T2 421 1 Capítulo 56 -- A Importância do Domínio-Próprio T2 431 2 Capítulo 57 -- Operosidade e Economia T2 436 1 Capítulo 58 -- Suscitando Oposição T2 439 2 Capítulo 59 -- Apelo à Igreja T2 489 1 Capítulo 60 -- Uma Cruz na Aceitação da Verdade T2 498 1 Capítulo 61 -- Mensagem aos Pastores T2 522 1 Capítulo 62 -- Ar e Exercício T2 539 1 Capítulo 63 -- Censura ao Egoísmo T2 553 1 Capítulo 64 -- Fanatismo e Ignorância T2 558 1 Capítulo 65 -- Uma Filha Mimada T2 565 1 Capítulo 66 -- Para a Esposa de um Pastor T2 569 2 Capítulo 67 -- Infidelidade na Mordomia T2 571 2 Capítulo 68 -- Sensibilidade Equivocada T2 573 1 Capítulo 69 -- Convocações T2 577 1 Capítulo 70 -- Reuniões de Testemunhos e Oração T2 582 3 Capítulo 71 -- Como Observaremos o Sábado T2 585 2 Capítulo 72 -- Recreação Cristã T2 594 1 Capítulo 73 -- Um Sonho Impressionante T2 597 3 Capítulo 74 -- Nossas Reuniões Campais T2 604 1 Capítulo 75 -- Um Sonho Solene T2 609 1 Capítulo 76 -- Maneiras e Trajes dos Pastores T2 619 2 Capítulo 77 -- Amor ao Ganho T2 631 4 Capítulo 78 -- A Causa em Vermont T2 678 1 Capítulo 79 -- Transferindo Tesouros Terrenos T2 686 5 Capítulo 80 -- Não Há Tempo de Graça Após a Vinda de Cristo T2 695 1 Capítulo 81 -- Responsabilidade Pela Luz Recebida T2 712 1 Apêndice ------------------------Breve histórico do volume dois T2 5 1 Enquanto o volume 1 dos Testemunhos apresenta conselhos que têm a ver com o início e desenvolvimento dos ensinos, experiências e empreendimentos da igreja remanescente recentemente estabelecida, o volume 2 é dedicado quase que em sua totalidade à religiosidade pessoal de seus membros. Durante os treze anos paralelos aos catorze panfletos dos testemunhos que agora formam o volume 1, a obra de publicações se solidificou, a igreja foi organizada, seu sistema financeiro foi estabelecido e foi iniciado um importante programa de saúde. Quando o artigo final foi escrito, a literatura estava afluindo em corrente ininterrupta da imprensa nas instalações da publicadora Review and Herald em Battle Creek, Michigan, EUA, e nas proximidades o hospital recentemente instalado estava em franco funcionamento. As horas escuras dos anos da Guerra Civil ficaram no passado e para a igreja despontava um dia de oportunidade. A obra que tinha ela diante de si era conservar o terreno obtido e alargar suas fronteiras. Para o êxito contínuo da igreja era de vital importância a integridade individual de seus membros. T2 5 2 No início de 1868, como foi explicado no artigo que agora se encontra quase no fim do volume 1, Ellen G. White começou a publicar, para benefício da igreja como um todo, certos testemunhos pessoais que até aquela ocasião não haviam sido divulgados de modo geral. A respeito desses testemunhos pessoais ela declarou: "Todos eles contêm, alguns mais, outros menos, reprovações e instruções que se aplicam a centenas ou milhares de outras pessoas em condições semelhantes. Essas pessoas devem ter a luz que Deus achou por bem conceder, a qual é adequada aos casos considerados." -- Testimonies for the Church 1:631. T2 5 3 Tais instruções dirigidas pessoalmente a membros individuais da igreja durante o período de três anos que vai de Fevereiro de 1868 a Maio de 1871, constituem praticamente o conteúdo total dos Testemunhos Nos. 15-20, agora incorporadas neste volume 2. A instrução é direta e prática, tratando de quase todas as fases de experiência pessoal e interesses religiosos, desde mexericos, condescendência com o apetite, e relacionamento conjugal, até zelo mal orientado, avareza e fanatismo. T2 6 1 No início do período abrangido pelo volume 2, o Pastor White e sua esposa estavam temporariamente afastados em Greenville, Michigan, devido às condições de saúde do Pastor White. Eles logo reassumiram suas atividades, viajando e realizando reuniões com os cristãos dos estados adjacentes a Michigan. Em Novembro de 1868, voltaram para Battle Creek e fixaram residência ali. T2 6 2 Dois meses antes, em Setembro de 1868, uma reunião campal foi realizada em Wright, Michigan. Este encontro, o primeiro do tipo, provou-se uma grande bênção para os que o assistiram, de forma que nos anos que se seguiram, reuniões campais foram instituídas como parte regular do programa das associações estaduais. A presença de Tiago e Ellen White era convocada com tal freqüência que eles gastaram grande parte dos meses de verão dos anos seguintes nesses encontros anuais. Na última parte do volume 2 o leitor encontrará conselhos a respeito dessas "convocações". T2 6 3 Durante o período dos três anos abrangidos pelo volume 2, houve progresso animador na causa da verdade presente. O Instituto de Saúde de Battle Creek, depois de haver passado por uma depressão desanimadora, agora emergia para um novo período de prosperidade. Na última parte do ano de 1868, os Pastores J. N. Loughborough e D. T. Bourdeau acenderam a tocha do adventismo na costa do Pacífico. Naquele mesmo ano, um grupo de cinqüenta adventistas guardadores do sábado na Europa, entraram em contato com os irmãos da Associação Geral e no ano seguinte enviaram um representante que, atravessando o oceano, veio solicitar que missionários lhes fossem enviados. T2 6 4 Com todo esse progresso, o adversário continuou a trabalhar com seriedade para enfraquecer a espiritualidade dos membros da igreja, fazê-los amar o mundo e suas atrações, fermentar a igreja com o espírito de crítica, secar os mananciais da bondade e especialmente levar os jovens para suas fileiras. Contra essas tendências perigosas, a irmã White, como mensageira de Deus, transmitia fiel e resolutamente suas mensagens tanto verbalmente como por escrito, recordando aos membros da igreja os padrões divinos de integridade e retidão. T2 7 1 Em algumas ocasiões foram dadas à irmã White revelações pertinentes à experiência de inúmeras pessoas em uma só igreja. Depois de haver transmitido esses testemunhos individuais em reunião, ela escrevia as instruções e enviava à igreja envolvida. Vários desses comunicados são encontrados no volume 2. T2 7 2 O atento leitor deste volume de 711 páginas ficará impressionado não só com a grande diversidade de assuntos abrangidos, como também com a vasta quantidade de páginas escritas dedicadas a tais testemunhos pessoais elaborados durante tão curto tempo. Deve-se notar, entretanto, que o que foi publicado representa apenas uma parte do que Ellen White escreveu durante esse período. T2 7 3 Poucas semanas antes do aparecimento do No. 15, o Pastor White escreveu uma nota para a Review and Herald, pedindo que aqueles a quem a irmã White transmitira testemunhos verbais esperassem pacientemente até que recebessem cópias escritas. Acerca do trabalho persistente da irmã White nesta obra, ele disse: T2 7 4 "Neste aspecto da obra ela já tem dois meses de trabalho escrito à mão. Na sua viagem ao leste utilizou seu tempo vago escrevendo esses testemunhos. Ela escreveu até em reuniões enquanto outros pregavam e discursavam. Desde seu retorno, ela tem prejudicado sua saúde e vigor por dedicar-se muito a este trabalho, pois geralmente escreve de vinte a quarenta páginas por dia." -- The Review and Herald, 3 de Março de 1868. T2 7 5 Podemos imaginar o alívio da irmã White quando foi publicado o Testemunho No. 15 e sua antecipação do bem merecido descanso, mas dez dias depois ela estava novamente envolvida na tarefa de transmitir as muitas mensagens a ela confiadas. Na sexta-feira à noite, 12 de Junho, falou em Battle Creek, "aos jovens de modo geral" e "dirigiu-se a vários pessoalmente", até perto das dez horas, quando ocorreu o que o Pastor White assim descreve: T2 8 1 "Enquanto falava da plataforma em frente do púlpito, da maneira mais solene e impressiva, o poder de Deus lhe sobreveio e ela caiu sobre o tapete, em visão. Muitos testemunharam pela primeira vez esta manifestação, com surpresa e perfeita satisfação por se tratar de obra de Deus. A visão durou vinte minutos." -- The Review and Herald, 16 de Junho de 1868. T2 8 2 Na contagem real, afirma-se definitivamente que 120 páginas dos Testemunhos, volume 2, foram escritas para apresentar conselhos dados à igreja ou a indivíduos nesta visão do dia 12 de Junho de 1868. Muitas páginas mais foram escritas apresentando pontos de vista dados naquele mesmo ano em Pilot Grove, Iowa, a 2 de Outubro, e em Adams Center, Nova York, a 25 de Outubro. T2 8 3 As muitas visões fizeram com que a irmã White escrevesse quase que incessantemente. Apresentando um relatório de sua viagem de barco pelo rio Mississippi em 1870, o Pastor White comenta: T2 8 4 "A Sra. White está escrevendo. Pobre mulher! Este escrever quase eterno, ora para um, ora para outro, quando deveria estar descansando e apreciando a linda paisagem e o companheirismo agradável, parece muito mau, mas Deus nos tem abençoado e sustentado, e devemos viver em harmonia." -- The Review and Herald, 5 de Julho de 1870. T2 8 5 Que bênção têm sido para a igreja estes muitos testemunhos dirigidos primeiramente a indivíduos em particular. Que membro de igreja, ao ler estes sinceros conselhos e advertências, não descobriu que os problemas, tentações e privilégios dos Adventistas do Sétimo Dia daqueles primitivos anos são os seus problemas, tentações e privilégios hoje. Entesouramos estas mensagens principalmente porque a própria Ellen G. White declara em sua introdução ao volume 2: "Talvez não haja meio mais direto e eficaz de tornar público o que o Senhor me tem mostrado." Depositários do Patrimônio Literário White. ------------------------Introdução T2 9 1 Meus irmãos e irmãs esperavam ansiosamente para breve este número de meus testemunhos. Mas eu tinha muitos testemunhos pessoais em mãos, alguns dos quais serão apresentados nas páginas seguintes. E eu não conheço maneira melhor de apresentar meus pontos de vista sobre os perigos gerais e os erros, e o dever de todos os que amam a Deus e guardam Seus mandamentos, do que pela publicação destes testemunhos. Talvez não haja meio mais direto e eficaz de tornar público o que o Senhor me tem mostrado. T2 9 2 Era importante que o número catorze chegasse até vocês antes da reunião da Associação Geral. Conseqüentemente, a impressão desse número foi apressada, antes que eu pudesse encontrar tempo para preparar material específico para ele. De fato, não houve espaço suficiente para esses assuntos no número catorze. Portanto, reunindo matéria suficiente para o número quinze, eu o apresento orando para que as bênçãos de Deus o acompanhe, para o bem de Seu querido povo. ------------------------Capítulo 1 -- Resumo de experiências T2 10 2 Depois de chegarmos em casa e não mais termos sobre nós a inspiradora influência das viagens e do trabalho, sentimos mais profundamente o cansaço de nossas viagens pela Região Leste. Não poucos insistiam comigo a respeito de cartas por escrever, sobre o que o Senhor me havia mostrado com respeito a eles. E houve muitos outros a quem eu nada havia falado, cujos casos eram importantes e urgentes. Mas, em minha fatigada condição, a tarefa de escrever bastante parecia-me mais do que eu poderia suportar. Uma sensação de desânimo veio sobre mim e caí num estado de fraqueza, assim permanecendo por vários dias e experimentando freqüentes desmaios. Nesse estado corporal e mental, questionei-me sobre o dever de escrever tanto e a tantas pessoas, algumas delas verdadeiramente indignas. Pareceu-me haver, seguramente, um problema em alguma parte desse assunto. T2 10 3 Na noite do dia 5 de Fevereiro, o irmão Andrews falou ao povo em nossa casa de culto. Mas, na maior parte do tempo, estive desmaiada, com problemas respiratórios e amparada por meu esposo. Quando o irmão Andrews voltou da reunião, os irmãos tiveram um período especial de oração a meu favor e pude sentir algum alívio. Naquela noite dormi bem e, pela manhã, embora fraca, senti-me muito aliviada e animada. Eu sonhara que alguém me trouxe uma peça de tecido branco e me incumbiu de cortar dele vestes para pessoas de todos os tamanhos, de todas as condições de vida e de todas as modalidades de caráter. Foi-me ordenado que as cortasse e as deixasse preparadas para serem feitas, quando solicitadas. Tive a impressão de que muitos daqueles para os quais fora incumbida de cortar vestes, não as mereciam. Indaguei então se esta era a última peça de tecido que tinha a cortar, ao que me foi respondido que não; que tão depressa houvesse acabado essa, havia ainda outras para cortar. Senti-me desanimar ante o acúmulo de trabalho que vi diante de mim; verifiquei que estivera empenhada em talhar vestes para outros durante mais de vinte anos e que o meu trabalho não fora apreciado; também não podia ver que houvesse sido de grande benefício. Falei então à pessoa que me trouxera os tecidos, aludindo particularmente a uma mulher, para a qual tinha sido incumbida de cortar uma veste. Observei-lhe que ela não saberia apreciar a veste e que presenteá-la com a mesma seria perder tempo e tecido. Era muito pobre, de pouca cultura, desordenada nos hábitos, de sorte que havia de sujá-la muito breve. T2 11 1 A pessoa respondeu-me: "Corte as vestes. É esse o seu dever. O prejuízo não é seu senão meu. 'O Senhor não vê como vê o homem.' 1 Samuel 16:7. Ele distribui o trabalho que deseja ver feito, e 'tu não sabes qual prosperará' (Eclesiastes 11:6), se este ou aquele. Ver-se-á que muitos desses pobres seres entrarão no reino, enquanto outros, favorecidos com todas as bênçãos da vida, tendo todas as vantagens para o aperfeiçoamento, serão deixados fora. Viu-se que as pessoas humildes viveram à altura da tênue luz que possuíam e progrediram apesar dos limitados meios a seu alcance, vivendo de modo mais aceitável do que outros que usufruíram a plena luz e amplos meios de aprimoramento." T2 11 2 Levantei então minhas mãos, calejadas como estavam do longo uso das tesouras, e ponderei-lhe que não podia reprimir um sentimento de contrariedade ante a idéia de ter de continuar esse gênero de trabalho. O meu interlocutor respondeu-me: T2 11 3 "Corte as vestes. Ainda não é tempo de você ser disso dispensada." T2 11 4 Com uma sensação de invencível fadiga levantei-me para recomeçar o trabalho. Diante de mim estavam algumas tesouras novas, perfeitamente afiadas, com as quais me pus a trabalhar. Imediatamente senti desaparecer todo o cansaço e desalento; as tesouras pareciam cortar sem que fosse necessário maior esforço da minha parte, e talhava vestes e mais vestes com relativa facilidade. T2 12 1 Com o ânimo recebido desse sonho, decidi acompanhar meu marido e o irmão Andrews até os condados de Gratiot, Saginaw e Tuscola, confiando no Senhor a fim de que me desse forças para o trabalho. Assim, no dia 7 de Fevereiro deixamos nossa casa e andamos quase 90 quilômetros até Alma, nosso destino. Lá trabalhei normalmente, com um confortável grau de liberdade e energia. Os amigos do condado de Gratiot mostravam-se interessados em ouvir-me, mas muitos deles estavam muito atrasados na questão da reforma de saúde e na obra geral de preparação. Parecia haver entre as pessoas falta de ordem e eficiência necessárias à prosperidade da obra e ao espírito da mensagem. O irmão Andrews, entretanto, visitou-os três semanas mais tarde e desfrutou uma boa estada com eles. Nunca desprezarei o fato de que o encorajamento proporcionado por um testemunho específico escrito para uma família, tenha sido recebido com proveito pelas pessoas a quem foi dirigido. Ainda sentimos um profundo interesse por essa família e desejamos ardentemente que seus membros possam desfrutar prosperidade no Senhor; e embora sintamos algum desânimo com relação à causa no condado de Gratiot, estamos ansiosos por ajudar os irmãos quando eles o desejarem. T2 12 2 No encontro em Alma estiveram presentes irmãos de Saint Charles e Tittabawassee, do condado de Saginaw, que nos solicitaram visitá-los. Não havíamos planejado ir até lá na ocasião, mas visitar o condado de Tuscola se o caminho fosse aberto. Não obtendo resposta de Tuscola, decidimos visitar Tittabawassee, e nesse meio tempo escrever ao condado de Tuscola, e perguntar se éramos necessários lá. Em Tittabawassee fomos agradavelmente surpreendidos em encontrar uma grande igreja, recentemente construída por nosso povo, repleta de observadores do sábado. Tivemos a impressão de que os irmãos estavam prontos para ouvir nosso testemunho e sentimo-nos em grande liberdade. Uma grande e boa obra havia sido feita nesse lugar mediante o fiel trabalho do irmão A. Dura oposição e perseguição se seguiram, mas isso parecia dissipar-se naqueles que vinham para ouvir, e nosso trabalho parece ter causado boa impressão sobre todos. Assisti a onze reuniões nesse lugar em uma semana, falando muitas vezes de uma a duas horas, e tomando parte em outras reuniões. Numa dessas ocasiões foi feito um esforço para induzir aqueles que observavam o sábado a avançarem e tomarem sua cruz. O dever diante da maioria deles era o batismo. Em minha última visão, contemplei lugares onde a verdade seria pregada e edificadas igrejas, às quais deveríamos visitar. Essa era uma das localidades. Experimentei um interesse muito particular por esse povo. Os casos de alguns na congregação foram-me mostrados, e senti por eles uma preocupação peculiar, da qual não podia livrar-me. Por cerca de três horas trabalhei por eles, apelando-lhes na maior parte do tempo com sentimentos de profunda solicitude. Todos tomaram sua cruz na ocasião, vieram à frente para as orações e quase todos falaram. No dia seguinte, quinze foram batizados. T2 13 1 Ninguém pode visitar essas pessoas sem ser impressionado com o valor dos fiéis esforços do irmão A nessa causa. Sua missão era penetrar os lugares onde a verdade ainda não havia sido proclamada. Espero que nosso povo cesse seus esforços para retirá-lo desse objetivo específico. Em espírito de humildade ele pode sair, apoiando-se no braço do Senhor e resgatando muitas pessoas dos poderes das trevas. Que a bênção de Deus possa estar com ele. T2 13 2 Como nossa série de reuniões nesse lugar estivesse prestes a encerrar-se, o irmão Spooner, de Tuscola, convidou-nos a visitar esse condado. Assumimos compromissos com ele que retornava na segunda-feira, e na quinta-feira, após o batismo, fomos para lá. Tivemos nossas reuniões em Vassar, no sábado e no domingo, no edifício da escola da união. Era um lugar adequado para se falar e colhemos bons frutos de nosso trabalho. Na tarde do primeiro dia, cerca de trinta pessoas afastadas e crianças que não haviam feito profissão de fé, vieram à frente. Essa foi uma reunião muito interessante e proveitosa. Alguns estavam se afastando da causa, pelos quais nos sentimos inclinados a trabalhar. Mas o tempo era curto e parecia-me que devíamos deixar a tarefa por concluir. Tínhamos, porém, compromissos marcados em Saint Charles e Alma, e para cumpri-los devíamos encerrar nossos trabalhos em Vassar, na segunda-feira. T2 14 1 Naquela noite o que me havia sido mostrado em visão acerca de certas pessoas do condado de Tuscola, foi revivido em um sonho, e eu estava muito impressionada por que meu trabalho por essas pessoas não havia ainda sido feito. Eu não via outra maneira senão prosseguir e cumprir nossos compromissos. Na terça-feira viajamos aproximadamente 52 quilômetros até Saint Charles, e ali pernoitamos na casa do irmão Griggs. Então escrevi quinze páginas de testemunho, e assisti a uma reunião. Na quarta-feira pela manhã decidimos retornar a Tuscola, caso o irmão Andrews pudesse atender ao compromisso em Alma. Ele concordou. Naquela manhã escrevi quinze páginas mais, assisti a uma reunião e falei durante uma hora. Viajamos cerca de 53 quilômetros com o casal Griggs, para encontrar o irmão Spooner, em Tuscola. Na quinta-feira pela manhã, fomos a Watrousville, a uma distância de 25 quilômetros. Escrevi dezesseis páginas e assisti a uma reunião vespertina, e dei um testemunho bem direto a alguém presente. Na manhã seguinte, redigi doze páginas antes do desjejum e voltei a Tuscola, escrevendo mais oito páginas. T2 14 2 No sábado, meu marido falou pela manhã. E eu, em seguida, falei por duas horas, antes da refeição. A reunião encerrou-se e eu tomei algum alimento. Mais tarde falei durante uma hora numa reunião social, dando testemunhos específicos para muitos dos presentes. Esses testemunhos eram geralmente recebidos com sentimentos de humildade e gratidão. Não posso, contudo, afirmar que todos eram aceitos da mesma maneira. T2 14 3 Na manhã seguinte, enquanto estávamos prestes a deixar a casa de culto para enfrentarmos os árduos deveres do dia, uma irmã a quem eu dera um testemunho de que lhe faltava discrição, prudência e controle das palavras e ações, entrou com seu marido e manifestou sentimentos irreconciliáveis e de grande agitação. Ela começou a falar e a chorar. Murmurou um pouco e confessou um pouco, e se justificou consideravelmente. Tinha idéias errôneas acerca de muitas coisas que eu lhe havia dito. Seu orgulho foi tocado por eu ter trazido suas faltas de maneira tão pública. Aí jazia a principal dificuldade. Mas por que ela se sentiu desse jeito? Os irmãos e irmãs sabiam que as coisas eram assim, portanto, eu não lhes dissera nada novo. Eu não tinha dúvidas de que isso era novo para a própria irmã. Ela não conhecia a si mesma, e não poderia julgar corretamente as próprias palavras e atos. Quase todos estão sujeitos a isso, daí a necessidade de reprovações fiéis na igreja, e do cultivo, por todos os membros, do amor pelo claro testemunho. T2 15 1 O marido pareceu irritado com a exposição das faltas da esposa perante a igreja, e declarou que se a irmã White seguisse as orientações de nosso Senhor em Mateus 18:15-17, ele não teria se sentido magoado: "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." T2 15 2 Meu marido então declarou que ele deveria compreender que essas palavras de nosso Senhor faziam referência a casos de delitos pessoais, e não poderiam ser aplicadas no caso dessa irmã. Ela não ofendera a irmã White. O que havia sido censurado publicamente eram os erros públicos que ameaçavam a prosperidade da igreja e da causa. "Eis", disse meu marido, "um texto aplicável ao caso (1 Timóteo 5:20): 'Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.'" T2 16 1 O irmão reconheceu seu erro, como um cristão, e pareceu compreender o problema. Era evidente que, desde a reunião da tarde de sábado, o casal havia entendido muita coisa equivocada e aumentada acerca do assunto. Propôs-se, portanto, que o testemunho escrito fosse lido. Quando isso foi feito, a irmã repreendida perguntou: "É isso o que você declarou ontem?" Respondi-lhe que sim. Ela pareceu surpresa e conformou-se totalmente com o testemunho redigido. Entreguei-o a ela, sem reservar uma cópia. Nisso cometi um erro. Mas eu tinha tão terna consideração por ela e seu marido, e ardentes desejos e esperanças por sua prosperidade que, nesse caso, quebrei um costume estabelecido. T2 16 2 A reunião terminara e precisávamos apressar-nos e andar uns dois quilômetros e meio até a congregação que nos esperava. O leitor pode julgar se realmente o evento daquela manhã fora de molde a nos auxiliar na harmonia de pensamentos e resistência necessários para estar diante do povo. Mas quem pensa nisso? Alguns talvez, revelando um pouco de compaixão, enquanto que os impulsivos e descuidosos virão com seus fardos e aflições, justamente quando estivermos para falar, ou quando totalmente exaustos após as palestras. Meu marido, no entanto, reuniu todas as suas energias, e a pedido, falou com liberdade sobre a lei e o evangelho. Eu recebera um convite para falar à tarde em uma nova casa de culto, recentemente construída e dedicada pelos metodistas. Esse confortável edifício estava repleto e muitos foram obrigados a ficar em pé. Falei sem qualquer problema durante uma hora e meia, sobre o primeiro dos dois grandes mandamentos repetidos por nosso Senhor, e fiquei surpresa em saber que esse foi o mesmo tema abordado pelo pastor metodista pela manhã. Ele e seu povo estavam presentes para ouvir o que eu tinha a dizer. T2 16 3 Ao entardecer tivemos uma proveitosa entrevista na casa do irmão Spooner, com os irmãos Miller, Hatch e Haskell, e as irmãs Sturges, Bliss, Harrison e Malin. Lamentamos que nosso trabalho, no presente, tivesse terminado no condado de Tuscola. Estávamos muito interessados nessas queridas pessoas, embora temerosos de que a irmã a quem eu dera um testemunho permitisse a Satanás obter vantagem sobre ela e lhes causasse problemas. Senti um sincero desejo de que ela pudesse ver o assunto em sua verdadeira luz. O caminho por ela seguido estava destruindo sua influência na igreja e fora dela. Mas, se ela recebesse a reprovação e humildemente buscasse melhorar, a igreja deveria tomá-la novamente em seu coração e cuidar de sua vida espiritual. Melhor ainda, ela poderia desfrutar os sorrisos de aprovação de seu querido Salvador. Minha ansiosa pergunta era: Receberia essa irmã plenamente o testemunho? Temi que não o fizesse, e que o coração dos irmãos naquele lugar ficasse entristecido por isso. T2 17 1 Após retornarmos para casa, pedi-lhe uma cópia do testemunho, e no dia 15 de Abril recebi uma carta, datada de 11 de Abril de 1868, enviada da Dinamarca: "Irmã White, tenho em mãos sua mensagem do dia 23 último. Desculpe-me, mas não posso atender seu pedido." T2 17 2 Eu ainda continuarei nutrindo ternos sentimentos para com essa família e ficarei feliz em ajudá-la no que puder. É verdade que tal tipo de tratamento por parte daqueles por quem dou a minha vida, lança uma sombra de tristeza sobre mim; mas minha conduta me tem sido claramente definida, e não posso permitir que tais coisas me desviem do caminho do dever. Quando voltei da agência do correio com a carta, fiquei um tanto deprimida. Tomei a Bíblia e abri-a, orando para que pudesse achar conforto e apoio em suas palavras, e meus olhos pousaram diretamente sobre as palavras do profeta: "Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto Eu te mandar; não desanimes diante deles, porque Eu farei com que não temas na sua presença. Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, e contra os reis de Judá, e contra os seus príncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque Eu sou contigo, diz o Senhor, para te livrar." Jeremias 1:17-19. T2 18 1 Voltamos para casa depois dessa viagem, antes de uma chuva torrencial que levou embora a neve. Esse temporal impediu a reunião do sábado seguinte, e imediatamente pus-me a preparar matéria para o Testemunho número 14. Também tivemos o privilégio de cuidar de nosso querido irmão King, a quem trouxemos para nossa casa com um terrível ferimento na cabeça e no rosto. Nós o levamos para casa para morrer, pois não poderíamos imaginar ser possível a alguém com tais contusões cranianas recuperar-se. Mas, com a bênção de Deus no uso cuidadoso de água, uma dieta restrita até que o perigo de febre fosse superado, e cômodos bem ventilados, dia e noite, em três semanas ele foi capaz de voltar para sua casa e atender aos interesses de sua fazenda. Ele não tomou nenhuma gota de remédio, desde o começo até o fim. Embora estivesse consideravelmente limitado em razão da perda de sangue por causa dos ferimentos e da dieta reduzida, todavia, quando pôde ingerir maior volume de alimento, recuperou-se rapidamente. T2 18 2 Por esse tempo começamos a trabalhar por nossos irmãos e amigos num local próximo a Greenville. Como sucede em muitos lugares, nossos irmãos necessitavam de ajuda. Havia alguns que guardavam o sábado, mas não pertenciam à igreja, e outros que haviam desistido do sábado e necessitavam de ajuda. Sentimo-nos dispostos a ajudar essas pobres pessoas, mas a experiência passada e a presente posição dos líderes da igreja em relação a elas, tornaram quase impossível para nós uma aproximação. Lidando com os que erram, alguns de nossos irmãos têm sido muito rígidos e severos nas repreensões. E quando alguns não aceitam seus conselhos e se separam deles, dizem: "Bem, se eles querem ir, que vão." Enquanto tal falta de compaixão, longanimidade e ternura de Jesus for manifestada por Seus professos seguidores, essas pobres, erradias e inexperientes pessoas, fustigadas por Satanás, certamente naufragarão na fé. Por mais que sejam grandes os pecados e erros dos faltosos, nossos irmãos precisam aprender a manifestar não apenas a ternura do Grande Pastor, mas também Seu imperecível cuidado e amor pelas pobres e extraviadas ovelhas. Nossos pastores labutam e fazem sermões, semana após semana, e se alegram por umas poucas pessoas que abraçam a verdade; mas alguns irmãos descuidados podem, em cinco minutos, destruir esse trabalho por acariciarem sentimentos manifestos em palavras como: "Bem, se eles querem nos deixar, que nos deixem." T2 19 1 Percebemos que nada poderíamos fazer pelas desviadas ovelhas próximas a nós, até que corrigíssemos primeiramente os erros de muitos membros da igreja. Eles tinham deixado essas pobres pessoas a vaguear. Não sentiam nenhuma preocupação por elas. De fato, pareciam fechar-se em si mesmos e estavam perecendo espiritualmente por falta de exercício espiritual. Amavam a causa e estavam prontos a apoiá-la. Tinham todo o cuidado com os servos de Deus. Havia, porém, decidida falta de cuidado pelas viúvas, órfãos e os fracos do rebanho. Além de algum interesse na causa em geral, havia evidentemente pouco interesse por alguém, excetuando-se as próprias famílias. Com religião assim tão restrita, estavam morrendo espiritualmente. T2 19 2 Havia alguns que guardavam o sábado, assistiam às reuniões e praticavam a doação sistemática, mas estavam fora da igreja. É verdade que eles não se achavam aptos a pertencer a uma igreja. Mas, enquanto os líderes da igreja permaneciam como alguns naquela igreja, dando-lhes pouco ou nenhuma animação, era-lhes quase impossível erguer-se na força de Deus e melhorar. Quando começamos o trabalho com a igreja e a ensinar-lhes que precisavam ser possuídos de um espírito de serviço pelos que erram, muito do que eu havia visto referente à causa naquele lugar abriu-se perante mim, e escrevi testemunhos diretos não apenas para aqueles que haviam se desviado e estavam fora da igreja, mas também para os membros da igreja que grandemente erraram por não terem ido em busca da ovelha perdida. Eu não mais me desapontava pela maneira como esses testemunhos eram recebidos. Quando os que se achavam grandemente em falta eram reprovados por testemunhos mais diretos, lidos publicamente, eles os recebiam e confessavam seus erros com lágrimas. Alguns na igreja que se diziam amigos íntimos da causa e dos testemunhos, cogitavam se era possível estarem eles tão errados quanto os testemunhos declaravam. Quando mencionado que eles eram egocêntricos, preocupados consigo mesmos e com suas famílias; que haviam falhado em cuidar dos outros, sido exclusivistas e deixado preciosas almas a perecer; que estavam em perigo de serem autoritários e justos aos próprios olhos, ficaram em grande agitação e aflição. T2 20 1 Mas essa experiência era justamente o que necessitavam para aprender a ser pacientes com os outros em semelhante situação. Há muitos que acham não ter nenhum problema com os testemunhos, e assim se sentem até que são provados. Acham estranho que alguém possa duvidar. Eles são severos com aqueles que externam dúvidas, e magoam e ferem para mostrar seu zelo pelos testemunhos, manifestando mais justiça própria do que humildade. Mas quando o Senhor os reprova por seus erros, descobrem que são tão fracos como a água. Então dificilmente suportam a prova. Esses fatos deviam ensinar-lhes humildade, humilhação própria, ternura e duradouro amor pelos que erram. T2 20 2 Parece-me que o Senhor está fazendo aos errantes, fracos e temerosos, e mesmo àqueles que apostataram da verdade, um chamado especial para voltarem totalmente ao aprisco. Na igreja, porém, são poucos os que sentem ser esse o seu caso. Pouquíssimos ainda permanecem onde podem ser úteis. Muitos outros continuam diretamente no caminho dessas pobres almas. Muitíssimos possuem um espírito exigente. Requerem que os outros se submetam a tais e tais regras antes de lhes estenderem a mão ajudadora. Assim os mantêm a distância. Eles não aprenderam que têm o especial dever de ir em busca dessas ovelhas perdidas. Não devem esperar que elas venham sozinhas. Leiam eles a comovente parábola da ovelha perdida: "E chegavam-se a Ele todos os publicanos e pecadores para O ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. E Ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:1-7. T2 21 1 Os fariseus murmuravam porque Jesus recebia publicanos e pecadores e comia com eles. Em sua justiça própria eles desprezavam esses pobres pecadores, que alegremente ouviam as palavras de Jesus. Para repreender esse espírito nos escribas e fariseus, e deixar uma lição impressiva para todos, o Senhor contou a parábola da ovelha perdida. Notemos, particularmente, os seguintes pontos: T2 21 2 As noventa e nove ovelhas foram deixadas, e iniciada diligente busca pela ovelha que se perdera. Todo o esforço foi feito em favor dessa infeliz ovelha. Assim poderiam os esforços da igreja serem dirigidos em favor dos membros que estão se desviando do rebanho de Cristo. Eles têm andado distantes, não esperando retornar antes que você vá em busca deles. T2 22 1 Quando o pastor achou a ovelha perdida, retornou para casa com alegria, e muito regozijo se seguiu. Isso ilustra o bendito e prazenteiro trabalho pelos que erram. A igreja que se empenha com êxito nessa obra, é uma igreja feliz. O homem ou a mulher cujo coração se comove de compaixão e amor pelos que erram, e que trabalham para trazê-los ao redil do grande Pastor, ocupam-se numa bendita obra. E oh! como enleva o pensamento de que, ao ser assim resgatada uma pessoa, há mais alegria no Céu do que por noventa e nove justos! Pessoas egoístas, exclusivistas, exigentes, que parecem temer ajudar aqueles que erram, como se ficassem contaminadas por assim fazer, não experimentam a alegria deste trabalho missionário; não sentem a bênção que enche todo o Céu de regozijo pelo resgate de quem se extraviou. Estão encerradas em suas estreitas opiniões e sentimentos, e tornam-se áridas e infrutíferas como os montes de Gilboa, sobre os quais não caía orvalho nem chuva. Impeça-se um homem forte de trabalhar, e ele se tornará fraco. A igreja ou pessoa que se exime de levar as cargas dos outros, que se encerra em si mesma, há de sofrer em breve enfraquecimento espiritual. É o trabalho que conserva o homem vigoroso. Trabalho espiritual, labutas e levar as cargas uns dos outros, eis o que há de dar vigor à igreja de Cristo. T2 22 2 No sábado e no domingo, 18 e 19 de Abril, passamos momentos agradáveis com nosso povo em Greenville. Os irmãos A e B estiveram conosco. Meu marido batizou oito pessoas. Nos dias 25 e 26, estivemos na igreja de Wright. Essas queridas pessoas estavam sempre prontas a receber-nos. Ali meu marido batizou mais oito pessoas. T2 22 3 No dia 2 de maio, encontramos uma grande congregação na casa de culto de Monterey. Meu marido falou com clareza e energia sobre a parábola da ovelha perdida. A palavra foi uma grande bênção ao povo. Alguns haviam se desviado e estavam fora da igreja, e não se fazia nenhum esforço para auxiliá-los. De fato, a inflexível, insensível e severa posição de alguns na igreja, era para evitar seu retorno, estivessem eles dispostos a assim fazer. O assunto tocou o coração de todos e manifestaram o desejo de agir corretamente. No primeiro dia, em Allegan, falamos por três vezes a significativas congregações. Tínhamos compromisso com a igreja de Battle Creek, no dia 9. Notamos, porém, que nossa obra em Monterey havia apenas começado, e assim decidimos retornar para lá e trabalhar com aquela igreja por mais uma semana. O trabalho progrediu, superando nossas expectativas. A igreja estava repleta e nunca antes testemunhamos trabalho tal em Monterey, num curto espaço de tempo. No primeiro dia, quinze pessoas vieram à frente para as orações. Os irmãos sentiam profundamente pelas ovelhas perdidas e confessavam sua frieza e indiferença, e assumiram uma posição. Os irmãos G. T. Lay e S. Rummery deram bons testemunhos e foram recebidos com alegria por seus irmãos. Catorze pessoas foram batizadas, entre elas, um homem de meia-idade, que antes fora opositor da verdade. A obra avançou com solenidade, confissões e muito pranto, comovendo a todos. Assim se encerraram os trabalhos de conferências daquele ano. Percebemos ainda que a boa obra em Monterey de modo algum estava terminada. Fizemos arranjos para retornar e despender várias semanas no condado de Allegan. T2 23 1 As conferências passadas haviam sido de profundo interesse. Os trabalhos de meu marido têm sido intensos durante suas numerosas reuniões, e ele precisa descansar. Nossos trabalhos no ano passado foram vistos favoravelmente por nosso povo e nas reuniões nos foram manifestados simpatia, carinho e bondade. Tivemos com eles grande liberdade e partimos desfrutando confiança e amor mútuos. ------------------------Capítulo 2 -- Trabalhando por Cristo T2 24 1 Pelo que me tem sido mostrado, os observadores do sábado estão-se tornando mais egoístas, ao se tornarem mais ricos. Seu amor por Cristo e Seu povo está decrescendo. Não vêem as privações dos necessitados, nem lhes sentem as dores e tristezas. Não compreendem que, ao esquecer-se dos pobres e sofredores, negligenciam a Cristo e, ao aliviar-lhes tanto quanto possível as necessidades e sofrimentos, servem a Jesus. T2 24 2 Cristo diz a Seu povo redimido: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me. T2 24 3 "Então, os justos Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome e Te demos de comer? Ou com sede e Te demos de beber? E, quando Te vimos estrangeiro e Te hospedamos? Ou nu e Te vestimos? E, quando Te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-Te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:34-40. T2 24 4 Tornar-se um batalhador, prosseguir pacientemente na prática do bem que requer esforço abnegado, é uma tarefa gloriosa, sobre a qual o Céu dispensa o seu sorriso. O trabalho fiel é mais aceitável a Deus do que o mais zeloso culto revestido da mais pretensa santidade. O verdadeiro culto é o trabalho junto com Cristo. Orações, exortação e palestras são frutos baratos, freqüentemente entrelaçados; mas os frutos que se manifestam em boas obras, no cuidado dos necessitados, dos órfãos e das viúvas, são frutos genuínos, e produzem-se naturalmente na boa árvore. T2 25 1 "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. Boas obras são os frutos que Cristo requer que produzamos: palavras amáveis, atos de bondade, de terna consideração para com os pobres, os necessitados, os aflitos. Quando as pessoas simpatizam com os oprimidos por desânimo e angústia, quando a mão dispensa aos necessitados, são vestidos os nus, bem-vindos os estrangeiros a um assento em sua sala e um lugar em seu coração, os anjos chegam muito perto, e acordes correspondentes ecoam no Céu. Cada ato de justiça, misericórdia e bondade produz melodia no Céu. O Pai contempla do Seu trono os que praticam esses atos de misericórdia, conta-os como o Seu mais precioso tesouro. "E eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro." Malaquias 3:17. Cada ato de misericórdia feito aos necessitados, aos sofredores, é referido como feito a Jesus. T2 25 2 "Então, dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; sendo estrangeiro, não Me recolhestes; estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes. Então, eles também Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não Te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna." Mateus 25:41-46. T2 25 3 Jesus aqui Se identifica com Seu povo sofredor. Fui Eu que tive fome e sede. Fui Eu o estrangeiro. Fui Eu que estive nu. Fui Eu que estive doente. Fui Eu que estive na prisão. Ao saborearem o alimento de sua tão farta mesa, Eu passava fome na choça ou na rua não distante de vocês. Ao fecharem contra Mim sua porta, ao passo que seus bem mobiliados aposentos estavam desocupados, Eu não tinha onde reclinar a cabeça. Seu guarda-roupa estava cheio de grande suprimento de peças de vestuário, com as quais desnecessariamente se dissiparam recursos, que poderiam ter dado aos necessitados. Eu estava destituído de roupa confortável. Quando vocês desfrutavam saúde, Eu estava doente. O infortúnio atirou-Me na prisão e ligou-Me com grilhões, abatendo-Me o espírito, privando-Me de liberdade e esperança, enquanto vocês vagueavam livres. Que união Jesus aqui expressa como existente entre Ele e Seus sofredores discípulos! Torna seu caso o dEle próprio. Identifica-Se como sendo em pessoa o próprio sofredor. Notem, cristãos egoístas, toda negligência aos pobres e órfãos necessitados, é negligência a Jesus na pessoa deles. T2 26 1 Estou familiarizada com pessoas que fazem elevada profissão de fé, cujo coração está tão encerrado no amor-próprio e no egoísmo, que não podem apreciar o que escrevo. Pensam apenas na própria vida e vivem só para si mesmas. Sacrificar-se para fazer bem aos outros, prejudicar-se para beneficiar outros, para elas está fora de cogitação. Não têm a mínima idéia de que Deus requer isso delas. O "eu" é seu ídolo. Preciosas semanas, meses e anos passam para a eternidade, mas não têm no Céu nenhum registro de atos bondosos, de sacrificarem-se pelo bem de outros, de alimentarem o faminto, vestirem o nu ou acolherem o estrangeiro. Se soubessem serem dignos todos quantos procuram partilhar Sua liberalidade, então talvez fossem induzidos a fazer alguma coisa nesse sentido. Mas há virtude em aventurar alguma coisa. Talvez hospedemos anjos. T2 27 1 Há órfãos de quem se deve cuidar; mas alguns não querem aventurar-se a empreender isso, pois lhes traria mais trabalho do que o que desejam fazer, não lhes deixando senão pouco tempo para agradar a si mesmos. Mas quando o Rei estabelecer o juízo, esses que nada fazem, mesquinhos, egoístas aprenderão que o Céu é para os que trabalharam, os que se negaram por amor de Cristo. Providência alguma foi tomada para os que tiveram cuidado especial em amar a si mesmos e sustentar-se. O terrível castigo com que o Rei ameaça os que estão à Sua esquerda, nesse caso, não é por causa de seus grandes crimes. Não são condenados pelas coisas que fizeram, mas pelo que não efetuaram. Vocês não fizeram aquilo que o Céu lhes designou que realizassem. Cuidaram de vocês mesmos, e podem ter sua parte com os que a si próprios se comprazem. T2 27 2 A minhas irmãs, direi: Sejam filhas da benevolência. "O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido." Lucas 19:10. Vocês podem ter pensado que se achassem uma criança sem defeito, tomá-la-iam e dela cuidariam; mas o perturbar o espírito com uma criança extraviada, fazê-la desaprender muitas coisas e aprender outras, ensinar-lhe o domínio próprio, é uma obra que se recusam a empreender. Ensinar os ignorantes, compadecer-se dos que sempre estiveram aprendendo o mal e reformá-los, não é tarefa leve; mas o Céu pôs a esses em seu caminho. São bênçãos disfarçadas. T2 27 3 Anos atrás, foi-me mostrado que o povo de Deus havia de ser provado na questão de estabelecer lares para os desabrigados; que haveria muitos destituídos de lar, em conseqüência de crerem na verdade. Pela oposição e perseguições, crentes ficariam sem abrigo, e seria dever dos que têm lar abrir completamente a porta aos que não o têm. Mais recentemente me foi mostrado que Deus haveria de provar Seu povo professo com referência a essa questão. Cristo, por nossa causa Se tornou pobre para que nós, por Sua pobreza, enriquecêssemos. 2 Coríntios 8:9. Fez sacrifício para que pudesse prover um lar aos peregrinos e forasteiros que, neste mundo, buscavam uma pátria "melhor, isto é, a celestial". Hebreus 11:16. Devem os objetos de Sua graça, que esperam ser herdeiros da imortalidade, recusar-se a dividir seu lar com os desabrigados e necessitados, ou relutar em fazê-lo? Deveríamos nós, que somos discípulos de Jesus, recusar a estranhos a entrada em nossa porta porque os mesmos não se acham familiarizados com os seus habitantes? T2 28 1 Porventura não tem aplicação a este tempo a ordem do apóstolo: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos"? Hebreus 13:2. Estou diariamente sofrendo com demonstrações de egoísmo entre nosso povo. Há uma alarmante falta de amor e cuidado por aqueles que têm direito a isto. Nosso Pai celestial nos põe no caminho bênçãos disfarçadas, mas alguns há que não tocam nelas, temendo que os privem do prazer. Anjos estão observando para ver se aproveitamos as oportunidades ao nosso alcance para fazermos o bem; estão esperando para ver se abençoaremos a outros, para que eles por sua vez nos abençoem. O Senhor mesmo nos fez com sorte diversa -- alguns pobres, outros ricos, alguns afligidos -- para que todos possamos ter uma oportunidade de desenvolver o caráter. Aos pobres é propositadamente permitido por Deus que o sejam, a fim de que sejamos testados e provados e desenvolvamos o que está em nosso coração. T2 28 2 Tenho ouvido muitos se desculparem de convidar para seu lar e coração os santos de Deus. "Ora, não preparei nada -- nada cozinhei -- eles terão de ir a outro lugar." E ali pode haver outra desculpa, inventada para não acolher os que precisam de hospitalidade, e os sentimentos das visitas são profundamente ofendidos; e partem com impressões desagradáveis em relação ao acolhimento proporcionado por esses professos irmãos e irmãs. Irmã, se não tiver pão, imite o caso apresentado na Bíblia. Vá ter com seu vizinho e diga: "Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe." Lucas 15:5, 6. Não temos um exemplo de que tal falta de pão jamais se tornasse motivo para recusar entrada a um necessitado. Quando Elias chegou à viúva de Sarepta, ela dividiu seu bocado com o profeta de Deus, e Ele operou um milagre, fazendo com que naquele ato de proporcionar um lar ao Seu servo, e com ele partilhar o alimento, ela própria fosse sustentada, e conservada também a vida do filho. O mesmo se dará no caso de muitos, se fizerem isso alegremente, para glória de Deus. T2 29 1 Alguns alegam falta de saúde -- eles teriam prazer em fazer o bem, se tivessem forças. Esses por tanto tempo se concentraram em si mesmos, e em tão alta conta tiveram os seus sentimentos doentios, e tanto falaram de seus sofrimentos, provas e aflições, que isso se tornou como que sua verdade presente. Não são capazes de pensar em ninguém além de si mesmos, por muito que os outros tenham necessidade de simpatia e auxílio. Você que tem pouca saúde -- existe para você um remédio. Se cobrir os nus, recolher em casa os desterrados, e repartir o pão com os famintos, "então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará". Isaías 58:8. Fazer o bem é excelente remédio para a doença. Os que se empenham na obra são convidados a invocarem o Senhor, que prometeu responder-lhes. "Fartará a tua alma em lugares secos...; e serás como um jardim regado, cujas águas nunca faltam." Isaías 58:11. T2 29 2 Despertem, irmãos e irmãs. Não se esquivem a boas obras. "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." Gálatas 6:9. Não esperem que se lhes diga qual o seu dever. Abram os olhos e vejam quem está ao seu redor; familiarizem-se com os desajudados, afligidos e necessitados. Não se escondam deles e não fechem a porta a suas necessidades. Quem dará as provas mencionadas em Tiago, de possuir religião pura e incontaminada de egoísmo e corrupção? Tiago 1:27. Quem está ansioso de fazer tudo que estiver em seu poder para ajudar no grande plano da salvação? T2 30 1 Eu conheço uma viúva que tem dois filhos pequenos para sustentar através do uso de sua agulha. Sua fisionomia é pálida e ansiosa. Durante todo o implacável inverno tem lutado para sustentar-se e a seus filhos. Ela recebe uma pequena ajuda. Mas alguém passaria necessidade se um maior interesse fosse manifestado neste caso? Aqui estão seus dois filhos, de nove e onze anos de idade, precisando de um lar. Quem está disposto a prover-lhes um lar por amor a Cristo? A mãe deve ser aliviada deste cuidado e de estar restringida a sua agulha. Estes meninos estão em um povoado onde sua única protetora é a mãe, árdua trabalhadora. Eles precisam ser ensinados a trabalhar à medida que sua idade o permita. Precisam ser instruídos com paciência, bondade e amor. Alguns podem dizer: "Oh, sim, eu poderia ficar com eles e ensiná-los a trabalhar!" Estes, porém, não devem perder de vista outras coisas que essas crianças precisam além de serem ensinadas a trabalhar. Precisam ser orientadas quanto ao desenvolvimento de um bom caráter cristão. Elas desejam amor e afeição, precisam tornar-se aptas para serem úteis aqui, e finalmente preparadas para o Céu. Dispam-se do egoísmo, e observem se não existem muitas outras pessoas a quem vocês podem ajudar e abençoar com seu lar, simpatia, amor, e encaminhá-las ao "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Vocês desejam fazer algum sacrifício para salvar pessoas? Jesus, o querido Salvador, está preparando um lar para vocês; em troca por que não preparar um lar para aqueles que precisam, e assim fazendo, imitar o exemplo do Mestre? Se vocês não estão dispostos a fazer isto, quando sentirem necessidade de uma habitação nos Céus, nenhuma lhes será concedida. Pois Cristo declara: "Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim." Mateus 25:45. Vocês que têm sido egoístas, buscando sempre o bem-estar e benefício próprios, seu tempo de graça está rapidamente se escoando. O que estão vocês fazendo para libertar-se do egoísmo e da inutilidade? Despertem! Despertem! T2 31 1 Com respeito a seus interesses eternos, despertem e comecem a semear a boa semente. O que semearem, também colherão. A colheita está chegando -- o importante tempo da ceifa -- quando colheremos o que semeamos. Não haverá quebra de safra; a colheita é segura. Agora é o tempo de semeadura. Esforcem-se agora para serem ricos "em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; ... entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:18. Eu lhes imploro, meus irmãos de todas as partes, livrem-se de sua frieza glacial. Estimulem em si mesmos o amor à hospitalidade, um amorável desejo de ajudar àqueles que necessitam. T2 31 2 Vocês podem dizer que têm sido enganados e doado recursos para gente indigna dessa caridade, e ficado desanimados em tentar ajudar os necessitados. Apresento-lhes Jesus. Ele veio para salvar o homem caído, trazer salvação à Sua nação, mas eles não O aceitaram. Trataram Sua misericórdia com insultos e desprezo, e por fim mataram Aquele que veio para lhes dar vida. Abandonou o Senhor a raça decaída por causa disso? Embora os esforços de vocês pelo bem tenham sido malsucedidos por noventa e nove vezes, e vocês tenham somente recebido insultos, ódio e censuras; e se apenas na centésima vez houver sucesso e uma só pessoa se salvar, oh, que vitória foi alcançada! Uma pessoa arrancada das garras de Satanás, uma pessoa beneficiada, uma pessoa encorajada. Mil vezes serão vocês recompensados por todos esses esforços. Jesus lhes dirá: "Sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. Não deveríamos nós alegremente fazer tudo o que pudermos para imitar a vida de nosso divino Senhor? Muitos se retraem ante a idéia de fazer algum sacrifício pelo bem dos outros. Não estão dispostos a sofrer prestando ajuda aos outros. Lisonjeiam-se de que não lhes é requerido que se prejudiquem em benefício dos semelhantes. A esses dizemos: Jesus é nosso exemplo. T2 32 1 Quando o pedido foi feito para que os dois filhos de Zebedeu se assentassem um à direita e outro à esquerda em Seu reino, Jesus respondeu: "Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que Eu hei de beber e ser batizados com o batismo com que Eu sou batizado? Dizem-Lhe eles: Podemos. E diz-lhes Ele: Na verdade bebereis o Meu cálice, mas o assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda não Me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem Meu Pai o tem preparado." Mateus 20:22, 23. Quantos poderiam responder: "Nós podemos beber o cálice, receber o batismo", fazendo-o isso conscientemente? Quantos imitam o grande Exemplo? Todos os que professam ser seguidores de Cristo, ao darem esse passo, comprometem-se a andar como Ele andou. Todavia, a conduta de muitos que fazem alta profissão da verdade mostra que eles fazem muito pouco em conformar a vida com o Modelo. Moldam a própria vida de acordo com seus imperfeitos padrões. Não imitam a abnegação de Cristo ou Sua vida de sacrifício pelo bem dos outros. T2 32 2 Os pobres, os destituídos de lar e as viúvas estão entre nós. Ouvi um rico fazendeiro descrever a situação de uma pobre viúva dentre eles. Ele lamentava sua difícil situação, nestes termos: "Não sei como irá se arrumar neste inverno. Ela está numa situação apertada agora." Tais pessoas esqueceram o Modelo, e por seus atos, dizem: "Não, Senhor, não podemos beber do copo de abnegação, humilhação e sacrifício de que bebeste, nem ser batizados com os sofrimentos com que foste batizado. Não podemos viver para fazer o bem aos outros. Nosso negócio é ter cuidado de nós mesmos." Quem deve saber como as viúvas irão se manter senão aqueles que têm bem cheios os celeiros? Os recursos para que elas se mantenham estão à mão. Como ousarão aqueles a quem Deus fez Seus mordomos e a quem confiou recursos, retê-los dos necessitados discípulos de Cristo? Ao assim fazerem, retêm-nos de Cristo. Vocês esperam que o Senhor faça chover grãos do Céu para suprir os necessitados? Não os colocou Ele antes em suas mãos, a fim de ajudá-los e abençoá-los por seu intermédio? Não fez Ele de vocês Seus instrumentos nesta boa obra para prová-los e dar-lhes o privilégio de acumular um tesouro no Céu? T2 33 1 Crianças sem pai e sem mãe são postos nos braços da igreja, e Cristo diz a Seus seguidores: Tomem estas desamparadas crianças, cuidem delas para Mim, e receberão para isto o seu salário. Tenho visto muito egoísmo manifestado nestas coisas. A menos que haja alguma evidência especial de que eles próprios serão beneficiados pela adoção em sua família dos que necessitam de lares, alguns se esquivam, e respondem: Não. Não parecem saber ou preocupar-se com o fato de os tais estarem salvos ou perdidos. Isto, pensam, não lhes diz respeito. Como Caim, perguntam: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Não estão dispostos a se darem ao incômodo ou ao sacrifício pelos órfãos, e indiferentemente os entregam aos braços do mundo, que, às vezes, está mais disposto a recebê-los do que esses professos cristãos. No dia de Deus se pedirá contas por estes a quem o Céu lhes deu a oportunidade de salvar. Mas desejavam ser desobrigados, e não se empenhariam na boa obra a menos que daí resultasse proveito próprio. Tem-se-me mostrado que os que recusam essas oportunidades de fazer o bem, ouvirão de Jesus: "Quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim." Mateus 25:45. Por favor, leiam o texto seguinte: T2 33 2 "Seria este o jejum que Eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco grosseiro e cinza? Chamarias tu a isso jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-Me aqui; acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo e o falar vaidade; e, se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:5-11. T2 34 1 Essa é a obra especial que está agora diante de nós. Toda nossa oração e abstinência de alimentos de nada valerão a menos que resolutamente lancemos mão dessa obra. Sobre nós repousam sagradas obrigações. Nosso dever é claramente exposto. O Senhor nos falou por meio do Seu profeta. Os pensamentos do Senhor e os Seus caminhos não são os que mortais cegos e egoístas crêem que são ou desejam que sejam. "O Senhor olha para o coração." 1 Samuel 16:7. Se aí habita o egoísmo, Ele o sabe. Podemos procurar esconder de nossos irmãos e irmãs nosso verdadeiro caráter, mas Deus o conhece. DEle nada se pode esconder. T2 34 2 O jejum que Deus aceita é descrito. "Que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados." Isaías 58:7. Não esperem que eles venham a vocês. Não repousa sobre eles o trabalho de procurá-los e induzi-los a conceder-lhes um lar. Vocês devem buscá-los e levá-los a sua casa. Devem abrir-lhes seu coração. Com uma das mãos devem pela fé alcançar o braço poderoso que traz salvação, enquanto com a outra, a mão do amor, devem alcançar o oprimido e aliviá-lo. É-lhes impossível estar seguros ao braço de Deus com uma das mãos, enquanto com a outra servem aos próprios prazeres. T2 35 1 Se vocês se empenharem nessa obra de misericórdia e amor, ela lhes parecerá demasiado difícil? Vocês falharão e serão esmagados sob o fardo, e sua família ficará desprovida de sua assistência e influência? Oh, não! Deus cuidadosamente removeu todas as dúvidas a este respeito, comprometendo-Se com vocês mediante a condição de sua obediência. Esta promessa cobre tudo que o mais exigente, o mais hesitante, poderia requerer: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará." Isaías 58:8. Tão-somente creiam que "fiel é o que prometeu". Hebreus 10:23. Deus pode renovar a força física. E mais, aquilo que Ele diz, Ele o fará. E a promessa não termina aqui. "A tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isaías 58:8. Deus construirá uma fortaleza em torno de vocês. Mas nem ainda aqui termina a promessa. "Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-Me aqui." Isaías 58:9. "Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar vaidade; e se abrires a tua alma ao faminto", "então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos [fome], e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam". Isaías 58:10, 11. T2 35 2 Leiam Isaías 58, vocês que dizem ser filhos da luz. Leiam de novo, especialmente vocês que se sentem tão relutantes em se darem ao trabalho de favorecer os necessitados. Vocês, cujo coração e casa são demasiado estreitos para prover um lar aos que o não têm, leiam-no; os que podem ver os órfãos e as viúvas oprimidos pela mão de ferro da pobreza e humilhados pela dureza de coração dos mundanos, leiam-no. Estão temerosos de que se introduza em sua família uma influência que lhes custe mais trabalho? Leiam-no. Seus temores podem ser infundados, e uma bênção pode alcançá-los cada dia, conhecida e experimentada. Mas, se por outro lado, trabalho extra é exigido, lancem-no sobre Aquele que prometeu: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará." Isaías 58:8. A razão por que o povo de Deus não é mentalmente mais espiritual, e não tem mais fé, é porque, foi-me mostrado, está limitado pelo egoísmo. O profeta está-se dirigindo aos guardadores do sábado, e não aos pecadores, não aos incrédulos, mas aos que fazem grande profissão de piedade. Não é a abundância de suas reuniões que Deus aceita. Não as numerosas orações, mas a prática do bem, o fazer as coisas certas no tempo certo. É o ser menos egoísta e mais benevolente. Nosso coração precisa expandir-se. Então Deus fará que seja "como um jardim regado... cujas águas nunca faltam". Isaías 58:11. T2 36 1 Leiam Isaías 1:15-20: "Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos e cessai de fazer mal. Aprendei a fazer o bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. Vinde, então, e argüi-Me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do Senhor o disse." T2 36 2 O ouro mencionado por Cristo, a Testemunha Fiel e Verdadeira, o qual todos devem possuir, foi-me mostrado ser a fé e o amor combinados; e o amor têm precedência sobre a fé. Satanás está constantemente operando para remover esses preciosos dons do coração do povo de Deus. Todos estão jogando a partida da vida. Satanás está bem ciente de que se ele puder excluir o amor e a fé, e preencher seu lugar com egoísmo e incredulidade, todos os valiosos traços remanescentes serão logo habilmente retirados e o jogo da vida estará perdido. T2 37 1 Meus queridos irmãos, permitirão vocês que Satanás consiga alcançar seu objetivo? Arriscar-se-ão a perder a partida da vida em que estão empenhados para obter a vida eterna? Se Deus tem falado por mim, vocês certamente serão vencidos por Satanás em lugar de serem vencedores, assim como o trono de Deus permanece firme, a menos que sejam inteiramente transformados. Amor e fé devem ser reconquistados. Será que vocês se empenharão novamente nesse conflito e recuperarão os preciosos dons dos quais estão quase desprovidos? Vocês têm de fazer esforços mais diligentes, mais perseverantes e incansáveis, do que antes. Isso não é meramente orar e jejuar, mas ser obedientes, despojar-se do egoísmo e observar o jejum que Deus escolheu, o qual Ele aceitará. Muitos têm se ofendido porque tenho falado francamente, mas isso tenho de continuar a fazer, se Deus pôs essa responsabilidade sobre mim. T2 37 2 Deus requer que aqueles que ocupam posições de responsabilidade sejam consagrados ao trabalho; pois se eles agem erradamente, o povo se sente na liberdade de seguir suas pegadas. Se o povo estiver em falta e os líderes não erguerem sua voz contra isso, sancionam o erro e o pecado lhes é atribuído assim como aos ofensores. Os que ocupam cargos de responsabilidade devem ser homens piedosos e que continuamente sentem o peso do trabalho sobre si. ------------------------Capítulo 3 -- Vendendo os direitos de primogenitura T2 37 3 Querido irmão D: T2 37 4 Fui designada a escrever-lhe há algum tempo, mas nossas ocupações têm sido tão constantes e cansativas que não tenho tido tempo nem forças para isso. Em minha última visão, seu caso me foi apresentado. Você estava em situação crítica. Conhecia a verdade, compreendia o dever e havia usufruído a luz da verdade; mas, porque ela interferia em suas atividades seculares você estava prestes a sacrificar a verdade e o dever em favor da própria conveniência. Visava a vantagens pecuniárias, perdendo de vista o eterno peso de glória, e pronto a fazer um imenso sacrifício pela promissora perspectiva de ganho. Você estava a ponto de vender seus direitos de primogenitura por um prato de lentilhas. Houvesse você trocado a verdade pelo lucro terreno, não seria esse um pecado de ignorância, mas uma transgressão intencional. T2 38 1 Esaú, seduzido por um prato favorito, sacrificou sua primogenitura para satisfazer o apetite. Satisfeito seu caprichoso apetite, viu a loucura que cometera, mas não achou lugar para arrependimento, embora o tivesse buscado com diligência e com lágrimas. Muitíssimos há que são como Esaú. Ele representa uma classe que tem uma bênção especial, valiosa ao seu alcance -- a herança imortal, a vida que dura tanto quanto a vida de Deus, o Criador do Universo, felicidade imensurável e um eterno peso de glória -- mas que tem de tal maneira mostrado complacência para com o apetite, paixões e inclinações, que o seu poder de discernir e apreciar o valor das coisas eternas está enfraquecido. T2 38 2 Esaú teve um desejo forte, especial, por uma determinada espécie de alimento, e por tanto tempo estava habituado a satisfazer o eu que não sentiu qualquer necessidade de fugir do prato tentador e cobiçado. Sobre ele pensou, nenhum esforço especial fazendo para restringir o apetite, até que o poder do apetite sobrepôs-se a qualquer outra consideração, e controlou-o, imaginando ele que sofreria grande prejuízo, até mesmo a morte, se não conseguisse aquele determinado prato. Quanto mais nele pensava, mais seu desejo era fortalecido, até que sua primogenitura, que era coisa sagrada, perdeu para ele seu valor e santidade. Ele pensou: Se agora eu a vender, facilmente poderei tê-la de volta. Trocou-a, porém, pelo seu prato favorito, gabando-se de que poderia dela dispor à vontade e recuperá-la quando quisesse. Mas, quando desejou reavê-la, mesmo com grande sacrifício de sua parte, não foi capaz. Então se arrependeu amargamente da imprudência, insensatez e loucura que cometera. Viu agora a questão dos dois lados. Buscou com lágrimas e arrependimento, mas em vão. Havia desprezado a bênção e o Senhor a removeu dele para sempre. Você pensou que se sacrificasse a verdade agora, e seguisse uma conduta de transgressão aberta e desobediência, não ultrapassaria todos os limites tornando-se imprudente, e se ficasse desapontado em suas expectativas e esperanças de lucro mundano, poderia novamente interessar-se na verdade e tornar-se um candidato à vida eterna. Mas ficou decepcionado a esse respeito. Houvesse você sacrificado a verdade por ganhos terrenos, seria à custa da vida eterna. T2 39 1 Na parábola da grande ceia, nosso Salvador mostrou que muitos escolherão o mundo e, como resultado, perderão o Céu. O gracioso convite de nosso Salvador foi desconsiderado. Ele despendera muito no preparo de um imenso sacrifício. Então enviou o convite; mas "todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei e, portanto, não posso ir." Lucas 14:18-20. O Senhor então deixou os amantes do mundo e das riquezas, cujas terras, bois e esposas eram de tão grande valor em sua estima que consideraram como vantagens mais importantes que poderiam obter, em relação ao generoso convite que lhes havia feito. O senhor da casa ficou irado e desviou-se daqueles que desprezaram seu bondoso oferecimento, e convidou uma classe que não estava tão ocupada, que não era proprietária de terras e casas, mas pobre e faminta, composta de aleijados, cegos e coxos, que apreciariam as generosidades oferecidas e, em troca, renderiam ao Mestre sincera gratidão, sinceros amor e devoção. T2 40 1 Ainda havia lugares. Foi dada a ordem: "Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles varões que foram convidados provará a minha ceia." Lucas 14:23, 24. Eis aí uma classe rejeitada por Deus por que desprezou o convite do Mestre. O Senhor declarou a Eli: "Porque aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão envilecidos." 1 Samuel 2:30. Disse Jesus: "Se alguém Me serve, siga-Me; e, onde Eu estiver, ali estará também o Meu servo. E, se alguém Me servir, Meu Pai o honrará." João 12:26. "De Deus não se zomba." Gálatas 6:7. Se aqueles que possuem luz a rejeitarem ou negligenciarem segui-la, ela se tornará em trevas para eles. T2 40 2 Um imenso sacrifício foi feito pelo querido Filho de Deus, para que pudesse resgatar o homem decaído e exaltá-lo à Sua mão direita, torná-lo herdeiro do mundo e possuidor de glória. Palavras são insuficientes para expressar o valor da herança imortal. A glória, a riqueza e a honra oferecidas pelo Filho de Deus são de infinito valor, e está além da capacidade humana ou mesmo dos anjos alcançar uma exata compreensão de sua dignidade, excelência e magnificência. Se os homens, mergulhados em pecado e degradação recusarem esses favores celestiais, negarem-se a uma vida de obediência, pisotearem os graciosos convites da graça e escolherem as mesquinhas coisas deste mundo, porque são visíveis e convenientes a sua alegria presente, e seguirem o caminho do pecado, Jesus tomará as providências registradas na parábola. Esses não provarão Sua glória, e o convite será estendido a outra classe. T2 41 1 Aqueles que escolhem desculpar-se e continuar em pecado e conformidade com o mundo, serão abandonados a seus ídolos. Virá o dia quando eles não pedirão para serem desculpados, quando ninguém desejará ser desculpado. Quando Cristo vier em Sua glória e na glória de Seu Pai, com todos os anjos em cortejo, escoltando-O e com vozes de triunfo, enquanto melodias encantadoras soarão aos ouvidos, todos então estarão interessados; não haverá nenhum espectador indiferente. Especulações não absorverão a mente. Os mesquinhos pilares de ouro, que haviam enfeitiçado seus olhos, não são mais atraentes. Os palácios que homens orgulhosos construíram e que foram seus ídolos foram abandonados com aversão e desgosto. Ninguém pleiteia por suas terras, bois, pela esposa recém-casada, como razão para ser desculpado de partilhar da glória que irrompe diante de sua atônita visão. Todos a desejam agora, mas sabem que não é para eles. T2 41 2 Em diligente e angustiante oração clamam para que Deus não os abandone. Os reis, os poderosos, os altivos, os orgulhosos, os homens comuns, semelhantemente se curvam sob a pressão do pesar, da desolação, da miséria inexprimível. Orações angustiosas escapam de seus lábios: misericórdia! misericórdia! Salvem-nos da ira de um Deus ofendido! Uma voz lhes responde com terrível distinção, austeridade e majestade: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o Meu conselho e não quisestes a Minha repreensão; também Eu Me rirei na vossa perdição e zombarei." Provérbios 1:24-26. T2 41 3 Nesse tempo reis e nobres, poderosos e pobres, e homens comuns, semelhantemente, clamarão amargamente. Aqueles que nos dias de sua prosperidade desprezaram a Cristo e Seus humildes seguidores, homens que não se curvaram a Cristo, que odiaram Sua desprezada cruz, estão agora prostrados no lamaçal. Sua grandeza os deixou de vez e eles não hesitam em prostrar-se por terra, aos pés dos santos. Então compreendem com terrível amargor que estiveram comendo o fruto que eles mesmos plantaram, e atenderam as próprias sutilezas. Em sua pretensa sabedoria, voltaram os olhos da eterna e sublime recompensa, rejeitaram os atrativos celestiais e os trocaram por lucros terrenos. O resplendor e o falso brilho terreno os fascinaram e em sua suposta inteligência tornaram-se tolos. Eles exultaram na prosperidade mundana, pensando que suas vantagens terrenas eram tão grandes que poderiam, através delas, recomendar-se a Deus e assegurar o Céu. T2 42 1 O dinheiro era o poder e o deus dos insensatos da Terra; mas sua prosperidade os destruiu. Tornaram-se tolos aos olhos de Deus e de Seus anjos, enquanto homens ambiciosos os julgavam sábios. Agora sua falsa sabedoria era loucura total, e a prosperidade sua destruição. Soam agora gritos de terror e angústia dilaceradora: "Caí sobre nós e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono e da ira do Cordeiro, porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:16, 17. Fogem para as cavernas a fim de proteger-se; mas sem sucesso. T2 42 2 Querido irmão, vida e morte estão diante de você. Sabe por que seus pés têm falseado? Por que não persevera com coragem e firmeza? Você tem a consciência violada. Sua carreira comercial não tem sido reta. Você tem algo a fazer aqui. Seu pai não considerou os princípios comerciais sob a luz correta. Você os vê em geral como algo terreno, mas Deus não os considera assim. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. Você tem feito isso? "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento." Lucas 10:27. Se esse mandamento for obedecido, prepara o coração para atender ao segundo, que é semelhante a esse: "Amarás o próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. Todos os mandamentos são resumidos nesses dois. O primeiro inclui todos os quatro mandamentos iniciais, que mostram o dever do homem para com seu Criador. O segundo compreende os últimos seis, que apresentam o dever do homem para com seu semelhante. Desses dois mandamentos dependem a lei e os profetas. Há dois braços imensos sustentando todos os dez mandamentos, os primeiros quatro e os últimos seis. Esses precisam ser estritamente obedecidos. T2 43 1 "Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos." Mateus 19:17. Muitos dos que professam ser discípulos de Cristo passam tranqüilamente por este mundo, tidos aparentemente como homens direitos e ilustres quando têm o íntimo manchado, contaminado o seu caráter e corrompida sua experiência religiosa. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:39) proíbe tirar proveito dos outros para benefício próprio. Estamos impedidos de prejudicar nosso semelhante em qualquer coisa. Não deveríamos olhar esse assunto do ponto de vista mundano. Tratar nosso próximo como gostaríamos que ele nos tratasse, é a regra que devemos aplicar praticamente a nós mesmos. As leis de Deus devem ser obedecidas ao pé da letra. Em todas as nossas relações e trato com as pessoas, sejam crentes ou não, essa regra deve ser aplicada: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. T2 43 2 Muitos dos que dizem ser cristãos não resistem à avaliação divina; quando pesados nas balanças do santuário, encontram-se em falta. Querido irmão: "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. Que promessa! Mas não devemos perder de vista o fato de que ela está baseada na obediência ao mandamento. Deus o chama para separar-se do mundo. Você não deve em sua conduta seguir as práticas do mundo, nem conformar-se com elas em aspecto algum. "Mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. T2 44 1 Deus pede separação do mundo. Obedecer-lhe-emos? Sairemos do meio deles, permanecendo separados, distintos? "Porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?" 2 Coríntios 6:14. Não podemos nos misturar com o mundo, participar de seu espírito, seguir seu exemplo, e ao mesmo tempo ser um filho de Deus. O Criador do Universo Se dirige a você como um Pai afetuoso. Se você se separar do mundo em suas afeições, e permanecer livre de sua contaminação, e guardando-se "da corrupção" que pela cobiça há no "mundo" (Tiago 1:27), Deus será seu Pai. Ele o adotará em Sua família, e você será Seu herdeiro. Em lugar do mundo, Ele lhe dará, por uma vida de obediência, o reino debaixo de todo o céu. Ele lhe dará "um peso eterno de glória" (2 Coríntios 4:17) e uma vida perdurável como a eternidade. T2 44 2 Seu Pai celeste Se propõe torná-lo membro da família real, mediante "Suas grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. Quanto mais você compartilhar do caráter dos anjos puros e inocentes, e de Cristo seu redentor, tanto mais vividamente revelará a impressão do divino, e mais fraca será a semelhança com o mundo. O mundo e Cristo estão em divergência, porque o mundo não pode estar em união com Cristo. O mundo também está em conflito com Seus seguidores. Na oração de nosso Salvador a Seu Pai, Ele disse: "Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo." João 17:14. T2 45 1 O chamado para glorificar a Deus no corpo e no espírito, os quais Lhe pertencem, é elevado. Você não deve medir-se pelos outros. A Palavra de Deus apresenta uma regra infalível, um Exemplo imaculado. Você teme a cruz. Ela é um instrumento incômodo de se levar, e porque está coberta de vergonha e humilhação, você a tem evitado. Precisa adotar a reforma de saúde em sua vida; negar a si mesmo e comer e beber para a glória de Deus. Abstenha-se dos desejos carnais "que combatem contra a alma". 1 Pedro 2:11. Você necessita praticar a temperança em todas as coisas. Eis uma cruz que você tem evitado. Restringir-se a um regime alimentar simples, que o conservará nas melhores condições de saúde, é a tarefa que lhe cabe. Se houvesse vivido à luz que o Céu permitiu brilhar sobre seu caminho, muito sofrimento poderia ter sido evitado em sua família. Sua conduta trouxe o seguro resultado. Enquanto você continuar nesse rumo, Deus não visitará nem abençoará de modo especial sua família e não realizará um milagre para poupá-lo do sofrimento. Um regime simples, livre de condimentos, de alimentos cárneos e gorduras de toda espécie, se demonstraria uma bênção para você e pouparia a sua esposa muito sofrimento, aflições e desalento. T2 45 2 Você não segue uma conduta que lhe asseguraria a bênção divina. Se quiser ter essa graça a beneficiá-lo e Sua presença habitando no seio da família, deve obedecer-Lhe e fazer a Sua vontade a despeito de perdas, ganhos ou do próprio prazer. Não deve consultar seus desejos, nem buscar a aprovação dos mundanos que não conhecem a Deus, nem buscam glorificá-Lo. Se andar contrariamente a Deus, Ele andará contrariamente a você. Se tiver outros deuses diante do Senhor, seu coração será desviado do serviço ao único verdadeiro Deus vivo, que requer todo o coração e afeições não divididas. Deus requer "todo o coração", "todo o entendimento", "toda a alma", "todas as forças". Marcos 12:30. Ele não aceitará nada menos que isso. Nenhuma divisão será permitida aqui. Nenhum trabalho feito com coração dividido será aceito. T2 46 1 A fim de poder apresentar a Deus serviço perfeito, você deve possuir clara concepção de Seus reclamos. Deve usar os alimentos mais simples, preparados da maneira mais natural, para que os delicados nervos do cérebro não sejam enfraquecidos, entorpecidos ou paralisados, tornando-se-lhe impossível discernir as coisas sagradas, e avaliar a expiação, o sangue purificador de Cristo, como de valor inestimável. "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta, assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:24-27. T2 46 2 Se os homens, pela conquista de objeto tão sem valor como uma grinalda ou uma coroa de louros, sujeitam-se à temperança em todas as coisas, quanto mais dispostos não deviam estar em praticar abnegação aqueles que professam estar buscando não somente uma coroa de glória imortal, mas uma vida que deve durar tanto quanto o trono de Jeová, e riquezas que são eternas, honras que são imperecíveis, "um peso eterno de glória". 2 Coríntios 4:17. Os estímulos apresentados ante os que estão correndo a carreira cristã, não os levarão a praticar abnegação e temperança em todas as coisas, para que possam manter suas propensões sensuais sob domínio, ter o corpo em sujeição, e controlar os apetites e paixões carnais? Assim poderão ser "participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. T2 46 3 Se a inexcedível e gloriosa recompensa prometida não nos levar a suportar grandes privações e a praticar abnegação, maiores do que as que os mundanos suportam com alegria ao buscarem as ninharias terrenas -- um galardão perecível que traz honra a uns poucos e ódio a muitos -- seremos indignos da vida eterna. Na sinceridade e intensidade de nosso zelo, perseverança, coragem, energia, abnegação e sacrifício, deveríamos exceder àqueles que se empenham em outras empresas, porque estamos buscando um alvo de mais alto valor que o deles. O tesouro que procuramos é imperecível, eterno, imortal, todo-glorioso; enquanto que o prêmio que os mundanos perseguem dura apenas um pouco; ele é passageiro, perecível, efêmero como uma nuvem matutina. T2 47 1 A cruz, a cruz; tome a cruz, irmão D, e no ato de erguê-la ficará surpreso em saber que ela o ergue e o sustenta. Na adversidade, na privação e tristeza, ela lhe será a força e o apoio. Você a descobrirá toda carregada de misericórdia, compaixão, simpatia e inexprimível amor. Ela se provará a garantia da imortalidade. Que você seja capaz de dizer com Paulo: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14. T2 47 2 O Espírito do Senhor tem Se empenhado com sua esposa por algum tempo. Se vocês entregassem tudo a Deus, ela teria força para tomar sua decisão e viver a verdade. Se escolherem desviar-se da verdade, não irão sozinhos; não se perderão apenas vocês, mas serão agentes para desviar outros do caminho, e o sangue dessas pessoas estará em suas vestes. Houvessem vocês mantido a integridade, sua mãe, seu irmão E e alguém que agora está à beira da sepultura, poderiam neste momento gozar a consolação do Espírito de Deus e ter uma boa experiência na verdade. Tenha sempre em mente que somos responsáveis pela influência que exercemos. Nossa influência ajunta com Cristo ou espalha. Mateus 12:30. Ou somos auxiliadores no estreito caminho da santidade ou um obstáculo, uma pedra de tropeço aos outros, desviando-os do caminho. Você, meu mui estimado irmão, não tem tempo a perder. Seja diligente em remir o tempo, "porquanto os dias são maus". Efésios 5:16. Seus associados, aqueles cuja companhia você escolheu, têm-lhe sido um estorvo. Saia do meio deles e separe-se. Achegue-se a Deus e una-se estreitamente a Seu povo. Permita que seus interesses e afeições se centralizem em Cristo e Seus seguidores. Ame mais aqueles que mais amam a Cristo. Corte os laços que o têm prendido aos que não amam a Deus e à verdade. "Que comunhão tem a luz com as trevas? ... Ou que parte tem o fiel com o infiel?" 2 Coríntios 6:14, 15. T2 48 1 Você se acha sob o perigo iminente de naufragar na fé. Tem necessidade de toda a força que puder obter do povo de Deus, daqueles que possuem esperança, coragem e fé. Mas não negligencie a oração, a oração secreta. Seja insistente em oração, encoraje seu espírito à verdadeira devoção. Você tem um trabalho a fazer em seus negócios particulares. Algo está errado, mas não sou capaz de dizer o que é. Procure-o cuidadosamente. Estamos edificando para a eternidade. Todos os nossos atos e palavras estão sendo pesados nas balanças do santuário. Um Deus justo e imparcial decide todos os nossos casos, cada acontecimento da história de nossa vida. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. T2 48 2 Não deixe que nada interfira em seu progresso no caminho para a vida eterna. Seus interesses eternos estão em jogo. Precisa haver em você uma obra completa. Deve estar plenamente convertido ou falhará em sua busca pelo Céu. Todavia, Jesus o convida a fazer dEle sua força e sustentáculo. Ele lhe "será socorro bem presente" (Salmos 46:1) em tempos de necessidade. Será para você como a sombra "de uma grande rocha em terra sedenta". Isaías 32:2. Não seja seu maior desejo o sucesso neste mundo, mas o preparo do coração. Como posso obter o mundo melhor? "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos dos Apóstolos 16:30. Salvando a si próprio, você salvará a outros. Ao erguer-se, você levantará a outros. Ao apoderar-se da verdade e amparar-se no trono de Deus, auxiliará outros a firmarem sua vacilante fé nas promessas e na graça divinas. A posição que você deve assumir é valorizar mais a salvação do que o ganho terreno e considerar tudo como perda "para que possa ganhar a Cristo". Filipenses 3:8. Sua consagração precisa ser total. Deus não aceitará nenhuma reserva, nenhum sacrifício dividido, nenhum ídolo acariciado. Você precisa morrer para si mesmo e para o mundo. Renove diariamente sua consagração a Deus. A vida eterna é digna de um esforço vitalício, perseverante, incansável. T2 49 1 Foi-me mostrado que seu irmão ficou convencido da verdade por algum tempo, mas influências o mantiveram afastado. A esposa o impediu de obedecer as próprias convicções. Mas em sua aflição ela buscou ao Senhor e O encontrou. Então ficou ansiosa para que o marido abraçasse a verdade; arrependeu-se de ter-se oposto a ele e de que seu orgulho e amor ao mundo o tivessem impedido de receber a verdade. Como uma filha cansada em busca de repouso, mas incapaz de obtê-lo, por fim atendeu a Seu gracioso convite: "Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. Seu fatigado coração buscou ao Senhor, e com arrependimento, humilhação e sincera oração, lançou sua carga sobre o Grande Portador de fardos, e nEle achou repouso. Ela recebeu evidência de que sua humilhação e franco arrependimento foram aceitos por Deus e de que, pelos méritos de Cristo, Ele lhe perdoou os pecados. T2 49 2 Foi-me mostrado, irmão D, que você, porém, tem pouco tempo para trabalhar. Faça sua obra completamente, remindo o tempo. Em suas transações comerciais não permita uma nódoa em seu caráter cristão. Mantenha suas vestes incontaminadas do mundo. Vigie e ore para não cair em tentação. As tentações podem cercá-lo de todos os lados, mas você não é forçado a ceder a elas. Você pode obter forças de Cristo, para permanecer incontaminado das corrupções desta época degenerada. "Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo." 2 Pedro 1:4. Mantenha os olhos fixos em Cristo, em Sua divina imagem. Imite Sua vida imaculada e será participante de Sua glória, e com Ele herdará "o reino que" lhe "está preparado desde a fundação do mundo". Mateus 25:34. ------------------------Capítulo 4 -- O falar pecaminoso T2 50 1 O irmão F tem tido tão profundamente a causa de Deus no coração, que assume mais responsabilidades do que tem condição de suportar. Assim, sua saúde tem sido prejudicada. Ele algumas vezes vê os assuntos de um ponto de vista mais extremado e ficado ansioso para que todos vejam os fatos sob o mesmo prisma. E como as pessoas se recusam a agir assim, F se sente quase esmagado. Magoa-se intensamente e está em perigo de impor seus pontos de vista de maneira muito autoritária. T2 50 2 A irmã F deseja ser cristã, mas não tem cultivado discrição e verdadeira cortesia. Ela é muito decidida, impetuosa e autoconfiante. Revela uma parte áspera de seu caráter, o que não lhe é benéfico. É movida por impulso, agindo exatamente como sente; algumas vezes seus sentimentos têm estado muito agitados e intensos. Ela possui fortes desejos e aversões, e permite que esse desafortunado traço de caráter se desenvolva grandemente, em detrimento do próprio progresso espiritual e prejuízo da igreja. Fala demais e desavisadamente, assim como vai em seu coração. Isto tem exercido forte influência sobre o marido e, às vezes, levado-o a agir sob o impulso das emoções, quando se houvesse esperado e considerado os assuntos com calma e ponderado de maneira adequada, teria sido melhor para ele mesmo e para a igreja. Nada se obtém de um agir precipitado, acionado por impulso ou fortes sentimentos. T2 51 1 Agindo por impulso, a irmã F descobre faltas e tem muitíssimo a dizer contra seus irmãos e irmãs. Isso causa confusão em qualquer igreja. Se ela controlasse o próprio espírito, grande vitória seria obtida. Se buscasse os adornos celestiais, os ornamentos "de um espírito manso e quieto" (1 Pedro 3:4), o qual Deus, o Criador, dos Céus e da Terra, considera de grande valor, ela seria uma verdadeira ajuda à igreja. Se acariciasse o espírito de Cristo e se tornasse pacificadora, sua vida floresceria e seria uma bênção à igreja, aonde quer que fosse. A menos que se converta e uma completa mudança nela se opere; a menos que se eduque a ser tardia "para falar", tardia "para se irar" (Tiago 1:19), e cultive a verdadeira cortesia cristã, sua influência se provará danosa, e afetará a felicidade daqueles que lhe estão ligados. Ela manifesta uma independência que lhe é danosa e que afasta seus amigos. Isso tem lhe causado muitos problemas e ferido seus melhores amigos. T2 51 2 Quando aqueles que possuem recursos se associavam comercialmente a seu marido, e não o favoreciam nas transações comerciais mais do que os mundanos o fariam, ela se ressentia e falava, e despertava sentimentos de insatisfação onde anteriormente nada existia. Esse é um mundo egoísta, na melhor das hipóteses. Muitos dos que professam a verdade não são santificados por ela. Eles não têm coração para abaixar um pouco que seja os preços dos produtos quando negociam com um irmão pobre, de preferência a fazê-lo para um mundano em boas condições financeiras. Não amam a seu próximo como a si mesmos. Seria mais agradável a Deus se houvesse menos egoísmo e mais desinteressada benevolência. T2 51 3 Como a irmã F manifesta um espírito egoísta, tem cometido um pecado mais grave pelo ressentir-se e falar a respeito do assunto. Ela tem errado em manter expectativas grandes demais. A língua é um membro ingovernável, "um mundo de iniqüidade" (Tiago 3:6), arde com o fogo do inferno, indomada e indomável. A irmã F possui um espírito de retaliação, manifestado por seu comportamento quando se sente ofendida. Tudo está errado. Ela acaricia sentimentos amargos, que são estranhos ao espírito de Cristo. Ira, ressentimento e todo tipo de temperamento desapiedado são acariciados, ao falar ela contra aqueles que a desagradam, e por enumerar erros, falhas e pecados de seus semelhantes. Desejos concupiscentes são satisfeitos. T2 52 1 Irmã F, se você se sente ofendida por que seu semelhante ou amigo está agindo erradamente para dano próprio, e foi surpreendido nalguma falta, siga a regra bíblica: "Vai e repreende-o entre ti e ele só." Mateus 18:15. Quando você se achega a alguém que supõe estar em erro, fale-lhe num espírito manso e quieto; "porque a ira do homem não opera a justiça de Deus". Tiago 1:20. Os que erram não podem ser restaurados senão com um espírito de mansidão, bondade e terno amor. Seja cuidadosa. Evite qualquer coisa que passe a idéia de orgulho ou auto-suficiência seja por olhar, gesto, palavra ou entonação da voz. Guarde-se contra uma palavra ou olhar que exalte a si mesma, ou coloque sua bondade e justiça em contraste com suas fraquezas. Previna-se contra a mais leve aproximação do desdém, arrogância ou desrespeito. Evite cuidadosamente toda aparência de ira; e embora você possa usar de franqueza no falar, não permita que haja reprovação, nenhuma acusação injuriosa, nenhum falar irritadiço, mas amor sincero. Acima de tudo, que não haja sombra de ódio ou má vontade, nenhuma amargura ou acidez na expressão. Nada senão bondade e cortesia podem fluir de um coração que ama. Todavia, todos esses preciosos frutos não devem impedi-la de falar de maneira séria, solene, como se os anjos a estivessem olhando e você estivesse agindo tendo em vista o juízo vindouro. Tenha em mente que o sucesso da repreensão depende grandemente do espírito com que é dada. Não negligencie a oração fervorosa a fim de que você possa ser humilde, e que os anjos de Deus possam ir adiante de você, trabalhando no coração daqueles a quem busca alcançar, suavizando-o mediante celestiais impressões para que seus esforços sejam proveitosos. Se algum bem for conseguido, não tome o crédito para si mesma. Somente Deus deve ser exaltado. Foi Ele quem fez tudo. T2 53 1 Você se tem desculpado por falar mal de seu irmão, irmã ou semelhante, antes de ir a eles e dar os passos que Deus ordenou. Você diz: "Mas por quê? Eu nada falei senão depois de estar tão sobrecarregada que não mais podia conter-me." O que a sobrecarregou? Não foi, porventura, a negligência do próprio dever, de um "assim diz o Senhor"? Ageu 1:5. Você está sob culpa de pecado porque não foi e falou ao ofensor de sua falta entre você e ele só. Se você não fez isso, se desobedeceu a Deus, como poderia ter sido de outro modo, porquanto seu coração estava endurecido enquanto pisoteava o mandamento de Deus e em seu coração odiava seu irmão ou semelhante? E que modo você descobriu para se aliviar? Deus a censura pelo pecado de omissão, em não dizer ao irmão a sua falta, e você se desculpa e se conforta por um pecado de responsabilidade, dizendo as faltas de seus irmãos a terceiros. Seria esse o modo correto de conseguir bem-estar, cometendo pecado? T2 53 2 Todos os seus esforços para salvar os que erram podem ser em vão. Eles podem pagar-lhe o bem com o mal. Eles podem ficar enfurecidos em vez de convencidos. O que ocorrerá se eles não ouvirem nada de bom, e prosseguirem na má conduta que escolheram? Isso ocorre com frequência. Algumas vezes a branda e terna reprovação não surtirá bom efeito. Nesse caso, a bênção que você desejava que o outro recebesse ao seguir o caminho da justiça, cessando "de fazer mal" e aprendendo "a fazer o bem", retornará ao seu seio. Isaías 1:16, 17. Se os que erram persistirem no pecado, trate-os bondosamente e deixe-os com o Pai celestial. Você livrou sua alma; o pecado dele não mais permanece sobre você, pois não é mais participante de seu pecado. Mas se eles perecerem, seu sangue cairá sobre a cabeça deles. Ezequiel 33:9. T2 54 1 Querida amiga, é preciso ocorrer uma inteira transformação em você, ou será pesada na balança e achada em falta. Daniel 5:27. A igreja de _____, especialmente as mulheres falantes, tem uma lição a aprender. "Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã." Tiago 1:26. Muitos serão pesados na balança e achados em falta nessa questão de tanta importância. Onde estão os cristãos que andam segundo essa regra? Quem receberá a parte de Deus contra o falar pecaminoso? Quem agradará a Deus e porá uma vigilância contínua sobre a boca, e guardará a porta dos lábios? Salmos 141:3. Não fale mal de pessoa alguma. Não ouça mal de ninguém. Se não houver quem ouça, não haverá quem fale mal. Se alguém fala mal em sua presença, restrinja-o. Recuse ouvi-lo, embora suas maneiras possam ser agradáveis e seus acentos suaves. Ele pode professar amizade e todavia revelar segredos, apunhalando a pessoa pelas costas. T2 54 2 Resolutamente recuse-se a ouvi-lo, embora o murmurador queixe-se de estar sobrecarregado e não poder conter-se. Sobrecarregado, realmente, com uma secreta maldição que separa verdadeiros amigos! Vão, sobrecarregados, e livrem-se de suas cargas pelo modo apontado por Deus. Primeiro falem a sós com seu irmão acerca de sua falta. Se isso não der certo, levem com vocês um ou dois amigos e falem com o faltoso, na presença deles. Se esses passos falharem, digam-no à igreja. Nenhum incrédulo deve estar ciente desse assunto particular. Dizê-lo à igreja é o último passo a ser dado. Não o tornem conhecido dos inimigos de nossa fé. Eles não têm o direito de saber de certos assuntos da igreja, e muito menos devem ser-lhes expostos as fraquezas e erros dos seguidores de Cristo. T2 54 3 Aqueles que estão se preparando para a vinda de Cristo devem ser sóbrios e vigiar em oração, "porque o diabo", nosso "adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual" devemos resistir "firmes na fé". 1 Pedro 5:8, 9. "Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações." 1 Pedro 3:10-12. ------------------------Capítulo 5 -- Egoísmo e amor ao mundo T2 55 1 Prezados irmão e irmã G: T2 55 2 Já há algum tempo me propus a escrever-lhes. À medida que a luz que o Senhor me havia dado vinha distintamente a mim, algumas coisas causavam forte impressão em minha mente, enquanto estava diante do povo em _____. Eu esperara que vocês estivessem em uma outra reunião, e que o trabalho ali começado pudesse ter continuidade. Mas fiquei pesarosa em ver que quando nossos irmãos assistiam a um concílio, geralmente não sentiam a importância de primeiro preparar-se para ele. Em lugar de se consagrarem a Deus antes de vir, esperavam até estarem na reunião e terem ali algo feito em seu favor. Eles traziam o lar consigo, e as coisas deixadas para trás são consideradas de maior valor e importância do que o preparo do coração para a vinda de Cristo. Em conseqüência, quase todos iam embora nada melhores do que quando chegaram. Tais reuniões custavam muito dinheiro, e se aqueles que as assistiam não tiravam proveito, havia perda pessoal e ainda tornavam excessivamente árduo o trabalho que os responsáveis faziam por eles. Nosso povo abandonava o concílio muito cedo. Poderíamos ter visto melhores resultados para Deus, houvessem todos permanecido e se empenhado no trabalho. T2 56 1 Irmã G, eu tenho uma mensagem para lhe dar. Você está distante do reino. Você ama o mundo e esse amor a tem tornado fria, egoísta, exigente e mesquinha. Seu maior interesse é o poderoso dólar. Quão pouco sabe você sobre como Deus considera as pessoas nessa sua condição. Você se acha sob terrível engano. Conformou-se com o mundo em lugar de ser transformada "pela renovação do... entendimento". Egoísmo e amor-próprio estão grandemente exemplificados em sua vida. Você não venceu esse infeliz defeito em seu caráter. Se não corrigido, fá-la-á perder o Céu e sua felicidade aqui estará totalmente comprometida. Isso já tem acontecido. A escura nuvem que a tem seguido obscureceu sua vida, e crescerá e se enegrecerá até que todo o seu céu fique nublado. Você pode voltar-se à direita e ali não haverá luz, à esquerda e não descobrirá um só raio. T2 56 2 Criou problemas para si mesma onde problemas não havia, porque você não é correta, não é consagrada. Seu espírito queixoso e mesquinho torna-a infeliz e desagrada a Deus. Durante sua vida tem estado cuidando de si mesma, buscando tornar-se feliz. Esse é um trabalho inútil. Quanto mais você investe aqui, mais pesada será a perda. Quando menor for o investimento feito a serviço de si mesma, maior será a economia de sua parte. Você é uma estranha ao amor desinteressado e altruísta, e enquanto não vê nenhum pecado na ausência desse precioso atributo, jamais será diligente em cultivá-lo. T2 56 3 Você amava seu marido e se casou com ele. Sabia que quando o desposou, concordou em tornar-se mãe para seus filhos. Mas vi falta de sua parte nesta questão. Você é lamentavelmente deficiente. Não ama os filhos de seu marido, e a menos que haja completa mudança, total reforma em você e em sua maneira de governar, essas preciosas jóias serão arruinadas. Amor, manifestação de afeição, não é parte de sua disciplina. Dir-lhe-ei a verdade e me tornarei sua inimiga por assim fazê-lo? Você é profundamente egoísta para amar os filhos de outra. Deixei claro que o fruto de sua união não prosperaria e seria abençoado com força, vida e saúde, e o Espírito de Deus a deixaria entregue a si mesma, a menos que você seja provada e testada, e corrija as coisas em que é deficiente. Como seu egoísmo enfraquece e contagia os jovens corações ao seu redor, assim a maldição de Deus debilitará e contaminará o compromisso de seu amor egoísta e de sua união. E se você continuar nesse rumo, Deus removerá seus ídolos diante de sua face, um após outro, até humilhar seu orgulho, egoísmo, e insubmisso coração diante dEle. T2 57 1 Vi que você tem uma terrível conta a enfrentar no dia de Deus, por causa de sua falta de confiança. Você está tornando muito amarga a vida dessas queridas crianças, especialmente da menina. Onde está a afeição, o amoroso afago, a paciente tolerância? O ódio vive mais que o amor em seu coração não santificado. Seus lábios soltam mais censura do que louvor e encorajamento. Suas maneiras, seus métodos ríspidos, sua natureza destituída de simpatia são para essa sensível filha arrasadores como saraiva sobre a tenra planta; esta se curva a cada rajada, até que a vida é extinta, e ela jaz ferida e quebrada. T2 57 2 Sua administração está secando completamente o canal do amor, da esperança e da alegria em suas crianças. Uma permanente tristeza se espelha na fisionomia da menina, mas, em lugar de lhe despertar simpatia e amor, desperta sua impaciência e positivo desgosto. Você pode mudar essa expressão para ânimo e alegria, se o desejar. "Pode Deus ver? Tomará Ele conhecimento?", foram as palavras do anjo. Ele punirá por causa dessas coisas. Você voluntariamente tomou sobre si essa responsabilidade, mas Satanás tirou vantagem de sua infeliz, desamorosa e amarga disposição, seu amor-próprio, rigor, egoísmo, e agora aparecem eles em toda a sua deformidade, indisciplina, insubmissão, cercando-a com ligaduras de ferro. As crianças lêem a fisionomia da mãe; percebem se amor ou aversão estão aí expressos. Você não sabe a obra que está fazendo. Não desperta piedade o rostinho entristecido, o arquejante suspiro que brota do coração oprimido em seu ardente apelo por amor? Não, não em você. Isso coloca a criança a uma distância ainda maior e faz crescer seu desagrado. T2 58 1 Vi que o pai não havia seguido a conduta que devia. Deus Se desagrada com essa posição. Alguém roubou o coração do pai do sangue de seu sangue e ossos de seus ossos. Irmão G, você tem sido muito deficiente em discernimento. Como cabeça da família, você devia ter assumido sua posição e não permitir que as coisas caminhassem como têm caminhado. Você viu que as coisas não estavam certas e, em algumas vezes, sentiu-se ansioso, mas temendo desagradar sua atual esposa e trazer discórdia na família, permaneceu em silêncio quando devia ter falado. Você não tem plena consciência dos fatos. Seus filhos não têm mais a mãe para defendê-los, para protegê-los das censuras por suas sábias palavras. T2 58 2 Seus filhos, e todas as outras crianças que perderam o ente em cujo seio flui o amor maternal, perderam aquilo que não pode jamais ser suprido. Mas quando alguém se aventura a ocupar o lugar da mãe para com esse pequeno rebanho ferido, duplo cuidado e responsabilidade recai sobre ela, de ser se possível mais amorosa, menos pronta para censuras e ameaças do que o seria a própria mãe, suprindo assim a perda que o pequeno rebanho experimentou. Você, irmão G, tem sido como um homem sonolento. Traga seus filhos para junto de seu coração, cerque-os com seus braços protetores, ame-os ternamente. Se falhar em fazer isso, "achado em falta" (Daniel 5:27) será escrito contra você. T2 59 1 Ambos têm uma obra a fazer. Que cessem para sempre suas murmurações. Irmão G, não permita mais que o temperamento fechado e mesquinho, o espírito egoísta de sua esposa lhe controle as ações. Vocês têm participado do mesmo espírito e ambos roubado a Deus. A desculpa da pobreza acha-se em seus lábios, mas o Céu sabe ser isso falso; todavia suas palavras serão verdadeiras, vocês se tornarão pobres realmente, se continuarem a acariciar o amor ao mundo. "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados." Malaquias 3:8, 9. Ponham fim a essa maldição o mais rápido possível. T2 59 2 Irmão G, como mordomo de Deus, olhe para o Senhor. A Ele você deverá prestar contas de sua mordomia e não à sua esposa. São os recursos de Deus que você está manuseando. Ele apenas os concedeu a vocês para prová-los, experimentá-los, a ver se vocês se tornarão ricos "em boas obras", repartindo "de boa mente" e sendo "comunicáveis"; entesourando "para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:18, 19. Deus requererá o que é Seu com juros. Possa Ele ajudá-los a se prepararem para o juízo. Que o eu seja crucificado. Que as preciosas graças do Espírito vivam em seu coração. Voltem-se desse mundo com sua corruptora cobiça. "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. Ainda que sua profissão de fé seja tão alta quanto o Céu, se vocês são egoístas e amantes do mundo, não têm parte no reino com os santificados e os puros. "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21. Se o tesouro de vocês estiver no Céu, o coração também lá estará, e vocês falarão do Céu, da vida eterna, da coroa imortal. Se ajuntarem tesouros na Terra, vocês falarão das coisas terrenas, preocupando-se apenas com lucros e perdas. "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26. T2 60 1 Há luz e salvação para vocês se apenas sentirem que precisam possuí-la, ou perecerão. Jesus pode salvar completamente. Mas, irmã G, se Deus tem falado por mim, você está terrivelmente enganada com respeito a si mesma, e precisa experimentar conversão total, ou nunca fará parte daqueles que passarão pela "grande tribulação, lavaram suas vestes, e as branquearam no sangue do Cordeiro". Apocalipse 7:14. ------------------------Capítulo 6 -- Alimentos cárneos e estimulantes T2 60 2 Prezados irmão e irmã H: T2 60 3 Recordei a fisionomia de vocês como se achando entre várias que tenho visto, e que necessitam de uma obra em seu favor, antes de poderem ser santificados pela verdade. Abraçaram a verdade por reconhecer que era a verdade; ela, porém, ainda não tomou posse de vocês. Não avaliaram sua santificadora influência na vida. Seu caminho foi iluminado com relação à reforma de saúde, e ao dever que repousa sobre o povo de Deus, nestes últimos dias, de exercer temperança em tudo. Vi que se encontravam entre aqueles que ficariam para trás quanto a convencer-se, e a corrigir sua maneira de comer, beber e trabalhar. À medida que a luz da verdade for aceita e seguida, realizará inteira reforma na vida e no caráter de todos os que forem santificados por ela. T2 60 4 Seus negócios não são de caráter propício a um avanço na vida religiosa, mas de caráter que impede o crescimento na graça e no conhecimento da verdade. Há uma tendência para baixo, para rebaixar o homem, para fazê-lo mais sensual em suas propensões. As elevadas faculdades da mente são sobrepujadas pelas mais baixas. A parte irracional de sua natureza governa a espiritual. Aqueles que professam estar preparados para a trasladação não se devem tornar açougueiros. T2 60 5 Sua família tem participado grandemente de alimentos cárneos, e as propensões sensuais têm sido fortalecidas, ao passo que o intelecto se tem enfraquecido. Somos constituídos daquilo que comemos, e se vivemos largamente de carne de animais mortos, havemos de partilhar de sua natureza. Vocês têm favorecido a natureza inferior de seu organismo, ao passo que a mais refinada se tem enfraquecido. Têm dito repetidamente em favor de sua condescendência para com o uso da carne: "Por mais prejudicial que ela seja para outros, não me prejudica, pois a tenho usado durante toda a minha vida." Não sabem, porém, quão bem poderiam estar se houvessem se abstido do uso de alimentos cárneos. Como família, acham-se longe de estar isentos de enfermidade. Têm usado gordura de animais, o que Deus expressamente proíbe em Sua Palavra: "Estatuto perpétuo será nas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura, nem sangue algum comereis." Levítico 3:17. "E nenhum sangue comereis em qualquer de vossas habitações, quer de aves quer de gado. Toda pessoa que comer algum sangue, aquela pessoa será extirpada dos seus povos." Levítico 7:27. T2 61 1 Vocês são gordos, mas a gordura não é bom material. Estão piores por essa corpulência. Se ambos chegassem a um regime mais simples, que lhes tirasse doze ou quinze quilos de gordura, estariam muito menos sujeitos a enfermidades. Os alimentos cárneos produziram sangue e carne pobres. Seu organismo encontra-se em estado de inflamação, pronto a apanhar doenças. Estão sujeitos a ataques agudos de doença, e à morte repentina, pois não possuem resistência constitucional capaz de combater e vencer o mal. Virá tempo em que a força e a saúde que se lisonjeiam de possuir se demonstrarão fraqueza. Não é objetivo principal do homem glorificar seu estômago. Vocês têm necessidades físicas a serem atendidas; mas por causa delas deveria o homem tornar-se animalizado? T2 61 2 Vocês têm posto diante de seus filhos alimentos insalubres, preparados de maneira não saudável. Têm colocado perante eles alimentos cárneos, e qual é o resultado? São eles educados, inteligentes, obedientes, conscienciosos e inclinados à religião? Vocês sabem que não é assim. Tal maneira de viver tem fortalecido o instinto sensual de sua natureza e definhado a espiritualidade. Vocês têm transmitido a seus filhos um miserável legado; uma natureza degenerada tornada ainda mais corrupta por seus maus hábitos no comer e no beber. A mesa completa o trabalho de os tornar o que são. "O pecado jaz à porta." Gênesis 4:7. Vocês sabem que eles não têm propensões religiosas, que sua vontade não se submete a restrições, mas são inclinados à desobediência e ao desrespeito a sua autoridade. Seu filho mais velho é especialmente corrompido, participando em grande parte daquilo que é sensual. Dificilmente um traço do que é divino pode ser visto nele. Vocês têm levado seus filhos a condescender com o apetite quando e como lhes agrada. Seu exemplo tem-lhes ensinado a viver para comer; que a condescendência com o apetite está acima de tudo. Há um trabalho para você, irmão H. Você tem sido como um homem sonolento ou paralisado. É tempo de o irmão fazer grandes esforços para salvar os membros mais jovens de sua família. A influência de seu filho mais velho é nociva sobre os irmãos. Corrija sua mesa. Um regime alimentar estimulante e corrompido está fortalecendo as paixões sensuais de seus filhos. De todas as famílias que conheço, a sua tem a maior necessidade de dispensar alimentos cárneos e gorduras, e aprender a cozinhar saudavelmente. T2 62 1 A irmã H tem o sangue corrompido. Seu organismo está cheio de humores escrofulosos provenientes do alimento cárneo. O uso de carne de porco em sua família comunicou má qualidade de sangue. A irmã H precisa limitar-se estritamente a um regime de cereais, frutas e verduras, cozidos sem carne ou gordura de qualquer espécie. Levará bastante tempo para um regime alimentar estritamente saudável pô-la em melhores condições de saúde, em que se possa relacionar devidamente com a vida. Impossível é aos que usam carne em abundância, ter um cérebro claro, um ativo intelecto. T2 63 1 Nós os aconselhamos a mudar seus hábitos de vida; fazendo isso, porém, sabiamente. Conheço famílias que mudaram do regime cárneo para um regime pobre. Seu alimento é tão deficientemente preparado, que o estômago não o aceita, e depois me disseram que a reforma de saúde não lhes vai bem; que estavam enfraquecendo. Aí está uma razão por que alguns não foram bem-sucedidos em seus esforços para simplificar a comida. Usam um regime sem nutrição. A comida é preparada sem capricho, e comem continuamente a mesma coisa. Não deve haver muitas espécies na mesma refeição, mas todas as refeições não devem constar dos mesmos pratos, sem variação. A comida deve ser preparada com simplicidade, todavia de maneira a se tornar apetecível. Vocês devem evitar a gordura. Ela prejudica qualquer espécie de prato que preparem. Comam abundância de frutas e verduras. T2 63 2 Depois de reduzir sua resistência física pela quantidade reduzida e pela pobre qualidade do alimento, alguns concluem que sua antiga maneira de viver era melhor. O organismo precisa ser nutrido. Não obstante, não hesitamos em dizer que o alimento cárneo não é necessário para a saúde e vigor. Se é usado, é porque o apetite pervertido o cobiça. Seu uso estimula as propensões sensuais, aumentando-lhes a atividade, e fortalecendo as paixões sensuais. Quando as propensões sensuais aumentam, decrescem as energias intelectuais e morais. O uso da carne de animais tende a produzir desajeitada corpulência, ao mesmo tempo que embota as finas sensibilidades da mente. T2 63 3 Há de o povo que está se preparando para tornar-se santo, puro e enobrecido, a fim de poder ser introduzido na sociedade dos anjos celestes, continuar a tirar a vida das criaturas de Deus e viver de sua carne, deliciando-se com ela como uma iguaria? Do que o Senhor me tem mostrado, esta ordem de coisas há de mudar, e o povo peculiar de Deus exercerá temperança em tudo. Os que vivem em grande parte de carne, não podem evitar comer carne de animais doentes, em maior ou menor grau. O processo de preparar animais para o consumo produz neles enfermidades e, mesmo que sejam alimentados da maneira mais saudável, irritam-se e adoecem pela caminhada antes de chegarem ao mercado. Os fluidos e a carne desses animais enfermos são recebidos diretamente no sangue, passando à circulação do corpo humano, tornando-se fluidos e carne do mesmo. Assim se introduzem humores no organismo. E se a pessoa já tem um sangue impuro, isto é grandemente agravado pelo ingerir a carne desses animais. A possibilidade de contrair doenças é dez vezes aumentada pelo uso da carne. As faculdades intelectuais, morais e físicas são prejudicadas pelo uso habitual de alimentos cárneos. Seu uso desarranja o organismo, obscurece o intelecto e embota as sensibilidades morais. Dizemo-lhes, prezados irmão e irmã: o caminho mais seguro para vocês, é deixar de lado a carne. T2 64 1 O uso de chá e café também é prejudicial ao organismo. O chá, até certo ponto, produz intoxicação. Entra na circulação, e desequilibra gradualmente a energia do corpo e da mente. Estimula, provoca e aviva o movimento do organismo forçando-o a uma ação fora do natural, dando assim ao que o ingere a impressão de que lhe está prestando grande serviço, comunicando-lhe força. É engano. O chá atua sobre as energias nervosas deixando-as grandemente debilitadas. Ao desaparecer sua influência e o aumento de ação ocasionado por ele diminuir, qual é então o resultado? Debilidade e fraqueza proporcionais à vivacidade artificial comunicada pelo chá. Quando o organismo já se encontra sobrecarregado e precisando de repouso, o uso do chá incita a natureza pelo estímulo a realizar uma ação indesejada e antinatural, diminuindo-lhe por esse modo a capacidade de trabalho e de resistência; e suas faculdades se esgotam muito antes do tempo designado pelo Céu. O chá é venenoso para o organismo. Os cristãos devem deixá-lo em paz. A influência do café é, até certo ponto, a mesma do chá, mas o efeito sobre o organismo é ainda pior. Sua influência é estimulante, e justo na medida em que ele eleva acima do normal, também deprime na mesma proporção. Os bebedores de chá e de café, apresentam no rosto os seus vestígios. A pele torna-se pálida, tomando um aspecto sem vida. Não se lhes vê no semblante o brilho da saúde. T2 65 1 O chá e o café não nutrem o organismo. O alívio deles obtido é súbito, antes de o estômago ter tempo de os digerir. Isso indica que os estimulantes considerados pelos usuários como energia, são recebidos unicamente mediante estímulo dos nervos estomacais, que transmitem a irritação ao cérebro, o qual é por sua vez despertado para comunicar acrescida atividade ao coração e passageira energia a todo o organismo. Tudo isso é falso vigor, que nos deixa pior. Eles não comunicam uma partícula sequer de energia natural. T2 65 2 Outro efeito de tomar chá é dor de cabeça, insônia, palpitação do coração, indigestão, tremor dos nervos e muitos outros males. "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Romanos 12:1. Deus pede um sacrifício vivo, não um sacrifício morto ou agonizante. Quando compreendermos os reclamos divinos, veremos que Ele pede que sejamos temperantes em tudo. O objetivo de nossa criação é glorificar a Deus em nosso corpo e espírito, os quais Lhe pertencem. Como podemos fazer isso, quando condescendemos com o apetite em prejuízo das energias físicas e morais? Deus requer que apresentemos nosso corpo em sacrifício vivo. Assim sendo, o dever que se nos é imposto é conservar este corpo na melhor condição de saúde, para que possamos cumprir os Seus desígnios. "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. T2 65 3 Vocês têm um trabalho a fazer para pôr sua casa em ordem. Limparem-se "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. Precisam fazer sinceros esforços para descobrir seus erros e, no temor de Deus e amparados em Sua força, corrigi-los. Prezados irmão e irmã, vocês necessitam reformar-se em matéria de ordem. Devem cultivar amor pelo asseio e limpeza. Deus é um Deus de ordem. Ele não aprovará hábitos de relaxamento e desordem em quem quer que seja que pertença a Seu povo. Demonstre em suas vestes, casa e em todas as coisas, gosto e ordem. Somos observados como um povo peculiar. A reforma do vestuário está em flagrante contraste com a moda do mundo. Aqueles que adotam esse vestuário devem manifestar bom gosto, ordem e estrito asseio em todos os trajes. Uma roupa não deve ser usada, a menos que seja decente e de bom caimento. Pois devemos procurar não desagradar aos descrentes por desmazelo e negligência em nossa aparência pessoal, mas vestir-nos modestamente tendo em vista a saúde e o asseio, a fim de que nossas vestes se recomendem ao julgamento de pessoas sinceras. T2 66 1 Vocês necessitam ter mente clara, enérgica a fim de apreciar o exaltado caráter da verdade, apreciar a expiação, e dar a devida estimativa às coisas eternas. Se vocês seguem uma conduta errônea, e condescendem com hábitos errados no regime alimentar, enfraquecendo assim as energias mentais, não darão à salvação e à vida eterna aquele alto preço que os inspirará a pôr a vida em conformidade com a vida de Cristo; não farão, para obter inteira conformidade com a vontade de Deus, aqueles diligentes, abnegados esforços que são requeridos por Sua Palavra, e necessários para dar-lhes o preparo moral para o último toque da imortalidade. ------------------------Capítulo 7 -- Negligência da reforma de saúde T2 66 2 Queridos irmão e irmã I: T2 66 3 O Senhor me mostrou algumas coisas a seu respeito, que sinto ser meu dever escrever-lhes. Vocês se acham entre aqueles que me foram apresentados como estando atrasados na questão da reforma de saúde. A luz tem brilhado sobre a senda em que o povo de Deus caminha, ainda que nem todos a sigam tão prontamente quanto a providência divina indique. A menos que façam isso, ficarão em trevas. Como Deus tem falado a Seu povo, deseja que ouçam e obedeçam à Sua voz. No último sábado, ao estar eu falando, a face pálida de vocês apareceu distintamente, como me fora mostrada. Vi sua condição de saúde, e os males que têm sofrido por tanto tempo. Foi-me mostrado que não têm vivido de maneira saudável. Seu apetite tem sido doentio, e têm satisfeito o paladar às expensas do estômago. Levam para o estômago artigos impossíveis de serem convertidos em bom sangue. Isso tem acarretado pesado encargo ao fígado, visto estarem os órgãos digestivos desarranjados. Ambos estão doentes do fígado. A reforma de saúde seria de grande proveito a ambos, se a praticassem estritamente. Mas vocês têm falhado em fazê-lo. Seu apetite é doentio, e porque não apreciam um regime simples, natural, composto de farinha integral, verduras e frutas preparadas sem condimento ou gordura, estão continuamente transgredindo as leis que Deus estabeleceu em seu organismo. Enquanto fizerem isso, terão de sofrer as penalidades; pois para cada transgressão está fixada uma pena. Admiram-se, contudo, da continuada pobreza de sua saúde. T2 67 1 Estejam certos de que Deus não realizará um milagre para salvá-los dos resultados de sua conduta. Vocês não têm tido uma liberal provisão de ar. O irmão I tem trabalhado em seu armazém, aplicando-se ao trabalho e não se permitindo senão um reduzido volume de ar e exercícios. Sua circulação está lenta. Ele respira apenas com a parte superior dos pulmões. Raramente usa os músculos abdominais no ato de respirar. Estômago, fígado, pulmões e cérebro estão sofrendo pela necessidade de mais profundas e plenas inspirações de ar, as quais fortalecerão o sangue, propiciando-lhe uma cor mais viva e brilhante, mantendo-o puro e dando tonalidade e vigor a cada parte do organismo. T2 68 1 Vocês, meus prezados irmãos, podem usufruir melhores condições de saúde do que agora e evitar que muitos males retornem, se simplesmente exercitarem a temperança em todas as coisas -- no trabalho, no comer e no beber. Bebidas quentes debilitam o estômago. Queijo nunca deve ser introduzido no estômago. O pão de farinha branca não pode comunicar ao organismo a nutrição que se encontra no pão integral. O uso comum do pão de farinha beneficiada, não pode manter o organismo em condições saudáveis. Vocês têm fígado inativo. O uso da farinha branca agrava as dificuldades sob as quais estão trabalhando. T2 68 2 Não há tratamento que lhes possa libertar de suas presentes dificuldades enquanto comem e bebem como estão fazendo. Podem fazer por vocês mesmos aquilo que nem o médico mais experiente jamais pode fazer. Regulem seu regime alimentar. Para satisfazer ao gosto, vocês freqüentemente colocam sobre os órgãos digestivos severa carga, ao levar para o estômago alimentos que não são os mais saudáveis, e muitas vezes em quantidades exageradas. Isso desgasta o estômago, inabilitando-o para receber até mesmo os alimentos mais saudáveis. Vocês têm o estômago de contínuo debilitado, em virtude de seus errôneos hábitos no comer. Sua alimentação é substanciosa demais. Não é preparada de maneira simples, natural, mas é totalmente imprópria para o estômago quando a preparam tendo em vista satisfazer o paladar. A natureza é sobrecarregada e procura resistir aos seus esforços para prejudicá-la. Calafrios e febre são o resultado dessa tentativa de libertar-se da carga que lhe é imposta. Vocês têm de sofrer a penalidade da violação da lei natural. Deus estabeleceu em seu organismo leis que não podem violar sem sofrer a punição. Vocês têm consultado o gosto sem pensar na saúde. Têm feito algumas mudanças, mas têm dado apenas os primeiros passos na reforma do regime alimentar. Deus requer de nós temperança em todas as coisas. "Portanto, quer comais, ou bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. T2 69 1 De todas as famílias que conheço, nenhuma necessita mais dos benefícios da saúde do que vocês. Gemem de dor e prostração que não sabem a que atribuir, e procuram submeter-se com a máxima boa vontade, achando que o sofrimento é a sorte que a Providência determinou. Se pudessem ter os olhos abertos, e pudessem ver os passos dados em sua vida e que levaram diretamente ao seu presente estado de precária saúde, haveria de lhes causar espanto sua cegueira em não ver antes o estado real do caso. Vocês têm desenvolvido apetite antinatural, e não desfrutam de seu alimento metade do prazer que teriam se não houvessem usado erradamente seu apetite. Vocês têm natureza pervertida e estão sofrendo as conseqüências, e quão dolorosas têm sido elas! T2 69 2 A natureza suporta os abusos sem resistência, até onde pode; então desperta e faz forte esforço para libertar-se dos embaraços e maus-tratos que tem sofrido. Sobrevêm então dor de cabeça, calafrios, febre, nervosismo, paralisias e outros males demasiado numerosos para serem mencionados. Uma conduta errada no comer ou beber acaba com a saúde e com isto o prazer da vida. Oh, quantas vezes vocês têm tomado o que chamam uma boa refeição, às expensas de um organismo febril, perda de apetite e perda de sono! Incapacidade de apreciar o alimento, uma noite mal dormida, horas de sofrimento -- tudo por causa de uma refeição em que o paladar foi satisfeito! Milhares têm sido tolerantes com apetite pervertido, comendo uma boa refeição, como chamam, e como resultado têm sofrido febres ou outras enfermidades agudas, e morte certa. Esse foi um prazer adquirido a elevado preço. No entanto muitos têm feito isto, e esses assassinos de si mesmos têm sido louvados por seus amigos e pelo pastor como se os quisessem conduzir diretamente ao Céu após sua morte. Que pensamento! Glutões no Céu! Não, não; tais pessoas jamais entrarão pelos portais de pérola da cidade dourada de Deus. Jamais serão exaltadas à mão direita de Jesus, o precioso Salvador, o Homem sofredor do Calvário, cuja vida foi de constante abnegação e sacrifício. Há um lugar indicado para tais pessoas entre os indignos, aqueles que não têm parte na vida melhor, a herança imortal. T2 70 1 Deus requer que todo homem Lhe ofereça o "corpo em sacrifício vivo" (Romanos 12:1), não morto ou moribundo, um sacrifício que sua conduta está debilitando, enchendo de impurezas e doenças. Deus pede um sacrifício vivo. O corpo, Ele nos diz, é o templo do Espírito Santo, habitação do Seu Espírito, e Ele requer que todo aquele que leva Sua imagem cuide do corpo para Seu serviço e glória. "Não sois de vós mesmos", diz o inspirado apóstolo, "porque fostes comprados por bom preço, glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus". 1 Coríntios 6:19, 20. A fim de fazer isso, acrescente "à virtude a ciência, e à ciência, temperança, e à temperança, paciência". 2 Pedro 1:5, 6. É um dever saber como preservar o corpo na melhor condição de saúde, e é dever sagrado viver à altura da luz que Deus graciosamente tem dado. Se fecharmos os olhos à luz pelo temor de ver os erros que não desejamos abandonar, nossos pecados não são por isto amenizados, mas agravados. Se a luz é evitada em um caso, será desconsiderada em outro. Tão pecado é violar as leis de nosso ser, como quebrar um dos Dez Mandamentos, pois não podemos num caso como no outro deixar de quebrantar a lei de Deus. Não podemos amar o Senhor de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso entendimento e com todas as nossas forças (Mateus 22:37) enquanto estivermos amando nosso apetite, nossos gostos, mais do que amamos o Senhor. Estamos diariamente reduzindo nossa força para glorificar a Deus, quando é certo que Ele reivindica toda a nossa força, todo o nosso entendimento. Mediante nossos hábitos errôneos estamos debilitando o sustentáculo de nossa vida, e no entanto professando ser seguidores de Cristo, preparando-nos para o toque final da imortalidade. T2 71 1 Meu irmão e minha irmã, vocês têm uma obra a fazer que ninguém pode fazer por vocês. Despertem de seu sono, e Cristo lhes dará vida. Mudem seu modo de viver, de comer e de beber, e seu sistema de trabalho. Enquanto continuarem no caminho que têm seguido por anos, não poderão discernir com clareza coisas eternas e sagradas. Suas sensibilidades estão embotadas, e seu intelecto obscurecido. Não têm estado a crescer em graça e no conhecimento da verdade como é seu privilégio. Não têm crescido em espírito, mas aumentado em trevas. Vocês se têm apressado muito em adquirir propriedades e estado em perigo de se exceder, buscando os próprios interesses e não atentando para os interesses alheios, como gostariam que eles atentassem para os seus. Isso tem estimulado o egoísmo em si mesmos, o que precisa ser vencido. Examinem atentamente o próprio coração, seja sua vida pautada pelo Modelo perfeito e tudo ficará bem com vocês. Conservem uma consciência limpa diante de Deus. Em tudo quanto fizerem, glorifiquem Seu nome. Despojem-se do egoísmo e do amor-próprio. T2 71 2 "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. Os costumes e práticas dos homens não devem ser critério para vocês. Conquanto as circunstâncias possam ser difíceis, não se permitam ultrapassar os limites. Satanás está próximo para tentá-los a fazer isso, e não lhes dará trégua. É possível a um comerciante ser cristão e preservar sua integridade perante o Senhor. Mas para conseguir isso, são necessárias vigilância constante e ardentes súplicas a Deus, para guardá-los da maligna tendência desta degenerada época de obter vantagens em detrimento de outros. Vocês estão em difícil situação em termos de desenvolvimento cristão. Têm princípios, mas não lançam todos os seus fardos sobre Deus. Confiam muito em sua fraca força. Estão em grande necessidade de ajuda divina, de um poder que não encontra em si mesmos. Há Alguém a quem recorrer para aconselhamento, cuja sabedoria é infinita. Ele os tem convidado a buscá-Lo, pois suprirá suas necessidades. Se pela fé lançarem todos os seus cuidados sobre Ele, que nota a queda de um pardal, não confiarão em vão. Se descansarem sobre Suas seguras promessas e mantiverem a integridade, anjos de Deus estarão ao seu redor. Pratiquem, pela fé boas obras perante o Senhor; então, seus passos serão guiados por Ele e Sua prosperadora mão não será removida. T2 72 1 Se forem deixados a marcar o próprio rumo, farão um trabalho deficiente e rapidamente naufragarão na fé. Levem todos os seus cuidados e fardos ao Portador de fardos. Mas não admitam uma nódoa a poluir seu caráter cristão. Por causa do lucro, nunca, nunca manchem seu registro no Céu, que é visto por todo o exército angélico e pelo seu abnegado Redentor, com avareza, mesquinhez, egoísmo e mau procedimento. Essa atitude apenas pode trazer-lhes proveito do ponto de vista do mundo, mas aos olhos do Céu, prova-se um imenso e irreparável prejuízo. "O Senhor não vê como vê o homem." 1 Samuel 16:7. Em confiar continuamente em Deus há segurança; não haverá o constante temor de um mal futuro. Esse cuidado e ansiedade tomados emprestados, cessarão. Temos um Pai celestial que cuida de Seus filhos, e deseja tornar, e tornará, Sua graça suficiente em todos os tempos de necessidade. Quando tomamos nas próprias mãos o controle de coisas que nos interessam e que dependem de nossa sabedoria para serem bem-sucedidas, podemos sofrer ansiedades e antecipar perigos e perdas, pois esses certamente nos sobrevirão. T2 72 2 É-nos requerida inteira consagração a Deus. Enquanto o Redentor dos pecadores mortais estava trabalhando e sofrendo por nós, negava a Si mesmo; toda a Sua vida foi um ato contínuo de árduo trabalho e privação. Houvesse Ele escolhido fazer assim, e poderia ter passado Seus dias sobre a Terra em comodidade e abundância, apropriando-Se de todos os prazeres e alegrias desta vida. Mas Ele não o fez; não considerou Sua conveniência. Viveu não para agradar a Si mesmo, mas para fazer o bem, salvar outros do sofrimento e ajudar os que mais necessitassem. Suportou tudo até o fim. "O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, ... mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos." Isaías 53:5, 6. A taça amarga nos foi designada. Nossos pecados a misturaram. Nosso amado Salvador, porém, tomou-a de nossos lábios e bebeu-a, e em lugar dela, apresenta-nos a taça da misericórdia, da bênção e da salvação. Oh, que imenso sacrifício foi esse pela raça decaída! Que amor, que maravilhoso e incomparável amor! Depois de todas essas manifestações de sofrimento para demonstrar Seu amor, fugiremos das pequenas provações que temos de suportar? Podemos amar a Cristo e recusar-nos a levar a cruz? Podemos desejar estar com Ele na glória e não segui-Lo da sala de julgamento ao Calvário? Se Cristo está em nós, "esperança da glória" (Colossences 1:27), andaremos como Ele andou; imitaremos Sua vida de sacrifício para abençoar a outros; beberemos a taça e seremos batizados com o batismo; saudaremos a uma vida de devoção, provas e abnegação por causa de Cristo. O Céu custa muito pouco, qualquer que seja o sacrifício que façamos para obtê-lo. ------------------------Capítulo 8 -- Amor pelos que erram T2 73 1 Foi-me mostrado que enquanto a irmã J e o irmão e a irmã K vêem erros em outros, não têm feito esforços para corrigir esses erros e ajudar a quem deveriam. Eles os têm deixado muito sós, a distância, e entendem que não vale a pena fazer algo por eles. Isso está errado. Erram assim fazendo. Cristo disse: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento." Lucas 5:32. O Senhor deseja que ajudemos aqueles que mais necessitam de auxílio. Enquanto vocês apontam erros e falhas nos outros, fecham-se em si mesmos e mostram-se muito egoístas em usufruir a verdade. Deus não aprova essa acomodação à verdade, e a ausência de sacrifício para ajudar e fortalecer os que carecem de forças. Não somos todos formados de igual modo e muitos não têm sido educados corretamente. Sua educação tem sido deficiente. Alguns herdaram um temperamento irascível, e sua educação na infância não lhes ensinou o domínio próprio. A esse temperamento impetuoso, freqüentemente se unem a inveja e o ciúme. Outros são deficientes em outras coisas. Alguns são desonestos nos negócios, astuciosos no comércio. Outros são arbitrários na família, gostando de exercer domínio. Sua vida está longe de ser correta. Sua educação foi toda equivocada. Não foram instruídos sobre o pecado de submeter-se ao domínio desses maus traços de caráter; portanto, o pecado não lhes parece tão terrível. Outros, cuja educação não foi tão omissa, que tiveram melhor preparo, desenvolvem caráter muito menos objetável. A vida cristã de todos é muito afetada pela educação passada, para o bem ou para o mal. T2 74 1 Jesus, nosso Advogado, está familiarizado com todas as circunstâncias que nos envolvem, e trata conosco de acordo com a luz que temos e as situações em que fomos colocados. Alguns possuem melhor constituição que outros. Enquanto uns estão continuamente atormentados, aflitos e em dificuldades por causa de seus desditosos traços de caráter, tendo de guerrear contra inimigos internos e a corrupção de sua natureza, outros não têm nem a metade dessa batalha. Passam quase incólumes pelas dificuldades que seus irmãos e irmãs que não foram tão favoravelmente constituídos enfrentam. Em muitos casos eles não labutam tão arduamente para vencer e viver a vida de cristão, como fazem alguns dos desafortunados que mencionei. Esses parecem em desvantagem quase todo o tempo, enquanto que os primeiros se saem melhor, por ser natural para eles agirem assim. Não fazem tanto esforço para vigiar-se e guardar-se e, ao mesmo tempo, ficam comparando sua vida com a vida de outros que possuem lamentável constituição e são precariamente educados, lisonjeando-se com o contraste. Falam das falhas, erros e equívocos daqueles desafortunados, mas não sentem nenhuma responsabilidade a esse respeito, a não ser demorar-se naqueles erros e evitar os que são culpados dos mesmos. T2 75 1 A posição de destaque que vocês como família ocupam na igreja, torna-lhes necessário serem portadores de fardos. Não que devam levar as cargas daqueles que são capazes de fazê-lo e também de ajudarem a outros; mas vocês devem ajudar quem necessita de auxílio, os que estão em situação menos favorável, que estão em erro e em falta, e que podem tê-los ofendido e testado ao máximo a paciência de vocês. É justamente desses que Jesus Se compadece, porque Satanás tem maior poder sobre eles e está constantemente tirando vantagens de seus pontos fracos, dirigindo-lhes suas flechas para feri-los onde estão menos protegidos. Jesus exerce Seu poder e misericórdia nesses deploráveis casos. Quando Ele perguntou a Simão quem amaria mais, sua resposta foi: "É aquele a quem mais perdoou." Lucas 7:43. Assim será. Jesus não Se afastou dos fracos, dos desafortunados e desamparados, mas ajudou os que dEle necessitavam. Ele não restringiu Suas visitas e trabalhos à classe mais inteligente e menos deficiente, negligenciando os desafortunados. Não perguntou se Lhe era agradável estar em companhia dos pobres, dos mais necessitados. Esses são aqueles cuja companhia Ele buscou, as "ovelhas perdidas da casa de Israel". Mateus 15:24. T2 75 2 Esse é o trabalho que vocês têm negligenciado. Têm se desviado das responsabilidades desagradáveis e evitado visitar os que erram, omitindo-se de manifestar-lhes interesse e amor, familiarizando-se com eles. Vocês não têm o espírito perdoador de Cristo. Demarcaram um ponto ao qual todos precisam chegar antes de vocês lhes estenderem seu manto de misericórdia. Não é requerido que cubram o pecado, mas que exercitem aquele piedoso amor pelos que erram, o mesmo que Cristo lhes demonstra. T2 76 1 Vocês foram colocados sobre as mais favoráveis circunstâncias para o desenvolvimento de um bom caráter cristão. Não sentem necessidade premente nem têm o coração oprimido e angustiado pela conduta de filhos desobedientes e rebeldes. Na sua família não há voz dissidente. Vocês têm tudo o que o coração pode desejar. Apesar das condições favoráveis, têm faltas e erros, e muita coisa a vencer de forma a estarem livres de orgulho espiritual, egoísmo, inveja, espírito precipitado e "ruins suspeitas". 1 Timóteo 6:4. T2 76 2 O irmão K não tem o pecado de falar mal para arrepender-se como ocorre com muitos, mas falta-lhe disposição de ajudar àqueles que precisam de auxílio. Ele é egoísta. Ama seu lar, a quietude, o descanso, a isenção de cuidados, perplexidades e aflições; portanto, agrada demasiadamente a si mesmo. Não suporta os encargos que o Céu lhe designou. Evita responsabilidades incômodas e se encerra sobremaneira em seu amor à tranqüilidade. Ele tem sido muito liberal com os recursos, mas, quando é preciso negar a si mesmo para fazer algum bem necessário, quando é requerido um real sacrifício de sua parte, mostra pouca experiência; mas é necessário que a obtenha. T2 76 3 Ele teme ser censurado caso se aventure a ajudar os que erram. "Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a Si mesmo, mas, como está escrito: Sobre Mim caíram as injúrias dos que Te injuriavam." Romanos 15:1-3. Todos os que são participantes dessa grande salvação têm algo a fazer para ajudar aqueles que estão nos arredores de Sião. Eles não devem retirar-lhes seu apoio e afastá-los sem fazer um esforço para ajudá-los a vencer e a preparar-se para o juízo. Não, realmente! Enquanto as pobres ovelhas estão balindo no aprisco, devem ser encorajadas e fortalecidas por todo auxílio que estiver em seu poder prestar-lhes. Você e sua família têm regras muito rígidas e mantêm idéias que não podem ajustar-se a cada caso. Vocês têm falta de amor, ternura, bondade e piedade para com aqueles que não se movem tão rapidamente quanto poderiam. Esse espírito tem prevalecido em tal extensão que vocês estão murchando espiritualmente em lugar de florescerem no Senhor. Seus interesses, esforços e ansiedades são para sua família e parentes. Vocês não têm abrigado a idéia de alcançar aqueles que se acham ao seu redor, vencendo a relutância de exercer influência além de um círculo especial. Idolatram o que é seu e se fecham interiormente. "Que o Senhor possa salvar-me e ao que é meu, é a grande preocupação." Esse espírito terá de morrer antes que vocês floresçam no Senhor, e avancem espiritualmente, antes que a igreja possa crescer e pessoas sejam agregadas a ela. T2 77 1 Todos vocês são limitados no trabalho por outros e precisam mudar sua base de operações. Seus parentes não são mais caros à vista de Deus do que quaisquer outros pobres seres humanos que necessitam de salvação. Devemos colocar o eu e o egoísmo sob nossos pés e exemplificar em nossa vida o espírito de sacrifício próprio e desinteressada benevolência manifestados por Jesus, quando Ele esteve na Terra. Todos devem ter interesse pelos parentes, mas não se permitirem estar restritos a eles como se fossem os únicos a quem Cristo veio salvar. ------------------------Capítulo 9 -- Religião diária T2 78 1 Irmão e irmã L: T2 78 2 Foi-me mostrado que vocês têm uma obra a fazer para pôr a casa em ordem. Irmão L, você não tem representado a verdade convenientemente. Você ama a verdade, mas ela não tem tido sobre sua vida a santificadora influência que deveria, se desejasse estar preparado para a sociedade com os anjos celestiais no reino da glória. Você é madeira tosca que necessita ser desbastada e permanecer na oficina de Deus até que todas as arestas sejam removidas, a superfície aplainada e esteja apto para o edifício. T2 78 3 Você deve ser cuidadoso e não apresentar assuntos da verdade em toda parte. Pode fazer muito mais vivendo a verdade, do que falando dela aos outros. Você pode fazer muito através do exemplo. Necessita ser mais discreto nas transações comerciais, pondo nelas os princípios de sua fé. Seja fiel nos negócios, meticuloso no trabalho, sempre tendo em mente que não são apenas os olhos do empregador que inspecionam seu trabalho, mas que os olhos de Deus estão sobre todas as transações de sua vida. Anjos de Deus estão observando seu desempenho, e deve ser uma parte de sua religião ter cada aspecto do trabalho caracterizado pela verdade e fidelidade. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. Deus deseja torná-lo justo, santo e verdadeiro. T2 78 4 Você não fala sábia e prudentemente à esposa e filhos. Você deve cultivar bondade e cortesia. Seus filhos não têm tido a melhor influência e exemplo diante de si. Eles não devem controlá-lo, mas você a eles, não de modo áspero, repressivamente, mas com firmeza e estabilidade de propósito. T2 78 5 Irmã L, você tem diante de si uma grande batalha a vencer. Tem permitido que o eu seja vitorioso. Sua vontade obstinada é seu maior inimigo. Você possui um temperamento insubmisso e não controla a língua. A falta de domínio próprio tem causado grande dano a você e sua família. Felicidade, tranqüilidade e paz têm habitado em seu lar, mas apenas por pouco tempo. Caso sua vontade seja contrariada, facilmente se irrita e então fala e age como se um demônio a houvesse possuído. Anjos se afastam dessa cena de discórdia, onde palavras iradas são trocadas. Muitas vezes vocês têm expulsado os preciosos anjos celestiais de sua família pela condescendência com a ira. T2 79 1 Uma atitude gera outra semelhante. O espírito que você manifesta se reflete sobre você mesma. Seus filhos têm visto tão pouca afeição, ternura e cortesia, que não se sentem atraídos à verdade ou inspirados ao respeito pela autoridade materna. Por tão longo tempo participaram eles dos maus frutos apresentados por você, que se tornaram de disposição amarga. Eles ainda não estão totalmente afetados; há sob seu inculto exterior bons impulsos que podem ser alcançados e trazidos à tona. Se sua vida religiosa houvesse sido mais coerente, exemplificando a vida de Cristo, as coisas seriam diferentes em sua família. "Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. O que você semear, isso colherá. Se palavras bondosas estão na ordem do dia em seu lar, frutos correspondentes serão colhidos. T2 79 2 Uma pesada responsabilidade repousa sobre você. Em vista disso, você deve ser muito cuidadosa em suas palavras e atos. Que espécie de semente está você lançando no coração de seus filhos? O tempo de colheita -- oh! lembre-se, o tempo de colheita não está muito distante. Não use sementes estragadas. Satanás está preparado para fazer esse trabalho. Utilize apenas sementes puras e limpas. T2 79 3 Você, minha querida irmã, é ciumenta, invejosa e descobridora de faltas. Tem-se sentido desprezada e negligenciada. Assim de fato tem sido, mas você precisa fazer um trabalho por si mesma que ninguém pode fazê-lo. Isso requererá esforço, perseverança e seriedade para obter a vitória sobre os enraizados hábitos que se têm tornado como uma segunda natureza. Nutrimos ternos sentimentos a seu respeito, apesar de seus erros e falhas; e conquanto tomemos a liberdade de expô-los a você, comprometemo-nos a ajudar em tudo o que pudermos. T2 80 1 Vi que você não possui aquele amor filial que deveria. O mal em sua natureza é exercitado de modo totalmente antinatural. Você não é terna e respeitosa para com seus pais. Quaisquer que sejam as falhas deles, você não tem desculpas para comportar-se como o faz diante deles. Esse procedimento tem sido muito cruel e desrespeitoso. Os anjos retiram-se tristes, repetindo as palavras: "O que você semear, também colherá." Continuasse o tempo, e receberia de seus filhos o mesmo tratamento que seus pais têm recebido de você. Não tem buscado como tornar seus pais felizes, e então sacrificar seus desejos e prazeres para esse fim. Os dias que restam a seus pais são poucos, e serão plenos de cuidados e dificuldades, mesmo que você faça tudo para aplainar-lhes o caminho para a sepultura. "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá." Êxodo 20:12. Este é o primeiro mandamento com promessa. Recai sobre crianças e jovens, sobre os de meia-idade e os idosos. Não há na vida nenhum período em que os filhos fiquem isentos da honra aos pais. Esta solene obrigação recai sobre cada filho ou filha, e é uma das condições de prolongamento de sua vida na terra que o Senhor dará aos fiéis. Isto não é um assunto indigno de consideração, mas uma questão de vital importância. A promessa está sob condição de obediência. Se você obedecer, viverá longo tempo na terra que o Senhor seu Deus lhe dá. Se desobedecer, não prolongará sua vida na Terra. T2 81 1 Eis, minha irmã, um assunto para sua fervorosa consideração e profunda meditação. Examine rigorosamente o próprio coração à luz da eternidade. Não oculte nada a seu exame. Esquadrinhe, oh! esquadrinhe, como se disso dependesse a sua vida, e condene a si mesma, pronuncie a sentença sobre você mesma, e então, pela fé, reivindique o purificador sangue de Cristo para remover as manchas de seu caráter cristão. Não adule nem desculpe a você mesma. Lide honestamente com o próprio coração. E então, ao considerar-se pecadora, caia, completamente quebrantada, aos pés da cruz. Jesus a receberá, tão corrompida como é, e lavá-la-á em Seu sangue, purificando-a de toda impureza e habilitando-a para a sociedade dos anjos celestiais, num Céu puro e harmonioso. Não há ali dissonância nem discórdia. Tudo é saúde, felicidade e alegria. T2 81 2 Irmã L, você tem sido indiferente com respeito à sua salvação. Tem, às vezes, feito sinceros esforços e se humilhado diante da igreja e de Deus; mas não recebeu aquele impulso que necessitava, e que Jesus lhe teria dado livremente se estivesse na Terra. O amor está ausente na igreja. O amor pelos que erram é sufocado pelo egoísmo. Há uma grande falta dessa preciosa graça entre o povo de Deus. Você pensa que o povo de Deus é indiferente para com você, e seu coração se rebela contra isso. Eles não têm agido e falado corretamente. Não têm tido um comportamento correto, e não são justificados pelo que fazem. O Céu os desaprova. Jesus tem piedade de você e a convida, alma cansada e sobrecarregada, a ir a Ele e aprender dAquele que é "manso e humilde de coração", e achar descanso para si. O jugo de Cristo "é suave" e Seu "fardo é leve". Mateus 11:29, 30. Quando perplexa, preocupada e aborrecida, fuja para o Portador de fardos; conte tudo a Jesus. Seus irmãos e irmãs podem não apreciar seus esforços e saber quão arduamente você tem tentado obter a vitória; que isso, contudo, não a desencoraje. Se Jesus sabe, se Ele reconhece seus sinceros esforços, fique satisfeita. T2 82 1 É necessário uma completa reforma em sua vida, uma transformação "pela renovação do... entendimento". Romanos 12:2. Deus requer que Seu povo a ajude porque está necessitada, e você deve ser humilde o suficiente para aceitar o auxílio. Quando tentada a perder o controle com um membro indisciplinado, tenha em mente que o anjo relator está anotando cada palavra. Todas estão escritas no livro, e, a menos que sejam apagadas pelo sangue de Cristo, terá que defrontá-las novamente. Você agora tem um registro manchado no Céu. Será aceito um sincero arrependimento diante de Deus. Quando prestes a falar impulsivamente, feche a boca. Não diga uma palavra. Ore enquanto fala, e anjos celestiais virão em seu socorro e afastarão os anjos maus, que a conduziriam a desonrar a Deus, trazer vergonha sobre Sua causa e enfraquecer o próprio coração. T2 82 2 Você tem, especialmente, uma obra a fazer, isto é, confessar com humildade seu procedimento desrespeitoso para com os pais. Não há razão para essa antinatural manifestação para com eles. É um espírito puramente satânico, e você lhe deu guarida porque sua mãe não aprovou seu procedimento. Seus sentimentos não se resumem a uma positiva antipatia, decidido desrespeito, mas chegam ao ódio, malignidade, inveja, ciúme, que se manifestam em suas ações, causando-lhes sofrimento e privação. Você não deseja fazê-los felizes, ou mesmo sentir-se confortados. Seus sentimentos são volúveis. Às vezes seu coração se abranda, e logo se fecha firmemente ao ver neles alguma falta, e nem os anjos podem impressioná-la com uma emoção de amor. Um mau demônio a controla, e você odeia e é odiosa. Deus anotou suas palavras desrespeitosas, seus atos indelicados para com os pais, a quem Ele lhe ordenou honrar, e se deixar de reconhecer este grande pecado e dele se arrepender, ficará em trevas cada vez maiores, até ser deixada por conta de seus maus caminhos. T2 83 1 O Senhor está pronto a ajudar a todos os que necessitam e sentem essa necessidade. Se você percebe sua pobreza e insignificância diante de Deus, e diligentemente se apossa de Sua força, Ele a ajudará, abençoará e fortalecerá, para que pelas suas "boas obras" você possa levar outros a glorificarem ao "Pai, que está nos Céus". Mateus 5:16. Você se enxergará, porventura? Submeterá seus desejos e caminhos a Deus? Buscará "a religião pura e imaculada para com Deus"? Tiago 1:27. Oh, que lhe valerá prosseguir nessa desventurada condição? Você não encontra felicidade nesse modo de vida, e aqueles que a rodeiam também não. Certamente traz a si mesma muita angústia; e a vida como você a leva não é de muito valor. Por que, então, não se reconciliar com Deus? Morra para si mesma e se converta, para que Jesus possa curá-la. Ele deseja salvá-la da maneira como designou, se você consentir. Possa o Senhor ajudá-la a perceber e corrigir cada erro, é minha oração. T2 83 2 Irmão L, você deve ser "pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar". Tiago 1:19. Seja cuidadoso com suas palavras. Não permita que Satanás o torne uma pedra de tropeço para os outros. Há falhas em suas transações comerciais. Você negligencia seu trabalho. Busca concluí-lo tão rapidamente quanto possível, imaginando-o terminado, quando de fato não está. Falta-lhe perfeição. Você deve cultivar gosto e ordem em tudo o que faz. O que é digno de ser feito, merece ser bem feito. Se lhe falta fidelidade na vida comercial, faltar-lhe-á certamente na vida religiosa, e no dia de Deus as balanças do santuário revelarão sua falta. Essa falha é uma vergonha para sua fé. Os descrentes chamam-na desonestidade e dizem: "Se esse é um homem que guarda o sábado, não pretendo tornar-me como ele." T2 83 3 Como os homens testam seu trabalho e o acham deficiente em durabilidade, precisão e ordem, dizem que você é fraudulento, e muitos comentários duros têm sido feitos a respeito. Muitas maldições têm sido lançadas sobre seu serviço, e Deus é blasfemado. Você não pretende ser desonesto, mas há frouxidão em seus trabalhos. Você acha que seus empregadores são muito exigentes; pensa que sabe tão bem quanto eles qual é a solução, e por isso esse estilo negligente, frouxo e imperfeito acompanha grande parte do seu trabalho. Você precisa melhorar nesse aspecto. Deve ser honesto em tudo quanto faz, e completar o trabalho de modo que ele possa suportar a inspeção divina. Não despreze nenhum trabalho. T2 84 1 Procure ajudar sua esposa no conflito que ela tem diante de si. Seja cuidadoso em suas palavras, cultive boas maneiras, cortesia, gentileza, e será recompensado por fazê-lo. ------------------------Capítulo 10 -- Reforma no lar T2 84 2 Irmão M: T2 84 3 Pelo que me foi mostrado, há uma grande obra a ser feita por você antes que possa ser aceito por Deus. Seu ego é muito proeminente. Você possui um temperamento impulsivo e ousado; é arbitrário e despótico com sua família. A irmã M é indolente e desleixada em casa. Não possui elementos de ordem e asseio na maneira de organizar-se. Todavia, pode melhorar nesses pontos. Irmão M, você censura sua esposa, é ditatorial e não possui aquele amor que deveria ter. Ela teme esse seu espírito opressor, mas não faz o que é possível para corrigir seus errôneos hábitos, que tornam o lar desagradável e desconfortável. T2 84 4 Irmão M, você não tem tido uma atuação cuidadosa em sua família. Seus filhos não o amam. Sentem mais aversão do que amor. Sua esposa não o ama. Você nada fez para ser amado. É extremista, severo, exigente e arbitrário com os filhos. Fala-lhes acerca da verdade, mas não pratica seus princípios na vida diária. Não é paciente, tolerante nem perdoador. Por tanto tempo você tem transigido com o próprio espírito, e está tão pronto a dar rédeas soltas à paixão quando provocado, que parece duvidoso haver feito esforços suficientes para ter a "mente de Cristo". 1 Coríntios 2:16. Não possui o poder da paciência, tolerância, mansidão e do amor. Essas graças cristãs precisam ser possuídas antes que você possa tornar-se verdadeiramente um cristão. Você reserva palavras animadoras e atos bondosos para aqueles que não merecem tanto quanto sua esposa e filhos. Cultive palavras bondosas, olhares ternos, elogios e aprovação para com os da própria família, pois isso afetará sensivelmente sua felicidade. Nunca permita que palavras de censura ou impaciência escapem de seus lábios. Submeta o desejo de dominar e pôr o tacão de ferro onde possa. Você possui um espírito muito irritadiço, um espírito fechado. Com alguns você é egoísta e explorador; com outros que deseja agradar, sacrifica tudo, mesmo as coisas necessárias à sua família. Você é liberal nos casos em que pode obter louvor e estima dos homens. Se pudesse adquirir o Céu pelo grande sacrifício feito em favor daqueles com quem você escolheu ser liberal, certamente o obteria. Você não se opõe em ser colocado sob dificuldades para beneficiar a outros, se assim fazendo puder exaltar a si mesmo. Nessas coisas você dizima o endro e o cominho (Mateus 23:23), enquanto negligencia assuntos de maior peso como a justiça e o amor de Deus. T2 85 1 Você não é justo com sua família. Precisa fazer um trabalho ali. Faça primeiro sua esposa feliz e satisfeita, e então considere a condição de seus filhos. Proveja-lhes alimento e roupas adequados. Então, se puder, sem limitar a esposa e filhos, ajude aqueles que necessitam e conceda favores onde possam ser apreciados, e sua liberalidade será louvável. Mas seu primeiro e mais sagrado dever é para com sua família. Eles não devem ser despojados para que outros sejam favorecidos. Que sua benevolência e liberalidade sejam vistas na própria família. Dê-lhes provas tangíveis de seu afeto, interesse, cuidado e amor. Isso tem muito que ver com sua felicidade. Pare de descobrir faltas e repreender sua esposa, pois isso apenas torna as coisas mais difíceis para você e um inferno para ela. T2 86 1 Os anjos de Deus não habitarão com sua família até que haja uma diferente ordem de coisas. Não são seus recursos que são procurados. No entanto, quando reprovado você pensa que a igreja está em busca de seus recursos. Está errado em pensar assim. Você tem sido muito liberal com seus recursos, pela própria razão de pensar que pode assim obter a salvação e adquirir uma posição na igreja. Não, definitivamente! Você é que é desejado e não os poucos recursos que possui. Se pudesse ser transformado pela renovação de seu entendimento e converter-se, lidaria verazmente com o próprio coração. Isso é tudo o que a igreja requer. Você engana a si mesmo. "Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, ... a religião desse é vã." Tiago 1:26. Trate sua família de tal maneira que o Céu possa aprovar e assim a paz estará em seu lar. É necessário fazer tudo pela família. Seus filhos têm tido seu mau exemplo diante deles; você tem culpado, censurado e manifestado um espírito impulsivo em casa, enquanto ao mesmo tempo se dirige ao trono da graça, assiste aos cultos e dá testemunho em favor da verdade. Essas exibições têm levado seus filhos a desprezá-lo e à verdade que professa. Eles não confiam em seu cristianismo. Acham que você é um hipócrita, e na verdade você é lamentavelmente um homem iludido. Você jamais entrará no Céu sem uma completa mudança, assim como Simão, o mago, que pensava que o Espírito Santo pudesse ser comprado com dinheiro. Sua família tem observado seu espírito astuto, sua prontidão em tirar vantagens dos outros, sua avareza com aqueles com quem algumas vezes você lida, e o despreza por isso; e certamente seguirá suas pisadas no mau procedimento. T2 87 1 Sua maneira de tratar os outros não é o que deveria ser. É-lhe difícil relacionar-se de maneira justa e amar a misericórdia. Sua vida tem desonrado a causa de Deus. Tem combatido pela verdade, mas não no devido espírito. Impediu pessoas de abraçarem a verdade, que de outro modo o teriam feito. Elas se têm desculpado, apontando os erros e injustiças dos professos guardadores do sábado, dizendo: "Eles não são melhores do que eu; mentem, enganam, exageram, ficam zangados e se gloriam de si mesmos. Uma religião como essa eu não quero." Assim, a vida não consagrada desses faltosos observadores do sábado torna-os uma pedra de tropeço aos pecadores. T2 87 2 A obra que está diante do irmão deve começar em sua família. Você tem tentado melhorar exteriormente, mas essa obra é muito superficial, de fachada, e não do coração. Ponha o coração em ordem, humilhe-se diante de Deus e implore Sua graça. Não faça coisas, como os fariseus hipócritas, para parecer justo e devoto aos olhos dos outros. Quebrante o coração perante o Senhor e saiba que lhe é impossível enganar os santos anjos. Suas palavras e atos estão todos abertos à inspeção deles. Motivos, intenções e propósitos do coração são patentes a seus olhos. As coisas mais secretas não lhes são ocultas. Oh, renda o coração e não esteja ansioso para fazer com que seus irmãos pensem que você é justo, quando não é! Seja sensato com sua família. Você vigia para observar erros dos outros, mas não faça mais isso. A obra que tem diante de si agora é vencer os próprios erros e batalhar contra seus fortes inimigos interiores. Trate com justiça as viúvas e os órfãos. Não cubra seus atos com a fina capa do engano, para influenciar aqueles que você muito deseja pensem bem a seu respeito, enquanto seus motivos e ações não sustentam a estrutura que você colocaria sobre eles. T2 88 1 Cesse toda a contenda e tente ser um pacificador. Ame não "de palavra... mas por obra e em verdade". 1 João 3:18. Suas obras devem resistir à inspeção no Juízo. Lidará você fielmente com o próprio coração? Não se engane. Lembre-se de que "Deus não Se deixa escarnecer". Gálatas 6:7. Aqueles que conquistarem a vida eterna farão tudo o que puderem para pôr sua casa em ordem. Eles precisam começar no próprio coração e prosseguir até que retumbantes vitórias sejam alcançadas. O eu precisa morrer e Cristo viver em seu coração. Então haverá em você "uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". João 4:14. Agora você tem preciosas horas de graça que lhe são reservadas para formar um caráter reto até à idade avançada. Agora dispõe de um período no qual deve remir o tempo. Você não pode, nas próprias forças, desfazer-se de erros e faltas; pois eles têm se acumulado durante anos, porque não os via em sua hediondez. Mas na força de Deus, resolutamente lance-os fora. Por viva fé você deve agarrar-se ao braço que é poderoso para salvar. Humilhe diante de Deus o seu pobre coração altivo e presunçoso; prostre-se bem baixo a Seus pés, completamente quebrantado pela sua pecaminosidade. Dedique-se à obra de preparação. Não descanse até que possa dizer sinceramente: "Meu Redentor vive" (Jó 19:25), e, porque Ele vive, eu também viverei. T2 88 2 Se você perder o Céu, perderá tudo; se ganhá-lo, ganhará tudo. Rogo-lhe que não cometa erro, neste sentido. Aqui estão envolvidos interesses eternos. Seja meticuloso. Oxalá "o Deus de toda a graça" (1 Pedro 5:10) ilumine de tal maneira o seu entendimento que você possa discernir as coisas eternas, para que pela luz da verdade seus erros, que são muitos, sejam-lhe revelados assim como são em realidade, a fim de que faça o necessário esforço para eliminá-los, e em lugar desse fruto nocivo e amargo você possa produzir fruto que é precioso para a vida eterna. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:20. Cada árvore é conhecida por seus frutos. Que espécie de fruto, de agora em diante, será visto nessa árvore? O fruto que você produzir determinará se é uma boa árvore, ou se é das que Cristo dirá ao Seu anjo: "Corta-a. Por que ela ocupa terreno inutilmente?" Lucas 13:7. ------------------------Capítulo 11 -- Uma consciência violada T2 89 1 Prezado irmão N: T2 89 2 Sinto-me compelida por um senso de dever a dirigir-lhe algumas linhas. Foram-me mostradas em relação com o seu caso algumas coisas que não ouso reter. Vi que Satanás se aproveitou de você por sua esposa não ter abraçado a verdade. Você foi lançado no convívio de uma mulher corrupta; mulher cujos passos se dirigem para o inferno. Ela lhe professava grande simpatia devido à oposição que você sofria de sua esposa. Como a serpente no Éden, tornava suas maneiras fascinantes. Deu-lhe a impressão de que o irmão era um homem maltratado; de que sua esposa não lhe apreciava os sentimentos nem correspondia a suas afeições; que fora cometido um erro em seu casamento; até que você imaginou que os votos matrimoniais de fidelidade por toda a vida àquela a quem tomara como esposa eram uma mortificante cadeia. Você se volveu para esse aparente anjo na linguagem, em busca de simpatia. Derramou-lhe aos ouvidos aquilo que só devia ter sido confiado a sua esposa, a quem prometera amar, honrar e proteger enquanto ambos vivessem. Esqueceu-se de vigiar e orar sempre, para não cair em tentação. Seu coração foi manchado por um crime. Marcou o registro de sua vida no Céu com um terrível borrão. Todavia serão aceitáveis diante de Deus profunda humilhação e arrependimento para com Ele. O sangue de Cristo pode lavar estes pecados. T2 89 3 Você caiu, caiu horrivelmente. Satanás o seduziu a cair-lhe na rede, deixando-o depois desemaranhar-se o melhor que pudesse. O irmão tem estado afligido e perplexo, e terrivelmente tentado. Perturba-o uma consciência culpada. Desconfia de si mesmo, e imagina que todos os outros também desconfiam. Suspeita de si mesmo, e imagina que em todos os outros corações existe para com você a mesma suspeita. Não tem confiança em si mesmo, e imagina que seus irmãos também não a têm a seu respeito. Satanás apresenta freqüentemente o passado aos seus olhos, e diz que não adianta procurar viver a verdade, que o caminho é demasiado estreito para o irmão. Você foi vencido; agora, Satanás se aproveita de seu caminho pecaminoso para fazê-lo crer que já não há redenção para você. Você se encontra no campo de batalha do inimigo, empenhado em árduo combate. A barreira que é lançada em torno do círculo de toda família, e a torna sagrada, você a derrubou. E agora Satanás o aflige quase de contínuo. Você não tem descanso. Não está em paz, e busca tornar seus irmãos responsáveis por seus contraditórios sentimentos, suas dúvidas e suspeitas; acha que eles estão em falta, que não lhe dão atenção. A dificuldade está dentro de você mesmo. Quer seguir o próprio caminho, e não rasga o coração diante de Deus, lançando-se, quebrantado e contrito, pecador e poluído, sobre Sua misericórdia. Seus esforços para salvar-se, caso neles persista, resultarão em ruína certa. T2 90 1 Acabe com as suspeitas e críticas. Volva a atenção para seu caso e, mediante humilde arrependimento, confiando unicamente no sangue de Cristo, salve a si mesmo. Faça uma obra cabal para a eternidade. Se você se desviar da verdade, é um homem arruinado; arruinada, sua família. Uma vez derrubadas as fortificações que mantêm sagradas a privacidade e os privilégios da relação de família, difícil é reerguê-las; na força de Deus, porém, e em Sua força unicamente, isso pode ser realizado. A verdade, a sagrada verdade, é sua âncora, a qual o salvará de flutuar corrente abaixo para o crime e a destruição. T2 90 2 A consciência uma vez violada fica grandemente enfraquecida. É necessária a influência da contínua vigilância e incessante oração. Você se encontra em um lugar escorregadio. Necessita de toda a força que a verdade lhe possa dar para fortificá-lo, e salvá-lo do completo naufrágio. Acham-se diante de você a vida e a morte; qual escolherá? Houvesse visto a necessidade de estar firmemente estabelecido sobre princípios, não sendo movido por impulsos, e não ficando facilmente desanimado, mas preparado para suportar as vicissitudes, e não teria sido vencido da maneira como o foi. Você agiu por impulso. Não estava disposto, à semelhança de nosso impecável Modelo, a sofrer a contradição dos pecadores contra si mesmo. Somos exortados a lembrar-nos dAquele que suportou isto, para que não nos cansemos e desfaleçamos em nosso espírito. O irmão foi fraco como uma criança, sem poder de resistência. Não sentiu a necessidade de estar estabelecido, fortalecido, firmado, arraigado e edificado na fé. T2 91 1 Tem achado ser seu dever ensinar a verdade aos outros, em lugar de por sua vez aprendê-la. Mas deve estar disposto a ser um discípulo, a receber a verdade de outros, e deve acabar com suas desconfianças, críticas, queixas, e, com mansidão, receber a palavra enxertada que é capaz de lhe salvar a alma. É você quem decide ser feliz ou infeliz. Cedeu uma vez à tentação, e não pode agora confiar na própria força. Satanás tem grande poder sobre sua mente, e você não terá coisa alguma que o guarde, uma vez que se aparte da refreadora influência da verdade. Esta lhe tem sido uma salvaguarda para o refrear do crime e da iniqüidade. Sua única esperança é buscar inteira conversão, e redimir o passado por uma vida bem ordenada e piedoso comportamento. T2 91 2 Você tem sido movido por impulsos que agradam ao seu temperamento. Sua única esperança agora é arrepender-se sinceramente das passadas transgressões da lei de Deus, e purificar o coração pela obediência da verdade. Cultive pureza de pensamentos e de vida. A graça de Deus será sua força para refrear as paixões e reprimir os apetites. Fervorosa oração, vigiando nisto, fará com que o Espírito Santo lhe venha em auxílio, para aperfeiçoar a obra, e torná-lo semelhante a seu impecável Modelo. T2 92 1 Caso prefira rejeitar a sagrada e repressora influência da verdade, Satanás o levará cativo à sua vontade. Estará em risco de dar lugar a seus apetites e paixões, dando rédea solta às concupiscências, a maus e abomináveis desejos. Em lugar de apresentar no semblante calma serenidade sob as provas e aflições, como o fiel Enoque, tendo a face iluminada pela esperança e aquela "paz que excede todo o entendimento" (Filipenses 4:7), terá nela estampados os pensamentos carnais, os concupiscentes desejos. O irmão apresentará a imagem do satânico em vez de a do divino. T2 92 2 "Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo." 2 Pedro 1:4. Você tem agora o privilégio de, por meio de humilde confissão e sincero arrependimento, valer-se de palavras e converter-se ao Senhor. Oséias 14:2. O precioso sangue de Cristo pode purificá-lo de toda impureza, tirar toda contaminação, e torná-lo perfeito nEle. As misericórdias de Cristo ainda se encontram ao seu alcance, caso as aceite. Para o bem de sua ofendida esposa, e de seus filhos, fruto de seu ser, deixe de fazer o mal, e aprenda "a fazer o bem". Isaías 1:17. Aquilo que você "semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a vida eterna." Gálatas 6:7, 8. T2 92 3 Você deve vencer sua suscetibilidade e espírito de crítica. Desconfia de que os outros não lhe dão toda a atenção que julga dever receber. Você não deve apegar-se à experiência que se baseia no sentimento, e que cheira a fanatismo. Ela não é segura. Proceda movido por princípios, por uma plena compreensão. Busque as Escrituras, e esteja disposto a "responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós". 1 Pedro 3:15. Faça morrer a exaltação do próprio eu. "Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza." Tiago 4:8, 9. Quando assaltado pelas tentações e maus pensamentos, não há senão Um a quem você pode recorrer em busca de alívio e socorro. Fuja para Ele em sua fraqueza. Quando ao Seu lado, partindo-se as setas de Satanás, elas não lhe podem fazer mal. Suportadas em Deus, suas provas e tentações hão de purificar e humilhar, mas não o destruirão nem o comprometerão. ------------------------Capítulo 12 -- Advertências e reprovações T2 93 1 Prezado irmão O: T2 93 2 Foi-me mostrado que o irmão foi encoberto por trevas que não foram dissipadas pelos raios de luz provindos de Cristo. Você parece insensível ao perigo, e se acha num estado de apatia, insensibilidade e despreocupação. Perguntei pela causa dessa terrível condição e foi-me mostrado que, desde que o irmão abraçou a verdade, não foi santificado por ela. Tem condescendido com o apetite e paixões sensuais, para a destruição de sua espiritualidade. Vi que Deus deu luz mediante os dons concedidos à igreja, os quais instruiriam, aconselhariam, guiariam, reprovariam e advertiriam. Esses testemunhos que você admitiu provirem de Deus, não foram atendidos, postos em prática. Desconsiderar a luz é rejeitá-la. A rejeição da luz deixa os homens presos em cadeias de escuridão e descrença. T2 93 3 Foi-me mostrado que você aumentou sua família sem compreender a responsabilidade que estava trazendo sobre si mesmo. Tem-lhe sido impossível exercer justiça para com sua companheira e filhos. Sua primeira esposa não deveria ter morrido, mas você trouxe sobre ela cuidados e fardos que culminaram no sacrifício da vida dela. Sua esposa atual tem uma pesada sorte; sua vitalidade está prestes a debilitar-se. Aumentando rapidamente a família, você se viu preso a um estado de pobreza, e a mãe, envolvida com a educação dos jovens membros da casa, não tem tido adequadas oportunidades para sua vida. Ela tem amamentado os filhos sob as circunstâncias mais desfavoráveis, quando ainda aquecida pelo calor do fogão. Ela não instrui os filhos como deveria, nem regula seus hábitos de comer e trabalhar. O resultado de tomar alimento não muito saudável e violar as leis que Deus estabeleceu em nosso ser, trouxe doença e morte prematura aos filhos mais velhos. Doenças têm sido transmitidas à sua descendência e o livre uso de alimentos cárneos aumenta a dificuldade. Comer carne de porco tem despertado os mais mortíferos humores que havia no organismo. Seus filhos são roubados da vitalidade já antes de nascerem. Você não associou "com a virtude, o conhecimento" (2 Pedro 1:5), e seus filhos não têm sido ensinados a preservar-se nas melhores condições de saúde. Nunca deve ser posto sobre a mesa um bocado sequer de carne de porco. T2 94 1 Os filhos têm sido deixados a si mesmos, em lugar de criados e educados para se tornarem cristãos. Em muitos respeitos, seu gado tem recebido melhor tratamento que os filhos. Você não tem cumprido seu dever com os filhos, mas deixado que cresçam na ignorância. Não compreendeu a responsabilidade que assumiu ao trazer ao mundo uma família tão numerosa, por cuja salvação você é, em grande parte, responsável. Você não pode livrar-se desse encargo. Ao desinteressar-se pela educação dos filhos e não instruí-los pacienciosa e fielmente formando-lhes caráter para o Céu, você os rouba de seus direitos. Essa atitude tem contribuído muito para destruir a confiança deles em você. O irmão é exigente, autoritário e tirânico; irrita, ralha, censura, e assim fazendo afasta as afeições dos filhos. Trata-os como se eles não tivessem seus justos direitos, como se fossem máquinas em suas mãos, para serem operadas de acordo com sua vontade. Você os provoca à ira e, frequentemente, os desestimula. Não lhes dá amor e afeição. Amor gera amor; afeição produz afeição. O espírito que manifesta aos filhos se refletirá sobre você mesmo. T2 95 1 Você se acha em condição crítica e não tem consciência disso. É impossível a um homem intemperante ser paciente. Primeiro temperança, depois paciência. Por tanto tempo tem vivido para si e seguido a imaginação do próprio coração, que não pode discernir as coisas sagradas. Suas paixões e apetite lascivos o têm controlado. As faculdades mentais mais elevadas têm sido enfraquecidas e controlada pelas inferiores e vis. As propensões sensuais vêm ganhando forças. Quando a razão é controlada pelo apetite, o alto sentido das coisas sagradas fica reduzido. A mente é degradada, as afeições tornam-se profanas, as palavras e atos testificam do que vai no coração. Deus tem sido ofendido e desonrado por sua conversação e conduta. Suas palavras não são selecionadas e bem escolhidas; conversação baixa, vulgar, sai naturalmente de seus lábios, mesmo em presença de crianças e jovens. Sua influência a esse respeito tem sido má. T2 95 2 Seu exemplo não é correto e você se tem colocado diretamente no caminho dos próprios filhos e dos filhos dos observadores do sábado. Toda censura a respeito de sua conduta ainda é pouca. "Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas Eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do Juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado." Mateus 12:34-37. Seu coração precisa ser purificado, limpo, santificado, mediante obediência à verdade. Nada pode salvá-lo senão uma completa conversão, uma verdadeira percepção de seus caminhos pecaminosos e uma cabal transformação "pela renovação do vosso entendimento". Romanos 12:2. T2 96 1 Você é muito zeloso ao defender a necessidade de não negar a fé pelas obras, mas tem feito da fé uma desculpa para não assegurar aos filhos a oportunidade de obter uma educação mesmo nos ramos mais comuns. Conhecimento a respeito de si mesmo é o que você precisa, e ainda sentir a necessidade de obtê-lo. Conhecimento é o que seus filhos precisam, mas não têm o privilégio de alcançá-lo. Com essa grande carência, eles não podem tornar-se membros úteis da sociedade, e serão deficientes em sua educação religiosa. Uma pesada responsabilidade jaz à sua porta. Você está abreviando a vida de sua esposa. Como pode ela glorificar a Deus em seu corpo e espírito, "os quais pertencem a Deus"? 1 Coríntios 6:20. T2 96 2 Deus lhe tem dado luz e conhecimento, os quais você professa crer serem vindos diretamente dEle, para instruí-lo a renunciar ao apetite. Você sabe que o uso da carne de porco é contrário a Sua ordem expressa, dada não porque Ele desejasse manifestar especialmente Sua autoridade, mas porque ela seria nociva aos que a comessem. Seu uso tornaria o sangue impuro, de modo que escrófulas e outros humores corromperiam o organismo e todo ele sofreria. Especialmente os tenros e sensíveis nervos do cérebro se enfraqueceriam e ficariam tão entorpecidos, que as coisas sagradas não seriam discernidas, mas colocadas no baixo nível das coisas comuns. Luz mostrando que a doença é causada pelo uso desse nocivo artigo de alimentação tem vindo tão rapidamente quanto o povo de Deus possa suportar. Você tem dado atenção à essa luz? T2 96 3 Você têm ido diretamente em sentido contrário à luz que Deus Se agradou em dar em relação ao uso do fumo. A satisfação do apetite eclipsou a luz dada pelo Céu, e fez um deus dessa prejudicial condescendência. Ela é seu ídolo. Você se curvou a ela em lugar de Deus e, ao mesmo tempo professa grande fé nas visões, mas age inteiramente contrário às mesmas. Por anos você não tem avançado um passo na vida espiritual, porém se tornando cada vez mais fraco e mais sombrio. Você se tem sentido deploravelmente aflito acerca do comportamento do irmão P em sua oposição à verdade. Tem você atribuído o fraco e desanimador estado da igreja a essa oposição. É verdade que esse irmão tem sido um grande obstáculo ao progresso da causa de Deus em _____. Mas o procedimento que você tem adotado, conquanto professando conhecer a verdade e possuir experiência na obra de Deus, mostrou-se maior estorvo do que a atitude do irmão P. Se você tivesse andado segundo o conselho de Deus, e sido santificado pela verdade que professa crer, o irmão P não nutriria as dúvidas que tem. Sua posição como defensor das visões tem sido uma pedra de tropeço para os que foram incrédulos. Foi-me mostrado que seu irmão tentou suportar os pesados fardos que a triste condição da igreja lhe trouxe, até quase sucumbir sob seu peso, e desistiu para não perder a vida. Vi que o cuidado de Deus estava sobre o irmão e a irmã R, e se sua fé permanecesse inabalável, eles veriam a salvação de Deus em sua casa e na igreja. T2 97 1 Foi-me apresentado o caso dos queridos irmão e irmã S. Eles passaram por águas escuras e as vagas lhes passaram sobre a cabeça; contudo, Deus os amou e se eles apenas Lhe confiassem seus caminhos, seriam trazidos purificados da fornalha da aflição. O irmão S tem considerado o lado escuro e duvidado de sua condição de filho de Deus. Duvidou de sua salvação. Vi que ele não precisaria esforçar-se muito para crer, mas confiar em Deus como uma criança confia em seus pais. Ele se preocupa muito, afastando-se dos braços de Jesus, dando assim ao inimigo uma chance de tentá-lo e molestá-lo. Deus conhece a fragilidade do corpo e da mente, e não requererá dele mais forças do que tem para dar. Ele tem tentado ser fiel e verdadeiro em sua profissão de fé. Falhou numerosas vezes em sua vida, todas elas por ignorância. Com relação à disciplina dos filhos, considerava que era seu dever ser estrito, e assim levou a disciplina muito longe. Tratou pequenas ofensas com grande severidade. Isso teve uma influência para afastar, em certo grau, a afeição do filho pelo pai. Durante sua doença, o irmão S foi possuído de imaginação doentia. Seu sistema nervoso desequilibrou-se e ele pensou que os filhos não o amavam como deveriam. Mas isso era resultado da doença. Satanás queria destruí-lo, desencorajando e debilitando seus pobres filhos. Mas Deus não permitiu. Seus filhos têm maiores responsabilidades a levar do que outros que são mais velhos do que eles, e merecem cuidadosa disciplina, criterioso preparo, mesclados com simpatia, amor e grande ternura. T2 98 1 A mãe tem tido força especial e sabedoria de Deus para animar e ajudar seu marido, e fazer muito para unir os filhos a seu coração e fortalecer-lhes o afeto pelos pais e uns pelos outros. Vi que os anjos da misericórdia pairavam sobre essa família, embora as perspectivas parecessem negras e ameaçadoras. Todos os que têm manifestado profunda compaixão pelo irmão S, nunca se desapontarão, pois ele é um filho de Deus, amado por Ele. O estado depressivo da igreja tem sido verdadeiramente danoso à sua saúde. Eu o vi contemplando o lado escuro, desconfiado de si mesmo, e olhando para a sepultura. Não precisa ele demorar-se nisso, mas olhar para Jesus, o Modelo imaculado. Deve tomar coragem e animar-se no Senhor. Falar de fé, falar de esperança, descansar em Deus e não sentir que um grande esforço seja requerido de sua parte. Tudo o que Deus requer é confiança simples -- lançar-se em Seus braços com todas as fraquezas, desânimo e imperfeições, e Jesus ajudará os desamparados, fortalecerá e erguerá aqueles que se sentem fracos. Deus será glorificado nessa aflição, através da paciência, fé e submissão. Oh! isso provará o poder da verdade que professamos; ela é consolação quando dela necessitamos; é apoio quando cada arrimo da natureza terrena, que tem sido um suporte limitado, é removido. T2 99 1 Foi-me mostrado o caso do irmão T. Ele se tem colocado em um estado de servidão, para o qual Deus não o chamou. Deus não Se agrada quando pais idosos entregam sua mordomia nas mãos de filhos não consagrados, embora professem a verdade. Mas quando os recursos que o Senhor confiou a Seu povo são colocados nas mãos de filhos incrédulos, que são inimigos de Deus, Ele é desonrado, pois aquilo que poderia ser aplicado nas fileiras do Senhor, é posto nas fileiras do inimigo. T2 99 2 O irmão T, novamente, desempenhou o papel de enganador. Tem usado fumo, mas deseja que seus irmãos pensem que não o faz. Vi que esse pecado tem impedido o progresso de sua vida espiritual. Ele tem um trabalho a fazer em sua avançada idade: abster-se "das concupiscências carnais, que combatem contra a alma". 1 Pedro 2:11. Ama a verdade e tem sofrido por sua causa. Agora deve ele apreciar o eterno galardão, o tesouro nos Céus, a imortal herança, "a incorruptível coroa de glória" (1 Pedro 5:4), para que possa de bom grado sacrificar a condescendência com o apetite pervertido, sejam as conseqüências ou sofrimentos quais forem, e empreender a obra de purificação da carne e do espírito. T2 99 3 Foi-me então mostrada sua nora. Ela é amada de Deus, mas mantém-se em servil cativeiro, tremendo, temendo, desalentada, duvidando e muito nervosa. Esta irmã não deve sentir que precisa render sua vontade a um jovem sem Deus, com menos idade do que ela. Ela deve lembrar que seu casamento não destrói sua individualidade. Deus tem sobre ela direitos mais altos que quaisquer direitos terrenos. Cristo comprou-a com o Seu sangue. Ela não pertence a si mesma. Ela deixa de pôr sua inteira confiança em Deus e aceita render suas convicções, sua consciência, a um homem opressor, tirânico, animado por Satanás sempre que sua satânica majestade possa atuar com eficácia por seu intermédio para intimidar este coração esquivo e tremente. Tantas vezes tem ela sido posta em agitação que seu sistema nervoso está destroçado e ela não é mais que uma ruína. É a vontade do Senhor que esta irmã esteja neste estado e Deus fique na falta de seu serviço? Não. Seu casamento foi uma armadilha do diabo. Contudo, ela deve agora fazer o melhor que lhe for possível, tratar o marido com ternura e fazê-lo tão feliz quanto puder, sem violar sua consciência; pois se ele persistir em sua rebelião, este mundo é o único céu que terá. Mas ficar sem o privilégio de reuniões, para satisfazer a um marido opressor, possuído do espírito do dragão, não está de acordo com a vontade de Deus. Ele deseja que o tremente coração corra-Lhe ao encontro. Ser-lhe-á por cobertura, "como uma sombra de grande rocha em terra sedenta". Isaías 32:2. Somente tenha fé, confie em Deus e Ele a fortalecerá e abençoará. Todos os três filhos dela são suscetíveis às influências da verdade e do Espírito de Deus. Fossem eles postos em situação favorável, como sucede com muitos filhos de observadores do sábado, e seriam convertidos e alistados no exército do Senhor. T2 100 1 Foi-me então mostrada uma jovem do mesmo lugar, que se havia afastado de Deus e estava envolta em trevas. Disse o anjo: "Ela correu bem, por algum tempo; que foi que a estorvou?" Fui levada a olhar para trás e vi que fora a mudança do ambiente. Ela se associava com jovens semelhantes a ela mesma, tomados de desmedida alegria e hilaridade, orgulho e amor ao mundo. Se tivesse levado a sério as palavras de Cristo, não precisava ter cedido ao inimigo. "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Mateus 26:41. A tentação pode estar em toda a nossa volta, mas isto não torna necessário que nós caiamos em tentação. A verdade vale tudo. Sua influência tende, não a degradar, mas a elevar, enobrecer, purificar, e exaltar à imortalidade e ao trono de Deus. Disse o anjo: "Você quer a Cristo, ou ao mundo?" Satanás apresenta aos pobres mortais o mundo com os mais sedutores e lisonjeiros encantos, e eles o contemplam, e seu esplendor lhes obscurece a glória do Céu e aquela vida que é permanente como o trono de Deus. Uma vida de paz, felicidade e inefável alegria, e que nada conhece de tristeza, pesar, dor ou morte, é sacrificada em troca de um breve espaço de vida de pecado. Todos aqueles que se voltarem dos prazeres terrenos, e com Moisés escolherem antes sofrer aflições com o povo de Deus, do que gozar os prazeres do pecado por um pouco, estimando mais as riquezas do opróbrio de Cristo do que os tesouros do mundo receberão, com o fiel Moisés, incorruptível coroa da imortalidade, e experimentarão o "peso eterno de glória mui excelente". 2 Coríntios 4:17. T2 101 1 A mãe dessa moça, diversas vezes, tem sido suscetível à influência da verdade, mas de pronto dissipa a impressão por ser indecisa. Falta-lhe decisão de caráter, é muito vacilante e afetada sobremaneira pelos descrentes. Ela precisa estimular decisão, coragem, firmeza de propósito que não oscile para a direita ou para a esquerda conforme as circunstâncias. Não deve mais vacilar. Se não se corrigir nesse aspecto, será facilmente enganada e tornará sua vontade cativa de Satanás. Terá de possuir perseverança e firmeza na obra de vencer, ou será derrotada e perderá sua salvação. A obra de salvação não é um brinquedo de crianças, para ser iniciada de acordo com a vontade e deixada a seguir seu rumo. É o firme propósito, o infatigável esforço que obterá a vitória afinal. "Aquele que perseverar até o fim será salvo." Mateus 10:22. São os que continuam pacientemente a fazer o bem que terão a vida eterna e a recompensa imortal. Se essa querida irmã houvesse sido leal às suas convicções e mantido firmeza de propósito, poderia ter exercido salvadora influência sobre sua família e o marido, e sido um especial auxílio à sua filha. Todos os que estão empenhados nesse conflito com Satanás e seus exércitos, têm diante de si um trabalho especial. Não devem ser maleáveis como a cera, que o fogo pode moldar em qualquer forma. Precisam suportar dificuldades como fiéis soldados, permanecer em seus postos e serem verdadeiros em todo o tempo. T2 102 1 O Espírito de Deus está lutando com toda a família. Ele os libertará se estiverem dispostos a ser salvos pelo modo indicado. Agora é o tempo da graça. "Eis aqui agora o dia da salvação." 2 Coríntios 6:2. Agora, sim, agora é o tempo de Deus. Rogamos em nome de Cristo que se reconciliem com Deus enquanto podem, e em humildade, operem sua "salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. Foi-me revelado que era obra de Satanás manter a igreja em estado de insensibilidade, para que a juventude fique presa nas fileiras dele. Vi que os jovens eram suscetíveis à influência da verdade. Se os pais se consagrassem a Deus e trabalhassem com interesse pela conversão de seus filhos, Deus Se revelaria e glorificaria Seu nome entre eles. T2 102 2 Foi-me então apresentado o caso do irmão U, que Satanás havia prendido em seus laços e afastado de Deus e de seus irmãos. O irmão V com sua incredulidade tem exercido uma influência que obscurece grandemente a compreensão do irmão U. Foi-me mostrado e salientado que a conduta mais sábia não era seguida no caso desse irmão. Não havia razão suficiente para que fosse deixado fora da igreja. Ele devia ter sido encorajado, até mesmo persuadido a unir-se com seus irmãos na igreja. Ele estava em melhor condição de fazer parte da igreja do que muitos que estavam unidos a ela. Mas não compreendia as coisas claramente e o inimigo usou essa incompreensão para seu prejuízo. Deus, que conhece os corações, teria Se agradado mais com a vida e a conduta do irmão U, do que com a vida de alguns que estão ligados à igreja. É da vontade do Senhor que ele se aproxime de seus irmãos, para que lhes possa ser uma força, e para que eles também o fortaleçam. T2 103 1 A esposa do irmão U pode ser alcançada pela verdade. Em muitos respeitos sua conduta não é tão questionável como a de alguns que professam crer em toda a verdade. Contudo, não deve olhar às falhas e erros daqueles que fazem alta profissão de fé, mas sinceramente perguntar: O que é a verdade? Ela, em união com seu companheiro, pode exercer uma influência para o bem. Essas queridas pessoas, santificadas pela verdade, podem na força divina ser esteios na igreja e influenciar positivamente a outros. São responsáveis perante Deus pela influência que exercem. Ajuntam com Cristo ou espalham. Deus requer o peso de sua influência em Sua causa, ao lado da verdade. Jesus comprou-os com o próprio sangue. Não pertencem a si mesmos, porque foram "comprados por bom preço". 1 Coríntios 6:20. O trabalho, portanto, está diante deles para glorificar "a Deus no... corpo e no... espírito, os quais pertencem a Deus". 1 Coríntios 6:20. Estamos fazendo uma obra para a eternidade. É de suma importância que cada hora seja empregada no serviço de Deus, e assim assegurar um tesouro no Céu. T2 103 2 Seu caso foi-me mostrado, irmão V, em ligação com a igreja de _____, dois anos atrás. A visão refere-se ao passado, presente e futuro. Enquanto viajávamos e nos achávamos diante de pessoas de vários lugares, o Espírito do Senhor me tornava claros os casos que me haviam sido mostrados, avivando o assunto previamente dado. Vi que você recebeu o sábado, ao mesmo tempo em que se opunha a importantes verdades ligadas a ele. Você não foi fortalecido em toda a verdade. Vi, então, sua mente posta no caminho da incredulidade, da dúvida, da desconfiança, buscando alcançar aquelas coisas que foram calculadas para fortalecer a descrença e as trevas. Em lugar de buscar evidências para fortalecer a fé, você seguiu o caminho contrário e Satanás lhe dirigiu a mente na realização dos interesses dele. Você gosta de combater, e quando entra num campo de batalha, não sabe quando depor as armas. Aprecia argumentar e condescende com esse hábito até que ele o desvie da luz, da verdade e de Deus, e o envolva em trevas fazendo com que a descrença tome posse de sua mente. Você tem sido cegado por Satanás. T2 104 1 Como o descrente Tomé, você considera ser virtude duvidar a menos que tenha inconfundível evidência, que remova da mente todo motivo de dúvida. Elogiou Jesus o incrédulo Tomé enquanto lhe mostrava a evidência que ele pedira antes de crer? Disse-lhe Jesus: "Não sejas incrédulo, mas crente." João 20:27. Tomé respondeu: "Senhor meu, e Deus meu." João 20:28. Ele é agora compelido a crer; não há margem para dúvidas. "Disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!" João 20:29. Você me foi apresentado como se unindo ao líder rebelde e seus exércitos para molestar, desorientar, abater, desencorajar e transtornar aqueles que estão batalhando pelo direito, que se colocam sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. Sua influência, vi, afastou pessoas da guarda do sábado do quarto mandamento. Você tem empregado seus talentos e habilidade para fabricar armas para colocá-las nas mãos dos inimigos de Deus, para combater aqueles que estão tentando obedecer-Lhe guardando Seus mandamentos. Enquanto anjos têm sido comissionados para fortalecer as coisas que permanecem, para resistir e contrariar sua influência, olham com profundo pesar seu trabalho de desanimar e destruir. Você tem feito os puros e imaculados anjos chorarem. T2 105 1 Aqueles que estão vivendo em meio aos perigos dos últimos dias, caracterizados por multidões que trocam a verdade de Deus por fábulas, terão muito trabalho para se desviarem desses mitos para eles preparados, e desejarem banquetear-se com uma verdade impopular. Aqueles que se volvem dessas fábulas à verdade, são desprezados, odiados e perseguidos pelos que as apresentam ao povo. Satanás está em guerra com o remanescente que está se empenhando em guardar "os mandamentos de Deus e" ter "o testemunho de Jesus". Apocalipse 12:17. Anjos maus são comissionados a usar homens como agentes terrenos. Eles podem com mais sucesso exercer uma influência para tornar eficazes os ataques de Satanás contra o remanescente a quem Deus chama "a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. Satanás está determinado a impedir que isso aconteça. Ele empregará cada um dos que se alistam em seu serviço para impedir o povo escolhido de Deus de manifestar os louvores dAquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Ocultar, cobrir essa luz, provocar desconfiança nela, desacreditá-la, é obra do grande rebelde e seus exércitos. Enquanto Jesus está purificando Seu povo, redimindo-o de toda iniqüidade, Satanás emprega suas forças para impedir esse trabalho e evitar o aperfeiçoamento dos santos. Ele não exerce seu poder sobre aqueles que estão cobertos de engano e cercados de fábulas e erros, e que não fazem qualquer esforço para receber e obedecer à verdade. Ele sabe que estão seguros; mas aqueles que estão buscando a verdade, para obedecer-lhe por amor, são os únicos que provocam sua maldade e despertam sua ira. Enquanto se mantiverem perto de Jesus, ele não pode enfraquecê-los, todavia, agrada-se quando pode levá-los a seguir o caminho da desobediência. T2 106 1 Quando pecamos contra Deus há uma disposição de atrasar-nos um dia de viagem com relação a Jesus; buscamos separar-nos de Sua companhia porque ela se nos torna desagradável, pois cada raio de luz de Sua divina presença nos aponta o pecado de que somos culpados. Satanás exulta sobre os pecados que levou as pessoas a cometerem e se aproveita ao máximo dessas fraquezas e pecados. Ele os enumera diante dos anjos de Deus, e escarnece delas por causa dessas fraquezas e fracassos. É, em todos os sentidos, um acusador dos irmãos e exulta sobre cada pecado e erro que o povo de Deus é levado a cometer. Você, irmão V, empenhou-se em grande parte nessa mesma obra. Você tem observado o que lhe parece erros, fraquezas e faltas nas fileiras dos adventistas guardadores do sábado e submetido isso à atenção dos inimigos de nossa fé, que estão guerreando contra aquele grupo a quem os anjos celestiais ministram, e por cuja causa Jesus, seu advogado, suplica perante o Pai. Ele clama: "Poupa-os, Pai, poupa-os! Eles são a aquisição de Meu sangue!", e levanta ao Pai as mãos feridas. Você tem sido culpado de grande pecado perante Deus. Tira vantagem daquelas coisas que fazem sofrer, que angustiam o povo de Deus quando vê alguns de seus membros não consagrados sendo freqüentemente vencidos por Satanás. Em lugar de auxiliar essas pessoas que erram a proceder corretamente, você exultantemente torna manifestos seus erros àqueles que as odeiam porque elas proclamam guardar os mandamentos e Deus e a fé de Jesus. Você tem tornado difíceis as coisas para aqueles que se dedicam ao trabalho de salvar os que erram, procurando as "ovelhas perdidas da casa de Israel". Mateus 10:6. T2 106 2 Por causa da desobediência de Israel e seu afastamento de Deus, foi-lhes permitido sofrer adversidades e chegar a situações angustiosas; foi permitido que seus inimigos os guerreassem, a fim de humilhá-los e levá-los a buscarem a Deus, quando em perturbação e perplexidade. "Então veio Amaleque e pelejou contra Israel em Refidim." Êxodo 17:8. Isso aconteceu exatamente após os filhos de Israel haverem murmurado e feito injustas e irrazoáveis acusações contra os líderes que Deus havia apontado e qualificado para conduzi-los através do deserto à terra de Canaã. O Senhor dirigiu-lhes o percurso onde não havia água, para prová-los, para ver se, depois de receber muitas evidências de Seu poder, eles tinham aprendido a voltar-se para Ele em suas aflições, e se arrependido de suas passadas murmurações rebeldes contra Ele. Haviam acusado a Moisés e Arão de terem motivos egoístas para tirá-los do Egito e matar a eles e a seus filhos de fome, a fim de se enriquecerem com suas posses. Assim fazendo os israelitas atribuíam ao homem aquilo que haviam recebido como sendo inquestionáveis evidências vindas unicamente de Deus, cujo poder é ilimitado. Essas maravilhosas manifestações do poder de Deus deveriam ter atribuído somente a Ele, e glorificado Seu nome sobre a Terra. O Senhor os trouxe ao mesmo terreno de provação repetidamente, para provar se eles haviam aprendido Sua maneira de proceder e se arrependido de sua pecaminosa desobediência e murmurações rebeldes. Em Refidim, quando o povo teve sede, ainda se orgulhava e mostrava possuir um coração descrente, rebelde e murmurador, que revelava o fato de ainda não ser capaz de estabelecer-se na terra de Canaã. Se não glorificavam a Deus em suas provações e adversidades, em suas viagens através do deserto para Canaã, enquanto Deus lhes dava contínuas e inequívocas evidências de Seu poder, glória e cuidado por eles, não poderiam engrandecer-Lhe o nome e glorificá-Lo quando se estabelecessem na terra de Canaã, cercados de bênçãos e prosperidade. Por estarem sedentos, ficaram muito exasperados a ponto de o próprio Moisés temer por sua vida. T2 107 1 Quando Israel foi atacado pelos amalequitas, Moisés deu a Josué instruções para lutar contra os inimigos, enquanto ele estaria com a vara de Deus e as mãos erguidas para o céu à vista do povo, mostrando ao rebelde e murmurador Israel que sua força e poder estavam em Deus. Ele era seu poder e a fonte de sua força. Não havia poder na vara. Deus operava através de Moisés, que recebia toda a sua força de cima. Quando ele erguia as mãos, Israel prevalecia; quando as baixava, Amaleque prevalecia. Quando Moisés se cansou, foram necessárias medidas para manter suas cansadas mãos erguidas para o céu. Arão e Hur prepararam um assento para Moisés, e então lhe sustentaram as mãos até que o sol se pusesse. Assim esses homens mostraram a Israel seu dever de apoiar Moisés em sua dura missão, enquanto ele recebia a palavra de Deus para lhes transmitir. Tal ato também demonstra que só Deus tem o destino em Suas mãos e que Ele era seu reconhecido líder. "Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro e relata-o aos ouvidos de Josué: que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus. ... E disse: Porquanto jurou o Senhor, haverá guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração." Êxodo 17:14, 16. "Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito; como te saiu ao encontro no caminho e te derribou na retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. Será, pois, que, quando o Senhor, teu Deus, te tiver dado repouso de todos os teus inimigos em redor, na terra que o Senhor, teu Deus, te dará por herança, para possuí-la, então, apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças." Deuteronômio 25:17-19. T2 108 1 Quando o anjo de Deus apresentou esses fatos das viagens e experiência dos filhos de Israel, fiquei profundamente impressionada com a consideração especial de Deus por Seu povo. Não obstante seus erros, desobediência e rebelião, eles ainda eram o povo escolhido de Deus. Ele os havia honrado de modo especial vindo de Sua santa habitação, em majestade, glória e terrível grandeza, ao Monte Sinai, falando os Dez Mandamentos na presença de todo o povo e os escrevendo com o próprio dedo em tábuas de pedra. O Senhor diz de Seu povo, Israel: "Porque povo santo és ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há. O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos, mas porque o Senhor vos amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais." Deuteronômio 7:6-8. T2 109 1 Vi que aqueles que estão tentando obedecer a Deus e purificar o coração pela obediência à verdade, são o povo por Ele escolhido, Seu Israel moderno. Deles diz Deus através de Pedro: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. Assim como foi crime para Amaleque aproveitar-se dos filhos de Israel em sua fraqueza e cansaço, para molestá-los, confundi-los e desanimá-los, também não foi pequeno pecado para você observar atentamente as fraquezas, hesitações, erros e pecados do aflito povo de Deus e expô-los aos seus inimigos. Você está fazendo a obra de Satanás e não de Deus. Muitos dos adventistas observadores do sábado em _____ estão muito debilitados. Eles têm se tornado miseráveis representantes da verdade. Não têm sido uma honra à causa da verdade presente, e a obra de Deus teria ido bem melhor sem eles. Você, por sua vez, toma a vida não consagrada desses observadores do sábado como um pretexto para sua posição pessoal de dúvida e descrença. Sua desconfiança é fortalecida ao ver alguns desses professando firme fé nas visões, defendendo-as com entusiasmo quando contestadas, embora, ao mesmo tempo que professam zelo, desrespeitam os ensinos ministrados através das visões e caminham em sentido contrário. Nesse contexto, eles foram pedras de tropeço ao irmão U, e por sua conduta atraíam descrédito sobre as visões. T2 110 1 Foi-me mostrado que você possui coração orgulhoso, e quando pensou que seus textos foram menosprezados no escritório da Review, esse orgulho foi tocado e você iniciou uma campanha semelhante à resistência de Saulo de Tarso contra os aguilhões. Atos dos Apóstolos 26:14. Você se uniu àqueles que se voltaram da verdade de Deus para a mentira. Você fortaleceu as mãos dos pecadores, opondo-se ao conselho de Deus e indo contra o próprio coração. Tem estado guerreando contra aquilo de que não tem conhecimento. Você não sabe a obra que esteve fazendo. Vi sua esposa lutando com Deus em oração, sua fé mantendo-o firmemente, ao mesmo tempo em que se fixava no trono, suplicando as promessas infalíveis de Deus. Seu coração doeu quando o viu persistindo em suas investidas contra a verdade. Vi que você estava fazendo isso por ignorância, cegado por Satanás. Enquanto envolvido nesse conflito, você não crescia em espiritualidade e devoção a Deus. Não tinha confirmação de que seus caminhos agradavam a Deus. Tinha zelo, mas sem entendimento. Romanos 10:2. Você não tinha experiência quanto ao meu chamado, pois mal tinha me visto e não possuía nenhum conhecimento sobre meu trabalho. T2 110 2 Irmão V, você possui qualificações que poderiam torná-lo de especial utilidade na igreja de _____, ou e em qualquer outra, onde seus talentos fossem dedicados à edificação da causa de Deus. Vi que seus filhos se achavam agora em condições de ser impressionados com a verdade, e que Jesus estava pleiteando por você: "Poupa-o um pouco mais." Vi que se você se convertesse à verdade, tornar-se-ia uma coluna na igreja, e honraria a Deus por sua influência santificada pela verdade. T2 111 1 Vi os anjos de misericórdia pairando sobre o irmão V Foi-me mostrado que ele estava grandemente enganado quanto ao valor moral e estava diante de Deus como parte daquela classe dos que se afastaram da corporação. Poucos sinceros existem entre eles, os quais serão resgatados; mas a maioria deles há muito tempo não tem o coração consagrado, e os testemunhos diretos têm sido para eles um jugo de escravidão. Lançaram de si a submissão e retiveram seus caminhos corruptos. Deus o chama para que se separe deles. Desligue-se daqueles cujo deleite é combater a verdade de Deus. Pouco antes disso, o verdadeiro caráter será manifestado. Eles são daquela classe que "ama e comete a mentira". Apocalipse 22:15. T2 111 2 Se todo o seu interesse estiver na verdade e na obra preparatória para este tempo, você será santificado pela verdade e receberá a habilitação para a imortalidade. Você está em perigo de ser muito severo com seus filhos, e não muito paciente quanto o necessário. A esmerada obra de preparação deve prosseguir com todos os que professam a verdade, até que estejamos diante do trono de Deus sem defeito, "sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante". Efésios 5:27. Deus o purificará se você se submeter ao processo purificador. ------------------------Capítulo 13 -- Objetivo dos testemunhos pessoais T2 112 1 Prezados irmãos e irmãs: T2 112 2 O Senhor novamente Se manifestou a mim. No dia 12 de Junho de 1868, enquanto falando aos irmãos na casa de culto de Battle Creek, Michigan, o Espírito de Deus veio sobre mim e num instante eu estava em visão. Essa visão foi longa. Comecei a escrever o quinto volume de Spiritual Gifts, mas eu tinha de dar-lhes imediatamente testemunhos de natureza prática. Deixei então aquele trabalho para preparar esse folheto. T2 112 3 Nesta última visão foi-me mostrado que é plenamente justificada minha conduta em publicar testemunhos pessoais. Quando o Senhor discrimina casos particulares, especificando os seus erros, outros, que não foram mostrados em visão, freqüentemente os admitem como exatos, ou aproximadamente semelhantes. Se alguém é repreendido por alguma falta especial, os irmãos e irmãs devem examinar cuidadosamente a si mesmos e indagar em que eles próprios têm falhado, e em que se têm feito culpados de idêntico pecado. Devem manifestar um espírito de humilde confissão. Se alguém supõe estar correto, isto não decide o seu caso. Deus "olha para o coração". 1 Samuel 16:7. Desse modo, Ele experimenta e prova as pessoas. Ao repreender os erros de alguém, Ele pretende corrigir a muitos. Se estes, porém, deixam de tomar para si a repreensão, lisonjeando-se de que Deus passa por alto os seus erros porque não os aponta individualmente, enganam a si mesmos e se afundam em trevas, sendo abandonados aos próprios caminhos para seguirem "as imaginações de seu coração". Salmos 73:7. T2 113 1 Muitos não usam de sinceridade consigo mesmos e estão laborando em grande erro quanto a sua legítima condição diante de Deus. Deus Se serve de caminhos e meios que melhor satisfazem a Seu propósito, para provar o que há no coração de Seus seguidores professos. Ele torna patentes as faltas de uns, para que outros se dêem por avisados e temam, procurando evitá-las. Pelo exame de si mesmos, podem ver que estão fazendo as mesmas coisas que Deus condena em outros. Se desejam realmente servir a Deus e temem ofendê-Lo, não hão de esperar que primeiro lhes sejam notificados os seus pecados antes que os confessem, mas tornar-se-ão ao Senhor humildemente arrependidos, renunciando aquelas coisas que desagradam a Deus, de conformidade com a luz que outros receberam. Se, pelo contrário, aqueles que estão em faltas, vêem que são culpados dos mesmos pecados reprovados em outros, mas contudo continuam a não manifestar nenhum arrependimento, simplesmente porque esses pecados não lhes foram especialmente notificados, correm perigo, subjugados por Satanás à vontade dele. ------------------------Capítulo 14 -- Mudança para Battle Creek T2 113 2 Numa visão, em 12 de Junho de 1868, foi-me mostrado que poderia ser realizada uma grande obra em trazer pessoas ao conhecimento da verdade, desde que fossem feitos convenientes esforços para isso. Em cada povoação, em cada cidade, em cada vila, havia pessoas que abraçariam a verdade, se essa lhes fosse levada de maneira prudente. São necessários entre nós abnegados missionários, os quais, como nosso grande Exemplo, não agradem a si mesmos, mas vivam para fazer bem aos outros. T2 114 1 Foi-me mostrado que como um povo somos deficientes. Nossas obras não estão de acordo com a nossa fé. Nossa fé testifica que vivemos sob a proclamação da mais solene e importante mensagem que já foi dada a mortais. Entretanto, à plena vista deste fato, nossos esforços, nosso zelo, nosso espírito de sacrifício não estão à altura do caráter da obra. Devemos despertar dentre os mortos, e Cristo nos dará vida. T2 114 2 Muitos de nossos irmãos e irmãs manifestam forte inclinação para viver em Battle Creek. Famílias têm vindo de todas as direções para residir ali, e muitas mais tencionam fazê-lo. Alguns que têm vindo para Battle Creek mantinham cargos em suas igrejas de origem. Sua ajuda e empenho eram ali necessários. Quando chegam à cidade e se encontram com os muitos observadores do sábado, freqüentemente sentem que seus testemunhos não são necessários e seus talentos são, portanto, enterrados. T2 114 3 Alguns escolhem Battle Creek por causa dos privilégios religiosos oferecidos, embora não fosse de surpreender que sua espiritualidade decrescesse depois de estarem ali por alguns meses. Existe razão para isso? O objetivo de muitos tem sido as vantagens financeiras -- envolver-se em negócios que lhes trariam grandes lucros. Suas expectativas nesse particular podem ser alcançadas, ao passo que sofrem fome de alma e se tornam anões nas coisas espirituais. Não aceitam eles nenhuma responsabilidade, porque pensam estar deslocados. Não sabem onde achar trabalho numa igreja tão grande, e portanto, tornam-se ociosos na vinha do Senhor. Todos os que assumem essa atitude só aumentam o trabalho daqueles que têm as responsabilidades da obra na igreja. São como pesos mortos. Há muitos em Battle Creek que se estão tornando rapidamente ramos secos. T2 114 4 Os que são obreiros e que têm experiência na causa da verdade presente, mudam-se para Battle Creek e depõem suas responsabilidades. Em lugar de sentirem a necessidade de redobrada energia, vigilância, oração e diligente desempenho do dever, praticamente nada fazem. Aqueles que têm deveres no Escritório e não têm tempo para atividades fora do trabalho, são obrigados a assumir posições de responsabilidade na igreja, e executar importante e pesado trabalho que de outro modo ficaria sem ser feito, porque outros não assumem responsabilidades. T2 115 1 Irmãos que desejem mudar de lugar, e que tenham em vista a glória de Deus, e sintam que pesa sobre eles uma responsabilidade individual de fazer bem aos outros, beneficiando e salvando pessoas por quem Cristo não poupou Sua preciosa vida, devem mudar-se para cidades e vilas onde exista pequena ou nenhuma luz, e possam ser de real utilidade, beneficiando outros com seu labor e sua experiência. Necessitam-se missionários que vão a cidades e vilas erguendo aí a bandeira da verdade, para que Deus tenha Suas testemunhas espalhadas por toda a Terra, a fim de que a luz da verdade penetre onde ainda não chegou, e a bandeira da verdade seja hasteada onde ainda é desconhecida. Os irmãos não se devem ajuntar porque isso lhes é mais agradável, mas buscar atender a seu elevado chamado de fazer bem aos outros, de serem instrumentos de salvação de pelo menos uma pessoa. Todavia, muito mais do que uma pessoa pode ser salva. T2 115 2 O objetivo principal dessa obra não deve ser meramente aumentar nosso galardão no Céu. Alguns são egoístas a esse respeito. Em vista do que Cristo fez por nós e do que Ele sofreu pelos pecadores, deveríamos, além do puro e desinteressado amor pelos seres humanos, imitar Seu exemplo no sacrifício dos próprios interesses e conveniências pelo bem dos outros. A alegria que Lhe estava proposta e que O sustentou em todos os Seus sofrimentos, foi a salvação dos pobres pecadores. Essa deve ser também nossa alegria e motivação na causa do Mestre. Agradamos a Deus fazendo assim e manifestamos nosso amor e devoção por Ele como Seus servos. Ele que primeiro nos amou "nem mesmo a Seu próprio Filho poupou" (Romanos 8:32), antes O deu para que pudéssemos ter vida. Amor verdadeiro por nossos semelhantes evidencia amor a Deus. Podemos fazer elevada profissão de fé, contudo, sem esse amor, de nada vale. Nossa fé pode levar-nos a dar nosso corpo para ser queimado, contudo, sem o amor altruístico tal como o que habitou no coração de Jesus e foi exemplificado em Sua vida, seremos "como o metal que soa ou como o sino que tine". 1 Coríntios 13:1. T2 116 1 Há famílias que recebem fortalecimento espiritual ao se mudarem para Battle Creek. Esse é justamente o lugar para beneficiar alguns, conquanto seja lugar errado para outros. Irmão e irmã A são o exemplo de pessoas que podem ser beneficiadas ao se mudarem para lá. O Senhor os dirigiu nesse rumo. Battle Creek era exatamente o lugar para beneficiá-los e se tem provado uma bênção para toda a família. Eles ganharam, indo para lá, força para estabelecer-se sobre a plataforma da verdade, e se continuarem no caminho da humilde obediência, poderão regozijar-se pela ajuda que receberam em Battle Creek. ------------------------Capítulo 15 -- Advertência aos pastores T2 116 2 Na visão que me foi concedida em 12 de Junho de 1868, fiquei profundamente impressionada com a grande obra de preparar um povo para a vinda do Filho do homem. Vi que "grande é... a seara, mas os obreiros são poucos". Lucas 10:2. Muitos que estão atualmente trabalhando no campo para salvar pecadores são fracos. Suportam pesadas responsabilidades que os provam e fatigam. Observei ainda que alguns de nossos pastores têm despendido muita energia, o que em realidade não lhes era exigido. Alguns oram longamente e tão alto, que gastam suas já débeis forças e despendem a vitalidade de maneira desnecessária. Outros freqüentemente fazem sermões de um terço à metade mais longos do que devem. Assim fazendo, tornam-se excessivamente cansados, o interesse das pessoas diminui antes mesmo do encerramento da pregação, e perde-se muito por não poderem conservar na memória tanta coisa. Metade do que fora dito teria sido melhor aproveitado. Embora todos os assuntos sejam importantes, o sucesso seria maior se orassem mais e falassem menos. O mesmo resultado seria obtido sem grande fadiga. Eles estão consumindo desnecessariamente suas forças e vitalidade, as quais, pelo bem da causa, precisam muito conservar. É o esforço prolongado, após atingir o ponto de exaustão, que desgasta e prostra. T2 117 1 Vi que foi esse trabalho extra, quando o organismo se achava exausto, que consumiu a vida do prezado irmão Sperry e o levou prematuramente à sepultura. Houvesse ele trabalhado de acordo com sua saúde, e poderia ter vivido para trabalhar até hoje. Foi também esse trabalho a mais que consumiu as energias de nosso querido irmão Cranson e extinguiu sua vida de utilidade. T2 117 2 Cantar muito, tanto quanto ficar longamente orando e falando, é extremamente cansativo. Na maioria dos casos, nossos pastores não devem prolongar suas palestras por mais de uma hora. Devem deixar de lado os preâmbulos, e ir diretamente ao assunto, procurando encerrar o sermão quando o interesse for maior. Não devem prosseguir até que seus ouvintes desejem que parem de falar. Muito desse trabalho extra fica perdido para o povo, que com frequência está muito cansado para beneficiar-se do que conseguem ouvir. E quem pode dizer quão grande é a perda sofrida por pastores que trabalham dessa maneira? Afinal, nada é conquistado por esse consumo de vitalidade. T2 117 3 Com freqüência a força está esgotada já no início de um esforço prolongado. E no tempo em que há muito a ser ganho ou perdido, o devotado ministro de Cristo, que tem interesse e vontade de trabalhar, não pode controlar suas forças. Ele as utilizou acima dos limites cantando, em longas orações e pregações, e a vitória escapou por falta de um trabalho cuidadoso, bem dirigido e feito no tempo certo. Perdeu-se o momento áureo. As impressões feitas não foram seguidas por trabalho posterior. Teria sido melhor se não se tivesse despertado o interesse; pois se as convicções foram uma vez resistidas e vencidas, é muito difícil impressionar de novo a mente com a verdade. T2 118 1 Foi-me mostrado que se nossos pastores exercerem cuidado em preservar suas energias em lugar de despendê-las desnecessariamente, seu cuidadoso e bem dirigido trabalho alcançará mais em um ano do que o fariam as longas pregações, orações e cânticos, que são cansativos e exaustivos. Nesse último caso, as pessoas são freqüentemente impedidas do acompanhamento de que tanto precisavam no tempo certo, pois o obreiro precisa descansar ou estará pondo em perigo sua saúde e vida se continuar o seu trabalho. T2 118 2 Nossos prezados irmãos Matteson e D. T. Bourdeau têm cometido erros a esse respeito, e devem mudar sua maneira de trabalhar. Eles precisam orar e falar de modo breve, sem demora chegar ao ponto e parar antes de se consumirem em seu trabalho. Podem realizar maior bem assim fazendo, ao mesmo tempo em que preservam as energias para dar continuidade ao trabalho que amam, sem esgotar-se totalmente. ------------------------Capítulo 16 -- Olhando para Jesus T2 118 3 Na visão de 12 de Junho de 1868, vi o perigo em que o povo de Deus incorre ao olhar para o irmão e a irmã White, pensando que deve ir a eles com suas preocupações e em busca de conselho. Isso não deve ser assim. Eles foram convidados por seu compassivo e amoroso Salvador a ir a Ele quando cansados e sobrecarregados, e Ele os aliviará. Levando suas perplexidades e aflições a Jesus, descobrirão que a promessa se cumpre a seu respeito. Quando em seu infortúnio sentem o alívio encontrado somente em Cristo, obtêm uma experiência de altíssimo valor para eles. O irmão e a irmã White estão se empenhando pela pureza de vida, lutando para produzir frutos de santidade; todavia, são apenas errantes mortais. Muitos vêm a nós com a pergunta: Devo fazer isto? Devo envolver-me nesta empreitada? Ou, com relação ao vestuário: Devo usar este ou aquele artigo? Respondo-lhes: Vocês professam ser discípulos de Cristo. Estudem suas Bíblias. Examinem cuidadosamente e com oração a vida de nosso querido Salvador quando habitava entre os homens na Terra. Imitem-na e não se desviarão do caminho estreito. Recusamo-nos absolutamente lhes servir de consciência. Se lhes dissermos exatamente o que fazer, vocês nos olharão como guias em lugar de irem diretamente a Jesus. Sua experiência estará fundamentada em nós. Necessitam ter por si mesmos uma experiência fundamentada em Deus. Então vocês poderão estar firmes em meio aos perigos dos últimos dias, e serem purificados e não consumidos pelo fogo da aflição através do qual todos os santos precisarão passar, a fim de que toda impureza seja removida de seu caráter em preparo para receber o toque final da imortalidade. T2 119 1 Muitos de nossos queridos irmãos e irmãs pensam não poderem ter uma grande reunião, a menos que o irmão e a irmã White a assistam. Em muitos lugares os irmãos acham que algo precisa ser feito para levar o povo a mais diligente e decidida ação pela causa da verdade. Tiveram pastores trabalhando entre eles, todavia entendem que uma grande obra precisa ser feita, e esperam que os irmãos White a façam. Isto, vi, não era o que Deus queria. Em primeiro lugar, há alguma deficiência em alguns de nossos pastores. Falta-lhes profundidade. Eles não assumem a responsabilidade do trabalho, estendendo a mão e ajudando justamente onde o povo mais necessita. Não possuem discernimento para ver e sentir onde o povo necessita ser corrigido, reprovado, estabelecido e fortalecido. Alguns deles trabalham semanas e meses num único lugar, e há realmente mais por fazer quando deixam esse local do que quando aí chegaram. A doação sistemática não está indo bem. É uma parte do trabalho do pastor manter esse ramo da obra, mas porque não lhe é agradável, alguns negligenciam seu dever. Falam das verdades da Palavra de Deus, mas não impressionam os ouvintes com a necessidade de obediência. Portanto, muitos são ouvintes mas não cumpridores. Tiago 1:22. O povo sente a deficiência. Como as coisas não são postas em ordem entre eles, esperam que o irmão e a irmã White supram a deficiência. T2 120 1 Alguns de nossos irmãos do ministério deixam o tempo passar imperceptivelmente sem se firmar no trabalho e conquistar o coração do povo. Eles se desculpam com o pensamento de que o irmão e a irmã White vão suprir o que está faltando, porque foram especialmente designados para esse trabalho. Esses homens têm trabalhado, mas não da maneira correta. Não assumem a responsabilidade. Não auxiliaram onde deveriam e não corrigiram deficiências que precisavam ser corrigidas. Não se dedicaram de todo o coração, espírito e forças às necessidades do povo. O tempo passou e nada fizeram. A carga de suas falhas caiu sobre nós. Eles estimulam o povo a esperar por nós, expondo-lhe a idéia de que nada poderá realizar a obra, senão nosso testemunho especial. Deus não Se agrada disso. Os pastores devem assumir maiores responsabilidades e não nutrir o pensamento de que não podem levar a mensagem que ajudará o povo onde esse mais necessita. Se não podem fazer isso, devem permanecer em Jerusalém até que do alto sejam revestidos de poder. Lucas 24:49. Não devem empenhar-se em uma obra que não podem executar. Devem ir avante chorando e semeando a preciosa semente, e retornar de seus esforços "com alegria, trazendo consigo os seus molhos". Salmos 126:6. T2 120 2 Os pastores devem impressionar o povo com a necessidade de esforço individual. Nenhuma igreja pode florescer a menos que seus membros sejam obreiros. O povo deve edificar onde seus pastores o fazem. Vi que nada de duradouro pode ser realizado pelas igrejas em vários lugares, a menos que despertem para sentir que sobre elas pesa uma responsabilidade. Cada membro da corporação deve sentir que a salvação do próprio ser depende de seu esforço individual. Não se podem salvar pessoas sem diligência. O pastor não pode salvar o povo. Ele pode ser um veículo pelo qual Deus comunique luz a Seu povo; mas depois de a luz haver sido transmitida, fica com as pessoas o apoderar-se da mesma e, por sua vez, fazê-la brilhar para outros. Devem sentir que uma responsabilidade individual repousa sobre elas, não apenas de salvar a si mesmas, mas de envolver-se verdadeiramente na salvação daqueles que estão em trevas. Em lugar de recorrerem ao irmão e irmã White para ajudá-las a sair da escuridão, precisam ajudar a si mesmas. Caso começassem a procurar com afinco os que estão piores do que elas e tentassem ajudá-los, cooperariam consigo mesmas para encontrar a luz mais depressa do que de qualquer outra maneira. Se o povo depender do irmão e da irmã White, e confiar neles, Deus os humilhará em seu meio ou os retirará dali. Vocês precisam olhar para Deus e nEle confiar. Apóiem-se nEle e Ele não os abandonará. Não os deixará perecer. Preciosa é a Palavra de Deus. "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna." João 5:39. Essas são as palavras de Cristo. As palavras de inspiração, estudadas cuidadosamente, com oração, e obedecidas na prática, irão supri-los em todas as boas obras. Pastores e povo precisam confiar em Deus. T2 121 1 Vivemos em uma época má. Os perigos dos últimos dias se avolumam ao nosso redor. "Por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." Mateus 24:12. Enoque andou com Deus trezentos anos. Agora a brevidade do tempo parece estar sendo apresentada com insistência como motivo para buscar a justiça. Será necessário que os terrores do dia de Deus sejam mantidos diante de nós a fim de compelir-nos à ação correta? O caso de Enoque está perante nós. Ele andou com Deus centenas de anos. Viveu numa época corrupta, quando a poluição moral proliferava por toda parte ao seu redor; ele, no entanto, acostumou a mente à devoção, a amar a pureza. Sua conversação era sobre coisas celestiais. Ele educou a mente neste sentido, e levava o cunho divino. Sua fisionomia estava radiante da luz que resplandece na face de Jesus. Enoque tinha tentações assim como nós. Estava rodeado de uma sociedade não mais favorável à justiça do que aquela que nos rodeia. A atmosfera respirada por ele estava contaminada de pecado e corrupção, do mesmo modo que a nossa; ele levou, no entanto, uma vida de santidade. Não ficou maculado pelos pecados predominantes da época em que viveu. Assim também nós podemos permanecer puros e íntegros. Ele era uma figura dos santos que vivem no meio dos perigos e corrupções dos últimos dias. Foi trasladado por causa de sua fiel obediência a Deus. Assim, também, os fiéis, que ficarem vivos, serão trasladados. Serão removidos de um mundo pecaminoso e corrupto para as puras alegrias do Céu. T2 122 1 O rumo do povo de Deus deve ser para o alto e para a frente, para a vitória. Alguém maior que Josué está dirigindo os exércitos de Israel. Há alguém em nosso meio, o próprio Capitão de nossa salvação, que disse, para nosso encorajamento: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. "Tende bom ânimo, Eu venci o mundo." João 16:33. Ele nos levará à vitória certa. O que Deus promete, é capaz de executar a qualquer tempo. E a obra que Ele confia ao Seu povo, é capaz de por meio deles realizar. Se vivermos uma vida de perfeita obediência, Suas promessas a nós serão cumpridas. T2 122 2 Deus requer que Seu povo brilhe como luzes no mundo. Não é somente dos pastores que se exige isso, mas de todo discípulo de Cristo. Sua conversação deve ser celestial. E ao passo que desfrutam comunhão com Deus, desejarão comunicar-se com seus semelhantes, a fim de exprimir, por palavras e atos, o amor de Deus que lhes anima o coração. Por essa maneira serão luzes no mundo, e a luz transmitida por meio deles não se extinguirá, nem lhes será tirada. Essa luz se tornará em escuridão para aqueles que não caminham segundo ela, mas brilhará com crescente esplendor sobre a vida daqueles que lhe obedecem e nela andam. T2 123 1 O Espírito, a sabedoria e a bondade de Deus revelados em Sua Palavra, devem ser manifestados pelos discípulos de Cristo, e assim repreenderem o mundo. Deus requer de Seu povo segundo a graça e a verdade a eles concedidas. Todos os Seus justos reclamos precisam ser plenamente atendidos. Seres responsáveis devem andar na luz que incide sobre eles. Se falharem, sua luz se tornará em trevas tão grandes, na mesma proporção da luz que lhes fora dada tão copiosamente. Luz acumulada tem brilhado sobre o povo de Deus, mas muitos negligenciam seguir a luz e por essa razão estão em estado de grande fraqueza espiritual. T2 123 2 Não é por falta de conhecimento que o povo de Deus está agora perecendo. Não serão condenados por desconhecerem "o caminho, e a verdade, e a vida". João 14:6. A verdade que lhes alcançou o entendimento, a luz que lhes brilhou na mente, mas que foi negligenciada ou recusada, há de condená-los. Os que nunca tiveram a luz que pudessem rejeitar, não estarão sob condenação. Que mais poderia ter sido feito pela vinha do Senhor que não lhe fora feito? Isaías 5:4. A luz, preciosa luz, brilha sobre o povo de Deus; mas não os salvará, a menos que consintam em ser por ela salvos, vivendo plenamente à sua altura, e transmitindo-a a outros que se acham em trevas. Deus convoca Seu povo à ação. É necessária uma obra individual de confissão, abandono de pecados, e de retorno ao Senhor. Ninguém pode fazer esse trabalho por outra pessoa. O conhecimento religioso tem-se acumulado, e esse fato tem aumentado as obrigações correspondentes. Grande luz tem incidido sobre a igreja e por isso as pessoas são condenadas por recusar-se andar na luz. Se fossem cegas, não teriam pecado. Mas têm visto a luz e ouvido muito da verdade, todavia não se tornaram sábias nem santas. Muitos, apesar dos anos, não avançaram no conhecimento e na verdadeira santidade. São anões espirituais. Em lugar de progredirem até à perfeição, voltam-se para as trevas e escravidão do Egito. Sua mente não é exercitada na piedade e verdadeira santidade. T2 124 1 Despertará o Israel de Deus? Buscarão todos os que professam piedade descartar-se de cada erro, confessar a Deus cada pecado secreto e afligir o coração diante dEle? Examinarão com grande humildade os motivos de cada ação, sabendo que os olhos de Deus tudo vêem, que esquadrinham cada coisa oculta? Que essa obra seja completa, uma inteira consagração a Deus. Ele requer submissão integral de tudo o que temos e somos. Pastores e povo necessitam nova conversão, uma transformação de mente, sem o que não seremos um "cheiro de vida para vida", mas de "morte para morte". 2 Coríntios 2:16. Grandes privilégios pertencem ao povo de Deus. Grande luz lhes tem sido dada, para que possam atender a seu alto chamado em Cristo Jesus, ainda que não sejam o que Deus gostaria que fossem e deseja que se tornem. ------------------------Capítulo 17 -- Separação do mundo T2 124 2 Prezados irmãos e irmãs: T2 124 3 Deus determinou que a luz da igreja aumente e brilhe "mais e mais até ser dia perfeito". Provérbios 4:18. Preciosas promessas são feitas ao povo de Deus sob condição de obediência. Se, como Calebe e Josué, vocês tivessem seguido completamente ao Senhor, Ele exaltaria Seu grande poder em seu meio. Por sua influência, pecadores seriam convertidos e os apóstatas resgatados; mesmo os inimigos da fé, embora pudessem opor-se e falar contra a verdade, admitiriam que Deus estava com vocês. T2 125 1 Muitos dentre o professo e peculiar povo de Deus se acham tão conformados com o mundo que seu caráter exclusivo não é distinguido; e isso dificulta a distinção "entre o que serve a Deus e o que não O serve." Malaquias 3:18. Deus faria grandes coisas por Seu povo, se ele se apartasse do mundo e permanecesse separado. Se tivessem se submetido a Sua guia, Ele os tornaria um louvor em toda a Terra. Diz a Testemunha Fiel e Verdadeira: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. Anjos de Deus que ministram àqueles que hão de herdar a salvação, estão familiarizados com as condições de todos e compreendem exatamente a medida de fé possuída pelo indivíduo. A incredulidade, o orgulho, a cobiça e o amor ao mundo existentes no coração do professo povo de Deus ofendem os santos anjos. Quando vêem os terríveis e presunçosos pecados existentes no coração de muitos professos seguidores de Cristo, e como Deus tem sido desonrado por sua conduta contraditória e distorcida, os anjos choram. Aqueles que mais estão em falta, que causam grande fraqueza na igreja e trazem desonra sobre sua santa profissão de fé, não parecem alarmados ou convencidos, mas se sentem como que prosperando no Senhor. T2 125 2 Muitos crêem que estão sobre o firme fundamento e que têm a verdade; regozijam-se em sua clareza e alardeiam poderosos argumentos em favor da correção de nossa postura. Reconhecem-se entre os escolhidos, povo peculiar de Deus, todavia não experimentam Sua presença e poder para salvá-los de caírem em tentação e loucura. Esses professam conhecer a Deus, porém, em obras O negam. "Quão grandes" são suas "trevas!" Mateus 6:23. O amor ao mundo em uns, o engano das riquezas em outros, têm sufocado a palavra e ela se tornou infrutífera. T2 126 1 Vi que a igreja de _____ tem partilhado do espírito do mundo e se tornado morna em alarmante extensão. Quando são feitos esforços para colocar as coisas em ordem na igreja, e conduzir o povo a uma posição em que Deus possa usá-lo, essa classe será influenciada pelo trabalho e fará sinceros esforços para romper através das trevas a caminho da luz. Muitos, porém, não perseveram em seus esforços o suficiente para perceberem a santificadora influência da verdade sobre seu coração e vida. Os cuidados do mundo monopolizam-lhes a mente a tal ponto que a introspecção e a oração secreta são negligenciadas. A armadura é deposta e Satanás encontra livre acesso a eles, entorpecendo suas sensibilidades e deixando-os cegos aos artifícios dele. T2 126 2 Alguns não mostram qualquer desejo de conhecer seu verdadeiro estado e escapar das armadilhas de Satanás. Estão doentes e morrendo. Ocasionalmente são eles aquecidos pelo calor de outros, todavia, acham-se tão arrefecidos pela formalidade, orgulho e influência mundana, que não sentem necessidade de auxílio. T2 126 3 Muitos são deficientes em espiritualidade e nas graças cristãs. Um peso de solene responsabilidade deve repousar sobre eles diariamente, enquanto percebem os tempos perigosos em que estamos vivendo e as corruptoras influências que se avolumam ao nosso redor. Sua única esperança de serem "participantes da natureza divina" é escapar da "corrupção... que há no mundo". 2 Pedro 1:4. Esses irmãos necessitam de uma profunda e plena experiência nas coisas de Deus, e essa só pode ser obtida mediante esforço da parte deles. Sua posição exige-lhes zelo e inquebrantável diligência para não serem encontrados dormindo em seu posto. Satanás e seus anjos não dormem. T2 126 4 Os seguidores de Cristo devem ser instrumentos de justiça, obreiros, pedras vivas, emitindo luz, a fim de que possam convidar a presença de santos anjos. Requer-se deles que sejam condutos, por assim dizer, através dos quais flua o espírito da verdade e justiça. Muitos têm participado tanto do espírito e influência do mundo, que agem a sua semelhança. Têm eles suas preferências e aversões, e não sabem o que é excelência de caráter. Sua conduta não é governada pelos puros princípios do cristianismo, por conseguinte, pensam apenas em si mesmos, seus prazeres e deleites, desconsiderando o interesse dos outros. Não estão sendo santificados pela verdade e por esse motivo nada compreendem da unidade dos seguidores de Cristo ao redor do mundo. Os mais amados por Deus são aqueles que possuem a mínima autoconfiança, e são adornados com "um espírito manso e quieto". 1 Pedro 3:4. Sua vida é pura, altruísta e seu coração inclinado, mediante abundante medida do espírito de Cristo, à obediência, justiça, pureza e verdadeira santidade. T2 127 1 Se todos fossem consagrados a Deus, deles brilharia preciosa luz que exerceria direta influência sobre aqueles com quem entram em contato. Mas todos necessitam que uma obra seja feita em seu favor. Alguns estão distantes de Deus, são instáveis e inconstantes como a água; não possuem a menor idéia do que seja sacrifício. Quando desejam algum especial deleite ou prazer, ou algum artigo de vestuário, não consideram se podem ficar sem satisfazer esses desejos, negando a si mesmos, e fazer uma oferta voluntária a Deus. Quantos têm considerado que lhes foi requerido fazer algum sacrifício? Ainda que esse possa ser de menor valor do que o de um homem rico, que possua seus milhões, todavia o que realmente custa abnegação seria um precioso sacrifício, uma oferta a Deus. Esta seria um cheiro suave e ascenderia do altar como suave incenso. T2 127 2 A juventude não está autorizada a fazer o que lhe agrada com seus recursos, desconsiderando as exigências divinas. Com Davi ela deve dizer: "Não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que me não custem nada." 2 Samuel 24:24. Significativos recursos têm sido despendidos para multiplicar reproduções de suas fotos. Se fossem contabilizados o volume de recursos pagos ao artista para essa finalidade, veriam tratar-se de uma considerável soma. E esse é apenas um dos meios pelos quais os recursos são malbaratados, investidos na satisfação própria, sem nenhum proveito. Como conseqüência desse gasto, não estão devidamente trajados nem alimentados, as viúvas e os órfãos não foram socorridos, os famintos não foram saciados nem os nus vestidos. T2 128 1 Enquanto o dinheiro é esbanjado em satisfação própria, ofertas mesquinhas são trazidas a Deus quase que de má vontade. Quanto do salário ganho pelos jovens é encaminhado à tesouraria divina, para auxiliar no progresso da obra de salvar pecadores? Eles dão uma pequena quantia cada semana, e sentem ter ofertado muito. Não percebem que são mordomos de Deus sobre seu pouco, assim como o rico o é sobre suas grandes posses. Deus tem sido roubado, e eles condescendido consigo mesmos, seus desejos pessoais atendidos, seu gosto satisfeito, sem sequer pensar que o Senhor fará estrita investigação sobre como têm usado os bens que Lhe pertencem. Enquanto prontamente atenderem às suas supostas necessidades e retiverem de Deus as ofertas, Ele não aceitará a ninharia que trazem ao tesouro, como não o fez com a oferta de Ananias e Safira, que se propuseram roubá-Lo em suas ofertas. T2 128 2 Os jovens entre nós, de modo geral, estão ligados ao mundo. Poucos mantêm uma guerra especial contra o inimigo interior; poucos têm sincero e ansioso desejo de conhecer e cumprir a vontade de Deus. Poucos têm fome e sede de justiça e poucos conhecem algo do Espírito de Deus como reprovador ou confortador. Onde estão os missionários? Onde estão aqueles que se sacrificam e negam a si mesmos? Onde estão aqueles que carregam sua cruz? O eu e o interesse próprio têm consumido os nobres e elevados princípios. Coisas de interesse eterno não impressionam a mente. Deus requer que cheguem ao ponto de fazer uma entrega completa. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. Vocês não podem servir ao eu e ao mesmo tempo ser servos de Cristo; precisam morrer para si mesmos, para os prazeres, e aprender a perguntar: Agradar-Se-á Deus dos objetos que pretendo adquirir com esses recursos? Posso eu glorificá-Lo? T2 129 1 É-nos ordenado: "Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. Quantos têm sido conscienciosamente movidos por princípios e não por impulso, e obedecido literalmente a este mandamento? Quantos dos jovens discípulos em _____ têm feito de Deus Sua confiança e Sua porção, buscando diligentemente conhecer e fazer Sua vontade? Muitos há que são servos de Cristo em nome, mas não em verdade. Onde os princípios religiosos governam, pequeno é o risco de se cometerem grandes erros; pois o egoísmo, que sempre cega e engana, fica subordinado. O sincero desejo de fazer o bem aos outros predomina, de maneira que o próprio eu é esquecido. A posse de firmes princípios religiosos é um inestimável tesouro. É a mais pura, mais elevada e nobre influência que os mortais podem possuir. Os que a possuem têm uma âncora. Todo ato é bem considerado, não seja seu efeito prejudicial a outro, e o desvie de Cristo. A contínua indagação do espírito, é: Senhor, como Te servirei melhor, e glorificarei Teu nome na Terra? Como dirigirei minha vida para fazer de Teu nome na Terra um louvor, e induzir outros a Te amarem, servirem e honrarem? Permite tão-somente que eu deseje e escolha a Tua vontade. Que as palavras e exemplo de meu Redentor sejam a luz e a força de meu coração. Enquanto O sigo e confio nEle, não me deixará perecer. Ele será minha coroa de regozijo. T2 129 2 Se confundirmos a sabedoria do homem com a de Deus, somos desencaminhados pela loucura da sabedoria humana. Aí está o grande perigo de muitos em _____. Não possuem experiência por si mesmos. Não têm formado o hábito de considerar por si mesmos, com oração, e julgar sem preconceito questões e assuntos novos que sempre podem surgir. Esperam para ver o que os outros pensam. Se estes discordam, é quanto basta para fazê-los convencer-se de que o assunto em consideração não é de nenhum valor. Conquanto seja grande essa classe, isto não altera o fato de eles serem inexperientes e fracos mentalmente em conseqüência de cederem longamente ao inimigo, e serão sempre tão débeis como criancinhas, andando segundo a luz dos outros, vivendo de sua experiência religiosa, sentindo como os outros sentem e agindo como os outros agem. Procedem como se não tivessem individualidade. Sua identidade é absorvida em outras; são meras sombras daqueles que eles julgam andarem mais ou menos direito. A menos que estes se apercebam de seu caráter vacilante, e o corrijam, perderão todos a vida eterna; serão incapazes de resistir aos perigos dos últimos dias. Não têm fibra para resistir ao diabo; pois não sabem que é ele. É preciso que esteja alguém ao seu lado para adverti-los se é um inimigo ou um amigo que se aproxima. Não são espirituais, portanto não discernem as coisas espirituais. Não são sábios nas coisas que se relacionam com o reino de Deus. Nem jovem nem adulto é justificado em confiar a outro o ter por ele uma experiência religiosa. Disse o anjo: "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço." Jeremias 17:5. É necessário na vida e na luta cristãs, uma nobre confiança em si mesmo. T2 130 1 Homens, mulheres e jovens, Deus requer que possuam valor moral, firmeza de propósito, coragem e perseverança, mente que não pode aceitar as afirmações de outros, mas que pesquisa por si mesma antes de receber ou rejeitar, que estuda e pesa as provas, e as leva ao Senhor em oração. "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada." Agora, a condição: "Peça-a, porém, com fé, não duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa." Tiago 1:5-7. Esta petição por sabedoria não deve ser uma oração sem sentido, que desaparece da mente apenas concluída. É uma prece que exprime o forte, sincero desejo do coração, partido da consciência de falta de sabedoria para determinar a vontade de Deus. T2 131 1 Uma vez feita a oração, caso a resposta não venha imediatamente, não se cansem de esperar, nem fiquem instáveis. Não vacilem. Apeguem-se à promessa: "Fiel é O que vos chama, o qual também o fará." 1 Tessalonicenses 5:24. Qual a viúva perseverante, insistam em seu caso, ficando firme em seu desígnio. É o objeto de grande importância e conseqüência para vocês? Certamente o é. Então, não vacilem; pois talvez sua fé seja provada. Se o que desejam é de valor, merece um vigoroso e diligente esforço. Vocês têm a promessa; "vigiai e orai". Mateus 26:41. Sejam firmes, e a oração será atendida; pois não foi Deus que o prometeu? Se lhes custa alguma coisa o alcançá-la, hão de prezá-la mais, uma vez obtida. É-lhes dito positivamente que se duvidarem, não precisam pensar em receber qualquer coisa do Senhor. Uma advertência é aí dada para não se cansar, mas firmemente descansar na promessa. Se pedem, Ele lhes "dá liberalmente e o não lança em rosto". Tiago 1:5. T2 131 2 Aí está onde muitos cometem um erro. Vacilam em seu desígnio, e sua fé desfalece. Eis a razão por que não recebem nada do Senhor, nossa fonte de força. Ninguém precisa andar em trevas, tropeçando pelo caminho como um cego; pois o Senhor tem providenciado luz, caso eles a aceitem segundo a maneira por Ele designada, não procurando o próprio caminho. Ele requer de todos diligente cumprimento dos deveres de cada dia. Isto é especialmente requerido de todos os que se acham empenhados na solene, importante obra no Escritório de Publicações, tanto daqueles sobre quem repousam as mais pesadas responsabilidades da obra, como dos que têm as menores. Isto se pode fazer olhando a Deus em busca de capacidade para habilitá-los a cumprir fielmente o que é correto aos olhos do Céu, fazendo todas as coisas como quem é regido por motivos abnegados, como se os olhos de Deus fossem visíveis a todos, a todos olhando, e examinando os atos de todos. T2 132 1 O pecado com que mais se condescende, e que nos separa de Deus e produz tantas contagiosas perturbações espirituais, é o egoísmo. Não pode haver retribuição ao Senhor, a não ser por meio da abnegação. Não podemos fazer coisa alguma de nós mesmos, mas mediante a força que Deus nos comunica, podemos viver para fazer bem aos outros, esquivando-nos assim ao mal do egoísmo. Não necessitamos ir para terras pagãs para manifestar nosso desejo de consagrar a Deus tudo, em uma vida útil, abnegada. Devemos fazer isto no círculo familiar, na igreja, entre aqueles com quem convivemos, e com quem temos negócios. Justamente nas ocupações comuns da vida, é que nos cumpre negar-nos a nós mesmos e manter o eu em sujeição. Paulo podia dizer: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. É o morrer diário para o próprio eu nas pequeninas decisões da vida, que nos torna vencedores. Devemos esquecer o próprio eu no desejo de fazer bem aos outros. Há por parte de muitos decidida falta de amor para com os outros. Em vez de cumprirem fielmente seu dever, buscam de preferência o próprio prazer. T2 132 2 Deus prescreve positivamente a todos os Seus seguidores o dever de beneficiar os outros com sua influência e seus meios, e buscarem dEle aquela sabedoria que os habilite a fazerem tudo ao seu alcance para elevarem os pensamentos e afeições dos que lhes chegam ao alcance da influência. No fazer bem aos outros, experimentarão uma doce satisfação, uma paz interior que lhes será suficiente recompensa. Quando impelidos por elevado e nobre desejo de fazer o bem aos outros, encontrarão verdadeira felicidade num fiel desempenho dos múltiplos deveres da vida. Isso trará mais que uma recompensa terrestre; pois todo cumprimento fiel, abnegado do dever, é notado pelos anjos e se destaca no registro da vida. No Céu, ninguém pensará em si mesmo, nem buscará o próprio prazer; mas todos, movidos por puro e genuíno amor, buscarão a felicidade dos seres celestes que os rodeiam. Caso desejemos fruir a sociedade celeste na Terra renovada, precisamos ser aqui regidos por princípios celestes. T2 133 1 Todo ato de nossa vida afeta a outros para bem ou para mal. Nossa influência tende a elevar ou a rebaixar; ela é experimentada, posta em prática e, em maior ou menor escala, reproduzida por outros. Caso por nosso bom exemplo ajudemos outros no desenvolvimento de bons princípios, damos-lhes poder para fazer o bem. Por sua vez, eles exercem a mesma influência benéfica sobre outros, e assim centenas e milhares são afetados por nossa inconsciente influência. Se, por nossos atos, fortalecemos ou impelimos à atividade as faculdades más dos que nos rodeiam, partilhamos de seu pecado, e teremos de dar contas pelo bem que lhes poderíamos ter feito e não fizemos, porque não tornamos Deus a nossa força, nosso guia e conselheiro. ------------------------Capítulo 18 -- O verdadeiro amor T2 133 2 O verdadeiro amor não é uma forte, ardente e impetuosa paixão. Ao contrário, é calmo e profundo em sua natureza. Olha para além das meras exterioridades, sendo atraído apenas pelas qualidades. É sábio e apto a discernir, e sua dedicação é real e permanente. Deus nos experimenta e prova pelas ocorrências comuns da vida. São as pequenas coisas que revelam os capítulos do coração. São as pequenas atenções, os numerosos incidentes pequeninos e as simples cortesias da vida que formam a soma da felicidade da existência; e é a negligência de palavras bondosas, animadoras e afetuosas e das pequenas cortesias da vida que ajudam a formar o todo da infelicidade da existência. Verificar-se-á afinal que a negação do próprio eu pelo bem e felicidade dos que nos rodeiam constitui grande parte do registro da vida no Céu. E revelar-se-á também o fato de que, o cuidado do eu, sem consideração para com o bem e a felicidade de outros, não escapa à observação de nosso Pai celeste. T2 134 1 Irmão B, o Senhor está trabalhando em seu favor, e o abençoará e fortalecerá no caminho do direito. Você compreende a teoria da verdade, e deve obter todo o conhecimento que lhe seja possível quanto à vontade e à obra de Deus, a fim de que esteja preparado para ocupar uma posição de mais responsabilidade, caso Ele, vendo que você pode glorificar-Lhe melhor o nome assim fazendo, o requeira do irmão. Mas você tem ainda uma experiência a adquirir. É demasiado impulsivo, por demais afetado pelas circunstâncias. Deus está disposto a fortalecê-lo, estabelecê-lo e firmá-lo, caso busque sincera e humildemente sabedoria -- dEle que é infalível, e que promete que não o fará em vão. T2 134 2 Ao ensinar aos outros a verdade, corre o risco de falar demasiado rudemente, de uma forma que não está em harmonia com sua pouca experiência. Você apreende as coisas de relance, e pode compreender de pronto a importância dos assuntos. Nem todos são organizados como você, e não podem fazer o mesmo. O irmão não estará preparado para esperar calma e pacientemente que essas pessoas que não podem ver tão prontamente como você mesmo, pesem as provas. Corre o risco de insistir demasiado com os outros para verem imediatamente como você vê, e sentirem todo aquele zelo e necessidade de ação que o irmão experimenta. Caso sua expectativa não se realize, o irmão está sujeito a desanimar e ficar desassossegado, e a desejar uma mudança. Deve fugir da tendência de censurar e impor. Abstenha-se de tudo que cheire a um espírito acusador. Não agrada a Deus que haja esse espírito em qualquer de Seus servos de longa experiência. É próprio de um jovem, caso seja adornado de humildade e daquele ornamento interior, manifestar ardor e zelo; mas quando zelo áspero e espírito acusador são manifestados por um jovem que não possui senão alguns anos de experiência, isto é muito impróprio, e simplesmente desagradável. Coisa alguma lhe pode tão depressa destruir a influência como isto. A brandura, a gentileza, a paciência e a longanimidade, o não se ofender facilmente, o sofrer tudo, esperar tudo, tudo suportar -- estes são os frutos dados pela preciosa árvore do amor, árvore de origem celeste. Esta árvore, se nutrida, demonstrar-se-á daquelas que estão sempre verdes. Seus ramos não secarão, não lhe murcharão as folhas. É imortal, eterna, continuamente regada pelos orvalhos celestes. T2 135 1 O amor é poder. Neste princípio acha-se envolvida força intelectual e moral, e dele não se podem separar. O poder da riqueza tem a tendência de corromper e destruir; o poder da força é potente para causar dano; a excelência e o valor do amor puro, porém, consistem em sua eficiência para fazer o bem, e nada senão o bem. Tudo quanto é feito por puro amor, por mais pequenino ou desprezível que seja aos olhos dos homens, é inteiramente frutífero; pois Deus olha mais a quantidade de amor com que alguém trabalha do que a porção de trabalho que realiza. O amor é de Deus. O coração não convertido é incapaz de originar ou produzir esta planta de procedência celeste, que só vive e floresce onde Cristo reina. T2 135 2 O amor não pode viver sem ação, e cada ato aumenta-o, robustece-o, expande-o. O amor obterá a vitória onde o argumento e a autoridade são impotentes. O amor não trabalha pelo proveito nem pela recompensa; todavia foi ordenado por Deus que grande ganho acompanhe seguramente toda obra de amor. Este é difusivo em sua natureza e sem ruído em sua maneira de agir, e todavia forte e poderoso em seu desígnio de vencer grandes males. Sua influência é de molde a abrandar e a transformar, e tomará posse da vida dos pecadores e lhes tocará o coração quando todos os outros meios se houverem demonstrado infrutíferos. Onde quer que seja empregado o poder do intelecto, da autoridade ou da força, e não se achar manifestamente presente o amor, as afeições e a vontade daqueles a quem buscamos alcançar tomam uma atitude defensiva ou de repulsa, e acresce-lhes a força de resistência. Jesus era o Príncipe da Paz. Veio a este mundo a fim de sujeitar a Si a resistência e a autoridade. Era senhor da sabedoria e da força, mas os meios que empregou para vencer o mal foram a sabedoria e a força do amor. Não tolere coisa alguma que lhe divida o interesse do atual trabalho que faz, até que Deus ache por bem lhe dar outra parte da obra no mesmo campo. Não busque felicidade, pois nunca a encontramos procurando-a. Cumpra seu dever. Seja a fidelidade a característica de todas as suas realizações, e revista-se de humildade. T2 136 1 "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. Benditos seriam os resultados de tal atitude. "Com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. Há aí fortes motivos que nos devem constranger a amar uns aos outros com um coração puro, fervorosamente. Cristo é nosso exemplo. Ele andou fazendo o bem. Viveu para beneficiar a outros. O amor embelezava e enobrecia todas as Suas ações. Não nos é ordenado fazer a nós mesmos tudo o que desejamos que os outros nos façam; cumpre-nos fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam em idênticas circunstâncias. Com a medida com que medimos, nos é medido de novo. Mateus 7:2. O amor puro é simples em sua maneira de agir, e distingue-se de qualquer outro princípio de ação. O amor da influência e o desejo de desfrutar a estima dos outros talvez produzam uma vida bem ordenada e, freqüentemente, uma conduta irrepreensível. O respeito de nós mesmos nos pode levar a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta pode praticar ações generosas, reconhecer a verdade presente, e exprimir exteriormente humildade e afeição, não obstante os motivos podem ser enganosos e impuros; as ações originadas de um coração assim podem ser destituídas do sabor da vida, dos frutos de verdadeira santidade, dos princípios do amor puro. O amor deve ser nutrido e cultivado, pois sua influência é divina. ------------------------Capítulo 19 -- Entretenimentos no instituto T2 137 1 Quando entretenimentos foram introduzidos no Instituto, alguns em _____ manifestaram seu caráter leviano. Eles estavam satisfeitos e felizes; sua mentalidade frívola fora atendida. As coisas recomendadas para inválidos, eles pensavam ser boas para si. O Dr. C não é responsável por todos os resultados advindos dos conselhos dados a seus pacientes. Em diferentes igrejas em outros lugares, os não consagrados se aproveitaram da primeira oportunidade para envolver-se em prazeres, agitações e leviandades. Logo que se soube que os médicos do Instituto recomendaram jogos e entretenimentos para desviar a mente dos pacientes de si mesmos para uma mais animada linha de pensamento, foi como fogo em palha. Os jovens de _____ e outras igrejas pensaram que tinham exatamente a mesma necessidade, e a armadura da justiça foi deposta por muitos. Quando não mais podiam refrear-se, envolveram-se nessas coisas com mais zelo e perseverança, como se a vida eterna dependesse de seu empenho a esse respeito. Aí houve uma oportunidade para discernir entre os conscienciosos seguidores de Cristo e aqueles que estavam enganando a si próprios. Alguns não tinham a causa de Deus no coração. Não estavam efetuando a verdadeira santidade no coração. Falharam em fazer de Deus a sua confiança e mostraram-se instáveis, apenas precisando de uma onda para apanhá-los e arremessá-los de um lado para o outro. Eles demonstraram que possuíam bem pouca estabilidade e independência moral. Não tinham experiência, e por conseguinte andavam na trilha dos outros. Não tinham a Cristo no coração para confessá-Lo ao mundo. Professavam ser Seus seguidores, mas as coisas terrenas e temporais atraíam seu frívolo e egoísta coração e o mantinham em sujeição. T2 138 1 Havia outros que pareciam não demonstrar qualquer preocupação com respeito à questão dos entretenimentos. Tinham tal segurança em Deus que sua paz mental não era perturbada. Entenderam que uma prescrição feita para inválidos não lhes servia, portanto, não se perturbaram. O que quer que outros, na igreja ou no mundo, fizessem nada tinha a ver com eles, pois diziam: A quem temos para seguir senão a Cristo? Jesus mandou-nos andar como Ele mesmo andou. Devemos viver "como vendo o Invisível" (Hebreus 11:27), e fazer o que nos compete com entusiasmo, "como ao Senhor e não aos homens". Colossences 3:23. T2 138 2 Quando essas coisas surgem, o caráter se desenvolve. Então a dignidade moral pode ser verdadeiramente estimada. Não é difícil descobrir quem são os que professam piedade, todavia têm seu prazer e felicidade neste mundo. Suas afeições não estão postas nas coisas do alto, mas sobre as terrenas, onde Satanás reina. Eles andam na escuridão e não podem amar ou fruir as coisas celestiais, porque não as discernem. Estão "entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus". Efésios 4:18. Não compreendem "as coisas do Espírito... porque" são "loucura" para eles. 1 Coríntios 2:14. Suas ocupações estão de acordo com a trajetória deste mundo, e seus interesses e expectativas estão ligados a ele e às coisas terrenas. Se podem passar por cristãos, embora servindo "a Deus e a Mamom" (Mateus 6:24), ficam satisfeitos. Mas ocorrerão coisas que vão revelar o que vai no coração daqueles que são somente um peso e uma maldição à igreja. T2 138 3 O espírito existente na igreja é de molde a afastar de Deus e dos caminhos da piedade. Muitos na igreja têm atribuído sua cegueira espiritual à crescente influência dos princípios ensinados pelo Instituto. Isso não está totalmente correto. Houvesse a igreja se firmado no conselho de Deus e o Instituto estaria sob controle. A luz da igreja teria sido difundida àquele ramo da obra e os erros ali verificados não teriam existido. Foi a escuridão moral da igreja que exerceu grande influência para criar trevas morais e morte espiritual no Instituto. Se a igreja se tivesse mantido em saudável condição, teria transmitido uma vitalizante e sadia corrente de vida a esse membro do corpo. Mas ela estava enferma e não desfrutou o favor de Deus nem a luz de Seu semblante. Uma doentia e mortal influência circulou através de todo o organismo, até que a doença se manifestou em toda parte. T2 139 1 O querido irmão D não compreendeu o estado do próprio coração. O egoísmo habita ali, e se foi a paz, salutar e calma paz. O que a todos falta é o elemento do amor -- amor a Deus e ao próximo. "A vida que agora" você vive não é "na fé do Filho de Deus". Gálatas 2:20. Há carência de firme confiança, há medo de depositar tudo nas mãos de Deus, como se Ele não pudesse lidar com o que Lhe fosse confiado. Você teme que algum mal o prejudique, a menos que fique na defensiva e inicie uma batalha em seu favor. Os filhos de Deus são sábios e vigorosos conforme a sua dependência da sabedoria e poder de Deus. Tornam-se fortes e felizes à medida que se distanciam da sabedoria e ajuda humanas. T2 139 2 Daniel e seus companheiros eram cativos em uma terra estranha, mas Deus não permitiu que a inveja e o ódio de seus inimigos prevalecessem contra eles. Os justos sempre receberam auxílio do Céu. Quantas vezes não tem o inimigo de Deus unido suas forças e sabedoria para destruir o caráter e a influência de umas poucas pessoas que confiavam em Deus! Mas, por as ajudar o Senhor, ninguém pôde prevalecer contra elas. Se tão-somente os seguidores de Cristo se unirem, eles prevalecerão. Separem-se de seus ídolos e do mundo, e o mundo não os separará de Deus. Cristo o nosso Salvador está presente e é todo-suficiente. "NEle habita... toda a plenitude." Colossences 2:9. Têm os cristãos o privilégio de saber que Cristo verdadeiramente está naqueles que são da verdade. "Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé." 1 João 5:4. "Tudo é possível ao que crê" (Marcos 9:23); e tudo quanto quisermos, orando, se crermos que receberemos, tê-lo-emos. Marcos 11:24. Esta fé penetra até às mais negras nuvens e traz raios de luz e de esperança ao coração aflito e desanimado. A ausência dessa fé e dessa esperança é que produz perplexidade, temores aflitivos e suspeita de males. Deus fará grandes coisas por Seu povo ao porem nEle toda a sua confiança. "É grande ganho a piedade com contentamento." 1 Timóteo 6:6. A religião pura e imaculada será exemplificada na vida. Cristo provará ser uma inesgotável fonte de força, "socorro bem presente" em todas as "tribulações". Salmos 46:1. ------------------------Capítulo 20 -- Negligência acerca de Ana More T2 140 1 No caso da irmã Ana More, vi que o descaso com que foi tratada era considerado como negligenciar o próprio Senhor Jesus. Tivesse o Filho de Deus vindo da maneira humilde e despretensiosa como jornadeava de um lugar para o outro quando esteve na Terra, e não teria encontrado melhor recepção. É necessário o profundo princípio do amor que habitou no coração do humilde Homem do Calvário. Houvesse a igreja vivido na luz e teriam seus membros apreciado essa humilde missionária cujo ser ansiava unir-se ao serviço do Mestre. Seu interesse sincero foi mal-interpretado. Sua aparência exterior não era de molde a ser aprovada pelos apreciadores da moda. A familiaridade com a economia estrita e a pobreza deixara marcas em seu vestuário. Os escassos recursos de que dispunha se acabavam tão logo lhe chegavam às mãos, ao beneficiar a outros e levar luz àqueles a quem ela esperava conduzir à cruz. T2 141 1 Mesmo a professa igreja de Cristo, com seus altos privilégios e elevada profissão de fé, não discerniu a imagem de Cristo nessa abnegada filha de Deus, porque se afastara tanto de Jesus que não mais refletia Sua imagem. Julgavam-na pela aparência exterior e não perceberam seu adorno interior. Eis uma mulher cujo conhecimento e experiência genuína nos mistérios da piedade excedia em muito aos dos que moravam em _____, e cuja maneira de dirigir-se aos jovens era agradável, instrutiva e salutar. Ela não era severa, mas justa e simpática, e se teria provado uma das mais úteis obreiras no campo, como instrutora dos jovens, companheira útil e inteligente, e conselheira das mães. Ela poderia alcançar corações pela fervorosa e simples apresentação de incidentes de sua vida religiosa, a qual devotou ao serviço de seu Redentor. Houvesse a igreja saído da escuridão e engano para a clara luz, o coração de seus membros teria se compadecido dessa estrangeira solitária. Suas orações, lágrimas e sofrimento por não ver nenhum caminho de utilidade aberto para ela, foram vistos e ouvidos no Céu. O Senhor ofereceu a Seu povo excelente auxílio, mas eles estavam ricos e enriquecidos com bens e de nada tinham falta. Desviaram-se e rejeitaram a mais preciosa bênção que poderiam desejar e necessitar. Houvesse o Pastor E permanecido sob a clara luz divina e seria imbuído do Espírito Santo quando essa serva de Jesus, solitária, sem lar e ansiosa por fazer um trabalho para seu Mestre, foi-lhe apresentada; haveria perfeita identificação entre eles e seu coração teria sido atraído por essa discípula de Cristo e a teria compreendido. Assim também ocorreria com a igreja. Eles têm estado em tal cegueira espiritual que não reconhecem mais o som da voz do Verdadeiro Pastor, e seguem a voz de um estranho que os está levando para fora do redil de Cristo. T2 142 1 Muitos consideram a grandiosa obra a ser feita pelo povo de Deus, e suas orações elevam-se por auxílio na grande colheita. Mas, se essa ajuda não vem da maneira que esperam, não a recebem, mas voltam-lhe as costas como a nação judaica fez com Cristo, por ficar desapontada com a maneira de Seu aparecimento. Muita pobreza e humildade marcaram-Lhe o advento, e em seu orgulho a nação recusou Aquele que veio para dar-lhe vida. Com isso queria Deus que a igreja humilhasse o coração e visse a grande necessidade de corrigir seus caminhos perante Ele, para que não a visitasse com juízos. Muitos piedosos professos dão ao adorno exterior muito maior importância do que ao interior. Tivesse a igreja se humilhado diante do Senhor e reparado plenamente seus erros passados para alcançar a mente divina, eles não teriam sido tão deficientes na estima da excelência de caráter. T2 142 2 A luz da irmã Ana More se apagou, quando poderia agora estar brilhando para iluminar a senda de muitos que estão andando nos negros caminhos do erro e da rebelião. Deus pede que a igreja se desperte de seu torpor, e diligentemente indague acerca da causa desse engano entre os professos cristãos cujos nomes constam dos livros da igreja. Satanás os está iludindo e enganando sobre o grande assunto da salvação. Nada é mais traiçoeiro e enganoso do que o pecado. Ele é o deus deste mundo que ilude, cega e conduz à destruição. Satanás não chega com suas tentações de uma vez. Ele as disfarça com aparência de bem; mescla um pouco de melhoria com leviandade e divertimentos, enganando pessoas e usando-as como uma desculpa para que com eles se envolvam, crendo que grande bem lhes resultará. Essa é apenas uma parte do engano. As artes infernais de Satanás são camufladas. Pessoas desapercebidas dão um passo, e se preparam para o próximo. É mais agradável seguir a inclinação do próprio coração do que permanecer em atitude de defesa e resistir à primeira insinuação do ardiloso inimigo, e assim impedir-lhe a entrada. Oh, como Satanás vigia para ver sua isca apanhada prontamente e pessoas andando pelo caminho que preparou. Ele não as quer abandonando a oração e mantendo uma forma de deveres religiosos, pois enquanto isso fazem pode torná-las mais úteis em seu serviço. Ele une suas artimanhas e enganosos ardis com a profissão de fé e experiência delas, e assim sua causa prospera. Os fariseus hipócritas oravam, jejuavam e observavam as formas de piedade, enquanto eram corruptos de coração. Satanás aguarda para escarnecer de Cristo e Seus anjos com insultos, dizendo: "Eu os domino! Eu os domino! Preparei meus enganos para eles. Seu sangue é inútil aqui. Suas intercessões, poder e obras maravilhosas podem cessar. Eu os domino! Eles são meus! Apesar de sua alta profissão de fé como súditos de Cristo; apesar de uma vez terem gozado a luz de Sua presença, eu os aprisionarei para mim mesmo diante do Céu de que tanto falam. É com súditos como esses que eu posso trabalhar para seduzir a outros." T2 143 1 Diz Salomão: "O que confia no seu próprio coração é insensato" (Provérbios 28:26), e há centenas deles que se encontram entre os que professam a piedade. Diz o apóstolo: "Não ignoramos os seus ardis." 2 Coríntios 2:11. Oh, que arte, que habilidade, que astúcia, é exercida para levar os professos seguidores de Cristo a uma união com o mundo, buscando a felicidade em divertimentos mundanos, sob a ilusão de que se obtém algum bem! E desta forma os descuidados vão direto para a armadilha, lisonjeando-se de que não há mal no caminho. As afeições e simpatias desses são persuasivas e essas lançam um tênue fundamento sobre o qual estabelecem a confiança de que são filhos de Deus. Eles se comparam uns com os outros e ficam satisfeitos de que são mesmo melhores do que muitos verdadeiros cristãos. Mas, onde está o profundo amor de Cristo resplandecendo-lhes na vida, e seus brilhantes raios incidindo sobre outros? Onde está sua Bíblia? E quanto é ela estudada? Onde estão seus pensamentos? No Céu e nas coisas celestes? Não é natural a sua mente avançar nesse rumo. O estudo da Palavra de Deus lhes é desinteressante, pois ela nada possui para agitar e incitar a mente, e o coração natural e inconverso prefere outro livro à Palavra de Deus. Sua atenção está concentrada em si mesmos. Não nutrem sinceros e profundos anseios pela influência do Espírito Santo sobre a mente e o coração. Deus não faz parte de seus pensamentos. T2 144 1 Como posso suportar o pensamento de que a maior parte dos jovens nesta época não alcançarão a vida eterna! Oh, que os sons da música instrumental possam cessar e que eles não mais desperdicem tão precioso tempo, deleitando-se em suas fantasias. Oh, que devotem menos tempo ao vestuário e vãs conversações, e apresentem fervorosas e angustiantes orações a Deus para obterem uma sadia experiência. Há grande necessidade de íntimo exame de consciência à luz da Palavra de Deus. Que cada um faça a pergunta: "Sou correto, ou corrupto de coração? Estou renascido em Cristo, ou tenho ainda coração carnal, com nova roupagem exterior?" Detenham-se no grande tribunal, e à luz de Deus verifiquem se há algum pecado secreto que estão acariciando, algum ídolo que ainda não sacrificaram. Orem, sim, orem como nunca oraram antes, para que não sejam enganados pelos artifícios de Satanás, e abandonados a um espírito descuidado, imprudente e vão, cumprindo deveres religiosos para acalmarem a consciência. T2 144 2 Não é apropriado para cristãos de qualquer época serem amantes dos prazeres, muito mais agora quando a história terrestre se aproxima de seu final. Certamente o fundamento de sua esperança de vida eterna nunca deve ser considerado demasiado firme. O bem-estar de nosso coração e felicidade eterna depende de como o fundamento é posto sobre Cristo. Enquanto muitos estão desejosos de prazeres terrenos, vocês anseiam a inconfundível segurança do amor divino, sincera e ferventemente clamando: Quem me mostrará como tornar certos meu chamado e eleição? Um dos sinais dos últimos dias é que os professos cristãos são mais amantes dos prazeres do que de Deus. Lidem verazmente com o próprio coração. Investiguem cuidadosamente. Quão poucos, após um fiel exame, podem erguer os olhos para o Céu e dizer: "Eu não sou daqueles que são assim descritos. Não sou mais amigo "dos deleites do que" amigo "de Deus". 2 Timóteo 3:4. Quão poucos podem dizer: "Estou morto para o mundo; 'a vida que agora vivo... vivo-a na fé do Filho de Deus'! Gálatas 2:20. Minha 'vida está escondida com Cristo em Deus', e quando Ele, que é a minha vida, 'Se manifestar, então também' me manifestarei 'com Ele em glória'." Colossences 3:3, 4. O amor e a graça de Deus! Oh, preciosa graça! Mais desejável que o ouro fino. Salmos 19:10. Ela eleva e enobrece o espírito acima de tudo, e põe nossas afeições no Céu. Embora aqueles que nos rodeiam sejam frívolos e empenhados na busca de prazeres e loucura, nossa conversação é sobre o Céu, de onde aguardamos o Salvador; o coração deseja a Deus por perdão e paz, por justiça e santidade. Associação com Deus e contemplação das coisas que são de cima transformam a vida à semelhança de Cristo. ------------------------Capítulo 21 -- Orações pelos doentes T2 145 1 No caso da irmã F, uma importante obra tinha de ser feita. Os que se uniram para orar por ela, precisavam de que uma obra se fizesse em favor deles. Se Deus houvesse atendido suas orações, isto teria redundado em sua desgraça. Nesses casos de aflição, em que Satanás exerce domínio sobre a mente, devia proceder-se antes da oração a um exame meticuloso de si mesmo a fim de verificar se existem pecados dos quais é preciso arrepender-se, confessar e abandonar. É necessário que haja profunda humilhação de coração diante de Deus e se tenha confiança humilde nos merecimentos do sangue de Cristo. A oração e o jejum nada conseguem, enquanto o coração estiver isolado de Deus por um procedimento errôneo. "Porventura não é este o jejum que escolhi? que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?" "Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-Me aqui; se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar vaidade; e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam." Isaías 58:6, 7, 9-11. T2 146 1 É trabalho de coração, o que o Senhor requer; boas obras provindas de um coração repleto de amor. Todos devem cuidadosa e devotadamente considerar as passagens acima, e examinar seus motivos e ações. A promessa de Deus a nós é sob condição de obediência, submissão a todas as Suas ordens. "Clama em alta voz", diz o profeta Isaías, "não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados. Todavia, Me procuram cada dia, tomam prazer em saber os Meus caminhos; como um povo que pratica a justiça, e não deixa o direito de seu Deus, perguntam-Me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus, dizendo: Por que jejuamos nós, e Tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e Tu o não sabes?" Isaías 58:1-3. T2 147 1 Trata-se aqui de um povo que faz alta profissão de fé, que tem o hábito de orar e se deleita em exercícios religiosos, mas, não obstante, está em falta. Reconhecem que suas orações não são atendidas; que seus diligentes e zelosos esforços não são levados em conta no Céu, e solicitamente inquirem por que o Senhor não lhes responde. Toda a dificuldade está do lado deles mesmos. Professando piedade, não produzem frutos que glorifiquem a Deus; seus atos não são o que deveriam ser. Negligenciam deveres os mais positivos. A menos que reparem esta falta, Deus não poderá ouvir-lhes as orações conforme Sua glória. Nas orações feitas a favor da irmã F, houve confusão de sentimentos. Alguns se revelaram fanáticos, sendo movidos apenas por um impulso de momento. "Tinham zelo..., mas não com entendimento." Romanos 10:2. Outros olhavam o grande resultado que ali deviam presenciar, e como que triunfavam antes da vitória estar ganha. Havia ali muito desse espírito de Jeú: "Vai comigo, e verás o meu zelo para com o Senhor." 2 Reis 10:16. Em vez dessa confiança própria, deviam manifestar espírito de humildade e desconfiança própria, chegando-se para Deus com o coração contrito e arrependido. T2 147 2 Foi-me mostrado que em situações de enfermidade, em que não houver impedimento algum para que sejam feitas orações em favor do doente, o caso deve ser confiado ao Senhor com calma e fé, e não com agitação. Só Ele é quem conhece a vida passada do indivíduo, e sabe também o que será o seu futuro. Conhece o coração de todos os homens, sabe se o doente, depois de restabelecido, glorificará Seu nome ou se, pelo seu desvio e apostasia, virá a desonrar a Deus. Tudo o que nos compete fazer é pedir-Lhe que restabeleça o doente de conformidade com Sua vontade, e crer que Ele tomará em consideração as razões apresentadas e as orações que a favor do enfermo forem feitas. Se o Senhor vir que o restabelecimento do doente é para Sua glória, atenderá às nossas orações. Insistir, porém, na cura sem conformar-se com Sua vontade, é um erro. T2 148 1 O que Deus prometeu, a todo tempo é capaz de cumprir, e a obra que confiou a Seu povo a pode perfeitamente realizar por seu intermédio. Se este estiver disposto a andar em conformidade com toda a palavra que Deus falou, toda boa palavra e promessa serão cumpridas. Mas se faltar à perfeita obediência, as grandes e preciosas promessas não serão obtidas e não se cumprirão. T2 148 2 Tudo o que podemos fazer, ao orar por um doente, é suplicar a Deus com insistência a favor dele e com confiança plena depositar seu caso em Suas mãos. Se atentarmos para alguma iniqüidade em nosso coração, Deus não nos ouvirá. Salmos 66:18. Tem o direito de fazer o que Lhe apraz com o que Lhe pertence. Glorificará Seu nome atuando nos que O seguem de coração, e por meio deles, de maneira a ficar patente que é o Senhor que tudo neles opera, e que suas obras se cumprem em Deus. Disse Cristo: "Se alguém Me servir, Meu Pai o honrará." João 12:26. Quando, pois, nos chegamos a Deus, devemos orar para que nos seja dado compreender e realizar Seu propósito, e nossos desejos e interesses se identifiquem com os dEle. Devemos manifestar-Lhe nossa conformidade com Sua vontade e não pedir que condescenda com a nossa. É bom para nós que o Senhor não defira sempre as nossas súplicas ao tempo e do modo que o desejamos. Assim procedendo, far-nos-á maior bem do que cumprindo nossa vontade, porque nossa sabedoria é loucura. T2 148 3 Temo-nos reunido em fervorosa prece ao redor do leito de dor de homens, mulheres e crianças, e vimos que foram restituídos à vida em resposta às nossas ardentes súplicas. Nessas orações pensamos que devíamos ser positivos e, se tínhamos fé, devíamos pedir nada menos que a vida. Não ousamos juntar à nossa súplica esta restrição: "se for para glória de Deus", temendo que isso fosse aparentar certa dúvida. Observamos atentamente os que assim nos foram restituídos, e notamos que alguns deles, particularmente jovens, depois de recebida a saúde, se esqueceram de Deus, abandonando-se a uma vida dissoluta, causando aflição e tristeza aos pais e amigos e cumulando de vergonha até os que receavam orar por eles. Não honraram nem glorificaram a Deus com sua vida, mas grandemente O desonraram com sua vida de vícios. T2 149 1 Nós não mais definimos um modo nem procuramos que o Senhor satisfaça nossos desejos. Se a vida do doente pode glorificá-Lo, suplicamos-Lhe que conceda viver, porém não como nós queremos e sim como Ele quiser. Nossa fé pode ter a mesma firmeza e até provar-se mais confiante ainda, subordinando o desejo pessoal à onisciente vontade de Deus, e depositando tudo com confiança em Suas mãos, sem inútil ansiedade. Temos a promessa. Sabemos que "se pedirmos, segundo Sua vontade, Ele nos ouve". 1 João 5:14. Nossas petições não devem tomar a forma de uma ordem e sim de uma intercessão para que se cumpra o que dEle suplicamos. Quando a igreja é unida, terá virtude e poder; porém, se parte dela se inclina para o mundo e muitos são dados à concupiscência, que Deus aborrece, pouco Lhe será possível fazer por eles. A incredulidade e o pecado separam a muitos de Deus. Somos tão fracos que não podemos suportar grande prosperidade espiritual sem nos atribuir a sua glória e arrogar bondade e justiça como motivo das bênçãos recebidas, quando tudo tem sua razão de ser na grande misericórdia e bondade do compassivo Pai celestial, e não nalgum bem que porventura em nós houvesse. T2 149 2 Devíamos exercer sempre uma influência santificadora sobre aqueles que estão ao nosso redor. Essa influência nobre e salvadora pouco se tem feito sentir em _____. Muitos se associaram ao mundo, participando do seu espírito e de sua influência, e suas relações de amizade os têm separado de Deus. Jesus está a considerável distância deles. Já não Lhe ouvem a voz de conselho e advertência, e seguem o próprio juízo e sabedoria. Seguem por caminho que lhes parece justo aos próprios olhos, mas que mais tarde há de revelar a sua loucura. Deus não permitirá que Sua obra seja misturada com método mundano. Homens do mundo, de espírito astuto e calculista, não são homens para assumir cargos de responsabilidades nesta obra extremamente solene e sagrada. Eles precisam converter-se ou ocupar-se em negócios que se amoldem às suas inclinações mundanas e não envolvam conseqüências eternas. Deus jamais entrará em sociedade com os mundanos. A cada um Cristo deixa a escolha: Você prefere a Mim ou ao mundo? Quer sofrer desonra e ignomínia, ser peculiar, zeloso de boas obras, mesmo sendo odiado pelo mundo, ou prefere a consideração, o respeito, os aplausos e as vantagens que o mundo lhe oferece, desistindo de ter parte comigo? "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Lucas 16:13. ------------------------Capítulo 22 -- O pastor precisa de coragem T2 150 1 Querido irmão G: T2 150 2 Tem-me sido mostrado que você se acha muito deficiente em seus deveres como pastor. Faltam-lhe qualificações essenciais. Você não possui espírito missionário. Você não tem disposição para sacrificar suas comodidades e prazeres pela salvação de almas. Há homens, mulheres e jovens a serem ganhos para Cristo, que abraçariam a verdade caso lhes fosse comunicada. Em sua vizinhança existem pessoas que têm ouvidos para ouvir. T2 150 3 Vi que você está procurando instruir alguns, mas quando houve necessidade de perseverança, coragem e energia, deixou-se abater, tornou-se receoso, desanimado e abandonou o trabalho. Buscou as próprias comodidades e dissipou o interesse que poderia crescer. Poderia ter havido uma colheita de almas, mas a áurea oportunidade passou por causa de sua falta de empenho. Vi que, a menos que decida cingir-se da armadura completa e se disponha a suportar dificuldades como bom soldado da cruz de Cristo, sentindo que pode gastar e ser gasto em trazer pecadores para Cristo, deve deixar sua profissão de pastor e escolher algum outro trabalho. T2 151 1 Seu coração não está santificado para a obra. Você não assume a responsabilidade do trabalho, mas escolhe uma condição mais cômoda do que a que é indicada ao ministro de Cristo. Ele não teve a Sua "vida por preciosa". Atos dos Apóstolos 20:24. Não buscou agradar-Se, mas viveu para o bem dos semelhantes. "Aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo." Filipenses 2:7. Não é suficiente ser capaz de apresentar argumentos acerca de nossa posição diante do povo. O ministro de Cristo precisa possuir aquele perdurável amor pelas almas, um espírito de abnegação e sacrifício próprio. Deve estar disposto a dar a vida, se necessário, à obra de salvar seus semelhantes por quem Cristo morreu. T2 151 2 Você precisa converter-se ao trabalho de Deus. Necessita de sabedoria e discernimento para aplicar-se à obra e administrar seu trabalho. Seus préstimos não são requeridos nas igrejas. Precisa sair a novos lugares e comprovar seu trabalho. Vá com a convicção de converter pecadores à verdade. Se você perceber o valor das pessoas, o menor indício de boa vontade por parte delas alegrará seu coração, e você perseverará, a despeito do trabalho e cansaço do esforço. Depois de promover o tema da verdade, não deixe o lugar se houver a mais leve indicação positiva. Espera, porventura, uma colheita sem trabalho? Acha que Satanás permitirá passivamente que seus súditos passem para as fileiras de Cristo? Ele fará todo esforço para mantê-los cativos nas algemas das trevas e sob sua negra bandeira. Pode você esperar ser vitorioso na conquista de almas para Cristo sem diligente esforço, quando tem tal inimigo para enfrentar em batalha? T2 151 3 Você precisa de mais coragem, mais zelo e fazer grandes esforços, ou deve aceitar o fato de que seu chamado foi um equívoco. Um pastor que se desanima com facilidade causa danos à obra que deseja promover e injustiça a si mesmo. Todos os que professam ser ministros de Cristo devem adquirir sabedoria pelo estudo da história do Homem de Nazaré, e também a vida de Martinho Lutero e outros reformadores. Seus trabalhos foram árduos, mas eles suportaram as dificuldades como fiéis soldados da cruz. Você não deve esquivar-se às responsabilidades. Com toda a modéstia deve estar disposto a aceitar conselhos, a ser instruído. Depois de receber aconselhamento dos sábios, judiciosos, há ainda um Conselheiro cuja sabedoria é infalível. Não falhe em apresentar seu caso perante Ele e suplicar Sua orientação. Jesus prometeu que se você tiver falta de sabedoria e Lhe pedir, Ele a concederá liberalmente e não a negará. A solene obra na qual estamos empenhados exige dedicação, homens plenamente convertidos cuja vida está entrelaçada com a vida de Cristo. Eles extraem força e nutrição da Videira viva e florescem no Senhor. Muito embora sintam a magnitude da obra e sejam levados a exclamar: "Quem é capaz de fazer isso?", não se furtarão ao trabalho duro, mas se empenharão diligente e altruistamente em salvar pecadores. Se os subpastores são fiéis a todo o seu dever, entrarão na alegria de seu Senhor e terão a satisfação de ver no Céu pessoas salvas por seus dedicados esforços. ------------------------Capítulo 23 -- Solidez nos negócios T2 152 1 Prezado irmão H: T2 152 2 Tenho esperado por uma oportunidade de escrever-lhe, mas até agora não me foi possível. Após minha última visão, senti ser meu dever colocar prontamente diante de você aquilo que o Senhor Se agradou mostrar-me. Vi que, há muitos anos no passado, mesmo antes de seu casamento, você tinha disposição para ser astucioso no comércio. Possuía um espírito ganancioso, uma inclinação às negociatas que era prejudicial ao seu progresso espiritual e grandemente danosa à sua influência. A família de seu pai olhava esse assunto do ponto de vista secular, em vez de considerar os altos e exaltados padrões propostos por nosso divino Senhor: "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. Nisso você falhou. Agir com avareza e injustiça nos negócios é ofensivo a Deus. Ele não passará por alto erros e pecados nesse sentido sem completa confissão e abandono. T2 153 1 Foi-me mostrado seu passado e a maneira negligente como você considerava tais coisas. O Senhor observou a transação de levar ao mercado aquela carga de animais tão inferiores, que não seria lucrativo conservá-los, por essa razão foram preparados como alimento e levados ao mercado para serem vendidos para consumo humano. Um deles foi posto em nossa mesa para alimentar nossa grande família nos dias de pobreza. Você não foi o único culpado nisso. Outros de sua família também o foram. Não importa se foi desígnio de vocês que eles fossem comprados e consumidos por nós ou pelos mundanos. É o princípio envolvido nisso que ofendeu a Deus; você transgrediu o Seu mandamento. Não amou a seu próximo como a si mesmo, pois não gostaria que tal coisa lhe fosse feita. Você se sentiria insultado. Um espírito ganancioso levou-o ao afastamento dos princípios cristãos e fê-lo descer a tipos de comercialização que traziam vantagens para si e prejuízo para os outros. T2 153 2 Quando a questão de comer carne me foi mostrada cinco anos atrás, revelando quão pouco o povo sabia acerca do que estavam consumindo na forma de alimentos cárneos, a sua transação me foi apresentada. O resultado de comer a carne de animais doentes é sangue doentio, enfermidades e febres. Muitos exemplos dessa espécie me foram mostrados como sendo praticados diariamente por mundanos. Você, meu prezado irmão, não vê seu erro como o Senhor o vê. Você nunca sentiu ser esse um grande pecado de sua parte. Muitas coisas de caráter semelhante têm lugar em sua vida, as quais descobrirá que o anjo relator registrou fielmente, e as enfrentará de novo, a menos que por arrependimento e confissão as corrija. T2 154 1 Foi-me recomendado esperar e ver. Fui orientada a falar claramente, dar princípios gerais e deixar que fizesse a aplicação por si mesmo. Vi que Deus não salienta com freqüência os erros cometidos por Seu povo, mas faz com que lhe chegue ao conhecimento princípios gerais e verdades específicas, e todos estejam abertos à convicção através do ver, sentir e compreender se estão ou não condenados. Você não tem tratado íntima e fielmente com o próprio coração. Disse o anjo: "Eu o provarei, eu o testarei. Irei contra ele até que reconheça a mão de Deus assim procedendo com ele." T2 154 2 Vi que enquanto em _____ aqueles que estavam ligados à sua família não agiam corretamente. Você manifestou um espírito ganancioso, recendendo a engano e desonestidade. Não poderia exercer nenhuma influência para o bem nesse lugar, até que redimisse o passado mediante completa mudança de conduta nos negócios com seus semelhantes. Sua luz foi trevas para o povo, e sua influência enquanto lá esteve, foi grandemente prejudicial à causa da verdade presente. Você desonrou a verdade e sua conduta enganosa fez do seu nome um provérbio entre o povo. Com freqüência caía abaixo do padrão de muitos mundanos com respeito ao comércio honesto. O Pastor I não pode fazer bem algum em _____. Suas palavras são como a água derramada sobre a terra, porque ele esteve relacionado com você, e participou nesse comércio desonesto. Em muitos respeitos ele se tornou como um mundano nas transações comerciais. Foi ganancioso e estava rapidamente se tornando egoísta. Sua conduta em muitas coisas era de molde a destruir-lhe a influência e não era apropriada a um ministro de Cristo. Na visão que me foi dada em Rochester, Nova Iorque, em 1866, disse o anjo: "Minha mão trará adversidade. Ele pode juntar, mas Eu espalharei até que redima o passado e faça uma obra pura para a eternidade." Todo cristão verdadeiro pôr-se-á acima da condescendência com o baixo espírito comercial dos mundanos. T2 155 1 Você não é avarento; gosta de ser benevolente, liberal, de coração e mão abertos, mas o que está errado é o espírito mencionado nesta carta, de não amar o próximo como a si mesmo, isto é, a negligência em ver seus erros e corrigi-los quando a nítida e poderosa luz da verdade mostra-lhe claramente o dever. Você aprecia a hospitalidade e Deus não permitirá que seja iludido pelo grande enganador da humanidade, mas virá diretamente a você e mostrar-lhe-á onde está errando, para que você possa rever seus caminhos. Ele agora o convoca a redimir o passado e adotar um mais elevado plano de ação, permitindo que sua vida tenha um registro não manchado pela avareza ou um egoísta amor ao ganho. T2 155 2 Seu julgamento das coisas seculares tornar-se-á loucura a menos que dedique tudo a Deus. Você e sua esposa não são consagrados. Sua espiritualidade não é o que Deus deseja que fosse. Vocês parecem estar paralisados, contudo ambos são capazes de exercer forte influência a favor de Deus e Sua verdade, se adornarem sua profissão de fé com vida bem ordenada e santa conversação. Com freqüência se vêem em grande ansiedade, e então ficam impacientes e irritadiços, fazendo as coisas apressadamente. Isso prejudica seu desenvolvimento espiritual. T2 155 3 O tempo é breve e vocês não devem postergar o necessário preparo do coração para trabalhar sincera e fielmente pela própria salvação e pela salvação de amigos, vizinhos e todos os que estão sob sua influência. Busquem sempre viver na luz, para que exerçam santificadora influência sobre aqueles com quem se associam nos negócios ou nas relações comuns. Há plenitude em Cristo. Vocês podem obter forças dAquele que os capacita a andarem como Ele andou, mas as afeições não podem estar separadas dEle. Ele requer o homem todo -- mente, corpo e espírito. Quando fizerem tudo o que Ele pede, o Senhor trabalhará por vocês e os abençoará e fortalecerá pela Sua imensa graça. ------------------------Capítulo 24 -- Oprimindo o assalariado T2 156 1 Prezado irmão J: T2 156 2 Grande solenidade apoderou-se de minha mente desde a visão recebida ao anoitecer da sexta-feira, 12 de Junho de 1868. Vi que você não conhece a si mesmo. Não concordou com o testemunho dado em seu caso, e não empreendeu uma completa mudança. Fui encaminhada a Isaías: "Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?" Isaías 58:6, 7. Se você praticar essas coisas, as bênçãos prometidas serão dadas. T2 156 3 Você pode levantar uma questão: "Por que jejuamos nós, e Tu não vês? Por que afligimos nossas almas e Tu não tomas conhecimento?" Isaías 58:3. Deus deu motivos por que suas orações não foram atendidas. Você pensa que descobriu razões nos outros e os têm acusado. Contudo, vi que há motivos suficientes em você mesmo. Você tem uma obra a fazer para pôr em ordem sua vida e deve compreender que esse trabalho precisa começar em você. Tem oprimido os necessitados e obtido vantagens de sua pobreza. Com respeito aos recursos, você tem sido mesquinho e negociado injustamente. Não possui aquele nobre, bondoso e generoso espírito que deve sempre caracterizar a vida de um seguidor de Cristo. Você oprime os assalariados em seu pagamento. Viu uma pessoa trabalhadora mas pobremente trajada, que você conhecia como conscienciosa e temente a Deus, mesmo assim obteve vantagens sobre ela porque você podia fazer isso. Vi que a negligência em perceber e compreender suas necessidades e o mirrado salário que lhe pagava estão registrados no Céu como feitos a Jesus, na pessoa de Seus santos. Quando pratica tais atos com os pequenos discípulos de Cristo, você o faz a Ele. O Céu tem observado toda a sua mesquinhez para com aqueles que servem em sua casa, e isso permanecerá fielmente anotado contra você, a menos que se arrependa e faça restituição. Um passo errado causa mais dano do que poderia ser desfeito em muitos anos. Se os que erram pudessem ver a extensão do mal, afligiria o coração e clamariam em angústia. Você é egoísta com relação aos recursos. No caso do irmão K, o anjo de Deus apontou para você e disse: "Quando você fez isso a um discípulo de Cristo, foi a Ele mesmo, em pessoa, que o fez." T2 157 1 Os casos que mencionei não são os únicos. Gostaria que você visse as coisas como o Céu as expôs perante mim. Há um triste engano nas mentes. É da religião de Cristo que você precisa. Ele não agradou a Si mesmo, mas viveu para benefício dos outros. Você tem uma obra a fazer e não deve demorar em afligir o coração diante de Deus, e por humilde confissão remover as máculas do caráter cristão. Então poderá empenhar-se na solene obra de trabalhar pela salvação de outros, sem cometer tantos erros. T2 157 2 Quanto soma o tempo que você gasta em uma obra que Deus não colocou sob sua responsabilidade? Impressões têm sido feitas sobre mentes e obtidas experiências, as quais requererão muito esforço para serem apagadas. As pessoas vaguearão em escuridão, perplexidade e incredulidade; e algumas nunca se recuperarão. Com jejum e sincera oração, esquadrinhe profundamente o coração, examine-se rigorosamente, deixando o íntimo desnudo; que nenhum ato escape ao seu exame crítico. Então, com o eu morto e a "vida... escondida com Cristo em Deus" (Colossences 3:3), faça humildes petições. Se você "atender à iniqüidade" no seu "coração, o Senhor não" o "ouvirá". Salmos 66:18. Caso Ele atendesse as suas orações, você teria se exaltado. Satanás está à espreita, preparado para obter a maior vantagem que puder. T2 158 1 Oh, quão importante é que a fidelidade nas pequenas coisas caracterize nossa vida; que a verdadeira integridade marque toda nossa conduta, e que sempre tenhamos em mente que os anjos de Deus estão tomando conhecimento de cada ato. A medida que usarmos com os outros será também usada conosco. Mateus 7:2. O temor deve tomar conta de você a fim de que não proceda injusta e egoistamente. Pela doença e adversidade o Senhor removerá de nós muito mais do que obtemos pela opressão do pobre. Um Deus justo verdadeiramente avalia todos os nossos motivos e ações. T2 158 2 Foram-me mostrados o irmão e a irmã L. O amor ao mundo tem corroído a verdadeira piedade e amortecido as faculdades mentais, de modo que a verdade fracassa em exercer sua transformadora influência sobre a vida e o caráter. O amor ao mundo fechou-lhes o coração à compaixão e à consideração das necessidades dos outros; o espírito do mundo os separou de Deus. Irmão e irmã, vocês têm um trabalho a fazer para saírem de sob o lixo do mundo. Necessitam empreender sinceros esforços para vencer o amor pelo mundo, o egoísmo e a mesquinhez. Existem pecados que estão amaldiçoando o povo de Deus. Foi-me apontada a comunidade em que vocês viviam antes de se mudarem para _____. Vocês foram gananciosos e severos nos negócios ali, tirando vantagens em cada oportunidade que podiam. Tentei encontrar na vida de vocês nobres atos de abnegação e benevolência, mas não pude; eram tão raros! A luz de vocês tem brilhado diante dos outros de tal maneira que eles se desagradam de vocês e de sua fé. A verdade foi desonrada por causa de sua mesquinhez e astúcia nos negócios. Possa Deus ajudá-los a discernir as coisas e a nutrir aversão pelo mal praticado. "Assim resplandeça a vossa luz" sobre os outros "para que vejam as vossas boas obras" e sejam levados a glorificar "o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Deus tem Se ofendido com sua conduta, pois tem sido marcada pelo interesse próprio. Ele ainda está ofendido e tratará disso com vocês em juízo, a menos que se libertem desse espírito mesquinho e busquem santificar-se mediante a verdade. "A fé sem obras é morta" em si mesma. Tiago 2:26. A fé nunca os salvará, a menos que seja justificada pelas obras. O Senhor requer "que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:18, 19. T2 159 1 Foi-me mostrado que vocês oprimem os assalariados em seus pagamentos. Vocês têm se aproveitado das circunstâncias e obtiveram ajuda ao menor preço. Isso não agrada a Deus. Vocês devem pagar liberalmente aos seus auxiliares tudo o que eles têm direito. Deus vê e sabe. O Perscrutador de corações está familiarizado com os pensamentos, os intentos e propósitos do coração. Cada dólar que vocês ganharam desse modo, se retido, será dispersado por adversidade e aflição. O mundo, o mundo, o mundo, tem sido a ordem do dia para vocês. A salvação do pecador tornou-se secundária. Oh, que vocês possam ver, à luz da eternidade, como o Senhor considera essas coisas. Vocês estariam alarmados e não descansariam até que fizessem restituição. T2 159 2 Vocês tiveram luz sobre a reforma de saúde, mas não a receberam nem viveram de acordo com ela. Condescenderam com o apetite e ensinaram a seu filho uma triste lição ao permitir que coma quando e o que quiser. Em seu amor pelo mundo vocês continuam a trabalhar sobre um plano de alta pressão. A mão de Deus foi removida e vocês deixados às próprias fraquezas. Então, vocês dois cambalearam à beira da sepultura. E deixaram de aprender a lição em muitos pontos que Deus gostaria que aprendessem. Vocês mantiveram o amor pelo mundo. Seu amor egoísta pelo ganho e o procedimento estreito e mesquinho não foram abandonados. Não apreciaram a simpatia, o bondoso cuidado e a vigilante ternura de alguém que cuidou de vocês na enfermidade. Se o tivessem feito, seriam levados a manifestar espírito de benevolência, superando qualquer procedimento desprezível com aquela que lhes tem sido leal. Vocês têm oprimido o pobre; têm procedido injustamente. "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda." Provérbios 11:24. T2 160 1 Parece-me, conforme as coisas me foram apresentadas, que Satanás possui tal poder para cegar a mente através do amor ao mundo, que mesmo os professos cristãos se esquecem ou perdem todo o senso de que Deus vive e que seus anjos estão fazendo um registro das ações dos filhos dos homens. Que todo ato mesquinho, todo procedimento egoísta, é anotado no registro da vida. Cada dia mostra a sua relação de deveres não cumpridos, de negligência, de egoísmo, de engano, de fraude, de extorsão. Que quantidade de más obras se está acumulando para o juízo final! Quando Cristo vier, "com Ele vem o Seu galardão, e a Sua obra, diante dEle" (Isaías 62:11), para retribuir "a cada um segundo as suas obras". Mateus 16:27. Que revelação será feita então! Que expressão de perplexidade para alguns ao serem os atos de sua vida revelados sobre as páginas da História! T2 160 2 "Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam? Mas vós desonrastes o pobre." "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:5, 6, 14-17. Vocês podem crer em toda a verdade, todavia, se seus princípios não são praticados em sua vida, a profissão de fé não os salvará. Satanás crê e estremece. Ele trabalha. Ele sabe "que já tem pouco tempo" (Apocalipse 12:12) e desceu com grande poder para fazer suas obras maléficas de acordo com sua fé. O professo povo de Deus, porém, não sustenta sua fé pelas suas obras. Crêem na brevidade do tempo e contudo se apegam tão fortemente aos bens deste mundo como se o mundo devesse durar mil anos como ele é agora. T2 161 1 O comportamento de muitos é marcado pelo egoísmo. "Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele a caridade de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. E nisto conhecemos que somos da verdade e diante dEle asseguraremos nosso coração; sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus; e qualquer coisa que Lhe pedirmos, dEle a receberemos, porque guardamos os Seus mandamentos e fazemos o que é agradável à Sua vista." 1 João 3:17-22. T2 161 2 Despojem-se do egoísmo e façam uma obra completa para a eternidade. Redimam o passado e não apresentem a santa verdade que professam onde agora moram, como no lugar onde viveram até aqui. Deixem a luz brilhar para que outros, vendo as suas boas obras, possam glorificar a nosso "Pai que está nos Céus". Mateus 5:16. Permaneçam sobre a elevada plataforma da verdade eterna. Mantenham todas as transações comerciais nesta vida em estrita harmonia com a Palavra de Deus. ------------------------Capítulo 25 -- Combatividade reprovada T2 162 1 Prezado irmão M: T2 162 2 Quando nos encontramos em _____, estávamos ansiosos para ajudá-lo e tememos que você não quisesse receber o auxílio que necessitava. Propus-lhe que viesse até nossa casa, associasse conosco e com outros queridos filhos de Deus, para que pudesse aprender lições muito importantes e se fortalecesse para suportar as tentações e perigos destes últimos dias. Lembrei-me de seu rosto como de alguém a quem o Senhor me havia mostrado, que estava lutando para controlar fortes maus hábitos, que o conduziam não apenas à destruição do corpo, mas à destruição eterna. Você tem obtido vitórias, mas ainda tem muitas conquistas a fazer, batalhas a ferir contra inimigos interiores, os quais, a menos que vencidos, prejudicarão grandemente sua felicidade e a de todos com quem se associa. T2 162 3 Os maus traços de caráter precisam ser vencidos. Você precisa empreender a obra com sincera e humilde oração a Deus, sentindo-se desajudado sem Sua especial graça. A crença na verdade já produziu uma reforma em sua vida, todavia, de acordo com o padrão divino, essa transformação não foi completa como deveria. Você ama a verdade, mas ela precisa exercer um amplo domínio em sua vida, influenciar as palavras e toda a sua conduta. Você tem uma grande lição a aprender e não deve perder mais tempo. Você não se educou no domínio próprio. Eis aí uma vitória especial a ganhar. Em sua índole há mais elementos de guerra do que de paz. Você precisa cultivar cortesia e verdadeira polidez cristã. "Preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:10. "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo." Filipenses 2:3. T2 163 1 Seu espírito combativo é grande, e você permanece tenso e preparado para refutar a tudo quando tem chance. Não se empenha para ver como pode harmonizar suas idéias e pontos de vista com os dos outros, mas se houver oportunidade encontra-se sempre pronto para discordar. Isso lhe prejudica a vida, retarda seu progresso espiritual e não apenas magoa e fere seus amigos sinceros, como algumas vezes os aborrece, de forma a tornar sua companhia desagradável, incômoda e irritante. Considerar as idéias e opiniões dos outros como inferiores às suas lhe é tão natural como respirar. Você freqüentemente erra muito nisso, pois não tem toda a sabedoria e conhecimento que acredita possuir. Com freqüência coloca suas opiniões acima de homens e mulheres que têm muito mais experiência e que estão melhor qualificados para emitir palavras de são juízo do que você. Não tem observado esses desagradáveis empecilhos, e ainda não compreendeu os amargos frutos que eles produziram. Por muito tempo você tem condescendido com um espírito contencioso, de guerra. Sua peculiar mentalidade o conduz a exultar-se na oposição. T2 163 2 Sua educação tem sido deplorável; não favoreceu a correta experiência religiosa que você agora possui. Você precisa praticamente desaprender tudo e aprender de novo. Possui um temperamento impetuoso que magoa seus amigos e os santos anjos, e fere o próprio coração. Isso é contrário ao espírito da verdade e da verdadeira santidade. Você precisa aprender a cultivar modéstia no falar. O eu precisa ser subjugado e mantido em sujeição. O cristão não assumirá atitude de disputa e contenda, mesmo com os mais ímpios e incrédulos. Quão errado é condescender com tal espírito para com aqueles que crêem na verdade e estão buscando paz, amor e harmonia! Paulo diz: "Tende paz entre vós." 1 Tessalonicenses 5:13. Essa índole contenciosa é contrária a todos os princípios celestiais. No Sermão da Montanha, Cristo disse: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus." "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra." Mateus 5:9, 5. Você encontrará dificuldades aonde quer que vá, a menos que aprenda a lição que Deus quer ensinar-lhe. Você precisa ser menos confiante e radical em suas opiniões, e possuir um espírito suscetível ao ensino, o espírito de um aprendiz. "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade." Provérbios 16:32. "O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura." Provérbios 14:29. Diz o apóstolo Tiago: "Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus." Tiago 1:19, 20. T2 164 1 Um espírito de confiança própria está em conformidade com a sua experiência. Houvesse tido uma experiência mais profunda nas coisas de Deus e saberia que os frutos que você produz são maus. Eles não possuem elementos nutritivos, mas enchem de amargura todos os que deles participam. Você precisa vencer esse espírito ditatorial e arrogante. Eu tenho muita esperança, meu prezado irmão, que você que tem demonstrado possuir coragem moral para enfrentar o inimigo dentro de si mesmo, e firmeza para batalhar contra o apetite e os maus hábitos que o prendem com ligaduras de ferro, agirá retamente nesse ponto e obterá a vitória. Você possui disposição afoita e sente que ninguém se importa especialmente com você, que quase todos são seus inimigos e que não faz qualquer diferença o que lhe possa suceder. T2 164 2 A verdade revelou que você é infeliz. Você viu nela um poder que o exaltaria e que lhe concederia a força e energia que não possuía. Agarrou-se aos raios de luz que brilharam sobre você, e se agora submeter-se plenamente à influência da verdade, ela o converterá e santificará totalmente e o preparará para o final toque da imortalidade. Você possui muitos traços bons de caráter; tem um coração liberal. Deus deseja que você seja correto, perfeitamente correto. O irmão não está disposto a ser comandado ou dirigido. Deseja fazer tudo a seu modo. Precisa, contudo, possuir uma disposição humilde, passível de ensino, ser afável, paciente, longânimo, cheio de brandura e piedade. T2 165 1 Temos interesse em você e desejamos ajudá-lo. Eu oro para que receba essas linhas com espírito pronto, e permita-lhes produzir efeitos apropriados em seu coração e vida. Resposta ao testemunho T2 165 2 Irmã White: O testemunho que recebi ontem foi uma bem merecida reprovação, pela qual lhe sou muito agradecido. Espero sinceramente ser vitorioso. Estou sensibilizado com a magnitude da obra que tenho a fazer, mas confio que, pela graça divina, serei capaz de executá-la. ------------------------Capítulo 26 -- Portadores de responsabilidades na igreja T2 165 3 Prezados irmão e irmã N: T2 165 4 Em 12 de Junho de 1868, foram-me mostradas algumas coisas a seu respeito. Têm um trabalho a fazer, mas não conseguem divisá-lo; vocês não têm sido portadores de responsabilidades. Devem sentir maior interesse na obra e causa de Deus do que possuem. Estão tão cegados pelo amor ao mundo que não vêem quão grande é a influência que ele exerce sobre vocês. Não sentem o peso específico de responsabilidade que repousa sobre vocês, nem compreendem a importância do tempo e a obra que têm a fazer. Estão como que adormecidos. Unidade é força. Há grande fraqueza na igreja porque nela existem muitos relutantes que não assumem responsabilidades. Vocês não são obreiros com Cristo. O espírito mundano fechou-lhes o coração às impressões que a verdade deve produzir. T2 166 5 É importante que todos agora se envolvam na obra e procedam como pessoas vivas, trabalhando pela salvação dos que perecem. Se todos na igreja viessem "em socorro do Senhor" (Juízes 5:23), veríamos tal reavivamento da Sua obra como nunca antes testemunhamos. Deus solicita isso de vocês e de cada membro da igreja. Não está a seu critério decidir se é melhor obedecer ao chamado divino. A obediência é requerida, e a menos que obedeçam, estarão em pior situação do que ficando em terreno neutro. Se não forem favorecidos pela bênção de Deus, suportarão a Sua maldição. Ele requer que estejam dispostos e sejam obedientes, e diz que vocês comerão "a fartura da terra". Êxodo 45:18. Amarga maldição é pronunciada sobre aqueles que não vêm em socorro do Senhor: "Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do Senhor; duramente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos." Juízes 5:23. Satanás e seus anjos estão em campo para opor-se a cada avanço do povo de Deus, portanto, é requerida a ajuda de todos. T2 166 1 Irmão e irmã N, a influência dos amigos descrentes os afeta mais do que imaginam. Eles não trazem nenhuma força, mas escuridão e incredulidade. Vocês têm uma obra individual a fazer na vinha do Senhor. Pensam e se preocupam muito consigo mesmos. Ponham o coração em ordem e sejam diligentes. Perguntem: "Senhor, que queres que faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. Deus pede que Lhe estendam resolutamente a mão. Ele solicita que examinem diligentemente o coração, para descobrir tudo o que os impede de dar muito fruto, e fruto que permanecerá. A razão de não possuírem mais do Espírito de Deus é não carregarem de bom grado a cruz de Cristo. Na última visão vi que vocês estavam enganados com relação ao poder de seu amor pelo mundo. Os cuidados desta vida e o engano das riquezas sufocam a palavra e vocês se tornam infrutíferos. Deus requer de nós que produzamos muito fruto. Ele não dará ordens sem providenciar poder para cumpri-las. Ele não fará nossa parte do trabalho, nem exige que façamos a Sua. É Deus quem atua em nós, mas precisamos efetuar nossa "salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. "A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:17. A fé deve ser confirmada pelas obras; os praticantes das obras são justificados perante Deus. Vocês desagradam a Deus ao falarem de sua pobreza, enquanto gozam abundância. Tudo o que possuem Lhe pertence, contudo, Ele achou por bem torná-los mordomos por um curto tempo. Deus os está testando e provando. Como enfrentarão o teste? O Senhor requer Sua parte com juros. T2 167 1 Vocês fixaram os olhos sobre aquilo que têm dado aos diferentes empreendimentos, e isso lhes parece demasiado. Mas se tivessem feito muito mais, se o coração tivesse se expandido e as mãos dado para a causa de Deus e para os necessitados, nada mais teriam feito do que o dever, e se sentiriam muito mais felizes. O Senhor pede que tragam a oferenda ao altar e não apenas que a segurem próximo dele, mas que a deponham sobre ele. O altar santifica a oferta quando ela ali é posta, e não antes. T2 167 2 Vocês não estão separados do mundo como Deus requer, e não vêem e compreendem o perigo. Desviaram-se por amor ao mundo. Ambos necessitam beber a largos goles da Fonte da verdade. A menos que mudem para uma diferente condição em que possam honrar a Deus com sua influência e recursos, Sua maldição lhes sobrevirá. Vocês poderão juntar, mas Ele espalhará. Em lugar de saúde exuberante, tornar-se-ão como um ramo seco. O Senhor convoca obreiros -- homens que anseiam a salvação das pessoas, e que tudo sacrificarão para que sejam redimidas. Ninguém mais pode fazer essa obra por vocês; as ofertas de outros, mesmo que liberais, não podem substituir as suas. Precisam submeter-se a Deus e nisso ninguém pode tomar-lhes o lugar. É somente o poder do Espírito, operando através de poderosa fé, que pode capacitá-los a resistirem com sucesso às muitas armadilhas que Satanás lhes prepara para os pés. As palavras e exemplos de nosso Redentor serão a luz e a força do coração. Se vocês O seguirem e nEle confiarem, Ele não os deixará perecer. Vocês temem cair no desagrado daqueles que não amam e servem a Deus. Por que desejariam manter a amizade dos inimigos do Senhor ou ser influenciados por suas opiniões? "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?" Tiago 4:4. Se o coração for reto, haverá mais decidida separação do mundo. T2 168 1 O Senhor teria feito uma grande e boa obra nessa vizinhança, na primavera passada, houvessem todos sentido a necessidade do trabalho, e vindo "em socorro do Senhor". Juízes 5:23. Não houve unidade de ação. Ninguém sentiu as necessidades do trabalho nem se empenhou nele de coração. Não houve entrega de tudo a Deus. Vocês me foram mostrados como estando perturbados e perplexos, com uma nuvem de escuridão sobre si. Questionavam e não estavam em posição de receber força e nem de partilhá-la com os outros. Este é um tempo solene e temível. Não é agora o tempo de acariciar ídolos, não há lugar para acordo com Belial ou amizade com o mundo. Aqueles a quem Deus aceita e santifica para Si mesmo são chamados a serem diligentes e fiéis em Seu serviço, sendo separados e consagrados a Ele. Não é uma forma de piedade ou o nome registrado nos livros da igreja que se constitui uma "pedra viva" no edifício espiritual. É o fato de ser renovado no conhecimento e na verdadeira santidade, o estar crucificado para o mundo e vivo em Cristo, que une a mente a Deus. Os seguidores de Cristo têm um objetivo principal em vista, uma grande obra, a salvação de seus semelhantes. Qualquer outro interesse deve ser inferior a esse; essa obra deve envolver o mais zeloso esforço e o mais sincero empenho. T2 168 2 Deus requer primeiro o coração, as afeições. Ele pede que Seus seguidores O amem e sirvam "de todo o coração, ... e de toda a alma, e de todas as forças". Marcos 12:33. T2 169 1 Seus mandamentos e graça são adaptados às nossas necessidades, e sem eles não podemos ser salvos, não importa o que façamos. Ele requer obediência espontânea. A oferta de bens ou de qualquer serviço não será aceita sem o coração. A vontade precisa ser mantida em sujeição. O Senhor pede maior consagração a Ele e maior separação do espírito e influência do mundo. T2 169 2 "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. Cristo os chamou para serem Seus seguidores, imitarem Sua vida de sacrifício próprio e abnegação; para estarem interessados na grande obra de redenção da raça decaída. Vocês não têm idéia exata da obra que Cristo requer que façam. Cristo é nosso padrão. O que lhes falta é amor. Esse princípio puro e santo é o que faz distinção entre o caráter e a conduta do cristão e os dos mundanos. O amor divino tem uma influência poderosa e purificadora. É encontrado apenas em corações renovados e flui naturalmente para os semelhantes. T2 169 3 "Que vos ameis uns aos outros", disse nosso Salvador, "assim como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos." João 15:12, 13. Cristo nos deu o exemplo do puro e desinteressado amor. Vocês não têm percebido sua deficiência a esse respeito e a grande necessidade dessa celeste aquisição, sem a qual todos os bons propósitos e zelo, mesmo que sejam de natureza que possam dar seus bens "para sustento dos pobres", e entregar o próprio "corpo para ser queimado", nada significam. Vocês precisam do amor que "tudo sofre", "não se irrita" facilmente, "tudo crê, tudo espera, tudo suporta". 1 Coríntios 13:3, 5, 7. Sem o espírito de amor, ninguém pode ser semelhante a Cristo. Com esse princípio vivo na mente, ninguém pode ser como o mundo. T2 169 4 A conduta do cristão é como a de seu Senhor. Ele ergueu o estandarte e deixou a nosso cargo dizer se desejamos ou não nos arregimentar em volta dele. Nosso Senhor e Salvador deixou de lado Seu domínio, riquezas e glória, e veio até nós para que pudesse salvar-nos da miséria, e fazer-nos semelhantes a Ele. Humilhou-Se e tomou nossa natureza para que pudéssemos ser capazes de aprender dEle e, imitando Sua vida de benevolência e abnegação, segui-Lo passo a passo ao Céu. Vocês não podem igualá-Lo, mas podem parecer-se com Ele e, de acordo com sua capacidade, agir de igual modo. "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. Tal amor precisa habitar-lhes no coração, para que possam estar preparados para dar os tesouros e honras deste mundo, se desse modo puderem influenciar uma pessoa a envolver-se no serviço de Cristo. T2 170 1 Deus lhes solicita que com uma das mãos, a fé, apoderem-se de Seu forte braço, e com a outra, o amor, alcancem os que estão a perecer. Cristo é "o caminho, e a verdade, e a vida". João 14:6. Sigam-nO. Não andem "segundo a carne, mas segundo o Espírito". Romanos 8:1. Andem assim "como Ele andou". 1 João 2:6. "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação." 1 Tessalonicenses 4:3. A obra que têm a realizar, é fazer a vontade dAquele que lhes sustém a vida, para Sua glória. Se trabalharem para vocês mesmos, de nada lhes aproveitará. Trabalhar para o bem dos outros, ser menos cuidadosos do próprio interesse e mais zelosos em consagrar tudo a Deus, ser-Lhe-á aceitável, e será recompensado com a riqueza de Sua graça. T2 170 2 Deus não lhes distribuiu sua porção para meramente zelarem por ela e cuidarem de si mesmos. É-lhes requerido ministrar a outros e zelar por eles, e nesse exercício serão revelados aqueles maus traços de caráter que necessitam ser corrigidos e os pontos fracos que precisam ser fortalecidos. Essa é a parte do trabalho que temos de fazer; não impaciente, desassossegada e relutantemente, mas com animação e alegria, para alcançar a perfeição cristã e remover de nós tudo o que não é aceitável nem imita a Cristo. Vocês devem ser muito zelosos da honra de Deus. Quão ponderados devem andar, justamente onde agora sua conduta não está sendo como deveria. Se pudessem ver os puros anjos com seus brilhantes e inquiridores olhos atentamente fixados sobre vocês, observando para registrar como os cristãos glorificam a seu Mestre. Ou pudessem observar o exultante e escarnecedor triunfo dos anjos maus, enquanto eles expõem cada afastamento do caminho, e então citam as Escrituras que foram violadas e comparam a vida com os textos que vocês professam seguir, mas dos quais se desviam, vocês mesmos ficariam assombrados e alarmados. Para fazer um valoroso cristão é necessário um homem em sua totalidade. Oh, que criaturas cegas e curtas de vista somos nós! Quão pouco discernimos as coisas sagradas, e quão fracamente compreendemos as riquezas de Sua graça! T2 171 1 Uma coisa desejo imprimir-lhes na mente. Agentes satânicos especiais lhes estão intimamente ligados, e seu poder e influência têm evidente efeito sobre vocês, porque não permanecem suficientemente perto de Deus para assegurarem a ajuda especial dos anjos excelentes em poder. Sua união com os inimigos do Senhor é muito forte, e vocês não percebem que estão em perigo de naufragar na fé. Se encorajarem, num mínimo que seja, as tentações de Satanás, colocar-se-ão em seu campo de batalha, e então o conflito será longo e doloroso antes que possam obter a vitória e triunfar em nome de Jesus, Aquele que o derrotou. T2 171 2 Satanás tem grandes vantagens. Ele possuía o admirável poder intelectual de um anjo, do qual poucos têm uma idéia exata. Satanás estava cônscio de seu poder, do contrário não se teria empenhado em um conflito com o poderoso Deus, o eterno Pai, e o Príncipe da Paz. Satanás observa atentamente os acontecimentos, e quando encontra alguém que possua um espírito especialmente forte de oposição à verdade de Deus, ele lhe revelará até acontecimentos ainda não cumpridos, a fim de poder mais firmemente assegurar um lugar em seu coração. Aquele que não hesitou em enfrentar um conflito com quem mantém em Seu poder a criação, tem malignidade para perseguir e enganar. Ele segura os mortais em suas armadilhas nos dias de hoje. Não perdeu, em sua experiência de quase seis mil anos, coisa alguma de sua habilidade e astúcia. Durante todo esse tempo, tem sido atento observador de tudo quanto diz respeito a nossa raça. T2 172 1 Os que se têm oposto severamente à verdade de Deus, Satanás emprega como médiuns. A esses aparece ele na falsa forma e personalidade de outro, talvez um amigo do médium. Aumenta-lhes a fé empregando as palavras desse amigo, e mencionando circunstâncias prestes a ocorrer, ou que realmente já tiveram lugar, e de que o médium nada sabia. Por vezes, antes de uma morte ou de um acidente, ele dá um sonho ou, personificando outra pessoa, conversa com o médium, comunicando até mesmo conhecimento por meio de suas sugestões. É, porém, sabedoria debaixo e não de cima. A sabedoria ensinada por Satanás está em oposição à verdade; a menos que, para servir aos próprios fins, ele se revista aparentemente com a luz que envolve os anjos. Para certa classe de mentes, ele vem aprovando parte daquilo que os seguidores de Cristo crêem ser a verdade, ao passo que os adverte a rejeitarem outra parte como erro perigoso e fatal. T2 172 2 Satanás é um mestre em seu ofício. Sua sabedoria infernal é por ele empregada com êxito. Está pronto para ensinar os que rejeitam o conselho de Deus contra o próprio entendimento, e é capaz de fazê-lo. A isca encontrada por ele será proveitosa em levar as pessoas a sua rede, e a fim de nelas firmar as garras diabólicas, ele a revestirá da maneira mais atrativa possível. Todos quantos são assim enredados, aprenderão à custa de terrível preço, a loucura que é vender o Céu e a imortalidade por um engano fatal em suas conseqüências. Nosso adversário, o diabo, não é destituído de sabedoria ou de força. Ele "anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar". 1 Pedro 5:8. Trabalhará "com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem". 2 Tessalonicenses 2:9, 10. Como rejeitaram a verdade, "Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade". 2 Tessalonicenses 2:9-12. Temos de lutar com um inimigo poderoso, enganador, e nossa única segurança está nAquele que há de vir, o qual consumirá este arquienganador com o espírito de Sua boca, e o destruirá com o resplendor de Sua vinda. 2 Tessalonicenses 2:8. T2 173 1 Eu lhes recomendo isso no temor de Deus, e imploro que se levantem dentre os mortos, e Cristo dará vida a vocês. ------------------------Capítulo 27 -- Orgulho nos jovens T2 173 2 Querida irmã O: T2 173 3 Foi minha intenção ter uma conversa com você antes de deixar _____, mas fui impedida por muitas coisas. Não estou escrevendo com muita esperança de que esta carta efetuará uma mudança especial em sua conduta, no que se refere a sua experiência religiosa. T2 173 4 Senti-me triste a seu respeito. Nas reuniões realizadas em _____, detive-me em princípios gerais e procurei alcançar corações ao transmitir um testemunho que, esperava, produzisse uma transformação em sua vida religiosa. Tentei escrever, como no testemunho número doze, com respeito aos perigos para os jovens. Esse ponto de vista me foi dado em Rochester. Ali foi me mostrado que, desde a infância, foi cometido um erro em sua educação. Seus pais pensavam e diziam que você era cristã por natureza. O amor que suas irmãs lhe devotavam mais parecia idolatria do que santificação. Seus pais têm demonstrado um amor não santificado pelos filhos, o que lhes tem cegado os olhos a seus defeitos. Às vezes, quando estavam meio despertos, isso era diferente. Mas você tem sido mimada e bajulada até que seus interesses eternos passam a correr perigo. T2 174 1 Vi que você não conhece a si mesma. Possui justiça própria que a prende ao engano com respeito às suas realizações espirituais. Em certas ocasiões você sente um pouco das influências do Espírito de Deus. Mas a transformação pela renovação da mente lhe é estranha. "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. Você não teve essa experiência, portanto, não tem apoio. Você não é cristã, embora lhe tenha sido dito, durante toda a vida, que era uma cristã por natureza. Você tomou isso como garantia de que estava certa, quando se achava na verdade muito distante de ser aceita por Deus. Esse engano tem se avolumado com seu crescimento, fortalecido com sua força e ameaça arruiná-la. Seus pais têm sido ciumentos dos filhos e se relatos de supostas desconsiderações lhes são trazidas por eles, prontamente se sentem interessados e provocados, compadecendo-se deles, e se colocando diretamente no caminho do bem espiritual deles. T2 174 2 Você e sua irmã P têm muito orgulho, o qual será como palha no "dia de Deus". 2 Pedro 3:12. Amor e orgulho próprios, vaidade no vestuário e na aparência têm prevalecido. O egoísmo as tem mantido afastadas do bem. Ambas necessitam de conversão total, cabal renovação da mente, inteira transformação, ou não terão parte no reino de Deus. Sua aparência, seu bom visual, seu vestuário, não lhes granjearão o favor de Deus. É a dignidade moral que o grande EU SOU observa. Não há nenhuma real beleza pessoal ou de caráter fora de Cristo; nenhuma legítima perfeição de maneiras ou comportamento sem as santificadoras graças do espírito de humildade, simpatia e verdadeira santidade. T2 175 1 Foi-me mostrado que pessoas se perderiam por causa de sua influência e exemplo. Vocês têm tido luz e privilégios e por eles terão de dar contas. Vocês não são religiosas ou consagradas por natureza, mas precisam fazer esforços especiais para manter a mente em coisas espirituais. O eu é proeminente em vocês. Sua auto-estima é muito grande, mas lembrem-se de que o Céu vê a dignidade moral e considera o caráter de grande valor pelo adorno interior, o ornamento "de um espírito manso e quieto, que é precioso à vista de Deus". 1 Pedro 3:4. Adornos custosos, ornamentos exteriores, atrativos pessoais, tudo é reduzido à insignificância em comparação com a valiosa aquisição de um espírito manso e quieto. Seu amor pelo próprio deleite e satisfação, sua falta de consagração e devoção têm sido prejudiciais a muitos. Vocês não podem beneficiar aqueles que se desviaram, pois sua vida é semelhante a dos mundanos. T2 175 2 Os que visitam _____ levam a impressão, feita por vocês e outros jovens que não possuem religião prática, de que não existe objetividade na religião. O orgulho é muito forte neles. Está crescendo o amor da exibição, da frivolidade e do prazer, e as coisas sagradas não são discernidas. Eles recebem a impressão de que têm sido muito conscienciosos, muito escrupulosos. Pois se aqueles que vivem no centro da grande obra são muito pouco influenciados pelas solenes verdades apresentadas tão freqüentemente, por que deveriam eles ser tão meticulosos? Por que deveriam estar temerosos de agradar a si mesmos, quando parece ser esse o alvo daqueles que possuem longa experiência em _____? T2 175 3 A influência dos jovens em _____ repercute onde são conhecidos, e a vida não consagrada deles é um provérbio. Ninguém tem exercido mais influência na direção errada do que vocês. Têm desonrado sua profissão de fé e sido pobres representantes da verdade. Diz a Testemunha Verdadeira: "Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca." Apocalipse 3:15, 16. Fossem vocês frias e haveria alguma esperança de se converterem; mas quando a justiça própria enlaça alguém, em lugar da justiça de Cristo, o engano é tão difícil de ser visto e a justiça própria tão dura de ser expelida, que a solução do caso se torna mais trabalhosa. Um pecador não convertido, sem religião, está em melhores condições que tais pessoas. T2 176 1 Vocês são uma pedra de tropeço aos pecadores. Sua falta de consagração é evidente. Estão espalhando em vez de ajuntar com Cristo. Se Deus me ajudar a rasgar essas vestes de justiça própria, espero que vocês possam remir o tempo e viver de maneira exemplar. Vocês têm sido freqüentemente despertadas, mas voltam à condição anterior de justiça própria, tendo o nome de quem vive mas está morto. Apocalipse 3:1. O orgulho ameaça ser sua ruína. Deus já lhes falou sobre esse ponto. Se não fizerem uma reforma, a aflição as visitará e sua alegria se tornará em opressão, até que humilhem o coração sob a mão de Deus. Suas orações não são aceitas. Elas procedem de corações cheios de orgulho e egoísmo. Você, minha prezada irmã, é presunçosa; tem vivido sem objetivo, quando, houvesse sido humilde e vivido para beneficiar a outros, teria sido uma bênção a si mesma e aos que a cercam. Possa Deus perdoar seus pais e irmãs pela parte que desempenharam em torná-la o que é -- exatamente o que Deus não pode aceitar. Se permanecer como é, será como a palha consumida no dia de Deus. T2 176 2 Quando me foi mostrado o espírito egoísta existente naqueles que estão trabalhando no Escritório, os quais trabalhavam meramente por salário como se empenhados em empreendimentos seculares, vocês duas estavam entre eles. Ambas eram egoístas e preocupadas consigo mesmas. Sua ansiedade era agradar a si mesmas e conseguir altos salários. Esse espírito tem sido até certo ponto uma maldição ao Escritório, e o Céu o desaprova. Muitos têm estado ansiosos por conseguir recursos. Tudo isso está errado. Uma disposição mundana se manifestou e Cristo ficou de fora. Possa Deus ter piedade de Seu povo. Espero que vocês se convertam. T2 177 1 Vocês possuem um espírito leviano e têm sido presunçosas e frívolas na conversação. Oh, quão raramente tem sido Jesus mencionado! Seu amor redentor não tem suscitado gratidão, louvor e expressões que Lhe glorifiquem o nome e Seu abnegado e eterno amor. Qual tem sido o tema de suas conversas? Em que demoram prazerosamente os pensamentos? Na verdade, pode ser dito que Jesus, Sua vida de sacrifício, Sua graça extremamente preciosa e a redenção que Ele obteve para vocês, são raras em seus pensamentos. Coisas triviais ocupam-lhes a mente. Agradar a si mesmas, alcançar na vida objetivos que atendam ao prazer pessoal, essa tem sido sua preocupação. Eu desejo que vocês não professem estar ressuscitadas com Cristo, pois não cumpriram o requisito. "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Colossences 3:13. Perguntem-se: Tenho eu cumprido as condições propostas pelo inspirado apóstolo? Tenho evidenciado através de minha vida, de minha morte para o mundo, que estou escondida com Cristo em Deus? Estou plena de Cristo? Tenho-me sustido e apoiado nEle, que prometeu ser-me socorro bem presente nos tempos de necessidade? Sua religião é formal, e vocês não têm percepção especial de sua fraqueza, corrupção e vileza naturais. T2 177 2 "Um cristão por natureza!" Essa enganosa idéia tem servido para muitos como uma veste de justiça própria e conduzido à falsa esperança em Cristo, os quais não possuem nenhum conhecimento experimental dEle, de Sua experiência, Suas provações, de Sua vida de abnegação e sacrifício próprio. Sua justiça é apenas "como trapo da imundícia". Isaías 64:6. Disse Jesus, o amado Mestre: "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. Sim, segui-Lo nos maus assim como nos bons momentos. Segui-Lo ajudando os necessitados e desamparados. Segui-Lo no esquecimento de Si mesmo, abundando em atos de abnegação e sacrifício pelo bem dos outros; quando insultado, não revidando; manifestando amor e compaixão pela raça caída. Ele não teve a Sua vida por preciosa, mas entregou-a por todos nós. Segui-Lo da manjedoura à cruz. Ele é nosso exemplo. Ele lhe diz que se quiser ser Sua discípula, deve tomar a cruz, a desprezada cruz, e segui-Lo. Pode você "beber o cálice"? Pode ser batizada "com o batismo"? Mateus 20:22. T2 178 1 Suas ações testificam que vocês são estranhas a Cristo. "Porventura, deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz." Tiago 3:11-18. T2 178 2 Aí são enumerados os frutos que são marcantes evidências de que alguém que está no vigor da vida sofreu uma mudança -- uma transformação tão notável que é representada pela morte. Da vida exuberante e ativa para a morte. Que imagem surpreendente! Ninguém precisa ser enganado. Se não experimentarem essa mudança, não descansem. Busquem o Senhor de todo o coração. Façam disso o assunto mais importante de sua vida. T2 179 1 Vocês darão conta pelo bem que poderiam ter feito durante a vida, houvessem estado na posição que Deus lhes designara e para a qual tinha feito ampla provisão. Mas vocês falharam em glorificar a Deus na Terra, e salvar pessoas que as cercavam, porque não receberam graça e força, sabedoria e conhecimento que Cristo lhes proveu. Vocês conheciam-Lhe a vontade, mas não a cumpriram. Precisará ocorrer uma evidente reforma em vocês ou nunca ouvirão de Cristo: "Bem está, servo bom e fiel." Mateus 25:21. T2 179 2 No entardecer do dia 12 de Junho, após a leitura do testemunho precedente à igreja, foi-me mostrado que enquanto vocês eram descuidosas, orgulhosas, egoístas e indiferentes à salvação de pecadores, a morte estava fazendo sua obra. Uma pessoa após outra está deixando vocês, e descendo à sepultura. Qual tem sido sua influência sobre aqueles que se reuniam com vocês nos seus encontros sociais? O que tem sido dito ou feito para conduzir pessoas a Cristo? Têm vocês instado "a tempo e fora de tempo" (2 Timóteo 4:2) para cumprir totalmente seu dever? Estão prontas para enfrentar à barra do tribunal divino aqueles com quem se encontravam nas reuniões sociais, especialmente os que estavam sob sua influência e que morreram sem Cristo? Estão preparadas para dizer que suas vestes estão limpas de seu sangue? Menciono um só caso, o de Q. Nenhuma reprovação incide sobre vocês a respeito dela? Sobre vocês que foram cercadas de boas influências familiares? Vocês que tiveram oportunidades favoráveis para desenvolver caráter cristão, mas que não sentiram nenhuma responsabilidade pelas pessoas? Orgulho, vaidade e amor ao prazer foram acariciados por vocês e desempenharam sua parte em arruinar sua profissão de fé e conduzir esse pobre coração, que havia sido sacudido e açoitado por Satanás, a duvidar da objetividade da verdade e da genuinidade da religião cristã. T2 180 1 Sua frívola conversação, juntamente com a de outros jovens, causava repulsa. Nada havia de nobre ou elevado nos pensamentos. Eram comuns a tagarelice e os mexericos, o riso tolo e vão, os gracejos e as piadas. Os anjos registraram repetidamente as cenas das quais você participou. Não obstante os mais solenes apelos que lhe têm sido feitos, e você tem sido reprovada, censurada e advertida, você é mais repreensível do que outros jovens. Você tem tido mais ampla experiência e maior conhecimento da verdade e morou por mais tempo em _____. Esteve entre os primeiros a professarem crer na verdade e ser seguidores de Cristo. Sua vaidosa conduta e orgulho fizeram mais para moldar o comportamento dos jovens nesse lugar, do que qualquer um dos outros. Aqueles que se converteram à verdade, você tomou pela mão, por assim dizer, e os uniu ao mundo. T2 180 2 Grande culpa incide sobre você e também sobre seus pais, que alimentaram seu orgulho e insensatez. Eles lhe exprimiam simpatia quando era reprovada, e a convenciam de que isso não era justo. Você, irmã O, tem-se julgado bonita. Seus pais a lisonjearam. Você procurou amizade com descrentes. À parte da profissão de fé, suas ações têm sido inconvenientes a uma moça prudente e modesta. Mas, quando se leva em conta que você professa ser uma seguidora do manso e humilde Jesus, isso traz desonra sobre sua profissão de fé. Ó, minha irmã, pensou você que aqueles funcionários não enxergaram através do verniz que usou? Pensou que estavam tão cativados com seu rostinho bonito que não podiam ver além da superfície, e ler-lhe o verdadeiro e superficial caráter? Quando você pôs sobre a cabeça o adorno emprestado da loja da irmã R, e então se exibiu diante daqueles funcionários, pensa que isso não foi percebido? Esqueceu-se de que os anjos de Deus estavam presentes, e que seus olhos puros liam seus pensamentos, intenções e propósitos do coração, e tomavam conhecimento de cada ato delineando seu verdadeiro e frívolo caráter? Enquanto você estava ocupada em conversinhas com o funcionário por quem estava fascinada, porque ele lisonjeava sua vaidade, pudesse você ter visto através da vidraça e veria os gestos e cochichos daqueles que a estavam observando e rindo de seu tolo espetáculo, manchando assim a causa da verdade. Se você pudesse ter entrado naquela loja sem ser observada, pouco tempo depois de ter deixado o local, e ouvido a conversação após ter-se demorado tanto quanto a decência permitisse, teria aprendido coisas nas quais nunca havia pensado. Ficaria magoada e humilhada em saber como era vista até pelos levianos funcionários. Mesmo aquele que a bajulou, uniu-se a seus companheiros no riso e na brincadeira, caçoando de sua vã conduta. T2 181 1 Você pode ser uma influência para o bem em _____, e honrar seu Redentor. Mas, em lugar disso, você tem sido o assunto de funcionários e jovenzinhos. Essa conduta inconveniente é observada por muitos, e aqueles que têm notado suas contradições, embora sejam descrentes e aleguem respeito por você, desprezam-na no coração. Você está seguindo as pegadas de S, e a menos que seus pais despertem e abram os olhos à sua tolice, participarão de sua culpa. O pecado está sobre eles e suas irmãs pela conduta que adotaram, louvando-lhe o orgulho e incitando-lhe a vaidade. Se você e suas irmãs tivessem aceitado a salvação, sentiriam a perigosa condição dos perdidos. Virá o dia, a menos que uma grande mudança se efetue em vocês, quando ouvirão de muitos lábios: "Relacionei-me com esses cristãos, todavia nunca me falaram de meus perigos. Nunca me advertiram. Eu pensava que se estivesse em perigo de perder-me, eles não descansariam de dia nem de noite sem alertar-me para que visse minha perdida condição. Agora estou perdido. Se eu estivesse em seu lugar e visse pessoas em situação semelhante, não descansaria até fazê-las ver seu estado e apontar-lhes Aquele que podia salvá-las." Vocês têm sido boas servas de Satanás e lhe agradam, enquanto professam ser servas de Cristo. T2 182 1 Irmã O, você se tem exaltado tanto pela auto-estima, que não tem consciência exata do julgamento que os observadores fazem sobre a superficialidade de seu caráter. Eles a têm como namoradeira, e você merece na verdade essa reputação. Ter-lhe-ia sido muito mais proveitoso considerar a exortação do apóstolo: "O enfeite delas não seja o exterior... mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:4. T2 182 2 Seus pais falharam muito na educação das filhas. Toleraram que fossem aliviadas das responsabilidades que lhes eram altamente importantes assumir. Porque elas escolheram agradar a si mesmas, foi-lhes permitido ficar na cama, cochilando nas doces e agradáveis horas da manhã, enquanto seus condescendentes pais estavam de pé, afadigando-se com as responsabilidades da vida. Essas filhas não aprenderam a resistir a suas inclinações, a combater os próprios desejos e a suportar dificuldades. Têm sido dispensadas em grande medida dos deveres domésticos, e isso em seu prejuízo. Nunca aprenderam a abnegação e o sacrifício próprio. Não se submeteriam a realizar tarefas que não fossem de seu agrado. A educação delas é extremamente deficiente. Todavia o orgulho, o ostensivo orgulho enche-lhes o coração. A irmã O se achava tão superior a seus colegas, que eles não eram considerados merecedores de muita atenção e cortesia da parte dela. Por isso ela possui uma vontade obstinada de fazer tudo o que lhe agrada, a despeito dos desejos, conveniências e necessidades dos outros. Sua disposição infeliz, se não for inteiramente vencida, obscurecerá seu caminho e amargará a vida de seus melhores amigos. ------------------------Capítulo 28 -- Mundanismo na igreja T2 183 1 Prezados irmãos e irmãs em _____: T2 183 2 No dia 12 de Junho de 1868, foi-me mostrado que o amor ao mundo estava, em grande extensão, tomando o lugar do amor a Deus. Vocês estão localizados em um lugar aprazível e favorável à prosperidade temporal. Aí os irmãos estão em constante perigo de ter seus interesses atraídos para o mundo, ajuntando tesouros na Terra. "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21. Nesse local, há tentações de envolver-se mais e mais com o mundo, de estar continuamente acumulando; enquanto assim envolvidos, a mente se torna absorvida pelos cuidados da vida, de tal maneira a excluir a verdadeira piedade. Mas poucos compreendem o engano das riquezas. Aqueles que estão ansiosos em adquirir bens, são-lhes tão inclinados que fazem da religião de Cristo uma matéria secundária. As coisas espirituais não são avaliadas e buscadas, pois o amor do ganho eclipsou o tesouro celestial. Se o galardão da vida eterna fosse avaliado pelo zelo, perseverança e diligência exibidos por aqueles que professam ser cristãos, não seria a metade do valor dos bens terrenos. Compare-se os intensos esforços para obter-se as coisas deste mundo, com o lento, fraco e ineficiente esforço para desenvolver-se a espiritualidade e conquistar o tesouro celestial. Não é de admirar que experimentemos tão pouco da iluminadora influência do santuário celestial. Nossos desejos não estão nesse rumo, mas confinados aos interesses terrenos, buscando as coisas da Terra e negligenciando as eternas. A prosperidade cega os olhos e engana a mente. Deus pode falar, mas o entulho terreno impede que Sua voz seja ouvida. T2 184 1 Nosso idoso pai T tem suas afeições postas nas coisas da Terra, quando devem elas ser daí removidas e ele estar se amadurecendo para o Céu. "A vida que agora" ele vive deve ser "na fé do Filho de Deus" (Gálatas 2:20); suas afeições devem estar numa terra melhor. Precisa ter cada vez menos interesse nos perecíveis tesouros terrenos, enquanto que os eternos, que são de grandíssima importância, devem atrair todo o seu interesse. Seus dias de graça estão quase findando. Oh, quão pouco tempo resta para dedicar a Deus! Suas energias estão esgotadas, sua mente debilitada e o melhor de seus serviços deve ser fraco; todavia, se forem inteiramente dedicados de coração, serão totalmente aceitáveis. Com sua idade, irmão T, houve um aumento do egoísmo e um mais firme e intenso amor pelos tesouros deste mundo mau. T2 184 2 A irmã T ama o mundo. Ela é naturalmente egoísta e sofreu muito com enfermidades físicas. Deus permitiu que essas aflições viessem sobre ela, mas não consentiu que Satanás lhe tirasse a vida. O Senhor pretendia que através da fornalha da aflição ela perdesse seu apego aos tesouros terrestres. Somente mediante o sofrimento isso poderia ser conseguido. Ela é daquelas cujo organismo foi envenenado por drogas. Ao tomá-las, ela ignorantemente fez de si o que é. Todavia, Deus não consentiu que sua vida fosse tirada, mas prolongou seus anos de prova e sofrimento para que pudesse ser santificada através da verdade, ser purificada, embranquecida e provada, e, pela fornalha da aflição, livrar-se da escória e tornar-se mais preciosa "do que o ouro puro e mais" rara "do que o ouro de Ofir." Isaías 13:12. O amor ao mundo tornou-se tão arraigado no coração desses irmãos que exigirá grandes esforços removê-lo de lá. Prezados irmão e irmã, falta-lhes consagração a Deus. Vocês são insensatos no que se refere às coisas mundanas. O mundo tem poder para conformar a mente de vocês a ele, enquanto as coisas espirituais e celestiais não têm influência suficiente para transformá-la. T2 185 1 Homens e mulheres de _____ que professam ser seguidores de Cristo, por que vocês não O seguem? Por que demonstram tal insanidade na busca de tesouros terrestres, que o infortúnio pode facilmente fazer desaparecer, e negligenciam as riquezas celestiais, o imortal, imperecível tesouro? T2 185 2 Revelou-se-me o caso da esposa do irmão U. Ela deseja agir corretamente, mas tem falhas que causam a si e a suas amigas muitos problemas. Ela fala demasiado. Falta-lhe experiência nas coisas de Deus, e se não se converter e transformar-se pela renovação do entendimento, será incapaz de suportar os perigos dos últimos dias. Necessita de uma obra no coração, então sua língua será santificada. Há muito falar pecaminoso que deve ser evitado. Ela precisa manter estrita vigilância sobre a porta de seus lábios, e refrear a língua a fim de que suas palavras não produzam iniqüidade. Deve parar de falar das faltas dos outros, demorando-se sobre as suas peculiaridades e descobrindo-lhes as fraquezas. Tal tipo de conversação é censurável em qualquer pessoa. É sem proveito e positivamente pecaminosa. Tende apenas para o mal. O inimigo sabe que se essa conduta for seguida pelos professos seguidores de Cristo, está aberta a porta para ele atuar. T2 185 3 Vi que, quando irmãs dadas a muito falar se reúnem, geralmente Satanás está presente, pois ele encontra emprego. Ele está ao lado, para agitar a mente e tirar o maior proveito da vantagem conseguida. Ele sabe que toda essa tagarelice, mexericos, revelação de segredos e dissecação de caráter separa de Deus o coração. É morte para a espiritualidade e para uma calma influência religiosa. A irmã U peca muitíssimo com a língua. Ela precisa, por suas palavras, exercer uma influência para o bem, porém muitas vezes fala impensadamente. Às vezes suas palavras dão uma conotação diferente às coisas. Algumas vezes há exagero. Outras vezes há afirmações errôneas. Não há intenção de enganar, mas o hábito de muito falar, e falar sobre coisas sem proveito, foi acalentado por tanto tempo que ela se tornou descuidosa e imprudente em suas palavras, e muitas vezes nem sabe o que está afirmando. Isso destrói qualquer influência para o bem que ela poderia exercer. Deveria ter havido inteira reforma a esse respeito. Sua companhia não tem sido apreciada como seria se ela não tivesse condescendido com essa pecaminosa tagarelice. T2 186 1 Devem os cristãos ser cuidadosos em relação a suas palavras. Não devem nunca passar adiante informações desfavoráveis, de um de seus amigos a outro, especialmente se perceberem haver falta de união entre eles. É cruel dar a entender e insinuar, como se soubéssemos em relação a esse amigo ou aquele conhecido, muita coisa ignorada pelos demais. Essas insinuações prosseguem e criam impressões mais desfavoráveis do que se os fatos fossem francamente relatados, de maneira livre de exagero. Que danos não tem sofrido a igreja de Cristo por causa dessas coisas! O procedimento incoerente e desavisado de seus membros tem tornado a igreja débil como a água. Tem sido traída a confiança por membros da mesma igreja, e no entanto o culpado não pretendia fazer mal. A falta de prudência na escolha de assuntos de conversa tem feito muito dano. Deve a conversa ser sobre coisas espirituais e divinas; mas tem sido diferente. Se a associação com amigos cristãos é dedicada especialmente ao aperfeiçoamento da mente e do coração, não haverá remorsos depois, e poderão recordar a conversa com prazer e satisfação. Mas se as horas são despendidas em leviandades e em falar ocioso, empregando-se o precioso tempo em dissecar a vida e o caráter de outros, a associação amistosa se demonstrará fonte de males, e sua influência será "cheiro de morte para morte". 2 Coríntios 2:16. T2 187 1 Não posso lembrar-me distintamente de todas as pessoas de sua igreja que me foram mostradas, mas vi que muitos tinham uma grande obra a fazer. Há demasiada conversa entre quase todos, porém, pouquíssima meditação e oração. Muitos são egoístas demais. A mente está consagrada ao eu e não ao bem dos outros. O poder de Satanás está, em grande medida, sobre vocês. Todavia, há preciosas luzes entre vocês e aqueles que estão buscando andar de acordo com a vontade divina. Orgulho e amor ao mundo são laços tão grandes que embaraçam a espiritualidade e o crescimento na graça. T2 187 2 Este mundo não é o céu do cristão, mas simplesmente a oficina de Deus, onde estamos sendo preparados para unirmo-nos com santos anjos num santo Céu. Devemos estar constantemente educando a mente para pensamentos nobres, altruístas. Esta educação é necessária para assim pôr em exercício as faculdades que Deus nos deu, a fim de que o Seu nome seja melhor glorificado na Terra. Somos responsáveis por todas as nobres qualidades com que Deus nos dotou, e pôr essas faculdades num uso para o qual Ele jamais designou servissem, é mostrar-Lhe vil ingratidão. O serviço de Deus demanda todas as faculdades de nosso ser, e deixamos de atender aos desígnios de Deus se não levarmos essas faculdade a um alto estado de cultivo, e não educarmos a mente para amar e desejar às coisas celestiais, e fortalecer e enobrecer as energias da alma mediante reto proceder, atuando para glória de Deus. T2 187 3 Mulheres que professam piedade geralmente deixam de educar a mente. Deixam-na sem controle, que vá aonde lhe apraz. É este um grande erro. Muitas parecem não ter nenhum poder mental. Não educaram a mente a pensar; e por não terem feito isso, supõem não poder fazê-lo. São necessárias meditação e oração para crescer na graça. Não há mais estabilidade entre as mulheres, porque há tão pouca cultura mental, tão pouca reflexão. Deixando a mente em estado de inatividade apóiam-se em outros, para por elas fazer o trabalho cerebral, planejar, refletir e lembrar, e assim tornar-se cada vez mais ineficientes. Algumas precisam disciplinar a mente pelo exercício. Devem forçá-la a pensar. Enquanto confiam em outros para em seu lugar refletir, resolver seus problemas, e recusando-se a forçar a mente a pensar, continuará sua incapacidade de lembrar, de olhar ao futuro e discernir. Toda pessoa deve fazer esforços para educar a mente. T2 188 1 Foi-me mostrado que o irmão V deve buscar mais espiritualidade. Você não possui a calma confiança em Deus que Ele requer que possua. Você não exercita a mente para aplicar-se à espiritualidade. Condescende com demasiada, vã e desnecessária conversa, a qual prejudica a sua mente e danifica a própria influência. Você precisa promover serenidade e firmeza mentais, pois se irrita facilmente, demonstra sentimentos fortes e expressa em termos ásperos suas preferências e aversões. Necessita mais da boa religião para exercer sobre você uma suavizadora influência. Tem sido convidado a aprender de Cristo, que é "manso e humilde de coração". Mateus 11:29. Que preciosa lição! Se bem aprendida, transformará a vida inteira. Leviandade e conversa vulgar são prejudiciais a seu progresso espiritual. Você deve buscar perfeição de caráter e deixar sua influência falar em favor de Deus através de palavras e atos. Necessita buscar sinceramente ao Senhor e beber profundamente na fonte da verdade, para que sua influência possa santificar-lhe a vida. Sua mente está muito concentrada no mundo, e você deve manifestar interesse em uma vida melhor. Não tem tempo a perder. Aproveite as poucas horas de graça. T2 188 2 Sua esposa tem sido muito orgulhosa e egoísta. Deus a tem provado na fornalha da aflição para remover as nódoas de seu caráter. Ela precisa ser muito cuidadosa para que o fogo da provação não lhe seja inútil. Ele deve remover a escória e aproximá-la de Deus, tornando-a mais espiritual. Seu amor pelo mundo precisa morrer. O amor a si mesma precisa ser vencido e sua vontade imersa na vontade de Deus. T2 189 1 Foi-me mostrado que o amor ao mundo tem, em grande medida, excluído Cristo da igreja. Deus requer uma mudança, uma sujeição de tudo a Ele. A menos que a mente seja educada para demorar-se em temas religiosos, será fraca, débil, neste sentido. Mas enquanto demorando-se em empreendimentos mundanos será forte; pois neste rumo tem sido cultivada e fortalecida pelo exercício. A razão por que é tão difícil para homens e mulheres viver vida religiosa é que não exercitam a mente para a piedade. Ela é treinada para correr em direção oposta. A menos que a mente seja constantemente exercitada em obter conhecimento espiritual e em buscar compreender o mistério da piedade, é incapaz de apreciar coisas eternas, pois não tem experiência nesse sentido. Esta é a razão por que quase todos consideram tarefa difícil servir ao Senhor. T2 189 2 Quando o coração é dividido, demorando-se principalmente nas coisas do mundo, e muito pouco nas coisas de Deus, não pode haver aí especial aumento de força espiritual. Empreendimentos mundanos demandam muito da mente, exigindo o uso de suas faculdades; como resultado disso, há força e energia para requerer cada vez mais os interesses e as afeições, enquanto cada vez menos é reservado para Deus. É impossível à pessoa prosperar enquanto a oração não for o especial exercício da mente. Oração familiar ou pública somente não basta. A oração particular é muito importante. Em solidão, a mente mostra-se desnuda à inspeção dos olhos divinos e cada motivo é investigado. Oração particular! Quão preciosa! É o coração comunicando-se com Deus! A oração secreta é ouvida somente pelo Deus que ouve. Nenhum ouvido curioso deve inteirar-se de tais petições. Na oração secreta a mente está livre das influências ambientais e da agitação. Calmamente, mas com fervor, buscará a Deus. A oração secreta é freqüentemente desvirtuada e seus suaves propósitos perdidos, pela oração em voz alta. Em lugar da calma, serena confiança e fé em Deus, com o suplicante demorando-se em acentos baixos e humildes, a voz se ergue em altos tons, produzindo agitação, e a oração secreta perde sua suave e sagrada influência. Há uma tempestade de sentimentos e palavras, tornando impossível discernir a "voz mansa e delicada" (1 Reis 19:12) que fala ao coração quando em sua secreta, real e sincera devoção. A oração particular, quando apropriadamente praticada, produz grande bem. Mas se tornada pública à família e vizinhança, já não é oração secreta, embora assim se pense, e o poder divino não lhe vem em resposta. Doce e permanente será a influência provinda dAquele que vê em secreto, cujo ouvido está aberto para responder à oração vinda do íntimo. Mediante fé calma e singela, a mente mantém comunhão com Deus e recebe divinos raios de luz para fortalecê-la e sustê-la ao enfrentar os conflitos com Satanás. Deus é nossa "torre forte". Provérbios 18:10. T2 190 1 Jesus disse: "Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo. E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai." Marcos 13:35-37. Estamos esperando e vigiando pelo retorno do Mestre, que deverá trazer o amanhecer, a menos que vindo repentinamente nos encontre dormindo. A que tempo isso se refere? Não à manifestação de Cristo nas nuvens do céu para encontrar um povo adormecido. Não; mas ao Seu retorno após haver ministrado no lugar santíssimo do santuário celestial, quando Ele retira Seu traje sacerdotal, e cobre-Se com vestimentas de vingança, e quando é expedida a ordem: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. T2 191 1 Quando Jesus deixar de interceder pelo homem, os casos de todos estarão decididos para sempre. Este é um tempo de ajuste de contas com Seus servos. Para aqueles que negligenciaram a preparação em pureza e santidade, que os habilitaria a darem boas-vindas a seu Senhor, o sol se porá em tristeza e escuridão e nunca mais se levantará. Termina o tempo da graça; as intercessões de Cristo cessam no Céu. Esse tempo finalmente virá de repente sobre todos, e os que não purificarem a mente pela obediência à verdade, serão encontrados dormindo. Eles ficaram cansados de esperar e vigiar; ficaram indiferentes no que se refere à volta de seu Mestre. Não desejaram Seu aparecimento, e pensaram que não havia necessidade de contínua e perseverante vigilância. Foram desapontados em suas expectativas, e podem ser outra vez. Concluíram que havia tempo suficiente para despertar. Queriam estar certos de não perder a oportunidade de assegurar um tesouro na Terra. Se pudessem, assegurariam tudo o que o mundo oferecesse. E ao alcançarem seu objetivo, perderam toda a ansiedade e interesse na vinda do Mestre. Tornaram-se indiferentes e descuidados, como se Sua vinda estivesse distante. Mas, enquanto seu interesse estava concentrado em ganhos mundanos, encerrou-se a obra no santuário celestial e eles não se achavam preparados. T2 191 2 Caso soubessem que a obra de Cristo no santuário celestial logo terminaria, quão diferentemente teriam agido! Quão diligentemente teriam vigiado! O Mestre os havia advertido com antecipação, dando-lhes oportunos avisos para vigiarem. Ele declara distintamente a brevidade de Sua vinda. Não fixou o tempo para impedir que negligenciássemos o rápido preparo, e em nossa indolência olhássemos para o tempo de Sua vinda como estando muito adiante, adiando assim o preparo. "Vigiai, pois, porque não sabeis o dia." Mateus 25:13. Todavia, essa incerteza predita e a vinda inesperada não são suficientes para erguer-nos do entorpecimento para a diligente vigilância sobre o retorno do Mestre. Aqueles que não forem achados esperando e vigiando serão afinal surpreendidos em sua infidelidade. Jesus vem, e em lugar de estarem prontos para abrir-Lhe a porta, fecham-na em mundana inatividade e finalmente se perdem. T2 192 1 Um grupo me foi mostrado em contraste com o anteriormente descrito. Eles esperavam e vigiavam. Seus olhos estavam voltados para o céu, e estavam-lhes nos lábios as palavras de seu Mestre: "As coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai!" "Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo." Marcos 13:37, 35, 36. O Senhor indica que haveria uma demora antes de raiar finalmente a manhã. Mas não queria que eles dessem lugar ao enfado, nem atenuassem sua diligente vigilância, pelo fato de a manhã não despontar para eles tão cedo como esperavam. Os expectantes me foram representados como olhando para cima. Encorajavam-se uns aos outros repetindo as palavras: "A primeira e a segunda vigílias são passadas. Estamos na terceira vigília, esperando e vigiando o retorno do Mestre. Agora resta um pequeno período de vigília." Vi que alguns estavam fatigados; seus olhos dirigiam-se para baixo e se absorviam com as coisas terrenas. Foram infiéis no vigiar. "Na primeira vigília esperamos nosso Mestre, mas ficamos desapontados. Pensávamos que Ele viria na segunda vigília, mas essa passou e Ele não veio. Poderemos ser novamente decepcionados. Não necessitamos ser tão meticulosos. Ele pode não vir na vigília seguinte. Estamos na terceira, e agora pensamos que seria melhor aumentar nossos tesouros na Terra, para que possamos estar prevenidos contra as necessidades." Muitos estavam dormindo, entorpecidos pelos cuidados desta vida, e fascinados pelo engano das riquezas em seu tempo de espera e vigilância. T2 193 1 Os anjos me foram apresentados como olhando com intenso interesse para observar o semblante dos cansados mas ainda fiéis expectantes, temendo que sejam duramente tentados e desalentados sob o trabalho duro e as privações duplamente severas, por que seus irmãos negligenciaram a vigilância e ficaram inebriados pelos cuidados do mundo e iludidos pela prosperidade mundana. Esses anjos celestiais se afligiam por aqueles que uma vez foram vigilantes e que, por sua indolência e infidelidade, aumentavam as provas e cargas dos que sincera e perseverantemente se esforçavam para manter sua posição de espera e vigilância. T2 193 2 Vi que era impossível absorver as afeições e os interesses em cuidados mundanos, aumentar as posses terrenas, e estar ainda em atitude de espera e vigilância, como ordenou nosso Salvador. Disse o anjo: "Eles só podem apossar-se de um mundo. A fim de adquirir o tesouro celestial, precisam sacrificar o terreno. Não podem obter ambos os mundos." Vi quão necessário era manter fiel vigilância, de maneira a escapar das enganosas armadilhas de Satanás. Ele conduzia aqueles que deveriam estar esperando e vigiando, a dar um passo a mais em direção ao mundo; eles não tinham nenhuma intenção de ir mais longe, porém, cada passo para o mundo é um a mais distante de Jesus, e oferece maior facilidade de dar o seguinte. Assim, passo a passo, até que a diferença entre eles e o mundo é uma afirmação, apenas um nome. Perderam seu peculiar e santo caráter, e não há nada, exceto sua profissão de fé, para distingui-los dos amantes do mundo a seu redor. T2 193 3 Vi que uma vigília após outra estava no passado. Por causa disso, deve haver falta de vigilância? Oh, não! Há maior necessidade de incessante vigilância, pois agora os momentos são mais escassos do que antes de haver passado a primeira vigília. Agora inevitavelmente o período de espera é menor do que o primeiro. Se naquela ocasião mantivemos contínua vigilância, quão maior será a necessidade de dupla vigilância na segunda vigília! O passar da segunda vigília nos conduziu à terceira, e agora é indesculpável diminuir nossa vigilância. A terceira vigília requer tríplice diligência. Impacientar-se agora seria perder toda a nossa fervorosa e perseverante vigilância até aqui. A longa noite de tristeza é aflitiva, mas a manhã é adiada em misericórdia, porque se o Mestre viesse, muitos seriam achados desprevenidos. A recusa de Deus em permitir que Seu povo pereça tem sido a razão de tão longa demora. Mas a chegada da manhã para os fiéis, e da noite para os infiéis, está às portas. Ao esperar e vigiar, o povo de Deus deve manifestar seu caráter peculiar, sua separação do mundo. Por meio de nossa atitude de vigilância devemos demonstrar que realmente somos "estrangeiros e peregrinos na Terra". Hebreus 11:13. A diferença entre os que amam o mundo e os que amam a Cristo é tão clara que se torna inconfundível. Enquanto as pessoas mundanas manifestam extrema diligência e ambição para adquirir o tesouro terrestre, o povo de Deus não se conforma com o mundo; por sua atitude fervorosa, vigilante e de espera, revela, porém, que foram transformados; que seu lar não está neste mundo, mas que estão buscando uma pátria "melhor, isto é, a celestial". Hebreus 11:16. T2 194 1 Espero, prezados irmãos e irmãs, que não leiam essas palavras sem considerar completamente sua importância. Quando os homens da Galiléia permaneceram olhando firmemente para o céu, para ter, se possível, um vislumbre do Salvador que subia, dois homens com vestes brancas, anjos celestiais comissionados para confortá-los pela perda da presença de seu Salvador, puseram-se ao lado deles e perguntaram: "Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos dos Apóstolos 1:11. T2 194 2 Deus deseja que Seu povo mantenha os olhos fixos no Céu, aguardando "o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo". Tito 2:13. Enquanto a atenção dos mundanos se volta para seus vários empreendimentos, a nossa deve ser posta no Céu; nossa fé deve atingir mais e mais distante, os gloriosos mistérios do tesouro celestial, extraindo os preciosos e divinos raios de luz do santuário celeste para brilharem em nosso coração, como brilham da face de Jesus. Os escarnecedores zombam dos que esperam e vigiam e lhes perguntam: "'Onde está a promessa de Sua vinda?' 2 Pedro 3:4. Vocês foram decepcionados. Venham conosco e prosperarão nas coisas mundanas. Lucrem, ganhem dinheiro e sejam honrados pelo mundo." Os fiéis olham para cima e respondem: "Estamos vigiando." E tornando-se dos prazeres, da fama e do engano das riquezas, mostram estar vigiando. Na vigilância, tornam-se fortes, vencem a indolência, o egoísmo e o amor à comodidade. O fogo da aflição arde sobre eles e o tempo de espera parece longo. Algumas vezes se entristecem e a fé vacila; mas, voltam ao combate, suplantando seus temores e dúvidas, e enquanto seus olhos estão dirigidos ao céu, dizem aos adversários: "Estou vigiando e esperando o retorno de meu Senhor. Gloriar-me-ei na tribulação, na aflição, nas necessidades." T2 195 1 O desejo de nosso Senhor é que estejamos vigilantes, para que, quando Ele vier e bater, possamos abrir imediatamente a porta. Uma bênção é pronunciada sobre aqueles servos a quem Ele encontrar vigiando: Ele "Se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-Se, os servirá". Lucas 12:37. Quem dentre nós, nesses últimos dias, será assim especialmente honrado pelo Senhor dos Exércitos? Estaremos preparados para sem demora abrir-Lhe a porta e saudá-Lo? Vigiem, vigiem, vigiem. Quase todos cessaram sua vigilância e espera; nós não estamos prontos para imediatamente abrir-Lhe a porta. O amor ao mundo tem ocupado tanto nossos pensamentos, que os olhos não estão postos no alto, mas na Terra. Estamos ansiosos por envolver-nos com zelo e dedicação em diferentes empreendimentos, mas Deus é esquecido e o tesouro celeste não é valorizado. Não estamos em atitude de espera e vigilância. O amor ao mundo e o engano das riquezas obscurecem nossa fé, e não mais ansiamos e amamos o retorno de nosso Salvador. Tentamos arduamente cuidar de nós mesmos. Estamos inquietos e precisamos grandemente de uma firme confiança em Deus. Muitos se afligem e trabalham, imaginando e planejando, temendo passar necessidades. Não se permitem tempo para orar ou assistir aos cultos e, no cuidado de si mesmos, não dão chance para que Deus cuide deles. E o Senhor não pode fazer muito por eles, pois não Lhe dão oportunidade. Fazem demasiado por si mesmos e crêem e confiam muito pouco em Deus. T2 196 1 O amor ao mundo tem terrível controle sobre o povo a quem o Senhor ordenou vigiar e orar sempre, para que Ele não viesse repentinamente e os encontrasse dormindo. "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre." 1 João 2:15-17. T2 196 2 Foi-me mostrado que o povo de Deus que professa crer na verdade presente, não está em atitude de espera e vigilância. Estão aumentando as riquezas e acumulando tesouros na Terra. Estão se tornando ricos nas coisas da Terra, mas não ricos para com Deus. Não crêem na brevidade do tempo; não crêem que o fim de todas as coisas está próximo, e que Cristo está às portas. Podem professar possuir muita fé, mas enganam a si mesmos, pois agirão de acordo com a medida da fé que realmente possuem. Suas obras mostram o caráter de sua fé, e testificam àqueles que os cercam de que a vinda de Cristo não deve ocorrer nesta geração. As obras serão de acordo com sua fé. Seu preparo é feito para longa permanência neste mundo. Acrescentam casa a casa, terreno a terreno, e são cidadãos deste mundo. T2 197 1 A condição do pobre Lázaro, alimentando-se das migalhas que caíam da mesa do rico, é preferível àquela desses professos. Se possuíssem fé genuína, em lugar de amontoarem tesouros na Terra que logo passará, estariam se livrando das embaraçosas coisas terrenas e transferindo, antes deles, seu tesouro para o Céu. Então, seu interesse e coração lá estariam, pois o coração do homem se acha onde está seu maior tesouro. A maioria dos que professam crer na verdade testifica que o que eles mais valorizam está neste mundo. Por isso se preocupam, suportam ansiedade e trabalho. O estudo de sua vida é preservar e aumentar seu tesouro. Transferem tão pouco para o Céu, têm tão reduzido estoque nos tesouros celestiais, que sua mente não é especialmente atraída para aquela pátria melhor. Investiram nos empreendimentos deste mundo, e esses, como um ímã, atraem-lhes a mente do celestial e imperecível, para o terreno e corruptível. "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21. T2 197 2 O egoísmo prende a muitos com seus grilhões de ferro. Esta é "minha fazenda", "meus bens", "meu negócio", "minhas mercadorias". Mesmo as reivindicações comuns das pessoas são desconsideradas por eles. Homens e mulheres que professam estar esperando e amando o retorno do Senhor estão fechados em si mesmos. A nobreza e a semelhança com Deus foram abandonadas. O amor ao mundo, "a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, a soberba da vida" (1 João 2:16) tanto os prenderam que eles se tornaram cegos. Estão corrompidos pelo mundo e não percebem. Falam do amor a Deus, mas seus frutos não mostram o amor que expressam. Roubam a Deus nos dízimos e ofertas e a fulminante maldição divina cai sobre eles. A verdade lhes tem iluminado os caminhos. Deus operou de modo maravilhoso na salvação de almas em suas famílias, mas onde estão as ofertas, apresentadas a Ele em gratidão por todas as provas de Sua misericórdia para com eles? Muitos desses são tão mal-agradecidos como os irracionais. O sacrifício pelo ser humano foi infinito, além da compreensão do mais forte intelecto, todavia, os homens que dizem ser participantes desses benefícios celestiais que lhes foram propiciados a tão grande custo, são tão egoístas que não podem fazer sacrifícios genuínos para Deus. Sua mente está fixada no mundo, no mundo, no mundo. No Salmos 49, lemos: "Aqueles que confiam na sua fazenda e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)." Salmos 49:6-8. Se todos tivessem em mente e pudessem, em pequeno grau que fosse, apreciar o imenso sacrifício feito por Cristo, sentir-se-iam repreendidos por seus temores e supremo egoísmo. "Virá o nosso Deus e não Se calará; adiante dEle um fogo irá consumindo, e haverá grande tormenta ao redor dEle. Do alto, chamará os céus e a terra, para julgar o Seu povo. Congregai os Meus santos, aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios." Salmos 50:3-5. Por causa do egoísmo e amor ao mundo Deus é esquecido, e muitos sofrem aridez de coração e clamam: "Emagreço, emagreço, ai de mim!" Isaías 24:16. O Senhor tem confiado recursos a Seu povo para prová-lo, para testar a profundidade de seu professo amor por Ele. Alguns gostariam de deixá-Lo e abandonar os tesouros celestiais, antes que reduzir suas posses terrenas e fazer com Ele um concerto com sacrifício. Deus os convoca ao sacrifício, mas o amor ao mundo fecha-lhes os ouvidos e não podem ouvir. T2 198 1 Olhei para observar quem daqueles que professam estar esperando o aparecimento de Cristo, possuía uma disposição para oferecer, de sua abundância, sacrifícios a Deus. Pude ver uns poucos, que, como a viúva pobre, privavam-se e davam sua oferta. Cada oferta como essa é considerada por Deus como precioso tesouro. Mas aqueles que estão adquirindo recursos e aumentando suas posses, estão muito aquém. Nada fazem em relação ao que poderiam fazer. Estão retendo e roubando a Deus, pois estão temerosos de que venham padecer necessidades. Não ousam confiar em Deus. Essa é uma das razões por que, como um povo, estamos tão enfermos e muitos estão baixando à sepultura. Há cobiçosos entre nós, amantes do mundo e também aqueles que privam o trabalhador de seu salário. Homens que não têm ninguém neste mundo, que são pobres e dependentes de seu trabalho, têm sido tratados rigorosa e injustamente. O amante do mundo, com rosto e coração endurecidos, paga de má vontade a pequena soma conseguida com trabalho duro. Assim estão lidando com seu Mestre, de quem professam ser servos. De igual modo dão suas ofertas ao tesouro de Deus. O homem da parábola não tinha onde armazenar seus bens e o Senhor abreviou sua vida inútil. Assim Ele tratará com muitos. Quão difícil, nesta época corrompida, é guardar-se do crescente mundanismo e egoísmo. Quão fácil é tornar-se ingrato ao Doador de todas as graças. Grande vigilância é necessária, e muita oração, para guardar o coração com toda a diligência. "Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo." Marcos 13:33. ------------------------Capítulo 29 -- Os sofrimentos de Cristo T2 200 1 Para avaliar plenamente o valor da salvação, é preciso compreender o que ela custa. Em conseqüência das idéias limitadas acerca dos sofrimentos de Cristo, muitos dão pouco valor à grande obra de expiação. O glorioso plano da redenção humana foi elaborado mediante o infinito amor de Deus o Pai. Neste plano divino vê-se a mais maravilhosa manifestação de amor de Deus para com a raça caída. Um amor tal como o que se revela no dom do amado Filho de Deus, causou admiração aos santos anjos. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Este Salvador era o resplendor da glória de Seu Pai, e a expressa imagem de Sua pessoa. Possuía majestade divina, perfeição e excelência. Era igual a Deus. "Foi do agrado do Pai que toda a plenitude nEle habitasse." Colossences 1:19. "Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se, sendo obediente até à morte, e morte de cruz." Filipenses 2:6-8. T2 200 2 Cristo consentiu em morrer no lugar do pecador, para que este, por uma vida de obediência, pudesse escapar da pena da lei de Deus. Sua morte não anulou a lei; não aboliu a lei, nem lhe diminuiu as santas reivindicações, nem tirou qualquer coisa de sua sagrada dignidade. A morte de Cristo proclamou a justiça da lei de Seu Pai em castigar o transgressor, no fato de Ele próprio consentir em sofrer a pena da lei, a fim de salvar o homem caído de sua maldição. A morte do amado Filho de Deus na cruz, mostra a imutabilidade da lei de Deus. Sua morte engrandece a lei e a torna gloriosa, dando ao homem prova de seu imutável caráter. De Seus próprios lábios divinos, ouvem-se as palavras: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir." Mateus 5:17. A morte de Cristo justificou as reivindicações da lei. T2 201 1 Em Cristo achavam-se unidos o humano e o divino. Sua missão era reconciliar Deus e o homem; unir o finito com o infinito. Era este o único modo por que o homem caído podia ser exaltado mediante os méritos do sangue de Cristo, ser participante da natureza divina. Tomando a natureza humana, habilitou-Se Cristo a compreender as provas e dores do homem, e todas as tentações com que ele é assediado. Os anjos não familiarizados com o pecado não se podiam compadecer do ser humano nas provações que lhe são peculiares. Cristo condescendeu em tomar a natureza humana, e "como nós, em tudo foi tentado" (Hebreus 4:15), a fim de poder saber como socorrer a todos os que fossem tentados. Hebreus 2:18. T2 201 2 Revestido da natureza humana, sentia necessidade da força vinda do Pai. Tinha lugares especiais de oração. Comprazia-Se em entreter comunhão com Seu Pai na solitude da montanha. Neste exercício, Sua mente santa, humana, era fortalecida para os deveres e provas do dia. Nosso Salvador identifica-Se com nossas necessidades e fraquezas no fato de haver-Se tornado um suplicante, um solicitante de todas as noites, buscando do Pai novas provisões de força a fim de sair revigorado e refrigerado, fortalecido para o dever e a provação. Ele é nosso exemplo em tudo. É um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal. Jesus suportou lutas, e torturas íntimas, em um mundo de pecado. Sua humanidade tornava a oração necessidade e privilégio. Ele reivindicava todo o mais forte apoio divino e o conforto que o Pai estava pronto a conceder-Lhe -- a Ele que, em benefício do homem, havia deixado as alegrias do Céu, preferindo morar em um mundo frio e ingrato. Cristo encontrou conforto e alegria na comunhão com o Pai. Ali podia desabafar o coração das dores que O oprimiam. Era um "homem de dores, experimentado nos trabalhos". Isaías 53:3. T2 202 1 Durante o dia Ele trabalhava diligentemente para fazer bem aos outros, para salvar os homens da destruição. Curava os doentes, confortava os tristes, e levava animação e esperança aos que se achavam em desespero. Trazia os mortos à vida. Depois de concluída a obra do dia, saía, noite após noite, da confusão da cidade e, em algum solitário bosque Seu vulto dobrava-se em súplicas ao Pai. Às vezes, os claros raios da Lua incidiam-Lhe sobre o corpo inclinado. E depois, novamente as nuvens e as trevas excluíam toda a luz. O orvalho e a geada da noite caíam-Lhe na cabeça e na barba enquanto ali ficava, naquela atitude suplicante. Freqüentemente Ele prosseguia em Suas petições a noite inteira. Ele é nosso exemplo. Se pudermos lembrar isto, e imitá-Lo, seremos muito mais fortes em Deus. T2 202 2 Se o Salvador dos homens, com Sua força divina, sentia a necessidade de oração, quanto mais deviam os fracos mortais, pecadores, sentir a necessidade de oração -- oração fervorosa, constante! Quando Cristo Se via mais tenazmente assaltado pela tentação, não comia nada. Confiava-Se a Deus, e mediante fervorosa oração e perfeita submissão à vontade de Seu Pai, saía vencedor. Os que professam a verdade para estes últimos dias, acima de todas as outras classes de professos cristãos, devem imitar o grande Modelo na oração. T2 203 1 "Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor." Mateus 10:25. Nossas mesas acham-se freqüentemente cobertas de iguarias que nem são saudáveis nem necessárias, porque amamos mais estas coisas do que a abnegação, o estar livres de doenças e ter mente sã. Jesus buscava diligentemente força de Seu Pai. Isto, o divino Filho de Deus considerava de maior valor, mesmo para Si, do que sentar-Se à mesa mais rica e variada. Ele nos deu provas de que a oração é essencial a fim de receber forças para lutar contra os poderes das trevas, e realizar a obra que nos foi designada. Nossa própria força é fraqueza, mas a que Deus dá é poder e fará a todo o que a receba, mais que vencedor. T2 203 2 Enquanto o Filho de Deus Se achava curvado no Getsêmani, em atitude de oração, a angústia de espírito que experimentava Lhe forçou dos poros um suor como grandes gotas de sangue. Foi ali que O circundou o horror de grandes trevas. Achavam-se sobre Ele os pecados do mundo. Ele estava sofrendo em lugar do homem, como transgressor da lei do Pai. Ali teve lugar a cena da tentação. A divina luz de Deus ia-Lhe fugindo ao olhar, e Ele passando às mãos dos poderes das trevas. Em angústia mental, jazia prostrado na terra fria. Experimentava o desagrado do Pai. Tomara dos lábios do homem culpado o cálice do sofrimento, e propusera-Se a bebê-lo Ele próprio, dando em troca ao homem a taça da bênção. A ira que devia ter caído sobre o homem, caía agora sobre Cristo. Foi ali que o misterioso cálice Lhe tremeu na mão. T2 203 3 Jesus havia muitas vezes saído para o Getsêmani com os discípulos a fim de meditar e orar. Todos eles estavam bem familiarizados com esse sagrado retiro. Mesmo Judas sabia aonde devia conduzir a turba assassina a fim de entregar Jesus em suas mãos. Nunca antes visitara o Salvador aquele lugar com o coração tão cheio de dor. Não era do sofrimento físico que o Filho de Deus recuava, e que Lhe arrancou dos lábios, na presença dos discípulos, essas tristes palavras: "A Minha alma está cheia de tristeza até à morte." "Ficai aqui", disse Ele, "e velai comigo." Mateus 26:38. T2 204 1 Deixando os discípulos ao alcance da voz, Ele foi a pequena distância deles, e prostrou-Se sobre Seu rosto, e orou. Seu coração estava angustiado, e rogou: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres." Mateus 26:39. Os pecados de um mundo perdido estavam sobre Ele, esmagando-O. Foi o senso do desagrado do Pai em conseqüência do pecado que Lhe dilacerou o coração com tão penetrante agonia, e forçou-Lhe da fronte grandes gotas de sangue que, rolando pela face pálida, caíram em terra, umedecendo o solo. T2 204 2 Erguendo-Se da posição prostrada em que Se achava, foi ter com os discípulos, e achou-os adormecidos. Disse a Pedro: "Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mateus 26:40, 41. No momento mais importante -- o momento em que Jesus lhes pedira especialmente que vigiassem com Ele, os discípulos foram encontrados adormecidos. Ele sabia que os esperavam os mais rudes conflitos e terríveis tentações. Levara-os consigo para que Lhe fossem um auxílio, e para que os acontecimentos que testemunhassem naquela noite, e as lições das instruções que haviam de receber lhes ficassem indelevelmente gravadas na memória. Isto era necessário para que sua fé não desfalecesse, mas fosse fortalecida para a prova que se achava justamente diante deles. T2 204 3 Em vez de vigiarem com Cristo, porém, ficaram carregados de tristeza e adormeceram. Mesmo o ardoroso Pedro que, havia poucas horas apenas, declarara que havia de sofrer e, se preciso, morrer por seu Senhor, estava adormecido. No momento mais crítico, quando o Filho de Deus necessitava de sua simpatia e fervorosas orações, foram achados dormindo. Muito perderam eles por dormirem assim. Nosso Salvador pretendia fortalecê-los para a rigorosa prova de sua fé a que seriam em breve sujeitos. Caso eles houvessem passado aquele triste período vigiando com o querido Salvador, e orando a Deus, Pedro não teria sido deixado às suas próprias e frágeis forças para negar a seu Senhor no momento da provação. T2 205 1 O Filho de Deus foi pela segunda vez, e orou dizendo: "Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a Tua vontade." Mateus 26:42. E foi novamente ter com os discípulos, e encontrou-os adormecidos. Tinham os olhos pesados. Esses discípulos adormecidos representam a igreja a dormir, ao aproximar-se o dia do juízo de Deus. É um tempo de nuvens e espessa escuridão, quando achar-se dormindo é por demais perigoso. T2 205 2 Jesus deixou-nos esta advertência: "Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o Senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo." Marcos 13:35, 36. Requer-se da igreja de Deus que faça sua vigília noturna, seja ela perigosa, longa ou breve. A tristeza não é desculpa para que ela seja menos vigilante. A tribulação não deve levar à negligência, mas a dobrada vigilância. Cristo dirigiu a igreja pelo próprio exemplo à Fonte de sua força em tempos de necessidade, aflição e perigo. A atitude de vigilância deve caracterizar a igreja como o verdadeiro povo de Deus. Por este sinal os que se acham à espera se distinguem do mundo, e mostram ser peregrinos e estrangeiros na Terra. T2 205 3 Novamente o Salvador afastou-Se com tristeza dos discípulos adormecidos, e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Volveu então a eles, e disse: "Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores." Mateus 26:45. Quão cruel da parte dos discípulos permitir que o sono lhes cerrasse os olhos e o cansaço lhes acorrentasse os sentidos, enquanto seu divino Senhor suportava tão indizível angústia mental! Caso eles tivessem vigiado, não haveriam perdido a fé ao verem o Filho de Deus moribundo na cruz. Essa importante vigília noturna haveria sido assinalada por nobres lutas mentais e orações, as quais lhes teriam levado resistência para testemunhar a inexprimível agonia do Filho de Deus. Isto os haveria preparado, ao contemplarem Seus sofrimentos na cruz, para compreender alguma coisa da natureza da opressiva angústia que Ele suportou no Getsêmani. E eles teriam podido relembrar as palavras que Ele lhes dirigira com referência a Seus sofrimentos, morte e ressurreição; e por entre as sombras daquela hora terrível, difícil, alguns raios de esperança lhes haveriam iluminado as trevas e sustentado sua fé. T2 206 1 Cristo lhes dissera antes, que tais coisas haviam de acontecer; eles, porém, não O compreendiam. A cena de Seus sofrimentos devia ser para os discípulos uma provação ardente, e daí a necessidade de vigilância e oração. A fé deles precisava ser sustida por uma força invisível, ao contemplarem a vitória dos poderes das trevas. Não podemos ter senão uma pálida concepção da inexprimível angústia do querido Filho de Deus no Getsêmani, ao experimentar Ele a separação de Seu Pai em conseqüência de levar sobre Si o pecado do homem. Ele Se fez pecado pela humanidade. O senso da retirada do amor de Seu Pai, arrancou-Lhe do espírito angustiado as dolorosas palavras: "A Minha alma está cheia de tristeza até à morte." "Se é possível, passe de Mim este cálice." Em seguida, com inteira submissão à vontade de Seu Pai, acrescenta: "Todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres." Mateus 26:38, 39. T2 206 2 O divino Filho de Deus estava desfalecente, moribundo. O Pai enviou um mensageiro de Sua presença para fortalecer o divino sofredor, e ampará-Lo para trilhar a sangrenta estrada. Pudessem os mortais ter contemplado o espanto e a dor da multidão angélica ao testemunhar ela em silencioso pesar o Pai afastando Seus raios de luz, amor e glória de Seu Filho amado, e poderiam melhor compreender quão ofensivo é o pecado aos Seus olhos. A espada da justiça devia agora despertar contra Seu querido Filho. Por um beijo foi Ele entregue nas mãos dos inimigos, e levado às pressas para a sala de um tribunal terrestre para ali ser escarnecido e condenado à morte por pecadores mortais. Ali foi o glorioso Filho de Deus "ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades". Isaías 53:5. Sofreu insultos, zombarias e vergonhosos maus-tratos, de modo que "Seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a Sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens". Isaías 52:14. T2 207 1 Quem pode compreender o amor aqui manifestado! A multidão angélica contemplou com assombro e dor Aquele que fora a majestade do Céu, e que usara a coroa de glória, usando agora a coroa de espinhos, vítima ensangüentada da ira de uma turba enfurecida, inflamada até à loucura pela ira de Satanás. Contemplem o paciente Sofredor! Tem na cabeça a coroa de espinhos. O sangue vital corre-Lhe de toda lacerada veia. Tudo isso em conseqüência do pecado! Coisa alguma poderia haver induzido Cristo a abandonar a honra e majestade que tinha no Céu, e vir a um mundo pecador, para ser desdenhado, desprezado e rejeitado por aqueles a quem vinha salvar, sofrendo afinal na cruz, senão o amor eterno, redentor, que permanecerá para sempre um mistério. T2 207 2 Maravilhe-se, ó Céu, e assombre-se, ó Terra! Eis o opressor e o oprimido! Vasta multidão circunda o Salvador do mundo. Escárnios e zombarias misturam-se com as vulgares imprecações de blasfêmias. Seu humilde nascimento e vida são comentados por insensíveis vilões. Sua declaração de ser o Filho de Deus é ridicularizada pelos principais sacerdotes e anciãos, e gracejos vulgares e insultuosa zombaria passam de boca em boca. Satanás estava exercendo inteiro controle na mente de seus servos. Para fazê-lo eficazmente, começa com o sumo sacerdote e os anciãos, inspirando-lhes o delírio religioso. São atuados pelo mesmo espírito satânico que move os mais vis e endurecidos pecadores. Há nos sentimentos de todos uma corrupta harmonia, desde os sacerdotes e anciãos hipócritas até aos mais baixos. Cristo, o precioso Filho de Deus, foi levado para diante, e a cruz colocada nos Seus ombros. A cada passo Lhe gotejava o sangue dos ferimentos. Comprimido por imensa multidão de cruéis inimigos e insensíveis espectadores, é Ele conduzido à crucifixão. "Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca." Isaías 53:7. T2 208 1 Seus contristados discípulos O seguiram à distância, atrás da turba homicida. Ele é pregado à cruz, e pende suspenso entre o Céu e a Terra. O coração deles irrompe em agonia ao verem seu amado Mestre sofrendo como um criminoso. Próximo à cruz acham-se os cegos, fanáticos e pérfidos sacerdotes e anciãos, insultando, zombando e escarnecendo: "Tu, que destróis o templo, e em três dias o reedificas, salva-Te a Ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz. E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nEle; confiou em Deus; livre-O agora, se O ama; porque disse: Sou Filho de Deus." Mateus 27:40-43. T2 208 2 Nem uma palavra respondeu Jesus a tudo isto. Enquanto os pregos Lhe estavam sendo enterrados nas mãos, e as gotas do suor da agonia Lhe porejavam, dos lábios pálidos e trementes do inocente Sofredor soltou-se uma oração de amor perdoador em benefício de Seus assassinos: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. Todo o Céu atentava com profundo interesse para a cena. O glorioso Redentor de um mundo perdido, sofria a pena da transgressão do homem contra a lei do Pai. Ele estava prestes a redimir Seu povo com o próprio sangue. Estava pagando as justas reivindicações da santa lei de Deus. Era o meio pelo qual se poria, enfim, termo ao pecado e a Satanás, e seu exército seria vencido. T2 209 1 Oh! já houve acaso sofrimento e dor iguais àqueles que foram suportados pelo moribundo Salvador? Foi o senso do desagrado do Pai que Lhe tornou o cálice tão amargo. Não foi o sofrimento físico que pôs tão rápido fim à vida de Cristo na cruz. Foi o peso esmagador dos pecados do mundo, e o senso da ira de Seu Pai. A glória do Pai, Sua mantenedora presença, haviam-nO abandonado, e o desespero pressionava sobre Ele seu peso esmagador de trevas, arrancando-Lhe dos pálidos e trêmulos lábios o angustioso grito: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. T2 209 2 Jesus unira-Se ao Pai na criação do mundo. Por entre os angustiosos sofrimentos do Filho de Deus, unicamente os homens cegos e iludidos permaneciam insensíveis. Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos ofendiam o querido Filho de Deus em Suas ânsias de morte. Todavia a natureza inanimada geme em simpatia com Seu ensangüentado e moribundo Autor. A Terra treme. O Sol recusa-se a contemplar a cena. O céu se enegrece. Os anjos assistiram à cena de sofrimento até que não mais puderam contemplá-la, e ocultaram o rosto do horrendo espetáculo. Cristo está morrendo! Está como que sem esperança! É retirado o sorriso aprovador do Pai, e aos anjos não é permitido aclarar as sombras da hora terrível. Não podiam senão olhar em assombro a seu amado Comandante, a Majestade do Céu, a sofrer o castigo da transgressão do homem à lei do Pai. T2 209 3 Até mesmo dúvidas assaltaram o agonizante Filho de Deus. Ele não podia enxergar para além dos portais do sepulcro. Não havia uma luminosa esperança a apresentar-Lhe Sua saída vitoriosa do túmulo, e a aceitação do sacrifício que fazia, por parte de Seu Pai. O pecado do mundo, com toda a sua terribilidade, foi sentido até ao máximo pelo Filho de Deus. A aversão do Pai pelo pecado, e a pena deste, que é a morte, era tudo quanto Ele podia divisar através destas espantosas trevas. Foi tentado a temer que o pecado fosse tão ofensivo aos olhos de Seu Pai, que Ele não Se pudesse reconciliar com o Filho. A terrível tentação de que Seu Pai O houvesse abandonado para sempre, deu lugar àquele penetrante brado desprendido da cruz: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. T2 210 1 Cristo sentiu muito semelhantemente ao que os pecadores hão de sentir quando os cálices da ira de Deus forem derramados sobre eles. Terrível desespero, como um manto, adensar-se-á em torno de seu espírito culpado, e então hão de avaliar na plenitude de sua extensão, a malignidade do pecado. A salvação lhes foi comprada pelo sofrimento e morte do Filho de Deus. Ela lhes pertenceria, caso a aceitassem voluntária e alegremente; ninguém, todavia, é obrigado a prestar obediência à lei de Deus. Se eles recusam o benefício celeste e preferem os prazeres e engano do pecado, têm sua escolha e, ao fim, recebem o salário que lhes pertence, que é a ira de Deus e a morte eterna. Ficarão para sempre separados da presença de Jesus, cujo sacrifício desprezaram. Terão perdido uma existência de felicidade, e sacrificado a glória eterna pelos prazeres do pecado por um pouco se tempo. T2 210 2 A fé e a esperança vacilavam nas agonias de Cristo moribundo, pois Deus retirara a certeza que até então concedera a Seu amado Filho, de Sua aprovação e aceitação. O Redentor do mundo apoiou-Se então nas provas que até aí O haviam fortalecido, de que o Pai aceitava Seus esforços, e estava satisfeito com Sua obra. Na agonia da morte, ao depor Ele a preciosa vida, tem de confiar unicamente pela fé nAquele a quem obedecer fora sempre Sua alegria. Não O animam claros, luminosos raios de esperança à direita ou à esquerda. Tudo se acha envolto em opressiva escuridão. Em meio das pavorosas trevas experimentadas pela compassiva natureza, bebe o Redentor o misterioso cálice até às fezes. Sendo-Lhe negada até a brilhante esperança e confiança no triunfo que obterá no futuro, clama Ele com grande voz: "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito." Lucas 23:46. Ele conhece o caráter do Pai, Sua justiça, misericórdia e grande amor, e submisso, entrega-Se-Lhe nas mãos. Por entre as convulsões da natureza, são ouvidas pelos assombrados espectadores as últimas palavras do Homem do Calvário. T2 211 1 A natureza compadeceu-se dos sofrimentos de seu Autor. A terra arquejante, as rochas a fenderem-se, proclamaram que era o Filho de Deus que acabava de morrer. Houve um forte terremoto. O véu do templo rasgou-se em dois. O terror apoderou-se de executores e espectadores, ao verem o Sol envolto em trevas e sentirem a terra tremer debaixo de seus pés, ao mesmo tempo que viam e ouviam as rochas se partindo. Silenciaram as zombarias e escárnios dos principais sacerdotes e anciãos ao encomendar Cristo o espírito às mãos de Seu Pai. Pasma, a turba começou a retirar-se tateando o caminho através das trevas, rumo à cidade. Batiam no peito enquanto caminhavam e, com terror, mal ousando falar senão num murmúrio, diziam entre si: "Foi um inocente que foi morto. E se Ele era em verdade, como afirmava, o Filho de Deus?" T2 211 2 Jesus não depôs a vida enquanto não terminou a obra que viera fazer, e exclamou com Seu último suspiro: "Está consumado." João 19:30. Satanás estava tão derrotado! Sabia estar perdido o seu reino. Os anjos regozijaram-se ao serem proferidas as palavras: "Está consumado." O grande plano da redenção dependente da morte de Cristo, fora até ali executado. E houve alegria no Céu para que os filhos de Adão pudessem, mediante uma vida de obediência, ser afinal exaltados ao trono de Deus. Oh, que amor! Que assombroso amor, que trouxe o Filho de Deus à Terra para ser feito pecado por nós, a fim de podermos ser reconciliados com Deus, e elevados a uma existência com Ele em Suas mansões de glória! Oh, que é o homem para que se pagasse um tão alto preço por sua redenção! T2 212 1 Quando os homens e mulheres puderem compreender mais plenamente a magnitude do grande sacrifício feito pela Majestade do Céu em morrer em lugar do homem, então será magnificado o plano da salvação, e as reflexões sobre o Calvário despertarão ternas, sagradas e vivas emoções no espírito cristão. Terão no coração e nos lábios louvores a Deus e ao Cordeiro. Orgulho e egoísmo não podem florescer no coração que guarda vivas na memória as cenas do Calvário. De pouco valor se assemelhará este mundo aos que apreciam o grande preço da redenção humana, o precioso sangue do querido Filho de Deus. Nem toda a riqueza do mundo é suficiente em valor para redimir uma pessoa a perecer. Quem pode medir o amor experimentado por Cristo para com um mundo perdido, ao pender Ele da cruz, sofrendo pelas culpas dos pecadores? Este amor foi imenso, infinito. T2 212 2 Cristo mostrou que Seu amor era mais forte do que a morte. Ele estava realizando a salvação do homem; e se bem que sofresse o mais terrível conflito com os poderes das trevas, todavia, em meio a tudo isso, Seu amor se tornou mais e mais forte. Suportou o ser-Lhe oculto o semblante de Seu Pai, a ponto de Ele exclamar em amargura de alma: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. Seu braço trouxe salvação. Foi pago o preço para comprar a redenção do homem, quando, no último conflito interior, foram proferidas as benditas palavras que pareceram ressoar através da criação: "Está consumado." João 19:30. T2 212 3 Muitos que professam ser cristãos se empolgam com empreendimentos mundanos, e seu interesse é despertado por novos e agitados divertimentos, ao passo que têm o coração frio, e parecem gelados na causa de Deus. Eis um tema, pobres formalistas, de suficiente importância para empolgá-los. Interesses eternos acham-se aí envolvidos. Em se tratando desse assunto, é pecado ser calmo e sem entusiasmo. As cenas do Calvário requerem a mais profunda emoção. A esse respeito vocês estarão desculpados se manifestarem entusiasmo. Que Cristo, tão excelente, tão inocente, devesse sofrer tão dolorosa morte, suportando o peso dos pecados do mundo jamais poderão nossos pensamentos e imaginação compreender plenamente. O comprimento, a largura, a altura e a profundidade de tão assombroso amor, não podemos sondar. A contemplação das incomparáveis profundidades do amor do Salvador, deve encher a mente, tocar e sensibilizar o coração, refinar e enobrecer as afeições, transformando inteiramente todo o caráter. Eis a linguagem do apóstolo: "Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado." 1 Coríntios 2:2. Também nós devemos olhar para o Calvário, e exclamar: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo." Gálatas 6:14. T2 213 1 Considerando a que imenso custo foi comprada nossa salvação, qual será a sorte daqueles que negligenciam uma tão grande salvação? Qual será o castigo dos que professam ser seguidores de Cristo, e todavia deixam de curvar-se em humilde obediência às reivindicações de seu Redentor, e que não tomam a cruz como humildes discípulos de Cristo, seguindo-O da manjedoura ao Calvário? "Quem comigo não ajunta espalha", diz Cristo. Mateus 12:30. T2 213 2 Alguns têm visão limitada quanto à expiação. Pensam que Cristo sofreu apenas pequena parte da pena da lei de Deus; julgam que, ao passo que a ira de Deus foi experimentada por Seu querido Filho, Este tinha, através de todos os Seus dolorosos sofrimentos, a demonstração do amor de Seu Pai e de Sua aceitação; que as portas do sepulcro se achavam iluminadas diante dEle por vívida esperança, e que Ele tinha a constante evidência de Sua futura glória. Eis um grande engano. A mais intensa angústia de Cristo era o senso do desagrado do Pai. Tão penosa foi Sua agonia mental por causa disto, que o homem não pode ter senão uma apagada concepção a esse respeito. T2 214 1 A história da condescendência, humilhação e sacrifício de nosso divino Senhor não desperta em muitos nenhum interesse mais profundo, nem comove o coração e afeta a vida mais do que o faz a história da morte dos mártires de Jesus. Muitos sofreram a morte por torturas lentas; outros a sofreram mediante crucifixão. Em que difere destas, a morte do querido Filho de Deus? É verdade que Ele morreu na cruz morte por demais cruel; todavia outros, por amor dEle, sofreram igualmente, no tocante à tortura física. Por que então foi o sofrimento de Cristo mais terrível do que o de outras pessoas que deram a vida por amor dEle? Consistissem os sofrimentos de Cristo apenas em dores físicas, e Sua morte não seria mais dolorosa do que a de alguns dos mártires. T2 214 2 O sofrimento físico, porém, não foi senão pequena parte da agonia do amado Filho de Deus. Os pecados do mundo achavam-se sobre Ele, bem como o senso da ira de Seu Pai enquanto Ele padecia o castigo da lei transgredida. Estas coisas é que Lhe esmagavam o coração divino. Foi o ocultar-se o semblante do Pai -- um senso de que o próprio e amado Pai O havia abandonado -- que Lhe trouxe desespero. A separação causada pelo pecado entre Deus e o homem foi plenamente avaliada e vivamente sentida pelo inocente e sofredor Homem do Calvário. Ele foi oprimido pelos poderes das trevas. Não tinha um único raio de luz a aclarar-Lhe o futuro. E estava lutando contra o poder de Satanás, que declarava ter Cristo em suas mãos, que era superior em força ao Filho de Deus, que o Pai estava rejeitando o Filho e que Este não estava, mais que ele próprio, no favor de Deus. Se estava ainda no favor de Deus, por que necessitava Ele morrer? Deus O podia salvar da morte. T2 214 3 Cristo não cedeu no mínimo ao torturante inimigo, nem mesmo em Sua mais amarga agonia. Legiões de anjos maus estavam ao redor do Filho de Deus, todavia não foi ordenado aos santos anjos que rompessem as fileiras e se empenhassem em conflito com o insultante, injurioso inimigo. Os anjos celestes não tiveram permissão de ministrar ao angustiado espírito do Filho de Deus. Foi nessa terrível hora de trevas, oculta a face de Seu Pai, legiões de anjos maus a circundá-Lo, pesando sobre Ele os pecados do mundo, que Lhe foram arrancadas dos lábios as palavras: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. T2 215 1 A morte dos mártires não pode ser comparada com a agonia suportada pelo Filho de Deus. Devemos ter visões mais amplas e profundas da vida, sofrimentos e morte do querido Filho de Deus. Ao ser a expiação devidamente considerada, a salvação de almas será reconhecida de infinito valor. Em comparação com os empreendimentos da vida eterna, todos os outros imergem na insignificância. Mas como têm sido desprezados os conselhos desse amoroso Salvador! O coração se dedica às coisas do mundo, e interesses egoístas têm cerrado a porta ao Filho de Deus. Vã hipocrisia e orgulho, egoísmo e lucro, inveja, malícia e paixão têm enchido de tal forma o coração de muitos, que Cristo não pode ter lugar ali. T2 215 2 Ele era eternamente rico, todavia, por amor de nós, fez-Se pobre, para que, mediante Sua pobreza, pudéssemos nos tornar ricos. Vestia-Se de luz e glória, e estava cercado de exércitos de anjos celestes que esperavam por executar-Lhe as ordens. No entanto revestiu-Se de nossa natureza, e veio morar entre pecadores mortais. Há aí amor que linguagem alguma pode exprimir. Ultrapassa ao conhecimento. Grande é o mistério da piedade. Nosso espírito deve avivar-se, elevar-se e ser arrebatado com o tema do amor do Pai e do Filho do homem. Os seguidores de Cristo devem aprender aqui a refletir em certa medida aquele misterioso amor preparatório para a união com todos os remidos em tributar "ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro", "ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre". Apocalipse 5:13. ------------------------Capítulo 30 -- Advertências à igreja T2 216 1 Prezados irmãos em _____: T2 216 2 Vocês não estão permanecendo na luz, como Deus gostaria. Fui levada à ocasião das conversões em _____, na primavera última, e foi-me mostrado que a mente dos irmãos não estava preparada para esse trabalho. Vocês não criam ou esperavam que tal obra pudesse ser feita em seu meio. Mas o trabalho foi levado adiante, apesar da incredulidade e sem a cooperação de muitos de vocês. T2 216 3 Quando vocês tiveram tais evidências de que Deus estava esperando para ser gracioso com Seu povo, que a voz de misericórdia estava convidando pecadores e apóstatas à cruz de Cristo, por que não se uniram àqueles que tinham a responsabilidade do trabalho sobre si? Por que não vieram "em socorro do Senhor"? Juízes 5:23. Alguns dentre vocês pareciam entorpecidos, insensibilizados e atônitos, não preparados para participar plenamente da obra. Muitos concordavam com a obra, mas seu coração não estava nela. Essa foi a grande evidência do estado de mornidão da igreja. T2 216 4 Seu mundanismo não os dispõe a abrir completamente a porta de seu duro coração ao bater de Jesus, que aí busca entrar. O Senhor da glória, que os redimiu pelo próprio sangue, estava a sua porta esperando entrada; mas vocês não a abriram francamente, convidando-O a entrar. Alguns entreabriram a porta, deixando entrar um pouco da luz de Sua presença, mas não deram as boas-vindas ao Visitante celeste. Não havia lugar para Jesus. O lugar que Lhe devia ter sido reservado, estava ocupado com outras coisas. Jesus lhes rogava: "Se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apocalipse 3:20. Havia uma obra a ser feita por vocês para abrir a porta. Por algum tempo se sentiram inclinados a ouvir e a abrir; mas mesmo essa inclinação se foi, e deixaram de obter a comunhão com o Hóspede celeste que lhes era dado o privilégio de receber. Alguns, todavia, abriram a porta, acolhendo de coração a seu Salvador. T2 217 1 Jesus não força a porta. Vocês precisam abri-la e mostrar que desejam Sua presença, dando-Lhe sinceras boas-vindas. Se todos houvessem feito uma obra completa em livrar-se do entulho do mundo e preparar um lugar para Jesus, Ele teria entrado e habitado com vocês, e feito uma grande obra em salvar pessoas por intermédio dos irmãos Mas, apesar de estarem despreparados para o trabalho, ele se iniciou poderosamente entre vocês. Os apostatados foram recuperados, os pecadores convertidos e a mensagem foi proclamada nos arredores. A comunidade foi agitada. Houvesse a igreja vindo em socorro do Senhor e aberto plenamente o caminho para o trabalho complementar, a obra teria sido realizada em _____ e _____, e nos arredores, tal como nunca foi antes testemunhado. Mas a mente dos irmãos não estava desperta e eles manifestavam grande indiferença pelo assunto. Alguns que haviam sempre buscado os próprios interesses, não permitiram que a mente fosse desviada de si mesmos nessa ocasião, embora a salvação de almas estivesse em jogo. T2 217 2 O Senhor colocou-nos sob essa obrigação. Estávamos dispostos a dar tudo de nós por algum tempo, se vocês viessem conosco em socorro do Senhor. Contudo havia uma decisiva falha nisso. Grande ingratidão foi demonstrada para com as manifestações do poder de Deus entre vocês. Houvessem recebido os sinais da misericórdia e bondade divina, com coração agradecido e unindo os interesses para trabalhar com o Espírito de Deus, não estariam na presente condição. Mas desde que essa obra foi feita, vocês têm declinado e se definhado espiritualmente. T2 218 1 Vocês ainda não compreenderam a parábola da ovelha perdida. Não aprenderam a lição que o Mestre divino lhes ministrou. Vocês têm sido estudantes vagarosos. Leiam a parábola em Lucas: "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida." Lucas 15:4-6. T2 218 2 Esses foram os casos de muitos que haviam apostatado, que haviam estado em trevas, que se extraviaram do rebanho. Mais destacado, porém, foi o caso do irmão A. Foram empregados com sabedoria todos os esforços para evitar que ele abandonasse o aprisco. Mas após ter ele se afastado, não foram feitos zelosos esforços para trazê-lo de volta. Houve mais mexericos sobre seu caso do que sincero pesar por ele. Tudo isso o manteve afastado do redil e motivou seu coração a separar-se cada vez mais de seus irmãos, tornando mais difícil o resgate. Quão diferente esse procedimento daquele do pastor da parábola, quando em busca da ovelha perdida. As noventa e nove foram deixadas no deserto para cuidarem de si mesmas, expostas ao perigo, enquanto a perdida, separada do rebanho, estava sob maior risco ainda. Para garantir uma, as noventa e nove ficaram. T2 218 3 Alguns na igreja não têm nenhum anseio com respeito ao retorno do irmão A. Eles não se preocupam o suficiente para apartar-se de sua dignidade e orgulho e fazer esforços especiais para reconduzi-lo à luz. Permaneceram em sua dignidade e disseram: "Não vamos atrás dele; que ele venha a nós." Olhando os sentimentos de seus irmãos para com ele, era-lhe impossível voltar. Houvessem eles aprendido a lição de Cristo, e teriam estado dispostos a submeter o orgulho e a dignidade, e saírem em busca dos errantes. Teriam chorado, orado por eles, implorando-lhes para serem fiéis a Deus e à verdade, e retornarem à igreja. Mas o sentimento de muitos era: "Se ele desejar ir embora, que vá." T2 219 1 Quando o Senhor enviou Seus servos para fazerem pelos que erram o trabalho que vocês deveriam ter feito, e mesmo quando tinham evidência de que o Senhor estava dando uma mensagem de misericórdia para os pobres extraviados, vocês não estavam preparados para desistir de suas idéias. Não quiseram deixar as noventa e nove e sair em busca da ovelha perdida até encontrá-la, assim nada fizeram. Quando a ovelha foi encontrada e trazida de volta com júbilo, porventura vocês se alegraram? Tentamos despertá-los, tentamos reuni-los, assim como o pastor convocou seus amigos e vizinhos, para regozijarem-se conosco, mas vocês pareciam indispostos. Acharam que a ovelha havia cometido um grande erro em deixar o rebanho, e em lugar de se alegrarem com seu retorno, estavam ansiosos para fazê-la sentir-se pesarosa pelo desvio, e que deveria voltar exatamente como pensavam. Desde seu retorno, nutriram ciúmes a seu respeito. Mantiveram-na sob vigilância para ver se tudo estava bem. E alguns não ficaram muito satisfeitos; sentiram-se indispostos em aceitar as coisas exatamente como são. T2 219 2 Vocês não conhecem a si próprios. Alguns são egoístas e isso restringe seus esforços e influência. Há "alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento". Lucas 15:7. Estivesse a igreja preparada para apreciar a obra que o Senhor estava realizando entre eles, cresceriam mais decididamente. Mas, em vez de se lançarem de corpo e alma na obra e nutrirem especial interesse em fazer tudo o que estivesse ao seu alcance, agiram como se isso não se referisse especialmente a eles e fossem simples espectadores, prontos a desconfiar e encontrar faltas onde houvesse oportunidade. T2 220 1 Apresentou-se-me o caso do irmão B. Ele se sente infeliz e insatisfeito com seus irmãos. Durante algum tempo se convenceu de que era seu dever pregar a mensagem. Possui habilidade e até onde seu conhecimento da verdade permite, é capaz, mas, falta-lhe refinamento. Ele não aprendeu a dominar-se. Como lidar com mentes exige grande sabedoria, o irmão B não está qualificado para este trabalho. Embora compreendendo a teoria da verdade, não se educou em paciência, resignação, mansidão, bondade e verdadeira cortesia. Se surge algo que não entende, não se detém para ver se é sábio dar atenção ao assunto ou deixá-lo até ser devidamente considerado. Ergue-se imediatamente para a batalha. É rude, rigoroso, denunciador, e se não concorda com algo, tumultua de vez o ambiente. T2 220 2 Ele possui em sua constituição elementos combativos, em vez de doce paz e harmonia. Não tem sabedoria para dar a todos, no devido tempo, sua porção. "E apiedai-vos de alguns que estão duvidosos; e salvai alguns, arrebatando-os do fogo; tende deles misericórdia com temor, aborrecendo até a roupa manchada da carne." Judas 22, 23. O irmão B tem pouco conhecimento em fazer essa diferença. Ele é rude em suas maneiras e indiscreto ao lidar com pessoas. Tal conduta o desqualifica para ser um sábio e cuidadoso pastor. Um pastor precisa possuir generosidade, coragem, firmeza, amor e ternura combinados. T2 220 3 O irmão B se acha em perigo de demolir mais do que construir. Não se submete à vontade divina. Não foi transformado "pela renovação do" seu "entendimento". Romanos 12:2. É auto-suficiente e não confia inteiramente na graça divina; suas obras não "são feitas em Deus". João 3:21. Ser um pastor é ocupar uma posição de responsabilidade importantíssima; alimentar o rebanho de Deus é uma obra elevada e sagrada. Irmão B, o Senhor não o considera apto para vigiar Seu rebanho. Se você tivesse aprendido a lição sobre o domínio próprio em sua experiência religiosa, e sentisse a necessidade de elevar a mente e purificar o coração pela santificação do Espírito, e de sujeitar tudo à vontade divina, buscando humildade e mansidão, poderia agora estar numa posição de fazer o bem e exercer uma influência que enobrece e salva. T2 221 1 Irmão e irmã B, vocês precisam fazer por si mesmos uma obra que ninguém pode fazer em seu lugar. Vocês têm a tendência de murmurar e reclamar. Precisam fazer alguma coisa para subjugar seus sentimentos naturais. Vivam para Deus, sabendo que não têm de responder pelos erros dos outros. Vi, irmão B, que você certamente será vencido por Satanás, e naufragará na fé, a menos que pare com esse espírito crítico, e busque "a religião pura e imaculada para com Deus". Tiago 1:27. Você precisa manter pensamentos e conversação elevados; precisa ser cabalmente convertido. T2 221 2 Vida e morte estão perante você. Deve considerar solenemente que está tratando com o grande Deus, e deve lembrar-se sempre de que Ele não é uma criança com quem se brinque. Não pode empenhar-se em Seu serviço de acordo com a própria vontade, e abandoná-lo quando bem quiser. Você precisa de uma conversão interior. Todos os que, como você, meu irmão, deixaram de crescer na graça de Deus e aperfeiçoar a santidade em Seu nome, irão, nestes dias de perigo e tentação, sofrer grande perda. Seus alicerces provarão estar fixados na areia movediça, e não na Rocha, Cristo Jesus. T2 221 3 Você age por impulso. Sente-se em desarmonia com seus irmãos porque não é enviado a pregar a verdade.Você não está apto para essa responsabilidade. Seria necessário mais do que um pregador eficiente para seguir em seus rastros, a fim de tratar as feridas e contusões que seu procedimento áspero causaria. Deus não está satisfeito com você, e temo que perca a vida eterna. T2 222 1 Você não tem mais tempo a perder. Faça zelosos esforços para salvar-se do laço de Satanás. Necessita aprender de Jesus, que é "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29), e então achará descanso. Oh, que trabalho você tem de fazer para aperfeiçoar a santidade no temor de Deus, e estar preparado para a associação com os puros e santos anjos. Precisa humilhar o coração perante o Senhor e buscar "justiça" e "mansidão" para que possa ser escondido "no dia da ira do Senhor". Sofonias 2:3. T2 222 2 Irmão B, o Senhor o abençoou na primavera última, contudo, você não conseguiu compreender a relação que a vigilância e a oração têm com o progresso na vida espiritual. Negligenciou esses deveres e o resultado foi uma envolvente escuridão. Você tem estado em uma condição de incerteza e desconfiança, e freqüentemente escolhido associar-se com aqueles que estão em trevas, a quem Satanás usa para afastar pessoas de Cristo. Você poderia até viver entre os mais corrompidos e manter-se sem mancha, impoluto, se Deus em Sua providência assim o dirigisse. Entretanto, é perigoso para os que desejam honrar a Deus achar seu prazer e entretenimento com aqueles que não O temem. Satanás sempre envolve os tais em grande escuridão, e se aqueles que professam a Cristo vão espontaneamente rumo às trevas, tentam o diabo a tentá-los. Se para fazer o bem e glorificar Seu nome, o Senhor exigir que nos coloquemos entre espíritos infernais, onde se acha a mais negra escuridão, Ele nos cercará com Seus anjos e nos conservará imaculados. Se, buscamos, porém, a companhia dos pecadores e nos agradamos com suas zombarias grosseiras, e nos divertimos e alegramos com suas histórias, divertimentos e obscenidades, os santos e puros anjos removem sua proteção e nos deixam na escuridão que escolhemos. T2 222 3 Irmão B, desejo alertá-lo. Desejo despertá-lo para a ação. Desejo suplicar-lhe que busque a Deus enquanto Ele o convida a vir para que possa ter vida. "Vigiar, orar, trabalhar", é a senha do cristão. Satanás é vigilante em seus esforços; sua perseverança é incansável, seu zelo, diligente e inquebrantável. Nunca espera que a presa venha a ele, mas a busca. Seu determinado propósito é arrancar pessoas da mão de Cristo. Entretanto, os cristãos professos estão dormindo em sua cegueira, indiferentes à sua atividade. Deus não ocupa seus pensamentos. Um vigilante inimigo está-lhes no encalço, porém, estão seguros se puserem "em Deus a sua confiança". Salmos 40:4. Caso não façam isso, ficarão enfraquecidos e serão vencidos por Satanás. T2 223 1 Irmão B, é perigoso duvidar. Não deve permitir-se continuar na direção que tem seguido. Você está em constante perigo. Satanás está em seu encalço, sugerindo dúvidas e causando incredulidade. Houvesse você permanecido firme no conselho de Deus e poderia exercer benéfica influência sobre aqueles que apreciam sua amizade. T2 223 2 O pobre irmão C sentiu a influência do Espírito de Deus, mas era deficiente em experiência. Não abandonou plenamente seus velhos hábitos. Falhou em fazer de Deus sua força contínua e seus pés deslizaram. Não há "concórdia entre Cristo e Belial". 2 Coríntios 6:15. Você poderia havê-lo ajudado se estivesse ligado ao Céu. Mas sua conduta ociosa, conversação e influência o fortaleceram em sua apostasia e calaram-lhe a voz da consciência. Seu comportamento, irmão B, não foi uma reprovação a ele em seu caminho descendente. Você poderia fazer bem se estivesse vivendo para Deus. Sua força é completa fraqueza, sua sabedoria, loucura; você, porém, não compreendeu isso. Tem estado muito satisfeito com a teoria, uma forma correta de doutrina, mas não sentiu a necessidade do poder de Deus. Negligenciou a parte espiritual da religião. Todo o seu ser precisa clamar pelo Espírito de Deus -- a vida e o poder da religião no íntimo, que o conduziria à crucifixão do eu e a uma firme confiança no Redentor. T2 224 1 Você está em terríveis trevas e a menos que desperte em nome de Deus, e despedace as algemas de Satanás e assegure sua liberdade, certamente naufragará na fé. Tão grande é a relutância do Senhor de abandoná-lo, e tal o amor que lhe tem dedicado que, apesar de a vida do irmão não estar de acordo com a vontade divina e suas obras e caminhos terem sido ofensivos a Ele, a Majestade do Céu condescende em suplicar o privilégio de fazer-lhe uma visita e deixar com você a Sua bênção: "Eis que estou à porta e bato." Apocalipse 3:20. As mansões na glória são dEle e também a alegria da habitação celestial. Contudo, Ele humilhou-Se para conseguir entrada no seu coração, para que pudesse abençoá-lo com Sua luz e fazê-lo regozijar-se em Sua glória. A obra de Cristo é buscar e salvar o que se havia perdido e estava pronto a perecer. Ele deseja redimir do pecado e da morte tantos quantos seja possível, elevá-los até Seu trono e dar-lhes a vida eterna. T2 224 2 Irmão B, desperte e lance fora suas dúvidas. O que o faz inclinado a duvidar? É sua vida não consagrada, seus gracejos e brincadeiras. Sua falta de sobriedade está fazendo perigar seus interesses eternos. Cristo o convida a voltar dessas loucuras para Ele. Você não está crescendo na graça e no conhecimento da verdade. Não é uma honra para a causa. Não se eleva, mas, contrariamente, desce mais e mais na escala. Não está formando um caráter para o Céu e para a vida eterna. T2 224 3 Você busca agradar a si mesmo e desperdiçar tempo em frivolidade, o qual deve ser gasto com sua família, ensinando aos filhos os caminhos e obras de Deus. As horas que gasta em companhia que tão-somente lhe é nociva, devem ser empregadas em oração e estudo da Palavra de Deus. Você deve sentir a responsabilidade que repousa sobre você, como cabeça da família, em transmitir a seus filhos a educação e a admoestação do Senhor. Que contas dará a Deus pelo tempo mal-empregado? Que influência está você exercendo sobre aqueles que não temem a Deus? "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Possa Deus ungir-lhe os olhos para que possa ver o perigo. Sinto profundamente por você. Meu coração anseia por você. Almejo vê-lo alcançar o alto padrão que é seu privilégio atingir. Você pode fazer o bem. Sua influência, se exercida no sentido correto, o dirá. Irmão B, suas pegadas estão no caminho descendente. "Convertei-vos, convertei-vos"; "pois por que razão morrereis?" Ezequiel 33:11. T2 225 1 Se continuar por mais tempo no rumo que agora segue, tornar-se-á infiel na observância da verdade e em relação à Palavra de Deus. Vigie e ore sempre. Dedique-se sem reservas ao Senhor e verá que não é difícil servi-Lo. Você tem um coração dividido. Esta é a razão por que a escuridão o cerca, em vez da luz. A última mensagem de graça está agora sendo dada. É ela uma prova da longanimidade e da compaixão divinas. "Vinde", é o convite feito neste momento. "Vinde, que tudo já está preparado." Lucas 14:17. É o último chamado de misericórdia. Em breve haverá a vingança de um Deus ofendido. T2 225 2 Irmão B, promova a simplicidade, o amor, a paciência e a doce união com seus irmãos. E não, oh!, não venda a vida eterna a um preço tão baixo! Se abandonar a verdade, nunca conhecerá a real felicidade e você será um miserável. O Céu é digno de todo e qualquer sacrifício. Rompa as cadeias de Satanás. Jesus o convida agora; ouvirá você a Sua voz? Você precisa pôr um alvo mais elevado do que aquele que fixou. Faça sua primeira preocupação obter o reino de Deus e a justiça de Cristo. Viva para Deus e o Céu, e a recompensa eterna será sua no final da carreira. ------------------------Capítulo 31 -- Considerando o casamento T2 225 3 Em Maio último, quando o Senhor visitou _____, foi-me mostrado o caso do irmão D. Ele não estava preparado para tomar parte naquela obra. Sua mente e coração estavam em outro lugar. Ele estava pretendendo casar-se e não podia ouvir o convite de Jesus: "Vinde, que tudo já está preparado." Lucas 14:17. O casamento monopolizou sua atenção, e ele não tinha tempo ou disposição para abrir a porta do coração ao bondoso Visitante. Se tivesse feito isso, Cristo lhe teria dado um bom conselho, o qual, se atendido, ser-lhe-ia de valor inestimável. Apresentaria diante dele, em sua verdadeira luz, o perigo de submeter-se aos ditames de uma inclinação obstinada e a pôr de lado a glória de Deus e as decisões de uma razão sensata. Ele o teria exortado a ter cuidado com os passos daqueles que haviam caído e estavam arruinados. Mas esse irmão não considerou que Deus tem direitos sobre ele; que não deveria tomar qualquer decisão sem consultar Aquele que o havia comprado. Seja o que for que fizermos, somos instruídos a fazer "tudo para a glória de Deus". 1 Coríntios 10:31. T2 226 1 Como um discípulo, um aprendiz de Cristo, foi você, irmão D, a Ele em humilde e sincera oração e submeteu-lhe seus caminhos? Você não o fez. Não examinou todos os seus motivos nem agiu com cautela a fim de não ocasionar vergonha à causa de Cristo, seu Redentor. Não considerou se esse passo seria de molde a aumentar sua sensibilidade espiritual, avivar o zelo e fortalecer sua firmeza na verdade e em seus esforços para negar a si mesmo. Você desconhece o próprio coração. A atuação de Deus foi vista na igreja, mas você não ansiou pelo Espírito divino. As coisas celestiais lhe eram insípidas. Estava enfeitiçado pelas novas expectativas de unir seus interesses com os de outra pessoa. Não considerou que o casamento afetaria sensivelmente seu interesse pela vida, não importando quão breve essa vida pudesse ser. T2 226 2 Devia ter percebido que com o próprio coração pecaminoso a ser subjugado, não poderia pôr-se sob uma influência que tornaria mais difícil vencer o eu -- faria seu caminho ao Céu mais árduo. Agora você tornou seu progresso espiritual dez vezes mais penoso do que quando estava sozinho. É verdade que era um solitário, pois havia perdido uma jóia preciosa. Mas, houvesse se aconselhado com seus irmãos e apresentado seus caminhos ao Senhor, e Ele lhe teria aberto um caminho para unir-se a alguém que lhe fosse um auxílio em vez de empecilho. T2 227 1 Se agora voltar-se humildemente ao Senhor, de todo o seu coração, Ele terá piedade de você e o ajudará. Mas, você se encontra exatamente onde está destituído de suas forças e pronto a comprometer sua fé e sua lealdade a Deus, para agradar a sua nova esposa. Que Deus tenha piedade de você, pois a ruína é iminente, a menos que desperte como verdadeiro soldado de Cristo e retome a luta pela vida eterna. Sua única garantia está em ficar com seus irmãos e obter deles toda a força que puder para permanecer na verdade. Você está prestes a sacrificar a verdade em favor da paz e felicidade aqui. Está vendendo sua alma a preço mínimo. É seu dever fazer tudo o que puder para tornar sua esposa feliz, sem contudo sacrificar os princípios da verdade. Você deve exercitar paciência, piedade e genuína cortesia. Assim fazendo, pode demonstrar o poder da verdadeira graça e a influência da verdade. T2 227 2 Foi-me mostrado que o amor ao dinheiro é uma armadilha para você. Dinheiro, independente da oportunidade que oferece de fazer o bem, atender aos necessitados e colaborar no progresso da causa de Deus, é realmente de pouco valor. O pouco que possui lhe é uma armadilha, e se não administrado por um sábio e fiel mordomo, a serviço de seu Mestre, render-lhe-á pouco mais do que miséria. Você é mesquinho e avarento. Necessita cultivar um espírito nobre, liberal, e afastar suas afeições do mundo, ou será vencido. O engano das riquezas lhe corromperá a mente, de forma que o bem será suplantado pelo mal. Egoísmo e amor ao ganho triunfarão. T2 228 1 Se você, meu prezado irmão, for salvo, isso será verdadeiramente um milagre da graça. O amor ao mundo é crescente em você. Considere cuidadosamente as palavras de Cristo: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." Mateus 22:37-40. Meu irmão, você não tem obedecido nem ao primeiro nem ao segundo desses mandamentos. Você não hesitaria em tirar vantagens pessoais, embora soubesse que isso traria prejuízo ao seu semelhante. Você considera seus próprios interesses e diz: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. T2 228 2 Você não está acumulando tesouros no Céu e se tornando rico para com Deus. O eu e interesses egoístas estão lhe devorando a verdadeira piedade. Você se curva ante o deus deste mundo. Seu coração acha-se alienado de Deus. Um escritor inspirado diz: "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. Os passos do cristão podem, às vezes, parecer fracos e vacilantes, mas em sua consciente fraqueza ele se apóia no Todo-poderoso. É, então, sustido e progride para a frente e para o alto até a perfeição. Conquista diariamente vitórias e se aproxima mais e mais do padrão da perfeita santidade. Seus olhos não baixam à Terra, mas elevam-se ao Céu, sempre tendo em vista o Modelo celestial. T2 228 3 Irmão D, o esplendor e o falso brilho das coisas da Terra eclipsaram os encantos do Céu, e tornaram a vida eterna de pouco valor para você. Como serva de Cristo, rogo que desperte para que possa ver-se como de fato é. Os lucros obtidos com a conduta que agora está seguindo, constituir-se-ão eterna perda. Você descobrirá, afinal, que cometeu um terrível erro, o qual nunca será remediado. T2 229 1 Você ainda pode agora dar meia-volta, atender ao chamado da graça e viver. Alegre-se de que seu período de graça não tenha terminado, de que ainda pode, "com perseverança em fazer o bem", procurar "glória, e honra" (Romanos 2:7), imortalidade e vida eterna. Regozije-se porque aquela que foi sua fiel companheira durante anos ressurgirá, quando "o que é mortal se revestir da imortalidade". 1 Coríntios 15:54. Aguarde a manhã da ressurreição, quando aquela que partilhou de suas alegrias e tristezas durante longos anos, sairá de seu cárcere. Procurará ela por você, seu companheiro, em vão? Estará você perdido, quando a voz dela se erguer em triunfo e vitória: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" 1 Coríntios 15:55. Oh, aquele dia trará honra aos santos! Então, não mais ignomínia, nem censuras, nem sofrimento, mas paz, alegria e louvor imortal em cada língua redimida. Oh, que Deus possa falar ao seu coração e impressioná-lo com o valor da vida eterna. E possa você ser levado, meu irmão, a possuir sempre um espírito de nobre generosidade, para que possa desincumbir-se de sua mordomia com fidelidade, com os olhos fixos na glória de Deus, para que o Mestre possa dizer-lhe: "Bem está, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. ------------------------Capítulo 32 -- O perigo das riquezas T2 229 2 Revelou-se-me que alguns se enganam a respeito de si mesmos. Olham para aqueles que têm muitas propriedades e sentem que esses são os únicos que têm amor ao mundo e que estão em perigo de cobiça. Mas esse não é o caso. Aqueles que possuem bens estão constantemente em perigo, e são responsáveis por todos os recursos que o Mestre confiou a seus cuidados. Mas os pobres em bens deste mundo são com freqüência egocêntricos e não fazem o que está em seu poder realizar e que Deus requer que façam. Freqüentemente têm oportunidades de fazer o bem, mas têm se preocupado tanto consigo mesmos e consultado os próprios interesses, que pensam não haver outro caminho, senão agir assim. T2 230 1 Foi-me mostrado que o irmão e a irmã E estão em perigo de centralizarem demais seus pensamentos em si mesmos; a irmã E está particularmente em falta nessa questão. Ela possui quase um amor supremo por si mesma. Você, minha irmã, não está suficientemente preparada para enfrentar os perigos do dia de Deus. Não imita o verdadeiro Modelo, Jesus. Em toda Sua vida não houve sequer um ato egoísta. Você precisa fazer por si mesma algo que ninguém pode fazer. Despoje-se do egoísmo e conheça a mente e a vontade de Deus. "Procura apresentar-te a Deus" aprovada. 2 Timóteo 2:15. Você é impulsiva, naturalmente irritadiça e mal-humorada. Trabalha muito além de suas forças. Não há virtude nisso, pois Deus não o exige de você. Uma disposição egoísta está à base de tudo. Seus motivos não são louváveis. Você evita responsabilidades e cuidados, e sente que deveria ser olhada com aprovação. Isso é lamentável, pois desde sua meninice foi mimada e favorecida, e sua vontade ficou sem controle. Agora, em idade mais avançada, tem que fazer o que deveria ter sido feito em sua infância. Seu marido tem atendido a todos os seus desejos e condescendido com seus caprichos, para seu próprio dano. T2 230 2 O egoísmo, que se manifesta de variadas formas, segundo as circunstâncias e a constituição peculiar dos indivíduos, deve morrer. Se tivessem filhos, e seu pensamento fosse compelido a desviar-se de si mesmos para o cuidado deles, para instruí-los e ser-lhes um exemplo, ter-lhes-ia sido isso uma vantagem. Você tem exigido em seu lar atenção e paciência que deveriam ser exercidas no trato com crianças. Tem exigido e conseguido tal atenção. Contudo, não pensou em qualquer parte de seus deveres de cuidar dos outros nem procurar ser-lhes útil. A irmã é voluntariosa e muito pronta em levar avante os próprios planos. Quando tudo vai bem em sua vida, você manifesta os frutos que esperamos ver num cristão, mas, quando seus passos são impedidos, o resultado é contrário. Como uma criança mimada que merece castigo, você tem períodos de perversa obstinação. Quando duas pessoas formam uma família, como no seu caso, e não há filhos para exercitar a paciência, a tolerância e o verdadeiro amor, há necessidade de constante vigilância a fim de que o egoísmo não domine, para que você não se torne o centro, e exija cuidado e interesse que não se sente na obrigação de conceder a outros. O cuidado de crianças em uma família exige bastante tempo no lar, com as atenções comuns da vida doméstica, dando oportunidade para o cultivo da mente e do coração. T2 231 1 Você descuidou-se de guardar o coração e fazer o bem com os recursos que Deus lhe confiou. Sua influência beneficiaria, desde que sentisse sua responsabilidade para com o semelhante carente, os que necessitam de ânimo e fortalecimento. Mas você por tanto tempo consultou seu desejo pessoal, que se desqualificou para beneficiar os que a cercam. Há necessidade de disciplinar-se, de forma que suas afeições e pensamentos sejam subordinados. Tome tempo para examinar-se, a fim de poder sujeitar todas as suas faculdades à mente e vontade de Deus. Você é muito fechada em si mesma. É privilégio de cada cristão exercer influência para o bem sobre cada um com quem se associa. T2 231 2 Você, minha irmã, será recompensada de acordo com as obras que tiver feito. Examine rigorosamente seus motivos e calmamente conclua se você é rica ou não em boas obras. Recordo-me da última primavera, quando o Senhor estava fazendo uma boa obra em _____ e arredores. Os anjos da misericórdia estavam pairando sobre Seu povo e os corações que não conheciam a Deus e a verdade foram profundamente comovidos. O Senhor teria levado avante a obra que tão bondosamente começara, houvessem os irmãos trabalhado ordenadamente. Você por tanto tempo atendeu aos próprios desejos e submeteu tudo às conveniências pessoais, que a possibilidade de ser incomodada a levou a fechar a porta que deveria abrir ao avanço da causa. T2 232 1 Você assim procedeu e alguns recuaram, temendo o sacrifício e calculando que perderiam tempo em assistir a reuniões, se o esforço devesse ser feito. Faltou zelo cristão. Diante de nós jaz um mundo em impiedade, exposto à ira de Deus, com pobres seres humanos mantidos cativos pelo príncipe das trevas. Todavia, aqueles que deveriam estar despertos e envolvidos com a mais nobre de todas as iniciativas, a salvação de almas que perecem, não possuem interesse suficiente para acionar todos os meios, a fim de impedir-lhes a destruição e dirigirem os passos dos que erram ao caminho da vida. A vida eterna deve absorver o mais profundo interesse de todo cristão. Ser cooperador de Cristo e dos anjos do Céu no grande plano da salvação! Que obra pode ser comparada a essa? De cada pessoa salva ascende a Deus um tributo de glória, o qual se reflete sobre o salvo, e sobre aquele que serviu de instrumento em sua salvação. ------------------------Capítulo 33 -- Zelo cristão T2 232 2 Há um zelo ruidoso, sem finalidade ou desígnio, o qual não é segundo o entendimento, mas cego em suas manifestações e destrutivo em seus resultados. Isto não é zelo cristão. Este é regido por princípio, e não é intermitente. É sincero, profundo e forte, empenhando todo o coração, e despertando as sensibilidades morais para o exercício. A salvação de almas e os interesses do reino de Deus são assuntos da mais alta importância. Que objeto existe que reclame maior ardor do que a salvação de almas e a glória de Deus? Há nisto considerações que não podem ser apreciadas levemente. São de tanta relevância como a eternidade. Acham-se em jogo destinos eternos. Homens e mulheres estão decidindo para a felicidade ou a desgraça. O zelo cristão não se esgota em palavras, mas sentirá e agirá com vigor e eficiência. Todavia, o zelo cristão não agirá para se mostrar. A humildade caracterizará todo esforço e manifestar-se-á em toda obra. O zelo cristão induzirá à fervorosa oração e humilhação, bem como à fidelidade nos deveres domésticos. No círculo familiar, ver-se-á a gentileza e o amor, benevolência e compaixão, os quais são sempre fruto do zelo cristão. T2 233 1 Foi-me mostrado que você precisa avançar. Seu tesouro no Céu, irmã E, não é grande. Você não é rica para com Deus. Possa o Senhor abrir-lhe olhos para ver e o coração para sentir, e fazer com que você manifeste zelo cristão. Oh! quão poucos sentem o valor das pessoas! Quão poucos estão dispostos a se sacrificarem para levar seres humanos ao conhecimento de Cristo! Há muita conversa, muita profissão de amor pelas almas que perecem; mas conversa é coisa de pouco valor. O que se precisa é fervoroso zelo cristão -- algo que se manifeste através de atos. Todos devem agora trabalhar por si mesmos e, quando tiverem Jesus no coração, confessá-Lo-ão a outros. A pessoa que possui a Cristo não pode ser impedida de confessá-Lo, assim como as águas do Niágara não podem ser impedidas de precipitar-se em catarata. T2 233 2 Revelou-se-me que o irmão F está mergulhado no lixo do mundo. Ele não encontra tempo para servir a Deus, nem mesmo para sinceramente estudar e orar para saber o que Deus quer que ele faça. Seu talento está enterrado. Os cuidados desta vida têm consumido seu interesse pelas coisas eternas. O reino de Deus e a justiça de Cristo são secundários. Ele gosta de negociar, mas vi que, a menos que mude de conduta, a mão de Deus será contra ele. Ele pode juntar, mas Deus espalhará. Ele podia fazer o bem. Mas muitos pensam que se sua vida é atarefada, de envolvimento em negócios, nada podem fazer em prol da salvação de almas, nada para levar avante a causa de seu Redentor. Dizem que não podem fazer coisa alguma pela metade, e portanto se afastam dos deveres e práticas religiosos, e enterram-se no mundo. Colocam seus negócios em primeiro lugar, e esquecem a Deus, e Ele Se desgosta deles. Se alguém se acha empregado em qualquer coisa que não lhe permite progredir na vida espiritual e aperfeiçoar-se em santidade no temor de Deus, deve mudar para uma ocupação na qual possa ter Jesus consigo a toda a hora. T2 234 1 Irmão F, você não honra sua profissão de fé. Seu zelo é mundano e seu interesse é secular. Você está morrendo espiritualmente, e não compreende sua perigosa condição. O amor ao mundo está lhe sugando a religião. Você precisa despertar; deve buscar a Deus e arrepender-se de suas apostasias. Volte, contrito, para o Senhor. Seus deveres religiosos se tornaram meramente uma formalidade. Você não encontra prazer na religião, pois tal satisfação depende de obediência voluntária. O voluntário e obediente comerá o bem da terra. O irmão não possui clara evidência de que habitará com Deus em Seu reino. De vez em quando você cumpre deveres religiosos, mas o faz apenas exteriormente, pois seu coração não está envolvido. Ocasionalmente dá uma palavra de advertência aos pecadores ou em favor da verdade, mas isso é um serviço intermitente, como prestado a um capataz, em lugar de um prazenteiro serviço de afeição filial. Caso seu coração esteja inflamado com zelo cristão, os mais árduos deveres se tornarão agradáveis e fáceis. T2 234 2 A vida cristã é difícil para muitos porque têm coração dividido. Têm também mente dividida, que os torna instáveis em todos os seus caminhos. Estivessem eles ricamente imbuídos de zelo cristão, que é sempre o resultado de consagração a Deus, em lugar de um melancólico brado: "Minha pobreza! Minha pobreza!", a linguagem de seu coração seria: "Ouçam o que o Senhor tem feito por mim." Mesmo que você seja salvo, o que é muito duvidoso considerando seu caminho atual, quão limitado será o bem que realizou. Ninguém será salvo através de sua atuação. Poderá o Mestre dizer-lhe: "Bem está, servo bom e fiel"? O que você tem feito com fidelidade? Ocupar-se arduamente dos negócios e cuidar da própria vida. Fará isto brotar dos lábios de Cristo, as bondosas palavras: "Bem está, servo bom e fiel"? T2 235 1 Meu irmão, Jesus o ama e convida-o a dar meia-volta, tirar os olhos da Terra e fixá-los no "alvo, pelo prêmio da soberana vocação... em Cristo Jesus". Filipenses 3:14. Que cessem a leviandade e a futilidade. Que o solene peso do tempo em que vivemos seja sentido por você até que a luta termine. Trabalhe e, se você se consagrar a Deus, sua influência o dirá. T2 235 2 A maioria dos familiares do irmão G estão em rota descendente. H leva uma vida sem objetivos. Ela é cheia de vaidade, orgulho e insensatez. Sua influência não tende a enobrecer, não conduz à bondade e santidade. Ela não admite as restrições impostas pela religião, portanto, não submete o coração aos seus sagrados reclamos. Ama a si mesma, ao prazer, e busca satisfação própria. Tristeza, verdadeira tristeza será o resultado, a menos que se volte totalmente e busque a genuína piedade. Pode exercer uma suave, enobrecedora e edificante influência sobre seus irmãos. Deus ama esses filhos, mas eles não são cristãos. Se tentassem viver humilde vida cristã, poderiam tornar-se filhos da luz e obreiros para Deus; poderiam ser missionários na própria família e entre seus companheiros. ------------------------Capítulo 34 -- Responsabilidades dos jovens T2 235 3 Pudessem os jovens tão-somente ver quanto bem está em seu poder realizar, caso façam de Deus sua força e sabedoria, não mais prosseguiriam em uma conduta de descuidosa indiferença para com Ele; não mais seriam detidos pela influência dos que não são consagrados. Em vez de sentir que pesa sobre eles responsabilidade individual de desenvolver esforços para fazer o bem aos outros, e conduzir outros à justiça, dedicam-se a buscar o próprio divertimento. São membros inúteis da sociedade, e vivem vida tão destituída de objetivo como as borboletas. Os jovens podem ter conhecimento da verdade, crer nela, mas não vivê-la. Estes possuem uma fé morta. O coração deles não se acha tocado a ponto de afetar a conduta e o caráter à vista de Deus, e não estão mais perto de fazer Sua vontade do que os incrédulos. Seu coração não se conforma com a vontade de Deus; estão em inimizade com Ele. Os que se entregam aos divertimentos e gostam do convívio dos caçadores de prazer, sentem aversão pelos exercícios religiosos. Há de o Mestre dizer a esses jovens que Lhe professam o nome: Bem está, servos bons e fiéis -- a menos que eles sejam bons e fiéis? T2 236 1 Os jovens acham-se em grande perigo. Grande mal resulta da leitura leviana a que se entregam. Perde-se muito tempo que devia ser empregado em ocupações úteis. Alguns até se abstêm do sono para terminar alguma ridícula história de amor. O mundo acha-se inundado de novelas de toda sorte. Algumas não são de natureza tão perigosa como outras. Umas são imorais, baixas e vulgares; outras revestem-se de mais refinamento; todas, porém, são perniciosas em sua influência. Oh, se os jovens refletissem na influência que as histórias excitantes exercem na mente! Podem vocês, depois de uma leitura dessas, abrir a Palavra de Deus e ler com interesse as palavras da vida? Não acham desinteressante o Livro de Deus? A fascinação daquela história de amor prende a mente, destruindo-lhe o tono saudável, e tornando-lhes impossível fixar a mente nas verdades importantes, solenes, que dizem respeito a seu interesse eterno. Vocês pecam contra seus pais devotando o tempo que pertence a eles a tão mesquinho desígnio, e pecam contra Deus em assim empregar o tempo que devia ser passado em devoção a Ele. T2 236 2 É dever da juventude promover a sobriedade. A leviandade, os gracejos e zombarias resultarão em aridez de espírito e perda do favor de Deus. Muitos de vocês pensam que não exercem má influência sobre outros, sentindo-se assim até certo ponto satisfeitos; mas por acaso exercem influência para o bem? Buscam em suas conversas e atos conduzir outros ao Salvador? ou, se eles professam a Cristo, levá-los a andar mais achegados a Ele? T2 237 1 Os jovens devem cultivar um espírito de devoção e piedade. Não podem glorificar a Deus a menos que visem continuamente atingir "a medida da estatura completa de Cristo" (Efésios 4:13) -- a perfeição em Cristo Jesus. Que as graças cristãs se encontrem abundantemente em vocês. Consagrem a seu Salvador as melhores e mais santas afeições. Prestem inteira obediência a Sua vontade. Ele não aceitará nada menos do que isto. Não se movam de sua firmeza pelo escárnio e zombaria daqueles cuja mente se acha entregue à vaidade. Sigam a seu Salvador tanto na má como na boa fama; reputem como alegria e sagrada honra, suportar a cruz de Cristo. Jesus os ama. Ele morreu por vocês. A menos que O busquem servir com afeição não dividida, deixarão de aperfeiçoar a santidade em Seu temor, e serão afinal obrigados a ouvir as terríveis palavras: Apartem-se. ------------------------Capítulo 35 -- Servos de Mamom T2 237 2 O caso do irmão I é terrível. Este mundo é seu deus; ele adora o dinheiro. Ele não atendeu a advertência que lhe foi dada muitos anos atrás, e não venceu seu amor pelo mundo enquanto no exercício de todas as suas faculdades. Os dólares que desde então acumulou têm sido como cordas a enlaçá-lo e ligá-lo ao mundo. Enquanto adquiria propriedades, tornou-se mais ávido pelo ganho. Todas as forças de seu ser foram devotadas a um só objetivo: ganhar dinheiro. Essa tem sido a ocupação de seus pensamentos, a ansiedade de sua vida. Ele concentrou todas as suas energias nesse único rumo, e para todos os efeitos e propósitos, é um adorador de Mamom. Nessa questão ele é um insensato. Seu exemplo perante a família é de molde a levá-los a pensar que a propriedade deve ser valorizada mais do que o Céu e a imortalidade. Durante anos tem ele procurado capacitar-se para adquirir propriedades. Sacrifica assim seus interesses eternos por tesouros terrenos. Crê na verdade e ama seus princípios; aprecia ver outros avançando na verdade; mas ele mesmo se tornou cabalmente um escravo de Mamom que se sente ligado a seu senhor enquanto viver. Quanto mais viver, porém, tanto mais dedicado se tornará seu amor pelo ganho, a menos que se livre de seu terrível deus, o dinheiro. Isso será como arrancar seus órgãos vitais, mas precisa ser feito se ele valoriza o Céu. T2 238 1 Ele não precisa a censura de ninguém, mas a consideração de todos. Sua vida tem sido um terrível erro. Tem sofrido imaginárias necessidades pecuniárias, enquanto rodeado de abastança. Satanás tomou posse de sua mente e, ativando sua tendência gananciosa, fê-lo insensato quanto a este assunto. As faculdades mais altas e nobres de seu ser foram grandemente mantidas em sujeição a essa propensão mesquinha, egoísta. Sua única esperança está em quebrar os grilhões de Satanás e vencer este mal de seu caráter. Ele tem tentado isso, fazendo algo depois que foi trabalhado pela consciência, mas isto não basta. Fazer meramente um grande esforço e se desfazer de um pouquinho de seu Mamom, ficando todo o tempo com a impressão de que está se abstendo da vida, não é fruto da verdadeira religião. Ele tem de educar a mente para fazer boas obras; tem de lutar contra a tendência de adquirir. Tem de entretecer boas obras em toda a vida. Tem de cultivar um amor ao fazer o bem e pôr-se acima do espírito mesquinho e avarento que tem cultivado. T2 238 2 Nos negócios com os comerciantes em _____, o irmão I e sua esposa não adotam uma conduta que agrada a Deus. Gostam de pechinchar para adquirir as mercadorias a preços tão baixos quanto possível, e demorar-se sobre a diferença de poucos centavos, e falar a respeito disso como se o dinheiro fosse tudo para eles, seu deus. Se pudessem voltar sem ser observados e ouvir os comentários após sua saída do estabelecimento, teriam uma idéia mais clara da influência de sua mesquinhez. Sua fé é desacreditada e Deus blasfemado por alguns, por conta de sua avareza ao lidar com centavos. Os anjos retiram-se tristes. Tudo no Céu é nobre e elevado. Todos procuram o interesse e a felicidade dos outros. Nenhum se dedica ao cuidado de si mesmo. A alegria principal de todos os seres santos é presenciar a alegria e felicidade dos que lhes estão ao redor. T2 239 1 Quando os anjos vêm para servir aos que hão de herdar a salvação, e testemunham a manifestação de egoísmo, cobiça, fraude, e o beneficiar a si mesmo com prejuízo de outros, afastam-se desgostosos. Quando eles vêem aqueles que professam ser herdeiros de uma herança imortal lidar de modo tão mesquinho com aqueles que não têm outra ambição senão acumular tesouros terrenos, eles se retiram envergonhados, pois a santa verdade é desacreditada. T2 239 2 De modo algum poderia o Senhor ser melhor glorificado e a verdade mais altamente honrada, do que os incrédulos virem que a verdade operou grande e boa obra na vida de homens naturalmente cobiçosos e mesquinhos. Caso se pudesse ver que a fé dessas pessoas exercia influência no modelar-lhes o caráter, em mudá-los de homens avarentos, egoístas, enganadores e amantes do dinheiro, em homens que amam praticar o bem, que buscam ocasião de empregar seus recursos em benefício dos que necessitam disso, que visitam "os órfãos e as viúvas em suas tribulações", e que se guardam da "corrupção do mundo" (Tiago 1:27), isto seria uma prova da genuinidade de sua religião. Tal atitude permitiria sua luz resplandecer "diante dos homens, para que" vissem as suas "boas obras e" glorificassem a seu "Pai, que está nos Céus". Mateus 5:16. Esse fruto seria para santidade e eles se tornariam vivos representantes de Cristo na Terra. Pecadores seriam convencidos de que há na verdade um poder que eles desconhecem. Os que professam estar aguardando e vigiando o aparecimento de seu Senhor, não devem desonrar sua profissão de fé trapaceando no comércio e defendendo o último centavo. Tais frutos não crescem na árvore cristã. T2 240 1 Irmão I, o Senhor não deseja que você pereça, mas que se aposse de Sua força e faça paz com Ele, harmonizando sua vontade com a vontade divina. Isaías 27:5. Se pudesse ser-lhe apresentado um quadro fiel de sua conduta em conseguir dinheiro, você ficaria horrorizado. Ficaria desgostoso com sua avareza, mesquinhez e amor ao dinheiro. E faria todo esforço para obter a transformadora graça de Deus que o tornaria um novo homem. Os recursos vindos de seus parentes foram-lhe uma maldição. Eles somente aumentaram sua propensão para amar o dinheiro e foram um peso adicional para lançá-lo na perdição. T2 240 2 "Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males." 1 Timóteo 6:10. Quando os homens empregam suas energias mentais e físicas na obtenção de riquezas, e se satisfazem em acumular fortunas que nunca poderão usar, e que se provarão danosas a seus filhos, estão abusando das forças que Deus lhes deu. Mostram assim que seu caráter se tornou vil pela absorvente perseguição do ganho. Em lugar de serem felizes, tornam-se miseráveis. Fecharam o coração aos apelos dos necessitados e dão evidência de que não possuem compaixão pelo sofredor. T2 240 3 Meu irmão, seu coração não está endurecido às carências e necessidades dos outros. Você tem impulsos generosos e ama a comodidade. Está freqüentemente pronto a praticar um ato bondoso para com um irmão ou vizinho, mas faz do dinheiro seu deus e acha-se em perigo de avaliar o Céu como menos importante do que seu dinheiro. No acumular dinheiro há sempre um perigo, a menos que a graça de Deus seja o princípio que rege o coração. Quando os cristãos são controlados pelos princípios celestiais, eles receberão com uma das mãos e darão com a outra. Essa é a única posição racional e saudável que um cristão pode assumir enquanto ganha e mantém o dinheiro. Pergunto-lhe, irmão I: O que faz com seu dinheiro? Lembre-se de que é um mordomo de Deus. Você possui talentos de recursos e pode fazer grande volume de bem com eles. Pode depositar no banco celestial para ser rico em boas obras. Que sua vida seja uma bênção aos outros. "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. T2 241 1 Lembre-se de que os tesouros acumulados no Céu não se perdem. Eles lhe são assegurados pelo cuidadoso uso de recursos dos quais Deus tem-lhe feito mordomo. Diz o apóstolo: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. T2 241 2 Irmão I, há perigo de você perder a vida, e os dons que Deus concedeu serem entregues ao diabo, e você ser levado cativo à vontade dele. Suporta esse pensamento? Pode, por um curto espaço de tempo, servir a si mesmo e amar seu dinheiro, e então desfazer-se disso tudo e não ter um título para o Céu e nem direito à vida eterna? Você tem uma dura luta diante de si para separar suas afeições do tesouro terreno. "Onde estiver" o seu "tesouro, aí estará também" o seu "coração". Mateus 6:21. Vigiar, orar e trabalhar são as divisas do cristão. Desperte, eu lhe imploro. Busque aquelas coisas que são duradouras. As coisas terrenas em breve passarão. Está você pronto para trocar um mundo pelo outro? Está formando um caráter para a eternidade? Se perdido, afinal, você saberá o que provocou sua ruína -- o amor ao dinheiro. E clamará em amarga angústia: "Oh, 'os enganos das riquezas'! Marcos 4:19. Perdi minha vida! Vendi-a por dinheiro. Meu corpo e vida troquei pelo ganho. Sacrifiquei o Céu, temendo que teria de sacrificar meu dinheiro para obtê-lo." Do Mestre se ouvirá: "Amarrai-o de pés e mãos, levai-o e lançai-o nas trevas exteriores." Mateus 22:13. Esperamos que esse não seja seu destino. Esperamos que transfira seu tesouro para o Céu e mude suas afeições e as firme em Deus e no tesouro imortal. T2 242 1 Vi que toda a família estava em perigo de participar, em certo grau, do espírito do pai. Irmã I, você já tem partilhado desse espírito. Que Deus a ajude a compreender isso e a fazer uma mudança completa. Cultive o amor pelo bem; procure enriquecer-se "em boas obras". 1 Timóteo 6:18. Em muitas coisas você pode fazer mais do que está realizando. Tem uma responsabilidade individual perante Deus, um dever a cumprir, do qual não pode ser dispensada. Mantenha uma íntima comunhão com Deus e ore "sem cessar". 1 Tessalonicenses 5:17. Terá uma luta difícil se quiser salvar-se. Procure exercer uma influência neutralizante em sua família. Assuma nobremente sua posição em favor de Deus. Sua constituição é diferente da de seu marido, e você será condenada por Deus se não agir por si mesma. Faça uma obra diligente para salvar a si própria, exercendo uma influência que salve sua família. Que seu exemplo mostre que seu tesouro se encontra no Céu, e que você tem investido tudo em um lar melhor e em uma vida superior, que é eterna. Treine a mente a valorizar as coisas celestiais, a ser elevada, a amar a Deus e a manifestar voluntária obediência à Sua vontade. T2 242 2 Você pode ser testada; provada para que seja revelado o quanto está apegada às coisas deste mundo. Pode ser levada a compreender uma faceta do coração com a qual não está familiarizada. Deus conhece suas provações, quando você vê o estado de seu marido e filhos, que estão muito carentes de uma fé que salva. Muitas coisas dependem mais de você do que imagina. Revista-se da armadura. Não gaste suas preciosas forças em trabalho exaustivo que outro pode fazer. Anime sua filha a empenhar-se numa atividade útil, para que possa ajudá-la a levar as cargas da vida. Ela precisa de disciplina. A mente dela é frívola. Ela precisa submeter tudo a Deus, para então ser útil e agradável a seu Redentor. T2 243 1 Minha irmã, trabalhe menos; ore e medite mais. Interesses eternos devem ser prioritários. Deus proíbe que seus filhos sejam transformados em amantes do dinheiro. O verdadeiro refinamento e cortesia nunca serão encontrados em um lar onde o egoísmo reina. A pessoa cortês sempre tem cérebro e coração, sempre possui terna consideração pelos outros. A verdadeira cortesia não encontra satisfação nos adornos e ostentação do corpo. A verdadeira cortesia e nobreza de coração serão vistos nos esforços para abençoar e elevar outras pessoas. A responsabilidade das coisas eternas repousam muito levemente sobre os ombros de seus filhos. Possa Deus despertá-los antes que seja tarde demais, e exclamem eles em angústia: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos." Jeremias 8:20. T2 243 2 Irmão J, seu caso me foi apresentado. Você ocupa uma posição de responsabilidade. Foi dotado com os talentos do dinheiro e da influência. A cada homem é dada uma obra, algo a fazer, não meramente para envolver o cérebro, ossos e músculos em trabalho comum; significa mais do que isso. Você entende essa obra de um ponto de vista mundano, e tem alguma experiência no aspecto religioso. Mas por uns poucos anos tem estado a perder tempo, e agora terá de rapidamente fazer um trabalho para redimir o passado. Possuir talentos não é suficiente; você deve usá-los não simplesmente para obter proveito próprio, mas para honrar a Deus que os concedeu. Tudo o que você tem é emprestado por seu Senhor, e Ele o requererá de sua mão com juros. T2 244 1 Cristo tem direito aos seus serviços. Você se tornou Seu servo pela graça. Não deve atender aos próprios interesses mas aos dAquele que o empregou. Como cristão professo, você está sob obrigações para com Deus. Aquilo que lhe é confiado para investimento não é sua propriedade. Se assim fosse, você poderia consultar os próprios interesses a respeito de seu uso. O capital pertence ao Senhor e você é responsável por seu uso ou abuso. Há maneiras pelas quais esse capital pode ser investido: levá-lo aos banqueiros, para que possa render algo ao Senhor. Se escondido na terra, nem o Senhor nem você serão beneficiados, e perderá tudo quanto lhe foi confiado. Possa Deus ajudá-lo, meu irmão, a compreender sua verdadeira posição como servo do Senhor. Por Seu sofrimento e morte, Ele pagou o salário para assegurar seu serviço voluntário e pronta obediência. T2 244 2 Durante as provas dos poucos anos passados, você sofreu mentalmente e sentiu alívio ao voltar sua atenção mais plenamente às coisas do mundo, à tarefa de adquirir propriedades. Deus, em Seu grande amor e misericórdia por você, novamente o trouxe ao rebanho. Novos deveres e responsabilidades são agora postos sobre o irmão. Você tem forte amor a este mundo. Tem estado a acumular tesouros na Terra. Jesus agora o convida a transferir esses tesouros para o Céu, "porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração". Mateus 6:21. Em seu trato com os irmãos e os descrentes, cuide-se. Seja leal para com sua profissão de fé e cultive a verdadeira nobreza de coração, que será um crédito à verdade que você professa. T2 244 3 Você ocupa uma posição onde outros podem observá-lo. Possui uma inteligência acima da média. É homem de percepção rápida e sensível. Alguns de seus irmãos não têm avançado em sabedoria. Eles o observam, lamentam seu problema, e gostariam de vê-lo mais liberal com os recursos que lhe foram confiados. Tornaram-se descontentes com seu caso. Tudo isso lhes é desnecessário. Estas mesmas pessoas estão em falta em muitas coisas, e se forem fiéis no humilde serviço que o Mestre deles requer, alcançarão tudo o que podem. Não podem desperdiçar seu tempo ansiosamente temendo que seu semelhante, que tem maior obra confiada a ele, deixe de fazer bem sua obra. Enquanto estão assim interessados no problema de outro, seu trabalho é negligenciado, e se tornam realmente servos indolentes. Acham-se ansiosos por fazer a obra de seu próximo, em lugar de comprometer-se a fazer a sua. T2 245 1 Pensam que se tão-somente possuíssem os cinco talentos, poderiam fazer muito melhor do que aquele a quem esses talentos foram confiados. Mas o Mestre sabia mais que eles. Ninguém precisa lamentar que não pode glorificar a Deus pelos talentos que Ele nunca lhes confiou e pelos quais não são responsáveis. Não pode dizer: "Se eu tivesse outra condição de vida, faria grande quantidade de bem com meu capital." Deus não requer deles mais do que podem desenvolver com o que têm, como mordomos de Sua graça. T2 245 2 O único talento, o mais humilde serviço, se totalmente consagrado e exercitado para promover a glória de Deus, será tão aceitável como o aprimoramento do mais valioso talento. Talentos variados são confiados segundo nossas diversificadas capacidades. A cada homem é dado de acordo com sua habilidade. Ninguém pode fazer pouco caso de seu trabalho, considerando-o tão pequeno que não mereça ser bem feito. Se assim faz não está levando a sério suas responsabilidades morais, e despreza "o dia das coisas pequenas". Zacarias 4:10. O Céu distribui a todos o trabalho, e todos devem ambicionar fazê-lo bem, de acordo com sua habilidade. Deus requer que todos, os fracos e também os fortes, cumpram a obra que lhes foi designada. O interesse despertado estará em proporção ao montante confiado. T2 245 3 Que cada um com diligência e interesse cuide do próprio trabalho, deixando os outros com seu Mestre, para permanecer em pé ou cair. Há muitíssimos intrometidos em _____, muitíssimos que estão interessados em vigiar seus irmãos e por essa razão estão constantemente em estado de fraqueza. Testemunham nas reuniões e por não terem a Jesus no coração para confessar, tentam impor deveres a seus irmãos. Essas pobres almas não conhecem os próprios deveres e ainda assumem a responsabilidade de instruir outros a respeito de suas obrigações. Se cuidassem do próprio trabalho e tivessem a graça de Deus no coração, haveria na igreja um poder que presentemente está faltando. T2 246 1 Irmão J, você pode fazer o bem. Você possui bom discernimento e Deus o está conduzindo das trevas para a luz. Use seus talentos para a glória de Deus. Coloque-os nas mãos dos banqueiros, para que quando o Mestre vier, possa receber com juros o que é Seu. Mateus 25:27. Rompa as gavinhas que o prendem às inúteis coisas da Terra, e leve-as a agarrarem-se a Deus. A salvação de almas é de maior conseqüência do que tudo. Uma pessoa salva, para viver através das eras infindas, para louvar a Deus e ao Cordeiro, é de maior valor do que milhões em dinheiro. As riquezas baixam à insignificância quando comparadas com o valor das pessoas por quem Cristo morreu. Você é um homem cauteloso e não agirá imprudentemente. Sacrifique-se pela verdade e torne-se rico para com Deus. Possa o Senhor ajudá-lo a agir tão rápido quanto puder e a colocar as coisas eternas na justa perspectiva. T2 246 2 Seus filhos carecem de uma profunda obra de graça no coração. Precisam de sobriedade e solidez de caráter. Se consagrados a Deus, podem realizar o bem e exercer influência salvadora sobre seus companheiros. T2 246 3 Que os pobres não sintam que nada podem fazer porque não possuem a riqueza de seus irmãos. Eles podem sacrificar-se de muitas maneiras. Podem negar a si mesmos, podem viver vida consagrada e em suas palavras e atos honrar seu Redentor. As irmãs, especialmente, podem exercer marcante influência se deixarem os mexericos e aproveitarem seu tempo em vigilância e oração. Podem honrar a Deus e deixar sua luz brilhar, para que outros "vejam as" suas "boas obras e glorifiquem a" nosso "Pai, que está nos Céus". Mateus 5:16. T2 247 1 Como ilustração da falha de sua parte em vir em socorro da causa de Deus, como era seu privilégio, foram-me lembradas as palavras: "Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, duramente amaldiçoai aos seus moradores; porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor com os valorosos." Juízes 5:23. Que fez Meroz? Nada. E este foi seu pecado. Eles não foram "em socorro do Senhor com os valorosos". ------------------------Capítulo 36 -- Sentimentalismo e arranjos de casamento T2 247 2 Querida irmã K: T2 247 3 Na visão que me foi dada em Junho último, vi que você possui firmeza de caráter, determinação de propósito que se aproxima da teimosia. Não está disposta a deixar-se conduzir e se sente ansiosa por conhecer e fazer a vontade de Deus. Tem enganado a si mesma e não compreende o próprio coração. Pensa que sua vontade está sujeita à vontade de Deus, mas nisso está equivocada. Você tem enfrentado provações e permitido que sua mente se demore nas fracassadas esperanças. Durante os últimos anos sua vida tomou um rumo peculiar. Parecia haver em você uma disposição intranqüila. Não tem sido feliz, embora nada haja em sua vida que produza sombra tão escura. A irmã não disciplinou a mente para fixar-se em assuntos alegres. Você é capaz de exercer uma forte influência em favor da verdade, se tão-somente treinar a mente no rumo certo. Todas as palavras e atos devem ser tais que honrem ao Redentor, exaltem Seu amor e magnifiquem Seus encantos. T2 248 1 Você caiu no lamentável erro tão dominante nesta era degenerada, em especial entre as mulheres. Ama demais o sexo oposto. Gosta de sua companhia; é lisonjeira sua atenção para com eles, e anima ou permite familiaridade que nem sempre está em harmonia com a exortação do apóstolo, de abster-se "de toda aparência do mal". 1 Tessalonicenses 5:22. T2 248 2 Você mesma não se compreende. Está andando em escuridão. Tem-se envolvido com arranjos de casamento. Este é um negócio muito incerto, pois você não conhece o coração e pode fazer um mau trabalho, ajudando assim ao grande rebelde em sua obra de casamenteiro. Satanás está ativamente empenhado em influenciar pessoas inteiramente incompatíveis entre si, a ligarem seus interesses. Ele exulta nesta obra, pois pode assim trazer mais miséria e desesperado infortúnio à família humana do que exercendo sua habilidade em qualquer outro sentido. T2 248 3 Você tem escrito muitas cartas, e isso a tem sobrecarregado. Elas tratam de assuntos de nossa fé e esperança. Mas, juntamente com esses temas, têm havido indagações e suposições com respeito se esse ou aquele vai em breve se casar, e sugestões referentes ao casamento. Você parece conhecer muito sobre os casamentos a se realizarem; escreve e fala sobre essas coisas, que tão-somente lhe causam problemas. "Da abundância do seu coração fala a boca." Lucas 6:45. Você tem feito grande injustiça a si mesma ao permitir que sua mente e conversação se demorem sobre amor e casamento. Não tem estado feliz, porque tenta perseguir a felicidade. Essa não lhe é uma ocupação benéfica. Quando cumprir sinceramente seus deveres e buscar servir aos outros, então encontrará paz de espírito. Sua mente se detém no próprio eu. Ela precisa ser desviada de você ao procurar aliviar as inquietações dos semelhantes. Em torná-los felizes, você encontrará felicidade e alegria de espírito. T2 248 4 Você tem imaginação doentia. Pensa que está doente, mas isso é mais imaginário do que real. É desleal consigo mesma. Tem conversado com rapazes, permitindo-lhes certa liberdade em sua presença, a qual seria própria unicamente a um irmão. Vi que sua influência em _____, não foi a que poderia ter sido. Permitiu que sua mente se acomodasse em um baixo nível. Tagarelou, riu e entreteve conversação barata indigna de um cristão. Seu comportamento não foi o que deveria ter sido. Você parecia uma pessoa sem coluna vertebral. Reclinava-se sobre outros, o que é uma atitude errada para uma jovem manter em presença de outras pessoas. Se tão-somente tivesse pensado nisso, você poderia andar tão bem e sentar tão ereta como muitos outros. O estado de sua mente leva à indolência e ao temor do exercício, quando este se havia de demonstrar um dos melhores meios para sua recuperação. Você nunca se restaurará a menos que ponha de lado esse estado mental de fantasias e desperte para agir, para trabalhar enquanto é dia. Procure agir, bem como imaginar e planejar. Volva sua mente de projetos românticos. Você mistura com sua religião um sentimentalismo romântico, apaixonado, que não eleva, mas tão-somente rebaixa. Não é somente você a afetada; outros são prejudicados por seu exemplo e influência. T2 249 1 Você possui um espírito religioso natural. Caso treinasse a mente em demorar-se sobre temas elevados que nada têm a haver com você mesma, mas são de natureza celestial, poderia ainda ser de utilidade. Grande parte de sua vida tem sido desperdiçada sonhando em fazer uma grande obra futura, enquanto o dever presente, embora lhe pareça pequeno, tem sido negligenciado. Você tem sido infiel. O Senhor não lhe confiará uma grande obra até que o trabalho que tem agora seja visto e realizado com um espírito pronto e alegre. Se o coração não for posto no trabalho, qualquer que seja ele, esse será um pesado fardo. O Senhor prova nossa habilidade, dando-nos primeiramente pequenos deveres a cumprir. Se nos desviamos deles com descontentamento e murmuração, nada mais nos será confiando até que com alegria assumamos esses pequenos deveres e os executemos bem. Então, maiores responsabilidades nos serão confiadas. T2 250 1 Você tem sido dotada com talentos, não para serem desperdiçados, mas dados aos banqueiros para que ao vir o Mestre possa receber o que é Seu com os juros. Mateus 25:27. Deus não distribuiu esses talentos indiscriminadamente. Ele distribuiu estas sagradas responsabilidades de acordo com a capacidade de Seus servos. "A cada um, a sua obra." Marcos 13:34. Confia-os imparcialmente e espera retorno correspondente. Se todos cumprirem seu dever conforme a medida de suas responsabilidades, o montante a eles confiado, seja grande ou pequeno, será duplicado. Sua lealdade é testada e provada, e sua fidelidade é positiva evidência de sábia mordomia e merecimento, para lhes serem confiadas as verdadeiras riquezas, inclusive a vida eterna. T2 250 2 Na assembléia de Nova Iorque, em Outubro de 1868, foi-me mostrado muitos que agora nada estão fazendo, mas poderiam realizar o bem. Foi-me apresentada uma classe cônscia de possuir impulsos generosos, sentimentos de devoção e amor ao fazer o bem; entretanto, ao mesmo tempo nada estão fazendo. Possuem sentimentos de condescendência própria, lisonjeando-se de que, se tivessem oportunidade, ou as circunstâncias fossem mais favoráveis, poderiam fazer e fariam uma grande e boa obra; mas aguardam a oportunidade. Desprezam o espírito estreito do infeliz mesquinho que dá de má vontade a pequenina esmola ao necessitado. Vêem que ele vive para si mesmo, que não deseja ser chamado para fazer o bem aos outros, para abençoá-los com os talentos de influência e de recursos que lhe foram confiados para usar, não abusar, nem para deixar que enferrujem ou fiquem enterrados no solo. Os que se entregam a sua avareza e egoísmo são responsáveis por seus atos mesquinhos, e responsáveis também pelos talentos dos quais abusam. Mais responsáveis, porém, são os que têm impulsos generosos, e são naturalmente ligeiros em discernir coisas espirituais, se permanecerem inativos, aguardando uma oportunidade que supõem não haver chegado, e ao mesmo tempo comparando sua disposição de agir, com a disposição do mesquinho, e refletindo que seu estado é mais favorável do que o de seus semelhantes de espírito mesquinho. Esses se enganam a si mesmos. A mera posse de qualidades que não se põem em uso, tão-somente lhes aumenta a responsabilidade; e se deixam desaproveitados ou entesourados os talentos de seu Senhor, seu estado não é melhor que o de seus semelhantes, por cuja salvação sentem tanto desprezo. A eles se dirá: "Vocês conheciam a vontade do Mestre, mas não a cumpriram." T2 251 1 Se tivesse disciplinado a mente a demorar-se em assuntos elevados, meditando sobre temas celestiais, poderia ter realizado grande bem. Poderia ter tido influência sobre a mente de outros, a fim de que volvessem seus egoístas pensamentos e disposição de amor ao mundo para condutos de espiritualidade. Fossem suas afeições e pensamentos mantidos em sujeição à vontade de Cristo, seria capaz de realizar boas coisas. Sua imaginação está enferma porque lhe permitiu correr por um conduto proibido, tornando-se afeita às fantasias. O sonhar acordada e a romântica construção de castelos no ar a tornaram inútil. Você tem vivido num mundo imaginário; tem sido uma mártir imaginária e uma imaginária cristã. T2 251 2 Há muito desse baixo sentimentalismo misturado com a vida religiosa dos jovens desta época do mundo. Minha irmã, Deus requer que você se transforme. Eleve suas afeições, eu lhe imploro. Consagre suas faculdades mentais e físicas ao serviço de seu Redentor, que a comprou. Santifique seus pensamentos e sentimentos, para que todas as suas obras sejam feitas em Deus. T2 251 3 Você esteve envolvida em um triste engano. Deus deseja que examine profundamente todo pensamento e propósito de seu coração. Proceda sinceramente com o próprio íntimo. Houvessem as afeições sido centralizadas em Deus, como Ele requer, e você não passaria pelas provações que sofreu. Há em você uma inquietude de espírito, que não será aliviada até que os pensamentos sejam mudados; até que os sonhos e castelos cessem e você faça a obra que tem a fazer. T2 252 1 Em suas cartas, deixe de fazer arranjos e dar palpites acerca de casamento de seus amigos. A relação matrimonial é santa, mas neste século degenerado encobre maldade de toda espécie. Tem-se abusado do casamento, e ele se tornou um crime que agora constitui um dos sinais dos últimos dias, tal como o foi nos dias anteriores ao dilúvio. Satanás está constantemente empenhado em levar os jovens inexperientes a uma precipitada aliança matrimonial. Mas quanto menos nos orgulhamos dos casamentos que se realizam agora, tanto melhor. Mesmo agora será aprovado pelo Céu o casamento, quando são compreendidas sua natureza sagrada e suas exigências, e o resultado será felicidade para ambas as partes, e Deus será glorificado. Que o Senhor a capacite a fazer o trabalho que lhe compete. T2 252 2 Estou prestes a escrever sobre essa errônea e enganosa obra, realizada sob a capa de religião. A concupiscência da carne assume o controle de homens e mulheres. A mente tem sido depravada pela perversão dos pensamentos e sentimentos, e Satanás cega de tal maneira esses pobres e enganados indivíduos, que se julgam espirituais, consagrados, quando na verdade sua experiência religiosa é composta por sentimentalismo apaixonado, muito mais do que pureza, real piedade e humildade de coração. A mente não se acha afastada do eu, nem exercitada e elevada para abençoar a outros na prática de boas obras. "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. A verdadeira religião enobrece o espírito, refina o gosto, santifica o julgamento e torna o seu possuidor participante da pureza e das influências do Céu; faz aproximarem-se os anjos e separa as pessoas mais e mais do espírito e da influência do mundo. Battle Creek, Michigan. ------------------------Capítulo 37 -- Severidade no governo da família T2 253 1 Irmão L: T2 253 2 Em Junho último foi-me mostrado que há uma obra que você precisa fazer para corrigir seus caminhos. Você não se enxerga. Sua vida tem sido um erro. Não adota uma sábia e compassiva conduta com sua família. Você é exigente. Se continuar a agir assim com sua esposa e filhos, os dias dela serão abreviados, e seus filhos o temerão em vez de amá-lo. Você acha que sua conduta está baseada na sabedoria cristã, mas engana-se. T2 253 3 Você tem pontos de vista peculiares com respeito à orientação da família. Exerce um poder independente e arbitrário, que não permite liberdade a seu redor. Você se acha apto para ser líder em sua família e entende que sua cabeça é suficiente para mover todos os membros, como uma máquina funciona nas mãos do operador. Você é ditatorial e assume autoridade. Isto desagrada o Céu e entristece os compassivos anjos. Tem-se conduzido em sua família como se unicamente fosse capaz de governar por si mesmo. Fica ofendido se sua esposa se aventure a opor-se a suas opiniões ou questione suas decisões. T2 253 4 Após muita resignação e paciência com os caprichos do irmão, ela se rebelou contra a injusta autoridade e ficou nervosa e perturbada, menosprezando seu procedimento. Você tirou o máximo proveito dessas manifestações, e acusou-a de pecado e de ser conduzida pelo espírito do diabo, quando era você quem estava em falta. Levou-a quase ao desespero e posteriormente a censurou por isso. Quão fácil teria sido para você tornar a vida de sua esposa alegre e agradável. Mas aconteceu o contrário. T2 254 1 Você tem sido um tanto indolente. Não tem ambicionado exercitar a força que o Senhor lhe deu. Essa é o seu capital. O uso prudente dessa força e hábitos perseverantes e diligentes, tê-lo-iam capacitado a obter os confortos da vida. Você tem errado, pensando que fosse orgulho o que levou sua esposa a desejar mais conforto. Ela tem sido restringida por você e tratada com mesquinhez. Ela precisa de um regime mais liberal, mais abundante suprimento de alimento sobre sua mesa; e em casa precisa de objetos os mais confortáveis e convenientes que você puder conseguir, coisas que lhe tornem o trabalho o mais fácil possível. Mas você tem considerado isso sob um prisma errado. Tem pensado que quase tudo que pudesse ser comido fosse bastante bom, se com isso você pudesse viver e manter as forças. Tem insistido na necessidade de um regime escasso para sua débil esposa. Não pode ela, porém, ter bom sangue nem robustez, com o regime ao qual você se adapta e tem saúde. Pessoas há que não podem subsistir com o mesmo alimento com o qual outros passam bem, mesmo que seja preparado de igual maneira. T2 254 2 Você está em perigo de tornar-se extremista. Seu organismo pode converter em bom sangue um regime muito inferior e pobre. Seus órgãos produtores de sangue estão em boas condições. Sua esposa, porém, requer regime mais escolhido. Deixe-a comer o mesmo alimento que o seu organismo é capaz de converter em bom sangue, e o organismo dela não o poderá fazer. Falta-lhe vitalidade, e precisa de um regime generoso, fortalecedor. Deve ela ter bom suprimento de frutas, não se limitando aos mesmos pratos, dia a dia. Sua saúde é delicada. Ela é doentia, e as necessidades de seu organismo são muito diversas das de uma pessoa sadia. T2 254 3 Irmão L, você possui considerável dignidade, mas por acaso a tem merecido? Oh, não! Você apenas pretende ser digno. Ama o sossego. Você e trabalho árduo não combinam. Houvesse sido diligente nos negócios, e poderia ter tido muitas comodidades que agora não tem condições de obter. Você prejudicou sua esposa e filhos por seus hábitos ociosos. Horas que deveriam ser gastas em trabalho diligente foram passadas em conversa, leitura e repouso. T2 255 1 Você é tão responsável por seu capital de força, como o rico o é por suas riquezas. Ambos são mordomos. A cada um é dada a sua obra. Você não deve abusar da força, mas usá-la para adquirir o quanto possa para suprir as necessidades da família, e ter o que dar a Deus em auxílio da verdade presente. Tem estado ciente da existência de orgulho, exibição e vaidade em _____, e determinou-se a dar um exemplo que não apoiasse tal orgulho e extravagância. Em seu esforço por levar avante tal objetivo, seu pecado foi igualmente grande no lado oposto. T2 255 2 O irmão tem estado grandemente em falta em sua experiência religiosa. Tem permanecido como um vigia, um espectador, observando as deficiências e faltas alheias, e orgulha-se por achar defeitos nos outros. Você tem sido cuidadoso e correto nos negócios, e quando vê negligência a esse respeito naqueles que fazem alta profissão de fé, contrasta os erros deles com seus princípios e diz em seu coração: "Sou melhor do que eles", enquanto se mantém distante da igreja vigiando e descobrindo erros, não "vindo em socorro do Senhor" (Juízes 5:23) para remediar o mal. Você tem tido um padrão com o qual medir os outros. Se eles deixam de harmonizar-se com suas idéias, não têm sua aprovação, e você tem sentimentos de complacência própria. T2 255 3 Você tem sido exigente em sua experiência religiosa. Lidasse Deus com você como o irmão faz com aqueles que supõe estar em erro na igreja, e como você tem lidado com a própria família, estaria realmente em má situação. Mas o Deus misericordioso, ternamente piedoso, cuja misericórdia não muda, é perdoador e não o lança fora nem o extirpa por causa de suas transgressões, seus numerosos erros e apostasia. Oh, não! Ele ainda o ama. T2 256 1 Tem realmente considerado que "com a medida com que" medir, será medido? Marcos 4:24. Você tem visto orgulho, vaidade e espírito amante do mundo em alguns que professam ser cristãos em _____. Esse é um grande mal; e porque essa disposição é acariciada, os anjos se entristecem. Aqueles que seguem o exemplo dos não consagrados estão exercendo uma influência que afasta de Cristo, e estão manchando suas vestes com o sangue das almas. Se continuarem no mesmo procedimento, perder-se-ão e saberão, um dia, quão terrível é o peso das outras almas que foram desviadas por sua falta de consagração, enquanto professavam ser governados por princípios religiosos. T2 256 2 Você tem justa razão em estar entristecido com o orgulho e a falta de simplicidade daqueles que professam coisas mais elevadas. Mas, você tem falado dos erros e desvios deles, e negligenciado a você mesmo. Você não é responsável por qualquer dos pecados dos irmãos, a menos que seu exemplo lhes cause tropeço e desvie seus pés do caminho estreito. Você tem uma grande e solene obra a fazer para controlar e subjugar a si mesmo, tornar-se "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29) e educar-se em ser terno e compassivo para com sua família, e possuir aquela nobreza de espírito e a verdadeira generosidade interior que abomina a avareza. T2 256 3 Você pensou que demasiado trabalho foi feito na casa de culto e comentou sobre as desnecessárias despesas. Seus conscienciosos escrúpulos especiais são desnecessários. Nada há naquela casa que tenha sido preparado com demasiado cuidado, esmero e ordem. O trabalho não é tão aprimorado. Os arranjos não são extravagantes. Será que aqueles que se queixam dessa casa de adoração consideram para quem ela foi construída? Que foi construída especialmente para ser a casa de Deus, para ser dedicada a Ele; para ser um lugar onde o povo se reúne para encontrar-se com Deus? Muitos agem como se o Criador dos céus e da terra, Aquele que fez todas as coisas belas e admiráveis em nosso mundo, Se agradasse em ver uma casa a Ele dedicada sem ordem nem beleza. Muitos constroem grandes e confortáveis casas para si, mas não permitem que se invista muito num edifício dedicado a Deus. Cada dólar que está em suas mãos é do Senhor. Ele lhes confiou por um pouco de tempo a fim de usá-los para Sua glória. Entretanto, ao usarem esses recursos para o avanço da causa de Deus, consideram cada dólar assim gasto como um total desperdício. T2 257 1 Deus não quer que Seu povo despenda recursos extravagantemente para ostentação ou decoração, mas que observe ordem, bom gosto, asseio e beleza ao prepararem uma casa para Ele, na qual deve Se encontrar com Seu povo. Aqueles que constroem uma casa para Deus devem manifestar muito maior interesse, cuidado e bom gosto em seus preparativos, assim como o objetivo com que ela é edificada é muito mais alto e santo do que aquele vinculado à construção de residências comuns. T2 257 2 O Senhor lê os intentos e propósitos dos homens. Aqueles que possuem elevada visão de Seu caráter sentirão ser seu alto privilégio fazer tudo o que se relacione com Ele da melhor maneira, e mostrando o maior bom gosto. Mas os que relutantemente edificam uma casa inferior para dedicar a Deus, que não aceitariam morar fosse ela para si mesmos, mostram sua falta de reverência por Deus e pelas coisas sagradas. Sua obra revela que as temporais preocupações pessoais são de maior valor a seus olhos do que assuntos de natureza espiritual. As coisas eternas ficam em segundo plano. Não é considerado essencial ter coisas boas e convenientes para usar no serviço de Deus, mas essas são consideradas altamente essenciais aos interesses desta vida. Os homens revelarão seu verdadeiro caráter moral pelos princípios que lhes regem o coração. T2 258 1 Muitos dentre nosso povo se tornaram limitados em seus pontos de vista. Ordem, asseio, bom gosto e conveniência são rotulados de orgulho e amor ao mundo. Isto é um erro. Orgulho vão, que é exibido em vistosos adornos e ornamentos desnecessários, não agrada a Deus. Mas Aquele que criou para o homem um mundo formoso e plantou um lindo jardim no Éden, com toda variedade de árvores frutíferas e ornamentais, que decorou a Terra com as mais encantadoras flores de inúmeras espécies e matizes, deu provas tangíveis de que Ele Se agrada com o que é belo. Aceitará, porém, a mais humilde oferenda dos Seus mais pobres e fracos filhos, se esses não tiverem nada melhor a apresentar. É a sinceridade de coração que o Senhor aceita. O homem que tem a Deus entesourado no coração e exaltado acima de tudo será levado a total submissão à vontade divina, e sujeitar-se-á inteiramente a Seu governo e reino. T2 258 2 Mortais de visão curta não compreendem os caminhos e obras de Deus. Seus olhos não estão voltados para o alto, para Ele, como devem. Não possuem elevada visão das coisas eternas. Apenas divisam as coisas com visão nublada. Não têm nenhum especial deleite em contemplar o amor de Deus, a glória e esplendor dos Céus, o caráter elevado dos santos anjos, a majestade e o inexprimível encanto de Jesus, nosso Redentor. Por tanto tempo têm eles estado envolvidos com as coisas terrenas, que as cenas eternas são-lhes vagas e indistintas. Sua concepção sobre Deus, o Céu e a eternidade é limitada. T2 258 3 As coisas sagradas são rebaixadas a um nível comum; assim, em seu trato com Deus, eles manifestam o mesmo espírito estreito e miserável que demonstram a seus companheiros. Suas ofertas ao Senhor são mutiladas, fracas e imperfeitas. Roubam-nO da mesma forma como roubam a seus semelhantes. Sua mente não alcança um elevado padrão moral, mas permanece em baixos níveis, e estão constantemente respirando os impuros miasmas das regiões inferiores da Terra. T2 259 1 Irmão L, você governa sua família com vara de ferro. É exigente no controle de seus filhos. Com esse método de governo não conquistará o amor deles. Você não é terno, amável, afetuoso e cortês com sua esposa, porém ríspido e implacável, culpando-a e censurando-a. Uma família bem ordenada é agradável a Deus e aos anjos ministradores. Você precisa aprender como tornar o lar agradável, bem ordenado e confortável. Então, adorne o lar com apropriada dignidade e esse espírito será reconhecido pelas crianças; ordem, regularidade e obediência serão mais prontamente conseguidas por ambos. T2 259 2 Irmão L, já considerou o que é uma criança e para onde vai? Seus filhos são os membros mais novos da família do Senhor -- irmãos e irmãs confiados a seu cuidado, por seu Pai celestial, a fim de que os prepare e eduque para o Céu. Quando os está conduzindo com tanta aspereza como freqüentemente o faz, considera que Deus o chamará às contas por esse tratamento? Não deve tratar seus filhos com tal aspereza. A criança não é um cavalo ou um cão para ser dirigida autoritariamente segundo sua imperiosa vontade, ou, em todas as circunstâncias, ser controlada com um cacete ou chicote, ou com tapas. Algumas crianças têm um temperamento tão viciado que é necessário provocar-lhes dor, mas em muitíssimos casos se tornam muito piores com tal disciplina. T2 259 3 Você precisa controlar-se. Nunca corrija seus filhos com impaciência ou irritação, nem quando sob influência da ira. Discipline-os com amor, manifestando a indisposição que sente em causar-lhes dor. Nunca levante a mão para lhes dar um tapa, a não ser que possa, com clara consciência, curvar-se diante de Deus e pedir Sua bênção sobre a correção que está prestes a dar. Incentive o amor no coração de seus filhos. Apresente-lhes motivos elevados e corretos para o domínio próprio. Não lhes dê a impressão de que se devem submeter ao controle porque essa é a sua vontade arbitrária, porque são fracos e você é forte, porque você é o pai e eles os filhos. Se desejar arruinar a sua família, continue a governar pela força bruta, e certamente terá êxito. T2 260 1 Sua esposa é sensível e se abala com facilidade. Ela sente a dureza de sua disciplina e isso a conduz ao extremo oposto, buscando contrabalançar sua severidade. Você acha que ela está em falta no cumprimento de seu dever e em controlar os filhos. Acha que ela é condescendente, afetuosa demais e branda. Você não pode ajudá-la a esse respeito até corrigir-se, e manifestar aquela ternura paternal que deve à família. É sua conduta errônea que leva a esposa a ser frouxa na disciplina. Você precisa ter sua natureza abrandada. Necessita ser aperfeiçoado pela influência do Espírito de Deus. Precisa de uma completa conversão; então poderá agir corretamente. Você precisa receber o amor no coração e permitir que ele ocupe o lugar do mérito próprio; o eu precisa morrer. T2 260 2 Sua esposa precisa de ternura e amor. O Senhor a ama. Ela está mais próxima do reino dos Céus do que você, porém está morrendo pouco a pouco, e o irmão é o único que lentamente lhe consome a vida. Você pode fazer sua esposa feliz, se quiser. Pode animá-la a apoiar-se em sua grande afeição, a confiar em você e amá-lo. Está afastando de você o coração dela. Ela tem se esquivado a demonstrar-lhe todas as emoções do coração, porque você tem tratado os sentimentos dela com desprezo, ridicularizado-lhe os temores e arrogantemente expressado as próprias opiniões como se nada daquilo tivesse valor. O respeito dela por você certamente desaparecerá se você continuar a comportar-se como tem feito; e quando o respeito se vai, o amor não permanece por muito tempo. T2 261 1 Rogo-lhe que faça meia-volta e humilhe-se, confessando que prejudicou sua esposa. Ela não é perfeita, tem suas faltas, mas deseja sinceramente servir a Deus e pacientemente suportar seu comportamento para com ela e os filhos. Você é pronto a descobrir os erros de sua esposa, e quando pode apanhar uma falha, não deixa por menos. Ela é fraca, contudo, glorifica a Deus mais do que você com suas grandes habilidades. Battle Creek, 17 de Janeiro de 1869. ------------------------Capítulo 38 -- Uma carta de aniversário T2 261 2 Querido Filho: T2 261 3 Escrevo esta pelo seu décimo nono aniversário. Foi um prazer tê-lo conosco por algumas semanas. Está para deixar-nos. Todavia nossas orações o seguirão. T2 261 4 Finda hoje outro ano de sua existência. Como o reconsidera você? Tem acaso feito progresso na vida religiosa? Tem crescido na espiritualidade? Tem crucificado o eu, com suas afeições e concupiscências? Tem crescido em interesse no estudo da Palavra de Deus? Obteve decisivas vitórias sobre os próprios sentimentos e caprichos? Oh! qual tem sido o registro de sua vida durante o ano que acaba de passar para a eternidade, para nunca mais voltar? T2 261 5 Ao entrar em um novo ano, faça-o com nova resolução de seguir conduta progressiva e ascendente. Seja sua vida mais elevada do que tem sido até aqui. Faça que o seu objetivo não seja buscar o próprio interesse e prazer, mas promover o desenvolvimento da causa de seu Redentor. Não permaneça numa atitude em que você mesmo sempre necessite de auxílio, e outros tenham de vigiá-lo para mantê-lo no caminho estreito. Você pode ser forte para exercer influência santificadora sobre outros. Pode estar em atitude em que o interesse de seu coração se desperte para fazer bem a outros, para consolar os aflitos, fortalecer os fracos, e dar seu testemunho em favor de Cristo sempre que se ofereça oportunidade. Tenha como objetivo honrar a Deus em tudo, sempre e em toda parte. Ponha sua religião em tudo. Seja cabal em tudo quanto empreender. T2 262 1 Você não experimentou o poder salvador de Deus como é seu privilégio fazer, porque não tornou o grande objetivo de sua vida glorificar a Cristo. Seja todo propósito que tomar, toda obra em que se empenhar e todo prazer que desfrutar para glória de Deus. Seja esta a linguagem de seu coração: Sou teu, ó Deus, para viver para Ti, trabalhar para Ti e sofrer por Ti. T2 262 2 Muitos professam estar ao lado do Senhor, mas não estão; o peso de todas as suas ações acha-se do lado de Satanás. Por que meio havemos de determinar de que lado nos encontramos? Quem possui o coração? Em quem estão nossos pensamentos? Sobre quem gostamos de conversar? Quem possui nossas mais calorosas afeições e melhores energias? Se nos achamos do lado do Senhor, nossos pensamentos estão com Ele, e nossos mais suaves pensamentos são a Seu respeito. Não temos amizade com o mundo; tudo quanto temos e somos, consagramos a Ele. Almejamos trazer Sua imagem, respirar Seu Espírito, fazer-Lhe a vontade e agradar-Lhe em tudo. T2 262 3 Você deve seguir uma conduta tão decidida, que ninguém precise enganar-se a seu respeito. Não lhe é possível exercer influência sobre o mundo sem decisão. Suas resoluções podem ser boas e sinceras, mas demonstrar-se-ão um fracasso a não ser que faça de Deus a sua força, e avance com firme determinação de propósito. Deve pôr o coração inteiro na causa e obra de Deus. Deve ser fervoroso em obter uma experiência na vida cristã. Deve exemplificar a Cristo em sua vida. T2 263 1 Você não pode servir a Deus e a Mamom. Ou está totalmente do lado do Senhor, ou do lado do inimigo. "Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta espalha." Mateus 12:30. Algumas pessoas tornam a própria vida religiosa um fracasso, porque estão sempre vacilando, e não têm determinação. Sentem-se freqüentemente convictas, e chegam quase ao ponto de fazer a entrega de tudo a Deus; mas, deixando de chegar ao ponto, voltam novamente atrás. Enquanto nesse estado, a consciência vai-se endurecendo, e ficando cada vez menos susceptível às impressões do Espírito de Deus. Seu Espírito adverte, convence, e é desatendido até que quase Se afasta, ofendido. Com Deus não se brinca. Ele mostra claramente o dever, e se há negligência em seguir a luz, esta se torna em trevas. T2 263 2 Deus pede que você se torne coobreiro Seu em Sua vinha. Comece exatamente onde está. Chegue-se à cruz e aí renuncie ao próprio eu, ao mundo, a todo ídolo. Receba inteiramente a Jesus no coração. Você se encontra em um lugar difícil para manter a consagração e exercer uma influência que desvie outros do pecado e do prazer e loucura, para o caminho estreito traçado para os remidos do Senhor. T2 263 3 Faça inteira entrega a Deus; submeta tudo sem reservas, e busque assim aquela "paz... que excede todo o entendimento". Filipenses 4:7. Não lhe é possível receber nutrição de Cristo, a menos que nEle esteja. Se não estiver nEle, você é um ramo seco. Não sente sua necessidade de pureza e verdadeira santidade. Você deve experimentar sincero desejo de ter o Espírito Santo, e orar fervorosamente para obtê-Lo. Não pode esperar a bênção de Deus sem a buscar. Caso empregasse os meios ao seu alcance, experimentaria crescimento na graça, e se ergueria a uma vida mais elevada. T2 263 4 Não lhe é natural amar as coisas espirituais, mas você pode adquirir esse amor pelo exercício da mente, da energia de seu ser, nesse rumo. O poder de fazer, eis o que você necessita. A verdadeira educação é o poder de usar as nossas faculdades de maneira a conseguir resultados benéficos. Por que é que a religião ocupa tão pouco nossa atenção, ao passo que o mundo tem a energia do cérebro, dos ossos e músculos? É porque toda a força de nosso ser se inclina para aquele rumo. Temo-nos exercitado em empenhar-nos com diligência e vigor nos negócios mundanos, até que se torna fácil à mente tomar esse rumo. É por isto que os cristãos acham a vida religiosa tão difícil, e tão fácil a vida mundana. As faculdades foram exercitadas a empregar sua força naquele sentido. Na vida religiosa tem havido assentimento às verdades da Palavra de Deus, mas não uma ilustração prática das mesmas na vida. T2 264 1 Não se torna parte da educação cultivar pensamentos religiosos e sentimentos de devoção. Estes devem influenciar e reger todo o ser. Falta o hábito de fazer o que é direito. Há intermitente ação sob influências favoráveis; mas pensar natural e prontamente nas coisas divinas não é o princípio regedor do espírito. T2 264 2 Não há necessidade de sermos anões espirituais, caso exercitemos continuamente a mente nas coisas espirituais. Mas orar meramente por isto e em torno disto, não satisfará às necessidades do caso. Você precisa habituar a mente a concentrar-se nos assuntos espirituais. O exercício trará vigor. Muitos cristãos professos se acham bem a caminho de perder ambos os mundos. Ser um homem meio cristão e meio mundano faz de você cerca de uma centésima parte cristão e todo o resto mundano. T2 264 3 Experiência religiosa, eis o que Deus requer; todavia milhares exclamam: "Não sei o que é, não tenho força espiritual, não gozo o Espírito de Deus." Não obstante as mesmas pessoas tornam-se ativas e expansivas e mesmo eloqüentes quando falam sobre assuntos mundanos. Escute essas pessoas na reunião. Cerca de uma dúzia de palavras são proferidas em voz que mal se ouve. São homens e mulheres do mundo. Cultivaram propensões mundanas, até que suas faculdades se tornaram fortes naquele sentido. São, no entanto, fracos como criancinhas com relação às coisas espirituais, quando deviam ser fortes e inteligentes. Não lhes apraz demorar sobre o mistério da piedade. Não conhecem a linguagem do Céu, e não estão educando sua mente de modo a estar preparados para entoar os cânticos do Céu, ou deleitarem-se nos cultos espirituais que ali ocuparão a atenção de todos. T2 265 1 Cristãos professos, cristãos mundanos, não se acham familiarizados com as coisas celestiais. Eles nunca serão levados às portas da Nova Jerusalém para se empenharem em cultos que até então não os interessaram de maneira especial. Eles não exercitaram a mente em deleitar-se na devoção e na meditação sobre as coisas de Deus e do Céu. Como, então, poderão se ocupar nos cultos do Céu? Como deleitarem-se nas coisas espirituais, puras e santas lá no Céu, quando isto não lhes era especial deleite aqui na Terra? A própria atmosfera ali será pureza. Eles, porém, não se acham relacionados com tudo isso. Quando no mundo, seguindo suas vocações mundanas, sabiam a que se apegar, e exatamente o que fazer. A tendência inferior das faculdades constantemente em exercício desenvolveu-se, ao passo que as mais elevadas e nobres faculdades mentais, não sendo fortalecidas pelo uso, são incapazes de despertar imediatamente para exercícios espirituais. As coisas espirituais não são discernidas, pois são vistas com olhos amantes do mundo, os quais não podem apreciar o valor e a glória do divino acima do temporal. T2 265 2 A mente precisa ser educada e disciplinada para amar a pureza. Cumpre estimular o amor pelas coisas espirituais; sim, cumpre estimulá-lo, caso você queira crescer na graça e no conhecimento da verdade. Desejos de bondade e verdadeira santidade são bons, até certo ponto, mas se você se detém aí, de nada valerão. Os bons propósitos são justos, mas não se demonstrarão de nenhum valor, a menos que sejam resolutamente executados. Muitos se perderão enquanto esperam e desejam ser cristãos; não fizeram, porém, nenhum esforço sincero; portanto, serão pesados nas balanças e achados em falta. A vontade precisa ser exercida no devido rumo: Serei um cristão de todo o coração. Conhecerei o comprimento e a largura, a altura e a profundidade do amor perfeito. Escute às palavras de Jesus: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos." Mateus 5:6. São tomadas por Cristo amplas providências para satisfazer o coração que tem fome e sede de justiça. T2 266 1 O puro elemento do amor expandirá a mente para mais altas realizações, para mais amplos conhecimentos das coisas divinas, de modo que ela não se satisfaça senão com a plenitude. A maioria dos professos cristãos não possuem o senso do vigor espiritual que poderiam obter, fossem eles tão ambiciosos, zelosos e perseverantes para adquirirem conhecimento das coisas divinas como são para alcançar as mesquinhas e perecíveis coisas desta vida. As massas que professam ser cristãs, têm-se contentado em ser anões espirituais. Não têm nenhuma disposição de tornarem seu primeiro objetivo buscar "primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça" (Mateus 6:33); assim, a piedade é para eles um mistério oculto, não a podem entender. Não conhecem a Cristo por um conhecimento experimental. T2 266 2 Sejam os homens e mulheres que se satisfazem com seu estado raquítico, debilitado, nas coisas divinas, repentinamente transportados ao Céu, testemunhando por um instante o elevado e santo estado de perfeição ali permanente -- todo coração cheio de amor; todo semblante irradiando alegria; encantadora música a subir em melodiosos acentos em honra a Deus e ao Cordeiro e incessantes torrentes de luz a fluírem sobre os santos procedendo do rosto dAquele que está assentado no trono, e do Cordeiro; e compreendam eles que há ainda mais elevada e maior alegria a experimentar, pois quanto mais recebem de Deus tanto maior é sua capacidade de crescer no júbilo eterno, e assim continuar a receber novas e maiores provisões das incessantes fontes da glória e bem-aventurança inexprimíveis -- e poderão essas pessoas, pergunto, misturar-se à multidão do Céu, participar de seus cânticos celestes, e suportar a glória pura, exaltada, arrebatadora que procede de Deus e do Cordeiro? Oh, não! seu tempo de graça foi prolongado por anos para que pudessem aprender a linguagem do Céu, para que se tornassem "participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo". 2 Pedro 1:4. Eles, porém, tinham um negócio egoísta, deles mesmos, em que ocupar as faculdades mentais e as energias do ser. Não se podiam permitir servir a Deus incondicionalmente, e fazer disto um objetivo. Os empreendimentos mundanos precisavam vir primeiro, e apoderar-se do melhor de suas faculdades, e a Deus dedicavam um pensamento passageiro. Hão de esses ser transformados depois da final decisão: "Quem é santo seja santificado ainda"?, "quem está sujo suje-se ainda"? Apocalipse 22:11. Este tempo virá. T2 267 1 Aqueles que educaram a mente em deleitar-se nos exercícios espirituais, são os que podem ser trasladados e não serem oprimidos com a pureza e a transcendente glória do Céu. Você pode ter bom conhecimento das artes, estar familiarizado com as ciências, ser excelente na música e na literatura, suas maneiras podem agradar àqueles com quem convive, mas que têm estas coisas que ver com o preparo para o Céu? Que fazem elas para prepará-lo a fim de comparecer diante do tribunal de Deus? T2 267 2 "Não vos enganeis: de Deus não se zomba." Gálatas 6:7. Coisa alguma senão a santidade o preparará para o Céu. Unicamente a piedade sincera, experimental, pode dar-lhe um caráter puro, elevado, e habilitá-lo a entrar à presença de Deus, "que habita na luz inacessível". 1 Timóteo 6:16. O caráter celeste deve ser adquirido na Terra, ou jamais se poderá obter. Comece, portanto, imediatamente. Não se iluda de que virá tempo em que poderá fazer mais facilmente um diligente esforço do que agora. Cada dia aumenta sua distância de Deus. Prepare-se para a eternidade com um zelo tal como ainda não manifestou. Eduque sua mente a amar a Bíblia, amar a reunião de oração, a hora de meditação e, acima de tudo, a hora em que a mente comunga com Deus. Volte sua mente para as coisas eternas se quiser unir-se com o coro celestial nas mansões de cima. T2 268 1 Começa agora outro ano de sua existência. No livro do anjo relator, volve-se uma nova página. Qual será o registro de suas páginas? Será ele manchado com negligência para com Deus, com deveres não cumpridos? Deus não o permita. Que aí se grave um registro que não o envergonhe de que seja revelado aos olhos dos homens e dos anjos. Greenville, Michigan, 27 de Julho de 1868. ------------------------Capítulo 39 -- O engano das riquezas T2 268 2 Prezada irmã M: T2 268 3 Ao mostrar-me o Senhor o seu caso, fui transportada a muitos anos atrás, quando você se tornou crente na próxima vinda de Cristo. Você aguardava e amava Seu aparecimento. T2 268 4 Seu marido é um homem naturalmente afetuoso e generoso, mas apóia-se na própria força, que na verdade é fraqueza. Ele não sente a necessidade de fazer de Deus o seu poder. Bebidas intoxicantes lhe entorpecem a mente e lhe paralisa as faculdades mais elevadas. A semelhança com Deus foi sacrificada para atender ao anseio por bebidas fortes. T2 268 5 Você suporta contradições e abusos, no entanto, Deus tem sido sua fonte de força. Enquanto confiou no Senhor, Ele a susteve. Em todas as suas tribulações, não foi permitido que você fosse por elas esmagada. Com freqüência os anjos do Céu a têm fortalecido quando prestes a desanimar, apresentando-lhe vividamente passagens das Escrituras que mostram o infalível amor de Deus e dão evidência de que Sua amorável bondade não sofre mudança. Seu coração confiava em Deus. Fazer a vontade de Deus era para você como comida e bebida. Por vezes mostrava firme confiança nas promessas divinas, e então sua fé era novamente provada ao máximo. O trato de Deus parecia-lhe misterioso, mas você possuía evidências, na maior parte do tempo, de que Ele observava sua aflição e não permitia que suas cargas fossem maiores do que podia suportar. T2 269 1 O Mestre viu que você precisava estar apta para Seu reino. Ele não a deixou na fornalha para que o fogo de aflição não a consumisse. Isaías 48:10. Como refinador e purificador da prata, Jesus manteve Seus olhos fixos em você vigiando o processo de purificação, até que pudesse ver Sua imagem refletida na irmã. Muito embora você tenha sentido as chamas da aflição sobre si, e às vezes pensado que iriam consumi-la, todavia, a benignidade divina tem-lhe sido tão grande nesses tempos, como quando você estava interiormente livre e triunfante nEle. A fornalha é para purificar e refinar, não para consumir e destruir. T2 269 2 Eu a vi lutando com a pobreza, buscando sustentar-se e a seus filhos. Muitas vezes, não sabia o que fazer; o futuro parecia sombrio e incerto. Em sua aflição, você clamava ao Senhor, e Ele a confortava e ajudava, e esperançosos raios de luz brilhavam a seu redor. Quão precioso lhe era Deus naqueles tempos! quão doce Seu confortante amor! A irmã sentia possuir no Céu precioso tesouro. Ao considerar a recompensa dos aflitos filhos de Deus, que consolo sentir que O podia invocar como Pai! T2 269 3 Seu caso foi, em realidade, pior do que se houvesse ficado viúva. Seu coração estava angustiado pela má conduta de seu marido. Mas suas perseguições, ameaças e violência não a levaram a confiar na própria sabedoria e esquecer-se de Deus. Longe disso; você percebeu sua fraqueza e que era incapaz de transportar as cargas, e em sua debilidade levou os pesados fardos a Jesus, o grande Portador de fardos. Como você acalentou cada raio de luz proveniente de Sua presença! e quão fortalecida se sentiu no poder de Cristo! Quando a tormenta da perseguição e crueldade inesperadamente se abateu sobre você, o Senhor não permitiu que fosse esmagada, e nesses tempos difíceis foi suprida de força, calma e paz, que lhe foram maravilhosas. T2 270 1 Na ocasião em que duras acusações e zombarias mais cruéis do que lanças e flechas foram lançadas sobre você, a influência do Espírito de Deus levou-a a falar calma e desapaixonadamente. Não foi natural comportar-se assim. Foi o fruto do Espírito de Deus. Foi a graça de Deus que fortaleceu sua fé em meio ao mal de uma esperança protelada. A graça fortaleceu-a para os conflitos e opressões, e fez de você uma vencedora. A graça ensinou-a a orar, amar e confiar, apesar das circunstâncias desfavoráveis. Enquanto sentia que suas orações eram respondidas de modo especial, não achou que fossem por algum mérito próprio, mas por causa de sua grande necessidade. Sua necessidade foi a oportunidade de Deus. Sua vida, naqueles dias de provação, foi confiar em Deus. E as manifestações de livramento especial, quando nos lugares mais difíceis, eram como um oásis no deserto ao viajante cansado e sedento. T2 270 2 O Senhor não a deixou perecer. Ele constantemente despertava amigos para ajudá-la quando menos esperava. Os anjos de Deus a assistiam, enquanto passo a passo a guiavam pelos rudes caminhos. Você foi premida pela pobreza, mas essa era a menor das dificuldades com as quais tinha de contender. Quando N procurou maltratá-la e prejudicá-la, você sentiu que a taça que estava bebendo era realmente amarga. E quando ele se rebaixou ao seguir um caminho iníquo, e você foi ofendida e insultada no próprio lar, criou um abismo entre vocês que nunca seria transposto. Nesse momento, em sua dolorosa angústia e perplexidade, o Senhor suscitou-lhe amigos. Ele não a deixou sozinha; mas concedeu-lhe Sua força e você pôde dizer: "Eis que Deus é o meu ajudador." Salmos 54:4. T2 271 1 Em meio a todas as suas provações, nunca plenamente conhecidas dos outros, você tem tido um infalível Amigo que disse: "Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Enquanto na Terra, Ele sempre foi tocado com as misérias humanas. Embora tenha ascendido ao Pai e seja adorado pelos anjos que prontamente obedecem a Suas ordens, Seu coração que ama e compadece não sofreu qualquer mudança. Permanece em sua imutável ternura. Esse mesmo Jesus está familiarizado com todas as suas provações e não a deixou sozinha a lutar contra as tentações e o mal, para afinal ser esmagada por fardos e tristeza. Por meio de Seus anjos Ele lhe sussurra: "'Não temas, porque Eu sou contigo.' Isaías 41:10. Sou Aquele que 'vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre.' Apocalipse 1:18. Conheço as tuas tristezas; Eu mesmo as suportei. Estou familiarizado com as suas lutas; também as experimentei. Conheço-lhe as tentações; já as enfrentei. Tenho visto as suas lágrimas; Eu também chorei. Suas esperanças terrenas estão desfeitas, mas erga os olhos da fé, penetre o véu e ali ancore suas esperanças. A eterna segurança será sua, pois você tem um 'Amigo mais chegado do que um irmão'." Provérbios 18:24. T2 271 2 Ó minha querida irmã, se tão-somente você pudesse ver, como eu tenho visto, os caminhos e obras de Deus manifestadas em meio a perplexidades e provações da primeira fase de sua experiência, quando oprimida pela mão da pobreza, você nunca O esqueceria, mas cresceria em amor e zelo para promover-Lhe incansavelmente a glória. T2 271 3 Como resultado de suas aflições e provas particulares, sua saúde declinou. Os amigos da causa de Deus foram poucos e muitos deles eram pobres, e você não via senão pouca esperança em todos os lados. Olhou para seus filhos e sua desajudada condição, então seu coração quase desfaleceu. Nesse tempo, através da influência de adventistas que se haviam unido aos shakers, e em quem você tinha confiança porque eles haviam sido seus amigos em tempos de necessidade, a irmã foi persuadida a unir-se a eles por um tempo. Mas os anjos de Deus não a deixaram. Ministravam-lhe e foram como um "muro de fogo em" seu "redor". Zacarias 2:5. Protegeram-na especialmente das enganadoras influências que prevaleciam entre esse povo. Os shakers criam que você uniria seus interesses aos deles, e pensavam que se pudessem induzi-la a isso, você seria de grande ajuda à sua causa, pois se tornaria um membro devoto daquela sociedade. Eles lhe teriam dado uma alta posição na comunidade. Alguns dos shakers recebiam manifestações espirituais, dizendo-lhes que você fora designada por Deus para ser um membro preeminente de sua sociedade, mas que não deveria ser pressionada; que a bondade teria poderosa influência, onde força ou pressão resultaria em fracasso de suas esperanças. T2 272 1 O magnetismo era praticado entre eles de maneira poderosa. Por tal meio eles se gloriavam que a convenceriam a ver as coisas do mesmo ponto de vista deles. Você não estava informada acerca de todas as artimanhas e enganos por eles usados para cumprir seu propósito. O Senhor a preservou. Parecia haver um círculo de luz a seu redor, procedente dos anjos ministradores, de forma que as trevas que lhe estavam ao redor não obscureciam o círculo de luz. O Senhor abriu-lhe o caminho para deixar essa enganosa comunidade e você saiu intacta, tendo os princípios de sua fé tão puros como quando foi para o meio deles. T2 272 2 Seu braço enfermo causou-lhe grande aflição. Você procurou ajuda de todos os lados. Permitiu que certa mulher experimentasse suas propagadas habilidades em você. Ela era uma agente especial de Satanás. No decorrer de seus experimentos, ela quase lhe tirou a vida. O veneno introduzido em seu organismo era suficiente para matar uma pessoa de constituição mais robusta. Aqui, novamente, Deus Se interpôs, do contrário sua vida teria sido sacrificada. T2 273 1 Falharam todos os recursos de que você se valeu para a recuperação da saúde. Não apenas o braço, mas todo o seu organismo estava doente. Seus pulmões foram afetados e você estava rapidamente indo para a morte. Nessa ocasião sentiu que apenas Deus poderia libertá-la. Uma coisa mais você poderia fazer; seguir a orientação do apóstolo Tiago dada no quinto capítulo de sua epístola. Fez, então, um concerto com Deus, de que se Ele lhe poupasse a vida para cuidar das necessidades de seus filhos, você seria do Senhor e a Ele somente serviria; dedicaria a vida à glória de Deus e as forças ao progresso de Sua causa, e a fazer o bem na Terra. Os anjos registraram a promessa então feita a Deus. T2 273 2 Nós a visitamos em sua grande aflição e reivindicamos a promessa de Deus em seu favor. Não ousamos olhar às aparências, pois se assim fizéssemos seríamos como Pedro, a quem o Senhor convidou a caminhar sobre as águas. Ele deveria ter conservado os olhos fixos em Jesus, mas olhou para baixo, às turbulentas águas, e sua fé desfaleceu. Calma e firmemente nos apegamos às promessas de Deus, a despeito das aparências, e pela fé reivindicamos a bênção. Foi-me especialmente mostrado que você seria poupada por um milagre da graça, para ser um monumento vivo de Seu poder curador e testificar de Suas maravilhosas obras com os filhos dos homens. T2 273 3 Então você sentiu uma decidida transformação; seu cativeiro foi virado; felicidade e alegria, em lugar de dúvida e tristeza, encheram-lhe o coração. O louvor a Deus estava em seu coração e em seus lábios. "Ó, 'que coisas Deus tem feito!'" (Números 23:23), era o sentimento de seu coração. O Senhor ouviu as orações de Seus servos e a pôs de pé para ainda viver, suportar provas, vigiar, esperar por Sua vinda e glorificar-Lhe o nome. Pobreza e cuidados a pressionavam duramente. Às vezes, nuvens escuras a circundavam e você não podia evitar perguntar: "Ó Deus, terás Tu me abandonado?" Mas você não foi abandonada, embora não pudesse ver nenhum caminho aberto diante de si. O Senhor queria que você confiasse em Seu amor e misericórdia em meio às nuvens e escuridão, bem como na luz. Por vezes as nuvens se dissipavam e raios de luz brilhavam para fortalecê-la e aumentar sua inconstante confiança. Então você novamente firmava sua vacilante fé nas seguras promessas do Pai celestial. E clamava: "Ó Deus, eu crerei; eu confiarei em Ti. Tu tens sido meu ajudador e não me abandonarás agora." T2 274 1 Como obteve vitória e a luz novamente brilhou, você não podia achar palavras para expressar sua sincera gratidão ao gracioso Pai celestial, e pensava em nunca mais duvidar de Seu amor e cuidados. Não buscou comodidades, não consideraria árduo o trabalho e pesada a carga, se tão-somente o caminho fosse aberto para cuidar de seus filhos e protegê-los da iniqüidade prevalecente no mundo. Era sua preocupação vê-los volvendo-se ao Senhor. Você suplicava a Deus por seus filhos com forte clamor e lágrimas. Desejava muito a sua conversão. Algumas vezes o coração desanimava e desfalecia, e você temia que suas orações não fossem respondidas. Então, novamente consagrava seus filhos a Deus e seu ansioso coração os punha sobre o altar. T2 275 1 Quando foram servir o exército, suas orações os seguiam. Eles foram maravilhosamente preservados do mal. Consideraram isso boa sorte, mas as orações maternas procedentes de uma mente ansiosa e sobrecarregada, porque sentia o perigo deles serem mortos sem esperança em Deus, ainda em sua juventude, teve muito que ver com seu livramento. Quantas orações foram apresentadas aos Céus a fim de que esses filhos pudessem ser guardados para obedecer a Deus e dedicar-Lhe a vida. Em sua ansiedade por eles, você lutou com Deus para trazê-los de volta, desejando mais firmemente conduzi-los no caminho da santidade. Você pensava que trabalharia mais fielmente do que jamais fizera. T2 275 2 O Senhor permitiu que fosse educada na adversidade e aflição, para que pudesse obter uma experiência que seria útil tanto a você como aos outros. Nos dias de pobreza e tribulação, você amava ao Senhor e apreciava os privilégios espirituais. A proximidade da vinda de Cristo era a sua consolação, uma viva esperança de que brevemente encontraria descanso do trabalho e o fim de todas as tribulações; quando descobriria que não havia trabalhado nem sofrido tanto, pois o apóstolo Paulo declara: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente." 2 Coríntios 4:17. T2 275 3 Encontrar-se com o povo de Deus pareceu-lhe quase como visitar o Céu. Obstáculos não a detiveram. Você poderia sofrer cansaço e fome de alimento temporal, mas não ser desprovida do alimento espiritual. Buscou sinceramente a graça de Deus e não o fez em vão. Comunhão com o povo de Deus foi a riquíssima bênção que pôde gozar. T2 275 4 Na experiência cristã, sua mente aborreceu a vaidade, o orgulho e a exibição extravagante. Quando testemunhou o dispêndio de recursos por professos cristãos para exibir e promover o orgulho, seu coração e lábios declararam: "Oh, se eu tivesse os recursos possuídos por aqueles que são infiéis em sua mordomia, sentiria ser um dos grandes privilégios ajudar os necessitados, e colaborar com o progresso da causa de Deus!" T2 276 1 Com freqüência sentiu a presença de Deus enquanto buscava com seu modo simples instruir outros acerca da verdade para estes últimos dias. Experimentou a verdade por si mesma. Você sabia que não era uma ficção o que havia visto, ouvido, vivido e testificado. Deleitava-se em apresentar a outros, em conversa particular, o maravilhoso modo como Deus conduz Seu povo. Relatava Seu procedimento com tal segurança que produzia convicção no coração dos ouvintes. Falava como se tivesse um conhecimento das coisas que afirmava. Ao pregar a outros com respeito à verdade presente, você ansiava por grandes oportunidades e maior influência, para que pudesse levar ao conhecimento daqueles que estavam em escuridão, a mesma luz que iluminara seu caminho. Às vezes você olhava para sua pobreza, limitada influência e seus melhores esforços freqüentemente mal interpretados por professos amigos da causa da verdade, e ficava quase desanimada. T2 276 2 Algumas vezes em seu estado de insegurança você errou no julgamento, e houve os que deveriam ter possuído aquela caridade que "não suspeita mal" (1 Coríntios 13:5), que observaram, julgaram mal e exageraram os erros que pensaram ter visto em você. Mas o amor e a terna piedade de Jesus não lhe foram retirados, e constituíram-se seu apoio em meio às aflições e perseguições. O reino do Céu e a justiça de Cristo lhe foram fundamentais. Sua vida foi prejudicada pelas imperfeições, porque é humano errar, mas, daquilo que o Senhor Se agradou em mostrar-me acerca das desanimadoras circunstâncias nos dias de pobreza e tribulações, sei que ninguém teria seguido uma conduta mais livre de erros do que você, se tivesse passado pela mesma situação constrangedora. É fácil para aqueles que são poupados das severas lutas às quais outros estão sujeitos, olhar e questionar, suspeitar mal e descobrir faltas. Alguns são mais prontos a censurar outros por seguirem certa conduta, do que a assumir a responsabilidade de dizer o que deveria ser feito, ou apontar um caminho mais correto. T2 277 1 Você ficou confusa. Não sabia em quem confiar. Houve uns poucos guardadores do sábado em _____ e adjacências, que exerceram uma influência salvadora. Alguns que professavam fé não honraram a causa da verdade presente. Não ajuntavam com Cristo, mas espalhavam. Podiam falar alto e longamente, contudo, seu coração não estava na obra. Não estavam santificados pela verdade que professavam. Esses, não possuindo raízes em si mesmos, desistiram da fé. Se houvessem feito isso no início, teria sido bem melhor para a causa da verdade. Como resultado dessas coisas, Satanás tirou proveito de você e preparou-lhe o caminho para a apostasia. T2 277 2 Minha atenção foi chamada para seu desejo de possuir recursos. Em seu coração estava este sentimento: "Oh! se tão-somente eu tivesse meios, não os havia de empregar mal! Daria um exemplo aos que são mesquinhos e avarentos. Havia de mostrar-lhes a grande bênção que se recebe em fazer o bem." Sua mente aborrecia a cobiça. Quando via os que possuíam abundância dos bens deste mundo cerrarem o coração ao clamor dos necessitados, dizia: "Deus os visitará; Ele os recompensará segundo as suas obras." Ao ver os ricos andarem orgulhosamente, o coração cingido de egoísmo como de cinta de ferro, sentia que eles eram mais pobres do que você, embora estivesse em necessidade e sofrimento. Quando via esses homens orgulhosos de sua bolsa, altivos porque o dinheiro tem poder, sentia compaixão deles, e de modo algum teria sido induzida a trocar de lugar com eles. Todavia você desejava recursos para empregá-los de tal modo que fosse uma repreensão à avareza. T2 278 1 Disse o Senhor a Seu anjo que havia até então ministrado à irmã: "Tenho-a provado na pobreza e aflição, e ela não se separou de Mim, nem se rebelou contra Mim. Prová-la-ei agora com prosperidade. Revelar-lhe-ei uma página do coração humano com a qual ela não está familiarizada. Mostrar-lhe-ei que o dinheiro é o mais perigoso inimigo que ela já encontrou. Revelar-lhe-ei o engano das riquezas; que elas são um laço, mesmo para os que se julgam seguros contra o egoísmo e imunes contra a exaltação, a extravagância, o orgulho e o amor do louvor dos homens." T2 278 2 Foi-me mostrado então que se abrira diante de você um caminho para melhorar suas condições de vida e, com o tempo, obter os recursos que julgava haveria de usar com sabedoria, e para glória de Deus. Quão ansiosamente seu anjo ministrador observava a nova prova para ver como lhe havia de resistir! Ao lhe chegarem os meios às mãos, eu a vi gradual e quase imperceptivelmente se separando de Deus. Os recursos a você confiados eram gastos para benefício próprio, para rodeá-la das boas coisas desta vida. Vi os anjos contemplando-a com piedosa tristeza, o rosto meio desviado, indispostos a deixá-la. A presença deles, porém, não era percebida, e você se conduzia sem dar atenção ao seu anjo da guarda. T2 278 3 Os negócios e cuidados de sua nova posição exigiam tempo e atenção, e seu dever para com Deus não era considerado. Jesus a comprou com o próprio sangue. Você não pertence a si mesma. Seu tempo, energias e meios pertencem todos ao Redentor. Ele tem sido seu Amigo constante, sua força e apoio quando outros amigos se provaram como cana quebrada. Você retribuiu com ingratidão o amor e a bondade de Deus. T2 279 1 Sua única segurança estava na implícita confiança em Cristo, seu Salvador. Longe da cruz não há nenhuma segurança para você. Quão fraca é a força humana nessas ocasiões. Oh, evidentemente não existe nenhum poder real senão aquele que Cristo dá aos que confiam nEle! Um pedido feito com fé a Deus tem mais poder do que a riqueza do intelecto humano. T2 279 2 Em sua prosperidade, você não cumpriu as resoluções tomadas na adversidade. O engano das riquezas, desviou-a de seus propósitos. Aumentaram-se-lhe os cuidados. Sua influência ampliou-se. Ao apreciarem os aflitos o alívio a seus sofrimentos, glorificavam-na, e você aprendeu a amar o louvor vindo dos lábios de pobres mortais. Encontrava-se em uma cidade popular, e julgou necessário, para o êxito de seus negócios, bem como para manter sua influência, que seu ambiente estivesse de algum modo em harmonia com suas ocupações. Mas você levou as coisas demasiado longe. Foi muito influenciada pelas opiniões e julgamento dos outros. E gastou dinheiro desnecessariamente, só para satisfazer "a concupiscência dos olhos e a soberba da vida". 1 João 2:16. Esqueceu que estava manejando o dinheiro de seu Senhor. Gastando recursos, unicamente de modo a fomentar a vaidade, você não considerou que o anjo relator estava fazendo um registro do qual havia de se envergonhar quando se deparasse novamente com ele. Disse o anjo, apontando-a: "Você glorificou a si mesma, mas não engrandeceu a Deus." Chegou mesmo a gloriar-se em poder comprar tais coisas. T2 279 3 Grande soma tem sido despendida em coisas desnecessárias, que apenas objetivam a ostentação e o orgulho que lhe causarão remorso e vergonha. Se tivesse em mente os reclamos que o Céu tem sobre você, e houvesse feito uma justa distribuição dos recursos confiados aos seus cuidados, ajudando os necessitados e fazendo avançar a causa da verdade presente, teria juntado tesouros no Céu e se tornado rica para com Deus. Considere quanto dinheiro você tem investido onde ninguém tem sido realmente beneficiado, alimentado ou vestido, nem ajudado a ver os erros de seus caminhos, para que possa buscar a Cristo e viver. T2 280 1 Você tem feito grandes inversões em empreendimentos incertos. Satanás cegou-lhe os olhos para não ver que essas empresas não lhe trarão nenhum retorno. Os negócios da vida eterna não lhe despertam interesse. Nesses poderia investir recursos sem correr riscos ou sofrer desapontamentos e, no fim, receberia vultosos lucros. Você poderia investir no infalível banco celestial, onde nenhum ladrão rouba nem a ferrugem corrói. Mateus 6:20. Tal aplicação é eterna e muito mais preciosa do que empreendimentos terrenos, "assim como os céus são mais altos do que a terra". Isaías 55:9. T2 280 2 Seus filhos não são discípulos de Cristo. São amigos do mundo, e em seu coração natural desejam ser como os mundanos. A concupiscência dos olhos e a soberba da vida os controlam e a têm influenciado em certa medida. Você tem procurado mais diligentemente contentar e satisfazer a seus filhos do que agradar e glorificar a Deus. Esquece-se dos reclamos de Deus sobre você e as necessidades de Sua causa. O egoísmo a levou a gastar dinheiro em ornamentos para satisfazer a si mesma e aos filhos. Não pensou que esse dinheiro não é seu; que unicamente lhe foi emprestado para testá-la e prová-la, para ver se evitaria os males que observou em outros. Deus a fez administradora de Seus bens, e quando Ele vier para acertar contas com Seus servos, que relatório apresentará de sua mordomia? T2 280 3 Sua fé e simples confiança em Deus começou a desaparecer assim que os recursos começaram a fluir. Não se apartou de Deus repentinamente. Sua apostasia foi gradual. Deixou a devoção matinal e vespertina, porque nem sempre era conveniente. A esposa de seu filho causou-lhe provações de caráter peculiar e ofensivo, que tiveram sobre você considerável influência em desanimá-la de continuar com as devoções de família. Sua casa ficou destituída de orações. Seus negócios ficaram em primeiro lugar; e o Senhor e Sua verdade tornaram-se secundários. Volva o olhar aos dias de sua primeira experiência cristã; teriam então essas provações levado você a afastar-se do culto de família? T2 281 1 Nisto, na negligência da oração particular, você perdeu em sua casa uma influência que poderia haver conservado. Era seu dever reconhecer a Deus na família, a despeito das conseqüências. Suas petições deveriam ter sido feitas a Deus pela manhã e ao entardecer. Devia ter sido como sacerdotisa de sua família, confessando seus pecados e os de seus filhos. Houvesse sido fiel, e Deus, que fora seu guia, não a teria abandonado a seu próprio entendimento. T2 281 2 Gastaram-se desnecessariamente recursos para ostentação. A irmã se entristecera profundamente por causa deste pecado em outros. E enquanto assim empregava os recursos, estava roubando a Deus. Então o Senhor disse: "Eu espalharei. Permitirei que por algum tempo ela ande em seus próprios caminhos. Cegarei o discernimento, e removerei a sabedoria. Mostrar-lhe-ei que sua força é fraqueza, e sua sabedoria loucura. Humilhá-la-ei, e abrir-lhe-ei os olhos para ver quão longe se afastou de Mim. Se então ela não voltar para Mim de todo o coração, e Me reconhecer em todos os seus caminhos, Minha mão espalhará, e o orgulho da mãe e dos filhos será abatido, e terão novamente por sorte a pobreza. Meu nome será exaltado. 'A arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada.'" Isaías 2:17. T2 281 3 A visão que mencionei me foi dada em 25 de Dezembro de 1865, na cidade de Rochester, Nova Iorque. Em Junho passado vi que o Senhor estava tratando você com amor, que a convidava a retornar a Ele para que pudesse viver. Vi ainda que por muitos anos você percebia que estava em apostasia. Se você tivesse se consagrado a Deus, poderia ter feito uma boa e grande obra, deixando sua luz brilhar sobre outros. A todos é dada uma obra a fazer pelo Mestre. A cada um de Seus servos são concedidos dons especiais ou talentos. "A um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade." Mateus 25:15. Cada servo tem algum legado pelo qual é responsável, e os vários legados são proporcionais a nossas várias habilidades. Dispensando Seus dons, Deus não agiu com parcialidade. Ele distribuiu os talentos de acordo com as aptidões conhecidas de Seus servos, e espera retorno correspondente. T2 282 1 Em sua experiência anterior, o Senhor lhe comunicou talentos de influência, mas não lhe deu o talento de recursos, e portanto, não esperava que você, em sua pobreza, doasse aquilo que não tinha. Como a viúva, você deu aquilo que podia, se bem que, houvesse considerado as próprias circunstâncias, ter-se-ia sentido dispensada de fazer mesmo o que fez. Em sua doença, Deus não exigiu de você aquela ativa energia de que a enfermidade a tinha privado. Embora ficasse limitada em sua influência e em seus recursos, Deus aceitou seus esforços para fazer o bem e promover Sua causa segundo o que possuía, e não segundo o que não tinha. O Senhor não despreza a mais humilde oferta dada com prontidão e sinceridade. T2 282 2 Você possui um temperamento ardente. O zelo em uma boa causa é digno de louvor. Em suas primeiras provas e perplexidades, estava obtendo uma experiência que seria proveitosa a outros. Era zelosa no serviço de Deus. Aprazia-lhe apresentar as evidências de nossa fé aos que não criam na verdade presente. Podia falar com firmeza; pois essas coisas lhe eram uma realidade. A verdade era uma parte de seu ser; e os que lhe ouviam os fervorosos apelos não tinham dúvida de sua sinceridade, mas ficavam convencidos de que essas coisas eram assim. T2 283 1 Na providência de Deus, sua influência tem-se ampliado; em acréscimo a isto, Deus achou por bem prová-la dando-lhe talentos de recursos. Encontra-se assim sob dupla responsabilidade. Quando sua condição na vida começou a melhorar, você disse: "Assim que eu possa ter um lar, farei então donativo à causa de Deus." Mas quando teve um lar, viu tanta coisa a melhorar para ter ao seu redor tudo conveniente e aprazível, que se esqueceu do Senhor e de Seus direitos sobre você, e tornou-se menos inclinada a ajudar na causa de Deus do que nos dias de sua pobreza e aflição. T2 283 2 Você buscava então amizade com o mundo, e se separava mais e mais de Deus. Esqueceu a exortação de Cristo: "Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. "Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia." 1 Coríntios 10:12. T2 283 3 Há três lemas na vida cristã, os quais precisam ser atendidos, se não queremos que Satanás venha furtivamente sobre nós; ei-los: Vigiar, orar e trabalhar. Para o progresso na vida religiosa é necessário orar e vigiar. Nunca houve em sua história tempo mais importante que o atual. Sua única segurança é viver como um vigia. Vigie e ore sempre. Oh! que preventivo contra a tentação, contra o cair nas armadilhas do mundo! Quão zelosamente deveria você haver trabalhado nos últimos anos, quando sua influência era ampla! T2 283 4 Prezada irmã, o louvor dos homens e a lisonja corrente no mundo têm tido sobre você maior influência do que tem percebido. Não tem desenvolvido seus talentos -- dando-os aos banqueiros. Você é naturalmente amigável e generosa. Estes traços de caráter têm sido cultivados até certo ponto, mas não tanto quanto Deus requer. Possuir meramente estes excelentes dons não basta; Deus requer que eles se mantenham em constante exercício; pois por meio deles Ele beneficia os que necessitam de auxílio, e leva avante Sua obra para salvação do ser humano. T2 284 1 O Senhor não depende de pessoas avarentas para cuidar dos pobres e nem sustentar Sua causa. Tais pessoas possuem mente estreita. Dão de má vontade um donativo pequeníssimo aos necessitados em suas aflições. Desejariam também que a causa se limitasse a suas acanhadas idéias. Ajuntar recursos é a idéia prevalecente entre eles. Seu dinheiro é-lhes muito mais valioso do que as pessoas por quem Cristo morreu. A vida de tais pessoas, como considerada por Deus e pelo Céu, é nula. Deus não lhes confiará Sua importante obra. T2 284 2 "Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do Senhor; duramente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos." Juízes 5:23. O que fez Meroz? Nada. Esse foi o seu pecado. A maldição divina veio sobre eles porque nada haviam feito. O homem com mente egoísta e estreita é responsável por sua mesquinhez, mas aqueles que têm sentimentos benevolentes, generosos impulsos e amor pelas pessoas, arcam com pesadas responsabilidades, pois se permitirem que esses talentos fiquem inativos e se desvalorizem, são tidos como servos infiéis. A mera posse desses dons não é suficiente. Aqueles que os possuem precisam compreender que suas obrigações e responsabilidades são crescentes. T2 284 3 O Mestre requererá que cada um de Seus servos preste contas de sua mordomia, para mostrar o que conseguiu ganhar com os talentos a ele confiados. Aqueles que forem recompensados, não atribuirão nenhum mérito a si mesmos por sua diligente administração, mas darão toda glória a Deus. Falam do que lhes foi entregue como "o que é Teu" (Mateus 25:25), e não o que é deles. E quando falam acerca de seus lucros, são cuidadosos em especificar de onde procedem. O capital foi antecipado pelo Mestre. Eles o negociaram com sucesso, e retornaram o principal mais os juros ao Doador. Ele recompensa seus esforços como se o mérito lhes pertencesse, quando devem tudo à graça e misericórdia do generoso Doador. Suas palavras de total aprovação caem em seus ouvidos: "Bem está, bom e fiel servo, foste fiel sobre o pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:23. T2 285 1 A você, minha irmã, são confiados talentos de influência e talentos de dinheiro; e grande é sua responsabilidade. Deve agir com cautela, e no temor de Deus. Sua sabedoria é fraqueza, mas a sabedoria do alto é força. O Senhor pretende iluminar-lhe as trevas, e dar-lhe novamente um vislumbre do tesouro celeste, para que possa ter certa compreensão do valor comparativo de ambos os mundos, e então deixá-la escolher entre este mundo e a herança eterna. Vi que ainda há oportunidade de voltar ao rebanho. Jesus a remiu pelo próprio sangue, e requer que empregue seus talentos em Seu serviço. Você não ficou endurecida à influência do Espírito Santo. Ao ser apresentada, a verdade de Deus encontra eco em seu coração. T2 285 2 Vi que você deve estudar todo procedimento. Nada deve fazer precipitadamente. Deixe que Deus seja seu conselheiro. Ele ama seus filhos e é justo que você os ame, mas não é certo dar-lhes o lugar que Deus reivindica como Seu em suas afeições. Eles têm bondosos impulsos, generosos propósitos e nobres traços de caráter. Se apenas percebessem sua necessidade de um Salvador e se curvassem aos pés da cruz, poderiam exercer uma influência para o bem. Eles amam agora mais os prazeres do que a Deus. Ainda permanecem nas fileiras do inimigo, sob a negra bandeira de Satanás. Jesus os convida a virem a Ele, a deixar o exército inimigo e permanecer sob a bandeira ensangüentada da cruz de Cristo. T2 286 1 Isso lhes parecerá como uma obra que não podem realizar, pois requer muita abnegação. Eles não possuem conhecimento experimental do caminho. Aqueles que se alistaram numa guerra por seu país e se sujeitam às dificuldades, labutas e perigos da vida de um soldado, devem ser os últimos a hesitar e mostrar covardia na grande luta pela vida eterna. Neste caso estarão lutando pela coroa da vida e uma herança imortal. Sua recompensa é certa e quando a guerra terminar, o galardão será a vida eterna, felicidade genuína e "peso eterno de glória". 2 Coríntios 4:17. T2 286 2 Satanás se oporá a cada esforço que fizerem. Apresentar-lhes-á o mundo sob a luz mais atrativa, como o fez com o Salvador do mundo quando O tentou por quarenta dias no deserto. Cristo venceu todas as tentações de Satanás e assim seus filhos podem fazer. Eles estão servindo a um mestre cruel. "O salário do pecado é a morte." Romanos 6:23. Eles não podem permitir-se pecar. Descobrirão que esse é um negócio dispendioso. Sofrerão, afinal, perda eterna. Perderão as mansões que Cristo foi preparar para aqueles que O amam, e perderão a vida que se mede pela vida de Deus. E isso não é tudo. Deverão sofrer a ira de um Deus ofendido, pois retiveram dEle o seu serviço e dedicaram seus esforços a Seu pior inimigo. Seus filhos ainda não tiveram uma luz clara, e a condenação apenas seguir-se-á à rejeição da luz. T2 286 3 Se todos os professos cristãos fossem sinceros e zelosos em seus esforços de promover a glória de Deus, que confusão se faria nas fileiras do inimigo. Satanás é diligente e sincero em sua obra. Ele não quer que pessoas sejam salvas. Não pretende que seu poder sobre elas seja rompido. Satanás não meramente pretende. Ele é diligente. Observa Cristo convidando as pessoas a virem a Ele para terem vida, e empreende cuidadosos e diligentes esforços para evitar que aceitem esse convite. Ele empenhará todos os recursos para evitar que abandonem suas fileiras e se posicionem nas fileiras de Cristo. Por que os professos seguidores de Cristo não podem fazer por Ele, tanto quanto Seus inimigos fazem contra Ele? Por que não fazem tudo o que podem? Satanás faz tudo quanto está ao seu alcance para afastar as pessoas de Cristo. Ele foi um honrado anjo no Céu, e embora tenha perdido sua santidade, não perdeu o poder. Ele o exerce com terríveis resultados. Não espera que sua presa venha até ele. Ele a persegue. Percorre a Terra de um lado para o outro, "como leão que ruge procurando alguém para devorar". 1 Pedro 5:8. Nem sempre se apresenta como um feroz leão, mas quando serve a seus propósitos "se transforma em anjo de luz". 2 Coríntios 11:14. Prontamente pode substituir o rugido do leão pelos mais persuasivos argumentos ou por suave murmúrio. Tem legiões de anjos para auxiliá-lo em sua obra. Oculta freqüentemente suas armadilhas e atrai com agradáveis enganos. Ele encanta e ilude a muitos, lisonjeando sua vaidade. Através de seus agentes ele apresenta os prazeres do mundo sob uma luz atraente e ornamenta o caminho do inferno com sedutoras flores. Assim as pessoas são enfeitiçadas e arruinadas. Após cada passo no caminho descendente, Satanás tem algumas tentações especiais para conduzi-las ainda mais além no caminho do erro. T2 287 1 Caso seus filhos fossem controlados por princípios religiosos, seriam fortalecidos contra o vício e a corrupção que os cerca nesta época degenerada. Deus lhes será uma torre forte, se nEle puserem sua confiança. "Que se apodere da Minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. O Senhor será o seu guia na juventude, se nEle crerem e confiarem. T2 288 1 Prezada irmã, o Senhor tem sido muito misericordioso para com você e sua família. Têm obrigação para com seu Pai celestial de louvar e glorificar Seu santo nome na Terra. A fim de permanecer em Seu amor, você deve trabalhar sempre para obter humildade de mente, e aquele "espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. Sua força em Deus crescerá à medida que tudo Lhe consagrar, de maneira que possa dizer com confiança: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?" "Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." Romanos 8:35, 38, 39. ------------------------Capítulo 40 -- Jovens que enganam a si mesmos T2 288 2 Irmão O: T2 288 3 Foram-me mostrados em visão os perigos dos jovens. Seu caso me foi apresentado. Vi que você não adornou sua profissão de fé. Poderia ter feito o bem, e seu exemplo ter sido uma bênção aos jovens com quem se associa; mas, ai! no íntimo você não se converteu a Deus. Se porventura tivesse seguido a conduta de um verdadeiro cristão, seus parentes e amigos teriam sido influenciados por seu piedoso procedimento a seguirem seus passos. Meu irmão, seu coração não é reto para com Deus; seus pensamentos não são elevados e você permite que a mente tome o caminho errado. Sua moralidade não possui tono puro e elevado. Seus hábitos têm sido tais que prejudicam sua saúde física e fazem morrer a espiritualidade. Você não pode prosperar nas coisas espirituais a menos que se converta. T2 289 1 Quando compreender a transformadora influência do poder de Deus em seu coração, isso será visto em sua vida. Falta-lhe experiência religiosa, mas não é muito tarde para buscar a Deus com fervor e clamores sinceros. "Que farei para ser salvo?" Nunca poderá ser um cristão verdadeiro até estar totalmente convertido. Você tem sido mais amigo "dos prazeres que" amigo "de Deus". 2 Timóteo 3:4. Tem ido atrás dos prazeres; mas tem encontrado satisfação verdadeira nessa conduta? Você tem procurado tornar-se agradável às jovens inexperientes. Pensa tanto nelas que não pode concentrar-se nas coisas de Deus e do Céu. "Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração." Tiago 4:8. Essa exortação lhe é aplicável. Você necessita aprender os caminhos, a vontade e as obras de Deus. Precisa de uma "religião pura e imaculada" (Tiago 1:27); precisa cultivar sentimentos de devoção. Cesse "de fazer o mal" e aprenda "a fazer o bem". Isaías 1:16, 17. A bênção de Deus não pode repousar sobre você até que se torne mais semelhante a Cristo. T2 289 2 Estou penalizada em ver a falta de piedade entre os jovens. Satanás toma-lhes a mente e a dirige por caminho corrupto. Muitos jovens enganam a si mesmos. Pensam que são cristãos, mas nunca foram convertidos. Até que essa obra seja feita neles, não compreenderão o mistério da piedade. Não há paz para os ímpios. Deus requer um coração verdadeiro e sincero. Ele o observa e tem piedade de você e de todos os jovens que avidamente buscam divertimentos frívolos e desperdiçam o curto e precioso tempo em coisas sem valor. Cristo o comprou por elevado preço e lhe oferece graça e glória se você as aceitar; mas você se afasta das preciosas promessas da vida eterna, para os medíocres e insatisfatórios prazeres da Terra. T2 289 3 Seu esforço nesse rumo não trará qualquer proveito, mas grande perda. "O salário do pecado é a morte." Romanos 6:23. A vida e o Céu estão perante o irmão, mas você parece não saber o seu valor. Não medita sobre as preciosas coisas celestiais. Se o incalculável amor de Cristo for desprezado; se o Céu, a glória e a vida eterna forem considerados de pouco valor, que motivação podemos apresentar para mudança? Que incentivo para cativar? Poderão diversões frívolas e prazeres incitantes atrair a mente, separar de Deus e insensibilizar o coração ao Seu temor? T2 290 1 Oh, eu rogo a você que tem tão pouco interesse nas coisas sagradas, que examine cuidadosamente o próprio coração. Que desculpa você apresentará diante de Deus por sua vida mundana, não consagrada? Naquele terrível dia não haverá desculpas a dar. Você emudecerá. Pense, sim, pense, em suas horas de busca de prazer, que todas essas coisas terão fim. Tivesse você uma correta visão da vida sem fim com Deus, e rapidamente se afastaria dessa vida de prazer e pecado. Quão depressa mudaria sua mente, conduta e companhia, e dirigiria a força de sua afeição a Deus e às coisas celestiais. Quão resolutamente desprezaria o fato de ter-se submetido às tentações que o enganaram e cativaram. Quão zelosos seriam seus esforços pela bendita vida; quão sinceras e perseverantes seriam suas orações a Deus para que Sua graça habitasse em você, por Seu poder para sustê-lo e ajudá-lo a resistir ao diabo. Quão diligente seria em utilizar-se de cada privilégio religioso e aprender os caminhos e a vontade de Deus. Quão cuidadoso seria em meditar sobre a lei divina e comparar a própria vida com seus reclamos. Quão temeroso estaria, receando pecar por palavras e atos, e quão sinceramente cresceria em graça e verdadeira santidade. Sua conversação não trataria de coisas fúteis, mas do Céu. Então as coisas eternas e gloriosas ser-lhe-iam abertas, e você não descansaria até crescer mais e mais em espiritualidade. As coisas terrenas, porém, exigem sua atenção e Deus é esquecido. Rogo-lhe que dê meia-volta e busque a Deus; invoque-O "enquanto está perto". Isaías 55:6. ------------------------Capítulo 41 -- A verdadeira conversão T2 291 1 Prezado irmão P: T2 291 2 Enquanto em _____, um ano atrás, trabalhamos em seu favor. Foram-me mostrados seus perigos, e estávamos ansiosos por salvá-lo; mas vemos que você não teve forças para cumprir as resoluções ali feitas. Estou perturbada com este assunto, e temo não ter sido tão fiel como deveria em mencionar-lhe tudo o que sabia sobre seu caso. Ocultei-lhe algumas coisas. Quando em Battle Creek, em Junho, foi-me de novo mostrado que você não estava fazendo nenhum progresso, e a razão foi que não deixou pegadas limpas. Você não aprecia a religião. Afastou-se de Deus e da justiça. Você tem buscado a felicidade de maneira errada, em prazeres proibidos, e não tem coragem moral para confessar e abandonar seus pecados, para que possa encontrar misericórdia. T2 291 3 Você não vê o pecado como abominável à vista de Deus, e não pode livrar-se dele. Fracassou em fazer uma obra cabal; e quando o inimigo veio com suas tentações, você não pode resistir-lhe. Houvesse reconhecido quão ofensivo é o pecado diante de Deus, e não teria cedido prontamente à tentação. Você não é totalmente convertido para aborrecer sua vida de pecado e insensatez. O pecado, todavia, pareceu-lhe agradável e você não estava disposto a recusar seus enganosos prazeres. No íntimo não estava convertido, e logo perdeu o que havia ganho. T2 291 4 A vaidade pessoal, em seu caso, bem como no de muitos outros, tem-lhe sido um especial empecilho. Você sempre gostou de elogios. Isto lhe tem sido uma armadilha. Seus professos amigos mostram muita satisfação em sua companhia, e isso o tem agradado. Mulheres complacentes e de mente fraca o têm bajulado e se mostrado encantadas junto a você. E você sente um poder fascinador em companhia delas. Não compreendeu que, enquanto estava despendendo em busca de prazeres horas que pertencem à sua família, Satanás estava pondo armadilha para seus pés. T2 292 1 Satanás preparou tentações para cada passo de sua vida. Você não tem economizado recursos como deveria. Odeia mesquinhez. Isso tudo está certo, mas você vai ao extremo oposto e seu procedimento tem sido marcado pela prodigalidade. Cristo ensinou a Seus discípulos uma lição ao alimentar os cinco mil. Realizou um grande milagre e alimentou a vasta multidão com cinco pães e dois peixinhos. Depois de satisfazer a todos, não descuidou do que sobejara. Aquele que possuía o poder de realizar tão notável milagre e que alimentara tão grande multidão, disse a Seus discípulos: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Essa é uma lição para todos nós, a qual não deveríamos desprezar. T2 292 2 Você tem uma grande obra diante de si e não pode perder um só momento para empreendê-la. Irmão P, estou alarmada a seu respeito, mas sei que Deus ainda o ama, embora sua conduta tenha sido inconstante. Se Ele não tivesse amor especial por você, não me mostraria, como o fez, os perigos que corre. Você está envolvido em brincadeiras e divertimentos com homens e mulheres que não temem a Deus. Mulheres levianas e sem princípios o têm retido em sua companhia e você fica como um pássaro enfeitiçado. Parece fascinado por essas pessoas superficiais. Os anjos de Deus o acompanham e têm fielmente registrado cada ato errado, cada abandono do caminho da virtude. T2 292 3 Sim, cada ato, apesar de você pensar ser secreto, está evidente a Deus, a Cristo e aos santos anjos. Há um livro escrito com todos os feitos dos filhos dos homens. Nem um item desse registro pode ser encoberto. Há somente uma provisão feita para o transgressor. Arrependimento fiel, confissão de pecado e fé no sangue purificador de Cristo trarão perdão, e a palavra perdoado será escrita junto a seu nome. T2 293 1 Ó, meu irmão, se você houvesse feito obra cabal há um ano, esse precioso tempo não precisaria ter sido para você pior do que uma página em branco. Conhecia a vontade de seu Mestre, mas não a cumpriu. Você está em situação perigosa. Suas sensibilidades espirituais foram embotadas e sua consciência violada. Sua influência não ajunta, espalha. Você não tem interesse especial em atividades religiosas, e não é um homem feliz. Sua esposa teria unido seus interesses ao povo de Deus, se você saísse de seu caminho. Ela necessita de seu auxílio. Farão vocês essa obra juntos? T2 293 2 Em Junho último vi que sua única esperança de romper as cadeias da escravidão seria o afastamento de seus companheiros. Você se rendeu às tentações de Satanás até tornar-se um homem fraco. O irmão é mais amigo "dos prazeres que... de Deus" (2 Timóteo 3:4) e rapidamente percorre um caminho descendente. Fiquei desapontada por você continuar na mesma indiferença na qual tem estado por anos. Conheceu e experimentou o amor de Deus, e alegrava-se em fazer-Lhe a vontade. Deleitava-se no estudo da Palavra. Era assíduo às reuniões de oração. Seu testemunho era o de um coração que sentia as estimulantes influências do amor de Cristo. Mas você perdeu seu primeiro amor. T2 293 3 Deus agora o convida ao arrependimento, a ser zeloso em fazer a obra. Sua felicidade eterna será determinada pelo rumo que agora tomar. Pode você rejeitar os convites de misericórdia agora oferecidos? Pode escolher os próprios caminhos? Acariciará orgulho e vaidade e afinal perderá a vida eterna? A Palavra de Deus claramente nos afirma que poucos serão salvos, e que a grande maioria que foi chamada se provará indigna da vida eterna. Não têm parte no Céu, mas receberão sua recompensa com Satanás e experimentarão a segunda morte. T2 294 1 Homens e mulheres podem escapar à ruína se quiserem. É verdade que Satanás é o grande originador do pecado; contudo isso não desculpa o pecado de ninguém, porque ele não pode forçar os seres humanos a fazer o mal. Tenta-os, procurando mostrar o pecado como sendo atrativo e agradável; mas terá que deixar que a pessoa decida praticá-lo ou não. Ele não força os homens a se embriagarem nem a permanecerem ausentes das reuniões religiosas. Mas apresenta tentações de modo a fascinar para o mal. O ser humano é um agente moral livre para aceitar ou recusar. T2 294 2 A conversão é uma obra que a maioria das pessoas não aprecia. Não é coisa pequena transformar um espírito terreno, amante do pecado, e levá-lo a compreender o inexprimível amor de Cristo, os encantos de Sua graça e a excelência de Deus, de maneira que a alma seja possuída de amor divino e fique cativa dos mistérios celestes. Quando a pessoa compreende essas coisas, sua vida anterior parece desagradável e odiosa. Aborrece o pecado; e, quebrantando o coração diante de Deus, abraça a Cristo como a vida e alegria da alma. Renuncia a seus antigos prazeres. Tem mente nova, novas afeições, interesses novos e nova vontade; suas tristezas, desejos e amor são todos novos. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida até então preferidas a Cristo, são agora desviadas, e Cristo é o encanto de sua vida, a coroa de seu regozijo. O Céu, que antes não possuía nenhum atrativo, é agora considerado em sua riqueza e glória; e ela o contempla como sua futura pátria, onde verá, amará e louvará Aquele que a redimiu por Seu precioso sangue. T2 294 3 As obras de santidade, que lhe pareciam enfadonhas, são agora seu deleite. A Palavra de Deus, anteriormente tediosa e desinteressante, é agora escolhida como seu estudo, sua conselheira. É como uma carta a ela escrita por Deus, trazendo a assinatura do Eterno. Seus pensamentos, palavras e atos são comparados com esta norma e provados. Treme aos mandamentos e ameaças que essa contém, ao passo que se apega firmemente às suas promessas, e fortalece a alma aplicando-as a si mesma. Prefere agora o convívio dos mais piedosos, e os ímpios, cuja companhia antes apreciava, já não lhe causam mais deleite. Lamenta-lhes os pecados que antes a faziam rir. Renuncia ao amor-próprio e à vaidade, e vive para Deus, e é rica em boas obras. Eis a santificação requerida por Deus. Nada menos que isto aceitará Ele. T2 295 1 Rogo-lhe, meu irmão, que examine o coração diligentemente, indagando: "Em que estrada estou eu viajando, e onde findará ela?" Tem razão de regozijar-se por sua existência não ter sido ceifada enquanto não tem uma firme esperança da vida eterna. Não permita Deus que você negligencie por mais tempo esta obra, vindo assim a perecer em seus pecados. Não iluda o coração com falsas esperanças. Você não vê como firmar-se novamente, a não ser de um modo tão humilde que não pode consentir em aceitá-lo. Cristo lhe apresenta, a você mesmo, meu errante irmão, uma mensagem de misericórdia: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Deus está pronto a aceitá-lo e a perdoar todas as suas transgressões, uma vez que volte. Conquanto tenha sido um pródigo, e se tenha separado de Deus, e permanecido por tanto tempo longe dEle, Ele virá agora mesmo ao seu encontro. Sim; a Majestade do Céu o convida a ir a Seu encontro, para que tenha vida. Cristo está pronto a purificá-lo do pecado, uma vez que se apegue a Ele. Que proveito tem encontrado em servir ao pecado? Que proveito em servir à carne e ao diabo? Não é bem pobre o salário que recebe? Oh! volte, volte, pois por que razão morrerá? T2 296 1 Você tem tido muitas convicções, muitas angústias de consciência. Tem feito tantos propósitos e tantas promessas; e todavia se demora, e não quer ir a Cristo para que tenha vida. Oh! que o seu coração seja impressionado com o senso deste tempo, para que volte agora e viva! Não pode ouvir a voz do verdadeiro Pastor nesta mensagem? Como pode desobedecer? Não brinque com Deus, para que não o abandone a seus caminhos tortuosos. É uma questão de vida ou morte para você. Qual escolherá? Coisa terrível é contender com Deus, e resistir aos Seus apelos. Pode ter o amor de Deus a arder no altar de seu coração, como o sentiu outrora. Pode comungar com Deus como o fez no passado. Se reparar suas culpas passadas, pode novamente experimentar as riquezas de Sua graça, e seu semblante outra vez expressará o amor divino. T2 296 2 Não se exige de você que faça confissão aos que não sabem de seu pecado e seus erros. Não é seu dever publicar uma confissão que levará os incrédulos a triunfarem; mas àqueles a quem é devido, que não se aproveitarão de seu erro, confesse em harmonia com a Palavra de Deus, e permita que eles orem por você, e Deus aceitará o seu empenho, e o sarará. Por amor de sua alma, deixe-se vencer pelos rogos para fazer obra cabal para a eternidade. Ponha de lado seu orgulho, sua vaidade, e aja corretamente. Volte ao redil. O Pastor o aguarda. Arrependa-se, e faça as primeiras obras, e volte ao favor de Deus. ------------------------Capítulo 42 -- Deveres do marido e da esposa T2 296 3 Irmão R: T2 296 4 Em Junho último seu caso me foi apresentado em visão. Mas, por estar constantemente pressionada pelo trabalho, não me foi possível escrever o que me foi revelado com respeito a casos individuais. Desejo escrever o que devo, antes que alguém me traga informações referentes a seu caso, pois Satanás pode sugerir dúvidas em sua mente. Este é seu trabalho. T2 297 1 Foi-me mostrada sua vida passada e como Deus tem sido muito misericordioso com você, abrindo-lhe os olhos para discernir Sua verdade, resgatando-o da perigosa condição de dúvida e incerteza, estabelecendo-lhe a fé e firmando-lhe a mente nas eternas verdades de Sua Palavra. Ele fixou-lhe os pés sobre a Rocha. Por algum tempo você se sentiu grato e humilde, mas depois se separou de Deus. Quando se sentia pequeno aos próprios olhos, então era amado do Senhor. T2 297 2 A música tem lhe sido uma armadilha. Você está perturbado pela auto-estima; é-lhe natural ter idéias superiores sobre a própria habilidade. Ensinar música tem lhe sido prejudicial. Muitas mulheres lhe têm confidenciado dificuldades familiares. Isso também lhe causa dano, exalta-o e o conduz a maior apreciação por si mesmo. T2 297 3 Na própria família você tem ocupado uma posição elevada. Há deficiências em sua esposa, das quais você está ciente, e que têm produzido maus resultados. Por natureza ela não é uma dona de casa. Seu preparo nesse sentido precisa ainda ser conseguido. Ela melhorou um pouco e deveria aplicar-se diligentemente a aprimorar-se mais ainda. Falta-lhe ordem, bom gosto e asseio no serviço doméstico bem como no vestir-se. Deus Se agradaria se ela aplicasse a mente nas coisas em que é deficiente. Ela não governa bem a casa. É muito condescendente e falha em manter suas decisões. Inclina-se muito aos desejos e pedidos dos filhos, sujeitando suas opiniões às deles. Em lugar de tentar melhorar nesses pontos, como seria seu dever, contenta-se em aproveitar oportunidades e formular desculpas para subtrair-se aos cuidados e responsabilidades domésticas, permitindo que outros atendam às obrigações em sua família, as quais ela própria deve disciplinar-se para ter prazer de cumprir. Ela não pode desempenhar sua parte como esposa e mãe até que se eduque nesse sentido. Falta-lhe confiança em si mesma. Ela é tímida, retraída e desconfiada de si mesma. Sua opinião acerca do que faz é muito restrita e isso a desencoraja a efetuar mais. Ela precisa de estímulo e palavras de amor e afeição. Possui uma boa disposição, é mansa e quieta e o Senhor a ama, todavia, necessita empenhar-se mais em corrigir os males que infelicitam sua família. A prática dessas coisas dar-lhe-á confiança em sua capacidade de cumprir corretamente os deveres. T2 298 1 Você e sua esposa são opostos em sua individualidade. O irmão ama a ordem e o asseio, tem bom gosto e exerce bom governo sobre o lar. Como marido, você é um pouco inflexível e severo. Falha em tomar atitudes que encorajem confiança e familiaridade em sua esposa. As deficiências dela o têm levado a julgá-la inferior a você, e ela percebe isso. Deus tem por ela maior estima do que você, pois seus caminhos são tortuosos diante dEle. Por causa do marido e dos filhos, e por outras razões, deve ela buscar corrigir suas deficiências e melhorar onde está falhando. E o conseguirá se tentar o suficiente. T2 298 2 Deus Se desagrada com a desordem, o relaxamento e a falta de esmero em quem quer que seja. Essas deficiências são males sérios, e tendem a alienar as afeições do marido para com a mulher quando ele aprecia a ordem, filhos bem disciplinados e uma casa bem governada. A mãe e esposa não pode tornar o lar aprazível e feliz a menos que ame a ordem, mantenha sua dignidade e governe bem; portanto, todos quantos falham nesse ponto devem começar imediatamente a educar-se nessa direção, e cultivar as próprias coisas em que maior é a sua falta. A disciplina fará muito por aqueles que estão em falta nessas qualificações essenciais. A irmã R curvou-se ao peso de suas falhas e pensa não poder agir de outra maneira. Após fazer uma tentativa e falhar, não constatando nenhuma melhoria em si, ela desanima. Isso não deve ser assim. A felicidade de sua família, e a sua, depende da conscientização e trabalho zeloso para fazer decididas reformas. Ela precisa exercer confiança e tomar decisões; precisa assumir sua função de mulher. Sua natureza é recuar ante algo ainda não experimentado. Ninguém deveria estar mais pronto e disposto do que ela para enfrentar o problema, onde pensa poder ser bem-sucedida. Caso fracasse em seu novo esforço, deve tentar, tentar novamente. Ela pode conseguir o respeito do marido e dos filhos. T2 299 1 Foi-me revelado que a exaltação própria tem causado tropeços ao irmão R. Ele manifesta certa dignidade, com traços de severidade, em sua família e com sua esposa. Isto a tem afastado dele. Ela sente que não pode se aproximar dele, e tem agido em sua vida conjugal mais como uma criança que teme a um pai rigoroso e severo, do que como esposa. Ela ama, respeita e idolatra o marido, apesar dele deixar de encorajar-lhe confiança. Meu irmão, você deve adotar medidas para estimular sua tímida e reservada esposa a apoiar-se em sua grande afeição por ela. Isto lhe daria uma chance de, por meio de maneiras delicadas e afeiçoadas, corrigir os erros dela tanto quanto você é capaz de fazer, e inspirá-la a confiar em si mesma. T2 299 2 Vi que não possui por sua esposa o amor que deveria. Satanás tem tirado vantagem de seus erros e dos defeitos dela, para destruir sua família. Você sentiu vergonha de que sua esposa lhe penetrasse o coração, e seu respeito por aquela a quem você votou amar e proteger até que a morte os separe tem decrescido cada vez mais. O perigo de revelar problemas familiares T2 300 1 No dia 25 de Outubro de 1868, seu caso me foi novamente apresentado. Vi que maus pensamentos e desejos ilícitos o tem conduzido a ações impróprias e à violação dos mandamentos de Deus. Você tem desonrado a si mesmo, sua esposa e a causa de Deus. O irmão poderia ter exercido uma influência benéfica para a causa de Deus. Mas a adoção de um caminho errado naquilo que pensava ser de pouca conseqüência, conduziu a grandes males. T2 300 2 Irmão R, você está agora em perigo de sofrer total naufrágio na fé. Você pecou grandemente. Mas seu pecado em procurar encobrir e cegar os olhos daqueles que têm suspeitado dos seus erros tem sido dez vezes maior. Todos eles deixaram de agir com prudência e amor, como o Senhor desejava, para resgatá-lo. Mas quando você tentou exibir um ar de inocência ferida, pensou que Deus não pode ver sua conduta errônea? Pensou você que Aquele que fez o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, não pode discernir os propósitos e intentos do coração? Imaginou que se confessasse o pecado perderia a honra, a vida, por assim dizer, e que seus irmãos não mais teriam confiança em você. Não percebeu o problema em sua devida luz. É uma vergonha pecar, mas sempre uma honra confessar o pecado. T2 300 3 Os anjos de Deus têm mantido um registro fiel de cada ato, por mais secreto que você achou que fosse. Deus discerne os propósitos do homem em todas as suas ações. Cada ser humano será recompensado de acordo com suas obras, quer boas quer más. "Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Não haverá fracasso na colheita. Ela é certa e abundante. Você tentou enganar os irmãos a respeito de sua conduta. Como pôde fazer isso, quando sabia que era culpado à vista de Deus? Se valorizar a sua salvação, faça uma obra cabal para a eternidade. T2 301 1 Deverá deixar após si pegadas claras através de completa confissão. Necessita de total conversão -- a transformação do eu "pela renovação da... mente". Romanos 12:2. Sua auto-estima precisa ser subjugada. Deve aprender a considerar os outros superiores a si mesmo. Sua exaltada opinião sobre as próprias qualificações deve ser posta de lado, e você precisa possuir "um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. T2 301 2 Possui um espírito que o apartou do caminho da retidão e agora está perturbado. Dúvidas, temores e desespero o oprimem. Há apenas uma saída, e essa é através da confissão. Sua única esperança está em cair sobre a Rocha e ser despedaçado; se não o fizer, Ela certamente cairá sobre o irmão e o reduzirá a pó. Você pode agora corrigir seus erros e redimir o passado. Através de uma vida de bondade e verdadeira humildade você pode ainda andar aceitavelmente diante de Deus em sua família. Possa o Senhor ajudá-lo, em vista do juízo, a trabalhar pela própria vida. Prezado irmão, sinto profundo interesse por você. Você tem andado na escuridão por algum tempo. Não chegou ao presente estado de uma só vez. Tem abandonado gradualmente a luz. Primeiro exaltou-se, e depois, à medida que se sentia suficiente em sua própria força, o Senhor lhe retirou a força divina. T2 301 3 Você tem estado interessado em música. Isto propiciou oportunidades para que mulheres imprudentes e insensatas lhe confidenciassem seus problemas. Assim seu orgulho foi satisfeito, mas se tornou uma armadilha para você. Foram abertas as portas para as sugestões de Satanás. Você não deveria ter agido assim. Não tinha o direito de ouvir o que lhe foi contado. Essas informações lhe corromperam a mente, aumentando sua auto-estima e produzindo-lhe maus pensamentos. Permitiu-se ser um confessor de algumas mulheres sentimentais que desejavam simpatia e apoio. Se elas possuíssem são juízo e confiassem em si mesmas, tendo um alvo na vida e prazer em fazer o bem aos semelhantes, não chegariam à condição de precisar buscar a simpatia de alguém. T2 302 1 Você não tem idéia dos enganos do coração. Não conhece os ardis de Satanás. Algumas mulheres que têm atraído sua simpatia possuem imaginação doentia, amor cego e são sentimentais, sempre ansiosas por criar sensações e produzir grande agitação. Algumas estão insatisfeitas com sua vida conjugal, pois não vêem romance suficiente nela. A leitura de novelas perverteu-lhes o bom senso. Vivem num mundo imaginário. Sua imaginação cria-lhes um marido, tal como encontrado apenas em romances novelísticos. Elas falam de um amor não correspondido. Nunca estão contentes ou felizes, porque sua fantasia lhes pinta uma vida irreal. Quando enfrentarem a realidade, virem a simplicidade da vida real e assumirem as responsabilidades da vida em sua família, como é a sorte de toda mulher, então encontrarão contentamento e felicidade. T2 302 2 Você tem condescendido com pensamentos que não são corretos, os quais têm produzido seus frutos. "Da abundância do seu coração fala a boca." Lucas 6:45. Suas palavras nem sempre são inocentes, puras e elevadas. "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe." Efésios 4:29. O engano tem sido com muita freqüência encontrado em sua boca -- expressões baixas que procedem de um coração que abriga pensamentos corrompidos e maus desejos. T2 302 3 Já por algum tempo seus pés têm se desviado do caminho da retidão e pureza. Você sabe que sua conduta desagrada a Deus, que está transgredindo Sua santa lei; e sabe que essas coisas não podem ser ocultadas. Deus não permitirá que Seu povo seja enganado acerca de seu caso. O grande pecado do irmão tem atraído a compaixão daqueles que não discernem seu comportamento tortuoso, e assim fazendo dividem a opinião do povo que professa a verdade. Temos pena de você. Meu coração dói por você. Nada vejo diante de você a não ser perdição, nada além de naufrágio da fé. T2 303 1 Encobrirá você os seus pecados e enfrentará com bravura o problema? Deus diz que você "nunca prosperará; mas o que as [transgressões] confessa e deixa alcançará misericórdia." Provérbios 28:13. Você vai escolher a morte? Fechará as portas do reino de Deus a si mesmo porque não reconhece seu ímpio orgulho? Sua única esperança está em confessar a apostasia. Deus permitiu que a luz brilhasse em seus caminhos. Escolherá você esse caminho corrupto? Desprezará a verdade porque ela não apóia sua conduta iníqua? Oh, insto com você que rasgue o "coração e não as... vestes". Joel 2:13. Faça uma obra completa para a eternidade. Deus lhe será misericordioso. Ele atuará em seu favor, pois não desprezará "um coração quebrantado e contrito". Salmos 51:17. Você retornará? Viverá? Sua vida é valiosa, preciosa. Desejamos ajudá-lo. T2 303 2 Vi que você não era feliz, não tinha paz. Sente-se angustiado e ainda se recusa a seguir o único caminho que lhe trará alívio e esperança. Aquele que confessa seus pecados e os "deixa alcançará misericórdia". Provérbios 28:13. Sua condição é lastimável e está prejudicando muito a causa de Deus. Sua influência destruirá, além de você, a outros. T2 303 3 Quanto ao futuro nada mais pode ser esperado para você e sua pobre família, caso se recuse a retornar a Deus e confessar sua apostasia para que Ele possa curá-lo. No rastro do pecado virá a miséria. A mão de Deus será contra você e Ele permitirá que seja controlado por Satanás, para ser levado cativo por ele conforme sua vontade. O irmão não imagina aonde pode chegar. Você será como um homem sem âncora no mar. A verdade de Deus é essa âncora, da qual você está se desprendendo. Seus interesses eternos estão sendo sacrificados pela "concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida". 1 João 2:16. Você está a ponto de romper os laços que o salvariam de total destruição. Ao tentar salvar a vida encobrindo seus erros, você a está perdendo. Se agora humilhar-se perante Deus, confessar seus erros e voltar-se para Ele de todo o coração, poderá ainda tornar feliz sua família. Se não fizer isso e preferir os próprios caminhos, sua felicidade estará no fim. T2 304 1 Você tem uma grande obra a fazer. Tem sido muito negligente em sua conduta. Suas palavras não têm sido elevadas, inocentes e puras. Tem se separado das coisas divinas e condescendido com baixas paixões. As nobres faculdades intelectuais e mentais têm estado sujeitas às paixões sensuais. Você não tem seguido uma conduta correta durante algum tempo. Não se tem abstido de toda aparência do mal. Não lhe é seguro seguir nesse rumo por mais tempo. T2 304 2 Você não tem amado a esposa como deve. Ela é uma boa mulher e tem visto, em pequena medida, o perigo que o ameaça. Mas você fechou os ouvidos às advertências dela. Acha que ela é ciumenta, mas essa não é sua natureza. Ela o ama e será paciente, perdoará e continuará amando você, apesar do grande dano que lhe causou, se tão-somente o irmão se voltar para a luz e limpar o passado. Você precisa de uma conversão completa. A menos que faça isso, todos os esforços feitos no passado para obedecer à verdade não terão efeito, nem cobrirão seus erros. Jesus requer de você uma reforma completa, então Ele o ajudará, abençoará e amará, e purificar-lhe-á os pecados com Seu precioso sangue. Você pode redimir o passado, pode corrigir seus caminhos e ainda ser uma honra à causa de Deus. Pode fazer o bem quando se apoderar da força divina e em Seu nome trabalhar, pela própria salvação e pelo bem dos semelhantes. T2 305 1 Sua família pode ser feliz. Sua esposa necessita de sua ajuda. Ela é como o ramo de uma videira; deseja apoiar-se em sua força. Você pode ajudá-la e orientá-la. Não deve jamais censurá-la. Nunca a reprove se seus esforços não atingirem o que você espera. Pelo contrário, encoraje-a mediante palavras de ternura e amor. Você pode ajudar sua esposa a preservar sua dignidade e respeito próprio. Nunca elogie as ações de outras pessoas diante dela para que note suas deficiências. Você tem sido rude e insensível a esse respeito. Tem mostrado maior cortesia por seus empregados do que por ela, colocando-os acima dela em seu lar. T2 305 2 Deus ama sua esposa. Ela tem sofrido, mas o Senhor tem conhecimento de tudo, observa tudo e não relevará sua culpa pelas mágoas que você lhe tem causado. Não é riqueza nem inteligência que produz felicidade. É dignidade moral. A genuína bondade é considerada nos Céus como verdadeira grandeza. A condição dos pendores morais determina o valor do homem. Pode a pessoa possuir propriedades e inteligência, e não obstante ser sem valor nenhum, porque o abrasador fogo da bondade não lhe ardeu no altar do coração, porque sua consciência ficou cauterizada, enegrecida e enrugada pelo egoísmo e pecado. Quando a concupiscência da carne controla o ser humano e é permitido que as más paixões da natureza carnal governem, o ceticismo com respeito as realidades da religião cristã é estimulado e são externadas dúvidas como se isso fosse virtude especial. T2 305 3 A vida de Salomão poderia ter sido notável até o fim, se tivesse sido preservada a virtude. Ele, porém, renunciou a esta graça especial pelas paixões licenciosas. Em sua juventude se voltou para Deus em busca de guia, e nEle confiou, e Deus atentou para ele e lhe deu sabedoria que assombrou o mundo. Seu poder e sabedoria foram exaltados por toda a Terra. Seu pecado, porém, foi o amor às mulheres. Esta paixão não a dominou em sua virilidade, e ela se lhe demonstrou uma armadilha. Suas mulheres o levaram à idolatria, e ao começar ele a descer o aclive da vida, a sabedoria que Deus lhe havia dado foi retirada; perdeu a firmeza de caráter e se tornou mais parecido com um jovem leviano, vagando entre o certo e o errado. Transigindo em seus princípios, colocou-se na corrente do mal, e dessa maneira se separou de Deus, base e fonte de sua força. Ele se desviou do princípio. A sabedoria havia sido para ele mais preciosa do que o ouro de Ofir. Mas, ai! as paixões licenciosas conquistaram a vitória. Ele foi iludido e arruinado pelas mulheres. Que lição em favor da vigilância! Que testemunho com respeito à necessidade do poder de Deus justamente para o fim da vida! T2 306 1 Na luta com a corrupção interior e as tentações do exterior, mesmo o sábio e poderoso Salomão foi vencido. Não é seguro permitir o mínimo desvio da mais estrita integridade. "Abstende-vos de toda a aparência do mal." 1 Tessalonicenses 5:22. Se uma mulher relata a outro homem suas dificuldades de família, ou se queixa do esposo, ela transgride seus votos matrimoniais; desonra seu esposo, e derruba o muro erguido para preservar a santidade da ligação matrimonial; abre completamente a porta e convida Satanás para entrar com suas tentações perigosas. Isto é exatamente o que Satanás deseja. Se uma mulher vai ter com um irmão cristão para lhe narrar suas mágoas, decepções e provas, dever-lhe-ia ele aconselhar -- se é que ela precisa confiar a alguém suas dificuldades -- a escolher irmãs como confidentes suas, e então não haverá aparência do mal, por cujo meio a causa de Deus possa sofrer descrédito. T2 306 2 Lembre-se de Salomão. Nas muitas nações nenhum rei houve semelhante a ele, amado pelo seu Deus. Ele, porém, caiu. Afastou-se de Deus e se tornou corrupto, por meio da condescendência com as paixões licenciosas. Este é o pecado predominante desta época, e seu progresso é terrível. Os professos guardadores do sábado não são puros. Há os que professam crer na verdade e são corruptos de coração. Deus os provará, e sua loucura e pecado se tornarão manifestos. Ninguém, a não ser os puros e humildes, pode habitar em Sua presença. "Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no Seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração; que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente." Salmos 24:3, 4. "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? quem morará no Teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo; aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado, mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda; aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente. Quem faz isto nunca será abalado." Salmos 15. ------------------------Capítulo 43 -- Carta a um órfão T2 307 1 Prezado amigo: T2 307 2 Na última visão que me foi dada, vi que você tinha faltas a corrigir. É-lhe necessário percebê-las antes que possa fazer um esforço para corrigi-las. Você tem muito que aprender antes de poder formar um bom caráter cristão que Deus possa aprovar. Desde a infância você tem sido obstinado e disposto a seguir os próprios caminhos e pensamentos. Não aprecia submeter seus desejos e vontade àqueles que cuidam de você. Esta é a experiência que você precisa obter. T2 307 3 Seu perigo cresce por causa do espírito de independência e autoconfiança -- unido, como na realidade deve estar, à inexperiência -- que os jovens de sua idade costumam assumir quando não têm seus queridos pais a olhar por eles e dedicar-lhes afeição. Você sente que é tempo de pensar e agir por si mesmo. "Sou adulto e não mais uma criança. Sou capaz de discernir entre o certo e o errado. Tenho direitos e lutarei por eles. Sou capaz de formular meus próprios planos de ação. Quem tem autoridade para interferir?" Estes têm sido alguns de seus pensamentos e neles você tem sido encorajado por jovens de sua idade. T2 308 1 Você sente que pode defender sua liberdade e agir como um homem. Estes sentimentos e pensamentos o conduzem ao erro. Você não possui espírito submisso. Sábio e grandemente abençoado é o jovem que sente ser seu dever, se tem pais, respeitá-los e, se não tem, considera seu tutor ou aqueles com quem vive, como conselheiros, confortadores, e, em alguns aspectos, como seus governantes, e que permite as restrições de seu lar exercerem influência sobre ele. Há um tipo de independência digno de louvor. Desejar levar a própria carga e não comer o pão da dependência é correto. É uma ambição nobre e generosa que dita o desejo de manutenção própria. São necessários hábitos de diligência e modéstia. T2 308 2 Você foi colocado sob circunstâncias desfavoráveis para a formação de um bom caráter cristão, mas agora está sob condições em que pode formar uma boa reputação ou destruí-la. Não cremos que queira arruiná-la. Mas, você não está isento da tentação. Em uma única hora você pode seguir uma conduta que lhe custará posteriormente amargas lágrimas de arrependimento. Por ceder à tentação pode afastar corações de si e perder o respeito e a estima dos que o cercam, e também manchar seu caráter cristão. Você tem uma lição de submissão a aprender. Considera indignos de você certos deveres domésticos a cumprir -- pequenas tarefas e incumbências. Manifesta firme desagrado ante as menores exigências; deve, contudo, cultivar amor exatamente por essas coisas a que você é tão avesso. Enquanto não fizer isso, sua ajuda não será aceitável em nenhum lugar. Quando empenhado nessas coisas pequenas e necessárias, você está fazendo mais efetivo serviço do que quando empenhado em grandes negócios e em trabalho árduo. T2 309 1 Vem-me agora à mente um caso de alguém que me foi apresentado em visão, que negligenciava essas pequenas coisas e não conseguia se interessar pelos pequenos deveres, procurando aliviar o trabalho dos que estavam em casa; era algo muito insignificante. Ele agora tem uma família, e ainda possui a mesma indisposição para os pequenos mas importantes deveres. O resultado é que grandes cuidados repousam sobre sua esposa. Ela tem de fazer muitas coisas ou ficarão por fazer. O volume de cuidados que está sobre ela, por causa da omissão do marido, tem-lhe enfraquecido o organismo. Ele agora não pode mais vencer o mal tão facilmente como o faria em sua juventude. Negligencia os pequenos deveres e falha em manter tudo bem-arrumado e agradável, portanto, não pode ser um agricultor bem-sucedido. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. T2 309 2 Naamã, o sírio, consultou o profeta de Deus sobre como poderia curar-se de uma doença repugnante, a lepra. Foi-lhe ordenado banhar-se sete vezes no Jordão. Por que não seguiu imediatamente as instruções de Eliseu, o profeta de Deus? Por que recusou fazer o que o profeta ordenara? Ele voltou-se para seus servos, resmungando. Em sua mortificação e decepção ficou exaltado e, tomado de ira, recusou-se a seguir o humilde procedimento indicado pelo profeta de Deus. "Eis que eu dizia comigo", disse ele, "certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, e invocará o nome do Senhor, seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso. Não são, porventura, Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado? E voltou-se e se foi com indignação." Seu servo disse: "Meu pai, se o profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te [simplesmente] e ficarás purificado." 2 Reis 5:11-13. Sim, aquele grande homem considerava ser abaixo de sua dignidade dirigir-se ao humilde rio Jordão e lavar-se. Os rios por ele referidos e desejados eram embelezados por árvores e bosques, e nesses bosques havia ídolos. Muitos faziam romaria a esses rios para adorar seus deuses-ídolos; por isso nenhuma humildade lhe teria custado ir para lá. Mas era o seguir as específicas instruções do profeta que haveria de humilhar seu espírito altivo e orgulhoso. A obediência voluntária traria o resultado desejado. Banhou-se, e foi curado. T2 310 1 Seu caso é em alguns aspectos semelhante ao de Naamã. Não considera que, para aperfeiçoar um caráter cristão tem de concordar com ser fiel em coisas pequeninas. Embora as coisas que é chamado a fazer sejam de pequena importância aos seus olhos, são todavia deveres que terá de cumprir enquanto viver. A negligência destas coisas prejudicará grandemente seu caráter. Você deve, meu querido rapaz, educar-se quanto à fidelidade em coisas pequenas. Não pode agradar a Deus a menos que faça isso. Não pode receber amor e afeto a menos que faça justamente como lhe foi ordenado fazer, com espontaneidade e prazer. Se deseja que aqueles com quem você convive o amem, terá que mostrar-lhes amor e respeito. T2 310 2 É seu dever fazer tudo o que lhe estiver ao alcance para aliviar os cuidados da irmã com quem você mora. Você a contempla, pálida e fraca, cozinhando para uma família numerosa. Cada trabalho extra que faz lhe traz desgaste e consome sua vitalidade. Ela não tem mãos e pés jovens para executar pequenas incumbências. Eles o receberam em sua família, como disseram a você e a nós na ocasião, precisamente para fazer tais coisas. Se você negligencia fazer as coisas que eles acham vão ajudá-los muito, e escolhe seguir sua vontade de modo independente como prefere, perderá seu lugar e eles precisarão ter alguém que execute o que você considera insignificante. Agora está fazendo trabalho muito maior e mais pesado do que suas forças permitem. Você gosta de fazer o trabalho de um homem. Possui uma férrea vontade que precisa ser subjugada. Você precisa morrer para o eu, crucificá-lo e obter a vitória sobre ele. Não pode ser um verdadeiro seguidor de Cristo, a menos que resolutamente assuma essa tarefa. T2 311 1 Vi que não possui naturalmente reverência e respeito pelas pessoas mais velhas do que você. Deve ser fiel nos pequenos deveres e incumbências que lhe são requeridos, e não sair se queixando deles como se fossem uma droga. Não percebe como se torna desagradável e antipático. Assim você não pode ser feliz nem fazer felizes os que estão a seu redor. Precisa ter em mente que Deus quer que você, como Seu servo, seja fiel, paciente, bondoso, afetuoso, obediente e respeitoso. Você não pode atingir a perfeição cristã a menos que possua perfeito autocontrole. Permite que certos sentimentos pecaminosos lhe brotem no coração, os quais o prejudicam e tendem a encorajar uma disposição dura, rebelde, dessemelhante do espírito de Cristo, cuja vida você é ordenado a imitar. T2 311 2 Meu prezado rapaz, comece de novo, resolutamente, com a ajuda de Deus, a seguir as coisas verdadeiras, amáveis e de boa fama. Filipenses 4:8. Que o temor de Deus, unido ao amor e afeição por todos os que o cercam, seja visto em suas ações. Seja fiel e íntegro. Livre-se de tudo quanto se assemelhe à indolência. Tenha um lugar para cada coisa e ponha tudo em seu devido lugar. Seja flexível, bondoso, alegre e sensato. Então você pode conquistar acesso ao coração daqueles com quem convive. Tenha uma coisa em mente: nenhum jovem pode ter um espírito reto sem respeitar as mulheres e buscar aliviar seus encargos. Considerar abaixo de sua dignidade ajudar no trabalho das mulheres é a pior característica que pode ser encontrada em um jovem. Tal homem fica marcado. Nenhuma mulher sujeitaria sua vida a esse homem, pois ele nunca seria um marido terno, cuidadoso e atencioso. T2 312 1 O menino é o protótipo do homem. Suplico-lhe que dê meia-volta. Faça tudo o que necessitar ser feito em forma de pequenos deveres, embora lhe pareçam desagradáveis. Então será aceito por aqueles ao seu redor e, o que é mais importante, terá a aprovação divina. Você não pode ser um cristão a menos que nas coisas mínimas seja um servo fiel. Se orar e se esforçar para fazer o melhor ao desempenhar cada dever, Deus o abençoará e ajudará. Quando Jesus voltar para levar os fiéis consigo, você quer ouvi-Lo dizer-lhe: "Bem está, servo bom e fiel"? Mateus 25:21. Deseja ter todas as imperfeições removidas de seu caráter, para que possa ser achado sem culpa diante do trono de Deus? Se assim é, tem um trabalho a fazer por si mesmo, que ninguém pode executar. Tem diante do Senhor uma responsabilidade individual. Pode andar na luz e diariamente receber força de Deus para vencer toda imperfeição, e finalmente estar entre os fiéis, verdadeiros e santos no reino de Deus. Não ceda à tentação. Satanás o incomodará e procurará controlar sua mente para que possa levá-lo a pecar. "Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós." Tiago 4:7, 8. T2 312 2 Lembre-se que os olhos de Deus estão sempre sobre você. Quando retruca desrespeitosamente, Deus vê e ouve. Chegará o tempo em que tudo será julgado de acordo com os atos feitos através do corpo. Você terá uma parte a desempenhar no Juízo. Jesus o receberá ou rejeitará. Corra para Ele em busca de força e graça. Ele deseja ajudá-lo, ser o Guia de sua juventude e fortalecê-lo para que você possa abençoar a outros mediante sua influência. Deus o ama e o salvará se você seguir o caminho que Ele indica; mas se for rebelde e escolher seu próprio rumo, será para sua eterna perda. Ore muito, pois a oração é um dos mais essenciais deveres. Sem ela não pode manter-se no caminho cristão. Ela eleva, fortalece e enobrece. É a alma falando com Deus. T2 313 1 Não pense que pode cessar seus esforços ou vigilância por um momento sequer; você não pode. Estude diligentemente a Palavra de Deus, a fim de que não seja ignorante acerca dos ardis de Satanás, e possa aprender mais perfeitamente o caminho da salvação. Sua vontade terá de ser imersa na vontade de Deus. Não busque agradar a si mesmo, mas àqueles que o cercam; assim fazendo, será feliz. Venha a Jesus com todas as suas necessidades e carências e em confiança singela, implore Suas bênçãos. Confie em Deus e busque agir por princípio, fortalecido e enobrecido por altas resoluções e determinação de propósito encontrados somente em Deus. T2 313 2 Não se deixe provocar facilmente. Não permita que seu coração se torne egoísta, mas deixe-o expandir em amor. Você tem uma obra a fazer que não pode ser negligenciada. Suporte dificuldades como bom soldado. Jesus está familiarizado com cada conflito, provação e agonia. Ele o ajudará, pois "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado". Hebreus 4:15. Vá a Ele, querido rapaz, com suas cargas. Não ponha em quem quer que seja a sua confiança, e não conte a ninguém suas dificuldades, senão a nós. Faça de Jesus o seu Portador de fardos e busque uma experiência mais completa nas coisas religiosas. Que Deus o ajude e abençoe, é minha sincera oração. T2 313 3 Os órfãos despertam minhas mais ternas simpatias. Você na verdade não tem um lar. A sepultura levou seu pai e sua mãe, e o lar de sua infância foi habitado por outros. Você não pode ter lembranças nítidas de seu piedoso pai como tem de sua mãe. Lembra-se de que algumas vezes a entristecia. Você não tinha aprendido a submissão; e ainda não a aprendeu senão parcialmente. Mas as orações de seus pais, para que você possa estar entre aqueles que amam e temem a Deus, encontraram guarida no Céu. T2 314 1 Oh, mundo frio e egoísta é este! Os seus parentes, que lhe deveriam ter amado e querido por amor de seus pais, se não por amor a você mesmo, encerraram-se em seu egoísmo e não têm interesse especial por você. Deus, porém, estará mais perto de você e lhe será mais querido do que qualquer de seus parentes terrestres. Ele será seu Amigo e nunca o abandonará. Ele é pai dos órfãos. Sua amizade lhe proverá doce paz e o ajudará a suportar com coragem a grande perda. Procure fazer de Deus seu pai, e nunca desejará um amigo. Você será exposto a provas; no entanto seja inflexível, e lute por adornar sua profissão de fé. Precisará de graça para resistir, mas os olhos misericordiosos de Deus estão sobre você. Ore muito, e fervorosamente, crendo que Deus o ajudará. Guarde-se da irritabilidade e do mau humor, e de um espírito atormentador. A paciência é uma virtude que você deve praticar. Busque a piedade de coração. Seja cristão coerente. Possua o amor da pureza e humilde simplicidade, e sejam estas inseridas em sua vida. T2 314 2 Educando a si mesmo para temer a Deus e amar a todos a seu redor, tem condições de ter uma vida útil e feliz, e seu exemplo pode ser tal que conduza outros a escolher o singelo caminho da santidade. Tenha coragem moral para, em toda ocasião, fazer o que é certo e honrar seu Redentor. Rogo-lhe, querido jovem, a que busque a verdadeira santidade. ------------------------Capítulo 44 -- Membro indisciplinado T2 314 3 Querida irmã S: T2 314 4 Foram-me mostradas algumas coisas a seu respeito. Você não tem consciência de sua verdadeira condição. Necessita de uma profunda e completa obra de graça no coração. Precisa pôr o coração e o lar em ordem. Seu exemplo na família não é digno de imitação. Atingiu um baixo nível e falhou em alcançar o elevado padrão de nosso divino Senhor. Você gosta de visitar e conversar, e diz muitas coisas impróprias para um cristão. Suas declarações são exageradas e freqüentemente distantes da verdade. Suas palavras e ações a julgarão no último dia. Por elas você será justificada ou condenada. Sua educação não tem sido de caráter nobre, portanto, há uma grande necessidade de treinar-se e educar-se agora em purificar pensamentos e ações. Eduque seus pensamentos de forma que facilmente se demorem em coisas puras e santas. Cultive o amor pela espiritualidade e verdadeira piedade. T2 315 1 Sua conversação é freqüentemente de baixo nível. Você engana o próprio coração e esse engano se provará fatal, a menos que desperte para ver-se como realmente é, e volte para Deus com verdadeira humildade de espírito. Você tem a tendência de ser fingida. Seu filho não possui um conhecimento experimental de Deus ou dos sagrados reclamos da verdade. Ele é bajulado por seus pais que dizem ser ele um cristão; é, porém, um dos mais infelizes representantes dos guardadores do sábado. Perdoe-nos Deus de reconhecermos tais pessoas como sendo semelhantes a Cristo. Você não disciplina seu filho. Ele é obstinado e intolerante. Tem muito pouco senso acerca da verdadeira cortesia e mesmo da polidez habitual. É rude, inculto, desamoroso e antipático. Você diz aos outros que ele é um cristão, e assim fazendo traz vergonha à causa de Cristo. Esse rapaz está em caminho aberto para tornar-se um hábil hipócrita. Não tem controle sobre si mesmo e você ainda o elogia de ser cristão. T2 315 2 A obra de reforma deve começar com você. Precisa tornar-se pura na conversação e protetora do lar, apreciando os deveres domésticos, e amando a seu marido e filho. Você deve estudar como economizar tempo para não sobrecarregar suas forças. As cargas mais leves dos deveres domésticos que lhe cabem podem ser levadas sem excessos, se você exercer perseverança e apropriada diligência. Você tem uma obra a fazer para controlar a língua. "É um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas" (Tiago 3:5); contudo, ela necessita do freio da graça e do domínio próprio para não se movimentar impensadamente. Sua conversação é de baixo nível e você condescende com conversa vulgar. "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem." Efésios 4:29. T2 316 1 Possa o Senhor convencê-la dessas coisas enquanto lê estas linhas. Rogo-lhe que assuma a suave dignidade de esposa e mãe. Sobre o pai repousa uma responsabilidade. Seus esforços devem unir-se aos dele para controlar o filho, que caminha rapidamente na trilha da perdição. Busque o adorno interior, o ornamento "de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. Com paciência, graça e humildade você pode ensinar a seu pobre e enganado filho os princípios do cristianismo e a verdadeira polidez ou cortesia cristã. Você é precipitada e irrequieta. Oh, quão importante é ver a obra que deve ser feita por você mesma, antes que seja tarde demais! Hoje Jesus a convida a ir a Ele e dEle aprender, pois é "manso e humilde de coração". Mateus 11:29. A promessa que Ele lhe deu é certa: nEle encontrará descanso. Você tem uma grande obra a fazer. Não se enganem, mas examinem-se à luz da eternidade. É-lhes impossível serem salvos como estão. T2 316 2 Irmã S, seu marido pode ser útil na igreja se sua influência for aquilo que deve ser. Mas seu exemplo e influência o desqualificam a exercer uma santificadora influência na igreja. As influências do lar se opõem aos esforços para o bem. Você está totalmente desqualificada para ser esposa de um ancião da igreja. Deus a convida para uma reforma. Seu marido tem uma obra a fazer para pôr o coração e a casa em ordem. Quando ele for convertido, fortalecerá seus irmãos. T2 317 1 Como família, vocês necessitam ser santificados pela verdade. Prezada irmã, pode você perceber a obra que tem a fazer por si mesma e encarregar-se dela sem demora, para que sua influência seja salvadora? Opere sua "salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. Ande com sabedoria em direção àqueles que estão sem ela, "remindo o tempo". Efésios 5:16. "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um." Colossences 4:6. "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, NISSO pensai." Filipenses 4:8. T2 317 2 Há suficientes assuntos proveitosos sobre os quais meditar e conversar. A conversação do cristão deve estar "nos Céus, de onde também aguardamos o Salvador". Filipenses 3:20. A meditação sobre as coisas celestiais é benéfica e sempre estará acompanhada de paz e conforto do Espírito Santo. Nossa vocação é santa, nossa profissão de fé elevada. Deus está purificando "para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. "Assentar-Se-á afinando e purificando a prata". Malaquias 3:3. Quando a escória e as impurezas forem eliminadas, Sua imagem será perfeitamente refletida em nós. Então a oração de Cristo por Seus discípulos será respondida em nós: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. Quando a verdade exerce santificadora influência sobre nosso coração e vida, podemos prestar a Deus um serviço aceitável e glorificá-Lo na Terra, sendo "co-participantes da natureza divina", e havendo escapado "da corrupção das paixões que há no mundo". 2 Pedro 1:4. T2 317 3 Oh, quantos estarão despreparados quando o Mestre vier para ajustar contas com Seus servos! Muitos têm idéias limitadas sobre o que é ser cristão. Justiça própria não terá, então, qualquer utilidade. Somente aqueles que resistirem ao teste serão achados como tendo a justiça de Cristo, estando imbuídos de Seu Espírito e andando como Ele andou, em pureza de coração e vida. A conversação deve ser santa, então as palavras serão temperadas com graça. T2 318 1 Possa o Senhor ajudá-los como família a corrigirem, a terem vida elevada e em todos os atos honrar sua profissão de fé. ------------------------Capítulo 45 -- Conforto na aflição T2 318 2 Querida irmã T: T2 318 3 Eu soube de sua aflição e apressei-me a escrever-lhe algumas linhas. Minha querida irmã, tenho as melhores provas de que o Senhor a ama. Na última visão, foi-me mostrado, entre outros, o seu caso. Vi que você foi afetada no passado pela conduta errônea de outras pessoas. Embora estritamente conscienciosa e mesmo ansiosa em saber o que é certo, você foi extremamente sensível e considerou seu caso pior do que era. T2 318 4 Você foi afligida pela doença por muito tempo, uma dispepsia nervosa. O cérebro está intimamente ligado ao estômago, e sua energia tem sido muito freqüentemente chamada em auxílio dos enfraquecidos órgãos digestivos, que por sua vez se debilitaram, deprimiram e congestionaram. Enquanto nesse estado, sua mente fica deprimida e se demora no lado escuro, imaginando que a desaprovação divina está sobre você. Pensa que sua vida tem sido inútil, cheia de erros e atos equivocados. Querida irmã, sua doença a conduz ao desânimo e ao abatimento. Deus não a deixou. Seu amor ainda a acompanha. Vi que você deve confiar mais nEle, assim como uma criança confia nos braços da mãe. Deus é misericordioso e bondoso, pleno de terna piedade e compaixão. Ele não afastou Seu rosto de você. T2 319 1 Você é extremamente sensível. Ressente-se profundamente e não possui forças para lançar de si os cuidados, as perplexidades e o desânimo. Vi que Deus lhe seria "socorro bem presente" (Salmos 46:1) se apenas confiasse nEle, mas você se aflige sem lançar-se nos braços de seu querido e amoroso Salvador. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. Que promessa preciosa! Podemos pedir muito a nosso boníssimo Pai celestial. Grandes bênçãos estão reservadas para nós. Podemos crer em Deus, confiar nEle, e assim fazendo glorificar Seu nome. Mesmo que sejamos vencidos pelo inimigo, não somos repelidos, abandonados nem rejeitados por Deus. Não! Cristo está à mão direita de Deus e faz intercessão por nós. "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. T2 319 2 Gostaria de dizer-lhe, minha irmã, que você não necessita abandonar sua confiança. Pobre e tremente coração, descanse nas promessas divinas. Assim fazendo, as algemas do inimigo serão rompidas, suas sugestões se tornarão ineficazes. Não dê abrigo às insinuações do inimigo. Liberte-se, opresso coração. Tenha bom ânimo. Diga a seu pobre e desalentado coração: "Espera em Deus, pois ainda O louvarei. Ele é a salvação da minha face e Deus meu." Salmos 43:5. Sei que Deus a ama. Ponha nEle sua confiança. Não pense naquelas coisas que trazem tristeza e angústia; desvie os pensamentos desagradáveis e pense no precioso Jesus. Demore-se em Seu poder para salvar, Seu incomparável e eterno amor por você, exatamente você. Sei que o Senhor a ama. Se não pode depender de sua fé, dependa da fé de outros. Cremos e temos esperança em você. Deus aceita nossa fé em seu favor. T2 319 3 Você tem tentado fazer o que é certo e Deus é piedoso e compassivo para com a irmã. Anime-se e diga adeus à melancolia e às dúvidas. Condescendendo com essas dúvidas você desonra a Deus. Em crer há paz e alegria no Espírito Santo. O crer traz paz, e a confiança em Deus traz alegria. Creia, creia! diz meu coração, creia. Descanse em Deus. Ele pode guardar aquilo que você Lhe confiou. Ele a fará mais do que vencedora por Aquele que a amou. Que o Senhor a abençoe e fortaleça sua vacilante fé, é nossa oração. Escrevemos-lhe essas linhas, esperando que possam trazer-lhe benefícios. ------------------------Capítulo 46 -- Espírito arrogante e dominador T2 320 1 Prezado irmão U: T2 320 2 Na última visão, foi-me revelado que você necessita vigiar-se com zeloso cuidado, ou seu temperamento peculiar o controlará. Cometeu um erro quando empenhado em oração pela irmã V, e manifestou o mesmo espírito arrogante e dominador que tem sido a maldição de sua vida. Aborreceu o irmão W quando, considerando suas falhas do passado, deveria ter sido despretensioso e modesto. Será muito difícil para você vencer o hábito de observar outros, notar pequenas coisas e falar abertamente e de modo censurador. Você não tem nada a ver com tudo isso. Tão certo como você é vencido nessas pequenas coisas, a porta fica aberta para maiores falhas. Não há segurança para você senão em constantemente controlar-se com paciência. Você não pode realizar uma grande obra, mas se for correto poderá executar pequenas coisas boas na causa de Deus. Mas sua influência não precisa prejudicar; se for cauteloso e consagrado a Deus, pode ser capaz de dizer uma pacífica palavra de conforto e dar testemunho das grandes riquezas de Deus e do eterno amor de Jesus. T2 320 3 Deixe que seu coração se abrande sob a divina influência do Espírito de Deus. Não deve falar tanto em si mesmo, pois isso não dará forças a ninguém. Não deve fazer de você o centro, imaginando que deva constantemente cuidar de si mesmo, e levando outros a cuidarem de você. Afaste seu pensamento de você mesmo para um conduto mais sadio. Fale em Jesus, e deixe que se vá o próprio eu; seja ele submerso em Cristo, e seja essa a linguagem de seu coração: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim." Gálatas 2:20. Jesus será para você "socorro bem presente" (Salmos 46:1) em todo o tempo de necessidade. Ele não o deixará a lutar sozinho com os poderes das trevas. Oh, não! Ele depôs auxílio em Alguém que é poderoso "para salvar perfeitamente". Hebreus 7:25. T2 321 1 Não seja arrogante. Vença suas inclinações, suas pequenas peculiaridades, e busque somente representar a Jesus. Quando falar ou orar em reuniões, não se prolongue demais. Você tem falhado nisso, mas pode mudar. Orações e sermões longos são prejudiciais a você e não trazem benefícios aos que ouvem. Você deve realizar uma obra íntima para ser um vencedor. Pode consegui-lo se empenhar-se nessa tarefa calmamente. Nesse ponto precisa guardar-se. Você é inquieto, apressado e nervoso. Isso também precisa ser vencido. T2 321 2 Você tem sincero e ansioso desejo de fazer o que é certo e receber a aprovação divina. Continue com sua sinceridade, perseverantes esforços, e não desanime. Seja paciente. Nunca censure. Jamais permita que o inimigo o distraia de sua vigilância. Vigie e ore. Depois de orar, vigie também. O esforço é seu; ninguém pode empreendê-lo por você. Apodere-se da força de Deus, e tão logo perceba seus erros passados, redima o tempo. ------------------------Capítulo 47 -- Ouvinte esquecido T2 321 3 Prezado irmão Y: T2 321 4 Na última visão que recebi, vi que você não se compreende. Tem uma obra a fazer por si mesmo que ninguém pode fazer em seu lugar. Sua experiência na verdade é pequena e você não está totalmente convertido. Valoriza-se em muito mais do que é. Minha atenção foi dirigida para sua vida passada. Sua mente não tem sido elevada, mas demora-se em assuntos que não conduzem à pureza de ação. Você vem cultivando hábitos corruptos que contaminam a moral. Tem tido demasiada familiaridade com o sexo oposto e não possui modéstia no comportamento. Se maior familiaridade entre homens e mulheres fosse encorajada, conforme a teoria do Dr. A, você se sentiria bem. Sua influência em _____ não foi boa. Você não foi a pessoa adequada para aquele lugar; sua conversação leviana e imprudente o desqualificaram para exercer boa influência. O caráter de sua música não estimula elevados pensamentos e sentimentos; pelo contrário, degenera. T2 322 1 Algumas semanas atrás sua influência melhorou, mas falta-lhe firmeza de princípios. Você é deficiente em muitas coisas e em algumas delas precisa saber onde está falhando. As extravagâncias de sua juventude deixaram impressão sobre você; jamais poderá recuperar o que perdeu em virtude de hábitos impuros. Isso tem entorpecido de tal maneira suas sensibilidades, que as coisas sagradas não são claramente discernidas. Não pode, com sua experiência atual, resistir à tentação. Não pode suportar provações. Você não está santificado pela verdade. Apoderou-se da verdade, mas ela não se apoderou de você para transformá-lo "pela renovação da... mente". Romanos 12:2. Você é um homem que engana a si mesmo. Oh, eu lhe rogo, não continue se enganando a respeito de sua verdadeira condição. Não tem sentido profunda convicção dos seus pecados e buscado a Deus com humildade e angústia de coração para que suas transgressões sejam apagadas. Não percebeu que seus caminhos eram pecaminosos diante de Deus. Por essa razão, a obra de reforma não tem sido realizada em seu coração. T2 322 2 Vestiu-se de justiça própria para cobrir a deformidade do pecado; mas esse não é o remédio. Você não sabe o que é verdadeira conversão. Seu velho homem não morreu. O irmão possui uma forma de piedade, mas não o poder purificador de Deus. Fala e escreve suavemente, e suas palavras até podem ser corretas, mas a verdadeira linguagem do coração não é expressa. Você se conhece o suficiente para saber disso. Seu caso é perigoso, todavia Deus tem piedade de você e o salvará se cair contrito a Seus pés, reconhecendo sua vileza, impureza e fraqueza sem o poder transformador de Deus. T2 323 1 Meu irmão, não desejo desanimá-lo, mas levá-lo a examinar seus motivos e ações à luz da eternidade. Livre-se da armadilha de Satanás. Rogo-lhe que não busque impressionar as pessoas para pensarem a seu respeito sob uma luz mais elevada do que você pode suportar, pois quando esse engano for removido e seu verdadeiro ego aparecer, haverá uma reação. Você tem convicção do Espírito de Deus, e sente a força da verdade quando a ouve, mas essas sagradas e enternecedoras impressões se dissipam e você se torna um ouvinte esquecido. Não está estabelecido, fortalecido e firmado na verdade. Acha que é bom aceitar a verdade mas não tem experimentado sua santificadora influência. Rogamos-lhe, não se deixe enganar, "de Deus não se zomba". Gálatas 6:7. Não é tarde demais para você se tornar um cristão, mas não aja por impulso. Pese bem cada movimento e não engane ao próprio coração. ------------------------Capítulo 48 -- Remédio para o sentimentalismo T2 323 2 Querida irmã B: T2 323 3 Em minha visão de 12 de Junho, seu caso foi-me mostrado. Você está em triste condição, não tanto por causa de sua doença, embora não esteja bem, mas por causa da imaginária incapacidade de trabalhar. Muitos anos atrás, foi-me revelado, que você permitiu que sua mente se demorasse demais em rapazes. Fazia deles o freqüente tema de suas conversações, e sua mente seguiu por um caminho de nenhum proveito para seu progresso espiritual. Você imergiu em uma sequência de pensamentos que a levou a maus resultados. Prejudicou e abusou do próprio corpo, trazendo sobre si mesma um estado mental de imbecilidade. Condescendeu com pensamentos e sentimentos doentios de amor cego, até que quase arruinou corpo e alma. Sua indisposição em exercitar-se causou-lhe grande prejuízo. O empenho útil em tarefas domésticas e trabalho proveitoso a fariam vencer mais rapidamente esse doentio estado sentimental do que qualquer outro recurso. T2 324 1 Você foi alvo de demasiada compaixão. Aliviá-la de todas as responsabilidades foi um grande erro. Quase todos os seus pensamentos ficaram concentrados em si mesma. Você é impaciente e demora o pensamento sobre coisas tristes, retrata sua condição como péssima, e já está determinando em sua mente que nunca ficará curada, a menos que se case. Em seu presente estado mental não está apta para casar-se. Ninguém a quereria em sua desvalida e inútil condição atual. Se alguém a iludisse, dizendo que a ama, ele não seria digno; pois nenhum homem sensato pensaria, por um momento sequer, em colocar suas afeições em alguém tão incapaz. T2 324 2 O triste e sombrio estado de sua mente, que a leva a chorar e sentir que a vida é indesejável, é o resultado de permitir que seus pensamentos sigam um curso impuro, sobre assuntos proibidos, enquanto você condescende com hábitos que estão persistente e certamente minando sua constituição e preparando-a para prematura ruína. Teria sido bem melhor para você nunca ter ido a _____. Sua estada ali a prejudicou. Persistiu em suas fraquezas e envolveu-se numa sociedade que exerceu corruptora influência. A Srta. C era uma mulher corrupta e maldosa. Sua amizade fez crescer em você o mal que já existia. "As más conversações corrompem os bons costumes." 1 Coríntios 15:33. Atualmente sua condição não é aceitável à vista de Deus; contudo, você não tem desejo de viver. Se, porém, fosse atendida em seu desejo e sua vida cessasse, seu caso seria realmente sem esperança. Você não está preparada para este mundo nem para o mundo por vir. T2 325 1 Imagina não poder andar, cavalgar nem mesmo exercitar-se, e acomoda-se a uma fria e mortal apatia. Traz desgosto e ansiedade a seus complacentes pais e não proporciona conforto a si mesma. Pode reagir, trabalhar e sacudir de si essa terrível indiferença. Sua mãe precisa de sua ajuda; seu pai necessita do conforto que você lhe pode dar; seus irmãos necessitam do bondoso cuidado da irmã mais velha; suas irmãs precisam de sua instrução. Mas você se assenta no banco da indolência, sonhando com um amor não correspondido. Por amor à própria vida, livre-se dessas tolices. Leia sua Bíblia como nunca o fez antes. Assuma os deveres domésticos e alivie os cuidados de seus sobrecarregados e atarefados pais. Você pode não ser capaz de fazer muito no início, mas a cada dia aumente as tarefas. Este é o remédio mais seguro para a mente doentia e um corpo abusado. T2 325 2 Caso possua diligência e firmeza de propósito, sua mente voltará, pouco a pouco, a pensar em assuntos mais puros e saudáveis. A condescendência própria degenerou gradualmente em tais caprichos de vontade, ao ponto de não poder satisfazer-se. Em lugar de controlar as ações pela razão e por princípio, você aceita ser guiada pelo mais leve e momentâneo impulso. Isto a torna inconstante e volúvel. É inútil aos outros tentarem agradá-la, pois nunca estaria satisfeita, mesmo que todos os seus desejos fossem atendidos. Você é sonhadora e tornou-se doente pelo egoísmo. T2 326 1 Esse estado infeliz é o resultado de simpatia e bajulação imprudentes. Você possuía mente saudável que se desequilibrou por enveredar através de caminhos impróprios. Agora é avaliada como quase nada na sociedade. Isso não precisava ser assim. Você tem condições de fazer por si mesma o que ninguém mais pode fazer. Tem deveres a cumprir. Todavia, por ter-se acomodado durante tanto tempo a uma condição de incapacidade, imagina não poder fazer nada. Sua vontade é fraca. Você tem força, mas não vontade. T2 326 2 Você tem apego doentio ao amor. Jesus pede suas afeições; se as dedicar ao Senhor, Ele a livrará desse amor sentimentalista, impuro e doentio, encontrado nas páginas de uma novela. Em Jesus você pode amar com fervor e sinceridade. Esse amor tem condições de crescer em profundidade e expandir-se indefinidamente, sem fazer perigar a saúde do corpo ou o vigor mental. Você necessita amar a Deus e a seu próximo. Deve despertar e repelir o engano que abriga e buscar o amor puro. T2 326 3 Sua única esperança para esta vida e a futura é buscar diligentemente a verdadeira religião de Jesus. Você não possui experiência religiosa e precisa converter-se. Sua apatia e indolência darão lugar à animação, que será benéfica ao corpo e à mente. O amor a Deus garantirá o amor ao próximo e você se empenhará nos deveres da vida com interesse profundo e altruísta. Princípios puros sustentarão suas ações. A paz interior conduzirá seus pensamentos por um conduto sadio. Dedique-se a Deus, ou nunca terá a vida eterna. T2 326 4 Você tem deveres para com seus pais. Não deve desanimar se a princípio, cansar-se. Isto não será um mal permanente. Seus pais muitas vezes ficam demasiadamente fatigados. O ficar muito cansada por ocupar-se em trabalho útil, não lhe causará nem metade do dano que sofreu com sua mente concentrada em si mesma, alimentando inquietações e rendendo-se ao desânimo. O fiel cumprimento dos deveres domésticos, desempenhar-se da posição que pode ocupar da melhor maneira possível, por mais simples e humilde que ela seja, é na verdade enobrecedor. Necessita-se dessa divina influência. Há nisto paz e sagrada alegria. Possui poder curador. Secreta e imperceptivelmente suaviza as feridas da alma, e mesmo os sofrimentos do corpo. T2 327 1 A paz de espírito que sobrevém dos motivos e ações puros e santos, comunicará franca e vigorosa elasticidade a todos os órgãos do corpo. A paz interior e uma consciência livre de culpa para com Deus, vivificarão e revigorarão o intelecto, como orvalho destilado sobre tenras plantas. A vontade é então devidamente orientada e controlada, e é mais decidida, e no entanto livre de perversidade. As meditações são agradáveis por serem santificadas. A serenidade de espírito que lhe é concedida, beneficiará a todos com quem você entrar em contato. A paz e calma tornar-se-ão, a seu tempo, naturais, e refletirão seus preciosos raios sobre todos os que a rodeiam, para serem de novo refletidas sobre você. Quanto mais experimentar essa paz celestial e essa quietude de espírito, tanto mais elas aumentarão. É um prazer animado, vivo, que não lança todas as energias morais em apatia, antes as desperta para crescente atividade. A paz perfeita é um atributo do Céu, possuído pelos anjos. Que Deus a ajude a tornar-se possuidora dessa paz! ------------------------Capítulo 49 -- Deveres para com os órfãos T2 327 2 Queridos irmão e irmã D: T2 327 3 Sua última visita e a conversa conosco sugeriu-nos muitos pensamentos, dos quais alguns não posso evitar de transpor para o papel. Sinto-me muito pesarosa que E não se tenha comportado corretamente em todas as ocasiões; entretanto, se considerarem bem, não podem esperar perfeição em jovens de sua idade. As crianças têm faltas e necessitam grande dose de paciente instrução. T2 328 1 Que ele nem sempre tenha sentimentos corretos não é mais do que se pode esperar de um menino de sua idade. Vocês devem lembrar-se de que ele não tem pai, nem mãe, nem alguém a quem possa confiar seus sentimentos, tristezas e tentações. Toda pessoa sente que necessita ter alguém que com ela simpatize. Este menino tem sido jogado daqui para ali, de um lado para outro, e pode ter muitos erros, muitos modos descuidados, com considerável independência e falta de reverência. Mas ele é de muita iniciativa, e com instrução correta e bondoso tratamento, tenho plena confiança que ele não desapontará nossas esperanças, mas compensará totalmente todo o esforço despendido. Levando em conta suas desvantagens, penso que é um menino muito bom. T2 328 2 Quando os animamos a acolhê-lo, fizemo-lo porque críamos perfeitamente que esse era seu dever, e nisto seriam abençoados. Não esperávamos que o fariam meramente para serem beneficiados pelo auxílio que poderiam receber do rapaz, mas para beneficiá-lo, cumprindo um dever para com o órfão. Dever este que todo cristão deve procurar e ansiosamente desejar praticá-lo -- um dever, um penoso dever que lhes faria bem assumir, cremos, se o fizerem alegremente, tendo em vista ser um instrumento nas mãos de Deus para salvar uma alma dos laços de Satanás. Um instrumento na salvação de um filho cujo pai devotou sua preciosa vida na tarefa de indicar às pessoas "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". João 1:29. T2 328 3 Daquilo que me foi mostrado, os adventistas guardadores do sábado têm um fraco senso do imenso lugar que o mundo e o egoísmo ocupam em seu coração. Se têm desejo de fazer o bem e glorificar a Deus, há muitos modos de fazê-lo. Mas vocês não sentiram que esse é o resultado da verdadeira religião. Esse é o fruto que cada árvore boa produzirá. Não perceberam que lhes é requerido interessar-se pelos outros, considerar os casos deles como se fossem seus, e manifestar interesse altruísta por aqueles que estão em maior necessidade de ajuda. Vocês não têm se achegado aos mais necessitados. Se tivessem filhos próprios para exercitarem cuidado, afeição e amor, não estariam tão encerrados em si mesmos com seus interesses pessoais. Se os que não têm filhos e a quem Deus fez mordomos de recursos, abrissem o coração para amparar crianças que necessitam de amor, cuidado e afeição e de serem ajudadas com os bens deste mundo, poderiam ser muito mais felizes do que são hoje. Sempre que jovens sem o compassivo cuidado de um pai e o terno amor de uma mãe estiverem expostos à corruptora influência destes últimos dias, é dever de alguém suprir o lugar de pai e mãe para com alguns deles. Aprenda-se a prover-lhes amor, afeição e simpatia. Todos aqueles que professam ter um Pai no Céu, de quem esperam que deles cuide e finalmente os leve para o lar que lhes preparou, devem sentir a solene obrigação de ser amigos dos que não têm amigos, e pais dos órfãos, de ajudar as viúvas e ser de utilidade prática neste mundo em benefício da humanidade. Muitos não vêem estas coisas sob o devido aspecto. Caso vivam meramente para si, não terão maior força do que isto requer. T2 329 1 Os jovens que estão crescendo entre nós não estão sendo cuidados como deveriam. Alguns dos irmãos têm deveres que não estão dispostos e prontos a ver e executar. O receio de causar inconveniências a si mesmos é desculpa suficiente para muitos. O dia de Deus revelará deveres não cumpridos -- pessoas perdidas porque o egoísmo não permitiu que lhes fosse demonstrado interesse. T2 329 2 Vi que se professos cristãos cultivassem mais afeição e bondosa atenção no cuidar dos outros, seriam recompensados quatro vezes mais. Deus observa. Ele sabe com que objetivo vivemos, e se nossa vida é marcada pela consideração para com a pobre humanidade caída, ou se nossos olhos estão obscurecidos a tudo, exceto nossos interesses, e a todos, exceto nós mesmos. Rogo-lhes, em nome de Cristo, em favor de si mesmos e dos jovens, não pensem superficialmente sobre esse assunto como muitos o fazem. É algo sério e grave, e afeta seus interesses no reino de Cristo, visto que a salvação de preciosas almas está envolvida. Não é esse um dever que Deus impõe sobre vocês, que são capazes, de fazer algo em benefício dos desabrigados, mesmo que sejam ignorantes e indisciplinados? Planejarão vocês trabalhar apenas onde possam usufruir os mais egoístas prazeres e proveitos? Não é bom desprezarem o favor divino que o Céu lhes oferece para cuidarem daqueles que necessitam, e assim deixar Deus bater em vão à porta. Ele aí permanece na pessoa dos pobres, dos órfãos desabrigados e das viúvas aflitas, que necessitam de amor, simpatia, afeição e encorajamento. Se vocês não o fizerem a um desses, não o fariam a Cristo se Ele ainda estivesse na Terra. T2 330 1 Lembrem-se de sua antiga condição, sua cegueira espiritual, e da escuridão que os envolvia antes de Cristo, o terno e amorável Salvador, vir em auxílio e alcançá-los onde estavam. Se deixarem passar a oportunidade sem dar tangíveis provas de gratidão pelo maravilhoso e assombroso amor que o compassivo Salvador lhes dedica, a vocês que estavam "separados da comunidade de Israel" (Efésios 2:12), há razões para temer que maior escuridão e miséria lhes sobrevirão. Agora é tempo para a semeadura. Vocês colherão aquilo que semearem. Aproveitem, enquanto podem, os privilégios de fazer o bem. Essas vantagens são como a chuva passageira, que os irrigará e fará reviver. Aproveitem cada oportunidade a seu alcance para fazer o bem. Mãos ociosas recolherão colheita pequena. Para que viverão as pessoas mais velhas, senão para cuidar dos jovens e ajudar os desamparados? Deus os confiou a nós, que temos mais idade e experiência, e nos pedirá contas se negligenciarmos os deveres nesse sentido. Que importa se nosso trabalho não for apreciado! Que importa se falhar muitas vezes e for bem-sucedido uma só vez! Essa única vez sobrepujará todos os desalentos experimentados antes. T2 331 1 Poucos, contudo, têm o verdadeiro senso do que significa a palavra cristão. É ser semelhante a Cristo, fazer o bem aos outros, ser destituído de todo egoísmo e ter a vida assinalada por atos de benevolência desinteressada. Nosso Redentor envia as pessoas para os braços da igreja para que sejam cuidadas desinteressadamente e se prepararem para o Céu, tornando-se assim coobreiras de Cristo. No entanto, a igreja muito freqüentemente as impele ao campo de batalha de Satanás. Um membro dirá: "Esse não é meu dever", e apresentará desculpas sem fundamento. "Bem", diz outro, "também não é meu dever", e finalmente, não é dever de ninguém, e a pessoa é deixada a perecer. É dever de cada cristão empenhar-se nesse serviço altruísta. Não poderá Deus devolver a seus celeiros e aumentar-lhes os rebanhos, de forma que em lugar de perda haja ganho? "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda." Provérbios 11:24. T2 331 2 A obra de cada homem, entretanto, será provada e levada a juízo, e ele será recompensado de acordo com o que tiver feito. "Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente." Provérbios 3:9, 10. "Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne?" Isaías 58:6, 7. Leiam o verso seguinte e notem a rica recompensa prometida aos que assim fazem. "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará." Isaías 58:8. Aqui está uma promessa muito preciosa para todos os que se interessarem em casos daqueles que precisam de ajuda. Como pode Deus abençoar e prosperar aqueles que não têm nenhum cuidado senão por si mesmos, e que não usam aquilo que lhes foi confiado para glorificar Seu nome na Terra? T2 332 1 A irmã Ana More está morta, mártir do egoísmo de um povo que professa estar em busca da glória, honra, imortalidade e vida eterna. Isolada dos crentes durante o último frio inverno, essa abnegada missionária morreu porque nenhum coração foi suficientemente generoso para recebê-la. Não acuso ninguém. Não sou juíza. Mas quando o Juiz de toda a Terra julgar o caso, encontrará alguém a quem responsabilizar. Todos nós somos limitados e consumidos por nosso próprio egoísmo. Possa Deus arrancar essa maldita cobertura e dar-nos "entranhas de misericórdia" (Colossences 3:12), coração de carne, ternura e compaixão, é minha prece feita por um coração oprimido e angustiado. Estou certa de que uma obra precisa ser feita ou seremos achados em falta no dia de Deus. T2 332 2 Com relação a E, não se esqueçam, eu lhes peço, que ele é uma criança apenas com a experiência de uma criança. Não o comparem, um pobre, fraco e débil menino, com vocês mesmos, dele esperando segundo essa medida. Creio sinceramente que está em seu poder agir com acerto em relação a este órfão. Vocês podem prover-lhe incentivos para que ele não sinta que sua tarefa é desprovida de alegria e de um raio de encorajamento. Vocês, meu irmão e minha irmã, podem desfrutar mútua confiança, manifestar simpatia e interesse uns pelos outros, recrear-se juntos e partilhar suas provas e fardos. Vocês têm algo com que se alegrarem, enquanto ele está sozinho. Ele é um menino que pensa, mas não tem ninguém em quem confiar e que lhe diga uma palavra animadora em meio aos seus desânimos e às severas provas que eu sei ele tem, como os de mais idade. T2 333 1 Se vocês se fecham um para com o outro, isso será amor egoísta, incompatível com as bênçãos do Céu. Tenho forte esperança de que amarão o órfão pelo amor de Cristo, que sentirão serem suas posses sem valor a menos que as empreguem em fazer o bem. Façam o bem; sejam ricos em boas obras, prontos para repartir, dispostos a comunicar, fazendo para vocês mesmos um bom fundamento para o futuro, a fim de que possam tomar "posse da vida eterna". 1 Timóteo 6:12. Ninguém receberá a recompensa da vida eterna sem sacrifício. Um pai e uma mãe agonizantes deixaram suas jóias aos cuidados da igreja, para que fossem instruídas nas coisas de Deus e se tornassem aptas para o Céu. Quando esses pais olharem em torno e procurarem seus queridos e um deles estiver faltando por negligência, que responderá a igreja? Ela é em grande medida responsável pela salvação dessas crianças órfãs. T2 333 2 Provavelmente vocês têm falhado em conquistar a confiança e afeição do menino por não lhe darem provas mais concretas de seu amor mediante alguns incentivos. Se não podem despender dinheiro, podem pelo menos de alguma forma encorajá-lo, fazendo-o saber que não são indiferentes ao seu caso. Que o amor e afeição deva ser unilateral é um erro. Quanta afeição vocês têm preparado para manifestar? São demasiado fechados em si mesmos e não sentem a necessidade de circundar-se com uma atmosfera de ternura e bondade, nascidas da verdadeira nobreza de coração. O irmão e a irmã F deixaram os seus filhos aos cuidados da igreja. Eles possuíam muitos parentes ricos que desejavam ficar com as crianças; mas eram incrédulos, e se lhes concedesse ter o cuidado ou guarda desses filhos, desviariam o coração deles da verdade para o erro e poriam em perigo a sua salvação. Porque não lhes foi permitido ficar com as crianças, esses parentes ficaram descontentes e nada têm feito por elas. A confiança dos pais na igreja deve ser considerada, e não ser esquecida por causa do egoísmo. T2 334 1 Temos o mais profundo interesse nessas crianças. Uma delas já desenvolveu um belo caráter cristão e casou-se com um ministro do evangelho. E agora, em retribuição pelo cuidado e trabalhos por ela manifestados, tornou-se verdadeira portadora de fardos na igreja. É procurada para consulta e conselho pelos menos experientes, e eles não a buscam em vão. Ela possui verdadeira humildade cristã e conveniente dignidade, que não podem deixar de inspirar respeito e confiança em todos que a conhecem. Esses filhos estão chegados a mim como meus próprios. Não os perderei de vista nem cessarei os meus cuidados por eles. Amo-os sinceramente, com terna afeição. ------------------------Capítulo 50 -- Apelo aos pastores T2 334 2 Foi-me mostrada, em 2 de Outubro de 1868, a grande e solene obra diante de nós, de advertir o mundo sobre o juízo vindouro. Nosso exemplo, se de acordo com a verdade que professamos, salvará uns poucos e condenará a muitos, deixando-os sem desculpa no dia em que todos os casos serão decididos. O justo deve estar preparado para a vida eterna; e os pecadores, que não estiverem familiarizados com a vontade e caminhos de Deus, serão destinados à destruição. T2 334 3 Nem todos os que pregam a verdade a outros estão santificados por ela. Alguns não têm senão uma pálida idéia do sagrado caráter da obra. Falham em confiar no Senhor e em ter todas as suas obras feitas nEle. No íntimo não estão convertidos. Não têm experimentado em sua vida diária o mistério da piedade. Tratam com verdades imortais, importantes como a eternidade, mas não as têm inserido em sua mente, cuidadosa e diligentemente, tornando-as uma parte de si mesmos, de forma a influenciá-los em tudo o que fizerem. Não estão tão apegados aos princípios que essas verdades incutem, por isso lhes é impossível separar delas alguma parte da verdade para si. T2 335 1 Unicamente a santificação do coração e da vida é aceitável a Deus. Disse o anjo, apontando para os pastores injustos: "Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração." Tiago 4:8. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. Deus requer integridade de coração; quer que a verdade esteja no íntimo, transformando todo o ser "pela renovação do... entendimento" (Romanos 12:2) mediante as influências do divino Espírito. Nem todos os pastores são dedicados à obra; nem todos têm o coração nela. Operam tão desatentamente como se tivessem mil anos nos quais trabalhar pelas pessoas. Esquivam-se a cargas e responsabilidades, cuidados e privações. Abnegação, sofrimento e cansaço não lhes são agradáveis nem convenientes. É desejo de alguns fugir de trabalho cansativo. Estudam as próprias conveniências e como agradar a si mesmos, à esposa e aos filhos, e o trabalho no qual ingressaram é quase perdido de vista. T2 335 2 Deus pede dos pastores cujas obras não têm sido feitas nEle, quebrantamento de coração e confissões humildes. Foram-me apresentados os homens que se dedicam a empreendimentos mundanos. Eles sabem que se quiserem atingir seus objetivos, precisam suportar fadiga. Sacrificam a tranqüilidade e o amor do lar e suportam privações; são perseverantes, enérgicos e ativos. Nem todos os nossos pastores manifestam metade do zelo demonstrado por aqueles que buscam ganhos terrenos. Eles não são firmes em seus propósitos nem diligentes em seus esforços; não são perseverantes nem estão dispostos a negarem a si mesmos, como o fazem aqueles cujos alvos são seculares. T2 335 3 Compare-se os dois empreendimentos. Um é seguro, eterno, duradouro como a vida de Deus; o outro é coisa desta vida, mutável, perecível; e se os homens conseguem atingir seus ambiciosos intentos, aquilo que conseguem muitas vezes os fere como víbora e os submerge na perdição. Oh, por que haveria tão grande contraste nos esforços daqueles que estão empenhados -- uns em realizações temporais e outros em realizações celestiais? Uns trabalham por um tesouro perecível, e em seus esforços sofrem muitas dores por aquilo que freqüentemente lhes é fonte de grandes males. Outros fazem esforços pela salvação de preciosas almas, as quais serão aprovadas pelo Céu, e recompensadas com tesouros celestiais. Aqui não há probabilidade de riscos ou perdas; os lucros são certos e elevados. T2 336 1 Aqueles que estão a serviço de Cristo admoestando pessoas a se reconciliarem com Deus devem, por preceito e exemplo, manifestar um incessante interesse em salvar pecadores. Sua diligência, perseverança, abnegação e espírito de sacrifício devem exceder a diligência e o zelo daqueles que lutam por lucros terrenos, assim como a pessoa é de muito mais valor do que a escória da Terra, e o motivo, mais elevado do que empreendimentos terrenos. Todas as realizações terrestres são insignificantes quando comparadas com a obra de salvar pecadores. As coisas deste mundo não são duráveis, embora custem muito. Mas uma pessoa salva brilhará no reino do Céu através das eras eternas. T2 336 2 Alguns dos pastores estão dormindo e o povo também. Contudo, Satanás está bem desperto. Há pouco sacrifício por Deus e pela verdade. Os pastores devem dar exemplo. Em seu trabalho devem mostrar que estimam as coisas eternas como de infinito valor, e as terrenas como nada. Há pastores pregando a verdade presente que precisam converter-se. Sua compreensão precisa ser fortalecida, o coração purificado e as afeições centralizadas em Deus. Devem apresentar a verdade de maneira a avivar o intelecto para apreciar sua excelência, pureza e santidade. A fim de fazer isso, precisariam ter em mente objetivos elevados e possuam uma influência purificadora, vivificante e enobrecedora. Necessitam ter o purificador fogo da verdade queimando no altar do coração, influenciando e caracterizando-lhes a vida; então, onde quer que forem, em meio à escuridão e sombras, iluminarão com a luz que neles brilha, aqueles que estão em trevas. T2 337 1 Os pastores precisam estar imbuídos do mesmo espírito de seu Mestre, quando Ele estava na Terra. Ele ocupou-Se em fazer o bem, abençoando a outros com Sua influência. Ele foi um homem de dores e que sabe o que é padecer. Os pastores devem ter claras concepções das coisas eternas e dos reclamos de Deus sobre eles. Então poderão impressionar outros, estimulando-os ao amor pelas coisas eternas. T2 337 2 Eles devem tornar-se estudantes da Bíblia. São, porventura, poderosas as verdades que apresentam? Então devem procurar apresentá-las com habilidade. Suas idéias devem ser claras e fortes, e seu espírito fervoroso, ou enfraquecerão a força da verdade que apresentam. Nunca poderão converter os homens apresentando a verdade de maneira negligente, repetindo meramente a teoria sem serem movidos por ela. Mesmo que vivessem tanto quanto Noé, seus esforços seriam em vão. Seu amor pelos seres humanos precisa ser intenso, e seu zelo ardente. Um modo apático e descuidado de apresentar a verdade nunca despertará homens e mulheres de sua apatia mortal. Por seus atos, maneiras e palavras, por sua pregação e orações, precisam mostrar que crêem que Jesus está às portas. Homens e mulheres estão nas últimas horas de graça, e no entanto, são descuidados e ignorantes, e os pastores não têm poder para despertá-los; eles próprios dormem. Pregadores sonolentos pregando a um povo adormecido! T2 337 3 Uma grande obra deve ser feita pelos pastores, a fim de que possam pregar a verdade com sucesso. A Palavra de Deus deve ser profundamente estudada. Toda e qualquer leitura é inferior a essa. Um cuidadoso estudo da Bíblia necessariamente não excluirá outras leituras de natureza religiosa. Mas, quando a Palavra de Deus é estudada com oração, toda leitura que tende a desviar a mente dela deve ser excluída. Se estudarmos a Palavra de Deus com interesse, orando por compreensão, novas belezas serão vistas em cada linha. Deus revelará a preciosa verdade de modo tão claro que a mente desfrutará prazer genuíno, e terá contínuo banquete à medida que as confortadoras e sublimes verdades forem reveladas. T2 338 1 Visitar de casa em casa constitui uma importante parte do trabalho do pastor. Deve ele ter como alvo conversar com todos os membros da família, quer professem a verdade, quer não. É seu dever examinar a condição espiritual de todos, e viver tão próximo de Deus que possa aconselhar, exortar e reprovar cautelosamente e com sabedoria. Precisa ter a graça de Deus no próprio coração e a glória do Senhor constantemente em vista. Toda leviandade e superficialidade é positivamente proibida na Palavra de Deus. Sua conversação deve ser sobre o Céu, suas palavras temperadas com graça. Toda lisonja deve ser rejeitada, pois é obra de Satanás lisonjear. Pobres, fracos e caídos mortais geralmente pensam o suficiente acerca de si mesmos e não precisam de ajuda nesse sentido. Lisonjear nossos pastores está fora de lugar. Isso perverte a mente e não conduz à mansidão e humildade, todavia homens e mulheres gostam de ser louvados, e isso freqüentemente também acontece com os pastores. A lisonja satisfaz sua vaidade, mas isso se tem provado a ruína de muitos. A repreensão deve ser mais prezada do que a lisonja. T2 338 2 Nem todos os que pregam a verdade compreendem que seu testemunho e exemplo estão decidindo o destino das pessoas. Se forem infiéis em sua missão e se tornarem descuidados em sua obra, pessoas se perderão como resultado. Se forem abnegados e fiéis no trabalho que o Mestre lhes confiou, serão instrumentos na salvação de muitos. Alguns permitem que coisas de pouca importância os desviem do trabalho. Estradas ruins, tempo chuvoso ou assuntos domésticos de menor importância, são desculpas suficientes para que deixem o trabalho em favor das pessoas. E freqüentemente isso é feito no momento mais importante do trabalho. Quando o interesse é despertado e a mente do povo estimulada, deixa-se morrer o ânimo porque o pastor escolhe um campo mais fácil e agradável. Os que seguem tal conduta mostram claramente que não assumem a responsabilidade da obra. Desejam ser conduzidos pelo povo. Não estão dispostos a suportar privações e dificuldades que são o quinhão do verdadeiro pastor. T2 339 1 Alguns não têm qualquer experiência em fazer o trabalho como sendo de vital importância. Não se dedicam a ele com o zelo e a diligência que mostrariam estarem eles fazendo a obra que terá de suportar a prova no Juízo. Trabalham muito na própria força. Não põem em Deus sua confiança e, portanto, erros e imperfeições assinalam todos os seus esforços. Não dão ao Senhor uma oportunidade de fazer algo por eles. Não andam pela fé, mas pela vista. Não irão mais rápido nem mais longe do que podem ver. Parecem não compreender que aventurar-se em algo pela verdade faz parte de sua experiência religiosa. T2 339 2 Alguns saem de seu lar para trabalharem no campo evangelístico, mas não agem como se as verdades que pregam fossem uma realidade para eles. Suas ações mostram que não experimentaram pessoalmente o salvador poder da verdade. Quando fora do púlpito, parecem não sentir nenhuma responsabilidade pela verdade. Algumas vezes aparentemente trabalham para beneficiar-se, contudo, com maior freqüência, sem nenhum proveito. Sentem-se com direito ao salário que recebem, como se de fato o merecessem; não obstante, sua falta de consagração tem custado mais trabalho, ansiedade e sofrimento àqueles obreiros que têm a responsabilidade da obra sobre si do que todos os esforços que fizeram em favor do bem. Tais obreiros não são produtivos. Mas terão de arcar com essa responsabilidade por si mesmos. T2 340 1 É comum o caso de pastores que são inclinados a simplesmente visitar as igrejas, dedicando seu tempo e energias onde seu trabalho não trará nenhum bem. Freqüentemente as igrejas estão adiante dos pastores que trabalham entre elas, e estariam em mais próspera condição se esses pastores estivessem fora de seu caminho e lhes dessem oportunidade para trabalhar. O esforço desses pastores para edificar as igrejas apenas as destrói. A teoria da verdade é apresentada repetidas vezes, mas não é acompanhada do vitalizador poder de Deus. Têm eles manifestado descuidosa indiferença; o espírito é contagioso e as igrejas perdem seu interesse e preocupação pela salvação de outros. Assim, por sua pregação e exemplo, os pastores embalam o povo em carnal segurança. Se deixassem as igrejas, saindo para novos campos, e trabalhassem para edificar igrejas, compreenderiam a própria capacidade e o que custa ganhar almas e firmá-las na verdade. Então se dariam conta de quão cuidadosos deveriam ser para que seu exemplo e influência não desencorajassem ou enfraquecessem aqueles cuja conversão para a verdade exigiu trabalho árduo e muita oração. "Mas prove cada um a sua própria obra e terá glória só em si mesmo e não noutro." Gálatas 6:4. T2 340 2 As igrejas dão de seus recursos para sustentar os pastores em seu trabalho. O que têm eles para estimulá-las em sua liberalidade? Alguns pastores trabalham, mês após mês, e fazem tão pouco que as igrejas se tornam desanimadas; não vêem algo sendo feito para converter pessoas à verdade, nem para tornar os membros da igreja mais espirituais ou fervorosos em seu amor a Deus e Sua verdade. Aqueles que tratam das coisas sagradas devem ser totalmente consagrados ao trabalho, manifestar abnegado interesse e amor ardente pelos que perecem. Se não fazem isso, compreenderam mal sua missão e devem cessar seu trabalho de ensinar a outros, pois causam mais prejuízo do que proveito. Alguns pastores se exibem, mas não alimentam no devido tempo o rebanho que está perecendo de fome. T2 341 1 Há uma disposição por parte de alguns de proteger-se contra a oposição. Temem ir a novos lugares por causa das trevas e conflitos que esperam encontrar. Isso é covardia. O povo precisa ser procurado onde está. Necessitam de apelos fervorosos e práticos, bem como de sermões doutrinários. O preceito apoiado pelo exemplo exercerá poderosa influência. T2 341 2 Um pastor fiel não levará em conta a própria tranqüilidade e conveniência, mas trabalhará pelo interesse das ovelhas. Nessa grande obra esquecerá de si mesmo; em sua busca à ovelha perdida não se dará conta de que ele mesmo está cansado, com frio e faminto. Tem em vista apenas um objetivo: salvar a ovelha perdida custe-lhe o que custar. Seu salário não terá influência sobre seu trabalho nem o desviará do dever. Ele recebeu sua comissão da Majestade do Céu e aguarda a recompensa quando a obra que lhe foi confiada estiver feita. T2 341 3 Aqueles que estão trabalhando nas escolas como professores se preparam para a obra. Qualificam-se ao servir à escola e concentrar a mente no estudo. Não lhes é permitido ensinar ciências a crianças e jovens a menos que sejam capazes de instruí-los. Ao candidatarem-se a uma vaga de professor, são submetidos a um exame diante de pessoas competentes. É uma obra importante lidar com mentes jovens e instruí-las corretamente nas ciências. De quão maior importância, porém, é a obra do ministério! Muitos, porém, dos que se empenham na importante obra de interessar homens e mulheres a entrarem na escola de Cristo, onde podem aprender como formar caráter para o Céu, precisam eles mesmos tornar-se estudantes. Alguns que ingressam no ministério não sentem sobre si a responsabilidade da obra. Abrigam idéias incorretas sobre as qualificações de um pastor. Pensam que não seja requerido senão conhecimento superficial das ciências ou da Palavra de Deus para se tornarem pastores. Alguns dos que ensinam a verdade presente não estão familiarizados com sua Bíblia. São tão deficientes no conhecimento bíblico, que lhes é difícil citar corretamente de memória um texto das Escrituras. Por cometerem erros da maneira tão desastrada como o fazem, pecam contra Deus. Eles torcem as Escrituras e fazem a Bíblia dizer coisas que nela não estão escritas. T2 342 1 Alguns cuja vida tem sido conduzida por sentimentos, pensam que a educação ou um completo conhecimento das Escrituras não é de importância, se tão-somente tiverem o Espírito. Mas Deus nunca envia Seu Espírito para sancionar a ignorância. Aqueles que não possuem conhecimento e que estão sob circunstâncias em que não seja possível obtê-lo, Deus deles tem piedade e os abençoa, e algumas vezes Se digna aperfeiçoar Seu poder nas fraquezas deles. No entanto, não os isenta do dever de estudar Sua Palavra. A falta de conhecimento das ciências não é desculpa para negligenciar o estudo da Bíblia, pois as palavras da Inspiração são tão claras que até o iletrado pode compreendê-las. T2 342 2 De todos os homens na face da Terra, aqueles que trabalham com as solenes verdades para estes tempos perigosos devem entender sua Bíblia e se tornarem familiarizados com as evidências de nossa fé. A menos que possuam conhecimento da Palavra de vida, não têm nenhum direito de encarregar-se da instrução de outros no caminho da vida. Os pastores devem ser diligentes em acrescentar à "fé a virtude, e à virtude, a ciência, e à ciência, a temperança, e à temperança, a paciência, e à paciência, a piedade, e à piedade, o amor fraternal, e ao amor fraternal, a caridade". 2 Pedro 1:5-7. Alguns de nossos pastores se formam, embora mal tenham aprendido os princípios básicos da doutrina de Cristo. Os que são embaixadores de Cristo, que estão em Seu lugar, instando com as pessoas a se reconciliarem com Deus, devem ser qualificados para apresentar inteligentemente nossa fé e serem capazes de "com mansidão e temor" dar "a razão" de sua esperança. 1 Pedro 3:15. Cristo disse: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam." João 5:39. T2 343 1 Pastores que ensinam verdades impopulares serão perseguidos por homens impelidos por Satanás e que, como seu mestre, podem citar prontamente as Escrituras. Serão os servos de Deus diferentes dos servos de Satanás no trato com as palavras da inspiração? Eles devem, como Cristo, confrontar escritura com escritura. Oh, que os que trabalham com as coisas sagradas despertem e, como os nobres bereanos, examinem diariamente as Escrituras! Irmãos no ministério, rogo-lhes que estudem as Escrituras com humilde oração por um coração compreensivo, para que possam ensinar o caminho da vida com mais perfeição. Seu conselho, orações e exemplo precisam ter um "cheiro de vida para vida" (2 Coríntios 2:16), ou vocês estarão desqualificados para indicar o caminho de vida a outros. T2 343 2 O Mestre requer que todos os Seus servos aprimorem os talentos que Ele lhes concedeu. Todavia muito mais requererá Ele daqueles que professam compreender o caminho para a vida, e que tomam a responsabilidade de conduzir outros a ele. O apóstolo Paulo exortou a Timóteo: "Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros." 2 Timóteo 2:1, 2. T2 343 3 Os gloriosos resultados que acompanharam o ministério dos escolhidos discípulos de Cristo foram conseqüência de levarem por toda parte, em seu corpo, a mortificação do Senhor Jesus. Alguns dos que testificaram de Cristo eram homens iletrados e ignorantes, mas a graça e a verdade reinavam-lhes no coração, inspirando-os, purificando-lhes a vida e controlando-lhes as ações. Eram representantes vivos da mente e do espírito de Cristo. Eram cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. 2 Coríntios 3:2. Foram odiados e perseguidos por todos os que não aceitavam as verdades por eles pregadas e que desprezavam a cruz de Cristo. T2 344 1 Homens ímpios não se oporão a uma forma de piedade, nem rejeitarão um ministério popular que não apresenta uma cruz para carregarem. O homem natural não levantará séria objeção a uma religião que não faz o transgressor da lei tremer ou não traz ao coração e à consciência as terríveis realidades de um julgamento por vir. É a demonstração do Espírito e o poder de Deus que suscita oposição, e leva o coração natural a rebelar-se. A verdade que salva não deve apenas provir de Deus, mas Seu Espírito precisa acompanhar essa comunicação aos outros, senão ela sucumbe impotente diante das influências opositoras. Oh, que essa verdade saísse dos lábios dos servos de Deus com tal poder para inflamar o caminho ao coração das pessoas! T2 344 2 Os pastores devem estar revestidos do poder do alto. Quando a verdade em sua simplicidade e força, tal como é em Jesus, for levada contra o espírito do mundo, condenando seus prazeres incitantes e encantos corruptores, então será claramente visto que não há "concórdia... entre Cristo e Belial". 2 Coríntios 6:15. O coração "natural não compreende as coisas do Espírito de Deus". 1 Coríntios 2:14. Um pastor não consagrado apresentando a verdade de maneira fria, com o próprio coração impassível diante das verdades que prega aos outros, causará unicamente dano. Cada esforço que faz apenas baixa o padrão. T2 344 3 O interesse egoísta precisa ser absorvido por profunda ansiedade pela salvação de almas. Alguns pastores têm trabalhado, não porque não ousassem fazer de outro modo, nem porque o infortúnio estivesse sobre eles, mas tendo unicamente em vista o salário a ser recebido. Disse o anjo: "Quem há também entre vós que feche as portas e não acenda debalde o fogo do Meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oblação." Malaquias 1:10. T2 345 1 É totalmente errado acreditar em toda mensagem dada em nome do Senhor. O tesouro divino tem sido desperdiçado por aqueles que têm sido unicamente uma desonra à causa. Se os pastores se dedicassem totalmente ao trabalho de Deus e consagrassem todas as energias ao desenvolvimento da causa, de nada teriam falta. No tocante às coisas temporais, têm eles melhor sorte do que teve seu Senhor e tiveram Seus escolhidos discípulos a quem Ele enviou para salvar os perdidos. Nosso grande Exemplo, que era o resplendor da glória do Pai, foi desprezado e rejeitado pelos homens. Vergonha e falsidade O seguiram. Seus discípulos escolhidos foram exemplos vívidos da vida e espírito de seu Mestre. Eram honrados com prisão e açoites, e foi finalmente seu quinhão selar o ministério com o próprio sangue. T2 345 2 Quando os pastores estão tão interessados no trabalho que amam como parte de sua existência, então podem dizer: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" Romanos 8:35-39. T2 345 3 "Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória." 1 Pedro 5:1-4. ------------------------Capítulo 51 -- Poluição moral T2 346 1 Foi-me mostrado que vivemos em meio dos perigos dos últimos dias. Por "multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará". Mateus 24:12. A palavra "muitos" se refere aos professos seguidores de Cristo. Eles são afetados pela iniqüidade dominante, e se afastam de Deus; não é, porém, necessário que eles assim sejam afetados. A causa desse declínio é eles não se manterem limpos da iniqüidade. O fato de seu amor para com Deus estar esfriando por se multiplicar a iniqüidade, mostra que eles são em certo sentido participantes dessa iniqüidade, do contrário ela não lhes afetaria o amor para com Deus, e seu zelo e fervor em Sua causa. T2 346 2 Foi-me apresentado terrível quadro da condição do mundo. A iniqüidade alastra-se por toda parte. A licenciosidade é o pecado especial desta época. Jamais ergueu o vício a cabeça disforme com tal ousadia como o faz agora. O povo parece estar entorpecido, e os amantes da virtude e da verdadeira piedade acham-se quase desanimados por sua ousadia, força e predominância. A abundante iniqüidade não se limita apenas aos incrédulos e zombadores. Quem dera que assim fosse! mas não é. Muitos homens e mulheres que professam a religião de Cristo, são culpados. Mesmo alguns que professam estar esperando Seu aparecimento não estão mais preparados para esse acontecimento do que o próprio Satanás. Não se estão purificando de toda poluição. Têm por tanto tempo servido a sua concupiscência, que lhes é natural pensar impuramente e ter pensamentos corruptos. É tão impossível fazer com que sua mente demore nas coisas puras e santas, como seria desviar o curso do Niágara, e fazer com que suas águas jorrassem para cima. T2 347 1 Jovens e crianças de ambos os sexos se entregam à poluição moral, e praticam este repulsivo vício, destruidor do caráter e do corpo. Muitos professos cristãos se acham tão embotados pela mesma prática, que suas sensibilidades morais não podem ser despertadas para compreender que isso é pecado, e que se nisto continuam, os seguros resultados serão completa ruína do corpo e da mente. O homem, o ser mais nobre da Terra, formado à imagem de Deus, transforma-se em animal! Faz-se grosseiro e corrupto. Todo cristão terá de aprender a refrear as paixões, e a ser regido por princípios. A menos que assim aja, é indigno do nome de cristão. T2 347 2 Alguns que fazem alta profissão de fé, não compreendem o pecado do abuso próprio [masturbação] e seus resultados. O hábito longamente arraigado lhes tem cegado o entendimento. Eles não avaliam a excessiva malignidade deste degradante pecado que lhes enerva o organismo e destrói a energia nervosa do cérebro. Os princípios morais são demasiado fracos quando em luta com um hábito arraigado. Solenes mensagens vindas do Céu não podem impressionar fortemente o coração não fortalecido contra a condescendência com esse degradante vício. Os sensitivos nervos do cérebro perderam o saudável tono devido à estimulação doentia para satisfazer um desejo antinatural de satisfação sensual. Os nervos cerebrais que se comunicam com todo o organismo são os únicos meios pelos quais o Céu se pode comunicar com o homem, e influenciar sua vida mais íntima. Seja o que for que perturbe a circulação das correntes elétricas no sistema nervoso, diminui a resistência das forças vitais, e o resultado é um amortecimento das sensibilidades da mente. Em atenção a isso, como é importante que pastores e povo que professam piedade se apresentem limpos e imaculados quanto a tal vício degradante do caráter! T2 347 3 Minha alma se tem curvado em angústia, ao ser mostrada a débil condição do professo povo de Deus. A iniqüidade é abundante e o amor de muitos esfria. Não há senão poucos professos cristãos que consideram esse assunto em seu devido aspecto, e que mantêm sobre si mesmos o justo governo quando a opinião pública e o costume não os condena. Quão poucos refreiam suas paixões por se sentirem sob obrigação moral de fazê-lo, e porque o temor de Deus está diante de seus olhos! As faculdades mais elevadas do homem são escravizadas pelo apetite e por paixões corruptas. T2 348 1 Alguns reconhecerão o mal das condescendências pecaminosas, todavia se desculparão dizendo que não lhes é possível vencer as paixões. Isso é coisa terrível de ser admitida por qualquer pessoa que profere o nome de Cristo. "Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade." 2 Timóteo 2:19. Por que essa fraqueza? É porque as propensões sensuais têm sido fortalecidas pelo exercício, até que tomaram ascendência sobre as faculdades superiores. Homens e mulheres carecem de princípios. Estão morrendo espiritualmente, por haverem tão longamente nutrido seus apetites naturais, que sua capacidade de governar-se parece haver desaparecido. As paixões inferiores de sua natureza têm tomado as rédeas, e o que devia ser o poder dirigente se tem tornado o servo da paixão corrupta. A mente é mantida na mais baixa servidão. A sensualidade tem extinguido o desejo de santidade, e ressecado o viço espiritual. T2 348 2 Minha alma lamenta pelos jovens que estão formando o caráter nesta época degenerada. Tremo também por seus pais; pois me foi mostrado que, em geral, eles não compreendem suas obrigações de educar os filhos no caminho que devem trilhar. Consultam-se os costumes e a moda, e os filhos em breve aprendem a ser controlados por esses, e são corrompidos; enquanto os condescendentes pais se acham por sua vez entorpecidos, e dormindo quanto ao seu perigo. Mas bem poucos dos jovens se acham livres de hábitos corruptos. Eles são em grande parte liberados do exercício físico por medo de que trabalhem demais. Os próprios pais assumem responsabilidades que deviam estar sobre os filhos. O excesso de trabalho é mau; mas os resultados da indolência devem ser mais temidos. A ociosidade leva à condescendência com hábitos corruptos. O trabalho não consome a quinta parte do que o faz o pernicioso hábito da masturbação. Se o trabalho simples e bem regulado aborrece seus filhos, estejam certos, pais, há qualquer coisa mais que lhes está enervando o organismo e produzindo uma sensação de constante cansaço. Dêem trabalho físico a seus filhos, que exija atividade dos nervos e dos músculos. A fadiga resultante desse trabalho lhes diminuirá a inclinação para condescenderem com os hábitos viciosos. A ociosidade é uma maldição. Produz hábitos licenciosos. T2 349 1 Muitos casos me têm sido apresentados e, ao ter eu uma visão de sua vida interior, meu coração ficou acabrunhado e desgostoso, e com repugnância do apodrecimento do coração dos seres humanos que professam piedade e falam de trasladação para o Céu. Tenho-me perguntado freqüentemente: Em quem posso confiar? Quem está isento de iniqüidade? T2 349 2 Meu marido e eu assistimos uma vez a uma reunião em que nossa atenção foi solicitada para um irmão que sofria grandemente com a tuberculose. Achava-se magro e pálido. Ele pedia as orações do povo de Deus. Disse que a família estava doente, e que perdera um filho. Falava com sentimento acerca dessa perda. Disse que havia tempos esperava poder ver o irmão e a irmã White. Acreditava que, se orassem com ele, seria curado. Terminada a reunião, os irmãos chamaram-nos a atenção para o caso. Disseram que a igreja os estava ajudando, que a esposa estava doente, e lhe morrera o filho. Os irmãos se haviam reunido em sua casa, e orado pela família afligida. Nós estávamos muito fatigados, tínhamos sobre nós a preocupação do trabalho durante a reunião, e desejávamos ser dispensados. T2 349 3 Eu havia resolvido não me empenhar em oração por ninguém, a menos que o Espírito do Senhor assim indicasse. Havia-me sido mostrado que havia tanta iniqüidade, mesmo entre os professos observadores do sábado, que não desejava tomar parte em oração por pessoas cuja história me era desconhecida. Declarei minha razão. Foi-me assegurado pelos irmãos que, tanto quanto eles sabiam, ele era um irmão digno. Conversei alguns momentos com a pessoa que solicitara nossas orações a fim de obter a cura, mas não me pude sentir livre. Ele chorou e disse que esperara que viéssemos, e estava certo de que, se orássemos por ele, seria restaurado à saúde. Nós lhe dissemos que não estávamos familiarizados com sua vida; que preferíamos que aqueles que o conheciam orassem com ele. Ele insistiu conosco tão encarecidamente, que decidimos considerar seu caso, e apresentá-lo perante o Senhor aquela noite; e se o caminho nos parecesse aberto, havíamos de satisfazer-lhe o pedido. T2 350 1 Curvamo-nos naquela noite em oração, e apresentamos seu caso perante o Senhor. Rogamos que pudéssemos conhecer a vontade de Deus a seu respeito. Todo o nosso desejo era que Deus fosse glorificado. Queria o Senhor que orássemos por esse enfermo? Deixamos o caso com o Senhor, e recolhemo-nos para descansar. Num sonho o caso daquele homem me foi claramente apresentado. Foi mostrado o seu procedimento desde a infância, e que, se orássemos, o Senhor não nos ouviria; pois ele atendia à iniqüidade em seu coração. Na manhã seguinte o homem veio para que orássemos por ele. Nós o tomamos à parte e lhe dissemos que sentíamos ser forçados a recusar o seu pedido. Contei-lhe meu sonho, que ele reconheceu ser verdade. Ele praticava a masturbação desde a infância, e continuara nessa prática através de sua vida de casado, mas disse que procuraria romper com ela. T2 350 2 Esse homem tinha um hábito longamente arraigado a vencer. Estava na metade da existência. Seus princípios morais estavam tão fracos que, quando postos em conflito com a condescendência há tanto arraigada, eram vencidos. As paixões inferiores haviam adquirido ascendência sobre a natureza superior. Interroguei-o quanto à reforma da saúde. Disse que não podia vivê-la. Sua esposa jogaria fora a farinha integral, caso ela fosse introduzida em casa. Essa família havia sido ajudada pela igreja. Haviam-se feito orações em seu favor também. Seu filho morrera, a esposa estava doente, e o marido e pai deixava seu caso sobre nós, para o levarmos perante o puro e santo Deus, para que Ele operasse um milagre e o restabelecesse. As sensibilidades morais desse homem estavam amortecidas. T2 351 1 Quando os jovens adotam práticas vis enquanto o espírito é tenro, eles nunca obterão força para desenvolver plena e corretamente personalidade física, intelectual e moral. Ali estava um homem que se degradava diariamente, e todavia ousava arriscar-se a entrar na presença de Deus, e pedir um acréscimo da força que ele vilmente dissipara, e que se concedida, consumiria em sua concupiscência. Que paciência a de Deus! Se Ele lidasse com o homem segundo seus caminhos corruptos, quem poderia viver à Sua vista? Que seria se houvéssemos sido menos cautelosos e levado diante de Deus o caso desse homem, enquanto ele praticava iniqüidade, teria o Senhor ouvido e atendido? "Porque Tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal. Os loucos não pararão à Tua vista; aborreces a todos os que praticam a maldade." Salmos 5:4, 5. "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Salmos 66:18. T2 351 2 Esse não é um caso isolado. Mesmo as relações matrimoniais não foram suficientes para preservar esse homem dos hábitos corruptos de sua adolescência. Quisera poder convencer-me de que casos como o que apresento são raros; sei, porém, que são freqüentes. Os filhos nascidos de pais dominados por paixões corruptas, são sem valor. Que pode ser esperado de filhos tais, senão que desçam mais baixo na balança, que seus pais? Que se pode esperar desta geração? Milhares são vazios de princípios. Esses mesmos transmitem a sua descendência as próprias paixões miseráveis, corruptas. Que herança! Milhares arrastam a existência destituída de princípios, manchando seus companheiros e perpetuando suas baixas paixões ao transmiti-las aos filhos. Tomam a responsabilidade de neles gravar o próprio caráter. T2 352 1 Volto mais uma vez aos cristãos. Se todos quantos professam obedecer à lei de Deus estivessem isentos de iniqüidade, meu coração sentir-se-ia aliviado; não o estão, porém. Mesmo alguns que professam guardar todos os mandamentos de Deus são culpados do pecado de adultério. Que posso eu dizer que lhes desperte as amortecidas sensibilidades? Os princípios morais, estritamente observados, tornam-se a única salvaguarda do ser humano. Se já houve tempo em que o regime alimentar devesse ser da mais simples qualidade, esse tempo é agora. Não devemos pôr carne diante de nossos filhos. Sua influência é reavivar e fortalecer as mais baixas paixões, tendo a tendência de amortecer as faculdades morais. Cereais e frutas preparados sem gordura, e no estado mais natural possível, devem ser o alimento para as mesas de todos os que professam estar-se preparando para a trasladação ao Céu. Quanto menos estimulante o regime, tanto mais facilmente podem as paixões ser dominadas. A satisfação do paladar não deve ser considerada sem levar em conta a saúde física, intelectual ou moral. T2 352 2 A condescendência com as paixões inferiores levará muitíssimos a fechar os olhos à luz; pois temem ver pecados que não estão dispostos a abandonar. Todos podem ver, se quiserem. Caso prefiram as trevas em vez da luz, nem por isso será menor a sua culpa. Por que não lêem os homens e mulheres, tornando-se mais versados nessas coisas que tão decididamente afetam sua resistência física, intelectual e moral? Deu-lhes Deus uma habitação para que dela cuidem, e a conservem nas melhores condições para Seu serviço e Sua glória. Seu corpo não lhes pertence. "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." 1 Coríntios 3:16, 17. ------------------------Capítulo 52 -- Temperança cristã* T2 354 1 "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. T2 354 2 Não somos de nós mesmos. Fomos comprados por alto preço, os próprios sofrimentos e morte do Filho de Deus. Caso pudéssemos compreender isto, e o avaliássemos plenamente, experimentaríamos uma grande responsabilidade a repousar sobre nós quanto a manter-nos no melhor estado de saúde, a fim de prestar a Deus um serviço perfeito. Quando, porém, seguimos qualquer conduta que nos gasta a vitalidade, diminui a força ou obscurece o intelecto, pecamos contra Deus. Ao seguirmos tal conduta não O glorificamos no corpo e no espírito, que Lhe pertencem, mas estamos cometendo grande erro aos Seus olhos. T2 354 3 Entregou-Se Jesus Cristo por nós? Foi um grande preço pago pela nossa redenção? É mesmo verdade que não somos de nós mesmos? É real que todas as faculdades de nosso ser, nosso corpo, espírito, tudo quanto possuímos e tudo quanto somos pertencem a Deus? Certamente sim. E ao compreendermos isso, sob que obrigação esse fato nos coloca para com o Senhor, de conservar-nos naquelas condições em que O possamos honrar na Terra, em nosso corpo e no Espírito que Lhe pertencem! Cremos sem nenhuma dúvida que Cristo está para vir em breve. Isto não é uma fábula para nós; é uma realidade. Não temos dúvida, nem por anos temos duvidado uma só vez, de que as doutrinas que hoje mantemos sejam verdade presente, e de que nos estamos aproximando do juízo. Estamos nos preparando para encontrar-nos com Aquele que, acompanhado por uma comitiva de santos anjos, há de aparecer nas nuvens do céu, para dar aos fiéis e justos o toque final da imortalidade. Quando Ele vier, não nos purificará de nossos pecados, para remover de nós os defeitos de caráter, nem para curar-nos das fraquezas de nosso temperamento e disposição. Se acaso esta obra houver de ser efetuada em nós, sê-lo-á totalmente antes daquela ocasião. Quando o Senhor vier, os que são santos serão santos ainda. Os que houverem conservado o corpo e o espírito em santidade, em santificação e honra, receberão então o toque final da imortalidade. Mas os que são injustos, não santificados e sujos, assim permanecerão para sempre. Nenhuma obra se fará então por eles para lhes remover os defeitos e dar-lhes um caráter santo. Naquela ocasião, o Refinador não Se ocupará com o processo de purificação, para remover-lhes os pecados e a corrupção. Tudo isso deve ser realizado durante o tempo da graça. É agora que essa obra deve ocorrer em nós. T2 355 1 Abraçamos a verdade de Deus com nossas faculdades diversas, e ao chegarmos sob a influência dessa verdade, ela realizará por nós a obra necessária a fim de dar-nos aptidão moral para o reino da glória, e para a sociedade dos anjos celestes. Achamo-nos agora na oficina de Deus. Muitos de nós somos pedras rústicas da pedreira. Ao apoderar-nos, porém, da verdade de Deus, sua influência nos afeta. Eleva-nos, e tira de nós toda imperfeição e pecado, seja de que natureza for. Assim estamos preparados para ver o Rei em Sua beleza, e unir-nos afinal com os puros anjos celestes no reino da glória. É aqui que esta obra tem de ser efetuada por nós; aqui que nosso corpo e espírito devem ser habilitados para a imortalidade. T2 356 1 Achamo-nos em um mundo avesso à justiça, à pureza de caráter e ao crescimento na graça. Para onde quer que olhemos, vemos corrupção e contaminação, deformidade e pecado. E qual é a obra que devemos empreender aqui antes de receber a imortalidade? É conservar nosso corpo santo, puro o nosso espírito, para que permaneçamos incontaminados entre as corrupções tão comuns ao nosso redor nestes últimos dias. E se esta obra se há de realizar, precisamos nela empenhar-nos imediatamente, com coração e entendimento. Aí não deve entrar o egoísmo para nos influenciar. O Espírito de Deus deve ter sobre nós perfeito domínio, influenciando-nos em todas as nossas ações. Se nos apegarmos devidamente ao Céu, ao poder do alto, experimentaremos a santificadora influência do Espírito de Deus em nosso coração. T2 356 2 Ao procurarmos apresentar a reforma de saúde a nossos irmãos e irmãs, e lhes falarmos da importância de comerem e beberem, e fazerem tudo o que fizerem para a glória de Deus, muitos têm dito por suas ações: "Não é da conta de ninguém se comemos isto ou aquilo. Seja o que for que fizermos, nós mesmos é que temos de suportar as conseqüências." Prezados amigos, vocês estão grandemente enganados. Não são vocês os únicos a sofrerem por causa de sua errônea maneira de viver. A sociedade em que estão, sofre em alto grau as conseqüências de seus erros, da mesma maneira que vocês. Se vocês sofrem por causa de sua intemperança no comer e beber, nós que nos achamos ao seu redor ou a vocês associados, também somos afetados por suas enfermidades. Temos de sofrer por causa da maneira errônea em que vivem. Se isso tem o efeito de prejudicar-lhes as faculdades mentais ou físicas, nós sentimos isto quando em seu convívio, e somos assim afetados. Se, em vez de ter um espírito bem disposto, vocês estão sombrios, lançam uma nuvem sobre o espírito de todos os que os rodeiam. Se estamos tristes e deprimidos, e perturbados, vocês poderão, caso se encontrem na devida condição de saúde, ter um cérebro claro para nos mostrar uma porta de escape, e dirigir-nos uma palavra de conforto. Mas se seu cérebro está tão entorpecido pela errônea maneira de viver que seguem, que não lhes é possível dar-nos o justo conselho, não sofremos nós prejuízo? Não nos afeta seriamente a influência que vocês exercem? Talvez tenhamos certo grau de confiança em nosso próprio juízo, todavia queremos ter conselheiros; pois "na multidão de conselheiros há segurança". Provérbios 11:14. Desejamos que nosso procedimento pareça coerente àqueles a quem amamos, e desejamos buscar-lhes o conselho e que eles estejam aptos a no-lo dar com um cérebro esclarecido. Mas que nos importa seu juízo, se a capacidade de seu cérebro foi sobrecarregada ao máximo, e a vitalidade retirada do mesmo para atender às comidas impróprias introduzidas em seu estômago ou à enorme quantidade de alimento, mesmo que seja saudável? Que nos importa o julgamento de tais pessoas? Elas vêem através de uma massa de alimento não digerido. Portanto, sua maneira de viver nos afeta. Impossível lhes é seguir qualquer conduta errônea, sem causar sofrimento a outros. T2 357 1 "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:24-27. Aqueles que se empenhavam na carreira para obter um prêmio que era considerado honra especial, eram temperantes em todas as coisas, de modo que os músculos, o cérebro e todo o seu corpo se achassem nas melhores condições para correr. Caso não fossem temperantes em todas as coisas, não teriam aquela elasticidade que desfrutavam. Temperantes, poderiam realizar aquela corrida com mais êxito; e seguros de obter a coroa. T2 358 1 Mas não obstante toda a sua temperança -- todos os seus esforços para se submeterem a um cuidadoso regime de modo a estar nas melhores condições -- os que corriam a carreira terrestre corriam simplesmente ao acaso. Poderiam fazer o melhor que lhes fosse possível e, afinal de contas, não receber o penhor da honra; pois outro poderia estar um pouquinho adiante deles e alcançar o prêmio. Um apenas recebia a recompensa. Na carreira celeste, porém, podemos correr todos, e todos receberemos o prêmio. Não há incerteza nem risco a esse respeito. Cumpre revestir-nos das graças celestes e, com os olhos voltados para a coroa da imortalidade, manter o Modelo sempre diante de nós. Ele foi um "homem de dores, experimentado nos trabalhos". Isaías 53:3. A vida humilde, abnegada de nosso divino Senhor, devemos conservar sempre em vista. E então, ao buscarmos imitá-Lo, olhos fitos na recompensa, podemos correr com segurança essa carreira, sabendo que, se fizermos o melhor ao nosso alcance, certamente conseguiremos o prêmio. T2 358 2 Os homens se submetiam à abnegação e à disciplina a fim de correr e obter uma coroa corruptível, daquelas que num dia perecem, e que era apenas um sinal de honra da parte dos mortais aqui. Nós, porém, temos de correr a corrida, no fim da qual se acha uma coroa de imortalidade e vida eterna. Sim, "um peso eterno de glória mui excelente" (2 Coríntios 4:17), ser-nos-á dado como prêmio quando o fim da carreira chegar. "Nós", diz o apóstolo, "uma [coroa] incorruptível." 1 Coríntios 9:25. E se aqueles que se empenham nesta carreira aqui na Terra por uma coroa temporal, podiam ser temperantes em tudo, não o podemos nós, que temos em vista uma coroa incorruptível, um eterno peso de glória e vida que se compara à de Deus? Tendo diante de nós tão grande incentivo, não podemos correr "com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé"? Hebreus 12:1, 2. Ele indicou-nos o caminho, e assinalou-o em toda a sua extensão com as próprias pegadas. É o caminho por onde andou e, com Ele, podemos experimentar a abnegação e o sofrimento, e trilhar esse caminho marcado com o Seu sangue. T2 359 1 "Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão." 1 Coríntios 9:26, 27. Há aí uma obra a ser feita por todo homem, mulher e criança. Satanás está continuamente buscando adquirir controle sobre seu corpo e espírito. Cristo, porém, os comprou, e vocês são propriedade Sua. E agora lhes cabe trabalhar em união com Ele, em união com os santos anjos que os servem. Cabe a vocês manter o corpo subjugado, e reduzi-lo à servidão. A menos que façam isto, perderão por certo a vida eterna e a coroa da imortalidade. E ainda alguns dirão: "Que importa a alguém o que eu como ou bebo?" Mostrei-lhes a relação que há entre seu modo de viver e os outros. Vocês viram que isso tem muito que ver com a influência que exercem em sua família. Muito que ver com a modelagem do caráter de seus filhos. T2 359 2 Como eu disse antes, vivemos em uma época de corrupção. É um tempo em que Satanás parece ter quase inteiro domínio sobre as mentes não totalmente consagradas a Deus. Há, portanto, mui grande responsabilidade sobre os pais e pessoas que têm a seu cargo a educação de crianças. Os pais assumiram a responsabilidade de dar à existência essas crianças; e agora, qual é seu dever? É deixá-las crescer como lhes for possível, e segundo a vontade delas? Permitam-me dizer-lhes: pesada é a responsabilidade que repousa sobre esses pais. "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. Assim fazem vocês ao preparar o alimento para a mesa, e chamar a família a dele partilhar? Colocam diante de seus filhos apenas o que sabem que vai produzir o melhor sangue? É a espécie de alimento que lhes manterá o organismo na condição menos febril possível? É aquele que os colocará na melhor relação para com a vida e a saúde? É esta a comida que estão pensando em colocar diante de seus filhos? Ou, sem consideração para com seu futuro bem, vocês lhes fornecem alimentação nociva, estimulante, própria a causar irritação? T2 360 1 Deixem-me dizer-lhes que as crianças nascem propensas ao pecado. Satanás parece ter domínio sobre elas. Toma-lhes posse da mente juvenil, e elas se corrompem. Por que procedem os pais e mães como se estivessem possuídos de insensibilidade? Eles não desconfiam de que Satanás esteja semeando ruins sementes em sua família. Acham-se tão cegos, descuidosos e negligentes com relação a essas coisas, quanto é possível estar. Por que não despertam, e não lêem e estudam sobre esses assuntos? Diz o apóstolo: "Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência. E à ciência temperança, e à temperança paciência." 2 Pedro 1:5, 6. Aí está uma obra que cabe a todos os que professam seguir a Cristo; é viver segundo o plano de adição. T2 360 2 Capítulo após capítulo tem sido aberto perante mim. Posso selecionar linhagem após linhagem nessa casa, onde cada filho é tão corrupto como o próprio inferno. Alguns deles professam ser seguidores de Cristo, e vocês, seus pais, são tão indiferentes como se tivessem sido acometidos de paralisia. T2 360 3 Disse eu que alguns de vocês são egoístas. Não compreenderam o que eu lhes queria dizer. Procuraram saber qual o alimento mais saboroso. O paladar e a satisfação, em vez da glória de Deus e do desejo de progredir na vida espiritual, e aperfeiçoar a santidade no temor do Senhor, isso é o que tem dominado. Vocês têm consultado o próprio prazer, o próprio apetite; e enquanto isso fizeram, Satanás lhes tomou a dianteira e, como se dá em geral, todas as vezes frustrou seus esforços. T2 360 4 Alguns de vocês, pais, têm levado seus filhos ao médico para ver o que havia com eles. Eu em dois minutos lhes poderia ter dito qual o problema. Seus filhos são corruptos. Satanás obteve controle sobre eles. Ele passou justamente a sua frente, enquanto vocês, que são para eles como Deus, para guardá-los, estiveram à vontade, insensíveis e adormecidos. Deus lhes ordenou criá-los "na doutrina e admoestação do Senhor". Efésios 6:4. Mas Satanás penetrou, mesmo na sua presença, tecendo fortes laços em torno deles. E todavia continuam dormindo. Que o Céu tenha piedade de vocês e de seus filhos, pois cada um de vocês carece de Sua misericórdia. T2 361 1 Tivessem tomado posição na questão da reforma de saúde; tivessem associado com a "fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio" (2 Pedro 1:5, 6), as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas vocês se acharam apenas parcialmente despertos, pela iniqüidade e corrupção que se espalham em suas casas. Vocês abriram um pouco os olhos e então se ajeitaram para dormir novamente. Pensam que os anjos podem entrar em suas casas? Pensam que seus filhos são suscetíveis às influências santas, com essas coisas entre vocês? Posso apontar famílias e mais famílias que estão quase inteiramente sob o controle de Satanás. Sei que essas coisas são verdadeiras e anseio que o povo para elas desperte antes que seja muito tarde, e o sangue das almas, mesmo o dos próprios filhos, manche suas vestes. T2 361 2 A mente de alguns desses filhos se acha tão enfraquecida que apresenta apenas de um terço à metade do brilho que teria se houvessem eles sido retos e puros. Perverteram-na por abusarem de si próprios. Justo nessa igreja a corrupção está proliferando. Ocasionalmente há cantoria ou alguma reunião para divertimento. Cada vez que ouço acerca disso, tenho vontade de vestir-me com pano de saco. "Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em uma fonte de lágrimas!" Jeremias 9:1. "Poupa o Teu povo, ó Senhor." Joel 2:17. Fico angustiada. Sinto uma agonia de alma que está além do que posso descrever. Vocês continuam dormindo. Poderiam os relâmpagos e trovões do Sinai despertar essa igreja? Poderiam eles despertá-los, pais e mães, para darem início à obra de reforma em seus lares? Vocês devem ensinar seus filhos. Devem instruí-los sobre como fugir dos vícios e da corrupção desta época. Em vez disto, muitos estão imaginando como conseguir alguma coisa boa para comer. Vocês colocam sobre sua mesa manteiga, ovos e carne, e seus filhos disso participam. Alimentam-se dos próprios artigos que lhes despertam as paixões sensuais, e então vocês vão à reunião e pedem a Deus que abençoe e salve seus filhos. Que altura alcançarão suas orações? Vocês têm uma obra a realizar primeiro. Depois de haverem feito por seus filhos tudo que Deus deixou ao seu cuidado, poderão então, com confiança, suplicar o auxilio especial que Deus lhes prometeu dar. T2 362 1 Devem empenhar-se na temperança em todas as coisas. Devem considerá-la no que comem e no que bebem. Entretanto, dizem: "Não é da conta de ninguém o que eu como, ou o que bebo, ou o que ponho à mesa." É, sim, da conta de alguém, a menos que tomem seus filhos e os prendam, ou vão ao deserto, onde vocês não sejam um peso para os outros, e onde seus filhos turbulentos e viciosos não corrompam a sociedade em que vivem. T2 362 2 Muitos dos que adotaram a reforma de saúde, deixaram tudo quanto era nocivo; segue-se, porém, que pelo fato de deixarem essas coisas, podem comer tanto quanto lhes apetecer? Sentam-se à mesa e, em vez de considerar quanto lhes convém ingerir, entregam-se ao apetite e comem excessivamente, e o estômago tem quanto lhe é possível processar, ou o que deve processar, para o resto do dia, afadigando-se com o fardo que lhe é imposto. Todo o alimento posto no estômago, do qual o organismo não pode tirar proveito, é uma carga para a natureza em seu trabalho. Atrapalha os órgãos. O organismo fica obstruído, e não pode com êxito levar avante sua obra. Os órgãos vitais ficam desnecessariamente sobrecarregados, e a energia nervosa do cérebro é chamada ao estômago para ajudar os órgãos digestivos no trabalho de dispor de uma quantidade de comida que não faz nenhum bem ao organismo. T2 363 1 Assim o vigor do cérebro é diminuído com o sacar tão fortemente dele em favor do estômago com sua pesada carga. E depois de ele concluir a tarefa, quais são as sensações experimentadas em resultado desse desnecessário dispêndio de energia vital? Uma sensação de fraqueza, como se vocês devessem comer mais. Talvez essa sensação sobrevenha justamente antes da hora da refeição. Qual a causa disso? A natureza afadigou-se com seu trabalho, e acha-se tão exausta em conseqüência disto, que vocês experimentam essa sensação de fraqueza. E julgam que o estômago diz: "Mais comida", quando, em sua fraqueza, ele está dizendo distintamente: "Dêem-me repouso." T2 363 2 O estômago necessita de descanso para refazer as exaustas energias para outro trabalho. Mas em vez de lhe conceder qualquer período de sossego, vocês pensam que ele precisa de mais comida, e amontoam outra carga sobre a natureza, negando-lhe o necessário descanso. É como um homem que trabalha no campo durante todo o período da manhã, até estar cansado. Ele entra ao meio-dia, e diz que está cansado e exausto; mas vocês dizem-lhe que vá trabalhar novamente, que achará descanso. É assim que tratam seu estômago. Ele se acha totalmente cansado. Em vez, porém, de dar-lhe repouso, dão-lhe mais comida, e depois chamam a vitalidade de outras partes do organismo para o ajudar no trabalho da digestão. T2 363 3 Muitos de vocês têm às vezes sentido um entorpecimento no cérebro. Sentiram-se desanimados em assumir qualquer trabalho que exigisse esforço mental ou físico, até que se tivessem refeito da sensação do fardo imposto sobre seu organismo. Depois há, novamente, essa sensação de fraqueza. Vocês dizem, porém, que é a falta de mais alimento, e colocam uma carga dupla no estômago para que ele cuide dela. Mesmo sendo cuidadosos no que se refere à qualidade de seu alimento, vocês glorificam a Deus no corpo e espírito, os quais Lhe pertencem, ao ingerir tal quantidade de alimento? Os que sobrecarregam o estômago com tanto alimento, e assim pressionam a natureza, não poderiam apreciar a verdade se a ouvissem. Eles não conseguiriam despertar as entorpecidas sensibilidades do cérebro para compreender o valor da expiação e o grande sacrifício feito em favor do homem caído. É-lhes impossível apreciar a grande, preciosa e extraordinariamente rica recompensa que está reservada para os fiéis vencedores. Jamais se deve permitir que a parte animal de nossa natureza governe a moral e intelectual. T2 364 1 E que influência o comer em excesso exerce sobre o estômago? Este se torna debilitado, os órgãos digestivos são enfraquecidos e, como resultado, surge a doença com todo o seu cortejo de males. Se as pessoas já eram doentes, aumentam dessa forma as dificuldades sobre si, e cada dia que vivem diminuem sua vitalidade. Convocam suas energias vitais para a desnecessária atividade de cuidar do alimento que colocam no estômago. Que condição terrível é essa! Sabemos algo sobre dispepsia por experiência. Sofremo-la em nossa família e vimos que é uma doença temível. Quando uma pessoa se torna dispéptica, passa a ser um grande sofredor, físico e mental, e seus amigos também sofrem junto, a menos que sejam tão insensíveis quanto os animais. E ainda você dirá: "Não é de sua conta o que eu como ou que conduta sigo"? Não sofre, porventura, qualquer pessoa relacionada ao dispéptico? Experimente seguir uma conduta que de algum modo as irrite. Quão natural é ser impaciente! Elas não se sentem bem e parece-lhes que seus filhos estão muito mal. Não podem falar-lhes calmamente, nem agir serenamente na família, sem uma graça especial. Todos ao seu redor são afetados pela doença; todos têm de sofrer as conseqüências de sua enfermidade. Eles lançam sobre os outros uma densa sombra. Seus hábitos de comer e beber não afetam, então, os outros? Eles certamente afetam. E vocês devem ser muito cuidadosos em se preservarem na melhor condição de saúde, para que possam render a Deus um serviço perfeito e cumprir seus deveres na sociedade e na família. T2 365 1 Mas mesmo os reformadores de saúde podem errar na quantidade de alimento. Podem comer imoderadamente de uma espécie saudável de alimento. Alguns, nesta casa, erram na qualidade. Nunca definiram sua atitude na questão da reforma de saúde. Preferem comer e beber aquilo que lhes agrada e quando lhes apraz. Deste modo prejudicam o organismo. Não só isto, mas prejudicam a família colocando-lhes na mesa alimento estimulante que aumenta as paixões sensuais dos filhos e os leva a darem pouca importância às coisas celestiais. Os pais estão assim fortalecendo a sensualidade dos filhos, e diminuindo-lhes a espiritualidade. Que dura penalidade terão eles de pagar afinal! E admiram-se de que seus filhos sejam tão fracos moralmente! T2 365 2 Os pais não têm dado aos filhos uma educação correta. Freqüentemente manifestam as mesmas imperfeições vistas nos filhos. Comem indevidamente, e isso atrai as suas energias nervosas para o estômago; e não têm vitalidade para se expandir em outras direções. Não podem dominar devidamente os filhos devido à própria impaciência; tampouco lhes podem ensinar o caminho certo. Talvez os peguem asperamente e lhes dêem, impacientemente, uma sacudidela. Tenho dito que sacudir uma criança, jogará dois espíritos maus para dentro, enquanto joga um para fora. Se a criança estiver errada, sacudi-la apenas a torna pior. Não a subjuga. Quando o organismo não está sob condição adequada; quando a circulação é prejudicada e as energias nervosas se encontram em tal nível que não podem lidar com alimento de má qualidade, ou grandes volumes de alimentos mesmo bons, os pais revelam não ter domínio próprio. Eles não podem raciocinar da causa para o efeito. Eis por que, em cada decisão tomada na família, eles criam mais problemas do que soluções. Não parecem compreender e arrazoar da causa para o efeito, e fazem as coisas como cegos. Eles parecem agir como se seu comportamento selvagem fosse glorificar a Deus de maneira especial, e se alguma errada ocorresse com suas famílias, eles a reprimiriam com rudeza e violência. T2 366 1 Quem são nossos filhos? Eles são apenas irmãos e irmãs mais jovens da família que Deus reconhece como Sua. Estamos lidando com os membros da família do Senhor. E enquanto o cuidado deles estiver sob nossa responsabilidade, quão cuidadosos deveríamos ser para educá-los para o Senhor, de maneira que quando o Mestre vier, possamos dizer: "Eis-nos aqui, Senhor, com os filhos que nos deste." Seremos, então, capazes de dizer: "Procuramos fazer nossa obra e executá-la bem"? T2 366 2 Tenho visto mães de grandes famílias, que não podiam ver a obra que lhes ficava exatamente no caminho, diante delas, na própria família. Queriam ser missionárias, e fazer alguma grande obra. Estavam buscando para si alguma alta posição, mas negligenciando cuidar da própria obra que o Senhor lhes dera a fazer, no lar. Quão importante é que o cérebro esteja claro! Quão importante que o corpo se ache, quanto possível, livre de doenças, a fim de podermos realizar a obra que o Céu nos confiou, e efetuá-la de tal modo que o Mestre possa dizer: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. Minhas irmãs, não desprezem as poucas coisas que o Senhor lhes deixou para fazer. Façam com que as ações de cada dia sejam tais que, no dia do final ajuste de contas, não se envergonhem de enfrentar o registro feito pelo anjo relator. T2 367 1 Mas que dizer quanto a um regime alimentar pobre? Tenho falado da importância de a quantidade e a qualidade do alimento estarem em total acordo com as leis de saúde. Não recomendamos, todavia, um regime alimentar deficiente. Foi-me mostrado que muitos têm uma idéia errônea da reforma de saúde, e adotam uma alimentação demasiadamente pobre. Vivem com uma qualidade de alimento barato e fraco, preparado sem cuidado ou sem atenção para com a nutrição do organismo. É importante que o alimento seja preparado com cuidado, para que o apetite, quando não pervertido, possa saboreá-lo. Pelo fato de, por princípio, rejeitarmos carne, manteiga, tortas de carne, especiarias, banha de porco e o que irrita o estômago e destrói a saúde, não se deve dar nunca a idéia de que não tem muita importância o que comemos. T2 367 2 Alguns há que vão a extremos. Precisam comer determinada quantidade, e apenas tal qualidade, e se limitam a duas ou três coisas. Não permitem que sejam postas diante deles e sua família senão poucas coisas para comer. Comendo pequena quantidade de alimento e este não da melhor qualidade, não põem no estômago o que é próprio para nutrir o organismo. Alimento inadequado não pode ser convertido em bom sangue. Um regime empobrecido, empobrecerá o sangue. Menciono o caso da irmã A. Seu caso me foi apresentado como extremo. Foram-me apresentadas duas classes: Primeiro, a daqueles que não estavam vivendo de acordo com a luz que Deus lhe dera. Iniciaram a reforma porque alguém o fez. Não compreendiam o organismo por si mesmos. Muitos de vocês há que professam a verdade, que a aceitaram porque outros o fizeram, e não podem dar explicação para a própria vida. Isto porque vocês são tão frágeis como a água. Em lugar de analisar os seus motivos à luz da eternidade, em vez de terem um conhecimento prático dos princípios que motivam todas as suas ações, em lugar de cavar fundo para o alicerce e construir sobre um verdadeiro fundamento, por vocês mesmos, estão andando nas fagulhas acesas por outros. E falharão nisso, assim como falharam na reforma de saúde. Ora, se tivessem agido por princípio, não teriam feito isto. T2 368 1 Alguns não podem ser impressionados com a necessidade de comer e beber para a glória de Deus. A condescendência com o apetite afeta-os em todas as relações da vida. Mostra-se na família, na igreja, na reunião de oração e na conduta dos filhos. Tem sido a maldição de sua vida. Não lhes é possível fazê-los compreender as verdades para estes últimos dias. Deus fez abundantes provisões para o sustento e a felicidade de todas as Suas criaturas; e caso Suas leis jamais fossem violadas, e todos agissem em harmonia com a vontade divina, experimentar-se-iam saúde, paz e felicidade em lugar de miséria e contínuo mal. T2 368 2 A outra classe que tem sustentado a reforma de saúde é muito severa. Essas pessoas tomam uma posição e se firmam obstinadamente nela, levando quase tudo além do limite. A irmã A é uma delas. Ela não era amável, compassiva e benévola como nosso divino Senhor. Justiça era tudo o que ela podia ver. Ela era mais extremista do que o Dr. Trall. Mesmo os pacientes dela a abandonaram, porque não recebiam alimento suficiente. Seu regime empobrecido produzia-lhe sangue fraco. T2 368 3 Os alimentos cárneos prejudicam o sangue. Cozinhem carne com condimentos, comam-na com requintados bolos e tortas e terão má qualidade de sangue. O organismo é demasiadamente sobrecarregado ao tentar assimilar tal espécie de alimento. As tortas de carne e os picles, que jamais deveriam encontrar lugar em qualquer estômago humano, proporcionarão mísera qualidade de sangue. E um alimento de qualidade pobre, preparado de maneira imprópria e insuficiente na quantidade, não pode formar sangue bom. Alimentos cárneos e comidas muito requintadas, bem como um regime pobre, produzirão os mesmos resultados. T2 368 4 Agora, quanto ao leite e açúcar: Sei de pessoas que ficaram assustadas com a reforma de saúde, e disseram que não queriam ter nada a ver com ela, por condenar o abundante uso dessas coisas. As mudanças devem ser feitas com grande cuidado; e devemos proceder cautelosa e sabiamente. Devemos seguir uma orientação que se recomende por si mesma aos homens e mulheres inteligentes da Terra. Grandes quantidades de leite e açúcar ingeridos juntos são prejudiciais. Comunicam impurezas ao organismo. Os animais dos quais se obtém o leite, nem sempre são sadios. Podem estar doentes. Uma vaca pode estar aparentemente boa de manhã e morrer antes da noite. Então, ela já estava enferma pela manhã e seu leite estava contaminado, e vocês não o sabiam. A criação animal está enferma. As carnes estão contaminadas. Pudéssemos nós saber que os animais estavam em perfeita saúde, e eu recomendaria que o povo comesse carne de preferência a grandes quantidades de leite com açúcar. Ela não causaria o mal que leite com açúcar ocasiona. O açúcar obstrui o organismo. Entrava o trabalho dos órgãos. T2 369 1 Houve um caso em Montcalm County, Michigan: Tratava-se de um homem nobre. Media mais de um metro e oitenta e era de bela aparência. Fui chamada a visitá-lo em sua doença. Eu havia conversado anteriormente com ele a respeito de sua maneira de viver. "Não gosto da aparência de seus olhos", disse eu. Ele estava usando grande quantidade de açúcar. Perguntei-lhe por que fazia aquilo. Ele disse que abandonara o uso da carne, e não conhecia melhor substituto do que o açúcar. Seu alimento não o satisfazia, simplesmente porque a esposa não sabia cozinhar. Alguns de vocês enviam suas filhas, já quase adultas, para a escola a fim de aprenderem as ciências antes de saberem cozinhar, quando isto deve ser considerado da maior importância. Aí estava uma mulher que não sabia cozinhar; não aprendera a preparar alimentos saudáveis. A esposa e mãe era deficiente neste importante ramo da educação e, em resultado, visto que o alimento mal preparado não era suficiente para suprir as exigências do organismo, era ingerido açúcar em quantidade exagerada, o que causava um estado doentio no organismo inteiro. A vida daquele homem era sacrificada desnecessariamente à má cozinha. Quando fui ver o homem doente, procurei falar-lhes da melhor maneira possível como conduzir-se, e logo ele começou lentamente a melhorar. Mas usou imprudentemente suas forças não estando capacitado, comeu uma pequena quantidade de alimento, de má qualidade, e de novo regrediu. Dessa vez não houve remédio para ele. Seu organismo parecia ser uma massa viva de putrefação. Ele pereceu vítima da má cozinha. Procurou fazer com que o açúcar suprisse a falta da boa alimentação e isso tão-somente piorou a situação. T2 370 1 Sento-me com freqüência à mesa de irmãos e irmãs, e vejo que eles usam grande quantidade de leite e açúcar. Isso obstrui o organismo, irrita os órgãos digestivos e afeta o cérebro. Tudo quanto embaraça o ativo funcionamento do organismo humano, afeta muito diretamente o cérebro. E segundo a luz que me foi dada, o açúcar, quando usado abundantemente, é mais prejudicial do que a carne. Estas mudanças devem ser feitas com prudência, e o assunto deve ser tratado de tal maneira a não desgostar nem suscitar preconceito por parte das pessoas a quem queremos ensinar e ajudar. T2 370 2 Freqüentemente nossas irmãs não sabem cozinhar. A essas, eu diria: Eu iria à melhor cozinheira que se pudesse encontrar no país e ali permaneceria, se necessário, por semanas, até que me tornasse mestre na arte -- uma inteligente e hábil cozinheira. Assim faria eu se tivesse uns quarenta anos. É dever de vocês saber cozinhar, da mesma maneira que é seu dever ensinar suas filhas a fazê-lo. Ao ensinar-lhes a arte culinária vocês estão construindo ao redor delas uma barreira que as preservará da leviandade e do vício a que, de outro modo, seriam tentadas a entregar-se. Eu prezo minha costureira, dou valor a minha secretária; mas, minha cozinheira, que sabe preparar bem o alimento para sustentar a vida e nutrir o cérebro, os ossos e músculos, ocupa o mais importante lugar entre os auxiliares em minha família. T2 371 1 Mães, não há nada que leve a tão grandes males como tirar as responsabilidades de suas filhas e não lhes dar nada em especial para fazer, deixando-as escolher a própria ocupação, talvez um pouco de crochê, ou algum outro trabalho manual para se ocuparem. Deixem que façam exercício dos membros e músculos. Se isso as fatiga, que há demais nisso? Vocês não se cansam de seu trabalho? A menos que sejam sobrecarregados, prejudicará mais o cansaço ao seus filhos do que a vocês? Não, de maneira nenhuma. Eles podem recuperar-se do cansaço com uma boa noite de descanso e estarem preparados para o trabalho no dia seguinte. É pecado deixá-los crescer na ociosidade. O pecado e a ruína de Sodoma foram "fartura de pão e abundância de ociosidade". Ezequiel 16:49. T2 371 2 Desejamos trabalhar sob um correto ponto de vista. Queremos agir como homens e mulheres que serão levados a juízo. Quando adotamos a reforma de saúde, devemos fazê-lo com um senso de dever, não porque alguém já a esteja praticando. Não mudei minha conduta em nada, desde que adotei a reforma de saúde. Não voltei nem um passo atrás desde que a luz do Céu iluminou pela primeira vez o meu caminho. Rompi com tudo imediatamente -- com carne e manteiga, e com as três refeições -- e isto enquanto ocupada em exaustivo labor cerebral, escrevendo desde cedo, pela manhã até ao pôr-do-sol. Baixei para duas refeições por dia sem mudar meu trabalho. Fui grande sofredora de enfermidades, havendo tido cinco ataques de paralisia. Estive com o braço esquerdo preso ao lado por meses, por ser tão grande a dor que tinha no coração. Ao fazer essas mudanças em meu regime, recusava-me a ceder ao paladar, deixando que ele me governasse. Ficará isto no caminho de minha obtenção de maior força, para que eu possa assim glorificar a meu Senhor? Permanecerá em meu caminho por um momento? Nunca! Sofri intensa fome -- eu comia muita carne. Mas, quando enfraquecida, punha os braços sobre o estômago, e dizia: "Não provarei nenhum pedacinho. Comerei alimento simples, ou absolutamente nada comerei." O pão me era repugnante. Raramente comia um pedacinho. Alguns aspectos da reforma eu podia suportar muito bem; mas quando cheguei ao pão, fiz forte objeção. Ao fazer essas mudanças, enfrentei uma grande luta. As primeiras duas ou três refeições, não me foi possível comer. Disse a meu estômago: "Você vai esperar até que possa comer pão." Dentro em breve pude comê-lo, e pão integral também. Este eu não podia comer anteriormente; agora, porém, gosto dele, e não tenho tido perda de apetite. T2 372 1 Quando estava escrevendo Spiritual Gifts, vols. 3 e 4 [1863-64], ficava exausta pelo excessivo trabalho. Vi então que precisava mudar meu estilo de vida, e descansando alguns dias, senti-me bem outra vez. Abandonei essas coisas por princípio. Tomei minha decisão para com a reforma de saúde por princípio, e desde então, irmãos, não me têm ouvido propor quanto à reforma de saúde um ponto extremista, de que tenha de recuar. Não defendi coisa alguma senão o que hoje sustento. Recomendo-lhes um regime saudável, nutritivo. T2 372 2 Não considero grande privação abandonar aquelas coisas que deixam mau odor no hálito e mau gosto na boca. É acaso abnegação abandonar esses artigos, e chegar a uma condição em que tudo é doce como mel, em que nenhum mau gosto é deixado na boca, e que não há sensação de debilidade no estômago? Isso costumava eu experimentar muitas vezes. Desfalecia repetidamente com meu filhinho nos braços. Nada disso me acontece agora; e chamarei eu a isso privação, quando posso ficar de pé diante de vocês como hoje faço? Não há uma mulher entre cem que seja capaz de suportar a soma de trabalho que eu suporto. Agi por princípio e não por impulso. Agi porque acreditei que o Céu aprovaria a conduta que estava seguindo a fim de colocar-me no melhor estado de saúde, para que pudesse glorificar a Deus em meu corpo e espírito, que são dEle. T2 373 1 Podemos ter variedade de comida boa e saudável, preparada de modo salutar, para que seja apetecível a todos. E se vocês, minhas irmãs, não sabem cozinhar, aconselho-as a aprender. É de vital importância aprenderem a cozinhar. Há mais pessoas perdidas pela cozinha deficiente, do que são capazes de imaginar. Ela produz doença, enfermidade e mau temperamento; o organismo fica perturbado, e as coisas celestiais não podem ser discernidas. Há mais religião em um pão bem feito, do que muitos de vocês pensam. Há mais religião em cozinhar bem do que fazem idéia. Queremos que aprendam o que seja a boa religião, e a ponham em prática em sua família. Quando fora de casa, por vezes, tenho visto que o pão que estava na mesa, e a comida em geral, não me fariam bem; mas era obrigada a comer um pouco para sustentar a vida. É pecado aos olhos do Céu ter-se tal comida. Tenho sofrido por falta da comida apropriada. Para um estômago dispéptico vocês podem pôr sobre a mesa frutas de diferentes espécies, mas não muitas em uma refeição. Assim podem ter variedade, e será apetitoso, e depois de haverem tomado a refeição, sentir-se-ão bem. T2 373 2 Fico atônita ao saber que, depois de todo o esclarecimento que tem sido dado nesta instituição, muitos de vocês comem entre as refeições! Vocês não devem nunca permitir que um bocado lhes passe pelos lábios entre suas refeições regulares. Comam o que devem comer, mas o comam na refeição, e então esperem até à próxima. Como o suficiente para satisfazer às necessidades da natureza; quando me levanto da mesa, porém, meu apetite é tão bom como quando me sentei. E ao chegar a próxima refeição, estou pronta para comer minha porção e não mais. Comesse eu dobrada porção de quando em quando porque é saborosa, como me poderia curvar e pedir a Deus que me ajudasse em meu trabalho de escrever, quando não me é possível apanhar uma idéia em razão de minha gulodice? Poderia eu pedir a Deus que cuidasse daquele excessivo peso em meu estômago? Isso Lhe seria desonroso. Seria pedir para desperdiçar com minha concupiscência. Agora eu como apenas o que penso ser correto, e então posso pedir que Ele me dê força para efetuar a obra que me deu a fazer. E sei que o Céu tem atendido a minha oração, quando Lhe peço. T2 374 1 Novamente: Quando comemos exageradamente, pecamos contra o próprio corpo. No sábado, na casa de Deus, glutões se assentarão e dormirão embalados pelas ardentes verdades da Palavra de Deus. Não conseguem manter os olhos abertos nem compreender os solenes sermões proferidos. Vocês acham que essas pessoas estão glorificando a Deus no corpo e no espírito, os quais Lhe pertencem? Não; eles O desonram. E o dispéptico -- aquilo que o tornou dispéptico é estar seguindo esta conduta -- em vez de observar regularidade, tem permitido que o apetite o controle, e tem comido entre as refeições. Talvez, se seus hábitos são sedentários, não tenha ele tido o vitalizante ar do céu para ajudá-lo na obra da digestão; pode ser que não tenha tido suficiente exercício para sua saúde. T2 374 2 Alguns de vocês parecem desejar que alguém lhes diga quanto devem comer. Não deveria ser assim. Cumpre-nos proceder por um ponto de vista moral e religioso. Devemos ser temperantes em tudo, pois uma coroa incorruptível, um tesouro celeste se acha diante de nós. E agora desejo dizer a meus irmãos e irmãs, que eu teria força moral para tomar uma atitude e governar a mim mesma. Não delegaria isto a outra pessoa. Vocês comem em excesso, e depois se arrependem, e ficam a pensar no que comeram e beberam. Comam simplesmente o que mais convém, e vão adiante, sentindo-se sem culpa diante do Céu, sem remorsos de consciência. Não cremos na completa remoção de tentações, seja de crianças, seja de adultos. Todos nós temos diante de nós uma luta, e cumpre-nos permanecer na atitude de resistir às tentações de Satanás; e precisamos saber que possuímos em nós mesmos poder para fazer isto. T2 374 3 E ao passo que lhes advertimos a não comer em excesso, mesmo da melhor qualidade de comida, também advertirmos aos que são extremistas a não erguerem uma falsa norma, e depois se esforçarem por levar todas as pessoas a segui-la. Alguns há que se estão iniciando como reformadores da saúde, os quais não estão habilitados a se empenharem em nenhum outro empreendimento, e não possuem bom senso suficiente para cuidar da própria família, ou manter o próprio lugar na igreja. E que fazem eles? Ora, eles se convertem em médicos da reforma de saúde, como se pudessem fazer disso um sucesso. Assumem as responsabilidades de sua prática, e tomam nas mãos a vida de homens e mulheres, quando na verdade nada sabem do assunto. T2 375 1 Minha voz se ergue contra isto, de pessoas não habilitadas tentarem tratar de doenças, professando fazê-lo segundo os princípios da reforma de saúde. Deus nos defenda de sermos os pacientes que lhes sirvam de campo de experiência! Somos muito poucos. Isto é uma batalha demasiado inglória para nela perecermos. Que Deus nos livre de tal perigo! Não precisamos de tais mestres e médicos. Procurem tratar de doenças os que conhecem alguma coisa do organismo humano. O Médico celeste era cheio de compaixão. Deste espírito necessitam os que tratam dos doentes. Alguns que empreendem tornar-se médicos, são fanáticos, egoístas, obstinados como jumentos. Vocês não lhes podem ensinar qualquer coisa. Talvez eles nunca tenham feito qualquer coisa digna de ser feita. Talvez não tenham tornado a vida um sucesso. Nada sabem realmente digno de saber-se, e todavia começaram a praticar a reforma de saúde. Não podemos permitir que tais pessoas matem este e aquele. Não; não o podemos permitir! T2 375 2 Devemos sempre ser perfeitamente corretos. Precisamos levar nosso povo à devida posição quanto à reforma de saúde. "Purifiquemo-nos", diz o apóstolo, "de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. Precisamos ser corretos a fim de subsistir nos últimos dias. Precisamos de cérebro claro e mente sã em corpo são. Devemos começar a trabalhar sinceramente por nossos filhos, por todos os membros de nossa família. Levaremos isso a sério e trabalharemos segundo o verdadeiro ponto de vista? Jesus vem; e se seguimos uma conduta de molde e cegar-nos para as verdades destes últimos dias que elevam a mente, como podemos ser santificados por meio da verdade? Como podemos ser preparados para a imortalidade? Que o Senhor nos ajude, a fim de começarmos a trabalhar aqui como nunca antes. T2 376 1 Falamos em realizar uma série de reuniões neste lugar e levar a sério o trabalho em favor das pessoas. Não ousamos, porém, favorecê-las. Gostaríamos que começassem essa obra de reforma nos próprios lares. Queremos que aqueles que têm estado em segundo plano apareçam. Vocês precisam começar a agir. E quando virmos que começaram o trabalho por iniciativa própria, viremos e ajudaremos. Esperamos mudança em seus filhos, que possam converter-se a Cristo, e que o espírito de reforma seja disseminado em seu meio. Mas quando vocês parecem completamente mortos e prontos a serem arrancados pelas raízes, não nos animamos a assumir o trabalho. Preferiríamos antes ir a um grupo de descrentes onde há corações prontos a receber a verdade. A responsabilidade da verdade está sobre nós. Há pessoas suficientes para ouvir a verdade, e esperamos estar onde possamos pregá-la. Vocês nos ajudarão fazendo a obra por si mesmos? T2 376 2 Possa o Senhor ajudá-los a sentirem o que nunca perceberam antes. Que Ele os ajude a morrerem para si mesmos e empreender a reforma em seus lares, para que os anjos de Deus possam vir e ministrar-lhes, e estejam vocês preparados para a trasladação. ------------------------Capítulo 53 -- Extremos na reforma de saúde T2 377 1 Quando por ocasião da conferência anual em Adams Center, Nova Iorque, em 25 de Outubro de 1868, foi-me revelado que os irmãos em _____, estavam em grande perplexidade e angústia por causa da conduta de B e C. Aqueles que têm a causa de Deus no coração, não podem senão sentir zelo por sua prosperidade. Vi que esses homens não eram confiáveis, mas extremistas e lançaram por terra a reforma de saúde. Seu comportamento não era de molde a corrigir ou reformar os que eram intemperantes em seu regime alimentar. Sua influência desagradava crentes e descrentes, e os afastava da reforma em lugar de atraí-los. T2 377 2 Nossos pontos de vista diferem grandemente daqueles do mundo em geral. Eles não são populares. As massas rejeitarão qualquer teoria, por mais razoável que seja, se ela impõe restrições ao apetite. O paladar é consultado em vez da razão e da saúde. Todos quantos abandonam o caminho comum do hábito e passam a defender reformas, sofrerão oposição, serão tachados de loucos, insanos, radicais; que eles sigam essa tão coerente conduta. Mas quando os homens que defendem a reforma levam o assunto a extremos, e são incoerentes em sua conduta, as pessoas não serão culpadas se criarem aversão pela reforma de saúde. Esses extremistas causam mais danos em poucos meses do que podem desfazer em toda a sua vida. Por causa deles toda a teoria de nossa fé é exposta ao descrédito, e nunca levam aqueles que testemunham tal comportamento relacionado a assim chamada reforma de saúde, a pensar que há algo de bom nela. Esses homens estão fazendo uma obra que Satanás aprecia ver progredir. T2 377 3 Aqueles que advogam uma verdade impopular devem ser mais coerentes em sua vida e terem grande cuidado em se esquivar a tudo o que se assemelhe a extremos. Não devem trabalhar para ver quão longe podem eles levar sua posição diante dos homens, mas, diferentemente, ver quão próximos podem chegar daqueles a quem desejam reformar, para que possam ajudá-los a atingirem o nível que eles tão altamente prezam. Caso pensem assim, seguirão um rumo que recomendará a verdade que defendem ao bom juízo de homens e mulheres sinceros e sensíveis. Esses serão compelidos a reconhecer que há coerência no assunto da reforma de saúde. T2 378 1 Foi-me mostrado o procedimento de B na própria família. Tem ele sido severo e exigente. Adotou a reforma de saúde defendida pelo irmão C e, como ele, abraçou pontos de vista extremos sobre o assunto; e não possuindo mente bem equilibrada, cometeu terríveis desatinos, cujos resultados o tempo não apagará. Auxiliado por trechos extraídos de livros, começou a pôr em prática a teoria que ouvira defendida pelo irmão C e, como ele, fez questão de levar todos a adotarem a norma que ele criara. Submeteu a família a suas regras rígidas, mas deixou de controlar as próprias propensões sensuais. Deixou de colocar-se à altura do alvo, subjugando seu corpo. Se tivesse tido conhecimento correto do sistema da reforma de saúde, teria sabido que a esposa não estava em condições de dar à luz crianças sadias. As próprias paixões não subjugadas tinham dominado, sem raciocinar da causa para o efeito. T2 378 2 Antes do nascimento dos filhos, não tratava ele a esposa como deve ser tratada uma mulher em suas condições. Ele impôs sobre ela suas regras rígidas de acordo com as idéias do irmão C, as quais se provaram um grande mal para ela. Não proveu a qualidade e quantidade de alimento necessário para nutrir duas vidas em vez de uma. Outra vida dela dependia, e seu organismo não recebia o alimento saudável e nutritivo para lhe suster as forças. Havia falta na quantidade e na qualidade. Seu organismo requeria mudanças, variedade e qualidade de alimento mais nutritivo. Os filhos nasciam-lhe com aparelho digestivo débil e sangue pobre. Do alimento que a mãe era forçada a receber, não podia ela prover boa qualidade de sangue, e portanto deu à luz filhos escrofulosos. T2 379 1 A atitude tomada pelo marido, o pai dessas crianças, merece severíssima censura. Sua esposa sofreu por necessidade de alimento nutritivo e saudável. Ela não recebeu alimento suficiente e vestes para sentir-se confortável. Levou uma carga torturante. Ele, o marido, tornou-se Deus, consciência e vontade para ela. Há temperamentos que se rebelarão contra esse tipo de autoritarismo. Elas não se submeterão a tais abusos. Cansam-se da pressão e erguem-se contra ela. Mas não aconteceu assim nesse caso. Ela tolerou que ele lhe servisse de consciência e procurou aceitar que isso fosse para seu bem. Mas, uma natureza maltratada não pode ser tão facilmente dominada. Suas demandas eram sinceras. As solicitações da natureza por algo mais nutritivo a levaram às súplicas, mas sem resultado. Suas necessidades eram poucas, mas mesmo assim não foram consideradas. Os dois filhos foram sacrificados pelos erros cegos e ignorante fanatismo do pai. Se homens inteligentes tratassem os mudos animais como tratam a esposa, com respeito à alimentação, a comunidade tomaria o assunto a seu cargo e os levaria à justiça. T2 379 2 Em primeiro lugar, B não deveria cometer tão grande crime como trazer filhos ao mundo que a razão deve ensinar que seriam doentes, porque recebem um miserável legado dos pais. Uma péssima herança lhes foi transmitida. Seu sangue está cheio de humores escrofulosos, que receberam dos pais, especialmente do pai, cujos hábitos corromperam o sangue e afetaram todo o organismo. Essas pobres crianças não apenas receberam uma tendência escrofulosa em duplo legado, mas, o que é pior, serão portadores das deficiências mentais e morais do pai, e a falta de nobre independência, coragem moral e força da mãe. O mundo já é amaldiçoado por um crescente número de pessoas desse tipo, que mergulham mais baixo na escala de forças físicas, mentais e morais do que seus pais, pois sua condição e ambiente não são mais favoráveis do que os de seus pais. T2 380 1 B não é capaz de cuidar da família. Não pode sustentá-la como se esperaria, e jamais deveria ter formado família. Seu casamento foi um erro. Propiciou uma vida de pobreza à esposa e acumulou miséria ao ter filhos. Alguns deles subsistem, e isto é tudo. T2 380 2 Os que professam ser cristãos não devem entrar nas relações matrimoniais, enquanto o assunto não houver sido considerado com cuidado e oração, sob um elevado ponto de vista, a ver se Deus pode ser glorificado por essa união. Cumpre-lhes ponderar então devidamente o resultado de todo privilégio das relações conjugais, fundamentando cada ação em santificado princípio. Antes de aumentar a família, devem pensar se Deus é glorificado ou desonrado com trazerem filhos ao mundo. Devem buscar glorificar a Deus por sua união desde o princípio, e durante todo o tempo de sua vida de casados. Devem considerar com calma que provisões podem ser feitas para os filhos. Não têm direito de os porem no mundo para serem uma carga aos outros. Têm eles um meio de vida em que podem confiar quanto ao sustento da família, de maneira a não se tornarem pesados aos outros? Se o não têm, cometem um crime em trazer filhos ao mundo para sofrerem por falta do necessário cuidado, alimento e vestuário. Nesta época de pressa e corrupção, estas coisas não são consideradas. As concupiscentes paixões têm o domínio, não se submetendo ao controle, embora a fraqueza, a miséria e a morte sejam o resultado. As mulheres são forçadas a uma vida de privações, dores e sofrimentos, devido às indomáveis paixões de homens que usam o nome de marido -- devendo mais apropriadamente serem chamados animais. As mães arrastam miserável existência, carregando quase o tempo todo um filho nos braços, usando todos os meios para lhes pôr na boca um pedaço de pão e uma roupa sobre o corpo. Tal é a acumulada miséria que enche o mundo. T2 381 1 Amor real, genuíno, devotado e puro, bem pouco existe. É muito raro esse precioso artigo. A paixão é denominada amor. Muita mulher tem sido ofendida em suas tenras, delicadas sensibilidades, porque as relações conjugais permitiam àquele a quem chamavam marido ser brutal em seu tratamento para com ela. Seu amor, verificou ela ser tão baixo, que lhe causou aversão. T2 381 2 Muitíssimas famílias estão vivendo no mais infeliz estado, por permitir o marido e pai que as paixões sensuais de sua natureza predominem sobre o intelecto e a moral. O resultado é a sensação freqüente de cansaço e depressão; mas a causa raramente é atribuída à conseqüência de seu impróprio modo de proceder. Achamo-nos sob solene obrigação diante de Deus quanto a guardar puro o espírito e o corpo saudável, a fim de podermos ser um benefício à humanidade, rendendo a Deus um serviço perfeito. O apóstolo pronuncia estas palavras de advertência: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências." Romanos 6:12. Ele nos anima a avançar dizendo que "todo aquele que luta de tudo se abstém". 1 Coríntios 9:25. Exorta todos que se dizem cristãos a apresentarem o seu corpo como "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus". Romanos 12:1. Diz ainda: "Subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. T2 381 3 É erro generalizado não fazer diferença na vida de uma mulher antes do nascimento de seus filhos. Neste importante período o trabalho da mãe deve ser aliviado. Grandes mudanças se estão efetuando em seu organismo. Este requer maior quantidade de sangue, e portanto mais alimento da qualidade mais nutriente, para se transformar em sangue. A menos que tenha suprimento abundante de alimento nutritivo, não poderá reter sua força física, e o feto é privado de vitalidade. Sua roupa também precisa de atenção. Deve ter cuidado em proteger o corpo da sensação de frio. Não deve desnecessariamente chamar a vitalidade para a superfície, a fim de suprir a falta de suficiente roupa. Se a mãe se priva de abundância de alimento saudável e nutritivo, terá falta de sangue, na qualidade e na quantidade. Sua circulação será deficiente e ao feto faltarão os mesmos elementos. Os filhos serão incapazes de assimilar alimento que se possa converter em bom sangue, para nutrir o organismo. O bem-estar da mãe e do filho depende muito de roupa boa e quente, assim como suprimento de alimento nutritivo. O consumo extra de vitalidade da mãe deve ser considerado e atendido. T2 382 1 Mas, por outro lado, a idéia de que a mulher, por causa de seu estado especial, possa dar rédeas soltas ao apetite, é um erro baseado no costume, e não no são raciocínio. O apetite da mulher nesse estado pode ser instável, caprichoso e difícil de ser satisfeito; e o costume permite-lhe qualquer coisa que ela imagine, sem consultar a razão quanto a poder tal alimento suprir-lhe nutrição ao corpo e ao crescimento de seu filho. O alimento deve ser nutritivo, mas não de qualidade estimulante. Diz o costume que se ela deseja alimentos cárneos, picles, pratos condimentados ou tortas de carne, que os coma; o apetite, tão-somente, é que deve ser consultado. É este um grande erro e causa muito dano. Este dano não pode ser calculado. Se há ocasião em que seja necessária a simplicidade no regime alimentar, e cuidado especial quanto à qualidade do alimento tomado, é durante esse período importante. T2 382 2 As mulheres dirigidas por princípio, e bem instruídas, não se desviarão da simplicidade do regime alimentar, sobretudo nesse tempo. Considerarão que há outra vida que delas depende, e serão cuidadosas em todos os seus hábitos, e especialmente no regime alimentar. Não devem comer aquilo que seja estimulante e sem valor nutritivo, simplesmente por ser saboroso. Há demasiados conselheiros, prontos a persuadi-las a fazerem coisas que a razão lhes diz não deverem fazer. T2 383 1 Nascem crianças doentias por causa da satisfação do apetite por parte dos pais. O organismo não requeria a variedade de alimentos nos quais o pensamento se demorava. Pensar que, por estar no pensamento deve também estar no estômago, é um grande erro que as mulheres cristãs devem rejeitar. Não deve ser permitido à imaginação controlar as necessidades do organismo. Os que permitem que o paladar os domine, sofrerão a pena da transgressão das leis de seu ser. E a questão não termina aí; sofrerão também seus inocentes filhos. T2 383 2 Os órgãos produtores de sangue não podem converter em bom sangue os condimentos, tortas de carne, picles e pratos de carne doentia. E se for introduzido no estômago tanto alimento que os órgãos digestivos sejam obrigados a sobrecarregar-se de trabalho a fim de dispor dele, e livrar o organismo de substâncias irritantes, a mãe faz injustiça a si mesma e transmite ao filho as bases da doença. Se prefere comer conforme lhe agrade, e aquilo que imagina, independente das conseqüências, ela sofrerá a penalidade, mas não sozinha. Seu filho inocente sofrerá por motivo de sua indiscrição. T2 383 3 Deve exercer-se grande cuidado para tornar alegre e feliz o ambiente que circunda a mãe. O esposo e pai está sob a especial responsabilidade de fazer tudo que estiver em seu poder para aliviar a carga da esposa e mãe. Deve levar, tanto quanto possível, o fardo que representa a sua condição. Deve ser afável, cortês, bondoso, terno, e especialmente atencioso para com todos os seus desejos. Mulheres grávidas não recebem nem metade do cuidado que é dispensado aos animais no estábulo. T2 383 4 B tem sido muito deficiente. Sua esposa enquanto em sua melhor condição de saúde, não recebeu abundância de alimentos saudáveis nem vestuário adequado. Então, quando ela necessitava mais roupa, ou mais alimento, e este simples mas de qualidade nutritiva, não lhe era concedido. Seu organismo ansiava por material para converter em sangue; ele, porém, não lhe provia. Uma quantidade moderada de leite e açúcar, um pouco de sal, pão branco levedado para variar, farinha integral preparada numa variedade de maneiras por outras mãos que não as suas, bolo simples com passas, pudim de arroz com passas, ameixas e figos, ocasionalmente, e muitos outros pratos que eu poderia mencionar, teriam atendido as exigências do apetite. Se ele não conseguisse algumas dessas coisas, um pouco de vinho caseiro não teria feito a ela nenhum mal; ter-lhe-ia sido melhor do que nada. Em alguns casos, mesmo uma pequena quantidade da carne menos prejudicial, causaria menor mal do que sofrer forte desejo por ela. T2 384 1 Foi-me mostrado que tanto B como C desonraram a causa de Deus. Impuseram-lhe uma nódoa que jamais será apagada completamente. Foi-me mostrada a família de nosso prezado irmão D. Se este irmão tivesse recebido auxílio apropriado no tempo devido, todos os membros de sua família estariam vivos hoje. É de admirar que as leis do país não tenham sido postas em vigor neste caso de maus-tratos. Aquela família estava a perecer por falta de alimento -- o mais simples e comum alimento. Pereciam de fome numa terra de abundância. Eram cobaias de um principiante. O jovem não morreu da doença, mas de fome. O alimento ter-lhe-ia fortalecido o organismo, mantendo em movimento o corpo. T2 384 2 Em casos de febre alta, a abstinência de alimento por breve tempo, diminuirá a febre, e tornará mais eficaz o emprego de água. Mas o médico assistente deve compreender a real situação do doente, e não permitir que o seu regime seja reduzido por grande espaço de tempo, até que seu organismo se debilite. Enquanto a febre está alta, pode o alimento irritar e estimular o sangue; mas logo que se vença a força da febre, deve-se-lhe ministrar alimento, cuidadosa e sabiamente. Se o alimento for suspenso por tempo demasiado, o desejo que dele sente o estômago provocará febre, que será aliviada por uma adequada porção de alimento de qualidade apropriada. Isto dará à natureza algo que fazer. Se o doente mostra grande desejo de alimentar-se, mesmo durante a febre, satisfazer esse desejo com quantidade moderada de alimento simples será menos prejudicial do que negar-lhe. Se ele não pode aplicar a mente em nenhuma outra coisa, a natureza não ficará sobrecarregada com uma pequena porção de alimento simples. T2 385 1 Aqueles que tomam a vida de outros em suas mãos devem ser homens notáveis por fazer da vida um sucesso. Precisam ser homens criteriosos e sábios, que possam profundamente simpatizar-se e sensibilizar-se; homens que se comovam quando testemunham o sofrimento. Alguns homens que não têm sido bem-sucedidos em outros ramos de empreendimento na vida, assumem o trabalho de médicos. Responsabilizam-se pela vida de homens e mulheres, quando não possuem nenhuma experiência para isso. Lêem sobre um plano que alguém seguiu com sucesso, adotam-no e o aplicam nos que depositam confiança neles, destruindo praticamente a última centelha de vida. E após tudo isso, nada aprenderam, mas continuam otimistas com o caso seguinte, observando o mesmo tratamento rígido. Algumas pessoas têm energia constitucional suficiente para suportar a pesada carga a elas imposta e sobrevivem. Então os principiantes recebem a glória, quando nenhum mérito lhes caberia. Tudo é devido a Deus e a uma resistente constituição. T2 385 2 O irmão C tem ocupado uma posição indevida ao apoiar o irmão B. Ele lhe tem sido mentor e permanecido a seu lado para sustê-lo e ampará-lo. Esses dois são fanáticos na questão da reforma de saúde. O irmão C sabe menos do que pensa saber. Ele engana a si mesmo. É egoísta e extremista em seus pontos de vista; não tem espírito de aprendiz e uma vontade submissa. Não é um homem de mente humilde, e não tem vocação para ser médico. Pode ter obtido um pequeno conhecimento através da leitura, mas isto não é suficiente. É necessária experiência. Nosso povo é muito pouco para ser sacrificado tão inglória e facilmente em experiências tentadas por tais homens. Muitos são sacrificados por seus rígidos pontos de vista e noções antes de os abandonarem, confessarem os erros e aprenderem a sabedoria pela experiência. T2 386 1 O irmão C é determinado, teimoso e resistente demais ao ensino para que o Senhor possa usá-lo em algum trabalho especial em Sua causa. É muito obstinado para deixar que umas poucas vidas sacrificadas mudem sua conduta. Ele manteria suas opiniões e noções ainda mais decididamente. Esses homens ainda aprenderão pelas próprias tristezas que é melhor aceitar o ensino e não se apegar a seus pontos de vista extremados, qualquer que seja o resultado. A comunidade ficará em boa situação e um pouco mais segura se esses homens conseguirem emprego em algum outro ramo de negócio, onde a vida e a saúde não estejam sob risco por causa de sua conduta. T2 386 2 É grande responsabilidade ter a vida de um ser humano nas mãos. E é assustador ter essa vida preciosa sacrificada por incompetência. O caso da família do irmão D é terrível. Esses homens podem desculpar-se de seu procedimento, mas isso não evitará que a causa de Deus seja desacreditada, nem trará de volta aquele filho que sofreu e morreu por falta de alimento. Um pouco de bom vinho e alimento tê-lo-ia erguido do leito de morte, e o restituído a sua família. O pai também seria contado entre os mortos se a mesma conduta seguida com o filho continuasse, mas a presença e o oportuno conselho de um médico do Instituto de Saúde o salvaram. T2 386 3 É tempo de que alguma coisa se faça para impedir que novatos ocupem o campo e defendam a reforma de saúde. Podem poupar suas obras e palavras, pois causam maior dano do que os homens mais sábios e inteligentes poderiam depois desfazer com a melhor influência que pudessem exercer. É impossível, para os mais hábeis defensores da reforma de saúde, livrar completamente a mentalidade do público dos preconceitos gerados graças ao procedimento errado desses extremistas, e colocar o grande tema da reforma de saúde sobre base certa, na comunidade onde se achavam esses homens. A porta também se acha fechada em grande medida, de modo que os descrentes não podem ser alcançados pela verdade presente em relação ao sábado e à breve volta de nosso Salvador. As mais preciosas verdades são pelo povo postas à margem, como não merecendo ser ouvidas. Esses homens são geralmente mencionados como representantes dos reformadores de saúde e observadores do sábado. Grande responsabilidade repousa sobre os que assim se demonstraram ser uma pedra de tropeço aos descrentes. T2 387 1 O irmão C necessita de uma conversão total. Ele não enxerga a própria condição. Possuísse menor auto-estima e mais humildade de espírito, seu conhecimento poderia ser colocado em prática. Ele tem uma obra a fazer por si mesmo, que ninguém pode fazer por ele. O irmão C não submete suas opiniões ou decisões a nenhum ser vivente, a menos que seja compelido a isso. Possui os mais lamentáveis traços de caráter, os quais devem ser vencidos. Ele tem mais culpa do que o irmão B, e seu caso é pior, pois possui mais inteligência e conhecimento. B tem sido uma sombra de sua mente. T2 387 2 O irmão C possui uma vontade inflexível; seus gostos e aversões são muito fortes. Se ele começa num caminho errado e segue a inclinação de sua mente, não agindo com sabedoria, e se seu erro lhe for apresentado, mesmo que se convença de não estar correto, é tão relutante em reconhecer o fato que formula alguma espécie de desculpa para fazer com que os outros creiam que ele, afinal de contas, está certo. Esta é a razão por que ele tem sido deixado a seguir o próprio discernimento e sabedoria, que são tolices. T2 387 3 Ele não tem sido uma bênção à família de seu pai, mas causa de ansiedade e tristeza. Não foi refreado quando criança. Relutava tanto em reconhecer abertamente que cometera erros e procedera mal que, para sair das dificuldades, em vez de humilhar-se suficientemente para confessar seu erro, convocava todas as faculdades da mente para inventar alguma desculpa da qual se gabava não ser totalmente uma mentira. Esse hábito foi levado para sua vida religiosa. Tem a habilidade peculiar de desviar-se de um ponto alegando esquecimento, quando, muitas vezes, ele acha conveniente esquecer-se. T2 388 1 Seus parentes e amigos poderiam ter sido levados à verdade, houvesse ele sido o que Deus desejava que fosse. Mas, seu comportamento o tornou antipático. Ele tem usado a verdade como motivo para debates. A despeito da oposição de seu pai, ele fala sobre assuntos bíblicos na casa paterna, e tem usado os mais objetáveis assuntos para provocar discussões, em lugar de buscar com humildade de espírito e ilimitado amor pelas pessoas, conquistá-las para a verdade e a luz. T2 388 2 Quando seguiu uma conduta errônea, evidentemente imprópria para um discípulo do manso e humilde Jesus, e reconheceu que suas palavras e atos não estavam de acordo com a santificadora influência da verdade, obstinadamente permaneceu em defesa própria, até que sua honestidade foi questionada. Ele tem tornado a mais preciosa verdade para estes últimos dias odiosa a seus parentes e amigos. Provou-se uma pedra de tropeço a eles. Suas evasivas, seu fanatismo e os extremos pontos de vista que assume desviaram mais pessoas da verdade do que os melhores esforços têm atraído. T2 388 3 Sua combatividade, determinação e auto-estima são grandes. Ele não pode trazer bênçãos a nenhuma igreja, através de sua influência, até que se converta. Pode ver as faltas dos outros, e questionará a conduta deste e daquele se eles não apoiarem o que apresenta; mas se alguém concorda com o que ele defende, não verá as faltas e erros dele. Isto não está certo. Ele pode estar correto em muitos pontos, mas não possui a mente que habita em Cristo. Quando puder ver a si mesmo como é e corrigir os defeitos de seu caráter, então estará em condição de permitir que sua luz brilhe diante dos homens, de modo que estes, vendo suas boas obras, sejam levados a glorificar ao nosso "Pai que está nos Céus". Mateus 5:16. Sua luz tem brilhado de tal maneira que os homens a têm considerado escuridão e se afastaram dela com repugnância. O eu deve morrer, e ele precisa possuir um espírito suscetível ao ensino, ou será deixado a seguir os próprios caminhos e envaidecer-se com suas realizações. T2 389 1 "E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade." 2 Timóteo 2:24, 25. "Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos [nem faleis a verdade de maneira arrogante e ostentosa] mas modestos, mostrando toda mansidão para com todos os homens." Tito 3:2. "Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." 1 Pedro 3:15. T2 389 2 O irmão C quer que sua mente controle os outros, e a menos que tenha esse privilégio, fica insatisfeito. Ele não é um pacificador. Seu procedimento causará tanta confusão e desconfiança na igreja que nem mesmo dez pessoas juntas seriam capazes de desfazer. Seu temperamento peculiar é tal que ele apanhará falhas e descobrirá faltas em todos, menos em si mesmo. Ele não prosperará se não aprender a lição que deveria ter aprendido muitos anos antes: a humildade de espírito. Em sua idade ele aprenderá essa lição a muito custo. Durante toda a vida tem tentado autopromover-se, salvar-se, preservar a própria vida; e sempre perde seu trabalho. T2 389 3 O que o irmão C necessita é tirar o brilho enganador dos olhos, para que possa examinar o próprio coração com olhos iluminados pelo Espírito de Deus, testando e provando cada motivo, não deixando que Satanás ponha um falso colorido em sua conduta. Sua situação é extremamente perigosa. Logo voltará definitivamente para o que é reto ou prosseguirá enganando a outros e a si mesmo. O irmão C precisa converter-se no íntimo, ser subjugado e transformado "pela renovação do... entendimento". Romanos 12:2. Então poderá fazer o bem. Mas nunca virá para a luz até que tenha um espírito de humilde confissão e tome a decisão de consertar seus erros e, tanto quanto possa, dissipar o descrédito que trouxe à causa de Deus. ------------------------Capítulo 54 -- Sensualidade nos jovens T2 390 1 Prezados irmão e irmã E: T2 390 2 Já faz algum tempo que eu não tomo minha pena para escrever coisa alguma, exceto cartas urgentes que não poderiam ser adiadas. Por meses tenho sentido um peso desanimador sobre meu espírito, que esteve a ponto de me esmagar. O que mais me desencoraja é o receio de que tudo o que possa escrever não fará maior bem do que nosso sincero, ansioso e cansativo trabalho em _____, no inverno e primavera últimos. A desalentadora visão que tive dos assuntos e coisas naquele lugar manteve minha pena quase imóvel e minha voz quase silente. Minhas mãos ficaram debilitadas e meu coração deprimido por nada ter conseguido pelos prolongados esforços ali. Estou quase sem esperança quanto ao êxito de nossos esforços para despertar as sensibilidades dos observadores do sábado para verem a elevada posição que Deus requer que ocupem. Eles não vêem as coisas religiosas de um elevado ponto de vista. É essa realmente sua condição. T2 390 3 O Senhor deu-me uma visão de algumas das corrupções existentes em toda parte. Impiedade, crime e sensualidade existem até em lugares sagrados. Mesmo nas igrejas que professam guardar os mandamentos de Deus há pecadores e hipócritas. É o pecado, e não as provas de sofrimento, que separa Deus de Seu povo e torna a mente incapaz de apreciá-Lo e glorificá-Lo. É o pecado que está destruindo seres humanos. Pecado e vício existem em famílias de observadores do sábado. A corrupção moral tem feito mais do que qualquer outro mal para causar a degeneração da humanidade. É praticada em alarmante grau e traz doenças de quase todas as espécies descritas. Mesmo crianças, nascidas com irritabilidade natural dos órgãos sexuais, encontram alívio momentâneo em tocá-los, o que apenas aumenta a irritação e leva à repetição do ato, até estabelecer-se um hábito, que aumenta com o crescimento. Essas crianças, geralmente fracas e raquíticas, são consultadas por médicos e medicadas, mas o mal não é removido. A causa permanece. T2 391 1 Geralmente os pais não suspeitam que os filhos compreendem algo a respeito do vício. Em muitíssimos casos são os pais os verdadeiros pecadores. Têm abusado dos privilégios matrimoniais e, pela condescendência, fortalecido suas paixões sensuais. E ao se fortalecerem estas, têm-se enfraquecido as faculdades morais e intelectuais. A espiritualidade tem sido superada pela sensualidade. Nascem crianças com tendências sensuais grandemente desenvolvidas, tendo-lhes sido transmitido o próprio retrato do caráter dos pais. A atividade antinatural dos órgãos sensíveis produz irritação. Eles são facilmente incitáveis e ao exercitá-los consegue-se alívio momentâneo. Mas o mal cresce constantemente. O desgaste sobre o organismo é perceptivelmente sentido. O poder cerebral acha-se enfraquecido e a memória torna-se deficiente. Os filhos nascidos desses pais, quase que invariavelmente se inclinam aos repulsivos hábitos da masturbação. O pacto matrimonial é sagrado, mas que quantidade de sensualidade e crime ele acoberta! Aqueles que por estarem casados se sentem em liberdade de degradarem o corpo pela condescendência abominável das paixões sensuais, terão sua conduta perpetuada nos filhos. Os pecados dos pais serão visitados sobre seus filhos, pois os pais lhes têm dado o estigma das próprias tendências licenciosas. T2 392 1 Os que assim se têm tornado tão completamente firmados nesse vício destruidor da alma e do corpo, raramente podem descansar enquanto sua carga de mal secreto não é comunicada àqueles com quem se associam. Desperta-se a curiosidade, e o conhecimento do vício é passado de jovem para jovem, de criança para criança, até dificilmente encontrar-se um que ignore a prática desse pecado degradante. T2 392 2 Seus filhos têm se masturbado até onerar o cérebro de forma tão grande, especialmente no caso de seu filho mais velho, que a mente deles tem sido seriamente prejudicada. O brilho da inteligência jovem é obscurecido. Os poderes morais e intelectuais se enfraqueceram, enquanto as tendências fracas de sua natureza têm ganhado ascendência. Por essa razão seu filho tem aversão às coisas religiosas. Ele perdeu o poder de controlar-se, e tem cada vez menos reverência pelas coisas sagradas, e menor respeito por qualquer coisa de caráter espiritual. Vocês atribuem o problema ao ambiente que os cerca, mas não sabem a causa real. Pode ser dito que seu filho é portador da impressão satânica em vez da divina. Ele ama o pecado e o mal em vez da verdadeira virtude, pureza e justiça. Esse quadro é lamentável. T2 392 3 Os efeitos de hábitos tão degradantes não são os mesmos sobre todas as mentes. Há algumas crianças que têm as faculdades morais grandemente desenvolvidas, e que, associando-se com crianças que têm o vício da masturbação, iniciam-se na mesma prática. O efeito será com muita freqüência torná-las melancólicas, irritáveis e ciumentas. Apesar disso, elas podem não perder o respeito ao culto religioso nem demonstrar especial infidelidade quanto às coisas espirituais. Às vezes, sofrerão profundamente sentimentos de remorso, e se sentirão degradadas aos próprios olhos, perdendo o respeito próprio. T2 392 4 Irmão e irmã, vocês não estão isentos de culpa diante de Deus. Falharam em cumprir os deveres no lar, na própria família. Não controlaram os filhos. Fracassaram grandemente em conhecer e cumprir a vontade de Deus, e Sua bênção não tem repousado sobre sua família. Irmão E, você tem sido egoísta. Sua alta estima é grande. Pensa que possui alto grau de humildade, mas não compreendeu a si mesmo. Seus caminhos não são retos diante de Deus. Sua influência e exemplo não estão de acordo com sua profissão de fé. Tem descoberto muitas faltas nos outros; vê neles desvios do que é reto, mas está cego para os mesmos em você. T2 393 1 A irmã E tem estado longe de Deus. Seu coração não foi subjugado pela graça. Seu amor pelo mundo e as coisas que no mundo há fecharam-lhe o coração ao amor divino. O amor ao vestuário e à aparência a mantém distante do bem e coloca sua mente e afeições sobre essas coisas frívolas. A incredulidade tem sido fortalecida em seu coração, e ele tem cada vez menos amor pela verdade, e vê pouca atração na singeleza da verdadeira piedade. Ela não promove um crescimento nas graças cristãs. Não gosta de humildade ou devoção. Tomou os erros daqueles que professavam ser dedicados à verdade, e fez da falta de espiritualidade, erros e pecados deles uma desculpa para sua disposição mundana. Ela tem observado a conduta daqueles que estão ligados com _____, e que estavam dispostos a assumirem as responsabilidades da igreja, e compensado suas falhas com os erros deles, dizendo não ser pior do que eles. Tais e tais indivíduos em altas posições fizeram isso ou aquilo, e ela tem os mesmos direitos que eles. Tais e tais não praticaram a reforma de saúde melhor do que ela; compraram e consumiram carne e mantiveram elevada reputação na igreja, por isso ela seria desculpável, logicamente, com tais exemplos, se fizesse o mesmo. T2 393 2 Esse não é o único caso onde negligenciar seguir a luz que o Senhor deu tem sido ocultada atrás das faltas de outros. É uma vergonha para homens e mulheres inteligentes não terem mais altos padrões do que os dos imperfeitos seres humanos. A conduta dos que os cercam, embora imperfeita, é considerada por alguns como suficiente desculpa para seguir o mesmo caminho. Muitos serão desviados pela influência de algum irmão da liderança. Se ele se afasta do conselho divino, seu exemplo é seguido alegremente pelos não consagrados, que então se sentem livres de restrição. Agora têm uma desculpa, e seu coração inconverso se gloria na oportunidade de condescender com os próprios desejos e dar mais um passo em direção à camaradagem com o espírito do mundo, onde eles podem usufruir seus prazeres e satisfazer o apetite. Colocam, portanto, sobre suas mesas aquelas coisas que não são as mais saudáveis e das quais foram ensinados a abster-se, para que possam preservar-se em melhor condição de saúde. T2 394 1 Desde que a reforma de saúde foi introduzida a princípio, tem havido invariavelmente uma guerra no coração de alguns. Têm eles experimentado o mesmo sentimento de rebelião que os filhos de Israel ao ser-lhes restringido o apetite na viagem do Egito para Canaã. Os professos seguidores de Cristo, que durante toda a sua vida consultaram os próprios prazeres e interesses, sua comodidade e o próprio apetite não estão preparados para mudar seu procedimento e viver para glória de Deus, imitando a vida de renúncia de seu infalível Modelo. Foi dado um exemplo perfeito para ser imitado pelos cristãos. As palavras e as obras dos seguidores de Cristo são o conduto através do qual os puros princípios da verdade e santidade são levados ao mundo. Seus seguidores são o sal da terra e a luz do mundo. T2 394 2 Irmã E, você não pode compreender as muitas bênçãos que tem perdido por fazer das falhas dos outros um bálsamo para acalmar sua consciência, por negligenciar seu dever. Você se tem medido pelos outros. Os caminhos tortuosos e as falhas deles têm sido seu livro de texto. Mas esses erros, insensatez e pecados não tornam sua desobediência a Deus menos pecaminosa. Lamentamos que aqueles que deveriam ser uma força a você em seus esforços para vencer o amor do próprio eu, o orgulho, a vaidade e o amor pela aprovação dos mundanos tenham-lhe sido apenas um obstáculo, por sua falta de espiritualidade e verdadeira piedade. Não podemos dizer-lhe o quanto lamentamos que aqueles que deveriam ser cristãos altruístas estejam tão distantes do padrão. Os que deveriam ser firmes, abundantes na obra de Deus, acham-se enfraquecidos por Satanás porque permanecem distantes dEle. Falham em obter o poder de Sua graça, pelo qual poderiam vencer as debilidades de sua natureza, e obtendo assinaladas vitórias em Deus, mostrar aos de fé combalida o caminho, a verdade e a vida. T2 395 1 O que mais nos tem desanimado é ver aqueles em _____ com anos de experiência na causa e trabalho de Deus, limitar sua força pela própria infidelidade. Eles são vencidos pelo inimigo em quase todos os ataques. Deus os teria tornado fortes como fiéis sentinelas em seus postos, para guardar a fortaleza, houvessem eles andado na luz que lhes dera e permanecido firmes ao dever, buscando conhecer e cumprir a vontade de Deus. Satanás, sem dúvida, através de seus enganos, iludirá essas pessoas negligentes e as fará crer que são mais justas do que todos. Elas não têm cometido pecados graves e revoltantes, e precisam estar sobre o firme fundamento, para que Deus aceite seu trabalho. Não vêem nenhum pecado especial de que se arrepender, nenhum pecado que exija especial humilhação, humilde confissão e entrega de coração. O engano sobre essas pessoas é realmente poderoso quando elas confundem a aparência de piedade com a eficácia dela, e se gabam de serem ricas e de nada necessitarem. A maldição de Meroz incide sobre elas: "Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, amaldiçoai duramente os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos." Juízes 5:23. T2 396 1 Minha irmã, não desculpe seus defeitos porque os outros estão errados. No dia de Deus você não se atreverá a desculpar-se por negligenciar a formação de um caráter para o Céu, porque outros não manifestaram devoção e espiritualidade. A mesma falta que descobriu nos outros estava em você. O fato de outros serem pecadores não torna seus pecados menos graves. Tanto eles quanto você, se continuarem no presente estado de inaptidão, serão separados de Cristo, e juntamente com Satanás e seus anjos punidos com a destruição eterna pela presença do Senhor e pela glória de Seu poder. T2 396 2 O Senhor lhe fez ampla provisão, para que se você O buscar e seguir a luz que lhe deu, não caia pelo caminho. A Palavra de Deus lhe foi dada como lâmpada para seus pés e luz para seu caminho. Se você tropeçar, será por não ter consultado seu guia, a Palavra de Deus, e não ter feito dessa preciosa Palavra a regra de sua vida. Deus não lhe deu como modelo a vida de qualquer ser humano, por melhor e aparentemente imaculada seja ela. Se você fizer como os outros fazem e agir como eles, será deixada fora da cidade santa juntamente com a vasta multidão dos que fizeram exatamente o que você fez, seguindo um modelo que o Senhor não estabeleceu, e que estarão perdidos tanto quanto você. T2 396 3 Aquilo que os outros fazem ou possam fazer no futuro, não diminuirá sua responsabilidade ou culpa. Um Modelo foi-lhe dado, uma vida imaculada caracterizada por abnegação e desinteressada benevolência. Se você voltar as costas a esse Modelo correto e perfeito, e preferir outro incorreto, o qual tem sido representado claramente na Palavra de Deus como um que você deveria evitar, sua conduta receberá a merecida recompensa. Sua vida terá sido um fracasso completo. T2 396 4 Uma das maiores razões para o declínio da igreja em _____ é medirem a si mesmos por si mesmos, e comparar-se entre si. Há poucos que têm princípios vivos no coração e que servem a Deus visando unicamente Sua glória. Muitos em _____ não concordam em ser salvos pelo modo apontado por Deus. Não operam a própria salvação com temor e tremor. Tais pessoas não têm experiência. Em vez de lutarem para obter experiência mediante esforços individuais, arriscarão apoiar-se nos outros e confiar na experiência deles. Não se permitem vigiar e orar, viver para Deus e para Ele somente. É-lhes mais agradável viver em obediência a si mesmos. T2 397 1 A igreja em _____ está repleta de apostasias e não pode sonhar com prosperidade até que aqueles que professam o nome de Cristo sejam zelosos em afastar-se de toda iniqüidade; até que aprendam a recusar o mal e escolher o bem. É-nos requerido vigiar e orar sem cessar, pois armadilhas são colocadas em nosso caminho e enfrentaremos os enganos de Satanás onde e quando menos esperarmos. Se em determinado momento não estivermos vigiando em oração, seremos colhidos pelo inimigo e sofreremos decidida perda. T2 397 2 Que responsabilidade recai sobre vocês como pais! Quão pouco têm sentido o peso dessa responsabilidade! Orgulho, amor à ostentação e condescendência para com o apetite têm ocupado a mente de vocês. Essas coisas lhes têm sido prioritárias, e a chegada do inimigo não tem sido percebida. Ele colocou sua bandeira no lar de vocês e imprimiu sua detestável imagem no caráter de seus filhos. Mas vocês estavam tão cegados pelo deus deste mundo, tão amortecidos para as coisas espirituais, que não podiam perceber a vantagem que Satanás obtivera, nem suas atividades na família. T2 397 3 Vocês trouxeram filhos ao mundo que não tiveram voz ativa quanto à sua existência. Vocês têm se tornado responsáveis, em grande medida, pela sua felicidade futura, seu bem-estar eterno. Quer o sintam, quer não, sobre vocês repousa a responsabilidade de educar esses filhos para Deus -- de vigiar com zeloso cuidado a primeira aproximação do astuto inimigo, e estar preparados para hastear contra ele a bandeira. Levantem uma fortaleza de oração e fé ao redor de seus filhos, e sobre ela exerçam diligente vigilância. Em nenhum momento vocês estão seguros contra os ataques de Satanás. Não têm tempo para descansar do trabalho vigilante e fervoroso. Não devem dormir nenhum momento em seu posto. É esta uma guerra muito importante. Conseqüências eternas estão envolvidas. É questão de vida ou morte para vocês e sua família. Sua única segurança está em humilhar-se diante de Deus e buscar Seu reino como criancinhas. Não podem ser vitoriosos nessa luta se continuarem seguindo o caminho que escolheram. Estão distantes do reino do Céu. T2 398 1 Alguns que não professam a Cristo estão mais próximos do reino de Deus do que muitos professos guardadores do sábado em _____. Vocês não se mantiveram no amor de Deus e não ensinaram aos filhos o temor do Senhor. Não lhes ensinaram diligentemente a verdade ao assentar-se e ao levantar-se, ao entrarem e ao saírem. Eles não foram controlados. Vocês olharam outras crianças e se confortaram dizendo: "Meus filhos não são piores do que elas." Isso pode até ser verdadeiro, mas a negligência dos outros no cumprimento do dever diminui a força dos reclamos que Deus tem especialmente sobre vocês como pais? Ele colocou sobre vocês a responsabilidade de conduzir-Lhe essas crianças, e sua salvação depende em grande parte da educação que elas receberam em sua infância. Essa responsabilidade não pode ser passada a outros. Ela é sua, unicamente sua como pais. Vocês podem buscar toda a ajuda para auxiliá-los na solene e importante obra, mas após fazer isso, há um poder acima de todo instrumento humano, que trabalhará com vocês através dos meios que é seu privilégio usar. Deus virá em seu auxílio e Seu poder repousará sobre vocês. Esse poder é infinito. Instrumentos humanos podem não ter sucesso, mas Deus pode torná-los frutíferos atuando neles e através deles. T2 399 1 Vocês têm um trabalho a fazer para pôr sua casa em ordem. Anjos puros e imaculados não podem deleitar-se em vir a uma habitação onde tanta iniqüidade é praticada. Vocês estão dormindo em seu posto. Coisas de pouca importância têm ocupado sua mente, com exclusão de assuntos mais importantes. Deve ser-lhes prioridade na vida buscar primeiro o reino do Céu e sua justiça, assim têm a promessa de que todas as coisas lhes serão acrescentadas. Neste ponto têm falhado em sua família. Houvessem se empenhado para que vocês e os seus entrassem pela porta estreita, e teriam cuidadosamente reunido todo raio de luz que o Senhor permitiu brilhar sobre seu caminho, e o entesourariam e andariam nele. T2 399 2 Vocês não têm observado a luz que o Senhor misericordiosamente lhes deu sobre a reforma de saúde. Mas ergueram-se contra ela. Não lhe vêem a importância e nenhuma razão para recebê-la. Não tem estado dispostos a restringir o apetite. Não vêem a sabedoria de Deus em proporcionar luz com respeito à restrição do apetite. Tudo o que poderiam discernir era a inconveniência de negar o apetite. O Senhor tem permitido que Sua luz brilhe sobre nós nos últimos dias, para que a escuridão e as trevas que estiveram a acumular-se nas gerações passadas em virtude de condescendências pecaminosas, pudessem em certa medida ser desfeitas, e para que a série de males decorrentes da intemperança no comer e no beber fosse diminuída. T2 399 3 Em Sua sabedoria desejava o Senhor levar o Seu povo a uma posição na qual eles se tornariam separados do mundo no espírito e na prática, para que seus filhos não fossem tão prontamente levados à idolatria e se contaminassem com a corrupção prevalecente desta época. É desejo de Deus que os pais crentes e seus filhos permaneçam como representantes vivos de Cristo, candidatos à vida eterna. Todos os que são "participantes da natureza divina" escaparão à "corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. É impossível aos que transigem com o apetite alcançarem a perfeição cristã. Vocês não podem atingir as sensibilidades morais de seus filhos enquanto não forem cuidadosos na escolha de sua alimentação. A mesa que os pais geralmente preparam para os filhos é uma cilada para eles. Seu regime alimentar não é simples e não é também preparado de maneira saudável. O alimento é freqüentemente substancioso e estimulante, com tendência a irritar e incitar a sensível mucosa estomacal. As propensões sensuais são fortalecidas e assumem o controle, enquanto que as faculdades morais e intelectuais são enfraquecidas e tornam-se servas das baixas paixões. Vocês devem aprender como preparar um cardápio simples mas nutritivo. Alimentos cárneos, tortas e bolos requintados, preparados com especiarias de qualquer espécie, não são o regime mais nutritivo e saudável. Ovos não devem ser colocados em sua mesa.* Eles são prejudiciais às crianças. Frutas e cereais preparados do modo mais simples são mais saudáveis e proporcionarão boa nutrição ao corpo e, ao mesmo tempo, não prejudicam o intelecto. T2 400 1 Regularidade no comer é muito importante para a saúde do corpo e a serenidade da mente. Seus filhos devem comer apenas no horário regular. Não deve ser-lhes permitido desviar-se dessa regra estabelecida. Quando você, irmã E, se ausenta do lar, não pode controlar esses importantes assuntos. Já seu filho mais velho debilitou todo o organismo e lançou o fundamento de enfermidade crônica. Seu segundo filho está rapidamente seguindo seus passos, e nenhum de seus filhos está livre desse mal. T2 400 2 Vocês podem ser incapazes de obter a verdade dos filhos com respeito a seus hábitos. Aqueles que praticam masturbação mentirão e enganarão. Seus filhos podem enganá-los, pois vocês não estão em condição de saber se estão tentando iludi-los. Por tanto tempo vocês têm sido cegados pelo inimigo que mal podem ver um raio de luz na escuridão. Há uma grande, solene e importante obra para os irmãos fazerem imediatamente, para colocar o próprio coração e a casa em ordem. Sua única segurança é empreendê-la com firmeza. Não se enganem em crer que, afinal de contas, esse assunto lhes foi apresentado numa luz exagerada. Eu não colori o quadro. Declarei fatos que suportarão a prova do juízo. Despertem! Despertem! Suplico-lhes antes que seja tarde demais para endireitar os erros, e vocês e seus filhos pereçam na ruína geral. Lancem mão do solene trabalho, trazendo em seu auxílio todo raio de luz que puderem reunir, que tem brilhado sobre seu caminho e que não apreciaram devidamente. E com o auxílio da luz que agora brilha, comecem a examinar a sua vida e caráter, como se estivessem diante do tribunal de Deus. "Que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma" (1 Pedro 2:11), é a exortação do apóstolo. Vício e corrupção são abundantes de todos os lados e, a menos que vocês tenham uma força sobre-humana em que possam confiar a fim de colocar-se contra tão poderosa corrente maligna, serão vencidos e destruídos por ela. Sem santidade, nenhum homem verá a Deus. T2 401 1 O Senhor está provando e experimentando Seu povo. Os anjos de Deus estão observando o desenvolvimento do caráter e pesando o valor moral. A graça está quase no fim, e vocês não estão preparados. Oh! que a palavra de advertência possa arder-lhes no coração! Preparem-se! Preparem-se! Trabalhem enquanto é dia, "pois a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. Sairá o decreto: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. O destino de todos será decidido. Poucos, sim, somente poucos do imenso número dos que povoam a Terra serão salvos para a vida eterna, ao passo que as multidões que não aperfeiçoaram o caráter na obediência da verdade serão destinadas à segunda morte. Ó Salvador, salva a aquisição de Teu sangue! é o clamor de meu angustiado coração. T2 402 1 Temo muito por vocês e por muitos que professam crer na verdade em _____. Oh, examinem, examinem diligentemente o próprio coração e façam uma obra completa para o juízo! Sofro muito quando me lembro de quantos filhos de guardadores do sábado estão arruinando mente e corpo pela prática da masturbação. Vizinha a vocês há uma família que revela seus maus hábitos no corpo, bem como na mente. Os filhos estão em rota direta rumo à perdição. São corrompidos e têm instruído muitos outros nesse vício. Por condescender com essa prática, o filho mais velho não está se desenvolvendo física e mentalmente. O pequeno intelecto que ainda possui é de ordem inferior. Se continuar nessa viciosa prática, tornar-se-á imbecil. Toda condescendência de crianças que atingiram seu crescimento é um mal terrível e produzirá terríveis resultados, debilitando o organismo e enfraquecendo o intelecto. Nos que praticam esse vício antes de consolidar seu crescimento, os maus efeitos serão mais claramente evidenciados e a recuperação é quase sem esperança. A estrutura é fraca e mirrada; os músculos são flácidos, os olhos se tornam pequenos e, às vezes, inchados; a memória é falha e sem aptidão de retenção, aumentando a incapacidade de concentrar os pensamentos no estudo. T2 402 2 Gostaria de dizer aos pais: Vocês trouxeram filhos ao mundo apenas para serem uma maldição à sociedade. Eles são indisciplinados, irascíveis, rixosos e viciosos. A influência que exercem sobre outros é corruptora. Eles trazem a estampa do caráter paterno, de suas baixas paixões. Seu temperamento impetuoso, violento, reflete-se neles. Há muito tempo deveriam esses pais mudar para o campo, separando a família da sociedade daqueles a quem não podiam beneficiar, mas unicamente prejudicar. O trabalho estável numa fazenda teria se mostrado uma bênção a esses filhos, e constante ocupação, conforme suas energias pudessem suportar lhes teria dado menos oportunidade de corromper o próprio corpo pela masturbação, e evitado que instruíssem um grande número nessa prática infernal. O trabalho é uma grande bênção a todas as crianças, especialmente àquelas cuja mente é naturalmente inclinada ao vício e depravação. T2 403 1 Esses filhos têm transmitido mais conhecimento do vício em _____ do que todos os esforços conjugados de pastores e pessoas que professam piedade poderiam impedir. Muitos que aprenderam com seus filhos se perderão de preferência a controlar as paixões e vencerem a condescendência com esse pecado. Uma mente corrompida pode semear mais semente má num curto período de tempo do que muitos a podem arrancar em toda a vida. Seus filhos são um provérbio na boca dos blasfemadores da verdade. Eles são filhos de guardadores do sábado, mas são piores do que os filhos dos mundanos em geral. Possuem menos refinamento, menos respeito próprio. O irmão F tem sido uma desonra para a causa de Deus. Seu temperamento impetuoso e influência geral não têm tido a tendência de elevar, mas de baixar o nível. A obra de Deus tem sido desacreditada por sua falta de bom senso e refinamento. Teria sido bem melhor para a causa da verdade se essa família tivesse se mudado muito tempo atrás para um lugar de menor importância, onde estivesse mais isolada e sua influência fosse menos sentida. Seus filhos teriam vivido na luz da verdade e teriam privilégios que poucas crianças têm tido. No entanto, todo esse tempo eles não foram beneficiados mas se fortaleceram cada vez mais na depravação. Seu afastamento teria sido uma bênção à igreja, à sociedade e à família inteira. O trabalho regular com a terra seria uma bênção ao pai e aos filhos se houvessem aproveitado as vantagens da vida no campo. T2 404 1 Vi que a família do irmão G necessita de um amplo trabalho em seu favor. H e I desceram às profundidades nesse crime da masturbação. Isto é especialmente verdadeiro com respeito a H, que foi tão longe na prática desse pecado que seu intelecto ficou afetado, sua visão enfraquecida e a doença rapidamente nele se está manifestando. Satanás tem quase controle total sobre a mente desse pobre rapaz, mas os pais não estão despertos para ver o mal e seus resultados. A mente foi degradada, a consciência endurecida, as sensibilidades morais entorpecidas, e ele se tornará uma vítima fácil de ser levada por más companhias ao pecado e ao crime. Irmão e irmã G, despertem, eu lhes rogo. Vocês não têm recebido a luz da reforma de saúde e agido com base nela. Se houvessem restringido o apetite, ter-se-iam poupado muito trabalho e despesas extras; e o que é de conseqüência ainda mais vasta, teriam mantido em reserva para vocês mesmos melhor condição de saúde física, e maior grau de força intelectual para apreciar verdades eternas; teriam cérebro mais claro para pesar as evidências da verdade, e estariam melhor preparados para dar a outros "a razão da esperança que há em vós". 1 Pedro 3:15. Seu alimento não é daquela simples e saudável qualidade que produziria a melhor espécie de sangue. Sangue impuro seguramente enfraquece as faculdades intelectuais e morais, desperta e fortalece as paixões mais sensuais de sua natureza. Nenhum de vocês pode permitir-se um regime estimulante, pois o faria às expensas da saúde do corpo e da prosperidade de sua alma e da dos filhos. T2 404 2 Vocês colocam sobre a sua mesa alimentos que sobrecarregam os órgãos digestivos, incitam as paixões sensuais e debilitam as faculdades morais e intelectuais. Iguarias finas e alimentos cárneos não lhes trazem qualquer benefício. Pudessem os irmãos conhecer exatamente a natureza da carne que comem, pudessem ver, vivos, os animais dos quais é tirada a carne quando mortos, e se desviariam com repugnância de seu alimento cárneo. Os próprios animais cuja carne comem, estão com frequência tão doentes que morreriam por si mesmos se os houvessem deixado; mas enquanto neles está o fôlego da vida, são mortos e levados para o mercado. Vocês recebem diretamente no organismo humores e venenos da pior espécie, e todavia não o compreendem. Gostam de condescender com o apetite e têm uma lição a aprender: "Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. T2 405 1 Admoesto-os, pelo amor de Cristo, a que ponham em ordem a casa e o coração. Que a verdade de origem celestial os eleve e os santifique no corpo, no coração e no espírito. 1 Tessalonicenses 5:23. "Que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma." 1 Pedro 2:11. Irmão G, seu hábito alimentar tem a tendência de fortalecer as paixões inferiores. Você não controla o corpo, como é seu dever, a fim de aperfeiçoar "a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. A temperança no comer deve ser praticada antes que chegue a ser um homem paciente. Lembre-se de que tem transmitido aos filhos, em grande parte, o timbre de seu caráter. Deve controlar-se e não ser duro, ríspido ou impaciente. Lide decididamente com eles, todavia de modo bondoso, amável, compassivo, como Jesus tem feito com você. Seja cuidadoso ao censurá-los. Tenha paciência com os filhos, mas restrinja-os. Você negligenciou muito esse dever. Não os corrigiu da maneira certa, não tendo perfeito controle sobre a própria inclinação. Um grande trabalho deve ser feito em favor de ambos. T2 405 2 Irmão G, se houvesse prosseguido de força em força, seguindo a luz que o Senhor lhe havia dado, Ele o teria agora escolhido como um instrumento de justiça. Você tem talentos, tem habilidades, pode trabalhar para a glória de Deus, mas não fez uma entrega completa de si mesmo a Deus. Oh, que busque agora a mansidão e a justiça de Cristo; que possa ser oculto no dia da ardente ira do Senhor. T2 405 3 Meus queridos irmão e irmã, vocês devem unir-se e perseverar em corrigir a sua má liderança sobre os filhos. A irmã G tem sido muito tolerante. Contudo, unidos em amor, vocês podem realizar muito, mesmo agora, para ligar os filhos ao seu coração e instruí-los no bem e no caminho certo. Vocês têm um trabalho a fazer em colocar coração e casa em ordem. Devem agir harmoniosamente. A transformadora influência do Espírito de Deus pode realizar um grande trabalho por vocês, e unirá esforços e corações na obra de reforma da própria família. Todo descontentamento, murmuração e precipitada irritabilidade devem cessar. Seus efeitos são de molde a enfraquecê-los e destruir a influência que devem exercer para serem bem-sucedidos em preparar os filhos para o Céu. T2 406 1 Satanás está agora em campanha. Seus pobres filhos são-lhe cativos. Ele tem o controle da mente deles e os arrasta para baixo. Suas sensibilidades morais parecem paralisadas. Têm praticado masturbação e se satisfizeram em sua iniqüidade. Esses rapazes podem envenenar a vizinhança inteira ou comunidade, e sua perniciosa influência colocará em perigo os que entram em contato com eles na escola. Eles são corrompidos de corpo e mente. O vício deixou marcas em seus filhos mais velhos. Eles estão contaminados, profundamente contaminados com o pecado. Predominam as propensões sensuais, enquanto que as faculdades morais e intelectuais estão muitos enfraquecidas. As paixões inferiores se fortaleceram pelo exercício, enquanto que a consciência se tornou endurecida e cauterizada. Essa é a influência que o vício tem sobre as faculdades mentais. Aqueles que se entregam à ruína do próprio corpo e mente não param aí. Finalmente se acharão prontos para o crime em quase qualquer forma, pois sua consciência está cauterizada. Os pais não têm estado despertos o suficiente para compreender sua responsabilidade em ser pais. São negligentes em seu dever. Não ensinam a seus filhos acerca da pecaminosidade desses perigosos hábitos destruidores da virtude. A menos que os pais despertem, não há esperança para os filhos. T2 406 2 Eu poderia mencionar os casos de muitos outros, mas abster-me-ei, exceto alguns deles. J é um companheiro perigoso, pois está sujeito a esse vício. Sua influência é má. A graça de Deus não tem poder sobre seu coração. Ele possui grande inteligência e seu pai tem confiado nisso para compensá-lo, mas o poder mental por si só não é garantia de primazia da virtude. A ausência de princípios religiosos torna-o corrompido de coração e astucioso em seus malfeitos. Sua influência é perniciosa em toda parte. Ele é infiel aos princípios e se gaba de seu ceticismo. Quando em companhia dos de sua idade, ou mais jovens, ele fala intencionalmente de coisas religiosas, zombando desdenhosamente da verdade e da Bíblia. Esse pretenso conhecimento tem influência corruptora sobre as mentes, e leva os jovens a se sentirem envergonhados da verdade. Companheiros desse tipo devem ser totalmente evitados, pois esse é o único meio de segurança. As moças apreciam a companhia de tais jovens; mesmo algumas que professam ser cristãs preferem tal associação. T2 407 1 K é um rapaz que pode ser moldado se cercado por influências corretas. Ele precisa de um exemplo correto. Se os jovens que professam a Cristo O honrassem em sua vida, poderiam exercer uma influência que neutralizaria o pernicioso poder de jovens como J. Mas os jovens geralmente não têm mais religião do que aqueles que nunca professaram o nome de Cristo. Não se afastam da iniqüidade. Um jovem inteligente e esperto como J pode exercer poderosa motivação para o mal. Fosse sua inteligência controlada pela virtude e a retidão, e seria poderosa no bem. Se influenciada, porém, pela depravação, sua maléfica pressão sobre os companheiros não pode ser avaliada, e seguramente o submergirá na perdição. Um bom intelecto corrompido torna muito mau o coração. Um brilhante intelecto santificado pelo Espírito de Deus exercerá invisível poder e difundirá luz e pureza sobre todos os que se associam com seu feliz possuidor. T2 407 2 Se um jovem de tal capacidade como J rendesse o coração a Cristo, isso seria sua salvação. Através da religião pura sua mente seria conduzida por condutos saldáveis; suas faculdades mentais e morais tornar-se-iam vigorosas e harmoniosas; a consciência iluminada pela graça divina seria vivaz e pura, controlando a vontade e os desejos, e conduzindo à sinceridade e integridade em cada ato na vida. Sem os princípios religiosos esse rapaz será malicioso, fingido, astuto e contaminará a todos com quem se associa. Advirto a todos os jovens a ter cuidado com esse rapaz se ele continuar a desrespeitar a religião e a Bíblia. Jovens, vocês não podem estar seguros em sua companhia. T2 408 1 Pela associação com os jovens que não exercem uma influência correta, L também está se corrompendo. J e K não são bons companheiros para ele, pois ele é facilmente induzido na direção errada. _____ não é o melhor lugar para ele. Seus hábitos não são puros. Ele pratica a masturbação. Por causa disso e de sua preferência pela companhia de maus elementos, aqueles desejos que ajudam a formar um caráter virtuoso e garantir o Céu serão afinal enfraquecidos. Os jovens que desejam a imortalidade devem deter-se onde estão e não permitir-se um ato ou pensamento impuro. Pensamentos impuros levam a atos impuros. Se Cristo for assunto de contemplação, os pensamentos ficarão largamente separados de qualquer assunto que levará a atos impuros. A mente se fortalecerá ao demorar-se sobre assuntos enobrecedores. Se educada a fluir no conduto da pureza e santidade, tornar-se-á sadia e vigorosa. Se educada a demorar-se em temas espirituais, ela naturalmente tomará esse rumo. Mas essa atração dos pensamentos para coisas celestiais não pode ser alcançada sem o exercício da fé em Deus e um fervoroso e humilde apoiar-se nEle para receber força e graça suficientes para qualquer emergência. T2 408 2 Pureza de vida e caráter moldado segundo a regra divina não são obtidos sem um esforço sincero e firmes princípios. Uma pessoa vacilante não será bem-sucedida em obter a perfeição cristã. Tal pessoa será pesada na balança e achada em falta. Daniel 5:27. Como um leão a rugir, Satanás está procurando a sua presa. Ele experimenta os seus ardis em cada jovem descuidado; só há segurança em Cristo. É somente por meio de Sua graça que Satanás pode ser repelido com êxito. Satanás diz ao jovem que ainda haverá tempo, que ele pode condescender com o pecado e o vício só esta vez e nunca mais; mas esta única condescendência envenenará toda a sua vida. Não se aventurem uma vez sequer em terreno proibido. Nesta perigosa época de males, quando as seduções do vício e da corrupção se encontram em todos os locais, eleve-se ao Céu o clamor fervoroso e sincero dos jovens: "Como purificará o jovem o seu caminho?" E se abram os seus ouvidos e se incline o seu coração a obedecer à instrução dada em resposta: "Observando-o conforme a Tua Palavra." Salmos 119:9. A única segurança para os jovens nesta época de corrupção é pôr em Deus a sua confiança. Sem o auxílio divino, eles serão incapazes de controlar as paixões e os apetites humanos. Em Cristo está justamente o auxílio necessário, mas quão poucos vão a Ele em busca desse auxílio! Quando esteve na Terra, Jesus disse: "E não quereis vir a Mim para terdes vida." João 5:40. Em Cristo todos podem ser vencedores. Vocês podem dizer com o apóstolo: "Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou." Romanos 8:37. E ainda: "Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão." 1 Coríntios 9:27. T2 409 1 Escrevi muito sobre o caso do irmão E e familiares, porque ele ilustra o verdadeiro estado de muitas famílias, e Deus gostaria que elas tomassem o testemunho como se escrito especialmente para seu benefício. Há muitos mais casos que eu poderia destacar, mas já escrevi o suficiente. As moças geralmente não têm consciência do crime da masturbação. Elas o praticam e, como resultado, sua constituição se arruína. Algumas que estão justamente entrando na fase da feminilidade, acham-se sob o risco de paralisia cerebral. Já as faculdades morais e intelectuais se enfraquecem e se insensibilizam, ao mesmo tempo em que as paixões sensuais obtêm ascendência e corrompem corpo e mente. Os jovens, rapazes e moças, não podem ser cristãos, a menos que cessem inteiramente a prática desse vício infernal, destruidor do corpo e da mente. T2 410 1 Muitos dentre os jovens são ávidos por livros. Lêem tudo que podem obter. As provocantes histórias de amor e os quadros impuros exercem uma influência corruptora. As novelas são lidas por muitos com avidez e, em resultado, sua imaginação se torna corrompida. Nos trens, fotografias de mulheres nuas são freqüentemente oferecidas à venda. Esses quadros repugnantes também são encontrados em estúdios fotográficos e são dependurados nas paredes dos que trabalham com gravações em relevo. É esta uma época em que a corrupção prolifera por toda a parte. A concupiscência dos olhos e as paixões corruptas são despertadas pela contemplação e pela leitura. O coração é corrompido pela imaginação. O espírito se compraz em contemplar cenas que despertam as mais baixas e vis paixões. Essas desprezíveis imagens, vistas através de uma imaginação deturpada, corrompem a moral e preparam as criaturas enganadas e imprudentes para darem rédeas soltas às paixões pecaminosas. Então se seguem pecados e crimes que arrastam os seres formados à imagem de Deus ao baixo nível dos animais, mergulhando-os afinal na perdição. Abstenham-se de ler e ver coisas que inspirem pensamentos impuros. Cultivem as faculdades morais e intelectuais. Não permitam que essas nobres faculdades sejam debilitadas e pervertidas pela excessiva leitura de livros de histórias. Conheço mentes robustas que se tornaram desequilibradas e parcialmente insensibilizadas, ou paralisadas, pela intemperança na leitura. T2 410 2 Apelo aos pais para controlarem a leitura dos filhos. Muita leitura apenas lhes causa prejuízo. Não permitam em suas casas especialmente revistas e jornais onde se acham histórias de amor. É impossível que os jovens possuam saudável disposição mental e corretos princípios religiosos, a menos que apreciem a leitura atenta da Palavra de Deus. Este Livro contém a mais interessante história, indica o caminho da salvação por meio de Cristo, e é o seu guia para uma vida mais elevada e melhor. Todos declarariam ser ele o livro mais interessante que já manusearam, se a sua imaginação não se houvesse pervertido por provocantes histórias de índole fictícia. Vocês que esperam que seu Senhor venha pela segunda vez para transformar seu corpo mortal, e para moldá-lo à semelhança de Seu corpo mui glorioso, devem colocar-se sobre um plano de ação mais elevado. Devem trabalhar de um ponto de vista mais elevado do que têm feito até agora, do contrário não farão parte daquela multidão que receberá o toque final da imortalidade. ------------------------Capítulo 55 -- O verdadeiro amor no lar T2 411 1 Irmão M: T2 411 2 Em Adams Center foi-me mostrado que lhe faltou grandemente um espírito altruísta enquanto no Instituto; você não exerceu a devida influência. Poderia ter deixado sua luz brilhar ali, mas não o fez. Você freqüentemente negligenciou seu dever em troca de divertimento. Falhou em cuidar-se e assumir responsabilidades. Não aprecia exercício vigoroso, mas ama a comodidade. Você e o trabalho árduo estão em divergência. Isto é egoísmo. O irmão permitiu que a propriedade do Instituto fosse menosprezada e destruída, quando era sua atribuição conservá-la e manter tudo em ordem, e preservá-la com maior interesse e cuidado, do que se lhe pertencesse. Mostrou-se um mordomo infiel. Cada vez que se divertia jogando croqué ou qualquer outro jogo, estava usando tempo remunerado que não lhe pertencia. Você seria tão culpado como se tivesse apanhado o dinheiro que não ganhou e se apossado dele. T2 411 3 Os irmãos Loughborough, Andrews, Aldrich e outros não o conheciam e o supervalorizaram. Você não pode ocupar o lugar que eles lhe destinaram. Eles erraram na avaliação quando lhe pagaram tão alto salário por seu trabalho. Não mereceu o salário que recebeu. Você é muito vagaroso e grandemente desprovido de energia. Não está suficientemente interessado e desperto para ver e agir, e as coisas foram terrivelmente negligenciadas por você. T2 412 1 Meu irmão, você está distante de Deus e em estado de apostasia. Não possui coragem moral. Atende aos próprios desejos, em lugar de negar a si mesmo. Em busca de satisfação, freqüentou lugares de divertimento que Deus não aprova, e, assim fazendo, debilitou o próprio caráter. Meu irmão, você tem muito a aprender. É condescendente com o apetite, comendo mais do que seu organismo pode transformar em bom sangue. É pecado ser intemperante na quantidade de alimento ingerido, mesmo que seja de qualidade inquestionável. Muitos acham que se não comerem carne e os mais extravagantes artigos de alimentação, estão livres para comer dos alimentos simples até não agüentarem mais. Isso é um erro. Muitos professos reformadores de saúde são nada menos que glutões. Colocam sobre os órgãos digestivos uma carga tão grande que a vitalidade do organismo é exaurida no esforço para livrar-se dela. Isso tem também influência depressiva sobre o intelecto; pois as faculdades nervosas do cérebro são convocadas para auxiliar o estômago em seu trabalho. Comer em demasia, mesmo que se trate de alimentos simples, entorpece os nervos sensitivos do cérebro, enfraquecendo sua vitalidade. O comer em excesso exerce sobre o organismo um efeito pior que o trabalhar em excesso; as energias da mente são enfraquecidas mais seguramente pelo comer intemperante do que pelo trabalho intemperante. T2 412 2 Os órgãos digestivos nunca devem ser sobrecarregados com quantidade ou qualidade de alimentos para cuja assimilação o organismo sofra uma sobrecarga. Tudo que é introduzido no estômago, além daquilo que o organismo pode usar e converter em bom sangue obstrui os órgãos, pois não pode ser transformado em carne ou sangue, e sua presença sobrecarrega o fígado, e produz no organismo uma condição doentia. O estômago é sobrecarregado em seus esforços para processar o excesso, havendo então uma sensação de fraqueza, a qual é interpretada como se fosse fome e, sem permitir aos órgãos digestivos tempo suficiente para repousar de seu árduo trabalho para recuperar as energias, outra quantidade exagerada é levada ao estômago, pondo a exausta estrutura outra vez em movimento. O organismo recebe menos nutrição de tão grande quantidade de alimento, embora de boa qualidade, do que receberia da quantidade moderada tomada em períodos regulares. T2 413 1 Meu irmão, seu cérebro está entorpecido. Um homem que consome a quantidade de alimento que você ingere, deve ser um homem que trabalhe ativamente. O exercício é importante para a digestão, bem como para a saudável condição do corpo e da mente. Você necessita de exercício físico. Você se movimenta e age como se fosse de pau, como quem não possui nenhuma elasticidade. Exercício ativo, saudável, é o que você necessita. Isso revigorará a mente. Nem em estudo nem em exercício violento deve alguém empenhar-se imediatamente após uma refeição pesada; isso seria uma violação das leis do organismo. Logo após a refeição há um grande consumo de energia nervosa. A força do cérebro é chamada ao exercício ativo a fim de auxiliar o estômago; logo, quando a mente ou o corpo são sobrecarregados depois da refeição, o processo de digestão é atrapalhado. A vitalidade do organismo, necessária ao desempenho do trabalho em uma direção, é desviada e posta a atuar em outra direção. T2 413 2 Você necessita praticar a temperança em todas as coisas. Cultive as faculdades superiores da mente, e haverá menos força no crescimento da sensualidade. É-lhe impossível crescer em força espiritual enquanto seus apetites e paixões não estiverem sob perfeito controle. Diz o apóstolo inspirado: "Subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. T2 414 1 Meu irmão, levante-se, eu lhe rogo, e deixe que a obra do Espírito de Deus se aprofunde além da superfície; que ela atinja as profundezas da fonte de cada ação. O que se deseja é princípio, princípio firme e força de ação, tanto nas coisas espirituais como nas temporais. Falta fervor a seus esforços. Oh, quantos estão baixos na escala da espiritualidade, porque não negam o próprio apetite! A energia nervosa do cérebro é obscurecida e quase paralisada pelo excesso no comer. Quando tais pessoas vão aos sábados à casa de Deus, são incapazes de manter os olhos abertos. Os mais fervorosos apelos não conseguem despertar o seu intelecto inerte, insensível. A verdade pode ser apresentada com profundo sentimento, mas não desperta a sensibilidade moral, nem ilumina o entendimento. Têm tais pessoas procurado glorificar a Deus em todas as coisas? T2 414 2 É impossível ter clara concepção das coisas eternas a menos que a mente seja treinada a demorar-se sobre temas elevados. Todas as paixões devem estar em perfeita sujeição às faculdades morais. Quando homens e mulheres professam sólida fé e zelo espiritual, sei que sua religião é falsa se eles não têm mantido todas as suas paixões sob controle. Deus requer isso. A razão pela qual tais trevas espirituais prevalecem é que a mente se satisfaz em manter um baixo nível e não é dirigida para o alto, por um conduto puro, santo e celestial. T2 414 3 Com respeito à sua família, irmão M, vi que vocês não eram felizes. Sua esposa ficou desapontada e você também. Ela esperava encontrar em você uma pessoa de temperamento mais nobre e refinado, e tem se sentido muito infeliz. Ela é muito orgulhosa. Suas relações familiares, do lado da mãe, são naturalmente conscienciosas, todavia altivas e aristocráticas, e ela participa largamente desses traços de caráter. Ela não é comunicativa. Não lhe é natural manifestar afeições e antecipar-se no relacionamento. Considera como fraqueza e criancice a manifestação de afeto entre marido e mulher. Ela acha que se demonstrasse afeição, não seria correspondida com amor puro e elevado, mas com paixões baixas; que essas seriam fortalecidas em lugar de um amor casto, profundo e santo. T2 415 1 Sua esposa deve fazer grande esforço para vencer a atitude esquiva, seu dignificado retraimento, e cultivar a simplicidade em todos os atos. E uma vez que sejam em você despertadas e fortalecidas pelo exercício as faculdades mais elevadas, compreenderá melhor as carências da mulher; você compreenderá que o coração suspira por um amor de espécie mais elevada e mais pura do que a que existe na ordem inferior das paixões sensuais. Essas paixões, você as fortaleceu, animando-as e exercitando-as. Se agora, no temor do Senhor, sujeitar o físico, e procurar ir ao encontro da esposa com amor puro e elevado, serão satisfeitas as necessidades da natureza dela. Achegue-a ao coração; tenha-a em alta consideração. T2 415 2 Você tem se exaltado e tomado uma posição acima de sua esposa, e não compreendeu a si mesmo. Tem tido em alta apreciação sua experiência religiosa e progresso na vida espiritual. Esse fato tem servido de tropeço ao invés de ajudar sua esposa. Ela teme por você; teme que o irmão não tenha realmente compreendido a si mesmo e que está indo muito depressa. A união de vocês não tem sido feliz. Os irmãos têm incompatibilidades. Sua esposa possui uma natureza tímida, retraída e discreta. Você falhou totalmente em compreendê-la. Ela teme tomar iniciativas, porque receia estar indo rápido demais. Necessita confiar em si mesma e estimular-se à independência. T2 415 3 Irmão M, você falhou em incentivar a confiança de sua esposa. Está em falta quanto à cortesia e quanto à constante e bondosa consideração por ela. Algumas vezes lhe manifesta amor, mas esse é de natureza egoísta. Não é hábito seu envolver-se profundamente e fundamentar todas as suas ações. Não é o amor abnegado que o leva a prover continuamente suas necessidades e a buscar tê-la junto a si, mostrando-lhe que prefere sua companhia acima de qualquer outra. Tem procurado a própria diversão, deixando-a em casa, sozinha e freqüentemente triste. Você já agia assim antes de mudar-se para esse lugar, e continuou esse procedimento em grau um pouco menor por falta de oportunidade ou pretexto. T2 416 1 Sua esposa não se preocuparia em deixá-lo saber que observa suas deficiências. Ela tem medo de você. Se você possuísse amor genuíno, como a natureza dela requer, haveria de tocar em um ponto muito sensível do coração dela. Mas você é muito frio e inflexível. Às vezes manifesta afeição, mas sem despertar amor em retorno, porque não tem sido cortês e atencioso nem manifestado bondosa consideração por ela, promovendo sua felicidade. Você, muitas vezes, sentiu-se na liberdade de perambular em busca do próprio prazer, sem consultar de modo algum as preferências da esposa ou sua felicidade. T2 416 2 O amor verdadeiro, puro, é precioso. É celeste em sua influência. É profundo e permanente. Não é espasmódico em suas manifestações. Não é uma paixão egoísta. Produz fruto. Levará a um constante empenho por tornar feliz sua esposa. Se você possuir esse amor, tornar-se-á natural fazer esse esforço. Não dará a impressão de ter sido forçado. Se sair a passeio ou para assistir a uma reunião, será tão natural quanto sua respiração escolher a esposa para acompanhá-lo e procurar fazê-la sentir-se feliz em sua companhia. Você considera os talentos espirituais dela como inferiores aos seus, mas vi que Deus Se agradava mais do espírito dela do que do seu. T2 416 3 Você não é digno da esposa que tem. Ela é demasiado boa para você. É uma planta frágil, sensível; precisa ser cuidada ternamente. Ela deseja sinceramente fazer a vontade de Deus. Mas tem espírito altivo e é tímida, esquivando-se da censura. Para ela, ser sujeita a observações ou comentários, é como a morte. Que sua esposa seja amada, honrada e acariciada, de acordo com o voto matrimonial, e ela superará essa atitude reservada e tímida que lhe é natural. T2 416 4 Permita-se tão-somente que uma mulher compreenda que é apreciada pelo esposo e é preciosa para ele, não meramente por ser útil e conveniente no lar, mas porque ela é uma parte dele, então responderá à afeição dele e refletirá o amor que lhe foi concedido. Permita que sua esposa seja objeto de sua especial e amorosa atenção. Quando você sentir como Deus gostaria que o fizesse, sentir-se-á perdido sem a companhia de sua mulher. Você pensa que a fé de sua esposa não tem valor, no entanto tal fé obterá respostas mais prontamente do que a fé que você possui. T2 417 1 Irmão M, você não compreende o coração de uma mulher. Não arrazoa da causa para o efeito. Você sabe que sua esposa não é tão animada e feliz como gostaria que fosse, mas não procura saber a causa. Não analisa o próprio comportamento para ver se a dificuldade procede daí. Ame sua esposa. Ela anseia por um amor profundo, elevado e verdadeiro. Permita que tenha uma prova tangível que o cuidado, atenção e interesse que ela dispensa pelo seu conforto são apreciados e correspondidos. Busque sua opinião e aprovação no que quer que você faça. Respeite suas opiniões. Não pense que você sabe tudo que é importante saber. T2 417 2 Um lar que tenha amor, onde o amor é expresso em palavras, olhares e ações, é um lugar onde os anjos gostam de manifestar sua presença e consagrar a cena pelos raios de luz da glória. Ali as humildes obrigações domésticas têm o seu encanto. Nenhum dos deveres da vida, sob tais circunstâncias, será desagradável para sua esposa. Ela os desempenhará com alegria de espírito e será como um raio de sol a todos que a rodeiam, e em seu coração haverá melodias ao Senhor. No momento ela sente que não é dona das afeições de seu coração. Você lhe tem dado ocasião de assim pensar. Você tem cumprido suas tarefas como cabeça da família, mas há uma falta. Há séria falta da preciosa influência do amor que leva a delicadas atenções. O amor deve ser visto no olhar e nas maneiras, e ouvido nos tons da voz. T2 418 1 Sua esposa não se aventura a abrir coração a você, pois tão prontamente lhe expresse uma opinião diferente da sua, é repelida. Você lhe fala tão asperamente que ela não ousa dizer nenhuma palavra. Não estão unidos em um só coração. Você assume uma posição superior e mantém tal comportamento, como se as opiniões dela nada valessem. Considera os próprios talentos espirituais como muito superiores aos dela. Meu irmão, você não conhece a si mesmo. Deus olha para o coração e não para palavras ou profissão de fé. O exterior não tem peso para com Deus como tem para os homens. O Senhor valoriza um espírito humilde e contrito. Nosso Salvador está familiarizado com os conflitos de cada coração. Ele não julga de acordo com as aparências, mas julga justamente. T2 418 2 Você tem espírito dominador. Quando toma uma posição, não pesa bem a questão nem considera qual pode ser o efeito de manter sua opinião de maneira independente, incluindo-a em suas orações e conversação, quando sabe que sua esposa não tem a mesma opinião. Em vez de respeitar os sentimentos de sua esposa, evitando bondosamente, como faria um homem cortês, os assuntos que você sabe serem controvertidos, persiste em se demorar em pontos objetáveis, e tem manifestado persistência em expressar sua opinião sem considerar as pessoas ao seu redor. Você tem admitido que outros não têm o direito de ver as coisas diferentemente. Tais frutos não são produzidos pela árvore cristã. T2 418 3 No caso da irmã N, você não viu o problema sob sua verdadeira luz. Se ela houvesse sido curada em resposta às orações do irmão e dos outros, isso teria sido a ruína de dois, três ou mais de vocês. O sábio Deus supervisionou o caso. Ele viu os motivos e propósitos do coração. T2 418 4 Sua esposa tem direito à própria opinião, tanto quanto você tem direito à sua. A relação matrimonial não destrói a identidade dela, pois ela tem responsabilidade individual. Você não terá clara compreensão até que remova os obstáculos do caminho dela e lhe manifeste mais caridoso e paciente espírito cristão. Também que considere os outros sob a luz que gostaria de ser considerado. Você ainda precisa aprender a não fazer nada "por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo". Filipenses 2:3. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:10, 11. Falando ao público T2 419 1 Foi-me mostrado, irmão M, que necessita fazer por si mesmo uma grande obra, antes de atuar na igreja para corrigir seus erros e erguê-la. Você não possui aquela humildade de espírito que atinge o coração do povo de Deus. Você se enaltece. Precisa examinar seus motivos e ações para ver se estão voltados para a glória de Deus. Nem você nem o irmão O estão realmente aptos a atender às necessidades dos jovens e da igreja em geral. Não usam de simplicidade para compreender a melhor maneira de ajudá-los. Você e o irmão O não exercem a melhor influência saindo de seus lugares e subindo à plataforma diante do povo. Quando ocupam essa posição, sentem que precisam dizer ou fazer algo, de acordo com a posição que assumiram. Em lugar de erguer-se e falar poucas palavras e ao ponto, freqüentemente fazem longos comentários que prejudicam o espírito da reunião. Muitos se sentem aliviados quando vocês se assentam. Estivessem em alguma cidade do interior onde não houvessem senão poucos para utilizar o tempo, tais extensas explanações seriam mais apropriadas. T2 419 2 O serviço do Senhor é uma grande obra, e é necessário que homens sábios se empenhem nela. Procuram-se homens que possam adaptar-se às necessidades do povo. Se vocês esperam ajudar as pessoas, não devem assumir posição acima delas, mas entre elas. Essa é a grande falta do irmão O. Ele é muito rígido. Não lhe é natural usar de simplicidade. Ele não raciocina da causa para o efeito. Não conquista afeição e amor; não busca compreender as crianças e falar de modo comovente para sensibilizar o coração. Ele se levanta e fala às crianças com seriedade, mas isso não lhes faz nenhum bem. Seus comentários são geralmente longos e enfadonhos. Algumas vezes, causaria melhor impressão sobre a mente se fosse dito apenas a quarta parte do que foi falado. T2 420 1 Os que instruem crianças devem evitar observações enfadonhas. Comentários curtos e ao ponto exercerão influência positiva. Se houver muita coisa a dizer, compensem a brevidade com a freqüência. Umas poucas palavras de interesse, de vez em quando, serão mais benéficas do que se forem ditas de uma só vez. Longos discursos sobrecarregam a mente limitada das crianças. Conversa demais levá-las-á a ter aversão até mesmo pela instrução espiritual, justamente como comer demais sobrecarrega o estômago e diminui o apetite, levando até mesmo a repugnar o alimento. A mente das pessoas pode ser sobrecarregada com demasiado falatório. O trabalho pela igreja, mas especialmente pelos jovens, deve ser "regra sobre regra, regra e mais regra: um pouco aqui, um pouco ali". Isaías 28:13. Dêem à mente tempo para assimilar as verdades que vocês lhe transmitem. As crianças devem ser atraídas ao Céu, não de maneira impetuosa mas suavemente. Battle Creek, Michigan, 2 de Outubro de 1868. ------------------------Capítulo 56 -- A importância do domínio próprio T2 421 1 Prezado irmão P: T2 421 2 Tenho muitas vezes tentado escrever-lhe, mas não tenho conseguido. Não adiarei mais. Poucos dias atrás me senti muito ansiosa a seu respeito. Em Junho último, foram-me mostradas algumas coisas referentes a você. Fui levada ao passado, e foi-me revelada sua vida desordenada e errante. Você estava sem Deus. Sua vida tem sido adversa e inconseqüente. Entretanto, vi que Deus havia misericordiosamente lhe poupado a vida muitas vezes, quando parecia que nenhum poder ou sabedoria humanos poderia preservá-la. Você permanece agora como um milagre da misericórdia. Quando sua vida esteve em perigo iminente, Cristo, seu Advogado, pleiteou em seu favor: "Pai, poupa-lhe a vida um pouco mais. Ele tem sido uma árvore infrutífera, que ocupa inutilmente o solo, todavia, não a cortes. Com paciência esperarei um pouco mais e verei se não dará fruto. Impressionarei seu coração com a verdade. Convencê-lo-ei do pecado." T2 421 3 Vi que o Senhor lhe abriu um caminho para obedecer e servir-Lhe. Seus passos foram dirigidos para o Oeste, onde o ambiente lhe seria mais saudável para a formação de um caráter celestial. Você veio para nossa família e foi recebido em nosso coração. Tudo isso foi providenciado pelo Senhor. O irmão não possuía a experiência necessária para viver a vida que Deus poderia aprovar. Foi colocado onde, em poucos meses teria condições de obter mais luz e conhecimento correto da verdade presente, do que teria obtido em anos, se houvesse permanecido no Leste. T2 421 4 Nosso compassivo Sumo Sacerdote estava familiarizado com suas fraquezas e erros, e não o deixou em sua inexperiência, a batalhar contra o grande inimigo e em meio a circunstâncias desfavoráveis. Houvesse permanecido em _____, e não teria se firmado na verdade. A oposição que teria enfrentado despertaria sua combatividade e você desonraria a verdade pela manifestação de um espírito impetuoso; e então, à medida que os obstáculos surgissem em sua jornada, ficaria desanimado e abandonaria a verdade. Você tem muito a agradecer. Seu coração deve estar cheio de gratidão ao amoroso Salvador, pela misericórdia que lhe manifestou; a você, que tanto tem abusado de Seu amor. T2 422 1 Vi que você era uma pedra bruta extraída da pedreira e que necessitava muito de cortes, ajustes e polimento antes de preencher o lugar no edifício celeste. Parte desse trabalho tem sido feito por você, mas, oh, há ainda muito que fazer! Você possui um espírito muito descontente. Tem olhado o lado negativo da vida. Não tem sido muito feliz; mas foi você quem se apoiou na própria opinião, excluindo-se do que é bom. Em sua juventude, condescendeu com um espírito de descontentamento; não gostava de ser governado; escolhia andar nos próprios caminhos, a despeito do julgamento ou conselho dos outros. Você não admitia ser controlado pelo padrasto, porque desejava seguir o próprio caminho. Ele não sabia o melhor modo de orientá-lo e você estava determinado a não respeitar sua autoridade. Tão logo ele lhe falava, você se punha na defensiva. Seu espírito contestador era grande e você combatia a tudo e a todos que interferissem em seus planos. Mesmo quando eram feitas sugestões sobre a melhor conduta a seguir em seus planos e trabalhos, você fugia na hora. Pensava que estava sendo criticado, sendo acusado, e se magoava com aqueles que eram seus verdadeiros amigos. Sua imaginação era doentia. Cogitava que todos lhe eram contrários e sua sorte excessivamente difícil. Ela tem sido difícil, mas você a tornou assim. T2 422 2 Sua atitude para com o padrasto era injusta. Ele não merecia ser tratado por você como foi. Tinha faltas e cometia erros, mas enquanto você estava atento para observá-los de maneira exagerada, não via os próprios erros. Na providência de Deus, sua esposa foi prostrada pela doença. Ela era uma mulher de espírito altivo, mas arrependeu-se de seus pecados e seu arrependimento foi aceito por Deus. T2 423 1 Seu caminho tem sido cercado à direita e à esquerda, para impedir seu avanço rumo à perdição. O Senhor levou seu espírito indisciplinado e indomável a submeter-se a Ele. Por meio de uma mistura de julgamento e misericórdia, você tem sido levado ao arrependimento. Como Jonas, você fugiu do atual dever para o mar. Deus limitou seus caminhos através das visitações de Sua providência. O irmão não podia prosperar ou ser feliz, porque não se humilhava, mas levava o eu e o pecado consigo. Além disso, condescendia com um espírito descontente e agitado, e não atendia aos deveres. Você queria uma mudança, um trabalho maior. Sua disposição ficou sem rumo. T2 423 2 Os olhos do querido Salvador têm estado sobre você; não fosse assim e teria sido deixado em seu estado de inconstância e em seus pecados, para tornar-se desajudado no caráter e infeliz nas circunstâncias. Enquanto em terra estranha e num momento de enfermidade, você tristemente sentiu sua desamparada e desolada condição. Passou longas noites e cansativos dias de inquietude e dor, longe de sua mãe e irmãs, sem ninguém a não ser mãos estranhas para atendê-lo bondosamente, e nenhuma esperança cristã a sustentá-lo. T2 423 3 Você buscava a felicidade, mas não a obteve. Desconsiderava o conselho de sua mãe, e seus rogos para não violar as ordens divinas. Às vezes essa negligência lhe produzia amargura de espírito. Não posso, contudo, entrar em cada particular, pois não me sinto forte. Detenho-me apenas nas coisas mais essenciais que me foram apresentadas. T2 423 4 Vi que lhe é requerido algo que não entende -- morrer para si mesmo, crucificar-se. Você possui um temperamento impetuoso, que precisa ser subjugado. Possui também nobres traços de caráter que lhe conquistarão amigos, se esse espírito precipitado não os ferir. Você estabelece forte ligação com aqueles que lhe manifestam interesse. É consciencioso quando vê corretamente as coisas, porém, é movido freqüentemente por impulso, sem deter-se para refletir. T2 424 1 Você emite opiniões sobre indivíduos e comenta-lhes os modos e atitudes, quando não compreende sua posição ou trabalho. Vê as coisas sob o próprio ponto de vista e está pronto a questionar ou condenar as atitudes alheias, sem examinar os assuntos com imparcialidade por todos os ângulos. Não tem nenhum conhecimento dos deveres dos outros e não deve sentir-se responsável por seus atos, mas deve cumprir o próprio dever, deixando os outros com o Senhor. Domine seu espírito com paciência, conserve a paz e a serenidade mental, e seja agradecido. T2 424 2 Vi que o Senhor lhe havia concedido luz e experiência para que visse a pecaminosidade de um espírito precipitado, e controlasse suas emoções. Se fracassar em fazer isso, certamente fracassará em ganhar a vida eterna. Você precisa vencer essa imaginação doentia. É extremamente sensível, e se sente ferido quando alguém pronuncia uma palavra favorecendo um procedimento oposto ao que tem estado a seguir. Sente-se acusado e acha que deve se defender, salvar a vida; e em seu empenhado esforço de salvar a vida, perdê-la-á. Você tem algo a fazer: morrer para o próprio eu e cultivar um espírito de paciência e resignação. Despreze a idéia de que você não é usado corretamente, que sofre injustiças, que alguém o quer excluir ou fazer-lhe mal. Você vê com falsos olhos. Satanás o leva a ter pontos de vista distorcidos das coisas. T2 424 3 Prezado irmão P, seu caso foi-me mostrado novamente em Adams Center. Vi que você sempre falhou em exercer domínio próprio. Fez esforços, mas eles apenas atingiram o exterior; não tocaram a mola mestra. Seu temperamento impetuoso produz-lhe freqüentemente sincero e doloroso pesar e condenação própria. Esse espírito impulsivo, a menos que seja subjugado, se transformará em uma disposição impertinente, descobridora de faltas; o que já existe em certo grau em você. Estará pronto a ressentir-se de tudo. Se alguém lhe dá um encontrão na calçada, você se ofende e deixa escapar de seus lábios uma palavra de protesto. Quando dirigindo pelas ruas, se a metade da pista não lhe for dada, reage de pronto. Se alguém lhe pede para ceder o lugar a outro, você se impacientará e se irritará, sentindo que sua dignidade foi atingida. Manifestará a todos o pecado que o persegue. O próprio semblante mostrará o espírito impaciente, e sua boca parecerá sempre pronta a deixar escapar uma palavra irada. Neste hábito, assim como no uso do fumo, a abstinência total é o único remédio seguro. Uma total mudança precisa efetuar-se no irmão. Você freqüentemente sente que precisa cuidar-se mais. Com resolução diz: "Serei mais calmo e paciente", mas assim fazendo apenas atinge o mal pelo lado externo, pois consente em prender o leão e vigiá-lo. Você precisa ir além disto. Somente a força do princípio pode desalojar esse inimigo destruidor e trazer paz e felicidade. T2 425 1 Repetidamente você diz: "Não posso dominar meu temperamento. Preciso falar." Falta-lhe, em verdade, um espírito humilde e manso. O eu está bem vivo e você monta guarda continuamente para preservá-lo da humilhação e do insulto. Diz o apóstolo: "Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Colossences 3:3. Aqueles que morreram para o eu não reagirão prontamente a tudo o que os possa irritar. Homens mortos não podem sentir. Você não está morto. Se estivesse, e sua vida estivesse escondida em Cristo, as mil coisas que agora nota e o afligem, seriam passadas por alto como indignas de atenção. Então entenderia as coisas eternas e estaria acima das insignificantes coisas desta vida. T2 426 1 "A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade." Tiago 3:6. "O entendimento do homem retém a sua ira; e sua glória é passar sobre a transgressão." Provérbios 19:11. "O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura." Provérbios 14:29. "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade." Provérbios 16:32. "Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus." Tiago 1:19, 20. "Retém as suas palavras o que possui o conhecimento, e o homem de entendimento é de precioso espírito." Provérbios 17:27. T2 426 2 Nosso grande Exemplo foi exaltado para ser igual a Deus. Ele era o grande Comandante do Céu. Todos os santos anjos se deleitavam em curvar-se perante Ele. "E, quando outra vez introduz no mundo o Primogênito, diz: E todos os anjos de Deus O adorem." Hebreus 1:6. Jesus tomou sobre Si a nossa natureza, pôs de lado Sua glória, majestade e riquezas para cumprir sua missão: salvar o que se havia perdido. Ele veio não "para ser servido, mas para servir" (Mateus 20:28) a outros. Jesus, quando injuriado, maltratado e insultado, não revidava. "O qual, quando O injuriavam, não injuriava." Quando a crueldade do homem Lhe infligiu penosos açoites e ferimentos, Ele "não ameaçava, mas entregava-Se Àquele que julga justamente". 1 Pedro 2:23. O apóstolo Paulo exorta os irmãos filipenses: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens." Filipenses 2:5-7. É o servo maior que seu senhor? Cristo pôs Sua vida como nosso padrão, e O desonramos quando nos tornamos ofendidos por qualquer desfeita, e estamos prontos a ressentir-nos de toda ofensa, suposta ou real. Não é evidência de nobreza de mente estar preparado para defender-se, para preservar a própria dignidade. Seria melhor sofrermos injustamente uma centena de vezes do que ferir alguém pela retaliação, ou por dar vazão à ira. Há força em Deus. Ele pode ajudar. Ele pode dar graça e sabedoria divinas. Se você pedir com fé, receberá; mas precisa vigiar em oração. Vigiar, orar e trabalhar devem ser suas palavras de ordem. T2 427 1 Sua esposa poderia ser uma bênção se apenas tomasse sobre si a responsabilidade que lhe compete. Mas ela evitou responsabilidades durante toda a vida, e agora está em perigo de ser influenciada, em lugar de influenciá-lo. Em vez de exercer uma influência elevada e suavizante sobre você, corre o risco de pensar e agir como você, sem se deixar guiar por princípios em todas as suas ações. Vocês compartilham os próprios sentimentos e, infelizmente, ajudam-se mutuamente a ver as coisas de maneira incorreta. Ela pode exercer uma influência para o bem, mas possui um espírito que aprecia a apatia e a preguiça espiritual. Reluta em envolver-se nalguma boa obra, se essa não lhe agrada. Qual foi o pecado de Meroz? Não fazer nada. Não foi por causa de grandes crimes que eles foram condenados, mas porque "não vieram em socorro do Senhor". Juízes 5:23. T2 427 2 Foi-me mostrado que sua esposa não compreende a si mesma. Ela, em sua juventude, evitava encargos e mesmo hoje não está disposta a enfrentá-los. É inclinada a apoiar-se nos outros, em vez de nas próprias forças. Ela não se estimula à nobre independência. Durante os anos passados ela deveria ter se educado a assumir responsabilidades. Ela não tem boa saúde. Tem propensão para insuficiência hepática e não gosta de fazer exercício físico. Não possui disposição para o trabalho, a menos que lhe seja obrigatório. Ingere em dobro a quantidade de alimento que precisa, e tudo o que lança no estômago além do que o organismo pode converter em bom sangue se torna refugo, e sua eliminação sobrecarrega a natureza. Seu organismo está atravancado com essas substâncias, que a atrapalham em seu trabalho, bloqueiam-lhe os órgãos e enfraquecem-lhe as forças vitais. T2 428 1 Ingerir mais alimento do que o organismo pode converter em bom sangue, produz baixa qualidade de sangue e compromete a vitalidade em grau mais elevado do que trabalho ou exercício físico. Tal excesso no comer causa um desânimo doentio. Os nervos cerebrais são convocados para auxiliar os órgãos digestivos, ficando assim constantemente sobrecarregados, debilitados e entorpecidos. Essa condição deixa uma sensação de enfraquecimento na cabeça e faz com que sua esposa fique sujeita, qualquer dia, a ser acometida de paralisia. O que ela está necessitando não é de conselhos para evitar o exercício. Nada seria mais perigoso a ela do que ficar onde suas forças físicas não sejam chamadas a ativo exercício. O exercício físico é muito essencial. Ele fortalecerá o corpo e a mente. Quando ela despertar para a responsabilidade de sua posição, e ver o benefício que resultará de ter um objetivo na vida, não mais permitirá submergir-se na indolência e a evitar trabalhos. Ela não põe o coração no que faz e se movimenta de um lado para outro como uma máquina, sentindo que o trabalho é um fardo. Enquanto se sentir assim, não compreenderá a nova vida e o vigor que é seu privilégio ter. Falta-lhe ânimo e energia. Ela é propensa a ficar perdida em aborrecimentos e depressão. A grande apatia que sente pode ser vencida unicamente com um regime alimentar moderado, perfeito controle do apetite e de todos os sentimentos fortes, e a convocação da vontade para ajudá-la na prática de exercícios. É preciso que a vontade estimule as forças nervosas para que ela possa resistir à indolência. T2 428 2 Irmã P, você nunca será útil ao mundo, a menos que seus propósitos sejam fortes para capacitá-la a vencer sua indisposição em cuidar-se e assumir responsabilidades. Quando você exercitar diariamente suas forças, a tarefa será menos difícil até que se lhe torne uma segunda natureza o cumprir deveres, ser cuidadosa e diligente. Você pode acostumar-se a pensar, ao colocar uma carga menor sobre o estômago. A sobrecarga entorpece a mente. T2 429 1 Você deve também ter um alvo, um propósito na vida. Não havendo propósito, vem a disposição à indolência; mas quando se tem em vista um objetivo suficientemente importante, todas as faculdades da mente entrarão em espontânea atividade. Para fazer da vida um êxito, os pensamentos têm de fixar-se firmemente no objetivo da vida, e não serem deixados a vagar e ocupar-se com coisas de pouca importância, ou satisfazer-se com ociosas fantasias, que são fruto da fuga da responsabilidade. Construir castelos corrompe a mente. T2 429 2 Assuma seu dever presente. Faça-o com vontade, de todo o coração! Você deve resolver fazer algo que requer esforço mental e físico. Seu coração deve estar em seu trabalho atual. O dever que agora está a sua frente é exatamente a obra que o Céu deseja que faça. Sonhar com uma ocupação distante, e imaginar e planejar a respeito do futuro, provar-se-ão inúteis e a inabilitarão para o trabalho que, embora possa parecer pequeno, o Céu agora coloca diante de você. Não deve ser seu empenho fazer uma grande obra, mas realizar alegremente e bem o trabalho que tem para executar hoje. Os talentos que lhe são confiados devem ser duplicados. É sua a responsabilidade por seu uso ou abuso. Você não deve aspirar grandes coisas a fim de realizar um excelente trabalho, mas cumprir sua pequena tarefa. Aprimore seus talentos ainda que sejam poucos e deixe repousar sobre você o senso de sua responsabilidade para com Deus pelo uso adequado deles. T2 429 3 Você não deve esperar evitar dores e padecimentos nas lutas e provações da vida. O Filho de Deus participou da natureza humana. Com frequência Ele Se sentia cansado de corpo e espírito. Disse Ele: "Convém que Eu faça as obras dAquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar." João 9:4. Você precisa parar com seus fantasiosos sonhos e pôr a mente nos deveres presentes, cumprindo-os alegremente. T2 430 1 Este mundo não é o Céu do cristão. É meramente o lugar de preparo. É o cenário de nossas batalhas, conflitos e tristezas, e é importante que todos tenhamos firme compreensão de um mundo melhor, onde, findas as lutas, encontraremos paz, alegria e felicidade para sempre. Vi que você e seu marido estariam em grande perigo de naufragar na fé se estivessem de acordo, porque olhariam os fatos sob uma falsa luz. Vocês têm uma grande obra a fazer por si mesmos, mas estão em perigo de fechar os olhos para as faltas um do outro. T2 430 2 A irmã P deveria guardar-se para não despertar o espírito impaciente do marido, referindo-lhe supostas injustiças para obter simpatia. Ele vê as coisas por uma luz extrema e é profundamente sensível a certos assuntos não merecedores de tanta importância. Ela terá de aprender isso e compreender que é sabedoria ficar calada. Ela precisa da força da paciência. É muito mais fácil pôr algo na mente do que removê-lo, uma vez que esteja lá. É mais fácil demorar-se sobre supostos erros do que controlar os sentimentos por eles gerados. T2 430 3 O irmão P tem qualidades que seriam excelentes se fossem aperfeiçoadas pelas nobres influências da religião pura. Ele pode ser útil. Somente a piedade sincera pode qualificá-lo para bem cumprir seus deveres neste mundo e prepará-lo para o Céu. Você precisa conquistar um caráter celestial já aqui na Terra, meu irmão, ou nunca o terá; portanto, deve assumir de vez o trabalho que tem a fazer por si mesmo. Necessita trabalhar diligentemente para obter o preparo para o Céu. Viva para o Céu. Viva pela fé. T2 430 4 Irmão P, você é uma pedra bruta, mas a mão de um hábil Artífice está sobre o irmão. Permitirá você ser desbastado, modelado, polido por Ele, para ser edificado sem o som de machado ou martelo? Nem um golpe deve ser desferido após o fechamento do tempo de graça. Você deve, agora, nas horas de graça, vencer seu temperamento impetuoso ou ser afinal separado de Deus. T2 431 1 Jesus os ama, irmãos, e os salvará se seguirem o caminho por Ele apontado. Vocês podem ter uma religião prática se realmente tiverem fome e sede dela. Vão a Deus em fé e humildade e peçam, pois certamente receberão; mas lembrem-se de que o discípulo não está acima de seu Mestre, nem "é o servo maior do que o seu Senhor". João 13:16. Os irmãos necessitam nutrir aquela humildade e simplicidade de mente que se firma em Cristo. Battle Creek, Michigan, 9 de Fevereiro de 1869. ------------------------Capítulo 57 -- Operosidade e economia T2 431 2 Prezados irmão e irmã R: T2 431 3 Tenho procurado por uma oportunidade de escrever-lhes, mas estive doente e incapacitada de fazê-lo para quem quer que seja. Mas tentarei escrever umas poucas linhas nesta manhã. T2 431 4 Revelaram-se-me os deveres que recaem sobre o povo de Deus com respeito aos pobres, especialmente as viúvas e os órfãos. Vi que meu marido e eu estávamos em perigo de assumir responsabilidades que Deus não colocou sobre nós, e assim diminuir nosso ânimo e forças pelos crescentes cuidados e ansiedade. Vi que meu marido se empenhou no caso de vocês, mais do que deveria. Seu interesse por vocês levou-o a suportar encargos que o fizeram ir além do dever, e não os beneficiou, mas encorajou-os em sua disposição de depender dos irmãos da igreja. Vocês acham que eles têm de ajudá-los e favorecê-los, enquanto não trabalham tão arduamente nem economizam em todo o tempo como eles. T2 431 5 Foi-me mostrado que vocês, meu irmão e irmã, têm muito a aprender. Não têm vivido dentro de seus recursos. Não aprenderam a economizar. Se ganham elevado salário, não sabem como fazê-lo render o máximo possível. Consultam o gosto ou o apetite, em vez da prudência. Às vezes gastam dinheiro em certa qualidade de alimento que seus irmãos não podem pensar em saborear. O dinheiro sai de seu bolso com muita facilidade. T2 432 1 A irmã R tem saúde débil. Condescende com o apetite e impõe pesada carga ao estômago. Ela o sobrecarrega por comer demais, nele pondo uma qualidade de alimento que não é a melhor para nutrir o organismo. Ingere grandes quantidades de alimento e faz pouco exercício, exigindo assim severamente do organismo. De acordo com a luz que nos foi dada pelo Senhor, o alimento simples é o melhor para promover a saúde e a força. O exercício é necessário à saúde dela. T2 432 2 A abnegação é uma lição que ambos ainda necessitam aprender. Restrinja seu apetite, irmão R. Deus lhe tem dado um capital de forças, o qual lhe é de mais alto valor do que o dinheiro, e deve ser mais altamente apreciado. Forças não podem ser adquiridas com ouro ou prata, casas ou terras. Elas são um excelente bem que você possui. Deus requer que o irmão faça cuidadoso uso desse capital com que foi abençoado. Você é Seu mordomo, tanto quanto um homem que possui um capital em dinheiro. Tanto é errado deixar de usar suas forças, tirando delas maior proveito, como o é para o rico cobiçosamente reter suas riquezas, porque lhe é agradável fazê-lo. Você não faz o esforço que deveria fazer para sustentar a família. Pode trabalhar, e trabalha, se o trabalho está convenientemente preparado à mão; mas não se esforça para pôr-se a trabalho, sentindo ser um dever usar seu tempo e forças com maior proveito, e no temor de Deus. T2 432 3 Tem estado num negócio que lhe dá, às vezes, grandes lucros de uma vez. Depois de ter ganho os recursos, você não estudou como economizar para o tempo em que não pode ganhar com tanta facilidade, antes tem gasto muito com necessidades imaginárias. Tivessem você e sua esposa compreendido ser um dever que Deus lhes impôs negar seu gosto e seus desejos e fazer provisão para o futuro, em vez de viver meramente para o presente, poderiam ter agora abundância, e sua família teria os confortos da vida. Têm uma lição que não devem demorar a aprender. É a de fazer com que o pouco renda muito. T2 433 1 A irmã R se apóia mui fortemente em seu marido. Em toda a sua vida tem sido muito dependente da compaixão de outros, pensando em si mesma, fazendo de si mesma o centro das atenções. Não aprendeu a confiar em si mesma e tem sido muito mimada. Não é de nenhuma ajuda ao marido como poderia ter sido, quer nas coisas espirituais quer nas materiais. Ela precisa aprender a suportar as enfermidades físicas e não demorar-se nelas como o faz. Necessita ferir as batalhas da vida por si mesma; uma responsabilidade individual repousa sobre ela. T2 433 2 Irmã R, sua vida tem sido um erro. Você tem condescendido em ler qualquer coisa e todas as coisas. Sua mente não é beneficiada por tanta leitura. Seus nervos têm ficado agitados enquanto apressadamente acompanha a história. Caso seus filhos a interrompam, irrita-se e os trata com impaciência. Você não tem autocontrole e, portanto, falha em manter um firme governo sobre os filhos. Age por impulso, mima-os e condescende com eles e, então, ralha e é severa. Essa atitude inconstante os prejudica. Eles necessitam de mão firme e constante, pois são desobedientes. Precisam de disciplina sensata, sábia e regular. T2 433 3 Você poderia poupar-se a muitas perplexidades se assumisse o papel de mulher, e agisse por princípio e não por impulso. Acha que seu marido deve estar com você o tempo todo e que não pode ser deixada sozinha. Mas precisa entender que o dever do esposo é trabalhar para o sustento da família. Você deve abdicar de seus desejos e anseios, não exigindo que ele se ajuste a suas conveniências. Você tem uma parte a desempenhar: assumir as responsabilidades da vida. Precisa ter ânimo e força moral. Seja mulher e não uma criança caprichosa. Você tem sido mimada, e por muito tempo outros têm assumido suas cargas. É seu dever agora procurar negar seus desejos e agir por princípio, para o bem presente e futuro de sua família. Você não está bem, mas se cultivasse um espírito animado e feliz, seria ajudada a usufruir mais desta vida e também da futura. T2 434 1 Irmão R, é seu dever usar zelosa e prudentemente o capital de forças que Deus lhe confiou. T2 434 2 Irmã R, seu cérebro está cansado e sobrecarregado pela leitura excessiva. Você deve evitar a propensão para atravancar a mente com tudo o que possa ler. Sua vida não tem sido despendida da melhor maneira. A irmã não se beneficia e nem àqueles que a cercam. Tem se apoiado em sua mãe mais do que convém. Se houvesse dependido mais das forças que possui, teria mais autoconfiança e seria mais feliz. Agora, tanto quanto possível, precisa assumir as próprias responsabilidades, e animar o esposo a fazer sua parte. T2 434 3 Se tivesse negado seu gosto pela leitura e pela satisfação de agradar a você mesma, dedicando mais tempo a prudente exercício físico e ingerindo cuidadosamente alimento apropriado e saudável, teria evitado muito sofrimento. Parte desse sofrimento tem sido imaginário. Se tivesse fortalecido a mente, para resistir a essa disposição de ceder a enfermidades, não teria sofrido espasmos nervosos. Sua mente deve ser afastada de você mesma, e dirigida para deveres domésticos, mantendo a casa em boa ordem, com simplicidade e bom gosto. O ler demasiado e permitir que a mente seja desviada por pequenas coisas, levou-a a negligenciar os filhos e os deveres domésticos. Estes são os reais deveres que Deus lhe deu a cumprir. T2 434 4 Você tem muita autocomiseração. Concentra-se muito em si mesma e demora-se em sentimentos infelizes. Coma menos, minha irmã. Faça trabalho físico e dedique-se às coisas espirituais. Evite pensar muito em si e cultive um espírito alegre. Você fala muito sobre coisas sem importância. Disso não lhe advém nenhuma força espiritual. Se as energias despendidas no falar fossem canalizadas para a oração, obteria força espiritual e o louvor a Deus brotaria de seu coração. T2 435 1 Você tem sido controlada por sentimento, não por dever e princípio. Tem-se abandonado a sentimentos nostálgicos e prejudicado a saúde por condescender com um espírito desassossegado. Seus hábitos de vida não são saudáveis e você precisa corrigir-se. Nenhum de vocês está disposto a trabalhar e comer como seus irmãos. Se está em seu poder conseguir coisas, vocês as têm. É seu dever economizar. T2 435 2 Em contraste com seu caso, foi-me apresentado o da irmã S. Ela tem a saúde débil e dois filhos para sustentar com sua agulha e os baixos preços que são pagos por seu trabalho. Por anos ela recebeu ajuda insignificante. Sofreu com enfermidades, todavia, levou as próprias cargas. Ela realmente foi alvo de caridade. Agora, analise seu caso. Um homem com uma família pequena e boa saúde, contudo constantemente envolvido em débitos e dependendo de outros. Isso está errado. Você precisa aprender certas lições. Para a irmã S, a economia é a batalha da vida. Você é um homem de muito vigor, entretanto, não consegue sustentar-se. Precisa fazer uma obra por si mesmo. Deve ter uniformidade em seu regime alimentar. Viver durante todo o tempo de forma simples, como seus irmãos, e de acordo com a reforma de saúde. T2 435 3 Jesus operou um milagre e alimentou a cinco mil, ensinando então uma lição de economia: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Deveres, importantes deveres repousam sobre você. "A ninguém devais coisa alguma." Romanos 13:8. Se estivesse enfermo, incapacitado de trabalhar, então estariam seus irmãos no principal dever de o ajudar. Mas na situação atual, tudo o que você necessitava de seus irmãos, ao mudar de lugar, era um impulso. Se fossem tão ambiciosos como deveriam, e você e sua esposa concordassem em viver dentro dos recursos que têm, poderiam estar livres de dificuldades. Você terá de trabalhar tanto por pequenos como por grandes salários. A operosidade e a economia ter-lhe-iam colocado a família em vez disso, numa condição muito mais favorável. Deus requer que você seja um fiel mordomo de suas forças. Ele deseja que as use para pôr sua família acima de toda dependência e escassez. Battle Creek, Michigan, 22 de Março de 1869. ------------------------Capítulo 58 -- Suscitando oposição T2 436 1 Querida irmã T: T2 436 2 Foi-me mostrado que há uma falta em sua vida religiosa. Você possui um espírito combativo. Conquanto seja seu privilégio pensar e agir por si mesma, tem ido muito longe no assunto. Tem tido mais independência do que humildade e seguido uma conduta que provoca mais irritação do que paz. Ser-lhe-ia necessário possuir firmeza para permanecer em defesa da verdade, todavia, freqüentemente erra por não ter "um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. Tem enfrentado oposição em sua família e evidente antipatia contra a verdade, e tem falhado em encarar da melhor maneira essas provações. Você fala demasiado e é excessivamente positiva. Mistura muito pouco amor e ternura em seus esforços pela família, especialmente por seu marido. Você está em perigo de levar as questões ao extremo, exagerando e ferindo em lugar de curar. Onde quer que possa renunciar seu julgamento sem sacrificar os princípios da verdade, é melhor para você assim fazer, mesmo que pense estar certa. Você tem a responsabilidade, uma identidade, que não pode ser mesclada com a de seu marido. Todavia, há um vínculo que os une, e em muitas coisas se você fosse mais dócil, seria muito melhor para seu marido, filhos e você mesma. Você é muito exigente. Não busca cativar aqueles que divergem de você. É rápida em discernir quando tem vantagem, e a aproveita ao máximo. Caso possuísse mais tolerância, combinada com terno amor, e por amor a Cristo relevasse muitas coisas que criam sentimentos desagradáveis, a influência seria muito superior e salvífica. Você precisa exercitar amor, terna misericórdia e afeição. T2 437 1 Reconhece a verdade e pensa como este ou aquele deve praticá-la. E se falham em atingir o padrão que você estabeleceu, afasta-se deles. Não mantém companheirismo com eles e o amor morre em seu coração, quando em realidade, estão tão próximos do que é correto quanto você. Cria inimigos quando poderia fazer amigos. É, por temperamento, enérgica e positiva, e quando vê pontos da verdade, leva o assunto a extremos. Assim repele as pessoas, em lugar de conquistá-las e ligá-las ao coração. Demora-se sobre os objetáveis traços de caráter daqueles com quem se associa, e detém-se sobre suas incoerências e erros, passando por alto suas boas características. Minha atenção foi chamada para este texto bíblico: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. Sobre isso, querida irmã, você pode meditar e especular com proveito. Demore-se sobre as boas qualidades daqueles com que se associa e observe o menos possível seus erros e falhas. Você possui em grande escala um espírito combativo e lança as coisas em confusão e contendas. Você precisa fazer mudanças na vida e no caráter, se quiser ser contada com aqueles que ouvem as palavras: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus." Mateus 5:9. Que nada senão palavras bondosas e amorosas saiam de seus lábios acerca dos membros de sua família ou da igreja. T2 438 1 Você precisa abrir o coração ao amor, àquele amor que habita no coração de Cristo. Se o Salvador lidasse com você da mesma maneira como você trata aqueles dos quais discorda, a irmã certamente estaria numa condição angustiante. Seu caso seria quase sem esperança. Mas agradeço ao Senhor porque temos um misericordioso Sumo Sacerdote, que pode comover-Se com nossas enfermidades. Você tem sido testada pelos outros e adotado uma linha de conduta para com eles que o Céu não aprova. Precisa permitir que a suavizante influência da graça divina lhe penetre o coração; busque mansidão e justiça. T2 438 2 Você zela pela verdade. Ama-a e deseja investir algo nela. Tudo isso está certo, mas seja cuidadosa para que os preceitos que apresenta aos outros sejam apoiados pelo exemplo. Você deve buscar a paz. Pode fazer isso e não sacrificar um só princípio da verdade. Durante toda a vida lutou agressivamente e agora precisa abrandar sua influência, para suavizar e apaziguar em vez de suscitar oposição. Possui elevada autoconfiança e auto-estima, e exalta a si mesma. Agora precisa exaltar a Jesus, a quem a paz O seguia em toda a parte, e imitar Sua vida imaculada. T2 438 3 Você, minha irmã, será um tropeço para o povo de Deus, a menos que esteja disposta a aprender, a ser aconselhada. Você não deve continuar achando que sabe tudo. Tem muito a aprender antes que possa ser perfeita diante de Deus. A melhor e mais atraente lição a ser aprendida é a da humildade. "Aprendei de Mim", disse o humilde Nazareno, "que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Precisa ainda aprender e praticar essa lição de mansidão, tolerância, paciência e amor. Você pode ser uma bênção. Pode ajudar os que necessitam, mas precisa abandonar a régua de medir, pois ela não é para seu uso. Aquele que não erra no julgamento, que compreende a fraqueza de nossa natureza decaída e corrupta, tem Seu padrão. Ele pesa nas balanças do santuário e todos nós aceitaremos Sua justa avaliação. T2 439 1 Você erra na atitude para com seu marido. Necessita cultivar mais gentileza e respeito para com ele. Você é exigente. Leva as coisas ao extremo e produz dano ao próprio coração e à verdade. Torna a verdade repulsiva e provoca temor no coração das pessoas. Permita que o amor lhe suavize as palavras e dê tonalidade às ações, e verificará uma mudança naqueles com quem se relaciona. Haverá paz, união e harmonia, em lugar de ciúmes, discórdia e luta. Que o amor e a ternura sejam exercitados, especialmente em sua família, e receberá uma bênção. ------------------------Capítulo 59 -- Apelo à igreja T2 439 2 Dois de Outubro de 1868. Foi-me mostrado o estado do professo povo de Deus. Muitos deles estavam em grande escuridão, contudo pareciam insensíveis à sua verdadeira condição. A sensibilidade de um grande número com relação às coisas espirituais e eternas parece entorpecida, enquanto que sua mente estava desperta para os interesses mundanos. Muitos estavam entronizando ídolos no coração e praticando a iniqüidade, o que os separava de Deus e fazia com se tornassem agentes das trevas. Vi que poucos permaneciam na luz, possuindo discernimento e espiritualidade para descobrir essas pedras de tropeço e removê-las do caminho. Homens que estão em posições de muita responsabilidade no centro da obra estão dormindo. Satanás paralisou-os para que não discernissem seus planos e enganos, enquanto está ativo em seduzir, enganar e destruir. T2 440 1 Alguns que ocupam a posição de vigias para advertir do perigo o povo de Deus, abandonaram sua guarda e descansam à vontade. São sentinelas infiéis. Permanecem inativos enquanto o astuto inimigo penetra a fortaleza e trabalha com sucesso ao lado deles para demolir o que Deus mandou edificar. Eles vêem que Satanás está enganando os desprevenidos e inexperientes, todavia se mantêm silentes, como se não tivessem especial interesse, como se essas coisas não lhes dissessem respeito. Não percebem nenhum perigo em particular; não vêem motivo para dar alarme. Para eles tudo parece estar indo bem e não vêem necessidade de fazer soar através das trombetas as fiéis notas de advertência, que lhes são transmitidas pelos claros testemunhos, para mostrar ao povo a sua transgressão e à casa de Israel os seus pecados. Essas reprovações e advertências perturbam a quietude dessas sonolentas sentinelas, amantes da comodidade, e não se agradam disso. Dizem em seu coração, senão em palavras: "Tudo isso é desnecessário. É muito severo, muito cruel. Esses homens estão desnecessariamente perturbados e agitados, e parecem indispostos a nos permitir descanso e tranqüilidade. 'Demais é já; pois que toda a congregação é santa, todos eles são santos.' Números 16:3. Eles não querem que tenhamos qualquer conforto, paz ou felicidade. Unicamente trabalho ativo, labuta e incessante vigilância agradarão a esses desarrazoados e insatisfeitos vigilantes. Por que não profetizam coisas aprazíveis e proclamam paz, paz? Então tudo correrá tranqüilamente." T2 440 2 Esses são os verdadeiros sentimentos de muitos dentre nosso povo. Satanás exulta ao ter sucesso em controlar a mente de tantos professos cristãos. Ele os enganou, paralisou suas sensibilidades e implantou sua infernal bandeira exatamente no meio deles. Tão enganados estão que não o reconhecem. O povo não erigiu imagens de escultura, todavia, seu pecado não é menor à vista de Deus. Eles adoram Mamom e os ganhos mundanos. Alguns sacrificarão a consciência para alcançar seus objetivos. O professo povo de Deus é egoísta e preocupado consigo mesmo. Eles amam as coisas deste mundo, compactuam com as obras das trevas e têm prazer na injustiça. Não amam a Deus nem a seu próximo. São idólatras e piores, muito piores à vista de Deus, do que os pagãos adoradores de imagens, que não conhecem melhor caminho. T2 441 1 Requer-se dos seguidores de Cristo que se separem do mundo e não toquem em nada impuro, e têm a promessa de serem filhos e filhas do Altíssimo, membros da família real. Mas se as condições não são atendidas, não alcançarão, não podem alcançar o cumprimento da promessa. A mera profissão de cristianismo nada é à vista de Deus; mas a obediência humilde, voluntária, verdadeira a todos Seus reclamos designam os filhos de Sua adoção, receptores de Sua graça, participantes de Sua grandiosa salvação. Eles serão peculiares, um "espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens". 1 Coríntios 4:9. Seu caráter especial e santo será perceptível e os separará distintamente do mundo, de suas afeições e concupiscências. T2 441 2 Vi que poucos dentre nós atendem a essa descrição. Seu amor a Deus é "de palavra", não "por obra e em verdade". 1 João 3:18. Sua conduta e obras testificam que não são filhos da luz, mas das trevas. Suas ações não são feitas em Deus, mas em egoísmo e em injustiça. Sua graça renovadora é-lhes estranha ao coração. Não experimentaram o poder transformador que os conduz a andar como Cristo andou. Aqueles que são ramos vivos da Videira celestial participarão de Sua seiva e nutrição. Não serão ramos estéreis e secos, mas exibirão vida e vigor, florescerão e darão frutos para a glória de Deus. Serão cuidadosos em afastar-se de toda a iniquidade, "aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. T2 441 3 Como o antigo Israel, a igreja tem desonrado a seu Deus por distanciar-se da luz, negligenciar seus deveres e abusar de seu alto e exaltado privilégio de ser peculiar e santa no caráter. Seus membros violaram o pacto de viver para Deus e para Ele somente. Uniram-se com os egoístas e amantes do mundo. Orgulho, amor aos prazeres e ao pecado têm sido abrigados, e Cristo Se afastou. Seu Espírito tem sido extinguido na igreja. Satanás trabalha lado a lado com os professos cristãos, no entanto, são eles destituídos tão completamente de discernimento espiritual que não o percebem. Não assumem as responsabilidades da obra. As solenes verdades que professam crer não são uma realidade para eles. Não possuem genuína fé. Homens e mulheres agirão de acordo com a fé que realmente possuem. Por seus frutos serão conhecidos. Não por sua religião, mas pelos frutos que produzem mostrarão o caráter da árvore. Muitos têm aparência de piedade, seus nomes estão nos registros da igreja, mas têm um registro manchado no Céu. O anjo relator escreveu fielmente suas ações. Todo ato egoísta, toda palavra inconveniente, todo dever não cumprido e todo pecado secreto, com toda hipocrisia dissimulada, são fielmente anotados no livro de registro mantido pelo anjo relator. T2 442 1 Muitos que professam ser servos de Cristo não fazem parte dos Seus. Enganam a si mesmos para a própria perdição. Enquanto professam ser seguidores de Jesus, não estão vivendo em obediência à Sua vontade. "Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?" Romanos 6:16. Muitos, conquanto professando serem servos de Cristo, estão obedecendo a outro mestre, trabalhando diariamente contra o Mestre a quem declaram servir. "Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer a um e amar ao outro ou se há de chegar a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Lucas 16:13. T2 442 2 Interesses terrenos e egoístas envolvem coração, mente e forças dos professos seguidores de Cristo. Para todos os propósitos e efeitos, eles são servos de Mamom. Não experimentaram a crucificação para o mundo com seus desejos e concupiscências. Poucos dentre os muitos que alegam ser seguidores de Cristo podem falar na mesma linguagem que o apóstolo: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14. "Estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. Se a obediência voluntária e o verdadeiro amor caracterizarem a vida do povo de Deus, sua luz brilhará com santo esplendor diante do mundo. T2 443 1 As palavras que Cristo dirigiu a Seus discípulos foram destinadas a todos os que haveriam de crer em Seu nome: "Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens." Mateus 5:13. Uma mera profissão de piedade sem o princípio vivo é completamente destituída de valor, como o sal sem suas preservativas propriedades. Um professo cristão sem princípios é motivo de ridículo, uma vergonha para Cristo, uma desonra a Seu nome. "Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:14-16. T2 443 2 As boas obras do povo de Deus têm mais poderosa influência do que suas palavras. Por sua vida virtuosa e atos altruístas, o espectador é levado a desejar a mesma justiça que produz tão bons frutos. Ele é atraído pelo poder de Deus que transforma seres humanos egoístas na imagem divina, e Deus é honrado, Seu nome glorificado. Mas o Senhor é desonrado e Sua causa envergonhada quando Seu povo está escravizado ao mundo. Estão em amizade com o mundo e são inimigos de Deus. Sua única esperança de salvação é separar-se do mundo e zelosamente manter seu caráter distinto, santo e peculiar. Oh, por que o povo de Deus não cumpre as condições estabelecidas em Sua Palavra? Se fizesse isso, não falharia em compreender as excelentes bênçãos gratuitamente oferecidas por Deus aos humildes e obedientes. T2 444 1 Fiquei pasmada ao observar a terrível escuridão em que se achavam muitos dos membros de nossas igrejas. A falta da verdadeira piedade era tal que se tornaram agentes de trevas e morte, em lugar de instrumentos de luz ao mundo. Muitos professavam amar a Deus, mas O negaram pelas obras. Não O amaram, não O serviram, nem Lhe obedeceram. Seus interesses egoístas eram prioritários. Em um grande número deles parecia haver uma alarmante falta de princípios. Foram abalados por influências não consagradas e pareciam não possuir raízes em si mesmos. Perguntei o que essas coisas significavam. Por que havia tal carência de espiritualidade e tão poucos possuíam uma experiência viva em coisas espirituais? Foram-me referidas as palavras do profeta: "Filho do homem, estes homens levantaram os seus ídolos no seu coração e o tropeço da sua maldade puseram diante da sua face; devo Eu de alguma maneira ser interrogado por eles? Portanto, fala com eles e dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos no seu coração, e puser o tropeço da sua maldade diante da sua face, e vier ao profeta, Eu, o Senhor, vindo ele, lhe responderei conforme a multidão dos seus ídolos; para que possa apanhar a casa de Israel no seu coração, porquanto todos se apartaram de Mim para seguirem os seus ídolos." Ezequiel 14:3-5. T2 444 2 O povo de Deus me foi apresentado como em estado de apostasia. Não têm os olhos fitos na glória de Deus. O importante é a própria glória. Buscam exaltar a si mesmos e ainda se proclamam cristãos. Santidade de coração e pureza de vida eram os grandes temas dos ensinos de Cristo. No Sermão do Monte, depois de especificar o que devia ou não ser feito para se obter as bênçãos, Ele disse: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. T2 445 1 Perfeição, santidade -- nada menos que isso lhes daria sucesso no cumprimento dos princípios que Ele ensinara. Sem essa santidade, o coração humano é egoísta, pecaminoso e corrompido. A santidade levará seu possuidor a ser produtivo e superabundante "em boas obras". 2 Coríntios 9:8. Ele nunca se cansará de fazer o bem, nem visará a promoções neste mundo. Olhará para o prêmio futuro quando a Majestade do Céu exaltar os santos a Seu trono. Então lhes será dito: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mateus 25:34. O Senhor então lhes descreve as obras de abnegação e misericórdia, compaixão e justiça que fizeram. Santidade de coração produzirá ações corretas. É a falta de espiritualidade, de santidade, que leva a ações injustas, inveja, ódio, ciúmes, suspeitas e a todo pecado odioso e abominável. T2 445 2 Busquei, no temor de Deus, colocar diante de Seu povo esse perigo e seus pecados, e esforcei-me, ao máximo de minhas débeis forças, para despertá-los. Declarei coisas alarmantes que, houvessem eles crido, lhes causariam aflição e espanto, e os conduziriam ao arrependimento zeloso de seus pecados e iniqüidades. Expus-lhes que, pelo que me foi mostrado, somente um pequeno número daqueles que agora professam crer na verdade serão finalmente salvos, não porque não possam ser salvos, mas porque não querem ser salvos pelo modo apontado por Deus. O caminho indicado por nosso divino Senhor é muito estreito e sua porta muito apertada para admiti-los, enquanto apegados ao mundo ou abrigando o egoísmo ou pecados de qualquer espécie. Não há espaço para essas coisas, contudo não há senão poucos que consentirão em separar-se delas para que possam passar pela porta estreita e entrar pelo caminho apertado. T2 446 1 As palavras de Cristo são claras: "Porfiai por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão." Lucas 13:24. Nem todos os professos são cristãos de coração. Há hoje pecadores em Sião, assim como havia no passado. Isaías fala deles ao referir-se ao dia do Senhor: "Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? O que anda em justiça e que fala com retidão, que arremessa para longe de si o ganho de opressões, que sacode das suas mãos todo o presente; que tapa os ouvidos para não ouvir falar de sangue e fecha os olhos para não ver o mal, este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, e as suas águas serão certas." Isaías 33:14-16. T2 446 2 Há hipócritas que agora tremeriam se pudessem ter uma visão de si mesmos. Sua vileza os aterrorizará naquele dia que presto vem sobre nós, o dia quando "o Senhor sairá do Seu lugar para castigar os moradores da Terra". Isaías 26:21. Oh, que esse espanto pudesse vir sobre eles agora, para que pudessem ter consciência vívida de sua condição e despertar enquanto ainda há graça e esperança, confessar seus pecados e humilhar o coração diante de Deus, a fim de que Ele lhes perdoe as transgressões e cure suas apostasias! O povo de Deus não está preparado para as terríveis cenas que estão diante de nós; despreparado para permanecer livre do mal e da luxúria entre os perigos e corrupções desta época degenerada. Não estão vestidos com a armadura de justiça e se acham despreparados para guerrear contra a iniqüidade prevalecente. Muitos não estão obedecendo aos mandamentos de Deus, embora professem fazê-lo. Se fossem fiéis em obedecer a todos os estatutos divinos, seriam um poder para levar convicção ao coração dos descrentes. T2 447 1 Busquei cumprir meu dever. Mostrei os pecados particulares de alguns. Vi que, na sabedoria de Deus, os erros e pecados de todos não seriam revelados. Todos teriam suficiente luz para ver os próprios pecados e erros, se assim o desejassem, e sinceramente quisessem abandoná-los e aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. Eles poderiam ver que pecados Deus apontou e reprovou em outros. Se esses pecados fossem acariciados por eles, saberiam que eram aborrecíveis a Deus e estavam separados dEle; e que seriam deixados na escuridão, a menos que diligente e zelosamente se propusessem a deles se livrar. Deus é muito puro para contemplar a iniqüidade. Um pecado é tão grave à Sua vista tanto em um caso como em outro. Nenhuma exceção será feita por um Deus imparcial. Todos os culpados são igualmente visados por esses testemunhos individuais, embora seus nomes não estejam neles expressamente mencionados; e se tais indivíduos passam por alto e encobrem os próprios pecados porque seus nomes não foram especificamente citados, não serão prosperados por Deus. Não poderão progredir na vida espiritual, mas se aprofundarão cada vez mais nas trevas, até que a luz do Céu seja deles completamente retirada. T2 447 2 Aqueles que professam piedade e todavia não são santificados pela verdade que adotam, não mudarão sua conduta que eles sabem ser abominável diante de Deus, porque não se sujeitam à reprovação individual por seus pecados. Vêem, pelo testemunho dado a outros, o próprio caso fielmente apontado. Estão acariciando o mesmo mal. Ao continuar em sua conduta de pecado, estão violando sua consciência e endurecendo sua cerviz e seu coração do mesmo modo como se o testemunho lhes houvesse sido diretamente enviado. Ao avançarem e se recusarem a deixar seus pecados e corrigir os erros mediante confissão contrita, arrependimento e humilhação, escolhem o próprio caminho e são a ele abandonados, e finalmente levados cativos por Satanás segundo a vontade dele. Essas pessoas podem tornar-se realmente audaciosas, porque são capazes de esconder seus pecados dos outros, e porque os juízos de Deus não vêm sobre elas de maneira visível. Podem até ser aparentemente prósperas neste mundo. Podem enganar os pobres e míopes mortais e serem vistos como padrões de piedade, apesar dos pecados. Mas Deus não pode ser enganado. "Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal. Ainda que o pecador faça mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temerem diante dEle. Mas ao ímpio não irá bem, e ele não prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que ele não teme diante de Deus." Eclesiastes 8:11-13. Embora a vida de um pecador possa ser prolongada na Terra, todavia não o será na Nova Terra. Ele estará entre aqueles a quem Davi menciona em seu salmo: "Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá. Mas os mansos herdarão a Terra." Salmos 37:10, 11. T2 448 1 Misericórdia e verdade são prometidas aos humildes e penitentes, mas juízos estão preparados para os perversos e rebeldes. "Justiça e juízo são a base do Teu trono." Salmos 89:14. Um povo ímpio e adúltero não escapará da ira de Deus e da punição que mereceu. O homem caiu, e é obra de toda uma vida, seja ela curta ou longa, recuperar-se da queda e reconquistar, através de Cristo, a imagem de Deus, que ele perdeu pelo pecado e contínua transgressão. Deus requer uma completa transformação de coração, corpo e espírito, para que o homem readquira a condição que foi perdida através de Adão. O Senhor, misericordiosamente, envia raios de luz para mostrar ao ser humano sua verdadeira condição. Se ele não andar na luz, manifesta prazer nas trevas. Não virá para a luz, temendo que suas obras sejam reprovadas. T2 449 1 O caso de N. Fuller causou-me muita dor e angústia de espírito. É terrível que se tenha submetido ao controle de Satanás para praticar impiedade como o fez. Creio que Deus designou que esse caso de hipocrisia e vileza viesse à luz da maneira como veio, para que se tornasse uma advertência a outros. Eis aí um homem que estava familiarizado com os ensinos da Bíblia e ouvira os testemunhos pessoais apresentados por mim exatamente contra os pecados que estava praticando. Algumas vezes me ouvira falar decididamente com respeito aos prevalecentes pecados desta geração, de que a corrupção proliferava em todo lugar e que as baixas paixões controlavam homens e mulheres em geral; de que entre as massas, os mais negros crimes eram continuamente cometidos, e eles eram arruinados pela própria corrupção. As igrejas nominais estavam repletas de fornicação e adultério, crimes e assassinatos, como resultado das baixas e concupiscentes paixões, mas essas coisas eram mantidas ocultas. Os pastores em altas posições eram culpados; todavia, um manto de piedade cobria-lhes os perversos atos, e seguiam ano após ano sua conduta hipócrita. Os pecados das igrejas nominais atingiram o Céu, e os sinceros de coração serão trazidos à luz e sairão delas. T2 449 2 Pela luz que Deus me deu, fornicação e adultério são considerados, por um grande número de adventistas do primeiro dia, como pecados que o Senhor não leva em conta. Esses pecados são praticados em grande extensão. Os reclamos da lei de Deus não são reconhecidos por eles. Transgridem os mandamentos do grande Jeová e zelosamente ensinam seus ouvintes a fazerem o mesmo, declarando que a lei foi abolida e não tem mais validade para eles. De acordo com esse estado de coisas, o pecado não parece excessivamente maligno, "porque pela lei vem o conhecimento do pecado". Romanos 3:20. Podemos esperar encontrar nesse meio homens que enganarão, mentirão e darão livre curso às paixões sensuais. Mas homens e mulheres que reconhecem a obrigatoriedade dos Dez Mandamentos, que observam o quarto mandamento do decálogo, cumprirão na vida os princípios de todos os dez preceitos dados com majestoso poder no Sinai. T2 450 1 Os adventistas do sétimo dia, que professam aguardar e amar o aparecimento de Cristo, não devem seguir o caminho dos mundanos. Eles não são critério para os observadores dos mandamentos. Nem devem tomar como modelo os adventistas do primeiro dia, que se recusam a reconhecer os reclamos da lei de Deus e a pisam a pés. Essa classe jamais poderia ser critério para eles. Os adventistas observadores dos mandamentos ocupam uma posição peculiar e elevada. João os viu em visão e assim os descreveu: "Os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. T2 450 2 O Senhor fez um concerto especial com o Israel antigo: "Agora pois, se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o Meu concerto, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a Terra é Minha; e vós Me sereis reino sacerdotal e povo santo." Êxodo 19:5, 6. Ele Se dirige a Seu povo que guarda os mandamentos nestes últimos dias: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz." "Amados, peço-vos como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma." 1 Pedro 2:9, 11. T2 450 3 Nem todos os que professam guardar os mandamentos de Deus mantêm seu corpo em santificação e honra. A mais solene mensagem já entregue a mortais foi confiada a este povo, e eles poderão exercer uma poderosa influência caso sejam por ela santificados. Eles professam estar em pé sobre a elevada plataforma da verdade eterna, guardando todos os mandamentos de Deus; por isso, se condescenderem com o pecado, se cometerem fornicação e adultério, seu crime é de magnitude dez vezes maior do que o das classes que mencionei, que não reconhecem a lei de Deus como obrigatória. Num sentido especial os que professam guardar a lei de Deus O desonram, e desacreditam a verdade quebrantando-lhe os preceitos. T2 451 1 Foi o predomínio deste pecado, a fornicação, entre o Israel antigo, que trouxe sobre eles a assinalada manifestação do desagrado de Deus. Seus juízos então lhes seguiram de perto o pecado hediondo; milhares tombaram, e seus corpos contaminados foram deixados no deserto. "Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais pois idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar. E não nos prostituamos, como alguns deles fizeram; e caíram num dia vinte e três mil. E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia." 1 Coríntios 10:5-12. T2 451 2 Acima de todos os outros povos no mundo, os adventistas do sétimo dia devem ser modelos de piedade, santos no coração e em suas conversações. Declarei diante de N. Fuller que ao povo que Deus escolheu como Seu peculiar tesouro cumpria ser elevado, purificado, santificado; participante "da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. Houvessem aqueles que fazem tão elevada profissão de fé de condescender com o pecado e a iniqüidade, e sua culpa seria muito grande. O Senhor reprova os pecados de um, para que outros sejam advertidos e temam. T2 452 1 Não são feitas aos que erram entre os adventistas do sétimo dia advertências e reprovações porque sua vida seja mais repreensível do que a de professos cristãos das igrejas nominais, ou porque seu exemplo e atos sejam piores do que os dos adventistas que não prestam obediência aos reclamos da lei de Deus; mas porque eles têm grande luz, e porque, pela sua profissão de fé, se colocaram como povo especial, escolhido de Deus, tendo Sua lei escrita no coração. Eles mostram sua lealdade ao Deus do Céu prestando obediência às leis de Seu governo. São representantes de Deus na Terra. Qualquer pecado que neles houver os separa de Deus e, de modo especial, desonra-Lhe o nome, pois dá aos inimigos de Sua santa lei ocasião de reprovar Sua causa e Seu povo, o qual Ele chamou "a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido" (1 Pedro 2:9), a fim de que eles anunciem "as virtudes dAquele que ... [os] chamou das trevas para Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. T2 452 2 O povo que se acha em guerra contra a lei do grande Jeová, que considera virtude especial falar, escrever e fazer as coisas mais amargas e odiosas a fim de manifestar seu desprezo à lei, pode fazer elevada profissão de amor a Deus, e aparentemente, ter muito zelo religioso, como faziam os principais dos sacerdotes e os anciãos judaicos; todavia no dia de Deus, a seu respeito será proferido pela Majestade do Céu o "Achado em falta". Daniel 5:27. "Pela lei vem o conhecimento do pecado." Romanos 3:20. O espelho que lhe revelaria os defeitos do próprio caráter, suscita-lhe fúria, pelo fato de apontar-lhe seus pecados. Adventistas preeminentes que rejeitaram a luz têm alvejado furiosamente a santa lei de Deus, assim como a nação judaica estava contra o Filho de Deus. Acham-se terrivelmente iludidos, enganando outros e sendo enganados. Não vêm para a luz, para que seus atos não sejam reprovados. Essas pessoas não aceitam ser ensinadas. Mas o Senhor reprova e corrige o povo que professa guardar Sua lei. Aponta-lhes os pecados e manifesta-lhes a iniqüidade, porque deles deseja separar todo pecado e impiedade, a fim de que aperfeiçoem a santidade em Seu temor, e estejam preparados para morrer no Senhor, ou serem trasladados para o Céu. Deus os repreende, reprova e castiga, de modo a serem purificados, santificados, elevados, sendo afinal exaltados a Seu próprio trono. T2 453 1 O Pastor Fuller ouviu o testemunho apresentado em público, de que nem todos entre o professo povo de Deus eram santos; alguns eram corruptos. Deus procurou elevá-los, mas eles recusaram subir a um alto nível de ação. As corruptas paixões sensuais exerceram influência, e as faculdades morais e intelectuais foram subjugadas e se tornaram suas servas. Aqueles que não controlam suas paixões inferiores não podem apreciar a expiação ou dar à vida um valor correto. A salvação não é experimentada nem entendida por eles. A satisfação da paixão sensual constitui a maior ambição de sua vida. Deus não aceitará coisa alguma a não ser pureza e santidade; uma mancha, uma ruga, um defeito de caráter, excluí-los-ão para sempre do Céu, com todas as suas glórias e riquezas. T2 453 2 Amplas providências foram tomadas para todos os que sincera, fervorosa e ponderadamente se dedicam à obra de aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. Força, graça e glória foram providas por meio de Cristo, para serem levadas por anjos ministradores aos herdeiros da salvação. Ninguém é tão baixo, tão corrupto e vil, que não possa encontrar em Jesus, que morreu por ele, força, pureza e justiça, se abandonar seus pecados, deixar sua conduta de iniqüidade e volver-se de todo o coração para o Deus vivo. Ele está à espera de todos para tirar-lhes a vestimenta manchada e poluída pelo pecado e cobri-los com o branco e resplandecente manto da justiça; e ordena que vivam, e não pereçam. NEle podem prosperar. Seus ramos não murcharão nem serão infrutíferos. Se permanecerem nEle, dEle poderão extrair vitalidade e nutrição, ser imbuídos de Seu Espírito, andar assim como Ele andou, vencer assim como Ele venceu e ser exaltados à Sua destra. T2 454 1 O Pastor Fuller foi advertido. As advertências feitas a outros o condenaram. Os pecados reprovados em outros o censuraram e deram-lhe luz suficiente para ver como Deus observa os crimes de tal natureza como os que cometera; entretanto, ele não quis mudar sua má conduta. Continuou sua atividade imprudente e ímpia, corrompendo o corpo e a mente de seu rebanho. Satanás fortaleceu as paixões sensuais que esse homem não quis subjugar e empregou-as em sua causa para conduzir almas à morte. T2 454 2 Enquanto professava guardar a lei de Deus, ele violava, da maneira mais audaciosa, seus claros preceitos. Entregou-se à satisfação do prazer sensual. Vendeu-se para praticar a impiedade. Qual será a recompensa de tal homem? A indignação e a ira de Deus o punirão pelo pecado. A vingança divina se levantará contra todos aqueles cujas paixões sensuais têm sido disfarçadas sob um manto ministerial. Embora professasse ser pastor do rebanho, estava conduzindo-o à segura ruína. Esses temíveis resultados são frutos "da inclinação da carne", que é "inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o poder ser". Romanos 8:7. T2 454 3 Foi-me feita alusão a este texto: "Não reine portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tão pouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça." Romanos 6:12, 13. Professos cristãos, se não lhes for dada nenhuma outra luz a não ser a contida nesta passagem, estarão sem desculpa se vocês se permitirem ser controlados por vis paixões. T2 454 4 A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido, e pode ser compreendida por todo aquele que sinceramente deseja entendê-la. Mas não obstante isto, alguns, que dizem fazer da Palavra de Deus o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus mais claros ensinos. Então, para que tanto homens como mulheres ficassem sem desculpa, Deus deu testemunhos claros e decisivos a fim de reconduzi-los à Sua Palavra que eles negligenciaram seguir. Todavia, aqueles que servem às próprias concupiscências se voltam contra toda essa luz. Eles não deixarão sua conduta pecaminosa, mas continuarão a ter prazer na injustiça, mesmo em face das ameaças e da vingança de Deus contra aqueles que praticam tais coisas. T2 455 1 Há muito tem sido minha intenção falar a minhas irmãs e dizer-lhes que, pelo que o Senhor achou por bem mostrar-me de tempos em tempos, há grande falta entre elas. Não são cuidadosas em evitar "toda aparência do mal". 1 Tessalonicenses 5:22. Não são recatadas em seu comportamento, como convém a mulheres que professam piedade. Suas palavras não são selecionadas e bem escolhidas como devem ser as de mulheres que receberam a graça de Deus. Mostram-se demasiado familiares com seus irmãos. Demoram-se junto a eles, demonstrando preferir sua companhia. Sentem-se altamente lisonjeadas com sua atenção. T2 455 2 Segundo a luz que me foi dada, nossas irmãs devem seguir uma conduta bem diferente. Devem ser mais reservadas, manifestar menos ousadia, encorajando em si o "pudor e modéstia". 1 Timóteo 2:9. Tanto irmãos como irmãs condescendem demais com conversas espirituosas quando em companhia uns dos outros. Mulheres que professam piedade toleram muitos gracejos, anedotas e risos. Isto é impróprio e ofende o Espírito de Deus. Tais exibições revelam falta de verdadeiro refinamento cristão. Não fortalecem a alma em Deus, mas redundam em grandes trevas; afastam os puros, perfeitos anjos celestiais e levam os que se entregam a esses erros a um baixo nível. T2 456 1 Nossas irmãs devem encorajar a verdadeira mansidão; não devem ser ousadas, tagarelas, atrevidas, mas modestas e despretensiosas, cautelosas no falar. Devem cultivar a cortesia. Seria próprio e bem agradável a Deus serem bondosas, ternas, piedosas, perdoadoras e humildes. Se ocuparem esta posição, não serão objeto de indevida atenção de homens dentro ou fora da igreja. Todos sentirão que há um sagrado círculo de pureza em torno dessas mulheres tementes a Deus, que as abriga de qualquer liberdade não permissível. T2 456 2 Há da parte de algumas mulheres que professam piedade, deplorável liberdade de maneiras que leva ao erro e ao mal. Mas mulheres piedosas cujo coração e mente se ocupam com temas que fortalecem a pureza de vida, e que elevam a alma à comunhão com Deus, não serão facilmente desviadas do caminho da retidão e da virtude. Elas serão fortalecidas contra os enganos de Satanás; serão preparadas para resistir a seus artifícios sedutores. T2 456 3 A vanglória, as modas do mundo, a concupiscência dos olhos e a concupiscência da carne estão relacionadas com a queda da pessoa infeliz. É acariciado aquilo que agrada ao coração natural e à mente carnal. Tivesse a concupiscência da carne sido desarraigada de seu coração, não seriam elas tão fracas. Se nossas irmãs sentissem a necessidade de purificar seus pensamentos, e jamais se permitissem um descuido de comportamento que leve a atos impróprios, não necessitariam manchar sua pureza no mínimo que fosse. Se elas vissem o assunto como Deus me apresentou, sentiriam tal aversão por atos impuros que não seriam encontradas entre aqueles que caem pelas tentações de Satanás, não importa a quem ele escolha como instrumento. T2 456 4 Um pregador pode estar lidando com coisas sagradas e santas e, não obstante, não ser puro de coração. Pode ele entregar-se a Satanás para praticar o mal e corromper a mente e o corpo de seu rebanho. Não obstante, se a mente das senhoras e moças que professam amar e temer a Deus for fortalecida pelo Espírito Santo; se tiverem exercitado a mente na pureza de pensamento, e se educaram a evitar toda aparência do mal, estarão livres de quaisquer propostas impróprias, e protegidas contra a corrupção que prevalece ao seu redor. Escreveu o apóstolo Paulo com referência a si mesmo: "Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. T2 457 1 Caso um ministro do evangelho não refreie suas paixões inferiores, se deixa de seguir o exemplo do apóstolo, e assim desonra sua religião e fé a ponto de nem mesmo chamar de pecado a condescendência, nossas irmãs que professam piedade não devem por um instante sequer iludir-se ao pensamento de que o pecado ou o crime perde sua malignidade no mínimo que seja, pelo fato de seu pastor atrever-se a nele se envolver. O fato de os homens que se acham em posições de responsabilidade se mostrarem familiares com o pecado, não deve diminuir a culpabilidade e a enormidade do pecado na mente de ninguém. O pecado deve parecer tão maligno, tão detestável, como tem sido considerado até agora; e a mente dos puros e elevados deve repelir e evitar aqueles que transigem com o pecado, como fugiria de uma serpente cuja picada fosse mortal. T2 457 2 Se as irmãs fossem nobres e possuíssem pureza de coração, quaisquer tentativas de aproximação corrupta, mesmo de seu pastor, seria repelida com tal firmeza que jamais precisaria repetir-se. As mentes devem estar terrivelmente obscurecidas por Satanás, quando dão ouvidos à voz do sedutor pelo fato de ser ele pastor, e transgridem dessa forma os claros e positivos mandamentos de Deus, e se lisonjeiam de que não cometem nenhum pecado. Não temos nós as palavras de João: "Aquele que diz: Eu conheço-O, e não guarda os Seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade"? 1 João 2:4. Que diz o mandamento? "Não adulterarás." Êxodo 20:14. Quando um homem que professa guardar a santa lei de Deus, e ministrando coisas sagradas, tira vantagem da confiança que sua posição lhe confere e procura condescender com suas paixões inferiores, este fato deveria, por si só, ser suficiente para tornar possível a uma mulher que professa piedade ver que, embora sua religião seja tão elevada quanto o Céu, uma proposta impura da parte dele na realidade originou-se de Satanás disfarçado em anjo de luz. Não posso crer que a Palavra de Deus habite no coração daqueles que tão prontamente depõem sua inocência e virtude sobre o altar das paixões concupiscentes. T2 458 1 Minhas irmãs, evitem até a aparência do mal. Nesta época dissoluta, enegrecida pela corrupção, não estarão a salvo a menos que permaneçam vigilantes. Raras são a virtude e a modéstia. Apelo a que, como seguidoras de Cristo, façam uma exaltada profissão de fé, cultivem o precioso, inestimável adorno da modéstia. Isso preservará a virtude. Se nutrem qualquer esperança de ser finalmente exaltadas para se juntarem à companhia dos puros, inocentes anjos e viver em uma atmosfera onde não há o menor vestígio de pecado, cultivem a modéstia e a virtude. Coisa alguma a não ser a pureza, sagrada pureza, subsistirá no exame final, permanecerá no dia de Deus, e será recebida no puro e santo Céu. T2 458 2 Seja qual for a fonte das quais procedam, as mais leves insinuações que as convidem a transigir com o pecado ou a permitir a menor liberdade injustificável para com sua pessoa, devem ser repelidas como o maior dos insultos à sua dignidade feminina. O beijo na face, em tempo e lugar impróprios, deve levar-lhes a repelir o emissário de Satanás com revolta. Se ele procede de alguém que se acha em posição elevada, que lida com coisas sagradas, o pecado é de magnitude dez vezes maior e deve levar a mulher ou a jovem tementes a Deus a horrorizar-se, não só do pecado que ele desejaria que cometessem, mas da hipocrisia e vileza de alguém a quem as pessoas respeitam e honram como servo de Deus. Ele está manejando coisas sagradas, embora esconda sua torpeza de coração sob um manto pastoral. Tenham receio de qualquer coisa semelhante a esta familiaridade. Estejam seguras de que a menor aproximação disto é evidência de uma mente lasciva e de um olhar sensual. Caso se dê o mínimo incentivo nesse sentido, se forem toleradas quaisquer das liberdades mencionadas, não pode ser dada nenhuma evidência melhor de que sua mente não é pura e inocente como deve ser, e de que para vocês o pecado e o delito possuem encanto. Rebaixam a norma de sua digna e virtuosa feminilidade e dão inconfundível evidência de que deixaram permanecer no coração uma paixão baixa, irrefreável, vulgar e licenciosa, que jamais foi crucificada. T2 459 1 Quando me são mostrados os perigos daqueles que professam coisas melhores, e os pecados que existem entre eles -- uma classe que não é suspeita de estar em qualquer perigo desses pecados poluidores -- tenho sido levada a perguntar: Quem, ó Senhor, subsistirá quando apareceres? Apenas os limpos "de mãos e" puros "de coração" (Salmos 24:4) permanecerão no dia da Sua vinda. T2 459 2 Sinto-me impelida pelo Espírito do Senhor a apelar a minhas irmãs que professam piedade a seguirem a modéstia de comportamento e uma discrição apropriada, com temor e sobriedade. As liberdades tomadas nesta época de corrupção não devem servir de norma para os seguidores de Cristo. Essas exibições comuns de familiaridade não devem existir entre cristãos que se estão preparando para a imortalidade. Se a lascívia, a impureza, o adultério, o crime e o assassínio constituem a ordem do dia entre os que não conhecem a verdade e que recusam ser regidos pelos princípios da Palavra de Deus, quão importante é que a classe dos que professam ser seguidores de Cristo, intimamente ligados a Deus e aos anjos, indique-lhes um caminho melhor e mais nobre! Quão importante que por sua pureza e virtude permaneçam eles em acentuado contraste com aquela classe que é controlada pelas paixões sensuais! T2 459 3 Tenho perguntado: Quando as irmãs jovens agirão corretamente? Sei que não haverá nenhuma mudança decisiva para melhor enquanto os pais não perceberem a importância de exercer o maior cuidado em educar seus filhos corretamente. Ensinem-nos a agir com discrição e modéstia. Eduquem-nos para serem úteis, prestativos, para ministrarem aos outros, de preferência a serem servidos e ministrados. T2 460 1 Satanás controla a mente dos jovens em geral. Vocês não ensinam suas filhas a exercerem abnegação e domínio próprio. Elas são mimadas e seu orgulho acariciado. Permite-se-lhes seguir o próprio caminho até que se tornam obstinadas e rebeldes, e vocês ficam sem saber o que fazer para salvá-las da ruína. Satanás as está levando a se tornarem um provérbio na boca dos descrentes, por causa de sua audácia, falta de discrição e modéstia femininas. Semelhantemente, permite-se aos meninos seguirem seu próprio caminho. Mal atingem a adolescência, já são vistos ao lado de garotas da mesma idade, acompanhando-as até a casa e namorando-as. E os pais estão de tal maneira escravizados em virtude da própria condescendência e falso amor a seus filhos, que não ousam seguir uma conduta decisiva para fazer uma mudança e refrear seus filhos demasiado ousados nesta época difícil. T2 460 2 Para muitas moças, os rapazes são o assunto da conversação; para os rapazes são as moças. "Do que há em abundância no coração, disso fala a boca." Mateus 12:34. Eles falam dos assuntos em torno dos quais mais giram seus pensamentos. O anjo relator está escrevendo as palavras desses rapazes e moças -- professos cristãos. Como se sentirão confusos e envergonhados quando as encontrarem novamente no dia de Deus! Muitos filhos são hipócritas piedosos. Os jovens que não professam religião nenhuma tropeçam nesses hipócritas, e se endurecem contra qualquer esforço que possa ser feito por aqueles que se interessam em sua salvação. T2 460 3 Há necessidade de escolher-se homens na liderança, homens que em toda a emergência possam ser confiáveis para manter a firmeza da obra, homens que sejam altruístas, abundantes em generosidade e boas obras, cuja vida esteja escondida em Deus, e que considerem a vida cristã como de mais valor do que alimento e vestuário. "Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta?" Mateus 6:25. Deus convoca fiéis sentinelas nos postos centrais da obra, que amarão as pessoas por quem Cristo morreu, e assumirão a responsabilidade pelos que perecem, aguardando aquela recompensa que será sua quando entrarem na alegria de seu Senhor, e virem os pecadores salvos através de seus esforços, os quais viverão para sempre e serão eternamente felizes no glorioso reino de Deus. Oh, pudéssemos despertar pais e mães com o senso de seu dever! Oh, pudessem eles sentir profundamente o peso da responsabilidade que repousa sobre si! Então poderiam antecipar-se ao inimigo e conquistar preciosas vitórias para Jesus. Os pais não estão persuadidos acerca desse assunto. Eles devem examinar cuidadosamente a própria vida, analisar pensamentos e motivações e ver se têm sido prudentes em sua conduta. Devem vigiar-se estritamente para ver se seu exemplo no comportamento e na conversação tem sido tal que desejariam ser imitados pelos filhos. Pureza e virtude devem resplandecer de suas palavras e atos diante dos filhos. T2 461 1 Têm-se-me mostrado famílias em que o marido e pai não manteve esta discrição que dignifica uma santa varonilidade pertinente a um seguidor de Cristo. Ele tem deixado de praticar atos de bondade e cortesia devidos a sua esposa, que diante de Deus e dos anjos ele prometeu amar, respeitar e honrar enquanto ambos vivessem. A jovem empregada para fazer o trabalho doméstico tem tomado atitudes ousadas, sentindo-se livre para penteá-lo e demonstrando afetuosa atenção, e ele se mostra satisfeito, tolamente satisfeito. Em seu amor e atenção para com a esposa já não é tão exuberante como antes. Esteja certo de que Satanás está operando neste caso. Respeite sua empregada, trate-a bondosamente, com consideração, mas não mais que isto. Seja seu comportamento de tal maneira que não dê lugar a familiaridades. Se você tiver palavras de bondade e atos de cortesia para externar, é sempre seguro externá-los a sua esposa. Isso será uma grande bênção a ela e lhe proporcionará felicidade, refletindo-se novamente sobre você mesmo. T2 462 1 Tem-me sido mostrado também que a esposa permitiu que suas simpatias, interesse e afeição se desviassem para outros homens, que podem ser membros da família. Ela os faz seus confidentes, mostra preferência por sua companhia e refere-lhes seus problemas, talvez até assuntos particulares de família. T2 462 2 Tudo isso é errado. Satanás está por trás disso e, a menos que vocês estejam despertos e parem onde estão, ele os levará à ruína. Nesse assunto cautela e discrição nunca serão demais. Se tiverem palavras ternas e amorosas e bondosa atenção para dar, sejam elas expressas a quem prometeram diante de Deus e dos anjos honrar, respeitar e amar enquanto ambos viverem. Oh! quantas vidas se tornam amargas pelo ruir dos muros que guardam a intimidade de cada família, e que foram destinados a preservar sua pureza e santidade! Uma terceira pessoa é admitida na confiança da esposa, e seus particulares problemas de família são franqueados ao amigo especial. Isto é um artifício de Satanás para tornar esquivo o coração dos cônjuges. Oh, que isto tenha fim! Que quantidade de problema seria evitada! Encerrem no próprio coração o conhecimento das faltas um do outro. Contem suas mágoas apenas a Deus. Só Ele lhes pode dar o conselho adequado e segura consolação que será pura, sem nenhum amargor. T2 462 3 Tenho conhecimento de muitas mulheres que têm feito do casamento uma desgraça. Elas lêem novelas até que sua imaginação se torne doentia e passem a viver num mundo imaginário. Julgam-se mulheres de mente sensível, superiores e cultas, e imaginam que seus maridos não sejam tão refinados assim, que não possuem qualidades superiores e, portanto, não conseguem apreciar suas supostas virtudes e fineza. Conseqüentemente, elas se sentem grandes sofredoras, mártires. Falam disso e pensam sobre isso, até se tornarem obsessivas. Imaginam-se superiores aos demais mortais, e terem amizade com gente comum não combina com suas "finas sensibilidades". Tornam-se tolas e seus maridos estão em perigo de pensar que elas tenham, de fato, mente superior. T2 463 1 Segundo o Senhor me tem revelado, as mulheres dessa classe perverteram sua imaginação pela leitura de novelas, fantasias e construção de castelos no ar -- vivendo num mundo imaginário. Não reduzem suas idéias aos deveres comuns e úteis da vida. Não assumem os encargos da vida que lhes estão à frente nem procuram proporcionar para o esposo um lar feliz e prazenteiro. Depõem sobre ele todo o seu peso, não assumindo o próprio fardo. Esperam que outros antecipem suas necessidades e as satisfaçam por elas, enquanto se sentem livres para criticar e questionar como lhes apraz. Essas mulheres possuem sentimentalismo doentio, pensando constantemente não serem apreciadas, e que o esposo não lhes dá toda a atenção que merecem. Imaginam-se mártires. T2 463 2 A verdade é esta. Se elas se tornassem úteis, seu valor poderia ser apreciado, mas quando agem para atrair constantemente simpatia e atenção para si mesmas, enquanto não se sentem sob obrigação de retribuir esses mesmos sentimentos, mostrando-se frias e inacessíveis, não fazendo nada pelos outros e insensíveis às suas dores, pouco há em sua vida que seja proveitoso. Essas mulheres se educaram para pensar e agir como se fora grande condescendência de sua parte casar com os homens que hoje são seus maridos e que, sua fina estirpe nunca seria plenamente avaliada. Elas vêem as coisas de um modo completamente equivocado. São indignas de seus maridos. Exigem muito do cuidado e paciência deles, quando poderiam ser ajudadoras partilhando das responsabilidades da vida, em lugar de sonhar com uma vida imaginária baseada em novelas e romances. Que o Senhor tenha piedade dos homens que estão ligados a essas criaturas inúteis, aptas apenas para respirar, comer, vestir e ser servidas. T2 464 1 Essas mulheres que supõem possuir tal sensibilidade, que se julgam pessoas refinadas, tornam-se mães e esposas inúteis. Dá-se com freqüência o caso de retirarem sua afeição dos maridos, que são homens práticos e úteis, e dar mais atenção a outros homens e, com seu doentio sentimentalismo, atrair a simpatia de outros contando-lhes seus problemas e desejo por uma atividade mais elevada, e revelando o fato de que sua vida matrimonial é decepcionante, um empecilho ao trabalho que esperavam realizar. T2 464 2 Oh, que desventura existe nas famílias que poderiam ser felizes! Tais mulheres são uma maldição a si mesmas e a seus maridos. Supondo-se anjos, tornam-se tolas e não passam de pesados fardos. Põem de lado os deveres comuns da vida que o Senhor lhes ordenou, e são inquietas e queixosas, sempre procurando por um trabalho fácil, mais elevado e mais agradável. Supondo serem anjos, revelam-se afinal seres humanos. Desassossegadas, impertinentes, insatisfeitas, ciumentas de seus maridos porque durante a maior parte do seu tempo não os acompanham. Reclamam ser negligenciadas quando seus maridos estão realizando exatamente o trabalho que elas deveriam fazer. Satanás tem fácil acesso a essa classe. Elas não têm amor real por ninguém, exceto por si mesmas. Satanás, porém, sugere-lhes que se outros fossem seus maridos, elas seriam mais felizes. Tornam-se assim vítimas fáceis do engano satânico, sendo prontamente levadas a desonrar seus esposos e a transgredir a lei de Deus. T2 464 3 Gostaria de dizer às mulheres que se enquadram nessa descrição: Vocês podem construir ou destruir a própria felicidade. Podem tornar a vida feliz ou insuportável. A conduta que adotarem produzirá felicidade ou miséria para vocês mesmas. Será que tais mulheres nunca pensaram que seus maridos podem se aborrecer delas por sua inutilidade, impertinência, espírito de acusação e ataques de choro, enquanto imaginam ser seu caso assim tão lamentável? Sua disposição irritadiça, mal-humorada afasta-as das afeições dos maridos e os conduz à busca de simpatia, paz e conforto fora do lar. Uma venenosa atmosfera paira sobre sua casa; e lar é para eles qualquer coisa, exceto um lugar de descanso, paz e felicidade. O marido está sujeito às tentações de Satanás e suas afeições são postas sobre objetos proibidos. Ele é seduzido ao crime e finalmente à perdição. T2 465 1 Grande é o trabalho e a missão das mulheres, especialmente daquelas que são esposas e mães. Podem ser uma bênção a todos os que as cercam e exercer poderosa influência para o bem, se deixarem sua luz brilhar de tal modo que conduzam outros a glorificar nosso Pai celestial. As mulheres podem exercer influência transformadora se tão-somente consentirem em sujeitar seus caminhos e vontade a Deus e permitir que Ele lhes controle a mente, afeições e ser. Elas podem exercer uma influência que contribuirá para beneficiar e elevar aqueles com os quais se associam. Mas tal classe de pessoas, geralmente, não tem consciência do poder que possui. Exercem influência inconsciente que parece brotar naturalmente de uma vida santificada, um coração renovado. É o fruto que cresce espontâneo da boa árvore de cultura divina. O eu é esquecido, imerso na vida de Cristo. Ser rico em boas obras é tão natural como respirar. Elas vivem para fazer o bem aos outros e ainda estão prontas a dizer: Somos servas inúteis. T2 465 2 Deus designou à mulher sua missão; e se ela, de maneira humilde, mas no melhor de suas habilidades fizer de seu lar um céu, fiel e carinhosamente cumprindo seus deveres para com o marido e filhos, de contínuo deixando que uma santa luz resplandeça de sua vida útil, pura e virtuosa para iluminar todos os que a cercam, estará cumprindo a obra a ela confiada por seu Mestre, e ouvirá dos lábios divinos as palavras: "Bem está, servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. Essas mulheres que estão fazendo com pronta disposição o que suas mãos encontram para fazer, com alegria de espírito ajudando o esposo a levar seus fardos, e educando os filhos para Deus, são missionárias no mais alto sentido. Elas estão empenhadas em um importante ramo da grande obra a ser feita na Terra a fim de preparar os mortais para uma vida mais elevada, e receberão sua recompensa. Os filhos devem ser preparados para o Céu e habilitados a brilharem nas cortes do reino de Deus. Quando os pais, especialmente as mães, possuem verdadeiro senso da obra importante e de responsabilidade que Deus lhes deu, não se empenharão demasiado em assuntos que dizem respeito aos vizinhos, com os quais eles nada têm a ver. Não irão de casa em casa para se entregar a mexericos correntes, demorando-se nas faltas, erros e incoerências de seus vizinhos. Eles se sentirão tão sobrecarregados com o cuidado dos próprios filhos que não encontrarão tempo para levantar acusações contra seus vizinhos. Mexeriqueiros e boateiros são uma terrível maldição à igreja e à vizinhança. Dois terços de todos os problemas da igreja procedem dessa fonte. T2 466 1 Deus requer que todos cumpram fielmente os deveres diários. Esses são negligenciados pela maior parte dos professos cristãos. O dever presente é perdido de vista especialmente pela classe que já mencionei, que se julga uma ordem de seres superiores aos mortais que a cercam. O fato de sua mente estar fixada nesse pensamento já é uma prova de que são uma classe inferior, estreita, presunçosa e egoísta. Sentem-se muito superiores aos mansos e humildes de espírito, aos quais Jesus disse ter chamado. Estão sempre buscando assegurar posições, obter aplausos e reconhecimento por alguma grande obra que outros não podem fazer. Mas a sensibilidade de sua estrutura culta é perturbada pela associação com os humildes e desafortunados. Elas não reconhecem a razão de tudo isso. Mas o motivo de evitarem os deveres desagradáveis jaz em seu extremado egoísmo. O eu é o centro de todas as suas ações e motivos. T2 467 1 Foi-me apontada a Majestade do Céu. Quando Ele, adorado pelos anjos, exaltado em honra, esplendor e glória, veio à Terra e Se achou na forma de homem, não alegou Sua elevada natureza como desculpa para manter-Se distante dos desafortunados. Em Seu trabalho era encontrado em meio aos aflitos, pobres, perseguidos e necessitados. Cristo era a personificação do refinamento e da pureza. Sua vida e caráter eram elevados; todavia, em Seu trabalho, Ele não Se achava entre os homens de nobres títulos, nem entre os mais honrados do mundo, mas com os desprezados e necessitados: "Eu vim", disse o divino Mestre, para "salvar o que se havia perdido". Lucas 19:10. Sim, a Majestade do Céu sempre estava trabalhando para ajudar aqueles que mais necessitavam. Possa o exemplo de Cristo tornar vergonhosas as desculpas daquela classe que está tão atraída por seu pobre ego, que considera humilhante a seu refinado gosto e alta vocação ajudar os mais desfavorecidos. Tais pessoas assumem uma posição mais elevada do que seu Senhor, e ficarão pasmadas em descobrir que estão mais baixo do que os mais baixos daquela classe, diante da qual sua natureza refinada e sensível se chocava, só de pensar em misturar-se com ela e servi-la. Verdadeiramente nem sempre é agradável unir-se ao Mestre e tornar-se coobreiro com Ele, ajudando os que mais necessitam de auxílio. Mas essa é a obra para a qual Cristo humilhou a Si mesmo. É o servo maior do que seu Senhor? Ele nos deu o exemplo e requer que o imitemos. Pode ser desagradável, mas o dever exige que tal serviço seja feito. T2 467 2 São necessários homens fiéis e escolhidos na liderança da obra. Aqueles que não têm, e não desejam ter, experiência em assumir responsabilidades, não devem de forma alguma estar ali. São necessários homens que vigiem pelas pessoas como quem tem de dar conta delas. Pais e mães em Israel são necessários nessa importante função. Deixem que os egoístas e preocupados consigo mesmos, os avarentos, os cobiçosos, descubram um lugar onde seus miseráveis traços de caráter não sejam tão patentes. Quanto mais isolados ficarem, melhor para a causa de Deus. Apelo ao povo de Deus onde quer que se encontrem: Despertem para seu dever. Compreendam que realmente vivemos os perigos dos últimos dias. T2 468 1 Espero que o caso de N. Fuller os despertem, pais e mães, para verem a necessidade de um completo trabalho em seus lares, entre vocês mesmos e os filhos, de modo que nenhum de vocês seja tão enganado por Satanás, a ponto de considerar o pecado como esse pobre homem o fez. Aqueles que foram seus cúmplices no crime não teriam sido enganados se possuíssem um alto senso de virtude e pureza, e nutrissem um constante e vivo horror pelo pecado e pela iniqüidade. Conquanto vivendo sob a mais solene mensagem jamais dada a mortais e proclamando-a, apresentando a lei de Deus como prova de caráter e como selo do Deus vivo, transgridem seus santos preceitos. A consciência dessas pessoas tornou-se cauterizada e terrivelmente endurecida. Elas resistiram às influências do Espírito de Deus, até chegarem a usar a verdade sagrada como disfarce para ocultar a deformidade de seu caráter corrompido. Aquele homem tem sido horrivelmente enganado por Satanás. Tem servido a suas corruptas paixões, embora professando ser consagrado à obra de Deus e ministrando as coisas sagradas. Considera-se são, mas nada há de saudável nele. T2 468 2 Tenho sentido profundamente, ao ver a poderosa influência das paixões sensuais no controle de homens e mulheres de inteligência e habilidade fora do comum. Seriam capazes de se empenhar numa boa obra, de exercer poderosa influência, não estivessem escravizados por baixas paixões. Minha confiança na humanidade tem sido terrivelmente abalada. Tem-me sido mostrado que pessoas de comportamento aparentemente bom, que não tomam injustificável liberdade com o outro sexo, eram culpadas de praticar o vício secreto [masturbação] quase todos os dias de sua vida. Não se têm afastado desse terrível pecado, mesmo durante as mais solenes reuniões. Têm ouvido os mais solenes e impressionantes sermões sobre o juízo, que pareciam colocá-las diante do tribunal de Deus, fazendo-as temer e tremer; no entanto, mal passada uma hora continuam essas pessoas em seu pecado favorito e fascinante, corrompendo o próprio corpo. Eram tão escravas do terrível crime que pareciam destituídas de poder para controlar suas paixões. Temos trabalhado fervorosamente por alguns deles, temos rogado, temos chorado e orado por eles; no entanto, sabemos que, em meio a todo o nosso esforço e angústia, a força horrível do hábito pecaminoso tem obtido a vitória e esses pecados têm sido cometidos. T2 469 1 Através de graves manifestações de enfermidade ou mediante poderosas convicções, a consciência de alguns dos infratores foi despertada e os afligiu tanto que foram levados à confissão dessas coisas com profunda humilhação. Outros são igualmente culpados. Têm praticado esse pecado durante quase toda a vida e em seu organismo enfraquecido e memória debilitada, estão colhendo o resultado desse pernicioso hábito; todavia, são muito orgulhosos para confessar. São dissimulados e não experimentam arrependimento por esse grande pecado. Minha confiança na experiência cristã de tais pessoas é muito pequena. Parecem ser insensíveis à influência do Espírito de Deus. O sagrado e o profano são iguais para eles. A prática de vício tão degradante como a poluição de seu próprio corpo, não as leva a derramar lágrimas amargas e ao arrependimento de coração. Sentem que seu pecado é apenas contra si mesmas. Aqui elas erram. Ficam doentes de corpo ou mente e outros sofrem. A imaginação é fraca, a memória deficiente, são cometidos erros e há faltas em toda parte que afetam seriamente aqueles com quem vivem ou com elas se associam. Vexame e pesar são experimentados porque essas coisas chegam ao conhecimento de outros. T2 470 1 Mencionei esses casos para ilustrar o poder desse vício destruidor do corpo e da alma. A mente fica entregue às baixas paixões. As faculdades morais e intelectuais são dominadas pelas propensões sensuais. O corpo e a mente são enfraquecidos. O alimento ingerido para nutrir o organismo é malbaratado. O esgotamento orgânico é grande. Os sensíveis nervos da mente, incitados por ação antinatural, tornam-se entorpecidos e em certa medida paralisados. As faculdades morais e intelectuais enfraquecem-se, enquanto que as paixões sensuais são fortalecidas e se desenvolvem com a prática. O apetite por alimento insalubre clama por satisfação. Nas pessoas viciadas no hábito do abuso próprio [masturbação] é impossível despertar-lhes as sensibilidades morais para apreciarem as coisas eternas, ou deleitar-se em exercícios espirituais. Pensamentos impuros tomam e controlam a imaginação e fascinam a mente, e segue-se um quase incontrolável desejo para a prática de atos impuros. Se a mente fosse educada a contemplar assuntos elevados, a imaginação ensinada a refletir sobre coisas puras e santas, ela seria fortalecida contra esse vício terrível, degradante, destruidor da alma e do corpo. Seria, pela disciplina, acostumada a demorar-se nas coisas elevadas, celestiais, puras e sagradas, e não poderia ser atraída para esse vício torpe, corrupto e vil. T2 470 2 O que poderíamos dizer daqueles que estão vivendo sob a resplendente luz da verdade, embora diariamente praticando e seguindo uma conduta de pecado e crime? Prazeres proibidos, excitantes, os atraem e lhes controlam todo o ser. Tais pessoas têm prazer na injustiça e iniqüidade, e devem perecer do lado de fora da cidade de Deus, com tudo o que é abominável. T2 471 1 Tenho procurado alertar os pais para o seu dever, no entanto, eles continuam dormindo. Seus filhos estão praticando o vício secreto [masturbação] e os enganam. Vocês têm confiança implícita neles que os consideram bons e inocentes demais para serem capazes de praticar a iniqüidade em segredo. Os pais mimam seus filhos e os induzem ao orgulho, não os restringindo com firmeza e determinação. Ficam tão receosos diante de sua obstinação que temem o contato com eles. O pecado de negligência apontado em Eli será o seu pecado. De mais alto valor para todos os que estão buscando a imortalidade, é a exortação de Pedro. Dirige-se ele aos da mesma fé: T2 471 2 "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como o Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude, pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo, e vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude, a ciência, e à ciência, a temperança, e à temperança, a paciência, e à paciência, a piedade, e à piedade, o amor fraternal, e ao amor fraternal, a caridade. Porque, se em vós houver e aumentarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." 2 Pedro 1:1-11. T2 472 1 Achamo-nos em um mundo que está cheio de luz e conhecimento; todavia muitos que pretendem pertencer à mesma fé preciosa são voluntariamente ignorantes. Acham-se circundados de luz; todavia não a aproveitam para o próprio bem. Os pais não vêem a necessidade de informar-se, obtendo conhecimento, e pondo-o em uso prático em sua vida conjugal. Caso seguissem a exortação do apóstolo, e vivessem sob o plano de adição, não seriam infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Muitos, porém, não compreendem a obra da santificação. Parecem pensar que a atingiram, quando aprenderam apenas as primeiras lições de adição. A santificação é uma obra progressiva; não é atingida em uma hora ou em um dia, sendo então conservada sem qualquer esforço especial de nossa parte. T2 472 2 Muitos pais não obtêm o conhecimento que deviam em sua vida matrimonial. Não se guardam para que Satanás não se aproveite deles, controlando-lhes a mente e a vida. Não vêem que Deus requer que eles controlem sua vida matrimonial, evitando qualquer excesso. Bem poucos, porém, sentem ser um dever religioso reger as próprias paixões. Uniram-se em matrimônio ao objeto de sua escolha, e daí raciocinam que o casamento santifica a condescendência com as paixões inferiores. Mesmo homens e mulheres que professam piedade dão rédea solta a suas paixões de concupiscência, e nem pensam que Deus os considera responsáveis pelo dispêndio da energia vital que lhes enfraquece o poder na vida e enerva-lhes todo o organismo. T2 472 3 O concerto matrimonial encobre pecados das mais negras cores. Homens e mulheres que professam piedade desonram o próprio corpo mediante a condescendência com as paixões corruptas, rebaixando-se mais que as criaturas irracionais. Abusam das faculdades que Deus lhes deu a fim de serem preservadas em santificação e honra. A saúde e a vida são sacrificadas sobre o altar da paixão inferior. As mais elevadas e nobres faculdades são postas em sujeição às propensões sensuais. Os que assim pecam não conhecem os resultados dessa maneira de proceder. Pudessem todos ver a soma de sofrimentos que trazem sobre si mesmos por sua pecaminosa condescendência, e ficariam alarmados, e alguns pelo menos, recuariam da senda de pecado que traz tão tremendos resultados. Tão miserável é a existência arrastada por uma grande classe, que a morte lhes seria preferível à vida; e muitos morrem prematuramente, sacrificada a existência nessa obra inglória de excessiva satisfação das paixões sensuais. Todavia, por serem casados, julgam não cometer pecado nenhum. T2 473 1 Homens e mulheres, um dia vocês aprenderão o que seja a concupiscência e o resultado de satisfazê-la. Pode-se encontrar no casamento paixão de tão baixa qualidade, como fora dele. O apóstolo Paulo exorta os maridos a amarem sua esposa "como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela". "Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja." Efésios 5:25, 28, 29. Não é um amor puro o que leva um homem a tornar sua esposa instrumento para servir a sua sensualidade. É a paixão sensual que clama por satisfação. Quão poucos os homens que manifestam seu amor na maneira indicada pelo apóstolo: "Como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela" "para [não poluí-la, mas] a santificar, purificando-a" "para a apresentar... santa e irrepreensível." Efésios 5:25-27. Tal é, nas relações conjugais, o amor que Deus reconhece como santo. O amor é um princípio puro e santo; a paixão sensual, porém, não admitirá restrição, e não será ditada pela razão ou por ela controlada. É cega às conseqüências; não raciocina da causa para o efeito. Muitas mulheres sofrem de grande debilidade e doenças crônicas, porque as leis de seu ser têm sido desrespeitadas; as leis da natureza foram calcadas a pés. A energia nervosa do cérebro é esbanjada por homens e mulheres, sendo invocada para uso antinatural a fim de satisfazer baixas paixões; e este odioso monstro -- a paixão baixa e vil -- toma o delicado nome de amor. T2 474 1 Muitos professos cristãos que passaram diante de mim, pareciam destituídos de domínio moral. Tinham mais de animal que de divino. Eram, na verdade, quase simplesmente animais. Homens dessa espécie degradam a esposa a quem prometeram proteger e amar ternamente. Ela é tornada um instrumento para serviço das propensões vis e concupiscentes. E muitas mulheres se submetem a tornar-se escravas de paixão concupiscente; não possuem seu corpo "em santificação e honra". 1 Tessalonicenses 4:4. A esposa não conserva a dignidade e o respeito de si mesma que possuía anteriormente ao casamento. Esta santa instituição devia ter preservado e desenvolvido seu respeito feminil e sua santa dignidade; mas sua feminilidade pura, digna, divina, tem sido consumida no altar da vil paixão; é sacrificada a fim de agradar ao marido. Em breve ela perde o respeito por ele, que não considera as leis a que a criação irracional presta obediência. A vida conjugal torna-se jugo mortificante; pois o amor extingue-se e freqüentemente é substituído pela desconfiança, o ciúme e o ódio. T2 474 2 Homem algum amará verdadeiramente a sua esposa quando ela se submete pacientemente a tornar-se sua escrava, e servir a suas depravadas paixões. Em sua passiva submissão, ela perde o valor que outrora possuía aos olhos dele. Ele a vê degradada de tudo quanto era elevado, para um baixo nível; e não demora a que suspeite que ela se submeta com a mesma passividade a ser degradada por outro assim como por ele. Duvida-lhe da constância e pureza, cansa-se dela, e busca novos objetos para despertar e intensificar suas paixões infernais. A lei de Deus não é considerada. Tais homens são piores que os animais: são demônios em forma humana. Não conhecem os elevados, enobrecedores princípios do amor verdadeiro e santificado. T2 475 1 A esposa também passa a sentir ciúmes do marido, e suspeita que, tivesse ele oportunidade, com a mesma prontidão dirigiria a outra, da mesma maneira que a ela, suas atenções amorosas. Percebe que ele não é controlado pela consciência ou pelo temor de Deus; todas essas santificadas barreiras são derribadas pelas paixões concupiscentes; tudo quanto no marido é de natureza divina, torna-se servo da sensualidade baixa e embrutecedora. T2 475 2 O mundo está cheio de homens e mulheres desta classe; e casas bem arranjadas, de bom gosto, dispendiosas, encerram um inferno no interior. Imaginem, se lhes for possível, o que pode ser a descendência de pais assim. Não hão de os filhos imergir ainda mais baixo na escala? Os pais dão cunho ao caráter dos filhos. Portanto, os filhos nascidos a esses pais herdam deles disposições mentais de baixa, vil espécie. E Satanás incentiva tudo quanto tende à corrupção. A questão a ser assentada agora, é: Há de a esposa sentir-se obrigada a ceder implicitamente às exigências do marido, quando ela vê que coisa alguma senão a paixão vil o domina, e quando sua razão e discernimento se acham convencidos de que ela o faz com dano do próprio corpo que Deus lhe ordenou possuir "em santificação e honra" (1 Tessalonicenses 4:4), conservar como um "sacrifício vivo" (Hebreus 12:1) para Deus? T2 475 3 Não é amor puro e santo o que leva a esposa a satisfazer às propensões sensuais do esposo, com prejuízo da saúde e da vida. Caso ela tenha verdadeiro amor e sabedoria, procurará desviar-lhe a mente da satisfação das paixões impuras para assuntos elevados e espirituais, falando sobre assuntos espirituais interessantes. Talvez seja necessário insistir humilde e afetuosamente, mesmo com risco de o desagradar, em que ela não pode desonrar seu corpo, cedendo a excessos sexuais. Deve, bondosa e ternamente, lembrar-lhe que Deus tem direitos mais altos, acima de todos os outros direitos, sobre todo o seu ser, e que ela não pode desrespeitar esses direitos, pois será por isto responsável no grande dia de Deus. "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. "Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens." 1 Coríntios 7:23. T2 476 1 Caso ela eleve suas afeições, e em santificação e honra conserve sua pura dignidade de mulher, poderá por sua sensata influência, fazer muito para santificar o marido, cumprindo assim sua alta missão. Por esta maneira de agir, ela pode salvar, tanto o marido como a si mesma, realizando uma dupla obra. Nesta questão, tão delicada e tão difícil de manejar, são necessárias muita sabedoria e paciência, bem como ânimo e fortaleza morais. Graça e resistência podem ser obtidas na oração. O amor sincero deve ser o princípio dominante do coração. Amor a Deus e ao esposo pode unicamente ser a justa norma de procedimento. T2 476 2 Julgue a mulher que é prerrogativa do marido ter inteiro domínio sobre seu corpo, e moldar-lhe o espírito de modo a ajustar-se ao dele em todos os sentidos, para seguir a mesma direção que o seu, e renuncia a sua individualidade; ela perde a identidade, imergindo na do marido. É uma simples máquina para ele dirigir a sua vontade, uma criatura do seu prazer. Ele pensa por ela, decide por ela, por ela age. Ela desonra a Deus em ocupar essa posição passiva. Cabe-lhe diante de Deus uma responsabilidade que é seu dever conservar. T2 476 3 Quando a mulher sujeita o corpo e a mente ao domínio do marido, sendo passiva diante da vontade dele em tudo, sacrificando sua consciência, dignidade e mesmo personalidade, perde a oportunidade de exercer aquela poderosa influência que deveria possuir para o bem, a fim de elevar o marido. Ela podia abrandar-lhe a natureza áspera, e sua santificadora influência poderia ser usada de modo a purificar e polir, levando-o a esforçar-se zelosamente por governar as próprias paixões, e ser mais espiritual, para que sejam juntamente participantes da divina natureza, "havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. Grande pode ser o poder da influência no conduzir a mente a assuntos elevados e nobres, acima das baixas condescendências sensuais naturalmente buscadas pelo coração não renovado pela graça. Caso a esposa ache que, a fim de agradar ao marido, deve descer à norma por ele mantida, quando a paixão sensual é a principal base de seu amor e lhe rege as ações, ela desagrada a Deus; pois deixa de exercer uma santificadora influência sobre o marido. Se ela acha dever submeter-se a suas paixões sensuais sem uma palavra de admoestação, não compreende seu dever para com ele e para com o seu Deus. O excesso sexual destruirá com efeito o amor para com os cultos devocionais, tirará do cérebro a substância necessária para nutrir o organismo, vindo positivamente a destruir a vitalidade. Mulher alguma deve ajudar o marido nesta obra de autodestruição. Ela não o fará caso esteja esclarecida, e tenha por ele verdadeiro amor. T2 477 1 Quanto mais condescendência houver com as paixões sensuais, tanto mais fortes se tornarão elas, e mais violentos serão seus reclamos quanto à satisfação. Que os homens e mulheres tementes a Deus despertem para o seu dever. Muitos professos cristãos sofrem de paralisia de nervos e cérebro, devido a sua intemperança neste sentido. Podridão, eis o que se encontra nos ossos e medula de muitos que são considerados bons homens, que oram e choram, e ocupam altas posições, mas cuja carcaça poluída jamais transporá os portais da cidade celestial. T2 477 2 Oh! se eu pudesse fazer todos compreenderem sua obrigação para com Deus quanto a conservar a estrutura mental e física nas melhores condições a fim de prestarem serviço perfeito a seu Criador! Refreie-se a esposa cristã, tanto por palavras como por atos, de provocar as paixões sensuais do marido. Muitos não têm absolutamente forças para desperdiçarem nessa direção. Desde sua juventude têm enfraquecido o cérebro e debilitado sua constituição em virtude da satisfação dos apetites sensuais. Abnegação e temperança, eis o que devia constituir sua divisa na vida conjugal; então os filhos não serão tão propensos a ter suas faculdades morais e intelectuais enfraquecidas, e as paixões sensuais robustecidas. O vício nos filhos é quase universal. Não haverá uma causa? Quem lhes imprimiu o cunho do caráter? Que o Senhor possa abrir os olhos de todos para verem que se encontram em lugares escorregadios. T2 478 1 O quadro que me foi apresentado acerca da corrupção de homens e mulheres que professam piedade, fez-me temer que poderia perder totalmente a confiança na humanidade. Vi um terrível estado de paralisia sobre todos. É quase impossível despertar aqueles que deveriam estar acordados, de forma que tivessem uma justa percepção do controle que Satanás está exercendo sobre sua mente. Eles não estão cientes da abundante corrupção que os cerca. Satanás cegou-lhes o entendimento e embalou-os em segurança carnal. Os fracassos em nossos esforços para levar outros a compreenderem os grandes perigos que assediam as pessoas, fizeram-me algumas vezes temer que minhas idéias de depravação do coração humano eram exageradas. Mas quando os fatos nos são trazidos mostrando a triste deformidade de quem ousa ministrar coisas sagradas enquanto é corrupto de coração, de alguém cujas mãos manchadas de pecado profanam os vasos do Senhor, fico convencida de não ter retratado o quadro com exageros. T2 478 2 Tenho dado incisivos testemunhos, escrevendo ou falando, esperando despertar o povo de Deus para a compreensão de que tem se deparado com tempos perigosos. Tenho sentido angústia de coração ante a indiferença manifestada por aqueles que devem compreender as operações de Satanás, e estar despertos e vigiando. Vi que Satanás está guiando a mente dos que professam a verdade, para induzi-los ao terrível pecado da fornicação. A mente de um homem ou mulher não decai num momento da pureza e santidade para a depravação, corrupção e crime. Leva tempo transformar o humano em divino, ou degradar o que foi formado à imagem de Deus em brutal ou satânico. Pela contemplação somos transformados. Embora formado segundo a imagem do seu Criador, o ser humano pode de tal maneira educar sua mente que o pecado por ele outrora aborrecido se torne um prazer. Deixando de vigiar e orar, deixa de guardar a cidadela -- o coração -- e empenha-se no pecado e crime. A mente é degradada, e é impossível elevá-la da corrupção enquanto está sendo educada para escravizar as faculdades morais e intelectuais, e levá-las em sujeição a paixões grosseiras. Deve ser sustentada guerra constante contra a mente carnal; e precisamos ser ajudados pela refinadora influência da graça de Deus, a qual elevará a mente e a acostumará a meditar no que é puro e santo. T2 479 1 O corpo não é subjugado por muitos professos guardadores do sábado. Alguns que abraçam o sábado possuem mente depravada. E quando aceitam a verdade, não sentem a necessidade de dar meia-volta e mudar totalmente sua conduta. Por anos têm seguido as inclinações de seu coração não regenerado e sido dominados pelas corruptas paixões de sua natureza carnal, que desfiguraram a imagem de Deus neles, e poluíram tudo o que tocaram. Conseqüentemente, toda a vida que têm pela frente seria muito curta para galgarem a escada da perfeição cristã de Pedro, preparatória para sua entrada no reino de Deus. Mas, não há muitos que sentem não poderem ser salvos por professarem a verdade, a menos que se santifiquem através da verdade, em resposta à oração de nosso divino Senhor a Seu Pai: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. T2 479 2 Homens e mulheres que professam ser discípulos de Cristo e guardar todos os mandamentos de Deus, terão que sentir na vida diária verdadeira ansiedade para entrar pela porta estreita. Os que assim anseiam são os únicos que apressarão sua entrada pela porta estreita e pelo caminho apertado que conduz à vida eterna. Aqueles que meramente buscam entrar, nunca serão capazes. A vida cristã de muitos será totalmente despendida em esforços não muito maiores do que a simples busca, e sua única recompensa será descobrir a completa impossibilidade de entrar pela porta estreita. T2 480 1 Fico surpresa de ver quantas famílias são cegadas por Satanás, para que não lhe percebam a atuação, astúcias e enganos praticados em seu meio. Os pais parecem entorpecidos diante da paralisante influência do maligno, e pensam que tudo está bem. Foi-me mostrado que Satanás procura degradar a mente dos que se unem em casamento, a fim de que ele possa imprimir a própria imagem odiosa nos filhos deles. Por terem ingressado na relação matrimonial, muitos julgam poder concordar com ser controlados por paixões sensuais. São dirigidos por Satanás, que os engana e leva a perverterem essa sagrada instituição. Bem lhe apraz o baixo nível que seu espírito assume, pois ele tem muito a ganhar com isso. Sabe que, se puder excitar as paixões inferiores e as conservar em ascendência, não precisa incomodar-se quanto a sua experiência cristã, pois as faculdades morais e intelectuais serão subordinadas, ao mesmo tempo que as propensões sensuais predominarão, mantendo-se em ascendência; e essas paixões inferiores se fortalecerão pelo exercício, enquanto as qualidades mais nobres se tornarão cada vez mais fracas. T2 480 2 Ele pode modelar a posteridade deles muito mais rápido do que o poderia fazer com os pais, pois pode controlar a mente dos pais de tal modo que através deles possa imprimir a própria imagem de caráter nos filhos. Assim, nascem muitas crianças com as paixões sensuais grandemente em ascendência, enquanto as faculdades morais se desenvolvem debilmente. Essas crianças carecem de muito cuidadosa educação, para fazer ressaltar, fortalecer e desenvolver as faculdades morais e intelectuais, de modo que elas possam liderar. Mas as atividades de Satanás não são percebidas; suas artimanhas não são compreendidas. As crianças não são educadas para Deus. Sua educação moral e religiosa é negligenciada. As paixões sensuais são constantemente fortalecidas, enquanto as faculdades morais se tornam enfraquecidas. T2 481 1 Algumas crianças começam a prática da masturbação na infância; e ao avançarem em anos, as paixões concupiscentes crescem com o seu crescimento e fortalecem-se com a sua força. Não têm mente tranqüila. Meninas desejam a companhia de rapazes, e estes a das meninas. Seu comportamento não é reservado e modesto. São ousados e atrevidos, e permitem-se liberdades indecentes. O hábito da masturbação degradou-lhes a mente e manchou-lhes a alma. Pensamentos vis, e a leitura de novelas, histórias de amor, e livros obscenos incitam-lhes a imaginação, e exatamente esses se ajustam ao seu espírito depravado. Não amam o trabalho, e empenhados nele, queixam-se de fadiga; doem-lhes as costas, dói-lhes a cabeça. Não haverá causa bastante? Fatigam-se por motivo de seu trabalho? Não, não! No entanto os pais têm pena dessas crianças ao se queixarem e as aliviam de trabalho e responsabilidade. Isto é a pior das coisas que por elas podem fazer. Removem assim quase a única barreira que impede Satanás de ter livre acesso a sua mente enfraquecida. O trabalho útil lhes seria, em certa medida, uma salvaguarda contra o seu [de Satanás] controle sobre elas. T2 481 2 Temos algum conhecimento da maneira pela qual Satanás trabalha e de como ele alcança êxito. Pelo que me foi mostrado, ele paralisa a mente de pais. Eles são lerdos em suspeitar que os próprios filhos possam estar em erro e pecado. Alguns desses filhos professam ser cristãos, e os pais continuam dormindo, sem temer o perigo, enquanto a mente e o corpo dos filhos estão se tornando uma ruína. Há pais que nem mesmo tomam o cuidado de ter os filhos com eles, quando na casa de Deus. Meninas assistem às reuniões e se assentam, às vezes com os pais, mas mais freqüentemente nos últimos bancos. Têm o hábito de achar uma desculpa para saírem do recinto. Rapazes percebem isso e saem antes ou depois das meninas, e então, terminada a reunião, acompanham-nas para a casa. Nem por isso os pais se tornam mais prudentes. Além disso, rapazes e meninas apresentam desculpas para passear, e se reúnem nas praças ou outros locais pouco freqüentados, e ali brincam e têm um tempo vivamente divertido, sem nenhum olho experiente a vigiá-los e adverti-los. Eles imitam homens e mulheres adultos. T2 482 1 Esta é uma época dissoluta. Meninos e meninas começam a dar atenção uns aos outros quando deviam estar no jardim da infância aprendendo a ser modestos no procedimento. Qual é o efeito dessa confusão comum? Aumenta a pureza dos jovens que assim se reúnem? Claro que não! Aumenta as primeiras paixões sensuais; depois de tais encontros, os jovens são enlouquecidos pelo diabo e se entregam às suas práticas vis. T2 482 2 Os pais estão dormindo e não sabem que Satanás implantou a sua infernal bandeira justamente na casa deles. Fui levada a indagar: O que será dos jovens nesta época corrupta? Repito: os pais estão dormindo. As crianças estão enlouquecidas com apaixonado sentimentalismo e a verdade não tem poder para corrigir o mal. Que se poderá fazer para deter a onda de males? Se quiserem, os pais poderão fazer muito. Caso uma menina que acaba de entrar na adolescência seja abordada com familiaridade por um rapaz de sua idade, ou mais velho, deve ser ensinada a indignar-se tanto com isso, que tais liberdades jamais se repitam. Quando a companhia de uma menina é freqüentemente procurada por meninos ou rapazes, algo está errado. Essa jovem precisa de uma mãe que lhe mostre seu lugar, que a restrinja, ensinando-lhe o que é próprio para uma menina de sua idade. T2 482 3 A corruptora crença prevalecente de que, segundo o ponto de vista da saúde, devem os sexos misturar-se, tem realizado sua perniciosa obra. Quando os pais e tutores manifestarem um décimo da perspicácia de Satanás, então essa associação de sexos poderá ser quase inofensiva. Como está acontecendo, Satanás tem muito êxito em seus esforços para enfeitiçar a mente dos jovens; e a mistura de meninos e meninas, apenas aumenta vinte vezes mais o mal. Que os rapazes e as moças se empenhem em trabalho útil. Se estiverem cansados, terão menos inclinação para corromper o próprio corpo. Nada mais se pode esperar no caso dos jovens, a menos que haja uma inteira mudança de mente nos mais velhos. O vício se estampa no rosto dos rapazes e das moças. E o que está sendo feito para impedir o progresso deste mal? Aos meninos e rapazes são permitidas e encorajadas certas liberdades através de propostas indecorosas de moças e mulheres jovens. Possa Deus despertar os pais e as mães para trabalharem diligentemente, a fim de mudarem esse terrível estado de coisas, é a minha oração. T2 483 1 Tenho recorrido os testemunhos dirigidos aos observadores do sábado, e fiquei pasmada diante da misericórdia de Deus e do Seu cuidado por Seu povo em dar-lhes tantas advertências, apontar-lhes os perigos e apresentar-lhes a posição elevada que deseja ver ocupada por eles. Se eles se conservassem no Seu amor, separando-se totalmente do mundo, Ele faria repousar sobre eles Sua bênção particular e resplandecer a luz divina ao seu redor. A influência deles para o bem se faria sentir em todos os ramos da obra e em todos os campos de evangelização. Se, porém, deixarem de corresponder ao pensamento de Deus, se continuarem a ter uma compreensão tão acanhada do caráter exaltado de Sua obra como tiveram no passado, sua influência e seu exemplo hão de provar-se uma terrível maldição. Eles farão mal e só mal. O sangue de almas preciosas será encontrado em suas vestes. T2 483 2 Os testemunhos de advertência têm sido repetidos. Eu pergunto: Quem lhes tem dado atenção? Quem tem sido zeloso em arrepender-se de seus pecados e idolatria, prosseguindo fervorosamente para o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus"? Filipenses 3:14. Quem revelou a obra interior do Espírito, que conduz à abnegação e humilde sacrifício próprio? Quem que tendo sido advertido e separando-se tanto do mundo, de suas afeições e concupiscências tem mostrado crescimento diário na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? Quem podemos encontrar dentre os membros ativos, que sinta a responsabilidade pela igreja? A quem podemos ver, está Deus usando especialmente para elevar o padrão e edificar a igreja segundo o mesmo, que pode provar o Senhor e ver se Ele não lhe derramará uma bênção? T2 484 1 Tenho aguardado ansiosamente, esperando que Deus derrame Seu Espírito sobre alguns e os use como instrumentos de justiça para despertar e colocar em ordem Sua igreja. Tenho quase me desesperado ao ver, ano após ano, maior afastamento daquela simplicidade que Deus me mostrou que deve caracterizar a vida de Seus seguidores. Tem havido cada vez menos interesse na causa de Deus e dedicação a ela. Pergunto eu: Até que ponto aqueles que professam confiança nos testemunhos têm procurado viver de acordo com a luz concedida através deles? Até que ponto têm eles considerado as advertências dadas? Até que ponto têm eles acatado as instruções recebidas? T2 484 2 Vi que grandes mudanças precisam ser feitas no coração e vida de muitos, antes que Deus possa utilizá-los, mediante Seu poder, para a salvação de outros. Eles precisam ser renovados segundo a imagem de Deus em justiça e verdadeira santidade. Então o amor ao mundo e a si próprios, e cada ambição da vida designada para exaltar o eu, serão transformados pela graça de Deus e empregados na especial obra de salvar almas por quem Cristo morreu. A humildade tomará o lugar do orgulho, e a arrogante auto-estima será trocada por mansidão. Toda energia do coração será controlada pelo amor desinteressado a todo ser humano. Vi que Satanás se oporá quando eles fervorosamente iniciarem a obra de reforma própria. Ele sabe que essas pessoas, se consagradas a Deus, provariam a força de Suas promessas, e teriam operando neles um poder a que o adversário não seria capaz de contestar ou resistir. Receberiam a vida de Deus no coração. T2 485 1 Uma família, em particular, necessitava de todos os benefícios da reforma de saúde, todavia, estava completamente apostatada. Carne e manteiga eram usados livremente por ela, e os condimentos não haviam sido completamente descartados. Essa família poderia ter recebido grandes benefícios de um regime alimentar nutritivo e balanceado. O líder da família necessitava de alimento simples e nutritivo. Seus hábitos eram sedentários e seu sangue circulava lentamente. Ele não podia, como os outros, gozar as vantagens de um exercício saudável; em conseqüência, sua alimentação precisaria ser de qualidade e na quantidade adequada. Não tem havido nessa família o devido arranjo em relação ao regime; tem havido irregularidade. Devia ter havido tempo certo para cada refeição, e o alimento devia ter sido preparado de forma simples, livre de gordura; mas deviam ter-se dado ao trabalho de torná-lo nutritivo, saudável e convidativo. Nessa família, como em muitas outras, tem-se feito recepção especial para os visitantes; preparam-se muitos pratos, e freqüentemente substanciosos demais, de modo que os que se achavam à mesa eram tentados a comer em excesso. Então, na ausência de convidados, havia grande contraste, uma negligência no preparo dos pratos levados à mesa. O regime era escasso e faltava-lhe nutrientes. Não era considerado importante, "era apenas para nós mesmos". Freqüentemente as refeições eram feitas, sem consideração à hora regular de comer. Todos os membros da família sofriam dano com essa prática. É pecado, para qualquer de nossas irmãs, fazer tão grandes preparativos para as visitas, e cometer injustiça em relação à própria família, através de um regime escasso, que não sustente suficientemente o organismo. T2 485 2 O referido irmão sentia uma carência em seu organismo; não estava nutrido convenientemente, e pensava que a carne lhe supriria a força requerida. Houvesse sido cuidado adequadamente, e se sua mesa contivesse alimentos de qualidade nutritiva, todas as demandas orgânicas seriam abundantemente supridas. Manteiga e carne são estimulantes. Isto tem danificado o estômago e pervertido o gosto. Os nervos sensitivos do cérebro ficaram entorpecidos, e o apetite sensual fortalecido às custas das faculdades morais e intelectuais. Essas elevadas faculdades, de função controladora, têm sido enfraquecidas, de maneira que as coisas eternas não têm sido discernidas. A paralisia tem entorpecido o que é espiritual e devocional. Satanás tem triunfado por ver quão facilmente pode ele vencer pelo apetite e controlar homens e mulheres de inteligência, destinados pelo Criador para fazer uma boa e grande obra. T2 486 1 O caso acima referido não é isolado; se assim fosse eu não o teria apresentado aqui. Quando Satanás toma posse da mente, quão pronto a luz e as instruções, benignamente dadas pelo Senhor, se desvanecem e perdem a força! Quantos formulam desculpas e forjam necessidades que não existem, a fim de apoiá-los em sua errônea conduta em pôr de lado a luz e pisá-la a pés! Falo com segurança. A maior das objeções à reforma de saúde é que este povo não a vive; e ainda dirão seriamente que não podem viver a reforma de saúde e conservar seu vigor. T2 486 2 Achamos em cada exemplo desses, boa razão por que eles não podem viver a reforma de saúde. Não a vivem, e nunca a seguiram estritamente, portanto não podem ser por ela beneficiados. Alguns caem no erro de pensar que por rejeitarem a carne, não necessitam substituí-la com as melhores frutas e verduras, preparadas em seu estado mais natural, isentas de gordura e especiarias. Se tão-somente eles arranjassem habilmente os produtos com que o Criador os tem rodeado, pais e filhos empenhando-se unidos e com pureza de consciência na obra, apreciariam a comida simples, e seriam então capazes de falar com entendimento da reforma de saúde. Os que não se converteram a essa reforma, e nunca a adotaram plenamente, não são juízes de seus benefícios. Os que se afastam ocasionalmente para condescender com o gosto comendo um peru gordo ou outros alimentos cárneos, pervertem o apetite, e não são os que podem avaliar os benefícios do sistema da reforma de saúde. São controlados pelo gosto, não pelos princípios. T2 487 1 Tenho em todas as ocasiões uma mesa bem provida. Não faço mudanças para visitantes, sejam crentes ou incrédulos. Espero nunca ser tomada de surpresa pelo despreparo em receber de uma a seis pessoas que chegarem de improviso. Tenho bastante comida simples e saudável pronta para satisfazer a fome e nutrir o organismo. Se alguém quiser mais que isto, está na liberdade de procurá-la noutra parte. Nem manteiga nem alimentos cárneos de qualquer espécie vêm à minha mesa. Raramente aí se encontra bolo. Tenho geralmente ampla provisão de frutas, bom pão e verduras. Nossa mesa é sempre bem freqüentada, e todos os que participam do alimento passam bem e melhoram com ele. Todos se assentam sem apetite desmedido, e desfrutam com prazer as bênçãos fornecidas por nosso Criador. T2 487 2 Uma espantosa indiferença tem sido manifestada com respeito a esse importante assunto, por aqueles que estão na liderança da obra. A falta de estabilidade no que se refere aos princípios da reforma de saúde é indicativa de seu caráter e espiritualidade. Eles são deficientes em sua experiência cristã. A consciência não é considerada. A base ou causa de cada reta ação existente e operante no coração renovado garante a obediência, sem estímulos externos ou motivos egoístas. O espírito da verdade e a boa consciência são suficientes para inspirar e regular os motivos e a conduta daqueles que aprendem de Cristo e Lhe são semelhantes. Os que não têm em si mesmos nenhuma força procedente do princípio religioso, são facilmente influenciados pelo exemplo de outros na conduta errada. Aqueles que nunca aprenderam com Deus seu dever e a conhecer Seus propósitos com respeito a eles próprios, não estarão seguros em tempo de severo conflito com os poderes das trevas. São abalados pelas aparências externas e do momento. Homens mundanos são governados por princípios mundanos. Eles não podem apreciar nenhum outro. Mas os cristãos não devem ser governados por esses princípios. Eles não devem procurar fortalecer-se no desempenho do dever por qualquer outro motivo a não ser o amor à obediência a cada reclamo divino, como encontrado em Sua Palavra e ditado por uma consciência esclarecida. T2 488 1 No coração convertido haverá firme determinação de obedecer à vontade divina, porque há amor pelo que é justo, bom e santo. Não haverá hesitação, concessões ao gosto ou avaliação de conveniências, ou mesmo uma conduta baseada no comportamento de outros. Cada um deve viver por si mesmo. A mente de todos os que são renovados pela graça serão um meio receptor de contínua luz, graça e verdade, transmitindo-as a outros. O trabalho deles é produtivo. Seu fruto é para a santidade e, por fim, para a vida eterna. T2 488 2 Mas poucos têm um conhecimento experimental da santificadora influência das verdades que professam. Sua obediência e devoção não têm estado de acordo com a luz e privilégios que receberam. Esses não têm um senso real da obrigação que sobre eles recai, de andarem como filhos da luz e não das trevas. Se a luz que lhes foi dada houvesse brilhado sobre Sodoma e Gomorra, seus habitantes se teriam arrependido em pano de saco e cinza, e escapado da ira divina. Haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra no dia do juízo, do que para aqueles que têm sido privilegiados com a meridiana luz e tido muito trabalho por fazer, mas não se valeram dessas bênçãos. Eles negligenciaram a grande salvação que Deus, em misericórdia, estava disposto a lhes conceder. Foram tão cegados pelo diabo que na verdade se julgam ricos e favorecidos por Deus, quando a Testemunha Verdadeira declara que são miseráveis, desgraçados, pobres, cegos e nus. ------------------------Capítulo 60 -- Uma cruz na aceitação da verdade T2 489 1 Querida irmã U: T2 489 2 Estou mais ou menos familiarizada com seu temperamento peculiar, suas precauções, temores, sua falta de confiança e esperança. Simpatizo com seus sofrimentos mentais, porquanto você não pode ver tudo tão claramente com respeito a nossa posição e fé como gostaria. Sabemos que você é estritamente conscienciosa e não tem dúvida de que, se tivesse o privilégio de ouvir todos os pontos da verdade presente e de pesar as evidências por si mesma, seria firmada, fortalecida e tranqüilizada, de maneira que a oposição ou a infâmia não a moveriam de seu seguro fundamento. Como não teve o privilégio que muitos têm, de assistir às reuniões e experimentar por si mesma as evidências que acompanham a apresentação da verdade sagrada que mantemos, sentimo-nos muito apreensivos a seu respeito. Nosso coração é atraído por você, e nosso amor é sincero e ardente. Receamos que naufrague sob os perigos destes últimos dias. Não se aborreça comigo pelo que estou lhe escrevendo. Você não tem plena compreensão, como eu tenho, das astúcias e enganos de Satanás. Seus enganos são inúmeros; suas armadilhas são cuidadosa e sutilmente preparadas para enredar os desprevenidos. Desejamos que fique livre de seus enganos. Queremos que fique totalmente do lado do Senhor, amando, esperando e sinceramente ansiando pelo aparecimento de nosso Salvador nas nuvens do céu. T2 489 3 Desde seus primeiros esforços para guardar o sábado, muitas coisas surgiram para desencorajá-la; todavia, esperamos que elas não desviem sua mente das importantes verdades para estes últimos dias. Embora os defensores da verdade não façam tudo como devem, por não serem santificados pelas verdades que professam, a verdade é a mesma; seu brilho é irreduzível. Embora esses possam permanecer entre a verdade e aqueles que não se apegaram a ela completamente, e sua escura sombra pareça obscurecer, durante algum tempo, o luminoso esplendor, todavia, isso não acontece na realidade. A verdade de origem divina não pode ser ofuscada. Sua pureza e exaltado caráter são imutáveis. Ela vive, porque é imortal. T2 490 1 Minha querida irmã, apegue-se à verdade. Obtenha experiência por si mesma. Você possui individualidade. É responsável pelo uso que faz, independentemente de todos os outros, da luz que brilha sobre seu caminho. A falta de consagração dos outros não será desculpa para você. O fato de perverterem a verdade por sua errônea conduta, porque não foram santificados por ela, não a torna menos responsável. Recai sobre você a solene obrigação de exaltar o padrão da verdade, de mantê-la erguida. Até mesmo se os seus defensores desfalecerem e se prostrarem, não deixe o precioso estandarte cair por terra. Apegue-se a ele, mantenha-o elevado, ainda que, se preciso for, coloque em risco seu bom nome, honra secular e vida. Minha mui respeitada irmã, rogo-lhe que erga os olhos. Segure firmemente a mão de seu divino Pai. Jesus, nosso Advogado, vive para fazer intercessão por nós. Quem quer que possa negar a fé por sua vida profana, não mudará a verdade em mentira. "Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus." 2 Timóteo 2:19. "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Mateus 26:41. Às vezes temo que seus pés deslizem e você se recuse a andar no caminho humilde, reto e estreito que conduz à vida eterna no reino de glória. T2 490 2 Apresento-lhe a vida de abnegação, humildade e sacrifício de nosso divino Senhor. A Majestade do Céu, o Rei da glória, deixou Suas riquezas, esplendor, honra e glória, condescendendo em viver uma vida de humildade, pobreza e descrédito. Ele "pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta". Hebreus 12:2. Oh, por que somos tão sensíveis a provações, reprovação, sofrimento e vergonha, quando nosso Senhor nos deu tal exemplo? Quem desejaria entrar na alegria de seu Senhor, enquanto indisposto a participar de Seus sofrimentos? Quê! Um servo que reluta em suportar humilhação, vergonha e reprovação que o próprio Mestre desinteressadamente suportou por ele! Um servo que recua da vida de humildade e sacrifício que é para sua eterna felicidade, por meio da qual possa finalmente alcançar uma inexcedível e eterna recompensa! A linguagem do meu coração é: Permita-me participar dos sofrimentos de Cristo, para que possa finalmente participar de Sua glória. T2 491 1 A verdade divina nunca foi popular no mundo. O coração natural é sempre avesso a ela. Graças a Deus por precisarmos renunciar ao amor do mundo, ao orgulho e a tudo o que tende à idolatria, a fim de sermos seguidores do Homem do Calvário. Aqueles que obedecem à verdade nunca serão honrados e amados pelo mundo. Dos lábios do divino Mestre, enquanto andava humildemente entre os homens, foram ouvidas as palavras: "Quem quiser ser Meu discípulo, 'tome sua cruz, e siga-Me'." Marcos 8:34. Sim, seguir Aquele que é nosso Exemplo. Procurava Ele pelo louvor e a honra dos homens? Não, nunca! Deveremos nós buscar honra e louvor dos mundanos? T2 491 2 Aqueles que não amam a Deus não amarão os filhos de Deus. Ouçam as palavras de divina instrução: "Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós." Lucas 6:26. "Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus." Mateus 5:11, 12. "Mas ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação." Lucas 6:24. No evangelho de João novamente encontramos as palavras de Cristo: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardarem a Minha palavra, também guardarão a vossa." João 15:17-20. "Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como Eu do mundo não sou." João 17:14-16. T2 492 1 Lemos na primeira epístola de João: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há." 1 João 2:15. Na carta aos romanos, Paulo diz: "Rogo-vos... pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. E Tiago declara: "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. T2 492 2 Rogo-lhe que considere cuidadosamente as instruções de Paulo em sua epístola aos gálatas: "Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo." Gálatas 1:10. Temo que você esteja em grande perigo de naufragar na fé. Considere que tem sacrifícios a fazer para obedecer à verdade. Cremos que, de fato, você tem feito sacrifícios, mas se houvesse se empenhado mais nessa obra, seus pés não estariam agora tropeçando e sua fé oscilando. Não me refiro agora ao sacrifício de recursos, mas àquele que exige mais doloroso conflito do que o dispêndio de meios; àquele que toca especialmente o eu. Você não venceu seu orgulho, seu amor à aprovação de um mundo descrente. Aprecia que os homens falem bem de você. T2 493 1 Você não recebeu nem praticou a verdade em sua simplicidade. Temo que você tenha sentido como se estivesse fazendo concessão especial ao receber uma verdade impopular como a defendida pelos adventistas guardadores do sábado. Buscou, em certa medida, reter o espírito mundano e ainda adotar a verdade. Isso não pode acontecer. Cristo não aceitará coisa alguma senão o coração inteiro, todas as afeições. A amizade do mundo é inimizade contra Deus. Quando você deseja viver de modo a evitar a reprovação, está buscando uma posição acima de seu Mestre sofredor; e quando se envolve nisso, está-se separando do Pai celestial, trocando Seu amor por outro de nenhum valor. T2 493 2 Senti angústia de espírito por você, minha irmã, e também por seu marido. Enquanto procurava escrever-lhes, seu caso foi-me claramente mostrado. Estou plenamente ciente de seus perigos, perplexidades e dúvidas. Tudo lhe tem sido desfavorável, irmã U, desde que buscou obedecer à lei de Deus. No entanto, nada lhes tem sido tão grande empecilho como o orgulho. Ambos são amigos de ostentação, e isso não faz parte da boa, humilde religião. Vi que ambos teriam uma ardente provação a suportar; que seriam testados e provados. Nesse conflito, Satanás se empenharia ao máximo para cegar-lhes os olhos aos interesses eternos e apresentaria as vantagens do tempo presente, esta vida curta e passageira que é tão incerta. Vocês veriam atrativos nesta vida e que, a menos que abandonassem seu amor à ostentação e ao favor do mundo, não poderiam conservar o amor de Deus. Jesus me foi apresentado como destacando os encantos celestiais, buscando desviar-lhes os olhos deste mundo, e dizendo: "A quem escolherão: a Mim ou ao mundo? Não podem Me amar e também ao mundo. Vocês sacrificarão Aquele que morreu por vocês pelos tesouros do mundo e a soberba da vida? Escolham entre Mim e o mundo; o mundo não tem parte comigo." T2 494 1 Vi seus pés tropeçarem, sua fé vacilar. Dúvida e incredulidade os cercavam e a luz de Cristo se dissipava. A vaidade é uma das mais fortes tendências de nossa natureza depravada, e Satanás constantemente apelará a ela com sucesso. Pessoas que não passam necessidades estão prontas a ajudar Satanás em seu trabalho para lisonjeá-los, destacar suas habilidades e a influência que poderiam ter na sociedade, insistindo que seria grande pena unirem seus interesses com um povo de fé simples, e misturar-se com uma classe social abaixo de vocês, como a consideram. Parece-lhes estarem fazendo um grande sacrifício pela verdade. Realmente, as massas que possuem influência não sacrificam suas ambições mundanas para separar-se do mundo e não mudam seu rumo para conformar-se ao caminho estreito, percorrido pelo sofredor Homem do Calvário. Eles consideram seus talentos e influência preciosos demais para serem dedicados à causa de Deus; demasiado valiosos para serem empregados para glorificar ao Doador, que lhes concedeu esses talentos para investimento e retorno a Ele tanto do capital como dos juros. Para as vantagens temporais que esperam obter, eles sacrificarão as eternas. Pelo louvor dos homens sacrificarão a aprovação de Deus, o Criador dos Céus e da Terra, e perderão todo direito à honra que vem do alto. Quão poucos sabem o que é para seu melhor proveito! Vocês não apreciam isso. Jesus, mediante uma vida de sofrimento incomparável e de ignominiosa morte, abriu um caminho através do qual o ser humano pode seguir Suas pisadas, e finalmente ser exaltado a Seu trono, recebendo a recompensa da imortalidade e vida eterna. Por uma vida de obediência, receberá herança imortal, um tesouro imperecível. T2 495 1 Na primeira epístola de Paulo aos Coríntios, lemos: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes." 1 Coríntios 1:18, 19. "Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele." 1 Coríntios 1:26-29. Vocês têm o exemplo de Cristo, sua vida modesta sem ostentação ou grandeza. É o servo maior que seu Senhor? T2 495 2 Querida irmã, você tem boa vontade e pode fazer o bem. Pode ser uma âncora para seu marido e uma força a muitos outros. Mas, se ficar coxeando entre dois pensamentos, não se envolvendo com a obra de Deus, sua influência em relação à de seu marido será exercida na direção errada. O que diz a Palavra de Deus? Volva-se da opinião dos homens para a lei e o testemunho. Descarte toda consideração mundana. Faça sua decisão para a eternidade. Pese as evidências nesta importante época. Certamente não necessitamos esperar escapar da perseguição e das provas ao seguirmos nosso Salvador, pois esse é o salário daqueles que O seguem. Ele claramente declara que sofreremos perseguição. Nossos interesses terrenos devem estar subordinados aos eternos. Ouça as palavras de Cristo: "E Pedro começou a dizer-Lhe: Eis que nós tudo deixamos e Te seguimos. E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de Mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições, e, no século futuro, a vida eterna." Marcos 10:28-30. Interesses eternos estão aí envolvidos. T2 496 1 Não se lisonjeiem de que se reconhecerem a verdade, todos os obstáculos para a aquisição de propriedades seriam removidos. Satanás lhes diz isso; esse é um engano. Se a bênção de Deus estiver sobre vocês porque tudo Lhe sujeitaram, então prosperarão. Se dEle se afastarem, Ele Se afastará de vocês. Sua mão pode espalhar mais rapidamente do que vocês podem ajuntar. "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26. T2 496 2 Você, minha querida irmã, necessita de conversão total à verdade, a qual aniquilará o eu. Não pode confiar em Deus? Por favor, leia Mateus 10:25-40. Leia também, com coração suplicante, Mateus 6:24-34. Permita que essas palavras lhe impressionem o coração. "Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta?" Mateus 6:25. Uma vida melhor é aqui referida. Pelo corpo, está representado o adorno interior que torna os simples mortais possuidores da mansidão e da justiça de Cristo preciosos à Sua vista como foi Enoque, e os qualifica para receberem o toque final de imortalidade. Nosso Salvador nos aponta as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, todavia, seu Pai celestial as alimenta. Então Ele diz: "Não tendes vós muito mais valor do que elas? ... E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:26-29. Esses lírios em sua simplicidade e pureza, no pensamento de Deus, são mais atraentes do que as custosas vestes de Salomão, porém destituídas dos adornos celestes. "Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? Mateus 6:30. Pode você confiar em seu Pai celestial? Pode descansar em Sua graciosa promessa? "Mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. Preciosa promessa! Podemos nós descansar sobre ela? Não poderíamos ter confiança implícita, sabendo que "fiel é o que prometeu"? Hebreus 10:23. Suplico-lhe que deixe sua tremente fé apegar-se novamente às promessas de Deus. Lance todo o peso sobre elas com fé inamovível, pois elas não falharão. ------------------------Capítulo 61 -- Mensagem aos pastores T2 498 1 Queridos irmãos: T2 498 2 Foi-me revelado que nem todos os que professam ter sido chamados para ensinar a verdade estão qualificados para essa sagrada obra. Alguns estão longe de conhecer a mente e a vontade de Deus. Condescendem com a indolência em coisas temporais, e sua vida religiosa está marcada pela preguiça espiritual. Onde há falta de energia perseverante e aplicação rigorosa em assuntos temporais e transações comerciais, a mesma deficiência será visível em coisas espirituais. T2 498 3 Alguns de vocês são chefes de família, e seu exemplo e influência estão moldando o caráter dos filhos. Seu modelo será seguido em maior ou menor grau, e sua falta de integridade está pondo diante dos outros um mau exemplo. Mas suas deficiências são mais plenamente sentidas, com resultados de maior peso, na causa de Deus. Suas famílias sentiram essa deficiência e sofreram em resultado dela. Eles sofreram falta de muita coisa que diligente atividade e perseverança poderiam ter suprido. Mas tal carência tem sido vista e sentida em maior grau na causa e obra de Deus, assim como a causa e a obra são de mais alta importância do que as coisas pertinentes a esta vida. T2 498 4 A influência de alguns pastores não é boa. Eles não vigiaram cuidadosamente seu tempo, dando assim ao povo um exemplo de operosidade. Despendem indolentemente momentos e horas que, uma vez passados para a eternidade com seu registro de resultados, nunca poderão ser recuperados. Alguns são naturalmente indolentes, o que lhes torna difícil fazer de qualquer empreendimento um sucesso. Tal deficiência tem sido vista e sentida através de toda a sua experiência religiosa. Não são apenas esses faltosos que são perdedores; outros sofrem em resultado de suas deficiências. Nesta hora avançada, muitos têm lições a aprender, as quais já deveriam ter aprendido há muito tempo. T2 499 1 Alguns não são ativos estudantes da Bíblia. Não estão dispostos a aplicar-se diligentemente ao estudo da Palavra de Deus. Como resultado dessa negligência, trabalham sob grande desvantagem e não conseguem, em seus esforços ministeriais, realizar um décimo da obra que podiam ter feito, se houvessem percebido a necessidade de aplicar com afinco sua mente ao estudo da Palavra. Poderiam tornar-se tão familiarizados com as Escrituras, tão fortalecidos pelos argumentos bíblicos, que enfrentariam os oponentes e apresentariam as razões de nossa fé, fazendo triunfar a verdade e silenciar a oposição. T2 499 2 Os que ministram a Palavra devem possuir um conhecimento tão completo da mesma quanto lhes seja possível. Precisam estar continuamente pesquisando, orando e aprendendo, ou o povo de Deus avançará no conhecimento de Sua Palavra e vontade, e deixará esses pretensos mestres para trás. Quem instruirá o povo quando esse tiver mais conhecimento do que seus professores? Todos os esforços desses pastores são infrutíferos. Há necessidade de que o povo lhes ensine a Palavra de Deus mais perfeitamente, antes que sejam capazes de instruir a outros. T2 499 3 Alguns poderiam ter se tornado obreiros completos se houvessem feito bom uso de seu tempo, sentindo que teriam contas a prestar a Deus por seus momentos desperdiçados. Eles têm desagradado ao Senhor porque não foram industriosos. Satisfação própria, amor-próprio, apego egoísta à comodidade têm afastado alguns do bem, impedindo-os de obter um conhecimento das Escrituras que os habilitaria plenamente à prática de boas obras. Alguns não apreciam o valor do tempo e perdem na cama as horas que poderiam ter sido empregadas no estudo da Bíblia. Há alguns assuntos sobre os quais se têm demorado mais, com os quais estão familiarizados e sobre esses podem falar com aceitação; mas em grande medida deixam o assunto nesse ponto. Eles não têm se sentido totalmente satisfeitos consigo mesmos e, às vezes, perceberam suas deficiências; todavia, ainda não estão suficientemente conscientes do crime de negligenciar maior familiaridade com a Palavra de Deus, que eles professam ensinar. Por causa de sua ignorância, as pessoas ficam desapontadas. Elas não recebem deles a sabedoria que poderiam obter e que esperam receber dos ministros de Cristo. T2 500 1 Levantando-se cedo e poupando seu tempo, os pastores podem achar momentos para uma íntima pesquisa das Escrituras. Precisam ser perseverantes e não ficar frustrados com o assunto, mas persistentemente empregar seu tempo no estudo da Palavra, trazendo em seu auxílio as verdades que outras mentes, através de labor incessante, trouxeram-lhes à luz e, com diligente e perseverante esforço, prepararam para eles. Há pastores que têm trabalhado por anos, ensinando a verdade a outros, enquanto não estão bem familiarizados com os pontos fortes de nossa fé. Rogo-lhes que acabem com sua preguiça. Ela lhes tem sido contínua maldição. Deus requer deles que cada momento produza algum bem para si mesmos ou para os outros. "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. "Também o negligente na sua obra é irmão do desperdiçador." Provérbios 18:9. T2 500 2 É importante para os ministros de Cristo ver a necessidade de cultura própria, a fim de adornar sua profissão de fé e manter discreta dignidade. Sem o treino mental, por certo fracassarão em tudo que empreenderem. Foi-me mostrado que há assinalada falta naqueles que pregam a Palavra. Deus não Se agrada com seus modos e idéias. Sua maneira casual de citar as Escrituras é um descrédito à sua posição. Dizem ser ensinadores da Palavra, mas falham em citar corretamente as Escrituras. Aqueles que se dedicam plenamente à pregação da Palavra não devem ser acusados de citar textos incorretamente. Deus requer integridade de todos os Seus servos. T2 501 1 A religião de Cristo será exemplificada por seu possuidor na vida, na conversação e nos atos. Seus princípios poderosos provar-se-ão uma âncora. Aqueles que ensinam a Palavra devem ser padrões de piedade, modelos para o rebanho. Seu exemplo deve recriminar a indolência, a preguiça, a falta de operosidade e economia. Os princípios da religião exigem diligência, operosidade, economia e honestidade. "Presta contas da tua mordomia" (Lucas 16:2), logo será ouvido por todos. Irmãos, que conta dariam se o Mestre aparecesse agora? Vocês não estão preparados. Certamente seriam tidos como servos negligentes. Preciosos momentos ainda lhes são concedidos. Apelo para que redimam o tempo. T2 501 2 Paulo exortou a Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade." 2 Timóteo 2:15. "E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos." 2 Timóteo 2:23-26. T2 501 3 Para realizar a obra que Deus deles requer, os pastores precisam estar qualificados para tal. O apóstolo Paulo, em sua carta aos colossenses, assim fala com respeito ao seu ministério: "Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:25-29. T2 502 1 Deus requer de Seus servos que vivem tão perto do fim de todas as coisas, nada menos do que sagrada apreciação e devoção ao trabalho do ministério. Ele não pode aceitar o trabalho dos obreiros, a menos que compreendam o poder da verdade que apresentam a outros. Não aceitará nada menos do que um trabalho feito de coração, sério, zeloso e ativo. Vigilância e produtividade são requeridas nessa grande obra. Deus quer obreiros desprendidos, que trabalhem com desinteressada benevolência e coração íntegro. T2 502 2 Irmãos, falta-lhes dedicação e consagração à obra. Seu coração é egoísta. As deficiências precisam ser supridas ou sofrerão desapontamento fatal -- perderão o Céu. Deus não considerará como algo sem importância a negligência do fiel desempenho no trabalho que deixou a Seus servos. Está faltando em muitos que trabalham no ministério, duradouro vigor e constante confiança em Deus. O resultado desta falta acarreta grandes responsabilidades sobre os poucos que possuem essas qualidades, e eles são convocados a suprir as deficiências tão evidentes naqueles que poderiam ser trabalhadores capazes se desejassem. São poucos os que estão labutando dia e noite, abstendo-se do descanso e do convívio social, sobrecarregando a mente ao máximo, cada um trabalhando por três e se desgastando para fazer o serviço que outros podem realizar, mas negligenciam. Alguns são muito indolentes em fazer sua parte. Muitos pastores poupam a si mesmos esquivando-se de responsabilidades, acomodando-se a um estado de ineficiência, quase nada fazendo. Conseqüentemente, aqueles que compreendem o valor das almas, que apreciam a santidade da obra, sentindo que ela deve ir avante, estão fazendo trabalho extra e esforços sobre-humanos, exaurindo até suas energias mentais para manter a obra em andamento. Fossem os interesses e a dedicação ao trabalho igualmente partilhados e todos os que professam ser pastores dedicassem diligentemente todos os seus interesses à causa, não poupando a si mesmos, os poucos obreiros, sinceros e tementes a Deus que estão rapidamente se consumindo seriam aliviados da terrível pressão que sofrem e suas energias seriam preservadas, de forma que quando exigidas, pudessem responder com redobrada força. Assim, seriam produzidos maiores resultados do que agora podem ser vistos, apesar da pressão de cuidado e ansiedade esmagadores. O Senhor não Se agrada dessa desigualdade. T2 503 1 Muitos que professam ter sido chamados por Deus para ministrar em palavra e doutrina não percebem que não têm direito de reivindicar ser ensinadores, a menos que estejam totalmente supridos por sincero e diligente estudo da Palavra de Deus. Alguns se descuidam em obter conhecimento de ramos simples da educação. Outros nem sequer lêem corretamente. Uns citam incorretamente as Escrituras e outros, por sua aparente falta de qualificação para o trabalho que tentam fazer, prejudicam a causa de Deus e trazem descrédito à verdade. Eles não vêem a necessidade de cultivar o intelecto, de encorajar refinamento sem afetação e de procurar obter verdadeiro desenvolvimento do caráter cristão. O modo certo e eficaz de alcançar esse nível é a submissão do coração a Deus. Ele dirigirá o intelecto e as afeições para que se centralizem no que é divino e eterno, então eles possuirão poder sem precipitação, pois todas as faculdades da mente e do ser inteiro serão elevadas, refinadas e conduzidas por um conduto santo e elevado. Dos lábios do divino Mestre foram ouvidas as palavras: "Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças." Marcos 12:30. Quando ocorre essa submissão a Deus, verdadeira humildade permeará toda ação, e ao mesmo tempo, aqueles que se acham assim ligados com Deus e Seus anjos possuirão conveniente dignidade de natureza celestial. T2 504 1 O Senhor pede que Seus servos sejam ativos. Não Lhe é agradável vê-los desatentos e indolentes. Eles professam ter evidência de que o Senhor os selecionou especialmente para ensinar ao povo o caminho da vida; todavia, freqüentemente sua conversação é inútil, demonstrando que não sentem a responsabilidade do trabalho sobre si. Seu coração não está fortalecido pelas poderosas verdades que ensinam aos outros. Alguns pregam essas verdades de tão elevada importância de um modo negligente que não conseguem afetar o povo. "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças." Eclesiastes 9:10. Os homens a quem Deus chamou precisam ser treinados para fazer esforços e trabalhar diligentemente e com incansável zelo por Ele, para arrancar pecadores do fogo eterno. Quando os pastores sentirem o poder da verdade em si próprios, vibrando o próprio ser, então terão poder para atingir corações e mostrar que crêem firmemente nas verdades que pregam a outros. Devem eles ter em mente o valor dos seres humanos e as incomparáveis grandezas do amor do Salvador. Isso lhes despertaria o coração, de maneira que pudessem dizer com Davi: "Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo." Salmos 39:3. T2 504 2 Paulo exortou a Timóteo: "Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá." 1 Timóteo 4:12, 13. "Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem." 1 Timóteo 4:15, 16. Que elevada importância é aqui atribuída à vida religiosa do ministro de Deus! Que necessidade de fiel estudo da Palavra, para que ele possa ser santificado pela verdade e estar qualificado para ensinar a outros! T2 505 1 Irmãos, é-lhes requerido exemplificar a verdade na vida. Mas aqueles que pensam ter a missão de ensinar a outros a verdade, não são todos convertidos e santificados pela verdade. Alguns nutrem idéias errôneas do que seja um cristão e dos meios através dos quais pode ser obtida uma firme experiência religiosa. Não compreendem as qualificações que Deus requer de Seus pastores. Tais homens não são santificados. Ocasionalmente têm um êxtase de sentimentos, que lhes dá a impressão de serem realmente filhos de Deus. Tal dependência de impressões é um dos especiais enganos de Satanás. Aqueles que vivem assim tornam a religião circunstancial. É necessário firme princípio. Ninguém é cristão ativo a menos que tenha uma experiência diária nas coisas de Deus e pratique todos os dias a abnegação, tomando alegremente a cruz e seguindo a Cristo. Todo cristão ativo progredirá diariamente na vida religiosa. Ao prosseguir rumo à perfeição, ele experimenta cada dia uma conversão a Deus; e esta conversão não se completa enquanto ele não alcança a perfeição no caráter cristão, um completo preparo para o toque final da imortalidade. T2 505 2 Deus deve ser o mais elevado objeto de nossos pensamentos. Meditando nEle, e com Ele pleiteando, eleva-se a mente e avivam-se as afeições. A negligência da meditação e oração certamente resultará no declínio dos interesses religiosos. Então se verão o descuido e a indolência. Religião não é mera emoção ou sentimento. É um princípio entretecido em todos os deveres e transações da vida diária. Não se cultivará coisa alguma nem se empreenderá qualquer negócio que impeça o cumprimento deste princípio. Para preservar a religião pura e imaculada é necessário ser obreiros perseverantes no esforço. Temos de fazer algo, nós mesmos. Nenhum outro pode cumprir nossa tarefa. Nenhum outro, senão nós mesmos, pode desenvolver nossa salvação, com temor e tremor. Esta é própria obra de que o Senhor nos encarregou. T2 506 1 Alguns pastores que professam ter sido chamados por Deus têm o sangue das almas em suas vestes. Estão cercados de apóstatas e pecadores, contudo não sentem responsabilidade por essas pessoas. Manifestam indiferença pela sua salvação. Alguns se acham tão entorpecidos que não possuem qualquer senso do trabalho do ministério evangélico. Não consideram que, como médicos espirituais, é-lhes requerida perícia em ministrar aos corações enfermos pelo pecado. O trabalho de advertir pecadores, de chorar por eles e instar com eles, tem sido negligenciado até que muitas pessoas fiquem desenganadas. Algumas têm morrido em seus pecados e no Juízo confrontarão com acusações o delito daqueles que poderiam tê-las salvo, mas não o fizeram. Pastores infiéis, que retribuição os espera! T2 506 2 Os ministros de Cristo necessitam de nova unção, para que possam claramente discernir as coisas sagradas e ter claras concepções do santo e imaculado caráter que eles próprios devem formar para serem exemplos ao rebanho. Nada que possamos fazer por nós mesmos nos elevará ao alto padrão que Deus propôs a Seus embaixadores. Apenas a firme confiança em Deus e uma forte e ativa fé efetuarão o trabalho que Ele requer seja feito em nós. Deus convida homens ativos. É a constância em fazer o bem que formará o caráter para o Céu. Em sinceridade, fidelidade e amor, devemos apelar ao povo a fim de que se prepare para o dia de Deus. Alguns precisarão de fortes apelos para atender. Que o trabalho seja caracterizado pela mansidão e humildade, e contudo com tal zelo que os faça entender o que essas coisas são em realidade, e que a vida e a morte estão diante deles para escolha. A salvação do ser humano não é um assunto que possa ser passado por alto. A conduta de quem trabalha para Deus deve ser séria e caracterizada pela simplicidade e verdadeira polidez cristã, e no entanto, intensamente zeloso na obra que o Mestre lhe confiou. Decidida perseverança no seguir a justiça, disciplinando a mente por meio de exercícios religiosos visando ao amor à devoção e às coisas celestiais, trará maior felicidade. T2 507 1 Se pusermos em Deus a nossa confiança, teremos a capacidade de direcionar a mente para essas coisas. Através de exercício continuado ela se tornará forte para enfrentar os inimigos internos e subjugar o eu, até a completa transformação e o domínio perfeito das paixões e apetites. Então haverá piedade diária em casa e fora dela, e quando nos ocuparmos do trabalho pelos pecadores, um poder assistirá nossos esforços. O cristão humilde não terá períodos de devoção espasmódicos, instáveis, supersticiosos, mas calmos e tranqüilos, profundos, constantes e fervorosos. O amor de Deus e a prática da piedade serão agradáveis quando houver perfeita submissão a Deus. T2 507 2 A razão de os ministros de Cristo não serem mais bem-sucedidos no trabalho, é não se dedicarem totalmente a ele. O interesse de alguns está dividido; são homens de duplo ânimo. Os cuidados desta vida absorvem sua atenção e eles não compreendem quão sagrado é o trabalho do pastor. Podem queixar-se de escuridão, de grande incredulidade e de infidelidade. A razão disto é: eles não são justos diante de Deus; não entendem a importância de uma inteira consagração a Ele. Servem pouco a Deus e muito a si mesmos. Oram pouco. T2 508 1 A Majestade do Céu, enquanto empenhada em Seu ministério terrestre orava muito a Seu Pai. Freqüentemente, ficava de joelhos a noite toda em oração. Pesava-Lhe ao espírito ver a ação dos poderes das trevas no mundo. Então deixava a movimentada cidade e a barulhenta multidão, para buscar um lugar sossegado onde pudesse fazer Suas intercessões. O Monte das Oliveiras era o recanto favorito do Filho de Deus para Suas devoções. Muitas vezes depois que a multidão O deixava para o retiro da noite, Ele não descansava, embora estivesse exausto com os esforços do dia. No evangelho de João, lemos: "E cada um foi para sua casa. Porém Jesus foi para o Monte das Oliveiras." João 7:53; 8:1. Enquanto a cidade estava envolta em silêncio, e os discípulos haviam retornado a seus lares a fim de obter refrigério no sono, Jesus não dormia. Suas divinas súplicas subiam do Monte das Oliveiras a Seu Pai, para que os Seus discípulos pudessem ser guardados das más influências que diariamente os assediavam no mundo, e que Sua própria alma fosse fortalecida e reforçada para os deveres e provas do dia seguinte. Toda a noite, enquanto os Seus seguidores estavam dormindo, o seu divino Mestre estava orando. A geada e o orvalho da noite caíam sobre Sua cabeça curvada em oração. Seu exemplo foi deixado para os Seus seguidores. T2 508 2 A Majestade do Céu, enquanto ocupada em Sua missão, estava freqüentemente em fervorosa oração. Nem sempre Se dirigia ao Olivete, pois Seus discípulos conheciam-Lhe o retiro favorito e O seguiam. Ele escolhia o silêncio da noite, quando não haveria interrupção. Jesus curava os enfermos e ressuscitava os mortos. Ele próprio era uma fonte de bênção e força. Ordenava às tempestades, e elas obedeciam. Não se contaminava com a corrupção, era um estranho ao pecado, e contudo orava, e isto muitas vezes com forte clamor e lágrimas. Ele orava por Seus discípulos e por Si mesmo, assim Se identificando com nossas necessidades, com nossas fraquezas e falhas, tão comuns à humanidade. Era um poderoso solicitador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída, mas rodeado das mesmas enfermidades, tentado em todos os pontos como nós o somos. Jesus suportou sofrimentos que requeriam ajuda e sustento da parte de Seu Pai. T2 509 1 Cristo é nosso exemplo. São os ministros de Cristo tentados e esbofeteados por Satanás? Aquele que não conhecia pecado também o foi. Ele Se voltava para Seu Pai nessas horas de angústia. Ele veio à Terra para que pudesse prover-nos um caminho pelo qual achássemos graça e força para auxílio em tempo de necessidade, mediante o seguir o Seu exemplo em oração fervente e constante. Se os ministros de Cristo imitassem Seu exemplo, seriam possuídos por Seu espírito e os anjos os ajudariam. T2 509 2 Anjos ministraram a Jesus, todavia, sua presença não Lhe tornou a vida fácil e livre de severos conflitos e ardentes tentações. Ele foi tentado em todos os pontos, como nós o somos, todavia, sem pecado. Deveriam os pastores, enquanto envolvidos na obra que o Senhor lhes designou, ficar desanimados ao sofrerem provas, perplexidades e tentações, quando sabem que Alguém suportou tudo isso antes deles? Deveriam eles abandonar sua confiança porque não conseguem dar conta de tudo o que se espera deles? Cristo trabalhou diligentemente por Sua nação, mas Seus esforços foram desprezados por aqueles a quem viera salvar, e eles mataram Aquele que lhes viera trazer vida. T2 509 3 Há número suficiente de pastores, mas grande falta de obreiros. Trabalhadores, coobreiros de Deus, têm consciência da santidade da obra e dos severos conflitos que precisam travar para levá-la adiante com sucesso. Eles não ficarão desalentados e abatidos em vista do trabalho, embora muito árduo. Na epístola aos romanos, Paulo diz: "Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado." Romanos 5:1-5. NEle se acham todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Estamos sem desculpa se não nos beneficiarmos das amplas providências que nos foram feitas para que de nada tivéssemos necessidade. Fugir dos sofrimentos, queixar-se sob tribulação, torna os servos de Deus fracos e ineficientes no assumir responsabilidades e suportar fardos. T2 510 1 Todos os que permanecem decididamente na frente da batalha, hão de sentir a guerra especial de Satanás contra eles. Quando percebem seus ataques, fogem para Jesus, a Fortaleza. Sentem sua necessidade de especial força vinda de Deus e agem nessa força; por conseguinte, as vitórias que obtêm não são para sua exaltação própria, mas para levá-los a se apoiarem mais firmemente no Todo-poderoso. Profunda e fervente gratidão a Deus é-lhes despertada no coração, e regozijam-se na tribulação que sofrem sob a pressão do inimigo. Esses bem dispostos servos estão alcançando experiência e formando um caráter que honrará a causa de Deus. T2 510 2 O presente é um tempo de solene privilégio e sagradas responsabilidades para os servos de Deus. Se essas responsabilidades forem fielmente atendidas, trarão grande recompensa ao fiel servo quando o Mestre lhe disser: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. O empenho sério, o trabalho desinteressado, o paciente e perseverante esforço serão recompensados abundantemente; Jesus dirá: "Já não vos chamarei servos, ... mas amigos." João 15:15. A aprovação do Senhor é dada, não por causa da grandeza da obra efetuada, ou por terem sido alcançadas muitas coisas, mas por causa da fidelidade mesmo em poucas coisas. Não são os grandes resultados que obtemos, mas os motivos que nos levam à ação, o que pesa à vista de Deus. Ele preza a bondade e a fidelidade mais do que a grandeza da obra realizada. T2 511 1 Foi-me mostrado que muitos estão em grande perigo de falhar em aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. Pastores estão sob risco de perder a própria salvação. Alguns que têm pregado a outros serão eles mesmos rejeitados porque não aperfeiçoaram o caráter cristão. Não ganham almas em seu trabalho e fracassam também em salvar a si mesmos. Não vêem a importância do conhecimento e do controle de si mesmos. Não vigiam e oram para não entrarem em tentação. Se vigiassem, conheceriam os pontos onde são mais assaltados pela tentação. Mediante vigilância e oração podem resguardar os pontos mais fracos para que se tornem seus pontos mais fortes, e possam enfrentar a tentação sem serem vencidos por ela. Cada seguidor de Cristo deve examinar diariamente a si mesmo para que se torne perfeitamente familiarizado com a própria conduta. Quase todos negligenciam o exame de si mesmos. Essa negligência é altamente perigosa para aquele que professa ser um porta-voz de Deus, que ocupa a respeitável posição de receptor das palavras divinas para transmitir a Seu povo. Sua conduta diária tem grande influência sobre outros. Se, porventura, obtém algum sucesso no trabalho, leva seus conversos a seu baixo padrão, e raramente esses conseguem ir além disso. Os caminhos, palavras, gestos, maneiras, a fé e piedade de seus pastores são considerados amostra de todos os adventistas observadores do sábado; e se os membros imitam o exemplo daquele que lhes ensinou a verdade, pensam estar cumprindo todo o seu dever. T2 511 2 Na conduta de um pastor há muita margem para melhora. Muitos vêem e sentem suas deficiências, contudo parecem ignorar a influência que exercem. Estão conscientes de suas ações ao praticá-las, mas permitem que saiam de sua memória, e portanto não se reformam. Se os pastores tornassem os atos de cada dia um assunto de cuidadosa reflexão e deliberada recapitulação, com o objetivo de familiarizar-se com os próprios hábitos de vida, conheceriam melhor a si mesmos. Mediante um exame íntimo de sua vida diária sob todas as circunstâncias, eles conheceriam seus motivos, os princípios que os regem. Essa diária recapitulação de nossos atos, para ver se a consciência aprova ou condena, é necessária para todos os que anelam chegar à perfeição do caráter cristão. Muitos atos que passam por boas obras, mesmo atos de beneficência, se analisados rigorosamente, terão de ser considerados como induzidos por motivos errados. Muitos há que recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Esquadrinhador dos corações inspeciona os motivos, e muitas vezes os próprios atos que são vivamente aplaudidos pelos homens são por Ele registrados como provindo de motivos egoístas e vil hipocrisia. Cada ato de nossa vida, quer excelente e digno de louvor, quer merecedor de censura, é julgado pelo Esquadrinhador dos corações de acordo com os motivos que o induziram. T2 512 1 Mesmo alguns pastores que defendem a lei de Deus têm pouco conhecimento sobre si mesmos. Não meditam sobre seus motivos, não os examinam. Não vêem seus erros e pecados porque não examinam sincera e zelosamente sua vida, seus atos e seu caráter, separados e como um todo, comparando-os com a lei sagrada de Deus. Na realidade não compreendem os reclamos da lei divina e transgridem diariamente o espírito dos sagrados preceitos que professam reverenciar. "Pela lei", diz Paulo, "vem o conhecimento do pecado." Romanos 3:20. "Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." Romanos 7:7. Alguns que trabalham "na palavra e na doutrina" (1 Timóteo 5:17) não têm uma compreensão prática da lei de Deus e suas santas reivindicações, nem da expiação de Cristo. Esses necessitam converter-se antes que possam converter a outros. T2 512 2 O fiel espelho que revelaria os defeitos de caráter é desprezado; portanto, há deformidade e pecado que são evidentes aos outros, embora não percebidos por aqueles que estão em falta. O odioso pecado do egoísmo existe em grande escala, mesmo naqueles que professam ser dedicados à obra de Deus. Se esses comparassem seu caráter com Seus requisitos, especialmente com o grande padrão -- Sua lei santa, justa e boa -- descobririam que, embora sinceros e honestos pesquisadores, estão terrivelmente em falta. Mas alguns não estão dispostos a examinar ampla e profundamente para notar a depravação do próprio coração. Estão deficientes em muitíssimos aspectos, todavia permanecessem em voluntária ignorância de sua culpa, e tão concentrados nos próprios interesses que Deus não tem responsabilidade por eles. T2 513 1 Alguns não são devotos por natureza e, portanto, devem encorajar e cultivar o hábito de examinar intimamente a própria vida e motivos, acariciando especialmente o amor pelas práticas religiosas e a oração particular. Freqüentemente falam de dúvidas e descrença, e demoram-se nas grandes lutas que travam com sentimentos de infidelidade. Contemporizam com influências desencorajadoras que lhes afetam a fé, a esperança e o ânimo na verdade e no sucesso final do trabalho e da causa em que estão empenhados, fazendo parecer ser uma virtude especial o serem achados ao lado dos duvidosos. Às vezes parecem realmente encontrar prazer em balançar em sua posição de infidelidade e fortalecer a descrença em toda circunstância que podem utilizar como uma desculpa para suas trevas. A esses eu gostaria de dizer: Seria melhor se caíssem de uma vez e deixassem os muros de Sião, até se tornarem homens convertidos e bons cristãos. Antes de assumirem a responsabilidade de se tornarem pastores, Deus requer que se separem do amor a este mundo. A recompensa daqueles que continuam em sua duvidosa posição será aquela dada aos tímidos e incrédulos. T2 514 1 Mas, qual é a razão para essas dúvidas, essa escuridão e incredulidade? Eu respondo: Esses homens não são retos diante de Deus. Eles não estão lidando honesta e verazmente com o próprio coração. Têm negligenciado cultivar a piedade pessoal. Não se apartaram do egoísmo, do pecado e dos pecadores. Falharam em estudar a vida abnegada e de sacrifício próprio de nosso Senhor, e deixaram de imitar Seu exemplo de pureza, devoção e abnegação. O pecado que facilmente os assedia tem sido fortalecido pela condescendência. Pela própria negligência e pecado, separaram-se da companhia do divino Mestre, e Ele está a um dia de viagem à frente deles. Tomam por companheiros os indolentes, os inativos, os apóstatas, os descrentes, os irreverentes, os ingratos, os ímpios, e seus assistentes -- os anjos maus. Quem se surpreende de que estejam em trevas e tenham dúvidas doutrinárias? "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, conhecerá a respeito da doutrina." João 7:17. Ele saberá com certeza a respeito desse assunto. Essa promessa dissipará todas as dúvidas e questionamentos. É a separação de Cristo que produz dúvidas. Ele é seguido pelos sinceros, honestos, verdadeiros, fiéis, humildes, mansos e puros, a quem os santos anjos, vestidos com a armadura do Céu, estão iluminando, santificando, purificando e guardando, pois estão ligados ao Céu. T2 514 2 Não é preciso buscar maior evidência de que a pessoa se encontra distante de Jesus e negligenciando a oração particular, a piedade pessoal, do que o fato de que ela exprime dúvidas e descrença porque as circunstâncias não são favoráveis. Tais pessoas não têm a religião pura, verdadeira e imaculada de Cristo. Elas possuem um artigo falso que o processo refinador consumirá totalmente como refugo. Tão logo Deus os prove e teste sua fé, eles vacilam, enfraquecem-se e oscilam primeiro para um lado e depois para o outro. Não possuem o artigo genuíno que Paulo possuía, de poder gloriar-se na tribulação porque "a tribulação produz a paciência, e a paciência, experiência; e a experiência, esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração". Romanos 5:3-5. A religião dessas pessoas é circunstancial. Se todos ao seu redor estão fortes na fé e encorajados com relação ao triunfo final da mensagem do terceiro anjo, e se nenhuma influência especial se fizer presente contra eles, então aparentam possuir alguma fé. Mas tão logo a adversidade pareça surgir contra a causa e o trabalho se arraste pesadamente, e o auxílio de todos se torne necessário, esses pobres seres humanos, embora sejam professos ministros do evangelho, esperam que tudo resulte em nada. Atrapalham em vez de ajudar. T2 515 1 Se a apostasia se levanta e a rebelião se manifesta, você não os ouve dizer, em palavras de animação e disposição: Irmãos, não desfaleçam, tenham bom ânimo. "Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus." 2 Timóteo 2:19. Homens assim afetados pelas circunstâncias devem ficar em suas casas e empregar suas forças físicas e mentais num trabalho de menor responsabilidade, onde não estejam sujeitos a enfrentar forte oposição. Se tudo corre favoravelmente, podem eles passar por homens muito bons, homens consagrados. Mas esses não são os que o Mestre enviará a fazer Seu trabalho, pois serão enfrentados pelos emissários de Satanás. O próprio Satanás e seus exércitos de anjos maus se disporão contra eles. Deus fez provisão para que homens a quem Ele chamou façam o Seu trabalho e possam sair vitoriosos em cada confronto. Aqueles que seguem Suas orientações nunca conhecerão a derrota. T2 515 2 O Senhor, falando através de Paulo em Efésios 6:10-18, nos diz como nos fortalecermos contra Satanás e seus emissários: "No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos." T2 516 1 Estamos empenhados em uma obra elevada e sagrada. Aqueles que professam ter sido chamados para ensinar a verdade aos que se assentam na escuridão, não devem ser instrumentos de descrença e trevas. Devem viver perto de Deus, onde podem refletir toda a luz do Senhor. A razão por não terem ainda atingido essa condição é não obedecerem à Palavra de Deus, por esse motivo, dúvidas e desânimo são expressos quando palavras de fé e santa disposição devem ser ouvidas. T2 516 2 É de religião que os pastores necessitam; uma diária conversão a Deus, um interesse indivisível, altruísta em Sua causa. Deve haver humilhação de si mesmos e o lançar fora todo ciúme, más suspeitas, inveja, ódio, malícia e incredulidade. É requerida completa transformação. Alguns perderam de vista nosso Modelo, o sofredor Homem do Calvário. Em Seu serviço não devemos esperar facilidades, honra e grandeza nesta vida, pois Ele, a Majestade do Céu, não as teve. "Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos." "Mas Ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados." Isaías 53:3, 5. Com esse exemplo diante de nós, escolheremos esquivar-nos da cruz e ser influenciados pelas circunstâncias? Deve nosso zelo, nosso fervor, ser intenso apenas quando estivermos cercados por aqueles que estão despertos e são zelosos na obra e causa de Deus? T2 517 1 Será que não podemos permanecer em Deus, embora as circunstâncias sejam as mais desanimadoras e desagradáveis? "Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de Ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" Romanos 8:31-39. T2 517 2 Muitos pastores manifestam interesse dividido na obra de Deus. Têm eles investido tão pouco em Sua causa, e porque pouco empregaram na propagação da verdade, são facilmente tentados a seu respeito e dela se afastaram. Não estão firmes e fortalecidos. Aquele que conhece bem o próprio caráter, que está familiarizado com o pecado que tão de perto o rodeia, e as tentações que serão mais prováveis a vencê-lo, não deve se expor desnecessariamente para convidar a tentação, colocando-se no terreno do inimigo. Se o dever o chamar sob circunstâncias desfavoráveis, ele terá ajuda especial de Deus e será assim cingido para o conflito com o adversário. O conhecimento próprio livrará muitos de cair em tentações atrozes e os poupará de inglória derrota. A fim de familiarizar-nos conosco, é essencial que examinemos fielmente os motivos e princípios de nossa conduta, comparando nossas ações com o padrão revelado na Palavra de Deus. Os pastores devem cultivar e estimular a benevolência. T2 518 1 Foi-me mostrado que alguns que estão trabalhando em nosso escritório de publicações, no Instituto de Saúde e no ministério, têm trabalhado simplesmente pelo salário. Há exceções. Nem todos são culpados dessa falta, mas poucos parecem compreender que devem dar conta de sua mordomia. Recursos consagrados a Deus para o avanço de Sua causa têm sido dissipados. Famílias pobres, que experimentaram a influência santificadora da verdade, e que, portanto, a apreciam e por ela se sentem gratas a Deus, têm pensado poderem e deverem privar-se até mesmo das coisas necessárias à vida, para levarem suas ofertas ao tesouro do Senhor. Alguns se têm privado de peças do vestuário de que realmente precisavam para seu conforto. Outros venderam a única vaca que possuíam, dedicando a Deus os recursos assim obtidos. Na sinceridade de seu coração, com muitas lágrimas de gratidão por terem o privilégio de fazer isso pela causa de Deus, têm-se prostrado perante o Senhor com a oferta, e sobre ela invocado Suas bênçãos, ao enviá-la, orando para que seja o meio de levar o conhecimento da verdade às almas que estão em trevas. Nem sempre os recursos assim dedicados têm sido empregados conforme os abnegados doadores haviam determinado. Homens cobiçosos e egoístas, destituídos do espírito de abnegação e de sacrifício próprio, têm manuseado com infidelidade os recursos assim trazidos para a tesouraria, e têm roubado o tesouro de Deus, recebendo meios que não ganharam justamente. Sua administração não consagrada e negligente tem desperdiçado e dispersado recursos que haviam sido consagrados a Deus com orações e lágrimas. T2 518 2 Foi-me mostrado que o anjo relator faz um registro fiel de toda a oferta feita a Deus, e posta no tesouro, bem como dos resultados finais dos recursos assim doados. Os olhos do Senhor tomam conhecimento de toda moedinha consagrada a Sua causa, e da boa vontade ou relutância do doador. O motivo por que se dá também é registrado. As pessoas abnegadas e consagradas que devolvem a Deus o que Lhe pertence, como Ele requer, serão recompensadas segundo as suas obras. Ainda que os recursos assim consagrados sejam mal aplicados, de modo que não venham a preencher os fins que o ofertante tinha em vista -- a glória de Deus e a salvação de almas -- aqueles que fizeram o sacrifício em sinceridade de coração, com a única finalidade de glorificar a Deus, não perderão sua recompensa. T2 519 1 Daqueles que fizeram mau uso dos recursos dedicados a Deus, será exigido prestarem contas de sua mordomia. Há os que de forma egoísta lançavam mão de recursos, por causa de seu amor ao ganho. Outros não têm consciência sensível; esta foi cauterizada por um egoísmo longamente acariciado. Esses observam as coisas eternas de uma baixa perspectiva. Por causa de sua longa permanência em conduta errada, suas sensibilidades morais parecem paralisadas. Parece-lhes impossível erguer os olhos e sentimentos ao exaltado padrão claramente mostrado na Palavra de Deus. A menos que haja completa transformação pela renovação da mente, essa classe não encontrará lugar no Céu. Aqueles que têm seguido uma conduta egoísta e equivocada, não tendo como sagrado o tesouro celestial, não apreciariam a pureza e a santidade dos santos no reino dos Céus, ou o valor da esplêndida glória, a eterna recompensa reservada aos fiéis vencedores. Sua mente fluiu por tanto tempo num conduto baixo, egoísta, que eles não podem apreciar coisas eternas. Não dão valor à salvação. Parece impossível elevar-lhes a mente de modo a avaliarem devidamente o plano da salvação ou o valor da expiação. Interesses egoístas enlevaram-lhes o ser todo, prendendo, qual ímã, a mente e as afeições, atando-as a um baixo nível. Algumas dessas pessoas jamais alcançarão a perfeição do caráter cristão, pois que não vêem o valor e a necessidade de semelhante caráter. Seu espírito não pode ser elevado de modo a ficarem encantados com a santidade. O amor-próprio e interesses egoístas por tal forma se entreteceram no caráter que não podem ser levados a distinguir o sagrado e eterno, do comum. A causa de Deus e Seu tesouro não são mais sagrados para eles do que os negócios comuns ou os recursos dedicados a propósitos mundanos. T2 520 1 Os deveres nesse sentido são obrigatórios a todos os que professam ser seguidores de Cristo. A lei de Deus especifica o seu dever para com os semelhantes: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Tiago 2:8. Pela desconsideração para com a justiça, a misericórdia e a benevolência para com o semelhante, alguns têm endurecido tanto o coração que podem ir ainda mais além, e mesmo roubar a Deus sem qualquer escrúpulo. Poderiam esses fechar os olhos e o entendimento para o fato de que Deus conhece, que Ele sonda cada ação e motivo que os impele? O galardão está com Deus e a Sua obra Lhe é patente, para recompensar a cada um de acordo com suas obras. Todo o ato bom e todo ato mau, e sua influência sobre os outros, é examinado pelo Esquadrinhador dos corações, a quem é revelado todo segredo. E o galardão será de acordo com os intuitos que motivaram a ação. T2 520 2 Apesar das repetidas advertências e reprovações que o Senhor lhes tem enviado, aqueles que ocupam posições de responsabilidade têm seguido os próprios caminhos e sido guiados por seu juízo não santificado e, em conseqüência, a causa de Deus sofre e pessoas são desviadas da verdade. Todos os que são assim culpados enfrentarão um terrível registro no dia da retribuição final. Se forem salvos, não o será por esforço comum de sua parte; sua vida passada precisa ser analisada por eles e redimida. Caso essa ação seja empreendida com sinceridade e seguida com perseverança e incansável zelo, alcançará pleno êxito. Mas muitos não terão sucesso, porque o zelo com que iniciam a obra fenece na apatia e indiferença. Seus esforços são corretos de início, ao terem alguma consciência de sua condição; entretanto, buscam esquecer o passado e prosseguir sem remover as pedras de tropeço e realizar trabalho completo. Seu arrependimento não mostra genuína tristeza, de modo que Deus é desonrado e as pessoas por quem Cristo morreu ficam perdidas. Eles fazem esforços espasmódicos e mostram grande sentimentalismo; mas o fato de que esses esforços cessam, e os sentimentos logo se dissipam e são sucedidos por apática indiferença, revela que Deus não estava totalmente no esforço. Os sentimentos foram estimulados por um tempo, mas o trabalho não foi profundo o suficiente para mudar os princípios que governaram suas ações. Ficam então sujeitos a ser conduzidos pelo mesmo caminho errado onde estiveram a princípio; pois não têm forças para opor-se às artimanhas de Satanás, mas estão sujeitos a seus ardis. T2 521 1 A vida do verdadeiro cristão é sempre progressiva. Não há paradas ou recuos. É seu privilégio ter pelo "conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo, dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz". Colossences 1:9-12. T2 521 2 Rogo a todos, especialmente àqueles que pregam a Palavra e a doutrina, que façam incondicional entrega a Deus. Consagrem-Lhe a vida e sejam verdadeiros exemplos ao rebanho. Não se conformem em permanecer anões espirituais. Que seu alvo seja nada menos do que a perfeição do caráter cristão. Permitam que sua vida seja desprendida, irrepreensível e uma reprovação aos egoístas cujas afeições estão em tesouros terrestres. Deus conceda que sua vida seja fortalecida de acordo com as riquezas de Sua glória, "com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus". Efésios 3:16-19. ------------------------Capítulo 62 -- Ar e exercício T2 522 1 Ao criar o homem, pretendia o Senhor que ele fosse ativo e útil. Contudo, muitos vivem neste mundo como máquinas sem uso, como se mal existissem. Não iluminam eles o caminho de ninguém; não são uma bênção para ninguém. Vivem apenas para serem pesados aos outros. Até onde sua influência ao lado do direito se acha envolvida, são eles meras cifras; entretanto, falam com realce sobre o lado negativo. Examine-se-lhes a vida bem de perto, e dificilmente se pode encontrar um ato de benevolência desinteressada. Quando morrem, sua memória desaparece com eles. Seu nome logo perece; pois não podem viver, nem mesmo na lembrança de seus amigos, por meio da verdadeira bondade e de atos virtuosos. Para tais pessoas a vida foi uma farsa. Elas não foram fiéis administradoras. Esqueceram-se de que seu Criador possui reivindicações sobre elas, e de que espera que sejam ativas na prática do bem e em abençoar a outros por sua influência. Os interesses egoístas atraem a mente e conduzem ao esquecimento de Deus e do propósito de seu Criador. T2 522 2 Todos os que professam ser seguidores de Jesus sentirão que pesa sobre eles o dever de manter o corpo no melhor estado de saúde, para que a mente possa ser clara na compreensão das coisas celestiais. A mente precisa ser controlada, pois exerce ela uma poderosíssima influência sobre a saúde. A imaginação muitas vezes se extravia e, quando com ela se condescende, traz graves tipos de doenças sobre o aflito. Muitos morrem de enfermidades que são em sua maioria imaginárias. Estou familiarizada com várias pessoas que trazem sobre si verdadeiras enfermidades pela influência da imaginação. T2 523 1 Uma irmã era levada por seu marido da cadeira para a cama e de um aposento a outro, porque pensava estar muito fraca para andar. Mas como me foi depois apresentado, ela poderia haver andado tão bem quanto eu, se assim o quisesse. Caso ocorresse um acidente -- se sua casa pegasse fogo ou um de seus filhos estivesse em perigo iminente de perder a vida por uma queda -- aquela mulher teria se erguido pela força das circunstâncias e andado rápida e energicamente. Quanto às forças físicas, ela podia andar; mas a imaginação doentia levou-a à conclusão de que isso lhe era impossível, e ela não utilizou a força de vontade para resistir a tal engano. A imaginação dizia: Você não pode andar. É melhor não tentar. Fique sentada. Seus membros estão tão fracos que você não pode ficar em pé. Houvesse aquela irmã exercitado sua força de vontade, teria despertado suas energias dormentes e esse engano teria sido patenteado. Em decorrência de ceder à imaginação, ela provavelmente pense até hoje que quando estava tão indefesa era tão dependente; mas isso era puramente um capricho de sua imaginação, a qual algumas vezes apresenta ciladas estranhas aos fracos mortais. T2 523 2 Alguns têm tanto receio do ar, que cobrem a cabeça e o corpo de tal maneira que ficam parecendo múmias. Sentam-se dentro de casa, geralmente inativos, temendo fatigar-se e contrair doenças se fizerem exercício dentro de casa ou ao ar livre. Eles poderiam fazer exercícios habituais ao ar livre em todos os dias favoráveis, se tão-somente quisessem. A inatividade contínua é uma das maiores causas de debilidade do corpo e fraqueza da mente. Muitos que estão doentes poderiam estar com boa saúde, e dessa forma na posse de uma das mais ricas bênçãos que poderiam desfrutar. T2 524 1 Foi-me mostrado que muitos que se acham visivelmente fracos, e sempre a lamentar-se, não estão tão mal como imaginam. Alguns desses possuem uma poderosa vontade, a qual, uma vez exercitada na direção correta, será potente meio de controlar a imaginação e dessa forma resistir às doenças. Mas são muito freqüentes os casos em que a vontade é exercitada em direção errada, e se recusa obstinadamente render-se à razão. Isso terá decidido o assunto; eles são inválidos, e devem receber a atenção dispensada aos inválidos sem levar em conta o critério de outros. T2 524 2 Foram-me mostradas mães que são governadas por uma imaginação doentia, cuja influência é sentida pelo marido e filhos. As janelas devem ser conservadas fechadas, pois a mãe é sensível ao ar. Se está sentindo um pouco de frio e precisa mudar de roupa, pensa que seus filhos precisam ser tratados da mesma forma, e assim toda a família se priva de vigor físico. Todos são afetados por sua mente, física e mentalmente prejudicados pela imaginação doentia de uma mulher que se considera padrão de julgamento para toda a família. O corpo é agasalhado de acordo com os caprichos de uma imaginação enferma, e abafado sob um amontoado de agasalhos que debilitam o organismo. A pele não pode realizar seu trabalho; o hábito premeditado de impedir o ar e evitar o exercício, fecha os poros -- os pequenos orifícios através dos quais o corpo respira -- tornando-lhe impossível lançar fora as impurezas através desses condutos. A sobrecarga de trabalho é lançada sobre o fígado, os pulmões, os rins, etc., e esses órgãos internos são forçados a fazer o trabalho da pele. Dessa forma, as pessoas trazem doenças sobre si mesmas, por causa de seus maus hábitos; mesmo em face da luz e do conhecimento, preferem seguir os próprios caminhos. Raciocinam da seguinte forma: "Não temos testado o assunto? e não o entendemos por experiência?" Mas a experiência de uma pessoa, cuja imaginação é deficiente, não deve ter muito peso para ninguém. T2 525 1 A estação do ano que mais deve ser temida por quem vai para o meio dessas pessoas é o inverno. É, de fato, inverno, não somente do lado de fora, mas dentro, para aqueles que são forçados a viver na mesma casa e dormir no mesmo quarto. Essas vítimas de uma imaginação doentia trancam-se dentro de casa e fecham as janelas; pois o ar lhes ataca os pulmões e a cabeça. A imaginação é fértil; temem elas ficar resfriadas, e resfriadas ficarão. Nenhuma parcela de argumentação é capaz de convencê-las de que não entendem toda a filosofia do assunto. Não o provaram elas? questionarão. É verdade que provaram um lado da questão -- persistindo nos próprios caminhos -- e contudo apanham resfriado, caso se exponham o mínimo que seja. Frágeis como os bebês, não podem suportar coisa alguma; todavia continuam vivendo, e persistindo em fechar portas e janelas, e a aquecer-se junto à estufa, e apreciam sua miséria. Com certeza têm verificado que o seu procedimento não lhes tem feito bem, e sim aumentado as suas dificuldades. Por que não permitir que a razão influencie o raciocínio e controle a imaginação? Por que não seguir agora um caminho oposto e, de maneira criteriosa, conseguir exercício e ar puro, em vez de permanecer dentro de casa dia após dia, parecendo mais um saco de cereal do que um ser vivo? T2 525 2 A principal razão, se não a única, por que muitos se tornam doentes é que o sangue não circula livremente e não ocorrem no fluido vital as mudanças necessárias à vida e à saúde. Eles não têm exercitado o corpo nem alimentado os pulmões com o ar puro e fresco; por esse motivo, é impossível ao sangue ser vitalizado, e ele segue o seu curso vagarosamente através do organismo. Quanto mais exercício fizermos, tanto melhor será a circulação do sangue. Mais pessoas morrem por falta de exercício do que por excesso de cansaço; muitos mais se enferrujam do que se desgastam. Os que se acostumam a exercícios apropriados ao ar livre, geralmente têm uma circulação boa e vigorosa. Dependemos mais do ar que respiramos do que do alimento que ingerimos. Homens e mulheres, jovens e idosos que desejam saúde, e que apreciariam a vida ativa, devem lembrar-se de que não poderão obter isso sem uma boa circulação. Sejam quais forem as suas ocupações e tendências, devem eles preparar a mente para exercício ao ar livre, tanto quanto possível. Devem considerar um sagrado dever superar as condições de saúde que os têm mantido confinados dentro de casa, privados do exercício ao ar livre. T2 526 1 Alguns doentes se tornam obstinados a esse respeito e recusam ser convencidos da grande importância do exercício diário ao ar livre, por meio do qual podem obter um suprimento de ar puro. Por temerem apanhar resfriado persistem eles, ano após ano, em seguir o próprio caminho e viver em uma atmosfera quase destituída de vitalidade. É impossível a esta classe ter boa circulação. Seu organismo inteiro sofre por necessidade de exercício e ar puro. A pele torna-se debilitada e mais sensível a qualquer mudança na atmosfera. Usam-se agasalhos adicionais, e a temperatura do quarto é aumentada. No dia seguinte exigem eles um pouco mais de calor e um pouco mais de agasalho, a fim de sentir-se perfeitamente aquecidos; e assim condescendem com cada desejo de mudança até não possuírem senão pouca resistência para enfrentar qualquer resfriado. Alguns podem perguntar: "Que devemos fazer? Querem que permaneçamos resfriados?" Se usarem mais agasalhos, que estes não sejam muitos, e façam exercício, se possível, para conseguirem o calor de que necessitam. Se realmente não podem empenhar-se em exercício ativo, aqueçam-se junto ao fogo; mas assim que estiverem aquecidos, ponham de lado o agasalho extra e retirem-se de perto do fogo. Se aqueles que podem, se empenhassem em alguma atividade para desviarem a mente de si mesmos, eles se esqueceriam de que estavam com frio, e não sofreriam dano. Vocês devem diminuir mais a temperatura de seus quartos assim que tiverem conseguido o calor natural. Para os doentes que estão com os pulmões fracos, nada pode ser pior do que uma atmosfera superaquecida. T2 527 1 Os doentes freqüentemente se abstêm da luz solar. Esta é um dos mais eficazes agentes curadores da natureza. Desfrutar os raios da luz solar de Deus e embelezar nossas casas com sua presença não faz parte da moda -- é um remédio muito simples. A moda tem extremo cuidado em excluir a luz do sol da sala de visita e dos dormitórios usando cortinas e venezianas, como se esses raios fossem danosos à vida e à saúde. Não foi Deus quem trouxe sobre nós muitas aflições que atingem os mortais. Nossa própria insensatez nos tem desprovido de coisas preciosas, das bênçãos que Deus proveu, as quais, se usadas adequadamente, são de inestimável valor para a recuperação da saúde. Se querem que suas casas sejam agradáveis e convidativas, tornem-nas resplendentes com ar e luz solar. Removam suas espessas cortinas, abram as janelas, suspendam as persianas e fruam a rica luz do Sol, ainda que seja à custa das cores de seus tapetes. A preciosa luz solar poderá fazer descorar os seus tapetes; ela, porém, dará uma cor saudável às faces de seus filhos. Se tiverem a presença de Deus, e possuírem coração cheio de zelo e amor, uma casa humilde, na qual haja ar e brilhe a luz do Sol, e animada por altruísta hospitalidade, será para sua família e para o cansado viajante um céu na Terra. T2 527 2 Muitos foram ensinados desde a infância a crer que o ar noturno é positivamente prejudicial à saúde, e, por conseguinte, deve ser excluído de seus quartos. Para prejuízo próprio fecham eles as janelas e portas de seus dormitórios, a fim de proteger-se do ar noturno, o qual, dizem, é muito perigoso para a saúde. Nisto estão enganados. No frescor do anoitecer talvez seja necessário proteger-se do frio com agasalhos extras, mas devem proporcionar ar aos seus pulmões. T2 527 3 Numa tarde de outono estávamos viajando num trem lotado, onde o ambiente estava poluído pela respiração de seus ocupantes. Essas exalações dos pulmões e dos corpos causavam-me a mais mórbida sensação. Ergui minha janela e estava gozando o ar fresco, quando uma senhora pediu em tons apelativos: "Feche a janela! Você pode apanhar um resfriado e ficar doente, pois o ar noturno não é saudável." Repliquei-lhe: "Senhora, não temos nenhum outro ar, nesse carro ou fora dele, senão o ar da noite. Se a senhora o recusa, então deve parar de respirar. Deus providenciou para Suas criaturas ar para ser respirado durante o dia e, um pouco mais frio, durante a noite. Não lhe é possível, durante a noite, respirar senão o ar noturno. A questão é: Será puro o ar que respiramos ou é ele melhorado após ter sido respirado repetidas vezes? Será melhor para nossa saúde respirar o poluído ar deste carro? As exalações dos pulmões e dos corpos dos homens saturados de fumo e álcool, poluem o ar e põem em perigo a saúde, e quase todos os passageiros se assentam indiferentes como se estivessem inalando a mais pura atmosfera. Deus sabiamente providenciou para que de dia respirássemos o ar diurno, e de noite, o ar noturno. Nossos errôneos hábitos são os responsáveis quando falhamos em atender ao plano de Deus, e o sangue se torna impuro. Mas o ar da noite, absorvido à noite, não é em si mesmo prejudicial à corrente vital." Muitos estão sofrendo enfermidades por recusarem receber em seus quartos o puro ar noturno. O ar livre e puro do céu é uma das mais ricas bênçãos das quais podemos desfrutar. T2 528 1 Outra bênção preciosa é o exercício apropriado. Há muitos indolentes e inativos que são avessos a trabalho físico ou exercício, porque este os fatiga. Que mal há em que se fatiguem? A razão de se cansarem é que não revigoram seus músculos pelo exercício, e por isso se ressentem ao mínimo esforço. Mulheres e moças enfermas sentem-se mais satisfeitas por ocuparem-se com trabalhos leves, como fazer crochê, bordar ou fazer renda, do que empenhar-se em atividade física. Se os doentes desejam recobrar a saúde, não devem deixar de fazer exercício físico; pois do contrário aumentarão a fraqueza muscular e a debilidade geral. Atem um braço e o deixem permanecer sem uso, mesmo que seja por poucas semanas; depois o soltem de suas ligaduras, e notarão que se acha mais fraco do que o que mantiveram em uso moderado durante o mesmo período. A inatividade produz o mesmo efeito sobre todo o sistema muscular. O sangue não é tão capaz de expelir as impurezas como seria se a circulação ativa fosse produzida pelo exercício. T2 529 1 Quando a temperatura permitir, todos os que puderem devem andar ao ar livre cada dia, tanto no verão como no inverno. Mas a roupa deve ser apropriada para o exercício, e os pés devem estar bem protegidos. Uma caminhada, ainda que seja no inverno, será mais benéfica à saúde do que todos os remédios que os médicos possam prescrever. Para os que podem fazê-lo, o andar a pé é preferível a andar de condução. Os músculos e veias tornam-se mais capacitados a desempenhar seu trabalho. Haverá aumento de vitalidade, tão necessária à saúde. Os pulmões realizarão a atividade indispensável; pois é impossível sair ao ar revigorante de uma manhã de inverno sem encher os pulmões. T2 529 2 As riquezas e a ociosidade são tidas por alguns como bênçãos genuínas. Mas quando algumas pessoas adquirem fortuna, ou a herdam inesperadamente, seus hábitos ativos são interrompidos, seu tempo não é utilizado, vivem ociosamente e sua utilidade parece chegar ao fim; tornam-se inquietas, ansiosas e infelizes, e sua vida logo se encerra. Aqueles que estão sempre ocupados e vão alegremente ao desempenho de suas tarefas diárias, são os mais felizes e vigorosos. O repouso e a tranqüilidade da noite traz ao seu corpo cansado repouso ininterrupto. Quando o Senhor deu trabalho para os seres humanos fazerem, Ele sabia que era para a sua felicidade. A sentença de que deviam trabalhar pelo seu pão, e a promessa de felicidade e glória futuras, vieram do mesmo trono. Ambas são bênçãos. Mulheres [amantes] da moda não se prestam aos bons propósitos da vida. Elas possuem pouca força de caráter, pouca vontade moral e energia física. Seu mais elevado objetivo é ser admirada. Morrem prematuramente e sua falta não é sentida, pois não abençoaram ninguém. T2 530 1 O exercício auxiliará o trabalho da digestão. Andar ao ar livre após a refeição, conservando a cabeça erguida, pondo os ombros para trás e exercitando-se moderadamente, será de grande benefício. A mente se desprenderá de si mesmo para as belezas da natureza. Quanto menos a atenção é atraída para o estômago após a refeição, tanto melhor. Se estiverem em constante temor de que o seu alimento os prejudique, certamente o fará. Esqueçam-se de vocês mesmos, e pensem em alguma coisa alegre. T2 530 2 Muitos incorrem na idéia errônea de que, se apanharam resfriado, devem evitar cuidadosamente o ar exterior e aumentar a temperatura de seu quarto até que esteja excessivamente quente. O organismo poderá ser abalado, os poros poderão fechar-se pelas substâncias residuais, e os órgãos internos contraírem inflamações em menor ou maior grau, porque o sangue se resfriou na superfície e foi lançado sobre esses órgãos. Nessa ocasião, mais do que em qualquer outra, os pulmões não devem ser desprovidos de ar puro e fresco. Se ar puro alguma vez é necessário, o é quando alguma parte do organismo, como os pulmões ou o estômago, está doente. Exercício criterioso levará o sangue para a superfície, e aliviará assim os órgãos internos. Exercício vigoroso, embora não violento, ao ar livre, com espírito alegre, estimulará a circulação, dando à pele um rubor salutar, e enviando o sangue, vitalizado pelo ar puro, às extremidades. O estômago doente encontrará alívio por meio do exercício. Os médicos freqüentemente aconselham os enfermos a visitarem países estrangeiros, a irem a estâncias hidrominerais ou viajarem pelo oceano, a fim de reaver a saúde; quando em nove, de cada dez casos, recobrariam a saúde e poupariam tempo e dinheiro, se eles se alimentassem com temperança e se empenhassem em exercícios saudáveis com espírito alegre. Exercício, e livre e abundante uso do ar e luz solar -- bênçãos que o Céu gratuitamente tem dado a todos nós -- darão vida e força ao enfermo debilitado. T2 531 1 Um grande número de mulheres sente-se satisfeita em inclinar-se sobre o fogão, respirando o ar poluído durante metade ou três quartos do seu tempo, até que o cérebro fique congestionado e semi-entorpecido. Elas devem sair ao ar livre e exercitar-se cada dia, embora alguns deveres domésticos tenham que ficar de lado. Precisam de ar fresco para tranqüilizar seu cérebro afetado. Não necessitam ir até a casa dos vizinhos para bisbilhotar, mas deve ser seu propósito fazer o bem, trabalhando a fim de beneficiar a outros. Então, seriam exemplo ao semelhante e receberiam elas próprias reais benefícios. T2 531 2 Perfeita saúde depende de perfeita circulação. Especial atenção deve ser dada às extremidades, para que estejam inteiramente vestidas como o peito e a região sobre o coração, onde maior é a quantidade de calor. Os pais que vestem as crianças com os membros desnudos ou quase assim, sacrificam a saúde e a vida dos filhos à moda. Se tais partes não estiverem tão aquecidas como o corpo, a circulação não é equilibrada. Quando as extremidades, que ficam distantes dos órgãos vitais, não são devidamente agasalhadas, o sangue é levado para a cabeça, causando dor de cabeça ou hemorragia nasal; ou há uma sensação de opressão no peito, produzindo tosse ou palpitação do coração, por haver sangue demais nessas localidades; ou o estômago ter sangue em demasia, causando indigestão. T2 531 3 A fim de seguir as modas, as mães vestem os filhos com os membros quase desnudos; e o sangue é resfriado ao voltar de seu curso natural e ser lançado nos órgãos internos, interrompendo a circulação e produzindo enfermidade. Os membros não foram formados por nosso Criador para suportar tanta exposição como o rosto. O Senhor proveu a face de uma imensa circulação, pois ela deve ficar exposta. Ele proveu, também, grandes veias e nervos para os membros e os pés, para conter grande quantidade do fluxo sangüíneo, a fim de que os membros pudessem estar tão uniformemente aquecidos como o corpo. Devem estar tão completamente agasalhados que conduzam o sangue para as extremidades. Satanás inventou as modas que deixam os membros expostos, resfriando o fluxo sangüíneo ao voltar de seu curso original. E os pais se curvam ante o altar da moda, de tal maneira vestindo os filhos que os nervos e veias ficam contraídos e não desempenham o propósito que Deus para eles determinou. O resultado é, habitualmente, pés e mãos frios. Os pais que seguem a moda em vez de à razão, terão contas a prestar a Deus, por assim roubarem a saúde dos filhos. Mesmo a própria vida, freqüentemente é sacrificada ao deus da moda. T2 532 1 Crianças vestidas de acordo com a moda não podem suportar a exposição ao ar livre, a menos que o clima esteja ameno. Por esse motivo, pais e filhos permanecem em aposentos mal ventilados, temendo o ar exterior; e com razão, considerando seu estilo de vestir-se na moda. Caso se vestissem prudentemente e tivessem coragem moral de assumir sua posição ao lado do direito, não poriam em risco a saúde ao saírem no verão e no inverno, exercitando-se largamente ao ar livre. Se deixados imperturbados a seguir o próprio caminho, muitos logo sacrificarão a própria vida e a de seus filhos. E aqueles que são compelidos a cuidar deles, sofrem. A pessoa enferma que é controlada pela imaginação deve ser temida. Todos os que convivem com ela ficam debilitados. O marido perde suas energias nervosas e fica doente porque o cuidado da esposa não lhe permite, na maior parte do tempo, fruir o ar vital do céu. No entanto, os pobres filhos que pensam que a mãe sabe o que é melhor, são os maiores sofredores. A conduta errada da mãe trouxe-lhe a enfermidade e, se faz frio, ela se envolve com mais agasalhos e toma a mesma providência com relação aos filhos, julgando que eles também estejam com frio. As portas e janelas são fechadas e a temperatura do aposento elevada. Os filhos normalmente são franzinos, doentios e não possuem alto grau de valor moral. Marido e filhos são assim "abrigados" do inverno, escravos das opiniões de uma mulher controlada pela própria imaginação, e às vezes obstinada. Diariamente os membros da família são mártires. Eles estão sacrificando a saúde aos caprichos de uma mulher imaginativa, lamentadora e resmungona. São privados, em grande medida, do ar que os revigoraria e lhes daria energia e vitalidade. T2 533 1 Aqueles que deixam de fazer uso de seus membros cada dia, perceberão um enfraquecimento ao procurarem exercitar-se. As veias e músculos não estarão em condições de desempenhar o seu trabalho e conservar todo o organismo em atividade sadia, cada órgão do corpo fazendo sua parte. Os membros serão fortalecidos pelo uso. O exercício moderado cada dia comunicará energia aos músculos, os quais sem exercício se tornam flácidos e debilitados. Por meio de exercício ativo ao ar livre, todos os dias, o fígado, os rins e os pulmões também serão fortalecidos para desempenharem sua obra. Tragam em seu auxílio o poder da vontade, o que resistirá o resfriado e comunicará energia ao sistema nervoso. Em pouco tempo notarão de tal maneira os resultados benéficos do exercício e do ar puro que não mais desejarão viver sem essas bênçãos. Seus pulmões, privados de ar, seriam semelhantes a uma pessoa faminta com falta de alimento. Na verdade, podemos viver mais tempo sem alimento do que sem ar -- o alimento provido por Deus para os pulmões. Por conseguinte, não o considerem como um inimigo, mas como uma preciosa bênção divina. T2 533 2 Quando os enfermos permitem que sua imaginação doentia seja alimentada, não apenas dispersam suas energias como também a vitalidade daqueles que os têm sob cuidado. Aconselho às irmãs doentes, acostumadas ao uso de demasiadas vestes, que pouco a pouco se livrem do excesso. Algumas de vocês vivem simplesmente para comer e respirar, falhando em atender ao propósito para o qual foram criadas. Vocês devem ter um elevado objetivo na vida e buscar ser mais úteis e eficientes na própria família e na sociedade. Não devem exigir que a atenção seja centralizada em vocês, nem tentar atrair a simpatia dos outros. Façam sua parte em dar amor e manifestar simpatia aos desfavorecidos, lembrando-se de que eles têm aflições e provas peculiares. Procurem, por palavras de simpatia e amor, aliviar suas cargas. Abençoando a outros, vocês trarão bênçãos sobre si mesmas. T2 534 1 Os que, na medida do possível, se empenham na obra de fazer o bem aos outros, dando demonstração prática de seu interesse por eles, não só estão aliviando os sofrimentos da vida humana ao ajudá-los a levar as suas cargas, mas ao mesmo tempo estão contribuindo grandemente para a própria saúde física e espiritual. Fazer o bem é uma obra que beneficia tanto ao doador como ao que recebe. Se vocês esquecem o próprio eu no interesse pelos outros, obtêm vitória sobre suas enfermidades. A satisfação que sentirão ao fazer o bem, ajudá-los-á grandemente na recuperação do estado saudável da imaginação. A alegria de fazer o bem estimula a mente e vibra através de todo o corpo. Enquanto o rosto dos homens benevolentes é iluminado pela alegria, e seu semblante exprime a elevação moral da mente, o dos egoístas e mesquinhos é deprimido, abatido e sombrio. Seus defeitos morais se manifestam no semblante. O egoísmo e o amor de si mesmos estampam a própria imagem no exterior do ser humano. A pessoa que é movida por uma benevolência verdadeiramente desinteressada é participante "da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo" (2 Pedro 1:4); ao passo que os egoístas e avarentos têm nutrido seu egoísmo a ponto de secarem-se-lhes as simpatias sociais, e seu semblante reflete a imagem do inimigo caído em vez da pureza e santidade. T2 534 2 Enfermas, advirto-as a que se atrevam a alguma coisa. Despertem sua força de vontade, e façam pelo menos uma experiência. Desviem de si mesmas seus pensamentos e afeições. Andem pela fé. Estão inclinadas a centralizar seus pensamentos em si mesmas, temendo exercitar-se, e receando que se vocês se expuserem ao ar perderão a vida? Resistam a esses pensamentos e sentimentos. Não se submetam a sua imaginação doentia. Se fracassam na experiência, podem até perecer. E se morrerem? Uma vida perdida é melhor do que muitas vidas sacrificadas. Os caprichos e opiniões que nutrem não só lhes estão destruindo a própria vida, mas prejudicando aqueles cuja existência é mais útil do que a de vocês. A orientação que lhes damos não as privará da vida nem prejudicará; resultará em benefícios. Vocês não precisam ser precipitadas ou descuidadas; comecem moderadamente a fruir ar puro e a fazer exercícios, e continuem sua reforma até se tornarem úteis, uma bênção à família e a todos os que as cercam. Que se convençam que exercício, luz solar e ar são bênçãos que o Céu proveu para curar o enfermo e manter a saúde dos que não estão doentes. Deus não as privou dessas gratuitas bênçãos do Céu, porém, vocês puniram a si mesmas fechando-lhes as portas. Usados adequadamente, esses simples mas poderosos agentes ajudarão a natureza a superar as reais dificuldades, se tais existirem, e propiciarão estado saudável à mente e vigor ao corpo. T2 535 1 Nesta época do mundo, quando o vício e a moda controlam homens e mulheres, os cristãos devem possuir caráter virtuoso e grande dose de bom senso. Se assim for, os semblantes que agora estão sombrios, manifestando marcas de doença e corrupção, seriam esperançosos e felizes, iluminados pela verdadeira bondade e uma consciência limpa. T2 535 2 O sistema do "nada-fazer" é a maior maldição que sobreveio à humanidade. As crianças desfavorecidas, criadas e educadas por mães que não possuem verdadeiro valor moral, mas têm imaginação doentia e sofrem de doenças imaginárias, precisam de simpatia, instrução paciente e terno cuidado de todos os que puderem ajudá-las. Suas necessidades não são atendidas e sua educação é tal que as desqualifica como membros úteis da sociedade durante a vida, e as leva prematuramente à sepultura. Se a vida delas for prolongada, elas nunca se esquecerão das lições ensinadas pela mãe. Por palavras e ações, os erros da vida da mãe lhes causaram impressão e, em muitos casos, as crianças seguirão suas pegadas. O manto materno cai como escura mortalha sobre os pobres filhos. A conduta incoerente imprimiu o cunho de seu caráter na vida dos filhos e eles não podem prontamente superar a educação de sua infância. T2 536 1 O laço terrestre mais terno é o que existe entre mãe e filho. A criança é mais facilmente impressionada pela vida e exemplo da mãe do que do pai, por ser mais forte e mais terno o vínculo que os une. As mães têm pesada responsabilidade. Eu me sentiria feliz se pudesse impressioná-las com a obra que elas podem fazer em moldar a mente dos filhos. T2 536 2 Se os próprios pais obtivessem conhecimento e reconhecessem a importância de pô-lo em prática na educação de seus queridos filhos, veríamos entre jovens e crianças uma situação diferente. As crianças precisam ser instruídas com relação ao próprio corpo. Poucos jovens há que têm qualquer conhecimento definido dos mistérios da vida humana. Quase nada sabem acerca do organismo. Disse Davi: "Eu Te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado." Salmos 139:14. Ensinem seus filhos a raciocinar da causa para o efeito; mostrem-lhes que se violarem as leis de seu ser, como conseqüência sofrerão doenças. Se com seus esforços não puderem ver melhora especial, não desanimem; instruam pacientemente "mandamento sobre mandamento... regra sobre regra... um pouco aqui, um pouco ali." Isaías 28:10. Se deste modo forem bem-sucedidos em esquecer de si mesmos, terão dado um passo na direção certa. Prossigam até alcançar a vitória. Continuem a ensinar seus filhos quanto ao próprio corpo, e como dele cuidar. A imprudência em relação à saúde física, leva à imprudência no caráter moral. T2 537 1 Não negligenciem ensinar os filhos a cozinhar. Assim fazendo, vocês comunicam-lhes princípios que precisam possuir em sua educação religiosa. Ao darem a seus filhos lições de fisiologia, e ensinar-lhes a cozinhar com simplicidade e todavia com habilidade, estão pondo o fundamento para os mais úteis ramos de educação. Fazer pão leve e bom requer habilidade. Há religião em cozinhar bem, e ponho em dúvida a religião dos que são demasiado ignorantes e descuidosos para aprender a cozinhar. T2 537 2 Vemos peles pálidas e dispépticos queixosos onde quer que vamos. Quando nos sentamos à mesa e comemos a comida preparada da mesma maneira como tem sido feita durante meses, talvez anos, admiro-me de que essas pessoas estejam vivas. O pão e as bolachas estão amarelos de bicarbonato. Esse recurso do bicarbonato destina-se a poupar um pouco de cuidado; em virtude de esquecimento, o pão é deixado azedar muitas vezes antes de assar, e para remediar o mal, acrescenta-se uma grande porção de bicarbonato, o que apenas o torna totalmente impróprio para o estômago humano. O bicarbonato não deve ser de forma alguma introduzido no estômago, pois seu efeito é terrível. Ele corrói as mucosas do estômago, ocasiona inflamação, e envenena com freqüência todo o organismo. Algumas pessoas alegam: "Não posso fazer broinhas ou bom pão a não ser que empregue bicarbonato ou fermento em pó." Certamente poderão, se elas se tornarem alunas e estiverem dispostas a aprender. Não é a saúde de sua família de suficiente valor para inspirar-lhes a ambição de aprender a cozinhar e a comer? T2 537 3 O que comemos não pode ser convertido em sangue saudável, a menos que seja de boa qualidade, simples e nutritivo. O estômago jamais poderá transformar pão azedo em saudável. Alimento mal preparado não nutre e não pode produzir bom sangue. As coisas que irritam e desarranjam o estômago terão influência neutralizadora sobre os melhores sentimentos do coração. Muitos que adotam a reforma de saúde se queixam de que ela não se adapta a eles. Mas, após sentar-se à sua mesa, cheguei à conclusão de que não é a reforma de saúde que é falha, mas o alimento mal preparado. Os reformadores de saúde, mais que todos os outros, devem ser cuidadosos para evitar extremos. O corpo precisa de nutrição suficiente. Não podemos subsistir de ar simplesmente; tampouco podemos conservar a saúde a menos que tenhamos alimento nutritivo. Deve o alimento ser bem preparado, de forma que seja saboroso. As mães devem ser fisiologistas práticas, para que possam ensinar os filhos a conhecerem a si mesmos e a possuir coragem moral para cumprir princípios corretos, desprezando aquilo que destrói a saúde e a vida. Violar desnecessariamente as leis do nosso corpo é transgressão da lei de Deus. T2 538 1 A cozinha deficiente vai lentamente enfraquecendo as energias vitais de milhares. É perigoso para a saúde e a vida comer em certas mesas o pão pesado, azedo, e outros alimentos preparados de maneira idêntica. Mães, em vez de dar às suas filhas educação musical, instruam-nas nesses ramos úteis que têm a mais íntima relação com a saúde e a vida. Ensinem-lhes todos os mistérios da cozinha. Mostrem-lhes que isto é parte de sua educação, e essencial para se tornarem cristãs. A menos que o alimento seja preparado de maneira saudável, saborosa, não pode transformar-se em bom sangue para reconstruir os tecidos desgastados. Suas filhas podem amar a música, e isto pode estar muito bem e aumentar a felicidade da família; mas o conhecimento da música sem o da arte de cozinhar não tem muito valor. Quando suas filhas tiverem a própria família, certo conhecimento de música e de trabalhos de agulha não serão garantia para uma refeição bem preparada, feita com esmero, de modo que não se envergonhem de apresentá-la a seus mais estimados amigos. Mães, sagrada é a sua obra. Que Deus as ajude a empreendê-la tendo em vista Sua glória, trabalhando zelosa, paciente e amorosamente para o presente e o futuro bem de seus filhos, visando unicamente a glória de Deus. ------------------------Capítulo 63 -- Censura ao egoísmo T2 539 1 Prezado irmão A: T2 539 2 Desde a campal de Illinois, seu caso exerceu forte impressão sobre minha mente. Quando me recordo de algumas coisas que me foram mostradas com respeito aos pastores, especialmente você, fico extremamente angustiada. Nesse encontro falei especificamente sobre as qualificações do ministro do evangelho. Quando apresentei perante o povo as qualidades de um pastor que proclama a solene mensagem para estes últimos dias, muito do que eu disse se aplicava a você. Esperei ouvir algum reconhecimento de sua parte. Antes de minha palestra, sua esposa falou com a irmã Hall com respeito ao desânimo do irmão. Ela disse que você não sabia que era seu dever pregar. O irmão estava inseguro com respeito a seu dever e ficou desanimado, por isso não fez o trabalho que deveria fazer caso se sentisse seguro. A irmã Hall sugeriu que, se eu tivesse uma palavra de encorajamento para você, sua esposa ficaria muito feliz. Eu disse à irmã Hall que nada tinha a falar, e que se você se sentia inseguro, seria melhor esperar até descobrir o dever por si mesmo. Falei então das qualificações de um ministro de Cristo; e, se eu tivesse cumprido integralmente meu dever, deveria ter-lhe falado do púlpito especificamente a você. A presença de descrentes foi a única razão que me impediu de fazê-lo. T2 539 3 Em Minnesota, novamente fiquei preocupada com a conduta de nossos pastores, ao ver o irmão B e conversar com ele a respeito dos defeitos que interferiam em seu trabalho pela salvação de almas. Sua conduta no cuidado pelas coisas desta vida pôs novamente seu caso tão distintamente perante mim que, se eu estivesse tão bem quanto normalmente estou, teria escrito a você antes de deixar a campal. Não tivemos um período de descanso, mas fomos diretamente a Wisconsin. Eu estava doente, mas Deus fortaleceu-me para cumprir meu dever perante o povo. Ao me levantar diante do público, vi rostos dos quais não me lembrava ter visto antes. De novo seu caso, relacionado com outros, me foi apresentado distintamente. Aquele era o lugar onde sua influência havia sido uma maldição destruidora em vez de bênção. Era também o lugar onde grande bem poderia ter sido realizado, mesmo por você. Houvesse se consagrado a Deus e trabalhado ousadamente pela salvação daqueles por quem Cristo morreu, seus trabalhos teriam sido um completo sucesso. Você compreendia os argumentos de nossa posição. As razões de nossa fé apresentadas perante aqueles que não foram iluminados a esse respeito, causam decidida impressão quando as mentes não são preconceituosas de modo a recusar as evidências expostas. Vi o melhor material humano para ser transformado em excelentes cristãos guardadores do sábado nos arredores de _____ e _____; mas, enquanto alguns estavam encantados com a beleza do conjunto de verdades e prestes a decidir por elas, você abandonou o campo sem terminar o trabalho do qual se havia incumbido. Isso foi pior do que se nunca o houvesse iniciado. Aquele interesse jamais poderá ser despertado novamente. T2 540 1 Por anos tem sido comunicada luz sobre esse ponto, mostrando a necessidade de atender ao interesse despertado, sem deixar absolutamente o mesmo até que todos os que se inclinam para a verdade tenham tomado sua decisão, experimentado a conversão necessária para o batismo, e se unido a alguma congregação, ou iniciado uma. Nenhuma circunstância é tão importante para chamar-se um pastor que esteja atendendo a um interesse suscitado pela apresentação da verdade. Mesmo doença e morte são de menor importância do que a salvação de almas por quem Cristo fez tão imenso sacrifício. Os que sentem a importância da verdade, e o valor de almas por quem Cristo morreu, não abandonarão por motivo algum um interesse despertado entre o povo. Dirão: Deixem "aos mortos sepultar os seus mortos". Mateus 8:22. Interesses domésticos, terras, casas, não devem ter o mínimo poder de desviar do campo de trabalho. Caso os pastores permitam que essas coisas temporais os distraiam da obra, a única conduta a seguir é deixar tudo, não possuir terras ou interesses temporais que exerçam influência em atraí-los da obra solene destes últimos dias. Uma alma é de mais valor do que o mundo inteiro. Como podem homens que professam haver-se consagrado à santa obra de salvar almas, deixar que suas pequenas posses temporais lhes absorvam a mente e o coração, e os impeçam de atender à elevada vocação que professam haver recebido de Deus? T2 541 1 Vi, irmão A, que sua influência nos arredores de _____ e _____ causou grande dano à causa de Deus. Eu sabia o que essa influência significava desde que você esteve em Battle Creek pela última vez. Enquanto escrevia assuntos importantes para os pastores, seu caso me foi apresentado, e eu pretendia ter-lhe escrito antes, mas foi impossível. Por três noites eu dormi bem pouco. Sua situação vinha-me quase que de contínuo à mente. Eu lhe escrevia mentalmente durante o sono e também quando acordada. Quando reconheci na congregação as mesmas pessoas que haviam sido prejudicadas por sua influência, eu teria trazido o assunto à luz se você estivesse presente. Nenhuma palavra de qualquer mortal me foi confidenciada com respeito à sua conduta. Senti-me compelida a falar a um ou dois sobre o assunto, declarando que eu havia reconhecido a fisionomia deles, em conexão com algumas coisas mostradas com referência a você. Então, muito relutantemente, os fatos me foram relatados confirmando tudo o que eu lhes havia falado. Eu havia dito apenas aquilo que acreditava dever dizer no temor de Deus, para cumprir meu dever como serva Sua. T2 542 1 Dois anos atrás, vi que você e sua esposa eram muito egoístas, pessoas ambiciosas. Seus próprios interesses egoístas era-lhes mais valiosos do que aqueles por quem Cristo morreu. Foi-me mostrado que você não estava sendo bem-sucedido em seus trabalhos. Tinha habilidade para apresentar a verdade; possuía mente inquiridora, e se não fosse por suas deficiências de caráter, poderia ter feito grande bem. Mas, por várias razões, não conseguiu alcançar êxito na pregação da verdade. Uma das maiores desgraças em sua vida, irmão A, tem sido seu extremo egoísmo. Tem pensado em interesses próprios. Você e sua esposa têm feito de si mesmos o centro de compaixão e cuidado. Quando vão a algum lugar para visitar uma família, tornam-se-lhes um peso, deixando que cozinhem para vocês e os sirvam; e nenhum de vocês procura fazer o que pode. A família pode estar trabalhando arduamente, levando os próprios fardos e os seus, mas vocês são tão egoístas que não vêem que eles estão cansados e que os irmãos estão melhor capacitados fisicamente para fazer o trabalho que estão fazendo por vocês. Irmão A, você é preguiçoso demais para agradar a Deus. Quando se necessita lenha ou água, você ignora, e consente que sejam carregadas por aqueles que já estão muito atarefados, freqüentemente mulheres, quando tais pequenas incumbências, essas cortesias da vida, são o que você precisa executar para benefício de sua saúde. Você é um homem corpulento e pesado, e não se exercita nem a metade do que devia para seu próprio bem. A indolência que manifesta e a disposição de obter vantagem em tudo quanto possa, têm sido uma vergonha à verdade e uma pedra de tropeço aos descrentes. T2 542 2 Sua esposa, bem como você, ama o comodismo. Vocês passam seu tempo deitados, quando tinham condições de estar de pé, mostrando ativamente especial interesse na família que estão sobrecarregando. Você pensa que por ser um pastor, eles devem considerar sua presença como um favor, e devem servi-lo e obsequiá-lo, enquanto você nada faz senão cuidar de seus interesses egoístas. As impressões que tem deixado são muito más. Você e sua esposa são considerados como representantes dos pastores e suas esposas, que estão empenhados em apresentar ao mundo o sábado e a breve volta de nosso Senhor. T2 543 1 Aqueles que estão familiarizados com seu procedimento dirão que sua religião, ensinos e vida não se harmonizam. Eles vêem que seus frutos não são bons e concluem que você não crê nas coisas que ensina aos outros. Concluem que todos os pastores são como você e que as verdades eternas e sagradas são afinal um engano. Quem será responsável por tais impressões e seus deploráveis resultados? Que possam ver o opressivo peso que repousa sobre vocês como conseqüência do egoísmo, que tem sido uma maldição a vocês mesmos e a todos que estão a seu redor. T2 543 2 Novamente, irmão A, você está perturbado por sentimentos e impressões que são o fruto natural do egoísmo. Imagina que os outros não apreciam seus esforços. Julga-se competente para fazer uma grande obra, mas desculpa suas falhas em realizá-la porque os outros não lhe dão oportunidades e crédito à altura de suas habilidades. É ciumento e tem impedido o progresso da causa em Illinois e Wisconsin, realizando pouco e atrapalhando aqueles que o fariam se você não estivesse em seu caminho. Sua sensibilidade e ciúmes têm enfraquecido as mãos daqueles que poriam as coisas em ordem e fariam progredir as conferências. Se algum melhoramento pode ser visto nesses Estados, você é inclinado a pensar que isso lhe é atribuível em grande medida, quando o fato é que se as coisas fossem deixadas a seu cargo, tudo ruiria rapidamente. Em suas pregações você geralmente é frio e formal demais. Você não harmoniza a prática com a doutrina. Fala muito e cansa as pessoas. Em vez de demorar-se apenas naquela parte do assunto que você pode deixar completamente clara à compreensão de todos, usa de rodeios e apresenta minúcias que não esclarecem o tema e bem poderiam ser passadas por alto. Quando tanta matéria não necessária é exposta, o ouvinte perde a seqüência do argumento e não pode reter na mente o assunto. Quando um pastor obtém a atenção das pessoas, deve avançar de um ponto a outro, deixando tanto quanto possível esses tópicos livres de palavreado e detalhes insignificantes. Ao expor suas idéias perante o público, deve torná-las tão distintas como marcos quilométricos de uma estrada. Encobrir os pontos importantes e vitais, multiplicando palavras e introduzindo tudo que tenha um distante relacionamento com o assunto, destrói a força do mesmo, e obscurece a belo e harmonioso conjunto de verdades. Você é lento e enfadonho em sua pregação, bem como em tudo o mais que empreende. Necessita, se é que alguém já necessitou, ser revigorado pelo Espírito da verdade. Precisa de Cristo em você, "esperança da glória". Colossences 1:27. Precisa de religião, o artigo genuíno. T2 544 1 Foram-me referidas as seguintes palavras inspiradas: "Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria." "Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz." Tiago 3:13, 17, 18. Homens a quem Deus chamou para a obra de salvar pecadores sentirão responsabilidade pelo povo. Interesses egoístas serão absorvidos pela profunda preocupação com a salvação de almas por quem Cristo morreu. Entenderão a força da exortação de Pedro: "Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória." 1 Pedro 5:1-4. T2 545 1 Você é obstinado por natureza. Inveja e obstinação são frutos naturais do egoísmo. Conseguiu alguma melhora, mas vi muito ainda por ser feito. Vi tão claramente a influência miserável de sua vida egocêntrica e não consagrada, e temo que jamais perceba quão odiosos diante de Deus são esses traços de caráter. Receio ainda que não compreenda isso suficientemente, para abandoná-los e tornar-se como seu abnegado Redentor, puro e altruísta, com a vida caracterizada por desinteressada benevolência. Sua influência e exemplo são tais que alguns que amam a verdade e a obra de Deus, e valorizam nossa fé, estão perdendo seu espírito de abnegação e interesse na causa da verdade presente. Seu comportamento egoísta e cobiçoso produz neles o mesmo espírito; sua disposição de extrair vantagens para si mesmo, enquanto professa ser um ministro de justiça, tem fechado muitos corações à liberação de recursos para o progresso da verdade. Se os pastores dão ao povo um exemplo de egoísmo, esse repercutirá sobre a causa de Deus com poder dez vezes maior do que sua pregação. T2 545 2 Deus tem sido desonrado por sua mesquinhez. Seu procedimento transpira desonestidade. Você não deixou atrás de si um rastro limpo, e até que haja uma total transformação em sua vida, será uma maldição viva a qualquer igreja onde freqüente. Trabalha pelo salário, e não acenderia fogo no altar de Deus nem fecharia as portas sem receber nada. Quando der ao povo um exemplo de abnegação e dedicação à causa de Deus, dando prioridade à salvação da alma e à verdade, então sua influência levará outros a fazerem o mesmo e dar ao reino de Deus e sua justiça o primeiro lugar. Sente-se autorizado a tirar proveito da causa. Seus irmãos, pela liberalidade de seu coração, favorecem-no e o ajudam de vários modos, e você recebe suas contribuições como se lhe fossem devidas. E se alguém não está perfeitamente à vontade com você, e não o beneficia, o irmão fica enciumado e não hesita em fazê-lo compreender que você não foi apreciado, e que ele é egoísta. Freqüentemente se refere a outros que o ajudam como exemplos a serem imitados. Esses que o favoreceram especialmente foram além de seu dever. Você não merecia sua confiança e liberalidade. Não assumiu pesadas responsabilidades na causa e lançou sobre outros muitos fardos, mais do que você mesmo tem assumido. Entretanto, está adquirindo propriedades e obtendo as boas coisas desta vida, e acha que tudo lhe é de pleno direito. Embora recebendo seu salário semanal, nem sempre fica satisfeito. Apesar do pagamento recebido, você continuamente age em proveito próprio. A obra de Deus o tem assalariado, quer mostre pouco ou muito em seu trabalho. Você não mereceu os recursos que recebeu. T2 546 1 Sua esposa tem sido tão mimada pelos pais e por você, até tornar-se de bem pouca utilidade. Ambos têm visto os semelhantes sobrecarregados de cuidados e não os ajudam a levarem suas cargas. Sua esposa tem sido um peso morto para as famílias, para dano próprio e dos outros, quando, em se tratando de saúde, era mais capaz do que alguns que estavam assumindo as responsabilidades dela e suas. Mas ela nem se preocupou com isso. Nenhum de vocês percebeu os fatos nem se compadeceu dos outros. Alguns de quem vocês receberam ajuda no cuidado de vocês mesmos e de seus filhos, não tinham possibilidades financeiras para fazer o que fizeram, mas pensavam estar ministrando a abnegados servos de Cristo; portanto, negaram a si mesmos e suportaram inconveniências e dificuldades para assumirem responsabilidades que vocês tinham mais condições de assumir do que eles. T2 546 2 Sua esposa tem relutado em encarar os encargos da vida. Ela deseja mais elevado chamado e negligencia os deveres atuais. Nenhum de vocês obedece ao mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:39. O eu e o egoísmo cerraram-lhes o coração às necessidades do próximo. Seu espírito mercenário e estreito é contagioso. Seu exemplo tem feito mais para estimular o amor ao mundo e a um espírito mesquinho, do que qualquer outra coisa que tem acontecido em Wisconsin e Illinois. Houvessem os irmãos apenas se dedicado somente a seus interesses pessoais, a causa de Deus nesses dois Estados estaria em muito melhores condições do que hoje. O sucesso que obtiveram não compensa o prejuízo causado. A causa de Deus ficou arruinada. Sua sensibilidade e inveja têm sido um exemplo para os outros. Encontramos esse espírito em Illinois e Wisconsin. O estado das igrejas em _____ e arredores tem sido deplorável. A falta de amor e união, a suspeita, a inveja e a obstinação vistos nessas igrejas foram moldados em grande proporção por seus traços de caráter. A posição que você assumiu após a manifestação do fanatismo em _____, fugindo à sua dignidade, discutindo minúcias e partilhando o assunto com os fanáticos e com aqueles a quem Deus tinha enviado com uma mensagem especial, interferiu diretamente na maneira como os outros deviam perceber e corrigir seus erros. Sua conduta, nessa ocasião, ao falhar em escolher o lado certo e trabalhar para corrigir o devastador fanatismo, deu origem ao desanimador estado de coisas resultante do escuro poder do fanatismo. Os irmãos C e D, toda a igreja de _____ e o povo de _____ não adotaram as posições corretas que teriam adotado, caso você fosse humilde e suscetível ao ensino, trabalhando em união com os servos de Deus. T2 547 1 Quando um homem que professa ser mestre e líder, e se aventura na direção que você seguiu por causa da obstinação, terá pesadas responsabilidades a levar pelas pessoas que por sua causa tropeçaram para a perdição. Um pastor precisa ser muito cuidadoso quanto à sua influência. Teimosia, desconfiança e egoísmo não devem fazer parte de seu caráter, pois se for condescendente arruinará mais pessoas do que pode salvar. Se ele não conseguir vencer esses perniciosos traços de caráter, seria melhor não ter nada a ver com a causa de Deus. A condescendência com essas características, que podem não parecer tão más a seus olhos, porá as pessoas além de seu alcance e além do alcance de outros. Se tais pastores deixassem as coisas como estão, as pessoas suscetíveis à influência do Espírito de Deus poderiam ser alcançadas por aqueles que dão um exemplo digno de imitação, de acordo com a verdade que ensinam. Por uma vida coerente, o pastor conquistará a confiança dos que buscam a verdade, até que possa ajudá-los a se apegarem firmemente à Rocha dos Séculos. E depois, quando eles forem tentados, aquela influência o capacitará a advertir, exortar, reprovar e aconselhá-los com sucesso. T2 548 1 Acima de todos os outros homens, os ministros de Cristo, que possuem a solene verdade para estes últimos dias, devem estar isentos de egoísmo e ser benevolentes por natureza. Devem ter vergonha de praticar atos caracterizados pelo egoísmo para com seus irmãos. Precisam ser padrão de piedade, carta viva, "conhecida e lida por todos os homens". 2 Coríntios 3:2. Devem produzir frutos de santidade. O espírito que precisam possuir deve ser o oposto daquele manifestado pelos mundanos. Ao aceitarem a verdade divina, tornam-se servos de Deus e não são mais filhos das trevas e servos do mundo. Cristo os escolheu do mundo. O mundano não entende o mistério da piedade, portanto, não está familiarizado com os motivos que atuam em seu interior. Porém, o espírito e vida que neles está, que é manifestado em sua santa conversação, sua abnegação, altruísmo e conduta irrepreensível, tem um convincente poder que conduzirá os descrentes à verdade e à obediência a Cristo. São exemplos vivos porque se assemelham a Cristo. São luzes do mundo, sal da terra, e sua influência sobre outros é salvífica. São representantes de Cristo na Terra. Seus objetivos e desejos não são motivados pelas coisas terrenas; não trabalham pelo lucro nem o amam. A consideração das coisas eternas são suficientes para contrabalançar toda atração terrena. Um cristão genuíno trabalhará apenas para agradar a Deus, visando unicamente Sua glória e desfrutando a recompensa de fazer Sua vontade. T2 549 1 Os pastores especialmente devem conhecer o caráter e as obras de Cristo para que possam imitá-Lo, pois o caráter e as obras do verdadeiro cristão são semelhantes às Suas. Ele pôs de lado Sua glória, domínio, riquezas e foi em busca daqueles que estavam perecendo no pecado. Humilhou a Si mesmo para prover às nossas necessidades, para que pudesse exaltar-nos até o Céu. Sua vida foi caracterizada pelo sacrifício, abnegação e desinteressada benevolência. Ele é nosso modelo. Tem você, irmão A, imitado o Modelo? Eu respondo: Não! Ele é um perfeito e santo Exemplo, dado a nós para imitação. Não podemos nos igualar ao Modelo; mas não seremos aprovados por Deus se não O imitarmos e nos assemelharmos a Ele, de acordo com a capacidade que o Senhor nos dá. O amor pelas almas por quem Cristo morreu, conduzirá à negação do eu e à disposição de fazer qualquer sacrifício para sermos coobreiros do Mestre na salvação de almas. T2 549 2 A obra dos escolhidos servos de Deus será frutífera se feita nEle. Suas palavras e obras são condutos mediante os quais os puros princípios da verdade e santidade são comunicados ao mundo. Sua vida exemplar torna-os a luz do mundo e o sal da terra. Os servos de Deus devem, pela mão da fé, apoderar-se do braço onipotente, e reunir os divinos raios de luz do alto, enquanto, com a mão do amor, alcançam as almas que perecem. É necessária diligência nessa obra. A indolência fará com que as pessoas que poderiam ser salvas sejam levadas além do alcance. Deus deseja em Seu serviço pastores que estejam despertos, que sejam ativos e perseverantes, fiéis vigilantes sobre os muros de Sião, atentos às palavras do Divino Mestre e prontos a proclamá-la fielmente ao povo. T2 550 1 Você é muito semelhante a Meroz. É muito diligente quando o que faz resulta em vantagens pessoais, mas não há motivo para especial diligência a menos que obtenha benefícios. Definitivamente, você é um homem preguiçoso. Pode tomar suas refeições regularmente, mas não tem nenhuma predileção pelo trabalho físico. Nenhum homem pode ocupar sua posição como pastor, se não for esforçado, diligente na ocupação e fiel no desempenho dos deveres públicos e sociais. Deus nos escolheu, como Seus servos, para Seu trabalho, que requer perseverante esforço. Não devemos tornar-nos mimados e evitarmos a labuta, as dureza e os conflitos. T2 550 2 Minha atenção foi chamada para as seguintes palavras da Inspiração: "Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos, por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos." 2 Coríntios 4:5-10. A capacidade do apóstolo não estava em si mesmo, mas na presença e poder do Espírito Santo, cuja graciosa influência enchia sua mente, levando cada pensamento em sujeição e obediência a Cristo. Seu ministério foi frutífero. T2 550 3 O primeiro grande mandamento é: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração." "E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:37, 39. Nesses dois mandamentos estão apoiados todos os interesses e deveres dos seres morais. Aqueles que cumprem seu dever para com os outros, como desejariam que os outros lhes fizessem, são conduzidos a uma posição em que Deus pode revelar-Se a eles e aprová-los. São aperfeiçoados em amor, e seu trabalho e orações não serão vãos. São continuamente providos de graça e verdade do Manancial, e transmitem livremente a outros a divina luz e a salvação que recebem. Neles se cumpre o que dizem as Escrituras: "Tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna." Romanos 6:22. T2 551 1 Egoísmo é abominação à vista de Deus e dos santos anjos. Por causa desse pecado, muitos não usufruem o bem que poderiam. Egoistamente olham para suas próprias coisas; não amam nem buscam os interesses de outros como buscam os seus. Eles invertem a ordem de Deus. Em vez de fazer pelos semelhantes o que desejariam que esses lhes fizessem, fazem para si mesmos o que desejam que outros lhes façam, e fazem a outros o que estão muito indispostos a receber da parte deles. Aí está o que você precisa aprender. O amor é de Deus. Você não possui o amor que habita no coração de Cristo. O coração não santificado não pode produzir essa planta de origem divina que, para florescer, precisa ser regada constantemente com o orvalho celestial. Ela pode florescer apenas no coração onde Cristo reina. Esse amor não pode viver e florescer sem ação; não pode agir sem crescer em fervor, expandindo-se e difundindo sua natureza a outros. Você tem grande falta desse princípio, e assim tudo tem sido escuridão onde sua presença teria iluminado. T2 551 2 Meu irmão, você necessita de completa conversão, uma total transformação. Sem isso, é apenas um condutor cego. Sua influência não aumenta o amor e união daqueles com quem convive. Em vez de ajuntar, sua influência espalha. Com suas deficiências, você tem amaldiçoado o Oeste. Enquanto for tão deficiente na graça de Cristo e egoísta, não poderá levar a igreja à posição que Deus requer que ela ocupe. "Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:25-29. T2 552 1 Os ministros de Deus precisam ter a verdade em seu coração, para apresentá-la com sucesso a outros. Precisam ser santificados pela verdade que pregam, ou serão apenas pedras de tropeço aos pecadores. Os que são chamados por Deus para ministrar as coisas sagradas, são convocados para serem puros de coração e santos na vida. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. Se Deus pronuncia um ai sobre aqueles que são chamados a pregar e se recusam a obedecer, um mais pesado ai repousa sobre os que assumem a sagrada obra sem mãos limpas e coração puro. Como há ais sobre aqueles que pregam a verdade enquanto não são santificados no coração e na vida, há também ais para os que recebem e mantêm os não santificados na posição em que não podem ocupar. Se o Espírito de Deus não santificar e tornar puros e limpos o coração e as mãos dos que ministram as coisas sagradas, eles falarão de acordo com sua imperfeita e deficiente experiência, e seus conselhos desviarão de Deus os que os consideram e confiam em seu discernimento e experiência. Que Deus ajude os pastores a atenderem à exortação de Paulo aos coríntios: "Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados." 2 Coríntios 13:5. Há uma obra que você precisa empreender, meu irmão, se quiser ganhar a vida eterna. Possa Deus ajudá-lo a fazer cabalmente essa obra, para que possa ser perfeito e íntegro, de nada tendo falta. Chicago, Illinois, Massasoit House, 6 de Julho de 1870. ------------------------Capítulo 64 -- Fanatismo e ignorância T2 553 1 Irmão E: T2 553 2 Enquanto em Rochester, Nova Iorque, em 25 de Dezembro de 1865, antes de visitar o Estado do Maine, vi algumas coisas com relação às desanimadoras e desconcertantes condições da causa nesse Estado. Foi-me revelado que um bom número que pensava ser seu dever ensinar publicamente a Palavra de Deus, havia-se equivocado em seu trabalho. Essas pessoas não foram chamadas a dedicar-se a essa solene e respeitável obra. Não estavam qualificadas para o ministério, pois não podiam instruir outros adequadamente. T2 553 3 A experiência de alguns foi obtida entre uma classe de fanáticos religiosos que não possuíam o verdadeiro senso do exaltado caráter da obra. A experiência religiosa dessa classe de professos adventistas do sétimo dia não era confiável. Não tinham firmes princípios sustentando todas as suas ações. Eram autoconfiantes e arrogantes. Sua religião não consistia de atos justos, verdadeira humildade de coração e sincera consagração a Deus, mas de impulsos, ruído e confusão, condimentados com excentricidades e esquisitices. Eles não sentiram, tampouco poderiam sentir, a necessidade de serem trajados com a justiça de Cristo. Tinham justiça própria, que era como trapos de imundícia, a qual Deus não pode aceitar de maneira alguma. Essas pessoas não amavam a união e a harmonia de ação. Deleitavam-se na desordem. Confusão, agitação e divergência de opiniões eram sua preferência. Eram ingovernáveis, insubmissas, incorrigíveis e não consagradas, e esse elemento de confusão se ajustava à sua mente indisciplinada. Eram uma maldição à causa de Deus e traziam descrédito ao nome adventistas do sétimo dia. T2 554 1 Essas pessoas não experimentaram a obra de reforma ou santificação através da verdade. Eram rudes e incultas. Nunca provaram o doce e puro refinamento do mundo por vir. Nunca experimentaram o mistério da piedade, nem seu coração foi impressionado por ele. Puseram as coisas divinas e eternas no mesmo nível das comuns, e falam do Céu e da vinda de Cristo como se falassem de um cavalo. Tinham conhecimento superficial da verdade; mais que isso, eram ignorantes. Seus princípios [da verdade] não se apoderaram de sua vida para levá-los a negar o eu. Nunca viram a si próprios sob a luz em que Paulo viu a si mesmo, a qual o levou a perceber os defeitos morais do próprio caráter. Eles nunca foram mortificados pela lei de Deus nem se separaram de suas impurezas e corrupção. A ocupação favorita de alguns deles é envolver-se em conversações frívolas e leviandades. Eles contraíram esse hábito e o praticaram em ocasiões que deveriam ter sido caracterizadas por meditação e devoção solenes. Fazendo isso, manifestaram falta de verdadeira dignidade e refinamento, e feriram a estima de pessoas sensíveis que não tinham conhecimento da verdade. Eles se colocaram sob uma torrente de tentações e se mantiveram onde o inimigo os conduziu com sucesso. Ele lhes tem tão facilmente controlado a mente e corrompido toda sua experiência a ponto de serem incapazes de livrar-se de sua armadilha e obter uma experiência saudável. T2 554 2 O fogo do dia de Deus consumirá o restolho e a palha, e nada será deixado daqueles que continuam em sua ímpia conduta que por tanto tempo amaram. Essa classe sente aversão em associar-se com aqueles com quem verdadeiramente Deus está. Sua condição espiritual é de nível tão baixo que não pertence a uma experiência religiosa inteligente, racional; por isso, desprezam a companhia daqueles a quem Deus ensina e conduz. Sarcasmo e ironia são o reduto de algumas mentes peculiares dessa classe. Eles são audaciosos, insolentes e não observam boas maneiras. Não se preocupam em fazer diferença nem render honra a quem honra merece. Manifestam espírito desafiador, altivo e rebelde contra aqueles que discordam de suas opiniões. Seus modos impetuosos e má conduta levam o verdadeiro servo de Deus a sentir que resistiram aos esforços feitos a favor deles, e fica desanimado quanto a continuar seu trabalho por eles. Empenham-se em uma desprezível conquista, exatamente da mesma natureza como a que Satanás e os anjos caídos iniciaram contra as almas dominadas por eles. Têm a seu lado Satanás e os anjos maus para alegrar-se com eles. Os casos das pessoas em quem tal tipo de caráter se desenvolve de maneira peculiar e surpreendente estão sem esperança. Estão envolvidos em justiça própria, e tudo com que entram em contato que se assemelhe a refinamento e dignidade de caráter é por eles taxado de orgulho e falta de humildade. Grosseria e ignorância são considerados como humildade. T2 555 1 Você conseguiu grande parte de sua experiência religiosa com essa classe, daí não estar qualificado para a obra de ensinar a mais solene, pura, elevada e de todas a mais probante mensagem dirigida a mortais. Você pode até atingir certa classe de mentalidade, mas o segmento mais esclarecido da comunidade será afastado em decorrência de seus trabalhos. Você não tem conhecimento suficiente, mesmo dos ramos mais simples de educação, para ser um instrutor de homens e mulheres que têm um astuto enganador do outro lado, para sugerir e tramar modos e meios de afastá-los da verdade. T2 555 2 Dos professores das escolas comuns é requerido que sejam mestres em suas matérias. Eles são rigorosamente examinados para ver se as crianças podem ser confiadas aos seus cuidados. Por averiguação a inteireza de suas qualificações é testada de acordo com a importância da posição que irão ocupar. Vi que a obra de Deus é de caráter muito mais exaltado e de muito maior interesse, assim como o eterno está acima do temporal. Um erro aí cometido não pode ser reparado. É de importância infinita que todos os que vão avante para ensinar a verdade sejam habilitados para sua obra. Averiguação não menos criteriosa do que a aplicada àqueles que ensinam nas escolas, deve ser requerida com referência à capacidade dos ensinadores da verdade. A obra do Senhor tem sido menosprezada pela negligente e leviana conduta seguida pelos professos ministros de Cristo. T2 556 1 Foi-me revelado que os pastores precisam ser consagrados e santos, e devem ter conhecimento da Palavra de Deus. Necessitam estar familiarizados com os argumentos bíblicos e preparados para dar razão de sua esperança, ou devem cessar seus trabalhos e assumir uma ocupação onde sua deficiência não envolva tão tremendas conseqüências. Pastores das denominações populares são aceitos como pregadores, desde que possam falar sobre alguns simples pontos da Bíblia. Mas os pastores que estão difundindo uma verdade impopular para os últimos dias, que têm de enfrentar homens doutos, de mente sólida, e opositores de todo tipo, devem conhecer o que ensinam. Não devem tomar sobre si a responsabilidade de ensinar a verdade, a menos que estejam qualificados para esse trabalho. Antes de empenhar-se ou dedicar-se a esse serviço precisam tornar-se estudantes da Bíblia. Se não possuem formação para falar em público de maneira aceitável, fazer justiça à verdade e honrar o Senhor a quem professam servir, devem esperar até que estejam capacitados para a posição. T2 556 2 Irmão E, você não pode assumir a posição de ministro de Cristo. Vi que lhe falta a adequada experiência espiritual. Não conhece a si mesmo, não pode ler corretamente nem usar uma linguagem que recomende a verdade à compreensão de um público inteligente. Falta-lhe discernimento. Você não saberia quando é próprio falar ou quando é prudente manter-se calado. Tem pensado durante tanto tempo, como a classe peculiar que mencionei, que sabia tudo, a ponto de não ver as próprias deficiências quando essas lhe são apresentadas. Você possui grande porção de auto-estima e sua experiência tem sido caracterizada por confiança própria e ostentação. T2 557 1 Você não é suscetível ao ensino, portanto, a causa de Deus não prosperaria em suas mãos. Não saberia reconhecer uma derrota quando ocorresse. A causa de Deus seria desacreditada e desonrada por seus trabalhos, e você não descobriria isso. Uma certa classe pode ser persuadida da verdade por você, porém, mais seriam os que dela se afastariam e seriam levados aonde não poderiam ser alcançados por um trabalho adequado e sábio. Interligadas em sua experiência acham-se coisas que se provarão prejudiciais à verdade. Deus não pode aceitá-lo como representante da verdade. T2 557 2 Suas maneiras não têm sido refinadas e elevadas. Seu comportamento não tem agradado a Deus. Suas palavras têm sido descuidadas. Faltam-lhe piedade e devoção. Você não obteve experiência na vida espiritual. Deixou de compreender como partilhar corretamente a palavra da vida, dando a cada um sua porção de alimento no devido tempo. Tem preferido debater e contestar pontos, quando se encontra completamente fora de lugar e certamente seria derrotado. Esse é o espírito da classe de pessoas do Maine, de quem já falei. Traz-lhes satisfação envolver-se em controvérsias e desafios. Você não manifestaria mansidão ao instruir aqueles que se opõem. Sempre estará incapacitado, em certo sentido, por sua desafortunada experiência. Falta-lhe mansidão e cortesia. Tem lições importantes a aprender antes de tornar-se um modesto e aceitável seguidor de Cristo, mesmo em caráter particular. ------------------------Capítulo 65 -- Uma filha mimada T2 558 1 Querida amiga F: T2 558 2 Foi-me mostrado que você está em perigo de ficar sob completo controle do grande adversário das almas. Sua experiência em _____ não lhe fez bem. Sua estada em _____ trouxe-lhe prejuízo, pois a tornou orgulhosa e vaidosa. Não faltaram pessoas que imprudentemente a adulassem e a elogiassem, até você se tornar vaidosa, atrevida e arrogante. Você tem se oposto à restrição, sido rebelde, obstinada e teimosa, causando a seus pais muita dificuldade. Eles erraram. Seu pai a mima imprudentemente e você tem tirado vantagem disso, tornando-se dissimuladora. Tem recebido aprovação imerecida. T2 558 3 Você seguiu muito a própria opinião em _____, e tomou liberdades que não deveriam ter sido permitidas nem por um momento. Quando você ou suas irmãs eram repreendidas, sentiam-se insultadas e contavam o problema à sua mãe como se tivessem sido maltratadas. Você exagerava e ela ficava nervosa e facilmente irritada quando pensava que sua posição e dignidade não tinham sido respeitadas. Sentia-se tão desgostosa com qualquer um que desse ordens às filhas, que não podia esconder seu desprazer. Falava de modo impróprio com aqueles que mereciam seu respeito. Sua mãe mostrou grande falta de sabedoria em ficar de seu lado e censurar aqueles a quem deveria ter agradecido, em vez de culpar. Ela a prejudicou e fez-lhe algo que jamais poderá reparar totalmente. Você triunfou porque se viu livre de censuras; pensou que pudesse fazer o que bem lhe agradasse. A vigilância de sua mãe sobre você não era constante; mesmo que fosse, ela não poderia haver discernido suas más tendências. T2 558 4 Na escola, você teve um bom e nobre professor, contudo, ficava indignada porque era reprimida. Pensava que por ser filha de G, o professor deveria demonstrar-lhe preferência e não se sentir livre para corrigi-la e reprová-la. Suas irmãs também partilhavam do mesmo espírito. Você levou suas queixas a seus pais; eles ouviram sua versão do assunto e simpatizaram com você. Os sentimentos deles foram inflamados pelas informações exageradas. Eles a prejudicaram. Você não foi estritamente disciplinada como deveria. Sentiu-se, porém, ofendida porque não pôde fazer o que queria, mas foi compelida a submeter-se às instruções decisivas e cabais do irmão H. Na escola você foi muitas vezes insuportável, sem pudor, desafiadora, faltando grandemente com a modéstia e o decoro. Era atrevida, egoísta e orgulhosa, e necessitava de firme disciplina no lar bem como na escola. T2 559 1 Sua mente é impura. Você foi por muito tempo poupada tanto das responsabilidades como do trabalho. Os deveres domésticos teriam sido uma das mais ricas bênçãos de que poderia ter desfrutado. O cansaço não a teria prejudicado nem um décimo do que a prejudicaram os seus pensamentos e conduta lascivos. Você tem recebido idéias incorretas quanto à associação de rapazes e moças, e em seu modo de pensar tem sido muito conveniente estar em companhia de rapazes. Seu coração e mente não são puros. Você tem sido prejudicada pela leitura de histórias de amor e romances, e sua mente tem sido fascinada por pensamentos impuros. Sua imaginação tem se tornado corrompida até que você parece não ter força para controlar os pensamentos. Satanás a leva cativa de acordo com sua vontade. Você não é feliz. Não ama a Deus nem a Seu povo. Mostra um espírito amargo com aqueles que discernem seu verdadeiro caráter. Procura culpá-los por causa da opinião que têm sobre seu caso, mas você é a única culpada. Sua conduta tem sido tal que atrai censuras e advertências. Nisso só tem a condenar a si mesma. T2 559 2 Você é uma companhia perigosa e por sua influência tem causado muito dano em _____. Tem liderado em vez de ser liderada. Desonrou a Deus e é responsável diante dEle pelo mal causado pela sua influência. Sua conduta não tem sido pura, modesta ou conveniente. Você não tem o temor de Deus diante de seus olhos. Com muita freqüência tem dissimulado a fim de realizar seus planos que carrega uma consciência violada. Minha querida jovem, a menos que pare exatamente onde está, a ruína estará certamente diante de você. Cesse suas fantasias, a construção de castelos. Pare com seus pensamentos de correr no caminho da loucura e da corrupção. Você não pode associar-se seguramente com os rapazes. Uma onda de tentação surge e se avoluma em seu peito, tendo a tendência de erradicar princípios, virtudes femininas e a verdadeira modéstia. Se você continuar em sua conduta voluntariosa e obstinada, qual será sua sorte? T2 560 1 Um novo ano está diante de nós. O que você pretende fazer? Resolveu qual será o relatório levado a Deus pelos anjos ministradores quanto ao seu trabalho de cada dia? Que palavras proferidas serão registradas no livro? Que pensamentos acariciados por você serão encontrados pelo Perscrutador de corações? Ele é o avaliador de pensamentos, dos intentos e propósitos do coração. Você tem um terrível registro do ano passado, o qual está aberto à vista da Majestade do Céu e dos milhares de puros e imaculados anjos. Seus pensamentos e atos, desesperados e profanos sentimentos, podem ter sido ocultos aos mortais; lembre-se, porém, de que os mais triviais atos de sua vida estão abertos à vista de Deus. Você tem no Céu um relatório manchado. Os pecados que cometeu estão todos lá registrados. T2 560 2 A desaprovação de Deus está sobre você, e contudo parece destituída de sentimento; não reconhece sua condição perdida e arruinada. Por vezes tem sentimento de remorso; mas seu espírito orgulhoso e independente logo se ergue, e você abafa a voz da consciência. Você não é feliz; não obstante, imagina que, se tivesse seu próprio caminho livre, o seria. Pobre filha! Ocupa posição idêntica à de Eva, no Éden. Ela imaginava que seria sumamente exaltada se tão-somente comesse do fruto da árvore de que Deus lhe proibira até de tocar, para que não morresse. Comeu-o e perdeu todos os esplendores do Éden. T2 561 1 Você deve dominar seus pensamentos. Não será isso tarefa fácil; não o conseguirá sem assíduo e mesmo árduo esforço. No entanto, Deus exige isso de você; é um dever que repousa sobre todo ser responsável. Você é responsável perante Deus pelos seus pensamentos. Se condescender com vãs imaginações, permitindo que a mente se demore em assuntos impuros, será, em certo sentido, tão culpada perante Ele como se seus pensamentos fossem levados à ação. Tudo o que impede a ação é a falta de oportunidade. Sonhar e construir castelos dia e noite são hábitos maus e excessivamente perigosos. Uma vez estabelecidos, é quase impossível rompê-los e dirigir o pensamento para temas puros, santos e elevados. Você deve tornar-se fiel sentinela de seus olhos, ouvidos e todos os sentidos, se quiser dominar a mente e impedir que vãos e corruptos pensamentos lhe manchem a alma. Só o poder da graça pode realizar esta tão desejável obra. Você é fraca nesse sentido. T2 561 2 Você se torna obstinada, ousada e atrevida. A graça divina não tem lugar em seu coração. Só mediante a força de Deus você pode colocar-se onde chegará a ser recipiente de Sua graça, instrumento de justiça. Deus requer que domine não só seus pensamentos mas também as paixões e afeições. Sua salvação depende de governar-se nessas coisas. A paixão e a afeição são poderosos agentes. Se mal aplicadas, se postas em operação por motivos injustos, se mal colocadas, são poderosas para realizar sua ruína e deixá-la um deplorável destroço, sem Deus e sem esperança. T2 562 1 A imaginação deve ser positiva e persistentemente dominada, se as paixões e afeições tiverem de tornar-se sujeitas à razão, à consciência e ao caráter. Você se acha em perigo, pois está a ponto de sacrificar seus interesses eternos no altar da paixão. A paixão está obtendo positivo domínio de todo o seu ser -- paixão de que qualidade? de natureza vil e destrutiva. Pela submissão a ela, você amargurará a vida de seus pais, trará tristeza e vergonha a suas irmãs, sacrificará o próprio caráter e perderá o Céu e a gloriosa vida imortal. Está pronta a fazer isso? Apelo para que pare onde está. Não avance outro passo em sua conduta obstinada e desenfreada; pois perante você estão a miséria e a morte. A menos que exerça domínio próprio relativamente a suas paixões e afeições, certamente cairá no descrédito dos que a rodeiam e trará sobre seu caráter desonra que durará enquanto viver. T2 562 2 Você é desobediente aos pais, petulante, ingrata e profana. Essas péssimas características são frutos de árvore corrupta. Você é presumida. Ama os rapazes e gosta de fazer deles o tema de sua conversação. "Do que há em abundância no coração, disso fala a boca." Mateus 12:34. Os hábitos tornaram-se poderosos para dominá-la; e você aprendeu a enganar para executar seus desígnios e realizar seus desejos. T2 562 3 Não considero sem esperança o seu caso. Se o fizesse, minha pena não teria redigido estas linhas. Na força de Deus, você pode redimir o passado. Seu nome já é objeto de ridículo em _____, mas você pode mudar a situação valendo-se do poder que Deus lhe concedeu. Pode agora mesmo obter excelência moral, a fim de que seu nome seja associado com coisas puras e santas. Você pode crescer. Deus providenciou-lhe o auxílio necessário. Convida-a a ir a Ele e prometeu levar-lhe os fardos e dar-lhe descanso à alma. "Aprendei de Mim", diz o divino Mestre, "que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Por muito tempo você esteve distante dessa humildade e mansidão. Terá de aprender essa importante lição do divino Mestre, antes de achar o prometido descanso. Tem pensado muito em si mesma, em sua sagacidade, que a conduziu a tal afetação e vaidade a ponto de quase torná-la uma insensata. Você possui língua enganosa, que favorece a deturpação e a falsidade. Ó minha querida jovem, se puder apenas despertar; se sua letárgica e amortecida consciência puder acordar e você nutrir a especial impressão da presença de Deus, mantendo-se sujeita ao controle de uma consciência esclarecida, obterá a felicidade e será uma bênção aos pais, cujo coração tem magoado. Você pode ser um instrumento de justiça para com aqueles que a rodeiam. Necessita de completa conversão, e sem ela, estará em "fel de amargura e laço de iniqüidade". Atos dos Apóstolos 8:23. Pode imaginar-se livre quando seguindo sua mente caprichosa e perversa, mas encontra-se na mais degradante escravidão. Sem os princípios da religião, você pode considerar-se alvo de inveja, mas todos os que são bons e virtuosos considerarão seu caráter com piedade, e seu comportamento com aversão. Você pode tornar-se participante da natureza divina se conseguir escapar "da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo" (2 Pedro 1:4) ou, sendo participante do mundo, pode mergulhar nessa corrupção e receber a impressão satânica. T2 563 1 Você tem irmãs mais jovens a quem abençoar com sua influência. Pode refletir uma doce e preciosa luz sobre a família de seu pai e tornar feliz seu coração; ou pode ser uma densa sombra, uma nuvem, uma tormenta que traz desolação. Sua paixão pela leitura é de tal caráter que se acariciada, perverterá a imaginação e se provará destrutiva. A menos que restrinja seus pensamentos, leitura e palavras, sua imaginação se tornará desesperadoramente doentia. Leia a Bíblia atentamente e com oração, e seja guiada pelos seus ensinos. Essa é a sua segurança. T2 564 1 Evite os rapazes. Em sua companhia suas tentações tornam-se sérias e poderosas. Tire o casamento de sua cabeça de menina. De maneira alguma está preparada para ele. Necessita de anos de experiência, antes de estar habilitada a compreender os deveres e assumir as responsabilidades da vida de casada. Positivamente, vigie seus pensamentos, suas paixões e afeições. Não os degrade para servir à concupiscência. Eleve-os à pureza; dedique-os a Deus. T2 564 2 Pode tornar-se moça prudente, modesta e virtuosa, mas não sem ardoroso esforço. Deve vigiar, orar, meditar, deve examinar seus motivos e ações. Analise intimamente seus sentimentos e ações. Praticaria na presença de seu pai um ato impuro? Não, verdadeiramente não. Mas o faz na presença de seu Pai celestial, que é muito mais excelso, santo e puro! Sim; corrompe o corpo na presença dos anjos puros e sem pecado e na presença de Cristo; e continua a fazê-lo sem respeitar a consciência, sem tomar em consideração a luz e as advertências que lhe foram dadas. T2 564 3 Lembre-se de que todos os seus atos são registrados. Você deve defrontar-se novamente com as coisas mais secretas de sua vida. Será julgada de acordo com as obras feitas na carne. Está preparada para isso? Você está se prejudicando física e moralmente. Deus lhe ordena a conservar seu corpo santo. "Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo... e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Não a julgará Deus por enfraquecer pela concupiscência o amor e as afeições, quando Ele reivindica a força de suas afeições e dedicação total a Seu serviço? T2 564 4 Novamente lhe advirto, como alguém que deve deparar com estas linhas naquele dia em que o caso de todos será decidido. Entregue-se a Cristo sem demora; só Ele, pelo poder de Sua graça, poderá redimi-la da ruína. Apenas Ele poderá levar suas faculdades morais e mentais a um estado saudável. Seu coração pode estar aquecido com o amor de Deus; o entendimento, claro e maduro; a consciência, iluminada, viva e pura; a vontade, reta e santificada, sujeita ao domínio do Espírito de Deus. Você pode fazer o que escolher. Se volver-se justamente agora, se cessar "de fazer mal" e aprender "a fazer o bem" (Isaías 1:16, 17), então será verdadeiramente feliz; terá êxito nas batalhas da vida e se levantará para a glória e honra, na vida melhor que esta. "Escolhei hoje a quem sirvais." Josué 24:15. ------------------------Capítulo 66 -- Para a esposa de um pastor T2 565 1 Prezada irmã: T2 565 2 Ontem dediquei algum tempo à reflexão e agora tenho uns poucos pensamentos a lhe apresentar. Não pude prontamente responder à pergunta referente ao seu dever de viajar com o esposo. Eu ainda não sabia o resultado de você acompanhá-lo, portanto, não podia falar com discernimento como se estivesse familiarizada com a influência que você tem exercido. Não posso dar conselhos às escuras. Preciso ter certeza de que meu conselho seja categoricamente correto. Grande vantagem pode ser tirada de minhas palavras; portanto, preciso ser muito cautelosa. Depois de cuidadosa reflexão, buscando evocar coisas que me foram mostradas em seu caso, estou preparada para escrever-lhe. T2 565 3 Das cartas que me tem escrito com respeito ao irmão J, temo que você esteja nutrindo preconceitos e manifestando certo ciúme. Espero que não seja esse o caso, mas receio que sim. Você e seu marido são muito sensíveis e naturalmente ciumentos; portanto, necessitam vigiar-se nesse sentido. Não achamos que o irmão J veja todas as coisas claramente. Pensamos que a esposa dele esteja longe do que é certo e exerça grande influência sobre ele; no entanto, esperamos que se todos agirem sabiamente para com ele, o irmão J se desvencilhará da armadilha de Satanás e verá tudo com maior clareza. T2 566 1 Querida irmã, estamos determinados a ser imparciais e não deixar que nossas palavras e ações, de modo algum sejam influenciadas por boatos. Não temos favoritos. Que o Senhor nos dê sabedoria celestial, a fim de podermos tratar o assunto justa e imparcialmente e assim estar em conformidade com a mente de Seu Espírito. Não queremos nossas obras centralizadas no eu. Não desejamos ter sentimentos pessoais. Se pensamos não ser especialmente considerados, ou se vemos ou imaginamos que vemos, positivo descaso, precisamos do espírito perdoador de nosso Mestre. Aqueles que professavam ser Seus seguidores não O receberam porque "Seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém" (Lucas 9:53), e Ele não lhes deu nenhuma indicação especial de que Se demoraria ali. Não abriram as portas ao Convidado celestial; não insistiram para que ficasse, embora percebessem que Ele estava cansado de Sua jornada e a noite caía. Não deram nenhum sinal de que realmente desejavam a Jesus. Os discípulos sabiam que Cristo pretendia passar ali aquela noite, e sentiram tanto o menosprezo a seu Senhor que ficaram irados e imploraram que Jesus mostrasse o devido ressentimento e mandasse vir fogo do céu para consumir aqueles que O haviam maltratado. Ele, porém, lhes repreendeu a indignação e o zelo por Sua honra, dizendo-lhes que viera não para julgar mas para mostrar misericórdia. T2 566 2 Essa lição de nosso Salvador é para você e para mim. Não devemos abrigar ressentimento em nosso coração. Quando injuriados, não injuriar. Ó ciúmes e ruins suspeitas, que danos têm causado! Como têm transformado amizade e amor em amargura e ódio! Devemos ser menos orgulhosos, menos sensíveis, ter menos amor-próprio e morrer para o egoísmo. Nosso interesse deve ser imerso em Cristo, e precisamos ser capazes de dizer: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim." Gálatas 2:20. Cristo nos disse como tornar tudo mais fácil e alegre enquanto vivemos: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:28, 29. A grande dificuldade é que há tão pouca mansidão e humildade que o jugo fere e a carga se torna pesada. Quando possuímos mansidão e humildade, estamos tão imersos em Cristo que não abrigamos a negligência ou desprezo no coração; somos surdos à censura, cegos ao escárnio e ao insulto. T2 567 1 Irmã I, como as peculiaridades do seu caso me foram claramente mostradas, tenho sérias objeções à sua viagem. Você não toma sobre si as responsabilidades que deveria. Anseia pela compaixão dos outros, mas nada dá em retorno. Depõe todo o seu peso onde se encontra, e muito freqüentemente é servida quando aqueles que já levam o próprio fardo e os seus também, não são mais capazes de fazer isso do que você. A irmã se torna indefesa demais para benefício próprio, e sua influência não é a que deve ser exercida pela esposa de um pastor. Você necessita mais trabalho físico do que está tendo, e pelo que me foi mostrado, penso que estaria cumprindo melhor seu dever se empenhando animadamente na obra de educar sua filha e cultivar gosto pelos deveres domésticos. Nesse assunto você não recebeu, em sua infância, a educação que deveria, e isso tornou sua vida mais infeliz do que de outro modo teria sido. Você não aprecia o trabalho físico, e quando viaja, preenche todas as características de um inválido e deixa de ser prestativa e fazer o que pode para aliviar as próprias responsabilidades. Não percebe que, freqüentemente, os mesmos que a atendem não são mais capazes de executar tarefas extras do que você. A irmã apóia-se nos outros e depõe seu peso total sobre eles. Não tenho evidência de que Deus a chamou para fazer uma obra especial viajando. T2 567 2 Você deve obter uma educação que ainda não possui. Quem pode melhor instruir a criança do que sua mãe? Quem pode tão bem perceber os defeitos na própria constituição e na dos filhos do que a mãe, enquanto desempenha os deveres que lhe foram confiados pelo Céu? O fato de não gostar desse trabalho não é prova de que essa não seja a tarefa que Deus lhe tenha designado. Você não tem suficiente força física e mental para fazer disso uma desculpa para viajar. Deseja ser servida em lugar de servir. Não é prestativa suficiente para compensar a carga que impõe sobre o marido e aqueles que a cercam. T2 568 1 Aqueles que não controlam os próprios filhos não estão qualificados para agir sabiamente em assuntos da igreja, ou para lidar com mentes endurecidas sujeitas às tentações especiais de Satanás. Se podem alegre e amorosamente executar a parte deles requerida como pais, então podem melhor entender como suportar os fardos na igreja. Querida irmã, eu a aconselho a ser uma boa esposa e tornar aprazível o lar para seu marido. Conte com os próprios recursos e não se apóie tanto nele. Perceba o verdadeiro trabalho que o Senhor deseja que faça. Você fica ansiosa por fazer uma grande obra, cumprir elevadas missões, e negligencia os pequenos deveres à mão, que precisam ser tão bem cumpridos quanto os maiores. Você os rejeita e deseja um trabalho maior. Que suas ambições sejam despertadas para a utilidade, a ser uma obreira no mundo, em lugar de espectadora. T2 568 2 Minha querida irmã, falo-lhe com franqueza; pois não ouso fazê-lo de outro modo. Rogo-lhe que assuma as responsabilidades da vida em lugar de evitá-las. Ajude seu marido, ajudando a si mesma. A opinião que ambos defendem sobre a dignidade que o pastor deve manter não está de acordo com o exemplo de nosso Senhor. O ministro de Cristo deve possuir sobriedade, mansidão, amor, longanimidade, paciência, piedade e cortesia. Deve ser ponderado, elevado no pensamento e na conversação e de comportamento irrepreensível. Essa é a dignidade evangélica. Mas, se um pastor visita uma família onde pode servir a si mesmo, deve agir assim por todos os meios, e por seu exemplo estimular a atividade via trabalho físico, quando não tem uma multiplicidade de outros deveres e responsabilidades. Ele não será diminuído em sua dignidade e se relacionará melhor com saúde e vida, ao empenhar-se em trabalho útil. A circulação do sangue será mais uniforme e equilibrada. O trabalho físico, diferentemente do mental, desviará o sangue do cérebro. É essencial que seu marido faça mais trabalho físico para aliviar o cérebro. A digestão será promovida pelo exercício físico. Se ele gastar uma parte de cada dia em exercício físico, quando não obrigado por esforços cansativos de uma série de reuniões, isso lhe seria um grande benefício e não prejudicaria sua dignidade ministerial. Esse exemplo estaria de acordo com o de nosso divino Mestre. T2 569 1 Nós a amamos e desejamos que seja bem-sucedida em seus esforços por uma vida melhor. Steamer "Keokuk", rio Mississippi, 30 de Setembro de 1869. ------------------------Capítulo 67 -- Infidelidade na mordomia T2 569 2 Prezado irmão K: T2 569 3 Umas poucas coisas me preocupam e sinto o dever de escrever ao irmão L e a você. Eu lhe relatei a essência, mas como minha mente ainda está sobrecarregada, escreverei. T2 569 4 Foi-me mostrado que com você, o eu e o meu ocupam o primeiro lugar. Você tem tão grande cuidado de si mesmo que o Senhor não tem espaço para trabalhar por você. O irmão não Lhe tem dado chance. Ele tem, em grande medida, permitido que o irmão L e você trabalhem segundo o próprio discernimento, para serem convencidos de que sua sabedoria é tolice. Vocês não têm trabalhado pelos interesses da viúva e dos órfãos como o Senhor ordenou a Seus seguidores; nem considerado o caso dos pobres do Senhor como seu próprio, tomando especial interesse neles, nem buscado glorificar ao Senhor e exaltar Seu nome; portanto, o Senhor tem consentido que você e o irmão L sigam uma conduta de própria escolha. Ele permitiu que cuidassem de si mesmos. Os próprios interesses egoístas têm sido o fundamento de suas ações, e os irmãos colherão o que semearam. Vi que certamente receberiam a recompensa que mais cedo ou mais tarde segue aqueles que atendem a seus próprios interesses. "Presta contas da tua mordomia" (Lucas 16:2), precisa ser ouvido pelos irmãos. Vocês são responsáveis perante Deus pelo trabalho que lhes foi confiado, o qual têm negligenciado vergonhosamente para servirem a si mesmos. T2 570 1 Houvessem os irmãos se apresentado a Deus aprovados, buscando o reino do Céu e a justiça de Cristo, e teriam feito as obras do Senhor. Os pobres, as viúvas, os órfãos teriam despertado nos irmãos terna piedade e compaixão; vocês teriam interesse neles e os tratariam como desejariam que sua esposa e filhos fossem tratados, caso fossem afligidos e dependessem das frias misericórdias do mundo ou de professos cristãos insensíveis e desumanos. Tem havido da parte de vocês uma triste, insensível e impiedosa negligência aos desafortunados. Vocês têm servido aos próprios interesses, sem consideração pelas grandes necessidades deles. Deus não pode abençoá-los até que vejam seu pecado a esse respeito. T2 570 2 Vi que a obra do Senhor não tem sido mais sagrada a seus olhos do que os próprios negócios. As coisas eternas não têm sido discernidas. O Senhor enviou advertências e reprovações a fim de despertá-los para o senso do dever, fazendo-os saber o que espera dos irmãos. Mas vocês não têm atendido a essas advertências. Não compreenderam que estão lidando com Deus. Roubam ao Senhor e servem a si mesmos. T2 571 1 Há muitos que em boa fé lhes têm enviado ao escritório recursos que obtiveram com sacrifício. Homens e mulheres têm trabalhado duramente e consagrado ao Senhor os recursos obtidos por árduo trabalho e estrita economia, e enviado à sede para o progresso da causa. Viúvas pobres têm enviado quase todo o seu sustento, confiando no cuidado divino, consagrando os recursos com orações e lágrimas, no entanto, remetendo-os com alegria e sentindo que estão auxiliando na grande obra de salvação de almas. Famílias pobres vendem sua única vaca, privando de leite a si e a suas crianças, sentindo que estão fazendo um sacrifício para Deus. Têm enviado os recursos ao escritório em boa fé. Egoísmo e má administração têm contribuído para a dissipação desses recursos. Deus considera responsáveis os que têm a seu encargo o manuseio dos mesmos. "Presta contas da tua mordomia" (Lucas 16:2) logo será ouvido. Possa o Senhor ajudá-los a se livrarem de toda mácula. Battle Creek, Michigan, 17 de Janeiro de 1870. ------------------------Capítulo 68 -- Sensibilidade equivocada T2 571 2 Querida irmã M: T2 571 3 Seu caso está em minha mente e não posso evitar externar-lhe por escrito minhas convicções do que vi a seu respeito. Estou convencida de que você está vagando em névoa e escuridão. Não vê as coisas sob a devida luz. Cegou seus olhos a respeito do próprio caso, desculpando-se assim: "Eu não teria feito isso ou aquilo se não fosse por certas influências de outros, que me levaram a essa conduta." T2 571 4 Você está continuamente culpando as circunstâncias, que é nada menos do que criticar as providências. De contínuo procura alguém ou algo para ocupar o lugar de bode expiatório, sobre o qual possa lançar a culpa de tê-la levado a sentir e falar de modo indigno de um cristão. Em lugar de simplesmente censurar-se pelos próprios defeitos, culpa circunstâncias e ocasiões que a levaram a desenvolver traços de caráter que permanecem dormentes ou escondidos sob a superfície, a menos que alguma coisa surja para perturbá-los e despertá-los à vida e ação. Então eles surgem em toda a sua deformidade e força. T2 572 1 Engana-se com a idéia de que essas desagradáveis características não existem, até ser levada a situações que a façam agir e falar de maneira a revelá-las a todos. Não está disposta a ver e confessar que isso procede de sua natureza carnal, ainda não transformada e submetida a Cristo. O eu ainda não foi crucificado. T2 572 2 Você às vezes passa dias e semanas sem desenvolver o espírito de maldade que eu chamo de impaciência, e um espírito ditatorial -- desejo de controlar seu marido. Seu amor para controlar e para obrigar os outros a aceitarem suas idéias quase a arruinou e ao esposo também. Você aprecia dar sugestões e ordens aos outros. Gosta de fazer os outros sentirem e verem que você possui a melhor luz e é especialmente guiada por Deus. Se eles não concordam, você começa a suspeitar, a ficar enciumada e a sentir-se desassossegada, insatisfeita e sumamente infeliz. T2 572 3 Nada desperta tão prontamente seus maus traços de caráter como alguém pôr em dúvida sua sabedoria e julgamento ao exercer sua autoridade. Seu espírito forte e dominador, que parecia adormecido, desperta com plena energia. O eu então a controla e você não é governada por razão imparcial e calmo critério mais do que uma pessoa insana. O eu em toda a sua força disputa o poder e exigirá a mais firme mentalidade para manter você sob controle. Após o ataque de insanidade cessar, você aceita ter seu comportamento questionado. Mas está sempre pronta a justificar-se com o pretexto de que é muito sensível, que se ressente profundamente e sofre muito. Vi que isso não a desculpará perante Deus. Você confunde orgulho com sensibilidade. O eu é proeminente. Quando o eu está crucificado, então essa sensibilidade ou orgulho morrerá; até então, você não é uma cristã. Ser um cristão é ser semelhante a Cristo; é possuir humildade e um espírito manso e quieto, que suportará contradições sem ficar enfurecido ou tornar-se insano. Se o manto enganoso que está sobre você pudesse ser retirado, de forma a permitir que você se enxergue como Deus a vê, já não buscaria justificar-se, mas cairia quebrantada sobre Cristo, o único que pode remover os defeitos de seu caráter e controlá-la. ------------------------Capítulo 69 -- Convocações T2 573 1 Deus instruiu os israelitas para se reunirem diante dEle em determinadas ocasiões, no lugar que Ele escolheria, para observarem dias especiais onde nenhum trabalho desnecessário devia ser feito, mas esse tempo devia ser dedicado à reflexão sobre as bênçãos que Ele lhes havia concedido. Nessas ocasiões especiais deviam trazer ao Senhor dádivas, ofertas voluntárias e de ações de graça, de acordo com as bênçãos recebidas. Os servos, servas, estrangeiros, órfãos e viúvas eram todos orientados a se regozijarem porque Deus, por Seu maravilhoso poder, os tirara da servil escravidão para a alegria da liberdade. Não deviam comparecer diante de Deus de mãos vazias. Deviam trazer provas de gratidão a Deus por Sua contínua misericórdia e bênçãos derramadas sobre eles. Essas ofertas eram variadas, de acordo com a avaliação que os doadores faziam das bênçãos que tinham o privilégio de desfrutar. Assim, o caráter das pessoas se desenvolvia naturalmente. Aqueles que tinham em alto valor as bênçãos concedidas por Deus, traziam ofertas conforme sua apreciação dessas bênçãos. Os que tinham suas faculdades morais entorpecidas e neutralizadas por egoísmo e idolátrico amor aos favores recebidos, em vez de inspirados por ardente amor pelo bondoso Benfeitor, traziam ofertas mesquinhas. Dessa maneira eram revelados os corações. Além desses dias de festas religiosas, de alegria e regozijo, a páscoa anual devia ser comemorada pela nação judaica. O Senhor estipulou que se eles fossem fiéis na observância de Suas solicitações, Ele os abençoaria em toda a sua colheita e em toda a obra de suas mãos. Deuteronômio 16:15. T2 574 1 Deus não requer menos de Seu povo nestes últimos dias, em sacrifícios e ofertas, do que o fez da nação judaica. Aqueles a quem Ele tem abençoado com habilidades, e mesmo as viúvas e os órfãos, não devem estar desatentos às Suas bênçãos. Os que Deus prosperou devem especialmente devolver o que Lhe pertence. Devem comparecer diante dEle com espírito de sacrifício próprio e trazer suas ofertas de acordo com as bênçãos que Ele lhes concedeu. Mas muitos a quem Deus favoreceu manifestam ingratidão. Se as bênçãos vêm sobre eles e o Senhor lhes aumenta os bens, usam essa generosidade como cordas para prendê-los ao amor de suas posses. Permitem que os negócios mundanos se apossem de suas afeições e de todo seu ser, e negligenciam a devoção e os privilégios religiosos. Não podem pôr de lado o atendimento a seus negócios e se apresentarem perante Deus, ainda que seja uma vez por ano. Tornam as bênçãos de Deus em maldição. Servem a seus interesses temporais, negligenciando os reclamos divinos. T2 574 2 Os que possuem muito dinheiro permanecem em casa, ano após ano, absorvidos em suas preocupações e interesses mundanos, achando que não podem fazer um pequeno sacrifício e assistir às reuniões anuais para adorar a Deus. Ele os têm abençoado em seu cesto e em sua amassadeira (Deuteronômio 28:5) e os circundado de bênçãos à direita e à esquerda, entretanto, retêm dEle as pequenas ofertas requeridas. Eles amam servir a si mesmos. Seu coração será como o deserto estéril sem orvalho ou chuva. O Senhor lhes têm dado as preciosas bênçãos de Sua graça. Libertou-os da escravidão do pecado e do cativeiro do erro, abrindo-lhes à entenebrecida compreensão a gloriosa luz da verdade presente. Não deveriam essas evidências do amor e da misericórdia divina despertar gratidão? Aqueles que professam crer que o fim de todas as coisas está próximo, ficarão cegos aos próprios interesses espirituais, e viverão somente para este mundo e esta vida? Esperam eles que seus interesses eternos cuidem de si mesmos? Não obterão poder espiritual sem esforço de sua parte. T2 575 1 Muitos que professam estar aguardando o aparecimento de nosso Senhor, estão sobrecarregados e ansiosos em busca de lucros mundanos. Estão cegos a seus interesses eternos. Eles trabalham por aquilo que não satisfaz. Gastam dinheiro naquilo que não é pão. Lutam para contentar-se com os tesouros que juntaram na Terra, os quais hão de perecer, e negligenciam a preparação para a eternidade, que deve ser a primeira e única missão verdadeira da vida. T2 575 2 Todos os que puderem, assistam a essas reuniões anuais. Todos devem sentir que Deus deles requer isso. Se não se aproveitam dos privilégios que o Senhor lhes proporciona a fim de se tornarem fortes nEle, e no poder de Sua graça, tornar-se-ão mais e mais fracos, tendo cada vez menos desejo de consagrar tudo a Deus. Venham, irmãos e irmãs, a essas sagradas reuniões de convocação para encontrar Jesus. Ele virá à festa. Achar-Se-á presente, e fará por vocês aquilo de que mais necessitam. Suas fazendas não devem ser consideradas de maior valor que os mais altos interesses do coração. Todos os tesouros que possuem, por mais valiosos que sejam, não lhes bastariam para comprar paz e esperança, as quais lhes serão de infinito lucro, ainda que lhes custem tudo quanto têm e as lidas e sofrimentos da vida inteira. Uma compreensão clara e firme das coisas eternas, e um coração disposto a entregar tudo a Cristo, são bênçãos de mais valor do que todas as riquezas, prazeres e glórias deste mundo. T2 576 1 Essas reuniões campais são importantes. Elas custam algo. Os servos de Deus estão consumindo a vida para ajudar as pessoas, enquanto muitas delas parecem não necessitar de auxílio. Por temor de perder um pouco do ganho deste mundo, alguns deixam passar esses preciosos privilégios como se fossem de pequena importância. Que todos os que professam crer na verdade respeitem todo privilégio que Deus lhes oferece, para obter claras concepções de Sua verdade, Suas reivindicações e do necessário preparo para Sua vinda. Uma calma, alegre e obediente confiança em Deus é o que Ele requer. T2 576 2 Vocês não necessitam fatigar-se com ansiedades e cuidados desnecessários. Trabalhem fielmente cada dia, fazendo a obra que a providência de Deus lhes designou, e Ele cuidará de vocês. Jesus ampliará e aprofundará Suas bênçãos. Vocês devem se esforçar se quiserem obter a salvação, afinal. Venham às reuniões preparados para trabalhar. Deixem em casa os cuidados e venha encontrar-se com Jesus. Ele será achado por vocês. Venham com ofertas, de acordo com as bênçãos recebidas. Demonstrem gratidão ao seu Criador, o Doador de todos os benefícios, por meio de uma oferta voluntária. Que ninguém dos que podem, compareça de mãos vazias. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança." Malaquias 3:10. ------------------------Capítulo 70 -- Reuniões de testemunhos e oração T2 577 1 Recebi há pouco de um irmão, a quem tenho em alta estima, uma carta em que me perguntava como devem ser dirigidas as reuniões. Desejava saber se diversas orações devem ser oferecidas sucessivamente e, após pequena pausa, várias outras orações. T2 577 2 Pela luz que tenho recebido sobre o assunto, sou de opinião que Deus não requer que ao nos reunirmos para adorá-Lo, façamos disto um período enfadonho e cansativo ao ficarmos muito tempo ajoelhados, ouvindo uma série de compridas orações. Pessoas fracas não podem suportar essa sobrecarga sem ficarem extremamente fatigadas e exaustas. O corpo fica cansado por permanecer inclinado durante tanto tempo; e pior ainda, a mente se torna fatigada em virtude dessas prolongadas orações, deixando de receber o refrigério espiritual, fazendo com que essas reuniões resultem em grande prejuízo. Eles se tornaram fatigados mental e fisicamente, e não receberam poder espiritual. T2 577 3 As reuniões de testemunhos e oração não devem causar tédio. Sendo possível, todos devem comparecer à hora marcada e, se houver retardatários que se atrasem um quarto de hora ou mais, cumpre não esperar por eles. Se houver apenas duas pessoas presentes, elas podem reivindicar a promessa. As reuniões devem, sendo possível, ser iniciadas na hora marcada, quer estejam presentes poucos ou muitos. O formalismo e o constrangimento devem ser postos de lado, devendo todos estar prontos para o dever. Em condições normais as orações não devem se prolongar por mais de dez minutos. Depois de mudada a posição e de cantar ou ser feita uma exortação quebrando a monotonia, então aqueles que desejarem podem orar. T2 578 1 Todos devem considerar um dever cristão ser breves na oração. Digam ao Senhor exatamente o que querem, sem rodeios. Na oração particular, cada qual tem o direito de orar o tempo que lhe aprouver e de ser minucioso tanto quanto deseja. Poderá então orar pelos amigos e parentes. É a câmara o lugar onde podemos estender-nos sobre as nossas dificuldades, provações e tentações pessoais. Uma reunião regular de adoração a Deus não é o lugar de expor os assuntos particulares do coração. T2 578 2 Qual o objetivo de reunir-se? Porventura seria dar informação a Deus em oração, ou instruí-Lo contando tudo o que sabemos? Reunimo-nos para mutuamente nos edificarmos com o intercâmbio de idéias e sentimentos; para adquirirmos poder, luz e ânimo ao nos familiarizarmos com as esperanças e desejos uns dos outros; e ao orarmos com fé, sinceridade e fervor receberemos refrigério e vigor da Fonte de poder. Essas reuniões devem, pois, ser ocasiões sumamente preciosas e tornar-se atraentes a todos os que apreciem as coisas religiosas. T2 578 3 Temo que haja alguns que não levam suas dificuldades a Deus em orações particulares, reservando-as para as reuniões de oração, e ali querem compensar suas orações de vários dias. Esses podem ser considerados destruidores das reuniões de testemunhos e oração. Eles não emitem luz e a ninguém edificam. Suas orações frias e formais, e longos testemunhos refletindo sua apostasia projetam sombras. Todos se sentem aliviados quando finalmente se calam e é quase impossível dissipar as trevas e frieza que suas orações e testemunhos trouxeram à reunião. Segundo a luz que me foi dada, nossas reuniões devem ser espirituais e sociais, e não muito demoradas. O retraimento, o orgulho, a vaidade, o temor de homens devem ficar de fora. Pequenas diferenças e preconceitos não devem ser ali introduzidos. Como numa família unida, simplicidade, mansidão, confiança e amor devem existir no coração dos irmãos e irmãs que se reúnem para reanimar-se e fortalecer-se ao partilharem seu conhecimento. T2 579 1 "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14), diz o divino Mestre. Nem todos têm em sua vida religiosa as mesmas experiências. A despeito de tais diferenças, eles se reúnem e em espírito de simplicidade e humildade compartilham suas experiências. Todos os que trilham o caminho do progresso cristão, devem e hão de ter experiências vivificantes, que ofereçam novidade e interesse. Uma experiência vivificante compreende tentações, provações e lutas cotidianas, como também esforços decisivos, vitórias, paz e alegria através de Jesus. A simples narração dessas experiências proporciona luz, força e conhecimento que ajudarão outros a progredir na vida espiritual. A adoração a Deus deve ser interessante e instrutiva para os que têm amor às coisas divinas e sagradas. T2 579 2 Jesus, o divino Mestre, não viveu afastado dos filhos dos homens; para poder beneficiá-los, baixou do Céu à Terra onde eles estavam, para que a pureza e santidade de Sua vida se refletissem sobre a senda de todos, iluminando-lhes o caminho para o Céu. O Redentor do mundo procurou tornar Suas lições claras e simples, para que todos as compreendessem. Geralmente preferia o ar livre para Suas palestras. Não havia casa que comportasse a multidão que O seguia; mas tinha especiais motivos para ir às campinas e praias a fim de ministrar-lhes Suas lições e ensinos. Tinha ali uma vista majestosa da paisagem e utilizava cenas e objetos com os quais as pessoas de vida humilde estavam familiarizadas, para ilustrar-lhes as verdades importantes que lhes tinha a ensinar. Aos Seus ensinos costumava associar as obras de Deus na natureza. Os pássaros, que despreocupados entoavam seus cânticos; as flores dos vales, resplandecendo em suas belas cores; os lírios descansando em sua pureza no seio dos lagos; as árvores majestosas, as terras cultivadas, as ondeantes searas, o solo estéril, as árvores improdutivas, as eternas montanhas, as impetuosas correntes, o sol poente tingindo e dourando o horizonte -- tudo isso Ele empregava para impressionar Seus ouvintes acerca das verdades eternas. Harmonizava as obras dos dedos de Deus no Céu e na Terra com as palavras de vida que Se lhes propunha imprimir na mente, para que, pela contemplação de Suas maravilhosas obras na natureza, Suas lições lhes fossem continuamente lembradas. T2 580 1 Em todos os Seus esforços Cristo procurou tornar interessantes os Seus ensinos. Sabia que a multidão cansada e faminta não podia receber benefício espiritual, e não Se esqueceu de suas necessidades materiais. Em certa ocasião realizou um milagre para alimentar cinco mil pessoas que haviam se reunido para ouvir de Seus lábios as palavras de vida. Quando anunciava a preciosa verdade aos Seus ouvintes, Jesus observava as coisas que O rodeavam. A paisagem geralmente atraía a vista de todos e despertava a admiração nos que eram amantes do belo. Ele podia exaltar a sabedoria de Deus nas obras da criação, e associar Seus sagrados ensinos, conduzindo a mente dos ouvintes através da natureza para o Autor da natureza. T2 580 2 Deste modo as paisagens, árvores, pássaros, flores do vale, colinas, lagos e o céu radiante eram associados na mente dos ouvintes com verdades solenes que se tornariam lembranças sagradas ao serem reconsideradas, depois de Sua ascensão aos Céus. T2 580 3 Quando Cristo ensinava o povo, não empregava o tempo em orar. Não o sujeitava, como os fariseus, a longas e tediosas cerimônias e orações. Aos Seus discípulos ensinou como deviam orar: "E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós Lho pedirdes. Portanto, vós orareis assim." Mateus 6:5-9. T2 581 1 Cristo deu a entender a Seus discípulos que suas orações deviam ser breves, exprimindo exatamente o que desejavam, e nada mais. Sugeriu-lhes a extensão e substância das orações, que resumiam seus desejos de bênçãos temporais e espirituais, bem como a gratidão manifestada por elas. Quão compreensiva é essa Oração Modelo! Abrange as necessidades reais de todos. Um ou dois minutos é tempo suficiente para qualquer oração habitual. Haverá casos em que a oração é expressa de modo especial pelo Espírito de Deus, quando a súplica é feita no Espírito. O coração ardente anseia e suspira por Deus; o espírito luta como Jacó, e não se satisfaz enquanto não vir uma manifestação especial do poder de Deus. Isso é o que Deus deseja. T2 581 2 Muitos, entretanto, fazem orações secas em forma de sermão. Eles oram aos homens e não a Deus. Se estivessem orando a Deus e realmente compreendessem o que estavam fazendo, assustar-se-iam de sua audácia, pois estão dirigindo ao Senhor um discurso, em forma de oração, como se o Criador do Universo necessitasse de informações especiais a respeito do que se passa no mundo. Tais orações são como "o metal que soa ou como o sino que tine". 1 Coríntios 13:1. Não são tidas em conta alguma no Céu. Os anjos de Deus e também os mortais que são obrigados a escutá-las, aborrecem-se delas. T2 582 1 Jesus foi encontrado muitas vezes orando. Retirava-Se para os bosques solitários ou para as montanhas, a fim de ali elevar Suas súplicas ao Pai. Terminados os trabalhos e cuidados do dia, enquanto os cansados buscavam o repouso, Jesus dedicava tempo à oração. Não queremos desencorajar a oração, pois entre nós se ora e vigia muito pouco. E poucas orações são feitas com entendimento. Orações fervorosas e eficazes poderão ser feitas a todo tempo, e jamais fatigarão alguém. Essas orações atraem e reanimam a todos os que tomam interesse na devoção. T2 582 2 A oração particular é negligenciada, e essa é a razão por que muitos apresentam orações longas, tediosas, que refletem apostasia, quando se reúnem para adorar a Deus. Querem, com suas orações, satisfazer os deveres negligenciados da semana inteira e oram demoradamente, esperando reparar assim a sua falta e acalmar a consciência que os acusa. Esperam pela oração conquistar o favor de Deus. Freqüentemente, porém, essas orações têm por conseqüência reduzir outros a seu baixo nível de trevas espirituais. Se os cristãos atendessem mais aos ensinos de Cristo quanto ao dever de orar e vigiar, o seu culto a Deus havia de provar-se mais racional. ------------------------Capítulo 71 -- Como observaremos o Sábado? T2 582 3 Deus é misericordioso. Razoáveis são as Suas reivindicações, em harmonia com a bondade e benevolência de Seu caráter. O objetivo do sábado foi beneficiar toda a humanidade. O homem não foi feito para ajustar-se ao sábado; pois o sábado foi feito depois da criação do homem, a fim de lhe satisfazer às necessidades. Depois de haver Deus feito o mundo em seis dias, descansou, e santificou e abençoou o dia no qual descansou de toda a Sua obra que criara e fizera. Ele separou aquele dia especial para o homem nele repousar de seu labor, para que, ao olhar para a Terra embaixo e para os céus em cima, lembrasse de que Deus fez tudo isto em seis dias e descansou ao sétimo; e para que ao contemplar as provas palpáveis da infinita sabedoria de Deus, seu coração se enchesse de amor e reverência por seu Criador. T2 583 1 Para santificar o sábado não é necessário encerrar-nos entre paredes, afastados das belas cenas da natureza e do ar livre e revigorador do céu. Não devemos em caso algum permitir que encargos e transações comerciais nos desviem a mente do sábado do Senhor, que Ele santificou. Nem devemos permitir que nossa mente se demore em coisas de caráter mundano. Mas a mente não pode ser refrigerada, vivificada e enobrecida sendo confinada quase todas as horas do sábado entre paredes, ouvindo longos sermões e orações tediosas, formais. O sábado do Senhor é mal-empregado se for assim celebrado. O objetivo para o qual foi criado não é atingido. O sábado foi feito para o homem, para lhe ser uma bênção mediante o desviar-lhe a mente do trabalho secular para a contemplação da bondade e glória de Deus. É necessário que o povo de Deus se reúna para falar sobre Ele, para trocar pensamentos e idéias a respeito das verdades contidas em Sua Palavra, e dedicar uma parte do tempo à devida oração. Esses períodos, porém, mesmo no sábado, não devem ser tornados tediosos por sua extensão e falta de interesse. T2 583 2 Numa parte do dia, todos devem ter oportunidade de ficar ao ar livre. Como podem as crianças obter um mais correto conhecimento de Deus, e sua mente ser mais impressionada, do que passando parte do tempo ao ar livre, não em brincadeiras, mas na companhia de seus pais? Que sua mente juvenil se ligue a Deus no belo cenário da natureza, seja sua atenção chamada às provas de Seu amor ao homem nas obras criadas, e elas serão atraídas e demonstrarão interesse. Não estarão em risco de associarem o caráter de Deus com tudo quanto é rigoroso e severo; mas ao verem as belas coisas que Ele criou para a felicidade do homem, serão levadas a considerá-Lo um terno e amorável Pai. Verão que Suas proibições e regras não são feitas meramente para mostrar Seu poder e autoridade, mas têm em vista a felicidade de Seus filhos. Ao revestir-se o caráter de Deus do aspecto de amor, benevolência, beleza e atração, as crianças são induzidas a amá-Lo. Vocês podem encaminhar-lhes a mente aos lindos pássaros, que enchem o espaço de música com seus alegres cânticos, às hastes de relva e às flores de maravilhoso colorido, em sua perfeição, a perfumarem o ar. Todos esses proclamam o amor e habilidade do Artista celeste, e manifestam a glória de Deus. T2 584 1 Pais, por que não empregar as preciosas lições que Deus nos deu no Livro da natureza, de modo a dar a nossos filhos uma idéia correta do Seu caráter? Os que sacrificam a simplicidade à moda, e se excluem das belezas naturais, não podem ter mente espiritual. Não podem entender a habilidade e o poder de Deus tais como se revelam em Suas obras criadas; portanto, seu coração não é vivificado e não pulsa com novo amor e interesse, e não se enchem de admiração e reverência ao verem Deus na natureza. T2 585 2 Todos quantos amam a Deus devem fazer o que lhes seja possível para tornar o sábado deleitoso, santo e digno de honra. Não podem fazer isso buscando o próprio prazer em distrações pecaminosas, proibidas. Podem, todavia, fazer muito para exaltar o sábado em sua família e torná-lo o dia mais interessante da semana. Cumpre-nos consagrar tempo para despertar o interesse de nossos filhos. Uma mudança terá sobre eles benéfica influência. Podemos andar com eles ao ar livre; sentar-nos com eles nos bosques e à luz do Sol, e oferecer a sua mente irrequieta algo com que se alimentar, mediante o conversar com eles sobre as obras de Deus, e podemos inspirar-lhes amor e reverência chamando-lhes a atenção para as belas coisas da natureza. T2 585 1 Devemos tornar o sábado tão interessante para nossa família, que sua volta semanal seja saudada com alegria. Os pais não podem melhor exaltar o sábado e honrá-lo, do que idealizando meios de comunicar a devida instrução a sua família, interessando-a nas coisas espirituais, dando-lhes uma visão correta do caráter de Deus, e do que Ele requer de nós a fim de aperfeiçoarmos caráter cristão e alcançarmos a vida eterna. Pais, tornem o sábado um deleite, para que seus filhos o aguardem e o acolham de coração. ------------------------Capítulo 72 -- Recreação cristã* T2 585 2 Tenho estado a pensar no contraste que se observaria entre nossa reunião aqui, hoje, e as que são em geral promovidas por descrentes. Em vez de oração, e da menção de Cristo e das coisas religiosas, ouvir-se-ia risadas tolas e conversação frívola. Seu objetivo seria divertir-se a valer. A reunião começaria com insensatez e terminaria em vaidade. Queremos que nossas reuniões sejam dirigidas de tal modo e nós mesmos nos comportemos de tal maneira que possamos voltar para casa com a consciência livre de ofensa para com Deus e os homens; a consciência de não havermos ferido ou prejudicado de qualquer forma aqueles com quem nos associamos, nem termos exercido sobre eles influência nociva. T2 585 3 Eis aí onde muitos falham. Não consideram que são responsáveis pela influência que exercem diariamente; que terão de dar contas a Deus pelas impressões que causam, e pela influência que exercem sobre todos aqueles com quem se relacionam na vida. Se essa influência tiver a tendência de desviar de Deus a mente dos outros, atraindo-os rumo à vaidade e à insensatez, levando-os a buscar o próprio prazer em divertimentos e extravagantes condescendências, hão de dar contas disso. E se tais pessoas são homens e mulheres de influência, e sua posição é de modo a fazer com que seu exemplo afete a outros, maior então será seu pecado por negligenciarem ajustar sua conduta pela norma bíblica. T2 586 1 Os momentos que estamos hoje fruindo se acham exatamente em harmonia com minhas idéias sobre recreação. Procurei apresentar meus pontos de vista sobre esse assunto, mas eles podem ser melhor ilustrados do que expressos. Achava-me neste local cerca de um ano atrás, quando houve uma reunião semelhante à que temos agora. Quase tudo transcorreu de forma muito agradável, contudo algumas coisas foram objetáveis. Alguns condescenderam consideravelmente com gracejos e zombarias. Nem todos eram observadores do sábado, e manifestou-se uma influência não tão agradável como desejávamos. T2 586 2 Creio, porém, que ao passo que estamos buscando refrigerar nosso espírito e revigorar o corpo, Deus requer que empreguemos todas as nossas faculdades em todo o tempo, para os melhores fins. Podemos associar-nos como estamos fazemos hoje aqui, e fazer tudo para a glória de Deus. Podemos e devemos dirigir nossas recreações de tal maneira que sejamos habilitados a cumprir melhor nossos deveres, para que nossa influência seja mais benéfica sobre aqueles com quem nos associamos. Isto se aplicaria especialmente a uma ocasião como esta, que deve ser de animação para todos nós. Podemos voltar a nossos lares com a mente revigorada e refrigerado o corpo, preparados para reiniciar o trabalho com mais esperança e ânimo. T2 587 1 Cremos que é nosso privilégio glorificar a Deus todos os dias de nossa vida na Terra; que não devemos viver neste mundo simplesmente para nosso próprio divertimento, para agradar a nós mesmos. Estamos aqui para beneficiar a humanidade, para ser uma bênção à sociedade. E se deixarmos nossa mente vagar naquele baixo rumo em que muitos, que estão buscando apenas vaidade e insensatez, deixam correr a sua, como poderíamos ser uma bênção à sociedade, um benefício para nossa espécie e geração? Não podemos, sem culpa, condescender com qualquer divertimento que nos incapacite para o mais fiel desempenho dos deveres comuns da vida. T2 587 2 Devemos buscar aquilo que é elevado e belo. Devemos encaminhar a mente em sentido diverso daquilo que é superficial e sem importância, que não tem solidez. Nosso desejo é tirar novas forças de tudo em que nos empenhemos. De todas essas reuniões para fins de recreação, de todas essas aprazíveis associações, precisamos colher novas energias para tornar-nos homens e mulheres melhores. De toda fonte possível, devemos obter novo ânimo, nova resistência, novo poder a fim de ser-nos possível elevar nossa vida à pureza e santidade, e não descermos ao baixo nível deste mundo. Ouvimos muitos que professam a religião de Cristo falarem freqüentemente assim: "Nós devemos todos baixar o nível." Não existe tal coisa como um cristão baixar o nível. Abraçar a verdade de Deus e a religião bíblica não é descer, mas atingir um nível elevado, um patamar superior onde podemos comungar com Deus. T2 587 3 Por isso Cristo humilhou a Si mesmo para tomar nossa natureza, a fim de que por Sua humilhação, sofrimento e sacrifício Se tornasse o degrau para que o decaído homem alcançasse Seus méritos, e que, através de Sua excelência e virtude, os esforços para guardar a lei de Deus Lhe fossem aceitos. Não há tal coisa como baixar o nível. Estamos buscando firmar nossos pés sobre a exaltada plataforma da verdade eterna. Estamos buscando tornar-nos mais semelhantes aos anjos celestiais, mais puros de coração, mais impolutos, inocentes e imaculados. T2 588 1 Buscamos pureza e santidade de vida para podermos, afinal, ser qualificados para a sociedade celestial, no reino da glória. E o único meio para atingir este aprimoramento do caráter cristão é através de Jesus Cristo. Não há outro caminho para o aperfeiçoamento da família humana. Alguns falam da humilhação que suportaram e do sacrifício que fizeram por terem aceitado a verdade divina. É certo que o mundo não aceita a verdade. Os descrentes não a recebem. Eles podem falar daqueles que abraçaram a verdade e buscaram o Salvador, representando-os como deixando tudo, desistindo das coisas, e sacrificando tudo o que merece ser conservado. Mas, não me digam isso! Eu conheço bem o problema. Minha experiência demonstra ser de outra maneira. Não precisam me dizer que temos de abandonar nossos mais caros tesouros e nada receber em troca. Não, realmente! O Criador que plantou o jardim do Éden para nossos primeiros pais, criou para nós as belas árvores e flores, e providenciou tudo o que é belo e glorioso na natureza para o ser humano desfrutar. Então, não pensem que Deus deseja que desistamos de tudo o que contribui para nossa felicidade. Ele apenas requer que abandonemos tudo o que não nos proporcionaria felicidade nem seria para nosso próprio bem. T2 588 2 O Deus que plantou as majestosas árvores e as revestiu de rica folhagem, que nos proporcionou as belas e brilhantes tonalidades das flores, e cuja bela obra podemos apreciar em todo o reino da natureza, nunca pretendeu tornar-nos infelizes. Ele não planejou que não tivéssemos bom gosto nem nos deleitássemos nessas coisas. É Seu plano que possamos usufruí-las e sermos felizes entre os encantos da natureza, Sua criação. T2 589 1 Poderíamos certamente escolher lugares como este bosque para períodos de relaxamento e recreação. Mas enquanto estivermos aqui, não devemos dedicar atenção somente a nós mesmos e dissipar o precioso tempo em diversões que promoverão aversão pelas coisas sagradas. Não viemos aqui para nos entregarmos a gracejos e brincadeiras, a conversas tolas e riso insensato. Aqui contemplamos as belezas da natureza. E agora? Devemos curvar-nos e adorá-las? Não, em absoluto! Mas ao contemplar as obras da natureza, devemos permitir que a mente se eleve a um nível superior, que se eleve a Deus, até o Criador do Universo, e então adorar ao que fez todas estas belas coisas para nosso benefício e felicidade. T2 589 2 Muitos se encantam com lindas pinturas e estão prontos a idolatrar o talento que produziu o belo desenho, mas onde os que dedicam a vida a esse trabalho obtêm inspiração? De onde os artistas tiram as idéias das coisas que transferem para a tela? Do belo cenário da natureza -- sim, somente da natureza. Pessoas dedicam todas as forças e afeição ao gosto pela pintura. Muitos desviam a mente das belezas e glórias da natureza, que nosso Criador preparou para que desfrutassem, e devotam todas as faculdades de seu ser para atingir a perfeição da arte; todavia, todas estas coisas são cópias imperfeitas da natureza. A arte nunca poderá atingir a perfeição da natureza. T2 589 3 O Autor de todas as encantadoras belezas da natureza é esquecido. Tenho visto muitos que chegam ao êxtase ao contemplarem uma pintura de pôr-do-sol, quando poderiam valer-se do privilégio de ver um real e glorioso pôr-do-sol quase todas as tardes do ano. Podem ver os belos matizes com que o invisível Artista-Mestre pintou com divina habilidade as gloriosas cenas na tela viva dos céus. Ainda assim, voltam-se descuidosamente das cenas delineadas nos céus para as pinturas artísticas, traçadas por dedos imperfeitos, e quase se curvam para adorá-las. Qual a razão disso? É porque o inimigo busca com freqüência desviar-lhes a mente de Deus. Quando apresentamos a Deus e a religião de Cristo, eles os recebem? Na verdade, não! Não podem aceitar a Jesus. Quê! fariam eles o sacrifício que fosse necessário para recebê-Lo? De modo algum! Mas o que é requerido? Simplesmente as melhores e mais santas afeições do coração para Ele, que deixou a glória do Pai e desceu para morrer por uma raça de rebeldes. Abriu mão de Suas riquezas, majestade e alto comando, e tomou sobre Si nossa natureza para prover um meio de escape. E para quê? Para humilhá-lo? Para degradá-lo? Não! Para prover-lhe um meio de escape da irremediável miséria, para elevá-lo, afinal, à Sua mão direita no Seu reino. Por isso é que o grandioso, imenso sacrifício foi feito. Quem pode compreendê-lo? Quem pode apreciá-lo? Ninguém senão aqueles que compreendem o mistério da piedade, que provaram os poderes do mundo por vir, que beberam da taça de salvação que nos foi apresentada. Essa taça de salvação o Senhor nos oferece, enquanto Seus próprios lábios beberam, em nosso lugar, a taça de amargura que nossos pecados Lhe prepararam. Entretanto, falamos como se Cristo, que fez tal sacrifício e manifestou tal amor por nós, quisesse nos privar de tudo o que é útil desfrutar. T2 590 1 De que bem Ele nos privaria? Ele nos privaria do privilégio de ceder às paixões naturais do coração carnal. Não podemos ficar zangados exatamente quando queremos, e ao mesmo tempo manter uma consciência limpa e a aprovação de Deus. Mas não estaríamos dispostos a renunciar a isso? A condescendência com as paixões corruptas nos faria mais felizes? É porque ela não o fará, que nos são impostas restrições nesse sentido. Ficar zangados e cultivar um temperamento perverso, nada acrescentará ao nosso contentamento. Não é para nossa felicidade seguirmos as inclinações do coração natural. E nos tornaremos melhores por condescender com elas? Não; elas lançarão uma sombra sobre nossa família e uma mortalha sobre nossa felicidade. Ceder aos apetites naturais tão-somente prejudicará a constituição e desintegrará o organismo. Por isso Deus quer que restrinjamos o apetite, controlemos as paixões e mantenhamos em sujeição o ser inteiro. E Ele prometeu dar-nos força se nos empenharmos em Sua obra. T2 591 1 O pecado de Adão e Eva provocou terrível separação entre Deus e o homem. E Cristo Se interpõe entre o homem caído e Deus, e diz ao homem: "Você ainda pode vir ao Pai; há um plano elaborado, pelo qual Deus pode ser reconciliado com o homem, e o homem com Deus. Por meio de um Mediador, você pode aproximar-se de Deus." E agora Ele intercede por você. É o grande Sumo Sacerdote que pleiteia em seu favor; e você deve ir e apresentar seu caso ao Pai por meio de Jesus Cristo. Assim terá acesso a Deus; e apesar de você pecar, seu caso não é perdido. "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. T2 591 2 Agradeço a Deus por termos um Salvador. E não há nenhum outro meio de podermos ser exaltados, senão por Cristo. Que ninguém então pense ser grande humilhação de sua parte aceitar a Cristo, pois quando damos esse passo nos apoderamos do áureo cordão que une o homem finito ao infinito Deus; damos o primeiro passo no sentido da verdadeira exaltação a fim de sermos qualificados para a sociedade dos puros e santos anjos no reino da glória. T2 591 3 Não se desanime; não seja tímido. Embora possa ter tentações e ser assediado pelo astuto inimigo, se tiver o temor de Deus diante de si, anjos excelentes em poder serão enviados para ajudá-lo, e você poderá enfrentar os poderes das trevas. Jesus vive. Ele morreu para prover um meio de escape à raça caída e vive hoje para interceder por nós, para que possamos ser elevados à Sua mão direita. Espere em Deus. O mundo está viajando no caminho largo, e como você viaja na senda estreita e tem de contender com os principados e potestades e enfrentar oposição de inimigos, lembre-se de que foi feita uma provisão em seu favor. Foi provida ajuda por Alguém que é poderoso e através de quem você pode ser vencedor. T2 592 1 "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. Que promessa! Ela é a garantia de que vocês se tornarão membros da família real, herdeiros do reino celeste. Se uma pessoa é honrada por qualquer dos governantes da Terra ou está ligada a eles, como lemos costumeiramente nos jornais diários, incita a inveja dos que se julgam menos afortunados. Mas aqui está Alguém que é o Rei dos reis, o Soberano do Universo, o Autor de tudo o que é bom, e Ele nos diz: Eu farei de vocês Meus filhos e filhas, e os unirei a Mim; vocês se tornarão membros da família real e filhos do celeste Rei. T2 592 2 Paulo diz: "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. Por que não fazemos isso, quando temos tal incentivo, o privilégio de nos tornarmos filhos do Altíssimo, o privilégio de chamar o Deus do Céu de Pai? Isso não é suficiente? E vocês podem chamar a isso de privação de tudo o que é importante possuir? É isso uma desistência de tudo o que é apropriado ter? Que eu possa estar unida a Deus e aos santos anjos, pois essa é minha mais elevada ambição. Vocês podem ter todas as posses do mundo, mas eu preciso ter Jesus. Eu preciso ter direito à herança imortal, a riqueza eterna. Quero deliciar-me com as belezas do reino de Deus. Quero alegrar-me com as pinturas que Seus próprios dedos coloriram. Eu posso apreciá-las; vocês podem apreciá-las. Não devemos venerá-las, mas através delas ser dirigidos a Deus e contemplar a glória dAquele que fez todas essas coisas para nossa alegria. T2 593 1 Novamente digo: Tenham ânimo. Confiem no Senhor. Que o inimigo não lhes roube as promessas. Se vocês se têm separado do mundo, Deus diz que Ele será seu Pai e vocês serão Seus filhos e filhas. Isso não basta? Que maior estímulo poderia ser oferecido? Há qualquer grande objetivo em ser uma borboleta e não ter nenhuma riqueza nem propósito na vida? Oh, deixem-me estar na plataforma da verdade eterna. Dêem-me a riqueza imortal. Desejo apegar-me à áurea corrente que desce do Céu à Terra, e deixar que ela me eleve a Deus e à glória. Essa é minha ambição; esse é meu alvo. Se outros não têm nenhum objetivo mais elevado do que vestir-se; se podem deleitar-se na aparência exterior, e satisfazer seu coração com laços, fitas e coisas extravagantes, que desfrutem disso. Mas deixem-me ter o adorno interior. Deixem-me ser trajada com aquele espírito "manso e quieto que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. E o recomendo a vocês, rapazes e moças, porque é mais precioso diante do Senhor do que o ouro de Ofir. É isso que torna um ser humano mais valioso do que o ouro fino. Minhas irmãs, e vocês, meus jovens, isso os fará mais preciosos à vista do Céu do que o fino ouro, do que a barra de ouro de Ofir. Recomendo-lhes Jesus, meu bendito Salvador. Eu O adoro. Eu O exalto. Ó, que eu tivesse uma língua imortal para poder louvá-Lo como desejo! Que eu pudesse apresentar-me perante o Universo reunido e louvar Seus encantos incomparáveis! T2 593 2 E enquanto O adoro e exalto, gostaria que se unissem a mim nesse louvor. Louvem ao Senhor quando caírem em trevas. Louvem-nO mesmo em tentação. "Regozijai-vos, sempre, no Senhor", diz o apóstolo, "outra vez digo: regozijai-vos." Filipenses 4:4. Trará isso tristeza e escuridão a suas famílias? Não, absolutamente, mas raios de sol. Vocês receberão raios de luz eterna do trono de glória e os difundirão a seu redor. Quero exortá-los a se ocuparem nesse trabalho, irradiando luz e vida a sua volta, não só no próprio caminho, mas na trajetória daqueles com quem se associam. Seja seu objetivo tornar melhor a vida dos que os cercam, erguê-los e apontar-lhes o Céu e a glória, levá-los a buscar, acima de todas as coisas terrenas, o tesouro eterno, a herança imortal, as riquezas imperecíveis. ------------------------Capítulo 73 -- Um sonho impressionante T2 594 1 Enquanto estive em Battle Creek, Michigan, em Agosto de 1868, sonhei que estava com uma grande multidão. Parte daquela assembléia mostrava-se preparada para viajar. Tínhamos carroças abarrotadas. Caminhando nós, a estrada parecia subir. De um lado havia um profundo precipício; e do outro, uma muralha alta, lisa e branca, como paredes com acabamento em gesso. T2 594 2 À medida que avançávamos, a estrada se tornava mais estreita e íngreme. Nalguns lugares parecia tão estreita que concluímos não mais poder viajar com as carroças carregadas. Desatrelamos os animais para, com parte da bagagem, prosseguir a viagem a cavalo. T2 594 3 Prosseguindo nós, o caminho continuava ainda a estreitar-se. Fomos obrigados a andar junto à muralha, para não cair do caminho estreito ao precipício. Fazendo isso, a bagagem sobre os cavalos apertava-se contra a parede e nos fazia pender sobre o precipício. Receávamos cair e ser despedaçados nas rochas. Retiramos a bagagem de sobre os cavalos e ela tombou no precipício. Continuamos a cavalo, receando grandemente que, ao chegar aos lugares mais estreitos do caminho, perdêssemos o equilíbrio e caíssemos. Em tais ocasiões, uma mão parecia tomar as rédeas e guiar-nos pelo perigoso caminho. T2 595 1 Tornando-se o caminho mais estreito, vimos que não mais seria possível ir com segurança a cavalo; deixamo-los e prosseguimos a pé, em fila, um seguindo as pegadas do outro. Neste ponto apareceram pequenas cordas que caíam do alto da alvíssima muralha; estas foram avidamente agarradas por nós para nos ajudarem a manter o equilíbrio no caminho. Enquanto caminhávamos, a corda prosseguia conosco. O caminho se tornou finalmente tão estreito que concluímos poder viajar com maior segurança sem calçados; assim, nós os tiramos dos pés e continuamos certa distância sem eles. Logo decidimos que poderíamos viajar com mais segurança sem meias; estas foram removidas e continuamos a viajar descalços. T2 595 2 Pensamos então naqueles que não se haviam acostumado com privações e dificuldades. Onde estavam eles agora? Não se achavam na multidão. Em cada mudança que se fazia, alguns eram deixados atrás, e apenas permaneciam aqueles que se haviam acostumado a suportar dificuldades. As privações do caminho apenas faziam com que estes se tornassem mais ávidos de avançar até ao fim. T2 595 3 Nosso perigo de cair do caminho aumentou. Encostávamos junto à muralha branca, mas não podíamos firmar totalmente os pés no caminho, pois ele era estreito demais. Apoiamos então quase todo o nosso peso nas cordas, exclamando: "Temos apoio de cima! Temos apoio de cima!" As mesmas palavras foram proferidas pela multidão toda, no caminho estreito. Estremecíamos ao ouvir o rumor de divertimento e orgia que pareciam vir do abismo. Ouvimos o juramento profano, o gracejo banal e cânticos baixos e vis. Ouvi o cântico de guerra e a música de dança. Ouvi música instrumental e altas gargalhadas misturadas com maldições, gritos de angústia e pranto amargurado, e ficamos mais preocupados do que nunca em nos conservar no caminho estreito e difícil. Grande parte do tempo éramos obrigados a ficar com todo o nosso peso suspenso nas cordas, que aumentavam de tamanho enquanto prosseguíamos. T2 596 1 Notei que a bela parede branca estava manchada de sangue. Dava um sentimento de pena ver-se a parede assim manchada. Este sentimento, porém, não durou senão um momento, pois logo achei que tudo era como deveria ser. Os que vêm seguindo atrás saberão que, antes deles, outros passaram pelo caminho estreito e difícil, e concluirão que, se outros foram capazes de seguir avante, eles poderão fazer o mesmo. E, ao sangrarem seus pés doloridos, não desfalecerão de desânimo; antes, vendo o sangue na parede, saberão que outros suportaram a mesma dor. T2 596 2 Chegamos finalmente a um grande abismo, onde terminava o nosso caminho. Nada havia agora para nos guiar os pés, nada em que pudéssemos repousar. Devíamos então depender inteiramente das cordas, que tinham aumentado até ao tamanho de nosso corpo. Ali estivemos por algum tempo imersos em perplexidade e angústia. Indagamos em tímido cochicho: "Em que estará presa a corda?" Meu esposo estava precisamente diante de mim. Grandes gotas de suor caíam-lhe da fronte, as veias de seu pescoço e têmporas haviam crescido tanto que atingiam duas vezes seu volume normal, e gemidos abafados e agonizantes vinham de seus lábios. O suor escorria-me pelo rosto, e eu experimentava uma angústia tal como ainda não havia provado. Terrível luta estava diante de nós. Fracassássemos ali, e todas as dificuldades de nossa jornada teriam sido em vão. T2 596 3 Diante de nós, do outro lado do abismo, havia um belo campo de relva verde, de aproximadamente quinze centímetros de altura. Eu não podia ver o Sol; mas raios de luz, brilhantes e suaves, assemelhando-se ao ouro e à prata fina, incidiam sobre o campo. Coisa alguma que eu houvesse visto sobre a Terra poderia comparar-se em beleza e glória com aquele campo. Mas nos seria possível alcançá-lo? -- essa era a ansiosa indagação. Se a corda se partisse, haveríamos de perecer. Outra vez em angustioso cochicho, foram sussurradas as palavras: "Em que estará presa a corda?" Por alguns momentos hesitamos em nos arriscar. Então exclamamos: "Nossa única esperança está em confiar inteiramente na corda. Dela temos dependido em todo o caminho difícil. Ela não falhará agora." Ainda estávamos hesitantes e angustiados. Foram então proferidas estas palavras: "Deus segura a corda. Não devemos temer." Estas palavras foram então repetidas por aqueles que estavam atrás de nós, e acompanhadas destas outras: "Ele não nos faltará agora. Trouxe-nos até aqui em segurança." T2 597 1 Meu marido deu então um salto por sobre o assustador abismo ao belo campo além. Eu segui imediatamente. Oh, que sensação de alívio e gratidão a Deus experimentamos! Ouvi levantarem-se vozes em louvor triunfal a Deus. Eu era feliz, perfeitamente feliz. T2 597 2 Despertei, e vi que, pela ansiedade que experimentara ao passar pelo caminho difícil, todos os meus nervos pareciam estar a tremer. Esse sonho não necessita de comentário. Produziu-me uma impressão tal que provavelmente cada minúcia permanecerá vívida diante de mim enquanto minha memória perdurar. ------------------------Capítulo 74 -- Nossas reuniões campais T2 597 3 Não pode haver influência mais prejudicial a uma reunião campal ou a qualquer outra reunião religiosa do que os muitos encontros pessoais e a conversa descuidosa. Freqüentemente homens e mulheres se reúnem em pequenos grupos e empenham-se em conversa acerca de assuntos comuns que não se relacionam com a reunião. Alguns trouxeram consigo suas fazendas, outros suas casas, e estão a fazer planos para construções. Alguns dissecam o caráter de outros, e não têm tempo ou disposição para esquadrinhar o próprio coração, para descobrir os defeitos do próprio caráter, a fim de corrigir-lhe os erros, e aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. Se todos quantos professam ser seguidores de Cristo aproveitassem o tempo fora das reuniões para conversar sobre a verdade, para deter-se na esperança do cristão, em examinar a si mesmos e em fervorosa oração diante de Deus, rogando-Lhe a bênção, muito maior seria a obra realizada do que já temos visto. Os incrédulos, que acusam falsamente os que crêem na verdade, seriam convencidos por causa de sua "boa conversação em Cristo". Nossas palavras e atos são o fruto que produzimos; "portanto, pelos seus frutos os conhecereis". Mateus 7:20. T2 598 1 Deus instruiu os israelitas para se reunirem diante dEle em determinadas ocasiões, no lugar que Ele escolheria, para observarem dias especiais onde nenhum trabalho desnecessário devia ser feito, mas esse tempo devia ser dedicado à reflexão sobre as bênçãos que Ele lhes havia concedido. Nessas ocasiões especiais, servos, servas, estrangeiros, órfãos e viúvas eram todos orientados a se regozijarem porque Deus, por Seu maravilhoso poder, os tirara da servil escravidão para a alegria da liberdade. Não deviam comparecer diante de Deus de mãos vazias. Deviam trazer provas de gratidão a Deus por Sua contínua misericórdia e bênçãos derramadas sobre eles; deviam trazer ao Senhor dádivas, ofertas voluntárias e de ações de graça, de acordo com as bênçãos recebidas. Essas ofertas eram variadas, de acordo com a avaliação que os doadores faziam das bênçãos que tinham o privilégio de desfrutar. Assim, o caráter das pessoas se desenvolvia naturalmente. Aqueles que tinham em alto valor as bênçãos concedidas por Deus, traziam ofertas conforme sua apreciação dessas bênçãos. Os que tinham suas faculdades morais entorpecidas e neutralizadas por egoísmo e idolátrico amor aos favores recebidos, em vez de inspirados por ardente amor pelo bondoso Benfeitor, traziam ofertas mesquinhas. Dessa maneira eram revelados os corações. Além desses dias de festas religiosas, de alegria e regozijo, a páscoa anual devia ser comemorada pela nação judaica. O Senhor estipulou que se eles fossem fiéis na observância de Suas solicitações, Ele os abençoaria em toda a sua colheita e em toda obra das suas mãos. Deuteronômio 16:15. T2 599 1 Deus não requer menos de Seu povo nestes últimos dias, em sacrifícios e ofertas, do que o fez da nação judaica. Aqueles a quem Ele tem abençoado com habilidades, e mesmo as viúvas e os órfãos, não devem estar desatentos às Suas bênçãos. Os que Deus prosperou devem especialmente devolver o que Lhe pertence. Devem comparecer diante dEle com espírito de sacrifício próprio e trazer suas ofertas de acordo com as bênçãos que Ele lhes concedeu. Mas muitos a quem Deus favoreceu manifestam ingratidão. Se as bênçãos vêm sobre eles e o Senhor lhes aumenta os bens, usam essa generosidade como cordas para prendê-los ao amor de suas posses. Permitem que os negócios mundanos se apossem de suas afeições e de todo seu ser, e negligenciam a devoção e os privilégios religiosos. Não podem pôr de lado o atendimento a seus negócios e se apresentarem perante Deus, ainda que seja uma vez por ano. Tornam as bênçãos de Deus em maldição. Servem a seus interesses temporais, negligenciando os reclamos divinos. T2 599 2 Os que possuem muito dinheiro permanecem em casa, ano após ano, absorvidos em suas preocupações e interesses mundanos, achando que não podem fazer um pequeno sacrifício e assistir às reuniões anuais para adorar a Deus. Ele os têm abençoado em seu "cesto" e em sua "amassadeira" (Deuteronômio 28:5) e os circundado de bênçãos à direita e à esquerda, entretanto, retêm dEle as pequenas ofertas requeridas. Eles amam servir a si mesmos. Seu coração será como o deserto estéril sem orvalho ou chuva. O Senhor lhes têm dado as preciosas bênçãos de Sua graça. Libertou-os da escravidão do pecado e do cativeiro do erro, abrindo-lhes à entenebrecida compreensão a gloriosa luz da verdade presente. Não deveriam essas evidências do amor e da misericórdia divina despertar gratidão? Aqueles que professam crer que o fim de todas as coisas está próximo, ficarão cegos aos próprios interesses espirituais, e viverão somente para este mundo e esta vida? Esperam eles que seus interesses eternos cuidem de si mesmos? Não obterão poder espiritual sem esforço de sua parte. T2 600 1 Muitos que professam estar aguardando o aparecimento de nosso Senhor, estão sobrecarregados e ansiosos em busca de lucros mundanos. Estão cegos a seus interesses eternos. Eles trabalham por aquilo que não satisfaz. Gastam dinheiro naquilo que não é pão. Lutam para contentar-se com os tesouros que juntaram na Terra, os quais hão de perecer, e negligenciam a preparação para a eternidade, que deve ser a primeira e única missão verdadeira da vida. T2 600 2 Todos os que puderem, assistam a essas reuniões anuais. Todos devem sentir que Deus deles requer isso. Se não se aproveitam dos privilégios que o Senhor lhes proporciona a fim de se tornarem fortes nEle, e no poder de Sua graça, tornar-se-ão mais e mais fracos, tendo cada vez menos desejo de consagrar tudo a Deus. Venham, irmãos e irmãs, a essas sagradas reuniões de convocação para encontrar Jesus. Ele virá à festa. Achar-Se-á presente, e fará por vocês aquilo de que mais necessitam. Suas fazendas não devem ser consideradas de maior valor do que os mais altos interesses do coração. Todos os tesouros que possuem, por mais valiosos que sejam, não lhes bastariam para comprar paz e esperança, as quais lhes serão de infinito lucro ao preço de tudo quanto vocês têm e as lidas e sofrimentos da vida inteira. Uma compreensão clara e firme das coisas eternas, e um coração disposto a entregar tudo a Cristo, são bênçãos de mais valor do que todas as riquezas, prazeres e glórias deste mundo. T2 601 1 Essas reuniões campais são importantes. Elas custam algo. Os servos de Deus estão consumindo a vida para ajudar as pessoas, enquanto muitas delas parecem não necessitar de auxílio. Por temor de perder um pouco do ganho deste mundo, alguns deixam passar esses preciosos privilégios como se fossem de pequena importância. Que todos os que professam crer na verdade respeitem todo privilégio que Deus lhes oferece, para obter claras concepções de Sua verdade, Suas reivindicações e do necessário preparo para Sua vinda. Uma calma, alegre e obediente confiança em Deus é o que Ele requer. T2 601 2 Vocês não necessitam fatigar-se com ansiedades e cuidados desnecessários. Trabalhem fielmente cada dia, fazendo a obra que a providência de Deus lhes designou, e Ele cuidará de vocês. Jesus ampliará e aprofundará Suas bênçãos. Vocês devem se esforçar se quiserem obter a salvação, afinal. Venham às reuniões preparados para trabalhar. Deixem em casa os cuidados e venham encontrar-se com Jesus. Ele será achado por vocês. Venham com ofertas, de acordo com as bênçãos recebidas. Demonstrem gratidão ao seu Criador, o Doador de todos os benefícios, por meio de uma oferta voluntária. Que ninguém dos que podem, compareça de mãos vazias. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança." Malaquias 3:10. T2 601 3 O objetivo de uma reunião campal é levar todos a se afastarem das preocupações e cuidados dos negócios e a consagrarem alguns dias exclusivamente para buscar ao Senhor. Devemos ocupar o tempo em exame interior, esquadrinhando intimamente o coração, fazendo contritas confissões de pecado e renovando nossos votos ao Altíssimo. Se alguém vai a essas reuniões com objetivos menos dignos, esperamos que o caráter das reuniões seja de molde a levar-lhes a mente a objetivos apropriados. T2 601 4 Alguns exageram no preparo para as reuniões campais. São pessoas liberais e nada fazem com mesquinhez. Algumas fazem grandes provisões e se sentem totalmente esgotadas ao virem às reuniões. E tão logo sejam liberadas das pressões do trabalho, seu fatigado organismo denuncia os abusos sofridos. Algumas dessas pessoas podem nunca ter assistido às campais antes, e não estão informadas com respeito aos preparativos que devem fazer. Elas perdem algumas das preciosas reuniões que haviam planejado assistir. Erram em fazer tão grandes preparativos. Nada deve ser levado às campais senão os alimentos mais saudáveis preparados de maneira simples, livres de condimentos e gorduras. T2 602 1 Estou convencida de que ninguém precisa ficar doente ao preparar-se para as reuniões campais se observar as leis de saúde no preparo dos alimentos. Se não fizer bolos ou tortas, mas fizer pão simples integral, e depender de frutas, em conserva ou secas, não necessita ficar doente ao preparar-se para as reuniões e nem enquanto lá estiver. Ninguém deve passar todo o período de reuniões sem algum alimento quente. Há sempre fogões no local, onde isso se torna possível. T2 602 2 Os irmãos e as irmãs não precisam ficar doentes no acampamento. Se eles se vestirem devidamente para o frio da manhã e da noite, e forem meticulosos em variar o vestuário de acordo com as mudanças do tempo, de modo a manter circulação apropriada, e estritamente observarem regularidade no dormir e no comer alimentos simples, nada consumindo entre as refeições, não precisam ficar doentes. Podem estar bem durante as reuniões, ter a mente clara e estar capacitados para apreciar a verdade, e retornar a seus lares refrigerados no corpo e no espírito. Os que se têm empenhado em duro labor dia a dia, cessam agora suas atividades; não devem, portanto, comer a mesma quantidade usual de alimento. Se o fizerem, terão o estômago sobrecarregado. Desejamos ter nessas reuniões as energias cerebrais especialmente vigorosas e nas mais saudáveis condições para ouvir a verdade, apreciá-la e retê-la, de forma que todos possam praticá-la após voltarem da reunião. Se o estômago é sobrecarregado com muito alimento, embora de natureza simples, a energia cerebral é chamada em auxílio dos órgãos digestivos. Há sobre o cérebro uma sensação de entorpecimento. Torna-se quase impossível manter os olhos abertos. As próprias verdades que devem ser ouvidas, entendidas e praticadas são inteiramente perdidas pela indisposição, ou porque o cérebro está quase paralisado em conseqüência da quantidade de alimento ingerido. T2 603 1 Eu aconselharia a todos a pôr alguma coisa quente no estômago pelo menos cada manhã. Podem fazer isto sem muito trabalho. Podem fazer mingau de farinha integral. Se a farinha integral é demasiado grossa, peneirem-na, e adicionem-lhe leite enquanto o mingau está quente. Isto fará que o prato seja mais apetitoso e saudável para o acampamento. E se o pão estiver seco, poderá ser apreciado se for esmigalhado no mingau. Não aprovo o comer muito alimento frio, porque então a vitalidade do organismo será chamada para aquecer o alimento até que ele se torne da mesma temperatura do estômago antes do trabalho de digestão começar. Outro prato muito simples, porém saudável, é feijão cozido ou assado. Triturem uma porção dele com água, adicionando leite ou creme, e façam um caldo; o pão pode ser usado como no caso do mingau de farinha. T2 603 2 Estou satisfeita em ver o progresso que muitos têm feito na reforma de saúde, todavia, entristeço-me ao ver muitos ainda em atraso. Se alguém fica doente em nossos acampamentos, é bom examinar a razão e anotar as informações sobre o caso. Não me agrada que a reputação de nossas reuniões campais seja afetada como causadora de doenças em nosso povo. Se fosse adotada uma conduta apropriada nessas reuniões, elas poderiam ser uma bênção à saúde física, bem como ao coração. ------------------------Capítulo 75 -- Um sonho solene T2 604 1 Na noite do dia 30 de Abril de 1871, recolhi-me ao descanso muito deprimida mentalmente. Durante três meses estivera em uma condição de grande desânimo. Freqüentemente orava por alívio em angústia de espírito. Implorei ajuda e força de Deus para que pudesse superar o forte desânimo que estava afetando minha fé e esperança, e tornando-me incapacitada para o trabalho. Naquela noite tive um sonho que produziu uma impressão muito feliz sobre minha mente. Sonhei que assistia a uma reunião importante onde havia muita gente. Muitos estavam inclinados diante de Deus em súplicas fervorosas, parecendo contritos. Insistiam com o Senhor por luz especial. Alguns pareciam estar com o espírito angustiado; seus sentimentos eram intensos; com lágrimas suplicavam em alta voz por auxílio e luz. Os nossos mais preeminentes irmãos faziam parte dessa impressionante cena. O irmão A estava prostrado no chão, aparentemente muito atribulado. Sua esposa estava sentada no meio de um grupo de indiferentes escarnecedores, com ares de quem desejava que todos entendessem que ela desprezava os que assim se humilhavam. T2 604 2 Sonhei que o Espírito do Senhor pousou então sobre mim, e que me levantei no meio dos clamores e súplicas, e disse: O Espírito do Senhor Deus veio sobre mim. Sinto-me impelida a dizer-lhes que devem começar a trabalhar individualmente por vocês mesmos. Estão olhando para Deus, desejosos de que faça por vocês a obra que Ele lhes deu para fazer. Se fizerem aquilo que sabem ser o seu dever, Deus lhes ajudará quando precisarem de auxílio. Deixaram de cumprir o que Deus lhes incumbiu de fazer. Invocam a Deus para que faça o seu trabalho. Se tivessem seguido a luz que lhes deu, Ele teria feito mais luz brilhar sobre vocês; mas já que negligenciam seus conselhos, advertências e repreensões que lhes foram dados, como podem pretender que Ele lhes dê mais abundante luz e bênçãos para negligenciarem e desprezarem? Deus não se equipara aos homens; dEle não se zomba. T2 605 1 Tomei a preciosa Bíblia e agrupei em torno dela os diferentes Testemunhos Para a Igreja dados ao povo de Deus. Aqui, disse eu, estão discriminados os casos de quase todos. Os pecados que devem evitar estão neles apontados. Os conselhos que eles buscam podem ser encontrados aqui, apresentados para outros casos que definem situações semelhantes às suas. Deus Se tem agradado de dar-lhes preceito sobre preceito e regra sobre regra. Isaías 28:10. Mas não há muitos entre vocês que sabem realmente o que está contido nos Testemunhos. Vocês não estão familiarizados com as Escrituras. Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição cristã, não necessitariam dos testemunhos. É porque negligenciaram tomar conhecimento com o Livro inspirado de Deus que Ele procurou alcançar vocês por meio de testemunhos simples e diretos, chamando a sua atenção para as palavras da inspiração que negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para modelarem a vida de acordo com os seus ensinamentos puros e elevados. T2 605 2 Por meio dos testemunhos o Senhor Se propõe advertir, repreender e aconselhar Seus filhos, e impressionar-lhes a mente com a importância da verdade de Sua Palavra. Os testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz; e sim a imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram reveladas. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra de Deus, mas poucos de vocês se têm submetido em obediência a essa luz. Não se trata de escavar verdades adicionais; mas pelos Testemunhos Deus tem facilitado a compreensão de importantes verdades já reveladas, e posto estas diante de Seu povo pelo meio que Ele próprio escolheu, a fim de despertar e impressionar com elas a sua mente, para que todos fiquem sem desculpa. T2 605 3 Orgulho, amor-próprio, egoísmo, ódio, inveja e ciúme obscureceram o poder perceptivo e a verdade que devia fazê-los sábios para a salvação perdeu seu poder de cativar e controlar a mente. Os mais essenciais princípios da piedade não são compreendidos, porque não há fome e sede de conhecimento bíblico, pureza de coração e santidade de vida. Os Testemunhos não têm por fim diminuir o valor da Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela as mentes, para que a bela singeleza da verdade possa impressionar a todos. T2 606 1 Além disso, eu disse: Como a Palavra de Deus se acha circundada por estes livros e folhetos, assim também Deus os circundou com reprovações, conselhos, advertências e encorajamento. Aí estão vocês com o coração angustiado, clamando a Deus por mais luz. Estou autorizada por Deus a declarar-lhes que nenhum raio mais dessa luz há de incidir sobre seu caminho através dos Testemunhos, até que façam uso prático da luz que já lhes foi concedida. O Senhor lhes tem circundado de luz; mas vocês não a têm apreciado, antes a espezinham. Enquanto uns a desprezam, outros a negligenciam ou a seguem indiferentemente. Poucos dispuseram o coração a obedecer a luz que Deus Se agradou dispensar-lhes. T2 606 2 Alguns que receberam advertências especiais por meio de testemunhos, esqueceram-se dentro de poucas semanas das admoestações que lhes foram feitas. A alguns os testemunhos foram várias vezes repetidos; eles, porém, não os consideraram bastante importantes para levá-los a sério. Eles lhes pareceram como loucura. Se tivessem apreciado a luz recebida, teriam evitado prejuízos e provações que vocês consideraram duros e severos. Tinham somente a si próprios para culpar. Acabaram pondo sobre o próprio pescoço um jugo que acharam penoso suportar. Não era esse o jugo que Cristo lhes havia imposto. A solicitude e o amor de Deus tinham sido demonstrados a seu favor; mas seu coração egoísta, maldoso e incrédulo, não pôde discernir a Sua misericórdia e bondade. Prosseguiram agindo em sua sabedoria até que, subjugados por provações, perplexos e confusos, ficaram enredados nas ciladas de Satanás. Quando reconhecerem os raios de luz que lhes foram concedidos no passado, então a luz de Deus lhes será aumentada. T2 607 1 Eu lhes mencionei o antigo Israel. Deus deu a este a sua lei, mas eles recusaram andar nela. Depois lhes deu cerimônias e ordenanças para que, celebrando-as, Deus fosse lembrado. Eram tão propensos a esquecê-Lo e às Suas reivindicações sobre eles, que lhes cumpria conservar desperta a mente de modo a compreenderem o dever de obedecer e honrar a seu Criador. Se tivessem sido obedientes e com amor guardado os mandamentos de Deus, o grande número de cerimônias e ordenanças não teriam sido necessário. T2 607 2 Se o povo que agora professa ser a "propriedade peculiar" (Êxodo 19:5) de Deus obedecesse a Seus requisitos especificados em Sua Palavra, não haveria necessidade de testemunhos especiais para despertar neles o sentimento do dever e impressioná-los acerca de sua pecaminosidade e do temível risco que correm ao negligenciar obedecer à Palavra de Deus. As consciências têm-se entorpecido porque a luz foi posta de parte, sendo negligenciada e desprezada. E Deus retirará esses testemunhos do povo e o desproverá de força, e o humilhará. T2 607 3 Sonhei que enquanto eu falava, o poder de Deus se apossou de mim de maneira extraordinária e fiquei totalmente sem forças, mas não tive nenhuma visão. Imaginei que meu marido se levantou perante o povo e exclamou: "Esse é o maravilhoso poder de Deus. Ele tornou os testemunhos um poderoso meio de alcançar as pessoas, e atuará mais poderosamente por seu intermédio do que tem feito até aqui. Quem estará ao lado do Senhor?" T2 607 4 Sonhei que um bom número imediatamente se pôs de pé e respondeu ao chamado. Outros se assentaram em silêncio; alguns mostravam desprezo e zombaria; e uns poucos pareceram completamente impassíveis. Alguém se levantou ao meu lado e disse: "Deus a suscitou e deu-lhe palavras para dizer ao povo e atingir-lhe o coração, como a nenhuma outra pessoa foram dadas. Ele formulou seus testemunhos para resolver casos que têm necessidade de auxílio. Você deve ficar impassível às zombarias ou escárnio, às acusações e censura. A fim de ser um instrumento especial nas mãos de Deus, importa não se apoiar em ninguém, a não ser somente em Deus, e, como a videira que sobe, entrelaçar nEle as suas gavinhas. Ele a constituiu o meio de comunicar Sua luz ao povo. Você deve diariamente suplicar forças de Deus a fim de fortificar-se, para que sua influência não tolde ou eclipse a luz que Ele permitiu brilhar sobre Seu povo por seu intermédio. É objetivo especial de Satanás impedir que essa luz atinja o povo de Deus, que tanto dela necessita em meio aos perigos destes últimos dias. T2 608 1 "Seu êxito depende de sua simplicidade. Tão depressa dela se apartar, formulando os testemunhos de modo a acomodá-los à índole das pessoas por eles visadas, o poder a abandonará. Quase tudo nesta época é enganoso e fictício. No mundo há grande quantidade de testemunhos que visam somente agradar e encantar momentaneamente, e para exaltar o eu. O seu testemunho tem cunho diferente. Ele atinge os pormenores da vida, impedindo que se extinga a fé vacilante e impressionando o coração dos crentes com a necessidade de fazer resplandecer a sua luz diante do mundo. T2 608 2 "Deus lhe tem dado os testemunhos para por eles expor aos apostatados e aos pecadores sua verdadeira condição, bem como o imenso prejuízo que estão sofrendo em continuar com uma vida de pecado. Deus lhe confiou isto, revelando-o a você em visão, como o não fez a nenhum outro vivente, e de acordo com a luz que lhe tem dado a considerará responsável. 'Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.' Zacarias 4:6. 'Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados.'" Isaías 58:1. T2 608 3 Esse sonho exerceu poderosa influência sobre mim. Quando despertei, minha depressão havia passado, sentia-me animada e em grande paz. As enfermidades que me haviam incapacitado para o trabalho foram removidas, e recebi forças e vigor que por muito tempo não fruíra. Parecia-me que os anjos de Deus haviam sido comissionados para aliviar-me. Gratidão indizível encheu meu coração por essa grande mudança, do desânimo para a luz e a felicidade. Eu sabia que o auxílio tinha vindo de Deus. Essa manifestação era para mim como um milagre da misericórdia divina, e nunca serei ingrata à Sua amorável bondade. ------------------------Capítulo 76 -- Maneiras e traje dos pastores* T2 609 1 Efésios 3:6, 7: "A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do Seu poder." T2 609 2 "Do qual fui feito ministro", não meramente para apresentar a verdade ao povo, mas para confirmá-la na vida. T2 609 3 "E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que, desde os séculos, esteve oculto em Deus." Efésios 3:9. Isso não se refere meramente às palavras que saem da boca; não simplesmente ser eloqüente em falar e orar; mas tornar Cristo conhecido, ter Cristo em nós e revelá-Lo aos que ouvem. T2 609 4 "A quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria", não como a inexperientes, não em ignorância, "para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a Sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:28, 29. Essa é a obra de Deus, a graça de Deus recebida e sentida, adornando a vida e as ações, para fazer sensível impressão sobre aqueles que ouvem. T2 609 5 Mas não é apenas isso. Há outras coisas a serem consideradas, as quais alguns têm negligenciado, mas que são importantes, na luz que me foram apresentadas. O povo é impressionado pelo comportamento do orador no púlpito, por suas atitudes e maneira de falar. Se essas coisas forem como Deus deseja, a impressão que farão testemunhará em favor da verdade, especialmente para aqueles que têm estado ouvindo fábulas. É importante que as maneiras do pastor sejam modestas e dignas, de acordo com a santa e elevada verdade que ensina, para que uma impressão favorável seja feita naqueles que não são inclinados naturalmente à religião. T2 610 1 O cuidado no vestuário é um item importante. Tem havido deficiência neste sentido da parte dos pastores que crêem na verdade presente. A roupa de alguns tem sido até mesmo desalinhada. Não somente tem havido falta de gosto e ordem em arranjar o vestuário de maneira que fique bem na pessoa, e de cor conveniente e adequada a um ministro de Cristo, mas o traje de alguns tem sido até desasseado. Alguns pastores usam colete de cor clara, ao passo que as calças são escuras, ou um colete escuro e calças claras, sem gosto ou boa combinação do vestuário quando comparecem perante o povo. Estas coisas estão pregando às pessoas. O pastor lhes dá um exemplo de ordem e põe diante delas a conveniência de asseio e bom gosto em seu traje, ou lhes dá lições de desleixo e falta de gosto, que elas estarão em perigo de seguir. T2 610 2 Tecido preto ou escuro é mais apropriado para o pastor no púlpito e causará melhor impressão nas pessoas, do que seria causada pela combinação de duas ou três cores diferentes em seu traje. T2 610 3 Minha atenção foi chamada para os filhos de Israel em tempos antigos, e me foi mostrado que Deus deu instruções específicas acerca do tecido e do estilo do vestuário que devia ser usado pelos que ministravam diante dEle. O Deus do Céu, cujo braço move o mundo, que nos sustenta e nos dá vida e saúde, concedeu-nos evidências de que Ele pode ser honrado ou desonrado pelo traje dos que oficiam diante dEle. O Senhor deu instruções especiais a Moisés a respeito de tudo que se relacionava com o Seu serviço. Até deu instruções a respeito da arrumação de suas casas e especificou o vestuário que devia ser usado pelos que ministravam em Seu serviço. Eles deviam manter a ordem em tudo, e especialmente preservar o asseio. T2 611 1 Leiam-se as instruções dadas a Moisés para tornar conhecido aos filhos de Israel que Deus estava prestes a descer sobre o monte, a fim de proclamar Sua santa lei. O que Ele mandou Moisés dizer ao povo que fizesse? Que estivessem prontos ao terceiro dia, pois o Senhor desceria sobre o monte à vista de todo o povo. Eles deviam colocar limites em torno do monte. "Disse também o Senhor a Moisés: Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã, e lavem eles as suas vestes." Êxodo 19:10. O grande e poderoso Deus que criou o lindo Éden, e todas as coisas belas que nele havia, é um Deus de ordem e deseja que Seu povo seja ordeiro e limpo. O poderoso Deus orientou Moisés a dizer ao povo para lavar suas vestes, para que não houvesse impureza em seus trajes e em si mesmos, ao comparecerem perante o Senhor. E Moisés desceu da montanha até o povo e esse lavou suas vestimentas de acordo com a ordem de Deus. T2 611 2 E para mostrar quão cuidadosos eram com a limpeza, Moisés colocou uma bacia entre a tenda da congregação e o altar, e "a encheu de água, para se lavar". Êxodo 40:30. Moisés, Arão e os filhos de Arão, que ministravam diante do Senhor, lavaram as mãos e os pés ali mesmo quando foram para a tenda da congregação e perante o Senhor. T2 612 1 Esse era um mandamento do grande e poderoso Deus. Não devia haver nenhum desleixo e falta de asseio naqueles que compareciam diante dEle quando fossem a Sua santa presença. E por que isso? Qual era o objetivo de todo esse cuidado? Era meramente para recomendar o povo a Deus? Era meramente para obter Sua aprovação? A razão que me foi dada era esta: para que fosse causada correta impressão sobre o povo. Se os que ministravam no ofício sagrado deixassem de manifestar cuidado e reverência para com Deus, em seu traje e na sua conduta, o povo perderia seu temor e sua reverência para com Ele e Seu serviço sagrado. Se os sacerdotes mostravam grande reverência para com Deus sendo muito cuidadosos e muito meticulosos ao comparecerem à Sua presença, isso dava ao povo elevada idéia de Deus e Seus requisitos. Mostrava-lhes que Deus é santo, que Sua obra é sagrada e que tudo quanto se relaciona com o Seu trabalho precisa ser santo; que precisa estar livre de tudo que se caracterize pela impureza e falta de asseio; e que deve ser removida toda corrupção dos que se aproximam de Deus. T2 612 2 Segundo a luz que me foi dada, tem havido negligência neste sentido. Eu poderia falar sobre isso como Paulo o apresenta. Isso é confirmado pela veneração da vontade e pela negligência do corpo. Mas essa humildade voluntária, essa veneração da vontade e negligência do corpo, não é a humildade que tem traços do Céu. Esta humildade se caracterizará por fazer com que a pessoa, as ações e o traje de todos os que pregam a santa verdade de Deus sejam corretos e perfeitamente apropriados, de modo que cada item relacionado conosco recomende nossa santa religião. O próprio vestuário será uma recomendação da verdade para os descrentes. Será um sermão em si mesmo. T2 612 3 Mas as coisas erradas freqüentemente se manifestam no púlpito sagrado. Um pastor conversando com outro na plataforma perante a congregação, rindo e parecendo despreocupado com o trabalho, ou manifestando falta do solene senso de sua sagrada vocação, desonra a verdade, e rebaixa o que é sagrado ao baixo nível das coisas comuns. O exemplo tende a remover do povo o temor de Deus e diminuir a sagrada dignidade do evangelho, o qual Cristo morreu para exaltar. De acordo com a luz que me foi dada, agradaria a Deus que os pastores se inclinassem ao subir ao púlpito e solenemente pedissem ajuda divina. Que impressão isso causaria? Haveria solenidade e temor no povo. Seu pastor está se comunicando com Deus; está se entregando ao Senhor antes de ousar apresentar-se perante o povo. Profundo respeito incide sobre a congregação e os anjos de Deus são atraídos. Ao assumirem o púlpito, os pastores devem buscar a Deus em primeiro lugar, dizendo a todos, por sua atitude: "Deus é a fonte da minha força." T2 613 1 O pastor que é negligente em seu traje freqüentemente ofende os que têm bom gosto e finas sensibilidades. Os que são deficientes neste sentido devem corrigir seus erros e ser mais ponderados. A perda de algumas pessoas será finalmente atribuída ao desleixo do pastor. O primeiro aspecto afetou desfavoravelmente as pessoas, pois não podiam de modo algum relacionar sua aparência com as verdades por ele apresentadas. Seu vestuário depunha contra ele; e a impressão causada foi de que o povo que ele representava era um grupo descuidado que não se importava com o seu vestuário, e os seus ouvintes não queriam ter nada a ver com tal classe de pessoas. T2 613 2 Nisso, de acordo com a luz que me foi dada, tem havido manifesto descaso da parte de nosso povo. Os pastores algumas vezes se apresentam no púlpito com o cabelo mal penteado, parecendo não ter sido tocado pelo pente ou a escova há uma semana. Deus é desonrado quando aqueles que se empenham em Seu sagrado serviço negligenciam sua aparência. Antigamente era requerido dos sacerdotes ter suas vestes no estilo específico, para realizar o serviço no lugar santo e ministrar no ofício sacerdotal. Deviam ter as vestimentas em harmonia com sua obra, e Deus distintamente especificou como deveriam ser. A bacia estava colocada entre o altar e a congregação, para que os sacerdotes, antes de virem à presença de Deus, à vista da congregação, pudessem lavar as mãos e pés. Que impressão deveria isso exercer sobre o povo? Devia mostrar-lhe que cada partícula de poeira precisava ser eliminada antes de poderem ir à presença de Deus, pois Ele era tão excelso e santo que, a menos que atendessem a essas condições, a morte seria o resultado seguro. T2 614 1 Mas, olhem para o estilo de roupa que alguns de nossos pastores usam hoje. Alguns que ministram nas coisas sagradas se vestem de tal maneira que, pelo menos até certo ponto, sua roupa destrói a influência do seu trabalho. Há evidente falta de bom gosto na cor e no esmero do corte. Qual é a impressão causada por tal maneira de vestir? É que a obra na qual eles estão empenhados não é considerada mais sagrada ou elevada do que o trabalho comum, como arar a terra. O pastor, por seu exemplo, reduz as coisas sagradas ao mesmo nível das coisas comuns. T2 614 2 A influência de tais pregadores não é agradável a Deus. Se alguém é levado para receber a verdade através de seus trabalhos, freqüentemente imita seus pregadores e desce ao mesmo baixo nível deles. Será mais difícil remodelá-los, levá-los a uma posição correta, e ensinar-lhes a verdadeira ordem e amor à disciplina, do que trabalhar para converter à verdade homens e mulheres que nunca a ouviram. O Senhor requer que Seus pastores sejam puros e santos para representarem corretamente os princípios da verdade em sua vida e, por seu exemplo, conduzir outros ao um nível elevado. T2 614 3 Deus requer que todos os que professam ser Seu povo escolhido, mesmo não sendo ensinadores da verdade, cuidem em preservar o asseio e a pureza pessoais, inclusive em suas casas e propriedades. Somos exemplos para o mundo, cartas vivas conhecidas e lidas por todos os homens. 2 Coríntios 3:2. Deus requer que todos os que fazem profissão de piedade, especialmente aqueles que ensinam a verdade a outros, abstenham-se "de toda aparência do mal". 1 Tessalonicenses 5:22. T2 615 1 Segundo a luz que me tem sido dada, o ministério é um santo e elevado ofício, e os que aceitam essa posição devem ter a Cristo no coração e manifestar sincero desejo de representá-Lo dignamente perante o povo em todas as suas ações, no vestuário, no falar e até mesmo na maneira como falam. Eles devem falar com reverência. Alguns destroem a impressão solene que possam haver causado no povo por elevarem a voz demasiado alto, proclamando a verdade com brados e gritos. Quando assim apresentada, a verdade perde muito de sua doçura, sua força e solenidade. Se, porém, a voz tem a devida entonação, se é possuída de solenidade e modulada de maneira a ser comovente, produzirá muito melhor impressão. Tal era o tom em que Cristo ensinava os discípulos. Impressionava-os com solenidade; falava de maneira a comover o coração. Mas, que resultado produz esse gritar? Isso não dá ao povo nenhuma idéia mais exaltada da verdade, nem os impressiona mais profundamente. Causa apenas uma sensação desagradável nos ouvintes, e fatiga os órgãos vocais do orador. O tom da voz tem muita influência em afetar o coração dos que ouvem. T2 615 2 Muitos que poderiam ser úteis estão desperdiçando energia vital e destruindo seus pulmões e órgãos vocais por sua maneira de falar. Alguns pastores adquiriram o hábito de falar apressadamente, como se tivessem uma lição a repetir, acelerando-a o máximo possível. Essa não é a melhor maneira de pregar. Com o devido cuidado, cada pastor pode educar-se a falar distinta e impressivamente, não atropelando as palavras sem tomar tempo para respirar. Ele deve falar de maneira moderada, para que o povo possa fixar as idéias na mente enquanto ele discorre sobre o tema. Mas quando o assunto é tratado com muita rapidez, as pessoas não podem memorizar os pontos e não recebem as impressões que lhes é importante reter; nem há tempo para que a verdade os afete como deveria. T2 616 1 O falar pela garganta, fazendo a voz sair da parte superior dos órgãos vocais, forçando-os e irritando-os continuamente, não é a melhor maneira de preservar a saúde ou de aumentar a eficácia desses órgãos. Vocês devem tomar profunda inspiração, e fazer com que a ação provenha dos músculos abdominais. Sejam os pulmões apenas o veículo, mas não dependam deles quanto ao trabalho. Caso deixem que suas palavras venham do profundo, exercitando os músculos abdominais, podem falar a milhares de pessoas com a mesma facilidade com que o fariam a dez. T2 616 2 Alguns de nossos pregadores estão se suicidando por longas e tediosas orações e pelo falar alto, quando uma tonalidade mais baixa faria melhor impressão e pouparia suas forças. Agora, enquanto desrespeitam as leis da vida e da saúde, e seguem o impulso do momento, não acusem a Deus se por acaso ficarem esmorecidos. Muitos de vocês, quando começam a falar, desperdiçam tempo e energia em longas introduções e justificações. Em lugar de desculpar-se porque vão dirigir-se ao povo, devem iniciar seu trabalho como se Deus tivesse algo para vocês dizerem ao povo. Certos pastores usam quase meia hora em justificativas, e assim o tempo é desperdiçado; e quando chegam ao assunto e desejam destacar os pontos da verdade, o povo está fatigado e não pode perceber sua força nem ser impressionado por eles. Vocês devem tornar os pontos essenciais da verdade presente tão claros como os marcos quilométricos de uma rodovia, a fim de que o povo possa compreendê-los. Os ouvintes perceberão os argumentos apresentados e as posições que vocês defendem. T2 617 1 Há outra classe que se dirige ao povo em tom lamentoso. Seu coração não está atenuado pelo Espírito de Deus e pensam que precisam causar impressão pela aparência de humildade. Tal comportamento não exalta o ministério evangélico, mas o enfraquece e traz-lhe descrédito. Os pastores devem apresentar a verdade aquecida de glória. Devem falar de tal maneira a representar corretamente a Cristo e preservar a devida dignidade de Seus ministros. T2 617 2 As longas orações feitas por alguns pastores têm sido um fracasso. Orar extensamente, como alguns fazem, está completamente fora de lugar. Eles prejudicam a garganta e os órgãos vocais, e então falam em esgotamento pelo árduo trabalho. Prejudicam a si mesmos quando isso não lhes é exigido. Muitos sentem que a oração danifica mais seus órgãos vocais do que falar. Isso é conseqüência da incorreta postura corporal e da posição em que mantêm a cabeça. Eles podem permanecer em pé e falar e não sentir-se prejudicados. A posição em oração deve ser perfeitamente natural. Longas orações cansam e não estão de acordo com o evangelho de Cristo. Meia hora ou quinze minutos é tempo demasiado. Uns poucos minutos são tempo suficiente para apresentar o caso a Deus, dizer-Lhe o que desejam; podem assim levar o povo a acompanhá-los, não os cansando nem diminuindo seu interesse na devoção e na oração. As pessoas podem ser refrigeradas e fortalecidas, em vez de fatigadas. T2 617 3 Em suas atividades religiosas, muitos cometem um erro ao orar e pregar extensamente, elevando a voz, em esforço e tom antinaturais. O pastor tem ficado cansado inutilmente e tem na realidade incomodado o público com atividades religiosas pesadas e fatigantes, que são totalmente desnecessárias. Os pastores devem falar de maneira a alcançar e impressionar o povo. Os ensinos de Cristo eram impressionantes e solenes; Sua voz melodiosa. E não deveríamos nós, assim como Cristo, estudar como ter melodia em nossa voz? Ele tinha influência poderosa, pois era o Filho de Deus. Estamos tão distantes, tão abaixo dEle e tão deficientes somos, que embora fazendo o melhor de nossa parte, nossos esforços serão pobres. Não podemos possuir e exercer a mesma influência que Ele, mas por que não deveríamos educar-nos para chegar mais perto do Modelo, a fim de podermos exercer a maior influência possível sobre as pessoas? Nossas palavras, atos, comportamento e vestuário, tudo deve pregar. Não somente com as palavras devemos falar ao povo, mas tudo quanto diz respeito a nossa pessoa deve constituir para eles um sermão, para que corretas impressões possam ser feitas e que a verdade pregada seja por eles levada a seus próprios lares. Assim nossa fé se manifestará em uma luz melhor à comunidade. T2 618 1 Nunca compreendi como hoje o exaltado caráter da obra, sua santidade, e a importância de estar apta para ela. Vejo essa necessidade em mim mesma. Devo ter um novo preparo, uma santa unção, ou não poderei continuar a instruir outros. Necessito ter certeza de que estou andando com Deus. Devo certificar-me de que compreendo o mistério da piedade. Preciso saber que a graça de Deus está em meu coração, que minha própria vida está de acordo com Sua vontade; que estou andando em Suas pisadas. Então, minhas palavras serão verdadeiras e minhas ações corretas. T2 618 2 Mas há outro ponto de que quase me esqueci. É a influência que o pregador precisa exercer em seu ministério. Sua obra não é meramente estar no púlpito. Ela apenas começa aí. Ele precisa associar-se às diversas famílias e levar-lhes Cristo, apresentando-lhes seus sermões e cumprindo-os em palavras e ações. Ao visitar uma família, deve ele perguntar sobre suas condições. É ele o pastor do rebanho? A obra de um pastor não é realizada totalmente no púlpito. Ele deve conversar com todos os membros de seu rebanho; com os pais e com os filhos para conhecer seu modo de pensar. Um pastor precisa alimentar o rebanho que Deus lhe encarregou de cuidar. Seria conveniente ir às casas e estudar; mas se fizer isto negligenciando o trabalho que Deus lhe comissionou, comete um erro. Nunca deixe a casa de uma família sem antes convidá-la a reunir-se, e ajoelhando orar com ela. Indague sobre sua saúde espiritual. O que um médico competente faz? Ele procura descobrir particularidades de cada caso, e então receita os medicamentos. Assim também o médico espiritual deve inquirir sobre as doenças espirituais que afligem os membros de seu rebanho, e então administra os remédios adequados e roga que o Grande Médico venha em seu auxílio. Presta-lhes a ajuda de que necessitam. Tais pastores receberão todo respeito e honra que lhes são devidos como ministros de Cristo. Trabalhando por outros, manterão a própria vida espiritual. Devem buscar forças de Deus para partilhar com aqueles a quem ministram. T2 619 1 Possa o Senhor nos ajudar a buscá-Lo de todo o coração. Quero diariamente receber os divinos raios da glória que brotam do trono de Deus e resplandecem na face de Jesus Cristo, e irradiá-los no caminho a meu redor. Anseio ser uma luz no Senhor. ------------------------Capítulo 77 -- Amor ao ganho T2 619 2 Prezado irmão B: T2 619 3 Por duas vezes iniciei um testemunho endereçado a você, mas não me foi possível completá-lo por falta de tempo. Não devo mais retardá-lo, pois estou muito preocupada com seu caso. Escrevi testemunhos para vários pastores; à medida que seus casos me acorriam à mente, vi-lhes a condição deplorável. Seu caso não é exceção. O amor ao ganho, ao dinheiro, está se tornando evidente em muitos de nossos pastores que professam ser representantes de Cristo. O exemplo de alguns deles chega ao ponto de desencorajar o povo. T2 620 1 Alguns de nossos pastores estão se posicionando diretamente no caminho do avanço da obra de Deus, e as pessoas que os consideram como exemplo estão se afastando de Deus. Cerca de dois anos atrás, foram-me revelados os perigos que rondam nossos pastores, e os efeitos de sua conduta sobre a causa de Deus. Tenho falado em termos gerais com referência a essas coisas, mas aqueles que estão em falta são os últimos a aplicar os testemunhos a si mesmos. Alguns estão tão cegos por seus interesses egoístas que perdem de vista o exaltado caráter da obra. T2 620 2 Irmão B, sua vida é quase um fracasso. Você possui talentos de influência, mas não os aprimorou como devia. Fracassou em sua família; deixou as coisas correrem à solta ali, e as mesmas deficiências são sentidas na igreja. O Senhor lhe concedeu luz com respeito a sua negligência ao dever na família, e o procedimento que deve seguir para redimir o passado. Suas deficiências foram apontadas, mas você não sentiu a pecaminosidade de trazer filhos ao mundo e deixá-los sem a educação adequada. Você tem desculpado erros, pecados e a conduta obstinada e descuidada deles, vangloriando-se de que poderiam aos poucos endireitar-se. T2 620 3 O caso de Eli representa exatamente o seu. Você tem, ocasionalmente, argumentado com seus filhos, dizendo: "Por que vocês agem tão impiamente?", mas não tem exercido sua autoridade como pai, como sacerdote da família, para ordenar e impor sua palavra como lei no lar. O carinho equivocado seu e de sua esposa aos filhos, levou vocês a negligenciarem a solene obrigação que lhes recai como pais. T2 620 4 Uma dupla obrigação repousa sobre você, irmão B, como um ministro de Deus: governar bem a própria casa e restringir seus filhos. Você, porém, tem apreciado suas aptidões e lhes desculpado as faltas. Os pecados deles não lhe parecem tão pecaminosos. Você tem desagradado a Deus e quase arruinado os filhos pela negligência do dever; tem continuado nesse descaso mesmo após o Senhor tê-lo reprovado e aconselhado. O prejuízo causado à obra de Deus pela influência de vocês, como família, em diversos lugares por onde passaram, foi maior do que o bem realizado. Você tem estado cego e sido enganado por Satanás a respeito de sua família. O irmão e sua esposa têm considerado os filhos como seus iguais. Eles têm agido como bem lhes agrada. Isso tem sido uma triste desvantagem em seu trabalho como ministro de Cristo; e a negligência do dever em restringir os próprios filhos tem levado a um mal ainda maior, que ameaça destruir sua utilidade. Você aparentemente vem servindo à causa de Deus, enquanto na verdade serve a si mesmo. A obra do Senhor enfraqueceu, mas você tem diligentemente imaginado e planejado como obter vantagens pessoais, e almas se perdem por causa de sua negligência ao dever. Houvesse você, durante seu ministério, ocupado a posição de edificador dessa obra; houvesse sido um exemplo, servindo à causa de Deus sem levar em consideração os próprios interesses e gastando-se pela dedicação a ela, seu comportamento teria sido mais justificável, embora não aprovado por Deus. Mas quando suas deficiências são tão evidentes em algumas coisas, e a causa de Deus prejudicada grandemente pelo exemplo dado na negligência do dever em sua família, é uma ofensa à vista de Deus você professar servir à causa, tornando prioritários seus interesses egoístas. T2 621 1 Em seus trabalhos você tem despertado interesse, e exatamente no ponto em que poderia obter a melhor vantagem, permite que os interesses domésticos o desviem da obra de Deus. Em muitos casos você não tem perseverantemente continuado seus esforços até ficar satisfeito que todos tenham se decidido a favor ou contra a verdade. Não é atitude sábia começar a guerrear contra o poder de Satanás e abandonar o campo em meio ao conflito, dando assim oportunidade ao inimigo de prender mais firmemente aqueles que estavam a ponto de deixar suas fileiras e tomar posição ao lado de Cristo. Esse interesse, uma vez rompido, talvez nunca mais possa ser reativado. Uns poucos poderão ser alcançados, mas a grande maioria nunca será afetada nem seu coração sensibilizado pela apresentação da verdade. T2 622 1 O Pastor C perdeu sua influência e o poder da verdade por ocupar-se com especulações. Isso foi particularmente ofensivo a Deus por tratar-se de um ministro de Cristo. Mas você fez o mesmo. Fez da conduta do Pastor C uma desculpa para seu amor aos negócios. Justificou seu procedimento de obter vantagem para si mesmo, porque outros pastores têm agido da mesma maneira. Eles não são critério para você. Se prejudicam a própria influência e se privam da aprovação de Deus e da confiança dos irmãos, seu exemplo deve ser evitado. Cristo é nosso exemplo e você não tem nenhuma desculpa para adotar o exemplo de homens, a menos que sua vida esteja de acordo com a vida de Cristo. Sua influência será morte para a causa de Deus se continuar a seguir o rumo que tem adotado nesses últimos poucos anos. Seus negócios e comércio, recolhendo de seus irmãos recursos que você não ganhou, são um grande pecado à vista de Deus. T2 622 2 Alguns têm se privado de recursos necessários para o conforto de sua família, e outros até para as necessidades vitais, para ajudá-lo, e você tem aceitado. Paulo escreve a seus irmãos filipenses: "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." "Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." Filipenses 2:5, 4. "Ninguém busque o proveito próprio; antes, cada um, o que é de outrem" (1 Coríntios 10:24), escreveu ele aos irmãos de Corinto. De novo fala em tom lamentoso: "Porque todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus." Filipenses 2:21. T2 623 1 O espírito nutrido pelo irmão, de buscar sempre os próprios interesses egoístas, está crescendo e até sua conversação tem sido ambiciosa. Paulo admoesta seus irmãos hebreus: "Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13:5. Você está sacrificando sua reputação e influência por um espírito avarento. A causa de Deus é difamada por causa desse espírito que se tem apoderado de seus pastores. Você está cego e não pode ver quão ofensivas são essas coisas a Deus. Se decidiu ir avante e adquirir tudo o que puder do mundo, faça-o; mas não sob a desculpa de pregar a Cristo. Seu tempo é ou não é dedicado à causa de Deus. O interesse próprio tem se tornado supremo. O tempo que deveria dedicar à causa de Deus é ocupado demais com as próprias preocupações pessoais, e você recebe do tesouro de Deus recursos que não merece. Está disposto a receber recursos daqueles que não estão em tão boas condições quanto você. Não considera a situação deles nem sente compaixão. Não procura examinar de perto se esses que o ajudam podem realmente fazê-lo. Seria mais justo que você freqüentemente auxiliasse aqueles de quem recebe auxílio. Precisa ser um homem transformado antes do trabalho de Deus poder prosperar em suas mãos. Os cuidados de sua casa e fazenda têm-lhe ocupado a mente. Você não tem se dedicado ao trabalho. Como desculpa por ficar tanto em casa, tem dito que seus filhos necessitam de sua presença e cuidados, e que precisa estar com eles a fim de cumprir a orientação que lhe foi dada em visão. Mas, irmão B, você tem feito isso? Desculpa-se dizendo que os filhos estão agora fora de seu controle e muito adultos para serem restringidos. Aí comete um erro. Nenhum de seus filhos é tão adulto que não possa respeitar sua autoridade e obedecer suas ordens enquanto sob o teto paterno. Que idade tinham os filhos de Eli? Eram casados; e de Eli, como pai e sacerdote de Deus, foi requerido restringi-los. T2 624 1 Mas, admitindo-se que os dois filhos mais velhos estejam agora além de seu controle, eles não estavam quando Deus lhe enviou a orientação de que você estava condescendendo com eles para sua ruína; que os deveria disciplinar. Você tem três filhos mais jovens que estão andando no caminho dos pecadores, desobedientes, ingratos, profanos, "mais amigos dos prazeres que amigos de Deus". 2 Timóteo 3:4. Seu filho mais novo está seguindo os passos do irmão dele. Que atitudes você está tomando a esse respeito? Está porventura educando-o em hábitos de operosidade e utilidade? Está você procurando retomar o trabalho tão temerariamente negligenciado e redimindo o passado? Você treme diante da Palavra de Deus? T2 624 2 Sua negligência no lar é assombrosa em alguém que tem por escrito a Palavra de Deus e também os testemunhos específicos que denunciam o seu problema. Seu filho faz o que bem entende. Você não o restringe. Não o educou nem o preparou para assumir suas obrigações na vida. Ele se tornou um mau rapaz em razão do descaso paterno. Sua vida é uma vergonha ao pai. Você conhecia seu dever, mas não o cumpriu. Ele não tem qualquer convicção sobre a verdade. Sabe que pode fazer a própria vontade, e Satanás controla-lhe a mente. Você tem feito dos filhos uma desculpa para ficar em casa, mas, irmão B, as coisas deste mundo lhe são prioritárias. T2 624 3 A causa de Deus não está em seu coração e o exemplo que você dá ao povo do Senhor não é digno de imitação. Em Minnesota há necessidade de obreiros, e não meramente pastores que vão de lugar em lugar quando isso for conveniente. A causa de Deus precisa de homens aptos, que não serão impedidos de trabalhar para o Senhor ou de responder ao chamado do dever por qualquer interesse egoísta ou mundano. Minnesota é um grande campo e ali há muitos que são suscetíveis à influência da verdade. Pudessem as igrejas ser levadas a trabalhar adequadamente, completamente disciplinadas, e delas resplandeceria uma luz, disseminando-se por todo o Estado. Você poderia ter feito dez vezes mais do que fez em Minnesota. Mas o mundo interpôs-se entre você e o trabalho de Deus e dividiu seu interesse. Interesses egoístas penetraram seu coração, e o poder da verdade está se extinguindo. Há necessidade de uma grande mudança em você para que possa trabalhar adequadamente. Você executou muito pouco trabalho verdadeiro, sério. Contudo, tem sido diligente em obter todos os recursos a que tem direito. Você foi além dos limites. Olhou para o próprio interesse e se tem beneficiado com prejuízo de outros. Por algum tempo está seguindo nessa direção e, a menos que seja impedido, porá sua influência a perder. Moses Hull seguiu nessa direção. Sua conversação era ambiciosa e ele juntou todos os recursos que pôde obter. Sua firmeza na verdade não era forte o bastante para superar o egoísmo. T2 625 1 Quando B. F. Snook abraçou a verdade, ele passava por muitas necessidades. Irmãos liberais se privaram de seus confortos, até mesmo de coisas necessárias, para ajudar esse pastor a quem criam ser um fiel servidor de Cristo. Eles fizeram tudo isso de boa fé, socorrendo-o como teriam feito a seu Salvador. Mas esse foi o modo de arruinar o homem. Seu coração não era reto para com Deus; faltou-lhe princípio. Ele não estava verdadeiramente convertido. Quanto mais recebia, maior era seu desejo por recursos. Obteve tudo o que podia de seus irmãos até poder adquirir, através da generosidade deles, uma valiosa casa. Então apostatou-se e tornou-se um acérrimo inimigo daqueles que foram mais generosos com ele. Esse homem terá que dar contas dos recursos que tomou dos fiéis crentes na verdade. Ele não os roubou, mas sim ao tesouro de Deus. Não lhe desejamos qualquer mal, pois "Deus há de trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau". Eclesiastes 12:14. Ele tem andado nos caminhos do próprio coração e segundo bem parece aos seus olhos, mas por todas essas coisas Deus o levará a juízo. Todas as coisas ocultas das trevas serão então trazidas à luz, e os desígnios secretos do coração serão tornados manifestos. 1 Coríntios 4:5. T2 626 1 Irmão B, você não é como esses homens. Não queremos compará-lo a eles, mas dizemos: Guarde-se de andar em suas pegadas e de manter conversas ambiciosas. O desejo da parte dos pastores de obter recursos para propósitos egoístas é-lhes uma cilada, a qual os destruirá se nela permanecerem. Enquanto conservam os olhos no próprio eu, seu interesse na prosperidade da causa de Deus e o amor pelas pobres almas se tornam cada vez menores. Eles não perdem de uma vez o amor e o interesse pela verdade. Seu abandono da causa do bem é tão gradual e imperceptível que é geralmente difícil dizer o tempo em que ocorreu a mudança. T2 626 2 Classifico sua conduta como altamente perigosa. Você não sente a necessidade de atender à luz que Deus lhe tem enviado, e despertar para salvar sua família, inocentando-se como pai e sacerdote do lar. Não recusou a luz recebida, não se revoltou contra ela, mas negligenciou cumpri-la, porque não lhe era conveniente e agradável fazer isto. Então, fez-se igual a Meroz. Não saiu em socorro do Senhor (Juízes 5:23), embora o assunto fosse de conseqüência tão vital a ponto de afetar os interesses eternos de seus filhos. Negligenciou seu dever. A esse respeito foi como um servo indolente. Você não tem senão pequena idéia de como Deus considera a negligência dos pais na disciplina dos filhos. Houvesse se corrigido nesse ponto, e teria visto a necessidade do mesmo esforço para manter a disciplina e a ordem na igreja. Sua frouxidão na família tem sido vista também em seu trabalho na igreja. Você não pode edificar a igreja até que seja um homem transformado. T2 627 1 A negligência para com a luz que Deus lhe enviou o tem tornado, em certo grau, cativo de Satanás e sujeito a seus enganos; portanto, uma porta foi deixada aberta para que ele tenha acesso a você em outros aspectos, tornando-o um homem fraco. Ele vê que tem sido bem-sucedido em cegá-lo aos interesses da família, levando-o a negligenciar a luz que o Senhor enviou. Então Satanás o coloca em outras situações. Ele tem estimulado seu amor pelo comércio e pelo lucro; assim seu interesse tem se afastado da causa e obra de Deus. O amor a Deus e à verdade está gradualmente se tornando de menor importância. Pessoas por quem Cristo morreu são de menor valor para você do que seus interesses temporais. Se continuar nessa conduta, logo se tornará ciumento, sensível e invejoso, e abandonará a verdade como outros fizeram. T2 627 2 Você está ansioso por obter trabalho em sua localidade, esperando que algo possa ser dito ou feito para despertar seus filhos. Você negligenciou seu dever. Quando retomar a obra tão longamente negligenciada, que o Senhor deixou para você fazer; quando, pelo Espírito de Cristo, erguer-se resolutamente para pôr a casa em ordem, então poderá esperar que Deus ajude seus esforços e impressione o coração de sua família. Embora tenha feito de seus filhos uma desculpa para permanecer em casa, não realizou o trabalho para o qual fez a solicitação. Você não disciplinou os filhos. Sua esposa é deficiente a esse respeito, portanto, há maior necessidade de que você esteja a postos para cumprir seu dever. O amor de sua esposa é daqueles que permite aos filhos fazerem o que quiserem e escolherem suas próprias amizades, as quais os conduzirão à ruína. Irmão, sua presença em casa permitindo que os filhos façam o que lhes agrada é mais prejudicial à família do que se você estivesse longe dela, e produz uma influência pior ainda sobre a causa da verdade. T2 628 1 Deus convoca obreiros zelosos, abnegados e desprendidos em Sua causa, que manterão os vários ramos do santo trabalho, tais como conseguir assinantes para os periódicos, ensinando-lhes pontualidade no pagamento dos débitos, e encorajando os irmãos a manter sua doação sistemática. Sacrifício, abnegação, trabalho e benevolência desinteressada caracterizaram a vida de Cristo, que é nosso exemplo em todas as coisas. O trabalho e o caráter de um verdadeiro pastor estarão de acordo com a vida de Cristo. Ele deixou Sua glória, o alto comando do Universo, honras e riquezas, e Se humilhou para atender às nossas necessidades. Não podemos igualar o exemplo, mas devemos imitá-lo. O amor pelos pecadores por quem Cristo fez o grande sacrifício deve estimular Seus ministros à diligência, à abnegação e ao esforço perseverante, para que possam ser coobreiros com Ele na salvação de almas. Então o trabalho dos servos de Deus será frutífero, porque eles realmente se tornarão Seus instrumentos. Será visto sobre eles o poder de Deus nas benévolas influências de Seu Espírito. Deus deseja que você desperte e tenha força para superar obstáculos; não se desanime facilmente. Se for necessário, trabalhe como fez o apóstolo Paulo, em fadigas, em angústias, em vigílias, esquecendo fraquezas no profundo interesse que sentia pelas almas por quem Cristo morreu. T2 628 2 Alguns de nossos pastores estão tirando proveito da liberalidade de nossos irmãos para benefício próprio. Assim fazendo, estão perdendo gradualmente sua influência; seu exemplo nesse aspecto está destruindo a confiança que os irmãos neles depositam. Eles estão efetivamente fechando a porta, de forma que os que realmente precisam de ajuda, e são dela merecedores, não a obtenham. Fecham também a porta pela qual obteriam ajuda para sustentar a causa. Muitos dentre o povo ficam desanimados quando vêem alguns pastores que eles empregam manifestando tão pouco interesse pela prosperidade da causa de Deus. Não vêem dedicação ao trabalho. As pessoas são negligenciadas e a causa se enfraquece por falta de um trabalho bem dirigido e eficaz, que elas têm direito de esperar dos pastores. T2 629 1 Em seu desapontamento, alguns irmãos se entregam a um sentimento de impaciência e desespero, ao verem egoísmo e cobiça manifestados por seus instrutores. O povo está à frente de muitos dos seus pastores. Se os pastores manifestam espírito de abnegação e amor pelas almas, não faltarão recursos à causa. Que os pastores se elevem até o exaltado padrão como representantes de Cristo, e veremos a glória de Deus acompanhar a apresentação da verdade; e as pessoas serão constrangidas a reconhecer sua clareza e poder. A causa de Deus precisa ter a prioridade. T2 629 2 Meu irmão, você pode fazer uma boa obra. Tem conhecimento da verdade e pode ser uma grande bênção à causa da verdade presente, se for santificado, consagrado ao trabalho e isento de qualquer interesse egoísta. Deus confiou-lhe uma sagrada responsabilidade, preciosos talentos; e se você for achado leal a sua responsabilidade, empregando fielmente seus talentos, não se envergonhará quando o Mestre vier e exigir o capital com os juros. Não é seguro desprezar, ou em qualquer sentido desconsiderar a luz que Deus Se agradou conceder. Você tem algo a fazer para chegar a uma posição onde Deus possa atuar especialmente por seu intermédio. T2 629 3 A prosperidade da causa de Deus em Minnesota é devida mais aos trabalhos do irmão Pierce do que aos seus esforços. Os esforços dele têm sido uma bênção especial àquele Estado. É um homem afável e o temor de Deus está perante ele. Enfermidades lhe têm sobrecarregado e isso o tem levado a questionar se está realmente no caminho do dever, e a temer que Deus não esteja aprovando seus esforços. Deus ama o irmão Pierce. Ele tem pouca auto-estima, teme, hesita e se apavora com o trabalho; pensa constantemente não ser digno ou capaz de ajudar a outros. Se ele superasse a timidez, e possuísse mais confiança de que Deus estaria com ele e o fortaleceria, seria muito mais feliz e maior bênção para outros. Na vida do irmão Pierce tem havido falha na avaliação do caráter das pessoas. Ele acredita que os outros sejam tão honestos quanto ele; e em alguns casos foi enganado. Não possui o discernimento que alguns têm. No decorrer de sua vida, você também falhou na avaliação do caráter. Você tem pronunciado paz àqueles contra quem Deus declarou maldição. Por causa de sua idade e debilidade, outros podem impor-se ao irmão Pierce, entretanto, todos devem tê-lo em alta estima por seu trabalho. Ele merece amor e terna consideração de seus irmãos, pois é um homem consciencioso e temente a Deus. T2 630 1 Deus ama a irmã Pierce. Ela é tímida e acanhada, mas conscienciosa no desempenho de seu dever, e receberá a recompensa quando Jesus vier, se for fiel até o fim. Ela não faz alarde de suas virtudes; é retraída e uma das mais caladas, todavia, sua vida tem sido útil e tem abençoado a muitos por sua influência. A irmã Pierce não possui auto-estima e autoconfiança em grau elevado. Tem muitos temores, contudo, não faz parte do rol dos temerosos e incrédulos que não herdarão o reino de Deus. Os que estarão fora da cidade são os mais confiantes, arrogantes e aparentemente zelosos, que amam de palavra mas não "por obra e em verdade". 1 João 3:18. O coração deles não é reto para com Deus. O temor do Senhor não está perante eles. Os medrosos e incrédulos, que serão punidos com a segunda morte, fazem parte daquela classe que se envergonha de Cristo neste mundo. Eles têm medo de fazer o que é certo e seguir a Cristo, temendo sofrer perdas financeiras. Negligenciam seu dever, para evitar vergonha e aflições, e escapar dos perigos. Os que não ousam fazer o que é certo porque ficam expostos às provações, perseguição, perdas e sofrimento, são covardes, e com idólatras, mentirosos, e todos os pecadores, estão amadurecendo para a segunda morte. T2 631 1 No Sermão do Monte, Cristo declara quem são verdadeiramente os bem-aventurados: "Bem-aventurados os pobres de espírito [aqueles que não exaltam a si mesmos, mas são sinceros e de humilde disposição, não orgulhosos demais para serem ensinados, nem frívolos e ambiciosos pelas honras deste mundo] porque deles é o reino dos Céus." Mateus 5:3. T2 631 2 "Bem-aventurados os que choram [aqueles que são penitentes, submissos e se afligem por suas faltas e erros, porque o Espírito de Deus está entristecido], porque eles serão consolados." Mateus 5:4. T2 631 3 "Bem-aventurados os mansos [aqueles que são gentis e perdoa-dores; que quando injuriados, não revidam, mas manifestam um espírito dócil e não se têm em alto conceito], porque eles herdarão a Terra." Mateus 5:5. Aqueles que possuem as qualificações aqui descritas não apenas serão benditos de Deus nesta vida, mas coroados com glória, honra e imortalidade em Seu reino. ------------------------Capítulo 78 -- A causa em Vermont T2 631 4 Tem-me sido mostrado que os discípulos de Cristo são Seus representantes na Terra; e é desígnio de Deus que eles sejam luzes nas trevas morais deste mundo, espalhados por toda parte, nos lugarejos, vilas e cidades, "feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens". 1 Coríntios 4:9. Se obedecerem aos ensinos de Cristo no Sermão do Monte, estarão de contínuo buscando a perfeição do caráter cristão, e verdadeiramente serão a luz do mundo, condutos pelos quais Deus comunicará Sua divina vontade, a verdade de origem celestial, àqueles que se assentam em trevas e que não têm nenhum conhecimento do caminho da vida e salvação. T2 632 5 Deus não pode difundir o conhecimento de Sua vontade e as maravilhas de Sua graça no mundo incrédulo, a menos que tenha testemunhas espalhadas por toda a Terra. É Seu plano que aqueles que são participantes desta grande salvação por Jesus Cristo, sejam Seus missionários, astros no mundo, sinais ao povo, cartas vivas, lidas e conhecidas por todos os homens, e cuja fé e obras dêem testemunho da proximidade da vinda do Salvador, e mostrem que não receberam a graça de Deus em vão. O povo deve ser admoestado a preparar-se para o juízo por vir. Aos que têm estado a ouvir somente fábulas, Deus dará oportunidade de escutar a segura palavra profética, à qual fazem bem "em estar atentos", pois é como "uma luz que alumia em lugar escuro". 2 Pedro 1:19. Ele revelará a palavra da verdade à compreensão de todos os que se dispuserem a ouvir; todos poderão contrastar a verdade com as fábulas que lhes foram apresentadas por homens que alegam entender a Palavra de Deus, e estar qualificados para instruir os que se acham em trevas. T2 632 1 Para aumentar o número em Bordoville, os irmãos se mudaram para esta cidade, deixando os lugares de onde saíram destituídos de força e influência para manter reuniões. Isso agradou aos inimigos de Deus e da verdade. Esses irmãos deveriam ter permanecido lá como fiéis testemunhas, suas boas obras testificando da genuinidade de sua fé, pelo exemplo de pureza e poder da verdade em sua vida. Sua influência haveria de convencer e converter, ou condenar. T2 632 2 Todo seguidor de Jesus tem uma obra a fazer como missionário de Cristo, na família, na vizinhança, na vila ou cidade em que reside. Todos os que se consagraram a Deus são condutos de luz. Deus os torna instrumentos de justiça para comunicar a outros a luz da verdade, as riquezas de sua graça. Os descrentes podem parecer indiferentes e descuidados, todavia, Deus está impressionando e convencendo seu coração de que a verdade é real. Mas quando nossos irmãos deixam o campo, desistindo da luta e permitindo que a causa de Deus se enfraqueça, antes que Ele diga "deixai-os" (Mateus 15:14), serão apenas um fardo a qualquer igreja para onde se mudarem. Aqueles a quem abandonaram e que estavam convencidos da verdade, freqüentemente acalmam sua consciência com o pensamento de que, afinal, estavam ansiosos sem necessidade; chegam à conclusão de que não há nenhuma realidade na profissão de fé dos adventistas do sétimo dia. Satanás triunfa ao ver a vinha do Senhor totalmente arrancada ou deixada a perecer. Não é propósito divino que Seu povo se agrupe e concentre sua influência em uma determinada localidade. T2 633 1 Os esforços do irmão D para animar os irmãos a se mudar foram feitos em boa fé, todavia não de acordo com a vontade de Deus. Os caminhos do Senhor não são os nossos caminhos. Ele "não vê como vê o homem". 1 Samuel 16:7. Embora os objetivos fossem bons, os propósitos de Deus com respeito à salvação de almas não seriam cumpridos. T2 633 2 Deus deseja que Seu povo seja a luz do mundo e o sal da Terra. O plano de formar grandes ajuntamentos e construir uma grande igreja diminuiu sua influência e estreitou-lhes a esfera de utilidade; literalmente colocando a luz debaixo do alqueire. É intento divino que o conhecimento da verdade chegue a todos, e que ninguém fique em trevas, ignorando seus princípios. Que todos sejam provados por ela e se decidam contra ou a favor; que todos sejam advertidos e deixados sem desculpas. O plano de colonizar, ou mudar-se de diferentes localidades em que há pouca força ou influência, e concentrar a influência de muitos em uma só localidade, é remover a luz de lugares onde Deus deseja que brilhe. T2 633 3 Os seguidores de Cristo espalhados pelo mundo não possuem um elevado conceito da responsabilidade que incidem sobre eles, para deixarem sua luz brilhar sobre outros. Se houver apenas um ou dois num lugar, eles podem, embora poucos em número, conduzir-se perante o mundo de modo a exercer uma influência que impressionará o descrente com a sinceridade de sua fé. Os seguidores de Jesus não estão satisfazendo o propósito e a vontade de Deus, se eles se contentam em permanecer ignorantes a respeito de Sua Palavra. Todos devem tornar-se estudantes da Bíblia. Cristo disse a Seus seguidores: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam." João 5:39. Pedro exorta-nos: "Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." 1 Pedro 3:15. T2 634 1 Muitos que professam crer na verdade para estes últimos dias, serão achados em falta. Negligenciaram as questões mais importantes. Sua conversão é superficial -- não profunda, fervorosa e cabal. Não sabem por que crêem na verdade; crêem unicamente porque outros nela têm crido, e assim dão por certo ser ela a verdade. Não podem dar razão inteligente de sua crença. Muitos têm permitido que sua mente acumule coisas sem importância, e seus interesses eternos se tornam secundários. A própria alma fica atrofiada e mutilada no desenvolvimento espiritual. As pessoas não são iluminadas ou edificadas por sua experiência, nem pelo conhecimento que tiveram o privilégio e dever de obter. A força e estabilidade estão com os professos sinceros. T2 634 2 Cristo, e Este crucificado, deve tornar-Se o assunto de nossos pensamentos e despertar as mais profundas emoções de nosso coração. Os verdadeiros seguidores de Cristo apreciarão a grande salvação que Ele efetuou por eles; e segui-Lo-ão para onde quer que Ele os conduzir. Considerarão um privilégio levar qualquer fardo que Cristo colocar sobre eles. É só pela cruz que podemos avaliar o valor do ser humano. O valor dos homens por quem Cristo morreu é tal que o Pai ficou satisfeito com o preço infinito que pagou pela salvação do homem ao entregar o próprio Filho para morrer por sua redenção. Que sabedoria, misericórdia e amor em sua plenitude são aí manifestados! O valor do homem só é conhecido indo ao Calvário. No mistério da cruz de Cristo podemos fazer uma estimativa do homem. T2 635 1 Que posição de responsabilidade: unir-se com o Redentor do mundo na salvação de seres humanos! Esta obra requer abnegação, sacrifício, benevolência, perseverança, coragem e fé. Mas os que ministram em palavra e doutrina não têm o fruto da graça de Deus em seu coração e vida; eles não têm fé. Eis a razão dos fracos resultados de seu trabalho. Muitos que professam ser ministros de Cristo manifestam espantosa resignação enquanto vêem os inconversos rumando para a perdição. Um ministro de Cristo não tem o direito de estar à vontade, e assentar-se comodamente diante do fato de que sua apresentação da verdade seja ineficaz e não desperte os corações. Ele deve recorrer à oração, e trabalhar e orar sem cessar. Os que se sujeitam a ficar sem bênçãos espirituais, sem lutar destemidamente por essas bênçãos, permitem que Satanás triunfe. Fé persistente e que prevalece é necessária. Os ministros de Deus precisam estar em íntima comunhão com Cristo e seguir Seu exemplo em todas as coisas, na pureza de vida, na abnegação, na benevolência, na diligência, na perseverança. Devem lembrar-se de que um registro aparecerá um dia como evidência contra eles pela mínima negligência do dever. T2 635 2 O irmão D não percebeu que animando os irmãos a se mudarem, estava colocando encargos sobre si mesmo e a igreja; não viu que requereria muito tempo e trabalho mantê-los em condição de serem uma ajuda, em vez de um estorvo. Ele pensou que se pudesse reunir famílias naquele lugar, elas ajudariam a formar uma igreja e aliviá-lo de cuidados e responsabilidades. Mas o que ficou provado em Bordoville, bem como em Battle Creek foi: quanto mais irmãos se mudaram para lá, mais pesadas ficaram as responsabilidades dos obreiros que têm a causa de Deus no coração. Homens e mulheres de mente e constituição diversificadas poderiam reunir-se e viver em doce harmonia, se considerassem os outros superiores a si mesmos; se amassem o próximo como a si mesmos, como Cristo lhes ordenou. T2 636 1 É, porém, muito difícil lidar com mentes humanas que não estão submissas ao controle especial do Espírito de Deus, e estão expostas ao domínio de Satanás. O egoísmo se apossa de tal maneira do coração de homens e mulheres, e a iniqüidade é tão acariciada, mesmo por alguns que professam piedade, que o ajuntamento de um grande grupo deve ser evitado, pois eles não seriam assim os mais felizes. T2 636 2 Aqueles a quem o irmão D desejava que fossem a Bordoville, eram considerados por ele como os melhores elementos, capazes de exercer boa influência. Tais homens e mulheres são postos no mundo como sentinelas fiéis, para que os que estão sem Deus possam ser convencidos de que há poder na religião de Cristo. Tais homens de influência são, em verdade, o sal da Terra. Deus não Se agradaria de vê-los congregados em um lugar e sua esfera de utilidade reduzida. Homens fidedignos são muito raros, porque o coração humano está tão dedicado aos próprios interesses egoístas que não reconhece outros. T2 636 3 Se houvesse tido um bom número de homens escolhidos no importante trabalho de Battle Creek, Deus estaria satisfeito; e se eles sacrificassem os próprios interesses egoístas em favor da causa sofredora, estariam apenas seguindo os passos de seu Redentor, que deixou Sua glória, majestade e alto comando, e por nossa causa tornou-Se pobre, para que nós, por Sua pobreza, nos tornássemos ricos. Cristo sacrificou-Se pelo ser humano, mas esse, por sua vez, não se sacrifica espontânea e alegremente por Cristo. Se vários homens e mulheres responsáveis e sinceros, que pudessem ser utilizados como indivíduos de ação, respondendo prontamente ao chamado por auxílio, mudassem para Battle Creek, Deus teria sido glorificado. Ele quer homens, em Battle Creek, que sejam confiáveis; que sempre se coloquem do lado certo em tempos de perigo; que pelejem fielmente contra o inimigo em vez de assumir posição com os que aborrecem o Israel de Deus, e protegem os que debilitam as mãos dos servos de Deus, voltando suas armas contra aqueles a quem o Senhor ordena apoiar. Para prosperar, toda igreja precisa ter homens em quem possa confiar em tempos de perigo, homens que sejam tão firmes como o aço, homens altruístas que tenham os interesses da causa de Deus mais perto do coração do que qualquer outra coisa que envolva suas opiniões próprias e interesses seculares. T2 637 1 As igrejas não são totalmente compostas de cristãos sinceros e puros. Nem todos os nomes que estão registrados nos livros da igreja são dignos de ali estar. A vida e o caráter de alguns, quando comparados com os de outros, são como o ouro em relação à escória. Isso não deve ser assim. Aqueles que são valiosos por sua vida e influência, sentem a importância de seguir a Jesus de perto, de fazer da vida de Cristo seu estudo e exemplo. Tal coisa requererá esforço, meditação e diligente oração. Requer ação vigorosa obter a vitória sobre o egoísmo e tornar prioridade o interesse pela causa de Deus. Alguns têm feito esforços, posto o eu sob rigorosa disciplina e alcançado magníficas vitórias. Os que consideram prioridade os próprios interesses vivem para si mesmos. Seu caráter é como inútil escória à vista de Deus. T2 637 2 O irmão D tem feito muito mais do que um homem deveria ao trabalhar pelos interesses da igreja em sua localidade. Se ele se ausentasse por um curto período de tempo para trabalhar por outros, ao retornar, maiores e mais pesadas responsabilidades estariam prontas para serem colocadas sobre ele. Ele tem permitido que elas repousem sobre seus ombros e se curvado, gemendo sob seu peso. Os irmãos D estiveram em perigo de serem muito exigentes, e de apresentarem a própria vida e exemplo como modelo. O eu não foi perdido de vista em Cristo. Esses irmãos devem falar pouco de si mesmos e exaltar a Cristo. Devem esconder-se atrás de Jesus, e deixar que somente Ele apareça como padrão perfeito que todos devem imitar. T2 638 1 Onde estão os homens em quem se podem confiar em tempos de provação e perigo? Onde estavam os homens tementes a Deus para arregimentar-se em volta do estandarte quando o inimigo estava buscando obter vantagem? Alguns que deveriam ter permanecido em seus postos, foram infiéis quando sua ajuda era mais necessária. Sua conduta mostrou que não tinham nenhum interesse especial no avanço do trabalho e da causa de Deus. Alguns pensaram que se estava esperando demais deles; e em vez de avançarem alegremente para fazerem o que pudessem, assentaram-se na espreguiçadeira de Satanás e se recusaram a fazer qualquer coisa. T2 638 2 Alguns irmãos eram muito zelosos. O irmão E é um deles. Ele é peculiarmente teimoso, o que o faz insistir em uma conduta errada porque pensa que seus irmãos ficariam contentes se ele mudasse e fizesse o contrário. Às vezes, quando se sente impelido, busca fazer alguma coisa que esteja a seu alcance para o avanço da causa de Deus. Mas, aprecia tanto fazer as coisas a seu modo, que deixaria a causa de Deus sofrer antes de abrir mão de sua vontade e modo de agir. O irmão E não é um homem com quem se possa contar. Ele está sujeito às tentações de Satanás e, freqüentemente, sob seu controle. Seu coração é insubmisso e egoísta. É inconstante, impulsivo, ora odiando, ora amando. Às vezes é bondoso, outras vezes ciumento, invejoso e muito egoísta. Ele não poderá alcançar um caráter cristão até saber resistir à tentação, subjugar a própria vontade obstinada, nutrir um espírito humilde e uma disposição para ver e confessar seus erros. Algumas vezes ele é verdadeiro e honesto. Então uma onda o leva em direção oposta e ele passa a abrigar ciúmes, inveja e desconfiança. O eu e seus interesses egoístas reinam soberanos. Ele é um descobridor de faltas alheias e suspeita que os outros não o apreciam e gostam de prejudicá-lo. O irmão E precisa de uma conversão total. Para o ser humano não é o bastante professar a verdade. Ele pode admitir toda a verdade e ainda nada saber -- não ter conhecimento experimental na vida diária -- da santificadora influência da verdade sobre o coração e vida ou do poder da verdadeira piedade. T2 639 1 A verdade é santa e poderosa e realizará uma completa reforma no coração e vida daqueles a quem santifica. O irmão E é capaz de exercer influência para o bem. Se dominar o eu e humilhar o próprio coração diante de Deus, pode tornar-se um verdadeiro portador do jugo de Cristo. Pode também ser um auxílio em lugar de tropeço a sua família e aos outros. Ele debilita a causa de Deus em Bordoville por causa dos defeitos em seu caráter cristão. Se o irmão E viver de acordo com a luz que recebeu, desenvolverá sua salvação com temor e tremor e, assim fazendo, deixará a luz brilhar sobre o caminho de outros e glorificará a Deus. O caso do irmão E representa o de muitos na igreja, que necessitam da mesma obra de transformação em seu coração para serem retos. T2 639 2 O irmão F pode ser mais útil do que agora é ou jamais foi. Deus não o chamou especificamente para ministrar em palavra e doutrina. Ele não está qualificado para tal posição, mesmo assim, pode realizar pequenos encargos para o Senhor e ser uma ajuda nas reuniões. Se viver na luz, tem condições de refleti-la a outros. Ele pode ser uma bênção aos outros; pode proferir palavras de conforto e encorajamento aos desanimados. No entanto, para fazer isso, deve nutrir um espírito alegre, recusando-se a olhar o lado escuro e a falar de dúvidas. Pode expressar contentamento, esperança e encorajamento em suas palavras e até mesmo no tom de voz. T2 639 3 A irmã G tem fraquezas, porém, nada faz para melhorar. Permite que o inimigo lhe controle a mente e lhe agrave suas dificuldades através de um espírito altivo. Ela sofre de enfermidades físicas e precisa de compaixão; mas inquietude, rabugice, queixas, murmurações e lamentações inúteis não lhe aliviam os sofrimentos nem lhe trazem felicidade; apenas agravam o problema. T2 640 1 O mundo está cheio de pessoas insatisfeitas, que passam por alto a felicidade e as bênçãos que se acham ao seu alcance, e estão continuamente buscando a felicidade e satisfação que não possuem. Estão constantemente lutando por algum bem desejado, maior do que o que possuem, e estão sempre num estado de desapontamento. Nutrem a incredulidade e ingratidão, passando por alto as bênçãos que estão exatamente em seu caminho. As bênçãos comuns e diárias da vida são-lhes desprezíveis, tal como foi o maná aos filhos de Israel. T2 640 2 Cristo diz à irmã G: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. As palavras, o comportamento e o exemplo da irmã G ensinam uma lição inteiramente diversa daquela de nosso Salvador. Ela perde muito em desprezar as bênçãos atuais ao seu alcance e em ansiosamente buscar a felicidade. Seus esforços não são recompensados e sua infrutífera procura traz grande infelicidade a ela e a todos com quem se associa. Seu inquieto, ansioso e turbado espírito se expressa no semblante e lança sombras. Tal escuridão, incredulidade e descontentamento estimulam as tentações do inimigo. Por sua contínua desconfiança e por aflições emprestadas, lança trevas em lugar de espalhar raios de sol. T2 640 3 O irmão G deve ser paciente, tolerante e carinhosamente poupá-la de responsabilidades desnecessárias, pois ela não está preparada para suportá-las. Ela, por sua vez, deve vigiar sobre as investidas do inimigo e tomar sobre si os encargos da vida sem murmurar, mas levá-los com alegria, amenizando-os com gratidão, porque não são pesados. O irmão G inclina-se a olhar o lado escuro da vida. Ele deve manter-se em prontidão para cumprir a vontade de Deus e usar da melhor maneira possível a influência que o Senhor lhe concedeu. Deve alegremente desempenhar os deveres de hoje e não tomar emprestadas as aflições de amanhã para sentir-se miserável. Não tem que executar os deveres da próxima semana, mas o trabalho e as obrigações que cada dia traz. T2 641 1 O irmão e a irmã G devem unir sua influência em dizer: "Basta a cada dia o seu mal." Mateus 6:34. É uma desventura tomar emprestados os problemas da semana vindoura e amargar o presente. Quando ocorrem dificuldades reais, Deus fortalece cada manso e humilde filho para enfrentá-las. Quando, em Sua providência, permite que ocorram, proverá auxílio para suportá-las. Lamúrias e murmurações obscurecem e mancham o coração, e eclipsam a brilhante luz do caminho dos outros. T2 641 2 O irmão G pode ter adotado certa conduta para ajudar ao irmão H, e ao mesmo tempo a si mesmo. Mas o egoísmo privou o irmão H de vantagens e o próprio irmão G foi prejudicado pelo temor de que houvesse privilegiado a outros. O irmão G não amou o próximo como a si mesmo, e seu extremo egoísmo em muitas coisas destituiu-o do bem e impediu-o de receber as bênçãos de Deus. Conclui-se que nada aproveita ao homem ser egoísta, pois Deus o registra e recompensará a cada um de acordo com as suas obras. "Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. "O que semeia pouco, pouco também ceifará." 2 Coríntios 9:6. T2 641 3 Mencionei essas pessoas para representar o verdadeiro estado de muitos na igreja de Bordoville, cujos casos são semelhantes. Os que ali congregam têm acarretado preocupações e cuidados ao irmão D, que procura mantê-los na retidão. Houvessem eles estado livres de ciúmes e se mantido no amor de Deus, sustentariam suas mãos, confortariam seu coração e o liberariam para trabalhar pela salvação de almas, enquanto suas orações, como agudas foices, o teriam seguido ao campo de colheita. Sua falta de consagração e devoção a Deus enfraqueceu-lhes a própria fé, debilitou as mãos do irmão D, destruiu sua coragem e tornou-lhe quase inúteis os trabalhos na missão evangelística. As preocupações da igreja local têm frustrado seus esforços e, em grande medida, mantido seus trabalhos confinados à região. Essa limitação do trabalho, principalmente num só lugar, tem influência devastadora sobre o interesse espiritual e o zelo do ministro de Cristo. T2 642 1 Para crescer em graça e no conhecimento da verdade, os obreiros precisam ter experiência variada. Essa pode ser melhor adquirida mediante extensivo trabalho em novos campos, em diferentes localidades, onde possam entrar em contato com todas as classes de pessoas, e todas as variedades de mentes, e onde vários tipos de serviço sejam levados ao encontro das necessidades das muitas e diferentes mentalidades. Elas impelem o verdadeiro obreiro a Deus e à Bíblia para obtenção de luz, poder e conhecimento, para que ele possa estar plenamente qualificado para atender às necessidades do povo. Deve ele ouvir a exortação feita a Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade." 2 Timóteo 2:15. "Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?" Lucas 12:42. É necessária sabedoria para discernir o assunto mais apropriado para a ocasião. T2 642 2 O irmão D não se transformou num obreiro bem-sucedido. Ele regrediu. Sua mente se tornou estreita e sua força espiritual tem se enfraquecido. Ele poderia agora ser um obreiro de êxito, um trabalhador íntegro. Em vez de entregar-se totalmente ao trabalho, tem estado a servir às mesas. Paulo exortou a Timóteo: "Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo isto, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes." 1 Timóteo 4:12-16. T2 643 1 O irmão D é ativo e disposto tanto para agir como para assumir responsabilidades que não estão relacionadas ao seu chamado, e tem a mente e o tempo muito absorvidos por coisas temporais. Alguns pastores mantêm uma certa dignidade que não está em consonância com a vida de Cristo, e não estão dispostos a tornar-se úteis empenhando-se em trabalho físico, como a ocasião pode requerer, para abrandar as cargas daqueles de quem recebem hospitalidade, e aliviá-los de cuidados. O exercício físico seria para eles uma bênção real, em vez de prejuízo. Ajudando a outros, beneficiariam a si mesmos. Mas alguns vão ao extremo oposto. Quando seu tempo e energias são totalmente requeridos na causa de Deus, estão dispostos a empenhar-se no trabalho e tornarem-se servos de todos, mesmo nas coisas seculares. Eles realmente roubam a Deus do serviço que Ele deles requer. Assim assuntos triviais tomam o precioso tempo que deveria ser dedicado aos interesses da causa de Deus. T2 643 2 O irmão J. N. Andrews errou nisso. O tempo e as forças que ele dedica à correspondência com seus irmãos, respondendo suas cartas pessoais de indagação, deviam ter sido gastos nos interesses especiais da obra de Deus em geral. Mas não muitos compreendem as responsabilidades que repousam sobre os poucos pastores que suportam as cargas nesta causa. Os irmãos freqüentemente chamam esses homens do trabalho para atender a seus assuntos de pouca importância, ou resolver problemas da igreja, os quais eles podem e devem resolver por si mesmos. "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando." Tiago 1:5, 6. Andrews precisa ser diligente e perseverante. Se for indeciso, duvidando continuamente se o Senhor realmente fará como prometeu, nada receberá. T2 644 1 Muitos esperam que seus pastores lhes tragam a luz de Deus, achando ser esse um meio mais fácil do que ter o trabalho de ir ao Senhor e buscá-la por si mesmos. Eles perdem muito. Se diariamente seguissem a Cristo e O tornassem seu guia e conselheiro, poderiam obter um claro conhecimento de Sua vontade, alcançando assim uma valiosa experiência. Por falta de tal experiência, esses irmãos que professam a verdade andam nas fagulhas que outros acendem. Eles não estão familiarizados com o Espírito de Deus e não possuem conhecimento de Sua vontade; assim sendo, são facilmente desviados da fé. São instáveis porque confiam em outros para obter experiência. Amplas provisões foram feitas para todo filho e filha de Adão conseguir individualmente o conhecimento da vontade divina, para aperfeiçoar o caráter cristão e ser purificados através da verdade. Deus é desonrado por essa classe que professa seguir a Cristo e, no entanto, não possui conhecimento prático da vontade divina ou do mistério da piedade. T2 644 2 O irmão D tem tido uma multiplicidade de cuidados domésticos. O acréscimo do número de membros na igreja não lhe reduziu as responsabilidades. Esse aumento tem imposto pesados tributos sobre ele e sua família, e essas coisas têm sido um empecilho ao seu sucesso como obreiro. Ele se tornou enferrujado na causa de Deus e necessita de polimento. Seu testemunho precisa ser vitalizado pelo Espírito e poder de Deus. Seus irmãos em Bordoville, que não têm um trabalho especial para fazer na palavra e doutrina, deviam estar despertos para perceberem as necessidades de outros e ajudá-los. Muitos fecham os olhos ao bem que teriam oportunidade de fazer pelo semelhante e por sua negligência perdem as bênçãos que podiam obter. O irmão D tem sido deixado a levar cargas que seus irmãos deviam ter considerado dever e privilégio portar. T2 645 1 Nossa obra neste mundo é viver para o bem de outros, para abençoá-los, para ser hospitaleiros; e com freqüência, não é senão à custa de algum incômodo que podemos hospedar aqueles que em verdade necessitam de nossos cuidados, e do benefício de nossa companhia e de nosso lar. Alguns evitam esses necessários encargos. Alguém, no entanto, precisa assumi-los; e como, em geral, os irmãos não são muito dados à hospitalidade e não repartem eqüitativamente esses deveres cristãos, os poucos que têm coração voluntário e assumem o caso daqueles que se acham em necessidade, ficam sobrecarregados. A igreja deve ter especial cuidado em aliviar seus pastores de encargos extras a esse respeito. Os pastores que estão ativamente empenhados na causa de Deus, trabalhando pela salvação de almas, têm contínuos sacrifícios a fazer. T2 645 2 O testemunho do irmão D precisa ser estimulado pela graça divina. Ele necessita de uma nova unção para ser capaz de compreender a magnitude da obra, e dedicar-se inteiramente ao desenvolvimento da causa de Deus. O Senhor tem trabalho suficiente para empregar todos os Seus seguidores. Todos podem revelar Sua glória, se assim o desejarem. Mas a maioria se recusa a fazer isso. Eles professam fé, mas não têm obras. Sua fé, estando sozinha, é morta. Eles se descartam de responsabilidades e encargos, e serão recompensados conforme suas obras. Por alguns não assumirem as responsabilidades que devem assumir, ou não fazerem o trabalho que poderiam efetuar, a obra é demasiado grande para os poucos que nela se empenham. Vêem tanto por fazer, que sobrecarregam as forças, e estão-se esgotando rapidamente. T2 645 3 Neste tempo Deus convoca obreiros cujos interesses estejam plenamente identificados com Sua obra e causa. Os pastores empenhados nessa obra precisam ser fortalecidos pelo espírito e poder das verdades que pregam, e então exercerão positiva influência. O povo raramente se eleva acima do pastor que o dirige. Havendo nele um espírito amante do mundo, isso exerce uma tremenda influência sobre os outros. O povo faz das deficiências dele uma desculpa para cobrir seu espírito mundano. Acalmam a própria consciência, pensando que podem ter liberdade de amar as coisas desta vida, e ser indiferentes às espirituais, porquanto os pastores são assim. Enganam a própria alma, e permanecem amigos do mundo, o que o apóstolo declara ser "inimizade contra Deus". Romanos 8:7. T2 646 1 Os pastores devem ser exemplos para o rebanho. Devem manifestar um inextinguível amor pelas pessoas, e à causa a mesma devoção que desejam ver no povo. Os pastores, em Vermont, têm cometido erros em seu trabalho. Passam continuamente pelos mesmos lugares para auxiliar as igrejas, quando o que elas realmente necessitam é fazer o trabalho por si mesmas, a fim de levá-las a uma posição onde Deus possa abençoar seus trabalhos e torná-las frutíferas. Não tem havido um obreiro perfeito e eficiente, plenamente qualificado para manter todos os setores da obra em Vermont. T2 646 2 O irmão e a irmã I são inválidos. Deus não lhes pôs sobre os ombros pesados encargos. Eles necessitam vigiar atentamente para que sua influência não diminua. Eles não têm filhos para exercitar amor e cuidado paternais, e estão em perigo de se tornarem limitados, egoístas e fantasiosos em seus pontos de vista e sentimentos. Todas essas coisas exercem má influência sobre a causa de Deus. Eles devem trabalhar para manter a mente além de si mesmos e não se fazerem critério para os outros. Aqueles que não têm filhos para partilhar seus pensamentos e trabalhos, e para exercitarem tolerância, paciência e amor, devem vigiar a fim de não centralizarem sobre si mesmos os pensamentos e trabalhos. Eles estão mal qualificados para instruir pais a educar os filhos, pois não têm experiência nesse trabalho. Em muitos casos, porém, aqueles que não têm filhos são os mais prontos a instruir os que têm, quando ao mesmo tempo se fazem de filhos em muitos respeitos. Eles não podem ser desviados de uma certa conduta, e que mais paciência do que as crianças requerem, seja demonstrada a eles. É egoísmo adotar determinada atitude e seguir tal conduta, prejudicando a outros. T2 647 1 São as pequenas coisas que testam o caráter. Deus Se alegra diante dos despretensiosos atos diários de abnegação feitos com mansidão e alegria. Não devemos viver para nós mesmos, mas para os outros. Devemos ser uma bênção mediante o esquecimento de nós mesmos e consideração pelos outros. Devemos cultivar amor, paciência e força moral. T2 647 2 Bem poucos reconhecem os benefícios do cuidado, da responsabilidade e experiência que as crianças proporcionam à família. Muitos têm grandes famílias vivendo sem disciplina. Os pais estão negligenciando o precioso encargo e sagrado dever, que, se fielmente cumprido no temor de Deus, habilitaria não apenas os filhos, mas eles mesmos para o reino dos Céus. Mas uma casa sem crianças é um lugar desolado. O coração dos que nela residem está em perigo de se tornar egoísta, de acariciar o amor pela própria comodidade e consultar os próprios desejos e conveniências. Atraem compaixão para si mesmos, mas têm pouco para conceder a outros. O cuidado e afeição por crianças dependentes removem a aspereza de nossa natureza, fazem-nos ternos e compassivos, e influem no desenvolvimento dos mais nobres elementos de nosso caráter. Muitos estão enfermos física, mental e moralmente, porque sua atenção está voltada quase que exclusivamente para si mesmos. Podem ser salvos desse estado de estagnação pela sadia vitalidade das mentes mais novas e diversificadas, e a incansável energia das crianças. T2 647 3 O irmão J é idoso. Nenhuma pesada responsabilidade deve agora ser colocada sobre ele. Ele desagrada a Deus por seu mal aplicado amor aos filhos. Ele tem estado ansioso demais por ajudá-los financeiramente para não ofendê-los. Para agradar aos filhos, ele os tem prejudicado. Eles não são sábios e fiéis na administração de recursos, mesmo do ponto de vista mundano. Do ponto de vista religioso eles são muito deficientes. Não têm escrúpulos conscienciosos com respeito às coisas religiosas. Não beneficiam a sociedade por sua posição e influência no mundo, nem a causa de Deus por moral cristã pura e virtuosos atos a serviço de Cristo. Não foram treinados em hábitos de abnegação e autoconfiança como salvaguarda na vida. Aqui está o grande pecado dos pais. Eles não disciplinam seus filhos e não os educam para Deus. Não lhes ensinam domínio próprio, estabilidade de caráter e a necessidade de uma resoluta e bem dirigida vontade. A maioria dos filhos, nessa idade, são deixados à vontade. Não se lhes ensinam a necessidade do desenvolvimento de suas faculdades físicas e mentais visando a algum bom propósito, a abençoar a sociedade com sua influência, a ser bem qualificados para enriquecer a vida cristã e a aperfeiçoar a santidade no temor de Deus. T2 648 1 O irmão J errou em confiar seus bens a seus filhos. Pôs sobre eles responsabilidades que não estão qualificados a assumir. Ele abriu mão do controle de seus recursos e tem conseguido meios dos irmãos com seu débil esforço. Deus não tem sido glorificado por essa conduta com relação a sua propriedade. O irmão J tem desculpado as atitudes equivocadas de seus filhos, que não estão de acordo com a fé o ou padrão bíblico. Tem virtualmente dito ao ímpio: "Tudo irá bem com você", quando Deus tem claramente dito que o mal o seguiria T2 648 2 Esses erros da parte do irmão J demonstram grande falta de sabedoria celestial e o têm, em grande medida, desqualificado para a solene obra confiada ao fiel ministro de Cristo. O que poderá alegar o irmão J diante de Deus, quanto o Mestre intimá-lo a prestar contas de sua mordomia? Ele tem sido conduzido pela mente não consagrada de seus filhos, e não tem sentido a necessidade de buscar conselho e orientação dos servos de Deus que permanecem na luz. Tem sido levado por nociva compaixão e falhou em sua avaliação. Está se conduzindo como um homem cego. Sua conduta tem prejudicado a si mesmo e à causa de Deus. T2 649 1 Não é meramente de pregadores que passem ocasionalmente pelas igrejas orando e exortando que Vermont necessita. O clamor por obreiros poderia ser erguido pelo povo de Deus em Vermont. São necessários obreiros zelosos e diligentes para fortalecer as coisas que permanecem, ministrando as necessidades espirituais do povo. A causa de Deus em todo lugar, especialmente em Vermont, precisa de portadores de fardos. Os homens vão repetidamente ao mesmo lugar, mas realizam muito pouco, se é que realizam. Fazem uma boa visita a seus irmãos, e isso é freqüentemente tudo o que conseguem; e ainda esperam ser remunerados pelo tempo gasto. T2 649 2 O caso do irmão e da irmã K surge perante mim enquanto escrevo. Eles não têm exercido cuidado pelos outros. Não sentem a responsabilidade que repousa sobre eles de serem portadores de fardos. Entre outros que sentem ter uma obra a fazer pelo Senhor, foi-me mostrado o irmão K. Na verdade ele tem, assim como muitos outros, se a fizerem. Há obreiros capacitados na causa de Deus, que possuem experiência no trabalho e dedicam seu tempo e energias ao serviço do Mestre. Esses devem ser liberalmente sustentados. Mas os que estão simplesmente começando a visitar ocasionalmente as igrejas -- especialmente aqueles que não têm família para sustentar e têm autonomia -- não devem sacar recursos do tesouro do Senhor. T2 649 3 Nem o irmão nem a irmã K têm experiência em fazer sacrifícios em favor da verdade, em ser ricos de boas obras, juntando tesouro no Céu. Sua compaixão, cuidado e paciência não foram requeridos por crianças dependentes, amorosas. Têm levado em conta as próprias conveniências egoístas. Seu coração não tem sido uma fonte a produzir vivas correntes de ternura e afeição. Em ser uma bênção aos outros, por meio de bondosas palavras de amor e atos de misericórdia e benevolência, teriam eles mesmos experimentado uma bênção. Têm sido demasiado limitados em sua esfera de utilidade. A menos que sejam transformados na mente e no coração, e renovados pelo Espírito de Cristo, não podem tornar-se obreiros completos e eficientes a serviço do Redentor. Sua vida é um exemplo para os cristãos. Abnegação e desinteressada benevolência devem caracterizar-lhes a vida. O interesse próprio é muito destacado. Oh, quão pouco o irmão K sabe sobre o que é trabalhar para Deus, tomar a cruz de Cristo e andar nas pisadas do abnegado Redentor! T2 650 1 Um ministro de Cristo, um mestre da verdade, um verdadeiro pastor, é em certo sentido servo de todos, prevendo as necessidades daqueles que precisam de ajuda e sabendo como ser útil aqui e ali na grande obra de salvar almas. Um homem que professa ensinar a verdade, vai simplesmente aonde lhe agrada e trabalha quando e como lhe apraz, todavia evita responsabilidade, não está carregando a cruz após Cristo, nem cumprindo a comissão de um pastor evangélico. Poucos sabem por experiência o que é sofrer por amor a Cristo. Desejam ser como Jesus, mas querem evitar pobreza e crucifixão. Alegremente estariam com o Senhor na glória, mas não apreciam ir a Ele através de muito desprendimento e tribulação. T2 650 2 Não tem custado ao irmão K árduo esforço procurar a verdade, pois homens escolhidos por Deus preparam argumentos claros, simples e convincentes para ele. Pontos difíceis da verdade presente têm sido compreendidos através de fervorosos esforços de uns poucos que eram dedicados à obra. Jejum e fervorosa oração a Deus têm levado o Senhor a abrir-lhes Seus tesouros de verdade ao entendimento. Ardilosos oponentes e vangloriosos Golias precisam ser enfrentados, às vezes face à face, porém, mais freqüentemente com a pena. Satanás tem motivado homens a erguerem feroz oposição, a cegarem os olhos do povo e obscurecerem sua compreensão. Os poucos que tinham os interesses da causa e da verdade divina no coração se ergueram em sua defesa. Não procuraram comodidades, mas estavam dispostos a arriscar a própria vida em favor da verdade. T2 651 1 Esses zelosos pesquisadores da verdade arriscaram suas reservas de energia, e tudo mais, na obra de defender a verdade e difundir a luz. Elo após elo da preciosa cadeia da verdade foi pesquisado, até todos apresentarem bela harmonia, unidos em perfeito encadeamento. Esses homens de espírito pesquisador trouxeram à luz argumentos, tornando-os tão claros que até um escolar pode compreendê-los. Quão fácil agora é aos homens se tornarem ensinadores da verdade, enquanto se esquivam do sacrifício próprio e da abnegação. T2 651 2 Esses pesquisadores da verdade sofreram por ela e sabem qual é o seu valor. Eles a valorizam e sentem o mais intenso interesse em seu avanço. A abnegação e a cruz encontram-se diretamente no caminho de todo seguidor de Cristo. A cruz é aquilo que se opõe às propensões naturais e à vontade. Se o coração não é inteiramente consagrado a Deus, se a vontade, as afeições e os pensamentos não são postos em sujeição à vontade de Deus, não será possível pôr em prática os princípios da religião verdadeira e exemplificar na vida a vida de Cristo. Não haverá um sincero desejo de sacrificar as comodidades e o amor-próprio, e a mente carnal não será crucificada para fazer as obras de Cristo. T2 651 3 Há uma obra a ser feita por muitos que vivem em Bordoville. Vi que o inimigo estava ocupado em seu trabalho para alcançar seu objetivo. Homens a quem Deus tem confiado talentos de recursos têm transferido a seus filhos a responsabilidade que o Céu lhes apontou, de serem mordomos de Deus. Em lugar de submeter a Deus as coisas que são Suas, afirmam que tudo o que têm é seu mesmo, como se pelo próprio poder e sabedoria houvessem obtido seus bens. Quem lhes deu poder e sabedoria para obterem tesouros terrenos? Quem irrigou suas terras com o orvalho do céu e com chuvas? Quem lhes deu o sol para aquecer a Terra e despertou para a vida as coisas da natureza, fazendo-as florescer em benefício do homem? Homens a quem Deus abençoou com Sua generosidade, lançam os braços em torno de seu tesouro terreno e fazem dessas generosidades e bênçãos divinas, que Deus graciosamente lhes concedeu, uma maldição, por encherem o coração de egoísmo e duvidarem dEle. Aceitam os bens a eles emprestados, no entanto os reivindicam como seus, esquecendo-se de que o Mestre tem direitos sobre eles, e recusando submeter-Lhe até mesmo os juros que Ele requer. As riquezas causam muitas perplexidades para os professos seguidores de Cristo, e os atingem com muitos pesares, porque se esquecem de Deus e adoram a Mamom. Permitem que os tesouros terrestres lhes amargurem a vida e impeçam o desenvolvimento de um caráter cristão perfeito. E, como se isso não fosse suficiente, transmitem a seus filhos, para amaldiçoá-los, aquilo que se provou uma ruína em sua própria vida. Deus confiou recursos aos homens para prová-los, para ver se estão dispostos a reconhecê-Lo em Seus dons e usá-los para promover-Lhe a glória na Terra. T2 652 1 A Terra pertence ao Senhor, bem como todos os tesouros que ela contém. São Seus "os animais... aos milhares sobre as montanhas". Salmos 50:10. Todo ouro e prata Lhe pertencem. Ele empresta Seus tesouros aos mordomos para que façam avançar a causa divina e glorifiquem Seu nome. Não confiou esses tesouros aos homens para que os usassem a fim de exaltarem e glorificarem a si mesmos, e reunirem poder para oprimirem os que são pobres em tesouros deste mundo. Deus não aceita as ofertas de alguém por necessitar delas e não haver glória e riquezas sem elas, mas porque é para benefício de Seus servos devolverem a Deus aquilo que é Seu. As ofertas voluntárias de um coração contrito e humilde serão recebidas por Ele, e o doador será recompensado com ricas bênçãos. Ele as aceita como sacrifício de grata obediência. O Senhor requer e aceita nosso ouro e nossa prata como evidência de que tudo o que temos e somos Lhe pertence. Reivindica e aceita o aperfeiçoamento de nossos talentos e tempo, como fruto de Seu amor em nosso coração. "O obedecer é melhor do que o sacrificar." 1 Samuel 15:22. Sem amor puro, a mais vultosa oferta é paupérrima para que Deus aceite. T2 653 1 Muitos têm o coração tão apegado aos seus tesouros terrenos, que não discernem a vantagem de ajuntar para si tesouros no Céu. Não compreendem que suas ofertas voluntárias não enriquecem a Deus, mas a si mesmos. Cristo nos aconselha a juntarmos tesouros no Céu. Para quem? Para enriquecermos a Deus? Oh, não! As riquezas do mundo inteiro são Suas e a indescritível glória e os incalculáveis tesouros do Céu são todos Seus, para dar a quem quiser. "Ajuntai para vós outros tesouros no Céu." Mateus 6:20. Homens a quem Deus fez mordomos são muito obcecados pelas riquezas deste mundo, que não percebem que por seu egoísmo e cobiça estão não somente roubando ao Senhor em dízimos e ofertas, mas furtando de si mesmos as riquezas eternas. Eles poderiam diariamente aumentar seu tesouro celestial fazendo a obra que o Senhor lhes deu a fazer, confiando-lhes recursos para levá-la avante. O Mestre apreciaria vê-los procurando oportunidades para fazer o bem e, enquanto vivem, aplicar seus recursos para ajudar na salvação de seus semelhantes e no progresso da causa de Deus em seus vários seguimentos. Assim fazendo, cumprem apenas o que o Senhor requer deles; devolvem a Deus o que Lhe pertence. Muitos propositadamente fecham os olhos e o coração temendo ver e sentir as necessidades da causa de Deus, e que por ajudar em seu desenvolvimento estariam diminuindo a própria renda pela redução dos lucros ou do capital. Alguns acham que o que dão para o progresso da causa de Deus é realmente perdido. Consideram quantos dólares despenderam e ficam insatisfeitos, a menos que possam repô-los imediatamente, para que seus tesouros terrenos não diminuam. Agem com rigor e mesmo com astúcia ao lidar com seus irmãos, e também com os mundanos. Eles não vacilam em enganar nos negócios para obter vantagem para si mesmos e ganhar uns poucos dólares. T2 654 1 Alguns, temendo sofrer perda de tesouros terrenos, negligenciam a oração e o reunir-se para a adoração de Deus, para que tenham mais tempo para dedicar a suas lavouras ou seus negócios. Mostram, por suas obras, a que mundo eles dão maior valor. Sacrificam privilégios religiosos, que são essenciais para seu crescimento espiritual, pelas coisas desta vida, e deixam de obter o conhecimento da vontade divina. Não aperfeiçoam um caráter cristão, e não alcançam a medida de Deus. Põem em primeiro lugar seus interesses temporais, mundanos, e roubam a Deus o tempo que deveriam dedicar ao Seu serviço. Essas pessoas Deus assinala, e receberão maldição, em vez de bênção. Uns colocam seus recursos fora do próprio controle, pondo-os nas mãos dos filhos. Seu motivo secreto é colocarem-se numa posição onde não se sintam responsáveis por dar de seus bens para propagar a verdade. Eles amam "de palavra", mas não "por obras e em verdade". 1 João 3:18. Não entendem que é o dinheiro do Senhor que estão administrando, não o seu. T2 654 2 Muitos gostariam de ver pessoas convertidas se isso pudesse ser feito sem qualquer sacrifício de sua parte; mas recuam se sua propriedade é tocada, pois essa lhes é de mais valor do que homens e mulheres por quem Cristo morreu. Se aqueles a quem Deus confiou recursos compreendessem sua responsabilidade como mordomos Seus, tomariam nas próprias mãos o que o Senhor lhes emprestou para que pudessem fielmente cumprir o dever, assumindo sua parte em ajudar a levar avante a obra de Deus. Se todos pudessem compreender o plano da salvação e o valor de uma única pessoa adquirida pelo sangue de Cristo, considerariam tudo o mais de menor interesse. T2 655 1 Devem os pais ter grande temor de confiar aos filhos os talentos de bens que Deus lhes pôs nas mãos, a menos que tenha a absoluta certeza de que seus filhos têm maior interesse, amor e devoção pela causa de Deus do que eles mesmos, e que esses filhos serão mais fervorosos e zelosos em promover a obra de Deus, e mais benevolentes em fazer prosperar os vários empreendimentos relacionados com ela que necessitam de recursos. Mas muitos colocam seus bens nas mãos dos filhos, transferindo a eles a responsabilidade da própria mordomia porque Satanás os leva a assim proceder. Assim fazendo, estão efetivamente pondo esses recursos nas fileiras do inimigo. Satanás controla a questão de molde a satisfazer a seus propósitos e afastar da causa de Deus os recursos de que necessita para que seja abundantemente mantida. Os esforços feitos para levar a verdade ao povo não são nem metade do que deveriam ser. Nem uma quinta parte do que poderia ser realizado, está agora sendo feita para espalhar a verdade por meio da distribuição de publicações para atrair a todos os que atenderem ao chamado. T2 655 2 O período de graça de muitos está se encerrando. Satanás está diariamente fazendo colheita de almas. Algumas pessoas estão tomando uma decisão final contra a verdade e outras morrendo sem conhecê-la. Sua mente está em escuridão e não se arrependeram de seus pecados. Todavia, homens que professam piedade acumulam tesouros terrestres e concentram seus esforços em adquirir mais. São insensíveis à condição de homens e mulheres que entram na esfera de sua influência e estão perecendo por falta de conhecimento. Um trabalho bem dirigido, feito com amor e humildade, faria muito para iluminar e converter seus semelhantes, mas o exemplo de muitos que poderiam fazer grande bem está na realidade dizendo: "A alma de vocês é de menos valor para mim do que meus interesses mundanos." T2 656 1 Muitos amam pouco a verdade e muito a este mundo. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. As coisas espirituais são sacrificadas pelas temporais. Os frutos desses indivíduos não são para santidade, e seu exemplo não é tal que convença os pecadores e os converta do erro de seus caminhos para a verdade. Eles permitem que almas se percam, quando poderiam salvá-las se fizessem sinceros esforços em seu favor, como têm feito para garantir os tesouros desta vida. A fim de obter mais das coisas deste mundo -- as quais, de fato, não necessitam e que apenas aumentam sua responsabilidade e condenação -- muitos trabalham sob alta pressão, e põem em perigo sua saúde e alegria espiritual, e a paz, o conforto e a felicidade de suas famílias. Permitem que pessoas ao seu redor caminhem para a ruína, porque temem que exigirá um pouco de seu tempo e recursos salvá-las. O dinheiro é seu deus. Eles decidem que não paga a pena sacrificar seus recursos para salvar almas. T2 656 2 Aquele a quem foi confiado um talento não é responsável por cinco, ou por dois, mas apenas por um. Muitos negligenciam juntar para si um tesouro no Céu, fazendo o bem com os recursos que Deus lhes emprestou. Desconfiam de Deus e têm mil temores acerca do futuro. Como os filhos de Israel, eles têm um mau coração de incredulidade. Deus proveu este povo com abundância, à medida que suas necessidade o requeriam, mas eles tomaram emprestadas dificuldades para o futuro. Em suas viagens queixavam-se e murmuravam, dizendo que Moisés os libertara para matá-los de fome, bem como a seus filhos. Necessidades imaginárias cerravam-lhes os olhos e o coração, para não verem a bondade e as misericórdias de Deus em seu jornadear, e foram ingratos para com todas as Suas bênçãos. Assim também é o desconfiante professo povo de Deus nesta época de incredulidade e degeneração. Receiam vir a passar necessidades, ou que seus filhos se tornem necessitados, ou que seus netos fiquem desamparados. Não ousam confiar em Deus. Não têm genuína fé nAquele que lhes confiou as bênçãos e generosidades da vida, e lhes deu talentos para usar para Sua glória, na promoção de Sua causa. T2 657 1 Muitos têm tão constante cuidado de si mesmos que não dão a Deus oportunidade de cuidar deles. Se algumas vezes pudessem passar um pouco de necessidade e fossem levados a situações difíceis, seria a melhor coisa para sua fé. Se calmamente pudessem confiar em Deus e esperar que Ele atuasse em seu favor, sua necessidade seria a oportunidade divina. A bênção do Senhor em sua emergência aumentaria o amor por Ele e os conduziria a apreciar as bênçãos temporais em um sentido mais elevado do que jamais fizeram. Sua fé se fortaleceria, sua esperança se avivaria, e alegria tomaria o lugar de tristeza, dúvidas e murmurações. Em muitos, a fé não se desenvolve por falta de exercício. T2 657 2 O que está consumindo as forças vitais do povo de Deus é o amor ao dinheiro e a amizade com o mundo. É privilégio desse povo ser brilhantes luzes no mundo para crescer no conhecimento de Deus e ter clara compreensão de Sua vontade. Mas os cuidados desta vida e o engano das riquezas sufocam a semente lançada em seu coração, e não produzem fruto para a glória de Deus. Eles professam ter fé, mas não é uma fé viva porque não é sustentada pelas obras. "A fé sem obras é morta" em si mesma. Tiago 2:26. Aqueles que professam grande fé, e todavia não têm obras, não serão salvos por sua fé. Satanás crê na verdade e treme, contudo, essa espécie de fé não possui virtude. Muitos que têm feito alta profissão de fé são deficientes em boas obras. Se mostrassem sua fé pelas obras, poderiam exercer poderosa influência a favor da verdade. Mas não aplicam os talentos de recursos que lhes foram confiados por Deus. Os que pensam acalmar a consciência transferindo seus bens aos filhos, ou retendo-os da causa de Deus, e deixando-os nas mãos de filhos descrentes e irresponsáveis para que esbanjem ou acumulem e os adorem, prestarão contas a Deus. São mordomos infiéis do dinheiro do Senhor. Eles permitem que Satanás os domine por meio dos filhos, cuja mente está sob seu controle. Os propósitos de Satanás são alcançados de muitas maneiras, enquanto os mordomos de Deus parecem estupefatos e paralisados, pois não compreendem a grande responsabilidade e o ajuste de contas que deve em breve acontecer. T2 658 1 Os que possuem propriedades, e cuja mente está obscurecida pelo deus deste mundo, parecem ser controlados por Satanás ao disporem delas. Se possuem filhos crentes, fiéis, e também outros filhos cuja afeição está totalmente nas coisas do mundo, ao fazerem a transferência de seus bens aos filhos, geralmente dão uma quantia maior àqueles que não amam a Deus e estão servindo ao "inimigo de toda a justiça" (Atos dos Apóstolos 13:10), do que aos que servem ao Senhor. T2 658 2 Confiam às mãos de filhos infiéis as próprias coisas que serão uma armadilha para eles e servirão de obstáculos na trajetória de sua entrega a Deus. Enquanto presenteiam liberalmente os filhos descrentes, fazem restrições àqueles que são da mesma fé que eles. Esse fato devem assustar os homens que possuem recursos e seguem a mesma conduta. Eles precisam perceber que o engano das riquezas lhes tem pervertido o discernimento. Caso pudessem ver a influência exercida sobre sua mente, compreenderiam que Satanás considera esses assuntos exatamente de acordo com seus planos e propósitos. Em vez de Deus controlar-lhes a mente e santificar-lhes o discernimento, são controlados pelo poder exatamente oposto. Os que são da mesma fé têm sido, às vezes, até negligenciados e freqüentemente tratados com muito rigor e exigência em todo o seu proceder; enquanto têm mão aberta para com os filhos descrentes e amantes do mundo, que eles sabem não usarão os recursos postos em suas mãos para o avanço da causa de Deus. O Senhor requer que aqueles a quem concedeu talentos de recursos façam correto uso deles, tendo como prioridade o progresso de Sua causa. Qualquer outra consideração deve ser inferior a essa. T2 659 1 Os talentos de recursos, sejam eles cinco, dois ou um, devem ser empregados. Os que têm grande volume de recursos são responsáveis por um grande número de talentos. Mas os comparativamente pobres não estão livres de responsabilidades. Aqueles que não têm senão pouco dos bens deste mundo são representados como tendo um talento. Não obstante, estão em tão grande perigo de ter tanto amor por esse pouco, e de retê-lo egoistamente da causa de Deus, como estão os mais ricos. Esses não percebem o perigo que correm. Aplicam as fortes reprovações dirigidas pela Palavra de Deus aos amantes do mundo, aos ricos apenas, enquanto estão eles próprios em maior perigo do que os mais ricos. Quer tenham pouco ou muito, de todos é requerido entregar seus talentos aos banqueiros, para que ao retornar o Mestre receba o que é Seu com juros. Deles também se exige que mantenham sua consagração a Deus e um generoso interesse em Sua causa e obra. Buscando primeiramente "o reino de Deus e a Sua justiça", devem crer em Sua promessa de que "todas as coisas" lhes "serão acrescentadas". Mateus 6:33. Em comparação com todas as outras considerações, a salvação dos semelhantes deve ser prioritária, mas geralmente esse não é o caso. Se há negligência em qualquer lugar, é a causa de Deus que deve sofrer. Deus concede talentos aos homens, não para promover-lhes o orgulho ou para despertar neles inveja, mas a fim de serem usados para Sua glória. Tem o Senhor feito dos homens Seus agentes para distribuir os recursos com os quais promover a obra de salvação do ser humano. Cristo lhes deu um exemplo em Sua vida. Deixou todas as riquezas e esplendor celestiais, e por nossa causa tornou-Se pobre, para que pudéssemos, por Sua pobreza, tornar-nos ricos. Não é plano de Deus fazer chover recursos do Céu para sustento de Sua causa. Ele tem confiado amplos recursos às mãos dos homens, para que não haja falta em qualquer setor de Sua obra. Ele prova aqueles que professam amá-Lo, pondo-lhes recursos nas mãos e então os experimenta para ver se amam mais a dádiva do que o Doador. O Senhor revelará, no tempo oportuno, os verdadeiros sentimentos do coração. T2 660 1 São necessários recursos para o desenvolvimento da causa divina. Deus fez provisões para tal necessidade colocando uma abundância nas mãos de Seus agentes, para ser usada em qualquer setor da obra onde seja mais necessária para a obra de salvar almas. Cada pessoa salva é um talento ganho. Se verdadeiramente convertido, aquele que é trazido ao conhecimento da verdade usará, por sua vez, os talentos de influência e recursos que Deus lhe deu, no trabalho de salvação dos seus semelhantes. Ele se envolverá com determinação na grande obra de iluminar aqueles que ainda estão em trevas e erro. Será um instrumento na salvação de almas. Assim, os talentos de influência e recursos estão continuamente sendo negociados e constantemente crescendo. Quando o Mestre vier, o fiel servo estará preparado para devolver-Lhe o capital com os juros. Por seus frutos ele pode demonstrar o aumento dos talentos que ganhou para devolver ao Mestre. O fiel servo terá então feito seu trabalho e o Mestre, cuja recompensa está com Ele para dar a "cada um segundo as suas obras" (Romanos 2:6), devolverá ao servo tanto o capital como os juros. T2 660 2 Em Sua Palavra, o Senhor revelou claramente Sua vontade àqueles que possuem riquezas. Por Suas ordens diretas terem sido menosprezadas, Ele misericordiosamente apresenta aos homens os perigos através dos Testemunhos. Não lhes dá nova luz, mas chama sua atenção para a luz já revelada em Sua Palavra. Se aqueles que professam amar a verdade estão se apegando às suas riquezas e deixando de obedecer à Palavra de Deus, não procurando oportunidades de fazer o bem com o que lhes foi confiado, Ele Se aproximará e espalhará seus bens. Virá a eles com juízos. De várias maneiras dispersará seus ídolos. Haverá muitas perdas. A pessoa egoísta será amaldiçoada. Mas a "alma generosa engordará". Provérbios 11:25. Os que honram a Deus serão honrados. T2 661 1 O Senhor fez um concerto com Israel que, se obedecesse a Seus mandamentos, Ele lhe daria chuvas no devido tempo, faria a terra produzir e as árvores do campo darem frutos. Ele prometeu que "a debulha se... chegará à vindima, e a vindima se chegará à sementeira" (Levítico 26:5), e que eles se fartariam de pão e habitariam seguros na terra. E faria perecer seus inimigos. Não os aborreceria, mas andaria com eles e seria seu Deus, e eles seriam Seu povo. Porém, se desprezassem Seus reclamos, agiria inteiramente contra eles em tudo isso. Em vez de Sua bênção, a maldição pesaria sobre eles. Abateria a soberba de sua força, e tornaria os céus como ferro e a terra como cobre. "E debalde se gastará a vossa força; a vossa terra não dará a sua novidade, e as árvores da terra não darão o seu fruto. E, se andardes contrariamente para comigo... Eu também convosco andarei contrariamente." Levítico 26:20, 21, 24. T2 661 2 Os que estão egoistamente retendo os seus recursos, não deverão surpreender-se se a mão de Deus espalhar. O que deveria haver sido dedicado ao progresso do trabalho e da causa de Deus, mas foi retido, poderá ser confiado a um filho imprudente, e ele poderá esbanjá-lo. Um cavalo magnífico, orgulho de um coração frívolo, pode ser encontrado morto na estrebaria. Ocasionalmente pode morrer uma vaca. Poderá ocorrer perda de frutas ou outras culturas. O Senhor poderá espalhar os recursos que confiou aos Seus mordomos, caso se recusem a usá-lo para a Sua glória. Alguns, eu vi, poderão não sofrer nenhum desses prejuízos que lhes façam lembrar as negligências do dever, mas o seu caso poderá ser o mais desesperançado. T2 662 1 Jesus advertiu Seu povo: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhes uma parábola, dizendo: a herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus. E disse aos seus discípulos: Portanto, vos digo: não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo, mais do que as vestes." Lucas 12:15-23. T2 662 2 Essas advertências são dadas para benefício de todos. Atenderão eles aos conselhos dados? Darão ouvidos a essas impressionantes ilustrações de nosso Salvador e evitarão o exemplo do rico tolo? Ele tinha em abundância; assim há muitos que professam crer na verdade, e estão repetindo o caso do pobre homem, rico e tolo. Oh, que pudessem ser sábios e sentissem as obrigações que sobre eles repousam, para utilizarem as bênçãos que Deus lhes dá em benefício de outros, ao invés de torná-las uma maldição. Deus dirá a esses como ao rico da parábola: "Louco!" T2 662 3 Os homens agem como se estivessem desprovidos de sua razão. São esmagados pelos cuidados desta vida. Não têm tempo para dedicar a Deus, nenhum tempo para servi-Lo. Trabalhar, trabalhar, trabalhar, é a ordem do dia. De todos os que os cercam é requerido trabalhar sob alta pressão para cuidar das grandes fazendas. Derrubar e construir maiores [celeiros] é sua ambição, para que possam ter onde aplicar seus bens. Todavia, esses homens que estão vergados com o peso de suas riquezas passam por seguidores de Cristo. Têm o nome de crentes na breve volta de Cristo, na proximidade do fim de todas as coisas, todavia, não possuem nenhum espírito de sacrifício. Estão mergulhando cada vez mais profundamente no mundo. Não dedicam senão pouco tempo ao estudo da Palavra da vida, à meditação e oração, nem concedem aos de sua família ou aos seus servos, esse privilégio. Entretanto, esses homens professam crer que este mundo não é seu lar, que são simplesmente peregrinos e estrangeiros sobre a Terra, em preparativos de mudança para um lugar melhor. O exemplo e influência dos tais é maldição à causa de Deus. Tremenda hipocrisia caracteriza a vida desses professos. Amam a Deus e a verdade tanto quanto suas obras mostram, e não mais. Um homem procederá de acordo com toda a fé que possui. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. O coração está onde o tesouro se encontra. Seu tesouro está na Terra, e seu coração e interesses ali também. T2 663 1 "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?" "Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma." Tiago 2:14, 17. Quando aqueles que declaram ter fé mostrarem que sua vida é coerente com a fé professada, então veremos um poder auxiliando na apresentação da verdade, um poder que convencerá o pecador e atrairá almas a Cristo. T2 663 2 Uma fé coerente é rara entre os ricos. Fé genuína, amparada por obras, raramente é encontrada. Mas todos os que a possuem serão homens a quem não faltará influência. Serão imitadores de Cristo e possuirão aquela desinteressada benevolência, aquele interesse na obra de salvar almas, que Ele demonstrou. Os seguidores de Cristo devem avaliar as pessoas como Ele as avaliou. Suas simpatias devem estar com a obra de seu querido Redentor, e devem esforçar-se para salvar a aquisição de Seu sangue, seja qual for o sacrifício. Que é o dinheiro, que são casas e terras em comparação com uma só alma? T2 664 1 Cristo fez um sacrifício pleno e completo, um sacrifício suficiente para salvar cada filho e filha de Adão que mostre arrependimento a Deus por haver transgredido Sua lei, e manifeste fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, apesar de o sacrifício ter sido amplo, poucos consentem com uma vida de obediência para que possam ter essa grande salvação. Poucos estão dispostos a imitar Suas surpreendentes privações, e suportar os Seus sofrimentos e perseguições e a participar de Sua fatigante labuta para conduzir outros à luz. Mas poucos seguirão Seu exemplo em fervorosa e constante oração a Deus por força para suportar as provações desta vida e cumprir os deveres diários. Cristo é o Capitão de nossa salvação, e pelos próprios sofrimentos e sacrifício Ele deu um exemplo para todos os Seus seguidores de que vigilância, oração e perseverante esforço seriam necessários da parte deles, se quisessem representar devidamente o amor que habitava em Seu coração pela decaída humanidade. T2 664 2 Homens de posses estão morrendo espiritualmente por causa da negligência do uso de recursos que Deus colocou em suas mãos para ajudar a salvar os semelhantes. Alguns às vezes se levantam e resolvem que farão para si "amigos com as riquezas da injustiça", para que finalmente sejam recebidos "nos tabernáculos eternos". Lucas 16:9. Mas seus esforços nesse rumo não são completos. Eles começam, mas por não estarem vigorosa e completamente empenhados na obra, fracassam. Não são ricos em boas obras. Enquanto mantêm seu amor e apego aos tesouros terrestres, Satanás os domina. T2 665 1 Uma atraente perspectiva pode se apresentar para investimento em direitos de patentes ou algum outro suposto empreendimento brilhante, ao redor dos quais Satanás lança um enfeitiçante encantamento. A possibilidade de ganhar mais dinheiro, rápida e facilmente, os fascina. Eles raciocinam que, embora tenham resolvido depositar esse dinheiro no tesouro do Senhor, usá-lo-ão agora e o multiplicarão, dando depois uma grande soma à causa. Eles não vêem possibilidade de fracasso. Mas os recursos escoam de suas mãos e eles logo aprendem, para seu pesar, que cometeram um erro. Suas brilhantes perspectivas se desvaneceram. As expectativas não se realizaram. Foram enganados. Satanás os venceu. Ele foi mais astuto que eles e trabalhou para que os recursos fossem postos em suas fileiras, privando assim a causa de Deus daquilo que deveria ter sido usado para expandir a verdade e salvar almas pelas quais Cristo morreu. Eles perderam tudo quanto investiram e roubaram a Deus daquilo que Lhe poderiam ter dedicado. T2 665 2 Aqueles a quem têm sido confiado um único talento se desculpam porque não receberam muitos talentos como os outros. Como o mordomo infiel, escondem o único talento na terra. Estão temerosos de devolver o que Deus lhes confiou. Empenham-se em empreendimentos mundanos, mas investem pouco, se é que investem, na causa de Deus. Esperam que aqueles que receberam muitos talentos assumam as responsabilidades da obra, enquanto sentem que não são responsáveis por seu progresso e sucesso. T2 665 3 Quando o Mestre vier para ajustar contas com Seus servos, os servos tolos reconhecerão com perplexidade: "Senhor, eu conhecia-Te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado [mas, atemorizado de quê? De que o Senhor reivindicasse alguma porção do pequeno talento que lhe foi confiado], escondi na terra o Teu talento; aqui tens o que é Teu." Mateus 25:24, 25. Seu Senhor responderá: "Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias, então, ter dado o Meu dinheiro aos banqueiros, e, quando Eu viesse, receberia o que é Meu com os juros. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver, até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 25:26-30. T2 666 1 Muitos que possuem pouco dos bens deste mundo são representados pelo homem com um talento. Eles temem confiar em Deus. Receiam que Ele requeira alguma coisa que eles reivindicam como sua. Escondem seu talento na terra, temendo investi-lo em qualquer lugar para não serem chamados a devolver os rendimentos a Deus. Em lugar de pôr o talento nas mãos dos banqueiros, como Deus requeria, eles o enterraram ou esconderam, onde nem Deus nem seres humanos pudessem ser beneficiados por ele. Muitos que professam amar a verdade, estão procedendo da mesma maneira. Estão enganando o próprio coração, pois Satanás os cegou. Roubando a Deus, furtam mais a si mesmos. Por causa de sua cobiça e coração incrédulo, privaram-se do tesouro celestial. Porque não têm senão um talento, temem confiá-lo a Deus e então o escondem na terra. Assim se sentem aliviados de sua responsabilidade. Eles gostam de ver a verdade progredir, mas não cogitam que são chamados a praticar abnegação e auxiliar a obra mediante seus esforços pessoais e recursos, embora não possuam grandes somas. T2 666 2 Todos devem fazer alguma coisa. O caso da viúva que deu as duas moedas está registrado para o benefício de outros. Cristo a elogiou pelo sacrifício que fez e chamou a atenção dos discípulos para sua ação: "Em verdade vos digo que lançou mais do que todos esta pobre viúva, porque todos aqueles deram como ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deu todo o sustento que tinha." Lucas 21:3, 4. Cristo considerou sua dádiva mais valiosa do que as grandes ofertas dos mais abastados. Estes deram de sua abundância. Não sentiriam a menor privação por causa de suas ofertas. Mas a viúva absteve-se mesmo do necessário para viver a fim de oferecer sua pequenina oferta. Ela não podia ver como suas necessidades futuras seriam supridas. Não tinha marido para prover-lhe as necessidades. Confiou em Deus para o dia seguinte. O valor da oferta não é estimado tanto pelo seu montante, como pela proporção e o motivo que a impele. Quando Cristo vier, e o galardão com Ele, dará "a cada um segundo a sua obra". Apocalipse 22:12. T2 667 1 Todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, têm sido agraciados por seu Mestre com talentos; alguns mais, outros menos, de acordo com suas diversas habilidades. A bênção de Deus será conferida aos obreiros amorosos, diligentes e zelosos. Seus investimentos terão sucesso e garantirão pessoas no reino de Deus, e um imortal tesouro para si mesmos. Todos são agentes morais e a todos são confiados os bens celestiais. Os talentos são concedidos de acordo com as habilidades de cada um. T2 667 2 Deus dá a cada homem seu trabalho e espera retorno conforme os créditos concedidos. Ele não requer um aumento de dez talentos do homem a quem deu apenas um. Não espera do pobre que dê ofertas como o rico. Não espera do fraco e sofredor a atividade e energias de um homem sadio. Um único talento, usado da melhor forma, Deus aceitará "conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem". 2 Coríntios 8:12. T2 668 1 Deus nos chama servos, o que implica que somos empregados por Ele para realizar certo trabalho e assumir certas obrigações. Emprestou-nos um capital para investimento. Este não é nossa propriedade, e desagradamos a Deus se acumularmos os bens do Senhor para gastarmos como nos aprouver. Somos responsáveis pelo uso ou abuso daquilo que Deus nos emprestou. Se o capital que Ele colocou em nossas mãos está inoperante ou enterrado, mesmo que seja apenas um talento, seremos chamados a dar contas ao Mestre. Ele requer, não o nosso, mas o Seu com juros. T2 668 2 Cada talento devolvido ao Mestre será examinado minuciosamente. A conduta e as crenças dos servos de Deus não serão consideradas como tópicos sem importância. Cada indivíduo será tratado particularmente e intimado a prestar contas dos talentos a ele confiados, quer os tenha aumentado ou desperdiçado. A recompensa concedida será proporcional ao aumento dos talentos. A punição aplicada será de acordo com o desperdício dos talentos. T2 668 3 A pergunta de cada um deve ser: O que tenho dos bens de meu Senhor e como os utilizarei para Sua glória? "Negociai", disse Cristo, "até que Eu venha." Lucas 19:13. O Mestre celestial está em viagem. Nossa oportunidade áurea é agora. Os talentos estão em nossas mãos. Usá-los-emos para a glória de Deus ou os desperdiçaremos? Podemos negociar com eles hoje, mas amanhã nosso tempo de graça poderá terminar e nossa conta ser encerrada para sempre. T2 668 4 Se nossos talentos estão investidos na salvação dos semelhantes, Deus será glorificado. Orgulho e posição são desculpas para a extravagância, vãs ostentações, ambição e egoísmo. Os talentos que o Senhor emprestou ao ser humano como preciosa bênção trarão, se desperdiçados, terrível maldição. As riquezas devem ser usadas para o progresso da causa de Deus e para aliviar as necessidades das viúvas e dos órfãos. Assim fazendo, traremos ricas bênçãos sobre nós. Não apenas recebemos expressões de gratidão daqueles que são alvos de nossa generosidade, mas o Senhor mesmo, que pôs os recursos em nossas mãos para esse propósito, tornará nosso coração "como um jardim regado... cujas águas nunca faltam". Isaías 58:11. Quando o tempo de ceifa chegar, quem de nós terá a inexprimível alegria de ver os molhos que colhemos, como recompensa de nossa fidelidade e uso altruísta dos talentos que o Senhor colocou em nossas mãos para usar para Sua glória? T2 669 1 Muitos em Vermont têm definitivamente falhado em atender aos reclamos divinos. Alguns têm caído numa fria e inerte condição espiritual porque são servos infiéis. O amor ao mundo tem lhes ocupado tanto o coração, que eles perderam o gosto pelas coisas celestiais e se tornaram anões em realizações espirituais. O Estado tem sido desprovido da justa espécie de trabalho. Bordoville tem sido o centro de atração. Todas as grandes reuniões têm sido realizadas numa só localidade, o que é semelhante a pôr uma luz sob o alqueire; seus raios não beneficiam os habitantes do Estado, de um modo geral. Muitos ainda se encontram em trevas, os quais poderiam agora regozijar-se no conhecimento da verdade. Os talentos e esforços especiais têm estado concentrados num só local. Isso não é o que o Senhor pretendia. Seu plano é que a advertência, a mensagem decisiva seja dada ao mundo, e que Seu povo, que é a luz do mundo, se espalhe como testemunhas em meio à escuridão moral do mundo; que sua vida, testemunho e exemplo possam ser "cheiro de vida para vida", e não de "morte para morte". 2 Coríntios 2:16. T2 669 2 Os irmãos D necessitarão guardar-se para não impedir os propósitos de Deus através de seus planos pessoais. Eles estão em perigo de limitar a obra de Deus, que é profunda e extensa. T2 669 3 O irmão D está em perigo de ter perspectivas da obra estreitas demais. Deus concedeu-lhe uma experiência que será de valor se ele fizer correto uso dela. Mas há risco de que seus traços particulares interfiram nessa experiência, e que outras mentes se tornem afetadas. A utilidade do irmão D como obreiro não é o que teria sido se ele não fosse tão inclinado a concentrar os esforços de sua mente sobre uma única idéia. Ele se demora sobre incidentes e pensamentos que teve e os repete longamente, quando, na verdade, não são importantes para os outros. T2 670 1 Sua mente estava agitada a respeito da própria saúde. Concentrava a força de seu pensamento nesse ponto. Ele e seus sintomas são os principais assuntos da conversação. Era cuidadoso em seguir uma rotina preestabelecida em sua mente, e quando buscava acomodar-se, falhou em considerar quão inconveniente isso se tornou para os outros. Sua mente tem estado, em grande extensão, fechada ao próprio caso. Esse é o teor de seus pensamentos e o tema de suas conversas. Seguindo essa conduta sistemática, definida, não recebeu o benefício que poderia ter recebido, em termos de saúde, se fosse mais esquecido de si mesmo, e cada dia fizesse exercício físico por meio do qual pudesse desviar a mente de si mesmo. T2 670 2 As mesmas deficiências marcaram seu trabalho no campo evangelístico. Falando ao povo ele tem muitas desculpas a apresentar e muitos preâmbulos a repetir, e a congregação se cansa antes que ele possa atingir seu real objetivo. Tanto quanto possível, os pastores devem evitar desculpas e preâmbulos. T2 670 3 O irmão D é específico demais. Demora-se em minúcias. Ele leva tempo para explicar pontos que não são realmente importantes e poderiam ser apenas citados, sem necessidade de provas, pois são evidentes. Mas os pontos reais, vitais, devem ser tornados tão convincentes quanto a linguagem e as provas possam fazê-los. Devem ser tão visíveis quanto os marcos quilométricos de uma rodovia. Ele deve evitar multiplicar palavras sobre pequenos pormenores, que fatigarão o ouvinte antes de serem abordados pontos importantes. T2 670 4 O irmão D possui alto poder de concentração. Quando fixa a mente em certa direção, é-lhe difícil levá-la a outro ponto; ele se demora tediosamente em um só tópico. Durante uma conversa, ele acaba cansando o interlocutor. Seus escritos carecem de um estilo livre e simples. O hábito de concentrar a mente em um ponto, com exclusão de outras coisas, é um desastre. Ele deve compreender isso e esforçar-se para restringir e controlar esse poder da mente, que é tão ativo. Intensa atividade de uma capacidade mental acaba por fortalecê-la, em detrimento de outras. Se o irmão D quiser tornar-se bem-sucedido obreiro no campo evangelístico, deve educar a mente. O grande desenvolvimento mental prejudica sua saúde e utilidade. Há falta de harmonia em sua estrutura mental e em resultado o corpo sofre. T2 671 1 Seria de grande interesse o irmão D cultivar simplicidade e desenvoltura em seus escritos. Precisa evitar demorar-se em pontos que não sejam de importância vital; e mesmo as mais essenciais e evidentes verdades, as quais são claras e simples por si mesmas, podem ser revestidas com palavras que as tornarão indistintas e confusas. T2 671 2 O irmão D pode ser coerente em todos os aspectos da verdade presente e mesmo assim não estar qualificado em todo o sentido para dar, por escrito, as razões de nossa esperança aos franceses. Ele pode ajudar nessa obra, mas o assunto deve ser preparado por mais de uma ou duas pessoas, a fim de que não levar a característica peculiar de alguém. A verdade que foi descoberta e estudada por muitas pessoas, e que no tempo indicado por Deus foi apresentada, elo após elo, em perfeita cadeia pelos sinceros pesquisadores da verdade, deve ser dada ao povo e adaptada para atender as necessidades de muitos. Concisão deve ser observada, de modo a interessar o leitor. Artigos longos e enfadonhos são prejudiciais à verdade que o escritor pretende apresentar. T2 671 3 O irmão D deve ter sua mente menos ocupada consigo mesmo e falar menos de si. Deve manter-se fora de vista e, na conversação, evitar fazer referências a si mesmo e tornar as peculiaridades de sua vida um modelo para outros imitarem. Deve estimular a genuína humildade. Ele se encontra sob risco de achar que sua vida e experiência são superiores às dos outros. T2 672 1 O irmão D pode ser muito valioso para a causa de Deus se houver harmonia na qualidade de seus trabalhos. Se puder ver e corrigir as próprias imperfeições que tendem a prejudicar sua utilidade, Deus pode utilizá-lo. Ele deve evitar longas pregações e orações. Essas não beneficiam a ele nem aos outros. Longos e intensos exercícios dos órgãos vocais irritam a garganta e os pulmões, e prejudicam a saúde em geral, mais do que suas rigorosas normas de alimentação e de descanso o têm beneficiado. Nem sempre se pode recuperar prontamente do abuso ou esforço excessivo dos órgãos vocais, e isso pode custar a vida do orador. Falar de maneira calma, pausada e, todavia, fervorosa, produzirá melhor influência sobre a congregação do que deixar que as emoções se tornem exaltadas e controlem a voz e o comportamento. Tanto quanto possível, o orador deve preservar os tons naturais da voz. É a verdade apresentada que influencia os corações. Se o orador faz dessas verdades uma realidade, será capaz, com a ajuda do Espírito de Deus, de impressionar os ouvintes com o fato de que ele é fervoroso, sem forçar os delicados órgãos da garganta ou dos pulmões. T2 672 2 O irmão D está profundamente interessado em sua vida doméstica; entretanto, há perigo, nas conversas, de cultivar o hábito de concentrar-se inteiramente em coisas que de modo especial o interessam, mas não interessam a outros nem lhes são de proveito. Ele procura ser metódico, o que, em si mesmo é correto; mas aí se prova mais uma vez que mesmo as coisas lícitas podem tornar-se enfadonhas e incômodas quando se demora demais sobre elas e se busca aplicá-las a todas as circunstâncias. Há perigo de negligenciar-se assuntos de maior importância. T2 673 1 Os irmãos D devem evitar serem maçantes em seus trabalhos. Sua influência, de modo geral, tem sido boa. O irmão D é naturalmente bom administrador em assuntos temporais. Seu conhecimento e exemplo nesse aspecto têm ajudado àqueles que são humildes o suficiente para serem aconselhados. Mas o ciúme, a desconfiança, a rebelião, as acusações e a murmuração que existem na igreja são desalentadores. Esses irmãos devem guardar-se de serem muito rigorosos. T2 673 2 A fim de aperfeiçoar o caráter cristão, não deveríamos meramente cultivar uma vida de quieta e piedosa contemplação, nem uma vida de zelo exterior e agitação, enquanto a piedade pessoal é negligenciada. O tempo presente requer de nós aguardarmos a vinda do Senhor e trabalharmos vigilantemente pela salvação dos semelhantes. "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. Deus não aceitará os mais elevados trabalhos, a menos que sejam primeiramente consagrados pela submissão do coração a Ele e ao Seu amor. Há certa classe de pessoas com as quais há o perigo de marginalizar o Espírito de Deus e a vitalidade da religião de Cristo, e preservar um perfeito ciclo de cansativos deveres e cerimônias. T2 673 3 Estamos vivendo no meio de uma geração perversa e desonesta, e nossos mais belos e perfeitos planos não podem ser postos em prática para favorecer a todos. Se recuarmos de nossa dignidade, falharemos em prestar auxílio àqueles que muito necessitam. Os servos de Cristo devem ajustar-se às variadas condições do povo. Não podem aplicar regras exatas para todos os casos. O trabalho deverá ser variado para ir ao encontro do povo onde ele estiver. "Salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne." Judas 23. T2 673 4 O apóstolo aconselha a seus irmãos coríntios: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus. Como também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que assim se possam salvar." 1 Coríntios 10:31-33. "Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível." 1 Coríntios 9:19. "Fiz-me como fraco para os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns." 1 Coríntios 9:22. "Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a Si mesmo, mas, como está escrito: Sobre Mim caíram as injúrias dos que te injuriavam." Romanos 15:1-3. T2 674 1 O irmão e a irmã L, do Canadá, têm gradualmente afrouxado seu apego a Deus e o amor pelas coisas celestiais e espirituais, à medida que mais tenazmente se agarram aos tesouros terrenos. Relaxaram sua ligação com o Céu e se ligaram mais firmemente a este mundo. Poucos anos atrás, seu amor os levavam a ter interesse no progresso da verdade e da obra de Deus. Mais recentemente, seu amor pelo lucro cresceu e não têm estado mais interessados em fazer sua parte pela salvação dos semelhantes. Abnegação e benevolência por amor a Cristo não têm caracterizado sua vida. Eles têm feito muito pouco pela causa de Deus. O que estão eles fazendo com seus talentos? Enterraram-nos, investindo em terras. Não os entregaram aos banqueiros para que ao vir o Mestre, receba o que é Seu com os juros. T2 674 2 Esses irmãos têm uma obra a fazer para pôr o coração e casa em ordem. "Ajuntai tesouros no Céu." Mateus 6:20. O coração deles foi atraído pelas coisas desta vida, e as considerações eternas postas em segundo plano. Devem eles trabalhar diligentemente para expulsar o amor ao mundo de seu coração e depositar suas afeições "nas coisas que são de cima e não nas que são da Terra". Colossences 3:2. Se os servos de Deus tivessem em mente que sua obra é fazer tudo o que lhes estiver ao alcance, por meio de influência e recursos, para salvar almas por quem Cristo morreu, haveria mais abnegados esforços e os descrentes seriam impressionados; seriam convencidos de que há realidade na verdade assim apresentada e apoiada pelo exemplo. T2 675 1 O irmão e a irmã L devem confiar na obra para estes últimos dias e aperfeiçoar o caráter cristão, para que possam receber o galardão eterno quando Jesus voltar. O vigor físico e mental do irmão L está enfraquecendo. Ele está se tornando incapaz de assumir muitas responsabilidades. Deve tomar conselho com seus irmãos que são fiéis e prudentes. T2 675 2 O irmão L é um mordomo de Deus. Foram-lhe confiados recursos e ele deve estar alerta a seu dever, e dar "a Deus o que é de Deus". Mateus 22:21. Não deve deixar de compreender as reivindicações de Deus quanto a ele. Enquanto vive e tem o poder de raciocinar, deve ele aproveitar a oportunidade de apropriar-se dos bens que Deus lhe confiou, em vez de deixá-los a outros, para uso e apropriação após o término de sua vida. T2 675 3 Satanás está sempre pronto a obter vantagem das fraquezas e enfermidades dos seres humanos para alcançar seus propósitos. Ele é um adversário astuto e tem dominado a muitos que tinham bons propósitos de beneficiar a causa de Deus com seus recursos. Alguns têm negligenciado a obra que Deus lhes confiou em apropriar-se de seus recursos. E enquanto são negligentes em garantir à causa de Deus os recursos que Ele lhes deu, Satanás vem e os transfere para suas próprias fileiras. T2 675 4 O irmão L deve agir mais cautelosamente. Os que não são de nossa fé obtêm dele recursos sob os mais variados pretextos. Ele confia neles, crendo serem honestos. É-lhe impossível recuperar todos os recursos que deixou escorregar de suas mãos para as fileiras do inimigo. Ele poderia fazer um seguro investimento de seus recursos para auxiliar a causa de Deus, ajuntando assim tesouros no Céu. Freqüentemente não pode ajudar quando deseja, porque é incapaz e não sabe controlar o dinheiro. Quando o Senhor reivindica recursos, dá-se comumente estarem eles nas mãos dos que os receberam por empréstimo, alguns dos quais nunca planejam devolver, e outros que não sentem nenhuma preocupação a respeito. Satanás cumprirá seu propósito tão completamente através de mordomos desonestos quanto por qualquer outro meio. Tudo o que o adversário da verdade e da justiça quer é evitar o progresso do reino de nosso Redentor. Ele opera através de agentes para realizar seu propósito. Se puder evitar que os recursos sejam dirigidos ao tesouro de Deus, será bem-sucedido em um ramo de sua obra. Para promover sua obra, ele tem retido em suas fileiras os recursos que deveriam ser usados para ajudar no grande plano de salvar almas. T2 676 1 O irmão L deve manter honestamente todos os seus negócios e não deixá-los à deriva. É seu privilégio ser rico em boas obras, e lançar para si mesmo um bom alicerce para o tempo por vir, para tomar posse da vida eterna. Não é seguro para ele seguir o próprio julgamento falho. Ele deve aconselhar-se com irmãos experientes e buscar sabedoria de Deus, para bem fazer essa obra. Deve agora estar diligentemente providenciando para si mesmo "bolsas que não se envelheçam, tesouro nos Céus que nunca acabe". Lucas 12:33. T2 676 2 O irmão M tem errado em sua vida doméstica. Ele não tem, em palavras, expressado à esposa a afeição que era seu dever expressar. Falhou em cultivar a verdadeira cortesia e polidez cristã. Deixou de ser em todo o tempo bondoso e de considerar os desejos e conforto dela como era seu dever. O fato de não estarem unidos na fé, acarretou infelicidade a ambos. O irmão M não tem respeitado o critério e conselho de sua esposa como devia. Em muitos aspectos o discernimento e avaliação dela eram melhores que os dele. Se consultada, ela poderia, com sua clara percepção e agudo discernimento, ajudá-lo essencialmente em seus assuntos comerciais, em negociar com seus semelhantes. Ele não deve insistir em sua dignidade, achando que sabe tudo. Se aceitasse o conselho da esposa, e por atitudes amáveis mostrasse respeito por ela, e desejo de agradá-la, não estaria fazendo nada mais do que sua obrigação. Se o conselho dela se opuser ao dever do marido para com Deus e Seus reclamos sobre ele, então ele pode discordar, e da maneira mais suave possível dar como razão não poder sacrificar sua fé ou seus princípios. Seria do interesse do irmão M ter o aconselhamento e a orientação de sua esposa em assuntos temporais. T2 677 1 Enquanto ele for áspero, rude e inflexível, não exercerá nenhuma influência para conquistar a esposa para a verdade. Ele deve corrigir-se. Necessita tornar-se flexível, terno, gentil e afetuoso. Deve permitir que a luz solar da alegria e contentamento invadam seu coração, e então deixar que seus raios brilhem sobre sua família. Ele leva para sua casa aqueles cuja influência tem-se provado uma maldição para sua esposa em vez de bênção. Assim fazendo, acarretou-lhe responsabilidades que poderiam ter sido evitadas. Ela deveria ter sido consultada e seus desejos considerados tanto quanto possível, sem comprometer a fé do marido. T2 677 2 O irmão M escolheu o próprio caminho e possui uma vontade inflexível, que se aproxima da teimosia. Com freqüência ele se mostra insubmisso. Isso não deve acontecer. Ele professa crer na verdade que possui uma influência santificadora, refinadora e suavizante. Sua esposa, não. Ele deve demonstrar que a verdade está exercendo poder sobre sua perversa natureza, para torná-lo paciente, bondoso, resignado, terno, afetuoso e perdoador. A melhor maneira de o irmão M ser um missionário vivo em sua família é exemplificar ele em sua conduta a vida de nosso querido Redentor. ------------------------Capítulo 79 -- Transferindo tesouros terrenos T2 678 1 Prezado irmão N: T2 678 2 Fiquei muito preocupada com seu caso, desde que nos encontramos na campal de Tipton. Eu quase não podia deixar de me dirigir a você pessoalmente, enquanto falava ao povo sobre as palavras de Cristo: "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. T2 678 3 Lembro-me de sua fisionomia como alguém que me foi mostrado em visão algum tempo atrás. Julgava ser seu dever pregar a palavra a outros, mas seu exemplo atual impediria as pessoas de aceitarem a verdade, muito mais do que convertê-las. Professa crer na mais solene e decisiva mensagem, todavia, sua fé não é sustentada por obras. Você tem a verdade em teoria, mas não foi convertido por ela. A verdade não tomou plena posse de seu coração nem foi aplicada à vida diária. T2 678 4 Você necessita converter-se, transformar-se pela renovação da mente. Romanos 12:2. Quando a verdade tomar posse de seu coração, realizará uma reforma na vida. O mundo descrente será então convencido de que há poder na verdade que realizou tão grande mudança em um homem tão amante do mundo quanto você. O irmão ama este mundo. Seus tesouros estão aqui e seu coração está neles. A menos que o poder da verdade aparte suas afeições do seu deus que é este mundo, você perecerá juntamente com seus tesouros. T2 678 5 Você tem pouca percepção do exaltado caráter da obra para estes últimos dias e não tem feito nenhum sacrifício pela verdade. Possui um espírito estreito e avarento, e tem fechado os olhos às necessidades dos carentes e aflitos. Sua compaixão não foi despertada para aliviar as necessidades dos oprimidos, nem tem o coração motivado a ajudar a causa de Deus com seus recursos, ou atender as necessidades dos sofredores. Seu coração está apegado aos tesouros terrenos. A menos que vença esse amor pelas coisas do mundo, você não terá lugar no reino do Céu. T2 679 1 O doutor da lei perguntou a Jesus o que devia fazer para herdar a vida eterna. Jesus referiu-lhe os mandamentos de Seu Pai, dizendo-lhe que a obediência a eles era necessária para a salvação. Cristo lhe disse que ele conhecia os mandamentos e que se lhes obedecesse, teria vida. Note sua resposta: "Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade." Marcos 10:20. Jesus contemplou esse enganado jovem com piedade e amor. Ele estava prestes a revelar-lhe que havia uma falha sua em guardar, de coração, os mandamentos, que tão confiantemente afirmava obedecer. Jesus lhe disse: "Falta-te uma coisa: vai, e vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me." Marcos 10:21. T2 679 2 Jesus chamou a atenção desse jovem diretamente para o defeito de seu caráter. E menciona Sua vida de abnegação e submissão. Ele havia deixado tudo pela salvação do homem, e solicitou ao jovem que viesse e imitasse Seu exemplo, assegurando-lhe que teria um tesouro no Céu. Porventura o coração do jovem saltou de alegria diante da afirmação de que teria um tesouro no Céu? Oh, não! Seus tesouros terrestres eram seu ídolo; eles eclipsavam o valor da herança eterna. Ele se voltou da cruz, da vida de auto-sacrifício do Redentor, para este mundo. Tinha um hesitante desejo pela herança eterna, todavia, relutantemente voltou-lhe as costas. Foi uma luta decidir o que escolher, mas finalmente optou em continuar amando seus tesouros terrestres. T2 680 1 Esse jovem tinha muitos bens e seu coração estava neles. Ele não podia consentir em transferir seus tesouros para o Céu, afastando deles as afeições, usando-os para fazer o bem -- ajudando as viúvas e os órfãos, e assim se tornando rico em boas obras. O amor desse jovem pelas riquezas era muito mais forte que seu amor pelos semelhantes e pela herança imortal. A escolha foi feita. O incentivo feito por Cristo, de assegurar um tesouro no Céu, foi rejeitado, pois o jovem não concordou em cumprir as condições. O poder de suas afeições pelas riquezas terrenas triunfou e o Céu, com toda a sua atraente glória, foi sacrificado pelos tesouros do mundo. O jovem retirou-se triste, pois queria ambos os mundos, mas ele sacrificou o celeste pelo terreno. T2 680 2 Poucos compreendem a força de seu amor às riquezas, até que venham provações sobre eles. Muitos que professam ser seguidores de Cristo mostram então que não estão preparados para o Céu. Suas obras testificam que amam mais as riquezas do que o próximo ou a Deus. Como o jovem rico, perguntam pelo caminho da vida, mas quando a senda lhes é apontada, o custo avaliado, e se convencem de que precisam sacrificar suas riquezas terrenas e se tornarem ricos em boas obras, decidem que o Céu é demasiado caro. Quanto maiores os tesouros acumulados na Terra, mais difícil é para o possuidor compreender que eles não são seus, mas emprestados para serem usados para a glória de Deus. T2 680 3 Jesus aproveitou a oportunidade para dar a Seus discípulos uma impressiva lição: "Disse, então, Jesus aos Seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos Céus. ... É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus." Mateus 19:23, 24. T2 680 4 Eis aí a força das riquezas. O poder do amor às riquezas sobre a mente humana é quase paralisante. A fortuna cega a muitos e os faz agir como se estivessem desprovidos da razão. Quanto mais possuem deste mundo, mais desejam. Seus temores de futuras necessidades aumentam com as riquezas. Têm a tendência de acumular recursos para o futuro. São mesquinhos e egoístas, temendo que Deus não lhes supra as necessidades vindouras. Tais pessoas são realmente pobres para com Deus. Como suas riquezas têm aumentado, põem a confiança nelas, e não têm fé em Deus e em Suas promessas. T2 681 1 O homem pobre que tem fé e confiança em Deus, que confia em Seu amor e cuidado, e que é rico em boas obras, usando prudentemente o pouco que possui em abençoar a outros, é rico para com Deus. Sente que seu semelhante tem reivindicações sobre ele, as quais não pode desrespeitar sem desobedecer o mandamento de Deus, "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Mateus 22:39. O pobre que é rico diante de Deus considera de maior importância a salvação dos semelhantes do que todo o ouro e a prata deste mundo. T2 681 2 Cristo aponta o caminho no qual aqueles que têm riquezas mundanas e, todavia, não são ricos para com Deus, podem assegurar verdadeiras riquezas. Ele diz: "Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu." Mateus 19:21. O remédio que Ele propõe ao rico é uma transferência das afeições das riquezas terrenas para a herança imortal. Pelo investimento de recursos na causa de Deus, para ajudar na salvação de almas e abençoar os necessitados, podem tornar-se ricos em boas obras e entesourar "para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:19. Este se comprovará um investimento seguro. Mas muitos mostram por suas obras que não ousam confiar no banco celestial. Escolhem confiar seus recursos à Terra em vez de enviá-los ao Céu, para que seu coração possa estar no tesouro celestial. T2 681 3 Meu irmão, você tem diante de si uma obra a fazer: empenhar-se em vencer a cobiça e o amor das riquezas mundanas, e especialmente a confiança própria, porque tem tido evidente sucesso em acumular as coisas deste mundo. Pobres homens ricos, professando servir a Deus, são dignos de piedade. Enquanto professam conhecer ao Senhor, eles O negam em suas obras. Quão grandes são suas trevas! Mateus 6:23. Afirmam ter fé na verdade, mas suas obras não correspondem a sua religião. O amor às riquezas os torna egoístas, exigentes e arrogantes. Riqueza é poder, e freqüentemente o amor a ela corrompe e neutraliza tudo o que é nobre e divino no ser humano. T2 682 1 As riquezas trazem consigo grandes responsabilidades. Obtê-las mediante comércio injusto, ludibriando nos negócios, oprimindo as viúvas e os órfãos, ou acumulando bens e negligenciando as necessidades dos pobres, trarão finalmente a justa retribuição descrita pelo inspirado apóstolo: "Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos." Tiago 5:1-4. T2 682 2 Os mais humildes e pobres dos verdadeiros discípulos de Cristo, que são ricos em boas obras, são mais abençoados e mais preciosos à vista de Deus do que os homens que se gloriam de suas grandes riquezas. Eles são mais honrados nas cortes celestiais do que os mais exaltados reis e nobres que não são ricos para com Deus. T2 682 3 O apóstolo Paulo exortou a Timóteo a advertir os ricos: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. Essa admoestação é aplicável a você, irmão N, e a muitos que professam crer na verdade para estes últimos dias. T2 683 1 Aqueles que acumulam recursos ou investem muito em terras, enquanto privam suas famílias dos confortos da vida, agem como insensatos. Esses não permitem que os de sua família usufruam as coisas que Deus ricamente lhes tem concedido. Apesar de possuírem grandes posses, suas famílias são freqüentemente compelidas a trabalhar além de suas forças, para economizar mais recursos a serem acumulados. Cérebro, ossos e músculos são sobrecarregados quase ao máximo a fim de acumularem recursos, e a religião e os deveres cristãos são menosprezados. Trabalho, trabalho, trabalho, é a ambição, desde o amanhecer até a noite. T2 683 2 Muitos não manifestam um sincero desejo de conhecer a vontade de Deus e compreender Seus reclamos sobre eles. Os que procuram ensinar a verdade a outros, não obedecem à Palavra de Deus. Quanto mais ensinadores desse tipo a causa de Deus tem, menos próspera ela será. T2 683 3 A maioria daqueles a quem o Senhor confiou riquezas não percebe que está trabalhando contra os próprios interesses eternos, por reter egoistamente suas riquezas. O apóstolo lhes mostra que se tornando ricos em boas obras, estão trabalhando para si mesmos. Estão depositando para si, acumulando no Céu um tesouro para a vida eterna. Ao distribuir para atender às necessidades da causa e ajudar os necessitados, estão fazendo fielmente a obra que Deus lhes designou, e um memorial de sua abnegação, generosidade e atos de amor será escrito no livro do Céu. Todo ato de justiça será imortalizado, embora aquele que o pratica não sinta que fez alguma coisa digna de nota. Se o andar diário daqueles que professam a verdade fosse uma cópia viva da vida de Cristo, a luz que deles brotaria conduziria outros ao Redentor. Apenas no Céu serão amplamente avaliados os benditos resultados de uma vida coerente, harmoniosa e piedosa em favor da salvação de outros. T2 684 1 Meu irmão, tem muito que fazer em sua família, para mostrar-lhe que a verdade fez uma boa obra por você, e exerceu uma suave, refinadora e transformadora influência em sua vida e caráter. Você professa crer que estamos vivendo nos últimos dias, e que estamos proclamando a decisiva mensagem de advertência ao mundo. Você demonstra isso por seus atos? Deus o está provando e revelará os verdadeiros sentimentos de seu coração. T2 684 2 O Senhor lhe confiou talentos de recursos para serem usados para o avanço de Sua causa, para beneficiar os necessitados e aliviar os desamparados. Você pode realizar muito maior extensão de bem com seus recursos, do que pregando mas retendo seus recursos. Tem posto os talentos de recursos nas mãos dos banqueiros, para que ao vir o Mestre e disser "presta contas da tua mordomia" (Lucas 16:2), você possa, sem constrangimento, apresentar-Lhe os talentos duplicados, capital e juros, porque não os acumulou, não os escondeu egoistamente na terra, mas os colocou em uso? Reveja a história de sua vida passada. Quantos foram abençoados com seus recursos? Quantos corações se tornaram agradecidos por sua liberalidade? Por favor, leia o capítulo 58 de Isaías. Soltou você as ligaduras da impiedade? Tem buscado desfazer as ataduras da servidão, deixado livres os oprimidos e despedaçado todo jugo? Tem repartido o seu pão com os famintos e recolhido em casa os pobres desabrigados, e vestido os nus? T2 684 3 Se tiver sido rico nessas boas obras, poderá reivindicar as promessas dadas nesse capítulo: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-me aqui." Isaías 58:8, 9. "E, se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:10, 11. Mas no momento você não tem direito a essas prometidas bênçãos, porque não se envolveu nessa obra. Reveja sua vida passada e considere quão destituída é ela de boas, nobres e generosas ações. Você tem falado acerca da verdade, mas não a tem vivido. Sua vida não tem sido elevada e santificada, mas caracterizada por egoísmo e mesquinhez. Serve a si mesmo com fidelidade. É alto tempo de haver uma mudança em sua conduta, e de trabalhar diligentemente para garantir um tesouro no Céu. T2 685 1 Houve grande perda, a qual nunca poderá ser recuperada. As oportunidades de fazer o bem não foram aproveitadas e sua infidelidade foi registrada nos livros celestiais. A vida de Cristo caracterizou-se por abnegação, sacrifício e benevolência desinteressada. Você não teve uma correta visão do preparo necessário para o reino de Deus. Suas idéias são, de modo geral, muito pobres. Falar é material barato; não custa muito. Obras, frutos, determinarão o caráter da árvore. Que frutos tem você produzido? O apóstolo Tiago adverte seus irmãos: "Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?" Tiago 2:14-16. Seus bons desejos, meu irmão, não suprirão necessidades. As obras precisam testificar da sinceridade de sua compaixão e amor. Quantas vezes você tem posto em prática ao pé da letra esse texto bíblico? T2 686 1 Você se tem em alta conta, mas há uma obra que precisa fazer, e ninguém mais a pode fazer em seu lugar. Sua natureza precisa ser mudada; é necessária uma transformação de todo o ser. Você ama a verdade "de palavra", não "por obra". 1 João 3:18. Ama um pouco ao Senhor, porém, muito mais as riquezas. Dir-lhe-ia o Mestre, se o encontrasse agora: "Bem está, servo bom e fiel, ... entra no gozo [alegria] do teu Senhor"? Mateus 25:21. A que alegria o texto se refere? "O qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus." Hebreus 12:2. A alegria que estava proposta a Cristo foi a de ver pessoas redimidas pelo sacrifício de Sua glória, Sua honra, Suas riquezas, e a própria vida. A salvação do homem, eis Sua alegria. Quando todos os remidos se reunirem no reino de Deus, "o trabalho da Sua alma Ele verá e ficará satisfeito". Isaías 53:11. T2 686 2 Aqueles que são coobreiros de Cristo, participantes com Ele de Sua abnegação e sacrifício, podem ser instrumentos em trazer-Lhe almas, e podem vê-las salvas, eternamente salvas, para louvar a Deus e ao Cordeiro que as redimiu. T2 686 3 Pleasanton, Kansas T2 686 4 15 de Outubro de 1870 ------------------------Capítulo 80 -- Não há tempo de graça após a vinda de Cristo T2 686 5 Irmão O: T2 686 6 Enquanto eu estava descrevendo os perigos de outros, seu caso impressionou minha mente. Por vários meses procurei uma oportunidade de escrever-lhe e a outros; mas, meu constante trabalho impediu-me de escrever todos os testemunhos individuais a mim revelados. T2 687 1 Seu caso freqüentemente me tem preocupado, mas não me senti livre para escrever-lhe. Redigi muitos testemunhos que têm sido dados a outros, alguns dos quais, em muitos aspectos, aplicam-se a você. O objetivo da publicação dos testemunhos é que os que não foram por eles apontados individualmente, todavia se acham tão em falta quanto os reprovados, possam ser advertidos através das repreensões feitas a outros. Pensei não ser meu dever dirigir-me a você pessoalmente. Entretanto, quando escrevo testemunhos pessoais aos que estão em perigo de negligenciar seu dever para com a causa de Deus e assim causar dano, perda da própria alma, não me sinto livre para deixar de mencionar seu caso por escrito. T2 687 2 A última visão que me foi dada aconteceu há mais de dois anos. Fui instruída a destacar alguns princípios gerais, oralmente e por escrito, e ao mesmo tempo especificar os perigos, erros e pecados de alguns indivíduos, para que todos fossem advertidos, reprovados e aconselhados. Vi que todos devem fazer um exame minucioso de sua consciência para saber se não têm cometido os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, e se as advertências feitas a outros não se aplicam também ao seu caso. Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos e repreensões foram dados também a eles, e fazer deles uma aplicação tão prática como se estivessem sido dirigidos especialmente a eles. T2 687 3 Aqueles que amam naturalmente o mundo e têm sido remissos em seus deveres, podem ver as próprias faltas apontadas nos casos de outras pessoas que foram repreendidas. Deus intenta provar a fé de todos os que alegam ser seguidores de Cristo. Ele provará a sinceridade das orações de todos aqueles que dizem ser seu sincero desejo conhecer o próprio dever. Ele tornará claro o dever de cada um, dando a todos uma oportunidade de desenvolver o que está dentro do coração. O conflito entre o eu e a graça de Deus será severo. O eu lutará pela supremacia e se oporá à obra de levar a vida e os pensamentos, a vontade e as afeições, em sujeição à vontade de Cristo. Renúncia e cruz situam-se ao longo da estrada para a vida eterna, e por causa disso, "poucos há que a encontram". Mateus 7:14. T2 688 1 Deus está provando o caráter de todos. Está testando o amor deles por Sua causa e pela proclamação da verdade que eles afirmam considerar de inestimável valor. O Esquadrinhador de corações está julgando, pelos frutos que produz, quem é verdadeiramente seguidor de Cristo; quem, a exemplo do Modelo divino, renunciará as honrarias e tesouros do mundo, e aniquilará a si mesmo, preferindo a aprovação divina e a cruz de Cristo, para que possa no final garantir as verdadeiras riquezas, o tesouro acumulado no Céu, a recompensa -- a glória eterna. T2 688 2 Os que na realidade não desejam conhecer a si mesmos, permitirão que as reprovações e advertências se restrinjam aos outros, e não discernirão que seus casos são abordados, os próprios erros e perigos apontados. Motivos terrenos e egoístas cegam a mente e agem sobre o coração, para que ele não seja renovado à imagem divina. Aqueles que, apesar de sua natureza perversa, não resistirem à vontade de Deus, não serão deixados em trevas, mas serão renovados em conhecimento e verdadeira santidade, e se gloriarão até mesmo na cruz de Cristo. T2 688 3 Foi-me mostrado que, no devido tempo, Deus me porá no coração a responsabilidade de dizer a certos indivíduos, como Natã disse a Davi: "Tu és este homem." 2 Samuel 12:7. Muitos parecem crer que os testemunhos são dirigidos a outros e, como Davi, determinam-lhes a sentença, quando deveriam estar examinando minuciosamente o próprio coração, analisando a própria vida e fazendo aplicação prática das severas reprovações e advertências dadas a outros. T2 688 4 Irmão O, tem-me sido revelado que suas afeições estão mais sobre os tesouros da Terra do que supõe. Você tem estado confuso acerca de suas percepções do dever. E quando o Espírito de Deus age sobre sua mente e quer levá-lo ao que está de acordo com a vontade e reclamos divinos, outras influências, que não se harmonizam com a obra de Deus para este tempo, impedem-no de atender às sugestões da vontade divina. O resultado é que sua fé não é aperfeiçoada pelas obras. Suas afeições devem ser desviadas dos tesouros terrestres. Às vezes, quando, contrariamente a seus desejos e opiniões, os recursos passaram de você para as fileiras do inimigo, ficando assim perdidos para a causa de Deus, o irmão se mostrou muito perplexo e aborrecido. Os talentos de recursos lhe têm sido confiados pelo Mestre, a fim de serem usados para Sua glória. Você é Seu mordomo, e deve ser muito cauteloso para não negligenciar o dever. O irmão é naturalmente um homem amante do mundo e estará inclinado a requerer como seus os recursos postos sob seu cuidado. Mas, logo mais você ouvirá: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. T2 689 1 Os filhos de Deus são sábios quando confiam unicamente naquela sabedoria que procede do alto, e não têm outro poder senão aquele que vem de Deus. A separação da amizade e espírito do mundo nos é necessária se quisermos estar unidos ao Senhor e habitar nEle. Nossa força e prosperidade consistem em estarmos ligados ao Senhor, escolhidos e aceitos por Ele. Não há comunhão entre luz e trevas. Deus pretende que Seu povo Lhe seja peculiar, separado do mundo e exemplo vivo de santidade, para que o mundo possa ser iluminado, convencido ou condenado, de acordo como tratar a luz que lhe é enviada. A verdade que foi trazida à compreensão, a luz que brilhou sobre o coração, julgará e condenará caso seja negligenciada ou abandonada. T2 689 2 Nesta época degenerada, o erro e as trevas são preferidos em lugar da luz e da verdade. As obras de muitos professos seguidores de Cristo não suportarão a prova, quando examinadas à luz que agora brilha sobre eles. Por isso, muitos não virão para a luz temendo que suas obras sejam manifestas, porque não foram feitas em Deus. A luz descobre, torna manifesto, o mal oculto nas trevas. Homens mundanos e os servos de Cristo podem, de fato, ser semelhantes exteriormente, mas são servidores de dois mestres cujos interesses estão em total oposição. O mundo não compreende ou discerne a diferença, porém, há uma imensa distância, uma vasta separação entre eles. T2 690 1 Cristo diz: "Porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo." João 15:19. Os verdadeiros seguidores de Cristo não podem fruir a amizade do mundo e, ao mesmo tempo, ter sua vida escondida com Cristo. As afeições devem ser desviadas dos tesouros da Terra e transferidas para o tesouro celestial. Quão difícil foi para o jovem rico, que tinha muitas posses, afastar suas afeições desse tesouro mundano, mesmo com a promessa de vida eterna como recompensa. T2 690 2 Quando tudo o que temos e somos não é consagrado a Deus, interesses egoístas cerram-nos os olhos à importância da obra, e os recursos que Deus requer são retidos. Aquele, porém, que nos concedeu recursos para o progresso de Sua causa, retirará Sua mão prosperadora e de algum modo espalhará os recursos retidos, ficando assim perdidos para o seu possuidor e para a causa de Deus. Não são preservados para este mundo, nem para o vindouro. Deus é roubado e Satanás triunfa. O Senhor deseja que você examine cuidadosamente o próprio coração, irmão O, e remova dele o amor ao mundo. Morra para o eu e viva para Deus. Então estará entre aqueles que são a luz do mundo. T2 690 3 Foi-me mostrado que você estava acariciando errôneos pontos de vista com respeito ao futuro, os quais lembram a perniciosa opinião da Era Vindoura. Algumas vezes até partilha essas idéias com outros. Mas elas não estão em harmonia com a corporação. Você não está fazendo uma aplicação correta da Escritura. Quando Jesus Se levantar no santíssimo, e tirar Suas vestes de Mediador, vestindo-Se dos trajes de vingança em lugar dos trajes sacerdotais, estará concluída a obra em prol dos pecadores. Chegará então o período de tempo em que sairá o decreto: "Quem é injusto faça injustiça ainda; ... e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:11, 12. T2 691 1 Deus deu Sua Palavra a fim de que todos a examinem, para que aprendam o caminho da vida. Ninguém precisa errar, caso se submeta às condições de salvação estabelecidas na Palavra de Deus. O tempo de graça é concedido a todos, para que todos possam formar caráter para a vida eterna. Uma oportunidade será dada a todos para decidir pela vida ou pela morte. Os homens serão julgados segundo a medida de luz a eles concedida. Ninguém será responsável pelas trevas e erros em que anda, se não lhes foi levada a luz. Eles não pecaram em não aceitar aquilo que não lhes foi apresentado. Todos serão provados antes que Jesus deixe Seu lugar no santíssimo. Findar-se-á o tempo de graça de todos quando a intercessão pelos pecadores terminar, e forem vestidos os trajes de vingança. T2 691 2 Muitos há que nutrem a idéia de ser concedido um tempo de graça depois de Jesus deixar Sua obra como mediador no lugar santíssimo. Isso é engano de Satanás. Deus testa e prova o mundo pela luz que Se compraz em dar-lhe anteriormente à vinda de Cristo. Forma-se então caráter para a vida ou para a morte. Mas o tempo de graça daqueles que escolhem viver uma vida de pecado, e negligenciam a grande salvação oferecida, termina quando cessar a mediação de Cristo, antes de Seu aparecimento nas nuvens do céu. T2 691 3 Aqueles que amam o mundo, e cuja mente é carnal e se acha em inimizade para com Deus, lisonjear-se-ão com a idéia de que será concedido um período de graça depois de Cristo aparecer nas nuvens do céu. O coração carnal, tão avesso a submeter-se e a obedecer, iludir-se-á com essa agradável idéia. Muitos permanecerão em segurança carnal, continuando em rebelião contra Deus, lisonjeando-se de que haverá então um tempo de arrependimento do pecado, e uma oportunidade de aceitarem a verdade agora tão impopular e contrária a seus desejos e inclinações naturais. Quando não tiverem nada que arriscar, nada a perder por obedecer a Cristo e à verdade, então, pensam, aproveitarão a oportunidade da salvação. T2 692 1 Há nas Escrituras algumas coisas difíceis de entender e que segundo diz Pedro, "os indoutos e inconstantes torcem" (2 Pedro 3:16) para a própria perdição. Não podemos explicar nesta vida o sentido de todas as passagens das Escrituras; não há, porém, pontos vitais de verdade prática, que fiquem envoltos em mistério. Ao chegar, na providência de Deus, o tempo de o mundo ser provado quanto à verdade para aquele tempo, mentes serão despertadas pelo Seu Espírito para pesquisarem as Escrituras, mesmo com jejum e oração, até que se descubra elo após elo, e estes sejam ligados em perfeita cadeia. Todo fato que tem que ver de perto com a salvação de almas, será tornado tão claro, que ninguém precisa errar, ou andar em trevas. T2 692 2 Ao acompanharmos a cadeia de profecias, a verdade revelada para o nosso tempo tem sido claramente vista e explicada. Somos responsáveis pelos privilégios que desfrutamos, e pela luz que incide em nosso caminho. Os que viveram nas gerações passadas foram responsáveis pela luz que lhes foi concedida. Sua mente foi despertada acerca de vários pontos da Escritura que lhes serviram de prova. Não compreenderam, porém, as verdades que hoje entendemos. Não foram responsáveis pela luz que não tiveram. Tinham a Bíblia, como nós; mas o tempo para ser esclarecida a verdade especial quanto às cenas finais da história terrestre, é o das últimas gerações que vivem na Terra. T2 693 1 Verdades especiais foram adaptadas às condições das gerações à medida que existiram. A verdade presente, que é uma prova para o povo desta geração, não era prova aos das gerações que longe ficaram. Caso a luz que hoje brilha sobre nós relativamente ao sábado do quarto mandamento houvesse sido dada às gerações do passado, Deus os teria considerado responsáveis por essa luz. T2 693 2 Quando o templo de Deus foi aberto no Céu, João viu em santa visão uma classe de pessoas cuja atenção foi atraída, e que olhavam com reverente temor a arca, que continha a lei de Deus. A prova especial sobre o quarto mandamento não sobreveio senão depois que o templo de Deus foi aberto no Céu. T2 693 3 Aqueles que morreram antes de ser enviada luz sobre a lei de Deus e os reclamos do quarto mandamento, não foram culpados do pecado de violar o sábado do sétimo dia. A sabedoria e misericórdia de Deus em dispensar luz e conhecimento no tempo devido, como o povo a necessita, são insondáveis. Antes de Ele vir a julgar o mundo em justiça, envia uma advertência para despertar o povo e chamar-lhe a atenção para sua negligência quanto ao quarto mandamento, a fim de que seja esclarecido, e se arrependa de sua transgressão da lei de Deus, demonstrando lealdade para com o grande Legislador. Ele tomou providências para que todos possam ser santos e felizes, se assim o quiserem. A esta geração tem sido comunicada suficiente luz, para que conheçamos quais são nossos deveres e privilégios, e desfrutemos as preciosas e solenes verdades em sua simplicidade e poder. T2 693 4 Somos responsáveis somente pela luz que incide sobre nós. Os mandamentos de Deus e os testemunhos de Jesus estão nos servindo de prova. Se formos fiéis e obedientes, Deus Se deleitará em nós, e nos abençoará como Seu povo escolhido e peculiar. Quando existirem em abundância a fé, amor e obediência perfeitos, atuando no coração dos que são seguidores de Cristo, eles possuirão poderosa influência. Deles brotará luz, dissipando as trevas que os rodeiam, purificando e elevando todos quantos chegarem sob a esfera de sua influência, e levando ao conhecimento da verdade todos os que estiverem dispostos a ser esclarecidos e a seguir na trilha humilde da obediência. T2 694 1 Os que possuem mente carnal, não podem compreender a sagrada força da verdade vital de que depende sua salvação, devido a nutrirem no coração orgulho, amor ao mundo e à comodidade, egoísmo, cobiça, inveja, ciúmes, concupiscência, ódio e todo mal. Caso vencessem essas coisas, poderiam ser participantes da natureza divina. Muitos deixam as positivas verdades da Palavra de Deus, e negligenciam seguir a luz que lhes ilumina claramente o caminho; tentam descobrir segredos não plenamente revelados, conjecturar, falar e discutir acerca de questões que não são chamados a compreender, as quais não têm que ver especialmente com sua salvação. Milhares de pessoas têm sido assim iludidas por Satanás. Negligenciaram a fé e o dever presentes, os quais são claros e compreensíveis para todos quantos se acham na posse de suas faculdades de raciocínio; fixaram-se sobre teorias duvidosas e textos que não podiam compreender, e erraram com relação à fé; têm uma fé confusa. T2 694 2 Deus quer que todos façam uso prático dos positivos ensinos de Sua Palavra relativamente à salvação dos seres humanos. Caso eles sejam praticantes da Palavra, que é clara e poderosa em sua simplicidade, não deixarão de aperfeiçoar o caráter cristão. Santificar-se-ão mediante a verdade e pela humilde obediência à mesma, assegurarão a vida eterna. Deus quer servos que sejam verdadeiros, não só em palavras, mas em atos. Seus frutos manifestarão a genuinidade de sua fé. T2 694 3 Irmão O, você ficará sujeito às tentações de Satanás, caso continue a nutrir suas idéias errôneas. Terá uma fé confusa, e estará em risco de confundir a mente de outros. Deus requer que Seu povo seja unido. Seus pontos de vista peculiares se demonstrarão nocivos a sua influência; e caso continue a nutri-los e a falar neles, servirão afinal para separá-lo de seus irmãos. Se Deus tem luz necessária à salvação de Seu povo, Ele a comunicará, da mesma maneira que o fez com outras grandes e importantes verdades. Você deve deixar esse assunto em paz. Permita que Deus atue à Sua maneira, para realizar a Seu tempo e modo os Seus desígnios. Que Deus o habilite a andar na luz, "como Ele na luz está". 1 João 1:7. ------------------------Capítulo 81 -- Responsabilidade pela luz recebida T2 695 1 Foi-me mostrado o caso do irmão P. Ele vem há algum tempo resistindo à verdade. Seu pecado não é rejeitar aquilo que crê sinceramente ser um erro, mas não pesquisar diligentemente o assunto e obter conhecimento daquilo a que se está opondo. Supôs que os adventistas observadores do sábado, como corporação, estavam em erro. Essa opinião estava em harmonia com seus sentimentos, e ele não via a necessidade de descobrir as coisas por si mesmo, mediante diligente pesquisa das Escrituras com fervorosa oração. Se tivesse feito isso, poderia estar muito mais adiantado em seu conhecimento. Ele tem sido demasiado vagaroso para aceitar as evidências, e negligente demais em pesquisar as Escrituras para ver "se estas coisas eram assim". Atos dos Apóstolos 17:11. Paulo não considerou dignos de elogios aqueles que resistiam a seus ensinos, até que, compelidos por esmagadora evidência, decidiram em favor da doutrina que o apóstolo recebeu de Deus e lhes ensinou. T2 695 2 Paulo e Silas trabalharam na sinagoga judia em Tessalônica com algum sucesso; mas os judeus descrentes estavam bastante insatisfeitos, criaram confusão, fazendo um grande tumulto em oposição a eles. Os dedicados apóstolos foram obrigados a deixar Tessalônica de noite e ir para Beréia, onde foram alegremente recebidos. E assim elogiaram os bereanos: "Estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. De sorte que creram muitos deles." Atos dos Apóstolos 17:11, 12. T2 696 1 O irmão P não conseguiu ver a importância vital da questão. Não sentiu preocupação em pesquisar cuidadosamente, sem qualquer auxílio humano, a fim de descobrir o que é a verdade. Ele confiou muito no Pastor P, e não sentiu a necessidade de aprender dAquele que é "manso e humilde de coração". Mateus 11:29. O irmão P não é suscetível ao ensino, mas confia em si mesmo. Nosso Salvador não tem palavras elogiosas para aqueles que, nestes últimos dias, são tardos de coração para crer, mais do que teve para o duvidoso Tomé, que se orgulhava de não crer nas evidências que os discípulos transmitiram, de que Cristo havia realmente ressurgido e lhes aparecera. Disse Tomé: "Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos... e não puser a minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei." Cristo concedeu a Tomé a evidência que ele disse precisar, mas reprovou-o, dizendo-lhe: "Não sejas incrédulo, mas crente." Tomé deu-se por convencido. Jesus lhe disse: "Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!" João 20:25, 27, 29. T2 696 2 A atitude do irmão P fez dele um homem fraco. Ele permaneceu por certo tempo em oposição a quase tudo, exceto o sábado. Ao mesmo tempo em que comungava com os transgressores dos mandamentos, era ainda requisitado pelos adventistas que estavam em direta oposição ao sábado do quarto mandamento. Ele não tinha condição de ajudá-los porque ele mesmo estava indeciso. Sua influência, pelo contrário, confirmou muitos na incredulidade. Com toda a ajuda, evidência e estímulo que recebera, desagradou ao Senhor por seu afastamento, enquanto fortalecia as mãos daqueles que guerreavam contra Deus por sua oposição à verdade. T2 697 1 O irmão P podia agora ser um homem forte, exercendo influência, juntamente com o povo de Deus no Maine, e tido em alta estima por causa de suas obras. Mas ele se inclina à idéia de que sua relutância possui virtude especial, antes que um pecado do qual precisa arrepender-se. Ele tem sido lento em aprender as lições que Deus pretende ensinar-lhe. Não tem sido um estudante apto e não cresceu em experiência na verdade presente, o que o qualificaria a assumir o peso da responsabilidade, houvesse ele diligentemente aceito a luz concedida. Foi-me mostrada uma época em que o irmão P fez esforços para subjugar-se e restringir seu apetite, então pôde, com mais facilidade, ser paciente. Ele era irritadiço, depressivo, agitado e exaltado. Seus hábitos de comer e beber tinham muito a ver com tal condição. As baixas paixões estavam no controle, predominando sobre as mais elevadas faculdades mentais. A temperança faria muito ao irmão P. Mais exercício físico e trabalho são necessários à sua saúde. Quando fez esforços para controlar-se, começou a melhorar, mas não recebeu toda a bênção que teria recebido se tivesse iniciado antes. T2 697 2 Em lugar de ajuntar com Cristo para a verdade, ele recuou por muito tempo; não progrediu e permaneceu diretamente no caminho do progresso de outros, espalhando por toda parte. Sua influência atrapalhou o progresso da obra que Deus dera a Seus servos. T2 697 3 As idéias do irmão P sobre ordem e organização têm estado em direta oposição ao plano organizacional de Deus. Há ordem no Céu a qual deve ser imitada pelos que na Terra são herdeiros da salvação. Quanto mais os mortais se aproximarem da ordem e harmonia do Céu, mais perto estarão da condição aceitável diante de Deus, que os tornará súditos do reino celeste e os qualificará para a trasladação da Terra ao Céu, tal qual Enoque em seu preparo para ser trasladado. T2 698 1 O irmão P deve precaver-se. Há falta de ordem em sua vida. Ele não se acha em conformidade com as restrições, cuidado e diligência, que são necessários para preservar a harmonia e unidade de ação. Sua experiência e educação em termos religiosos nos últimos anos têm prejudicado seus queridos filhos, e especialmente o povo de Deus. As obrigações que o Céu impõe sobre um pai, em especial um pastor, ele não cumpriu. O homem que não tem senão um débil senso de sua obrigação como pai, para estimular e impor ordem, disciplina e obediência, falhará como ministro e pastor do rebanho. A mesma falha que caracteriza sua administração do lar será mais notória na igreja de Deus. Erros ficarão impunes em virtude dos desagradáveis resultados que acompanham as reprovações e os fervorosos apelos. T2 698 2 É necessária uma grande reforma na família do irmão P. Deus não Se agrada com a desordem ali reinante, pois escolhem seu caminho e seguem os próprios planos. Essa condição familiar poderá contrariar sua influência onde quer que ele seja conhecido. Isso também tem efeito desencorajador sobre aqueles que desejam ajudá-lo no sustento da família. Esse problema é um insulto à causa. O irmão P não restringe seus filhos. Deus não Se agrada com o comportamento desordenado, tumultuoso e grosseiro deles. Tudo isso é resultado, ou maldição, da plena liberdade que os adventistas têm reivindicado ser seu bendito privilégio desfrutar. O irmão e a irmã P desejam a salvação de seus filhos, mas vi que Deus não realizaria um milagre para sua conversão, enquanto houver deveres recaindo sobre os pais, dos quais eles não têm senão pouca consciência. Deus deixou uma obra para esses pais realizarem, a qual têm devolvido para o Senhor fazer por eles. Quando o irmão e a irmã P sentirem a obrigação que lhes pesa sobre os ombros, unirão seus esforços para estabelecer ordem, disciplina e salutares limites em sua família. T2 699 1 Irmão P, você tem sido indolente em assumir as responsabilidades que todo pai deve assumir em sua família; e como resultado, a responsabilidade que tem sido transferida para a mãe é muito pesada. Você tem estado muito disposto a eximir-se dos cuidados e obrigações no lar e fora dele. Quando, no temor de Deus, e com solenidade mental em vista do Juízo, você resolutamente assumir a responsabilidade que o Céu lhe determinou, e quando fizer tudo o que puder de sua parte, então poderá orar inteligentemente, em Espírito e em fé, para que Deus faça por seus filhos aquele trabalho que está além da capacidade humana executar. T2 699 2 O irmão P não tem feito uso prudente dos recursos. O sábio discernimento não o tem influenciado tanto quanto as vozes e desejos de seus filhos. Não dá o devido valor aos recursos que tem em mãos, nem os despende prudentemente com as coisas mais necessárias que precisa para conforto e saúde. A família inteira está necessitando melhorar neste aspecto. Muitas coisas são necessárias na família para comodidade e conforto. A falta de apreciar ordem e método na organização dos assuntos familiares leva à destruição e contribui para a improdutividade. Cada membro da família deve sentir que sobre ele repousa a responsabilidade individual de fazer sua parte em ajudar no conforto, ordem e regularidade do lar. Não deve trabalhar um contra o outro. Todos devem empenhar-se unidos na boa obra de se encorajarem mutuamente; devem exercer gentileza, longanimidade e paciência; falar em tom calmo e baixo, evitando confusão, e cada um fazendo o melhor para aliviar o fardo da mãe. As coisas não mais devem ser deixadas ao léu, com todos se eximindo dos deveres, deixando para outros fazerem aquilo que eles podem e devem fazer. Essas coisas podem parecer insignificantes, mas quando colocadas juntas, causam grande desordem e atraem o desagrado divino. É a negligência das coisas pequenas, as ninharias, que envenenam a felicidade da vida. A fiel execução das coisas pequenas compõe a soma de felicidade a ser obtida nesta vida. Aquele que é fiel no pouco, é fiel também no muito. Aquele que é infiel ou injusto nas pequenas coisas, o será também nas grandes. Cada membro da família deve compreender exatamente a parte que dele se espera em união com os outros. Todos, desde a criança de seis anos e daí para cima, devem compreender que deles se requer que desempenhe sua parte nos encargos da vida. T2 700 1 Há importantes lições que esses filhos devem aprender, e é melhor que aprendam agora do que mais tarde. Deus atuará por esses queridos filhos em união com os esforços sábios e bem dirigidos de seus pais, e torná-los-á aprendizes na escola de Cristo. Jesus deseja que esses filhos estejam separados das vaidades do mundo, que deixem os prazeres do pecado e escolham o caminho da humilde obediência. Se agora ouvirem o gracioso convite, aceitando a Cristo como Seu Salvador e prosseguirem em conhecer o Senhor, Ele os purificará dos pecados e lhes comunicará graça e força. T2 700 2 Prezado irmão P, as lições que você aprendeu em meio às perturbadoras influências que existem no Maine, têm sido extremamente prejudiciais à sua família. Você não tem sido prudente em sua conversação como Deus requer. Não tem se demorado acerca da verdade em sua família, diligentemente ensinando aos filhos os princípios e mandamentos de Deus ao levantar-se e assentar-se, ao sair e ao entrar. Você não tem apreciado seu trabalho como pai nem como pastor. T2 701 1 Não tem cumprido zelosamente seu dever para com os filhos. Tampouco dedicado tempo suficiente ao culto familiar nem exigido a presença de toda a família. A palavra marido* significa laço de união. Todos os membros da família se centralizam no pai. Ele é o legislador, ilustrando na própria varonilidade as importantes virtudes: energia, integridade, honestidade, paciência, coragem, diligência e prestatividade. O pai é em certo sentido o sacerdote da família, apresentando ante o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde. A esposa e os filhos devem ser encorajados a unir-se nesta oferenda e também a participar dos cânticos de louvor. De manhã e de tarde o pai, como sacerdote da família, deve confessar a Deus os pecados cometidos por ele mesmo e pelos seus filhos durante o dia. Tanto os pecados de que se tem conhecimento, como aqueles que são secretos e que só Deus conhece devem ser confessados. Esse procedimento, zelosamente seguido pelo pai quando presente, ou pela mãe quando o pai está ausente, resultará em bênçãos sobre a família. T2 701 2 A razão por que os jovens do presente não são mais inclinados para a religião é que sua educação é defeituosa. Não se exerce para com os filhos verdadeiro amor quando se lhes permite tolerar paixões ou quando a desobediência a suas determinações é deixada sem punição. Quando a haste é torta, a árvore cresce inclinada. Você ama muito a tranqüilidade. Não tem se dedicado o suficiente. Requer-se permanente esforço; constante vigilância e fervorosa oração. Conserve a mente em atitude de oração, elevada para Deus; não seja indolente no trabalho, mas fervoroso "no espírito, servindo ao Senhor". Romanos 12:11. T2 701 3 Em sua família você falhou em reconhecer a santidade do sábado e em ensiná-la a seus filhos, e recomendar-lhes a importância de observá-lo conforme o mandamento. Suas sensibilidades não estão desobstruídas nem prontas para discernir o alto padrão que devemos alcançar, a fim de sermos guardadores dos mandamentos. Mas Deus o ajudará em seus esforços, quando você levar o trabalho a sério. Você deve possuir perfeito controle sobre si mesmo para ter melhor sucesso em dominar seus filhos, quando eles se mostrarem indisciplinados. Há uma grande obra diante do irmão para reparar as negligências passadas; mas não se requer que a faça nas próprias forças. Anjos ministradores o ajudarão. Não desista do trabalho nem deixe de lado a obrigação, mas assuma-a com boa disposição e repare sua prolongada negligência. Você precisa ter mais alta compreensão dos reclamos de Deus com respeito ao Seu dia sagrado. Tudo o que possivelmente pode ser feito nos seis dias que Deus lhe deu, deve ser feito. Você não deve roubar a Deus em uma única hora do tempo santo. Grandes bênçãos são prometidas aos que colocam sobre o sábado um alto valor e compreendem as obrigações que sobre eles repousam com respeito à sua observância. "Se desviares o teu pé do sábado [de pisoteá-lo, desprezando-o], de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:13, 14. T2 702 1 Ao começar o sábado, devemos pôr-nos guarda a nós mesmos, a nossos atos e palavras, para que não roubemos a Deus, apropriando-nos para nosso próprio uso daquele tempo que pertence estritamente ao Senhor. Não devemos fazer nós mesmos, nem permitir que nossos filhos façam qualquer espécie de trabalho pessoal para subsistência, ou qualquer coisa que poderia ter sido feita durante os seis dias de trabalho. A sexta-feira é o dia de preparação. O tempo pode ser então dedicado a fazer os necessários preparativos para o sábado, a pensar e falar sobre isso. Coisa alguma que possa, aos olhos do Céu, ser considerada transgressão do santo sábado, deve ser deixada por dizer ou fazer no sábado. Deus requer, não somente que nos abstenhamos do trabalho físico no sábado, mas que a mente seja disciplinada de modo a pensar em temas santos. O quarto mandamento é transgredido mediante o conversar-se sobre coisas mundanas, ou leves e frívolas. Falar sobre qualquer coisa ou sobre tudo que nos vem à mente, é falar nossas próprias palavras. Todo desvio do direito nos põe em servidão e condenação. T2 703 1 Irmão P, você deve disciplinar-se para discernir a santidade do sábado do quarto mandamento, e trabalhar por elevar a norma na família e onde quer que tenha, por seu exemplo, rebaixado a mesma entre o povo de Deus. Deve neutralizar a influência que tem exercido a esse respeito, mudando suas palavras e ações. Você tem com freqüência deixado de lembrar "o dia do sábado, para o santificar"; tem-no esquecido muitas vezes, e falado suas próprias palavras no dia santificado por Deus. Não se tem acautelado, unindo-se, no sábado, à conversa profana sobre os assuntos comuns do dia, como ganhos e perdas, ações, colheitas e provisões. Nisto seu exemplo prejudica sua influência. Você precisa reformar-se. T2 703 2 Os que não se acham inteiramente convertidos à verdade, deixam com freqüência que a mente lhes corra às soltas sobre negócios mundanos, e embora repousem dos trabalhos físicos no sábado, a língua fala do que está no coração; daí, essas conversas sobre gado, colheitas, prejuízos e lucros. Tudo isto é violação do sábado. Se a mente gira em assuntos mundanos, a língua o revelará; pois "da abundância do... coração fala a boca". Lucas 6:45. T2 703 3 A esse respeito o exemplo, especialmente dos pastores, deve ser prudente. Devem, aos sábados, restringir-se conscienciosamente às conversas sobre assuntos religiosos -- a verdade presente, o dever atual, as esperanças e temores dos cristãos, suas provações, conflitos e aflições; a vitória final e a recompensa a receber. T2 704 1 Os pastores devem colocar-se como reprovadores daqueles que deixam de lembrar-se do sábado para o santificar. Bondosa e solenemente, cumpre-lhes reprovar os que se empenham em conversação mundana no dia de sábado, professando ao mesmo tempo serem seus observadores. Devem estimular a consagração a Deus no Seu santo dia. T2 704 2 Ninguém se deve sentir na liberdade de gastar tempo santo inutilmente. Desagrada a Deus que os observadores do sábado durmam muito tempo no sábado. Eles desonram a seu Criador em assim fazer e por seu exemplo, dizem que os seis dias são demasiado preciosos para que os empreguem para descansar. Precisam ganhar dinheiro, mesmo que seja se privando do necessário sono, que recuperam dormindo durante as horas santas. Depois, desculpam-se, dizendo: "O sábado foi dado para dia de descanso. Não me privarei do repouso para ir à reunião; pois preciso descansar." Essas pessoas fazem uso errado do dia santificado. Naquele dia especialmente, devem elas interessar sua família na observância do mesmo, e congregar-se na casa de oração com os poucos ou os muitos que ali houver. Devem dedicar o tempo e as energias a cultos religiosos, para que a divina influência os possa acompanhar durante a semana. De todos os dias semanais, nenhum é tão favorável aos pensamentos e sentimentos religiosos como o sábado. T2 704 3 Foi-me apresentado todo o Céu como a contemplar e observar no decorrer do sábado aqueles que reconhecem as reivindicações do quarto mandamento, e estão observando o sábado. Os anjos estavam anotando o interesse deles e o elevado respeito que nutrem por essa divina instituição. Aqueles que santificavam o Senhor Deus no próprio coração mediante uma estrutura estritamente religiosa da mente, e que buscavam aproveitar as horas santas em observar o sábado da melhor maneira que lhes era possível, e honravam a Deus ao chamar o sábado deleitoso -- a esses, beneficiavam especialmente os anjos com luz e saúde, e era-lhes comunicada força especial. Por outro lado, porém, os anjos se desviavam dos que deixavam de apreciar a santidade do dia santificado por Deus, e deles removiam sua luz e força. Vi-os obscurecidos por uma nuvem, abatidos, e freqüentemente tristes. Sentiam a falta do Espírito de Deus. T2 705 1 Prezado irmão P, você deve ser sempre cauteloso em sua conversação. Chamou-o Deus para ser um representante de Cristo sobre a Terra, em Seu lugar rogando aos pecadores que se reconciliem com Ele? Essa é uma obra exaltada e solene. Quando você termina sua pregação no púlpito, o trabalho apenas começou. Você não está liberado das responsabilidades quando se encontra fora das reuniões, mas deve ainda manter sua consagração à obra de salvar almas. Você deve ser uma carta viva, "conhecida e lida por todos os homens". 2 Coríntios 3:2. A comodidade não deve ser consultada. Não se deve pensar em prazer. A salvação de almas é o tema todo-absorvente. É para esse trabalho que o ministro do evangelho de Cristo é chamado. Ele precisa realizar boas obras fora das reuniões, e adornar sua profissão de fé por piedosa conversação e conduta séria. Freqüentemente, após o serviço de púlpito haver terminado e você ficar sentado em companhia de pessoas, junto à lareira, o irmão tem, por sua conversa não santificada, contrariado os esforços feitos no púlpito. Você deve viver o que ensina ser dever dos outros, e precisa assumir, como nunca o fez antes, a carga do trabalho, o peso da responsabilidade que deve repousar sobre todo ministro de Cristo. Confirme o trabalho feito no púlpito, apoiando-o com esforços particulares. Envolva-se em cuidadosa conversação sobre a verdade presente, avaliando com franqueza o estado mental dos participantes e, no temor de Deus, fazendo uma aplicação prática da importante verdade nos casos daqueles com quem se associa. Você falhou em instar "a tempo e fora de tempo", em reprovar, admoestar, exortar, "com toda a longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:2. T2 706 1 Como vigia sobre os muros de Sião, é necessária constante vigilância. Sua vigilância não deve diminuir. Eduque-se para ser capaz de apelar às famílias, junto à lareira. Você pode fazer muito mais nesse sentido do que apenas por seus trabalhos de púlpito. Vigie pelas pessoas como alguém que deve prestar contas. Não dê ocasião aos descrentes para o acusarem de ser descuidado em seu dever, pela negligência em apelar-lhes pessoalmente. Lide fielmente com eles e rogue-lhes que se submetam à verdade. "Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida." 2 Coríntios 2:15, 16. Quando o apóstolo viu a magnitude do trabalho e as pesadas responsabilidades colocadas sobre o pastor, exclamou: "E, para essas coisas, quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da Palavra de Deus; antes, falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus." 2 Coríntios 2:16, 17. T2 706 2 Aqueles que distorcem a Palavra, semeando trigo e joio ou qualquer coisa que possam considerar evangelho, enquanto se opõem aos mandamentos de Deus, não podem apreciar os sentimentos do apóstolo ao tremer sob o peso da solene obra e de sua responsabilidade como ministro de Cristo, tendo sobre si o destino de almas por quem Cristo morreu. Na opinião de pastores que se autopromoveram ao ministério, isso não requer senão o preenchimento dos requisitos de um padrão trivial para tornar-se um pastor. Mas o apóstolo pôs em alto nível as qualificações necessárias a um pastor. T2 706 3 A conduta do pastor enquanto no púlpito deve ser ponderada, não descuidada. Ele não deve ser negligente com respeito à sua atitude. Deve adotar ordem e possuir refinamento no mais alto sentido. Deus requer isso daqueles que aceitam esse trabalho de tão grande responsabilidade, como receber as palavras de Sua boca e transmiti-las ao povo, advertindo e reprovando, corrigindo e confortando, conforme o caso exija. Os representantes de Deus na Terra devem estar em diária comunhão com Ele. Suas palavras devem ser selecionadas e saudável sua pregação. Palavras acidentais usadas pelos pastores que não pregam o evangelho em sinceridade, devem ser para sempre descartadas. T2 707 1 Foi-me mostrado, irmão P, que você é naturalmente irritável, facilmente se sente provocado, e lhe falta paciência e tolerância. Caso sua conduta fosse questionada ou se constrangido a tomar posição pela verdade, não se apressaria muito a fazê-lo. Não daria um passo porque outros desejavam que o fizesse. Você o faria quando quisesse. Se os seus ouvintes adotassem a mesma postura, você os consideraria culpados. Se todos fizessem como você fez, o povo de Deus precisaria de um milênio a fim de fazer o necessário preparo para o Juízo. Deus tem lidado misericordiosamente com sua relutância, mas isso não implica que os outros devam seguir seu exemplo, pois você está fraco e deficiente onde poderia ser forte e bem qualificado para o trabalho. T2 707 2 O irmão R pôde fazer pouco por você. Os esforços dele não foram sabiamente dirigidos. Ele errou em interessar-se especialmente por aqueles que acham dever tornar-se professores. Houvesse ele deixado de lado o caso de um pastor do Maine e trabalhado em novos campos onde não havia adventistas, muitos poderiam ter sido levados ao conhecimento da verdade. O irmão S tem progredido vagarosamente e ocupa uma posição mais aceitável a Deus com respeito à paciência, tolerância e persistência; todavia, há um trabalho maior a ser feito por ele antes que possa tornar-se um pastor bem-sucedido na causa e fazer avançar a obra de Deus. T2 707 3 O irmão R interessou-se entusiasticamente por seu caso, mas você se recusou ser ajudado por ele. Tempo e energia foram dedicados a você e assuntos foram preparados para seu especial benefício, visando remover o preconceito e convencê-lo a aceitar a verdade; até que sua indolência e incredulidade esgotaram a paciência do irmão R. Ele então mudou a tática de seu esforço, pressionando-o a tomar uma decisão e a agir de acordo com a luz e evidências que recebera. O zeloso esforço da parte dele foi classificado por você como insistente e opressor. Seu temperamento obstinado se manifestou; você se opôs a esse procedimento e rejeitou os esforços feitos para ajudá-lo. Nisso prejudicou a si mesmo, desanimou o irmão R e desagradou a Deus. Seus sentimentos para com o irmão R não foram cristãos. Você se gabou de ter resistido aos esforços dele em seu favor. O Senhor abençoou os esforços do irmão R em suscitar um povo no Estado do Maine. Esse trabalho foi fatigante e penoso, e você fez sua parte em torná-lo assim. Não entendeu quão difícil você tornou o trabalho daqueles a quem Deus enviou para apresentar a verdade presente ao povo. Eles esgotaram suas energias para levar o povo à decisão com respeito à verdade, enquanto você e outros pastores se colocaram diretamente em seu caminho. Deus estava trabalhando através de Seus pastores para atrair as pessoas à verdade, e Satanás estava atuando através de você e outros pastores para desencorajá-los e frustrar seus esforços. Os próprios homens que professavam ser sentinelas, e que, se tivessem permanecido no conselho de Deus, teriam sido os primeiros a receber a palavra de advertência e transmiti-la ao povo, estavam entre os últimos a aceitarem a verdade. O povo estava na frente de seus instrutores. Eles receberam a advertência antes mesmo das sentinelas, porque essas foram infiéis e dormiram em seu posto. T2 708 1 Irmão P, você deveria ter tido sentimentos de compaixão fraternal e amor pelo irmão R, pois ele merecia isso de sua parte, em vez de palavras de censura. Você deveria reprovar severamente a própria conduta porque foi encontrado lutando contra Deus. Mas você e outros divertiram-se às custas do irmão R ao você relatar os esforços desse pastor em seu favor e sua resistência aos mesmos, e deram muita gargalhada a respeito do assunto. T2 709 1 Convém a cada ministro de Cristo manter uma linguagem correta, que não possa ser condenada. Foi-me mostrado que uma solene obra deve ser realizada pelos ministros de Cristo. Ela não pode ser feita sem esforços de sua parte. Eles precisam sentir que têm uma obra a empreender em seu próprio favor, a qual ninguém pode fazer por eles. Devem buscar obter as qualificações necessárias para se tornarem hábeis ministros de Cristo. Que no dia de Deus eles possam ser absolvidos, livres do sangue dos pecadores, tendo cumprido todo dever no temor de Deus. Como recompensa, os fiéis subpastores ouvirão do Sumo Pastor: "Bem está, servo bom e fiel." Mateus 25:21. Ele lhes colocará a coroa de glória sobre a cabeça e os convidará a entrar na alegria do seu Senhor. Que alegria é essa? É, juntamente com Jesus, contemplar os santos redimidos, revendo com Ele sua luta pelas almas, sua abnegação e sacrifício próprio; a privação de confortos, de ganhos seculares, de todo atrativo mundano; e a escolha da vergonha, do sofrimento, da humilhação, do extenuante esforço e da angústia de espírito quando os homens se opunham ao conselho divino, em prejuízo da própria alma. É trazer à lembrança a aflição de alma diante de Deus, seu pranto entre o alpendre e o altar, o terem se tornado "espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens". 1 Coríntios 4:9. Tudo isso então findou, e os frutos de seu trabalho são vistos, pecadores salvos mediante seus esforços em Cristo. Os pastores que têm sido coobreiros com Cristo entram na alegria do seu Senhor e estão satisfeitos. T2 709 2 "Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado." Hebreus 12:24. Os pastores se esquecem muito do Autor de sua salvação. Eles pensam ter resistido bastante, quando suportam e sofrem tão pouco. Deus atuará em favor dos pastores se eles o permitirem. Mas, se sentirem que são corretos e que não necessitam de completa conversão, e não conhecerem a si mesmos e crescerem até a medida divina, Ele estaria melhor sem seus esforços do que com eles. T2 710 1 Deus requer que todo pastor alcance o padrão, que se apresente aprovado diante de Deus, "como obreiro que não tem de que se envergonhar". 2 Timóteo 2:15. Se eles se recusarem a essa disciplina estrita, Deus os recusará e selecionará homens que não descansarão até estarem completamente "preparados para toda a boa obra". Tito 3:1. Nosso coração é naturalmente pecaminoso e indolente no serviço de Cristo. Necessitamos estar constantemente prevenidos ou fracassaremos em suportar as dificuldades como bons soldados de Cristo. Não sentiremos a necessidade de dirigir vigorosos golpes contra os pecados que nos rodeiam, mas prontamente aceitaremos as sugestões de Satanás, e ergueremos um estandarte para nós mesmos em lugar do puro e exaltado estandarte que Deus levantou por nós. T2 710 2 Vi que os pastores guardadores do sábado do Maine falharam em tornar-se estudantes da Bíblia. Não sentiram a necessidade de empreenderem por si mesmos diligente estudo da Palavra de Deus, para que pudessem estar plenamente preparados para toda boa obra. Também não sentiram a necessidade de estimular seus ouvintes a examinarem as Escrituras. Se não houvesse um pastor adventista do sétimo dia no Maine para se opor ao conselho de Deus, tudo o que foi realizado poderia ter sido feito com metade do esforço despendido, e o povo teria sido trazido de seu estado confuso e conturbado para a ordem, e agora seria forte o suficiente para enfrentar as influências opositoras. Muitos lugares que ainda não foram penetrados poderiam ter sido visitados e neles executado um trabalho bem-sucedido, que teria conduzido muitos ao conhecimento da verdade. T2 711 1 Muito do trabalho feito no Maine foi realizado em favor dos pastores adventistas do sétimo dia, para conduzi-los a uma correta posição. Foi exigido trabalho árduo para contrafazer a influência que eles exerceram, enquanto em oposição ao conselho divino contra a própria alma e permanecendo no caminho dos pecadores. Não examinaram a si mesmos e impediram por preceito e exemplo aos que desejavam fazê-lo. Tem-se cometido um erro ao penetrar-se os campos onde há adventistas que geralmente não sentem qualquer necessidade de serem ajudados, mas se julgam em boas condições e aptos a ensinar outros. Os obreiros são poucos e suas forças precisam ser empregadas da melhor maneira possível. Muito mais pode ser feito no Estado do Maine, em especial onde não haja nenhum adventista. Novos campos devem ser abertos e o tempo até agora empregado em árduo trabalho pelos adventistas que não desejam aprender, deve ser dedicado a esses novos campos, indo-se aos caminhos e atalhos e trabalhando pela conversão dos descrentes. Se os adventistas vierem e ouvirem, que venham. Que o caminho esteja aberto para virem se assim o desejarem. ------------------------Apêndice T2 712 1 Página 400. A advertência no testemunho pessoal dirigido ao irmão e irmã E, de que "ovos não devem ser colocados em sua mesa", tem por alguns sido considerada de aplicação geral. Que não foi intenção que isso fosse um ensino geral para as famílias em circunstâncias normais já ficou bem claro não só na própria declaração, como também em pelo menos três declarações específicas já publicadas de Ellen G. White, as quais corrigiriam qualquer mau uso deste testemunho pessoal. Estas outras declarações podem ser encontradas em Testemunhos Para a Igreja 7:135 (1902), A Ciência do Bom Viver, 320 (1905), e Testemunhos Para a Igreja 9:162 (1909). Vamos citar aqui as duas últimas declarações: T2 712 2 "É verdade que pessoas de físico forte e em quem as paixões são vigorosas precisam evitar o uso de alimentos estimulantes. Especialmente nas famílias de crianças dadas a hábitos sensuais, os ovos não devem ser usados." -- A Ciência do Bom Viver, 320. T2 712 3 "Visto ter-se advertido contra o perigo de contrair enfermidades pelo uso de manteiga e contra os males provenientes do uso abundante de ovos por parte das crianças, não devemos considerar violação do princípio, usar ovos de galinhas bem tratadas e convenientemente alimentadas. Os ovos contêm propriedades que são agentes medicinais neutralizantes de certos venenos." -- Testemunhos Para a Igreja 9:162. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 3 T3 5 1 Breve histórico do volume três T3 9 1 Capítulo 1 -- Portadores de responsabilidades T3 22 1 Capítulo 2 -- Habilidade não santificada T3 32 2 Capítulo 3 -- Mentes desequilibradas T3 39 2 Capítulo 4 -- Amizade íntima com mundanos T3 48 1 Capítulo 5 -- A causa em Nova Iorque T3 67 2 Capítulo 6 -- Experiência não confiável T3 79 2 Capítulo 7 -- Fidelidade nos deveres domésticos T3 81 2 Capítulo 8 -- Orgulho e pensamentos vãos T3 85 1 Capítulo 9 -- A obra em Battle Creek T3 99 1 Capítulo 10 -- Parábolas dos perdidos T3 104 2 Capítulo 11 -- Trabalho entre as igrejas T3 116 2 Capítulo 12 -- A pais ricos T3 131 2 Capítulo 13 -- A educação ideal T3 161 1 Capítulo 14 -- A reforma de saúde T3 165 2 Capítulo 15 -- O instituto de saúde T3 185 1 Capítulo 16 -- O perigo dos elogios T3 186 1 Capítulo 17 -- Trabalho a favor dos que erram T3 188 1 Capítulo 18 -- A Escola Sabatina T3 190 1 Capítulo 19 -- Obreiros no escritório T3 195 1 Capítulo 20 -- Amor e dever T3 197 1 Capítulo 21 -- A igreja de Battle Creek T3 202 1 Capítulo 22 -- Trabalho missionário T3 212 1 Capítulo 23 -- Efeito dos debates T3 221 2 Capítulo 24 -- Perigos e deveres dos jovens T3 227 2 Capítulo 25 -- Pastores que cuidam de si mesmos T3 243 2 Capítulo 26 -- Amor descomedido por lucro T3 252 2 Capítulo 27 -- A igreja de Laodicéia T3 293 2 Capítulo 28 -- Moisés e Arão T3 304 1 Capítulo 29 -- A um jovem pastor e esposa T3 329 3 Capítulo 30 -- Sonhando acordada T3 339 2 Capítulo 31 -- A grande rebelião T3 362 1 Capítulo 32 -- Apelo aos jovens T3 381 1 Capítulo 33 -- Dízimos e ofertas T3 408 5 Capítulo 34 -- Doação sistemática T3 414 1 Capítulo 35 -- Independência individual T3 434 3 Capítulo 36 -- Unidade na igreja T3 459 1 Capítulo 37 -- Verdadeiro refinamento no ministério T3 468 2 Capítulo 38 -- Importância do trabalho T3 471 3 Capítulo 39 -- O estado do mundo T3 474 3 Capítulo 40 -- O estado da igreja T3 477 2 Capítulo 41 -- O amor do mundo T3 482 1 Capítulo 42 -- Presunção T3 485 3 Capítulo 43 -- O poder do apetite T3 492 1 Capítulo 44 -- Liderança T3 510 1 Capítulo 45 -- Apelos para recursos T3 511 1 Capítulo 46 -- Dever para com os desafortunados T3 521 2 Capítulo 47 -- O dever do homem para com seus semelhantes T3 544 2 Capítulo 48 -- O pecado da avareza T3 551 2 Capítulo 49 -- Diligência no ministério T3 560 3 Capítulo 50 -- Pais como reformadores T3 570 1 Capítulo 51 -- "Não poderei descer" ------------------------Breve histórico do volume três T3 5 1 Em 1872, quando o primeiro testemunho do volume 3 foi escrito, toda a atividade denominacional dos adventistas do sétimo dia estava nos Estados Unidos, e em grande parte concentrada nos Estados centrais e do nordeste. Havia oitenta e seis pastores ordenados e licenciados pregando a mensagem e supervisionando a obra. Possuíamos e administrávamos uma casa publicadora e uma pequena instituição médica, ambas em Battle Creek, Michigan. Durante um quarto de século Deus conduziu Seu povo tão rápido quanto eles podiam avançar inteligentemente e em uníssono, primeiro na clara compreensão das doutrinas ensinadas através da palavra, e depois no senso da responsabilidade de publicar a mensagem, de organizar a igreja, e depois quanto a um melhor estilo de vida. Mas novas experiências e grandes oportunidades de progredir foram colocadas diante da igreja. Os conselhos do volume 3 preparam o caminho para isso. T3 5 2 Durante os anteriores vinte e cinco anos críticos, o Pastor Tiago White foi o líder da nova causa. Ele deu início à obra de publicações, labutou incansavelmente pela organização da igreja, desenvolveu a obra médica e encabeçou tanto a área administrativa como a editorial. Ele foi o pioneiro do movimento. Com sua inteligente visão administrativa e sua dedicação total à igreja em desenvolvimento, ele foi reconhecido como o líder. Assim sendo, era muito natural que outros deixassem de perceber que precisavam dar um passo à frente e assumir responsabilidades nos vários empreendimentos da denominação em desenvolvimento. Este volume começa com um debate acerca desse problema e com um apelo aos portadores de responsabilidades para encarregarem-se da obra na sede da organização, aliviando Tiago White, pois ele estava sucumbindo sob o peso das responsabilidades. Vez após outra, através deste volume, é feita referência à obra em expansão, ao aumento das responsabilidades e à necessidade de homens mais novos assumirem e arcarem com as responsabilidades. Os perigos de confiar em um só homem como o grande líder foram claramente expostos. T3 5 3 As experiências desse período são semelhantes às de uma águia ensinando seus filhotes a voar -- primeiro levando a avezinha sobre suas costas e então deixando-a desenvolver a própria força, mas com os pais sempre suficientemente perto para prestar auxílio quando necessário. A saúde debilitada de Tiago White, sua convicção de que outros deveriam aliviar-lhe as responsabilidades, e os freqüentes chamados ao dever em outros lugares, tudo contribuía para separá-lo dos interesses administrativos em Battle Creek. Conquanto o Pastor e a Sra. White mantivessem seu lar a meio caminho entre o hospital e a casa publicadora na cidade que abrigava a sede, freqüentemente os encontramos em lugares distantes. No verão de 1872 e de 1873 eles desfrutaram períodos de descanso nas montanhas do Colorado, e passaram também alguns meses na Califórnia. Um período bem maior foi passado na Costa Ocidental em 1874, quando o Pastor White começou a publicação da revista Signs of the Times. Portanto, outros foram forçados a assumir responsabilidades de liderança na sede, e a obra ganhou força. T3 6 1 Esse período também foi crítico, pois durante o tempo em que a igreja estava encontrando o caminho em matéria de liderança e organização, alguns foram inclinados a indevidamente salientar a independência individual, correndo o risco de repetir a experiência de Coré, Datã e Abirão na rebelião contra as autoridades devidamente constituídas. Espalhados no volume 3 estão conselhos que proporcionam uma influência definitivamente estabilizadora através dessas experiências. Aqui e ali estão enumerados em magníficas declarações importantes princípios de organização e liderança. T3 6 2 O período de três anos abrangido por este volume marcou também o fim da primeira década de ensino e prática da reforma de saúde. Conselhos foram dados no sentido de guardar-se contra extremismo por um lado e indiferença por outro. Repetidas vezes, em artigos gerais e testemunhos pessoais, Ellen White destacou os importantes princípios de temperança e correto estilo de vida, e convocou o povo a progredir em sua nova e proveitosa experiência da reforma de saúde. T3 6 3 Tudo isso estava lançando as pedras do alicerce para uma expansão mais ampla. Foi nesse período que os crentes começaram a ter um vislumbre do mundo inteiro como seu campo de ação. Era uma perspectiva esmagadora que representava um desafio. Eles não compreendiam então o significado da pequena escola da igreja iniciada em Battle Creek por Goodloe H. Bell, um professor experiente que aceitara o adventismo através de contatos como paciente do hospital. Foi no início do verão de 1872 que ele começou essa escola. Um pouco mais tarde naquele ano, começou-se a traçar planos para uma escola mais avançada para educar obreiros. Em Dezembro, quando o Testemunho n 22 chegou às mãos dos membros, eles descobriram que ele iniciava com um apelo para a organização de uma escola assim e com orientações acerca de como essa escola devia ser administrada. "A Educação Ideal" é o título do artigo de trinta páginas que apresenta a grande visão básica sobre a educação de nossos jovens. Como poderíamos circundar o mundo com nossa mensagem a menos que estabelecêssemos um ministério educacional? Como poderia existir um ministério educacional a menos que tivéssemos uma escola? Levantando-se para atender às instruções e enfrentar o desafio tão claramente apresentado nas páginas 131-160 deste volume, nossos antepassados estabeleceram um sistema educacional começando com o Colégio de Battle Creek. Seu prédio principal foi dedicado a 4 de Janeiro de 1875. T3 7 1 Uns poucos meses antes desta grandiosa ocasião, o Pastor John N. Andrews, um dos nossos pastores de maior êxito, foi enviado à Suíça para iniciar a proclamação da mensagem na Europa. Nos conselhos de poucos meses antes, Ellen White havia escrito acerca da necessidade de missionários "irem a outras nações pregar a verdade de maneira cuidadosa e vigilante". -- Pág. 204. Com a viagem do Pastor Andrews no outono de 1874, os adventistas do sétimo dia começaram a voltar sua atenção para outras terras. T3 7 2 É interessante notar como foram oportunas as mensagens de orientação e conselhos que chegaram até nós com o passar dos anos. Desde o ano de 1859, os adventistas do sétimo dia fizeram progresso assumindo suas responsabilidades para com Deus ao discernirem o assunto da mordomia na doação sistemática; mas não compreenderam desde o início a plena responsabilidade do dízimo, a décima parte de seus rendimentos. Mas em dois artigos, no centro do volume 3, a base do cálculo da responsabilidade do dízimo foi esclarecida quando a mensageira do Senhor escreveu acerca da "décima parte" dos "rendimentos" e dos "nove décimos" que restavam. Não foi senão em 1879 que este mais amplo conceito da doação sistemática passou a fazer parte das praxes denominacionais, mas esse passo que tanto contribuiu para garantir a necessária estabilidade da receita para uma obra em crescimento teve suas raízes nos conselhos dos dois capítulos, "Dízimos e Ofertas" e "Doação Sistemática", publicados no início de 1875. O conceito mais amplo da verdadeira mordomia foi discernido ao sermos levados a perceber que o plano de doações fora designado por Deus, não meramente para levantar fundos, mas como um meio de desenvolver e aperfeiçoar o caráter do doador. T3 7 3 Como era de se esperar, um agressivo programa de evangelismo levou a conflito com outros grupos religiosos, os quais freqüentemente nos desafiavam para debate e argumentação. Dez anos antes, Moses Hull, um de nossos pastores, desviou-se do caminho ao colocar-se em terreno inimigo devido a tais discussões. Agora repetidos conselhos apresentavam orientações destacando os perigos e o resultado insignificante de tais esforços contenciosos. O volume 3 tem abundância desses conselhos. T3 7 4 Por isso, os tópicos deste volume variam desde conselhos a ricos fazendeiros e esposas iletradas até instruções para pastores e executivos. Os artigos em geral preenchem a maior parte do volume. Aqui e ali são encontradas mensagens pessoais, publicadas para benefício de todos, porque, como escreveu Ellen G. White, a maioria delas está relacionada com experiências "que em muitos aspectos representam o caso de outros". T3 8 1 Algumas revelações extraordinárias formam a base da maior parte deste volume. Durante esse período, as visões extraordinárias foram menos freqüentes, porém mais abrangentes. Vez após outra são mencionadas as abrangentes visões de 10 de Dezembro de 1871 e de 3 de Janeiro de 1875. A última é descrita por Tiago White no rodapé da página 570. As circunstâncias da primeira serão mais amplamente descritas aqui. Essa visão foi recebida em Bordoville, Vermont. Um relatório da reunião realizada naquele local, a 9 e 10 de Dezembro, foi enviado à Review pelo Pastor A. C. Bordeau, em cuja residência ela ocorreu. Por meio deste, aprendemos que a Sra. White havia labutado "especialmente pela igreja". Em uma das reuniões vespertinas "testemunhos especiais foram apresentados a pessoas que estavam presentes; e à medida que estes eram confirmados [pelas pessoas a quem eram dirigidos], esclarecimento e franqueza tiveram lugar". No domingo à tarde, dois filhos de um dos fiéis e a esposa de um deles foram despedir-se de Ellen White. Eles haviam estado "apostatados". Então o Pastor Bourdeau apresenta um vívido quadro do que aconteceu: T3 8 2 "A essa altura, a irmã White sentiu verdadeira preocupação pelo caso deles, anseio por sua salvação, e deu-lhes valiosas instruções. Ela então se ajoelhou com eles e orou por eles com grande fervor, fé e insistência para que voltassem para o Senhor. Eles admitiram e oraram, prometendo servir a Deus. O Espírito do Senhor Se aproximou mais e mais. A irmã White sentiu-se livre, e logo, de maneira inesperada para todos, foi tomada em visão. Ela permaneceu nessa situação durante quinze minutos. T3 8 3 "As novas se espalharam e dentro de pouco tempo a casa estava repleta. Pecadores tremiam, fiéis choravam e apostatados voltavam para Deus. A obra não estava confinada aos que estavam presentes, como aprendemos desde então. Alguns dos que haviam permanecido em casa estavam absolutamente convencidos. Viam a si mesmos como nunca dantes. O anjo de Deus fazia tremer o lugar. A brevidade do tempo, o pavor e a proximidade dos juízos e do tempo de angústia, a mentalidade mundana da igreja, sua falta de amor fraternal e de prontidão para encontrar o Senhor estavam fortemente gravados na mente de todos." -- The Review and Herald, 26 de Dezembro de 1871. Depositários do Patrimônio Literário White. ------------------------Capítulo 1 -- Portadores de responsabilidades T3 9 1 Prezados Irmãos e Irmãs: T3 9 2 Sinto-me compelida neste momento a cumprir um dever há muito negligenciado. T3 9 3 Antes da enfermidade perigosa e prolongada de meu marido, ele fez durante anos mais trabalho do que dois homens deveriam ter feito no mesmo período. Ele não encontrava tempo para aliviar-se da pressão dos cuidados e obter repouso mental e físico. Através dos testemunhos foi advertido de seu perigo. Foi-me mostrado que ele fazia demasiado trabalho mental. Vou transcrever aqui um testemunho escrito, dado em 26 de Agosto de 1855: T3 9 4 "Quando em Paris, Maine, foi-me mostrado que a saúde de meu marido estava em condição crítica, que sua ansiedade mental tinha sido excessiva para sua força. Quando a verdade presente foi publicada pela primeira vez, ele fez grande esforço e labutou com pouco encorajamento ou auxílio de seus irmãos. Desde o início, assumiu responsabilidades que eram excessivas para sua força física. T3 9 5 "Essas responsabilidades, se fossem igualmente partilhadas, não teriam sido tão exaustivas. Enquanto meu esposo assumia muita responsabilidade, alguns de seus irmãos no ministério não estavam dispostos a assumir nenhuma. E aqueles que evitavam trabalhos e responsabilidades não compreendiam as obrigações dele, e não estavam interessados no progresso da obra e causa de Deus como deviam ter estado. Meu marido sentiu esta falta e tomou sobre os ombros os encargos que eram demasiado pesados e que quase o esmagavam. Como resultado desses esforços extras mais pessoas serão salvas, mas tais esforços prejudicaram sua constituição física e o privaram de energia. Tem-me sido mostrado que ele deve em grande medida pôr de lado sua ansiedade; Deus deseja que ele seja aliviado desse trabalho exaustivo, e que ele gaste mais tempo no estudo das Escrituras e na companhia dos filhos, procurando desenvolver-lhes a mente. T3 10 1 "Vi que não é nosso dever nos afligir com provações individuais. Tal esforço mental suportado pelas faltas de outros deve ser evitado. Meu marido pode continuar a trabalhar com toda sua energia, como tem feito, e como resultado descer à sepultura, e seus trabalhos para a causa de Deus serem perdidos; ou ele pode ser aliviado, enquanto ainda tem alguma força, e viver mais tempo, e seus trabalhos serem mais eficientes." T3 10 2 Vou agora transcrever de um testemunho dado em 1859: "Em minha última visão foi-me mostrado que o Senhor desejava que meu marido se entregasse mais ao estudo das Escrituras, para que ele fosse qualificado a trabalhar mais eficientemente na palavra e doutrina, tanto no falar como no escrever. Vi que no passado tínhamos esgotado nossas energias por causa de muita ansiedade e cuidado para conduzir a igreja a uma posição correta. Esse trabalho cansativo em vários lugares, assumindo as responsabilidades da igreja, não é exigido; porque a igreja devia assumir os próprios encargos. Nosso trabalho é instruí-los na Palavra de Deus, insistir com eles sobre a necessidade de religião prática e definir tão claramente quanto possível a posição correta com respeito à verdade. Deus deseja que ergamos nossa voz na grande congregação sobre pontos da verdade presente que são de importância vital. Estes devem ser apresentados com clareza e decisão, e devem também ser postos por escrito, para que os mensageiros silenciosos os levem ao povo por toda parte. Uma consagração mais completa ao trabalho essencial é requerida de nossa parte; devemos ser sinceros para viver à luz do semblante de Deus. Se nossa mente fosse menos ocupada com problemas da igreja, seria mais livre para ser exercitada em assuntos bíblicos; e uma maior dedicação à verdade bíblica acostumaria a mente a seguir nesta direção, e seríamos assim melhor qualificados para a importante obra a nós confiada. T3 11 1 "Foi-me mostrado que Deus não coloca sobre nós responsabilidades tão pesadas como temos levado no passado. É nosso dever falar à igreja e mostrar aos membros a necessidade de trabalharem por si mesmos. Eles têm sido carregados por tempo demasiado. A razão por que não se deveria exigir de nós assumir pesadas responsabilidades e nos empenhar em atividade embaraçosa é que o Senhor tem trabalho de outra natureza para executarmos. Ele não deseja que esgotemos nossas energias físicas e mentais, mas as mantenhamos em reserva, para que em ocasiões especiais, sempre que ajuda seja realmente necessária, nossa voz possa ser ouvida. T3 11 2 "Vi que mudanças importantes seriam feitas, nas quais nossa influência seria requerida para liderar; que influências surgiriam, e erros seriam ocasionalmente introduzidos na igreja, e então nossa influência seria exigida. Mas se estivéssemos exaustos por trabalhos anteriores, não possuiríamos aquele discernimento calmo, prudência e autocontrole necessários para a ocasião importante na qual Deus desejaria que desempenhássemos parte relevante. T3 11 3 "Satanás tem prejudicado nossos esforços afetando a igreja de modo a exigir de nós trabalho quase dobrado para abrirmos caminho através de escuridão e descrença. Estes esforços para colocar as coisas em ordem nas igrejas têm esgotado nossa força, e resultaram em cansaço e debilidade. Vi que temos um trabalho a fazer, mas o adversário das almas impedirá todos os nossos esforços. O povo pode estar em um estado de apostasia, de modo que Deus não o possa abençoar, e isso será desalentador; mas não devemos ser desencorajados. Precisamos cumprir nosso dever em apresentar a luz, e deixar a responsabilidade com o povo." T3 11 4 Transcreverei aqui um outro testemunho, escrito em 6 de Junho de 1863: "Foi-me mostrado que nosso testemunho é ainda necessário na igreja, que devemos nos esforçar para nos pouparmos de provas e cuidados, e que devemos preservar uma piedosa atitude mental. É dever daqueles no Escritório usar mais seu cérebro, e de meu marido usar menos o seu. Muito tempo é gasto por ele em várias questões que confundem e cansam a mente, e o desqualificam para estudar ou escrever, e assim impede que sua luz brilhe na Review como deve. T3 12 1 "A mente de meu marido não deve ser abarrotada e sobrecarregada. Precisa ter descanso, e ele deve ser deixado livre para escrever e cuidar de assuntos que outros não podem cuidar. Os que trabalham no Escritório poderiam remover dele um grande fardo de cuidados se eles se dedicassem a Deus e sentissem profundo interesse na obra. Não deve haver sentimentos egoístas entre aqueles que trabalham no Escritório. Estão empenhados na obra de Deus, e terão de dar contas a Ele por seus motivos e pela maneira como este ramo da obra é efetuado. Requer-se que disciplinem a mente. Muitos acham que o esquecimento não deve ser condenado. Isso é um grande erro. Esquecimento é pecado. Resulta em muitas confusões, muitos transtornos e muitos erros. Coisas que devem ser feitas não devem ser esquecidas. A mente precisa ser posta à prova; precisa ser disciplinada até que se lembre. T3 12 2 "Meu marido tem tido excessiva preocupação e tem feito muitas coisas que outros deviam ter feito, mas que ele receava dar-lhes a fazer, com medo que em sua desatenção cometessem erros não facilmente remediados, e assim resultar em perdas. Isso tem sido uma fonte de perplexidade à sua mente. Aqueles que trabalham no Escritório devem aprender. Devem estudar, praticar e exercitar o cérebro; pois têm só esse ramo de atividade, enquanto meu marido tem a responsabilidade de muitos departamentos da obra. Se um funcionário comete um erro, deve sentir que cabe a ele indenizar o prejuízo do próprio bolso, e não deve permitir que o Escritório sofra prejuízo por causa de seu descuido. Ele não deve deixar de assumir responsabilidades, mas deve tentar de novo, evitando os erros anteriores. Desse modo, aprenderá a ter o cuidado que a Palavra de Deus sempre requer, e então não fará mais do que seu dever. T3 13 1 "Meu marido deve tomar tempo para agir de acordo com o que seu julgamento lhe diz que preservaria sua saúde. Ele pensa que deve abandonar os fardos e responsabilidades que estavam sobre ele, e deixar o Escritório, ou sua mente seria arruinada. Foi-me mostrado que, quando o Senhor o liberasse de sua posição, Ele lhe daria uma evidência tão clara de sua liberação como lhe deu quando colocou a responsabilidade do trabalho sobre ele. Mas ele tem assumido demasiadas responsabilidades, e os que trabalham com ele no Escritório, e também seus irmãos no ministério, têm estado satisfeitos demais por ele as assumir. Eles têm se esquivado, como regra, de assumir responsabilidades, e têm-se simpatizado com aqueles que estavam murmurando contra ele, e que o tinham deixado só, enquanto era esmagado pela censura, até que Deus vindicou Sua causa. Se eles tivessem assumido uma parte das responsabilidades, meu marido teria sido aliviado. T3 13 2 "Vi que Deus agora requer que tomemos cuidado especial com a saúde que nos deu, porque nosso trabalho ainda não acabou. Nosso testemunho precisa ainda ser dado e terá influência. Devemos preservar nossa força para labutar na causa de Deus quando o nosso trabalho for necessário. Devemos ter o cuidado de não tomar sobre nós mesmos encargos que outros podem e devem levar. Devemos incentivar alegre, esperançosa e tranqüila disposição de espírito; pois nossa saúde depende de fazermos isso. A obra que Deus requer que façamos não impedirá que cuidemos de nossa saúde, para que possamos recuperar-nos do efeito do trabalho exaustivo. Quanto mais perfeita for a nossa saúde, tanto mais perfeito será o nosso trabalho. Quando sobrecarregamos nossas forças e ficamos exaustos, estamos sujeitos a pegar um resfriado, e nessas ocasiões existe o risco de que a doença assuma uma forma perigosa. Não devemos deixar o cuidado de nós mesmos com Deus, quando Ele colocou essa responsabilidade sobre nós." T3 13 3 No dia 25 de Outubro de 1869, em Adams Center, Nova Iorque, foi-me mostrado que alguns pastores entre nós deixam de levar toda a responsabilidade que Deus deseja que levem. Esta falta lança trabalho extra sobre aqueles que são portadores de responsabilidades, especialmente sobre meu marido. Alguns pastores deixam de sair e arriscar algo na causa e obra de Deus. Decisões importantes precisam ser tomadas, mas como o homem mortal não pode ver o fim desde o princípio, alguns se esquivam de aventurar-se e avançar como a providência de Deus conduz. Alguém precisa avançar; alguém precisa aventurar-se no temor de Deus, deixando o resultado com Ele. Esses pastores que evitam essa parte do trabalho estão perdendo muito. Estão deixando de obter a experiência que Deus designou que tivessem para fazê-los homens fortes e eficientes com os quais se pode contar em qualquer emergência. T3 14 1 Irmão A, você se esquiva de correr riscos. Não está disposto a aventurar-se quando não pode ver o caminho perfeitamente claro. Mas alguém precisa fazer esse trabalho; alguém precisa andar pela fé, ou nenhum avanço será feito, e nada será realizado. O receio de que você poderá cometer equívocos e dar passos errados, e então ser culpado, restringe-o. Você se desculpa de não assumir responsabilidade porque cometeu alguns erros no passado. Mas você deve mover-se segundo seu melhor discernimento, deixando o resultado com Deus. Alguém precisa fazê-lo, e é uma posição difícil para qualquer um. Uma pessoa não deve levar toda essa responsabilidade sozinha, mas com muita reflexão e fervorosa oração ela deve ser uniformemente partilhada. T3 14 2 Durante a enfermidade de meu marido, o Senhor testou e provou Seu povo, para revelar o que estava no coração deles; e assim fazendo, mostrou-lhes o que estava oculto neles mesmos que não era de acordo com o Espírito de Deus. As circunstâncias difíceis sob as quais fomos colocados revelou acerca de nossos irmãos aquilo que de outro modo nunca teria sido revelado. O Senhor provou a Seu povo que a sabedoria do homem é loucura e que, a menos que possuam firme apoio e confiança em Deus, seus planos e projetos se provarão um fracasso. Devemos aprender de todas essas coisas. Se erros são cometidos, eles devem ensinar e instruir, mas não levar a esquivar-se de encargos e responsabilidades. Onde muito está em jogo, e onde questões de conseqüência vital devem ser consideradas, e importantes problemas resolvidos, os servos de Deus devem assumir responsabilidade individual. Não podem depor o fardo e ainda fazer a vontade de Deus. Alguns pastores são deficientes nas qualificações necessárias para edificação das igrejas, e não estão dispostos a gastar-se na causa de Deus. Não têm a disposição de dar-se inteiramente ao trabalho, com seu interesse indivisível, seu zelo inquebrantável, sua paciência e perseverança incansáveis. Com estas qualificações em exercício ativo, as igrejas seriam mantidas em ordem, e os trabalhos de meu marido não seriam tão pesados. Nem todos os pastores têm sempre em mente que o trabalho de todos deve sofrer a inspeção do juízo, e que cada um será galardoado "segundo as suas obras". Apocalipse 22:12. T3 15 1 Irmão A, você tem uma responsabilidade a desempenhar em relação ao Instituto de Saúde.* Você deve ponderar, deve refletir. Freqüentemente o tempo que gasta lendo é o melhor tempo para você refletir e estudar o que deve ser feito para pôr as coisas em ordem no Instituto e no Escritório. Meu marido assume essas responsabilidades porque vê que o trabalho a favor destas instituições deve ser feito por alguém. Como outros não tomam a frente, ele preenche a lacuna e supre a deficiência. T3 15 2 Deus tem avisado e advertido meu marido a respeito da conservação de suas forças. Foi-me mostrado que ele foi restaurado pelo Senhor, e que vive como um milagre da graça -- não a fim de assumir de novo os fardos sob os quais já caiu uma vez, mas para que o povo de Deus seja beneficiado por sua experiência em fazer avançar os interesses gerais da causa, e em conexão com o trabalho que o Senhor me deu, e a responsabilidade que Ele colocou sobre mim. T3 15 3 Irmão A, grande cuidado deve ser exercido por você, especialmente em Battle Creek. Ao fazer visitas, sua conversação deve ser sobre os assuntos mais importantes. Seja cuidadoso em apoiar o preceito pelo exemplo. Este é um cargo importante e exigirá trabalho. Enquanto estiver aqui, você deve tomar tempo para pensar nas muitas coisas que precisam ser feitas e que requerem reflexão solene, atenção cuidadosa e oração sincera e fiel. Você deve ter tanto interesse nas coisas relacionadas com a causa, ao trabalhar no Instituto de Saúde e no Escritório de publicações, como meu marido tem; deve sentir que o trabalho é seu. Você não pode fazer o trabalho para o qual Deus habilitou de modo especial meu marido, nem ele pode fazer o trabalho para o qual de modo especial Deus capacitou você a fazer. Mas ambos, unidos em trabalho harmonioso, você em seu escritório e meu marido no dele, podem realizar muito. T3 16 1 A obra na qual temos um interesse comum é grande; e obreiros eficientes, dispostos, responsáveis são verdadeiramente poucos. Deus lhe dará forças, meu irmão, se você avançar e servi-Lo. Ele dará a meu marido e a mim força em nosso trabalho unido, se fizermos tudo para Sua glória, de acordo com nossa habilidade e força para trabalhar. Você deve ser colocado onde teria oportunidade mais favorável de exercer seu dom segundo a habilidade que Deus lhe deu. Você deve apoiar-se inteiramente em Deus e dar-Lhe a oportunidade de ensiná-lo, conduzi-lo e impressioná-lo. Você sente um profundo interesse na obra e causa de Deus, e deve esperar dEle luz e orientação. Ele lhe dará luz. Mas, como embaixador de Cristo, espera-se que você seja fiel, que corrija o mal com mansidão e amor, e seus esforços não serão em vão. T3 16 2 Desde que meu marido se recuperou de sua fraqueza, temos trabalhado diligentemente. Não procuramos nossa comodidade ou prazer. Temos viajado e trabalhado em reuniões campais e sobrecarregado nossas forças, de modo que isso acarretou-nos debilidade, sem as vantagens de descanso. Durante o ano de 1870 assistimos a 12 reuniões campais. Em várias destas reuniões, a responsabilidade do trabalho recaiu quase inteiramente sobre nós. Viajamos de Minnesota ao Maine, e então a Missouri e Kansas. T3 16 3 Meu marido e eu trabalhamos para aperfeiçoar a Health Reformer* e fazer dela uma revista interessante e proveitosa, que fosse apreciada, não só por nosso povo, mas por todas as classes. Essa foi uma carga pesada para ele. Fez também melhorias importantes nas revistas Review e Instructor. Ele realizou o trabalho que devia ter sido partilhado por três homens. E enquanto todo este trabalho recaiu sobre ele no ramo de publicações da obra, o departamento de negócios no Instituto de Saúde e na Sociedade de Publicações exigia o trabalho de dois homens para livrá-los de embaraço financeiro. T3 17 1 Homens infiéis a quem foram confiados trabalhos no Escritório e no Instituto tinham, por causa de egoísmo e falta de consagração, deixado as coisas na pior condição possível. Havia negócios não resolvidos que precisavam de atenção. Meu marido preencheu a lacuna e trabalhou com toda sua energia. Ele estava se extenuando. Percebíamos que estava em perigo; mas não sabíamos como poderia parar, a menos que o trabalho no Escritório cessasse. Quase cada dia surgia uma nova perplexidade, alguma nova dificuldade causada pela infidelidade das pessoas que tinham tomado conta do trabalho. Seu cérebro foi sobrecarregado ao máximo. Mas as piores perplexidades estão agora no passado, e o trabalho avança de modo próspero. T3 17 2 Na Associação Geral meu marido insistiu para ser liberado dos encargos postos sobre ele; mas, não obstante sua insistência, a responsabilidade de editar as revistas Review e Reformer foi colocada sobre ele, com o encorajamento de que pessoas que assumissem fardos e responsabilidades seriam estimuladas a se estabelecer em Battle Creek. Mas até agora nenhuma ajuda veio para tirar dele a responsabilidade do setor financeiro no Escritório. T3 17 3 Meu marido está se esgotando rapidamente. Assistimos às quatro reuniões campais do Oeste e nossos irmãos estão insistindo que assistamos às reuniões do Leste. Mas não ousamos assumir responsabilidades adicionais. Quando voltamos do trabalho das campais do Oeste, em Julho de 1871, encontramos inúmeros trabalhos que haviam se acumulado na ausência de meu marido. Ainda não tivemos oportunidade de descanso. Meu marido precisa ser aliviado das responsabilidades que sobre ele pesam. Há muitos que usam o cérebro dele em vez de usarem o próprio. À vista da luz que Deus Se agradou em nos dar, insistimos com vocês, meus irmãos, a liberar meu marido. Não estou disposta a arriscar as conseqüências de meu marido continuar trabalhando como tem feito. Ele os serviu fiel e desinteressadamente durante anos, e finalmente caiu sob o peso dos encargos colocados sobre ele. Então seus irmãos, em quem ele confiara, abandonaram-no. Eles o deixaram cair em minhas mãos, e o desampararam. Por quase dois anos fui sua enfermeira, sua assistente, sua médica. Não quero passar pela experiência uma segunda vez. Irmãos, vão vocês levantar nossos fardos, e permitir que preservemos nossas forças como Deus gostaria, para que a causa como um todo possa ser beneficiada pelos esforços que poderemos fazer com a força que Ele nos dá? Ou nos permitirão ficar debilitados de modo a nos tornarmos inúteis para a causa? T3 18 1 O trecho anterior deste apelo foi lido na reunião campal de New Hampshire, em Agosto de 1871. T3 18 2 Quando voltamos de Kansas, no outono de 1870, o irmão B estava em casa com febre. A irmã Van Horn, ao mesmo tempo, estava ausente do Escritório em conseqüência da febre que lhe sobreveio pela morte súbita de sua mãe. O irmão Smith estava também ausente do Escritório, em Rochester, Nova Iorque, recuperando-se de uma febre. Havia grande quantidade de trabalho inacabado no Escritório, contudo o irmão B deixou seu posto para satisfazer o próprio prazer. Esse fato em sua experiência é uma amostra do homem que ele é. Deveres sagrados pouco lhe importam. T3 18 3 Prosseguir em tal conduta foi uma grande violação da confiança que sobre ele repousava. Que contraste marcante com isso é a vida de Cristo, nosso Modelo! Ele era o Filho de Jeová, e o Autor de nossa salvação. Trabalhou e sofreu por nós. Negou a Si mesmo, e Sua vida inteira foi uma cena contínua de labuta e privação. Houvesse Ele preferido proceder assim, poderia ter passado Seus dias em um mundo de Sua criação, em comodidade e fartura, e reivindicado todos os prazeres e alegrias que o mundo Lhe podia dar. Ele, porém, não considerou Suas próprias conveniências. Viveu, não para agradar a Si mesmo, mas para fazer o bem e prodigalizar Suas bênçãos aos outros. T3 18 4 O irmão B estava com febre. Seu caso era crítico. Para fazer justiça à causa de Deus, sinto-me compelida a afirmar que sua doença não era o resultado de dedicação incansável aos interesses do Escritório. Contágio imprudente numa viagem a Chicago, para divertimento, foi a causa de sua enfermidade longa e enfadonha. Deus não o protegeu ao deixar o trabalho, quando tantos que ocupavam posições importantes no Escritório estavam ausentes. Exatamente quando ele não devia faltar sequer por uma hora, deixou seu posto de dever e Deus não o protegeu. T3 19 1 Não houve para nós período de descanso, por muito que disso necessitássemos. Deviam ser editadas as revistas Review, Reformer e Instructor. Muitas cartas tinham sido postas de lado até voltarmos para examiná-las. As coisas estavam em um estado lastimável no Escritório. Tudo precisava ser posto em ordem. Meu marido começou seu trabalho, e eu o ajudei tanto quanto podia; mas isso foi pouco. Ele trabalhou incessantemente para acertar questões complicadas de negócio e para melhorar a condição de nossos periódicos. Ele não podia depender do auxílio de nenhum de seus irmãos no ministério. Sua cabeça, coração e mãos estavam repletos. Ele não foi animado pelos irmãos A e C, quando sabiam que ele respondia sozinho pelas responsabilidades em Battle Creek. Eles não lhe apoiaram as mãos. Escreveram de um modo muito desanimador sobre a saúde precária deles, e que estavam tão exaustos que não se podia contar com eles para efetuar qualquer trabalho. Meu marido viu que não se podia esperar nada naquele sentido. Não obstante seu trabalho duplo através do verão, ele não podia repousar. E, sem considerar sua debilidade, ele se aplicou a fazer a obra que outros haviam negligenciado. T3 19 2 A revista Reformer estava praticamente morta. O irmão B insistira nos pontos de vista extremos do Dr. Trall. Isto influenciara o doutor a se externar no Reformer de modo mais radical, quanto a deixar o uso do leite, açúcar e sal. A atitude de dever-se abandonar inteiramente o uso desses artigos pode estar certa, a seu tempo; mas não viera ainda a ocasião de assumir uma atitude geral quanto a esses pontos. E os que assumem tal posição, defendendo o completo abandono do leite, manteiga e açúcar, devem afastar de sua mesa essas coisas. O irmão B, mesmo enquanto se punha ao lado do Dr. Trall no Reformer, quanto ao efeito nocivo do sal, leite e açúcar, não praticava o que ensinava. Esses artigos eram usados diariamente em sua mesa. T3 20 1 Muitos dentre nosso povo haviam perdido o interesse no Reformer, e recebiam-se diariamente cartas com este pedido desanimador: "Queiram cancelar minha assinatura do Reformer." Recebemos cartas do Oeste, onde a região é nova e as frutas são escassas, perguntando: "Como os amigos da reforma de saúde vivem em Battle Creek? Dispensam eles o sal inteiramente? Se for verdade, não podemos no presente adotar a reforma de saúde. Só podemos obter pouca fruta, e abandonamos o uso de carne, chá, café e fumo; mas precisamos ter algo para sustentar a vida." T3 20 2 Tínhamos passado algum tempo no Oeste, e sabíamos da escassez de fruta, e simpatizávamos com nossos irmãos que estavam conscienciosamente procurando estar em harmonia com a corporação de adventistas guardadores do sábado. Eles estavam ficando desanimados, e alguns estavam abandonando a reforma de saúde, receando que em Battle Creek eles eram radicais e fanáticos. Em nenhum lugar do Oeste pudemos despertar interesse no sentido de obter assinaturas do Health Reformer. Vimos que os colaboradores do Reformer se afastavam do povo, deixando-o para trás. Se adotamos opiniões que os cristãos conscienciosos, que são de fato reformadores, não podem adotar, como esperar beneficiar a classe de pessoas que só podemos alcançar na área da saúde? T3 20 3 Não devemos ir mais depressa do que nos possam acompanhar aqueles cuja consciência e intelecto estão convencidos das verdades que defendemos. Devemos ir ao encontro do povo onde ele se acha. Alguns dentre nós levaram muitos anos para chegar à posição em que se encontram agora, na questão da reforma de saúde. É obra lenta efetuar uma reforma no regime alimentar. Temos de enfrentar fortes desejos, pois o mundo é dado à glutonaria. Se concedêssemos ao povo tanto tempo quanto nós levamos para chegar ao atual estado avançado na reforma, seríamos muito pacientes com eles, e permitiríamos que avançassem passo a passo, como fizemos nós, até que seus pés estivessem firmemente estabelecidos na plataforma da reforma de saúde. Devemos, porém, ser muito cautelosos para não avançar muito depressa, para que não sejamos obrigados a voltar atrás. Em matéria de reformas, é melhor ficar um passo aquém da meta do que avançar um passo além. E se houver algum erro, seja do lado mais favorável ao povo. T3 21 1 Acima de tudo, não devemos defender com a pena posições que não pomos à prova prática em nossa própria família, em nossas próprias mesas. Isso é uma dissimulação, uma espécie de hipocrisia. No Michigan podemos passar melhor sem sal, açúcar e leite do que muitos que moram no Extremo Oeste ou no Extremo Leste [dos Estados Unidos], onde há escassez de frutas. Mas há muito poucas famílias em Battle Creek que não põem esses artigos sobre suas mesas. Sabemos que o livre uso desses artigos é positivamente nocivo à saúde, e em muitos casos pensamos que, se não fossem usados absolutamente, desfrutar-se-ia muito melhor estado de saúde. T3 21 2 Mas no presente nossa preocupação não é em relação a essas coisas. O povo está tão atrasado que vemos que tudo que pode suportar agora é que o esclareçamos quanto às condescendências nocivas e os estimulantes narcóticos. Apresentamos positivo testemunho contra o fumo, as bebidas alcoólicas, rapé, chá, café, alimentos cárneos, manteiga, condimentos, bolos requintados, tortas de carne, excesso de sal, e todas as substâncias estimulantes usadas como alimento. T3 21 3 Se, aproximando-nos de pessoas que não foram esclarecidas em relação à reforma de saúde, lhes apresentarmos a princípio as atitudes mais radicais, há perigo de se desanimarem ao verem quanto têm que renunciar, de maneira que não farão esforços para reformar-se. Temos de guiar o povo ao longo do caminho paciente e gradualmente, lembrados da profundeza do abismo de onde fomos alçados. ------------------------Capítulo 2 -- Habilidade não santificada T3 22 1 Foi-me mostrado que o irmão B tem sérios defeitos de caráter, que o desqualificam a estar intimamente ligado com a obra de Deus onde responsabilidades importantes devem ser assumidas. Ele tem suficiente habilidade mental, mas o coração e as afeições não têm sido santificados para Deus; portanto, não se pode confiar nele como qualificado para uma obra tão importante como a publicação da verdade no Escritório em Battle Creek. Um erro ou negligência do dever nesta obra afeta a causa de Deus como um todo. O irmão B não percebeu seus defeitos, por isso não se reforma. T3 22 2 É por pequenas coisas que nosso caráter é formado em hábitos de integridade. Você, meu irmão, tem estado disposto a subestimar a importância dos pequenos incidentes da vida diária. Este é um grande erro. Nada que tenhamos a fazer é realmente insignificante. Toda ação é de algum peso, ou do lado certo ou do lado errado. É somente agindo por princípio nas pequenas transações comuns da vida que somos provados e nosso caráter formado. Nas variadas circunstâncias da vida somos testados e provados, e assim adquirimos poder para resistir às provas maiores e mais importantes que nos toca suportar, e somos qualificados para preencher posições ainda mais importantes. Deve a mente ser exercitada por meio de provas diárias a hábitos de fidelidade, a uma percepção das reivindicações do que é certo e do dever acima da inclinação e do prazer. As mentes assim exercitadas não hesitam entre o certo e o errado, como o junco oscila ao vento; mas tão logo se lhes apresente o assunto, discernem imediatamente que princípio está envolvido, e instintivamente escolhem o certo sem discutir o assunto por muito tempo. São leais porque se exercitaram para hábitos de fidelidade e verdade. Sendo fiéis no mínimo, adquirem força, e torna-se-lhes fácil serem fiéis em grandes coisas. T3 22 3 A educação do irmão B não foi de natureza a fortalecer aquelas qualidades morais que o habilitariam a ficar de pé somente pela força de Deus na defesa da verdade, em meio da mais severa oposição, firme como uma rocha aos princípios, leal ao caráter moral, inabalável a louvor humano, censura ou recompensas, preferindo a morte de preferência a uma consciência violada. Tal integridade é necessária no Escritório de Publicações, de onde verdades solenes e sagradas estão saindo, pelas quais o mundo deve ser provado. T3 23 1 A obra de Deus requer homens de alto poder moral para empenhar-se em sua divulgação. Procuram-se homens cujo coração seja fortalecido com santo fervor, homens de firme propósito que não sejam facilmente abalados, que possam renunciar a todo interesse egoísta e dar tudo pela cruz e a coroa. A causa da verdade presente está precisando de homens que sejam leais à retidão e ao dever, cuja integridade moral seja firme, e cuja energia seja comparável à generosidade da providência de Deus. Qualificações como estas são de maior valor do que riqueza incalculável investida na obra e causa de Deus. Energia, integridade moral e forte propósito pelo que é reto são qualidades que não podem ser supridas com qualquer quantia de ouro. Homens que possuem estas qualidades terão influência em toda parte. A vida deles é mais poderosa do que eloqüência sublime. Deus requer homens de sensibilidade, homens inteligentes, homens de integridade moral, os quais Ele possa fazer depositários de Sua verdade, e que representarão corretamente Seus sagrados princípios na vida diária. T3 23 2 Em certos aspectos o irmão B tem uma habilidade que poucos possuem. Se seu coração fosse consagrado à obra, ele poderia preencher uma posição importante no Escritório com a aprovação de Deus. Ele precisa converter-se e humilhar-se como uma criancinha, e procurar a religião pura do coração, a fim de que sua influência no Escritório, ou na causa de Deus em qualquer parte, seja o que deveria ser. Como tem sido, sua influência tem prejudicado a todos os que estão ligados ao Escritório, mas especialmente os jovens. Sua posição como chefe lhe deu influência. Ele não se conduziu conscienciosamente no temor de Deus. Favoreceu a uns mais do que a outros. Negligenciou aqueles que por sua fidelidade e habilidade mereciam encorajamento especial, e trouxe aflição e perplexidade àqueles pelos quais deveria ter um interesse especial. Os que ligam suas afeições e interesse a um ou dois, e os favorecem em detrimento de outros, não deviam nem por um dia manter sua posição no Escritório. Esse favoritismo não santificado a favor de alguns que agradam a sua fantasia, com negligência de outros que são conscienciosos e tementes a Deus, e a Seus olhos de mais valor, é ofensivo a Deus. Aquilo que Deus valoriza devemos valorizar. O adorno "de um espírito manso e quieto" (1 Pedro 3:4) Ele considera como de mais valor do que beleza externa, adorno exterior, riquezas ou honra mundana. T3 24 1 Os verdadeiros seguidores de Cristo não escolherão amizade íntima com aqueles cujo caráter tem sérios defeitos, e cujo exemplo como um todo não seria seguro seguir, enquanto é seu privilégio associar-se com pessoas que têm consciencioso respeito para com o dever nos negócios e na religião. Aqueles que têm falta de princípio e devoção geralmente exercem uma influência mais forte para moldar a mente de seus amigos íntimos do que é exercida por aqueles que parecem bem equilibrados e capazes de controlar e influenciar os que têm defeito de caráter, aqueles que têm falta de espiritualidade e devoção. T3 24 2 A influência do irmão B, se não for santificada, põe em perigo a salvação daqueles que lhe seguem o exemplo. Sua pronta diplomacia e habilidade são admiradas, e faz com que as pessoas ligadas a ele lhe dêem crédito por qualificações que não possui. No Escritório ele era negligente quanto a seu tempo. Se isso afetasse somente a ele, seria de pouca importância; mas sua posição como chefe deu-lhe influência. Seu exemplo diante das pessoas no Escritório, especialmente os aprendizes, não era prudente e consciencioso. Se, com seu talento engenhoso o irmão B possuísse um senso elevado de obrigação moral, seus serviços seriam inestimáveis para o Escritório. Se seus princípios fossem tais que nada o desviasse da linha reta do dever, se nenhuma sugestão que pudesse ser apresentada tivesse conseguido seu consentimento para a prática de uma ação errada, sua influência teria moldado outros; mas seu amor ao prazer o seduziu a abandonar seu posto de dever. Se ele tivesse estado na força de Deus, inamovível à censura ou lisonja, firme ao princípio, fiel a suas convicções da verdade e da justiça, teria sido um homem superior e teria obtido influência dominante em toda parte. O irmão B precisa de simplicidade e economia. Precisa do tato que o habilitaria a adaptar-se à generosa providência de Deus e a tornar-se o homem do momento. Ele ama o louvor humano. É levado pelas circunstâncias, sujeito à tentação e não se pode confiar em sua integridade. T3 25 1 A experiência religiosa do irmão B não era perfeita. Era movido por impulso, não por princípio. Não tinha o temor de Deus nem buscava Sua glória, e "seu coração não era reto para com Ele". Salmos 78:37. Ele agia de modo muito parecido com um homem empenhado em negócio comum; tinha muito pouco senso da santidade da obra em que estava empenhado. Não praticara abnegação e economia, e portanto não tinha experiência nisso. Por vezes ele trabalhava seriamente e manifestava bom interesse na obra. Então de novo se descuidava com seu tempo e gastava momentos preciosos em conversa sem importância, impedindo que outros cumprissem seu dever, dando-lhes um exemplo de irresponsabilidade e infidelidade. A obra de Deus é sagrada e requer homens de alta integridade. Precisam-se de homens cujo senso de justiça, mesmo nas questões menores, não lhes permita fazer um registro de seu tempo que não seja minucioso e correto; homens que reconheçam que estão lidando com recursos que pertencem a Deus, e que não se apropriem injustamente de um centavo sequer para uso próprio; homens que sejam tão fiéis e exatos, cuidadosos e diligentes no trabalho na ausência do chefe como em sua presença, demonstrando por sua fidelidade que não são meramente bajuladores, servos que precisam ser vigiados, mas obreiros conscienciosos, fiéis e verdadeiros, que fazem o que é correto não para receber louvor humano, mas porque amam e escolhem o correto devido ao elevado senso de sua obrigação para com Deus. T3 25 2 Os pais não são meticulosos na educação dos filhos. Não vêem a necessidade de moldar-lhes a mente pela disciplina. Dão-lhes uma educação superficial, manifestando maior cuidado pelo ornamental do que pela educação sólida que desenvolveria e dirigiria as aptidões de modo a expor as energias interiores, e fazer que as faculdades mentais se expandissem e se fortalecessem pelo exercício. As faculdades mentais precisam ser cultivadas a fim de serem usadas para a glória de Deus. Cuidadosa atenção deve ser dada ao cultivo do intelecto para que os vários órgãos da mente tenham igual força, sendo postos em exercício, cada um na sua função distinta. Se os pais deixarem os filhos seguirem a tendência da própria vontade, de sua inclinação e prazer, com negligência do dever, o caráter deles será formado segundo essa norma, e não terão competência para qualquer posição de responsabilidade na vida. Os desejos e inclinações dos jovens devem ser restringidos, fortalecidos os pontos fracos de caráter, e reprimidas as tendências fortes demais. T3 26 1 Caso se permita uma faculdade permanecer inativa ou ser desviada do próprio rumo, o propósito de Deus não é executado. Todas as faculdades devem ser bem desenvolvidas. A cada uma se deve dispensar cuidado, pois cada uma exerce influência sobre as outras, e todas elas devem ser exercitadas a fim que o espírito seja devidamente equilibrado. Caso um ou dois órgãos sejam cultivados e conservados em uso contínuo devido a terem nossos filhos escolhido pôr a força da mente em uma direção com negligência de outras faculdades mentais, chegarão à maturidade com a mente desequilibrada e o caráter desarmônico. Serão aptos e fortes em um sentido, mas grandemente deficientes em outros sentidos igualmente importantes. Não serão homens e mulheres competentes. Sua deficiência será acentuada e maculará todo o caráter. T3 26 2 O irmão B cultivou uma propensão quase incontrolável para passeios e viagens de entretenimento. Tempo e dinheiro são desperdiçados para satisfazer seu desejo por turismo. Seu amor egoísta pelo entretenimento leva à negligência de deveres sagrados. O irmão B gosta de pregar, mas nunca assumiu este trabalho de modo a sentir pesar quando não pregasse o evangelho. Com freqüência deixava o trabalho que exigia seu cuidado no Escritório para aceitar convites de alguns de seus irmãos em outras igrejas. Se tivesse sentido a solenidade da obra de Deus para esta época, e marchasse fazendo de Deus sua confiança, praticando abnegação e exaltando a cruz de Cristo, teria realizado algum bem. Mas ele freqüentemente tinha tão pouca percepção da santidade da obra, que aproveitava a oportunidade de visitar outras igrejas fazendo da ocasião uma cena de satisfação própria, em suma, uma viagem de entretenimento. Que contraste entre sua conduta e a seguida pelos apóstolos, que saíam levando a palavra de vida, e na demonstração do Espírito pregavam Cristo crucificado! Eles assinalavam o caminho da vida mediante abnegação e a cruz. Tinham comunhão com seu Salvador em Seus sofrimentos, e seu maior desejo era conhecer "Jesus Cristo, e Este crucificado". 1 Coríntios 2:2. Não consideravam a conveniência própria, nem contavam sua vida como preciosa. Viviam não para divertir-se, mas para fazer o bem, e para salvar pecadores pelos quais Cristo morreu. T3 27 1 O irmão B pode apresentar argumentos sobre pontos de doutrina, mas as lições práticas de santificação, abnegação e a cruz, ele mesmo não as experimentou. Pode falar ao ouvido, mas não tendo sentido sobre o coração a influência santificadora destas verdades, nem as tendo praticado em sua vida, ele deixa de inculcar a verdade sobre a consciência com um senso profundo de sua importância e solenidade em vista do juízo, quando cada caso deve ser decidido. O irmão B não educou a mente, e sua conduta fora da reunião não tem sido exemplar. Não parece repousar sobre ele a responsabilidade da obra, mas ele tem sido superficial e infantil, e por seu exemplo tem rebaixado a norma da religião. Coisas sagradas e comuns têm sido postas no mesmo nível. T3 27 2 O irmão B não tem estado disposto a suportar a cruz; nem a seguir a Cristo da manjedoura ao tribunal e ao Calvário. Ele tem acarretado sobre si mesmo penosa aflição buscando o próprio prazer. Precisa ainda aprender que sua força é fraqueza e sua "sabedoria" "é loucura". 1 Coríntios 3:19. Se tivesse sentido que estava empenhado na obra de Deus, e que estava em dívida para com Aquele que lhe deu tempo e talentos, e que requeria que estes fossem usados para Sua glória -- tivesse ele ficado firme no seu posto -- não teria sofrido aquela longa e enfadonha enfermidade. Sua exposição naquela viagem de entretenimento causou-lhe meses de sofrimento, e teria causado sua morte não fosse pela oração sincera e eficaz oferecida em seu favor por aqueles que achavam que ele não estava preparado para morrer. Tivesse ele morrido naquela ocasião e seu caso seria muito pior do que o de um pecador não iluminado. Mas Deus misericordiosamente ouviu a oração de Seu povo e deu-lhe novo período de vida, para que tivesse oportunidade de arrepender-se de sua infidelidade e remir o tempo. Seu exemplo influenciou a muitos em Battle Creek na direção errada. T3 28 1 O irmão B recuperou-se de sua enfermidade, mas quão pouco ele ou sua família se humilharam sob a mão de Deus. A obra do Espírito de Deus e a sabedoria que vem dEle não são manifestas para que possamos estar felizes e satisfeitos conosco mesmos, mas para que nossa mente seja renovada em conhecimento e verdadeira santidade. Quão melhor não teria sido para este irmão se sua enfermidade tivesse motivado um exame fiel do coração, para descobrir as imperfeições de seu caráter, para que as pusesse de lado, e com espírito humilde saísse da fornalha como ouro purificado, refletindo a imagem de Cristo. T3 28 2 A doença que ele acarretou sobre si mesmo, a igreja o ajudou a suportar. Foram-lhe providenciados atendentes e suas despesas foram, em grande medida, custeadas pela igreja; mas nem ele nem sua família apreciaram esta generosidade e ternura da parte da igreja. Sentiram que mereciam tudo que foi feito por eles. Ao irmão B levantar-se de sua enfermidade, sentiu-se ofendido com meu marido porque ele desaprovou sua conduta, que era censurável. Ele uniu-se com outros para prejudicar a influência de meu marido, e desde que deixou o Escritório não tem se sentido bem. Ele mal suportaria o teste de ser provado por Deus. T3 28 3 O irmão B não aprendeu ainda a lição que terá de aprender se houver de ser salvo afinal -- negar a si mesmo e resistir a seu amor aos prazeres. Terá de passar pela experiência outra vez e ser provado ainda mais severamente, porque deixou de suportar as provas do passado. Ele desagradou a Deus ao justificar-se. Tem pouca experiência na comunhão com os sofrimentos de Cristo. Gosta de ostentação e não economiza seus recursos. O Senhor sabe. Ele pesa os sentimentos interiores e as intenções do coração. Ele compreende o ser humano. Prova nossa fidelidade. Requer que O amemos e O sirvamos de todo o "entendimento", de todo o "coração" e de todas as "forças". Marcos 12:30. Os amantes de prazeres podem aparentar uma forma de piedade que envolve até mesmo alguma abnegação, e podem sacrificar tempo e dinheiro, e ainda o eu não ser subjugado, e a vontade levada em sujeição à vontade de Deus. T3 29 1 A influência das jovens D era má em Battle Creek. Não tinham sido educadas. Sua mãe negligenciara seu dever sagrado e não refreara seus filhos. Não os tinha criado no temor e admoestação do Senhor. Foram mimados e dispensados de levar responsabilidades até não terem prazer nos deveres simples da vida doméstica. A mãe ensinara as filhas a pensar muito sobre vestuário, mas o adorno interior não foi exaltado diante delas. Essas jovens eram vaidosas e orgulhosas. Sua mente era impura; a conversa delas corruptora; e não obstante havia uma classe em Battle Creek que se associava com tal tipo de mentalidade, mas não podia associar-se-lhe sem descer a seu nível. Essas jovens não foram tratadas com a severidade que o caso exigia. Gostam da companhia de rapazes, e os rapazes são o tema de sua meditação e conversação. Têm modos corruptos, são teimosas e presunçosas. T3 29 2 A família inteira ama a ostentação. A mãe não é uma mulher prudente e digna. Não está qualificada para criar filhos. Vestir seus filhos para chamar a atenção é de maior significado para ela do que o adorno interior. Ela não tem se disciplinado. Sua vontade não tem sido conformada com a vontade de Deus. Seu coração não está correto para com Deus. T3 30 1 Ela é uma estranha à atuação de Seu Espírito sobre o coração, o que leva os desejos e afeições em conformidade "à obediência de Cristo". II Cor. 10.5. Ela não possui qualidades mentais enobrecedoras e não discerne as coisas sagradas. Permitiu que seus filhos fizessem o que bem entendessem. A experiência terrível que ela teve com dois de seus filhos mais velhos não fez sobre sua mente a impressão profunda que as circunstâncias exigiam. Ela educou os filhos a amarem o vestuário, a vaidade e a extravagância. Não disciplinou suas duas filhas mais novas. A D, sob uma influência apropriada, seria um jovem digno; mas tem muito a aprender. Ele segue a inclinação em vez do dever. Gosta de fazer a própria vontade e satisfazer o prazer, e não tem conhecimento correto dos deveres que recaem sobre um cristão. Alegremente interpretaria como seu dever a satisfação e inclinação próprias. Ele não dominou a satisfação própria. Tem muito a fazer para melhorar sua visão espiritual, para que possa compreender o que seja ser consagrado a Deus e aprender as reivindicações de Deus sobre ele. Os sérios defeitos de sua educação lhe afetaram a vida. T3 30 2 Se, com suas boas qualificações, o irmão B fosse bem equilibrado e um chefe fiel, seu trabalho seria de grande valia para o Escritório, e ele poderia ganhar o dobro do salário. Mas durante os últimos anos, considerando sua deficiência, com sua influência não consagrada, o Escritório faria melhor sem ele, mesmo se seus trabalhos fossem gratuitos. O irmão e a irmã B não aprenderam a lição da economia. A satisfação do apetite e o amor ao prazer e ostentação têm tido uma influência esmagadora sobre eles. Salário pequeno seria mais vantajoso para eles do que grande. Seriam capazes de gastar tudo, por mais que fosse. Esbanjariam e então, ao vir sobre eles a aflição, estariam inteiramente desprevenidos. Gastariam vinte dólares por semana tão facilmente como doze. Tivessem o irmão e a irmã B sido hábeis administradores, privando a si mesmos, teriam já há tempo um lar próprio e ainda recursos de que servir-se em caso de adversidade. Mas eles não querem economizar como outros têm feito, dos quais têm sido algumas vezes dependentes. Se negligenciam aprender essas lições, seu caráter não será encontrado perfeito no dia de Deus. T3 31 1 O irmão B tem sido alvo do grande amor e condescendência de Cristo, e não obstante ele nunca sentiu que poderia imitar o grande Modelo. Ele reivindica, e durante toda sua vida tem buscado, um melhor quinhão nesta vida do que foi dado a nosso Senhor. Nunca sentiu as profundezas da ignorância e pecado das quais Cristo Se propôs erguê-lo e ligá-lo a Sua natureza divina. T3 31 2 É coisa terrível ministrar coisas sagradas quando o coração e as mãos não são santificados. Ser colaborador com Cristo envolve responsabilidades tremendas; estar de pé como Seu representante não é questão de pouca importância. As terríveis realidades do juízo porão à prova o trabalho de cada um. O apóstolo disse: "Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor." "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo." 2 Coríntios 4:5, 6. A suficiência do apóstolo não estava nele mesmo, mas na influência benevolente do Espírito de Cristo, que lhe enchia a mente e levava "cativo todo o entendimento à obediência de Cristo". 2 Coríntios 10:5. O poder da verdade acompanhando a palavra pregada será um "cheiro de vida para vida" ou "de morte para morte". 2 Coríntios 2:16. Requer-se dos pastores que sejam exemplos vivos da mente e espírito de Cristo, cartas vivas, conhecidas e lidas "por todos os homens". 2 Coríntios 3:2. Tremo quando considero que há alguns pastores, mesmo entre adventistas do sétimo dia, que não são santificados pela verdade que pregam. Nada menos que o vivificante e poderoso Espírito de Deus atuando no coração de Seus mensageiros para "iluminação do conhecimento da glória de Deus" (2 Coríntios 4:6) pode assegurar-lhes a vitória. T3 31 3 A pregação do irmão B não tem sido marcada pela sanção do Espírito de Deus. Ele pode falar fluentemente e esclarecer um ponto, mas tem faltado espiritualidade a sua pregação. Seus apelos não têm tocado o coração com nova ternura. Tem havido uma sucessão de palavras, mas o coração de seus ouvintes não tem sido vivificado e enternecido com a percepção do amor de um Salvador. T3 32 1 Pecadores não têm sido convencidos e atraídos a Cristo pela percepção de que "Jesus, o Nazareno, passava". Lucas 18:37. Os pecadores devem ter clara impressão da proximidade e boa vontade de Cristo em conceder-lhes salvação. O Salvador deve ser apresentado ao povo, enquanto o coração do orador deve ser subjugado pelo Espírito de Deus e ser dEle imbuído. O próprio tom da voz, o olhar, as palavras, devem possuir um poder irresistível para impressionar corações e controlar mentes. Jesus deve estar no coração do pastor. Se Jesus está nas palavras e no tom da voz, se são suaves com Seu terno amor, demonstrar-se-ão uma bênção de maior valor do que todas as riquezas, prazeres e glórias da Terra; pois tais bênçãos não vêm e vão sem efetuar uma obra. Convicções serão aprofundadas, impressões serão feitas e surgirá a pergunta: "Que devo fazer para que seja salvo?" Atos dos Apóstolos 16:30. ------------------------Capítulo 3 -- Mentes desequilibradas T3 32 2 Deus confiou a cada um de nós sagrados depósitos, pelos quais nos considera responsáveis. É desígnio Seu que eduquemos de tal modo a mente que sejamos aptos a exercitar os talentos que Ele nos deu de maneira a efetuar o máximo bem, e refletir a glória do Doador. A Deus somos devedores de todas as faculdades mentais. Essas faculdades podem ser cultivadas, dirigidas e controladas de modo tão sábio que realizem o desígnio para que nos foram concedidas. É dever educar a mente de modo a manifestar as energias da alma, e desenvolver cada faculdade. Quando todas as faculdades se acham em exercício, o intelecto será fortalecido, e o desígnio para que elas foram dadas terá seu cumprimento. T3 32 3 Muitos não fazem a maior soma de bem porque aplicam o intelecto em uma direção, negligenciando dar atenção às coisas para as quais julgam não ser aptos. Algumas faculdades fracas são assim deixadas inativas, porque não é agradável o trabalho que as chamaria à atividade e lhes daria vigor. Todas as energias da mente devem ser exercitadas, todas as faculdades cultivadas. A percepção, o discernimento, a memória e todas as faculdades de raciocínio devem ter igual vigor, a fim de que a mente seja bem equilibrada. T3 33 1 Caso certas faculdades sejam usadas em detrimento de outras, não se cumpre plenamente o objetivo de Deus em nós; pois todas essas faculdades têm que ver umas com as outras, e são em alto grau interdependentes. Uma não pode ser eficientemente usada sem o funcionamento de todas, para que se possa manter cuidadosamente o equilíbrio. Se toda atenção e força forem dadas a uma delas, enquanto as outras jazem inativas, aquela se desenvolverá vigorosamente, e levará a extremos, visto nem todas haverem sido cultivadas. Algumas mentes são atrofiadas, e não devidamente equilibradas. Todas as mentes não são constituídas naturalmente da mesma maneira. Temos mentes de várias espécies; algumas são fortes em certos pontos, e muito fracas em outros. Estas deficiências, tão evidentes, não precisam nem devem existir. Se os que as possuem fortalecessem os pontos fracos de seu caráter mediante cultivo e exercício, eles se tornariam fortes. T3 33 2 É agradável, mas não muito proveitoso, exercitar as faculdades naturalmente mais vigorosas, ao passo que negligenciamos as fracas, mas que necessitam ser cultivadas. As mais débeis devem receber a devida atenção, para que todas as faculdades do intelecto sejam bem equilibradas, fazendo todas sua parte como um maquinismo bem regulado. Dependemos de Deus para a conservação de todas as nossas faculdades. Os cristãos têm para com Ele obrigação de exercitar a mente de maneira que todas as faculdades sejam fortalecidas, e desenvolvidas em maior plenitude. Se negligenciamos isso, elas nunca realizarão o desígnio para que foram destinadas. Não temos o direito de negligenciar nenhuma dessas faculdades a nós dadas por Deus. Vemos por toda parte pessoas obsessivas. São freqüentemente sadias em todos os sentidos menos um. A razão disso é que um órgão da mente foi mais exercitado, enquanto outros foram deixados inativos. Aquele que esteve em uso constante tornou-se gasto, enfermo, e o homem tornou-se uma ruína. Deus não é glorificado com essa atitude. Houvesse tal pessoa cultivado todos os órgãos igualmente, todos teriam saudável desenvolvimento; não haveria sido lançado todo o trabalho sobre um, e portanto nenhum se haveria esgotado. T3 34 1 Os pastores devem guardar-se para não impedir os desígnios de Deus por causa dos próprios planos. Eles se acham em risco de oposição à obra de Deus, de limitarem seus trabalhos a certas localidades, e não cultivarem especial interesse por essa divina obra em todos os seus vários departamentos. Alguns há que concentram a mente sobre um assunto, com exclusão de outros que podem ser de igual importância. São homens de uma única idéia. Todas as energias de seu ser são concentradas no assunto sobre que sua mente é exercitada na ocasião. Todas as outras considerações são perdidas de vista. Esse tema favorito é a preocupação de seus pensamentos e o assunto de sua conversa. Toda prova que tiver relação com esse assunto é ansiosamente agarrada e aplicada, e tanto demoram nisso que as mentes se fatigam em acompanhá-los. T3 34 2 Perde-se freqüentemente tempo em explicar pontos da verdade realmente sem importância, e que poderiam ser considerados corretos sem apresentação de tantas provas, pois se demonstram por si mesmos. Mas aqueles que são reais, vitais, devem-se tornar tão claros e convincentes quanto os puderem fazer a linguagem e as provas. O poder de concentrar a mente em um assunto com exclusão de outros é bom até certo ponto; o constante exercício dessa faculdade, porém, gasta os órgãos chamados a esse trabalho; isto lança grande sobrecarga sobre eles, e o resultado é o fracasso em realizar a máxima quantidade de bem. O desgaste principal fica sobre determinada série de órgãos, enquanto os demais permanecem inativos. A mente não pode assim ser saudavelmente exercitada, e em conseqüência é abreviada a vida. T3 34 3 Todas as faculdades devem executar parte do trabalho colaborando harmoniosamente, equilibrando-se uma à outra. Os que põem toda a energia de seu cérebro em um só assunto são grandemente deficientes em outros pontos, pela razão de que as faculdades não são cultivadas igualmente. O assunto que está perante eles lhes prende a atenção, e são levados sempre avante, e penetram cada vez mais profundamente na questão. Vêem conhecimento e clareza ao se interessarem e absorverem. Poucas, porém, são as mentes que os podem acompanhar, a menos que tenham dado ao assunto a mesma profundeza de pensamento. Há perigo de que esses homens arem e plantem a semente da verdade tão fundo que a tenra e preciosa haste jamais venha à superfície. T3 35 1 Faz-se muitas vezes muito trabalho árduo que não é requerido, e que não será apreciado. Caso os que têm grande poder de concentração cultivem essa faculdade com negligência de outras, não poderão possuir mente bem proporcionada. Assemelham-se às máquinas em que apenas um jogo de rodas funciona em determinado tempo. Enquanto algumas rodas se enferrujam por inatividade, outras se gastam por uso contínuo. Os homens que cultivam uma ou duas faculdades, e não exercitam todas igualmente, não podem realizar metade do bem que Deus designou que fizessem no mundo. São homens unilaterais; apenas metade da capacidade que Deus lhes deu é posta em uso, ao passo que a outra fica enferrujando na inatividade. T3 35 2 Caso essa classe de mentalidade tenha uma obra especial a exigir consideração, não deve exercitar todas as suas energias naquele único ponto, com exclusão de todos os outros interesses. Enquanto tornam o assunto em consideração o objeto principal, outros ramos da obra devem merecer-lhes parte do tempo. Isto seria muito melhor para eles próprios, e para a causa em geral. Um dos ramos da obra não deve receber atenção absoluta, com exclusão de todos os outros. Em seus escritos, alguns precisam guardar-se constantemente quanto a não obscurecerem pontos que são evidentes, com o amontoarem sobre eles muitos argumentos que não têm vivo interesse para o leitor. Se eles se detêm tediosamente sobre certos pontos, dando todo pormenor que lhes ocorre à mente, seu trabalho fica por assim dizer perdido. O interesse do leitor não será suficientemente profundo para seguir o assunto até ao fim. Os pontos mais essenciais da verdade podem ser tornados indistintos com o dar-se atenção a todo pequenino pormenor. Abrange-se muito terreno; mas a obra em que se emprega tanto labor não é calculada a realizar a maior soma de benefício, despertando o interesse geral. T3 36 1 Nesta época em que as fábulas agradáveis andam flutuando no ambiente e atraindo a mente, a verdade apresentada em estilo fácil, confirmada com poucas provas vigorosas, é melhor que buscar e fazer uma série avassaladora de demonstrações; pois então o ponto não fica tão claro em muitas mentes como antes de as objeções e evidências lhes serem apresentadas. Para muitos, as afirmações têm mais eficácia que as longas argumentações. Tomam muita coisa por certa. As provas não ajudam o caso na mente de pessoas assim. Adventistas oponentes T3 36 2 Nossos oponentes mais amargos se acham entre os adventistas do primeiro dia. Eles não se empenham no combate de modo honroso. Seguem qualquer conduta, por mais irrazoável e incoerente, para esconder a verdade e tentar fazer que pareça que a lei de Deus não está em vigor. Lisonjeiam-se de que o fim justifica os meios. Pessoas dentre eles, nas quais não tinham confiança, começarão um ataque contra o sábado do quarto mandamento, e darão publicidade a suas afirmações, ainda que falsas, injustas e mesmo ridículas, se puderem fazê-las pesar contra a verdade que odeiam. T3 36 3 Não devíamos ser movidos ou desconcertados por esta guerra injusta de pessoas irrazoáveis. Aqueles que recebem e se agradam com o que essas pessoas falam e escrevem contra a verdade não são aqueles que seriam convencidos da verdade ou que honrariam a causa de Deus se a aceitassem. Tempo e energia podem ser melhor empregados do que demorar-nos sobre os enganos de nossos oponentes que usam de calúnia e falsas representações. Enquanto tempo precioso é empregado seguindo as distorções e subterfúgios de oponentes desonestos, o povo que está aberto à convicção está perecendo por falta de conhecimento. Uma série de enganos tolos inventados pelo próprio Satanás recebe atenção, enquanto o povo está clamando por alimento, por "sustento em tempo oportuno". Salmos 104:27. T3 37 1 Pessoas que treinaram a mente para guerrear contra a verdade são usadas para manufaturar enganos. E não mostraremos sabedoria tomando-os de suas mãos, e passando-os a milhares que jamais teriam pensado neles não tivéssemos nós os publicado ao mundo. É isso que nossos oponentes querem que façamos; querem ser notados e que publiquemos por eles. Isso é especialmente verdade a respeito de alguns. É seu objetivo principal escrever suas falsidades e representar mal a verdade e o caráter daqueles que amam e defendem a verdade. Eles desaparecerão mais rapidamente se forem ignorados, se deixarmos que seus erros e falsidades sejam tratados com desprezo silencioso. Eles não querem ser ignorados. Oposição é o elemento que amam. Não fosse por isso, teriam pouca influência. T3 37 2 Os adventistas do primeiro dia, como uma classe, são os mais difíceis de serem alcançados. Geralmente rejeitam a verdade como faziam os judeus. Devíamos, tanto quanto possível, prosseguir como se essa gente não existisse. São elementos de confusão, e imoralidades existem entre eles em terrível profusão. Seria a maior calamidade se muitos deles abraçassem a verdade. Teriam de desaprender tudo e aprender de novo, ou nos causariam grande problema. Há ocasiões em que suas deslumbrantes mistificações precisam ser contestadas. Quando esse for o caso, isso deve ser feito logo e em poucas palavras, e depois deveríamos prosseguir com nosso trabalho. O plano do ensino de Cristo deve ser o nosso. Ele era franco e simples, indo diretamente à raiz da questão, e o desejo de todos era satisfeito. T3 37 3 Não é o melhor procedimento ser explícito demais e dizer tudo o que pode ser dito sobre um ponto, quando uns poucos argumentos abrangeriam o assunto e seriam suficientes para todos os propósitos práticos a fim de convencer ou silenciar os oponentes. Vocês podem remover todos os argumentos hoje e fechar a boca de provocadores de modo a não poderem dizer nada, e amanhã eles repetirão os mesmos argumentos. Assim será, vez após vez, porque não amam a luz e não vêm à luz, com receio de que sua escuridão e erro sejam removidos deles. É um plano melhor ter uma reserva de argumentos do que derramar um mundo de conhecimento sobre um assunto que poderia ser aceito sem argumento elaborado. O ministério de Cristo durou apenas três anos, e uma grande obra foi realizada neste curto período. Nestes últimos dias há uma grande obra a ser realizada em pouco tempo. Enquanto muitos estão se aprontando para fazer algo, seres humanos estão perecendo por falta de luz e conhecimento. T3 38 1 Se homens que se empenham em apresentar e defender a verdade da Bíblia empenharem-se em examinar e mostrar o engano e inconsistência de homens que desonestamente mudam a verdade de Deus em mentira, Satanás suscitará oponentes suficientes para manter suas canetas constantemente em uso, enquanto outros ramos da obra serão deixados a sofrer. T3 38 2 Precisamos ter mais do espírito daqueles homens que se empenharam em edificar os muros de Jerusalém. Estamos "fazendo uma grande obra, de modo que não" podemos "descer". Neemias 6:3. Se Satanás percebe que pode manter homens respondendo as objeções de oponentes, e assim manter suas vozes silenciosas, e impedir que façam a obra mais importante para o tempo presente, seu objetivo é alcançado. T3 38 3 O livro Sabbath History tem sido retido do povo por demasiado tempo. As pessoas precisam dessa obra preciosa, mesmo se não a possuírem em toda sua perfeição. Não pode ser jamais preparada de modo a silenciar plenamente oponentes irrazoáveis, que são instáveis e que torcem as Escrituras para a própria perdição. Este é um mundo atarefado. Homens e mulheres empenhados na faina da vida não têm tempo para meditar, ou mesmo ler a Palavra de Deus o suficiente para compreender todas as suas verdades importantes. Argumentos longos e elaborados interessarão a bem poucos, pois o povo precisa ler enquanto corre. Vocês não podem remover as objeções ao mandamento do sábado da mente dos adventistas do primeiro dia mais do que podia o Salvador do mundo, por Seu grande poder e milagres, convencer os judeus de que Ele era o Messias, uma vez que se tinham decidido a rejeitá-Lo. Como os judeus obstinados e incrédulos, eles escolheram trevas em vez de luz, e mesmo se um anjo lhes falasse diretamente da corte celestial, diriam que foi Satanás. T3 39 1 O mundo precisa de trabalho agora. Chamados vêm de todas as direções como o clamor macedônico: "Passa... e ajuda-nos." Atos dos Apóstolos 16:9. Argumentos simples e ao ponto, destacando-se como marcos quilométricos, farão mais para convencer as pessoas em geral do que uma longa série de argumentos que cobrem muito terreno, mas que ninguém exceto mentes pesquisadoras terão interesse de seguir. O livro Sabbath History deve ser dado ao povo. Enquanto uma edição está circulando, e o povo está sendo beneficiado por ela, outras melhorias podem ser feitas até que seja feito tudo o que é possível para torná-lo perfeito. Nosso sucesso estará em alcançar mentes comuns. Aqueles que têm talento e posição estão tão exaltados acima da simplicidade da obra, e tão satisfeitos consigo mesmos, que não sentem necessidade da verdade. Estão exatamente onde os judeus estavam, cheios de justiça própria e auto-suficiência. Estão sãos e "não necessitam de médico". Marcos 2:17. ------------------------Capítulo 4 -- Amizade íntima com mundanos T3 39 2 Em 10 de Dezembro de 1871, foi-me mostrado, irmão E, que você e suas irmãs estavam em uma condição muito perigosa; e o que faz sua posição ainda mais perigosa é que vocês não reconhecem sua verdadeira condição. Vi que estavam envoltos em trevas. Estas trevas não baixaram sobre vocês subitamente. Vocês começaram a entrar na névoa da escuridão gradualmente, e quase imperceptivelmente, até que as trevas eram como luz para vocês, mas a nuvem está ficando mais densa cada dia. De vez em quando, vi um raio de luz dissipando as trevas de vocês; então de novo elas os fechavam, de modo mais firme e mais denso do que antes. T3 39 3 Suas aulas de canto têm sido uma cilada para vocês. Nem você nem suas irmãs têm experiência profunda que os habilitará a entrar em contato com as influências que encontram nas aulas de canto, sem serem afetados. Exigiria mente mais forte, com caráter mais resoluto do que vocês três possuem, para freqüentar a sociedade em que vocês estão e não ser afetado. Ouça as palavras de Cristo: "Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:14-16. Tem seu exemplo e influência sido daquele caráter positivo que impressionasse e convencesse seus colegas? Penso que não. Você tem sido prejudicado. Trevas baixaram sobre você e obscureceram sua luz de modo que não ardeu com aquele brilho para dissipar as trevas em volta de outros. Você tem se distanciado mais e mais de Deus. T3 40 1 Meu irmão, você tem idéia muito vaga do que está fazendo. Colocou-se diretamente no caminho do progresso espiritual de suas irmãs. Elas, mais especialmente F, têm se emaranhado nas ciladas enfeitiçantes e satânicas do espiritualismo. Para ela se libertar desse lodo profano de Satanás, que tem pervertido sua concepção das coisas eternas, terá de fazer enorme esforço. O escape será por um triz. Você mesmo tem sido cegado, enganado e fascinado. Você não se vê. Todos vocês são muito fracos, quando podiam ser fortes na verdade preciosa e salvadora, fortalecidos, firmados e estabelecidos sobre a Rocha Cristo Jesus. Sinto profundamente. Tremo por vocês. Vejo tentações de todos os lados, e vocês com tão pouca força para resisti-las. T3 40 2 Irmão E, foi-me mostrado que você é arrogante; está enganado quanto a seus motivos e o propósito real de seu coração. Eu o vi na companhia da filha do irmão G. Ela nunca entregou o coração a Cristo. Foi-me mostrado que ela está impressionada e convicta. Mas sua conduta não era de molde a aprofundar a convicção, ou para dar a ela a impressão que havia uma importância especial ligada a estas questões. Você professa considerar sagrada a salvação do pecador e a verdade presente. Ela não respeita o sábado por questão de princípio. Ela ama a vaidade do mundo e gosta do orgulho e divertimentos da vida. Mas você está se distanciando tão gradualmente de Deus e da luz, que não vê a separação que a verdade necessariamente causa entre os que amam a Deus e os que "são mais amigos dos prazeres que amigos de Deus". 2 Timóteo 3:4. Vi que você era atraído à companhia dela. Reuniões religiosas e deveres sagrados eram de pouca importância, enquanto a presença de uma mera criança que não tem conhecimento da verdade ou de coisas celestiais o fascinava. Você tem negligenciado a abnegação e a cruz, que jazem diretamente no caminho de cada discípulo de Cristo. T3 41 1 Foi-me mostrado que se você estivesse andando na luz teria tomado sua posição decididamente a favor da verdade. Seu exemplo mostraria que você considerava a verdade que professa como tendo tal importância que suas afeições e coração podiam ir apenas para onde a imagem de Cristo fosse perceptível. Cristo agora lhe diz: Quem quer você ter, Eu ou o mundo? Sua decisão deve ser feita aqui. Seguirá você os impulsos de um coração não santificado, desviar-se-á da abnegação por amor de Cristo, e pisará a cruz sem levantá-la? Ou levantará você a cruz, por mais pesada que seja, e fará algum sacrifício por amor da verdade? Que Deus o ajude a ver onde você está, para que avalie corretamente as coisas eternas. Você agora tem tão pouca visão espiritual que as coisas santas e sagradas são postas no mesmo nível que as comuns. Você tem responsabilidades. Sua influência em grande medida afeta suas irmãs. Sua única segurança é a separação do mundo. T3 41 2 Foi-me mostrado você, meu irmão, levando os jovens com você a cenas de divertimento na hora de atividade religiosa, e também se envolvendo em aulas de canto com mundanos que estão todos nas trevas e que têm anjos maus a seu redor. Como sua luz fraca e bruxuleante se afigura em meio desta escuridão e tentação? Os anjos de Deus não o assistem nestas ocasiões. Você é deixado a caminhar na própria força. Satanás bem se agrada com sua posição; porque ele pode fazê-lo mais eficiente em seu serviço do que se você não professasse ser um cristão guardando todos os mandamentos de Deus. A Testemunha Verdadeira Se dirige à igreja de Laodicéia: "Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:15-19. T3 42 1 Você é cego e arrogante. Sentia-se forte quando era a fraqueza em pessoa. Você pode ser forte no Todo-poderoso. Pode ser um instrumento de justiça se estiver disposto a sofrer por amor de Cristo. Você e suas irmãs podem remir o tempo se quiserem, mas custará algum esforço. Sua irmã mais nova está ligada a alguém que não é digno de suas afeições. Há sérios defeitos no caráter dele. Ele não tem reverência por coisas sagradas e santas; seu coração não foi mudado pelo Espírito de Deus. É egoísta, jactancioso e ama mais o prazer do que o dever. Ele não tem experiência em abnegação e humilhação. T3 42 2 Deve ser exercida grande cautela na formação de amizade, para que não seja adquirida intimidade com alguém cujo exemplo não seria seguro seguir; porque o efeito de tal intimidade é de levar para longe de Deus, da devoção e do amor à verdade. É positivamente perigoso para você ter intimidade com amigos que não têm experiência religiosa. Se um de vocês, ou todos os três, seguir as orientações do Espírito de Deus, ou valorizar a salvação da própria alma, não escolherá como seus amigos especiais e íntimos aqueles que não consideram seriamente as coisas religiosas, e que não vivem sob sua influência prática. Você deve considerar os interesses eternos em primeiro lugar. Nada pode ter uma influência mais sutil e positivamente perigosa sobre a mente, e servir mais eficazmente para banir impressões sérias e as convicções do Espírito de Deus, do que associar-se com aqueles que são vãos e descuidados, e cuja conversa é sobre o mundo e a vaidade. Quanto mais atrativas essas pessoas podem ser em outros aspectos, tanto mais perigosa é sua influência como companheiros, porque colocam sobre uma vida sem religião tantas atrações agradáveis. T3 43 1 Deus tem direitos sobre vocês três, os quais não podem levianamente ignorar. Jesus os comprou ao preço de Seu precioso sangue. "Não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Não têm vocês um sacrifício a oferecer a Deus? Grandes responsabilidades confrontam a cada um de vocês no dia-a-dia. Seu relatório é apresentado diariamente a Deus. Grandes perigos jazem escondidos em seu caminho. Se fosse possível, eu os tomaria em meus braços e os carregaria em segurança; mas isso não me é permitido fazer. Vocês estão no período mais crítico de sua vida. Se despertarem as energias mentais e as dirigirem de modo a assegurar coisas de interesse eterno, e se subordinarem tudo a isso, vocês terão sucesso em aperfeiçoar um caráter cristão. Todos vocês podem empenhar-se em guerra espiritual contra os pecados que os rodeiam, e podem, através de Cristo, sair vitoriosos. Mas não será brincadeira de criança. Será uma luta séria, que envolve desprendimento e decisão de carregar a cruz. O risco é vocês não reconhecerem plenamente suas reincidências e sua condição perigosa. A menos que olhem a vida tal qual é, lançando para o lado as brilhantes fantasias da imaginação, e descendo às sóbrias lições da experiência, despertarão quando for tarde demais. Verão então o terrível erro que cometeram. T3 43 2 Sua educação não tem sido da qualidade a formar caráter sólido e consistente, portanto têm de obter agora a educação que deviam ter tido há anos. Sua mãe era excessivamente carinhosa com vocês. A mãe nunca ama demasiadamente os filhos, mas pode amar insensatamente e permitir que sua afeição a cegue aos próprios interesses deles. Vocês tiveram uma mãe condescendente e amorosa. Ela protegeu excessivamente os filhos. A vida dela foi quase esmagada pelas responsabilidades que os filhos deviam ter assumido, e que podiam desempenhar melhor do que ela. T3 44 1 A falta de firmeza e abnegação no caráter é um sério entrave para vocês obterem genuína experiência religiosa que não seja como a areia movediça. Devem ser cultivadas firmeza e integridade de propósito. Estas qualidades são positivamente necessárias à vida cristã vitoriosa. Se vocês tiverem integridade interior, não serão desviados do caminho reto. Nenhum motivo será suficiente para desviá-los da reta linha do dever; vocês serão leais e verdadeiros para com Deus. As solicitações da afeição e do amor, os desejos de amizades, não os levarão a deixar a verdade e o dever; vocês não sacrificarão o dever à inclinação. T3 44 2 Se você, meu irmão, é tentado a unir o interesse de toda a sua vida a uma menina jovem e inexperiente, a quem falta mesmo a educação nos deveres diários, práticos e comuns da vida, comete um erro; mas tal falta é pequena em comparação com a ignorância dela acerca de seu dever para com Deus. Ela não tem ficado sem luz; tem tido privilégios religiosos e, contudo, não sentiu sua miserável pecaminosidade sem Cristo. Se, em sua paixão, você é capaz de fugir repetidamente do culto de oração onde Deus Se encontra com Seu povo, a fim de desfrutar a companhia de uma pessoa que não tem o amor de Deus, e não vê nenhum atrativo na vida religiosa, como pode esperar que o Senhor faça prosperar tal união? Não se apresse. Não se devem encorajar casamentos precoces. Se um jovem ou uma jovem não tem respeito pelos reclamos de Deus, se deixa de atender às reivindicações que o ligam à religião, haverá perigo de que também não tome na devida consideração os direitos do esposo ou da esposa. O hábito de estar freqüentemente na companhia da pessoa eleita, e isto mesmo com sacrifício dos privilégios religiosos e das horas de oração, é perigoso; você não pode permitir esta perda. O hábito de ficar conversando até altas horas da noite é costumeiro, mas não agrada a Deus, mesmo que ambos sejam cristãos. Estas horas impróprias prejudicam a saúde, incapacitam a mente para os deveres do dia seguinte e têm aparência do mal. Meu irmão, espero que terá respeito próprio suficiente para evitar esta forma de namoro. Se você deseja sinceramente a glória de Deus, agirá com decidida cautela. Não tolerará que um doentio sentimentalismo amoroso lhe cegue a visão de tal forma que não possa discernir os sublimes reclamos de Deus sobre você como cristão. T3 45 1 Queridos jovens, eu me dirijo a vocês três. Que seja seu alvo glorificar a Deus e alcançar Sua semelhança moral. Convidem o Espírito de Deus para moldar seu caráter. Agora é sua áurea oportunidade de lavar suas vestes de caráter e branqueá-las "no sangue do Cordeiro". Apocalipse 7:14. Considero isso como o ponto decisivo no destino de cada um de vocês. Qual escolherão, diz Cristo, a Mim ou ao mundo? Deus pede incondicional entrega do coração e das afeições. Se vocês amam os amigos, os irmãos e irmãs, o pai ou a mãe, casas ou terras, mais do que a Mim, diz Ele, não são dignos de Mim. Mateus 10:37. A religião põe a pessoa sob a maior das obrigações, quanto às suas reivindicações, de andar em seus princípios. Como a bússola aponta ao norte, assim apontam as reivindicações da religião à glória de Deus. Por seus votos batismais, vocês se acham obrigados a honrar a seu Criador, e a negar resolutamente a si mesmos e a crucificar suas afeições e concupiscências, levando até os seus pensamentos em obediência à vontade de Cristo. T3 45 2 Evitem cair em tentação. Quando tentações os cercam, e vocês não podem controlar as circunstâncias que os expõem a elas, então podem reivindicar a promessa de Deus e, com confiança e consciente poder, exclamar: "Posso todas as coisas nAquele que me fortalece." Filipenses 4:13. Em Deus existe força para todos vocês. Mas nunca sentirão necessidade dessa força que unicamente pode salvá-los, a não ser que reconheçam sua fraqueza e pecaminosidade. Jesus, seu precioso Salvador, chama-os agora para tomar posição firme sobre a plataforma da verdade eterna. Se sofrerem com Ele, Ele os coroará com glória em Seu reino eterno. Se estiverem dispostos a tudo sacrificar por Ele, então Ele será seu Salvador. Se, porém, preferirem seguir seu próprio caminho, continuarão a andar em trevas até que seja tarde demais para garantir a recompensa eterna. T3 46 1 Que estão dispostos a sofrer por amor à verdade? Vocês têm um tempo muito curto no qual cultivar os traços nobres de seu caráter. Todos vocês, em certa medida, sentem-se insatisfeitos e infelizes. Têm tido muitas queixas a fazer. Têm falado de incredulidade e censurado a outros. Isto é verdade especialmente a respeito de F e H. O coração de vocês está cheio de orgulho, e às vezes até de crueldade. Seu lugar de adoração tem sido negligenciado, e vocês não apreciam o exercício de deveres religiosos. Se tivessem perseverado em seus esforços para crescer em Cristo, sua Cabeça viva, vocês seriam agora fortes e competentes para abençoar a outros com sua influência. Se tivessem cultivado uma energia firme, uniforme e inabalável, seriam agora fortes para resistir à tentação. Mas tais qualidades preciosas só podem ser ganhas por uma entrega do ser às reivindicações da religião. Então os motivos serão elevados, e o intelecto e as afeições recompensados por princípios nobres. Deus trabalhará conosco se tão-somente nos empenharmos em ação sadia. Precisamos sentir a necessidade de unir nossos esforços humanos e ação zelosa com o poder divino. Podemos permanecer firmes em Deus, fortalecidos para vencer. Você, irmão E, tem falhado grandemente em firmeza de propósito para agir e resistir. T3 46 2 Que grande erro é cometido na educação de crianças e dos jovens ao favorecer, transigir e mimá-los! Tornam-se egoístas e deficientes, desprovidos de energia nas pequenas coisas da vida. Não são ensinados a adquirir força de caráter pela realização dos deveres diários, por mais humildes que sejam. Você negligencia fazer de boa vontade e alegremente aquilo que está diretamente à sua frente, e que alguém precisa fazer. Todos nós temos um grande desejo de encontrar uma obra maior e mais exaltada. T3 46 3 Ninguém está habilitado para um grande e importante trabalho, a menos que tenha sido fiel na realização dos pequenos deveres. É por etapas que o caráter é formado e a pessoa treinada a dedicar esforço e energia proporcionais à tarefa a ser executada. Se somos escravos da circunstância, certamente falharemos em aperfeiçoar um caráter cristão. Você precisa dominar as circunstâncias, e não permitir que as circunstâncias o dominem. Você pode achar força na cruz de Cristo. Você pode crescer gradativamente, vencer dificuldades e a força do hábito. Você precisa ser estimulado pela força vivificante de Jesus. Você deve ser atraído a Cristo e revestido de Sua divina beleza e excelência. A filha do irmão G precisa obter uma educação; ela não é mais competente para os deveres e dificuldades da vida como esposa do que uma escolar de dez anos. T3 47 1 A religião deve inspirá-lo e guiá-lo em todas as suas ocupações, e deve ter absoluto controle sobre suas afeições. Se você se entregar sem reservas às mãos de Cristo, fazendo de Seu poder sua força, então sua visão moral será clara para discernir qualidade de caráter e não ser enganado por aparências e cometer grandes erros em sua amizade. Sua força moral deve ser perspicaz e sensível, a fim de suportar provas severas e não ser prejudicado. Sua integridade de espírito deve ser tão firme que vaidade, ostentação ou lisonja não o moverão. T3 47 2 Oh, é excelente coisa ser correto para com Deus, o coração em harmonia com seu Criador, de modo que ao contato com o mau exemplo, o qual por sua aparência enganosa afastaria a alma do dever, anjos possam ser enviados para socorrê-lo! Mas tenha em mente, se você convidar a tentação, não terá o auxílio divino para evitar que seja vencido. Os três heróis suportaram a fornalha ardente porque Jesus andou com eles em meio às chamas. Se tivessem por conta própria andado no fogo, teriam sido consumidos. Assim será com você. Se não entrar deliberadamente em tentação, Deus o sustentará quando a tentação vier. ------------------------Capítulo 5 -- A causa em Nova Iorque T3 48 1 Enquanto estava em Vermont, em 10 de Dezembro de 1871, foram-me mostradas algumas coisas com respeito a Nova Iorque. A causa naquele Estado parecia estar em condição deplorável. Havia poucos obreiros, e estes não eram tão eficientes quanto exigia sua profissão de fé nas sagradas verdades para este tempo. Há pessoas naquele Estado que "trabalham na palavra e na doutrina" (1 Timóteo 5:17) que não são obreiros meticulosos. Embora creiam na teoria da verdade, e tenham estado a pregar durante anos, nunca serão obreiros competentes enquanto não trabalharem em um plano diferente. Eles têm gasto muito tempo entre as igrejas, quando não estão qualificados para beneficiá-las. Eles mesmos não são consagrados a Deus. Necessitam do espírito de perseverança para sofrer pela causa de Cristo, "beber o cálice" e "ser batizados" (Marcos 10:38), antes de estarem preparados para ajudar a outros. Precisa-se de obreiros desinteressados e devotos para elevar os interesses em Nova Iorque à norma da Bíblia. Viajando entre as igrejas, esses homens não têm cumprido seu dever. Se Deus os chamou para Sua obra, é para salvar almas. Eles devem provar a si mesmos indo a novos campos, para saber se Deus lhes confiou a obra de salvar almas. T3 48 2 Tivessem os irmãos Taylor, Saunders, Cottrell, Whitney e o irmão e a irmã Lindsay labutado em novos campos, estariam agora muito além do que estão. Enfrentar a oposição de adversários os teria levado a suas Bíblias em busca de argumentos para sustentar sua posição, e isto aumentaria seu conhecimento das Escrituras e lhes daria consciência de sua habilidade em Deus para enfrentar qualquer tipo de oposição. Aqueles que se contentam de repassar sobre o mesmo terreno vez após vez entre as igrejas serão deficientes na experiência que devem ter. Serão fracos -- não fortes para querer, efetuar e sofrer por amor da verdade. Eles serão obreiros ineficientes. T3 49 1 Aqueles que têm a causa de Deus no coração, e sentem amor pelas preciosas almas pelas quais Cristo morreu, não buscarão a própria comodidade e prazer. Farão como Cristo fez. Sairão para "buscar e salvar o que se havia perdido". Lucas 19:10. Ele disse: "Porque Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." Mateus 9:13. T3 49 2 Se os pastores em Nova Iorque desejam ajudar a igreja, nada melhor podem fazer do que sair para novos campos e labutar para trazer pecadores para a verdade. Quando a igreja vir que os pastores estão inflamados com o espírito da obra, que sentem profundamente a força da verdade, e estão procurando trazer outros ao conhecimento da mesma, isso porá neles nova vida e vigor. Seu coração será estimulado para fazer o que puderem para ajudar a obra. Não há uma classe de gente no mundo que está mais desejosa de sacrificar seus recursos para fazer avançar a causa do que os adventistas do sétimo dia. Se os pastores não os desencorajarem por sua indolência e ineficiência, e por sua falta de espiritualidade, eles geralmente responderão a qualquer apelo que seja feito que se recomende a seu julgamento e consciência. Mas querem ver frutos. E é justo que os irmãos em Nova Iorque exijam fruto de seus pastores. Que têm eles feito? Que estão fazendo? T3 49 3 Os pastores em Nova Iorque deviam estar muito mais adiantados do que estão. Mas não se têm empenhado naquela espécie de trabalho que suscita esforço sério e forte oposição. Tivessem eles feito isso teriam sido impelidos a suas Bíblias e à oração a fim de poder responder a seus oponentes, e pelo exercício de seus talentos os teriam duplicado. Há pastores em Nova Iorque que têm estado a pregar durante anos, mas dos quais não se pode depender para fazer uma série de conferências. Estão atrofiados. Não têm exercitado a mente no estudo da Palavra e em enfrentar oposição, de modo a se tornarem fortes em Deus. Tivessem eles saído "fora do acampamento", como fiéis soldados da cruz de Cristo, dependendo de Deus e das próprias energias, em vez de se apoiarem tanto em seus irmãos, teriam obtido experiência e estariam agora qualificados a empenhar-se na obra onde quer que sua ajuda fosse mais necessária. Se os pastores de um modo geral em Nova Iorque tivessem deixado as igrejas trabalhar por si mesmas, e não as tivessem impedido, tanto as igrejas como os pastores estariam agora mais adiantados em espiritualidade e no conhecimento da verdade. T3 50 1 Muitos de nossos irmãos e irmãs em Nova Iorque têm-se mostrado relapsos quanto à reforma de saúde. Há apenas um pequeno número de genuínos reformadores de saúde no Estado. Luz e entendimento espiritual têm sido dados aos irmãos em Nova Iorque. Mas a verdade que alcançou o entendimento, a luz que brilhou sobre o coração, que não tem sido apreciada e afagada, testemunhará contra eles no dia de Deus. A verdade tem sido dada para salvar aqueles que houvessem de crer e obedecer. Sua condenação não é porque não tinham a luz, mas porque tinham a luz e não andaram nela. T3 50 2 Deus tem provido o homem com muitos recursos para satisfazer o apetite natural. Ele tem exposto diante deles, nos produtos da terra, uma variedade abundante de alimento que é agradável ao paladar e nutritivo ao organismo. Destes, nosso benevolente Pai celestial diz que podemos comer "livremente". Gênesis 2:16. Podemos saborear as frutas, os vegetais e os grãos, sem fazer violência às leis de nosso ser. Esses ingredientes, preparados do modo mais simples e natural, nutrirão o corpo e preservarão seu vigor natural sem o uso de alimentos cárneos. T3 50 3 Deus criou o homem "um pouco menor do que os anjos" (Hebreus 2:7) e lhe conferiu os atributos que, convenientemente usados, torná-lo-iam uma bênção ao mundo e o levariam a refletir a glória do Doador. Mas, embora feito à imagem de Deus, violou o homem, através da intemperança, o princípio e a lei de Deus em sua natureza física. A intemperança de qualquer espécie insensibiliza os órgãos da percepção e enfraquece de tal maneira o poder dos nervos cerebrais que as coisas eternas não mais são apreciadas, mas são colocadas no mesmo nível das comuns. As mais elevadas faculdades da mente, que visavam os mais elevados propósitos, são levadas em servidão às paixões mais baixas. Se os nossos hábitos físicos não forem corretos, nossas faculdades mentais e morais não podem ser fortes; pois existe grande afinidade entre o físico e o moral. O apóstolo Pedro compreendia isto e ergueu a voz de advertência aos seus irmãos: "Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma." 1 Pedro 2:11. T3 51 1 Há muito pouco poder moral no professo mundo cristão. Maus hábitos têm sido tolerados e leis físicas e morais têm sido desatendidas, até que o padrão geral de virtude e piedade se tornou excessivamente baixo. Os hábitos que rebaixam a norma de saúde física enfraquecem as forças mentais e morais. A tolerância para com apetites e paixões pervertidos exerce uma influência controladora sobre os nervos e o cérebro. As tendências sensuais são fortalecidas, ao passo que as morais são enfraquecidas. É impossível ao intemperante ser cristão, pois suas faculdades superiores são mantidas em cativeiro pelas paixões. T3 51 2 Os que obtiveram luz sobre os assuntos do comer e vestir-se com simplicidade, em obediência às leis físicas e morais, e que abandonaram a luz que lhes aponta o dever, fugirão do dever em outras coisas. Se eles insensibilizarem a consciência para evitar a cruz que devem tomar para estar em harmonia com a lei natural, também violarão os Dez Mandamentos, a fim de fugir da reprovação. Há decidida relutância da parte de alguns em suportar "a cruz, desprezando a afronta". Hebreus 12:2. Alguns serão ridicularizados por seus princípios. A conformidade com o mundo está conquistando terreno entre o povo de Deus, que professa ser peregrino e estrangeiro, que espera o aparecimento do Senhor. Muitos há, entre os professos guardadores do sábado em Nova Iorque, que estão mais firmemente apegados às modas e ambições mundanas do que a corpo sadio, mente sã ou coração santificado. T3 51 3 Deus está testando e provando indivíduos em Nova Iorque. Ele permitiu que alguns tivessem uma medida de prosperidade para desenvolver o que lhes estava no coração. Orgulho e amor ao mundo os separaram de Deus. Os princípios da verdade são virtualmente sacrificados, enquanto professam amar a verdade. Os cristãos devem despertar e agir. Sua influência recai sobre outros e molda suas opiniões e hábitos. Eles terão de levar a pesada responsabilidade de decidir por sua influência o destino de pecadores. T3 52 1 O Senhor, mediante precisas e específicas verdades para estes últimos dias, está separando um povo do mundo e purificando-o para Si mesmo. O orgulho e as modas prejudiciais à saúde, o amor à ostentação, o amor à aprovação -- tudo deve ser deixado com o mundo, se desejamos ser renovados no conhecimento segundo a imagem dAquele que nos criou. "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniqüidade e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras." Tito 2:11-14. T3 52 2 A igreja em _____ precisa ser peneirada. Uma conversão completa é necessária antes que eles possam estar em condições de trabalhar. Egoísmo, orgulho, inveja, malícia, más suspeitas, difamação, tagarelice e mexerico têm sido cultivados entre eles, até que o Espírito de Deus tem pouco a haver com eles. Enquanto alguns que professam conhecer a Deus permanecem em seu estado presente, suas orações são uma abominação à Sua vista. Eles não apóiam sua fé com obras, e teria sido melhor para alguns nunca terem professado a verdade do que ter desonrado sua profissão de fé como o fizeram. Embora professem ser servos de Cristo, são servos do inimigo da justiça; e suas obras testificam que não conhecem a Deus e que seu coração não obedece à vontade de Cristo. Fazem da religião uma brincadeira de criança; agem como crianças birrentas. T3 52 3 Os filhos de Deus, no mundo todo, são uma grande comunidade. Nosso Salvador definiu claramente o espírito e os princípios que devem governar o coração daqueles que se distinguem do mundo por sua vida coerente e santa. Amor de uns pelos outros e supremo amor a seu Pai celestial devem ser exemplificados em sua conversação e obras. A condição presente de muitos dos filhos de Deus é como a de uma família de crianças ingratas e briguentas. T3 53 1 Há perigo de mesmo pastores em Nova Iorque pertencerem àquela classe que está sempre aprendendo e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. Não praticam o que aprendem. São ouvintes, mas não praticantes. Tiago 1:22. Esses pastores precisam de uma experiência na verdade que lhes permitirá compreender o caráter elevado da obra. T3 53 2 Vivemos num importante, soleníssimo tempo da história terrestre. Achamo-nos entre os perigos dos últimos dias. Importantes e tremendos acontecimentos se acham diante de nós. Quão necessário é que todos os que temem a Deus e amam Sua lei se humilhem diante dEle, e se aflijam e pranteiem, e confessem os pecados que têm separado Deus de Seu povo! O que deve suscitar maior preocupação é que não sentimos nem compreendemos nossa condição, nosso baixo estado, e satisfazemo-nos em permanecer como estamos. Devemos refugiar-nos na Palavra de Deus e na oração, buscando individual e fervorosamente ao Senhor, para que O possamos achar. Cumpre-nos fazer disto nossa primeira ocupação. T3 53 3 Os membros da igreja são responsáveis pelos talentos a eles confiados, e é impossível para cristãos cumprirem suas responsabilidades a menos que ocupem aquela posição elevada que está de acordo com as verdades sagradas que professam. A luz que brilha sobre nosso caminho nos torna responsáveis para fazer essa luz brilhar para outros de modo tal que glorifiquem a Deus. Parentes na igreja T3 53 4 O progresso da igreja em _____ nas coisas espirituais não está em proporção à luz que brilhou sobre seu caminho. Deus confiou a cada um talentos que devem ser desenvolvidos ao depositá-los com banqueiros, para que quando o Mestre vier Ele possa receber o Seu "com juros". Mateus 25:27. A igreja em _____ é composta em grande parte de material valioso, mas seus membros deixam de atingir a norma elevada que é seu privilégio atingir. T3 54 1 A parte atuante na igreja se acha sobretudo nas ramificações de três famílias ligadas por casamento. Há mais talento na igreja, e mais material para fazer bons obreiros, do que podem ser empregados de modo vantajoso naquela localidade. A igreja toda não está crescendo em espiritualidade. Não estão estabelecidos favoravelmente de modo a desenvolver vigor ao por em exercício os talentos que Deus lhes tem dado. Não há espaço para todos trabalharem. Um interfere com o outro. Há falta de vigor espiritual. Se esta igreja não fosse uma igreja de família, cada um sentiria responsabilidade individual. T3 54 2 Se o talento e influência de vários de seus membros fossem exercitados em outras igrejas, ou fossem levados a ajudar onde a ajuda é realmente necessária, estariam obtendo uma experiência do mais alto valor em coisas espirituais, e assumindo assim responsabilidades e obrigações na obra de Deus seriam uma bênção para outros. Enquanto empenhados em ajudar a outros, estariam seguindo o exemplo de Cristo. Ele "não veio para ser servido, mas para servir" a outros. Marcos 10:45. Ele não agradou a Si mesmo. "Aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo" (Filipenses 2:7), e gastou Sua vida fazendo o bem. Ele poderia ter gasto Seus dias na Terra em comodidade e abundância, e ter feito Seus os prazeres desta vida. Ele viveu não para satisfazer-Se, mas para fazer o bem e salvar a outros do sofrimento, e devemos seguir Seu exemplo. T3 54 3 Se os irmãos I e J se consagrassem a Deus, poderiam levar maiores responsabilidades do que têm levado. Eles pensavam que estariam dispostos a responder a qualquer apelo que fosse feito para adquirir recursos, e que este seria a responsabilidade principal que teriam de assumir na causa de Deus. Mas Deus requer deles mais do que isso. Se tivessem exercitado a mente em um estudo mais crítico da Palavra de Deus, para que pudessem tornar-se obreiros em Sua causa, e tivessem trabalhado para a salvação de pecadores tão fervorosamente como têm trabalhado para obter as coisas desta vida, teriam desenvolvido vigor e sabedoria para empenhar-se no trabalho de Deus onde obreiros são bastante necessários. T3 55 1 Por permanecerem em uma comunidade de família, esses irmãos estão decrescendo em força mental e espiritual. Não é o melhor plano que filhos de uma, duas ou três famílias ligadas pelo casamento morem a poucos quilômetros uns dos outros. Não é boa a influência sobre as partes. O negócio de um é negócio de todos. As perplexidades e dificuldades pelas quais cada família deve mais ou menos passar, e que tanto quanto possível, devem confinar-se aos limites do círculo familiar, estendem-se aos parentes da família, e exercem influência sobre as reuniões religiosas. Há questões que uma terceira pessoa não deve saber por mais amiga e intimamente ligada que seja. Os indivíduos e as famílias devem guardá-las. Mas a íntima relação de várias famílias postas em constante comunicação tem a tendência de demolir a dignidade que deve ser mantida em cada família. Ao realizar o delicado dever de reprovar e admoestar, haverá o perigo de ofender sentimentos, a menos que isto seja feito com a maior ternura e cuidado. Os melhores modelos de caráter estão sujeitos a erros e enganos, e se deve tomar o maior cuidado para não fazer de coisas pequenas, coisas grandes. T3 55 2 Tal relação familiar ou da igreja como existe em _____ agrada muito aos sentimentos naturais; mas não é a melhor, levando em consideração todas as coisas, para o desenvolvimento de um caráter cristão simétrico. A relação íntima e as associações familiares de uns com os outros, embora unidas no âmbito de igreja, tornam a influência fraca. Aquela dignidade, aquele respeito elevado, confiança e amor que fazem uma igreja próspera não são preservados. Todas as partes seriam muito mais felizes separadas e visitando-se ocasionalmente, e a influência de uns sobre os outros seria dez vezes maior. T3 55 3 Unidas como estão essas famílias pelo casamento e misturando-se como estão na companhia uns dos outros, cada um está a par das faltas e erros dos demais, e sente ser seu dever principal corrigi-los; e porque esses parentes se estimam realmente uns aos outros, ofendem-se com coisinhas que não notariam nos que com eles não estivessem intimamente ligados. Terríveis sofrimentos mentais são suportados por se levantarem em alguns os sentimentos de que não têm sido tratados com imparcialidade, e com toda a consideração que mereciam. Mesquinhos ciúmes às vezes se levantam, e montículos de terra se tornam montanhas. Esses pequenos desentendimentos e insignificantes diferenças causam maior sofrimento de espírito do que as provas que vêm de outras fontes. T3 56 1 Por causa dessas coisas, esses homens e mulheres verdadeiramente conscienciosos e mentalmente nobres se tornam fracos para resistir, e não estão desenvolvendo o caráter que poderiam desenvolver se estivessem estabelecidos em lugares diferentes. Estão atrofiados em seu crescimento mental e espiritual, o que ameaça destruir sua utilidade. Seus trabalhos e interesses estão geralmente confinados em si mesmos. Sua influência é limitada quando deveria estar-se estendendo e tornando-se mais generalizada, para que possam, quando colocados numa variedade de circunstâncias, pôr em exercício as forças que Deus lhes deu, de modo a contribuir mais para Sua glória. Todas as faculdades mentais estão aptas a grande melhoria. As energias da alma precisam ser despertadas e postas em ação para a glória de Deus. Obreiros para Deus T3 56 2 Deus convoca missionários. Há homens de habilidade na igreja em _____ que crescerão em capacidade e vigor ao usarem seus talentos na obra e causa de Deus. Se esses irmãos se educarem e fizerem da causa de Deus seu primeiro interesse, e sacrificarem seu prazer e inclinação por amor da verdade, a bênção de Deus repousará sobre eles. Esses irmãos, que amam a verdade, e que por anos vêm-se regozijando por causa da luz crescente sobre as Escrituras, devem deixar sua luz brilhar para aqueles que estão em trevas. Deus lhes será sabedoria e poder, e Se glorificará trabalhando com e através daqueles que O seguem inteiramente. "E, se alguém Me servir, Meu Pai o honrará." João 12:26. A sabedoria e o poder de Deus serão dados aos dispostos e fiéis. T3 57 1 Os irmãos em _____ têm estado inclinados a dar de seus recursos para os vários empreendimentos, mas têm retido a si mesmos. Eles não disseram: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. Não é a força dos instrumentos humanos, mas a sabedoria e poder dAquele que os emprega e atua por meio deles que os tornam homens de êxito em fazer a obra que precisa ser feita. Oferecendo nossos bens ao Possuidor do Céu e da Terra enquanto retemos a nós mesmos, não podemos obter Sua aprovação ou assegurar Sua bênção. Deve haver no coração dos irmãos e irmãs em _____ uma disposição de colocar tudo, inclusive eles próprios, sobre o altar de Deus. T3 57 2 Precisa-se de homens em Battle Creek que possam e queiram assumir encargos e responsabilidades. O apelo tem sido feito vez após vez, mas mal tem havido resposta. Alguns teriam respondido ao chamado se seus interesses mundanos fossem promovidos. Mas como não havia a perspectiva de aumentar seus recursos indo para Battle Creek, não podiam reconhecer o dever de ir. "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar." 1 Samuel 15:22. E sem obediência e amor desinteressado, as ofertas mais ricas são pobres demais para serem apresentadas ao Possuidor de todas as coisas. T3 57 3 Deus apela aos irmãos e irmãs em _____ a levantar-se e vir "em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos". Juízes 5:23. A razão por que há tão pouca força entre aqueles que professam a verdade é que não exercem a habilidade que Deus lhes tem dado. Muitos têm embrulhado seu talento em um lenço e o escondido na terra. É pelo uso dos talentos que eles crescem. Deus testará e provará Seu povo. T3 57 4 O irmão e a irmã I têm sido fiéis portadores de responsabilidades na causa de Deus, e agora seus filhos não devem omitir-se e permitir que os fardos pesem tanto sobre eles. É tempo de as faculdades mentais menos gastas dos filhos serem exercitadas e eles trabalharem mais especialmente na vinha do Mestre. T3 57 5 Alguns dos irmãos e irmãs em Nova Iorque têm estado ansiosos de que o irmão e a irmã K, especialmente a irmã K, sejam encorajados a trabalhar entre as igrejas. Mas este é o lugar errado para eles provarem a si mesmos. Se Deus de fato colocou sobre eles a responsabilidade do trabalho, não é para as igrejas; pois estas estão geralmente à frente deles. Há um mundo diante do irmão e da irmã K, um mundo mergulhado na maldade. Seu campo é grande. Eles têm muito espaço para provar seus dons e testar sua vocação sem entrar nos trabalhos de outros e edificar sobre um fundamento que não lançaram. O irmão e a irmã K têm sido muito vagarosos para obter uma experiência em abnegação. Têm sido vagarosos em adotar a reforma de saúde em todas as suas ramificações. As igrejas estão à frente deles na negação do apetite. Portanto, neste sentido eles não podem ser um benefício às igrejas, mas um empecilho. T3 58 1 O irmão K não tem sido uma bênção à igreja em _____, mas um grande fardo. Tem sido um estorvo a seu progresso. Não tem estado em condição de ajudar quando e onde ela mais precisava de ajuda. Ele não tem representado corretamente nossa fé; sua conversa e vida não têm sido em santidade. Tem estado bem para trás, e não estado pronto ou disposto para discernir as diretrizes da providência de Deus. Tem se posto no caminho de pecadores; não em posição tal que sua influência recomendasse nossa fé aos incrédulos. T3 58 2 Seu exemplo tem sido um tropeço à igreja e a seus vizinhos incrédulos. Se o irmão K tivesse sido inteiramente consagrado a Deus, seu esforço teria sido frutífero e resultado em muito bem. Mas aquilo que mais distingue o povo de Deus das comunidades religiosas populares não é só sua profissão de fé, mas seu caráter exemplar e seus princípios de amor desinteressado. A influência poderosa e purificadora do Espírito de Deus sobre o coração, demonstrada nas palavras e obras, separa-os do mundo e os designa como o povo peculiar de Deus. O caráter e disposição dos seguidores de Cristo serão como os do Mestre. Ele é o modelo, o exemplo santo e perfeito dado para os cristãos imitar. Seus seguidores verdadeiros amarão seus irmãos e estarão em harmonia com eles. Eles amarão seus semelhantes como Cristo lhes deu o exemplo e farão qualquer sacrifício se assim agindo puderem persuadir pecadores a abandonar seus pecados e serem convertidos à verdade. T3 59 1 A verdade, profundamente enraizada no coração dos crentes, brotará e produzirá fruto de justiça. Suas palavras e obras são canais através dos quais os puros princípios da verdade e da santidade são transmitidos ao mundo. Há bênçãos e privilégios especiais para aqueles que amam a verdade e andam de acordo com a luz que receberam. Se negligenciam fazer isso, sua luz se torna em trevas. Quando o povo de Deus se torna auto-suficiente, o Senhor os deixa à sua própria sabedoria. Misericórdia e verdade são prometidas aos humildes de coração, aos obedientes e fiéis. T3 59 2 O irmão K tem sido um estorvo a seus filhos. Se ele tivesse sido consagrado a Deus, tendo o coração na obra e vivendo a verdade que professava, teria sentido a importância de "ordenar... sua casa depois dele", como o fez o fiel Abraão. Gênesis 18:19. T3 59 3 A falta de harmonia entre os dois irmãos K é uma vergonha para a causa de Deus. Ambos estão em falta. Ambos têm uma obra a fazer em sujeitar o eu e cultivar as graças cristãs. Deus é desonrado pelas dissensões, e não exagero quando digo que existe ódio entre estes dois irmãos de sangue. O irmão A K está grandemente em falta. Ele tem acariciado sentimentos que não têm estado em harmonia com a vontade de Deus. Conhece as peculiaridades de seu irmão, B K, que ele tem um temperamento irritável e infeliz. Freqüentemente não pode ver o bem que se encontra diretamente em seu caminho. Vê somente o mal e fica desanimado muito facilmente. Satanás transforma um pequeno obstáculo em uma montanha diante dele. Considerando todos os fatos, o irmão B K tem em muitos pontos seguido uma conduta menos censurável do que seu irmão, pois essa tem sido menos prejudicial à causa da verdade presente. T3 59 4 Estes irmãos carnais precisam reconciliar-se plenamente um com o outro antes de poderem remover a desonra que sua desunião tem ocasionado à causa de Deus. "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: qualquer que não pratica a justiça e não ama a seu irmão não é de Deus." "Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas." 1 João 3:10, 2:9. Aqueles que labutam para Deus devem ser vasos limpos, santificados para o uso do Mestre. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. "Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dEle temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu irmão." 1 João 4:20, 21. T3 60 1 Os embaixadores de Cristo têm uma obra responsável e sagrada diante deles. São "cheiro de vida para vida", ou "de morte para morte". 2 Coríntios 2:16. Sua influência decide o destino de pecadores pelos quais Cristo morreu. O irmão e a irmã K precisam de experiência. Sua vida não tem sido de santidade. Não têm tido um conhecimento profundo e cabal da vontade divina. Não têm estado a avançar para frente e para o alto na vida religiosa, de modo que sua experiência pudesse ser de valor à igreja. Sua conduta tem pesado, e não pouco, sobre a igreja. T3 60 2 A vida passada da irmã K não tem sido de caráter tal que sua experiência pudesse ser uma bênção para outros. Ela não tem vivido à altura de sua convicção do dever. Sua consciência tem sido violada demasiadas vezes. Ela tem sido amante de prazeres e devotado a vida à vaidade, frivolidade e à moda, apesar da luz que brilhou sobre seu caminho. Conhecia o caminho, mas negligenciou andar nele. O Senhor deu à irmã K um testemunho de advertência e reprovação. Ela creu no testemunho e separou-se da classe dos "mais amigos dos deleites do que amigos de Deus". 2 Timóteo 3:4. Então, ao contemplar sua vida passada, tão cheia de negligências e erros, ela se entregou à incredulidade e a um desalento apático. O desespero estendeu suas asas escuras sobre ela. Seu casamento com o irmão K mudou um pouco a ordem das coisas, mas por vezes ela tem se sentido melancólica e desanimada. T3 60 3 A irmã K tem um bom conhecimento das profecias e pode esboçá-las e falar sobre elas com facilidade. Alguns dos irmãos e irmãs têm estado ansiosos em encorajar ao irmão e à irmã K a saírem como obreiros ativos. Mas há perigo de trabalharem a partir de um ponto de vista errado. As vantagens educacionais da irmã K têm sido superiores às de muitos pelos quais está rodeada. Visto ter trabalhado em público, ela tem dependido de sua força mais do que do Espírito de Deus. Ela tem um espírito de arrogante independência e pensou que estava qualificada para ensinar em vez de ser ensinada. Com sua falta de experiência nas coisas espirituais, ela não está preparada para trabalhar nas igrejas. Não tem discernimento e força espiritual necessários para edificá-las. Se, apesar de tudo, ela e seu marido se empenharem nesse trabalho, devem começar exercendo uma boa influência na igreja em _____. Sua atividade deve ser exercida onde o trabalho mais precisa ser feito. T3 61 1 Há um trabalho a ser feito em novos campos. Pecadores que nunca ouviram a mensagem de advertência precisam ser advertidos. Aqui o irmão e a irmã K têm amplo espaço para trabalhar e comprovar sua vocação. Ninguém deve atrapalhá-los em seus esforços em novos campos. Há pecadores a serem salvos em todas as direções. Alguns pastores, porém, são inclinados a percorrer o mesmo território entre as igrejas, quando seus trabalhos não podem ajudá-las, e seu tempo é desperdiçado. T3 61 2 Desejamos que todos os servos de Deus sejam trabalhadores. O trabalho de advertir almas não deve ser limitado somente aos pastores. Os irmãos que possuem a verdade em seu coração, e que têm exercido uma boa influência no lar, devem sentir que a responsabilidade repousa sobre eles para devotar uma parte de seu tempo para sair entre seus vizinhos e cidades próximas como missionários de Deus. Eles devem levar nossas publicações e iniciar conversação, e, no espírito de Cristo, orar com e por aqueles a quem visitam. Este é o trabalho que despertará um espírito de pesquisa e reforma. T3 61 3 Durante anos tem o Senhor estado a chamar a atenção de Seu povo para a reforma de saúde. Este é um dos grandes ramos da obra de preparação para a vinda do Filho do homem. João Batista surgiu no espírito e poder de Elias para preparar o caminho do Senhor e converter as pessoas "à prudência dos justos". Lucas 1:17. Era ele um representante daqueles que estariam vivendo nos últimos dias, aos quais Deus confiara sagradas verdades para serem apresentadas perante o povo, a fim de preparar o caminho para o segundo aparecimento de Cristo. João era um reformador. O anjo Gabriel, enviado do Céu, instruiu os pais de João sobre a reforma de saúde. Disse-lhes que o menino não deveria beber vinho, nem bebida forte, e que ele seria cheio do Espírito Santo desde o nascimento. T3 62 1 João separou-se dos amigos e das ostentações da vida. A simplicidade de sua vestimenta, uma peça de vestuário tecida de pêlos de camelo, era uma reprovação direta à extravagância e pompa dos sacerdotes judaicos e do povo em geral. Seu regime alimentar, puramente vegetariano, composto de gafanhotos e mel silvestre, era uma censura à condescendência com o apetite e a glutonaria que prevaleciam por toda parte. Declara o profeta Malaquias: "Eis que Eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor; e converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais." Malaquias 4:5, 6. Aqui o profeta descreve o caráter da obra. Os que devem preparar o caminho para a segunda vinda de Cristo são representados pelo fiel Elias, assim como João veio no espírito de Elias para preparar o caminho para o primeiro advento de Cristo. O grande assunto da reforma deve ser debatido, e despertada a mente do público. A temperança em tudo deve ser associada com a mensagem, para converter o povo de Deus de sua idolatria, de sua glutonaria e de sua extravagância no vestir-se e em outras coisas. T3 62 2 A abnegação, a humildade e a temperança requeridas dos justos, aos quais Deus guia e abençoa de modo especial, devem ser apresentadas ao povo em contraste com os hábitos extravagantes e destruidores da saúde daqueles que vivem nesta época degenerada. Deus tem mostrado que a reforma de saúde está tão estreitamente ligada com a mensagem do terceiro anjo como a mão em relação ao corpo. Em parte alguma poderá ser encontrada causa tão grande de degeneração física e moral como a negligência deste importante assunto. Os que transigem com o apetite e as paixões e fecham os olhos à luz por temor de verem as condescendências pecaminosas que estão relutando em abandonar são culpados diante de Deus. Aqueles que repelem a luz em algum ponto endurecem o coração para menosprezar a luz sobre outros assuntos. O que viola as obrigações morais no que se refere ao comer e beber prepara o caminho para violar as reivindicações divinas com respeito a interesses eternos. Nosso corpo não é nossa propriedade. Deus exige que cuidemos da habitação que Ele nos confiou, a fim de que possamos apresentar-Lhe o nosso "corpo em sacrifício vivo, santo e agradável". Romanos 12:1. Nosso corpo pertence Àquele que o fez, e estamos no dever de tornar-nos inteligentes com relação aos melhores meios de preservá-lo da ruína. Se enfraquecermos o corpo pela condescendência própria, pela transigência com o apetite e pelo vestir-nos de acordo com as modas destruidoras da saúde, a fim de estar em harmonia com o mundo, tornamo-nos inimigos de Deus. T3 63 1 O irmão e a irmã K não têm apreciado a luz sobre a reforma de saúde. Não viram um lugar para ela em conexão com a terceira mensagem. A Providência tem estado a guiar o povo de Deus para longe dos hábitos extravagantes do mundo, para longe dos apetites e paixões, a fim de que ocupem o seu lugar na plataforma da abnegação e da temperança em todas as coisas. O povo ao qual Deus está guiando será peculiar. Não se assemelhará ao mundo. Mas, se seguirem a orientação divina, executarão Seus desígnios e submeterão sua vontade à dEle. Cristo habitará no coração. O templo de Deus será santo. Seu corpo, diz o apóstolo, é o templo do Espírito Santo. Deus não pede que Seus filhos se sacrifiquem com prejuízo das energias físicas. Pede-lhes que obedeçam à lei natural, que preservem a saúde física. O caminho da natureza é a senda que Ele aponta, e esta é bastante larga para qualquer cristão. Com mão generosa, tem-nos Deus provido de ricas e variadas bênçãos para nossa manutenção e deleite. Contudo, para que possamos desfrutar do apetite natural, que preservará a saúde e prolongará a vida, restringe Ele o apetite. Diz Ele: Acautelem-se; restrinjam, neguem o apetite pervertido. Se desenvolvermos um apetite desvirtuado, violaremos as leis do nosso ser, e assumiremos a responsabilidade pelo abuso do nosso corpo e por trazermos doenças sobre nós mesmos. T3 64 1 O espírito e poder de Elias tem impelido corações à reforma, direcionando-os "à prudência dos justos". Lucas 1:17. O irmão e a irmã K não foram convertidos à reforma de saúde, apesar da quantidade de evidências que Deus tem dado sobre o assunto. A abnegação é indispensável à religião genuína. Aqueles que não aprenderam a negar a si mesmos estão destituídos de piedade vital e prática. Nada mais podemos esperar a não ser que as reivindicações da religião entrem em contato com as afeições naturais e os interesses mundanos. Há trabalho para todos na vinha do Senhor. Ninguém deve estar ocioso. Os anjos de Deus estão ativos, subindo ao Céu e descendo à Terra com mensagens de misericórdia e advertência. Esses mensageiros celestes estão comovendo mentes e corações. Há homens e mulheres em toda parte cujo coração é susceptível a ser inspirado com a verdade. Se aqueles que possuem um conhecimento da verdade trabalhassem agora em harmonia com o Espírito de Deus, veríamos uma grande obra realizada. T3 64 2 Novos campos estão abertos nos quais todos podem testar sua vocação por um esforço experimental em trazer pecadores das trevas e do erro, e estabelecê-los sobre a plataforma da verdade eterna. Se o irmão e a irmã K sentem que Deus os tem chamado para se empenharem em Sua obra, eles têm bastante a fazer chamando pecadores ao arrependimento; mas a fim de que Deus trabalhe neles e através deles, precisam de uma conversão total. O trabalho de qualificar um povo nestes últimos dias para a vinda de Cristo é um trabalho extremamente sagrado e solene, e requer obreiros devotados e abnegados. Aqueles que têm humildade, fé, energia, perseverança e decisão acharão muito a fazer na vinha do Mestre. Há deveres importantes a serem cumpridos, que exigem seriedade e o emprego de toda sua energia. É o trabalho voluntário que Deus aceita. Se a verdade que professamos é de infinita importância a ponto de decidir o destino de pecadores, quão cuidadosos devíamos ser em sua apresentação. T3 64 3 "A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. Irmão e irmã K, tivessem vocês andado na luz ao brilhar ela sobre seu caminho, tivessem vocês se aproximado mais de Deus, crendo firmemente na verdade e andando humildemente diante de Deus na luz que Ele tem dado, vocês agora teriam uma experiência que seria de valor inestimável. Tivessem vocês posto em uso os talentos que Deus lhes emprestou, teriam brilhado como luzes no mundo. Mas a luz se torna em trevas para todos aqueles que não andam nela. A fim de sermos aceitos e abençoados por Deus como foram nossos pais, precisamos, como eles, ser fiéis. Precisamos utilizar nossa luz como os antigos e fiéis profetas utilizaram a sua. Deus requer de nós segundo a graça que Ele nos outorgou, e não aceitará menos do que requer. Todas as Suas justas exigências precisam ser plenamente cumpridas. A fim de desempenhar-nos de nossas responsabilidades, precisamos estar de pé sobre aquele elevado fundamento que a ordem e o avanço da verdade sagrada prepararam para nós. T3 65 1 O irmão L deixa de reconhecer a influência santificadora da verdade de Deus sobre o coração. Não é tão paciente, humilde e tolerante como devia ser. Ele se irrita facilmente; o eu desperta, e ele diz e faz muitas coisas sem a devida reflexão. Não exerce influência salvadora o tempo todo. Se estivesse imbuído do Espírito de Cristo, poderia com uma das mãos apegar-se ao Poderoso, enquanto com a mão da fé e do amor alcançaria o pobre pecador. O irmão L precisa da influência poderosa do amor divino; pois isto renovará e refinará o coração, santificará a vida, elevará e enobrecerá o homem todo. Então suas palavras e obras terão o sabor do Céu e não de seu espírito. T3 65 2 Se as palavras da vida eterna são semeadas no coração, será produzido fruto de justiça e paz. Você precisa vencer o espírito de auto-suficiência e de importância própria, meu caro irmão. Deve cultivar um espírito desejoso de ser instruído e aconselhado. O que quer que outros possam dizer ou fazer, você deve dizer: Que me importa isso? Cristo ordenou que eu O seguisse. Você deve cultivar espírito de mansidão. Precisa de uma experiência em piedade genuína, e a menos que obtenha tal coisa, não pode empenhar-se inteligentemente na obra de Deus. Seu espírito precisa ser abrandado e tornar-se submisso ao ser levado em obediência à vontade de Cristo. Você deve em todo tempo manter a dignidade humilde de um seguidor de Jesus. Nossa conduta, nossas palavras e ações pregam a outros. Somos epístolas vivas, conhecidas e lidas "por todos os homens". 2 Coríntios 3:2. T3 66 1 Você deve cuidar para não pregar a verdade motivado por rivalidade ou contenda, porque se o fizer, com toda certeza batalhará contra si mesmo e será achado promovendo a causa do inimigo e não a verdade de Deus. Toda vez que se empenha em um debate, deve ser pelo senso do dever. Se fizer de Deus Sua força e sujeitar-se, deixando que a verdade obtenha a vitória, as artimanhas de Satanás e seus dardos inflamados cairão sobre ele mesmo, e você será fortalecido, resguardado do erro e livrado de todo caminho falso. Precisa exercer cautela e não apoiar-se na própria força. A obra é importante e sagrada, e você precisa de muita sabedoria. Deve aconselhar-se com seus irmãos que tiveram experiência na obra. Mas, acima de tudo, você deve obter conhecimento cabal da própria fraqueza e perigos, e deve fortalecer os pontos fracos em seu caráter, para que não sofra naufrágio na fé. T3 66 2 Vivemos em meio aos perigos dos últimos dias, e se tivermos um espírito presunçoso e independente estaremos expostos às ciladas de Satanás e seremos derrotados. O sentimento de importância própria deve ser removido, e você deve esconder-se em Deus, dependendo apenas dEle para obter força. As igrejas não precisam de seu trabalho. Se consagrar-se a Deus, pode atuar em novos campos, e Deus trabalhará com você. Pureza de coração e de vida será aceita por Deus. Ele não considerará nada menos do que isso. Precisamos sofrer com Cristo se quisermos reinar com Ele. T3 66 3 O irmão M teria realizado o bem se tivesse, há anos, dado tudo a Cristo. Ele não tem sido santificado pela verdade; seu coração não tem sido reto para com Deus. Ele tem escondido seu talento na terra. Que dirá aquele que fez mau uso de seu talento quando o Mestre pedir que ele dê conta de sua mordomia? O irmão M não tem sido uma honra à causa de Deus. É perigoso contender com a providência de Deus e estar insatisfeito com quase tudo, como se tivesse havido um arranjo especial de circunstâncias para tentar e destruir. A obra de podar e limpar a fim de preparar-nos para o Céu é uma grande obra, e nos custará muito sofrimento e provação, pois nossas vontades não se acham sujeitas à vontade de Cristo. Precisamos passar pela fornalha até que o fogo haja consumido a escória, e estejamos purificados e reflitamos a imagem divina. Os que seguem as próprias inclinações e são regidos pelas aparências não são bons juízes do que Deus está fazendo. Acham-se cheios de descontentamento. Vêem fracasso onde na verdade há triunfo, grande perda onde existe ganho; e, como Jacó, estão prontos a exclamar: "Todas estas coisas me sobrevieram" (Gênesis 42:36), quando as próprias coisas de que se queixam estão todas contribuindo juntamente para o seu bem. Romanos 8:28. T3 67 1 Não havendo cruz, não há coroa. Como pode alguém ser forte no Senhor, sem provações? Para termos forças, precisamos de exercício. Para possuir fé robusta, importa que sejamos colocados em circunstâncias em que nossa fé seja exercitada. Pouco antes de sua morte, o apóstolo Paulo exortou a Timóteo: "Participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus." 2 Timóteo 1:8. Através de muita tribulação é que havemos de entrar no reino de Deus. Nosso Salvador foi provado por todos os modos possíveis, e todavia triunfou continuamente em Deus. É nosso privilégio, na força do Senhor, ser fortes em todas as circunstâncias, e gloriar-nos na cruz de Cristo. ------------------------Capítulo 6 -- Experiência não confiável T3 67 2 Querida irmã N: T3 67 3 Na visão que me foi dada em 10 de Dezembro de 1871, vi que algumas coisas têm sido grandes empecilhos para a recuperação de sua saúde. Seus peculiares traços de caráter a têm impedido de receber o bem que poderia ter recebido, e melhorar de saúde como poderia. Você tem uma rotina especial a cumprir e não se desviará dela. Tem suas idéias, as quais leva a efeito, quando freqüentemente não estão em harmonia com a lei física, mas simplesmente de acordo com sua opinião. T3 68 1 Possui mentalidade forte e vontade fixa, e pensa que compreende a si mesma melhor do que os outros, porque você analisa seus sentimentos. É guiada pelos próprios sentimentos e governada pela própria experiência. Experimentou este e aquele plano para sua total satisfação, e decidiu que seu raciocínio era o melhor a ser seguido em seu caso. Mas qual tem sido seu critério? Resposta: Seus sentimentos. Agora, minha irmã, que têm seus sentimentos que ver com os fatos reais no caso? Bem pouco. Sentimentos são um critério pobre, especialmente quando sob o controle de uma imaginação forte e de uma vontade firme. Você tem mentalidade muito resoluta, e sua conduta lhe é delineada; mas você não vê seu caso de um ponto de vista correto. Sua opinião não pode ser confiável quando se trata do próprio caso. T3 68 2 Foi-me mostrado que você teve alguma melhora, mas não tanta, ou tão depressa, ou tão completa, como poderia, porque toma seu caso nas próprias mãos. Por esta razão, e para que sentisse ser seu dever ser guiada pelo critério dos mais experientes, eu quis que viesse ao Instituto de Saúde. Os médicos no Instituto de Saúde compreendem a enfermidade, suas causas e o tratamento apropriado melhor do que você; e se você de boa vontade submeter suas idéias fixas, e seguir o critério deles, há esperança quanto a sua recuperação. Mas se recusar fazer isto, não vejo esperança de você conseguir o que poderia com tratamento apropriado. T3 68 3 Como afirmei, você, minha irmã, confia na experiência. Sua experiência leva você a seguir certa conduta. Mas aquilo que muitos chamam de experiência não é experiência de modo algum; é simplesmente hábito, ou mera condescendência, seguida cegamente e com freqüência ignorantemente, com uma determinação firme, fixa, e sem consideração inteligente ou pesquisa relativa às leis que atuarão na obtenção do resultado. T3 69 1 Experiência real é uma diversidade de experimentos cuidadosos feitos com a mente despida de preconceito e não controlada por opiniões e hábitos previamente estabelecidos. Os resultados são anotados com cuidadoso esmero e desejo sério de aprender, de melhorar e de reformar todo hábito que não esteja em harmonia com as leis físicas e morais. A idéia de outros questionar o que você aprendeu por experiência lhe parece tolice e mesmo crueldade. Mas há mais erros recebidos e firmemente retidos de falsas idéias de experiência do que de qualquer outra causa, pelo fato de que aquilo que é geralmente chamado experiência não é absolutamente experiência; porque nunca houve uma prova satisfatória por uma real verificação e pesquisa cabal, com um conhecimento do princípio envolvido na ação. T3 69 2 Sua experiência foi-me mostrada como não merecedora de confiança porque se opõe à lei natural. Está em conflito com os imutáveis princípios da natureza. A superstição, minha querida irmã, que vem de uma imaginação doentia, lança-a em conflito com a ciência e os princípios. Qual deverá ser renunciado? Seus fortes preconceitos e idéias muito fixas acerca de qual o melhor procedimento a seguir, a seu próprio respeito, por muito tempo a detiveram do bem. Por anos compreendi seu caso, mas tenho-me sentido incapaz de apresentar o assunto de modo tão claro que você o visse e compreendesse, e pusesse em prática a luz que lhe foi concedida. T3 69 3 Existem hoje muitos doentes que sempre assim permanecerão, porque não se convencem de que seu modo de viver não merece confiança. O cérebro é a capital do corpo, a sede de todas as forças nervosas e da ação mental. Os nervos procedentes do cérebro controlam o corpo. Pelos nervos do cérebro são transmitidas impressões mentais para todos os membros do corpo, como se fossem fios telegráficos, e eles controlam a ação vital de todas as partes do organismo. Todos os órgãos de movimento são governados pelas comunicações que recebem do cérebro. T3 69 4 Se a sua mente está impressionada e convencida de que o banho lhe fará mal, a impressão mental é comunicada a todos os nervos do corpo. Os nervos controlam a circulação do sangue; portanto, o sangue, através da impressão mental, é confinado aos vasos sangüíneos, e perdem-se os bons efeitos do banho. Tudo isto se dá porque o sangue é impedido pela mente e a vontade de fluir prontamente e vir à superfície para estimular, despertar e promover a circulação. Suponhamos que você tenha a impressão de que se tomar banho sentirá frio. O cérebro manda essa informação aos nervos do corpo, e os vasos sangüíneos, em obediência à sua vontade, não podem realizar seu trabalho e promover uma reação após o banho. Não há razão na ciência ou na filosofia para se pensar que um banho ocasional, tomado com esmerado cuidado, não possa senão trazer-lhe benefício. Isso ocorre especialmente nos casos em que há pouco exercício para manter os músculos em atividade e ajudar a circulação do sangue pelo organismo. O banho livra a pele do acúmulo constante de impurezas e mantém a pele úmida e elástica, aumentando e equilibrando assim a circulação. T3 70 1 As pessoas que estão com saúde não devem de maneira alguma negligenciar o banho. Devem fazer o possível para tomar pelo menos dois banhos por semana. As que não estão com saúde têm impurezas no sangue e a pele não está em condição saudável. A multidão de poros, ou pequenos orifícios, através dos quais o corpo respira, tornam-se obstruídos e cheios de matéria residual. A pele precisa ser cuidadosa e perfeitamente limpa, a fim de que os poros desempenhem o seu trabalho de libertar o corpo das impurezas. Por isso, as pessoas fracas e doentes necessitam com certeza das vantagens e bênçãos do banho pelo menos duas vezes por semana, e com freqüência mais ainda do que isto é necessário. Quer a pessoa esteja doente ou com saúde, a respiração torna-se mais livre e fácil se o banho for praticado. Por meio dele, os músculos tornam-se mais flexíveis, a mente e o corpo são igualmente revigorados, o intelecto torna-se mais lúcido e mais vigorosa cada faculdade. O banho é um calmante dos nervos. Promove a transpiração, estimula a circulação, neutraliza as obstruções do organismo e age beneficamente sobre os rins e órgãos urinários. O banho auxilia os intestinos, o estômago e o fígado, comunicando energia e nova vida a cada um. Também estimula a digestão, e, em vez de enfraquecer-se, o organismo é fortalecido. Em vez de aumentar a possibilidade de resfriado, um banho, convenientemente tomado, protege contra ele, pois a circulação é aumentada, e os órgãos uterinos, que estão mais ou menos congestionados, são aliviados; pois o sangue é levado à superfície, e se consegue um fluxo de sangue mais livre e mais regular através de todos os vasos sangüíneos. T3 71 1 É dito que a experiência é a melhor mestra. Experiência genuína é de fato superior ao conhecimento livresco. Mas hábitos e costumes amarram homens e mulheres com cadeias de ferro, e são geralmente justificados pela experiência, segundo o sentido comum do termo. Muitos têm maltratado a experiência preciosa. Têm-se apegado a seus hábitos perniciosos, que estão decididamente enfraquecendo a saúde física, mental e moral; e quando a gente procura instruí-los, eles justificam sua conduta referindo-se à experiência. Mas a verdadeira experiência está em harmonia com a lei natural e a ciência. T3 71 2 É aqui que temos encontrado as maiores dificuldades em questões religiosas. Os fatos mais simples podem ser apresentados, as verdades mais claras sustentadas pela Palavra de Deus podem ser levadas à mente; mas o ouvido e o coração estão fechados, e o argumento todo-convincente é: "Minha experiência." Alguns dirão: "O Senhor me abençoou em crer e agir como eu faço; portanto não posso estar em erro." Apegam-se à "minha experiência", e as verdades mais santificadoras da Bíblia são rejeitadas por causa daquilo que gostam de chamar de experiência. Muitos dos hábitos mais grosseiros são acariciados sob o pretexto de experiência. Muitos deixam de alcançar aquela melhora física, intelectual e moral que é seu privilégio e dever alcançar porque insistem sobre a confiabilidade e segurança de sua experiência, embora esta suposta experiência seja contrária aos mais óbvios fatos revelados. Muitos homens e mulheres, cujos hábitos errôneos destruíram sua constituição e saúde, serão achados recomendando sua experiência como guia seguro para outros, quando é esta mesma experiência que lhes roubou a vitalidade e a saúde. Muitos exemplos podem ser dados para mostrar como homens e mulheres têm sido enganados confiando em sua experiência. T3 72 1 O Senhor, no princípio, fez o homem reto. Foi criado com a mente perfeitamente equilibrada, sendo o tamanho e a força de todos os órgãos perfeitamente desenvolvidos. Adão era um tipo perfeito de homem. Cada uma das qualidades da mente achava-se bem proporcionada, cada qual tendo uma função distinta, e no entanto todas eram interdependentes para seu pleno e apropriado uso. Foi permitido a Adão e Eva comer de todas as árvores do jardim, menos uma. O Senhor disse ao santo par: "Da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Gênesis 2:17. Eva foi enganada pela serpente a crer que Deus não faria como tinha dito. "É certo que não morrereis", disse a serpente. Gênesis 3:4. Eva comeu e imaginou que sentira as sensações de uma vida nova e mais elevada. Ela levou o fruto ao marido, e o que teve uma influência irresistível sobre ele foi a experiência dela. A serpente dissera que Eva não morreria, e ela não sentira nenhum mau efeito do fruto, nada que pudesse ser interpretado como morte, mas, justamente como a serpente tinha dito, uma sensação agradável que ela imaginou ser como os anjos sentiam. Sua experiência se pôs contra o mandamento positivo de Jeová, e Adão se deixou seduzir pela experiência da esposa. Assim é com o mundo religioso em geral. Os mandamentos expressos de Deus são transgredidos, e "visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal". Eclesiastes 8:11. T3 72 2 Em face dos mais positivos mandamentos de Deus, homens e mulheres seguirão a própria inclinação e então ousam orar sobre o assunto, para persuadir Deus a permitir-lhes ir contra Sua vontade expressa. O Senhor não Se agrada com tais orações. Satanás se coloca ao lado de tais pessoas, como o fez com Eva no jardim, e as impressiona, e elas têm uma agitação mental, e isto interpretam como a experiência mais maravilhosa que o Senhor lhes deu. Uma experiência verdadeira estará em perfeita harmonia com a lei natural e divina. A experiência falsa se alinhará contra a ciência e os princípios de Jeová. O mundo religioso está coberto com um manto de trevas morais. Superstição e fanatismo controlam a mente de homens e mulheres, e lhes cegam o raciocínio de modo que não discernem seu dever para com os semelhantes e seu dever de prestar obediência inquestionável à vontade de Deus. T3 73 1 Balaão consultou a Deus se podia amaldiçoar a Israel, porque assim fazendo tinha a promessa de uma grande recompensa. E Deus disse: "Não irás" (Números 22:12); mas ele foi pressionado pelos mensageiros, e maiores incentivos foram apresentados. A Balaão foi mostrada a vontade do Senhor nesta questão, mas ele estava tão ansioso de receber a recompensa que ousou consultar a Deus pela segunda vez. O Senhor permitiu que Balaão fosse. Então ele teve uma experiência maravilhosa, mas quem teria gostado de ser guiado por tal experiência? Há aqueles que compreenderiam seu dever claramente se estivesse em harmonia com suas inclinações naturais. As circunstâncias e a razão podem claramente indicar seu dever; mas quando são contrárias à sua inclinação natural, estas evidências são freqüentemente postas de lado. Então tais pessoas presumem ir a Deus para saber seu dever. Mas "Deus não Se deixa escarnecer". Gálatas 6:7. Ele permitirá que essas pessoas sigam os desejos de seu coração. "Mas o Meu povo não quis ouvir a Minha voz. ... Pelo que Eu os entreguei aos desejos do seu coração, e andaram segundo os seus próprios conselhos." Salmos 81:11, 12. T3 73 2 Aqueles que querem seguir uma conduta que agrada sua fantasia correm o perigo de serem deixados a seguir as próprias inclinações, supondo que sejam as diretrizes do Espírito de Deus. O dever de alguns é indicado de modo suficientemente claro por circunstâncias e fatos; mas, pelas solicitações de amigos, em harmonia com as próprias inclinações, eles desviam-se do caminho do dever e ignoram as claras evidências no caso; então, com aparente escrúpulo, oram longa e fervorosamente por luz. Têm um sentimento fervoroso a respeito do assunto, e interpretam isso como sendo o Espírito de Deus. Estão, porém, enganados. Essa conduta entristece o Espírito de Deus. Eles tinham luz e pela própria natureza das coisas deviam ter compreendido seu dever; mas uns poucos incentivos agradáveis lhes inclinam a mente no rumo errado, e insistem sobre isto diante do Senhor e argumentam seu caso, e o Senhor permite que sigam o próprio caminho. Têm uma inclinação tão forte de seguir o próprio caminho que Ele permite que o façam e sofram as conseqüências. Tais pessoas imaginam que têm uma experiência maravilhosa. T3 74 1 Minha querida irmã, firmeza é uma influência forte e controladora sobre sua mente. Você adquiriu força para erguer-se e enfrentar a oposição, e executar empreendimentos difíceis e desconcertantes. Você não gosta de contenda. É altamente sensível, sente profundamente. É estritamente conscienciosa, e seu julgamento tem de ser primeiro convencido, antes de ceder a opiniões alheias. Se sua saúde física não tivesse sido enfraquecida, você se teria tornado uma mulher eminentemente útil. Por muito tempo tem estado doente, e isto lhe tem afetado a mente de tal forma que seus pensamentos se têm concentrado em si mesma, e a imaginação afetou o corpo. Em muitos aspectos seus hábitos não têm sido bons. Seu alimento não tem sido correto na qualidade e na quantidade. Você tem comido liberalmente, e alimento de qualidade pobre, o que não tem se convertido em bom sangue. Tem educado o estômago para esse tipo de regime. Isso, segundo seu discernimento, era o melhor, porque imaginava dele provir o mínimo de desconforto. Mas essa não foi uma prática correta. Seu estômago não estava recebendo aquele vigor que devia receber de sua alimentação. Tomado em estado líquido, seu alimento não lhe podia dar saudável vigor ou tono ao organismo. Mas quando mudar esse hábito, e comer mais alimentos sólidos e menos alimentos líquidos, sentirá desconforto no estômago. Não obstante, não deve ceder; deve educar o estômago para suportar regime alimentar mais sólido. Você tem usado roupa em demasia e tem debilitado a pele assim fazendo. Não tem dado a seu corpo a oportunidade de respirar. Os poros da pele, as pequenas aberturas pelas quais o corpo respira, têm-se fechado, e o organismo encheu-se de impurezas. T3 75 1 Seu hábito de passear a cavalo ao ar livre e ao sol tem sido benéfico. Sua vida ao ar livre a tem sustentado de modo a ter o grau de vigor físico que agora desfruta. Mas tem negligenciado outro exercício que era ainda mais essencial do que este. Você tem dependido de sua carruagem para ir mesmo a uma pequena distância. Pensa que se andasse mesmo uma curta distância isso a prejudicaria, e tem se sentido cansada ao fazê-lo. Mas nisso sua experiência não é digna de confiança. T3 75 2 A mesma força de movimento que você exerce entrando e saindo da carruagem, e em subir e descer escadas, poderia ser exercitada igualmente em caminhar e realizar os deveres comuns e necessários da vida. Você tem sido muito negligente em relação aos deveres domésticos. Não sente que poderia cuidar da roupa de seu marido ou de seu alimento. Agora, minha irmã, esta incapacidade existe mais na sua imaginação do que em sua capacidade de fazê-lo. Pensa que fazendo isso ficará cansada ou sobrecarregada; e de fato se cansa. Mas você tem vigor que se fosse posto em uso prático e econômico realizaria muito bem, e a faria muito mais útil e feliz. Você tem tanto pavor de tornar-se inválida que não tem exercido a força com que Deus a abençoou. Em muitas coisas você ajudou seu marido. Ao mesmo tempo você tem abusado de sua paciência e força. Quando ele pensou que você poderia mudar alguns de seus hábitos e melhorar, você se ressentiu de que ele não compreendia seu caso. Suas amigas perceberam que você poderia ser mais útil em seu lar e não ser tão negligente. Isso a entristeceu. Você pensou que elas não compreendiam. Algumas pessoas têm imprudentemente forçado a opinião sobre você quanto a seu caso, e isso também a entristeceu. Você sentiu que Deus, em resposta à oração, a ajudaria, e deste modo tem sido ajudada muitas vezes. Mas não recuperou aquele vigor físico que era seu privilégio desfrutar, porque não tem feito sua parte. Não tem trabalhado em plena união com o Espírito de Deus. T3 76 1 O Senhor lhe deu uma obra a fazer, a qual Ele não Se propõe fazer em seu lugar. Você deve agir movida por princípio, em harmonia com a lei natural, independente dos sentimentos. Deve começar a agir segundo a luz que Deus lhe deu. Talvez não lhe seja possível fazer tudo imediatamente, mas poderá fazer muito se ativar-se aos poucos, com fé, crendo que Deus será seu ajudador, que Ele a fortalecerá. Poderá fazer o exercício de andar, e cumprindo deveres que exijam trabalho leve, no seio da família, e não dependendo tanto dos outros. A consciência de que você pode fazer algo lhe aumentará as forças. Se usasse mais as mãos, e esforçasse menos o cérebro em fazer planos para outros, sua força física e mental aumentaria. Seu cérebro não é ocioso, mas não há um esforço correspondente por parte dos outros órgãos do corpo. O exercício, para lhe ser de positiva vantagem, deve ser sistematizado e levado a influir nos órgãos debilitados, para que se possam fortalecer pelo uso. A cura do movimento [massagem] é grande vantagem a certa classe de pacientes, enfraquecidos demais para o exercício. É, porém, grande erro crer que todos os enfermos possam confiar nela e dela depender, ao mesmo tempo que negligenciem eles mesmos exercitar seus músculos. T3 76 2 Ao nosso redor estão morrendo milhares que poderiam sarar e viver, se o quisessem; mas a imaginação prende-os. Temem que piorem se trabalharem ou fizerem exercício, quando essa é justamente a mudança de que precisam para se recuperar. Sem isso jamais se sentirão melhor. Devem exercer a força de vontade, erguendo-se acima de suas dores e debilidades, empenhar-se em atividade útil e esquecer que têm dores nas costas, nos lados, nos pulmões e na cabeça. Negligenciar exercitar todo o corpo, ou parte dele, causará estados doentios. A inatividade de qualquer dos órgãos do corpo será seguida de uma diminuição no tamanho e na força dos músculos e fará que o sangue flua lento através dos vasos sangüíneos. T3 76 3 Se há deveres a serem feitos em sua vida doméstica, você não considera que lhe é possível fazê-los, mas depende de outros. Por vezes é excessivamente inconveniente obter o auxílio de que precisa. Freqüentemente gasta o dobro da energia exigida para realizar a tarefa, planejando e buscando alguém que faça o trabalho para você. Se tão-somente aplicasse a mente para fazer essas pequenas tarefas e deveres domésticos, você seria abençoada e fortalecida, e sua influência na causa de Deus seria bem maior. Deus criou Adão e Eva no Paraíso, e os cercou de tudo que era útil e atrativo. Plantou para eles um lindo jardim. Não faltava nenhuma erva, nem flor ou árvore que poderia ser de utilidade ou servir de ornamento. O Criador do ser humano sabia que o produto de Suas mãos não poderia ser feliz sem uma ocupação. O Paraíso lhes deleitava o coração, mas isto não era suficiente; precisavam ter um trabalho para exercitar os maravilhosos órgãos do corpo. O Senhor fez os órgãos para serem usados. Se a felicidade consistisse em nada fazer, o ser humano, em seu estado de santa inocência, teria sido deixado sem ocupação. Mas Aquele que formou o ser humano sabia o que seria para sua felicidade perfeita, e logo que o criou lhe designou seu trabalho. A fim de ser feliz, ele devia trabalhar. T3 77 1 Deus nos deu a todos algo a fazer. No desempenho dos vários deveres que nos cabe fazer, que se encontram em nosso caminho, nossa vida se tornará útil, e seremos abençoados. Não somente os órgãos do corpo serão fortalecidos pelo exercício, mas a mente também adquirirá vigor e conhecimento pela ação daqueles órgãos. O exercício de um músculo, enquanto outros são deixados inativos, não fortalecerá os inativos mais do que o exercício contínuo de uma das faculdades da mente desenvolverá e fortalecerá os órgãos não utilizados. Cada faculdade mental e cada músculo têm sua função distinta, e todos precisam ser exercitados a fim de desenvolver-se de modo apropriado e conservar o vigor. Cada órgão e cada músculo têm um trabalho a fazer no organismo vivo. Toda roda do sistema deve ser uma roda viva, ativa e que trabalha. As belas e maravilhosas obras da natureza precisam ser conservadas em movimento ativo a fim de desempenhar o trabalho para o qual foram designadas. Cada faculdade tem uma influência sobre as outras, e todas precisam ser exercitadas para desenvolver-se de modo apropriado. Se um músculo do corpo é mais exercitado do que outro, aquele que foi exercitado ficará muito maior, e destruirá a harmonia e beleza do desenvolvimento do organismo. Uma variedade de exercícios porá em uso todos os músculos do corpo. T3 78 1 Aqueles que são fracos e indolentes não devem ceder à sua tendência de estarem inativos, privando-se assim do ar e da luz solar, mas devem praticar exercício ao ar livre, andando ou trabalhando no jardim. Eles se tornarão muitíssimo fatigados, mas isso não os prejudicará. Você, minha irmã, experimentará fadiga; contudo, isso não a prejudicará. Seu descanso será mais agradável. A inatividade enfraquece os órgãos que não são exercitados. E quando esses órgãos são utilizados, dor e fraqueza são experimentadas, pois os músculos se tornaram fracos. Não é prudente abandonar o uso de certos músculos porque se sente dor quando são exercitados. A dor é, em geral, causada pelo esforço da natureza para transmitir vida e vigor àquelas partes que se tornaram parcialmente sem vida por causa da inatividade. O movimento desses músculos durante muito tempo sem uso causará dor, pois a natureza os está despertando para a vida. T3 78 2 Em todos os casos possíveis, andar é o melhor remédio para os corpos enfermos, pois nesse exercício todos os órgãos do corpo são postos em uso. Muitos que dependem da cura de movimento [massagem] podem fazer mais por si mesmos pelo exercício muscular do que as massagens o podem fazer por eles. Em alguns casos, a falta de exercício faz com que os intestinos e músculos se tornem enfermos e contraídos, e esses órgãos que se tornaram doentios por falta de uso poderão ser fortalecidos pelo exercício. Nenhum exercício pode substituir a caminhada. Ela aumenta grandemente a circulação do sangue. T3 78 3 O uso ativo dos membros será da maior vantagem para você, irmã N. Você tem tido muitas idéias, e tem sido muito confiante, o que lhe é prejudicial. Enquanto você temer confiar-se às mãos dos médicos, e pensar que entende seu caso melhor do que eles, não pode ser beneficiada, mas somente prejudicada, pelo tratamento deles. A menos que os médicos possam obter a confiança de seus pacientes, eles nunca os podem ajudar. Se você se automedica, e pensa que sabe melhor do que os médicos que tratamento deve usar, não pode ser beneficiada. Você precisa renunciar sua vontade e suas idéias, e não armar-se para resistir ao critério e conselho deles em seu caso. T3 79 1 Que o Senhor a ajude, minha irmã, a ter não somente fé, mas as obras correspondentes. ------------------------Capítulo 7 -- Fidelidade nos deveres domésticos T3 79 2 Prezada irmã O: T3 79 3 Penso que você não é feliz. Buscando alguma grande obra a fazer, passa por alto deveres do momento, que lhe estão bem no caminho. Você não é feliz porque olha acima dos pequeninos deveres diários da vida, a qualquer obra mais elevada e maior a realizar. Acha-se inquieta, incomodada e descontente. Gosta mais de mandar do que de executar. Aprecia mais dizer a outros o que fazer do que, com pronta satisfação, assumir e fazer você mesma. T3 79 4 Você podia ter tornado a casa de seu pai mais feliz se houvesse consultado menos suas inclinações, e mais à felicidade dos outros. Quando empenhada nos deveres comuns da vida, deixa de pôr o coração nesse trabalho. Sua mente busca adiante e além uma obra mais aprazível, elevada e honrosa. Alguém precisa fazer justamente essas coisas em que você não encontra prazer, e de que até se desgosta. Esses simples deveres, caso sejam cumpridos com boa vontade e fidelidade, proporcionar-lhe-ão a educação necessária para vir a gostar dos deveres domésticos. Eis uma experiência que lhe é altamente essencial obter, mas que você não aprecia. Queixa-se de sua sorte, tornando assim infelizes os que a rodeiam, e sofrendo por sua vez grande prejuízo. Talvez a irmã nunca venha a ser chamada a fazer um trabalho que a ponha diante do público. Mas todo serviço que fazemos, e que é necessário ser feito, seja lavar louça, pôr a mesa, cuidar de um doente, cozinhar ou lavar, é de importância moral; e enquanto você não puder lançar mão desses deveres satisfeita e feliz, não está apta para deveres maiores e mais elevados. As humildes tarefas que estão diante de nós devem ser executadas por alguém. Os que as fazem devem sentir estarem realizando uma obra necessária e honrosa, e que em sua missão, por humilde que seja, estão fazendo a obra de Deus, tão certo como o estava Gabriel quando enviado aos profetas. Todos, em suas respectivas esferas, estão trabalhando por sua ordem. As mulheres em seu lar, cumprindo os simples deveres da vida que precisam ser feitos, podem e devem manifestar fidelidade, obediência e amor tão sinceros como os anjos em sua esfera. A conformidade com a vontade de Deus torna honrosa qualquer obra que precisa ser feita. T3 80 1 O que você precisa é manifestar amor e afeto. Seu caráter necessita ser moldado. Cumpre pôr de lado sua ansiedade e, em lugar dela, cultivar gentileza e amor. Renuncie o eu. Não fomos criados anjos, mas inferiores aos anjos; todavia, nossa obra é importante. Não estamos no Céu, mas na Terra. Quando lá estivermos, seremos então habilitados a fazer a elevada e enobrecedora obra do Céu. É aqui neste mundo que nos cumpre ser experimentados e provados. Precisamos estar armados para o conflito e o dever. T3 80 2 O mais alto dever que pesa sobre os jovens está no próprio lar, sendo uma bênção ao pai e à mãe, aos irmãos e irmãs, mediante afeição e verdadeiro interesse. Aí podem eles manifestar abnegação e desprendimento de si mesmos no cuidado e serviço por outros. Jamais será a mulher rebaixada por esta obra. É o mais sagrado e elevado cargo que ela pode preencher. Que influência pode uma irmã exercer sobre os irmãos! Se ela for reta, poderá determinar o caráter deles! Suas orações, sua gentileza e afeição muito podem efetuar no ambiente da família. Minha irmã, essas nobres qualidades nunca poderão ser comunicadas a outras pessoas a menos que existam primeiro em você. Aquele contentamento de espírito, aquela disposição de ânimo, gentileza e temperamento radiante que cativarão todos os corações refletirão sobre seu coração aquilo que dispensa aos outros. Se Cristo não reina no coração, haverá descontentamento e deformidade moral. O egoísmo exigirá dos outros aquilo que não estamos dispostos a dar-lhes. Se Cristo não estiver no coração, o caráter será desagradável. T3 81 1 Não é apenas uma grande obra e grandes batalhas que provam a alma e requerem coragem. A vida diária traz suas perplexidades, provações e desânimos. É o trabalho humilde que freqüentemente estimula a paciência e a constância. São necessárias confiança em si mesmo e resolução para enfrentar e vencer as dificuldades. Assegure-se de que o Senhor esteja com você para em toda situação ser seu consolo e conforto. "Um espírito manso e quieto" (1 Pedro 3:4), eis o que você muito necessita, e sem isto não poderá ser feliz. Que Deus a ajude, minha irmã, a buscar a mansidão e a justiça. Você necessita simplesmente do Espírito de Deus. Caso esteja disposta a ser qualquer coisa ou a não ser nada, Deus ajudará, fortalecerá e abençoará você. Mas, se negligenciar os pequenos deveres, nunca lhe serão confiados os maiores. ------------------------Capítulo 8 -- Orgulho e pensamentos vãos T3 81 2 Queridos filhos P e Q: T3 81 3 Vocês estão enganados a respeito de si mesmos. Vocês não são cristãos. Ser cristão verdadeiro é ser semelhante a Cristo. A este respeito vocês estão longe do alvo; mas espero que não sejam enganados até ser tarde demais para formarem caráter para o Céu. T3 81 4 Seu exemplo não tem sido bom. Vocês não chegaram ao ponto de obedecer às palavras de Cristo: "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. Aqui há lições que vocês não aprenderam. A negação do eu não tem sido parte de sua educação. Vocês têm negligenciado estudar as palavras da vida: "Examinai as Escrituras", disse o Mestre divino. Ele sabia ser isto necessário para todos a fim de se tornarem verdadeiros seguidores de Cristo. Vocês gostam de ler romances, mas não acham a Palavra de Deus interessante. Devem limitar sua leitura à Palavra de Deus e a livros que são de natureza espiritual e úteis. Agindo assim, vocês fecharão a porta à tentação e serão abençoados. T3 82 1 Tivessem se beneficiado da luz que tem sido dada em Battle Creek, estariam agora muito mais adiantados do que estão na vida religiosa. Vocês dois são frívolos e orgulhosos. Não têm percebido que terão de dar conta de sua mordomia. São responsáveis diante de Deus por todos os seus privilégios e por todos os recursos que passam por suas mãos. Têm buscado o próprio prazer e a satisfação egoísta à custa da consciência e da aprovação de Deus. Não agem como servos de Cristo, que terão de prestar contas ao Salvador que os comprou com Seu sangue precioso. "Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça." Romanos 6:16-18. T3 82 2 Vocês professam ser servos de Cristo. Prestam-Lhe, então, uma obediência pronta e voluntária? Perguntam seriamente como melhor haverão de agradar Àquele que os chamou para serem soldados da cruz de Cristo? Erguem vocês dois a cruz e nela se gloriam? Respondam estas questões a Deus. Todos os seus atos, por mais secretos que os considerem, acham-se abertos perante seu Pai celestial. Coisa alguma é oculta, coisa alguma se acha encoberta. Todos os seus atos e os motivos que os impulsionaram estão a descoberto aos Seus olhos. Ele tem pleno conhecimento de todas as suas palavras e pensamentos. Cumpre-lhes controlar os pensamentos e as ações. Vocês têm de combater a vã imaginação. Talvez pensem que não pode haver pecado em permitir que os pensamentos sigam seu curso natural, sem restrição. Não é assim, porém. Vocês são responsáveis diante de Deus pela condescendência com os pensamentos vãos; pois das vãs imaginações surge a prática do pecado, o praticar realmente essas coisas em que a mente se tem demorado. Controlem os pensamentos, e ser-lhes-á mais fácil reger as ações. Seus pensamentos precisam ser santificados. Paulo escreve aos coríntios: "Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo." 2 Coríntios 10:5. Ao chegarem a estas condições, a obra de consagração lhes será mais compreensível. Seus pensamentos serão puros, castos e elevados; puras e santas as ações. Conservarão o corpo em santificação e honra, a fim de que o apresentem em "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Romanos 12:1. Requer-se de vocês que neguem a si mesmos nas coisas pequenas, assim como nas maiores. Devem fazer uma completa entrega a Deus; vocês não têm Sua aprovação no estado em que se encontram. T3 83 1 Vocês têm exercido uma influência não santificadora sobre os jovens em _____. Seu amor à ostentação leva a um gasto de recursos que é errado. Não reconhecem os direitos que o Senhor tem sobre vocês. Não se familiarizaram com os agradáveis resultados da abnegação. Seus frutos são sagrados. Servir e satisfazer a si mesmos tem sido o estilo da vida de vocês. Gastar seus recursos para satisfazer o orgulho tem sido sua prática. Oh, quão melhor teria sido para vocês haverem restringido seus desejos e feito algum sacrifício pela verdade de Deus, e assim, negando "a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (1 João 2:16), terem tido algo para colocar na tesouraria de Deus! Em vez de comprar coisas fúteis, ponham seu pouco no banco do Céu, para que quando o Mestre vier vocês possam receber tanto o capital como os juros. T3 83 2 Têm vocês dois inquirido quanto poderiam fazer para honrar na Terra seu Redentor? Oh, não! Vocês se contentaram em honrar a si mesmos e a receber honras de outros, mas esforçar-se para apresentar-se aprovados por Deus não tem sido a preocupação de sua vida. "A religião pura e imaculada" (Tiago 1:27), com seus fortes princípios, seria uma âncora para vocês. A fim de corresponder às grandes finalidades da vida, cumpre-lhes evitar o exemplo daqueles que buscam seu próprio prazer e satisfação, e não têm diante de si o temor de Deus. Deus tem tomado amplas providências em seu favor. Tem providenciado para que, se cumprirem as condições estabelecidas em Sua Palavra, e se separarem do mundo, possam receber dEle força para reprimir toda influência degradante, e desenvolver o que é nobre, bom e elevado. Cristo será em vocês "uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". João 4:14. A vontade, o intelecto e toda emoção, quando controlados pelo sentimento religioso, têm um poder transformador. T3 84 1 "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. Eis aqui um princípio que constitui o fundamento de todo ato, pensamento e motivo; a consagração de todo o ser, físico e mental, ao domínio do Espírito de Deus. A vontade e as paixões não santificadas precisam ser crucificadas. Isso talvez seja considerado uma obra rigorosa e severa. Mas precisa ser efetuada, senão ouvirão a terrível sentença da boca de Jesus: "Apartai-vos." Mateus 7:23. Vocês podem fazer todas as coisas por meio de Cristo, que os fortalece. Vocês estão na idade em que a vontade, o apetite e as paixões clamam por condescendência. Deus implantou-os em sua natureza com elevadas e santas finalidades. Não é necessário que se lhes tornem uma maldição por serem degradados. Só se tornarão assim quando recusarem submeter-se ao controle da razão e da consciência. Restringir e negar são palavras e obras com as quais não estão familiarizados por experiência pessoal. As tentações os têm abalado. Mentes não santificadas deixam de receber a força e o conforto que Deus proveu para elas. São inquietas e possuem forte desejo de alguma coisa nova, de algo que satisfaça, agrade e estimule a mente; e isso é chamado de prazer. Satanás tem fascinantes atrativos para absorver o interesse e estimular especialmente a imaginação dos jovens, a fim de prendê-los no seu laço. Vocês estão edificando sobre a areia. Precisam clamar fervorosamente: "Ó, Senhor, converte o mais profundo de meu ser." Vocês podem ser uma influência para o bem sobre outros jovens, ou podem ser uma influência para o mal. T3 84 2 "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo"; em "todo o vosso espírito, e alma, e corpo." 1 Tessalonicenses 5:23. ------------------------Capítulo 9 -- A obra em Battle Creek T3 85 1 Numa visão que tive em Bordoville, Vermont, em 10 de Dezembro de 1871, foi-me mostrado que a posição de meu marido tem sido bem difícil. Uma pressão de responsabilidade e trabalho tem pesado sobre ele. Seus irmãos no ministério não têm tido de levar estas responsabilidades, e não têm apreciado seus esforços. A pressão constante sobre ele o tem sobrecarregado mental e fisicamente. Foi-me mostrado que sua relação com o povo de Deus era semelhante em alguns respeitos à de Moisés com Israel. Havia murmuradores contra Moisés, quando em circunstâncias adversas, e têm havido murmuradores contra ele. T3 85 2 Não tem havido ninguém nas fileiras dos guardadores do sábado que faria o que meu marido tem feito. Ele tem devotado seu interesse quase inteiramente à edificação da causa de Deus, sem consideração por seus interesses pessoais e com o sacrifício do convívio social com sua família. Em sua dedicação à causa, ele tem freqüentemente posto em perigo a saúde e a vida. Tem sido tão pressionado pela responsabilidade desta obra que não tem tido tempo adequado para estudo, meditação e oração. Deus não exigiu que ele estivesse nessa situação, até para o interesse e o progresso da obra de publicação em Battle Creek. Há outros ramos da obra, outros interesses da causa, que têm sido negligenciados por sua dedicação a este. Deus nos tem dado a ambos um testemunho que alcançará os corações. Ele abriu diante de mim muitos condutos de luz, não só para meu benefício, mas para o benefício de Seu povo em geral. Ele também tem dado a meu marido grande luz sobre tópicos bíblicos, não para ele só, mas para outros. Vi que estas coisas devem ser escritas e anunciadas, e que nova luz continuaria a brilhar sobre a Palavra. T3 85 3 Vi que poderíamos realizar dez vezes mais para edificar a obra trabalhando em meio do povo de Deus, levando um testemunho diverso para satisfazer as necessidades dela em diferentes lugares e sob circunstâncias diversas, do que poderíamos fazer ficando em Battle Creek. Nossos dons são necessários no mesmo campo escrevendo e falando. Enquanto meu marido está sobrecarregado, como tem estado, com um acúmulo de cuidados e questões financeiras, sua mente não pode ser tão produtiva na palavra como poderia ser. E ele está sujeito a ser assaltado pelo inimigo; porque está em uma posição na qual há pressão constante, e homens e mulheres serão tentados, como o foram os israelitas, a queixar-se e a murmurar contra aquele que ocupa a posição de maior responsabilidade na causa e obra de Deus. T3 86 1 Enquanto sob o peso dessas responsabilidades que ninguém mais se aventuraria a assumir, meu marido tem por vezes, sob a pressão da preocupação, falado sem a devida consideração e com aparente severidade. Ele tem por vezes censurado pessoas no Escritório porque não eram cuidadosas. E quando erros desnecessários ocorreram, ele pensou que indignação pela causa de Deus era justificável em seu caso. Esta conduta não tem sido sempre acompanhada pelos melhores resultados. Tem por vezes resultado em negligência por parte das pessoas reprovadas para fazerem as coisas que deviam ter feito; porque receavam que não as fariam corretamente, e seriam então culpadas por isso. Justamente como tem acontecido, a responsabilidade tem caído mais pesadamente sobre meu marido. T3 86 2 Teria sido melhor ele estar ausente do Escritório mais do que tem estado, e deixar que outros fizessem o trabalho. E se, depois de uma tentativa paciente e justa, eles se demonstrassem infiéis, ou não capacitados para o trabalho, deviam ser despedidos, e deixados a empenhar-se em ocupações onde seus erros e tolices afetassem seus interesses pessoais e não a causa de Deus. T3 86 3 Havia indivíduos que estavam à frente dos negócios da Sociedade de Publicações que eram, para dizer o mínimo, infiéis. E se as pessoas especialmente associadas a eles como depositários tivessem estado com seus olhos abertos e suas sensibilidades não paralisadas, esses homens teriam sido separados da obra há muito tempo. T3 86 4 Quando meu marido se recuperou de sua longa e grave enfermidade, ele tomou conta do trabalho confuso e embaraçado deixado por homens infiéis. Trabalhou com toda a determinação e força física e mental que possuía para erguer a obra e redimi-la da situação vergonhosa à qual havia sido levada por aqueles que tinham elevados interesses pessoais e não sentiram que era sagrada a obra na qual estavam empenhados. A mão de Deus se estendeu em julgamento sobre estes homens infiéis. Sua conduta e o resultado deviam demonstrar-se uma advertência a outros para não agirem como eles agiram. T3 87 1 A experiência de meu marido durante o período de sua enfermidade foi desastrosa para ele. Ele havia trabalhado nesta causa com interesse e dedicação como ninguém o fizera. Tinha arriscado e tomado posições avançadas como a Providência havia guiado, indiferente a censura ou louvor. Tinha permanecido de pé sozinho e batalhado através de sofrimentos físicos e mentais, não levando em conta os próprios interesses, enquanto aqueles que Deus tinha designado para ficarem a seu lado o abandonaram quando ele mais precisava de ajuda. Não somente foi deixado a batalhar e lutar sem auxílio e simpatia deles, mas freqüentemente teve de enfrentar oposição e murmurações -- murmurações contra alguém que estava fazendo dez vezes mais do que qualquer deles para edificar a causa de Deus. Todas essas coisas têm tido sua influência; elas moldaram a mente que fora outrora isenta de suspeita, confiante e crédula, e fez com que perdesse a confiança em seus irmãos. Aqueles que contribuíram para isso serão, em grande parte, responsáveis pelo resultado. Deus os teria guiado se Lhe tivessem servido de modo fervoroso e devotado. T3 87 2 Foi-me mostrado que meu marido tinha dado a seus irmãos evidências inconfundíveis de seu interesse na obra de Deus e de sua dedicação à mesma. Depois de ter gasto anos de sua vida em privação e labuta constante para estabelecer os interesses da obra de publicação sobre uma base segura, deu ao povo de Deus aquilo que era seu e que poderia muito bem ter guardado, e recebido os lucros se tivesse preferido fazê-lo. Por este ato mostrou ao povo que não estava procurando vantagem própria, mas sim promover a causa de Deus. T3 88 1 Quando a doença acometeu meu marido, muitos agiram da mesma maneira insensível para com ele como os fariseus agiram para com os desafortunados e oprimidos. Os fariseus diriam aos sofredores que sua aflição fora o resultado de seus pecados, e que os juízos de Deus lhes sobrevieram. Assim agindo aumentavam seu fardo de sofrimento. Quando meu marido sucumbiu sob seu fardo de responsabilidades, houve aqueles que foram impiedosos. T3 88 2 Quando começou a recuperar-se, de modo que em sua fraqueza e pobreza passou a fazer algum trabalho, pediu àqueles que estavam à frente dos negócios no Escritório um desconto de quarenta por cento sobre uma encomenda de cem dólares de livros. Ele estava disposto a pagar sessenta dólares pelos livros que sabia custarem à Associação apenas cinqüenta dólares. Ele pediu esse desconto especial em vista de seus trabalhos e sacrifícios do passado a favor do departamento de publicações, mas lhe foi negado este pequeno favor. Disseram-lhe friamente que só podiam dar-lhe vinte e cinco por cento de desconto. Meu marido considerou isso muita ingratidão, mas procurou suportá-la de um modo cristão. Deus no Céu anotou essa decisão injusta, e desde então tomou o caso nas próprias mãos, e devolveu as bênçãos negadas, como fez ao fiel Jó. Desde aquela decisão desumana, Ele tem estado a trabalhar a favor de Seu servo, e lhe concedeu mais saúde física, clareza e força mentais e liberdade de espírito do que antes. Desde então meu marido tem tido o prazer de distribuir gratuitamente com as próprias mãos milhares de dólares de nossas publicações. Deus não abandona totalmente e nem esquece para sempre os que têm sido fiéis, mesmo se algumas vezes eles cometem erros. T3 88 3 Meu marido tem tido zelo por Deus e pela verdade, e por vezes este zelo o tem levado a trabalhar demais com prejuízo do vigor físico e mental. Mas o Senhor não considerou isso pecado tão grande como a negligência e infidelidade de Seus servos em reprovar erros. Aqueles que louvam os infiéis e lisonjeiam os não consagrados são participantes em seu pecado de negligência e infidelidade. T3 89 1 Deus escolheu meu marido e deu-lhe qualificações especiais, habilidade natural e experiência para liderar Seu povo no avanço da obra. Mas tem havido murmuradores entre os adventistas guardadores do sábado como houve em meio do antigo Israel, e estas pessoas invejosas e desconfiadas, por suas sugestões e insinuações, têm dado aos inimigos de nossa fé ocasião de desconfiar da honestidade de meu marido. Estes invejosos, da mesma fé, têm apresentado as coisas diante de incrédulos numa falsa perspectiva, e as impressões feitas impedem que muitos abracem a verdade. Consideram meu marido como um homem ardiloso, egoísta e avarento, e têm medo dele e da verdade que sustentamos como um povo. T3 89 2 Quando o apetite do antigo Israel foi restringido, ou quando alguma exigência estrita lhes foi imposta, culparam Moisés de ser arbitrário, querer governá-los e ser um príncipe soberano sobre eles, quando era apenas um instrumento na mão de Deus para levar Seu povo a uma posição de submissão e obediência à voz de Deus. T3 89 3 O Israel moderno tem murmurado e ficado com inveja de meu marido porque ele tem pleiteado pela causa de Deus. Tem encorajado liberalidade, tem reprovado aqueles que amam o mundo e tem censurado o egoísmo. Tem pleiteado por doações para a causa de Deus e, para encorajar a liberalidade em seus irmãos, tem liderado com doações liberais ele mesmo. Mas mesmo isso tem sido interpretado por muitos murmuradores e invejosos como se ele desejas-se beneficiar-se pessoalmente dos recursos de seus irmãos e tivesse se enriquecido à custa da causa de Deus. O fato é que Deus confiou recursos a suas mãos para erguê-lo acima de penúria, de modo a não ficar dependente da misericórdia de um povo volúvel, murmurador e invejoso. Porque não temos buscado egoistamente nosso próprio interesse, mas temos cuidado da viúva e do órfão, Deus tem na Sua providência trabalhado em nosso favor e nos abençoado com prosperidade e abundância. T3 89 4 Moisés sacrificou um reino em perspectiva, uma vida de honra e luxo mundanos em cortes reais, "escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito". Hebreus 11:25, 26. Se tivéssemos escolhido uma vida de lazer e livre de trabalho e cuidado, poderíamos tê-lo feito. Mas esta não foi nossa escolha. Preferimos trabalho ativo na causa de Deus, uma vida itinerante, com todas as suas dificuldades, privações e riscos, a uma vida de indolência. Não temos vivido para nós mesmos, para nos satisfazer, mas temos tentado viver para Deus, para agradar-Lhe e glorificá-Lo. Não foi nosso objetivo labutar para obter bens; mas Deus tem cumprido Sua promessa dando-nos "cem vezes tanto" nesta vida. Marcos 10:30. Ele pode nos provar removendo-os de nós. Se assim acontecer, oramos por submissão a fim de humildemente suportar a prova. T3 90 1 Embora Ele nos tenha confiado talentos de dinheiro e influência, procuraremos investi-los em Sua causa, para que caso o fogo os consuma e a adversidade os diminua, tenhamos o prazer de saber que parte de nosso tesouro está onde o fogo não pode consumir ou a adversidade atingir. A causa de Deus é um banco seguro que nunca pode falir, e o investimento de nosso tempo, nosso interesse e nossos recursos nele é um tesouro no Céu que não falha. T3 90 2 Foi-me mostrado que meu marido tem tido três vezes mais responsabilidades do que deveria. Ele sentiu-se provado porque os irmãos R e S não o ajudaram a levar as responsabilidades, e sentiu-se angustiado porque não o ajudaram nas questões administrativas em relação ao Instituto e à Sociedade de Publicações. Tem havido progresso contínuo na obra de publicação desde que os infiéis foram dela separados. E ao aumentar o trabalho, deveria haver homens para partilhar as responsabilidades; mas alguns que poderiam tê-lo feito não tinham vontade, porque não aumentaria suas posses tanto quanto um negócio mais lucrativo. T3 90 3 Não há em nosso Escritório aquele talento que deveria haver. A obra requer as melhores e mais escolhidas pessoas para nela se empenharem. Com o presente estado de coisas no Escritório meu marido ainda sentirá a pressão que tem sentido, mas que não devia mais suportar. É somente por um milagre da graça de Deus que ele tem suportado o fardo por tanto tempo. Mas há agora muitas coisas a serem consideradas. Por seu cuidado perseverante e dedicação ao trabalho, ele tem mostrado o que pode ser feito na área de publicações. Homens com interesses altruístas combinados com critério santificado podem fazer do trabalho no Escritório um sucesso. Meu marido tem suportado sozinho o fardo por tanto tempo que isso tem afetado terrivelmente sua força, e há necessidade positiva de mudança. Ele precisa em grande medida ser liberado de responsabilidades, e ainda pode trabalhar na causa de Deus falando e escrevendo. T3 91 1 Quando voltamos de Kansas no outono de 1870, nós dois devíamos ter tido um período de descanso. Semanas de isenção de cuidados eram necessárias para restaurar nossas esgotadas energias. Mas quando encontramos o importante posto em Battle Creek quase abandonado, sentimo-nos obrigados a empenhar-nos no trabalho com energia dobrada, e trabalhamos acima de nossas forças. Foi-me mostrado que meu marido não deveria continuar lá, a menos que houvesse homens que reconhecessem as necessidades da causa e assumissem as responsabilidades da obra, enquanto ele atuaria como conselheiro. Ele precisa depor o fardo, porque Deus tem uma obra importante para ele fazer escrevendo e pregando a verdade. Nossa influência será maior para edificar a causa de Deus ao trabalharmos no vasto campo. Há imenso preconceito em muitas mentes. Afirmações falsas nos têm colocado sob uma luz errada diante do povo, e isto impede que muitos abracem a verdade. Se eles são levados a crer que aqueles que ocupam posições de responsabilidade na obra em Battle Creek são ardilosos e fanáticos, concluem que a obra inteira está errada e que nossas opiniões sobre verdades bíblicas devem ser incorretas, e receiam pesquisar e receber a verdade. Mas não devemos sair para chamar o povo a olhar para nós; não devemos como regra falar de nós mesmos e justificar nosso caráter; mas devemos falar da verdade, exaltar a verdade, falar de Jesus, exaltar a Jesus, e isto, acompanhado do poder de Deus, removerá preconceito e desarmará a oposição. T3 91 2 Os irmãos R e S gostam de escrever; o mesmo acontece com meu marido. E Deus tem permitido que Sua luz brilhe sobre Sua Palavra, e o tem levado a um campo de pensamento rico que seria uma bênção ao povo de Deus em geral. Enquanto ele levou um fardo triplo, alguns de seus irmãos no ministério têm deixado a responsabilidade cair pesadamente sobre ele, consolando-se com o pensamento de que Deus colocou o irmão White à frente da obra e o qualificou para isto, e que Deus não os tinha qualificado para essa posição; por conseguinte, eles não têm assumido a responsabilidade e levado os fardos que poderiam ter levado. T3 92 1 Outras pessoas deveriam sentir o mesmo interesse que meu marido tem sentido. Nunca houve um tempo mais importante na história dos adventistas do sétimo dia do que o presente. Em vez da obra de publicações diminuir, a demanda por nossas publicações está aumentando bastante. Haverá mais a fazer do que menos. Tem-se murmurado tanto contra meu marido, ele tem lutado contra ciúme e falsidade por tanto tempo, e tem visto tão pouca fidelidade nos homens, que suspeita de quase todos, mesmo de seus irmãos no ministério. Os irmãos no ministério têm sentido isto, e receando não agirem prudentemente, em muitos casos não têm feito absolutamente nada. Mas o tempo chegou quando estes homens precisam trabalhar unidos para assumir as responsabilidades. Os irmãos no ministério têm falta de fé e confiança em Deus. Crêem na verdade, e no temor de Deus devem unir seus esforços, e assumir as responsabilidades deste trabalho que Deus colocou sobre eles. T3 92 2 Se depois de alguém, em seu entender, haver feito o máximo ao seu alcance, outro pensar que ele deveria ter feito melhor, deve bondosa e pacientemente dar ao irmão o benefício de seu discernimento, mas não censurá-lo nem pôr em dúvida sua integridade de propósito, como não quereria que outros dele suspeitassem ou injustamente o censurassem. Se o irmão que tem no coração a causa de Deus vê que cometeu um erro, apesar de seus mais zelosos esforços no executá-la, sentirá profundamente o caso; pois tenderá a desconfiar de si próprio, perder a confiança no próprio discernimento. Coisa alguma lhe enfraquecerá tanto o ânimo e a varonilidade a ele conferida por Deus como compreender seus erros na obra que o Senhor lhe designou, obra que ele ama acima da própria vida. Quão injusto é, pois, que seus irmãos, descobrindo-lhe os erros, fiquem a apertar o espinho cada vez mais fundo em seu coração, para fazê-lo sentir mais intensamente, quando, a cada nova aguilhoada, o estão fazendo perder a fé, ânimo e a confiança em si mesmo para trabalhar com êxito na edificação da causa de Deus! T3 93 1 Freqüentemente tem-se de dizer claramente a verdade e os fatos aos que erram, a fim de os levar a verem e sentirem o erro, para que se reformem. Mas isso deve ser feito sempre com piedosa delicadeza, não com aspereza ou severidade; deve-se considerar a própria fraqueza, para que a pessoa não seja ela própria tentada também. Quando a pessoa em falta vê e reconhece seu erro, então, em vez de entristecê-la e fazer com que o sinta mais profundamente, deve-se dar conforto. No Sermão do Monte, Cristo disse: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:1, 2. Nosso Salvador reprovou o juízo precipitado. "Por que reparas tu no argueiro que está no olho de teu irmão e não vês a trave que está no teu olho?" Mateus 7:3. Freqüentemente acontece de uma pessoa ser pronta a discernir os erros de seus irmãos, enquanto ela mesma se encontra em maior falta e não percebe. T3 93 2 Todos os que somos seguidores de Cristo devemos tratar os outros da mesma maneira que desejamos que o Senhor trate conosco em nossos erros e fraquezas, pois todos erramos e precisamos de Sua compaixão e perdão. Jesus consentiu em tomar a natureza humana, a fim de saber como compadecer-Se e interceder junto de Seu Pai em favor dos pecadores e errantes mortais. Ele Se prontificou a tornar-Se o advogado do ser humano. Humilhou-Se para familiarizar-Se com as tentações pelas quais o homem era assaltado, para que pudesse socorrer os que fossem tentados, e ser um sumo sacerdote compassivo e fiel. T3 93 3 Muitas vezes há necessidade de repreender positivamente o pecado e reprovar o erro. Mas os pastores que trabalham pela salvação de seus semelhantes não devem ser inclementes para com os erros uns dos outros, nem salientar os defeitos existentes em suas organizações. Não devem expor ou reprovar suas fraquezas. Devem verificar se tal procedimento da parte de outro para com eles produziria o efeito desejado. Aumentaria isto seu amor para com aquele que lhes patenteasse as faltas e promoveria sua confiança nele? Especialmente os erros dos pastores empenhados na obra de Deus devem ser conservados dentro do menor círculo possível, pois há muitas pessoas fracas que disso se prevalecerão, caso saibam que aqueles que ministram na palavra e na doutrina têm fraquezas como os outros homens. Coisa mui cruel é serem as faltas de um pastor expostas a descrentes, caso seja ele considerado digno de trabalhar futuramente pela salvação de almas. Bem algum pode vir de assim o expor, mas unicamente mal. O Senhor Se desagrada com essa atitude, pois ela destrói a confiança do povo naqueles que Ele aceita para levarem avante Sua obra. O caráter de todo coobreiro deve ser zelosamente protegido pelos irmãos de ministério. Disse Deus: "Não toqueis nos Meus ungidos e não maltrateis os Meus profetas." Salmos 105:15; 1 Crônicas 16:22. Cumpre nutrir amor e confiança. A falta desse amor e confiança de um pastor para com outro não aumenta a felicidade daquele que é nisso deficiente, mas, ao tornar seu irmão infeliz, fica-o ele próprio também. Há maior poder no amor do que jamais se encontrou na censura. O amor abrirá caminho por entre barreiras, ao passo que a censura fechará toda entrada da alma. T3 94 1 Meu marido precisa mudar. Perdas podem ocorrer no Escritório de publicação por falta de sua longa experiência, mas a perda de dinheiro não se compara com a saúde e vida do servo de Deus. A entrada de recursos pode não ser tão grande por falta de gerentes financeiros; mas se meu marido ficasse de novo doente, isso desencorajaria seus irmãos e enfraqueceria suas mãos. Recursos não podem entrar como compensação. T3 94 2 Há muito que fazer. Missionários devem estar no campo dispostos, se preciso for, a ir a países estrangeiros para apresentar a verdade àqueles que estão em trevas. Mas há pouca disposição entre jovens para se consagrarem a Deus e devotar seus talentos a Seu serviço. Estão muito prontos a evitar responsabilidades e fardos. Não estão obtendo a experiência em levar responsabilidades ou no conhecimento das Escrituras que devem ter para qualificá-los para a obra que Deus aceitaria de suas mãos. É o dever de todos ver quanto podem fazer para o Mestre que morreu por eles. Mas muitos estão procurando fazer o menos possível e acariciam a vaga esperança de finalmente entrar no Céu. É seu privilégio ter estrelas em sua coroa por causa de pecadores salvos por seu intermédio. Mas, ai, indolência e preguiça espiritual prevalecem por toda parte! Egoísmo e orgulho lhes ocupam um grande lugar no coração, e há pouco espaço para coisas celestiais. T3 95 1 Na oração que Cristo ensinou a Seus discípulos havia a petição: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Mateus 6:12. Não podemos repetir esta oração de coração e atrever-nos a ser implacáveis, porque pedimos ao Senhor que perdoe nossas transgressões contra Ele do mesmo modo que perdoamos àqueles que transgridem contra nós. Mas poucos reconhecem o verdadeiro significado desta oração. Se aqueles que são implacáveis entendessem a profundidade de seu significado não ousariam repeti-la e pedir a Deus que os trate como eles tratam a seus semelhantes. Contudo, esse espírito de dureza e falta de perdão existe em terrível extensão mesmo entre irmãos. Irmão é rigoroso com irmão. Provas peculiares T3 95 2 A posição que meu marido tem ocupado por tanto tempo na causa e obra de Deus tem sido de provações peculiares. Sua aptidão para negócios e sua clara visão têm levado seus irmãos no ministério a deixar cair responsabilidades sobre ele que eles mesmos deviam ter levado. Isso tem tornado suas responsabilidades muito grandes. E enquanto seus irmãos não assumiram sua parte nas responsabilidades, perderam uma valiosa experiência que era seu privilégio obter, caso tivessem exercitado a mente a fim de cuidar, ver e sentir o que precisava ser feito para edificação da causa. T3 96 1 Grandes provas têm sido trazidas sobre meu marido pelo fato de seus irmãos no ministério não terem ficado a seu lado quando mais precisava de ajuda. O desapontamento que ele tem sentido repetidamente quando aqueles dos quais dependia lhe falharam em ocasiões da maior necessidade quase destruiu sua capacidade de confiar na constância de seus irmãos no ministério. Seu espírito foi tão ferido que ele se sentiu justificado em ficar melindrado, e permitiu que sua mente se demorasse sobre desencorajamentos. Deus gostaria que ele fechasse esse conduto de trevas, pois corre perigo de naufragar aqui. Quando sua mente fica deprimida, é natural para ele recordar o passado e demorar-se sobre seus sofrimentos anteriores; e irreconciliabilidade toma posse de seu espírito, porque Deus tem permitido que fosse assediado por provas trazidas sobre ele desnecessariamente. T3 96 2 O Espírito de Deus tem sido entristecido porque ele não entregou sua vida totalmente a Deus nem confiou inteiramente em Sua providência, permitindo que a mente seguisse pelo caminho da dúvida e incredulidade em relação à integridade de seus irmãos. Falando de dúvidas e desalento ele não remediou o mal, mas enfraqueceu a própria força e tem dado a Satanás ocasião de molestá-lo e afligi-lo. Ele tem errado em se desabafar de seu desalento e demorar-se sobre os aspectos desagradáveis de sua experiência. Falando assim, ele espalha trevas e não luz. Por vezes ele tem posto um peso de desalento sobre seus irmãos, o que não lhe trouxe a menor ajuda, mas tão-somente enfraqueceu suas mãos. Ele devia fazer uma regra de não falar de descrença ou desalento, ou de demorar-se sobre seus ressentimentos. Seus irmãos em geral o têm amado e tido dó dele, e o tem desculpado por isto, conhecendo a pressão da responsabilidade que pesava sobre ele e sua devoção à causa de Deus. T3 96 3 Meu esposo trabalhou incansavelmente para elevar o interesse nas publicações ao seu presente estado de prosperidade. Percebi que ele tivera mais simpatia e amor dos irmãos do que pensava ter. Eles ansiosamente examinam o periódico para ver se há algo de sua pena. Se há um tom de ânimo em seus escritos, se ele fala animadoramente, sentem o coração aliviado, e alguns até choram com ternos sentimentos de alegria. Mas se expressa palavras de tristeza e sombras, o semblante dos irmãos e irmãs torna-se triste ao lerem. O espírito que caracteriza seus escritos se reflete neles. T3 97 1 O Senhor está procurando ensinar meu marido a ter um espírito de perdão e de esquecimento das passagens escuras de sua experiência. A lembrança do passado desagradável somente entristece o presente, e ele revive a parte desagradável da história de sua vida. Ao fazê-lo, está se apegando às trevas e apertando o espinho ainda mais fundo em seu espírito. Esta é a fraqueza de meu marido, e é desagradável a Deus. Isso traz escuridão e não luz. Ao expressar seus sentimentos, ele pode sentir um alívio aparente por algum tempo; mas isso somente torna mais agudo o senso de quão grandes seus sofrimentos e provas têm sido, até que o todo se torna ampliado em sua imaginação. Os erros dos irmãos que ajudaram a trazer essas provas sobre ele parecem tão graves que lhe afiguram insuportáveis. T3 97 2 Meu marido tem acariciado essas trevas por tanto tempo, ao reviver o passado infeliz, que tem pouca força para controlar a mente quando se demora sobre essas coisas. Circunstâncias e acontecimentos que antes não o teriam incomodado ampliam-se diante dele como faltas graves da parte de seus irmãos. Ele se tornou tão sensível às faltas sob as quais sofreu que é necessário que fique o menos possível nos arredores de Battle Creek, onde muitas das circunstâncias desagradáveis ocorreram. Deus curará seu espírito ferido, se ele o permitir. Mas ao fazê-lo terá de enterrar o passado. Não deve falar ou escrever a respeito disso. T3 97 3 É positivamente desagradável a Deus que meu marido reconte suas dificuldades e suas mágoas peculiares do passado. Se ele visse essas coisas à luz de que não foram feitas a ele, mas ao Senhor, de quem ele é instrumento, então teria recebido grande recompensa. Mas ele tomou as murmurações de seus irmãos como dirigidas contra ele e tem-se sentido sob a obrigação de fazer que todos compreendam a falta e a maldade de assim se queixarem dele quando não merecia sua censura e ofensa. T3 98 1 Se meu marido houvesse sentido que poderia deixar essa questão com o Senhor, e que murmurações e negligência foram contra o Mestre e não contra o servo a serviço do Mestre, não teria se sentido tão ofendido, nem sido prejudicado. Ele deveria ter deixado isso com o Senhor, de quem é servo, para travar Suas batalhas por ele e vindicar Sua causa. Então teria recebido uma recompensa preciosa por todo seu sofrimento por amor de Cristo. T3 98 2 Vi que meu marido não deveria demorar-se sobre os fatos penosos em nossa experiência. Nem deveria ter escrito sobre suas mágoas, mas distanciar-se delas o máximo possível. Deus curará as feridas do passado se ele desviar a atenção das mesmas. "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 2 Coríntios 4:17, 18. Quando confissões são feitas por seus irmãos que têm estado em falta, ele deve aceitar as confissões e, generosa e nobremente, procurar encorajar aqueles que foram enganados pelo inimigo. Ele deve cultivar um espírito de perdão e não deve demorar-se sobre as faltas e erros de outros, porque assim fazendo não só enfraquece o próprio coração, mas tortura a mente de seus irmãos que erraram, quando eles podiam ter feito o que fosse possível fazer por confissão, para corrigir os erros passados. Se Deus vir que é necessário que qualquer porção de seu passado lhes deva ser apresentado, para que compreendam como evitar erros no futuro, Ele fará esta obra; mas meu marido não deve atribuir-se o fazê-lo, porque desperta cenas passadas de sofrimento que o Senhor gostaria que ele esquecesse. ------------------------Capítulo 10 -- Parábolas dos perdidos A ovelha perdida T3 99 1 Minha atenção foi chamada para a parábola da ovelha perdida. As noventa e nove ovelhas são deixadas no deserto, e começa a busca daquela que se extraviou. Ao encontrar a ovelha perdida, o pastor suspende-a aos ombros, e volta cheio de regozijo. Não volta murmurando e censurando a pobre ovelha perdida por haver-lhe causado tanta dificuldade; pelo contrário, com júbilo ela é carregada. T3 99 2 E uma demonstração ainda maior de alegria é exigida. Os amigos e vizinhos são convocados para se alegrarem com o que a encontrou, "porque já achei a minha ovelha perdida". Lucas 15:6. O encontro era o motivo de regozijo; não se demorava no fato do extravio; pois a alegria de encontrar a ovelha superava a dor da perda e do cuidado, a perplexidade e o perigo enfrentados na busca da ovelha perdida, e no restituí-la à segurança. "Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:6, 7. A dracma perdida T3 99 3 A dracma perdida destina-se a representar o pecador errante, extraviado. O cuidado da mulher para achar a moeda perdida destina-se a ensinar aos seguidores de Cristo uma lição quanto a seu dever para com os errantes que andam extraviados do caminho reto. A mulher acendeu a candeia a fim de aumentar a luz, e depois varreu a casa, e procurou diligentemente até encontrá-la. T3 99 4 Aqui se define claramente o dever dos cristãos para com os que necessitam auxílio por se desviarem de Deus. Os que erram não devem ser deixados em trevas e no erro, mas cumpre empregar todos os meios possíveis para trazê-los novamente para a luz. Acende-se a luz; e, com fervorosa oração para que a luz celeste vá ao encontro daqueles que se acham circundados de trevas e incredulidade, examina-se a Palavra de Deus em busca dos claros pontos da verdade, para que os cristãos fiquem por tal modo fortalecidos com argumentos da Sagrada Escritura, com suas reprovações, ameaças e estímulos, que os desviados sejam alcançados. A indiferença ou a negligência atrairá o desagrado de Deus. T3 100 1 Quando a mulher encontrou a moeda, convocou suas amigas e vizinhas, dizendo: "Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." Lucas 15:9, 10. Se os anjos de Deus se regozijam pelo errante que vê e confessa suas culpas, e volve à comunhão dos irmãos, quanto mais se devem os seguidores de Cristo, eles próprios faltosos e dia a dia necessitados do perdão de Deus e dos irmãos, alegrar-se com a volta de um irmão ou irmã que foi iludido pelos enganos de Satanás, e seguiu uma direção errada, e sofreu por causa disso! T3 100 2 Em vez de manter os culpados longe, seus irmãos devem ir ao encontro deles onde estão. Em vez de criticá-los por se acharem em trevas, devem acender a própria lâmpada mediante a obtenção de mais graça divina e melhor conhecimento das Escrituras, a fim de dissiparem a escuridão dos que estão em erro pela luz que lhes levem. E quando são bem-sucedidos, e os que erram sentem as próprias culpas e se submetem para seguir a luz, devem ser recebidos com alegria, e não com espírito de murmuração, ou com empenho de impressioná-los com o sentimento de sua grande pecaminosidade, que demandará extraordinário esforço, ansiedade e penoso trabalho. Se os puros anjos de Deus saúdam o acontecimento com alegria, quanto mais o devem fazer seus irmãos, que necessitam, eles próprios, de compaixão, amor e auxílio quando erram e, em trevas, não sabem como ajudar a si mesmos! O filho pródigo T3 100 3 Minha atenção foi chamada para a parábola do filho pródigo. Ele solicitou que o pai lhe desse sua parte da herança. Desejava separar os próprios interesses dos de seu pai, dirigindo o que lhe cabia segundo as suas inclinações. O pai satisfez o pedido, e o filho afastou-se egoistamente, de modo a não ser perturbado com seus conselhos ou reprovações. T3 101 1 O filho achou que seria feliz quando lhe fosse permitido usar sua parte como lhe aprouvesse, sem ser incomodado com advertências ou restrições. Não queria ser perturbado com obrigações mútuas. Caso partilhasse dos bens de seu pai, este teria direitos sobre ele como filho. Ele, porém, não se sentia sob qualquer obrigação para com aquele generoso pai, e fortaleceu seu espírito egoísta e rebelde com o pensamento de que uma parte da propriedade paterna lhe pertencia. Reivindicou sua parte quando, de direito, não podia pedir nada, nem devia receber coisa alguma. T3 101 2 Depois de seu coração egoísta haver recebido o tesouro, que tão pouco merecia, retirou-se para longe de seu pai, a fim de esquecer até que possuía um pai. Menosprezava a restrição, e estava inteiramente determinado a desfrutar por todos os meios e modos que quisesse. Havendo, com seus prazeres pecaminosos, gasto tudo quanto o pai lhe havia dado, a terra foi flagelada por uma fome, e ele veio a sofrer extrema miséria. Começou então a lamentar os pecaminosos caminhos de extravagantes prazeres em que andara; pois se achava desamparado, necessitado dos meios que esbanjara. Viu-se obrigado a descer da vida de pecaminosa satisfação em que vivia à baixa condição de guardador de porcos. T3 101 3 Havendo descido o mais baixo que era possível, pensou na bondade e no amor de seu pai. Sentiu então a necessidade que tinha dele. Trouxera sobre si a situação em que se encontrava, destituído de amigos e de todo recurso. Sua desobediência e pecado resultaram na separação de seu pai. Pensou nos privilégios e na abundância que desfrutavam livremente os servos assalariados da casa paterna, ao passo que ele, que se alienara da mesma, perecia de fome. Humilhado pela adversidade, decidiu volver ao pai com humilde confissão. Era um mendigo, destituído de roupas confortáveis, ou sequer decentes. A falta de recursos o reduzira a um estado miserável, e achava-se pálido por causa da fome. T3 101 4 Ainda a certa distância de casa, o pai avistou o caminhante, e seu primeiro pensamento foi sobre aquele filho rebelde que o abandonara anos antes a fim de seguir uma carreira de desenfreado pecado. O sentimento paternal agitou-se dentro dele. Apesar de todos os sinais de sua degradação, o pai nele divisou a própria imagem. Não esperou que o filho percorresse toda a distância até onde ele estava, mas apressou-se a ir-lhe ao encontro. Não o censurou por haver trazido sobre si tanto sofrimento em conseqüência do próprio caminho de pecado; antes, com a mais terna piedade e compaixão, apressou-se a dar-lhe provas de seu amor e testemunho do perdão que lhe concedia. T3 102 1 Embora o filho estivesse pálido e sua fisionomia indicasse plenamente a vida dissoluta que levara, embora vestisse trapos de mendigo e tivesse os pés nus cobertos pela poeira dos caminhos, despertou-se no pai a mais terna piedade ao vê-lo prostrar-se diante dele em humildade. Não recuou, em sua dignidade; não se mostrou exigente. Não expôs diante do filho seus passados caminhos de erro e de pecados, a fim de fazê-lo ver quão baixo imergira. Ergueu-o e beijou-o. Apertou ao peito o filho rebelde, envolvendo-lhe o corpo quase nu com o próprio e rico manto. Tomou-o ao coração com tal calor e demonstrou tal piedade que, se o filho já duvidara da bondade e do amor de seu pai, não mais poderia fazê-lo. Se, ao decidir volver à casa paterna, experimentava um senso de pecado, muito mais profundo foi o sentimento de sua ingratidão ao ser recebido assim. Seu coração, antes rendido, estava agora quebrantado por haver ofendido o amor daquele pai. T3 102 2 O arrependido e tremente filho, que temera grandemente ser renegado, não se achava preparado para tal recepção. Sabia que a não merecia, e assim reconheceu seu pecado em deixar o pai: "Pequei contra o Céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho." Lucas 15:21. Rogou apenas que fosse considerado como um servo assalariado. O pai, porém, solicitou que os servos lhe dessem provas especiais de respeito e o vestissem como se houvesse sido sempre um filho obediente. T3 102 3 O pai tornou a volta de seu filho uma ocasião de regozijo especial. O filho mais velho, que se achava no campo, nada sabia acerca do regresso do irmão, mas ouviu as demonstrações gerais de alegria, e indagou dos servos o que significava tudo aquilo. Foi-lhe explicado que seu irmão, julgado morto, voltara, e que o pai matara o bezerro cevado por causa dele, pois o recebera como um morto que revive. T3 103 1 Então o irmão se zangou, e não queria entrar para ver e receber ao que chegara. Indignou-se porque esse irresponsável irmão, que abandonara o pai e lançara sobre ele o pesado fardo de cumprir os deveres que deveriam haver sido partilhados por ambos, fosse agora recebido com tantas honras. Esse irmão seguira um procedimento ímpio e dissoluto, desperdiçando os recursos que seu pai lhe dera até ficar reduzido à penúria, enquanto ele cumprira fielmente em casa os deveres de um filho; esse libertino vem para a casa de seu pai e é recebido com respeito e honras superiores a tudo quanto ele próprio já recebera. T3 103 2 O pai rogou que o filho mais velho recebesse seu irmão com alegria, pois ele estava perdido e fora achado; estava morto em pecado e iniqüidade, mas achava-se novamente vivo; volvera ao senso moral, e aborrecia agora o caminho de pecado que seguira. O filho mais velho, porém, alega: "Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado." Lucas 15:29, 30. T3 103 3 O pai afirmou ao filho que ele estava sempre em sua companhia, e tudo quanto lhe pertencia era do filho, mas que era justo que mostrassem agora essa alegria, pois "este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se". Lucas 15:32. O fato de o perdido ser achado, o morto estar vivo, supera todas as outras considerações por parte do pai. T3 103 4 Esta parábola foi dada por Cristo a fim de representar a maneira em que nosso Pai recebe o errante e arrependido. É contra o pai que se comete o pecado; todavia, ele, na compaixão de seu coração, cheio de piedade e perdão, vai ao encontro do pródigo e manifesta sua grande alegria por seu filho, que ele acreditava morto para todas as afeições filiais, haver-se tornado sensível a seu grande pecado e negligência e voltar para o pai, apreciando-lhe o amor e reconhecendo-lhe os direitos. Sabe que o filho que seguiu a senda do pecado e agora se arrepende necessita de sua piedade e seu amor. Este filho sofreu, sentiu sua necessidade e veio ter com o pai como aquele que unicamente lhe pode suprir essa grande necessidade. T3 104 1 A volta do filho pródigo era causa da maior alegria. Eram naturais as queixas do irmão mais velho, mas não eram justas. Todavia é esta freqüentemente a atitude que irmão adota para com irmão. Há demasiado esforço para fazer os culpados reconhecerem onde erraram, e ficar lembrando-lhes os erros que cometeram. Os que caíram em falta precisam de piedade, precisam de auxílio, de simpatia. Eles sofrem em seus sentimentos e acham-se com freqüência abatidos e acabrunhados. O que eles necessitam acima de tudo o mais é de completo perdão. ------------------------Capítulo 11 -- Trabalho entre as igrejas T3 104 2 No trabalho feito para a igreja de Battle Creek na primavera de 1870, não houve toda aquela dependência de Deus que a importante ocasião exigia. Os irmãos R e S não fizeram de Deus sua confiança, e não agiram em Sua força e com Sua graça, tanto quanto deviam. T3 104 3 Quando o irmão S pensa que alguém está em erro, ele é freqüentemente demasiado severo. Deixa de exercer aquela compaixão e consideração que teria mostrado para consigo mesmo sob circunstâncias idênticas. Também corre grande perigo de julgar mal e errar ao lidar com mentes humanas. Lidar com mentes é a obra mais delicada e difícil dada a mortais. Os que se empenham nessa obra devem ter claro discernimento e boa capacidade de discriminação. A verdadeira independência mental é um elemento inteiramente diverso da precipitação. Essa qualidade de independência que leva a uma opinião cautelosa, piedosa e deliberada não deve ser abandonada facilmente, pelo menos não antes que a evidência seja suficientemente forte para nos dar a certeza de que estamos em erro. Essa independência manterá o espírito calmo e estável, entre os inúmeros erros que prevalecem, e levará os que ocupam posição de responsabilidade a considerar cuidadosamente a evidência, sob todos os ângulos, sem ser arrastados por influência de outros, ou pelo ambiente, a firmar conclusões sem a devida compreensão e completo conhecimento de todas as circunstâncias. T3 105 1 A investigação de casos em Battle Creek assemelhava-se muito à maneira como um advogado critica uma testemunha. Notava-se uma ausência decisiva do Espírito de Deus. Havia uns poucos unidos nesta obra que eram ativos e zelosos. Alguns eram justos aos próprios olhos e auto-suficientes, e apoiavam-se em seus testemunhos, e sua influência controlava o discernimento dos irmãos R e S. Por causa de uma falta insignificante, as irmãs T e U não foram recebidas como membros da igreja. Os irmãos R e S deviam ter tido critério e discernimento para ver que essas objeções não tinham suficiente peso para manter essas irmãs fora da igreja. Ambas tinham permanecido há muito na fé e sido fiéis na observância do sábado por dezoito ou vinte anos. T3 105 2 A irmã V, que levantou essas coisas, deveria ter apresentado contra ela mesma razões mais fortes para não se tornar membro da igreja. Estava ela sem pecado? Foram seus caminhos sempre perfeitos diante de Deus? Fora perfeita em paciência, abnegação, gentileza, tolerância e de temperamento calmo? Se ela estivesse livre das fraquezas comuns entre as mulheres, então poderia lançar a primeira pedra. Aquelas irmãs que foram deixadas fora da igreja eram dignas de um lugar na mesma; eram amadas de Deus. Mas foram tratadas de modo imprudente, sem suficiente razão. Houve outros cujos casos foram tratados sem maior sabedoria celestial e mesmo sem critério sadio. O critério do irmão S e seu poder de discernimento foram pervertidos durante muitos anos pela influência de sua mulher, que tem sido um dos mais eficientes instrumentos de Satanás. Tivesse ele possuído a qualidade genuína de independência, teria tido respeito próprio e, com a devida dignidade, teria edificado a própria casa. Quando assumia uma conduta voltada a impor o respeito de sua família, geralmente levava a questão longe demais, era severo e falava de modo áspero e despótico. Algum tempo depois, tornando-se consciente disso, ia então para o extremo oposto e abria mão de sua autonomia. T3 106 1 Nesse estado mental, recebia informações de sua mulher, abandonava seu discernimento e era facilmente enganado pelas intrigas dela. Algumas vezes ela fingia estar em grande sofrimento e contava que suportara privações e sofrera negligência da parte dos irmãos, na ausência do marido. Suas mentiras e ardis para controlar a mente do marido têm sido grandes. O irmão S não tem recebido plenamente a luz que o Senhor lhe deu no passado com respeito a sua mulher, ou não teria sido enganado por ela como tem acontecido. Ele tem sido escravizado muitas vezes por seu espírito porque o próprio coração e vida não foram consagrados plenamente a Deus. Seus sentimentos se inflamaram contra seus irmãos e ele os oprimiu. O eu não tem sido crucificado. Ele deve procurar seriamente sujeitar todos os seus pensamentos e sentimentos à obediência de Cristo. Fé e abnegação teriam sido para o irmão S fortes ajudadores. Se ele tivesse se revestido de toda armadura de Deus e escolhido como única defesa aquela que o Espírito de Deus e o poder da verdade lhe dão, ele teria sido forte no poder de Deus. T3 106 2 Mas o irmão S é fraco em muitas coisas. Se Deus pedisse que expusesse e condenasse um vizinho, que reprovasse e corrigisse um irmão, ou que resistisse e destruísse seus inimigos, seria para ele um trabalho comparativamente natural e fácil. Mas uma guerra contra o eu, sujeitando os desejos e afeições do próprio coração, e sondando e controlando os motivos secretos do coração, é uma guerra mais difícil. Quão indisposto é ele em ser fiel num tal combate! A guerra contra o eu é a maior batalha jamais travada. Submeter o eu, entregar tudo à vontade de Deus e ser revestido de humildade, possuindo o amor que é puro, pacífico e fácil de ser conciliado, cheio de mansidão e bons frutos, não é uma tarefa fácil. E contudo é seu privilégio e dever ser um perfeito vencedor aqui. O coração precisa submeter-se a Deus antes de poder ser renovado em conhecimento e verdadeira santidade. A vida e o caráter santos de Cristo são um exemplo fiel. A confiança em Seu Pai celestial era ilimitada. Sua obediência e submissão eram sem reservas e perfeitas. Ele "não veio para ser servido, mas para servir" a outros. Mateus 20:28. Não veio para fazer Sua vontade, mas a vontade dAquele que O enviou. Em todas as coisas Ele "entregava-Se Àquele que julga justamente". 1 Pedro 2:23. Dos lábios do Salvador do mundo foram ouvidas estas palavras: "Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma." João 5:30. T3 107 1 Ele "Se fez pobre" e "aniquilou-Se a Si mesmo". 2 Coríntios 8:9; Filipenses 2:7. Teve fome e freqüentemente sede, e muitas vezes Se cansou em Sua labuta; mas não tinha "onde reclinar a cabeça". Mateus 8:20. Quando as sombras frias e úmidas da noite O cercavam, a terra era freqüentemente Sua cama. Apesar disto Ele abençoou aqueles que O odiavam. Que vida! Que experiência! Podemos nós, os professos seguidores de Cristo, suportar alegremente privação e sofrimento como fez nosso Senhor, sem murmurar? Podemos tomar o cálice e "ser batizados com o batismo"? Mateus 20:22. Se podemos, poderemos partilhar de Sua glória em Seu reino celestial. Se não, não teremos parte com Ele. T3 107 2 O irmão S precisa obter uma experiência, sem a qual seu trabalho causará verdadeiro dano. Ele é muito afetado por aquilo que outros lhe dizem acerca dos que erram; inclina-se a decidir segundo as impressões feitas sobre sua mente, e age com severidade, quando uma conduta mais gentil seria muito melhor. Não leva em conta a própria fraqueza, e é muito difícil questionar sua conduta, mesmo quando está em erro. Quando decide que um irmão ou irmã está em erro, é propenso a resolver o assunto e impor sua censura, embora assim fazendo prejudique a si próprio e ponha em perigo a salvação de outros. T3 107 3 O irmão S deve evitar julgamentos na igreja e não envolver-se em ajustar dificuldades, se puder evitá-lo. Ele tem um dom precioso, que é necessário na causa de Deus. Mas deve separar-se de influências que lhe afetam as simpatias, confundem-lhe o discernimento e o levam a decisões imprudentes. Não deve nem precisa ser assim. Ele exerce pouca fé em Deus. Demora-se demais sobre suas enfermidades físicas e fortalece a incredulidade cultivando sentimentos negativos. Deus tem força e sabedoria em reserva para aqueles que O buscam fervorosamente, crendo com fé. T3 108 1 Foi-me mostrado que o irmão S é um homem forte em alguns pontos, enquanto que em outros é tão fraco como uma criança. Sua maneira de tratar com os que erram tem tido uma influência divisiva. Ele tem confiança em sua capacidade de esforçar para endireitar coisas que pensa serem necessárias, mas não vê corretamente a questão. Ele mistura em seus trabalhos o próprio espírito, e não discerne, mas freqüentemente age sem ternura. Existe o que se considera exagero em impor a obediência estrita aos indivíduos. "E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne." Judas 22, 23. T3 108 2 A imposição da obediência estrita tem uma irmã gêmea: a bondade. Se ambas estiverem unidas, ganhar-se-á uma vantagem decisiva; mas se a obediência estiver separada da bondade, se terno amor não é misturado com a obediência, haverá um fracasso, e muito dano será o resultado. Homens e mulheres não querem ser empurrados, mas muitos podem ser ganhos pela bondade e o amor. O irmão S tem erguido o chicote do evangelho, e suas próprias palavras têm sido com freqüência o estalo do chicote. Isto não tem tido uma influência para estimular outros a maior zelo e a motivá-los para boas obras, mas tem despertado sua combatividade para repelir a severidade dele. T3 108 3 Se o irmão S tivesse andado na luz, não teria cometido tantos erros sérios. "Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz." João 11:9, 10. O caminho da obediência é o caminho da segurança. "Quem anda em sinceridade, anda seguro." Provérbios 10:9. Ande na luz e, "então, andarás com confiança no teu caminho, e não tropeçará o teu pé." Provérbios 3:23. Aqueles que não andam na luz terão uma religião doentia e atrofiada. O irmão S deve sentir a importância de andar na luz, embora mortificante para ele. É esforço sério, motivado por amor aos pecadores, que fortalece o coração e desenvolve os dons. T3 109 1 Meu irmão, você é independente por natureza e auto-suficiente. Pensa que sua habilidade para agir é muito maior do que ela realmente é. Você ora ao Senhor para humilhá-lo e qualificá-lo para Seu serviço, e quando Ele responde à sua oração e o põe sob a disciplina necessária para a realização do objetivo, você freqüentemente cede a dúvidas e desânimo, e pensa que tem razão para desalento. Quando o irmão W o advertia e o impedia de meter-se em dificuldades na igreja, você freqüentemente achava que ele o estava restringindo. T3 109 2 Foram-me mostrados seus trabalhos em Iowa. Houve uma falta evidente em ajuntar com Cristo. Você distraiu, confundiu e espalhou as pobres ovelhas. Tinha "zelo..., mas não com entendimento". Romanos 10:2. Seu trabalho não foi feito com amor, mas com rigor e severidade. Você era exigente e dominante. Não fortaleceu a fraca nem enfaixou a que mancava. Ezequiel 34:4. Sua aspereza imprudente empurrou algumas para fora do aprisco que jamais poderão ser alcançadas e trazidas de volta. "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo." Provérbios 25:11. Palavras impróprias são o contrário. Sua influência é como a chuva de pedra que devasta. T3 109 3 Você ficou descontente sob restrição quando o irmão W o advertiu, o admoestou e o reprovou. Pensou que, se pudesse estar livre e agir por conta própria, poderia fazer um trabalho bom e grandioso. Mas a influência de sua esposa tem prejudicado bastante sua utilidade. Você não tem governado bem a própria casa, falhando em ordenar a família segundo seu exemplo. Pensou que entendia como controlar os negócios de seu lar. Mas como tem sido enganado! Tem freqüentemente seguido os impulsos de seu espírito, o que tem resultado em perplexidades e desalento, e estes obscureceram seu discernimento e o enfraqueceram espiritualmente, de modo que seus trabalhos têm sido marcados por grande imperfeição. T3 110 1 Os trabalhos dos irmãos R e S em _____ foram prematuros. Estes irmãos tinham diante de si a própria experiência passada com seus erros, o que devia ter sido suficiente para guardá-los de envolver-se em um trabalho para o qual não estavam qualificados. Havia bastante a ser feito. Era um lugar difícil onde levantar uma igreja. Influências adversas os cercavam. Toda decisão devia ser tomada com a devida cautela e oração. T3 110 2 Estes dois irmãos foram advertidos e censurados repetidas vezes por agirem imprudentemente, e não deviam ter assumido as responsabilidades que assumiram. Oh, quão melhor teria sido para a causa de Deus em _____ tivessem eles labutado em novos campos! O trono de Satanás está em _____, bem como em outras cidades ímpias; e ele é um inimigo ardiloso com quem lutar. Havia elementos desordeiros entre os guardadores do sábado em _____, que eram um impedimento para a causa. Mas há um tempo apropriado para falar e agir, uma oportunidade áurea que dará os melhores resultados ao trabalho efetuado. T3 110 3 Se as coisas tivessem sido deixadas a amadurecer antes de serem tocadas, teria havido uma separação dos desordeiros e não consagrados, e não teria havido um partido contrário. Isso devia ter sido evitado se possível. Seria melhor a igreja ter sofrido muito aborrecimento e exercido mais paciência do que estar com pressa, precipitar as coisas e provocar um espírito combativo. Aqueles que realmente amavam a verdade por amor da verdade deviam ter seguido sua conduta visando à glória de Deus e deixado que a luz da verdade brilhasse diante de todos. T3 110 4 Eles podiam esperar que os elementos de confusão e de insatisfação entre eles lhes causassem aborrecimento. Satanás não ficaria quieto vendo um grupo sendo formado em _____ para defender a verdade e desfazer enganos e erros. Sua ira seria despertada, e declararia guerra contra aqueles "que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus". Apocalipse 12:17. Mas isso não deveria ter tornado impacientes ou desanimados os crentes fiéis. Estas coisas deviam ter tido uma influência para tornar o crente verdadeiro mais cauteloso, vigilante e devoto -- mais terno, compassivo e amando aqueles que estavam cometendo tão grande erro com respeito às coisas eternas. Como Cristo suportou, e continua a suportar nossos erros, nossa ingratidão e nosso débil amor, assim devíamos suportar aqueles que provam nossa paciência. Serão os seguidores de Jesus, que negou a Si mesmo e Se sacrificou, tão diferentes de seu Senhor? Os cristãos devem ter coração bondoso e paciente. O semeador do evangelho T3 111 1 A parábola do semeador do evangelho, que Cristo apresentou a Seus ouvintes, contém uma lição que devemos estudar. Aqueles que pregam a verdade presente e espalham a boa semente obterão os mesmos resultados que o semeador do evangelho. Todas as classes serão afetadas mais ou menos pela apresentação de verdades penetrantes e convincentes. Alguns serão ouvintes de beira do caminho. Serão afetados pelas verdades anunciadas; mas não cultivaram as forças morais, seguiram a inclinação de preferência ao dever, e maus hábitos lhes endureceram o coração até que ficaram como o caminho duro e batido. Esses podem professar crer na verdade; mas não terão um senso justo de seu caráter sagrado e elevado. Não se separam da amizade dos amantes de prazer e da sociedade corrompida; mas se colocam onde são constantemente tentados, e bem podem ser representados pelo campo não cercado. Convidam as tentações do inimigo e finalmente perdem o respeito que pareciam ter pela verdade quando a boa semente foi lançada em seu coração. T3 111 2 Alguns são ouvintes do terreno pedregoso. Prontamente recebem qualquer coisa nova e empolgante. Recebem com alegria a palavra da verdade. Falam com sinceridade, ardor e zelo com relação à sua fé e esperança, e podem até reprovar pessoas de longa experiência por alguma deficiência evidente ou por sua falta de entusiasmo. Mas quando são testados pelo calor da prova e tentação, quando a podadeira de Deus é aplicada, para que produzam fruto com perfeição, seu zelo morre, sua voz silencia. Não mais se orgulham do vigor e poder da verdade. T3 112 1 Essa classe é controlada pela emoção. Não tem profundeza e estabilidade de caráter. O princípio não alcança a profundidade, sob as fontes de ação. Em palavras têm exaltado a verdade, mas não são praticantes da mesma. A semente da verdade não lançou raízes sob a superfície. O coração não foi renovado pela influência transformadora do Espírito de Deus. Mas quando a verdade convoca homens e mulheres praticantes, quando sacrifícios precisam ser feitos por amor da verdade, eles estão em outro lugar; e quando provas e perseguição vêm, escandalizam-se porque não havia profundidade no terreno. A verdade clara, incisiva e conclusiva é aplicada ao coração e revela a deformidade do caráter. Alguns não suportarão essa prova, mas freqüentemente fecham os olhos a suas imperfeições; embora a consciência lhes diga que as palavras faladas pelos mensageiros de Deus, que afetam tão de perto seu caráter cristão, são a verdade, todavia não escutarão a voz. Ofendem-se por causa da palavra e renunciam à verdade em vez de submeter-se a ser santificados por ela. Lisonjeiam-se de que podem chegar ao Céu por um caminho mais fácil. T3 112 2 Uma outra classe é representada na parábola. Homens e mulheres que ouvem a palavra são convencidos da verdade e a aceitam sem ver a pecaminosidade de seu coração. O amor do mundo ocupa um grande lugar em suas afeições. Nos negócios gostam de levar vantagem. Procedem mal e, por engano e fraude, obtêm recursos que se demonstrarão ser-lhes um espinho; isto sobrepujará seus bons propósitos e intenções. A boa semente semeada em seu coração é sufocada. Freqüentemente estão tão cheios de cuidados e ansiedades, temendo não poder manter-se, ou que perderão o que ganharam, que dão o primeiro lugar a seus negócios temporais. Não nutrem a boa semente. Não assistem às reuniões onde o coração pode ser fortalecido por privilégios religiosos. Receiam que sofrerão alguma perda em questões temporais. O engano das riquezas os leva a lisonjear-se que é seu dever labutar e ganhar tudo que puderem, para poderem ajudar a causa de Deus; porém, quanto mais aumentam suas riquezas terrestres, tanto menos o coração se inclina a separar-se de seu tesouro, até que se afastam da verdade que amavam. A boa semente é sufocada por ansiedade e cuidados mundanos desnecessários, sufocada por amor aos prazeres do mundo e honras que as riquezas conferem. O trigo e o joio T3 113 1 Em outra parábola apresentada por Jesus aos discípulos, Ele comparou o reino do Céu a um campo em que um homem semeara boa semente, mas no qual, enquanto ele dormia, o inimigo semeou joio. Foi dirigida ao pai de família a pergunta: "Não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem então joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que ao colher o joio não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo ajuntai-o no meu celeiro." Mateus 13:27-30. Caso houvesse sido mantida fidelidade e vigilância, se não tivesse havido sono ou negligência por parte de alguém, o inimigo não teria tido tão favorável oportunidade de semear joio entre o trigo. Satanás nunca dorme. Está vigilante, e aproveita toda a oportunidade para fazer seus agentes disseminarem erros que encontram solo propício em muitos corações não santificados. T3 113 2 Os sinceros crentes na verdade são entristecidos, e suas provas e aflições grandemente aumentadas, pelos elementos que entre eles os aborrecem, desalentam e desanimam em seus esforços. Mas o Senhor ensinaria a Seus servos uma lição de grande cuidado em todos os seus passos. "Deixai crescer ambos juntos." Mateus 13:30. Não arranqueis à força o joio para que, ao arrancá-lo, não aconteça que as preciosas hastes venham a soltar-se. Tanto os pastores como os membros da igreja devem ser muito cautelosos, para que não nutram zelo sem entendimento. Há perigo de fazer-se na igreja demasiado para sanar dificuldades que, deixadas em paz, sanar-se-ão muitas vezes por si mesmas. É um mau método tratar em qualquer igreja os assuntos prematuramente. Cumpre-nos exercer o maior cuidado, paciência e domínio sobre nós mesmos, para suportar essas coisas, e não agir por impulso para pô-las em ordem. T3 114 1 A obra realizada em _____ foi prematura, e ocasionou inoportuna separação naquela igrejinha. Se os servos de Deus pudessem ter apreendido a força da lição de nosso Salvador na parábola do trigo e do joio, não haveriam empreendido a obra que fizeram. Antes de se darem passos que forneçam, mesmo aos que são de todo indignos, a mínima ocasião de se queixarem de haver sido separados da igreja, o assunto deve ser sempre tornado objeto do mais cuidadoso estudo e fervorosa oração. Em _____, foram dados passos que criaram um partido de oposição. Alguns eram ouvintes da beira do caminho; outros ouvintes do terreno pedregoso; e ainda outros eram daquela classe que recebia a verdade enquanto o coração tinha uma vegetação de espinhos de molde a sufocar a boa semente; estes nunca teriam caráter cristão aperfeiçoado. Havia, porém, alguns que poderiam haver sido nutridos e fortalecidos, e poderiam ter se firmado e estabilizado na verdade. As atitudes tomadas pelos irmãos R e S, porém, trouxeram uma crise prematura, e depois houve falta de sabedoria e discernimento no lidar com a facção. T3 114 2 Se as pessoas forem tão merecedoras de ser separadas da igreja como Satanás o foi de ser expulso do Céu, terão simpatizantes. Há sempre uma classe que é mais influenciada por indivíduos do que pelo Espírito de Deus e pelos sãos princípios; e, em seu estado não consagrado, essas pessoas estão sempre prontas a tomar o partido do erro, e pôr a compaixão e simpatia juntamente com os que menos a merecem. Esses simpatizantes exercem poderosa influência sobre outros; vêem-se as coisas sob um aspecto errado, ocasiona-se grande mal, e muitas são as pessoas arruinadas. Em sua rebelião, Satanás levou consigo a terça parte dos anjos. Desviaram-se do Pai e de Seu Filho, e uniram-se ao instigador da rebelião. Tendo esses fatos diante de nós, cumpre-nos agir com a maior cautela. Que podemos esperar senão provação e perplexidade em nossas relações com homens e mulheres de mentalidade peculiar? Precisamos suportar isso, e evitar a necessidade de arrancar o joio, não aconteça que o trigo seja extirpado também. T3 115 1 "No mundo tereis aflições" (João 16:33), disse Cristo; mas em Mim vocês terão paz. As provas a que os cristãos são submetidos em aflição, adversidade e ignomínia são os meios indicados por Deus para separar a palha do trigo. Nosso orgulho, egoísmo, ruins paixões e amor dos prazeres mundanos precisam todos ser vencidos; portanto, Deus nos envia aflições para nos experimentar e provar, e mostrar-nos que esses males existem em nosso caráter. Cumpre-nos vencê-los mediante a força e a graça que nos dá, a fim de sermos "participantes da natureza divina, havendo escapado à corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. "Porque a nossa leve e momentânea tribulação", diz Paulo, "produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem; mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 2 Coríntios 4:17, 18. Aflições, cruzes, tentações, adversidades e nossas várias provações são os agentes divinos para nos purificar, santificar e preparar-nos para o celeiro celeste. T3 115 2 Os danos causados à verdade por medidas prematuras jamais podem ser plenamente reparados. A causa de Deus em _____ não tem avançado como poderia, e não será vista pelo povo em tão favorável aspecto como antes de se fazer essa obra. Há freqüentemente entre nós pessoas cuja influência parece ser simplesmente nula. Sua vida parece inútil; tornam-se, porém, rebeldes e combativas, e se fazem zelosas obreiras de Satanás. Essa obra está mais em harmonia com os sentimentos do coração natural. Grande é a necessidade de exame do próprio coração e de oração particular. Deus prometeu sabedoria àqueles que pedirem. O trabalho missionário é muitas vezes realizado por pessoas não preparadas para a obra. Cultiva-se o zelo exterior, ao passo que a oração particular é negligenciada. Assim sendo, causa-se muito mal, pois esses obreiros buscam regular a consciência dos outros pela própria regra. Há necessidade de muito domínio próprio. As palavras precipitadas suscitam contenda. O irmão S acha-se em risco de condescender com um espírito de crítica incisiva. Isto não convém aos pregadores da justiça. T3 116 1 Irmão S, o irmão tem muito a aprender. Tem havido de sua parte a inclinação de responsabilizar o irmão W, por seus fracassos e desânimo; inquirindo-se, porém, intimamente os seus motivos e sua maneira de proceder, verificar-se-ia haver, no próprio irmão, outras causas para esse desânimo. Seguir a inclinação de seu coração natural leva-o à servidão. O espírito severo, torturante, com que o irmão condescende por vezes, destrói-lhe a influência. Meu irmão, você tem uma obra a fazer em benefício próprio, obra que nenhuma outra pessoa pode realizar em seu favor. Cada um tem de dar contas de si mesmo a Deus. Ele nos deu Sua lei como um espelho a que podemos olhar e descobrir os defeitos existentes em nosso caráter. Não devemos olhar a esse espelho com o objetivo de ver os defeitos de nosso semelhante ali refletidos, de ver se ele atinge a norma, mas ver os defeitos que há em nós mesmos, a fim de que os possamos remover. Não precisamos apenas de conhecimento; devemos seguir a luz. Não somos deixados a escolher por nós mesmos, e obedecer ao que nos agrada, e desobedecer quando isto nos for mais conveniente. "Obedecer é melhor do que... sacrificar." 1 Samuel 15:22. ------------------------Capítulo 12 -- A pais ricos T3 116 2 Na reunião campal em Vermont, em 1870, senti-me impelida pelo Espírito de Deus a apresentar um testemunho franco relativo ao dever de pais idosos e ricos quanto à disposição de sua propriedade. Foi-me mostrado que alguns homens espertos, prudentes e atentos na transação de negócios em geral, homens que se destacam por prontidão e meticulosidade, manifestam uma falta de previsão e presteza quanto à disposição adequada de sua propriedade enquanto vivem. Não sabem quão logo seu tempo de graça pode findar; contudo passam de ano a ano com seus negócios não resolvidos, e freqüentemente sua vida finda quando já não fazem uso da razão. Ou podem morrer repentinamente, sem um momento de aviso, e sua propriedade é disposta de um modo que não teriam aprovado. Eles são culpados de negligência; são mordomos infiéis. T3 117 1 Cristãos que crêem na verdade presente devem manifestar sabedoria e previdência. Não devem negligenciar a disposição de seus recursos, esperando uma oportunidade favorável de ajustar seus negócios durante uma longa enfermidade. Devem manter seus negócios de tal forma que, se fossem chamados a qualquer hora para deixá-los e não tivessem voz nos arranjos, pudessem ser solucionados como gostariam que fossem se estivessem vivos. Muitas famílias têm sido defraudadas desonestamente de toda sua propriedade e ficaram sujeitas à pobreza porque o trabalho que podia ter sido bem feito numa hora foi negligenciado. Aqueles que preparam seu testamento não devem poupar esforço ou despesa para obter conselho jurídico e os preparar de modo a resistir à prova. T3 117 2 Vi que aqueles que professam crer na verdade devem mostrar sua fé por suas obras. Devem granjear "amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos". Lucas 16:9. Deus fez o homem mordomo de recursos. Colocou em suas mãos o dinheiro com o qual levar adiante a grande obra para a salvação de pecadores pelos quais Cristo deixou Sua morada, Suas riquezas, Sua glória, e tornou-Se pobre para que pudesse, por Sua humilhação e sacrifício, trazer muitos filhos e filhas de Adão a Deus. Em Sua providência o Senhor ordenou que o trabalho em Sua vinha fosse sustentado pelos recursos confiados às mãos de Seus mordomos. Negligência de sua parte em atender aos apelos da causa de Deus para levar adiante Sua obra mostra que são servos infiéis e ociosos. T3 118 1 Foram-me mostradas algumas coisas referentes à causa em Vermont, especialmente em Bordoville e vizinhança. O seguinte é de Testemunho Para a Igreja, n 20: T3 118 2 "Há uma obra a ser feita por muitos que vivem em Bordoville. Vi que o inimigo estava ocupado em seu trabalho para alcançar seu objetivo. Homens a quem Deus confiou talentos de recursos têm transferido a seus filhos a responsabilidade que o Céu lhes apontou de serem mordomos de Deus. Em vez de submeter a Deus as coisas que são Suas, afirmam que tudo o que têm é seu mesmo, como se pelo próprio poder e sabedoria houvessem obtido seus bens." T3 118 3 "Uns colocam seus recursos fora do próprio controle, pondo-os nas mãos dos filhos. Seu motivo secreto é colocarem-se numa posição onde não se sintam responsáveis por doar seus bens para propagar a verdade. Eles amam 'de palavra', mas não 'por obras e em verdade'. 1 João 3:18. Não entendem que é o dinheiro do Senhor que estão administrando, não o seu." T3 118 4 "Devem os pais ter grande temor de confiar aos filhos os talentos de bens que Deus lhes pôs nas mãos, a menos que tenham a absoluta certeza de que seus filhos têm maior interesse, amor e dedicação pela causa de Deus do que eles mesmos, e que esses filhos serão mais fervorosos e zelosos em promover a obra de Deus, e mais benevolentes em fazer prosperar os vários empreendimentos relacionados com ela que necessitam de recursos. Mas muitos colocam seus bens nas mãos dos filhos, transferindo a eles a responsabilidade da própria mordomia, porque Satanás os leva a assim proceder. Assim fazendo, estão efetivamente pondo esses recursos nas fileiras do inimigo. Satanás controla a questão de molde a satisfazer a seus propósitos e afastar da causa de Deus os recursos de que necessita para que seja abundantemente mantida." T3 118 5 "Muitos que têm feito alta profissão de fé são deficientes em boas obras. Se mostrassem sua fé pelas obras, poderiam exercer poderosa influência a favor da verdade. Mas não aplicam os talentos de recursos que lhes foram confiados por Deus. Os que pensam acalmar a consciência transferindo seus bens aos filhos, ou retendo-os da causa de Deus, e deixando-os nas mãos de filhos descrentes e irresponsáveis para que esbanjem ou acumulem e os adorem, prestarão contas a Deus. São mordomos infiéis do dinheiro do Senhor. Eles permitem que Satanás os domine por meio dos filhos, cuja mente está sob seu controle. Os propósitos de Satanás são alcançados de muitas maneiras, enquanto os mordomos de Deus parecem estupefatos e paralisados, pois não compreendem a grande responsabilidade e o ajuste de contas que deve em breve acontecer." T3 119 1 Foi-me mostrado que o tempo de graça para alguns na vizinhança de _____ logo se encerraria, e que era importante que seu trabalho fosse finalizado de modo aceitável a Deus, para que na prestação de contas final pudessem ouvir o "Bem está" do Mestre. Foi-me também mostrada a incoerência daqueles que professam crer na verdade em reter seus bens da causa de Deus, para poderem deixá-los para seus filhos. Muitos pais e mães são pobres em meio à abundância. Diminuem, em certo grau, seu conforto pessoal e freqüentemente se privam daquelas coisas que são necessárias para desfrutar vida e saúde, enquanto possuem recursos abundantes à sua disposição. Sentem-se como se fossem proibidos de apropriar-se de seus recursos para conforto próprio e para fins caritativos. Têm um objetivo diante de si, e este é economizar os bens para deixar para os filhos. A idéia é tão notável, tão ligada com todas as suas ações, que os filhos aprendem a antecipar o dia quando essa propriedade será sua. Dependem disso, e esta perspectiva tem influência importante, mas não favorável, sobre seu caráter. Alguns se tornam esbanjadores, outros se tornam egoístas e avarentos, e ainda outros se tornam indolentes e irresponsáveis. Muitos não cultivam hábitos de economia; não procuram tornar-se independentes. Não têm um alvo, e têm pouca estabilidade de caráter. As impressões recebidas na infância e juventude são entretecidas em seu caráter e se tornam o princípio de ação na vida adulta. T3 120 1 Aqueles que se familiarizaram com os princípios da verdade devem seguir de perto a Palavra de Deus como seu guia. Devem dar a Deus as coisas que são de Deus. Foi-me mostrado que muitos em Vermont estavam cometendo um grande erro quanto a apropriar-se dos recursos que Deus lhes confiara. Estavam passando por alto as reivindicações de Deus sobre tudo que eles têm. Seus olhos eram cegados pelo inimigo da justiça, e estavam seguindo uma conduta que seria desastrosa para eles e para os filhos. T3 120 2 Os filhos estavam influenciando seus pais a deixar sua propriedade em suas mãos para a usarem segundo seu critério. Com a luz da Palavra de Deus, tão simples e clara em relação a dinheiro emprestado a mordomos, e com as advertências e reprovações que Deus tem dado através dos Testemunhos quanto à disposição de seus bens -- se, com toda esta luz diante deles, os filhos direta ou indiretamente influenciam os pais a dividir a propriedade enquanto vivem, ou a passá-la em testamento aos filhos para que a recebam depois da morte de seus pais, eles assumem responsabilidades terríveis. Filhos de pais idosos que professam amar a verdade devem, no temor de Deus, aconselhar e pleitear com seus pais a serem leais à sua profissão de fé, e a tomarem uma decisão, que Deus possa aprovar, quanto a seus bens. Os pais devem depositar para si tesouros no Céu doando seus bens eles mesmos para o avanço da causa de Deus. Não devem privar-se do tesouro celeste deixando um excesso de bens para aqueles que têm suficiente; pois assim fazendo não só se privam do privilégio precioso de depositar no Céu um tesouro que não falha, mas roubam da tesouraria de Deus. T3 120 3 Eu declarei na reunião campal que quando a propriedade é deixada principalmente para os filhos, enquanto nada é doado à causa de Deus, ou apenas uma ninharia que não merece ser mencionada, esta propriedade freqüentemente se demonstraria uma maldição aos que a herdam. Seria uma fonte de tentação e abriria a porta pela qual correriam o risco de cair em concupiscências perigosas e danosas. T3 121 1 Devem os pais exercer o direito que Deus lhes concedeu. Confiou-lhes os talentos que quer que usem para Sua glória. Não devem os filhos tornar-se responsáveis pelos talentos dos pais. Enquanto tiverem mente sã e bom juízo, devem os pais, com piedosa consideração e o auxílio dos devidos conselheiros que tenham experiência na verdade e conhecimento da vontade divina, dispor de suas propriedades. Se tiverem filhos que estejam sendo afligidos ou lutando com a pobreza, e que farão cuidadoso uso dos recursos, devem eles ser tomados em consideração. Mas, se têm filhos descrentes que têm abundância dos bens deste mundo e que estejam servindo ao mundo, cometem um pecado contra o Mestre que os tornou Seus mordomos ao colocarem bens nas mãos deles meramente por serem seus filhos. Os reclamos de Deus não devem ser considerados levianamente. T3 121 2 E deve-se compreender claramente que o fato de os pais já terem feito seu testamento não os impede de dar recursos à causa de Deus enquanto vivem. E isso é o que devem fazer. Devem ter, aqui, a satisfação, e, na vida futura, a recompensa de disporem dos recursos excedentes enquanto viverem. Devem fazer sua parte no avanço da causa de Deus. Devem usar os bens que lhes foram emprestados pelo Mestre para levar avante a obra que deve ser feita em Sua vinha. T3 121 3 O amor ao dinheiro é a raiz de quase todos os crimes cometidos no mundo. 1 Timóteo 6:10. Os pais que de forma egoísta retêm seus recursos para enriquecer os filhos, e que não vêem as necessidades da causa de Deus e não as aliviam, cometem terrível erro. Os filhos a quem pensam abençoar com seus recursos são com isso amaldiçoados. T3 121 4 O dinheiro deixado para os filhos freqüentemente se torna "raiz de amargura". Hebreus 12:15. Freqüentemente brigam por causa da propriedade que lhes foi deixada e, em caso de testamento, raras vezes estão todos satisfeitos com a distribuição feita pelo pai. E em vez de os bens deixados despertarem a gratidão, a reverência a sua memória, cria insatisfação, murmuração, inveja e desrespeito. Irmãos e irmãs que estavam em paz uns com os outros são às vezes postos em desacordo, havendo freqüentemente desavença na família como resultado de bens herdados. As riquezas são apenas desejáveis como um meio de suprir as necessidades presentes, e de fazer bem aos outros. Mas as riquezas herdadas com mais freqüência se tornam uma cilada para quem as possui, em vez de uma bênção. Não devem os pais procurar fazer com que os filhos enfrentem as tentações a que eles os expõem ao lhes deixarem recursos que estes nenhum esforço fizeram para adquirir. T3 122 1 Foi-me mostrado que alguns filhos que professam crer na verdade influenciam, indiretamente, o pai a guardar seus bens para eles em vez de os empregar na causa de Deus enquanto vive. Os que assim têm influenciado o pai a transferir para eles a sua mordomia mal sabem o que estão fazendo. Estão amontoando sobre si mesmos dupla responsabilidade, a de influenciar a mente do pai de tal modo que ele não cumpra o propósito de Deus na distribuição dos recursos que por Ele lhe foram confiados para serem usados para Sua glória, e a responsabilidade adicional de se tornarem mordomos dos recursos que deveriam ter sido dados pelo pai aos banqueiros, para que o Mestre pudesse receber com juros o que Lhe pertencia. T3 122 2 Muitos pais cometem um grande erro ao passarem sua propriedade de suas mãos para as dos filhos, ainda que eles mesmos sejam responsáveis pelo uso ou abuso dos talentos que Deus lhes emprestou. Nem os pais nem os filhos se tornam mais felizes por essa transferência de propriedade. E se os pais viverem uns poucos anos mais, arrepender-se-ão geralmente dessa ação que praticaram. O amor filial, em seus filhos, não é aumentado por essa atitude. Não sentem os filhos maior gratidão e obrigação para com os pais por sua liberalidade. Parece haver uma maldição na raiz dessa questão, cuja colheita é apenas o egoísmo da parte dos filhos, e a infelicidade e terrível sentimento de estrita dependência da parte dos pais. T3 122 3 Se os pais, enquanto vivem, ajudassem os filhos a ajudar a si mesmos, seria melhor do que deixar-lhes uma grande quantia ao morrerem. Os filhos a quem se deixa confiar principalmente nos próprios esforços tornam-se melhores homens e mulheres, e estão melhor habilitados para a vida prática do que os que dependem dos bens do pai. Os filhos que dependem dos próprios recursos geralmente prezam sua capacidade, aproveitam seus privilégios e cultivam e dirigem suas faculdades no sentido de alcançar um propósito na vida. Freqüentemente desenvolvem hábitos de operosidade, economia e valor moral, que são o fundamento do êxito na vida cristã. Os filhos por quem os pais mais fazem freqüentemente são os que menos obrigação sentem para com eles. Os erros dos quais falamos têm existido em _____. Pais têm transferido sua mordomia aos filhos. T3 123 1 Na reunião campal em _____, em 1870, apelei aos que tinham recursos a usarem seus bens na causa de Deus como mordomos fiéis, e não deixar este trabalho para os filhos. É um trabalho que Deus deixou para que fizessem, e quando o Mestre os chamar a prestar contas, eles podem, como mordomos fiéis, devolver-Lhe aquilo que lhes emprestou, tanto o capital como os juros. T3 123 2 Os irmãos X, Y e Z me foram apresentados. Estes homens estavam cometendo um erro em relação à distribuição de seus bens. Alguns de seus filhos os estavam influenciando nessa obra, e assumindo responsabilidades que estavam mal preparados para suportar. Estavam abrindo uma porta e convidando o inimigo a entrar com suas tentações para importuná-los e destruí-los. Os dois filhos mais novos do irmão X se encontravam em grande perigo. Estavam se associando com indivíduos cujo caráter não os elevaria, mas os rebaixaria. O poder sutil dessas associações estava exercendo uma influência imperceptível sobre esses jovens. A conversa e o comportamento de maus companheiros eram de natureza a separá-los da influência de suas irmãs e dos maridos delas. Falando sobre esse assunto na reunião campal, lamentei profundamente. Sabia que vira em visão as pessoas que estavam diante de mim. Insisti com aqueles que me ouviam sobre a necessidade de completa consagração a Deus. Não mencionei nomes, porque não me fora permitido fazê-lo. Devia tratar de princípios, apelar aos corações e consciências, e dar àqueles que professavam amar a Deus e guardar Seus mandamentos uma oportunidade de desenvolver o caráter. Deus lhes enviaria advertências e admoestações, e se realmente desejavam fazer Sua vontade tinham uma oportunidade. A luz foi dada, e então devíamos esperar e ver se eles viriam à luz. T3 124 1 Deixei a reunião campal com um peso de ansiedade sobre a mente em relação às pessoas cujo perigo me fora mostrado. Poucos meses depois nos chegou a notícia da morte do irmão Y. Sua propriedade fora deixada aos filhos. No mês de Dezembro último tínhamos um compromisso para realizar reuniões em Vermont. Meu marido estava indisposto e não pôde ir. A fim de evitar um desapontamento muito grande, concordei em ir a Vermont, na companhia da irmã Hall. Falei ao povo com alguma liberdade, mas as reuniões da associação não foram livres. Sabia que o Espírito do Senhor não podia ter liberdade até que confissões fossem feitas e que houvesse quebrantamento de coração diante de Deus. Não pude guardar silêncio. O Espírito do Senhor estava sobre mim, e relatei brevemente a essência do que tenho escrito. Mencionei os nomes de algumas pessoas presentes que estavam impedindo a obra de Deus. T3 124 2 O resultado de deixar bens aos filhos em testamento e também o fato de transferirem a responsabilidade de sua mordomia para os filhos enquanto os pais estavam vivos tinham ocorrido entre eles. A cobiça tinha levado os filhos do irmão Y a seguirem uma conduta errada. Isto foi especialmente verdade acerca de um de seus filhos. Esforcei-me fielmente, relatando as coisas que tinha visto quanto à igreja, especialmente quanto aos filhos do irmão Y. Um destes irmãos, ele mesmo pai, era corrupto de coração e vida, uma vergonha à preciosa causa da verdade presente; sua baixa norma moral estava corrompendo os jovens. T3 124 3 O Espírito do Senhor esteve nas reuniões, e confissões humildes foram feitas por alguns, acompanhadas de lágrimas. Depois da reunião tive uma entrevista com os filhos mais jovens do irmão X. Pleiteei com eles, e supliquei-lhes por amor de si mesmos a fazerem meia-volta, a desligarem-se da companhia daqueles que os estavam levando à ruína, e buscarem aquilo que contribuiria para sua paz. Enquanto pleiteava por esses jovens, meu coração se compadeceu deles, e eu almejei vê-los submeter-se a Deus. Orei por eles, e insisti que orassem por si mesmos. Estávamos ganhando a vitória; eles estavam cedendo. A voz de cada um foi ouvida em oração humilde e penitente, e senti que de fato a paz de Deus repousava sobre nós Anjos pareciam estar a nosso redor, e fui arrebatada numa visão da glória de Deus. A situação da obra em _____ foi-me de novo mostrada. Vi que alguns tinham se afastado de Deus. Os jovens estavam em estado de apostasia. T3 125 1 Foi-me mostrado que os dois filhos mais novos do irmão X eram de natureza bondosa, jovens conscienciosos, mas que Satanás tinha cegado sua percepção. Seus companheiros não eram todos da classe que fortaleceria e melhoraria sua moralidade ou que aumentaria sua compreensão e amor pela verdade e pelas coisas celestiais. "Um só pecador destrói muitos bens." Eclesiastes 9:18. A conversa ridícula e corrupta desses companheiros tinha exercido seu efeito para desfazer impressões sérias e religiosas. T3 125 2 É um erro associarem-se os cristãos com aqueles cuja moral é frouxa. Um intercâmbio íntimo e diário que ocupe o tempo sem contribuir de alguma forma para o fortalecimento do intelecto ou da moral é um perigo. Se a atmosfera moral que circunda as pessoas não é pura e santificada, mas maculada com a corrupção, os que respiram essa atmosfera verificarão que ela atua quase imperceptivelmente no intelecto e no coração para envenenar e arruinar. É perigoso manter familiaridade com aqueles cuja mente é por natureza de baixo nível. Gradual e imperceptivelmente os que por natureza são conscienciosos e amam a pureza chegarão ao mesmo nível, participarão da imbecilidade e esterilidade moral com que são constantemente postos em contato e passarão a apreciá-las. T3 125 3 Era importante que as amizades desses jovens mudassem. "As más conversações corrompem os bons costumes." 1 Coríntios 15:33. Satanás tinha atuado através de agentes para arruinar esses jovens. Nada consegue com mais eficiência impedir ou banir impressões sérias e bons desejos do que associação com pessoas de mente vã, descuidada e corrupta. Sejam quais forem os atrativos que tais pessoas possam ter por sua sagacidade, sarcasmo ou humor, o fato de que consideram a religião com leviandade e indiferença é razão suficiente para que não se associe com elas. Por mais atraentes que sejam em outros respeitos, mais deve sua influência ser temida como amizade, porque elas cercam a vida irreligiosa com muitas atrações perigosas. T3 126 1 Esses jovens devem escolher como colegas aqueles que amam a pureza da verdade, cuja moralidade é incontaminada, e cujos hábitos são puros. Devem sujeitar-se às condições expostas na Palavra de Deus, se de fato gostariam de ser filhos de Deus, membros da família real, filhos do Rei celeste. "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei." 2 Coríntios 6:17. Deus ama a esses jovens, e se seguirem a orientação de Seu Espírito, e andarem em Seu conselho, Ele será sua força. T3 126 2 Deus deu ao irmão A Y boas aptidões, percepção viva e uma boa compreensão de Sua Palavra. Se seu coração fosse santificado, ele poderia ter uma influência para o bem sobre seus irmãos, bem como sobre seus vizinhos e aqueles com quem ele se associa. Mas o amor do dinheiro tem-se-lhe apoderado tão firmemente do coração, e tem sido entretecido com todas as transações da vida, que ele se tornou conformado com o mundo em vez de ser transformado pela renovação da mente. Suas faculdades têm sido pervertidas e degradadas pelo amor sórdido de lucro, o que o tem tornado egoísta, mesquinho e arrogante. Tivessem suas qualidades sido postas em uso ativo no serviço de seu Mestre, em vez de serem usadas para servir a seus interesses egoístas, tivessem sido seu objetivo e alvo fazer o bem e glorificar a Deus, as faculdades da mente que Deus lhe outorgou comunicariam a seu caráter energia, humildade e eficiência que não poderiam deixar de impor respeito e lhe dariam uma influência sobre todos com os quais ele se associava. T3 127 1 Foi-me mostrado que a propriedade deixada pelo pai tinha de fato sido uma raiz de amargura para os filhos. Sua paz e felicidade, e sua confiança um no outro, foram grandemente perturbadas. O irmão A Y não precisava da propriedade de seu pai. Ele tinha suficientes talentos que Deus havia confiado à sua administração. Se tivesse feito uma disposição correta do que possuía, ele ao menos seria daquele número que foi fiel no mínimo. O acréscimo da administração da propriedade de seu pai, que tinha sido desejada com cobiça, foi uma responsabilidade mais pesada do que podia administrar bem. Por vários anos o amor ao dinheiro tem estado a desarraigar o amor à humanidade e a Deus. E como os bens de seu pai estavam a seu alcance, ele quis reter em suas mãos tudo que era possível. Seguiu uma conduta egoísta para com seus irmãos porque tinha a primazia e podia fazê-lo. Seus irmãos não tiveram sentimentos corretos. Nutriam ressentimento contra ele. Tirou vantagem nos negócios com prejuízo de outros até que sua conduta desacreditou a causa de Deus. Perdeu o domínio de si mesmo. Seu maior objetivo era o lucro, o lucro egoísta. "O amor do dinheiro" no coração foi a raiz de todo esse mal. 1 Timóteo 6:10. Foi-me mostrado que, se ele tivesse devotado suas forças ao trabalho na vinha do Senhor, teria realizado grande bem, mas essas qualificações uma vez pervertidas podem ocasionar muito dano. T3 127 2 Os irmãos B não tiveram a ajuda que deviam ter tido. A B labutou com muita desvantagem. Ele assumiu muitas responsabilidades, que prejudicaram seu trabalho, de modo que não progrediu em força espiritual e coragem como deveria. A igreja, que tem a luz da verdade, e que devia ser forte em Deus para o querer, o efetuar (Filipenses 2:13) e para sacrificar, se necessário, por amor da verdade, tem sido como criança débil. Ela tem exigido tempo e esforço do irmão A B para resolver dificuldades que nunca deveriam ter existido. E quando essas dificuldades surgiram por causa de egoísmo e corações não santificados, podiam ter sido resolvidas em uma hora, se houvesse humildade e espírito de confissão. T3 127 3 Os irmãos B cometem um erro em permanecer em _____. Deviam ter mudado de local e não visitar este lugar mais do que umas poucas vezes por ano. Teriam maior liberdade em dar seu testemunho. Estes irmãos não têm se sentido livres em confessar a verdade e os fatos como aconteceram. Se tivessem vivido em outro lugar, teriam sido mais isentos de responsabilidades, e seu testemunho teria tido dez vezes mais peso quando visitassem essa igreja. Enquanto o irmão A B tem sido sobrecarregado com insignificantes questões de igreja e sido retido em _____, deveria ter estado a trabalhar no exterior. Ele serviu "às mesas" (Atos dos Apóstolos 6:2) até que sua mente ficou obscurecida, e não compreende a força e o poder da verdade. Ele não tem estado cônscio das necessidades reais da causa de Deus. Perdeu a espiritualidade e a coragem. A obra de manter a doação sistemática tem sido negligenciada. Alguns irmãos, cujo interesse no passado era promover a causa de Deus, têm-se tornado egoístas e avarentos em vez de se tornarem mais abnegados e seu amor e devoção à verdade crescerem. Têm-se tornado menos devotos e mais semelhantes ao mundo. O pai C é um deles. Precisa de uma nova conversão. O irmão C tem sido favorecido com privilégios superiores, e se estes não forem desenvolvidos, condenação e trevas se seguirão na mesma proporção da luz que ele tem tido, por não aumentar os talentos que Deus lhe emprestou para serem desenvolvidos. T3 128 1 Os irmãos em Vermont têm entristecido o Espírito de Deus ao permitirem que seu amor pela verdade e seu interesse na obra de Deus declinassem. T3 128 2 O irmão D B sobrecarregou suas forças na última temporada, enquanto trabalhava em novos campos com a tenda, sem ajuda adequada. Deus não requer que este irmão, ou qualquer um de Seus servos, prejudique sua saúde por causa de exposição ao frio e trabalho exaustivo. Os irmãos em _____ deviam ter demonstrado interesse através de suas obras. Deviam ter obtido ajuda se tivessem estado cônscios do interesse da causa de Deus e sentido o valor das almas. Enquanto o irmão D B teve profunda percepção da obra de Deus e o valor das almas, que requeriam esforço contínuo, uma grande igreja em _____, por dificuldades mesquinhas, impediu que o irmão A B ajudasse seu irmão. Estes irmãos devem apresentar-se com coragem renovada, desvencilhar-se das provas e desalentos que os têm retido em _____ e prejudicado seu testemunho, e devem suplicar forças do Todo-poderoso. Deviam ter dado um testemunho claro e franco aos irmãos X e Y, e insistir sobre a verdade, e fazer o que pudessem para levar esses homens a realizar uma distribuição justa de sua propriedade. O irmão A B, ao assumir tantas responsabilidades, está diminuindo sua energia mental e física. T3 129 1 Se o irmão C tivesse andado na luz durante os últimos anos, ele teria sentido o valor das almas. Tivesse ele cultivado amor pela verdade, podia ter-se qualificado para ensiná-la a outros. Podia ter ajudado o irmão D B em seu trabalho com a tenda. Poderia ao menos ter assumido as responsabilidades da igreja local. Se tivesse tido amor por seus irmãos, e sido santificado pela verdade, poderia ter-se tornado um pacificador em vez de um instigador de briga, a qual, unida com outras dificuldades, afastou o irmão A B de perto de seu irmão num momento muito importante, o que causou ao irmão D B trabalho muito acima de suas forças. Não obstante, depois de o irmão D B ter feito tudo que podia, o trabalho não foi efetuado, o qual poderia ter sido feito se tivesse havido interesse em _____ de suprir ajuda quando era tão necessária. Uma responsabilidade terrível pesa sobre aquela igreja por sua negligência ao dever. T3 129 2 Foi-me mostrado que a atitude do irmão X em dividir sua propriedade entre os filhos lhes transferia a responsabilidade que ele não deveria ter renunciado. Agora vê que o resultado desta conduta não lhe trouxe aumento de afeição da parte de seus filhos. Não se sentiram sob obrigação para com seus pais pelo que eles fizeram por eles. Estes filhos eram jovens e inexperientes. Não estavam qualificados para arcar com a responsabilidade posta sobre eles. O coração deles não era consagrado. Consideravam os verdadeiros amigos como se fossem inimigos mal-intencionados, enquanto aqueles que separariam até amigos eram aceitos. Estes agentes de Satanás estavam sugerindo continuamente idéias falsas à mente desses jovens, e o coração de irmãos e irmãs, pai e mãe, tornou-se hostil. T3 130 1 O pai X cometeu um erro. Tivesse ele confiado mais nos maridos de suas filhas, que amavam a verdade com sinceridade, e tivesse sido mais disposto para ser ajudado pelo conselho de homens de experiência, grandes erros poderiam ter sido evitados. Mas este é o modo pelo qual o inimigo geralmente tem sucesso em controlar as coisas com relação à distribuição de bens. T3 130 2 Os casos mencionados foram designados por Deus para serem desenvolvidos para que todos vissem o efeito enganoso das riquezas sobre o coração. O resultado nesses casos, que é evidente a todos, deve ser uma advertência a pais e mães e a filhos ambiciosos. A Palavra de Deus define a avareza como idolatria. Colossences 3:5. É impossível a homens e mulheres amar a lei de Deus e amar o dinheiro. As afeições do coração devem ser postas em coisas celestiais. Nosso tesouro deve ser depositado no Céu, porque onde está nosso tesouro, aí estará também nosso coração. Mateus 6:21. ------------------------Capítulo 13 -- A educação ideal T3 131 2 A mais bela obra já empreendida por homens e mulheres é lidar com mentes jovens. O máximo cuidado deve ser tomado na educação da juventude, para variar de tal maneira a instrução que desperte as nobres e elevadas faculdades da mente. Pais e mestres acham-se igualmente inaptos para educar devidamente as crianças, se não aprenderam primeiro a lição do domínio próprio, a paciência, a tolerância, a brandura e o amor. Que importante posição para os pais, tutores e professores! Há poucos que compreendem as mais essenciais necessidades do espírito, e a maneira como devem dirigir o intelecto em desenvolvimento, os pensamentos e sentimentos crescentes dos jovens. T3 131 3 Há tempo para instruir as crianças, e tempo para educar os jovens; e é essencial que esses dois aspectos sejam combinados em alto grau na escola. As crianças podem ser preparadas para o serviço do pecado ou para o serviço da justiça. A educação em tenra idade molda-lhes o caráter tanto na vida secular como na religiosa. Diz Salomão: "Instrui ao menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer, não se desviará dele." Provérbios 22:6. Esta linguagem é positiva. O ensino recomendado por Salomão é dirigir, educar e desenvolver. Para que os pais e mestres façam essa obra, devem eles próprios compreender "o caminho" em que a criança deve andar. Isso abrange mais que mero conhecimento de livros. Envolve tudo quanto é bom, virtuoso, justo e santo. Compreende a prática da temperança, da piedade, bondade fraternal, e amor para com Deus e de uns para com os outros. A fim de atingir esse objetivo, é preciso dar atenção à educação física, mental, moral e religiosa da criança. T3 132 1 A educação da criança, em casa ou na escola, não deve ser como o ensino dos mudos animais; pois as crianças têm vontade inteligente, a qual deve ser dirigida de maneira a reger todas as suas faculdades. Os mudos animais devem ser treinados, pois não possuem razão nem inteligência. À mente humana, porém, deve ser ensinado o domínio próprio. Ela deve ser educada a fim de governar o ser humano, ao passo que os animais são governados por um dono, e ensinados a ser-lhe submissos. O dono é mente, juízo e vontade para o animal. Uma criança pode ser ensinada de maneira a não ter vontade própria, assim como o animal. Sua individualidade pode imergir na da pessoa que lhe dirige o ensino; sua vontade, para todos os intentos e desígnios, estar sujeita à vontade de seu mestre. T3 132 2 As crianças assim educadas serão sempre deficientes em força moral e responsabilidade como indivíduos. Não foram ensinadas a agir movidas pela razão e por princípios; sua vontade foi controlada por outros, e a mente não foi desafiada a expandir-se e fortalecer-se pelo exercício. Não foram dirigidas e disciplinadas quanto à sua constituição peculiar e à capacidade mental, de modo a desenvolverem as mais vigorosas faculdades da mente, quando necessário. Os professores não devem parar aí, mas dar atenção especial ao cultivo das faculdades mais fracas, para que todas sejam exercitadas e levadas de um a outro grau de vigor, a fim de que a mente atinja as devidas proporções. T3 132 3 Há muitas famílias com crianças que parecem bem-educadas enquanto se encontram sob a disciplina; porém, quando o sistema que as ligou a certas regras se rompe, parecem incapazes de pensar, agir ou decidir por si mesmas. Essas crianças estiveram por tanto tempo sob uma regra de ferro, sem permissão de pensar e agir por si mesmas naquilo em que era perfeitamente próprio que o fizessem, que não têm confiança em si mesmas, para procederem segundo seu discernimento, tendo opinião própria. E quando saem de sob a tutela dos pais para agirem por si mesmas são facilmente levadas pelo discernimento de outros a direções errôneas. Não têm estabilidade de caráter. Não foram deixadas em situação de usarem o próprio juízo, na medida do possível; portanto, a mente não foi devidamente desenvolvida e fortalecida. Foram por tanto tempo inteiramente controladas pelos pais que dependem totalmente deles; estes são mente e discernimento para elas. T3 133 1 Por outro lado, os jovens não devem ser deixados a pensar e proceder independentemente do juízo de seus pais e mestres. As crianças devem ser ensinadas a respeitar o juízo da experiência, e serem guiadas pelos pais e professores. Devem ser de tal maneira educadas que sua mente se ache unida com a dos pais e professores, e instruídas de modo a poderem ver a conveniência de atender a seus conselhos. Então, ao saírem de sob a mão orientadora deles, seu caráter não será como a cana agitada pelo vento. T3 133 2 A rigorosa educação dos jovens, sem lhes dirigir convenientemente o modo de pensar e proceder por si mesmos na medida que o permitam sua capacidade e as tendências da mente, para que assim eles se desenvolvam no pensar, nos sentimentos de respeito por si próprios e na confiança em sua capacidade de executar, produzirá uma classe fraca em força mental e moral. E quando estiverem no mundo, para agir por si mesmos, revelarão o fato de que foram ensinados, como os animais, e não educados. Em vez de sua vontade ser dirigida, foi forçada à obediência mediante rude disciplina por parte dos pais e mestres. T3 133 3 Os pais e professores que se gabam de ter completo domínio sobre a mente e a vontade das crianças sob seu cuidado deixariam de gabar-se caso pudessem acompanhar a vida futura das crianças que são assim postas em sujeição pela força ou o temor. Essas crianças acham-se quase de todo despreparadas para partilhar das sérias responsabilidades da vida. Quando esses jovens não mais estão sujeitos aos pais e mestres e se vêem forçados a pensar e agir por si mesmos, é quase certo tomarem uma direção errônea e cederem ao poder da tentação. Não tornam esta vida um êxito, e as mesmas deficiências se manifestam em sua vida religiosa. Pudessem os instrutores de crianças e jovens ter traçado diante de si o futuro resultado de sua errada disciplina, mudariam seu plano de educação. Essa espécie de professores que se satisfaz com o manter quase inteiro domínio sobre a vontade dos alunos não é a mais bem-sucedida, embora a aparência no momento seja lisonjeira. T3 134 1 Nunca foi desígnio de Deus que a mente de uma pessoa estivesse sob o completo domínio de outra. E os que se esforçam para fazer com que a individualidade de seus alunos venha a imergir na deles, procurando lhes servir de mente, vontade e consciência, assumem tremendas responsabilidades. Esses alunos podem, em certas ocasiões, parecer soldados bem disciplinados. Uma vez, porém, removida a restrição, ver-se-á a falta de ação independente oriunda de firmes princípios neles existentes. Os que tornam seu objetivo educar os alunos de maneira que vejam e sintam estar neles próprios o poder de formar homens e mulheres de sólidos princípios, habilitados para qualquer posição na vida, são os mestres mais úteis e de êxito permanente. Talvez sua obra não se mostre ao descuidoso observador sob o aspecto mais vantajoso, nem seja tão altamente apreciada como a dos mestres que dominam a mente e a vontade dos discípulos pela autoridade absoluta; porém, a vida futura dos alunos manifestará os frutos do melhor sistema de educação. T3 134 2 Há perigo de os pais e os professores comandarem e ditarem demasiadamente, ao passo que falham em manter adequadamente um relacionamento social com os filhos e alunos. Mantêm-se com freqüência muito reservados, e exercem sua autoridade de maneira fria, destituída de simpatia, que não pode atrair o coração dos educandos. Caso reunissem as crianças bem junto a si, mostrassem que as amam, manifestassem interesse em todos os seus esforços, mesmo em seus esportes, tornando-se por vezes uma criança entre elas, dar-lhes-iam muita satisfação e lhes granjeariam o amor e a confiança. E mais depressa as crianças respeitariam e amariam a autoridade dos pais e mestres. T3 135 1 Os hábitos e princípios de um professor devem ser considerados ainda de maior importância que suas qualificações acadêmicas. Se ele é um cristão sincero, sentirá a necessidade de manter interesse igual na educação física, mental, moral e espiritual de seus discípulos. A fim de exercer a devida influência, o professor deve ter perfeito domínio sobre si mesmo, e seu próprio coração deve estar cheio de amor para com os alunos -- amor que se manifestará em sua expressão, nas palavras e nos atos. Ele precisa ter firmeza de caráter, e então poderá moldar a mente dos alunos, da mesma maneira que os instruir nas ciências. A primeira educação dos pequenos molda-lhes, em geral, o caráter para a vida. Os que lidam com os jovens devem ser muito cuidadosos em despertar as qualidades mentais, a fim de melhor saberem como lhes dirigir as faculdades para serem exercitadas da maneira mais proveitosa. Rigoroso confinamento na escola T3 135 2 O sistema de educação mantido por gerações passadas tem sido destrutivo para a saúde e até para a própria vida. Muitas crianças têm passado cinco horas por dia em salas de aula mal ventiladas, sem suficiente espaço para a saudável acomodação dos alunos. O ar dessas salas logo se torna veneno para os pulmões que o inalam. Crianças pequenas, cujos membros e músculos não são fortes e cujo cérebro ainda não se acha desenvolvido, têm sido mantidas em ambientes fechados, para dano seu. Muitas não têm senão escassa reserva com que começar a vida, e o confinamento na escola dia a dia torna-as nervosas e doentes. Seu corpo é impedido de crescer em virtude da exausta condição de seu sistema nervoso. E se a lâmpada da vida se apaga, os pais e os mestres não consideram haver tido qualquer influência direta em extinguir a centelha de vida. Ao acharem-se junto à sepultura dos filhos, os aflitos pais consideram esse golpe como especial determinação da Providência, quando, por indesculpável ignorância, foi seu procedimento que destruiu a vida dos filhos. Culpar, pois, a Providência por tais mortes é blasfêmia. Deus queria que os pequeninos vivessem e fossem disciplinados, a fim de poderem possuir belo caráter, glorificando-O neste mundo e louvando-O naquele outro melhor. T3 136 1 Pais e professores, ao assumirem a responsabilidade de ensinar essas crianças, não sentem a obrigação diante de Deus de familiarizar-se com o organismo físico, para que possam cuidar do corpo de seus filhos e alunos de maneira a preservar a vida e a saúde. Milhares de crianças morrem em virtude da ignorância de pais e professores. Há mães que gastam horas e horas em trabalho desnecessário com as próprias roupas e as de seus filhos, com o propósito de ostentação, e alegam então que não dispõem de tempo para ler e obter a informação necessária para cuidar da saúde de seus filhos. Acham mais fácil confiar o corpo deles aos cuidados dos médicos. Muitos pais sacrificaram a saúde e a vida dos filhos para estarem de acordo com a moda e os costumes. T3 136 2 Relacionar-se com o maravilhoso organismo humano, os nervos, os músculos, o estômago, o fígado, os intestinos, coração e poros da pele, e compreender a dependência de um órgão para com outro no que respeita ao saudável funcionamento de todos, é assunto em que a maior parte das mães não tem nenhum interesse. Nada sabem da influência do corpo sobre a mente e da mente sobre o corpo. A mente, que liga o finito ao infinito, elas parecem não compreender. Todo órgão do corpo foi feito para ser servo da mente. Esta é a capital do corpo. Permite-se às crianças comer carne, especiarias, manteiga, queijo, porco, ricas massas e condimentos em geral. É-lhes também permitido comer alimentos insalubres a horas irregulares e entre as refeições. Essas coisas fazem sua obra em desarranjar o estômago, estimulando os nervos a uma ação fora do natural, e enfraquecendo o intelecto. Os pais não compreendem que estão lançando a semente que há de produzir doença e morte. T3 137 1 Muitas crianças foram arruinadas para a vida em razão de se exigir demais do intelecto e negligenciar fortalecer o físico. Muitos têm morrido na infância devido ao procedimento seguido por pais e professores imprudentes, que forçaram o intelecto, por lisonja ou temor, quando essas crianças eram demasiado novas para verem o interior de uma escola. Sua mente foi sobrecarregada com lições quando não deviam ser forçadas, antes contidas até que a constituição física estivesse suficientemente forte para suportar esforço mental. As criancinhas devem ser deixadas tão livres como cordeiros a correr ao ar livre, soltas e felizes, dando-se-lhes as melhores oportunidades de lançarem bases para uma constituição sadia. T3 137 2 Os pais devem ser os únicos mestres dos filhos até que eles cheguem à idade de oito ou dez anos. Assim que a mente lhes permita compreendê-lo, cumpre aos pais abrir diante deles o grande livro divino da natureza. A mãe deve ter menos amor pelo artificial em casa e no preparo de vestidos para ostentação, e tomar tempo para cultivar, em si mesma e em seus filhos, o amor dos belos botões e flores a desabrochar. Chamando a atenção dos filhos às diferentes cores e variadas formas, pode relacioná-los com Deus, que fez todas as belas coisas que os atraem e deliciam. Pode elevar-lhes a mente ao Criador e despertar nos tenros corações a afeição para com o Pai celeste, que manifestou por eles tão grande amor. Os pais podem associar Deus com todas as obras de Sua criação. A única sala de aula para as crianças de oito a dez anos deve ser ao ar livre, entre as flores a desabrochar e os belos cenários da natureza. Seu único livro de estudo deveriam ser os tesouros da natureza. Essas lições, gravadas na mente das tenras crianças por entre as agradáveis e atrativas cenas campestres, jamais serão esquecidas. T3 137 3 Para que as crianças e os jovens tenham saúde, alegria, vivacidade e músculos e cérebro bem desenvolvidos, convém que estejam muito ao ar livre e tenham divertimentos e ocupações bem orientados. Crianças e jovens mantidos na escola e presos aos livros não podem possuir sã constituição física. O exercício do cérebro no estudo, sem exercício físico correspondente, tende a atrair o sangue à cabeça, ficando desequilibrada a circulação sangüínea através do organismo. O cérebro fica com muito sangue e os membros com muito pouco. Deve haver regras que limitem o estudo das crianças e jovens a certas horas, sendo depois uma porção do tempo dedicada ao trabalho físico. E se os seus hábitos de comer, vestir e dormir estiverem em harmonia com as leis físicas, poderão educar-se sem sacrificar a saúde física e mental. Decadência física do ser humano T3 138 1 O livro de Gênesis apresenta um relato bem definido da vida social e individual, e, todavia, não temos notícia de alguma criança que nascesse cega, surda, aleijada, deformada ou imbecil. Não é mencionado um só caso de morte natural na infância, meninice ou juventude. Não há relato algum de homens e mulheres vitimados por doenças. Os obituários no livro de Gênesis declaram o seguinte: "E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu." Gênesis 5:5. "E foram todos os dias de Sete novecentos e doze anos; e morreu." Gênesis 5:8. Com referência a outros, diz o relato: "Morreu em boa velhice, velho e farto de dias." Gênesis 25:8. Era tão raro morrer um filho antes de seu pai que tal acontecimento foi considerado digno de menção: "E morreu Harã, estando seu pai Terá ainda vivo." Gênesis 11:28. Harã já era pai ao tempo de sua morte. T3 138 2 Deus dotou o homem de tão grande força vital que ele tem resistido ao acúmulo de doenças lançadas sobre a humanidade em conseqüência de hábitos pervertidos, e tem sobrevivido por seis mil anos. Este fato, por si mesmo, é suficiente para nos mostrar a força e a energia elétrica que Deus conferiu ao ser humano na criação. Foram necessários mais de dois mil anos de delitos e de condescendência com as paixões inferiores para trazer sobre os seres humanos enfermidades físicas em grande escala. Se Adão, ao ser criado, não houvesse sido dotado de vinte vezes maior vitalidade do que os homens possuem agora, a humanidade, com seus atuais métodos de vida que constituem uma violação da lei natural, já estaria extinta. Por ocasião do primeiro advento de Cristo, o ser humano degenerara tão rapidamente que um acúmulo de doenças pesava sobre aquela geração, suscitando uma torrente de aflição e uma carga de sofrimento indescritível. T3 139 1 Tem-me sido apresentada a deplorável condição do mundo no tempo atual. Desde a queda de Adão, a humanidade tem estado degenerando. Foram-me reveladas algumas das razões da lastimável condição atual de homens e mulheres formados à imagem de Deus. E o sentimento de quanto será necessário fazer para deter, mesmo em pequena escala, a decadência física, mental e moral fez com que o meu coração ficasse pesaroso e abatido. Deus não criou o gênero humano em sua presente condição debilitada. Este estado de coisas não é obra da Providência, mas do homem; e tem sido ocasionado por maus hábitos e abusos, pela violação das leis que Deus estabeleceu para governar a existência humana. Cedendo à tentação de satisfazer o apetite, Adão e Eva caíram originalmente de sua condição elevada, santa e feliz. E é por meio da mesma tentação que os homens têm se debilitado. Eles têm permitido que o apetite e a paixão ocupem o trono, mantendo em sujeição a razão e o intelecto. T3 139 2 A violação da lei física e sua conseqüência -- o sofrimento humano -- têm prevalecido por tanto tempo que homens e mulheres consideram o presente estado de doença, sofrimento, debilidade e morte prematura como a sorte destinada aos seres humanos. O homem saiu das mãos do Criador perfeito e belo na forma, e de tal modo dotado de força vital que levou mais de mil anos para que os corruptos apetites e paixões, bem como a geral violação da lei física, fossem sensivelmente notados na humanidade. As gerações mais recentes têm experimentado a pressão da debilidade e da doença mais rápida e rigorosamente a cada geração. As forças vitais têm sido grandemente enfraquecidas pela condescendência com o apetite e as paixões da concupiscência. T3 139 3 Os patriarcas desde Adão até Noé, com poucas exceções, viveram quase mil anos. Depois do tempo de Noé, a duração da vida tem diminuído gradualmente. Os que sofriam de enfermidades eram levados a Cristo de toda cidade, vila e aldeia para serem curados por Ele; pois eram afligidos por toda sorte de doenças. E a doença tem aumentado constantemente através das gerações sucessivas desde aquele período. Em virtude da continuada violação das leis da vida, a mortalidade tem aumentado de modo alarmante. Os anos de vida dos homens têm diminuído a tal ponto que a geração atual desce à sepultura antes mesmo da idade em que as gerações que viveram durante os dois primeiros mil anos, após a criação, se lançavam ao campo de ação. T3 140 1 A doença tem sido transmitida de pais a filhos, de geração a geração. Crianças de berço são severamente afligidas por causa dos pecados de seus pais, que reduziram sua força vital. Seus maus hábitos de comer e vestir, e sua dissipação geral, são transmitidos como herança aos filhos. Muitos nascem dementes, deformados, cegos, surdos, e uma classe muito numerosa é deficiente no intelecto. A estranha ausência de princípios que caracteriza esta geração, e que se manifesta no desprezo mostrado às leis da vida e da saúde, é espantosa. Prevalece a ignorância sobre este assunto, embora a luz esteja brilhando por toda parte ao redor deles. A preocupação da maioria é: Que comerei? Que beberei? e com que me vestirei? Mateus 6:31. A despeito de tudo o que é declarado e escrito acerca do modo como devemos tratar o corpo, o apetite é a grande lei que governa homens e mulheres em geral. T3 140 2 As faculdade morais estão enfraquecidas porque homens e mulheres não querem viver em obediência às leis da saúde nem fazem deste grande assunto um dever pessoal. Os pais transmitem a seus descendentes os próprios hábitos pervertidos, e doenças repulsivas corrompem o sangue e debilitam o cérebro. A maioria dos homens e das mulheres permanece na ignorância das leis de seu ser, condescendendo com o apetite e a paixão, com prejuízo do intelecto e da moral; e parecem dispostos a permanecer na ignorância acerca do resultado de sua violação das leis naturais. Satisfazem o pervertido apetite ao usar venenos lentos, que corrompem o sangue e minam as forças nervosas, trazendo, conseqüentemente, doença e morte sobre si. Seus amigos chamam o resultado dessa conduta de desígnio da Providência. Com isto eles insultam o Céu. Rebelaram-se contra as leis da natureza, e sofreram a punição deste abuso. Sofrimento e mortalidade prevalecem agora em toda a parte, principalmente entre crianças. Quão grande é o contraste entre esta geração e as que viveram durante os dois primeiros mil anos! Importância do ensino no lar T3 141 1 Indaguei se essa torrente de aflição não podia ser evitada e alguma coisa ser feita para salvar os jovens desta geração da ruína que os ameaça. Foi-me mostrado que uma grande causa do deplorável estado de coisas existente é que os pais não se sentem na obrigação de criar os filhos em conformidade com as leis físicas. As mães amam os filhos com amor idólatra, e condescendem com o apetite deles quando sabem que isso é nocivo à saúde, trazendo assim sobre eles doenças e infelicidade. Esta cruel bondade manifesta-se em grande escala na geração atual. Os desejos das crianças são satisfeitos à custa da saúde e da boa disposição, porque é mais fácil para a mãe, no momento, satisfazê-las do que negar aquilo que elas exigem. T3 141 2 Assim semeiam elas próprias a semente que brotará e dará frutos. As crianças não são educadas a renunciar ao apetite e restringir os desejos, e tornam-se egoístas, exigentes, desobedientes, ingratas e profanas. As mães que estão fazendo esta obra colherão com amargura o fruto da semente por elas lançada. Pecaram contra o Céu e contra os próprios filhos, e Deus as considerará responsáveis. T3 141 3 Se, gerações atrás, a educação houvesse sido dirigida por plano inteiramente diverso, a juventude de hoje não seria tão depravada e inútil. Os diretores e professores das escolas teriam sido pessoas que conhecessem fisiologia e tivessem interesse não somente em educar os jovens nas ciências, mas em ensinar-lhes a maneira de conservar a saúde, de modo a empregarem da melhor maneira os conhecimentos adquiridos. Ligados às escolas deve haver estabelecimentos que desenvolvam vários ramos de trabalho, a fim de os estudantes terem ocupação e o necessário exercício fora das horas de estudo. T3 142 1 O trabalho e os entretenimentos dos alunos deviam ter sido ajustados tendo em vista a lei física, sendo adaptados à conservação do tono saudável de todas as faculdades do corpo e da mente. Assim, poderiam obter conhecimentos práticos de ofícios, ao mesmo tempo que vão adquirindo sua instrução literária. Os estudantes devem ser despertados em suas sensibilidades morais quanto a ver e sentir os direitos que a sociedade tem sobre eles. Devem viver em obediência às leis naturais, de modo a poderem, por sua vida e influência, por preceito e exemplo, ser de utilidade e uma bênção para a sociedade. Os jovens devem ser impressionados quanto ao fato de exercerem todos uma influência que se faz sentir constantemente na sociedade, seja para melhorar e elevar, ou para rebaixar e degradar. O primeiro estudo dos jovens deve ser conhecer a si mesmos e conservar o corpo são. T3 142 2 Muitos pais conservam os filhos na escola quase o ano inteiro. Essas crianças seguem automaticamente a rotina do estudo, mas não retêm o que estudam. Muitos desses estudantes contínuos parecem quase destituídos de vida intelectual. A monotonia do estudo contínuo fatiga a mente, e pouco é o interesse que tomam nas lições; e, para muitos, torna-se penosa a aplicação aos livros. Não têm íntimo amor pelo pensar, nem ambição de adquirir conhecimentos. Não estimulam em si mesmos hábitos de reflexão e pesquisa. T3 142 3 As crianças precisam grandemente de educação apropriada, a fim de serem úteis ao mundo. Qualquer esforço, porém, que exalte a cultura intelectual acima da educação moral é mal dirigido. Instruir, cultivar, polir e refinar jovens e crianças deve ser a principal preocupação de pais e mestres. São poucos os que raciocinam de modo concentrado e os que pensam de maneira lógica, em razão de haverem falsas influências atrapalhado o desenvolvimento do intelecto. A suposição de pais e professores de que o estudo contínuo fortaleceria o intelecto tem-se demonstrado errônea, pois em muitos casos o efeito tem sido exatamente contrário. T3 143 1 Na educação inicial das crianças, muitos pais e professores deixam de compreender que a primeira atenção precisa ser dada à constituição física, para garantir-se saúde física e mental. Tem sido costume incentivar crianças a freqüentar a escola quando são simples bebês, necessitando dos cuidados maternos. Numa idade delicada, são freqüentemente colocadas em apinhadas salas de aula sem ventilação, onde se sentam em posição incorreta em bancos mal construídos. Como resultado, as jovens e tenras estruturas de alguns se têm deformado. T3 143 2 A disposição e os hábitos da juventude muito facilmente se manifestam na idade madura. Você pode curvar uma árvore nova em quase qualquer forma que desejar, e se ela permanecer e crescer como a puser, será uma árvore deformada, denunciando sempre o dano e o mau trato recebido de suas mãos. Você pode, depois de anos de crescimento, tentar endireitá-la, mas todos os esforços se demonstrarão infrutíferos. Ela será sempre uma árvore torta. Tal é o caso com a mente infantil. As crianças devem ser cuidadosa e ternamente educadas na infância. Podem ser exercitadas na devida direção ou em direção errada, e em sua vida futura seguirão aquela em que foram dirigidas na juventude. Os hábitos então formados crescerão cada vez mais e cada vez mais se fortalecerão, e geralmente o mesmo ocorrerá na vida posterior, apenas se tornando sempre mais fortes. T3 143 3 Vivemos numa época em que quase tudo é superficial. Há pouca estabilidade e firmeza de caráter, porque o ensino e a educação das crianças são superficiais desde o berço. O caráter delas é formado sobre areia movediça. A abnegação e o domínio próprio não foram entretecidos em seu caráter. Foram mimadas e tratadas complacentemente até ficarem estragadas para a vida prática. O amor ao prazer domina a mente, e as crianças são aduladas e favorecidas para sua ruína. As crianças devem ser de tal modo exercitadas e educadas que possam esperar tentações, e contar com dificuldades e perigos. Devem ser ensinadas a ter domínio próprio e a vencer nobremente as dificuldades. Uma vez que não se precipitem voluntariamente para o perigo, colocando-se sem necessidade no caminho da tentação, e evitem as más influências e as companhias viciosas, quando de maneira inevitável forem compelidas a estar em perigoso convívio, terão suficiente força de caráter para ficar ao lado do direito e manter o princípio, saindo, no poder de Deus, com sua moral incontaminada. Se os jovens que foram devidamente educados puserem em Deus a confiança, sua força moral resistirá à mais severa prova. T3 144 1 Poucos pais compreendem, porém, que seus filhos são o que o seu exemplo e disciplina deles fizeram, e que são responsáveis pelo caráter desenvolvido pelos filhos. Se o coração dos pais cristãos estivesse sujeito à vontade de Cristo, obedeceriam à recomendação do Mestre divino: "Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. Se os que professam seguir a Cristo tão-somente fizessem isso, dariam, não só a seus filhos, mas ao mundo incrédulo, exemplos que representariam corretamente a religião da Bíblia. T3 144 2 Se os pais cristãos vivessem em obediência aos preceitos do Mestre divino, preservariam a simplicidade no comer e no vestir, e viveriam mais de acordo com a lei natural. Não dedicariam então tanto tempo à vida artificial, inventando para si mesmos preocupações e fardos que Cristo não colocou sobre eles, antes ordenou explicitamente que os evitassem. Se o reino de Deus e a Sua justiça constituíssem a primeira e suprema consideração dos pais, bem pouco tempo precioso seria despendido em desnecessários adornos exteriores, enquanto o intelecto dos filhos é quase inteiramente negligenciado. O precioso tempo que muitos pais empregam para vestir os filhos para ostentação em seus locais de entretenimento seria melhor, muito melhor aplicado no cultivo da própria mente, a fim de se tornarem competentes para instruir devidamente os filhos. Não é essencial para sua salvação ou felicidade que eles usem o precioso tempo de graça que Deus lhes concede em adornar-se, visitar-se e bisbilhotar. T3 145 1 Muitos pais alegam ter tanto o que fazer que não dispõem de tempo para desenvolver o intelecto, educar os filhos para a vida prática ou ensinar-lhes como podem tornar-se cordeiros do rebanho de Cristo. Só por ocasião do juízo final, quando forem decididos os casos de todas as pessoas e os atos de toda a nossa vida expostos à nossa vista em presença de Deus e do Cordeiro e de todos os santos anjos, os pais compreenderão o quase infinito valor do tempo que desperdiçaram. Muitíssimos pais verão então que seu procedimento errôneo determinou o destino de seus filhos. Não só deixaram de assegurar para si mesmos as palavras de louvor do Rei da glória: "Bem está, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor" (Mateus 25:21), mas ouvem ser proferida sobre os seus filhos a terrível sentença: "Apartai-vos!" Mateus 25:41. Isso exclui os seus filhos para sempre das alegrias e glórias do Céu e da presença de Cristo. E sobre eles mesmos é lançada a sentença condenatória: Aparta-te, "mau e negligente servo". Mateus 25:26. Jesus jamais dirá "Muito bem" para os que não mereceram essas palavras por sua vida fiel de abnegação e renúncia para fazer o bem a outros e promover a Sua glória. Os que vivem principalmente para agradar a si mesmos, em vez de fazer o bem a outros, sofrerão infinita perda. T3 145 2 Se os pais pudessem ser despertados para o senso da tremenda responsabilidade que pesa sobre eles na obra de educar os filhos, dedicariam mais tempo à oração e menos à ostentação desnecessária. Meditariam, estudariam e orariam fervorosamente a Deus por sabedoria e ajuda divina, para educarem os filhos de tal maneira que desenvolvam caráter aprovado por Deus. Sua preocupação não será como saber educar os filhos para serem louvados e honrados pelo mundo, mas como educá-los para formarem belo caráter que seja aprovado pelo Senhor. T3 146 1 É necessário muito estudo e fervorosa oração por sabedoria celestial para saber como lidar com mentes juvenis; pois muito depende da orientação que os pais conferem à mente e à vontade de seus filhos. Impelir-lhes a mente na direção correta e no tempo certo é uma obra muitíssimo importante; pois o seu destino eterno poderá depender das decisões tomadas num momento crítico. Quão importante, pois, que a mente dos pais, tanto quanto possível, esteja livre de opressivo e fatigante cuidado com as coisas temporais, a fim de poderem pensar e agir com calma consideração, sabedoria e amor, e tornar a salvação de seus filhos sua primeira e mais alta preocupação! O grande objetivo que os pais devem procurar alcançar para seus queridos filhos deve ser o adorno interior. Os pais não podem permitir que visitas e pessoas estranhas reclamem sua atenção e, roubando-lhes o tempo, que é o grande capital da vida, impossibilitem que eles ministrem aos filhos, cada dia, a paciente instrução que precisam receber para dar correta orientação à mente em desenvolvimento. T3 146 2 A vida é muito curta para ser esbanjada em diversões inúteis e frívolas, em conversação sem proveito, em adornos desnecessários para ostentação ou em entretenimentos incitantes. Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar o tempo que Deus nos dá para beneficiar a outros e ajuntar para nós mesmos um tesouro no Céu. O tempo é escasso para o desempenho dos deveres necessários. Devemos reservar tempo para o cultivo de nosso coração e mente, a fim de habilitar-nos para o trabalho de nossa vida. Negligenciando estes deveres essenciais e conformando-nos com os hábitos e costumes da sociedade mundana e seguidora da moda, causamos grande dano a nós mesmos e a nossos filhos. T3 146 3 As mães que têm que disciplinar mentes juvenis e formar o caráter de seus filhos não devem procurar a agitação do mundo a fim de serem alegres e felizes. Têm um trabalho importante na vida, e nem elas nem os seus devem permitir-se despender tempo de modo inútil. O tempo é um dos valiosos talentos que Deus nos confiou e pelo qual nos faz responsáveis. Desperdiçar o tempo é desperdiçar o intelecto. As faculdades mentais são suscetíveis de elevado desenvolvimento. É dever das mães cultivar a mente e conservar puro o coração. Devem aproveitar todos os meios ao seu alcance para aperfeiçoamento intelectual e moral, a fim de estarem preparadas para desenvolver a mente de seus filhos. As que condescendem com a inclinação de estar em companhia de alguém logo ficarão impacientes se não estiverem fazendo ou recebendo visitas. Tais pessoas não possuem a faculdade de adaptação às circunstâncias. Os indispensáveis e sagrados deveres domésticos parecem comuns e desinteressantes para elas. Não lhes agrada o exame ou a disciplina própria. A mente anseia pelas variadas e empolgantes cenas da vida mundana; os filhos são negligenciados por condescendência com a inclinação; e o anjo relator escreve: "Servas inúteis." Deus não quer que nossa mente seja destituída de um propósito definido, e, sim, que realize o bem nesta vida. T3 147 1 Se os pais percebessem que Deus impõe sobre eles o solene dever de educar os filhos para serem úteis nesta vida; se adornassem o templo interior da mente de seus filhos e filhas para a vida imortal, veríamos uma notável mudança para melhor na sociedade. Então não seria manifestada tão grande indiferença para com a piedade prática, e não seria tão difícil despertar as sensibilidades morais dos filhos para compreenderem as reivindicações de Deus a seu respeito. Os pais tornam-se, porém, cada vez mais descuidados na educação de seus filhos nos ramos de utilidade. Muitos pais consentem que os filhos formem maus hábitos e sigam a própria inclinação, deixando de impressionar-lhes a mente com o perigo de fazerem isso e com a necessidade de serem controlados por princípios. T3 147 2 As crianças freqüentemente iniciam um serviço com entusiasmo, mas, encontrando dificuldade ou cansando-se dele, desejam mudar e empreender alguma coisa nova. E assim vão passando de uma coisa para outra, sem nada completar. Os pais não devem permitir que os filhos sejam dominados pelo amor à variação. Não devem ocupar-se tanto com outras coisas que não tenham tempo para disciplinar pacientemente as mentes em formação. Algumas palavras de animação ou um pouco de ajuda no momento apropriado podem auxiliá-los a transpor a dificuldade e o desalento, e a satisfação resultante de completarem a tarefa que empreenderam os incentivará a serem mais diligentes. T3 148 1 Muitas crianças, por falta de palavras de encorajamento e de um pouco de ajuda em seus esforços, ficam desanimadas e mudam de uma coisa para outra. Este lamentável defeito as acompanha por toda a vida. Deixam de fazer com êxito tudo aquilo em que se empenham, porque não aprenderam a perseverar sob circunstâncias desalentadoras. Assim, a vida inteira de muitos se torna um fracasso, pois não tiveram uma disciplina correta quando eram pequenos. A educação recebida na infância e na juventude afeta toda a sua carreira na vida adulta, e sua experiência religiosa sofre um estigma correspondente. Trabalho físico para estudantes T3 148 2 Com o atual sistema de educação, abre-se a porta da tentação para os jovens. Conquanto, em geral, eles tenham demasiadas horas de estudo, dispõem de muitas horas sem ter o que fazer. Esses períodos de lazer são passados freqüentemente de modo descuidado. O conhecimento de maus hábitos é comunicado de uma pessoa para a outra, e o vício aumenta consideravelmente. Muitíssimos jovens que foram instruídos religiosamente no lar e que partem para as escolas relativamente inocentes e virtuosos são corrompidos pela associação com companheiros depravados. Perdem o respeito próprio e sacrificam nobres princípios. Acham-se então preparados para seguir a trilha descendente; pois abusaram tanto da consciência que o pecado não mais parece tão excessivamente perverso. Tais males existentes nas escolas dirigidas de acordo com o sistema atual poderiam ser corrigidos em grande parte se o estudo fosse combinado com o trabalho. Os mesmos males existem nas escolas superiores, só que em maior grau; pois muitos jovens se educaram no vício, e sua consciência está cauterizada. T3 149 1 Muitos pais exageram a firmeza e as boas qualidades de seus filhos. Não parecem considerar que serão expostos às enganadoras influências de jovens corruptos. Os pais têm os seus receios ao enviá-los à escola, a certa distância de casa, mas alimentam a ilusão de que, tendo recebido bons exemplos e instrução religiosa, eles serão fiéis aos princípios em sua vida estudantil. Muitos pais têm apenas uma vaga idéia da extensão que a licenciosidade assume nessas instituições de ensino. Em muitos casos, os pais labutaram arduamente e sofreram numerosas privações com o acariciado propósito de fazer com que os filhos obtivessem uma educação esmerada. E depois de todos esses esforços, muitos passam pela amarga experiência de receber os filhos de volta de seu curso de estudos com hábitos dissolutos e constituição física arruinada. E com freqüência são desrespeitosos a seus pais, ingratos e profanos. Esses pais maltratados, que são recompensados dessa maneira por filhos ingratos, lamentam haverem-nos enviado para lá, a fim de serem expostos a tentações e voltarem para eles arruinados física, mental e moralmente. Com esperanças frustradas e coração quase dilacerado, vêem os filhos, de quem tanto esperavam, seguindo o caminho do vício e levando uma existência miserável. T3 149 2 Existem, porém, os que possuem princípios firmes, que correspondem às expectativas dos pais e professores. Atravessam o curso de estudos com a consciência limpa, e saem de lá com boa constituição física e moral incontaminada por influências corruptoras. O seu número, porém, é pequeno. T3 149 3 Alguns estudantes dedicam-se inteiramente aos estudos e concentram toda a atenção no objetivo de obter educação. Exercitam o cérebro, mas permitem que as faculdades físicas permaneçam inativas. O cérebro é sobrecarregado e os músculos se debilitam pelo fato de não serem exercitados. Quando tais estudantes se formam, é evidente que adquiriram sua educação à custa da vida. Estudaram dia e noite, ano após ano, mantendo a mente em contínuo estado de tensão, mas não exercitaram suficientemente os músculos. Sacrificaram tudo pelo conhecimento de ciências, e descem à sepultura. T3 150 1 As moças freqüentemente se entregam ao estudo de livros em detrimento de outros ramos de educação mais importantes para a vida prática. E depois de adquirirem sua educação, freqüentemente ficam inválidas por toda a vida. Negligenciam a saúde permanecendo muito tempo em recintos fechados, destituídos do ar puro do céu, e da luz solar dada por Deus. Essas jovens poderiam ter saído com saúde de suas escolas, se houvessem ligado os estudos a trabalhos domésticos e exercícios ao ar livre. T3 150 2 A saúde é um grande tesouro. É o mais valioso bem que os mortais podem possuir. Riqueza, honra ou cultura custam muito caro se forem adquiridas com prejuízo do vigor da saúde. Nenhuma dessas realizações pode assegurar a felicidade, se não houver saúde. É um terrível pecado abusar da saúde que Deus nos deu; pois todo abuso dessa natureza debilita a nossa vida e constitui um prejuízo, mesmo que obtenhamos toda a educação possível. T3 150 3 Em muitos casos, os pais ricos não vêem a importância de dar a seus filhos educação nos deveres práticos da vida como o fazem em relação às ciências. Não sentem a necessidade de, para o bem do intelecto e da moral dos filhos, e para sua futura utilidade, dar-lhes um conhecimento cabal do trabalho útil. É esta uma obrigação que têm para com os filhos, a fim de que, se lhes chegarem reveses, possam manter-se com nobre independência, sabendo como fazer uso das mãos. Se têm um capital de vigor, não podem ser pobres, ainda que não possuam um centavo. Muitos que na juventude se achavam em circunstâncias favoráveis podem ficar despojados de toda sua riqueza, e com pais, irmãos e irmãs para manter. Quão importante é, pois, que a todo jovem se ensine a trabalhar, a fim de que possa estar preparado para qualquer emergência! As riquezas são uma verdadeira maldição, quando os seus possuidores deixam que elas sejam um impedimento para os filhos e filhas obterem o conhecimento de algum trabalho útil que os habilite para a vida prática. T3 150 4 Com freqüência, os que não são compelidos a trabalhar não fazem suficiente exercício ativo para terem saúde física. Jovens, por não ocuparem a mente e as mãos em trabalho ativo, adquirem hábitos de indolência, e obtêm freqüentemente o que é mais espantoso ainda: uma educação de rua, o vício de perambular pelas lojas, fumar, beber e jogar cartas. T3 151 1 Algumas jovens querem ler novelas, esquivando-se de fazer trabalho ativo por terem saúde delicada. Sua debilidade é conseqüência da falta de exercitarem os músculos que Deus lhes deu. Crêem que são demasiado débeis para realizar trabalhos domésticos, mas fazem crochê e rendas, e preservam a delicada palidez das mãos e do rosto, ao passo que suas mães afadigadas trabalham penosamente para lavar e passar seus vestidos. Estas jovens não são cristãs, pois transgridem o quinto mandamento. Não honram a seus pais. A mãe leva, porém, a maior culpa. Satisfez o desejo das filhas e desobrigou-as de partilharem dos deveres domésticos, até o trabalho tornar-se desagradável para elas, e amam e desfrutam uma ociosidade doentia. Comem, dormem, lêem novelas e falam de modas, ao passo que sua vida é inútil. T3 151 2 A pobreza, em muitos casos, é uma bênção; pois evita que os jovens e as crianças sejam arruinados pela inatividade. Tanto as faculdades físicas como as mentais devem ser cultivadas e desenvolvidas devidamente. O primeiro e constante cuidado dos pais deve ser o de ver que os filhos tenham constituição vigorosa, para que possam ser homens e mulheres sadios. É impossível alcançar este objetivo sem exercício físico. Para a própria saúde física e bem moral, as crianças devem ser ensinadas a trabalhar, mesmo que a necessidade não o requeira. Se querem ter caráter puro e virtuoso, devem desfrutar da disciplina de um trabalho bem equilibrado, que ponha em atividade todos os músculos. A satisfação das crianças por serem úteis e praticarem atos de abnegação para ajudar a outros será o prazer mais salutar que já experimentaram. Por que deveriam os ricos privar a si mesmos e a seus queridos filhos desta grande bênção? T3 151 3 Pais, a inatividade é a maior maldição que já caiu sobre os jovens. Vocês não devem permitir que suas filhas permaneçam na cama até tarde, deixando que o sono dissipe as preciosas horas que Deus lhes concedeu para serem dedicadas aos melhores fins, e pelas quais terão de prestar contas a Ele. A mãe causa um grande dano às filhas levando as cargas que deveriam partilhar com ela para seu bem presente e futuro. A conduta seguida por muitos pais ao permitir que os filhos sejam indolentes e satisfaçam seu desejo de ler novelas incapacita-os para a vida real. A leitura de ficção e novelas é o maior mal a que podem entregar-se os jovens. As leitoras de novelas e histórias de amor sempre deixam de ser mães boas e práticas. Elas constroem castelos no ar e vivem num mundo irreal e imaginário. Tornam-se sentimentais e têm concepções doentias. Sua vida artificial tende a arruiná-las para tudo o que é útil. Têm a inteligência diminuída, embora nutram a ilusão de serem superiores em mentalidade e atitudes. Empenhar-se nos afazeres domésticos é o que há de mais vantajoso para as moças. T3 152 1 O trabalho físico não impedirá o cultivo do intelecto. Longe disso. As vantagens obtidas pelo trabalho físico darão equilíbrio à pessoa e impedirão que se sobrecarregue a mente. O trabalho atuará sobre os músculos e aliviará o cérebro cansado. Há muitas jovens apáticas e inúteis que consideram pouco feminino ocuparem-se em trabalho ativo. Mas o seu caráter é por demais transparente para enganar as pessoas sensatas no tocante à sua verdadeira inutilidade. Elas riem sem causa, e tudo nelas é afetação. Parecem não poder pronunciar as palavras claramente e com propriedade, mas deturpam tudo o que dizem com balbucios e risadinhas tolas. São elas mulheres nobres? Não nasceram tolas, mas a educação as tornou assim. Não se requer uma coisa frágil, impotente, adornada com exagero e que ri tolamente para fazer uma mulher nobre. É necessário um corpo são para ter um intelecto são. Saúde física e conhecimento prático de todos os deveres domésticos necessários jamais constituirão um obstáculo para um intelecto bem desenvolvido; ambos são grandemente importantes para uma senhora. T3 152 2 Todas as faculdades da mente devem ser postas em uso e desenvolvidas, a fim de que os homens e as mulheres tenham mente bem equilibrada. O mundo está cheio de homens e mulheres unilaterais, que ficaram assim porque uma parte de suas faculdades foi cultivada, ao passo que outras foram diminuídas pela inatividade. A educação da maioria dos jovens é um fracasso. Estudam em demasia, ao passo que negligenciam o que diz respeito à vida prática. Homens e mulheres tornam-se pais e mães sem considerar suas responsabilidades, e sua descendência desce mais baixo do que eles na escala da deficiência humana. Deste modo a espécie degenera rapidamente. A aplicação constante ao estudo, segundo a maneira em que as escolas são agora dirigidas, está incapacitando a juventude para a vida prática. A mente humana precisa ter atividade. Se não estiver ativa na direção certa, estará ativa na direção errada. A fim de conservá-la em equilíbrio, o trabalho e o estudo devem estar unidos nas escolas. T3 153 1 Deveriam ter sido tomadas providências nas gerações passadas para uma obra educacional em maior escala. Relacionados com as escolas, deveria ter havido estabelecimentos de manufatura e de agricultura, como também professores de trabalhos domésticos. E uma parte do tempo diário deveria ter sido dedicada ao trabalho, de modo que as faculdades físicas e mentais pudessem exercitar-se igualmente. Se as escolas houvessem sido estabelecidas de acordo com o plano que mencionamos, não haveria agora tantas mentes desequilibradas. T3 153 2 Deus preparou um belo jardim para Adão e Eva. Proveu-os de tudo quanto exigiam suas necessidades. Plantou para eles árvores frutíferas de toda a espécie. Com mão liberal circundou-os de Suas bênçãos. As árvores para utilidade e adorno, e as lindas flores, que brotavam espontaneamente e cresciam em rica profusão ao redor deles, deviam ignorar a degeneração. Adão e Eva eram ricos de fato. Possuíam o Éden. Adão era senhor em seu belo domínio. Ninguém pode contestar o fato de que ele foi rico. Deus sabia, porém, que Adão não podia ser feliz sem ocupação. Deu-lhe, portanto, algo para fazer; devia cultivar o jardim. T3 153 3 Se os homens e as mulheres deste século degenerado possuem grande soma de tesouro terrestre, que comparado com o paraíso de beleza e opulência dado à soberania de Adão é insignificante, julgam-se desobrigados do trabalho, e ensinam os filhos a considerá-lo como degradante. Esses pais ricos, por preceito e exemplo, ensinam a seus filhos que o dinheiro é o que faz o homem e a mulher. Mas o nosso conceito do que seja um homem e uma mulher se mede por seu valor intelectual e moral. Deus não avalia pelo vestuário. A exortação do inspirado apóstolo Pedro é: "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:3, 4. Um espírito manso e tranquilo é exaltado acima da honra ou das riquezas do mundo. T3 154 1 O Senhor ilustra Sua avaliação dos ricos segundo o mundo, cujo coração se envaidece por motivo de suas posses terrenas, pelo homem rico que destruiu os seus celeiros e edificou outros maiores, para ter onde guardar os seus bens. Esquecendo a Deus, deixou de reconhecer de onde procediam todas as suas posses. Nenhum agradecimento ascendeu a seu amável Benfeitor. Ele felicitava a si mesmo dizendo: "Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come e bebe, e regala-te." Lucas 12:19. O Mestre, que lhe havia confiado riquezas terrenas para que beneficiasse com elas a seu próximo e glorificasse a seu Criador, irou-Se com justiça pela ingratidão dele, e disse: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus." Lucas 12:20, 21. Temos aqui uma ilustração de como o Deus infinito avalia o homem. Imensa fortuna ou qualquer grau de riqueza não assegurará o favor de Deus. Todas essas generosidades e bênçãos procedem dEle, a fim de provar e desenvolver o caráter do homem. T3 154 2 Os homens podem ter riquezas sem limites; contudo, se não são ricos para com Deus, se não têm interesse em obter para si o tesouro celestial e a sabedoria de origem divina, são considerados loucos por seu Criador, e nós os colocamos precisamente onde Deus os coloca. O trabalho é uma bênção. Não é possível desfrutar saúde sem trabalho. É preciso exercitar todas as faculdades para que se desenvolvam devidamente e para que tanto os homens como as mulheres possuam uma mente bem equilibrada. Se os jovens houvessem recebido uma educação cabal nos diversos ramos de trabalho, se lhes tivessem ensinado o trabalho bem como as ciências, sua educação teria sido mais vantajosa para eles. T3 155 1 A constante tensão do cérebro enquanto os músculos se mantêm inativos debilita os nervos, e por isso os estudantes têm um desejo quase irresistível de variação e diversões estimulantes. E quando se vêem livres, depois de um confinamento de diversas horas de estudo diário, parecem quase selvagens. Muitos jamais foram controlados em casa. Permitiu-se-lhes seguir as inclinações, e crêem que a restrição das horas de estudo é uma imposição severa. Não tendo nada que fazer depois dessas horas, Satanás lhes sugere os jogos e as travessuras como variação. Sua influência sobre outros estudantes é desmoralizadora. Os que desfrutaram dos benefícios do ensino religioso no lar e que ignoravam os vícios da sociedade chegam a ser com freqüência os que mais se relacionam com aqueles cuja mente se conformou a um molde inferior e cujas oportunidades de adquirir cultura mental e preparação religiosa foram muito limitadas. Acham-se em perigo de descer ao mesmo nível que seus companheiros, ao unir-se a companhias dessa espécie e respirar uma atmosfera que não é enobrecedora, mas, pelo contrário, tende a rebaixar e degradar a moralidade. O deleite de um grande número de estudantes é divertir-se nas horas livres. E muitíssimos dos que deixam o lar inocentes e puros se tornam corruptos por influência de seus companheiros de escola. T3 155 2 Sou levada a perguntar: Deve-se sacrificar tudo o que é valioso em nossos jovens a fim de dar-lhes uma educação colegial? Se tivesse havido estabelecimentos agrícolas e industriais ligados a nossas escolas, e se houvessem sido empregados professores competentes para educar os jovens nos diversos ramos de estudo e de trabalho, dedicando parte do tempo diário ao aperfeiçoamento mental e outra parte ao trabalho físico, haveria agora uma classe mais elevada de jovens a entrar em cena e a exercer influência na modelação da sociedade. Muitos dos jovens que se graduassem em tais instituições sairiam de lá com estabilidade de caráter. Teriam perseverança, força e coragem para sobrepor-se aos obstáculos, e nobres princípios que não os deixariam ser desviados por más influências, por mais populares que fossem. Deveria ter havido professoras experientes para dar aulas às jovens no departamento culinário. As moças deveriam ter aprendido a confeccionar roupas, a cortar, fazer e consertar artigos de vestuário, instruindo-se assim nos deveres práticos da vida. T3 156 1 Deveria haver estabelecimentos em que os rapazes pudessem aprender diversos ofícios, que pusessem em atividade tanto os músculos como as faculdades mentais. Se os jovens não podem adquirir mais que uma educação unilateral, qual é mais importante: o conhecimento das ciências, com todas as suas desvantagens para a saúde e a vida, ou a aprendizagem do trabalho para a vida prática? Respondemos sem titubear: o último. Se um deles tiver de ser abandonado, que o seja o estudo dos livros. T3 156 2 Há muitas jovens casadas e com filhos que possuem bem pouco conhecimento prático dos deveres pertinentes a uma esposa e mãe. Lêem e sabem tocar um instrumento musical, mas não sabem cozinhar. Não sabem fazer bom pão, tão essencial para a saúde da família. Não sabem cortar e confeccionar vestidos, pois nunca aprenderam a fazê-lo. Consideravam estas coisas como não sendo essenciais e, em sua vida de casadas, são tão dependentes de outros para lhes fazerem essas coisas como são os próprios filhinhos. É esta indesculpável ignorância no tocante aos deveres mais imprescindíveis da vida que torna infelizes a muitíssimas famílias. T3 156 3 O conceito de que o trabalho é degradante para a vida social levou para a sepultura a milhares que poderiam haver vivido. Os que fazem unicamente trabalho manual labutam com freqüência em excesso, sem períodos de descanso, ao passo que a classe intelectual sobrecarrega o cérebro e sofre por falta do saudável vigor proporcionado pelo trabalho físico. Se a classe intelectual quisesse partilhar até certo ponto do fardo da classe operária, fortalecendo assim os músculos, a classe operária poderia fazer menos e dedicar uma parte de seu tempo à cultura mental e moral. Os que se ocupam em atividades sedentárias e literárias devem fazer exercício físico, mesmo que não necessitem trabalhar para viver. A saúde deve ser um incentivo suficiente para induzi-los a unir o trabalho físico ao mental. T3 157 1 A cultura moral, a intelectual e a física devem ser combinadas a fim de produzir homens e mulheres bem desenvolvidos e equilibrados. Alguns estão habilitados a realizar maior esforço intelectual que outros, ao passo que há pessoas inclinadas a amar e desfrutar o trabalho físico. Ambas essas classes devem procurar corrigir suas deficiências, para poderem apresentar a Deus todo o ser, "como sacrifício vivo, santo e agradável" a Ele, que é o seu "culto racional". Romanos 12:1. Os hábitos e costumes da sociedade amiga da moda não devem regular o seu modo de agir. O inspirado apóstolo Paulo acrescenta: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. T3 157 2 A mente de homens pensantes trabalha arduamente. Com freqüência, eles usam suas faculdades mentais prodigamente, ao passo que há uma outra classe cujo mais elevado alvo na vida é o trabalho físico. Esta última classe não exercita a mente. Seus músculos são exercitados, enquanto o cérebro fica privado da força intelectual. Da mesma maneira a mente dos pensadores é trabalhada, enquanto o corpo lhes fica sem forças nem vigor por negligenciarem o exercício dos músculos. Os que se contentam em devotar a vida ao trabalho físico, e deixam que outros façam por eles a parte mental, enquanto simplesmente levam a cabo o que outros cérebros planejaram, terão força muscular, mas intelecto deficiente. Sua influência para o bem é pequena em comparação com o que poderiam fazer se usassem o cérebro como usam os músculos. Esta classe é vencida mais prontamente se atacada por enfermidade, visto que o organismo é vitalizado pela força elétrica do cérebro para resistir a doenças. T3 158 1 Homens que têm boas faculdades físicas devem educar-se para pensar, bem como para agir, e não ficar na dependência de que outros sejam cérebro para eles. É erro popular por parte de uma grande classe considerar o trabalho coisa degradante. Daí que os jovens se mostram ansiosos por educar-se a fim de se tornarem professores, clérigos, comerciantes, advogados, de modo que possam ocupar praticamente qualquer posição que não requeira esforço físico. Moças consideram o trabalho doméstico como humilhante. E embora o exercício físico requerido na realização de trabalho caseiro, desde que não demasiado severo, destine-se a promover a saúde, preferem buscar a educação que as habilite como professoras ou secretárias, ou aprender alguma profissão que as confine ao trabalho sedentário dentro de uma sala. O colorido da saúde desaparece-lhes da face e tornam-se vítimas da enfermidade, pois têm falta de exercício físico e pervertem os seus hábitos em geral. Tudo isto porque é moda! Apreciam a vida delicada, que debilita e arruína. T3 158 2 Na verdade, existem alguns motivos para que as jovens não decidam empregar-se em trabalhos domésticos, pois os que contratam pessoas para cozinheiras tratam-nas geralmente como servas. Seus patrões, com freqüência, não as respeitam e lidam com elas como se fossem indignas de ser membros de sua família. Não lhes dão os privilégios que concedem à costureira, à datilógrafa e à professora de música. Mas não pode haver melhor ocupação que os trabalhos domésticos. Cozinhar bem, apresentar sobre a mesa alimentos saudáveis, de maneira atraente, requer inteligência e experiência. A pessoa que prepara o alimento a ser introduzido em nosso estômago a fim de converter-se em sangue para nutrir o organismo ocupa uma posição muito importante e elevada. A posição de datilógrafa, costureira ou professora de música não pode igualar-se em importância à da cozinheira. T3 158 3 O que se disse acima é uma afirmação do que poderia ter sido feito mediante um sistema de educação apropriado. O tempo é agora demasiado curto para levar a cabo o que poderia ter sido realizado nas gerações passadas; mas podemos fazer muito, mesmo nestes últimos dias, para corrigir os males existentes na educação da juventude. E visto que o tempo é curto, devemos ser fervorosos e trabalhar zelosamente para dar aos jovens a educação compatível com nossa fé. Somos reformadores. Desejamos que nossos filhos estudem com o maior proveito. A fim de realizar isto é necessário dar-lhes uma ocupação que ponha os músculos em atividade. O trabalho diário e sistemático deve constituir uma parte da educação dos jovens, mesmo nesta época tardia. Pode-se ganhar muito agora associando-se o trabalho com as escolas. Seguindo este plano, os estudantes adquirirão elasticidade de espírito e vigor de pensamento, e serão capazes de executar mais trabalho mental, em determinado tempo, do que o fariam estudando somente. E poderão sair da escola com a constituição física inalterada, e com força e coragem para perseverar em qualquer posição que lhes for designada pela providência divina. T3 159 1 Visto que o tempo é breve, devemos labutar com diligência e redobrada energia. Nossos filhos talvez não ingressem numa escola superior, mas podem obter educação nos ramos essenciais que sejam aplicados depois na vida prática e que darão cultura à mente e exercício a suas faculdades. Muitíssimos jovens que fizeram um curso superior não obtiveram aquela educação verdadeira que pudessem pôr em uso na vida prática. Talvez tenham a fama de possuir educação superior, mas, em realidade, são apenas ignorantes educados. T3 159 2 Há muitos jovens cujos serviços Deus aceitaria caso se consagrassem a Ele sem reservas. Se empregassem no serviço de Deus as faculdades mentais que usam para o seu serviço e para adquirir bens materiais, seriam obreiros fervorosos, perseverantes e de êxito na vinha do Senhor. Muitos de nossos jovens devem voltar a atenção para o estudo das Escrituras, para que Deus possa usá-los em Sua causa. Não se tornam, porém, tão versados no conhecimento espiritual como nas coisas temporais; deixam, portanto, de realizar a obra de Deus que podem fazer de maneira aceitável. Há tão-somente uns poucos para admoestar os pecadores e ganhar almas para Cristo, quando devia haver muitos. Nossos jovens geralmente são sábios em assuntos mundanos, mas não são entendidos no tocante às coisas do reino de Deus. Poderiam concentrar a mente em um conduto celestial, divino, e andar na luz, avançando de um grau de luz e poder a outro, até conseguir trazer pecadores a Cristo e dirigir os incrédulos e desalentados a uma brilhante senda voltada para o Céu. E quando a luta houver terminado, poderão receber as boas-vindas para a alegria de seu Senhor. T3 160 1 Os jovens não devem ocupar-se na obra de explicar as Escrituras e fazer preleções sobre as profecias quando não conhecem a fundo as importantes verdades bíblicas que procuram explicar a outros. Podem ser deficientes nos ramos comuns de educação e deixar, portanto, de realizar o bem que conseguiriam fazer se houvessem desfrutado as vantagens de uma boa escola. A ignorância não aumenta a humildade ou a espiritualidade de qualquer professo seguidor de Cristo. As verdades da Palavra divina podem ser melhor apreciadas pelo cristão intelectual. Cristo pode ser melhor glorificado por aqueles que O servem inteligentemente. O grande objetivo da educação é habilitar-nos a usar as faculdades que Deus nos deu, de maneira a expor melhor a religião da Bíblia e promover a glória de Deus. T3 160 2 Devemos Àquele que nos deu a existência todos os talentos que nos foram confiados; e temos o dever para com nosso Criador de cultivar e aperfeiçoar os talentos que Ele confiou a nosso cuidado. A educação disciplinará a mente, desenvolverá suas faculdades e as dirigirá de modo inteligente, para que sejamos úteis em promover a glória de Deus. Necessitamos de uma escola na qual aqueles que entram no ministério possam pelo menos receber instrução nos ramos comuns de educação, e onde aprendam também com mais perfeição as verdades da Palavra de Deus para este tempo. Em conexão com estas escolas deve haver preleções sobre as profecias. Os que realmente possuem boas aptidões que Deus aceitará para o trabalho em Sua vinha receberiam grande benefício de uma instrução de apenas alguns meses em tais escolas. ------------------------Capítulo 14 -- A reforma de saúde T3 161 1 Em 10 de Dezembro de 1871, foi-me mostrado novamente que a reforma de saúde é um ramo da grande obra que deve preparar um povo para a vinda do Senhor. Ela se acha tão ligada à terceira mensagem angélica, como as mãos o estão ao corpo. A lei dos Dez Mandamentos tem sido levianamente considerada pelo homem; o Senhor, porém, não viria castigar os transgressores daquela lei sem lhes enviar primeiro uma mensagem de advertência. O terceiro anjo proclama essa mensagem. Houvesse o homem sido sempre obediente à lei dos Dez Mandamentos, cumprindo em sua vida os princípios desses preceitos, e não haveria o flagelo de doenças que hoje inundam o mundo. T3 161 2 Homens e mulheres não podem violar a lei natural mediante a satisfação de apetites pervertidos e de concupiscentes paixões, sem que transgridam a lei de Deus. Portanto, Ele permitiu que brilhasse sobre nós a luz da reforma de saúde, para que vejamos nosso pecado em violar as leis por Ele estabelecidas em nosso ser. Todo o nosso bem-estar ou sofrimento pode ser atribuído, em sua origem, à obediência ou transgressão no que respeita à lei natural. Nosso benigno Pai celestial vê a deplorável condição dos homens que estão vivendo em violação das leis por Ele estabelecidas -- alguns com conhecimento, mas muitos ignorantemente. E movido de amor e piedade para com a humanidade, faz com que incida a luz sobre a reforma de saúde. Ele publica Sua lei e a pena que acompanhará a transgressão da mesma, a fim de que todos saibam, e cuidem em viver em harmonia com a lei natural. O Senhor proclama tão distintamente Sua lei, e torna-a tão proeminente, que é como uma cidade edificada sobre um monte. Todos os seres responsáveis a podem compreender, se o quiserem. Os idiotas não são responsáveis. Tornar patente a lei natural e insistir em que se lhe obedeça, eis a obra que acompanha a terceira mensagem angélica, a fim de preparar um povo para a vinda do Senhor. T3 161 3 Adão e Eva caíram por causa de apetite intemperante. Cristo veio e resistiu à mais feroz tentação de Satanás e, a favor da humanidade, venceu o apetite, mostrando que o homem pode vencer. Como Adão caiu pelo apetite e perdeu o Éden feliz, os descendentes de Adão podem, por Cristo, vencer o apetite e pela temperança em todas as coisas recuperar o Éden. T3 162 1 Ignorância não é desculpa agora para a transgressão da lei. A luz brilha claramente, e ninguém precisa ser ignorante, pois o próprio grande Deus é o instrutor do homem. Todos estão ligados a Deus pelas mais sagradas obrigações para dar atenção à sã filosofia e à experiência genuína que Ele lhes está dando agora com referência à reforma de saúde. É Sua intenção que o grande assunto da reforma de saúde seja debatido e a mente do público profundamente estimulada a investigar; porque é impossível a homens e mulheres com todos os seus hábitos pecaminosos, que destroem a saúde e enfraquecem o cérebro, discernir a verdade sagrada, pela qual devem ser santificados, refinados, elevados e qualificados para a sociedade dos anjos celestes no reino da glória. T3 162 2 Os habitantes do mundo de Noé foram destruídos porque se corromperam pela satisfação do apetite pervertido. Sodoma e Gomorra foram destruídas pela satisfação de apetite anormal, que entorpeceu o intelecto de tal modo que não podiam discernir a diferença entre os sagrados direitos de Deus e o clamor do apetite. Este os escravizou, e se tornaram tão ferozes e ousados em suas abominações detestáveis que Deus não os toleraria sobre a Terra. Deus atribui a maldade de Babilônia à sua glutonaria e bebedice. T3 162 3 O apóstolo Paulo exorta a igreja: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Romanos 12:1. Podem os homens, portanto, tornar impuro o seu corpo, por pecaminosas condescendências. Não santificados, estão inaptos para ser adoradores espirituais, e não são dignos do Céu. Se o homem abraçar a luz que em misericórdia Deus lhe dá com respeito à reforma de saúde, ele pode ser santificado pela verdade, e habilitado para a imortalidade. Mas se despreza essa luz e vive em violação à lei natural, terá de pagar a penalidade. T3 162 4 Deus criou o homem perfeito e santo. Mas o homem caiu de seu estado elevado porque transgrediu a lei de Deus. Desde a queda tem havido um aumento rápido de doença, sofrimento e morte. Não obstante o fato do homem ter insultado seu Criador, o amor de Deus ainda se estende à humanidade; e Ele permite que luz brilhe para que o homem possa ver que a fim de viver uma vida perfeita precisa viver em harmonia com as leis naturais que governam seu ser. Portanto é da maior importância que saiba viver de modo que as faculdades do corpo e da mente sejam exercidas para a glória de Deus. T3 163 1 É impossível ao homem apresentar o corpo como "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Romanos 12:1) enquanto, por ser o costume do mundo assim fazer, está condescendendo com hábitos que estão diminuindo o vigor físico, mental e moral. O apóstolo diz mais: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. Jesus, no Monte das Oliveiras, deu instrução a Seus discípulos quanto aos sinais que devem preceder Sua vinda. Disse: "E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:37-39. T3 163 2 Os mesmos pecados que acarretaram a ira de Deus sobre o mundo nos dias de Noé existem em nossos dias. Homens e mulheres hoje levam à glutonaria os seus hábitos de comer e beber. Este predominante pecado, a condescendência com o apetite pervertido, inflamou as paixões dos homens nos dias de Noé, e conduziu à corrupção geral, até que sua violência e crimes chegaram ao Céu, e Deus lavou a Terra de sua poluição moral através de um dilúvio. T3 163 3 Os mesmos pecados de glutonaria e bebedice obliteraram a sensibilidade moral dos habitantes de Sodoma, de maneira que o crime parecia ser o deleite de homens e mulheres dessa cidade ímpia. Cristo assim adverte o mundo: "Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, consumindo a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem Se há de manifestar." Lucas 17:28-30. T3 164 1 Cristo nos deixou aqui a mais importante lição. Não encoraja a indolência em Seu ensino. Seu exemplo foi o oposto disto. Cristo era um ardoroso trabalhador. Sua vida foi uma vida de abnegação, diligência, perseverança, atividade e economia. Diante de nós Ele coloca o perigo de levar ao extremo o comer e beber. Revela o resultado de entregar-se à condescendência com o apetite. As faculdades morais são debilitadas, de maneira que o pecado não aparece como tal. Fecham-se os olhos ao crime, e paixões inferiores controlam a mente, até que a corrupção geral desarraigue os bons princípios e impulsos e Deus é blasfemado. Tudo isto é resultado do comer e beber em excesso. Esta é a própria condição das coisas que Ele declara existirão por ocasião de Sua segunda vinda. T3 164 2 Homens e mulheres se advertirão? Aceitarão a luz ou se tornarão escravos do apetite e das paixões inferiores? Cristo nos apresenta algo mais elevado com que nos ocuparmos do que meramente com o que comeremos, o que beberemos ou com que nos vestiremos. Comer, beber e vestir-se são levados a tais excessos que se tornam crime, e estão entre os pecados mais em evidência nos últimos dias e constituem um sinal da breve volta de Cristo. Tempo, dinheiro e força confiados a nós, mas que pertencem ao Senhor, são gastos em superfluidades desnecessárias no vestir e no luxo do apetite pervertido, que reduz a vitalidade e causa sofrimento e decadência. É impossível apresentar a Deus o nosso corpo em sacrifício vivo, quando esse corpo está cheio de corrupção e enfermidade em virtude de pecaminosa condescendência. T3 164 3 Deve-se obter conhecimento quanto ao comer, beber e vestir-se, de maneira que seja preservada a saúde. A enfermidade é motivada pela violação das leis da saúde; é o resultado da transgressão das leis da natureza. Nosso primeiro dever, dever pertinente a Deus, a nós mesmos e ao nosso próximo, é a obediência às leis de Deus, as quais incluem as leis da saúde. Se adoecemos, sobrecarregamos nossos amigos e nos incapacitamos a nós mesmos para o cumprimento de nossos deveres para com a família e o próximo. E quando a morte prematura se segue em resultado da violação da lei natural, acarretamos tristeza e sofrimento aos outros; privamos nossos vizinhos do serviço que lhes devíamos prestar em vida; roubamos nossas famílias do conforto e auxílio que lhes devíamos, e roubamos a Deus do serviço que Ele requer de nós para a exaltação de Sua glória. Não somos, assim, no pior sentido, transgressores da lei de Deus? T3 165 1 Mas Deus é todo piedoso, gracioso e compassivo, e quando a luz chega aos que têm prejudicado a saúde por pecaminosas condescendências, e sentindo-se convencidos de pecado, arrependem-se e buscam perdão, Ele aceita a humilde oferta a Ele devotada, e recebe-os. Oh, que terna compaixão o não recusar Ele o remanescente da desregrada vida do pecador arrependido e sofredor! Em Sua graciosa misericórdia, Ele salva as pessoas como que do fogo. Mas que inferior, que lamentável sacrifício, afinal, a ser oferecido ao puro e santo Deus! Nobres faculdades foram paralisadas por hábitos errôneos de pecaminosa condescendência. Os desejos são pervertidos e corpo e mente desfigurados. ------------------------Capítulo 15 -- O instituto de saúde T3 165 2 A grande obra da reforma deve ir avante. O Instituto de Saúde foi estabelecido em Battle Creek para aliviar os afligidos, disseminar luz, despertar o espírito de indagação e promover a reforma. Esta instituição é estabelecida por princípios diferentes dos de qualquer outra instituição de saúde no país. O dinheiro não é o grande objetivo de seus amigos e administradores. Eles administram de um ponto de vista consciencioso e religioso, visando obedecer aos princípios de saúde da Bíblia. A maioria das instituições congêneres são governadas por princípios diferentes. Conservadora, visam agradar parcialmente a classe popular e moldar sua conduta de modo a receber o maior patrocínio e o máximo de dinheiro. T3 166 1 O Instituto de Saúde em Battle Creek funda-se sobre princípios religiosos firmes. Seus administradores reconhecem a Deus como o verdadeiro proprietário. Médicos e auxiliares esperam dEle orientação, e visam avançar conscienciosamente, em Seu temor. Por esta razão está sobre uma base segura. Quando doentes débeis e sofredores levarem em consideração os princípios dos diretores, superintendente, médicos e auxiliares do Instituto, que são guiados pelo temor de Deus, eles se sentirão mais seguros lá do que nas instituições populares. T3 166 2 Se as pessoas ligadas ao Instituto de Saúde em Battle Creek descessem dos princípios puros e exaltados da verdade bíblica para imitar as teorias e práticas daqueles à frente de outras instituições, onde só são tratadas as enfermidades, e isso somente por dinheiro, os administradores não atuando de acordo com uma perspectiva elevada e religiosa, a bênção especial de Deus não repousaria sobre o Instituto. É desígnio de Deus que esta instituição seja um dos maiores auxílios em preparar um povo para ser perfeito diante de Deus. A fim de atingir essa perfeição, homens e mulheres precisam ter vigor físico e mental para apreciar as verdades elevadas da Palavra de Deus e serem levados a uma posição onde hão de discernir as imperfeições em seu caráter moral. Devem ser fervorosos em reformar, para que possam ser amigos de Deus. A religião de Cristo não deve ser colocada em segundo plano, e seus santos princípios sacrificados para receber a aprovação de qualquer classe, embora popular. Se a norma da verdade e santidade for rebaixada, o propósito de Deus não será atingido nessa instituição. T3 166 3 Nossa fé peculiar, porém, não deve ser discutida com os pacientes. Sua mente não deve ser desnecessariamente instigada com assuntos em que diferem de nós, a não ser que eles próprios o desejem; e então se deve ter muito cuidado para não agitar a mente impondo-lhes nossa crença pessoal. O Instituto de Saúde não deve ser considerado o melhor lugar para entrar-se em debates sobre pontos de nossa fé nos quais diferimos das religiões do mundo em geral. Mantêm-se no Instituto reuniões de oração nas quais todos podem tomar parte se desejarem; há, porém, uma porção de coisas sobre as quais nos demorarmos, com respeito à religião da Bíblia, sem entrar em desaconselháveis pontos de discórdia. A influência silenciosa realizará mais do que o entrar em controvérsia aberta. T3 167 1 Em exortações nas reuniões de oração, alguns guardadores do sábado têm achado que devem apresentar o sábado e a mensagem do terceiro anjo, do contrário não terão liberdade. Isso é característica de mentes limitadas. Os pacientes não relacionados com a nossa fé não sabem o que significa a mensagem do terceiro anjo. A introdução desses termos sem uma explicação clara deles traz apenas prejuízo. Devemos ir ao encontro das pessoas onde elas estão, mas não precisamos sacrificar nenhum princípio da verdade. A reunião de oração se provará uma bênção para os pacientes, os auxiliares e os médicos. Breves e interessantes períodos de oração e testemunho aumentarão a confiança dos pacientes em seus médicos e auxiliares. Os auxiliares não devem ser privados dessas reuniões pelo trabalho, a não ser que seja inteiramente necessário. Eles necessitam delas e devem desfrutá-las. T3 167 2 Ao serem assim mantidas reuniões regulares, os pacientes adquirirão confiança no Instituto e se sentirão mais em casa. E dessa maneira é preparado o caminho para que a semente da verdade lance raízes em alguns corações. Essas reuniões interessam de modo especial a alguns que professam ser cristãos e causam uma impressão favorável sobre aqueles que não o professam. Desenvolve-se a confiança mútua; o preconceito é diminuído e, em muitos casos, completamente erradicado. Em conseqüência, há uma ansiedade para assistir às reuniões de sábado. Lá, na casa de Deus, é o lugar de expressar nossos sentimentos denominacionais. Lá o pastor pode demorar-se em esclarecimentos sobre os pontos essenciais da verdade presente, e, no espírito de Cristo, com amor e ternura, apelar a todos sobre a necessidade de obediência a todas as reivindicações divinas, e deixar que a verdade convença os corações. T3 167 3 Foi-me mostrado que uma obra maior poderia ser efetuada se houvesse médicos cavalheiros de índole mental correta, que tivessem cultura adequada e compreensão cabal de cada parte do trabalho que recai sobre um médico. Os médicos devem ter grande reserva de paciência, tolerância, bondade e compaixão; pois precisam destas qualificações ao lidar com pacientes sofredores, que são doentes físicos, e muitos dos quais estão enfermos tanto física como mentalmente. Não é questão fácil conseguir as pessoas certas, homens e mulheres, aquelas que são aptas para o lugar e que trabalharão harmoniosa, zelosa e desprendidamente para o benefício dos enfermos sofredores. O Instituto precisa de homens que tenham o temor do Senhor diante de si e que possam ministrar a mentes doentias e, de um ponto de vista religioso, manter elevada a reforma de saúde. T3 168 1 Aqueles que se empenham nessa obra devem ser consagrados a Deus e não visar apenas tratar o corpo para curar a doença, assim agindo do ponto de vista do médico popular, mas serem pais espirituais, para ministrar a mentes doentias, e encaminhar o coração contaminado pelo pecado ao remédio que nunca falha, o Salvador que morreu por eles. Aqueles que são afetados pela doença são sofredores em mais de um sentido. Podem suportar dor física muito melhor do que podem suportar sofrimento mental. Muitos são portadores de uma consciência violada e podem ser alcançados apenas pelos princípios da religião bíblica. T3 168 2 Quando o pobre sofredor paralítico foi levado ao Salvador, a urgência do caso parecia não admitir demora, pois a destruição já estava atuando sobre o corpo. Quando as pessoas que o carregaram na cama viram que não podiam ir diretamente à presença de Cristo, imediatamente descobriram o telhado e fizeram descer a cama sobre a qual o paralítico jazia. Nosso Salvador viu e compreendeu perfeitamente sua condição. Também reconheceu que aquele infeliz tinha uma enfermidade de espírito muito mais grave do que o sofrimento físico. Reconheceu que o maior fardo que ele tinha levado durante meses era por causa de pecados. A multidão aguardava em silêncio, quase sem fôlego, para ver como Cristo trataria este caso, aparentemente tão sem esperança, e ficaram surpresos ao ouvir as palavras que Lhe saíram dos lábios: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados." Mateus 9:2. T3 168 3 Estas foram as palavras mais preciosas que podiam cair sobre o ouvido daquele sofredor doente, pois o fardo do pecado tinha pesado tanto sobre ele que não podia achar o menor alívio. Cristo remove o fardo que o oprimia tão pesadamente: "Tem bom ânimo" (Mateus 9:2); Eu, teu Salvador, vim para perdoar pecados. Quão depressa o semblante pálido do sofredor muda! Esperança toma o lugar do desespero sombrio, e paz e alegria o lugar da dúvida aflitiva e do impassível desânimo. Tendo a mente sido restaurada à paz e felicidade, pode agora o corpo sofredor ser alcançado. A seguir vem dos lábios divinos: "Perdoados te são os teus pecados"; "levanta-te e anda." Mateus 9:5. No esforço para obedecer à vontade, aqueles braços sem vida e sem sangue são vivificados; uma corrente de sangue saudável corre pelas veias; a cor de chumbo de sua carne desaparece, e o brilho rosado da saúde toma seu lugar. As pernas que por longos anos recusavam obedecer à vontade são revitalizadas, e o paralítico curado pega sua cama e caminha através da multidão em direção a sua casa, glorificando a Deus. T3 169 1 Esse caso é para nossa instrução. Médicos que queiram ser bem-sucedidos no tratamento de doença devem saber como ministrar à mente enferma. Podem ter uma influência poderosa para o bem se puserem sua confiança em Deus. Alguns doentes precisam ser aliviados da dor antes de a mente poder ser alcançada. Depois do alívio ter vindo ao corpo, o médico pode freqüentemente com maior sucesso apelar à consciência, e o coração será mais susceptível às influências da verdade. Há perigo de que aqueles que estão ligados ao Instituto de Saúde percam de vista o objetivo pelo qual uma tal instituição foi estabelecida pelos adventistas do sétimo dia, e trabalhem de um ponto de vista mundano, assemelhando-se a outras instituições. T3 169 2 O Instituto de Saúde não foi estabelecido com o propósito de fazer dinheiro, embora o dinheiro seja muito necessário para administrar a instituição com êxito. Todos devem exercer economia no gasto de recursos para que o dinheiro não seja usado desnecessariamente. Mas deve haver recursos suficientes para investir-se em todos os equipamentos necessários que tornarão o trabalho de auxiliares, e especialmente de médicos, o mais fácil possível. E os diretores do Instituto devem valer-se de todo recurso que ajudará no tratamento eficaz dos pacientes. T3 170 1 Os pacientes devem ser tratados com a maior simpatia e carinho. Contudo, os médicos devem ser firmes e não permitir, no tratamento dos doentes, serem dirigidos pelos pacientes. É necessária firmeza da parte dos médicos para o bem dos pacientes. Mas a firmeza deve ser misturada com cortesia respeitosa. Nenhum médico ou auxiliar deve discutir com o paciente, ou usar palavras ásperas e irritantes, ou mesmo palavras não muito bondosas, por mais provocante que o paciente seja. T3 170 2 Um dos grandes objetivos de nosso Instituto de Saúde é encaminhar corações contaminados pelo pecado ao Grande Médico, a verdadeira Fonte de cura, e chamar sua atenção para a necessidade de reforma de um ponto de vista religioso, para que não mais violem a lei de Deus por intemperança pecaminosa. Se as sensibilidades morais dos doentes podem ser despertadas e vêem que estão pecando contra seu Criador acarretando doenças sobre si mesmos pela condescendência com o apetite e paixões degradantes, quando deixarem o Instituto de Saúde não renunciarão seus princípios, mas os levarão consigo e serão em casa genuínos reformadores de saúde. Se as sensibilidades morais forem despertadas, os pacientes se determinarão a seguir suas convicções; e se vêem a verdade, vão obedecer. Terão verdadeira e nobre independência para praticar as verdades com as quais concordam. E se a mente estiver em paz com Deus, as condições do corpo serão mais favoráveis. T3 170 3 A maior responsabilidade de viver e andar na luz e de preservar a simplicidade e separação do mundo repousa sobre a igreja de Battle Creek, para que sua influência pese com poder convincente sobre pessoas estranhas à verdade que assistem a nossas reuniões. Se a igreja de Battle Creek é um corpo sem vida, cheio de orgulho, exaltada acima da simplicidade de verdadeira piedade, e inclinando-se para o mundo, sua influência será para afastar de Cristo e de tornar de nenhuma força as verdades mais solenes e essenciais da Bíblia. Os membros desta igreja têm oportunidades de serem beneficiados pelas palestras dos médicos do Instituto de Saúde. Podem obter informação sobre o grande assunto da reforma de saúde se desejarem. Mas a igreja de Battle Creek, que professa observar a verdade, está muito atrás de outras igrejas que não têm sido abençoadas com as vantagens que ela tem tido. A negligência da igreja de viver à altura da luz que têm tido sobre a reforma de saúde é motivo de desânimo para os médicos e para os amigos do Instituto. Se a igreja manifestasse maior interesse nas reformas que Deus mesmo lhes tem trazido para prepará-los para Sua volta, sua influência seria dez vezes maior do que é agora. T3 171 1 Muitos que professam crer nos Testemunhos negligenciam a luz dada. A reforma do vestuário é tratada por alguns com grande indiferença e por outros com desprezo, porque há uma cruz ligada à mesma. Por esta cruz dou graças a Deus. É justamente aquilo que precisamos para distinguir e separar do mundo o povo de Deus que guarda os mandamentos. A reforma do vestuário funciona para nós como o cordão azul para o antigo Israel. Os orgulhosos, e os que não têm amor pela verdade sagrada, que os separará do mundo, demonstrá-lo-ão por suas obras. Deus na Sua providência nos tem dado luz sobre a reforma de saúde, para que possamos compreendê-la em todas as suas implicações, seguir a luz que ela apresenta e, por relacionar-nos corretamente com a vida, ter saúde para que possamos glorificar a Deus e ser uma bênção para outros. T3 171 2 A igreja de Battle Creek geralmente não tem apoiado o Instituto com seu exemplo. Seus membros não têm honrado a luz da reforma de saúde seguindo-a em sua família. A doença que tem visitado muitas famílias em Battle Creek não necessitava sobrevir, houvessem eles seguido a luz que Deus lhes dera. Como o antigo Israel, eles não deram atenção à luz, e não podiam ver mais necessidade de restringir o apetite do que o fez aquele povo. Os filhos de Israel queriam carne, e disseram, como dizem muitos hoje em dia: Sem carne, morreremos. Deus deu carne ao rebelde Israel, mas com ela estava Sua maldição. Milhares deles morreram enquanto a carne que haviam desejado estava entre seus dentes. Temos o exemplo do antigo Israel, e a advertência de não fazermos como eles fizeram. Sua história de incredulidade e rebelião está registrada como especial advertência para que não sigamos o exemplo deles em murmurar contra as reivindicações de Deus. Como podemos prosseguir em nosso caminho assim indiferentemente, escolhendo a própria conduta, seguindo a luz dos próprios olhos, e afastando-nos mais e mais de Deus, como os hebreus outrora? Deus não pode fazer grandes coisas por Seu povo devido a sua dureza de coração e pecaminosa incredulidade. T3 172 1 Deus não faz acepção de pessoas; mas aqueles que, em todas as gerações, temem ao Senhor e praticam a justiça são aceitos por Ele; ao passo que os que estão murmurando, sendo incrédulos e rebeldes, não terão o Seu favor nem as bênçãos prometidas aos que amam a verdade e nela andam. Os que têm a luz e não andam nela, mas desatendem às reivindicações de Deus, verificarão que suas bênçãos serão mudadas em maldições, e suas misericórdias em juízos. Deus quer que aprendamos a humildade e a obediência ao lermos a história do antigo Israel, que era Seu povo escolhido, peculiar, mas que trouxe sobre si destruição por seguir os próprios caminhos. T3 172 2 A religião da Bíblia não é prejudicial à saúde do corpo, ou do espírito. A influência do Espírito de Deus é o melhor remédio que um homem ou mulher possa receber, quando doente. O Céu é todo saúde; e quanto mais profundamente se experimentarem as influências celestes, tanto mais certa será a cura do crente. Em algumas outras instituições de saúde eles promovem divertimentos, jogos e dança para suscitar estímulo, mas receiam quanto ao resultado de interesses religiosos. A teoria do Dr. Jackson a este respeito não somente é errônea mas perigosa. Contudo, ele tem falado disso de tal modo que, se suas instruções fossem seguidas, os pacientes seriam levados a pensar que sua recuperação dependia de terem tão poucos pensamentos acerca de Deus e do Céu quanto fosse possível. É verdade que há pessoas com mente desequilibrada que se consideram muito religiosas e que impõem a si mesmas jejum e oração com prejuízo de sua saúde. Estas pessoas se deixam enganar. Deus não requereu isso delas. Elas possuem justiça farisaica, que brota não de Cristo mas delas mesmas. Confiam em suas boas obras para a salvação e estão procurando comprar o Céu por obras meritórias próprias em vez de, como deve todo pecador, depender somente dos méritos de um Salvador crucificado e ressurreto. Cristo e verdadeira piedade, hoje e sempre, serão saúde para o corpo e força para a alma. T3 173 1 A nuvem que pousava sobre nosso Instituto de Saúde está levantando, e a bênção de Deus tem acompanhado os esforços feitos para colocá-lo sobre uma base justa e para corrigir os erros daqueles que por infidelidade trouxeram grande embaraço sobre ele e desalento sobre seus amigos em toda parte. T3 173 2 Aqueles que designaram para fins caritativos do Instituto os juros ou dividendos de suas ações fizeram uma coisa nobre, que terá sua recompensa. Todos aqueles que não fizeram isso, mas que podem fazê-lo, devem, na primeira oportunidade, designar tudo ou uma parte, como a maioria dos acionistas tem feito. E como o interesse crescente e a utilidade desta instituição o requer, todos, especialmente aqueles que ainda não fizeram, devem continuar a adquirir suas ações. T3 173 3 Vi que havia grande excesso de recursos entre o nosso povo, uma parte dos quais deve ser posta no Instituto de Saúde. Vi também que há muitos pobres dignos entre nosso povo, os quais estão enfermos e sofrendo e que têm estado a olhar para o Instituto à espera de auxílio, mas não estão em condições de pagar os preços regulares para hospedagem, tratamento, etc. O Instituto tem-se debatido arduamente com débitos nos últimos três anos, e não pode tratar pacientes, em nenhuma extensão considerável, sem pagamento integral. Agradaria a Deus que todo o nosso povo que está em condições de fazê-lo comprasse liberalmente ações do Instituto, a fim de poder auxiliar os humildes e dignos pobres de Deus. Relacionado a isto, vi que Cristo Se identifica com a humanidade sofredora, e que o que temos o privilégio de fazer mesmo pelo menor dos Seus filhos, a quem Ele chama Seus irmãos, fazemos ao Filho de Deus. T3 174 1 "Então, dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me. Então, os justos Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome e Te demos de comer? Ou com sede e Te demos de beber? E, quando Te vimos estrangeiro e Te hospedamos? Ou nu e Te vestimos? E, quando Te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-Te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes. Então, dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; sendo estrangeiro, não Me recolhestes; estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes. Então, eles também Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não Te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna." Mateus 25:34-46. T3 174 2 Erguer o Instituto de Saúde de sua baixa condição no outono de 1869 para seu presente próspero e sua esperançosa condição tem exigido sacrifícios e esforços dos quais seus amigos, que nele se acham internados, pouco sabem. Naquela ocasião tinha ele um débito de trinta mil dólares, e não tinha senão oito pacientes que pagavam. E o que era pior, o procedimento dos administradores precedentes fora de molde a desanimar a tal ponto os seus amigos que eles não tiveram ânimo de fornecer recursos para eliminar o débito, ou recomendar os doentes a serem patrocinadores do Instituto. Foi nesta situação desanimadora que meu esposo tomou a resolução de que a propriedade do Instituto deveria ser vendida para pagar os débitos, e o saldo, após o pagamento das dívidas, seria restituído aos acionistas na proporção ao número de ações que cada um possuía. Certa manhã, porém, ao orar no altar da família, o Espírito de Deus veio sobre ele ao estar suplicando a orientação divina em assuntos relacionados com o Instituto, e ele exclamou, enquanto se achava prostrado de joelhos: "O Senhor cumprirá toda a palavra que Ele pronunciou através de visão, relacionada com o Instituto de Saúde, e ele será erguido de sua baixa condição e prosperará gloriosamente." T3 175 1 Desde essa época tomamos nas mãos a direção da obra com fervor e temos trabalhado lado a lado pelo Instituto, para combater a influência de homens egoístas que a ele trouxeram embaraço. Temos dado de nossos recursos, dando assim um exemplo aos outros. Temos estimulado a economia e a operosidade da parte de todos os relacionados com o Instituto, e temos instado que médicos e auxiliares trabalhem arduamente por pouco salário, até que o Instituto esteja novamente de todo restabelecido na confiança de nosso povo. Temos dado testemunho claro contra a manifestação de egoísmo em qualquer pessoa relacionada com o Instituto, aconselhado e reprovado erros. Sabíamos que o Instituto de Saúde não teria êxito a não ser que as bênçãos do Senhor sobre ele repousassem. Se Suas bênçãos o assistissem, os amigos da causa confiariam em que ele era a obra de Deus e se sentiriam seguros ao empregarem recursos para torná-lo um empreendimento vivo, a fim de que se tornasse capaz de preencher os desígnios de Deus. T3 175 2 Os médicos e alguns dos auxiliares entregaram-se ao trabalho alegremente. Trabalharam com ardor sob grandes dificuldades. Os Drs. Ginley, Chamberlain e Lamson trabalharam com zelo e energia, com pouca remuneração, para erguer esta instituição deficitária. E, graças a Deus, o débito original foi pago e grandes acréscimos para a acomodação de pacientes foram feitos e pagos. A divulgação da Health Reformer, que se acha bem na base do sucesso do Instituto, foi duplicada, e ela se tornou um periódico vivo. A confiança no Instituto foi completamente restabelecida na mente da maioria de nosso povo, e tem havido tantos pacientes no Instituto, quase o ano todo, quantos podiam ser acomodados e devidamente tratados por nossos médicos. T3 176 1 É motivo de profunda tristeza que os primeiros administradores do Instituto seguissem uma conduta que quase o esmagou em dívida e desânimo. Mas as perdas financeiras que os acionistas sentiram e lamentaram foram pequenas em comparação com o trabalho, perplexidade e responsabilidade que meu marido e eu temos suportado sem remuneração, e que médicos e auxiliares tiveram por salários pequenos. Nós compramos ações nominais do Instituto no valor de mil e quinhentos dólares, mas isso significa muito pouco em comparação com o desgaste que sofremos em conseqüência de gerentes irresponsáveis anteriores. Mas visto que o Instituto desfruta agora de melhor reputação e clientela do que nunca antes, e que a propriedade vale mais do que todo o dinheiro que foi investido e os erros anteriores foram corrigidos, aqueles que perderam sua confiança não têm desculpa para acariciar sentimentos preconceituosos. E se ainda manifestam falta de interesse, é porque preferem nutrir preconceito em vez serem guiados pela razão. T3 176 2 Na providência de Deus, o irmão A tem dedicado seu interes-se e energias ao Instituto de Saúde. Tem demonstrado interesse desprendido para promover os interesses do Instituto e não se tem poupado ou favorecido a si mesmo. Se ele depender de Deus e dEle fizer sua força e conselheiro, pode tornar-se uma bênção para médicos, auxiliares e pacientes. Ele uniu seu interesse a tudo que é ligado ao Instituto e tem sido uma bênção a outros ao assumir responsabilidades prazenteiramente, que não eram nem poucas nem leves. Ele tem abençoado a outros, e estas bênçãos recairão de novo sobre ele. T3 176 3 Mas o irmão A corre perigo de assumir responsabilidades que outros podem e devem levar. Não deve se gastar fazendo coisas que outros, cujo tempo é menos precioso, podem fazer. Deve agir como um diretor e superintendente. Deve preservar sua força para que, com seu discernimento experiente, possa dizer a outros o que fazer. Isso é necessário para que ele mantenha uma posição de influência no Instituto. Sua experiência em agir com sabedoria e economia é valiosa. Mas ele corre perigo de afastar demasiadamente seu interesse de sua família, de ficar muito absorto no Instituto, e de assumir muitas responsabilidades, como meu marido fez. O interesse de meu marido pelo Instituto de Saúde, pela Sociedade de Publicações e a causa em geral foi tão grande que ele ficou doente e foi obrigado a retirar-se do trabalho por um tempo, quando, tivesse ele feito menos pelas instituições e dividisse seu interesse com a família, não teria tido uma tensão constante em um aspecto, e teria preservado suas forças para continuar seus trabalhos sem interrupção. O irmão A é o homem para o lugar. Mas ele não deve fazer como meu marido fez, mesmo se as coisas não estiverem em condição tão próspera como quando ele devota toda sua energia a elas. Deus não requer que meu marido ou o irmão A se privem do prazer social com a família, afastando-se do lar e da família, mesmo no interesse dessas instituições importantes. T3 177 1 Durante os últimos três ou quatro anos muitos têm-se interessado pelo Instituto de Saúde e têm-se esforçado para pô-lo em melhor condição. Mas alguns têm falta de discernimento e experiência. Enquanto o irmão A agir desinteressadamente e apegar-se a Deus, Ele será seu ajudador e seu conselheiro. T3 177 2 Os médicos do Instituto de Saúde não devem sentir-se compelidos a fazer o trabalho que os auxiliares podem realizar. Não devem eles ocupar-se das salas de hidroterapia ou mecanoterapia, consumindo sua vitalidade no desempenho daquilo que outros podem fazer. Não deve existir falta alguma de auxiliares para cuidar dos doentes e zelar pelos pacientes fracos que necessitam de atendentes. Devem os médicos poupar as suas energias para o desempenho satisfatório de seus deveres profissionais. Cumpre-lhes dizer aos outros o que devem fazer. Se houver falta daqueles em quem eles possam confiar para fazer essas coisas, devem-se empregar e instruir de maneira apropriada pessoas adequadas, e remunerá-las convenientemente por seus serviços. T3 178 1 Só devem ser empregadas pessoas que desprendidamente trabalharão no interesse do Instituto, e tais pessoas devem ser bem pagas por seus serviços. Deve haver um quadro suficiente, especialmente durante a temporada de enfermidades do verão, de modo que ninguém precise trabalhar demais. O Instituto de Saúde já venceu suas dificuldades, e médicos e auxiliares não devem ser obrigados a trabalhar tanto, e sofrer privações tais, como quando ele estava tão endividado em conseqüência de homens desonestos, que quase o arruinaram. T3 178 2 Foi-me mostrado que os médicos de nosso Instituto devem ser homens e mulheres de fé e espiritualidade. Devem eles fazer de Deus a sua confiança. Muitos há que acorrem ao nosso Instituto que têm, pelas próprias condescendências pecaminosas, trazido sobre si mesmos doenças de quase todos os tipos. Essa classe não merece a simpatia que freqüentemente exige. E é doloroso devotarem os médicos tempo e esforço a essa classe de pessoas degradadas física, mental e moralmente. Há, porém, uma classe que tem, por ignorância, vivido em violação das leis da natureza. Eles têm trabalhado e se alimentado de maneira intemperante, pois era costume assim se fazer. Alguns têm sofrido na mão de muitos médicos, e não têm melhorado, mas decididamente ficado piores. Por fim são arrancados de suas ocupações, da sociedade e de seus familiares; e como último recurso, vêm ao Instituto de Saúde, com uma vaga esperança de poderem encontrar alívio. Essa classe necessita de simpatia. Deve ser tratada com a maior ternura, e deve-se ter o cuidado de tornar claro ao seu entendimento as leis orgânicas, a fim de que possam, ao deixarem de violá-las e governarem a si mesmos, evitar o sofrimento, a doença e a penalidade da violada lei da natureza. T3 178 3 O Dr. B não é a pessoa melhor qualificada para ocupar uma posição como médico no Instituto. Ele vê homens e mulheres de saúde arruinada, que são débeis em força mental e moral, e pensa que é tempo perdido tratar tais casos. Isso pode ser verdade em muitos casos. Mas ele não deve ficar desanimado e aborrecido com doentes e sofredores. Não deve perder sua compaixão, simpatia e paciência, e sentir que sua vida é mal-empregada ao trabalhar a favor daqueles que jamais poderão apreciar o esforço que é feito por eles, e que não usarão suas forças, se as recuperarem, para abençoar a sociedade, mas seguirão o mesma conduta de condescendência própria que resultou na perda da saúde. O Dr. B não deve ficar cansado ou desalentado. Ele deve lembrar-se de Cristo, que entrou em contato direto com a humanidade sofredora. Embora, em muitos casos, tivesse o sofredor trazido sobre si mesmo a enfermidade por sua conduta pecaminosa ao violar a lei natural, compadecia-Se Jesus de suas fraquezas. Ao irem a Ele com as mais repulsivas doenças, não Se punha de longe por temor de contágio; tocava-os e ordenava à enfermidade que saísse. T3 179 1 "E, entrando numa certa aldeia, saíram-Lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe. E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E Ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz. E caiu aos Seus pés, com o rosto em terra, dando-Lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou." Lucas 17:12-19. T3 179 2 Aqui está uma lição para todos nós. Os leprosos estavam tão corrompidos pela doença que foram segregados da sociedade para não contaminar os outros. Seus limites haviam sido prescritos pelas autoridades. Jesus aproximou-Se dos limites de sua visão, e em seu grande sofrimento, clamaram ao único que tinha poder para aliviá-los. Jesus ordena que se apresentem aos sacerdotes. Eles têm fé para iniciar a caminhada, crentes no poder de Cristo para curá-los. Quando vão andando pelo caminho, notam que a terrível doença os deixou. Apenas um, entretanto, tem sentimentos de gratidão; um apenas reconhece a sua penhorada dívida a Cristo por essa grande obra feita em seu favor. Esse volta louvando a Deus, e, na maior das humilhações, prostra-se aos pés de Cristo, reconhecendo agradecido a obra realizada em seu favor. E aquele homem era estrangeiro; os outros nove eram judeus. T3 180 1 Em atenção a este único homem, que haveria de fazer uso correto da bênção da saúde, Jesus curou a todos os dez. Os outros prosseguiram sem reconhecer a obra feita, e sem manifestar nenhum grato reconhecimento a Jesus por haver feito a obra. T3 180 2 Assim os médicos do Instituto de Saúde terão os seus esforços reconhecidos. Mas, se em seu esforço para auxiliar a humanidade sofredora, um em vinte faz uso correto dos benefícios recebidos e aprecia seu empenho em favor dele, devem os médicos sentir-se recompensados e satisfeitos. Se uma em cada dez vidas é salva, e um pecador em uma centena é salvo no reino de Deus, todos os que estão relacionados com o Instituto devem sentir-se grandemente recompensados por todos os seus esforços. Seu cuidado e preocupação não serão de todo em vão. Se o Rei da glória, a Majestade do Céu, trabalhou pela humanidade sofredora, e tão poucos Lhe apreciaram a divina ajuda, devem os médicos e auxiliares do Instituto envergonhar-se de se queixarem se seus fracos esforços não forem apreciados por todos e parecerem inúteis para alguns. T3 180 3 Foi-me mostrado que os nove que não voltaram para dar glória a Deus representam corretamente alguns guardadores do sábado que vêm ao Instituto de Saúde como pacientes. Recebem muita atenção, e deviam reconhecer a ansiedade e o desalento dos médicos, e ser os últimos a lhes causar preocupações e cuidados desnecessários. Mas lamento dizer que freqüentemente os pacientes com os quais é mais difícil lidar no Instituto são os de nossa fé. Sentem-se mais livres em fazer queixas do que qualquer outra classe. Mundanos e cristãos professos de outras denominações apreciam o esforço feito para sua recuperação mais do que muitos observadores do sábado. E alguns dos mais dispostos a questionar e a queixar-se da administração do Instituto são os que têm recebido tratamento a um preço reduzido. T3 181 1 Isso tem sido desanimador para médicos e auxiliares; mas eles devem lembrar-se de Cristo, seu grande Exemplo, e não se cansarem de fazer o bem. Se um dentre grande número de pacientes é agradecido e exerce influência correta, eles devem dar graças a Deus e reanimar-se. Esse pode ser um estrangeiro, e pode surgir a pergunta: Onde estão os nove? Por que nem todos os guardadores do sábado manifestam seu interesse e apoio a favor do Instituto de Saúde? Alguns guardadores do sábado têm tão pouco interesse que, ao serem gratuitamente atendidos no Instituto, falam aos pacientes de modo crítico a respeito dos meios empregados para a recuperação dos doentes. Gostaria que tais pessoas refletissem sobre sua conduta. O Senhor as considera como considerou os nove leprosos que não voltaram para dar-Lhe glória. Estranhos fazem seu dever e apreciam os esforços feitos para sua recuperação, ao passo que estes [os crentes] se alinham contra aqueles que tentaram lhes fazer bem. T3 181 2 O Dr. B precisa cultivar cortesia e bondade para não ofender desnecessariamente os sentimentos dos pacientes. Ele é franco e de coração aberto, consciencioso, sincero e caloroso. Tem uma boa compreensão de enfermidades, mas deve ter conhecimento mais cabal de como tratar os doentes. Juntamente com o conhecimento ele precisa de cultura, boas maneiras e ser mais seletivo nas palavras e ilustrações de suas palestras no salão. T3 181 3 O Dr. B é muito sensível e, por natureza, de um temperamento precipitado e impulsivo. Age com freqüência sob o impulso do momento. Ele tem feito esforço para corrigir seu espírito precipitado e para vencer suas deficiências, mas precisa fazer um esforço ainda maior. Se vê coisas erradas, tem demasiada pressa para dizer aos que erram o que ele pensa, e nem sempre usa as palavras mais apropriadas para a ocasião. Ele às vezes ofende os pacientes de tal modo que eles o odeiam e deixam o Instituto com ressentimentos, com prejuízo tanto para eles como para o Instituto. Falar de modo arrogante a pacientes que estão enfermos física e mentalmente raramente faz algum bem. Poucos, porém, dos que fizeram sociedade com o mundo e que vêem as coisas por um ângulo mundano estão preparados para ouvir uma apresentação de fatos a seu respeito. A verdade exata nem sempre deve ser dita. Há ocasião adequada e oportuna para falar, quando as palavras não ofendem. Os médicos não devem sobrecarregar-se de trabalhos, deixando esgotado seu sistema nervoso, pois esse estado físico não favorece um espírito calmo, nervos estáveis e disposição alegre, feliz. O Dr. B tem estado demasiadamente confinado ao Instituto. Devia ter feito uma mudança. Deve sair de Battle Creek ocasionalmente e repousar e visitar, nem sempre fazendo visitas profissionais, mas visitando onde ele pode estar livre e onde sua mente não estará preocupada com os doentes. T3 182 1 O privilégio de ausentar-se ocasionalmente do Instituto de Saúde deve ser concedido a todos os médicos, principalmente aos que têm encargos e responsabilidades. Se houver tamanha escassez de auxiliares que isto não possa ser feito, devem-se providenciar mais auxiliares. Ter médicos sobrecarregados e, dessa forma, desqualificados para desempenharem os deveres de sua profissão é coisa que se deve temer. Deve-se evitar isso, se possível, pois sua influência é contra os interesses do Instituto. Os médicos devem manter-se em bom estado. Não devem adoecer por excesso de trabalho ou por qualquer imprudência de sua parte. T3 182 2 Foi-me mostrado que o Dr. B é muito facilmente desencorajado. Sempre haverá coisas que surgirão para aborrecer, perturbar e provar a paciência dos médicos e auxiliares. Devem eles estar preparados para isto, não se tornando agitados nem desequilibrados. Devem ser calmos e bondosos, não importa o que possa acontecer. Estão exercendo uma influência que será refletida nos pacientes em outros Estados e que se refletirá de novo sobre o Instituto de Saúde para o bem ou para o mal. Cumpre-lhes levar sempre em consideração que estão lidando com homens e mulheres mentalmente enfermos, os quais vêem muitas vezes as coisas de um ponto de vista desvirtuado, e mesmo assim estão certos de que compreendem perfeitamente o assunto. Devem os médicos entender que "a resposta branda desvia o furor". Provérbios 15:1. É necessário usar de prudência em uma instituição onde os doentes são tratados, a fim de dirigir com sucesso as mentes enfermas e beneficiar o doente. Se os médicos puderem permanecer calmos em meio a uma tempestade de palavras irrefletidas e impetuosas; se puderem governar o próprio sentimento quando provocados e ofendidos, serão eles realmente vencedores. "Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade." Provérbios 16:32. Dominar-se e trazer as paixões sob o controle da vontade é a maior vitória que os homens e as mulheres podem alcançar. T3 183 1 O Dr. B não é cego quanto a seu temperamento peculiar. Vê suas fraquezas, e quando sente a pressão sobre si fica predisposto a recuar e virar as costas ao campo de batalha. Mas não lucrará nada seguindo essa conduta. Acha-se onde seu ambiente e a pressão das circunstâncias estão desenvolvendo os pontos fortes de seu caráter, pontos dos quais a aspereza deve ser removida, para tornar-se refinado e culto. O fugir da luta não removerá os defeitos de seu caráter. Se ele deixasse o Instituto, isso não o faria remover ou vencer os defeitos de caráter. Ele tem um trabalho diante de si para vencer estes defeitos se quiser estar entre o número que estará de pé sem mancha diante do trono de Deus, tendo atravessado a grande tribulação, e tendo lavado as vestes do caráter e "as branqueado no sangue do Cordeiro". Apocalipse 7:14. Foi feita a provisão para lavarmos [nossas vestes]. A fonte foi preparada a custo infinito, e a responsabilidade de lavar repousa sobre nós, que somos imperfeitos diante de Deus. O Senhor não pretende remover estas manchas de contaminação sem nada fazermos de nossa parte. Precisamos lavar nossas vestes no sangue do Cordeiro. Podemos nos valer dos méritos do sangue de Cristo pela fé, e mediante Sua graça e poder teremos forças para vencer nossos erros, nossos pecados, nossas imperfeições de caráter, e sair vitoriosos, tendo lavado nossas vestes no sangue do Cordeiro. T3 183 2 O Dr. B deve procurar aumentar diariamente sua bagagem de conhecimentos, e cultivar cortesia e boas maneiras. No salão de palestras ele se torna propenso a baixar um pouco o nível; as pessoas não recebem uma influência enobrecedora. Deve ele ter em mente que se associa com todos os tipos de mentalidade e que as impressões que ele deixa se estenderão a outros Estados e refletirão sobre o Instituto. Tratar com homens e mulheres cuja mente e o corpo se acham enfermos é uma preciosa tarefa. É necessária grande sabedoria por parte dos médicos do Instituto a fim de curarem o corpo através da mente. Poucos, porém, compreendem o poder que exerce a mente sobre o corpo. Grande parte das doenças que afligem a humanidade têm a sua origem na mente, e podem ser curadas apenas pela restauração da mente à saúde. Há um número muito mais elevado do que imaginamos que está sofrendo das faculdades mentais. O coração enfermo torna muitos dispépticos, pois a angústia mental exerce uma paralisante influência sobre os órgãos digestivos. T3 184 1 A fim de alcançar esta classe de pacientes, deve o médico ter discernimento, paciência, bondade e amor. O coração abatido, doente, e a mente desalentada necessitam de meigo cuidado, e é por meio de terna simpatia que tais mentes podem ser curadas. Devem os médicos conquistar-lhes primeiro a confiança, e em seguida levá-los ao Médico todo-poderoso para curar. Se a mente puder ser dirigida para o Portador de Fardos e tiverem fé que Ele demonstrará interesse por eles, certa será a cura de seu corpo e mente enfermos. T3 184 2 Outras instituições de saúde estão olhando com olhos invejosos ao Instituto de Saúde em Battle Creek. Eles atuam do ponto de vista do mundo, enquanto os administradores do Instituto de Saúde atuam de um ponto de vista religioso, reconhecendo a Deus como seu proprietário. Não trabalham egoistamente em troca de dinheiro, mas por amor de Cristo e da humanidade. Procuram beneficiar a humanidade sofredora, para curar a mente doente e o corpo que sofre, encaminhando os enfermos a Cristo, o Amigo dos pecadores. Não deixam a religião fora de consideração, mas fazem de Deus sua confiança e dependência. Os doentes são encaminhados a Jesus. Depois dos médicos fazerem o que podem a favor do doente, eles pedem que Deus coopere com seus esforços e restaure os enfermos sofredores à saúde. Isso Ele tem feito em alguns casos em resposta à oração da fé. E isso Ele continuará a fazer se eles forem fiéis e puserem sua confiança nEle. O Instituto de Saúde será um sucesso, pois Deus o sustém. E se Sua bênção repousar sobre o Instituto, ele prosperará e será o meio de fazer o bem a muitos. Outras instituições estão a par de que uma elevada norma de influência moral e religiosa existe em nosso Instituto. Vêem que seus administradores não são regidos por princípios egoístas e mundanos, e são zelosos em relação a sua influência controladora e orientadora. ------------------------Capítulo 16 -- O perigo dos elogios T3 185 1 Foi-me mostrado que é preciso haver muita cautela, mesmo tratando-se de desembaraçar pessoas de um fardo opressor, para que não ponham sua confiança na própria sabedoria e se esqueçam de que dependem inteiramente de Deus. Não é bom elogiar a pessoa ou exaltar os talentos de um servo de Cristo. No dia de Deus muitos hão de ser pesados na balança e achados em falta por causa de sua exaltação pessoal. O Eu facilmente se eleva, fazendo o indivíduo perder o equilíbrio. Repito a meus irmãos e irmãs: Se desejam ser inocentes do sangue de todos os homens, nunca lisonjeiem nem exaltem os esforços de pobres mortais; porque isso pode ser a ruína deles. Há perigo em exaltar por palavras ou por atos a um irmão ou irmã, por mais aparentemente humilde que seja sua conduta. Se eles são realmente dotados desse espírito manso e humilde que Deus tanto aprecia, ajudem-nos a conservá-lo. Isto não se fará por meio de censuras ou deixando de apreciar devidamente as suas qualidades; mas há poucos que suportam sem prejuízo os efeitos de um elogio. T3 185 2 Alguns pastores de talento, que estão agora pregando a verdade presente, gostam de aprovação. O elogio os estimula como o vinho estimula ao bebedor. Coloquem esses pastores onde haja uma congregação pequena, que se não entusiasma facilmente nem provoca oposições decisivas, e se apagará logo seu interesse e seu zelo, tornando-se eles sonolentos e indolentes como o bêbado a quem se tenha privado do álcool. Estes homens não se tornarão obreiros verdadeiramente práticos antes que tenham aprendido a trabalhar sem a exaltação dos elogios. ------------------------Capítulo 17 -- Trabalho a favor dos que erram T3 186 1 Os irmãos C e D falharam em alguns aspectos em seu controle dos negócios da igreja em Battle Creek. Agiram em demasia no próprio espírito e não dependeram totalmente de Deus. Falharam em cumprir seu dever não encaminhando a igreja a Deus, a Fonte de águas vivas, junto à qual poderiam suprir sua carência e satisfazer a fome de seu coração. A influência renovadora e santificadora do Espírito Santo, que daria paz e esperança à consciência perturbada, e restauraria saúde e felicidade ao pecador, não recebeu a máxima atenção. O bom objetivo que tinham em vista não foi atingido. Estes irmãos excediam no espírito de fria crítica no exame dos indivíduos que se apresentaram para se tornarem membros da igreja. O espírito de chorar "com os que choram" e de alegrar-se "com os que se alegram" (Romanos 12:15) não estava no coração destes pastores como devia ter estado. T3 186 2 Cristo identificou-Se com as necessidades de Seu povo. As necessidades e sofrimentos desse povo eram Seus também. Diz Ele: "Tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me." Mateus 25:35, 36. Os servos de Deus devem ter coração de terna afeição e sincero amor para com os seguidores de Cristo. Devem manifestar aquele profundo interesse que Jesus nos apresenta no cuidado do pastor para com a ovelha perdida; seguir o exemplo dado por Cristo, e exercer a mesma compaixão e benignidade, e o mesmo terno e compassivo amor manifestado por Ele para conosco. T3 187 1 As grandes forças morais do coração são fé, esperança e amor. Se estes não forem exercidos, por mais diligente e zeloso que seja o pastor, seu trabalho não será aceito por Deus e não pode produzir bem para a igreja. Um servo de Cristo que apresenta a solene mensagem de Deus ao povo deve sempre tratar com justiça, amar a misericórdia e andar humildemente diante de Deus. O espírito de Cristo no coração inclinará toda faculdade da mente a nutrir e proteger as ovelhas de Seu pasto, como um verdadeiro e fiel pastor. O amor é o elo dourado que liga os corações crentes uns aos outros em voluntários laços de amizade, ternura e fiel constância -- [elo] que une o coração a Deus. Há decidida falta de amor, compaixão e compassiva ternura entre os irmãos. Os ministros de Cristo são muito frios e sem coração. O coração deles não se acha inflamado de terna compaixão e fervoroso amor. A mais pura e elevada devoção a Deus é aquela que se manifesta nos mais fervorosos desejos e esforços para ganhar almas para Cristo. A razão por que os pastores que anunciam a verdade presente não são mais bem-sucedidos é que eles são grandemente deficientes em fé, esperança e amor. Há para todos nós labutas e conflitos, abnegações e provas íntimas do coração a enfrentar e suportar. Haverá aflição e lágrimas por nossos pecados; haverá lutas constantes e vigílias, mescladas com remorso e vergonha por causa de nossas deficiências. T3 187 2 Que os ministros da cruz de nosso querido Salvador não esqueçam sua experiência nessas coisas; mas lembrem-se sempre de que são apenas homens, sujeitos a errar, e possuindo as mesmas paixões que seus irmãos; e que, se ajudam a seus irmãos, precisam ser perseverantes nos esforços que fazem para os beneficiar, tendo o coração cheio de piedade e amor. Precisam chegar ao coração de seus irmãos e ajudá-los onde eles são fracos e mais necessitam de auxílio. "Os que trabalham na palavra e na doutrina" (1 Timóteo 5:17) devem quebrantar o próprio coração duro, orgulhoso, incrédulo, se querem ver isso nos irmãos. Cristo fez tudo por nós, porque nos viu desamparados; estávamos ligados com cadeias de trevas, pecado e desespero, não podendo portanto fazer coisa alguma por nós mesmos. É mediante o exercício da fé, esperança e amor que chegamos mais e mais perto da norma de perfeita santidade. Nossos irmãos sentem a mesma comovente necessidade de auxílio que temos experimentado. Não os devemos oprimir com censuras desnecessárias, mas deixar que o amor de Cristo nos constranja a ser muito compassivos e brandos, de modo a chorarmos sobre os que erram e os que se desviaram de Deus. O ser humano é de infinito valor. Esse valor só pode ser estimado pelo preço pago a fim de redimi-lo. O Calvário! O Calvário! O Calvário exprimirá o real valor de um ser humano! ------------------------Capítulo 18 -- A Escola Sabatina T3 188 1 Religiosidade vital é um princípio a ser cultivado. O poder de Deus pode efetuar por nós aquilo que todos os métodos do mundo não podem fazer. A perfeição do caráter cristão depende inteiramente da graça e força encontradas somente em Deus. Sem o poder da graça sobre o coração, ajudando nossos esforços e santificando nossos trabalhos, deixaremos de obter nossa própria salvação e a salvação de outros pecadores. Organização e ordem são altamente essenciais, mas ninguém deve ter a impressão de que elas realizarão o trabalho sem a graça e o poder de Deus atuando sobre a mente e o coração. Sem o poder de Deus para inspirar e dar coragem, o coração e a carne falhariam na execução das muitas cerimônias e na realização de nossos planos. T3 188 2 A Escola Sabatina em Battle Creek tornou-se o grande tema de interesse do irmão E. Absorveu a mente dos jovens, enquanto outros deveres religiosos foram negligenciados. Freqüentemente, depois do encerramento da Escola Sabatina, o superintendente, vários professores e um bom número de alunos voltavam para casa para descansar. Sentiam que sua responsabilidade para aquele dia terminara e que não tinham outro dever. Quando o sino anunciava a hora para o culto e o povo saía de suas casas para a igreja, encontravam boa parte dos estudantes indo para casa. E por mais importante que fosse a reunião, o interesse de boa parte da Escola Sabatina não podia ser despertado para ter prazer na instrução dada pelo pastor sobre importantes assuntos bíblicos. Enquanto muitas das crianças não assistiam ao culto, algumas que ficavam não tiravam proveito da palavra falada, pois sentiam que era uma obrigação enfadonha. T3 189 1 Deve haver disciplina e ordem em nossas Escolas Sabatinas. As crianças que assistem a estas classes devem apreciar os privilégios que desfrutam e deve-se requerer que observem os regulamentos da escola. E ainda maior cuidado deve ser tomado pelos pais para certificar-se de que os filhos tenham suas lições bíblicas do que para verificar se suas lições escolares são preparadas. Suas lições bíblicas devem ser aprendidas mais perfeitamente do que suas lições escolares comuns. Se os pais e os filhos não vêem a necessidade deste interesse, então melhor seria que as crianças ficassem em casa; pois a Escola Sabatina deixará de ser uma bênção para elas. Pais e filhos devem trabalhar em harmonia com o superintendente e os professores, dando assim evidência de que apreciam o trabalho despendido por elas. Os pais devem tomar interesse especial na educação religiosa de seus filhos, para que tenham um conhecimento mais completo das Escrituras. T3 189 2 Há muitas crianças que alegam falta de tempo como razão para que suas lições da Escola Sabatina não sejam estudadas, mas há poucos que tendo interesse nelas não achassem tempo para estudá-las. Algumas devotam tempo a divertimentos e passeios; outras ao cuidado desnecessário de suas vestes para ostentação, cultivando assim orgulho e vaidade. As horas preciosas assim gastas prodigamente é tempo que pertence a Deus, pelas quais precisam prestar-Lhe contas. As horas gastas em ornamentação desnecessária ou em divertimentos e conversa ociosa serão, com toda obra, "trazidas a juízo". Eclesiastes 12:14. ------------------------Capítulo 19 -- Obreiros no escritório T3 190 1 As pessoas no Escritório que professam crer na verdade devem demonstrar na vida o poder da verdade e provar que estão trabalhando para frente e para o alto por princípio. Devem estar moldando a vida e o caráter segundo o Modelo perfeito. Se todos pudessem ver com discernimento as realidades tremendas da eternidade, que terrível condenação se apoderaria de alguns no Escritório que agora se conduzem com indiferença, embora separados de cenas eternas por uma distância bem pequena. Muitas advertências têm sido dadas e aplicadas com intensa emoção e orações fervorosas, cada uma das quais é registrada no Céu, para equilibrar a conta de cada um no dia do juízo final. O amor incansável de Cristo tem acompanhado as pessoas empenhadas em Seu trabalho no Escritório. Deus as tem auxiliado com bênçãos e súplicas, todavia odiando os pecados e a infidelidade que se lhes apegam como a lepra. As verdades profundas e solenes as quais as pessoas no Escritório têm tido o privilégio de ouvir devem ter sua aprovação e levá-las a apreciar a luz que Deus lhes tem dado. Se andarem na luz, ela lhes embelezará e enobrecerá a vida com o próprio adorno do Céu: pureza e verdadeira bondade. T3 190 2 Um caminho está aberto diante de qualquer um no Escritório para empenhar-se de coração diretamente na obra de Cristo e na salvação de pecadores. Cristo deixou o Céu e o seio do Pai para vir a um mundo hostil e perdido para salvar os que haviam de ser salvos. Exilou-Se do Pai e trocou o companheirismo puro de anjos pelo de uma humanidade caída, inteiramente poluída pelo pecado. Com tristeza e surpresa, Cristo testemunhou a frieza, a indiferença e negligência com as quais Seus professos seguidores no Escritório tratam a luz e as mensagens de advertência e de amor que lhes deu. Cristo proveu o pão e a água da vida a todos que têm fome e sede. T3 190 3 O Senhor requer de todos no Escritório que trabalhem por motivos elevados. Em Sua vida, Cristo lhes deu exemplo. Todos devem trabalhar com interesse, dedicação e fé para a salvação de pecadores. Se todos no Escritório trabalharem com propósitos desinteressados, discernindo a santidade do trabalho, a bênção de Deus repousará sobre eles. Se todos tivessem assumido suas diferentes responsabilidades prazenteira e alegremente, o desgaste e a perplexidade não teriam caído tão pesadamente sobre meu marido. T3 191 1 Quão poucas orações fervorosas têm sido elevadas a Deus em fé por aqueles que trabalhavam no Escritório que não estavam plenamente na verdade! Quem sentiu o valor de um pecador pelo qual Cristo morreu? Quem tem sido obreiro na vinha do Senhor? Vi que os anjos foram entristecidos pelas frivolidades dos professos seguidores de Cristo que estavam lidando com coisas sagradas no Escritório. Alguns não possuem mais percepção da santidade da obra do que se estivessem empenhados em trabalho comum. Deus agora apela aos infrutíferos ocupantes do terreno para que se consagrem a Ele e concentrem suas afeições e esperanças nEle. T3 191 2 O Senhor gostaria que todos os que estão ligados ao Escritório se tornassem zelosos e assumissem responsabilidades. Se estão em busca de prazeres, se não praticam abnegação, não estão aptos para um lugar no Escritório. Os obreiros do Escritório devem sentir ao entrar que ali é um lugar sagrado, um lugar onde a obra de Deus está sendo feita na publicação da verdade que decidirá o destino das pessoas. Isto não é sentido ou reconhecido como deve ser. Há conversa no departamento de composição que distrai a mente do trabalho. O Escritório não é um lugar para visitas, namoro, divertimento ou egoísmo. Todos devem sentir que estão trabalhando para Deus. Aquele que sonda todos os motivos e lê todos os corações está provando, testando e peneirando Seu povo, especialmente aqueles que têm luz e conhecimento, e que estão empenhados em Sua obra sagrada. Deus "sonda as mentes e os corações" (Apocalipse 2:23), e não aceitará nada menos do que uma inteira dedicação ao trabalho e consagração a Ele. Todos no Escritório devem assumir seus deveres como na presença de Deus. Não devem ficar satisfeitos em fazer apenas o suficiente para passar as horas e receber seu salário; mas todos devem trabalhar em qualquer lugar onde possam ajudar mais. Na ausência do irmão White há alguns fiéis; há outros que só trabalham quando são vistos. Se todos no Escritório que professam ser seguidores de Cristo tivessem sido fiéis no cumprimento do dever, teria havido uma grande mudança para melhor. Rapazes e moças têm ficado muito absorvidos na companhia uns dos outros, falando, gracejando e contando piadas, e os anjos de Deus têm se afastado do Escritório. T3 192 1 Marcus Lichtenstein era um jovem temente a Deus; mas viu tão pouco verdadeiro princípio religioso nas pessoas da igreja e nos que trabalham no Escritório que ficou perplexo, aflito e desgostoso. Tropeçou sobre a falta de seriedade na guarda do sábado manifestada por alguns que ainda professavam ser guardadores dos mandamentos. Marcus tinha respeito elevado pelo trabalho no Escritório; mas a vaidade, a futilidade e a falta de princípio fizeram-no tropeçar. Deus o tinha erguido e em Sua providência o ligou a Seu trabalho no Escritório. Mas muito pouco é sabido sobre a mente e a vontade de Deus por alguns que trabalham no Escritório que consideraram esta grande obra da conversão de Marcus do judaísmo como de pouca importância. Seu valor não foi apreciado. Ele ficava freqüentemente aflito com o comportamento de F e de outros no Escritório; e quando tentou reprová-los, suas palavras foram recebidas com desprezo por ele atrever-se a instruí-los. Sua linguagem imperfeita foi para alguns pretexto de caçoada e divertimento. T3 192 2 Marcus sentiu profundamente a respeito do caso de F, mas não sabia como ajudá-lo. Marcus nunca teria deixado o Escritório se os rapazes tivessem sido leais à sua profissão de fé. Se ele naufragar na fé, seu sangue será certamente achado nas vestes dos jovens que professam a Cristo, mas que, por obras, palavras e comportamento, afirmam claramente que não são de Cristo, mas do mundo. Esse estado deplorável de negligência, indiferença e infidelidade precisa cessar; uma mudança completa e permanente precisa ocorrer no Escritório, ou aqueles que têm tido tanta luz e tão grandes privilégios devem ser despedidos e outros tomarem seus lugares, mesmo que sejam incrédulos. É uma coisa terrível enganar a si mesmo. Disse o anjo, apontando para as pessoas no Escritório: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus." Mateus 5:20. Não basta fazer profissão de fé. Precisa haver um trabalho efetuado no coração e demonstrado na vida. T3 193 1 O amor de Cristo atinge as profundezas da miséria e dor terrenas, ou não satisfaria o caso do maior pecador. Também alcança o trono do Eterno, ou o homem não poderia ser erguido de sua condição degradada, e nossas necessidades ou desejos satisfeitos. Cristo tem conduzido no caminho da Terra ao Céu. Ele forma o elo que liga os dois mundos. Ele traz o amor e a condescendência de Deus ao homem, e eleva o homem mediante Seus méritos para receber a reconciliação com Deus. Cristo é "o caminho, e a verdade, e a vida". João 14:6. É difícil seguir, passo a passo, penosa e vagarosamente, para frente e para o alto, no caminho da pureza e santidade. Mas Cristo fez ampla provisão para comunicar novo vigor e força divina a cada passo para frente na vida religiosa. Este é o conhecimento e a experiência que todos os auxiliares do Escritório precisam e devem ter, ou lançam diariamente vergonha sobre a causa de Cristo. T3 193 2 O irmão G está cometendo um erro em sua vida. Ele se valoriza excessivamente. Não começou a edificar corretamente para fazer da vida um sucesso. Está edificando no topo, mas o fundamento não foi lançado corretamente. O fundamento precisa ser posto no subsolo, e então o edifício pode subir. Ele necessita de disciplina e experiência nos deveres da vida diária que as ciências não conferem; toda sua educação não lhe dará adestramento físico para fortalecê-lo para as dificuldades da vida. T3 193 3 Pelo que me foi mostrado, deve haver uma seleção cuidadosa de auxiliares do Escritório. Os que são muito jovens, inexperientes e não consagrados não devem ser colocados aí, porque estão expostos a tentações e não têm caráter estabilizado. Aqueles que formaram o caráter, que têm princípios estáveis, e que têm a verdade de Deus no coração não serão uma fonte constante de cuidado e ansiedade, antes um auxílio e uma bênção. O Escritório de Publicações é bastante capaz de fazer arranjos para obter os melhores auxiliares, aqueles que têm habilidade e princípios. E a igreja, por sua vez, não deve procurar tirar um centavo de vantagem daqueles que vêm ao Escritório para trabalhar e aprender o ofício. Há lugares onde alguns poderiam receber melhor salário do que no Escritório, mas nunca poderão achar um lugar mais importante, mais honroso ou mais exaltado do que o trabalho de Deus no Escritório. Aqueles que trabalham fiel e desprendidamente serão recompensados. Para eles está preparada uma coroa de glória, que comparada com todas as honras e prazeres terrestres são como o pó da balança. Isaías 40:15. De modo especial serão abençoados aqueles que têm sido fiéis a Deus em zelar pelo bem-estar espiritual de outros no Escritório. Interesses financeiros e temporais, em comparação com isso, desaparecem na insignificância. Num prato da balança está ouro em pó; no outro, uma vida humana de tal valor que honra, riquezas e glória foram sacrificadas pelo Filho de Deus para resgatá-la da servidão do pecado e do desespero. O ser humano é de valor infinito e requer a maior atenção. Toda pessoa que teme a Deus naquele Escritório deve pôr de lado coisas pueris e vãs, e, com verdadeira coragem moral, ficar de pé na dignidade de sua varonilidade, evitando familiaridade baixa, antes ligando coração a coração no elo do interesse e amor cristãos. Os corações anelam por simpatia e amor, e são muito refrigerados e revigorados por eles como as flores o são pela chuva e o brilho do sol. T3 194 1 A Bíblia deve ser lida cada dia. Uma vida de religião, de devoção a Deus, é o melhor escudo para os jovens que estão expostos à tentação em seus relacionamentos enquanto freqüentam a escola. A Palavra de Deus fornecerá a norma correta do princípio moral e do que é certo e do que é errado. Um princípio estável de verdade é a única salvaguarda para a juventude. Propósitos fortes e vontade resoluta fecharão muitas portas abertas à tentação e a influências desfavoráveis para a conservação de um caráter cristão. Um espírito fraco e irresoluto acariciado na meninice e juventude causará uma vida de constante trabalho e luta porque faltam decisão e princípio firme. Tais pessoas estarão sempre enredadas ao tentar fazer desta vida um sucesso, e correrão o risco de perder a vida melhor. Será seguro ser zeloso pelo direito. A primeira consideração deve ser honrar a Deus, e a segunda, ser fiel à humanidade, cumprindo os deveres de cada dia e enfrentando suas provas e suportando suas responsabilidades com firmeza e coração resoluto. Esforço sério e incansável, unido com propósito forte e inteira confiança em Deus, ajudará em toda emergência, qualificará para uma vida útil neste mundo e dará aptidão para a vida imortal. ------------------------Capítulo 20 -- Amor e dever T3 195 1 O amor tem um irmão gêmeo, que é o dever. Estes dois andam lado a lado. A prática do amor enquanto o dever é negligenciado fará as crianças obstinadas, voluntariosas, perversas, egoístas e desobedientes. Se o severo dever for deixado só, sem o amor que abranda e atrai, idêntico será o resultado. O dever e o amor devem ser misturados a fim de que as crianças sejam devidamente disciplinadas. T3 195 2 Antigamente, foram dadas aos sacerdotes estas instruções: "E a Meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o impuro e o puro. E, quando houver pleito, eles assistirão a ele para o julgarem; pelos Meus juízos o julgarão." Ezequiel 44:23, 24. "Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio de seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:8, 9. T3 196 1 Aqui se faz patente o dever dos servos de Deus. Eles não podem ser desobrigados do fiel desempenho de seu dever de reprovar pecados e erros do povo de Deus, embora isso seja uma tarefa desagradável e talvez não seja aceita pela pessoa em falta. Na maioria dos casos, porém, a pessoa reprovada aceitaria a advertência e daria ouvidos à reprovação, se outros não se interpusessem em seu caminho. Eles se interpõem como quem toma as dores do que foi repreendido, e acham dever tomar-lhe a defesa. Não vêem que o Senhor não Se agrada do faltoso, pois Sua causa sofreu agravo e Seu nome foi vituperado. Almas se desviaram da verdade e naufragaram na fé, em conseqüência do procedimento errado da pessoa em falta; mas o servo de Deus cujo discernimento se acha obscurecido, e cujo juízo é movido por errôneas influências, rapidamente se põe do lado do ofensor cuja influência causou tanto mal, como também ao lado do que reprovou a injustiça e o pecado; e, assim fazendo, diz tacitamente ao pecador: "Não se aflija; não fique abatido; afinal você está mais ou menos certo." Essas pessoas dizem ao pecador: "Tudo te irá bem." Salmos 128:2. T3 196 2 Deus requer que Seus servos andem na luz, e não fechem os olhos para que não possam discernir a atuação de Satanás. Devem estar preparados para advertir e reprovar os que estão em perigo em virtude das sutilezas de Satanás. Ele trabalha à direita e à esquerda a fim de obter terreno vantajoso. Não descansa. É perseverante. Vigia e é astuto para se aproveitar de toda circunstância, e para fazer isto reverter em vantagem para si na luta que sustenta contra a verdade e os interesses do reino de Deus. É lamentável que os servos do Senhor não estejam despertos sequer metade do que deviam estar para os ardis do inimigo. E em vez de resistir ao diabo para que fuja deles, muitos se inclinam a condescender com os poderes das trevas. ------------------------Capítulo 21 -- A igreja de Battle Creek T3 197 1 Há objeções sérias à localização da escola em Battle Creek. A igreja é grande e há um bom número de jovens ligados a ela. Se a influência que um membro exerce sobre outro numa igreja tão grande fosse de caráter edificante, levando à pureza e à consagração a Deus, então a juventude que viesse a Battle Creek teria maiores vantagens do que se a escola fosse localizada em algum outro lugar. Mas se as influências em Battle Creek forem no futuro como têm sido nos últimos anos, eu advertiria os pais a manter seus filhos fora de Battle Creek. Há apenas poucos naquela grande igreja que exercem uma influência que solidamente atrairá pecadores a Cristo; enquanto há muitos que, por seu exemplo, desviarão aos jovens de Deus para o amor do mundo. T3 197 2 Muitos na igreja de Battle Creek têm grande falta em assumir sua responsabilidade. Aqueles que têm religião prática manterão sua identidade de caráter sob quaisquer circunstâncias. Não serão como "a cana abalada pelo vento". Lucas 7:24. As pessoas localizadas a certa distância sentem que seriam altamente favorecidas se tivessem o privilégio de morar em Battle Creek, em meio a uma igreja forte, onde seus filhos pudessem ser beneficiados pela Escola Sabatina e reuniões. Alguns de nossos irmãos e irmãs no passado fizeram sacrifícios para que seus filhos vivessem aqui. Mas foram desapontados em quase todos os casos. Havia poucos na igreja que manifestavam abnegado interesse nesses jovens. Os membros da igreja em geral conduziram-se como estranhos farisaicos, alheios àqueles que mais precisavam de sua ajuda. Alguns dos jovens ligados com a igreja, que professavam servir a Deus, mas amando mais o prazer e o mundo, estavam dispostos a fazer amizade com jovens desconhecidos que apareciam em seu meio, e a exercer forte influência sobre eles para levá-los ao mundo em vez de levá-los para mais perto de Deus. Quando estes voltam para casa, estão mais longe da verdade do quando vieram a Battle Creek. T3 198 1 São necessários homens e mulheres no centro da obra que sejam pais e mães afetuosos em Israel, que têm coração que pode receber mais do que meramente a "mim e aos meus". Devem ter coração abrasado com amor pelos queridos jovens, quer sejam membros da própria família ou filhos de seus vizinhos. São membros da grande família de Deus, pelos quais Cristo tinha um tão grande interesse que fez todo sacrifício possível para salvá-los. Deixou Sua glória, Sua majestade, Seu trono real e vestes de realeza, e tornou-Se pobre, para que por Sua pobreza os filhos dos homens enriquecessem. 2 Coríntios 8:9. Finalmente derramou Sua vida na morte para que pudesse salvar a humanidade de uma miséria sem esperança. Este é o exemplo de benevolência desprendida que Cristo nos deu como modelo a seguir. T3 198 2 Na providência especial de Deus muitos jovens e também alguns de idade madura têm sido lançados nos braços da igreja de Battle Creek para que os abençoasse com a grande luz que Deus lhes deu e que, por seus esforços desinteressados, pudessem ter o privilégio precioso de trazê-los a Cristo e à verdade. Cristo ordena a Seus anjos que ministrem a favor daqueles que são trazidos sob a influência da verdade, para abrandar-lhes o coração e fazê-los susceptíveis às influências de Sua verdade. Enquanto Deus e Seus anjos estão fazendo Seu trabalho, aqueles que professam ser seguidores de Cristo parecem ser friamente indiferentes. Não trabalham em harmonia com Cristo e os santos anjos. Embora professem ser servos de Deus estão servindo aos próprios interesses e amando o próprio prazer, e almas estão perecendo a seu redor. Estas almas podem verdadeiramente dizer: "Ninguém se preocupa comigo." A igreja deixou de aproveitar os privilégios e bênçãos a seu alcance, e por sua negligência do dever perdeu oportunidades áureas de ganhar almas para Cristo. T3 198 3 Incrédulos têm vivido entre eles durante meses, e estes não fizeram nenhum esforço especial para salvá-los. Como há o Mestre de considerar tais servos? Os incrédulos teriam respondido aos esforços feitos em seu favor se os irmãos e irmãs tivessem vivido à altura de sua exaltada profissão de fé. Se estivessem procurando uma oportunidade de trabalhar no interesse de seu Mestre, para promover Sua causa, teriam manifestado bondade e amor por eles, procurado oportunidades de orar com e por eles, e sentido uma responsabilidade solene repousando sobre eles de mostrar sua fé por suas obras, por preceito e exemplo. Por seu intermédio essas almas poderiam ter sido salvas para serem como estrelas na sua coroa de regozijo. Mas, em muitos casos, a oportunidade áurea passou para nunca mais voltar. As almas que estavam no vale da decisão tomaram sua posição nas fileiras do inimigo e tornaram-se inimigas de Deus e da verdade. E o registro da infidelidade dos professos seguidores de Jesus subiu ao Céu. T3 199 1 Foi-me mostrado que se os jovens de Battle Creek fossem fiéis à sua profissão de fé, poderiam exercer sobre seus colegas uma influência poderosa para o bem. Mas uma boa parte dos jovens em Battle Creek precisa de uma experiência cristã. Não conhecem a Deus por experiência própria. Não têm individualmente uma experiência pessoal na vida cristã, e perecerão com os incrédulos, a menos que obtenham tal experiência. Os jovens desta classe seguem a inclinação em vez de o dever. Alguns não procuram ser governados por princípio. Não se angustiam para entrar pela porta estreita, tremendo de medo de não serem capazes. São confiantes, jactanciosos, orgulhosos, desobedientes, ingratos e profanos. Exatamente esse tipo de classe leva almas à ruína na estrada larga. Se Cristo não está neles, não podem exemplificá-Lo na vida e no caráter. T3 199 2 A igreja em Battle Creek tem tido grande luz. Como um povo, eles têm sido favorecidos por Deus de modo especial. Não têm sido deixados na ignorância quanto à vontade de Deus a seu respeito. Podiam estar muito mais avançados do que estão agora, se tivessem andado na luz. Não são aquele povo separado, peculiar e santo que sua fé requer, e que Deus reconhece como filhos da luz. Não são tão obedientes e devotos em sua posição exaltada e obrigação sagrada como se requer dos filhos que andam na luz. A mensagem mais solene de misericórdia jamais dada ao mundo lhes foi confiada. O Senhor fez daquela igreja a depositária de Seus mandamentos num sentido em que nenhuma outra igreja o foi. Deus não lhes mostrou Seu favor especial em lhes confiar Sua verdade sagrada para que eles apenas fossem beneficiados pela luz dada, mas para que a luz do Céu refletida sobre eles brilhasse para outros e fosse refletida de novo para Deus pelo fato daqueles que recebem a verdade O glorificarem. Muitos em Battle Creek terão de dar a Deus terrível prestação de contas por esta pecaminosa negligência do dever. T3 200 1 Muitos daqueles em Battle Creek que professam crer na verdade contradizem sua fé por suas obras. São tão incrédulos e estão tão longe de cumprir os requisitos de Deus e de viverem à altura de sua profissão de fé como a igreja judaica nos dias do primeiro advento de Cristo. Se Cristo aparecesse entre eles, reprovando e repreendendo o egoísmo, o orgulho e o amor da amizade do mundo, como Ele fez em Seu primeiro advento, poucos O reconheceriam como o Senhor da glória. O quadro que Ele lhes apresentaria diante de sua negligência do dever, eles não aceitariam e diriam em Seu rosto: "O Senhor está inteiramente enganado; fizemos esta boa e grande coisa, e realizamos esta e aquela obra maravilhosa, e temos o direito de ser grandemente exaltados por nossas boas obras." T3 200 2 Os judeus não entraram nas trevas de uma vez. Foi uma obra gradual, até não poderem discernir a dádiva de Deus em enviar Seu Filho. A igreja em Battle Creek tem tido vantagens superiores, e eles serão julgados pela luz e privilégios que têm tido. Suas deficiências, sua incredulidade, sua dureza de coração e sua negligência em apreciar e seguir a luz não são inferiores às dos judeus favorecidos, que recusaram as bênçãos que poderiam ter aceito e crucificaram o Filho de Deus. Os judeus são agora um espanto e uma vergonha ao mundo. T3 200 3 A igreja em Battle Creek é como Cafarnaum, que Cristo representa como sendo exaltada até ao Céu pela luz e os privilégios que lhe foram dados. Se a luz e os privilégios com que foram abençoados tivessem sido dados a Sodoma e Gomorra, elas poderiam ter permanecido até hoje. Se a luz e o conhecimento que a igreja em Battle Creek recebeu tivessem sido dados às nações que vivem em trevas, podiam estar muito mais adiantadas do que aquela igreja. T3 201 1 A igreja de Laodicéia realmente cria nas bênçãos do evangelho e as apreciava, pensando que era rica no favor de Deus, quando a Testemunha Verdadeira os chamou de pobres, nus, cegos e miseráveis. Este é o caso da igreja em Battle Creek e de uma grande parte daqueles que professam ser o povo guardador dos mandamentos de Deus. "O Senhor não vê como vê o homem." 1 Samuel 17:7. Seus pensamentos e caminhos não são como nossos caminhos. Isaías 55:8. T3 201 2 As palavras e a lei de Deus escritas no coração e manifestadas por uma vida consagrada e santa têm influência poderosa para convencer o mundo. "Avareza, que é idolatria" (Colossences 3:5), inveja e amor do mundo serão desarraigados do coração daqueles que são obedientes a Cristo, e será seu prazer praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus. Oh, quanto isto abrange, andar humildemente com Deus! A lei de Deus, se for escrita no coração, levará "cativo todo entendimento" e vontade "à obediência de Cristo". 2 Coríntios 10:5. T3 201 3 Nossa fé é peculiar. Muitos que professam estar vivendo sob o som da última mensagem de misericórdia não estão separados do mundo em suas afeições. Curvam-se diante da amizade do mundo e sacrificam luz e princípio para garantir seu favor. O apóstolo descreve o povo favorecido de Deus nestas palavras: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. ------------------------Capítulo 22 -- Trabalho missionário T3 202 1 Em 10 de Dezembro de 1871, foi-me mostrado que Deus realizaria uma grande obra através da verdade se homens devotos e abnegados se entregassem sem reservas à obra de apresentá-la aos que estão em trevas. Aqueles que têm conhecimento da verdade preciosa e que são consagrados a Deus deviam valer-se de toda oportunidade onde há uma abertura para apresentar a verdade. Anjos de Deus estão movendo o coração e a consciência do povo de outras nações, e pessoas honestas estão perplexas ao testemunharem os sinais dos tempos na situação instável das nações. A indagação surge no coração deles: Quando será o fim de todas essas coisas? Enquanto Deus e os anjos atuam para impressionar corações, os servos de Deus parecem estar dormindo. Apenas poucos estão trabalhando em uníssono com os mensageiros celestes. Todos os homens e mulheres que são cristãos no sentido pleno da palavra devem ser obreiros na vinha do Senhor. Devem estar bem acordados, labutando zelosamente para a salvação de seus semelhantes, e imitar o exemplo que o Salvador do mundo lhes deu em Sua vida de abnegação, sacrifício e trabalho fiel e fervoroso. T3 202 2 Tem havido pouco espírito missionário entre os adventistas observadores do sábado. Se os pastores e o povo estivessem suficientemente despertos, não se deixariam ficar assim indiferentes, quando Deus os honrou ao torná-los os depositários de Sua lei, imprimindo-a em sua mente e escrevendo-a em seu coração. Estas verdades de importância vital hão de provar o mundo; no entanto, mesmo em nosso país há cidades, vilas e vilarejos que nunca ouviram a mensagem de advertência. Jovens que se sentem tocados pelos apelos que têm sido feitos por ajuda na grande obra de promover a causa de Deus tomam alguma iniciativa, mas não assumem suficientemente a responsabilidade da obra para realizarem o que poderiam. Estão dispostos a fazer pequeno trabalho que não requer esforço especial. Não aprendem, entretanto, a colocar toda sua dependência sobre Deus e com fé viva beber da grande Fonte e Manancial de luz e força a fim de que seus esforços se demonstrem inteiramente bem-sucedidos. T3 203 1 Aqueles que pensam que têm um trabalho a fazer para o Mestre não devem começar seus esforços nas igrejas; devem sair para novos campos e provar seus dons. Desse modo podem testar-se e decidir o assunto a próprio contento, se Deus os tem de fato escolhido para essa obra. Sentirão a necessidade de estudar a Palavra de Deus e de orar fervorosamente por sabedoria celestial e ajuda divina. Ao encontrarem-se com adversários que levantam objeções sobre pontos importantes de nossa fé, obterão uma experiência muito valiosa. Sentirão sua fraqueza e serão induzidos à Palavra de Deus e à oração. No exercício de seus dons estarão aprendendo e se aperfeiçoando, e ganhando confiança, coragem e fé, e terão afinal uma experiência valiosa. T3 203 2 Os irmãos H começaram bem nessa obra. Em seu trabalho não foram entre as igrejas, mas saíram para novos campos. Começaram humildemente. Eram pequenos aos próprios olhos e sentiram a necessidade de total dependência em Deus. Estes irmãos, especialmente A H, correm agora grande perigo de se tornarem auto-suficientes. Quando debateu com oponentes, a verdade obteve a vitória e ele começou a sentir-se forte em si mesmo. Assim que se eleve acima da simplicidade da obra, seus trabalhos não beneficiarão a causa preciosa de Deus. Ele não deve encorajar amor aos debates, mas deve evitá-los sempre que possível. Esses debates com os poderes das trevas raramente dão o melhor resultado para a propagação da verdade presente. T3 203 3 Se jovens que começam a trabalhar nesta causa tivessem o espírito missionário, dariam demonstração de que Deus os tem de fato chamado à obra. Mas quando não saem para novos lugares, mas se contentam de ir de igreja em igreja, dão evidência de que a responsabilidade da obra não pesa sobre eles. As idéias de nossos jovens pregadores não são bastante amplas. Seu zelo é demasiado débil. Estivessem estes jovens despertos e devotados ao Senhor, seriam diligentes a todo momento e procurariam qualificar-se para tornarem-se obreiros no campo missionário em vez de se tornarem combatentes. T3 204 1 Os jovens devem habilitar-se mediante a familiarização com outros idiomas, a fim de que Deus os possa usar como instrumentos para comunicar Sua salvadora verdade aos povos de outras nações. Esses rapazes podem obter conhecimento de outros idiomas mesmo enquanto ocupados em trabalhar pelos pecadores. Se forem econômicos no tempo, poderão aperfeiçoar a mente e habilitar-se para mais ampla utilidade. Se as moças que não têm senão pequena responsabilidade se consagrassem a Deus, poderiam preparar para servir, estudando e se familiarizando com outras línguas. Poderiam dedicar-se à obra de tradução. T3 204 2 Nossas publicações devem ser impressas em outros idiomas, para que nações estrangeiras possam ser alcançadas. Muito pode ser feito por meio da imprensa, mas ainda mais pode ser realizado se a influência dos trabalhos do pregador vivo acompanhar nossas publicações. Necessitam-se missionários para irem a outros países pregar a verdade de um modo discreto e cuidadoso. A causa da verdade presente pode ser grandemente expandida por esforço pessoal. O contato da mente individual com mente individual fará mais para remover preconceito, se o trabalho é discreto, do que nossas publicações sozinhas possam fazer. Aqueles que se empenham nessa obra não devem consultar o conforto ou a inclinação; nem devem ter amor à popularidade e à ostentação. T3 204 3 Quando as igrejas virem jovens que possuem zelo qualificar-se para estender seus trabalhos a cidades, vilas e vilarejos que nunca foram tocados pela verdade, e missionários oferecendo-se voluntariamente para levar a verdade a outros países, as igrejas serão encorajadas e fortalecidas muito mais do que se elas mesmas recebessem os trabalhos de jovens inexperientes. Ao virem o coração de seus pastores ardendo com amor e zelo pela verdade, e com desejo de salvar almas, as igrejas vão se despertar. Estas geralmente têm interiormente os dons e a capacidade para abençoar e fortalecer a si mesmas, e para recolher as ovelhas e cordeiros no aprisco. Elas precisam depender dos próprios recursos, para que todos os dons que jazem dormentes possam ser assim despertados para o serviço ativo. T3 205 1 Ao estabelecerem-se igrejas, deve-se-lhes apresentar o fato de que é dentre elas que hão de sair os homens que devem levar a verdade a outros e levantar novas igrejas. Portanto, todos devem trabalhar, cultivar ao máximo os talentos que Deus lhes deu e exercitar a mente para empenhar-se no serviço de seu Senhor. Se esses mensageiros são puros de coração e vida, se seu exemplo é o que devia ser, seus trabalhos serão bem-sucedidos; pois têm uma verdade muito poderosa, clara e coerente, que tem argumentos convincentes a seu favor. Eles têm Deus a seu lado e os anjos do Céu para cooperar com seus esforços. T3 205 2 A razão por que tão pouco tem sido efetuado por aqueles que pregam a verdade não é totalmente o fato de a verdade que levam ser impopular, mas o fato de os mensageiros não serem santificados pelas verdades que pregam. O Salvador retira Seu sorriso, e a inspiração de Seu Espírito não está sobre eles. A presença e o poder de Deus para convencer o pecador e purificar de toda injustiça não são manifestos. Destruição súbita ameaça o povo, e no entanto não estão terrivelmente alarmados. Pastores não consagrados tornam a obra muito difícil para aqueles que os seguem e que têm a responsabilidade e o espírito da obra sobre eles. T3 205 3 O Senhor tem tocado em pessoas de outras línguas e as tem trazido sob a influência da verdade, para que fossem qualificadas para trabalhar em Sua causa. Ele as trouxe ao alcance do Escritório de Publicações para que os gerentes se valessem de seus serviços, se estivessem despertos para as necessidades da causa. Publicações são necessárias em outras línguas para despertar interesse e o espírito de indagação em outras nações. T3 205 4 De um modo muito notável o Senhor atuou no coração de Marcus Lichtenstein e encaminhou este jovem a Battle Creek, para que lá fosse levado à influência da verdade e se convertesse; que pudesse obter uma experiência e ser ligado ao Escritório de Publicações. Sua educação na religião judaica o teria qualificado para preparar literatura. Seu conhecimento do hebraico teria sido de ajuda ao Escritório na preparação de literatura pela qual poderia haver acesso a uma classe que não seria alcançada de outro modo. Não foi um presente sem valor que Deus deu ao Escritório na pessoa de Marcus. Sua conduta e consciência estavam de acordo com os princípios das verdades maravilhosas que ele começava a ver e apreciar. T3 206 1 Mas a influência de alguns no Escritório magoou e desanimou Marcus. Aqueles jovens que não o estimavam como ele merecia, e cuja vida cristã contradizia sua profissão de fé, foram os instrumentos que Satanás usou para afastar do Escritório o dom que Deus lhe dera. Ele saiu perplexo, magoado e desanimado. Aqueles que tiveram anos de experiência, e que deviam ter tido o amor de Cristo no coração, estavam tão afastados de Deus por egoísmo, orgulho e a própria tolice que não podiam discernir a obra especial de Deus em ligar Marcus ao Escritório. T3 206 2 Se as pessoas ligadas ao Escritório tivessem estado despertas e não paralisadas espiritualmente, o irmão I teria estado há muito ligado ao Escritório e poderia agora estar preparado para fazer uma boa obra que precisa muito ser feita. Ele devia ter estado envolvido em ensinar rapazes e moças, para que fossem agora qualificados a tornar-se obreiros nos campos missionários. T3 206 3 Dois terços daqueles empenhados na obra têm estado mortos por cederem a influências erradas. Elas têm estado onde Deus não podia impressioná-las por Seu Santo Espírito. E, oh!, como me dói o coração quando vejo que tanto tempo passou e a grande obra que podia ter sido feita é deixada por fazer porque aqueles em posições importantes não têm andado na luz! Satanás tem estado preparado para simpatizar-se com as pessoas em função sagrada e dizer-lhes que Deus não requer delas tanto zelo e interesse desprendido e devoto como o irmão White espera; e eles se acomodam descuidadamente na poltrona de Satanás, e o inimigo sempre vigilante e perseverante as amarra em cadeias de trevas enquanto pensam que tudo lhes vai bem. Satanás atua à sua direita, à sua esquerda e a seu redor, e elas não o sabem. Chamam as trevas luz, e luz trevas. T3 207 1 Se as pessoas no Escritório de Publicações estão de fato empenhadas na obra sagrada de dar a última mensagem de advertência ao mundo, quão cuidadosas devem ser para mostrar em sua vida os princípios da verdade com os quais lidam. Devem ter coração puro e mãos limpas. T3 207 2 Nosso pessoal ligado ao Escritório não tem estado desperto para valer-se dos privilégios a seu alcance e adquirir todo o talento e influência que Deus lhe tem provido. Há da parte de quase todos ligados com o Escritório uma grande falta em reconhecer a importância e a santidade da obra. Orgulho e egoísmo existem em alto grau, e anjos de Deus não são atraídos ao Escritório como seriam se os corações ali fossem puros e estivessem em comunhão com Deus. As pessoas que trabalham no Escritório não têm tido um senso vívido de que as verdades com as quais lidavam eram de origem celestial, designadas para realizar uma obra certa e especial, como fez a pregação de Noé antes do dilúvio. Como a pregação de Noé advertiu, testou e provou os habitantes do mundo antes que o dilúvio de água os destruísse da face da Terra, assim a verdade de Deus para estes últimos dias está fazendo uma obra semelhante em advertir, testar e provar o mundo. As publicações que saem do Escritório levam o selo do Eterno. Estão disseminadas pelo país e estão decidindo o destino das pessoas. É necessário agora muitos homens que possam traduzir e preparar nossas publicações em outras línguas, de modo que a mensagem de advertência possa ir a todas as nações e prová-las pela luz da verdade, para que homens e mulheres, ao verem a luz, se voltem da transgressão à obediência da lei de Deus. T3 208 1 Toda oportunidade deve ser aproveitada para levar a verdade a outras nações. Isso envolverá despesa considerável, mas despesa não deve de modo algum impedir a realização desta obra. Recursos são de valor somente ao serem usados para promover o interesse do reino de Deus. O Senhor tem emprestado aos homens recursos para este mesmo propósito, a fim de serem usados para enviar a verdade a seus semelhantes. Há um grande excesso de recursos nas fileiras dos adventistas do sétimo dia. E a recusa egoísta dos mesmos à causa de Deus lhes está cegando os olhos à importância da obra de Deus, tornando-lhes impossível discernir a solenidade dos tempos em que vivemos, ou o valor das riquezas eternas. Não contemplam o Calvário na luz correta, e por isso não podem apreciar o valor da vida pela qual Cristo pagou um preço infinito. T3 208 2 Os homens investirão recursos naquilo que mais valorizam e que pensam lhes trará o maior lucro. Quando correm grandes riscos e investem muito em empreendimentos mundanos, mas não estão dispostos a arriscar ou investir muito na causa de Deus para enviar a verdade a seus semelhantes, dão evidência de que consideram seu tesouro terrestre de muito mais alto valor do que o celestial, como suas obras demonstram. T3 208 3 Se os seres humanos depositassem seu tesouro terrestre sobre o altar de Deus, e trabalhassem tão zelosamente para obter o tesouro celeste como fizeram para ganhar o terrestre, investiriam recursos prazenteira e alegremente onde quer que vissem uma oportunidade de fazer o bem e de ajudar a causa de seu Mestre. Cristo lhes deu evidência inconfundível de Seu amor e fidelidade para com eles, e lhes confiou recursos para testar e provar sua fidelidade para com Ele. Ele deixou o Céu, Suas riquezas e glória, e por amor deles tornou-Se pobre, para que eles por Sua pobreza enriquecessem. 2 Coríntios 8:9. Depois de assim condescender para salvar o ser humano, Cristo não requer menos dele do que o dever de negar a si mesmo e usar os recursos que lhe emprestou para salvar seus semelhantes, e assim fazendo dar evidência de seu amor para com seu Redentor e mostrar que aprecia a salvação que lhe foi trazida por sacrifício tão infinito. T3 209 1 Agora é o tempo de usar os recursos para Deus. Agora é o tempo de ser rico em boas obras, depositando para nós mesmos um bom fundamento para o tempo vindouro, a fim de que obtenhamos a vida eterna. Um pecador salvo no reino de Deus é de maior valor do que todas as riquezas terrestres. Somos responsáveis a Deus pela vida daqueles com os quais entramos em contato, e quanto mais íntima nossa ligação com nossos semelhantes tanto maior nossa responsabilidade. Somos uma grande comunidade, e o bem-estar de nosso próximo deve ser nosso grande interesse. Não temos um momento a perder. Se temos sido descuidados neste assunto, é alto tempo de sermos fervorosos em remir o tempo, para que o sangue de pecadores não se ache em nossas vestes. Como filhos de Deus, nenhum de nós é dispensado de ter uma parte na grande obra de Cristo para a salvação de nossos semelhantes. T3 209 2 Será um trabalho difícil vencer o preconceito e convencer os incrédulos de que nossos esforços para ajudá-los são desprendidos. Mas isso não deve impedir nosso esforço. Não há um preceito na Palavra de Deus que nos diga que façamos o bem somente àqueles que apreciam e respondem a nossos esforços, e de beneficiar somente aqueles que nos agradecerão. Deus nos enviou a trabalhar em Sua vinha. É nosso dever fazer tudo que pudermos. "Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela." Eclesiastes 11:6. Temos muito pouca fé. Limitamos o Santo de Israel. Devíamos ser gratos que Deus condescende em usar qualquer um de nós como Seus instrumentos. Por toda oração fervorosa feita com fé por qualquer coisa, respostas serão dadas. Podem não vir exatamente como esperávamos; mas virão, não talvez como tínhamos planejado, mas exatamente no próprio momento em que mais precisamos delas. Mas, ó, quão pecaminosa é nossa incredulidade! "Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito." João 15:7. T3 209 3 Jovens que estão empenhados nesta obra não devem confiar demais nas próprias habilidades. Carecem de experiência e devem procurar aprender sabedoria daqueles que têm tido longa experiência na obra e que têm tido oportunidades de estudar o caráter. T3 210 1 Em vez de nossos pastores trabalharem entre as igrejas, é desígnio de Deus que nos espalhemos e que nosso trabalho missionário se estenda sobre tanto território quanto possamos ocupar vantajosamente, indo em todas as direções para levantar novos grupos. Devemos sempre deixar na mente dos novos discípulos uma impressão quanto à importância de nossa missão. Quando homens capazes são convertidos à verdade, não devem requerer obreiros para manter viva sua debilitada fé; mas estes homens devem ser impressionados com a necessidade de trabalhar na vinha. Enquanto as igrejas dependerem de obreiros de fora para fortalecer e encorajar-lhes a fé, não ficarão fortes por si mesmas. Devem ser informadas de que sua força aumentará em proporção a seus esforços pessoais. Quanto mais de perto for seguido o plano do Novo Testamento no trabalho missionário, tanto mais bem-sucedidos serão os esforços empregados. Devemos trabalhar como trabalhou nosso divino Mestre, semeando as sementes da verdade com cuidado, ansiedade e abnegação. Precisamos ter a mente de Cristo, se não quisermos cansar-nos de fazer o bem. Sua vida foi de contínuo sacrifício em favor de outros. Temos de seguir o Seu exemplo. Precisamos semear a semente da verdade e confiar que Deus a fará brotar. A semente preciosa pode jazer dormente por algum tempo, período em que a graça de Deus pode convencer o coração e a semente semeada ser despertada para a vida, brotar e produzir fruto para a glória de Deus. Precisa-se de missionários nesta grande obra para labutarem desprendida, fervorosa e perseverantemente como colaboradores de Cristo e dos anjos celestiais na salvação de seus semelhantes. T3 210 2 Especialmente devem nossos pastores precaver-se contra a indolência e o orgulho, que têm a tendência de crescer pela percepção de que possuímos a verdade e argumentos fortes que nossos oponentes não podem refutar. Embora as verdades que manejamos sejam poderosas para derrubar as fortalezas dos poderes das trevas, há perigo de negligência da piedade pessoal, pureza de coração e inteira consagração a Deus. Há perigo de que sintam que são ricos e abastados, enquanto necessitam das qualificações essenciais aos cristãos. Podem ser infelizes, pobres, cegos, miseráveis e nus. Não sentem a necessidade de viver em obediência a Cristo cada dia e cada hora. O orgulho espiritual devora os órgãos vitais da religião. A fim de preservar a humildade, faríamos bem em lembrar como somos aos olhos de um Deus santo, que lê cada segredo do coração, e como devíamos nos apresentar aos olhos de nossos semelhantes se todos nos conhecessem tão bem como Deus nos conhece. Por esta razão, para humilhar-nos, somos aconselhados a confessar nossas faltas e aproveitar a oportunidade de subjugar nosso orgulho. T3 211 1 Pastores não devem negligenciar o exercício físico. Devem procurar ser úteis e prestar ajuda onde dependem da hospitalidade de outros. Não devem permitir que outros os sirvam, mas devem ao contrário aliviar os fardos daqueles que, tendo tão grande respeito pelo ministério evangélico, não medem esforços em fazer por eles aquilo que eles mesmos devem fazer. A saúde precária de alguns de nossos pastores deve-se à negligência do exercício físico e do trabalho útil. T3 211 2 Como a questão resultou, foi-me mostrado que teria sido melhor se os irmãos J tivessem feito o que pudessem na preparação de folhetos para serem espalhados entre os franceses. Ainda que estes folhetos não tivessem sido preparados com toda perfeição, teria sido melhor distribuí-los, para que o povo francês tivesse a oportunidade de examinar as evidências de nossa fé. Há grande riscos na demora. Os franceses deviam ter tido nossos livros que expõem as razões de nossa fé. Os irmãos J não estavam devidamente preparados para apreciar devidamente essas obras, porque precisavam eles mesmos ser mais espirituais e estimulados, ou os livros preparados levariam o timbre da mentalidade deles. Deviam ser corrigidos para que sua pregação e escritos não fossem enfadonhos. Deviam instruir-se para chegar imediatamente ao ponto e fazer com que os aspectos essenciais de nossa fé se destacassem claramente diante do povo. A obra tem sido impedida por Satanás, e muito se perdeu porque estas obras não foram preparadas quando deviam. Esses irmãos podem fazer muito bem se eles se devotarem inteiramente ao trabalho e seguirem a luz que Deus lhes deu. ------------------------Capítulo 23 -- Efeito dos debates T3 212 1 Em 10 de Dezembro de 1871, foram-me mostrados os perigos do irmão K. Sua influência sobre a causa de Deus não é o que deve ou poderia ser. Ele parece estar cego quanto ao resultado de sua conduta; não discerne que espécie de rastro deixa após si. Não trabalha de um modo que Deus possa aceitar. Vi que ele estava em tão grande perigo como estava Moses Hull antes de abandonar a verdade. Ele confiava em si mesmo. Imaginava que era de tão grande valor à causa da verdade que a causa não o podia perder. O irmão K pensa da mesma forma. Confia demasiadamente em sua força e sabedoria. Se pudesse ver sua fraqueza como Deus a vê, ele nunca se lisonjearia nem sentiria a menor razão para vangloriar-se. E a menos que faça de Deus sua dependência e força, naufragará na fé tão certamente como aconteceu com Moses Hull. T3 212 2 Em seu trabalho, ele não busca força de Deus. Ele depende de estímulo para despertar sua ambição. Ao trabalhar com poucos, onde não há entusiasmo especial para estimulá-lo, ele perde a coragem. Quando o trabalho é difícil e ele não é motivado por este estímulo especial, não se apega então mais firmemente a Deus e não se torna mais fervoroso para atravessar a escuridão e ganhar a vitória. Irmão K, você freqüentemente torna-se infantil, fraco e ineficiente na hora que deve ser mais forte. Isso deve demonstrar-lhe que seu zelo e animação nem sempre são da melhor fonte. T3 212 3 Foi-me mostrado que aqui está o perigo de jovens pastores se empenharem em debates. Eles aplicam a mente ao estudo da Palavra para buscar as coisas que ferem, e se tornam sarcásticos; em seu esforço para enfrentar um adversário, muito freqüentemente deixam Deus fora da questão. O estímulo do debate diminui seu interesse em reuniões onde tal estímulo não existe. Aqueles que se empenham em debates não são os obreiros mais bem-sucedidos e bem qualificados para edificar a causa. O debate é cobiçado por alguns, e estes preferem tal espécie de trabalho a qualquer outro. Não estudam a Bíblia com humildade de espírito para que saibam como alcançar o amor de Deus; como Paulo diz: "Para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:17-19. T3 213 1 Os jovens pastores devem evitar debates, pois estes não aumentam a espiritualidade, nem a humildade de espírito. Em alguns casos, talvez seja necessário enfrentar um orgulhoso alardeador contra a verdade de Deus, num debate franco; geralmente, porém, esses debates, sejam orais, sejam escritos, resultam em mais dano do que bem. Depois de um debate, repousa sobre o pastor uma responsabilidade maior quanto a manter o interesse. Ele deve achar-se em guarda contra a reação que é suscetível de ocorrer após uma agitação religiosa, e não ceder ao desânimo. T3 213 2 Homens que não admitem as reivindicações da lei de Deus, que são tão claras, geralmente seguirão uma conduta ilegal; mas têm há tanto tempo se aliado ao grande rebelde em guerrear contra a lei de Deus, que é o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra, que estão acostumados com este trabalho. Em sua luta não abrirão os olhos nem a consciência à luz. Fecham os olhos, com receio de serem iluminados. Seu caso é tão sem esperança como o foi o dos judeus que não queriam ver a luz que Cristo lhes trouxera. As maravilhosas evidências que Ele lhes dera de Seu caráter messiânico nos milagres que fez, curando os doentes, ressuscitando os mortos e fazendo as obras que nenhum outro homem tinha feito ou podia fazer, em vez de enternecer e subjugar-lhes o coração, e vencer seus preconceitos ímpios, os inspiraram com ódio e fúria satânicos como Satanás possuía ao ser expulso do Céu. Quanto maior luz e evidência tinham, tanto maior era seu ódio. Estavam decididos a extinguir a luz condenando Cristo à morte. T3 213 3 Os que odeiam a lei de Deus, que é o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra, ocupam o mesmo terreno que os judeus incrédulos. Seu poder desafiante seguirá aqueles que guardam os mandamentos de Deus, e qualquer luz será rejeitada por eles. Sua consciência tem sido violada há tanto tempo, e o coração se tornou tão duro por preferirem as trevas à luz, que imaginam que é uma virtude deles, a fim de alcançar seu objetivo, dar testemunho falso ou baixar-se a quase qualquer conduta equivocada ou engano, como fizeram os judeus em sua rejeição de Cristo. Raciocinam que o fim justifica os meios. Eles virtualmente crucificam a lei do Pai, como os judeus crucificaram a Cristo. T3 214 1 Devemos abraçar toda oportunidade de apresentar a verdade em sua pureza e simplicidade onde houver qualquer desejo ou interesse para ouvir as razões de nossa fé. Aqueles que têm se demorado mais sobre as profecias e os pontos teóricos de nossa fé devem sem demora tornar-se estudantes da Bíblia sobre assuntos práticos. Devem tomar um gole maior na fonte da verdade divina. Devem estudar cuidadosamente a vida de Cristo e Suas lições de piedade prática, dadas para o benefício de todos e para serem a norma do viver correto para todos os que venham a crer em seu nome. Devem estar imbuídos do espírito de seu grande Modelo e ter uma percepção elevada da vida consagrada de um seguidor de Cristo. T3 214 2 Cristo foi ao encontro de todas as classes nos tópicos e maneira de Seu ensino. Ele comeu e hospedou-Se com os ricos e os pobres, e Se familiarizou com os interesses e ocupações dos homens, a fim de obter-lhes acesso ao coração. Os eruditos e os intelectuais ficavam satisfeitos e encantados com Seus discursos, e contudo eram tão claros e simples para serem compreendidos pelas mentes mais humildes. Cristo valeu-Se de cada oportunidade para instruir o povo sobre as doutrinas e os preceitos celestiais que deviam ser incorporados na sua vida e que os distinguiria de todos os outros religiosos por causa de seu caráter santo e elevado. Estas lições de instrução divina não são aplicadas à consciência dos homens como devem ser. Estes sermões de Cristo fornecem aos pastores que crêem na verdade presente discursos que serão apropriados para quase qualquer ocasião. Aqui está um campo de estudo para o estudante da Bíblia, no qual ele não pode interessar-se sem ter o espírito do Mestre celestial no próprio coração. Aqui estão assuntos que Cristo apresentou a todas as classes. Milhares de pessoas de todo tipo de caráter e todo nível da sociedade eram atraídas e encantadas pelos assuntos que lhes eram apresentados. T3 215 1 Alguns pastores que estão há tempo na obra de pregar a verdade presente têm cometido grandes faltas em seu trabalho. Eles têm-se educado como combatentes. Eles têm estudado assuntos argumentativos com o fim de debate, e gostam de usar esses assuntos que prepararam. A verdade de Deus é simples, clara e conclusiva. É harmoniosa e, em contraste com o erro, brilha com clareza e beleza. Sua consistência a recomenda ao julgamento de todo coração que não está cheio de preconceito. Nossos pregadores apresentam argumentos sobre a verdade, os quais lhes foram preparados, e, se não há impedimentos, a verdade arrebata a vitória. Mas foi-me mostrado que em muitos casos o pobre instrutor toma para si o crédito da vitória ganha, e o povo, que é mais mundano do que espiritual, louva e honra o instrumento, enquanto a verdade de Deus não é enaltecida pela vitória que obteve. T3 215 2 Aqueles que gostam de empenhar-se em debate geralmente perdem sua espiritualidade. Não confiam em Deus como devem. Amam a teoria da verdade preparada para chicotear o oponente. Os sentimentos de seu coração não santificado têm preparado muitas coisas incisivas para usarem como o estalo de seu chicote para irritar e provocar seu adversário. O espírito de Cristo não tem parte nisso. Embora provido de argumentos conclusivos, o debatedor logo pensa que é bastante forte para triunfar sobre seu oponente, e Deus é deixado fora da questão. Alguns de nossos pastores têm feito do debate seu objetivo principal. Quando em meio ao incitamento causado pelo debate, parecem revigorados e se sentem fortes e falam com veemência; e na incitação muitas coisas impressionam o povo como corretas, embora sejam em si decididamente erradas e uma vergonha para a pessoa culpada de pronunciar palavras impróprias para um pastor cristão. T3 216 1 Estas coisas têm tido má influência sobre pastores que estão lidando com verdades sagradas e elevadas, verdades que hão de se mostrar como um "cheiro de vida para vida", ou "cheiro de morte para morte" (2 Coríntios 2:16), para aqueles que as ouvem. Em geral, o efeito dos debates sobre nossos pastores é torná-los presunçosos, orgulhosos em sua auto-estima. Isso não é tudo. Os que gostam de debates não são aptos para servir como pastores do rebanho. Exercitaram a mente para enfrentar adversários, para dizer sarcasmos; e não podem descer até aos corações entristecidos e necessitados de conforto. E se demoraram tanto sobre o argumentativo que negligenciaram os assuntos práticos de que o rebanho de Deus necessita. Têm conhecimento muito limitado dos sermões de Cristo, que penetram na vida diária do cristão, e têm pouca disposição para estudá-los. Quando eram pequenos aos próprios olhos, Deus os ajudava; anjos de Deus ministravam a seu favor e tornavam seus trabalhos bem-sucedidos em convencer homens e mulheres acerca da verdade . Mas, ao treinar a mente para debates, eles freqüentemente se tornam grosseiros e ásperos. Perdem o interesse e a terna simpatia que devem sempre acompanhar os esforços de um pastor de Cristo. T3 216 2 Pastores que debatem são em geral desqualificados para auxiliar o rebanho onde ele mais necessita de ajuda. Tendo negligenciado a religião prática no próprio coração e vida, não podem ensiná-la ao rebanho. A menos que haja incitação, não sabem como trabalhar; parecem privados de sua força. Se tentam falar, parecem não saber como apresentar um assunto próprio para a ocasião. Quando devem apresentar um assunto para alimentar o rebanho de Deus, o qual tocará e abrandará os corações, voltam a alguma matéria velha e estereotipada e apresentam os argumentos arranjados, que são áridos e desinteressantes. Assim, em vez de luz e vida, trazem trevas para o rebanho e para si próprios. T3 217 1 Alguns de nossos pastores deixam de cultivar a espiritualidade, mas encorajam uma demonstração de zelo e de certa atividade que repousa sobre um fundamento incerto. Pastores de uma visão calma, de pensamento e devoção, de consciência e fé combinados com atividade e zelo, são necessários nesta época. As duas qualidades, pensamento e devoção, atividade e zelo, devem ir juntas. T3 217 2 Pastores que debatem são os menos dignos de confiança entre nós, porque não se pode depender deles quando o trabalho se torna difícil. Se forem levados a um lugar onde haja pouco interesse, eles manifestarão falta de coragem, zelo e verdadeiro interesse. Dependem tanto de serem reavivados e revigorados pelo estímulo criado por debate ou oposição como o bêbado por sua bebida. Esses pastores precisam converter-se de novo. Necessitam beber abundantemente dos mananciais incessantes que fluem da Rocha eterna. T3 217 3 O bem-estar eterno dos pecadores regulava a conduta de Jesus. Ele "andou fazendo o bem". Atos dos Apóstolos 10:38. Benevolência era a vida de Seu ser. Não somente fez bem a todos os que iam a Ele solicitando Sua misericórdia, mas os buscava com perseverança. Nunca era estimulado pelo aplauso ou deprimido por censura ou desapontamento. Quando defrontado com a maior oposição e o tratamento mais cruel, permaneceu de bom ânimo. O discurso mais importante que a Inspiração nos deu, Cristo pregou a um só ouvinte. Ao sentar-Se junto do poço para descansar, pois estava cansado, uma mulher samaritana veio para tirar água. Ele viu uma oportunidade para atingir-lhe a mente, e através dela para atingir a mente dos samaritanos, que viviam em grande escuridão e erro. Embora cansado, apresentou as verdades de Seu reino espiritual, que encantaram a mulher pagã e a encheram de admiração por Cristo. Ela partiu anunciando as novas: "Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é este o Cristo?" João 4:29. O testemunho daquela mulher converteu muitos para uma fé em Cristo. Por seu relato muitos foram ouvi-Lo por si mesmos e creram por causa de Sua palavra. T3 217 4 Por menor que seja o número dos ouvintes interessados, se o coração é atingido e o entendimento convencido, eles podem, como a mulher samaritana, levar um relatório que despertará o interesse de centenas para examinarem por si mesmos. Ao trabalhar em lugares para criar um interesse, haverá muitas razões para desencorajamento; mas se a princípio parece haver pouco interesse, isso não é evidência de que você errou quanto a seu dever ou lugar de trabalho. Se o interesse aumenta firmemente, e as pessoas procedem criteriosamente, não por impulso, mas por princípio, o interesse é muito mais saudável e duradouro do que se fosse um grande entusiasmo, o interesse sendo despertado repentinamente e os sentimentos agitados por ouvir um debate, uma violenta discussão de ambos os lados do assunto, pró e contra a verdade. Oposição violenta é assim criada, assumem-se posições e tomam-se decisões rápidas. O resultado é um estado febril de coisas. Faltam calma, ponderação e discernimento. Caso se deixe passar essa agitação, ou haja reação por meio de procedimento indiscreto, o interesse nunca mais poderá ser despertado. Os sentimentos e simpatias do povo foram estimulados, mas a sua consciência não foi convencida, nem o coração quebrantado e humilhado perante Deus. T3 218 1 Na apresentação de uma verdade impopular, o que envolve pesada cruz, os pregadores devem ter cuidado para que cada palavra seja segundo a vontade de Deus. Suas palavras nunca devem ser mordazes. Devem apresentar a verdade com humildade, com o mais profundo amor pelas almas, e um sincero desejo quanto à salvação delas, deixando que a verdade penetre. Não devem desafiar os pastores de outras denominações, nem procurar provocar debate. Não devem adotar atitude semelhante à que assumiu Golias ao desafiar os exércitos de Israel. Israel não desafiou a Golias, mas este manifestou orgulhosa altivez contra Deus e Seu povo. O desafio, a altivez e o escárnio devem proceder dos oponentes da verdade, que desempenham o papel de Golias. Mas nada desse espírito deve ver-se naqueles a quem Deus enviou para proclamar a última mensagem de advertência a um mundo sentenciado. T3 218 2 Golias confiou em sua armadura. Aterrorizou os exércitos de Israel com sua presunção selvagem, desafiadora, enquanto fazia a maior exibição de sua armadura, que era a sua força. Davi, em sua humildade e zelo por Deus e Seu povo, propôs enfrentar aquele pretensioso. Saul consentiu, e colocou sobre Davi sua armadura real. Mas Davi não concordou em usá-la. Ele tirou a armadura do rei, pois nunca experimentara uma antes. Mas ele havia experimentado a Deus e, confiando nEle, havia ganho vitórias especiais. Colocar a armadura de Saul daria a impressão de que ele era um guerreiro, quando na verdade era apenas o pequeno Davi que pastoreava o rebanho. Ele não desejava que qualquer crédito fosse dado à armadura de Saul, pois confiava no Deus de Israel. Ele escolheu uns seixos do riacho, e com sua funda e cajado, suas únicas armas, saiu em nome do Deus de Israel para enfrentar o guerreiro armado. T3 219 1 Golias desprezou Davi, porque sua aparência era de um mero jovem não treinado na tática de guerra. Golias injuriou a Davi e o amaldiçoou em nome dos seus deuses. Ele sentiu que era um insulto à sua dignidade ter um simples rapazinho, sem sequer uma armadura, para enfrentá-lo. Vangloriou-se do que faria a ele. Davi não se sentiu irritado por ser olhado assim de maneira tão inferior, nem tremeu ante suas terríveis ameaças, mas respondeu: "Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu vou a ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado." 1 Samuel 17:45. Davi diz a Golias que em nome do Senhor lhe fará aquilo que ele lhe ameaçara fazer. "E saberá toda esta congregação que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra, e Ele vos entregará na nossa mão." 1 Samuel 17:47. T3 219 2 Nossos pastores não devem desafiar e provocar debate. Que o desafio venha daqueles que se opõem à verdade de Deus. Foi-me mostrado que o irmão K e outros pastores têm imitado demais a Golias. E então depois de terem sido ousados e provocado debate, confiaram em seus preparados argumentos, como Saul quisera que Davi confiasse em sua armadura. Não confiaram, como o humilde Davi, no Deus de Israel, nem fizeram de Deus sua força. Saíram confiantes e arrogantes, como Golias, engrandecendo-se e não se escondendo atrás de Jesus. Sabiam que a verdade era forte, e por isso não humilharam o coração e não confiaram em Deus com fé para dar a vitória à verdade. Tornaram-se exaltados e perderam o equilíbrio, e freqüentemente os debates não foram bem-sucedidos, e o resultado foi um dano a si próprios e aos outros. T3 220 1 Foi-me mostrado que alguns de nossos jovens pastores estão desenvolvendo uma predileção por debates, e que, a menos que vejam o perigo, isso se demonstrará uma cilada para eles. Foi-me mostrado que o irmão L está em grande perigo. Ele está dirigindo sua mente na direção errada. Está em perigo de passar por alto a simplicidade da obra. Quando ele põe a armadura de Saul, se, como Davi, ele tiver sabedoria de tirá-la porque não a aprovou, pode recobrar-se antes de ir longe demais. Esses jovens pregadores devem estudar os ensinos práticos e teóricos de Cristo, e aprender de Jesus para que tenham Sua graça, mansidão, humildade e singeleza de espírito. Se eles, como Davi, são postos em posição em que a causa de Deus realmente deles exige que enfrentem um desafia-dor de Israel, e se avançam no poder de Deus, nEle plenamente confiantes, Ele os guiará e fará que Sua verdade triunfe gloriosamente. Cristo nos deu um exemplo. "Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda." Judas 9. T3 220 2 Logo que o pregador desce da posição que um pastor deve sempre ocupar, e se rebaixa ao cômico para provocar riso à custa de seu oponente, ou quando é sarcástico e ferino, e o insulta, ele faz aquilo que o Salvador do mundo não ousou fazer; pois ele se coloca no terreno do inimigo. Os pastores que contendem com oponentes da verdade de Deus não têm que enfrentar meros homens, mas Satanás e seus exércitos de anjos maus. Satanás espreita a oportunidade de alcançar vantagem sobre os pastores que defendem a verdade, e ao deixarem eles de pôr a sua inteira confiança em Deus, e não serem suas palavras pronunciadas no espírito e amor de Cristo, os anjos de Deus não os podem fortalecer nem iluminar. São abandonados à própria força e os anjos maus impõem suas trevas; por esta razão, os oponentes da verdade parecem às vezes obter vantagem, e o debate produz mais mal do que verdadeiro bem. T3 221 1 Os servos de Deus devem vir para mais perto dEle. Os irmãos K, L, M e N devem procurar cultivar piedade pessoal, em vez de encorajar amor ao debate. Devem estar procurando tornar-se pastores do rebanho, em vez de se prepararem para criar um estímulo agitando os sentimentos do povo. Estes irmãos correm o risco de depender mais de sua popularidade e seu sucesso entre o povo como debatedores perspicazes do que de serem humildes e fiéis obreiros, e mansos e devotos seguidores de Cristo, colaboradores dEle. ------------------------Capítulo 24 -- Perigos e deveres dos jovens Dirigido a dois rapazes T3 221 2 Em Dezembro último foram-me mostrados os perigos e as tentações dos jovens. Os dois filhos mais novos do Pai O precisam converter-se. Precisam morrer diariamente para o eu. Paulo, o apóstolo fiel, tinha uma nova experiência cada dia. Ele diz: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. Esta é exatamente a experiência que esses jovens precisam. Correm o perigo de esquecer o presente dever e de negligenciar a educação que é essencial para a vida prática. Eles consideram a educação livresca como a questão de suprema importância a ser considerada para fazer da vida um sucesso. T3 221 3 Esses jovens têm em casa deveres que passam por alto. Não aprenderam a levar a sério o dever e a assumir as responsabilidades domésticas que lhes cabem. Possuem uma mãe fiel e prática, a qual tem levado muitas cargas que os filhos não deviam haver permitido que ficassem sobre ela. Nisto deixaram de honrar sua mãe. Não partilharam dos encargos do pai como era seu dever, e negligenciaram honrá-lo como deviam. Seguem a inclinação de preferência ao dever. Têm seguido na vida um caminho egoísta ao fugir de encargos e fadigas, e deixaram de obter uma valiosa experiência da qual não podem consentir separar, se querem ter êxito na vida. Não têm sentido a importância de ser fiéis nas pequeninas coisas, nem na obrigação para com seus pais de ser verdadeiros, íntegros e fiéis nos humildes e singelos deveres da vida, que estão exatamente a sua frente. Passam por alto os ramos comuns de conhecimento, tão necessários à vida prática. T3 222 1 Se em alguma parte estes jovens devem ser uma bênção, é no lar. Se eles cedem à inclinação, em vez de ser guiados pelas prudentes decisões da sóbria razão, do são discernimento e da esclarecida consciência, não podem ser uma bênção à sociedade ou à família de seu pai, e estarão em perigo suas perspectivas neste mundo e no mundo melhor. Muitos jovens têm a impressão de que seus primeiros anos de vida não se destinam a ter cuidados, mas a ser dispersivamente divididos em esportes, gracejos e piadas, em tolas satisfações. Enquanto empenhados em vãos divertimentos e satisfações dos sentidos, alguns não pensam em nada senão no momentâneo prazer a isto ligado. Seu desejo de diversões, seu amor pelo convívio social e por bater papo e rir, vai aumentando com a condescendência. Perdem todo o gosto pelas sóbrias realidades da vida, e os deveres domésticos parecem desinteressantes. Não há suficientes variações para lhes satisfazer o espírito, e ficam desassossegados, impertinentes e irritáveis. Esses jovens devem sentir ser seu dever tornar o lar alegre e feliz. Devem trazer a luz do sol para a casa, em vez de sombra por sua lamúria desnecessária e descontentamento infeliz. T3 222 2 Esses jovens devem lembrar-se de que são responsáveis por todos os privilégios que desfrutaram, que precisam prestar contas pelo uso de seu tempo e de suas habilidades. Podem perguntar: Não teremos divertimento ou recreação? Havemos de trabalhar, trabalhar, trabalhar sem variação? Qualquer divertimento em que podem empenhar-se pedindo a bênção de Deus com fé não será perigoso. Qualquer diversão que os desqualifique para a oração secreta, para a devoção junto ao altar de oração, ou para tomar parte na reunião de oração, não é segura, mas sim perigosa. Uma mudança no trabalho físico que severamente esteja sobrecarregando as forças pode ser muito necessária por algum tempo, a fim de que possam de novo empenhar-se no trabalho, aplicando o vigor com maior sucesso. Mas repouso total pode não ser necessário, nem mesmo ser seguido dos melhores resultados no que respeita à força física. Eles não necessitam, mesmo quando esgotados com uma determinada espécie de trabalho, desperdiçar seus preciosos momentos. Devem procurar fazer então alguma coisa não tão cansativa, mas que seja uma bênção a sua mãe e irmãs. Aliviando-lhes os cuidados por tomar sobre si os mais duros encargos que elas têm de levar, podem eles encontrar aquele divertimento que brota do princípio e que lhes proporcionará a verdadeira felicidade. Seu tempo não será despendido em futilidades ou em condescendência egoísta. Seu tempo pode ser sempre empregado com proveito, e eles podem ser refrigerados com a variação, e não obstante estar remindo o tempo, de maneira que cada momento produza bom resultado a alguém. T3 223 1 Vocês julgavam da mais alta importância obter uma educação científica. Não há virtude na ignorância, e não é certo que necessariamente os conhecimentos atrofiem o crescimento cristão; se, porém, vocês os buscarem dirigidos por princípios, tendo em vista o objetivo certo e sentindo sua obrigação para com Deus de usarem suas faculdades para o bem dos outros e para promoverem a Sua glória, os conhecimentos os ajudarão a alcançar esse fim; isso os ajudará a porem em exercício as faculdades que Deus lhes concedeu e empregá-las em Seu serviço. T3 223 2 Mas, rapazes, ainda que vocês obtenham muito conhecimento, se deixarem de pôr em prática esse conhecimento, não alcançarão seu objetivo. Se, ao obterem educação, vocês se tornarem tão absortos em seus estudos que negligenciem a oração e os privilégios religiosos, tornando-se descuidosos e indiferentes quanto ao bem-estar de seu coração, se deixarem de aprender na escola de Cristo, estarão vendendo seus direitos de primogenitura por um guisado de lentilhas. O objetivo pelo qual estão adquirindo educação não deve ser perdido de vista, por um momento sequer. Deve ser: aperfeiçoar e dirigir suas faculdades de modo a se tornarem mais úteis e serem uma bênção a outros, até ao limite de sua capacidade. Se, ao obter conhecimentos, aumentarem seu amor a vocês mesmos e sua tendência a recusar-se assumir responsabilidades, será melhor que desistam de educar-se. Se amarem e idolatrarem os livros, permitindo que se interponham entre vocês e seus deveres, de modo que se sintam relutantes em abandonar seus estudos e suas leituras, para fazer um trabalho essencial, que alguém terá que fazer, devem então restringir seu desejo de estudar, e cultivar o amor ao fazer os trabalhos em que não têm interesse agora. Quem for fiel no pouco será também fiel nas grandes realizações. T3 224 1 Vocês precisam cultivar amor e afeição por seus pais e por seus irmãos e irmãs. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade." Romanos 12:10-13. Rapazes, vocês não podem sacrificar seus interesses eternos por causa de seus estudos escolares. Seus professores podem estimulá-los com elogios, e vocês podem ser enganados pelas artimanhas de Satanás. Podem ser levados passo a passo a procurar distinguir-se e obter a aprovação de seus professores, mas seu conhecimento da vida religiosa, da religião prática, tornar-se-á cada vez menor. Seus nomes estarão registrados perante o corpo de anjos santos e exaltados e diante do Criador do Universo e de Cristo, a Majestade do Céu, em uma luz desfavorável. Opostos aos nomes estará um registro de pecados, erros, faltas, negligências e tal ignorância de conhecimento espiritual que o Pai, Seu Filho Jesus, nosso Advogado, e os anjos ministradores terão vergonha de reconhecê-los como filhos de Deus. T3 224 2 Freqüentando a escola, vocês estão expostos a várias tentações às quais não estariam expostos na casa paterna, sob a vigilância de pais tementes a Deus. Se em casa vocês oravam a sós duas ou três vezes por dia pedindo graça para escapar "da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo" (2 Pedro 1:4), vocês precisam orar tanto mais fervorosa e constantemente quando na escola, expostos às tentações e às influências contaminadoras que prevalecem nas escolas nesta época degenerada, visto que seu ambiente é mais desfavorável para a formação de um caráter cristão. T3 225 1 Esses rapazes não têm um caráter suficientemente forte; esse é especialmente o caso de A O. Ele não está estabelecido, arraigado e fundado na verdade. Seu apego a Deus tem sido tão fraco que ele não tem estado recebendo força e luz de cima, mas tem colhido trevas para si mesmo. Ele tem ouvido falar tanto de incredulidade e tem manifestado tão pouco interesse prático na verdade que não está preparado para dar a razão de sua esperança. Ele é instável como "uma cana agitada pelo vento". Mateus 11:7. Ele tem bom coração, mas gosta de prazer, ociosidade e a companhia de seus jovens amigos. Tem condescendido com essa inclinação com o sacrifício do interesse de sua salvação. É importante, meu irmão, que evite misturar-se demasiado com jovens irreligiosos. A cultura de sua mente e coração, com relação aos deveres práticos da vida, requer que uma boa parte de seu tempo seja gasta na companhia daqueles cuja conversa e fé aumentarão sua fé e amor pela verdade. T3 225 2 Você tem procurado livrar-se da restrição que a crença na verdade impõe, mas não se atreveu a ser muito ousado em sua incredulidade. Muito freqüentemente as leviandades do mundo e a companhia daqueles em que reflexão e religião são excluídas têm sido sua escolha, e você tem sido, para todos os fins e propósitos, contado com aquela classe que traz desonra à verdade. Você não é bastante forte na fé ou propósito para estar em tal companhia. A fim de matar o tempo, você tem se deleitado com um espírito de frivolidade que lhe tem causado positivo dano, embotando sua consciência. Você gosta de receber aprovação. Se a obtém de modo honroso, não é tão ruim; mas você corre o perigo de enganar a si mesmo e aos outros; precisa ser cauteloso neste ponto e ver se merece toda a aprovação que recebe Se é aprovado por causa de seus princípios sãos e valor moral, isso é seu lucro. Mas se é mimado, cortejado e lisonjeado porque pode fazer belos discursos e observações adequadas, e porque é alegre, vivaz e espirituoso, e não por causa de valor intelectual e moral, você será considerado por homens e mulheres sensatos e piedosos como motivo de dó e não de inveja. Você deve precaver-se contra a lisonja. Quem quer que seja suficientemente tolo para lisonjeá-lo não pode ser seu verdadeiro amigo. Seus verdadeiros amigos vão acautelá-lo, pleitear com você e adverti-lo e reprovar suas faltas. T3 226 1 Você tem aberto sua mente à tenebrosa incredulidade. Feche-a no temor de Deus. Busque as evidências, os pilares de nossa fé e agarre-se a eles com firmeza. Você precisa desta confiança na verdade presente, pois se lhe demonstrará uma âncora. Comunicará a seu caráter energia, eficiência, e nobre dignidade que imporá respeito. Encoraje hábitos de laboriosidade. Você está seriamente em falta a esse respeito. Tanto você como seu irmão têm brilhantes idéias de sucesso, mas lembre-se de que em Deus está sua única esperança. Seus planos podem por vezes parecer lisonjeiros, mas antecipações que o elevam acima dos simples e humildes deveres domésticos e dos deveres religiosos demonstrar-se-ão um fracasso. Vocês, meus jovens amigos, precisam humilhar o coração diante de Deus e obter uma experiência rica e valiosa na vida cristã, continuando a conhecer o Senhor e abençoando a outros pela vida diária de imaculada pureza, integridade nobre e meticulosidade no cumprimento do dever cristão e dos deveres da vida prática. Vocês têm deveres a cumprir em casa; têm responsabilidades a levar as quais não têm assumido ainda. T3 226 2 O que semearem também colherão. Esses rapazes estão agora lançando a semente. Todo ato de sua vida, toda palavra pronunciada, é uma semente para o bem ou para o mal. Como a semente é, assim será a colheita. Se eles condescendem com paixões precoces, sensuais e pervertidas ou se entregam à satisfação do apetite ou à inclinação de seu coração não santificado; se acariciam orgulho ou princípios errôneos e alimentam hábitos de infidelidade ou de dissipação, colherão uma colheita abundante de remorso, vergonha e desespero. T3 227 1 Anjos de Deus estão procurando levar estes jovens a clamarem ao Senhor com sinceridade: "Tu és o guia da minha mocidade." Jeremias 3:4. Anjos estão convidando e procurando tirá-los das ciladas de Satanás. O Céu pode ser deles se procurarem obtê-lo. Uma coroa de glória imortal será sua se derem tudo pelo Céu. ------------------------Capítulo 25 -- Pastores que cuidam de si mesmos T3 227 2 Irmão R, sua influência não tem sido de tal natureza que honre a causa da verdade presente. Tivesse você sido santificado pela verdade que prega a outros, teria sido dez vez mais útil à causa de Deus do que tem sido. Você depende tanto de provocar sensação que sem isso demonstra pouca coragem. Esses grandes incitamentos e interesses sensacionais são sua força, glória e sucesso como obreiro, mas estas coisas não agradam a Deus. Seus esforços neste rumo raramente são o que você imagina que sejam. T3 227 3 Um exame minucioso revela o fato de que há bem poucos feixes a serem colhidos depois destas reuniões particularmente agitadas. Todavia, de toda a experiência do passado, você não aprendeu a mudar seu modo de trabalhar. Tem sido lento em aprender como moldar seus esforços futuros de modo a evitar os erros do passado. A razão disto tem sido que, como o bêbado, você gosta do estímulo dessas reuniões sensacionais; anela por elas como o bêbado por um cálice de bebida alcoólica para despertar suas energias em declínio. Esses debates que criam tal entusiasmo são mal-interpretados como sendo zelo por Deus e amor pela verdade. Você tem estado quase que destituído do Espírito de Deus para atuar com seus esforços. Se tivesse Deus com você em todas as suas ações, sentisse responsabilidade pelas almas e possuísse a sabedoria para dirigir habilmente essas empolgantes temporadas conduzindo almas para o reino de Cristo, você poderia ver frutos de seus esforços e Deus seria glorificado. Seu coração deve estar inflamado com o espírito da verdade que você apresenta a outros. Depois de ter labutado para convencer pecadores das reivindicações que a lei de Deus tem sobre eles, ensinando-os acerca do arrependimento para com Deus e fé em Cristo, então seu trabalho mal começou. Com muita freqüência se esquiva de completar o trabalho e deixa uma pesada responsabilidade para que outros a assumam a fim de terminar o trabalho que você deveria ter feito. Você diz que não está qualificado para terminar o trabalho. Então, quanto mais cedo se qualificar para assumir as responsabilidades de um pastor do rebanho, tanto melhor. T3 228 1 Como verdadeiro pastor, deve disciplinar-se para lidar com as mentes e dar a cada um do rebanho de Deus sua porção de alimento no devido tempo. Você deve ser cuidadoso e planejar ter uma reserva de assuntos práticos que pesquisou, com os quais possa identificar-se e apresentá-los às pessoas de maneira simples e convincente no tempo e lugar certos, de acordo com a necessidade. Você não tem sido "perfeitamente instruído" na palavra inspirada "para toda boa obra". 2 Timóteo 3:17. Quando o rebanho precisava de alimento espiritual, você freqüentemente apresentava algum assunto argumentativo que não era mais apropriado para a ocasião do que um discurso sobre negócios nacionais. Se você se aplicasse e educasse a mente para dominar os assuntos com os quais a Palavra de Deus o tem amplamente suprido, poderia edificar a causa de Deus dando ao rebanho alimento que seria apropriado e que proporcionaria saúde espiritual e força como as necessidades deles requerem. T3 228 2 Você precisa ainda aprender o trabalho de um verdadeiro pastor. Quando compreender isso, a causa e a obra de Deus repousarão sobre você com tal peso que não terá inclinação para gracejar e dizer piadas, e empenhar-se em conversação leviana e frívola. Um ministro de Cristo que sente responsabilidade correta pela obra e um senso elevado do caráter exaltado e da santidade de sua missão não terá inclinação de ser leviano e frívolo para com os cordeiros do rebanho. T3 228 3 Um verdadeiro pastor terá interesse em tudo que se relaciona com o bem-estar do rebanho, alimentando, guiando e o defendendo. Ele se conduzirá com grande sabedoria e manifestará terna consideração para com todos, sendo cortês e compassivo com todos, especialmente para com os que são tentados, afligidos e desanimados. Em vez de manifestar a esta classe a simpatia que seus casos particulares exigiam e que suas enfermidades requeriam, você, meu irmão, tem evitado esta classe, enquanto tem dependido grandemente da simpatia de outros. "Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos." Mateus 20:28. "Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou." João 13:16. "Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens." Filipenses 2:7. "Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a Si mesmo, mas, como está escrito: Sobre Mim caíram as injúrias dos que Te injuriavam." Romanos 15:1-3. T3 229 1 Não é o trabalho do ministro do evangelho dominar a herança de Deus, mas com mansidão de espírito, com gentileza e longa paciência, exortar, reprovar, repreender com toda "longanimidade e doutrina". 2 Timóteo 4:2. Como se comparam essas passagens das Escrituras com sua vida passada? Tem estado a cultivar uma disposição egoísta quase toda sua vida. Você se casou com uma mulher de vontade forte e firme. A disposição natural dela era supremamente egoísta. Vocês dois eram amantes de si mesmos, e a união de seus interesses não ajudou o caso de nenhum dos dois, mas aumentou o perigo para ambos. Nenhum de vocês era consciencioso, nem tinha no mais alto sentido o temor do Senhor diante de si. Amor a si mesmos, satisfação própria, tem sido o princípio dominante. Ambos têm tido tão pouca consagração a Deus que não podiam beneficiar um ao outro. Cada um insistia no próprio desejo; cada um querendo ser mimado, louvado e servido. T3 229 2 O Senhor viu seus perigos e mais de uma vez lhes enviou advertências através dos Testemunhos de que seus interesses eternos corriam perigo, a menos que vencessem o amor ao eu e conformassem sua vontade à vontade de Deus. Tivessem ouvido as admoestações e advertências do Senhor, tivessem feito meia-volta, fazendo uma mudança completa, sua esposa não estaria agora no laço do inimigo, abandonada por Deus para crer nos fortes enganos de Satanás. Tivesse seguido a luz que Deus tem dado, você seria agora um obreiro forte e eficiente na causa de Deus, qualificado para realizar dez vezes mais do que agora é capaz de fazer. Você se tornou fraco porque deixou de apreciar a luz. Por bem pouco tempo tem sido capaz de discernir a voz do Verdadeiro Pastor da do estranho. Sua negligência de andar na luz trouxe trevas sobre você, e sua consciência, por ter sido freqüentemente violada, tornou-se entorpecida. T3 230 1 Sua esposa não creu e não seguiu a luz que o Senhor em Sua misericórdia lhe enviou. Desprezou a censura, e ela mesma fechou a porta pela qual a voz do Senhor era ouvida, aconselhando-a e advertindo-a. Isso agradou a Satanás, e nada havia que o impedisse de insinuar-se em sua confiança, e, por seus enganos agradáveis e lisonjeiros, levá-la cativa segundo sua vontade. T3 230 2 O Senhor lhe deu um testemunho de que sua esposa era um estorvo para você em seu trabalho e que não devia deixar que ela o acompanhasse, a menos que tivesse a mais positiva evidência de que ela era uma mulher convertida, transformada pela renovação de seu entendimento. Romanos 12:2. Você então achou que tinha uma desculpa para pleitear por uma casa; fez deste testemunho um pretexto e agiu de acordo com ele, embora não tivesse necessidade de uma casa própria. Sua esposa tinha deveres a cumprir para com os pais, os quais negligenciara por toda a vida. Se ela tivesse assumido com um espírito alegre este dever longamente negligenciado, não teria sido agora levada cativa por Satanás para fazer sua vontade e para corromper o coração e mente em seu serviço. T3 230 3 Seu desejo de uma casa era imaginário, como muitos de seus supostos desejos. Você obteve a casa que seu egoísmo desejava, e pôde deixar sua esposa em situação confortável. Mas Deus estava preparando uma prova final para ela. A enfermidade da mãe dela era de natureza a despertar-lhe simpatia no coração não tivesse ele sido inteiramente cauterizado e calejado pelo egoísmo. Mas essa providência de Deus deixou de despertar o amor filial da filha por sua mãe em sofrimento. Ela não tinha cuidados domésticos para impedi-la, nem filhos para partilharem seu amor e cuidado, e sua atenção foi devotada a seu pobre eu. T3 231 1 O fardo de cuidados que o pai dela teve de suportar foi demais para sua idade e força, e ele foi prostrado por sofrimento agudo. Certamente então, se a filha tivesse um ponto sensível no coração, não poderia deixar de sentir e ser despertada para um senso de dever em partilhar os fardos de sua irmã e do cunhado. Mas ela revelou, por sua indiferença e por esquivar-se de todo cuidado e responsabilidade, que seu coração estava quase tão insensível como uma pedra. T3 231 2 O fato de estar tão próxima de seus pais e no entanto ser tão indiferente deporia contra ela. Ela participou a situação ao marido. O irmão R foi tão egoísta como a esposa, e enviou um pedido urgente para que ela fosse ao encontro dele. Como os anjos de Deus, ter-nos, compassivos, amantes e serviçais contemplaram isso? A filha deixou que estranhos fizessem os afazeres delicados os quais devia ter partilhado alegremente com sua atarefada irmã. Anjos contemplaram com espanto e tristeza a cena e se afastaram daquela mulher egoísta. Anjos maus tomaram o lugar daqueles, e ela foi levada cativa por Satanás de acordo com sua vontade. Ela foi um instrumento de Satanás e assim provou ser grande estorvo ao marido; os esforços dele pouco valeram. T3 231 3 A causa de Deus estaria mais forte em _____ se aquele último esforço não tivesse sido feito, pois o trabalho não foi completado. Despertou-se interesse, mas foi deixado esmorecer até o ponto de nunca mais poder ser novamente despertado. Peço-lhe, irmão R, que compare as passagens previamente citadas relativas ao trabalho e ministério de Cristo com sua conduta através de seus trabalhos como ministro do evangelho, mas mais especialmente no caso que mencionei, onde o dever era muito claro para qualquer equívoco, se a consciência e afeições não tivessem ficado paralisadas por uma longa conduta de contínua idolatria do eu. T3 232 1 Pelo fato de você deixar seus pais em seu sofrimento quando precisavam de ajuda, a igreja foi obrigada a assumir esta responsabilidade e a vigiar com os membros sofredores do corpo de Cristo. Com essa negligência cruel você acarretou sobre si o desagrado de Deus. Ele não passa facilmente por alto tais coisas. Elas são registradas pelos anjos. Deus não pode fazer prosperar a quem vai diretamente contra o mais claro dever especificado em Sua Palavra, o dever dos filhos para com seus pais. Filhos que não se sentem sob maior obrigação moral para com seus pais terrestres do que vocês, mas que tão facilmente fogem de suas responsabilidades, não terão o devido respeito por seu Pai celestial; não reverenciarão ou respeitarão os direitos que Deus tem sobre eles. Se desrespeitam e desonram a seus pais terrenos, não respeitarão nem amarão ao seu Criador. Negligenciando seus pais, sua esposa transgrediu o quinto mandamento do Decálogo: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá." Êxodo 20:12. Este é "o primeiro mandamento com promessa". Efésios 6:2. Aqueles que desrespeitam e desonram seus pais não precisam esperar que a bênção do Céu os acompanhe. Nossos pais têm direitos sobre nós que não podemos recusar ou considerar levianamente. Mas filhos que não foram educados e controlados na infância, aos quais foi permitido se fazerem objetos de seu cuidado, procurando a própria comodidade de modo egoísta e evitando responsabilidades, tornam-se duros de coração e não respeitam os direitos dos pais, que cuidaram deles na sua infância. T3 232 2 Irmão R, até você tem sido egoísta nessas coisas e muito deficiente no cumprimento do dever. Exigiu atenção e cuidado, mas não os retribuiu. Você tem sido egoísta e exigente, e tem sido freqüentemente irrazoável e dado a sua esposa oportunidade para acusação. Ambos têm sido sem consagração e espantosamente egoístas. Você tem feito pouco sacrifício por amor da verdade. Você e sua esposa têm-se esquivado de responsabilidades, e têm preferido ser servidos a procurar ser o menor peso possível. T3 232 3 Os ministros de Cristo devem sentir ser seu dever obrigatório, caso recebam a hospitalidade de seus irmãos ou amigos, deixarem uma bênção com a família procurando encorajar e fortalecer seus membros. Não devem negligenciar os deveres de um pastor, ao fazerem visitas de casa em casa. Devem familiarizar-se com cada membro da família, para que possam compreender a condição espiritual de todos, e modificar seu modo de trabalhar para atender cada caso. Quando um pastor que apresenta a solene mensagem de advertência ao mundo recebe as hospitaleiras gentilezas de amigos e irmãos, e negligencia os deveres de pastor do rebanho sendo descuidado em seu exemplo e conduta, entretendo com os jovens conversação fútil, gracejos e pilhérias, e relatando anedotas humorísticas para despertar o riso, ele é indigno de ser ministro do evangelho e necessita converter-se antes de lhe ser confiado o cuidado das ovelhas e cordeiros. Os pastores que são negligentes quanto aos deveres que competem a um fiel pastor dão provas de que não estão santificados pelas verdades que apresentam a outros, e não devem ser mantidos como obreiros na vinha do Senhor, enquanto não tiverem elevado sentimento da santidade do trabalho do pastor. T3 233 1 Quando há apenas reuniões noturnas a serem atendidas, há muito tempo que pode ser usado com grande proveito visitando de casa em casa, encontrando as pessoas onde se acham. E se os ministros de Cristo têm as graças do Espírito, se imitam o grande Exemplo, encontrarão acesso aos corações e ganharão almas para Cristo. Alguns pastores que levam a última mensagem de misericórdia são muito indiferentes. Não aproveitam as oportunidades que têm para ganhar a confiança dos incrédulos, por sua conduta exemplar, seu interesse generoso pelo bem de outros, sua bondade, paciência, humildade de espírito e respeitosa cortesia. Estes frutos do Espírito exercerão uma influência muito maior do que a pregação no púlpito sem um interesse pessoal pelas famílias. Mas a pregação de verdades incisivas e diretas ao povo, e os esforços pessoais correspondentes de casa em casa para apoiar o trabalho do púlpito, aumentarão grandemente a influência para o bem, e almas serão convertidas à verdade. T3 234 1 Alguns de nossos pastores assumem responsabilidades muito leves, evitam cuidado individual e encargos; por esta razão não sentem a necessidade de ajuda de Deus que sentiriam se assumissem as responsabilidades que a obra de Deus e nossa fé requerem que assumam. Quando encargos nesta causa têm de ser assumidos, e quando aqueles que os assumem chegam a lugares difíceis, sentirão a necessidade de viver perto de Deus, para que tenham confiança para entregar-Lhe seus caminhos e pela fé reivindicar aquela ajuda que só Ele pode dar. Estarão então obtendo experiência diária na fé e na oração, que é do máximo valor para ministros do evangelho. Sua obra é mais solene e sagrada do que os pastores geralmente reconhecem. Devem levar consigo uma influência santificadora. Deus requer que aqueles que ministram em coisas sagradas sejam homens que sintam zelo por Sua causa. A responsabilidade de seu trabalho deve ser a salvação de almas. Irmão R, você não se sentiu como o profeta Joel descreve: "Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa o Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio." Joel 2:17. "Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos." Salmos 126:5, 6. T3 234 2 Irmão R, foi-me mostrado em que contraste notável com as exigências da Palavra de Deus tem sido sua conduta no trabalho. Você tem sido descuidado com suas palavras e seu comportamento. As ovelhas tiveram a responsabilidade de cuidar do pastor, de advertir, reprovar, exortar e chorar sobre a conduta negligente de seu pastor, que, por aceitar sua posição, confessa que é um porta-voz de Deus. Todavia, ele se preocupa muito mais consigo mesmo do que cuida das pobres ovelhas. Você não tem sentido responsabilidade pelas almas. Não tem saído para seu trabalho chorando e orando pelas pessoas para que pecadores fossem convertidos. Tivesse feito isso, teria lançado sementes que brotariam depois de muitos dias e produziriam fruto para a glória de Deus. Quando não houver trabalho que você possa fazer junto à lareira em conversa e oração com as famílias, deve então demonstrar diligência e economia de tempo, e habituar-se a levar responsabilidades por meio de ocupação útil. T3 235 1 Você e sua esposa podiam ter-se poupado a muitos dissabores e ser mais alegres e felizes, tivessem procurado menos sua comodidade e combinado trabalho físico com seu estudo. Seus músculos foram feitos para serem usados, não para ficarem inativos. Deus deu a Adão e Eva no jardim tudo que necessitavam; todavia, seu Pai celestial sabia que precisavam de ocupação para conservar sua felicidade. Se você, irmão R, exercitasse seus músculos trabalhando com as mãos um pouco cada dia, combinando o trabalho com o estudo, sua mente seria melhor equilibrada, seus pensamentos de natureza mais pura e mais elevada, e seu sono mais natural e saudável. Sua mente seria menos confusa e entorpecida por causa de um cérebro congestionado. Seus pensamentos sobre a verdade sagrada seriam mais claros, e sua energia moral mais vigorosa. Você não gosta do trabalho; mas é para seu bem ter mais exercício físico diariamente; porque ele acelerará o sangue preguiçoso para uma atividade saudável, e o transportará acima de descontentamento e enfermidades. T3 235 2 Você não deve negligenciar estudo diligente, mas deve orar pela luz de Deus para que Ele abra a seu entendimento os tesouros de Sua Palavra, a fim de ser cabalmente "preparado para toda boa obra". 2 Timóteo 2:21. Você nunca estará em uma posição onde não seja necessário vigiar e orar fervorosamente a fim de vencer as tentações. Deve guardar-se continuamente para manter o eu fora de consideração. Tem encorajado o hábito de fazer-se muito preeminente, demorando-se sobre suas dificuldades de família e sua saúde precária. Em resumo, você mesmo tem sido o tópico de sua conversação e seu eu tem-se interposto entre você e seu Salvador. Deve esquecer-se de si mesmo e esconder-se em Jesus. Que o querido Salvador seja glorificado, mas o eu perdido de vista. Quando vir e sentir sua fraqueza, nada verá em você mesmo digno de nota ou comentário. O povo não só tem ficado cansado, mas desgostoso com seus preâmbulos antes de você apresentar o assunto. Toda vez que você fala ao povo e menciona suas provações de família, você se rebaixa na estima deles e sugere suspeitas que nem tudo vai bem. T3 236 1 Você tem o exemplo de pastores que se exaltaram e que cobiçavam o elogio do povo. Foram mimados e lisonjeados pelos indiscretos até se tornarem exaltados e auto-suficientes, e, confiando na própria sabedoria, fizeram naufragar a fé. Julgavam-se tão populares que podiam seguir quase qualquer conduta e ainda reter sua popularidade. Eis aí sua presunção. Quando o comportamento de um ministro de Cristo dá fatos às línguas bisbilhoteiras como assunto de debate e sua moralidade é seriamente questionada, ele não deve chamar isso ciúme ou calúnia. Você deve ser cuidadoso sobre como encoraja uma seqüência habitual de pensamentos a partir dos quais são formados hábitos que resultarão em sua ruína. Note aqueles cuja conduta você deve aborrecer, e então evite tomar o primeiro passo no caminho que eles trilharam. T3 236 2 Você tem sido auto-suficiente e tão cego e iludido por Satanás que não pode discernir sua fraqueza e muitos erros. "Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros." Gálatas 5:22-26. T3 236 3 Foram-me mostrados campos de trabalho. Cidades e vilas em toda parte devem ouvir a mensagem de advertência; porque todos serão testados e provados pela mensagem da verdade presente. Um grande trabalho deve ser feito, mas os obreiros que entram nestes campos devem ser homens de são discernimento, que sabem como lidar com as mentes. Devem ser homens pacientes, bondosos e corteses, que têm o temor de Deus diante deles. T3 236 4 Você freqüentemente ganha a confiança do povo; mas se, por um comportamento descuidado ou algum gesto imprudente, por severidade ou espírito arrogante, perde então a confiança, mais dano resultará para a causa de Deus do que se nenhum trabalho tivesse sido realizado. Grande prejuízo tem sido feito à causa de Deus por pastores que agem por impulso. Alguns são facilmente impressionados e freqüentemente se tornam irritados; e, se provocados, revidam. Isso é exatamente o que Satanás quer que façam. Os inimigos da verdade exultam sobre esta fraqueza num ministro de Cristo, porque é uma vergonha à causa da verdade presente. Aqueles que manifestam esta fraqueza de caráter não representam corretamente a verdade ou os pastores de nossa fé. A indiscrição de um pastor lança uma nuvem de suspeita sobre todos e torna os trabalhos daqueles que vêm depois dele extremamente difíceis. T3 237 1 Irmão R, quando você sai para empenhar-se em trabalho em um novo campo, gosta de demorar-se sobre assuntos argumentativos, porque treinou a mente para esse tipo de trabalho. Mas seus trabalhos não têm tido o décimo do valor que teriam se você tivesse se qualificado por experiência prática para apresentar ao povo sermões sobre assuntos práticos. Você precisa tornar-se aprendiz na escola de Cristo, para que possa experimentar piedade prática. Quando tem o poder salvador da verdade na própria alma, não pode deixar de alimentar o rebanho de Deus com as mesmas verdades práticas que lhe alegraram o coração em Deus. Sermões práticos e doutrinários devem ser combinados a fim de impressionar corações com a importância de se renderem às reivindicações da verdade depois do entendimento ter sido convencido pelo peso da evidência. Os servos de Cristo devem imitar o exemplo do Mestre no modo de trabalhar. Devem constantemente manter diante do povo, da melhor maneira que eles possam compreender, a necessidade de piedade prática, e deve levá-los, como nosso Salvador o fez em Seus ensinos, a ver a necessidade de princípio religioso e de justiça na vida diária. O povo não é alimentado pelos pastores das igrejas populares, e pessoas estão famintas em busca de alimento que nutra e dê vida espiritual. T3 237 2 Sua vida não tem sido marcada com humildade de espírito e mansidão de comportamento. Você ama a Deus de boca, mas não "por obra e em verdade". 1 João 3:18. Sua dignidade é facilmente ofendida. Os pastores devem primeiro sentir a influência santificadora da verdade sobre o próprio coração e vida, e então seu trabalho do púlpito seria reforçado por seu exemplo fora do púlpito. Os pastores devem eles mesmos ser abrandados e santificados antes de Deus poder de maneira especial cooperar com seus esforços. T3 238 1 Você deixou passar despercebida a áurea oportunidade de reunir uma colheita de almas, porque foi impossível para Deus trabalhar com seus esforços, pois seu coração não era reto para com Ele. Seu espírito não era puro diante dAquele que é a personificação da pureza e santidade. "Se" você "atender à iniqüidade no" seu "coração, o Senhor não... ouvirá" a sua oração. Salmos 66:18. Nosso Deus "é um Deus zeloso". Deuteronômio 6:15. Ele conhece os pensamentos, imaginações e propósitos do coração. Você tem seguido o próprio discernimento e lamentavelmente fracassado quando devia ter obtido sucesso. Há demasiado risco nesses esforços para que se faça a obra negligente ou descuidadamente. Almas estão sendo provadas acerca da importante verdade eterna, e aquilo que você pode dizer ou fazer exercerá influência para firmá-las na decisão a favor ou contra a verdade. Quando você devia estar humildemente perante Deus, rogando que Ele cooperasse com seus esforços, sentindo o peso da causa e o valor das almas, escolheu a companhia de moças, a despeito do sagrado trabalho de Deus e de sua função como ministro do evangelho de Cristo. Você estava em pé entre os vivos e os mortos; no entanto, envolvia-se em conversas frívolas, gracejos e piadas. T3 238 2 Como podem anjos ministradores estar a seu redor, derramando luz sobre você e lhe comunicando força? Quando você deve estar procurando achar meios para iluminar a mente dos que estão no erro e em trevas, está se divertindo e é demasiado egoísta para empenhar-se em trabalho para o qual não tem inclinação nem amor. Se nossa posição é criticada por aqueles que estão investigando, você tem pouca paciência com eles. Freqüentemente lhes dá uma resposta curta e severa, como se não fosse assunto deles examinar a fundo, mas aceitar tudo que é apresentado como verdade, sem verificar por eles mesmos. Em seu trabalho ministerial você tem afastado muitas pessoas da verdade por sua maneira de tratá-las. Nem sempre você é impaciente e inacessível; quando quer, toma tempo para responder às perguntas com franqueza; mas freqüentemente você é descortês e exigente, e é impertinente e irritável como uma criança. T3 239 1 Uma barra de ouro escondida e uma capa babilônica perturbaram todo o acampamento de Israel. A desaprovação de Deus pesou sobre todo o povo por causa do pecado de um homem. Milhares foram derrotados no campo de batalha porque Deus não abençoaria e faria prosperar um povo em meio do qual houvesse um só pecador, um que tivesse transgredido Sua palavra. Esse pecador não ocupava ofício sagrado, mas um Deus zeloso não podia sair para batalhar com os exércitos de Israel enquanto esses pecados ocultos estivessem no acampamento. T3 239 2 Não obstante a advertência do apóstolo estar diante de nós para nos abster "de toda a aparência do mal" (1 Tessalonicenses 5:22), alguns persistem em prosseguir em uma conduta imprópria para cristãos. Deus requer que Seu povo seja santo, que se mantenham separados das obras das trevas, que sejam puros de coração e de vida, e sem mancha mundana. Os filhos de Deus, pela fé em Cristo, são Seu povo escolhido, e quando se colocarem sobre o terreno santo da verdade bíblica serão salvos de comunicar-se "com as obras infrutuosas das trevas". Efésios 5:11. T3 239 3 Irmão R, você tem impedido o caminho da obra de Deus e trazido muita escuridão e desânimo sobre a causa. Você tem sido cegado por Satanás; tem trabalhado para obter simpatia e tem conseguido. Tivesse estado na luz e poderia ter discernido o poder de Satanás em ação para enganá-lo e destruí-lo. Os filhos de Deus não comem e bebem para satisfazer o apetite, mas para preservar a vida e o vigor para fazer a vontade de seu Mestre. Vestem-se para ter saúde, não para ostentação ou para acompanhar as modas em mutação. "A concupiscência dos olhos e a soberba da vida" (1 João 2:16) são banidos de seus guarda-roupas e de suas casas, em princípio. Eles agem movidos por uma sinceridade piedosa, e sua conversa é elevada e celestial. T3 239 4 Deus é muito compassivo, pois compreende nossas fraquezas e nossas tentações; quando nos achegamos a Ele com coração quebrantado e espírito contrito, Ele aceita nosso arrependimento e promete que, ao nos apoderarmos de Sua força para fazer paz com Ele, faremos paz com Ele. Isaías 27:5. Oh, que gratidão, que alegria, devemos sentir porque Deus é misericordioso! T3 240 1 Você deixou de confiar na força que vem de Deus. Tem-se demorado muito sobre sua pessoa e feito de si mesmo o tema de pensamento e conversação. Suas provações foram aumentadas para você mesmo e outros, e sua mente tem sido desviada da verdade, do Modelo que devemos copiar, para o fraco irmão R. T3 240 2 Quando fora do púlpito, você devia ter sentido o valor do ser humano e ter procurado oportunidades para apresentar a verdade presente a indivíduos, mas não sentiu a responsabilidade que lhe cabia como ministro do evangelho. Jesus e a justiça não têm sido seus temas, e muitas oportunidades têm sido perdidas, as quais, se aproveitadas, podiam ter levado mais de vinte pessoas a darem tudo por Cristo e pela verdade. Mas o fardo você não queria levar. O trabalho pastoral envolvia uma cruz, e você não queria ocupar-se dela. T3 240 3 Vi anjos de Deus observando as impressões que você deixa e os frutos que produz fora das reuniões, e sua influência geral sobre crentes e descrentes. Vi esses anjos cobrirem o rosto em tristeza, e em pesar afastar-se relutantemente de você. Freqüentemente você tem estado empenhado em assuntos de menor importância. Quando tinha de fazer um esforço que exigia o vigor de toda sua energia, pensamento claro e oração fervorosa, seguia o próprio prazer e inclinação. Confiava na própria força e sabedoria para enfrentar não só homens, mas principados e potestades, Satanás e seus anjos. Isso era fazer a obra do Senhor negligentemente e expor a perigo a verdade e a causa de Deus, arriscando a salvação de almas. T3 240 4 Uma mudança completa precisa ser feita em você antes de poder ser-lhe confiada a obra de Deus. Você deve considerar sua vida uma realidade solene e não um sonho ocioso. Como vigia sobre os muros de Sião, você é responsável pela salvação das pessoas. Você deve firmar-se em Deus. Você age sem a devida consideração, por impulso em vez de por princípio. Não tem sentido a necessidade positiva de educar a mente, nem de crucificar em si mesmo o velho homem com suas afeições e paixões. Precisa ser equilibrado com o peso do Espírito de Deus, e todos seus movimentos controlados por Ele. Você agora é incerto em tudo que empreende. Faz e desfaz; edifica e destrói; desperta um interesse e então, por falta de consagração e de sabedoria divina, o apaga. Você não tem sido fortalecido, estabelecido e firmado. Tem tido pouca fé; não tem vivido uma vida de oração. Precisa urgentemente unir sua vida a Deus, e então não semeará na carne para no fim ceifar corrupção. T3 241 1 Gracejos, piadas e conversas profanas pertencem ao mundo. Os cristãos que possuem a paz de Deus no coração, serão alegres e felizes, sem condescender com leviandade ou frivolidade. Enquanto vigiam em oração, hão de possuir uma serenidade e uma paz que os elevem acima de todas as superfluidades. O mistério da piedade, desvendado ao espírito do ministro de Cristo, erguê-lo-á acima dos divertimentos terrenos e sensuais. Será participante "da natureza divina, havendo escapado à corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo". 2 Pedro 1:4. A comunhão estabelecida entre ele e Deus o tornará frutífero no conhecimento da vontade de Deus. Abrirá diante dele tesouros de assuntos práticos, que pode apresentar ao povo, os quais não despertarão frivolidade, nem a aparência de riso, mas infundirão solenidade aos pensamentos, tocarão o coração e despertarão as sensibilidades morais para os sagrados direitos que Deus tem sobre as afeições e a vida. Os que trabalham na palavra e doutrina devem ser homens de Deus, de coração e vida puros. T3 241 2 Você corre o maior perigo de trazer desonra à causa de Deus. Satanás sabe de sua fraqueza. Seus anjos comunicam seus pontos fracos àqueles que são enganados por suas maravilhas sedutoras, e já contam com você como um de seu número. Satanás exulta em fazê-lo seguir uma conduta imprudente porque você se coloca em seu terreno e lhe dá vantagem sobre você. Ele bem sabe que a indiscrição de homens que defendem a lei de Deus afastará pessoas da verdade. Você não tem assumido a responsabilidade da obra nem trabalhado cuidadosamente e com particular fervor para impressionar mentes a favor da verdade. Você com muita freqüência tem se tornado impaciente, irritável e infantil, e faz inimigos por suas maneiras bruscas. A menos que esteja vigilante, você desperta preconceito contra a verdade. A menos que seja um homem transformado e demonstre em sua vida os princípios das verdades sagradas que apresenta no púlpito, seus esforços pouco valerão. T3 242 1 Um peso de responsabilidade repousa sobre você. É dever do vigia estar sempre em seu posto, cuidando das pessoas como quem "deve dar contas delas". Hebreus 13:17. Se sua mente é desviada da grande obra e se enche de pensamentos profanos; se planos e projetos egoístas roubam-lhe o sono, e em conseqüência a força mental e física é diminuída, você peca contra si mesmo e contra Deus. Seu discernimento é embotado, e coisas sagradas são postas no mesmo nível das comuns. Deus é desonrado, Sua causa envergonhada, e a boa obra que você poderia ter feito se tivesse confiado em Deus é frustrada. Tivesse preservado o vigor de suas faculdades para aplicar sem reserva a força de seu cérebro e o ser todo à importante obra de Deus, teria efetuado um trabalho muito maior, e mais bem feito. T3 242 2 Seus trabalhos têm sido defeituosos. Um chefe empenha seus homens para fazer para ele um trabalho fino e valioso que requer estudo e muito pensamento cuidadoso. Ao concordarem em fazer a obra sabem que, a fim de efetuar bem a tarefa, todas as suas faculdades precisam ser despertadas e estar na melhor condição para aplicarem seus melhores esforços. Mas um homem do grupo é dominado por um apetite perverso. Gosta de bebida forte. Dia após dia satisfaz seu desejo de estimulante, e, enquanto sob a influência deste estimulante, seu cérebro é obscurecido, os nervos são enfraquecidos e suas mãos vacilantes. Ele continua o trabalho dia após dia e quase arruína a obra que lhe foi confiada. Aquele homem perde seu salário e causa um prejuízo quase irreparável a seu empregador. Por sua infidelidade, perde a confiança de seu patrão e de seus colegas de trabalho. A ele fora confiada uma grande responsabilidade, e aceitando aquela confiança ele reconheceu ser competente para fazer o trabalho segundo as instruções dadas por seu empregador. Mas por causa do amor a si mesmo, o apetite foi satisfeito com risco das conseqüências. T3 243 1 Seu caso. irmão R, é semelhante a esse. Mas a responsabilidade de um ministro de Cristo, que deve advertir o mundo sobre o juízo vindouro, é tão mais importante do que a de um operário comum como as coisas eternas são de mais conseqüência que as temporais. Se o ministro do evangelho cede à sua inclinação em vez de ser guiado pelo dever, se satisfaz o eu à custa de poder espiritual, e como resultado age indiscretamente, pecadores se levantarão no juízo para condená-lo por sua infidelidade. O sangue das almas será achado em suas vestes. Pode parecer ao pastor não consagrado uma coisa sem importância ser inconstante, impulsivo e sem consagração: edificar e então demolir; desanimar, afligir e desalentar as pessoas que foram convertidas pela verdade que apresentou. Coisa triste é perder a confiança das pessoas a quem ele estava procurando salvar. Mas o resultado de uma conduta imprudente seguida pelo pastor nunca será totalmente compreendido até que o pastor veja como Deus vê. ------------------------Capítulo 26 -- Amor descomedido por lucro T3 243 2 Irmão S, foi-me mostrado, em 10 de Dezembro de 1871, que há sérios defeitos em seu caráter, os quais, a menos que sejam notados e vencidos, demonstrar-se-ão ser sua ruína; e não somente será pesado nas balanças do santuário e achado em falta, mas sua influência vai determinar o destino de outros. Você está ajuntando com Cristo ou espalhando. Foi-me mostrado que você tem um amor profundamente arraigado pelo mundo. "O amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males." 1 Timóteo 6:10. Você se lisonjeia de estar certo, quando não está. Deus "não vê como vê o homem". Ele "olha para o coração". 1 Samuel 16:7. Seus caminhos não são os nossos caminhos, nem Seus pensamentos os nossos pensamentos. Isaías 55:9. Irmão, sua grande preocupação e ansiedade é adquirir recursos. Esta obsessão tem crescido em você até estar superando seu amor pela verdade. Seu coração está sendo corrompido pelo amor do dinheiro. Seu amor pela verdade e por sua divulgação é muito fraco. Seus tesouros terrestres exigem e retêm suas afeições. T3 244 1 Você tem conhecimento da verdade; não ignora as reivindicações das Escrituras; conhece a vontade de seu Mestre, pois Ele a revelou claramente a você. Mas seu coração não está inclinado a seguir a luz que brilha sobre seu caminho. Você tem uma grande medida de presunção. Seu amor-próprio é maior do que seu amor pela verdade presente. Sua autoconfiança e auto-suficiência certamente demonstrar-se-ão sua ruína, a menos que veja sua fraqueza e erros, e reforme-se. Você é arbitrário. Tem vontade própria fixa; embora a opinião de outros possa ser correta, e seu juízo errado, você não é homem para ceder. Apega-se firmemente a sua opinião anterior, a despeito do juízo de outros. Gostaria que você visse o perigo de prosseguir na conduta que adotou. Se seus olhos pudessem ser iluminados pelo Espírito de Deus, você veria as coisas claramente. T3 244 2 Sua esposa ama a verdade, e ela é uma mulher prática, uma mulher de princípio. Mas você não aprecia seu valor. Ela tem trabalhado arduamente para o bem da família, mas você não lhe tem dado sua confiança. Não se tem aconselhado com ela como era seu dever. Você reserva seus problemas para si mesmo; não gosta de abrir o coração a sua esposa para que ela conheça suas preocupações e sua verdadeira fé e sentimentos. Você é reservado. Sua esposa não ocupa o lugar honroso que merece em sua família e que é capaz de preencher. T3 244 3 Você acha que sua esposa não deve interferir em seus planos e arranjos, e com demasiada freqüência estabelece sua vontade e seus planos de ação em oposição aos dela. Age como se a identidade dela devesse ser imersa na sua. Não se contenta em deixá-la agir como se ela tivesse uma individualidade, uma identidade própria. Deus a considera responsável pela própria individualidade. Você não pode salvá-la, e nem ela a você. Ela tem uma consciência própria pela qual deve ser guiada. Você é muito inclinado a ser consciência para ela, e algumas vezes para seus filhos. Deus tem direitos mais altos sobre sua esposa do que você. Ela precisa formar um caráter por si própria, e dará conta a Deus pelo caráter que desenvolver. T3 245 1 Você também tem um caráter a formar, e é responsável por ele a Deus. Você exerce influência dominadora e possui espírito ditatorial, que não é segundo a vontade de Deus. Precisa deixar de ser tão exigente. Tem-se orgulhado por possuir gosto refinado e ser organizado. Tem boas idéias, mas não tem incorporado esta percepção exata e refinada a seu caráter e a seu comportamento. Tem deixado de aperfeiçoar um caráter simétrico. Tem bons pensamentos sobre ordem e organização, mas todas estas belas qualidades mentais têm sido embotadas por serem pervertidas. Não tem cumprido as condições expostas na Palavra de Deus para tornar-se um filho de Deus. Todas as promessas de Deus são condicionais. "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 6:17-7:1. Você precisa ainda obter essa experiência. Gosta de ficar na companhia de incrédulos e ouvi-los falar, e falar também. Jesus não pode ser glorificado com sua conversação. Se você tivesse o espírito de Jesus, não poderia ter permanecido tanto na companhia daqueles que não tinham amor pela verdade de Deus. T3 246 1 Você percebeu que havia impedimentos para seus filhos se tornarem cristãos, e que outros eram culpados. Mas não se engane quanto a esta questão. Sua influência como pai tem sido suficiente, se não houvesse outro impedimento, para estorvá-los. Seu exemplo e sua conversação têm sido de natureza tal que seus filhos não podiam crer que sua conduta era condizente com sua profissão de fé. Sua conversa com incrédulos tem sido de natureza tão baixa, tão leviana e tão cheia de gracejos e piadas, que sua influência nunca poderia elevá-los. Seus negócios com outros nem sempre têm sido estritamente honestos. Você não tem amado a Deus de todo seu coração, alma e forças, e a seu próximo como a si mesmo. Lucas 10:27. Se estivesse em seu poder, tiraria vantagem de seu vizinho. Todo dólar que lhe vem deste modo levará consigo uma maldição que você experimentará mais cedo ou mais tarde. Deus observa cada ato de injustiça, quer seja feito a crente ou descrente, e Ele não passará por alto. Sua disposição ambiciosa lhe é uma cilada. Seus negócios com seus semelhantes não podem resistir a prova do juízo. T3 246 2 Seu caráter cristão está manchado pela avareza. Estas manchas precisam ser removidas, ou você perderá a vida eterna. Cada um de nós tem um trabalho a fazer para o Mestre; cada um de nós tem talentos a desenvolver. O mais humilde e pobre dos discípulos de Jesus pode ser uma bênção para outros. Podem não reconhecer que estão fazendo algum bem especial, mas, por sua influência inconsciente, iniciam ondas de bênçãos que se alargarão e que se aprofundarão. O resultado feliz de suas palavras e conduta coerente, eles talvez nunca conheçam até a distribuição final de recompensas. Podem não sentir ou saber que estão fazendo algo grande. Não precisam afadigar-se com ansiedades quanto ao sucesso. Precisam apenas prosseguir, não com muitas palavras e vanglória e jactância, mas quieta e fielmente fazendo a obra que a providência divina lhes designou, e não perderão sua recompensa. Assim será no seu caso. O memorial de sua vida será escrito no livro de registro; e, se você for afinal um vencedor, haverá pessoas salvas por seus esforços, por sua abnegação, suas boas palavras e vida cristã coerente. E quando as recompensas forem finalmente distribuídas a todos segundo suas obras, pessoas redimidas vão chamá-lo bendito, e o Mestre dirá: "Bem está, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. T3 247 1 O mundo está de fato cheio de agitação, orgulho, egoísmo, avareza e violência; e pode nos parecer que é um desperdício de tempo e fôlego estar sempre a tempo e fora de tempo, e em todas as ocasiões, prontos para pronunciar palavras gentis, puras, edificantes, inocentes e santas, em face do redemoinho de confusão, alvoroço e contenda. Não obstante, palavras adequadas, vindas de corações e lábios santificados e apoiadas por uma conduta piedosa e solidamente cristã, serão "como maçãs de ouro em salvas de prata". Provérbios 25:11. Você tem sido como um dos faladores vãos, parecendo alguém do mundo. Tem sido por vezes descuidado em suas palavras e afoito em sua conversa e, como cristão, tem se rebaixado na opinião de incrédulos. Por vezes falou acerca da verdade; mas suas palavras não revelavam o interesse sério e ansioso que afetaria o coração. Foram acompanhadas de observações levianas e triviais que levariam as pessoas com quem conversa a decidir que sua fé não é genuína e que você não crê nas verdades que professa. Palavras a favor da verdade, pronunciadas na calma serenidade de um propósito correto e vindas de um coração puro, farão muito para desarmar a oposição e ganhar almas. Mas um espírito áspero, egoísta e condenatório somente afastará ainda mais da verdade e despertará espírito de oposição. T3 247 2 Você não deve esperar por grandes ocasiões, ou aguardar habilidades extraordinárias, antes trabalhar com seriedade para Deus. Não precisa se preocupar com o que o mundo pensa de você. Se seu relacionamento com eles e sua conversação piedosa lhes são um testemunho da pureza e sinceridade de sua fé, e estão convencidos de que você deseja beneficiá-los, suas palavras não serão inteiramente perdidas, mas produzirão algum bem. T3 248 1 Um servo de Cristo, em qualquer setor do serviço cristão, exerce por preceito e exemplo influência salvadora sobre outros. A boa semente semeada pode permanecer por algum tempo num coração frio, mundano e egoísta, sem demonstrar haver lançado raízes; mas freqüentemente o Espírito de Deus atua nesse coração e o rega com o orvalho do Céu, e a semente há tanto tempo ali escondida germina e afinal produz fruto para a glória de Deus. Em nossa atividade não sabemos "qual prosperará; se esta, se aquela". Eclesiastes 11:6. Esses não são assuntos que nós, pobres mortais, devamos resolver. Temos que fazer o nosso trabalho, deixando com Deus os resultados. Se você estivesse em trevas e ignorância, não teria tanta culpa. Mas você tem tido bastante luz, tem ouvido muita verdade; mas não é praticante "da palavra". Tiago 1:22. T3 248 2 A vida de Cristo é o modelo para todos nós. Devemos seguir Seu exemplo de abnegação, sacrifício próprio e desprendida benevolência. Sua vida inteira é uma demonstração infinita de Seu grande amor e condescendência para salvar o pecador. "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei", disse Cristo. João 13:34. Como nossa vida de abnegação, sacrifício e benevolência se compara com a vida de Cristo? "Vós sois a luz do mundo", disse Cristo dirigindo-Se a Seus discípulos. Mateus 5:14. "Vós sois o sal da terra." Mateus 5:13. Se este é nosso privilégio e também nosso dever, e somos corpos de trevas e incredulidade, que terrível responsabilidade assumimos! Podemos ser condutos de luz ou de trevas. Se deixamos de aproveitar a luz que Deus nos deu, e deixamos de avançar em conhecimento e verdadeira santidade como a luz indicou o caminho, estamos em culpa e em trevas segundo a luz e verdade que negligenciamos aproveitar. Nestes dias de iniqüidade e perigo, o caráter e as obras de cristãos professos não passarão no teste nem resistirão ao escrutínio quando examinados pela luz que agora brilha sobre eles. Não há "concórdia entre Cristo e Belial"; não há "comunhão entre luz e trevas". 2 Coríntios 6:15, 14. Como, então, podem o espírito de Cristo e o espírito do mundo estar em harmonia? O Senhor nosso Deus "é um Deus zeloso". Deuteronômio 6:15. Ele requer a afeição sincera e a confiança sem reserva daqueles que professam amá-Lo. Diz o salmista: "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Salmos 66:18. T3 249 1 Você tem sido um empecilho no caminho da salvação de seus filhos. Atribui a indiferença deles pelas coisas religiosas a outras causas que não a verdadeira. Seu exemplo é uma pedra de tropeço para eles. Eles sabem, por seus frutos, por suas palavras e obras, que você não crê na breve vinda de Cristo. Alguns deles não hesitam em caçoar da idéia da próxima vinda de Cristo e da brevidade do tempo. Eles se regozijam quando você faz um bom negócio. Pensam que o pai é vivo no comércio e que ninguém pode tirar vantagem dele, e estão seguindo em suas pisadas. Só a fé, sem obras, "é morta". Tiago 2:26. O dinheiro lhe tem dado poder, e você tem usado tal poder para tirar vantagem das necessidades de outros. Suas especulações na vida comercial não têm sido honestas; você não tem sido correto com seus semelhantes. Por seus negócios tem sacrificado sua reputação como cristão e como homem honesto. Por transações corretas, o dinheiro não lhe vinha às mãos bastante depressa para satisfazer sua sede de lucro, e você freqüentemente tem tornado o fardo do pobre mais pesado, tirando vantagem de sua necessidade para aumentar sua propriedade. Tenha cuidado, irmão S. Você está incorrendo em terríveis perdas por lucro terreno. Está perdendo integridade varonil e virtude celeste, na hora da tentação. É isso ganho ou perda? Está mais rico ou mais pobre por todo este lucro? Para você é uma perda terrível, pois subtrai o mesmo tanto do tesouro que você poderia estar acumulando no Céu. T3 249 2 Cada oportunidade de ajudar a um irmão necessitado, ou de auxiliar a causa de Deus na disseminação da verdade, é uma pérola que você pode de antemão enviar e pôr em depósito no banco celeste, para guardá-la em segurança. Deus o está experimentando e provando. Ele lhe tem outorgado Suas bênçãos com mão pródiga, e agora observa para ver como as está empregando, se você ajuda os necessitados, e se valoriza as pessoas, fazendo o que pode com aquilo que Ele lhe confiou. Toda oportunidade semelhante aproveitada aumenta seu tesouro celeste. Mas o amor ao eu o tem levado a preferir os bens terrestres mesmo com sacrifício dos celestiais. Você escolhe tesouros que a traça e a ferrugem corroem em lugar dos que são duradouros como a eternidade. É seu privilégio exercitar terna compaixão e abençoar outros; mas seus olhos estão tão cegados pelo deus deste mundo que não pode discernir essa preciosidade -- a bênção que pode ser recebida por fazer o bem, por ser rico em boas obras, pronto a distribuir, disposto a comunicar, lançando para si mesmo um bom fundamento para o tempo por vir, para que se aposse da vida eterna. Está pondo em risco sua alma por deixar de valer-se das preciosas oportunidades de garantir o tesouro celestial. Está você realmente mais rico por causa de toda sua avareza, por sua prática desonesta? Deus o está provando, e lhe cabe determinar se você sairá como ouro ou escória sem valor. Se seu tempo de graça se encerrasse hoje à noite, como estaria o registro de sua vida? Nem um dólar do que ganhou poderia você levar consigo. A maldição de todo ato injusto o acompanharia. Sua sagacidade no comércio, quando vista no espelho que Deus lhe apresentará, não merecerá congratulações. "A avareza" "é idolatria". Colossences 3:5. T3 251 1 Sua única esperança é humilhar o coração diante de Deus. "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" Marcos 8:36, 37. Eu lhe suplico: não feche os olhos a seu perigo. Não seja cego aos interesses mais elevados do coração, ao cenário bendito e glorioso de uma vida melhor. Os ansiosos e atarefados que buscam ganho mundano são cegos e loucos. Eles se voltam do tesouro imortal e imperecível para este mundo. O esplendor e o falso brilho deste mundo lhes cativa os sentidos, e as coisas eternas não são apreciadas. Labutam por aquilo que não satisfaz e gastam o dinheiro naquilo que não é pão, quando Jesus lhes oferece paz e esperança e bênçãos infinitas, em troca de uma vida de obediência. Todos os tesouros da Terra não seriam bastante valiosos para adquirir estas dádivas preciosas. Todavia muitos são loucos e dão as costas ao incentivo celeste. Cristo guardará o nome de todos os que não consideram um sacrifício alto demais ser oferecidos a Ele sobre o altar da fé e do amor. Ele tudo sacrificou pela humanidade caída. O nome dos obedientes, dos que se sacrificam e são fiéis será gravado nas palmas das Suas mãos; não será vomitado de Sua boca, mas tomado em Seus lábios, e Ele rogará especialmente em seu favor diante do Pai. Quando os egoístas e os orgulhosos forem esquecidos, eles serão lembrados; seu nome será imortalizado. Para que nós mesmos possamos ser felizes, devemos viver para tornar outros felizes. É bom para nós dar nossas posses, nossos talentos e nossas afeições em grata devoção a Cristo, e dessa forma encontrar alegria aqui e imortal glória no além. T3 251 1 A longa noite de vigília, labuta e dificuldades quase passou. Cristo virá logo. Prepare-se. Os anjos de Deus estão procurando atraí-lo de si mesmo e das coisas terrestres. Que eles não labutem em vão. Fé, fé viva, é o que você precisa; fé que atua por amor e purifica o coração. Lembre-se do Calvário e do sacrifício terrível e infinito ali feito em favor do homem. Jesus agora o convida a ir a Ele exatamente como está a fim de fazer dEle sua força e Amigo eterno. ------------------------Capítulo 27 -- A igreja de Laodicéia T3 252 2 A mensagem à igreja de Laodicéia é uma arrasadora denúncia, e aplica-se ao povo de Deus no tempo presente. T3 252 3 "E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)." Apocalipse 3:14-17. T3 252 4 O Senhor nos mostra aqui que a mensagem a ser apresentada a Seu povo pelos pastores a quem Ele chamou para adverti-lo não é uma mensagem de paz e segurança. Não é meramente teórica, mas prática em todo particular. O povo de Deus é representado na mensagem aos laodiceanos como em uma posição de segurança carnal. Sentem-se bem, pois se imaginam em exaltada condição de realizações espirituais. "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." T3 252 5 Que maior engano pode sobrevir à mente humana do que a confiança de estar correto, quando se está totalmente errado! A mensagem da Testemunha Verdadeira encontra o povo de Deus em triste engano, todavia sincero nesse engano. Eles não sabem que sua condição é deplorável à vista de Deus. Enquanto aqueles que são abordados se lisonjeiam de achar-se em exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Verdadeira destrói sua segurança com a surpreendente denúncia de seu verdadeiro estado espiritual de cegueira, pobreza e miséria. Esse testemunho tão incisivo e severo não pode ser um engano, pois é a Testemunha Verdadeira quem fala, e Seu testemunho tem de ser correto. T3 253 1 Difícil é aos que se acham seguros em suas realizações, e que se acreditam ricos em conhecimento espiritual, receber a mensagem que declara se acharem enganados e necessitados de todas as graças espirituais. O coração não santificado é "enganoso... mais do que todas as coisas, e perverso". Jeremias 17:9. Vi que muitos se estão lisonjeando de ser bons cristãos, os quais não têm um raio de luz de Cristo. Não têm por si mesmos uma viva experiência na vida religiosa. Necessitam de profunda e completa obra de humilhação de si mesmos diante de Deus, antes de experimentarem sua verdadeira necessidade de diligente e perseverante esforço para obter as preciosas graças do Espírito. T3 253 2 Deus guia Seu povo passo a passo avante. A vida cristã é uma contínua batalha, marcha contínua. Não há descanso dessa luta. É por meio de constante, incessante esforço, que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás. Estamos, como um povo, triunfando na clareza e força da verdade. Somos plenamente apoiados em nossos pontos de fé por avassaladora quantidade de claros testemunhos escriturísticos. Carecemos muito, porém, da humildade, paciência, fé, amor e abnegação, vigilância e espírito de sacrifício bíblicos. Precisamos cultivar a santidade da Bíblia. O pecado domina entre o povo de Deus. A positiva mensagem de repreensão aos laodiceanos não é acatada. Muitos se apegam a suas dúvidas e a seus pecados acariciados, enquanto se encontram em tão grande engano que dizem e sentem que não necessitam de nada. Pensam que não é necessário o testemunho do Espírito de Deus em reprovação, ou que não se refere a eles. Esses estão na maior necessidade da graça de Deus e de discernimento espiritual, para que descubram sua deficiência no conhecimento espiritual. Faltam-lhes quase todos os requisitos necessários ao aperfeiçoamento do caráter cristão. Não têm conhecimento prático da verdade bíblica, que leva à humildade de vida e à conformidade de sua vontade com a vontade de Cristo. Não estão vivendo em obediência a todas as reivindicações divinas. T3 254 1 Não basta meramente professar a verdade. Todos os soldados da cruz de Cristo obrigam-se virtualmente a entrar na cruzada contra o adversário das almas, para condenar o erro e sustentar a justiça. A mensagem da Testemunha Verdadeira, porém, revela que terrível engano pesa sobre nosso povo, o que torna necessário dirigir-lhe advertências, para pôr fim à indiferença espiritual e despertá-lo para uma ação decidida. T3 254 2 Em minha última visão, vi que mesmo esta decidida mensagem da Testemunha Verdadeira não cumpriu o desígnio de Deus. O povo continua a manter-se sonolento em seus pecados. Continua a se dizer rico, e que não necessita de nada. Muitos indagam: Por que são feitas tantas reprovações? Por que os Testemunhos nos acusam continuamente de apostasia e de ofensivos pecados? Nós amamos a verdade; estamos prosperando; não temos necessidade desses testemunhos de advertência e reprovação. Examinem, porém, esses queixosos o próprio coração, e comparem sua vida com os ensinos práticos da Bíblia, humilhem o coração diante de Deus, deixem que a graça divina lhes ilumine as trevas, e as escamas lhes cairão dos olhos, e compreenderão sua verdadeira pobreza e miséria espiritual. Sentirão a necessidade de comprar ouro, que é a fé e o amor puros; vestidos brancos, que é um caráter imaculado, purificado pelo sangue de seu querido Redentor; e colírio, a graça de Deus, que lhes dará claro discernimento das coisas espirituais e revelará o pecado. Essas realizações são mais preciosas que o ouro de Ofir. Foi-me mostrado que a maior causa de o povo de Deus se achar agora nesse estado de cegueira espiritual é não aceitarem a correção. Muitos têm desprezado as reprovações e advertências que lhes foram feitas. A Testemunha Verdadeira condena o estado morno do povo de Deus, o qual dá a Satanás grande poder sobre eles, neste tempo de espera e vigilância. Os egoístas, os orgulhosos e os amantes do pecado são sempre assaltados por dúvidas. Satanás tem a habilidade de sugerir dúvidas e inventar objeções ao testemunho que Deus envia, e muitos consideram uma virtude e indício de inteligência o mostrar-se incrédulo, questionar e contrafazer. Os que querem duvidar têm suficiente oportunidade para isso. Deus não Se propõe fazer desaparecer toda ocasião para a incredulidade. Apresenta evidências que precisam ser cuidadosamente investigadas com espírito humilde e suscetível ao ensino; e todos devem julgar pela força dessas mesmas evidências. T3 255 1 A vida eterna é de infinito valor, e custar-nos-á tudo quanto possuímos. Foi-me mostrado que não damos o devido valor às coisas eternas. Tudo quanto vale a pena possuir-se, mesmo neste mundo, tem de ser conseguido com esforço e às vezes com os mais penosos sacrifícios. E tudo isto simplesmente para obter um tesouro perecível. Seremos menos voluntários para resistir às lutas e fadigas, para fazer diligentes esforços e grandes sacrifícios a fim de alcançar um tesouro de imenso valor, uma vida que se prolongará como a do Infinito? Custar-nos-á o Céu demasiado? T3 255 2 A fé e o amor são áureos tesouros, elementos grandemente escassos entre o povo de Deus. Foi-me mostrado que a incredulidade nos testemunhos de advertência, animação e reprovação, está afugentando a luz do povo de Deus. A incredulidade fecha-lhes os olhos, de modo que se acham ignorantes de sua verdadeira condição. A Testemunha Verdadeira assim descreve a cegueira deles: "E não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." Apocalipse 3:17. T3 255 3 Está desaparecendo a fé na próxima vinda de Cristo. "Meu Senhor tarde virá" (Mateus 24:48), não se diz apenas no coração, mas exprime-se também em palavras e ainda mais decididamente nas obras. A insensatez, neste tempo de espera, está entorpecendo os sentidos do povo de Deus quanto aos sinais dos tempos. A terrível iniqüidade que predomina requer a máxima diligência e o testemunho vivo, a fim de manter o pecado excluído da igreja. A fé tem estado a decrescer assustadoramente, e só mediante o exercício pode ela aumentar. T3 256 1 No surgimento da terceira mensagem angélica, os que se empenhavam na obra de Deus tinham alguma coisa a arriscar; tinham sacrifícios a fazer. Começaram esta obra em pobreza, e sofreram as maiores privações e dificuldades. Enfrentaram decidida oposição, o que os impelia para Deus em sua necessidade, e mantinha viva sua fé. Nosso plano atual de doação sistemática mantém amplamente nossos pastores e não há falta, nem necessidade do exercício da fé quanto à manutenção. Os que hoje iniciam a pregação da verdade nada têm a pôr em perigo. Não correm riscos, não têm sacrifícios especiais a fazer. O sistema da verdade acha-se pronto ao seu dispor, e as publicações lhes são fornecidas para vindicação das verdades que promovem. T3 256 2 Alguns rapazes começam sem ter um senso real do exaltado caráter da obra. Não têm de enfrentar privações, vicissitudes ou árduos conflitos, que exigiriam o exercício da fé. Não cultivam a abnegação, nem nutrem o espírito de sacrifício. Alguns estão se tornando orgulhosos e envaidecidos e não sentem real preocupação pela obra que pesa sobre eles. A Testemunha Verdadeira fala a esses pastores: "Sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:19. Alguns deles se acham tão exaltados pelo orgulho que são positivo estorvo e maldição à preciosa causa de Deus. Não exercem sobre os outros uma influência salvadora. Esses homens precisam converter-se cabalmente a Deus, eles próprios, e ser santificados pelas verdades que apresentam aos outros. Incisivos testemunhos na igreja T3 256 3 Muitos se sentem impacientes e desconfiados por serem freqüentemente perturbados com advertências e reprovações que lhes mantêm sempre diante dos olhos os próprios pecados. Diz a Testemunha Verdadeira: "Conheço as tuas obras." Apocalipse 3:15. Os motivos, os desígnios, a incredulidade, as suspeitas e ciúmes podem ser ocultos dos homens, mas não de Cristo. A Testemunha Verdadeira vem como conselheiro: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:18-21. T3 257 1 Os que são repreendidos pelo Espírito de Deus não devem insurgir-se contra o humilde instrumento. É Deus, e não um falível mortal, que falou para salvá-los da ruína. Os que desprezam a advertência serão deixados na cegueira, para iludirem a si mesmos. Mas os que lhe dão ouvidos, empenhando-se zelosamente na obra de afastar de si os seus pecados, a fim de terem as graças necessárias, abrirão a porta do coração para que o querido Salvador entre e com eles habite. Essa classe de pessoas, sempre vocês a encontrarão em harmonia perfeita com o testemunho do Espírito de Deus. T3 257 2 Os pastores que pregam a verdade presente não devem negligenciar a solene mensagem dirigida aos laodiceanos. O testemunho da Testemunha Verdadeira não é uma mensagem suave. O Senhor não lhes diz: Você está mais ou menos bem; tem sofrido castigos e reprovações que nunca mereceu; tem ficado desnecessariamente desanimado pela severidade; você não é culpado das injustiças e pecados pelos quais tem sido reprovado. T3 257 3 A Testemunha Verdadeira declara que, quando se julga numa situação realmente boa de prosperidade, você necessita de tudo. Não basta aos pastores apresentarem assuntos teóricos; cumpre-lhes apresentar também os que são práticos. Precisam estudar as lições práticas dadas por Cristo aos discípulos, e fazer íntima aplicação das mesmas ao próprio coração e ao povo. Por Cristo dar este testemunho de reprovação, havemos de supor que Ele seja destituído de terno amor para com Seu povo? Oh, não! Aquele que morreu para redimir o homem da morte ama com um amor divino, e àqueles a quem ama, repreende. "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo." Apocalipse 3:19. Muitos, porém, não receberão a mensagem que, em misericórdia, o Céu lhes envia. Não podem suportar que lhes seja apresentada sua negligência do dever, seus erros, seu egoísmo, orgulho e amor do mundo. T3 258 1 Foi-me mostrado que Deus colocou sobre meu marido e sobre mim uma obra especial, apresentar um testemunho claro a Seu povo, e clamar e não poupar, para mostrar ao povo suas transgressões e à casa de Israel seus pecados. Mas há uma classe que não quer receber a mensagem de reprovação, e levantam as mãos para proteger aqueles que Deus gostaria de reprovar e corrigir. Estes são sempre achados em simpatia com aqueles aos quais Deus faria sentir sua verdadeira pobreza. T3 258 2 A palavra do Senhor, pronunciada através de Seus servos, é por muitos recebida com dúvida e temores. E muitos adiam sua obediência às advertências e reprovações dadas, esperando até que toda sombra de incerteza seja removida de seu pensamento. A descrença que exige perfeito conhecimento nunca cederá à evidência que Deus Se agrada em dar. Ele requer de Seu povo uma fé que repouse sobre o peso da evidência, e não sobre perfeito conhecimento. Os seguidores de Cristo que aceitam a luz que Deus lhes envia devem obedecer à voz de Deus a falar-lhes, quando há muitas outras vozes clamando contra ela. Tem de haver discernimento para distinguir a voz de Deus. T3 258 3 Aqueles que não agem quando Deus os chama, mas que esperam por uma evidência mais convincente e uma oportunidade mais favorável andarão nas trevas, porque a luz será retirada. A evidência dada um dia, se rejeitada, pode nunca mais ser repetida. T3 258 4 Muitos são tentados em relação à nossa obra e a questionam. Alguns, ao serem tentados, atribuem as dificuldades e perplexidade do povo de Deus aos testemunhos de reprovação que nós lhes temos dado. Imaginam que o problema é com aqueles que trazem a mensagem de advertência, que indicam os pecados do povo e corrigem seus erros. Muitos são enganados pelo adversário dos homens. Imaginam que os trabalhos do irmão e da irmã White seriam aceitáveis se não estivessem continuamente condenando o erro e reprovando o pecado. Foi-me mostrado que Deus depositou esta obra sobre nós, e quando somos impedidos de nos encontrar com Seu povo e de apresentar nosso testemunho e nos opormos às suposições e ciúmes dos não consagrados, então Satanás introduz fortemente suas tentações. Aqueles que têm estado sempre do lado que questiona e duvida se sentem livres para sugerir suas dúvidas e insinuar sua descrença. Alguns têm dúvidas aparentemente genuínas, que cautelosamente insinuam, mas que têm dez vezes mais poder para endurecer aqueles que estão no erro, e para diminuir nossa influência e enfraquecer a confiança do povo de Deus em nosso trabalho, do que se eles se identificassem mais francamente. Esses pobres seres, vi, eram enganados por Satanás. Lisonjeiam-se de que estão bem, que desfrutam do favor de Deus e que são ricos em discernimento espiritual, quando são pobres, cegos e infelizes. Estão fazendo a obra de Satanás, mas pensam ter zelo por Deus. T3 259 1 Alguns não recebem o testemunho do qual Deus nos encarregou, lisonjeando-se de que podemos estar enganados e que eles têm razão. Pensam que o povo de Deus não precisa de tratamento franco e de reprovação, mas que Deus está com eles. Estas pessoas tentadas, cujo coração tem estado sempre em guerra com a fiel reprovação do pecado, exclamariam: Falem-nos de coisas agradáveis. Como os laodiceanos tratarão a mensagem da Testemunha Fiel? Não pode haver engano aqui. Esta mensagem precisa ser levada pelos servos de Deus a uma igreja morna. Precisa despertar Seu povo de seu senso de segurança e engano perigoso quanto à sua posição real diante de Deus. Este testemunho, se for recebido, despertará para ação e levará à humilhação própria e à confissão de pecados. A Testemunha Verdadeira diz: "Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente." E de novo: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:15, 19. Então vem a promessa: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:20, 21. T3 260 1 O povo de Deus precisa ver suas faltas e despertar-se em arrependimento zeloso e abandonar aqueles pecados que os arrastaram a uma condição tão deplorável de pobreza, cegueira, miséria e engano terrível. Foi-me mostrado que o testemunho incisivo precisa existir na igreja. Apenas isso corresponderá à mensagem aos laodiceanos. Erros precisam ser reprovados, o pecado precisa ser chamado pecado, e a iniqüidade deve ser enfrentada de modo pronto e decisivo, e afastada de nós como um povo. Combatendo o espírito de Deus T3 260 2 Aqueles que têm um espírito de oposição à obra que por vinte e seis anos o Espírito de Deus nos tem impelido a fazer gostariam de frustrar nosso testemunho. Vi que não estavam combatendo contra nós, mas contra Deus, que nos incumbiu de um trabalho que Ele não deu a outros. Eles questionam e usam de subterfúgios, e pensam que seja uma virtude duvidar e que nos desencorajariam. Os que têm sido o instrumento para tornar nosso trabalho difícil e enfraquecer nossa fé, esperança e coragem têm sido aqueles que suspeitam mal, insinuam acusações duvidosas e que aguardam com desconfiança uma ocasião contra nós. Eles admitem que por termos fraquezas humanas isso é evidência positiva de que estamos errados e que eles têm razão. Se podem achar um resquício de algo que podem usar para prejudicar-nos, eles o fazem com um espírito de triunfo e estão prontos para denunciar nossa obra de reprovar o erro e condenar o pecado como um espírito amargo e ditatorial. T3 260 3 Mas embora não aceitemos sua versão de nosso caso como a razão para nossas aflições e mantenhamos que Deus nos designou para um trabalho mais árduo do que designou outros, reconhecemos com humildade de espírito e com arrependimento que nossa fé e coragem têm sido severamente provadas e que falhamos algumas vezes em confiar inteiramente nAquele que designou nosso trabalho. Quando recobramos de novo a coragem, depois de penosos desapontamentos e provas, profundamente lamentamos ter alguma vez deixado de confiar em Deus, cedido a fraquezas humanas, e permitido que desalento nublasse nossa fé e diminuísse nossa confiança em Deus. Foi-me mostrado que os antigos servos de Deus sofreram desapontamentos e desânimo como nós pobres mortais. Estávamos em boa companhia; não obstante isso não nos desculpou. T3 261 1 Como meu marido tem estado a meu lado para apoiar-me em meu trabalho e tem dado um testemunho claro em harmonia com a obra do Espírito de Deus, muitos sentiram que ele pessoalmente os estivesse prejudicando, quando era o Senhor que tinha colocado sobre ele a responsabilidade. Através de Seu servo, Ele os estava reprovando e procurando levá-los ao ponto em que se arrependeriam de seus erros e teriam o favor de Deus. T3 261 2 Aqueles a quem Deus escolheu para uma obra importante foram sempre recebidos com desconfiança e suspeita. Antigamente, quando Elias foi enviado com uma mensagem de Deus para o povo, eles não atenderam a advertência. Acharam-no desnecessariamente severo. Pensaram mesmo que ele perdera seu bom senso porque denunciava o povo favorecido de Deus como pecadores e seus crimes como tão graves que o juízo de Deus seria suscitado contra eles. Satanás e seus exércitos sempre se alinharam contra aqueles que levam a mensagem de advertência e reprovam o pecado. Os que não são consagrados se unirão também com o adversário dos homens para tornar tão difícil quanto possível o trabalho dos servos fiéis de Deus. T3 261 3 Se meu marido tem sido constrangido além do limite e tornou-se desalentado e desanimado, e se por vezes não temos visto nada de desejável na vida para escolhê-la, isso não é nada estranho ou novo. Elias, um dos grandes e poderosos profetas, quando fugiu para salvar a vida da ira da enfurecida Jezabel, cansado e fatigado da viagem, preferiu morrer a viver. Seu amargo desapontamento em relação à infidelidade de Israel tinha lhe esmagado o espírito, e sentiu que não mais podia pôr confiança no homem. No dia da aflição e escuridade de Jó, ele pronunciou estas palavras: "Pereça o dia em que nasci." Jó 3:3. T3 262 1 Aqueles que não estão acostumados a sentir até às profundezas, que não têm estado sob fardos como um carro debaixo dos feixes e que nunca tiveram seus interesses identificados tão de perto com a causa e obra de Deus que parece ser uma parte de seu ser e que lhes é mais cara que a vida, não podem apreciar os sentimentos de meu marido mais do que Israel podia apreciar os sentimentos de Elias. Lamentamos profundamente ter ficado desanimados, quaisquer que tenham sido as circunstâncias. O caso de Acabe: uma advertência T3 262 2 Sob o governo perverso de Acabe, Israel afastou-se de Deus e corrompeu seus caminhos diante dEle. "E fez Acabe, filho de Onri, o que era mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. E sucedeu que (como se fora coisa leve andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate), ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e se encurvou diante dele. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria. Também Acabe fez um bosque, de maneira que Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele." 1 Reis 16:30-33. T3 262 3 Acabe era fraco em força moral. Não tinha um senso elevado das coisas sagradas; era egoísta e sem princípios. Sua união em casamento com uma mulher de caráter decidido e temperamento positivo, que era devotada à idolatria, fez de ambos agentes especiais de Satanás para levar o povo de Deus à idolatria e terrível apostasia. O espírito resoluto de Jezabel moldou o caráter de Acabe. Sua natureza egoísta era incapaz de apreciar as misericórdias de Deus para com Seu povo e sua obrigação a Deus como guardião e líder de Israel. O temor de Deus diminuía cada dia em Israel. Os símbolos blasfemos de sua idolatria cega eram vistos entre o Israel de Deus. Não havia ninguém que ousasse arriscar sua vida, levantando-se em oposição aberta à idolatria blasfema que prevalecia. Os altares de Baal, e os sacerdotes de Baal que sacrificavam ao Sol, Lua e estrelas, eram visíveis em toda parte. Eles haviam consagrado templos e bosques onde a obra de mãos de homens era colocada para ser adorada. Os benefícios que Deus proporcionara a este povo não evocava de sua parte nenhuma gratidão ao Doador. Todas as bênçãos do Céu -- os riachos que corriam, as correntes de águas vivas, o orvalho suave, a chuva que refrescava a terra e fazia que os campos produzissem com abundância -- eles atribuíam ao favor de seus deuses. T3 263 1 O coração fiel de Elias foi magoado. Sua indignação despertou-se e ele encheu-se de zelo pela glória de Deus. Viu que Israel estava mergulhado em terrível apostasia. E quando recordou as grandes coisas que Deus fizera a seu favor, foi tomado de tristeza e espanto. Mas tudo isso foi esquecido pela maioria do povo. Ele foi diante do Senhor, e, com seu espírito constrangido de ansiedade, pleiteou com Ele para salvar Seu povo mesmo que fosse por juízos. Suplicou a Deus para reter de Seu povo ingrato o orvalho e a chuva, os tesouros do céu, para que o Israel apóstata olhasse em vão a seus deuses, seus ídolos de ouro, madeira e pedra, o Sol, Lua e estrelas, para regar e enriquecer a terra, e fazer que ela produzisse mais abundantemente. O Senhor disse a Elias que tinha ouvido sua oração e reteria o orvalho e a chuva de Seu povo até que se voltasse a Ele em arrependimento. O pecado de Acabe e sua punição T3 263 2 Deus tinha de um modo especial preservado Seu povo de misturar-se com as nações idólatras a seu redor, para que seu coração não fosse enganado pelos bosques e capelas, templos e altares, que eram construídos da maneira mais dispendiosa e atrativa para perverter os sentidos de modo que Deus fosse suplantado na mente do povo. T3 264 1 A cidade de Jericó era dedicada à idolatria mais extravagante. Os habitantes eram muito ricos, mas todas as riquezas que Deus lhes tinha dado consideravam como dádiva de seus deuses. Tinham ouro e prata em abundância; mas, como o povo antes do dilúvio, eram corruptos e blasfemos, e por suas obras más insultavam e provocavam ao Deus do Céu. Os juízos de Deus foram suscitados contra Jericó. Ela era uma fortaleza. Mas o próprio Capitão dos exércitos do Senhor veio do Céu para liderar os exércitos celestiais num ataque contra a cidade. Anjos de Deus se apoderaram das muralhas maciças e as deitaram por terra. Deus tinha dito que a cidade de Jericó seria amaldiçoada e que todos haviam de perecer, exceto Raabe e sua família. Estes deviam ser poupados por causa do favor que Raabe dispensara aos mensageiros do Senhor. A palavra do Senhor ao povo foi: "Tão-somente guardai-vos das coisas condenadas, para que, tendo-as vós condenado, não as tomeis; e assim torneis maldito o arraial de Israel e o confundais." "Naquele tempo, Josué fez o povo jurar e dizer: Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; com a perda do seu primogênito lhe porá os fundamentos e, à custa do mais novo, as portas." Josué 6:18, 26. T3 264 2 Deus foi bem exigente quanto a Jericó, com receio de que o povo fosse atraído pelas coisas que os habitantes tinham adorado, e que se afastasse dEle. Advertiu Seu povo pelos mandamentos mais positivos; não obstante a ordem solene de Deus pela boca de Josué, Acã arriscou a transgredir. Sua cobiça o levou a se apossar dos tesouros que Deus lhe proibira tocar porque a maldição de Deus estava sobre eles. E por causa do pecado desse homem, o Israel de Deus foi fraco como água diante de seus inimigos. T3 264 3 Josué e os anciãos de Israel estavam em grande aflição. Prostraram-se diante da arca de Deus na maior humildade porque o Senhor estava irado contra Seu povo. Oraram e choraram diante de Deus. "Então, disse o Senhor a Josué: Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto? Israel pecou, e violaram a Minha aliança, aquilo que Eu lhes ordenara, pois tomaram das coisas condenadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaixo da sua bagagem o puseram. Pelo que os filhos de Israel não puderam resistir aos seus inimigos; viraram as costas diante deles, porquanto Israel se fizera condenado; já não serei convosco, se não eliminardes do vosso meio a coisa roubada." Josué 7:10-12. Dever de reprovar o pecado T3 265 1 Foi-me mostrado que Deus aqui ilustra como Ele considera o pecado entre os que professam ser Seu povo observador dos mandamentos. Aqueles a quem Ele tem honrado especialmente com o testemunhar as assinaladas manifestações de Seu poder, como aconteceu com o antigo Israel, e que ousam mesmo então menosprezar Suas expressas orientações, serão sujeitos a Sua ira. Ele quer ensinar a Seu povo que a desobediência e o pecado são excessivamente ofensivos a Seus olhos, e não devem ser considerados levianamente. Ele nos mostra que, quando Seu povo se encontra em pecado, devem-se tomar imediatamente medidas positivas para tirar tal pecado do meio deles, a fim de que Seu desagrado não fique sobre todos. T3 265 2 Se, porém, os pecados do povo são passados por alto por aqueles que se acham em posições de responsabilidade, o desagrado de Deus estará sobre eles, e Seu povo, como um corpo, será responsável por esses pecados. No trato do Senhor com Seu povo no passado, Ele mostra a necessidade de purificar a igreja de erros. Um pecador pode difundir trevas que excluam a luz de Deus de toda a congregação. Ao as pessoas compreenderem que se estão adensando trevas sobre elas, sem que saibam a causa, devem buscar diligentemente a Deus, em grande humildade e abatimento do próprio eu, até que os erros que ofendem o seu Espírito sejam descobertos e afastados. T3 265 3 O preconceito que se levantou contra nós por havermos reprovado as faltas que Deus me mostrara existirem e o clamor de aspereza e severidade que se ergueu são injustos. Deus nos manda falar, e não ficaremos silenciosos. Se há erros claros entre Seu povo, e os servos de Deus continuam em frente indiferentes a isso, estão por assim dizer apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado. Foram-me mostrados em visão muitos casos em que o desagrado de Deus foi atraído por negligência da parte de Seus servos quanto a tratar dos erros e pecados existentes entre eles. Os que passaram por alto esses erros têm sido considerados pelo povo muito amáveis e de disposição benigna simplesmente por haverem eles recuado do desempenho de um claro dever escriturístico. Essa tarefa não agradava a seus sentimentos; portanto, eles a evitaram. T3 266 1 O espírito de ódio que tem havido por parte de alguns por terem sido reprovados os erros existentes entre o povo de Deus trouxe cegueira e um terrível engano a sua mente, tornando-lhes impossível discernir entre o que é certo e o que é errado. Apagaram a própria visão espiritual. Podem testemunhar erros, mas não sentem como Josué, não se humilham por sentir o perigo das almas. T3 266 2 O verdadeiro povo de Deus, os que possuem o espírito da obra do Senhor e levam a sério a salvação das pessoas, verá sempre o pecado em seu caráter real, maligno. Estarão sempre a favor de lidar de maneira fiel e positiva com os pecados que facilmente assaltam o povo de Deus. Em especial na obra final da igreja, no tempo do selamento dos cento e quarenta e quatro mil que hão de permanecer irrepreensíveis diante do trono de Deus, sentirão muito profundamente os erros do professo povo de Deus. Isto é fortemente salientado pela ilustração do profeta, da última obra na figura dos homens com armas destruidoras na mão. Um homem entre eles estava vestido de linho, com um tinteiro de escrivão à sua cinta. "E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela." Ezequiel 9:4. T3 267 1 Quem subsiste no conselho de Deus a esse tempo? São aqueles que, por assim dizer, desculpam os erros entre o professo povo de Deus e murmuram em seu coração, se não abertamente, contra os que reprovam o pecado? São os que tomam atitude contra eles e se compadecem dos que cometem erro? Não, absolutamente! A menos que eles se arrependam e deixem a obra de Satanás em oprimir os que têm a responsabilidade da obra e em suster as mãos dos pecadores de Sião, jamais receberão o selo aprovador de Deus. Cairão na destruição final dos ímpios, representada na obra dos cinco homens que tinham as armas destruidoras na mão. Notem cuidadosamente este ponto: os que receberem o puro sinal da verdade, neles gravado pelo poder do Espírito Santo, representado pelo sinal feito pelo homem vestido de linho, são os que "suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem" (Ezequiel 9:4) na igreja. Seu amor pela pureza e pela honra e glória de Deus é tal, e têm tão clara visão da excessiva malignidade do pecado, que são representados como em agonia, suspirando e gemendo. Leiam o nono capítulo de Ezequiel. T3 267 2 Porém, o massacre geral de todos os que não vêem assim a vasta diferença entre o pecado e a justiça, e não sentem como os que se acham no conselho de Deus e recebem o sinal, é descrita na ordem dada aos cinco homens que tinham as armas destruidoras: "Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, e jovens, e virgens, e meninos, e mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo Meu santuário." Ezequiel 9:5, 6. T3 267 3 No caso do pecado de Acã, Deus disse a Josué: "Já não serei convosco, se não eliminardes do vosso meio a coisa roubada." Josué 7:12. Que comparação há entre este caso e a direção seguida pelos que não levantam a voz contra o pecado e o erro, mas cujas simpatias se encontram sempre do lado dos que perturbam o acampamento de Israel com seus pecados? Disse Deus a Josué: "Aos vossos inimigos não podereis resistir, enquanto não eliminardes do vosso meio as coisas condenadas." Josué 7:13. Ele pronunciou o castigo que se devia seguir à transgressão de Seu concerto. T3 268 1 Josué começou então diligente pesquisa a fim de descobrir o culpado. Tomou Israel por suas tribos, depois pelas famílias, e afinal individualmente; e foi designado Acã como culpado. Para que tudo ficasse claro a todo o Israel, porém, e não tivessem ocasião de murmurar e dizer que o castigo recaíra sobre um inocente, Josué usou de tática. Sabia que era Acã o transgressor e que escondera o pecado, provocando assim a Deus contra Seu povo. Com prudência, Josué induziu Acã a confessar o seu pecado, de modo que a honra e justiça de Deus fossem justificadas diante de Israel. "Então, disse Josué a Acã: Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor, Deus de Israel, e faze confissão perante Ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes. T3 268 2 "E respondeu Acã a Josué e disse: Verdadeiramente pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz assim e assim. Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, duzentos siclos de prata e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, debaixo dela. Então, Josué enviou mensageiros, que foram correndo à tenda; e eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata, debaixo dela. Tomaram, pois, aquelas coisas do meio da tenda, e as trouxeram a Josué e a todos os filhos de Israel, e as deitaram perante o Senhor. Então, Josué e todo o Israel com ele tomaram a Acã, filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e a seus filhos, e a suas filhas, e a seus bois, e a seus jumentos, e a suas ovelhas, e a sua tenda, e a tudo quanto tinha, e levaram-nos ao vale de Acor. E disse Josué: Por que nos turbaste? O Senhor te turbará a ti este dia. E todo o Israel o apedrejou com pedras, e os queimaram a fogo e os apedrejaram com pedras." Josué 7:19-25. T3 268 3 O Senhor disse a Josué que Acã não somente tirara as coisas que Ele lhes dissera positivamente que não tomassem, para que não fossem amaldiçoados, mas roubara, e também mentira. O Senhor dissera que Jericó e todo o seu despojo deviam ser consumidos, com exceção do ouro e da prata, que deviam ser reservados para o tesouro do Senhor. A vitória obtida na tomada de Jericó não se alcançara por meio de combate ou de haver o povo se exposto [ao perigo]. O Capitão dos exércitos do Senhor conduzira os exércitos celestiais. Do Senhor fora a batalha; Ele é quem havia combatido. Os filhos de Israel não haviam desferido um só golpe. O triunfo e a glória pertenciam ao Senhor, e Seus eram os despojos. Ele ordenara que tudo fosse consumido, exceto o ouro e a prata, que reservara para Seu tesouro. Acã compreendeu bem a reserva feita, e que os tesouros de ouro e de prata que ele cobiçou eram do Senhor. Furtou dos tesouros de Deus para proveito próprio. A cobiça entre o povo de Deus T3 269 1 Vi que muitas pessoas que professam guardar os mandamentos de Deus estão se apropriando dos recursos que o Senhor lhes confiou e que devem ser levados a Seu tesouro. Roubam a Deus "nos dízimos e nas ofertas". Malaquias 3:8. Eles dissimulam e retêm dEle para seu próprio prejuízo. Trarão sobre si escassez e pobreza e sobre a igreja trevas por causa de sua cobiça, sua hipocrisia, e por roubar a Deus nos dízimos e ofertas. T3 269 2 Vi que muitas pessoas afundarão em trevas por causa de sua cobiça. O testemunho claro e direto precisa viver na igreja, ou a maldição de Deus repousará sobre Seu povo tão certamente como repousou sobre o antigo Israel por causa de seus pecados. Deus considera Seu povo, como um corpo, responsável pelos pecados que existem em indivíduos em seu meio. Se os dirigentes da igreja negligenciam buscar com diligência os pecados que trazem o desfavor de Deus sobre a corporação, eles se tornam responsáveis por estes pecados. Tratar com mentes humanas é a mais bela obra em que já se empenharam os homens. Nem todos são habilitados a corrigir os que erram. Não têm sabedoria para tratar com justiça, e ao mesmo tempo amar a misericórdia. Não são inclinados a ver a necessidade de misturar amor e terna compaixão com fiéis reprovações. Alguns são sempre desnecessariamente severos e não sentem a necessidade da ordem do apóstolo: "E apiedai-vos de alguns que estão duvidosos; e salvai alguns, arrebatando-os do fogo; tende deles misericórdia com temor." Judas 22, 23. T3 270 1 Há muitos que não têm a discrição de Josué e que não têm dever especial de expor erros e de agir prontamente com os pecados que existem entre eles. Que tais pessoas não impeçam aqueles que levam sobre si a responsabilidade desta obra; não fiquem no caminho daqueles que têm este dever. Alguns insistem em questionar, duvidar e achar defeito porque outros fazem o trabalho que Deus não colocou sobre eles. Ficam diretamente no caminho para impedir aqueles sobre os quais Deus colocou a responsabilidade de reprovar e corrigir pecados que prevalecem, de modo que Seu desagrado seja afastado de Seu povo. Se houvesse entre nós um caso como o de Acã, há muitos que acusariam aqueles que fazem o papel de Josué em expor o erro de ter um espírito ímpio e crítico. Deus não deve ser escarnecido e Suas advertências desatendidas com impunidade por um povo perverso. T3 270 2 Foi-me mostrado que a maneira da confissão de Acã foi semelhante às confissões que alguns entre nós têm feito e farão. Ocultam seus erros e recusam fazer confissão voluntária até que Deus os sonde, e então reconhecem seus pecados. Uma poucas pessoas prosseguem em uma conduta errada até se endurecerem. Podem até saber que a igreja está em falta, como Acã sabia que Israel se enfraquecera diante de seus inimigos por culpa sua. Mas a consciência deles não os condena. Não querem ajudar a igreja humilhando o coração orgulhoso e rebelde diante de Deus, e eliminando suas faltas. O desagrado de Deus está sobre Seu povo. Ele não manifestará Seu poder em seu meio enquanto existirem pecados entre eles e forem incentivados por pessoas em posições de responsabilidade. T3 270 3 Aqueles que trabalham no temor de Deus para livrar a igreja de empecilhos e corrigir erros graves, a fim de que o povo de Deus possa ver a necessidade de aborrecer o pecado e crescer em pureza, e para que o nome de Deus seja glorificado, sempre enfrentarão resistentes influências da parte dos não consagrados. Sofonias assim descreve o verdadeiro estado desta classe e os juízos terríveis que lhes sobrevirão: T3 271 1 "E há de ser que, naquele tempo, esquadrinharei Jerusalém com lanternas e castigarei os homens que estão assentados sobre as suas fezes, que dizem no seu coração: O Senhor não faz bem nem faz mal." "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito a voz do dia do Senhor; amargamente clamará ali o homem poderoso. Aquele dia é um dia de indignação, dia de angústia e de ânsia, dia de alvoroço e de desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortes e contra as torres altas. E angustiarei os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor; e o seu sangue se derramará como pó, e a sua carne, como esterco. Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia do furor do Senhor, mas, pelo fogo do seu zelo, toda esta terra será consumida, porque certamente fará de todos os moradores da terra uma destruição total e apressada." Sofonias 1:12, 14-18. Confissões feitas tarde demais T3 271 2 Quando uma crise finalmente vier, como certamente virá, e Deus falar a favor de Seu povo, aqueles que pecaram, aqueles que têm sido uma nuvem de escuridão e que têm sido um empecilho à atuação de Deus a favor do Seu povo, podem ficar alarmados de ter ido tão longe em murmurar e trazer desalento sobre a causa; e, como Acã, ficando aterrorizados, podem reconhecer que pecaram. Mas suas confissões vêm demasiado tarde e não são da qualidade certa para os beneficiar, embora possam auxiliar a causa de Deus. Tais pessoas não fazem suas confissões por causa da convicção de sua verdadeira condição e um sentimento de quão ofensiva sua conduta tem sido a Deus. Deus pode dar a esta classe outra prova, outro teste, e permitir que mostrem que não estão melhor preparados para estar isentos de toda rebelião e pecado do que antes de terem feito suas confissões. Inclinam-se a estar sempre do lado do erro. E quando o chamado for feito para aqueles que estarão do lado do Senhor fazer um gesto decisivo para defender o direito, manifestarão sua verdadeira posição. Aqueles que têm sido quase toda sua vida controlados por um espírito tão diferente do Espírito de Deus como foi Acã serão muito passivos quando o tempo vier para ação decisiva da parte de todos. Não afirmarão estar de um lado ou do outro. Se não tomam uma decisão determinada do lado errado, não é porque tenham clara percepção do direito, mas porque não têm coragem. T3 272 1 "Deus não Se deixa escarnecer." Gálatas 6:7. É no tempo do conflito que as cores verdadeiras devem ser desfraldadas ao vento. É então que os porta-bandeiras precisam ser firmes e permitir que sua verdadeira posição seja conhecida. É então testada a aptidão de todo verdadeiro soldado para o que é correto. Covardes nunca podem exibir os lauréis da vitória. Aqueles que são verdadeiros e leais não ocultarão o fato, mas porão o coração e as energias na obra, e arriscarão tudo na luta, não importa para que rumo a batalha se volte. Deus é um Deus que odeia o pecado. E aqueles que encorajam o pecador, dizendo "Tudo lhe vai bem", Deus os amaldiçoará. T3 272 2 Confissões de pecado feitas no tempo certo para auxiliar o povo de Deus serão aceitas por Ele. Mas há aqueles entre nós que farão confissões, como Acã, demasiado tarde para se salvarem. Deus pode testá-los e dar-lhes uma outra prova, com o fim de evidenciar a Seu povo que eles não resistirão um teste, uma prova de Deus. Não estão em harmonia com o que é correto. Desprezam o testemunho direto que alcança o coração, e se regozijariam de ver silenciados todos aqueles que os reprovam. Elias reprova Acabe T3 273 1 O povo de Israel tinha gradualmente perdido seu temor e reverência por Deus até o ponto de Sua palavra através de Josué não ter peso para eles. "Em seus dias, Hiel, o betelita, edificou a Jericó; morrendo Abirão, seu primogênito, a fundou; e, morrendo Segube, seu último, pôs as suas portas; conforme a palavra do Senhor, que falara pelo ministério de Josué, filho de Num." 1 Reis 16:34. T3 273 2 Enquanto Israel estava apostatando, Elias permaneceu como um leal e verdadeiro profeta de Deus. Seu coração fiel foi grandemente afligido ao ver que a incredulidade e infidelidade estavam rapidamente separando de Deus os filhos de Israel, e orou para que Ele salvasse Seu povo. Suplicou para que Deus não rejeitasse inteiramente Seu povo pecador, mas que por juízos, se necessário, Ele os estimulasse ao arrependimento e que não permitisse que fossem ainda mais longe no pecado, e assim O provocasse a destruí-los como nação. T3 273 3 A mensagem do Senhor veio a Elias para ir ter com Acabe com anúncios acerca de Seus juízos por causa dos pecados de Israel. Elias viajou dia e noite até chegar ao palácio de Acabe. Não solicitou admissão e não esperou ser formalmente anunciado. De modo inesperado para Acabe, Elias se apresenta diante do espantado rei de Samaria, nas vestes rústicas comumente usadas pelos profetas. Não apresenta desculpa por seu aparecimento brusco, sem convite; mas, levantando as mãos ao céu, ele afirma solenemente pelo Deus vivo, que fez os céus e a Terra, os juízos que viriam sobre Israel: "Nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra." 1 Reis 17:1. T3 273 4 Esse espantoso anúncio acerca dos juízos de Deus por causa dos pecados de Israel caiu como um raio sobre o rei apóstata. Ele parecia paralisado de surpresa e terror; e antes que pudesse recobrar-se de seu espanto, Elias, sem esperar ver o efeito de sua mensagem, desapareceu tão depressa como havia chegado. Sua obra era de pronunciar a palavra de calamidade da parte de Deus, e ele imediatamente se afastou. Sua palavra tinha trancado os tesouros do céu, e sua palavra era a única chave que os podia abrir de novo. T3 274 1 O Senhor sabia que não havia segurança para Seu servo entre os filhos de Israel. Ele não o confiaria ao Israel apóstata, mas mandou que procurasse asilo numa nação pagã. Encaminhou-o a uma viúva que estava em tal pobreza que mal podia manter a vida com a mais escassa porção de alimento. Uma mulher pagã vivendo sob a melhor luz que possuía estava em condição mais aceitável a Deus do que as viúvas de Israel, que tinham sido abençoadas com privilégios especiais e grande luz, e que todavia não viviam segundo a luz que Deus lhes dera. Como os hebreus tinham rejeitado a luz, foram deixados em trevas, e Deus não podia confiar Seu servo a Seu povo, que Lhe provocara a ira. T3 274 2 Agora se apresenta uma oportunidade para o apóstata Acabe e a pagã Jezabel porem à prova o poder de seus deuses e demonstrar ser falsa a palavra de Elias. Os profetas de Jezabel contam-se às centenas. Contra todos eles está Elias, sozinho. Sua palavra trancou o céu. Se Baal pode dar orvalho e chuva, e fazer a vegetação florir; se ele pode fazer que os riachos e ribeiros corram como de costume, independentemente dos tesouros do céu na queda da chuva, então que o rei de Israel o adore e que o povo diga que ele é Deus. T3 274 3 "Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós." Tiago 5:17. Sua missão a Acabe e seu terrível anúncio dos juízos de Deus requeriam coragem e fé. Em seu caminho a Samaria os rios correndo perpetuamente, as colinas cobertas de verdor, as florestas com suas árvores majestosas e florescentes -- tudo sobre o que seus olhos repousavam florescendo em beleza e glória -- naturalmente sugeririam descrença. Como podem todas estas coisas na natureza, florescentes agora, ser queimadas pela seca? Como podem estes ribeiros que regam a terra, e que ao que se saiba nunca deixaram de correr, tornar-se secos? Mas Elias não acariciou descrença. Partiu para sua missão com o perigo de sua vida. Cria plenamente que Deus humilharia Seu povo apostatado e que pela visitação de Seus juízos o levaria à humilhação e arrependimento. Arriscou tudo na missão à sua frente. T3 275 1 Ao Acabe recobrar-se, até certo ponto, de sua grande surpresa ante as palavras de Elias, o profeta tinha desaparecido. Ele indaga diligentemente por ele, mas ninguém o vira nem podia dar qualquer informação a seu respeito. Acabe informa Jezabel da palavra de calamidade que Elias pronunciara em sua presença, e a ira dela contra o profeta é expressa aos profetas de Baal. Eles se unem a ela em denunciar e amaldiçoar o profeta de Jeová. As novas do pronunciamento do profeta espalharam-se pelo país, despertando o temor de alguns e a ira de muitos. T3 275 2 Depois de alguns meses a terra, não refrescada pelo orvalho e a chuva, torna-se seca, e a vegetação murcha. Os ribeiros, que segundo se saiba nunca haviam deixado de correr, diminuem, e os riachos secam. Os profetas de Baal oferecem sacrifícios a seus deuses e os invocam dia e noite para refrescarem a terra com orvalho e chuva. Mas os encantamentos e enganos praticados outrora para enganar o povo não dão resultado agora. Os sacerdotes fizeram tudo para acalmar a ira de seus deuses; com perseverança e zelo dignos de melhor causa, eles se demoram em volta de seus altares pagãos, enquanto as chamas do sacrifício queimam em todos os lugares altos, e os gritos terríveis e súplicas dos sacerdotes de Baal são ouvidos noite após noite através da condenada Samaria. Mas as nuvens não aparecem no céu para encobrir os ardentes raios do sol. A palavra de Elias fica firme, e nada do que os sacerdotes podem fazer a mudará. T3 275 3 Passa-se todo um ano, um outro começa, e ainda não há chuva. A terra está crestada como se o fogo tivesse passado sobre ela. Os campos floridos estão como o deserto ressequido. O ar torna-se seco e sufocante, e os torvelinhos de pó cegam os olhos e quase param a respiração. Os bosques de Baal estão sem folhas, e as árvores da floresta não dão sombra, mas parecem esqueletos. Fome e sede têm seu efeito sobre homens e animais com terrível mortandade. T3 276 1 Toda essa evidência da justiça e do juízo de Deus não desperta Israel ao arrependimento. Jezabel está cheia de loucura insana. Não se curvará diante do Deus do Céu nem cederá. Os profetas de Baal, Acabe, Jezabel e quase todo o Israel atribuem sua calamidade a Elias. Acabe mandou procurar em todo reino e nação o estranho profeta, e exigiu juramento dos reinos e nações de Israel de que nada sabiam a respeito dele. Elias tinha trancado o céu com sua palavra e levara consigo a chave, e ele não podia ser encontrado. T3 276 2 Jezabel então decide que, como não podia fazer Elias sentir seu poder sanguinário, ela se vingaria destruindo os profetas de Deus em Israel. Ninguém que professasse ser profeta de Deus viveria. Essa mulher resoluta e furiosa executa sua obra de loucura matando os profetas do Senhor. Os sacerdotes de Baal e quase todo Israel estão tão iludidos que pensam que, se os profetas de Deus fossem mortos, a calamidade sob a qual estão sofrendo cessaria. T3 276 3 Mas o segundo ano passa, e o céu sem piedade não dá chuva. A seca e a fome estão fazendo sua triste obra, e mesmo assim os israelitas apostatados não humilham o coração altivo e pecador diante de Deus, mas murmuram e se queixam contra o profeta de Deus que trouxera essa situação horrível sobre eles. Pais e mães vêem seus filhos perecer, sem poder aliviá-los. E, no entanto, o povo está em escuridão tão terrível que não pode ver que a justiça de Deus é despertada contra ele por causa de seus pecados e que essa horrível calamidade lhe é enviada misericordiosamente para livrá-lo de negar e de esquecer o Deus de seus pais. T3 276 4 Custou a Israel sofrimento e grande aflição o ser levado àquele arrependimento que era necessário a fim de recobrar sua fé perdida e o claro senso de sua responsabilidade para com Deus. Sua apostasia era mais horrível do que seca ou fome. Elias esperou e orou com fé durante os longos anos de seca e fome para que o coração do povo de Israel, através de sua aflição, se voltasse de sua idolatria à lealdade para com Deus. Mas, apesar de todo seu sofrimento, permaneceram firmes em sua idolatria e consideravam o profeta de Deus como a causa de sua calamidade. E se pudessem ter Elias em seu poder o teriam entregue a Jezabel, para que ela se vingasse tirando-lhe a vida. Porque Elias teve a coragem de pronunciar a palavra de calamidade que Deus lhe ordenara, ele se fez o objeto do ódio deles. Não podiam ver a mão de Deus nos juízos sob os quais estavam sofrendo por causa de seus pecados, mas os atribuíram a Elias. Não aborreceram os pecados que os trouxeram sob a vara do castigo, mas odiaram o profeta fiel, o instrumento de Deus para denunciar seus pecados e a calamidade. T3 277 1 "E sucedeu que, depois de muitos dias, a palavra do Senhor veio a Elias no terceiro ano, dizendo: Vai e mostra-te a Acabe, porque darei chuva sobre a terra." 1 Reis 18:1. Elias não hesitou em iniciar sua viagem perigosa. Por três anos ele tinha sido odiado e perseguido de cidade em cidade a mandado do rei, e toda nação tinha jurado que ele não podia ser achado. E agora, pela palavra de Deus, ele deve apresentar-se a Acabe. T3 277 2 Durante a apostasia de todo o Israel, e enquanto seu senhor é um adorador de Baal, o mordomo da casa de Acabe provou-se fiel a Deus. Ao risco da própria vida, ele preservou os profetas de Deus, escondendo-os em uma caverna, em grupos de cinqüenta, e os alimentando. Enquanto o servo de Acabe está procurando por todo o reino fontes e riachos de água, Elias se apresenta diante dele. Obadias reverenciava o profeta de Deus, mas, ao Elias enviá-lo com uma mensagem para o rei, ele se assusta grandemente. Vê perigo e morte para si mesmo e para Elias. Ele suplica que sua vida não seja sacrificada, mas Elias lhe assegura com juramento que ele veria Acabe naquele dia. O profeta não vai ter com Acabe, mas como um mensageiro de Deus, para impor respeito, ele envia uma mensagem por Obadias: "Eis que aqui está Elias." 1 Reis 18:8. Se Acabe deseja ver Elias, tem agora a oportunidade de vir a ele. Elias não irá a Acabe. T3 278 1 Com espanto misturado com terror, o rei ouve a mensagem de que Elias, a quem ele teme e odeia, veio para encontrá-lo. Há muito que ele procurara o profeta para que pudesse destruí-lo, e sabe que Elias não exporia a vida para vir ter com ele a menos que estivesse protegido, ou com alguma denúncia terrível. Ele se lembra do braço ressequido de Jeroboão e decide que não é seguro levantar a mão contra o mensageiro de Deus. E com temor e tremor, e com grande comitiva e impressionante exibição de armas, ele se apressa para encontrar-se com Elias. E ao encontrar face a face o homem que há tanto procurara, ele não ousa feri-lo. O rei, tão irascível e cheio de tanto ódio contra Elias, parece fraco e desarmado em sua presença. Ao encontrar o profeta, ele não pode evitar de falar a linguagem de seu coração: "És tu o perturbador de Israel?" 1 Reis 18:17. Elias, indignado e cheio de zelo pela honra e glória de Deus, responde à acusação de Acabe com ousadia: "Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor." 1 Reis 18:18. T3 278 2 O profeta, como mensageiro de Deus, tinha reprovado os pecados do povo, invocando sobre eles os juízos de Deus por causa de sua iniqüidade. E agora, de pé sozinho em inocência consciente, firme na sua integridade, cercado por uma comitiva de homens armados, Elias não demonstra timidez, nem demonstra a menor reverência ao rei. O homem com quem Deus tinha conversado, e que tem uma clara percepção de como Deus considera o homem em sua depravação pecaminosa, não tem desculpa a apresentar a Acabe nem homenagem a lhe prestar. Como mensageiro de Deus, Elias agora ordena e Acabe imediatamente obedece como se Elias fosse o rei e ele o súdito. O sacrifício no Monte Carmelo T3 279 1 Elias exige uma convocação no Carmelo de todo o Israel e também de todos os profetas de Baal. A tremenda solenidade no porte do profeta dá-lhe a aparência de alguém de pé na presença do Senhor Deus de Israel. A condição de Israel em sua apostasia requer uma conduta firme, linguagem severa e autoridade imperiosa. Deus prepara a mensagem para adaptar-se ao momento e à ocasião. Por vezes Ele põe Seu Espírito sobre Seus mensageiros para soar um alarme dia e noite, como fez Seu mensageiro João: "Preparai o caminho do Senhor." Mateus 3:3. Então, mais uma vez, são necessários homens de ação que não se desviarão do dever, mas cuja energia despertará e exigirá: Quem está do lado do Senhor? Venha até nós. Êxodo 32:26. Deus terá uma mensagem apropriada para adaptar-se a Seu povo em diferentes condições. T3 279 2 Mensageiros velozes são enviados através do reino com a mensagem de Elias. Das cidades, vilas e famílias são enviados representantes. Todos parecem apressados para responder ao chamado, como se algum milagre maravilhoso estivesse para ser realizado. Segundo a ordem de Elias, Acabe reúne os profetas de Baal no Carmelo. O coração do líder apostatado de Israel está aterrorizado; tremendo, ele cumpre a ordem do severo profeta de Deus. T3 279 3 O povo se reúne sobre o Monte Carmelo, um lugar de beleza quando o orvalho e a chuva caem sobre ele fazendo-o florescer, mas agora a beleza está amortecida sob a maldição de Deus. Sobre essa montanha, que era a excelência de bosques e flores, os profetas de Baal tinham construído altares para seu culto pagão. A montanha era notável; elevava-se acima das terras circunvizinhas e estava à vista de uma grande parte do reino. Como Deus tinha sido notoriamente desonrado pelo culto idólatra que ali se fazia, Elias escolheu esse lugar como o mais visível para a demonstração do poder de Deus e para vindicar Sua honra. T3 279 4 Os profetas de Jezabel, oitocentos e cinqüenta em número, como um regimento de soldados preparados para a batalha, saem como uma corporação com música instrumental e exibição imponente. Mas há tremor no coração ao considerarem que pela palavra desse profeta de Jeová a terra de Israel tinha sido desprovida de orvalho e chuva durante três anos. Sentem que alguma crise terrível se aproxima. Tinham confiado em seus deuses, mas não puderam anular as palavras de Elias e provar sua falsidade. Seus deuses eram indiferentes a seus gritos desesperados, suas orações e sacrifícios. T3 280 1 Elias, cedo de manhã, está de pé sobre o Monte Carmelo, cercado pelo Israel apóstata e os profetas de Baal. Um homem solitário naquela vasta multidão, ele permanece destemido. Ele, a quem todo o reino tinha culpado pelo peso da calamidade, está diante deles, destemido e desacompanhado de exércitos visíveis e ostentação imponente. Ali está, trajado com suas vestes rústicas, com tremenda solenidade no semblante, como se estivesse plenamente cônscio de sua missão sagrada como servo de Deus para executar Suas ordens. Elias fixa os olhos sobre o mais alto cume de montanhas onde tinha estado o altar de Jeová quando a montanha estava coberta de viçosas árvores e flores. A maldição de Deus está agora sobre ela; toda a desolação de Israel está à plena vista do negligenciado e destruído altar de Jeová, e à vista estão os altares de Baal. Acabe está à testa dos sacerdotes de Baal, e todos aguardam em ansiosa e temerosa expectativa as palavras de Elias. T3 280 2 À plena luz do sol, cercado de milhares -- soldados, profetas de Baal e o rei de Israel -- se acha o indefeso homem, Elias, aparentemente sozinho, mas não na realidade. O mais poderoso exército do Céu o cerca. Anjos "magníficos em poder" (Salmos 103:20) vieram do Céu para proteger o fiel e justo profeta. Com voz firme e autoritária, Elias exclama: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o. Porém o povo lhe não respondeu nada." 1 Reis 18:21. Ninguém naquela vasta assembléia ousou pronunciar uma palavra por Deus e mostrar sua lealdade a Jeová. T3 280 3 Que engano surpreendente e terrível cegueira tinham, como uma nuvem escura, coberto Israel! Cegueira e apostasia não os envolveram subitamente; vieram sobre eles gradualmente por não terem atendido à palavra de reprovação e advertência que o Senhor lhes enviara devido ao seu orgulho e aos seus pecados. E agora, nessa crise terrível, na presença dos sacerdotes idólatras e do rei apóstata, permaneceram neutros. Se Deus aborrece um pecado mais do que outro, do qual Seu povo é culpado, é o de nada fazer no caso de uma emergência. Indiferença e neutralidade numa crise religiosa são consideradas por Deus como um crime grave e igual ao pior tipo de hostilidade contra Deus. T3 281 1 Todo Israel está silencioso. De novo a voz de Elias é ouvida lhes dizendo: "Só eu fiquei por profeta do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinqüenta homens. Dêem-se-nos, pois, dois bezerros, e eles escolham para si um dos bezerros, e o dividam em pedaços, e o ponham sobre a lenha, porém não lhe metam fogo, e eu prepararei o outro bezerro, e o porei sobre a lenha, e não lhe meterei fogo. Então, invocai o nome do vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por fogo esse será Deus. E todo o povo respondeu e disse: É boa esta palavra. E disse Elias aos profetas de Baal: Escolhei para vós um dos bezerros, e preparai-o primeiro, porque sois muitos, e invocai o nome do vosso deus, e não lhe metais fogo. E tomaram o bezerro que lhes dera e o prepararam; e invocaram o nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém nem havia voz, nem quem respondesse; e saltavam sobre o altar que se tinha feito." 1 Reis 18:22-26. T3 281 2 A proposta de Elias é razoável. O povo não ousa esquivar-se, e acharam coragem para responder: "É boa esta palavra." Os profetas de Baal não ousam discordar ou fugir da questão. Deus dirigiu essa prova e preparou confusão para os autores de idolatria e um triunfo assinalado para Seu nome. Os sacerdotes de Baal não ousam rejeitar as condições. Com terror e culpa no coração, embora exteriormente atrevidos e desafiantes, eles levantam o altar, põem a lenha e a vítima, e então começam seus encantamentos, sua cantilena e berros próprios do culto pagão. Seus gritos agudos ressoam através de florestas e montanhas: "Ah! Baal, responde-nos." Os sacerdotes se reúnem como um exército em volta de seus altares, e saltando, e se contorcendo, e gritando, e sapateando, e com gestos desnaturais, e arrancando o cabelo, e cortando sua carne, manifestam aparente sinceridade. T3 282 1 A manhã passa, e vem a tarde, e todavia não há um movimento de seus deuses compadecendo-se dos sacerdotes de Baal, os iludidos adoradores de ídolos. Nenhuma voz responde a seus gritos frenéticos. Os sacerdotes estão continuamente imaginando como, por meio de engano, hão de conseguir acender um fogo sobre os altares e dar a glória a Baal. Mas o firme olhar de Elias observa todo movimento. Oitocentas vozes tornam-se roucas. Suas vestes ficam cobertas de sangue, e não obstante seu incitamento desesperado não diminui. Suas súplicas são misturadas com maldições a seu deus sol por não enviar fogo para seus altares. Elias está a postos, observando com olhos de águia com receio de que alguma trapaça fosse praticada; porque sabe que se, por qualquer artimanha, pudessem acender o fogo em seu altar, ele seria despedaçado num instante. Ele deseja mostrar ao povo a tolice de duvidar e coxear entre duas opiniões, quando eles têm as maravilhosas obras do poder majestoso de Deus a seu favor e inúmeras evidências de Sua infinita misericórdia e bondade para com eles. T3 282 2 "E sucedeu que, ao meio-dia, Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; porventura, dorme e despertará. E eles clamavam a grandes vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, conforme o seu costume, até derramarem sangue sobre si. E sucedeu que, passado o meio-dia, profetizaram eles, até que a oferta de manjares se oferecesse; porém não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma." 1 Reis 18:27-29. T3 282 3 Quão alegremente teria Satanás, que caiu como um raio do céu, vindo para ajudar aqueles a quem tinha enganado, cuja mente ele tinha controlado, e que eram inteiramente devotados a seu serviço. Jubiloso teria ele enviado um relâmpago e acendido o fogo para seus sacrifícios, mas Jeová pôs um limite a Satanás. Restringiu seu poder, e todo seu engenho não pode comunicar uma faísca aos altares de Baal. A noite se aproxima. Os profetas de Baal estão cansados, exaustos e confusos. Um sugere uma coisa e outro outra, até que cessam seus esforços. Seus berros e maldições não mais ressoam sobre o Monte Carmelo. Em fraqueza e desespero, eles se retiram da luta. T3 283 1 O povo assistiu às terríveis demonstrações de sacerdotes irracionais e desesperados. Contemplaram seus saltos sobre o altar como se fossem captar os raios flamejantes do sol para servir a seus altares. Cansaram-se com as exibições de demonismo, de idolatria pagã; e sentem-se convictos e ansiosos para ouvir o que Elias dirá. T3 283 2 Chegou agora a vez de Elias. "Então, Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se chegou a ele; e reparou o altar do Senhor, que estava quebrado. E Elias tomou doze pedras, conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, ao qual veio a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome. E com aquelas pedras edificou o altar em nome do Senhor; depois, fez um rego em redor do altar, segundo a largura de duas medidas de semente. Então, armou a lenha, e dividiu o bezerro em pedaços, e o pôs sobre a lenha, e disse: Enchei de água quatro cântaros e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha. E disse: Fazei-o segunda vez; e o fizeram segunda vez. Disse ainda: Fazei-o terceira vez; e o fizeram terceira vez, de maneira que a água corria ao redor do altar, e ainda até o rego encheu de água. Sucedeu, pois, que, oferecendo-se a oferta de manjares, o profeta Elias se chegou e disse: Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que Tu és Deus em Israel, e que eu sou Teu servo, e que conforme a Tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que Tu, Senhor, és Deus e que Tu fizeste tornar o seu coração para trás. Então, caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. O que vendo todo o povo, caiu sobre os seus rostos e disse: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!" 1 Reis 18:30-39. T3 284 1 Elias na hora do sacrifício da tarde repara o altar de Deus, o qual a apostasia de Israel tinha permitido que os sacerdotes de Baal derrubassem. Ele não chama alguém do povo para ajudá-lo em sua tarefa laboriosa. Os altares de Baal estão todos preparados; mas ele se volta ao demolido altar de Deus, que é mais sagrado e precioso para ele em seu estado feio de ruína do que todos os altares magníficos de Baal. T3 284 2 Elias respeita o concerto de Deus com Seu povo, embora o povo tenha apostatado. Com calma e solenidade, ele repara o altar de doze pedras, segundo o número das doze tribos de Israel, que fora derrubado. Os sacerdotes de Baal, desapontados, cansados de seus esforços vãos e frenéticos, estão sentados ou jazem prostrados no chão, esperando para ver o que Elias vai fazer. Estão cheios de temor e ódio para com o profeta por ter proposto um teste que expôs sua fraqueza e a ineficiência de seus deuses. T3 284 3 O povo de Israel está fascinado, pálido, ansioso e quase sem fôlego de terror, enquanto Elias invoca Jeová, o Criador dos céus e da Terra. O povo testemunhou o delírio fanático e irracional dos profetas de Baal. Em contraste, tem agora o privilégio de testemunhar a conduta calma e reverente de Elias. Ele lembra ao povo sua degradação, que tinha suscitado a ira de Deus contra eles, e então apela para que humilhem o coração e se voltem ao Deus de seus pais, para que Sua maldição seja removida deles. Acabe e seus sacerdotes idólatras olham com espanto misturado com terror. Aguardam o desfecho em silêncio ansioso e solene. T3 284 4 Depois da vítima ser colocada sobre o altar, ele ordena que o povo inunde com água o sacrifício e o altar, e que encha o rego em volta do altar. Então reverentemente curva-se diante do Deus invisível, levanta as mãos ao céu e oferece uma oração calma e simples, isenta de gestos violentos ou contorções do corpo. Nenhum grito ressoou sobre o alto do Carmelo. Um silêncio solene, que é opressivo aos sacerdotes de Baal, repousa sobre todos. Em sua oração, Elias não faz uso de expressões extravagantes. Ora a Jeová como se Ele estivesse próximo, testemunhando toda a cena e ouvindo sua oração sincera, fervorosa, embora simples. Os sacerdotes de Baal tinham gritado, e espumado, e saltado, e implorado muito tempo -- da manhã até quase à noite. A prece de Elias é muito curta, fervorosa, reverente e sincera. Mal é pronunciada aquela oração quando chamas descem do céu de um modo distinto, como um relâmpago brilhante, acendendo a lenha do sacrifício e consumindo a vítima, lambendo a água no rego e consumindo até as pedras do altar. O brilho da chama ilumina a montanha e é doloroso aos olhos da multidão. O povo do reino de Israel que não se acha sobre a montanha está observando com interesse os que estão ali reunidos. Quando o fogo desce, eles o vêem e ficam espantados com o espetáculo. Parece-se com a coluna de fogo junto ao Mar Vermelho, que de noite separava os filhos de Israel dos exércitos egípcios. T3 285 1 O povo sobre a montanha se prostra com terror e espanto diante do Deus invisível. Não podem olhar para o fogo brilhante e consumidor enviado do Céu. Temem que serão consumidos em sua apostasia e pecados, e clamam a uma voz, que ressoa sobre as montanhas e ecoa com clareza terrível para a planície abaixo: "Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!" 1 Reis 18:39. Israel é afinal despertado e seus olhos são abertos. Vêem seu pecado e quanto haviam desonrado a Deus. Sua ira é despertada contra os profetas de Baal. Com terror, Acabe e os sacerdotes de Baal testemunham a maravilhosa exibição do poder de Jeová. De novo, a voz de Elias é ouvida em palavras surpreendentes de ordem ao povo: "Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape." 1 Reis 18:40. O povo está pronto para obedecer a sua palavra. Eles prendem os profetas falsos que os iludiram, e os trazem ao ribeiro de Quisom, e aí, com a própria mão, Elias mata estes sacerdotes idólatras. T3 286 1 Tendo sido executados os juízos de Deus sobre os sacerdotes falsos, o povo confessado seus pecados e reconhecido o Deus de seus pais, a maldição desoladora de Deus vai agora ser removida, e Ele vai renovar Suas bênçãos ao Seu povo, e de novo refrescar a terra com orvalho e chuva. T3 286 2 Elias se dirige a Acabe, dizendo: "Sobe, come e bebe, porque ruído há de uma abundante chuva." 1 Reis 18:41. Enquanto Acabe subiu para festejar, Elias subiu do extraordinário sacrifício ao cume do Carmelo para orar. A obra de matar os sacerdotes pagãos não o desqualificara para o exercício solene da oração. Ele tinha cumprido a vontade de Deus. Depois de ter feito, como instrumento de Deus, o que podia para remover a causa da apostasia de Israel matando os sacerdotes idólatras, não podia fazer mais. Intercede então em favor de Israel, que pecara e apostatara. Na posição mais penosa, o rosto entre os joelhos, suplica fervorosamente a Deus para enviar chuva. Seis vezes seguidas envia seu servo para ver se há algum sinal visível de que Deus lhe ouvira a oração. Ele não se torna impaciente e sem fé porque o Senhor não deu imediatamente um sinal de que sua oração fora ouvida. Continua em oração fervorosa, enviando seu servo sete vezes para ver se Deus tinha concedido qualquer sinal. Seu servo volta pela sexta vez de sua observação do mar com o relato desanimador de que não há sinal de nuvens se formando no céu de bronze. Na sétima vez ele informa Elias de que há uma pequena nuvem à vista do tamanho da mão de um homem. Isso era o bastante para satisfazer a fé de Elias. Não espera até que o céu se escureça, para ter certeza. Naquela pequena nuvem ascendente, ouve pela fé o som de abundante chuva. Suas obras são segundo a sua fé. Envia uma mensagem a Acabe por seu servo: "Aparelha o teu carro e desce, para que a chuva te não apanhe." 1 Reis 18:44. A humildade de Elias T3 287 1 Aqui Elias arriscou algo baseado em sua fé. Não esperou para ver. "E sucedeu que, entretanto, os céus se enegreceram com nuvens e vento, e veio uma grande chuva; e Acabe subiu ao carro e foi para Jezreel. E a mão do Senhor estava sobre Elias, o qual cingiu os lombos, e veio correndo perante Acabe, até à entrada de Jezreel." 1 Reis 18:45, 46. T3 287 2 Elias tinha passado por grande agitação e esforço durante o dia; mas o Espírito do Senhor veio sobre ele porque fora obediente e fizera Sua vontade executando os sacerdotes idólatras. Alguns estarão prontos a dizer: Que homem duro e cruel deve ter sido Elias! E qualquer um que defenda a honra de Deus a qualquer risco suscitará, de uma grande classe, censura e condenação sobre si mesmo. T3 287 3 Começou a chover. Era noite, e a chuva que cegava impedia que Acabe visse o caminho. Elias, fortalecido pelo Espírito e poder de Deus, cingiu-se de seu manto rústico e correu adiante do carro de Acabe, guiando-o até a entrada da cidade. O profeta de Deus humilhara Acabe diante do povo. Matara seus sacerdotes idólatras, e agora desejava mostrar a Israel que reconhecia Acabe como seu rei. Como um ato de homenagem especial ele guiou a carruagem, correndo diante dela até a entrada do portão da cidade. T3 287 4 Aqui há uma lição para rapazes que professam ser servos de Deus, levando Sua mensagem, e se exaltam em estima própria. Não podem apontar para nada de notável em sua experiência, como podia Elias, mas se sentem acima do cumprimento de deveres que lhes parecem servis. Não descem de sua dignidade ministerial para fazer serviço necessário, receando que vão fazer o trabalho de um servo. Tais pessoas devem aprender do exemplo de Elias. Sua palavra impediu que os tesouros do céu -- o orvalho e a chuva -- caíssem sobre a terra por três anos. Somente sua palavra era a chave para abrir o céu e trazer chuva. Ele foi honrado por Deus ao oferecer sua simples oração na presença do rei e dos milhares de Israel, em resposta à qual chamas faiscaram do céu e acenderam o fogo sobre o altar de sacrifício. Sua mão executou o juízo de Deus ao matar oitocentos e cinqüenta sacerdotes de Baal; e não obstante, depois da tarefa exaustiva e do mais assinalado triunfo do dia, aquele que podia trazer nuvens, chuva e fogo do céu está disposto a fazer o serviço de um criado e correr adiante da carruagem de Acabe na escuridão, no vento e na chuva para servir ao soberano a quem não tinha receado reprovar abertamente por causa de seus pecados e crimes. O rei passou pelos portões. Elias embrulhou-se em seu manto e deitou-se na terra desnuda. O desânimo de Elias T3 288 1 Depois de Elias mostrar coragem tão destemida em uma luta entre vida e morte, depois de ter triunfado sobre o rei, os sacerdotes e o povo, haveríamos naturalmente de supor que ele nunca cederia ao desânimo ou sucumbiria à timidez. T3 288 2 Após Elias comparecer diante de Acabe pela primeira vez, pronunciando sobre ele os juízos de Deus por causa de sua apostasia e a de Israel, Deus dirigiu seu caminho longe do poder de Jezabel a um lugar de segurança nas montanhas, junto ao ribeiro de Querite. Ali honrou a Elias, enviando-lhe alimento de manhã e à tarde por um anjo do Céu. Então, quando o riacho se secou, enviou-o à viúva de Sarepta, e realizou diariamente um milagre para alimentar a família da viúva e Elias. Depois de ter sido abençoado com evidências de tal amor e cuidado da parte de Deus, haveríamos de supor que Elias nunca perderia sua confiança nEle. Mas o apóstolo nos diz que ele "era homem sujeito às mesmas paixões que nós" (Tiago 5:17), e como nós, sujeito às tentações. T3 288 3 Acabe narrou à sua mulher os acontecimentos maravilhosos do dia e as demonstrações extraordinárias do poder de Deus mostrando que Jeová, o Criador dos céus e da Terra, é Deus; também que Elias tinha matado os profetas de Baal. Com isso, Jezabel, que era endurecida no pecado, ficou furiosa. Ousada, desafiante e resoluta em sua idolatria, declarou a Acabe que Elias não havia de viver. T3 289 1 Naquela noite um mensageiro acordou o profeta exausto e comunicou-lhe a palavra de Jezabel, dada em nome de seus deuses pagãos, que ela faria, na presença de Israel, a Elias como ele fizera aos profetas de Baal. Elias devia ter enfrentado esta ameaça e juramento de Jezabel com um apelo à proteção do Deus do Céu, que o encarregara de fazer o trabalho que ele fizera. Devia ter dito ao mensageiro que o Deus em quem confiava seria seu protetor em face do ódio e das ameaças de Jezabel. Mas a fé e a coragem de Elias parecem abandoná-lo. Levanta-se confuso de seu sono. A chuva está jorrando do céu, e há escuridão de todo lado. Perde a Deus de vista e foge para salvar a vida, como se o vingador de sangue estivesse a seu encalço. Deixa seu servo para trás, e pela manhã se encontra longe de habitação humana, sozinho em um deserto desolado. T3 289 2 "O que vendo ele, se levantou, e, para escapar com vida, se foi, e veio a Berseba, que é de Judá, e deixou ali o seu moço. E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais. E deitou-se e dormiu debaixo de um zimbro; e eis que, então, um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come. E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se. E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho. Levantou-se, pois, e comeu, e bebeu, e, com a força daquela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus. E ali entrou numa caverna e passou ali a noite; e eis que a palavra do Senhor veio a ele e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?" 1 Reis 19:3-9. T3 290 1 Elias devia ter confiado em Deus, que o tinha advertido quando fugir e onde encontrar abrigo longe do ódio de Jezabel, a salvo da busca diligente de Acabe. O Senhor dessa vez não o advertira a fugir. Ele não esperou que o Senhor lhe falasse. Ele agiu precipitadamente. Tivesse ele esperado com fé e paciência, Deus teria protegido Seu servo e lhe teria dado outra marcante vitória em Israel, enviando Seus juízos sobre Jezabel. T3 290 2 Cansado e prostrado, Elias senta-se para descansar. Está desanimado e sente como quem quer murmurar. Diz: "Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais." 1 Reis 19:4. Sente que a vida não é mais desejável. Esperava que, depois da manifestação notável do poder de Deus na presença de Israel, eles seriam leais e fiéis a Deus. Esperava que Jezabel não mais tivesse influência sobre a mente de Acabe e que haveria uma revolução geral no reino de Israel. E quando a mensagem ameaçadora de Jezabel lhe foi comunicada, esqueceu que Deus era o mesmo Deus todo-poderoso e compassivo de quando orou por fogo do Céu, e veio, e por chuva, e choveu. Deus atendera todos os pedidos; todavia, Elias é um fugitivo longe de habitação humana, e deseja nunca mais ver um ser humano. T3 290 3 Como considerou Deus Seu servo sofredor? Abandonou-o porque desânimo e desespero o tinham acometido? Oh, não! Elias estava abatido pelo desânimo. O dia todo tinha lutado sem alimento. Quando guiou a carruagem de Acabe, correndo diante dela até ao portão da cidade, estava cheio de coragem. Tinha esperanças elevadas de que Israel como nação voltaria à sua lealdade para com Deus e que seria restabelecida a Seu favor. Mas a reação que freqüentemente segue uma exaltação de fé e um sucesso marcante e glorioso pesava sobre Elias. Ele fora exaltado ao topo de Pisga, para ser humilhado ao vale mais profundo em fé e sentimento. Mas os olhos de Deus estavam ainda sobre Seu servo. Não o amava menos ao estar ele com o coração quebrantado e sentir-se abandonado por Deus e pelos homens do que quando, em resposta à sua oração, fogo flamejou do céu iluminando o Carmelo. T3 291 1 Aqueles que não arcaram com responsabilidades pesadas, ou que não estão acostumados a sentir profundamente, não podem entender os sentimentos de Elias e não estão preparados a tratá-lo com a terna simpatia que ele merece. Deus sabe e pode ler a angústia do coração ferido sob tentação e conflito doloroso. T3 291 2 Ao dormir Elias sob o zimbro, um toque leve e uma voz agradável o despertaram. Ele salta imediatamente em terror, como se quisesse fugir, como se o inimigo que estava ao encalço de sua vida o tivesse de fato achado. Porém, no semblante compassivo de amor que se curva sobre ele, vê não a face de um inimigo, e sim a de um amigo. Um anjo tinha sido enviado com alimento do Céu para suster o fiel servo de Deus. Sua voz diz a Elias: "Levanta-te e come." 1 Reis 19:5. Depois de Elias ter participado da refeição preparada para ele, dorme de novo. Uma segunda vez o anjo de Deus ministra às necessidades de Elias. Ele toca o homem cansado e exausto, e com compassiva ternura lhe diz: "Levanta-te e come, porque mui comprido te será o caminho." 1 Reis 19:7. Elias foi fortalecido e prosseguiu sua viagem até ao Horebe. Ele estava em um deserto. À noite alojou-se numa caverna para proteger-se de animais ferozes. T3 291 3 Aqui Deus, mediante um de Seus anjos, encontra-Se com Elias, e indaga: "Que fazes aqui, Elias?" 1 Reis 19:9. Eu o enviei ao ribeiro de Querite, Eu o enviei à viúva de Sarepta, Eu o enviei a Samaria com uma mensagem para Acabe, mas quem o enviou nesta longa viagem ao deserto? E que propósito tem você aqui? Elias lamenta a amargura de seu coração ao Senhor. "E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os Teus altares e mataram os Teus profetas à espada; e eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem. E Ele lhe disse: Sai para fora e põe-te neste monte perante a face do Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento, que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e, depois do terremoto, um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, uma voz mansa e delicada. E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias? E ele disse: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram o Teu concerto, derribaram os Teus altares e mataram os Teus profetas à espada; e eu fiquei só, e buscam a minha vida para ma tirarem." 1 Reis 19:10-14. T3 292 1 Então o Senhor Se manifesta a Elias, mostrando-lhe que confiança tranqüila em Deus e firme dependência dEle sempre serão um auxílio presente em tempo de necessidade. T3 292 2 Foi-me mostrado que meu marido errou cedendo ao desânimo e desconfiança de Deus. Repetidas vezes Deus tem Se revelado a ele por meio de evidências notáveis de Seu cuidado, amor e poder. Mas, quando viu que seu interesse e zelo por Deus e Sua causa não foram compreendidos ou apreciados, por vezes tem dado lugar a desânimo e desespero. Deus deu a meu marido e a mim uma obra especial e importante para realizar em Sua causa, a fim de reprovar e aconselhar Seu povo. Quando vemos nossas reprovações menosprezadas e somos retribuídos com ódio em vez de simpatia, então freqüentemente temos perdido nossa fé e confiança no Deus de Israel; e, como Elias, temos nos entregado ao desânimo e desespero. Isso tem sido o grande erro na vida de meu marido -- o fato dele ficar desanimado porque seus irmãos lhe têm trazido provações em vez de ajudá-lo. E, quando seus irmãos vêem na tristeza e desânimo de meu marido o efeito de sua descrença e falta de simpatia, alguns estão preparados para triunfar sobre ele e aproveitar-se de seu desalento, e sentir que, depois de tudo, Deus não pode estar com o irmão White ou ele não manifestaria fraqueza nesse sentido. Chamo a atenção de tais pessoas à obra de Elias e a seu desânimo e desalento. Elias, embora um profeta de Deus, era "homem sujeito às mesmas paixões que nós". Tiago 5:17. Temos a fragilidade de sensibilidades mortais com as quais lutar. Porém, se confiarmos em Deus, Ele nunca nos deixa ou abandona. Sob todas as circunstâncias podemos ter firme confiança em Deus que Ele nunca nos deixará ou abandonará enquanto preservarmos nossa integridade. T3 293 1 Meu marido pode obter coragem em sua aflição por ter um Pai celestial compassivo que lê os motivos e compreende os propósitos do coração. Aqueles que estão à frente do conflito e que são constrangidos pelo Espírito de Deus para fazer um trabalho especial para Ele sentirão freqüentemente uma reação quando a pressão é removida, e o desânimo pode por vezes oprimi-los duramente e abalar a fé mais heróica e enfraquecer as mentes mais constantes. Deus compreende todas as nossas fraquezas. Ele pode compadecer e amar quando o coração de homens pode ser duro como uma rocha. Esperar pacientemente em Deus e nEle confiar quando tudo parece escuro é a lição que meu marido precisa aprender mais plenamente. Deus não o decepcionará em sua integridade. ------------------------Capítulo 28 -- Moisés e Arão T3 293 2 Sobre o Monte Hor morreu Arão e foi sepultado. Moisés, irmão de Arão, e Eleazar, seu filho, acompanharam-no ao monte. Coube a Moisés o dever penoso de remover de seu irmão Arão as vestes sacerdotais e colocá-las sobre Eleazar, porque Deus tinha dito que ele deveria suceder a Arão no sacerdócio. Moisés e Eleazar testemunharam a morte de Arão, e Moisés o sepultou na montanha. Esta cena sobre o Monte Hor transporta nossa mente a alguns dos acontecimentos mais marcantes na vida de Arão. T3 293 3 Arão era um homem de amável disposição, a quem Deus escolheu para estar ao lado de Moisés e para falar por ele; em resumo, ser o porta-voz de Moisés. Deus podia ter escolhido Arão como líder; mas Aquele que conhece os corações, que compreende o caráter, sabia que Arão era inseguro e lhe faltava coragem moral para persistir na defesa do direito sob quaisquer circunstâncias, fossem quais fossem as conseqüências. O desejo de Arão de ganhar a boa vontade do povo algumas vezes o levou a cometer graves erros. Com demasiada freqüência ele cedia a suas súplicas, e assim fazendo desonrava a Deus. Em sua família, a mesma falta de firmeza pelo que é correto resultou na morte de dois de seus filhos. Arão era excelente em piedade e utilidade, mas negligenciou disciplinar sua família. Em vez de cumprir a tarefa de exigir respeito e reverência de seus filhos, permitiu que seguissem suas inclinações. Não os educou acerca da abnegação, mas cedeu a seus desejos. Não foram ensinados a respeitar e reverenciar a autoridade paterna. O pai era o dirigente legítimo da própria família enquanto vivesse. Sua autoridade não devia cessar, mesmo depois de os filhos terem crescido e terem as próprias famílias. O próprio Deus era o Rei da nação, e reivindicava obediência e honra do povo. T3 294 1 A ordem e a prosperidade do reino dependiam da boa ordem da igreja. E a prosperidade, harmonia e ordem da igreja dependiam da boa ordem e perfeita disciplina das famílias. Deus pune a infidelidade dos pais, aos quais confiou o dever de manter os princípios do governo paterno, que se encontram no fundamento da disciplina da igreja e da prosperidade da nação. Uma criança indisciplinada tem freqüentemente prejudicado a paz e a harmonia de uma igreja, e incitado uma nação à murmuração e rebelião. Do modo mais solene, o Senhor ordenou aos filhos o dever de afetuosamente respeitar e honrar seus pais. Por outro lado, Ele requer dos pais que eduquem os filhos e com diligência incessante os instruam quanto às reivindicações de Sua lei e os ensinem no conhecimento e temor de Deus. Estes preceitos que Deus impôs aos judeus com tanta solenidade repousam com igual peso sobre os pais cristãos. Aqueles que negligenciam a luz e a instrução que Deus deu em Sua Palavra quanto a educar os filhos e ordenar suas casas após eles terão terrível acerto de contas. A negligência criminosa de Arão para impor respeito e reverência a seus filhos resultou na morte deles. T3 295 1 Deus honrou a Arão escolhendo ele e sua posteridade masculina para o sacerdócio. Seus filhos ministravam no cargo sagrado. Nadabe e Abiú deixaram de reverenciar a ordem de Deus de oferecer diante dEle fogo sagrado sobre seus incensários com incenso. Deus os tinha proibido, sob pena de morte, de apresentar diante dEle o fogo comum com o incenso. T3 295 2 Aqui se vê o resultado de uma disciplina frouxa. Como os filhos de Arão não tivessem sido educados para respeitar e reverenciar as ordens do pai, pois desrespeitavam a autoridade paterna, não compreendiam a necessidade de seguir de maneira explícita as determinações de Deus. Quando condescendiam com seu apetite por vinho e ficavam sob seu estímulo excitante, sua razão tornava-se anuviada e não podiam discernir a diferença entre o sagrado e o comum. Contrariando as indicações expressas de Deus, eles O desonraram oferecendo fogo comum em lugar de fogo santo. Deus os visitou com Sua ira; saiu fogo de Sua presença e os destruiu. T3 295 3 Arão suportou sua severa aflição com paciência e humilde submissão. Pesar e profunda agonia lhe amarguraram o coração. Ele foi convencido de haver negligenciado o dever. Era sacerdote do Altíssimo, a fim de fazer expiação pelos pecados do povo. Era sacerdote de sua casa, e contudo tinha sido inclinado a deixar passar por alto a insensatez de seus filhos. Havia negligenciado o dever de dirigi-los e educá-los na obediência, abnegação e reverência para com a autoridade paterna. Mediante sentimentos de condescendência mal aplicada, deixou de moldar-lhes o caráter com elevada reverência pelas coisas eternas. Arão não viu -- não mais do que vêem muitos pais cristãos agora -- que seu amor mal aplicado e sua condescendência para com os seus filhos naquilo que estava errado preparavam-nos para o desagrado certo de Deus e Sua ira a irromper sobre eles para sua destruição. Enquanto Arão negligenciava exercer sua autoridade, a justiça de Deus se despertava contra eles. Arão precisava aprender que suas gentis advertências, sem o firme exercício da correção paterna, e sua imprudente ternura para com os filhos eram extrema crueldade. Deus fez justiça com as próprias mãos e destruiu os filhos de Arão. T3 296 1 Quando Deus chamou Moisés para que subisse a montanha, passaram-se seis dias antes de ser recebido na nuvem, na presença imediata de Deus. O cume da montanha estava incandescente com a glória de Deus. Contudo, enquanto os filhos de Israel contemplavam essa glória, a descrença lhes era tão natural que descontentes começaram a murmurar porque Moisés estava ausente. Enquanto a glória de Deus indicava Sua presença sagrada sobre a montanha e seu líder estava em conversa íntima com Deus, eles deviam estar-se santificando através de um exame profundo do coração, humilhação e fervoroso temor. Deus tinha deixado Arão e Hur no lugar de Moisés. Em sua ausência, o povo devia consultar e aconselhar-se com estes homens designados por Deus. T3 296 2 Aqui se vê a deficiência de Arão como líder ou governador de Israel. O povo suplicou-lhe que fizesse deuses para irem adiante deles ao Egito. Aqui estava uma oportunidade para Arão mostrar sua fé e confiança inabaláveis em Deus, e com firmeza e decisão enfrentar a proposta do povo. Mas seu desejo natural de agradar e concordar com o povo o levou a sacrificar a honra de Deus. Pediu que lhe trouxessem seus ornamentos, fabricou para eles um bezerro de ouro e proclamou diante do povo: "Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito." Êxodo 32:4. E a esse deus insensível ele fez um altar e proclamou para o dia seguinte uma festa para o Senhor. Toda restrição parecia removida do povo. Ofereceram ofertas queimadas ao bezerro de ouro, e um espírito de leviandade tomou posse deles. Eles condescenderam com orgia vergonhosa e bebedeira; comeram, beberam e "levantaram-se a folgar". Êxodo 32:6. T3 296 3 Apenas poucas semanas haviam se passado desde que fizeram um concerto solene com Deus para obedecer Sua voz. Tinham ouvido as palavras da lei de Deus pronunciadas em grandiosidade terrível do Monte Sinai, em meio a trovões e relâmpagos e tremor de terra. Tinham ouvido a declaração dos lábios do próprio Deus: "Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque Eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos." Êxodo 20:2-6. T3 297 1 Arão e seus filhos tinham sido honrados ao serem chamados ao monte para ali testemunhar a glória de Deus. "E viram o Deus de Israel, e debaixo de Seus pés havia como uma obra de pedra de safira e como o parecer do Céu na Sua claridade." Êxodo 24:10. T3 297 2 Deus tinha designado Nadabe e Abiú para uma obra santíssima; portanto, Ele os honrou de um modo maravilhoso. Deu-lhes uma visão de Sua excelente glória, para que as cenas que vissem no monte ficassem com eles e os qualificassem melhor para ministrar em Seu serviço e para render-Lhe aquela honra exaltada e reverência diante do povo que lhes dessem concepções mais claras de Seu caráter e despertassem neles a obediência e a reverência devidas a todos os Seus preceitos. T3 297 3 Antes de Moisés deixar seu povo para ir ao monte, leu para eles as palavras do concerto que Deus tinha feito com eles, e eles a uma voz responderam: "Tudo o que o Senhor falou faremos." Êxodo 19:8. Quão grande deve ter sido o pecado de Arão, quão grave aos olhos de Deus! T3 297 4 Enquanto Moisés recebia a lei de Deus no monte, o Senhor o informou sobre o pecado do Israel rebelde e pediu-lhe que os abandonasse, para que Ele os destruísse. Mas Moisés intercedeu com Deus pelo povo. Ele era o homem mais manso que jamais viveu; todavia, quando os interesses do povo sobre o qual Deus o havia designado como líder estavam em jogo, ele perdeu sua timidez natural e com persistência singular e maravilhosa ousadia pleiteou com Deus a favor de Israel. Não consentiria que Deus destruísse Seu povo, embora Deus prometesse que na sua destruição Ele exaltaria a Moisés e levantaria um povo melhor do que Israel. T3 298 1 Moisés prevaleceu. Deus concedeu sua petição sincera de não destruir Seu povo. Moisés tomou as tábuas do concerto, a lei dos Dez Mandamentos, e desceu do monte. A orgia e a confusão da bebedeira dos filhos de Israel alcançaram seus ouvidos muito antes de chegar ao acampamento. Quando viu sua idolatria, e que tinham quebrado do modo mais marcante as palavras do concerto, foi tomado de tristeza e indignação por causa de sua vil idolatria. Confusão e vergonha tomaram posse dele, e jogou ali as tábuas e as quebrou. Como tinham quebrado seu concerto com Deus, Moisés, quebrando as tábuas, indicou-lhes que Deus também tinha quebrado Seu concerto com eles. As tábuas sobre as quais fora escrita a lei de Deus foram quebradas. T3 298 2 Arão, com sua disposição amável, tão mansa e agradável, procurou apaziguar Moisés, como se nenhum pecado muito grande tivesse sido cometido pelo povo acerca do qual devesse sentir tanto. Moisés replicou irado: "Que te tem feito este povo, que sobre ele trouxeste tamanho pecado? Então, disse Arão: Não se acenda a ira do meu senhor; tu sabes que este povo é inclinado ao mal; e eles me disseram: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque não sabemos que sucedeu a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito. Então, eu lhes disse: Quem tem ouro, arranque-o; e deram-mo, e lancei-o no fogo, e saiu este bezerro." Êxodo 32:21-24. Arão quis que Moisés pensasse que algum milagre maravilhoso tinha transformado seus ornamentos de ouro na forma de um bezerro. Não contou a Moisés que ele, com outros artífices, tinham feito aquela imagem. T3 298 3 Arão pensara que Moisés tinha sido muito intransigente com os desejos do povo. Pensou que se Moisés tivesse sido menos firme, menos resoluto às vezes, e que se tivesse feito um compromisso com o povo e condescendido com seus desejos, ele teria tido menos problema, e havido mais paz e harmonia no acampamento de Israel. Ele, portanto, tinha adotado essa nova política. Dera expressão a seu temperamento natural, cedendo aos desejos do povo, para poupar insatisfação e preservar sua boa vontade, e desse modo evitar uma rebelião, que pensava certamente ocorreria se não cedesse a seus desejos. Mas se Arão tivesse permanecido inabalável a Deus; se tivesse enfrentado a exigência do povo para que lhes fizesse deuses que fossem adiante deles ao Egito com a justa indignação e horror que a proposta deles merecia; se lhes tivesse mencionado os terrores do Sinai, onde Deus tinha pronunciado Sua lei em tal glória e majestade; se lhes tivesse lembrado de seu concerto solene com Deus de obedecer a tudo que Ele mandasse; enfim, se tivesse lhes dito que não cederia a suas súplicas, mesmo com o sacrifício da própria vida, teria tido influência sobre o povo para prevenir uma terrível apostasia. Mas quando, na ausência de Moisés, sua influência foi requerida para ser usada na direção certa, quando devia ter ficado firme e intransigente como Moisés, para impedir que o povo seguisse uma conduta pecaminosa, sua influência foi exercida na direção errada. Foi fraco em fazer sua influência ser sentida em defesa da honra de Deus pela guarda de Sua santa lei. Mas do lado errado ele exerceu uma forte influência. Ele ordenou, e o povo obedeceu. T3 299 1 Quando Arão deu o primeiro passo no caminho errado, ele foi imbuído do espírito que tinha atuado sobre o povo, e tomou a dianteira e comandou como um general, e o povo foi obediente de modo singular. Aqui Arão sancionou de modo decisivo os pecados mais graves, porque era menos difícil do que ficar firme em defesa do direito. Quando se desviou de sua integridade consentindo com o povo em seus pecados, parecia inspirado por decisão, fervor e zelo novos para ele. Sua timidez pareceu subitamente dissipar-se. Com um zelo que nunca tinha manifestado na defesa da honra de Deus contra o erro, tomou os instrumentos para transformar o ouro na imagem de um bezerro. Ordenou que um altar fosse construído, e, com convicção digna de melhor causa, proclamou ao povo que no dia seguinte haveria "festa ao Senhor". Êxodo 32:5. Os trombeteiros tomaram as palavras dos lábios de Arão e ressoaram a proclamação de companhia em companhia dos exércitos de Israel. T3 300 1 A calma segurança de Arão em uma conduta errada deu-lhe maior influência com o povo do que Moisés poderia ter tido em conduzi-los a uma conduta certa e em subjugar sua rebelião. Que cegueira espiritual terrível deve ter sobrevindo a Arão para que trocasse luz por trevas e trevas por luz! Que presunção de sua parte de proclamar uma festa ao Senhor ligada com o culto idólatra da imagem de ouro! Aqui se vê o poder que Satanás tem sobre mentes que não são inteiramente controladas pelo Espírito de Deus. Satanás tinha erguido seu estandarte no meio de Israel, e este foi enaltecido como o estandarte de Deus. T3 300 2 "Estes", disse Arão sem hesitação ou vergonha, "são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito." Êxodo 32:4. Arão influenciou os filhos de Israel a ir mais longe na idolatria do que tinham intenção. Não mais se preocuparam se a glória ardente como fogo flamejante sobre o monte tivesse consumido seu líder. Pensaram que tinham um general que os satisfazia, e estavam prontos a fazer o que quer que ele sugerisse. Sacrificaram a seu deus de ouro; ofereceram ofertas pacíficas, e se entregaram ao prazer, orgia e bebedeira. Imaginaram então que não fora por culpa deles que tinham tido tanta aflição no deserto; mas a dificuldade, afinal, estava com seu líder. Não era o homem certo. Era intransigente e mantinha seus pecados continuamente diante deles, advertindo, reprovando e os ameaçando com o desfavor de Deus. Uma nova ordem de coisas tinha vindo, e estavam satisfeitos com Arão e satisfeitos consigo mesmos. Pensaram: Se Moisés tivesse sido tão amável e manso como Arão, que paz e harmonia teriam prevalecido no acampamento de Israel! Não mais se preocupavam se Moisés descesse ou não do monte. T3 300 3 Quando Moisés viu a idolatria de Israel e sua indignação foi assim despertada por seu vergonhoso esquecimento de Deus, ele lançou por terra as tábuas de pedra e as quebrou. Arão permaneceu mansamente ao lado, suportando a censura de Moisés com louvável paciência. O povo estava encantado com o espírito amável de Arão e estava desgostoso com a severidade de Moisés. Mas Deus "não vê como vê o homem". 1 Samuel 16:7. Ele não condenou o ardor e a indignação de Moisés em vista da vil apostasia de Israel. T3 301 1 O verdadeiro general toma então sua posição por Deus. Viera diretamente da presença do Senhor, onde tinha pleiteado com Ele para desviar Sua ira de Seu errante povo. Agora tem outra obra a fazer, como ministro de Deus, para defender Sua honra perante o povo, e fazer que vissem que pecado é pecado, e retidão é retidão. Ele tem uma obra a fazer para anular a influência terrível de Arão. "Pôs-se em pé Moisés na porta do arraial e disse: Quem é do Senhor, venha a mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi. E disse-lhes: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu próximo. E os filhos de Levi fizeram conforme a palavra de Moisés; e caíram do povo, aquele dia, uns três mil homens. Porquanto Moisés tinha dito: Consagrai hoje as vossas mãos ao Senhor; porquanto cada um será contra o seu filho e contra o seu irmão; e isto para Ele vos dar hoje bênção." Êxodo 32:26-29. T3 301 2 Aqui Moisés define consagração genuína como obediência a Deus, erguer-se em defesa do direito e demonstrar prontidão para executar o propósito de Deus nos deveres mais desagradáveis, mostrando que as reivindicações de Deus são mais elevadas do que as reivindicações de amigos ou a vida dos parentes mais próximos. Os filhos de Levi se consagraram a Deus para executar Sua justiça contra o crime e o pecado. T3 301 3 Arão e Moisés ambos pecaram em não dar glória e honra a Deus junto às águas de Meribá. Estavam ambos cansados e irritados pelas queixas contínuas de Israel, e, em uma ocasião quando Deus estava para demonstrar Sua glória ao povo, para abrandar e subjugar-lhes o coração e levá-los ao arrependimento, Moisés e Arão reivindicaram para si o poder de fender a rocha para eles. "Ouvi agora, rebeldes: porventura, tiraremos água desta rocha para vós?" Números 20:10. Aqui estava uma oportunidade áurea para santificarem o Senhor no meio deles, para mostrarem-lhes a longanimidade de Deus e Sua terna compaixão por eles. Tinham murmurado contra Moisés e Arão porque não podiam encontrar água. Moisés e Arão tomaram estas murmurações como uma grande provação e desonra para si mesmos, esquecendo-se de que era Deus a quem estavam entristecendo. Era a Deus que estavam desonrando e contra Ele pecando, não contra aqueles que tinham sido designados por Deus para executar Seu propósito. Estavam insultando seu melhor Amigo atribuindo suas calamidades a Moisés e Arão; estavam murmurando contra a providência de Deus. T3 302 1 O pecado desses nobres dirigentes foi enorme. A vida deles podia ter sido notável até o fim. Tinham sido grandemente exaltados e honrados; não obstante, Deus não desculpa o pecado dos que estão em posições elevadas mais do que desculpa o daqueles que estão em posição mais humilde. Muitos cristãos professos consideram homens que não reprovam nem condenam o pecado como homens de piedade e cristãos de verdade, ao passo que pensam que aqueles que se levantam ousadamente na defesa do direito e que não cedem sua integridade a influências não consagradas precisem de piedade e espírito cristão. T3 302 2 Aqueles que se levantam na defesa da honra de Deus e mantêm a pureza da verdade a todo custo terão muitas provações, como teve nosso Salvador no deserto da tentação. Aqueles que têm um temperamento complacente, que não têm coragem de condenar o erro, mas que guardam silêncio quando sua influência é necessária para levantar-se em defesa do direito contra qualquer pressão, podem evitar muitas dores de coração e escapar a muita perplexidade; todavia, também perderão um rico galardão, se não a própria alma. Aqueles que estão em harmonia com Deus, e que pela fé nEle recebem força para resistir ao erro e estar de pé na defesa do direito, sempre terão conflitos severos e freqüentemente terão de manter-se de pé quase que sozinhos. Mas preciosas vitórias serão suas enquanto eles fizerem de Deus sua dependência. A graça divina será sua força. A sensibilidade moral deles será aguda e clara, e sua força moral será capaz de resistir às más influências. Sua integridade, como a de Moisés, será da natureza mais pura. T3 303 1 O espírito manso e complacente de Arão e seu desejo de agradar ao povo cegaram-lhe os olhos aos pecados deles e à enormidade do crime que ele estava sancionando. Sua conduta em favorecer o erro e o pecado em Israel custou a vida de três mil homens. Que contraste com esta foi a conduta de Moisés! Depois de ter comprovado ao povo que não podiam brincar impunemente com Deus; depois de lhes mostrar o justo desagrado de Deus por causa de seus pecados, dando o terrível decreto de matar amigos e parentes que persistiam em sua apostasia; depois da obra de justiça para desviar a ira de Deus, a despeito de seus sentimentos de simpatia por estimados amigos e parentes que continuavam obstinados em sua rebeldia -- depois disto, Moisés estava preparado para outra obra. Ele provara quem era o verdadeiro amigo de Deus e quem o amigo do povo. T3 303 2 "E aconteceu que, no dia seguinte, Moisés disse ao povo: Vós pecastes grande pecado; agora, porém, subirei ao Senhor; porventura, farei propiciação por vosso pecado. Assim, tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, este povo pecou pecado grande, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-Te, do Teu livro, que tens escrito. Então, disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei Eu do Meu livro. Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o Meu Anjo irá adiante de ti; porém, no dia da Minha visitação, visitarei, neles, o seu pecado. Assim, feriu o Senhor o povo, porquanto fizeram o bezerro que Arão tinha feito." Êxodo 32:30-35. T3 303 3 Moisés suplicou a Deus em favor do pecador Israel. Ele não procurou diminuir o pecado deles diante de Deus; não os desculpou em seu pecado. Reconheceu com franqueza que tinham cometido grande pecado e feito para si deuses de ouro. Ele então perde sua timidez, e o interesse de Israel está tão intimamente entrelaçado com sua vida que ousadamente vem a Deus e pede que Ele perdoe Seu povo. Se o pecado deles, ele pleiteia, é tão grande que Deus não os pode perdoar, se seus nomes precisam ser riscados de Seu livro, pede que o Senhor também apague seu nome. Quando o Senhor renovou Sua promessa a Moisés, de que Seu anjo iria diante dele conduzindo o povo à Terra Prometida, Moisés sabia que sua petição fora concedida. Mas o Senhor assegurou a Moisés que, se Ele fosse provocado a visitar o povo pelas transgressões deles, certamente também os puniria por esse pecado grave. Porém, se fossem obedientes daí em diante, Ele apagaria de Seu livro esse enorme pecado. ------------------------Capítulo 29 -- A um jovem pastor e esposa T3 304 1 Prezados irmão e irmã A: T3 304 2 Por alguns meses tenho sentido que era tempo de lhes escrever algumas coisas que o Senhor Se agradou mostrar-me acerca de vocês vários anos atrás. Seus casos me foram mostrados em relação com os de outros que tinham um trabalho a fazer por si mesmos a fim de serem qualificados para a obra de apresentar a verdade. Foi-me mostrado que ambos eram deficientes em qualificações essenciais e que, se estas não forem alcançadas, sua utilidade e a sua salvação correm perigo. Vocês têm algumas falhas de caráter e é muito importante que as corrijam. Se negligenciarem dar-se ao trabalho resoluta e seriamente, estas falhas aumentarão e lhes prejudicarão grandemente a influência na causa e obra de Deus, e resultarão afinal em serem separados da obra de pregar a verdade, que vocês tanto amam. T3 304 3 Na visão que me foi dada para B, foi-me mostrado que ele possuía um traço de caráter muito lamentável. Não tinha sido disciplinado, e seu temperamento não fora subjugado. Foi-lhe permitido ter opinião própria e fazer como bem entendesse. Era grandemente deficiente em reverência para com Deus e o homem. Tinha espírito forte e insubmisso e idéia muito fraca acerca da devida gratidão àqueles que estavam fazendo o máximo por ele. Ele era extremamente egoísta. T3 305 1 Foi-me mostrado que independência, vontade firme, fixa, inflexível, falta de consideração e de respeito devido a outros, egoísmo e demasiada confiança em si mesma marcam o caráter da irmã A. Se ela não prestar atenção e não vencer esses defeitos de caráter, certamente deixará de assentar-se com Cristo em Seu trono. T3 305 2 Quanto a você, irmão A, foi-me mostrado que muitas das coisas mencionadas no testemunho para B se aplicavam a você. Foi-me mostrada sua vida passada. Vi que desde criança tem sido autoconfiante, teimoso e obstinado e tem seguido a própria vontade. Tem espírito independente, e tem lhe sido muito difícil ceder a qualquer um. Quando era seu dever submeter seu caminho e seus desejos a outros, você fazia as coisas à sua maneira precipitada. Tem-se sentido plenamente capaz de pensar e agir independentemente. Você aceitou a verdade de Deus e a amou, e ela fez muito por você, mas não realizou toda a transformação necessária para o aperfeiçoamento de um caráter cristão. Quando começou a trabalhar na causa de Deus, você era mais humilde, disposto a ser aconselhado e instruído. Porém, quando começou a ter sucesso em certa medida, sua autoconfiança aumentou, e você se tornou menos humilde e mais independente. T3 305 3 Ao considerar a obra do irmão e da irmã White, você pensava poder ver onde poderia fazer melhor do que eles. Sentimentos contra eles foram acariciados em seu coração. Você era naturalmente céptico, descrente em seus sentimentos. Ao ver seu trabalho e ouvir as reprovações dadas àqueles que estavam em falta, você questionou como suportaria testemunho tão franco. Decidiu que não poderia recebê-lo e começou a armar-se contra a maneira como eles trabalhavam, e assim abriu uma porta em seu coração para suspeita, dúvida e inveja acerca deles e de seu trabalho. T3 306 1 Houve preconceito em seus sentimentos contra o trabalho deles. Você ouviu e reuniu tudo que pôde, e conjeturou muito. Porque Deus lhe concedera certo sucesso, você começou a colocar sua curta experiência e trabalhos no mesmo nível dos trabalhos do irmão White. Lisonjeava-se de que, se você estivesse no lugar dele, poderia fazer muito melhor do que ele. Começou a engrandecer-se aos próprios olhos. Você imaginava seu conhecimento muito mais extenso e valioso do que era. Tivesse tido a centésima parte da experiência em genuíno trabalho, cuidado, perplexidade e em assumir responsabilidades nesta causa que o irmão White teve, você poderia melhor compreender seu trabalho e estar mais preparado para simpatizar-se com ele em seus trabalhos, em vez de murmurar e de nutrir suspeita e inveja acerca dele. T3 306 2 Quanto a seu posto de trabalho, deve ser muito cuidadoso consigo mesmo para não fazer seu trabalho de modo inaceitável a Deus. Você deve, em humildade de coração, examinar: "E, para estas coisas, quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:16. A razão por que vocês dois estão tão prontos para questionar e conjeturar quanto ao trabalho do irmão White é porque sabem tão pouco a seu respeito. Tão poucos fardos reais pesaram sobre vocês, tão pouca ansiedade genuína pela causa de Deus lhes tem tocado o coração, tão pouca perplexidade e verdadeira aflição têm vocês suportado por outros, que não estão mais preparados para apreciar seu trabalho do que um menino de dez anos pode apreciar o cuidado, ansiedade e labuta de seu sobrecarregado pai. O menino pode ostentar um espírito alegre porque não tem a experiência do aflito e sobrecarregado pai. Ele pode ponderar sobre os temores e ansiedades do pai, que lhe parecem desnecessários. Porém, quando anos de experiência forem acrescentados à sua vida, quando ele aceitar e assumir suas reais responsabilidades, então pode reconsiderar a vida do pai e compreender o que lhe era misterioso em sua infância; porque a amarga experiência lhe deu conhecimento. Foi-me mostrado que você está em perigo de erguer-se acima da simplicidade da obra e colocar-se sobre o pináculo. Você sente que não necessita de reprovação e conselho, e a linguagem de seu coração é: "Sou capaz de julgar, discernir e determinar entre o certo e o errado. Não quero que meus direitos sejam infringidos. Ninguém me dará ordens. Sou capaz de organizar meus próprios planos de ação. Sou tão bom como qualquer um. Deus está comigo e me dá êxito em meus esforços. Quem tem autoridade para intrometer-se comigo?" Ouvi você pronunciar estas palavras, ao seu caso passar perante mim em visão, não a ninguém, mas como se estivesse conversando consigo mesmo. Meu anjo acompanhante repetiu estas palavras, ao apontar para vocês dois: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos Céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos Céus." Mateus 18:3, 4. T3 307 1 Vi que o poder dos filhos de Deus está na sua humildade. Quando são pequenos aos próprios olhos, Jesus lhes será sua força e sua justiça, e Deus prosperará seus trabalhos. Foi-me mostrado que Deus provaria o irmão A. Dar-lhe-ia uma medida de prosperidade; e se ele passar no teste, se fizer bom uso das bênçãos de Deus, não tomando honra para si e não ficando enaltecido, egoísta e autoconfiante, o Senhor continuaria a conceder Suas bênçãos por amor de Sua causa e para Sua glória. T3 307 2 Vi, irmão A, que você corria o maior perigo de exaltar-se, encher-se de justiça própria, auto-suficiência, e de sentir que é rico e de nada tem falta. A menos que se cuide nesses pontos, o Senhor permitirá que você prossiga até que sua fraqueza fique patente a todos. Será levado a posições nas quais será duramente provado se outros não o considerarem numa luz tão exaltada como você avalia a si mesmo e a sua habilidade. Foi-me mostrado que você está mal preparado para suportar muita prosperidade e muito êxito. Somente uma conversão cabal fará o trabalho que precisa ser feito em seu caso. T3 308 1 Foi-me mostrado que vocês dois são egoístas por natureza. A menos que tomem cuidado, estão em perigo constante de pensar e agir em benefício próprio. Fazem seus planos segundo conveniência própria, sem levar em conta quanta inconveniência trarão a outros. Estão inclinados a executar suas idéias e planos sem considerar os planos e respeitar as opiniões e sentimentos de outros. Vocês dois devem cultivar consideração e respeito pelos outros. T3 308 2 Irmão A, você imaginou que sua obra era demasiado importante para rebaixar-se e ocupar-se de deveres domésticos. Você não tem prazer nessas obrigações. Negligenciou-as quando era mais jovem. Mas esses pequenos deveres que você negligencia são essenciais para a formação de um caráter bem desenvolvido. T3 308 3 Foi-me mostrado que nossos pastores são geralmente deficientes em se mostrarem úteis às famílias com as quais se hospedam. Alguns devotam a mente ao estudo porque gostam disso. Não sentem que é um dever que Deus coloca sobre eles o se tornarem uma bênção às famílias que visitam, mas muitos se dedicam a livros e se isolam e não conversam com elas sobre os assuntos da verdade. Os interesses religiosos da família mal são mencionados. Tal coisa é inteiramente errada. Pastores que não assumem a responsabilidade e o cuidado das publicações, e que não arcam com perplexidades e numerosos cuidados de todas as igrejas, não devem sentir que seu trabalho é excessivamente pesado. Devem ter o mais profundo interesse pelas famílias que visitam; não devem sentir que podem ser mimados e servidos enquanto nada dão em troca. Há uma obrigação que pesa sobre famílias cristãs de hospedar os ministros de Cristo, e há também um dever que pesa sobre pastores que recebem a hospitalidade de amigos cristãos de ter obrigação mútua de assumir o próprio fardo tanto quanto possível e não ser um peso para seus amigos. Muitos pastores entretêm a idéia de que devem ser favorecidos e servidos de modo especial, e são freqüentemente prejudicados e sua utilidade diminuída quando muito mimados. T3 309 1 Irmão e irmã A, enquanto em meio a seus irmãos, vocês freqüentemente se têm habituado a fazer arranjos convenientes para vocês mesmos e a conduzir-se de modo a atrair atenção para si mesmos, sem considerar a conveniência ou a inconveniência de outros. Vocês correm o risco de colocar-se no centro. Têm recebido a atenção e a consideração de outros, quando, para o próprio bem e o benefício deles, deviam ter devotado mais atenção àqueles que visitam. Tal conduta lhes teria dado uma influência muito maior, e vocês seriam abençoados em ganhar mais pessoas para a verdade. T3 309 2 Irmão A, você tem a habilidade de apresentar a verdade a outros. Tem mentalidade inquiridora; mas há sérios defeitos em seu caráter, que mencionei e que precisam ser vencidos. Você negligencia muitas das pequenas cortesias da vida, porque pensa tanto em si mesmo que não reconhece que essas pequenas atenções lhe sejam requeridas. Deus não quer que você seja um fardo para outros, enquanto negligencia ver e fazer as coisas que alguém precisa fazer. Não diminui a dignidade de um ministro do evangelho buscar lenha e água quando necessárias ou exercitar-se fazendo o trabalho necessário na casa onde é hospedado. Não enxergando esses pequenos e importantes deveres e aproveitando a oportunidade de fazê-los, ele se priva de bênçãos reais e também priva a outros do bem que é privilégio deles receberem. T3 309 3 Alguns de nossos pastores não fazem exercício físico proporcional ao esforço mental. Como resultado, sofrem fraqueza. Não há uma boa razão para que haja declínio na saúde de pastores que têm de efetuar somente os deveres comuns que a eles cabem. Sua mente não está constantemente sobrecarregada de cuidados aflitivos e responsabilidades pesadas em relação a nossas importantes instituições. Vi que não há razão verdadeira para fracassarem neste período importante da causa e da obra, se derem a devida atenção à luz que Deus lhes deu sobre como trabalhar e como exercitar-se, e derem atenção adequada a seu regime alimentar. T3 310 1 Alguns de nossos pastores comem demais, e depois não se exercitam suficientemente para eliminar os resíduos que acumulam no organismo. Comem e depois passam a maior parte do tempo sentados, lendo, estudando ou escrevendo, quando uma porção de seu tempo deve ser devotada a esforço físico sistemático. Nossos pregadores com certeza perderão a saúde a menos que sejam cuidadosos para não sobrecarregar o estômago com quantidade excessiva de alimento, ainda que saudável. Vi que vocês, irmão e irmã A, estavam ambos em perigo nesse ponto. O excesso no comer impede a livre corrente de pensamentos e palavras, e aquela intensidade de sentimento que é tão necessária a fim de gravar a verdade no coração do ouvinte. A condescendência com o apetite obscurece e trava a mente, e embota as emoções santas do coração. As faculdades mentais e morais de alguns de nossos pregadores são enfraquecidas pelo comer incorreto e a falta de exercício físico. Aqueles que têm desejo de grandes quantidades de alimento não devem satisfazer o apetite, mas devem praticar domínio próprio e reter as bênçãos de músculos ativos e cérebro não sobrecarregado. O excesso no comer entorpece o ser todo, desviando as energias de outros órgãos para fazer o trabalho do estômago. T3 310 2 A falta de alguns pastores nossos quanto a exercitar todos os órgãos do corpo proporcionalmente faz com que alguns desses órgãos fiquem desgastados, enquanto outros se acham fracos por inatividade. Se permitir-se o uso apenas de um órgão ou conjunto de músculos, esses ficarão esgotados e grandemente debilitados. Cada faculdade da mente e cada músculo tem sua função distinta, e todos devem ser igualmente exercitados, a fim de se desenvolverem devidamente e conservarem saudável vigor. Cada órgão tem sua obra a fazer no organismo vivo. Cada roda do maquinismo tem de ser uma roda viva, ativa, trabalhadora. Todas as faculdades dependem umas das outras, e todas precisam de exercício para desenvolver-se devidamente. T3 310 3 Irmão e irmã A, nenhum de vocês aprecia trabalho físico, doméstico. Ambos precisam cultivar amor pelos deveres práticos da vida. Esta educação é necessária para sua saúde e lhes aumentará a utilidade. Vocês pensam muito sobre o que comem. Não devem tocar aquelas coisas que darão má qualidade de sangue; ambos têm escrofulose. T3 311 1 Irmão A, seu amor à leitura e seu desprazer pelo esforço físico, enquanto continua falando e exercitando a garganta, tornam-no sujeito à doença da garganta e dos pulmões. Você deve ser cuidadoso e não deve falar apressadamente, recitando o que tem a dizer como se tivesse uma lição a repetir. Não deve permitir que o esforço afete a parte superior dos órgãos vocais, porque isto vai desgastá-los e irritá-los, e lançará base para a enfermidade. A ação deve cair sobre os músculos abdominais. Os pulmões e a garganta devem ser o canal, mas não devem fazer todo o esforço. T3 311 2 Foi-me mostrado que a maneira de você e sua esposa comerem trará enfermidade, a qual, uma vez contraída, não será facilmente superada. Vocês dois podem suportar bem por anos sem dar sinais de doença, mas a causa será seguida de seguros resultados. Deus não realizará um milagre para nenhum de vocês a fim de preservar-lhes a saúde e a vida. Vocês precisam comer, estudar e trabalhar com inteligência, obedecendo a uma consciência iluminada. Todos os nossos pregadores devem ser sinceros e genuínos reformadores de saúde, não meramente adotando as reformas porque outros o fazem, mas por princípio, em obediência à Palavra de Deus. Deus nos tem dado uma grande luz sobre a reforma de saúde, que Ele requer que todos respeitem. Ele não envia luz para ser rejeitada ou desconsiderada por Seu povo sem que este sofra as conseqüências. Pioneiros na causa T3 311 3 Foi-me mostrado que nenhum de vocês realmente conhece a si mesmo. Se Deus deixasse o inimigo livre quanto a vocês, como fez com Seu servo Jó, ele não encontraria em vocês aquele espírito de integridade constante que achou em Jó, mas um espírito de murmuração e descrença. Estivessem vocês em Battle Creek durante a enfermidade de meu marido, no tempo da provação de nossos irmãos e irmãs ali, quando Satanás teve poder especial sobre eles, vocês dois se teriam embebido de seu espírito de ciúme e crítica. Tão zelosos como os demais, teriam estado entre aqueles capazes de transformar um homem enfermo, angustiado e deficiente físico em um transgressor por causa de uma palavra. T3 312 1 Vocês estão inclinados a compensar suas deficiências, aumentando e se demorando nas faltas que supõem existir no irmão e na irmã White. Se tivessem uma oportunidade, como tiveram aqueles em Battle Creek, arriscariam a ir ainda mais longe do que alguns deles em sua cruzada ímpia contra nós; porque vocês têm menos fé e menos respeito do que alguns deles, e estariam menos inclinados a respeitar nosso trabalho e nossa vocação. T3 312 2 Foi-me mostrado que, apesar de ter diante de si a triste experiência e o exemplo de outros que se tornaram descontentes e que murmuraram e acharam falta contra nós e sentiram inveja, vocês deixariam de ser advertidos pelo exemplo deles. Deus provaria sua fidelidade e revelaria os segredos do coração de vocês. Sua desconfiança, suspeitas e inveja seriam reveladas, e suas fraquezas expostas, para que as vissem e compreendessem a si mesmos, se quisessem. T3 312 3 Eu os vi ouvindo a conversa de homens e mulheres, e vi que vocês estavam bem contentes de colher suas opiniões e impressões que eram prejudiciais a nosso trabalho. Uns acharam falha em uma coisa, e outros em outra, como fizeram os murmuradores entre os filhos de Israel quando Moisés era seu líder. Alguns estavam censurando nossa conduta, dizendo que não éramos tão conservadores como devíamos ser; nós não procurávamos agradar as pessoas como podíamos; falávamos muito francamente; reprovávamos muito severamente. Alguns estavam falando sobre o vestido da irmã White, realçando minúcias. Outros estavam expressando insatisfação com a conduta do irmão White, e observações passavam de um para outro, questionando sua conduta e achando defeito. Um anjo estava diante dessas pessoas, invisível para elas, escrevendo suas palavras no livro que será aberto à vista de Deus e dos anjos. T3 312 4 Alguns estão ansiosamente vigiando para condenar alguma coisa no irmão e na irmã White, que se encaneceram em seu serviço na causa de Deus. Alguns expressam sua opinião que o testemunho da irmã White não é digno de confiança. Isso é tudo o que algumas pessoas não consagradas desejam. Os testemunhos de reprovação têm frustrado sua vaidade e orgulho; mas, se elas se atrevessem, iriam ao limite na moda e no orgulho. Deus dará a todos esses uma oportunidade de se revelarem e de desenvolver seu verdadeiro caráter. T3 313 1 Há alguns anos vi que teríamos de enfrentar o mesmo espírito que surgiu em Paris, Maine, e que nunca foi completamente reprimido. Tem dormitado, mas não está morto. De tempos em tempos, esse espírito de persistente murmuração e rebelião tem manifestado em diferentes indivíduos que em algum momento foram contaminados com tal mau espírito que nos tem acompanhado durante anos. Irmã A, esse espírito tem sido acariciado por você até certo ponto, e tem tido uma influência em moldar suas opiniões e sentimentos. Uma falsa piedade tem gradualmente crescido na mente de C, e não é fácil agora, mesmo para ela, livrar-se disso. O mesmo espírito persistente que manteve D e outros no Maine em engano fanático por tanto tempo, contra toda influência para levá-los à verdade, tem tido poderosa influência enganadora sobre a mente de E em _____, e a mesma influência a afetou. Você era daquele temperamento calmo, persistente e inflexível que o inimigo podia afetar, e os mesmos resultados que acompanharam a influência da irmã E, somente em maior grau, acompanharão sua influência, se for errada. T3 313 2 Sentimentos de suspeita, inveja e descrença vêm durante anos ganhando terreno em sua mente. Você odeia a reprovação. É muito sensível e suas simpatias se despertam imediatamente por qualquer um que é reprovado. Esse não é um sentimento santificado e nem promovido pelo Espírito de Deus. Irmão e irmã A, foi-me mostrado que quando esse espírito de crítica e murmuração se desenvolvesse em vocês, quando se manifestasse e o fermento de insatisfação, inveja e descrença que tem amaldiçoado a vida de E e de seu marido aparecesse, teríamos uma obra a fazer para enfrentá-lo de modo decidido e não dar abrigo àquele espírito; e que, até que isso se desenvolvesse, eu devia guardar silêncio, pois havia "tempo de falar" e "tempo de estar calado". Eclesiastes 3:7. Vi que, se evidente prosperidade acompanhasse os trabalhos do irmão A, a menos que ele fosse um homem inteiramente convertido, correria o perigo de perder a salvação. Ele não mantém respeito apropriado pela posição e os trabalhos de outros; não se considera inferior a ninguém. T3 314 1 Foi-me mostrado que tentações continuarão a crescer com respeito aos trabalhos do irmão e da irmã White. Nosso trabalho é um trabalho peculiar; é de natureza diferente do de quaisquer outros que labutam no campo. Deus não chama pastores que só tenham de trabalhar em palavra e doutrina para fazer nosso trabalho, nem nos chama para fazer somente o trabalho deles. Cada um de nós tem, em alguns respeitos, um trabalho distinto. Deus julgou conveniente revelar-me os segredos da vida íntima e os pecados ocultos de Seu povo. Fui encarregada do desagradável dever de reprovar erros e revelar pecados encobertos. Quando sou compelida pelo Espírito de Deus a reprovar pecados cuja existência outros ignoravam, despertam-se os sentimentos naturais no coração dos não santificados. Enquanto alguns têm humilhado o coração diante de Deus, e com arrependimento e confissão têm abandonado seus pecados, outros têm sentido um espírito de ódio surgir-lhes no coração. Seu orgulho foi ofendido quando sua conduta foi reprovada. Eles entretêm o pensamento de que é a irmã White que os está ofendendo, em vez de se sentirem gratos a Deus porque Ele em misericórdia lhes falou através de Seu humilde instrumento, para lhes mostrar seus perigos e pecados, a fim de que os abandonem antes que seja tarde demais para endireitar os erros. T3 314 2 Alguns são propensos a perguntar: "Quem contou tais coisas para a irmã White?" Eles até me têm lançado a pergunta: "Alguém lhe disse essas coisas?" Pude responder-lhes: "Sim; sim, o anjo de Deus me falou." Mas o que eles querem dizer é: "Estão os irmãos e as irmãs expondo suas faltas?" No futuro, não depreciarei os testemunhos que Deus me deu, fazendo explanações para tentar satisfazer essas mentes estreitas, mas considerarei todas essas perguntas como um insulto ao Espírito de Deus. O Senhor achou conveniente impelir-me a posições em que não colocou a nenhuma outra pessoa em nossas fileiras. Ele pôs sobre mim responsabilidades de repreensão que não tem dado a nenhum outro indivíduo. Meu marido tem estado a meu lado para apoiar os testemunhos e para expressar-se em harmonia com o testemunho de reprovação. Ele foi obrigado a assumir posição resoluta para repelir a descrença e a rebelião, que têm sido ousadas e desafiadoras e que anulariam qualquer testemunho que eu desse, porque as pessoas reprovadas foram atingidas e sentiram profundamente a reprovação dada. Isto é exatamente o que Deus planejara. Era Sua intenção que eles sentissem. Era necessário que sentissem antes que seu coração orgulhoso renunciasse a seus pecados e que purificassem de toda iniqüidade seu coração e vida. T3 315 1 Em todo o progresso que Deus nos tem levado a fazer, em todo passo conquistado pelo povo de Deus, tem havido entre nós instrumentos de Satanás prontos a deixar-se ficar atrás e sugerir dúvidas e incredulidade, e a pôr obstáculos em nosso caminho, para nos enfraquecer a fé e o ânimo. Temos tido de portar-nos como guerreiros, dispostos a avançar e lutar disputando o caminho através da oposição suscitada. Isto tem tornado nosso trabalho dez vezes mais difícil do que do contrário teria sido. Temos tido de ficar firmes e inflexíveis como uma rocha. Esta firmeza tem sido interpretada como sendo dureza de coração e teimosia. Nunca foi desígnio de Deus que devêssemos vacilar, ora para a direita ora para a esquerda, para agradar a mente de irmãos não consagrados. Foi Seu desígnio que nosso método fosse direto. Um e outro têm vindo a nós pretendendo ter grande convicção para irmos nesse rumo ou naquele, contrariamente à luz que Deus nos tem dado. Que seria se tivéssemos seguido essas falsas luzes e impressões fanáticas? Certamente nosso povo não deveria então ter confiança em nós. Temos tido de pôr o rosto "como um seixo" (Isaías 50:7) pelo direito, e então prosseguir rumo ao trabalho e ao dever. T3 315 2 Alguns dentre nós estão sempre dispostos a levar as coisas ao extremo, a ultrapassar a meta. Parecem não possuir uma âncora. Esses têm prejudicado grandemente a causa da verdade. Outros há que parecem nunca ter uma posição em que estejam firmes e seguros, prontos a lutar, se necessário for, quando Deus chama os soldados fiéis a que se encontrem no posto do dever. Há aqueles que não farão um ataque contra o inimigo quando Deus requer que se faça. Nada fazem até que outros tenham travado a batalha e obtido a vitória para eles, e então estão prontos a partilhar os despojos. Até que ponto pode Deus contar com tais soldados? São contados como covardes em Sua causa. T3 316 1 Esta classe, vi, não obteve nenhuma experiência para si quanto à guerra contra o pecado e Satanás. Estavam mais inclinados a lutar contra os soldados fiéis de Cristo do que contra Satanás e seu exército. Tivessem eles cingido a armadura e entrado na batalha, teriam ganho uma experiência preciosa que era seu privilégio obter. Mas não tinham coragem de combater pelo direito, arriscar algo no combate e aprender como atacar Satanás e tomar suas fortalezas. Alguns não têm nenhuma idéia de correr qualquer risco ou aventurar-se eles mesmos. Mas alguém precisa se aventurar; alguém precisa correr riscos nesta causa. Aqueles que não querem aventurar-se e expor-se à censura estarão preparados para vigiar aqueles que assumem responsabilidades, e estarão prontos, se houver chance, a achar defeito neles e a prejudicá-los. Esta tem sido a experiência do irmão e da irmã White em seus trabalhos. Satanás, seus exércitos e outras pessoas têm estado alinhados contra eles. Quando aqueles que deviam ter estado a seu lado no combate os têm visto sobrecarregados e oprimidos além da medida, estavam preparados para unir-se com Satanás em seu trabalho para os desencorajar e enfraquecer, e, se possível, expulsá-los do campo. T3 316 2 Irmão e irmã A, foi-me mostrado que, ao viajarem, vocês têm sido respeitados e tidos em alta estima, sendo tratados com maior respeito e deferência do que era para seu bem. Não lhes é natural tratar com respeito aqueles que têm desempenhado as responsabilidades que Deus colocou sobre eles em Sua causa e obra. Ambos gostam de comodidade. Vocês não estão inclinados a ser desviados de sua conduta ou a se sujeitar à inconveniência. Desejam que as coisas se acomodem à sua conveniência. Vocês têm elevada auto-estima e opiniões exaltadas acerca de suas realizações. Não têm tido de suportar cuidados e responsabilidades desconcertantes, e as decisões importantes a serem feitas que envolvem os interesses da causa de Deus, as quais recaíram sobre meu marido. Deus fez dele um conselheiro para Seu povo, para advertir jovens como vocês mesmos, como crianças na verdade. Quando assumirem aquela posição humilde que uma concepção correta de seu verdadeiro estado os levará a assumir, estarão dispostos a serem aconselhados. É por causa das poucas responsabilidades que têm assumido que não entendem por que o irmão White devesse sentir mais profundamente que vocês. Há apenas esta diferença entre vocês e ele nessa questão. Ele investiu trinta dos melhores anos de sua vida na causa de Deus, ao passo que vocês têm apenas poucos anos de experiência e, em comparação, não têm tido de enfrentar nada das dificuldades que ele enfrentou. T3 317 1 Aqueles que lideraram esta obra labutaram arduamente para preparar a verdade e levar o trabalho pronto a vocês. Aí vocês o abraçam e saem a trabalhar, apresentando os argumentos preciosos que outros, com ansiedade inexprimível, pesquisaram para vocês. Enquanto vocês estão bem providos em relação a recursos, seu salário semanal garantido, não lhes deixando razão para cuidado ou ansiedade nesse sentido, esses pioneiros da causa sofreram privações de toda espécie. Não tinham garantia de nada. Dependiam de Deus e de poucas pessoas de coração benévolo que eram objeto de seus trabalhos. Ao passo que vocês têm irmãos simpatizantes para sustentá-los e plenamente apreciar seus esforços, os primeiros obreiros nesta obra tinham muito poucos para apoiá-los. Todos eles poderiam ser contados em poucos minutos. Sabíamos o que era passar fome por falta de alimento e sofrer frio por falta de roupa adequada. Viajávamos a noite toda em carruagem particular para visitar irmãos, porque não tínhamos recursos para pagar as despesas de hotel. Viajamos quilômetros a pé, mais de uma vez, porque não tínhamos dinheiro para alugar uma carruagem. Oh, quão preciosa para nós era a verdade! Quão valiosas as almas compradas pelo sangue de Cristo! T3 318 1 Não temos queixas a fazer de nossos sofrimentos naqueles dias de muita privação e perplexidade, o que tornava necessário o exercício da fé. Foram os dias mais felizes de nossa vida. Ali aprendemos a simplicidade da fé. Ali, quando em aflição, testamos e provamos ao Senhor. Ele era nossa consolação. Era para nós como a sombra de um grande rochedo numa terra desolada. É pena, meu irmão, que você e nossos jovens pastores em geral não tiveram uma experiência semelhante de privação, de prova e de necessidades; porque tal experiência seria de maior valor do que casas ou terras, ouro ou prata. T3 318 2 Quando nos referimos à nossa experiência passada de trabalho excessivo e privações, e de labutar com nossas mãos para nos sustentar e publicar a verdade bem no começo da obra, alguns de nossos jovens pregadores com apenas poucos anos de experiência na obra parecem ficar aborrecidos e nos culpam de nos gabar de nossas próprias obras. A razão disso é que a vida deles tem sido tão isenta de cuidado desgastante, privações e sacrifício próprio que não sabem como simpatizar-se conosco, e o contraste não está em harmonia com seus sentimentos. Apresentar diante deles a experiência de outros que está em tão amplo contraste com a própria conduta deles não faz seus trabalhos aparecerem numa luz favorável como gostariam. T3 318 3 Quando começamos este trabalho, estávamos ambos com saúde precária. Meu marido era dispéptico; contudo, três vezes ao dia, pela fé, fazíamos nossas súplicas a Deus por forças. Meu marido foi ao campo de feno com sua foice e, na força que Deus lhe dera em resposta a nossas orações sinceras, ele ali ceifando ganhou recursos com os quais comprar-nos roupa boa, mas simples, e para pagar a passagem para um Estado distante a fim de apresentar a verdade a nossos irmãos. T3 318 4 Temos o direito de nos referir ao passado, como fez o apóstolo Paulo. "E, quando estava presente convosco e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado e ainda me guardarei. Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia." 2 Coríntios 11:8-10. Referindo a nossa experiência passada, estamos obedecendo à exortação do apóstolo aos hebreus: "Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte, fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações e, em parte, fostes participantes com os que assim foram tratados." Hebreus 10:32, 33. T3 319 1 Nossa vida está entremeada com a causa de Deus. Não temos outro interesse fora dessa obra. E quando vemos o progresso que a causa fez de um começo muito pequeno, crescendo lenta mas seguramente para força e prosperidade; ao vermos o êxito da causa na qual temos labutado, e sofrido, e quase que sacrificado nossa vida, quem impedirá ou proibirá nosso orgulho em Deus? Nossa experiência nesta causa nos é valiosa. Temos investido tudo nela. T3 319 2 Moisés foi o homem mais manso que já viveu; contudo, por causa da murmuração dos filhos de Israel, ele foi repetidamente obrigado a recordar sua conduta pecaminosa desde que deixaram o Egito e justificar a própria conduta como seu líder. Justamente antes de deixar Israel, quando estava para morrer, recordou-lhes a conduta deles de rebelião e murmuração desde que tinham deixado o Egito, e como seu interesse e amor por eles o tinham levado a interceder junto a Deus em seu favor. Relatou-lhes como tinha pleiteado fervorosamente com o Senhor para deixá-lo atravessar o Jordão para entrar na Terra Prometida; porque "o Senhor indignou-Se muito contra mim, por causa de vós, e não me ouviu". Deuteronômio 3:26. Moisés apresentou-lhes seus pecados, e lhes disse: "Rebeldes fostes contra o Senhor, desde o dia em que vos conheci." Deuteronômio 9:24. Relatou-lhes quantas vezes ele tinha pleiteado com Deus e humilhado o coração em angústia por causa de seus pecados. T3 320 1 Era o desígnio de Deus que Moisés devesse freqüentemente lembrar a Israel de suas transgressões e rebelião, para que humilhassem o coração diante de Deus por causa de seus pecados. O Senhor não queria que esquecessem os erros e pecados que tinham provocado Sua ira contra eles. A recapitulação de suas transgressões e das misericórdias e bondade de Deus para com eles, as quais não tinham apreciado, não era agradável a seus sentimentos. Não obstante, Deus instruiu que isso fosse feito. T3 320 2 Foi-me mostrado que jovens como você, que tinham tido apenas alguns anos de experiência imperfeita na causa da verdade presente, não são as pessoas às quais Deus confiará que assumam pesadas responsabilidades e que liderem nesta obra. Tais pessoas manifestariam debilidade em tomar posições que entrariam em conflito com o julgamento e as opiniões das pessoas de experiência madura, cuja vida tem sido entremeada com a causa de Deus quase tantos anos quantos você já viveu e que desempenharam parte ativa nesta obra desde seu pequeno começo. Deus não escolherá homens de pouca experiência e considerável autoconfiança para liderar esta obra sagrada e importante. Há muito em jogo. Homens que tiveram apenas pequena experiência em sofrimentos, provas, oposição e em suportar privações para levar a obra à sua atual condição de prosperidade devem ter uma opinião modesta de si mesmos. T3 320 3 Jovens que agora se empenham na obra de pregar a verdade devem cultivar modéstia e humildade. Cumpre-lhes cuidar de não se exaltarem, para que não sejam vencidos. Serão responsáveis pela clara luz da verdade que sobre eles brilha. Vi que Deus Se desagrada da disposição de algumas pessoas para murmurar contra aqueles que travaram os mais árduos combates por elas, e que suportaram tanto no começo da mensagem, quando a obra era árdua. Deus considera os obreiros experientes, que trabalharam muito sob o peso de opressivas responsabilidades, quando não havia senão poucos para ajudar a fazer face às mesmas. Ele tem um zeloso cuidado por aqueles que se têm demonstrado fiéis. Desagradam-Lhe os que estão prontos a criticar e a reprovar os servos de Deus que encaneceram na edificação da causa da verdade presente. Suas censuras e murmurações, jovens, hão de por certo erguer-se contra vocês no dia de Deus. Enquanto Deus não houver colocado sobre vocês sérias responsabilidades, não saiam de seu lugar, apoiando-se em seu próprio e independente raciocínio, e assumindo responsabilidades para as quais não se acham habilitados. T3 321 1 Prezados irmãos, vocês necessitam cultivar a vigilância e a humildade, e ser diligentes na oração. Quanto mais perto viverem de Deus, tanto mais discernirão suas fraquezas e perigos. Uma visão prática da lei de Deus e uma clara compreensão da expiação de Cristo lhes darão o conhecimento de si mesmos e lhes mostrarão onde falham no aperfeiçoar caráter cristão. Em poucas palavras, ambos carecem de uma experiência quanto à vontade de Deus para vocês. Quando virem sua grande carência espiritual, reconhecerão o fato de que a depravação humana, especificada na Palavra de Deus, é real em sua experiência. Ambos são farisaicos e correm o perigo de permanecer, voluntária e temerosamente, na escuridão quanto a seus perigos e sua verdadeira posição diante de Deus. T3 321 2 Ambos precisam aprender os deveres que lhes cabem nas várias circunstâncias e relações da vida. Vocês têm negligenciado seus deveres tanto para com Deus como para com o homem. Precisam conhecer muito a si mesmos. A ignorância do próprio coração os leva a esquecer a necessidade de uma experiência diária e viva na vida religiosa. Negligenciam, até certo ponto, a necessidade de ter sempre sobre vocês uma influência divina. Isto é positivamente necessário ao fazer o serviço de Deus. Se o negligenciam e vão adiante, confiando em si mesmos, sendo auto-suficientes, serão abandonados a cometer enormes erros. Precisam constantemente nutrir humildade de espírito e sentimento de dependência. Aquele que sente a própria fraqueza olhará para mais alto e experimentará a necessidade de constante força de cima. A graça de Deus o levará a alimentar um espírito de contínua gratidão. Aquele que melhor conhece a própria fraqueza saberá que unicamente a incomparável graça de Deus triunfará sobre a rebelião do coração. T3 322 1 Vocês precisam familiarizar-se tanto com os pontos fracos de seu caráter como com os fortes, a fim de que estejam sempre em guarda para não se meterem em empreendimentos e assumirem responsabilidades para as quais Deus nunca lhes designou. Nunca devem comparar suas ações e medir sua vida por qualquer norma humana, mas segundo a regra de dever revelada na Bíblia. Vocês têm um trabalho a fazer por si mesmos, irmão e irmã A, que não imaginaram ser necessário. Por anos têm acariciado tentações e inveja com relação a nós e nosso trabalho. Isto não é agradável a Deus. Podem pensar que crêem nos testemunhos que Deus tem dado, mas incredulidade quanto a serem eles de Deus está ganhando terreno em vocês. T3 322 2 Seus trabalhos na conversão de pessoas à verdade, irmão A, seriam mais eficazes se você se demorasse tanto sobre o prático como sobre o teórico, tendo os elementos vivos e práticos no próprio coração e manifestando-os na própria vida. Você precisa ter uma influência mais firme de cima. Depende demasiado de seu ambiente. Se tem uma grande congregação, envaidece-se e deseja falar-lhe. Mas algumas vezes seu auditório diminui, seu espírito se abate, e pouco é o ânimo que lhe resta para trabalhar. Certamente falta alguma coisa. Sua segurança em Deus não é firme o bastante. Algumas das verdades mais importantes nos ensinos de Cristo foram pregadas por Ele a uma mulher de Samaria que foi tirar água quando Ele, estando cansado, sentou-Se junto ao poço para descansar. A fonte de águas vivas estava dentro dEle. A fonte de águas vivas precisa estar em nós, jorrando para refrescar aqueles que são trazidos sob nossa influência. T3 322 3 Cristo buscou os homens onde quer que os pudesse encontrar -- nas vias públicas, em casas particulares, nas sinagogas, à beira-mar. Lidava o dia inteiro, pregando às multidões e curando os doentes que Lhe eram trazidos; e freqüentemente, ao despedir o povo para que voltasse para casa a fim de repousar e dormir, passava Ele a noite inteira em oração, para sair e continuar os trabalhos pela manhã. Ó irmão e irmã, vocês nada sabem realmente de abnegação e sacrifício próprio por Cristo e por amor à verdade. Precisam depender mais plenamente de Deus e menos das próprias habilidades. Precisam ocultar-se em Deus. T3 323 1 Você, irmão A, está inclinado a ser severo ao reprovar e a tirar as próprias conclusões quanto a indivíduos, especialmente se o caminho deles cruzou o seu; e, de acordo com suas opiniões sobre o caso, às vezes os trata de um modo cruel. Não tem sido gentil, compassivo e cortês como foi seu Modelo. Você precisa abrandar seu espírito, para ser mais cortês e bondoso, e possuir benevolência mais desinteressada. Necessita pôr o coração em mais íntima comunhão com Deus, mediante fervorosa oração misturada com fé viva. Toda oração feita com fé eleva o suplicante acima das dúvidas desanimadoras e das paixões humanas. A oração dá força para renovar a luta contra os poderes das trevas, sofrer pacientemente as provações e suportar dureza como bons soldados de Cristo. T3 323 2 Enquanto se aconselha com suas dúvidas e temores, ou tenta solver todas as coisas que não pode ver claramente enquanto não tem fé, sua perplexidade só há de crescer e aprofundar-se. Se chegar a Deus, sentindo-se indefeso e dependente, como realmente é, e em humilde e confiante oração tornar as suas necessidades conhecidas Àquele cujo saber é infinito, que vê tudo na criação e que governa tudo por Sua vontade e palavra, Ele pode e há de atender a seu clamor, e fará com que a luz brilhe em seu coração e em torno de você; pois mediante sincera prece seu coração é posto em comunicação com a mente do Infinito. Talvez não tenha na ocasião nenhuma prova notável de que a face de seu Redentor se inclina sobre você em compaixão e amor, mas assim é realmente. Talvez não sinta de maneira palpável o Seu toque, mas Sua mão se acha sobre você com amor e piedosa ternura. T3 323 3 Deus os ama a ambos e deseja salvá-los com abundante salvação. Mas não pode ser do seu modo, e sim do modo apontado por Deus. Vocês precisam cumprir as condições expostas nas Escrituras da verdade, e Deus cumprirá Sua parte tão certamente como Seu trono é seguro. Porque as admoestações que Deus envia a Seu povo são humilhantes à natureza humana, você não deve, meu irmão, levantar-se contra estas reprovações e advertências. Você precisa morrer cada dia, experimentar uma crucifixão diária do eu. T3 324 1 De acordo com a luz que Deus me deu em visão, maldade e engano estão aumentando entre o povo de Deus que professa guardar Seus mandamentos. Discernimento espiritual para ver o pecado como ele existe, e então expulsá-lo do acampamento, está diminuindo entre o povo de Deus; e cegueira espiritual está rapidamente vindo sobre eles. O testemunho franco precisa ser reavivado, e ele vai separar de Israel aqueles que já estiveram em guerra com os meios que Deus ordenou para manter a corrupção fora da igreja. Erros precisam ser chamados erros. Pecados graves precisam ser chamados por seu nome exato. Todo o povo de Deus deve achegar-se mais perto dEle e lavar suas vestes de caráter no sangue do Cordeiro. Então verão o pecado na luz verdadeira e reconhecerão quão ofensivo ele é à vista de Deus. T3 324 2 Pareceu de pouca importância a nossos primeiros pais, quando tentados, transgredir o mandamento de Deus num pequeno ato, e comer da árvore que era "agradável aos olhos" e "boa para se comer". Gênesis 3:6. Aos transgressores era isto apenas um pequeno ato, mas que destruiu sua lealdade para com Deus e abriu um dilúvio de dor e culpa que inundou o mundo. Quem pode prever, no momento da tentação, as terríveis conseqüências que resultarão de um passo errado e apressado! Nossa única segurança é abrigarmo-nos na graça de Deus cada momento, não confiando em nossa própria visão espiritual, para que não chamemos ao mal bem, e ao bem chamemos mal. Sem hesitação ou debate, precisamos cerrar e guardar as entradas da alma contra o mal. T3 324 3 Custar-nos-á esforço conseguir a vida eterna. Será somente por meio de longo e perseverante esforço, severa disciplina e árduo conflito que sairemos vitoriosos. Mas, se nós, paciente e decididamente, no nome do Vitorioso que venceu em nosso benefício no deserto da tentação, vencermos assim como Ele o fez, alcançaremos a recompensa eterna. Nossos esforços, nossa abnegação e perseverança devem ser proporcionais ao infinito valor do objetivo que perseguimos. T3 325 1 Não devem permitir que suas simpatias por si mesmos conservem vocês e outros no erro porque vocês não vêem nada na aparência exterior para condenar. Deus vê; Ele pode ler os motivos e propósitos do coração. Eu lhes suplico em nome de nosso Mestre, que nos chamou e nos designou para nosso trabalho, para que não nos toquem e nos deixem fazer o trabalho do qual Deus nos encarregou. Guardem suas palavras de simpatia e piedade para aqueles que realmente precisam delas, que são compelidos pelo Espírito de Deus para mostrar a Seu povo suas transgressões e à casa de Israel seus pecados. Erro e pecado são abraçados nestes últimos dias mais prontamente do que a verdade e a justiça. Requer-se agora dos soldados da cruz de Cristo que ponham a armadura cristã e afastem a escuridão moral que está inundando o mundo. T3 325 2 Deus dará a ambos preciosas vitórias se vocês se entregarem inteiramente a Ele e permitirem que Sua graça lhes subjugue o coração orgulhoso. Sua justiça própria de nada valerá para com Deus. Nada deve ser feito esporadicamente ou num espírito de precipitação. Erros não podem ser endireitados, nem reformas de caráter feitas, por uns poucos esforços fracos e intermitentes. A santificação não é obra de um dia ou de um ano, mas de uma vida toda. Sem esforços contínuos e atividade constante, não pode haver progresso na vida religiosa, nem a aquisição da coroa do vencedor. Estamos empenhados em obra para o juízo, e não é seguro trabalhar em nossa própria sabedoria e confiar em nosso próprio discernimento. Com o espírito de confiança em si mesmos que agora possuem, nenhum de vocês poderia ser feliz no Céu; porque todos ali, mesmo os anjos mais exaltados, são subordinados. Vocês dois precisam ser transformados pela graça de Deus. T3 325 3 Irmã A, vi que deve ser cuidadosa para não abrir uma porta de tentação para seu marido a qual você não pode fechar quando quiser. É mais fácil convidar o inimigo ao coração de vocês do que despedi-lo depois dele ocupar o terreno. Seu orgulho é facilmente ofendido, e você precisa achegar-se mais perto de Deus, e buscar com fervor graça, graça divina, para suportar dificuldades como bom soldado de Cristo Jesus. Deus será seu ajudador se você O escolher como sua força. Vocês dois devem encorajar maior devoção a Deus. A única maneira de vigiar humildemente é vigiar orando. Não pensem por um momento que podem assentar-se e deleitar-se, e buscar o próprio prazer e conveniência. A vida de Cristo é nosso exemplo. Ele foi "homem de dores, experimentado nos trabalhos"; Ele "foi ferido, ... e oprimido". Isaías 53:3, 4. Vocês estão satisfeitos demais com sua posição. Necessitam de contínua vigilância para que Satanás não os iluda por suas sutilezas, corrompa-lhes a mente e os induza a incoerências e densas trevas. A vigilância de vocês deve-se caracterizar por um espírito de humilde dependência de Deus. Ela não deve ser exercida com espírito orgulhoso e confiante em si mesmo, mas com um sentimento profundo de sua própria fraqueza, e uma confiança infantil nas promessas de Deus. T3 326 1 Agora é fácil e aprazível tarefa pregar a verdade da mensagem do terceiro anjo, em comparação com o tempo quando a pregação começou e o número de membros era pequeno, e éramos considerados fanáticos. Os que tinham a responsabilidade da obra nos primeiros tempos do progresso da mensagem souberam o que era conflito, aflição e angústia de alma. Dia e noite sobre eles repousava pesadamente o fardo. Não pensavam em descanso ou comodidade mesmo quando premidos por sofrimento e doença. A brevidade do tempo exigia atividade, e os obreiros eram poucos. T3 326 2 Freqüentemente, quando levados a pontos difíceis, passavam a noite inteira em oração fervorosa, angustiante, com lágrimas em busca do auxílio de Deus e de luz que esclarecesse Sua Palavra. Quando essa luz vinha, e as nuvens se dissipavam, que alegria e grata felicidade repousavam sobre os ansiosos e diligentes pesquisadores! Nosso reconhecimento para com Deus era tão completo quanto havia sido nosso fervoroso e sedento clamor em busca de luz. Algumas noites não podíamos dormir, porque tínhamos o coração a transbordar de amor e gratidão para com Deus. T3 327 1 Os que agora saem a pregar a verdade têm tudo facilitado, ao alcance da mão. Não podem experimentar as privações que os obreiros da verdade presente suportaram antes deles. A verdade foi descoberta elo após elo, até formar uma clara e bem sistemática cadeia. Para trazer à luz a verdade com tanta clareza e harmonia, foi necessário cuidadoso estudo. A mais cruel e decidida oposição levou os servos de Deus a buscar o Senhor e a Bíblia. A luz que provinha de Deus lhes era realmente preciosa. T3 327 2 Foi-me mostrado que a razão por que alguns não podem discernir o que é certo é porque têm por tanto tempo agradado o inimigo que tem trabalhado lado a lado com eles, enquanto não discerniram seu poder. Por vezes parece difícil esperar pacientemente até que chegue o tempo apontado por Deus para defender o que é certo. Mas foi-me mostrado que, se ficamos impacientes, perdemos um rico galardão. Como obreiros fiéis no grande campo de Deus, precisamos semear com lágrimas e ser pacientes e esperançosos. Precisamos enfrentar problemas e tristezas. Tentações e penosa labuta afligirão o coração, mas precisamos pacientemente esperar com fé para colher com alegria. Na vitória final, Deus não terá lugar para as pessoas que não podem ser encontradas em parte alguma em tempo do perigo, quando as energias, a coragem e a influência de todos são necessárias para atacar o inimigo. Os que se colocam como soldados fiéis, para batalhar contra o erro e defender o que é certo, lutando "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Efésios 6:12), receberão, cada um, o louvor do Mestre: "Bem está, bom e fiel servo. ... Entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:23. T3 327 3 Nunca houve maior necessidade de fiéis advertências, reprovações e um tratamento íntimo e direto do que neste tempo. Satanás desceu com grande poder, "sabendo que... tem pouco tempo". Apocalipse 12:12. Ele está inundando o mundo com fábulas agradáveis, e o povo de Deus gosta que se lhes fale coisas lisonjeiras. O pecado e a iniqüidade não são detestados. Foi-me mostrado que o povo de Deus precisa fazer esforços mais firmes e resolutos para repelir a escuridão que está tomando conta. O trabalho rigoroso do Espírito de Deus é necessário agora como nunca antes. A estupidez precisa ser extirpada. Precisamos despertar da indiferença que se demonstrará nossa destruição se não lhe resistirmos. Satanás tem uma influência poderosa e controladora sobre as mentes. Pregadores e povo estão em perigo de serem achados ao lado das forças das trevas. Não há agora posição neutra. Somos todos decididamente pelo correto ou decididamente pelo erro. Disse Cristo: "Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta espalha." Mateus 12:30. T3 328 1 Sempre haverá pessoas que se simpatizam com aqueles que estão em falta. Satanás teve simpatizantes no Céu e levou com ele um grande número de anjos. Deus, Cristo e os anjos celestes estavam de um lado, e Satanás do outro. Não obstante o poder e a majestade infinitos de Deus e de Cristo, anjos se rebelaram. As insinuações de Satanás surtiram efeito, e eles realmente chegaram a crer que o Pai e o Filho eram seus inimigos e que Satanás era seu benfeitor. Satanás tem o mesmo poder e o mesmo controle sobre as mentes agora, somente que esse poder aumentou cem vezes pelo exercício e a experiência. Homens e mulheres hoje são enganados, cegados por suas insinuações e artimanhas, e não o sabem. Dando lugar a dúvidas e descrença com relação à obra de Deus, e acariciando sentimentos de desconfiança e cruel inveja, estão se preparando para uma decepção total. Levantam-se com sentimentos amargos contra aqueles que ousam falar de seus erros e reprovar-lhes os pecados. T3 328 2 Aqueles que no temor de Deus se aventuraram a fielmente enfrentar o erro e o pecado, chamando o pecado pelo seu nome exato, têm-se desempenhado de um dever desagradável com muito sofrimento para si mesmos; eles recebem a aprovação de bem poucos e sofrem o desprezo de muitos. Os que simpatizam com o erro executam os propósitos de Satanás para derrotar o desígnio de Deus. T3 329 1 Censuras sempre feriram a natureza humana. Muitos são os que têm sido destruídos pela imprudente simpatia de seus irmãos; pois, como os irmãos se simpatizaram com eles, pensaram que de fato tinham sido maltratados e que o reprovador estava totalmente errado e tinha um mau espírito. A única esperança para pecadores em Sião é plenamente ver e confessar seus erros, e abandoná-los. Aqueles que se intrometem para embotar o gume afiado da censura que Deus envia, dizendo que o reprovador estava em parte errado e que a reprovação não era justa, agradam ao inimigo. Tudo que Satanás pode inventar para tornar as censuras sem efeito cumprirá seu desígnio. Alguns culparão aquele a quem Deus enviou com uma mensagem de advertência, dizendo: "Ele é severo demais." Assim fazendo, tornam-se responsáveis pelo pecador a quem Deus desejava salvar, e a quem, porque o amava, Ele enviou correção, para que pudesse humilhar seu espírito diante de Deus e abandonar seus pecados. Estes falsos simpatizantes, por sua obra de morte, logo terão uma conta a acertar com o Mestre. T3 329 2 Há muitos que professam crer na verdade que estão cegos ao próprio perigo. Cultivam a iniqüidade no coração e a praticam na vida. Seus amigos não lhes podem ler o coração, e freqüentemente pensam que tais pessoas estão muito bem. Black Hawk, Colorado, 12 de Agosto de 1873. ------------------------Capítulo 30 -- Sonhando acordada T3 329 3 Prezada irmã E: T3 329 4 Foi-me mostrado que você necessita de uma conversão completa. Você aceitou a verdade, mas não recebeu as bênçãos que a verdade traz, porque não experimentou seu poder transformador. Você corre o risco de perder os dois mundos, a menos que tenha uma atuação mais completa da graça em seu coração e que sua vontade se harmonize com a mente e a vontade de Cristo. T3 329 5 Você não está agora no trilho certo para obter aquela paz e felicidade que o crente verdadeiro, humilde e portador da cruz certamente obterá. Você tem os traços de caráter de seu pai. Tem uma disposição egoísta; você não reconhece isso, mas é verdade. Seus pensamentos principais são para você mesma, para satisfazer-se, para fazer o que lhe é mais agradável, sem considerar a felicidade das pessoas a seu redor. Você está cometendo um erro em procurar felicidade. Se a achar, será no cumprimento do dever e no esquecimento do eu. Enquanto seus pensamentos se concentram tanto em si mesma, você não pode ser feliz. T3 330 1 Negligencia empenhar-se alegremente no trabalho que Deus lhe designou. Esquece os deveres comuns e simples que jazem diretamente em seu caminho, e sua mente devaneia em algum trabalho maior, que imagina será mais de acordo com seu gosto, e que suprirá o vazio em sua vida, a esterilidade de sua alma. Você certamente será desapontada nisso. O trabalho que Deus lhe deixou para fazer é assumir os deveres comuns de cada dia que estão a seu redor e fazer alegremente as tarefas simples e modestas da vida, não mecanicamente, mas tendo o coração no que faz, efetuando de boa vontade e com as mãos os deveres simples que estão à sua frente. T3 330 2 Você não procura fazer outros felizes; seus olhos não estão abertos, procurando discernir que pequenas coisas você pode fazer, que pequenas atenções nas cortesias diárias da vida pode demonstrar para com seus pais e os membros da família. Tem achado excessivamente ser uma virtude isolar-se da família e ruminar sobre seus pensamentos desditosos e experiência infeliz, colhendo espinhos e tendo prazer em ferir-se com eles. Compraz-se em um hábito sonhador, que deve ser quebrado. Você deixa deveres por fazer. Pelo prazer de satisfazer sua fantasia infeliz, negligencia trabalho que deveria fazer para aliviar a outros. Não conhece a si mesma. Levante-se para o dever! Desperte-se e assuma seu dever negligenciado. Redima o passado pela fidelidade futura. Assuma o trabalho à sua frente, e, no cumprimento fiel do dever, você esquecerá de si mesma e não terá tempo para fantasiar e tornar-se melancólica, e sentir-se mal-humorada e infeliz. T3 331 1 Você tem quase tudo a aprender na experiência cristã. Não está progredindo tão depressa como poderia e precisa, se deseja obter a vida eterna. Está agora formando um caráter para o Céu ou um que a impedirá de entrar ali. Tem tido a mente e os pensamentos tão absortos em si mesma que não reconheceu o que precisa fazer para tornar-se uma verdadeira seguidora do manso e humilde Jesus. Você tem negligenciado seus deveres domésticos. Tem sido uma nuvem e uma sombra na família, quando era seu privilégio derramar luz e ser uma bênção aos queridos a seu redor. Tem sido impertinente, ansiosa e infeliz, quando nada havia realmente para fazê-la assim. Não tem se mostrado alerta para ver o que podia fazer para aliviar os fardos de sua mãe e abençoar seus pais de toda forma possível. Tem esperado de seus pais e irmãs ajuda para ser feliz e para servi-la, para agirem por você, enquanto seus pensamentos se concentram em você mesma. Não tem tido a graça de Deus em seu coração, ao passo que se enganou pensando que tinha feito bom progresso no conhecimento da vontade divina. T3 331 2 Tem estado disposta a travar conversa com pessoas que não são de nossa fé, quando lhe era impossível apresentar-lhes uma razão inteligente de nossa fé. Nisto você não representa bem a verdade e faz muito mais mal do que bem à causa da verdade. Se você falasse menos na defesa de nossa fé e estudasse mais sua Bíblia, e deixasse seu comportamento ser de natureza a testificar que a influência da verdade foi boa sobre seu coração e vida, faria muito mais bem do que por mero falar, quando precisa de fidelidade em tantas coisas. T3 331 3 Se você for cuidadosa em seguir o exemplo de nosso abnegado Redentor que Se sacrificava, que sempre procurava fazer o bem e abençoar a outros, mas não para achar comodidade, prazer e alegria para Si mesmo, então sua influência será uma bênção a outros. Em nosso convívio na sociedade, em família, ou em quaisquer relacionamentos da vida em que sejamos colocados, limitados ou extensos que sejam, há muitas maneiras pelas quais podemos confessar a nosso Senhor, e muitos modos pelos quais podemos negá-Lo. Podemos negá-Lo por nossas palavras, falando mal de outros, por conversas levianas, gracejos e zombarias, por palavras ociosas ou cruéis, ou por prevaricar, falando contrariamente à verdade. Por nossas palavras podemos confessar que Cristo não está em nós. Por nosso caráter, podemos negá-Lo pelo amor da comodidade, esquivando-nos aos deveres e responsabilidades da vida que devem recair sobre outros, se nós não os assumirmos, e amando os prazeres pecaminosos. Podemos também negar a Cristo pelo orgulho no vestuário e conformidade com o mundo, ou por uma conduta descortês. Podemos negá-Lo pelo amor a nossas próprias opiniões, buscando sustentar e justificar o próprio eu. Também podemos negá-Lo, permitindo a mente girar em torno do sentimentalismo amoroso, e demorando os pensamentos sobre nossa suposta dura sorte, nossas provações. T3 332 1 Pessoa alguma pode na verdade confessar a Cristo perante o mundo, a menos que nela habitem a mente e o espírito de Cristo. Impossível é comunicarmos aquilo que não possuímos. A conversação e a conduta devem ser real e visível expressão da graça e verdade interiores. Caso o coração seja santificado, submisso e humilde, os frutos serão vistos exteriormente e serão a mais eficaz confissão de Cristo. Palavras e profissão de fé não são suficientes. Você, minha irmã, deve ter mais que isto. Está a enganar a si mesma. Seu espírito, caráter e ações não mostram um espírito manso, abnegado e caridoso. As palavras e a profissão de fé poderão exprimir muita humildade e amor; porém, se a conduta não for diariamente regulada pela graça de Deus, você não é participante do dom celestial, não abandonou tudo por Cristo, não entregou sua vontade e prazer a fim de tornar-se discípula Sua. T3 332 2 Comete pecado e nega seu Salvador ao pensar em coisas sombrias, arranjando para você mesma provações, tomando aflições emprestadas. Ao inventar provações, você atrai para hoje as aflições do dia de amanhã, amargura o próprio coração e traz preocupações e nuvens sobre os que a rodeiam. Quanto ao precioso tempo de graça que lhe é concedido por Deus, em que deve fazer bem e enriquecer-se em boas obras, você é bastante imprudente para empregá-lo em pensar em coisas desagradáveis e em construir castelos no ar. Permite que sua imaginação gire em assuntos que nenhum alívio ou felicidade lhe trarão. Suas fantasias a atrapalham na obtenção de uma experiência sadia e inteligente nas coisas de Deus, e de aptidão moral para a vida melhor. T3 333 1 A verdade de Deus, recebida no coração, é capaz de fazê-la sábia "para a salvação". 2 Timóteo 3:15. Crendo nela e obedecendo-lhe, receberá graça suficiente para os deveres e provas de cada dia. Você não necessita de graça para o dia de amanhã. Cumpre-lhe considerar que você só tem que ver com o dia de hoje. Vença por hoje; negue-se por hoje; vigie e ore por hoje; em Deus obtenha vitória por hoje. Nossas circunstâncias e ambiente, as mudanças que diariamente surgem ao nosso redor e a Palavra Escrita de Deus que discerne e prova tudo -- estas coisas são suficientes para nos ensinar o dever, e o que nos cumpre fazer dia a dia. Em vez de deixar que sua mente vagueie numa linha de pensamentos de que não tirará nenhum benefício, você deve examinar diariamente as Escrituras, e cumprir aqueles deveres da vida diária que presentemente lhe são enfadonhos, mas que devem ser cumpridos por alguém. T3 333 2 As belezas naturais possuem uma língua que nos fala incessantemente aos sentidos. O coração aberto pode ser impressionado com o amor e a glória de Deus, segundo se revelam nas obras de Suas mãos. O ouvido atento pode ouvir e compreender as comunicações de Deus através das obras da natureza. Há uma lição na luz solar e nos vários elementos da natureza apresentados por Deus ao nosso olhar. Os campos verdejantes, as árvores altaneiras, os botões e as flores, a nuvem que passa, a chuva que cai, as fontes rumorejantes, o Sol, a Lua e as estrelas no céu, tudo convida nossa atenção e incentiva a meditar, pedindo-nos que nos familiarizemos com Deus, que tudo isso criou. As lições a serem aprendidas dos vários elementos do mundo natural são estas: eles são obedientes à vontade de seu Criador; não negam nunca a Deus, nunca recusam obediência a qualquer manifestação de Sua vontade. Unicamente os seres caídos se negam a prestar inteira obediência Àquele que os fez. Suas palavras e obras se acham em desarmonia com Deus e em oposição aos princípios de Seu governo. T3 334 1 Seus pensamentos não são elevados. Há coisas suficientes no mundo natural para levá-la a amar e adorar seu Criador. Há alimento para a mente sem precisar isolar-se para nutrir-se de esperanças desapontadoras e imaginações perversas. Não se apresse a falar com descrentes e não entre em argumentos com aqueles que se opõem à verdade, porque você não está munida do conhecimento das Escrituras para fazer isso. Tem negligenciado o estudo da Bíblia. Você pode recomendar melhor a verdade pela mansidão de sua vida e o desempenho fiel de seus deveres diários. Se for conscienciosamente estrita em fazer sua parte, e for fiel e sincera para ver o que pode e deve fazer por aqueles pelos quais você trabalha, então representará melhor a verdade. O melhor modo de você recomendar a verdade não é por argumento nem por conversa, mas vivendo-a cada dia através de uma vida coerente, modesta e humilde como discípula de Cristo. T3 334 2 É triste estar descontente com nosso ambiente ou com as circunstâncias que nos colocaram onde nossos deveres parecem humildes e sem importância. Deveres particulares e humildes não são do seu gosto; você é inquieta, impaciente e insatisfeita. Tudo isto é resultado do egoísmo. Pensa mais de si mesma do que outros pensam de você. Tem mais amor a si mesma do que a seus pais, irmãs e irmão, e mais do que a Deus. Você deseja um trabalho mais agradável, para o qual pensa estar melhor qualificada. Não está disposta a trabalhar e esperar na esfera de ação humilde onde Deus a colocou, até que Ele a prove e teste, e você demonstre sua habilidade e capacidade para uma posição mais elevada. "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra." Mateus 5:5. O espírito de mansidão não é um espírito de descontentamento, mas é exatamente o oposto. T3 334 3 Os professos cristãos que estão sempre a murmurar e se queixar, e que parecem pensar que a felicidade e um semblante alegre são pecado, não têm a genuína espécie de religião. Os que olham para o belo cenário da natureza como o fariam a um quadro inanimado, que preferem olhar às folhas mortas a juntarem as flores vivas e belas, que encontram prazer doentio em tudo quanto é melancólico na linguagem que lhes fala o mundo natural, que não vêem beleza alguma nos vales revestidos de verdejante relva e nas altaneiras montanhas cobertas de vegetação, que cerram os sentidos à jubilosa voz que lhes fala da natureza, a qual é doce e musical ao ouvido atento -- esses tais não estão em Cristo. Não estão andando na luz, mas adensam para si mesmos sombras e trevas, quando poderiam igualmente possuir claridade e a bênção do Sol da Justiça a raiar em seu coração, trazendo salvação em Seus raios. T3 335 1 Minha jovem irmã, você está vivendo uma vida imaginária. Não pode descobrir ou reconhecer uma bênção em nada. Imagina problemas e provações que não existem; você exagera pequenos aborrecimentos, transformando-os em graves provações. Esta não é a mansidão que Cristo abençoou. É um descontentamento não santificado, rebelde, impróprio de uma filha. A mansidão é uma graça preciosa, disposta a sofrer em silêncio, disposta a suportar provações. A mansidão é paciente, e esforça-se para ser feliz sob todas as circunstâncias. A mansidão é sempre agradecida, e entoa os próprios cânticos de felicidade, tornando melodioso o coração para com Deus. A mansidão suportará desapontamento e injustiça, e não se vingará. A mansidão não deve ser taciturna nem irritadiça. O temperamento irritadiço é o oposto da mansidão; pois só fere os outros e lhes causa desgosto, e não satisfaz a si próprio. T3 335 2 Você mal entrou na escola de Cristo. Tem quase tudo para aprender. Não mais se veste extravagantemente, mas se orgulha de sua aparência. Deseja vestir-se com menos simplicidade. Pensa muito mais sobre vestuário do que deveria. Cristo a convida: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Submeta seu pescoço ao jugo que Cristo impõe e encontrará nesta submissão aquela felicidade que você tem tentado obter a seu modo seguindo o próprio caminho. T3 336 1 Você pode sentir-se alegre, se puser até mesmo os pensamentos em sujeição à vontade de Cristo. Não deve demorar, mas examinar rigorosamente o próprio coração e morrer diariamente para o eu. Poderá indagar: Como posso dominar meus atos e controlar minhas emoções interiores? Muitos que não professam o amor de Deus controlam o espírito em considerável medida, sem o auxílio da graça especial de Deus. Eles cultivam domínio próprio. Isto representa na verdade uma acusação aos que sabem que podem obter força e graça de Deus, e todavia não exibem as graças do Espírito. Cristo é nosso Modelo. Ele era manso e humilde. Aprenda dEle e imite-Lhe o exemplo. O Filho de Deus era sem defeito. Nós devemos ter como alvo essa perfeição, e vencer como Ele venceu, se é que queremos ter assento à Sua mão direita. T3 336 2 Você possui peculiaridades de caráter que necessitam ser rigorosamente disciplinadas e resolutamente controladas antes que possa com segurança casar-se. Portanto, o casamento deve sair de sua cogitação até que tenha vencido os defeitos de seu caráter, pois não será uma esposa feliz. Você tem negligenciado educar-se para o trabalho doméstico sistemático. Não tem julgado necessário adquirir hábitos de laboriosidade. O hábito de encontrar prazer em trabalho útil, uma vez formado, jamais será perdido. Estará então em condições de ser levada a qualquer situação na vida, e apta para a posição. Aprenderá a amar a atividade. Se encontrar prazer no trabalho útil, sua mente se ocupará com sua atividade, e não encontrará tempo para acariciar sonhos fantasiosos. T3 336 3 O conhecimento de trabalho proveitoso propiciará a seu espírito insatisfeito e inquieto energia mental, eficiência e uma dignidade modesta e apropriada que imporá respeito. Você pouco conhece a si mesma; não conhece os enganos do próprio coração. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso." Jeremias 17:9. Sonde seu coração cuidadosamente e tome tempo para meditação e oração. A menos que veja os defeitos em seu caráter e com sinceridade genuína corrija suas faltas, você não pode ser uma discípula de Cristo. T3 337 1 Você gosta de pensar e falar sobre rapazes. Interpreta as cortesias deles como consideração especial por você. Lisonjeia-se de que é mais estimada do que realmente é. Sua conversa deve ser sobre assuntos proveitosos, que refinam e elevam. Você não está, minha querida filha, cultivando hábitos de franqueza e sinceridade. Seu coração não é correto. Sua influência sobre os jovens não é boa, porque você não tem a mente de Cristo; contudo se lisonjeia que tem feito grande progresso na vida cristã. T3 337 2 Uma reforma precisa começar na família de seu pai. Você tem traços do caráter de seu pai. Deve esforçar-se para evitar os erros e extremos dele. Se você for verdadeiramente uma discípula de Cristo, verá trabalho importante a ser feito em sua casa. Cada família pode ser uma escola perpétua. As irmãs mais velhas podem exercer forte influência sobre os membros mais jovens da família. Os mais novos, testemunhando o exemplo dos mais velhos, serão levados mais pelo princípio de imitação do que por preceitos inúmeras vezes repetidos. A filha mais velha deve sentir sempre ser um dever cristão sobre ela deposto o ajudar a mãe a levar seus inúmeros e trabalhosos encargos. Horas gastas na cama são piores que perdidas em sono ou em reflexões sombrias, enquanto os ombros de alguns na família são curvados sob uma carga pesada e árdua. T3 337 3 As filhas mais velhas podem ajudar na educação dos membros mais novos da família. Aqui está uma excelente oportunidade de, bondosa e diligentemente, tendo o temor do Senhor diante de si, ensinar os menos adiantados que você. Pode ganhar a afeição daqueles que você tenta ajudar. Pode ter aqui uma das melhores escolas na qual exercitar as graças cristãs. Você não gosta de crianças. Com efeito, não gosta de nada que requer esforço constante, sério e perseverante. Não gosta de obrigação constante. Gosta de mudança e variedade, e está sempre procurando algo que a satisfaça e lhe proporcione felicidade. Precisa educar a si mesma, e pode obter isto agora melhor do que em qualquer tempo futuro. Você tem de mudar quase tudo em sua vida, e que Deus a ajude a assumir o trabalho sem demora. Somente os puros, os bons e os santos habitarão com Cristo quando Ele vier em Seu reino. T3 338 1 Você não pode alcançar o Céu sem esforço sério e perseverante. À vista da luz do Céu, sua vida tem sido até agora uma vida sem objetivo e quase inútil. Você tem agora oportunidade de remir o tempo e de lavar a veste de seu caráter no sangue do Cordeiro. Deus a ajudará se você sentir necessidade de Sua ajuda. Sua justiça é sem valor diante de Deus. É somente pelos méritos de Cristo que você será vitoriosa no final. E se você estiver entre aqueles que serão salvos com eterna salvação, o Céu terá custado bem pouco. ------------------------Capítulo 31 -- A grande rebelião T3 339 2 Coré, Datã e Abirão rebelaram-se contra Moisés e Arão, e deste modo contra o Senhor. O Senhor tinha colocado responsabilidades especiais sobre Moisés e Arão, escolhendo-os para o sacerdócio e lhes conferindo a dignidade e a autoridade de dirigir a congregação de Israel. Moisés era afligido pela contínua rebelião dos hebreus. Como líder visível apontado por Deus, ele estivera ligado aos israelitas através de períodos de perigo, e tinha suportado seu descontentamento, sua inveja e suas murmurações, sem revidar e sem procurar ser liberado de sua difícil posição. T3 339 3 Quando os hebreus foram trazidos a cenas de perigo, ou onde seu apetite era restringido, em vez de confiar no Senhor, que tinha feito coisas maravilhosas por eles, murmuravam contra Moisés. O Filho de Deus, embora invisível à congregação, era o dirigente dos israelitas. Sua presença ia adiante deles e dirigia todo o seu viajar, ao passo que Moisés, que era seu dirigente visível, recebia suas instruções do Anjo, que era Cristo. Idolatria vil T3 339 4 Na ausência de Moisés, a congregação pediu que Arão lhes fizesse deuses que fossem adiante deles e os levassem de volta ao Egito. Isto era um insulto a seu líder, o Filho do Deus infinito. Apenas poucas semanas antes, eles tinham tremido de espanto e terror diante da montanha, ouvindo as palavras do Senhor: "Não terás outros deuses diante de Mim." Êxodo 20:3. A glória que santificou a montanha quando a voz foi ouvida, a qual sacudiu a montanha até sua base, ainda pairava sobre ela à vista da congregação; mas os hebreus desviaram os olhos e pediram outros deuses. Moisés, seu líder visível, estava conversando com Deus no monte. Eles esqueceram a promessa e a advertência de Deus: "Eis que Eu envio um Anjo diante de ti, para que te guarde neste caminho e te leve ao lugar que te tenho aparelhado. Guarda-te diante dEle, e ouve a Sua voz, e não O provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebelião; porque o Meu nome está nEle." Êxodo 23:20, 21. T3 340 1 Os hebreus foram cruelmente descrentes e vilmente ingratos em sua petição ímpia: "Faze-nos deuses que vão adiante de nós." Êxodo 32:1. Se Moisés estava ausente, a presença do Senhor permanecia; não estavam abandonados. O maná continuava a cair, e eram alimentados pela mão divina de manhã e à tarde. A coluna de nuvem de dia e de fogo à noite indicava a presença de Deus, que era um memorial vivo diante deles. A presença divina não era dependente da presença de Moisés. Mas, no próprio momento em que ele estava pleiteando com o Senhor a seu favor na montanha, eles estavam se precipitando em erros vergonhosos, em transgressão da lei que tão recentemente lhes fora dada em majestade. T3 340 2 Aqui vemos a fraqueza de Arão. Tivesse ele ficado firme com verdadeira coragem moral e em ousadia reprovado os dirigentes nessa petição vergonhosa, suas palavras oportunas teriam evitado aquela terrível apostasia. Mas seu desejo de ser popular entre a congregação e seu receio de incorrer em seu desfavor o levaram a sacrificar covardemente a lealdade dos hebreus nesse momento decisivo. Levantou um altar, fez uma imagem de escultura e proclamou um dia no qual consagrar aquela imagem como objeto de adoração e anunciar diante de todo Israel: "Estes são teus deuses... que te tiraram da terra do Egito." Êxodo 32:4. Enquanto o topo do monte estava ainda iluminado com a glória de Deus, ele calmamente testemunha o divertimento e a dança diante daquela imagem insensível; e Moisés é enviado pelo Senhor para reprovar Seu povo. Mas Moisés não consentiria em deixar a montanha até que suas súplicas a favor de Israel fossem ouvidas e seu pedido para que Deus os perdoasse fosse atendido. As tábuas da lei quebradas T3 341 1 Moisés desceu do monte com o registro precioso em suas mãos, um penhor de Deus ao homem sob a condição de obediência. Moisés era o homem mais manso sobre a Terra; mas, quando contemplou a apostasia de Israel, ficou irado e zeloso pela glória de Deus. Em sua indignação, lançou por terra o penhor precioso de Deus, que lhe era mais valioso do que a vida. Ele viu a lei quebrada pelos hebreus, e em seu zelo por Deus, para destruir o ídolo que estavam adorando, ele sacrificou as tábuas de pedra. Arão estava a seu lado, calma e pacientemente suportando a censura severa de Moisés. Tudo isto podia ter sido evitado por uma palavra de Arão no tempo certo. Decisão verdadeira e nobre pelo direito na hora de perigo para Israel teria estabilizado a mente deles na direção correta. T3 341 2 Condena Deus a Moisés? Não, não; a grande bondade de Deus perdoa a precipitação e zelo de Moisés, porque tudo foi inteiramente por causa de sua fidelidade e seu desapontamento e tristeza à vista da evidência da apostasia de Israel. O homem que poderia ter salvo os hebreus na hora do perigo está calmo. Ele não mostra indignação por causa dos pecados do povo, nem se condena e manifesta remorso ao sentir suas faltas; mas procura justificar sua conduta em vista de um pecado grave. Responsabiliza o povo por sua fraqueza em ceder à sua petição. Ele não estava disposto a suportar a murmuração de Israel e a ficar firme sob a pressão de seus clamores e desejos irracionais como Moisés. Entrou no espírito e sentimentos do povo sem protesto, e então procurou responsabilizá-lo. T3 341 3 A congregação de Israel considerava Arão um líder muito mais agradável do que Moisés. Não era tão inflexível. Pensavam que Moisés manifestava um espírito muito mau, e simpatizavam-se com Arão, a quem Moisés censurara tão severamente. Mas Deus perdoou a imprudência de um zelo honesto em Moisés, ao passo que responsabilizou Arão por sua fraqueza pecaminosa e falta de integridade sob a pressão das circunstâncias. A fim de salvar-se, Arão sacrificou milhares de israelitas. Os hebreus sentiram o castigo de Deus por esse ato de apostasia, mas em pouco tempo estavam de novo cheios de descontentamento e rebelião. O povo murmura T3 342 1 Quando os exércitos de Israel prosperavam, tomavam toda a glória para si; mas, quando eram testados e provados por fome ou guerra, atribuíam todas as suas aflições a Moisés. O poder de Deus, que se tinha manifestado de modo notável em sua libertação do Egito e sido visto de tempos em tempos através de suas jornadas, devia tê-los inspirado com fé e lhes fechado a boca para sempre a qualquer expressão de ingratidão. Mas o menor receio de necessidade, o menor temor de perigo de qualquer origem, contrabalançava os benefícios a seu favor e fazia com que esquecessem as bênçãos recebidas nas ocasiões de maior perigo. A experiência pela qual passaram na questão de adorarem o bezerro de ouro devia ter-lhes causado impressão tão profunda sobre a mente que jamais se apagasse. Mas, embora as marcas do desfavor de Deus fossem recentes em suas fileiras dizimadas e muitos os ausentes por causa de suas ofensas repetidas contra o Anjo que os guiava, não levaram a sério essas lições nem por obediência fiel redimiram seu fracasso passado; e de novo foram vencidos pelas tentações de Satanás. T3 342 2 Os melhores esforços do homem mais manso sobre a Terra não podiam pôr fim à sua insubordinação. O interesse desprendido de Moisés foi recompensado com inveja, suspeita e calúnia. Sua humilde vida de pastor fora muito mais tranqüila e feliz do que sua posição presente como pastor dessa vasta congregação de espíritos turbulentos. Sua inveja irracional era mais difícil de controlar do que os lobos ferozes do deserto. Mas Moisés não ousou escolher o próprio caminho e fazer o que mais lhe aprouvesse. Ele tinha deixado o cajado de pastor por ordem de Deus e em seu lugar tinha recebido uma vara de poder. Ele não ousou depor o cetro e resignar à sua posição até que Deus o dispensasse. T3 343 1 É obra de Satanás tentar mentes. Ele insinuará suas sugestões astutas e suscitará dúvida, questionamentos, descrença e desconfiança de palavras e atos de alguém que está sob responsabilidades e que está procurando levar a efeito o pensamento de Deus em seus trabalhos. É o propósito especial de Satanás despejar sobre e em volta dos servos escolhidos por Deus problemas, dificuldades e oposição, de modo que sejam impedidos em seu trabalho e, se possível, desencorajados. Inveja, contenda e ruins suspeitas vão frustrar, em grande medida, os melhores esforços que os servos de Deus designados para uma obra especial possam ser capazes de exercer. T3 343 2 O plano de Satanás é tirá-los de seu posto de dever atuando através de seus agentes. A todos que ele pode instigar à desconfiança e suspeita, ele usará como seus instrumentos. A posição de Moisés em levar os fardos que suportou para o Israel de Deus não foi apreciada. Há na natureza humana, quando não está sob a influência direta do Espírito de Deus, uma disposição para inveja, ciúmes e desconfiança cruel, a qual, se não for subjugada, levará ao desejo de destruir e estraçalhar a outros, enquanto espíritos egoístas procurarão edificar-se sobre as ruínas deles. Coré, Datã e Abirão T3 343 3 Por desígnio de Deus tinham sido confiadas honras especiais a esses homens. Tinham sido do número daqueles que, com os setenta anciãos, subiram com Moisés ao monte e contemplaram a glória de Deus. Viram a luz gloriosa que cobria a forma divina de Cristo. A base dessa nuvem era na aparência "como uma obra de pedra de safira e como o parecer do céu na sua claridade". Êxodo 24:10. Esses homens estiveram na presença da glória do Senhor e comeram e beberam sem serem destruídos pela pureza e glória insuperável que se refletia sobre eles. Mas uma mudança tinha surgido. Uma tentação, leve a princípio, tinha sido acolhida; e, ao ser encorajada, tinha-se fortalecido até que a imaginação foi controlada pelo poder de Satanás. Esses homens, sob o pretexto mais frívolo, se aventuraram em sua obra de discórdia. A princípio sugeriram e expressaram dúvidas, que foram tão prontamente aceitas por muitas mentes que se aventuraram a ir mais longe. E sendo fortalecidos mais e mais em suas suspeitas por palavras de um e de outro, cada um expressando o que pensava de certas coisas que tinham notado, essas pessoas iludidas realmente chegaram a crer que tinham zelo pelo Senhor na questão e que não seriam desculpáveis a menos que levassem até o fim seu propósito de fazer Moisés ver e sentir a posição absurda que ele ocupava para com Israel. Um pouco de fermento de desconfiança e dissensão, inveja e ciúmes estava levedando o acampamento de Israel. T3 344 1 Coré, Datã e Abirão começaram sua obra cruel sobre os homens a quem Deus tinha confiado responsabilidades sagradas. Tiveram êxito em alienar duzentos e cinqüenta príncipes que eram famosos na congregação, homens de renome. Com estes homens fortes e influentes do seu lado, sentiram-se seguros para efetuar uma mudança radical na ordem das coisas. Pensaram que podiam transformar o governo de Israel e melhorá-lo bastante em relação à administração atual. T3 344 2 Coré não estava satisfeito com sua posição. Ele era ligado com o serviço do tabernáculo, mas queria ser elevado ao sacerdócio. Deus tinha estabelecido a Moisés como o governador principal, e o sacerdócio foi dado a Arão e seus filhos. Coré resolveu obrigar Moisés a mudar a ordem das coisas, para que ele pudesse ser elevado à dignidade do sacerdócio. Para ter mais certeza de efetuar seu propósito, ele atraiu Datã e Abirão, descendentes de Rúben, à sua rebelião. Estes raciocinaram que, sendo descendentes do filho mais velho de Jacó, a autoridade principal, a qual Moisés usurpara, lhes pertencia; e, com Coré, resolveram obter o cargo do sacerdócio. Estes três se tornaram muito zelosos numa obra má e influenciaram a duzentos e cinqüenta homens de renome, que também estavam resolvidos a ter parte no sacerdócio e no governo, a se unirem a eles. T3 345 1 Deus tinha honrado os levitas para fazer o serviço do tabernáculo porque eles não tinham tomado parte em fazer e adorar o bezerro de ouro e por causa de sua fidelidade em cumprir a ordem de Deus sobre os idólatras. Aos levitas foi também designada a missão de construir o tabernáculo e acampar-se a seu redor, ao passo que os exércitos de Israel armavam suas tendas a certa distância dele. E quando jornadeavam, os levitas desmontavam o tabernáculo e o carregavam, bem como a arca e todos os artigos sagrados do mobiliário. Porque Deus tinha assim honrado os levitas, tornaram-se ainda mais ambiciosos de um cargo mais alto, para granjearem maior influência sobre a congregação. "E se congregaram contra Moisés e contra Arão e lhes disseram: Demais é já; pois que toda a congregação é santa, todos eles são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?" Números 16:3. Lisonja e falsa compaixão T3 345 2 Não há nada que agradará mais ao povo do que ser louvado e lisonjeado quando está em trevas e no erro, e merece reprovação. Coré ganhou a atenção do povo, e depois sua simpatia, retratando Moisés como líder despótico. Disse que ele era demasiado severo, demasiado exigente e ditatorial, e que ele reprovava o povo como se fossem pecadores quando eram um povo santo, consagrado ao Senhor, e que o Senhor estava entre eles. Coré recapitulou os incidentes da experiência deles em suas viagens através do deserto, onde foram levados a lugares difíceis, e onde muitos deles tinham morrido por causa de murmuração e desobediência. Com seus sentimentos pervertidos, pensavam que viam muito claramente que toda sua aflição podia ter sido poupada se Moisés tivesse seguido uma conduta diferente. Ele era muito intransigente, exigente demais, e determinaram que todos os seus infortúnios no deserto eram atribuíveis a ele. Coré, o líder, professava grande sabedoria em discernir a razão verdadeira de suas provas e aflições. T3 346 1 Nessa obra de deslealdade havia maior harmonia e união de opiniões e sentimentos entre esses elementos discordantes do que jamais se soubera haver existido. O êxito de Coré em ganhar a maior parte da congregação de Israel para seu lado levou-o a sentir-se confiante que era sábio e correto em julgamento e que Moisés estava de fato usurpando autoridade que ameaçava a prosperidade e a salvação de Israel. Ele pretendia que Deus lhe tinha feito compreender o assunto e colocara sobre ele a responsabilidade de mudar o governo de Israel antes que fosse tarde demais. Afirmou que a falta não estava com a congregação, pois eram justos; que o clamor de que a murmuração da congregação estava trazendo sobre eles a ira de Deus era inteiramente errado; e que o povo queria apenas seus direitos; queriam independência individual. T3 346 2 À medida que a percepção da paciência abnegada de Moisés forçasse entrada à mente deles, e seus esforços desinteressados em favor deles enquanto estavam sob o jugo da escravidão se lhes fossem apresentados, a consciência deles ficaria um tanto perturbada. Alguns não estavam inteiramente com Coré em sua opinião sobre Moisés e procuraram falar a seu favor. Coré, Datã e Abirão deviam dar alguma razão diante do povo por que Moisés desde o começo tinha demonstrado tão grande interesse pela congregação de Israel. A mente egoísta deles, que tinha sido corrompida como instrumento de Satanás, sugeriu que afinal tinham achado a causa do aparente interesse de Moisés. Ele planejara mantê-los vagueando no deserto até que todos, ou quase todos, perecessem e ele entrasse na posse de seus bens. T3 346 3 Coré, Datã, Abirão e os duzentos e cinqüenta príncipes que se tinham unido a eles primeiro se tornaram ciumentos, depois invejosos e finalmente rebeldes. Tinham falado a respeito da posição de Moisés como governante do povo até que imaginaram que era uma posição muito invejável, que qualquer um deles podia preencher tão bem como ele. E se entregaram ao descontentamento até que realmente enganaram a si mesmos e pensaram que Moisés e Arão haviam se colocado na posição que ocupavam em Israel. Disseram que Moisés e Arão se exaltaram sobre a congregação do Senhor ao se apoderarem do sacerdócio e do governo, e que este cargo não devia ser conferido somente à casa deles. Disseram que lhes bastava se estivessem no mesmo nível que seus irmãos; pois não eram mais santos do que o povo, o qual era igualmente favorecido com a presença e proteção especiais de Deus. Caráter provado T3 347 1 Ao Moisés ouvir as palavras de Coré, ele se encheu de angústia e caiu sobre sua face diante do povo. "E falou a Coré e a toda a sua congregação, dizendo: Amanhã pela manhã o Senhor fará saber quem é Seu e quem o santo que Ele fará chegar a Si; e aquele a quem escolher fará chegar a Si. Fazei isto: Tomai vós incensários, Coré e toda a sua congregação; e, pondo fogo neles amanhã, sobre eles deitai incenso perante o Senhor; e será que o homem a quem o Senhor escolher, este será o santo; baste-vos, filhos de Levi. Disse mais Moisés a Coré: Ouvi, agora, filhos de Levi: Porventura, pouco para vós é que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel para vos fazer chegar a Si, a administrar o ministério do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-Lhe; e te fez chegar e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo; ainda também procurais o sacerdócio? Pelo que tu e toda a tua congregação congregados estais contra o Senhor; e Arão, que é ele, que murmurais contra ele?" Números 16:5-11. Moisés lhes disse que Arão não assumira o cargo por conta própria, que Deus o tinha posto no cargo sagrado. T3 347 2 Datã e Abirão disseram: "Porventura, pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também totalmente te assenhoreias de nós? Nem tão pouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campos e vinhas em herança; porventura, arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos." Números 16:13, 14. T3 348 1 Eles acusaram Moisés de ser a causa de não entrarem na Terra Prometida. Disseram que Deus não os tinha tratado assim, e que Ele não dissera que haveriam de morrer no deserto, e que eles nunca creriam que Ele tivesse falado assim; fora Moisés quem dissera isso, não o Senhor; e tudo fora arranjado por Moisés para nunca levá-los à terra de Canaã. Falaram acerca dele os tirar de uma terra que manava leite e mel. Em sua rebelião cega esqueceram-se de seus sofrimentos no Egito e das pragas desoladoras que caíram sobre o país. E agora acusam Moisés de tirá-los de uma boa terra e de matá-los no deserto, para que se enriquecesse com suas posses. Indagam de Moisés, de modo insolente, se pensava que ninguém em todo o povo de Israel era sábio o bastante para compreender seus motivos e descobrir sua impostura, ou se ele pensava que todos se submeteriam para que ele os dirigisse como cegos como bem lhe aprouvesse, às vezes rumo a Canaã, e então de novo rumo ao Mar Vermelho e ao Egito. Pronunciaram essas palavras perante a congregação, e recusaram absolutamente continuar a reconhecer a autoridade de Moisés e Arão. T3 348 2 Moisés ficou grandemente perturbado com essas acusações injustas. Apelou a Deus perante o povo se ele alguma vez agira arbitrariamente, e implorou que Ele fosse seu juiz. O povo em geral estava descontente e influenciado pelas difamações de Coré. "Disse mais Moisés a Coré: Tu e toda a tua congregação, ponde-vos perante o Senhor, tu, e eles, e Arão, amanhã. E tomai cada um o seu incensário e neles ponde incenso; e trazei cada um o seu incensário perante o Senhor, duzentos e cinqüenta incensários; também tu e Arão, cada qual o seu incensário. Tomaram, pois, cada qual o seu incensário, e neles puseram fogo, e neles deitaram incenso, e se puseram perante a porta da tenda da congregação com Moisés e Arão." Números 16:16-18. T3 349 1 Coré e seu grupo, que na sua confiança própria aspiravam ao sacerdócio, tomaram os incensários e se puseram à porta do tabernáculo com Moisés. Coré tinha alimentado sua inveja e rebelião até ter enganado a si mesmo, e ele realmente pensava que a congregação era um povo muito justo e que Moisés era um dirigente tirânico, continuamente insistindo sobre a necessidade da congregação ser santa, quando não havia necessidade disso, pois eram santos. T3 349 2 Esses rebeldes tinham lisonjeado o povo a crer que eram justos e que todas as suas tribulações partiam de Moisés, seu dirigente, que continuamente lhes lembrava os seus pecados. O povo pensava que se Coré pudesse dirigi-los e encorajá-los insistindo sobre sua justiça, em vez de lembrar-lhes suas faltas, eles teriam uma viagem muito tranqüila e próspera, e que ele os levaria sem dúvida não para trás e para diante no deserto, mas para a Terra Prometida. Disseram que fora Moisés quem lhes falara que não podiam entrar na terra e que o Senhor não o tinha dito. Os rebeldes perecem T3 349 3 Coré, em sua elevada confiança própria, reuniu toda a congregação de Israel contra Moisés e Arão "à porta da tenda da congregação; então, a glória do Senhor apareceu a toda a congregação. E falou o Senhor a Moisés e a Arão, dizendo: Apartai-vos do meio desta congregação, e os consumirei como num momento. Mas eles se prostraram sobre os seus rostos, e disseram: Ó Deus, Deus dos espíritos de toda carne, pecará um só homem, e indignar-Te-ás Tu tanto contra toda esta congregação? E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a toda esta congregação, dizendo: Levantai-vos do redor da habitação de Coré, Datã e Abirão. Então, Moisés levantou-se e foi a Datã e a Abirão; e após ele foram os anciãos de Israel. E falou à congregação, dizendo: Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes ímpios homens e não toqueis nada do que é seu, para que, porventura, não pereçais em todos os seus pecados. Levantaram-se, pois, do redor da habitação de Coré, Datã e Abirão. E Datã e Abirão saíram e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com as suas mulheres, e seus filhos, e suas crianças. Então, disse Moisés: Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem. Se estes morrerem como morrem todos os homens e se forem visitados como se visitam todos os homens, então, o Senhor me não enviou. Mas, se o Senhor criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao sepulcro, então, conhecereis que estes homens irritaram ao Senhor." Números 16:19-30. Quando Moisés acabou de falar, a terra se abriu, e suas tendas e tudo que lhes pertencia foram tragados. Desceram vivos ao sepulcro, a terra fechou-se sobre eles, e pereceram no meio da congregação. T3 350 1 Ao ouvirem os israelitas o grito dos moribundos, fugiram a uma grande distância deles. Sabiam que em certa medida eram culpados, porque tinham apoiado a acusação contra Moisés e Arão, e temeram que haveriam de perecer com eles. Mas o julgamento de Deus não estava ainda encerrado. Um fogo veio da nuvem de glória e consumiu os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam incenso. Estes eram príncipes; isto é, homens geralmente de bom discernimento e de influência na congregação, homens de renome. Eram altamente estimados, e sua opinião tinha sido com freqüência procurada em assuntos difíceis. Mas foram afetados por uma influência errada e tornaram-se invejosos, ciumentos e rebeldes. Não pereceram com Coré, Datã e Abirão porque não foram os primeiros na rebelião. Foram os primeiros a ver o fim dos líderes na rebelião, e a ter oportunidade de arrepender-se de seu crime. Mas não estavam conformados com a destruição daqueles ímpios, e a ira de Deus veio sobre eles e os destruiu também. T3 350 2 "E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Dize a Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, que tome os incensários do meio do incêndio e espalhe o fogo longe, porque santos são; quanto aos incensários daqueles que pecaram contra a sua alma, deles se façam folhas estendidas para cobertura do altar; porquanto os trouxeram perante o Senhor; pelo que santos são e serão por sinal aos filhos de Israel." Números 16:36-38. A rebelião não curada T3 351 1 Depois dessa exibição terrível do juízo de Deus, o povo voltou a suas tendas. Estavam aterrorizados, mas não humilhados. Tinham sido profundamente influenciados pelo espírito de rebelião e tinham sido lisonjeados por Coré e seu grupo a crer que eram um povo muito bom e que tinham sido maltratados e injuriados por Moisés. Sua mente estava tão inteiramente imbuída com o espírito daqueles que pereceram que lhes era difícil libertar-se de seu preconceito cego. Se admitissem que Coré e seu grupo eram todos ímpios e Moisés justo, então seriam obrigados a receber como palavra de Deus aquilo que não queriam crer, que certamente haveriam todos de morrer no deserto. Não estavam dispostos a submeter-se a isso e procuraram crer que tudo não passava de uma impostura, que Moisés os tinha enganado. Os homens que pereceram lhes tinham falado palavras agradáveis e tinham manifestado interesse especial e amor por eles, e imaginaram que Moisés fora ardiloso. Decidiram que não podiam estar em erro; que, afinal, aqueles homens que pereceram eram pessoas boas, e que Moisés de algum modo tinha sido a causa de sua destruição. T3 351 2 Satanás pode em grande medida enganar pessoas. Pode perverter-lhes o discernimento, a visão e o ouvido. Assim foi no caso dos israelitas. "Mas, no dia seguinte, toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão, dizendo: Vós matastes o povo do Senhor." Números 16:41. O povo estava desapontado com o resultado da questão, como o foi, a favor de Moisés e Arão. A apresentação de Coré e seu grupo, todos exercendo impiamente o ofício de sacerdotes com seus incensários, encheu o povo de admiração. Não viram que aqueles homens estavam oferecendo uma afronta atrevida à Majestade divina. Quando foram destruídos, o povo ficou aterrorizado; mas depois de pouco tempo todos vieram de modo tumultuoso a Moisés e Arão, e os culparam do sangue daqueles que haviam perecido pela mão de Deus. T3 352 1 "E aconteceu que, ajuntando-se a congregação contra Moisés e Arão e virando-se para a tenda da congregação, eis que a nuvem a cobriu, e a glória do Senhor apareceu. Vieram, pois, Moisés e Arão perante a tenda da congregação. Então, falou o Senhor a Moisés, dizendo: Levantai-vos do meio desta congregação, e a consumirei como num momento; então, se prostraram sobre o seu rosto." Números 16:42-45. Não obstante a rebelião de Israel e seu tratamento cruel a ele, Moisés manifestou por eles o mesmo interesse que antes. Caindo sobre seu rosto diante do Senhor, implorou-Lhe que poupasse Seu povo. Enquanto assim orava para que Deus perdoasse o pecado de Seu povo, Moisés pediu a Arão que fizesse expiação pelo pecado do povo enquanto ele permanecia diante do Senhor, para que suas orações pudessem ascender com o incenso e ser aceitáveis a Deus, e que toda a congregação não perecesse em sua rebelião. T3 352 2 "E disse Moisés a Arão: Toma o teu incensário, e põe nele fogo do altar, e deita incenso sobre ele, e vai depressa à congregação, e faze expiação por eles; porque grande indignação saiu de diante do Senhor; já começou a praga. E tomou-o Arão, como Moisés tinha falado, e correu ao meio da congregação; e eis que já a praga havia começado entre o povo; e deitou incenso nele e fez expiação pelo povo. E estava em pé entre os mortos e os vivos; e cessou a praga. E os que morreram daquela praga foram catorze mil e setecentos, fora os que morreram por causa de Coré. E voltou Arão a Moisés à porta da tenda da congregação; e cessou a praga." Números 16:46-50. Uma lição para nosso tempo T3 353 1 No caso de Coré, Datã e Abirão temos uma lição de advertência para que não sigamos seu exemplo: "E não tentemos a Cristo, como alguns deles também tentaram e pereceram pelas serpentes. E não murmureis, como também alguns deles murmuraram e pereceram pelo destruidor. Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:9-11. T3 353 2 Temos evidência na Palavra de Deus de que Seu povo está sujeito a ser grandemente enganado. Há muitos casos onde aquilo que parece ser zelo sincero pela honra de Deus tem sua origem em deixar o coração desprevenido para o inimigo tentar e impressionar a mente com um senso pervertido do estado real das coisas. E podemos esperar exatamente essas coisas nestes últimos dias, pois Satanás está tão ocupado agora como estava na congregação de Israel. A crueldade e a força do preconceito não são compreendidas. Depois da congregação ter tido a evidência diante de seus olhos da destruição de seus líderes em rebelião, o poder da suspeita e desconfiança que tinha sido admitido em sua mente não foi removido. Viram a terra abrir-se e os líderes da rebelião descer ao seio da terra. Essa demonstração terrível certamente devia tê-los curado e os levado ao mais profundo arrependimento por sua ofensa a Moisés. T3 353 3 Aqui Deus deu a todo Israel a oportunidade de ver e sentir a pecaminosidade de sua conduta, a qual os devia ter levado ao arrependimento e confissão. Ele deu aos que foram enganados uma evidência esmagadora de que eram pecadores e de que Seu servo Moisés tinha razão. Tiveram a oportunidade de passar uma noite em reflexão sobre o terrível castigo do Céu que tinham testemunhado. Mas a razão foi pervertida. Coré tinha instigado a rebelião, e duzentos e cinqüenta príncipes se tinham ajuntado a ele para espalhar o descontentamento. Toda a congregação foi, em grau maior ou menor, afetada por ciúme, suspeita e ódio contra Moisés que ainda prevaleciam, os quais tinham trazido o desfavor de Deus de modo terrivelmente marcante. Contudo, nosso Deus cheio de graça Se mostra como um Deus de justiça e misericórdia. Ele fez distinção entre os instigadores, os líderes na rebelião, e aqueles que tinham sido enganados ou levados por eles. Ele condoeu-Se da ignorância e loucura daqueles que tinham sido enganados. T3 354 1 Deus falou a Moisés que mandasse a congregação abandonar as tendas dos homens a quem tinham escolhido no lugar de Moisés. Os próprios homens cuja destruição eles tinham premeditado foram os instrumentos nas mãos de Deus para salvar-lhes a vida naquela ocasião. Disse Moisés: "Levantai-vos do redor da habitação de Coré." Números 16:24. Eles também estavam em perigo alarmante de serem destruídos em seus pecados pela ira de Deus, pois eram participantes nos crimes dos homens a quem tinham dado sua simpatia e com quem se tinham associado. T3 354 2 Se, enquanto Moisés estava expondo a prova perante a congregação de Israel, aqueles que iniciaram a rebelião tivessem se arrependido e buscado o perdão de Deus e de Seu servo injuriado, então a vingança de Deus teria sido suspensa. Mas lá em suas tendas estavam ousadamente Coré, o instigador da rebelião, e seus simpatizantes, como que em desafio à ira Deus, como se Deus nunca tivesse agido através de Seu servo Moisés. Além de tudo, esses rebeldes agiam como se não tivessem sido recentemente honrados por Deus por terem sido levados com Moisés quase que diretamente à Sua presença, contemplando Sua glória insuperável. Esses homens viram Moisés descer da montanha depois de ter recebido as segundas tábuas de pedra e enquanto sua face estava tão resplendente com a glória de Deus que o povo não podia se aproximar dele, mas fugiam dele. Ele os chamou, mas pareciam aterrorizados. Ele apresentou as tábuas de pedra e disse: Supliquei a seu favor e desviei a ira de Deus de vocês. Insisti que, se Deus precisasse abandonar e destruir Sua congregação, que meu nome fosse também apagado de Seu livro. Eis que Ele me respondeu, e estas tábuas de pedra que seguro em minhas mãos são o penhor que me foi dado de Sua reconciliação com Seu povo. T3 354 3 O povo percebe que é a voz de Moisés; que embora transformado e glorificado, ele ainda é Moisés. Dizem-lhe que não podem fitar seu rosto, porque a luz radiante em seu semblante lhes é demasiado dolorosa. Seu rosto é como o sol; não podem fitá-lo. Quando Moisés descobre a dificuldade, ele cobre o rosto com um véu. Ele não argumenta que a luz e a glória sobre seu rosto são o reflexo da glória de Deus posta sobre ele, e que o povo deve suportá-la; mas cobre sua glória. A pecaminosidade do povo torna doloroso contemplar-lhe a face glorificada. Assim será quando os santos de Deus forem glorificados justamente antes da segunda vinda de nosso Senhor. Os ímpios vão se retirar e esconder-se do espetáculo, porque a glória dos semblantes dos santos lhes será penosa. Mas toda essa glória sobre Moisés, toda a aparência divina vista sobre o servo humilde de Deus, é esquecida. Misericórdia menosprezada T3 355 1 Os hebreus tiveram oportunidade de refletir sobre a cena que tinham testemunhado na manifestação da ira de Deus sobre as pessoas mais preeminentes nessa grande rebelião. A bondade e a misericórdia de Deus foram demonstradas em não exterminar completamente esse povo ingrato quando Sua ira foi acendida contra os mais responsáveis. Ele deu à congregação que se permitira ser enganada lugar para arrependimento. O fato de que o Senhor, seu Líder invisível, mostrou tanta longanimidade e misericórdia nesta ocasião é distintamente registrado como evidência de Sua disposição de perdoar os transgressores mais revoltantes quando têm percepção de seu pecado e se voltam a Ele com arrependimento e humildade. A congregação foi detida em sua conduta presunçosa pela demonstração da vingança do Senhor; mas não estavam convencidos de que eram grandes pecadores contra Ele, merecendo Sua ira por sua conduta rebelde. T3 355 2 É quase impossível às pessoas oferecer maior insulto a Deus do que desprezando e rejeitando os instrumentos que Ele designou para dirigi-los. Não só tinham feito isso, mas tinham planejado matar tanto Moisés como Arão. Esses homens fugiram das tendas de Coré, Datã e Abirão por medo de destruição, mas sua rebelião não fora curada. Não experimentaram tristeza e desespero por causa de sua culpa. Não sentiram o efeito de uma consciência despertada e convicta por terem desprezado seus privilégios mais preciosos e terem pecado contra a luz e o conhecimento. Podemos aqui aprender lições preciosas da longanimidade de Jesus, o Anjo que foi adiante dos hebreus no deserto. T3 356 1 Seu Líder invisível os salvaria de uma destruição miserável. Perdão espera por eles. É possível para eles achar perdão caso se arrependam mesmo agora. A vingança de Deus chegou perto deles e apelou para que se arrependessem. Uma interferência especial irresistível do Céu deteve sua rebelião presunçosa. Se agora responderem à intervenção da providência de Deus, poderão ser salvos. Mas a contrição e o arrependimento da congregação precisam ser proporcionais à sua transgressão. A revelação do poder marcante de Deus os colocou fora de incerteza. Podem ter conhecimento da verdadeira posição e vocação santa de Moisés e Arão se quiserem aceitá-la. Mas sua negligência em considerar as evidências que Deus lhes dera foi fatal. Não reconheceram a importância de ação imediata de sua parte para buscar perdão de Deus para seus graves pecados. T3 356 2 Aquela noite de provação para os hebreus não foi gasta em confissão e arrependimento de seus pecados, mas em imaginar algum modo de resistir às evidências que lhes mostravam serem os maiores pecadores. Ainda entretinham seu ódio ciumento pelos homens que Deus designara e se fortaleceram em sua louca conduta de resistir à autoridade de Moisés e Arão. Satanás estava pronto para perverter o discernimento e levá-los de olhos vendados para a destruição. Seu pensamento tinha sido inteiramente envenenado com descontentamento, e tinham encerrado a questão em sua mente de que Moisés e Arão eram homens ímpios, e de que eram responsáveis pela morte de Coré, Datã e Abirão, pessoas que, segundo pensavam, teriam sido os salvadores dos hebreus introduzindo uma melhor ordem de coisas, onde louvor tomaria o lugar de reprovação, e paz o lugar de ansiedade e conflito. T3 357 1 No dia anterior, todo Israel tinha fugido alarmado com o grito dos pecadores condenados que desceram ao sepulcro; porque disseram: "Para que, porventura, também nos não trague a terra a nós." "Mas, no dia seguinte, toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Arão, dizendo: Vós matastes o povo do Senhor." Números 16:43, 41. Em sua indignação estavam prontos a usar de violência contra os homens designados por Deus, os quais, criam eles, tinham cometido grande erro matando aqueles que eram bons e santos. T3 357 2 Mas a presença do Senhor Se manifesta em Sua glória sobre o tabernáculo, e o Israel rebelde é detido em sua conduta louca e presunçosa. Do meio de Sua glória terrível, a voz de Deus fala agora a Moisés e Arão com a mesmas palavras com as quais no dia anterior tinham sido ordenados a dirigir-se à congregação de Israel: "Levantai-vos do meio desta congregação, e a consumirei como num momento." Números 16:45. T3 357 3 Aqui encontramos uma demonstração notável da cegueira que envolverá a mente humana que se desvia da luz e da evidência. Aqui vemos a força de uma rebelião deliberada, e quão difícil é subjugá-la. Certamente os hebreus tinham tido a evidência mais convincente na destruição dos homens que os tinham enganado; mas eles ainda se mostravam ousados e desafiantes, e acusavam Moisés e Arão de matar homens bons e santos. "Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria." 1 Samuel 15:23. T3 357 4 Moisés não sentiu a culpa do pecado e não se afastou depressa à palavra do Senhor e não deixou a congregação perecer, como os hebreus tinham fugido das tendas de Coré, Datã e Abirão no dia anterior. Moisés demorou-se; porque não podia consentir em abandonar toda aquela congregação à morte, embora soubesse que mereciam a vingança de Deus por sua rebelião persistente. Prostrou-se diante do Senhor porque o povo não sentia a necessidade de humilhar-se; serviu-lhes de mediador porque não sentiam a necessidade de interceder em seu próprio favor. T3 358 1 Moisés aqui tipifica a Cristo. Nesse momento crítico, Moisés manifestou o interesse do Verdadeiro Pastor pelo rebanho a seu cuidado. Suplicou que a ira de um Deus ofendido não destruísse inteiramente o povo de Sua escolha. Por sua intercessão, ele reteve o braço da vingança, de modo que o Israel rebelde e desobediente não fosse inteiramente consumido. Indicou a Arão que conduta adotar naquela crise terrível quando a ira de Deus se manifestara e a praga tinha começado. Arão se levantou com seu incensário, agitando-o diante do Senhor, enquanto as intercessões de Moisés ascendiam com a fumaça do incenso. Moisés não ousou cessar suas súplicas. Apoderou-se da força do Anjo, como fez Jacó em sua luta, e como Jacó ele prevaleceu. Arão estava de pé entre os vivos e os mortos quando a benévola resposta veio: Ouvi sua oração, não consumirei completamente. Os próprios homens a quem a congregação desprezou e teria executado foram os que pleitearam a seu favor para que a espada vingadora de Deus fosse embainhada e o Israel pecador fosse poupado. Os que desprezam a repreensão T3 358 2 O apóstolo Paulo declara positivamente que a experiência dos israelitas em suas viagens foi registrada para benefício dos que vivem nesta época da história do mundo, aqueles "para quem são chegados os fins dos séculos". 1 Coríntios 10:11. Não consideramos que nossos perigos são menores do que os dos hebreus, antes maiores. Haverá tentações para ciúmes e murmurações, e haverá franca rebelião, tais como se acham registrados acerca do antigo Israel. Sempre haverá o espírito de insurgir-se contra a reprovação de pecados e ofensas. Silenciará, porém, a voz da repreensão por causa disto? Se assim for, não nos encontramos em melhores condições do que as várias denominações de nossa nação, as quais temem tocar nos erros e nos pecados dominantes entre o povo. T3 358 3 Aqueles que Deus separou como pregadores da justiça têm sobre si solenes responsabilidades quanto a reprovar os pecados do povo. Paulo ordenou a Tito: "Fala disto, e exorta e repreende com toda a autoridade. Ninguém te despreze." Tito 2:15. Sempre há pessoas que desprezam aquele que ousa reprovar o pecado; ocasiões há, porém, em que é preciso repreender. Paulo instrui Tito a repreender incisivamente certa classe, "para que sejam sãos na fé". Tito 1:13. Homens e mulheres, com diferentes temperamentos, reunidos como igreja têm peculiaridades e defeitos. Quando estes se desenvolvem, exigem reprovação. Se os que ocupam posições importantes nunca reprovassem, nunca repreendessem, manifestar-se-ia em breve uma condição pervertida que desonraria grandemente a Deus. Como, porém, se fará a reprovação? Responda o apóstolo: "Com toda a longanimidade e doutrina." 2 Timóteo 4:2. Os princípios devem ser, de maneira impressiva, apresentados àquele que necessita da repreensão; mas nunca se devem passar por alto, indiferentemente, os erros do povo de Deus. T3 359 1 Haverá homens e mulheres que desprezam a repreensão, e cujos sentimentos sempre se insurgirão contra ela. Não é agradável que alguém nos mostre nossos erros. Em quase todo caso em que se faz necessária a reprovação, haverá alguns que deixarão de considerar que o Espírito do Senhor foi ofendido e Sua causa injuriada. Eles se condoerão dos que mereceram a censura, por terem sido magoados sentimentos pessoais. Toda essa não santificada compaixão torna os que a manifestam participantes da culpa da pessoa reprovada. Em nove casos de dez, se o que sofreu a repreensão fosse deixado sob o senso de suas culpas, haveria sido ajudado a vê-las, sendo assim reformado. Mas os que de forma intrometida e profana se condoem dão significado totalmente errôneo aos motivos do reprovador, bem como à natureza da repreensão, e assim se condoendo pelo que foi repreendido o levam a achar que foi realmente maltratado; e seus sentimentos se insurgem em rebelião contra uma pessoa que simplesmente cumpriu seu dever. Os que com fidelidade se desempenham de seus penosos deveres, sob o senso da responsabilidade para com Deus, hão de receber-Lhe a bênção. Deus requer que Seus servos sejam sempre zelosos em fazer Sua vontade. Na recomendação do apóstolo a Timóteo, ele o exorta: "Pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." 2 Timóteo 4:2. T3 360 1 Os hebreus não estavam dispostos a submeter-se às orientações e restrições do Senhor. Queriam simplesmente seguir os próprios caminhos, seguir a orientação do seu entendimento, e ser controlados pelo próprio juízo. Pudessem eles ter sido deixados na liberdade de assim fazer, não teria havido queixas contra Moisés; mas ficavam desassossegados sob restrição. T3 360 2 Deus queria que Seu povo fosse disciplinado e levado à harmonia de ação, de maneira a terem o mesmo ponto de vista e serem de um mesmo espírito, julgando da mesma forma. A fim de produzir esse estado de coisas, muito há a fazer. O coração natural deve ser submetido e transformado. É desígnio de Deus que haja sempre um vivo testemunho na igreja. Será necessário reprovar e exortar, e alguns precisarão ser incisivamente repreendidos, segundo o caso o exigir. Ouvimos a alegação: "Oh, eu sou tão sensível! Não posso suportar a mínima repreensão." Exprimissem essas pessoas devidamente o caso, diriam: "Sou tão voluntarioso, tão presunçoso, de espírito tão orgulhoso, que ninguém me ditará o que devo fazer; ninguém me censurará. Exijo o direito do julgamento individual; tenho o direito de crer e falar como me aprouver." Não é vontade do Senhor que abdiquemos de nossa individualidade. Mas que homem é juiz competente sobre o limite até onde deva ser levada essa independência individual? T3 360 3 Pedro exorta seus irmãos: "Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes." 1 Pedro 5:5. Também o apóstolo Paulo exorta os irmãos filipenses à unidade e humildade: "Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filipenses 2:1-5. E outra vez Paulo exorta os irmãos: "O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:9, 10. Escrevendo aos efésios, diz ele: "Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus." Efésios 5:21. T3 361 1 A história dos israelitas apresenta-nos o grande perigo do engano. Muitos não têm o senso da pecaminosidade da própria natureza, nem da graça do perdão. Acham-se nas trevas da natureza, sujeitos às tentações e a grande engano. Estão longe de Deus; têm, no entanto, grande satisfação em sua vida, quando a conduta que seguem é aborrecível ao Senhor. Esta classe estará sempre em guerra com a orientação do Espírito do Senhor, especialmente com a repreensão. Não querem ser perturbados. Sentem, acidentalmente, temores egoístas e bons propósitos, e por vezes pensamentos e convicções ansiosos; mas não têm profundidade de experiência, porque não se acham firmados na Rocha Eterna. Esta classe nunca vê a necessidade do testemunho positivo. O pecado não lhes parece tão excessivamente pecaminoso, pela própria razão de não estarem andando na luz como Cristo na luz está. T3 361 2 Existe ainda outra classe que tem tido grande luz e convicções especiais, e uma genuína experiência na atuação do Espírito de Deus; mas as múltiplas tentações de Satanás os têm vencido. Não apreciam a luz que Deus lhes tem dado. Não dão ouvidos às advertências e reprovações do Espírito de Deus. Acham-se sob condenação. Esses estarão sempre em desarmonia com o testemunho direto, porque o mesmo os condena. T3 361 3 É desígnio de Deus que Seu povo seja um; que tenham a mesma visão, o mesmo espírito e o mesmo parecer. Isto não se pode realizar sem que haja na igreja um testemunho claro, definido e vivo. A oração de Cristo foi para que Seus discípulos fossem um, assim como Ele era um com o Pai. "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como Nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:20-23. ------------------------Capítulo 32 -- Apelo aos jovens T3 362 1 Queridos Jovens: T3 362 2 De tempos a tempos, o Senhor me tem dado testemunhos de advertência para vocês. Ele lhes tem dado animação, quando vocês Lhe entregam as melhores e mais santas afeições do coração. Ao serem essas advertências distintamente reavivadas diante de mim, percebo o perigo que correm e, bem sei, vocês mesmos não percebem. A escola situada em Battle Creek reúne muitos jovens de constituições mentais diversas. Se esses jovens não forem consagrados a Deus e obedientes à Sua vontade, e não andarem humildemente no caminho de Seus mandamentos, a localização de uma escola em Battle Creek demonstrar-se-á motivo de grande desânimo para a igreja. Esta escola poderá ser uma bênção ou uma maldição. Rogo a vocês, que ostentam o nome de Cristo, que se apartem de toda iniqüidade e desenvolvam caráter que mereça a aprovação de Deus. T3 362 3 Pergunto-lhes: Crêem vocês que os testemunhos de reprovação que lhes têm sido dirigidos são de Deus? Se realmente acreditam que a voz de Deus lhes tem falado, indicando os perigos que os ameaçam, ouvem vocês os conselhos dados? Conservam frescas na memória essas advertências, lendo-as freqüentemente com espírito de oração? Crianças e jovens, o Senhor lhes tem falado repetidas vezes; vocês, porém, têm sido tardios em atender às advertências dadas. Embora não tenham endurecido rebeldemente o coração contra as descrições que Deus lhes tem dado de seu caráter e perigos, nem contra a rota traçada para seguirem, alguns de vocês todavia têm sido desatentos quanto às coisas exigidas de vocês a fim de obterem força espiritual e serem uma bênção na escola, na igreja e para todos com quem se associam. T3 363 1 Rapazes e moças, vocês são responsáveis para com Deus pela luz que Ele lhes tem dado. Esta luz e essas advertências, caso desatendidas, erguer-se-ão contra vocês no juízo. Seus perigos têm sido claramente expostos; vocês têm sido advertidos e guardados de todos os lados, cercados de advertências. Na casa de Deus, têm ouvido as mais solenes e inquiridoras verdades apresentadas pelos servos de Deus em demonstração do Espírito. Que peso têm esses solenes apelos sobre seu coração? Que influência exercem sobre seu caráter? Vocês serão responsáveis por todos esses apelos e advertências. Eles se erguerão no juízo para condenar os que prosseguem em uma vida de vaidade, leviandade e orgulho. T3 363 2 Queridos jovens amigos, aquilo que semearem, isso hão de colher. Agora é o tempo de semeadura para vocês. Qual será a colheita? Que estão semeando? Cada palavra que proferem, cada ato que praticam, é uma semente que produzirá bom ou mau fruto e que redundará em alegria ou tristeza para o semeador. Qual a semente lançada, tal a colheita. Deus lhes tem dado grande luz e muitos privilégios. Depois de comunicada a luz, depois de lhes haverem sido claramente expostos os riscos que correm, fica sobre vocês a responsabilidade. A maneira como tratam a luz que Deus lhes envia fará pender a balança para a felicidade ou o infortúnio. Vocês mesmos estão moldando o próprio destino. T3 363 3 Todos vocês têm uma influência para bem ou para mal sobre a mente e o caráter de outros. E justamente a influência que exercerem será escrita nos livros do Céu. Um anjo está observando vocês e registrando suas palavras e ações. Ao se levantarem pela manhã, acaso experimentam o senso de sua incapacidade, sua necessidade de forças vindas de Deus? E humilde e sinceramente expõem suas necessidades ao Pai celestial? Se assim for, os anjos anotam-lhes as orações, e se as mesmas não partiram de lábios fingidos, quando estiverem em risco de errar inconscientemente, de exercer uma influência que leve outros a errar, seu anjo da guarda estará ao seu lado, impulsionando-os a seguir melhor direção, escolhendo as palavras para proferirem e influenciando-lhes as ações. T3 364 1 Se não se sentem em perigo, e se não fazem nenhuma prece em busca de auxílio e força para resistir às tentações, é certo se extraviarem; sua negligência do dever será registrada nos livros de Deus no Céu, e serão achados em falta no dia da provação. Há ao seu redor alguns que foram cuidadosamente instruídos, e outros que foram tratados com condescendência, mimados, lisonjeados, elogiados, até que ficaram positivamente arruinados para a vida prática. Falo a respeito de pessoas que conheço. Seu caráter acha-se tão distorcido pela condescendência, lisonja e indolência, que são inúteis para esta vida. E se são inúteis no que respeita a esta vida, que esperaremos quanto àquela outra em que tudo é pureza e santidade, e onde todos têm caráter harmônico? Tenho orado por essas pessoas; tenho-me dirigido pessoalmente a elas. Podia ver a influência que elas exerciam sobre outras mentes, levando-as à vaidade, ao amor do vestuário e ao descuido para com seus interesses eternos. A única esperança para essa classe de pessoas é que atentem para seus caminhos, humilhem perante Deus o coração orgulhoso e frívolo, façam confissão de seus pecados e se convertam. T3 364 2 A vaidade no vestuário bem como o amor ao divertimento são grandes tentações para os jovens. Deus tem sagradas reivindicações sobre todos nós. Ele pede todo o coração, toda a mente, toda a afeição. A resposta dada por vezes a esta declaração é: "Oh, eu não professo ser cristão!" E se não professa? De vocês não requer Deus o mesmo que requer daqueles que professam ser Seus filhos? Por serem ousados em sua descuidosa desconsideração para com as coisas sagradas, será seu pecado de negligência e rebelião passado por alto pelo Senhor? Cada dia que vocês desprezam as reivindicações de Deus, cada oportunidade de misericórdia oferecida que menosprezam é posta à sua conta, engrossando a lista de pecados contra vocês no dia em que os registros de todas as pessoas serão investigados. Dirijo-me a vocês, rapazes e moças, professos ou não. Deus pede suas afeições, sua prazerosa obediência e devoção para com Ele. Vocês têm agora um breve tempo de graça, e podem aproveitar esta oportunidade para fazer incondicional entrega a Deus. T3 365 1 A obediência e a submissão às reivindicações de Deus são as condições apresentadas pelo inspirado apóstolo para nos tornarmos filhos de Deus, membros da família real. Toda criança e jovem, todo homem e mulher foi por Jesus, mediante Seu próprio sangue, salvo do abismo da ruína a que Satanás os impelia. Pelo fato de os pecadores não aceitarem a salvação que lhes é oferecida, ficam eles livres de sua obrigação? O fato de preferirem permanecer no pecado e ousada transgressão não lhes diminui a culpa. Jesus pagou o preço por eles, e eles Lhe pertencem. São propriedade dEle; e se não prestarem obediência Àquele que por eles deu a vida, mas consagrarem seu tempo, suas forças e talentos ao serviço de Satanás, estão recebendo seu salário, que é a morte. Glória imortal e vida eterna são a recompensa oferecida por nosso Redentor aos que Lhe forem obedientes. Ele lhes tornou possível aperfeiçoarem caráter cristão mediante o Seu nome, e vencer por si mesmos como Ele venceu em benefício deles. Ele lhes deu o exemplo na própria vida, mostrando-lhes como podem vencer. "O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor." Romanos 6:23. T3 365 2 As reivindicações de Deus são igualmente obrigatórias a todos. Os que preferem negligenciar a grande salvação que lhes é oferecida gratuitamente, que preferem servir a si mesmos e permanecer inimigos de Deus, inimigos do abnegado Redentor, estão ganhando o seu salário. Semeiam na carne, e da carne hão de ceifar a corrupção. Gálatas 6:8. T3 365 3 Aqueles que se revestiram de Cristo pelo batismo, mostrando por esse passo sua separação do mundo, e que prometeram andar em novidade de vida, não devem erguer ídolos no coração. Os que uma vez se regozijaram na evidência dos pecados perdoados, que experimentaram o amor do Salvador, e que depois persistem em unir-se aos inimigos de Cristo, rejeitando a perfeita justiça que Jesus lhes oferece, escolhendo os caminhos condenados por Ele, serão mais severamente julgados do que os pagãos que nunca tiveram a luz e nunca conheceram a Deus e a Sua lei. Os que recusam seguir a luz que Deus lhes deu, preferindo os divertimentos, vaidade e loucuras do mundo, recusando-se a conformar sua vida com as justas e santas reivindicações da lei de Deus, são à vista de Deus culpados dos mais ofensivos pecados. Sua culpa e seu salário serão proporcionais à luz e privilégios que tiveram. T3 366 1 Vemos o mundo absorvido em seus divertimentos. O primeiro e supremo pensamento da maior parte, especialmente das mulheres, é a exibição. O amor do vestuário e do prazer está arruinando a felicidade de milhares. E alguns dos que professam amar e observar os mandamentos de Deus imitam essa classe até o ponto em que ainda possam conservar o nome de cristãos. Alguns jovens são tão ansiosos por exibição que estão até dispostos a desistir desse nome de cristãos, se tão-somente puderem seguir sua inclinação pela vaidade no vestuário e o amor dos prazeres. A abnegação no vestir faz parte de nosso dever cristão. Trajar-se com simplicidade e abster-se de ostentação de jóias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé. Pertencemos nós ao número dos que vêem a loucura dos mundanos em condescender com a extravagância do vestuário o amor às diversões? Se assim é, cumpre-nos ser daquela classe que foge a tudo quanto sanciona esse espírito que se apodera da mente e coração dos que vivem apenas para este mundo e não pensam no vindouro nem se importam com ele. T3 366 2 Jovens cristãos, tenho visto em alguns de vocês amor pelo vestuário e exibição que me tem entristecido. Em alguns que têm sido bem instruídos, que têm desfrutado os privilégios religiosos desde o berço, e que se têm revestido de Cristo mediante o batismo, professando assim estar mortos para o mundo, tenho visto vaidade no vestuário e leviandade na conduta que têm ofendido ao querido Salvador, sendo ao mesmo tempo uma vergonha para a causa de Deus. Tenho observado com dor o declínio religioso de vocês, e sua inclinação a enfeitar e adornar seu vestuário. Alguns têm sido bastante infelizes para chegar a possuir correntes ou alfinetes de ouro, ou ambas as coisas, e têm mostrado o mau gosto de exibi-los, fazendo-os notórios a fim de atrair a atenção. Não posso deixar de relacionar essas pessoas ao vaidoso pavão, que exibe suas suntuosas penas à admiração dos outros. É tudo quanto essa pobre ave possui para atrair a atenção; pois sua forma e sua voz nada têm de atrativas. T3 367 1 Os jovens podem esforçar-se por sobressair na procura do ornamento "de um espírito manso e quieto" (1 Pedro 3:4), jóia de inestimável valor que pode ser usada com graça celeste. Este adorno atrairá a muitos neste mundo, e será altamente valorizado pelos anjos celestiais e, acima de tudo, por nosso Pai do Céu; também habilitará os que o usam a serem hóspedes bem-vindos às cortes celestes. T3 367 2 Os jovens possuem faculdades que, com o devido cultivo, qualificá-los-iam para praticamente qualquer posição de confiança. Se tivessem tornado seu objetivo obter uma educação para exercitar e desenvolver as faculdades que Deus lhes concedeu para que fossem úteis e se demonstrassem uma bênção aos demais, sua mente não teria sido rebaixada a um padrão inferior. Manifestariam profundidade de pensamento e firmeza de princípios, impondo o respeito e exercendo influência. Teriam elevadora influência sobre outros, o que levaria pessoas a verem e reconhecerem o poder de uma vida cristã esclarecida. Os que põem maior cuidado em ornamentar-se para exibição do que em educar a mente e exercitar suas faculdades para a máxima utilidade, a fim de glorificarem a Deus, não reconhecem sua responsabilidade para com Ele. Inclinar-se-ão a ser superficiais em tudo quanto empreendem, e limitarão a própria utilidade e atrofiarão o intelecto. T3 367 3 Sinto profunda mágoa pelos pais e mães desses jovens, bem como pelos filhos. Houve uma falha na educação desses filhos, o que deixa em algum ponto uma pesada responsabilidade. Os pais que mimaram os filhos e com eles foram condescendentes em vez de os restringir criteriosamente por princípios podem ver o caráter que formaram. Conforme a educação que lhes foi dada, assim se inclina o caráter. O fiel Abraão T3 368 1 Meus pensamentos se volvem ao fiel Abraão, que, em obediência à ordem divina a ele dada em uma visão noturna, em Berseba, segue seu caminho com Isaque ao lado. Vê diante de si o monte que, Deus lhe dissera, havia de indicar como aquele sobre o qual ele devia oferecer o sacrifício. Tira a lenha das costas do servo e coloca-a sobre Isaque, aquele que devia ser oferecido. Cinge-se de firmeza e angustiosa severidade, pronto para a obra que Deus dele exige. Coração quebrantado e mão desfalecida, toma o fogo, enquanto Isaque indaga: Pai, aqui está o fogo e a lenha; mas onde está a oferta? Gênesis 22:7. Mas, oh, Abraão não lhe pode dizer agora! Pai e filho constroem o altar, e chega para Abraão o terrível momento de dar a conhecer a Isaque o que lhe tem causado angústia de alma através de toda aquela longa jornada -- que o próprio Isaque é a vítima. O filho não é mais um rapazinho; é um jovem plenamente desenvolvido. Poder-se-ia haver recusado submeter-se ao desígnio paterno, se assim quisesse. Ele não acusa o pai de loucura, nem sequer lhe procura mudar o propósito. Submete-se. Crê no amor de seu pai, e que ele não faria esse terrível sacrifício de seu filho único, não houvesse Deus assim solicitado. Isaque é amarrado pelas mãos trementes e amorosas do compassivo pai, porque assim o dissera Deus. O filho submete-se ao sacrifício, porque acredita na integridade de seu pai. Quando tudo está pronto, porém, quando a fé do pai e a submissão do filho são plenamente provadas, o anjo de Deus detém a mão suspensa de Abraão, prestes a matar seu filho, e diz-lhe que basta. "Agora sei que temes a Deus e não Me negaste o teu filho, o teu único." Gênesis 22:12. T3 368 2 Este ato de fé da parte de Abraão é registrado para nosso benefício. Ensina-nos a grande lição de confiança nas reivindicações de Deus, por mais rigorosas e pungentes que sejam; e isto ensina aos filhos perfeita submissão a seus pais e a Deus. Pela obediência de Abraão é-nos ensinado que coisa alguma é demasiado preciosa para darmos a Deus. T3 369 1 Isaque era um símbolo do Filho de Deus, oferecido em sacrifício pelos pecados do mundo. Deus queria gravar em [na mente de] Abraão o evangelho da salvação para o ser humano. A fim de fazê-lo, e tornar essa verdade real para ele, bem como provar-lhe a fé, pediu que matasse seu querido Isaque. Toda a dor e angústia suportadas por Abraão através daquela sombria e tremenda viagem tiveram o propósito de gravar-lhe profundamente no entendimento o plano da redenção para o homem caído. Foi-lhe feito compreender, pela própria experiência, quão inexprimível era a abnegação do infinito Deus em dar o próprio Filho para morrer a fim de redimir o ser humano da total perdição. Nenhuma tortura mental poderia ser para Abraão igual àquela que sofrera ao obedecer à ordem divina de sacrificar seu filho. T3 369 2 Deus entregou Seu Filho a uma vida de humilhação, renúncia, pobreza, fadiga, injúria, e à angustiosa morte de cruz. Ali não houve, porém, nenhum anjo a levar a feliz mensagem: "Basta; não é preciso que morras, Meu bem-amado Filho." Havia legiões de anjos em dolorosa expectativa, na esperança de que, como no caso de Isaque, no derradeiro momento, Deus impediria essa vergonhosa morte. Aos anjos, no entanto, não foi permitido levar uma mensagem assim ao querido Filho de Deus. Prosseguiu a humilhação no tribunal e no caminho do Calvário. Foi escarnecido, ridicularizado e cuspiram nEle. Suportou as zombarias, os insultos e os ultrajes dos que O aborreciam, até pender a cabeça sobre a cruz e expirar. T3 369 3 Poderia Deus dar-nos prova maior de Seu amor do que em assim entregar Seu Filho para passar por tal cena de sofrimento? E como o dom de Deus ao ser humano foi gratuito e Seu amor sem fim, assim também Suas reivindicações sobre nossa confiança, nossa obediência, todo o nosso coração e a riqueza de nossas afeições são correspondentemente infinitos. Ele requer tudo quanto é possível ao homem dar. A submissão de nossa parte deve ser proporcional ao dom de Deus; importa que seja completa, sem faltar em coisa alguma. Somos todos devedores a Deus. Ele tem sobre nós reivindicações que não podemos satisfazer, a não ser nos entregando em sacrifício total e voluntário. Ele pede pronta e voluntária obediência, e nada menos do que isto será aceito. Temos agora oportunidade de assegurar-nos a afeição e o favor de Deus. Este ano talvez seja o último na vida de alguns que lêem isto. Haverá entre os jovens que lêem este apelo alguém que prefira os prazeres do mundo à paz dada por Cristo ao sincero indagador e alegre praticante de Sua vontade? T3 370 1 Deus está pesando nosso caráter, nossa conduta e nossos motivos na balança do santuário. Terrível coisa será ser declarado em falta em amor e obediência por nosso Redentor, que morreu na cruz a fim de atrair a Si nosso coração. Grandes e preciosos dons nos tem Deus concedido. Tem-nos dado luz e conhecimento de Sua vontade, de modo que não necessitamos errar ou andar em trevas. Ser pesado na balança e achado em falta no dia do ajuste final e das recompensas será coisa tremenda, erro terrível que jamais se poderá corrigir. Queridos jovens, será o livro de Deus pesquisado em vão quanto aos seus nomes? T3 370 2 Deus lhes designou uma obra a fazer para Ele, a qual os tornará colaboradores Seus. Por toda parte ao seu redor há pessoas por salvar. Há pessoas a quem vocês podem animar e beneficiar mediante seus sinceros esforços. Vocês podem desviar pessoas do pecado para a justiça. Quando experimentarem o senso de sua responsabilidade para com Deus, sentirão a necessidade de ser mais fiéis em oração e mais fiéis em vigiar contra as tentações de Satanás. Se vocês são realmente cristãos, hão de sentir-se mais inclinados a entristecer-se por causa das trevas morais que há no mundo do que a condescender com a leviandade e o orgulho no vestuário. Achar-se-ão entre os que choram e gemem por causa das abominações que se cometem na nação. Resistirão às tentações de Satanás para condescender com a vaidade, os enfeites e adornos para ostentação. Torna-se estreita a mente e atrofiado o intelecto que pode achar satisfação nessas coisas frívolas em detrimento às altas responsabilidades. T3 370 3 Os jovens de nossos dias podem ser colaboradores de Cristo, se assim o quiserem; e no trabalho sua fé se fortalecerá e aumentará seu conhecimento da vontade divina. Todo verdadeiro propósito e todo proceder justo serão registrados no livro da vida. Eu desejaria poder despertar os jovens para verem e sentirem a pecaminosidade de viverem para agradarem a si mesmos, rebaixando o intelecto ao nível das coisas mesquinhas e vãs desta vida. Caso eles elevassem o pensamento e as palavras acima das frívolas atrações do mundo, tomando como objetivo glorificar a Deus, Sua paz, "que excede todo o entendimento" (Filipenses 4:7), seria por eles desfrutada. Humilhação de Cristo T3 371 1 Não trilhou nosso Modelo um caminho duro, de abnegação, sacrifício próprio e humildade por nossa causa e para nos salvar? Ele enfrentou dificuldades, experimentou desapontamentos e sofreu desonra e aflição em Sua obra de salvar-nos. E recusaremos seguir para onde o Rei da glória nos conduzir? Havemos de nos queixar de dificuldades e provas na obra de vencer por nossa conta, quando nos lembramos dos sofrimentos de nosso Redentor no deserto da tentação, no Jardim do Getsêmani e no Calvário? Tudo isso foi suportado para nos mostrar o caminho e para nos trazer o auxílio divino que precisamos ter, ou perecemos. Se os jovens querem obter a vida eterna, não devem esperar que podem seguir as próprias inclinações. O prêmio lhes custará algo, sim, tudo. Podem agora ter Jesus ou o mundo. Quantos de nossos queridos jovens sofrerão privação, cansaço, labuta e ansiedade a fim de servir a si mesmos e alcançar um objetivo nesta vida! Não pensam em queixar-se da dureza e dificuldades que encontram a fim de servir ao próprio interesse. Por que, então, devem esquivar-se de conflito, abnegação ou qualquer sacrifício a fim de obter a vida eterna? T3 371 2 Cristo veio das cortes da glória a este mundo poluído pelo pecado e humilhou-Se assumindo a humanidade. Identificou-Se com nossas fraquezas e, "como nós, em tudo foi tentado". Hebreus 4:15. Cristo aperfeiçoou um caráter reto aqui na Terra, não para Seu benefício, pois Seu caráter era puro e sem mancha, mas a favor do homem caído. Ele oferece Seu caráter ao homem se este quiser aceitá-lo. O pecador, mediante arrependimento de seu pecado, fé em Cristo e obediência à perfeita lei de Deus, tem a justiça de Cristo que lhe é creditada; esta se torna sua justiça, e seu nome é registrado no livro da vida do Cordeiro. Ele se torna um filho de Deus, um membro da família real. T3 372 1 Jesus pagou um preço infinito para redimir o mundo, e a raça foi entregue em Suas mãos; tornaram-se Sua propriedade. Ele sacrificou Sua honra, Suas riquezas e Seu lar glorioso nas cortes reais e tornou-Se o filho de José e Maria. José era um dos operários mais humildes. Jesus também trabalhou; viveu uma vida de dificuldades e labuta. Quando Seu ministério começou, depois de Seu batismo, Ele suportou um jejum angustiante de quase seis semanas. Não era apenas a torturante dor da fome que tornou Seus sofrimentos inexprimivelmente severos, mas foi a culpa dos pecados do mundo que O oprimiam tão pesadamente. "Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós." 2 Coríntios 5:21. Com este terrível peso de culpa sobre Ele por causa de nossos pecados, resistiu à prova terrível do apetite, do amor ao mundo e à honra, e do orgulho da ostentação que leva à presunção. Cristo suportou estas três grandes tentações e venceu a favor do ser humano, desenvolvendo para ele um caráter reto, porque sabia que o homem não podia fazer isto por si mesmo. Ele sabia que sobre esses três pontos Satanás havia de assaltar a humanidade. Ele tinha vencido Adão, e planejou levar adiante sua obra até completar a ruína do homem. Cristo entrou na luta em favor do ser humano para vencer a Satanás em seu lugar porque viu que o homem não podia vencer por si mesmo. Cristo preparou o caminho para o resgate do ser humano por Sua vida de sofrimento, abnegação e sacrifício próprio, e por Sua humilhação e morte final. Ele trouxe auxílio ao homem para que ele pudesse, seguindo o exemplo de Cristo, vencer por si mesmo, como Cristo venceu por ele. T3 372 2 "Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." 1 Coríntios 3:16, 17. "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14-18. T3 373 1 Quão benigna e ternamente trata o Pai celeste a Seus filhos! Guarda-os de mil perigos que lhes são ocultos, preserva-os das artes sutis de Satanás, para que não sejam destruídos. Como o protetor cuidado de Seus anjos não é manifesto à nossa imperfeita visão, não procuramos considerar e apreciar o sempre vigilante interesse nutrido por nosso bondoso e benévolo Criador para com a obra de Suas mãos; e não somos gratos pela multidão de Suas misericórdias a nós concedidas dia a dia. T3 373 2 Os jovens ignoram os muitos perigos a que se acham diariamente expostos. Jamais os poderão conhecer a todos; se são vigilantes, porém, se oram sempre, Deus lhes conservará sensível a consciência e a percepção clara para poderem discernir a atuação do inimigo, e serem fortalecidos contra seus ataques. Muitos dos jovens, todavia, têm por tanto tempo seguido as próprias inclinações que dever é para eles palavra sem significado. Não compreendem os elevados e santos deveres que possam ter a desempenhar para benefício de outros e para glória de Deus; e negligenciam por completo desempenhá-los. T3 373 3 Caso os jovens tão-somente despertassem para sentir profundamente sua necessidade de forças vindas de Deus para resistirem às tentações de Satanás, obteriam preciosas vitórias, bem como valiosa experiência na luta cristã. Quão poucos jovens pensam na exortação do inspirado apóstolo Pedro: "Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Ao qual resisti firmes na fé." 1 Pedro 5:8, 9. João viu na visão a ele dada o poder de Satanás sobre os homens, e exclamou: "Ai dos que habitam na Terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo." Apocalipse 12:12. T3 374 1 A única segurança para os jovens é incessante vigilância e humilde oração. Não devem lisonjear-se de que podem ser cristãos sem isso. Satanás oculta suas tentações e seus ardis sob uma cobertura de luz, como quando se aproximou de Cristo no deserto. Então, era aparentemente como um anjo celeste. O adversário de nossas almas aproximar-se-á de nós como um hóspede celeste; e o apóstolo recomenda sobriedade e vigilância como nossa única salvaguarda. Os jovens que condescendem com uma atitude descuidosa e leviana, e negligenciam os deveres cristãos, estão continuamente caindo sob as tentações do inimigo, em vez de vencerem como Cristo venceu. T3 374 2 O serviço de Cristo não é penosa labuta para a pessoa completamente consagrada. A obediência a nosso Salvador não prejudica nossa felicidade e o verdadeiro prazer nesta vida, mas possui uma força refinadora sobre o caráter, elevando-o. O estudo diário das preciosas palavras de vida encontradas nas Escrituras revigora o intelecto, promovendo o conhecimento das grandes e gloriosas obras de Deus na natureza. Mediante o estudo da Bíblia aprendemos a viver de maneira a fruir a maior soma de pura felicidade. O estudioso da Bíblia acha-se também provido de argumentos escriturísticos de modo a poder enfrentar as dúvidas dos incrédulos, removendo-as pela brilhante luz da verdade. Os que pesquisam as Escrituras podem estar sempre fortalecidos contra as tentações de Satanás; é-lhes possível estar cabalmente "preparados para toda boa obra" (Tito 3:1), e apercebidos para dar a quem quer que lhes "pedir a razão da esperança" que há neles. 1 Pedro 3:15. T3 374 3 A impressão deixada com demasiada freqüência sobre as mentes é que a religião é degradante e que é uma condescendência para pecadores aceitar a norma da Bíblia como sua regra de vida. Pensam que seus preceitos são grosseiros, e que, aceitando-os, precisam renunciar todo seu gosto por aquilo que é belo, e em vez disso precisam aceitar humilhação e degradação. Satanás nunca aplicou um maior engano sobre as mentes do que este. A religião pura de Jesus requer de seus seguidores a simplicidade da beleza natural e a polidez do refinamento natural e da pureza elevada, em vez do artificial e falso. T3 375 1 Enquanto a religião pura é vista como rigorosa em suas exigências e, entre os jovens especialmente, é contrastada desfavoravelmente com o falso esplendor e brilho do mundo, os preceitos da Bíblia são considerados como provas que requerem humildade e abnegação, que privam a todos da alegria da vida. Mas a religião da Bíblia sempre tem tendência de elevar e refinar. E tivessem os professos seguidores de Cristo exemplificado na vida os princípios da religião pura, a religião de Cristo seria aceitável a maior número de mentes refinadas. A religião da Bíblia nada tem em si que choque os sentimentos mais delicados. Ela é, em todos seus preceitos e exigências, tão pura como o caráter de Deus e tão elevada quanto Seu trono. T3 375 2 O Redentor do mundo nos advertiu contra o orgulho da vida, mas não contra sua graça e beleza natural. Ele apontou a toda beleza cintilante das flores do prado e ao lírio repousando em sua beleza imaculada sobre o seio do lago e disse: "Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:28, 29. Aqui Ele mostra que, apesar das pessoas terem grande preocupação e labutarem com fadiga para se fazerem objetos de admiração por seus enfeites exteriores, todos seus adornos artificiais, que valorizam tanto, não podem ser comparados com as simples flores do campo em beleza natural. Mesmo estas flores simples, com o adorno de Deus, superariam em beleza as vestes suntuosas de Salomão. "Nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:29. T3 376 1 Eis uma lição importante para todo seguidor de Cristo. O Redentor do mundo fala aos jovens. Ouvirão vocês Suas palavras de instrução divina? Ele lhes apresenta temas para meditação que enobrecem, elevam, refinam e purificam, mas que nunca degradam nem atrofiam o intelecto. Sua voz lhes está falando: "Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte." "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus." Mateus 5:14, 16. Se a luz de Deus estiver em vocês, ela brilhará para outros. Nunca pode ser escondida. T3 376 2 Queridos jovens, sua disposição para vestir-se conforme a moda, usando, para satisfazer a vaidade, rendas, ouro e coisas artificiais, não recomendará aos outros a religião nem a verdade que vocês professam. As pessoas discretas considerarão seu desejo de se enfeitarem como prova de que possuem mente débil e coração vaidoso. O vestuário simples e despretensioso será uma recomendação para minhas jovens irmãs. Diante de outros, não pode sua luz brilhar de maneira melhor do que pela simplicidade do vestuário e da conduta. Vocês podem mostrar a todos que, em comparação com as coisas eternas, têm dado o devido valor às coisas desta vida. T3 376 3 Agora é sua oportunidade áurea de formar caráter puro e santo para o Céu. Vocês não podem devotar estes momentos preciosos para enfeitar, ondular e embelezar o exterior negligenciando o adorno interior. "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:3, 4. T3 376 4 Deus, que criou tudo que é formoso e lindo sobre que repousa o olhar, ama o que é belo. Ele lhes mostra como aprecia a genuína beleza. O ornamento "de um espírito manso e quieto que é precioso" à Sua vista. Não procuraremos diligentemente obter aquilo que o Céu considera mais valioso do que o vestuário dispendioso, pérolas ou ouro? O adorno interior, a virtude da mansidão e um espírito em harmonia com os anjos celestiais não diminuirão a verdadeira dignidade do caráter nem nos tornarão menos atraentes neste mundo. T3 377 1 "A religião pura e imaculada" (Tiago 1:27) enobrece o seu possuidor. Vocês sempre encontrarão no verdadeiro cristão acentuado contentamento, santa e alegre confiança em Deus, submissão a Suas providências, que refrigeram a alma. O amor e a bondade de Deus podem ser vistos pelo cristão em toda dádiva que ele recebe. As belezas na natureza são um assunto para meditação. Ao estudar as belezas naturais que nos circundam, a mente é conduzida através da natureza para o autor de tudo o que é belo. Todas as obras de Deus falam aos nossos sentidos, engrandecendo o Seu poder, exaltando Sua sabedoria. Tudo que foi criado contém atrativos que interessam ao filho de Deus e aprimoram-lhe o gosto para considerar essas preciosas evidências do amor de Deus acima da obra de feitura humana. T3 377 2 O profeta, em palavras de ardente fervor, magnifica a Deus em Suas obras criadas: "Quando vejo os Teus céus, obra dos Teus dedos, a Lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?" "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o Teu nome sobre toda a Terra! Eu Te louvarei, Senhor, de todo o meu coração; contarei todas as Tuas maravilhas." Salmos 8:3, 4, 9; 9:1. T3 377 3 É a ausência de religião que torna sombrio o caminho de tantos que professam religião. Há muitos que podem passar como cristãos mas que são indignos do nome. Não possuem caráter cristão. Quando seu cristianismo é posto à prova, sua falsidade é demasiado evidente. Verdadeira religião é vista na conduta diária. A vida do cristão é caracterizada por atividade sincera e desprendida para fazer o bem a outros e para glorificar a Deus. Seu caminho não é escuro e sombrio. Um escritor inspirado disse: "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem conhecem aquilo em que tropeçam." Provérbios 4:18, 19. T3 377 4 E viverão os jovens vida vã e insensata, de modas e frivolidade, atrofiando seu intelecto com o assunto de vestuário e consumindo seu tempo em prazer sensual? Quando estão inteiramente despreparados, Deus pode dizer-lhes: "Esta noite findará sua loucura." Ele pode permitir que enfermidade fatal venha sobre aqueles que não produziram fruto para Sua glória. Ao confrontarem as realidades da eternidade, podem começar a reconhecer o valor do tempo e da vida que perderam. Poderão então ter uma idéia do valor da salvação. Vêem que sua vida não glorificou a Deus iluminando o trilho de outros para o Céu. Viveram para glorificar a si mesmos. E, quando atormentados com dores e com angústia de coração, não podem ter concepção clara das coisas eternas. Podem recapitular sua vida passada, e no seu remorso exclamar: "Nada fiz por Jesus, que tudo fez por mim. Minha vida foi um fracasso terrível." T3 378 1 Ao orarem, queridos jovens, para que não sejam induzidos à tentação, lembrem-se de que sua parte não se limita a orar. Cumpre-lhes então responder a própria oração tanto quanto possível, resistindo à tentação e deixando que Jesus faça por vocês o que não lhes é possível fazer por si mesmos. Vocês devem ser extremamente cuidadosos em suas palavras e comportamento, para que não convidem o inimigo a tentá-los. Muitos de nossos jovens, devido à sua descuidosa desconsideração para com as advertências e reprovações que lhes são feitas, abrem completamente a porta a Satanás. Tendo a Palavra de Deus como nosso guia e Jesus como nosso Mestre divino, não precisamos ignorar-Lhe as reivindicações nem os ardis do inimigo e ser vencidos por suas tentações. Não será desagradável a tarefa de obedecer à vontade de Deus, quando nos entregamos inteiramente à orientação de Seu Espírito. T3 378 2 Agora é o tempo de trabalhar. Se somos filhos de Deus, enquanto vivermos no mundo, Ele nos dará nosso trabalho. Jamais podemos dizer que nada temos para fazer enquanto restar uma tarefa inacabada. Gostaria que todos os jovens vissem, como eu tenho visto, o trabalho que podem fazer e que Deus os considerará responsáveis ao negligenciar. A maior obra já realizada no mundo foi feita por Aquele que foi um "homem de dores, experimentado nos trabalhos". Isaías 53:3. Uma pessoa frívola jamais realizará bem algum. T3 379 1 A fraqueza espiritual de muitos rapazes e moças nesta época é deplorável porque podiam ser poderosos agentes do bem se fossem consagrados a Deus. Lamento grandemente a falta de estabilidade dos jovens. Isto devíamos todos deplorar. Parece haver uma falta de poder para agir corretamente, uma falta de esforço sério para obedecer aos chamados do dever em vez dos da inclinação. Parece haver em alguns pouca força para resistir à tentação. A razão por que são anões na vida espiritual é porque não se tornam espiritualmente fortes através do exercício. Estão parados quando devem avançar. Cada passo na vida da fé e do dever é um passo para o Céu. Desejo muito ouvir de uma reforma em muitos aspectos tal como os jovens nunca realizaram até aqui. Todo incentivo que Satanás pode inventar lhes é oferecido para fazê-los indiferentes e descuidados quanto às coisas eternas. Sugiro que esforços especiais sejam feitos pelos jovens para se ajudarem uns aos outros a viver de modo fiel a seus votos batismais e que se comprometam solenemente diante de Deus a retirar suas afeições do vestuário e da ostentação. T3 379 2 Lembraria aos jovens que se enfeitam e usam plumas nos chapéus que, por causa de seus pecados, a cabeça do Salvador foi coroada com vergonhosa coroa de espinhos. Quando vocês empregam seu precioso tempo em adornar os trajes, lembrem-se de que o Rei da glória usou um manto simples sem costura. Vocês que se cansam procurando enfeitar-se, por favor tenham presente que Jesus muitas vezes Se cansou em incessante trabalho, em abnegação e sacrifício para abençoar os sofredores e os necessitados. Ele passava noites inteiras em oração nas solitárias montanhas, não por causa de Suas fraquezas e Suas necessidades, mas porque via e sentia as fraquezas da natureza de vocês para resistir às tentações do inimigo exatamente naqueles pontos em que são agora vencidos. Ele sabia que vocês seriam indiferentes quanto ao perigo e não sentiriam necessidade de oração. Foi por nossa causa que Ele derramou Suas orações ao Pai com forte clamor e lágrimas. Foi para salvar-nos do próprio orgulho e amor da vaidade e dos prazeres em que estamos agora envolvidos e que excluem o amor de Jesus que aquelas lágrimas foram derramadas e o semblante do Salvador Se alterou com tristeza e angústia, mais que o de qualquer dos filhos dos homens. T3 380 1 Vocês, jovens amigos, levantar-se-ão e desprender-se-ão desta indiferença e estupor assustadores que os harmonizam com o mundo? Ouvirão a voz de advertência que lhes diz que a destruição jaz no caminho daqueles que estão à vontade nesta hora de perigo? A paciência de Deus não esperará para sempre por vocês, pobres seres frívolos. Aquele que tem em Suas mãos nosso destino não Se deixará zombar para sempre. Jesus declara que há um pecado maior do que o que causou a destruição de Sodoma e Gomorra. É o pecado daqueles que têm a grande luz da verdade nestes dias e que não são levados ao arrependimento. É o pecado de rejeitar a luz da mensagem mais solene de misericórdia ao mundo. É o pecado daqueles que vêem a Jesus no deserto da tentação, curvado como se estives-se em agonia mortal por causa dos pecados do mundo, e que assim mesmo não são levados a um arrependimento cabal. Ele jejuou quase seis semanas para vencer, em favor dos homens, a condescendência com o apetite, a vaidade e o desejo de ostentação e honra mundana. Ele lhes mostrou como podem vencer para o próprio benefício como Ele venceu; mas não é agradável à sua natureza suportar conflito e injúria, escárnio e vergonha por amor dEle. Não é agradável negar o eu e estar sempre procurando fazer o bem a outros. Não é agradável vencer como Cristo venceu, assim eles se voltam do exemplo que lhes é claramente dado para copiar e recusam imitar o exemplo que o Salvador lhes deixou ao vir das cortes celestes. T3 380 2 "Menos rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no dia do juízo, do que para" (Mateus 10:15) aqueles que têm tido os privilégios e a grande luz que brilha em nossos dias, mas que negligenciaram seguir a luz e dar o coração inteiramente a Deus. ------------------------Capítulo 33 -- Dízimos e ofertas T3 381 1 A missão da igreja de Cristo é salvar os pecadores que estão a perecer. É divulgar o amor de Deus aos homens, conquistando-os para Cristo pela eficácia daquele amor. A verdade para este tempo deve ser levada aos tenebrosos recantos da Terra, e esta obra pode começar em casa. Os seguidores de Cristo não devem viver egoistamente; antes, imbuídos do Espírito de Cristo, trabalhar em harmonia com Ele. T3 381 2 Há motivos para a frieza e incredulidade atuais. O amor do mundo e os cuidados da vida separam o coração de Deus. A água da vida precisa estar em nós, de nós fluindo, jorrando para a vida eterna. Cumpre-nos realizar exteriormente aquilo que Deus realiza no interior. Caso o cristão queira fruir a luz da vida, precisa aumentar seus esforços para levar outros ao conhecimento da verdade. Sua vida deve caracterizar-se pelo esforço e sacrifício para beneficiar a outros; então não haverá queixa de falta de satisfação. T3 381 3 Os anjos acham-se sempre empenhados em trabalhar pela felicidade dos outros. É este o seu prazer. Aquilo que seria considerado serviço humilhante por parte de corações egoístas -- servir aos que são indignos e considerados inferiores em caráter e posição -- é a obra dos puros e inocentes anjos nas reais cortes celestes. O espírito de abnegado amor de Cristo é o que domina no Céu, constituindo a própria essência de sua bem-aventurança. T3 381 4 Os que não experimentam nenhum prazer especial em buscar ser uma bênção aos outros, em trabalhar, mesmo com sacrifício, para lhes fazer bem, não podem ter o espírito de Cristo ou do Céu; pois não têm união com a obra dos santos anjos, nem podem participar da bem-aventurança que lhes comunica elevada alegria. Disse Cristo: "Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:7. Se a alegria dos anjos é ver os pecadores se arrependerem, não será o regozijo dos pecadores, salvos pelo sangue de Jesus, ver outros se arrependerem e voltarem para Cristo por intermédio deles? Em trabalhar em harmonia com Cristo e os santos anjos experimentaremos uma alegria que não pode ser sentida senão nessa obra. T3 382 1 Os princípios da cruz de Cristo levam todos quantos crêem à rigorosa obrigação de negarem a si mesmos, comunicarem luz aos outros e darem de seus recursos para difundir a luz. Se eles se acharem em comunhão com o Céu, empenhar-se-ão na obra em harmonia com os anjos. T3 382 2 O princípio dos mundanos é tirar o máximo que lhes for possível das perecíveis coisas desta vida. O amor do lucro egoísta, eis o princípio dominante de sua vida. A mais pura alegria, porém, não se encontra em riquezas, nem na cobiça que sempre deseja ansiosamente mais, mas onde reina contentamento e onde o abnegado amor é o princípio dominante. Há milhares de criaturas que passam a vida na satisfação de suas inclinações, mas cujo coração vive cheio de pesar. São vítimas do egoísmo e do descontentamento, no vão esforço de satisfazer o espírito pela condescendência com o próprio eu. Em sua fisionomia, no entanto, acha-se estampada a infelicidade, e atrás delas se encontra um deserto pela ausência de boas obras em sua vida. T3 382 3 À medida que o amor de Cristo nos enche o coração e nos rege a vida, a cobiça, o egoísmo e o amor da comodidade serão vencidos, e nosso prazer consistirá em fazer a vontade de Cristo, de quem professamos ser servos. Nossa felicidade será então proporcional a nossas obras abnegadas, inspiradas pelo amor de Jesus. T3 382 4 No plano da salvação, a sabedoria divina designou a lei da ação e reação, tornando a obra de beneficência em todos os seus ramos duplamente bendita. O que dá aos necessitados beneficia a outros, e é ele próprio beneficiado em grau ainda maior. Deus poderia haver conseguido Seu objetivo na salvação dos pecadores sem o auxílio do homem; sabia, porém, que o homem não podia ser feliz sem desempenhar uma parte na grande obra em que cultivaria a abnegação e a beneficência. T3 382 5 Para que o homem não perdesse os benditos resultados da beneficência, nosso Redentor elaborou o plano de alistá-lo como Seu cooperador. Mediante uma cadeia de circunstâncias que lhe despertaria a caridade, concede ao homem os melhores meios de cultivar a beneficência e conserva-o dando habitualmente para ajudar os pobres e promover Sua causa. Envia Seus pobres como representantes dEle. Através das necessidades deles, o mundo arruinado está a extrair de nós talentos em forma de recursos e influência a fim de apresentar-lhes a verdade, por falta da qual estão a perecer. E ao atendermos a esses pedidos por meio de trabalho e de atos de beneficência, somos transformados à imagem dAquele que por amor de nós Se tornou pobre. Dando, beneficiamos a outros, acumulando assim verdadeiras riquezas. T3 383 1 Tem havido grande falta de beneficência cristã na igreja. Aqueles que mais habilitados se achavam a promover a propagação da causa de Deus não fizeram senão um pouco. Misericordiosamente, tem o Senhor trazido ao conhecimento da verdade uma classe de pessoas a fim de que lhe apreciassem o incalculável valor, em comparação com os tesouros terrestres. Jesus disse a essas pessoas: "Sigam-Me." Lucas 5:27. Ele as está provando com um convite para a ceia que tem preparado. Está observando para ver que caráter elas desenvolverão, se os próprios interesses egoístas serão considerados de maior valor do que as riquezas eternas. Muitos desses queridos irmãos estão agora, mediante suas ações, formulando as desculpas mencionadas na seguinte parábola: T3 383 2 "Porém Ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E, à hora da ceia, mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto, não posso ir. E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então, o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade e traze aqui os pobres, e os aleijados, e os mancos, e os cegos." Lucas 14:16-21. T3 383 3 Essa parábola representa apropriadamente a condição de muitos que professam crer na verdade presente. O Senhor lhes mandou um convite para a ceia que lhes preparou com grande custo; os interesses mundanos, porém, assemelham-se-lhes de maior importância que o tesouro celeste. São convidados a tomar parte em coisas de valor eterno; mas sua fazenda, o gado e os interesses domésticos lhes parecem de tão maior importância do que o atender ao convite celestial, que sobrepujam a toda atração divina, e essas coisas terrestres são apresentadas como desculpas por sua desobediência à ordem celeste: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Esses irmãos estão cegamente seguindo o exemplo das pessoas apresentadas na parábola. Olham suas posses terrenas, e dizem: "Não, Senhor, não Te posso seguir; 'rogo-Te que me hajas por escusado'." Lucas 14:18. T3 384 1 As próprias bênçãos dadas por Deus a esses homens para prová-los, para ver se eles dão "a Deus o que é de Deus" (Mateus 22:21), empregam eles como desculpa para não obedecerem às reivindicações da verdade. Abraçaram seu tesouro terrestre, e dizem: "Preciso cuidar destas coisas; não posso negligenciar as coisas desta vida; estas coisas são minhas." Assim o coração desses homens se tem tornado tão insensível à impressão como o solo batido das estradas. Eles fecham a porta do coração ao mensageiro celeste, que diz: "Vinde, que já tudo está preparado", e a abrem bem, convidando à entrada as preocupações e cuidados de negócios deste mundo; em vão bate Jesus para ser admitido. T3 384 2 O coração dessas pessoas está tão coberto de espinhos e cheio dos cuidados desta vida, que as coisas celestes não podem aí encontrar lugar. Jesus convida os cansados e oprimidos, prometendo-lhes descanso se forem ter com Ele. Convida-os a permutar o mortificante jugo do egoísmo e da cobiça, que os torna escravos de Mamom, por Seu jugo, que afirma ser suave, e por Seu fardo, que é leve. Diz Ele: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Ele quer que ponham de lado os pesados fardos do cuidado e perplexidade mundanos, e tomem Seu jugo que é abnegação e sacrifício pelos outros. Este fardo demonstrar-se-á leve. Os que se recusam a aceitar o alívio que Cristo lhes oferece e continuam a levar o mortificante jugo do egoísmo, sobrecarregando sua mente em extremo com projetos a fim de acumular dinheiro para satisfações egoístas, não experimentaram a paz e o descanso que se encontram em levar o jugo de Cristo e em carregar os fardos da abnegação e da desinteressada beneficência levados por Cristo em seu favor. T3 385 1 Quando o amor do mundo toma posse do coração e se torna paixão dominante, não fica margem para a adoração a Deus; pois as mais elevadas faculdades da mente se subordinam à servidão de Mamom, e não podem reter os pensamentos acerca de Deus e do Céu. A mente perde a lembrança do Senhor, estreitando-se e atrofiando-se na acumulação de dinheiro. T3 385 2 Em virtude do egoísmo e amor do mundo, esses homens têm vivido cada vez com menos percepção da magnitude da obra para estes últimos dias. Não educaram a mente de modo a fazer do servir a Deus sua ocupação. Não têm experiência nesse sentido. Suas posses lhes absorvem as afeições e eclipsam a magnitude do plano da salvação. Enquanto prosperam e ampliam seus empreendimentos mundanos, não vêem nenhuma necessidade de expansão e progresso da obra de Deus. Empregam os recursos de que dispõem em coisas temporais e não nas eternas. O coração ambiciona mais recursos. Deus os tornou depositários de Sua lei, de modo que deixem brilhar para os outros a luz que tão generosamente lhes foi concedida. Mas têm por tal forma acrescentado os próprios cuidados e ansiedades que não têm tempo de beneficiar a outros com sua influência, de conversar com os vizinhos, de orar com eles e por eles, e procurar trazê-los ao conhecimento da verdade. T3 385 3 Esses homens são responsáveis pelo bem que poderiam fazer, mas se desculpam por causa de cuidados e encargos mundanos que lhes obscurecem a mente e absorvem as afeições. Pessoas por quem Cristo morreu poderiam ser salvas por seus esforços pessoais e um piedoso exemplo. Almas preciosas estão a perecer por falta da luz que Deus deu aos homens para que se refletisse no caminho dos outros. A preciosa luz, no entanto, é oculta sob o alqueire, e não ilumina os que estão na casa. T3 385 4 Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus recursos; mas os homens pretendem que esses recursos são propriedade sua. Diz Cristo: "Negociai até que Eu venha." Lucas 19:13. Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com os juros. Mateus 25:27. Dirá a cada um de Seus mordomos: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Os que esconderam o dinheiro de seu Senhor em um lenço na terra, em vez de dá-lo aos banqueiros, e os que esbanjaram o dinheiro de seu Senhor ao gastá-lo em coisas desnecessárias, em vez de pô-lo a juros ao empregá-lo em Sua causa, não receberão a aprovação do Mestre, mas decisiva condenação. O servo inútil da parábola levou de volta o único talento a Deus, e disse: "Senhor, eu conhecia-Te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o Teu talento; aqui tens o que é Teu." O Senhor pega-lhe nas palavras: "Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias então ter dado o Meu dinheiro aos banqueiros, e, quando Eu viesse, receberia o que é Meu com os juros." Mateus 25:24-27. T3 386 1 Este servo inútil não ignorava os planos de Deus, mas decidiu firmemente impedir-Lhe o desígnio, acusando-O de injustiça em exigir lucro dos talentos a ele confiados. Esta mesma queixa e murmuração é feita por vasta classe de ricos que professam crer na verdade. Como o servo infiel, temem que o aumento do talento a eles emprestado por Deus seja requerido para promover a propagação da verdade; atam-no, portanto, empregando-o em tesouros terrenos, e enterrando-o no mundo, pondo-o assim tão seguro que não tenham nada, ou quase nada para investir na causa de Deus. Enterraram-no, temendo que o Senhor peça parte do capital ou dos juros. Quando, a pedido de seu Senhor, trazem a quantia que lhes foi entregue, vêm com ingratas desculpas por não haverem posto os recursos a eles emprestados por Deus nas mãos dos banqueiros, empregando-os em Sua causa para levar-Lhe a obra avante. T3 387 1 Aquele que sonega os bens do Senhor não somente perde o talento que lhe foi emprestado por Deus, mas perde a própria vida eterna. Diz-se a seu respeito: "Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores." Mateus 25:30. O servo fiel que investe seu dinheiro na causa de Deus para salvar almas emprega os recursos de que dispõe para glória do Senhor, e receberá o louvor do Mestre: "Muito bem, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. Qual será esse gozo de nosso Senhor? É a alegria de ver pessoas salvas no reino da glória. "O qual pelo gozo que Lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus." Hebreus 12:2. T3 387 2 A idéia de mordomia devia ter influência prática sobre todo o povo de Deus. A parábola dos talentos, devidamente compreendida, excluirá a cobiça, que Deus chama de idolatria. A beneficência prática dará vida espiritual a milhares de professos nominais da verdade que ora lamentam as próprias trevas. Ela os transformará de egoístas e cobiçosos adoradores de Mamom em zelosos e fiéis colaboradores de Cristo na salvação dos pecadores. T3 387 3 O plano da salvação fundamentou-se no sacrifício. Jesus deixou as cortes reais, e fez-Se pobre, para que por Sua pobreza nos pudéssemos enriquecer. 2 Coríntios 8:9. Todos quantos participam desta salvação, comprada para eles com tão infinito sacrifício pelo Filho de Deus, seguirão o exemplo do Modelo verdadeiro. Cristo foi a principal Pedra de Esquina, e cumpre-nos edificar sobre esse Fundamento. Todos devem ter espírito de abnegação e sacrifício. A vida de Cristo na Terra foi de altruísmo; assinalou-se por humilhação e sacrifício. E hão de os homens, participantes da grande salvação que Jesus veio do Céu trazer-lhes, recusar-se a seguir a seu Senhor e partilhar de Sua abnegação e sacrifício? Diz Cristo: "Eu sou a videira, vós as varas." João 15:5. "Todo ramo que, estando em Mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda." João 15:2. O próprio princípio vital, a seiva que corre através da videira, nutre os ramos, a fim de florescerem e darem fruto. "É o servo maior do que o seu Senhor"? João 15:20. Há de o Redentor do mundo praticar abnegação e sacrifício em nosso favor, e os membros do corpo de Cristo entregarem-se à complacência consigo mesmos? A abnegação é condição essencial do discipulado. T3 388 1 "Então, disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. Eu tomo a dianteira no caminho da abnegação. Não exijo de vocês, Meus seguidores, coisa alguma senão aquilo de que Eu, seu Senhor, dou-lhes o exemplo em Minha vida. T3 388 2 O Salvador do mundo venceu Satanás no deserto da tentação. Venceu para mostrar ao homem como ele pode vencer. Ele anunciou na sinagoga de Nazaré: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." Lucas 4:18, 19. T3 388 3 A grande obra que Jesus anunciou que viera fazer foi confiada a Seus seguidores na Terra. Cristo, como nossa cabeça, serve de guia na grande obra de salvação, e pede-nos que Lhe sigamos o exemplo. Deu-nos uma mensagem mundial. Esta verdade deve estender-se a todas as nações, línguas e povos. O poder de Satanás devia ser contestado, e ele vencido por Cristo e também por Seus seguidores. Ampla guerra devia ser mantida contra os poderes das trevas. E a fim de fazer essa obra com êxito, eram necessários recursos. Deus não Se propõe a mandar recursos diretamente do Céu, mas põe nas mãos de Seus seguidores talentos de recursos para serem usados com o propósito definido de manter esta luta. T3 388 4 Ele deu a Seu povo um plano para levantamento de fundos suficientes para empreendimento de manutenção própria. O plano divino do sistema do dízimo é belo em sua simplicidade e eqüidade. Todos podem dele lançar mão com fé e ânimo, pois é divino em sua origem. Nele se aliam a simplicidade e a utilidade, e não exige profundidade de saber para compreendê-lo e executá-lo. Todos podem sentir que lhes é possível ter parte em promover a preciosa obra de salvação. Todo homem, mulher e jovem podem tornar-se tesoureiros do Senhor, e agentes em atender às exigências sobre o tesouro. Diz o apóstolo: "Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade." 1 Coríntios 16:2. T3 389 1 Grandes objetivos se conseguem com este sistema. Se todos o aceitassem, cada um se tornaria vigilante e fiel tesoureiro de Deus; e não haveria falta de recursos com que levar avante a grande obra de anunciar a última mensagem de advertência ao mundo. O tesouro estará provido se todos adotarem esse sistema, e os contribuintes não ficarão mais pobres. A cada depósito feito, tornar-se-ão mais ligados à causa da verdade presente. Eles estarão entesourando "para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna". 1 Timóteo 6:19. T3 389 2 À medida que os obreiros perseverantes, sistemáticos, virem que a tendência de seus beneficentes esforços é nutrir o amor para com Deus e seus semelhantes, e que seus esforços pessoais estão a estender-lhes a esfera de utilidade, compreenderão que é grande bênção ser cooperadores de Cristo. A igreja cristã, de modo geral, está se negando às reivindicações de Deus quanto a darem ofertas do que possuem para sustentar a luta contra as trevas morais que vão inundando o mundo. A obra de Deus nunca poderá progredir como deve enquanto os seguidores de Cristo não se tornarem obreiros ativos e zelosos. T3 389 3 Todo indivíduo na igreja deve sentir que a verdade que ele professa é uma realidade, e todos devem ser obreiros desinteressados. Alguns ricos se acham inclinados a murmurar por estar a obra de Deus se ampliando e haver pedidos de dinheiro. Dizem que não há fim a esses pedidos. Surge continuamente um objetivo após outro, demandando auxílio. A esses, gostaríamos de dizer que esperamos que a causa de Deus se estenda por tal forma que haja maior ocasião, e mais freqüentes e urgentes apelos quanto às provisões do tesouro para prosseguir com a obra. T3 389 4 Se o plano da doação sistemática fosse adotado por todo indivíduo, sendo plenamente levado avante, haveria constante suprimento no tesouro. A renda fluiria para ele qual constante corrente, sem cessar, provida pelas fontes transbordantes da beneficência. O dar ofertas faz parte da religião evangélica. Não nos impõe a consideração do infinito preço pago por nossa redenção obrigações solenes, do ponto de vista financeiro, da mesma maneira que reivindica de nós a dedicação de todas as nossas energias à obra do Mestre? T3 390 1 Teremos contas a ajustar afinal com o Mestre, quando Ele disser: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Se os homens preferirem pôr de lado as reivindicações de Deus, e apegarem-se a tudo quanto Ele lhes dá, retendo-o egoistamente, Ele Se calará por agora, e continuará a prová-los freqüentemente mediante o acréscimo de Suas liberalidades, deixando fluírem Suas bênçãos, e esses homens poderão continuar a receber honras de seus semelhantes, e não ser censurados na igreja; mas finalmente Ele dirá: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Diz Cristo: "Quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim." Mateus 25:45. "Não sois de vós mesmos", "porque fostes comprados por bom preço" (1 Coríntios 6:19, 20), e vocês estão na obrigação de glorificar a Deus com os seus recursos bem como com o seu corpo e espírito, que são Seus. "Fostes comprados por bom preço", "não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro", "mas com o precioso sangue de Cristo". 1 Pedro 1:18, 19. Ele pede uma devolução dos dons que nos confiou, para ajudar na salvação de almas. Ele deu Seu sangue; pede nosso dinheiro. É mediante Sua pobreza que nos tornamos ricos; e nos recusaremos a devolver-Lhe Suas dádivas? T3 390 2 Deus não depende dos homens para a manutenção de Sua causa. Poderia haver mandado recursos diretamente do Céu para suprir Seu tesouro, caso assim houvesse Sua providência achado melhor para o homem. Poderia ter idealizado meios pelos quais houvessem sido enviados anjos para anunciar a verdade ao mundo sem o agente humano. Poderia haver escrito a verdade nos céus, e deixar que isso declarasse ao mundo os mandamentos em caracteres vivos. Deus não depende da prata ou ouro de homem algum. Diz Ele: "Meu é todo o animal da selva e as alimárias sobre milhares de montanhas." "Se Eu tivesse fome, não to diria, pois Meu é o mundo e a sua plenitude." Salmos 50:10, 12. Seja qual for a necessidade de nossa participação no progresso da causa de Deus, isso foi propositadamente arranjado por Ele para nosso bem. Honrou-nos tornando-nos coobreiros Seus. Determinou que houvesse necessidade da cooperação dos homens, para que sua liberalidade seja mantida em exercício. T3 391 1 Em Sua sábia providência, Deus pôs os pobres sempre ao nosso lado, para que, ao vermos todas as formas de sofrimento e miséria no mundo, fôssemos provados e colocados em situações de desenvolver caráter cristão. Pôs os pobres entre nós para despertar-nos simpatia e amor cristãos. T3 391 2 Pecadores, que estão perecendo por falta de conhecimento, são deixados em ignorância e trevas a menos que haja homens que lhes levem a luz da verdade. Deus não mandará anjos do Céu para fazer a obra que Ele deixou para o homem fazer. A todos Ele deu um trabalho a fazer para que pudesse prová-los, e que eles pudessem revelar seu verdadeiro caráter. Cristo coloca em nosso meio os pobres como Seus representantes. "Tive fome", diz Ele, "e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber." Mateus 25:42. Cristo Se identifica com a sofredora humanidade, na pessoa dos aflitos filhos dos homens. Torna Suas as necessidades deles, sentindo as suas desventuras. T3 391 3 As trevas morais de um mundo arruinado pleiteiam com os cristãos, homens e mulheres, para exercerem esforços pessoais, darem de seus recursos e de sua influência, de modo a serem assemelhados à imagem dAquele que, embora possuísse infinitas riquezas, todavia "Se fez pobre por amor de" nós. 2 Coríntios 8:9. O Espírito de Deus não pode permanecer com aqueles a quem Ele mandou a mensagem de Sua verdade, mas que precisam ser insistentemente solicitados para poderem ter qualquer percepção do dever que lhes cabe de tornarem-se coobreiros de Cristo. O apóstolo acentua o dever de dar impulsionado por motivos mais elevados do que a simples simpatia humana devida à emoção. Insiste no princípio de que devemos trabalhar desinteressadamente, visando unicamente a glória de Deus. T3 391 4 As Escrituras exigem que os cristãos adotem um plano de beneficência ativa, que mantenha em constante exercício o interesse pela salvação de seus semelhantes. A lei moral ordenava a observância do sábado, que não era um fardo senão quando aquela lei era transgredida e eles incorriam nas penas trazidas pela transgressão. O sistema do dízimo não era uma carga para os que não se apartavam desse plano. O sistema ordenado aos hebreus não foi rejeitado ou afrouxado por Aquele que lhe deu origem. Em vez de haver perdido agora seu vigor, deve ser mais plenamente cumprido e expandido, pois a salvação em Cristo unicamente deve ser apresentada em maior plenitude na era cristã. T3 392 1 Jesus declarou ao doutor da lei que a condição para ele obter a vida eterna era cumprir em sua vida as reivindicações especiais da lei, que consistiam em amar a Deus "de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e... o próximo como a si mesmo". Marcos 12:33. Quando os sacrifícios simbólicos cessaram, por ocasião da morte de Cristo, a lei original, escrita em tábuas de pedra, permaneceu imutável, conservando sua vigência sobre os homens de todos os séculos. E na era cristã o dever do homem não foi limitado, antes mais especialmente definido e expresso com mais simplicidade. T3 392 2 O evangelho, estendendo-se e ampliando-se, exigia maiores providências para manter a luta depois da morte de Cristo, o que tornou a lei de dar ofertas necessidade mais urgente do que sob o governo hebraico. Agora Deus requer não menores, mas maiores, dádivas do que em qualquer outro período da história do mundo. O princípio estabelecido por Cristo é que as dádivas e ofertas sejam proporcionais à luz e às bênçãos fruídas. Ele disse: "A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá." Lucas 12:48. T3 392 3 Os primeiros discípulos corresponderam às bênçãos da era cristã em obras de caridade e beneficência. O derramamento do Espírito de Deus, depois que Cristo deixou os discípulos e ascendeu ao Céu, levou à abnegação e ao sacrifício pela salvação de outros. Quando os santos pobres de Jerusalém se viram em dificuldade, Paulo escreveu aos gentios cristãos relativamente às obras de beneficência, e disse: "Portanto, assim como em tudo sois abundantes na fé, e na palavra, e na ciência, e em toda diligência e em vossa caridade para conosco, assim também abundeis nessa graça." 2 Coríntios 8:7. A beneficência aqui é colocada ao lado da fé, do amor e da diligência cristã. Os que pensam poderem ser bons cristãos e cerrarem os ouvidos e o coração aos pedidos de Deus para que sejam liberais acham-se terrivelmente enganados. Pessoas há que são pródigas em profissão de grande amor à verdade e, no que respeita às palavras, interessam-se muito em ver o progresso da verdade, mas nada fazem por esse progresso. A fé dessas pessoas é morta, não sendo aperfeiçoada pelas obras. O Senhor jamais cometeu tal erro de converter uma pessoa e mantê-la sob o domínio da cobiça. T3 393 1 O sistema do dízimo remonta a um tempo além dos dias de Moisés. Requeria-se que os homens oferecessem dádivas a Deus com intuitos religiosos antes mesmo que um sistema definido fosse dado a Moisés -- já desde os dias de Adão. Cumprindo o que Deus deles requeria, deviam manifestar em ofertas a apreciação das misericórdias e bênçãos a eles concedidas. Isto continuou através de sucessivas gerações, e foi observado por Abraão, que deu dízimos a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo. O mesmo princípio existia nos dias de Jó. Jacó, quando errante e exilado, destituído de bens, deitou-se à noite em Betel, solitário e tendo por travesseiro uma pedra, e prometeu ao Senhor: "De tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo." Gênesis 28:22. Deus não obriga os homens a dar. Tudo quanto derem deve ser voluntário. Não quer ter o Seu tesouro cheio de ofertas dadas de má vontade. T3 393 2 O Senhor visava pôr o homem em íntima relação com Ele e em simpatia e amor com seus semelhantes, quando sobre ele colocou responsabilidades em atos que haviam de neutralizar o egoísmo e fortalecer-lhe o amor para com Deus e o ser humano. O plano de haver método na beneficência foi designado por Deus para o bem do homem, inclinado a ser egoísta, a cerrar o coração a atos generosos. O Senhor requer que se dêem dádivas em tempos determinados, de tal modo que o dar se torne um hábito, e sinta-se que a beneficência é um dever cristão. O coração, aberto por um ato de beneficência, não deve ter tempo de tornar-se egoísta, frio e fechar-se antes do próximo ato. A corrente deve estar continuamente fluindo, mantendo assim aberto o canal por atos de beneficência. T3 394 1 Quanto à importância exigida, Deus especificou um décimo da renda. Isto fica com a consciência e boa vontade dos homens, cujo discernimento nesse sistema de dízimo deve ser livre. Embora isto dependa da consciência, foi estabelecido um plano bastante definido para todos. Não deve haver compulsão. T3 394 2 Na dispensação mosaica, Deus chamou homens que dessem a décima parte de toda a sua renda. Ele lhes confiou em depósito as coisas desta vida, talentos a serem desenvolvidos e devolvidos a Ele. Exigia um décimo, e isto Ele requer como o mínimo que os seres humanos Lhe devem devolver. Diz: Dou-lhes nove décimos, ao passo que exijo um décimo; este é Meu. Quando os homens o retêm, estão roubando a Deus. As ofertas pelo pecado, as ofertas pacíficas e as de gratidão também eram requeridas além do dízimo das rendas. T3 394 3 Tudo quanto é retido daquilo que Deus requer, a décima parte do rendimento, é registrado como roubo nos livros do Céu contra os que o retêm. Essas pessoas defraudam seu Criador; e ao ser-lhes apontado esse pecado de negligência, não basta que mudem de rumo e comecem a seguir daí em diante o reto princípio. Isto não alterará os algarismos registrados no Céu pela sonegação dos bens que lhes foram confiados para serem devolvidos Àquele que os emprestou. Exige-se arrependimento pelo trato infiel e a ingratidão para com Deus. T3 394 4 "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a Mim Me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança." Malaquias 3:8-10. Dá-se aí uma promessa -- que se todos os dízimos forem levados à casa do tesouro, derramar-se-á sobre o obediente uma bênção de Deus. T3 395 1 "E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo vos não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:11, 12. Se todos quantos professam crer na verdade satisfizerem às reivindicações de Deus ao dar o dízimo, que o Senhor declara ser Seu, o tesouro estará abundantemente provido de recursos para levar avante a grande obra pela salvação dos homens. T3 395 2 Deus dá ao homem nove décimos, ao passo que reivindica apenas um décimo para fins sagrados, da mesma maneira que deu ao homem seis dias para seu trabalho, e reservou e pôs à parte o sétimo dia para Si. Pois, como o sábado, um décimo da renda é sagrado; Deus o reservou para Si. Ele levará avante Sua obra na Terra com a renda dos recursos que confiou ao homem. T3 395 3 Deus exigia de Seu antigo povo três reuniões anuais. "Três vezes no ano, todo o varão entre ti aparecerá perante o Senhor, teu Deus, no lugar que escolher, na Festa dos Pães Asmos, e na Festa das Semanas, e na Festa dos Tabernáculos; porém não aparecerá de mãos vazias perante o Senhor; cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a bênção que o Senhor, seu Deus, lhe houver concedido." Deuteronômio 16:16, 17. Nada menos que um terço de seus rendimentos era consagrado a fins sagrados e religiosos. T3 395 4 Sempre que o povo de Deus, em qualquer período do mundo, seguiu voluntária e alegremente o plano dEle quanto à doação sistemática e às dádivas e ofertas, verificaram Sua permanente promessa de que todos os seus trabalhos seriam seguidos de prosperidade proporcional à obediência que dispensavam ao que deles requeria. Quando reconheciam os direitos de Deus e Lhe satisfaziam às reivindicações, honrando-O com seus recursos, seus celeiros enchiam-se com abundância. Mas, quando roubavam a Deus em dízimos e ofertas, era-lhes feito compreender que não O estavam roubando a Ele simplesmente, mas a si mesmos; pois Ele lhes limitava as bênçãos exatamente em proporção ao que eles limitavam as ofertas que Lhe faziam. T3 396 1 Alguns classificarão isso como uma das rigorosas leis a que os hebreus estavam obrigados. Não era um fardo, porém, para o coração voluntário que amava a Deus. Unicamente quando sua natureza egoísta era fortalecida pelo reter é que os homens perdiam de vista as considerações eternas, estimando seus bens terrenos acima das pessoas. Há nestes últimos dias necessidades ainda mais urgentes sobre o Israel de Deus do que sobre o antigo Israel. Há uma grande e importante obra a ser realizada em muito pouco tempo. Nunca foi desígnio do Senhor que a lei do sistema de dízimo deixasse de ser considerada entre Seu povo; em vez disso, porém, pretendia que o espírito de sacrifício se ampliasse e se tornasse mais profundo para a finalização da obra. T3 396 2 A doação sistemática não se deveria tornar compulsão sistemática. É a oferta voluntária que é aceitável a Deus. A verdadeira beneficência cristã brota do princípio do amor agradecido. Não pode existir amor a Cristo sem amor correspondente para com aqueles por cuja redenção Ele veio ao mundo. O amor a Cristo deve ser o princípio dominante do ser, regendo todas as emoções e dirigindo todas as energias. O amor redentor deve despertar todas as ternas afeições e abnegada dedicação que possam existir no coração do homem. Assim sendo, não se precisam fazer apelos comovedores para lhes vencer o egoísmo e despertar os inativos sentimentos de compassividade a fim de atrair ofertas voluntárias para a preciosa causa da verdade. T3 396 3 Com sacrifício infinito nos comprou Jesus. Todas as nossas aptidões e influência pertencem de fato a nosso Salvador, devendo ser consagradas a Seu serviço. Assim fazendo, manifestamos nossa gratidão por termos sido libertados da servidão do pecado pelo precioso sangue de Cristo. Nosso Salvador está continuamente trabalhando por nós. Subiu ao alto e intercede pelos que foram adquiridos por Seu sangue. Ele alega diante de Seu Pai as agonias da crucifixão. Ergue as mãos feridas e intercede por Sua igreja, para que sejam livrados de cair em tentação. T3 396 4 Se nossa percepção fosse avivada para compreender esta maravilhosa obra de nosso Salvador por nossa redenção, nosso coração seria abrasado de profundo e ardente amor. Sentir-nos-íamos alarmados por nossa apatia e fria indiferença. Inteira devoção e espírito de benevolência, inspirados por um amor agradecido, comunicarão à mínima oferta, ao sacrifício voluntário, fragrância divina, emprestando à dádiva incalculável valor. Depois, porém, de ofertar voluntariamente tudo quanto nos seja possível a nosso Redentor, por mais valioso que seja para nós, se considerarmos nossa dívida de gratidão para com Deus tal como em verdade é, tudo quanto possamos ter oferecido se nos parecerá demasiado insuficiente e pequenino. Mas os anjos tomam essas ofertas, que nos parecem pobres, apresentam-nas como fragrantes dádivas diante do trono, e são aceitas. T3 397 1 Não compreendemos, como seguidores de Cristo, nossa verdadeira posição. Não temos correta visão de nossas responsabilidades como servos assalariados de Cristo. Ele nos adiantou a recompensa, em Sua vida de sofrimento e no sangue derramado, a fim de a Ele nos ligar em voluntária servidão. Tudo quanto de bom possuímos é um empréstimo a nós feito por nosso Salvador. Ele nos fez mordomos. Nossas menores ofertas, os mais humildes serviços que prestamos, apresentados com fé e amor, podem ser dádivas consagradas para granjear pessoas para o serviço do Mestre e promover-Lhe a glória. O interesse e a prosperidade do reino de Cristo deveriam estar acima de todas as outras considerações. Os que tornam seu prazer e interesse egoísta os principais objetivos de sua vida não são mordomos fiéis. T3 397 2 Os que se negam a si mesmos a fim de beneficiar a outros, e se consagram com tudo quanto têm ao serviço de Cristo, experimentarão a felicidade que o egoísta procura em vão. Disse nosso Salvador: "Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo." Lucas 14:33. A caridade "não busca os seus interesses". 1 Coríntios 13:5. Isto é o fruto daquele amor e beneficência desinteressados que caracterizavam a vida de Cristo. A lei de Deus em nosso coração subordinará os próprios interesses às considerações elevadas e eternas. Cristo nos ordena buscar "primeiro o reino de Deus e Sua justiça". Mateus 6:33. É este nosso primeiro e mais alto dever. Nosso Mestre advertiu expressamente Seus servos a não acumularem tesouros na Terra; pois assim fazendo, o coração lhes ficaria nas coisas terrenas em vez de nas celestes. Eis onde muito pobre ser humano tem naufragado na fé. Têm ido diretamente em contrário à expressa ordem de nosso Senhor e permitido que o amor do dinheiro se torne em sua vida a paixão dominante. São intemperantes em seus esforços para adquirir recursos. Acham-se tão intoxicados pelo desejo insano de riquezas como o embriagado com as bebidas. T3 398 1 Os cristãos se esquecem de que são servos do Mestre; de que eles próprios, o tempo e tudo quanto lhes pertence são dEle. Muitos são tentados, e a maioria vencida, pelas ilusórias seduções que Satanás apresenta para empregarem seu dinheiro naquilo que maior lucro lhes proporcionar. Poucos são os que consideram os sagrados direitos que Deus tem sobre eles quanto a darem o primeiro lugar às necessidades de Sua causa, atendendo por último aos próprios desejos. Poucos apenas investem na causa de Deus proporcionalmente a seus recursos. Muitos empregaram o dinheiro em propriedades que precisariam vender antes de poder empregá-lo na causa do Senhor, pondo-o assim em uso prático. Fazem disso uma desculpa para não fazer senão pouca coisa na causa de seu Redentor. Esconderam tão verdadeiramente o dinheiro na terra como o fez o homem da parábola. Roubam a Deus do dízimo que Ele reivindica como Seu e, roubando-O assim, roubam a si mesmos do tesouro celeste. T3 398 2 O plano da doação sistemática não pesa muito sobre ninguém. "Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que se não façam as coletas quando eu chegar." 1 Coríntios 16:1, 2. Os pobres não são excluídos do privilégio de dar. Da mesma maneira que os ricos, eles podem ter uma parte nessa obra. A lição dada por Cristo quanto às duas moedinhas da viúva mostra-nos que as menores ofertas voluntárias do pobre, se dadas de coração, com amor, são tão aceitáveis como os maiores donativos feitos pelos ricos. T3 398 3 Nas balanças do santuário, as dádivas dos pobres, impulsionadas pelo amor a Cristo, não são avaliadas segundo a importância doada, mas de acordo com o amor que inspira o sacrifício. As promessas de Jesus serão comprovadas pelo pobre liberal, que pouco tem para dar mas oferece esse pouco de boa vontade, tão certamente como o serão pelo rico que dá de sua abundância. O pobre faz de seu pouco um sacrifício que lhe custa realmente. Renuncia a algumas coisas de que na verdade necessita para o próprio conforto, ao passo que o abastado oferece de sua abundância, e não sente falta; não renuncia a nada de que realmente necessite. Há, portanto, na oferta do pobre uma santidade que não se encontra na do rico; pois este dá de sua fartura. A providência de Deus delineou todo o plano da doação sistemática para benefício do ser humano. Sua providência não cessa nunca. Caso os servos de Deus sigam as oportunidades de Sua providência, serão todos obreiros ativos. T3 399 1 Os que retêm do tesouro de Deus, e acumulam os recursos para seus filhos, põem em risco o interesse espiritual dos mesmos. Colocam suas propriedades, que são pedra de tropeço para eles, no caminho dos filhos, de modo a que nela tropecem para perdição. Muitos estão cometendo grande erro com relação às coisas desta vida. Economizam, privando a si e aos outros do bem que poderiam desfrutar do devido uso dos recursos que Deus lhes emprestou, e tornam-se egoístas e avarentos. Negligenciam os interesses espirituais, e tornam-se anões no desenvolvimento religioso, tudo por amor de acumular riqueza que não podem usar. Deixam aos filhos esses bens e, nove vezes em dez, isso se torna ainda maior maldição aos herdeiros do que foi a eles próprios. Os filhos, confiados na propriedade dos pais, deixam freqüentemente de ser bem-sucedidos na vida presente, fracassando por completo no que respeita à vindoura. O melhor legado que os pais podem deixar aos filhos é o conhecimento do trabalho útil e o exemplo de uma vida caracterizada pela desinteressada beneficência. Por uma vida assim, mostram eles o verdadeiro valor do dinheiro, que só deve ser apreciado pelo bem que pode realizar no suprir as próprias necessidades e as dos outros, e no promover o progresso da causa de Deus. T3 400 1 Alguns estão prontos a dar segundo o que têm, e acham que Deus não tem mais a exigir deles, posto que não possuem muitos recursos. Não têm rendimentos que possam dispensar das necessidades da família. Muitos desses, porém, poder-se-iam perguntar: Estou eu dando segundo poderia ter possuído? O desígnio de Deus era que suas faculdades físicas e mentais fossem empregadas. Alguns não têm aproveitado da melhor maneira as aptidões que Deus lhes concedeu. O homem foi premiado com o trabalho. Este foi ligado à maldição, pois o pecado o tornou necessário. O bem-estar físico, mental e moral do homem torna necessária uma vida de trabalho útil. "Não sejais vagarosos no cuidado" é a recomendação do inspirado apóstolo Paulo. Romanos 12:11. T3 400 2 Pessoa alguma, seja rica seja pobre, pode glorificar a Deus por uma vida de indolência. Todo o capital possuído pelos pobres é o tempo e a força física, e muitas vezes isto é gasto no amor da comodidade e em descuidosa indolência, de modo que nada têm para levar a seu Senhor em dízimos e ofertas. Se a homens cristãos falta sabedoria para trabalhar da maneira mais proveitosa e fazer criterioso emprego de suas faculdades físicas e mentais, deveriam ter humildade e mansidão de espírito para receber conselhos de seus irmãos, de modo que o melhor discernimento deles lhes possa suprir as deficiências. Muitos pobres agora satisfeitos com não fazer coisa alguma em benefício de seus semelhantes e para o progresso da causa de Deus muito poderiam fazer, caso o quisessem. São tão responsáveis diante de Deus por seu capital de forças físicas como é o rico pelo capital em dinheiro. T3 400 3 Alguns que deviam pôr dinheiro nos tesouros de Deus serão receptores do mesmo. Pessoas há que agora são pobres as quais poderiam melhorar suas condições mediante criterioso emprego do tempo, evitando os direitos de patentes e restringindo a própria inclinação para se empenharem em especulações a fim de obterem recursos por meios mais fáceis do que por meio de paciente e perseverante trabalho. Se aqueles que não têm tido êxito na vida estivessem dispostos a receber instruções, exercitar-se-iam em hábitos de abnegação e estrita economia, tendo assim a satisfação de serem distribuidores e não recebedores de caridade. Há muito servo negligente. Caso fizessem o que está em seu poder, experimentariam tão grande bênção em ajudar os outros que compreenderiam na verdade que "mais bem-aventurada coisa é dar do que receber". Atos dos Apóstolos 20:35. T3 401 1 Devidamente orientada, a beneficência exercita as energias mentais e morais do homem, estimulando-as a uma ação muito sadia no beneficiar os necessitados e promover a causa de Deus. Caso os que têm recursos compreendessem que são responsáveis diante de Deus por todo dinheiro que gastam, suas supostas necessidades seriam muito menos. Se a consciência estivesse viva, testificaria de desnecessárias apropriações para satisfação do apetite, do orgulho, da vaidade e do amor dos entretenimentos, e mostraria o desperdício do dinheiro do Senhor, que devia ter sido dedicado à Sua causa. Os que desperdiçam os bens do Senhor hão de afinal dar contas de seu procedimento ao Mestre. T3 401 2 Se os professos cristãos empregassem menos de seus bens em adornar o corpo e em embelezar a própria morada e gastassem menos em luxos extravagantes e destruidores da saúde em sua mesa, muito maiores seriam as somas que poderiam colocar no tesouro de Deus. Imitariam assim a seu Redentor, que deixou o Céu, Suas riquezas, Sua glória, e por amor de nós tornou-Se pobre, a fim de podermos possuir as riquezas eternas. Se somos demasiado pobres para devolver fielmente a Deus os dízimos e ofertas requeridos por Ele, somos por certo pobres demais para trajar-nos dispendiosamente e comermos com luxo; pois desperdiçamos assim o dinheiro de nosso Senhor em condescendências nocivas, para agradar e glorificar a nós mesmos. Cumpre examinar-nos diligentemente: Que tesouro asseguramos nós no reino de Deus? Somos ricos para com Deus? T3 401 3 Jesus deu a Seus discípulos uma lição sobre a cobiça. "E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; e arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus." Lucas 12:16-21. T3 402 1 A extensão e a felicidade da vida não consistem na quantidade de bens terrestres. Esse rico insensato, em seu supremo egoísmo, depositara para si tesouros que não podia usar. Vivera só para si. Aproveitara-se de outros nos negócios, fizera contratos astutos e não exercera misericórdia ou o amor de Deus. Roubara o órfão e a viúva, e defraudara seus semelhantes a fim de ajuntar a seu crescente depósito de bens terrenos. Ele poderia ter depositado seu tesouro no Céu, em bolsas que não envelhecem; mas devido à sua cobiça perdeu ambos os mundos. Aqueles que, humildemente, usam para glória de Deus os recursos que lhes são confiados receberão afinal seu tesouro da mão do Mestre, com a bênção: "Bem está, bom e fiel servo... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:23. T3 402 2 Quando consideramos o infinito sacrifício feito pela salvação dos homens, ficamos abismados. Quando o egoísmo clama pela vitória no coração dos homens, e eles são tentados a reter do que poderiam fazer em qualquer boa obra, cumpre-lhes fortalecer os princípios do direito ao pensamento de que Aquele que era rico dos tesouros incalculáveis do Céu deixou tudo isso, fazendo-Se pobre. Não tinha onde reclinar a cabeça. E todo esse sacrifício foi feito em nosso favor, para que tivéssemos riquezas eternas. T3 402 3 Cristo palmilhou a estrada da abnegação e do sacrifício que todos os Seus discípulos têm de trilhar, se quiserem afinal ser exaltados com Ele. Abriu o coração às dores que o homem tem de sofrer. A mente dos mundanos fica muitas vezes embotada. Só podem ver as coisas terrenas, as quais eclipsam a glória e o valor das celestiais. Os homens atravessarão terra e mar pelo ganho deste mundo, e suportarão privações e sofrimentos no intuito de conseguirem seu objetivo; todavia, afastar-se-ão das atrações celestes, e não apreciarão as riquezas eternas. Os relativamente pobres são os que normalmente fazem o máximo para sustentar a causa de Deus. São generosos com o pouco que têm. Fortaleceram os impulsos generosos com as contínuas liberalidades. Quando seus gastos se aproximavam muito dos rendimentos, sua paixão pelas riquezas terrestres não tinha lugar nem oportunidade de se fortalecer. T3 403 1 Muitos, porém, ao começarem a ajuntar riquezas terrenas, põem-se a calcular quando estarão de posse de determinada quantia. Na ansiedade de acumular fortunas para si, deixam de enriquecer-se para com Deus. A Sua beneficência não se mantém a par com o que acumulam. À medida que lhes cresce a paixão pelas riquezas, as afeições se vão após o seu tesouro. O aumento dos bens lhes robustece o ansioso desejo de mais, até que alguns consideram exigente e injusta a contribuição de um décimo para o Senhor. Diz a Inspiração: "Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração." Salmos 62:10. Muitos têm dito: "Se eu fosse tão rico como Fulano, multiplicaria minhas ofertas ao tesouro de Deus. Não faria com minha riqueza senão promover a causa do Senhor." Deus tem provado alguns destes dando-lhes riquezas; com elas, porém, a tentação se tornou mais forte, e a beneficência tornou-se-lhes incomparavelmente menor que nos dias de sua pobreza. A mente e o coração foram tomados do empolgante desejo de possuir maiores fortunas, e fizeram-se idólatras. T3 403 2 Aquele que apresenta aos homens riquezas infinitas, e uma vida eterna de bem-aventurança em Seu reino como recompensa da obediência fiel, não aceitará um coração dividido. Vivemos entre os perigos dos últimos dias, quando tudo é de molde a desviar a mente e atrair as afeições, afastando-as de Deus. Nosso dever só será discernido e apreciado quando visto à luz que irradia da vida de Cristo. Como o Sol se ergue no oriente e se move para o ocidente, enchendo de luz o mundo, assim o verdadeiro seguidor de Cristo será uma luz para o mundo. Sairá como brilhante luz na Terra, para que os que se encontram em trevas sejam iluminados e aquecidos pelos raios que dele procedem. Diz Cristo acerca de Seus seguidores: "Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte." Mateus 5:14. T3 404 1 Nosso grande Exemplo era abnegado, e terão Seus professos seguidores uma orientação tão marcantemente contrária à Sua? O Salvador deu tudo pelo mundo agonizante, não poupando sequer a Si mesmo. A igreja de Deus está adormecida. Acham-se enfraquecidos pela inatividade. De todas as partes do mundo nos chegam clamores: "Passa... e ajuda-nos" (Atos dos Apóstolos 16:9); não há, porém, movimento responsivo. Faz-se aqui e ali débil esforço; uns poucos há que se mostram dispostos a cooperar com seu Mestre; esses são, no entanto, deixados a labutar quase sozinhos. Não há senão um missionário nosso em todo o vasto campo dos países estrangeiros. T3 404 2 A verdade é poderosa, mas não é posta em prática. Não basta pôr simplesmente o dinheiro sobre o altar. Deus requer homens, voluntários, que levem a verdade a outras nações, e "língua e povo". Apocalipse 14:16. Não é nosso número nem nossas riquezas que nos darão assinalada vitória; é antes a dedicação à obra, coragem moral, amor ardente pelas almas e infatigável e incessante zelo. T3 404 3 Muitos têm considerado a nação judaica como um povo digno de dó por terem sido sempre solicitados a contribuir para sustento de sua religião; mas Deus, que criou os seres humanos e lhes proporcionou todos os benefícios de que desfrutam, sabia o que lhes seria melhor. E mediante Sua bênção, tornava os nove décimos mais proveitosos para eles do que os dez sem essa bênção. Se alguém, por egoísmo, roubava a Deus ou Lhe levava uma oferta imperfeita, seguia-se com certeza prejuízo ou ruína. Deus conhece os motivos do coração. Está familiarizado com os desígnios dos homens, e retribuir-lhes-á a seu tempo segundo aquilo a que fizeram jus. T3 404 4 O sistema especial de dízimos baseia-se em um princípio tão duradouro como a lei de Deus. Esse sistema foi uma bênção ao povo judeu, do contrário o Senhor não lho haveria dado. Assim será igualmente uma bênção aos que o observarem até ao fim do tempo. Nosso Pai celeste não instituiu o plano da doação sistemática com o intuito de enriquecer-Se, mas para que o mesmo fosse uma grande bênção ao ser humano. Viu que o referido sistema era exatamente o que o homem necessitava. T3 405 1 As igrejas mais sistemáticas e liberais em sustentar a causa de Deus são espiritualmente as mais prósperas. A verdadeira liberalidade no seguidor de Cristo identifica-lhe os interesses com os de seu Mestre. No trato de Deus com os judeus e com Seu povo até ao fim dos tempos, Ele requer doação sistemática proporcional aos rendimentos. O plano da salvação foi estabelecido pelo infinito sacrifício do Filho de Deus. A luz do evangelho que irradia da cruz de Cristo repreende o egoísmo e anima a liberalidade e a beneficência. Não é para lamentar o haver crescentes pedidos. Em Sua providência, Deus está chamando Seu povo a sair da limitada esfera de ação em que vivem, a fim de entrarem em maiores empreendimentos. Ilimitado é o esforço requerido nesta época em que as trevas morais estão cobrindo o mundo. O mundanismo e a cobiça estão destruindo a vitalidade do povo de Deus. Cumpre-lhes compreender que é a misericórdia dEle que faz com que se multipliquem as solicitações de recursos. O anjo de Deus coloca os atos de beneficência ao lado da oração. Disse ele a Cornélio: "As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus." Atos dos Apóstolos 10:4. T3 405 2 Em Seus ensinos, disse Cristo: "Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?" Lucas 16:11. A saúde espiritual e a prosperidade da igreja dependem, em alto grau, de sua doação sistemática. É como o sangue vital que deve fluir por todo o ser, dando vida a cada membro do corpo. Ela acrescenta o amor à vida de nossos semelhantes; pois, por meio da abnegação e do sacrifício, somos postos em mais íntima relação com Cristo, que Se fez pobre por amor de nós. Quanto mais empregamos na causa de Deus para ajudar na salvação de almas, tanto mais achegadas nos serão elas ao coração. Fosse nosso número metade do que é, e fôssemos todos obreiros consagrados, teríamos um poder que faria tremer o mundo. Aos ativos obreiros dirige Cristo estas palavras: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. T3 406 1 Havemos de encontrar oposição que se levanta por motivos egoístas e por causa de fanatismo e preconceitos; todavia, com intrépida coragem e viva fé, devemos semear sobre todas as águas. Poderosos são os agentes de Satanás; havemos de enfrentá-los e precisamos combatê-los. Nossos trabalhos não se devem limitar ao próprio país. "O campo é o mundo"; "a seara... está madura". Mateus 13:38; Apocalipse 14:15. A ordem dada por Cristo aos discípulos justamente antes de ascender ao Céu foi: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. T3 406 2 Sentimo-nos imensamente penalizados ao ver alguns de nossos pastores agitando-se em torno das igrejas, fazendo ao que parece algum esforço, mas não tendo afinal senão quase nada para apresentar como fruto de seu trabalho. O campo é o mundo. Saiam eles para o mundo incrédulo, e trabalhem para converter almas à verdade. Chamamos a atenção de nossos irmãos e irmãs para o exemplo de Abraão subindo o Monte Moriá a fim de oferecer seu único filho, segundo a ordem de Deus. Ali havia obediência e sacrifício. Moisés encontrava-se em uma corte real, com a perspectiva de uma coroa. Desviou-se, porém, do engano tentador, e "recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito". Hebreus 11:24-26. T3 406 3 Os apóstolos não consideraram preciosa a própria vida, regozijando-se em ser considerados dignos de sofrer pelo nome de Cristo. Paulo e Silas perderam tudo. Suportaram açoites, e foram atirados, não com brandura, sobre o chão frio de uma prisão, em posição por demais penosa, com os pés erguidos e presos a um tronco. Chegaram então aos ouvidos do carcereiro queixas e murmurações? Oh, não! Da prisão interior irromperam vozes quebrando o silêncio da meia-noite com hinos de alegria e louvor a Deus. Esses discípulos eram animados por profundo e fervoroso amor pela causa de seu Redentor, pela qual sofriam. T3 406 4 À medida que a verdade de Deus nos enche o coração, absorve-nos as afeições e nos rege a vida, também nós consideraremos alegria sofrer por amor da verdade. Nenhuma parede de prisão, nenhuma estaca de martírio, nos pode intimidar ou impedir na realização da grande obra. T3 407 1 "Vem, ó minha alma, ao Calvário!" T3 407 2 Observem a vida humilde do Filho de Deus. Foi um "homem de dores, experimentado nos trabalhos". Isaías 53:3. Contemplem-Lhe a ignomínia, a agonia do Getsêmani, e aprendam o que seja abnegação. Sofremos nós privações? Sofreu-as Cristo, a majestade do Céu. Essa pobreza, porém, foi por amor de nós que Ele suportou. Achamo-nos classificados entre os ricos? O mesmo se deu com Ele. Consentiu, no entanto, por amor de nós, em fazer-Se pobre, para que por meio dessa pobreza nos tornássemos ricos. Temos exemplificada em Cristo a abnegação. Seu sacrifício não consistiu apenas em deixar as reais cortes celestes, em ser julgado por homens ímpios como criminoso e declarado culpado, e ser entregue à morte do malfeitor, mas em suportar o peso dos pecados do mundo. Sua vida nos reprova a indiferença e frieza. Achamo-nos próximo ao fim do tempo quando o diabo desce a nós "e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo". Apocalipse 12:12. Ele está manobrando com "todo o engano da injustiça para os que perecem". 2 Tessalonicenses 2:10. O conflito foi deixado em nossas mãos por nosso grande Líder para que o levemos avante com vigor. Não estamos fazendo a vigésima parte do que poderíamos fazer se estivéssemos alerta. A obra é retardada pelo amor da comodidade e falta do espírito de abnegação de que nosso Salvador nos deu exemplo em Sua vida. T3 407 3 Precisamos de cooperadores de Cristo, de homens que sintam a necessidade de mais extensos esforços. A obra de nossos prelos não deve diminuir, mas duplicar. Devem-se estabelecer escolas em vários lugares a fim de educar nossos jovens em preparo para seu trabalho na divulgação da verdade. T3 407 4 Desperdiçamos já grande parte do tempo, e os anjos levam ao Céu o relatório de nossas negligências. Nosso estado de sonolência e falta de consagração nos tem feito perder preciosas oportunidades enviadas por Deus na pessoa dos que se achavam habilitados a ajudar-nos na necessidade que enfrentamos. Oh, quanto necessitamos de nossa Ana More para ajudar-nos agora a chegar a outras nações! Seu vasto conhecimento de campos missionários dar-nos-ia acesso a outras línguas das quais não nos é possível agora aproximar. Deus trouxe essa dádiva para o meio de nós a fim de satisfazer a emergência em que nos achamos; mas não a apreciamos, e Ele a tirou de nós. Ela descansa de seus trabalhos, mas suas obras de abnegação a seguem. É de deplorar que nossa obra missionária fosse retardada por falta do conhecimento da maneira de encontrar acesso às diferentes nações e localidades no grande campo da seara. T3 408 1 Angustiamo-nos em espírito por se haverem perdido para nós alguns dons que agora poderíamos possuir, se tão-somente houvéssemos estado alerta. Tem-se deixado de enviar obreiros aos brancos campos da seara. Cumpre ao povo de Deus humilhar o coração diante dEle, e na mais profunda humilhação rogar que o Senhor nos perdoe a apatia e a condescendência egoísta, e apague o vergonhoso registro de deveres negligenciados e privilégios não aproveitados. Ao contemplar a cruz do Calvário, o verdadeiro cristão abandonará a idéia de restringir suas ofertas àquilo que nada lhe custe, e ouvirá um sonido de trombeta: T3 408 2 "Vai trabalhar em Minha vinha; descanso por fim haverá." T3 408 3 Quando Jesus estava prestes a ascender ao alto, apontou aos campos da colheita, e disse a Seus seguidores: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho." Marcos 16:15. "De graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:8. Negaremos o próprio eu de modo que a seara a desperdiçar-se possa ser ceifada? T3 408 4 Deus pede talentos de influência e de recursos. Recusar-nos-emos a obedecer? Nosso Pai celestial concede dons e solicita parte de volta, a fim de provar se somos dignos de possuir o dom da vida eterna. ------------------------Capítulo 34 -- Doação sistemática T3 408 5 Se todos que Deus tem abençoado com as riquezas da Terra tivessem obedecido Seu plano dando fielmente um décimo de todo seu rendimento, e se eles não retivessem suas ofertas de pecado e suas ofertas de gratidão, a tesouraria estaria constantemente abastecida. A simplicidade do plano de doação sistemática não diminui seus méritos, mas exalta a sabedoria de Deus em seu arranjo. Tudo que leva o timbre divino une simplicidade e utilidade. Se a doação sistemática fosse adaptada universalmente segundo o plano de Deus, e o sistema de dízimo obedecido fielmente pelos ricos como é pelas classes mais pobres, não haveria necessidade de apelos repetidos e urgentes por recursos em nossas grandes reuniões religiosas. Tem havido uma negligência nas igrejas em manter o plano de doação sistemática, e o resultado tem sido um empobrecimento da tesouraria e uma igreja apostatada. T3 409 1 "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a Mim Me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:8-12. T3 409 2 Deus tem sido roubado nos dízimos e nas ofertas. É uma coisa terrível ser culpado de reter da tesouraria ou de roubar a Deus. Pastores que pregam a Palavra em nossas grandes reuniões sentem a pecaminosidade de negligenciar devolver a Deus as coisas que Lhe pertencem. Sabem que Deus não abençoará Seu povo enquanto estiverem desconsiderando Seu plano de doação. Procuram despertar o povo para seu dever por sermões práticos e ao ponto, mostrando o perigo e a pecaminosidade do egoísmo e da cobiça. A convicção apodera-se das mentes, e o gelo do egoísmo é quebrado. E quando o apelo é feito por doações para a causa de Deus, alguns, sob a influência comovedora das reuniões, são despertados a dar; de outro modo, nada fariam. No tocante a esta classe, bons resultados têm sido obtidos. Mas sob apelos prementes muitos são profundamente movidos, os quais não tiveram o coração congelado pelo egoísmo. Eles têm conscienciosamente mantido seus recursos fluindo para promover a causa de Deus. Todo seu ser é comovido pelos fervorosos apelos, e justamente aqueles que podem ter dado tudo que suas condições de vida justifiquem são os que respondem. T3 410 1 Mas esses crentes liberais e sinceros, movidos por zeloso amor pela causa e desejo de agir prontamente, julgam-se capazes de fazer mais do que Deus requer deles, visto sua utilidade estar prejudicada em outros sentidos. Estes voluntários às vezes prometem levantar dinheiro quando não sabem de que fonte ele virá, e alguns são colocados em circunstâncias aflitivas para cumprir suas promessas. Alguns são obrigados a vender sua colheita com grande prejuízo, e alguns têm com efeito sofrido pela falta de conforto e coisas indispensáveis à vida a fim de saldar seus compromissos. T3 410 2 Houve tempo no começo de nossa obra quando tal sacrifício teria sido justificado, quando Deus teria abençoado todos que se aventuraram assim fazer a favor de Sua causa. Os amigos da verdade eram poucos e seus recursos muito limitados. Mas a obra tem-se ampliado e fortalecido até ao ponto de haver suficientes recursos nas mãos dos crentes para amplamente sustentar a obra em todos os seus departamentos sem embaraçar ninguém, se todos assumissem sua parte proporcional. A causa de Deus não precisa ser prejudicada no menor grau. A preciosa verdade tem sido tornada tão simples que muitos a têm adotado, pessoas que têm em mãos recursos que Deus lhes confiou para usarem em promover os interesses da verdade. Se as pessoas de recursos cumprirem seu dever, não é preciso pressionar os irmãos mais pobres. T3 410 3 Estamos em um mundo de abundância. Se as dádivas e ofertas fossem proporcionais aos recursos que cada um recebeu de Deus, não haveria necessidade de apelos urgentes por recursos em nossas grandes reuniões. Estou plenamente convencida que não é o melhor plano fazer pressão sobre o assunto de dinheiro em nossas reuniões campais. Homens e mulheres que amam tanto a causa de Deus como sua vida farão promessas nessas ocasiões, quando suas famílias precisam sofrer por falta dos recursos que prometeram dar para promover a causa. Nosso Deus não é um capataz e não requer que o pobre dê à causa recursos que pertencem à sua família e que devem ser usados para mantê-los em situação confortável e acima de penúria. T3 411 1 Os apelos por recursos em nossas grandes reuniões campais têm sido respondidos com resultados aparentemente bons no que toca aos ricos. Mas tememos o resultado de um esforço contínuo para reabastecer a tesouraria desse modo. Receamos que venha uma reação. Um esforço maior deve ser exercido por homens responsáveis nas diferentes igrejas para que todas sigam o plano que Deus idealizou. Se a doação sistemática for observada, não serão necessários nas reuniões campais os apelos urgentes por dinheiro para os vários empreendimentos. T3 411 2 Deus traçou um plano pelo qual todos podem dar segundo Ele os tenha feito prosperar, e farão disso um hábito sem esperar por apelos especiais. Aqueles que podem fazer isso, mas que não fazem por causa de seu egoísmo, estão roubando seu Criador, que lhes outorgou recursos para investir em Sua causa e promover seus interesses. Enquanto todos não observarem o plano de doação sistemática, deixarão de atingir a regra apostólica. Aqueles que ministram em palavra e doutrina devem ser pessoas de discernimento. Quando fazem apelos gerais, devem familiarizar-se com a condição daqueles que respondem a seus apelos, e não permitir que os pobres assumam grandes compromissos. Depois que alguém consagrou uma certa soma ao Senhor, ele sente que ela é sagrada e dedicada a uso santo. Isso é verdade, e portanto nossos pregadores devem estar bem informados sobre as pessoas de quem aceitam compromissos de doação. T3 411 3 Cada membro das diferentes famílias em nossas igrejas que crê na verdade pode ter uma parte em promovê-la adotando prazenteiramente a doação sistemática. "Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar [em casa], ... para que se não façam as coletas quando eu chegar." 1 Coríntios 16:2. A responsabilidade de insistir e pressionar os indivíduos a dar de seus recursos não foi designada para ser a obra dos ministros de Deus. A responsabilidade deve repousar sobre cada indivíduo que desfruta a crença na verdade. "Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade." 1 Coríntios 16:2. Cada membro da família, do mais velho ao mais jovem, pode tomar parte nesta obra de beneficência. T3 412 1 As ofertas das crianças podem ser aceitáveis e aprazíveis a Deus. Segundo o espírito que anima as dádivas, será o valor das mesmas. Os pobres, seguindo a orientação do apóstolo e pondo de parte semanalmente uma pequena soma, ajudam a encher o tesouro, e suas ofertas são inteiramente aceitáveis a Deus; pois eles fazem tão grandes sacrifícios e até maiores que seus irmãos mais ricos. O plano da doação sistemática demonstrar-se-á uma salvaguarda para toda família contra a tentação de gastar dinheiro em coisas desnecessárias; e demonstrar-se-á uma bênção especialmente aos ricos, preservando-os de condescender com extravagâncias. T3 412 2 Cada semana as reivindicações de Deus a cada família são levadas à mente por todos os membros que executam totalmente o plano; e ao negarem a si mesmos alguma superfluidade a fim de ter recursos que levar ao tesouro, sobre o coração foram impressas lições de valor em abnegação para glória de Deus. Uma vez por semana cada um é posto face a face com os fatos da semana passada -- o rendimento que ele poderia ter tido se tivesse sido econômico, e os recursos que não possui em virtude da condescendência. Sua consciência é desperta, por assim dizer, diante de Deus, e o acusa ou o louva. Ele aprende que, se quiser possuir paz mental e o favor de Deus, deve comer, beber e vestir para Sua glória. T3 412 3 Contribuição sistemática e liberal de acordo com o plano mantém o canal do coração aberto. Nós nos colocamos em ligação com Deus, para que Ele nos use como condutos pelos quais Suas dádivas possam fluir para outros. Os pobres não se queixarão da doação sistemática, porque os afeta levemente. Não são negligenciados e passados por alto, mas são favorecidos em ter parte sendo coobreiros com Cristo, e receberão as bênçãos de Deus tanto quanto os ricos. No próprio processo de pôr de lado o pouco que podem poupar estão se negando e cultivando liberalidade de coração. Estão se educando para fazer boas obras e efetivamente satisfazendo o desígnio de Deus no plano da doação sistemática como os mais ricos que dão de sua abundância. T3 413 1 Nos dias dos apóstolos, as pessoas iam por toda parte pregando a Palavra. Novas igrejas foram levantadas. Seu amor e zelo por Cristo os levavam a atos de grande renúncia e sacrifício. Muitas dessas igrejas gentílicas eram muito pobres, mas o apóstolo declara que sua profunda pobreza abundou para a riqueza de sua liberalidade. Suas dádivas se estenderam além de sua capacidade de dar. Pessoas arriscaram a vida e sofreram a perda de todas as coisas por amor da verdade. T3 413 2 O apóstolo sugere o primeiro dia da semana como um tempo apropriado para rever a direção da Providência e a prosperidade experimentada, e no temor de Deus, com verdadeira gratidão de coração pelas bênçãos que Ele outorgou, decidir quanto, de acordo com Seu plano, Lhe será devolvido. T3 413 3 É o desígnio de Deus que o exercício da doação seja inteiramente voluntário, não se recorrendo nem mesmo a apelos eloqüentes para despertar simpatia. "Deus ama ao que dá com alegria." 2 Coríntios 9:7. Ele não Se agrada de ter Sua tesouraria reabastecida com suprimentos forçados. O coração leal de Seu povo, regozijando-se na verdade salvadora para este tempo, por amor e gratidão para com Ele por esta luz preciosa, será fervoroso e ansioso por ajudar com seus recursos para enviar a verdade a outros. A melhor maneira de dar expressão a nosso amor por nosso Redentor é dando ofertas para levar almas ao conhecimento da verdade. O plano da redenção foi inteiramente voluntário da parte de nosso Redentor, e é o propósito de Cristo que toda nossa doação seja voluntária. ------------------------Capítulo 35 -- Independência individual T3 414 1 Prezado irmão A: T3 414 2 Minha mente está aflita em relação a seu caso. Eu lhe escrevi algumas coisas que me foram mostradas quanto a sua conduta passada, presente e futura. Sinto-me ansiosa pelo irmão porque vi seus perigos. Sua experiência anterior no espiritismo o expõe a tentações e conflitos severos. Quando a mente foi uma vez rendida ao controle direto do inimigo através de anjos maus, essa pessoa deve desconfiar bastante das impressões e sentimentos que a levariam a um caminho independente, para longe da igreja de Cristo. O primeiro passo que tal pessoa tomasse independentemente da igreja devia ser considerado como uma artimanha do inimigo para enganar e destruir. Deus fez de Sua igreja um conduto de luz, e através dela comunica Seus propósitos e Sua vontade. Ele não dá a ninguém uma experiência independente da igreja. Não dá a ninguém um conhecimento de Sua vontade para a igreja inteira, enquanto a igreja, o corpo de Cristo, é deixada na escuridão. T3 414 3 Irmão A, você precisa vigiar com o maior cuidado como edifica. Uma tempestade está por vir que provará sua esperança ao máximo. Você deve cavar fundo e fazer seguro seu fundamento. "Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha." Mateus 7:24, 25. Gradualmente o construtor põe uma pedra sobre a outra até que a estrutura se ergue pedra sobre pedra. O construtor do evangelho freqüentemente executa seu trabalho com lágrimas e em meio a provações, tempestades de perseguições, oposição amarga e censura injusta; mas ele se sente profundamente zeloso, porque está edificando para a eternidade. Cuide, irmão A, para que seu fundamento seja rocha sólida, que você esteja cravado nela, Cristo sendo a Rocha. T3 414 4 Você tem uma vontade forte e fixa, um espírito muito independente que sente dever preservar a todo custo. E tem manifestado o mesmo espírito em sua experiência e vida religiosas. Você nem sempre tem estado em harmonia com a obra de Deus como executada por seus irmãos americanos. Não tem visto como eles vêem nem estado de acordo com seu modo de proceder. Você tem tido muito pouca familiaridade com a obra em seus vários segmentos. Não se tem sentido ansioso de familiarizar-se com os vários ramos da obra. Tem considerado a obra com suspeita e desconfiança, bem como os líderes escolhidos por Deus para levá-la adiante. Tem sido mais pronto a questionar, suspeitar e ter inveja daqueles sobre os quais Deus colocou as pesadas responsabilidades de Sua obra do que para pesquisar e para ligar-se à causa de Deus de modo a familiarizar-se com sua atuação e progresso. T3 415 1 Deus viu que você não era qualificado para ser pastor, um ministro de justiça para proclamar as verdades a outros, até você se tornar um homem inteiramente transformado. Ele permitiu que você passasse por provas reais e sentisse privação e necessidade, para que soubesse como manifestar piedade e simpatia e terno amor para com os desafortunados e oprimidos, e por aqueles que são esmagados por necessidade e que passam por provas e aflição. T3 415 2 Quando em sua aflição você orou por paz em Cristo, uma nuvem de escuridão parecia enegrecer-lhe a mente. O descanso e paz não vieram como você esperava. Por vezes sua fé parecia ser provada ao máximo. Ao rever sua vida passada, viu tristeza e desapontamento; ao contemplar o futuro, tudo parecia incerto. A Mão divina o conduziu maravilhosamente para levá-lo à cruz e para ensinar-lhe que Deus é de fato "galardoador dos que O buscam" diligentemente. Hebreus 11:16. "Qualquer que pede" corretamente, "recebe". "Quem busca" com fé, "acha". Lucas 11:10. A experiência obtida na fornalha da provação e aflição vale mais do que toda a inconveniência e penosa situação que ela causa. T3 415 3 Deus respondeu, nem sempre de acordo com sua expectativa, mas para seu bem, às orações que você fez em sua solidão, fadiga e provação. Você não tinha opiniões claras e corretas de seus irmãos, nem se via numa luz correta. Mas, na providência de Deus, Ele atuava para responder às orações que você fez em sua aflição, de modo a salvá-lo e glorificar o nome dEle. Em sua ignorância de si mesmo, pediu coisas que não eram as melhores para você. Deus ouviu-lhe as orações sinceras, mas a bênção concedida foi muito diferente de suas expectativas. Deus quis, em Sua providência, colocá-lo mais diretamente em ligação com Sua igreja, para que sua confiança fosse menos em si mesmo e maior em outros a quem Ele está dirigindo para promover Sua obra. T3 416 1 Deus ouve toda oração sincera. Ele o poria em ligação com Sua obra a fim de poder levá-lo mais diretamente à luz. A menos que cerrasse sua vista contra a evidência e a luz, você se persuadiria de que, se fosse mais desconfiado de si mesmo e menos desconfiado de seus irmãos, seria mais próspero em Deus. É Deus quem o levou a situações difíceis. Ele tinha um propósito nisso, "sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança". Romanos 5:3, 4. Permitiu que provas lhe sobreviessem a fim de por elas você poder experimentar os frutos pacíficos da justiça. T3 416 2 Pedro negou o Homem de Dores ao Se familiarizar Ele com a dor na hora de Sua humilhação. Mas depois se arrependeu e foi convertido de novo. Ele teve verdadeira contrição de espírito e se rendeu de novo a seu Salvador. Com lágrimas que o cegavam, abre caminho para a solidão do Jardim de Getsêmani e lá se prostra onde vira seu Salvador prostrado quando o suor de sangue vertia de Seus poros por causa de Sua grande agonia. Pedro se lembra com remorso que ele dormia quando Jesus orava durante aquelas horas horríveis. Seu coração orgulhoso parte-se, e lágrimas penitenciais molham o solo recentemente manchado com as gotas de suor sangrento do querido Filho de Deus. Um homem convertido deixou o jardim. Estava pronto então para condoer-se dos que são tentados. Ele foi humilhado e podia simpatizar-se com os fracos e com os que erram. Podia prevenir e advertir os presunçosos, e estava perfeitamente qualificado para fortalecer seus irmãos. T3 416 3 Deus levou você através de aflição e provações para que pudesse ter confiança mais perfeita nEle, e para que pensasse menos no próprio discernimento. Você pode suportar adversidade melhor do que prosperidade. Os olhos de Jeová que tudo vêem perceberam em você muita escória que você considerava ser ouro e demasiado valioso para ser jogado fora. O poder do inimigo sobre você tem sido por vezes direto e muito forte. Os enganos do espiritualismo lhe tinham obscurecido a fé, pervertido o discernimento e lhe confundido a experiência. Deus em Sua providência o provaria, para purificá-lo, como os filhos de Levi, para que você pudesse oferecer-Lhe uma oferta em justiça. T3 417 1 O eu está misturado em demasia com todos os seus esforços. Sua vontade precisa ser moldada pela vontade de Deus, ou você cairá em graves tentações. Vi que quando você esforçar-se em Deus, pondo o eu fora de vista, receberá dEle força que lhe dará acesso aos corações. Anjos de Deus cooperarão com seus esforços quando você for humilde e pequeno aos próprios olhos. Mas quando pensa que sabe mais do que aqueles que Deus tem guiado durante anos, e a quem Ele tem estado a instruir na verdade e a qualificar para expandir Sua obra, você se eleva e cairá em tentações. T3 417 2 Você precisa cultivar bondade e ternura. Precisa ser compassivo e cortês. Seus trabalhos têm vestígios de severidade e de um espírito exigente, ditatorial e dominante. Você nem sempre leva em consideração os sentimentos dos outros, e desnecessariamente cria dificuldades e descontentamentos. Mais amor em seu trabalho e mais bondosa simpatia dar-lhe-iam acesso aos corações e ganhariam pessoas para Cristo e a verdade. T3 417 3 Você está constantemente inclinado à independência individual. Não reconhece que independência é algo pobre quando o leva a ter excessiva confiança em si mesmo e a confiar no próprio discernimento em vez de respeitar o conselho e valorizar altamente o discernimento de seus irmãos, especialmente daqueles nos escritórios, os quais Deus designou para a salvação do Seu povo. Deus investiu Sua igreja com especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar, pois aquele que assim procede despreza a voz de Deus. T3 418 1 Não lhe é seguro confiar em impressões e sentimentos. Tem sido seu infortúnio cair sob o poder daquele engano satânico, o espiritualismo. Este manto de morte o cobriu, e sua imaginação e nervos têm estado sob o controle de demônios; e quando se torna autoconfiante e não se apega a Deus com inabalável confiança, você está positivamente em perigo. Você pode, e freqüentemente o faz, deixar cair as defesas e convidar o inimigo a entrar, e ele lhe controla os pensamentos e ações, enquanto está realmente enganado e se gaba de desfrutar do favor de Deus. T3 418 2 Satanás tem tentado impedi-lo de confiar em seus irmãos americanos. Você os tem considerado e a suas ações e experiência com suspeita, quando eles são exatamente as pessoas que poderiam ajudá-lo e que lhe seriam uma bênção. Será o esforço calculado de Satanás separá-lo daqueles que são condutos de luz, através dos quais Deus comunicou Sua vontade e através dos quais tem Ele atuado em edificar e estender Sua obra. Suas opiniões, sentimentos e experiência são demasiado limitados, e seus trabalhos são do mesmo caráter. T3 418 3 A fim de ser uma bênção para sua gente, você precisa melhorar em muitos pontos. Deve cultivar cortesia e nutrir terna simpatia por todos. Deve ter a graça coroadora de Deus, que é o amor. Você critica demais e não é tão paciente como precisa ser se quiser ganhar almas. Podia exercer muito mais influência se fosse menos formal e rígido, e fosse mais influenciado pelo Espírito Santo. Seu receio de ser dirigido por homens é demasiado grande. Deus usa homens como Seus instrumentos e os usará enquanto o mundo existir. T3 418 4 Os anjos que caíram ansiavam tornar-se independentes de Deus. Eram muito belos, muito gloriosos, mas sua felicidade, luz e inteligência que desfrutavam dependiam de Deus. Caíram de seu estado elevado por insubordinação. Cristo e Sua igreja são inseparáveis. Negligenciar ou desprezar aqueles a quem Deus designou para dirigir e levar responsabilidades relacionadas com Sua obra e com o avanço e disseminação da verdade é rejeitar os meios que Deus ordenou para ajuda, encorajamento e força de Seu povo. Deixar a estes de lado e pensar que sua luz não deve vir por nenhum outro conduto do que diretamente de Deus o coloca em uma posição onde você está sujeito ao engano e a ser derrubado. T3 419 1 Deus o colocou em contato com Seus designados ajudadores em Sua igreja para que você fosse auxiliado por eles. Sua ligação anterior com o espiritualismo torna seu perigo maior do que seria de outro modo, pois seu julgamento, sabedoria e discernimento têm sido pervertidos. Você nem sempre pode por si mesmo reconhecer ou discernir os espíritos; porque Satanás é muito astuto. Deus o colocou em contato com Sua igreja para que seus membros o ajudassem. T3 419 2 Algumas vezes você é demasiado formal, frio e antipático. Precisa encontrar o povo onde ele está, e não se colocar muito acima nem exigir demais dele. Precisa ser abrandado e subjugado pelo Espírito de Deus quando prega ao povo. Deve educar-se quanto à melhor maneira de labutar para obter o fim desejado. Seu trabalho deve ser caracterizado pelo amor de Jesus enchendo-lhe o coração, suavizando-lhe as palavras, moldando-lhe o temperamento e enobrecendo-lhe o espírito. T3 419 3 Você freqüentemente fala durante muito tempo quando não tem a influência vitalizadora do Espírito do Céu. Você cansa aqueles que o ouvem. Muitos cometem erro ao pregar não parando enquanto o interesse é alto. Continuam sua palestra até que o interesse que surgiu na mente do ouvinte morre e o povo está realmente fatigado com palavras sem peso ou interesse especiais. Pare antes de lá chegar. Pare quando não tiver nada de especial a dizer. Não continue com palavras maçantes que somente despertam o preconceito e não abrandam o coração. Precisa de tal modo estar unido com Cristo que suas palavras derreterão e abrirão o caminho ao coração. Mera multiplicação de palavras é insuficiente para este tempo. Argumentos são bons, mas pode haver argumentação excessiva e muito pouco do espírito e vida de Deus. T3 419 4 Sem o poder especial de Deus para atuar com seus esforços, seu espírito subjugado e humilhado em Deus, seu coração abrandado, suas palavras provindo de um coração de amor, seus trabalhos serão cansativos para você mesmo e desprovidos de resultados abençoados. Há um ponto ao qual o ministro de Deus chega, além do qual conhecimento humano e perícia são ineficazes. Estamos lutando com erros gigantescos, e com males que somos incapazes de remediar ou despertar o povo para ver e compreender, porque não podemos mudar o coração. Não podemos vivificar o coração para discernir a perversidade do pecado e sentir a necessidade de um Salvador. Mas se nossos trabalhos levarem o timbre do Espírito de Deus, se um poder mais elevado, divino, acompanhar nossos esforços para semear a semente do evangelho, veremos frutos de nosso esforço para a glória de Deus. Ele somente pode regar a semente semeada. T3 420 1 Assim é com você, irmão A. Não deve ser tão apressado e esperar demais de mentes obscurecidas. Deve acalentar a esperança humilde de que Deus graciosamente comunicará a influência misteriosa e vivificadora de Seu Espírito, mediante o qual somente seus trabalhos não serão em vão no Senhor. Precisa apegar-se a Deus com fé viva, reconhecendo a todo momento seus perigos e sua fraqueza, e constantemente procurando aquela força e poder que somente Deus pode dar. Por mais que se esforce, por si mesmo nada pode fazer. T3 420 2 Você precisa educar-se a fim de ter sabedoria para lidar com as mentes. Com alguns você precisa ter compaixão, fazendo uma diferença, enquanto outros você pode salvar com temor, arrebatando-os do fogo. Nosso Pai celestial freqüentemente nos deixa na incerteza quanto a nossos esforços. Devemos semear sobre todas as águas, não sabendo qual vai prosperar, se esta ou aquela. Eclesiastes 11:6. Podemos estimular nossa fé e energia com a Fonte de nossa força, e apoiar-nos com plena e inteira dependência sobre Ele. T3 420 3 Irmão A, você necessita trabalhar com a máxima diligência para controlar o eu e desenvolver um caráter em harmonia com os princípios da Palavra de Deus. Você precisa educar-se e treinar-se a fim de tornar-se um pastor bem-sucedido. Precisa cultivar bom temperamento -- traços de caráter bondosos, alegres, animadores, generosos, compassivos, corteses e piedosos. Deve vencer seu espírito mal-humorado, fanático, estreito, crítico e dominante. Se está ligado com a obra de Deus precisa batalhar consigo mesmo vigorosamente e formar o caráter segundo o Modelo divino. T3 421 1 Sem esforço constante de sua parte e sob a influência de uma mente corrupta, algum desenvolvimento aparecerá e bloqueará seu caminho, impedimento este que você estará inclinado a atribuir a alguma causa que não a verdadeira. Você precisa de disciplina própria. Nossa piedade não deve parecer azeda, fria e mal-humorada; mas amável e dócil. Um espírito crítico vai impedir seu caminho e fechará corações contra você. Se não for humildemente dependente de Deus, com freqüência bloqueará o próprio caminho com obstáculos e os atribuirá à conduta de outros. T3 421 2 Precisa vigiar-se, para não ensinar a verdade nem cumprir seus deveres com espírito fanático que despertará preconceito. Necessita esforçar-se para apresentar-se "a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar". 2 Timóteo 2:15. Pergunte a si mesmo qual é sua disposição natural, que caráter desenvolveu. Deve ser seu empenho, como de todo ministro de Cristo, exercer a maior vigilância para não cultivar hábitos de conduta, ou tendências mentais e morais, que não gostaria de ver aparecer entre aqueles que você leva à verdade. T3 421 3 Ordena-se aos ministros de Cristo que sejam exemplos ao rebanho de Deus. A influência de um pastor pode fazer muito para moldar o caráter de sua congregação. Se o pastor é indolente, se não é puro de coração e vida, e se é mordaz, crítico e censurador, egoísta, independente e destituído de domínio próprio, terá de confrontar os mesmos elementos desagradáveis em elevado grau e lidar com eles entre sua congregação, e é um trabalho difícil endireitar as coisas onde más influências fizeram confusão. O que eles vêem em seu pastor fará grande diferença quanto ao desenvolvimento de virtudes cristãs no povo. Se sua vida é uma combinação de excelências, aqueles que ele leva ao conhecimento da verdade por seu trabalho, se realmente amam a Deus, refletirão em elevado grau seu exemplo e influência, pois ele é um representante de Cristo. Assim o pastor deve sentir sua responsabilidade em enriquecer a doutrina de Deus nosso Salvador em todas as coisas. T3 422 1 O mais elevado esforço do ministro do evangelho deve ser devotar todos os seus talentos ao trabalho de salvar pessoas; então ele será bem-sucedido. Disciplina prudente e vigilante é necessária para todos os que se chamam pelo nome de Cristo; mas em um sentido muito mais elevado é essencial ao ministro do evangelho, que é um representante de Cristo. Nosso Salvador enchia de admiração as pessoas por Sua pureza e moralidade elevada, enquanto Seu amor e gentil benignidade os inspirava com entusiasmo. Os mais pobres e mais humildes não receavam achegar-se a Ele; mesmo criancinhas eram atraídas a Ele. Elas gostavam de subir em Seu colo e beijar aquele rosto pensativo, cheio de amor. Esta amável ternura é o que você precisa. Você deve cultivar o amor. Expressões de simpatia e atos de cortesia e respeito pelos outros não diminuiriam o mínimo de sua dignidade, mas lhe abririam muitos corações que agora estão fechados contra você. T3 422 2 Cada pastor deve esforçar-se para ser semelhante a Cristo. Devíamos aprender a imitar Seu caráter e combinar estrita justiça, pureza, integridade, amor e nobre generosidade. Um semblante agradável o qual reflete amor, com maneiras bondosas e corteses, fará mais, fora dos esforços do púlpito, do que trabalho junto a uma escrivaninha pode fazer sem os mesmos. É apropriado cultivarmos consideração para com a opinião de outros, quando, em medida maior ou menor, somos absolutamente dependentes deles. Devíamos cultivar verdadeira cortesia cristã e terna simpatia, mesmo para com os casos mais grosseiros e difíceis da humanidade. Jesus veio das cortes puras do Céu para salvar justamente tais pessoas. Você fecha o coração muito facilmente para muitos que aparentemente não têm interesse na mensagem que apresenta, mas que ainda são dependentes da graça e preciosos aos olhos do Senhor. "O que ganha almas sábio é." Provérbios 11:30. Paulo fez-se "tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns". 1 Coríntios 9:22. Você precisa estar em condição semelhante. Precisa livrar-se de sua independência. Precisa de humildade de espírito. Necessita da influência enternecedora da graça de Deus sobre o coração, para que não irrite mas abra caminho ao coração das pessoas, embora tais corações possam ser afetados por preconceito. T3 423 1 A causa de Deus necessita muito de homens fervorosos, homens ricos em zelo, esperança, fé e coragem. Não são homens obstinados que podem enfrentar as exigências desta época, mas homens fervorosos. Temos muitos pastores suscetíveis que são fracos em experiência, deficientes nas graças cristãs, destituídos de consagração e que são facilmente desencorajados; que estão prontos para satisfazer a própria vontade e que são perseverantes em seus esforços para realizar seus propósitos egoístas. Tais homens não preencherão as exigências desta época. Necessitamos de homens, nestes últimos dias, que estejam sempre alerta. Precisamos de homens do momento que sejam sinceros em seu amor pela verdade e dispostos a trabalhar com sacrifício para promover a causa de Deus e salvar almas preciosas. Precisa-se de homens nesta obra que não murmurem nem se queixem por causa de dificuldades ou provações, sabendo que isso é parte do legado que Jesus lhes deixou. Devem estar dispostos a sair do acampamento e sofrer afronta e carregar fardos como bons soldados de Cristo. Carregarão a cruz de Cristo sem queixas, sem murmuração ou mau humor e serão "pacientes na tribulação". Romanos 12:12. T3 423 2 A verdade solene e incisiva para estes últimos dias nos é confiada, e devíamos fazer dela uma realidade. Irmão A, você deve evitar fazer de si mesmo um critério. Evite, eu lhe peço, apelar para a autocomiseração. Tudo que podemos sofrer e formos chamados a sofrer por amor da verdade parecerá demasiado pequeno para ser comparado com o que nosso Salvador suportou por nós pecadores. Você não espere ser sempre corretamente avaliado nem corretamente representado. Cristo disse que no mundo teríamos aflições, mas nEle teremos paz. T3 423 3 Você tem cultivado um espírito combativo. Quando seu caminho é cruzado, imediatamente se lança numa posição defensiva; e, embora possa estar entre seus irmãos que amam a verdade e que deram a vida à causa de Deus, você se justifica, enquanto os critica e torna-se ciumento de suas palavras e desconfiado de seus motivos, e assim perde grandes bênçãos que é seu privilégio obter mediante a experiência de seus irmãos. Debates devem ser evitados T3 424 1 Você tem apreciado debater pela verdade e gostado de discussões; mas essas competições têm sido desfavoráveis para você formar caráter cristão harmonioso, porque nisto há uma oportunidade favorável para a exibição dos próprios traços de caráter que você precisa vencer se algum dia pensa entrar no Céu. Debates nem sempre podem ser evitados. Em alguns casos as circunstâncias são tais que entre dois males se deve escolher o menor, que é o debate. Mas onde quer que possam ser evitados, devem ser, porque o resultado raramente traz honra a Deus. T3 424 2 As pessoas que gostam de ver adversários em combate talvez clamem por discussões. Outros que têm o desejo de ouvir as provas de ambos os lados podem incitar debates com os mais sinceros motivos; mas sempre que eles forem evitáveis, evitem-se. Geralmente, eles fortalecem a combatividade e enfraquecem aquele amor puro e aquela sagrada simpatia que sempre se devem achar no coração dos cristãos, muito embora divirjam de opinião. T3 424 3 Nesta época em que vivemos, o solicitarem-se debates não é prova real de sincero desejo da parte do povo de conhecer a verdade, mas provém do amor da novidade e da agitação que em geral acompanha os debates. Raramente Deus é glorificado ou a verdade impulsionada nesses debates. A verdade é demasiado solene, demasiado importante em seus resultados, para que seja coisa de pouca importância, o ser ela recebida ou rejeitada. Discutir a verdade para mostrar aos adversários a habilidade dos combatentes é sempre lamentável método; pois tal coisa bem pouco realiza quanto à divulgação da verdade. T3 424 4 Os oponentes da verdade mostrarão habilidade em apresentar falsamente a posição dos defensores da mesma. Em regra, eles escarnecem da verdade sagrada, apresentando-a ao público em tão falso aspecto que espíritos obscurecidos pelo erro e poluídos pelo pecado não discernem os motivos e propósitos desses maquinadores em assim encobrir e falsificar importantes verdades. Em virtude dos homens que neles se empenham, poucos são os debates que se podem realizar sobre base sã. Dão-se freqüentemente agudos golpes, permitem-se ataques pessoais, e muitas vezes ambas as partes descem ao sarcasmo e ao humorismo. O amor às pessoas perde-se em face de um desejo maior -- o da supremacia. Profundo e amargo preconceito, eis tantas vezes o resultado. T3 425 1 Contemplei anjos entristecidos quando as mais preciosas jóias da verdade têm sido apresentadas a pessoas totalmente incapazes de apreciar as evidências a favor da verdade. Todo seu ser estava em guerra contra os princípios da verdade; a natureza destes lhes era adversa. Seu objetivo no debate não era para que pudessem eles mesmos apreender as evidências a favor da verdade e nem que o povo pudesse ter uma compreensão justa de nossa verdadeira posição, mas para que pudessem confundir o entendimento colocando a verdade em uma luz pervertida diante do povo. Há homens que se educaram como combatentes. É sua prática citar erradamente um oponente e encobrir argumentos claros com enganos desonestos. Devotaram as faculdades que Deus lhes deu a esta obra desonesta, porque nada há em seu coração em harmonia com os princípios puros da verdade. Apoderam-se de qualquer argumento que podem obter com os quais arrasar os defensores da verdade, quando eles mesmos não crêem nas coisas que alegam contra eles. Eles se escoram em sua posição escolhida, sem consideração pela justiça ou verdade. Não consideram que adiante deles vem o juízo, e que então seu triunfo obtido desonestamente, com todos os seus resultados desastrosos, vai aparecer em seu verdadeiro caráter. O erro, com toda a sua política enganosa, suas torcidas e seus malabarismos para transformar a verdade em mentira, aparecerá então em toda sua deformidade. Nenhuma vitória resistirá no dia de Deus; somente aquela que a verdade, verdade pura, elevada e sagrada, ganhará para a glória de Deus. T3 425 2 Os anjos choram ao ver a verdade preciosa de origem celeste lançada aos porcos, para ser apanhada por eles e pisada na lama e na sujeira. "Nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem." Mateus 7:6. Estas são as palavras do Redentor do mundo. T3 426 1 Os ministros de Deus não devem considerar um grande privilégio a oportunidade de se empenharem em debate. Nem todos os pontos de nossa fé devem ser expostos em público e apresentados às multidões que nutrem preconceitos. Jesus falou aos fariseus e saduceus em parábolas, escondendo a clareza da verdade sob símbolos e figuras porque fariam mau uso das verdades que Ele lhes apresentava; mas a Seus discípulos Ele falou claramente. Devíamos aprender do método de ensino de Cristo, e cuidar de não ofender os ouvidos das pessoas apresentando verdades as quais, não sendo explicadas no todo, não estão de modo algum preparadas para receber. T3 426 2 As verdades que nos são comuns devem ser consideradas em primeiro lugar, e alcançada a confiança dos ouvintes; então, à medida que o povo compreenda, podemos avançar vagarosamente com a matéria apresentada. Necessita-se de grande sabedoria para apresentar a verdade impopular a um povo preconceituoso, da maneira mais cautelosa, para que se ganhe acesso a seu coração. Debates colocam diante do povo, que não está esclarecido quanto à nossa posição e que é ignorante acerca da verdade bíblica, uma série de argumentos habilmente compostos e cuidadosamente arranjados para abranger os claros pontos da verdade. Algumas pessoas se especializaram em encobrir declarações simples de fatos da Palavra de Deus com suas teorias enganosas, que elas tornam plausíveis àqueles que não pesquisaram por si mesmos. T3 426 3 É difícil enfrentar esses agentes de Satanás, e é difícil ter paciência com eles. Mas calma, paciência e domínio próprio são elementos que cada ministro de Cristo deve cultivar. Os oponentes da verdade se educaram para uma batalha intelectual. Estão preparados para apresentar à primeira vista enganos e argumentos como sendo a Palavra de Deus. Confundem mentes crédulas e colocam a verdade na obscuridade, ao mesmo tempo que fábulas agradáveis são apresentadas ao povo em lugar da pura verdade bíblica. T3 426 4 Muitos procuram as trevas em lugar da luz, porque suas ações são más. Muitos há, porém, que se a verdade lhes houvesse sido apresentada de maneira diversa, sob outras circunstâncias, dando-lhes uma favorável oportunidade de pesar os argumentos por si mesmos, e comparar texto com texto, teriam ficado encantados com sua clareza e se apegado a ela. T3 427 1 Tem sido muito imprudente da parte de nossos pastores publicar ao mundo os astutos enganos do erro, arranjados por homens mal-intencionados para encobrir e anular os efeitos da solene e santa verdade de Jeová. Esses homens astutos, que armam ciladas para enganar os descuidados, dedicam suas energias intelectuais a perverter a Palavra de Deus. Os inexperientes e descuidados são iludidos, para ruína sua. Tem sido um grande erro publicar todos os argumentos com que os oponentes combatem a verdade de Deus; pois assim fazendo, espíritos de todas as classes são providos de argumentos em que muitos deles nunca haviam pensado. Alguém terá de prestar contas por essa orientação desprovida de sabedoria. T3 427 2 Os argumentos contra a sagrada verdade, sutis em sua influência, afetam mentes que não estão bem informadas quanto à força da mesma. A sensibilidade moral da coletividade em geral acha-se embotada pela familiaridade com o pecado. O egoísmo, a desonestidade e os vários pecados que predominam nesta época degenerada têm embotado os sentidos para as coisas eternas, de maneira que a verdade de Deus não é discernida. Ao dar publicidade aos errôneos argumentos de nossos adversários, a verdade e o erro são postos ao mesmo nível, na mente do povo, ao passo que, se pudessem ter diante de si a verdade em sua clareza, com tempo suficiente para verem e avaliarem sua santidade e importância, ficariam convencidos dos fortes argumentos em seu favor e estariam então preparados para enfrentar os argumentos sobre que seus oponentes insistem. T3 427 3 Os que estão buscando conhecer a verdade e compreender a vontade de Deus, que são fiéis à luz e zelosos no cumprimento de seus deveres diários, hão de certamente conhecer a doutrina; pois serão guiados em toda a verdade. Deus não promete, pelos atos magistrais de Sua providência, trazer de modo irresistível pessoas ao conhecimento da verdade, quando elas não procuram a verdade e não têm desejo de conhecê-la. As pessoas têm o poder de extinguir o Espírito de Deus; o poder de escolha é deixado com elas. Deus lhes permite liberdade de ação. Elas podem ser obedientes mediante o nome e a graça de nosso Redentor, ou podem ser desobedientes e sofrer as conseqüências. O homem é responsável por receber ou rejeitar a verdade sagrada e eterna. O Espírito de Deus está continuamente convencendo, e pessoas estão decidindo a favor ou contra a verdade. O comportamento, as palavras e as ações do ministro de Cristo podem influenciar uma pessoa a favor ou contra a verdade. Quão importante é que cada ato da vida seja tal que não haja necessidade de arrepender-se dele. Isso é especialmente importante para os embaixadores de Cristo, que estão atuando no lugar de Cristo. A autoridade da igreja T3 428 1 O Redentor do mundo conferiu grande poder à Sua igreja. Ele declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus membros. Depois de dar orientações explícitas quanto à direção a seguir, diz: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo [em matéria de disciplina da igreja] o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. Assim até a autoridade celestial ratifica a disciplina da igreja com relação a seus membros, uma vez que tenha sido seguida a regra bíblica. T3 428 2 A Palavra de Deus não dá licença a que um homem ponha seu julgamento em oposição ao da igreja, nem lhe é permitido insistir em suas opiniões contrariamente às dela. Caso não houvesse disciplina e governo eclesiásticos, a igreja se esfacelaria; não poderia manter-se unida como um corpo. Sempre tem havido indivíduos de espírito independente, pretendendo estar certos e que Deus os havia ensinado, impressionado e guiado especialmente. Cada um tem uma teoria sua particular, idéias peculiarmente suas, e cada um pretende que essas idéias se acham em harmonia com a Palavra de Deus. Cada um tem diferente teoria e fé, e não obstante pretende cada um possuir luz especial de Deus. Essas pessoas separam-se da corporação, e constituem por si mesmas uma igreja à parte. Não podem estar todas certas, todavia pretendem todas ser guiadas pelo Senhor. A palavra da Inspiração não pode ser sim e não, mas sim e amém em Cristo Jesus. T3 429 1 Nosso Salvador acompanha Suas lições com a promessa de que, se dois ou três se unirem em pedir alguma coisa a Deus, isso lhes será feito. Cristo mostra aqui que deve haver união com outros, mesmo em nossos desejos por determinado objetivo. Grande importância é atribuída à oração feita em comum, à união de desígnios. Deus atende às orações dos indivíduos; nessa ocasião, porém, Jesus estava dando lições especiais e importantes, que deviam ser de particular influência na igreja que acabava de organizar na Terra. Deve haver acordo acerca das coisas que desejam, e pelas quais oram. Não simplesmente os pensamentos e esforços de uma só pessoa, sujeita a enganos; mas as petições devem constituir o veemente desejo de várias mentes concentradas em um ponto. T3 429 2 Na maravilhosa conversão de Paulo, vemos o miraculoso poder de Deus. Um clarão mais forte que o resplendor do Sol ao meio-dia o envolveu. Jesus, cujo nome ele aborrecia e desprezava acima de todos os outros, revelou-Se a Paulo a fim de deter-lhe a louca, se bem que sincera carreira, de modo que pudesse tornar esse instrumento nada promissor em um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios. Ele fizera conscienciosamente muitas coisas contrárias ao nome de Jesus de Nazaré. Em seu zelo, fora perseverante e ardoroso perseguidor da igreja de Cristo. Profundas e vigorosas eram suas convicções do dever de exterminar essa alarmante doutrina a predominar por toda parte de que Jesus era o Príncipe da Vida. T3 429 3 Paulo cria que a fé em Jesus tornava de nenhum efeito a lei de Deus, as ofertas sacrificais e o rito da circuncisão, que em todas as eras passadas recebera inteira sanção de Deus. A miraculosa revelação de Cristo, porém, faz-lhe penetrar a luz nos entenebrecidos recessos da mente. Jesus de Nazaré, contra quem ele está disposto, é verdadeiramente o Redentor do mundo. T3 429 4 Paulo vê seu errado zelo e exclama: "Senhor, que queres que faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus não lhe disse então e ali como poderia ter feito a obra que lhe destinara. Paulo devia receber instruções na fé cristã e agir com entendimento. Jesus o envia aos próprios discípulos a quem ele estivera perseguindo tão severamente, para que deles aprenda. A luz da iluminação celeste privara Paulo da vista, mas Jesus, o grande médico dos cegos, não lhe restaurou a vista. À pergunta de Paulo, responde da seguinte maneira: "Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer." Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus podia não somente haver curado Paulo da cegueira, mas haver-lhe perdoado os pecados e dito qual o seu dever, traçando-lhe o futuro caminho. De Cristo deviam fluir todas as misericórdias e todo o poder; no entanto, Ele não deu a Paulo, em sua conversão à verdade, uma experiência independente da igreja por Ele recentemente organizada na Terra. T3 430 1 A maravilhosa luz dada a Paulo naquela ocasião deixou-o pasmo e confuso. Rendeu-se inteiramente. Esta parte da obra não podia o homem fazer por Paulo; havia, no entanto, outra obra ainda a ser executada, a qual os servos de Cristo podiam efetuar. Jesus o encaminha a Seus instrumentos na igreja, em busca de mais esclarecimentos acerca de seu dever. Assim dá Ele autoridade e sanção à igreja organizada. Cristo fizera a obra de revelação e convicção, e agora Paulo se achava em condições de aprender daqueles a quem Deus ordenara que ensinassem a verdade. Cristo dirige Paulo aos servos que escolhera, pondo-o assim em contato com Sua igreja. T3 430 2 Os próprios homens a quem Paulo se estava propondo destruir deviam ser seus instrutores na própria religião que ele desprezara e perseguira. Paulo passou três dias sem alimentar-se e sem ver, preparando-se para se aproximar dos homens a quem, em seu zelo cego, propusera-se a destruir. Então Cristo põe Paulo em contato com Seus representantes na Terra. O Senhor dá a Ananias uma visão em que lhe manda ir a determinada casa em Damasco e perguntar por Saulo de Tarso; "pois eis que ele está orando". Atos dos Apóstolos 9:11. T3 430 3 Sendo Saulo enviado a Damasco, para lá foi guiado pelos homens que o acompanhavam no intuito de ajudá-lo a levar prisioneiros os discípulos para Jerusalém, a fim de ali serem julgados e mortos. Saulo hospedou-se na casa de Judas em Damasco, dedicando o tempo a jejum e oração. Ali foi provada a fé de Saulo. Por três dias se encontrou em trevas quanto ao que dele era requerido, e por três dias se viu privado da visão. Recebera ordem de ir para Damasco, pois ali lhe seria dito o que lhe cumpria fazer. Encontra-se em incerteza, e clama fervorosamente a Deus. Foi enviado um anjo a Ananias, instruindo-o a ir a determinada casa onde se achava Saulo em oração para que lhe fosse mostrado o que devia fazer. Desaparecera o orgulho de Saulo. Pouco antes, ele confiava em si mesmo, julgando achar-se empenhado em boa obra, pela qual deveria ser recompensado; agora, porém, tudo mudou. Está curvado e humilhado até ao pó, envergonhado e penitente, rogando fervorosamente o perdão. O Senhor por meio de Seu anjo disse a Ananias: "Eis que ele está orando." Atos dos Apóstolos 9:11. O anjo informou ao servo de Deus que havia revelado a Saulo em visão que um homem chamado Ananias entraria e poria sobre ele a mão, a fim de que tornasse a ver. Mal pode Ananias crer nas palavras do anjo; e repete o que ouvira acerca da cruel perseguição que Saulo fazia aos santos em Jerusalém. Imperativa, porém, é a ordem dada a Ananias: "Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel." Atos dos Apóstolos 9:15. T3 431 1 Ananias foi obediente às indicações do anjo. Pôs a mão sobre o homem que havia ainda tão pouco estava possuído do mais profundo ódio, respirando ameaças contra todos os que acreditavam no nome de Cristo. Ananias disse a Saulo: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado." Atos dos Apóstolos 9:17, 18. T3 431 2 Jesus poderia haver feito diretamente tudo isso por Paulo, mas não quis assim. Paulo tinha alguma coisa a fazer no sentido da confissão aos homens cuja destruição premeditara, e Deus tinha uma obra de responsabilidade para ser feita pelos homens a quem ordenara para agirem em Seu lugar. Paulo devia dar os passos necessários na conversão. Era-lhe exigido que se unisse ao próprio povo que perseguira por causa da religião que professavam. Cristo dá aqui a todo o Seu povo um exemplo de Sua maneira de agir para salvação dos homens. O Filho de Deus identificou-Se com a função e a autoridade de Sua igreja organizada. Suas bênçãos deviam vir por meio dos instrumentos que ordenara, ligando assim os homens com os condutos que as deviam transmitir. O fato de Paulo ser estritamente consciencioso em sua obra de perseguir os santos não o inocenta quando o Espírito de Deus o impressiona com o conhecimento da cruel obra que fizera. Tem de tornar-se aluno dos discípulos. T3 432 1 Reconhece que Jesus, a quem em sua cegueira considerara impostor, é na verdade o autor e o fundamento de toda a religião do povo escolhido de Deus desde os dias de Adão, e o consumador da fé, agora tão clara à sua iluminada visão. Viu a Cristo como reivindicador da verdade, cumpridor de todas as profecias. Cristo fora considerado como anulando a lei de Deus; mas, quando sua visão espiritual foi tocada pelo dedo divino, aprendeu dos discípulos que Cristo era o originador e o fundamento de todo o sistema judaico de sacrifícios, que na morte de Cristo o tipo encontrara o antítipo, e que Cristo viera ao mundo com o expresso desígnio de reivindicar a lei de Seu Pai. T3 432 2 Em face da lei, Paulo se reconhece pecador. Aquela própria lei que ele julgara estar guardando tão zelosamente, verifica ter estado a transgredir. Arrepende-se e morre para o pecado, torna-se obediente às reivindicações da lei de Deus e tem fé em Cristo como seu Salvador; é batizado e prega a Jesus tão sincera e zelosamente como outrora O condenara. São apresentados, na conversão de Paulo, importantes princípios que devemos conservar sempre em mente. O Redentor do mundo não aprova, em assuntos religiosos, idéias e práticas independentes por parte de Sua igreja organizada e reconhecida, onde Ele tem uma igreja. T3 433 1 Muitos nutrem a idéia de que só a Cristo são responsáveis no que respeita à luz e à própria experiência, independentemente de Seus reconhecidos seguidores no mundo. Isto, porém, é condenado por Ele nos ensinos que nos dá, bem como nos exemplos e nos fatos que nos tem dado para nossa instrução. Aí estava Paulo, pessoa a quem Cristo devia preparar para importantíssima obra, que Lhe devia ser vaso escolhido, levado diretamente à presença de Cristo; todavia, Ele não lhe ensina as lições da verdade. Detém-lhe a carreira e infunde-lhe convicção; e quando ele pergunta: "Que queres que eu faça?" (Atos dos Apóstolos 9:6), o Salvador não lhe diz diretamente, mas põe-no em contato com Sua igreja. Eles lhe dirão o que lhe cumpre fazer. Jesus é o amigo dos pecadores, tem o coração sempre aberto, sempre sensível aos sofrimentos da humanidade; tem todo o poder, tanto no Céu como na Terra; respeita, no entanto, o meio que ordenou para esclarecimento e salvação dos homens. Encaminha Saulo à igreja, reconhecendo assim o poder de que a investiu como veículo de luz para o mundo. É o corpo organizado de Cristo na Terra, e importa que se Lhe respeitem as ordenanças. No caso de Saulo, Ananias representa Cristo, ao mesmo tempo que representa os pastores de Cristo na Terra, os quais são designados para agir em Seu lugar. T3 433 2 Saulo era um mestre instruído em Israel; mas enquanto ele ainda estava sob a influência do erro cego e do preconceito, Cristo revelou-Se a ele, e então o pôs em comunicação com Sua igreja, que é a luz do mundo. Eles devem instruir este orador educado e popular na religião cristã. No lugar de Cristo, Ananias toca seus olhos para que recebesse visão; em lugar de Cristo impõe-lhe as mãos, ora em nome de Cristo, e Saulo recebe o Espírito Santo. Tudo é feito em nome e na autoridade de Cristo. Cristo é a fonte. A igreja é o canal de comunicação. Aqueles que se gabam de independência pessoal precisam ser trazidos a uma relação mais íntima com Cristo mediante ligação com Sua igreja sobre a Terra. T3 434 1 Irmão A, Deus o ama e deseja salvá-lo e pô-lo em condição de trabalhar. Se você for humilde e dócil, e for moldado por Seu Espírito, Ele será sua força, sua justiça e seu galardão supremo. Poderá realizar muito por seus irmãos se você se esconder em Deus e deixar que Seu Espírito abrande seu espírito. Você tem de enfrentar uma classe difícil. Estão cheios de preconceito amargo, mas não mais do que Saulo. Deus pode atuar poderosamente por seus irmãos, caso você não se intrometa e feche o próprio caminho. Permita que amor, compaixão e ternura habitem seu coração enquanto trabalha. Pode quebrar as paredes de ferro do preconceito se tão-somente se apegar a Cristo e estiver disposto a ser aconselhado por seus irmãos de mais experiência. T3 434 2 Você não deve, como servo de Deus, desanimar-se facilmente pelas dificuldades ou pela mais feroz oposição. Saia não em seu nome, mas no poder e força do Deus de Israel. Suporte aflições como bom soldado da cruz de Cristo. Jesus suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Considere a vida de Cristo e tome coragem, e avance pela fé, coragem e esperança. ------------------------Capítulo 36 -- Unidade na igreja T3 434 3 Em minha última visão foram-me mostrados a introdução da verdade e o progresso da causa de Deus na Costa do Pacífico. Vi que um bom trabalho tinha sido feito por muitos na Califórnia, mas que havia muitos que professavam a verdade os quais não estavam dispostos a assumir a obra de Deus no tempo certo e a avançar à medida que a providência de Deus indicar seu dever. Uma grande obra pode ser feita nesta região levando almas ao conhecimento da verdade se houver ação unida. T3 434 4 Se todos que têm influência sentissem a necessidade de cooperação e procurassem atender à oração de Cristo, para que eles sejam um como Ele é um com o Pai, a causa da verdade presente seria uma potência nesta região. Mas o povo de Deus está entorpecido, e não vê as necessidades da causa para este tempo. Não percebem a importância de ação concentrada. Satanás está sempre procurando dividir a fé e o coração do povo de Deus. Bem sabe que a união é sua força, e divisão sua fraqueza. É importante e essencial que todos os seguidores de Cristo compreendam as artimanhas de Satanás e com uma frente unida confrontem seus ataques e o vençam. Precisam fazer esforços contínuos para se unirem mesmo que seja com algum sacrifício próprio. T3 435 1 O povo de Deus, com estruturas e temperamentos diversos, é unido na qualidade de igreja. A verdade de Deus, recebida no coração, fará sua obra de refinar, elevar e santificar a vida e de vencer as peculiares opiniões preconceituosas de cada um. Todos devem lutar para achegar-se tão perto uns aos outros quanto possível. Todos que amam a Deus e guardam Seus mandamentos em verdade terão influência sobre os incrédulos e ganharão almas para Cristo, para avolumar os alegres cantos de triunfo e vitória diante do grande trono branco. O egoísmo será vencido e amor transbordante por Cristo será manifesto na responsabilidade que sentem de salvar almas pelas quais Ele morreu. T3 435 2 Vi muitas famílias que não estavam vivendo como Jesus gostaria; elas têm um trabalho a fazer no lar antes de poderem fazer progresso na vida espiritual. Foi-me mostrado o caso do irmão B, e minha atenção foi chamada para o tempo quando ele primeiro aceitou a verdade. Ela então tinha um poder transformador sobre sua vida. O eu foi em parte perdido no interesse que sentia pela verdade. Ele procurava mostrar sua fé por suas obras, e seus interesses pessoais tomavam o segundo lugar. Ele amava a obra do Senhor e alegremente procurava promover o interesse de Sua causa; o Senhor aceitava seus esforços de servi-Lo, e a mão do Senhor o fazia prosperar. T3 435 3 Foi-me mostrado que o irmão B desagradou a Deus e acarretou grande escuridão sobre si mesmo quando estabeleceu o próprio discernimento em oposição ao de seus irmãos quanto à maneira verdadeira de guardar o sábado. O interesse do irmão B estava em jogo, e ele recusou ver o significado correto da questão considerada. Ele nunca teria seguido a conduta que seguiu quando voltou do Leste se tivesse estado na luz. Fui então levada a outro ponto em sua história e o vi viajando. Quando entre incrédulos, ele não permitia que sua luz brilhasse diante dos homens de tal maneira que vendo suas boas obras glorificassem nosso "Pai que está no Céu". Mateus 5:16. Ele se esqueceu de Deus e de seu dever de representar corretamente seu Salvador em todos os lugares e em todas as ocasiões. T3 436 1 O irmão B é especialmente fraco em alguns pontos; gosta de elogio e lisonja; gosta de prazer e distinção. Exaltou a si mesmo e falou muito e orou pouco, e Deus o entregou à própria fraqueza; pois ele não produziu fruto para a glória de Deus. Naquela viagem, ele teve oportunidade de fazer grande quantidade de bem, mas não reconheceu que precisava prestar contas a Deus por seus talentos e que como mordomo de Deus seria chamado a prestar contas quer tivesse usado sua habilidade para satisfazer a si mesmo, quer para glorificar a Deus. Se o irmão B tivesse sentido o poder do amor de Cristo no próprio coração, teria tido interesse na salvação daqueles com os quais entrou em contato, de sorte que lhes falasse palavras que os fariam refletir quanto a seu interesse eterno. T3 436 2 Ele teve a oportunidade de semear a semente da verdade, mas não a cultivou como devia. Devia ter levado sua religião consigo enquanto estivesse entre seus parentes. Sua profissão sagrada e a verdade de Deus deviam ter-se combinado com todos os seus pensamentos, sentimentos, palavras e ações. Cristo ordena a Seus seguidores a andarem na luz. Andar significa ir para a frente, esforçando-nos, exercitando nossas habilidades, estando ativamente empenhados. A menos que nos exercitemos na boa obra à qual nosso Salvador nos chamou, e sintamos a importância de esforço pessoal nesta obra, teremos uma religião doentia e mirrada. Ganhamos novas vitórias por nossa experiência no trabalho. Ganhamos atividade e força andando na luz, para que possamos ter energia para correr no caminho dos mandamentos de Deus. Podemos obter um aumento de força a cada passo que avançamos rumo ao Céu. Deus abençoará Seu povo somente quando ele procurar ser uma bênção aos outros. Nossas virtudes são amadurecidas e desenvolvidas pelo exercício. T3 437 1 Foi-me mostrado que, quando o irmão B esteve em Battle Creek, ele foi fraco em poder moral. Não estava procurando apegar-se a Deus e preservar sua alma em pureza de pensamento e ação, e foi deixado seguir a própria mente e receber impressões que eram prejudiciais a seu interesse espiritual. Ele encontrou-se com aqueles que pervertiam a verdade e foi levado por eles a crer em coisas que eram falsas; e como tinha aberto a porta ao inimigo e o recebeu como um anjo de luz, foi facilmente vencido pela tentação. T3 437 2 Ele se encheu impiamente de preconceito e de suspeitas contra aqueles mesmos em quem Deus queria que ele tivesse confiança. Viu as coisas numa luz pervertida, e as reuniões, as quais deviam ter sido para ele uma grande fonte de força, foram um prejuízo. Foi como Satanás queria que fosse, que o irmão B perdesse a confiança nos homens que Deus tinha designado para dirigir esta obra. Ele discordou deles e da direção da obra. Ele era como um barco sem âncora ou leme no mar. Se ele não pudesse ter confiança nas pessoas à testa da obra, não teria confiança em ninguém. T3 437 3 O irmão B tem pouca reverência ou respeito por seus irmãos; ele pensa que seu discernimento, conhecimento e habilidades são superiores aos deles; portanto, não aceitará nada deles, nem confiará em seu julgamento, nem vai procurar aconselhar-se com eles, a menos que possa dirigi-los e ensiná-los. Ele agirá segundo o próprio discernimento, independentemente dos sentimentos de seus irmãos, suas mágoas ou súplicas. Quando ele retirou sua confiança da direção da obra, Satanás sabia que, a menos que esta confiança pudesse ser restaurada, ele o tinha nas mãos. O interesse eterno do irmão B depende dele aceitar e respeitar os auxiliares e dirigentes que aprouve a Deus colocar na igreja. Se seguir uma conduta de sua escolha, ele por fim descobrirá que tem estado inteiramente num trilho errado e que se enganou para ruína própria. Ele dará uma volta, depois outra, e afinal apesar de tudo perderá a único caminho verdadeiro que leva ao Céu. T3 438 1 Há milhares que estão percorrendo a estrada da escuridão e do erro, a estrada larga que leva à morte, que se lisonjeiam estar no caminho da felicidade e do Céu; mas nunca encontrarão um nem atingirão o outro. O irmão B precisa dos auxílios que Deus colocou na igreja, pois não pode constituir uma igreja de si mesmo, e contudo sua conduta mostra que ele estaria satisfeito de ser uma igreja completa, a ninguém sujeito. O irmão B há muito perdeu sua consagração a Deus; não guardou as avenidas de sua alma contra as sugestões de Satanás. Vi que os anjos de Deus estavam escrevendo suas palavras e ações. Ele estava se afastando mais e mais da luz do Céu. Quando a graça de Deus não o controla de modo especial, irmão B, você é um homem difícil de se lidar. Você tem grande autoconfiança e firmeza, que são sentidas em sua família e na igreja. Tem muito pouca consideração e respeito por qualquer um. Você não possui a graça da humildade. T3 438 2 O irmão B voltou para esta costa [do Pacífico] em grande escuridão; ele perdeu seu amor pela verdade e seu amor a Deus. Seus sentimentos naturais o controlavam, e era orgulhoso. Ele amava a si mesmo e ao dinheiro mais do que à verdade e a seu Redentor. Foi-me mostrado que sua conduta depois que voltou à região era uma desonra ao nome de Cristo. Eu o vi associando-se aos levianos amantes do prazer. Ele magoou seus irmãos e feriu seu Salvador e O expôs à ignomínia perante descrentes. Vi que desde aquele tempo ele não mais tomava prazer no serviço de Deus ou na propagação da verdade. Parecia possuir zelo para sondar as Escrituras e diferentes autores, não para que se firmasse sobre pontos importantes da verdade presente, a qual a providência de Deus lhe tinha dado mediante homens de Sua escolha, mas para encontrar uma nova posição e para promover novas opiniões em oposição à firme fé da corporação. Suas pesquisas não foram feitas para a glória de Deus, mas para promover o eu. T3 438 3 Quando o irmão B assume uma posição do lado errado, não é segundo sua natureza ver seu erro e confessar seu engano, mas combater até ao fim, quaisquer que sejam as conseqüências. Este espírito é prejudicial à igreja e à sua família. Ele precisa abrandar o coração e deixar entrar ternura, humildade e amor. Ele precisa de benevolência e nobre generosidade. Em resumo, ele precisa ser inteiramente convertido, ser um novo homem em Cristo Jesus. Então sua influência na igreja será correta e ele será justamente a ajuda de que necessitam. Terá o respeito e o amor de sua família e ordenará sua casa após si. Dever e amor, como irmãos gêmeos, lhe servirão de ajuda no controle de seus filhos. T3 439 1 Vi que a irmã B tinha muito de que se queixar sobre a conduta que seu marido havia assumido para com ela; que sua vida tinha sido muito triste, quando ele era capaz de fazê-la feliz. Ela parecia estar desanimada e sentir profundamente que estava sendo negligenciada e não amada por seu marido. Em sua ausência, ela quase ficou perturbada e se tornou ciumenta, perdendo a confiança nele. Satanás estava presente com suas tentações, e ela via algumas coisas numa luz exagerada. Tudo isso poderia ter sido evitado se o irmão B tivesse preservado sua consagração a Deus. Fui levada ainda mais longe e vi que ele andava em descrença e trevas, enquanto se lisonjeava de que somente ele possuía a luz verdadeira. Quanto mais se separava de Deus, menos amor tinha por seus irmãos e pela verdade. T3 439 2 Foi-me mostrado o irmão B questionando um após outro os pontos de nossa fé que nos tiraram do mundo e fizeram de nós um povo separado e distinto, "aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus". Tito 2:13. Sua descrença e escuridão não moveram os pilares principais de nossa fé. A verdade de Deus não se tornou ineficaz por causa dele. Ainda permanece a verdade, mas ele tem tido alguma influência sobre a mente de seus irmãos. Os boatos de lábios mentirosos quanto a meu marido e a mim, que ele trouxe do Leste, tiveram influência para criar suspeitas e dúvidas na mente de outros. Aqueles que não nos conheciam não podiam nos defender. A igreja em _____, vi, podia possuir três vezes mais membros do que agora possui, e podia ter tido uma força dez vezes maior, se o irmão B não tivesse se entregado nas mãos do inimigo. Em sua descrença cega, ele fez tudo que pôde para desanimar os crentes na verdade e espalhá-los. Em sua cegueira não reconheceu que sua conduta era ofensiva aos olhos de Deus. O desencorajamento e a escuridão que ele causou tornaram os trabalhos do irmão C duplamente difíceis, pois sua influência foi sentida não somente pela igreja em _____, mas por outras igrejas. T3 440 1 O irmão B tem fortalecido a descrença e uma influência adversa que o irmão C teve de enfrentar. Vi que havíamos de enfrentar a mesma influência e que levaria tempo para desarraigar a velha raiz de amargura pela qual muitos foram contaminados; que há "tempo de falar" e "tempo de estar calado" (Eclesiastes 3:7); que quando Deus colocasse sobre nós a responsabilidade de falar não devíamos hesitar, quer as pessoas ouvissem quer não; e que devíamos levar o assunto a termo, mesmo se deixasse alguns fora da igreja e fora da verdade. Deus tem uma grande e importante obra para alguém fazer em _____, e no tempo certo será feita, e a verdade triunfará. T3 440 2 Aqueles de nossos irmãos que não obtiveram uma experiência por si mesmos na verdade presente não podiam responder aos argumentos do irmão B. Embora não pudessem receber as opiniões defendidas por ele, eram mais ou menos afetados por sua conversa e raciocínio. Alguns não sentiram um espírito de liberdade quando se encontraram para o culto. No sábado estavam receosos de expressar seus sentimentos reais e sua fé, pensando que ele criticaria o que eles dissessem. As reuniões têm sido mortas e tem havido pouca liberdade. T3 440 3 O irmão B deseja que os outros o considerem como um homem que pode explicar as Escrituras, mas foi-me mostrado que ele está enganado e não as entende. Ele começou num trilho errado ao procurar constituir uma nova fé, uma teoria original de fé. Ele arrancaria e colocaria de modo errado os marcos que nos mostram nossa posição correta, que estamos perto do fim da história da Terra. Ele pode se gabar que está sendo dirigido pelo Senhor, mas é certamente por um outro espírito. A menos que ele mude inteiramente sua conduta, e esteja disposto a ser guiado e a aprender, será deixado a seguir o próprio caminho e naufragará completamente na fé. T3 441 1 Alguns têm sido tão cegados pela própria descrença que não podem discernir o espírito do irmão B. Eles poderiam ter tido sua ajuda se ele tivesse permanecido no conselho de Deus. Podia tê-los levado para a luz em vez de aumentar-lhes a confusão na fé e sua perplexidade. Mas ele tem sido uma pedra de tropeço, um guia cego de cegos. Tivesse feito "caminhos retos" (Salmos 119:1) para seus pés, o coxo não teria sido desviado do caminho, mas teria sido curado. Ele recusou andar na luz da verdade que Deus deu a Seu povo, e impediu aqueles que gostariam de andar na luz. T3 441 2 Ele sente que é uma honra sugerir dúvidas e descrença com relação à firme fé do povo de Deus que guarda os mandamentos. A verdade na qual antes se regozijava agora é escuridão para ele, e, a menos que mude seu caminho, cairá de volta numa mistura de opiniões das várias denominações, mas não concordará inteiramente com nenhuma delas; será uma igreja distinta por si mesmo, mas não sob o controle do grande Líder da igreja. Mantendo suas opiniões em oposição à fé da corporação, ele está desanimando e desencorajando a igreja. Vê que, se a corporação dos guardadores do sábado tem a verdade, ele está em trevas, e isto ele não pode admitir. A verdade o condena, e em vez de procurar levar o coração à harmonia com a mesma, rendendo-se a suas reivindicações e morrendo para o eu, ele está procurando uma posição na qual não estará sob condenação. T3 441 3 Foi-me mostrado que se ele continuar em sua atual conduta, cego à sua verdadeira condição, sentir-se-á alegre muito em breve por achar algum pretexto para abandonar o sábado. Satanás certamente o está guiando, como guiou a muitos outros, para longe da corporação em uma conduta de engano e erro. Quão mais seguro seria para o irmão B colocar seu coração em harmonia com a verdade do que interpretar mal as Escrituras para harmonizá-las com suas idéias e ações. Se harmonizasse suas ações com os princípios da lei de Deus, ele teria uma tarefa nas mãos da qual mal sonhou. O coração carnal "está em inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar". Romanos 8:7. T3 442 1 As insinuações e os discursos francos daqueles que são nossos inimigos em Battle Creek foram recebidos pelo irmão B durante sua viagem ao Leste, e ele voltou com sentimentos amargos e ímpios em seu coração contra aqueles que estão na direção da obra e especialmente contra mim e meu trabalho. Ele não tinha nenhuma boa razão para os sentimentos que acalentava e as opiniões que expressava quanto a meu trabalho e os testemunhos. A descrença e o preconceito que tinham corrompido sua mente ele procurou instilar na mente de outros. Ele fez isto com considerável resultado. A princípio, muitos foram influenciados por seus enganos e escuridão, porque pode fazer afirmativas e inferências como se estivesse lidando com fatos positivos. Ele sabe como forçar o assunto e sua conversa é fluente. Suas palavras influenciavam alguns que não eram consagrados e que desejavam que as coisas fossem justamente como ele dizia com relação à nossa obra e nossa vocação. Ele tinha influência e despertava preconceito na mente daqueles que nós poderíamos ter ajudado, não tivesse embargado nosso caminho de modo a não podermos obter acesso a eles. A esta classe pertenciam o irmão e a irmã D. T3 442 2 Nisto o irmão B pode ver os frutos de sua conduta, e há outros que foram influenciados do mesmo modo, com os mesmos resultados, no que respeita à sua fé e confiança na verdade. Logo que o irmão B ou quaisquer outros decidam que as pessoas que tiveram a máxima atuação em levar a causa da verdade presente à sua condição atual não são guiadas por Deus, mas são pessoas maquinadoras e astutas, que enganam o povo, então a conduta que devem seguir para serem coerentes é renunciar a obra toda como um engano, uma fraude. A fim de serem coerentes, precisam descartar tudo. É o que o irmão B vem fazendo quase sem perceber, e outros têm feito o mesmo. Em algum tempo futuro, senão agora, ele reverá sua obra com sentimentos diferentes dos que possui agora. Verá a obra que ele vem fazendo durante os últimos poucos anos como Deus a vê, e não a verá com a satisfação que agora sente. Quando ele vir a obra miserável na qual tem estado empenhado durante os últimos anos, sua arrogância de possuir sabedoria e conhecimento superiores terá um fim, e se arrependerá em amargura de coração, porque o sangue de almas está em suas vestes. T3 443 1 Se o irmão B quisesse ver as coisas corretamente e tivesse sentido a possibilidade de estar enganado, ele teria vindo ao irmão e à irmã White com os boatos injuriosos quanto à reputação deles e lhes teria dado a oportunidade de falarem por si mesmos. Os boatos que ele espalhou através das planícies da costa do Pacífico testificam de urna mentira, quebrando assim a lei de Deus. Ele um dia confrontará os duros discursos, bem como os enganos instigados por Satanás, que instilou na mente das pessoas para prejudicar minha influência e a de meu marido. Esta questão não é entre o irmão B e eu, mas entre ele e Deus. T3 443 2 Deus nos deu nosso trabalho, e se Ele nos deu uma mensagem para apresentar a Seu povo, aqueles que nos impeçam no trabalho e enfraqueçam a fé do povo em sua verdade e veracidade não estão lutando contra o instrumento, mas contra Deus, e precisam responder-Lhe pelo resultado de suas palavras e ações. Todos que têm discernimento espiritual podem julgar a árvore por seus frutos. O irmão B se apresenta como uma pessoa iluminada por Deus para esclarecer o povo quanto à nossa obra e missão. Todos podem ver, se quiserem, o fruto que cresce nesta árvore. Irmão B, é ele para a vida eterna, ou para morte? T3 443 3 Depois do irmão B ter recebido de Battle Creek este conhecimento especial, que o levou a se empenhar em diminuir nossa obra e missão, sentiu-se livre em unir-se com os incrédulos na dissipação do prazer, e por sua conduta leviana acarretou vergonha à causa de Cristo e grande sofrimento à sua esposa. Estava ele tão cego que não tinha convicção de que estava procurando destruir aquilo que Deus estava edificando? Não teve ele idéia de que poderia estar combatendo contra Deus? Anjos têm registrado no Céu o trabalho que ele vem fazendo, e terá de responder por ele quando toda obra for levada a juízo para sofrer a inspeção do Deus infinito. Em sua cegueira, o irmão B tem levantado seu braço insignificante para lutar contra Deus e ao mesmo tempo alimentado o coração enganado com a esperança de que estava prestando serviço a Deus. A obra de toda pessoa será provada pelo fogo do último dia, e somente ouro, prata e pedras preciosas resistirão à prova. T3 444 1 Deus não Se deixa escarnecer. Ele pode tolerar os homens por longo tempo, mas Ele visitará suas transgressões e dará a cada um segundo as suas obras. Embora os homens possam falar arrogantemente e se orgulhem de sua sabedoria, um sopro dos lábios de Deus pode deitar por terra sua honra e glória. Foi-me mostrado que o irmão B estará sem desculpa no dia de Deus, quando cada caso será pesado nas balanças do santuário. Ele sabe que o que tem feito não é correto. Ele tem tido evidência suficiente para determinar o caráter da obra que Deus nos confiou. Os frutos desta obra estão diante dele, os quais ele pode ver e entender se quiser. T3 444 2 A autoconfiança do irmão B é de pasmar, e é uma cilada terrível para ele. Se ele não vencer este traço perigoso de seu caráter, isto demonstrar-se-á sua ruína. Ele está em seu elemento natural quando está combatendo e contradizendo pontos de doutrina; ele questionará e enganará, e estará em desacordo com seus irmãos até que Satanás controle sua mente de tal modo que realmente pense que tem a verdade e que seus irmãos estão enganados. Ele não se firma na luz e não tem a bênção de Deus, pois é parte de sua religião opor-se aos pontos estabelecidos do povo de Deus que guarda os mandamentos. Estão todos estes enganados? É o irmão B o único a quem Deus tem dado a verdade correta? Não está Deus tão disposto a dar a Seus servos devotos e abnegados uma compreensão correta das Escrituras como a concedê-la ao irmão B para transmitir-lhes? T3 444 3 Tem o irmão B provado sua conduta por este teste simples: "Esta luz e conhecimento que achei, e que me colocam em desacordo com meus irmãos, levam-me para mais perto de Cristo? Isso torna meu Salvador mais precioso para mim e faz que meu caráter se assemelhe mais ao Seu?" É um traço natural, mas não agradável, de nosso caráter sermos perspicazes em nossas percepções, e persistentes em lembrar das faltas e fracassos de outros. T3 445 1 O irmão B não procura estar em união com seus irmãos; sua autoconfiança o tem levado a não sentir nenhuma necessidade de união. Sente que a mente deles foi formada em um molde inferior ao seu e que receber suas opiniões e conselhos como dignos de atenção seria uma grande condescendência. Esta autoconfiança o tem excluído do amor e simpatia de seus irmãos e de união com eles. Ele sente que é muito sábio e experiente para precisar das precauções que são indispensáveis para muitos. Ele tem opinião tão elevada das próprias habilidades e tal confiança em suas realizações que acredita estar preparado para qualquer emergência. Disseram os anjos celestes, apontando para o irmão B: "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:12. Confiança própria leva à negligência de vigilância e de oração humilde e penitente. Há tentações exteriores a serem evitadas e inimigos internos e perplexidade para vencer, pois Satanás adapta suas tentações ao caráter e temperamento das diferentes pessoas. T3 445 2 A igreja de Cristo está em perigo constante. Satanás está procurando destruir o povo de Deus, e a mente de um só homem, seu discernimento, não é suficiente para se confiar. Cristo gostaria que Seus seguidores fossem unidos na qualidade de igreja, observando ordem, tendo regras e disciplina, e todos sujeitos uns aos outros, considerando "os outros superiores a si" mesmos. Filipenses 2:3. União e confiança são essenciais para a prosperidade da igreja. Se cada membro da igreja se sente livre para agir independentemente dos outros, assumindo sua conduta peculiar, como pode a igreja estar segura na hora de perigo e risco? A prosperidade e a própria existência de uma igreja dependem da ação pronta e unida, e da confiança mútua de seus membros. Quando, em um momento crítico, alguém soa o alarme de perigo, há necessidade de ação pronta e decisiva, sem parar para questionar e examinar de ponta a ponta todo o assunto, permitindo assim que o inimigo leve toda vantagem pela demora, quando ação unida poderia salvar muitas almas da perdição. T3 446 1 Deus quer que Seu povo seja unido pelos laços mais íntimos da fraternidade cristã; confiança em nossos irmãos é essencial para a prosperidade da igreja; unidade de ação é importante numa crise religiosa. Um passo imprudente, uma ação descuidada, pode lançar a igreja em dificuldades e provas das quais pode não recuperar-se em anos. Um membro da igreja cheio de descrença pode dar uma vantagem ao grande inimigo que afetará a prosperidade de toda a igreja, e muitas almas podem ser perdidas como resultado. Cristo gostaria que Seus seguidores fossem sujeitos uns aos outros; então Deus pode usá-los como instrumentos para salvarem uns aos outros; porque uma pessoa pode não discernir os perigos que os olhos de outra percebem de relance; mas, se os que não discernem confiantemente obedecerem à advertência, podem poupar a si mesmos grandes perplexidades e provações. T3 446 2 Quando Jesus estava para deixar Seus discípulos, orou por eles da maneira mais tocante e solene para que eles todos fossem um "como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como Nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:21-23. O apóstolo Paulo em sua primeira carta aos coríntios exorta-os à unidade: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer." 1 Coríntios 1:10. T3 446 3 Deus está guiando um povo do mundo para a exaltada plataforma da verdade eterna -- os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Disciplinará e habilitará Seu povo. Eles não estarão em divergência, um crendo uma coisa e outro tendo fé e opiniões inteiramente opostas, e agindo cada qual independentemente do conjunto. Pela diversidade dos dons e governos que Ele pôs em Sua igreja, todos alcançarão a unidade da fé. Se alguém forma o próprio conceito no tocante à verdade bíblica, sem atender à opinião de seus irmãos, e justifica seu procedimento alegando que tem o direito de pensar livremente, impondo suas idéias então aos outros, como poderá ser cumprida a oração de Cristo? E se outro e outro ainda se levantam, cada qual afirmando seu direito de crer e falar o que lhe aprouver, sem atentar para a fé comum, onde estará aquela harmonia que existia entre Cristo e Seu Pai, e para cuja existência, entre Seus irmãos, Cristo orou? T3 447 1 Deus está guiando um povo e o estabelecendo sobre a grande plataforma da fé, os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus. Ele deu a Seu povo uma cadeia reta de verdade bíblica, clara e coerente. Esta verdade é de origem celestial e tem sido procurada como um tesouro escondido. Foi extraída mediante pesquisa cuidadosa das Escrituras e mediante muita oração. T3 447 2 O irmão B está duvidando de um ponto após outro de nossa fé. Se ele tiver razão com suas novas teorias, a corporação de guardadores do sábado está errada. Deverá a fé estabelecida sobre os pontos fortes de nossa posição, que nos tirou do mundo e nos uniu como um povo distinto e peculiar, ser abandonada como errônea? Vamos receber a fé deste único homem, com as evidências que ele nos dá dos frutos de seu caráter religioso? Ou cederá o irmão B seu julgamento e opiniões e voltará à corporação? Se ele não tivesse cegado seu coração aceitando o preconceito e cultivando uma oposição ímpia à obra de Deus, não teria sido deixado em tal escuridão e engano. T3 447 3 Ele é de boa conversa e insistirá continuamente sobre suas opiniões e não cederá ao peso de evidência contra ele. Prejudicar a prosperidade da igreja como ele tem feito é algo cruel. O mundo é grande; ele tem todos os privilégios a seu gosto para ir aos incrédulos e convertê-los a suas teorias; e quando ele puder apresentar uma corporação bem organizada da qual ele foi o instrumento para converter do pecado para a justiça, então, e não antes, devia ele forçar suas opiniões peculiares sobre a igreja de Deus, que está magoada e desalentada com sua escuridão e erro. Ele não tem o direito de edificar sobre o fundamento de outro sua madeira, feno e palha para serem consumidos pelo fogo do último dia. T3 448 1 Foi-me mostrado que a única posição segura para o irmão B é sentar-se aos pés de Jesus e aprender mais perfeitamente o caminho da vida. Sua doutrina gotejará como a chuva e Seu discurso destilará como o orvalho sobre o coração do humilde e dócil. O irmão B precisa adquirir uma disposição dócil. Não deve sentar-se como um juiz, antes como um que aprende; não para criticar, mas para crer; não para questionar e achar defeito e opor-se, mas para ouvir. O orgulho precisa ceder lugar à humildade, e preconceito deve ser trocado por sinceridade, ou para ele as bondosas palavras de Cristo serão em vão. Meu irmão, você pode raciocinar com seu discernimento cego e sua mente não santificada até ao dia de Deus e não avançar um passo rumo ao Céu; você pode debater e examinar e pesquisar autores eruditos, e mesmo as Escrituras, e ainda assim ficar mais e mais enganado, e ficar em maior escuridão, como os judeus em relação a Cristo. Qual era a falta deles? Rejeitaram a luz que Deus já lhes dera e estavam à procura de alguma luz nova pela qual pudessem interpretar as Escrituras de modo a sustentar suas ações. T3 448 2 Você está fazendo o mesmo; negligencia a luz que Deus achou por bem dar-lhe nas publicações sobre a verdade presente e na Sua Palavra, e está buscando doutrinas próprias, teorias que não podem ser sustentadas pela Palavra de Deus. Quando se tornar como criança, disposto a ser guiado, e quando seu entendimento for santificado e sua vontade e preconceitos rendidos, uma luz tal brilhará em seu coração a qual iluminará as Escrituras e mostrar-lhe-á a verdade presente em sua bela harmonia. Aparecerá como uma corrente dourada, elo ligado a elo num todo perfeito. "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus." Mateus 18:3. "Aprendei de Mim", disse Cristo; "que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. T3 448 3 Se entrou de fato na escola de Cristo, Ele espera que você manifeste em seu caráter e comportamento a mansidão que é tão maravilhosamente exemplificada em Seu caráter. Cristo não Se incumbirá de ensinar quem é justo a seus próprios olhos, quem é convencido e voluntarioso. Se tais pessoas vêm a Ele com a pergunta "Que é a verdade?", Ele não lhes dá resposta. É somente aos mansos que Ele guiará em discernimento; "aos mansos ensinará o Seu caminho". Salmos 25:9. Salomão era por natureza dotado de bom discernimento e grande poder de raciocínio, mas ele se confessou diante de Deus como uma criança. Com humildade buscou sabedoria de Deus, e não buscou em vão. Se você realmente busca a verdade com motivo correto, virá à corporação, pois ela têm a verdade. Se você está buscando as Escrituras e diferentes autores com o fim de achar doutrina que coincida com suas opiniões preconcebidas, e se você já firmou sua fé, então você se tornará jactancioso, autoconfiante e inflexível. Confiança própria: uma cilada T3 449 1 Irmão B, com seu atual espírito voluntarioso e teimoso, você se afastará cada vez mais da verdade; e a menos que se converta se mostrará um grande empecilho à causa de Deus em qualquer lugar onde você tem alguma influência. Você é persistente em defender sua posição. Seu espírito cheio de confiança própria precisa ser subjugado antes de poder ver qualquer coisa claramente. Levou sua mulher a pensar que você conhecia a verdade melhor do que qualquer de nossos pastores; você tomou a chave do conhecimento nas próprias mãos, no que respeita a ela, e a tem conservado em trevas. Deus tem dado à Sua igreja homens de discernimento, experiência e fé. Eles conhecem o caminho da verdade e da salvação, pois a pesquisaram em agonia de espírito por causa da oposição que tinham de enfrentar da parte de homens que converteram a verdade de Deus em mentira; e o benefício do esforço destes fiéis servos de Deus é dado ao mundo. T3 449 2 Há bem poucos que reconhecem a natureza exaltada da obra de Deus em comparação com os cuidados temporais da vida. Jesus, o Mestre celestial, deu-nos instruções através de Seus discípulos. Quando enviou os doze, Ele os instruiu que em qualquer cidade que entrassem deviam perguntar quem era digno de sua atenção e visitas. Se um lugar apropriado fosse encontrado onde o povo apreciasse a bênção que lhes era enviada -- o privilégio de hospedar os mensageiros de Cristo -- aí deviam ficar e aí deixar repousar sua paz até deixarem aquela cidade. Não foram instruídos a visitar toda e qualquer casa indiscriminadamente, forçando sua presença sobre as pessoas quer fossem bem-vindos ou não; mas se não eram bem-vindos, se sua paz não podia repousar na casa, deviam deixá-la e procurar uma casa onde os habitantes fossem dignos e onde pudessem descansar. T3 450 1 Quando os mensageiros de Cristo que saem para ensinar a verdade a outros são rejeitados e suas palavras não acham lugar no coração, Cristo é rejeitado e Sua palavra desprezada nos mensageiros da verdade a quem Ele escolheu e enviou. Isto tem uma aplicação tão plena nesta época do mundo como quando Cristo deu a instrução a Seus mensageiros escolhidos. T3 450 2 Quando Cristo esteve na Terra, houve pessoas que não tinham respeito ou estima pelos mensageiros de Deus nem mais consideração por sua admoestação do que pelo próprio discernimento; também nesta época do mundo há aqueles que não respeitam o testemunho dos servos escolhidos de Deus de modo tão elevado como as próprias opiniões. Tais pessoas não podem ser beneficiadas pelo trabalho dos servos de Deus, e tempo não devia ser desperdiçado em degradar a obra de Deus para satisfazer tais mentes. Cristo disse aos servos quando os enviou: "Quem vos ouve a vós a Mim Me ouve; e quem vos rejeita a vós a Mim Me rejeita; e quem a Mim Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lucas 10:16. T3 450 3 Cristo dá poder à voz da igreja. "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. Não há apoio para um homem levantar-se por iniciativa própria e defender as idéias que bem entender, sem considerar a posição da igreja. Deus concedeu o mais alto poder, abaixo do Céu, à Sua igreja. É a voz de Deus em Seu povo unido na qualidade de igreja que deve ser respeitada. T3 451 1 Deus tem dado à Sua igreja homens de experiência, pessoas que têm jejuado, chorado e orado até a noite inteira para que Deus lhes abra as Escrituras ao entendimento. Com humildade têm esses homens dado ao mundo o benefício de sua amadurecida experiência. É essa luz do Céu, ou dos homens? É ela de algum valor, ou nada vale? O irmão B está fazendo um trabalho em disseminar opiniões errôneas acerca da verdade bíblica que ele quererá um dia desfazer; mas será em vão. Ele pode arrepender-se, pode mesmo ser salvo como que pelo fogo; mas, ó, quanto tempo precioso terá sido perdido que não poderá ser remido! Quanta semente ele semeou que só produzirá espinhos e abrolhos! Quantas pessoas foram perdidas que poderiam ter sido salvas se ele tivesse tentado tão diligentemente deixar a luz verdadeira brilhar como ele fez para espalhar sua escuridão! Quanto poderia ele ter feito se tivesse sido consagrado, santificado pela verdade! O irmão B se sente demasiado auto-suficiente, demasiado rico e próspero, para ver sua necessidade de alguma coisa. A Testemunha Verdadeira apontou para ele e disse: "Se não se converter e se fizer como criança, de modo algum entrará no Reino dos Céus." Ver Mateus 18:3. A luz da verdade tão cuidadosamente apresentada em livros e folhetos ele não respeita; mas exalta o próprio julgamento acima da luz mais preciosa, e esta luz se levantará no juízo para condená-lo. T3 451 2 Vi que ele duvidaria dos homens sobre os quais aprouve a Deus colocar a responsabilidade de Sua obra. Ele exaltaria as próprias opiniões e pontos de vista acima da luz que Deus dera através deles, e se gabaria de seu conhecimento; e seria acusador de seus irmãos, não excetuando os embaixadores de Cristo. Toda esta influência arrogante para menosprezar o discernimento dos servos de Deus e para acusá-los de fraquezas e erros, exaltando as próprias opiniões acima das deles, se ele não se arrepender, será encontrada escrita contra ele nos livros que ele verá envergonhado no dia de Deus. T3 452 1 Deus sustentará Seus servos, preservará Seus favorecidos; mas ai daquele que tornar sem efeito as palavras dos embaixadores de Cristo, que recebem a palavra da boca de Deus para transmiti-la ao povo e dizer ao povo que a espada está por vir e para adverti-los a se preparar para o grande dia de Deus. O irmão B descobrirá que não é uma obra trivial ou leviana essa na qual ele tem estado empenhado; é uma obra que rolará sobre sua alma com peso esmagador. Ele tem se levantado em oposição a Deus. Tem um árduo trabalho diante de si. Disse Cristo: "É mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" Mateus 18:7. T3 452 2 Irmão B, a conduta que você tem seguido foi-me mostrada há três anos. Vi que estava errado em quase toda ação, e não obstante procurava avaliar a verdade por suas ações em vez de avaliá-las pela verdade. Você não era uma luz para o povo de Deus, mas um fardo terrível. Não levanta quando é necessário levantar, e desanima outros de se unirem à ação. Está sempre achando defeito e falando de seus irmãos. Enquanto tem estado a questionar a conduta de outros, um crescimento luxuriante de ervas venenosas brotou e aprofundou raízes em seu coração. Estas raízes de amargura brotando contaminaram a muitos e contaminarão a muitos mais a menos que você as veja e as arranque. T3 452 3 Vi que um espírito severo e farisaico se desenvolveria no irmão B e o controlaria a menos que ele visse os terríveis defeitos em seu caráter e obtivesse graça de Deus para corrigir o mal. Antes dele abraçar a verdade, sua mão parecia ser contra todos; seu espírito combativo se fortalecia a qualquer provocação, e sua auto-estima era ofendida; ele era um homem duro envolvendo-se em dificuldades e as provocando. A verdade de Deus realizou uma reforma nele. Deus o aceitou, e Sua mão o susteve. Mas, desde que o irmão B perdeu o espírito de consagração, seu velho espírito turbulento, em desacordo com outros, tem-se fortalecido e procurado ganhar o controle. Quando ele morrer para o eu e humilhar seu coração orgulhoso diante de Deus, descobrirá quão fraca é sua força; sentirá a necessidade de socorro celestial e exclamará: "Imundo, imundo diante de Ti, ó Deus." Toda sua arrogância terá um fim. T3 453 1 A vida neste mundo tempestuoso, onde a escuridão moral triunfa sobre a verdade e a virtude, será para o cristão um conflito constante. Descobrirá que precisa manter-se armado, porque terá de lutar contra forças que jamais se cansam e inimigos que nunca dormem. Nós nos veremos cercados de inúmeras tentações, e precisamos achar força em Cristo para vencê-las ou para ser vencidos e perder nossa salvação. Temos uma grande e solene obra a realizar, e quão terrível será nossa perda se fracassarmos. Se o trabalho que o Mestre nos deu for achado inacabado, não podemos ter uma segunda oportunidade. Permanecerá inacabado para sempre. T3 453 2 Foi-me mostrada a vida do irmão B em sua família. Anjos choraram quando viram sua conduta no lar, ao verem a mulher não amada, que não é respeitada por ele cujo dever é amá-la e cuidar dela como do próprio corpo, assim como Cristo amou a igreja e cuidou dela. Ele se esforça para tornar os defeitos dela evidentes e para exaltar a sabedoria e discernimento próprios, fazendo-a sentir sua inferioridade tanto em público como a sós. Apesar de ser analfabeta, seu espírito é muito mais aceitável a Deus do que o espírito de seu marido. Deus contempla a irmã B com sentimentos da mais profunda piedade. Ela vive os princípios da verdade, segundo a luz que tem, muito melhor que seu marido. Ela não será responsável pela luz e conhecimento que seu marido recebeu, mas que ela não recebeu. Ele podia ser uma luz, conforto e bênção para ela, mas sua influência é usada de modo errado. Ele lê para ela o que lhe agrada, aquilo que fortalece suas opiniões e suas idéias, enquanto retém luz essencial que não quer que ela ouça. T3 453 3 Ele não respeita sua mulher, e permite que seus filhos a desrespeitem. Como os filhos de Eli, estas crianças são deixadas à vontade. Não são disciplinadas, e toda esta negligência vai finalmente voltar contra ele mesmo. Aquilo que o irmão B está agora semeando ele certamente colherá. A irmã B, em muitos respeitos, está mais próxima do reino do Céu do que seu marido. Estas crianças indisciplinadas e desobedientes, que não foram ensinadas a ter domínio próprio, plantarão espinhos no coração de seus pais sem que possam impedir; e depois no juízo Deus chamará os pais a prestar contas por trazerem filhos ao mundo e permitir que cresçam sem a devida educação, não amados e desamoráveis. Estes filhos não podem ser salvos no reino do Céu sem uma grande mudança em seu caráter. T3 454 1 O irmão B procura fazer sua mulher crer como ele crê, e gostaria que ela pensasse que tudo que ele faz é correto e que sabe mais do que qualquer dos pastores e é mais sábio que todos os homens. Foi-me mostrado que, em sua sabedoria jactanciosa, ele está lidando com o corpo de seus filhos como ele lida com os sentimentos de sua mulher. Ele está seguindo uma conduta segundo a própria sabedoria, que está arruinando a saúde de sua filha. Ele se ufana que o veneno que ele introduziu em seu organismo a mantém em vida. Que erro! Ele devia raciocinar quão melhor ela estaria se a tivesse deixado só e não tivesse abusado da natureza. A criança nunca poderá ter constituição saudável, porque seus ossos e o sangue em suas veias têm sido envenenados. A constituição arruinada de seus filhos e suas dores e sofrimentos aflitivos clamarão contra a sabedoria de que se gaba, a qual é loucura. T3 454 2 Mas o mais deplorável de tudo é que ele tem, por assim dizer, deixado a porta da perdição escancarada para seus filhos entrarem e se perderem. A natureza de seus filhos terá de ser mudada, o caráter deles transformado e renovado, ou não haverá esperança para eles. Podem anjos cuidar amorosamente de sua família, irmão B? Podem eles se deleitar em habitar em sua casa? A casa em si é boa, mas ela não promove a felicidade. Aqueles que habitam dentro das paredes fazem dela um céu ou um inferno. Você não respeita a mãe de seus filhos. Você permite que eles sejam desobedientes e desrespeitosos. T3 454 3 Você pode dizer: "Por que a irmã White vem a mim com isso? Não tenho fé nas visões." Eu sabia disto antes de tentar escrever, mas sinto que o tempo chegou para eu expor-lhe estas coisas. Preciso dizer-lhe a verdade, pois espero defrontar no juízo o que escrevi aqui imperfeitamente. Aguardei, esperando poder dizer algo que tocasse seu coração e o abrandasse pelas próprias palavras que escrevi. Mas perdi toda a esperança neste sentido, porque você está fortalecido com uma armadura tão impenetrável como o aço. Você não aceita nada que não agrada a sua mente. Foi-me mostrado que teria sido melhor para a causa da verdade presente se você nunca tivesse abraçado o sábado. Sua consciência não é muito sensível; o inimigo o cegou. T3 455 1 Abandonei toda esperança de fazer algo pela igreja em _____ enquanto você for uma pedra de tropeço para eles. Você outrora amava a verdade. Se tivesse prosseguido no caminho da verdade e santidade, você agora seria um embaixador de Cristo. Terá uma terrível prestação de contas no grande dia de Deus por seus talentos que não têm sido cultivados. Você tinha boas habilidades. Deus lhe emprestou estes talentos para que fizesse bom uso deles, mas você abusou destes dons. Se tivesse usado corretamente a habilidade que Deus lhe deu, teria feito muito em ganhar pessoas para Cristo, e veria no reino do Céu pessoas salvas por seu intermédio. Mas você tem espalhado em vez de ajuntar com Cristo. Seus irmãos têm sido desencorajados de tentar erguer-se e avançar, porque você, como um corpo contrário, desfaz o bem que eles fariam. T3 455 2 O coração de Deus jamais anelou por Seus filhos terrestres com amor mais profundo e misericordiosa ternura do que agora. Nunca houve um tempo em que Deus estivesse pronto e esperando fazer mais por Seu povo do que agora. E Ele vai instruir e salvar todos aqueles que escolhem ser salvos do modo que Ele designou. Aqueles que são espirituais podem discernir as coisas espirituais e ver sinais da presença e obra de Deus em toda parte. Satanás, por sua estratégia hábil e ímpia, levou nossos primeiros pais do Jardim do Éden -- de sua inocência e pureza ao pecado e miséria indizível. Ele não cessou de destruir; todas as forças à sua disposição são diligentemente empregadas por ele nestes últimos dias para causar a ruína de almas. Ele se aproveita de todo artifício que pode usar para enganar, perturbar e confundir o povo de Deus. T3 456 1 Ele o tem usado como seu agente para espalhar trevas e confusão, e ele acha que você trabalha admiravelmente em suas mãos. Você é exatamente o instrumento que ele pode manejar com eficiência para ferir, desencorajar e destruir. Você não é zeloso para pôr seu ombro sob o fardo com o povo de Deus; mas quando eles estão prontos para avançar, você se atira como um peso adicional para impedir que façam o que poderiam fazer avançando no rumo certo. Satanás trabalha com "aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus". Apocalipse 14:12. Em seu íntimo existe o mais amargo ódio contra aqueles que são leais a Deus e obedecem a Seus mandamentos. Ele não dorme; não diminui sua vigilância por um momento. Oxalá os professos seguidores de Deus tivessem a metade da sabedoria, diligência e perseverança na obra de Deus que Satanás tem na sua. Se você, irmão B, tivesse prosseguido como quando primeiro lançou sua mão ao arado, e não tivesse olhado para trás, seria agora um mensageiro de luz para levar a verdade aos que estão em trevas. Mas Deus não podia usá-lo para Sua glória até que você aprendesse a aconselhar-se com seus irmãos e que não pensasse saber tudo que valia a pena saber. Satanás teve sucesso em impedi-lo de fazer o bem. Você correu bem por um tempo, mas as tentações de Satanás o venceram. Gostava de ser o primeiro e de ser lisonjeado. Você gostava do poder que o dinheiro confere. Satanás compreende as fraquezas dos homens. Ele tem o conhecimento que acumulou através dos séculos e é perito em seu trabalho. Sua astúcia e seus expedientes estão bem amadurecidos, e com muita freqüência alcança êxito porque os filhos de Deus não são "prudentes como as serpentes". Mateus 10:16. T3 456 2 Satanás freqüentemente aparece como um anjo de luz, vestido com as vestes do Céu; assume ares amigáveis, manifestando grande santidade de caráter e alta consideração por suas vítimas, as pessoas que ele pretende enganar e destruir. Perigos jazem no caminho onde ele convida as pessoas a viajar, mas ele consegue escondê-los e apresenta apenas as atrações. O grande Capitão da nossa salvação venceu em nosso favor, para que por Ele pudéssemos vencer, se quiséssemos, em nosso próprio benefício. Mas Cristo não salva ninguém contra sua vontade; Ele não obriga ninguém a obedecer. Ele fez o sacrifício infinito para que todos pudessem vencer em Seu nome e que Sua justiça lhes fosse creditada. T3 457 1 Mas a fim de ser salvo você precisa aceitar o jugo de Cristo e depor o jugo que confeccionou para o próprio pescoço. A vitória que Cristo ganhou no deserto lhe é um penhor da vitória que em nome dEle você pode ganhar. Sua única esperança de salvação é vencer como Cristo venceu. Paira agora sobre você a ira de Deus. Você ama as atrações do mundo acima do tesouro celeste. "A concupiscência dos olhos e a soberba da vida" o separaram de Deus. 1 João 2:16. Sua confiança no próprio eu pobre, fraco e falho deve ser quebrada. Você precisa sentir sua fraqueza antes de cair, com seu fardo, nas mãos de Deus. O coração que confia plena e inteiramente em Deus nunca será confundido. T3 457 2 Deus não quer que consultemos nossa própria conveniência ao obedecer-Lhe. Cristo não agradou a Si mesmo quando era homem entre homens. "Era homem de dores e que sabe o que é padecer." Isaías 53:3. A Majestade do Céu não tinha onde repousar a cabeça, nenhum lugar que podia chamar Seu. "Por amor de" nós "Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza", verdadeiramente enriquecêssemos. 2 Coríntios 8:9. Não falemos de sacrifício, porque não sabemos o que é sacrificar pela verdade. Até agora mal levantamos a cruz por amor de Cristo. Não procuremos um caminho que é mais fácil do que aquele que nosso Redentor percorreu antes de nós. Quão incompetente é você, com toda sua sabedoria de que se jacta, para guiar a si mesmo! Como está propenso a seguir os ditames de uma consciência enganada, para correr no caminho do erro, e arrastar outros consigo! T3 457 3 Seu temperamento natural é tal que submissão e obediência ao que Deus requer são muito difíceis. Sua autoconfiança ilimitada, seus preconceitos e seus sentimentos facilmente o levam a escolher um caminho errado. Cristo será para você um Guia infalível se você O escolher em vez de seu discernimento cego. Em seus negócios você não visa a glória de Deus. Teve de enfrentar muitas perplexidades e muitas dificuldades. Se tivesse confiado no Verdadeiro Conselheiro em vez de confiar no próprio discernimento, teria sido libertado de suas perplexidades em suas transações comerciais. T3 458 1 Tem um trabalho importante pela frente que nunca poderá fazer sem o auxílio especial de Deus. Você está apto a obter o companheirismo dos anjos e ser um herdeiro de Deus, um co-herdeiro com Jesus Cristo; e esforçar-se para limitar o objetivo da esperança e desejo dentro do âmbito estreito de sua conveniência própria seria um erro para a vida toda. É um erro terrível viver só para este mundo. Você olha para trás e sente a condenação da própria conduta errônea, e procura se justificar achando defeito nos outros. Qualquer que seja a conduta que outros sigam, ou por mais errados que estejam, os erros deles nunca cobrirão uma de suas faltas; e no dia final da prestação de contas você não ousará alegar isto diante de Deus como paliativo para sua negligência do dever. T3 458 2 Deus Se propõe a aceitá-lo como Seu filho e fazer de você um membro da família real, um filho do Rei celestial, sob a condição de sair do mundo e se separar e não tocar coisa imunda. O Rei do Céu gostaria que você possuísse e desfrutasse tudo que possa enobrecer, expandir e exaltar seu ser e fazê-lo apto para morar com Ele para sempre, sua existência comparável à vida de Deus. Que expectativa é a vida por vir! Que encantos possui! Quão amplo, profundo e imensurável é o amor de Deus manifestado pelo homem! Palavras não podem descrever este amor; ele ultrapassa todo pensamento e imaginação, mas é uma realidade que você pode aprender por experiência; pode nele regozijar-se com alegria inefável e cheia de glória. T3 458 3 Com tal perspectiva diante de você, como pode confinar sua mente ao âmbito de pensamentos mundanos e ao objetivo de ocupações mundanas, buscando ganho e cedendo um ponto após outro da verdade presente? Verdade, princípio e consciência são coisas desejáveis que você deve reter. O favor de Deus é melhor do que casas de prata ou de ouro. A alegria mais profunda do coração vem da humilhação mais profunda. Confiança e submissão a Deus produzem força e nobreza de caráter. Lágrimas nem sempre são evidência de fraqueza. A fim de edificar um caráter que seja simétrico à vista de um Deus puro e santo, você precisa começar pelo fundamento. O coração precisa ser quebrantado diante de Deus, e verdadeiro arrependimento pelo pecado precisa ser demonstrado, até você satisfazer as reivindicações da verdade e do dever. Então terá verdadeiro respeito por si mesmo e real confiança em Deus. Você terá sentimentos mais ternos. Todo aquele espírito de arrogância desaparecerá. Em lugar de aspereza haverá grande ternura combinada com firmeza de propósito para ficar firme pela verdade em todas as circunstâncias. Verá então muito no mundo e no próprio coração para fazê-lo chorar. ------------------------Capítulo 37 -- Verdadeiro refinamento no ministério T3 459 1 Irmão E: T3 459 2 Eu tinha planejado escrever-lhe há algum tempo, mas não achei oportunidade de fazê-lo senão agora. Ao falar ao povo no último sábado, senti-me tão claramente impressionada com seu caso que com dificuldade pude refrear-me de mencionar seu nome em público. Vou agora descarregar minha mente escrevendo-lhe. Em minha última visão foram-me mostradas as deficiências daqueles que professam trabalhar na palavra e na doutrina. Vi que você não estava aperfeiçoando suas habilidades, mas estava se tornando cada vez menos eficiente para ensinar a verdade. Você precisa de uma conversão completa. Possui uma vontade forte e inflexível ao ponto de teimosia. Podia agora ter sido qualificado para a obra solene de levar a mensagem da verdade a outros se tivesse sido menos autoconfiante e mais humilde e manso de espírito. T3 459 3 Você não aprecia trabalho intenso nem a pressão de esforço contínuo. Não tem sido perseverante no estudo da Palavra de Deus, nem obreiro zeloso na causa de Deus. Sua vida tem estado longe de representar a vida de Cristo. Você não é criterioso, nem obreiro sábio e prudente. Não procura ganhar almas para Cristo, como todo ministro de Cristo deve. Você tem um objetivo fixo, uma norma própria, à qual você deseja transmitir às pessoas; mas deixa de consegui-lo porque elas não aceitam sua norma. Você é fanático e freqüentemente leva as coisas a extremos e deste modo prejudica seriamente a causa de Deus e desvia as almas da verdade em vez de ganhá-las. T3 460 1 Foi-me mostrado que você perdeu diversas oportunidades boas por causa de sua maneira imprudente de trabalhar, e que lhe direi sobre esta questão? Muitos têm se perdido por sua falta de sabedoria em apresentar a verdade e sua falha em adornar sua vocação como um ministro do evangelho por meio de cortesia, bondade e longanimidade. Verdadeira cortesia cristã deve caracterizar todas as ações do ministro de Cristo. Ó, quão mal tem você representado nosso Redentor piedoso e compassivo, cuja vida foi a encarnação da bondade e verdadeira pureza. Você tem desviado almas da verdade por causa de um espírito ríspido, crítico e arrogante. Suas palavras não têm sido proferidas com a brandura de Cristo, mas com o espírito de E. Seu temperamento é por natureza grosseiro e não refinado, e porque nunca sentiu a necessidade de refinamento verdadeiro e de cortesia cristã, sua vida não tem sido tão elevada quanto poderia ser. T3 460 2 Você permaneceu na rotina do hábito. Sua educação e treinamento não têm sido corretos, e por conseguinte seus esforços para melhorar, reformar e fazer mudanças decididas e completas deviam ser mais sérios. A menos que experimente uma conversão decidida e radical em quase todos os aspectos, estará inteiramente desqualificado para pregar a verdade, e a menos que aperfeiçoe o caráter, suas maneiras e seu modo de falar em público, fará mais mal do que bem. Você não tem feito muito para promover a verdade, porque tem-se demorado demais nas igrejas, quando não lhes podia fazer bem algum, mas só mal. Seus modos e maneiras precisam ser refinados e santificados. Não deve por mais tempo prejudicar a obra de Deus por suas deficiências, sendo que não manifestou nenhuma melhora decidida em tornar-se um obreiro na causa de Deus. T3 461 1 É impossível levar outros a um padrão mais elevado do que aquele que você mesmo atinge. Se você não avançar, como pode levar a igreja de Deus a um padrão mais elevado de piedade e santidade? Todos os pastores como você têm sido por muitos anos maior maldição do que bênção para a causa de Deus; quanto menos tivermos desses, tanto mais próspera será a causa da verdade presente. T3 461 2 Você não é elevado em suas idéias nem ambicioso em seus esforços. Contenta-se em ser vulgar e atuar como um pastor comum. Não deseja aperfeiçoar caráter cristão nem almeja aquele nível na obra que Cristo requer que todos os Seus pastores escolhidos atinjam. Ninguém que professa levar a verdade a outros é apto para esta obra de responsabilidade a menos que esteja avançando em conhecimento e em consagração ao trabalho, e esteja melhorando suas maneiras e temperamento, e crescendo diariamente na verdadeira sabedoria. Toda pessoa necessita de comunhão íntima com Deus para guiar almas à verdade. Aqueles que assumem a responsabilidade de conduzir almas das trevas da natureza para a maravilhosa luz precisam sempre ter em mente que eles mesmos devem estar avançando na luz; de outro modo, como poderiam estar guiando a outros? Se eles mesmos estão andando nas trevas, assumem a mais tremenda responsabilidade ao pretender ensinar o caminho a outros. T3 461 3 Você se empenhou em trabalho em lugares onde não tinha competência para dignificar o mesmo. Você não se esforçou criteriosamente. Procurou compensar sua falta de verdadeiro conhecimento censurando outras denominações, rebaixando outras pessoas e fazendo críticas duras e amargas sobre sua conduta e condição. Se seu coração tivesse estado iluminado com o espírito da verdade, tivesse você sido santificado a Deus e andado na luz como Cristo é a luz, teria agido com sabedoria e tido modos e recursos suficientes à sua disposição para manter um interesse sem sair de seu caminho e fora de seu trabalho específico para insultar aqueles que professam ser cristãos. Descrentes têm ficado aborrecidos; eles pensam que os adventistas do sétimo dia têm sido distintamente representados por você, e decidem que já basta, não querem mais tais doutrinas. Nossa fé é impopular e está em grande contraste com a fé e as práticas de outras denominações. A fim de alcançar aqueles que estão nas trevas do erro e de teorias falsas, precisamos abordá-los com a máxima cautela e com a maior sabedoria, concordando com eles em todo ponto que pudermos fazer conscienciosamente. T3 462 1 Toda consideração deve ser mostrada para com aqueles que estão no erro e todo crédito justo deve ser-lhes dado com honestidade. Devemos nos aproximar do povo tanto quanto possível, e então a luz e a verdade que temos poderão beneficiá-los. Mas o irmão E, como muitos de nossos pastores, logo começa uma guerra contra os erros que os outros acariciam; ele assim desperta a combatividade e a firme vontade deles, e isto os mantém fechados numa armadura de preconceito egoísta que nenhuma evidência pode remover. T3 462 2 Quem, a não ser você, será responsável pelas pessoas que foram desviadas da verdade por seu esforço não santificado? Quem pode quebrar os muros de preconceito que seu trabalho imprudente criou? Não conheço pecado maior contra Deus do que homens entrarem no ministério e trabalharem por si e não em Cristo. São considerados representantes de Cristo, quando não representam Seu espírito em nenhum de seus trabalhos. Não vêem ou reconhecem os perigos que acompanham os esforços feitos por homens não consagrados e não convertidos. Eles agem como cegos, deficientes em quase tudo e não obstante cheios de autoconfiança e de suficiência própria, eles mesmos andando em escuridão e tropeçando a cada passo. São corpos de trevas. T3 462 3 Irmão E, você tem idéias acanhadas, e seu trabalho tem uma tendência de rebaixar em vez de elevar a verdade. Isto não é porque não tem habilidade. Poderia ter sido um bom obreiro, mas você é demasiado indolente para fazer o esforço necessário para atingir a meta. Preferiria revidar de um modo grosseiro e arrogante àqueles que diferem de você a se dar ao trabalho de elevar o tom de seu trabalho. Você assume posições, e então, ao serem elas questionadas, não é bastante humilde para abandonar suas opiniões, embora se demonstrem erradas; mas se coloca em sua independência e se apega firmemente a suas idéias quando concessão de sua parte é essencial e é requerida como seu dever. De um modo teimoso e inflexível se tem apegado ao próprio critério e a suas opiniões com o sacrifício de almas. T3 463 1 Irmão E, suas posições irredutíveis e sua vontade forte e decidida para promover seus pontos de vista a todo custo foram sentidas e deploradas por sua esposa, e conseqüentemente a saúde dela sofreu. Você não foi gentil e terno para com esta filha sensível de Deus; seu espírito forte reprimiu nela a disposição mais gentil. Ela magoou-se com muitas coisas. Você poderia ter feito a vida dela mais feliz se tivesse tentado; mas procurou fazê-la ver as coisas como você as via, e, em vez de tentar assimilar-se ao temperamento mais refinado dela, tentou moldá-la à sua natureza mais grosseira e a suas idéias extremas. Ela foi tolhida em sua natureza e não podia agir por si mesma. Ela murchou como uma planta transplantada para um solo desfavorável. T3 463 2 Você não deve procurar moldar a mente e o caráter de outros conforme seu padrão, mas deve deixar seu próprio caráter ser moldado segundo o Modelo divino. Se este mundo fosse composto de homens como você em caráter e temperamento, ai dele! Como onde quer que você fosse os semelhantes se atrairiam, você ficaria desgostoso com seus associados, a réplica exata de você mesmo, e desejaria sair do mundo. T3 463 3 Você se gaba e se gloria de si mesmo. Mas, ó, quão impróprio é isto para qualquer pessoa, mesmo que ela tenha as mais finas qualidades mentais e a mais extensa influência! Pessoas de finas qualidades exercem maior influência porque não reconhecem o próprio valor e quanto bem realizam no mundo. Mas é inteiramente fora de lugar para pessoas de seu tipo de caráter ser altivo e arrogante. T3 464 1 Você freqüentemente começa bem seus esforços; desperta interesse, e convicção se apodera da mente das pessoas de que os argumentos usados não podem ser controvertidos; mas justamente no momento quando os pecadores estão se inclinando a favor da verdade, o eu aparece tão claramente, é tão proeminente, que tudo que podia ser ganho, tivesse Jesus transparecido em suas palavras e conduta, é perdido. T3 464 2 Você não tem qualidades que são essenciais para ganhar almas para Cristo e a verdade. Você pode argumentar bem; mas não tem conhecimento experimental da vontade divina, e por falta de experiência religiosa de sua parte é incapaz de levar outros à Fonte de águas vivas. Seu coração não está em comunhão com Deus, mas está em trevas; e nada pode suprir a deficiência reconhecida por pecadores tateando seu caminho na escuridão, exceto a luz da verdade. A menos que seja inteiramente convertido, seria melhor que seus esforços para converter outros cessassem agora do que você continuar trabalhando, torcendo e pervertendo a norma religiosa por suas idéias estreitas e fanáticas. Você não tem conhecimento experimental da vontade divina; sua justiça própria parece-lhe ser de valor, quando não vale nada. Você necessita ser transformado antes de poder ser útil na causa de Deus. Quando se converter, seu trabalho poderá então ser aceito. T3 464 3 Você não possui a religião de Cristo. Precisa abrandar o coração e morrer para o eu, e Cristo precisa viver em você; então andará na luz como Ele está na luz, e deixará um rastro luminoso rumo ao Céu para iluminar o caminho para outros. Tem-se sentido muito satisfeito consigo mesmo. Deve educar-se e vencer seu espírito fanático e crítico. Você precisa subjugar o corpo e levá-lo à sujeição, para que, depois de ter "pregado a outros, não venha... a ser desqualificado". 1 Coríntios 9:27. T3 464 4 Você tem opiniões acanhadas das coisas, preocupa-se com ninharias, acha defeitos e questiona a conduta de outros, quando faria muito melhor vencendo os defeitos do próprio caráter e vida, trabalhando de um ponto de vista cristão, buscando luz de Deus e preparando-se para unir-se com os anjos puros no reino do Céu. Como você é, mancharia o Céu inteiro. Você é inculto, grosseiro e não santificado. Não há lugar no Céu para um caráter como o que você possui agora. T3 465 1 Se assumir o trabalho seriamente e, sem dar qualquer desculpa para o pecado, condenar o pecado na carne e com fé e esperança buscar graça divina e discernimento correto, pode vencer aquelas deficiências em seu caráter que o desqualificam para trabalhar na causa de Deus. Durante muitos anos você não tem progredido nem melhorado. Hoje está mais longe da norma da perfeição cristã, de possuir as qualificações que devem ser achadas no ministro do evangelho, do que estava uns poucos meses depois de ter recebido a verdade. T3 465 2 Deus Se desagrada com aqueles que não são inteligentes em relação à religião cristã e ainda tentam guiar a outros. Você é corretamente representado pelo homem que procurou tirar o argueiro do olho do seu irmão quando uma trave estava em seu olho. Primeiro ponha seu coração em ordem, e reforme o próprio caráter; mantenha ligação com Deus, e obtenha experiência cristã diária; então poderá assumir responsabilidade por pecadores que estão sem Cristo. T3 465 3 Bem poucos de nossos irmãos tomaram mais tempo para ler autores diferentes do que você, e não obstante você é muito deficiente nas qualificações necessárias para um pastor que ensina a verdade. Você não cita, ou mesmo lê as Escrituras corretamente. Isto não pode acontecer. Não tem progredido em cultura mental e não tem assegurado crescimento em graça interior que transpareceria em suas palavras e conduta. Não tem sentido a necessidade de buscar realizações mais elevadas e mais santas. T3 465 4 Ler livros superficialmente sobrecarrega a mente e faz com que você se torne um dispéptico mental. Você não pode assimilar e usar a metade do que lê. Se lesse com o objetivo em vista de aperfeiçoar a mente, e lesse apenas aquilo que a mente pode compreender e assimilar, e perseverasse pacientemente neste estilo de leitura, bons resultados poderiam ser obtidos. Você, bem como outros pastores, precisa freqüentar escola e começar como uma criança a dominar os primeiros ramos do conhecimento. Você não é capaz de ler, soletrar e pronunciar corretamente, e contudo poucos há que tenham menos encargos e menos fardos de responsabilidade do que você. T3 466 1 A posição de nossos pastores requer saúde do corpo e disciplina da mente. Bom senso, nervos fortes e temperamento alegre recomendarão o ministro do evangelho em qualquer parte. Estas qualidades devem ser procuradas e cultivadas com perseverança. T3 466 2 Sua vida até aqui tem sido inútil. Você tem algumas idéias muito boas, mas o Espírito de Deus não habita em seu coração. Não é vivificado por Seu poder, e não tem fé, esperança e amor genuínos. O Espírito de Deus habitando em você o capacitará a tomar as coisas de Deus e revelá-las a outros. Você não pode ser de benefício algum à causa de Deus até que a obra de um fiel ministro de Cristo seja mais elevada em sua mente. Você necessita de um propósito em sua vida para fazer o bem como Jesus. A abnegação e o amor que você manifesta neste trabalho influenciarão a vida e o caráter de outros. T3 466 3 Deve livrar-se, logo que possível, de sua formalidade fria e gélida. Precisa cultivar sentimentos de ternura e amizade em sua vida diária. Deve demonstrar verdadeira cortesia e polidez cristã. O coração que realmente ama a Jesus ama aqueles por quem Ele morreu. Tão certo como a agulha aponta para o pólo, assim o verdadeiro seguidor de Cristo, com espírito de esforço fervoroso, procurará salvar pecadores pelos quais Cristo deu Sua vida. Trabalhando para a salvação de pecadores, manterá cálido o amor de Cristo no coração e dará àquele amor um crescimento e desenvolvimento apropriados. Sem conhecimento correto da vontade divina, haverá falta de desenvolvimento harmonioso no caráter cristão. T3 466 4 Suplico-lhe, meu irmão, que se familiarize com Deus. "Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor." Salmos 37:23. Anjos ministradores marcam cada passo de nosso progresso. Mas sua vontade, meu irmão, não é submetida a Deus; seus pensamentos não são santos. Você prossegue tropeçando nas trevas, não sabendo onde pôr o pé. O Senhor revela a Sua vontade àqueles que são sinceros e que anseiam ser guiados. A razão de sua ineficiência é que você desistiu da idéia de conhecer e fazer a vontade de Deus; portanto, não conhece positivamente coisa alguma. Embora cego, tenta guiar os cegos. T3 467 1 Ó, em que posição você e muitos outros pastores se acham! Tendo abandonado a Deus, o "Manancial de águas vivas", você e eles têm cavado para si "cisternas rotas, que não retêm as águas". Jeremias 2:13. Suplico-lhe que desperte e se volte ao Senhor com aquele arrependimento profundo e sincero que lhe assegurará Seu perdão e o poder duradouro de Sua força, para que você seja realmente cheio "de toda a plenitude de Deus". Efésios 3:19. Ele desaprova sua conduta, porque você tem sido uma pedra de tropeço para as pessoas. Você tem dependido de obras e justiça próprias para obter sucesso, e não tem conhecimento da vontade divina. T3 467 2 Que o Senhor lhe revele seu verdadeiro caráter e permita que veja suas deficiências reais. Quando você for iluminado pelo Espírito de Deus para compreender isto, terá tal percepção de sua negligência pecaminosa e de uma vida não aproveitada que infundirá terror a seu coração e causar-lhe-á tristeza que levará a arrependimento do qual não precisa arrepender-se. ------------------------Capítulo 38 -- Importância do trabalho T3 468 2 Em 3 de Janeiro de 1875 foram-me mostradas muitas coisas relativas aos grandes e importantes interesses em Battle Creek na obra da Sociedade de Publicações, da escola e do Instituto de Saúde. Se estas instituições fossem corretamente dirigidas, elas promoveriam bastante a causa de Deus na disseminação da verdade e na salvação de almas. Estamos vivendo em meio aos perigos dos últimos dias. Somente consagração a Deus pode capacitar qualquer um de nós para ter uma parte na solene e importante obra final para este tempo. Há bem poucos homens totalmente desprendidos para preencher posições de responsabilidade, poucos que se entregaram sem reservas a Deus para ouvir Sua voz e buscar Sua glória. Há bem poucos que dariam, se preciso, sua vida para promover a causa de Deus. No entanto, é justamente dedicação como esta que Deus pede. T3 468 3 As pessoas se enganam pensando que estão servindo a Deus quando estão servindo a si mesmas e fazendo dos interesses da causa e obra de Deus uma questão secundária. Seu coração não é consagrado. O Senhor não Se compraz nos serviços desta classe. De tempos em tempos, à medida que a causa tem progredido, Ele tem na Sua providência designado homens para preencher posições em Battle Creek. Estes homens poderiam ter assumido cargos importantes se tivessem se consagrado a Deus e devotado suas energias à Sua obra. Tais homens escolhidos por Deus precisam exatamente da disciplina que a dedicação à Sua obra lhes daria. Ele os honraria unindo-os a Si mesmo e dando-lhes Seu Espírito Santo para qualificá-los para as responsabilidades que foram chamados a desempenhar. Eles não podiam obter aquela amplitude de experiência e conhecimento da vontade divina a menos que estivessem em posição de assumir obrigações e responsabilidades. T3 469 1 Ninguém deve se enganar pensando que, ao ligar-se à obra de Deus em Battle Creek, terá menos cuidados, trabalho menos árduo e menos provações. Satanás está mais ativo onde mais se faz para promover a verdade e salvar almas. Ele compreende a natureza humana, e não deixará estes homens sozinhos se há qualquer possibilidade deles se tornarem mais semelhantes a Cristo e obreiros mais úteis na causa de Deus. Satanás faz seus planos para forçar suas tentações sobre os homens a quem Deus indicou que aceitaria que participassem de Sua obra. É a intenção de Satanás saber como melhor fazer guerra contra os propósitos de Deus e derrotá-los. Ele está a par tanto dos pontos fracos como dos fortes no caráter dos homens. E de modo sutil ele atua com "todo engano da injustiça" (2 Tessalonicenses 2:10) para frustrar os propósitos de Deus, atacando os pontos fracos de seu caráter; e quando isto é feito, o caminho está preparado para que ele ataque e vença os pontos fortes. Ele obtém o controle da mente e cega o entendimento. Leva homens que estão confusos e derrotados por suas artimanhas a terem confiança em si mesmos e auto-suficiência no exato momento em que estão mais fracos em força moral. Eles enganam a si mesmos e pensam que estão em boa condição espiritual. T3 469 2 O inimigo lançará mão de tudo que puder usar a seu favor para destruir almas. Testemunhos têm sido apresentados a favor de indivíduos que ocupam posições importantes. Eles começam bem a desempenhar responsabilidades e a fazer sua parte na obra de Deus. Mas Satanás os persegue com suas tentações, e eles são afinal vencidos. Quando outros contemplam sua conduta errada, Satanás sugere à mente deles que deve haver um erro nos testemunhos dados a tais pessoas, de outro modo estes homens não se teriam demonstrado indignos de ter uma parte na obra de Deus. T3 469 3 Isto é justamente o que Satanás planejou que fosse. Ele lançaria dúvida quanto à luz que Deus tinha dado. Estes homens poderiam ter resistido às tentações de Satanás se tivessem sido vigilantes e cautelosos, sentindo sua insuficiência própria e confiando no nome e no poder de Jesus para permanecerem fiéis ao dever. Mas deveria se ter em mente que estas condições estiveram sempre ligadas com o encorajamento dado a estes homens, de que se eles mantivessem um espírito desinteressado, se sentissem sua fraqueza e dependessem de Deus, não confiando em sua sabedoria e em seu discernimento, mas fazendo dEle sua força, eles poderiam ser uma grande bênção em Sua causa e obra. Mas Satanás intrometeu-se com suas tentações e triunfou quase todas as vezes. Ele arranjou as circunstâncias de tal maneira para atacar os pontos fracos no caráter destes homens, e eles foram vencidos. Quão vergonhosamente prejudicaram eles a causa de Deus! Quão completamente se separaram dEle seguindo o próprio coração corrupto, sua própria alma pode responder! Mas o dia de Deus mostrará a verdadeira causa de todos os nossos desapontamentos com os homens. A falta não está em Deus. Ele lhes deu promessas animadoras sob condições, mas eles não cumpriram as condições. Confiaram na própria força e caíram em tentação. T3 470 1 O que pode ser dito das pessoas sob certas circunstâncias não se poderá dizer em outras. Os homens são fracos em poder moral e tão supremamente egoístas, tão auto-suficientes e tão facilmente inchados de presunção, que Deus não pode trabalhar com eles, e são deixados a se mover como cegos e a manifestar tão grande fraqueza e loucura que muitos se admiram que tais indivíduos tivessem jamais sido aceitos e reconhecidos como dignos de ter qualquer ligação com a obra de Deus. Isto é justamente o que Satanás planejara. Este foi seu objetivo desde o tempo em que a princípio os seduziu a censurar a causa de Deus e a lançar dúvidas sobre os Testemunhos. Tivessem eles ficado onde sua influência não fosse especialmente sentida sobre a causa de Deus, Satanás não os teria assediado tão ferozmente; pois não poderia ter realizado seu propósito, usando-os como seus instrumentos para fazer uma obra especial. T3 471 1 No progresso da obra de Deus, aquilo que pode ser dito verazmente de indivíduos em certa ocasião pode não ser dito corretamente a seu respeito em outra ocasião. A razão disto é que em determinado mês eles podem ter-se conduzido inocentemente, vivendo à altura da luz que tinham, ao passo que o mês seguinte foi longo o suficiente para que eles fossem derrotados pelas artimanhas de Satanás e, mediante autoconfiança, caíssem em pecados graves e se tornassem desqualificados para a obra de Deus. T3 471 2 A mente humana está tão sujeita à mudança pelas tentações sutis de Satanás que não é a melhor coisa para meu marido ou eu mesma tomar a responsabilidade de expressar nossas opiniões sobre as qualificações de pessoas para preencher diferentes posições, porque ficamos responsáveis pela conduta que tais indivíduos sigam. Não obstante, se tivessem mantido a humildade e a firme confiança em Deus que possuíam quando foram recomendados para assumir responsabilidades, poderiam ter sido as pessoas adequadas para o lugar. Tais pessoas mudam, mas não percebem a mudança em si mesmas. Caem sob tentação, são desviadas de sua constância e cortam sua ligação com Deus. São então controladas pelo inimigo e fazem e dizem coisas que desonram a Deus e desacreditam Sua causa. Então Satanás exulta em ver nossos irmãos e irmãs olhando para nós com dúvida porque demos a estas pessoas encorajamento e influência. ------------------------Capítulo 39 -- O estado do mundo T3 471 3 Foi-me mostrado o estado do mundo, que ele estava enchendo rapidamente a taça de sua iniqüidade. Violência e crime de toda sorte estão enchendo o nosso mundo, e Satanás está empregando todo meio para tornar populares o crime e o vício aviltante. Os jovens que andam pelas ruas se acham rodeados de propagandas e de noticiários de crimes e pecado, apresentados em novela, ou a serem representados em algum teatro. Assim, sua mente é educada na familiaridade com o pecado. O caminho seguido pelas pessoas baixas e vis são-lhes constantemente apresentados nos jornais diários, e tudo quanto possa despertar curiosidade e paixões sensuais lhes é apresentado em histórias emocionantes e próprias para incitar. T3 472 1 A literatura que procede de cérebros corrompidos envenena a mente de milhares em nosso mundo. O pecado não parece excessivamente maligno. Ouvem e lêem tanto acerca de degradantes crimes e violências que a consciência outrora sensível, que disso recuaria horrorizada, torna-se tão cauterizada que, com ávido interesse, se pode demorar no que é baixo e vil em palavras e atos humanos. T3 472 2 "Como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem." Lucas 17:26. Deus terá um povo "zeloso de boas obras" (Tito 2:14), que permanecerá firme entre as corrupções desta época degenerada. Haverá um povo que se apegará tão firmemente à força divina que estará à prova de toda tentação. As más sugestões das provocantes propagandas talvez lhes procurem falar aos sentidos e corromper a mente; todavia, achar-se-ão tão unidos a Deus e aos anjos que serão como os que não vêem e não ouvem. Têm a fazer uma obra que ninguém poderá fazer por eles, a qual é combater o bom combate da fé e lançar mão da vida eterna. Não confiarão em si mesmos nem serão presunçosos. Conhecendo a própria fraqueza, unirão sua ignorância à sabedoria de Cristo, sua fraqueza ao Seu poder. T3 472 3 Os jovens possuirão tão firmes princípios, que as mais fortes tentações de Satanás não os afastarão de sua fidelidade. Samuel era uma criança rodeada das influências mais corruptoras. Via e ouvia coisas que lhe entristeciam o coração. Os filhos de Eli, que ministravam nas cerimônias sagradas, eram regidos por Satanás. Esses homens contaminavam toda a atmosfera que os cercava. Dia a dia homens e mulheres eram fascinados pelo pecado e a injustiça; no entanto, Samuel vivia incontaminado. Imaculadas eram suas vestes de caráter. Não tomava parte nem sentia o menor prazer nos pecados que enchiam todo o Israel com terríveis rumores. Samuel amava a Deus; mantinha o coração em tão íntima comunhão com o Céu que um anjo foi enviado para falar com ele a respeito dos pecados dos filhos de Eli, os quais estavam corrompendo Israel. T3 473 1 O apetite e as paixões estão vencendo milhares de professos seguidores de Cristo. Ficam-lhes os sentidos tão embotados em razão da familiaridade com o pecado, que não o aborrecem, mas o consideram atrativo. Acha-se às portas o fim de todas as coisas. Deus não suportará mais por muito tempo os crimes e a desprezível iniqüidade dos filhos dos homens. Seus crimes chegaram na verdade até aos Céus, e serão em breve retribuídos por terríveis pragas de Deus sobre a Terra. Eles beberão o cálice da ira de Deus, não misturado com misericórdia. T3 473 2 Tenho visto haver perigo de que os próprios que professam ser filhos de Deus se corrompam. A licenciosidade está acorrentando homens e mulheres em cativeiro. Parecem estar cheios de si e fracos para resistir e vencer o apetite e a paixão. Em Deus há poder; nEle há força. Caso lancem mão disso, o poder vivificante de Jesus estimulará todos aqueles que professam o nome de Cristo. Achamo-nos circundados de perigos; e só estamos seguros quando sentimos a própria fraqueza e nos apegamos a nosso poderoso Libertador com a mão da fé. Vivemos em um tempo tremendo. Não podemos deixar de vigiar e orar nem por um momento. Nosso desamparado ser precisa apoiar-se em Jesus, nosso compassivo Redentor. T3 473 3 Foi-me mostrada a grandeza e importância da obra que está diante de nós. Poucos, no entanto, compreendem o verdadeiro estado das coisas. Todos quantos se acham adormecidos e não podem perceber qualquer necessidade de estar vigilantes e alertas serão vencidos. Estão surgindo jovens para empenhar-se na obra de Deus, alguns dos quais mal têm qualquer percepção da santidade e responsabilidade dessa obra. Pouca experiência têm no exercício da fé, na sincera fome de alma pelo Espírito de Deus, o que sempre produz retorno. Alguns homens de boas aptidões, os quais poderiam ocupar posições importantes, não sabem de que espírito são. Vão vivendo de maneira jovial, tão naturalmente como as águas correm morro abaixo. Falam tolices, brincam com as moças, ao mesmo tempo que estão ouvindo quase diariamente as verdades mais solenes e comoventes. Esses homens têm uma religião mental, mas o coração não está santificado pelas verdades que ouvem. Esses nunca podem conduzir outros ao Manancial de águas vivas, enquanto delas não beberem eles próprios. T3 474 1 Não é tempo agora para leviandade, vaidade ou frivolidade. Logo encerrar-se-ão as cenas da história terrestre. As mentes abandonadas ao sabor dos pensamentos precisam ser mudadas. Diz o apóstolo Pedro: "Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:13-16. T3 474 2 Os pensamentos vagos precisam ser agrupados e concentrados em Deus. Os próprios pensamentos devem estar em sujeição à vontade de Deus. Não se devem fazer nem esperar elogios; pois isto tem a tendência de fomentar a confiança própria em vez de promover a humildade; de corromper em lugar de purificar. Os homens realmente habilitados, e que sentem ter uma parte a desempenhar em relação com a obra de Deus, sentirão o peso da santidade da obra, tal como uma carroça cheia de molhos. Agora, eis o tempo de fazer os mais fervorosos esforços para vencer os sentimentos naturais do coração carnal. ------------------------Capítulo 40 -- O estado da igreja T3 474 3 Há entre o povo de Deus grande necessidade de reforma. O atual estado da igreja nos leva à pergunta: É isto uma fiel representação dAquele que deu a vida por nós? São estes os seguidores de Cristo, e os irmãos dos que não reputaram sua vida por preciosa? Os que atingem a norma bíblica, a descrição bíblica dos seguidores de Cristo, serão na verdade bem poucos. Havendo abandonado a Deus, o Manancial de águas vivas, cavaram para si mesmos cisternas, "cisternas rotas, que não retém as águas". Jeremias 2:13. Disse o anjo: "Falta de amor e de fé, eis os grandes pecados de que o povo de Deus se acha agora culpado." A falta de fé conduz à negligência, ao amor-próprio e do mundo. Os que se apartam de Deus e caem em tentação condescendem com vícios grosseiros; pois o coração carnal leva a grande impiedade. E este estado de coisas se encontra entre muitos dentre o professo povo de Deus. Enquanto pela profissão O servem, estão em todos os intentos e desígnios corrompendo seus caminhos diante dEle. Muitos satisfazem o apetite e a paixão, não obstante a clara luz da verdade apontar o perigo, e erguer a voz de advertência: Acautelem-se, refreiem-se, renunciem. "O salário do pecado é a morte." Romanos 6:23. Embora o exemplo dos que naufragaram na fé se erga como farol advertindo os outros para não prosseguirem no mesmo rumo, muitos ainda se precipitam loucamente para diante. Satanás domina-lhes a mente, e parece controlar-lhes o corpo. T3 475 1 Oh, quantos se lisonjeiam de bondade e justiça, quando a verdadeira luz de Deus revela que toda a sua vida eles têm vivido unicamente para agradarem a si mesmos! Toda a sua conduta é aborrecível a Deus. Quantos estão vivos sem a lei! Nas espessas trevas em que se encontram, olham-se complacentemente; revele-se-lhes, porém, a lei de Deus à consciência, como aconteceu com Paulo, e verão estar vendidos sob o pecado, e ter de morrer para a mente carnal. O próprio eu precisa ser morto. T3 475 2 Quão tristes e terríveis os erros que muitos estão cometendo! Estão edificando sobre a areia, mas lisonjeiam-se de que se acham bem firmados na Rocha eterna. Muitos que professam piedade vão se precipitando para a frente tão descuidosamente, e tão imprudentes para com o perigo, como se não houvesse juízo futuro. Aguarda-os terrível retribuição, e todavia são dominados pelo impulso e a paixão grosseira; estão preenchendo um negro registro de vida para o juízo. Ergo a voz em advertência a todo aquele que professa o nome de Cristo, para que se aparte de toda iniqüidade. Purifiquem a "alma na obediência à verdade." 1 Pedro 1:22. "Purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. Vocês, a quem isto se aplica, sabem o que quero dizer. Mesmo vocês, que corromperam seus caminhos diante do Senhor, partilhando da iniqüidade que abundantemente existe, e escureceram o coração com o pecado, Jesus os convida ainda a se desviarem de seu rumo, a lançar mão de Sua força, e nEle encontrar aquela paz, aquele poder e graça que os farão mais do que vencedores em Seu nome. T3 476 1 As corrupções deste século degenerado têm manchado muitos corações que professamente estão servindo a Deus. Mesmo agora, no entanto, ainda não é demasiado tarde para se endireitarem os erros, para o sangue de um Salvador crucificado e ressurreto fazer expiação por vocês, caso se arrependam e sintam a necessidade que têm de perdão. Precisamos agora vigiar e orar como nunca antes, para não cairmos sob o poder da tentação e deixarmos o exemplo de uma vida que seja uma lamentável ruína. Como um povo, precisamos não nos tornar descuidosos e olhar o pecado em indiferença. Importa que o acampamento seja purificado. Todos quantos professam o nome de Cristo necessitam vigiar e orar, e guardar as entradas do coração; pois Satanás está em atividade para corromper e destruir, uma vez que lhe seja dada a mínima vantagem. T3 476 2 Meus irmãos, Deus os convida, como seguidores Seus, a que andem na luz. Importa que estejam alertas. Há pecado entre nós, e não é considerado excessivamente pecaminoso. Os sentidos de muitos se acham entorpecidos pela condescendência com o apetite e pela familiaridade com o pecado. Precisamos avançar para mais perto do Céu. Podemos crescer na graça e no conhecimento da verdade. Andar na luz, seguir no caminho dos mandamentos de Deus, não dá a idéia de podermos ficar parados e nada fazer. Precisamos avançar. T3 476 3 Há grande fraqueza no amor-próprio, na própria exaltação e no orgulho; na humildade, porém, há grande força. Não mantemos nossa verdadeira dignidade quando pensamos mais em nós mesmos, mas quando Deus Se encontra em todos os nossos pensamentos, e temos o coração ardendo em amor por nosso Redentor e nosso semelhante. A simplicidade de caráter e a humildade de coração produzirão felicidade, ao passo que a presunção ocasionará descontentamento, murmuração e contínuas decepções. É aprender a pensar menos em nós e mais em tornar outros felizes que nos trará força divina. T3 477 1 Em nossa separação de Deus, nosso orgulho, nossas trevas, procuramos constantemente elevar-nos, e esquecemos de que a humildade de espírito é poder. O poder de nosso Salvador não residia em uma vigorosa seqüência de palavras incisivas, que penetrassem no próprio coração; era Sua brandura e as maneiras simples e despretensiosas que O tornavam um conquistador de corações. O orgulho e a pretensão, quando comparados com a mansidão e a humildade, na verdade não passam de fraqueza. Somos convidados a aprender dAquele que é "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29); assim, experimentaremos aquele descanso e paz tão desejados. ------------------------Capítulo 41 -- O amor do mundo T3 477 2 A tentação apresentada por Satanás a nosso Salvador no cimo da elevada montanha é uma das mais poderosas que a humanidade tem de enfrentar. A Cristo foram oferecidos por Satanás os reinos deste mundo com sua glória, sob a condição de que lhe desse a honra devida a um superior. Nosso Salvador sentiu a força dessa tentação; enfrentou-a, porém, em nosso favor, e saiu vitorioso. Ele não teria sido testado nesse ponto se o ser humano não tivesse de ser provado pela mesma tentação. Em Sua resistência, deu-nos o exemplo do caminho que devemos seguir quando o inimigo nos ataca individualmente, a fim de desviar-nos da integridade. T3 477 3 Homem algum pode ser seguidor de Cristo e pôr ainda nas coisas deste mundo as afeições. Em sua primeira epístola, João escreve: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. Nosso Redentor, que enfrentou esta tentação de Satanás em toda a sua força, conhece o perigo em que está o homem de ceder à tentação de amar o mundo. T3 477 4 Cristo identificou-Se com a humanidade suportando a prova nesse ponto, e vencendo em favor do homem. Com advertências protegeu Ele os próprios pontos em que o inimigo seria mais bem-sucedido ao tentar a criatura. Sabia que Satanás obteria a vitória sobre o homem, a menos que este se guardasse especialmente no sentido do apetite e do amor às riquezas e honras mundanas. Diz Ele: "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:19-21, 24. T3 478 1 Cristo nos apresenta aí dois senhores, Deus e o mundo, e mostra claramente que nos é simplesmente impossível servir a ambos. Se nosso interesse e amor pelo mundo predominam, não apreciamos as coisas que, acima de todas as outras, são dignas de nossa atenção. O amor do mundo excluirá o amor de Deus, fazendo com que nossos mais altos interesses sejam subordinados às considerações mundanas. Assim o Senhor não ocupa em nossa afeição e devoção o exaltado lugar tomado pelas coisas do mundo. T3 478 2 Nossas obras manifestarão a extensão exata ocupada pelos tesouros terrestres em nossas afeições. Devota-se o máximo cuidado, ansiedade e esforço aos interesses mundanos, ao passo que as considerações eternas têm lugar secundário. Nisto Satanás recebe dos homens aquela homenagem que reivindicou de Cristo, sem o conseguir. É o amor egoísta do mundo que corrompe a fé dos professos seguidores de Cristo, tornando-os fracos em força moral. Quanto mais amam suas riquezas terrenas, tanto mais longe se afastam de Deus, e tanto menos participam de Sua natureza divina, a qual lhes comunicaria a percepção das corruptoras influências do mundo e dos perigos a que se acham expostos. T3 479 3 Com suas tentações, Satanás tem o intuito de tornar o mundo muito atrativo. Por meio do amor às riquezas e honras mundanas, exerce um fascinante poder para atrair as afeições até do professo mundo cristão. Grande parte dos cristãos professos farão todo sacrifício para adquirir riquezas; e quanto mais bem-sucedidos forem nesse objetivo, menos será o amor que consagram à preciosa verdade, e menor o interesse por seu progresso. Perdem o amor a Deus, e procedem como loucos. Quanto mais prosperarem na aquisição das riquezas, tanto mais pobres se sentirão por não terem mais, e menos empregarão na causa de Deus. T3 479 1 As obras desses homens possuídos de insano amor às riquezas mostram que não lhes é possível servir a dois senhores, Deus e Mamom. O dinheiro, eis seu deus. Ao poder do mesmo rendem eles homenagem. Para todos os efeitos, servem o mundo. Sua honra, que lhes é o direito de primogenitura, é sacrificada pelo ganho deste mundo. Esse poder dominante lhes controla a mente, e transgredirão a lei de Deus a fim de servir aos interesses pessoais e aumentar o tesouro terrestre. T3 479 2 Muitos podem professar a religião de Cristo, sem amar nem dar ouvidos à letra ou aos princípios de Seus ensinos. Dão o melhor de suas energias aos empreendimentos mundanos, curvando-se diante de Mamom. É alarmante ver tantos iludidos por Satanás, tendo a imaginação estimulada por suas brilhantes perspectivas de lucro mundano. São absorvidos pela perspectiva de felicidade perfeita se conseguirem seu objetivo de adquirirem honras e fortuna neste mundo. Satanás os tenta com o fascinante engano: "Tudo isto te darei" (Mateus 4:9), todo esse poder, toda essa riqueza, com a qual podes fazer grande soma de bem. Uma vez alcançado seu objetivo, no entanto, não têm comunhão com o abnegado Redentor que os tornaria participantes da natureza divina. Apegam-se a seus tesouros terrestres, e desprezam a abnegação e o sacrifício exigidos por Cristo. Não têm nenhum desejo de separar-se dos queridos tesouros terrestres em que puseram o coração. Mudaram de senhor; aceitaram Mamom em lugar de Cristo. Mamom é seu deus, e a Mamom servem. T3 479 3 Satanás conseguiu para si a adoração desses corações iludidos por meio do amor das riquezas. Tão imperceptível foi a mudança, e tão enganoso é o poder satânico, tão astuto, que se acham conformados com o mundo e não percebem haverem-se separado de Cristo, não sendo mais servos Seus exceto no nome. T3 480 1 Satanás trata com os homens mais cautelosamente do que o fez com Cristo no deserto da tentação, pois está apercebido por haver ali perdido a causa. É um inimigo vencido. Não vem ao homem diretamente, exigindo homenagem mediante um culto exterior. Pede-lhes simplesmente que se afeiçoem às boas coisas do mundo. Se for bem sucedido em atrair-lhes assim mente e afeições, as atrações celestes ficam eclipsadas. Tudo quanto ele quer dos homens é que lhe caiam sob o enganoso poder das tentações, para amarem o mundo, amarem a dignidade e a posição, amarem o dinheiro e afeiçoarem-se aos tesouros deste mundo. Isto feito, consegue tudo quanto pretendera de Cristo. T3 480 2 O exemplo de Cristo nos mostra que nossa única esperança de vitória se acha na contínua resistência aos ataques de Satanás. Aquele que triunfou sobre o adversário das almas no conflito contra a tentação compreende o poder de Satanás sobre a humanidade, e derrotou-o em nosso favor. Como vencedor, deu-nos o benefício de Sua vitória, para que em nossos esforços para resistir às tentações de Satanás unamos nossa fraqueza à Sua força, nossa indignidade a Seus méritos. E, amparados em meio da forte tentação por Sua infalível força, é-nos dado resistir em Seu todo-poderoso nome e vencer como Ele venceu. T3 480 3 Foi mediante inexprimível sofrimento que nosso Redentor nos pôs ao alcance a redenção. Neste mundo Ele foi ignorado e desonrado, para que, por meio de Sua maravilhosa condescendência e humilhação, pudesse exaltar o homem para receber as honras celestiais e as alegrias eternas em Seu reino. Murmurará o homem caído porque o Céu só pode ser alcançado por meio de conflito, humilhação e fadiga? T3 480 4 A indagação de muito coração orgulhoso é: Por que preciso andar em humilhação e penitência antes de poder ter a certeza de minha aceitação por Deus, e alcançar a recompensa eterna? Por que não é mais fácil o caminho para o Céu, mais agradável e atrativo? Remetemos todos esses duvidosos e murmuradores a nosso grande Exemplo, a sofrer sob o fardo da culpa do homem, e padecendo as mais vivas angústias da fome. Era inocente e, mais que isto, era o Príncipe do Céu; mas em favor do homem fez-Se pecado por ele. "Foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas Suas pisaduras, fomos sarados." Isaías 53:5. T3 481 1 Cristo sacrificou tudo pelo homem, a fim de tornar-lhe possível conseguir o Céu. Cabe agora ao homem caído mostrar o que sacrificará de sua parte por amor de Cristo, de modo a ganhar a glória imortal. Os que têm um justo senso da magnitude da salvação e de seu custo jamais murmurarão por terem de semear em lágrimas, e que abnegação e lutas são a sorte do cristão nesta vida. As condições de salvação para o ser humano são ordenadas por Deus. A humilhação do próprio eu e o levar a cruz, eis as providências tomadas para que o pecador arrependido venha a encontrar conforto e paz. O pensamento de que Jesus Se submeteu a humilhação e sacrifício que o homem jamais será chamado a sofrer deve silenciar toda murmuração. A mais doce alegria sobrevém ao ser humano mediante sincero arrependimento para com Deus pela transgressão de Sua lei e fé em Cristo como Redentor e Advogado do pecador. T3 481 2 Com grande custo trabalham os homens a fim de garantir os tesouros desta vida. Sofrem labuta e suportam dificuldades e privações para obterem alguma vantagem mundana. Por que seria o pecador menos voluntário para sofrer, resistir e sacrificar no intuito de adquirir um tesouro imperecível, uma vida que se prolonga ao lado da existência de Deus, uma coroa de glória perene, imperecível? Os infinitos tesouros do Céu, a herança que ultrapassa em valor a toda avaliação e é um eterno peso de glória, precisam ser alcançados por nós custe o que custar. Não nos devemos queixar por ser preciso abnegação; pois o Senhor da vida e da glória a exerceu primeiro. Não evitemos os sofrimentos, pois a Majestade do Céu os aceitou em benefício dos pecadores. O sacrifício da comodidade e da conveniência não deve suscitar pensamento de murmuração, uma vez que o Redentor do mundo tudo isso aceitou em nosso favor. Fazendo a mais elevada estimativa de toda nossa abnegação, privações e sacrifícios, isto nos custa, em todos os sentidos, incomparavelmente menos do que custou ao Príncipe da vida. Qualquer sacrifício que possamos fazer perde o significado quando comparado com o que Cristo fez por nós. ------------------------Capítulo 42 -- Presunção T3 482 1 Alguns há que têm espírito irrequieto, que eles classificam de coragem e bravura. Colocam-se desnecessariamente em cenas de perigo, expondo-se assim a tentações que seria preciso um milagre de Deus para delas saírem a salvo e incontaminados. A tentação de Satanás ao Salvador do mundo para que Se lançasse do pináculo do templo foi firmemente enfrentada e resistida. Satanás citou uma promessa de Deus como garantia de que Cristo poderia fazer isso a salvo, no poder daquela promessa. Cristo enfrentou essa tentação com a própria Escritura: "Está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus." Mateus 4:7. O único meio seguro para os cristãos é repelir o inimigo com a Palavra de Deus. Satanás instiga os homens a irem a lugares aonde Deus não requer que vão, e apresenta as Escrituras para justificar as próprias sugestões. T3 482 2 As preciosas promessas de Deus não são dadas para apoiar os seres humanos em uma conduta presunçosa, ou para que eles nelas confiem quando desnecessariamente se precipitam no perigo. O Senhor exige que procedamos com humilde confiança em Sua providência. "Não é... do homem que caminha, o dirigir os seus passos." Jeremias 10:23. Em Deus está nossa prosperidade e nossa vida. Coisa alguma se pode fazer prosperamente sem a permissão e a bênção de Deus. Ele pode pôr a mão para prosperar e abençoar, ou voltá-la contra nós. "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará." Salmos 37:5. Exige-se de nós, como filhos de Deus, que mantenhamos coerente caráter cristão. Cumpre-nos exercer prudência, cautela e humildade, e agir cautelosamente para com os que estão de fora. Todavia, não devemos, em caso algum, transigir com princípios. T3 482 3 Nossa única segurança é não dar lugar ao diabo; pois suas sugestões e intuitos são sempre para nos prejudicar e impedir-nos de nos firmar em Deus. Transforma-se em anjo de pureza a fim de poder, por meio de enganadoras tentações, introduzir por tal maneira seus artifícios que os não percebamos. Quanto mais cedermos, tanto mais fortes serão seus enganos sobre nós. Não é seguro entrar em debate ou negociar com ele. Pois se lhe dermos qualquer vantagem, exigirá mais. Nossa única segurança é repelir firmemente sua primeira tentativa para nos levar à presunção. Mediante os méritos de Cristo, o Senhor nos deu suficiente graça para resistir a Satanás, e ser mais que vencedores. Resistência é êxito. "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." Tiago 4:7. A resistência deve ser firme e resoluta. Perdemos tudo quanto ganhamos se resistimos hoje e cedemos amanhã. T3 483 1 O pecado deste século é a desconsideração para com as expressas ordens de Deus. Muito grande é o poder de influência na direção errada. Eva tinha tudo quanto lhe era necessário. Coisa alguma faltava para torná-la feliz; o apetite intemperante, porém, desejou o fruto da única árvore proibida por Deus. Ela não tinha necessidade alguma do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, mas permitiu que o apetite e a curiosidade lhe dominassem a razão. Estava perfeitamente feliz no Éden, ao lado do esposo; como as desassossegadas Evas modernas, no entanto, lisonjeou-se de haver uma esfera mais elevada do que a que o Senhor lhe designara. Tentando alçar-se acima de sua posição original, caiu muito abaixo dela. Isto será seguramente o resultado quanto às Evas de nossos dias, caso deixem de empreender satisfeitas os deveres de sua vida diária segundo o plano de Deus. T3 483 2 Há para a mulher uma obra mais importante ainda e mais enobrecedora que os deveres do rei em seu trono. Cabe-lhes moldar o espírito de seus filhos e afeiçoar-lhes o caráter, de modo que venham a ser úteis neste mundo e a tornarem-se filhos e filhas de Deus. Seu tempo deve ser considerado demasiado precioso para ser gasto na sala de baile ou em desnecessária ocupação. Há suficiente trabalho necessário e importante neste mundo cheio de carência e sofrimentos, sem que se gastem preciosos momentos para ornamentação ou ostentações. As filhas do celeste Rei, os membros da família real, sentirão o peso da responsabilidade quanto a atingirem vida mais elevada, para que sejam postas em mais íntima comunhão com o Céu e trabalhem em uníssono com o Redentor do mundo. Os que se acham empenhados nessa obra não se satisfarão com as modas e tolices que absorvem a mente e as afeições das mulheres nestes últimos dias. Caso sejam realmente filhas de Deus, serão participantes da natureza divina. Serão movidas pela mais profunda piedade, como o foi seu divino Redentor, ao contemplarem as corruptoras influências existentes na sociedade. Compartilharão dos sentimentos de Cristo e, em sua esfera, segundo as aptidões e oportunidades de que dispuserem, trabalharão para salvar as almas que perecem, da mesma maneira que Cristo, em Sua elevada esfera, trabalhou em benefício do homem. T3 484 1 A negligência por parte da mulher em seguir o plano de Deus ao criá-la, o esforço de alcançar importantes posições para as quais não se habilitou, deixa vago o lugar que ela podia preencher de maneira aceitável. Saindo de sua esfera, perde a verdadeira dignidade e nobreza feminis. Ao criar Eva, Deus pretendia que ela não fosse nem inferior nem superior ao homem, mas em todas as coisas lhe fosse igual. O santo par não devia ter nenhum interesse independente um do outro; e não obstante cada um possuía individualidade de pensamento e de ação. Depois do pecado de Eva, porém, como ela houvesse sido a primeira na transgressão, o Senhor lhe disse que Adão teria domínio sobre ela. Devia ser sujeita a seu marido, o que constituía parte da maldição. Em muitos casos, essa maldição tem tornado a sorte da mulher demasiado dolorosa, fazendo de sua vida um fardo. O homem tem abusado em muitos aspectos da superioridade que Deus lhe deu, exercendo poder arbitrário. A sabedoria infinita idealizou o plano da redenção, pelo qual a humanidade tem segundo tempo de graça mediante outra prova. T3 484 2 Satanás se serve dos homens como instrumentos para levar à presunção aqueles que amam a Deus; isto se verifica especialmente quanto aos que são iludidos pelo espiritualismo. Os espiritualistas, em geral, não aceitam Cristo como o Filho de Deus, e por sua infidelidade induzem muitas pessoas a pecados de presunção. Pretendem mesmo superioridade sobre Cristo, como fez Satanás ao contender com o Príncipe da vida. Espiritualistas cujo coração se acha entenebrecido por pecados de caráter revoltante e cuja consciência está cauterizada ousam tomar nos lábios poluídos o imaculado nome do Filho de Deus, e unem de maneira blasfema Seu tão excelso nome com a vileza que lhes assinala a própria natureza corrompida. T3 485 1 Homens que introduzem essas detestáveis heresias desafiarão aqueles que ensinam a Palavra de Deus a entrarem em debate com eles, e alguns dos que ensinam a verdade não têm tido coragem de resistir a um desafio dessa classe constituída por elementos mencionados na Palavra de Deus. Alguns de nossos pastores não têm tido a coragem moral de dizer a esses homens: Deus nos advertiu em Sua Palavra a seu respeito. Deu-nos fiel descrição de seu caráter e das heresias que defendem. Alguns de nossos pastores, para não dar a essa classe ocasião de triunfar ou de acusá-los de covardia, enfrentaram-nos em franco debate. Ao discutir com espiritualistas, porém, não se defrontam meramente com seres humanos, mas com Satanás e seus anjos. Põem-se em comunicação com os poderes das trevas, e animam os anjos maus que os rodeiam. T3 485 2 Os espiritualistas desejam dar publicidade a suas heresias; e os pastores que defendem a verdade bíblica os ajudam a fazer isso quando consentem em empenhar-se em debate com eles. Estes aproveitam as oportunidades para expor suas heresias diante do povo e, em cada debate com eles, alguns serão enganados. O melhor caminho a seguirmos a seu respeito é evitá-los. ------------------------Capítulo 43 -- O poder do apetite T3 485 3 Uma das mais vigorosas tentações que o homem tem de enfrentar é quanto ao apetite. Existe entre a mente e o corpo misteriosa e admirável relação. Um reage sobre o outro. Conservar o corpo em condição saudável a fim de desenvolver-lhe a resistência, para que cada parte do organismo funcione harmoniosamente, eis o que deve constituir o primeiro estudo em nossa vida. Negligenciar o corpo é negligenciar a mente. Não pode ser para glória de Deus terem Seus filhos corpo enfermo ou mente atrofiada. Condescender com o paladar à custa da saúde é ímpio abuso dos sentidos. Os que cometem qualquer espécie de intemperança, seja no comer ou no beber, desperdiçam as energias físicas e enfraquecem a força moral. Esses experimentarão a retribuição que acompanha a transgressão da lei física. T3 486 1 O Redentor do mundo sabia que a condescendência com o apetite traria debilidade física, enfraquecendo órgãos perceptivos de maneira que as coisas sagradas e eternas não fossem discernidas. Cristo sabia que o mundo estava entregue à glutonaria, e que isto perverteria as faculdades morais. Se a condescendência com o apetite era tão forte sobre a humanidade que, para quebrar-lhe o poder, foi exigido do divino Filho de Deus que jejuasse por cerca de seis semanas, em favor do homem, que obra se acha diante do cristão a fim de ele poder vencer da maneira como Cristo venceu! A força da tentação para satisfazer o apetite pervertido só pode ser avaliada em face da inexprimível agonia de Cristo naquele prolongado jejum no deserto. T3 486 2 Cristo sabia que, para com êxito levar avante o plano da salvação, precisava começar a obra redentora do homem exatamente onde começara a ruína. Adão caiu pela condescendência com o apetite. Para que no homem ficassem gravadas suas obrigações quanto a obedecer à lei de Deus, Cristo começou Sua obra de redenção reformando os hábitos físicos do próprio homem. O declínio da virtude e a degeneração do ser humano são principalmente atribuíveis à satisfação do apetite pervertido. T3 486 3 Pesa sobre todos, em especial sobre os pastores que ensinam a verdade, solene responsabilidade de vencerem o apetite. Muito maior seria sua utilidade caso controlassem os apetites e paixões; e mais vigorosas seriam suas faculdades mentais e morais se aliassem o trabalho físico ao exercício mental. Tendo hábitos estritamente temperantes, e com a combinação do trabalho muscular e da mente, poderiam realizar soma incomparavelmente maior de trabalho e preservar a clareza mental. Seguissem eles esse caminho, seus pensamentos e palavras fluiriam mais livremente, haveria mais energia em seus exercícios religiosos, e mais assinaladas seriam as impressões causadas por eles em seus ouvintes. T3 487 1 A intemperança no comer, mesmo da comida saudável, exercerá debilitante influência sobre o organismo, embotando as mais vivas e santas emoções. É essencial a estrita temperança em comer e beber, tanto para a conservação da saúde como para o vigoroso funcionamento de todo o organismo. Hábitos de estrita temperança aliados com o exercício muscular e mental preservarão o vigor físico e mental, e comunicarão poder de resistência aos que se empenham no ministério, aos redatores e a todos cujos hábitos são sedentários. Com toda a nossa profissão de reforma de saúde, nós, como povo, comemos muito. A condescendência com o apetite é a maior causa de debilidade física e mental, e está na base da fraqueza que se nota por toda parte. T3 487 2 A intemperança começa à nossa mesa, no uso de alimentos inadequados. Depois de algum tempo, devido à continuada condescendência com o apetite, os órgãos digestivos se enfraquecem, e o alimento ingerido não satisfaz. Estabelece-se um estado doentio, experimentando-se intenso desejo de ingerir comida mais estimulante. O chá, o café e os alimentos cárneos produzem efeito imediato. Sob a influência desses venenos, o sistema nervoso fica agitado e, em certos casos, momentaneamente, o intelecto parece revigorado e a imaginação mais viva. Como esses estimulantes produzem no momento resultados tão agradáveis, muitos chegam à conclusão de que realmente deles necessitam, e continuam a usá-los. Há sempre, porém, uma reação. O sistema nervoso, havendo sido indevidamente estimulado, tomou emprestado para o uso presente energias reservadas para o futuro. Todo esse temporário fortalecimento do organismo é seguido de depressão. Proporcional a esse passageiro aumento de forças do organismo será a depressão dos órgãos assim estimulados, após haver cessado seu efeito. O apetite é educado a desejar intensamente algo mais forte, que tenda a manter e acrescentar a aprazível excitação, até que a condescendência se torne um hábito, havendo contínuo e intenso desejo de mais forte estímulo, como o fumo, vinhos e outras bebidas alcoólicas. Quanto mais se satisfizer ao apetite, tanto mais freqüente será sua exigência, e mais difícil de o controlar. Quanto mais enfraquecido se tornar o organismo, e menos capaz se tornar de passar sem estimulantes artificiais, tanto mais aumenta a paixão por eles, até que a vontade é levada de vencida, e parece impossível a resistência ao desejo anormal desses estimulantes. T3 488 1 O único caminho seguro é não tocar, não provar e não manusear o chá, o café, vinhos, o fumo, o ópio e as bebidas alcoólicas. A necessidade de os homens desta geração chamarem em seu auxílio a força de vontade fortalecida pela graça de Deus, a fim de resistir às tentações de Satanás, e vencer a mínima condescendência com o apetite pervertido, é duas vezes maior que a de algumas gerações passadas. Mas a geração atual tem menos poder de domínio próprio do que os que viviam então. Os que têm condescendido com o apetite quanto a esses estimulantes transmitiram aos filhos os depravados apetites e paixões, e maior força moral é exigida desses filhos para resistir a toda sorte de intemperança. O único procedimento perfeitamente seguro é ficar firme ao lado da temperança, e não se arriscar no caminho do perigo. T3 488 2 O grande objetivo por que Cristo suportou aquele longo jejum no deserto foi ensinar-nos a necessidade da abnegação e da temperança. Essa obra deve começar à nossa mesa, e ser estritamente efetuada em todos os aspectos da vida. O Redentor do mundo veio do Céu para ajudar o ser humano em sua fraqueza para que, no poder que Jesus lhe veio trazer, ele se torne forte para vencer o apetite e a paixão, fazendo-se vitorioso em todos os pontos. T3 488 3 Muitos pais educam o paladar de seus filhos e lhes desenvolvem os apetites. Servem-lhes carnes, chá e café. Os alimentos cárneos muito condimentados e o chá e o café que algumas mães animam os filhos a ingerirem preparam o caminho para eles ansiarem por estimulantes mais fortes como o fumo. O uso do fumo incita o desejo das bebidas alcoólicas; e o uso de ambos diminui invariavelmente a força nervosa. T3 489 1 Caso as sensibilidades morais dos cristãos se despertassem no sentido da temperança em todas as coisas, eles poderiam por seu exemplo começar à mesa a ajudar os que são fracos no domínio de si mesmos, quase impotentes para resistirem aos anseios do apetite. Se pudéssemos compreender que os hábitos que formamos nesta vida afetarão nossos interesses eternos, que nosso destino perpétuo depende de hábitos de estrita temperança, esforçar-nos-íamos no sentido de formá-los no comer e no beber. Por nosso exemplo e esforço pessoal, podemos servir de instrumentos para salvar muitas almas da degradação da intemperança, do crime e da morte. Nossas irmãs podem fazer muito na grande obra da salvação de outros com o apresentar mesas providas só de alimentos saudáveis e nutritivos. Podem empregar o precioso tempo de que dispõem em educar o gosto e o apetite de seus filhos, formando neles hábitos de temperança em todas as coisas, incentivando ao mesmo tempo a abnegação e a beneficência em favor de outros. T3 489 2 Não obstante o exemplo que Cristo nos deu no deserto da tentação, refreando o apetite e vencendo-lhe o poder, muitas mães cristãs existem que, por seu exemplo e pela educação que dão aos filhos, elas os estão preparando para serem comilões e bebedores de vinho. Permite-se freqüentemente que as crianças comam o que lhes apetece e quando lhes apetece, sem atenção para com a saúde. Muitos filhos são educados como glutões desde a primeira infância. Em resultado disso tornam-se dispépticos bem cedo na vida. A condescendência e a intemperança no comer crescem com eles, e fortalecem-se à medida que eles se fortalecem. Pela condescendência dos pais, o vigor físico e o mental são sacrificados. Formam-se gostos para com certos alimentos que não lhes são benéficos, antes prejudiciais; e ficando o organismo sobrecarregado, a constituição se debilita. T3 489 3 Os pastores, professores e alunos não reconhecem como devem a necessidade de exercício físico ao ar livre. Negligenciam esse dever por demais essencial para a conservação da saúde. Aplicam-se profundamente aos livros, e comem a quantidade própria para um trabalhador. Com tais hábitos, alguns se tornam corpulentos, porque o organismo está sobrecarregado. Outros, ao contrário, emagrecem, ficam fracos, pois suas energias vitais se esgotam no esforço de eliminar o excesso do que é ingerido; o fígado fica sobrecarregado e incapaz de eliminar as impurezas do sangue, vindo em resultado a doença. Caso o exercício físico fosse combinado com o esforço mental, o sangue seria estimulado na circulação, mais perfeito seria o trabalho do coração e eliminadas as toxinas, experimentando-se nova vida e vigor em cada parte do corpo. T3 490 1 Quando a mente dos pastores, professores e alunos é continuamente estimulada pelo estudo, deixando-se o corpo entorpecido, sobrecarregam-se os nervos emotivos, ao passo que os dos movimentos ficam em inatividade. Ficando toda a atividade sobre os órgãos mentais, estes são exercitados em excesso e debilitam-se, ao passo que os músculos perdem o vigor por falta de uso. Não há inclinação para exercitar os músculos mediante o esforço físico, pois este parece enfadonho. T3 490 2 Ministros de Cristo, que professam ser representantes Seus, devem seguir-Lhe o exemplo e, acima de todos os outros, formar hábitos de estrita temperança. Cumpre-lhes manter a vida e o exemplo de Cristo diante do povo por meio de sua vida de abnegação, sacrifício e ativa beneficência. Cristo venceu o apetite em favor do homem; e em lugar dEle devem os pastores por sua vez apresentar aos outros um exemplo digno de imitação. Os que não sentem a necessidade de empenhar-se na obra de vencer o apetite deixarão de alcançar preciosas vitórias que poderiam obter, e se tornarão escravos do apetite e da concupiscência, os quais estão enchendo o cálice de iniqüidade dos que habitam na Terra. T3 490 3 Os homens empenhados em anunciar a última mensagem de advertência ao mundo, mensagem que deve decidir o destino das pessoas, devem aplicar na própria vida as verdades que pregam aos outros. Devem constituir um exemplo para o povo no comer e beber, em sua conversação e conduta puras. A glutonaria, a condescendência com as paixões inferiores e ofensivos pecados são ocultos por muitos professos representantes de Cristo no mundo sob as vestes da santidade. Há homens de excelentes aptidões naturais que não realizam em seu trabalho metade do que poderiam, caso fossem temperantes em todas as coisas. A condescendência com o apetite e a paixão obscurece a mente, diminui a resistência física e enfraquece a força moral. Não são claros os pensamentos dos que assim procedem. Suas palavras não são proferidas com poder, falta-lhes a vitalidade do Espírito de Deus para alcançarem o coração dos ouvintes. T3 491 1 Como nossos primeiros pais perderam o Éden em conseqüência do apetite, nossa única esperança de o reconquistar é por meio da firme negação do apetite e da paixão. A abstinência no regime alimentar e o controle de todas as paixões preservarão o intelecto e darão vigor mental e moral, habilitando o homem a sujeitar todas as suas inclinações ao domínio das faculdades mais elevadas, e a discernir entre o certo e o errado, o sagrado e o comum. Todos quantos têm a verdadeira percepção do sacrifício feito por Cristo em deixar Seu lar no Céu para vir a este mundo a fim de, pela Sua vida, mostrar ao homem como resistir à tentação alegremente renunciarão ao próprio eu, preferindo ser participantes dos sofrimentos de Cristo. T3 491 2 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 9:10. Os que vencem como Cristo venceu precisam guardar-se continuamente contra as tentações de Satanás. O apetite e as paixões devem ser restringidos e postos em sujeição ao domínio de uma consciência esclarecida, para que o intelecto seja equilibrado, claras as faculdades de percepção, de maneira que as manobras do inimigo e seus ardis não sejam considerados como a providência de Deus. Muitos desejam a recompensa final e a vitória concedidas aos vencedores, mas não estão dispostos a suportar fadiga, privação e renúncia do próprio eu, como fez o Redentor. É unicamente por meio da obediência e de contínuo esforço que havemos de vencer como Cristo venceu. T3 491 3 A força dominante do apetite demonstrar-se-á a ruína de milhares, quando, se houvessem triunfado nesse ponto, teriam tido força moral para ganhar a vitória sobre qualquer outra tentação de Satanás. Os que são escravos do apetite, no entanto, deixarão de aperfeiçoar caráter cristão. A incessante transgressão do homem através de seis mil anos tem trazido em resultado doença, dor e morte. E, à medida que nos aproximamos do fim do tempo, a tentação do inimigo para ceder ao apetite será mais poderosa e difícil de vencer. ------------------------Capítulo 44 -- Liderança T3 492 1 Irmão A, sua experiência com referência à liderança há dois anos foi para seu benefício e lhe foi altamente essencial. Você tinha opiniões muito definidas e decisivas com relação à independência individual e ao direito de julgamento particular. Estas opiniões você leva ao extremo. Raciocina que precisa ter luz e evidência para si mesmo com referência a seu dever. T3 492 2 Foi-me mostrado que o julgamento de nenhum homem devia render-se ao julgamento de outro. Mas quando o julgamento da Associação Geral, que é a mais elevada autoridade que Deus tem sobre a Terra, é exercido, independência e julgamento particulares não devem ser mantidos, mas renunciados. Seu erro foi em manter persistentemente o julgamento individual de seu dever contra a voz da mais alta autoridade que o Senhor tem sobre a Terra. Depois de ter-se demorado, e depois da obra ter sido bastante prejudicada por sua demora, você veio a Battle Creek em resposta aos chamados repetidos e urgentes da Associação Geral. Você manteve firmemente que tinha feito bem em seguir a própria convicção do dever. Considerou uma virtude sua manter persistentemente sua posição de independência. Você não parecia ter percepção verdadeira do poder que Deus tinha dado à Sua igreja na voz da Associação Geral. Pensou que, ao responder ao chamado que a Associação Geral lhe fizera, estava se submetendo ao julgamento e à mente de um homem. Por conseguinte, manifestou independência, um espírito inflexível e voluntarioso, que era inteiramente errado. T3 493 1 Deus lhe deu uma experiência preciosa então, que lhe foi de valor e que grandemente aumentou seu êxito como ministro de Cristo. Sua vontade altiva e inflexível foi abrandada. Você experimentou uma conversão genuína. Isto levou à reflexão e à sua opinião sobre liderança. Seus princípios com relação à liderança são corretos, mas você não faz aplicação correta dos mesmos. Se deixasse que o poder na igreja, a voz e o julgamento da Associação Geral, tomasse o lugar que você deu a meu marido, nenhuma falta poderia então ser achada em sua posição. Mas você erra grandemente em dar à mente e ao julgamento de um homem a autoridade e a influência que Deus investiu em Sua igreja no julgamento e voz da Associação Geral. T3 493 2 Quando este poder que Deus colocou na igreja é atribuído a um homem, e ele é investido com a autoridade de ser julgamento para outras mentes, então a verdadeira ordem bíblica é alterada. Os esforços de Satanás sobre a mente de um tal homem será muito sutil e às vezes irresistível, porque através desta mente ele pensa que pode afetar muitos outros. Sua opinião sobre liderança está correta, se você der à mais alta autoridade organizada na igreja o que você deu a um homem. Nunca foi a intenção de Deus que Sua obra levasse o timbre da mente e do julgamento de um homem. T3 493 3 A grande razão por que os irmãos B e C são presentemente deficientes na experiência que deviam agora ter é o fato de que não têm tido confiança em si mesmos. Eles evitaram responsabilidades porque, assumindo-as, suas deficiências seriam trazidas à luz. Estavam bem dispostos em deixar meu marido liderar e levar responsabilidades, e permitiram que ele fosse mente e julgamento para eles. Estes irmãos são fracos quando deviam ser fortes. Não ousaram seguir seu julgamento próprio e independente, com receio de cometer erros e serem censurados por isto, ao passo que estavam dispostos a serem tentados e fazer meu marido responsável se pensassem que pudessem ver erros em sua conduta. Não levaram os fardos com ele. Eles têm se referido continuamente a meu marido, fazendo-o assumir responsabilidades que deviam ter partilhado com ele, até ficarem fracos naquelas qualificações em que deviam ser fortes. São fracos em força moral quando podiam ser gigantes, qualificados para serem colunas na causa de Deus. T3 494 1 Estes irmãos não têm confiança própria, ou confiança de que Deus de fato os guiará se seguirem a luz que Deus lhes deu. Nunca foi a intenção de Deus que homens fortes, independentes, de intelecto superior, se apegassem a outros em busca de apoio como a hera se apega ao carvalho. Todas as dificuldades, os reveses, os problemas e os desapontamentos que os servos de Deus enfrentarem no trabalho ativo somente os fortalecerão na formação de caráter correto. Fazendo uso das próprias forças mentais, os obstáculos que encontrarem demonstrar-se-ão bênçãos positivas. Ganharão músculos mentais e espirituais para serem usados em ocasiões importantes com os melhores resultados. Aprenderão autoconfiança e ganharão segurança em sua experiência de que Deus os está realmente guiando. Ao encontrarem perigos e terem verdadeira angústia de espírito, serão obrigados a meditar e sentir a necessidade de oração em seu esforço de avançar inteligentemente e trabalhar com êxito na causa de Deus; descobrirão que conflito e perplexidade evocam o exercício de fé e confiança em Deus, e aquela firmeza que desenvolve poder. Está constantemente surgindo a necessidade de novos métodos e recursos para enfrentar emergências. São postas em uso faculdades que jazeriam inativas não fossem estas necessidades prementes na obra de Deus. Isto provê uma experiência variada, de modo que não haverá emprego para homens de uma só idéia, nem para aqueles que não são totalmente desenvolvidos. T3 494 2 Homens de força e poder nesta causa que Deus usará para Sua glória são aqueles que foram contestados, contrariados e frustrados em seus planos. Os irmãos B e C podiam ter convertido seus fracassos em importantes vitórias; mas, em vez disto, eles se esquivaram das responsabilidades que os tornariam sujeitos a erros. Estes preciosos irmãos deixaram de obter aquela educação que é fortalecida pela experiência e que leitura, estudo e todas as vantagens obtidas de outras formas nunca proporcionarão. T3 495 1 Você, irmão A, tem tido força para levar algumas responsabilidades. Deus tem aceito seus trabalhos diligentes e abençoado seus esforços. Você tem cometido alguns erros, mas por causa de alguns fracassos não deve de modo algum julgar mal suas aptidões nem duvidar da força que pode achar em Deus. Não tem estado disposto e pronto a assumir responsabilidades. Você por natureza se inclina a evitá-las e a escolher uma atividade mais fácil, como escrever e exercitar a mente onde nenhum interesse especial e vital está envolvido. Comete um erro ao depender de meu marido para lhe dizer o que fazer. Este não é o trabalho que Deus deu a meu marido. Você deve procurar o que há para fazer e assumir as responsabilidades desagradáveis por si mesmo. Deus o abençoará se assim agir. Precisa desempenhar responsabilidades relacionadas com a obra de Deus segundo seu melhor critério. Mas deve ser cauteloso, para que seu critério não seja influenciado pelas opiniões de outros. Se é evidente que você cometeu erros, é seu privilégio transformar estes fracassos em vitórias evitando os mesmos no futuro. Recebendo instruções sobre o que fazer, você nunca obterá a experiência necessária para qualquer posição importante. T3 495 2 O mesmo é aplicável a todos os que ocupam as diferentes posições de confiança nos vários escritórios de Battle Creek. Eles não devem ser persuadidos, mimados e ajudados a todo momento, pois isto não capacitará homens para posições importantes. São obstáculos que fazem homens fortes. Não é ajuda, mas dificuldades, conflitos e reveses que fazem homens de fibra moral. Excesso de facilidade e o evitar responsabilidades têm feito covardes e anões daqueles que devem ser responsáveis homens de força moral e forte musculatura espiritual. Os homens que devem, em todas as emergências, ser fiéis como a agulha em indicar o pólo têm se tornado ineficientes por seus esforços para proteger-se da censura e por esquivar-se de responsabilidades, por temor de fracasso. Homens de gigantesco intelecto são bebês na disciplina, porque são covardes quanto a tomar sobre si e levar avante os encargos que devem assumir. Estão negligenciando o tornar-se eficientes. Confiaram por demasiado tempo em um homem que planejasse por eles e raciocinasse da maneira como eles mesmos são perfeitamente capazes de fazer, no interesse da causa de Deus. Deficiências mentais vêm ao nosso encontro por toda parte. T3 496 1 Homens que se satisfazem em deixar outros planejarem e raciocinarem em seu lugar não se acham plenamente amadurecidos. Se fossem deixados a planejar por si mesmos, mostrar-se-iam criteriosos, perspicazes. Mas quando se põem em contato com a causa de Deus, isto para eles é coisa completamente diversa; perdem essa faculdade quase por completo. Contentam-se com permanecer incompetentes e ineficientes, como se outros tivessem de fazer por eles o planejamento e boa parte do raciocínio. Há homens que se mostram completamente incapazes de abrir caminho para si mesmos. Terão de sempre apoiar-se em outros para que façam seu planejamento e seus estudos, como que lhes sendo a mente e o discernimento? Deus Se envergonha de semelhantes soldados. Ele não Se sente honrado com terem eles uma parte a desempenhar em Sua causa enquanto forem meras máquinas. T3 496 2 São necessários homens independentes, fervorosamente esforçados, não homens maleáveis como argila. Os que querem seu trabalho ao alcance das mãos, que pretendem determinada quantidade de serviço e salário fixo, e desejam experimentar um trabalho adequado sem o incômodo da adaptação ou treino, não são os homens que Deus chama para trabalhar em Sua causa. O homem que não saiba adaptar suas aptidões a quase qualquer lugar, se a necessidade exigir, não é homem para o tempo atual. Os homens que Deus deseja ligar a Sua causa não são vacilantes e sem fibra, sem músculos ou força moral de caráter. É só mediante continuado e perseverante esforço que os homens podem ser disciplinados para assumir uma parte na causa de Deus. Não devem esses homens desanimar se as circunstâncias e o ambiente forem os mais desfavoráveis. Não devem desistir de seu propósito como sendo completo fracasso, antes de se convencer, além de qualquer dúvida, de que não podem fazer muito para honra de Deus e benefício das almas. T3 496 3 Homens há que se lisonjeiam de que poderiam fazer algo de grande e bom se tão-somente as circunstâncias fossem outras, ao passo que não fazem uso das faculdades que já têm, trabalhando nos encargos que a providência lhes proveu. O homem pode criar suas circunstâncias, mas as circunstâncias nunca devem criar o homem. O homem deve aproveitar as circunstâncias como instrumentos seus para seu trabalho. Deve ele dominar as circunstâncias, mas jamais permitir que as circunstâncias o dominem. A independência individual e o poder individual são as qualidades agora necessárias. O caráter individual não precisa ser sacrificado, mas deve ser ajustado, cultivado, enobrecido. T3 497 1 Foi-me mostrado que é o dever de meu marido desfazer-se das responsabilidades que outros bem gostariam que ele levasse porque isto os livraria de muitas dificuldades. O raciocínio rápido e o claro discernimento de meu marido, obtidos mediante treino e exercício, o têm levado a assumir muitas responsabilidades que outros deviam ter assumido. T3 497 2 Irmão A, você é vagaroso demais. Deve cultivar qualidades opostas. A causa de Deus requer homens de golpe de vista, capazes de agir pronta e energicamente no momento oportuno. Se você espera para avaliar cada dificuldade e pesar cada perplexidade que encontrar, bem pouco haverá de realizar. Encontrará dificuldades e obstáculos a cada passo, e deve, com propósito firme, decidir vencê-los, ou do contrário será por eles vencido. T3 497 3 Vezes há em que vários meios e propósitos, métodos diversos de atuação quanto à obra de Deus, equilibram-se uniformemente na mente; é exatamente então que se faz mister o melhor critério. E se alguma coisa é feita para esse fim, deve ser feita no momento oportuno. A mais leve inclinação do peso na balança deve ser notada, decidindo imediatamente a questão. Muita demora fatiga os anjos. Ocasionalmente é até mais desculpável tomar uma decisão errada do que ficar sempre a vacilar, hesitando ora para uma direção, ora para outra. Maior perplexidade e desgraça resultam de hesitar e duvidar assim do que de agir às vezes muito apressadamente. T3 497 4 Tem-me sido mostrado que as mais assinaladas vitórias e as mais terríveis derrotas se têm decidido em minutos. Deus requer pronta ação. Demoras, dúvidas, hesitações e indecisão freqüentemente dão toda vantagem ao inimigo. Meu irmão, você precisa reformar-se. O fazer as coisas em tempo pode ser bom argumento em favor da verdade. Perdem-se freqüentemente vitórias devido a tardanças. Haverá crises nesta causa. A ação pronta e decisiva no momento oportuno conquistará gloriosos triunfos, ao passo que tardança e negligência resultarão em grandes fracassos e positiva desonra para Deus. Movimentos rápidos no momento crítico freqüentemente desarmam o inimigo, o qual fica decepcionado e vencido, pois esperava dispor de tempo para delinear planos e atuar mediante artifícios. T3 498 1 Deus deseja homens ligados à Sua obra em Battle Creek cujo discernimento seja pronto, cuja mente, quando necessário, atue como o relâmpago. Maior prontidão é positivamente necessária na hora do perigo. Cada plano pode estar bem delineado para dar resultados certos, e todavia uma demora bem pequena é capaz de fazer com que as coisas assumam aspecto inteiramente diverso, e os grandes objetivos que poderiam ter sido alcançados se perdem por falta de rápida previsão e de pronta decisão. T3 498 2 Muito se pode fazer no sentido de exercitar a mente para vencer a indolência. Há ocasiões em que se tornam necessárias cautela e grande deliberação; a precipitação seria loucura. Mas, mesmo nesses casos, muito se tem perdido por demasiada hesitação. Exige-se, até certo ponto, cautela; mas a hesitação e a prudência em determinadas ocasiões têm sido mais desastrosas do que teria sido um fracasso devido à precipitação. T3 498 3 Meu irmão, você precisa cultivar prontidão. Fora com sua maneira hesitante. Você é vagaroso e negligencia assumir o trabalho e realizá-lo. Você precisa deixar essa maneira acanhada de trabalhar, pois isso é errado. Quando a descrença toma conta de seu coração, seu trabalho é de qualidade tão hesitante, irresoluta e instável que você nada realiza e impede que outros o façam. Seu interesse limita-se a ver dificuldades e despertar dúvidas, mas você não tem interesse nem coragem para vencer as dificuldades ou dissipar as dúvidas. Em tais ocasiões você precisa entregar-se a Deus. Precisa de força de caráter e menos teimosia e obstinação. Esta morosidade, esta lerdeza de ação, é um dos maiores defeitos em seu caráter e prejudica sua utilidade. T3 499 1 Sua lentidão em decidir-se em relação à causa e obra de Deus é por vezes lamentável. Não é de modo algum necessária. Ação pronta e decidida pode obter grandes resultados. Você está geralmente disposto a trabalhar quando se sente inclinado, pronto para agir quando pode ver claramente o que há para ser feito; mas deixa de ser aquele benefício à causa que poderia ser se fosse pronto e resoluto no momento crítico, e vencesse o hábito de hesitação e demora que tem marcado seu caráter e grandemente retardado a obra de Deus. Este defeito, a menos que seja vencido, se demonstrará, em ocasiões de grandes crises, desastroso para a causa e fatal para a própria alma. Pontualidade e ação decidida no momento certo precisam ser adquiridas, pois você não possui estas qualidades. Nas guerras e batalhas das nações com freqüência se vence mais por boa tática em ação pronta do que em um encontro sério e mortal com o inimigo. T3 500 2 A habilidade de fazer negócios com rapidez, e ainda fazê-los bem é uma grande aquisição. Meu irmão, você tem realmente sentido que sua conduta cautelosa e hesitante era louvável, mais uma virtude do que uma falta. Mas, segundo aquilo que o Senhor me mostrou neste assunto, estes movimentos lerdos de sua parte têm grandemente impedido a obra de Deus e resultado em muitas coisas por fazer, as quais realmente deviam ter sido feitas com prontidão. Ser-lhe-á difícil agora fazer em seu caráter as modificações que Deus requer que você faça, porque lhe foi difícil ser pontual e rápido na ação na juventude. Quando o caráter está formado, os hábitos fixos, e as faculdades mentais e morais se tiverem firmado, é muito difícil desaprender hábitos errôneos, ser rápido na ação. Você deve reconhecer o valor do tempo. Não pode ser desculpado por deixar o importantíssimo, embora desagradável trabalho, com a esperança de livrar-se dele completamente, ou pensando que se tornará menos desagradável, enquanto você ocupa o tempo com trabalhos agradáveis, que não exigem muito esforço. Você deve fazer primeiro o trabalho que tem de ser feito e que envolve os interesses vitais da causa, e assumir as atividades menos importantes depois de acabadas as mais necessárias. Pontualidade e decisão na obra e causa de Deus são muito necessárias. Atrasos são virtualmente derrotas. Os minutos são áureos e devem ser aproveitados da melhor maneira possível. Relações terrenas e interesses pessoais devem sempre ser secundários. Nunca deve a causa de Deus ser levada a sofrer em qualquer particularidade por causa de nosso amigos terrestres ou os mais queridos parentes. T3 500 1 "E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus. Disse também outro: Senhor, eu Te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus." Lucas 9:59-62. T3 500 2 Nenhum laço terreno, nenhuma consideração terrena, devia pesar um só momento na balança contra o dever à causa e obra de Deus. Jesus cortou Sua ligação com todas as coisas para salvar um mundo perdido, e Ele requer de nós consagração plena e total. Há sacrifícios a serem feitos pelos interesses da causa de Deus. O sacrifício do sentimento é o mais incisivo que é requerido de nós; mas afinal é um sacrifício pequeno. Você tem muitos amigos, e se os sentimentos são santificados, não precisa sentir que está fazendo um sacrifício muito grande. Você não deixa sua mulher entre pagãos. Não é chamado a palmilhar o deserto ardente da África, nem a enfrentar prisões e deparar-se com provas a cada passo. Seja cuidadoso ao apelar à sua compaixão e a permitir que sentimentos humanos e considerações pessoais se misturem com seus esforços e trabalhos pela causa de Deus. Ele requer serviço desinteressado e voluntário. Você deve prestar tal serviço e ainda cumprir com seus deveres para com sua família; mas considere isso uma questão secundária. T3 500 3 Meu marido e eu temos cometido erros ao consentir assumir responsabilidades que outros devem levar. No começo desta obra era necessário um homem para propor, executar com determinação e liderar, batalhando com o erro e superando obstáculos. Meu marido carregou o fardo mais pesado e enfrentou a oposição mais resoluta. Mas quando nos tornamos uma corporação plenamente organizada, e diversas pessoas foram escolhidas para atuar em posições de responsabilidade, então era tempo apropriado para meu marido deixar de atuar como um homem para suportar as responsabilidades e levar os fardos pesados. Este esforço cabia a mais de um. Nesse sentido é que seus irmãos erraram em insistir com ele, e ele mesmo errou em concordar, em suportar os fardos e responsabilidades que tinha levado sozinho durante anos. Ele devia ter deposto estes fardos há anos, os quais deviam ter sido divididos com outros homens escolhidos para atuar em lugar do povo. Agradaria a Satanás que a mente e o discernimento de um homem controlassem a mente e o discernimento daqueles que crêem na verdade presente. T3 501 1 Meu marido tem sido deixado freqüentemente quase que só para ver e sentir as necessidades da causa de Deus e para atuar prontamente. Seus irmãos dirigentes não eram deficientes em intelecto, mas necessitavam de uma mente disposta a ficar na posição que meu marido tinha ocupado. De modo incoerente, eles permitiram que um deficiente físico levasse os fardos e responsabilidades desta obra, os quais nenhum deles sozinho podia suportar com seus nervos fortes e músculos firmes. Por vezes, ele tem usado de evidente severidade e tem falado de modo a ofender. Quando viu outros que podiam partilhar seus fardos evitando responsabilidades, isto o magoou, e ele falou impulsivamente. Ele não foi posto nesta posição irrazoável pelo Senhor, mas por seus irmãos. Sua vida tem sido pouco melhor do que uma espécie de escravidão. As provas constantes, o cuidado exasperante e o trabalho mental exaustivo não foram apreciados por seus irmãos. Ele tem levado uma vida sem alegria, e aumentou sua infelicidade queixando-se de seus irmãos no ministério que negligenciaram fazer o que podiam ter feito. A natureza tem sido abusada repetidas vezes. Embora seus irmãos o culpassem de fazer tanto, eles não se ofereceram para assumir sua cota da responsabilidade, mas têm estado bem dispostos a fazê-lo responsável por tudo. Você se ofereceu nobremente para assumir responsabilidades quando não havia outros para assumi-las. Se seus irmãos no ministério tivessem cultivado disposição para erguer fardos que deviam ter levado, meu marido não teria visto e feito tanto trabalho que precisava ser feito e que ele pensava não dever ser negligenciado. T3 502 1 Deus não permitiu que a vida de meu marido terminasse ingloriamente. Ele o tem sustentado. Mas o homem que executa trabalho dobrado, que comprime o trabalho de dois anos em um, está queimando sua vela nas duas pontas. Há ainda um trabalho para meu marido fazer que ele devia ter feito há anos. Ele agora deve ter menos da luta, perplexidade e responsabilidade da vida e estar amadurecendo, suavizando e se elevando para sua última oportunidade. Deve agora poupar sua força. Não deve permitir que as responsabilidades da causa pesem tanto sobre ele, mas deve estar livre, onde os preconceitos e suspeitas de seus irmãos não perturbem sua paz. T3 502 2 Deus permitiu que a preciosa luz da verdade brilhasse sobre Sua Palavra e iluminasse a mente de meu marido. Ele pode refletir os raios de luz da presença de Jesus sobre outros, pregando e escrevendo. Mas enquanto servindo às mesas, cuidando de negócios com relação à causa, ele tem sido impedido, em grande medida, do privilégio de usar sua pena e de pregar ao povo. T3 502 3 Ele tem sentido que foi chamado por Deus para colocar-se na defesa da verdade, e para reprovar, às vezes severamente, aqueles que não estavam fazendo justiça à obra. A pressão dos cuidados e a aflição da enfermidade o têm lançado freqüentemente em desalento, e ele por vezes tem visto as coisas sob uma luz exagerada. Seus irmãos aproveitaram-se de suas palavras, e de sua maneira pronta, que tem estado em contraste marcante com o esforço tardio e acanhados planos de atuação deles. Eles têm atribuído a meu marido motivos e sentimentos que não lhe cabiam. O grande contraste entre eles e ele parecia um golfo; mas este podia ter sido facilmente transposto, se esses homens de intelecto pusessem seus interesses não divididos e o coração todo na obra de edificar e promover a preciosa causa de Deus. T3 503 1 Poderíamos exercer uma influência constante neste lugar, na direção da obra, que promoveria a prosperidade de nossas instituições. Mas a conduta de outros que não fazem o que poderiam, que estão sujeitos à tentação e que, se seu caminho é cruzado, censurariam nossos esforços mais sinceros para a prosperidade da causa de Deus, nos obriga a procurar um refúgio em outra parte onde poderemos trabalhar mais vantajosamente com menos perigo de sermos esmagados sob responsabilidades. T3 503 2 Deus nos tem dado bastante liberdade e poder com Seu povo em Battle Creek. Quando viemos a este lugar no verão passado, nosso trabalho começou seriamente, e continuou desde então. Perplexidades e dificuldades seguiram-se umas após outras, requerendo esforço exaustivo para endireitar as coisas. T3 503 3 Quando o Senhor mostrou que o irmão D poderia ser o homem para o lugar, se ele continuasse humilde e se apoiasse sobre Sua força, Ele não cometeu um erro grosseiro e escolheu o homem errado. Por algum tempo o irmão D tinha verdadeiro interesse e agia como um pai no Instituto de Saúde. Mas ele se exaltou e se tornou auto-suficiente. Seguiu uma conduta errada. Cedeu à tentação. As desculpas que os diretores deram para sua negligência do dever são inteiramente erradas. O fato de transferirem responsabilidades ao irmão e à irmã White está registrado contra eles. Eles simplesmente negligenciaram seu dever porque era desagradável. T3 503 4 Vi que ajuda era necessária na Costa do Pacífico. Mas não era a vontade de Deus que assumíssemos as responsabilidades e suportássemos as perplexidades que pertencem a outros. Podemos agir como conselheiros e ajudá-los com nossa influência e nosso discernimento. Podemos fazer muito se não formos induzidos a assumir o fardo e a suportar o peso que outros deviam levar, e que é importante que levem a fim de obter a experiência necessária. Temos assunto importante para escrever, do qual o povo grandemente necessita. Temos luz preciosa sobre verdades bíblicas que devíamos apresentar ao povo. T3 503 5 Foi-me mostrado que não era a intenção de Deus que meu marido assumisse as responsabilidades que tem levado durante os últimos cinco meses. Permitiu-se que o trabalho relacionado com a causa recaísse sobre ele. Isto tem causado perplexidade, fadiga e debilidade nervosa, que resultaram em desalento e depressão. Desde o começo da causa tem havido falta de ação harmoniosa da parte de seus irmãos. Seus irmãos no ministério apreciam a liberdade. Não têm assumido as responsabilidades que deviam, e deixaram de obter a experiência que podiam ter tido para capacitá-los a ocupar as posições de maior responsabilidade relativa aos interesses vitais da causa de Deus no tempo presente. Eles desculparam sua negligência em assumir responsabilidades com o pretexto de que poderiam ser censurados depois. T3 504 1 A religião que professamos é colorida por nossa disposição e temperamento naturais; por conseguinte é da mais alta importância que os pontos fracos em nosso caráter sejam fortalecidos pelo exercício e que os pontos fortes, mas desfavoráveis, sejam enfraquecidos ao trabalhar na direção contrária e fortalecer qualidades opostas. Mas alguns irmãos não fizeram o que podiam e deviam ter feito, o que poderia ter dado a meu marido encorajamento suficiente para ajudá-lo a continuar assumindo algumas responsabilidades à frente da obra. Seus colaboradores não atuaram independentemente, esperando de Deus luz e dever para si mesmos; não se valeram das aberturas de Sua providência nem se consultaram sobre planos de atuação e nem se uniram em seus planos e maneira de trabalho. T3 504 2 Desde que viemos para Michigan no último verão, o Senhor tem abençoado os trabalhos de meu marido. Ele tem sido sustentado de modo extraordinário para fazer um trabalho que necessitava ser feito. Se as pessoas associadas com ele tivessem estado atentas para ver e compreender as necessidades da causa de Deus na última reunião campal em Michigan, as muitas coisas inacabadas poderiam ter sido feitas. Houve falha em não enfrentar as necessidades da ocasião. Se o irmão A tivesse estado animado em Deus, andando na luz, pronto para ver o que havia a fazer, e executando o trabalho com rapidez, estaríamos agora meses mais adiantados em nossa obra, e há muito teríamos estado a trabalhar para estabelecer uma editora na Costa do Pacífico. Deus não pode ser glorificado quando caímos em desalento singular e então ficamos em estado lastimoso. A luz continua a brilhar, embora não reconheçamos sua bênção; mas se formos diligentes para nos aproximar da luz, e se avançarmos como se a luz brilhasse, logo sairemos da escuridão e descobriremos luz em toda nossa volta. T3 505 1 Em nossa última reunião campal, os anjos de Deus vieram de um modo especial com seu poder para iluminar, curar e abençoar tanto meu marido como o irmão Waggoner. Uma vitória preciosa foi aí ganha, a qual jamais devia perder sua influência. Foi-me mostrado que Deus, da maneira mais marcante, tinha dado a meu marido provas de Seu amor e cuidado, e também de Sua graça mantenedora. Ele contemplou seu zelo e devoção à Sua causa e obra. Isto devia sempre produzir humildade e gratidão da parte de meu marido. T3 505 2 Deus deseja homens de ação. Quer homens que, quando decisões importantes precisam ser tomadas, sejam fiéis como a agulha o é ao pólo; homens cujos interesses especiais e pessoais são concentrados, como o foram os do Salvador, no grande interesse geral pela salvação de almas. Satanás atua sobre a mente humana sempre que uma oportunidade lhe é dada para assim fazer; e se aproveita do tempo e do lugar mais apropriados onde pode fazer o máximo de serviço no seu interesse e o maior dano à causa de Deus. Negligenciar fazer o que podemos, e que Deus requer que façamos em Sua causa, é um pecado que não pode ser atenuado com desculpas de circunstâncias ou condições, pois Jesus fez provisão para todos em qualquer emergência. T3 505 3 Meu irmão, ao fazer o trabalho de Deus você será colocado numa variedade de circunstâncias que requererão presença de espírito e domínio próprio, mas que o qualificarão a adaptar-se às circunstâncias e peculiaridades da situação. Então pode agir desembaraçadamente. Você não deve subestimar sua habilidade de fazer sua parte nas várias exigências da vida prática. Onde está consciente de deficiências, trabalhe imediatamente para remediar estes defeitos. Não espere que outros vão suprir suas deficiências, enquanto você prossegue indiferentemente, como se fosse natural que sua disposição peculiar precisasse ficar sempre assim. Aplique-se seriamente para sanar estes defeitos, para que seja perfeito em Cristo Jesus, "sem faltar em coisa alguma". Tiago 1:4. T3 506 1 Se formar acerca de si mesmo uma opinião demasiado elevada, concluirá que seus trabalhos são de maior importância do que na verdade são, e pleiteará uma independência individual que chega aos limites da arrogância. Se for ao outro extremo e formar de si mesmo uma opinião demasiado baixa, sentir-se-á inferior e deixará uma impressão de inferioridade que muito limitará a influência que poderia exercer para o bem. Você deve evitar qualquer dos extremos. Não se deixe controlar pelo sentimento; nem devem as circunstâncias afetá-lo. Você pode formar um conceito correto de si mesmo -- conceito que se demonstrará uma salvaguarda contra ambos os extremos. Pode ter atitude dignificada sem vã autoconfiança; pode condescender e contemporizar sem sacrificar o respeito próprio ou a independência pessoal, e sua vida pode ser de grande influência junto aos de classe alta como os de condição social humilde. T3 506 2 Irmão A, seu perigo agora é de ser afetado por boatos. Seus trabalhos são decididamente práticos, rigorosos e incisivos. Você submete o povo a muito severas provas e exigências. Isto é necessário às vezes, mas seus esforços estão excessivamente assimilando esta característica, e perderão sua força a menos que sejam mais associados à doce e animadora graça do Espírito de Deus. Você permite que as palavras de seus parentes e de amigos especiais influenciem suas propostas e afetem suas decisões. Você lhes dá crédito muito facilmente e incorpora as opiniões deles a suas idéias e é muito freqüentemente levado ao erro. Você precisa se precaver. As famílias em _____ que têm um grau de parentesco muito próximo têm tido certa influência. Seu discernimento, seus sentimentos e suas opiniões os influenciam e, por sua vez, eles o influenciam; e uma forte corrente começará a fluir na direção errada a menos que você seja bastante humilde e inteiramente consagrado a Deus. Todos os elementos destes relacionamentos familiares são naturalmente independentes e conscienciosos e, a menos que sejam equilibrados e controlados pelo Espírito de Deus, se inclinam para extremos. Nunca, nunca seja influenciado por boatos. Nunca permita que sua conduta seja influenciada por seus parentes mais queridos. O tempo chegou quando a maior prudência precisa ser exercida em referência à causa e obra de Deus. É necessário discernimento para saber quando falar e quando guardar silêncio. Desejo de simpatia freqüentemente leva à grave imprudência de revelar os sentimentos a outros. Sua presença freqüentemente evoca simpatia quando seria melhor para você se não a recebesse. É importante que todos se familiarizem com a tendência da própria conduta diária, e com os motivos que inspiram suas ações. Precisam conhecer os motivos particulares que inspiraram ações específicas. Cada ato da vida deles é julgado não pela aparência exterior, mas pelo motivo que ditou a ação. T3 507 1 Todos devem vigiar os sentidos, do contrário Satanás alcançará vitória sobre eles; pois essas são as avenidas da alma. Podemos ser tão severos como quisermos em nos disciplinar, mas precisamos ser muito cautelosos para não empurrar almas ao desespero. Muitos sentem que o irmão White é severo demais ao falar de maneira decidida a indivíduos, reprovando o que julga estar errado com eles. Ele corre perigo de não ser tão cuidadoso em sua maneira de reprovar de modo a não dar oportunidade à reflexão; mas alguns dos que se queixam de sua maneira de reprovar usam a linguagem mais mordaz, ditatorial e condenatória, indiscriminada demais para ser usada para uma congregação, e sentem que aliviaram o ânimo e fizeram um bom trabalho. Mas os anjos de Deus nem sempre aprovam tal ação. Se o irmão White faz um indivíduo sentir que ele não está agindo corretamente, e que é muito severo para com esta pessoa e precisa ser ensinado a modificar suas maneiras, a abrandar seu espírito, quanto mais necessário para seus irmãos no ministério sentirem a incoerência de fazer uma grande congregação sofrer por causa de reprovações incisivas e denúncias fortes, quando os que são realmente inocentes precisam sofrer com os culpados. T3 507 2 É pior, muito pior, exprimir os sentimentos em uma grande reunião, desferindo dardos a torto e a direito, do que dirigir-se aos indivíduos que possam ter errado e reprová-los pessoalmente. A ofensa dessa fala severa, ultrajante, denunciadora, em uma grande assembléia, é de um caráter tanto mais grave aos olhos de Deus quanto maior é o número e mais geral a reprovação do que fazer uma censura pessoal, individual. É sempre mais fácil dar expressão aos sentimentos diante da congregação, por haver muitas pessoas presentes, do que ir aos culpados e frente a frente declarar-lhes franca, aberta e positivamente seu caminho errado. Introduzir na casa de Deus sentimentos violentos contra indivíduos, e fazer com que os inocentes sofram da mesma maneira que os culpados, é um modo de trabalhar que Deus não aprova e que prejudica em vez de beneficiar. Tem acontecido com muita freqüência que discursos críticos e denunciatórios têm sido dados a uma congregação. Estes não encorajam um espírito de amor nos irmãos. Não tendem a fazê-los espirituais e levá-los à santidade e ao Céu, mas um espírito de amargura é despertado nos corações. Estes sermões muito fortes que cortam uma pessoa em pedaços são às vezes positivamente necessários para despertar, alarmar e convencer. Mas a menos que tragam as marcas especiais de serem ditados pelo Espírito de Deus fazem muito mais dano do que bem. T3 508 1 Foi-me mostrado que a conduta de meu marido não tem sido perfeita. Ele errou algumas vezes em murmurar e em ministrar censura demasiado severa. Mas, pelo que tenho visto, ele não tem incorrido tão gravemente em falta a este respeito como muitos têm suposto e que eu às vezes receei. Jó não foi compreendido por seus amigos. Ele lhes remete suas censuras. Mostra-lhes que, se estão defendendo a Deus confessando sua fé nEle e sua percepção do pecado, ele tem um conhecimento mais profundo e cabal do pecado do que eles jamais tiveram. "Todos vós sois consoladores molestos", é a resposta que ele dá a suas críticas e censuras. "Falaria eu", disse Jó, "também como vós falais, se a vossa alma estivesse em lugar da minha alma? Ou amontoaria palavras contra vós e menearia contra vós a minha cabeça?" Mas ele declara que não o faria. Eu, diz ele, "vos fortaleceria com a minha boca, e a consolação dos meus lábios abrandaria a vossa dor". Jó 16:2, 4, 5. T3 509 1 Irmãos e irmãs que são bem intencionados, mas que têm concepções acanhadas e vêem somente o exterior, podem tentar ajudar em assuntos dos quais não possuem conhecimento real. Sua experiência limitada não pode sondar os sentimentos de uma pessoa que tem sido estimulada pelo Espírito de Deus, que sentiu até o mais profundo aquele amor e interesse sincero e inexprimível pela causa de Deus e pelas almas que eles nunca experimentaram, e que tem levado fardos na causa de Deus que eles nunca ergueram. T3 509 2 Alguns amigos míopes e de curta experiência não podem, com sua visão limitada, apreciar os sentimentos de alguém que tem estado em harmonia íntima com a alma de Cristo com relação à salvação de outros. Seus motivos são mal compreendidos e suas ações mal interpretadas por aqueles que seriam seus amigos, até que, como Jó, ele pronuncia a oração sincera: Salva-me de meus amigos. Deus assume o caso de Jó pessoalmente. Sua paciência tem sido severamente provada; mas, quando Deus fala, todos seus sentimentos banais são mudados. A justificação própria que ele julgou ser necessária para resistir à condenação de seus amigos não é necessária para com Deus. Ele nunca julga mal; Ele nunca erra. Diz o Senhor a Jó: "Agora cinge os teus lombos como homem." Jó 38:3. E Jó, logo que ouve a voz de Deus, seu coração se curva com o senso de sua pecaminosidade, e diz diante de Deus: "Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza." Jó 42:6. T3 509 3 Quando Deus falou, meu marido ouviu Sua voz; mas sofrer a condenação e observação de seus amigos que parecem não discernir tem sido uma grande prova. Quando seus irmãos tiverem estado sob as mesmas circunstâncias, e tiverem assumido as responsabilidades que ele assumiu com tão pouco encorajamento e ajuda que teve, então poderão compreender como sustentar, confortar e abençoar, sem torturar seus sentimentos por observações e censuras que ele não merece de forma alguma. ------------------------Capítulo 45 -- Apelos para recursos T3 510 1 Foi-me mostrado que tem havido resultados infelizes de fazer apelos urgentes para recursos em nossas reuniões campais. Esta questão tem sido levada longe demais. Muitas pessoas de recursos não teriam feito nada se seu coração não tivesse sido abrandado e enternecido sob a influência de testemunhos a elas dirigidos. Mas os pobres têm sido afetados profundamente e, na sinceridade de seu coração, prometeram recursos com coração voluntário, mas que eram incapazes de pagar. Na maior parte dos casos, apelos urgentes para recursos têm deixado uma impressão errada sobre algumas mentes. Alguns têm pensado que dinheiro era a preocupação de nossa mensagem. Muitos voltaram para seus lares abençoados porque tinham doado para a causa de Deus. Mas há melhores métodos de levantar fundos, por ofertas voluntárias, do que por apelos urgentes em nossas grandes reuniões. Se todos aceitarem o plano da doação sistemática, e se nossos obreiros no departamento missionário e de folhetos forem fiéis em sua área de atuação, a tesouraria estará bem suprida sem estes apelos urgentes em nossas grandes reuniões. T3 510 2 Mas tem havido grande negligência do dever. Muitos têm retido recursos que Deus reivindica como Seus, e assim fazendo têm cometido roubo contra Deus. Seu coração egoísta não deu o dízimo de todo seu lucro, o qual Deus reivindica. Nem têm eles vindo às reuniões anuais com suas ofertas voluntárias, suas ofertas de gratidão e suas ofertas pelo pecado. Muitos têm-se apresentado perante o Senhor de mãos vazias. "Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança." Malaquias 3:8-10. T3 510 3 O pecado pesará sobre nós como um povo se não fizermos os esforços mais sérios para descobrir aqueles que doaram para os vários projetos, mas que são pobres demais para dar alguma coisa. Tudo que eles, na liberalidade de seu coração, deram deve lhes ser devolvido com uma dádiva adicional para aliviar suas necessidades. O levantamento de dinheiro tem sido levado a extremos. Tem deixado má impressão em muitas mentes. Fazer apelos urgentes não é o melhor plano para levantar recursos. Tem havido indiferença para analisar os casos dos pobres e lhes fazer devolução, para que não sofram por causa de necessidades vitais. A negligência de nosso dever nesta questão, de nos familiarizar com as necessidades dos pobres e aliviar sua carência urgente devolvendo recursos que foram dados para promover a causa de Deus, seria uma negligência de nossa parte a nosso Salvador na pessoa de Seus santos. ------------------------Capítulo 46 -- Dever para com os desafortunados T3 511 1 Foram-me mostradas algumas coisas com referência a nosso dever para com os desafortunados, que sinto ser meu dever escrever agora. T3 511 2 Vi que é pela providência de Deus que viúvas e órfãos, cegos, surdos, coxos e pessoas atribuladas por diversos modos foram postos em íntima relação cristã com Sua igreja; é para provar Seu povo e desenvolver seu verdadeiro caráter. Os anjos de Deus estão observando para ver como tratamos essas pessoas necessitadas de nossa simpatia, amor e desinteressada generosidade. Esta é a maneira de Deus provar nosso caráter. Se possuímos a verdadeira religião da Bíblia, havemos de ver que temos para com Cristo um débito de amor, bondade e interesse, em favor de Seus irmãos. Não podemos fazer outra coisa senão manifestar nossa gratidão por Seu incomensurável amor para conosco enquanto éramos pecadores indignos de Sua graça, mantendo um profundo interesse e desprendido amor para com aqueles que são nossos irmãos, e menos afortunados que nós. T3 511 3 Os dois grandes princípios da lei de Deus são o supremo amor a Deus e amor altruísta ao próximo. Os primeiros quatro mandamentos e os últimos seis dependem desses dois princípios, ou deles provêm. Cristo explicou ao doutor da lei que seu próximo se encontrava na ilustração do homem que viajava de Jerusalém para Jericó e caiu entre ladrões, sendo roubado, espancado e deixado meio morto. O sacerdote e o levita viram o homem sofrendo, mas seu coração não correspondeu a suas necessidades. Evitaram-no, passando de largo. O samaritano passou por aquele caminho e, quando viu a necessidade de auxílio em que se achava o estranho, não perguntou se era parente, conterrâneo ou da mesma fé; mas pôs-se a trabalhar a fim de ajudar o sofredor, pois havia algo que devia ser feito. Aliviou-o da melhor maneira que pôde, pô-lo sobre a própria cavalgadura e levou-o a uma hospedaria, tomando providências para suas necessidades, por conta própria. Esse samaritano, disse Cristo, era o próximo daquele que caiu entre ladrões. O levita e o sacerdote representam, na igreja, uma classe que manifesta indiferença até para com os que precisam de sua simpatia e auxílio. Esta classe, malgrado sua posição na igreja, é transgressoras dos mandamentos. O samaritano representa uma classe de fiéis auxiliadores de Cristo, que Lhe imitam o exemplo em fazer o bem. T3 512 1 Os que têm pena dos desafortunados, dos cegos, aleijados, enfermos, viúvas, órfãos e necessitados, Cristo os representa como observadores dos mandamentos, que hão de ter vida eterna. Há em _____ uma grande falta de religião pessoal e de um senso de obrigação individual para sentir as misérias de outros e para trabalhar com bondade desinteressada pelo bem-estar dos desafortunados e aflitos. Alguns não têm experiência nestes deveres. Eles têm sido toda sua vida como o levita e o sacerdote, que passaram do outro lado. Há um trabalho para a igreja fazer, o qual, se for negligenciado, trará trevas sobre eles. A igreja como um todo e individualmente deve examinar fielmente seus motivos e comparar sua vida com a vida e ensinos do único Modelo correto. Cristo considera todos os atos de misericórdia, beneficência e atenciosa consideração para com os desafortunados, os cegos, os aleijados, os doentes, as viúvas e os órfãos como feitos a Ele mesmo; e essas obras são mantidas nos registros celestes e serão recompensadas. Por outro lado, será escrito no livro um registro contra os que manifestam a indiferença do sacerdote e do levita para com os desafortunados, e os que se prevalecem do infortúnio dos outros, aumentando-lhes o sofrimento a fim de egoistamente desfrutarem vantagens. Deus certamente retribuirá todo ato de injustiça e toda manifestação de descuidosa indiferença e negligência para com os sofredores de nosso meio. Todos serão finalmente recompensados de acordo com suas obras. T3 513 1 Foi-me mostrado com respeito ao irmão E que ele não foi tratado com justiça por seus irmãos. Os irmãos F, G e outros se conduziram para com ele de modo a desagradar a Deus. O irmão F não teve interesse especial no irmão E, a menos que julgasse que poderia tirar vantagem à custa dele. Foi-me mostrado que alguns consideravam o irmão E como sendo avarento e desonesto. Deus Se desagrada com tal julgamento. O irmão E não teria tido problema e teria tido recursos suficientes para se manter não fosse a conduta egoísta de seus irmãos que tinham vista e propriedades, e que trabalharam contra ele procurando converter suas habilidades para obter vantagem própria. Aqueles que tiram vantagem do esforço duro de um cego e procuram beneficiar-se com suas invenções cometem roubo e são virtualmente transgressores dos mandamentos. T3 513 2 Há alguns na igreja que professam estar guardando a lei de Jeová, mas que são transgressores daquela lei. Há pessoas que não discernem os próprios defeitos. Elas têm um espírito egoísta e mesquinho e fecham os olhos a seu pecado de cobiça, que a Bíblia define como idolatria. Pessoas desta espécie podem ter sido estimadas por seus irmãos como cristãos exemplares; mas os olhos de Deus lêem o coração e discernem os motivos. Ele vê aquilo que o homem não pode ver nos pensamentos e no caráter. Em Sua providência, Ele traz estas pessoas a posições que revelarão eventualmente os defeitos de seu caráter, para que se quiserem vê-los e corrigi-los possam fazê-lo. Há alguns que em toda sua vida têm procurado os próprios interesses, ficado absortos com os próprios planos egoístas e ansiosos para tirar vantagem sem refletir muito se outros estariam em dificuldades ou perplexidade por quaisquer planos ou ações de sua parte. O Senhor às vezes permite que as pessoas desta classe prossigam em sua conduta egoísta em cegueira espiritual até que seus defeitos sejam evidentes a todos que têm discernimento espiritual, e elas manifestem por suas obras que não são cristãs genuínas. T3 514 1 Os que possuem propriedades e relativa saúde, e que desfrutam a bênção inestimável da vista, têm toda vantagem sobre um cego. Muitos caminhos lhes estão abertos em sua carreira de negócios que estão fechados para um homem que perdeu a vista. Pessoas que desfrutam o uso de todas as suas faculdades não devem cuidar do próprio interesse egoísta e privar a um irmão cego de uma partícula de sua oportunidade de ganhar a vida. O irmão E é um homem pobre. É um homem fraco; também é cego. Ele tem desejado seriamente ajudar a si mesmo, e, embora vivendo sob um fardo de enfermidades desalentadoras, sua aflição não secou os impulsos generosos de seu coração. Em suas circunstâncias limitadas, ele tem tido ânimo para trabalhar e tem feito mais aos olhos de Deus para aqueles que necessitam de auxílio do que muitos irmãos que desfrutam da vista e que possuem uma boa propriedade. O irmão E possui um capital em sua experiência comercial e sua faculdade inventiva. Ele tem trabalhado seriamente com esperanças elevadas de inventar uma atividade pela qual poderia se manter e não depender de seus irmãos. T3 514 2 Eu gostaria que todos nós víssemos as coisas como Deus as vê. Gostaria que pudéssemos compreender como Deus considera esses homens que professam ser seguidores de Cristo, que possuem a bênção da visão e a vantagem de recursos em seu favor, e no entanto invejam a pequena prosperidade desfrutada por um pobre cego, e gostariam de beneficiar-se com o aumento de sua soma de recursos à custa de seu afligido irmão. Isto é considerado por Deus como o mais criminoso egoísmo e como roubo, sendo um grave pecado que Ele sem dúvida punirá. Deus nunca esquece. Ele não vê essas coisas com olhos humanos e com o frio e insensível discernimento do homem. Ele vê as coisas não do ponto de vista do mundo, mas do ponto de vista da misericórdia, da piedade e do infinito amor. T3 515 1 O irmão H tentou ajudar o irmão E, mas não com motivos desinteressados. De início sua piedade foi despertada. Viu que o irmão E precisava de ajuda. Mas logo perdeu seu interesse, e sentimentos egoístas ganharam força, até que a conduta de seus irmãos resultou em prejuízo e não em beneficio para o irmão E. Estas coisas grandemente desencorajaram o irmão E e têm tido a tendência de enfraquecer sua confiança em seus irmãos. Resultaram em envolvê-lo em dívidas que não podia pagar. Ao reconhecer os sentimentos egoístas manifestados para com ele por alguns de seus irmãos, isto o tem magoado e algumas vezes irritado. Seus sentimentos por vezes têm sido quase incontroláveis ao reconhecer sua condição desamparada, sem vista, sem recursos, sem saúde e com alguns de seus irmãos trabalhando contra ele. Isto tem agravado suas aflições e pesado terrivelmente sobre sua saúde. T3 515 2 Foi-me mostrado que o irmão E tem algumas boas qualidades mentais que seriam melhor apreciadas se ele tivesse maior poder de domínio próprio e não se tornasse agitado. Toda exibição de impaciência e de mau humor pesa contra ele, e é exagerada por alguns que são culpados de pecados muito mais graves à vista de Deus. Os princípios do irmão E são bons. Ele tem integridade. Não é um homem desonesto. Não defraudaria a ninguém deliberadamente. Mas ele tem faltas e pecados que precisam ser vencidos. Ele, bem como outras pessoas, tem de lidar com a natureza humana. Com demasiada freqüência ele é impaciente e é às vezes arrogante. Deve nutrir espírito mais bondoso e cortês e cultivar cordial gratidão para com aqueles que sentem interesse pelo seu caso. Por natureza possui temperamento impetuoso quando subitamente incitado ou provocado irrazoavelmente. Mas, não obstante, ele quer fazer o que é correto, e sente arrependimento sincero para com Deus quando reflete sobre seus erros. T3 515 3 Se vir seus irmãos inclinados a lhe fazer justiça, ele será generoso para perdoar e bastante humilde para desejar paz, mesmo que tenha de fazer grandes sacrifícios para obtê-la. Mas ele é facilmente incitado; é de um temperamento nervoso. Ele tem necessidade da suavizante influência do Espírito de Deus. Se aqueles que estão prontos para censurá-lo considerassem as próprias faltas e bondosamente fechassem os olhos para suas faltas tão generosamente como devem, manifestariam o espírito de Cristo. O irmão E tem um trabalho a fazer para ser vencedor. Suas palavras e relacionamento com outros devem ser gentis, bondosos e agradáveis. Deve guardar-se estritamente de tudo que sugira espírito ditatorial, maneiras e palavras arrogantes. T3 516 1 Embora Deus seja amigo dos cegos e desafortunados, Ele não desculpa seus pecados. Ele requer que vençam e que aperfeiçoem caráter cristão em nome de Jesus, que venceu em seu favor. Mas Jesus Se condói de nossa fraqueza, e Ele está pronto para dar força a fim de suportarmos a prova e resistirmos às tentações de Satanás se lançarmos nosso fardo sobre Ele. Anjos são enviados para ministrar aos filhos de Deus que são fisicamente cegos. Anjos protegem seus passos e os livra de mil perigos, os quais, sem que o saibam, assediam seu caminho. Mas Seu Espírito não os assistirá a menos que cultivem espírito de bondade e procurem seriamente controlar sua natureza e submeter a Deus suas paixões e todas as faculdades. Precisam cultivar um espírito de amor e controlar suas palavras e ações. T3 516 2 Foi-me mostrado que Deus requer que Seu povo seja muito mais piedoso e compassivo para com os desafortunados do que o tem sido. "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. Aqui é definida a religião genuína. Deus requer que a mesma consideração que deve ser dada à viúva e aos órfãos seja dada aos cegos e aos que sofrem sob a aflição de outras enfermidades físicas. A beneficência desinteressada é muito rara nesta época do mundo. T3 516 3 Foi-me mostrado, no caso do irmão E, que aqueles que o tratarem de um modo injusto e o desanimarem em seus esforços para se ajudar, ou que, cobiçando a prosperidade do pobre cego, se beneficiarem à sua custa, trarão sobre si mesmos a maldição de Deus, que é amigo dos cegos. Instruções especiais foram dadas aos filhos de Israel com referência aos cegos: "Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã. Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o Senhor. Não fareis injustiça no juízo, nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo." Levítico 19:13-15. "Maldito aquele que arrancar o termo do seu próximo! E todo o povo dirá: Amém! Maldito aquele que fizer que o cego erre do caminho! E todo o povo dirá: Amém! Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva! E todo o povo dirá: Amém!" Deuteronômio 27:17-19. T3 517 1 É estranho que professos cristãos não estimem os ensinamentos claros e positivos da Palavra de Deus e não sintam compunções de consciência. Deus coloca sobre eles a responsabilidade de cuidar dos desafortunados, cegos, coxos, das viúvas e dos órfãos; porém, muitos não fazem nenhum esforço em relação a isto. A fim de salvar tais pessoas, Deus muitas vezes as coloca sob a vara da aflição, e as põe em posição semelhante à que ocupavam os que tiveram necessidade de sua ajuda e simpatia e nada receberam de suas mãos. T3 517 2 Deus fará a igreja de _____ responsável, como corporação, pela conduta errônea de seus membros. Se um espírito egoísta e contrário à simpatia se permite existir em qualquer de seus membros para com os desafortunados, as viúvas, os órfãos, os cegos, os coxos ou os que são enfermos no corpo e na mente, Ele esconderá Sua face de Seu povo até que cumpram o seu dever e removam o erro de seu meio. Se alguém que professa o nome de Cristo representar mal o seu Salvador a ponto de descuidar de seu dever para com os aflitos, ou se de qualquer maneira procurar tirar vantagem para si mesmo do mal dos desafortunados, e assim subtrair-lhes recursos, o Senhor torna a igreja responsável pelo pecado de seus membros até que tenham feito tudo que puderem para remediar o mal existente. Ele não atentará para a oração de Seu povo enquanto os órfãos, os desprotegidos, os coxos, os cegos e os enfermos forem negligenciados entre eles. T3 518 1 Há maior significado em "estar do lado do Senhor" do que simplesmente dizê-lo numa reunião. O lado do Senhor é sempre o lado da misericórdia, compaixão e simpatia pelo sofredor, como será visto pelo exemplo dado na vida de Jesus. Requer-se que imitemos Seu exemplo. Mas há alguns que não estão do lado do Senhor em relação a estas coisas; estão do lado do inimigo. Dando a Seus ouvintes uma ilustração deste assunto, Jesus disse: T3 518 2 "E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes. Então, dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; sendo estrangeiro, não Me recolhestes; estando nu, não Me vestistes; e estando enfermo e na prisão, não Me visitastes. Então, eles também Lhe responderão, dizendo: Senhor, quando Te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão e não Te servimos? Então, lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna." Mateus 25:40-46. T3 518 3 Aqui em Seu sermão Cristo Se identifica com a humanidade sofredora e deixa claro a todos nós que indiferença ou injustiça feita ao menor de Seus santos é feita a Ele. Aqui está o lado do Senhor, e quem quiser estar do lado do Senhor, que venha conosco. O querido Salvador é ferido quando ferimos um de Seus humildes santos. T3 518 4 O justo Jó geme por causa de suas aflições e pleiteia em defesa própria quando acusado injustamente por um de seus consoladores. Ele diz: "Eu era o olho do cego e os pés do coxo; dos necessitados era pai e as causas de que não tinha conhecimento inquiria com diligência; e quebrava os queixais do perverso e dos seus dentes tirava a presa." Jó 29:15-17. T3 519 1 O pecado de um só homem derrotou o exército todo de Israel. Uma conduta errada seguida por uma pessoa para com seu irmão desviará a luz de Deus de Seu povo até que o erro seja descoberto e a causa do oprimido seja vindicada. Deus requer que Seu povo seja gentil em seus sentimentos e discriminações, e ao mesmo tempo seu coração deve se alargar, seus sentimentos serem amplos e profundos, não estreitos, egoístas e avarentos. Nobre compaixão, grandeza de alma e benevolência desinteressada são necessárias. Então poderá a igreja triunfar em Deus. Mas enquanto a igreja permitir que o egoísmo drene a bondosa compaixão, o terno e solícito amor e o interesse por seus irmãos, toda virtude será corroída. O jejum de Isaías deve ser estudado e um rigoroso exame próprio feito com disposição para discernir se há neles os princípios que Deus requer de Seu povo a fim de que possam receber as ricas bênçãos prometidas. T3 519 2 Deus requer de Seu povo que não permita que o pobre e o aflito sejam oprimidos. Se quebrarem todo jugo e libertarem o oprimido, e forem desprendidos e possuídos de terna consideração pelos necessitados, então as bênçãos prometidas serão suas. Se existem na igreja os que querem fazer os cegos tropeçarem, devem ser chamados à justiça; pois Deus nos fez guardas dos cegos, dos sofredores, das viúvas e dos órfãos. O tropeço ao qual se refere a Palavra de Deus não quer dizer um bloco de madeira colocado ante os pés do cego (Levítico 19:14) para fazê-lo tropeçar; mas quer dizer muito mais do que isso. Quer dizer qualquer procedimento seguido para prejudicar a influência de um irmão cego, trabalhar contra seus interesses, ou atrapalhar sua prosperidade. T3 519 3 Um irmão cego, pobre, enfermo e que tudo esteja fazendo a fim de não vir a ser dependente deve de toda maneira possível ser encorajado por seus irmãos. Mas os que professam ser seus irmãos, que têm o uso de todas as suas faculdades, que não são dependentes, mas que esquecem o seu dever para com os cegos a tal ponto que confundem, afligem e impedem seu caminho, estão fazendo um trabalho que requererá arrependimento e restauração antes que Deus aceite as suas orações. E a igreja de Deus, que tem permitido que seus infortunados irmãos sejam injustiçados, será culpada de pecado até que faça tudo que estiver em seu poder para reparar a injustiça. T3 520 1 Todos, sem dúvida, conhecem o caso de Acã. É registrado na história sagrada para todas as gerações, mas mais especialmente para aqueles sobre os quais o fim do mundo tem chegado. Josué estava gemendo sobre seu rosto diante de Deus porque o povo foi obrigado a fazer uma retirada vergonhosa diante de seus inimigos. O Senhor ordenou a Josué que se levantasse: "Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?" Humilhei-te sem causa removendo Minha presença de ti? Não; Ele diz a Josué que há um trabalho para ele fazer antes que sua oração pudesse ser respondida. "Israel pecou, e até transgrediram o Meu concerto que lhes tinha ordenado, e até tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram, e até debaixo da sua bagagem o puseram." Ele declara: "Não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós." Josué 7:10-12. T3 520 2 Aqui neste exemplo temos alguma idéia da responsabilidade da igreja e do trabalho que Deus requer que façam a fim de ter Sua presença. É um pecado em qualquer igreja não examinar a causa de suas trevas e das aflições que têm estado em seu meio. A igreja em _____ não pode ser uma igreja viva e próspera até [seus membros] estarem mais cônscios das faltas em seu meio, que impedem que a bênção de Deus venha sobre eles. A igreja não deve tolerar que irmãos em aflição sejam prejudicados. Estes são exatamente aqueles que devem despertar a simpatia de todos os corações e evocar o exercício de sentimentos nobres e benevolentes de todos os seguidores de Cristo. Os verdadeiros discípulos de Cristo trabalharão em harmonia com Ele e, seguindo Seu exemplo, ajudarão aqueles que precisam de ajuda. A cegueira do irmão E é uma aflição terrível, e todos devem procurar ser olhos para o cego e assim fazer com que ele sinta sua perda o menos possível. Há alguns que fazem uso de seus olhos espreitando oportunidades de trabalhar em proveito próprio para ganharem algo, mas Deus pode trazer confusão sobre eles de um modo que não esperam. T3 521 1 Se Deus em Sua misericórdia deu ao cego faculdades inventivas as quais ele pode usar para o próprio bem, não permita Deus que alguém lhe negue este privilégio e o roube dos benefícios que ele poderia obter do dom que Deus lhe deu. O cego, pela perda da vista, enfrenta desvantagens de todos os lados. O coração no qual não se suscitem piedade e simpatia ao ver um cego andando às apalpadelas num mundo para ele vestido em trevas é de fato duro, e tem de ser abrandado pela graça de Deus. O cego não pode contemplar uma face e nela ler bondosa simpatia e verdadeira benevolência. Não pode contemplar as belezas da natureza e reconhecer o dedo de Deus em Suas obras criadas. Seu júbilo confortante não lhe fala para consolá-lo e abençoá-lo quando desalento paira sobre ele. Quão rapidamente ele trocaria sua cegueira e toda bênção temporal pela bênção da vista. Mas ele está encerrado em um mundo de trevas, e os direitos que Deus lhe deu têm sido espezinhados para que outros lucrem. ------------------------Capítulo 47 -- O dever do homem para com seus semelhantes T3 521 2 Foram-me mostradas algumas coisas com relação à família do irmão I que me impressionaram tão fortemente desde que vim para este lugar que eu me aventuro a expô-las. Foi-me mostrado, irmão I, que existe em sua família um elemento de egoísmo que se apega a você como a lepra. Este egoísmo deve ser visto e vencido, pois é um pecado grave à vista de Deus. Como família vocês têm há tanto tempo consultado os próprios desejos, prazer e conveniência, que não percebem que outros têm direitos sobre vocês. Seus pensamentos, planos e esforços são para si mesmos. Vivem para si; não cultivam benevolência desinteressada, a qual, se fosse exercida, cresceria e se fortaleceria até ser um deleite viver para o bem de outros. Sentiriam que têm um objetivo na vida, um propósito que lhes traria recompensa de maior valor do que dinheiro. Vocês necessitam ter interesse mais específico pelos seres humanos, e assim fazendo levariam o coração a um relacionamento mais íntimo com Cristo e estariam imbuídos do Seu Espírito e se apegariam a Ele com uma tenacidade tão firme que nada os separaria de Seu amor. T3 522 1 Cristo é a Videira viva; e se vocês são ramos dessa Videira, o alimento vital que flui através dela os nutrirá, de modo que não serão estéreis ou infrutíferos. Vocês têm, como família e como indivíduos, se ligado professamente com o serviço de Cristo; e contudo são pesados nas balanças do santuário e achados em falta. Todos vocês precisam passar por uma transformação completa antes de poderem fazer aquilo que cristãos desprendidos e devotos devem fazer. Nada a não ser conversão cabal pode lhes dar uma percepção correta de seus defeitos de caráter. Todos vocês têm em grande medida o espírito e amor do mundo. Diz o apóstolo João: "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. Seu espírito egoísta lhes confina e atrofia a mente para os próprios interesses. Vocês precisam "da religião pura e imaculada". Tiago 1:27. A simplicidade da verdade os levará a sentir compaixão pelas misérias dos outros. Há pessoas que precisam de sua simpatia e amor. Exercitar estes traços de caráter é uma parte do trabalho que Cristo nos deu a todos para fazer. T3 522 2 Deus não os desculpará de não tomar a cruz e praticar abnegação fazendo o bem a outros com motivos desinteressados. Se vocês se derem ao trabalho de exercer a abnegação requerida dos cristãos, podem, pela graça de Deus, ser qualificados a ganhar almas para Cristo. Deus tem reivindicações sobre vocês as quais nunca atenderam. Há muitos ao nosso redor que têm fome de simpatia e amor. Mas, como muitos outros, vocês têm sido quase destituídos daquele amor humilde que naturalmente flui em compaixão e simpatia para com os pobres, os sofredores e os necessitados. O próprio semblante humano é um espelho da mente, lido por outros, e tem influência marcante sobre eles para o bem ou para o mal. Deus não ordena a nenhum de nós vigiar nossos irmãos e nos arrepender de seus pecados. Ele nos deixou um trabalho, e nos ordena fazê-lo resolutamente, no Seu temor, tendo somente Sua glória em vista. T3 523 1 Cada um, quer seja fiel ou não, precisará prestar contas a Deus por si mesmo, não pelos outros. Ver faltas em outros crentes e condenar sua conduta não desculpará ou compensará um de nossos erros. Não devíamos fazer de outros nosso critério nem desculpar algo em nossa conduta porque outros cometeram erro. Deus nos deu consciência para nós mesmos. Grandes princípios são prescritos em Sua Palavra, que são suficientes para nos conduzir em nossa caminhada cristã e comportamento geral. Vocês, meus queridos amigos, como uma família não têm mantido os princípios da lei de Deus. Nunca sentiram a responsabilidade do dever que recai sobre o ser humano para com seus semelhantes. T3 523 2 "E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-O e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: T3 523 3 "Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele; e, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele, e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira." Lucas 10:25-37. T3 524 1 As condições de herança da vida eterna são claramente afirmadas por nosso Salvador da maneira mais simples. O homem que fora ferido e roubado representa aqueles que dependem de nosso interesse, simpatia e caridade. Se negligenciarmos a causa dos necessitados e desafortunados que nos vem ao conhecimento, não importa quem sejam eles, não temos a garantia de vida eterna, pois não estaremos correspondendo aos deveres que Deus sobre nós impõe. Não nos compadecemos ou nos apiedamos da humanidade porque podem não ser de nossa parentela. Vocês têm sido achados transgressores do segundo grande mandamento, do qual dependem os últimos seis. Qualquer que transgredir "em um só ponto, se torna culpado de todos". Tiago 2:10. Aqueles que não abrem o coração às necessidades e sofrimentos da humanidade também não abrirão o coração às reivindicações de Deus declaradas nos primeiros quatro preceitos do decálogo. Os ídolos pedem o coração e as afeições, e Deus não é honrado e não reina supremo. T3 524 2 Vocês, como família, têm fracassado lamentavelmente. Não são, no mais estrito sentido, guardadores dos mandamentos. Podem ser bem exatos em algumas coisas, e contudo negligenciar as coisas de mais peso -- juízo, misericórdia e o amor a Deus. Embora os costumes do mundo não sejam um critério para nós, contudo me tem sido mostrado que a simpatia compassiva e a benevolência do mundo pelos desafortunados em muitos casos envergonham os professos seguidores de Cristo. Muitos manifestam indiferença para com aqueles que Deus colocou entre eles com o fim de testá-los e prová-los e de revelar o que está em seu coração. Deus lê. Ele nota cada ato de egoísmo, todo ato de indiferença para com os aflitos, as viúvas e os órfãos; e Ele escreve ao lado de seus nomes: "Culpados, faltosos, transgressores da lei." Seremos galardoados segundo nossas obras. Toda negligência do dever para com os necessitados e para com os aflitos é uma negligência do dever para com Cristo na pessoa de seus santos. T3 525 1 Quando, perante Deus, o caso de todos for passado em revista, não será feita a pergunta: Que professavam eles? Mas: Que fizeram? Foram praticantes da Palavra? Viveram para si próprios, ou praticaram obra de beneficência, mediante atos de bondade e amor, preferindo os demais a si próprios, e negando a si mesmos a fim de poderem abençoar outros? Se o relatório mostra haver sido essa a sua vida, e que seu caráter foi assinalado pela ternura, abnegação e beneficência, receberão a bendita certeza, e a bênção de Cristo: "Bem está." "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mateus 25:23, 34. Cristo foi maltratado e ferido pelo seu assinalado amor egoísta, e sua indiferença para com os sofrimentos e necessidades dos outros. T3 525 2 Muitas vezes nossos esforços por outros podem ser desconsiderados e aparentemente perdidos. Mas isto não deve constituir-se motivo para nos mostrarmos cansados de fazer o bem. Quantas vezes não tem vindo Jesus procurar frutos nas plantas do Seu cuidado, e não tem encontrado senão folhas! Podemos ficar desapontados quanto aos resultados dos nossos melhores esforços, mas isto não nos deve levar ao indiferentismo para com os ais alheios e a nada fazer. "Amaldiçoai a Meroz, diz o Anjo do Senhor; acre-mente amaldiçoai os seus moradores, porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os valorosos." Juízes 5:23. Quantas vezes Cristo é desapontado naqueles que professam ser Seus filhos! Ele lhes deu evidências inconfundíveis de Seu amor. Tornou-Se pobre, para que por Sua pobreza nos tornássemos ricos. 2 Coríntios 8:9. Morreu por nós, para que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna. João 3:16. Que tal se Cristo tivesse Se recusado a levar nossa iniqüidade porque foi rejeitado por muitos e porque tão poucos apreciaram Seu amor e as bênçãos infinitas que Ele veio trazer-lhes? Necessitamos encorajar esforços pacientes e penosos. Precisa-se agora coragem, não desânimo ocioso e mal-humorada murmuração. Estamos neste mundo para trabalhar para nosso Mestre e não para cuidar de nossa inclinação ou prazer, para servir e glorificar a nós mesmos. Por que, então, devíamos estar inativos e desanimados por não vermos os resultados imediatos que desejamos? T3 526 1 Nosso trabalho é labutar na vinha do Senhor, não meramente para nós mesmos, mas para o bem de outros. Nossa influência é uma bênção ou uma maldição para outros. Estamos aqui para formar caráter perfeito para o Céu. Temos algo a fazer além de nos queixar e murmurar das providências de Deus, e de escrever coisas amargas contra nós mesmos. Nosso adversário não nos permitirá descansar. Se somos de fato filhos de Deus seremos atormentados e assediados severamente, e não devemos esperar que Satanás ou aqueles sob sua influência nos tratarão com bondade. Mas há anjos que excedem em poder que estarão conosco em todos os nossos conflitos se tão-somente formos fiéis. Cristo venceu a Satanás por nós no deserto da tentação. Ele é mais poderoso do que Satanás, e Ele em breve o esmagará sob nossos pés. T3 526 2 Vocês, como uma família e como indivíduos, têm-se desculpado de serviço sério e ativo na causa de seu Mestre. Vocês têm sido indolentes demais e têm deixado que outros levem muitos dos mais pesados fardos que vocês podiam e deviam ter levado. Sua força e bênção espirituais serão proporcionais ao trabalho de amor e às boas obras que vocês efetuam. A instrução do apóstolo Paulo é: "Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo." Gálatas 6:2. Guardar os mandamentos de Deus requer de nós boas obras, abnegação, sacrifício próprio e dedicação para o bem de outros; não que nossas boas obras por si possam nos salvar, mas porque certamente não podemos ser salvos sem boas obras. Depois de fazermos tudo que somos capazes de fazer, devemos então dizer: Não fizemos mais do que nosso dever, e na melhor das hipóteses somos servos inúteis, indignos do menor favor de Deus. Cristo deve ser nossa justiça e a coroa de nosso regozijo. T3 526 3 Justiça própria e segurança carnal os têm cercado como uma muralha. Como família, vocês possuem um espírito de independência e orgulho. Este elemento os separa de Deus. É uma falta, um defeito que precisa ser visto e vencido. É quase impossível para vocês verem seus erros e faltas. Vocês têm uma opinião demasiado boa de si mesmos, e lhes é difícil ver e remover por confissão os erros em sua vida. Inclinam-se a justificar e defender sua conduta em quase tudo, quer seja certa ou errada. Enquanto não for demasiado tarde para corrigir os erros, entreguem o coração a Jesus através de humilhação e súplica, e procurem conhecer a si mesmos. Vão se perder a menos que despertem e trabalhem com Cristo. Vocês se encerram numa armadura fria, sem sentimento e sem compaixão. Há pouca vida e calor em seu relacionamento com outros. Vivem para si e não para Cristo. São descuidados e indiferentes às necessidades e condições de outros menos afortunados do que vocês. A todo seu redor há pessoas desoladas que anelam por amor expresso em palavras e ações. Amigável simpatia e sentimentos verdadeiros de terno interesse pelos outros trariam a seu coração bênçãos que vocês nunca experimentaram e os levariam a um íntimo relacionamento com nosso Redentor, cuja vinda ao mundo foi com o fim de fazer o bem e cuja vida devemos imitar. Que estão vocês fazendo por Cristo? "Porfiai por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão." Lucas 13:24. Amor e simpatia no lar T3 527 1 Existem muitos em nosso mundo que anseiam pelo amor e simpatia que lhes devem ser prodigalizados. Muitos homens amam a sua esposa, mas são egoístas demais para manifestá-lo. Estão possuídos de dignidade e orgulho falsos, e não mostrarão por palavras e atos o amor que têm. Existem muitos homens que nunca sabem como o coração de sua esposa anseia por palavras de terno apreço e afeto. Sepultam os seus queridos, afastando-os de sua vista e queixam-se da providência de Deus que os separou dos seus companheiros, ao passo que, se lhes fosse possível observar a vida íntima desses companheiros, veriam que seu procedimento foi a causa da morte prematura deles. A religião de Cristo nos levará a ser bondosos e corteses, e não tão obstinados em nossas opiniões. Devemos morrer para o eu, e considerar os outros melhores que nós mesmos. T3 528 1 A Palavra de Deus é nossa norma, mas quão longe Seu povo professo afastou-se da mesma! Nossa fé religiosa deve ser não somente teórica, mas prática. Religião pura e imaculada não nos permitirá espezinhar os direitos da menor das criaturas de Deus, muito menos dos membros de Seu corpo e os membros de nossa própria família. Deus é amor, e quem nEle habita, habita em amor. A influência do egoísmo mundano, que é carregada por muitos como uma nuvem, que esfria a própria atmosfera que outros respiram, causa enfermidade da alma e freqüentemente calafrios de morte. T3 528 2 Será uma grande cruz para vocês cultivarem amor puro e desprendido e desinteressada benevolência. Ceder suas opiniões e idéias, renunciar ao julgamento próprio e seguir os conselhos de outros será uma grande cruz para vocês. Os vários membros de sua família têm agora as próprias famílias. Mas o mesmo espírito que existia em maior ou menor grau no lar paterno é levado para os próprios lares e é sentido por pessoas fora dos círculos familiares. Têm falta de uma meiga simplicidade, ternura como a de Cristo e amor desinteressado. Eles têm um trabalho a fazer para vencer estes traços egoístas de caráter a fim de serem ramos frutíferos da Vinha Verdadeira. Disse Cristo: "Nisto é glorificado Meu Pai: que deis muito fruto." João 15:8. Vocês precisam trazer Cristo para perto de vocês e tê-Lo em seu lar e em seu coração. Devem não só ter conhecimento do que é certo, mas devem praticá-lo por motivos corretos, tendo em vista unicamente a glória de Deus. Vocês podem ser de ajuda, se cumprirem as condições dadas na Palavra de Deus. T3 528 3 A religião de Cristo é algo mais do que conversa. A justiça de Cristo consiste em ações corretas e boas obras a partir de motivos puros e desinteressados. Justiça exterior, enquanto o adorno interior faltar, não será de nenhum valor. "E esta é a mensagem que dEle ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nEle treva nenhuma. Se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado." 1 João 1:5-7. Se não tivermos a luz e o amor de Deus, não somos Seus filhos. Se não ajuntamos com Cristo, espalhamos. Todos temos uma influência, e esta influência pesa sobre o destino de outros para seu bem presente e futuro ou para sua perda eterna. T3 529 1 J e K ambos têm falta de simpatia e amor para com os de fora de suas famílias. Eles correm o perigo de espreitar defeitos em outros enquanto males maiores existem despercebidos neles mesmos. Para que estas queridas pessoas entrem no Céu, precisam morrer para o eu e obter experiência em fazer o bem. Elas têm lições a aprender na escola de Cristo a fim de aperfeiçoarem caráter cristão e ter união com Cristo. Disse Cristo a Seus discípulos: "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus." Mateus 18:3. Ele lhes explicou o significado. Ele não desejava que eles se tornassem como crianças no entendimento, mas como crianças no tocante à malícia. Criancinhas não manifestam sentimentos de superioridade e aristocracia. São simples e naturais em sua aparência. Cristo gostaria que Seus seguidores cultivassem maneiras não afetadas, que todo seu porte fosse humilde e cristão. Ele determinou ser nosso dever viver para o bem de outros. Ele veio das cortes reais do Céu a este mundo para mostrar quão grande era Seu interesse pelo homem, e o preço infinito pago para a redenção do ser humano mostra que ele é de tão grande valor que Cristo podia sacrificar Suas riquezas e honra nas cortes reais para erguê-lo da degradação do pecado. T3 529 2 Se a Majestade do Céu podia fazer tanto para mostrar Seu amor pelos seres humanos, que não deveriam eles estar dispostos a fazer para ajudar uns aos outros a saírem do abismo de trevas e sofrimento! Disse Cristo: "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei" (João 13:34); não com um amor maior; pois "ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos". João 15:13. Nosso amor é freqüentemente egoísta, porque nós o confinamos a limites prescritos. Quando entrarmos em união e comunhão íntimas com Cristo, nosso amor, simpatia e nossas obras de benevolência se aprofundarão, expandirão e fortalecerão com o exercício. O amor e o interesse dos seguidores de Cristo devem ser tão extensos como o mundo. Aqueles que vivem meramente para "mim e o que é meu" não entrarão no Céu. Deus os convida como família a cultivar amor, a serem menos sensíveis quanto a si mesmos e mais sensíveis às tristezas e provações de outros. Este espírito egoísta que vocês têm cultivado a vida inteira é corretamente representado pelo sacerdote e o levita que passaram de largo pelo desafortunado. Viram que ele necessitava de ajuda, mas o evitaram de propósito. T3 530 1 Todos vocês precisam despertar e dar meia-volta para sair da monótona rotina de egoísmo. Aproveitem o breve tempo de graça que lhes é dado, trabalhando com vigor para remir os fracassos de sua vida passada. Deus os colocou em um mundo de sofrimento para prová-los, para ver se serão achados dignos da dádiva da vida eterna. T3 530 2 Por toda a parte ao seu redor há os que experimentam aflições, que necessitam palavras de simpatia, amor e bondade, bem como de nossas orações humildes e piedosas. Alguns sofrem sob a férrea mão da pobreza, outros sob enfermidades, mágoas, desalento, perturbações. Como Jó, vocês devem ser olhos para os cegos, pés para os coxos, e devem interrogar sobre as causas que desconhecem e analisar com o objetivo em vista de aliviar as necessidades e ajudar exatamente onde o auxílio se fizer mais necessário. T3 530 3 L precisa cultivar amor à esposa, amor que encontre expressão em palavras e atos. Deve cultivar terna afeição. A esposa tem natureza sensível, insegura e precisa ser tratada com carinho. Cada palavra de ternura, cada expressão de apreço e afetuosa animação serão por ela lembrados e refluirão em bênçãos ao marido. Sua natureza insensível precisa ser levada a íntimo contato com Cristo, a fim de que essa dureza e fria reserva sejam subjugadas e abrandadas pelo amor divino. Não constitui fraqueza ou renúncia da varonilidade e da dignidade ter para com a esposa expressões de ternura e simpatia, em palavras e atos; e não se restrinja isso ao círculo familiar, mas estenda-se aos de fora da família. L tem uma obra a fazer por si mesmo que nenhum outro pode fazer por ele. Ele pode tornar-se forte no Senhor, assumindo encargos em Sua causa. Sua afeição e amor devem centrar-se em Cristo e nas coisas celestiais, e deve ele formar caráter para a vida eterna. T3 531 1 A estimada K tem idéias muito limitadas sobre o que constitui ser uma cristã. Ela se tem libertado de fardos que Cristo carregou por ela. Não está disposta a levar Sua cruz e não tem exercitado da melhor maneira a habilidade, os talentos que Deus lhe deu. Não se tornou forte em força moral e coragem, nem sentiu o peso da responsabilidade individual. Ela não gosta de sofrer repreensão por amor de Cristo, considerando a promessa: "Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus." 1 Pedro 4:14. "Se sofrermos, também com Ele reinaremos." 2 Timóteo 2:12. O Mestre tem uma obra para cada um fazer. Ninguém pode ficar ocioso, ninguém pode ser descuidado e egoísta, e ainda aperfeiçoar um caráter cristão. Ele quer que toda sua família abra o coração à influência benigna de Seu amor e graça, para que sua compaixão pelos outros possa transbordar os limites do eu e das paredes do recinto familiar, como o samaritano fez ao pobre estrangeiro sofredor que foi negligenciado pelo sacerdote e pelo levita e deixado a perecer. Foi-me mostrado que há muitos que necessitam de nossa simpatia e conselho; e quando consideramos que podemos passar por este mundo só uma vez, que nunca podemos voltar para reparar os erros e faltas que cometemos, quão importante que passemos por ele como devíamos! T3 531 2 Tempos atrás foi-me mostrado o caso de J. Seus erros e faltas foram fielmente retratados diante dela; mas na última oportunidade que me foi dada vi que os erros ainda existiam, que ela é fria e desamorável para com os filhos de seu marido. Correção e reprovação não são feitas por ela apenas por ofensas graves, mas também por questões triviais que deviam passar despercebidas. Buscar faltas constantemente é um erro, e o Espírito de Cristo não pode habitar em um coração onde isto exista. Ela está disposta a passar por alto o bem em suas crianças sem uma palavra de louvor, mas está sempre pronta a abrir-se em censuras se qualquer erro é visto. Isto sempre desencoraja as crianças e as leva a hábitos de negligência. Anima o mal no coração e o leva a lançar de si lodo e lama. Nas crianças que são habitualmente censuradas nascerá o espírito de "não me importa", e as más paixões freqüentemente se manifestarão, sem se preocupar com as conseqüências. T3 532 1 Sempre que a mãe possa dizer uma palavra de elogio aos filhos por motivo de sua boa conduta, deve ela dizê-la. Deve encorajá-los por palavras de aprovação e olhares expressivos de amor. Essas serão ao coração de uma criança como a luz do Sol, e levarão ao cultivo do respeito próprio e ao brio de caráter. A irmã J deve cultivar amor e simpatia. Deve manifestar terna afeição pelas crianças sem mãe que estão sob seu cuidado. Isto seria para essas crianças uma bênção do amor de Deus e haveria de refluir para ela em afeição e amor. T3 532 2 As crianças têm natureza amorável e sensível. Facilmente se sentem contentes e facilmente se sentem infelizes. Mediante disciplina gentil em palavras e atos de amor pode a mãe unir os filhos ao seu coração. É grande erro mostrar severidade e ser muito exigente com as crianças. Firmeza uniforme e controle tranqüilo são necessários na disciplina de toda a família. Diga calmamente o que pretende, aja com consideração e sem desvios ponha em prática o que diz. T3 532 3 Compensará manifestar afeto no convívio com seus filhos. Não os repulse por falta de simpatia em suas brincadeiras infantis, alegrias e desgostos. Nunca apresente um semblante severo nem deixe que uma palavra áspera lhe escape dos lábios. Deus escreve todas essas palavras em Seu livro de memórias. As palavras ásperas azedam o temperamento e ferem o coração das crianças e, em alguns casos, essas feridas são difíceis de curar. As crianças são sensíveis à mínima injustiça, e algumas ficam desanimadas ao sofrê-la, e nem darão ouvidos à alta e zangada voz de comando, nem se importarão com ameaças de castigo. Muitas vezes se instala nos corações infantis a rebelião, devido a uma errônea disciplina por parte dos pais, quando, houvesse sido seguida a devida orientação, elas teriam formado caráter harmônico e bom. Uma mãe que não tem perfeito domínio de si mesma não é apta para governar os filhos. T3 533 1 O irmão M é moldado pelo temperamento positivo de sua mulher. Ele se tornou em certo grau egoísta como a esposa. Sua mente é quase inteiramente ocupada com "mim" e "meu", com exclusão de outras coisas de importância infinitamente maior. Ele não toma em sua família a posição de pai de seu rebanho; nem, sem preconceito e sem ser influenciado, segue uma conduta uniforme com seus filhos. Sua mulher não é, e sem uma transformação nunca será, uma verdadeira mãe para aqueles filhos sem mãe. O irmão M, como pai, não tem ocupado a posição que Deus gostaria que ocupasse. Essas crianças sem mãe são os pequeninos de Deus, preciosos a Seus olhos. Por natureza o irmão M tem um temperamento terno, refinado, amável, generoso e sensível, enquanto sua mulher é exatamente o oposto. Em vez dele moldar e abrandar o caráter de sua mulher, ela o está transformando. T3 533 2 Ele pensa que para ter paz deve deixar passarem as coisas que o preocupam. Ele aprendeu a não esperar submissão e renúncia das opiniões dela. Ela dominará; ela seguirá suas idéias a qualquer custo. A menos que ambos estejam firmes em seus esforços de reformar-se, não obterão a vida eterna. Eles tiveram luz, mas negligenciaram segui-la. O amor egoísta do mundo cegou sua percepção e lhes endureceu o coração. J precisa ver que a menos que abandone seu egoísmo, e vença sua vontade e temperamento, ela não pode ter o Céu. Ela prejudicaria o Céu inteiro com estes traços de caráter. Eu exorto a irmã J a se arrepender. Apelo a ela em nome de meu Mestre para despertar-se depressa de sua excessiva indiferença, a atender o conselho da Testemunha Verdadeira, e a sinceramente arrepender-se; pois ela põe em perigo a própria alma. T3 533 3 Deus é misericordioso. Ele aceitará agora a oferta de um coração quebrantado e de um espírito contrito. A irmã J se desculpará como o levita e o sacerdote de não ver e de não sentir as aflições de outros e passar de largo? Deus a considera responsável pela negligência do dever em não exercer simpatia e ternura para com os desafortunados. Ela não guarda os mandamentos de Deus que claramente mostram seu dever para com seu próximo. Disse Cristo ao doutor da lei: "Faze isso e viverás." Lucas 10:28. Assim, a negligência do dever para com nosso próximo resultará em nossa perda da vida eterna. Exclusivismo de família T3 534 1 K, pobre filha, como muitas outras, tem um trabalho a fazer do qual nunca sonhou. Ela apostatou de Deus. Seus pensamentos se concentram demasiado nela mesma, e procura agradar o mundo, não por amor desinteressado pela salvação de outros nem por procurar conduzi-los a Cristo, mas por sua falta de espiritualidade e por sua conformidade com o mundo em espírito e em obras. Ela deve morrer para o eu e obter experiência na prática do bem. Ela é fria e sem compaixão. Precisa ter esse espírito gélido e inacessível subjugado, derretido pelo brilho do sol do amor de Cristo. Ela se fecha muito em si mesma. Deus viu que ela era uma pobre planta atrofiada, não produzindo fruto algum, nada senão folhas. Seus pensamentos eram ocupados quase exclusivamente com "mim" e "meu". Em misericórdia, Ele tem estado a podar esta planta que Ele ama, cortando os galhos, para que as raízes se aprofundassem mais. Ele tem procurado atrair esta filha a Si mesmo. Sua vida religiosa tem sido quase inteiramente sem fruto. Ela é responsável pelo talento que Deus lhe deu. Ela pode ser útil; ela pode ser uma colaboradora com Cristo se derrubar a parede de egoísmo que a tem excluído da luz e do amor de Deus. T3 534 2 Há muitos que precisam de nossa simpatia e conselho, mas não aquele conselho que implica superioridade no doador e inferioridade no que recebe. K precisa em seu coração do suavizante e enternecedor amor de Deus. A aparência e o tom da voz devem ser modulados por atenciosa consideração e amor terno e respeitoso. Toda aparência e todo tom de voz que sugerem "Eu sou superior" esfriam a atmosfera de sua presença e é mais como um gelo do que um raio de luz que dá calor. Minha irmã, sua influência é positiva. Você molda aqueles com quem se associa, ou do contrário não pode concordar com eles. Não tem a menor idéia de ser moldada pela melhor influência de outros e de lhes submeter seu julgamento e suas opiniões. Você argumentará para justificar seu caminho, suas idéias e sua conduta. Se você convence os outros, volta-se repetidamente ao mesmo ponto. Este traço em seu caráter será valioso se dedicado a Deus e controlado por Seu Santo Espírito; mas, se não, provar-se-á uma maldição para você e outros. Afirmações e conselho que têm o sabor de um espírito ditatorial não são um bom fruto. Você precisa em seu coração do amor suavizante e enternecedor de Cristo, que será refletido em todos os seus atos para com sua família e para com todos que são influenciados por você. T3 535 1 Receio, receio muito, que J não entrará no Céu. Ela ama tanto o mundo e as coisas do mundo que não lhe sobra amor para Jesus. Está tão revestida de egoísmo que a luz do Céu não pode penetrar as paredes escuras e frias do amor próprio e da estima própria que ela tem estado a edificar durante a vida. O amor é a chave que abre os corações, mas a preciosa planta do amor não tem sido cultivada. J cegou seus olhos há tanto tempo ao próprio egoísmo que não pode agora percebê-lo. Tem tão pouca religião prática que de coração ela pertence ao mundo, e receio que este mundo seja todo o Céu que ela jamais verá. Sua influência sobre seu marido não é boa. Ele é influenciado por ela e não vê a necessidade de fortificar-se pela graça de Deus com verdadeira coragem moral para estar firme pelo direito. Não só ela deixa de reconhecer e de fazer a obra que Deus requer dela, mas exerce influência dominante para segurar seu marido e amarrar suas mãos. E ela tem tido bastante êxito. Ele foi cegado. T3 535 2 O irmão M deve considerar que Deus tem direitos sobre ele que estão acima de relacionamentos terrestres. Ele precisa do colírio, das vestes brancas e do ouro para ter um caráter simétrico e uma grandiosa entrada no reino de Deus. Nada menos que uma conversão total poderá jamais abrir o coração de sua mulher para ver seus erros e confessar suas faltas. Ela precisa fazer grandes mudanças, que não fez porque não reconheceu sua verdadeira condição e não podia ver a necessidade de reforma. Longe de querer aprender do Mestre celestial, que é manso e humilde de coração, ela considera mansidão servilidade; e modéstia, humildade de espírito para estimar a outros como melhores do que ela, considera degradante e humilhante. T3 536 1 J tem espírito positivo, imperioso, altivo e voluntarioso. Ela não vê nada particularmente desejável num espírito manso e tranqüilo para que o ambicionasse. Este ornamento valioso tem tão pouco valor para ela que não consente em usá-lo. Tem, com demasiada freqüência, um espírito de ressentimento que é oposto ao Espírito de Deus como o leste em relação ao oeste. Verdadeira gentileza é uma jóia de grande valor à vista de Deus. Um espírito manso e tranqüilo não estará sempre à busca de felicidade para si mesmo, mas buscará esquecimento de si mesmo e achará doce contentamento e verdadeira satisfação em fazer outros felizes. T3 536 2 Na providência de Deus, a irmã N foi separada da família de seu pai. Embora com outros, ela partilha as características da associação de família, suportando sérias responsabilidades que a têm levado a esquecer de si mesma e lhe têm concedido interesse nas aflições de outros. Ela tem, em certa medida, aberto o coração em simpatia e amor pela família de Deus, mostrando interesse pelos outros. A obra e a causa de Deus têm atraído sua atenção. Ela tem sentido, em certo grau, que pobres caídos mortais formam uma grande confraternidade. Ela precisou educar-se para pensar em outros, servir a outros e esquecer o eu; e não obstante não tem cultivado tão completamente como deve o interesse, a simpatia e a afeição por outros que são necessários aos seguidores de Cristo. Ela precisa ter maior simpatia e menos justiça tensa e rígida. Dando seu interesse e tempo ao grande assunto da reforma de saúde, ela se expandiu além de si mesma. Fazendo isto ela tem sido abençoada. Quanto mais ela faz para o bem de outros, tanto mais vê para fazer e tanto mais se sente inclinada a fazer. T3 537 1 Seu trabalho a favor de outros freqüentemente a leva onde o exercício de fé é necessário para ajudá-la a atravessar situações difíceis e penosas. Mas respostas a orações sinceras são obtidas, e fé, amor e confiança em Deus são fortalecidos. É obtida experiência através de perplexidades e provações freqüentemente repetidas. Deus está moldando seu coração em algo mais parecido com Ele, e não obstante o eu clama constantemente por vitória. A irmã N precisa cultivar mais ternura e atencioso cuidado em seu relacionamento diário com outros. Ela precisa se esforçar para subjugar o eu. Se de fato é uma cristã, sentirá que precisa devotar a melhor parte, e se necessário o todo, de sua vida à labuta desprendida e paciente e assim demonstrar seu amor pelo Mestre. Sem tal experiência, ela deixaria de alcançar a perfeição de um caráter cristão. T3 537 2 A irmã N deu alguns passos adiante. Os familiares sentem que ela os deixou, e isto é doloroso para eles. Eles sentem que ela agora não tem o mesmo interesse, afeições e objetivos na vida como eles. Sentem que não mais podem desfrutar, como antes, a companhia da irmã. Pensam que é culpa dela, que ela mudou e não tem mais afinidade com eles. A razão para esta falta de afinidade é que os sentimentos de compaixão da irmã N pelos sofrimentos alheios têm aumentado, ao passo que eles têm sido servos ociosos, não fazendo a obra que Deus lhes deu a fazer na Terra. Conseqüentemente, eles têm regredido. A família confinou seu interesse e afeição em si mesmos e no amor do mundo. T3 537 3 N tem sido obreira em uma boa causa. A reforma de saúde tem sido para ela um assunto de grande importância, pois a própria experiência lhe mostrou a necessidade da reforma. A família de seu pai não viu a necessidade da reforma de saúde. Não viram a parte que ela desempenha na obra final destes últimos dias, porque não estavam inclinados a ver. Caíram na rotina do costume, e se torna difícil o esforço exigido para sair dela. Prefeririam não ser incomodados. É uma coisa terrível enferrujar-se por inatividade. Mas esta família certamente será pesada na balança e achada em falta a menos que comecem a fazer algo. "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle." Romanos 8:9. Esta é uma linguagem incisiva. Quem pode resistir a prova? A Palavra de Deus é para nós uma fotografia da mente de Deus e de Cristo, também do homem caído, e do homem renovado segundo a imagem de Cristo, possuindo a mente divina. Podemos comparar nossos pensamentos, sentimentos e intenções com a imagem de Cristo. Não temos comunhão com Ele a não ser que estejamos dispostos a fazer as obras de Cristo. T3 538 1 Cristo veio para fazer a vontade de Seu Pai. Estamos seguindo em Seus passos? Todos que têm professado o nome de Cristo devem constantemente procurar familiaridade mais íntima com Ele, a fim de andarem como Ele andou, e fazer as obras de Cristo. Devemos nos apropriar das lições de Sua vida para nossa vida. Cristo "Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. "Conhecemos a caridade nisto: que Ele deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos." 1 João 3:16. Eis a obra de abnegação na qual devemos ingressar com alegria, imitando o exemplo de nosso Redentor. A vida do cristão precisa ser uma vida de conflito e sacrifício. O caminho do dever deve ser seguido, não o caminho da inclinação e escolha. T3 538 2 Quando a família do irmão I vir a obra à sua frente, e fizerem a obra que Deus lhes deixou para fazer, não estarão tão separados do irmão e irmã O e da irmã N, e daqueles que estão trabalhando em união com o Mestre. Pode levar tempo para alcançar perfeita submissão à vontade de Deus, mas nunca podemos parar aquém e sermos aptos para o Céu. A verdadeira religião levará seu possuidor à perfeição. Seus pensamentos, palavras e ações, bem como seus apetites e paixões, precisam ser submetidos à vontade de Deus. Vocês precisam produzir frutos em santidade. Então serão levados a defender os pobres, os órfãos e aflitos. Farão justiça às viúvas e socorrerão os necessitados. Vocês praticarão a justiça, amarão a beneficência e andarão humildemente com Deus. T3 539 1 Devemos deixar Cristo entrar em nosso coração e em nosso lar se queremos andar na luz. O lar deve ser tudo quanto está implícito nessa palavra. Deve ser um pequeno Céu na Terra, um lugar onde se cultivem as afeições em vez de serem estudadamente reprimidas. Nossa felicidade depende do cultivo do amor, da simpatia e da verdadeira cortesia de uns para com outros. A razão por que há em nosso mundo tantos homens e mulheres de coração empedernido é que a verdadeira afeição tem sido considerada como fraqueza, sendo conseqüentemente desencorajada e reprimida. A melhor parte da natureza das pessoas desta classe foi pervertida e amesquinhada na infância; e a menos que os raios da luz divina derretam sua frieza e endurecido egoísmo, sua felicidade estará enterrada para sempre. Se queremos ter coração terno, como o tinha Jesus quando esteve na Terra, e santificada simpatia, como a têm os anjos pelos pecadores mortais, precisamos cultivar as simpatias da infância, que são a simplicidade em si. Então seremos refinados, elevados e dirigidos por princípios celestiais. T3 539 2 O intelecto cultivado é grande tesouro; sem, porém, a suavizante influência da compaixão e do amor santificado, não é ele de grande valor. Devemos ter palavras e atos de terna consideração para com os outros. Podemos manifestar mil e uma pequenas atenções em palavras amigas, e olhares aprazíveis, que voltarão de novo para nós. Cristãos irrefletidos, por sua negligência para com outros, manifestam não estar em união com Cristo. É impossível estar unido a Cristo e todavia ser desamorável para com outros, e esquecido de seus direitos. Muitos há que anseiam intensamente por amorosa compaixão. Deus deu a cada um de nós uma identidade particular, nossa própria, que não se pode dissolver na de outro; mas nossas características individuais serão muito menos preeminentes se na verdade pertencemos a Cristo e Sua vontade for a nossa. Nossa vida deve ser consagrada ao bem e à felicidade dos outros, como foi a de nosso Salvador. Devemos esquecer-nos a nós mesmos, sempre à espreita de oportunidades -- mesmo em coisas pequeninas -- para mostrar gratidão pelos favores recebidos de outros, e estar atentos para observar oportunidades para animar outros, confortando-os em suas tristezas e aliviando-lhes as cargas por mostras de terna bondade e pequenos atos de amor. Essas atenciosas cortesias, que iniciando-se em nossa família estendem-se até fora do círculo familiar, ajudam a tornar a soma da vida feliz; e a negligência desses pequeninos atos perfaz a soma das tristezas e amarguras da vida. T3 540 1 É a obra que fazemos ou deixamos de fazer que fala com tremendo poder sobre nossa vida e destino. Deus requer de nós que aproveitemos toda oportunidade que nos é oferecida para sermos úteis. Negligenciar isto é perigoso para nosso crescimento espiritual. Temos uma grande obra a fazer. Não passemos em ociosidade as horas preciosas que Deus nos deu a fim de aperfeiçoarmos o caráter para o Céu. Não precisamos ficar inativos ou ociosos nesta obra, pois não temos um só momento para gastar sem um propósito ou objetivo. Deus nos ajudará a vencer nossos erros se a Ele orarmos e nEle crermos. Podemos ser mais do que vencedores por Aquele que nos amou. Quando a breve vida neste mundo terminar, e vermos como somos vistos e conhecermos como somos conhecidos, quão breves em duração e quão pequenas as coisas deste mundo vão parecer para nós em comparação com a glória do mundo melhor! Cristo nunca teria deixado as cortes reais e assumido a humanidade, e Se tornado pecado a favor do ser humano, se não tivesse visto que o homem poderia, com Sua ajuda, tornar-se infinitamente feliz e obter riquezas duráveis e uma vida que correria paralela com a vida de Deus. Ele sabia que sem Sua ajuda o homem pecador não poderia obter estas coisas. T3 540 2 Devemos ter um espírito de progresso. Precisamos nos acautelar continuamente para não ficarmos fixos em nossas opiniões, sentimentos e ações. A obra de Deus é para frente. Reformas precisam ser executadas, e precisamos considerar e ajudar a mover o carro da reforma. Energia, temperada com paciência e ambição, e equilibrada com sabedoria, é agora necessária para cada cristão. A obra de salvar almas é ainda deixada para nós, os discípulos de Cristo. Nenhum de nós é desculpado. Muitos têm-se tornado anões e atrofiados em sua vida cristã por causa de inatividade. Devemos diligentemente empregar nosso tempo enquanto estamos neste mundo. Quão seriamente devemos aproveitar toda oportunidade de fazer o bem, de trazer outros ao conhecimento da verdade! Nosso lema deve sempre ser: "Para frente e para o alto", certa e constantemente para frente para o dever e a vitória. T3 541 1 Foi-me mostrado em relação aos indivíduos mencionados que Deus os ama e os salvaria se eles quisessem ser salvos do modo que Ele designou. "E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão ofertas em justiça. E a oferta de Judá e de Jerusalém será suave ao Senhor, como nos dias antigos e como nos primeiros anos." Malaquias 3:3, 4. Eis o processo, o processo de afinar e purificar, a ser feito pelo Senhor dos exércitos. Esse processo é demasiado difícil para o ser humano, mas é unicamente por meio dele que se podem remover as escórias e contaminadoras impurezas. Nossas provações são todas necessárias para levar-nos mais perto de nosso Pai celeste, em obediência à Sua vontade, de modo a Lhe oferecermos uma oferta em justiça. T3 541 2 A cada uma das pessoas aqui mencionadas, deu o Senhor aptidões, talentos a desenvolver. Cada um de vocês necessita de nova e viva experiência na vida religiosa, a fim de fazer a vontade de Deus. Qualquer que seja a experiência passada, isto não basta para o presente, nem nos fortalece para vencer as dificuldades que encontramos no caminho. Precisamos diariamente nova graça e renovada resistência se queremos ser vitoriosos. T3 541 3 Raramente somos, a todos os respeitos, colocados duas vezes nas mesmas circunstâncias. Abraão, Moisés, Elias, Daniel e muitos outros foram todos severamente provados, mas não da mesma maneira. Cada um tem suas provas individuais no drama da vida, mas justamente a mesma provação raramente sobrevém duas vezes. Cada um tem experiência própria e peculiar, no caráter e nas circunstâncias, a fim de realizar determinada obra. Deus tem uma obra, um desígnio na vida de cada um de nós. Todo ato, por pequeno que seja, tem seu lugar na experiência de nossa vida. Cumpre-nos possuir contínua luz e experiência que provêm de Deus. Todos necessitamos delas, e o Senhor está mais que disposto a dar, se as quisermos receber. Não cerrou as janelas do Céu a suas orações, mas vocês têm se contentado com passar sem o auxílio divino de que tanto necessitam. T3 542 1 Quão pouco sabem acerca da influência de seus atos diários sobre a vida de outros. Talvez suponham que o que digam ou façam não tem muita influência, quando importantíssimos são os resultados de nossas palavras e ações para o bem ou para o mal. Atos e expressões considerados diminutos e insignificantes são elos na longa cadeia dos acontecimentos humanos. Vocês não têm experimentado a necessidade de Deus manifestar-nos Sua vontade em todos os atos da vida diária. Quanto a nossos primeiros pais, o desejo de uma única satisfação do apetite abriu as comportas da miséria e do pecado sobre o mundo. Prezadas irmãs, oxalá vocês sentissem que todo passo que dão talvez tenha permanente e controladora influência sobre a própria vida e o caráter de outros. Oh, quão necessário é então termos comunhão com Deus! Que necessidade da graça divina para dirigir cada passo e mostrar-nos como aperfeiçoar caráter cristão! T3 542 2 Os cristãos terão novas situações e provas a enfrentar, nas quais a experiência passada não pode ser guia suficiente. Agora, mais que em qualquer outro período de nossa vida, precisamos aprender do divino Mestre. E quanto mais experiência alcançarmos, quanto mais nos aproximarmos da pura luz celeste, tanto mais discerniremos em nós a necessidade de reforma. Podemos todos realizar boa obra em benefício dos outros, uma vez que busquemos conselho de Deus, e o sigamos em obediência e fé. O caminho do justo é progressivo, de força em força, de graça em graça, e de glória em glória. A iluminação divina aumenta mais e mais, correspondendo a nosso movimento de avanço, habilitando-nos a fazer face às responsabilidades e emergências que se nos deparam. T3 542 3 Quando vocês são pressionados pelas provas, quando os pensamentos são dominados por desânimo e sombria incredulidade, quando o egoísmo lhes molda as ações, vocês não vêem a necessidade que têm do Senhor e de conhecimento profundo e completo de Sua vontade. Não conhecem a vontade de Deus, tampouco a podem conhecer enquanto vivem para o próprio eu. Confiam em suas boas intenções e resoluções, e a maior parte da vida compõe-se de resoluções tomadas e não cumpridas. O que todos necessitam é morrer para o eu, deixar de a ele se apegar, e entregar-se a Deus. T3 543 1 De boa vontade os confortaria, caso pudesse. De bom grado lhes louvaria os bons traços, os propósitos bons e as boas ações; mas Deus não quis mostrá-los a mim. Apresentou-me os impedimentos à formação de caráter nobre, elevado, de santidade, que precisam ter a fim de não perder o descanso celeste e a glória imortal que Ele quer que alcancem. Desviem os olhos de si mesmos para Jesus. Ele "é tudo em todos". Colossences 3:11. Os merecimentos do sangue de um Salvador crucificado e ressurgido serão suficientes para purificar do menor como do maior dos pecados. Com fé confiante, entreguem a guarda de sua alma a Deus como a um fiel Criador. Não estejam em constante temor e apreensão de que Deus os abandone. Jamais o fará, a menos que dEle se apartem. Cristo virá e habitará em vocês, caso Lhe abram a porta do coração. Pode haver perfeita harmonia entre vocês e o Pai e o Filho, uma vez que morram para o próprio eu e vivam para Deus. T3 543 2 Quão poucos se apercebem de ter ídolos queridos, de ter pecados acariciados! Deus vê esses pecados a que talvez estejam cegos, e emprega Sua faca de podar, cortando fundo a fim de separar de vocês esses pecados acariciados. Todos vocês devem escolher por si mesmos o processo de purificação. Como lhes é difícil submeter-se à crucifixão do próprio eu! Mas, quando toda a obra é entregue nas mãos de Deus, Ele que conhece nossas fraquezas e nossa pecaminosidade segue o melhor caminho para produzir o desejado fim. T3 543 3 Foi por entre constante conflito e com singeleza de fé que Enoque andou com Deus. Todos vocês podem fazer o mesmo. Podem converter-se e transformar-se inteiramente, tornando-se em verdade filhos de Deus, que fruem não somente o conhecimento de Sua vontade, mas que, por seu exemplo, conduzem outros ao mesmo caminho de humilde obediência e consagração. A verdadeira piedade difunde-se e é comunicativa. Diz o salmista: "Não escondi a Tua justiça dentro do meu coração; apregoei a Tua fidelidade e a Tua salvação; não escondi da grande congregação a Tua benignidade e a Tua verdade." Salmos 40:10. Onde quer que se encontre o amor de Deus, há sempre um desejo de exprimi-lo. T3 544 1 Que Deus ajude todos a fazer diligentes esforços para ganhar a vida eterna, e para conduzir outros ao caminho da santidade. ------------------------Capítulo 48 -- O pecado da avareza T3 544 2 Prezado irmão P: T3 544 3 Farei mais um esforço para adverti-lo a ser diligente em ganhar o reino. Advertência sobre advertência lhe foram dadas, às quais você não deu atenção. Mas, ó, se mesmo agora você se arrepender de sua conduta errônea do passado e se voltar ao Senhor, pode não ser tarde demais para endireitar coisas erradas. Todas suas faculdades mentais têm sido devotadas a ganhar dinheiro. Você tem adorado o dinheiro. Ele tem sido seu deus. A vara de Deus paira sobre você. Seus juízos podem alcançá-lo a qualquer momento, e você desce à sepultura despreparado, suas vestes maculadas e manchadas com as corrupções do mundo. Qual é seu registro no Céu? Cada dólar que você tem acumulado tem sido como um elo extra na corrente que o prende a este mundo infeliz. Sua paixão por ganhar dinheiro tem-se fortalecido continuamente. Sua preocupação tem sido como obter mais recursos. Você teve uma experiência terrível, que deve ser uma advertência àqueles que permitem que o amor do mundo tome posse do coração. Você tem-se tornado um escravo de Mamom. Que dirá quando o Mestre lhe pedir contas de sua mordomia? Você tem permitido que o amor de ganhar dinheiro fosse a paixão dominante de sua vida. Está tão intoxicado com o amor do dinheiro como o bêbado com sua bebida alcoólica. T3 544 4 Jesus pleiteou para que a árvore infrutífera fosse poupada um pouco mais; e eu lhe faço mais um apelo para que você exerça não um esforço débil, mas um muito sério, pelo reino. Salve-se da cilada de Satanás antes que as palavras "Ele está entregue aos ídolos; deixa-o" (Oséias 4:17) sejam ditas a seu respeito no Céu. Todos os amantes de dinheiro um dia exclamarão em amarga angústia: "Ó, o engano das riquezas! Vendi minha salvação por dinheiro." Sua única esperança agora é de fazer não um esforço débil, mas de dar meia-volta. Resolutamente chame para ajudá-lo a força de vontade que você há tanto tempo tem exercido no rumo errado, e agora trabalhe na direção oposta. Esta é a única maneira de você vencer a avareza. T3 545 1 Deus tem aberto maneiras pelas quais a avareza pode ser vencida -- fazendo obras beneficentes. Por sua vida você está dizendo que aprecia os tesouros do mundo mais do que as riquezas imortais. Está dizendo: "Adeus, Céu; adeus, vida imortal; escolhi o mundo." Está trocando a pérola de grande preço por lucro presente. Embora advertido por Deus, embora em Sua providência Ele, por assim dizer, já colocou seus pés no rio escuro, irá você, ousará cultivar suas propensões ao amor do dinheiro? Haverá, como o último ato de uma vida mal-empregada, exceder-se e reter aquilo que pertence a outro? Vai se convencer que está fazendo justiça a seu irmão? Vai acrescentar outro ato de intriga e fraude àqueles já inscritos contra você nos registros do alto? Haverá de o golpe do juízo retribuidor de Deus cair sobre você e ser chamado sem aviso a passar pelas águas escuras? T3 545 2 Nosso Salvador freqüente e seriamente reprovou o pecado da avareza. "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhes uma parábola, dizendo: a herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus." Lucas 12:15-21. T3 546 1 Deus fez uma lei para Seu povo para que um décimo de todo o rendimento seja Seu. Diz Deus: Eu lhes dei nove décimos; Eu peço um décimo de todo rendimento. Aquele décimo o rico reteve de Deus. Se não tivesse feito isto, se tivesse amado a Deus supremamente em vez de amar e servir a si mesmo, não teria acumulado tesouros tão grandes que haveria falta de espaço para armazená-lo. Tivesse ele empregado seus bens para suprir as necessidades de seus irmãos pobres, não teria havido necessidade de derrubar e construir celeiros maiores. Mas ele tinha desrespeitado os princípios da lei de Deus. Não tinha amado ao Senhor de todo o coração e seu próximo como a si mesmo. Tivesse ele usado sua riqueza como uma doação que Deus lhe emprestara com a qual fazer o bem, teria depositado tesouro no Céu e sido rico em boas obras. T3 546 2 O comprimento e a utilidade da vida não consistem no montante de nossos bens terrestres. Aqueles que usam sua riqueza fazendo o bem não verão necessidade de grandes acumulações neste mundo; porque o tesouro que é usado para promover a causa de Deus e que é dado em nome de Cristo aos necessitados é dado a Cristo, e Ele o deposita para nós no banco do Céu em bolsas que não envelhecem. Aquele que faz isto é rico para com Deus, e o coração estará onde seus tesouros estarão seguros. Aquele que humildemente usa aquilo que Deus deu para honra do Doador, dando de graça como recebeu, pode sentir a paz e segurança em todos os seus negócios de que a mão de Deus está sobre ele para o bem, e ele mesmo ostentará o selo de Deus, tendo o sorriso do Pai. T3 546 3 Muitos se têm compadecido da sorte do Israel de Deus em ser compelido a dar sistematicamente, além de dar ofertas liberais anualmente. Um Deus onisciente sabia melhor qual sistema de doação estaria em harmonia com a Sua providência, e deu instruções a Seu povo com respeito ao mesmo. E ele sempre provou que nove décimos lhes são de maior valor do que dez décimos. Os que têm pensado em aumentar seus ganhos retendo o que é de Deus ou Lhe trazendo uma oferta inferior -- aleijada, cega ou doente -- têm infalivelmente sofrido prejuízos. T3 547 1 A Providência, embora invisível, está sempre em ação nos negócios humanos. A mão de Deus pode fazer prosperar ou reter, e Ele freqüentemente retém de um enquanto parece fazer outro prosperar. Tudo isto é para testar e provar o homem a fim de revelar o coração. Ele permite que sobrevenham revezes sobre um irmão enquanto faz prosperar a outro, a fim de ver se aqueles a quem Ele favorece têm o Seu temor diante dos olhos, e se cumprirão o dever que lhes foi designado em Sua Palavra, de amarem ao seu próximo como a si mesmos e ajudarem seu irmão mais pobre, motivados pelo amor à prática do bem. Atos de generosidade e bondade foram designados por Deus para manter brandos e compassivos os corações dos filhos dos homens, e incentivá-los a demonstrar interesse e afeto uns pelos outros, a exemplo do Mestre, que por nossa causa Se fez pobre, para que através de Sua pobreza pudéssemos nos tornar ricos. A lei do dízimo foi estabelecida sobre um princípio duradouro, e se destinava a ser uma bênção para o homem. T3 547 2 O sistema de doação foi ordenado a fim de evitar o grande mal: a avareza. Cristo viu que, no desempenho dos negócios, o amor às riquezas seria a maior causa de erradicar a verdadeira piedade do coração. Ele viu que o amor ao dinheiro se congelaria profunda e solidamente na alma do ser humano, fazendo parar o fluxo de generosos impulsos e bloqueando seus sentimentos às necessidades dos sofredores e aflitos. "Acautelai-vos" era Sua repetida advertência "e guardai-vos da avareza." Lucas 12:15. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. As impressionantes advertências freqüentemente repetidas de nosso Redentor estão em marcante contraste com as ações de Seus professos seguidores que manifestam em sua vida tanto desejo de se enriquecer e que mostram que as palavras de Cristo não surtem efeito sobre eles. Avareza é um dos pecados mais comuns e populares dos últimos dias, e tem influência paralisante sobre o coração. T3 547 3 Irmão P, o desejo de riqueza tem sido seu pensamento principal. Esta obsessão de ganhar dinheiro tem amortecido toda consideração elevada e nobre, e o tem tornado indiferente às necessidades e interesses de outros. Você se fez quase tão difícil de ser impressionado como um pedaço de ferro. Seu ouro e sua prata estão enferrujados, e têm se tornado um câncer devorador da alma. Tivesse sua benevolência crescido com suas riquezas, você teria considerado o dinheiro como um meio de fazer o bem. Nosso Redentor, que sabia do perigo do homem quanto à avareza, proveu uma salvaguarda contra este mal terrível. Ele arranjou o plano da salvação de modo que ele começa e termina em beneficência. Cristo ofereceu a Si mesmo, um sacrifício infinito. Isto, em e por si mesmo, pesa diretamente contra a avareza e exalta a beneficência. T3 548 1 Beneficência constante e abnegada é o remédio que Deus propõe para os ulcerosos pecados do egoísmo e da avareza. Deus dispôs o plano de doação sistemática para o sustento de Sua causa e para aliviar as necessidades dos pobres e dos sofredores. Ele ordenou que o dar deve tornar-se um hábito, para que possa contrapor-se ao perigoso e enganador pecado da avareza. O dar continuamente faz com que a avareza morra de inanição. A doação sistemática destina-se no plano de Deus a arrancar tesouros dos avarentos tão depressa são ganhos, e a consagrá-los ao Senhor a quem pertencem. T3 548 2 Este sistema é organizado de tal modo que as pessoas podem separar algo de seu salário cada dia e pôr de lado para seu Senhor uma parte dos lucros de todo investimento. A constante prática do plano divino de doação sistemática enfraquece a avareza e estimula a liberalidade. Se as riquezas aumentam, os homens, mesmo os que professam piedade, põem nelas o coração; e quanto mais têm, menos dão para o tesouro do Senhor. Assim a riqueza torna egoístas os homens, e o entesouramento estimula a avareza; e esses males se fortalecem pelo exercício ativo. Deus conhece o perigo que nos rodeia, e nos protegeu com meios para evitar nossa ruína. Ele requer o constante exercício da beneficência, a fim de que a força do hábito em boas obras quebre a força do hábito no sentido contrário. T3 548 3 Deus requer uma reserva de recursos para fins beneficentes toda semana, para que no exercício constante desta boa qualidade o coração possa ser mantido aberto como uma corrente a fluir, a qual não se permite que seque. Pelo exercício, a liberalidade se amplia e se fortalece constantemente, até se tornar um princípio e reinar no coração. É altamente perigoso para a espiritualidade permitir ao egoísmo e à avareza o menor espaço no coração. T3 549 1 A Palavra de Deus tem muito a dizer sobre sacrifício. As riquezas vêm do Senhor e Lhe pertencem. "Riquezas e glória vêm de diante de Ti." 1 Crônicas 29:12. "Minha é a prata, e Meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos." Ageu 2:8. "Porque Meu é todo animal da selva e as alimárias sobre milhares de montanhas." Salmos 50:10. "Do Senhor é a Terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." Salmos 24:1. É o Senhor seu Deus que lhe dá forças para obter riquezas. T3 549 2 As riquezas são em si mesmas efêmeras e insatisfatórias. Somos advertidos a não confiar em riquezas incertas. "Certamente, a riqueza fará para si asas" e voará. Provérbios 23:5. "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam." Mateus 6:19. T3 549 3 Na maior aflição do homem, as riquezas não lhe trazem alívio. "As riquezas de nada aproveitam no dia da ira." Provérbios 11:4. "Nem sua prata nem seu ouro os poderá livrar no dia do furor do Senhor." Sofonias 1:18. "Guarda-te de que, porventura, não sejas levado pela tua suficiência, nem te desvie a grandeza do resgate." Jó 36:18. Esta advertência, meu irmão, é apropriada em seu caso. T3 549 4 Que provisão, irmão P, fez você para a vida eterna? Tem você um bom fundamento para o futuro, que lhe assegurará alegrias eternas? Ó, que Deus o desperte! Possa você, meu caro irmão, agora, exatamente agora, começar a trabalhar seriamente para depositar parte de seu ganho e de suas riquezas no tesouro de Deus. Nem um dólar dele é seu. Tudo é de Deus, e você tem reivindicado para si aquilo que Deus lhe emprestou para devotar a boas obras. Seu tempo é muito curto. Trabalhe com toda sua força. Pelo arrependimento você pode agora achar perdão. Precisa largar seu apego a bens terrestres e afirmar suas afeições em Deus. Você precisa ser um homem convertido. Angustie-se em Deus. Não se contente em perecer para sempre, mas faça um esforço para a salvação antes que seja eternamente tarde demais. T3 549 5 Não é ainda tarde demais para endireitar os erros. Mostre seu arrependimento por erros passados remindo o tempo. Onde você prejudicou alguém, faça restituição ao lembrar-se disso. Esta é sua única esperança do amor perdoador de Deus. Será como arrancar o olho direito ou amputar o braço direito, mas não há outra saída para você. Você tem feito esforços repetidas vezes, mas fracassou porque amava o dinheiro, parte do qual não foi ganho honestamente. Não tentaria remir o passado fazendo restituição. Quando começar a fazer isto, haverá esperança para você. Se durante os poucos dias restantes de sua vida escolher continuar como tem feito, seu caso será sem esperança; você perderá os dois mundos; verá os santos de Deus glorificados na cidade celestial e você lançado fora; não terá parte naquela vida preciosa que foi comprada para você a um custo infinito, mas pela qual deu tão pouco valor a ponto de vendê-la por riquezas terrestres. T3 550 1 Agora lhe resta pouco tempo. Agirá você? Arrepender-se-á? Ou morrerá despreparado, adorando o dinheiro, gloriando-se em suas riquezas, e esquecendo a Deus e o Céu? Luta desanimada ou esforços débeis não vão afastar suas afeições do mundo. Jesus o ajudará. Em todo esforço sério que você fizer, Ele estará perto de você e abençoará seus esforços. Você precisa fazer esforços sérios ou se perderá. Admoesto-o a não perder um momento, mas começar agora mesmo. Há muito tem desonrado o nome de cristão por sua avareza e transações escusas. Agora você pode honrá-lo trabalhando na direção oposta e permitindo que todos vejam que há poder na verdade de Deus para transformar a natureza humana. Você pode, na força de Deus, obter a salvação se quiser. T3 550 2 Você tem uma obra a fazer que deve ser iniciada imediatamente. Satanás estará a seu lado, como esteve ao lado de Cristo no deserto da tentação, para vencê-lo com argumentos, para perverter-lhe o discernimento e paralisar sua percepção do direito e da justiça. Se você fizer justiça num caso, não deve esperar que Satanás subjugue seus bons impulsos por seus argumentos. Você tem sido dominado há tanto tempo por egoísmo e avareza que não pode confiar em si mesmo. Não quero que você perca o Céu. Foram-me mostrados os atos egoístas de sua vida, sua maquinação e cálculos, sua barganha, e a vantagem que tirou de seus irmãos e de seus semelhantes. Deus tem escrito no livro cada caso. Orará a Ele para que lhe ilumine a mente para ver onde defraudou, e então se arrependerá e remirá o passado? T3 551 1 Irmão P, que Deus o ajude antes que seja tarde demais. ------------------------Capítulo 49 -- Diligência no ministério T3 551 2 Foi-me mostrado que há perigo de nossos jovens pastores entrarem no campo e se empenharem na obra de ensinar a verdade a outros quando não estão qualificados para a obra sagrada de Deus. Não têm concepção correta da santidade da obra para este tempo. Sentem desejo de se ligarem com a obra, mas deixam de assumir as responsabilidades que jazem diretamente no caminho do dever. Fazem aquilo que lhes custa pouco esforço e inconveniência, e negligenciam devotar todo seu ser ao trabalho. T3 551 3 Alguns são muito indolentes para ser bem-sucedidos financeiramente e são deficientes na experiência necessária para fazer deles bons cristãos em uma esfera pessoal; contudo se sentem competentes para se empenhar na obra que é de todas a mais difícil, a de lidar com mentes e procurar converter almas do erro à verdade. O coração de alguns destes pastores não é santificado pela verdade. Tais pessoas são apenas pedras de tropeço para pecadores e ficam no caminho dos verdadeiros obreiros. Exigirá esforço mais sério para educá-los em idéias corretas, para que não prejudiquem a causa de Deus, do que fazer o trabalho. Deus não pode ser glorificado ou Sua causa promovida por obreiros não consagrados que são inteiramente deficientes nas qualificações necessárias a um ministro do evangelho. Alguns jovens pastores que saem para trabalhar por outros precisam eles mesmos ser inteiramente convertidos à religião genuína da Bíblia. T3 552 1 Foi-me mostrado o caso do irmão R de _____, o qual em muitos respeitos representa os casos de outros. Foi-me mostrado que o irmão R não é de verdadeiro proveito para a causa de Deus e nunca será, a menos que verdadeiramente se converta. Ele tem muitos defeitos em seu caráter que precisa reconhecer antes de poder ser aceito por Deus como obreiro em Sua vinha. A obra de Deus é sagrada. Em primeiro lugar, o irmão R não tem experimentado aquela mudança de coração que transforma o homem e que se chama conversão. Ele tem uma religião intelectual, mas precisa a atuação da graça de Deus sobre o coração para manifestá-la na vida, antes dele poder com inteligência indicar a outros "o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo". João 1:29. A obra para este tempo é demasiado solene e demasiado importante para ser manuseada por mãos contaminadas e corações impuros. T3 552 2 O irmão R tem um temperamento muito infeliz. Isto causa problema para ele e para seus melhores amigos. É por natureza ciumento, desconfiado e crítico. As pessoas mais achegadas a ele sentirão isto mais profundamente. Ele tem muito amor próprio e grande auto-estima; se não é considerado de modo especial e feito um objeto de atenção, culpa a alguém. A falta está com ele mesmo. Ele gosta de ter sua vaidade lisonjeada. Ele suspeita dos motivos de outros e mostra nesses sentimentos mente muito estreita e egoísta. Pensa que vê muita coisa para questionar, para achar defeito e para censurar no plano dos trabalhos de outros, ao passo que o verdadeiro mal está em seu coração não humilhado e não consagrado. Seu eu precisa morrer, e ele precisa aprender de Jesus, que é manso e humilde de coração, ou deixará de aperfeiçoar caráter cristão e de ganhar o Céu no final. T3 552 3 O irmão R tem fracassado em seu modo de procurar ensinar a verdade a outros. Seu espírito não é cativante. O eu está misturado com todos os seus esforços. Ele é muito escrupuloso quanto ao exterior, no que toca a seu vestuário, como se isto o qualificasse como ministro de Cristo; mas negligenciou o adorno interior do coração. Ele não tem sentido a necessidade de buscar um caráter belo e harmonioso, semelhante ao caráter de Cristo, o modelo correto. A mansidão e humildade que caracterizaram a vida de Jesus conquistariam corações e lhe dariam acesso aos pecadores; mas, quando o irmão R fala no próprio espírito, o povo vê tanta exibição do eu, e tão pouco do espírito de humildade, que o coração não lhes é tocado, mas se torna duro e frio com sua pregação, porque lhe falta a unção divina. T3 553 1 O espírito cheio de autoconfiança e de exaltação própria do irmão R precisa ser posto de lado, e ele precisa ver que é pecador e necessita da graça e do poder contínuos de Deus para abrir caminho através da escuridão moral desta época degenerada e alcançar pecadores que precisam ser salvos. Ele se reveste no exterior da dignidade de um ministro do evangelho, ao passo que não tem percebido que uma experiência real no mistério da piedade e conhecimento da vontade divina eram essenciais para ter sucesso na apresentação da verdade. T3 553 2 O irmão R é muito frio e sem simpatia. Ele não atinge diretamente os corações pela simplicidade cristã, ternura e amor que caracterizaram a vida de Cristo. Neste sentido é essencial que todo homem que se empenha na salvação de almas imite o modelo que lhe é dado na vida de Cristo. Se os homens deixam de se educar para se tornarem obreiros na vinha do Senhor, é melhor que sejam dispensados. Seria uma praxe lamentável sustentar através da tesouraria de Deus aqueles que realmente danificam e prejudicam Sua obra, e que estão constantemente rebaixando a norma do cristianismo. T3 553 3 É essencial algo mais do que conhecimento livresco para alguém tornar-se pastor bem-sucedido. O que trabalha pelas almas precisa de integridade, inteligência, diligência, energia e tato. Todas estas qualidades são altamente essenciais para o êxito de um ministro de Cristo. Ninguém com estas qualificações pode ser inferior, mas terá uma influência que se impõe. A menos que o obreiro na causa de Deus possa ganhar a confiança daqueles por quem trabalha, pode fazer pouco bem. O obreiro na vinha do Senhor precisa adquirir diariamente força de cima para resistir o erro e manter retidão através das várias provações da vida, e seu coração precisa ser posto em harmonia com seu Redentor. Ele pode ser um colaborador com Jesus, trabalhando como Ele trabalhou, amando como Ele amou, e possuindo, como Ele, força moral para resistir às mais fortes provas de caráter. T3 554 1 O irmão R deve cultivar simplicidade. Deve pôr de lado sua falsa dignidade e deixar que o Espírito de Deus entre e santifique, eleve, purifique e enobreça sua vida. Poderá então sentir o amor pelas almas que o verdadeiro ministro do evangelho deve ter ao apresentar a mensagem de advertência solene às almas em perigo, que perecerão em suas trevas a menos que aceitem a luz da verdade. Esta dignidade emprestada de seu Redentor adornará com graça divina, porque por ela é levado a uma comunhão íntima com Jesus Cristo. T3 554 2 Fui levada adiante na vida do irmão R, e depois retrocedi para rever os resultados de seus trabalhos enquanto tentava ensinar a outros a verdade. Vi que uns poucos ouviam, e, no que concerne à cabeça, podiam ser convencidos; mas o irmão R não tem conhecimento experimental, diário e vivo da graça de Deus, e de Seu poder de salvar, e não pode comunicar a outros aquilo que ele mesmo não possui. Não tem a experiência de um homem verdadeiramente convertido. Como, então, pode Deus fazer dele uma bênção aos pecadores? Ele mesmo é cego, enquanto tenta conduzir os cegos. T3 554 3 Foi-me mostrado que seu trabalho estragou bons campos para outros. Alguns homens que eram verdadeiramente consagrados a Deus e que sentiam a responsabilidade do trabalho poderiam ter feito bem e ter trazido pecadores à verdade em lugares onde ele fez tentativas sem sucesso, mas depois de seu trabalho superficial a oportunidade áurea se foi. As mentes que poderiam ter sido convencidas e os corações que poderiam ter sido abrandados foram endurecidos e prejudicados como resultado de seus esforços. T3 554 4 Olhei para ver que pessoas de valor estavam firmes na verdade como resultado de seus trabalhos. Observei de perto para ver que cuidado vigilante ele teve pelas pessoas, para fortalecê-las e encorajá-las, um esforço que deve sempre acompanhar o ministério da palavra. Não pude ver uma só pessoa que não estaria em muito melhor condição se não tivesse recebido dele as primeiras impressões da verdade. É praticamente impossível um rio subir mais alto do que sua fonte. O homem que leva a verdade a pecadores se acha em uma posição de tremenda responsabilidade. Ou ele converterá pecadores para Cristo ou seus esforços os inclinarão na direção errada. T3 555 1 Foi-me mostrado que o irmão R é um homem indolente. Gosta de seu prazer e de sua comodidade. Não gosta de trabalho físico, e também não gosta de aplicação mental atenta ao estudo da Palavra. Ele quer considerar as coisas indolentemente. Vai a um lugar e tenta aí apresentar a verdade, quando seu coração não está nisso. Não sente o peso da obra, nem verdadeira responsabilidade pelas almas. Não tem amor pelos pecadores em seu coração. Permite que sua inclinação o desvie do trabalho, deixa que seus sentimentos o controlem, abandona o trabalho e volta à sua família. Não tem experiência em abnegação, em sacrificar sua comodidade e suas inclinações. Esforça-se muito pelo salário. Não se dedica inteiramente a seu trabalho, mas apenas toca nele aqui e acolá sem perseverança e seriedade, e assim não tem êxito em nada. Deus Se desagrada de tais obreiros professos. São infiéis em tudo. Sua consciência não é sensível e terna. T3 555 2 Grande erro é apresentar a verdade em um lugar e depois não ter ânimo, energia e tato para levar avante o trabalho, pois este é deixado sem aquele esforço completo e perseverante que é absolutamente necessário nesse lugar. Se existir dificuldade e surgir oposição, há uma retirada covarde, em vez de recorrer a Deus com jejum, oração e pranto, e pela fé apegar-se à fonte de luz, capacidade e fortaleza até que as nuvens se desfaçam e se disperse a escuridão. A fé é fortalecida por entrar em conflito com dúvidas e influências opostas. A experiência alcançada nessas provas é de maior valor do que as jóias mais preciosas. T3 555 3 O resultado de seu trabalho, irmão R, deve envergonhá-lo. Deus não pode aceitá-lo. Seria melhor para a causa de Deus se você parasse de pregar e assumisse um trabalho que envolve menos responsabilidade. Seria melhor que fosse trabalhar com as próprias mãos. Humilhe seu coração diante de Deus; seja fiel em assuntos temporais; e quando mostrar que é fiel nas responsabilidades menores, Deus pode lhe confiar tarefas mais elevadas. "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. Você precisa de uma experiência mais profunda nas coisas religiosas. Aconselho-o a ir trabalhar com as próprias mãos e suplicar fervorosamente a Deus por uma experiência pessoal. Apegue-se a Jesus e nunca, nunca ouse assumir as responsabilidades de um ministro do evangelho enquanto não for um homem convertido e tiver um espírito manso e pacífico. Você deve manter-se longe da obra de Deus até ser dotado com poder do alto. Ninguém pode ter êxito em salvar almas a menos que Cristo trabalhe com seus esforços e o eu seja excluído. T3 556 1 Um ministro de Cristo deve estar "perfeitamente habilitado para toda boa obra". 2 Timóteo 3:17. Você tem fracassado miseravelmente. Precisa mostrar em sua família consideração bondosa, ternura, amor, gentileza, nobre paciência e verdadeira cortesia apropriados a um líder de família, antes de ter êxito em ganhar almas para Cristo. Se você não tem sabedoria para governar o pequeno grupo com o qual está intimamente unido, como pode ter êxito em governar um grupo maior, que não está interessado em você de modo especial? Sua esposa precisa ser verdadeira e inteiramente convertida a Deus. Nenhum de vocês está em condição de representar corretamente nossa fé. Ambos necessitam de total conversão. T3 556 2 No momento, retirar-se da obra de Deus é o melhor para você. Irmão R, você não tem perseverança nem fibra moral. É muito deficiente naqueles traços de caráter necessários para a obra de Deus no tempo atual. Não recebeu aquele treino na vida prática que lhe é necessário a fim de ter êxito como um útil ministro de Cristo. Sua educação tem sido deficiente em muitos aspectos. Seus pais não observaram seu caráter, nem o educaram para vencer seus defeitos, a fim de que você desenvolvesse caráter simétrico e possuísse firmeza, abnegação, domínio próprio, humildade e força moral. Você conhece muito pouco da vida prática ou de perseverança sob dificuldades. Tem desejo forte de contestar as idéias de outros e de insistir nas suas. Isto é o resultado de seus sentimentos de auto-suficiência e de seguir as próprias inclinações na juventude. T3 557 1 Você não vê a si mesmo nem a seus erros. Não está disposto a aprender, mas tem grande desejo de ensinar. Forma opiniões próprias e se apega a suas idéias particulares com uma persistência que é cansativa. Tem ansiedade de provar seus pontos, e a seus olhos suas idéias são de maior importância do que o discernimento experiente de homens de dignidade moral que têm sido provados nesta causa. Você tem sido lisonjeado com a idéia de que tinha habilidade que seria apreciada e que faria de você um homem valioso; mas estas qualidades não têm sido testadas nem comprovadas. Você tem educação unilateral. Não tem inclinação ou amor pelos deveres humildes e diários da vida. Sua indolência seria suficiente para desqualificá-lo para a obra do ministério se não houvesse outras razões por que você não devesse nela entrar. A causa não precisa tanto de pregadores como de obreiros. De todas as vocações da vida, não há nenhuma que requeira obreiros tão sérios, fiéis, perseverantes e abnegados como a causa de Deus nestes últimos dias. T3 557 2 O empreendimento de obter a vida eterna está acima de toda outra consideração. Deus não quer preguiçosos em Sua causa. A obra de advertir pecadores a fugirem da ira vindoura requer homens sérios que sintam amor pelas almas e que não sejam rápidos a se valer de toda desculpa para evitar responsabilidades e deixar o trabalho. Pequenos contratempos, como mau tempo ou enfermidades imaginárias, parecem suficientes ao irmão R para desculpá-lo de fazer qualquer esforço. Apelará até à própria comiseração; e quando deveres surgem que ele não se sente inclinado a cumprir, quando sua indolência pede condescendência, freqüentemente dá desculpa de que está doente, quando não há razão por que devia estar doente, a menos que por hábitos indolentes e condescendência do apetite seu organismo todo esteja paralisado pela inatividade. Ele pode desfrutar de boa saúde se observar estritamente as leis da vida e da saúde, e obedecer à luz da reforma de saúde em todos os seus hábitos. T3 558 1 O irmão R não é homem para a obra nestes últimos dias a menos que ele se reforme inteiramente. Deus não chama pastores que são demasiado indolentes para se empenhar em trabalho físico, para levar a mensagem de advertência ao mundo. Ele quer obreiros em Sua causa. Obreiros verdadeiros, fervorosos, abnegados realizarão alguma coisa. T3 558 2 Irmão R, o fato de você ensinar a verdade a outros tem sido completo equívoco. Se Deus chama um homem, Ele não cometerá erro tão grande como de escolher um de tão pouca experiência na vida prática e nas coisas espirituais como você tem sido. Você tem habilidade para falar, não há dúvida quanto a isso, mas a causa de Deus requer homens de consagração e energia. Estes traços você pode cultivar; pode obtê-los se quiser. Cultivando com perseverança os traços opostos àqueles nos quais você agora falha, pode aprender a superar essas deficiências em seu caráter as quais têm aumentado desde a juventude. Meramente sair e falar ao povo de vez em quando não é trabalhar para Deus. Nisto não há trabalho verdadeiro. T3 558 3 Os que trabalham para Deus ao apresentarem um sermão no púlpito mal começaram o trabalho. Depois disto vem o verdadeiro trabalho, o visitar de casa em casa, conversar com os membros das famílias, orar com eles e aproximar-se com simpatia daqueles a quem se deseja beneficiar. Não diminuirá a dignidade do ministro de Cristo estar alerta para ver e reconhecer os fardos transitórios e os cuidados das famílias que ele visita, e ser útil, procurando aliviá-los onde puder ao empenhar-se em trabalho físico. Deste modo pode exercer uma influência poderosa para desarmar a oposição e quebrar o preconceito, a qual deixaria de exercer se fosse em todos os outros aspectos plenamente eficiente como ministro de Cristo. T3 558 4 Nossos jovens pastores não têm a responsabilidade de escrever que os mais velhos e mais experientes têm. Não têm uma multiplicidade de responsabilidades que sobrecarregam a mente e desgastam a pessoa. Mas é justamente este fardo de cuidados que aperfeiçoa a experiência cristã, dá força moral e faz homens fortes e eficientes daqueles que estão empenhados na obra de Deus. O evitar fardos e responsabilidades desagradáveis nunca fará de nossos pastores homens fortes dos quais se pode depender numa crise religiosa. Muitos de nossos jovens pastores são tão fracos como bebês na obra de Deus. E alguns que têm estado durante anos empenhados na obra de ensinar a verdade não são ainda obreiros capazes, que não precisam se envergonhar. Não se tornaram fortes em experiência por serem convocados por influências opostas. Eles têm se esquivado daquele exercício que fortaleceria os músculos morais, dando poder espiritual. Mas é justamente desta experiência que precisam a fim de atingir a plena estatura de homens em Cristo Jesus. Não adquirem poder espiritual esquivando-se de deveres e responsabilidades, e se entregando à indolência e ao amor egoísta à comodidade e ao prazer. T3 559 1 O irmão R não tem falta de habilidade para revestir suas idéias de palavras, mas precisa de espiritualidade e verdadeira santidade de coração. Não bebeu ele mesmo do manancial da verdade. Tivesse ele aproveitado seus momentos dourados estudando a Palavra de Deus, poderia agora ser um obreiro capaz, mas é muito indolente para aplicar com seriedade a mente e para aprender para si mesmo as razões de nossa esperança. Ele se contenta em pegar material que outras mentes e outras penas se esforçaram para produzir, e usa os pensamentos deles, que lhe estão à mão, sem esforço ou exercício mental, sem cuidadosa reflexão nem devota meditação. T3 559 2 O irmão R também não gosta de aplicar-se seriamente ao estudo das Escrituras ou ao trabalho físico. Prefere um caminho mais fácil, e ainda não tem um conhecimento experimental das responsabilidades da obra de Deus. É-lhe mais fácil repetir os pensamentos de outros do que pesquisar diligentemente a verdade por si mesmo. É somente por esforço pessoal, intensa aplicação mental e inteira dedicação ao trabalho que as pessoas se tornam competentes para o ministério. T3 559 3 Diz Cristo: "Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar?" Mateus 5:13. O sabor do sal é a graça divina. Todos os esforços para promover a verdade são de pouco valor a menos que o Espírito de Deus os acompanhe. Você fez do ensinar a verdade uma brincadeira de criança. Sua mente tem repousado na própria comodidade e prazer, seguindo sua inclinação. Você e sua esposa não têm verdadeira percepção da santidade da obra de Deus. Ambos pensam mais em agradar sua fantasia e imaginar como satisfazer seus desejos de comodidade e prazer do que em empenhar-se nos deveres sérios da vida, especialmente nas responsabilidades relacionadas à obra de advertir o mundo do juízo vindouro. T3 560 1 Você tem visto o irmão S sobrecarregado com as responsabilidades e fatigado com o trabalho físico; mas você tem tido tanto amor à comodidade pessoal e tal desejo de manter importância própria que se manteve alheio, esquivando-se dos deveres que alguém foi obrigado a desempenhar. Você tem passado dias em complacente indolência sem beneficiar a ninguém, e então sua consciência lhe permitia sem remorso relatar o tempo gasto na maioria das vezes em indolência e receber pagamento da tesouraria de Deus. T3 560 2 Você mostrou por sua conduta que não tinha elevada percepção das coisas sagradas. Tem roubado a Deus, e deve agora procurar fazer uma obra cabal de arrependimento. Não tente ensinar a outros. Quando você se converter, então poderá ser capaz de fortalecer seus irmãos; mas Deus não usa homens com esses traços de caráter em Sua vinha. Quando abandonar esses traços, e receber o selo divino, então poderá trabalhar na causa de Deus. Você precisa aprender quase tudo e tem apenas pouco tempo no qual aprender essas lições. Que Deus o ajude a trabalhar seriamente e ao ponto. Escrevi muito mais sobre princípios gerais, mas no momento não tenho tempo de passá-los a você. ------------------------Capítulo 50 -- Pais como reformadores T3 560 3 Em três de Janeiro de 1875, foi-me mostrado que nenhum de nós reconhece os perigos que nos espreitam a cada passo. Temos um inimigo vigilante, e não obstante não estamos alertas e sérios em nossos esforços para resistir às tentações de Satanás e vencer seus ardis. T3 561 1 Deus permitiu que a luz da reforma de saúde brilhasse sobre nós nestes últimos dias, para que andando na luz escapemos dos muitos perigos aos quais estaremos expostos. As tentações de Satanás são poderosas sobre os seres humanos para levá-los a condescender com o apetite, satisfazer a inclinação e viver uma vida de loucura insensata. Ele apresenta atrações em uma vida de satisfação pessoal, e em procurar satisfazer o instinto sensual. Licenciosidade prevalece em extensão alarmante e está arruinando a constituição física para o resto da vida; e não somente isto, mas as faculdades morais são sacrificadas. Condescendências intemperantes estão diminuindo as energias vitais tanto do corpo como da mente. Colocam aquele que é vencido no terreno do inimigo, onde Satanás pode tentar, irritar e finalmente controlar a vontade de acordo com seu desejo. T3 561 2 Aqueles que têm sido vencidos no ponto do apetite e que estão usando livremente fumo estão rebaixando suas forças mentais e morais e as escravizando à sensualidade. Satisfazendo a sede de bebida alcoólica, o homem leva voluntariamente aos lábios aquela bebida que vai colocar abaixo do nível dos animais aquele que foi feito à imagem de Deus. A razão fica paralisada, o intelecto é obscurecido, despertadas as paixões sensuais, e então seguem-se crimes do caráter mais degradante. Se as pessoas se tornassem temperantes em todas as coisas, se não tocassem, não provassem, não manuseassem bebidas alcoólicas e narcóticos, a razão seguraria as rédeas de governo em suas mãos e controlaria os apetites e paixões sensuais. Nesta época agitada, quanto menos estimulante o alimento, melhor. A temperança em todas as coisas e a firme negação do apetite é o único caminho seguro. T3 561 3 Satanás chega-se ao homem, como se chegou a Cristo, com suas esmagadoras tentações para condescender com o apetite. Ele bem conhece seu poder para vencer o homem neste ponto. Na questão do apetite venceu a Adão e Eva, no Éden, e perderam seu lar feliz. Que quantidade de miséria e crime tem enchido nosso mundo em conseqüência da queda de Adão! Cidades inteiras foram apagadas da face da Terra por causa dos degradantes crimes e da revoltante iniqüidade que as tornaram uma nódoa no Universo. A condescendência com o apetite foi a base de todos os seus pecados. Por meio do apetite Satanás dominou a mente e o ser. Milhares de pessoas que poderiam haver vivido passaram prematuramente à sepultura, física, mental e moralmente arruinadas. Possuíam boas faculdades, mas sacrificaram tudo à condescendência com o apetite, o que as levou a soltar as rédeas da concupiscência. Nosso mundo é um vasto hospital. Os hábitos viciosos estão aumentando. T3 562 1 É desagradável, se não perigoso, ficar num vagão de estrada de ferro ou numa sala apinhada que não é bem ventilada, onde a atmosfera está impregnada com as propriedades do álcool e do fumo. Os que ocupam o aposento dão evidência pelo hálito e emanações do corpo de que o organismo está cheio do veneno do álcool e do fumo. O uso do fumo é um hábito que afeta freqüentemente o sistema nervoso de maneira mais poderosa que o uso do álcool. Ele prende a vítima em mais fortes cadeias de servidão do que o faz o copo intoxicante; o hábito é mais difícil de vencer. O físico e a mente são, em muitos casos, mais completamente intoxicados com o uso do fumo do que com as bebidas alcoólicas; portanto, é um veneno mais sutil. T3 562 2 A intemperança está aumentando em toda parte, apesar dos mais veementes esforços feitos no ano passado* para impedir seu progresso. Foi-me mostrado que o poder gigantesco da intemperança não pode ser controlado por esforços dessa natureza. A obra de temperança deve começar em nossa família, à nossa mesa. As mães têm importante obra a fazer a fim de darem ao mundo, mediante a verdadeira disciplina e educação, filhos capazes de ocupar qualquer posição, por assim dizer, e que também possam honrar e fruir os deveres da vida doméstica. T3 562 3 Muito importante e sagrada é a obra da mãe. Cumpre-lhe ensinar aos filhos, desde o berço, a praticar atos de domínio próprio e de abnegação. Caso o tempo da mãe seja ocupado principalmente com as extravagâncias deste século degenerado, se o vestuário e as reuniões sociais lhe tomam o precioso tempo, seus filhos deixam de receber aquela educação que lhes é essencial possuir a fim de formarem caráter digno. A ansiedade da mãe cristã não deve ser meramente no sentido das coisas exteriores, mas de que seus filhos possuam constituição saudável e boa moral. T3 563 1 Muitas mães que deploram a intemperança que existe por toda parte não aprofundam a visão o bastante para ver a causa. Preparam diariamente uma variedade de pratos e alimentos muito condimentados, que tentam o apetite e incitam a comer em excesso. A mesa de nosso povo americano é geralmente provida de modo a formar bêbados. Para vasta classe, o apetite é a regra dominante. Quem quer que condescenda com o apetite comendo demasiado freqüentemente, e comida que não seja saudável, está enfraquecendo sua força para resistir às reivindicações desse apetite e da paixão em outros sentidos, e isso proporcionalmente ao vigor que permitiu tornarem os hábitos incorretos no comer. As mães precisam ser devidamente impressionadas quanto à obrigação que têm para com Deus e o mundo de prover à sociedade filhos de caráter bem formado. Homens e mulheres que venham ao campo de ação com princípios firmes estarão aptos a permanecer incontaminados entre a poluição moral deste século corrupto. T3 563 2 É o dever das mães aproveitar-se de suas áureas oportunidades para educar corretamente seus filhos para utilidade e dever. Seu tempo pertence a seus filhos num sentido especial. Tempo precioso não deve ser devotado a trabalho inútil com vestes para ostentação, mas deve ser gasto em instruir pacientemente e ensinar cuidadosamente a seus filhos a necessidade de abnegação e domínio próprio. T3 563 3 A mesa de muitas mulheres que professam cristianismo é diariamente posta com uma variedade de pratos que irritam o estômago e produzem um estado febril no organismo. Alimentos cárneos constituem o principal artigo de alimentação na mesa de algumas famílias, até que seu sangue fica cheio de humores cancerosos e escrofulosos. Seu corpo compõe-se daquilo que eles ingerem. Mas ao sobrevir-lhes sofrimento e doença, isto é considerado aflição vinda da Providência. T3 563 4 Repetimos, a intemperança começa em nossas mesas. Condescende-se com o apetite até que a condescendência com ele se torna a segunda natureza. Pelo uso do chá e café predispõe-se o apetite para o uso do fumo, e este estimula o desejo de bebidas alcoólicas. T3 564 1 Para evitarem o trabalho de educar pacientemente seus filhos a seguirem hábitos de renúncia, e ensinar-lhes como fazer uso correto de todas as bênçãos de Deus, muitos pais permitem que eles comam e bebam sempre que desejem. A menos que sejam terminantemente restringidos, o apetite e a condescendência egoístas crescem cada vez mais e cada vez mais se fortalecem. Ao iniciarem seus filhos a vida por si mesmos e tomarem seu lugar na sociedade, tornam-se impotentes para resistir à tentação. Impureza moral e iniqüidade gritante crescem por toda a parte. A tentação para condescender com o apetite e satisfazer a inclinação não diminuiu com o passar dos anos, e em geral os jovens são governados pelo impulso e se tornam escravos do apetite. Vemos no glutão, no viciado em fumar e no beberrão de vinho e no alcoólatra os maus resultados da educação defeituosa. T3 564 2 Ao ouvirmos as tristes lamentações de homens e mulheres cristãos sobre os terríveis males da intemperança, sem demora surgem na mente as perguntas: Quem educou os jovens e lhes deu essa espécie de caráter? Quem promoveu neles o apetite que adquiriram? Quem tem negligenciado a responsabilidade mais solene de moldar a mente deles e formar seu caráter para utilidade nesta vida, e para a companhia dos anjos celestes na vida por vir? Uma grande classe de seres humanos que encontramos em toda parte é uma viva maldição ao mundo. Vivem para nenhum outro propósito senão satisfazer o apetite e a paixão, e para corromper mente e corpo por hábitos dissolutos. Esta é uma reprimenda terrível para as mães que são devotas da moda, que têm vivido para vestuário e ostentação, que negligenciaram embelezar a própria mente e formar o próprio caráter segundo o Modelo divino, e que também negligenciaram o dever sagrado que lhes foi confiado de educar os filhos "na doutrina e admoestação do Senhor". Efésios 6:4. T3 565 3 Vi que, por meio de suas tentações, está Satanás instituindo modas que estão sempre mudando, e atrativas reuniões sociais e diversões, para que as mães possam ser levadas a dedicar o tempo de graça que lhes foi dado por Deus a assuntos frívolos, para que elas não disponham senão de pouca oportunidade de educar e preparar seus filhos de maneira conveniente. Nossos jovens necessitam de mães que lhes ensinem desde o berço a controlar as paixões, a renunciar ao apetite e a subjugar o egoísmo. Precisam de "mandamento sobre mandamento... regra sobre regra..., um pouco aqui, um pouco ali". Isaías 28:10. T3 565 1 Foi concedida aos hebreus orientação sobre a maneira em que deviam educar os seus filhos a evitar a idolatria e a iniqüidade das nações pagãs: "Ponde, pois, estas Minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos; e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te." Deuteronômio 11:18, 19. T3 565 2 Temos um desejo sincero que a mulher ocupe a posição que Deus originalmente designou, como a igual de seu marido. Precisamos tanto de mães que sejam mães não só de nome, mas no verdadeiro sentido da palavra. Podemos dizer com segurança que a dignidade e importância da missão e deveres específicos da mulher são de caráter mais santo e mais sublime que os deveres do homem. T3 565 3 Há especulações sobre os direitos e deveres das mulheres com respeito a votar. Muitas não estão de modo algum educadas para compreender a implicação de questões importantes. Viveram vida de satisfação presente porque era a moda. Mulheres que poderiam desenvolver bom intelecto e ter verdadeira dignidade moral são agora meras escravas da moda. Não possuem amplidão de pensamento ou intelecto culto. Podem falar inteligentemente da última moda, dos estilos de vestidos, desta ou daquela festa ou do baile deleitável. Estas mulheres não estão preparadas para assumir inteligentemente uma posição proeminente em questões políticas. São meras criaturas da moda e das circunstâncias. Que esta ordem de coisas seja mudada. Que a mulher compreenda a santidade de sua obra e, na força e temor de Deus, assuma a missão de sua vida. Eduque seus filhos a fim de que sejam úteis neste mundo e estejam aptos para o mundo melhor. T3 565 4 Dirigimo-nos a mães cristãs. Apelamos a que sintam sua responsabilidade como mães e vivam não para satisfazer a si mesmas, mas para glória de Deus. Cristo não agradou a Si mesmo, mas tomou sobre Si a forma de servo. Deixou as cortes reais e concordou em revestir Sua divindade com humanidade, para que pela Sua condescendência e Seu exemplo de sacrifício próprio pudesse nos ensinar como podemos ser elevados à posição de filhos e filhas da família real, filhos do Rei celestial. Mas quais são as condições dessas bênçãos sagradas e exaltadas? "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. T3 566 1 Cristo humilhou-Se da mais alta autoridade, da posição de um igual a Deus, ao lugar mais baixo, o de um servo. Seu lar era em Nazaré, que era proverbial por sua impiedade. Seus pais estavam entre os pobres humildes. Seu ofício era o de um carpinteiro, e trabalhou com as mãos para fazer Sua parte em sustentar a família. Por trinta anos foi sujeito a Seus pais. Aqui a vida de Cristo nos mostra nosso dever de sermos diligentes no trabalho e suprir e educar os fracos e ignorantes. Em Suas lições de instrução a Seus discípulos Jesus lhes ensinou que Seu reino não era um reino mundano, onde todos estavam lutando pela mais elevada posição. T3 566 2 A mulher deve ocupar uma posição mais sagrada e elevada na família do que o rei em seu trono. Sua grande obra é tornar sua vida um exemplo vivo que ela deseje que seus filhos imitem. Tanto por preceito como por exemplo, deve ela suprir-lhes a mente com conhecimentos úteis e levá-los a trabalhar sacrificando-se pelo bem de outros. O maior estímulo para a cansada e sobrecarregada mãe deve ser que cada filho seja educado de maneira correta e que possua o adorno interior, o ornamento "de um espírito manso e quieto" (1 Pedro 3:4), obtenha aptidão para o Céu e resplandeça nas cortes do Senhor. T3 566 3 Quão poucos vêem qualquer atrativo na humildade de Cristo! Sua humildade não consistia em uma valorização inferior de Seu caráter e qualificações, mas em humilhar-Se ao nível da humanidade caída a fim de levantá-la com Ele para uma vida mais elevada. Pessoas do mundo tentam exaltar-se à posição daquelas que estão acima delas ou tornar-se superiores às mesmas. Mas Jesus, o Filho de Deus, humilhou a Si mesmo para elevar o homem; e o verdadeiro seguidor de Cristo procurará encontrar os homens onde estão a fim de elevá-los. T3 567 1 Não hão de as mães desta geração sentir a santidade de sua missão e, em vez de competir com seus vizinhos ricos, em suas ostentações, procurar excedê-los na fiel realização da tarefa de instruir os filhos para a vida melhor? Se as crianças e os jovens fossem treinados e educados em hábitos de abnegação e domínio próprio, se lhes fosse ensinado que comem para viver em vez de viver para comer, haveria então menos doenças e menos corrupção moral. Pouca necessidade haveria de campanhas de temperança, que pouca importância têm, se nos jovens, que formam e moldam a sociedade, pudessem ser implantados princípios retos com respeito à temperança. Possuiriam então valor e integridade morais para resistir, na força de Jesus, às corrupções destes últimos dias. T3 567 2 É questão muito difícil desaprender os hábitos que têm sido acariciados durante toda a vida e têm educado o apetite. O demônio da intemperança não é facilmente vencido. Tem força gigantesca e é difícil de dominar. Iniciem os pais uma cruzada contra a intemperança ao lado da própria lareira, na própria família, nos princípios que ensinam aos filhos para seguirem desde sua infância, e podem esperar êxito. Compensará, mães, usar as preciosas horas que Deus lhes dá na formação, desenvolvimento e treino do caráter de seus filhos e em lhes ensinar a se apegarem estritamente aos princípios de temperança no comer e no beber. T3 567 3 Os pais podem ter transmitido aos filhos tendências para o apetite e paixão, o que torna mais difícil o trabalho de educá-los e treiná-los para serem estritamente temperantes e terem hábitos puros e virtuosos. Se o apetite por alimento nada saudável, estimulantes e narcóticos lhes tem sido transmitido como legado dos pais, que responsabilidade terrivelmente solene repousa sobre estes, de anular as más tendências que eles passaram aos filhos! Quão fervorosa e diligentemente devem os pais trabalhar para, com fé e esperança, cumprir seu dever para com seus desventurados filhos! T3 568 1 Os pais devem tornar sua primeira preocupação compreender as leis da vida e da saúde, para que nada por eles seja feito no preparo do alimento, ou por meio de quaisquer outros hábitos, que desenvolva nos filhos más tendências. Com quanto cuidado devem as mães estudar como preparar a mesa com o alimento mais simples e saudável, para que os órgãos digestivos não sejam enfraquecidos, desequilibradas as energias nervosas e a instrução que derem aos filhos não seja anulada pelo alimento que lhes é dado! Esse alimento enfraquece ou fortalece os tecidos do estômago e muito tem a ver com o controle da saúde física e moral dos filhos, que são a propriedade de Deus comprada com sangue. Que sagrado depósito é confiado aos pais, o de proteger a constituição física e moral dos filhos, para que o sistema nervoso seja bem equilibrado e a alma não seja posta em perigo! Os que condescendem com o apetite dos filhos, e não lhes controlam as paixões, reconhecerão o terrível erro que cometeram, nos escravos do fumo e da bebida, cujos sentidos se acham embotados e cujos lábios proferem palavras falsas e profanas. T3 568 2 Quando pais e filhos se encontrarem no final ajuste de contas, que cena se apresentará! Milhares de filhos que têm sido escravos do apetite e de vícios humilhantes, cujas vidas são destroços morais, estarão face a face diante dos pais que deles fizeram o que são. Quem, além dos pais, deve assumir tão terrível responsabilidade? Fez o Senhor corruptos esses jovens? Oh, não! Fê-los à Sua imagem, "um pouco menor do que os anjos". Hebreus 2:7. Quem, então, fez a temível obra de formar o caráter da vida? Quem lhes transformou o caráter, de modo que não tivessem o selo de Deus e devessem para sempre estar separados de Sua presença, por serem impuros demais para terem qualquer parte com os anjos puros num Céu santo? Foram os pecados dos pais transmitidos aos filhos em apetites e paixões pervertidos? E foi completada a obra pela mãe amante de prazeres ao negligenciar ensiná-los devidamente de acordo com o padrão que lhe foi dado? Tão certo como existem, todas essas mães passarão em revista diante de Deus. Satanás está pronto para fazer sua obra e apresentar tentações que eles não têm força de vontade nem força moral para resistir. T3 569 1 Nosso povo está constantemente retrocedendo quanto à reforma de saúde. Satanás vê que não pode exercer poder mais controlador sobre eles do que lhe seria possível se condescendessem com o apetite. Sob a influência de alimentos impróprios para a saúde, a consciência torna-se entorpecida, a mente obscura e sua sensibilidade às impressões se embota. Mas embora a consciência violada esteja entorpecida e se torne insensível, nem por isso a culpa do transgressor é diminuída. T3 569 2 Satanás está corrompendo as mentes e destruindo as pessoas por meio de suas sutis tentações. Não verá nem sentirá nosso povo o pecado de condescender com o apetite pervertido? Não abandonará o chá, café, alimentos cárneos e toda alimentação estimulante, devotando à expansão da verdade os recursos expendidos com esses hábitos nocivos? Esses estimulantes só trazem prejuízo, e contudo vemos que um grande número dos que professam ser cristãos está usando fumo. Esses mesmos homens deplorarão o mal da intemperança, e ao mesmo tempo que falam contra o uso de bebidas alcoólicas estão cuspindo suco de fumo. Visto que o estado saudável da mente depende da condição normal das forças vitais, que cuidado precisa ser exercido para não se usarem narcóticos nem estimulantes! T3 569 3 O fumo é um veneno lento, perigoso, e seus efeitos são mais difíceis de desaparecer do organismo do que os do álcool. Que resistência tem o adepto do fumo para deter o progresso da intemperança? Deve haver em nosso mundo uma revolução acerca do fumo antes que o machado seja posto à raiz da árvore. Enfatizamos ainda mais o assunto: O chá e o café estão fomentando o desejo que se desenvolve quanto a estimulantes mais fortes, como o fumo e as bebidas alcoólicas. E chegamos ainda mais perto de nosso lar, às refeições diárias, às mesas postas em lares cristãos: É porventura a temperança praticada em tudo? São as reformas essenciais à saúde e à felicidade aí postas em prática? Todo verdadeiro cristão controlará o apetite e as paixões. A menos que ele esteja livre da servidão do apetite, não pode ser um genuíno e obediente servo de Cristo. É a condescendência com o apetite e as paixões que tornam a verdade sem efeito para o coração. Impossível é ao espírito e ao poder da verdade santificarem o homem -- alma, corpo e espírito -- quando ele é dominado pelo apetite e a paixão. ------------------------Capítulo 51 -- "Não poderei descer" T3 570 1 "Estou fazendo uma grande obra", diz Neemias, "de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?" Neemias 6:3. T3 570 2 Foi-me mostrado, em 3 de Janeiro de 1875,* que o povo de Deus não devia afrouxar por um momento sua vigilância. Satanás acha-se em nosso encalço. Está decidido a vencer com suas tentações o povo que observa os mandamentos de Deus. Se não lhe dermos lugar, antes resistirmos a seus ardis, firmes na fé, teremos força para apartar-nos de toda iniqüidade. Os que observam os mandamentos de Deus serão uma força na Terra, caso vivam segundo seus privilégios e a luz que têm. Serão modelos de piedade, de coração e conversação santos. Não teremos folga, para que possamos deixar de vigiar e orar. À medida que se aproxima o tempo de Cristo manifestar-Se nas nuvens do céu, as tentações de Satanás far-se-ão sentir com mais poder sobre os que guardam os mandamentos de Deus; pois ele sabe que seu tempo é curto. T3 571 1 A obra de Satanás será levada avante por meio de instrumentos. Pastores que aborrecem a lei de Deus empregarão qualquer meio para desviar pessoas de sua lealdade para com o Senhor. Nossos mais acérrimos inimigos achar-se-ão entre os adventistas do primeiro dia. Têm o coração inteiramente decidido a fazer guerra contra os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus. Essa classe julga ser virtude falar, escrever e agir movidos pelo mais intenso ódio contra nós. Não precisamos esperar um trato eqüitativo nem justiça de suas mãos. A muitos deles é inspirado por Satanás um furor insano contra os observadores dos mandamentos divinos. Usarão conosco de malignidade e nos desfigurarão; todos os nossos motivos e ações serão mal interpretados e nosso caráter será alvo de seus ataques. Assim se manifestará a ira do dragão. Vi, porém, que não devemos ficar nem um pouco desanimados. Nossa força está em Jesus, que nos advoga a causa. Se confiamos humildemente em Deus, apegando-nos firmemente às Suas promessas, Ele nos dará graça e sabedoria do alto para resistir a todos os ardis de Satanás, e sair vitoriosos. T3 571 2 Em minha recente visão foi-me mostrado que não nos aumentará a influência nem nos trará o favor de Deus o desforrar-nos ou descer de nossa grande obra ao nível deles, enfrentando-lhes as calúnias. Pessoas há que recorrerão a toda espécie de engano e falsidade a fim de atingir seu objetivo de iludir e lançar infâmia sobre a lei de Deus e sobre os que a amam e lhe obedecem. Repetirão as mentiras mais incoerentes e baixas, várias vezes, até que eles próprios chegam a crer que isso é a verdade. Essas falsidades são os mais fortes argumentos que têm a empregar contra o sábado do quarto mandamento. Não devemos deixar que os sentimentos nos dominem e nos desviem da obra de advertir o mundo. T3 571 3 Foi-me apresentado o caso de Neemias. Ele se achava empenhado na construção dos muros de Jerusalém, e os inimigos de Deus estavam decididos a não permitir que os mesmos fossem construídos. "Sucedeu que, ouvindo Sambalate e Tobias, e os arábios, e os amonitas, e os asdoditas que tanto ia crescendo a reparação dos muros de Jerusalém, que já as roturas se começavam a tapar, iraram-se sobremodo. E ligaram-se entre si todos, para virem atacar Jerusalém, e para os desviarem do seu intento." Neemias 4:7, 8. T3 572 1 Nesse caso o espírito de ódio e oposição contra os hebreus formou o traço de união, criando mútua simpatia entre diversas corporações de homens que, de outro modo, poderiam guerrear uns aos outros. Isto ilustra bem o que freqüentemente testemunhamos em nossos dias na união existente entre homens de diferentes denominações para se oporem à verdade presente -- homens cuja ligação única parece ser aquilo que é de natureza satânica, manifestando amargura e ódio contra os remanescentes que guardam os mandamentos de Deus. Isto se verifica especialmente nos adventistas do primeiro dia, de nenhum dia e de todos os-dias-iguais, os quais parecem famosos por se aborrecerem e caluniarem uns aos outros, quando lhes sobra algum tempo dos esforços que empregam para apresentar falsamente, caluniar e maltratar por todos os modos os adventistas do sétimo dia. T3 572 2 "Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles." Neemias 4:9. Corremos contínuo risco de tornar-nos presunçosos, confiando em nossa própria sabedoria, deixando de fazer de Deus a nossa força. Coisa alguma perturba tanto a Satanás como o lhe conhecermos os ardis. Se sentimos o próprio perigo, sentiremos também a necessidade que temos de oração, como aconteceu com Neemias, e, à sua semelhança, obteremos aquela firme defesa que nos dará segurança no perigo. Caso sejamos descuidosos e indiferentes, certamente seremos vencidos pelos enganos de Satanás. Cumpre-nos ser vigilantes. Ao passo que, como Neemias, recorremos à oração, levando todas as nossas perplexidades e fardos ao Senhor, não devemos sentir que nada mais temos a fazer. Precisamos vigiar da mesma maneira que orar. Devemos vigiar a obra de nossos adversários, para que não obtenham vantagem, iludindo as pessoas. Cumpre-nos, na sabedoria de Cristo, esforçar-nos para derrotar-lhes os desígnios, ao mesmo tempo em que não permitimos que nos desviem da grande obra em que nos encontramos empenhados. A verdade é mais forte do que o erro. A justiça prevalecerá sobre a iniqüidade. T3 573 1 O povo do Senhor está buscando restaurar a brecha feita na lei de Deus. "E os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados; e levantarás os fundamentos de geração em geração, e chamar-te-ão reparador das roturas e restaurador de veredas para morar. Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:12-14. T3 573 2 Isso perturba os inimigos de nossa fé, e são empregados todos os meios a fim de impedir-nos em nossa obra. Todavia as paredes derrubadas vão sendo firmemente reconstruídas. O mundo está sendo advertido, e muitos se estão desviando de pisar o sábado de Jeová. O Senhor está nesta obra, e o homem não a pode deter. Anjos de Deus estão colaborando com os esforços de Seus fiéis servos, e a obra vai em decidido progresso. Encontraremos oposição de toda espécie, como aconteceu com os construtores dos muros de Jerusalém; se, porém, vigiarmos, orarmos e trabalharmos como eles fizeram, o Senhor combaterá nossos combates por nós e nos dará vitórias preciosas. T3 573 3 Neemias "se chegou ao Senhor, não se apartou de após Ele e guardou os mandamentos que o Senhor tinha dado a Moisés. Assim, foi o Senhor com ele". 2 Reis 18:6, 7. Repetidamente foram enviados mensageiros solicitando uma conferência com Neemias, mas ele se recusou a ir encontrar-se com eles. Fizeram-se ousadas ameaças do que eles pretendiam fazer, e enviaram emissários para desviar a atenção do povo que estava empenhado na obra de construção. Estes apresentaram lisonjeiros incentivos, e prometeram aos construtores isenção de restrições, e admiráveis privilégios, caso unissem os próprios interesses aos seus, e parassem a obra de construção. T3 573 4 Mas o povo tinha ordem de não meter-se em contenda com seus inimigos, e não responder-lhes nem uma palavra, para que não lhes fosse dada nenhuma vantagem de palavras. Recorreram a ameaças e ridículo. Diziam: "Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra." Sambalate "ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus". Neemias orou: "Ouve, ó nosso Deus, que somos tão desprezados, e caia o seu opróbrio sobre a sua cabeça." Neemias 4:3, 1, 4. T3 574 1 "E enviei-lhes mensageiros a dizer: Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco? E da mesma maneira enviaram a mim quatro vezes; e da mesma maneira lhes respondi. Então, Sambalate, da mesma maneira, pela quinta vez me enviou o seu moço com uma carta aberta na sua mão." Neemias 6:3-5. T3 574 2 Sofreremos a mais árdua oposição da parte dos adventistas que se opõem à lei de Deus. Mas, como os edificadores dos muros de Jerusalém, não nos devemos distrair nem deter em nossa obra por causa do que os outros dizem, por mensageiros que desejem debate ou polêmica, ou por ameaças intimidantes, divulgação de falsidades, ou qualquer ardil sugerido por Satanás. Nossa resposta deve ser: Estamos empenhados em uma grande obra, e não podemos descer. Ficaremos por vezes perplexos ante qual caminho tomar a fim de manter a honra da causa de Deus, e vindicar-Lhe a verdade. T3 574 3 A atitude de Neemias deve ter poderosa influência em nosso espírito quanto à maneira de enfrentar essa espécie de oponentes. Cumpre-nos levar tudo isso ao Senhor em oração, como Neemias fez suas súplicas a Deus com humilhação de espírito. Chegou-se a Deus com inabalável fé. Esse é o procedimento que devemos seguir. O tempo é demasiado precioso para que os servos de Deus o devotem a reivindicar o próprio caráter, atingido pelos que aborrecem o sábado do Senhor. Cumpre-nos ir avante com firme confiança, crendo que Deus dará à Sua verdade grandes e preciosas vitórias. Descansando humilde e mansamente em Jesus, e com pureza de vida, devemos ter conosco um convincente poder de que possuímos a verdade. T3 574 4 Não compreendemos, como é nosso privilégio, a fé e confiança que podemos ter em Deus, e as grandes bênçãos que a fé nos dará. Acha-se diante de nós importante obra. Temos de adquirir aptidão moral para o Céu. Nossas palavras e exemplo devem falar ao mundo. Anjos de Deus se acham ativamente empenhados em servir a Seus filhos. Estão escritas preciosas promessas, sob condição de obedecermos aos mandamentos de Deus. O Céu está pleno das mais ricas bênçãos à espera de nos serem comunicadas. Caso sintamos nossa necessidade e sinceramente nos acheguemos a Deus, com fervente fé, seremos postos em íntimo contato com o Céu, e nos tornaremos condutos de luz para o mundo. T3 575 1 Importa que se faça soar muitas vezes a advertência: "Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar." 1 Pedro 5:8. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 4 T4 5 1 O Breve Histórico do Volume Quatro T4 9 2 Capítulo 1 -- Biografias Bíblicas T4 16 1 Capítulo 2 -- Unidade da Igreja T4 20 5 Capítulo 3 -- Avançar T4 28 1 Capítulo 4 -- Condescendência com o Apetite T4 43 3 Capítulo 5 -- Escolhendo Tesouro Terrestre T4 55 1 Capítulo 6 -- Verdadeira benevolência T4 67 1 Capítulo 7 -- Coobreiros de Cristo T4 83 3 Capítulo 8 -- O Processo de Prova T4 94 1 Capítulo 9 -- Trabalho que promove saúde T4 104 2 Capítulo 10 -- Influência do ambiente social T4 118 2 Capítulo 11 -- Interesse dividido T4 125 3 Capítulo 12 -- Exaltação Própria T4 134 1 Capítulo 13 -- Missionários no Lar T4 144 2 Capítulo 14 -- Pronta Obediência T4 148 2 Capítulo 15 -- Os Doze Espias T4 156 2 Capítulo 16 -- A Tomada de Jericó T4 164 2 Capítulo 17 -- Jeremias Reprova Israel T4 186 1 Capítulo 18 -- Necessárias Fiéis Reprovações T4 213 1 Capítulo 19 -- Inteira Consagração T4 221 2 Capítulo 20 -- Necessidade de Harmonia T4 227 2 Capítulo 21 -- Oposição a Fiéis Advertências T4 247 1 Capítulo 22 -- Santidade dos Mandamentos de Deus T4 255 1 Capítulo 23 -- O Egoísmo na Igreja e na Família T4 260 1 Capítulo 24 -- Apelo aos Pastores T4 271 2 Capítulo 25 -- Experiência e Trabalhos T4 306 1 Capítulo 26 -- Preparo para a Volta de Cristo T4 313 3 Capítulo 27 -- Mensagem aos Pastores T4 321 1 Capítulo 28 -- Simpatia Pelos que Erram T4 330 3 Capítulo 29 -- A Causa no Texas T4 341 1 Capítulo 30 -- Pastores que Cuidam de si Mesmos T4 350 1 Capítulo 31 -- Honestidade nos negócios T4 360 1 Capítulo 32 -- A Religião na Vida Diária T4 371 1 Capítulo 33 -- Pastores consagrados T4 384 2 Capítulo 34 -- O juízo T4 388 1 Capítulo 35 -- Nossas publicações T4 393 1 Capítulo 36 -- Embaixadores de Cristo T4 407 4 Capítulo 37 -- Ministros do Evangelho T4 418 1 Capítulo 38 -- Nosso Colégio T4 430 1 Capítulo 39 -- A Causa em Iowa T4 449 3 Capítulo 40 -- Nossas Casas publicadoras T4 462 2 Capítulo 41 -- A Santidade dos Votos T4 476 2 Capítulo 42 -- Testamentos e legados T4 485 2 Capítulo 43 -- Relacionamento entre os membros da igreja T4 489 2 Capítulo 44 -- Desonestidade na igreja T4 495 2 Capítulo 45 -- A importância de domínio próprio T4 503 3 Capítulo 46 -- Casamentos não-bíblicos T4 508 2 Capítulo 47 -- Os pobres do Senhor T4 511 3 Capítulo 48 -- A causa em Battle Creek T4 519 1 Capítulo 49 -- Aperfeiçoar talentos T4 523 2 Capítulo 50 -- Os servos de Deus T4 537 3 Capítulo 51 -- Advertências e admoestações T4 545 1 Capítulo 52 -- Cultura moral e intelectual T4 550 1 Capítulo 53 -- Dever para com os pobres T4 552 2 Capítulo 54 -- Saúde e religião T4 554 1 Capítulo 55 -- Obreiros fiéis T4 565 1 Capítulo 56 -- Influência cristã T4 571 1 Capítulo 57 -- Economia e abnegação T4 575 3 Capítulo 58 -- Posição e obra do hospital T4 587 1 Capítulo 59 -- A influência dos companheiros T4 591 2 Capítulo 60 -- Sociedades de publicações T4 609 2 Capítulo 61 -- O amor ao mundo T4 628 1 Capítulo 62 -- Simplicidade no vestuário T4 648 2 Capítulo 63 -- A devida educação T4 654 1 Capítulo 64 -- Responsabilidade para com Deus ------------------------Breve histórico do volume quatro T4 5 1 Um período de sete anos, de 1875-1881 foi abrangido pelos cinco folhetos que agora formam o volume 4 de Testemunhos Para a Igreja. Estes foram os últimos sete anos da vida de Tiago White. A obra denominacional adentrou um período de rápida expansão. O Pastor e a Sra. White viajaram muito e trabalharam incansavelmente no ministério público, em entrevistas particulares e escrevendo. Estavam lutando com problemas de uma obra institucional em expansão. T4 5 2 A missão na Europa fazia pouco progresso e outros obreiros foram enviados para se unir ao Pastor Andrews em 1876. A abrangente visão de 3 de Janeiro de 1875, recebida em Battle Creek, que formou a base da maioria da primeira metade do volume 4, conduziu à melhor compreensão da natureza mundial da nossa obra. T4 5 3 Na Costa do Pacífico a obra denominacional estava se desenvolvendo rapidamente. A [revista] recentemente lançada Signs of the Times se tornou publicação permanente, e em 1875 foi aberta em Oakland a Pacific Press, nossa segunda casa publicadora adventista do sétimo dia. Esta logo se tornou o maior e mais bem equipado estabelecimento de publicações mantido na Costa do Pacífico. Em 1878, perto de St. Helena, ao norte da Califórnia, o segundo hospital denominacional abriu suas portas para serviço. T4 5 4 Com a ampliação das instalações de publicação, vimos crescer rapidamente nossa literatura, a qual, ao tempo da conclusão do período abrangido pelo volume 4, incluía: Thoughts on Daniel and the Revelation, de Uriah Smith, History of the Sabbath, de J. N. Andrews, e inúmeras outras obras de menor importância tratando de saúde, tópicos religiosos, temperança e temas de interesse para crianças. Planos para distribuição mais sistemática foram inaugurados com colportores regularmente empregados saindo de casa em casa para vender nossos livros contendo a verdade. Um grande movimento de distribuição gratuita de literatura por nossos membros leigos estava também se desenvolvendo bem, com o Pastor S. N. Haskell liderando a organização das sociedades de tratados [folhetos] e de missionários. T4 5 5 O volume 4 abrange uma época de grandes reuniões campais dos adventistas do sétimo dia. Com o primeiro de tais encontros realizado em 1868, o plano havia sido seguido com crescente entusiasmo. Durante o período de uma década fora raro uma associação estadual que não realizasse anualmente suas reuniões de verão. Os locais eram bem escolhidos e boa publicidade foi feita. Foi nessas grandes reuniões campais que se combinou iniciar um esforço de apresentar nas revistas relatórios da obra dos adventistas do sétimo dia. Grandes dificuldades foram enfrentadas para tornar as campais significativas, prover bom alimento e apresentar uma mensagem impressionante. As reuniões com duração de cinco, seis ou sete dias, que nos dias de semana eram freqüentadas por umas poucas centenas de adventistas, nos fins de semana atraíam vários milhares de ouvintes não adventistas interessados. O ponto alto de tal interesse foi registrado em 1876, quando em Groveland, Massachusetts, um subúrbio de Boston, vinte mil pessoas lotaram o local das campais no domingo, 27 de Agosto. A Sra. White falou a quinze mil atentos ouvintes naquela tarde. T4 6 1 A obra de temperança também se sobressaiu notavelmente nos anos abrangidos pelo volume 4. Os adventistas do sétimo dia, com a Sra. White entre seus principais oradores, ficou muito à frente, freqüentemente junto com organizações de temperança já estabelecidas. A maneira prática pela qual trabalharam para enfrentar a maré da intemperança é exposta pela Sra. White no capítulo intitulado "Experiências e Trabalhos", encontrado no centro do livro. T4 6 2 Na sede da denominação em Battle Creek havia grande atividade durante os últimos anos da década de 1870. O novo tabernáculo tomou o lugar da casa de cultos que já era pequena demais. Esse novo templo, construído para acomodar as assembléias da Associação Geral, tornou-se conhecido como Dime Tabernacle, porque foi solicitado que cada membro da igreja ao redor do país contribuísse com pelo menos dez centavos [ou um dime americano] para sua construção. Foi edificado entre o prédio da Review and Herald e o hospital, em frente a um lindo parque. Novos prédios muito maiores foram erigidos e colocados em uso no hospital. Por volta da mesma época, o trabalho médico se tornou firmemente estabelecido à medida que médicos preparados especialmente nesse ramo de serviço retornaram das melhores escolas do país para liderar essa importante obra em Battle Creek. A revista denominacional de saúde, Good Health, estava tendo "maior circulação do que qualquer revista de saúde na América". A Review and Herald se tornou a "maior e mais bem equipada oficina gráfica do Estado" de Michigan. O trabalho do recém-inaugurado Battle Creek College fez constante progresso, e no ano de 1881 alcançou um total de quase quinhentos alunos matriculados. T4 7 1 Embora, durante esses anos, o Pastor e a Sra. White houvessem estabelecido seu lar em Michigan ou na Califórnia, vamos encontrá-los por alguns meses no Texas. Mais tarde a Sra. White fez uma longa viagem à Costa Noroeste do Pacífico. Estavam novamente de volta a Battle Creek, Michigan, por ocasião da morte do pastor White em 1881. T4 7 2 Esses são alguns dos acontecimentos do período abrangido pelo volume 4. Através do livro inteiro há mensagens de conselho e instrução que têm um propósito em todos esses ramos de empreendimento que rapidamente se desenvolvem. Mas a ênfase da instrução nesse volume de 657 páginas está na experiência pessoal dos obreiros e membros da igreja. De fato, a obra em expansão de uma denominação que crescia rapidamente com freqüência precisava e recebia orientações e advertências. Os negócios da administração, porém, eram secundários em relação à experiência pessoal dos líderes e membros da igreja. Se a experiência espiritual dos adventistas do sétimo dia deteriorava ao nível do mero formalismo, a direção dos empreendimentos da igreja significava apenas o funcionamento da maquinaria. A igreja precisa manter-se pura, manter seus padrões elevados, seus membros ativos no serviço e cultivando diariamente uma experiência pessoal com Deus. T4 8 1 Não é de admirar, portanto, que grande parte do volume 4 trata de assuntos práticos como: "Apetite", "Disciplina Familiar', "Domínio Próprio", "Honestidade nos Negócios", "Santidade dos Votos", "Casamentos Não-Bíblicos", "Simplicidade no Vestuário", "Amor ao Mundo", "Preparo Para a Volta de Cristo", e dezenas de outros assuntos importantes. Essas foram algumas das mensagens que serviram para reformar, corrigir e purificar a igreja naqueles primeiros anos. Sendo que os adventistas do sétimo dia devem contender com o mesmo tentador e enfrentar os mesmos problemas e experiências hoje, esses artigos inspirados devem ser lidos e relidos seriamente, e seus conselhos e advertências atendidos, para que se cumpra o propósito de Deus ao enviar essa instrução para incentivar e encorajar a igreja. Depositários do Patrimônio Literário White. ------------------------Capítulo 1 -- Biografias bíblicas T4 9 2 As vidas relatadas na Bíblia são histórias autênticas de pessoas reais. Desde Adão, passando pelas sucessivas gerações, até ao tempo dos apóstolos, temos uma narração clara, ao natural, do que realmente ocorreu, e a genuína experiência de personagens verídicos. É caso de admiração para muitos que a história inspirada relatasse fatos na vida de homens bons que lhes maculam o caráter moral. Os infiéis utilizam-se desses pecados com grande prazer, e expõem ao ridículo os que os cometeram. Os escritores inspirados não testificam de falsidades, para impedir que as páginas da história sagrada sejam obscurecidas pelo registro das fragilidades e faltas humanas. Os escribas de Deus escreveram segundo lhes foi ditado pelo Espírito Santo, não tendo eles próprios controle sobre o trabalho. Registraram a verdade literal, e fatos severos, repugnantes, são revelados por motivos que nossa mente finita não pode compreender plenamente. T4 9 3 É uma das melhores provas da autenticidade das Escrituras o não ser a verdade apresentada com paliativos, nem os pecados de seus principais personagens suprimidos. Muitos alegarão ser fácil relatar o que ocorre em uma existência comum. É, porém, fato provado ser uma impossibilidade humana o narrar imparcialmente a história de um contemporâneo; e o é quase igualmente narrar sem desvios da exata verdade a vida de qualquer pessoa ou povo com cuja vida nos achamos relacionados. O espírito humano é tão sujeito ao preconceito, que lhe é quase impossível tratar o assunto imparcialmente. Ou os defeitos da pessoa em questão são excessivamente realçados, ou suas virtudes demasiado enaltecidas, dependendo do ponto de vista preconcebido do autor. Por mais imparcial que o historiador se proponha a ser, todos os críticos concordarão que esta é uma tarefa muito difícil. T4 10 1 A unção divina, porém, erguida acima das fraquezas humanas, conta a verdade simples, nua. Quantas biografias se têm escrito de corretos cristãos, que, em sua vida comum no lar, em suas relações com a igreja brilharam como exemplos de imaculada piedade! Defeito algum manchou a beleza da santidade deles, falta alguma é registrada de modo a lembrar-nos de que eram argila comum, e sujeitos às naturais tentações da humanidade. Todavia, houvesse-lhes a pena da Inspiração escrito a história, e quão diversos pareceriam eles! Ter-se-iam revelado fraquezas humanas, lutas com o egoísmo, hipocrisia e orgulho, talvez pecados ocultos, e a luta contínua entre o espírito e a carne. T4 10 2 Os próprios diários íntimos não revelam em suas páginas os pecaminosos atos do autor. Por vezes registram-se os conflitos com o mal, mas normalmente apenas quando o bem triunfou. Mas podem conter fiel registro de atos dignos de louvor e de nobres esforços; isto, também, quando o escritor pretende sinceramente manter um diário fiel de sua vida. É quase uma impossibilidade humana expor nossas faltas à possível inspeção de nossos amigos. T4 10 3 Houvesse nossa boa Bíblia sido escrita por pessoas não inspiradas, e apresentaria bem diverso aspecto, e seria um estudo desalentador para os errantes mortais, os quais estão a contender com as fragilidades naturais e as tentações de um inimigo astuto. Tal como é, no entanto, temos relatório fiel das experiências religiosas de notáveis personagens da história bíblica. Os homens favorecidos por Deus, e a quem confiou grandes responsabilidades, foram por vezes vencidos pela tentação e cometeram pecados, mesmo como nós da época presente lutamos, vacilamos e caímos freqüentemente em erro. É, porém, animador para nosso coração desfalecido saber que, mediante a graça de Deus, eles puderam obter novo vigor para se erguer outra vez acima de sua má natureza; e, lembrando-nos disso estamos, por nossa vez, prontos a recomeçar o conflito. T4 11 1 As murmurações do antigo Israel, e seu rebelde descontentamento, bem como os poderosos milagres realizados em seu favor, e os castigos de sua idolatria e ingratidão, acham-se escritos para nosso benefício. O exemplo do antigo Israel é apresentado como advertência ao povo de Deus, a fim de evitarem a incredulidade e escaparem a Sua ira. Houvessem as iniqüidades dos hebreus sido omitidas do Registro Sagrado, sendo contadas apenas suas virtudes, sua história deixaria de ensinar-nos a lição que ensina. T4 11 2 Os infiéis e amantes do pecado desculpam seus crimes citando a maldade de homens a quem Deus deu autoridade, nos tempos antigos. Alegam que, se esses santos homens cederam à tentação e cometeram pecados, não é de admirar que eles também sejam culpados de proceder mal; e dão a entender que não são tão maus afinal de contas, uma vez que têm tão ilustres exemplos de iniqüidade diante deles. Os princípios de justiça exigiam uma fiel narração dos fatos para benefício de todos quantos houvessem de ler os Sagrados Registros. Aí divisamos as provas da sabedoria divina. É-nos exigido obedecer à lei de Deus, e não somente somos instruídos quanto à pena da desobediência, como nos é contada, para benefício nosso e advertência, a história de Adão e Eva no Paraíso, e os tristes resultados de sua desobediência aos mandamentos de Deus. O relatório é pleno e explícito. A lei dada ao homem no Éden está registrada, juntamente com o castigo resultante no caso de sua desobediência. Segue-se a história da tentação e queda, e o castigo infligido a nossos pais em seu erro. Seu exemplo nos é dado como advertência contra o desobedecer, de modo a estarmos certos de que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23), que a justiça retributiva de Deus não falha, e que Ele exige de Suas criaturas estrita consideração para com Seus mandamentos. Quando a lei foi proclamada no Sinai, como foi definida a penalidade anexa, e quão certo o castigo que seguiria à transgressão da lei, e quão positivos são os casos registrados em testemunho disso! T4 12 1 A pena da Inspiração, fiel a sua tarefa, conta-nos os pecados em que caíram Noé, Ló, Moisés, Abraão, Davi e Salomão, e que mesmo o forte espírito de Elias sucumbiu ante a tentação durante sua terrível prova. A desobediência de Jonas e a idolatria de Israel são fielmente relatadas. A negação de Cristo por parte de Pedro, a viva contenda entre Paulo e Barnabé, as falhas e fraquezas dos profetas e dos apóstolos, todas são expostas pelo Espírito Santo, que descerra o véu do coração humano. Ali se acha diante de nós a vida dos crentes, com todas as suas faltas e loucuras, que servem como uma lição a todas as gerações que os seguissem. Houvessem eles sido isentos de fraquezas, teriam sido mais que humanos, e nossa natureza pecaminosa desesperaria de nunca atingir a tal grau de excelência. Vendo, porém, onde eles lutaram e caíram, onde se animaram outra vez e venceram mediante a graça de Deus, somos animados e induzidos a avançar e passar por cima dos obstáculos que a natureza degenerada nos coloca no caminho. T4 12 2 Deus tem sido sempre fiel em castigar o crime. Envia Seus profetas para advertir os culpados, denuncia-lhes os pecados, e declara o juízo a vir sobre eles. Os que perguntam por que a Palavra de Deus revela os pecados de Seu povo de maneira tão clara para os zombadores escarnecerem e os santos deplorarem, devem considerar que tudo isso foi escrito para ensino deles, para que evitem os males assim registrados, e imitem apenas a justiça dos que serviram ao Senhor. T4 12 3 Precisamos exatamente dessas lições que a Bíblia nos dá, pois com a revelação do pecado, está registrada a retribuição que se lhe segue. A dor e o arrependimento do culpado, as lamentações da alma enferma de pecado, chegam até nós, vindas dos tempos idos, mostrando-nos que então, como agora, o homem necessitava da perdoadora misericórdia de Deus. Isto nos ensina que, ao passo que Ele é o punidor do crime, compadece-Se e perdoa o pecador arrependido. T4 12 4 Em Sua providência, tem o Senhor achado por bem ensinar e advertir Seu povo de várias maneiras. Por ordens diretas, pelos sagrados escritos e pelo Espírito de Profecia, tem-lhes Ele dado a conhecer Sua vontade. Minha obra tem sido falar claramente das faltas e erros do povo de Deus. O fato de os pecados de certos indivíduos terem sido trazidos à luz, não quer dizer que eles sejam piores aos olhos de Deus do que muitos cujas faltas não são relatadas. Foi-me, no entanto, mostrado que não me pertence escolher meu trabalho, mas obedecer humildemente à vontade de Deus. Os erros e maus procedimentos existentes na vida de professos cristãos são registrados para instrução dos que estão sujeitos a cair nas mesmas tentações. A experiência de um serve como farol para advertir outros a se desviarem dos perigosos recifes. T4 13 1 Assim se revelam os laços e ardis de Satanás, a importância de aperfeiçoar um caráter cristão, e os meios por que se pode obter esse resultado. Dessa maneira Deus indica o que é necessário fazer para conseguir-Lhe a bênção. Há, por parte de muitos, a tendência de deixar que se levantem sentimentos rebeldes, caso lhes sejam reprovados os erros. O espírito desta geração, é: "Dizei-nos coisas aprazíveis." Isaías 30:10. Mas o Espírito de Profecia só diz a verdade. Espalha-se a iniqüidade, e esfria o amor de muitos que professam seguir a Cristo. Estão cegos à iniqüidade do próprio coração, e não sentem a condição fraca e desamparada em que se encontram. Em misericórdia, Deus ergue o véu, e mostra-lhes que, por trás do cenário, há um olho que lhes distingue a invisível culpa e os motivos de suas ações. T4 13 2 Os pecados das igrejas populares acham-se caiados. Muitos dos membros andam em grosseiros vícios, e acham-se embebidos em iniqüidades. Caída é Babilônia e tornou-se habitação de toda ave imunda e aborrecível! Os mais revoltantes pecados da época se abrigam sob a capa do cristianismo. Muitos proclamam a abolição da lei de Deus, e certamente sua vida se acha em harmonia com essa fé. Se não há lei, então não há transgressão, e portanto não há pecado; pois o pecado é a transgressão da lei. T4 13 3 A mente carnal é inimizade contra Deus, e rebela-se contra a vontade dEle. Arremesse ela uma vez o jugo da obediência, e desliza inconscientemente para a ilegalidade do crime. Abundante é a iniqüidade entre os que falam majestosamente da pura e perfeita liberdade religiosa. Sua conduta é aborrecível ao Senhor; eles são coobreiros do adversário das almas. A luz da verdade revelada desvia-se de seus olhos, e as belezas da santidade não passam de sombras para eles. T4 14 1 É surpreendente ver sobre que frágeis fundamentos muitos constroem suas esperanças do Céu! Injuriam a lei do Infinito, como se O quisessem desafiar, e anular-Lhe a palavra. O próprio Satanás, com o conhecimento que tem da lei divina, não ousaria fazer os discursos que alguns pastores aborrecedores da lei fazem do púlpito; todavia, exulta com a blasfêmia deles. Foi-me mostrado que o homem está sem conhecimento da vontade de Deus. Crimes e iniqüidades enchem-lhe a medida da existência. Quando, porém, o Espírito de Deus lhe revela todo o significado da lei, que mudança se lhe ocorre no coração! Qual Belsazar, lê com entendimento a escritura do Altíssimo, e apodera-se-lhe da alma a convicção. Os trovões da Palavra de Deus o despertam da letargia e clama por misericórdia em nome de Jesus. E Deus sempre atende a essa humilde petição com ouvidos cheios de boa vontade. Jamais manda embora sem conforto um penitente. T4 14 2 O Senhor achou por bem dar-me uma visão das necessidades e erros de Seu povo. Por penoso que me haja sido, tenho exposto fielmente aos ofensores suas faltas e o meio de remediá-las, segundo os ditames do Espírito de Deus. Isto, em muitos casos, tem despertado a língua da calúnia, envenenando contra mim aqueles por quem tenho trabalhado e sofrido. Não me tenho, todavia, desviado de minha direção por causa disto. Deus me deu o trabalho e, apoiada por Sua força mantenedora, tenho cumprido os penosos deveres que tem posto diante de mim. Assim tem o Espírito de Deus pronunciado advertências e juízos, sem recusar, contudo, a doce promessa da misericórdia. T4 14 3 Caso o povo de Deus reconhecesse Sua maneira de lidar com eles, e Lhe aceitassem os ensinos, encontrariam caminho reto para seus pés, e uma luz para guiá-los por entre as trevas e o desânimo. Davi aprendeu sabedoria do trato de Deus para com ele, e curvou-se humildemente sob o castigo do Altíssimo. O quadro fiel de sua verdadeira condição, feito pelo profeta Natã, deu a Davi o conhecimento dos próprios pecados, e ajudou-o a afastá-los de si. Aceitou humildemente o conselho, e humilhou-se diante de Deus. "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma", exclama ele. Salmos 19:7. T4 15 1 Os pecadores arrependidos não têm motivo de desesperar-se por lhes serem lembradas suas transgressões e serem advertidos do perigo em que se encontram. Esses próprios esforços em seu favor, indicam quanto Deus os ama e deseja salvá-los. Só têm de seguir-Lhe os conselhos e fazer Sua vontade, para herdarem a vida eterna. Deus põe os pecados diante de Seu povo errante, a fim de que os vejam em toda a sua enormidade à luz da verdade divina. É seu dever então a eles renunciar para sempre. T4 15 2 Deus é tão poderoso hoje para salvar do pecado, como o era nos tempos patriarcais, de Davi e dos profetas e apóstolos. A multidão de casos registrados na história sagrada em que o Senhor livrou Seu povo das iniqüidades deles, deve tornar os cristãos de hoje ansiosos de receberem as instruções divinas, e zelosos de aperfeiçoarem um caráter que suporte a íntima inspeção do juízo. T4 15 3 A história bíblica sustém o coração desfalecido com a esperança da misericórdia de Deus. Não precisamos desesperar quando vemos que outros têm lutado através de desânimos semelhantes aos nossos, e caíram em tentações da mesma maneira que nós, e não obstante reconquistaram o terreno e foram abençoados por Deus. As palavras da Inspiração confortam e animam a alma errante. Se bem que os patriarcas e os apóstolos fossem sujeitos às fragilidades humanas, obtiveram, pela fé, boa reputação, combateram seus combates na força do Senhor, e venceram gloriosamente. Assim, podemos confiar na virtude do sacrifício expiatório, e ser vencedores no nome de Jesus. A humanidade é a humanidade em todo o mundo, desde os tempos de Adão, até à geração atual; e o amor de Deus é, através de todos os séculos, um amor incomparável. ------------------------Capítulo 2 -- Unidade da igreja T4 16 1 Prezados irmãos: T4 16 2 Como todos os membros do organismo humano -- diversos entre si -- se unem para formar o corpo, e cada um desempenha suas funções em obediência ao poder que governa o todo, assim os membros da igreja de Cristo devem estar unidos em um corpo simétrico, sujeito ao santificado entendimento do todo. T4 16 3 O progresso da igreja é retardado pela errônea conduta de seus membros. O unir-se à igreja, conquanto seja um ato importante e necessário, não faz de uma pessoa um cristão, nem lhe assegura a salvação. Não nos é possível garantir-nos um título ao Céu pelo fato de termos o nome inscrito no livro da igreja, quando o coração se acha alienado de Cristo. Devemos ser fiéis representantes Seus na Terra, trabalhando em concerto com Ele. "Amados, agora somos filhos de Deus." 1 João 3:2. Devemos conservar em mente esta santa relação, não fazendo nada que traga desonra à causa de nosso Pai. T4 16 4 Exaltada é nossa profissão de fé. Como adventistas observadores do sábado, professamos obedecer a todos os mandamentos de Deus, e aguardar a vinda de nosso Redentor. Soleníssima mensagem de advertência foi confiada aos poucos fiéis de Deus. Por nossas palavras e atos devemos mostrar que reconhecemos a grande responsabilidade que foi posta sobre nós. Tão brilhante deve resplandecer nossa luz, que outros possam ver que glorificamos ao Pai em nossa vida diária; que estamos ligados com o Céu, e somos co-herdeiros de Jesus Cristo, para que ao aparecer Ele em poder e grande glória sejamos semelhantes a Ele. T4 16 5 Devemos todos sentir nossa responsabilidade individual como membros da igreja visível e obreiros na vinha do Senhor. Não devemos esperar que nossos irmãos, tão frágeis como nós mesmos, nos ajudem pelo caminho; pois nosso precioso Salvador convidou-nos a juntar-nos a Ele, e unir nossa fraqueza a Sua força, nossa ignorância a Sua sabedoria, nossa indignidade a Seus méritos. Nenhum de nós pode ocupar uma posição neutra; nossa influência se exercerá pró ou contra. Somos agentes ativos de Cristo, ou do inimigo. Ou ajuntamos com Cristo, ou espalhamos. A verdadeira conversão é uma mudança radical. A própria inclinação da mente ou a tendência do coração deve ser desviada, tornando-se a vida nova outra vez em Cristo. T4 17 1 Deus está conduzindo um povo para ficar em perfeita unidade sobre a plataforma da verdade eterna. Cristo Se deu ao mundo a fim de poder "purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. Esse processo de purificação destina-se a purgar a igreja de toda injustiça e do espírito de discórdia e contenda, de modo que eles possam edificar em vez de derribar, e concentrarem as energias na grande obra que está diante deles. É o desígnio de Deus que Seu povo chegue todo à unidade da fé. A oração de Cristo pouco antes de Sua crucifixão foi que Seus discípulos fossem um, assim como Ele era um com o Pai, para que o mundo cresse que o Pai O enviara. Essa tocante e maravilhosa oração vem através dos séculos, até nossos dias; pois Suas palavras foram: "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim." João 17:20. T4 17 2 Com que diligência devem os professos seguidores de Cristo buscar responder em sua vida esta oração! Muitos há que não avaliam a santidade da relação da igreja, e são contrários a submeter-se à disciplina e restrição. A conduta que seguem mostra que exaltam o próprio juízo acima do da igreja unida; e não cuidam de guardar-se para que não estimulem um espírito de oposição à voz da mesma. Os que ocupam posição de responsabilidade na igreja podem ter faltas semelhantes às de outras pessoas, e podem errar em suas decisões; não obstante, a igreja de Cristo na Terra investiu-os de uma autoridade que não pode ser levemente avaliada. Após Sua ressurreição, Cristo delegou poder a Sua igreja, dizendo: "Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos." João 20:23. T4 17 3 A relação para com a igreja não é para ser levianamente cancelada; todavia, quando o caminho de alguns professos seguidores de Cristo é barrado, ou quando sua voz não tem a influência dominante que eles julgam merecer, ameaçam deixar a igreja. Na verdade, separando-se da igreja seriam eles próprios os principais prejudicados; pois afastando-se para além do âmbito de sua influência, sujeitam-se a todas as tentações do mundo. T4 18 1 Todo crente deve ter o coração inteiro em sua ligação com a igreja. A prosperidade desta deve constituir-lhe o primeiro interesse e, a menos que se sinta sob sagradas obrigações de tornar sua ligação com a igreja mais um benefício para ela do que para si mesmo, ela passará muito melhor sem ele. Está ao alcance de todos fazer alguma coisa pela causa de Deus. Pessoas há que despendem grandes quantias para luxos desnecessários; satisfazem os próprios apetites, mas consideram grande carga contribuir com recursos para a manutenção da igreja. Estão dispostos a receber todo o benefício de seus privilégios, mas preferem deixar aos outros que lhe paguem as contas. Os que na verdade sentem profundo interesse no avanço da causa, não hesitarão em investir dinheiro no empreendimento sempre e onde quer que se faça mister. Devem considerar também solene dever revelar em seu caráter os ensinos de Cristo, estando em paz uns com os outros, e agindo em perfeita harmonia como um todo indivisível. Devem também sujeitar seu juízo individual ao do corpo da igreja. Muitos vivem só para si. Consideram a própria vida com grande complacência, lisonjeando-se de serem irrepreensíveis, quando de fato não estão fazendo nada para Deus, e vivem em absoluta oposição a Sua Palavra expressa. A observância de formas externas jamais satisfará a grande carência da alma. O professar seguir a Cristo não basta para habilitar uma pessoa a suportar a prova do dia do juízo. Importa que haja perfeita confiança em Deus, infantil confiança em Suas promessas, e inteira consagração a Sua vontade. T4 18 2 Deus sempre tem provado Seu povo na fornalha da aflição, a fim de verificar se são firmes e leais, e purificá-los de toda injustiça. Depois de Abraão e seu filho haverem sofrido a mais rigorosa prova que era possível impor-lhes, Deus disse por meio do anjo a Abraão: "Agora sei que temes a Deus e não Me negaste o teu filho, o teu único." Gênesis 22:12. Esse grande ato de fé faz com que o caráter de Abraão resplandeça com notável brilho. Exemplifica eloqüentemente sua perfeita confiança no Senhor, do qual nada reteve, nem mesmo o filho da promessa. T4 19 1 Coisa alguma há demasiado preciosa para darmos a Jesus. Se Lhe devolvermos os talentos de recursos que nos confiou à guarda, mais porá Ele em nossas mãos. Todo esforço que fizermos por Cristo será por Ele recompensado; e todo dever que cumprimos em Seu nome contribuirá para nossa própria felicidade. Deus entregou Seu bem-amado Filho às agonias da crucifixão, para que todo aquele que nEle crê se tornasse um por meio do nome de Jesus. Se Cristo fez tão grande sacrifício a fim de salvar os homens e levá-los à unidade uns com os outros, da mesma maneira que Ele Se achava unido a Seu Pai, que sacrifício é demasiado grande para Seus seguidores fazerem de modo a conservarem essa unidade? T4 19 2 Se o mundo vê harmonia perfeita na igreja de Deus, isto será poderosa demonstração aos seus olhos em favor da religião cristã. Dissensões, lamentáveis diferenças e insignificantes provações na igreja desonram nosso Redentor. Tudo isso se pode evitar mediante a entrega do próprio eu ao Senhor, e se os seguidores de Cristo obedecerem à voz da igreja. A incredulidade sugere que a independência individual nos aumenta a importância, que é fraqueza subordinar nossas idéias do que é direito e conveniente ao veredicto da igreja; ceder a esses sentimentos e pontos de vista, porém, não é seguro, levando-nos à anarquia e confusão. Cristo viu que a unidade e a comunhão cristã eram necessárias à causa de Deus, e portanto a recomendou aos discípulos. E a história do cristianismo de então para cá demonstra de modo conclusivo que unicamente na união está a força. Subordine-se o juízo individual à autoridade da igreja. T4 19 3 Os apóstolos sentiram a necessidade de unidade estrita, e para esse fim trabalharam zelosamente. Paulo exortou nas seguintes palavras a seus irmãos: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer." 1 Coríntios 1:10. T4 20 1 Ele escreveu também aos irmãos filipenses: "Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no espírito, se alguns profundos afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filipenses 2:1-5. T4 20 2 Aos romanos, escreveu ele: "Ora o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para a glória de Deus." Romanos 15:5-7. "Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos." Romanos 12:16. T4 20 3 Pedro escreveu às igrejas dispersas: "E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis. Não tornando mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; sabendo que para isto fostes chamados, para que por herança alcanceis a bênção." 1 Pedro 3:8, 9. T4 20 4 E em sua epístola aos Coríntios, Paulo diz: "Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos; sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco." 2 Coríntios 13:11. ------------------------Capítulo 3 -- Avançar! T4 20 5 Os vastos exércitos de Israel marcharam em alegre triunfo do Egito, cenário de sua longa e cruel servidão. Os egípcios não desejavam consentir com a libertação deles até serem advertidos com os sinais dos juízos de Deus. O anjo vingador havia visitado cada casa entre os egípcios e ferido com morte o primogênito de cada família. Ninguém escapara, desde o herdeiro do Faraó até o filho mais velho do cativo em seu cárcere. O primogênito dentre o gado também foi morto segundo o mandado do Senhor. Mas o anjo da morte passou por sobre os lares dos filhos de Israel, e ali não entrou. T4 21 1 Faraó, aterrorizado diante das pragas que desabaram sobre o seu povo, chamou a Moisés e Arão perante si à noite, e ordenou-lhes a partida do Egito. Estava ansioso para que saíssem sem demora; pois ele e seu povo temiam que a menos que a maldição divina fosse removida de sobre eles, a terra se tornaria um vasto cemitério. T4 21 2 Os filhos de Israel ficaram felizes ao receber as novas de sua libertação, e apressaram-se em deixar o cenário de sua escravidão. Mas o caminho era penoso, e com o tempo a coragem deles falhou. O seu jornadear conduziu-os por sobre colinas estéreis e planícies desoladas. Na terceira noite acharam-se cercados de cada lado por cadeias montanhosas, enquanto o Mar Vermelho se lhes apresentava adiante. Ficaram perplexos e deploraram grandemente a sua situação. Culparam Moisés por conduzi-los àquele lugar, pois criam que haviam tomado um roteiro errado. "Este certamente não é o caminho para o Sinai, nem para a terra de Canaã prometida a nossos pais. Não podemos prosseguir; mas só avançar para as águas do Mar Vermelho, ou retornar ao Egito." T4 21 3 Então, como que para completar-lhes a miséria, eis que o exército egípcio está em seu encalço! O imponente exército é dirigido pelo próprio Faraó, que se arrependera de ter libertado os hebreus e teme havê-los enviado para fora do país para se tornarem uma grande nação a ele hostil. Que noite de perplexidade e angústia foi aquela para Israel! Que contraste com a gloriosa manhã em que deixaram a servidão do Egito, e com feliz regozijo assumiram o comando de marcha rumo ao deserto! Quão indefesos se sentiam diante do poderoso inimigo! O clamor de mulheres e crianças aterrorizadas, misturado com o mugido do gado assustado e o balido das ovelhas, aumentava a desanimadora confusão do momento. T4 22 1 Mas havia Deus perdido todo o interesse por Seu povo a ponto de deixá-lo à destruição? Não o advertiria de seu perigo, e o libertaria de seus inimigos? Deus não Se compraz na aflição de Seu povo. Fora Ele próprio quem instruíra Moisés a acampar-se junto ao Mar Vermelho, e adicionalmente o informara: "Então, Faraó dirá dos filhos de Israel: Estão embaraçados na terra, o deserto os encerrou. E Eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que Eu sou o Senhor." Êxodo 14:3, 4. T4 22 2 Jesus estava diante daquele vasto exército. A coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo à noite representavam o seu divino Líder. Mas os hebreus não suportaram pacientemente a prova do Senhor. Suas vozes se ergueram em reprovação e acusações contra Moisés, seu líder visível, por trazê-los àquele grande perigo. Não confiavam no poder protetor de Deus, nem reconheciam a Sua mão detendo os males que os rodeavam. Em seu frenético terror, haviam-se esquecido da vara com a qual Moisés transformara a água do Nilo em sangue, e as calamidades com que Deus visitara os egípcios pela perseguição a Seu povo escolhido. Haviam-se esquecido de todas as maravilhosas intervenções divinas em seu favor. T4 22 3 "Ah", clamaram eles, "quem nos dera ter permanecido no cativeiro! É melhor viver como escravos do que morrer de fome e fadiga no deserto, ou ser mortos na guerra contra nossos inimigos." Voltaram-se contra Moisés com amarga censura por não tê-los deixado onde estavam, em vez de tirá-los para perecer no deserto. T4 22 4 Moisés ficou grandemente preocupado por seu povo ter tanta falta de fé, especialmente após repetidamente testemunhar as manifestações do poder de Deus em seu favor. Sentiu-se magoado por o acusarem pelos perigos e dificuldades de sua situação, quando ele havia simplesmente seguido as expressas ordens de Deus. Mas mantinha firme fé de que o Senhor os conduziria à segurança; e defrontou e aquietou as reprovações e temores de seu povo, mesmo antes de poder discernir por si mesmo o plano de seu livramento. T4 23 1 Eles estavam, na verdade, em um lugar onde não havia possibilidade de saída, a menos que o próprio Deus Se interpusesse para salvá-los; mas haviam sido colocados naquela dificuldade por obedecerem às ordens divinas, e Moisés não sentia temor das conseqüências. "Disse ao povo: Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis." Êxodo 14:13, 14. T4 23 2 Não foi fácil manter os exércitos de Israel na espera pelo Senhor. Estavam com os ânimos agitados e cheios de terror. Faltava-lhes disciplina e domínio próprio. Impressionados com os horrores de sua condição, tornaram-se violentos e irrazoáveis. Esperavam que bem depressa cairiam nas mãos de seus opressores, e suas lamúrias e recriminações eram elevadas e profundas. A maravilhosa coluna de nuvem os acompanhara em suas peregrinações, e servira para protegê-los dos escaldantes raios do sol. O dia inteiro a coluna se movia majestosamente adiante deles e não ficavam sujeitos à luz do sol, nem a tempestades; e à noite se tornava em uma coluna de fogo para iluminar-lhes o caminho. Eles a tinham seguido como um sinal de Deus para irem adiante; agora questionavam entre si se não seria, antes, a sombra de alguma terrível calamidade prestes a sobrevir-lhes, pois ela não os conduzira para o lado errado da montanha, a um caminho intransponível? Assim, o anjo de Deus parecia a suas mentes iludidas o anunciador de calamidade. T4 23 3 Agora, porém, à medida que o exército egípcio deles se aproxima, esperando torná-los fácil presa, a coluna de nuvem eleva-se majestosamente ao céu, passa por sobre os israelitas e desce entre eles e os exércitos do Egito. Uma muralha de trevas interpõe-se entre perseguidos e perseguidores. Os egípcios não mais podem distinguir o acampamento dos hebreus, e são forçados a deter-se. Mas assim como as trevas da noite se aprofundam, a muralha de nuvem se torna uma grande luz para os hebreus, iluminando o acampamento inteiro com o resplendor do dia. T4 24 1 Então a esperança de que pudessem ser livrados brota no coração dos filhos de Israel. E Moisés levanta a voz ao Senhor. "Então, disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a Mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco." Êxodo 14:15, 16. T4 24 2 Então Moisés, obedecendo à ordem divina, estende sua vara, e as águas se repartem, acumulando-se numa muralha a cada lado, deixando um vasto caminho através do leito do mar para os filhos de Israel. A luz da coluna de fogo brilhou sobre as ondas espumejantes, iluminando o caminho que se formara como um imenso caminho através das águas do Mar Vermelho até perder-se na escuridão da praia distante. T4 24 3 A noite inteira soou o ruído dos passos dos exércitos de Israel atravessando o Mar Vermelho; mas a nuvem os ocultou da vista de seus inimigos. Os egípcios, cansados de sua apressada marcha, acamparam-se na praia para passar a noite. Viam os hebreus apenas a curta distância à frente, e como não parecia restar-lhes possibilidade de escape, decidiram descansar à noite e realizar uma fácil captura ao amanhecer. A noite foi intensamente escura, as nuvens pareciam cercá-los como alguma substância palpável. Profundo sono caiu sobre o acampamento; até as sentinelas dormiram em seus postos. T4 24 4 Por fim, um som penetrante desperta o exército! A nuvem está passando adiante! Os hebreus estão em marcha! Vozes e sons de marcha vêm da direção do mar. Está ainda tão escuro que não podem discernir o povo que lhes escapa, mas a ordem é dada para se prepararem para a perseguição. O tilintar das armas e o ruído das carruagens, a tomada de posição dos capitães e o relinchar dos cavalos podem ser ouvidos. Logo o comando de marcha é formado e avança em meio à escuridão, no encalço da multidão fugitiva. T4 24 5 Nas trevas e confusão, avançam rápidos em sua perseguição sem perceberem que invadiam o leito do mar, ladeados por ameaçadoras muralhas de água. Anseiam que o nevoeiro e escuridão se dissipem para ver os hebreus e sua clara localização. As rodas das carruagens afundam na areia mole e os cavalos se embaraçam e se desgovernam. Prevalece a confusão, contudo seguem adiante, julgando-se seguros da vitória. T4 25 1 Finalmente, a misteriosa nuvem transforma-se em uma coluna de fogo diante de seus olhos atônitos. Ribombam os trovões e lampejam os relâmpagos, as ondas desabam ao seu redor e o temor lhes toma conta do coração. Em meio ao terror e confusão, a lúgubre luminosidade revela aos pasmados egípcios as águas terrivelmente amontoadas à direita e esquerda deles. Discernem o amplo caminho que o Senhor preparara para o Seu povo em meio às rutilantes areias do mar, e contemplam o triunfante Israel seguro na praia da outra extremidade. T4 25 2 Confusão e desespero os dominam. Em meio ao furor dos elementos, em que ouviam a voz de um Deus irado, esforçam-se por refazer os passos e fugir para a margem de onde haviam saído. Mas Moisés estende sua vara, e as águas amontoadas, sibilantes, rugidoras e ansiosas por sua presa, desabam sobre os exércitos egípcios. O orgulhoso Faraó e suas legiões, carruagens douradas e armaduras resplandecentes, cavalos e cavaleiros são tragados por um mar tempestuoso. O poderoso Deus de Israel havia libertado o Seu povo, e seus cânticos de gratidão ascendem aos Céus por Deus ter atuado tão maravilhosamente em seu benefício. T4 25 3 A história dos filhos de Israel foi escrita para ensino e admoestações de todos os cristãos. Quando os israelitas eram surpreendidos por perigos e dificuldades, e seu caminho parecia impedido, abandonava-os a fé, e murmuravam contra o líder que Deus lhes designara. Censuravam-no por levá-los ao perigo, quando ele apenas obedecera à voz de Deus. T4 25 4 A ordem divina, foi: "Avançar!" Não deviam esperar até que o caminho se aplainasse, e pudessem compreender inteiramente o plano para seu livramento. A causa de Deus é progressiva, e Ele abrirá um caminho diante de Seu povo. Hesitar e queixar-se é manifestar desconfiança no Santo de Israel. Em Sua providência, Deus conduziu os hebreus à fortaleza das montanhas, tendo o Mar Vermelho em frente, a fim de efetuar seu livramento e libertá-los para sempre de seus inimigos. Poderia havê-los salvo por qualquer outra maneira, mas escolheu esse meio a fim de provar-lhes a fé, e fortalecer-lhes a confiança nEle. T4 26 1 Não podemos acusar Moisés de falta pelo fato de o povo murmurar contra sua conduta. Era o próprio coração rebelde, insubmisso que havia neles, que os levava a censurar o homem a quem Deus escolhera para conduzir Seu povo. Enquanto Moisés agia no temor de Deus, e segundo Suas instruções, com inteira fé em Suas promessas, aqueles que o deviam apoiar ficavam desanimados, nada podendo ver diante deles senão derrota, ruína e morte. T4 26 2 O Senhor está agora a lidar com o Seu povo, o povo que crê na verdade presente. É Seu desígnio levar a importantes resultados e, enquanto em Sua providência, age nesse sentido, diz ao povo: "Avançar!" Certamente o caminho ainda não está aberto; ao marcharem, porém, na força da fé e da coragem, o Senhor mostrará o caminho claro aos seus olhos. Sempre haverá pessoas que murmurem, como fez o antigo Israel, e ponham a culpa das dificuldades em que se acham sobre os que Deus suscitou com o fim especial de promover o avançamento de Sua causa. Deixam de ver que Ele os está provando com o levá-los a situações críticas, das quais não há livramento possível senão pelo Seu braço. T4 26 3 Tempos há em que a vida cristã parece cercada de perigos, e difícil se afigura o cumprimento do dever. A imaginação pinta ruína pela frente, escravidão e morte por trás. Todavia a voz de Deus fala claramente acima de todos os desânimos: "Avançar!" Devemos obedecer a esta ordem, seja qual for o resultado, mesmo que nossos olhos não consigam penetrar as trevas, e sintamos frias ondas envolverem-nos os pés. T4 26 4 Os hebreus estavam cansados e possuídos de terror; não obstante, houvessem eles ficado para trás quando Moisés lhes ordenou que marchassem, houvessem se recusado a aproximar-se mais do Mar Vermelho, nunca haveria o Senhor aberto um caminho para eles. Marchando até à própria água, mostraram ter fé na palavra divina proferida por Moisés. Fizeram tudo o que lhes estava ao alcance, e então o Poderoso de Israel fez Sua parte, e dividiu as águas para lhes oferecer aos pés um caminho. T4 27 1 As nuvens que se adensam em torno de nosso caminho nunca hão de desaparecer diante de um espírito vacilante, duvidoso. Diz a incredulidade: "Nunca poderemos transpor esses obstáculos; esperemos até que sejam removidos, e vejamos claramente o caminho." A fé, no entanto, insiste corajosamente num avanço, esperando tudo, em tudo crendo. A obediência a Deus traz certamente a vitória. É unicamente pela fé que podemos alcançar o Céu. T4 27 2 Grande é a semelhança entre nossa história e a dos filhos de Israel. Deus conduziu Seu povo do Egito ao deserto, onde podiam guardar-Lhe a lei e obedecer-Lhe à voz. Os egípcios que não tinham nenhuma consideração pelo Senhor achavam-se acampados perto deles; todavia, o que para os israelitas era uma abundância de luz, iluminando todo o acampamento e lançando claridade sobre o caminho que lhes estava à frente, para os exércitos de Faraó constituía uma muralha de nuvens, tornando mais negra a escuridão da noite. T4 27 3 Há presentemente, da mesma maneira, um povo a quem Deus fez depositários de Sua lei. Para os que Lhe obedecem, os mandamentos do Senhor são qual coluna de fogo, aclarando e indicando o caminho para a salvação eterna. Para os que os desprezam, porém, são como sombras da noite. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Salmos 111:10. Melhor que qualquer outro conhecimento é a compreensão da Palavra de Deus. Grande galardão há em guardar-Lhe os mandamentos, e engodo algum da Terra deve levar o cristão a vacilar por um momento em sua lealdade. Riquezas, honras e pompas mundanas, não passam de escória que perecerá diante do fogo da ira de Deus. T4 27 4 A voz do Senhor ordenando a Seus fiéis, "avante", prova-lhes freqüentemente a fé ao máximo. Caso, porém, eles adiassem a obediência até que se desvanecesse de sua compreensão toda sombra de incerteza, e não restasse risco de fracasso ou derrota, jamais eles avançariam. Os que julgam ser-lhes impossível submeter-se à vontade de Deus e confiar-Lhe nas promessas até que tudo se aclare e aplaine diante deles, nunca se submeterão, absolutamente. Fé não é certeza de conhecimento; é "o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem". Hebreus 11:1. Obedecer aos mandamentos de Deus, eis a única maneira de obter-Lhe o favor. "Avançar!" deve ser a divisa do cristão. ------------------------Capítulo 4 -- Condescendência com o apetite T4 28 1 Queridos irmãos e irmãs: T4 28 2 Foram-me mostradas algumas coisas com referência à igreja de _____. Casos individuais foram-me apresentados, os quais, em muitos respeitos, representam o de muitos outros. Entre eles estava o da irmã A e seu esposo. O Senhor o convenceu da verdade. Ele ficou encantado com a harmonia e espírito da verdade, e foi abençoado em confessá-la. Mas Satanás veio-lhe com suas tentações na questão do apetite. T4 28 3 O irmão A por muito tempo havia satisfeito seu apetite com estimulantes, que exerceram influência em anuviar-lhe a mente, enfraquecer-lhe o intelecto e reduzir-lhe as faculdades morais. Razão e discernimento foram postos sob a sujeição do apetite depravado e antinatural, e seu direito de primogenitura, sua hombridade dada por Deus, sacrificados a hábitos intemperantes. Tivesse o irmão A tornado a Palavra de Deus o seu estudo e guia, tivesse confiado em Deus e orado por graça para vencer, haveria reunido forças no nome de Jesus para confundir o tentador. T4 28 4 Mas o irmão A nunca sentiu as elevadas reivindicações que Deus lhe apresentava. Suas faculdades morais se debilitaram por seus hábitos de comer e beber, e por sua dissipação. Quando abraçou a verdade, ele tinha um caráter a formar para o Céu. Deus o poria à prova. Ele tinha uma obra a empreender por si mesmo que ninguém poderia cumprir em seu lugar. Por seu estilo de vida, perdeu muitos anos de precioso tempo de graça, quando poderia ter estado obtendo experiência em questões de religião, e um conhecimento da vida de Cristo, e do infinito sacrifício feito em favor do homem para livrá-lo das amarras com que Satanás lhe havia prendido, habilitando-o para glorificar o Seu nome. T4 29 1 Cristo pagou um elevado preço pela redenção do homem. No deserto da tentação Ele sofreu as mais severas agonias da fome; e enquanto estava enfraquecido pelo jejum, Satanás ficou por perto com suas múltiplas tentações para atacar o Filho de Deus e tirar vantagem de Sua fraqueza e vencê-Lo, assim impedindo o plano da salvação. Mas Cristo manteve-Se firme. Ele venceu em favor do ser humano, para que pudesse resgatar a todos da degradação da queda. A experiência de Cristo é para o nosso benefício. Seu exemplo em derrotar o apetite assinala o caminho para aqueles que desejam ser Seus seguidores e finalmente assentar-se com Ele em Seu trono. T4 29 2 Cristo sofreu fome no sentido mais pleno. A humanidade geralmente tem tudo quanto é necessário para suster a vida. Todavia, a exemplo de nossos primeiros pais, os homens desejam aquilo que Deus retém por não lhes ser o melhor. Cristo sofreu fome de alimento necessário, e resistiu à tentação de Satanás quanto ao apetite. A condescendência com o apetite intemperante gera no homem caído desejos antinaturais pelas coisas que no final se provarão sua ruína. T4 29 3 O homem saiu das mãos de Deus mental e fisicamente perfeito; em perfeita sanidade, portanto, em perfeita saúde. Foram necessários mais de dois mil anos de condescendência com apetite e paixões lascivas para criar tal estado de coisas no organismo humano que reduziria as forças vitais. Através de sucessivas gerações a tendência foi seguir mais rapidamente no rumo descendente. A condescendência com apetite e paixão combinados conduziu a excesso e violência; devassidão e abominações de toda espécie debilitaram as forças, e trouxeram sobre a humanidade doenças de todo tipo, até que o vigor e a glória das primeiras gerações se desfizeram, e, na terceira geração a partir de Adão, o homem começou a revelar sinais de decadência. Gerações sucessivas após o dilúvio degeneraram ainda mais rapidamente. T4 30 1 Todo esse peso de dor e sofrimento acumulados pode ser atribuído à condescendência com o apetite e a paixão. Vida de dissipação e o uso de vinho corrompem o sangue, inflamam as paixões e produzem enfermidades de toda espécie. Mas os males não terminam aqui. Os pais deixam enfermidades como legado a seus filhos. Como regra, cada intemperante que gera filhos transmite à descendência suas inclinações e más tendências; outorga-lhes enfermidades de seu próprio sangue corrupto e inflamado. Licenciosidade, doenças e imbecilidade são transmitidas como uma herança de ais dos pais aos filhos e de geração a geração, e isto traz angústia e sofrimento ao mundo e não é menos que uma repetição da queda do homem. T4 30 2 A contínua transgressão das leis da natureza é uma contínua transgressão da lei de Deus. O atual peso de sofrimento e a angústia que vemos por toda a parte, a atual deformidade, decrepitude, doenças e imbecilidade que agora inundam o mundo, tornam-no, em comparação com o que poderia ser e Deus designou que fosse, um hospital; e a geração atual é débil quanto ao poder mental, moral e físico. Toda esta miséria tem-se acumulado geração após geração, porque o homem caído transgride a lei de Deus. Pecados da maior magnitude são cometidos pela condescendência com o apetite pervertido. T4 30 3 O gosto criado pelo desprezível e imundo veneno do fumo conduz ao desejo por estimulantes mais fortes, como a bebida alcoólica, que é tomada sob um pretexto ou outro, para alguma enfermidade imaginária, ou para prevenir alguma possível doença. Assim, um apetite antinatural é criado por esses estimulantes danosos e excitantes; e esse apetite tem-se fortalecido até que o aumento da intemperança nesta geração se tornou alarmante. Homens amantes das bebidas alcoólicas podem ser vistos por toda a parte. Seu intelecto é enfraquecido, suas faculdades morais debilitadas, sua sensibilidade entorpecida, e as reivindicações de Deus e do Céu deixam de ser percebidas e as coisas eternas não apreciadas. A Bíblia declara que os "bêbados" não "herdarão o reino de Deus". 1 Coríntios 6:10. T4 30 4 O fumo e o álcool entorpecem e contaminam o usuário. Mas o malefício não pára aí. Ele transmite temperamentos irritadiços, sangue poluído, intelectos debilitados e moral enfraquecida aos filhos, e torna-se responsável por todos os maus resultados que seu estilo de vida errado e dissipador acarretam sobre sua família e comunidade. A humanidade geme sob o peso de acumuladas desgraças, por causa dos pecados de gerações anteriores. E, no entanto, com que descuido ou indiferença homens e mulheres da presente geração se entregam à intemperança no comer e beber, deixando assim como legado às gerações futuras, enfermidades, intelecto debilitado, moral poluída. T4 31 1 A intemperança de qualquer tipo é a pior forma de egoísmo. Os que verdadeiramente temem a Deus e guardam os Seus mandamentos consideram essas coisas à luz da razão e da religião. Como pode algum homem ou mulher observar a lei de Deus, que requer que o homem ame a seu semelhante como a si mesmo, e dissipar-se em apetite intemperante que entorpece o cérebro, enfraquece o intelecto e enche o corpo de enfermidade? A intemperança inflama as paixões e dá rédeas soltas à lascívia. E a razão e a consciência são cegadas pelas paixões inferiores. T4 31 2 Indagamos, que fará o esposo da irmã A? Venderá ele, como Esaú, o seu direito de primogenitura por um guisado de lentilhas? Venderá sua varonilidade de semelhança divina, para satisfazer um apetite pervertido que somente traz infelicidade e degradação? "O salário do pecado é a morte." Romanos 6:23. Não tem esse irmão a coragem moral para negar o apetite? Seus hábitos não têm estado em harmonia com a verdade, e com os Testemunhos de reprovação que Deus tem julgado apropriado dar ao Seu povo. Sua consciência não estava inteiramente morta. Ele sabia que não poderia servir a Deus e satisfazer seu apetite; portanto, cedeu à tentação de Satanás que foi forte demais para que resistisse pelas próprias forças. Ele foi vencido. Atribuiu seu desejo de interesse pela verdade a outras causas que não a verdadeira, a fim de acobertar o próprio débil propósito e a causa real de seu afastamento de Deus, que foi o apetite descontrolado. T4 31 3 É aí que muitos tropeçam; hesitam entre a negação do apetite e sua condescendência, e finalmente são derrotados pelo inimigo e deixam de lado a verdade. Muitos que apostataram da verdade atribuem como razão para o seu modo de agir o não terem fé nos Testemunhos. A investigação revela o fato de que mantinham alguns hábitos pecaminosos que Deus tem condenado mediante os Testemunhos. A questão agora é, renunciarão eles a seu ídolo que Deus condena, ou continuarão em seu errôneo caminho de condescendência, e rejeitarão a luz que Deus lhes tem dado, reprovando as próprias coisas em que se deleitam? A questão a ser estabelecida com eles é, negarei a mim mesmo e receberei como de Deus os Testemunhos que reprovam meus pecados, ou rejeitarei os Testemunhos porque eles reprovam meus pecados? T4 32 1 Em muitos casos os Testemunhos são plenamente recebidos, o pecado e a condescendência eliminados, e a reforma imediatamente começa em harmonia com a luz que Deus concedeu. Noutros casos, as condescendências pecaminosas são acariciadas, os Testemunhos rejeitados, apresentando-se aos outros muitas falsas desculpas para justificar a recusa. O verdadeiro motivo não é revelado. É uma falta de coragem moral, de uma vontade fortalecida e dirigida pelo Espírito de Deus, para renunciar hábitos perniciosos. T4 32 2 Não é fácil vencer um gosto estabelecido por narcóticos e estimulantes. Somente em nome de Cristo pode essa grande vitória ser conquistada. Ele venceu em favor do homem no longo jejum de quase seis semanas no deserto da tentação. Ele simpatiza com a fraqueza do ser humano. Seu amor pelo homem caído foi tão grande que fez um sacrifício infinito para que pudesse alcançá-lo em sua degradação, e mediante o Seu divino poder finalmente elevá-lo ao Seu trono. Mas depende do homem se Cristo realizará por ele aquilo que é plenamente capaz de fazer. T4 32 3 Apoderar-se-á o homem do poder divino e, com decisão e perseverança resistirá a Satanás, como Cristo lhe deu o exemplo em Seu conflito com o inimigo no deserto da tentação? Deus não pode, contra a vontade do homem, salvá-lo do poder das artimanhas de Satanás. O homem deve agir com sua força, ajudado pelo poder de Cristo, de modo a resistir e vencer seja qual for o custo para si mesmo. Em suma, o homem deve vencer como Cristo venceu. E então, pela vitória que é seu privilégio obter pelo todo-poderoso nome de Jesus, pode-se tornar herdeiro de Deus e co-herdeiro de Jesus Cristo. Tal não seria o caso, se Cristo sozinho alcançasse a vitória. O homem deve fazer sua parte; ele deve ser vencedor por si mesmo, mediante a força e a graça que lhe são dadas por Cristo. O homem precisa ser cooperador de Cristo na obra de vencer, e então será co-participante de Cristo em Sua glória. T4 33 1 É uma obra sagrada esta em que estamos empenhados. O apóstolo Paulo exorta seus irmãos: "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. Conservar o espírito puro, como um templo para o Espírito Santo é um sagrado dever que temos para com Deus. Se o coração e mente são dedicados ao serviço de Deus, obedecendo a todos os Seus mandamentos, amando-O de todo o coração, alma, entendimento e força, e a nosso semelhante como a nós mesmos, seremos achados fiéis e verdadeiros aos requisitos do Céu. T4 33 2 Novamente, diz o apóstolo: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências." Romanos 6:12. Ele também incentiva seus irmãos à zelosa diligência e firme perseverança em seus esforços para a pureza e santidade de vida, nestas palavras: "E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível." 1 Coríntios 9:25. A luta cristã T4 33 3 Paulo apresenta diante de nós a luta espiritual e sua recompensa, em contraste com os vários jogos instituídos entre os pagãos em honra a seus deuses. Os jovens que eram treinados para esses jogos praticavam dedicada abnegação e a mais severa disciplina. Toda condescendência que representasse uma tendência de debilitar a força física era proibida. Os que se submetiam ao processo de treinamento físico não tinham permissão de consumir vinho ou alimentos requintados; pois estes enfraqueceriam, em vez de aumentar o vigor pessoal, a atividade salutar, a força moral e a firmeza. Muitos espectadores, reis e nobres, estavam presentes nessas ocasiões. Era considerada a mais elevada honra ganhar uma simples coroa que em poucas horas secaria. Mas depois de os competidores pela coroa perecível terem exercido severa abstenção e se submetido a rígida disciplina para obterem vigor pessoal e atividade na esperança de ser vitoriosos, mesmo assim não estavam seguros do prêmio. O troféu somente seria atribuído a um. Alguns poderiam empenhar-se tão duramente quanto outros, e dedicar o máximo de seus esforços para obter a coroa de honra; mas ao estenderem a mão para segurar o prêmio, outro, num instante de antecipação, poderia arrebatar o cobiçado tesouro. T4 34 1 Não é esse o caso na luta cristã. Todos podem participar desta corrida, e ser assegurados da vitória e da honra imortal caso se submetam às condições. Declara Paulo: "Correi de tal maneira que o alcanceis." 1 Coríntios 9:24. Ele, então, explica as condições necessárias a observar a fim de terem êxito: "E todo aquele que luta de tudo se abstém." 1 Coríntios 9:25. T4 34 2 Se os homens pagãos, que não eram controlados por consciência esclarecida, que não tinham o temor de Deus diante de si, podiam submeter-se à privação e à disciplina do treinamento, negando a si mesmos toda debilitante condescendência meramente por uma coroa de substância perecível e os aplausos da multidão, muito mais aqueles que estão empenhados na corrida cristã na esperança da imortalidade e da aprovação do Alto, devem estar dispostos a negar a si mesmos estimulantes e condescendências insalubres, que degradam a moral, debilitam o intelecto e levam as faculdades mais elevadas à sujeição de apetites e paixões sensuais. T4 34 3 Multidões pelo mundo estão testemunhando esta partida da vida, a luta cristã. E isto não é tudo. O Rei do Universo e as miríades de anjos celestiais são espectadores dessa corrida; estão ansiosamente observando para ver quem serão os vitoriosos a obter a coroa de glória que não murcha. Com intenso interesse, Deus e os anjos celestiais anotam os esforços abnegados, sacrificados e penosos dos que se empenham na corrida cristã. A recompensa dada a cada homem será de acordo com a perseverante energia e fiel zelo com que cumpre sua parte na grande competição. T4 35 1 Nos jogos mencionados, somente um estava seguro do prêmio. Na peleja cristã, declara o apóstolo: "Pois eu assim corro, não como a coisa incerta." 1 Coríntios 9:26. Não devemos ficar desapontados no final da corrida. A todos que concordam plenamente com as condições da Palavra de Deus e têm a percepção de sua responsabilidade em preservar o vigor físico e as atividades do corpo, de modo que tenham mente bem equilibrada e moral saudável, a corrida não é incerta. Eles podem ganhar o prêmio, e conquistar e usar a coroa de glória imortal que não desvanece. T4 35 2 O apóstolo Paulo nos diz que "somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens". 1 Coríntios 4:9. Uma nuvem de testemunhas está observando nossa conduta cristã. "Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus." Hebreus 12:1, 2. T4 35 3 O mundo não deve ser critério para nós. É moda condescender com o apetite em alimentos finos e estimulantes antinaturais, fortalecendo assim as propensões sensuais e impedindo o crescimento e desenvolvimento das faculdades morais. Nenhum encorajamento é dado a qualquer dos filhos ou filhas de Adão de que podem tornar-se mais que vencedores na luta cristã a menos que decidam praticar a temperança em todas as coisas. Se fizerem isto não combaterão como quem combate no ar. T4 35 4 Se os cristãos mantiverem o corpo em sujeição e levarem todos os seus apetites e paixões sob o controle de uma consciência esclarecida, sentindo como uma obrigação devida a Deus e ao próximo o obedecer às leis que governam a saúde e a vida, terão a bênção do vigor físico e mental. T4 36 1 Terão força moral para empenhar-se na guerra contra Satanás; e em nome dAquele que no benefício deles venceu o apetite, serão mais do que vencedores em seu próprio proveito. Esta luta está aberta a todos os que nela se empenham. T4 36 2 Foi-me mostrado o caso do irmão B, a quem uma nuvem de trevas rodeava. A luz do Céu não se acha em sua habitação. Conquanto professe crer na verdade, ele não exemplifica na vida diária sua santificadora influência sobre o coração. Não possui naturalmente disposição benevolente, bondosa, afetuosa e cortês. Seu temperamento é-lhe muito desfavorável, bem como a sua família e à igreja onde sua influência é sentida. Ele tem uma obra a empreender por si mesmo que ninguém pode por ele fazer. Tem necessidade da influência transformadora do Espírito de Deus. Temos, por nossa profissão como seguidores de Cristo, que provar nossos caminhos e ações, comparando-os com o exemplo de nosso Redentor. Nosso espírito e conduta devem corresponder à cópia que nosso Salvador nos deu. T4 36 3 O irmão B não possui temperamento que leve alegria a sua família. Aqui está um bom lugar para ele começar a trabalhar. Ele é mais como uma nuvem do que como um raio de luz. É por demais egoísta para dizer palavras de aprovação aos membros de sua família, especialmente àquela que deve ter seu amor e afetuoso respeito. É mal-humorado, despótico, ditatorial; suas palavras freqüentemente são cortantes, e deixam uma ferida que ele não procura curar suavizando o espírito, reconhecendo suas faltas e confessando o erro praticado. Ele não se esforça em vir para a luz. Não há nele um exame de coração, de motivos, temperamento, fala e conduta, para ver se a sua vida é semelhante ao exemplo. Ele não aplica a lei de Deus a sua vida e caráter como sua norma de ação. O Senhor deseja um povo honesto e reto diante de Si. T4 36 4 A irmã B tem muitas provações, e as fraquezas da própria natureza com que lutar, e sua tarefa não deve ser tornada ainda mais penosa do que seja definitivamente necessário. O irmão B precisa abrandar-se; deve cultivar refinamento e cortesia. Deve ser muito terno e amável para com a esposa, que é igual a ele em todos os respeitos; não deve proferir palavras que lancem sombra sobre o coração dela. Ele deve começar a obra de reforma no lar; deve cultivar a afeição e vencer os traços rudes e ásperos, insensíveis e egoístas de seu temperamento, pois tais coisas estão ganhando terreno sobre ele. Se nós, pobres mortais, alcançarmos o Céu, devemos vencer como Cristo venceu. Devemos assemelharmos à Sua imagem; nosso caráter deve ser imaculado. T4 37 1 Foi-me mostrado que o irmão B não tem elevado senso da perfeição de caráter necessário a um cristão. Ele não tem uma percepção apropriada de seu dever para com os semelhantes. Corre o perigo de buscar os próprios interesses, se uma oportunidade se apresentar, sem levar em conta a vantagem ou perda de seu semelhante. Considera a própria prosperidade como extremamente importante, mas não revela interesse na prosperidade ou infortúnio do próximo, como deve revelar um seguidor de Cristo. Por uma mínima vantagem para si, Satanás pode desviá-lo de sua integridade. Isso lhe obscurece a própria alma, e traz escuridão sobre a igreja. "Tudo isso", declara Satanás, "será seu, se desviar-se da estrita integridade. Tudo isso lhe darei se me agradar nisto, ou se fizer e disser aquilo." E com muita freqüência o irmão B tem sido enganado pelo adversário para dano próprio e para obscurecer outras mentes. T4 37 2 Há alguns outros na igreja que precisam ver as coisas de um ponto de vista mais elevado antes de poderem estar propensos a coisas espirituais, e em uma posição em que possam discernir a mente e vontade de Deus, e lançar luz, em lugar de sombra. O irmão B precisa ter os olhos ungidos, para que possa discernir claramente as coisas espirituais, e também os ardis de Satanás. O padrão cristão é elevado e exaltado. Mas, que lástima, os professos seguidores de Cristo O rebaixam até ao pó! T4 37 3 Irmão B, você necessita de constante vigilância para não ser vencido pelas tentações de Satanás de viver por si mesmo, ser ciumento e invejoso, desconfiado e censurador. Se prosseguir queixando-se, não progredirá um só passo na estrada rumo ao Céu. Se parar um instante em seus zelosos esforços e empenhos acompanhados de oração para restringir e controlar a si mesmo, estará em perigo de ser derrotado por alguma forte tentação; poderá dar passos imprudentes; poderá manifestar um espírito iníquo, que não só acarretará amargura para a própria alma, mas tristeza ao coração de outros. Poderá trazer sobre eles um peso de perplexidade e tristeza que porá em perigo a salvação deles, e será responsável por essa influência danosa. Irmão B, se desejar escapar da poluição da sensualidade que há no mundo, deve adornar a profissão cristã em todos os aspectos. T4 38 1 Você poderá dizer: Essa é uma dura obra; o caminho é demasiado estreito, não posso trilhá-lo. É o caminho exposto nesta carta mais estreito do que o caminho que você encontra claramente delineado na Palavra de Deus? O Céu vale uma vida inteira de esforço perseverante, incansável. Se agora recuar e se tornar desanimado, certamente perderá o Céu -- perderá a vida imortal e a coroa de glória que não se extingue. Os que têm assento ao lado do Salvador em Seu trono são somente os daquela classe que tem vencido como Ele venceu. O amor pela verdade pura e santificadora, amor pelo querido Redentor, abrandará o esforço da vitória. Sua força será alegremente assegurada a todos quantos estão realmente desejosos dela. Ele coroará com graça e paz todo esforço perseverante feito em Seu nome. T4 38 2 Se o seu esforço diário for glorificar a Deus e subjugar o eu, Ele aperfeiçoará Sua força em sua fraqueza, e você poderá viver de modo que sua consciência não o condenará. Poderá ter uma boa reputação diante daqueles que estão fora. Uma vida ponderada não só trará grande proveito à própria alma, mas será uma forte luz a brilhar sobre o caminho de outros, e lhes mostrará o caminho para o Céu. T4 38 3 Irmão B, como tem governado o próprio temperamento? Tem buscado vencer seu espírito precipitado? Com a disposição e sentimento que agora possui, perderá o Céu tão certamente quanto ele existe. Pelo benefício da própria alma, e por causa de Cristo, que lhe concedeu inegáveis evidências de Seu infinito amor, venha para mais perto dEle a fim de que possa ser imbuído de Seu Espírito. Cultive espírito de vigilância e oração para que possa corretamente representar a sagrada fé que professa como seguidor de seu querido Redentor, que deixou um exemplo na própria vida. Imite o nosso Salvador. Aprenda de Cristo. Suporte a adversidade como bom soldado de Jesus Cristo, vença as tentações de Satanás como Ele venceu, e prevaleça como vitorioso sobre todos os seus defeitos de caráter. T4 39 1 Cristo foi um perfeito vencedor; e devemos ser perfeitos e íntegros, nada deixando a desejar, sem mácula ou defeito. A redenção que Cristo realizou pelo homem foi a um preço infinito para Si. A vitória a obter sobre nosso mau coração e sobre as tentações de Satanás nos demandará vigoroso esforço, constante vigilância, e perseverante oração; e então colheremos não só a recompensa, que é o dom da vida eterna, mas aumentaremos nossa felicidade sobre a Terra pela consciência do dever cumprido, e pelo maior respeito e amor àqueles que nos rodeiam. T4 39 2 Foi-me mostrado haver uma geral falta de devoção e de esforço sincero e dedicado na igreja. Há muitos que precisam ser convertidos. O irmão C não é um esteio e força para a igreja. Ele não progride na vida religiosa ao avançar em idade. Tem professado a verdade por muitos anos, contudo tem sido vagaroso em aprender e viver seus princípios; portanto, não tem sido santificado mediante a verdade. Ele se coloca em posição de ser tentado por Satanás. É ainda uma criança em experiência. Está a observar outros e apontar suas faltas, quando devia estar diligentemente sondando o próprio coração. Essa prontidão em questionar, e ver faltas em seus irmãos, e falar deles a outros, é reprovada pelas palavras de Cristo a quem, Ele viu, estava mais interessado na conduta de seus irmãos do que cuidadosamente em vigiar e orar para que Satanás não o vencesse. Disse Cristo a Seus discípulos: "Que te importa a ti? Segue-Me tu." João 21:22. T4 39 3 Tudo que o irmão C pode fazer, na debilidade de sua natureza, é guardar a própria alma e fechar toda avenida pela qual Satanás possa obter acesso ou insinuar dúvidas sobre outros. Ele se acha em grande perigo de perder sua salvação por deixar de aperfeiçoar o caráter cristão durante seu tempo de graça. Ele é vagaroso em seguir a Cristo. Seus sentidos parecem anuviados e quase paralisados, de modo que não avalia adequadamente as coisas sagradas. Pode mesmo agora corrigir seus erros e vencer os seus defeitos, se agir na força de Deus. T4 40 1 Há vários na igreja de _____, cujos nomes não posso mencionar, que têm vitórias a conquistar sobre seus apetites e paixões. Alguns falam em demasia; tomam a seguinte postura: "Denunciai, e o denunciaremos!" Jeremias 20:10. Essa é, realmente, uma postura deplorável! Se todos esses mexeriqueiros tivessem em mente que um anjo os está seguindo, registrando suas palavras, haveria menos conversa e muito mais oração. T4 40 2 Há filhos de observadores do sábado que desde a juventude têm sido ensinados a observar o sábado. Alguns deles são filhos muito bons, fiéis ao dever, no que se refere às questões temporais, mas não sentem profunda convicção do pecado, nem a necessidade de se arrependerem dele. Estes estão em condição perigosa. Estão observando o comportamento e os esforços de professos cristãos. Vêem alguns que fazem elevada profissão de fé, mas que não são cristãos conscienciosos, e comparam os próprios pontos de vista e ações com essas pedras de tropeço. E como não há pecados salientes em sua vida, gabam-se de estarem quase corretos. T4 40 3 A estes jovens estou autorizada a dizer: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados." Atos dos Apóstolos 3:19. Não há tempo a perder. O Céu e a vida imortal são tesouros valiosos que não podem ser obtidos sem um esforço de sua parte. Não importa quão impecável tenha sido a sua vida, como pecadores têm providências a tomar. É-lhes requerido arrepender-se, crer e ser batizados. Cristo era inteiramente justo; contudo Ele, o Salvador do mundo, deu ao homem um exemplo, dando Ele mesmo os passos que exige que o pecador dê para tornar-se filho de Deus e herdeiro do Céu. T4 40 4 Se Cristo, imaculado e puro Redentor do homem, consentiu em dar os passos que o pecador necessariamente tem de dar para a conversão, como se admite que alguém, com a luz da verdade brilhando em seu caminho, hesite em submeter o coração a Deus e, com humildade confesse que é pecador e mostre sua fé na expiação de Cristo por palavras e ações, identificando-se com os que professam ser Seus seguidores? Sempre haverá alguns que não viverão segundo sua profissão de fé, cujo viver diário demonstra que são tudo, menos cristãos; mas seria isso razão suficiente para alguém recusar revestir-se de Cristo pelo batismo, na fé de Sua morte e ressurreição? T4 41 1 Mesmo quando o próprio Jesus esteve na Terra, e caminhava com Seus discípulos e os ensinava, havia um entre os doze que era um demônio. Judas traiu o seu Senhor. Cristo tinha perfeito conhecimento da vida de Judas. Sabia da cobiça que ele não havia dominado; e em Seus sermões aos outros dava-lhe muitas lições sobre esse assunto. Por meio da condescendência, Judas permitiu que esse traço de seu caráter tomasse vulto e adquirisse raiz tão profunda que chegou a suplantar a boa semente da verdade semeada em seu coração; o mal predominou, até que, por amor ao dinheiro, pôde vender o seu Senhor por umas poucas moedas de prata. T4 41 2 O fato de que Judas não tinha coração reto, que estava tão corrompido pelo egoísmo e amor ao dinheiro que foi levado a cometer um grande crime, não é evidência de que não houvesse verdadeiros cristãos, genuínos discípulos de Cristo, que amavam o seu Salvador e tentavam imitar Sua vida e exemplo e obedecer a Seus ensinamentos. T4 41 3 Foi-me mostrado que o fato de Judas ter sido contado entre os doze, com todas as suas faltas e defeitos de caráter, é uma lição instrutiva de cujo estudo os cristãos podem tirar proveito. Quando Judas foi escolhido pelo Senhor, seu caso não era sem esperança. Ele possuía algumas boas qualidades. Em sua associação com Cristo no trabalho, ouvindo os Seus discursos, teve oportunidade favorável de ver os seus erros, familiarizar-se com os seus defeitos de caráter, se realmente desejasse ser um verdadeiro discípulo. Foi até mesmo colocado por nosso Senhor em uma posição na qual poderia ter a escolha de desenvolver sua disposição cobiçosa ou vê-la e corrigi-la. Ele levava consigo os parcos recursos coletados para os pobres e para as despesas necessárias de Cristo e os discípulos em seu trabalho de pregação. T4 42 1 Aquele pequeno montante era para Judas uma contínua tentação e, de tempos em tempos, quando realizava um pequeno serviço para Cristo, ou dedicava um pouco de tempo para propósitos religiosos, pagava a si mesmo usando os limitados fundos coletados para fazer avançar a luz do evangelho. Finalmente tornou-se tão mesquinho que expressou amarga queixa por ser caro o perfume derramado sobre a cabeça de Jesus. Ficava repetidamente calculando e imaginando o dinheiro que poderia ter sido colocado em suas mãos para gastar, caso o perfume tivesse sido vendido. Seu egoísmo foi crescendo até que sentiu que o tesouro havia de fato sofrido grande perda por não receber o valor do perfume em dinheiro. Finalmente apresentou uma queixa aberta da extravagância daquela dispendiosa oferta a Cristo. Nosso Salvador repreendeu-o por sua mesquinhez. Isso ficou pesando no coração de Judas até que, por uma pequena soma de dinheiro, consentiu em trair a seu Senhor. Haverá entre os observadores do sábado aqueles que não são mais verdadeiros de coração do que Judas; mas os casos de tais não deve ser desculpa para impedir outros de seguir a Cristo. T4 42 2 Deus ama os filhos do irmão D, mas eles estão em tremendo perigo de se sentirem sãos, não tendo necessidade de médicos. Confiar na própria justiça jamais os salvará. Eles precisam sentir a necessidade de um Salvador. Cristo veio para salvar pecadores. Disse Jesus: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento." Lucas 5:32. Os fariseus, que se julgavam justos e confiavam nas próprias obras, não sentiam necessidade de um Salvador. Imaginavam que estavam suficientemente bem sem Cristo. T4 42 3 Os queridos filhos do irmão D devem pleitear com Jesus para revelar-lhes sua pecaminosidade, e então pedir-Lhe para revelar-Se como o seu Salvador que perdoa o pecado. Esses preciosos filhos não precisam ser enganados e perder a vida eterna. A não ser que se convertam, não poderão entrar no reino do Céu. Eles precisam lavar suas vestimentas de caráter no sangue do Cordeiro. Jesus os convida a darem os passos que os pecadores devem dar a fim de se tornarem Seus filhos. Ele lhes deu um exemplo em vida ao submeter-Se à ordenança do batismo. É nosso exemplo em todas as coisas. T4 43 1 Deus requer que esses filhos Lhe ofereçam as melhores e mais santas afeições de seu coração. Ele os comprou com o próprio sangue. Reivindica o serviço deles. Não pertencem a si mesmos. Jesus realizou um sacrifício infinito por eles. Um Salvador piedoso e amorável os receberá se forem a Ele tal como são e dependerem de Sua justiça, e não dos próprios méritos. T4 43 2 Deus tem piedade e ama os jovens de _____, e deseja que nEle encontrem felicidade. Ele morreu para redimi-los e os abençoará, se forem a Ele com mansidão e sinceridade. Será neles achado, se O buscarem de todo o coração. ------------------------Capítulo 5 -- Escolhendo tesouro terrestre T4 43 3 Foi-me mostrada a condição do povo de Deus. Estão entorpecidos pelo espírito do mundo. Negam sua fé por suas obras. Foi-me apontado o antigo Israel. Tiveram grande luz e exaltados privilégios; contudo, não viveram à altura da luz, nem apreciaram suas vantagens, e sua luz se lhes tornou em trevas. Caminhavam na luz dos próprios olhos, em vez de seguirem a guia de Deus. A história dos filhos de Israel foi escrita para o benefício daqueles que vivem nos últimos dias, a fim de que possam evitar seguir seu exemplo de descrença. T4 43 4 Irmão E, foi-me mostrado você envolvido em trevas. O amor ao mundo havia tomado inteiro controle de seu ser. Os seus melhores dias estão no passado. Sua vitalidade e poder de resistência, no que tange ao trabalho físico, estão debilitados; e agora, quando deveria ser capaz de recordar uma vida de nobres esforços em abençoar outros e glorificar a Deus, pode apenas lamentar e reconhecer a falta de felicidade e paz. O irmão não está vivendo de modo a alcançar a aprovação de Deus. Seus interesses espirituais, eternos, são postos em segundo lugar. O cérebro, ossos e músculos foram sobrecarregados ao máximo. Por que todo esse desperdício de vigor? Por que esse acúmulo de cuidados e responsabilidades para sua família suportar? Qual é a sua recompensa? A satisfação de acumular para si um tesouro na Terra, o que Cristo proibiu, e que se revelará uma armadilha para a sua alma. T4 44 1 No Sermão do Monte, Cristo diz: "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu." Mateus 6:19, 20. Se você acumular tesouros no Céu, fará isto para si próprio e estará trabalhando no próprio interesse. O seu tesouro, meu prezado irmão, é depositado na Terra, e o seu interesse e afeições estão no seu tesouro. O irmão cultivou amor ao dinheiro, casas e terras, até que isso absorveu suas forças mentais e físicas, e o amor por posses terrenas tem sido maior do que seu amor por seu Criador, e pelas almas pelas quais Cristo morreu. O deus deste mundo lhe cegou os olhos de modo que as coisas eternas não lhe são de valor. T4 44 2 No deserto da tentação, Cristo defrontou as grandes tentações principais que assaltariam os homens. Ali enfrentou, sozinho, o inimigo astuto e sutil, vencendo-o. A primeira grande tentação teve que ver com o apetite; a segunda, com a presunção; a terceira, com o amor ao mundo. Satanás tem vencido seus milhões, tentando-os a condescender com o apetite. Mediante a satisfação do paladar, o sistema nervoso torna-se irritado e debilita-se o poder do cérebro, tornando impossível pensar calma e racionalmente. Desequilibra-se a mente. Suas mais nobres e elevadas faculdades são pervertidas, servindo à concupiscência carnal, e desprezam-se os interesses eternos e sagrados. Alcançado este objetivo, Satanás pode vir com suas outras duas tentações principais e encontrar pronto acesso. Suas múltiplas tentações provêm destes três grandes pontos principais. T4 44 3 A presunção é uma tentação comum, e ao Satanás assaltar os homens com isto, é bem-sucedido nove vezes em dez. Os que professam ser seguidores de Cristo e pretendem, por sua fé, estar empenhados na luta contra todo mal que há em sua própria natureza, entram freqüentemente de maneira irrefletida em tentações das quais exigiria um milagre o fazê-los escapar imaculados. A meditação e a oração os haveriam guardado, levando-os a evitar a posição crítica e perigosa em que se colocaram quando concederam a Satanás vantagem sobre eles. As promessas de Deus não são para serem temerariamente reclamadas quando, de maneira descuidosa, nos precipitamos para o perigo, violando as leis da natureza e desatendendo à prudência e ao juízo com que Deus nos dotou. Isto é a mais flagrante presunção. T4 45 1 Os tronos e reinos do mundo e a glória deles foram oferecidos a Cristo se apenas Se prostrasse diante de Satanás. O homem nunca será provado com tentações tão fortes como as que assaltaram a Cristo. Satanás veio com honra mundana, riquezas e os prazeres da vida, e apresentou-os sob o aspecto mais atraente para seduzir e enganar. "Tudo isto", disse ele a Cristo, "Te darei se, prostrado, me adorares." Mateus 4:9. Cristo repeliu o astuto inimigo e saiu vitorioso. T4 45 2 Satanás tem maior sucesso em sua aproximação do homem. Todo esse dinheiro, esse ganho, essa terra, esse poder, essas honras e riquezas lhe darei -- em troca de quê? Suas condições em geral são que a integridade seja deixada de parte, a consciência seja brutalizada e o egoísmo alimentado. Através da dedicação a interesses mundanos, Satanás recebe toda homenagem que busca. A porta é deixada aberta para que entre como queira, com seu maligno cortejo de impaciência, amor ao eu, orgulho, avareza, fraude e seu inteiro catálogo de maus espíritos. O homem é enfeitiçado e traiçoeiramente seduzido à ruína. Se nos submetemos de coração e vida ao mundanismo, Satanás fica satisfeito. T4 45 3 O exemplo de Cristo está diante de nós. Ele venceu a Satanás, mostrando-nos como também podemos vencer. Cristo resistiu a Satanás com as Escrituras. Poderia haver recorrido a Seu poder divino e usado as próprias palavras, mas disse: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." Mateus 4:4. Diante da segunda tentação, Ele disse: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus." Mateus 4:7. O exemplo de Cristo está diante de nós. Se as Escrituras Sagradas fossem estudadas e seguidas, o cristão seria fortalecido para enfrentar o astuto inimigo; mas a Palavra de Deus é negligenciada, e seguem-se calamidade e derrota. T4 46 1 Prezado irmão, você tem negligenciado dar atenção aos testemunhos de advertência que lhe foram dados anos atrás, mostrando que o inimigo estava ao seu encalço, para apresentar-lhe os encantos deste mundo, insistindo para você escolher o tesouro terreno e sacrificar a recompensa celestial. Irmão E, você não pode permitir isto; há muito em jogo. "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26. Você está vendendo sua alma em um mercado barato. Não pode permitir-se esse grande sacrifício. Deus confiou talentos a sua guarda. Eles são seus recursos e sua influência. Deus deseja submetê-lo a uma prova. Você não devia ter perdido tempo, e, sim, começado imediatamente a aumentar o depósito de seu Mestre. Tivesse agido assim, seu êxito teria sido igual a sua operosidade, perseverança e zelo em investir o capital colocado em suas mãos; os seus talentos de influência -- pondo de parte os recursos a que poderia ter recorrido para seu auxílio -- teria atraído muitas almas do erro para a verdade e justiça. Essas almas teriam trabalhado por outros, e assim a influência e recursos teriam aumentado constantemente e se multiplicado na causa do Mestre; e para a fiel melhoria de seus talentos teria ouvido do Mestre as mais bondosas palavras que poderiam ouvir: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. T4 46 2 Irmão E, tivesse direcionado as faculdades de seu intelecto a condutos corretos, servindo a seu Pai celestial, você teria se fortalecido cada vez mais na verdade, fortalecido em espírito e poder, e agora seria uma coluna da igreja de _____ e, por seu exemplo, bem como por apresentar as razões de nossa fé com base nas Escrituras, teria sido um bem-sucedido ensinador da verdade. Se as faculdades mentais que empregou para obter propriedades tivessem sido utilizadas para trazer almas das trevas para a luz, haveria de conhecer a aprovação de Deus e ser altamente bem-sucedido. T4 47 1 Os que somente têm limitadas habilidades, santificadas pelo amor de Deus, podem realizar o bem para o Mestre; mas os que têm mente arguta, de bom discernimento, podem empregá-la em sua exaltada obra com excelentes resultados. Embrulhar em um lenço os talentos que Deus lhes confiou, e escondê-los no solo, assim privando-O de seu rendimento, é um grave erro. Estamos sob prova. O Mestre virá para investigar nossa conduta, e indagará que uso fizemos dos talentos que nos foram emprestados. T4 47 2 Irmão E, que uso está fazendo dos talentos que Deus confiou ao seu cuidado? Fez o que podia para iluminar a mente dos homens a respeito da verdade, ou não achou tempo em suas atividades de negócios e perplexidades para dedicar a este trabalho? É um crime valer-se da generosidade divina como tem feito, para diminuir sua força física e separar de Deus suas afeições. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Lucas 16:13. Não podemos amar este mundo e amar a verdade de Deus. "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. Você não é um homem feliz. Sua família não é uma família feliz. Os anjos de Deus não vêm fazer habitação com vocês. Quando a religião de Cristo rege o coração, a consciência aprova, e reinam paz e felicidade; perplexidade e aflição podem rondar, mas há luz na alma. T4 47 3 Submissão, amor e gratidão a Deus conservam o brilho do sol no coração, embora o dia possa ser bem nublado. Abnegação e a cruz de Cristo estão diante do irmão. Erguerá você a cruz? Seus filhos têm sido abençoados pelas orações da mãe. Eles têm amado a religião. Têm tentado resistir à tentação, e manter vida de oração. Às vezes têm tentado muito arduamente; mas seu exemplo diante deles, seu amor e devoção ao mundo, e sua dedicação excessiva aos negócios têm removido a mente deles das coisas espirituais e a desviado novamente para a Terra. Satanás tem estado em seu encalço para conduzi-los a amar o mundo e as coisas mundanas. Eles têm gradualmente perdido sua confiança em Deus, negligenciado a oração particular e os deveres religiosos, e têm perdido seu interesse pelas coisas sagradas. T4 48 1 Prezado irmão E, você cometeu grande erro ao dedicar a este mundo a sua ambição. Você é exigente e às vezes impaciente; algumas vezes requer demasiado de seu filho. Ele ficou desanimado. Em sua casa tem sido trabalho, trabalho, trabalho, desde o amanhecer até à noite. Sua grande fazenda tem acarretado cuidados extras e responsabilidades para a sua casa. Você tem falado sobre negócios; pois os negócios são a prioridade em sua mente, e "a boca fala do que está cheio o coração". Lucas 6:45. Seu exemplo na família tem exaltado a Cristo e Sua salvação acima de seus interesses agrícolas e seu desejo de ganho? Se os seus filhos perderem a vida eterna, o sangue da alma deles certamente será achado nas vestes do pai. T4 48 2 A mãe cumpriu fielmente o seu dever. Ela ouvirá o "bem está", ao levantar-se na manhã da ressurreição. Sua primeira indagação será quanto a seus filhos, que foram objeto de suas orações durante a parte final de sua vida. Você poderá apresentá-los com belo caráter que os qualifiquem moralmente para a sociedade dos anjos, ou estarão contaminados e maculados pelas corrupções deste mundo? Serão achados "participantes da natureza divina", livres "da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo"? 2 Pedro 1:4. Serão colunas polidas à semelhança de um palácio; ou haverão de ser achados amantes do mundo, amaldiçoados com o espírito de avareza, e suas brilhantes e nobres qualidades sepultadas no esquecimento? Sua conduta muito fará para determinar o destino futuro de seus filhos. Se você continuar a exaurir suas faculdades mentais em preocupações e planejamentos mundanos, permanecerá para eles como uma pedra de tropeço. Eles vêem que, conquanto professando cristianismo, você não obteve qualquer progresso espiritual, mas está moralmente atrofiado. Isto é verdade. Sua mente tem-se concentrado nas coisas terrenas; e, como resultado, desenvolveu grande força nessa direção. Decididamente, você é um negociante mundano, mas Deus planejou que você usasse sua habilidade e influência em uma ocupação mais elevada. T4 49 1 Você está fascinado e cegado pelo deus deste mundo. Oh, que terrível insensatez o domina! Você poderá reunir tesouros terrenos, mas serão destruídos na grande conflagração. Se retornar agora ao Senhor, empregar seus talentos de recursos e influência para a Sua glória e enviar antecipadamente seu tesouro para o Céu, não defrontará uma perda total. T4 49 2 As grandes conflagrações e calamidades por terra e mar que têm assolado nosso país [Estados Unidos] foram providências especiais de Deus, uma advertência do que está para sobrevir ao mundo. Deus quis mostrar ao homem que Ele pode acender sobre seus ídolos um fogo que a água não pode apagar. A grande conflagração geral está pouco à frente, quando todo esse trabalho desperdiçado na vida será eliminado do dia para a noite. O tesouro depositado no Céu estará seguro. Nenhum ladrão pode aproximar-se dele, nem traça corroê-lo. T4 49 3 Um jovem veio a Cristo e perguntou: "Bom Mestre, que bem farei, para conseguir a vida eterna?" Mateus 19:16. Jesus ordenou-lhe guardar os mandamentos. Ele retrucou: Senhor, "tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?" Mateus 19:20. Jesus encarou com amor aquele jovem, e fielmente apontou-lhe sua deficiência na observância dos mandamentos. Ele não amava o seu semelhante como a si mesmo. Cristo mostrou-lhe o seu verdadeiro caráter. Seu amor mesquinho pelas riquezas era um defeito que, se não removido, o excluiria do Céu. "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-me." Mateus 19:21. Cristo desejava que entendesse que nada exigia dele além do que Ele próprio havia experimentado. Tudo o que pediu foi que Lhe seguisse o exemplo. T4 49 4 Cristo deixou Suas riquezas e glória, e tornou-Se pobre, para que o homem mediante a Sua pobreza se tornasse rico. Requer agora que ele, por causa dessas riquezas, renuncie às coisas terrenas e assegure o Céu. Cristo sabia que enquanto as afeições estivessem sobre o tesouro mundano, elas estariam afastadas de Deus; portanto, disse ao doutor da lei: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; e vem e segue-Me." Mateus 19:21. Como recebeu ele as palavras de Cristo? Regozijou-se por poder assegurar o tesouro celestial? Ele ficou muito "triste, porque possuía muitas propriedades". Mateus 19:22. Para ele as riquezas representavam honra e poder. O grande valor de seu tesouro fazia com que desfazer-se dele parecesse uma impossibilidade. T4 50 1 Aqui está o perigo das riquezas para um homem avarento. Quanto mais ganha, mais difícil lhe é ser generoso. Diminuir sua riqueza é como acabar com a vida. Em vez disso, prefere desviar-se das atrações da recompensa imortal, a fim de reter e aumentar seus bens terrenos. Ele ajunta e acumula. Tivesse ele observado os mandamentos, e seus bens mundanos não seriam tão grandes. Como podia, enquanto planejando e lutando pelo eu, amar a Deus de todo o coração, e de toda a alma, e toda a sua força, e ao próximo como a si mesmo? Lucas 10:27. Houvesse ele provido às necessidades dos pobres e abençoado os seus semelhantes com uma porção de seus recursos segundo requeriam suas necessidades, teria sido muito mais feliz e obteria maior tesouro celestial, e menos na Terra sobre que colocar as afeições. T4 50 2 Cristo assegurou ao jovem que veio a Seu encontro que, se obedecesse aos Seus requisitos, teria um tesouro no Céu. Esse homem amante do mundo ficou muito triste. Queria o Céu, mas desejava reter sua riqueza. Renunciou à vida imortal pelo amor do dinheiro e poder. Oh, que troca infeliz! Todavia, muitos que professam observar todos os mandamentos de Deus estão fazendo isso. Você, meu prezado irmão, está em perigo de fazer o mesmo, mas não o percebe. Não se ofenda por eu deixar-lhe bem clara esta questão. Deus o ama. Quão pobremente tem você retribuído o Seu amor! T4 50 3 Foi-me mostrado que em sua experiência inicial seu coração estava inflamado com a verdade; sua mente absorvida no estudo das Escrituras; via nova beleza em cada linha. Depois, a boa semente lançada em seu coração foi crescendo e produzindo frutos para a glória de Deus. Mas, depois de um tempo, os cuidados desta vida e os enganos das riquezas sufocaram a boa semente da Palavra de Deus semeada em seu coração, e você deixou de produzir frutos. A verdade lutava por supremacia em sua mente, mas os cuidados desta vida e o amor de outras coisas obtiveram a vitória. Satanás buscava, mediante as atrações deste mundo, prendê-lo e paralisar suas faculdades morais de modo que não tivesse percepção das reivindicações que Deus tinha sobre você, e ele quase teve êxito. T4 51 1 Agora, prezado irmão, você deve empreender o mais fervoroso e perseverante esforço para desalojar o inimigo e assegurar sua liberdade; pois ele fez de você um escravo deste mundo até que o seu amor pelo ganho se tornou uma paixão dominante. Seu exemplo a outros tem sido mau; interesses mesquinhos têm tido a preeminência. Por sua profissão de fé você diz ao mundo: Minha cidadania não é daqui, mas de cima; enquanto as suas obras decididamente declaram que você é um habitante da Terra. Como um laço virá o dia do juízo sobre todos quantos habitam sobre a face da Terra. Sua profissão de fé é somente um empecilho para as almas. Você não tem obras correspondentes. "Conheço as tuas obras" (não tua profissão), diz a Testemunha Verdadeira. Apocalipse 3:1. Deus está agora peneirando o Seu povo, provando os seus propósitos e motivos. Muitos não serão mais do que palha -- nenhum trigo, nenhum valor neles. T4 51 2 Cristo confiou a sua guarda talentos de recursos e de influência, e disse-lhe: Cultive-os "até que Eu venha". Lucas 19:13. Quando o Mestre vier e acertar contas com Seus servos, e todos forem chamados ao mais estrito acerto sobre como empregaram os talentos que lhes foram confiados, como enfrentará você, meu prezado irmão, a investigação? Estará preparado para devolver ao Mestre os Seus talentos em dobro, depondo perante Ele tanto o capital quanto os juros, e mostrando que tem sido um obreiro criterioso, fiel e perseverante a Seu serviço? Irmão E, se seguir a conduta que adotou por anos, o seu caso será corretamente representado pelo servo que embrulhou o seu talento em um lenço e o enterrou no solo, ou seja, escondeu-o no mundo. Aqueles aos quais os talentos foram confiados, receberam recompensa pelo esforço feito em proporção exata à fidelidade, perseverança e zelosa dedicação em negociar com os bens de seu Senhor. T4 52 1 Deus o tem como Seu devedor, e também como um devedor a seus semelhantes que não têm a luz e a verdade. Deus lhe concedeu luz, não para ocultar debaixo de um alqueire, mas para colocá-la no velador a fim de que todos na casa possam beneficiar-se. Sua luz deve brilhar para outros a fim de iluminar almas pelas quais Cristo morreu. A graça de Deus reinando em seu coração, e levando a mente e pensamentos em sujeição a Jesus, o tornaria um homem poderoso ao lado de Cristo e da verdade. T4 52 2 Declarou Paulo: "Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." Romanos 1:14. Deus havia revelado a Paulo Sua verdade, e ao fazê-lo tornou-o devedor aos que estavam em trevas, para iluminá-los. Você não teve a devida percepção de sua responsabilidade diante de Deus. Está manuseando os talentos do seu Senhor. Conta com faculdades mentais que, se empregadas na direção certa, o tornariam um coobreiro com Cristo e Seus anjos. Se sua mente tivesse sido voltada na direção de fazer o bem, de apresentar a verdade perante outros, estaria agora qualificado a tornar-se um obreiro de sucesso para Deus, e como sua recompensa veria muitas almas salvas que seriam como estrelas na coroa de seu regozijo. T4 52 3 Como pode o valor de suas casas e terras ser comparado ao valor de almas preciosas pelas quais Cristo morreu? Essas almas podem ser salvas para o reino da glória, por seu intermédio; mas você não pode levar consigo a mínima parcela de seu tesouro terrestre. Adquira seja o que for, preserve-o com todo o zeloso cuidado que for capaz de exercer e, ainda assim, a ordem do Senhor pode ser dada, e em poucas horas um fogo que nenhuma perícia é capaz de apagar pode destruir os acúmulos de toda a sua vida, deixando-os como um amontoado de ruínas escaldantes. Esse foi o caso de Chicago. A Palavra de Deus havia sido proferida para que essa cidade fosse deixada em ruínas. Esta não é a única cidade a perceber as marcas visíveis do desagrado de Deus. Ele realizou um começo, mas não um fim. A espada de Sua ira está estendida sobre as pessoas que, por seu orgulho e impiedade, provocaram o desagrado de um Deus justo. Tempestades, terremotos, furacões, incêndios e espada espalharão desolação por toda a parte, até que o coração dos homens desmaie "de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo". Lucas 21:26. Você não sabe quão pequeno é o espaço entre você e a eternidade. Não sabe quão brevemente findará o seu tempo de graça. T4 53 1 Apronte-se, meu irmão, pois o Mestre exigirá seus talentos, tanto o capital quanto os juros! Salvar almas deve ser a obra vitalícia de todo aquele que professa seguir a Cristo. Somos devedores ao mundo pela graça que nos foi dada por Deus, pela luz que brilhou sobre nós e pela beleza e poder que descobrimos na verdade. Poderá dedicar toda a sua existência a reunir tesouros na Terra, mas que vantagem haverá nisso quando a sua vida aqui findar, ou quando Cristo aparecer? Não poderá levar consigo um só centavo. Tão alto como suas riquezas e honras terrenas o exaltaram aqui com negligência de sua vida espiritual, assim você afundará em valor moral perante o grande tribunal do Juízo de Deus. T4 53 2 Como essa riqueza pela qual trocou sua alma será apropriada, caso seja repentinamente chamado a dar por encerrado o seu tempo de graça e sua voz não mais controlá-la? "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" Mateus 16:26. Seus recursos não são de maior valor do que a areia, exceto se forem empregados unicamente para as necessidades da vida diária e para abençoar outros e fazer avançar a causa de Deus. Ele lhe concedeu testemunhos de advertência e encorajamento, mas você se desviou deles. Duvidou dos Testemunhos. Quando você retornar e reunir os raios de luz, e tomar a posição de que os Testemunhos procedem de Deus, então se firmará em sua crença e não vacilará em trevas e fraqueza. T4 53 3 Você pode ser uma bênção para a igreja de _____. Pode ser uma coluna ali mesmo agora, se vier para a luz e caminhar nela. Deus o chama novamente. Ele busca alcançá-lo, conquanto cingido com egoísmo como se acha, e envolvido com os cuidados desta vida. Ele o convida a retirar suas afeições do mundo e a colocá-las sobre coisas celestiais. A fim de conhecer a vontade de Deus, você deve estudá-la ao invés de seguir as próprias inclinações e a tendência natural da sua mente. "Que queres que te faça?" (Lucas 18:41) deve ser a ardente e ansiosa indagação de seu coração. T4 54 1 O peso da ira de Deus descerá sobre aqueles que desperdiçaram o seu tempo e serviram a Mamom, em vez de seu Criador. Se viver para Deus e para o Céu, apontando o caminho da vida para outros, avançará para a frente e para cima rumo a mais elevados e santas alegrias. Será recompensado com o "bem está, servo bom e fiel. ... Entra no gozo do teu Senhor". Mateus 25:21. A alegria de Cristo foi a de ver almas redimidas e salvas em Seu reino glorioso. "O qual, em troca da alegria que Lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus." Hebreus 12:2. T4 54 2 Ganhar os tesouros deste mundo, e empregá-los como você tem feito para separar suas afeições de Deus, ser-lhe-á no final uma terrível maldição. Você não tira tempo para ler, meditar ou orar. Não tem dedicado tempo para instruir seus filhos, mantendo diante deles seus mais elevados interesses. Deus ama os seus filhos; mas eles têm tido pouco incentivo para viver uma vida religiosa. Se você destruir a fé deles nos Testemunhos, não poderá alcançá-los. A mente de pobres e falíveis mortais deve ser disciplinada e educada em coisas espirituais. Quando a instrução for toda concernente ao mundo, e em obter êxito na aquisição de propriedade, como pode o crescimento espiritual ser atingido? É uma impossibilidade. Você, meu irmão, e sua família poderiam ter crescido à plena estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus se, para aperfeiçoar um caráter cristão e servir ao Senhor, tivessem demonstrado metade do interesse que tiveram em servir ao mundo. T4 54 3 Deus não está contente de que Seus servos ignorem Sua divina vontade, sejam aprendizes em entendimento espiritual mas sábios em sabedoria e conhecimento mundanos. Seu interesse terreno não tem comparação com seu bem-estar eterno. Deus tem uma obra mais elevada para você fazer, do que a de adquirir propriedade. É necessário que seja realizada uma obra profunda e completa em seu favor. Sua família inteira precisa dela, e que Deus possa ajudar a todos a atingir a perfeição do caráter cristão. Os seus filhos podem e devem ser uma bênção para os jovens de sua comunidade. Pelo exemplo deles, por suas palavras e ações, podem glorificar a seu Pai celestial e adornar a causa da religião. ------------------------Capítulo 6 -- Verdadeira benevolência T4 55 1 Prezados irmão e irmã F: T4 55 2 Tentarei agora escrever o que me foi apresentado com relação a vocês; pois sinto ser tempo para esta igreja pôr em ordem o coração, e realizar uma diligente obra para a eternidade. Vocês dois amam a verdade e desejam obedecer-lhe; mas falta-lhes experiência. Foi-me revelado que seriam colocados sob circunstâncias em que seriam provados e testados, e que seriam revelados traços de caráter que não estavam cientes de possuir. T4 55 3 Muitos que nunca foram colocados em posições de prova parecem ser excelentes cristãos, sua vida parece impecável; mas Deus vê que eles têm traços de caráter que precisam ser-lhes revelados antes que os possam perceber e corrigir. Simeão profetizou sob inspiração do Espírito Santo e declarou a Maria com respeito a Jesus: "Eis que Este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para sinal que é contraditado (e uma espada traspassará também a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações." Lucas 2:34, 35. Na providência de Deus, somos colocados em diferentes posições para exercitar qualidades mentais destinadas a desenvolver o caráter sob uma variedade de circunstâncias. "Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos." Tiago 2:10. Cristãos professos podem viver de maneira normal no que respeita à aparência exterior; mas quando uma mudança de circunstâncias os lança em posições inteiramente diferentes, fortes traços de caráter são descobertos, os quais teriam permanecido ocultos caso o seu meio ambiente continuasse o mesmo. T4 56 1 Foi-me mostrado que vocês possuem traços contra os quais devem guardar-se estritamente. Estarão em perigo de considerar a sua prosperidade e a sua conveniência sem levar em conta a prosperidade de outros. Vocês não possuem espírito de abnegação que se assemelhe ao grande Exemplo. Devem cultivar a benevolência, que os levará a maior harmonia com o Espírito de Cristo em Sua desinteressada benevolência. Precisam ter mais simpatia humana. Esta é uma qualidade de nossa natureza que Deus concedeu para nos tornar caridosos e bondosos àqueles com quem somos postos em contato. Nós a encontramos em homens e mulheres cujo coração não se acha em sintonia com Cristo, e é triste ver que Seus professos seguidores têm falta desse grande elemento essencial do cristianismo. Não copiam o Modelo, e é impossível que reflitam a imagem de Jesus em sua vida e conduta. T4 56 2 Quando a simpatia humana está misturada com amor e com benevolência, e santificada pelo Espírito de Jesus, torna-se um elemento capaz de produzir grande bem. Os que cultivam a beneficência não estão apenas fazendo uma boa obra em favor de outros, e abençoando os que recebem a boa ação, mas estão beneficiando a si mesmos ao abrirem o coração à benéfica influência da verdadeira beneficência. Cada raio de luz lançado sobre outros será refletido sobre nosso próprio coração. Cada palavra de bondade e simpatia proferida aos tristes, cada ação que vise aliviar os oprimidos, e cada doação para suprir as necessidades de nossos semelhantes, dados ou feitos para glorificar a Deus, resultarão em bênçãos para o doador. Os que assim trabalham, estão obedecendo a uma lei do Céu e receberão a aprovação de Deus. O prazer de fazer o bem aos outros comunica aos sentimentos calor que atravessa os nervos, aviva a circulação do sangue e promove saúde mental e física. T4 56 3 Jesus conhecia a influência da beneficência sobre o coração e a vida do benfeitor e procurou imprimir na mente de Seus discípulos os benefícios a serem motivados pelo exercício desta virtude. Ele disse: "Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber." Atos dos Apóstolos 20:35. Ele ilustra o espírito de alegre beneficência que deve ser exercido no interesse dos amigos, vizinhos e estrangeiros através da parábola do homem que ia de Jerusalém para Jericó e caiu entre ladrões, "os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto". Lucas 10:30. T4 57 1 Não obstante a exaltada profissão de religiosidade feita pelo sacerdote e o levita, o coração deles não estava movido de piedosa compaixão pelo sofredor. Um samaritano que não reivindicava tão elevadas pretensões de justiça passou por aquele caminho; e quando viu a necessidade do estranho, não o considerou com mera curiosidade apática, mas viu um ser humano em angústia, e sua compaixão foi despertada. Imediatamente "aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele". E na manhã seguinte deixou-o por conta do hospedeiro, afirmando que pagaria todas as despesas quando voltasse. Cristo pergunta: "Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai e faze da mesma maneira." Lucas 10:34, 36, 37. T4 57 2 Neste ponto Jesus desejava ensinar aos discípulos as obrigações morais existentes entre o homem e seu semelhante. Quem quer que negligencie praticar os princípios ilustrados por esta lição não é um observador dos mandamentos, mas, à semelhança do levita, quebra a lei de Deus que pretende reverenciar. Há alguns que, como o samaritano, não fazem pretensão de exaltada religiosidade, contudo conservam elevada percepção de suas obrigações para com os semelhantes, e demonstram muito mais caridade e bondade do que muitos que professam grande amor a Deus, mas deixam de praticar boas obras para com as Suas criaturas. T4 58 3 Os que verdadeiramente amam ao próximo como a si mesmos, reconhecem sua responsabilidade e as reivindicações que a humanidade sofredora lhes impõe, e levam a cabo os princípios da lei de Deus em seu viver diário. "E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás." Lucas 10:25-28. Cristo aqui mostra ao doutor da lei que amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós mesmos é o verdadeiro fruto da piedade. "Faze isto", disse Ele, não meramente crer, mas fazer, "e viverás". O que torna alguém cristão não é a mera crença professada nas reivindicações obrigatórias da lei de Deus, mas também o cumprimento dessa lei. T4 58 1 Na parábola, Cristo exalta o samaritano acima do sacerdote e do levita, que eram grandes defensores da letra da lei dos Dez Mandamentos. Um obedecia ao espírito desses mandamentos, enquanto os outros contentavam-se em professar e exaltar a fé neles; mas o que é a fé sem as obras? Quando os defensores da lei de Deus plantam os pés firmemente sobre os seus princípios, revelando que não são apenas leais de nome, mas leais de coração, cumprindo em seu viver diário o espírito dos mandamentos de Deus e exercendo verdadeira benevolência ao homem, então terão poder moral para mover o mundo. É impossível aos que professam fidelidade à lei de Deus representar corretamente os princípios desse sagrado decálogo enquanto menosprezam esses santos preceitos de amar a seu próximo como a si mesmos. T4 58 2 O mais eloqüente sermão que pode ser pregado a respeito da lei dos Dez Mandamentos é praticá-los. A obediência deve ser tornada um dever pessoal. A negligência desse dever é flagrante pecado. Deus nos coloca sob obrigações não só de assegurar o Céu para nós mesmos, mas sentir como um dever mostrar a outros o caminho, e, através de nosso cuidado e amor desinteressado, conduzir a Cristo aqueles que entram na esfera de nossa influência. A ausência singular de princípio que caracteriza a vida de muitos professos cristãos é alarmante. O seu desrespeito pela lei de Deus desanima os que reconhecem suas sagradas reivindicações, e tende a desviar da verdade os que de outro modo a aceitariam. T4 59 1 A fim de obter um conhecimento apropriado de nós mesmos, é necessário olhar no espelho, e ali descobrir nossos próprios defeitos, valer-nos do sangue de Cristo, a fonte aberta para o pecado e a impureza, em que podemos lavar nossas vestes de caráter e remover as manchas do pecado. Mas muitos recusam ver seus erros e corrigi-los; não desejam ter verdadeiro conhecimento de si mesmos. T4 59 2 Se desejarmos alcançar elevadas metas em excelência moral e espiritual, devemos viver em função disso. Estamos sob obrigação pessoal para com a sociedade de fazer isso, a fim de continuamente exercer influência em favor da lei de Deus. Devemos deixar nossa luz brilhar de tal modo que todos possam ver que o sagrado evangelho está tendo influência sobre nosso coração e vida, de que andamos em obediência a seus mandamentos e não violamos nenhum de seus princípios. Somos em grande medida responsáveis perante o mundo pela salvação dos que nos rodeiam. Nossas palavras e atos estão constantemente falando em favor ou contra Cristo e aquela lei que Ele veio à Terra vindicar. Seja visto pelo mundo que nós não somos egoistamente restritos a nós mesmos em nossos exclusivos interesses e prazeres religiosos, mas liberais, e desejamos partilhar nossas bênçãos e privilégios através da santificação da verdade. Seja visto por eles que a religião que professamos não fecha as avenidas da alma nem as congela, tornando-nos incompassivos e exigentes. Que todos os que professam possuir a Cristo ministrem como Ele o fazia, para benefício do homem, nutrindo um espírito de sábia benevolência. Veremos então muitas pessoas seguindo a luz que provém de nosso preceito e exemplo. T4 59 3 Devemos todos cultivar disposição amável, sujeitando-nos ao controle da consciência. O espírito da verdade transforma em melhores homens e mulheres aqueles que o recebem no coração. Ele atua qual fermento, até que o ser todo seja posto em conformidade com os seus princípios. Abre o coração que foi congelado pela avareza; abre a mão que sempre se manteve cerrada ao sofrimento humano; e caridade e bondade são vistos como seus frutos. T4 59 4 Deus requer que todos nós sejamos obreiros abnegados. Toda parte da verdade tem uma aplicação prática para nosso viver diário. Benditos são os que ouvem a Palavra de Deus e a observam. Ouvir não é suficiente; devemos agir, devemos fazer. "Em... guardar" os mandamentos "há grande recompensa". Salmos 19:11. Os que dão demonstração prática de beneficência por seus atos de simpatia e compaixão para com os pobres, os sofredores e desafortunados, não só aliviam os sofredores mas contribuem grandemente para a própria felicidade, e estão no caminho que assegura a saúde da alma e do corpo. Isaías assim descreveu claramente a obra que Deus aceitará e pela qual abençoará o Seu povo: T4 60 1 "Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-me aqui; acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo e o falar vaidade; e, se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:6-11. T4 60 2 A afinidade que existe entre a mente e o corpo é muito grande. Se um é afetado, o outro se ressente. O estado mental tem muito que ver com a saúde física. Se a mente está despreocupada e contente, sob a consciência do dever cumprido e com certo senso de satisfação por proporcionar felicidade a outros, isto criará uma alegria que reagirá sobre todo o organismo, produzindo mais perfeita circulação do sangue e o fortalecimento de todo o corpo. A bênção de Deus é um remédio; e os que são generosos em beneficiar a outros, experimentarão essa maravilhosa bênção no próprio coração e vida. T4 61 1 Se os seus pensamentos, prezados irmã e irmão, fossem direcionados mais no rumo de cuidar de outros, sua alma receberia maiores bênçãos. Vocês dois revelam muito pouco interesse humanitário. Não direcionam seus sentimentos às necessidades alheias. Mantêm-se demasiado rígidos e incompassivos. Tornaram-se severos, exigentes e dominadores. Estão em perigo de se tornarem consciência para outros. Vocês têm idéias próprias acerca de decência e deveres cristãos, e se põem a avaliar outros por essas idéias; isso está ultrapassando os limites do que é correto. T4 61 2 Outras pessoas têm opiniões e assinalados traços de caráter que não podem ser assimilados por seus pontos de vista peculiares. Vocês têm defeitos e faltas tanto quanto os seus irmãos e irmãs, e é bom recordar isso quando surge uma diferença. Os erros que vocês cometem são tão opressivos para eles quanto lhes são os deles, e devem ser mais tolerantes para com eles como desejam que sejam para com vocês. Ambos precisam ter maior amor e simpatia por outros -- amor e simpatia semelhantes à ternura de Jesus. No próprio lar vocês devem exercer bondade, falando delicadamente com seu filho, tratando-o afetuosamente, e evitando reprová-lo por todo pequeno erro, a fim de que não se torne endurecido por contínuas censuras. T4 61 3 Devem cultivar a caridade e a longanimidade de Cristo. Por um espírito vigilante e desconfiado com respeito aos motivos e conduta de outros, vocês freqüentemente anulam o bem que realizaram. Estão abrigando um sentimento que é deprimente em sua influência, que causa repulsa, mas não atrai nem conquista. Devem propor-se ser tão submissos e tolerantes em sua disposição quanto desejam que os outros sejam. O amor egoísta de seus métodos e opiniões destruirá, em grande medida, o poder que vocês têm de fazer o bem que desejam. T4 61 4 Irmã F, você tem um desejo muito forte de dominar. A irmã é muito sensível; se sua vontade for contrariada, sente-se muito ofendida; o eu se exalta pronto a defender-se, pois você não tem espírito manso, capaz de aprender. Você precisa vigiar cuidadosamente neste ponto; em resumo, precisa de uma total conversão antes que sua influência possa ser o que deve. O espírito que você manifesta a tornará infeliz se continuar a acariciá-lo. Verá os erros dos outros e se revelará tão ansiosa em corrigi-los que passará por alto as próprias faltas, e terá muito trabalho em remover o argueiro no olho do seu irmão enquanto há uma trave obstruindo sua visão. Deus não deseja que você faça de sua consciência um critério para os outros. Tem um dever a cumprir, isto é, tornar-se alegre e cultivar a abnegação em seus sentimentos, até que seja seu maior prazer tornar felizes a todos os que a rodeiam. T4 62 1 Vocês dois precisam suavizar o coração e ser imbuídos do Espírito de Cristo a fim de que possam, enquanto vivem em uma atmosfera de contentamento e benevolência, ajudar aqueles ao seu redor a serem saudáveis e felizes também. Têm imaginado que o contentamento não se harmoniza com a religião de Cristo. Isso é um erro. Podemos ter verdadeira dignidade cristã e ao mesmo tempo ser alegres e amáveis em nosso comportamento. Alegria sem leviandade é uma das graças cristãs. Devem guardar-se contra a adoção de uma visão estreita sobre religião, ou limitarão a sua influência e se tornarão infiéis mordomos de Deus. T4 62 2 Deixem de repreender e censurar. Vocês não estão aptos a reprovar. Suas palavras apenas ferem e entristecem; não curam nem reformam. Devem vencer o hábito de criticar pequenas coisas que julgam erradas. Sejam tolerantes, generosos e caridosos no julgamento de pessoas e coisas. Abram o coração à luz. Lembrem-se de que o Dever tem um irmão gêmeo -- o Amor; unidos, ambos podem realizar quase tudo; mas, separados, nenhum é capaz de fazer o bem. T4 62 3 É certo desejarem ambos cultivar a integridade e serem verdadeiros a sua percepção do direito. O caminho reto do dever deve ser o de sua escolha. O amor pelos bens, o amor dos prazeres e amizades, nunca deve influenciá-los a sacrificar um princípio do direito. Vocês devem ser firmes em seguir os ditames de uma consciência esclarecida e suas convicções do dever; mas também guardar-se contra a intolerância e o preconceito. Não adotem um espírito farisaico. T4 63 1 Vocês agora estão lançando sementes no grande campo da vida; um dia colherão aquilo que agora semearem. Cada pensamento de sua mente, cada emoção de sua alma, cada palavra de sua língua, cada ação que praticarem é semente que produzirá frutos para o bem ou para o mal. O tempo da colheita não está muito distante. Todas as nossas obras estão sendo passadas em revista perante Deus. Todas as nossas ações e motivos que as inspiraram devem ser abertos à inspeção dos anjos e de Deus. T4 63 2 Vocês devem, tanto quanto possível, pôr-se em harmonia com seus irmãos e irmãs. Devem render-se a Deus, e deixar de manifestar severidade e disposição de criticar. Devem sujeitar o próprio espírito, revestindo-se do espírito do querido Salvador. Esforcem-se por agarrar-Lhe a mão, a fim de que esse contato os eletrize, carregando-os das suaves propriedades de Seu incomparável caráter. Vocês podem abrir o coração ao Seu amor, e deixar que Seu poder os transforme e Sua graça seja sua força. Então, exercerão poderosa influência para o bem. Sua força moral estará à altura da mais severa prova de caráter. Pura e santificada será a sua integridade. "Então, romperá a tua luz como a alva." Isaías 58:8. T4 63 3 Ambos precisam aproximar-se em maior simpatia de outras mentes. Cristo é o nosso exemplo; Ele identificou-Se com a humanidade sofredora; considerava as necessidades dos outros como Suas. Quando Seus irmãos sofriam, Ele sofria com eles. Qualquer falha ou negligência de Seus discípulos é o mesmo que fosse feita ao próprio Cristo. Assim, Ele diz: "Porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber." Mateus 25:42. T4 63 4 Prezados irmão e irmã, vocês devem buscar obter caráter mais harmonioso. A ausência de uma qualificação essencial pode tornar as restantes quase ineficazes. Os princípios que professam devem ser levados a todo pensamento, palavra e ato. O eu deve ser crucificado e o ser inteiro subordinado ao Senhor. T4 63 5 A igreja é grandemente deficiente em amor e compaixão. Alguns mantêm uma fria, indiferente reserva, uma dignidade férrea, que repele os que são trazidos para o círculo de sua influência. Esse espírito é contagioso; cria uma atmosfera que é destruidora dos bons impulsos e boas resoluções; sufoca a corrente natural de simpatia humana, a cordialidade e o amor; e sob sua influência o povo se torna constrangido, e seus atributos sociais e generosos são destruídos por falta de exercício. Não só é afetada a saúde espiritual, mas a saúde física sofre por essa depressão antinatural. A tristeza e frieza dessa atmosfera anti-social são refletidas no semblante. O rosto dos que são benévolos e compassivos brilhará com o fulgor da verdadeira bondade, ao passo que os que não acalentam pensamentos bondosos e motivos altruístas expressam no rosto os sentimentos abrigados no coração. T4 64 1 Irmã F, os seus sentimentos para com sua irmã não são exatamente como Deus gostaria que fossem. Ela precisava de afeição fraternal de sua parte, e menos censuras e exigências. Sua conduta para com ela tem causado depressão de espírito e ansiedade mental prejudiciais a sua saúde. Seja cuidadosa para não oprimir e desencorajar sua própria irmã. Você não pode suportar nada que dela proceda; ressente-se de qualquer coisa que ela diz que pareça contrariá-la. T4 64 2 Sua irmã tem um temperamento positivo. Tem uma obra a cumprir por si mesma nesse aspecto. Ela deve ser mais submissa; mas você não deve esperar exercer influência benéfica sobre ela enquanto for tão exigente e tão deficiente em amor e simpatia para com alguém que mantém com você um relacionamento tão próximo quanto o de uma irmã, e lhe é também unida pela fé. Ambas erraram. Ambas deram margem ao inimigo, e o eu tem tido muito a ver com os sentimentos e ações de uma para com a outra. T4 64 3 Irmã F, você tem inclinação para dar ordens ao seu marido, a sua irmã e a todos ao seu redor. Sua irmã tem sofrido muito mentalmente. Ela poderia ter suportado isso caso tivesse se submetido a Deus e nEle confiado; mas Deus está desgostoso com a sua atitude para com ela. É uma atitude antinatural e inteiramente errônea. Ela não é mais inflexível em sua disposição do que você na sua. Quando dois temperamentos assim positivos entram em contato, isso é muito prejudicial para ambos. Cada uma deve converter-se novamente e ser transformada à semelhança divina. Se errarem, que o seja do lado da misericórdia e da longanimidade, e não da intolerância. T4 65 1 As censuras brandas, as respostas suaves e as palavras agradáveis são muito mais apropriadas para reformar e salvar do que a severidade e aspereza. Um pouco mais de falta de bondade poderá colocar as pessoas além de seu alcance, ao passo que um espírito conciliatório seria o meio de as prender a você, sendo-lhe então possível confirmá-las no bom caminho. Você deve também ser movida por um espírito perdoador, e dar o devido valor a todo bom desígnio e ação dos que a rodeiam. Profira palavras de elogio a seu marido, seu filho, sua irmã e a todos com quem se associa. A contínua censura arruína e entenebrece a vida de qualquer um. T4 65 2 Não traga desonra à religião cristã por ciúmes e intolerância para com outros. Isso apenas lhes transmitirá um pobre conceito de suas crenças. Ninguém jamais foi resgatado de uma posição errada por censura e reprovação; mas muitos foram assim desviados da verdade, e têm endurecido o coração contra a convicção. Um espírito terno, uma atitude gentil e conquistadora, pode salvar o errante e cobrir "uma multidão de pecados". Tiago 5:20. Deus requer que tenhamos aquele amor que "é paciente, é benigno". 1 Coríntios 13:4. T4 65 3 A religião de Cristo não exige que renunciemos a nossa identidade de caráter, mas simplesmente que nos adaptemos, até certo ponto, aos sentimentos e maneiras dos outros. Podem-se juntar em uma unidade de fé religiosa muitas pessoas cujas opiniões, hábitos e gostos em coisas temporais não se acham em harmonia; se, porém, o amor de Cristo lhes arde no peito, e elas esperam o mesmo Céu como lar eterno, podem fruir a mais aprazível e inteligente comunhão e a mais admirável das uniões. Dificilmente há duas pessoas cuja vida seja semelhante em todos os pormenores. As provas de uma talvez não sejam as da outra, e nosso coração deve sempre se abrir em bondosa simpatia e inflamar-se com o amor que Jesus teve por todos os Seus irmãos. T4 66 1 Vençam sua disposição de ser exigentes com o filho, para que o freqüente reprovar não lhe torne sua presença desagradável, e aborrecíveis seus conselhos. Unam-no ao coração, não por meio de imprudente condescendência, mas pelos suaves laços do amor. Vocês podem ser firmes e ao mesmo tempo bondosos. Cristo deve ser seu ajudador. O amor será o meio de atrair outros corações ao seu, e sua influência os poderá estabelecer no caminho bom e reto. T4 66 2 Eu os tenho advertido contra o espírito de censura, e novamente desejo adverti-los acerca dessa falta. Por vezes Cristo reprovava com severidade, e em alguns casos talvez seja necessário que nós o façamos; devemos considerar, no entanto que, ao passo que Cristo conhecia a condição exata das pessoas repreendidas, e a soma de reprovação que elas podiam suportar e o que era necessário para lhes corrigir a conduta errônea, sabia também exatamente a maneira de Se compadecer dos errantes, confortar os desafortunados e animar os fracos. Sabia perfeitamente como preservar as pessoas do desalento e inspirar-lhes esperança, porquanto estava relacionado com os motivos exatos e as provações peculiares de todas as mentes. Ele não Se enganava. T4 66 3 Mas nós podemos julgar erradamente os motivos; podemos enganar-nos com as aparências; podemos pensar que estamos agindo corretamente ao reprovar o erro, e seguir em frente, censurar com muita severidade, e ferir onde gostaríamos de curar; ou podemos exercer simpatia insensatamente, e contrariar, em nossa ignorância, a reprovação que é merecida e oportuna. Nosso julgamento pode estar errado; mas Jesus era sábio demais para errar. Ele reprovava com misericórdia e amava com amor divino aqueles a quem repreendia. T4 66 4 O Senhor requer de nós sermos submissos a Sua vontade, subjugados pelo Seu Espírito e santificados para o Seu serviço. O egoísmo deve ser descartado e devemos vencer todo defeito em nosso caráter, tal como Cristo venceu. A fim de realizar esta obra, devemos morrer diariamente para o eu. Declarou Paulo: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. Ele experimentava uma nova conversão cada dia e dava um passo adiante rumo ao Céu. Obter vitórias diárias na vida religiosa é a única conduta que Deus aprova. O Senhor é gracioso, de terna piedade e pleno de misericórdia. Ele conhece nossas necessidades e fraquezas, e nos ajudará em nossas enfermidades se apenas nEle confiarmos e crermos que nos abençoará e fará grandes coisas por nós. ------------------------Capítulo 7 -- Coobreiros de Cristo T4 67 1 O tempo decorrido durante e depois da reunião de tenda de 1874 foi de importância para _____. Caso houvesse cômoda e espaçosa casa de culto ali, mais do dobro das pessoas reunidas haveriam tomado decisão em favor da verdade. Deus atua com os nossos esforços. Por nossa negligência e egoísmo podemos fechar o caminho aos pecadores. Devia ter havido grande diligência em buscar salvar os que ainda estavam em erro, mas que se interessaram na verdade. Necessita-se no serviço de Cristo tão sábia liderança como nos batalhões de um exército que protege a vida e a liberdade do povo. Não é qualquer um que pode trabalhar criteriosamente pela salvação de almas. É preciso pensar muito rigorosamente. Importa que não entremos na obra do Senhor a esmo e esperemos sucesso. O Senhor necessita de homens de entendimento, homens que pensem. Jesus chama coobreiros, não desatinados. Deus quer homens de reto pensar e inteligentes para fazer a grande obra necessária para a salvação de almas. T4 67 2 Os mecânicos, advogados, comerciantes, homens de toda espécie de profissões e negócios se preparam a fim de se assenhorearem de seu trabalho. Enquanto professamente empenhados no serviço de Cristo, devem Seus seguidores ser menos inteligentes e ignorantes acerca dos métodos e recursos a serem empregados? O empreendimento de alcançar a vida eterna está acima de qualquer consideração terrena. Para conduzir almas a Jesus é preciso ter certo conhecimento da natureza humana e estudar a mente dos homens. Importa dedicarmos muita reflexão e fervorosa oração a fim de saber a melhor maneira de aproximar-nos de homens e mulheres no que respeita ao grande tema da verdade. T4 68 1 Algumas almas precipitadas, impulsivas, se bem que sinceras, depois de ouvirem incisivas pregações, abordarão os que não pertencem à nossa fé de maneira demasiado abrupta, tornando assim a verdade que desejamos vê-los aceitar repulsiva aos olhos deles. "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz." Lucas 16:8. Os homens de negócios e os políticos estudam cortesia. Faz parte de seu método tornarem-se tão atraentes quanto possível. Estudam a fim de tornarem seus discursos e maneiras tais que lhes proporcionem a máxima influência sobre a mente dos que os rodeiam. Para alcançar esse objetivo, empregam o mais habilmente possível seus conhecimentos e aptidões. T4 68 2 Grande é a quantidade de lixo acumulada por professos crentes em Cristo, o qual bloqueia o caminho para a cruz. Apesar de tudo isso, alguns há que ficam tão profundamente convictos, que superarão tudo o que desanime, transporão todo obstáculo a fim de chegar à verdade. Houvessem, porém, os crentes nessa verdade purificado a mente pela obediência à mesma, houvessem compreendido a importância do conhecimento e das boas maneiras na obra de Cristo, poder-se-iam haver salvo vinte almas onde se salvou apenas uma. T4 68 3 Além disso, depois de as pessoas terem se convertido à verdade, é necessário que sejam cuidadas. Parece que o zelo de muitos pastores esmorece assim que alcançam certa medida de êxito em seus esforços. Não compreendem que os novos conversos necessitam ser atendidos -- vigilante atenção, auxílio e animação. Não devem ser deixados a si mesmos, presa das mais fortes tentações de Satanás; eles precisam ser instruídos com relação a seus deveres, ser bondosamente tratados, conduzidos e visitados, orando-se com eles. Essas almas necessitam do alimento dado a seu tempo a cada ser humano. T4 68 4 Não admira que alguns desanimem, retardem-se pelo caminho e sejam deixados por presa aos lobos. Satanás se acha no encalço de todos. Ele envia seus agentes para levarem de volta a suas fileiras as almas que perdeu. Deve haver mais pais e mães para tomarem ao coração esses bebês na verdade, e animá-los e orar por eles para que sua fé não seja confundida. T4 69 1 Pregar é uma pequena parte da obra a ser feita pela salvação de almas. O Espírito de Deus convence os pecadores acerca da verdade, e os coloca nos braços da igreja. Os pastores podem fazer sua parte, mas nunca poderão efetuar a obra que deve ser feita pela igreja. Deus requer que a igreja cuide dos que são novos na fé e na experiência, que vá ter com eles, não no intuito de tagarelar com eles, mas de orar, de dirigir-lhes palavras que sejam "como maçãs de ouro em salvas de prata". Provérbios 25:11. T4 69 2 Todos nós necessitamos estudar o caráter e as maneiras, a fim de sabermos lidar adequadamente com as diferentes pessoas e usar os melhores esforços para ajudá-las a ter correta compreensão da Palavra de Deus, e chegar a uma genuína vida cristã. Devemos ler a Bíblia com elas, desviando-lhes a mente das coisas temporais para seus interesses eternos. É dever dos filhos de Deus serem-Lhe missionários, familiarizarem-se com os que precisam de auxílio. Se alguém está coxeando sob a tentação, seu caso deve ser considerado cuidadosamente e tratado com sabedoria; pois se acha em jogo seu interesse eterno, e as palavras e atos dos que estão trabalhando por ele podem ser um "cheiro de vida para vida", ou "de morte para morte". 2 Coríntios 2:16. T4 69 3 Apresenta-se por vezes um caso que deve ser tornado objeto de estudo apoiado por oração. É preciso mostrar-se à pessoa seu verdadeiro caráter, que ela compreenda as peculiaridades de disposição e temperamento que tem, e veja suas fraquezas. É mister lidar com ela criteriosamente. Caso seja acessível, se o coração se lhe comove por esse trabalho sábio e paciente, poderá ser ligada a Cristo por fortes laços, e levada a confiar em Deus. Oh! quando se faz uma obra assim, toda a corte celeste a contempla e se regozija; pois uma alma preciosa foi liberta dos laços do inimigo e salva da morte! Não valerá a pena trabalhar inteligentemente pela salvação de almas? Cristo pagou por elas o preço da própria vida, e hão de Seus seguidores perguntar: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Não trabalharemos em harmonia com o Mestre? Não apreciaremos o valor de almas por quem nosso Salvador morreu? T4 69 4 Têm-se feito alguns esforços para interessar as crianças na causa, mas não suficientemente. Nossas Escolas Sabatinas devem ser mais atrativas. As escolas públicas, nos últimos anos, aperfeiçoaram grandemente seus métodos de ensino. Lições práticas, gravuras e quadros-negros estão sendo usados a fim de esclarecer à mente das crianças as lições difíceis. Da mesma forma a verdade presente pode ser simplificada e tornada intensamente interessante à mente ativa das crianças. T4 70 1 Pais que de outro modo não seriam alcançados, são-no com freqüência por meio de seus filhos. Os professores da Escola Sabatina podem instruir as crianças na verdade, e essas, por sua vez, a levarão ao círculo doméstico. Poucos professores, no entanto, parecem compreender a importância desse ramo da obra. Os métodos de ensino com tanto êxito adotados nas escolas públicas podem ser empregados com idênticos resultados nas Escolas Sabatinas, sendo o meio de levar crianças a Jesus e educá-las na verdade bíblica. Isto fará incomparavelmente maior bem do que a promoção religiosa de caráter emocional, que passa tão prontamente como vem. T4 70 2 Importa nutrir o amor de Cristo. É preciso mais fé na obra que acreditamos deva ser feita antes da vinda de Jesus. Deve haver mais abnegação, mais esforço feito com sacrifício na devida direção. Importa também que haja atento estudo apoiado por oração quanto à maneira de trabalhar para obter os melhores resultados. Planos cuidadosos devem ser amadurecidos. Há entre nós mentes capazes de inventar e executar, se tão-somente forem exercitadas. Grandes seriam os resultados de esforços bem dirigidos e inteligentes. T4 70 3 As reuniões de oração devem ser as mais interessantes a serem realizadas; são muitas vezes, porém, fracamente dirigidas. Muitos assistem ao culto de pregação, mas negligenciam as reuniões de oração. Nisso também se exige reflexão. Precisamos buscar sabedoria de Deus, e fazer planos para dirigir essas reuniões de maneira a torná-las interessantes e atrativas. O povo tem fome do pão da vida. Se o encontrarem na reunião de oração, ali irão para recebê-lo. T4 70 4 Longas e fastidiosas palestras e orações são inadequadas em qualquer parte, e especialmente na reunião de oração. Os que são desinibidos e sempre prontos a falar, tomam a liberdade de sacrificar o testemunho dos tímidos e retraídos. Os mais superficiais têm, geralmente, mais a dizer. Longas e mecânicas são suas orações. Fatigam os anjos e as pessoas que os escutam. Nossas orações devem ser breves e diretas. Que as longas e enfadonhas petições fiquem para nosso aposento particular, caso alguém queira fazer alguma dessa espécie. Deixem que o Espírito de Deus lhes entre no coração, e Ele expelirá dali toda árida formalidade. T4 71 1 A música pode ser uma grande força para o bem; não aproveitamos, entretanto, ao máximo esse aspecto da adoração. O canto é feito em geral por impulso ou para atender a casos especiais, e outras vezes é permitido que os cantores continuem errando, e a música perde o devido efeito na mente dos presentes. A música deve ter beleza, suavidade e poder. Ergam-se as vozes em hinos de louvor e devoção. Utilizem em seu auxílio, se possível, a música instrumental, e deixem ascender a Deus a gloriosa harmonia, em oferta aceitável. T4 71 2 Mas, por vezes, é mais difícil disciplinar os cantores e mantê-los na devida ordem do que aperfeiçoar os hábitos de oração e exortação. Muitos querem fazer as coisas a seu próprio modo; fazem objeções aos conselhos e impacientam-se sob liderança. No serviço de Deus necessitam-se planos bem amadurecidos. O bom senso, eis uma coisa excelente na adoração ao Senhor. Devem-se consagrar a Cristo as faculdades do pensamento, idealizando-se métodos e recursos para servi-Lo melhor. A igreja de Deus, que está procurando fazer o bem vivendo a verdade e buscando salvar almas, pode ser uma força no mundo, caso seus membros sejam disciplinados pelo Espírito do Senhor. Não devem achar que podem trabalhar negligentemente para a eternidade. T4 71 3 Perdemos muito, como povo, por falta de simpatia e sociabilidade uns com os outros. O que fala de independência e se fecha em si mesmo não está preenchendo o lugar que lhe foi designado por Deus. Somos filhos de Deus, dependendo mutuamente uns dos outros quanto à felicidade. Impendem sobre nós os reclamos de Deus e da humanidade. Todos nós precisamos desempenhar nossa parte nesta vida. É o devido cultivo dos elementos sociais de nossa natureza que nos põe em simpatia com nossos irmãos e nos proporciona felicidade em nossos esforços por beneficiar os outros. A felicidade do Céu consistirá na pura comunhão de seres santos -- a harmoniosa vida social com os benditos anjos e com os remidos que lavaram seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Não nos podemos sentir felizes enquanto nos encerramos em nossos próprios interesses. Devemos viver neste mundo para ganhar almas para o Salvador. Se ofendemos os outros, prejudicamos a nós mesmos. Se os beneficiamos, somos nós mesmos beneficiados; pois a influência de toda boa ação se reflete em nosso próprio coração. T4 72 1 Estamos no dever de ajudar-nos uns aos outros. Nem sempre nos pomos em contato com cristãos sociáveis, que sejam amáveis e moderados. Muitos não receberam a devida educação; seu caráter é pervertido, cruel e áspero, e parece ser falso em todos os sentidos. Ao passo que ajudamos essas pessoas a reconhecerem seus defeitos, é preciso termos cautela para não nos impacientar e irritar com as faltas de nossos semelhantes. Há pessoas desagradáveis que professam a Cristo; a beleza da graça cristã, no entanto, transformá-las-á, caso se empenhem diligentemente na obra de obter a mansidão e a gentileza dAquele a quem seguem, lembrando-se de que "nenhum de nós vive para si". Romanos 14:7. Coobreiros de Cristo! Que exaltada posição! Onde se encontrarão os missionários abnegados nessas grandes cidades? O Senhor necessita de obreiros em Sua vinha. Devemos temer privá-Lo do tempo que Ele de nós reclama; temer gastá-lo ociosamente ou em adorno do corpo, aplicando a extravagantes desígnios as horas preciosas que nos são dadas por Deus a fim de as consagrarmos à oração, a nos familiarizarmos com a Bíblia e a trabalhar pelo bem de nossos semelhantes, assim habilitando a nós e a eles para a grande obra que sobre nós está. T4 72 2 As mães dão-se a trabalho desnecessário com roupas para embelezarem a si próprias e a seus filhos. É nosso dever trajar-nos de maneira simples, e vestir os filhos com asseio, sem ornamentos desnecessários, bordados ou exibições, cuidando em não fomentar neles o amor do vestuário que se lhes demonstrará uma ruína, antes buscando cultivar as virtudes cristãs. Nenhum de nós pode ser isento de suas responsabilidades, e de maneira alguma podemos estar sem culpa diante do trono de Deus, a menos que realizemos a obra que o Senhor nos deixou para fazer. T4 73 1 Precisam-se missionários para Deus, homens e mulheres fiéis que não se eximam às responsabilidades. O trabalho feito criteriosamente dará bons resultados. Há verdadeiro trabalho a ser feito. A verdade deve ser levada de forma cuidadosa perante o povo por aqueles que aliam a mansidão à sabedoria. Não nos devemos manter afastados de nossos semelhantes, antes aproximar-nos bem deles; pois sua alma é tão preciosa quanto a nossa. É-nos possível levar-lhes a luz aos lares, pleitear com eles num espírito manso e submisso a Deus para que se elevem ao exaltado privilégio que lhes é oferecido, orar com eles quando parecer oportuno e mostrar-lhes que podem atingir as mais altas realizações, falando-lhes então prudentemente das sagradas verdades para estes últimos dias. T4 73 2 Há entre nosso povo mais reuniões para cantar do que para orar; mas mesmo essas reuniões podem ser dirigidas de maneira tão reverente e todavia tão animada, que possam exercer benéfica influência. Há, porém, demasiado gracejar, conversas ociosas e tagarelice para que esses períodos se tornem salutares, elevando os pensamentos e aperfeiçoando as maneiras. Reavivamentos sensacionalistas T4 73 3 Os interesses em _____ têm estado muito divididos. Ao surgir uma novidade, alguns exercem sua influência em sentido errôneo. Todo homem e toda mulher devem estar alertas quando se espalham enganos destinados a desviar da verdade. Há pessoas sempre prontas a ver e ouvir qualquer coisa nova e estranha; e o inimigo das almas tem nessas grandes cidades muita coisa com que inflamar a curiosidade e manter a mente distraída das grandes e santificadoras verdades para estes últimos dias. T4 73 4 Se todo fervor religioso que paira no ar leva alguns a negligenciarem prestar inteiro apoio, seja pela sua presença, seja pela influência exercida, à minoria que crê na verdade impopular, haverá na igreja muita fraqueza, onde deve haver força. Satanás emprega vários meios para conseguir seus fins; e, se sob o disfarce de religião popular, ele puder desviar pessoas vacilantes e incautas da senda da verdade, muito haverá conseguido quanto a dividir a força do povo de Deus. Esse instável entusiasmo de reavivamento, que vem e vai como a maré, apresenta um exterior ilusório que engana muitas pessoas sinceras, levando-as a crer que seja o verdadeiro Espírito do Senhor. Isso multiplica os conversos. Os de natureza agitada, os fracos e fáceis de ser levados, ajuntam-se em torno de sua bandeira; ao retroceder a onda, no entanto, encontram-se como náufragos na praia. Não sejam eles iludidos por falsos mestres, nem levados por palavras vãs. O inimigo das almas por certo terá suficientes iguarias de fábulas aprazíveis adequadas ao paladar de todos. T4 74 1 Sempre surgirão meteoros flamejantes; mas a esteira luminosa que deixam imediatamente se dissipa, ficando após uma escuridão que parece mais densa que a anterior. Essas manifestações religiosas sensacionais criadas pela narração de anedotas e exibições de excentricidades e singularidades são todas obras superficiais. Os de nossa fé que estão encantados e fascinados por esses lampejos nunca edificarão a causa de Deus. Estão prontos a retirar sua influência ao mais leve motivo, e a induzir outros a assistirem àquelas reuniões onde ouvem o que enfraquece a alma e traz confusão à mente. É o retirar assim o interesse da obra que faz com que a causa de Deus enfraqueça. Precisamos estar firmes na fé; ser inabaláveis. Temos diante de nós a obra que nos cabe realizar -- fazer com que a luz da verdade, tal como se revela na lei de Deus, brilhe sobre outros para desviá-los das trevas. Essa obra requer decidida e perseverante energia e um firme propósito de vencer. T4 74 2 Alguns há na igreja que precisam firmar-se às colunas de nossa fé, aprofundar-se e encontrar um fundamento sólido, em vez de vacilar na superfície da agitação, agindo por impulsos. Há na igreja dispépticos espirituais. Fazem de si mesmos inválidos; sua debilidade espiritual é resultado da própria conduta instável. São atirados daqui para lá, pelos mutáveis ventos de doutrina, ficando freqüentemente confusos e lançados na incerteza por serem inteiramente movidos pelo sentimento. São cristãos sensacionalistas, sempre sedentos de alguma coisa nova e diferente; doutrinas estranhas confundem sua fé e eles são inúteis à causa da verdade. T4 75 1 Deus pede homens e mulheres estáveis, de propósitos firmes, nos quais se possa confiar em tempos de perigo e provação, tão firmemente arraigados e fundados na verdade como as colinas eternas, que não sejam movidos para a direita nem para a esquerda, mas que marchem sempre avante e se encontrem sempre no lado certo. Alguns há que em tempos de perigo religioso quase sempre podem ser procurados nas fileiras do inimigo; se alguma influência exercem, é do lado errado. Não se sentem sob a obrigação moral de dar toda a força à verdade que professam. Esses serão recompensados segundo suas obras. T4 75 2 Os que pouco fazem pelo Salvador para a salvação de almas e em se manterem retos diante de Deus não adquirem muita fibra espiritual. Precisamos empregar continuamente a força que possuímos a fim de que esta se desenvolva e aumente. Como a doença é o resultado da violação das leis naturais, assim é o declínio espiritual resultante de contínua transgressão da lei de Deus. E todavia os próprios transgressores podem professar guardar todos os mandamentos divinos. T4 75 3 Precisamos, para conservar-nos espiritualmente sãos, aproximar-nos mais de Deus, pôr-nos em mais íntima ligação com o Céu e seguir os princípios da lei nas mínimas ações de nossa vida diária. Deus deu a Seus servos aptidões, talentos a serem usados para Sua glória, e não para jazerem inativos ou serem desperdiçados. Ele lhes deu luz e conhecimento de Sua vontade para que fossem comunicados a outros; e assim fazendo, tornamo-nos vivos condutos de luz. Uma vez que não exercitemos nossa força espiritual, tornamo-nos fracos, da mesma maneira que os membros do corpo se debilitam quando o enfermo é forçado a permanecer por longo tempo inativo. É a atividade que vitaliza. T4 75 4 Coisa alguma dará maior resistência espiritual e mais acréscimo de fervor e profundidade de sentir do que visitar e servir os doentes e desanimados, ajudando-os a verem a luz e a firmarem em Jesus a sua fé. Há deveres desagradáveis a serem cumpridos por alguém, do contrário almas serão deixadas a perecer. Os cristãos encontrarão bênçãos em cumprir esses deveres, por desagradáveis que sejam. Cristo empreendeu a penosa tarefa de vir da morada da pureza e glória para viver, como homem entre os homens, em um mundo cauterizado e enegrecido por crime, violência e iniqüidade. E fez isto para salvar almas; hão de os objetos de tão surpreendente amor e incomparável condescendência justificar sua vida de comodidade egoísta? Buscarão o próprio prazer, seguirão suas inclinações e deixarão as almas perecerem nas trevas pelo fato de terem de enfrentar decepções e contrariedades se trabalharem para salvá-las? Cristo pagou preço infinito pela redenção do homem, e há de este dizer: "Meu Senhor, não quero trabalhar em Tua vinha; 'rogo-Te que me hajas por escusado'"? Lucas 14:18. T4 76 1 Deus chama os que estão ociosos em Sião a que se levantem e atuem. Não darão eles ouvidos à voz do Mestre? Ele quer obreiros de oração, fiéis, que semeiem "junto a todas as águas". Isaías 32:20. Os que assim trabalham ficarão surpresos ao verificar que as provas, suportadas resolutamente em nome e na força de Jesus, darão firmeza à fé e renovarão o ânimo. No caminho da obediência humilde, encontram-se segurança e poder, conforto e esperança; a recompensa, porém, será finalmente perdida pelos que nada fazem por Jesus. As mãos fracas serão incapazes de agarrar-se ao Poderoso, os joelhos débeis deixarão de servir de sustentáculos no dia da adversidade. Os obreiros bíblicos e obreiros cristãos receberão a gloriosa recompensa e ouvirão o: "Bem está, servo bom e fiel. ... Entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. Retenção de recursos T4 76 2 A bênção de Deus repousará sobre os que em _____ têm a causa de Cristo no coração. As ofertas voluntárias de nossos irmãos e irmãs, feitas com fé e amor para com o Redentor crucificado, lhes trarão bênçãos em troca; pois Deus observa e Se lembra de todo ato de liberalidade por parte de Seus santos. Ao preparar uma casa de adoração, importa haver grande exercício de fé e confiança em Deus. Nas transações comerciais, os que não arriscam nada, pouco progresso fazem; por que não ter fé também em um empreendimento para Deus e investir em Sua causa? T4 77 1 Quando pobres, alguns são generosos com o pouco que possuem; ao adquirirem propriedades, porém, tornam-se mesquinhos. O motivo de terem tão pouca fé é não se manterem avançando à medida que prosperam, e darem à causa de Deus ainda que seja com sacrifício. T4 77 2 No sistema judaico exigia-se mostrar beneficência para com o Senhor em primeiro lugar. Na colheita e na vindima, os primeiros frutos do campo -- o grão, o vinho e o azeite -- deviam ser consagrados em oferta ao Senhor. As respigas e os cantos dos campos eram reservados para os pobres. Nosso benévolo Pai celeste não negligenciou as necessidades do pobre. Os primeiros frutos da lã, ao serem tosquiadas as ovelhas, e dos cereais, quando o trigo era trilhado, deviam ser oferecidos ao Senhor; e fora ordenado que os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros fossem convidados para seus banquetes. Ao fim de cada ano, exigia-se de todos que fizessem solene juramento quanto a haverem ou não agido segundo o mandamento de Deus. T4 77 3 Essa medida foi tomada pelo Senhor a fim de gravar no povo a idéia de que, em tudo, Ele devia ser o primeiro. Mediante esse sistema de beneficência deviam ter em mente que seu benévolo Senhor era o verdadeiro proprietário dos campos, rebanhos e gados que tinham em seu poder; que o Deus do Céu lhes enviava o sol e a chuva para a sementeira e a sega, e que tudo quanto possuíam era de Sua criação. Tudo era do Senhor, e Ele os fizera mordomos de Seus bens. T4 77 4 A liberalidade dos judeus na construção do tabernáculo e na construção do templo mostra um espírito de beneficência não igualado pelos cristãos de qualquer época posterior. Eles acabavam de ser libertados de sua longa servidão no Egito, e andavam errantes no deserto; todavia, mal foram livrados dos exércitos egípcios que os perseguiam em sua precipitada viagem, veio a Moisés a palavra do Senhor, dizendo: "Fala aos filhos de Israel que Me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta alçada." Êxodo 25:2. T4 78 1 Seu povo possuía poucos bens, e não eram lisonjeiras as perspectivas de aumentá-los; tinham, porém, um objetivo diante de si -- construir um tabernáculo para Deus. O Senhor falara, e deviam obedecer-Lhe à voz. Não retiveram nada. Todos deram com espírito voluntário, não determinada porção de suas posses, mas grande quantidade do que tinham. Devotaram-no voluntária e alegremente ao Senhor, e foram-Lhe agradáveis assim fazendo. Não Lhe pertencia tudo? Não lhes havia Ele dado tudo quanto tinham? Se Ele o pedia, não era seu dever devolver-Lhe o que era Seu? T4 78 2 Não foi preciso insistência. O povo levou ainda mais do que foi solicitado, sendo-lhes dito que parassem, pois já havia mais do que podiam empregar. Outra vez, ao construírem o templo, o pedido de recursos encontrou corações voluntários em corresponder. Não deram com relutância. Regozijavam-se na perspectiva da construção de um edifício para adoração a Deus, e deram mais do que o necessário para esse desígnio. Davi bendisse o Senhor diante de toda a congregação, e disse: "Porque, quem sou eu, e quem é o meu povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas? Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. Noutra parte de sua oração, Davi deu graças nestas palavras: "Senhor, Deus nosso, toda esta abundância que preparamos, para Te edificar uma casa ao Teu santo nome, vem da Tua mão, e é toda Tua." 1 Crônicas 29:16. T4 78 3 Davi compreendia bem de onde lhe vinha toda a abundância. Quem dera que o povo de hoje, que se regozija no amor do Salvador, compreendesse que a prata e o ouro que possuem são do Senhor e devem ser usados de modo a glorificá-Lo, e não retendo-os de má vontade, para enriquecerem e satisfazerem a si mesmos! Ele tem inquestionável direito a tudo quanto emprestou a Suas criaturas. Tudo quanto possuem é dEle. T4 78 4 Há elevados e santos objetivos que exigem recursos; e o dinheiro assim empregado proporcionará ao doador mais elevada e permanente alegria do que se fosse usado em satisfação pessoal ou amontoado egoistamente por ganância de lucro. Quando Deus pede nosso tesouro, seja qual for a importância, a resposta voluntária torna a dádiva uma oferta consagrada a Ele, e deposita no Céu, para o doador, um tesouro que nem a traça nem o fogo consomem, nem os ladrões minam e roubam. É um depósito seguro. O dinheiro é colocado em bolsas que não se rompem; está em segurança. T4 79 1 Podem os cristãos, que se gabam de ter mais luz que os hebreus, dar menos do que eles? Podem os cristãos que vivem próximo ao fim do tempo ficar satisfeitos com suas ofertas, quando não são a metade do que eram as dos judeus? A liberalidade deles devia beneficiar a própria nação; a obra nestes últimos dias abrange o mundo inteiro. A mensagem da verdade deve ir a todas as nações, línguas e povos; suas publicações, impressas em muitas línguas, devem ser espalhadas por toda a parte, como as folhas do outono. T4 79 2 Está escrito: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento." 1 Pedro 4:1. E noutro lugar: "Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:6. Indaguemos: Que faria nosso Salvador em nossas circunstâncias? Quais seriam Seus esforços pela salvação de almas? Esta pergunta é respondida pelo exemplo de Cristo. Ele deixou Sua realeza, pôs de lado a glória que O circundava, sacrificou as riquezas que possuía e revestiu Sua divindade da humanidade a fim de alcançar o homem onde ele se achava. Seu exemplo nos mostra que Ele deu a vida pelos pecadores. T4 79 3 Satanás disse a Eva que um elevado estado de felicidade poderia ser alcançado mediante a satisfação do apetite desenfreado; a promessa de Deus ao homem, entretanto, é mediante a negação do próprio eu. Quando sobre a vergonhosa cruz, Cristo, em agonia, sofria pela redenção do homem, foi exaltada a natureza humana. Unicamente pela cruz pode a família humana ser elevada à ligação com o Céu. A abnegação e cruzes se nos deparam a cada passo em nossa jornada rumo ao Céu. T4 80 1 O espírito de liberalidade é o espírito do Céu; o espírito de egoísmo, o de Satanás. O amor abnegado de Cristo revela-se na cruz. Ele deu tudo quanto tinha, e depois deu a Si mesmo, para que o homem fosse salvo. A cruz de Cristo é um apelo à beneficência de todo discípulo do bendito Salvador. O princípio aí exemplificado é dar, dar. Isto, realizado em verdadeira beneficência e boas obras, é o legítimo fruto da vida cristã. O princípio dos mundanos é adquirir, adquirir, e assim esperam assegurar a felicidade; levado a efeito em todos os sentidos, porém, o fruto desse princípio é miséria e morte. T4 80 2 Levar a verdade a todos os habitantes da Terra, salvá-los da culpa e da indiferença, eis a missão dos seguidores de Cristo. Os homens precisam possuir a verdade, a fim de por ela serem santificados, e nós somos os condutos da luz de Deus. Nossos talentos, recursos e conhecimento não se destinam apenas para nosso benefício; devem ser empregados para a salvação de almas, a fim de erguer o homem de sua vida de pecado e, mediante Cristo, levá-lo ao infinito Deus. T4 80 3 Devemos ser obreiros zelosos nesta causa, buscando levar os pecadores contritos e crentes ao divino Redentor, impressionando-os com exaltado senso do amor de Deus para com o homem. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Que incomparável amor! Assunto para a mais profunda meditação! O surpreendente amor de Deus por um mundo que não O amou! Esse pensamento exerce poder subjugante sobre a alma, e leva a mente cativa à vontade de Deus. Homens loucos por ganho, decepcionados e infelizes em sua perseguição do mundo, necessitam dessa verdade a fim de acalmarem a inquietante fome e sede de sua alma. T4 80 4 Precisam-se, em sua grande cidade, missionários para Deus, a fim de levarem a luz aos que se acham "assentados na... sombra da morte". Mateus 4:16. Necessita-se de mãos experientes que, na mansidão da sabedoria e na força da fé, ergam as almas cansadas ao peito do compassivo Redentor. Oh! o egoísmo! Que maldição! Ele nos impede de empenhar-nos no serviço de Deus. Impede-nos de perceber os reclamos do dever, os quais nos devem inflamar o coração de fervoroso zelo. Todas as nossas energias devem ser voltadas para a obediência a Cristo. Dividir nosso interesse com os dirigentes do erro é ajudar o lado errado e dar vantagem a nossos inimigos. A verdade divina desconhece a transigência com o pecado, a ligação com a astúcia, a aliança com a transgressão. São necessários soldados que sempre respondam à chamada e estejam prontos para ação imediata; não os que, quando deles se necessita, encontram-se auxiliando o inimigo. T4 81 1 Grande é nossa obra. Há, todavia, muitos que professam crer nessas verdades sagradas que se acham paralisados pelos enganos de Satanás, e não estão fazendo nada em favor, antes em prejuízo da causa de Deus. Quando procederão eles como os que esperam pelo Senhor? Quando mostrarão zelo em harmonia com sua fé? Muitas pessoas retêm egoistamente os recursos de que dispõem e acalmam a consciência com a idéia de fazerem alguma coisa pela causa do Senhor depois de sua morte. Fazem testamento doando grande importância à igreja e aos vários ramos de atividade da mesma, e depois sossegam com o pensamento de que fizeram tudo quanto deles é exigido. Onde negaram o próprio eu por esse ato? Ao contrário, manifestaram a verdadeira essência do egoísmo. Quando não mais podem usar o dinheiro, propõem-se a dá-lo a Deus. Retê-lo-ão, porém, enquanto puderem, até que sejam compelidos a abandoná-lo por meio de um mensageiro a quem não podem deter. T4 81 2 Tal testamento é prova de verdadeira cobiça. Deus nos fez a todos mordomos Seus, e em caso algum nos autorizou a negligenciar o dever, ou deixar a outros seu cumprimento. O pedido de recursos para levar avante a causa da verdade jamais será mais urgente que agora. Nosso dinheiro nunca há de fazer maior soma de bem do que no tempo atual. Cada dia de demora em aplicá-lo devidamente limita o período em que ele será útil em salvar almas. Se delegamos a outros fazer aquilo que Deus pretendia que fizéssemos, prejudicamos a nós e Àquele que nos deu tudo quanto possuímos. Como podem outros fazer nossa obra de beneficência melhor do que a podemos fazer nós mesmos? Deus gostaria que todo homem fosse, durante sua existência, o executor do próprio testamento a esse respeito. A adversidade, um acidente, intrigas, poderão impedir para sempre premeditados atos de beneficência, quando o que acumulou a fortuna já não ali está para a proteger. É de lamentar que tantas pessoas negligenciem a áurea oportunidade presente para fazerem o bem, e esperem ser destituídas de sua mordomia antes de devolver ao Senhor os recursos que lhes emprestou para Sua glória. T4 82 1 Um dos notáveis aspectos dos ensinos de Cristo é a freqüência e veemência com que Ele repreendia o pecado da avareza e indicava o perigo das aquisições deste mundo e do excessivo amor ao ganho. Nas mansões dos ricos, no templo e nas ruas, Ele advertia aqueles que indagavam acerca da salvação: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza." Lucas 12:15. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24; Lucas 16:13. T4 82 2 É essa crescente dedicação a ganhar dinheiro -- o egoísmo que o desejo de ganho produz -- que remove da igreja o favor de Deus, e lhe amortece a espiritualidade. Quando a cabeça e as mãos se ocupam continuamente em planejar e labutar para acúmulo de riquezas, esquecem-se os reclamos de Deus e da humanidade. Caso Deus nos haja abençoado com prosperidade, não é justo que nosso tempo e atenção sejam desviados dEle e empregados naquilo que Ele nos emprestou. O doador é maior que a dádiva. Não somos de nós mesmos; fomos "comprados por preço". 1 Coríntios 6:20. Acaso esquecemos esse preço infinito pago por nossa redenção? Morreu acaso no coração o reconhecimento? A cruz de Cristo não torna vergonhosa a vida de comodidade e satisfação egoístas? T4 82 3 Que seria se Jesus, cansado da ingratidão e dos maus-tratos que se Lhe deparavam de todo lado, houvesse renunciado a Sua obra! Que seria, se Ele nunca houvesse chegado ao ponto em que pudesse dizer: "Está consumado!" João 19:30. E se houvesse voltado ao Céu, desanimado pela recepção que Lhe fizeram! Que seria, se Ele nunca houvesse passado por aquela angústia de alma no jardim do Getsêmani, angústia que Lhe forçou através dos poros aquelas grandes gotas de sangue! T4 82 4 Em Seu serviço pela redenção da humanidade, Cristo foi influenciado por um amor sem igual, e pela consagração à vontade de Seu Pai. Labutou pelo bem do homem até à própria hora de Sua humilhação. Passou a vida na pobreza e abnegação em favor do degradado pecador. Não teve, no mundo que era Seu, um lugar em que repousar a cansada cabeça. Estamos a colher os frutos desse infinito sacrifício; todavia, ao haver trabalho para fazer, ao ser necessário nosso dinheiro para ajudar a obra do Redentor na salvação de almas, recuamos do dever e pedimos que sejamos desculpados. Vil negligência, indiferença descuidosa e ímpio egoísmo nos cerram os sentidos aos reclamos de Deus. T4 83 1 Oh! importa que Cristo, a Majestade do Céu, o Rei da glória, carregue a pesada cruz, use a coroa de espinhos e beba o cálice de amargura, enquanto nós nos reclinamos comodamente, glorificando a nós mesmos e esquecendo as almas por cuja redenção Ele morreu, vertendo o precioso sangue? Não; demos enquanto podemos fazê-lo. Façamos enquanto temos forças. Trabalhemos enquanto é dia. Consagremos tempo e dinheiro ao serviço de Deus, para que Lhe tenhamos a aprovação e recebamos a recompensa. ------------------------Capítulo 8 -- O processo de prova T4 83 3 Prezado irmão G: T4 83 4 Sinto-me bastante ansiosa de que aceite a luz e saia das trevas. Você tem sido grandemente tentado por Satanás; ele o tem utilizado como seu instrumento para atrapalhar a obra de Deus. Até aqui ele tem tido êxito com você; mas isto não significa que você deva continuar no caminho do erro. Tenho examinado o seu caso com grande temor. Sei que Deus lhe concedeu grande luz. Em sua enfermidade, no último outono, a providência de Deus estava trabalhando com você para que produzisse frutos para a Sua glória. T4 83 5 A descrença estava se apossando de sua alma, e o Senhor o afligiu para que obtivesse a experiência que necessitava. Ele nos abençoou ao orarmos por você, e o abençoou em resposta às nossas orações. O Senhor planejou unir nossos corações em amor e confiança. O Espírito Santo deu testemunho ao seu espírito. O poder de Deus em resposta à oração lhe sobreveio; mas Satanás veio com tentações, e você não lhe fechou a porta. Ele entrou e tem-se mantido bem ocupado. É plano do maligno trabalhar primeiro sobre a mente da pessoa e então, através dela, sobre outras. Ele tem assim buscado bloquear nosso caminho e impedido nossos esforços exatamente onde exerceríamos maior influência em favor da prosperidade da causa. T4 84 1 O Senhor o levou a ligar-se a Sua obra em _____ para um sábio propósito; Ele planejou que você descobrisse seus defeitos de caráter e os vencesse. Sabe quão rapidamente o seu espírito se agita quando as coisas não saem segundo idealizou. Gostaria que entendesse como toda essa impaciência e irritabilidade devem ser vencidas, ou sua vida se provará um completo fracasso, perderá o Céu, e seria melhor que nunca tivesse nascido. T4 84 2 Nosso caso acha-se pendente no tribunal celeste. Aí estamos prestando nossas contas dia a dia. Cada um será recompensado segundo suas obras. As ofertas queimadas e os sacrifícios não eram aceitáveis a Deus, na antigüidade, a menos que fosse reto o espírito com que eram oferecidos. Disse Samuel: "Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça a palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros." 1 Samuel 15:22. Todo o dinheiro da Terra não pode comprar a bênção de Deus, nem assegurar-lhe uma única vitória. T4 84 3 Muitos fariam todo e qualquer sacrifício, menos exatamente aquele que devem fazer, que é entregarem-se, submeterem sua vontade à vontade de Deus. Disse Cristo a Seus discípulos: "Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos Céus." Mateus 18:3. Aí está uma lição de humildade. Devemos todos tornar-nos humildes como crianças a fim de herdar o reino. T4 84 4 Nosso Pai celeste vê o coração dos homens, e conhece melhor seu caráter do que eles próprios. Vê que alguns possuem aptidões e faculdades que, devidamente dirigidas, poderiam ser empregadas para Sua glória, para ajudar a promover Sua obra. Ele submete à prova essas pessoas, e em Sua sábia providência as leva a posições diversas e variadas circunstâncias, provando-as de maneira a revelarem o que lhes está no coração e os pontos fracos em seu caráter, pontos até então ocultos a elas próprias. Dá-lhes oportunidade para corrigirem essas fraquezas, polirem todas as arestas de sua natureza, e habilitarem-se para Seu serviço, para que, quando as chamar à ação, estejam preparadas, e para que os anjos celestes possam unir seu esforço ao esforço humano na obra que precisa ser feita na Terra. T4 85 1 Aos homens a quem Deus pretende que ocupem posições de responsabilidade, Ele revela, misericordiosamente, os ocultos defeitos que têm, a fim de se olharem interiormente e examinarem com olhos críticos as complicadas emoções e atitudes do próprio coração, verificando o que está errado. Poderão assim modificar sua disposição e aperfeiçoar suas maneiras. Em Sua providência o Senhor leva os homens a situações em que lhes possa provar a força moral e revelar os motivos de suas ações, de maneira que desenvolvam o que é correto em si mesmos, e afastem de si o que é errado. É vontade de Deus que Seus servos se familiarizem com o mecanismo moral do próprio coração. Para fazer isso, permite freqüentemente que o fogo da aflição os assalte, a fim de que sejam purificados. "Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá, quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi e os afinará como ouro e como prata; então, ao Senhor trarão ofertas em justiça." Malaquias 3:2, 3. T4 85 2 A purificação do povo de Deus não pode ser efetuada sem que eles sofram. Deus permite que o fogo da aflição lhes consuma a escória, para separar o imprestável do que é valioso, a fim de que o metal puro possa brilhar. Passa-nos de uma a outra fornalha, provando nosso verdadeiro valor. Se não podemos suportar essas provas, que faremos no tempo de angústia? Se a prosperidade ou a adversidade descobre falsidade, orgulho ou egoísmo em nosso coração, que faremos nós quando Deus provar a obra de todo homem como pelo fogo e puser a descoberto os segredos de todos os corações? T4 86 1 A graça genuína está disposta a ser provada; se relutamos em ser esquadrinhados pelo Senhor, nossa condição é realmente séria. Deus é o refinador e purificador de almas; no calor da fornalha separa-se para sempre a escória da prata e do ouro verdadeiros do caráter cristão. Jesus observa a prova. Sabe o que é preciso para purificar o precioso metal a fim de que Lhe reflita a glória do divino amor. T4 86 2 Deus leva Seu povo para perto de Si através de dolorosas experiências, mostrando-lhes suas próprias fraquezas e incapacidade, e ensinando-lhes a confiar nEle como seu único auxílio e salvaguarda. Então se cumpre Seu desígnio. São preparados para ser usados em qualquer emergência, para ocupar importantes posições de confiança e realizar os grandes desígnios para que lhes foram dadas as suas faculdades. Deus aceita os homens depois de prová-los; prova-os à direita e à esquerda, e assim são educados, exercitados e disciplinados. Jesus, nosso Redentor, representante e cabeça do homem, suportou esse difícil processo. Sofreu mais do que podemos ser chamados a suportar. Levou sobre Si nossas enfermidades e foi em tudo tentado, como nós o somos. Não sofreu isso por Sua própria causa, mas por nossos pecados; e agora, confiantes nos méritos de nosso Vencedor, podemos tornar-nos vitoriosos em Seu nome. T4 86 3 A divina obra de refinar e purificar precisa ir avante até que Seus servos estejam tão humilhados, tão mortos para o próprio eu que, ao serem chamados para serviço ativo, tenham em vista unicamente a glória de Deus. Então Ele lhes aceitará os esforços; eles não agirão imprudentemente, por impulso; não se precipitarão, pondo em risco a causa do Senhor, sendo escravos de tentações e paixões, seguindo a própria mente carnal incendiada por Satanás. Oh! quão terrível é ser a causa de Deus manchada pela vontade perversa do homem e seu temperamento não subjugado! Quanto sofrimento traz ele sobre si por seguir as obstinadas paixões que o dominam! Deus muitas vezes abate o homem até ao pó, aumentando a pressão até que a perfeita humildade e a transformação do caráter o ponham em harmonia com Cristo e o espírito do Céu, e tenha a vitória sobre si mesmo. T4 86 4 Deus tem chamado homens de diferentes Estados e os tem experimentado e provado para ver que caráter desenvolveriam, se lhes poderia confiar a defesa da causa em _____, se eles poderiam ou não suprir as deficiências dos homens que ali já estavam e, vendo os erros cometidos por esses, deixariam de seguir o exemplo dos que não se acham aptos para a santíssima obra de Deus. Ele tem acompanhado os homens de _____ com advertências, reprovações e conselhos contínuos. Tem derramado grande luz sobre os que oficiam em Sua causa ali, de maneira que o caminho lhes seja claro. Caso, porém, prefiram seguir a própria sabedoria, desdenhando a luz, como fez Saul, extraviar-se-ão por certo, e envolverão a causa em perplexidade. Diante deles foram postas a luz e as trevas, mas demasiadas vezes têm preferido as trevas. T4 87 1 A mensagem laodiceana aplica-se ao povo de Deus que professa crer na verdade presente. A maior parte deles são professos mornos, tendo nome, mas não zelo. Deus deu a conhecer que queria que os homens localizados no grande coração da obra corrigissem o estado de coisas ali existente, e se mantivessem como fiéis sentinelas em seu posto de dever. Deu-lhes luz acerca de todos os pontos, para instruir, animar e confirmar esses homens segundo o caso o exigisse. Mas, apesar de tudo isso, os que deviam ser fiéis e verdadeiros, fervorosos no zelo cristão, de temperamento benévolo, conhecendo e amando sinceramente a Jesus, encontram-se a ajudar o inimigo a enfraquecer e desanimar aqueles a quem Deus está usando para edificar a obra. Aplica-se a esta classe o termo "morno". Professam amar a verdade, todavia são deficientes no fervor e no devotamento cristãos. Não ousam desistir inteiramente e correr o risco dos incrédulos; não se acham, no entanto, dispostos a morrer para o próprio eu e seguir exatamente os princípios de sua fé. T4 87 2 A única esperança para os laodiceanos é uma clara visão de sua condição diante de Deus, o conhecimento da natureza de sua enfermidade. Nem são frios nem quentes; ocupam uma posição neutra e, ao mesmo tempo, lisonjeiam-se de não necessitar de coisa alguma. A Testemunha Verdadeira aborrece essa mornidão. Causa-Lhe desgosto a indiferença dessa classe de pessoas. Diz Ele: "Quem dera fosses frio ou quente!" Apocalipse 3:15. Como água morna, são nauseantes a Seu paladar. Nem são desinteressados nem egoistamente obstinados. Não se empenham inteiramente e de coração na obra de Deus, identificando-se com seus interesses; mas se mantêm afastados e estão prontos a deixar seus postos quando os mundanos interesses pessoais o exijam. Precisam da obra interior da graça no coração; acerca desses se diz: "Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu." Apocalipse 3:17. T4 88 1 A fé e o amor são as verdadeiras riquezas, o ouro puro que a Testemunha Verdadeira aconselha os mornos a comprar. Por mais ricos que sejamos em tesouros terrestres, toda a nossa riqueza não nos habilitará a comprar os preciosos remédios que curam a doença da alma chamada mornidão. A inteligência e as riquezas da Terra eram impotentes para remover os defeitos da igreja de Laodicéia, ou remediar-lhes a deplorável condição. Eram cegos, não obstante achavam que estavam bem. O Espírito de Deus não lhes iluminava a mente, e não percebiam sua pecaminosidade; não sentiam, portanto, necessidade de auxílio. T4 88 2 Estar sem as graças do Espírito de Deus é realmente triste; mais terrível condição, porém, é estar assim destituído de espiritualidade e de Cristo, e ainda buscar justificar-nos dizendo aos que se sobressaltam por nós que não necessitamos de seus temores nem piedade. Temível é o poder do engano próprio na mente humana! Que cegueira! tomar a luz por trevas e as trevas por luz! A Testemunha Verdadeira aconselha-nos a comprar dEle ouro provado no fogo, vestidos brancos e colírio. T4 88 3 O ouro aqui recomendado como tendo sido provado no fogo é fé e amor. Ele enriquece o coração, pois foi limpo até tornar-se puro; e quanto mais é provado, mais intenso é seu brilho. A vestidura branca é a pureza de caráter, a justiça de Cristo comunicada ao pecador. Esta é, na verdade, uma vestimenta de textura celeste, que somente pode ser comprada de Cristo por uma vida de voluntária obediência. O colírio é aquela sabedoria e graça que nos habilitam a discernir entre o mal e o bem e a detectar o pecado sob qualquer disfarce. Deus deu a Sua igreja olhos aos quais requer dos crentes que unjam com sabedoria, para que vejam claramente; muitos, porém, se pudessem, tirariam os olhos da igreja; pois não quereriam que suas ações viessem à luz, para não serem reprovados. O colírio divino comunicará clareza ao entendimento. Cristo é o depositário de todas as graças. Ele diz: "Aconselho-te que de Mim compres." Apocalipse 3:18. T4 89 1 Talvez alguns digam que esperar favor de Deus por meio de nossas obras é exaltar os próprios méritos. Certamente não podemos comprar uma vitória sequer com nossas boas obras; todavia, nos é impossível ser vitoriosos sem elas. A compra que Cristo nos recomenda é simplesmente cumprir as condições que Ele nos propõe. A verdadeira graça, que é de inestimável valor e que resistirá à experiência da provação e da adversidade, só se obtém pela fé, e pela humilde obediência apoiada pela oração. As graças que resistem às provas da aflição e da perseguição, e demonstram sua pureza e sinceridade, são o ouro que é provado no fogo e achado genuíno. Cristo oferece vender este precioso tesouro ao homem: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo." Apocalipse 3:18. O morto, frio cumprimento do dever não nos faz cristãos. Devemos sair do estado de mornidão e experimentar conversão real, ou perderemos o Céu. T4 89 2 Minha atenção foi encaminhada para a providência de Deus entre Seu povo, e foi-me mostrado que toda prova feita pelo processo de refinamento e purificação sobre os professos cristãos demonstra que alguns são escória. Nem sempre aparece o fino ouro. Em toda crise religiosa alguns caem sob a tentação. O peneiramento de Deus lança fora multidões como folhas secas. A prosperidade multiplica a massa dos que professam. A adversidade os leva para fora da igreja. Como uma classe, não têm o espírito firme em Deus. Saem de nós, porque não são dos nossos; pois quando surge tribulação ou perseguição por causa da palavra, muitos se escandalizam. T4 89 3 Olhem essas pessoas alguns meses atrás, quando elas consideravam o caso de outras que se achavam em condições idênticas àquela que elas hoje ocupam. Recordem cuidadosamente o que pensavam quanto aos tentados. Houvesse alguém lhes dito então que, apesar de seu zelo e trabalho para endireitar a outros, seriam afinal achados em semelhantes condições de trevas, e haveriam dito como disse Hazael ao profeta: "Pois quê? é teu servo um cão, para fazer esta tão grande coisa?" 2 Reis 8:13 (TT). T4 90 1 Estão iludidos consigo mesmos. Na calma, que firmeza manifestam! Que corajosos navegantes são! Mas quando as furiosas tempestades da prova e tentação sobrevêm, ai! sua alma naufraga. Os homens podem ter excelentes dons, boas aptidões, qualidades esplêndidas; um defeito, porém, um pecado secreto nutrido, demonstrar-se-á para o caráter o que a prancha carcomida pelo verme é para o navio -- completo desastre e ruína! T4 90 2 Prezado irmão, Deus em Sua providência trouxe-o de sua fazenda para _____, a fim de suportar os testes e provas que não poderiam ter onde se achava. Ele lhe concedeu alguns testemunhos de reprovação, que professamente aceitou; mas o seu espírito estava continuamente agitado sob a repreensão. Você se assemelha àqueles que não mais caminharam com Jesus após Ele lhes indicar objetivamente verdades práticas. Não se firmou na fé para corrigir os defeitos assinalados em seu caráter. Não humilhou o orgulhoso espírito perante Deus. Manteve-se em guerra contra o Espírito de Deus como revelado na reprovação. Seu coração carnal e insubmisso não se sujeita a controle. Você não se disciplinou. Vez após vez o seu temperamento indomável, o seu espírito de insubordinação, tem obtido completo domínio sobre você. Como pode uma alma tão impulsiva e insubmissa viver entre anjos puros? Não pode ser admitida no Céu, como você mesmo sabe. Se assim for, nunca será cedo demais para começar a corrigir a maldade de sua natureza. Converta-se e torne-se como uma criancinha. T4 90 3 Irmão, você tem espírito altivo, pensando e tendo elevadas idéias a seu próprio respeito. Tudo isso precisa ser deixado de lado. Os seus parentes têm aprendido a temer essas explosões de temperamento. Sua mãe, terna e temente a Deus, tem feito o seu melhor para acalmá-lo e agradá-lo, e tem tentado remover todo motivo que possa produzir essa rebeldia, essa incontrolável disposição no filho. Mas bajular, implorar e procurar apaziguá-lo tem levado você a pensar que esse temperamento impulsivo é incurável, e que é dever de seus amigos suportá-lo. Todos esses agrados e desculpas não têm remediado o mal; ao contrário, têm dado a ele liberdade. T4 91 1 Você não tem lutado contra esse espírito iníquo e o derrotado. Quando o seu caminho é atravessado, você tem sentido a provocação em escala suficiente para esquecer-se de sua hombridade, e que foi criado à imagem de Deus, segundo a Sua semelhança. Você tem lamentavelmente deturpado e arruinado essa imagem. Não tem tido domínio próprio nem poder sobre a sua vontade. Tem sido teimoso e se submetido ao poder de Satanás. Toda vez que você se entrega à ira e ao critério próprio, e deixa seus sentimentos desviarem-se do bom senso, isso tem fortalecido essa vontade obstinada e incontrolável. O Senhor viu que você não se conhecia, e que a menos que visse a si mesmo e a pecaminosidade de sua conduta sob verdadeira luz, a menos que visse quão agravantes à vista de Deus eram essas explosões de temperamento que se fortaleciam a cada exibição, certamente você fracassaria em obter um lugar ao lado do Homem sofredor do Calvário. T4 91 2 Deus apela a você, irmão G, a que se arrependa e se converta, e se torne como uma criancinha. A menos que a verdade tenha uma influência santificadora sobre a sua vida para moldar-lhe o caráter, você deixará de ter herança no reino de Deus. O Senhor, em Sua providência, o escolheu para estar mais diretamente ligado a Sua causa e obra. Ele o tomou como um soldado indisciplinado, novo no exército, conduziu-o sob regras, regulamentos e responsabilidades, e através do processo de treinamento. A princípio você agiu nobremente e tentou ser fiel ao seu dever. Suportou a prova melhor do que jamais o fizera na vida. Mas Satanás veio-lhe com suas ilusórias tentações, e você caiu como presa delas. O Senhor teve piedade de você e estendeu Sua mão para o salvar. Ele lhe concedeu uma rica experiência da qual você não tirou proveito, como devia. Como os filhos de Israel, você logo se esqueceu do procedimento de Deus e Suas grandes misericórdias. Irmão G, você foi levantado em resposta à oração, e Deus lhe deu um tempo adicional de vida; mas você permitiu que o ciúme e a inveja lhe penetrassem a alma, e muito O desagradou. Ele planejou levá-lo aonde poderia desenvolver o caráter, e onde veria e corrigiria os seus defeitos. T4 92 1 Houve uma evidente falha em sua educação e disciplina durante a infância e juventude. Agora tem que aprender as grandes lições de domínio próprio que deveriam ter sido dominadas em tempos anteriores. Deus o levou aonde o seu meio ambiente seria alterado, e onde poderia ser disciplinado por Seu Espírito Santo, para que pudesse adquirir poder moral e domínio próprio a fim de fazer de você um vencedor. Será requerido o mais forte empenho, a mais perseverante e inabalável determinação e a mais vigorosa energia para controlar o eu. Seu espírito tem por muito tempo se irritado sob restrição, e quando sua vontade é contrariada, seu temperamento se desequilibra como um leão enjaulado. A disciplina que os seus pais deveriam ter-lhe ajudado a adquirir precisa agora ser obtida inteiramente por você mesmo. Quando tenro e pequeno, o ramo devia ter sido facilmente vergado; mas agora, após ter crescido torcido, torto e forte, quão difícil é a tarefa! Seus pais permitiram que você fosse assim deformado; e agora somente pela graça de Deus, unida aos próprios esforços persistentes, poderá tornar-se vencedor sobre sua vontade. Através dos méritos de Cristo, você poderá livrar-se daquilo que deixa escaras e deformações na alma, e que desenvolve um caráter deformado. Você precisa abandonar o velho homem com seus erros, e assumir o novo homem, Cristo Jesus. Adote Sua vida como seu guia, e então seus talentos e intelecto serão dedicados ao serviço de Deus. T4 92 2 Oh, se tão-somente as mães trabalhassem com sabedoria, com calma e determinação para educar e subjugar o temperamento carnal dos filhos, que quantidade de pecado seria podada ao germinar, e que grande número de provações na igreja seria evitado! Quantas famílias que agora são infelizes seriam felizes! Muitas almas estarão eternamente perdidas devido à negligência dos pais quanto a disciplinar devidamente os filhos e lhes ensinar na juventude submissão à autoridade. Desculpar as faltas e apaziguar as explosões de ira não é pôr o machado à raiz do mal, mas confirma a ruína de milhares de almas. Oh, como responderão os pais a Deus por essa terrível negligência de seu dever! T4 93 1 Irmão G, você está desejoso de estar à frente e dar ordens aos demais; mas não se deixará ser mandado. O seu orgulho se inflama num instante diante da tentativa. O amor-próprio e espírito altivo são elementos indomáveis em seu caráter, impedindo-lhe o progresso espiritual. Os que têm tal temperamento devem assumir o trabalho zelosamente e morrer para o eu, ou perderão o Céu. Deus não Se compromete com tal indivíduo, como o fazem pais condescendentes e enganados. T4 93 2 Em minha última visão foi-me mostrado que se você recusar a reprovação e correção, preferir o próprio caminho e não desejar ser disciplinado, Deus não o utilizará mais em relação a Sua santa obra. Se tivesse começado a obra de pôr sua alma em harmonia com o Senhor, teria visto um trabalho tão grandioso a ser realizado por você que não teria despendido tanto tempo com os supostos erros do irmão H, demorando-se neles às escondidas. O trabalho dos últimos trinta anos deve inspirar confiança na integridade do irmão H. "A quem honra, honra." Romanos 13:7. T4 93 3 Os homens que ocupam posições de responsabilidade devem melhorar continuamente. Não devem se ancorar numa antiga experiência e achar que não precisam tornar-se obreiros capazes. O homem, embora a mais indefesa criatura de Deus ao vir ao mundo, e de natureza mais perversa, é não obstante capaz de constante progresso. Pode ser esclarecido pela ciência, enobrecido pela virtude e progredir em dignidade mental e moral até que chegue à perfeição da inteligência e a uma pureza de caráter apenas um pouco inferiores às dos anjos. Com a luz da verdade a brilhar na mente humana, e o amor de Deus derramado em seu coração, é inimaginável o que se podem tornar, e que grande obra podem fazer. T4 93 4 Sei que o coração humano é cego a sua verdadeira condição; não posso deixá-lo, porém, sem fazer um esforço em seu auxílio. Nós o amamos, e queremos vê-lo apressando-se para a vitória. Jesus o ama. Morreu por você; e quer que se salve. Não temos nenhuma disposição para segurá-lo em _____; queremos, porém, que faça obra completa quanto à própria alma, que endireite ali todo erro, e faça todo esforço para dominar o próprio eu, para que não perca o Céu. Isto você não pode permitir-se. Por amor de Cristo, "resisti ao diabo, e ele fugirá de vós". Tiago 4:7. ------------------------Capítulo 9 -- Trabalho que promove saúde T4 94 1 Prezados irmão e irmã I: T4 94 2 Foi me mostrado que erraram no controle de seus filhos. Vocês receberam idéias em _____ do Dr. J, sobre as quais falaram perante seus filhos e perante os pacientes. Essas idéias não devem ser levadas adiante. Do ponto de vista do Dr. J, elas podem não parecer tão objetáveis; mas do ponto de vista de um cristão são absolutamente perigosas. As instruções que o Dr. J tem dado com respeito a evitar a atividade física têm-se demonstrado um grande prejuízo para muitos. O sistema de nada fazer é perigoso. A necessidade de divertimentos, como ele ensina e recomenda a seus pacientes, é um engano. A fim de ocupar o tempo e dar atividade à mente, eles se tornam um substituto para exercício útil e saudável e trabalho físico. Os divertimentos, como o Dr. J recomenda, excitam o cérebro mais do que a ocupação útil. T4 94 3 O exercício e o trabalho físicos combinados exercem uma agradável influência sobre a mente, fortalecem os músculos, aumentam a circulação e dão ao doente a satisfação de conhecer o próprio poder de resistência; ao passo que, se o exercício saudável e o trabalho físico lhe são restringidos, sua atenção é atraída para si mesmo. Acha-se ele em constante perigo de imaginar-se pior do que realmente está e de criar uma imaginação doentia que o leve a temer constantemente que esteja sobrecarregando sua capacidade de resistência. De modo geral, se tomar parte em alguma atividade bem orientada, usando sua energia sem dela abusar, notará que o exercício físico se provará um agente mais poderoso e eficaz em sua recuperação do que mesmo o tratamento por água que está recebendo. T4 95 1 A inatividade das faculdades físicas e mentais, no que diz respeito ao trabalho útil, é o que mantém muitos doentes em um estado de fraqueza que eles se sentem incapazes de superar. Dá-lhes também maior oportunidade de condescender com pensamentos impuros -- condescendência que tem levado muitos deles a seu estado atual de fraqueza. É-lhes dito que eles gastaram muita energia em trabalho árduo, quando, em nove de cada dez casos, o trabalho que eles realizaram foi a única coisa compensadora em sua vida e foi o meio de salvá-los da completa ruína. Enquanto sua mente estava assim ocupada, não tinham oportunidade tão favorável para aviltar o corpo e completar a obra de destruir a si mesmos. Permitir que todas essas pessoas cessem de trabalhar com o cérebro e os músculos é oferecer-lhes ampla oportunidade de serem levadas cativas pelas tentações de Satanás. T4 95 2 O Dr. J recomendou que pessoas de ambos os sexos se misturem; ele tem ensinado que a saúde física e mental requer um relacionamento mais próximo de uns com os outros. Tais ensinos causaram e estão causando grande prejuízo aos jovens e crianças inexperientes, e é uma grande satisfação para homens e mulheres de caráter questionável, cujas paixões nunca foram controladas, e que por esta razão estão sofrendo de várias desordens debilitantes. Essas pessoas são instruídas, de um ponto de vista da saúde, a estarem mais em companhia do sexo oposto. Assim, uma porta de tentação é aberta perante elas, a paixão se desperta como um leão dentro do coração delas, e toda consideração é suprimida, e tudo quanto é elevado e nobre é sacrificado à concupiscência. Esta é uma época em que o mundo está fervendo de corrupção. Estivessem a mente e o corpo de homens e mulheres numa condição salutar, fossem as paixões sensuais sujeitas às mais elevadas faculdades intelectuais, poderia ser comparativamente seguro ensinar que meninos e meninas, e mesmo jovens de mais idade, se beneficiariam por misturar-se em sociedade uns com os outros. T4 95 3 Se a mente dos jovens dessa idade fosse pura e incorruptível, as garotas poderiam ter uma influência suavizante sobre a mente e as maneiras dos meninos, e os meninos, de natureza mais forte e vigorosa, poderiam ter tendência a enobrecer e fortalecer o caráter das garotas. É, porém, um fato penoso que não há uma garota em cem que tenha mente pura, e não há um menino em cem cuja moralidade seja incontaminada. Muitos que são mais velhos foram a tal grau de libertinagem que têm alma e corpo poluídos; e a corrupção tem dominado uma vasta classe que se apresenta entre homens e mulheres como cavalheiros corteses e belas damas. Não é tempo de recomendar, como benéfico à saúde, a mistura de pessoas de ambos os sexos -- estarem o máximo possível em associação. A maldição desta época corrupta é a ausência de verdadeira virtude e modéstia. T4 96 1 Dr. I, você tem propagado publicamente essas idéias. Os jovens o ouviram, e os comentários que você fez têm tido tão grande influência sobre seus próprios filhos quanto sobre outros. Teria sido melhor ter deixado essas idéias em _____. Rigorosa dedicação ao trabalho duro é prejudicial ao crescimento estrutural do jovem; mas onde centenas têm prejudicado sua constituição unicamente por trabalhar demais, a inatividade, o comer demasiado e a débil indolência têm disseminado as sementes de enfermidades no organismo de milhares que estão indo rápida e seguramente para o declínio. T4 96 2 A razão por que os jovens têm tão pouca força cerebral e muscular é fazerem tão pouco na área do trabalho útil. "Eis que esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram e fizeram abominação diante de Mim; pelo que as tirei dali, vendo Eu isso." Ezequiel 16:49, 50. T4 96 3 Há apenas poucos jovens desta época degenerada que podem suportar o estudo necessário para obter uma educação comum. Por que acontece isso? Por que as crianças se queixam de tontura, dor de cabeça, sangramento do nariz, palpitação e uma sensação de fadiga e fraqueza geral? Deve isto ser atribuído principalmente a seu intenso estudo? Os pais afetuosos e condescendentes condoem-se dos filhos porque imaginam que suas lições são uma tarefa grande demais, e que sua intensa aplicação ao estudo lhes está arruinando a saúde. De fato, não é recomendável sobrecarregar a mente dos jovens com estudos em demasia e por demais difíceis. Mas, pais, vocês não estão meramente aceitando a idéia sugerida por seus filhos em vez de considerarem com maior profundidade esse assunto? Vocês não têm dado crédito depressa demais às razões aparentes da indisposição deles? Convém aos pais e tutores olhar sob a superfície em busca da causa deste mal. T4 97 1 De noventa e nove casos em cem, a causa pesquisada e revelada a vocês, abriria sua compreensão para ver que não foi o excesso de estudo somente que estava realizando a obra de prejudicar seus filhos, mas hábitos errôneos estavam consumindo a energia vital do cérebro e do corpo inteiro. O sistema nervoso ficou danificado por estar sendo freqüentemente excitado, e assim tem sido lançado o alicerce da decadência prematura e certa. O vício secreto [masturbação] está matando milhares e dezenas de milhares. T4 97 2 As crianças devem ter o tempo ocupado. O devido trabalho mental e o exercício físico ao ar livre não abaterão a constituição física de seus meninos. O trabalho útil e a familiarização com os mistérios da lida doméstica serão benéficos para as suas meninas. E alguma ocupação ao ar livre é absolutamente necessária à sua constituição física e saúde. As crianças devem ser ensinadas a trabalhar. Operosidade é a maior bênção que homens, mulheres e crianças podem desfrutar. T4 97 3 Vocês têm errado na educação de seus filhos. Têm sido condescendentes demais. Vocês os têm favorecido e dispensado do trabalho até que, para alguns deles, parece algo absolutamente desagradável. Inatividade, a falta de ocupação regular, tem prejudicado grandemente seus filhos. As tentações estão por toda parte, prontas para arruinar os jovens para este mundo e o vindouro. O caminho da obediência é o único caminho seguro. T4 97 4 Vocês têm sido cegos ao poder que o inimigo teve sobre seus filhos. Trabalhos caseiros, mesmo a ponto de se cansarem, não lhes teria feito a quinta parte do mal que os hábitos indolentes têm causado. Eles teriam escapado a muitos perigos se tivessem sido mais cedo instruídos a ocupar o tempo com trabalho útil. Não teriam contraído disposição tão agitada, esse desejo de mudança e de participar da sociedade. Teriam escapado a muitas tentações quanto à vaidade e à participação em diversões inúteis, leitura barata, conversas ociosas e tolices. Seu tempo teria sido passado mais de molde a satisfazê-los, e sem tão grande tentação de buscar a companhia do sexo oposto e desculpar-se maliciosamente. Vaidade e afetação, inutilidade e explícito pecado, têm resultado dessa indolência. Os pais, especialmente você, o pai, os têm bajulado e mimado para grande dano deles. Presunção e egoísmo T4 98 1 Prezado irmão, você tem cometido lamentável erro ao ficar diante dos pacientes na sala de estar, como tem feito freqüentemente, exaltando a si mesmo e à esposa. Seus próprios filhos têm tirado lições desses comentários, as quais lhes têm moldado o caráter. Você perceberá que agora não será fácil corrigir as impressões produzidas. Eles têm sido orgulhosos e presunçosos. Têm pensado que, como filhos seus, são superiores às demais crianças em geral. Você tem se mostrado inquieto, com medo de que o povo não lhe preste o respeito devido à sua posição de médico do Instituto de Saúde. Isso tem evidenciado seu ponto fraco, o qual tem prejudicado seu progresso espiritual. Tem também lhe levado a sentir ciúmes de outros, temendo que eles o rebaixem, ou não avaliem corretamente sua posição e valor. Você tem também exaltado sua esposa, colocando-a diante dos pacientes como um ser superior. Tem agido como um cego; tem atribuído à sua esposa qualidades que ela não possui. T4 98 2 Deve lembrar-se de que seu valor moral é avaliado por suas palavras, atos e procedimento. Estes nunca podem ser escondidos, mas o colocarão no devido lugar diante dos pacientes. Se demonstrar interesse por eles, se lhes dedicar atenção, eles o perceberão e você terá a confiança e amor deles. Mas conversa nunca os fará acreditar que seu árduo trabalho por eles o tem sobrecarregado e consumido sua vitalidade, quando sabem que não têm recebido sua especial atenção e cuidado. Os pacientes terão confiança e amarão aqueles que manifestam especial interesse por eles e que se empenham em sua recuperação. Se você fizer essa obra, que não pode ser deixada inacabada e pela qual os pacientes têm pago bom dinheiro, não precisará então procurar conquistar estima e respeito por meio de conversas; com certeza os desfrutará à medida que faz o trabalho. T4 99 1 Você não tem estado livre de egoísmo, e por isso não tem recebido as bênçãos que Deus concede aos obreiros abnegados. Seu interesse tem estado dividido. Tem tido tanto cuidado especial por si mesmo e pelos seus, que o Senhor não tem tido por que trabalhar e cuidar de você de modo especial. Sua conduta a esse respeito o desqualificou para sua posição. Um ano atrás percebi que você se achava competente para administrar o Instituto sozinho. Se este lhe pertencesse e você fosse quem se beneficiasse ou se prejudicasse com seus lucros ou perdas, sentiria ser seu dever tomar especial cuidado para que não ocorressem perdas, e que os pacientes que ali estivessem por caridade não exaurissem os recursos do Instituto. Investigaria a situação e não permitiria que ficassem ali uma semana mais do que era realmente necessário. Procuraria muitas maneiras pelas quais reduzir as despesas e conservar a propriedade do Instituto. Mas você é meramente funcionário, e o zelo, interesse e habilidade que pensa que possui para administrar semelhante instituição não aparecem. Os pacientes não recebem a atenção pela qual pagaram -- a qual têm direito de esperar. T4 99 2 Foi-me mostrado que você freqüentemente se afastava dos enfermos que estavam necessitando de seu conselho e parecer. Você me foi apresentado como obviamente indiferente, parecendo antes impaciente enquanto raramente ouvia o que eles estavam dizendo e que para eles era de grande importância. Demonstrava estar com muita pressa, adiando o atendimento a eles para algum tempo no futuro, quando umas poucas palavras apropriadas de simpatia e encorajamento teriam tranquilizado milhares de temores e levado paz e segurança em lugar de inquietação e angústia. Parecia que você tinha pavor de falar com os pacientes. Não procurava assimilar seus sentimentos, mas se mantinha alheio, quando devia manifestar mais familiaridade. Estava muito distante e inacessível. Eles olham para você como uma criança para seus pais, e têm direito de esperar e receber sua atenção, mas não a obtêm. As expressões "mim" e "meu" se colocam entre você e o trabalho que a sua função requer que faça. Os auxiliares e pacientes freqüentemente precisam de seu conselho; mas relutam em dirigir-se a você, e não têm liberdade de falar-lhe. T4 100 1 Você tem buscado manter uma dignidade indevida. Nesse empenho não tem alcançado o objetivo, mas perdido a confiança e o amor que poderia ter conseguido se fosse despretensioso e possuísse mansidão e mente humilde. A verdadeira dedicação e consagração a Deus acharão lugar para você no coração de todos, e o revestirão com uma dignidade sem presunção, mas genuína. Você tem sido exaltado por palavras de aprovação que tem recebido. A vida de Cristo deve ser o seu padrão, ensinando-o a fazer o bem em todo lugar que ocupar. Enquanto cuidando de outros, Deus cuidará de você. A Majestade do Céu [Jesus] não evitou o cansaço. Ele viajou a pé de lugar a lugar para beneficiar os sofredores e necessitados. Conquanto você possua algum conhecimento, possa ter alguma compreensão do organismo humano e reconheça a causa de doenças -- conquanto possa falar a língua dos homens e dos anjos -- há ainda qualificações necessárias, ou todos os seus dons não serão de nenhum valor especial. Você precisa ter poder de Deus que somente pode ser obtido por aqueles que fazem dEle a sua confiança, e que se consagram ao trabalho que Ele lhes tem dado a cumprir. Cristo deve constituir uma parte de seu conhecimento. A sabedoria dEle deve ser considerada em vez da sua. Então entenderá como ser uma luz nos quartos dos doentes. Falta-lhe liberdade de espírito, poder e fé. Sua fé é fraca por falta de exercício; ela não pode ser vigorosa e saudável. Seus esforços por aqueles que estão doentes emocional e fisicamente não serão tão bem-sucedidos quanto poderiam, os pacientes não se beneficiarão em vigor físico e espiritual como deveriam, se você não levar a Jesus consigo em suas visitas. As palavras e obras dEle devem acompanhá-lo. Então você sentirá que aqueles aos quais suas orações e palavras de simpatia têm abençoado, em retribuição, o abençoarão. T4 101 1 Sem a especial sabedoria e graça de Deus, você não tem sentido sua inteira dependência dEle nem sua ineficiência e fraqueza. Preocupa-se, teme e duvida porque tem trabalhado demais na própria força. Em Deus você poderá prosperar. Em humildade e santidade mental achará grande paz e força. Têm maior brilho os que mais sentem a própria fraqueza e escuridão, pois fazem de Cristo a sua justiça. Sua força deve proceder da própria união com Ele. Não se canse em fazer o bem. T4 101 2 A Majestade do Céu tem convidado os cansados: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:28, 29. A razão por que a carga às vezes parece tão pesada e o jugo tão penoso é que você se colocou acima da mansidão e humildade possuídas por nosso divino Senhor. Deixe de tentar satisfazer e exaltar o eu; ao contrário, permita que o eu seja oculto em Jesus, e aprenda com Aquele que o convidou e lhe prometeu descanso. T4 101 3 Vi que o Instituto de Saúde nunca poderá prosperar enquanto aqueles que mantêm posições de responsabilidade com ele relacionadas revelarem mais interesse por si próprios do que pela Instituição. Deus deseja homens e mulheres altruístas como obreiros em Sua causa; e os que tomam conta do Instituto de Saúde devem supervisionar cada departamento ali, praticando economia, cuidando de pequenos detalhes, vigiando contra perdas. Em resumo, devem ser tão cuidadosos e criteriosos em sua administração como se fossem os verdadeiros proprietários. T4 101 4 Você tem-se preocupado com o sentimento de que isto ou aquilo não é da sua conta. Tudo que está ligado com o Instituto é da sua conta. Se certas coisas chegam à sua observação às quais você não pode atender adequadamente, por ser chamado em outra direção, peça o auxílio de alguém que dedique imediata atenção a essas questões. Se essa tarefa for árdua demais para você, deve assumi-la alguém que possa realizar plenamente todos os deveres que recaem sobre aquele que mantiver tal posição de responsabilidade. T4 102 1 Em suas palestras na sala de estar você tem freqüentemente acusado os pacientes e auxiliares de acarretar-lhe responsabilidades e cuidados desnecessários, enquanto, ao mesmo tempo, vi que você não estava realizando metade dos deveres que lhe diziam respeito como médico. Não estava atendendo apropriadamente os casos de doentes sob o seu cuidado. Os pacientes não são cegos; eles percebem que você os negligencia. Estão distantes de seus lares e têm gastado para obter o cuidado e tratamento que não poderiam receber em casa. Todas essas repreensões na sala de estar são prejudiciais à Instituição e desagradam a Deus. T4 102 2 É verdade que você tem tido pesadas responsabilidades a assumir; mas em muitos casos culpou os pacientes e auxiliares quando o problema estava em sua família. Esta requer sua constante ajuda, mas não retribui a ajuda; não há ninguém em sua casa para sustentar suas mãos ou lhe dar encorajamento. Não tivesse você essa carga fora do Instituto, poderia sair-se muito melhor, e não perder força e vigor. É seu dever cuidar da família, mas não é absolutamente necessário que sejam tão dependentes como são, e um peso tão grande para você. Eles poderiam auxiliá-lo se quisessem. T4 102 3 É seu dever também preservar a própria saúde; e se os cuidados de sua família são tão grandes que a obra em que está empenhado lhe sobrecarrega, e é incapaz de dedicar tempo e atenção aos pacientes e ao Instituto, os quais na verdade são direitos deles, então você deve renunciar a sua posição e buscar obter um lugar onde possa fazer justiça a sua família, a si mesmo e às responsabilidades que assume. A posição que agora ocupa é muito importante. Isto requer intelecto claro, mente, nervos e músculos fortes. Zelosa dedicação ao trabalho é necessária para o seu êxito, e nada menos do que isto tornará a Instituição próspera. Para ser algo vivo, ela deve ter obreiros vivos e altruístas no seu comando. T4 103 1 Irmã I, você não tem sido uma ajuda a seu marido como devia ser. Sua atenção tem estado mais dedicada a si mesma. Não percebeu a necessidade de despertar suas energias adormecidas para encorajar e fortalecer seu marido em seus esforços, ou abençoar seus filhos com uma influência correta. Caso houvesse se colocado diligentemente a desempenhar os deveres que Deus lhe confiou, se tivesse ajudado a suportar as responsabilidades de seu companheiro e se unido a ele em disciplinar apropriadamente os filhos, a ordem de coisas em sua família seria mudada. T4 103 2 Sucumbiu, todavia, a sentimentos de pesar e tristeza e isso tem acarretado à sua casa uma nuvem em vez de luz solar. Não incentivou esperança e contentamento, e sua influência tem sido deprimente sobre aqueles que deveria ter ajudado por palavras e atos bondosos. Tudo isso é resultado do egoísmo. Exigiu a atenção e simpatia de seu marido e filhos; contudo, não sentiu ser seu dever desviar a mente de si mesma e trabalhar pela felicidade e bem-estar deles. Deu lugar à impaciência, e tem repreendido grosseiramente os filhos. Isso apenas os tem confirmado em seus maus caminhos, e rompido os laços de afeição que devem unir o coração de pais e filhos. T4 103 3 Tem-lhe faltado domínio próprio, e tem censurado seu marido na presença dos filhos; isso tem diminuído a autoridade dele e também a sua sobre eles. Você tem sido muito fraca; quando seus filhos vêm até você com queixas de outros, imediatamente tem decidido em seu favor, e insensatamente censurado e condenado aqueles de quem se queixam. Isso tem transmitido à mente de seus filhos uma disposição para murmurar contra os que não lhes devotam a consideração que imaginam merecer. Você tem indiretamente incentivado tal espírito ao invés de silenciá-lo. Não tem tratado com seus filhos tão firme e imparcialmente como deveria ter feito. T4 104 1 Você tem enfrentado provas e estado deprimida. Tem estado desanimada; todavia, atribui essa infelicidade a outros. A principal causa deve ser achada em você mesma. Tem deixado de fazer de seu lar o que deveria ser e o que poderia ter sido. Está ainda em seu poder corrigir as faltas nesse sentido. Saia dessa fria e dura reserva. Ofereça mais amor em vez de exigi-lo; cultive o contentamento; deixe que o sol brilhe em seu coração e ele brilhará sobre os que estão ao seu redor; seja mais sociável em suas maneiras; busque obter a confiança de seus filhos para que possam aproximar-se de você em busca de conselho e orientação. Incentive-os à humildade e altruísmo, e apresente-lhes o exemplo correto. Despertem, estimados irmão e irmã, para as necessidades de sua família. Não sejam cegos, mas assumam a tarefa de forma unida, calma, com oração e fé. Ponham a sua casa em ordem, e Deus lhes abençoará os esforços. ------------------------Capítulo 10 -- Influência do ambiente social T4 104 2 Foi me mostrado em 10 de Dezembro de 1872 o estado da família do irmão K. Ele tem sido um verdadeiro crente e ama a verdade, mas tem-se abeberado do espírito do mundo. Disse Cristo: "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:21. Irmão K, o seu tesouro terrestre reclama-lhe o interesse e atenção de tal modo que você não pode dedicar tempo para servir a Deus; contudo, sua esposa está insatisfeita por você dedicar a Deus tão escassa ninharia. Uma insanidade mundana tem tomado posse de seu coração. Nenhum de vocês toma tempo suficiente para meditação e oração. Deus é roubado de Seu serviço diário e vocês próprios estão enfrentando maior perda do que a de todo tesouro terrestre. T4 104 3 Irmã K, você está ainda mais longe de Deus do que o seu marido. A sua conformidade com o mundo tem banido do seu coração o Salvador; não há lugar para Ele em suas afeições. Possui apenas pequena inclinação para a oração e o exame de coração. Está se submetendo à obediência do príncipe dos poderes das trevas. "A quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça." Romanos 6:16. T4 105 1 Irmã K, você não sabe o que está fazendo; não percebe que está guerreando contra seu Criador ao atrair o seu marido para longe da verdade. Sua atenção está nas vantagens que o mundo propicia. Não cultivou amor pela devoção, mas prefere comprazer-se com a agitação e movimentação de trabalhar para adquirir riqueza. Você está absorvida no desejo de assemelhar-se ao mundo, para que possa desfrutar a felicidade que este oferece. Suas ambições e interesses terrenos são maiores do que o seu desejo por justiça e por uma parte no reino de Deus. T4 105 2 Seu precioso tempo de graça é gasto em trabalhar por seu bem-estar temporal, em vestir, comer e beber conforme a maneira do mundo. Oh, quão insatisfatória, quão pobre é a recompensa obtida! Em seus desejos e realizações mundanas está carregando um fardo maior do que o seu Salvador propôs colocar sobre você. O seu Redentor a convida: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Minha irmã, Cristo deseja que deponha seu pesado fardo aos Seus pés, e submeta o seu teimoso pescoço ao Seu jugo suave. Que seria se o seu tempo de graça terminasse agora? Como suportaria a investigação do Mestre? Como empregou os talentos de recursos e influência que lhe foram emprestados por Deus para o sábio crescimento, visando à Sua glória? Deus lhe deu vida e Suas bênçãos, não para serem meramente dedicadas ao seu próprio prazer e satisfação egoísta, mas para que possa beneficiar outros e fazer o bem. O Mestre lhe confiou talentos para que pudesse colocá-los com os cambistas, para que quando forem novamente requeridos Ele possa receber o que é Seu com os juros. Sua influência e recursos lhe foram dados para prová-la, para revelar o que está em seu coração; você deve usá-los para ganhar almas para Cristo, e assim fazer avançar a causa de seu Redentor. Se deixar de fazer isso, está cometendo um terrível engano. Cada dia que dedicar a servir a si mesma e a agradar seus amigos, submetendo-se à influência deles no amor ao mundo e na negligência de seu melhor Amigo, que morreu para lhe dar vida, está perdendo muito. T4 106 1 Irmã K, você tem pensado que não lhe ficava bem ser diferente dos que a cercam. Está em uma comunidade que tem sido testada sobre a verdade e a tem rejeitado; e você tem ligado seus interesses e afeições aos deles, até que se torne em todos os aspectos um deles. Gosta da companhia deles; contudo não é feliz, embora se gabe de que o seja. Você disse em seu coração: "Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os Seus preceitos e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?" Malaquias 3:14. T4 106 2 Não é questão de pequena importância para uma família o manter a posição de representantes de Jesus, guardando a lei de Deus em uma comunidade de descrentes. Requer-se de nós que sejamos cartas vivas, conhecidas e lidas "por todos os homens". 2 Coríntios 3:2. Esta posição envolve terríveis responsabilidades. Para viver na luz, é mister vir para onde ela brilha. Custe o que custar, o irmão K deve sentir-se sob a mais solene obrigação de assistir, com sua família, pelo menos às reuniões anuais daqueles que amam a verdade. Isso haveria de fortalecer a ele e aos seus, preparando-os para provações e deveres. Não é bom para eles perderem o privilégio de associar-se com pessoas da mesma fé; pois na mente deles a verdade perde sua importância, seu coração deixa de ser iluminado e vivificado por sua santificadora influência, e perdem a espiritualidade. Não são fortalecidos pelas palavras do pregador vivo. Pensamento e empreendimentos mundanos ocupam de contínuo sua mente, com exclusão dos assuntos espirituais. T4 106 3 Muitos cristãos vacilarão na fé, caso negligenciem constantemente encontrar-se para reunião e oração. Caso lhes fosse impossível fruir esses privilégios religiosos, então Deus enviaria luz diretamente do Céu por meio de Seus anjos, a fim de animar, alegrar e abençoar Seu povo disperso. Ele, porém, não Se propõe realizar um milagre para sustentar a fé de Seus santos. Exige-se deles que amem a verdade o suficiente para se darem a alguns pequenos incômodos para obter os privilégios e bênçãos a eles oferecidos por Deus. O mínimo que eles podem fazer é consagrar alguns dias por ano a um esforço unido para levar avante a causa de Cristo e trocarem amistosos conselhos e compassivo interesse. T4 107 1 Muitos dedicam quase todo o seu tempo aos próprios interesses e prazeres temporais, e lamentam os poucos dias gastos e as despesas envolvidas em percorrer uma distância de seus lares para encontrar com o grupo reunido em nome do Senhor. A Palavra do Senhor define cobiça como idolatria; então, quantos idólatras deve haver, mesmo entre aqueles que professam ser seguidores de Cristo! T4 107 2 É requerido que nos reunamos e demos testemunho da verdade. O anjo de Deus disse: "Então, aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dEle, para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve." Malaquias 3:16, 17. T4 107 3 Vale a pena, pois, melhorar os privilégios ao seu alcance e, mesmo com algum sacrifício, reunir-se com os que temem a Deus e falam por Ele; pois Ele é representado como ouvindo aqueles testemunhos enquanto os anjos os escrevem em um livro. Deus Se lembrará dos que se têm reunido e pensado em Seu nome, e Ele os poupará da grande conflagração. Serão à Sua vista como jóias preciosas; mas Sua ira cairá sobre a cabeça desamparada do pecador. Servir a Deus não é coisa vã. Há uma inestimável recompensa para aqueles que devotam a existência a Seu serviço. Prezados irmão e irmã, vocês gradualmente têm entrado em trevas, até que, quase imperceptivelmente, estas têm-se desenvolvido a ponto de lhes parecerem luz. Ocasionalmente um fraco lampejo penetra as trevas e desperta a mente; mas influências circundantes eliminam o raio de luz, e as trevas parecem mais densas do que antes. T4 108 1 Teria sido melhor para o seu bem-estar espiritual se tivessem mudado o seu local de residência alguns anos atrás. A luz da verdade testou a comunidade em que vivem. Uns poucos receberam a mensagem de misericórdia e advertência, enquanto ela foi rejeitada por muitos. Outra classe ainda não a aceitou, porque havia uma cruz a levar. Assumiram uma posição neutra, e julgaram que se não combatessem a verdade estariam fazendo muito bem; mas a luz que negligenciaram receber e acariciar desapareceu em trevas. Eles se empenharam em aquietar a consciência dizendo ao Espírito de Deus: "Por agora, vai-Te, e, em tendo oportunidade, Te chamarei." Atos dos Apóstolos 24:25. Esse tempo favorável nunca chegou. Negligenciaram a oportunidade dourada que nunca lhes retornou; pois o mundo lançou fora a luz que haviam recusado. Os interesses desta vida e a atração de prazeres excitantes lhes absorvem a mente e o coração, enquanto o seu melhor Amigo, o bendito Salvador, é rejeitado e esquecido. T4 108 2 A irmã K, embora possuindo excelentes qualidades naturais, está sendo atraída para longe de Deus por seus amigos e parentes incrédulos que não amam a verdade e não concordam com o sacrifício e abnegação que devem ser exercidos por amor da verdade. A irmã K não tem sentido a importância da separação do mundo, como ordena o mandamento de Deus. A visão dos seus olhos e o ouvir dos seus ouvidos lhe perverteram o coração. T4 108 3 João Batista era homem cheio do Espírito Santo desde seu nascimento, e se existiu alguém capaz de permanecer indiferente às influências corruptoras da época em que viveu, por certo foi ele. Todavia, não se aventurou a confiar nas próprias forças; separou-se dos amigos e parentes a fim de que suas afeições naturais não se lhe demonstrassem um laço. Não se colocava desnecessariamente no caminho da tentação, nem onde os luxos ou mesmo os confortos da vida o levassem a condescender com o ócio ou a satisfazer o apetite, diminuindo-lhe assim a força física e mental. Por tal conduta, a importante missão para qual ele viera não teria sido cumprida. T4 109 1 Sujeitou-se à privação e solidão do deserto, onde lhe era dado conservar a sagrada percepção da majestade de Deus, através do estudo de Seu grande livro da natureza e ali familiarizar-se com o caráter divino revelado em Suas maravilhosas obras. Era um ambiente planejado para aperfeiçoar a cultura moral e manter o temor do Senhor continuamente diante de si. João, o precursor de Cristo, não se expunha à má conversação e à corruptora influência do mundo. Temia o efeito que tivessem sobre sua consciência -- que o pecado deixasse de lhe parecer tão pecaminoso. Preferiu ter seu lar no deserto, onde o ambiente não lhe perverteria os sentidos. Não deveríamos nós aprender alguma coisa desse exemplo de alguém a quem Cristo honrou e do qual disse: "Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João"? Lucas 7:28. T4 109 2 Os primeiros trinta anos da vida de Cristo foram passados em isolamento. Anjos ministradores cuidavam do Senhor da vida, à medida que caminhava lado a lado com os camponeses e trabalhadores pelas colinas de Nazaré, desconhecido e sem honras. Esses nobres exemplos devem ensinar-nos a evitar as más influências e afastar-nos da companhia dos que não vivem corretamente. Não devemos nos gabar de sermos bastante fortes para que tais influências nos afetem, mas devemos, em humildade, guardar-nos do perigo. T4 109 3 O antigo Israel foi especialmente dirigido por Deus para ser e permanecer um povo separado de todas as nações. Não deviam submeter-se a testemunhar a idolatria daqueles que os rodeavam, para que seu coração não se corrompesse e a familiaridade com práticas pecaminosas não os fizesse parecer menos ímpios aos seus olhos. Poucos reconhecem as próprias fraquezas, e que a pecaminosidade natural do coração humano muito freqüentemente paralisa seus mais nobres esforços. T4 109 4 A influência maligna do pecado envenena a vida da alma. Nossa única segurança está na separação daqueles que vivem em suas trevas. O Senhor nos ordena a sair do meio deles e estar separados, e não tocar coisa imunda, e Ele nos receberá, e ser-nos-á por Pai, e nós Lhe seremos filhos e filhas. 2 Coríntios 6:17, 18. Se desejarmos ser adotados na família de Deus, tornar-nos filhos do celeste Rei, devemos sujeitar-nos às Suas condições; devemos sair do mundo, e posicionar-nos como um povo peculiar perante o Senhor, obedecendo a Seus preceitos e servindo-O. T4 110 1 Ló escolheu Sodoma para sua morada porque viu que, do ponto de vista mundano, oferecia vantagens. Mas depois de ali se estabelecer, e enriquecer em tesouros terrestres, convenceu-se de que cometera um erro em não tomar em consideração o estado moral da comunidade em meio da qual ia fundar seu lar. T4 110 2 Os habitantes de Sodoma eram corruptos; conversação vil saudava-lhe os ouvidos diariamente, e sua alma justa afligia-se com a violência e o crime que ele era incapaz de impedir. Seus filhos iam-se tornando tais quais aquela gente ímpia, pois a associação com eles pervertera-lhes a moral. Tomando em conta tudo isso, as riquezas mundanas que juntara pareciam-lhe pequeninas, não valendo o preço que por elas pagara. Amplas eram suas relações de família, pois seus filhos haviam se casado com sodomitas. T4 110 3 Finalmente a indignação do Senhor se acendeu contra os ímpios habitantes da cidade, e anjos de Deus visitaram Sodoma para retirar Ló, a fim de que não perecesse ao ser destruída a cidade. Eles ordenaram a Ló para reunir sua família, sua esposa, e os filhos e filhas que se haviam casado na ímpia Sodoma, e lhe dissessem para fugir do lugar. "Pois", declararam os anjos, "nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo." Gênesis 19:13. T4 110 4 Ló saiu e deu ordens aos filhos, repetindo as palavras do anjo: "Então, saiu Ló, e falou a seus genros, aos que haviam de tomar as suas filhas, e disse: Levantai-vos; saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade." Gênesis 19:14. Ele, porém, pareceu aos seus genros como alguém que gracejava, pois eles haviam morado tanto tempo em Sodoma que se tornaram participantes dos pecados do povo. E as filhas foram influenciadas por seus maridos a crer que o pai delas estava louco. Estavam muito bem onde se encontravam. Eram ricos e tinham grandes bens; e não podiam crer na possibilidade de que a bela Sodoma, uma região rica e fértil, fosse destruída pela ira de um Deus vingativo. T4 111 1 Ló retornou tristemente aos anjos e repetiu a história de seu fracasso. Então os anjos lhe ordenaram erguer-se, tomar a esposa e as duas filhas que ainda estavam em casa, e deixar a cidade. Mas Ló estava triste; o pensamento de deixar seus filhos e sua esposa, pois ela recusava ir sem eles, quase lhe partiu o coração. Teriam todos perecido na terrível ruína de Sodoma, não tivesse o Senhor, em Sua grande misericórdia, enviado Seus anjos para resgatá-los. T4 111 2 Ló estava paralisado pela grande calamidade que estava para ocorrer, pasmado com a dor e o pensamento de deixar tudo que prezava sobre a Terra. Mas, à medida que se demorava, os anjos de Deus o tomaram pela mão e pela mão da esposa e das duas filhas e os levaram para fora da cidade, ordenando-lhes fugir para salvarem a vida, sem olhar para trás, nem permanecer na planície, mas escaparem para as montanhas. T4 111 3 Quão relutante foi Ló em obedecer ao anjo, e sair para o mais distante possível da corrupta Sodoma, destinada a completa destruição! Ele desconfiou de Deus e apelou para ficar. Morar na ímpia cidade havia enfraquecido sua fé e confiança na justiça do Senhor. Apelou para não ter que fazer o que lhe era requerido, para que algum mal não lhe sobreviesse e morresse. Anjos foram enviados em uma missão especial para salvar a vida de Ló e de sua família; mas Ló por tanto tempo tinha se cercado de influências corruptoras, que suas sensibilidades estavam entorpecidas, e não podia discernir as obras e propósitos de Deus; ele não se confiava às Suas mãos para cumprir-Lhe a ordem. Estava continuamente apelando por si mesmo, e essa descrença lhe custou a vida da esposa. Ela olhou para trás na direção de Sodoma, e, murmurando contra as atitudes de Deus, foi transformada em uma estátua de sal, a fim de que permanecesse como advertência a todos quantos desconsideram as especiais misericórdias e providências do Céu. Após essa terrível retribuição, Ló não mais ousou demorar-se pelo caminho, mas fugiu para as montanhas, segundo as instruções dos anjos. A conduta pecaminosa de suas filhas depois de saírem de Sodoma foi o resultado das ímpias amizades, enquanto ali viveram. A percepção do que é correto e do que é errado se confundia na mente delas, e o pecado não lhes parecia como tal. T4 112 1 O caso de Ló deve ser uma advertência a todos os que desejam viver piedosamente, para separar-se de todas as influências projetadas a conduzi-los para longe da luz de Deus. Ló permaneceu por tanto tempo entre os ímpios que foi capaz de salvar apenas a si mesmo e as duas filhas, e mesmo elas estavam corrompidas moralmente por sua permanência em Sodoma. T4 112 2 Deus é decisivo no que diz e não pode ser tratado com leviandade. Oh! quantos pecadores mortais de curta visão pleiteiam com Deus para induzi-Lo a aceitar os seus termos, ao passo que se eles se entregassem sem reservas às Suas mãos, Deus lhes asseguraria a salvação e lhes daria vitórias preciosas! T4 112 3 Irmã K, você está em perigo de tomar decisões que lhe serão muito prejudiciais. Deus tem um trabalho para você fazer que ninguém pode fazer em seu lugar, e sem fazê-lo não poderá ser salva. Deus a ama e não deseja que você pereça na destruição final. Ele a convida a deixar aquelas coisas que impedem o seu progresso espiritual, e a encontrar nEle força e conforto de que precisa. Você tem cuidados e fardos a suportar em sua família, que muitas vezes a preocupam; mas se fizer somente as coisas necessárias para o seu conforto e felicidade temporais, encontrará tempo para ler a sua Bíblia com interesse acompanhado de oração, e para aperfeiçoar um caráter cristão. T4 112 4 Irmão K, você tem estado muito desanimado, mas necessita ser fervoroso, firme e decidido em cumprir seu dever em família, levando-a consigo, se possível. Você não deve poupar esforços para convencê-la a acompanhá-lo na jornada para o Céu. Mas se a mãe e os filhos não escolherem acompanhá-lo, mas procurarem desviá-lo de seus deveres e privilégios religiosos, você deve prosseguir, ainda que tenha de ir só. Precisa viver no temor de Deus. Você precisa aproveitar suas oportunidades de assistir às reuniões e adquirir toda força espiritual que puder, pois dela necessitará nos dias futuros. A propriedade de Ló foi toda ela consumida. Se você tiver de suportar a perda, não deve desanimar; e se puder salvar unicamente uma parte de sua família, será muito melhor que perdê-la toda. T4 113 1 Prezados irmão e irmã, como pais, vocês são em grande medida responsáveis pela salvação de seus filhos. Trouxeram-nos à existência; e devem, por preceito e exemplo, conduzi-los ao Senhor e às cortes do Céu. Devem impressioná-los com o pensamento de que os interesses temporais são de pouca importância quando comparados com o seu bem-estar eterno. Esses queridos filhos estão vivendo entre pessoas mundanas, e estão assimilando amor pelas vaidades da vida. O seu filho L é um rapaz de bom coração e animado; mas precisa do cuidado atencioso de uma mãe cuja experiência diária na vida cristã a habilite a aconselhá-lo e instruí-lo. Ele está exatamente naquela idade em que uma mãe terna e criteriosa pode moldá-lo por sua influência; mas temo, irmã K, que você busque antes moldar os seus filhos segundo os caminhos deste mundo, e negligencie ensiná-los de que a importante obra da vida é formar caráter que assegure a imortalidade. T4 113 2 Se L negligencia tornar-se familiarizado com os temas religiosos e o cristianismo prático, sua vida será um erro. Ele deve ver que precisa de educação nas coisas espirituais, que pode usar suas habilidades plenamente para Deus. O Senhor chama jovens para trabalharem em Sua vinha. Os jovens não devem negligenciar os ramos essenciais da educação. Contudo, se volvem toda a atenção ao estudo secular, negligenciam tornar-se conhecedores do grande tema da religião e não adquirem experiência cristã, estão se desqualificando para o trabalho de Deus. Não importa quão favorável seja a vantagem educacional, algo além do conhecimento de livros é necessário para salvar a alma e conduzir outros ao arrependimento. Dedicar um período de anos apenas à aquisição de conhecimento científico não é preparar-se para ser um obreiro eficiente no serviço de Deus. T4 114 1 Os jovens devem dedicar muito tempo ao estudo; mas devem também unir a atividade física a seus esforços mentais e pôr em prática o conhecimento que obtiveram, a fim de que pelo exercício útil todas as faculdades mentais e físicas possam ser igualmente desenvolvidas. Não devem negligenciar as coisas necessárias para a salvação, nem considerá-las secundárias a coisa alguma nesta vida. T4 114 2 Prezados irmão e irmã, Deus ama a sua família e deseja derramar as Suas bênçãos especiais sobre vocês, a fim de que possam tornar-se instrumentos de justiça em conduzir outros para o Céu. Se inteiramente consagrado a Deus, o irmão K poderia realizar grande soma de bem em uma comunidade onde o seu conselho e influência seriam melhor recebidos e apreciados. Temos grande esperança de que ambos corrigirão o que está errado em sua vida, e renovarão sua fé e obediência a Deus, recebendo nova força dAquele que prometeu ajudar os que clamarem pelo Seu nome. T4 114 3 Jovem irmão L, você cometeu um erro em sua vida. Ao seguir zelosamente os seus estudos, você negligenciou o desenvolvimento de todas as suas faculdades. O crescimento moral nunca deve ser atrofiado no esforço de adquirir uma educação, mas, sim, ser cultivado em grau mais elevado do que geralmente se julga necessário. Meu querido e jovem irmão, você tem sido ambicioso em conseguir conhecimento. Essa missão é digna de louvor; porém, a fim de satisfazê-la, negligenciou os seus interesses eternos e tornou-os secundários aos seus estudos. Deus e o Céu têm ocupado uma posição secundária em suas afeições. As reivindicações da santa lei de Deus não têm sido sagradamente observadas em seu viver diário. Você tem desrespeitado o sábado, estudando nesse tempo sagrado que não deve ser ocupado para seus próprios objetivos. Deus declarou: Nele "não farás nenhuma obra". Êxodo 20:10. T4 114 4 "Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:13, 14. Você se submeteu à inclinação, de preferência ao dever, e tornou os seus estudos superiores à expressa ordem do Altíssimo. T4 115 1 Nossas reuniões campais são preparadas e levadas a efeito à custa de grandes despesas. Os pastores, defensores de uma verdade impopular, trabalham excessivamente nessas grandes reuniões para apresentar a mensagem de misericórdia do Redentor crucificado a pobres pecadores caídos. Negligenciar essa mensagem, ou tratá-la com indiferença, é menosprezar a misericórdia de Deus e Sua voz de advertência e súplica. Sua ausência nessas reuniões tem sido muito prejudicial ao seu bem-estar espiritual. Você tem perdido o vigor que poderia haver adquirido ali ouvindo as pregações da Palavra de Deus, e pelo convívio com os adeptos da verdade. Sua mente tem sido levada a uma apatia fatal com respeito ao bem-estar de sua alma. Você exaltou sua educação secular acima do conhecimento a ser obtido na escola de Cristo. Experiência na verdadeira vida religiosa é necessária a fim de formar um caráter aceitável a Deus, e assegurar as puras virtudes que difundirão a luz do Céu. T4 115 2 Que ansiedade você tem manifestado em disciplinar a mente pelo estudo, tornar-se apropriadamente familiarizado com seus livros e textos, para que possa ter bom crédito no exame diante de seus instrutores, amigos e espectadores interessados! Quão ambicioso tem sido em demonstrar que foi um aluno dedicado e que empregou fielmente o seu tempo em armazenar na mente o conhecimento útil! Você tem estado tão sinceramente ansioso em progredir em seus estudos como em assegurar o elogio de seus amigos e professores. Tem com justiça merecido as honras que recebeu por erudição. Todavia, como você tem disciplinado a mente em religião? Não tem, sem mesmo pensar, colocado o reino de Deus e a Sua justiça abaixo de seus progressos nas ciências? Na verdade, algumas das faculdades humanas foram dadas mais especialmente com o propósito de nos empenharmos em questões seculares, mas as faculdades mentais mais elevadas devem ser inteiramente consagradas a Deus. Elas controlam a pessoa e formam sua vida e caráter. Embora não deva negligenciar os seus estudos seculares, não tem o direito de dedicar-lhes toda a atenção; mas deve dedicar-se especialmente aos requisitos morais e espirituais de seu Pai celestial. T4 116 1 Quão pouca ansiedade tem manifestado em aproveitar as vantagens religiosas a seu alcance para obter conhecimento mais completo das leis de Deus, e determinação de viver em conformidade com elas! Você tem feito pouco esforço para tornar-se um cristão fiel e inteligente. Como, pois, estará preparado a passar pelo grande exame, quando todos os seus atos, palavras e os pensamentos mais íntimos de seu coração forem patenteados perante o grande Juiz e a assembléia dos santos e dos anjos? Você tem tido pouca ambição em obter aptidão espiritual para suportar esse exame rigoroso na presença daquela exaltada multidão. Qual, então, será a decisão final quanto às suas realizações morais e religiosas, aquela decisão da qual não há apelação? Quais serão as honras a serem reconhecidas por causa de sua fidelidade em preservar a requerida harmonia entre a religião e as atividades científicas? Ficará firme como quem possui coragem moral inabalável, em quem é revelada excelência de conhecimento humano unido ao santo zelo por Deus e obediência a Sua lei? T4 116 2 Meu irmão, você deve considerar a sabedoria de Deus como completa. A religião deve ir de mãos dadas com a ciência, a fim de tornar a sua educação um meio santificado de fazer o bem e levar outros à verdade. Quanto mais aprendemos na escola de Cristo mais ansiosos estaremos em progredir nesse conhecimento. Todas as nossas aquisições são de pequeno valor, a menos que o caráter seja enobrecido pela religião. Deus tem deveres especiais para cada indivíduo realizar, e uma decisão será tomada sobre cada caso quanto à fidelidade com que esses deveres têm sido realizados. T4 116 3 O Senhor freqüentemente nos coloca em posições difíceis para estimular-nos a maior aplicação. Em Sua providência, às vezes ocorrem contrariedades especiais para testar nossa paciência e fé. Deus nos dá lições de confiança. Ele deseja ensinar-nos onde buscar auxílio e forças em tempo de necessidade. Assim obtemos conhecimento prático de Sua divina vontade, de que muito carecemos em nossa experiência de vida. A fé se fortalece através do sério conflito com a dúvida e o temor. T4 117 1 Irmão, você poderá ser um vencedor se cuidar devidamente da sua conduta. Deve dedicar a sua jovem vida à causa de Deus e orar por êxito. Não deve fechar os olhos ao seu perigo, mas resolutamente preparar-se para toda dificuldade em seu progresso como cristão. Tome tempo para reflexão e para oração humilde e fervorosa. Os seus talentos são evidentes e você está confiante com respeito a seu futuro êxito; mas ficará desapontado, a menos que compreenda a fraqueza de seu coração natural. T4 117 2 Você está apenas começando a vida; chegou a uma idade de assumir responsabilidades por si próprio. Este é um período crítico em sua existência. Agora, enquanto é jovem, você está semeando no campo da vida. Aquilo que semear também ceifará; tal como foi a semeadura, assim será a colheita. Se for negligente e indiferente a respeito das coisas eternas, sofrerá uma grande perda, e, por sua influência impedirá que outros cumpram suas obrigações para com Deus. T4 117 3 Ambos os mundos estão perante você. Qual escolherá? Seja sábio e apodere-se da vida eterna. Não se desvie de sua integridade, por mais desagradáveis que possam parecer os seus deveres na presente situação. Pode parecer que esteja para fazer grandes sacrifícios a fim de preservar sua pureza de alma, mas não hesite; avance no temor de Deus e Ele abençoará seus esforços e o recompensará mil vezes mais. Não renuncie às seus direitos e privilégios religiosos a fim de satisfazer os desejos de seus amigos e parentes não consagrados. Você é chamado a tomar sua posição pela verdade, mesmo que esteja indo em direta oposição àqueles que estão intimamente relacionados a você. Não permita Deus que esta última prova lhe venha para testar sua integridade pelo direito. T4 117 4 Lance o fundamento de seu caráter cristão sobre a eterna rocha da salvação e permita que a estrutura seja firme e confiável. T4 118 1 Esperamos que sua mãe o ajude, bem como a seus irmãos e irmãs, em seus esforços de aperfeiçoar verdadeiro caráter, segundo o modelo de Cristo, para que possam ter aptidão moral para a sociedade dos santos anjos no reino de glória. ------------------------Capítulo 11 -- Interesse dividido T4 118 2 Prezados irmãos M: T4 118 3 Na visão que me foi dada em Janeiro passado, me foram mostradas algumas coisas com referência a ambos. Foi-me mostrado que não estão crescendo em espiritualidade como é seu dever e privilégio fazer. A grandeza da obra e as providências que se abrem da parte de Deus devem lhes impressionar o coração. Cristo designou que Seus filhos crentes sejam a luz do mundo, o sal da terra. A vida santa, o exemplo cristão, de um bom homem numa comunidade lança uma luz que é refletida sobre outros. Quão grande, pois, deveria ser a influência de um grupo de crentes, todos andando em harmonia com os mandamentos de Deus. T4 118 4 A pregação da Palavra é ordenada por Deus para despertar e convencer pecadores. E quando o pregador vivo exemplifica na própria vida a abnegação e sacrifícios de Cristo, quando a sua conversação e atos estão em harmonia como o divino Modelo, então sua influência será poderosa sobre aqueles que lhe ouvem a voz. Mas todos não podem ser mestres da palavra no púlpito. Os deveres de diferentes pessoas variam e há obra para todos fazerem. Todos podem ajudar a causa, dando dedicadamente de seus recursos para ajudar os vários ramos do trabalho, fornecendo recursos para a publicação de folhetos e periódicos a fim de serem espalhados entre o povo e disseminarem a verdade. Os que dão dinheiro para promover a causa estão assumindo uma parte da responsabilidade do trabalho; eles são coobreiros com Cristo, pois Deus lhes concedeu recursos em custódia para serem usados para propósitos santos e sábios. Eles são os agentes que o Céu tem ordenado para fazer o bem, e as pessoas devem entregar esses talentos aos banqueiros. T4 119 1 Queridos irmãos, sempre tenham em mente que vocês são mordomos de Deus e que Ele os tem por responsáveis pelos talentos temporais que lhes emprestou para empregarem sabiamente para a Sua glória. Não examinarão criteriosamente o coração e investigarão os motivos que os levam à ação? Foi-me mostrado que o seu perigo está em amar os seus bens. Seus ouvidos não estão prontos para ouvir o chamado do Mestre na pessoa de Seus santos e nas necessidades de Sua causa. Vocês não investem o seu tesouro alegremente no empreendimento do cristianismo. Se desejam um tesouro no Céu, devem garanti-lo enquanto têm oportunidade. Se vocês se sentem mais seguros em aplicar os seus recursos em maior acúmulo de riquezas terrestres e em investir limitadamente na causa de Deus, então devem sentir-se satisfeitos em receber o tesouro celestial de acordo com o seu investimento em ações celestiais. T4 119 2 Vocês desejam ver a causa de Deus prosperar; contudo, empenham pouco esforço pessoal para tal fim. Se vocês e outros que professam nossa fé santificada pudessem ver a sua verdadeira posição e perceber a responsabilidade que têm diante de Deus, se tornariam colaboradores mais zelosos com Jesus. "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento." Lucas 10:27. Não pode haver interesse dividido nisso, pois o coração, alma e forças compreendem o ser inteiro. T4 119 3 Declara o apóstolo: "Não sois de vós mesmos... fostes comprados por bom preço." 1 Coríntios 6:19, 20. Quando o pobre e condenado pecador jazia sob a maldição da lei do Pai, Jesus tanto o amou que deu a Si mesmo pelo transgressor. Ele o redimiu pelos méritos do Seu sangue. Não podemos avaliar o precioso resgate pago pela redenção do homem caído. O melhor do coração e as mais santas afeições devem ser dadas em retribuição a um amor tão maravilhoso. Os dons temporais que desfrutam lhes são meramente emprestados para ajudá-los no avanço do reino de Deus. T4 119 4 Falo do sistema do dízimo; contudo, como me parece mesquinho à mente! Quão pequeno o preço! Como é vão o esforço de medir com regras matemáticas o tempo, dinheiro e amor em face de um amor e sacrifício incomensuráveis e que não se podem avaliar. Dízimos para Cristo! Oh, mesquinha esmola, vergonhosa recompensa daquilo que tanto custou. Da cruz do Calvário, Cristo pede uma entrega incondicional. Ele prometeu ao jovem príncipe que se ele vendesse tudo que tinha e desse aos pobres, tomasse a sua cruz e O seguisse, obteria um tesouro no Céu. Tudo quanto possuímos deve ser consagrado a Deus. A Majestade do Céu veio ao mundo para morrer em sacrifício pelos pecados do homem. E quão frio e egoísta é o coração humano, que pode rejeitar tão incomparável amor e aplicar-se às coisas vãs deste mundo. T4 120 1 Quando o egoísmo estiver lutando pela vitória sobre vocês, tenham em mente Aquele que deixou as cortes gloriosas do Céu, e pôs de lado as vestes da realeza em seu favor, tornando-Se pobre para que mediante a Sua pobreza vocês se tornassem ricos. Desconsiderarão, pois, esse grande amor e misericórdia ilimitados, recusando enfrentar inconveniências e negar a si mesmos por Sua querida causa? Apegar-se-ão aos tesouros desta vida e negligenciarão ajudar a levar adiante a grande obra da verdade? T4 120 2 Ordenou-se outrora aos filhos de Israel que toda a congregação trouxesse uma oferta, a fim de purificá-la da contaminação cerimonial. Esse sacrifício era uma novilha vermelha e representava o perfeito sacrifício que deveria remir da poluição do pecado. Era esse um sacrifício ocasional para purificação de todos os que, por necessidade ou acidentalmente, haviam tocado em cadáver. Todos os que entravam em contato com a morte eram de qualquer modo considerados cerimonialmente impuros. Destinava-se isso a impressionar profundamente a mente dos hebreus com o fato de que a morte veio em conseqüência do pecado, sendo, portanto, representação do pecado. Uma novilha, uma arca e uma serpente ardente apontam com insistência para uma grande oferta -- o sacrifício de Cristo. T4 120 3 Essa novilha devia ser vermelha, o que era símbolo de sangue. Tinha de ser sem mancha nem defeito e nunca ter estado sob jugo. Cristo novamente é aqui representado. O Filho de Deus veio voluntariamente para realizar a obra da expiação. Não havia sobre Ele jugo obrigatório; pois era independente e acima de toda a lei. Os anjos, como inteligentes mensageiros divinos, achavam-se sob o jugo da obrigação; nenhum sacrifício pessoal deles poderia expiar a culpa do homem caído. Somente Cristo estava livre dos reclamos da lei para empreender a redenção da raça pecadora. Tinha Ele poder para depor a vida e para retomá-la. "Pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus." Filipenses 2:6. T4 121 1 No entanto, esse Ser glorioso amou o pobre pecador e tomou sobre Si a forma de servo para que pudesse sofrer e morrer em lugar do homem. Jesus poderia ter ficado à destra do Pai, usando a coroa e as vestes reais. Mas preferiu trocar as riquezas, honra e glória do Céu pela pobreza da humanidade, e Sua posição de alto comando pelos horrores do Getsêmani e a humilhação e agonia do Calvário. Tornou-Se um Varão de dores e experimentado nos trabalhos, a fim de que por Seu batismo no sofrimento e sangue pudesse purificar e redimir um mundo culpado. "Eis aqui venho", foi o prazenteiro assentimento, para "fazer a Tua vontade, ó Deus Meu." Salmos 40:7, 8. T4 121 2 A novilha sacrifical era conduzida para fora do arraial e morta da maneira mais impressionante. Assim Cristo sofreu fora das portas de Jerusalém, pois o Calvário se achava fora dos muros da cidade. Isto se destinava a mostrar que Cristo não morreu pelos hebreus somente, mas por toda a humanidade. Ele proclama ao mundo caído que veio a fim de ser seu Redentor, e insta com os homens a que aceitem a salvação que lhes oferece. Morta a novilha do modo mais solene, o sacerdote, trajando vestes puramente brancas, tomava nas mãos o sangue quando jorrava do corpo da vítima, e lançava-o em direção do templo sete vezes. "E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa." Hebreus 10:21, 22. T4 121 3 O corpo da novilha era queimado e reduzido a cinzas, o que significava um sacrifício amplo e completo. As cinzas eram então reunidas por pessoa não contaminada pelo contato com morto, e colocadas num vaso que continha água provinda de uma corrente. Essa pessoa limpa e pura tomava então uma vara de cedro com estofo carmesim e um ramo de hissopo, e aspergia o conteúdo do vaso sobre a tenda e sobre o povo reunido. Esta cerimônia era repetida várias vezes, a fim de ser completa, e fazia-se como purificação do pecado. T4 122 1 Assim Cristo, em Sua própria justiça imaculada, depois de derramar Seu sangue precioso, penetra no lugar santo para purificar o santuário. E ali a corrente carmesim é empregada no serviço de reconciliar Deus com o homem. Poderá haver quem considere esse sacrificar da novilha como cerimônia destituída de significado; mas era celebrada por ordem de Deus, e tem profundo significado, que não perdeu sua aplicação ao tempo presente. T4 122 2 O sacerdote usava cedro e hissopo, mergulhando-os na água purificadora e aspergindo o imundo. Isto simbolizava o sangue de Cristo derramado para nos purificar das impurezas morais. A aspersão repetida ilustra o caráter completo da obra que tinha de ser realizada em favor do pecador arrependido. Tudo que ele possui tem de ser consagrado. Não só deve sua própria alma ser lavada de modo a ficar limpa e pura, mas deve ele empenhar-se em que a família, a administração doméstica, a propriedade e todos os seus pertences -- tudo seja consagrado a Deus. T4 122 3 Depois que a tenda fora aspergida com hissopo, acima da porta dos purificados era escrito: Não sou meu; Senhor, sou Teu. Assim deve ser com os que professam ser purificados pelo sangue de Cristo. Deus não é menos estrito hoje do que era nos tempos antigos. O salmista, em sua oração, refere-se a essa cerimônia simbólica quando diz: "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve." "Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto." "Torna a dar-me a alegria da Tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário." Salmos 51:7, 10, 12. T4 122 4 O sangue de Cristo é eficaz, mas precisa ser aplicado continuamente. Deus não só quer que Seus servos usem os recursos que lhes confiou para Sua glória, mas deseja que consagrem a si mesmos à Sua causa. Se vocês, meus irmãos, se tornam egoístas e estão retendo do Senhor aquilo que devem alegremente dar ao Seu serviço, necessitam então de que se lhes aplique completamente o sangue da aspersão,consagrando-os a Deus com todas as suas posses. T4 123 1 Meus mui respeitados irmãos, vocês não têm aquela devoção altruísta pelo trabalho de Deus como Ele lhes requer. Dedicaram sua atenção a questões temporais. Treinaram a mente para os negócios a fim de com isso serem beneficiados. Todavia, Deus os chama para mais íntima comunhão com Ele, a fim de que possa moldá-los e prepará-los para o Seu trabalho. Uma solene declaração foi feita ao antigo Israel de que o homem que permanecesse impuro e recusasse purificar-se, devia ser eliminado da congregação. Isto tem um significado especial para nós. Se naquele tempo era necessário que o impuro se purificasse pelo sangue da aspersão, quão imprescindível é para os que vivem nos perigos dos últimos dias, expostos às tentações de Satanás, terem diariamente o sangue de Cristo aplicado ao seu coração! "Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?" Hebreus 9:13, 14. T4 123 2 Ambos devem realizar muito mais do que têm feito em assumir as responsabilidades da obra do Senhor. Admoesto-os a despertarem de sua letargia, deixar a vã idolatria das coisas mundanas, e zelosamente assegurarem um título da herança imortal. Trabalhem enquanto é dia. Não ponham em perigo sua alma, deixando escapar oportunidades presentes. Não atribuam importância secundária a seus interesses eternos. Não coloquem o mundo à frente da religião, empenhando-se dia após dia em adquirir suas riquezas, enquanto o perigo da bancarrota eterna os ameaça. Cada dia os está levando para mais perto da final prestação de contas. Estejam prontos para entregar os talentos que lhes foram dados por empréstimo, com o aumento obtido por seu sábio emprego. T4 123 3 Vocês não podem aceitar sacrificar o Céu, ou pôr em risco a sua segurança. Não permitam que a sedução das riquezas os levem a negligenciar o tesouro imortal. Satanás é um inimigo astuto, e está sempre em seu encalço, lutando para enredá-los e efetuar a sua ruína. Estamos no tempo de espera; que os seus lombos estejam cingidos e sua luz brilhando, a fim de que possam esperar pelo Senhor quando retornar das bodas, de modo que quando Ele vier e bater, possam abrir-Lhe imediatamente. T4 124 1 Observem, irmãos, a primeira redução de sua luz, a primeira negligência da oração, o primeiro sintoma de cochilo espiritual. "Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo." Mateus 24:13. É pelo constante exercício de fé e amor que os crentes brilham como luzes no mundo. Vocês não estão se preparando devidamente para a vinda do Mestre se estiverem servindo a Mamom enquanto professam servir a Deus. Quando Ele aparecer, devem então apresentar-Lhe os talentos que sepultaram na terra, talentos negligenciados, abusados, mal-empregados -- um amor dividido. T4 124 2 Ambos têm professado ser servos de Cristo. Quão necessário é que obedeçam às instruções do Mestre e sejam fiéis a seus deveres. "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Esse amor é sem paralelo, dando aos homens a condição de filhos de Deus. Portanto, o Pai espera obediência da parte de Seus filhos; assim, Ele requer uma distribuição correta da propriedade que lhes depositou nas mãos. Não pertence a eles para ser usada para satisfação pessoal; mas é capital do Senhor, pelo qual eles Lhe são responsáveis. T4 124 3 Filhos do Senhor, quão preciosa é a promessa! Quão completa a expiação do Salvador por nossa culpa! O Redentor, com coração de inalterável amor, ainda pleiteia o Seu sagrado sangue em favor do pecador. As mãos feridas, o lado traspassado, os pés cravejados pleiteiam eloqüentemente em favor do homem caído, cuja redenção foi comprada por tão infinito preço. Oh, condescendência sem igual! Nem o tempo nem os acontecimentos podem diminuir a eficácia do sacrifício expiatório. Tal como a fragrante nuvem de incenso elevou aos Céus de modo aceitável, e Arão aspergiu o sangue sobre o propiciatório do antigo Israel e purificou o povo da culpa, assim os méritos do Cordeiro que foi morto são aceitos por Deus hoje como purificadores da contaminação do pecado. T4 124 4 "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Mateus 26:41. Há duras batalhas a enfrentar. Vocês devem revestir-se de toda a armadura da justiça, e provar-se fortes e verdadeiros no serviço do seu Redentor. Deus não deseja preguiçosos em Seu campo, mas colaboradores com Cristo, sentinelas vigilantes em seus postos, corajosos soldados da cruz, prontos para fazerem e ousarem todas as coisas pela causa em que estão alistados. T4 125 1 Não é riqueza nem intelecto que traz a felicidade; é o verdadeiro valor moral e o senso do dever cumprido. Vocês podem ter a recompensa do vencedor e permanecer perante o trono de Cristo para cantar Seus louvores no dia em que Ele reunir os Seus santos; mas as suas vestes precisam estar purificadas no sangue do Cordeiro, e a caridade deve lhes cobrir como uma vestimenta, e serem achados incontaminados e sem manchas. T4 125 2 João declara: "Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro." Apocalipse 7:9, 10. "E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, Tu sabes. E Ele disse-me: Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda lágrima." Apocalipse 7:13-17. ------------------------Capítulo 12 -- Exaltação própria T4 125 3 Prezado irmão N: T4 125 4 Em minha última visão o seu caso foi apresentado perante mim. Foi-me mostrado que há defeitos em seu caráter cristão que precisam ser vencidos antes que possa aperfeiçoar santidade no temor do Senhor. Você ama a verdade, mas precisa ser santificado por ela. Você não é egoísta nem mesquinho em hospitalidade ou em sustentar a causa da verdade; mas há um tipo de egoísmo que reside em seu coração. Está apegado à própria opinião e exalta o próprio julgamento sobre o de outros. Está em perigo de exaltar-se acima de seus irmãos. Você é exigente e inclinado a levar adiante as próprias idéias, independentemente de seus irmãos, porque considera sua inteligência e experiência superiores às deles. Nisto deixa de acatar a recomendação do apóstolo: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo." Filipenses 2:3. Você tem suas noções, seus propósitos e planos, e imagina que nunca podem estar incorretos. T4 126 1 Em seu lar você tem sempre assumido exageradamente a direção das coisas. Tem se sentido aborrecido e ferido quando suas opiniões ou planos são contrariados, em vez de fazer concessões ou aceitar a posição daqueles que se lhe opõem, considerando que eles, como você mesmo, têm direito a julgamento independente. Não podia suportar que sua família questionasse seus planos, ou oferecesse sugestões que difiram de suas opiniões. Em conseqüência desse desagradável estado de coisas, sua família geralmente tem renunciado os próprios desejos em favor dos seus, e permitido que você faça as coisas a seu modo, a fim de preservar a harmonia no lar. Portanto, em sua família tem prevalecido muita tolerância e paciente condescendência para com seus caprichos. Isso lhe parece somente um adequado reconhecimento de sua legítima autoridade; você considera isso como administração correta e sensata de sua parte. T4 126 2 Toda vez que sua determinação de exercer a todo custo o próprio julgamento tem levado seus amigos ao extremo oposto e a sentirem desprezo pelo seu espírito arbitrário, você tem sentido e sugerido que toda essa oposição foi instigada pelas tentações do inimigo. Isso o tem tornado mais persistente em pôr em prática as próprias idéias, sem levar em conta os desejos de outros. T4 126 3 Você está em perigo de ter problemas pela sua indisposição de conceder liberdade de julgamento e opinião àqueles que estão relacionados com você. Convém que se lembre que as opiniões e métodos deles podem ser-lhes tão caros quanto lhe são os seus. Corremos o risco de perder de vista este fato quando censuramos outros por não concordarem conosco. Você controla os membros de sua família com muita rigidez. É muito meticuloso ao estabelecer-lhes "regra sobre regra" e "preceito sobre preceito"; e se alguém aventurar-se em divergir de você, isso somente o torna mais determinado a agir segundo a própria opinião, e mostrar que você é o mestre em sua própria casa, e que não devem interferir. T4 127 1 Parece considerar ser-lhe suficiente dizer que algo deve ser feito para que isso seja executado exatamente como indicou. Desse modo arbitrário, muitas vezes você coloca sua opinião e julgamento entre a sua família e o bom senso dela sobre o que é certo e apropriado naquelas circunstâncias. Você cometeu um triste erro em suplantar a vontade e julgamento de sua esposa, e requerer dela inquestionável submissão a sua sabedoria superior ou trazer discórdia ao seu lar. T4 127 2 Não deve procurar reger as ações de sua esposa, ou tratá-la como uma dependente servil. Nunca se eleve acima dela, desculpando-se por pensar: "Ela é inexperiente e inferior a mim." Nunca busque sem razão dobrar a vontade dela à sua, pois ela tem uma individualidade que nunca pode ser imersa na sua. Tenho visto muitas famílias fracassarem por causa do autoritarismo do líder, quando por consulta e acordo tudo podia ter caminhado harmoniosamente e bem. T4 127 3 Meu irmão, você é muito presunçoso. Saiu de seu próprio território para exercer autoridade. Imagina que entende a melhor forma de realizar o trabalho na cozinha. Você tem suas idéias peculiares de como tudo deve ser feito em assunto de trabalho, e espera que todos se adaptem como máquinas a suas idéias, e observem a ordem particular que lhe agrada. T4 127 4 Esses esforços para colocar os seus amigos numa posição em que pacificamente cedam todo desejo e inclinação à sua vontade são vãos e fúteis. Nem todas as mentes são moldadas de forma semelhante -- e é bom que assim seja -- pois se fossem exatamente iguais, haveria menos harmonia e adaptabilidade natural de uns para com os outros do que agora. Mas todos nós somos representados como sendo membros do corpo, unidos em Cristo. Nesse corpo há vários membros, e um dos membros não pode preencher exatamente a mesma função de outro. Os olhos são feitos para ver, e em caso algum podem realizar o trabalho dos ouvidos, que o de ouvir; nem podem os ouvidos tomar o lugar da boca, nem a boca realizar a função do nariz. No entanto, todos esses órgãos são necessários ao todo perfeito, e atuam em bela harmonia mútua. As mãos têm a sua função, e os pés têm a deles. Não deve um dizer ao outro: "Você é inferior a mim"; as mãos não podem dizer aos pés: "Não precisamos de vocês"; todos são unidos ao corpo para realizarem seu trabalho específico e devem ser igualmente respeitados, pois conduzem ao conforto e utilidade do todo perfeito. T4 128 1 Não é possível termos todos as mesmas opiniões nem podemos nutrir as mesmas idéias, mas deve uma pessoa ser um benefício e bênção a outra, de modo que o que falta a um, outro possa suprir. Você tem certas deficiências de caráter e tendências naturais que fazem com que lhe seja de proveito entrar em contato com mentes de constituição diferente, a fim de equilibrar a sua. Em vez de ficar superintendendo tão exclusivamente, você deve consultar a esposa para chegarem a decisões conjuntas. Você não estimula o esforço independente por parte de sua família; mas se não são seguidas escrupulosamente suas decisões específicas, demasiadas vezes você critica os faltosos. T4 128 2 Fossem sua esposa e outros membros de sua família sem tato ou habilidade, você seria mais desculpável por tomar as rédeas totalmente nas próprias mãos; mas não sendo este o caso, sua conduta é inteiramente injustificável. Após você ter-lhes informado bondosamente a respeito de seus pontos de vista quanto ao cozinhar e a administração de assuntos domésticos, e exposto quais são os seus desejos a esse respeito, não prossiga, mas deixe-os empregarem suas sugestões como decidirem. Há muito mais probabilidade de serem influenciados a contentá-lo do que se você recorresse a medidas autoritárias. E mesmo que não se adaptem a suas opiniões, não persista em determinar que tudo seja feito a seu modo. Deve lembrar-se que a independência natural de outros deve ser respeitada. Se sua esposa realiza o seu trabalho do modo que lhe é conveniente, você não tem o direito de interferir nos seus assuntos, e atormentá-la e sobrecarregá-la com suas muitas sugestões e críticas quanto à administração dela. T4 129 1 Você tem muitos traços de caráter positivos e generosos. Para com os de fora de sua própria família, em geral, você é um homem cortês e amável. Talvez isso se atribua, em alguma medida, ao fato de que não ousa revelar sua disposição natural a ninguém, exceto àqueles a quem considera grandemente seus inferiores. Se sua superioridade não for suficientemente reconhecida na sociedade, decide que o será em casa, onde julga que ninguém se atreverá a questionar suas reivindicações. T4 129 2 Você deve empenhar-se diligentemente em efetuar uma mudança em si mesmo. Se estiver disposto a sacrificar o seu egoísmo, sua disposição autoritária, suas idéias e noções favoritas, pode ter um lar pacífico e feliz sobre o qual os anjos se deleitarão em vigiar. É mais agradável fazer prevalecer a sua vontade do que ver uma apropriada liberdade de ação e de pensamento em seu lar? A sua casa nem sempre é o que devia ser; mas você é a principal causa de discórdia ali. Se você é representante de Cristo na Terra, não represente mal, eu lhe apelo, ao seu bendito Redentor, que foi manso e bondoso, gentil e perdoador. T4 129 3 É algo digno de sua consideração o fato de que é coisa difícil para aqueles que possuem mente e idéias saudáveis atuarem precisamente no esquema que outra pessoa lhes traçou. Portanto, você não tem direito moral de perturbar sua esposa e família com seus caprichos e noções petulantes com respeito às atividades deles. Ser-lhe-á difícil mudar de imediato o seu modo de agir; mas tome firme resolução de que não entrará em sua cozinha a menos que seja para encorajar os esforços e elogiar a administração daqueles que estão trabalhando ali. Que o elogio tome o lugar da censura. T4 130 1 Cultive traços de caráter opostos àqueles que são aqui reprovados. Busque desenvolver bondade, paciência, amor e todas as virtudes que terão influência transformadora em seu lar e que iluminarão a vida de seus familiares e amigos. Confesse que agiu mal, e então dê meia-volta e se esforce por ser justo e correto. Não se empenhe em tornar sua esposa uma escrava de sua vontade, mas pela bondade e desejo altruísta de propiciar-lhe conforto e felicidade, atraia-a em íntima simpatia com você. Dê-lhe uma oportunidade de exercer as próprias faculdades, e não tente distorcer-lhe a mente e moldar seu discernimento até que ela perca sua identidade mental. T4 130 2 Ela é filha de Deus e mulher de fina capacidade e bom gosto, que tem modesta opinião a seu próprio respeito. Mas você tem por tanto tempo lhe ditado o que fazer e desencorajado o seu pensamento independente que isso teve influência para fazer com que ela se fechasse em si mesma e deixasse de desenvolver a nobre feminilidade que lhe pertence por direito. Ao considerar com sua esposa questões que lhe afetam os próprios interesses, bem como os seus, você sabe que se ela expressa opinião contrária à sua, um sentimento de contrariedade é suscitado no seu coração, e o eu toma posse de você e exclui aquele sentimento de respeito que deve nutrir naturalmente em relação à companheira de sua vida. T4 130 3 O mesmo espírito que você exerce em casa será manifesto mais ou menos em seu relacionamento na igreja. Sua vontade determinada, suas firmes opiniões serão estimuladas e transformadas em poder dominante tanto quanto possível. Isso nunca funcionará; você deve sentir a necessidade de ocasionalmente submeter seu critério ao de outros, e não persistir em sua posição num grau que freqüentemente se aproxima da obstinação. Se você deseja obter a bênção diária de Deus, deve ajustar seu temperamento dominador, e fazê-lo corresponder ao Modelo divino. T4 130 4 Com freqüência inconscientemente indispõe sua esposa contra você mesmo porque não reveste suas palavras e atos com aquela ternura que devia. Assim diminui o amor dela por você, e promove uma frieza que está penetrando sorrateiramente em seu lar. Se pensar menos em si mesmo e mais nos tesouros de seu lar, dando a devida consideração aos membros de sua família, permitindo-lhes apropriado exercício de opinião individual, atrairá uma bênção sobre si mesmo e sobre eles, e aumentará o respeito que eles têm por você. T4 131 1 Tem-se inclinado a considerar com certo desprezo os seus irmãos que erraram, e que, devido ao temperamento natural deles, acharam difícil vencer os males que os assediavam. Mas Jesus deles Se compadece; Ele os ama e suporta as fraquezas deles, tanto quanto as suas. Comete um erro em exaltar-se acima dos que não são tão fortes como você. Erra em encerrar-se num espírito de justiça própria, agradecendo a Deus por não ser como os demais homens, pois sua fé e zelo excedem à daqueles pobres e fracos que lutam por fazer o que é certo sob desânimo e escuridão. T4 131 2 Anjos de um Céu puro e santo vêm a este mundo poluído para compadecer-se dos fracos, dos mais desamparados e necessitados, enquanto o próprio Cristo desceu de Seu trono para ajudar exatamente esses. Você não tem o direito de manter-se afastado desses vacilantes, nem insistir em sua marcante superioridade sobre eles. Esteja mais em harmonia com Cristo, compadecendo-se dos errantes, erguendo as mãos frouxas, fortalecendo os joelhos trementes, e animando os corações temerosos para que sejam fortes. Compadeça-se e ajude-os, tal como Cristo teve misericórdia de você. T4 131 3 Você tem desejado trabalhar para o Mestre. Aqui há trabalho a fazer que Lhe será aceitável -- trabalho que os próprios anjos estão empenhados em levar adiante. Você poderá ser um colaborador com eles. Mas nunca será chamado a pregar a palavra ao povo. Você pode, de maneira geral, ter conhecimento correto de nossa fé, mas faltam-lhe as qualificações de um professor. Não tem habilidade de adaptar-se às necessidades e forma de agir de outros. Não tem volume suficiente de voz. Mesmo em reuniões de comissão, você fala baixo demais para ser ouvido pelos que estão reunidos. Também, meu prezado irmão, freqüentemente corre o risco de ser tedioso. Mesmo em pequenas reuniões, seus comentários são por demais longos. Cada palavra do que diz pode ser verdadeira, mas a fim de encontrar acesso à alma, deve ser acompanhada de poder espiritual fervoroso. O que dizemos deve estar na medida exata e não ser tão longo que canse os ouvintes, do contrário o assunto não encontrará guarida no coração deles. T4 132 1 Há abundância de trabalho para todos. Você, meu prezado irmão, pode com toda a segurança prestar bons serviços para o Senhor, auxiliando os que precisam de ajuda. Poderá sentir que seu trabalho nesta direção não é corretamente apreciado; mas lembre-se de que a obra de nosso Salvador foi também subestimada por aqueles a quem Ele beneficiava. Ele veio para salvar os que se haviam perdido; mas os mesmos a quem Ele buscou salvar, recusaram a Sua ajuda e finalmente O levaram à morte. T4 132 2 Se você fracassar noventa e nove vezes em cada cem, mas for bem-sucedido em salvar da ruína uma única alma, realizou um nobre trabalho pela causa do Mestre. Mas para ser cooperador de Jesus, você necessita de toda a paciência com aqueles por quem trabalha, não desdenhando a simplicidade da obra, mas olhando aos benditos resultados. Quando aqueles em benefício de quem trabalha não correspondem exatamente a sua expectativa, você freqüentemente diz no coração: "Deixe-os ir; não são dignos da salvação." Que seria se Cristo houvesse assim tratado os pobres desamparados? Ele morreu para salvar os miseráveis pecadores, e se você trabalha com o mesmo espírito e do mesmo modo indicado pelo exemplo dAquele a quem segue, deixando com Deus os resultados, não poderá absolutamente avaliar nesta vida a soma de benefícios que realizou. T4 132 3 Você tem a tendência de procurar trabalho mais elevado do que os que naturalmente se lhe apresentam. Busca influenciar somente os intelectuais e ilustres entre os homens. Mas esta classe certamente desapontará as suas expectativas. Se continuarem por muito tempo em transgressão, raramente sentirão plenamente sua condição perdida e sem esperança. Você deve trabalhar, como fez Cristo, com toda a humildade, e não perderá a sua recompensa. É tão nobre trabalhar entre os pequenos e humildes, conduzindo-os ao Salvador, como entre os ricos e poderosos. Acima de tudo, não assuma responsabilidades que não é capaz de desempenhar. T4 133 1 Deve ser feito todo o possível para tornar interessantes as reuniões de nosso povo. Você pode ser de grande auxílio nisso se seguir o roteiro apropriado. Especialmente devem nossas reuniões sociais ser apropriadamente dirigidas. Umas poucas palavras apropriadas com relação ao seu progresso na vida religiosa, ditas em voz clara, audível, de modo fervoroso, sem qualquer esforço de retórica, seriam edificantes a outros e uma bênção à própria alma. T4 133 2 Você precisa da influência enternecedora e subjugadora do Espírito de Deus sobre seu coração. Ninguém deve acolher a idéia de que apenas o conhecimento correto da verdade preencherá os requisitos de Deus. Amor e boa vontade que existem somente quando nossos caminhos são reconhecidos como corretos por nossos amigos não têm valor real, pois isto é natural ao coração não regenerado. Aqueles que professam ser filhos de Deus e caminham na luz não devem sentir-se aborrecidos ou irados quando o seu caminho é contrariado. T4 133 3 Você ama a verdade e está ansioso pelo seu progresso. Será colocado em várias circunstâncias a fim de que seja provado. Poderá desenvolver um verdadeiro caráter cristão se submeter-se à disciplina. Seus interesses vitais estão em jogo. O que mais precisa é de verdadeira santidade e um espírito de sacrifício próprio. Poderemos obter conhecimento da verdade e ler seus mistérios mais ocultos, e até mesmo dar nosso corpo para ser queimado por sua causa; contudo, se não tivermos amor e caridade, seremos "como o bronze que soa ou como o címbalo que retine". 1 Coríntios 13:1. T4 133 4 Cultive a disposição de considerar "os outros superiores a si mesmo". Filipenses 2:3. Seja menos auto-suficiente, menos confiante; cultive a paciência, a longanimidade e o amor fraternal. Esteja pronto a ajudar os que erram e tenha piedade e terna simpatia pelos que são fracos. Não precisa deixar o seu negócio a fim de glorificar o Senhor; mas pode, dia após dia, em cada ato e palavra, enquanto seguindo suas atividades costumeiras, honrar Aquele a quem serve, desse modo influenciando para o bem todos com quem entra em contato. T4 133 5 Seja cortês, bondoso e perdoador para com os outros. Que o eu mergulhe no amor de Jesus, para que você possa honrar o Seu Redentor e realizar a obra que Ele lhe designou. Quão pouco você sabe das aflições das pobres almas que têm estado presas nas cadeias das trevas e que têm falta de determinação e poder moral. Empenhe-se para entender a fraqueza dos outros. Ajude os necessitados, crucifique o eu e permita que Jesus tome posse de sua alma a fim de que tenha condições de pôr em prática os princípios da verdade em seu viver diário. Então você será, como nunca antes, uma bênção para a igreja e para todos aqueles com quem entra em contato. ------------------------Capítulo 13 -- Missionários no lar T4 134 1 Querida irmã: T4 134 2 Foi-me mostrado que você tem certas faltas e deve sentir a importância de corrigi-las a fim de que desfrute a bênção de Deus. Muitas das provas que lhe sobrevieram foram provocadas por sua liberdade de falar. Você julga ser uma virtude falar abertamente e dizer às pessoas claramente o que pensa delas e de seus atos. Chama a isto de franqueza; mas é absoluta descortesia, e suscita a combatividade daqueles com quem você entra em contato. Se os outros a tratassem da mesma forma, seria mais do que pode suportar. Os que estão acostumados a falar aberta e severamente aos outros não se agradam em receber o mesmo tratamento. T4 134 3 Causou a si mesma muitos aborrecimentos que poderiam ter sidos evitados caso possuísse um espírito manso e quieto. Você provoca contenda; pois, quando sua vontade é contrariada, seu espírito se desperta para luta. Sua tendência para dominar é uma fonte constante de problemas para você mesma. Sua natureza tem se tornado ciumenta e desconfiada. Você é impaciente e desperta contenda ao apontar faltas e ao condenar precipitadamente. Por tanto tempo tem cultivado um espírito de vingança, que está continuamente necessitando da graça de Deus para suavizar e subjugar a sua natureza. O querido Salvador declarou: "Bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam." Lucas 6:28. T4 135 1 Querida irmã, foi-me mostrado que você acarreta escuridão sobre a própria alma por demorar-se nos erros e imperfeições alheios. Nunca terá de responder pelos pecados das pessoas; mas você tem uma obra a fazer pela própria alma e pela família que ninguém mais pode fazer em seu lugar. Precisa crucificar o eu e controlar a disposição de exagerar as faltas de seus semelhantes e de falar impensadamente. Há assuntos sobre os quais poderá conversar com os melhores resultados. É sempre seguro falar de Jesus, da esperança do cristão e das belezas de nossa fé. Permita que sua língua seja santificada para Deus, que sua fala possa ser sempre temperada com graça. "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. T4 135 2 A exortação do apóstolo deve ser explicitamente seguida. Há freqüentemente uma grande tentação de falar de coisas que não são de proveito ao que fala nem ao que ouve, mas que causam dano e rudeza a ambos. Nosso tempo de graça é muito curto para ser gasto em demorar-se sobre as faltas dos outros. Temos uma obra perante nós que requer a mais dedicada diligência e a mais estrita vigilância aliadas a oração incessante, ou seremos incapazes de vencer os defeitos de nosso caráter e imitar o Modelo divino. Devemos todos procurar imitar a vida de Cristo. Então exerceremos influência santificadora sobre aqueles com quem nos associamos. É coisa maravilhosa ser cristão -- verdadeiramente semelhante a Cristo, pacífico, puro e incontaminado. Querida irmã, Deus precisa estar conosco em todos os nossos esforços, ou eles de nada valerão. Nossas boas obras terminarão em justiça própria. T4 135 3 Na sua família há muito para ser corrigido. Você deixou de dar a seus filhos a atenção e animação de que precisam. Não os ligou ao coração pelas ternas cordas do amor. Seu trabalho é grande sobrecarga para seu tempo e energias, levando-a a negligenciar deveres domésticos. Mas você se tornou tão habituada a essa responsabilidade, que pareceria grande sacrifício abrir mão dela; todavia, se quiser fazer, seria em benefício de seu interesse espiritual, e para felicidade e bem moral de seus filhos. Far-lhe-ia bem pôr de lado seus complicados cuidados, e buscar um retiro no campo, onde não haja tão forte influência para corromper a moral dos jovens. T4 136 1 Na verdade, você não ficaria, no campo, inteiramente livre dos aborrecimentos e complicados cuidados; mas evitaria ali muitos males e fecharia a porta ao dilúvio de tentações que ameaçam dominar a mente de seus filhos. Eles precisam de ocupação e variedade. A monotonia de seu lar torna-os desassossegados e impertinentes, e contraíram o hábito de misturar-se com os rapazes viciados da cidade, obtendo assim uma educação de rua. T4 136 2 Você dedicou demasiado tempo a trabalho missionário não relacionado com nossa fé, e tem sido tão pressionada com os cuidados e responsabilidades que não acompanhou o andamento da obra de Deus para este tempo, e tem tido pouco tempo livre para tornar os limitados recintos de sua casa atraentes para seus filhos. Não considerou suas necessidades, nem entendeu sua ativa mente em desenvolvimento; portanto, reteve deles alegrias simples que sem dano os satisfariam. Não lhe custaria nada dar aos seus filhos mais atenção, e para eles isso teria o maior valor. T4 136 3 Viver no campo lhes será benéfico; vida ativa ao ar livre desenvolve a saúde tanto da mente como do corpo. Eles devem ter um jardim para cultivar, onde possam encontrar ocupação agradável e útil. O estudo de plantas e flores tende a melhorar o gosto e o discernimento, enquanto que a familiaridade com a bela e útil criação de Deus tem uma influência enobrecedora e refinadora sobre a mente, levando-a ao Criador e Senhor de todos. T4 136 4 O pai de seus filhos era rude, impiedoso, insensível, frio e severo no relacionamento com eles, rígido em sua disciplina e injusto em suas exigências. Era homem de temperamento peculiar, envolvido consigo mesmo, que pensava somente no próprio prazer e procurava meios de satisfazer a si mesmo e assegurar a estima de outros. Sua indolência e seus hábitos perniciosos, juntamente com sua falta de simpatia e amor por você e os filhos, em pouco tempo afastaram dele suas afeições. Sua vida foi cheia de provas difíceis e peculiares, enquanto ele era totalmente indiferente às suas preocupações e responsabilidades. T4 137 1 Essas coisas deixaram sua impressão sobre você e seus filhos. Elas especialmente tendiam a distorcer o seu caráter. Você desenvolveu quase inconscientemente um espírito independente. Percebendo que não podia depender de seu marido, tomou a atitude que julgou melhor sem consultá-lo. Como não foram apreciados os seus melhores esforços, mentalmente dispôs-se a seguir adiante segundo o seu melhor discernimento, independentemente de censura ou aprovação. Consciente de ser desprezada e mal interpretada por seu marido, você alimentou um sentimento de amargura contra ele, e quando censurada revidava àqueles que lhe questionavam a atitude. T4 137 2 Mas conquanto tenha reconhecido plenamente as faltas de seu marido, deixou de reconhecer as suas. Tem errado em falar das falhas dele aos outros, cultivando assim o gosto por demorar-se sobre tópicos desagradáveis, e mantém os seus desapontamentos e aflições constantemente diante de si. Assim, desenvolveu o hábito de salientar ao máximo seus sofrimentos e dificuldades, muitos dos quais você ocasiona por exagero e por falar aos outros. T4 137 3 Se desviar a sua atenção de aborrecimentos exteriores e centralizá-los sobre sua família, será mais feliz e se tornará um instrumento para fazer o bem. O próprio fato de seus filhos não terem tido o apropriado conselho e exemplo de um pai torna forçoso que você seja mãe terna e dedicada. O seu dever está mais em seu lar e com a sua família. Há ali um verdadeiro trabalho missionário a cumprir. Essa responsabilidade não pode ser transferida a outro; é a obra vitalícia que Deus lhe designou. T4 138 1 Ao dedicar-se totalmente a detalhes dos negócios, está roubando de si mesma tempo para meditação e oração, e sonegando de seus filhos o paciente cuidado e atenção que eles têm o direito de reivindicar de sua mãe. Julga que pode apressar-se com as muitas tarefas, mais fácil e mais rápido do que pode pacientemente ensinar os filhos a executá-las para você; contudo, seria muito melhor pôr certas responsabilidades sobre eles e instruí-los a serem úteis. Isso os encorajaria e os ocuparia, bem como a aliviaria em parte. T4 138 2 Dedica tempo considerável àqueles que não têm nenhuma reivindicação especial sobre você, e ao fazê-lo negligencia os sagrados deveres de mãe. Deus não lhe designou muitas das responsabilidades que você tem assumido. Tem visitado e auxiliado os que não precisam da metade do tempo e cuidado que seus filhos exigem, os quais estão agora formando caráter para o Céu ou para a perdição. Deus não a sustentará ao ministrar a muitos que realmente estão sofrendo sob a maldição de Deus em resultado de sua vida dissoluta e ímpia. T4 138 3 A primeira e grande ocupação de sua vida é ser uma missionária no lar. Revista-se de humildade, paciência, tolerância e amor, realizando o trabalho que Deus lhe ordenou, e que ninguém mais pode fazer por você. É um trabalho pelo qual será responsabilizada no dia da retribuição. A bênção de Deus não pode repousar sobre um lar mal disciplinado. A bondade e a paciência devem reinar no lar para torná-lo feliz. T4 138 4 Do ponto de vista do mundo, o dinheiro é poder; mas do ponto de vista cristão, o amor é poder. Há força intelectual e espiritual envolvida neste princípio. O amor puro tem especial eficácia para o bem, e não pode fazer senão o bem. Ele previne a discórdia e o sofrimento e leva à verdadeira felicidade. A riqueza freqüentemente é uma influência corruptora e destruidora; a força é forte para ferir; mas a verdade e a bondade são características do amor puro. T4 138 5 Minha irmã, se pudesse ver a si mesma como Deus a vê, ficaria claro em sua mente que sem uma completa conversão você não poderá entrar no reino de Deus. Se tivesse em mente que com a medida com que medir outros será também medida, seria mais cautelosa em sua conversa e mais moderada e perdoadora em sua disposição. Cristo veio ao mundo para sujeitar toda resistência e autoridade a Si, mas Ele não reivindica obediência pela força do argumento ou pela voz de comando; Ele andou fazendo o bem, e ensinou a Seus seguidores as coisas que pertencem à sua paz. Não despertou contenda, não Se ressentiu de ataques pessoais, mas enfrentou com mansa submissão os insultos, as falsas acusações e os cruéis açoites daqueles que O odiavam e O condenaram à morte. Cristo é o nosso exemplo. Sua vida é uma ilustração prática de Seus ensinos divinos. Seu caráter é uma manifestação viva da maneira de fazer o bem e vencer o mal. T4 139 1 Você tem abrigado ressentimento contra o seu marido e outros que a ofenderam, todavia tem deixado de perceber onde errou e tornou as coisas piores pela própria atitude errada. Seu espírito tem sido amargo contra aqueles que lhe fizeram injustiça, e seus sentimentos têm se extravasado em reprovação e censura. Isso lhe deu alívio momentâneo a seu sobrecarregado coração, mas deixou uma cicatriz duradoura sobre sua alma. A língua é um pequeno membro, mas você cultivou seu uso impróprio até que isso se transformou num fogo consumidor. T4 139 2 Todas essas coisas têm contribuído para impedir seu progresso espiritual. Mas Deus vê quão difícil para você é ser paciente e perdoadora, e Ele sabe como Se compadecer e ajudar. Ele requer que você reforme a vida e corrija seus defeitos. Deseja que seu espírito resoluto e inflexível seja subjugado por Sua graça. Você deve buscar a ajuda de Deus, pois precisa de paz e quietude em vez de agitação e discórdia. A religião de Cristo ordena-lhe agir menos por impulso, e mais por prudência santificada e sereno discernimento. T4 139 3 Você permite que as circunstâncias lhe afetem em demasia. Deixe que vigilância e oração diárias sejam sua salvaguarda. Então os anjos de Deus estarão ao seu redor para lançar luz clara e preciosa sobre sua mente e sustê-la com força celestial. Sua influência sobre os filhos e sua atitude para com eles devem ser de molde a atrair esses santos visitantes a sua habitação para que possam ajudá-la em seus esforços de tornar a sua família e o seu lar aquilo que Deus gostaria que fossem. Quando você experimenta lutar independentemente na própria força, os anjos celestiais são repelidos e se retiram pesarosos de sua presença, deixando-a lutar sozinha. T4 140 1 Seus filhos têm o timbre de caráter que seus pais lhes transmitiram. Quão cuidadoso, portanto, deve ser seu tratamento para com eles; quão ternamente você deve repreender e corrigir-lhes as faltas. Você é muito rigorosa e exigente, e tem freqüentemente lidado com eles quando agitada e irada. Isso tem quase desfeito o áureo laço de amor que une o coração deles ao seu. Você deve impressionar sempre seus filhos com o fato de que os ama, que está trabalhando no seu interesse, que a felicidade deles lhe é muito cara, que pretende fazer apenas o que for para o bem deles. T4 140 2 Deve satisfazer seus pequenos desejos sempre que for razoável fazê-lo. Sua residência atual permite apenas pouca variedade de recreação à irrequieta mente juvenil de seus filhos; e cada ano a dificuldade aumenta. No temor de Deus, sua primeira consideração deve ser para com seus filhos. Como mãe cristã, suas obrigações para com eles não são simples nem pequenas; e a fim de atendê-los apropriadamente, você deve pôr de lado algumas de suas outras responsabilidades e dedicar tempo e energia a essa tarefa. O lar de seus filhos deve ser para eles o lugar mais desejável e feliz do mundo, e a presença da mãe deve ser a maior atração. T4 140 3 O poder de Satanás sobre os jovens desta época é terrível. A menos que a mente deles esteja firmemente equilibrada por princípios religiosos, sua moralidade será corrompida pelas crianças de maus costumes com as quais entram em contato. Você julga que entende tais coisas, mas deixa de compreender plenamente o poder sedutor do mal sobre a mente dos jovens. O maior perigo deles é a falta de apropriada instrução e disciplina. Pais condescendentes não ensinam aos filhos a abnegação. O próprio alimento que colocam diante dos filhos é de molde a irritar o delicado revestimento do estômago. Essa excitação é comunicada ao cérebro através dos nervos, e o resultado é que as paixões sensuais são despertadas e controlam as faculdades morais. A razão é assim tornada serva das qualidades inferiores da mente. Tudo que for levado para o estômago e convertido em sangue, torna-se uma parte do ser. As crianças não devem ter permissão de comer alimentos prejudiciais, tais como carne de porco, salsichas, condimentos, bolos e pastelarias requintados; pois, ao assim fazerem, o seu sangue se torna febril e o sistema nervoso indevidamente excitado, e os princípios morais ficam em perigo de ser afetados. É impossível que alguém viva intemperantemente com respeito ao regime alimentar e ainda retenha boa medida de paciência. Nosso Pai celestial enviou a luz da reforma de saúde para proteger contra os males resultantes de um apetite depravado, a fim de que os que amam a pureza e a santidade possam usar com prudência as boas coisas que Ele lhes têm propiciado e, ao exercer a temperança em seu viver diário, sejam santificados através da verdade. T4 141 1 Você não é coerente no tratamento para com os filhos. Às vezes lhes satisfaz os desejos para dano deles, enquanto outras vezes recusa algumas inocentes alegrias que os tornam muito felizes. Volve-se deles com impaciência e zomba de seus pedidos simples, esquecendo-se de que eles podem desfrutar alegrias que a você parecem tolas e infantis. Você não rebaixa a dignidade de sua condição e idade ao compreender e atender aos desejos de seus filhos. Nisso você deixa de imitar Jesus. Cristo Se identificou com os humildes, os necessitados e os aflitos. Tomou as criancinhas em Seus braços e desceu ao nível dos jovens. Seu grande coração de amor podia compreender as provas e necessidades, e desfrutou da felicidade deles. Seu espírito, cansado da agitação e confusão das multidões da cidade e farto da associação com homens astutos e hipócritas, encontrou repouso e paz na associação com inocentes crianças. Sua presença jamais as repeliu. A Majestade do Céu condescendeu em responder a suas perguntas e simplificou Suas importantes lições para adaptá-las a seu entendimento infantil. Ele plantou em sua mente jovem e em expansão as sementes da verdade que haveriam de brotar e produzir fruto abundante na maturidade. T4 142 1 Nas crianças que Lhe foram trazidas para que pudesse abençoar, Ele viu futuros homens e mulheres que deviam ser herdeiros de Sua graça e súditos de Seu reino, alguns dos quais se tornariam mártires por causa de Seu nome. Certos discípulos intolerantes ordenaram que as crianças fossem retiradas para que não perturbassem o Mestre; mas, ao estarem sendo afastadas em tristeza, Cristo repreendeu os discípulos dizendo: "Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a Mim, porque dos tais é o reino dos Céus." Mateus 19:14. T4 142 2 Ele sabia que essas crianças aceitariam Seus conselhos e O receberiam como seu Redentor, ao passo que os que eram sábios segundo o mundo e de coração endurecido estariam menos dispostos a segui-Lo e encontrar um lugar no reino de Deus. Esses pequenos, vindo a Cristo e recebendo Seu conselho e bênção, tiveram Sua imagem e Suas graciosas palavras estampadas na mente maleável, para jamais serem apagadas. Devemos aprender uma lição deste ato de Cristo, de que o coração dos jovens é mais suscetível aos ensinos do cristianismo, mais fácil de ser influenciado para a piedade e a virtude e mais forte para reter as impressões recebidas. Mas esses jovens em tenra idade devem ser abordados com bondade e ensinados com amor e paciência. T4 142 3 Minha irmã, ligue seus filhos ao coração pelo afeto. Dedique-lhes o devido cuidado e atenção em todas as coisas. Dê-lhes roupas apropriadas para que não sejam humilhados por sua aparência, pois isso seria prejudicial ao respeito próprio deles. Você tem visto que o mundo se dedica ao vestuário e à moda, negligenciando o ornamento pessoal da mente e da moral; mas, ao evitar esse mal, você pende para o outro extremo e não dá a devida atenção ao próprio vestuário e ao de seus filhos. É sempre correto estar asseada e bem vestida, de maneira adequada a sua idade e posição social. T4 142 4 Ordem e limpeza é a lei do Céu; e para estar em harmonia com o plano divino, é nosso dever ser asseados e ter bom gosto. Suas idéias sobre esse assunto são pervertidas. Enquanto condena a extravagância e a vaidade do mundo, cai no erro de levar a economia ao ponto da mesquinhez. Nega-se aquilo que é correto e apropriado ter, e que Deus tem lhe concedido recursos para obter. Você não se veste adequadamente nem a seus filhos. Nossa aparência exterior não deve desonrar Aquele que professamos seguir, mas deve glorificar a Sua causa. T4 143 1 O apóstolo diz: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis." 1 Timóteo 6:17, 18. Os seus recursos lhe são concedidos para empregar onde necessário, não para serem entesourados para destruição na grande conflagração. Você é aconselhada a desfrutar as boas dádivas do Senhor, e deve usá-las para o próprio conforto, para propósitos caritativos e para boas obras que façam avançar a Sua causa, assim ajuntando para si mesma tesouros no Céu. T4 143 2 Muitas de suas aflições lhe têm sobrevindo, na sabedoria de Deus, para conduzi-la para mais perto do trono da graça. Ele abranda e reprime Seus filhos através de sofrimentos e provas. Este mundo é Sua oficina de trabalho, onde nos modela para as cortes celestiais. Ele usa a plaina em nosso agitado coração até que as arestas e irregularidades sejam removidas e estejamos aptos para ocupar nosso lugar no edifício celestial. Através da tribulação e aflição, o cristão se torna purificado e fortalecido, desenvolvendo caráter segundo o modelo que Cristo deu. A influência de uma vida verdadeira e piedosa não pode ser medida. Alcança além do círculo imediato do lar e amigos, irradiando luz que ganha almas para Jesus. ------------------------Capítulo 14 -- Pronta obediência T4 144 2 Abraão era um homem idoso quando recebeu de Deus a impressionante ordem de oferecer seu filho Isaque como oferta queimada. Abraão, mesmo em sua geração, era considerado idoso. Desvanecera-se-lhe o ardor da juventude. Já não lhe era fácil suportar dificuldades e enfrentar perigos. No vigor da mocidade, o homem enfrenta a tempestade com altiva consciência de força, e ergue-se acima de desencorajamentos que em sua vida posterior lhe fariam o coração desfalecer, quando os seus passos vacilam rumo à sepultura. T4 144 3 Mas em Sua providência Deus reservou para Abraão sua última e mais aflitiva prova até o peso dos anos o oprimir e ele almejar por descanso da ansiedade e labuta. O Senhor lhe falou, dizendo: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas", "e oferece-o ali em holocausto." Gênesis 22:2. O coração do ancião paralisou-se de terror. A perda desse filho por doença teria sido um golpe duro àquele pai amoroso; ter-lhe-ia curvado de tristeza a fronte embranquecida. Mas agora eis que lhe é ordenado derramar com as próprias mãos o precioso sangue daquele filho. Parecia-lhe terrível impossibilidade. T4 144 4 Entretanto, Deus falara, e Sua palavra tinha de ser obedecida. Abraão era avançado em anos, mas isto não o desculpou de cumprir o dever. Agarrou o bordão da fé, e em muda agonia tomou pela mão o filho, belo na rosada saúde da juventude, e saiu para obedecer à palavra de Deus. O nobre e idoso patriarca era humano; suas paixões e laços afetivos eram como os nossos, e ele amava o rapaz, que era o consolo de sua velhice, e a quem fora dada a promessa do Senhor. T4 145 1 Mas Abraão não se deteve a duvidar de como as promessas de Deus poderiam cumprir-se, uma vez morto Isaque. Não parou para arrazoar com o sofrido coração, mas executou a ordem divina ao pé da letra, até que, exatamente quando o cutelo estava para ser mergulhado nas trêmulas carnes do filho, veio a ordem: "Não estendas a tua mão sobre o moço", "porquanto agora sei que temes a Deus e não Me negaste o teu filho, o teu único." Gênesis 22:12. T4 145 2 Esse grande ato de fé acha-se traçado nas páginas da história sagrada para brilhar no mundo como nobre exemplo até ao fim do tempo. Abraão não argumentou que sua idade avançada devia eximi-lo de obedecer a Deus. Não disse: "Tenho os cabelos brancos, foi-se-me o vigor da varonilidade; quem me consolará no final da minha vida, quando Isaque não mais existir? Como pode um pai idoso derramar o sangue de um filho único?" Não; Deus falara, e o homem devia obedecer sem questionar, nem murmurar, ou desfalecer pelo caminho. T4 145 3 Precisamos da fé de Abraão em nossas igrejas hoje, a fim de iluminar as trevas que ao redor delas se acumulam, excluindo a suave luz do amor divino e atrofiando o crescimento espiritual. A idade jamais nos desculpará de obedecermos a Deus. Deve nossa fé ser prolífera de boas obras; pois "a fé sem obras é morta". Tiago 2:26. Todo dever cumprido, todo sacrifício feito em nome de Jesus, traz uma excelente recompensa. No próprio ato de cumprir o dever, Deus fala e dá Sua bênção. Mas Ele requer de nós uma inteira consagração de nossas faculdades. O espírito e o coração, o ser todo, precisam ser dados a Ele, ou do contrário não atingiremos a norma de cristãos verdadeiros. T4 145 4 Deus não reteve do homem coisa alguma que lhe pudesse assegurar as riquezas eternas. Revestiu de beleza a Terra e adornou-a para uso e conforto do homem durante sua vida temporal. Deu Seu Filho a fim de que morresse para redenção de um mundo que caíra pelo pecado e loucura. Tão incomparável amor, sacrifício tão infinito, reclama nossa mais estrita obediência, nosso amor mais santificado e nossa ilimitada fé. Entretanto, todas estas virtudes, exercidas até o limite máximo, jamais se poderão comparar com o grande sacrifício feito por nós. T4 146 1 Deus requer pronta e implícita obediência à Sua lei. Mas os homens estão adormecidos ou paralisados pelos enganos de Satanás, que sugere desculpas e subterfúgios, e lhes vence os escrúpulos, dizendo, como dissera a Eva no Jardim: "Certamente não morrereis." Gênesis 3:4. A desobediência não só endurece o coração e a consciência do culpado, mas tende também a corromper a fé dos outros. Aquilo que a princípio se lhes afigurava muito errado, gradualmente perde este aspecto por estar constantemente perante a pessoa, até que finalmente esta duvida de que seja de fato pecado, e cai inconscientemente no mesmo erro. T4 146 2 Por meio de Samuel, Deus ordenou a Saul que ferisse os amalequitas, destruindo-lhes totalmente as posses. Mas Saul obedeceu apenas parcialmente à ordem; destruiu o gado inferior, mas reservou o melhor, e poupou o ímpio rei. No dia seguinte encontrou-se com o profeta Samuel, e gabando a si mesmo, disse: "Bendito sejas tu do Senhor; executei a palavra do Senhor." Mas o profeta respondeu imediatamente: "Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?" 1 Samuel 15:13, 14. T4 146 3 Saul ficou confuso e procurou fugir à responsabilidade, respondendo: "De Amaleque [eles] as trouxeram; porque o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para as oferecer ao Senhor, teu Deus; o resto, porém, temos destruído totalmente." 1 Samuel 15:15. Samuel reprovou então o rei, lembrando-lhe a explícita ordem de Deus, mandando-lhe destruir tudo que pertencesse a Amaleque. Mostrou-lhe a transgressão e declarou que ele desobedecera ao Senhor. Mas Saul recusou-se a reconhecer que procedera mal; de novo desculpou seu pecado, alegando que reservara o melhor do gado para sacrificar ao Senhor. T4 146 4 Samuel ficou com o coração oprimido ante a persistência com que o rei se recusara a ver e confessar seu pecado. Disse tristemente: "Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei." 1 Samuel 15:22, 23. T4 147 1 Não devemos olhar ao dever e adiar o seu cumprimento. Esse adiamento dá tempo para as dúvidas; insinua-se a incredulidade, é pervertido o juízo e obscurecido o entendimento. Por fim, as repreensões do Espírito de Deus não alcançam mais o coração da pessoa iludida, que se tornou tão cega que pensa não serem elas possivelmente planejadas para ele nem se aplicarem ao seu caso. T4 147 2 Vai passando o precioso tempo da graça e poucos reconhecem que este lhes é dado com o fim de se prepararem para a eternidade. As áureas horas são esbanjadas em atividades profanas, em prazeres, em absoluto pecado. É menosprezada e esquecida a lei de Deus; entretanto, não é menos obrigatório cada um de seus estatutos. Toda transgressão trará seu castigo. O amor do ganho mundano leva à profanação do sábado; entretanto, as reivindicações daquele santo dia não se acham atenuadas nem anuladas. O mandamento de Deus é claro e indiscutível nesse ponto; Ele nos proíbe absolutamente trabalhar no sétimo dia. Ele o pôs à parte como dia santificado a Ele. T4 147 3 Muitos são os empecilhos que atravessam o caminho dos que querem andar na obediência aos mandamentos de Deus. Há influências fortes e sutis que os ligam aos caminhos do mundo; mas o poder do Senhor pode romper essas cadeias. Ele removerá de diante dos pés dos fiéis todos os obstáculos, ou lhes dará força e ânimo para vencer todas as dificuldades, se Lhe buscarem fervorosamente o auxílio. Todos os obstáculos desaparecerão ante o sincero desejo e persistente esforço para fazer a vontade de Deus, seja qual for o preço para o próprio eu, mesmo que a própria vida seja sacrificada. A luz do Céu iluminará as trevas dos que, em aflição e perplexidade, forem para a frente, olhando para Jesus como autor e consumador de sua fé. T4 148 1 Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de profetas e apóstolos. Nestes dias, Ele lhes fala por meio dos testemunhos do Seu Espírito. Nunca houve um tempo no qual Deus instruísse Seu povo mais intensamente do que os instrui agora a respeito de Sua vontade e da conduta que deseja que sigam. Mas aproveitarão eles os Seus ensinos? Receberão as Suas repreensões e acatarão as Suas advertências? Deus não aceitará obediência parcial; não aprovará nenhuma transigência com o próprio eu. ------------------------Capítulo 15 -- Os doze espias T4 148 2 O Senhor ordenou que Moisés enviasse homens a fim de espiarem a terra de Canaã, que Ele daria aos filhos de Israel. Um líder de cada tribo devia ser selecionado para esse propósito. Eles foram; e após quarenta dias retornaram de sua busca e se apresentaram perante Moisés, Arão e toda a congregação de Israel, mostrando-lhes os frutos da terra. Todos concordaram que era uma boa terra, e exibiram os ricos frutos que haviam trazido como evidência. Um cacho de uvas era tão grande que dois homens o carregavam sobre uma vara. Também trouxeram figos e romãs, que cresciam ali em abundância. Depois de haverem eles falado da fertilidade da terra, todos, com exceção de dois, mostraram-se desencorajados quanto a sua possibilidade de possuí-la. Disseram que os habitantes do lugar eram muito fortes; e que as cidades eram cercadas por grandes e elevados muros, e mais do que tudo, viram os filhos do gigante Anaque ali. Então descreveram como as pessoas se situavam ao redor de Canaã, e expressaram temor de que seria impossível um dia possuírem aquela terra. Quando o povo ouviu tal relatório, deu expansão ao seu desapontamento em amargas recriminações e queixas. Não se detiveram para refletir e raciocinar que Deus, que os havia conduzido até ali, certamente lhes daria a terra. Deixaram a Deus fora de questão. Agiram como se para tomar a cidade de Jericó, a porta para a terra de Canaã, devessem depender somente do poder das armas. Deus havia declarado que lhes daria a terra, e deviam ter plena confiança que Ele cumpriria Sua palavra. Mas seu coração insubmisso não estava em harmonia com Seus planos. Não refletiram sobre quão maravilhosamente Ele havia atuado em seu favor, trazendo-os para fora da escravidão egípcia, abrindo-lhes um caminho através das águas do mar e destruindo os exércitos perseguidores de Faraó. Em sua descrença estavam limitando a obra de Deus e desconfiando da mão que até ali os guiara com segurança. Neste caso, repetiram seu erro anterior de murmurar contra Moisés e Arão. "Este, pois, é o fim de todas as nossas elevadas esperanças", diziam. "Esta é a terra para cuja posse viajamos todo o caminho desde o Egito." Condenaram seus líderes por trazerem problemas sobre Israel e novamente os acusaram de enganar o povo e levá-lo a se perder. T4 149 1 Moisés e Arão lançaram-se prostrados perante Deus, com o rosto em terra. Calebe e Josué, os dois que, dentre todos os doze espias, confiaram na palavra de Deus, rasgaram as vestes em angústia quando perceberam que esses relatórios desfavoráveis haviam desencorajado todo o acampamento. Empenharam-se em argumentar com eles; mas a congregação estava cheia de loucura e desapontamento, e se recusaram a ouvir esses dois homens. Finalmente Calebe abriu caminho entre eles, e sua voz clara, sonora, foi ouvida acima do clamor de toda a multidão. Ele se opôs à opinião covarde de seus companheiros de espionagem, que haviam enfraquecido a fé e a coragem de todo o Israel. Pediu a atenção do povo, e eles contiveram suas queixas por um momento para ouvi-lo. Ele falou da terra que havia visitado. Disse ele: "Subamos animosamente e possuamo-la em herança; porque, certamente, prevaleceremos contra ela." Números 13:30. Mas, enquanto ele falava, os espias infiéis interromperam-no, clamando: "Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." Números 13:31. T4 149 2 Esses homens, havendo começado em um caminho errado, endureceram o coração contra Deus, contra Moisés e Arão, e contra Calebe e Josué. Cada passo que avançavam nesta direção errada fazia-os mais firmes em seu desígnio de desanimar toda tentativa de possuir a terra de Canaã. Distorceram a verdade a fim de levar avante o seu malévolo propósito. Descreveram o clima como sendo insalubre, e todo o povo como sendo de gigantesca estatura. T4 150 1 Disseram eles: "Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos." Números 13:33. T4 150 2 Isto não foi apenas um mau relatório, mas também uma mentira. Era uma contradição; pois se a terra era insalubre e tinha prejudicado os seus habitantes, como tinham podido alcançar tal estatura como a que descreviam? Quando homens em posição de responsabilidade entregam o coração à incredulidade, não há limites ao progresso que farão no mal. Poucos reconhecem, quando começam nessa perigosa atitude, a extensão em que Satanás os conduzirá. T4 150 3 O mau relatório teve um terrível efeito sobre o povo. Eles acusavam cruelmente a Moisés e Arão. Alguns gemiam e choravam dizendo: "Ah! Se morrêramos na terra do Egito! Ou, ah! Se morrêramos neste deserto!" Números 14:2. Depois seus sentimentos se levantaram contra o Senhor; e choravam e lamentavam dizendo: "E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Levantemos um capitão e voltemos ao Egito." Números 14:3, 4. T4 150 4 Assim manifestaram seu desrespeito por Deus e pelos líderes que Ele havia designado para conduzi-los. Não perguntaram ao Senhor o que deviam fazer, mas disseram: "Levantemos um capitão." Tomaram o assunto nas próprias mãos, julgando-se competentes para conduzir os negócios sem o auxílio divino. Não apenas acusaram Moisés de engano, mas também a Deus, ao prometer-lhes uma terra que não eram capazes de possuir. Na verdade, foram tão longe a ponto de designar alguém de seu grupo como capitão, para conduzi-los de volta à terra de seu sofrimento e escravidão, da qual Deus os havia livrado com Seu forte braço de onipotência. T4 151 1 Moisés e Arão ainda permaneceram prostrados perante Deus na presença de toda a assembléia, silenciosamente implorando a divina misericórdia para o rebelde Israel. Sua angústia era muito profunda para palavras. Novamente, Calebe e Josué adiantaram-se à frente, e a voz de Calebe novamente se ergueu em zelosa tristeza acima das queixas da congregação: "A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então, nos porá nesta terra e no-la dará, terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais." Números 14:7-9. T4 151 2 Os cananeus tinha enchido a medida de sua iniqüidade, e o Senhor não mais os toleraria. Sendo removida deles a Sua defesa, cairiam como fácil presa dos hebreus. Não estavam preparados para a batalha, pois sentiam-se tão fortes que se enganavam com a idéia de que nenhum exército era tão extraordinário para prevalecer contra eles. T4 151 3 Calebe lembrou ao povo de que pelo concerto de Deus a terra estava assegurada a Israel; mas o coração deles estava cheio de loucura, e não queriam mais ouvir. Se tão-somente dois tivessem apresentado um mau relatório, e todos os dez os tivessem encorajado a possuir a terra em nome do Senhor, ainda teriam tomado em conta o conselho dos dois de preferência aos dos dez, por causa de sua ímpia incredulidade. Mas havia apenas dois defendendo o direito, enquanto dez estavam em aberta rebelião contra seus líderes e contra Deus. T4 151 4 A maior agitação então assola o povo; suas piores paixões são despertadas, recusando dar ouvidos à razão. Os dez espias infiéis se unem a eles contra Calebe e Josué, e ergue-se o clamor para apedrejá-los. A multidão insana apanha pedras com as quais matariam aqueles homens fiéis. Avançam depressa com gritos loucos, quando eis que as pedras lhes caem das mãos, um silêncio lhes sobrevém e ficam trêmulos de terror. Deus Se havia interposto para impedir seu ímpio desígnio. A glória de Sua presença, como chama de luz, ilumina o tabernáculo, e toda a congregação contempla o sinal do Senhor. Alguém mais poderoso do que eles havia Se revelado, e ninguém ousa continuar em sua resistência. Todos os murmuradores silenciam e os espias que trouxeram o mau relatório se curvam dominados pelo terror, com respiração suspensa. T4 152 1 Moisés ergue-se de sua posição de humilhação e entra no tabernáculo para comungar com Deus. Então o Senhor propõe destruir imediatamente esse povo rebelde. Deseja fazer de Moisés uma nação maior do que Israel; mas o manso líder de Seu povo não consente com essa proposta. "E disse Moisés ao Senhor: Assim, os egípcios o ouvirão; porquanto com a Tua força fizeste subir este povo do meio deles. E o dirão aos moradores desta terra, que ouviram que Tu, ó Senhor, estás no meio deste povo, que face a face, ó Senhor, lhes apareces, que Tua nuvem está sobre eles e que vais adiante deles numa coluna de nuvem de dia e numa coluna de fogo de noite. E, se matares este povo como a um só homem, as nações, pois, que ouviram a Tua fama, falarão, dizendo: Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhes tinha jurado; por isso, os matou no deserto." Números 14:13-16. T4 152 2 Moisés novamente recusa que Israel seja destruído e ele próprio tornado uma nação mais poderosa do que eles. Este favorecido servo de Deus manifesta seu amor por Israel e demonstra seu zelo pela glória de seu Mestre e honra de Seu povo. Tu tens perdoado este povo desde o Egito até agora; Tu tens sido paciente e misericordioso até aqui para com essa nação ingrata. Embora seja indigna, Tua misericórdia é a mesma. Ele apela: Não os pouparás, portanto, ainda esta vez, acrescentando mais este pedido por divina paciência aos muitos que já concedeste? T4 152 3 Moisés prevaleceu com Deus para poupar o povo; mas por causa de sua arrogância e incredulidade, o Senhor não podia ir com eles para atuar de maneira miraculosa em seu benefício. Portanto, em Sua divina misericórdia ordenou-lhes que adotassem o roteiro mais seguro, e voltassem para o deserto na direção do Mar Vermelho. Decretou também que, como punição por sua rebelião, todos os adultos que deixaram o Egito, com exceção de Calebe e Josué, seriam para sempre excluídos de Canaã. Haviam falhado inteiramente em cumprir sua promessa de obediência a Deus, e isso O liberou da aliança que haviam tão repetidamente violado. Ele prometeu que seus filhos possuiriam a boa terra, mas declarou que seus corpos seriam sepultados no deserto. E os dez espias infiéis, cujo mau relatório havia induzido Israel a murmurar e se rebelar, foram destruídos pelo poder de Deus diante dos olhos do povo. T4 153 1 Quando Moisés tornou conhecida a Israel a vontade de Deus com respeito a eles, pareceram sinceramente arrependidos de sua conduta pecaminosa. O Senhor, porém, sabia que estavam sofrendo em resultado de sua má conduta, e não por estarem dominados pelo profundo senso de sua ingratidão e desobediência. O arrependimento deles, contudo, veio demasiado tarde; a justa ira de Deus foi despertada e sua sentença pronunciada, a qual não seria suspensa. Quando descobriram que o Senhor não voltaria atrás em Seu decreto, novamente manifestou-se a sua vontade própria, e declararam que não retornariam ao deserto. T4 153 2 Ao ordenar que se retirassem da terra de seus inimigos, Deus provou a aparente submissão deles e percebeu que ela não era real. Eles sabiam que tinham pecado profundamente ao permitir que seus sentimentos impetuosos os controlassem, e ao tentar matar os espias que haviam insistido com eles que obedecessem a Deus; mas estavam aterrorizados unicamente por descobrir que cometeram um erro terrível, cujas conseqüências lhes seriam desastrosas. O coração deles permaneceu inalterado, e precisavam apenas de uma desculpa para ocasionar uma rebeldia semelhante. Isto se apresentou quando Moisés, pela autoridade de Deus, ordenou-lhes que voltassem para o deserto. T4 153 3 Haviam-se rebelado contra as ordens de Deus quando Ele lhes ordenara que seguissem e tomassem a terra que lhes havia prometido, e agora, quando os instruiu a se afastarem dela, rebelaram-se igualmente insubordinados, e declararam que iriam à batalha contra seus inimigos. Cingiram-se com vestes e armaduras de guerreiros, e apresentaram-se perante Moisés, em sua própria opinião preparados para o conflito, mas lamentavelmente deficientes à vista de Deus e de Seu pesaroso servo. Recusaram ouvir as solenes advertências de seus líderes de que calamidade e morte seriam a conseqüência de sua arrogância. T4 154 1 Quando Deus lhes ordenou avançarem e tomarem Jericó, Ele prometeu que iria com eles. A arca contendo Sua lei devia ser um símbolo dEle. Moisés e Arão, os líderes designados de Deus, deviam conduzir a expedição sob Sua atenta direção. Com tal supervisão, nenhum mal lhes sobreviria. Mas agora, contrariamente à ordem de Deus e a solene proibição de seus líderes, sem a arca de Deus e sem Moisés, marchavam ao encontro dos exércitos inimigos. T4 154 2 Durante o tempo gasto pelos israelitas em sua ímpia insubordinação, os amalequitas e cananeus haviam-se preparado para a batalha. Os israelitas presunçosamente desafiaram o adversário que não ousara atacá-los; mas tão logo entraram no território inimigo, os amalequitas e cananeus os defrontaram com vigor, e os expulsaram decididamente, repelindo-os com grande perda. O campo da carnificina estava vermelho de sangue e os cadáveres espalhados pelo terreno. Foram inteiramente cercados e derrotados. Destruição e morte foram o resultado de sua experiência rebelde. Mas a fé de Calebe e Josué foi ricamente recompensada. De acordo com Sua palavra, Deus trouxe esses fiéis à terra que lhes havia prometido. Os covardes e rebeldes pereceram no deserto, mas os espias justos comeram das uvas de Escol. T4 154 3 A história do relatório dos doze espias tem aplicação para nós como povo. As cenas de covarde queixa e recuo do combate quando há riscos a serem defrontados são reproduzidos entre nós hoje. A mesma indisposição é manifestada em atender a relatórios fiéis e a verdadeiro conselho como nos dias de Calebe e Josué. Os servos de Deus que assumem a responsabilidade de Sua causa, praticando estrita abnegação, e sofrendo privação para ajudar Seu povo, são raramente mais apreciados agora do que o foram então. T4 155 1 O antigo Israel foi repetidamente provado e achado em falta. Poucos recebem as fiéis advertências que lhes são dadas por Deus. Trevas e incredulidade não diminuem ao nos aproximarmos do tempo do segundo advento de Cristo. A verdade se torna cada vez menos agradável à mente carnal; o coração deles é vagaroso para crer e tardio para arrepender-se. Os servos de Deus bem poderiam tornar-se desanimados, não fosse pelas contínuas evidências que seu Mestre lhes dá de Sua sabedoria e ajuda. Por muito tempo tem o Senhor suportado o Seu povo. Ele tem perdoado seus desvios e esperado que Lhe dêem lugar no coração; mas falsas idéias, ciúmes e desconfiança Lhe têm impedido a entrada. T4 155 2 Poucos que professam ser de Israel, e cuja mente tem sido iluminada pelas revelações da sabedoria divina, ousam avançar corajosamente, como fez Calebe, e permanecem firmemente ao lado de Deus e do que é correto. Como aqueles que o Senhor tem escolhido para conduzir Sua obra não se desviam da conduta da integridade para satisfazer os egoístas e não consagrados, tornam-se alvo do ódio e da falsidade maliciosa. Satanás está bem desperto e trabalha agressivamente nestes últimos dias, e Deus apela aos homens de vigor espiritual e perseverança a resistirem aos seus artifícios. T4 155 3 A conversão plena é necessária entre aqueles que professam crer na verdade, a fim de que sigam a Jesus e obedeçam à vontade de Deus -- não uma submissão nascida de circunstâncias, como foi a dos aterrorizados israelitas quando o poder do Infinito lhes foi revelado, mas um profundo arrependimento e renúncia do pecado. Aqueles que são apenas meio convertidos, assemelham-se a uma árvore cujos galhos se estendem do lado da verdade, mas cujas raízes, firmemente fixadas na terra, avançam sobre o terreno estéril do mundo. Jesus procura em vão por frutos em seus galhos; Ele nada encontra senão folhas. T4 155 4 Milhares aceitariam a verdade, se pudessem fazê-lo sem negar o eu; mas essa classe nunca edificaria a causa de Deus. Nunca marcharia avante valentemente contra o inimigo -- o mundo, o amor a si mesmo, e as concupiscências da carne -- confiando em seu divino Líder para lhes dar a vitória. A igreja necessita de fiéis Calebes e Josués, que estejam prontos para aceitar a vida eterna sob a simples condição divina de obediência. Nossas igrejas estão sofrendo falta de obreiros. O mundo é o nosso campo. Missionários são necessários em cidades e vilas que certamente estão mais presas à idolatria do que os pagãos do Oriente que nunca viram a luz da verdade. O verdadeiro espírito missionário desertou das igrejas que fazem tão alta profissão de fé; os corações já não se acham abrasados com o amor pelas almas e o desejo de levá-las ao redil de Cristo. Faltam-nos obreiros fervorosos. Não haverá ninguém que responda ao clamor que vem de todas as partes: "Passa... e ajuda-nos"? Atos dos Apóstolos 16:9. T4 156 1 Podem aqueles que professam ser depositários da lei de Deus, e que aguardam a breve vinda de Jesus nas nuvens do céu, permanecer inocentados do sangue das almas, se fizerem ouvidos moucos às gritantes necessidades das pessoas que caminham na escuridão? Há livros para serem preparados e distribuídos, há lições a serem dadas, há deveres altruístas a serem cumpridos! Quem virá em socorro! Quem pela causa de Cristo negará o eu e estenderá a luz àqueles que se assentam nas trevas? ------------------------Capítulo 16 -- A tomada de Jericó T4 156 2 Após a morte de Moisés, Josué foi designado líder de Israel, para conduzi-los à Terra Prometida. Ele era bem qualificado para essa importante missão. Havia sido o primeiro-ministro de Moisés durante a maior parte do tempo em que os israelitas vaguearam pelo deserto. Ele vira as obras maravilhosas de Deus executadas por Moisés, e compreendia bem a disposição do povo. Fora um dos doze espias enviados para examinar a Terra Prometida, e um dos dois que deram um relatório fiel de suas riquezas, e que animaram o povo a prosseguir e a possuí-la na força de Deus. T4 156 3 O Senhor prometeu a Josué que estaria com ele como estivera com Moisés, e tornaria Canaã uma fácil conquista para ele, desde que fosse fiel em observar todos os Seus mandamentos. Josué estivera preocupado acerca da execução de seu encargo de conduzir o povo à terra de Canaã; mas essa promessa removeu os seus temores. Ele ordenou que os filhos de Israel se aprontassem para uma jornada de três dias, e todos os homens de guerra se preparassem para a batalha. "Então, responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos e aonde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente que o Senhor, teu Deus, seja contigo, como foi com Moisés. Todo homem que for rebelde à tua boca e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares morrerá; tão-somente esforça-te e tem bom ânimo. Josué 1:16-18. T4 157 1 Deus desejava que a passagem dos israelitas pelo Jordão fosse miraculosa. Josué ordenou que o povo se santificasse, pois pela manhã o Senhor iria efetuar maravilhas entre eles. No tempo designado, ordenou que os sacerdotes tomassem a arca contendo a lei de Deus, e a segurassem diante do povo. "E o Senhor disse a Josué: Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo." Josué 3:7. T4 157 2 Os sacerdotes obedeceram às ordens de seu líder e foram perante o povo transportando a arca do concerto. O exército dos hebreus assumiu o comando de marcha e seguiu este símbolo da presença divina. A ampla coluna alinhou-se ao longo da margem do Jordão, e, à medida que os pés dos sacerdotes mergulharam na beira do rio, a água foi interrompida a partir de cima, e o volume abaixo continuou a correr, deixando seco o leito do rio. Os sacerdotes atravessaram, transportando a arca de Deus, e Israel seguia após eles. Na metade do caminho sobre o Jordão, os sacerdotes receberam ordem de permanecer parados no leito do rio até que toda a multidão hebraica houvesse atravessado. Isso devia imprimir-lhes com maior eficácia na mente o fato de que o poder que detinha as águas do Jordão era o mesmo que capacitou seus pais a cruzarem o Mar Vermelho quarenta anos antes. T4 158 1 Muitos que passaram através do Mar Vermelho como crianças, agora, por um milagre semelhante, cruzavam o Jordão, homens de guerra, equipados para a batalha. Após todo o exército de Israel ter atravessado, Josué ordenou que os sacerdotes saíssem do rio. Quando eles, transportando a arca da aliança, puseram-se a salvo na margem do outro lado, Deus removeu a Sua poderosa mão, e as águas acumuladas desabaram numa tremenda torrente no leito natural do curso da água. O Jordão correu, um dilúvio irresistível, alagando todas as suas margens. T4 158 2 Mas antes que os sacerdotes saíssem do leito do rio, a fim de que esse maravilhoso milagre jamais fosse esquecido, o Senhor ordenou que Josué selecionasse homens de destaque de cada tribo para tomar pedras do leito do rio onde os sacerdotes haviam permanecido em pé e as transportassem sobre os ombros até Gilgal, e lá erigissem um monumento em lembrança do fato de que Deus havia feito Israel atravessar o Jordão sobre terra seca. Esse seria um contínuo memorial do milagre que o Senhor havia realizado por eles. Ao se passarem os anos, seus filhos indagariam a respeito do monumento, e vez após vez eles lhes relatariam essa maravilhosa história, até que ficasse indelevelmente gravada na mente deles para a posteridade. T4 158 3 Quando todos os reis dos amorreus e os reis dos cananeus ouviram que o Senhor havia detido as águas do Jordão diante dos filhos de Israel, o coração deles derreteu de temor. Os israelitas haviam matado dois dos reis de Moabe, e sua miraculosa travessia sobre as águas impetuosas do Jordão encheu as pessoas de grande terror. Josué então circuncidou todo o povo que havia nascido no deserto. Após essa cerimônia, observaram a Páscoa na planície de Jericó. "Disse mais o Senhor a Josué: Hoje, revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito." Josué 5:9. T4 158 4 Nações pagãs haviam insultado ao Senhor e Seu povo porque os hebreus fracassaram em possuir a terra de Canaã, que esperavam herdar logo após deixar o Egito. Seus inimigos tinham triunfado porque Israel vagueara por tanto tempo no deserto, e orgulhosamente se erguiam contra Deus, declarando que Ele não era capaz de conduzi-los para a terra de Canaã. O Senhor agora havia significativamente manifestado o Seu poder e favor ao conduzir o Seu povo pelo Jordão em terra seca, e seus inimigos não mais podiam deles zombar. O maná que continuara até esse tempo, agora cessou; pois ao estarem os israelitas a ponto de possuir Canaã e comer dos frutos daquela boa terra, não mais havia necessidade dele. T4 159 1 Ao Josué retirar-se dos exércitos de Israel para meditar e orar para que a presença especial de Deus o acompanhasse, viu um homem de elevada estatura, trajado com roupas de combate, com uma espada erguida na mão. Josué não reconheceu nele um dos guerreiros de Israel, contudo ele não tinha a aparência de um inimigo. Em seu zelo aproximou-se dele, dizendo-lhe: "És tu dos nossos ou dos nossos inimigos? E disse Ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do Senhor. Então, Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-Lhe: Que diz meu Senhor ao Seu servo? Então, disse o Príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." Josué 5:13-15. T4 159 2 A glória de Deus santificava o santuário, e por essa razão os sacerdotes nunca entravam no lugar santificado pela presença de Deus com os sapatos nos pés. Partículas de poeira podiam apegar-se-lhes, o que profanaria o lugar santo; portanto, era requerido que os sacerdotes deixassem os sapatos no pátio antes de entrarem no santuário. No pátio, ao lado da porta do tabernáculo, havia uma bacia de bronze onde os sacerdotes lavavam as mãos e os pés antes de entrar no tabernáculo, para que toda a impureza pudesse ser removida. De todos os que oficiavam no santuário Deus requeria que fizessem preparativos especiais antes de entrar no lugar onde a Sua glória era revelada. T4 159 3 Foi o Filho de Deus que Se apresentou como um guerreiro armado perante o líder de Israel. Era Aquele que havia conduzido os hebreus através do deserto, envolvido em uma coluna de nuvem durante o dia e em uma coluna de fogo durante a noite. A fim de impressionar a mente de Josué de que Ele não era outro senão Cristo, o Excelso, disse: "Descalça os sapatos de teus pés." Josué 5:15. Ele então instruiu Josué sobre que caminho seguir para apossar-se de Jericó. Todos os homens de guerra deviam receber ordens de rodear a cidade uma vez cada dia durante seis dias, e no sétimo dia deviam marchar ao redor de Jericó sete vezes. T4 160 1 Assim, Josué deu ordens aos sacerdotes e ao povo conforme o Senhor o instruíra. Ele dispôs os exércitos de Israel em perfeita ordem. Em primeiro lugar estava um seleto corpo de homens armados, vestidos com suas roupas de combate; agora não para exercer suas habilidades nas armas, mas apenas para crer e obedecer às instruções que lhes seriam dadas. A seguir vinham sete sacerdotes com trombetas. Depois vinha a arca de Deus, de ouro reluzente, tendo um halo de glória pairando sobre ela, transportada pelos sacerdotes nas ricas vestes peculiares que denotavam seu sagrado ofício. O vasto exército de Israel ia em perfeita ordem, cada tribo sob o seu respectivo estandarte. Assim rodearam a cidade com a arca de Deus. Nenhum som se ouvia senão os passos daquele poderoso exército e o solene toque das trombetas, ecoando entre as colinas e ressoando através das ruas de Jericó. T4 160 2 Surpresos e alarmados os vigias da condenada cidade observavam cada movimento, e tudo relatavam aos superiores. Não podiam imaginar o que significava toda essa demonstração. Jericó havia desafiado os exércitos de Israel e o Deus do Céu; mas quando contemplaram aquele poderoso exército marchando em torno de sua cidade uma vez por dia com toda a pompa e majestade de guerra, além da grandiosidade da arca sagrada e dos sacerdotes acompanhantes, o impressionante mistério da cena encheu de terror o coração tanto de príncipes quanto do povo. Então, novamente, verificaram suas fortes defesas, julgando-se certos de que podiam com êxito resistir ao mais poderoso ataque. Muitos ridicularizavam a idéia de que qualquer mal lhes pudesse sobrevir através dessas singulares demonstrações da parte de seus inimigos; mas outros ficavam espantados ao contemplarem a majestade e o esplendor da procissão que cada dia portentosamente lhes rodeava a cidade. Lembravam-se de que quarenta anos antes o Mar Vermelho havia se dividido diante desse povo e que uma passagem tinha sido recentemente aberta através do rio Jordão. Não sabiam que outras maravilhas Deus poderia efetuar por eles; contudo, mantiveram seus portões cuidadosamente fechados e os guardaram com poderosos guerreiros. T4 161 1 Durante seis dias o exército de Israel realizou o seu circuito ao redor da cidade. Chegou o sétimo dia, e, com a primeira luz da aurora, Josué colocou em ordem os exércitos do Senhor. Agora foram orientados a marchar sete vezes ao redor de Jericó, e, a um forte sonido de trombetas, gritar em alta voz, pois Deus lhes havia entregado a cidade. O imponente exército marchou solenemente ao redor dos condenados muros. A arca resplandecente de Deus refletia os primeiros alvores da manhã. Os sacerdotes com seus peitorais cintilantes e éfodes cravejados de jóias, e os guerreiros com suas armaduras reluzentes, apresentavam um espetáculo magnífico. Estavam silenciosos como mortos, a não ser pela cadência marcada de muitos pés e o toque ocasional da trombeta, quebrando o silêncio da madrugada. Os maciços muros de pedra sólida como que olhavam carrancudos para baixo, desafiando o cerco dos homens. T4 161 2 Subitamente, o vasto exército se detém. As trombetas ressoam estrondosamente fazendo a própria terra tremer. Em uníssono as vozes de todo o Israel cortam os ares com um poderoso brado. Os muros de pedra sólida com suas torres maciças e palácios vacilam e se erguem de seus fundamentos, e, com uma explosão como a de milhares de trovões, desabam em ruína disforme sobre a terra. Os habitantes e o exército do inimigo, paralisados de terror e surpresa, não oferecem resistência, e Israel marcha em frente e torna cativa a poderosa cidade de Jericó. T4 161 3 Quão facilmente os exércitos do Céu puseram abaixo os muros que pareciam tão temíveis aos espias que apresentaram o falso relatório! A palavra de Deus foi a única arma usada. O Poderoso de Israel havia dito: "Tenho dado na tua mão a Jericó." Josué 6:2. Se um único combatente tivesse aplicado a sua força contra os muros, a glória de Deus seria diminuída e Sua vontade frustrada. Mas a obra foi deixada com o Todo-poderoso; e se os fundamentos dos palácios tivessem sido fixados no centro da terra, e seus cumes alcançassem a abóbada celeste, o resultado teria sido o mesmo ao Capitão do exército do Senhor conduzir suas legiões de anjos ao ataque. T4 162 1 Por muito tempo havia Deus designado dar a cidade de Jericó a Seu povo escolhido, e glorificar o Seu nome entre as nações da Terra. Quarenta anos antes quando havia conduzido Israel para fora da escravidão, Ele havia proposto dar-lhes a terra de Canaã. Mas pelas suas vis murmurações e ciúmes eles haviam provocado a Sua ira, e Ele os fizera andar por fatigantes anos no deserto, até que todos que O haviam afrontado com sua descrença não mais existissem. Na captura de Jericó, Deus declarou aos hebreus que seus pais poderiam ter possuído a cidade quarenta anos antes, caso tivessem confiado nEle como fizeram seus filhos. T4 162 2 A história do antigo Israel é escrita para nosso benefício. Paulo declara: "Mas Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto. E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram." "Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:5, 6, 11, 12. T4 162 3 Muitos que, a exemplo do antigo Israel, professam observar os mandamentos de Deus, têm coração incrédulo enquanto exteriormente observam os estatutos divinos. Conquanto favorecidos com grande luz e preciosos privilégios, não obstante perderão a Canaã celestial, tal como os rebeldes israelitas deixaram de entrar na Canaã terrestre que Deus lhes havia prometido como recompensa por sua obediência. T4 162 4 Como um povo, falta-nos fé. Poucos, nestes dias, seguiriam as orientações dadas através dos servos escolhidos de Deus tão obedientemente quanto os exércitos de Israel na tomada de Jericó. O Capitão do exército do Senhor não Se revelou a toda a congregação. Comunicou-Se somente com Josué, o qual relatou esta entrevista aos hebreus. Restava-lhes crer ou duvidar das palavras de Josué, seguir as ordens dadas por ele em nome do Capitão do exército do Senhor, ou rebelar-se contra Suas ordens e negar a Sua autoridade. Eles não podiam ver o exército de anjos, reunido pelo Filho de Deus, que conduzia a Sua caravana; e poderiam ter raciocinado: "Que movimentos mais sem sentido são estes e que ridícula atividade de marchar diariamente ao redor dos muros da cidade, tocando trombetas de chifres de carneiro! Isso não pode ter qualquer efeito sobre essas sólidas fortificações." T4 163 1 Mas o próprio plano de continuar essa cerimônia durante tanto tempo antes da derrocada final dos muros, concedeu oportunidade para aumentar a fé entre os israelitas. Eles deviam ficar inteiramente impressionados com a idéia de que sua força não estava na sabedoria do homem nem em seu poderio, mas somente no Deus de sua salvação. Assim se acostumariam a colocar-se fora de questão, e descansar plenamente em seu divino Líder. T4 163 2 Aqueles que hoje professam ser povo de Deus se conduziriam dessa maneira sobre circunstâncias semelhantes? Sem dúvida muitos prefeririam seguir os próprios planos, e sugeririam outros caminhos e meios de realizar o desejado fim. Seriam vagarosos em submeter-se a um arranjo tão simples, um plano que não refletia sobre eles nenhuma glória a não ser o mérito da obediência. Questionariam a possibilidade de uma poderosa cidade ser conquistada dessa maneira. Mas a lei do dever é suprema. Deve dominar a razão humana. A fé é o poder vivo que avança sobre toda barreira, supera todos os obstáculos e planta a sua bandeira no coração do acampamento inimigo. T4 163 3 Deus fará coisas maravilhosas por aqueles que confiam nEle. É porque Seu professo povo confia tanto na própria sabedoria, e não dá ao Senhor oportunidade de revelar Seu poder em benefício dele, que não tem mais força. Em toda emergência Ele ajudará os Seus filhos crentes, se eles depositarem sua inteira confiança nEle e Lhe obedecerem implicitamente. T4 163 4 Há profundos mistérios na Palavra de Deus; há mistérios inexplicáveis em suas providências; há mistérios no plano da salvação que o homem não pode compreender. Mas a mente finita, forte em Seu desejo de satisfazer sua curiosidade e resolver os problemas do infinito, negligencia seguir o claro roteiro indicado pela vontade revelada de Deus, e espreita os segredos ocultos desde a fundação do mundo. O homem formula as suas teorias, perde a simplicidade da verdadeira fé, torna-se demasiado importante em seu próprio conceito para crer nas declarações do Senhor, e se envolve nas próprias pretensões. T4 164 1 Muitos que professam nossa fé estão nessa posição. São fracos e impotentes porque confiam na própria força. Deus atua poderosamente por um povo fiel, que obedece a Sua palavra sem questionar ou duvidar. A Majestade do Céu, com Seu exército de anjos, arrasou os muros de Jericó sem ajuda humana. Os guerreiros armados de Israel não tiveram motivo de gloriar-se em suas realizações. Tudo foi feito mediante o poder de Deus. Que o povo renuncie ao eu e ao desejo de agir segundo os próprios planos, que se submeta humildemente à vontade divina, e Deus renovará sua força e dará liberdade e vitória a Seus filhos. ------------------------Capítulo 17 -- Jeremias reprova Israel T4 164 2 O Senhor deu a Jeremias uma mensagem de reprovação para levar a seu povo, acusando-o pela contínua rejeição do conselho de Deus: "E vos enviei todos os Meus servos, os profetas, madrugando, e enviando, e dizendo: Convertei-vos, agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los; e assim ficareis na terra que vos dei a vós e a vossos pais." Jeremias 35:15. T4 164 3 Deus pleiteou com eles para não provocar-Lhe a ira com a obra de suas mãos e com seu coração, "mas não inclinastes os ouvidos". Jeremias 35:15. Jeremias então predisse o cativeiro dos judeus, como sua punição por não darem ouvidos à Palavra do Senhor. Os caldeus deveriam ser usados como o instrumento pelo qual Deus castigaria o Seu povo desobediente. A punição deles deveria ser proporcional à sua inteligência e às advertências que haviam desprezado. Por muito tempo havia Deus retardado os Seus juízos por Sua indisposição em humilhar o Seu povo escolhido; mas agora derramaria o Seu desprazer sobre eles, como um último esforço de detê-los em seu caminho de iniqüidade. T4 165 1 Em nossos dias Ele não instituiu qualquer plano para preservar a pureza de Seu povo. Como no passado, apela aos errantes que professam Seu nome para se arrependerem e se volverem de seus maus caminhos. Agora, como então, pela boca de Seus servos escolhidos Ele prediz os perigos diante deles. Soa a nota de advertência, e reprova o pecado tão fielmente como nos dias de Jeremias. Mas o Israel de nosso tempo tem as mesmas tentações de zombar da reprovação e odiar o conselho como fazia o antigo Israel. Freqüentemente fazem ouvidos moucos às palavras que Deus tem dado aos Seus servos para benefício daqueles que professam a verdade. Conquanto o Senhor em misericórdia retenha por um tempo a retribuição de seus pecados, como nos dias de Jeremias, Ele não deterá para sempre a Sua mão, mas visitará a iniqüidade com justo juízo. T4 165 2 O Senhor deu ordens a Jeremias de postar-se no pátio da casa do Senhor e falar ao povo de Judá, que ali vinha adorar, as coisas que Ele queria que falasse, sem poupar uma palavra, para que pudessem ouvir e volver-se de seus maus caminhos. Então Deus Se arrependeria da punição que havia Se proposto infligir sobre eles por causa de sua impiedade. T4 165 3 A indisposição do Senhor em castigar o Seu errante povo é aqui vividamente manifestada. Ele detém os Seus juízos; apela a eles para retornarem à lealdade. Trouxe-os para fora da escravidão para que pudessem fielmente servi-Lo, o único Deus vivo e verdadeiro; mas eles se perderam em idolatria, trataram levianamente as advertências dadas por Seus profetas. Contudo, Ele retarda o Seu castigo para dar-lhes mais uma oportunidade de arrependimento e evitar a retribuição por seu pecado. Através de Seu profeta escolhido, Ele agora lhes envia uma clara e categórica advertência, e coloca perante eles a única maneira pela qual podem escapar da punição que merecem. Esta é total arrependimento por seu pecado, e voltar-se da impiedade de seus caminhos. T4 166 1 O Senhor ordenou que Jeremias dissesse ao povo: "Assim diz o Senhor: Se não Me derdes ouvidos para andardes na Minha lei que pus diante de vós, para que ouvísseis as palavras dos Meus servos, os profetas, que Eu vos envio, madrugando e enviando, mas não ouvistes. Então, farei que esta casa seja como Siló e farei desta cidade uma maldição para todas as nações da Terra." Jeremias 26:4-6. Eles compreenderam que isto era uma referência a Siló e o tempo em que os filisteus venceram Israel e a arca do Senhor foi tomada. T4 166 2 O pecado de Eli foi de passar por alto a iniqüidade de seus filhos, que ocupavam ofícios sagrados. A negligência do pai em reprovar e restringir seus filhos trouxe sobre Israel uma terrível calamidade. Os filhos de Eli foram mortos, e o próprio Eli perdeu a vida, a arca de Deus foi tomada dos israelitas e trinta mil dentre o povo foram mortos. Tudo isto se deu porque o pecado foi considerado levianamente e permitido permanecer entre eles. Que lição para os homens que ocupam posições de responsabilidade na igreja de Deus! Desafia-os a fielmente removerem todos os erros que desonram a causa da verdade. T4 166 3 Nos dias de Samuel, Israel julgou que a presença da arca contendo os mandamentos de Deus lhes daria vitória sobre os filisteus, arrependessem-se eles ou não de suas obras iníquas. Exatamente assim, no tempo de Jeremias, os judeus criam que a estrita observância dos serviços divinamente designados do Templo os preservaria da justa punição por seus maus caminhos. T4 166 4 O mesmo perigo existe hoje entre o povo que professa ser depositário da lei de Deus. São demasiado prontos em lisonjear-se com o pensamento de que a consideração que têm pelos mandamentos os preservará do poder da justiça divina. Não aceitam a reprovação do mal e acusam os servos de Deus de serem por demais zelosos em afastar do acampamento o pecado. Um Deus que aborrece o pecado concita os que professam guardar Sua lei a afastar-se de toda iniqüidade. A negligência em arrepender-se e obedecer à Sua palavra, trará hoje tão sérias conseqüências para o povo de Deus como fez o mesmo pecado em relação ao Israel antigo. Há um limite para além do qual Ele não retardará por mais tempo os Seus juízos. A desolação de Jerusalém permanece como uma solene advertência perante os olhos do moderno Israel, de que as reprovações dadas através de Seus instrumentos escolhidos não podem ser desconsideradas impunemente. T4 167 1 Quando os sacerdotes e o povo ouviram a mensagem que Jeremias lhes apresentou no nome do Senhor, ficaram irados e declararam que ele devia morrer. Turbulentamente o denunciaram, clamando: "Por que profetizaste no nome do Senhor, dizendo: Será como Siló esta casa, e esta cidade será assolada, de sorte que fique sem moradores? E ajuntou-se todo o povo contra Jeremias, na Casa do Senhor." Jeremias 26:9. Assim foi a mensagem de Deus desprezada, e o servo a quem Ele a confiou, ameaçado de morte. Os sacerdotes, os profetas infiéis e todo o povo se voltaram com ira contra aquele que não lhes falaria coisas suaves nem profetizaria o engano. T4 167 2 Os inabaláveis servos de Deus têm geralmente sofrido a mais amarga perseguição de falsos mestres de religião. Mas os verdadeiros profetas sempre preferirão reprovação e mesmo a morte a serem infiéis a Deus. Olhos infinitos estão sobre os instrumentos da reprovação divina, e estes carregam uma pesada responsabilidade. Mas Deus considera a injúria que lhes é causada pela falsa representação, falsidade ou abuso como se fossem feitos a Si mesmo, e punirá adequadamente. T4 167 3 Os príncipes de Judá haviam ouvido a respeito das palavras de Jeremias, e vieram da casa do rei e sentaram-se à entrada da casa do Senhor. "Então, falaram os sacerdotes e os profetas aos príncipes e a todo o povo, dizendo: Este homem é réu de morte, porque profetizou contra esta cidade, como ouvistes com os vossos ouvidos." Jeremias 26:11. Mas Jeremias permaneceu ousadamente perante os príncipes e o povo, declarando: "O Senhor me enviou a profetizar contra esta casa e contra esta cidade todas as palavras que ouvistes. Agora, pois, melhorai os vossos caminhos e as vossas ações e ouvi a voz do Senhor, vosso Deus, e arrepender-se-á o Senhor do mal que falou contra vós. Quanto a mim, eis que estou nas vossas mãos; fazei de mim conforme o que for bom e reto aos vossos olhos. Sabei, porém, com certeza, que, se me matardes a mim, trareis sangue inocente sobre vós, e sobre esta cidade, e sobre os seus habitantes, porque, na verdade, o Senhor me enviou a vós para dizer aos vossos ouvidos todas estas palavras." Jeremias 26:12-15. T4 168 1 Se o profeta tivesse sido intimidado pelas ameaças daqueles em elevada posição de autoridade, e pelo clamor da multidão, sua mensagem ficaria sem efeito, e ele teria perdido a vida. Mas a coragem com que se desincumbiu de seu penoso dever atraiu o respeito do povo e ganhou os príncipes de Israel ao seu favor. Assim o Senhor suscitou defensores para o Seu servo. Eles raciocinaram com os sacerdotes e os falsos profetas, mostrando-lhes quão insensatas seriam as medidas extremas que defendiam. T4 168 2 A influência dessas pessoas poderosas produziu uma reação na mente do povo. Então os anciãos se uniram em protesto contra a decisão dos sacerdotes a respeito da sorte de Jeremias. Citaram o caso de Miquéias, que profetizou juízos sobre Jerusalém, declarando: "Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, como os altos de um bosque." Jeremias 26:18. Apresentaram-lhes a pergunta: "Mataram-no, porventura, Ezequias, rei de Judá, e todo o Judá? Antes, não temeu este ao Senhor e não implorou o favor do Senhor? E o Senhor Se arrependeu do mal que falara contra eles. E nós não fazemos um grande mal contra a nossa alma?" Jeremias 26:19. T4 168 3 Assim, através do apelo de Aicã e outros, a vida do profeta Jeremias foi poupada; contudo, muitos dos sacerdotes e falsos profetas teriam ficado satisfeitos se ele tivesse sido morto sob pretexto de insubordinação; pois não podiam suportar as verdades que proferia, expondo a sua impiedade. T4 168 4 Israel, porém, permaneceu inflexível, e o Senhor viu que precisavam ser punidos por seus pecados; assim instruiu Jeremias a fazer jugos e algemas e colocá-los sobre o pescoço, e enviá-los aos reis de Edom, de Moabe, dos amonitas e de Tiro e Sidom, ordenando que os mensageiros declarassem que Deus havia dado todas aquelas terras a Nabucodonosor, o rei de Babilônia, e que todas essas nações deveriam servi-lhe e aos seus descendentes por um certo tempo, até que Deus os livrasse. Deviam declarar que se essas nações recusassem servir ao rei de Babilônia, seriam punidas com fome, com espada e pestilência, até que fossem consumidas. Disse o Senhor: "E não deis ouvidos aos vossos profetas, e aos vossos adivinhos, e aos vossos sonhos, e aos vossos agoureiros, e aos vossos encantadores, que vos falam, dizendo: Não servireis ao rei da Babilônia. Porque mentiras vos profetizam, para vos mandarem para longe da vossa terra, e para que Eu vos lance dela, e vós pereçais. Mas a nação que meter o pescoço sob o jugo do rei da Babilônia e o servir, Eu a deixarei na sua terra, diz o Senhor, e lavrá-la-á e habitará nela." Jeremias 27:9-11. T4 169 1 Jeremias declarou que deviam levar o jugo de servidão por setenta anos; e os cativos que já estavam nas mãos do rei de Babilônia e os vasos da casa do Senhor que haviam sido tomados deveriam permanecer em Babilônia até que esse tempo houvesse transcorrido. Mas, ao final dos setenta anos, Deus os libertaria de seu cativeiro e puniria seus opressores, pondo em sujeição o orgulhoso rei de Babilônia. T4 169 2 Embaixadores vieram das várias nações mencionadas para consultar o rei de Judá a respeito da questão de empenharem-se em batalha contra o rei de Babilônia. Mas o profeta de Deus, portando os símbolos de sujeição, apresentou a mensagem do Senhor a essas nações, ordenando-lhes levá-la a seus vários reis. Esta era a punição mais leve que um Deus misericordioso poderia infligir sobre um povo tão rebelde; mas se guerreassem contra esse decreto de servidão, deveriam sentir o pleno rigor de Seu castigo. Foram fielmente advertidos a não darem ouvidos a seus falsos mestres, que profetizavam mentiras. T4 170 1 A surpresa do conselho de nações reunidas não conheceu limites quando Jeremias, portando o jugo de sujeição sobre o pescoço, tornou-lhes conhecida a vontade de Deus. Mas Hananias, um dos falsos profetas contra os quais Deus havia advertido o Seu povo através de Jeremias, ergueu a voz em oposição à profecia declarada. Desejando obter o favor do rei e de sua corte, ele afirmou que Deus lhe havia dado palavras de encorajamento para os judeus. Disse ele: "Depois de passados dois anos completos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da Casa do Senhor que deste lugar tomou Nabucodonosor, rei da Babilônia, levando-os para a Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, e a todos os do cativeiro de Judá que entraram na Babilônia Eu tornarei a trazer a este lugar, diz o Senhor, porque quebrarei o jugo do rei da Babilônia." Jeremias 28:3, 4. T4 170 2 Jeremias, na presença de todos os sacerdotes e povo, disse que era o ardente desejo de seu coração que Deus assim favorecesse o Seu povo de modo que os vasos da casa do Senhor pudessem ser devolvidos e os cativos trazidos de volta de Babilônia; mas isto somente poderia acontecer sob a condição de que o povo se arrependesse e se volvesse de seus maus caminhos para a obediência à lei de Deus. Jeremias amava o seu país, e desejava ardentemente que a desolação predita fosse evitada pela humilhação do povo; mas sabia que o seu desejo era em vão. Esperava que a punição de Israel fosse a mais leve possível; portanto, sinceramente apelou-lhes para se submeterem ao rei de Babilônia pelo tempo que o Senhor especificara. T4 170 3 Ele apelou que ouvissem as palavras que proferira. Citou-lhes as profecias de Oséias, Habacuque, Sofonias e outros cujas mensagens de reprovação e advertência tinham sido semelhantes às suas. Referiu-lhes os acontecimentos que haviam transparecido na sua história em cumprimento das profecias de retribuição por pecados não renunciados. Às vezes, como neste caso, os homens têm-se levantado em oposição à mensagem de Deus e predito paz e prosperidade para aquietar os temores do povo, e obter o favor daqueles em altas posições. Mas em todo o fato passado, o juízo de Deus havia visitado Israel como os verdadeiros profetas tinham indicado. Disse ele: "O profeta que profetizar paz, somente quando se cumprir a palavra desse profeta é que será conhecido como aquele a quem o Senhor, na verdade, enviou." Jeremias 28:9. Se Israel escolhesse correr o risco, os acontecimentos futuros efetivamente decidiriam quem era o falso profeta. T4 171 1 Mas Hananias, enraivecido com isto, apanhou o jugo do pescoço de Jeremias e o quebrou. "E falou Hananias aos olhos de todo o povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Assim quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, depois de passados dois anos completos, de sobre o pescoço de todas as nações. E Jeremias, o profeta, se foi, tomando o seu caminho." Jeremias 28:11. Ele havia feito a sua obra; advertira o povo de seu perigo, mostrara-lhes o único caminho pelo qual poderiam reconquistar o favor de Deus. Mas, conquanto seu único crime tivesse sido o de transmitir fielmente a mensagem de Deus a um povo incrédulo, eles zombaram de suas palavras; e os homens em posições de responsabilidade o denunciaram, e tentaram suscitar o povo para levá-lo à morte. T4 171 2 Outra mensagem, porém, foi dada a Jeremias. "Vai e fala a Hananias, dizendo: Assim diz o Senhor: Jugos de madeira quebraste. Mas, em vez deles, farei jugos de ferro. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Jugo de ferro pus sobre o pescoço de todas estas nações, para servirem a Nabucodonosor, rei da Babilônia; e servi-lo-ão, e até os animais do campo lhe dei. E disse Jeremias, o profeta, a Hananias, o profeta: Ouve, agora, Hananias: não te enviou o Senhor, mas tu fizeste que este povo confiasse em mentiras. Pelo que assim diz o Senhor: Eis que te lançarei de sobre a face da terra; este ano, morrerás, porque falaste em rebeldia contra o Senhor. E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês." Jeremias 28:13-17. T4 171 3 Este falso profeta havia fortalecido a incredulidade do povo em Jeremias e sua mensagem. Impiamente se declarara mensageiro do Senhor, e sofreu a morte em conseqüência de seu terrível crime. No quinto mês Jeremias profetizou a morte de Hananias, e no sétimo mês sua morte provou que as palavras do profeta eram verdadeiras. T4 172 1 Deus havia dito que Seu povo seria salvo, que o jugo que colocaria sobre ele seria leve, se sem murmurações se submetesse ao Seu plano. A servidão deles foi representada por um jugo de madeira, que era facilmente carregado; mas a resistência seria enfrentada com correspondente severidade, representada pelo jugo de ferro. Deus determinou manter o rei de Babilônia sob controle, para que não houvesse perda de vida nem amarga opressão; porém, por desprezarem a Sua advertência e ordens, acarretaram sobre si mesmos o rigor máximo da escravidão. Era muito mais agradável ao povo receber a mensagem do falso profeta, que previa prosperidade; portanto, ela foi recebida. Feria-lhes o orgulho ter seus pecados trazidos continuamente perante os olhos; eles prefeririam afastá-los da vista. Estavam em tal escuridão moral que não perceberam a enormidade de sua culpa, nem apreciaram as mensagens de reprovação e advertência que lhes foram dadas por Deus. Se tivessem tido apropriada percepção de sua desobediência, teriam reconhecido a justiça da atitude do Senhor, e aceitado a autoridade de Seu profeta. Deus lhes apelou a se arrependerem para que pudesse poupá-los da humilhação, e para que um povo chamado pelo Seu nome não se tornasse tributário de uma nação pagã; mas escarneceram de Seu conselho e foram atrás dos falsos profetas. T4 172 2 O Senhor então ordenou a Jeremias escrever cartas aos capitães, anciãos, sacerdotes, profetas e a todas as pessoas que haviam sido levadas cativas para Babilônia, solicitando-lhes a não se iludirem com a crença de que a sua libertação estava próxima, mas a se submeterem tranqüilamente a seus opressores, prosseguirem em suas atividades e procurarem viver pacificamente entre seus conquistadores. O Senhor lhes ordenou a não permitirem que seus profetas ou adivinhadores os enganassem com falsas expectativas; mas assegurou-lhes pelas palavras de Jeremias de que após setenta anos de escravidão seriam libertados e retornariam a Jerusalém. E Ele ouviria as suas orações e lhes daria o Seu favor quando se voltassem a Ele de todo o coração. "E serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos, e congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos transportei." Jeremias 29:14. T4 173 1 Com que terna compaixão Deus informou o Seu povo cativo com respeito a Seus planos para Israel. Ele sabia que sofrimento e infortúnios eles experimentariam caso fossem levados a crer que seriam rapidamente livrados da escravidão e trazidos de volta a Jerusalém, segundo a previsão dos falsos profetas. Sabia que essa crença tornaria sua posição bastante difícil. Qualquer demonstração de insurreição da parte deles despertaria a vigilância e a severidade do rei, e em conseqüência sua liberdade seria restringida. Ele desejava que tranqüilamente se submetessem a sua sorte, e tornassem a sua servidão a mais agradável possível. T4 173 2 Havia dois outros falsos profetas, Acabe e Zedequias, que profetizaram mentiras no nome do Senhor. Esses homens professavam ser instrutores consagrados; mas a vida deles era corrupta, e eram escravos dos prazeres do pecado. O profeta de Deus havia condenado o mau comportamento desses homens, e os advertira do perigo; mas em vez de se arrependerem e se reformarem, ficaram irados com o fiel reprovador de seus pecados, e buscaram impedir-lhe a obra, suscitando o povo a descrer de suas palavras e a agirem contrariamente ao conselho de Deus, na questão da submissão ao rei de Babilônia. O Senhor testificou mediante Jeremias que esses falsos profetas deviam ser entregues nas mãos do rei de Babilônia e mortos diante de seus olhos, e no devido tempo esta predição foi cumprida. T4 173 3 Outros falsos profetas se levantaram para semear confusão entre o povo, desviando-os de obedecerem aos mandados divinos transmitidos através de Jeremias; mas o juízo de Deus foi pronunciado contra eles em conseqüência de seu grave pecado de levar a rebelião contra Ele. T4 173 4 Homens semelhantes se levantam em nossos dias, e criam confusão e rebelião entre o povo que professa obedecer à lei de Deus. Tão certamente, porém, como os juízos divinos recaíram sobre os falsos profetas, igualmente esses obreiros iníquos receberão a plena medida da retribuição; pois o Senhor não mudou. Aqueles que profetizam mentiras, encorajam os homens a verem o pecado como questão de menor importância. Quando os terríveis resultados de seus crimes são manifestos, eles buscam, se possível, tornar aquele que fez fiéis advertências responsável por suas dificuldades, tal como os judeus acusaram Jeremias por seus infortúnios. T4 174 1 Aqueles que seguem uma atitude de rebelião contra o Senhor podem sempre encontrar falsos profetas que os justificarão em seus atos e os lisonjearão para sua destruição. Palavras mentirosas geralmente fazem muitos amigos, como no caso de Acabe e Zedequias. Em seu pretenso zelo por Deus, esses falsos profetas encontravam muito mais pessoas que criam neles e os seguiam, do que o verdadeiro profeta que apresentava a mensagem simples do Senhor. Uma lição dos recabitas T4 174 2 Deus ordenou a Jeremias que reunisse os recabitas na casa do Senhor, numa de suas câmaras, e lhes apresentasse vinho e os convidasse a beber. Jeremias fez como o Senhor lhe ordenara. "Mas eles disseram: Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou, dizendo: Nunca bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos." Jeremias 35:6. T4 174 3 "Então, veio a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Vai e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Porventura, nunca aceitareis instrução, para ouvirdes as Minhas palavras? -- diz o Senhor. As palavras de Jonadabe, filho de Recabe, que ordenou a seus filhos que não bebessem vinho, foram guardadas, pois não beberam até este dia; antes, ouviram o mandamento de seu pai." Jeremias 35:12-14. T4 174 4 Aqui Deus contrasta a obediência dos recabitas com a desobediência de Seu povo que não recebia Suas palavras de reprovação e advertência. Os recabitas obedeceram à ordem de seu pai, e recusaram ser seduzidos à transgressão de seus requisitos. Mas Israel recusou-se a ouvir ao Senhor. Ele diz: "A Mim, porém, que vos tenho falado a vós, madrugando e falando, vós não Me ouvistes. E vos enviei todos os Meus servos, os profetas, madrugando, e enviando, e dizendo: Convertei-vos, agora, cada um do seu mau caminho, e fazei boas as vossas ações, e não sigais a outros deuses para servi-los; e assim ficareis na terra que vos dei a vós e a vossos pais; mas não inclinastes os ouvidos, nem Me obedecestes a Mim. Visto que os filhos de Jonadabe, filho de Recabe, guardaram o mandamento de seu pai, que ele lhes ordenou, mas este povo não Me obedeceu, assim diz o Senhor, o Deus dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis que trarei sobre Judá e sobre todos os moradores de Jerusalém todo o mal que falei contra eles; pois lhes tenho falado, e não ouviram; e clamei a eles, e não responderam. T4 175 1 "E à casa dos recabitas disse Jeremias: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Visto que obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, e guardastes todos os seus mandamentos, e fizestes conforme tudo quanto vos ordenou, assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Nunca faltará varão a Jonadabe, filho de Recabe, que assista perante a Minha face todos os dias." Jeremias 35:14-19. T4 175 2 Os recabitas foram elogiados por sua pronta e voluntária obediência, ao passo que o povo de Deus não aceitava as reprovações dadas por seus profetas. Sendo que Deus lhes falara e eles não ouviram, que os chamara e não responderam, Ele pronunciou juízo contra eles. Jeremias repetiu as palavras de elogio do Senhor aos recabitas fiéis e pronunciou bênçãos sobre eles em Seu nome. Assim Deus ensinou ao Seu povo que a fidelidade e obediência aos Seus requisitos se refletiriam em bênçãos, tal como os recabitas foram abençoados por sua obediência à ordem de seu pai. T4 175 3 Se as instruções de um pai bom e sábio, que usou os melhores e mais eficazes meios para proteger sua posteridade contra o mal da intemperança, devessem ser tão estritamente obedecidas, a autoridade de Deus deveria ser mantida em muito maior respeito como Ele é mais santo do que o homem. Ele é o nosso Criador e comandante, infinito em poder e terrível em juízo. Em misericórdia Ele emprega uma variedade de meios para levar os homens a verem os seus pecados e deles se arrependerem. Se continuarem a desconsiderar as reprovações por Ele enviadas, e agirem contrariamente a Sua vontade declarada, a ruína se seguirá; pois o povo de Deus é mantido em prosperidade somente por Sua misericórdia, mediante o cuidado de Seus mensageiros celestiais. Ele não susterá nem protegerá um povo que desconsidera o Seu conselho e despreza as Suas reprovações. As advertências de Deus rejeitadas T4 176 1 Jeremias já estava privado de sua liberdade porque obedeceria a Deus e daria ao rei e a outros que ocupavam posições de responsabilidade em Israel as palavras de advertência que havia recebido da boca de Deus. Os israelitas não aceitariam essas repreensões, nem permitiriam que sua atitude fosse questionada. Haviam manifestado grande ira e desprezo às palavras de repreensão e aos juízos que foram preditos que viriam sobre eles se continuassem em rebelião contra o Senhor. Embora Israel não ouvisse a palavra do divino conselho, isto não tornou essa palavra de menos efeito, nem Deus deixou de reprovar e ameaçar com o Seu desprazer e Seus juízos àqueles que recusaram obedecer aos Seus requisitos. T4 176 2 O Senhor instruiu Jeremias dizendo: "Toma o rolo de um livro e escreve nele todas as palavras que te tenho falado sobre Israel, é sobre Judá, e sobre todas as nações, desde o dia em que Eu te falei a ti, desde os dias de Josias até hoje. Ouvirão, talvez, os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes, para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado." Jeremias 36:2, 3. T4 176 3 Aqui é mostrada a relutância de Deus em desistir de Seu povo pecador. Para que Israel não mais negligenciasse Suas reprovações e advertências a ponto de esquecê-las, Ele retarda Seu juízo sobre eles e lhes dá uma recapitulação completa de sua desobediência e pecados agravantes, desde os dias de Josias até seus próprios dias, e dos juízos que havia pronunciado em conseqüência de suas transgressões. Assim tiveram outra oportunidade de ver sua iniqüidade e de se arrependerem. Nisto vemos que Deus não Se deleita em afligir Seu povo; mas, com cuidado que ultrapassa o de um pai piedoso por um filho desobediente, apela ao Seu povo errante para retornar à Sua lealdade. T4 177 1 Em obediência às ordens de Deus, o profeta Jeremias ditou as palavras que recebera do Senhor a Baruque, seu escriba, que as escreveu sobre um rolo. Ver Jeremias 36:4. Essa mensagem era uma reprovação dos muitos pecados de Israel, e uma advertência das conseqüências que sobreviriam pela continuação de sua má conduta. Era um fervoroso apelo para que renunciasse a seus pecados. Após ter sido escrito, Jeremias, que era prisioneiro, enviou seu escriba para que lesse o rolo a todo o povo que se havia reunido "na Casa do Senhor, no dia de jejum". Jeremias 36:6. Disse o profeta: "Pode ser que caia a sua súplica diante do Senhor, e se converta cada um do seu mau caminho, porque grande é a ira e o furor que o Senhor tem manifestado contra este povo." Jeremias 36:7. T4 177 2 O escriba obedeceu ao profeta e o rolo foi lido perante todo o povo de Judá. Entretanto, isso não foi tudo; ele foi convocado a lê-lo perante os príncipes. Eles ouviram com grande interesse, e o temor lhes estava estampado sobre a face ao perguntarem a Baruque com respeito à misteriosa escrita. Prometeram dizer ao rei tudo que haviam ouvido a respeito dele e de seu povo, mas aconselharam o escriba a se esconder, pois temiam que o rei rejeitasse o testemunho que Deus havia dado por meio Jeremias, e buscasse matar não somente o profeta mas o seu escriba. T4 177 3 Quando o rei foi notificado pelos príncipes do que Baruque havia lido, imediatamente ordenou que o rolo fosse trazido e lido para ele. Mas em lugar de acatar as suas advertências, e temendo o perigo que pairava sobre ele e o seu povo, num ímpeto de ira atirou-o no fogo, não obstante alguns que ocupavam elevados postos de sua confiança lhe terem apelado a não queimá-lo. Então a ira desse ímpio monarca levantou-se contra Jeremias e seu escriba, e em seguida ordenou que fossem apanhados; "mas o Senhor tinha-os escondido". Jeremias 36:26. Após o rei ter queimado o rolo sagrado, veio a palavra de Deus a Jeremias, dizendo: "Toma ainda outro rolo e escreve nele todas as palavras que estavam no primeiro volume, o qual Jeoaquim, rei de Judá, queimou. E a Jeoaquim, rei de Judá, dirás: Assim diz o Senhor: Tu queimaste este rolo, dizendo: Por que escreveste nele anunciando: Certamente, virá o rei da Babilônia, e destruirá esta terra, e fará cessar nela homens e animais?" Jeremias 36:28, 29. T4 178 1 Um Deus misericordioso havia graciosamente advertido o povo para o seu bem. "Ouvirão, talvez", disse o compassivo Criador, "os da casa de Judá todo o mal que Eu intento fazer-lhes, para que cada qual se converta do seu mau caminho, e Eu perdoe a sua maldade e o seu pecado." Jeremias 36:3. Deus Se compadece da cegueira e da perversidade do homem; Ele envia luz a seu entenebrecido entendimento através de reprovações e ameaças que se destinam a fazer os mais exaltados sentirem sua ignorância e lamentarem seus erros. Ele leva os condescendentes consigo mesmos a se sentirem insatisfeitos com as suas realizações e buscarem maiores bênçãos por uma aproximação maior com o Céu. T4 178 2 O plano de Deus não é de enviar mensageiros que agradem e lisonjeiem os pecadores; Ele não apresenta mensagem de paz para embalar os não santificados em segurança carnal. Antes, coloca pesados fardos sobre a consciência dos praticantes do mal, e penetra a sua alma com agudas setas de convicção. Os anjos ministradores apresentam-lhes os temíveis juízos de Deus para aprofundar a percepção de sua grande necessidade e levá-los ao angustiante clamor: "Que farei para herdar a vida eterna?" Marcos 10:17. A própria mão que humilha ao pó, reprova o pecado, transforma o orgulho e a ambição em vergonha, eleva o penitente, o ferido, e indaga com a mais profunda simpatia: "Que queres que te faça?" Marcos 10:51. T4 178 3 Quando alguém peca contra um santo e misericordioso Deus, não pode seguir conduta mais nobre do que arrepender-se sinceramente e confessar seus erros em lágrimas e angústia de alma. Isso é o que Deus requer dele; não aceitará nada menos do que um coração quebrantado e um espírito contrito. Mas o rei e seus nobres, em sua arrogância e orgulho, recusaram o convite de Deus para retornar; não acatariam a Sua advertência nem se arrependeriam. Esta foi sua última oportunidade de graça. Deus havia declarado que se eles se recusassem a ouvir Sua voz, lhes infligiria uma terrível retribuição. Recusaram-se a ouvir, e Ele pronunciou o Seu juízo sobre Israel; visitou com ira especial o homem que havia orgulhosamente se levantado contra o Todo-poderoso. T4 179 1 "Portanto, assim diz o Senhor acerca de Jeoaquim, rei de Judá: Não terá quem se assente sobre o trono de Davi, e será lançado o seu cadáver ao calor de dia e à geada de noite. E visitarei sobre ele, e sobre a sua semente, e sobre os seus servos a sua iniqüidade; e trarei sobre ele, e sobre os moradores de Jerusalém, e sobre os homens de Judá todo aquele mal que lhes tenho falado sem que Me ouvissem." Jeremias 36:30, 31. T4 179 2 A queima do rolo não foi o fim da questão. As palavras escritas foram mais facilmente descartadas do que a reprovação e advertência que continham, e o pronto castigo que Deus havia pronunciado contra o rebelde Israel. Mas mesmo o rolo escrito foi reproduzido sob a ordem do Senhor. As palavras do Infinito não deviam ser destruídas. "Tomou, pois, Jeremias outro rolo e o deu a Baruque, filho de Nerias, o escrivão, o qual escreveu nele, da boca de Jeremias, todas as palavras do livro que Jeoaquim, rei de Judá, tinha queimado; e ainda se acrescentaram a elas muitas palavras semelhantes." Jeremias 36:32. T4 179 3 Deus não envia juízos sobre o Seu povo sem primeiro adverti-lo ao arrependimento. Ele emprega todos os meios para levá-lo de volta à obediência, e não pune a sua iniqüidade com juízos até que lhe tenha dado ampla oportunidade para arrepender-se. A ira do homem buscou impedir os esforços do profeta de Deus, privando-o de sua liberdade; mas Deus pode falar aos homens através dos muros da prisão, e mesmo aumentar a utilidade de Seus servos através dos próprios meios pelos quais os seus perseguidores tentam limitar a sua influência. T4 180 1 Muitos atualmente desprezam a fiel reprovação que Deus lhes envia pelos testemunhos. Foi-me mostrado que alguns chegaram mesmo ao ponto de queimar as palavras escritas de reprovação e advertência, como fez o ímpio rei de Judá. Mas a oposição às ameaças de Deus não impede que elas se cumpram. Desprezar as palavras do Senhor, transmitidas por Seus instrumentos escolhidos, só Lhe provocará a ira, causando finalmente a ruína certa aos ofensores. A indignação freqüentemente se acende no coração dos pecadores contra o agente que Deus escolheu para transmitir Suas reprovações. Isto em todo o tempo foi assim, e existe hoje o mesmo espírito que perseguiu e encarcerou Jeremias por obedecer à Palavra do Senhor. T4 180 2 Conquanto homens não dêem atenção a repetidas advertências, comprazem-se com falsos ensinadores que lisonjeiam a sua vaidade e fortalecem a sua iniqüidade, mas que deixarão de ajudá-los no dia da angústia. Os servos escolhidos de Deus devem enfrentar com coragem e paciência quaisquer provas e sofrimentos que lhes sobrevenham através de censura, negligência ou difamação por fielmente cumprirem o dever que Deus lhes têm dado. Devem lembrar-se de que os profetas do passado e o Salvador do mundo também suportaram maus-tratos e perseguição por causa da Palavra. Devem esperar enfrentar exatamente essa oposição como manifestada pela queima do rolo que foi escrito por ordem de Deus. T4 180 3 O Senhor está preparando um povo para o Céu. Os defeitos de caráter, a vontade insubordinada, a idolatria do eu, a condescendência com crítica, ódio e contenda provocam a ira de Deus, devendo ser postos de lado por Seu povo observador dos mandamentos. Os que vivem nesses pecados são enganados e cegados pelos ardis de Satanás. Julgam que estão na luz quando se acham tateando nas trevas. Há murmuradores entre nós agora, tal como houve murmuradores entre o antigo Israel. Aqueles que por insensata simpatia encorajam os homens em rebelião quando seu amor-próprio está sendo ferido sob merecida reprovação, não são amigos de Deus, o grande Reprovador. Deus mandará reprovação e advertência ao Seu povo enquanto continuarem na Terra. T4 181 1 Aqueles que valorosamente assumem sua posição do lado certo, que incentivam a submissão à vontade revelada de Deus, e fortalecem outros em seus esforços para pôr de lado os seus erros, são os verdadeiros amigos do Senhor, que em amor estão tentando corrigir os erros de Seu povo, para que Ele os possa lavá-los e, ao purificá-los de toda contaminação, prepará-los para o Seu reino santo. T4 181 2 Zedequias sucedeu a Jeoaquim no reinado em Jerusalém. Mas nem o novo rei nem sua corte, nem o povo da terra, ouviu as palavras do Senhor proferidas por Jeremias. Os caldeus começaram o cerco contra Jerusalém, mas foram desviados por algum tempo para voltar suas armas contra os egípcios. Zedequias enviou um mensageiro a Jeremias, pedindo-lhe para orar ao Deus de Israel em seu favor; mas a resposta terrível do profeta foi de que o exército caldeu retornaria e destruiria a cidade. Assim o Senhor lhes revelou quão impossível é para o homem evitar o juízo divino. "Assim diz o Senhor: Não enganeis a vossa alma, dizendo: Sem dúvida, se irão os caldeus de nós; porque não se irão. Porque, ainda que ferísseis a todo o exército dos caldeus que peleja contra vós, e ficassem deles apenas homens traspassados, cada um se levantaria na sua tenda e queimaria a fogo esta cidade." Jeremias 37:9, 10. T4 181 3 Jeremias considerou a sua obra terminada e tentou deixar a cidade; mas foi impedido pelo filho de um dos falsos profetas, que relatou que ele estava para unir-se ao inimigo. Jeremias negou a falsa acusação, não obstante foi levado de volta. Os príncipes estavam prontos para crer no filho do falso profeta, porque odiavam Jeremias. Pareciam pensar que ele lhes trouxera a calamidade que havia predito. Em sua ira o feriram e o aprisionaram. T4 181 4 Após ter permanecido no calabouço muitos dias, o rei Zedequias mandou buscá-lo, e secretamente indagou-lhe se havia qualquer palavra do Senhor. Jeremias novamente repetiu sua advertência de que a nação seria entregue nas mãos do rei de Babilônia. T4 182 1 "Disse mais Jeremias ao rei Zedequias: Em que tenho pecado contra ti, e contra os teus servos, e contra este povo, para que me pusésseis na prisão? Onde estão, agora, os vossos profetas que vos profetizavam, dizendo: O rei da Babilônia não virá contra vós nem contra esta terra? Agora, pois, ó rei, meu senhor, caia a minha súplica diante de ti: não me deixes tornar à casa de Jônatas, o escriba, para que não venha a morrer ali. Então, ordenou o rei Zedequias que pusessem Jeremias no átrio da guarda; e deram-lhe um bolo de pão cada dia, da rua dos padeiros, até que se acabou todo o pão da cidade. Assim, ficou Jeremias no átrio da guarda." Jeremias 37:18-21. T4 182 2 O ímpio rei não ousou abertamente manifestar qualquer fé em Jeremias; mas seu temor o induziu a buscar dele informações. Contudo, era demasiado fraco para enfrentar a desaprovação de seus nobres e do povo ao submeter-se à vontade de Deus como declarada pelo profeta. Finalmente, homens de autoridade, que estavam irados porque Jeremias persistia em profetizar o mal, foram até o rei e lhe disseram que enquanto o profeta vivesse não cessaria de predizer calamidade. Insistiam em que ele era inimigo da nação, e que suas palavras haviam enfraquecido as mãos do povo e acarretado infortúnio sobre eles; e desejavam levá-lo à morte. T4 182 3 O covarde rei sabia que aquelas acusações eram falsas; mas para agradar aqueles que ocupavam posições elevadas e influentes na nação, fingiu crer em suas falsidades, e entregou Jeremias em suas mãos para que fizessem com ele o que desejassem. Assim, tomaram o profeta "e o lançaram no calabouço de Malquias, filho do rei, que estava no átrio da guarda; e desceram Jeremias com cordas; mas, no calabouço, não havia água, senão lama; e atolou-se Jeremias na lama." Jeremias 38:6. Deus, porém, suscitou amigos para ele, que apelaram ao rei em seu favor, e fizeram com que fosse novamente transferido para o pátio da prisão. T4 183 1 Uma vez mais o rei buscou secretamente a Jeremias e pediu-lhe que relatasse fielmente o propósito de Deus para com Jerusalém. "Disse Jeremias a Zedequias: Se eu ta declarar, com certeza, não me matarás? E, aconselhando-te eu, ouvir-me-ás? Então, jurou o rei Zedequias a Jeremias, em segredo, dizendo: Vive o Senhor, que nos fez esta alma, que não te matarei, nem te entregarei nas mãos destes homens que procuram a tua morte." Jeremias 38:15, 16. Então Jeremias novamente fez soar a nota de advertência divina aos ouvidos do rei. Disse ele: "Assim diz o Senhor, Deus dos Exércitos, Deus de Israel: Se, voluntariamente, saíres, aos príncipes do rei da Babilônia, então, viverá a tua alma, e esta cidade não será queimada, e viverás tu e a tua casa. Mas, se não saíres aos príncipes do rei da Babilônia, então, será entregue esta cidade nas mãos dos caldeus, e eles a queimarão, e tu não escaparás das mãos deles. Então, disse o rei Zedequias a Jeremias: Receio-me dos judeus que se passaram para os caldeus; que me entreguem nas suas mãos e escarneçam de mim. Disse Jeremias: Não te entregarão; ouve, te peço, a voz do Senhor, conforme a qual eu te falo; e bem te irá, e viverá a tua alma." Jeremias 38:17-20. T4 183 2 Aqui foi demonstrada a longanimidade e a misericórdia de Deus. Mesmo na última hora, se houvesse submissão a Seus requisitos, a vida do povo seria poupada e a cidade salva da conflagração. Mas o rei julgou que havia ido longe demais para retratar-se. Temia os judeus, temia tornar-se objeto de zombaria, temia pela própria vida. Era por demais humilhante, naquele momento avançado, dizer ao povo: "Eu aceito a palavra do Senhor como ditas por Seu profeta Jeremias. Não ouso aventurar-me a guerrear contra o inimigo em face de todas essas advertências." T4 183 3 Com lágrimas, Jeremias apelou ao rei para salvar a si mesmo e ao seu povo. Com angústia de espírito lhe assegurou que não poderia escapar com vida, e que todas as suas posses cairiam nas mãos do rei de Babilônia. Ele poderia salvar a cidade se quisesse. Todavia, tinha começado pelo caminho errado, e não queria voltar atrás. Decidiu seguir o conselho dos falsos profetas e dos homens a quem realmente desprezava, e que ridicularizavam a sua fraqueza de caráter em ceder tão prontamente aos desejos deles. Ele renunciou à nobre liberdade de sua honradez para tornar-se um escravo abjeto da opinião pública. Conquanto não tivesse um propósito maligno definido, também não teve firmeza para postar-se ousadamente pelo direito. Embora estivesse convencido da verdade como exposta por Jeremias, não possuía força moral para obedecer a seu conselho, mas avançou firmemente na direção errada. T4 184 1 Ele era mesmo fraco demais para concordar que seus cortesãos e povo soubessem que ele havia conversado com o profeta, tal era o temor de ser humano que se apossara de sua alma. Se esse governante covarde tivesse permanecido corajosamente diante de seu povo e declarado que cria nas palavras do profeta, já em parte cumpridas, que desolação poderia ter evitado! Deveria ter dito: "Eu obedecerei ao Senhor e salvarei a cidade de completa ruína. Não ousarei desconsiderar as ordens de Deus por temor ou favor de homens. Eu amo a verdade, odeio o pecado e seguirei o conselho do Poderoso de Israel." Então o povo teria respeitado seu espírito corajoso, e os vacilantes entre a fé e a incredulidade teriam tomado uma firme posição pelo que é correto. O próprio destemor e justiça de sua atitude teriam inspirado os súditos com admiração e lealdade. Ele teria obtido amplo apoio; e Israel, sido poupado de indescritível aflição de incêndios, carnificina e fome. T4 184 2 Mas a fraqueza de Zedequias foi um crime pelo qual pagou uma penalidade terrível. O inimigo avançou como uma avalanche irresistível e devastou a cidade. Os exércitos hebreus em confusão foram derrotados. A nação foi conquistada. Zedequias foi levado prisioneiro, e seus filhos mortos diante de seus olhos. Então ele foi conduzido para fora de Jerusalém como cativo, ouvindo o clamor de seu desventurado povo e o estrépito das chamas que devoravam suas casas. Seus olhos foram arrancados, e quando chegou em Babilônia, pereceu miseravelmente. Essa foi a punição da incredulidade e de seguir o conselho dos ímpios. T4 185 1 Há muitos falsos profetas em nossos dias, aos quais o pecado não parece especialmente repulsivo. Eles se queixam de que a paz do povo é desnecessariamente perturbada pelas reprovações e advertências dos mensageiros de Deus. Quanto a eles, embalam a alma dos pecadores em uma passividade fatal com seus ensinos suaves e enganosos. O antigo Israel foi assim seduzido pelas mensagens lisonjeiras dos sacerdotes corruptos. A predição de prosperidade deles era mais agradável do que a mensagem do verdadeiro profeta, que recomendava arrependimento e submissão. T4 185 2 Os servos de Deus devem manifestar espírito terno e compassivo e mostrar a todos que não são movidos por quaisquer motivos pessoais em seu trato com o povo, não se deleitando em dar mensagens de ira em nome do Senhor. Não obstante, nunca devem vacilar em assinalar os pecados que estão corrompendo o professo povo de Deus, nem cessar de lutar para influenciá-lo a volver-se de seus erros e obedecer ao Senhor. T4 185 3 Os que buscam acobertar o pecado, fazendo-o parecer menos agravante à mente do ofensor, estão realizando a obra dos falsos profetas e podem esperar que a ira retributiva de Deus seguirá tal atitude. O Senhor nunca conciliará os Seus caminhos aos desejos de homens corruptos. O falso profeta condenou Jeremias por afligir o povo com suas severas ameaças; e buscou reanimá-los por prometer-lhes prosperidade, pensando que o pobre povo não deveria ser continuamente lembrado de seus pecados e ameaçado de punição. Essa atitude fortaleceu o povo em resistir ao conselho do verdadeiro profeta e intensificou sua inimizade para com ele. T4 185 4 Deus não tem afinidade com o malfeitor. Ele não dá a ninguém a liberdade de encobrir os pecados de Seu povo, nem declarar: "Paz! paz!" quando Ele declarou que não haverá paz para o ímpio. Aqueles que suscitam a rebelião contra os servos a quem Deus envia para apresentar Suas mensagens estão se rebelando contra a palavra do Senhor. ------------------------Capítulo 18 -- Necessárias fiéis reprovações T4 186 1 O seguinte testemunho, recebido em minha visão de 5 de Janeiro de 1875, escrevi em minha tenda entre os cultos da campal de Agosto de 1875, em Vermont. Apresenta a condição de coisas em _____, em Janeiro de 1875. Acontecimentos durante o verão seguinte justificaram plenamente a evidente severidade do testemunho. Em Setembro, li partes dele àquela igreja, e uma grande obra foi iniciada pelos nossos esforços; contudo, para benefício daquela igreja e de outras, apresento o testemunho nesta humilde obra. T4 186 2 As trevas estão assumindo o controle onde somente o Espírito de Deus deve reinar. Mas poucos que se empenham na obra percebem a necessidade de esforço pessoal e responsabilidade individual em qualquer ministério que assumem. Poucos sentem o caráter sagrado da obra em que estão empenhados. Consideram-na no mesmo nível de empreendimentos comuns. T4 186 3 O egoísmo predomina em muitos que devem saber que uma vida de amor altruísta é uma vida de paz e liberdade. Aqueles que buscam a felicidade, satisfazendo a si mesmos e procurando principalmente os próprios interesses, estão no caminho errado para alcançar felicidade mesmo na Terra. Quem é infiel no menor de seus deveres é infiel em deveres maiores. Se negligencia realizar fielmente as pequenas tarefas que lhe são confiadas, prova-se incapaz de assumir responsabilidades mais elevadas; indica que não tem o coração inteiramente no trabalho, e que não tem os olhos voltados para a glória de Deus. T4 186 4 Alguns estão prontos para definir deveres que pertencem aos outros, e percebem a importância plena da responsabilidade deles, mas deixam de perceber prontamente o próprio dever. A fidelidade pessoal e a responsabilidade individual são necessárias especialmente no Health Institute [agora Sanatório], no escritório, na igreja e na escola. Se todos aqueles que estão ligados a essas instituições estivessem ouvindo zelosamente o que Jesus lhes ordenou fazer, em vez de buscarem saber o que este ou aquele homem fará, testemunharíamos uma grande mudança em cada ramo da obra. Se a linguagem de cada coração fosse: "Devo ouvir os ensinos de Cristo e obedecer a Sua voz; ninguém pode fazer meu trabalho em meu lugar; a atenção de outros nunca pode compensar minha negligência", então poderíamos ver a causa de Deus avançando como nunca antes. T4 187 1 É essa passividade, ou esperar que os outros façam, que traz fraqueza espiritual. Poupar as energias de alguém é um seguro caminho para diminuí-las. Jesus requer obediência implícita e submissa disposição da parte de todos os Seus servos. Não deve haver demora ou condescendência própria no serviço de Cristo. Não há harmonia entre Cristo e Belial. Que falta de devoção para com a obra de Deus, que ausência de cuidados, tem havido em _____! T4 187 2 O coração de A não tem sido dedicado a Deus. Ele tem habilidades e talentos pelos quais prestará contas ao grande Doador de tudo. Seu coração não tem sido consagrado, e sua vida é indigna de sua profissão de fé; contudo, tem estado intimamente ligado com a sagrada obra de Deus por mais de vinte anos. Que luz teve ele, que privilégios! Tem desfrutado as mais raras oportunidades de desenvolver um sólido caráter cristão. As palavras de Cristo quando chorou sobre Jerusalém são-lhe aplicáveis: "Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus olhos." Lucas 19:42. Irmão A, a retribuição de Deus paira sobre você, "pois que não conheceste o tempo da tua visitação". Lucas 19:44. T4 187 3 B tem a mesma mentalidade, mas não tão inteiramente egoísta. Ambos são "mais amigos dos prazeres que amigos de Deus". 1 Timóteo 3:4. A atitude deles é inteiramente incoerente com a vida cristã. Faltam-lhes estabilidade, sobriedade e devoção a Deus. Com B a obra da graça é por demais superficial. Ele deseja ser um cristão, mas não luta para manter a vitória sobre o eu e agir segundo as suas convicções do que é certo ou errado. Ações, não palavras vãs e intenções vazias, são aceitáveis a Deus. T4 187 4 A, você tem ouvido a palavra de Deus em reprovações, em conselhos, em advertências, bem como em apelos de amor. Mas ouvir não é suficiente. "Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos." Tiago 1:22. É fácil ser levado pelos outros e clamar com a multidão: Hosana! Mas na serenidade da vida diária, quando não há emoção ou exaltação especial, então é que vem o teste do verdadeiro cristianismo. É então que seu coração se torna frio, seu zelo se abate, e as atividades religiosas se tornam desagradáveis T4 188 1 Afirmativamente, vocês negligenciam cumprir a vontade de Deus. Cristo declara: "Vós sois Meus amigos, se fazeis o que Eu vos mando." João 15:14. Esta é a condição imposta; esta é a prova que mostra o caráter dos homens. Os sentimentos muitas vezes enganam, as emoções não são salvaguarda segura; pois são variáveis e sujeitos a circunstâncias externas. Muitos são enganados por confiarem em impressões sensacionais. A prova é: Que você está fazendo por Cristo? Que sacrifícios faz? Que vitórias está alcançando? Um espírito egoísta vencido, resistida uma tentação de negligenciar o dever, uma paixão subjugada e a voluntária e prazerosa obediência prestada à vontade de Cristo são muito maiores provas de que você é um filho de Deus, do que piedade esporádica e religião emocional. T4 188 2 Ambos têm sido avessos à reprovação; ela sempre tem despertado a deslealdade e murmuração no coração de vocês contra o seu melhor Amigo, que sempre buscou fazer o bem por vocês e a quem têm todo motivo para respeitar. Separaram-se dEle e têm irritado o Espírito de Deus ao levantar-se contra as palavras que Ele tem dado aos Seus servos para falar a respeito da conduta de vocês. Não têm dado ouvido a estas admoestações, e assim têm rejeitado o Espírito de Deus, afastando-O do coração, e se tornando descuidados e indiferentes em seu comportamento. T4 188 3 Irmão A, você devia ter obtido valiosa experiência durante os muitos anos nos quais foi abençoado com a grande luz que Deus permitiu brilhar sobre seu caminho. Ouvi uma voz declarando com referência a você: "É uma árvore infrutífera; por que seus galhos sem frutos devem ocupar o espaço que uma árvore frutífera poderia ocupar? Cortem-na, pois por que ocupa o terreno?" Então ouvi os apelos da doce voz da misericórdia declarando: "Poupem-na um pouco mais. Vou escavar ao redor de suas raízes; vou podá-la. Dêem-me mais uma oportunidade; se não der fruto então, poderão cortá-la." Assim mais um pouco de tempo de graça é concedido à árvore improdutiva, um pouco mais de tempo para que a vida estéril floresça e produza fruto. A oportunidade concedida será bem aproveitada? Irão as advertências do Espírito de Deus ser atendidas? As palavras de Jesus com respeito a Jerusalém após ter desprezado a salvação graciosamente oferecida por seu Redentor, são também, em suma, ditas a você: "Jerusalém, Jerusalém, ... quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Mateus 23:37. Cristo pleiteou, convidou; mas o Seu amor não foi correspondido pelo povo ao qual veio salvar. Você não tem feito melhor em seus dias do que os pobres, enganados e cegados judeus nos deles. Poderia ter-se aproveitado de seus benditos privilégios e oportunidades, e aperfeiçoado um caráter cristão; mas o seu coração tem sido rebelde e "não" se humilhou para verdadeiramente converter-se e viver em obediência aos requisitos de Deus. T4 189 1 Os sentimentos e murmurações não harmonizados, que têm sido expressos por alguns, também têm contaminado a sua alma, embora você não tenha ousado falar claramente neste sentido. Teria sido melhor para o escritório e para todos os interessados que você tivesse se desligado disso anos atrás. Quanto mais luz tem tido, mais privilégios desfrutado, menos sinceridade e justiça você tem manifestado. Seu coração tem sido carnal, e você tem negligenciado a expressa palavra de Deus. Conquanto tenha sido protegido com advertências e conselhos, e tenha tido a mais forte evidência de que Deus estava nesta obra, e que Sua voz lhe estava falando, tratou, porém, levianamente e rejeitou as solenes reprovações, seguindo o próprio caminho de egoísmo e obstinação. T4 189 2 Às vezes os seus temores têm sido despertados; contudo, você nunca percebeu sua terrível condição espiritual e absoluto perigo. Tem repetidamente caído de volta ao mesmo estado de indiferença e egoísmo. Seu arrependimento nunca tem sido suficientemente profundo para aperfeiçoar uma reforma completa. Tem realizado uma obra superficial, mas não a inteira transformação necessária a fim de levá-lo à aceitação de Deus. "Quem Me segue", disse Cristo, "não andará em trevas." João 8:12. Mas na maior parte de sua professa vida cristã você tem caminhado em trevas, porque deixou de estar ligado ao Céu, e de receber a pura luz do Espírito de Deus. T4 190 1 Se estivesse em diária comunhão com o Senhor, e cultivado amor pelas almas, teria crescido acima do eu e se tornado obreiro fervoroso na vinha do Senhor. Perceberia como a fiel realização dos deveres da vida o preservaria do amor-próprio e da satisfação própria. Você não tem sido diligente, buscando diariamente obter experiência progressiva. Devia a esta altura ser um homem confiável em qualquer posição de responsabilidade, mas tudo que se dispõe a empreender é assinalado pelo egoísmo. No próprio conceito você tem sido sábio, mas deixado de obter sabedoria da experiência de muitos anos. T4 190 2 B tem sido vaidoso. Ele poderia ter avançado firmemente para a frente, crescendo em graça, mas a aparência exterior tem-lhe parecido mais importante do que o adorno interior, "o incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus". 1 Pedro 3:4. Os descrentes empregados no escritório, que não tiveram a luz da verdade presente como vocês tiveram, têm sido muito mais fiéis e conscienciosos do que qualquer de vocês a quem me dirijo. Se vocês estivessem estado diligentemente unidos a Cristo, alguns desses agora estariam conosco na verdade. Mas a vida de vocês foi para eles uma pedra de tropeço. Deus olha para esses descrentes com maior piedade e favor do que para os que crêem na verdade, mas O negam por suas obras. Esta crença que é posta de lado quando conveniente, e colocada ou tirada como uma peça de vestuário, não é a religião de Cristo, mas um artigo espúrio que não suportará nem mesmo as provas deste mundo. T4 190 3 A verdadeira religião é sempre vista distintamente em nossas palavras e comportamento, e em cada ato da vida. Com os seguidores de Cristo, a religião nunca deve estar divorciada dos negócios. Devem ir de mãos dadas, e os mandamentos de Deus devem ser estritamente considerados em todos os detalhes das questões mundanas. O conhecimento de que somos filhos de Deus deve dar um elevado cunho mesmo aos deveres da vida diária, não nos tornando vagarosos nos negócios, mas "fervorosos no espírito". Romanos 12:11. Religião como esta suporta com grandiosa consciência de integridade o escrutínio de um mundo crítico. T4 191 1 Todo obreiro no escritório deve considerar-se mordomo de Deus, realizando o seu trabalho com exatidão e fiel vigilância. A constante indagação deve ser: "Está isso de acordo com a vontade de Deus? Agradará isto ao meu Redentor?" A religião bíblica eleva o raciocínio até que Cristo é harmonizado com todos os pensamentos. Toda ação, toda palavra e todo momento de nossa vida devem manifestar a estampa de nossa fé santificada. O fim de todas as coisas está próximo e não temos tempo para estar ociosos ou viver em prazer, em contradição com Deus. T4 191 2 O Senhor não será tratado levianamente. Aqueles que negligenciam Suas misericórdias e bênçãos neste tempo de oportunidades trarão sobre si impenetráveis trevas, e serão candidatos à ira de Deus. Sodoma e Gomorra foram visitadas com a maldição do Todo-poderoso por seus pecados e iniqüidade. Há aqueles em nossos dias que têm igualmente abusado das misericórdias de Deus e tratado levianamente Suas advertências. Será mais tolerável para Sodoma e Gomorra no dia do juízo, do que para aqueles que levam o nome de Cristo, contudo O desonram por sua vida não consagrada. Essa classe está acumulando para si uma retribuição terrível, quando Deus em Sua ira os visitar com Seus juízos. T4 191 3 Os pecadores que não tiveram a luz e os privilégios que os adventistas do sétimo dia têm desfrutado, irão, em sua ignorância, estar numa posição mais favorável perante Deus do que aqueles que foram infiéis enquanto em íntima ligação com Sua obra, professando amá-Lo e servi-Lo. As lágrimas de Cristo sobre o monte vieram de um coração angustiado e partido, por causa de Seu amor não correspondido e da ingratidão de Seu povo escolhido. Ele Se empenhara incansavelmente por salvá-los do destino que pareciam determinados a trazer sobre si mesmos; mas recusaram Sua misericórdia e não conheceram o tempo de sua visitação. O seu dia de privilégio estava terminando; contudo, estavam tão cegados pelo pecado que não o souberam. T4 192 1 Jesus contemplou a seqüência dos séculos até o fim do tempo, e considerando os casos daqueles que haviam retribuído o Seu amor e admoestações com egoísmo e negligência, e todos que assim O recompensaram, dirigiu-lhes as solenes palavras, declarando que não conheceram o tempo de sua visitação. Os judeus estavam reunindo ao seu redor nuvens escuras de retribuição; e muitos hoje, de igual maneira, estão atraindo sobre si a ira de Deus, por causa das oportunidades não aproveitadas, dos conselhos e amor de Cristo desdenhados e de Seus servos desprezados e odiados por falarem a verdade. T4 192 2 Não há lugar sobre a face da Terra onde tão grande luz haja sido concedida como em _____. Até mesmo a antiga Jerusalém não foi mais altamente favorecida com os raios da luz celestial brilhando sobre o caminho que seu povo deveria trilhar. Não obstante, deixaram de caminhar, por fiel obediência, no pleno esplendor da luz, servindo a Deus noite e dia. Uma religião doentia e subdesenvolvida é o resultado de negligenciar seguir a luz revelada pelo Espírito do Senhor. O vigor e amor aumentam ao serem exercitados, e as graças cristãs podem ser desenvolvidas unicamente por meio de cuidadoso cultivo. Necessidade de disciplina familiar T4 192 3 O estado de muitos em _____ é verdadeiramente alarmante; especialmente entre a maioria dos jovens. Famílias têm se mudado para o local, entendendo que não deviam ser um peso para a igreja, mas uma ajuda. Com um número considerável, o resultado tem sido exatamente o contrário. A negligência dos pais em disciplinar apropriadamente seus filhos tem sido uma fonte geradora de males em muitas famílias. Os jovens não têm sido restringidos como deviam. Os pais negligenciaram seguir as orientações da Palavra de Deus nessa questão, e os filhos assumiram as rédeas do governo nas próprias mãos. A conseqüência tem sido que geralmente tiveram êxito em governar seus pais, em vez de estarem sob a autoridade deles. T4 193 1 Os pais são cegos à verdadeira condição de seus filhos, os quais tiveram êxito em enganá-los inteiramente. Mas aqueles que perderam o controle dos filhos não se agradam quando outros buscam controlá-los ou apontar-lhes os defeitos com o propósito de corrigi-los. A causa de Deus tem sido retardada pelos pais que trouxeram seus filhos indisciplinados e incontroláveis a esta grande igreja. Muitos estão vivendo em constante negligência de seu dever em criar os filhos na educação e admoestação do Senhor; contudo, eles próprios têm muito a dizer com respeito à perversidade dos jovens em _____, quando é o exemplo errado e a má influência dos próprios filhos que têm desmoralizado os jovens com os quais se associam. T4 193 2 Tais famílias têm trazido sobre esta igreja a sua mais pesada carga. Vêm com falsas idéias. Parecem esperar que a igreja seja infalível e que tome a responsabilidade de tornar cristãos esses próprios filhos a quem eles, como pais, são incapazes de controlar ou manter dentro de limites. Lançam-se como um terrível e esmagador peso sobre a igreja. Poderiam ser um auxílio, se renunciassem ao seu egoísmo, e se empenhassem em honrar a Deus, e reparar os erros que têm cometido na vida. Mas não fazem tal coisa; mantêm-se alheios, prontos para criticar a falta de espiritualidade na igreja, cuja maior calamidade é que há entre seus membros muitos iguais a eles -- pesos mortos, pessoas cujo coração e vida não são consagrados, e cuja conduta é totalmente errada. As instituições localizadas em _____ têm se sobrecarregado com um número excessivo de pessoas doentes e desanimadas, em prejuízo de sua prosperidade e vitalidade espiritual. Crítica aos líderes T4 193 3 A igreja sofre por falta de obreiros cristãos altruístas. Se todos os que são, em regra, incapazes de resistir à tentação, e são demasiado fracos para ficar sozinhos, se conservassem afastados de _____, haveria naquele lugar uma atmosfera espiritual muito mais pura. Os que vivem se alimentando das cascas dos fracassos e deficiências dos outros, e que juntam para si mesmos a podridão das negligências e faltas do próximo, tornando-se por assim dizer os catadores de lixo da igreja, não representam vantagem para a sociedade a que pertencem, mas sim verdadeiro fardo às comunidades nas quais se infiltram. T4 194 1 A igreja precisa, não de fardos, mas de fervorosos obreiros; não de críticos, mas de construtores em Sião. Necessitam-se realmente missionários no grande centro da obra -- homens que defendam a fortaleza, que sejam fiéis como o aço para preservar a honra dos que Deus colocou à frente de Sua obra, e que farão o máximo possível para suster a causa em todos os seus ramos, mesmo com sacrifício dos próprios interesses e da vida, se necessário for. Mas foi-me mostrado que há poucos que têm a verdade entretecida na própria alma e podem subsistir ante a severa prova de Deus. Muitos há que se apegaram à verdade, mas a verdade não se apoderou deles, para lhes transformar o coração e purificá-los de todo o egoísmo. Há os que vêm a _____ para ajudar na obra, assim como há muitos membros antigos que têm terrível conta a prestar a Deus, por terem sido um empecilho ao trabalho, pelo seu amor-próprio e sua vida sem consagração. T4 194 2 A religião não tem virtude salvadora se o caráter dos que a professam não corresponde ao que professam. Deus deu graciosamente grande luz ao Seu povo em _____; mas Satanás tem uma obra a realizar, e faz sentir seu poder em maior medida no grande centro da obra. Ele toma homens e mulheres egoístas e não consagrados e os torna sentinelas para que vigiem os fiéis servos de Deus, pondo em dúvida suas palavras, suas ações e motivos, e criticando e murmurando em vista de suas repreensões e advertências. Por meio deles cria ele suspeita e ciúmes, procurando enfraquecer o ânimo dos fiéis, agradando aos não santificados e neutralizando os esforços dos servos de Deus. T4 194 3 Satanás tem tido grande poder sobre o espírito dos pais, por meio de seus filhos indisciplinados. O pecado da negligência dos pais clama contra muitos pais observadores do sábado. O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e solapar a fé de muitos na veracidade de nossas crenças. Os irmãos e as irmãs estão demasiado prontos para falar das faltas e erros que julgam existir em outros, e especialmente nos que têm apresentado firmemente as mensagens de repreensão e advertência que o Senhor lhes confiou. T4 195 1 Os filhos desses queixosos escutam de ouvidos abertos e recebem o veneno da desafeição. Os pais fecham assim, cegamente, os meios pelos quais poderia ser alcançado o coração dos filhos. Quantas famílias temperam suas refeições diárias com dúvidas e críticas! Dissecam o caráter de seus amigos e o servem como delicada sobremesa. Um precioso bocado de maledicência é passado ao redor da mesa, para ser comentado, não só por adultos, mas também por crianças. Nisso Deus é desonrado. Disse Jesus: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. Portanto, Cristo é menosprezado e profanado pelos que difamam Seus servos. T4 195 2 Os nomes dos escolhidos servos de Deus têm sido usados com desrespeito e, em alguns casos, com absoluto desdém, por certas pessoas cujo dever é apoiá-los. As crianças não têm deixado de ouvir as observações desrespeitosas dos pais com referência às solenes repreensões e advertências dos servos de Deus. Têm compreendido os escarnecedores gracejos e palavras depreciativas que de tempos em tempos lhes têm chegado aos ouvidos, e a tendência tem sido nivelar, em sua mente, os interesses sagrados e eternos, com os negócios comuns do mundo. Que obra realizam esses pais, fazendo de seus filhos uns incrédulos, já na infância! Desta maneira é que as crianças são ensinadas a serem irreverentes e a se rebelarem contra as repreensões do pecado, enviadas pelo Céu. Onde existem semelhantes males, só pode prevalecer o declínio espiritual. Esses mesmos pais e mães, cegados pelo inimigo, admiram-se de que os filhos sejam tão inclinados à incredulidade e a duvidarem da verdade da Bíblia. Admiram-se de que seja tão difícil alcançá-los por influências morais e religiosas. Se eles tivessem visão espiritual, descobririam imediatamente que esse deplorável estado de coisas é resultado de sua própria influência doméstica, produto de seus ciúmes e desconfiança. Assim, muitos incrédulos são criados nos círculos familiares de professos cristãos. T4 196 1 Muitos há que encontram prazer especial em falar demoradamente nos defeitos, reais ou imaginários, dos que carregam pesadas responsabilidades em relação com as instituições da causa de Deus. Passam por alto o bem que tem sido realizado, os benéficos resultados do árduo esforço e persistente dedicação à causa, e prendem a atenção em alguns aparentes erros, coisas que, depois de cometidas e ao seguirem-se as conseqüências, imaginam eles que poderiam ter sido executadas de modo melhor, com resultados mais lisonjeiros. No entanto, a verdade é que, se eles tivessem sido encarregados do trabalho, ou se haveriam recusado a agir em vista das circunstâncias desencorajadoras do caso, ou teriam agido mais indiscretamente do que os que efetuaram a obra, seguindo o caminho aberto pela providência de Deus. T4 196 2 Mas esses incontroláveis faladores apegam-se ferrenhamente aos aspectos mais desagradáveis da obra, tal como os líquens se agarram às asperezas da rocha. Essas pessoas atrofiam-se espiritualmente por se demorarem continuamente sobre os fracassos e faltas dos outros. São moralmente incapazes de discernir as ações boas e nobres, os esforços altruístas, o verdadeiro heroísmo e o sacrifício próprio. Não vão se tornando mais nobres e elevados em sua vida e esperanças, nem mais generosos e amplos em suas idéias e planos. Não cultivam aquela caridade que deve caracterizar a vida do cristão. Degeneram dia a dia, tornando-se mais estreitos em seus preconceitos e opiniões. A pequenez é seu elemento, e a atmosfera que os rodeia é peçonhenta para a paz e a felicidade. T4 196 3 O grande pecado de _____ é a negligência de acariciar a luz que Deus lhes tem dado mediante os Seus servos. Disse Cristo a Seus apóstolos: "Se alguém receber o que Eu enviar, Me recebe a Mim, e quem Me recebe a Mim recebe Aquele que Me enviou." João 13:20. Aqui é tornado claro que aqueles que rejeitam as mensagens dos servos de Deus, não somente rejeitam ao Filho, mas também ao Pai. T4 197 1 Novamente Ele diz: "Mas, em qualquer cidade em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei: Até o pó que da vossa cidade se nos pegou sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto: já o reino de Deus é chegado a vós. E digo-vos que mais tolerância haverá naquele dia para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco de pano grosseiro e cinza, se teriam arrependido. Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor no Dia do Juízo do que para vós. E tu, Cafarnaum, serás levantada até ao céu? Até ao inferno serás abatida. Quem vos ouve a vós a Mim Me ouve; e quem vos rejeita a vós a Mim Me rejeita; e quem a Mim me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lucas 10:10-16. T4 197 2 Quão tremendamente solene são estas palavras! Quão importante é que não sejamos achados rejeitando as advertências e admoestações que Deus apresenta através de Seus humildes instrumentos; pois ao desdenhar a luz trazida por Seus mensageiros, desconsideramos o Salvador do mundo, o Rei da glória. Muitos estão correndo este tremendo risco, trazendo assim sobre si mesmos a condenação de Deus. O Todo-poderoso não será tratado levianamente, nem permitirá que Sua voz seja desconsiderada com impunidade. Os males da disciplina frouxa T4 197 3 Os irmãos C e D não trouxeram aquele alívio à causa em _____ como deviam ter trazido. Se ambos tivessem se mantido humildemente no temor de Deus, e perseverado em fazer o bem tanto na igreja quanto no escritório, teriam sido uma grande bênção para a obra de Deus. Se tivessem sentido sua responsabilidade para com Deus para instruir e disciplinar seus filhos, teriam sido dignos de exemplo a outros. Esses filhos não só precisavam da educação adquirida na escola, mas também de instrução doméstica, a fim de que suas faculdades mentais e morais pudessem ser desenvolvidas na devida proporção, tendo cada uma o exercício requerido. As aptidões físicas, mentais e espirituais devem ser desenvolvidas de modo a formar um caráter adequadamente equilibrado. T4 198 1 As crianças devem ser observadas, cuidadas e disciplinadas para que se tenha êxito em alcançar este objetivo. É preciso habilidade e paciente esforço para moldar os jovens da maneira correta. Algumas más tendências devem ser cuidadosamente contidas e mansamente repreendidas; a mente deve ser estimulada em favor do que é correto. As crianças devem ser incentivadas a procurarem governar a si próprias, e tudo isto deve ser feito criteriosamente, ou o propósito desejado será frustrado. T4 198 2 Os pais podem muito bem perguntar: "E, para essas coisas, quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:16. Sua suficiência está unicamente em Deus, e se eles O deixarem de lado, não buscando Sua ajuda e conselho, sua tarefa será verdadeiramente sem esperança. Mas com oração, estudo da Bíblia e fervoroso zelo de sua parte, poderão ter êxito magnífico neste importante dever, sendo recompensados centuplicadamente por todo o seu tempo e cuidado. Mas os mexericos e ansiedade com respeito à aparência exterior têm tomado o precioso tempo que deveria ter sido dedicado à oração por sabedoria e força de Deus para cumprir seu mais sagrado depósito. Os pais que são sábios para a salvação ordenarão seu meio ambiente, de tal maneira que será favorável à formação de caráter correto dos seus filhos. Isso está quase sempre a seu alcance. Aberta está a fonte da sabedoria, da qual podem extrair todo o conhecimento necessário nesse sentido. T4 198 3 A Bíblia, volume rico em instrução, deve ser o seu compêndio. Se educarem os filhos de acordo com os seus preceitos, não somente lhes colocarão os jovens pés no caminho certo, mas se educarão eles mesmos em seus mais santos deveres. As impressões causadas na mente dos jovens são difíceis de apagar. Quão importante é, portanto, que tais impressões sejam do tipo certo, dirigindo as flexíveis faculdades dos jovens na direção certa. T4 198 4 Certos pais têm vindo a _____ com seus filhos, levando-os à igreja, como se daí em diante renunciassem a toda responsabilidade por sua instrução moral e religiosa. O irmão e a irmã C e o irmão e a irmã D falharam decididamente em disciplinar seus filhos, bem como em dar-lhes regras apropriadas. Seus filhos têm-se gloriado de sua liberdade de agir como desejam. Têm sido liberados de responsabilidades domésticas e desprezado a restrição. Uma vida de utilidade parece-lhes algo muito penoso. A administração frouxa no lar os desqualificou para qualquer posição, e, como conseqüência natural, rebelaram-se contra a disciplina escolar. Suas queixas têm sido recebidas e aceitas por seus pais, que, simpatizando com seus problemas imaginários, têm incentivado os filhos na prática do mal. Esses pais têm, em muitos casos, crido em inverdades evidentes que lhes têm sido apresentadas por seus filhos enganadores. Uns poucos casos semelhantes de crianças indisciplinadas e perturbadoras muito contribuiriam para quebrar toda a autoridade na escola e desmoralizar os jovens de nossa igreja. T4 199 1 No Céu há perfeita ordem, perfeita paz e harmonia. Se os pais assim negligenciam manter os filhos sob a devida autoridade aqui, como podem esperar que estes possam ser considerados aptos companheiros para os santos anjos num mundo de paz e harmonia? Pais condescendentes, que justificam os filhos em sua má conduta, estão assim criando um elemento que trará discórdia à sociedade e subverterá a autoridade tanto da escola quanto da igreja. T4 199 2 Como nunca dantes os filhos necessitam de vigilante cuidado e orientação, pois Satanás se está esforçando por conseguir o controle de sua mente e coração e expulsar o Espírito de Deus. O terrível estado dos jovens desta época constitui um dos mais fortes sinais de que estamos vivendo nos últimos dias, mas a ruína de muitos pode ser atribuída diretamente à administração errônea dos pais. O espírito de murmurar contra a reprovação vem criando raízes e está produzindo seu fruto de insubordinação. Embora os pais não estejam satisfeitos com o caráter que os filhos estão formando, deixam de ver os erros que os fazem o que são. T4 199 3 Eli repreendia os seus filhos, mas não agia prontamente para controlá-los. O pai despreocupado, afetuoso, foi advertido por Deus de que a retribuição se seguiria a sua negligência; mas mesmo assim não sentiu a importância de expulsar imediatamente de Israel essa repulsiva maldade. Ele devia ter tomado medidas imediatas; mas em vez disto declarou com notável submissão: "É o Senhor; faça o que bem parecer aos Seus olhos." 1 Samuel 3:18. Se ele tivesse sido despertado à plena culpa de sua negligência, Israel teria sido salvo da humilhação da derrota, e a arca de Deus não teria caído nas mãos do inimigo. T4 200 1 Deus condena a negligência que compactua com o pecado e o crime, e a insensibilidade que tarda em descobrir sua nefasta presença nas famílias de professos cristãos. Ele considera os pais responsáveis em grande medida pelas faltas e loucuras de seus filhos. Deus visitou com maldição não apenas os filhos de Eli, mas o próprio Eli, e seu deplorável exemplo deve ser uma advertência aos pais de hoje. T4 200 2 Ao considerar a perigosa situação de nossos jovens, e ter-me sido revelado quão indiferentes os pais são com o seu bem-estar, meu coração se afligiu e desmaiou; anjos ficaram preocupados e choraram angustiados. Os jovens estão passando para o mundo e para as mãos de Satanás. Estão se tornando menos susceptíveis às doces influências da graça de Deus, mais ousados e desafiadores, e manifestam crescente desconsideração para com os interesses eternos. Vi Satanás plantando sua bandeira nos lares dos que professam ser os escolhidos de Deus; mas os que andam na luz devem ser capazes de discernir a diferença entre a negra bandeira do adversário e a ensangüentada bandeira de Cristo. T4 200 3 As crianças devem ser ensinadas por preceito e exemplo. Os pais devem assumir suas sérias responsabilidades com temor e tremor. Devem ser feitas orações fervorosas em busca de força e orientação divinas para essa tarefa. Em muitas famílias as sementes da vaidade e do egoísmo são semeadas no coração dos filhos quase desde o berço. Suas palavrinhas e ações engraçadas são comentadas e aplaudidas na presença deles, e repetidas a outros com exagero. Os pequeninos notam isto e ficam inflamados de importância própria; atrevem-se a interromper as conversas e se tornam atrevidos e insolentes. A lisonja e a condescendência alimentam-lhes a vaidade e a obstinação, até que o mais novo, com não pouca freqüência, governa toda a família, inclusive o pai e a mãe. T4 201 1 A disposição formada por esse tipo de ensino não pode ser posta de lado ao alcançar a criança discernimento mais maduro. Cresce com seu crescimento, e o que poderia ter parecido esperteza no bebê, torna-se desprezível e pernicioso no homem ou mulher. Procuram governar sobre seus companheiros; e se qualquer deles recusa ceder à sua vontade, consideram-se ofendidos ou insultados. Isso se dá porque, para seu prejuízo, mostrou-se condescendência para com eles, na juventude, em vez de lhes ser ensinada a abnegação necessária para suportar as dificuldades e lutas da vida. T4 201 2 Freqüentemente os pais mimam seus filhos pequenos, e são para com eles condescendentes porque parece mais fácil lidar com eles dessa maneira. É trabalho mais suave deixá-los seguir seu próprio caminho do que barrar as inclinações desgovernadas que se levantam tão fortemente em seu coração. No entanto, essa atitude é covarde. É uma impiedade fugir assim à responsabilidade; pois virá o tempo em que esses filhos, cujas inclinações não refreadas se transformaram em vícios absolutos, trarão vergonha e desgraça sobre si mesmos e à sua família. Saem para a vida ativa sem o preparo para suas tentações, não sendo suficientemente fortes para suportar perplexidades e dificuldades. Arrebatados, altivos, indisciplinados, procuram submeter outros à sua vontade, e, fracassando nisso, consideram-se maltratados pelo mundo e se voltam contra ele. T4 201 3 Quer boas, quer más, as lições da infância não são aprendidas em vão. O caráter se desenvolve na juventude, para o bem ou para o mal. Em casa pode haver louvor e falsa adulação; no mundo cada um depende de seus próprios méritos. Os pequenos mimados, a quem toda a autoridade da casa cedia, são agora sujeitos diariamente à mortificação por serem obrigados a ceder aos outros. Por essas lições práticas da vida é ensinado a muitos, mesmo então, qual é seu verdadeiro lugar. Pela repulsa, desapontamentos e linguagem clara de seus superiores, freqüentemente encontram seu verdadeiro nível e são humilhados para compreender e aceitar o seu devido lugar. Mas é essa uma prova severa e desnecessária que poderia ter sido evitada pelo devido ensino na juventude. T4 202 1 A maioria dessas criaturas mal disciplinadas atravessam a vida sempre em oposição ao mundo, fracassando onde deveria ter alcançado êxito. Chegam a pensar que o mundo tem má vontade porque não as lisonjeia nem acaricia, e se vingam tendo má vontade para com o mundo e lhe lançando um desafio. As circunstâncias algumas vezes os obrigam a aparentar uma humildade que não têm; mas isso não lhes supre com graça natural, e mais cedo ou mais tarde seu verdadeiro caráter será certamente exposto. T4 202 2 Se tais pessoas têm famílias próprias, tornam-se governantes arbitrários da casa, e revelam ali a disposição egoísta e irracional que são forçadas a esconder parcialmente do mundo exterior. Seus dependentes sentem na plenitude todas as faltas de sua instrução inicial. Por que educarão os pais aos filhos de tal maneira que estejam em guerra com os que com eles entram em contato? T4 202 3 Sua experiência religiosa é moldada pela educação recebida na infância. As tristes provas que se demonstram tão perigosas para a prosperidade da igreja, e que fazem com que o descrente tropece e se desvie com dúvidas e insatisfação, geralmente provêm de um espírito não insubmisso e rebelde, fruto da condescendência paterna na distante juventude. Quantas vidas têm sido arruinadas, quantos crimes são cometidos sob a influência de um acesso repentino que bem poderia ter sido cortado na infância, quando a mente era suscetível, quando o coração era facilmente influenciado pelo direito e estava sujeito à vontade de uma mãe amorosa! O preparo deficiente da criança é o fundamento de uma vasta soma de miséria moral. T4 202 4 Crianças a quem se permite seguir o próprio rumo não são felizes. O coração insubmisso não tem em si os elementos de sossego e contentamento. A mente e o coração têm de ser disciplinados e postos sob a devida restrição, a fim de que o caráter se harmonize com as sábias leis que governam nosso ser. Desassossego e descontentamento são os frutos da condescendência e do egoísmo. O solo do coração, como o de um jardim, produzirá joio e espinheiros, a menos que sementes de preciosas flores sejam ali plantadas e recebam cultivo e cuidado. Como na natureza visível, assim se dá com a alma humana. T4 203 1 Os jovens de _____ estão numa condição assustadora. Enquanto alguns na igreja se preocupam com aqueles que ocupam posições de responsabilidade, e têm criticado e murmurado contra a reprovação, insinuando suas dúvidas e fazendo mexericos dos assuntos alheios, sua própria alma tem sido envolvida em trevas, e seus filhos têm sido contaminados com o espírito que tem atuado nos pais. Essa disposição é designada a desfazer toda restrição e autoridade. Deus considera esses pais responsáveis pela maldade e rebelião dos jovens sob seu cuidado. T4 203 2 Satanás tem sido espantosamente bem-sucedido em seus planos. Homens de experiência, pais de família, que manifestam oposição obstinada quando são contrariados, mostram claramente que não podem controlar a si próprios ou não o fazem. Então como podem ter êxito em controlar os filhos, que seguem os seus passos e se rebelam contra a autoridade deles e qualquer outra restrição, tal como eles se rebelam contra a autoridade da igreja e das instituições com que estão relacionados? Alguns desses professos cristãos se entregaram nas mãos de Satanás e se tornaram seus instrumentos. Eles influenciam almas contra a verdade ao expressarem sua insubordinação e impaciente descontentamento. Embora professando justiça, estão afrontando o Todo-poderoso; e antes de estarem cientes da enormidade de seu pecado, cumpriram os objetivos do adversário. A impressão foi deixada, a sombra das trevas foi lançada, as setas de Satanás encontraram o seu alvo. Verdadeiramente, um pouco de fermento levedou toda a massa. A descrença se insinua e prende com suas garras as mentes que teriam aceito plenamente a verdade. T4 203 3 Entretanto, esses obreiros intermitentes de Satanás consideram inocentemente aqueles que se desviaram para o ceticismo, que permanecem inamovíveis sob reprovação ou apelos. Enquanto aquelas pessoas assim influenciadas foram mais longe na incredulidade do que eles próprios se aventuraram, gabam-se de que em comparação com elas, eles são virtuosos e justos. Deixam de entender que estes tristes casos são o resultado de suas próprias línguas desenfreadas e ímpia rebelião, que esses tentados caíram por sua má influência. Eles começaram a dificuldade; semearam as sementes de confusão e incredulidade. T4 204 1 Nenhuma família é justificada em levar para _____ filhos que não estejam sob o controle dos pais. Se seus pais desconsideraram a Palavra de Deus na questão da instrução e ensino de seus filhos, _____ não é lugar para eles. Serão apenas condutos para desmoralizar os jovens desse lugar, e acarretar discórdia onde devem reinar paz e prosperidade . Que tais pais assumam o trabalho negligenciado de restringir e disciplinar os filhos antes que os imponham à igreja de _____. T4 204 2 Muitos são tão culpados de negligência para com seus filhos como Eli o foi, e a punição de Deus repousará tão certamente sobre eles como repousou sobre Eli. O caso do irmão E ganhou destaque. A mão de Deus estendeu-se na ira de Sua retribuição, não somente sobre os seus filhos, mas sobre ele também. A Palavra de Deus foi clara, mas Suas admoestações foram pisadas a pés; advertências tinham-lhe sido dadas, reprovações administradas, mas todas ficaram desatendidas, e a maldição recaiu sobre ele. É uma coisa terrível negligenciar a educação dos filhos. Não somente eles se perderão em conseqüência, mas os próprios pais, que até então se desviaram de Deus a ponto de perderem toda a percepção de sua sagrada responsabilidade ficam numa posição muito perigosa com respeito à vida eterna. T4 204 3 Pais amoráveis e condescendentes, permitam-me apresentar para sua instrução as orientações dadas na Bíblia para tratar com um filho rebelde: "Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então, seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade e à porta do seu lugar, e dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz, é um comilão e beberrão. Então, todos os homens da sua cidade o apedrejarão com pedras, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, para que todo o Israel o ouça e tema." Deuteronômio 21:18-21. T4 205 1 Tanto os jovens como os velhos que estão ligados com o escritório devem ser cuidadosamente observados para que sua influência não seja de molde a atuar diretamente contra o objetivo designado pelo escritório. Se alguém ali empregado tem uma influência que seja tendente a desviar de Deus e da verdade, não deve haver um momento de dúvida quanto a desfazer-se de tais casos. Devem ser separados do escritório imediatamente; pois estão afastando de Cristo em vez de ajuntar com Ele. São eles virtualmente servos de Satanás. T4 205 2 Se houver jovens ligados ao escritório que não respeitam a autoridade dos pais, são indisciplinados no lar, desprezando o conselho e a restrição, a maldição de Deus recairá sobre eles; e não apenas repousará sobre eles, mas sobre o escritório caso o seus serviços sejam mantidos, e eles obtenham oportunidade adicional para perverter os jovens com os quais são levados em contato. Os que ocupam posições de responsabilidade no escritório são responsáveis pela influência que ali prevalece; e se forem indiferentes à atitude de seus empregados insubordinados e impenitentes, tornam-se participantes de seus pecados. Tem-se acobertado a iniqüidade em _____. Deus requer uma ordem diferente de coisas. Devem-se selecionar jovens relacionados com a Sua obra que serão aperfeiçoados, refinados e enobrecidos por se associarem com a causa de Deus. Fiéis homens de ação são necessários em cada posto do dever, especialmente no grande centro da obra. Como sentinelas que não dormitam, os que professam a verdade devem proteger os interesses da causa no escritório; devem proteger sagradamente a si mesmos e uns aos outros da contaminação espiritual. T4 205 3 Aqueles que estão embebidos com o espírito de independência e vêm a _____ como estudantes em nossa escola, julgando fazer como queiram em todos os assuntos, devem ser rapidamente esclarecidos e postos sob apropriada disciplina. Mas especialmente devem os jovens que residem em _____ ser trazidos sob as mais estritas regras para guardarem sua integridade e moralidade. Se recusarem submeter-se a esses regulamentos, devem ser expulsos da escola, e eliminados da associação com aqueles a quem estão desmoralizando pelo seu exemplo errado. T4 206 1 Os pais que vivem distantes enviam seus filhos a _____ para serem educados, sentindo perfeita confiança de que ali receberão a apropriada instrução moral, não sendo expostos a influências negativas. É direito desses patrocinadores de nossa escola que a atmosfera moral ali seja purificada. Falta de decoro e desrespeito pela estrita virtude têm-se desenvolvido entre uma certa classe de moços e moças em _____. Alguns deles estão lá embaixo na escala de moralidade, influenciando os jovens estudantes que têm sido enviados de longe e não contam com as vantagens de conselho e proteção paternos. Isso deve ser imediatamente considerado; pois é uma questão de grande importância. T4 206 2 A influência de alguns jovens em _____ é desmoralizadora. Parecem pensar ser digno de louvor dar demonstrações de independência e desrespeito à autoridade de seus pais. Paulo oferece uma descrição fiel dessa classe de jovens nessas palavras: "Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus." 2 Timóteo 3:1-5. T4 206 3 A influência dessa classe sobre os jovens de _____ está causando muito dano. Sua conversação e exemplo são desprezivelmente baixos. Os jovens cuja formação moral está estabelecida, e cuja mente é de elevado caráter, não se sentirão atraídos a associar-se com eles, e, portanto, estariam fora do alcance de sua influência. Mas há rapazes e moças que se comprazem na companhia de tais pessoas. Satanás tem assinalado êxito em anuviar as sensibilidades espirituais de certas pessoas que têm crido na verdade, e em obscurecer-lhes a mente com falsas idéias até que sejam incapazes de discernir entre o certo e o errado. Então são feitas sugestões para solapar a sua confiança nos servos escolhidos de Deus, e eles são induzidos à absoluta incredulidade. T4 207 1 Se os jovens escolhessem a companhia daqueles cuja vida é uma honra a sua profissão de fé, escapariam de muitos perigos sérios. Satanás está constantemente procurando a ruína daqueles que são ignorantes com respeito a seus ardis, contudo não sentem necessidade especial das orações e conselhos de amigos experientes e piedosos. Muitos desses jovens que vêm a _____ com boas resoluções de viverem vida cristã, terminam ficando entre uma classe de jovens que os tomam pela mão e, sob o disfarce de amizade, os conduzem diretamente às armadilhas de Satanás. O inimigo nem sempre surge como um leão rugindo; ele freqüentemente aparece como um anjo de luz, assumindo ares amistosos, apresentando tentações peculiares, as quais são difíceis para o inexperiente suportar. Às vezes ele consegue seu propósito de seduzir os descuidosos, incitando a piedade de sua natureza compassiva, apresentando-se perante eles como um ser justo que foi perseguido sem motivo. T4 207 2 Satanás encontra agentes voluntários para executar sua obra. Ele exercita uma habilidade nessa direção que tem sido aperfeiçoada por anos de experiência. Emprega o conhecimento acumulado de séculos em executar seus desígnios maldosos. Jovens ignorantes caem fácil presa nas mãos de Satanás para que os usem como agentes em conduzir almas à ruína. Aqueles que se submetem ao poder de Satanás não obtêm felicidade nisso. Nunca estão contentes ou descansam. São insatisfeitos, queixosos e irritáveis, ingratos e rebeldes. De tal molde é o jovem agora sob consideração. Mas Deus terá misericórdia dele, se sinceramente se arrepender e se converter. Os seus pecados podem ser lavados pelo sangue expiatório de Jesus. T4 207 3 O Salvador do mundo oferece aos que erram o dom da vida eterna. Ele espera pela resposta a Sua oferta de amor e perdão com uma compaixão mais terna do que a que move o coração de um pai terrestre a perdoar um filho desviado, arrependido e sofredor. Ele clama ao errante: "Tornai-vos para Mim, e Eu Me tornarei para vós." Malaquias 3:7. Se o pecador ainda recusa dar atenção à voz de misericórdia que o chama com amor terno e misericordioso, sua alma será deixada em trevas. Se ele negligencia a oportunidade que lhe é apresentada e prossegue em sua má conduta, a ira de Deus, num momento inesperado, desabará sobre ele. "O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura." Provérbios 29:1. Este jovem desdenhou da autoridade de seu pai, e desprezou a restrição. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 9:10. Jaz no próprio fundamento de uma educação apropriada. Aqueles que, tendo oportunidade favorável, deixaram de aprender esta primeira grande lição, não só estão desqualificados para o serviço na causa de Deus, mas são uma declarada desonra à comunidade em que vivem. T4 208 1 Salomão exorta a juventude: "Filho Meu, ouve a instrução de teu pai e não deixes a doutrina de tua mãe. Porque diadema de graça serão para a tua cabeça e colares para o teu pescoço. Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. ... Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? Convertei-vos pela Minha repreensão; eis que abundantemente derramarei sobre vós Meu espírito e vos farei saber as Minhas palavras. T4 208 2 "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o Meu conselho e não quisestes a Minha repreensão; também Eu Me rirei na vossa perdição e zombarei, vindo o vosso temor, vindo com assolação o vosso temor e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia. Então, a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu caminho e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos simples os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá. Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente e estará descansado do temor do mal." Provérbios 1:8-10, 20-33. T4 209 1 A ordem deve ser mantida em nossas diferentes instituições em _____. A insubordinação deve ser dominada. Não deve ser mantido no escritório ninguém que, tendo sido instruído por pais observadores do sábado e sido privilegiado em ouvir a verdade, se rebele contra seus ensinos. Nenhuma pessoa deve estar ligada à sagrada obra de Deus se fala levianamente dela ou trata com desrespeito nossa sagrada fé. Aqueles que têm estado ligados com o escritório durante um bom período, tendo tido ampla oportunidade de se familiarizarem com nossa fé, contudo manifestam oposição à verdade, não devem mais ser mantidos no escritório. A influência deles é contra a verdade, se continuarem a negligenciar a luz e menosprezar a salvação. Essa indiferença tem influência deprimente sobre a fé de outros e os afasta de Deus. Esses impenitentes insensíveis não devem ocupar posições que poderiam ser preenchidas por pessoas que respeitarão a verdade e se submeterão à influência do Espírito de Deus, estando intimamente ligados com essa obra sagrada. T4 209 2 A influência de nossos jovens no escritório não é como deve ser. A e B têm virtualmente trabalhado contra a causa. A influência de sua conversação e comportamento têm sido de molde a causar aversão aos incrédulos e afastá-los de nossa fé e de Cristo. Os jovens que não atendem às advertências da Palavra de Deus, e menosprezam os Testemunhos de Seu Espírito, podem ser somente uma viva maldição ao escritório e devem ser separados dele. T4 209 3 Os jovens cuja influência é desmoralizadora não devem ter ligação com nosso colégio. Aqueles que são possuídos por sentimentalismo doentio, e fazem de sua freqüência à escola uma oportunidade para namorar e trocar atenções impróprias devem ser postos sob as mais severas restrições. A autoridade precisa ser mantida. Justiça e Misericórdia são irmãs gêmeas, permanecendo lado a lado. T4 210 1 Se nenhum esforço for feito para corrigir o estado de coisas que prevalece em _____, em breve ela será um lugar para incentivo à imoralidade e devassidão. Irão os pais e aqueles em responsabilidade por nossas instituições dormir enquanto Satanás toma posse da mente dos filhos? Deus aborrece os pecados que são encorajados e ocultados pela igreja, acariciados no escritório e protegidos sob o teto paternal. Que os pais, e aqueles em autoridade, zelosamente lancem mão do trabalho e eliminem esse mal dentre eles. T4 210 2 Estamos vivendo nos últimos dias. João exclama: "Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo." Apocalipse 12:12. Cristo é o único refúgio nesses tempos perigosos. Satanás está trabalhando de modo secreto e nas trevas. Com astúcia afasta da cruz os seguidores de Cristo e os leva à condescendência própria e à impiedade. T4 210 3 Interesses vitais estão localizados em _____, e Satanás opõe-se a tudo que fortaleça a causa de Cristo e enfraqueça o seu próprio poder. Ele está diligentemente traçando planos para prejudicar a obra de Deus. Nunca descansa por um só momento quando vê que o que é correto está ganhando ascendência. Tem legiões de anjos maus que envia a cada ponto onde a luz do Céu está brilhando sobre o povo. Ali coloca seus grupos de comandados para apanhar todo homem, mulher e criança desatentos e os pressiona a realizar seu serviço. T4 210 4 O grande coração da obra está em _____ e, tal como o coração humano lança sua corrente de sangue vivo a todas as partes do corpo, assim a administração deste lugar, a sede de nossa igreja, afeta a corporação inteira de crentes. Se o coração físico estiver saudável, o sangue que é enviado dele para o organismo também será saudável; mas se a fonte for impura, o organismo inteiro se torna doente por causa do veneno do fluido vital. Assim se dá conosco. Se o coração da obra se torna corrupto, a igreja inteira, em seus vários ramos e interesses espalhados por toda a face da Terra, sofre em conseqüência. T4 210 5 O trabalho principal de Satanás está na sede de nossa obra. Ele não poupa esforços para corromper homens em posições de responsabilidade e persuadi-los a serem infiéis a seus vários deveres. Ele insinua suas suspeitas e ciúmes na mente daqueles cujo negócio é realizar fielmente a obra de Deus. Enquanto Deus está testando e provando esses auxiliares e preparando-os para os seus postos, Satanás está fazendo o máximo para enganá-los e seduzi-los, a fim de que não só sejam destruídos, mas influenciem outros a cometer erros e prejudicar a grande obra. Ele busca por todos os meios ao seu alcance abalar a confiança do povo de Deus na voz de advertência e reprovação através da qual Deus planeja purificar a igreja e prosperar a Sua causa. T4 211 1 É plano de Satanás enfraquecer a fé do povo de Deus nos Testemunhos. Em seguida vem o ceticismo no tocante aos pontos vitais de nossa fé, as colunas de nossa posição, depois as dúvidas acerca das Escrituras Sagradas, e então a caminhada descendente para a perdição. Quando os Testemunhos, nos quais se acreditava anteriormente, são postos em dúvida e rejeitados, Satanás sabe que as pessoas enganadas não pararão aí; e ele redobra seus esforços até lançá-las em rebelião aberta, a qual se torna irremediável e termina em destruição. T4 211 2 Satanás tem obtido assinalada vantagem em _____ porque o povo de Deus não tem guardado os postos avançados. Os próprios homens, cujos esforços Deus tem demonstrado que aceitaria se eles fossem inteiramente consagrados, têm sido os que foram enganados, falharam em seus deveres e provaram-se um terrível fardo e desânimo, em vez de auxílio e bênção como poderiam ter sido. Esses homens aos quais foi confiada a defesa do forte quase o traíram, entregando-o nas mãos do inimigo. Eles abriram as portas para o inimigo astuto que tem buscado destruí-los. T4 211 3 Homens de experiência têm visto mãos sutis destravando as trancas para que Satanás possa entrar; contudo, se mantiveram tranqüilos em evidente indiferença quanto aos resultados. Alguns têm se alegrado em ver isso, pois parecia uma justificativa de sua negligência passada, a qual ocasionou a necessidade de apelar a outros para preencher os postos de responsabilidade que eles haviam desonrado ou negligenciado. Essa falta de vigilância da parte desses novos encarregados parecia desculpar os anteriores por sua própria falta de fidelidade, ao mostrar que outros eram também inteiramente falhos no cumprimento do dever. Essas pessoas não percebem que Deus os tem por responsáveis por toda vantagem obtida pelo inimigo que é admitido no forte. A desolação e ruína que se seguem jazem à porta das sentinelas infiéis, que, por sua negligência, tornam-se agentes nas mãos do adversário para ganhar almas para a destruição. Homens em posições de responsabilidades devem buscar sabedoria e orientação de Deus, e não confiar no próprio critério e conhecimento. À semelhança de Salomão, devem orar fervorosamente por fé e luz, e Deus lhes dará livremente de Seu abundante suprimento. T4 212 1 Deus deseja que Seu trabalho seja feito inteligentemente, não de maneira casual. Ele gostaria que fosse realizado com fé e cuidadosa precisão, para que possa colocar o sinal de Sua aprovação sobre ele. Aqueles que O amam e caminham com temor e humildade perante Ele, serão por Ele abençoados, conduzidos e ligados com o Céu. Se os obreiros depositarem confiança nEle, dar-lhes-á sabedoria e curará suas enfermidades, de modo que serão capazes de realizar com perfeição a obra do Senhor. T4 212 2 Precisamos revestir-nos da armadura e estar preparados para resistir com êxito todos os ataques de Satanás. Sua malignidade e poder cruel não são devidamente avaliados. Quando ele se acha acuado num ponto, consegue novo terreno e diferentes táticas, e tenta novamente, realizando maravilhas a fim de enganar e destruir os filhos dos homens. Os jovens devem ser cuidadosamente advertidos contra o seu poder e pacientemente instruídos com oração sobre como enfrentar as provas que seguramente lhes sobrevirão nesta vida. Devem ser levados a apegar-se à Palavra de Deus, atendendo ao conselho e instrução. T4 212 3 A fé viva nos méritos de um Redentor crucificado os conduzirá através das fornalhas ardentes de aflição e prova. A forma do quarto Homem estará com eles no calor da fornalha, que não deixará nem mesmo cheiro de fogo em suas vestes. Os filhos devem ser incentivados a se tornarem estudantes da Bíblia e terem firmes princípios religiosos que suportem a prova dos perigos que certamente serão experimentados por todos os que viverem na Terra durante os últimos dias, no final da história do mundo. ------------------------Capítulo 19 -- Inteira consagração T4 213 1 O seguinte testemunho foi escrito em Janeiro de 1875, e sua veracidade foi reconhecida pelo irmão C, que disse que este lhe concedeu luz e esperança. T4 213 2 Irmão C, você está afastado de Deus. Seus pontos de vista acerca dos requisitos de Deus nunca foram bem definidos nem muito estritos. O fato da atitude de tantos professos cristãos estar errada não é desculpa para você se tornar desatento ao dever nem menos vigilante. Você não tem se consagrado a Deus, não tem sentido sua dependência dEle para guardá-lo, e, portanto, foi vencido e levado à escravidão da dúvida; a escravidão da incredulidade tem prendido sua alma. Você não glorifica a Deus em sua vida. Nossa religião às vezes lhe parece muito questionável. A razão disso está em você mesmo. No mundo, verdade e falsidade estão tão misturadas que nem sempre são claramente discernidas uma da outra. Mas por que alguém que professa a verdade tem tão pouca força? Porque não entende sua própria ignorância e fraqueza. Se soubesse disto, se desconfiasse de si mesmo, reconheceria a importância da ajuda divina para preservá-lo dos ardis do inimigo. Precisamos ser cristãos ativos, atuantes, altruístas no coração e na vida, visando unicamente a glória de Deus. Oh, quanta ruína encontramos por toda a parte! Que lábios silentes e vidas infrutíferas! "Isto", disse o anjo, "é por caírem em tentação. Nada danifica a paz da alma como a pecaminosa incredulidade." T4 213 3 Você não deve se entregar ao desespero, julgando que deve viver e morrer na escravidão da dúvida e da incredulidade. No Senhor temos justiça e força. Apóie-se nEle, e por meio de Seu poder poderá apagar todos os dardos do adversário e ser mais do que vencedor. Você pode ainda tornar-se santificado mediante a verdade; ou pode, se preferir, caminhar nas trevas da incredulidade, perder o Céu e perder tudo. Por caminhar na luz e agir segundo a vontade de Deus, poderá vencer sua natureza egoísta. T4 214 1 Você tem estado pronto para dar de seus recursos, mas reteve a si próprio. Não se sentiu chamado a fazer sacrifícios que envolveriam cuidados; não tem tido disposição para realizar qualquer trabalho para Cristo, por mais humilde que seja. Deus o levará ao pó vez após vez, até que com coração humilde e mente submissa você suporte a prova que Ele inflige, e seja totalmente santificado ao Seu serviço e obra. Então poderá obter a vida imortal. Você pode ser um homem plenamente desenvolvido em Cristo Jesus, ou pode ser um anão espiritual, sem obter vitórias. Meu irmão, qual escolherá? Viverá uma vida de abnegação e sacrifício próprio, realizando seu trabalho com alegria e prazer, aprimorando o caráter cristão e avançando para a recompensa imortal? Ou viverá para si mesmo e perderá o Céu? "De Deus não se zomba" (Gálatas 6:7); Cristo não aceita serviço dividido. Ele pede tudo. De nada servirá reter alguma coisa. Ele o adquiriu por um preço infinito e requer que tudo quanto você tem Lhe seja submetido como oferta voluntária. Se estiver plenamente consagrado a Ele de coração e vida, a fé tomará o lugar das dúvidas, e a confiança, o lugar da desconfiança e incredulidade. T4 214 2 Meu irmão, você está em real perigo por negligenciar levar adiante a reforma de saúde mais estritamente na própria vida e em sua família. O seu sangue é impuro, e você ainda o está corrompendo e inflamando pela satisfação do apetite. Nunca seja traído à condescendência no uso de estimulantes; isto resultará não somente em reação e perda de força física, mas num intelecto obscurecido. Hábitos estritamente temperantes no comer e beber, com uma firme confiança em Deus, melhorarão sua saúde física, mental e moral. Você possui temperamento altamente irritável. Tem bem pouco domínio próprio, e com freqüência, sob agitação, diz e faz coisas das quais depois se arrepende. Você deve recorrer a uma vontade determinada em seu auxílio na guerra contra as próprias inclinações e propensões. Precisa manter as avenidas da alma abertas à recepção da luz e da verdade. Mas quando algo acontece para testá-lo e prová-lo, o preconceito freqüentemente surge, e você se ergue imediatamente contra o que julga ser uma restrição de sua liberdade ou uma interferência sobre seus direitos. T4 215 1 A Palavra de Deus claramente apresenta perante nós esta verdade, de que nossa natureza física guerreará contra a espiritual. O apóstolo nos incentiva a abster-nos das paixões sensuais, que guerreiam contra a alma. Todo apetite pervertido se torna uma concupiscência hostil. O apetite satisfeito com prejuízo da força física causa doença à alma. A concupiscência mencionada pelo apóstolo não se limita à violação do sétimo mandamento, mas toda condescendência do apetite que diminui o vigor físico é uma concupiscência hostil. O apóstolo declara que aquele que deseja obter vitórias especiais e conseguir as mais elevadas realizações em justiça, "em tudo se domina". 1 Coríntios 9:25. Temperança em nossas mesas no comer e beber, bem como o exercício de temperança em todos os outros aspectos, é essencial se desejarmos vencer como Cristo venceu. Deus nos deu luz, não para ser tratada indiferentemente, mas para ser nosso guia e auxílio. T4 215 2 Você precisa cultivar domínio próprio. A lição que deveria ter aprendido em sua juventude devia ser agora dominada. Discipline-se a morrer para o eu, sujeitar sua vontade à vontade de Cristo. Profunda e completa conversão é essencial, ou você, meu prezado irmão, não alcançará a vida eterna. O seu serviço na causa de Deus deve ser mais dedicado, pleno e meticuloso. Não pode aperfeiçoar um caráter cristão servindo a Deus quando se sente inclinado a fazê-lo, e negligenciando-o quando lhe apraz. Decidida mudança precisa tomar lugar em sua vida e você deve obter uma experiência diferente de todas que já teve, ou seu serviço não será aceito por Deus. T4 215 3 Nosso Pai celestial lhe tem sido muito bondoso. Ele o tem tratado com ternura. A enfermidade e doença lhe sobrevieram quando você não estava preparado para morrer, pois não havia aperfeiçoado um caráter cristão e não tinha aptidão moral para o Céu. Satanás postou-se do seu lado para afligi-lo e destruí-lo, a fim de que pudesse ser contado com os transgressores. Oração fervorosa e eficaz prevaleceu em seu benefício. Anjos foram enviados para atendê-lo e vigiá-lo, guardá-lo e protegê-lo do poder de Satanás e preservar-lhe a vida. Deus, em Seu incomparável amor, lhe concedeu outra prova. Não por causa de qualquer bondade ou virtude em você, mas por causa de Sua misericórdia, Ele atendeu às orações de fé. O seu tempo de graça foi prolongado para que tenha uma oportunidade de redimir o passado, vencer os defeitos de caráter e revelar em sua vida a dedicação a Deus, que Ele reivindica. Você tem tido sentimentos de gratidão, contudo não tem experimentado aquela gratidão de coração e atitude humilde que deviam ter sido despertadas por Seu insuperável amor. T4 216 1 Você não tem reconhecido devidamente suas obrigações para com Deus por poupar-lhe a vida. Por razões mesquinhas tem escapado repetidas vezes aos deveres religiosos que recaem sobre nós em todas as ocasiões e sob todas as circunstâncias. Sentimentos de desânimo não são desculpas diante de Deus pela negligência de um único dever. "Não sois de vós mesmos"; "fostes comprados" pelo sangue de Cristo. 1 Coríntios 6:19, 20. Ele reivindica tudo quanto você é capaz de fazer; seu tempo e forças não lhe pertencem. T4 216 2 Deus indicou que você poderia ser educado para atuar em Sua causa; mas foi necessário que sua mente fosse treinada e disciplinada para agir em harmonia com o plano de Deus. Poderia obter a experiência requerida se desejasse; teve o privilégio diante de você de rejeitar sua inclinação, porque Seu Salvador lhe dera exemplo em Sua vida. Você, porém, não se colocou numa posição de aprender tudo quanto podia e tudo quanto lhe fosse importante aprender a fim de se tornar um obreiro responsável na causa de Deus. Havia algumas coisas a reformar em você mesmo antes que o Senhor pudesse usá-lo eficazmente como Seu instrumento. T4 216 3 Irmão C, foi um sacrifício deixar a sua fazenda; você apreciava a vida ali. Não veio a _____ por escolha. Não tinha conhecimento da obra relacionada aos interesses de publicações. Mas estava determinado a realizar o melhor que podia, e em muitos aspectos tem feito bem. Muitas coisas, no entanto, surgiram como pedras de tropeço em seu caminho. A conduta do irmão F estava errada em muitos aspectos; mas você não manteve sua consagração a Deus; uniu-se a ele em espírito e não ficou livre, desagradou a Deus em muitas coisas e separou sua alma dEle. Satanás estava obtendo grande poder sobre você; os seus passos tinham quase escorregado, e você quase se entregou à incredulidade quando a doença interrompeu seu caminho. Foi em grande misericórdia que Deus o poupou e lhe deu mais algum tempo de vida. Você, entretanto, não se submeteu inteiramente a Ele; sua obstinação não tem sido subjugada e abrandada; você precisa de uma nova conversão. Tem se irritado e aborrecido facilmente; concentrou-se em resistir a tudo que julgou recair sobre você; seus sentimentos surgem como um raio quando qualquer coisa toca o seu orgulho. Bem, meu prezado irmão, tudo isso é errado. Nesse aspecto você precisa vencer, ou o inimigo o derrotará. T4 217 1 Você tem se sentido infeliz porque não apreciou o trabalho em _____. Tem olhado para trás e pensado em _____; pois seu coração ali está, e o corpo deveria estar onde está o coração. Deus o tem testado e provado; como você tem suportado a prova? Você precisa ser aplainado e polido, ter os pontos ásperos e irregulares de seu caráter removidos, para que possa se tornar purificado para o reino do Céu. Quão duro é para a natureza humana não ceder à inclinação; quão difícil para os homens deixar as lisonjeadoras seduções mundanas, e, através do amor a seu Salvador e a seus semelhantes, negar o próprio prazer a fim de empenhar-se mais diretamente no serviço de Deus. T4 217 2 Irmão C, você não se empenha de coração e alma na obra. Nunca a tornou um interesse pessoal direto, e ela não lhe é agradável. Se você quisesse, poderia ter treinado a mente para melhor compreender a obra; mas tem, em certa medida, se mantido indiferente a ela; não se tem ligado intimamente à obra, nem tentado familiarizar-se com os seus vários ramos. T4 218 1 Você não é tão social e cortês como devia ser, e sua maneira fria e inacessível não agrada a Deus. Permite que seus sentimentos sejam facilmente incitados. Nenhum homem pode apropriadamente ocupar posição em ligação com a obra de Deus, sendo controlado por sentimentos e movido por impulso. Seu coração deve estar em mais íntima ligação com Deus, precisando em simpatia e interesse estar mais intimamente identificado com aqueles que estão empenhados em Sua obra, ou não poderá ser de qualquer utilidade no avanço da causa em _____. Você é muito independente e inacessível; precisa abrandar e adaptar sua disposição à mente e sentimentos de outros. Pode, como homem de negócios e cristão, realizar muito serviço valioso para a causa de Deus, se tão-somente sujeitar Sua vontade e seus caminhos ao Senhor. Precisa ser santificado pela verdade, tendo mente elevada acima de toda consideração pessoal e todo interesse egoísta. T4 218 2 Aponto-lhe a vida de Jesus como um modelo perfeito. Sua vida foi caracterizada por benevolência desinteressada. Precioso Salvador! Que sacrifícios Ele fez por nós para que não perecêssemos, mas tivéssemos vida eterna! O Céu será muito barato ainda que renunciemos a todo interesse egoísta para obtê-lo. Poderemos dar-nos ao luxo de impor nossa própria maneira, e retirar-nos das mãos de Deus, por ser mais agradável ao coração natural? Deus requer perfeita submissão e perfeita obediência. A vida eterna vale tudo para nós. Você pode manter ligação íntima com Deus se se esforçar ferrenhamente por entrar pela porta estreita. T4 218 3 Você nunca poderia ser advertido de suas deficiências a menos que fosse levado para onde essas deficiências se revelassem pelas circunstâncias. Você não tem se sentido como deveria desde que veio para _____. Não se empenhou voluntariamente e de coração na obra, nem a tornou o seu interesse principal. Tem cultivado uma independência que não podia ser mantida se percebesse sua verdadeira posição -- de que é um principiante, aprendendo como trabalhar da melhor maneira para a prosperidade da causa de Deus; que você é um estudante, buscando obter conhecimento com respeito àquilo com que não está familiarizado. Podia ter feito muito maior progresso, caso tivesse tentado zelosamente servir a Deus como obreiro eficiente. T4 219 1 Você tem sido muito reservado. Não tem entrado em íntima relação com homens empenhados nos diferentes setores da obra; não tem trocado idéias com eles tão familiarmente como devia para agir com entendimento. Se tivesse feito isso, poderia ter sido um auxiliar mais eficiente. Agiu grandemente de acordo com seu próprio critério, levando adiante as próprias idéias e planos. Tem havido falta de relacionamento harmonioso entre os obreiros. Aqueles que poderiam tê-lo ajudado, têm relutado em compartilhar o seu conhecimento com você por causa dessa sua falta de amabilidade, e também porque você age muito por impulso, percebendo que eles temem aproximar-se de você. T4 219 2 O Salvador do mundo foi adorado pelos anjos, foi um príncipe nas cortes reais do Céu; mas deixou de lado Sua glória, e revestiu Sua divindade com humanidade. Tornou-Se o manso e humilde Jesus. Deixou Suas riquezas e glória no Céu, e Se tornou pobre para que por Sua pobreza nos tornássemos ricos. Durante três anos Ele jornadeou de um lugar para outro como um errante sem lar. Mas homens egoístas se queixarão e murmurarão se forem chamados a deixar seu pequeno tesouro terrestre pela causa de Cristo, ou empenhar-se na obra de salvar almas pelas quais Ele deu Sua preciosa vida. Oh, que ingratidão! Ninguém pode apreciar as bênçãos da redenção a menos que sinta que pode alegremente fazer todo e qualquer sacrifício por amor de Cristo. Todo sacrifício feito por Cristo enriquece o doador, e todo sofrimento e privação suportado por Sua querida causa aumenta a alegria final do vencedor no Céu. T4 219 3 Você conhece apenas um pouco do real sacrifício e genuína negação do eu. Tem apenas pouca experiência em opressões e sobrecarga de suas energias. Seu fardo tem sido leve, enquanto outros têm estado vergados sob sérias responsabilidades. O jovem que perguntou a Jesus o que devia fazer para ter vida eterna, recebeu a resposta: "Guarda os mandamentos." Mateus 19:17. Confiante e orgulhosamente, ele respondeu: "Tudo isso guardei desde a minha mocidade; que me falta ainda?" Mateus 19:20. Jesus olhou compassivamente para o jovem; Ele o amava e sabia que as palavras que diria separariam dEle para sempre o jovem. Não obstante, Jesus tocou o ponto sensível de sua alma. Disse-lhe: "Vai, vende tudo quanto tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no Céu; então, vem e segue-Me." Marcos 10:21. O jovem desejava o Céu, mas não o suficiente para afastar suas afeições do seu tesouro terrestre. Recusou submeter-se às condições requeridas por Deus a fim de herdar a vida. Ficou muito triste; pois possuía grandes riquezas, que julgou serem valiosas demais para trocar pelas recompensas eternas. Indagou o que precisava fazer para ser salvo, e a resposta tinha sido dada; o seu coração mundano, porém, não pôde sacrificar sua riqueza para tornar-se discípulo de Cristo. Sua decisão foi a de renunciar ao Céu e apegar-se ao tesouro terrestre. Quantos estão agora tomando a mesma decisão que determinou o destino daquele jovem! T4 220 1 Se qualquer um de nós tiver a oportunidade de fazer algo por Cristo, quão zelosamente devemos aproveitá-la e com a maior dedicação fazer tudo que pudermos para ser coobreiros com Ele. As próprias privações que testam mais severamente nossa fé, e fazem parecer que Deus Se esqueceu de nós, destinam-se a conduzir-nos para mais perto de Cristo, a fim de que possamos lançar todos os nossos fardos aos Seus pés, e experimentar a paz que Ele nos dará em troca. Você precisa de uma nova conversão; precisa ser santificado pela verdade, e em espírito tornar-se manso e humilde como uma criancinha, confiando inteiramente em Cristo como seu Redentor. Seu orgulho e independência lhe estão fechando o coração às benditas influências do Espírito de Deus, e tornando-o tão insensível como o solo batido de uma estrada. Tem ainda a aprender a grande lição da fé. Quando se submeter inteiramente a Deus, quando cair quebrantado sobre Jesus, você será recompensado por uma vitória cuja alegria jamais experimentou. Ao rever com clareza seu passado, verá que exatamente quando a vida lhe parecia somente perplexidade e um fardo, o próprio Jesus estava perto de você, buscando conduzi-lo à luz. Seu Pai lhe estava ao lado, inclinando-Se sobre você com amor indescritível, afligindo-o para o seu bem, como o refinador purifica o precioso metal. Quando você se julgava desamparado, Ele estava perto para confortá-lo e sustê-lo. Raramente vemos a Jesus como Ele é, e nunca estamos prontos para receber Sua ajuda como Ele deseja. T4 221 1 Que vitória alcançará quando aprender a seguir as acessíveis providências de Deus, de coração agradecido e resolvido a viver visando unicamente Sua glória, na doença ou na saúde, em abundância ou necessidade! O próprio eu está vivo e estremecendo a todo toque. O próprio eu tem de ser crucificado antes de você poder vencer em nome de Jesus e receber o galardão dos fiéis. ------------------------Capítulo 20 -- Necessidade de harmonia T4 221 2 O Espírito de Deus não habitará onde há desunião e contenda entre os que crêem na verdade. Mesmo que esses sentimentos não sejam expressos, eles tomam posse do coração e expulsam a paz e o amor que deviam caracterizar a igreja cristã. Eles são resultados do egoísmo no sentido mais pleno. Esse mal pode tomar a forma de auto-estima desordenada, ou de um anseio indevido pela aprovação de outros, mesmo que essa aprovação seja obtida imerecidamente. A exaltação própria deve ser renunciada por aqueles que professam amar a Deus e guardar Seus mandamentos, ou não deverão esperar ser abençoados por Seu divino favor. T4 221 3 A influência moral e religiosa no Instituto de Saúde deve ser elevada a fim de obter a aprovação do Céu. A condescendência com o egoísmo certamente expulsará o Espírito de Deus do local. Os médicos, superintendentes e auxiliares devem trabalhar harmoniosamente no Espírito de Cristo, cada um considerando "os outros superiores a si mesmos". Filipenses 2:3. T4 221 4 O apóstolo Judas declara: "E apiedai-vos de alguns" (Judas 22), fazendo distinção. Essa distinção não deve ser feita num espírito de favoritismo. Nenhum apoio deve ser dado a um indivíduo que deixa implícito: "Se você me favorecer, eu lhe favorecerei." Esta é uma política mundana, não santificada, que desagrada a Deus. É pagar favores e apreciação por amor ao ganho. É revelar parcialidade para com certas pessoas, esperando assegurar vantagens através delas. É buscar sua boa vontade pela condescendência, para que possamos ser tidos em maior estima do que outros totalmente merecedores como nós mesmos. É algo difícil ver os próprios erros; mas cada um deve perceber quão cruel é o espírito de inveja, rivalidade, desconfiança, crítica e dissensão. T4 222 1 Chamamos a Deus nosso Pai; reivindicamos ser filhos de uma família, e quando há uma disposição de diminuir o respeito e influência de outro para edificar-nos a nós mesmos, agradamos o inimigo e ofendemos Aquele a quem professamos seguir. A ternura e misericórdia que Jesus revelou em Sua vida preciosa deve ser-nos um exemplo de como devemos tratar nossos semelhantes, especialmente aqueles que são nossos irmãos em Cristo. T4 222 2 Deus está continuamente nos beneficiando, mas somos muito indiferentes a Seus favores. Temos sido amados com infinita ternura, e contudo muitos de nós temos pouco amor uns pelos outros. Somos demasiados severos para com aqueles que supomos estar em erro, e muito sensíveis à menor culpa ou questionamento a respeito de nossa conduta. T4 222 3 São lançadas insinuações, e duras críticas de uns contra outros; mas ao mesmo tempo aqueles que lançam essas insinuações e críticas estão cegados às próprias faltas. Outros podem ver os erros deles, mas eles não podem ver as próprias falhas. Somos recebedores diários das generosidades do Céu, e devemos ter amorável gratidão brotando de nosso coração para Deus, a qual deve levar-nos a simpatizar com nossos semelhantes e fazer de seus interesses os nossos. Pensamentos e meditação acerca da bondade de Deus para conosco fechariam as avenidas da alma para as insinuações de Satanás. T4 222 4 O amor de Deus por nós é comprovado diariamente; entretanto, somos insensíveis aos Seus favores, indiferentes aos Seus apelos. Ele busca impressionar-nos com o Seu Espírito de ternura, Seu amor e paciência; mas raramente reconhecemos os sinais de Sua bondade e temos pouca consciência da lição de amor que Ele nos deseja ensinar. Alguns, à semelhança de Hamã, se esquecem de todos os favores de Deus, porque Mardoqueu está perante eles e não é desfavorecido; porque o coração deles está cheio de inimizade e ódio, em vez de amor -- o Espírito de nosso querido Redentor, que deu Sua preciosa vida por Seus inimigos. Professamos ter o mesmo Pai, estar nos dirigindo ao mesmo lar imortal, desfrutar a mesma fé solene e crer na mesma mensagem decisiva; não obstante, muitos estão lutando uns com os outros como crianças briguentas. Alguns que estão empenhados no mesmo ramo de trabalho disputam uns com os outros e assim se acham em desacordo com o Espírito de Cristo. T4 223 1 O amor ao louvor tem corrompido muitos corações. Aqueles que têm estado ligados ao Instituto de Saúde têm às vezes manifestado espírito de crítica aos planos feitos; e Satanás lhes tem dado influência sobre a mente de outros ali, que têm aceitado essas pessoas como inculpáveis, enquanto pessoas inocentes são acusadas de erro. É um orgulho ímpio que se deleita na vaidade das próprias obras, que se ensoberbece das excelentes qualidades de alguém, buscando fazer com que outros pareçam inferiores a fim de exaltarem o eu, reivindicando mais glória do que o frio coração está disposto a dar a Deus. Os discípulos de Cristo atentarão à instrução do Mestre. Ele nos tem ordenado amar-nos uns aos outros assim como nos amou. A religião é fundamentada sobre o amor a Deus, que também nos leva a amar uns aos outros. Ela é cheia de gratidão, humildade e longanimidade. É abnegada, paciente, misericordiosa e perdoadora. Santifica a vida inteira e estende a sua influência sobre outros. T4 223 2 Os que amam a Deus não podem abrigar ódio ou inveja. Quando o celeste princípio do eterno amor encher o coração, ele fluirá para outros, não meramente por que favores são recebidos deles, mas porque o amor é o princípio da ação e modifica o caráter, governa os impulsos, controla as paixões, subjuga inimizades, eleva e enobrece as afeições. Esse amor não é adquirido meramente para incluir "eu e meu", mas é amplo como o mundo e alto como o céu, e está em harmonia com o amor dos obreiros angelicais. Esse amor acariciado na alma torna agradável a vida inteira e projeta sua enobrecedora influência sobre todos ao redor. Possuindo-o, não podemos deixar de ser felizes, quer a sorte sorria, quer desagrade. Se amamos a Deus de todo o coração, temos de amar também Seus filhos. Esse amor é o Espírito de Deus. É o adorno celestial que concede verdadeira nobreza e dignidade à alma e assemelha nossa vida à vida do Senhor. Não importa quantas boas qualidades possamos ter, por mais dignos de honra e mais cultos que nos possamos considerar, se a alma não é batizada com a graça celestial do amor a Deus e de uns aos outros, somos deficientes na verdadeira bondade e inaptos para o Céu, onde tudo é amor e unidade. T4 224 1 Alguns que anteriormente amaram a Deus e viveram desfrutando diariamente Seu favor estão agora em contínua inquietação. Caminham nas trevas e na escuridão desesperadora, porque estão alimentando o eu. Estão buscando tão duramente se favorecerem que todas as outras considerações são absorvidas nisso. É desejo de Deus, em Sua providência, que ninguém alcance felicidade vivendo unicamente para si mesmo. A alegria de nosso Senhor consistia em suportar fadiga e vergonha por outros para que eles pudessem ser beneficiados dessa forma. Somos capazes de ser felizes seguindo Seu exemplo e vivendo para abençoar nossos semelhantes. T4 224 2 Somos convidados por nosso Senhor a tomar o Seu jugo e suportar o Seu fardo. Fazendo isso, podemos ser felizes. Ao suportarmos o nosso jugo por imposição própria e levar nossos fardos, não encontramos repouso; mas ao suportarmos o jugo de Cristo há descanso para a alma. Aqueles que desejam fazer uma grande obra pelo Mestre podem encontrá-la somente onde estão, fazendo o bem e sendo abnegados, sacrificando a si mesmos, lembrando-se de outros e levando alegria aonde quer que forem. T4 224 3 Há uma grande necessidade daquela ternura piedosa de Cristo ser manifesta em todos os tempos e em todos os lugares, não aquela simpatia cega que passa por alto o pecado e permite que a causa de Deus seja reprovada pela má conduta, mas aquele amor que é um princípio controlador da vida, que flui naturalmente a outros em boas obras, lembrando-se de que Cristo disse: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. T4 225 1 Aqueles que atuam no Instituto de Saúde se empenham em uma grande obra. Durante a vida de Cristo os enfermos e aflitos eram objeto de Seu especial cuidado. Quando Ele enviou Seus discípulos, comissionou-os a curar os enfermos, bem como pregar o evangelho. Quando enviou os setenta, ordenou-lhes curar os doentes e a seguir pregar-lhes que o reino de Deus estava próximo deles. A saúde física deles devia ser primeiro atendida, a fim de que pudessem estar preparados para que a mente deles fosse alcançada por aquelas verdades que os apóstolos deviam pregar. T4 225 2 O Salvador do mundo devotou mais tempo e trabalho a curar os aflitos de suas enfermidades, do que a pregar. Sua última recomendação aos apóstolos, Seus representantes na Terra, foi que pusessem as mãos sobre os enfermos para que sarassem. Quando o Mestre vier, há de louvar aqueles que visitaram os doentes e aliviaram as necessidades dos sofredores. T4 225 3 Somos vagarosos em compreender as poderosas influências de mesquinharias e sua importância sobre a salvação de almas. No Instituto de Saúde aqueles que desejam ser missionários têm um grande campo em que trabalhar. Deus não tenciona que qualquer um de nós constitua uns poucos privilegiados, que serão considerados com maior deferência enquanto outros são negligenciados. Jesus foi a Majestade do Céu; contudo, Ele desceu para ministrar aos mais humildes, não levando em conta pessoas ou condições. T4 225 4 Aqueles que têm o coração totalmente na obra acharão no Instituto de Saúde o suficiente para fazer pelo Mestre ao aliviar o sofrimento daqueles que são colocados sob seu cuidado. Nosso Senhor, após realizar o trabalho mais humilhante por Seus discípulos, recomendou-lhes seguirem o Seu exemplo a fim de manter constantemente diante deles o pensamento de que não deviam sentir-se superiores ao mais humilde santo. T4 225 5 Os que professam nossa exaltada fé, que estão observando os mandamentos de Deus e esperando a breve vinda de nosso Senhor, devem ser distintos e separados do mundo ao seu redor, um povo peculiar, "zeloso de boas obras". Tito 2:14. Entre as peculiaridades que devem distinguir do mundo o povo de Deus nestes últimos dias, está a sua humildade e mansidão. "Aprendei de Mim", diz Jesus, "que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Aqui está o repouso que tantos buscam, e em vão gastam tempo e dinheiro para obter. Em vez de cultivarmos a ambição de ser iguais uns aos outros em honra e posição, ou talvez até mais elevados, devemos buscar ser os humildes e fiéis servos de Cristo. Esse espírito de engrandecimento próprio provocou disputa entre os apóstolos, mesmo quando Cristo estava com eles. Debatiam quem devia ser o maior entre eles. Jesus "assentando-Se, chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos". Marcos 9:35. T4 226 1 Quando a mãe fez um pedido para que seus filhos fossem especialmente favorecidos, um se sentando à direita e outro à esquerda em Seu reino, Jesus os impressionou com o fato de que a honra e a glória de Seu reino seriam o contrário da honra e glória deste mundo. Quem quer que fosse o maior devia ser um humilde servidor a outros, e quem quer que desejasse ser chefe devia ser um servo, tal como o Filho de Deus foi um servidor e servo dos filhos dos homens. T4 226 2 Nosso Salvador novamente ensinou Seus discípulos a não estarem ansiosos por posição e nome. "Não queirais ser chamados Rabi. ... Nem vos chameis mestres. ... Porém o maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado." Mateus 23:8, 10-12. Jesus citou ao doutor da lei o código da santa lei dado no Sinai: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento." "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Mateus 22:37, 39. Ele lhe disse que se fizesse assim, entraria na vida. T4 226 3 "Teu próximo como a ti mesmo." A questão é suscitada: "Quem é o meu próximo?" Sua resposta é a parábola do Bom Samaritano, que nos ensina que qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Nessa parábola é salientado um princípio que os seguidores de Cristo fariam bem em adotar. Deve-se primeiramente satisfazer as necessidades temporais dos pobres e aliviar suas privações e sofrimentos físicos, e depois se encontrará acesso ao coração, onde se pode plantar as boas sementes da virtude e da religião. T4 227 1 Para sermos felizes, precisamos procurar alcançar um caráter como o que Cristo manifestou. Uma notável peculiaridade de Cristo foi Sua abnegação e benevolência. Ele veio não para buscar o que Lhe era próprio. Andou fazendo o bem, e isto era Sua comida e bebida. Nós podemos, seguindo o exemplo do Salvador, estar em santa comunhão com Ele; e ao buscar diariamente imitar o Seu caráter e seguir o Seu exemplo seremos uma bênção ao mundo e garantiremos nosso contentamento aqui e uma eterna recompensa no futuro. ------------------------Capítulo 21 -- Oposição a fiéis advertências T4 227 2 No dia 3 de Janeiro de 1875, foi-me mostrado que há um grande trabalho a ser feito na Califórnia por aqueles que professam crer na verdade, antes que Deus possa atuar em seu favor. Muitos estão se lisonjeando de que estão bem com Deus, quando não têm os princípios da verdade em seu coração. Essas pessoas podem ser bem-sucedidas somente se procurarem com diligente e perseverante zelo atender ao conselho da Testemunha Verdadeira. Estão numa condição fria, formal e apostatada. A Testemunha Verdadeira a estes Se dirige dizendo: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da Minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas, para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:15-19. T4 228 1 Irmão G, Deus tem reivindicações sobre você às quais você não corresponde. Sua força espiritual e seu crescimento na graça serão proporcionais ao trabalho de amor e boas obras que fizer alegremente por seu Salvador, o qual nada reteve, nem mesmo a vida, para que você fosse salvo. Você tem a recomendação do apóstolo: "Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo." Gálatas 6:2. Não é suficiente meramente professar fé nos mandamentos de Deus; você precisa ser praticante. Você é um transgressor de Sua lei. Não ama a Deus de todo o coração, poder, mente e força; não vive em obediência aos últimos seis mandamentos nem ama ao semelhante como a si mesmo. Você ama a si mesmo mais do que ama a Deus ou a seu semelhante. Observar os mandamentos de Deus requer mais de nós do que você está disposto a cumprir. Deus requer de você boas obras, abnegação, sacrifício próprio e dedicação ao bem dos outros, para que por seu intermédio almas possam ser trazidas à verdade. T4 228 2 Somente nossas boas obras não salvarão qualquer um de nós, mas não podemos ser salvos sem elas. E depois de havermos feito tudo que podemos fazer, no nome e na força de Jesus Cristo devemos dizer: "Somos servos inúteis." Lucas 17:10. Não devemos pensar que temos feito grandes sacrifícios e que devemos receber grande recompensa por nossos débeis serviços. T4 228 3 Justiça própria e segurança carnal o têm atado como se fora com cadeias de ferro. Você precisa ser zeloso e arrepender-se. Tem sido infeliz em simpatizar-se com os descontentes, cuja atitude tem estado em oposição à obra que o Senhor, através de Seus servos, estava realizando nessa região costeira. Os homens errados têm obtido a sua simpatia. Sendo que o seu coração não estava em sintonia com Deus, você não recebeu a luz que Ele lhe enviou. Dispôs a sua teimosa vontade para resistir à reprovação que o Senhor lhe deu em amor. Sabia que estas coisas eram verdadeiras, mas tentou fechar os olhos à verdadeira condição de seu caso. Se tivesse atendido ou não à voz de reprovação e advertência que Deus lhe enviou; se tivesse corrigido ou retido seus defeitos de caráter, um dia você reconheceria o que perdeu por colocar-se numa posição desafiadora, guerreando em espírito contra os servos de Deus. Seu sentimento de amargura para com o Pastor H é assustador. Ele tem sofrido, trabalhado arduamente e se sacrificado nessa região costeira para empreender a obra de Deus. Mas, em sua cegueira, com vida e coração não consagrados, você se aventurou, em associação com I e J, a tratar o servo de Deus de maneira cruel. "Não toqueis nos Meus ungidos", diz o Senhor, "nem maltrateis os Meus profetas." 1 Crônicas 16:22. Não é uma questão de pouca importância colocar-se, como você tem feito, contra homens a quem Deus enviou com luz e verdade para o povo. Acautele-se de como a sua influência desvia almas da verdade que Deus enviou Seus servos a declarar, pois um pesado ai paira sobre você. T4 229 1 Satanás tem estado usando você como seu agente para despertar dúvidas e reiterar insinuações e falsas representações que se têm originado de um coração não santificado, o qual Deus teria purificado de sua poluição. Você, porém, recusou ser instruído, desprezou a correção, rejeitou a reprovação e seguiu o próprio caminho e vontade. Almas estão contaminadas por essa raiz de amargura e, através destes que questionam e murmuram, são colocadas onde o testemunho de reprovação que Deus envia não as alcançará. O sangue dessas almas será requerido de você e daqueles com os quais você está em harmonia. T4 229 2 Deus nos tem dado, como servos Seus, o nosso trabalho. Ele nos tem dado uma mensagem para levar ao Seu povo. Por trinta anos temos estado recebendo as palavras de Deus e transmitindo-as ao Seu povo. Trememos ante a responsabilidade que aceitamos com muita oração e meditação. Permanecemos como embaixadores de Deus, no lugar de Cristo apelando às almas para se reconciliarem com Deus. Advertimos conforme Deus nos tem apresentado os perigos de Seu povo. Nossa obra tem sido dada por Deus. Qual, pois, será a condição daqueles que se recusam a ouvir as palavras que Deus lhes tem enviado, por atravessarem seu caminho ou reprovarem seus erros? Se está inteiramente convencido de que Deus não tem falado por nosso intermédio, por que não agir de acordo com a sua fé e nada ter mais a ver com um povo que está sob tão grande engano como esse? Se você tem agido de acordo com os ditames do Espírito de Deus, você está certo e nós errados. Ou Deus está ensinando Sua igreja, reprovando seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta obra é de Deus ou não é. Deus nada faz em parceria com Satanás. Meu trabalho, ao longo dos últimos trinta anos, traz o selo de Deus ou o do inimigo. Não há meio termo nesta questão. Os Testemunhos são do Espírito de Deus ou do diabo. Ao postar-se contra os servos de Deus, você está realizando uma obra para Deus ou para o diabo. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. Que selo a sua obra traz? Vale a pena considerar criticamente o resultado de sua conduta. T4 230 1 Não é algo novo para o homem ser enganado pelo arquiinimigo, e postar-se contra Deus. Considere a sua atitude criticamente antes de aventurar-se a avançar mais no caminho que está trilhando. Os judeus enganaram a si mesmos. Rejeitaram os ensinos de Cristo, porque Ele expunha os segredos do coração deles e lhes reprovava os pecados. Não desejavam vir para a luz, temendo que seus atos fossem reprovados. Escolheram as trevas em vez da luz. "A condenação é esta", disse Cristo, "que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más." João 3:19. Os judeus seguiram sua conduta na rejeição de Cristo, até que em sua condição de iludidos e equivocados julgaram que ao crucificá-Lo estavam fazendo um favor a Deus. Esse foi o resultado de recusarem a luz. Você está em perigo de engano semelhante. Será proveitoso para a sua alma, irmão G, considerar onde o caminho em que agora segue terminará. Deus pode passar sem você, mas você não pode ficar sem Deus. Ele não obriga homem algum a crer. Ele coloca luz diante dos homens, e Satanás apresenta as suas trevas. Enquanto o enganador está constantemente clamando: "A luz está aqui; a verdade está aqui", Jesus está declarando: "Eu sou a verdade; Eu tenho as palavras de vida eterna. 'Quem Me segue não andará em trevas.'" João 8:12. Deus concede a todos nós suficiente evidência para fazer nossa fé equilibrar-se ao lado da verdade. Se nos submetermos a Deus, escolheremos a luz e rejeitaremos as trevas. Se desejarmos manter a independência do coração natural e recusarmos a reprovação de Deus, como os judeus, iremos teimosamente levar avante nossos propósitos e nossas idéias em face da mais clara evidência e estaremos em perigo de um grande engano tal como lhes sobreveio. Em nossa cega paixão podemos ir ao ponto extremo em que foram, e, contudo, lisonjear-nos de que estamos realizando um trabalho para Deus. T4 231 1 Irmão G, você não permanecerá por muito tempo na posição em que se acha. O caminho que começou a seguir se desvia da rota verdadeira e o separa do povo a quem Deus está provando a fim de purificá-lo para a vitória final. Você estará em união com esse grupo e trabalhará zelosamente para responder à oração de Cristo, ou se tornará cada vez mais descrente. Questionará ponto após ponto da fé estabelecida da corporação, tornar-se-á mais obstinado em sua opinião e se entenebrecerá mais e mais com respeito à obra de Deus para esse tempo, até que coloque a luz em lugar de trevas e tome trevas pela luz. T4 231 2 Satanás tem grande poder em enredar as almas e confundir a mente daqueles que não abrigam a luz e os privilégios que a Providência lhes envia. As mentes que se submetem ao controle de Satanás são continuamente desviadas da luz da verdade para o erro e trevas. Se você der a Satanás a mínima vantagem, ele reivindicará cada vez mais e observará sua vigilância a fim de conseguir o máximo de qualquer circunstância que beneficie a causa dele e arruíne a sua alma. T4 231 3 Irmão e irmã G, nenhum de vocês se acha numa posição segura. Desprezam a reprovação. Se palavras suaves lhes fossem proferidas em vez de palavras de reprovação, se vocês tivessem sido louvados e lisonjeados, agora ocupariam uma posição muito diferente a respeito de sua crença nos Testemunhos. Há alguns nesses últimos dias que clamarão: "Dizei-nos coisas aprazíveis, profetizai-nos ilusões." Isaías 30:10. Este, porém, não é o meu trabalho. Deus me colocou como reprovadora de Seu povo; e tão seguramente como me colocou essa pesada carga, tornará aqueles a quem essa mensagem é dada responsáveis pela maneira com que a tratam. "Deus não Se deixa escarnecer" (Gálatas 6:7), e aqueles que desprezam a Sua obra receberão de acordo com os seus atos. Não escolhi este trabalho desagradável por mim mesma. Não é um trabalho que me proporcione o favor ou o louvor dos homens. É um trabalho que apenas poucos apreciarão. Mas os que buscam tornar o meu trabalho duplamente difícil por suas falsas declarações, invejosas suspeitas e incredulidade, assim criando preconceito na mente de outros contra os Testemunhos que Deus me tem dado, e limitado meu trabalho, têm que acertar esta questão com Deus, enquanto eu avançarei segundo a Providência e meus irmãos abram o caminho perante mim. No nome e na força de meu Redentor eu farei o que posso. Advertirei, aconselharei, reprovarei e encorajarei, segundo o Espírito de Deus ordena, quer os homens ouçam ou deixem de ouvir. Meu dever não é satisfazer-me, mas realizar a vontade de meu Pai celestial, que me tem dado este trabalho. T4 232 1 Cristo advertiu os seus discípulos: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:15-20. Aqui está um teste, e você, irmão G, pode aplicá-lo se desejar. Não precisa prosseguir em incerteza e dúvida. Satanás está disponível para sugerir uma variedade de dúvidas; mas se abrir os seus olhos com fé, encontrará evidências suficientes para crer. Deus nunca removerá de qualquer homem toda a causa para dúvida. Aqueles que gostam de demorar-se na atmosfera de dúvida e questionadora descrença podem ter este não invejável privilégio. Deus oferece suficiente evidência para a mente sincera crer; mas aquele que se desvia do peso da evidência porque há umas poucas coisas que não pode tornar claras à sua compreensão finita será deixado na atmosfera fria e insensível da descrença e das dúvidas questionadoras e naufragará na fé. Você parecia considerar uma virtude estar do lado dos que duvidam, e não dos que crêem. Jesus nunca elogiou descrença; nunca aprovou dúvidas. Ele ofereceu a Sua nação evidências de sua messianidade nos milagres que realizou; mas havia alguns que consideravam uma virtude duvidar, e que examinariam essas evidências e achariam em toda a boa obra algo para questionar e censurar. T4 233 1 O centurião que desejou que Cristo viesse e curasse o seu servo se sentiu indigno de ter a Jesus sob o seu teto; sua fé era tão forte no poder de Cristo que ele Lhe suplicou falar apenas uma palavra e a obra seria realizada. "E maravilhou-se Jesus, ouvindo isso, e disse aos que O seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Mas Eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos Céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes. Então, disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E, naquela mesma hora, o seu criado sarou." Mateus 8:10-13. T4 233 2 Aqui Jesus exaltou a fé em contraste com a dúvida. Ele revelou que os filhos de Israel tropeçariam por causa de sua incredulidade, que os levaria à rejeição da grande luz, e resultaria em sua condenação e derrota. Tomé declarou que não creria a menos que pusesse o dedo nas marcas dos pregos e a mão no lado do seu Senhor. Cristo lhe deu a evidência que desejava, e depois reprovou a sua incredulidade. "Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram!" João 20:29. T4 233 3 Nesta época de escuridão e erro, os homens que professam ser os seguidores de Cristo parecem pensar que têm a liberdade de receber e rejeitar os servos do Senhor a seu bel-prazer, e que não serão chamados a prestar contas por agir assim. Incredulidade e trevas os conduziram a isso. Suas sensibilidades estão cegadas por sua incredulidade. Violam a consciência e se tornam desleais às próprias convicções e se enfraquecem em poder moral. Eles vêem outros sob a mesma luz. T4 234 1 Quando Cristo enviou os doze, ordenou-lhes: "E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai saber quem nela seja digno e hospedai-vos aí até que vos retireis. E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a; e, se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no Dia do Juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade." Mateus 10:11-15. Foram advertidos a tomarem cuidado com os homens; pois poderiam ser entregues aos conselhos e castigados nas sinagogas. T4 234 2 O coração dos homens não é mais brando hoje do que quando Cristo esteve na Terra. Eles farão tudo em seu poder para ajudar o grande adversário a tornar as coisas o mais difícil possível para os servos de Cristo, tal como o povo fez com Cristo quando Ele esteve na Terra. Eles açoitarão com a língua da calúnia e falsidade. Criticarão e voltarão contra os servos de Deus os próprios esforços que Ele os está levando a fazer. Irão, com suas más suspeitas, ver fraude e desonestidade onde tudo está correto, e onde existe perfeita integridade. Atribuem motivos egoístas à conta dos servos de Deus, quando Ele próprio os está dirigindo, e quando eles dariam a própria vida se Deus requeresse, se assim fazendo pudessem fazer progredir a Sua causa. Aqueles que têm feito o mínimo e realizado o menor investimento na causa da verdade são os mais ousados em expressar falta de fé na integridade dos servos de Deus que são colocados numa posição de levar as responsabilidades financeiras na grande obra. Os que têm confiança na obra de Deus estão dispostos a aventurar algo para o seu progresso; e sua prosperidade espiritual será em proporção às suas obras de fé. A Palavra de Deus é o nosso padrão, mas quão poucos a seguem! Nossa religião será de pouco valor aos nossos semelhantes, se é somente teórica, e não prática. A influência do mundo e do egoísmo é transmitida por muitos que professam ser seguidores da Bíblia. São como uma nuvem, resfriando a atmosfera em que outros se movimentam. Obstinação, não independência T4 235 1 Irmão G, será um trabalho penoso para você cultivar amor puro e altruísta e beneficência desinteressada. Não tem muita experiência em sujeitar suas opiniões e idéias, e às vezes renunciar ao próprio julgamento e ser guiado pelo conselho de outros. Irmão e irmã G, ambos precisam ter menos do eu e mais da graça de Deus. Ambos necessitam adquirir hábito de domínio próprio, para que os seus pensamentos possam ser levados em sujeição ao Espírito de Cristo. É da graça de Deus que precisam a fim de que os seus pensamentos possam ser disciplinados para fluírem no canal correto, de modo que as palavras que profiram possam ser palavras corretas, e suas paixões e apetites sujeitos ao controle da razão, e a língua refreada contra leviandade e não santificada censura e crítica. "Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo." Tiago 3:2. O maior triunfo que nos é dado pela religião de Cristo é o controle de nós mesmos. Nossas propensões naturais devem ser controladas, ou nunca poderemos vencer como Cristo venceu. T4 235 2 Há alguns entre os professos seguidores de Cristo que são dispépticos espirituais. São feitos inválidos por si mesmos, e sua debilidade espiritual é resultado direto das próprias falhas. Não obedecem às leis de Deus nem executam os princípios de Seus mandamentos. São indolentes em Sua causa e obra, nada realizando por si mesmos; mas quando julgam que vêem algo em que podem achar falta, então são ativos e zelosos. Um cristão que não trabalha não pode ser saudável. A doença espiritual é o resultado do dever negligenciado. Para que a fé de um homem seja forte, ele precisa muito de estar com Deus em oração particular. Como pode a benevolência de um homem ser-lhe uma bênção, se ele nunca a exercita? Como podemos pedir que Deus nos ajude na conversão de almas, a menos que estejamos fazendo tudo em nosso poder para levá-las ao conhecimento da verdade? Você acarretou sobre si uma debilidade que o tem tornado inútil para si mesmo e para a igreja; e o remédio é arrependimento, confissão e reforma. Você precisa de poder moral e o verdadeiro nutrimento da graça de Deus. Coisa alguma proporcionará tanto vigor a sua piedade como trabalhar para promover a causa que professa amar, em vez de estorvá-la. Não há senão um remédio verdadeiro para a indolência espiritual, e esse é trabalhar -- trabalhar pelas almas que necessitam de seu auxílio. Em vez de fortalecer as almas, você tem estado desencorajando e enfraquecendo o coração e as mãos daqueles que desejam ver a causa de Deus avançar. T4 236 1 Deus lhe tem dado habilidades que podem ser usadas para uma boa causa, ou desperdiçá-las para seu próprio prejuízo e prejuízo de outros. Não percebeu as reivindicações que Deus tem sobre você. Devemos sempre ter em mente que estamos vivendo neste mundo para formar caráter para o vindouro. Todo relacionamento com nossos semelhantes mortais deve visar seu interesse eterno, bem como o nosso; mas se nossos encontros com eles são dedicados somente ao prazer e à própria satisfação egoísta, se somos levianos e frívolos, se nos comprometemos com atos errados, não somos coobreiros com Deus, mas estamos decididamente trabalhando contra Ele. A preciosa vida que Deus nos tem dado não deve ser moldada por parentes descrentes, de maneira a agradar a mente carnal, mas ser vivida de modo que Deus possa aprovar. T4 236 2 Se o irmão J possuísse o amor de Deus, seria um conduto de luz. Ele tem muito pouco poder moral, com forte tendência à incredulidade. Anjos celestiais se compadecem dele, pois ele está rodeado de trevas. Seus ouvidos ouvem palavras de incredulidade e escuridão quase continuamente. Ele tem dúvidas e questionamentos constantemente diante de si. A língua é um mundo de iniqüidade. "Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal." Tiago 3:8. Se o irmão J se apegasse a Deus mais firmemente e sentisse que preservaria a sua integridade diante de Deus mesmo ao custo de sua vida, receberia força do Alto. Se permitir que sua fé seja afetada pelas trevas e incredulidade que o rodeiam -- dúvidas, questionamentos e muita conversa -- logo será só trevas, dúvida e incredulidade, e não terá luz ou força na verdade. T4 237 1 Ele não deve pensar que por buscar comprometer-se com seus amigos, que são endurecidos contra a nossa fé, tornará as coisas mais fáceis para si. Se permanecer com o único propósito de obedecer a Deus a qualquer custo, terá auxílio e força. Deus ama e Se compadece do irmão J. Conhece toda perplexidade, todo desânimo, toda palavra de amargura. Ele está familiarizado com tudo isso. Se o irmão J deixar de lado sua incredulidade e permanecer firme em Deus, sua fé será fortalecida pelo exercício. "Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele." Hebreus 10:38. T4 237 2 Vi os irmãos J e G em grande perigo de perder a vida eterna. Eles não viram que permaneciam diretamente no caminho do progresso da obra de Deus em _____. Quando a reunião campal foi realizada ali na primeira vez que estivemos nessa região costeira, centenas foram convencidos da verdade; mas Deus conhecia o material de que aquela igreja era composta. Se as almas viessem para a verdade, não havia ninguém para alimentá-las, acolhê-las e conduzi-las a uma vida elevada. O irmão I tinha um espírito invejoso e crítico. A menos que pudesse ser o primeiro, não faria nada. Ele se considerava muito acima do que Deus o considerava. Um homem de seu temperamento não irá, por muito tempo, estar em harmonia com qualquer um; pois é da sua natureza contender e postar-se em oposição a qualquer coisa que não se ajuste a suas idéias. O Senhor o deixou seguir sua conduta e manifestar que espírito possuía. O mesmo espírito que manifestava em sua família ele levou para a igreja, e procurou exercê-lo ali. Sua amargura e suas cruéis intrigas contra os servos de Deus estão escritas no livro. Ele novamente as enfrentará. Saiu dentre nós porque não era dos nossos. De modo algum deve a igreja encorajá-lo a unir-se a ela novamente; pois, com o espírito que tem agora, brigaria até com os anjos de Deus. Ele desejaria administrar e ditar a obra dos anjos. Tal espírito não pode entrar no Céu. T4 238 1 I e J, a quem Deus vê com desagrado, ousaram resistir aos servos de Deus, caluniá-los e imputar-lhes motivos maus. Tentaram destruir a confiança dos irmãos nesses obreiros, bem como nos Testemunhos. Se, todavia, a obra é de Deus, eles não podem derrotá-la. Seus esforços serão em vão. Irmão G, você estava em tão densas trevas que julgou que esses homens estavam certos. Repetiu suas palavras, e falou do "poder de um só homem". Oh, quão pouco você sabia do que estava falando! T4 238 2 Alguns têm estado prontos para dizer algo, proferir qualquer acusação contra os servos de Deus e ser ciumentos e críticos. E se podem encontrar qualquer oportunidade em que, em seu zelo pela causa de Deus, julgam que os pastores falaram decididamente, e talvez severamente, têm estado dispostos a exagerar suas palavras, e sentem-se em liberdade de cultivar o espírito mais amargo e perverso, acusando os servos do Senhor de motivos errados. Que esses críticos perguntem o que teriam feito sob circunstâncias semelhantes, levando fardos semelhantes. Que olhem, pesquisem e condenem seu comportamento errado e exagerado, e a própria impaciência e impertinência; e quando estiverem sem pecado, então lancem a primeira pedra de censura sobre os irmãos que estão tentando colocá-los no rumo certo. Um Deus santo não conduzirá almas à verdade para estarem sob uma influência como tem existido na igreja. Nosso Pai celestial é sábio demais para conduzir almas à verdade a fim de serem moldadas pela influência desses homens cujo coração e vida não são consagrados. Esses homens não estão em harmonia com a verdade. Eles não estão em união com a corporação, mas afastando-se da igreja. Estão trabalhando com propósitos contrários aos daqueles a quem Deus está usando para conduzir almas à verdade. T4 238 3 Quem alimentaria aqueles que decidiriam obedecer a todos os mandamentos de Deus? Quem agiria como pais e mães que nutririam aqueles que precisam de auxílio e força? Esses irmãos sabem o que estão fazendo? Estão se postando diretamente no caminho dos pecadores. Estão bloqueando o caminho por sua conduta errada. O sangue das almas estará sobre suas vestes a menos que se arrependam e mudem inteiramente sua atitude. Esses descontentes pensam que estão certos, e a corporação de observadores do sábado enganada? "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. A quem Deus está abençoando? A quem Ele está dirigindo? Quem está trabalhando para Ele? Quem está fazendo o bem em trabalhar para levar a verdade a outras mentes? Acaso esses homens pensam que a corporação irá a eles, e renunciará a sua experiência e pontos de vista para seguir o discernimento desses homens não consagrados? ou virão a estar em harmonia com a corporação? T4 239 1 O irmão G se vangloria de sua independência de opinião e discernimento, enquanto bloqueia o caminho dos pecadores por sua vida não consagrada e sua oposição à obra guerreando cegamente contra Cristo na pessoa de Seus servos; mas está enganado quanto à qualidade da verdadeira independência. A independência não é obstinação, conquanto a obstinação seja freqüentemente confundida com independência. Quando o irmão G forma uma opinião e a expressa em sua família ou na igreja com considerável confiança e alguma publicidade, ele é então inclinado a fazer com que pareça que está certo por todo o argumento que pode apresentar. Ele está em perigo, grande perigo, de fechar os olhos e violar a consciência por sua persistência, pois a tentação do inimigo é forte sobre ele. Seu orgulho de opinião é difícil de ser renunciado, mesmo em face de luz e evidência suficientes para convencê-lo se ele se deixar convencer. Pensa que se admitisse estar errado, isso seria uma censura a seu juízo e discernimento. T4 239 2 Irmão G, você está em grande perigo de perder a sua alma. Deseja ter preeminência. Às vezes se ressente profundamente se imagina estar sendo desprezado. Você não é um homem feliz. Não será feliz se deixar o povo de Deus, ofendendo-se por palavras e fatos claros, como fizeram muitos dos seguidores de Cristo, porque a verdade falada lhes era muito severa. Não será um homem feliz, pois levará o próprio eu consigo. Não age corretamente; cria problemas para si mesmo. Seu temperamento é seu inimigo; e aonde quer que for, levará consigo esse fardo de infelicidade. É uma honra confessar um erro tão logo seja discernido. T4 240 1 Há muitas questões relacionadas à obra de Deus nas quais você acha defeito, porque lhe é natural assim fazer. E uma vez que volveu o rosto contra a luz que Deus lhe revelou com respeito a si mesmo, está rapidamente perdendo o seu discernimento e mais do que nunca pronto a criticar tudo. Dá a sua opinião com confiança ditatorial e considera as indagações de outros com respeito a sua opinião como uma ofensa pessoal. A verdadeira independência refinada nunca recusa buscar conselho dos experientes e sábios, e trata o conselho de outros com respeito. Religião na família T4 240 2 Irmão G, você precisa ser um homem convertido, ou perderá a vida eterna. Não pode ser um homem feliz até que obtenha a mansidão da sabedoria. Você e sua esposa há muito têm trabalhado com propósitos opostos. Você precisa deixar de lado suas críticas, suspeitas, ciúmes e ruinosas murmurações. O espírito que se desenvolveu em sua família é transmitido a sua experiência religiosa. Seja cuidadoso em como fala das faltas um do outro na presença dos filhos; e cuidadoso para não deixar seu espírito dominá-lo. Você vê somente o que é mau e negativo em seu filho mais velho; não lhe dá crédito pelas boas qualidades que, se ele morresse, você subitamente se convenceria de que ele possuía. Nenhum de vocês segue uma conduta coerente para com o filho. Demoram-se em suas faltas na presença de outros e mostram que não têm confiança em seus bons traços de caráter. T4 240 3 Vocês têm a tendência de ver as faltas um do outro, e de todos os demais; mas são cegos às próprias faltas e muitos erros. Ambos são nervosos, facilmente agitados e irritados. Vocês precisam da mansidão da sabedoria. Vocês se apegam tenazmente às próprias fraquezas, paixões e preconceitos, como se sem eles não mais tivesse felicidade na vida, quando na realidade eles são espinhos penetrantes que ferem. Jesus os convida a desvencilhar-se do jugo que têm carregado, e que tem ferido o seu pescoço, e tomar o Seu jugo que é suave e o Seu fardo que é leve. Quão cansativo é o fardo do amor-próprio, cobiça, orgulho, paixão, ciúme e más suspeitas. Contudo, quão freqüentemente os homens se agarram a essas maldições, e quão vagarosos são em renunciar a elas. Cristo entende quão penosos são esses fardos impostos a si mesmos, e os convida a depô-los. Ele convida as almas cansadas e oprimidas a irem a Ele para tomar o Seu fardo, que é leve, em troca dos fardos que eles amarram sobre si mesmos. Diz Ele: "Encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." Mateus 11:29, 30. Os requisitos de nosso Salvador são todos coerentes e harmoniosos e, se cumpridos alegremente, trarão paz e descanso à alma. T4 241 1 Quando o irmão G toma posição do lado errado, não é fácil confessar que errou; mas se puder deixar sua atitude errada sair-lhe da mente e da lembrança de outros, e puder realizar algumas mudanças para melhor sem reconhecimento público de seu erro, ele o fará. Mas todos esses erros e pecados não confessados permanecem registrados no Céu e não serão apagados até que ele obedeça às instruções dadas na Palavra de Deus: "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." Tiago 5:16. Se o irmão G encontrou outro plano além do que nos é dado pelo Senhor, não é o caminho seguro, e se provará finalmente a sua ruína. Este outro caminho é ruinoso para a igreja, e destrutivo à prosperidade e felicidade de sua família. Ele precisa abrandar o coração, e deixar que a ternura, humildade e amor lhe penetrem a alma. Ele precisa cultivar qualidades altruístas. Irmão e irmã G, vocês devem cultivar qualidades mentais que os tornem puros, esquecendo-se do eu, e mais interessados naqueles com os quais entram em contato. Há uma veia de amor-próprio e cuidado pelo eu que não aumenta a sua felicidade, mas acarreta-lhes sofrimento e dor. Vocês têm um conflito consigo mesmos no qual somente vocês podem atuar. Ambos devem controlar a língua, e reter muitas coisas que trazem à tona. O primeiro mal está em pensar mal; então vêm as palavras que são erradas. Mas vocês deixam por fazer a obra de cultivar amor, deferência e respeito um pelo outro. Considerem bondosamente os sentimentos um do outro, e busquem sagradamente manter a felicidade de cada um. Podem somente agir assim na força e nome de Jesus. T4 242 1 A irmã G tem feito grandes esforços para obter vitórias, mas não tem tido muito encorajamento da parte do marido. Em vez de buscarem a Deus em fervorosa oração por força para vencer os defeitos de seu caráter, têm estado observando a atitude um do outro e enfraquecendo-se por criticar a conduta de outros. O jardim do coração não tem recebido atenção. T4 242 2 Se o irmão G tivesse recebido a luz que o Senhor lhe enviou meses atrás, e tivesse conversado francamente com a esposa, se ambos tivessem quebrantado o duro coração perante o Senhor, quão diferente teria sido sua presente condição. Ambos menosprezaram as palavras de reprovação e apelo do Espírito de Deus, e não reformaram a vida. Mas o fechar os olhos à luz que Deus lhes enviou não tornou suas faltas menos graves à vista de Deus, nem diminuiu sua responsabilidade. Eles odiaram a reprovação que o Senhor em piedosa ternura lhes mandou. O irmão G tem coração naturalmente bondoso e terno, mas ele está revestido de amor-próprio, vaidade e vãs suspeitas. Seu coração não é empedernido, mas falta-lhe poder moral. Ele se acovarda tão logo a necessidade de abnegação e sacrifício próprio lhe é apresentada, pois ama a si mesmo. Controlar o eu, vigiar suas palavras, reconhecer que tem agido mal ou falado mal é uma cruz que julga ser demasiado humilhante carregar; contudo, se quiser alguma vez ser salvo, essa cruz precisa ser levada. T4 242 3 Irmão e irmã G, ambos precisam vigiar suas palavras; pois tão certo como não há uma sentinela colocada sobre seus pensamentos e ações, vocês desencorajarão um ao outro e farão com que nenhum seja salvo. Ambos precisam guardar-se contra o espírito apressado, que promove palavras e ações precipitadas. O ressentimento, que é tolerado porque acham que têm sido maltratados, é o espírito de Satanás e conduz a grandes males morais. Quando são controlados por um espírito precipitado, vocês privam a sua razão, nesse momento, do poder de controlar suas palavras e sua conduta, enquanto tornam-se responsáveis por todas as más conseqüências. O que é feito com precipitação e ira é indesculpável. A ação é má. Vocês podem, por uma simples palavra pronunciada com precipitação e ira, deixar uma ferida no coração dos amigos, que nunca será esquecida. A menos que exercitem o domínio próprio, vocês serão um casal muito infeliz. Cada um atribui sua vida infeliz às faltas do outro; mas não façam mais assim. Tornem uma regra nunca falarem uma palavra de censura um ao outro, mas elogiem e expressem reconhecimento sempre que puderem. T4 243 1 Alguns pensam que é uma virtude ser impetuosos, e elogiam o hábito extrovertido de falar coisas desagradáveis que estão no coração. Permitem que o espírito irado se esgote numa torrente de reprovação e crítica. Quanto mais falam, mais agitados se tornam, e Satanás fica de plantão para contribuir com a obra, pois esta a ele convém. As palavras irritam aqueles a quem são proferidas, e estes reagirão, dando margem a palavras ainda mais duras, até que um pequeno assunto se transforma num grande incêndio. Ambos acham que enfrentam todas as provas que são capazes de suportar, e que sua vida é muito infeliz. Iniciem resolutamente a obra de controlar os pensamentos, palavras e ações. Quando um de vocês sentir que surge ressentimento, torne uma regra sair sozinho e humildemente orar a Deus, que ouvirá a oração de lábios não fingidos. T4 243 2 Toda a ira deve estar sob o controle de uma consciência esclarecida. "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos." Colossences 3:12-15. T4 244 1 Se viverem no plano da adição, somando graça a graça, Deus lhes multiplicará a Sua graça. Enquanto somam, Deus multiplica. Se acariciarem uma impressão habitual de que Deus vê e ouve tudo quanto fazem e dizem, e conserva um registro fiel de todas as suas palavras e ações, e de que precisam defrontá-las, então em tudo quanto fizerem e falarem buscarão seguir os ditames de uma consciência esclarecida e alerta. A língua de vocês será usada para a glória de Deus e será uma fonte de bênçãos para si mesmos e outros. Contudo, se vocês se afastarem de Deus, como têm feito, cuidem para que sua língua não se demonstre um mundo de iniqüidade, e lhes acarretem terrível condenação, pois almas serão perdidas por seu intermédio. O dever do domínio próprio T4 244 2 Os apetites de nossa natureza carnal devem ser mantidos em rígida submissão. Esses apetites nos foram dados para importantes propósitos para o bem, e não para tornar-se ministros de morte sendo pervertidos e transformando-se em concupiscências conflitantes. O gosto pelo fumo, que você, irmão G, fortalece pela condescendência, está se tornando uma concupiscência em guerra contra a sua alma. Um homem intemperante não pode ser um homem paciente. A condescendência quase imperceptível do gosto criará um apetite por estimulantes mais fortes. Se os pensamentos, paixões e apetites são mantidos na devida sujeição, a língua será controlada. Chame em seu auxílio poder moral, e abandone o uso do fumo para sempre. Você tem tentado ocultar de outros o fato de que usa fumo; mas não ocultou de Deus a questão. "Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará." Tiago 4:8-10. Recomendo estas palavras em nome de Jesus, de quem recebi minha incumbência. Não as rejeite. T4 245 1 Você jamais teria rejeitado os Testemunhos, como faz, caso a sua má conduta não fosse reprovada. Imaginou que seria mais fácil sacrificar os Testemunhos e fechar os olhos à luz que Deus lhe tem dado do que renunciar ao seu fumo e abandonar sua vida de leviandade e de zombaria com descrentes. O processo de purificação envolve negação e restrição de que você não tem poder moral para suportar; por isso você pensa desculpar os seus pecados por sua desconfiança da luz que Deus lhe tem dado. Lembre-se, você deve defrontar todas essas coisas novamente, pois elas estão escritas no livro, com todas as advertências e reprovações que Deus me comissionou a dar-lhe. T4 245 2 O irmão J é digno de piedade, pois tem uma estrutura naturalmente imperfeita. Sua esperança é pequena. Sua incredulidade e dúvidas controlam seu discernimento. É-lhe natural duvidar e questionar. A única maneira de vencer esse grande mal é cultivando traços de caráter opostos a esses. Ele deve reprimir a incredulidade, e não cultivá-la. Não deve expressar suas dúvidas. Não tem direito de lançar os defeitos de seu caráter perante outros, causando-lhes tristeza e desânimo. Se deve ser afetado com este triste mal, não precisa amargar a felicidade de outros introduzindo sua incredulidade para esfriar a fé de seus irmãos. Ele é inclinado a ignorar quase tudo de todo sermão e exortação dos quais poderia extrair conforto e encorajamento, e a assimilar alguma coisa que julga representar uma desculpa para o seu questionamento e crítica. As avenidas de sua alma são escancaradas e deixadas desprotegidas para Satanás entrar e moldar-lhe a mente conforme seus propósitos. T4 245 3 Foi-me mostrado que suas reuniões estão perdendo interesse, porque o Espírito de Deus não as assiste. Os irmãos e irmãs estão em completa escravidão por causa desses dois homens. Eles não ousam exercitar a sua liberdade e falar abertamente de sua fé na simplicidade de sua alma, pois ali está o irmão J, com seu olhar frio, severo e crítico, observando e pronto para apanhar qualquer palavra que lhe dê uma chance de usar as faculdades de sua mente incrédula. Em meio a esses dois homens, o Espírito de Deus é ofendido e Se retira das reuniões. Quando os irmãos manifestam o espírito do dragão para fazer guerra contra os que crêem que Deus lhes comunicou luz e conforto através dos Testemunhos, é tempo de os irmãos e irmãs assegurarem sua liberdade e aperfeiçoar a liberdade de consciência. Deus lhes têm dado luz e é seu privilégio acolher a luz e falar dela para fortalecer e encorajar um ao outro. O irmão J confundiria a mente buscando fazer parecer que a luz que Deus tem dado através dos Testemunhos é um acréscimo à Palavra de Deus; mas nisso apresenta o assunto sob uma falsa luz. Deus tem julgado adequado trazer desse modo à mente de Seu povo a Sua Palavra para lhe dar mais clara compreensão dela. T4 246 1 A igreja de _____ está se tornando gradualmente mais fraca por causa da influência que tem sido exercida sobre ela -- não uma influência para ajudá-la a progredir, mas para bloquear as rodas. É privilégio do irmão J pôr de lado a sua incredulidade e prosseguir com a luz se desejar. Se ele recusar fazer isto, a causa de Deus avançará da mesma maneira sem o seu auxílio. Deus, todavia, designa que uma mudança seja feita na igreja de _____. Eles avançarão ou recuarão. Deus pode fazer mais com seis almas que estejam unidas e que têm uma mesma opinião e julgamento, do que com dezenas de homens que agem como os irmãos J e G têm agido. Trouxeram com eles para as reuniões, não anjos de luz, mas anjos de trevas. As reuniões têm sido sem proveito, e às vezes uma declarada ofensa. Deus apela a esses homens a passarem para o lado do Senhor, e ser unidos com a corporação, ou deixarem de prejudicar aqueles que desejariam estar sintonizados com o Senhor. T4 246 2 A grande razão por que tantos professos discípulos de Cristo caem em forte tentação e têm dificuldade para se arrepender é que são deficientes no conhecimento de si mesmos. Aqui é onde Pedro foi tão completamente peneirado pelo inimigo. É aqui onde milhares naufragarão na fé. Vocês não assumem esses erros e faltas, nem afligem o coração a respeito delas. Eu apelo que purifiquem a alma pela obediência à verdade. Liguem-se ao Céu. E que o Senhor os salve do engano próprio. ------------------------Capítulo 22 -- Santidade dos mandamentos de Deus T4 247 1 Mui respeitado irmão K: T4 247 2 Em Janeiro de 1875 foi-me mostrado haver um empecilho no caminho da prosperidade espiritual da igreja. O Espírito de Deus está ofendido porque muitos não têm a vida e o coração retos; sua professa fé não se harmoniza com suas obras. O sagrado dia de repouso de Jeová não é observado como deve ser. Cada semana Deus é roubado por alguma transgressão dos limites de Seu santo tempo; e as horas que devem ser dedicadas à oração e meditação, dedicam-se a atividades mundanas. T4 247 3 Deus nos deu Seus mandamentos, não só para neles crermos, mas também para lhes obedecermos. O grande Jeová, depois de haver posto os fundamentos da Terra, de revestir todo o mundo com trajes de beleza, enchê-lo de coisas úteis ao homem -- havendo criado todas as maravilhas de terra e mar -- instituiu então o dia do sábado e santificou-o. Deus abençoou e santificou o sétimo dia, porque nele repousou de toda a Sua maravilhosa obra da criação. O sábado foi feito para o homem, e Deus deseja que nesse dia ele deixe o trabalho, como Ele próprio descansou, após os seis dias de trabalho da criação. T4 247 4 Os que reverenciam os mandamentos de Jeová hão de, depois que tenham recebido luz com referência ao quarto preceito do Decálogo, obedecer-lhes sem questionar a viabilidade ou conveniência de semelhante obediência. Deus fez o homem à Sua própria imagem, e deu-lhe a seguir um exemplo da observância do sétimo dia, que Ele santificou e tornou santo. Era Seu desígnio que nesse dia o homem O adorasse, não se empenhando em ocupações seculares. Ninguém que desrespeite o quarto mandamento, depois de haver compreendido as reivindicações do sábado, pode ser tido como inocente à vista de Deus. T4 247 5 Irmão K, você reconhece as reivindicações de Deus quanto à observância do sábado, mas suas obras não se harmonizam com sua profissão de fé. Você põe sua influência do lado dos descrentes, visto como transgride a lei de Deus. Quando julga que suas circunstâncias temporais requerem atenção, você transgride sem preocupação o quarto mandamento. Você torna a guarda da lei de Deus uma questão de conveniência, obedecendo ou desobedecendo, segundo o indicam suas ocupações ou inclinações. Isto não é honrar o sábado como uma instituição sagrada. Você ofende o Espírito de Deus e desonra seu Redentor, seguindo esse procedimento descuidado. T4 248 1 Não é aceitável ao Senhor uma parcial observância da lei do sábado, e isso tem sobre o espírito dos pecadores pior efeito do que se o irmão não fizesse profissão de ser observador do sábado. Eles percebem que sua vida contradiz sua crença, e perdem a fé no cristianismo. O Senhor leva a sério o que diz, e não é impunemente que o homem põe de parte Seus mandamentos. O exemplo de Adão e Eva no jardim deveria servir-nos de advertência suficiente contra qualquer desobediência da lei divina. O pecado de nossos primeiros pais, dando ouvido às enganosas tentações do inimigo, trouxe sobre o mundo culpa e tristeza, levando o Filho de Deus a deixar as cortes celestiais e tomar um lugar humilde na Terra. Foi sujeito a insultos, à rejeição e crucifixão por aqueles mesmos a quem viera abençoar. Que custo infinito foi resultado da desobediência no jardim do Éden! A Majestade do Céu foi sacrificada para salvar o homem da penalidade de seu crime. T4 248 2 Deus não passará por alto qualquer transgressão de Sua lei, tanto hoje como no dia em que pronunciou juízo contra Adão. O Salvador do mundo ergue a voz em protesto contra os que consideram os mandamentos divinos leviana e descuidadamente. Disse Ele: "Qualquer pois que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos Céus." Mateus 5:19. O ensinamento que nossa vida revela é inteiramente em favor da verdade ou contra ela. Se suas obras parecem justificar o transgressor em seu pecado, se sua influência dá a impressão de considerarem levianamente a transgressão dos mandamentos de Deus, então não só você mesmo é culpado, mas é também, até certo ponto, responsável pelos conseqüentes erros de outros. T4 249 1 Mesmo no princípio do quarto preceito, disse Deus: "Lembra-te", sabendo que o homem, na multidão de seus cuidados e perplexidades, seria tentado a eximir-se de satisfazer a todas as reivindicações da lei, ou, na pressão dos negócios seculares, se esqueceria de sua sagrada importância. "Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra" (Êxodo 20:9), as comuns ocupações da vida, para o ganho secular ou o prazer. Estas palavras são muito explícitas; não pode haver erro. Irmão K, como ousa transgredir mandamento tão solene e importante? Porventura o Senhor fez uma exceção pela qual o irmão seja absolvido da lei que Ele deu ao mundo? Serão suas transgressões omitidas do livro de registro? Concordou Ele em desculpar sua desobediência quando as nações se apresentarem ante Ele para serem julgadas? Não se engane, por um momento que seja, com o pensamento de que seu pecado não lhe trará o castigo merecido. Suas transgressões serão castigadas com vara, porque o irmão tinha a luz, e no entanto tem andado em sentido exatamente contrário. "O servo que soube a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites." Lucas 12:47. T4 249 2 Deus deu ao homem seis dias para fazer a sua obra e levar avante os negócios comuns da vida; mas Ele reclama um dia, que Ele pôs de parte e santificou. Ele o dá ao homem como um dia em que possa repousar do trabalho e dedicar-se à adoração e ao desenvolvimento de sua condição espiritual. Que flagrante afronta é roubar o homem o único dia santificado de Jeová, e dele se apropriar para seus próprios fins egoístas! T4 249 3 É a mais grosseira presunção aventurar-se o homem mortal a negociar com o Todo-poderoso, a fim de assegurar seus insignificantes interesses seculares. É tão cruel violação da lei servir-se ocasionalmente do sábado para negócios seculares, como seria rejeitá-lo completamente; pois isso é fazer dos mandamentos do Senhor uma questão de conveniência. "Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso" (Êxodo 20:5), vem-nos, forte, a voz do Sinai! Obediência parcial e interesse dividido não são aceitos por Aquele que declara que as iniqüidades dos pais serão visitadas nos filhos até à terceira e quarta geração dos que O aborrecem, e que Ele mostrará misericórdia, em milhares, aos que O amam e guardam os Seus mandamentos. Não é coisa de pouca importância roubar um vizinho, e grande é o estigma sofrido por aquele que é encontrado culpado de semelhante ato; entretanto, o que não se rebaixaria a defraudar seu semelhante, não tem vergonha de roubar a seu Pai celestial o tempo que Ele abençoou e pôs de parte para um fim especial. T4 250 1 Meu caro irmão, suas obras estão em desacordo com a fé que professa, e sua única desculpa é a pobre alegação de que isso lhe é conveniente. No passado, os servos de Deus foram convidados a depor a vida em defesa de sua fé. O seu procedimento, meu irmão, bem pouco se harmoniza com o dos mártires cristãos, que sofriam fome e sede, tortura e morte, de preferência a renunciar a sua religião, ou os princípios da verdade. T4 250 2 Está escrito: "Que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?" Tiago 2:14. Toda vez que o irmão se põe a trabalhar no dia de sábado, nega virtualmente sua fé. As Sagradas Escrituras nos ensinam que a fé sem obras é morta, e que o testemunho de nossa vida proclama ao mundo se somos ou não fiéis à fé que professamos. A conduta do irmão diminui a lei de Deus no conceito de seus amigos seculares. Ela lhes diz: "Vocês podem obedecer ou deixar de obedecer aos mandamentos. Eu creio que a lei de Deus é, de algum modo, obrigatória para o homem; mas, afinal, o Senhor não é muito específico quanto à estrita observância dos preceitos da mesma, e de Sua parte uma transgressão ocasional não é castigada com severidade." T4 250 3 Muitos se desculpam de violarem o sábado, referindo-se ao seu exemplo. Argumentam que, se um homem tão bom, que crê ser o sétimo dia o sábado, pode nesse dia empenhar-se em empreendimentos seculares quando as circunstâncias assim o parecem exigir, certamente eles poderão fazer o mesmo, sem condenação. O irmão se defrontará com muitas almas no juízo, as quais farão de sua influência uma desculpa para desobedecerem à lei de Deus. Embora isto não sirva de desculpa para o pecado deles, será um terrível depoimento contra você. T4 251 1 Deus falou, e Ele espera que o homem obedeça. Não indaga Ele se lhe é conveniente proceder assim. O Senhor da vida e da glória não consultou Sua conveniência ou prazer quando deixou Sua alta posição para Se tornar um varão de dores e experimentado em trabalhos, aceitando a ignomínia e morte para livrar o homem do resultado da desobediência. Jesus morreu, não para salvar o homem em seus pecados, mas de seus pecados. Deve o homem abandonar o erro de seus caminhos, para seguir o exemplo de Cristo, tomando a Sua cruz e seguindo-O, negando a si mesmo e obedecendo a Deus custe o que custar. T4 251 2 Disse Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. Se somos verdadeiros servos de Deus, não deve haver em nossa mente nenhuma dúvida quanto a devermos obedecer aos Seus mandamentos, ou consultar nossos próprios interesses temporais. Se os crentes na verdade não forem sustidos por sua fé nestes dias relativamente pacíficos, que os preservará quando vier a grande prova, e sair o decreto contra todos os que não adorarem a imagem da besta nem receberem na testa ou nas mãos o sinal? Não está longe esse tempo solene. Em vez de se tornar fraco e irresoluto, o povo de Deus deve estar reunindo forças e ânimo para o tempo de angústia. T4 251 3 Jesus, nosso grande Exemplo, em Sua vida e morte ensinou a mais estrita obediência. Ele morreu, o justo pelos injustos, o inocente pelos culpados, para que se preservasse a honra da lei de Deus, e ao mesmo tempo não tivesse o homem de perecer completamente. O pecado é a transgressão da lei. Se o pecado de Adão trouxe tão inexprimível miséria, exigindo o sacrifício do amado Filho de Deus, qual não será a punição dos que vendo a luz da verdade anulam o quarto mandamento do Senhor? T4 251 4 As circunstâncias não justificam a quem quer que seja para trabalhar no sábado por amor de ganho secular. Se Deus desculpasse um homem, poderia desculpar a todos. Por que não deveria o irmão L, que é pobre, trabalhar no sábado para ganhar o pão de cada dia, quando ele poderia, assim fazendo, estar em melhores condições de manter a família? Por que não deveriam outros irmãos, ou todos nós, guardarem o sábado só quando fosse conveniente fazê-lo? Responde a voz do Sinai: "Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus." Êxodo 20:9, 10. T4 252 1 Os erros cometidos por crentes na verdade trazem sobre a igreja grande fraqueza. São pedras de tropeço no caminho dos pecadores, e os impedem de vir para a luz. Irmão, Deus o chama para se colocar inteiramente ao Seu lado, e deixar suas obras revelarem que você respeita Seus preceitos e mantém inviolado o sábado. Ele lhe ordena que desperte e reconheça o seu dever e seja leal às responsabilidades que lhe cabem. Estas solenes palavras lhe são dirigidas: "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:13, 14. T4 252 2 Como muitos de nossos irmãos, você está se emaranhando com os transgressores da lei de Deus, adotando seus pontos de vista e caindo nos seus erros. Deus visitará com os Seus juízos os que professam servi-Lo, mas na realidade servem a Mamom. Os que por causa de vantagens pessoais desrespeitam a expressa ordem do Senhor, acumulam sobre si desgraça futura. A igreja de _____ deve verificar cuidadosamente se, como os judeus, não fizeram do templo de Deus lugar de venda. Disse Cristo: "Está escrito: A Minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões." Mateus 21:13. T4 252 3 Não estão muitos de nosso povo caindo no pecado de sacrificar sua religião por amor do ganho mundano, mantendo uma forma de piedade, enquanto se dedicam inteiramente a ocupações temporais? À lei de Deus tem de ser conferido o primeiro lugar de todos, devendo ser obedecida no espírito e na letra. Se a Palavra de Deus, pronunciada com majestosa solenidade do monte santo, é considerada levianamente, como serão acolhidos os Testemunhos de Seu Espírito? Mentes tão entenebrecidas que não reconheçam a autoridade dos mandamentos do Senhor, dados diretamente ao homem, pouco benefício poderão receber de um instrumento débil, por Ele escolhido para instruir Seu povo. T4 253 1 Sua idade não o dispensa de obedecer aos mandamentos divinos. Abraão foi duramente provado em sua velhice. As palavras do Senhor se afiguravam terríveis e indesejadas àquele ancião combalido; todavia, ele nunca pôs em dúvida sua justiça nem hesitou na obediência. Poderia ter alegado que era velho e débil, não podendo sacrificar o filho que era a alegria de sua vida. Poderia ter lembrado ao Senhor que aquela ordem estava em desarmonia com as promessas que lhe haviam sido dadas a respeito de seu filho. Mas a obediência de Abraão, prestava-a ele sem murmurar nem acusar. Era implícita sua confiança em Deus. T4 253 2 A fé manifestada por Abraão deve ser nosso exemplo; entretanto, quão poucos suportam pacientemente uma simples prova de repreensão pelos pecados que lhes ameaçam o bem-estar eterno! Quão poucos acolhem com humildade a repreensão, e a aproveitam. A reivindicação de Deus em relação a nossa fé, nossos serviços, nossas afeições deve encontrar resposta animosa de nossa parte. Somos infinitos devedores ao Senhor, e devemos sem hesitar satisfazer mesmo ao menor dos Seus reclamos. Para ser um violador dos mandamentos, não é necessário que pisemos a pés todo o código moral. Se desrespeitamos um só preceito, somos transgressores da lei sagrada. Mas se queremos ser verdadeiros observadores dos mandamentos, devemos observar estritamente cada preceito que Deus nos ordenou guardar. T4 253 3 Deus permitiu que Seu próprio Filho fosse morto para cumprir a penalidade da transgressão da lei; como tratará Ele então com os que, em face de todas as evidências, ousam aventurar-se na vereda da desobediência, depois de terem recebido a luz da verdade? O homem não tem o direito de alegar sua conveniência ou necessidade nesta questão. Deus proverá; Ele, que alimentou Elias junto ao ribeiro, tornando um corvo Seu mensageiro, não deixará que a Seus fiéis falte o alimento. T4 254 1 O Salvador perguntou aos discípulos, premidos pela pobreza, por que andavam ansiosos e perturbados com respeito ao que deviam comer e com que se deviam vestir. Disse Ele: "Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?" Mateus 6:26. Apontou Ele para as lindas flores, formadas e coloridas por mão divina, dizendo: "E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?" Mateus 6:28-30. T4 254 2 Onde está a fé do povo de Deus? Por que são tão descrentes e desconfiados dAquele que lhes provê as necessidades, e os sustém por Sua força? O Senhor provará a fé do Seu povo; enviará repreensões, que serão seguidas de aflições se essas advertências não forem acatadas. Interromperá a fatal letargia do pecado, a qualquer custo para os que se desviaram de sua fidelidade a Ele, e despertá-los-á de modo a reaverem o senso do dever. T4 254 3 Meu irmão, sua alma tem de ser despertada e sua fé ampliada. Por tanto tempo o irmão se desculpou em sua desobediência alegando isto ou aquilo, que sua consciência, assim minada, adormeceu, deixando de lembrar-lhe os seus erros. Por tanto tempo seguiu suas próprias conveniências a respeito da observância do sábado, que sua mente se tornou inapta para receber impressões quanto ao seu procedimento de desobediência; entretanto, nem por isso é menos responsável, pois você mesmo se pôs nessas condições. Comece desde já a obedecer aos mandamentos divinos e confie em Deus. Não Lhe provoque a ira, para que não o visite com terrível castigo. Volte a Ele antes que seja tarde, e busque o perdão de suas transgressões. Ele é rico e abundante em misericórdias; Ele lhe dará Sua paz e aprovação, se chegar a Ele em humilde fé. ------------------------Capítulo 23 -- O egoísmo na igreja e na família T4 255 1 Prezado irmão M: T4 255 2 Foi-me mostrado em visão que você tem defeitos de caráter que precisam ser remediados. Não está correto em seus pontos de vista e sentimentos a respeito de sua esposa. Você não a aprecia. Ela não tem recebido de você as palavras de simpatia e amor que devia receber. Não diminuiria a dignidade de sua masculinidade elogiá-la pelo cuidado que tem e pelas responsabilidades que assume na família. T4 255 3 Você é egoísta e exigente. Observa pequenas coisas e fala de pequenos erros em sua esposa e filhos. Em resumo, busca medir a consciência deles pela sua; tenta servir de consciência para eles. Sua esposa tem uma identidade própria, que nunca pode ser fundida na do marido. Ela tem uma individualidade que deve preservar; pois é responsável por si mesma perante Deus. Você não pode, irmão M, ser responsável perante Deus pelo caráter que sua esposa forma. Somente ela terá essa responsabilidade. Deus está tão disposto a impressionar a consciência de sua esposa temente a Deus como está em impressionar a sua consciência para com ela. T4 255 4 Você espera demasiado de sua esposa e filhos. Censura demais. Se encorajasse em si mesmo um temperamento alegre e feliz e lhes falasse terna e bondosamente, levaria para seu lar luz em vez de sombras, tristezas e infelicidade. Preocupa-se demasiado com a própria opinião; toma posições extremas, e não tem permitido que sua esposa tenha no seio de sua família o peso que deveria ter. Não tem encorajado respeito por sua esposa nem educado os filhos para que respeitem o julgamento dela. Não a tem feito sua igual, antes tem tomado em suas mãos as rédeas do governo e controle, e as tem mantido firmemente. Você não possui temperamento afetuoso e compassivo. Necessita cultivar esses traços de caráter se quer ser um vencedor e se deseja as bênçãos de Deus em sua família. T4 256 1 Você é muito firme e inflexível em sua opinião, o que torna as coisas mais difíceis para sua família. Precisa ter o coração suavizado pela graça de Deus. Precisa de amor no coração como o que caracterizou as obras de Cristo. O amor procede de Deus. É uma planta de cultivo celestial, e não pode viver e florescer no coração natural. Onde ele existe, há verdade, vida e poder. Mas não pode viver sem ação, e quando quer que seja exercitado aumenta e se amplia. Não observará pequenos erros, nem se precipitará em assinalar pequenas faltas. Prevalecerá quando argumento, qualquer montante de palavras, se prove vão e inútil. A melhor maneira de reformar o caráter e regular a conduta de sua família é através do princípio do amor. Ele é verdadeiramente uma força, e realizará aquilo que nem o dinheiro nem o poder jamais podem fazer. T4 256 2 Meu irmão, suas palavras que são severas e impiedosas cortam e ferem. É muito fácil para você censurar e criticar, mas isto apenas produz infelicidade. Rapidamente se ressentiria das palavras que dirige aos outros, fossem elas dirigidas a você. Tem considerado como fraqueza o ser bondoso, terno e compassivo, pensando rebaixar sua dignidade falar terna, gentil e amavelmente a sua esposa. Aqui você erra no conceito do que sejam a verdadeira varonilidade e dignidade. A disposição de negligenciar a prática de atos de bondade é uma fraqueza evidente e defeito de seu caráter. Aquilo que olha como fraqueza, Deus considera verdadeira cortesia cristã, que deve ser praticada por todo cristão; pois foi esse o espírito manifestado por Cristo. T4 256 3 Você possui disposição muito egoísta e tem a respeito de si mesmo opinião mais elevada do que deveria. Freqüentemente você assume posições extremamente singulares e fantasiosas a respeito das Escrituras, e muitas vezes se apega a estas tão zelosamente como os judeus faziam com suas tradições. Não possuindo espírito receptivo ao ensino, estará em constante perigo de causar confusão na igreja, a menos que se determine a corrigir esses erros na força do poderoso Conquistador. O que torna o seu caso mais alarmante é que você julga que conhece essas coisas melhor do que seus irmãos, e é muito difícil de ser abordado. Tem espírito farisaico de justiça própria, que diria: "Retira-te, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu." Isaías 65:5. T4 257 1 Você não tem enxergado a corrupção do próprio coração, e isso tornou a sua vida quase um fracasso. Suas opiniões não podem nem devem ser regra na igreja de Deus. Você precisa estar cultivando todas as graças cristãs, mas especialmente a caridade, que é bondosa e paciente, "não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:4-7. "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos." Colossences 3:12-15. T4 257 2 Você anota pequenos desvios do que julga ser correto, e severamente busca corrigi-los. Enquanto é assim dominante e ditatorial, rápido em observar as faltas de um irmão, não examina intimamente o próprio coração para ver os males que existem em sua vida. Revela grande fraqueza moral na condescendência de seu apetite e paixões. A escravidão do apetite pelo fumo tem tal controle sobre você que conquanto decida e reitere a resolução de vencer o hábito, não o cumpre. Este hábito errado tem pervertido os seus sentidos. Meu irmão, onde está seu domínio próprio? Onde está o poder moral para vencer? Cristo venceu o poder do apetite no deserto da tentação em seu favor, tornando possível que você vença em seu próprio favor. Agora a batalha é sua. Em nome do Vencedor você tem oportunidade de negar o apetite, e obter a vitória por si mesmo. Você exige muito dos outros; que está desejando fazer para obter vitória sobre uma condescendência repugnante, destruidora da saúde e poluidora da alma? A batalha é sua. Ninguém pode combatê-la por você. Outros podem orar em seu favor, mas a obra deve ser inteiramente por sua conta. T4 258 1 Deus apela a você para não mais brincar com o tentador, mas purificar-se de toda a "imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. Você precisa trabalhar rapidamente para remover seus defeitos de caráter. Está na oficina de Deus. Se se submeter ao processo de talhar, cortar e aplainar, as arestas rústicas podem ser removidas, os nós e superfícies desiguais suavizados e amoldados pela lâmina aplainadora de Deus, será ajustado por Sua graça à edificação celestial. Mas se se apegar ao próprio eu e não se dispuser a suportar o penoso processo de ajuste para a edificação celestial, não terá lugar naquela estrutura que será erguida sem o som de machado ou martelo. Se sua natureza não for transformada, se não for refinada e elevada pela verdade santificadora para estes últimos dias, será achado indigno de um lugar entre os anjos puros e santos. T4 258 2 Pode apegar-se a seus hábitos contaminadores, e finalmente ser achado entre os descrentes e não santificados? Pode correr qualquer risco nessa questão? Há muito em jogo para aventurar-se a continuar o caminho da condescendência própria que tem seguido. Tem sido ousado em falar a verdade a descrentes numa forma muito explícita e objetável, o que tem exercido muito má influência sobre a mente deles. Quando há um incoerente defensor da verdade, Satanás o usa para tirar vantagem especial para desapontar aqueles que, sob a devida influência, seriam favoravelmente impressionados. Você deve suavizar suas maneiras e, quando defender a verdade, faça-o com espírito de mansidão. T4 258 3 "Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." 1 Pedro 3:15. O temor aqui mencionado não significa desconfiança ou indecisão, mas devida cautela, cuidando de cada ponto, para que nenhuma palavra insensata seja proferida, ou a excitação de sentimentos obtenha vantagens, e assim deixe impressões desfavoráveis sobre as mentes, e as leve à direção errada. Piedoso temor, humildade e mansidão são grandemente necessários a todos a fim de representar corretamente a verdade de Deus. T4 259 1 Um de seus maiores perigos é o espírito de confiança própria e orgulho. Sua grande infelicidade e a de sua família é resultado imediato da atuação do orgulho. A utilidade de um homem que possui tal orgulho deve ser grandemente limitada, pois seu orgulho e amor-próprio o mantêm numa esfera restrita. Você não tem espírito generoso. Seus esforços não são amplos, mas acanhados. Se existir tal orgulho, ele será descoberto através de sua conversação e comportamento. T4 259 2 Prezado irmão, a influência sobre a qual o seu caráter tem sido formado tem lhe dado um espírito altivo e dominador. Esse espírito, você manifesta em sua família, entre os seus vizinhos e todos aqueles com quem se associa. A fim de vencer esses hábitos errados, você deve vigiar em oração. Deve agora ser cuidadoso, pois tem pouco tempo para trabalhar. Não julgue ser apto em sua própria força. Somente em nome do poderoso Vencedor conseguirá obter a vitória. Em conversação com outros, demore-se sobre a misericórdia, bondade e amor de Deus em vez de demorar-se em Seu estrito juízo e justiça. Apegue-se às Suas promessas. Você nada pode fazer em sua própria força; mas na força de Jesus pode realizar todas as coisas. Se estiver em Cristo, e Cristo em você, será transformado, renovado e santificado. "Se vós estiverdes em Mim, e as Minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito." João 15:7. Certifique-se de que Cristo está em você, de que o seu coração está quebrantado, submisso e humilde. Deus aceitará somente o humilde e contrito. O Céu é digno de uma vida inteira de perseverante esforço; sim, tudo vale a pena. Deus o ajudará em seus esforços se lutar somente nEle. Há uma obra a ser feita em sua família, que Deus o ajudará a realizar se se apegar devidamente a ela. Apelo para que coloque o coração em ordem e então procure pacientemente trabalhar pela salvação de sua família, de modo que os anjos de Deus venham a seu lar e habitem com vocês. ------------------------Capítulo 24 -- Apelo aos pastores T4 260 1 Estamos vivendo em tempo muito solene. Todos têm uma obra a fazer que requer diligência. Isso é verdade principalmente em relação ao pastor, que deve cuidar do rebanho de Deus e alimentá-lo. Aquele cuja obra especial é conduzir o povo no caminho da verdade deve ser um competente expositor da Palavra, capaz de adaptar os seus ensinos às necessidades do povo. Ele deve estar intimamente ligado com o Céu e tornar-se um conduto vivo de luz, um porta-voz de Deus. T4 260 2 Um pastor deve ter correto entendimento da Palavra e também do caráter humano. Nossa fé é impopular. As pessoas não estão dispostas a ser convencidas de que se acham tão profundamente em erro; uma grande obra deve ser feita e presentemente há poucos para fazê-la. Geralmente um homem faz o trabalho que devia ser feito por dois, pois a tarefa de evangelista se combina necessariamente com a do pastor, acarretando uma dupla responsabilidade ao obreiro no campo. T4 260 3 O ministro de Cristo deve ser um estudante da Bíblia, para que sua mente seja repleta de evidência bíblica; pois o pastor é forte somente quando fortalecido com a verdade da Escritura. O argumento tem o seu lugar, mas muito mais pode ser alcançado pelas simples explicações da Palavra de Deus. As lições de Cristo eram ilustradas tão claramente que as pessoas mais simples e humildes podiam prontamente compreendê-las. Jesus não empregou palavras longas e difíceis em Seus discursos, mas utilizou linguagem simples, adaptada à mente do povo comum. Ele não Se aprofundava no assunto que estava expondo a menos que os ouvintes fossem capazes de acompanhar. T4 260 4 Há muitos homens de bom intelecto que são inteligentes com respeito às Escrituras, e cuja utilidade é grandemente prejudicada por seu método defeituoso de trabalhar. Alguns pastores que se empenham na obra de salvar almas deixam de obter os melhores resultados, porque não se empenham totalmente à obra que começaram com tanto entusiasmo. Outros não são aceitáveis porque se apegam tenazmente a noções preconcebidas, tornando estas proeminentes, deixando assim de adaptar seus ensinos às reais necessidades do povo. Muitos não têm idéia da necessidade de adaptar-se às circunstâncias, e encontrar o povo onde se acha. Não se identificam com aqueles a quem desejam ajudar e elevar ao verdadeiro padrão bíblico de cristianismo. T4 261 1 A fim de que o pastor seja verdadeiramente bem-sucedido, deve consagrar-se inteiramente à obra de salvar almas. É absolutamente essencial que esteja intimamente unido a Cristo, buscando dEle contínuo conselho e dependendo de Seu auxílio. Alguns deixam de ter êxito porque confiam somente na força do argumento, e não clamam ardentemente a Deus por Sua sabedoria para dirigi-los e Sua graça para santificar seus esforços. Longos sermões e orações cansativas são verdadeiramente prejudiciais ao interesse religioso e falham em levar convicção à consciência do povo. Essa propensão para fazer sermões freqüentemente abafa o interesse religioso que poderia ter produzido grandes resultados. T4 261 2 O verdadeiro embaixador de Cristo está em perfeita união com Aquele a quem representa, e seu abrangente objetivo é a salvação de almas. As riquezas da Terra reduzem-se a uma insignificância quando comparadas com o valor de uma simples alma por quem nosso Senhor e Mestre morreu. Aquele que pesa os montes e as montanhas em balanças considera a alma humana como de valor infinito. T4 261 3 Na obra do ministério há batalhas a enfrentar e vitórias a ganhar. "Não cuideis que vim trazer a paz à Terra", disse Cristo, "não vim trazer paz, mas espada." Mateus 10:34. Os trabalhos iniciais da igreja cristã foram acompanhados de dificuldades e amargas dores, e os sucessores dos apóstolos primitivos descobrem que precisam enfrentar provas semelhantes às deles; encontram privações, calúnia e toda espécie de oposição em seus trabalhos. Precisam ser homens de grande coragem moral e vigor espiritual. T4 262 1 Prevalecem grandes trevas morais, e somente o poder da verdade pode espantar as sombras da mente de alguém. Estamos batalhando com erros gigantescos e os mais fortes preconceitos e, sem a ajuda especial de Deus, nossos esforços falharão seja na conversão de almas ou na elevação de nossa própria natureza moral. A habilidade humana e as melhores capacidades naturais e aquisições são ineficazes para despertar a alma a fim de discernir a enormidade do pecado e bani-lo do coração. T4 262 2 Os pastores devem ser cuidadosos para não esperar demais das pessoas que ainda andam às apalpadelas nas trevas do erro. Devem realizar bem o seu trabalho, confiando em Deus para transmitir às almas inquiridoras a influência misteriosa e despertadora de Seu Santo Espírito, sabendo que sem isto seus esforços serão malsucedidos. Devem ser pacientes e sábios ao tratar com mentes humanas, lembrando-se de quão múltiplas são as circunstâncias responsáveis por tão diversas características pessoais. Devem também guardar-se estritamente para que o eu não obtenha supremacia e Jesus seja deixado fora de questão. T4 262 3 Alguns pastores não alcançam sucesso porque deixam de dedicar total interesse à obra quando muito disso depende de esforço persistente e bem dirigido. Muitos não são dedicados; não prosseguem seu trabalho fora do púlpito. Esquivam-se do dever de ir de casa em casa e trabalhar sabiamente no círculo familiar. Precisam cultivar essa rara cortesia cristã que os tornaria bondosos e atenciosos para com as almas sob seu cuidado, trabalhando por elas com verdadeiro zelo e fé, ensinando-lhes o caminho da vida. T4 262 4 Os pastores podem fazer muito a fim de moldar o caráter daqueles com quem estão associados. Se forem severos, críticos e exigentes certamente encontrarão esses infelizes elementos entre o povo sobre quem sua influência é mais forte; embora o resultado talvez não seja da natureza que desejam, é, no entanto, o resultado de seu próprio exemplo. T4 263 1 Não se pode esperar que o povo desfrutará paz e harmonia, a menos que seus mestres religiosos, cujos passos seguem, tenham esses princípios amplamente desenvolvidos e os manifestem em sua vida. O ministro de Cristo tem grandes responsabilidades a levar, se quiser tornar-se um exemplo para seu povo e um expoente correto da doutrina de seu Mestre. Os homens ficavam impressionados pela pureza e dignidade moral de nosso Salvador, enquanto o Seu amor altruísta e benignidade gentil lhes conquistavam o coração. Ele era a encarnação da perfeição. Se Seus representantes quiserem ver, acompanhando seu trabalho, frutos semelhantes àqueles que coroavam o ministério de Cristo, devem fervorosamente lutar para imitar Suas virtudes e cultivar aqueles traços de caráter que os tomariam semelhantes a Ele. T4 263 2 É necessária muita prudência e sabedoria de Deus para trabalhar com êxito pela salvação dos pecadores. Se a alma dos obreiros for cheia da graça de Deus, seu ensino não irritará seus ouvintes, mas abrirá caminho para seu coração e o tornará acessível à recepção da verdade. T4 263 3 Os obreiros no campo não devem permitir-se serem desencorajados; mas qualquer que seja seu meio ambiente devem exercer esperança e fé. A obra do pastor apenas começou quando ele apresenta a verdade do púlpito. Deve então familiarizar-se com seus ouvintes. Muitos falham grandemente em não demonstrar íntima simpatia para com aqueles que mais precisam de seu auxílio. Com a Bíblia na mão, devem buscar de maneira cortês saber as dúvidas que existem na mente daqueles que estão começando a indagar: "O que é a verdade?" T4 263 4 Eles devem ser cuidadosa e ternamente conduzidos e educados como alunos na escola. Muitos têm que desaprender teorias que se entranharam em sua vida. Ao se tornarem convencidos de que estiveram em erro com respeito a temas bíblicos, são lançados em perplexidade e dúvida. Precisam da mais terna simpatia e o mais criterioso auxílio; devem ser cuidadosamente instruídos; deve-se orar por eles e com eles, vigiá-los e guardá-los com a mais bondosa solicitude. Aqueles que caíram em tentação e apostataram de Deus precisam de ajuda. Nas lições de Cristo, essa classe é representada pela ovelha perdida. O pastor deixou as noventa e nove no deserto e foi à procura da ovelha perdida até que a encontrou; então retornou com regozijo, trazendo-a sobre os ombros. Também pela ilustração da mulher que procurou a moeda de prata perdida até que a achou, e convocou as vizinhas para regozijar-se com ela por ter encontrado o que estava perdido. A ligação dos anjos celestiais com a obra do cristão é aqui trazida claramente à luz. Há mais alegria na presença dos anjos no Céu pelo pecador que se arrepende do que por noventa e nove pessoas justas que não precisam de arrependimento. Há alegria da parte do Pai e de Cristo. Todo o Céu está interessado na salvação do homem. Aquele que é instrumento para salvar uma alma está em liberdade para regozijar-se, pois os anjos de Deus testemunharam seus esforços com o mais intenso interesse e se regozijam com ele em seu sucesso. T4 264 1 Quão completo, pois, deve ser o trabalho, e quão profunda a simpatia do ser humano por seu semelhante. É um grande privilégio ser coobreiro com Jesus Cristo na salvação de almas. Ele, com esforços pacientes e altruístas, buscou alcançar o homem em sua condição caída e resgatá-lo das conseqüências do pecado; portanto, Seus discípulos, que são os mestres de Sua Palavra, devem imitar rigorosamente o grande Exemplo. T4 264 2 Para dedicar-se a esta grande e árdua tarefa é necessário que os ministros de Cristo possuam saúde física. Para alcançar isso, devem eles tornar-se metódicos em seus hábitos e adotar um estilo de vida saudável. Muitos estão constantemente se queixando e sofrendo de várias indisposições. Dá-se isto, quase sempre, porque não trabalham inteligentemente nem observam as leis de saúde. Em geral permanecem muito tempo dentro de casa, ocupando salas aquecidas cheias de ar impuro. Aí se dedicam firmemente a estudar ou a escrever, fazendo pouco exercício físico e tendo pouca mudança de atividade. Como resultado, o sangue circula mal e as forças mentais são enfraquecidas. T4 264 3 O organismo inteiro necessita da revigoradora influência do exercício ao ar livre. Umas poucas horas de trabalho braçal cada dia ajudariam a renovar o vigor físico e fazer repousar e relaxar a mente. Por este meio, a saúde em geral poderá ser promovida e maior soma de trabalho pastoral realizada. O constante ler e escrever de muitos pastores os incapacita para o trabalho pastoral. Gastam valioso tempo em estudo abstrato, o qual poderia ser aplicado em auxiliar os necessitados no momento preciso. T4 265 1 Alguns pastores se dedicaram ao trabalho de escrever durante um período de decidido interesse religioso, e tem freqüentemente se dado o caso de que seus escritos não têm tido especial ligação com a obra em vista. Esse é um grave erro; pois em tais ocasiões é dever do pastor empregar seu vigor total em fazer avançar a causa de Deus. Sua mente deve ser clara e estar centralizada no único objetivo de salvar almas. Se seus pensamentos estiverem concentrados em outros assuntos, muitos que poderiam ser salvos por meio de instrução oportuna podem perder-se. Alguns pastores desviam-se facilmente do seu trabalho. Tornam-se desanimados, ou são atraídos ao próprio lar, e deixam um crescente interesse morrer por falta de atenção. O prejuízo assim acarretado à causa mal pode ser avaliado. Quando um esforço para promover a verdade é iniciado, o pastor encarregado deve sentir-se responsável por executá-lo cabalmente com êxito. Se seus esforços parecerem sem resultado, deve com oração fervorosa procurar descobrir se está fazendo aquilo que devia. Deve humilhar sua alma perante Deus em exame próprio, e pela fé apegar-se às promessas divinas, continuando humildemente seus esforços até que esteja certo de ter fielmente cumprido seu dever, e ter realizado tudo ao seu alcance para obter o resultado desejado. T4 265 2 Os pastores com freqüência relatam terem deixado o melhor interesse em determinado lugar para iniciar um novo campo. Isto está errado; eles devem completar a obra que iniciaram; pois ao deixá-la incompleta, causam mais mal do que bem, estragando o campo para o próximo obreiro. Nenhum campo parecerá tão sem perspectivas quanto aquele que foi cultivado somente o suficiente para dar às ervas daninhas um crescimento mais exuberante. T4 266 1 Muita oração e sábio esforço são necessários em novos campos. Homens de Deus são necessários; não meramente homens que possam falar, mas aqueles que têm conhecimento experimental do mistério da piedade, e que possam satisfazer as urgentes necessidades do povo; aqueles que solenemente percebem a importância de sua posição como servos de Jesus, e alegremente tomam a cruz que Ele lhes ensinou como carregar. T4 266 2 Quando a tentação surge para eles se isolarem e se dedicarem a ler e a escrever num tempo em que outros deveres reclamam sua imediata atenção, devem ser suficientemente fortes para negar a si mesmos, e dedicar-se à obra que se encontra diretamente diante deles. Este é indubitavelmente um dos mais difíceis testes que a mente estudiosa é chamada a defrontar. T4 266 3 Os deveres de um pastor são com freqüência vergonhosamente negligenciados porque ele não tem força para sacrificar suas inclinações pessoais de isolamento e estudo. O pastor deve visitar de casa em casa o seu rebanho, ensinando, conversando e orando com cada família e procurando o bem-estar delas. Aqueles que manifestaram desejo de tornar-se familiarizados com os princípios de nossa fé não devem ser negligenciados, mas plenamente instruídos na verdade. Nenhuma oportunidade para fazer o bem deve ser perdida pelo vigilante e zeloso ministro de Deus. T4 266 4 Certos pastores, que têm sido convidados por chefes de família a visitarem sua casa, têm passado as poucas horas de sua visita isolados num aposento desocupado, satisfazendo sua inclinação de ler e escrever. A família que os hospedava não tirou nenhum benefício de sua estada ali. Os pastores aceitaram-lhes a hospitalidade oferecida, sem lhes dar o equivalente no trabalho de que tanto necessitavam. T4 266 5 O povo é facilmente atingido por meio do círculo social. Mas muitos pastores têm aversão à tarefa de fazer visitas; não cultivaram qualidades sociais, não adquiriram aquele espírito comunicativo que encontra acesso ao coração do povo. É altamente importante que o pastor se misture com seu povo, para se tornar familiarizado com as diferentes fases da natureza humana, prontamente entender o funcionamento da mente, adaptar seus ensinos ao intelecto de seu povo e aprender aquela grande caridade possuída somente por aqueles que estudam rigorosamente a natureza e as necessidades dos homens. T4 267 1 Os que se excluem do povo não podem, de modo nenhum, auxiliá-los. Um hábil médico precisa compreender a natureza das várias doenças, e deve possuir conhecimento perfeito do organismo humano. Deve ser pronto a atender os doentes. Sabe que as demoras são perigosas. Quando sua mão experiente segura o pulso do paciente, e ele observa cuidadosamente as particulares indicações da doença, seus conhecimentos prévios o habilitam a determinar a natureza da mesma, e o tratamento necessário para lhe deter o avanço. T4 267 2 Como o médico trata de doenças físicas, assim o pastor ministra à alma doente do pecado. E sua obra é tanto mais importante do que a do médico, quanto a vida eterna é de maior valor que a existência temporal. O pastor depara com infinita variedade de temperamentos, e é dever seu ficar conhecendo os membros das famílias que ouvem seus ensinos, a fim de determinar que meios melhor os influenciarão no rumo certo. T4 267 3 Em vista dessas pesadas responsabilidades, a pergunta será suscitada: "Para essas coisas, quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:16. O coração do obreiro quase desmaiará ao considerar os vários e árduos deveres que lhe competem; mas as palavras de Cristo fortalecem a alma com a segurança confortadora: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. As dificuldades e perigos que ameaçam a segurança daqueles que ele ama, devem torná-lo cuidadoso e circunspecto em sua maneira de lidar com eles, e atento a respeito deles como alguém que deve prestar contas. Deve criteriosamente empregar sua influência em ganhar almas para Cristo e imprimir a verdade sobre as mentes inquiridoras. Deve cuidar para que o mundo, por meio de suas atrações sedutoras, não os desvie de Deus e lhes endureça o coração à influência de Sua graça. T4 268 1 O pastor não deve governar imperiosamente o rebanho a ele confiado, mas ser o seu exemplo e mostrar-lhe o caminho do Céu. Seguindo o exemplo de Cristo, deve interceder com Deus pelo povo sob seu cuidado até que perceba que suas orações são respondidas. Jesus exerceu simpatia humana e divina para com o homem. Ele é nosso exemplo em todas as coisas. Deus é nosso Pai e Governante, e o pastor cristão é o representante de Seu Filho na Terra. Os princípios que regem o Céu devem reger a Terra; o mesmo amor que anima os anjos, a mesma pureza e santidade que reinam no Céu devem, o quanto possível, ser reproduzidos na Terra. Deus considera o pastor como responsável pelo poder que exerce, mas não justifica Seus servos ao perverterem esse poder em arbitrariedade sobre o rebanho ao seu cuidado. T4 268 2 Deus deu aos Seus servos precioso conhecimento de Sua verdade, e deseja que estejam intimamente ligados a Jesus, e mediante simpatia se aproximem de seus irmãos, para que possam fazer-lhes todo o bem que está ao seu alcance. O Redentor do mundo não consultou o próprio prazer, mas andou fazendo o bem. Ele Se ligou intimamente com o Pai para que pudesse levar Sua força unida a exercer influência sobre a alma do ser humano para salvá-lo da ruína eterna. De maneira semelhante devem Seus servos cultivar a espiritualidade se esperam ter êxito em sua obra. T4 268 3 Jesus tanto Se compadeceu dos pobres pecadores que deixou as cortes do Céu e pôs de parte as vestes da realeza, humilhando-Se à condição do ser humano, para que pudesse familiarizar-Se com as necessidades do homem e ajudá-lo a erguer-se acima da degradação da queda. Quando Ele tem oferecido ao homem tão inquestionável evidência de Seu amor e mais terna simpatia, quão importante é que Seus representantes imitem Seu exemplo em aproximar-se dos semelhantes, e ajudá-los a formar um verdadeiro caráter cristão. Mas alguns têm estado demasiado prontos a se ocupar em julgamentos da igreja, e têm trazido testemunho severo e implacável contra os que erram. Ao assim agir, têm cedido a uma propensão natural que devia ter sido firmemente subjugada. Essa não é a serena justiça do cristão ativo, mas a crítica áspera de um temperamento precipitado. T4 269 1 As igrejas precisam de educação mais do que de censura. Em vez de acusá-las com excesso de severidade por sua falta de espiritualidade e negligência do dever, o pastor deve, por preceito e exemplo, ensinar-lhes a crescer em graça e conhecimento da verdade. "Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a Palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:25-29. T4 269 2 Nossos pastores que atingiram a idade de quarenta ou cinqüenta anos não devem achar que seu trabalho é menos eficiente do que em tempos passados. Os homens de idade e experiência são justamente os que devem exercer vigorosos e bem dirigidos esforços. De modo especial são eles necessários neste tempo; as igrejas não podem dispensá-los. Não devem os tais falar de fraqueza física e mental, nem achar que o seu tempo de utilidade passou. T4 269 3 Muitos deles têm sofrido por árduo esforço mental, não aliviado por exercício físico. O resultado é a deterioração de suas energias e a tendência para eximir-se a responsabilidades. O que eles necessitam é mais trabalho ativo. Isto não se restringe apenas àqueles cuja cabeça está embranquecida pela neve do tempo, mas homens jovens em idade têm caído no mesmo estado e se têm tornado mentalmente enfraquecidos. Eles têm uma lista de sermões prontos; mas, se forem além dos limites destes, perdem o seu controle. T4 269 4 O pastor dos velhos tempos, que viajava em lombo de burro e passava muito tempo visitando o seu rebanho, possuía muito melhor saúde, a despeito de suas privações e de estar exposto, do que nossos pastores de hoje, que evitam todo exercício físico possível e se limitam a seus livros. T4 270 1 Os pastores idosos e experientes devem sentir que é seu dever, como servos assalariados de Deus, avançar, progredindo dia a dia, tornando-se continuamente mais eficientes em seu trabalho, e arranjando constantemente assuntos novos para apresentar ao povo. Cada esforço para expor o evangelho deve ser melhor que o precedente. Cada ano devem desenvolver piedade mais profunda, espírito mais compassivo, maior espiritualidade e conhecimento mais completo da verdade bíblica. Quanto maior sua idade e experiência, mais próximos devem eles ser capazes de chegar do coração das pessoas, possuindo um mais perfeito conhecimento delas. T4 270 2 Necessitam-se homens para este tempo que não temam erguer a voz pelo direito, seja quem for que se lhes oponha. Devem ser de firme integridade e coragem comprovada. A igreja apela a esses, e Deus procurará com os esforços deles manter todos os ramos do ministério evangélico. ------------------------Capítulo 25 -- Experiência e trabalhos T4 271 2 Minha razão para enviar outro Testemunho para os meus queridos irmãos e irmãs neste tempo é que o Senhor graciosamente Se manifestou a mim, e novamente revelou questões de grande importância àqueles que professam ser observadores dos mandamentos de Deus e esperam a vinda do Filho do homem. Mais de três anos se passaram entre a visão que me foi dada em 3 de Janeiro de 1875, e a recente manifestação do amor e poder de Deus. Antes, porém, de relatar as visões que me foram recentemente reveladas, apresentarei um breve esboço de minha experiência por um ou dois anos passados. T4 271 3 Em 11 de Maio de 1877, saímos de Oakland, Califórnia, para Battle Creek, Michigan. Fui afligida com dor no coração e dificuldade respiratória em minha viagem através da planície. A dificuldade não me deixou quando chegamos a Michigan. Outros ocupavam nossa casa em Battle Creek, e não tínhamos parentes ali para cuidar de nós, e os nossos filhos estavam todos na Califórnia. Contudo, amigos bondosos fizeram o que puderam por mim; mas não me senti no direito de sobrecarregá-los quando já tinham tantos cuidados com suas próprias famílias. T4 271 4 Um telegrama havia sido enviado ao meu marido, solicitando sua presença em Battle Creek para dar atenção a um importante assunto relativo à causa, e mais especialmente para assumir a supervisão do planejamento da construção do grande hospital. Em resposta a esta convocação, ele veio, e empenhou-se zelosamente em pregação, redação, e reuniões de mesa no escritório da Review, no colégio e no hospital, quase sempre trabalhando à noite. Isso o desgastou terrivelmente. Ele sentia a importância dessas instituições, mas principalmente da construção do hospital, em que mais de cinqüenta mil dólares estavam sendo investidos. Sua constante ansiedade mental estava preparando o terreno para um súbito colapso. Ambos sentimos o perigo, e decidimos ir ao Colorado para desfrutar férias e descanso. Enquanto planejando a viagem, uma voz parecia dizer-me: "Revistam-se da armadura. Tenho trabalho para vocês em Battle Creek." A voz parecia tão clara que involuntariamente me voltei para ver quem estava falando. Não vi ninguém; e ante a percepção da presença de Deus, meu coração se desfez em ternura perante Ele. Quando meu marido entrou na sala, narrei-lhe o que passara por minha mente. Nós choramos e oramos juntos. Nossos planos haviam sido feitos para partir em três dias; mas agora todos os planos foram alterados. T4 272 1 Em 30 de maio, os pacientes e o corpo docente do hospital planejaram passar o dia a quase três quilômetros de distância de Battle Creek num belo bosque que margeia o Lago Goguac, e fui instada a estar presente e falar aos pacientes. Se eu tivesse consultado os meus sentimentos, não teria assim me aventurado; mas julguei que talvez isso poderia ser uma parte da obra que eu devia realizar em Battle Creek. Na hora costumeira, mesas foram espalhadas com alimento saudável, que foi partilhado com grande prazer. Às três horas os serviços religiosos foram abertos com oração e cânticos. Eu tinha grande liberdade em falar ao povo. Todos ouviam com o mais profundo interesse. Após terminar de falar, o juiz Graham de Wisconsin, um paciente do hospital, levantou-se e propôs que a palestra fosse impressa e circulasse entre os pacientes e outros para seu benefício moral e físico, para que as palavras faladas naquele dia nunca fossem esquecidas ou desconsideradas. A proposta foi aprovada por voto unânime, e a palestra foi publicada em um pequeno panfleto intitulado: "Os Pacientes do Hospital no Lago Goguac." T4 272 2 O encerramento do ano letivo no colégio de Battle Creek agora estava próximo. Sentia-me muito ansiosa pelos estudantes, muitos dos quais não eram convertidos ou se haviam afastado de Deus. Desejava falar-lhes e empreender esforços por sua salvação antes que voltassem aos seus lares; mas havia estado tão fraca para empenhar-me em trabalho por eles. Após a experiência que relatei, tive toda a evidência de que podia pedir a Deus para suster-me ao trabalhar pela salvação dos estudantes. T4 273 1 Reuniões foram programadas em nossa casa de culto para o benefício dos estudantes. Passei uma semana trabalhando por eles, realizando reuniões todas as noites, inclusive no sábado e primeiro dia da semana. Meu coração foi tocado ao ver a casa de culto quase cheia com os estudantes de nossa escola. Tentei impressionar-lhes com o fato de que uma vida de pureza e oração não lhes seria um obstáculo na obtenção do pleno conhecimento das ciências, mas que removeria muitas barreiras ao seu progresso no conhecimento. Ao se relacionarem com o Salvador eles são levados à escola de Cristo; e se forem estudantes dedicados nesta escola, vício e imoralidade serão eliminados do meio deles. Sendo essas coisas eliminadas, o resultado será aumento de conhecimento. Todos os que se tornam aprendizes na escola de Cristo se distinguem tanto na qualidade como na extensão de sua educação. Apresentei-lhes Cristo como o grande Mestre, a fonte de toda a sabedoria, o maior educador que o mundo já conheceu. T4 273 2 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Salmos 111:10. O conhecimento de Deus e Seus requisitos abrirão o entendimento do aluno para perceber suas responsabilidades para com Deus e o mundo. Para conseguir isso, ele perceberá que seus talentos precisam ser desenvolvidos de modo a produzirem os melhores resultados. Isso não pode ser conseguido a menos que todos os preceitos e princípios da religião estejam ligados à sua educação escolar. Em caso algum deve separar Deus de seus estudos. Na busca de conhecimento, ele está procurando a verdade; e toda a verdade deriva de Deus, a fonte da verdade. Os estudantes que são virtuosos e imbuídos do Espírito de Cristo, assimilarão conhecimento através de todas as suas faculdades. T4 274 1 O colégio de Battle Creek foi estabelecido com a finalidade de ensinar as ciências e ao mesmo tempo levar os estudantes ao Salvador, de quem provém todo o conhecimento verdadeiro. A educação adquirida sem a religião bíblica é despojada de seu verdadeiro brilho e glória. Procurei impressionar os alunos com o fato de que nossa escola deve assumir uma posição mais elevada do ponto de vista educacional do que qualquer outra instituição de ensino, abrindo diante dos jovens mais nobres perspectivas, alvos e objetivos na vida, e educando-os no sentido de ter conhecimento correto do dever humano e dos interesses eternos. O grande objetivo no estabelecimento de nosso colégio era apresentar perspectivas corretas, mostrando a harmonia existente entre a ciência e a religião bíblica. T4 274 2 O Senhor me fortaleceu e abençoou nossos esforços. Um grande número veio à frente para oração. Alguns deles, por falta de vigilância e oração, haviam perdido a fé e a evidência de seu relacionamento com Deus. Muitos testemunharam que ao darem esse passo receberam a bênção de Deus. Como resultado das reuniões, um bom número se apresentou para o batismo. T4 274 3 Sendo que a programação de encerramento do ano escolar seria no Lago Goguac, foi decidido que o batismo seria ali realizado. Os cultos da ocasião foram de profundo interesse à grande congregação reunida, e conduzidos com a devida solenidade, sendo apropriadamente encerrados com esta sagrada cerimônia. Falei no início e no encerramento das reuniões. Meu marido levou quatorze preciosos jovens às águas do belo lago, e os sepultou com o seu Senhor no batismo. Vários dos que se apresentaram como candidatos ao batismo escolheram participar desta cerimônia em seus lares. Assim terminaram as memoráveis atividades desse ano escolar de nossa querida escola. Reuniões de temperança T4 274 4 Mas meu trabalho ainda não estava concluído em Battle Creek. Imediatamente ao retornarmos do lago, fomos fervorosamente solicitados a tomar parte em uma reunião de temperança em massa, esforço muito digno de louvor em andamento entre a melhor parte dos cidadãos de Battle Creek. Esse movimento abrangia o Clube de Reforma de Battle Creek, seiscentos homens, e a União de Temperança das Mulheres Cristãs, duzentas e sessenta. Deus, Cristo, o Espírito Santo e a Bíblia eram palavras familiares entre esses zelosos obreiros. Grande bem já havia sido realizado, e a atividade dos obreiros, o sistema por que trabalhavam e o espírito de suas reuniões prometiam maior bem no futuro. T4 275 1 Foi por ocasião da visita do grande circo Barnum a esta cidade, em 28 de Junho [1877], que as senhoras da União de Temperança das Mulheres Cristãs realizaram algo impressionante em favor da temperança e da reforma. Organizaram um enorme restaurante de temperança para acomodar multidões que se aglomeravam, vindas dos campos, para visitar o circo, evitando assim que visitassem bares e botequins onde estariam expostas a tentações. A enorme tenda, capaz de abrigar cinco mil pessoas, usada pela Associação de Michigan para reuniões campais, foi utilizada na ocasião. Sob o imenso templo de lona foram preparadas quinze ou vinte mesas para a acomodação dos visitantes. T4 275 2 Por convite, o hospital preparou uma vasta mesa bem no centro do grande pavilhão, prodigamente suprida com deliciosos frutos, cereais e vegetais. Essa mesa formava a principal atração e foi mais procurada que qualquer outra. Embora tivesse mais de nove metros de comprimento, ela ficou tão apinhada que foi necessário juntar-lhe outra com uns dois terços do seu tamanho, que também ficou lotada. T4 275 3 Por convite da Comissão Organizadora, o Prefeito Austin, W. H. Skinner, caixa do Primeiro Banco Nacional, e C. C. Peavey, falei na tenda enorme no domingo, 1 de Julho, sobre temperança cristã. Deus me ajudou nessa noite; e se bem que eu falasse noventa minutos, a multidão de cinco mil pessoas escutou em perfeito silêncio. Visita a Indiana T4 276 1 De 9 a 14 de Agosto, assisti à campal em Indiana, acompanhada de minha filha, Mary K. White. Meu marido achava que seria impossível sair de Battle Creek. Nessa reunião o Senhor me fortaleceu para trabalhar mais dedicadamente. Ele me concedeu esclarecimento e poder para apelar ao povo. Ao contemplar os homens e mulheres ali reunidos, nobres em aparência e de influência dominante, e compará-los com o pequeno grupo reunido seis anos antes, composto de pessoas sobretudo pobres e sem instrução, não pude senão exclamar: "Que coisas Deus tem feito!" Números 23:23. T4 276 2 Na segunda-feira eu sofria muito com meus pulmões, tendo contraído um severo resfriado; mas pleiteei com o Senhor para me fortalecer a fim de empreender mais um esforço pela salvação de almas. Fui levantada de minha enfermidade, e abençoada com grande liberdade e poder. Apelei às pessoas para entregarem o coração a Deus. Cerca de cinqüenta vieram à frente para oração. O mais profundo interesse foi manifesto. Quinze pessoas foram sepultadas com Cristo no batismo como resultado da reunião. T4 276 3 Tínhamos planejado assistir às campais de Ohio e do Leste; mas como nossos amigos julgaram que em meu atual estado de saúde seria presunção, decidimos permanecer em Battle Creek. Minha garganta e pulmões me doíam muito, e meu coração ainda estava afetado. Estando a maior parte do tempo em grande sofrimento, coloquei-me sob tratamento no hospital de Battle Creek. Efeitos do excesso de trabalho T4 276 4 Meu marido trabalhou incessantemente para fazer avançar os interesses da causa de Deus nos vários departamentos da obra sediada em Battle Creek. Seus amigos ficaram assustados com a quantidade de trabalho que ele realizou. No sábado de manhã, 18 de Agosto, ele falou em nossa casa de culto. À tarde sua mente foi exercitada severa e criticamente por quatro horas consecutivas, enquanto ouvia a leitura do manuscrito do Spirit of Prophecy, volume 3. A questão era muito interessante e visava despertar profundamente a alma, sendo um relato do julgamento, crucifixão, ressurreição e ascensão de Cristo. Antes de nos conscientizarmos, ele estava muito cansado. Começara a trabalhar no domingo às cinco horas da manhã e continuou trabalhando até à meia-noite. Na manhã seguinte, por volta das seis e meia, foi acometido de tontura e ameaçado de paralisia. Tememos grandemente essa doença terrível; mas o Senhor foi misericordioso e poupou-nos da aflição. Contudo, seu mal-estar foi seguido de grande prostração física e mental; e agora, na verdade, parecia impossível que assistíssemos às campais do Leste, ou que eu a elas assistisse e deixasse meu marido, deprimido em espírito e com saúde debilitada. T4 277 1 Quando meu marido estava assim prostrado, eu disse: "Esta é obra do inimigo. Não devemos submeter-nos ao seu poder. Deus trabalhará em nosso favor." Na quarta-feira tivemos uma sessão especial de oração para que a bênção de Deus repousasse sobre ele e lhe restaurasse a saúde. Também pedimos sabedoria para que pudéssemos conhecer nosso dever com respeito a assistir às campais. O Senhor havia muitas vezes fortalecido nossa fé para irmos adiante e trabalharmos por Ele sob desânimo e enfermidades; e em tais tempos Ele havia maravilhosamente nos preservado e sustentado. Mas nossos amigos insistiram que devíamos descansar, e que parecia incoerente e irrazoável que tentássemos tal viagem, incorrendo em fadiga e exposição à vida nas campais. Nós mesmos tentamos pensar que a causa de Deus haveria de ir adiante da mesma maneira se fôssemos deixados de lado e não participássemos dela. Deus suscitaria outros para realizar Sua obra. T4 277 2 Eu não podia, contudo, encontrar descanso e liberdade com o pensamento de permanecer longe do campo do trabalho. Parecia-me que Satanás estava lutando para restringir meu caminho, impedindo-me de dar meu testemunho e realizar a obra que Deus me dera a cumprir. Estava quase decidida a ir sozinha e fazer a minha parte, confiando em Deus para me dar a necessária força, quando recebemos uma carta do irmão Haskell, em que expressava gratidão a Deus de que o irmão e a irmã White assistiriam à campal da Nova Inglaterra. O Pastor Canright havia escrito que não estaria presente, pois seria incapaz de deixar os seus trabalhos em Danvers, e também que ninguém do grupo poderia ser dispensado da tenda. O Pastor Haskell declarou em sua carta que todos os preparativos haviam sidos feitos para uma grande reunião em Groveland; e que decidira realizar a reunião com a ajuda de Deus, mesmo que tivesse de levá-la avante sozinho. T4 278 1 Novamente levamos a questão ao Senhor em oração. Sabíamos que o poderoso Médico poderia restaurar a saúde tanto ao meu marido quanto a mim, se fosse para a Sua glória fazê-lo. Parecia difícil mover-me, fraca, doente e desanimada, mas às vezes sentia que Deus tornaria a viagem uma bênção para nós dois se fôssemos confiando nEle. Com freqüência surgia em minha mente o pensamento: "Onde está a sua fé? Deus prometeu, 'a tua força será como os teus dias'." Deuteronômio 33:25. T4 278 2 Busquei animar meu marido; ele achou que se eu me sentisse capaz de superar a fadiga e trabalho das campais, seria melhor que eu fosse; mas ele não podia suportar o pensamento de acompanhar-me em sua condição de fraqueza, incapaz de trabalhar, sua mente obscurecida pelo desânimo, e ele mesmo sendo objeto da piedade de seus irmãos. Ele fora capaz de sentar-se bem pouco desde sua súbita crise, e não parecia estar mais forte. Buscou o Senhor vez após vez esperando que haveria uma abertura na nuvem; mas nenhuma luz especial veio. Enquanto a carruagem estava esperando para levar-nos à estação, novamente nos dirigimos ao Senhor em oração, e Lhe rogamos que nos sustivesse em nossa viagem. Ambos decidimos caminhar pela fé, e aventurar tudo segundo as promessas divinas. Essa decisão de nossa parte exigiu considerável fé; mas ao tomarmos nossos assentos no trem, sentimos estar no caminho do dever. Descansamos na viagem e dormimos bem à noite. Reuniões campais T4 278 3 Por volta das oito horas na noite de sexta-feira, chegamos a Boston. Na manhã seguinte tomamos o primeiro trem para Groveland. Chovia torrencialmente quando chegamos ao local das campais. O Pastor Haskell havia trabalhado incessantemente até aquele momento, e excelentes reuniões foram realizadas. Havia quarenta e sete tendas sobre um terreno, além das três grandes tendas, medindo a da congregação 24 por 38 m. As reuniões do sábado foram do mais profundo interesse. A igreja foi reavivada e fortalecida, enquanto os pecadores e apóstatas foram despertados à percepção de seu perigo. T4 279 1 No domingo de manhã o tempo estava ainda nublado; mas antes de chegar a hora do povo se reunir, o sol brilhou. Barcos e trens despejavam no local seus passageiros aos milhares. O Pastor Smith falou na parte da manhã sobre a Questão do Leste. O assunto era de especial interesse, e as pessoas ouviram com a mais profunda atenção. À tarde me foi difícil caminhar até a plataforma em meio à multidão em pé. Ao chegar ali pude ver um mar de cabeças diante de mim. A enorme tenda estava repleta, e milhares ficaram em pé do lado de fora, formando uma parede viva com vários metros de espessura. Meus pulmões e garganta doíam-me muito; mas confiei que Deus me ajudaria nessa importante ocasião. Enquanto falava, meu cansaço e dor foram esquecidos ao perceber que estava falando a um povo que não considerava minhas palavras como delírio. A palestra durou mais de uma hora, e a máxima atenção foi dada durante todo o período. Ao ser cantado o hino final, os oficiais do Clube de Reforma de Temperança de Haverhill me solicitaram, como no ano anterior, que falasse ao seu grupo na noite de segunda-feira. Tendo um compromisso de falar em Danvers, fui obrigada a declinar do convite. T4 279 2 Segunda de manhã tivemos um período de oração em nossa tenda em favor de meu marido. Apresentamos o seu caso ao Grande Médico. Foi um período precioso; a paz do Céu repousou sobre nós. De súbito estas palavras vieram à minha mente: "Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé." 1 João 5:4. Todos sentimos a bênção de Deus repousando sobre nós. Então nos reunimos na grande tenda; meu marido nos encontrou e falou por um breve tempo, proferindo palavras preciosas de um coração suavizado e ardendo com profundo senso da misericórdia e bondade de Deus. Ele se esforçou para fazer com que os que criam na verdade percebessem ser seu privilégio receber a certeza da graça de Deus em seu coração, e que as grandes verdades que cremos devem santificar a vida, enobrecer o caráter, e ter uma influência salvadora sobre o mundo. Os olhos cheios de lágrimas do povo revelavam que seu coração fora tocado e comovido pelo comentário. T4 280 1 Então assumimos o trabalho onde o havíamos deixado no sábado, e a manhã foi gasta em trabalho especial pelos pecadores e apóstatas, dos quais aproximadamente duzentos vieram à frente para oração, desde crianças de dez anos a homens e mulheres de cabelos grisalhos. Mais de vinte destes estavam colocando os pés no caminho da vida pela primeira vez. À tarde, trinta e oito pessoas foram batizadas; e várias outras adiaram seu batismo até retornarem ao seu lar. T4 280 2 Na segunda à noite, em companhia do Pastor Canright e vários outros, tomei o trem para Danvers. Meu marido não foi capaz de me acompanhar. Quando fiquei livre da pressão imediata da campal, percebi que estava doente, e tinha bem pouca força; contudo, o trem estava rapidamente nos transportando para meu compromisso em Danvers. Ali devia erguer-me perante pessoas totalmente estranhas, cuja mente havia sido prejudicada por falsos testemunhos e calúnias perversas. Pensei que se tivesse força pulmonar, clareza de voz e estivesse livre da dor no coração, seria muito grata a Deus. Esses pensamentos e sentimentos guardei comigo mesma, e em grande angústia apelei silenciosamente a Deus. Eu estava muito cansada para organizar meus pensamentos em palavras coerentes; mas julguei que devia conseguir ajuda, e a pedi de todo o coração. Precisava ter força física e mental se é que falaria naquela noite. Disse repetidamente em minha oração silenciosa: "Coloco minha alma indefesa sobre ti, ó Deus, meu libertador. Não me abandones nesta hora de minha necessidade." T4 280 3 Ao aproximar-se o momento da reunião, meu espírito lutava em angustiosa oração por força e poder de Deus. Enquanto o último hino estava sendo cantado, dirigi-me ao púlpito. Levantei-me em grande fraqueza, sabendo que se qualquer grau de êxito acompanhasse meus esforços, seria através da força do Todo-poderoso. O Espírito do Senhor repousou sobre mim ao tentar falar. Senti-O como um choque de eletricidade sobre meu coração, e toda dor foi instantaneamente removida. Eu havia sofrido grande dor nos centros nervosos do cérebro; isso também foi inteiramente removido. Minha garganta irritada e pulmões feridos foram aliviados. Meu braço e mãos esquerdos tinham se tornado quase sem utilidade em conseqüência da dor no coração; mas o sentimento natural agora estava restaurado. Minha mente estava clara; minha alma cheia da luz e amor de Deus. Anjos de Deus pareciam estar de todos os lados, como uma muralha de fogo. T4 281 1 A tenda estava cheia, e cerca de duzentas pessoas permaneciam em pé fora da cobertura, incapazes de encontrar lugar dentro. Falei sobre as palavras de Cristo em resposta à pergunta do doutor da lei acerca de qual era o grande mandamento da lei: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento." Mateus 22:37. A bênção de Deus repousou sobre mim, e minha dor e fraqueza me deixaram. Perante mim estava um grupo de pessoas às quais eu poderia não encontrar novamente até o juízo; e o desejo por sua salvação levou-me a falar ardentemente e no temor de Deus, para que eu pudesse ser livre do sangue delas. Grande liberdade acompanhou meu esforço, que ocupou uma hora e dez minutos. Jesus foi o meu ajudador, e Seu nome receberá toda a glória. O auditório estava muito atento. T4 281 2 Retornamos a Groveland na terça-feira para encontrar o acampamento sendo desmontado, tendas sendo baixadas, nossos irmãos se despedindo, prontos para embarcar no trem e retornar a seus lares. Esta foi uma das melhores campais a que eu já assisti. Antes de deixar o local, os Pastores Canright e Haskell, meu marido, a irmã Ings e eu buscamos um lugar retirado no bosque e nos unimos em oração para que a bênção da saúde e a graça de Deus repousasse mais abundantemente sobre meu marido. Todos sentimos profundamente a necessidade da ajuda de meu marido, quando tantos chamados urgentes para pregação vinham de todos os lados. Esse período de oração foi muito precioso; e a doce paz e alegria que nos sobrevieram foram nossa segurança de que Deus ouvira nossas petições. À tarde, o Pastor Haskell nos levou em sua carruagem, e partimos para South Lancaster para repousar em sua casa por algum tempo. Preferimos esta forma de viajar, julgando que seria benéfica para nossa saúde. T4 282 1 Tínhamos conflitos diários com os poderes das trevas; mas não renunciamos a nossa fé nem nos tornamos desanimados. Meu marido, por causa da doença, estava deprimido, e as tentações de Satanás pareciam perturbar-lhe a mente em grande medida. Mas não tínhamos pensamentos de ser vencidos pelo inimigo. Pelo menos três vezes ao dia apresentamos o seu caso ao Grande Médico, que pode curar tanto a alma quanto o corpo. Cada período de oração nos era muito precioso; em todas as ocasiões tivemos manifestações especiais da luz e amor de Deus. Certa noite, na casa do irmão Haskell, enquanto pleiteávamos com Deus em favor de meu marido, o Senhor parecia estar entre nós naquele exato momento. Foi uma ocasião que nunca será esquecida. A sala parecia estar iluminada com a presença de anjos. Louvamos ao Senhor de todo o coração e com nossas vozes. Uma irmã cega presente disse: "É isto uma visão? É este o Céu?" Nosso coração estava em tão íntima comunhão com Deus que sentimos que o momento era demasiado sagrado para ser esquecido durante as horas de sono. Fomos descansar; mas quase passamos a noite inteira falando e meditando sobre a bondade e amor de Deus, e glorificando-O com regozijo. T4 282 2 Decidimos viajar por transporte particular uma parte do caminho para a campal de Vermont, por acharmos que seria benéfico ao meu marido. Ao meio-dia paramos à beira da estrada, acendemos um fogo, preparamos o nosso almoço e tivemos um período de oração. Essas horas preciosas passadas em companhia do irmão e irmã Haskell, irmãs Ings e Huntley nunca serão esquecidas. Nossas orações ascenderam a Deus por todo o caminho desde South Lancaster até Vermont. Após viajar por três dias, tomamos o trem e assim completamos nossa viagem. T4 282 3 Essa reunião foi de benefício especial à causa em Vermont. O Senhor me deu força para falar ao povo uma vez por dia. Apresento o seguinte relato do Pastor Urias Smith acerca da reunião, publicado na Review and Herald. T4 283 1 "O irmão e irmã White e o irmão Haskell estavam nessa reunião, para grande alegria dos irmãos. No sábado, 8 de Setembro, o dia designado para jejum, com referência especial ao estado de saúde do irmão White, foi observado na campal. Foi um bom dia. Havia liberdade para orar, e bons sinais de que essas orações não foram em vão. A bênção do Senhor estava em grande medida com Seu povo. No sábado à tarde, a irmã White falou com grande facilidade e desempenho. Cerca de cem pessoas vieram à frente para as orações, manifestando profundo sentimento e ardente propósito de buscar ao Senhor." T4 283 2 Fomos diretamente de Vermont para a campal de Nova Iorque. O Senhor me deu grande facilidade para falar ao povo. Alguns, porém, não estavam preparados para ser beneficiados pela reunião. Deixaram de perceber sua condição, e não buscaram ao Senhor zelosamente, confessando sua apostasia e abandonando seus pecados. Um dos grandes objetivos das campais é fazer com que nossos irmãos sintam o perigo de estar sobrecarregados pelos cuidados desta vida. Uma grande perda é acarretada quando esses privilégios não são aproveitados. T4 283 3 Retornamos a Michigan, e dentro de poucos dias fomos para Lansing para assistir à campal de lá, que prosseguiu por duas semanas. Ali trabalhei muito zelosamente, e fui sustentada pelo Espírito do Senhor. Fui grandemente abençoada ao falar aos estudantes e trabalhar por sua salvação. Essa foi uma reunião notável. O Espírito de Deus estava presente desde o início até o fim. Como resultado da reunião, cento e trinta pessoas foram batizadas. Grande parte delas se constituía de estudantes de nosso colégio. Regozijamo-nos em ver a salvação de Deus nessa reunião. Após passar algumas semanas em Battle Creek, decidimos cruzar a planície para a Califórnia. Trabalhos na Califórnia T4 283 4 Meu marido trabalhou bem pouco na Califórnia. Sua recuperação parecia demorada. Nossas orações ascendiam ao Céu de três a cinco vezes ao dia; e a paz de Deus freqüentemente repousava sobre nós. Eu não estava desanimada nem um pouco. Não conseguindo dormir muito à noite, grande parte do tempo era gasta em oração e grato louvor a Deus por Suas misericórdias. Senti a paz de Deus dominando constantemente meu coração, e pude dizer verdadeiramente que tinha "paz como um rio". Isaías 48:18. Provações imprevisíveis e inesperadas me sobrevieram, as quais, além da doença de meu marido, quase me esgotaram. Mas minha confiança e apego a Deus estavam inamovíveis. Ele era realmente uma ajuda presente em todo tempo de necessidade. T4 284 1 Visitamos Healdsburg, St. Helena, Vacaville e Pacheco. Meu marido me acompanhava quando o tempo era favorável. O inverno nos foi particularmente difícil. Como meu marido havia melhorado de saúde e o clima de Michigan tinha se tornado ameno, retornamos para ser tratados no hospital. Ali ele recebeu grande benefício, e voltou a escrever para nossos periódicos com sua clareza e força costumeiras. T4 284 2 Não ousei acompanhar meu marido através da planície; pois constante cuidado e ansiedade e a impossibilidade de dormir tinham acarretado a meu coração problemas alarmantes. Sentimos profundamente a hora da separação aproximar-se. Foi impossível dominar nossas lágrimas; pois não sabíamos se poderíamos nos encontrar novamente neste mundo. Meu marido estava retornando para Michigan, e tínhamos decidido que era aconselhável que eu visitasse Oregon, e levasse o meu testemunho àqueles que nunca me haviam ouvido. T4 284 3 Deixei Healdsburg rumo a Oakland em 7 de Junho, e encontrei os membros das igrejas de Oakland e São Francisco na grande tenda em São Francisco, onde o irmão Healey tinha estado trabalhando. Senti a responsabilidade do testemunho e a grande necessidade de perseverante esforço pessoal da parte dessas igrejas para levar a outros o conhecimento da verdade. Foi-me mostrado que São Francisco e Oakland eram e sempre seriam campos missionários. Seu aumento de número seria vagaroso; mas se todos nessas igrejas fossem membros ativos e fizessem o que pudessem para levar a luz a outros, muitos mais seriam trazido às fileiras e obedeceriam à verdade. Os atuais crentes na verdade não estavam interessados como deviam na salvação de outros. Sua inatividade e indolência na causa de Deus os levariam a afastar-se de Deus, e por seu exemplo prejudicariam outros a seguir avante. O esforço altruísta, perseverante e ativo propiciaria os melhores resultados. Tentei impressioná-los com aquilo que o Senhor me havia apresentado. Ele desejava que a verdade fosse apresentada a outros por obreiros zelosos e ativos, não por aqueles que meramente professavam nela crer. Não deviam apresentar a verdade meramente em palavras, mas por uma vida circunspecta, sendo vivos representantes da verdade. T4 285 1 Foi-me mostrado que aqueles que compunham essas igrejas deviam ser estudantes da Bíblia, analisando a vontade de Deus com muito zelo a fim de que pudessem aprender a ser obreiros na causa de Deus. Deviam semear as sementes da verdade onde quer que estivessem, em casa, na oficina, no mercado, bem como na casa de reuniões. Para que se tornassem familiarizados com a Bíblia, deviam lê-la cuidadosamente e com oração. A fim de se lançarem, bem como as suas cargas, sobre Cristo, deviam começar imediatamente a estudar para perceber o valor da cruz de Cristo e aprender a carregá-la. Se era para viverem vida santa, deviam agora ter o temor de Deus diante deles. T4 285 2 É a provação que nos leva a ver o que somos. É o período da tentação que nos dá um lampejo do verdadeiro caráter de alguém, e mostra a necessidade de cultivar bons traços. Confiando na bênção de Deus, o cristão está seguro em qualquer parte. Na cidade ele não será corrompido. Na sala do tribunal será destacado por seus hábitos de estrita integridade. Na oficina mecânica todo seu trabalho será feito com fidelidade, visando unicamente a glória de Deus. Quando essa conduta for seguida individualmente por seus membros, a igreja terá êxito. A prosperidade nunca acompanhará essas igrejas a menos que os membros individuais estejam intimamente ligados com Deus, tendo interesse altruísta na salvação de seus semelhantes. Os pastores podem pregar sermões aprazíveis e convincentes, e fazer muito esforço para edificar a igreja e fazê-la prosperar; mas a menos que seus membros façam individualmente sua parte como servos de Jesus Cristo, a igreja estará sempre em trevas e sem forças. Endurecido e tenebroso como se acha o mundo, a influência de um exemplo verdadeiramente coerente será uma força para o bem. T4 286 1 Tanto poderia uma pessoa esperar ser salva na indolência, quanto poderia esperar colher onde nunca semeou ou obter conhecimento que nunca buscou. Um preguiçoso e passivo nunca terá êxito em se desfazer do orgulho e vencer o poder da tentação às condescendências pecaminosas que o separam de seu Salvador. A luz da verdade ao santificar a vida revelará ao recebedor as paixões pecaminosas de seu coração que estão lutando por domínio, tornando-lhe necessário esforçar cada nervo e utilizar todas as suas forças para resistir a Satanás, a fim de que possa vencer através dos méritos de Cristo. Quando rodeado por influências destinadas a conduzi-lo para longe de Deus, suas petições por ajuda e força de Jesus devem ser incansáveis a fim de que você possa vencer os ardis de Satanás. T4 286 2 Alguns nessas igrejas estão em constante perigo por causa dos cuidados desta vida, e pensamentos mundanos tanto ocupam sua mente que não podem pensar em Deus ou no Céu, nem nas necessidades da própria alma. Eles despertam de seu estupor de vez em quando, mas voltam a cair em profundo sono. A menos que se despertem plenamente de seus cochilos, Deus retirará a luz e bênçãos que lhes têm concedido. Em Sua ira removerá o castiçal de seu lugar. Ele fez essas igrejas depositárias de Sua lei. Se rejeitarem o pecado, e por fidelidade ativa e zelosa, mostrarem estabilidade e submissão aos preceitos da Palavra de Deus, e forem fiéis no cumprimento do dever religioso, ajudarão a firmar o castiçal em seu lugar, e terão a evidência de que o Senhor dos Exércitos está com eles, e o Deus de Jacó é o seu refúgio. Visita a Oregon T4 286 3 Domingo, 10 de Junho, o dia em que devíamos partir para Oregon, eu estava prostrada com problemas no coração. Meus amigos acharam que seria quase um atrevimento eu tomar o navio; mas pensei que poderia descansar uma vez que chegasse a bordo. Planejei escrever muito durante a viagem. T4 287 1 Em companhia de uma amiga e do Pastor J. N. Loughborough, deixei São Francisco na tarde do dia 10, no vapor Oregon. O Capitão Conner, que tinha o encargo desse esplêndido navio, foi muito atencioso para com seus passageiros. Ao passarmos pelo Golden Gate entrando em mar aberto, as águas estavam muito agitadas. O vento era contra nós e o navio era açoitado assustadoramente, enquanto o oceano se tornava furioso por causa do vento. Observei o céu nublado, as ondas ruidosas subindo como montanhas elevadas e as gotículas de água refletindo as cores do arco-íris. A visão era tremendamente grandiosa, e enchi-me de reverência enquanto contemplava os mistérios do mar. Ele é terrível em sua ira. Há uma tremenda beleza no elevar de suas orgulhosas e ruidosas ondas, e então o desabar em soluços queixosos. Pude ver a manifestação do poder de Deus nos movimentos das águas agitadas, frementes sob a ação dos ventos implacáveis, que lançavam as ondas em grande altitude como se em convulsões de agonia. T4 287 2 Estávamos num lindo navio, arrojado à mercê das ondas continuamente agitadas, contudo um poder invisível mantinha firme mão sobre as águas. Deus somente tem poder para mantê-las dentro de seus designados limites. Ele pode suster as águas como na palma de Sua mão. O mar obedecerá à voz de seu Criador: "Até aqui virás e não mais adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas." Jó 38:11. Que assunto para reflexão era o vasto e grandioso Oceano Pacífico! Em aparência era o próprio oposto de pacífico; era loucura e fúria. Ao examinarmos superficialmente a água, nada parece tão tremendamente incontrolável, tão inteiramente sem lei ou ordem, como o grande mar. Mas a lei de Deus é obedecida pelo oceano. Ele equilibra as águas, e assinala o seu leito. Ao contemplar os céus acima e as águas abaixo, indaguei: "Onde estou? Para onde estou indo? Nada mais do que águas ilimitadas me rodeiam. Quantos assim embarcaram sobre as águas e nunca mais viram os verdes campos nem seu lar feliz! Caíram nas profundezas como um grão de areia, e assim findaram a existência." T4 288 1 Ao contemplar os estrondosos vagalhões espumejantes, lembrei-me daquela cena na vida de Cristo, quando os discípulos em obediência à ordem de seu Mestre entraram nos barcos para passar à outra extremidade do mar. Uma terrível tempestade desabou sobre eles. O barco deles não lhes obedecia à vontade, e foram levados de um lado para outro, até que em desespero depuseram os remos. Esperavam perecer ali; mas enquanto a tempestade e as ondas falavam de morte, Cristo, a quem haviam deixado do outro lado, apareceu-lhes, caminhando calmamente sobre as encapeladas ondas espumejantes. Eles haviam ficado desorientados por seus esforços inúteis e pela evidente desesperança de seu caso, dando tudo por perdido. Quando viram Jesus perante eles sobre a água, o seu temor aumentou; interpretaram aquilo como algum seguro precursor de sua morte imediata. Gritaram com grande medo. Mas em lugar de Sua aparência prenunciar a presença da morte, Ele veio como mensageiro da vida. Sua voz foi ouvida acima do rugir dos elementos: "Sou Eu; não temais." Mateus 14:27. Quão rapidamente a cena agora mudou do horror de desespero para a alegria da fé e esperança na presença do amado Mestre! Os discípulos não sentiram mais ansiedade nem pavor da morte, pois Cristo estava com eles. T4 288 2 Recusaremos obediência à Fonte de todo poder, cuja ordem até o mar e as ondas obedecem? Temerei confiar-me à proteção dAquele que disse que nenhum pardal cai ao chão sem ser notado por nosso Pai celestial? T4 288 3 Quando quase todos haviam voltado para os seus camarotes, continuei no convés. O capitão providenciara para mim uma cadeira de vime para reclinar, e cobertores para servir-me como proteção contra o ar frio. Eu sabia que se fosse para o camarote, me sentiria mal. A noite caiu, as trevas cobriram o mar e as ondas arremessavam nosso navio de um lado para outro assustadoramente. Esse grande barco era apenas uma pequena lasca sobre as águas impiedosas; mas a embarcação era guardada e protegida em seu percurso por anjos celestiais, comissionados por Deus para cumprir Suas ordens. Não fosse por isso, poderíamos ter sido engolidos num instante, sem deixar qualquer indício daquele suntuoso navio. Mas o Deus que alimenta os corvos, que conta os cabelos de nossa cabeça, não nos esquecerá. T4 289 1 O capitão achou que estava demasiado frio para eu permanecer no convés. Eu lhe disse que no que dizia respeito a minha segurança, eu preferia permanecer ali toda a noite a ir para meu camarote, onde duas mulheres estavam com enjôo, e onde eu seria privada de ar puro. Ele disse: "A senhora não precisará voltar para seu camarote. Eu lhe providenciarei um bom lugar para dormir." Ajudada pela camareira, fui levada a um salão superior, e um colchão de crina foi colocado sobre o assoalho. Embora isso fosse realizado no tempo mais rápido possível, fiquei muito doente. Deitei em meu colchão, e não me levantei dele até na manhã da quinta-feira seguinte. Durante esse tempo comi somente uma vez, umas poucas colheradas de caldo de carne e bolachas. T4 289 2 Durante aquela viagem de quatro dias, um ou outro ocasionalmente se aventurava a sair de seus quartos, pálidos, fracos, cambaleantes e seguiam para o convés. A infeliz condição estava registrada em cada semblante. A própria vida não parecia desejável. Todos ansiávamos pelo descanso que não podíamos encontrar, e ver algo que permanecesse no lugar. A importância pessoal não era então levada muito em conta. Aqui podemos aprender uma lição sobre a pequenez do ser humano. T4 289 3 Nossa viagem prosseguiu muito penosamente até que passamos a barra, e entramos no rio Columbia, que estava muito tranqüilo. Recebi ajuda para ir até o convés. Era uma linda manhã, e os passageiros apareceram no convés como um enxame de abelhas. A princípio era um grupo de aparência muito triste; mas o ar revigorante e o alegre brilho do sol, após o vento e a tempestade, logo despertaram alegria e contentamento. T4 289 4 A última noite em que estivemos no barco me senti muito grata a meu Pai celestial. Ali aprendi uma lição que nunca esquecerei. Deus havia falado ao meu coração através da tempestade, das ondas e da calmaria que se seguiu. E não O adoraremos? Colocará o homem a própria vontade contra a vontade de Deus? Seremos desobedientes aos mandamentos de um Soberano tão poderoso? Contenderemos com o Altíssimo, que é a fonte de todo o poder, e de cujo coração procedem infinito amor e bênçãos às criaturas sob Seu cuidado? T4 290 1 Minha visita a Oregon foi de especial interesse. Ali encontrei, após uma separação de quatro anos, meus queridos amigos, irmão e irmã Van Horn, que consideramos como nossos filhos. O irmão Van Horn não forneceu relatórios tão completos e favoráveis de seu trabalho como, por justa razão, devia ter feito. Fiquei um tanto surpresa e muito contente por encontrar a causa de Deus em condição tão próspera em Oregon. Por intermédio dos incansáveis esforços desses missionários fiéis, uma Associação de Adventistas do Sétimo Dia foi organizada, e também vários pastores enviados para trabalhar naquele amplo campo. T4 290 2 Terça-feira à noite, em 18 de Junho, encontrei um bom número de observadores do sábado nesse Estado. Meu coração foi suavizado pelo Espírito de Deus. Apresentei meu testemunho por Jesus, e expressei minha gratidão pelo grande privilégio que temos de confiar em Seu amor e reivindicar Seu poder para unir aos nossos esforços de salvar almas da perdição. Se quisermos ver a obra de Deus prosperar, devemos ter Cristo habitando em nós; em resumo, devemos praticar as obras de Cristo. Onde quer que olhemos, o campo está branco para a ceifa; mas os obreiros são tão poucos. Senti meu coração cheio da paz de Deus, e atraído em amor àquele querido povo com quem adorei pela primeira vez. T4 290 3 Domingo, 23 de Junho [1873], falei na igreja metodista de Salém [Oregon] sobre temperança. A assistência foi extraordinariamente boa, e senti-me à vontade ao apresentar este meu assunto favorito. Fui solicitada a falar outra vez no mesmo lugar no domingo após a reunião campal, mas fui impedida por encontrar-me rouca. Mas na noite da terça-feira seguinte, falei novamente nessa igreja. Recebi muitos convites para falar sobre temperança em várias cidades e vilas de Oregon, mas meu estado de saúde me impediu de atender a essas solicitações. O constante falar e a mudança de clima haviam me causado uma temporária mas severa rouquidão. T4 291 1 Começamos a campal com sentimentos de profundo interesse. O Senhor me deu força e graça enquanto me erguia perante o povo. Ao contemplar o inteligente auditório, meu coração foi quebrantado perante Deus. Essa era a primeira campal realizada por nosso povo nesse Estado. Tentei falar, mas minhas palavras foram interrompidas pelo choro. Estava me sentindo muito ansiosa a respeito de meu marido, por causa de sua precária saúde. Enquanto eu falava, uma reunião na igreja de Battle Creek surgiu de modo vívido em minha mente, e meu marido estava no centro, com a suave luz do Senhor repousando sobre ele e o circundando. Seu semblante apresentava sinais de saúde, e ele estava aparentemente muito feliz. T4 291 2 Tentei apresentar perante o povo a gratidão que devemos sentir pela terna compaixão e grande amor de Deus. Sua bondade e glória me impressionaram a mente de modo notável. Fui dominada pela percepção de Suas incomparáveis misericórdias, e da obra que Ele estava realizando, não somente em Oregon, Califórnia e Michigan, onde nossas importantes instituições estão localizadas, mas também em países estrangeiros. Não consigo reproduzir a outros a cena que me impressionou a mente de modo tão vívido naquela ocasião. Por um momento, a extensão da obra passou perante mim, e perdi de vista o que me circundava. A ocasião e o povo ao qual eu me estava dirigindo desapareceram da minha mente. A luz, a preciosa luz do Céu, estava brilhando em grande esplendor sobre aquelas instituições que estão empenhadas na solene e elevada obra de refletir os raios de luz que o Céu tem feito brilhar sobre elas. T4 291 3 Durante todo esse acampamento, o Senhor parecia muito próximo de mim. Quando ele terminou, eu estava excessivamente cansada, mas livre no Senhor. Foi uma ocasião de proveitoso esforço, e fortaleceu a igreja para prosseguir em sua luta pela verdade. Pouco antes da campal começar, no período noturno, muitas coisas me foram apresentadas em visão, mas me foi recomendado silêncio; eu não devia mencionar o assunto a ninguém naquela ocasião. Depois da reunião, no período da noite, tive outra notável manifestação do poder de Deus. T4 292 1 No domingo que se seguiu à campal, falei à tarde em praça pública. O amor de Deus estava em meu coração, e demorei-me sobre a simplicidade da religião evangélica. Meu próprio coração foi comovido e transbordava com o amor de Jesus, e ansiei apresentá-Lo de modo que todos pudessem se encantar com a beleza de Seu caráter. T4 292 2 Durante minha permanência em Oregon, visitei a prisão em Salém, em companhia do irmão e irmã Carter e da irmã Jordan. Quando chegou o momento para o culto, fomos conduzidos à capela, que se tornara alegre pela abundância de luz e ar fresco e puro. A um toque do sino, dois homens abriram os grandes portões de ferro, e os presos afluíram em grande número. As portas foram fechadas com segurança atrás deles, e pela primeira vez em minha vida me vi encerrada entre as paredes de uma prisão. T4 292 3 Esperava ver um grupo de homens de aparência repulsiva, mas me desapontei; muitos deles pareciam inteligentes, e alguns habilidosos. Estavam vestidos em uniformes rústicos mas limpos, o cabelo aparado e as botas escovadas. Ao contemplar as variadas fisionomias perante mim, pensei: "A cada um desses homens foram atribuídos talentos ou dons peculiares para serem empregados para a glória de Deus e o benefício do mundo; mas eles desprezaram esses dons do Céu, e abusaram deles e os aplicaram mal." Ao contemplar jovens de dezoito a vinte ou trinta anos de idade, pensei em suas infelizes mães, e na dor e remorso que eram a sua amarga sorte. O coração de muitas dessas mães havia sido quebrantado pela ímpia conduta de seus filhos. Mas haviam elas cumprido o seu dever para com esses filhos? Não teriam elas permitido que seguissem as próprias inclinações e desejos, negligenciando ensinar-lhes os estatutos de Deus e Suas reivindicações sobre eles? T4 292 4 Quando todo o grupo estava reunido, o irmão Carter ensinou um hino. Todos tinham coletâneas e se uniram alegremente em cântico. Um deles, que era músico competente, tocou o órgão. Então iniciei a reunião com oração, e novamente todos se uniram em cântico. Falei acerca das palavras de João: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é." 1 João 3:1, 2. T4 293 1 Exaltei perante eles o infinito sacrifício feito pelo Pai ao dar Seu amorável Filho pelos homens caídos, a fim de que pudessem, através da obediência, ser transformados, tornando-se reconhecidos filhos de Deus. A igreja e o mundo são chamados a contemplar e admirar um amor que, assim expresso, está além da compreensão humana, e que causa admiração aos próprios anjos do Céu. Esse amor é tão profundo, tão amplo, tão elevado, que o inspirado apóstolo, não podendo achar linguagem para descrevê-lo, apela à igreja e ao mundo para contemplá-lo -- torná-lo terna de contemplação e admiração. T4 293 2 Apresentei perante os meus ouvintes o pecado de Adão na transgressão das expressas ordens do Pai. Deus fez o homem reto, perfeitamente santo e feliz; mas ele perdeu o favor divino e destruiu sua própria felicidade pela desobediência à lei do Pai. O pecado de Adão mergulhou o ser humano em miséria e desespero sem medida. Deus, porém, em Seu amor maravilhoso e piedoso, não deixou os homens a perecer sem esperança em sua condição caída. Ele ofereceu Seu amado Filho para a salvação deles. Cristo entrou no mundo, com Sua divindade revestida em humanidade; passou pela situação em que Adão caiu; suportou a prova que Adão deixou de suportar; venceu cada tentação de Satanás, e assim redimiu a vergonhosa falha e queda de Adão. T4 293 3 Referi-me, então, ao longo jejum de Cristo no deserto. O pecado de condescendência com o apetite e seu poder sobre a natureza humana nunca podem ser plenamente percebidos, exceto quando aquele longo jejum de Cristo, ao contender sozinho com o príncipe dos poderes das trevas, é estudado e entendido. A salvação do homem estava em jogo. Quem sairia vitorioso, Satanás ou o Redentor do mundo? É-nos impossível conceber com que intenso interesse os anjos de Deus assistiam à prova de seu amado Comandante. T4 294 1 Jesus foi tentado em todos os pontos em que nós o somos, para que soubesse como socorrer os que são tentados. Sua vida é nosso exemplo. Ele mostra, por Sua voluntária obediência, que o homem pode guardar a lei de Deus, e que é a transgressão da lei, não a obediência a ela, que leva à escravidão. O Salvador era pleno de compaixão e amor; Ele nunca desprezou aquele que é verdadeiramente penitente, embora grande seja a sua culpa; mas condenou severamente toda sorte de hipocrisia. Ele está familiarizado com os pecados dos homens, conhece todos os seus atos e lê seus motivos secretos; entretanto, não Se desvia deles em sua iniqüidade. Pleiteia e arrazoa com o pecador, e num sentido -- o de ter Ele mesmo levado as fraquezas da humanidade -- Se coloca no mesmo nível dele. "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã." Isaías 1:18. T4 294 2 O homem, que desfigurou a imagem de Deus em sua alma por uma vida corrupta, não pode mediante simples esforço efetuar radical mudança em si mesmo. Ele precisa aceitar as provisões do evangelho; tem de reconciliar-se com Deus através da obediência à Sua lei e fé em Jesus Cristo. Sua vida daí em diante precisa ser governada por um novo princípio. Mediante o arrependimento, fé e as boas obras, ele pode aperfeiçoar um caráter justo e reivindicar pelos méritos de Cristo os privilégios dos filhos de Deus. Os princípios da verdade divina, recebidos e acolhidos no coração, levar-nos-ão a uma altura de excelência moral que não imaginamos ser possível alcançar. "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:2, 3. T4 294 3 Aqui está uma obra que o homem deve fazer. Ele precisa olhar-se no espelho, a lei de Deus, discernir os defeitos do seu caráter moral, e abandonar seus pecados, lavando a vestidura do caráter no sangue do Cordeiro. Inveja, orgulho, malícia, dolo, conflitos e crimes serão excluídos do coração que é um recipiente do amor de Cristo e que acalenta a esperança de ser como Ele, quando O veremos tal qual é. A religião de Cristo refina e dignifica o seu possuidor, não importa quais sejam suas associações ou estágio de vida. Homens que se tornam cristãos iluminados se erguem acima do nível de seu caráter anterior, passando a ter maior força moral e mental. Os caídos e degradados pelo pecado e o crime podem, mediante os méritos do Salvador, ser exaltados a uma posição apenas um pouco abaixo da dos anjos. T4 295 1 Mas a influência de uma esperança evangélica não levará o pecador a considerar a salvação de Cristo como questão de livre graça, enquanto ele continua a viver em transgressão da lei de Deus. Quando a luz da verdade raiar em sua mente, e ele compreender plenamente os reclamos de Deus e a extensão de sua transgressão, reformará os seus caminhos, tornar-se-á leal a Deus graças à força obtida de seu Salvador, e passará a levar uma vida nova e mais pura. T4 295 2 Enquanto em Salém, travei conhecimento com o irmão e a irmã Donaldson, os quais desejavam que sua filha retornasse a Battle Creek conosco, e freqüentasse o Colégio. A saúde dela era fraca, e foi difícil para eles a separação dela, a única filha; mas as vantagens espirituais que receberia os induziam a fazer o sacrifício. E estamos felizes em aqui declarar que, na recente campal em Battle Creek, essa querida filha foi sepultada com Cristo através do batismo. Aqui está outra prova da importância de os adventistas do sétimo dia enviarem seus filhos para nossas escolas, onde podem estar diretamente sob uma influência salvadora. T4 295 3 Nossa viagem saindo de Oregon foi penosa; porém, eu não estava tão doente como em minha viagem anterior. Esse barco, o "Idaho", não era arremessado, mas inclinava-se de um lado para o outro. Fomos tratados muito bondosamente no navio. Fizemos muitas agradáveis amizades, e distribuímos nossas publicações a diferentes pessoas, o que conduzia a conversação proveitosa. Quando chegamos em Oakland, soubemos que a tenda estava armada ali, e que um bom número de pessoas havia abraçado a verdade sob os esforços do irmão Healey. Falamos várias vezes na tenda. No sábado e no domingo as igrejas de São Francisco e Oakland se uniram, e tivemos reuniões interessantes e proveitosas. T4 296 1 Eu estava muito ansiosa para assistir à campal na Califórnia; mas havia chamados urgentes para que eu assistisse às campais da região Leste. Como a condição das coisas no Leste me haviam sido apresentadas, sabia que tinha um testemunho a apresentar especialmente a nossos irmãos na Associação da Nova Inglaterra; e não podia me sentir na liberdade de demorar-me mais tempo na Califórnia. Rumo ao leste T4 296 2 Em 28 de Julho, acompanhado por nossa filha, Sra. Emma White, e Edith Donaldson, partimos de Oakland para o Leste. Chegamos em Sacramento no mesmo dia, e ali fomos recebidas pelo irmão e irmã Wilkinson, que nos acolheram alegremente e nos levaram para o seu lar, onde fomos tratados bondosamente durante a nossa estada ali. De acordo com o compromisso, falei no domingo. A casa estava bem cheia com uma congregação atenta, e o Senhor me deu facilidade para falar-lhes de Sua Palavra. Segunda-feira novamente tomamos o trem, parando em Reno, Nevada, onde tínhamos compromisso de falar na terça-feira à noite na tenda em que o Pastor Loughborough estava apresentando uma série de conferências. Falei com facilidade para cerca de quatrocentos ouvintes atentos, sobre as palavras de João: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. T4 296 3 Ao atravessarmos o grande deserto americano em meio ao calor e à poeira alcalina, ficamos muito cansados do cenário sem vida, embora estivéssemos providos de todo o conforto e, puxados pela locomotiva, suavemente deslizássemos sobre os trilhos. Lembrei-me dos antigos hebreus, que viajaram sobre rochas e desertos áridos por quarenta anos. O calor, a poeira e a rudeza do caminho provocavam queixas e suspiros de fadiga de muitos que trilhavam aquele cansativo trajeto. Pensei que se fôssemos obrigados a viajar a pé através do árido deserto, freqüentemente sofrendo sede, calor e fadiga, muitos de nós murmuraríamos até mais do que fizeram os israelitas. T4 296 4 Os aspectos peculiares do cenário montanhoso no roteiro foram muitas vezes esboçados por pena e lápis. Todos quantos se deleitam com a grandiosidade e beleza da natureza, devem sentir uma emoção de alegria ao contemplar essas velhas e grandiosas montanhas, as lindas colinas e os desfiladeiros rochosos e selvagens. Isso é especialmente verdade para o cristão. Ele vê nas rochas graníticas e nos regatos cantantes a obra da mão do todo-poderoso Deus. Anseia galgar as elevadas colinas; pois parece que então se aproximaria do Céu, conquanto saiba que Deus ouve as orações de Seus filhos nos vales profundos tanto quanto no alto da montanha. Colorado T4 297 1 No caminho de Denver para Walling's Mills, o retiro montanhoso onde meu marido estava passando os meses de verão, paramos em Boulder City e contemplamos com prazer nossa tenda de reuniões, onde o Pastor Cornell estava realizando uma série de conferências. Encontramos um retiro calmo no confortável lar da irmã Dartt. A tenda fora tomada emprestada para reuniões de temperança e, por especial convite, falei a um recinto repleto de atentos ouvintes. Se bem que fatigada pela viagem, o Senhor me ajudou a apresentar com êxito perante o povo a necessidade de observar estrita temperança em tudo. T4 297 2 Segunda-feira, 8 de Agosto, encontrei o meu marido, e percebi que tinha melhorado bastante de saúde, estando alegre e ativo, pelo que me senti grata a Deus. O Pastor Canright, que havia passado algum tempo com o meu marido nas montanhas, por essa época foi chamado para casa para atender a sua aflita esposa; e, no domingo, meu marido e eu o acompanhamos a Boulder City para ele tomar o trem. À noite falei na tenda, e na manhã seguinte retornamos ao nosso lar temporário em Walling's Mills. No sábado seguinte, novamente falei àqueles que se reuniram na tenda. Após meus comentários, tivemos uma reunião da Associação. Alguns excelentes testemunhos foram apresentados. Vários estavam observando o seu primeiro sábado. Falei ao povo no sábado à noite e também no domingo pela manhã. T4 297 3 Toda nossa família estava presente nas montanhas, menos o nosso filho Edson. Meu marido e meus filhos acharam que, estando eu muito cansada, tendo trabalhado quase constantemente desde a campal de Oregon, seria meu privilégio descansar; mas minha mente estava impressionada a assistir às campais do Leste, especialmente a de Massachusetts. Minha oração era de que se fosse da vontade de Deus que eu assistisse a essas reuniões, meu marido consentisse que eu fosse. T4 298 1 Quando retornamos de Boulder City, encontrei uma carta do irmão Haskell insistindo que ambos assistíssemos à campal; mas se meu marido não pudesse ir, ele desejava que, se possível, eu fosse. Li a carta ao meu marido, e esperei para ver o que diria. Após uns poucos momentos de silêncio ele disse: "Ellen, você terá que assistir à campal da Nova Inglaterra." No dia seguinte, nossas malas foram arrumadas. Às duas horas da manhã, ainda sob a luz do luar, saímos para tomar o trem, e às seis e meia embarcamos. A viagem não foi nada agradável, pois o calor era intenso, e eu estava muito esgotada. Reuniões no leste T4 298 2 Ao chegar em Battle Creek, soubemos que havia um compromisso para que eu falasse na noite de domingo na enorme tenda armada no campus do Colégio. A tenda estava superlotada, e meu coração foi derramado em ardentes apelos ao povo. T4 298 3 Permaneci em casa por pouco tempo, e depois, acompanhada pela irmã Mary Smith Abbey e pelo irmão Farnsworth, parti novamente rumo ao Leste. Quando cheguei em Boston, estava muito exausta. Os irmãos Wood e Haskell nos encontraram na estação e nos acompanharam a Ballard Vale, o local da reunião. Fomos recepcionados pelos nossos velhos amigos com amabilidade que, no momento, pareceu trazer-me descanso. O tempo estava excessivamente quente, e a mudança do clima moderado do Colorado para o calor opressivo de Massachusetts tornavam este último clima quase insuportável. Tentei falar ao povo, não obstante meu grande cansaço, e fui fortalecida ao apresentar meu testemunho. As palavras pareciam dirigir-se diretamente ao coração. Muito trabalho foi requerido nessa reunião. Novas igrejas haviam sido organizadas desde nossa última campal. Almas preciosas haviam aceitado a verdade e essas precisavam ser encaminhadas para um conhecimento mais profundo e completo da santidade prática. O Senhor me deu desembaraço ao apresentar meu testemunho. T4 299 1 Certa vez durante essa reunião, fiz alguns pronunciamentos sobre a necessidade de economia no vestuário e no gasto de recursos. Há perigo de tornar-nos descuidados e relapsos no uso do dinheiro do Senhor. Jovens que se empenham no trabalho de tendas devem ser cuidadosos em não deixar-se levar por gastos desnecessários. Ao estarem as tendas penetrando novos campos e o trabalho missionário expandindo, as necessidades da causa são muitas, e a mais rígida economia deve ser empregada nessa questão, mas sem mesquinhez. É mais fácil contrair uma dívida do que liquidá-la. Há muitas coisas que seriam convenientes e agradáveis, contudo não são úteis, e isso pode ser dispensado sem real prejuízo. É muito fácil multiplicar contas de hotéis e passagens ferroviárias, despesas que poderiam ser evitadas, ou grandemente diminuídas. Atravessamos a estrada indo para a Califórnia e de lá voltando doze vezes, e não temos gasto um dólar para refeições nos restaurantes ou no vagão-restaurante. Tomamos nossas refeições de nosso cesto de lanches. Estando três dias fora, o alimento se estraga, mas um pouco de leite ou mingau quente supre a nossa necessidade. T4 299 2 Noutra ocasião falei com referência à genuína santificação, que não é nada mais do que um morrer diário para o eu e diária conformidade à vontade de Deus. Enquanto em Oregon, foi-me mostrado que algumas das novas igrejas da Associação da Nova Inglaterra estavam em perigo de influência ruinosa do que é chamado de santificação. Alguns se deixariam enganar por essa doutrina, enquanto outros, conhecendo a sua influência enganosa, perceberiam o seu perigo e delas se desviariam. A santificação de Paulo era um constante conflito com o eu. Disse ele: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. Sua vontade e seus desejos todo o dia conflitavam com o dever e a vontade de Deus. Em vez de seguir a inclinação, ele cumpria a vontade de Deus, embora desagradável e torturante à sua natureza. T4 300 1 Apelamos àqueles que desejavam ser batizados, e àqueles que estavam observando o sábado pela primeira vez, para virem à frente. Vinte e cinco responderam. Estes davam excelentes testemunhos; e, antes do fim da campal, vinte e dois receberam o batismo. T4 300 2 Ficamos felizes em encontrar aqui nossos velhos amigos da causa, a quem havíamos conhecido trinta anos atrás. Nosso muito estimado irmão Hastings está tão profundamente interessado na verdade hoje como estava então. Alegramo-nos em encontrar a irmã Temple, e a irmã Collins de Dartsmouth, Massachusetts, e o irmão e irmã Wilkinson, em cuja casa fomos hospedados mais de trinta anos atrás. A peregrinação de alguns desses queridos pode findar-se antes de muito tempo; mas, se forem fiéis até ao fim, receberão a coroa da vida. T4 300 3 Estávamos interessados no irmão Kimbal, que é mudo, e tem sido um missionário entre os mudos. Mediante seus perseverantes esforços, um pequeno grupo aceitou a verdade. Encontramos esse fiel irmão em nossas campais todo ano, rodeado por vários de seus conversos mudos. Alguém que pode ouvir escreve tanto quanto possível do sermão, e ele se assenta rodeado por seus amigos mudos, lendo e ativamente pregando-lhes com as mãos. Ele tem usado livremente os seus recursos para fazer avançar a obra missionária, assim honrando a Deus com seus bens. T4 300 4 Deixamos Ballard Vale na terça-feira de manhã, dia 3 de Setembro, para assistir à campal do Maine. Desfrutamos um descanso sereno no lar do jovem irmão Morton, perto de Portland. Ele e sua bondosa esposa fizeram com que a nossa permanência com eles fosse muito agradável. Chegamos à campal do Maine antes do sábado, e ficamos felizes em encontrar ali alguns dos amigos experientes na causa. Há alguns que estão sempre em seu posto do dever, faça sol ou venha tempestade. Há também uma classe de cristãos de temperamento instável. Quando tudo vai bem e é agradável a seus sentimentos, eles são fervorosos e zelosos; mas quando há nuvens e coisas desagradáveis a defrontar, nada têm a dizer ou fazer. A bênção de Deus repousou sobre os obreiros ativos, enquanto aqueles que nada fizeram não foram beneficiados pela reunião como poderiam ter sido. O Senhor estava com os Seus ministros, que trabalhavam fielmente na apresentação tanto de assuntos doutrinários como práticos. Desejávamos ver muitos beneficiados por esta reunião que não deram evidências de terem sido abençoados por Deus. Desejo ver esse querido povo assumindo os seus elevados privilégios. T4 301 1 Deixamos o terreno da campal na segunda-feira, sentindo grande esgotamento. Planejamos assistir às campais de Iowa e Kansas. Meu marido havia escrito que ele me encontraria em Iowa. Sendo incapaz de assistir à reunião de Vermont, fomos diretamente do Maine e South Lancaster. Tinha muita dificuldade de respirar, e meu coração me doía continuamente. Descansei na tranqüila casa da irmã Harris, que fez tudo ao seu alcance para me ajudar. Quinta-feira à noite nos aventuramos a reiniciar nossa viagem para Battle Creek. Eu não ousei viajar de trem durante longo tempo por causa de meu estado de saúde; assim paramos em Rome, Nova Iorque, e falei ao povo no sábado. Houve boa assistência. T4 301 2 Na segunda de manhã, visitei o irmão e a irmã Ira Abbey em Brookfield. Tivemos uma proveitosa conversa com essa família. Sentimo-nos interessados, e ansiosos de que eles finalmente fossem vitoriosos no combate cristão, e obtivessem a vida eterna. Sentimo-nos profundamente ansiosos de que o irmão Abbey superasse seu desânimo, se lançasse sem reservas sobre os méritos de Cristo, tivesse êxito em vencer e finalmente recebesse a coroa da vitória. T4 301 3 Na terça-feira, tomamos o trem para Battle Creek, e no dia seguinte chegamos em casa. Fiquei contente em poder descansar outra vez e fazer tratamento no hospital. Senti que era verdadeiramente favorecida em ter as vantagens dessa instituição. Os auxiliares eram bondosos e atenciosos, e prontos a fazer o máximo para aliviar-me de minhas enfermidades a qualquer hora do dia ou da noite. Em Battle Creek T4 301 4 A campal nacional foi realizada em Battle Creek de 2 a 14 de Outubro. Essa foi a maior reunião de adventistas do sétimo dia já realizada. Mais de quarenta pastores estavam presentes. Estávamos todos felizes de ali encontrar os Pastores Andrews e Bourdeau, vindos da Europa, e o Pastor Loughborough, da Califórnia. Nessa reunião estava representada a causa na Europa, Califórnia, Texas, Alabama, Virgínia, Dakota, Colorado e em todos os Estados do norte do Maine a Nebraska. T4 302 1 Ali fiquei feliz em unir-me ao meu marido no trabalho. Embora muito cansada, e sofrendo com problemas cardíacos, o Senhor me deu força para falar ao povo quase todos os dias, e freqüentemente duas vezes ao dia. Meu marido trabalhou intensamente. Ele esteve presente a quase todas as reuniões de negócios, e pregou quase todos os dias com o seu estilo claro e direto. Não achei que eu tivesse força para falar mais de duas ou três vezes durante a assembléia; mas ao prosseguirem as reuniões, minha força aumentava. Em várias ocasiões permaneci em pé por quatro horas, convidando o povo a ir à frente para oração. Nunca sentira a ajuda especial de Deus mais sensivelmente do que nessa reunião. Apesar desses esforços, minha força aumentava constantemente. E, para o louvor de Deus, aqui registro o fato de que estava muito melhor de saúde ao final dessa reunião do que estivera durante os últimos seis meses. T4 302 2 Na quarta-feira da segunda semana da assembléia, alguns de nós nos unimos em oração por uma irmã que estava afligida pelo desânimo. Enquanto orávamos, fui grandemente abençoada. O Senhor parecia estar bem perto. Fui tomada numa visão da glória de Deus, e muitas coisas me foram mostradas. Então fui para a reunião, e com um solene senso da condição de nosso povo, fiz breves declarações das coisas que me haviam sido reveladas. Desde então escrevi algumas delas em testemunhos a indivíduos, apelos a pastores e em vários outros artigos relatados neste livro. T4 302 3 Aquelas foram reuniões de solene poder e do mais profundo interesse. Várias pessoas ligadas ao nosso escritório de publicações foram convencidas e convertidas à verdade e deram testemunhos claros e inteligentes. Incrédulos foram convencidos e tomaram posição sob a bandeira do Príncipe Emanuel. Essa reunião foi uma decidida vitória. Antes de seu encerramento, cento e doze pessoas foram batizadas. T4 303 1 Na semana que se seguiu à campal meus esforços em falar, orar e escrever testemunhos foram mais cansativos do que durante a reunião. Duas ou três reuniões foram realizadas cada dia em favor de nossos pastores. Foram elas de intenso interesse e de grande importância. Aqueles que levam esta mensagem ao mundo devem ter uma experiência diária nas coisas de Deus, e ser em todo o sentido homens convertidos, santificados através da verdade que apresentam aos outros, representando em sua vida a Jesus Cristo. Então, e só então, terão êxito em seu trabalho. Os mais zelosos esforços foram feitos para se aproximarem de Deus por confissão, humilhação e oração. Muitos diziam que viram e sentiram a importância de seu trabalho como ministros de Cristo, como nunca tinham visto e sentido. Alguns sentiram profundamente a magnitude da obra e sua responsabilidade perante Deus; mas ansiávamos ver uma manifestação maior do Espírito de Deus. Eu sabia que quando o caminho fosse aberto, o Espírito de Deus Se manifestaria, como no dia de Pentecostes. Havia, porém, muitos tão distantes de Deus que não pareciam saber como exercer fé. T4 303 2 Os apelos aos pastores, encontrados em outra parte deste volume, expressam mais completamente o que Deus me revelou com respeito à triste condição deles e aos seus elevados privilégios. Campais de Kansas T4 303 3 Acompanhados de nossa filha Emma, saímos de Battle Creek no dia 23 de Outubro, para a campal de Kansas. Em Topeka, Kansas, deixamos o trem e viajamos em condução particular mais de dezenove quilômetros até Richland, o lugar da reunião. Encontramos as tendas armadas em um bosque. Sendo já o fim da estação própria para campais, todos os preparativos possíveis foram feitos para o tempo frio. Havia dezessete tendas armadas, além da grande tenda, que acomodava várias famílias; e cada tenda tinha uma estufa. T4 303 4 Na manhã de sábado começou a nevar; mas nenhuma reunião foi suspensa. Quase uma polegada de neve caiu, e o frio era cortante. Mulheres com criancinhas se agruparam em torno das estufas. Era impressionante ver cento e cinqüenta pessoas reunidas para uma assembléia convocada sob tais circunstâncias. Algumas delas viajaram mais de trezentos e vinte quilômetros em condução particular. Todos pareciam famintos pelo pão da vida e sedentos pela água da salvação. T4 304 1 O Pastor Haskell falou na tarde de sexta-feira e à noite. No sábado de manhã, senti-me chamada a falar palavras encorajadoras àqueles que tinham feito tão grande esforço para assistir à reunião. No domingo à tarde houve grande assistência de fora, embora a reunião fosse realizada distante das vias públicas. Na segunda de manhã, falei aos irmãos com base no terceiro capítulo de Malaquias. Então apelamos que viessem à frente aqueles que desejavam ser cristãos e que não tinham a evidência de serem aceitos por Deus. Cerca de trinta pessoas atenderam. Algumas estavam buscando o Senhor pela primeira vez, e outras que eram membros de outras igrejas estavam tomando sua posição quanto ao sábado. Demos a todos oportunidade para falar; e o Espírito do Senhor atuava livremente em nossa reunião. Após a oração pelos que tinham vindo à frente, os candidatos ao batismo foram examinados. Seis foram batizados. T4 304 2 Fiquei contente de ouvir o Pastor Haskell apresentar perante o povo a necessidade de colocar material de leitura nos lares, especialmente os três volumes do Spirit of Prophecy e os quatro volumes dos Testemunhos. Estes poderiam ser lidos em voz alta durante as longas noites de inverno por alguns membros da família, de modo que todos pudessem ser instruídos. Então falei da necessidade de os pais educarem e disciplinarem apropriadamente os seus filhos. A maior prova do poder do cristianismo que se pode apresentar ao mundo, é uma família bem-ordenada, bem disciplinada. Isso recomendará a verdade como nenhuma outra coisa o poderá fazer; pois é um testemunho vivo de seu poder prático sobre o coração. T4 304 3 Na terça-feira de manhã, a reunião se encerrou, e com minha filha Emma, o Pastor Haskell e o irmão Stover fomos para Topeka, e tomamos o trem para Sherman, Kansas, onde outra campal havia sido convocada. Essa reunião foi interessante e proveitosa. Parecia pequena quando comparada com nossas campais em outros Estados, pois havia somente cem irmãos e irmãs presentes. Foi planejada para uma reunião geral dos que estavam espalhados. Alguns estavam presentes vindos do sul do Kansas, Arkansas, Kentucky, Missouri, Nebraska e Tennessee. Nessa reunião meu marido se uniu a mim, e dali, com o Pastor Haskell e nossa filha, fomos para Dallas, Texas. Visita ao Texas T4 305 1 Na quinta-feira, fomos à casa do irmão McDearman, em Grand Prairie. Ali nossa filha encontrou seus pais, irmão e irmã, que haviam todos estado à beira da morte, afetados pela febre que prevaleceu no Estado durante a última estação. Tivemos grande prazer em atender às necessidades dessa família afligida, que durante anos no passado tinha liberalmente nos assistido em nossa aflição. T4 305 2 Eles melhoraram um pouco, e nós os deixamos e fomos para a campal de Plano. Essa reunião foi realizada de 12 a 19 de Novembro. O tempo estava bom no início; mas logo começou a chover, e isto, com fortes ventos, impediu a frequência geral da região vizinha. Ficamos felizes em encontrar nossos velhos amigos, Pastor R. M. Kilgore e esposa. E nos regozijamos bastante em encontrar um grupo grande e inteligente de irmãos no local. Se quaisquer preconceitos hajam existido ali contra o povo do Norte, nada semelhante parecia prevalecer entre aqueles queridos irmãos e irmãs. T4 305 3 Meu testemunho nunca foi recebido mais prontamente e de coração do que por esse povo. Interessei-me profundamente pelo trabalho no grande Estado do Texas. Sempre tem sido o objetivo de Satanás perturbar todo campo importante; e provavelmente ele nunca esteve mais ativamente ocupado durante a apresentação da verdade em qualquer Estado do que no Texas. Esta é a melhor evidência à minha mente de que há uma grande obra a fazer ali. ------------------------Capítulo 26 -- Preparo para a volta de Cristo T4 306 1 Na última visão que me foi dada em Battle Creek, por ocasião de nossa reunião campal geral, foi-me mostrado nosso perigo como um povo, de nos assemelharmos ao mundo, e não à imagem de Cristo. Achamo-nos agora nas próprias fronteiras do mundo eterno; mas é desígnio do adversário de nossa alma levar-nos a adiar para longe o fim do tempo. Satanás assaltará de todas as maneiras possíveis os que professam ser observadores dos mandamentos de Deus, e estar aguardando a segunda vinda de nosso Salvador nas nuvens do céu com poder e grande glória. Ele levará o maior número possível a adiar o dia mau e se tornar, no procedimento, semelhante ao mundo, imitando-lhe os costumes. Senti-me alarmada quando vi que o espírito do mundo controlava o coração e a mente de muitos que fazem alta profissão da verdade. Abrigam o egoísmo e a condescendência consigo mesmos; mas não cultivam a verdadeira piedade e a genuína integridade. T4 306 2 O anjo do Senhor apontou aos que professam a verdade e repetiu com voz solene estas palavras: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do homem." Lucas 21:34-36. T4 306 3 Considerando a brevidade do tempo, nós como povo devemos vigiar e orar, e em caso algum permitir que sejamos desviados da solene obra de preparo para o grande acontecimento à nossa frente. Como o tempo aparentemente se estende, muitos se tornam descuidados e indiferentes em relação a suas palavras e ações. Não reconhecem o perigo em que se acham, e não vêem nem compreendem a misericórdia de nosso Deus em lhes ampliar o tempo de graça, a fim de que tenham oportunidade para formar o caráter para a vida futura, imortal. Cada momento é do mais alto valor. O tempo lhes é concedido, não para ser empregado em seguir sua própria comodidade e se tornarem habitantes da Terra, mas para ser empregado na obra de vencer cada defeito de seu caráter e em ajudar os outros, pelo exemplo e pelo esforço pessoal, a verem a beleza da santidade. Deus tem sobre a Terra um povo que, com fé e santa esperança, está acompanhando o rápido desenrolar da profecia e buscando purificar a alma na obediência à verdade, a fim de que não sejam encontrados sem as vestes nupciais quando Cristo aparecer. T4 307 1 Muitos que se chamam pelo nome de adventistas têm marcado tempo. Vez após outra tem sido marcada uma data para a vinda de Cristo, mas resultaram em repetidos fracassos. O tempo exato da vinda de nosso Senhor, diz a Bíblia, acha-se além do conhecimento dos mortais. Mesmo os anjos, que ministram aos que hão de ser herdeiros da salvação, não sabem o dia nem a hora. "Porém daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai." Mateus 24:36. Como passou repetidas vezes a data marcada, o mundo está hoje em mais profundo estado de incredulidade do que antes, com respeito ao iminente advento de Cristo. Consideram com aborrecimento os fracassos dos que marcaram tempo; e por que os homens têm sido assim enganados, desviam-se da verdade comprovada pela Palavra de Deus, de estar às portas o fim de todas as coisas. T4 307 2 Os que tão presunçosamente pregam um tempo definido, assim fazendo agradam ao adversário das almas; pois promovem a incredulidade, e não o cristianismo. Citam passagens da Escritura, e mediante falsa interpretação mostram uma cadeia de argumentos que aparentemente lhes apóiam a posição. Mas seus fracassos mostram que são falsos profetas, que não interpretam devidamente a linguagem da inspiração. A Palavra de Deus é verdade e certeza; mas os homens têm pervertido seu significado. Esses erros têm trazido má fama à verdade de Deus para estes últimos dias. Os adventistas são expostos a ridículo por pastores de todas as denominações; no entanto, os servos de Deus não se devem calar. Os sinais preditos na profecia estão-se cumprindo rapidamente em volta de nós. Isto deve despertar todo verdadeiro seguidor de Cristo, levando-o a zelosa ação. Os que julgam que devem pregar um tempo definido a fim de impressionar o povo, não agem segundo o correto ponto de vista. Podem os sentimentos do povo ser agitados, e despertados os seus temores; mas não agem segundo princípios. Cria-se uma agitação; mas passado o tempo, como tantas vezes tem acontecido, os que se deixaram levar pela teoria do tempo voltam a cair na frieza, nas trevas e no pecado, e é quase impossível despertar-lhes a consciência sem alguma grande agitação. T4 308 1 Nos dias de Noé os habitantes do velho mundo riam-se, escarnecendo daquilo a que os supersticiosos chamavam de temores e pressentimentos do pregador da justiça. Foi ele denunciado como visionário, fanático, alarmista. "Como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem." Lucas 17:26. Os homens rejeitarão a solene mensagem de advertência para os nossos dias, como fizeram no tempo de Noé. Referir-se-ão aos falsos mestres que predisseram o acontecimento e estabeleceram um tempo definido, e dirão que não têm mais fé em nossa advertência do que na daqueles. Esta é a atitude do mundo hoje. A incredulidade acha-se muito propagada, e a pregação da vinda de Cristo é escarnecida e exposta a ridículo. Isto torna tanto mais necessário que os que crêem na verdade presente mostrem, pelas obras, a sua fé. Devem ser santificados pela verdade que professam crer; pois são um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. T4 308 2 Noé pregou ao povo de seu tempo que Deus lhes daria cento e vinte anos para se arrependerem de seus pecados e se refugiarem na arca; mas não atenderam ao gracioso convite. Foi-lhes dado abundante tempo para se volverem de seus pecados, vencerem seus maus hábitos e desenvolverem caráter justo. Mas a inclinação para o pecado, embora a princípio fraca em muitos, fortaleceu-se pela condescendência repetida, precipitando-os na ruína inevitável. A misericordiosa advertência de Deus foi rejeitada com desdém, escárnio e zombaria; e foram deixados em trevas, para seguirem o rumo que seu pecaminoso coração escolhera. Mas sua incredulidade não impediu o acontecimento predito. Ele veio, e grande foi a ira de Deus revelada na ruína geral. T4 309 1 Essas palavras de Cristo deveriam calar no coração de todos os que crêem na verdade presente: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados desta vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. Nosso perigo é-nos apresentado pelo próprio Cristo. Ele conhecia os perigos que haveríamos de deparar nestes últimos dias, e queria que nos preparássemos para eles. "Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:37. Comiam e bebiam, plantavam e edificavam, casavam-se e davam-se em casamento, e não o conheceram, até que veio o dilúvio e levou-os a todos. O dia do Senhor encontrará os homens, da mesma forma, absorvidos nos negócios e prazeres do mundo, em banquetes e glutonaria, condescendendo com o apetite pervertido no degradante uso de bebidas alcoólicas e no narcótico fumo. Esta já é a condição do nosso mundo, e essas condescendências encontram-se mesmo entre o professo povo de Deus, alguns dos quais seguem os costumes do mundo e participam de seus pecados. Advogados, artífices, lavradores, comerciantes e mesmo pastores, do púlpito clamam: "Paz e segurança!", quando a destruição está na iminência de desabar sobre eles. T4 309 2 A crença na iminente vinda do Filho do homem nas nuvens do céu não levará o verdadeiro cristão a tornar-se negligente e descuidado nas atividades comuns da vida. Os expectantes, que aguardam o breve aparecimento de Cristo, não ficarão ociosos, mas serão diligentes nas atividades. Seu trabalho não será feito descuidada e desonestamente, mas com fidelidade, prontidão e perfeição. Os que se lisonjeiam com o pensamento de que a descuidada desatenção às coisas desta vida seja evidência de sua espiritualidade e sua separação do mundo, acham-se sob grande engano. Sua veracidade, fidelidade e integridade são provadas nas coisas temporais. Se forem fiéis no mínimo, sê-lo-ão no muito. T4 309 3 Foi-me mostrado que aqui é onde muitos deixarão de suportar a prova. Desenvolvem seu verdadeiro caráter na administração das coisas temporais. Manifestam infidelidade, projetos dolosos e desonestidade no trato com os semelhantes. Não consideram que o alcançar a imortal vida futura depende de como procedem nos negócios desta vida e que, para a formação de um caráter justo, é indispensável a mais estrita integridade. Por toda a parte, em nossas fileiras, é praticada a desonestidade, e essa é a causa da mornidão por parte de muitos que professam crer na verdade. Não se acham ligados a Cristo, e iludem sua própria alma. Entristece-me o coração, fazer a declaração de que existe uma alarmante falta de honestidade mesmo entre observadores do sábado. T4 310 1 Foi-me chamada a atenção para o sermão da montanha. Aí temos a ordem do Grande Mestre: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas." Mateus 7:12. Essa ordem de Cristo é da mais alta importância, e deve ser obedecida estritamente. É como "maçãs de ouro em salvas de prata". Provérbios 25:11. Quantos praticam na vida o princípio aí ordenado por Cristo, e tratam os outros exatamente como desejariam ser tratados, sob circunstâncias semelhantes? Leitor, por favor responda. T4 310 2 Homem honesto, à maneira de Cristo julgar, é o que manifesta inflexível integridade. Pesos enganosos e balanças falsas, com os quais muitos buscam aumentar seus ganhos no mundo, são abominação à vista de Deus. Não obstante, muitos dos que professam guardar os mandamentos de Deus fazem uso de balanças e pesos falsos. Quando um homem se acha realmente ligado a Deus, e observando Sua lei em verdade, sua vida revelará este fato; pois todas as suas ações se encontrarão em harmonia com os ensinos de Cristo. Não venderá sua honra por lucro. Seus princípios são edificados sobre o firme fundamento, e sua conduta em assuntos temporais é um transcrito de seus princípios. A firme integridade brilha como o ouro entre o cascalho e o lixo do mundo. Engano, falsidade e infidelidade podem ser dissimulados e ocultos dos olhos humanos, mas não dos olhos de Deus. Os anjos de Deus, que observam o desenvolvimento do caráter e pesam o valor moral, registram nos livros do Céu essas pequeninas transações reveladoras do caráter. Se um trabalhador for infiel nas ocupações diárias da vida, e negligenciar sua obra, o mundo não julgará incorretamente se avaliar a norma religiosa desse trabalhador segundo a que mantém nos negócios. T4 311 1 "Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito." Lucas 16:10. Não é a magnitude da questão que a torna justa ou injusta. Como o homem se conduz para com o semelhante, assim se conduzirá com Deus. Aquele que é infiel na riqueza da injustiça, nunca merecerá confiança com a verdadeira riqueza. Os filhos de Deus nunca devem deixar de lembrar que, em todas as suas transações comerciais, estão sendo provados e pesados nas balanças do santuário. T4 311 2 Disse Cristo: "Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons." "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:18, 20. Os atos da vida do homem são os frutos que produz. Se for infiel e desonesto em questões temporais, está produzindo cardos e espinhos; será infiel na vida religiosa e roubará a Deus em dízimos e ofertas. T4 311 3 A Bíblia condena nos mais fortes termos toda falsidade, fraude e desonestidade. O justo e o errado são discriminados claramente. Mas foi-me mostrado que o povo de Deus se colocou em terreno do inimigo; cedeu a suas tentações e seguiu-lhe os artifícios, até se tornarem perigosamente embotadas as suas sensibilidades. Um leve desvio da verdade, uma pequenina variação das reivindicações de Deus, não é, afinal, considerado muito pecaminoso, quando se acham envolvidos ganho ou perda de dinheiro. Mas pecado é pecado, seja cometido pelo milionário ou pelo que pede esmolas nas ruas. Os que adquirem bens mediante engano, trazem sobre si a condenação. Tudo quanto for adquirido por meio de engano e fraude só trará maldição a quem o receber. T4 311 4 Adão e Eva sofreram as terríveis conseqüências de desobedecerem ao expresso mandamento de Deus. Podem ter arrazoado: Este é um pecado muito pequenino, e jamais será levado em conta. Mas Deus tratou o caso como um terrível mal; e a desgraça trazida por sua transgressão será sentida através de todos os tempos. Nos dias em que vivemos, pecados de muito maior magnitude são muitas vezes cometidos pelos que professam ser filhos de Deus. Nas transações comerciais, são pelo professo povo de Deus pronunciadas e praticadas falsidades que trazem sobre eles a desaprovação de Deus, e vergonha sobre Sua causa. O menor desvio da veracidade e retidão constitui transgressão da lei de Deus. A contínua condescendência com o pecado acostuma a pessoa ao hábito de proceder mal, mas não diminui o grave caráter do pecado. Deus estabeleceu princípios imutáveis, que Ele não pode mudar sem uma revisão de toda a Sua natureza. Se a Palavra de Deus fosse estudada fielmente por todos os que professam crer na verdade, eles não seriam pigmeus nas coisas espirituais. Os que desrespeitam nesta vida as reivindicações de Deus, não Lhe respeitariam a autoridade se estivessem no Céu. T4 312 1 Todas as espécies de imoralidade são claramente delineadas na Palavra de Deus, e seus resultados nos são apresentados. A condescendência com as paixões baixas é-nos apresentada em seu caráter mais revoltante. Ninguém, por obscuro que seja o seu entendimento, precisa errar. Mas foi-me mostrado que este pecado é acariciado por muitos que professam andar em todos os mandamentos de Deus. Por Sua Palavra, Deus julgará todos os homens. T4 312 2 Disse Cristo: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam." João 5:39. A Bíblia é guia infalível. Requer perfeita pureza na palavra, no pensamento e na ação. Unicamente os de caráter virtuoso e imaculado terão permissão para entrar na presença de um Deus puro e santo. A Palavra de Deus, estudada e obedecida, guiaria os filhos dos homens, como os israelitas foram guiados por uma coluna de fogo à noite e uma coluna de nuvem de dia. A Bíblia é a vontade de Deus expressa ao homem. É o único perfeito padrão de caráter, e assinala o dever do homem em todas as circunstâncias da vida. Muitas são as responsabilidades que sobre nós repousam nesta vida, e sua negligência não só causará sofrimento a nós mesmos, mas em conseqüência outros também sofrerão perda. T4 313 1 Homens e mulheres que professam reverenciar a Bíblia e seguir-lhe os ensinos, deixam de praticar o que ela requer em muitos aspectos. Na educação dos filhos, seguem sua própria natureza perversa, em vez da revelada vontade de Deus. Essa negligência do dever implica a perda de milhares de vidas. A Bíblia expõe regras para a correta disciplina dos filhos. Fossem esses preceitos de Deus acatados pelos pais, e veríamos hoje diferente classe de jovens apresentar-se na arena de ação. Mas pais que professam ser leitores e seguidores da Bíblia procedem diretamente em contrário aos seus ensinamentos. Ouvimos o grito de tristeza e angústia de pais e mães que choram a conduta de seus filhos, mal reconhecendo que estão trazendo sobre si essa tristeza e angústia, e arruinando os filhos, por sua errada afeição. Não reconhecem as responsabilidades que Deus lhes deu, de educarem os filhos de modo a adquirirem hábitos corretos desde a infância. T4 313 2 Pais, vocês são em grande parte responsáveis pela alma de seus filhos. Muitos negligenciam seu dever nos primeiros anos da vida de seus filhos, julgando que quando estes tiverem mais idade, terão então muito cuidado em reprimir neles o mal e educá-los no bem. Mas o tempo oportuno para isso é quando os filhos são bebês, em seus braços. Não é correto que os pais mimem os filhos e lhes façam as vontades; tampouco é direito que os maltratem. O procedimento firme, decidido e reto produzirá os melhores resultados. ------------------------Capítulo 27 -- Mensagem aos pastores T4 313 3 Uma grande e solene verdade nos foi confiada, pela qual somos responsáveis. Com demasiada freqüência essa verdade é apresentada como fria teoria. Sermão após sermão sobre pontos doutrinários é apresentado às pessoas que vêm e vão, algumas das quais jamais terão outra oportunidade tão favorável para serem convencidas e convertidas a Cristo. Áureas oportunidades são perdidas pela apresentação de sermões elaborados, que exibem o eu, mas não exaltam a Cristo. Uma teoria da verdade sem santidade vital não pode remover a escuridão moral que envolve a alma. T4 314 1 Gemas muito preciosas de verdade são freqüentemente tornadas sem poder pela sabedoria de palavras de que são revestidas, enquanto o poder do Espírito de Deus está ausente. Cristo apresentou a verdade em sua simplicidade; e Ele não alcançava somente os mais elevados, mas os homens mais humildes da Terra. O pastor, que é embaixador de Deus e representante de Cristo na Terra, que se humilha para que Deus possa ser exaltado, possuirá a qualidade genuína da eloqüência. A verdadeira piedade, íntima comunhão com Deus e viva experiência diária no conhecimento de Cristo tornarão eloqüente mesmo a língua do gago. T4 314 2 Ao ver as necessidades das novas igrejas, ver e compreender sua grande necessidade de santidade vital e sua deficiência em verdadeira experiência religiosa, meu coração se entristece. Sei que aqueles que levam a elas a mensagem da verdade não as instruem apropriadamente em todos os pontos essenciais à perfeição de um caráter simétrico em Cristo Jesus. Essas coisas podem ser por demasiado tempo negligenciadas pelos instrutores da verdade. Falando do evangelho, Paulo declara: "Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus: o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a Sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:25-29. T4 314 3 Aqui os ministros de Cristo têm sua obra, suas qualificações e o poder da graça de Deus atuando neles, claramente definidos. Deus tem-Se comprazido recentemente em mostrar-me uma grande deficiência em muitos que professam ser representantes de Cristo. Em resumo, se eles são deficientes na fé e no conhecimento da piedade vital, não estão somente enganando a própria alma, mas cometendo uma falha no trabalho de apresentar todo homem perfeito em Cristo. Muitos que eles trazem para a verdade são destituídos de verdadeira piedade. Podem ter uma teoria da verdade, mas não são plenamente convertidos. Seu coração é carnal; eles não permanecem em Cristo nem Ele neles. É dever do pastor apresentar a teoria da verdade; mas não deve descansar havendo meramente feito isto. Deve adotar a linguagem de Paulo: "Para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente." Colossences 1:29. T4 315 1 União vital com o Sumo Pastor fará do subpastor um representante vivo de Cristo, na verdade uma luz para o mundo. Uma compreensão de todos os pontos de nossa fé é de fato essencial, mas é mais importante que o pastor seja santificado pela verdade que apresenta com o propósito de iluminar a consciência de seus ouvintes. Numa série de reuniões nenhum sermão deve ser dado consistindo somente de teoria, nem devem ser feitas longas e tediosas orações. Deus não ouve tais orações. Tenho ouvido muitas tediosas orações como se fossem sermões, que eram inconvenientes e fora de lugar. Uma oração com metade do número de palavras, feita com fervor e fé, teria abrandado o coração dos ouvintes; mas em vez disso, eu os tenho visto esperando impacientemente, como se desejando que cada palavra concluísse a oração. Se o pastor tivesse lutado com Deus em seu aposento até sentir que a sua fé podia apegar-se à promessa eterna, "pedi e recebereis", ele teria chegado ao ponto imediatamente, pedindo com fervor e fé pelo que precisava. T4 315 2 Necessitamos de um ministério convertido; de outro modo as igrejas levantadas mediante os seus esforços, não tendo raiz em si mesmas, não serão capazes de se manter sozinhas. O fiel ministro de Cristo assumirá a carga sobre a própria alma. Ele não ansiará por popularidade. O pastor cristão nunca deve assumir o púlpito sem primeiro ter particularmente buscado a Deus, mantido íntima comunhão com Ele. Com humildade, pode elevar sua sedenta alma para Deus, e ser refrigerado com o orvalho da graça antes de falar ao povo. Com a unção do Espírito Santo sobre ele, incutindo-lhe preocupação pelas almas, ele não despedirá a congregação sem apresentar-lhe a Jesus Cristo, único refúgio do pecador, fazendo ardorosos apelos que alcancem os corações. Ele deve sentir que pode nunca mais encontrar esses ouvintes até o grande dia de Deus. T4 316 1 O Mestre que o escolheu, e que conhece o coração de todos os homens, lhe dará voz e elocução para que possa falar com poder e no tempo certo as palavras que deve apresentar. E aqueles que se tornam verdadeiramente convencidos do pecado, e encantados com o Caminho, a Verdade, e a Vida, acharão o suficiente para fazer, sem elogiar e exaltar a habilidade do pastor. Cristo e Seu amor serão enaltecidos acima de qualquer instrumento humano. O homem será perdido de vista, porque Cristo é magnificado e é o tema de reflexão. Muitos são convertidos ao pastor e não realmente convertidos a Cristo. Estranhamos a apatia que entorpece as percepções espirituais. Há uma falta de poder vital. Orações sem vida são feitas e apresentados testemunhos que deixam de edificar ou fortalecer os ouvintes. Faz-se mister que cada pastor investigue a causa disso. T4 316 2 Paulo escreve aos seus irmãos colossenses: "Como aprendestes de Epafras, nosso amado conservo, que para vós é um fiel ministro de Cristo, o qual nos declarou também a vossa caridade no Espírito. Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus; corroborados em toda a fortaleza, segundo a força da Sua glória, em toda a paciência e longanimidade, com gozo, dando graças ao Pai, que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz." Colossences 1:7-12. T4 317 1 Os pastores que trabalham em cidades e vilas para apresentar a verdade não devem sentir-se contentes, nem achar que sua obra findou enquanto os que aceitaram a teoria da verdade não compreenderem de fato o efeito de seu poder santificador, e estiverem verdadeiramente convertidos a Deus. Ele Se agradaria mais de ter seis pessoas realmente convertidas à verdade como resultado do trabalho deles, do que sessenta que fazem profissão de fé nominal, mas não se converteram inteiramente. Esses pastores devem dedicar menos tempo a pregar sermões, e reservarem parte de suas energias para visitar e orar com os que estão interessados, dando-lhes piedosa instrução, a fim de poderem apresentar "todo o homem perfeito em Cristo Jesus". Colossences 1:28. T4 317 2 O amor de Deus deve viver no coração do ensinador da verdade. Seu coração deve estar possuído daquele profundo e fervente amor que havia em Cristo; então ele fluirá para os outros. Os pastores devem ensinar que todos os que aceitam a verdade devem produzir frutos para glória de Deus. Precisam ensinar que o sacrifício deve ser praticado diariamente; que muitas coisas que foram acariciadas devem ser abandonadas; e que muitos deveres, por desagradáveis que pareçam, precisam ser cumpridos. Interesses comerciais, afeições sociais, comodidade, honra, reputação, em suma, tudo, deve ser posto em sujeição às superiores e sempre supremas reivindicações de Cristo. Pastores que não são homens de piedade vital, que suscitam um interesse entre o povo, mas largam a obra inacabada, deixam um campo dificílimo para outros penetrarem e concluírem o trabalho que eles deixaram de completar. Esses homens serão provados; e se não fizerem sua obra mais fielmente, hão de, após prova adicional, serem postos à margem como inúteis ocupantes do terreno, vigias infiéis. T4 317 3 Deus não deseja que homens saiam como instrutores sem ter aprendido dedicadamente suas lições e continuado o estudo a fim de poder apresentar cada ponto da presente verdade de modo inteligente e aceitável. Tendo um conhecimento da teoria, eles devem continuamente obter mais completo conhecimento de Jesus Cristo. Normas e estudos são necessários; mas com esses o pastor deve combinar oração fervorosa a fim de que possa ser fiel, não edificando sobre fundamento de madeira, palha ou restolho que serão consumidos pelo fogo do último dia. Oração e estudo devem ir de mãos dadas. O fato de que o pastor é aplaudido e elogiado não evidencia que falou sob a influência do Espírito. T4 318 1 Com demasiada freqüência, a menos que se cuide, os jovens convertidos se afeiçoarão mais a seu pastor do que a seu Redentor. Consideram que foram grandemente beneficiados pelos esforços de seu pastor. Imaginam que ele possui os mais elevados dons e virtudes, e que nenhum outro possa fazer tão bem quanto ele; portanto, atribuem importância indevida ao homem e seus trabalhos. Essa é uma confiança que os inclina a idolatrar o homem, e a considerá-lo mais do que Deus; e ao fazerem isso não agradam a Deus nem crescem em graça. Causam um grande prejuízo ao pastor, especialmente se ele é jovem e está se desenvolvendo como promissor obreiro evangélico. T4 318 2 Se esses instrutores são realmente homens de Deus, recebem dEle suas palavras. Sua maneira de falar pode ser falha e necessitar de muito aperfeiçoamento; contudo, se Deus lhes transmite palavras inspiradas, o poder não é do homem, mas de Deus. O Doador deve receber a glória e as afeições do coração, enquanto o pastor deve ser estimado, amado e respeitado por causa de seu trabalho, pois ele é servo de Deus para levar a mensagem de misericórdia aos pecadores. O Filho de Deus é freqüentemente eclipsado pelo homem que se coloca entre Ele e o povo. O homem é louvado, lisonjeado e exaltado, e o povo raramente tem um vislumbre de Jesus, o qual deve eclipsar tudo o mais ao redor mediante preciosos raios de luz dEle refletidos. T4 318 3 O ministro de Cristo, que é imbuído do Espírito e amor de seu Mestre, trabalhará de tal modo que o caráter de Deus e de Seu querido Filho possam ser manifestados da maneira mais plena e clara. Ele se empenhará por fazer seus ouvintes se tornarem inteligentes em suas concepções do caráter de Deus, para que a Sua glória possa ser reconhecida na Terra. Um homem não é convertido antes de nascer em seu coração o desejo de tornar conhecido a outros que precioso Amigo encontrou em Jesus; a verdade santificadora e salvadora não pode ser encerrada em seu coração. O Espírito de Cristo iluminando a alma é representado pela luz que dispersa toda a escuridão; é comparada ao sal por causa de suas qualidades preservadoras; e ao fermento, que secretamente exerce o seu poder transformador. T4 319 1 Aqueles a quem Cristo ligou a Si mesmo irão, tanto quanto puderem, trabalhar diligente e perseverantemente, como Ele trabalhou, para salvar almas que estão perecendo ao seu redor. Alcançarão as pessoas por meio de sincera e fervorosa oração e esforço pessoal. É impossível àqueles que sejam plenamente convertidos a Deus e desfrutam comunhão com Ele, ser negligentes aos interesses vitais dos que estão perecendo longe de Cristo. T4 319 2 O pastor não deve realizar todo o trabalho sozinho, mas deve unir a si aqueles que se apegaram à verdade. Assim ele preparará outros para trabalharem quando ele sair. Uma igreja atuante será sempre uma igreja em crescimento. Sempre encontrará estímulo e uma tônica em tentar ajudar outros, e ao fazê-lo será fortalecida e encorajada. T4 319 3 Li acerca de um homem que, viajando num dia de inverno através de profunda neve acumulada, ficou entorpecido pelo frio, que quase imperceptivelmente lhe roubava as forças. E quando estava quase morto de frio, prestes a desistir da luta pela vida, ouviu os gemidos de um companheiro de viagem, prestes, como ele, a perecer de frio. Despertou-se-lhe a compaixão, no desejo de salvá-lo. Friccionou os membros gelados do infeliz e, depois de considerável esforço, conseguiu pô-lo de pé; mas como não pudesse manter-se em pé, levou-o em braços compassivos através daqueles mesmos montes de neve que ele julgara jamais poder atravessar sozinho. E depois de haver levado seu companheiro de jornada a um lugar de segurança, descobriu que, salvando seu próximo, salvara também a si mesmo. Seus intensos esforços por salvar outro lhe ativaram o sangue que estava a enregelar-se em suas veias, produzindo-lhe às extremidades do corpo um saudável calor. T4 320 1 Estas lições devem ser expostas impressiva e continuamente aos crentes jovens, não só por preceito, mas pelo exemplo, a fim de que em sua experiência cristã possam alcançar resultados semelhantes. Que os desanimados, aqueles inclinados a pensar que o caminho da vida é muito penoso e difícil, saiam ao trabalho e procurem ajudar a outros. Em tais esforços, combinados com oração por luz divina, o próprio coração palpitará com a influência despertadora da graça de Deus; as próprias afeições resplandecerão com mais fervor divino, e toda a sua vida cristã será mais real, mais zelosa e plena de oração. T4 320 2 O ministro de Cristo deve ser um homem de oração, um homem piedoso; alegre, mas nunca rude e ríspido, zombeteiro ou frívolo. Um espírito de frivolidade pode adaptar-se à profissão de palhaços e atores teatrais; mas está totalmente abaixo da dignidade de um homem escolhido para permanecer entre os vivos e os mortos, e ser porta-voz de Deus. T4 320 3 Os trabalhos de cada dia são fielmente registrados nos livros de Deus. Como homens que reivindicam iluminação espiritual, vocês darão um tom moral ao caráter de todos com quem estejam relacionados. Como ministros fiéis do evangelho, vocês devem utilizar todas as energias mentais e todas as oportunidades de sua vida para realizar sua obra com completo êxito, e apresentar cada homem perfeito em Cristo Jesus. A fim de fazê-lo, vocês devem orar fervorosamente. Os ministros do evangelho devem estar de posse desse poder que realizou tais maravilhas em favor dos humildes pescadores da Galiléia. T4 320 4 Faculdades morais e intelectuais são necessárias a fim de que vocês cumpram com fidelidade os importantes deveres que lhes compete; embora possuindo essas qualidades, pode ainda haver uma grande falta de santidade. A concessão do Espírito Santo é indispensavelmente essencial ao êxito em seu grande trabalho. Disse Cristo: "Sem Mim nada podeis fazer." João 15:5. Mas sendo fortalecidos por Cristo, vocês podem realizar todas as coisas. ------------------------Capítulo 28 -- Simpatia pelos que erram T4 321 1 Estimado irmão A: T4 321 2 Levantei-me cedo para escrever-lhe. Luz adicional me foi dada ultimamente, pela qual sou responsável. Duas vezes enquanto nesse Estado o Senhor Se revelou a mim. Enquanto pleiteava com Ele à noite, foram-me mostradas em visão muitas coisas relacionadas à causa de Deus. Foi-me apresentado o estado de coisas na igreja, no colégio, no hospital e nas casas publicadoras localizadas em Battle Creek, e a obra de Deus na Europa, na Inglaterra, em Oregon e Texas, e em outros novos campos. Há premente necessidade de que o trabalho em novos campos comece da maneira correta e traga o cunho divino. Muitos nesses novos campos estarão em perigo de aceitar a verdade ou com ela concordar, que não têm uma genuína conversão de coração. Quando provados pela tormenta e tempestade, descobrir-se-á que sua casa não foi edificada sobre a rocha, mas sobre areia movediça. O pastor deve possuir religião prática e desenvolvê-la em sua vida diária e caráter. Seus sermões não devem ser exclusivamente teóricos. T4 321 3 Foram-me mostradas algumas coisas desfavoráveis à prosperidade da causa da verdade no Texas. O irmão B e seus familiares ainda não têm sido uma bênção ou ajuda para a causa de Deus em lugar algum. Foi-me mostrado anteriormente que a influência deles não tem sido um aroma suave. Não podem edificar a causa de Deus, por que não possuem em si os elementos que os tornem capazes de exercer uma influência salutar do lado de Deus e da verdade. Se vocês tivessem tido a mente de Deus, não teriam sido tão destituídos de discernimento, especialmente após terem sido fielmente advertidos por aqueles em quem deviam ter tido confiança. Palavras suaves e discursos bonitos os enganaram. Esses irmãos não são todos iguais, mas todos têm caráter imperfeito. Pela constante vigilância sobre si mesmos, e zelosa oração a Deus em fé, podem ter êxito em manter o eu em seu lugar correto. Através de Jesus Cristo podem ser transformados em caráter, e obter aptidão moral para encontrar o Senhor quando vier; mas Deus não colocará qualquer responsabilidade importante sobre eles, pois assim as almas estariam expostas ao perigo. Esses homens não estão aptos a conduzir o rebanho de Deus. Exatamente quando suas palavras deviam ser poucas e bem escolhidas, modestas e despretensiosas, seus traços naturais de caráter são entremeados em tudo quanto fazem e dizem, e a obra de Deus é maculada. T4 322 1 Você e o irmão C não têm tido verdadeiro discernimento. Tiveram demasiada confiança na habilidade desses homens. Um navio pode parecer ótimo em quase todo aspecto; mas se há um defeito -- um pedaço de madeira carcomida por vermes -- a vida de todos a bordo estará em perigo. Quase todos os elos de uma corrente podem ser bons; mas um elo defeituoso destruirá o seu valor. Indivíduos que possuem excelentes qualidades podem ter assinalados traços de caráter que os desqualificam para ser encarregados da solene e sagrada obra de Deus. Mas esses homens são deficientes em quase tudo que se refere ao caráter cristão. Seu exemplo não é digno de imitação. T4 322 2 Você precisa que muito seja feito em seu favor, meu irmão, antes que seus esforços sejam o que deveriam e poderiam ser. Seu entendimento tem sido obscurecido. Simpatia e união com aqueles cujo caráter foi lançado num molde inferior, não o elevarão nem o enobrecerão, mas enferrujarão e corroerão a sua mente e prejudicarão a sua utilidade e o afastarão de Deus. Você é de natureza impulsiva. Encargos da vida doméstica e da causa não recaem pesadamente sobre você; e a menos que esteja constantemente sobre a influência refinadora do Espírito de Deus, estará em perigo de tornar-se rude em suas maneiras. A fim de corretamente representar o caráter de Cristo na grande obra em que está empenhado, você precisa ser mais espiritual e manter mais íntima comunhão com Deus. Os seus próprios pensamentos devem ser elevados, seu coração santificado, a fim de que sejam coobreiro com Jesus Cristo. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. T4 323 1 A obra de Deus no Texas estaria em mais elevada posição hoje se os irmãos B não tivessem ligação com ela. Eu poderia citar razões mais particulares por que isto se dá, mas não o farei nesta ocasião. É suficiente dizer que esses homens não são corretos para com Deus. Sentindo-se auto-suficientes e competentes para quase qualquer chamado, eles não empreenderam esforços para corrigir os traços objetáveis de caráter que lhes foram transmitidos como herança, mas que por meio de educação, cultura e treinamento, poderiam ter sido vencidos. Fizeram algumas melhorias nesse sentido; mas se forem pesados na balança, seriam ainda achados em falta. T4 323 2 A Palavra de Deus tem abundância de princípios gerais para a formação de corretos hábitos de vida, e os testemunhos, gerais e pessoais, têm sido planejados para chamar sua atenção de modo mais especial para esses princípios; tudo isso, porém, não tem causado impressão suficiente sobre seu coração e mente para levá-los a perceber a necessidade de decidida reforma. Se tivessem corretas opiniões a respeito de si mesmos em contraste com o Modelo perfeito, cultivariam aquela fé que atua por amor e purifica a alma. Esses irmãos, exceto AB, são naturalmente arbitrários, ditatoriais e auto-suficientes. Não consideram os outros melhores do que eles próprios. São invejosos e ciumentos de qualquer membro da igreja, que, julgam, será mais estimado do que eles. Professam ser conscienciosos; mas coam um mosquito e engolem um camelo em seu trato com seus irmãos, que, temem, serão considerados superiores a eles. Apegam-se a coisas pequenas e falam sobre particularidades, dando sua própria interpretação a palavras e atos. Isto é particularmente verdade acerca de dois desses irmãos. T4 323 3 Esses homens, especialmente AB, são oradores desembaraçados e fluentes. Sua maneira suave de relatar as coisas tem tal aparência de honestidade e genuíno interesse pela causa de Deus, que tendem a enganar e obscurecer a mente de quem os ouve. Meu coração dói de tristeza enquanto escrevo, porque sei da influência dessa família onde quer que seja sentida. Não planejei falar com respeito a essas pessoas novamente; mas a solene exposição desses assuntos perante mim me compele a escrever uma vez mais. Se os ministros da Palavra que professam estar relacionados com Deus não podem discernir a influência de tais homens, são desqualificados para se apresentarem como instrutores da verdade de Deus. Se essas pessoas somente mantivessem sua apropriada posição, e nunca tentassem ensinar ou liderar, eu ficaria em silêncio; mas quando vejo que a causa de Deus está em perigo de sofrer, não posso mais ficar quieta. T4 324 1 Não deve ser permitido que esses irmãos se fixem todos num lugar e formem a liderança na igreja. Eles têm falta de afeição natural. Não manifestam simpatia, amor e sentimento refinado uns para com os outros, mas se envolvem em inveja, ciúmes, queixas e contendas entre si. Sua consciência não é sensível. O amor, gentileza e mansidão de Cristo não ajudam a compor a experiência deles. Não permita Deus que tal elemento exista na igreja. A menos que essas pessoas sejam convertidas, não podem ver o reino do Céu. É muito mais compatível ao seus sentimentos estarem destruindo, apanhando faltas e procurando falhas e defeitos em outros, do que em lavar as próprias vestes de caráter da contaminação do pecado, tornando-as brancas no sangue do Cordeiro. T4 324 2 Chego agora à parte mais penosa desta história, a que se refere ao irmão D. O Senhor levou-me a analisar uma investigação em que você e o irmão C participavam em grande medida. Deus foi ofendido por ambos. Vi e ouvi o que me causou grande dor e desapontamento. Tal conduta irracional e ímpia como foi seguida nessa investigação era exatamente o que se poderia esperar do irmão B; mas minha maior surpresa e dor foi que homens tais como o irmão C e você tivessem parte ativa nessa vergonhosa investigação unilateral. T4 324 3 Ao irmão C, que atuou como advogado para questionar e trazer à mais forte luz as minúcias, eu diria: Eu não aceitaria tal trabalho como minha responsabilidade nem por toda a riqueza do mundo. Você foi simplesmente enganado e iludido por um estranho espírito que não devia ter qualquer valor, nem receber respeito algum. Inveja, ciúmes, vãs suspeitas e disputas duvidosas fizeram um carnaval nessa ocasião. T4 325 1 Você pode me julgar demasiado severa, mas não posso ser mais severa do que o caso merece. Pensaram todos vocês, quando condenaram os inocentes, que Deus estava inteiramente de acordo com isso? A condição posterior do irmão D foi o resultado da posição tomada por você naquela ocasião. Se você tivesse revelado justiça e simpatia, ele estaria hoje onde sua influência se identificaria ao lado da verdade sob o poder que um espírito manso e tranqüilo exerce. O irmão D não era um orador fluente, e as palavras suaves e discursos bonitos de AB, proferidos com aparente vivacidade e pureza, exerceram efeito. O pobre homem sem visão devia ter sido considerado com piedade e ternura; mas, em vez disso, foi colocado sob a pior luz possível. Deus viu, e não considerará nenhum de vocês inocente por terem parte na injusta investigação. Irmão A, não lhe parecerá então tão divertido como quando esteve sentado em julgamento contra um irmão cego. Você deve aprender uma lição dessa experiência; ou seja, fechar os ouvidos àqueles que o convenceram contra aqueles a quem Deus gostaria que você apoiasse e fortalecesse, e de quem se compadecesse. T4 325 2 Você e o irmão C não puderam ver os defeitos do irmão B, nem discernir os traços opostos de caráter do irmão D. Mas a sua influência, santificada pelo Espírito de Deus falaria sobre a causa de Deus com poder dez vezes maior do que o do irmão B. Você, irmão D, causou muito prejuízo; e aconselho que se arrependa de seu erro tão prontamente quanto o cometeu. Em nome do Mestre, apelo-lhe a que se desvincule de influências humanas e feche os ouvidos a boatos e astuciosos. Que nenhuma pessoa coloque um testemunho em sua boca; mas permita que Deus, em vez de seres humanos não consagrados no lar e fora dele, lhe dê uma responsabilidade em Sua causa. T4 325 3 O irmão C precisa do suavizante e refinador Espírito de Deus no coração. Precisa exercitá-lo em seu lar. "O amor seja não fingido." Romanos 12:9. Que o espírito arbitrário, ditatorial e censurador, juntamente com toda a maldade, sejam removidos de seu lar. O mesmo espírito arrogante, censurador, será transferido à igreja. Se seus sentimentos forem um pouco suavizados no presente momento, ele atuará de maneira mais bondosa; mas se ocorrer o oposto, agirá de acordo com isso. Ele não tem exercido domínio próprio e autodisciplina. Onde o irmão D tem um defeito, seus juízes e aqueles que o condenaram têm dez. T4 326 1 Irmão A, por que não tomou plenamente o partido do oprimido? Por que você não resolveu essa questão? Por que não ergueu sua voz, como fez seu Salvador e disse: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra." João 8:7. Você cometeu um terrível erro, que pode resultar na perda de algumas almas, não obstante tê-lo feito ignorantemente. Se uma palavra de ternura e genuína piedade tivesse sido expressa por você ao irmão D, ela teria sido registrada em sua conta no Céu. Você não teve, porém, mais percepção da obra que estava fazendo para o tempo e a eternidade do que aqueles que condenaram a Cristo; e você julgou e condenou o seu Salvador na pessoa de Seu santo. "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. A hipocrisia sempre encontrou a mais severa reprovação de Jesus; ao passo que os verdadeiros pecadores que vieram a Ele em sincero arrependimento foram recebidos, perdoados e confortados. T4 326 2 Você pensou que o irmão D poderia ser levado a crer que o errado era certo e o certo era errado, simplesmente porque seus irmãos queriam que ele assim cresse? Ele estava doente e nervoso. Tudo lhe parecia escuro e incerto. Sua confiança em você e no irmão C tinha desaparecido, e com quem ele devia contar? Ele foi censurado por uma coisa e depois por outra, até que se tornou confuso, distraído e desesperado. Aqueles que o levaram a essa condição cometeram o maior pecado. T4 326 3 Onde estava a compaixão, mesmo sobre o pretexto de solidariedade humana? Os mundanos, via de regra, não teriam sido tão descuidosos, tão isentos de misericórdia e cortesia; eles teriam exercido mais compaixão para com um homem levando em conta sua própria enfermidade, considerando-o merecedor da mais terna atenção e amor fraternal. Ali, entretanto, estava um homem cego, um irmão em Cristo, e vários de seus irmãos estavam sentados como juízes acerca do caso dele. T4 327 1 Mais de uma vez no decorrer do julgamento, enquanto um irmão estava sendo caçado como um coelho para morte, você irrompia em gargalhada. Ali estava sentado o irmão C, naturalmente tão bondoso e compassivo que censurou seus irmãos por sua crueldade em matar a presa para benefício próprio; no entanto, ali estava um pobre cego de valor tão superior às aves, como o homem formado à imagem de Deus o é em relação às criaturas irracionais sob Seu cuidado. "Coais um mosquito e engolis um camelo" (Mateus 23:24) teria sido o veredicto dAquele que falou como jamais alguém falou, tivesse Sua voz sido ouvida na assembléia de vocês. T4 327 2 Aquele que teve tão terna compaixão pelos pássaros, poderia ter exercido uma compaixão digna de louvor e amor por Cristo na pessoa de Seu afligido santo. Vocês, porém, agiram como homens de olhos vendados. O irmão B habilmente apresentou um agradável discurso. O irmão D não era um orador tão fluente. Seus pensamentos não podiam ser revestidos em linguagem que formulasse um argumento, e estava por demais surpreso para tirar melhor proveito da situação. Seus irmãos, críticos e rudes, tornaram-se advogados e colocaram o homem cego em grande desvantagem. Deus viu e assinalou as transações daquele dia. Esses homens, peritos em obscurecer as coisas e obter vantagem, aparentemente triunfaram, enquanto o irmão cego, mal interpretado e prejudicado, sentia que tudo estava se afundando sob seus pés. Sua confiança naqueles em quem havia acreditado serem representantes de Cristo foi terrivelmente abalada. O choque moral que recebeu quase resultou em sua ruína, tanto espiritual como física. Todos que haviam se empenhado nesse trabalho deviam sentir o mais profundo remorso e arrependimento diante de Deus. T4 327 3 O irmão D cometeu um erro em submergir sob essa carga de reprovação e crítica desmerecida, que deveria ter caído sobre outras cabeças. Ele amou a causa de Deus com integridade de alma. Deus demonstrou o Seu cuidado pelo cego, dando-lhe prosperidade; mas mesmo isso foi usado contra ele por seus invejosos irmãos. Deus tem colocado no coração dos descrentes o serem bondosos e misericordiosos para com ele por ser um homem cego. O irmão D tem sido um cavalheiro cristão, e tem feito até os seus inimigos mundanos viverem em paz com ele. Deus tem sido para ele um Pai bondoso, e tem suavizado o seu caminho. Ele devia ter sido veraz ao seu conhecimento da verdade, e servido a Deus com singeleza de coração, a despeito de censura, inveja e falsas acusações. Foi a posição que você tomou, irmão A, que foi o golpe de misericórdia no irmão D. Mas ele não devia deixar de manter-se apegado a Deus, conquanto os pastores e o povo assumissem uma conduta em que ele não podia ver justiça. Se estivesse firmado na Rocha Eterna, ele teria permanecido firme ao princípio, e a todo custo defendido sua fé e a verdade. Oh, que necessidade há de o irmão D apegar-se mais intimamente ao Braço que é poderoso para salvar! T4 328 1 Todo valor e grandeza desta vida se relaciona com o Céu e a vida futura, imortal. O eterno braço de Deus envolve a alma que se volta para Ele em busca de ajuda, por mais fraca que seja essa alma. As coisas preciosas das colinas perecerão; mas a alma que vive para Deus, insensível à censura, não pervertida pelo aplauso, habitará para sempre com Ele. A cidade de Deus abrirá os seus portões dourados para receber aquele que aprendeu enquanto viveu na Terra a depender de Deus para receber orientação e sabedoria, conforto e esperança em meio à perda e aflição. Os cânticos dos anjos o recepcionarão ali, e para ele a árvore da vida produzirá os seus frutos. T4 328 2 O irmão D falhou onde deveria ter sido vitorioso. Mas o piedoso olhar de Deus está sobre ele. Conquanto a compaixão do homem possa falhar, ainda assim Deus ama e Se compadece e estende Sua mão ajudadora. Se ele for submisso, manso, de coração humilde, ainda erguerá a cabeça e firmará os pés firmemente sobre a Rocha dos Séculos. "As montanhas se desviarão e os outeiros tremerão; mas a Minha benignidade não se desviará de ti, e o concerto da Minha paz não mudará, diz o Senhor, que Se compadece de ti." Isaías 54:10. T4 328 3 Nenhum de nós tem desculpa sobre qualquer forma de julgamento, por deixar o nosso apego a Deus desfazer-se. Ele é a nossa fonte de força, nossa fortaleza em toda prova. Quando clamarmos a Ele por ajuda, Sua mão será estendida poderosamente para salvar. O irmão D devia ter sentido que, tendo a Deus por seu pai, podia esperar e regozijar-se, embora todo amigo humano dele se esquecesse. Apelo-lhe para não roubar a Deus de seu serviço porque o homem frágil o tem julgado errado, mas apressar-se e consagrar-se a Deus e servi-Lo com todas as faculdades de seu ser. Deus o ama, e ele ama a Deus; e suas obras devem estar em harmonia com a sua fé, seja qual for a conduta que os homens possam ter para com ele. Os seus inimigos podem apontar a sua posição presente como evidência de que estavam certos no julgamento que fizeram dele. A conduta do irmão D foi apressada e sem a devida consideração. Sua alma tem-se angustiado, e julga que a ferida foi muito profunda para ser restaurada. Aqueles que o perseguiram tão incansavelmente têm estado na vida e no caráter longe de serem inocentes. Se Deus tivesse tratado os seus caminhos tortuosos e caráter imperfeito como eles trataram com o irmão D, teriam perecido há muito tempo. Mas um Deus compassivo os tem suportado, e Ele não os trata de acordo com os seus pecados. T4 329 1 Deus tem sido verdadeiro para o irmão D, e ele devia corresponder a Seus tratos misericordiosos, não obstante o homem ter revelado tão pouca ternura e sentimentos de solidariedade humana. É privilégio do irmão D ocultar-se em Cristo da contenda das palavras e sentir que fontes inexauríveis de gratidão, contentamento e paz lhe estão abertas e acessíveis a todo o momento. Se ele tivesse ilimitados tesouros terrestres, não seria tão rico como pode agora ser no privilégio de estar do lado do certo e de beber plenamente das fontes de salvação. T4 329 2 O que Deus não tem feito pelo irmão D ao dar-lhe Seu Filho para morrer por ele? E com Ele não dará livremente todas as coisas? Por que deve ser infiel a Deus em razão de os homens terem sido infiéis a ele? O amor que liga o coração da mãe ao seu aflito filho é mais forte do que a morte, contudo Deus declara que ainda que uma mãe possa esquecer-se de seu filho, "Eu, todavia, Me não esquecerei de ti". Isaías 49:15. Não; nenhuma única alma que coloca sua confiança nEle será esquecida. Deus pensa em Seus filhos com a mais terna solicitude, e mantém um memorial escrito diante dEle, para que jamais possa esquecer-Se dos filhos sob Seus cuidados. T4 330 1 Rompem-se às vezes vínculos humanos, Entre amigos se vê deslealdade, A mãe, por vezes, não anima os seus, Céu e terra hão de passar; Porém mudança alguma, Ocorre no infinito amor de Deus. T4 330 2 O irmão e a irmã D poderiam ter sido de preciosa ajuda à igreja em levá-la a uma posição de melhor entendimento, se a igreja tivesse aceitado os seus esforços. Mas inveja, vãs suspeitas e ciúme os afastaram da igreja. Se tivessem deixado as cenas de seu julgamento mais cedo do que o fizeram, teria sido melhor para eles. Salem, Oregon, 8 de Julho de 1878. ------------------------Capítulo 29 -- A causa no Texas T4 330 3 Deus me mostrou muito com respeito à obra de Satanás no Texas, e a conduta ímpia de alguns que se mudaram de Michigan para lá. Foi-me mostrado que os irmãos B não aceitaram de coração o testemunho que lhes foi dado. Eles têm mais confiança em si mesmos do que no Espírito de Profecia. Sentiram que a luz dada não era do Céu, mas que se originou de relatos que me foram feitos com respeito a eles. Isto não é correto. Contudo, permita-me perguntar, não havia fundamento para os relatos? A própria história da vida deles não condena a sua conduta? T4 330 4 Nenhuma pessoa dessa família teve uma experiência religiosa que a qualificaria a tomar qualquer posição de liderança num ensino da verdade para outros. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor" (Isaías 52:11) foram as palavras proferidas pelo anjo de Deus. "Eles não são vasos escolhidos por Deus para realizar qualquer parte de Seu trabalho tão sagrado. Maculam e corroem, mas não purificam e abençoam." Vocês têm, irmãos B, sempre mantido um baixo padrão de cristianismo. Por um tempo, onde não são plenamente conhecidos, têm tido influência. Uma vez obtido influência, tornam-se menos cuidadosos, e agem segundo as propensões naturais do coração, até que aqueles que amam a verdade percebam que vocês são um grande empecilho ao avanço da obra de Deus. Isto não é vã suspeita, mas fatos reais do caso. T4 331 1 Se vocês sempre manifestassem bondade, respeito, amor nobre e generosidade, mesmo para com homens ímpios, poderiam prestar serviço eficiente a Cristo. Se o Espírito de Cristo habitasse em vocês, Ele seria representado em suas palavras, atos, e mesmo na expressão de seu semblante. Sua conversação expressaria mansidão, não orgulho e jactância. Não buscariam exaltar-se e glorificar-se. A humildade é uma graça cristã com a qual vocês não estão familiarizados. Têm aspirado a supremacia, e tentado fazer com que o seu poder e superioridade sejam sentidos ao controlar e dar ordens a outros. Especialmente tem sido este o caso com A B. Ele e sua esposa, pela própria influência, não podem melhorar a reputação moral e espiritual da causa de Deus. Quanto mais limitada a sua esfera em relação à causa de Deus, melhor será para ela. Suas palavras e ações em questões de negócios não são confiáveis. Este geralmente é o caso de A B e seus irmãos. O mundo e a igreja têm direito de dizer que a religião deles é vã. São mundanos e calculistas, e procuram oportunidade para conseguir um negócio favorável. São rudes e severos para com aqueles que se relacionam com eles. São invejosos, ciumentos, pretensiosos. T4 331 2 Os que assim representam a verdade, criam uma tremenda barreira para a salvação de outros. A menos que sejam transformados, seria melhor que nunca tivessem abraçado a verdade. Sua mente é controlada mais por Satanás do que pelo Espírito de Deus. A esposa do irmão A B possui por natureza um coração bondoso, mas tem sido moldada por seu marido. Ela é uma faladora descuidada. Sua língua é freqüentemente incendiada com as chamas do inferno; é incontrolável. "Na multidão de palavras", diz Salomão, "não falta transgressão." Provérbios 10:19. Isso certamente é verdade em seu caso. Ela exagera, e dá falso testemunho, e está assim constantemente transgredindo o mandamento de Deus, embora professe observar os mandamentos. Ela não pretende agir mal; mas o seu coração não é santificado pela verdade. T4 332 1 Enquanto vocês, irmãos B, têm-se precipitado no envolvimento em controvérsia com outros sobre pontos de nossa fé, sem exceção têm estado adormecidos no que se refere àquelas coisas que pertencem ao cristianismo. Não estão nem mesmo sonhando quanto à posição perigosa que ocupam. Essa apatia se estende sobre a igreja e sobre cada um que, professando a Cristo, como vocês têm feito, nega-O por suas obras. Estão levando outros ao mesmo caminho de descuido em que estão trilhando. A Palavra de Deus declara que sem santificação "ninguém verá o Senhor". Hebreus 12:14. Jesus morreu "para nos remir de toda iniqüidade e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. T4 332 2 "A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente." Tito 2:11, 12. Cristo diz: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. Para que servem suas orações enquanto atendem "a iniqüidade no coração"? Salmos 66:18. A menos que façam uma mudança completa, não demorará muito, tornar-se-ão cansados de reprovação, como se deu com os filhos de Israel; e, à semelhança deles, apostatarão de Deus. Alguns de vocês, em palavras, reconhecem a reprovação; mas não a aceitam de coração. Continuam como antes, somente sendo menos suscetíveis à influência do Espírito de Deus, tornando-se cada vez mais cegos, tendo menos sabedoria, menos domínio próprio, menos poder moral, e menos zelo e entusiasmo pelas atividades religiosas; e a menos que sejam convertidos, deixarão afinal de apegar-se inteiramente a Deus. Não realizaram mudanças decisivas na vida quando veio a reprovação, porque não viram nem perceberam os seus defeitos de caráter e o grande contraste entre a sua vida e a vida de Cristo. Tem sido a sua política colocar-se numa posição onde não perderiam totalmente a confiança de seus irmãos. T4 332 3 Foi me mostrado que a condição da igreja de _____ é deplorável. A sua influência, irmão A B, e a de sua esposa, têm resultado, como o irmão e todos podem ver, em discórdia e contenda, e se revelarão a ruína final da igreja, a menos que mudem de local ou se convertam. Você corrói e enferruja aqueles que se relacionam com você. Você tem simpatizantes, porque nem todos o vêem como Deus o vê. A percepção deles é pervertida por sua multiplicidade de palavras e palestras agradáveis. Essa é uma triste e desanimadora situação. T4 333 1 Foi-me mostrado que no que se refere a palestras, A B está qualificado a dirigir as reuniões; mas quando a aptidão moral é pesada, ele é achado em falta. O seu coração não é correto para com Deus. Quando outros são colocados numa posição de liderança têm de confrontar com o espírito de oposição dele e de sua esposa. Esse espírito não santificado não é manifesto abertamente, mas atua secretamente para prejudicar, desencorajar e deixar perplexos os que estão tentando realizar o melhor que podem. Deus a tudo vê, e no devido tempo isso receberá sua justa recompensa. Dirigir ou arruinar é a política desse irmão, e sua esposa não está agora em melhor condição. Os seus sentidos estão pervertidos. Ela não é correta para com Deus. T4 333 2 Irmão A B, um registro da triste história que está formando é mantido no Céu. Seu coração está em guerra com os testemunhos de reprovação. A família E tem sido, e ainda está sendo enganada por você. Outros estão mais ou menos perplexos, porque você pode falar bem sobre a verdade presente. A harmonia e unidade não existem na igreja de _____. Você não recebeu nem agiu segundo a luz que lhe foi dada. Se tivesse acatado as palavras de Salomão, não seria hoje encontrado em um caminho tão escorregadio. Ele diz: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento." Provérbios 3:5. Inteira submissão à vontade e caminhos de Deus, unida à profunda desconfiança de sua própria sabedoria, teriam-no conduzido para uma vereda mais segura. T4 333 3 Sua autoconfiança tem sido muito grande. Tão logo seja sugerido que um irmão dirija as reuniões ou assuma uma posição de confiança em seu lugar, você decide que tanto quanto depender de você, ele não deve ter sucesso, e com o poder de sua vontade pervertida, tem colocado em ação o seu espírito de oposição. T4 333 4 Sua atitude para com o irmão D foi abusiva. O coração dele foi estimulado com a mais profunda simpatia por você. Ele tinha sido seu amigo; mas o fato de ter-se desligado de você foi suficiente para criar em você um espírito de ciúmes que foi tão cruel quanto a sepultura. E esse espírito foi exercido contra um homem cego -- alguém que deveria ter sido objeto do mais bondoso cuidado e da mais profunda simpatia da parte de todos. Foi seu espírito perverso e enganador que levou outros a simpatizar-se com você em vez dele. Quando ele viu que a clara luz do caso não podia ser levada perante os irmãos, e estava plenamente convencido de que o erro estava triunfando sobre o que é certo, seu espírito ficou tão magoado que ele se viu desesperado. Foi então que deixou o seu apego a Deus. Um ataque parcial de paralisia lhe sobreveio. Ele quase ficou prejudicado, mental e fisicamente. Nas reuniões da igreja, questões de somenos importância foram tratadas, discutidas e destacadas ao máximo; e erro, impressões cruelmente equivocadas foram colocadas sobre a mente dos que estavam presentes. T4 334 1 Buscar assim prejudicar um homem que está em plena posse de todas as suas faculdades é um grande pecado; mas tal conduta para com um homem que é cego, e que devia ser tratado de tal maneira que sua perda de visão fosse sentida o mínimo possível, é um pecado de muito maior magnitude. Se você tivesse sido homem sensível, um cristão como professa ser, não o teria prejudicado como fez. Contudo, o irmão D tem um Amigo no Céu que pleiteou sua causa, e o fortaleceu para apegar-se novamente às promessas de Deus. Quando o irmão D ficou desequilibrado por causa de sua grande angústia e o tratamento que recebeu, agiu como um homem insano. Isso foi usado contra ele como evidência de que tinha um espírito mau. Mas o Juiz que tudo vê pesa os motivos, e recompensará segundo as obras feitas. T4 334 2 Você, irmão A B, tem-se ensoberbecido com vã presunção e se julga competente para qualquer tarefa. Renunciou aos Testemunhos do Espírito de Deus; e se pudesse fazer as coisas ao seu modo, lançaria tudo em um novo molde. Quão difícil para você é ver as coisas numa luz apropriada, quando o dever conduz numa direção e a inclinação noutra. Suas idéias do caráter de Cristo e da necessária preparação para a vida futura são estreitas e pervertidas. T4 335 1 Foi-me mostrado que os irmãos B e seus familiares estão decaindo cada vez mais. "São nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas"; e se continuarem na mesma conduta, finalmente serão "duas vezes mortas, desarraigadas." Judas 12. Ao se inclinarem a próprio entendimento, desceram ao ponto onde não têm religiosidade prática, nem Céu, nem Deus. T4 335 2 Se todo o povo de Deus estivesse a Ele unido, discerniria as habilidades limitadas desses homens, seus preconceitos, inveja, ciúme e autoconfiança. As objeções que seu ímpio coração pode levantar contra os Testemunhos do Espírito de Deus não serão, na providência divina, removidos. Eles podem tropeçar e cair sobre questões originadas com eles mesmos. Mas o povo de Deus deve ver que seu orgulhoso coração nunca se humilhou e seus altivos olhares nunca foram baixados. A Bíblia é clara sobre todos os pontos que se relacionam com o dever cristão. Todos quantos fazem a vontade de Deus conhecerão a doutrina. Mas essas pessoas estão buscando luz de seus próprios candeeiros e não do Sol da Justiça. T4 335 3 Nenhum homem que não expressa o real sentimento do coração pode ser chamado um homem veraz. A falsidade praticamente consiste em uma intenção de enganar; e isso pode ser mostrado por um olhar ou por uma palavra. Mesmo os fatos podem ser arranjados e expostos de tal forma que se tornem falsidades. Alguns são peritos nesses negócios e buscarão justificar-se por desviarem da estrita veracidade. Há alguns que, a fim de destruírem ou prejudicarem a reputação de outros, por pura malícia, inventarão falsidades a respeito deles. Mentiras de interesse próprio são proferidas na compra e venda de bens, gado, ou qualquer tipo de mercadoria. Mentiras de vaidade são proferidas por homens que gostam de parecer o que não são. Uma história não pode passar pela mão deles sem acréscimo. Oh, quanto é feito no mundo que os praticantes um dia gostariam de desfazer! Mas o registro de palavras e atos nos livros do Céu contarão a triste história de falsidades proferidas e praticadas. T4 336 1 Falsidade e engano de todo o tipo é pecado contra o Deus da verdade e veracidade. A Palavra de Deus é clara sobre estes pontos: "Não... mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo." Levítico 19:11. "Mas, quanto... a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte." Apocalipse 21:8. Deus é um Deus de sinceridade e verdade. A Palavra de Deus é um livro de verdade. Jesus é uma testemunha fiel e verdadeira. A igreja é a testemunha e território da verdade. Todos os preceitos do Altíssimo são verdadeiros e totalmente justos. Como, então, devem a prevaricação e qualquer exagero ou engano afigurar-se a Sua vista? Pela falsidade que pronunciou por cobiçar os presentes que o profeta recusou, o servo de Eliseu foi acometido de lepra, que terminou somente com a morte. T4 336 2 Até a própria vida não deve ser comprada pelo preço da falsidade. Por uma simples palavra ou um aceno, os mártires poderiam ter negado a verdade e salvado a própria vida. Consentindo em lançar um simples grão de incenso sobre o altar idólatra poderiam ter se salvado da tortura, do cadafalso ou da cruz. Mas eles recusaram usar de falsidade tanto por palavras como por atos, apesar da vida ser a graça que poderiam receber em troca. Eles consideravam bem-vindas prisão, tortura e morte, com consciência limpa, em vez de libertação através de engano, falsidade e apostasia. Por fidelidade e fé em Cristo eles obtiveram vestes imaculadas e coroas adornadas. Sua vida foi enobrecida e elevada à vista de Deus, porque permaneceram firmes ao lado da verdade sob as mais adversas circunstâncias. T4 336 3 Os homens são mortais. Podem ser sinceramente religiosos, e contudo ter muitos erros de conhecimento e muitos defeitos de caráter; mas não podem ser seguidores de Cristo, e ainda estar associados com Ele, aqueles que amam e praticam a mentira. Apocalipse 22:15. Tal vida é uma fraude, uma perpétua falsidade, um engano fatal. É um teste rigoroso de coragem para homens e mulheres serem levados a enfrentar os próprios pecados e com franqueza reconhecê-los. Dizer: "Este erro deve ser lançado à minha conta" requer uma força de princípio interior que o mundo possui apenas em grau limitado. Aquele, porém, que tem a coragem de dizer isto com sinceridade, ganha uma decidida vitória sobre o eu, e efetivamente fecha a porta contra o inimigo. T4 337 1 Uma adesão aos mais estritos princípios da verdade freqüentemente provocarão inconveniência no presente, e pode mesmo envolver perda temporal; mas aumentará a recompensa na vida futura. A religião não consiste meramente num sistema de doutrinas secas, mas em fé prática, que santifica a vida e corrige a conduta no círculo familiar e na igreja. Muitos podem dizimar o cominho e a hortelã, mas negligenciar questões de maior peso -- a misericórdia e o amor de Deus. Andar humildemente com Deus é essencial para a perfeição do caráter cristão. Deus requer princípio firme nos mínimos detalhes das transações da vida. Disse Cristo: "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito." Lucas 16:10. T4 337 2 Não é a magnitude nem a aparente insignificância de uma transação comercial que a torna justa ou injusta, honesta ou desonesta. Pelo mínimo desvio da retidão nos colocamos no terreno do inimigo, e podemos seguir, passo a passo, a qualquer grau de injustiça. Uma vasta proporção do mundo cristão divorcia a religião de seus negócios. Milhares de pequenos truques e desonestidade são praticados no trato com seus semelhantes, o que revela o verdadeiro estado do coração, mostrando a sua corrupção. T4 337 3 Você, irmão A B, não honra a causa da verdade. A fonte precisa ser purificada, para que as águas possam ser puras. Sua esposa se empenha demais em procurar máculas e manchas no caráter de seus irmãos e irmãs. Enquanto busca tirar as ervas daninhas nos jardins de seus vizinhos, negligencia o seu próprio. Ela precisa fazer esforços mais diligentes a fim de desenvolver um caráter imaculado. É muitíssimo perigoso ela falhar aqui. Se perder o Céu, perde tudo. Ambos devem purificar o templo da alma, que se tornou terrivelmente poluído. A mente de vocês se tornou tristemente pervertida. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Salmos 111:10. Seja muito zeloso e desconfiado do eu, mas nunca deixe que sua língua seja usada para expressar o zelo de seu coração a respeito de outros. Resta uma grande obra para ambos realizarem, humilhar-se de tal modo perante Deus que Ele aceite o arrependimento de vocês. Até aqui vocês têm sido ouvintes, mas não perseverantes praticantes da Palavra. Admitiram repetidas vezes estarem errados; mas a mente carnal permaneceu inalterada. Fizeram uma pequena mudança sob a influência da emoção; mas não tem havido uma reforma de princípio. Vi que chegou o tempo em que é preciso agir quanto ao caso de vocês, a menos que uma mudança total seja efetuada em sua vida. A igreja de Deus não pode transigir com seus modos rudes e baixo padrão de cristianismo. T4 338 1 Um de vocês, irmãos, é suficiente num lugar. Estão continuamente em contenda e guerra entre si, rancorosos e odiando um ao outro. Conquanto sejam um provérbio para os do mundo com quem se associam, vocês estão tão distantes de Deus que não podem ver outra coisa senão que estão certos. Cada um de vocês precisa de uma visão mais íntima do caráter de Cristo, a fim de poder discernir mais claramente o que significa ser semelhante a Ele. A menos que vocês todos mudem de conduta, e vençam inteiramente seu modo pomposo, ditatorial, descortês de proceder, desonrarão a causa aonde quer que forem; e seria melhor que nunca tivessem nascido. O tempo é chegado para volverem-se para a direita ou para a esquerda. "Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. O deformado caráter desenvolvido em vocês é uma desgraça para o nome de cristão. Nenhuma igreja prosperará sob a liderança ou guia de vocês; pois não estão ligados a Deus. Vocês são jactanciosos, orgulhosos, presunçosos, e moldariam outros segundo o mesmo padrão de vocês. T4 338 2 A igreja de Deus por muito tempo tem sido sobrecarregada com suas ações e comportamento não cristãos. Que Deus os ajude a ver e sentir que os seus interesses eternos requerem total transformação. Pelo seu exemplo, outros são levados a se desviar do puro e elevado caminho da santidade. Na verdade, grandes homens são invariavelmente modestos. A humildade é uma graça que se ajusta naturalmente a eles como uma veste. Aqueles que têm preenchido a mente com conhecimento útil, e que possuem realizações e refinamento genuínos, são os que mais se disporão a admitir a fraqueza do próprio entendimento. Não são autoconfiantes nem jactanciosos; mas em vista de realizações mais elevadas a que poderiam erguer-se em poder intelectual, parecem a si mesmos ter apenas começado a ascensão. É o pensador leviano, com conhecimento básico ou superficial, que se julga sábio e assume desprezíveis ares de importância. T4 339 1 Vocês poderiam ser hoje homens de honra e confiança; mas têm estado tão satisfeitos consigo mesmos que não têm melhorado a luz e privilégios que lhes foram graciosamente concedidos. A mente de vocês não foi desenvolvida pelas graças cristãs, nem suas afeições santificadas pela comunhão com o Doador da vida. Há uma pequenez, um mundanismo, que assinala o caráter exterior, e revela o indubitável fato de que têm estado andando segundo o próprio coração e à própria vista, e que estão cheios da própria astúcia. T4 339 2 Quando ligado a Deus, e sinceramente buscando a Sua aprovação, o homem se torna elevado, enobrecido e santificado. A obra de elevar-se precisa ser realizada pelo próprio homem através de Jesus Cristo. O Céu pode dar-lhe toda a vantagem no que tange às coisas temporais e espirituais, mas será tudo em vão, a menos que se disponha a apropriar-se dessas bênçãos e ajudar-se. Suas próprias faculdades devem ser colocadas em uso, ou ele finalmente será pesado na balança e achado em falta; será um fracasso no que se refere a esta vida, e perderá a vida futura. T4 339 3 Todo aquele que com determinado esforço busca auxílio do alto e subjuga e crucifica o eu, pode ser bem-sucedido neste mundo e obter a futura vida imortal. Este mundo é o campo de trabalho humano. Sua preparação para o mundo futuro depende da maneira como desempenha seus deveres neste mundo. Deus designou que fosse uma bênção para a sociedade, e ele não pode, se quiser, viver e morrer para si mesmo. Deus nos uniu como membros de uma família, e este relacionamento todos são obrigados a manter. Há trabalhos que devemos a outros e que não podemos ignorar e ao mesmo tempo guardar os mandamentos. Viver, pensar e agir só em benefício próprio é tornar-se inútil como servo de Deus. Títulos ilustres e grandes talentos não são essenciais para sermos bons cidadãos ou cristãos exemplares. T4 340 1 Temos em nossas fileiras demasiadas pessoas que são impacientes, faladoras, louvam a si mesmas e tomam a liberdade de exaltar-se, não respeitando idade, experiência ou posição. Atualmente a igreja tem falta da ajuda de um caráter oposto -- homens modestos, calmos, tementes a Deus, que suportarão responsabilidades desagradáveis impostas sobre eles, não pelo nome, mas para prestar serviço a seu Mestre, Aquele que por eles morreu. Pessoas com tal caráter não acham que erguer-se diante dos idosos e tratar os cabelos grisalhos com respeito rebaixa sua dignidade. Nossa igreja precisa eliminar as ervas daninhas. Existe demasiada exaltação própria e auto-suficiência entre os membros. T4 340 2 Deus Se deleita em honrar os que O temem e O reverenciam. O ser humano pode ser tão elevado que forme o elo que liga o Céu à Terra. Ele saiu das mãos do Criador com caráter simétrico, dotado com tal capacidade para desenvolver-se que, combinando a influência divina com esforço humano, pudesse elevar-se quase ao nível dos anjos. Contudo, quando assim elevado, não teria noção de sua bondade e grandeza. T4 340 3 Deus tem dado ao homem aptidão intelectual capaz do mais elevado cultivo. Se os irmãos B tivessem visto a natural grosseria e rudeza de seu caráter, e com permanente cuidado cultivassem e treinassem a mente, fortalecendo os pontos fracos do caráter e vencendo seus defeitos evidentes, alguns deles teriam sidos aceitos como mensageiros de Cristo. Como são agora, porém, Deus não pode aceitar qualquer deles como Seu representante. Não têm percebido suficientemente a necessidade de aperfeiçoamento para buscá-lo. Sua mente não tem sido treinada pelo estudo, observação, reflexão e constante esforço para disciplinar-se plenamente para os deveres da vida. Os recursos para aperfeiçoamento estão ao alcance de todos. Ninguém é tão pobre ou tão ocupado que, com a ajuda de Cristo, não possa aperfeiçoar-se na vida e no caráter. ------------------------Capítulo 30 -- Pastores que cuidam de si mesmos T4 341 1 Irmão e irmã F: T4 341 2 Foi-me mostrada a grande misericórdia e infinito amor de Deus em dar-lhes outra prova. Há uma positiva necessidade de que se apeguem fortemente ao poderoso Médico para que possam ter força física e espiritual. Vocês têm saúde frágil, mas estão em perigo de pensar que estão em condição pior do que realmente se acham. Não têm tido poder de resistência, porque não têm acariciado espírito paciente, cheio de esperança e coragem. Sucumbem às enfermidades, em vez de superá-las. As tentações os assaltarão à direita e à esquerda; mas pela paciente perseverança em fazer o bem, vocês podem vencer os defeitos de caráter. Foi-me mostrado que os seus pés tinham verdadeiramente se firmado na perdição, mas Deus não desamparou inteiramente a nenhum de vocês. Sua incomparável misericórdia em dar-lhes outra oportunidade para provar sua lealdade a Ele lhes apela para andarem com grande humildade e se guardarem do egoísmo. Vocês têm condescendido consigo mesmos a tal ponto que agora precisam agir em direção oposta. T4 341 3 Você, irmão F, tem sido muito egoísta, e isto tem sido desprezível à vista de Deus. Você e sua esposa têm tropeçado repetidas vezes neste mal. Suas forças têm sido grandemente atrofiadas pela satisfação e condescendência próprias. Nenhum de vocês é deficiente em raciocínio e discernimento; mas têm seguido a inclinação em lugar do caminho do dever, e têm falhado em reprimir os traços errados de caráter e fortalecido as faculdades morais enfraquecidas. T4 341 4 Irmão F, você é por natureza um homem impaciente, irrequieto e exigente em casa; e após breve familiaridade demonstra isso em novos lugares. Com freqüência fala de maneira impaciente e dominadora. Deve-se arrepender disso tudo. Pode agora recomeçar. Deus, em Sua ilimitada misericórdia, tem-lhe dado outra oportunidade. Sua esposa tem muito em si mesma contra que lutar, e você deve estar alerta para não lançá-la no terreno de Satanás. O queixar-se, criticar e fazer afirmações enérgicas devem ser renunciados. Quanto tempo você tem dedicado para obter vitória sobre sua vontade perversa e seus defeitos de caráter? Com o progresso que agora faz, seu tempo de graça pode-se fechar antes de realizar determinados esforços essenciais para lhe dar a vitória sobre o eu. Na providência de Deus, você será colocado em posições onde as suas peculiaridades, se existirem, serão provadas e reveladas. Você não vê nem reconhece o efeito de suas palavras impensadas, impacientes, queixosas, lamuriosas. T4 342 1 Você e sua esposa têm outra áurea oportunidade para sofrerem pela causa de Cristo. Se fizerem isso lamentosamente, não terão recompensa; se voluntária e alegremente, tendo o mesmo espírito que Pedro possuía após a sua apostasia, vocês serão vitoriosos. Pedro sentiu profundamente a sua covarde negação de Cristo durante a vida inteira; e quando chamado a sofrer o martírio por sua fé, este fato humilhante sempre esteve diante dele, e pediu para não ser crucificado do modo exato em que seu Senhor sofreu, temendo que isso seria uma honra muito elevada após a sua apostasia. Seu pedido foi que o crucificassem de cabeça para baixo. Que compreensão Pedro teve de seu pecado em negar a seu Senhor! Que conversão experimentou! Sua vida após isso foi uma existência de arrependimento e humilhação. T4 342 2 Você pode ter razão para tremer quando vê a Deus através de Sua lei. Quando Moisés viu a Majestade de Deus, exclamou: "Sinto-me aterrado e trêmulo!" Hebreus 12:21. A lei pronunciava morte sobre o transgressor; então o sacrifício expiatório foi apresentado perante Moisés. O sangue purificador de Cristo foi revelado para purificar o pecador, e seus temores foram eliminados assim como o orvalho da manhã desaparece diante dos raios do sol nascente. Desse modo ele viu que isso aconteceria com o pecador. Através do arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo, perdão é comunicado, e o Sol da Justiça espalha Seus raios brilhantes e curativos sobre ele, desfazendo a dúvida e o temor que obscureciam a alma. Moisés desceu do monte onde havia estado conversando com Deus; seu rosto resplandecia com um brilho celestial que se refletiu sobre o povo. Ele lhes pareceu um anjo vindo direto da glória. Aquele divino esplendor era penoso aos pecadores; assim fugiram de Moisés e rogaram que a glória brilhante fosse ocultada de sua vista, para que não fossem mortos caso se aproximassem dele. T4 343 1 Moisés fora estudante. Era bem versado em toda a cultura dos egípcios, mas não era essa a única habilitação de que precisava para preparar-se para a sua obra. Devia ele, na providência de Deus, aprender a ser paciente a refrear suas paixões. Numa escola de renúncia e obstáculos devia obter uma educação que lhe seria de suma importância. Essas provas o preparariam para exercer um paternal cuidado sobre todos os que careciam de seu auxílio. Nenhum conhecimento, estudo algum, nenhuma eloqüência poderia ser substituto dessa experiência em provas, para uma pessoa que teria de vigiar pelas almas como os que delas têm de dar contas. Fazendo a obra de um humilde pastor, esquecido de si mesmo e interessado no rebanho entregue aos seus cuidados, devia ele tornar-se habilitado para a mais exaltada obra já confiada a mortais -- a de pastor das ovelhas das pastagens do Senhor. Os que no mundo temem ao Senhor, têm de ter comunhão com Ele. Cristo é o mais perfeito educador que o mundo já conheceu. Receber dEle sabedoria e conhecimentos era para Moisés de mais valor do que toda a cultura dos egípcios. T4 343 2 Irmão e irmã F, apelo-lhes a serem zelosos e virem a Deus através de Jesus Cristo. "Não erreis: Deus não Se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Aquele que gasta os seus talentos e seus recursos na condescendência própria, na satisfação das paixões inferiores, colherá corrupção. Sua colheita é segura. Sua mente perderá a susceptibilidade e poder. Seu intelecto será esmagado e sua vida encurtada. Deus requer que façam os mais dedicados esforços para subjugar e controlar o eu. Foi-me mostrado que Deus e os anjos estão prontos e esperando para o ajudar nesta importante obra. Se vocês retardarem, se forem mesmo vagarosos, poderá ser demasiado tarde. Seu tempo de graça foi prolongado, o caráter de vocês está agora em formação, e em breve, meus queridos irmão e irmã, ele se tornará inalterado para sempre. Uma obra parcial não os fará avançar um passo sequer rumo ao Céu. A indecisão logo se torna decisão no rumo errado. Muitos decidem servir a si mesmos e a Satanás por não empreenderem esforços resolutos para vencer os seus defeitos de caráter. Enquanto muitos estão acalentando propensões pecaminosas, esperando algum dia ser vencedores, estão se decidindo para a perdição. Irmão e irmã F, em nome de Jesus Cristo vocês podem ser vitoriosos mesmo agora "neste teu dia". Lucas 19:42. Não planejem nem busquem para si mesmos. Vocês não podem ser inteiramente do Senhor enquanto encorajam qualquer grau de egoísmo. Tão grande amor como o do Redentor a nós revelado, deve ser recebido com grande humildade e contínuo regozijo. A fim de serem felizes, vocês devem controlar os pensamentos e palavras. Grandioso esforço de sua parte será requerido, mas isso deve ser feito se quiserem ser reconhecidos como filhos de Deus. Não se cansem em seus esforços. Satanás está batalhando pela alma de vocês, e ele precisa ser desapontado. T4 344 1 Quando você, irmão F, inicia o trabalho em um lugar, geralmente tem a confiança do povo; mas após maior familiarização, os seus defeitos de caráter se tornam tão evidentes que muitos perdem a confiança em sua religiosidade. Isso repercute sobre todos os pastores da denominação. Uma breve permanência em um lugar não prejudicaria sua reputação. Enquanto empenhado em zeloso esforço, pressionado por influências opositoras, sua mente é absorvida no trabalho em que está empenhado e não tem tempo nem oportunidade de pensar e refletir sobre si mesmo. Mas quando a obra está concluída e você começa a pensar em si mesmo, como é natural que faça, satisfaz-se, torna-se como criança, violento e rude em temperamento, e assim prejudica grandemente a obra de Deus. Manifesta o mesmo espírito na igreja, e, assim, a sua influência é grandemente prejudicial à comunidade -- em alguns casos acima do limite. Tem freqüentemente revelado uma disposição infantil, mesmo enquanto trabalhando para converter almas à verdade; e as impressões feitas têm sido terríveis sobre aqueles que testemunharam. Agora, uma de duas coisas deve ser feita: você precisa ser um homem dedicado ao seu lar e à sua família, e na igreja, sempre gentil e paciente, ou não deve estabelecer-se numa igreja; pois os seus defeitos se tornaram evidentes, e o Redentor que professa amar e servir será desonrado. T4 345 1 A fé que Moisés possuía o levava a contemplar as coisas invisíveis, as coisas eternas. Deixou as esplêndidas atrações da vida da corte porque o pecado ali prevalecia. Renunciou a um aparente bem presente, que só o lisonjeava para arruinar e destruir. As atrações reais, eternas, é que lhe eram de valor. Os sacrifícios feitos por Moisés não eram sacrifícios reais. Para ele tratava-se de permutar um aparente bem presente, que o lisonjeava, por um bem seguro, elevado e imortal. T4 345 2 Moisés suportou o opróbrio de Cristo, considerando esse "opróbrio... por maiores riquezas do que os tesouros do Egito". Hebreus 11:26. Cria ele no que Deus dissera e não foi influenciado a desviar-se de sua integridade por nenhuma das censuras do mundo. Andava na Terra como livre homem de Deus. Ele possuía o amor de Cristo em sua alma, que não só o tornava digno, mas acrescentava o esplendor das verdadeiras virtudes cristãs à dignidade do homem. Moisés trilhou o rude e perigoso caminho, mas contemplava as coisas invisíveis e não vacilava. O galardão da recompensa era-lhe atraente, assim como pode ser também para nós. Tinha familiaridade com Deus. T4 345 3 Acha-se diante de vocês a obra de aproveitar o restante de sua vida para reformar e elevar o caráter. Uma nova vida começa na alma renovada. Cristo é o Salvador que habita no coração. Aquilo que talvez seja considerado difícil de abandonar tem de ser renunciado. A palavra prepotente e ditatorial precisa ficar sem ser proferida; então será obtida preciosa vitória. T4 345 4 Verdadeira felicidade será o resultado de todo desprendimento, de toda crucifixão do próprio eu. Ao ser ganha uma vitória, a próxima será mais fácil de alcançar. Se Moisés tivesse negligenciado as oportunidades e os privilégios que lhe foram concedidos por Deus, teria desprezado a luz celestial, tornando-se um homem decepcionado e infeliz. O pecado é de baixo; e quando se condescende com ele, Satanás é acolhido na alma, para aí atear os próprios fogos do inferno. Deus não deu Sua lei para impedir a salvação de almas, mas Ele quer que todos sejam salvos. O homem tem luz e oportunidades, e se as aproveitar, poderá ser vitorioso. Você pode mostrar por sua vida o poder da graça de Deus em vencer. Satanás está procurando estabelecer o seu trono no templo da alma. Quando ele reina, faz-se ouvir e sentir no gênio irascível, em palavras de amargura que ofendem e magoam; como, porém, não há comunhão da luz com as trevas, nem harmonia entre Cristo e Belial, o homem deve ser inteiramente a favor de um ou do outro. Rendendo-se à condescendência pessoal, avareza, engano, fraude ou qualquer outra espécie de pecado, a pessoa favorece os princípios de Satanás em sua alma e fecha a porta do Céu a si mesma. Devido ao pecado, Satanás foi expulso do Céu; e ninguém que condescenda com o pecado e o acaricie poderá ir para o Céu, pois nesse caso Satanás outra vez conseguiria firmar-se ali. T4 346 1 Quando alguém, dia a dia, se acha diligentemente empenhado em vencer os defeitos em seu caráter, está acalentando a Cristo no templo da alma; a luz de Cristo encontra-se nessa pessoa. Sob os brilhantes raios da luz do semblante de Cristo, todo o seu ser é elevado e enobrecido. Ele tem a paz do Céu na alma. Muitos dão rédeas soltas à paixão, avareza, egoísmo e engano, e o tempo todo se justificam, lançando a culpa nas circunstâncias que trouxeram provas sobre si mesmos. Esse tem sido o seu caso. Deus permitiu que tais circunstâncias existissem para desenvolver o caráter. Entretanto, você poderia ter determinado suas circunstâncias; pois por resistir ou suportar à tentação, as circunstâncias são controladas pela força da vontade em nome de Jesus. Isto é vencer como Cristo venceu. "Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé." 1 João 5:4. T4 346 2 Irmão F, Deus é misericordioso para com você. Sua vida tem sido um equívoco, nada semelhante ao que poderia e deveria ter sido. Não tem havido em você genuína hombridade, verdadeira grandeza e pureza de sentimento. Você não possui o devido respeito próprio, e, portanto, não tem o devido respeito pelos outros. Não tem exaltado a Cristo e o poder de Sua graça. Você tem necessitado de guardiães por todo o caminho ao longo de sua vida. A mesma frivolidade e leviandade, a mesma falta de consideração e de domínio próprio, o mesmo egoísmo e impaciência que eram vistos em sua conduta em um período anterior, estão desenvolvidos de maneira assinalada agora que você já passou o meridiano da vida. Isso não precisava ter sido assim, caso você pusesse de lado sentimentos e temperamento infantis, e se revestisse da firmeza do homem. Tem-se favorecido em grande medida para prejuízo próprio. As suas dores e enfermidades têm sido ampliadas. Você as considera e fala queixosamente sobre elas, mas não recorre a Jesus. Pense em quão pouco sofre, quão pouco suporta, em comparação com os sofrimentos de Cristo; e Ele era sem pecado -- o justo sofrendo pelo injusto. T4 347 1 Uma árvore boa não produzirá frutos estragados. A boa conversação acompanhará uma boa consciência, tão certamente como o bom fruto será produzido por uma árvore boa. Se um homem é descortês e rude com sua família e com outros a ele relacionados, ninguém precisa perguntar como se comportará na igreja. Exibirá a mesma disposição altiva, petulante, que demonstra no lar. Nenhum homem pode ter o espírito e a mente de Cristo sem ser tornado melhor por Ele em todas as relações e deveres da vida. Murmurações, queixas e paixões irritadiças não são o fruto de bons princípios. Você precisará ser perseverante em oração, pois não fortaleceu os elevados e nobres traços de caráter moral. Você deve fazer isso agora. O trabalho será difícil, mas é absolutamente essencial. T4 347 2 Enquanto esteve no Texas, você possuía esperança, sentindo-se desamparado por Deus e pelos homens; mas agora que teve um novo começo, permita que a obra de reforma seja completa, seu arrependimento de molde a dele não arrepender-se. Os melhores de seus dias, no que se refere à saúde e vigor, estão no passado; mas com hábitos apropriados, mente alegre, e consciência limpa com respeito a sua conduta atual, você pode tornar sua derrota em vitória. Você não tem tempo a perder, sua esposa pode ajudá-lo em todos os seus esforços no campo de colheita. Se ela for santificada pela verdade, pode ser uma bênção para você e para a causa de Deus, conversando com outros e sendo sociável. T4 348 1 Muitos falham e caem por causa da condescendência com um temperamento perverso. Alexandre e César descobriram ser mais fácil subjugar um reino do que governar o próprio espírito. Após conquistar nações, os assim chamados grandes do mundo caíram, um deles por causa da condescendência com o apetite, vítima da intemperança, e o outro pela presunção e pela insensata ambição. Deus apela a você que subjugue o orgulho e a teimosia, e deixe que Sua paz reine em seu coração. Um espírito manso e tranqüilo deve ser acariciado. Leve a mansidão de Cristo consigo em todos os seus esforços. Temperamento agitado e censura mordaz não impressionarão as pessoas nem conquistarão sua simpatia. Se temos a verdade, podemos dar-nos ao luxo de ser calmos e serenos. Nossa linguagem deve ser modesta e elevada. O espírito que você acaricia interiormente tem deixado sua impressão sobre o semblante. Cristo entronizado no templo da alma apagará essa aparência infeliz, queixosa e impertinente; e na medida em que uma nuvem de testemunhas veja um homem refletindo a imagem de Cristo, perceberá que ele está circundado por uma atmosfera agradável. O mundo verá que em meio às tempestades de maus-tratos ele permanece inamovível, como o altaneiro cedro. Tal homem é um dos heróis de Deus. Venceu a si mesmo. T4 348 2 A maior parte dos problemas da vida, com seus desgastantes cuidados diários, dores de cabeça e irritação, é resultado de um temperamento descontrolado. A harmonia do círculo doméstico é muitas vezes quebrada em virtude de palavras precipitadas ou linguagem abusiva. Quão melhor seria não tivessem sido ditas! Um sorriso de satisfação e uma palavra apaziguadora de aprovação dita no espírito de mansidão seriam um poder para suavizar, confortar e abençoar. O governo do eu é o melhor governo do mundo. Ao demonstrar o ornamento de um espírito manso e quieto, noventa e nove por cento dos problemas que tão terrivelmente amargam a vida seriam evitados. Muitos desculpam suas palavras precipitadas e temperamento impetuoso, dizendo: "Sou muito sensível; tenho temperamento impetuoso." Isso não cura nunca feridas feitas por palavras ásperas, impetuosas. Alguns, na verdade, são naturalmente mais impetuosos do que outros; mas esse espírito jamais pode se harmonizar com o Espírito de Deus. O homem natural precisa morrer, e o novo homem, Jesus Cristo, tomar posse da alma, de modo que o seguidor de Jesus possa dizer em verdade: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim." Gálatas 2:20. T4 349 1 O eu é difícil de ser dominado. A depravação humana em diferentes formas não é facilmente levada em sujeição ao Espírito de Cristo. Mas todos devem ser impressionados com o fato de que, a menos que esta vitória seja ganha por meio de Cristo, não há esperança para eles. A vitória pode ser alcançada, pois com Deus nada é impossível. Pela Sua graça ajudadora, todo temperamento mau e toda depravação humana podem ser vencidos. Todo cristão deve aprender de Cristo, "o qual, quando O injuriavam, não injuriava". 1 Pedro 2:23. T4 349 2 O trabalho que está diante de vocês não é fácil, não é brincadeira de criança. Vocês falharam em prosseguir rumo à perfeição; mas agora podem recomeçar. Precisam mostrar por sua vida o que o poder e a graça de Deus são capazes de fazer ao transformar o homem natural num homem espiritual em Jesus Cristo. Vocês podem ser vencedores se desejarem assumir decididamente a tarefa em nome de Cristo. T4 349 3 Há uma solene declaração que desejo que escrevam no coração: quando as pessoas se submeteram aos ardis de Satanás, e assim se colocaram no terreno dele, se desejarem recuperar-se de seus ardis através da misericórdia de Deus, precisam manter mais íntima comunhão com Ele, crucificar diariamente o eu e serem inteiramente transformadas, a fim de obter a vitória e ganhar a vida eterna. Ambos se desviaram muito de Deus. Trouxeram grande vergonha à Sua causa. Agora devem, com máximo zelo e dedicação, vencer cada defeito de caráter e levar uma vida de humilhação e de oração confiante e perseverante; em fé peçam a Deus por amor de Cristo para cancelar o passado, de modo que as sementes do mal que vocês semearam não se multipliquem e sejam entesouradas para o dia da ira. T4 349 4 Agora se prosseguirem no mesmo caminho, rebeldes em espírito, agradando a si mesmos, falando infantilmente de suas enfermidades, demorando-se sobre seus sentimentos e detendo-se sobre o lado escuro, isso os tornará fracos e desanimados. Foram essas coisas que os tornaram fáceis súditos dos enganos de Satanás. Se adotarem a mesma conduta que estavam seguindo quando seus pés começaram a escorregar, o caso de vocês será sem esperança. Se romperem com seus pecados pelo arrependimento, evitarem as conseqüências temíveis ao obter refúgio na intercessão de um Salvador, pleiteando com Deus zelosamente por Seu Espírito para que possam ser conduzidos, ensinados e despertados, vocês podem obter vida eterna. Não deixem de lançar em fé, de modo harmonioso e humilde, a alma indefesa sobre os méritos de Cristo. ------------------------Capítulo 31 -- Honestidade nos negócios T4 350 1 Irmão G: T4 350 2 Em minha última visão seu caso me foi mostrado. Vi que você ama a verdade que professa, mas não é santificado por ela. As suas afeições têm sido divididas entre o serviço de Deus e o de Mamom. Essa divisão de afeições permanece como uma barreira no seu caminho para atrapalhá-lo de ser um missionário para Deus. Enquanto professamente serve à causa de Deus, o interesse próprio tem arruinado seu trabalho e grandemente prejudicado a sua influência. Deus não pôde atuar com você, porque seu coração não estava correto para com Ele. T4 350 3 No que se refere a palavras, você tem estado profundamente interessado na verdade; mas quando deve mostrar sua fé pelas obras, tem havido uma grande falta. Não tem representado corretamente nossa fé. Prejudicou a causa de Deus por seu manifestado amor ao lucro; e seu apego aos negócios e hábito de contender não têm sido para o seu bem, nem para a saúde espiritual daqueles com quem você entra em contato. É um homem esperto nos negócios, e muitas vezes se excede. Tem tato peculiar para conseguir o melhor preço, atento aos próprios interesses em vez dos de outros. Se um homem se enganasse, e você levasse a vantagem, você deixaria as coisas assim. Isso não é seguir a regra áurea, que é fazer aos outros como desejaria que lhe fizessem. T4 350 4 Enquanto empenhado em trabalho missionário, você tem ao mesmo tempo manifestado sua intrigante propensão para comprar e vender. Isso se constitui má combinação. Você deve ser uma coisa ou outra. "Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. "Escolhei hoje a quem sirvais." Josué 24:15. Deus não aceitará os seus esforços no trabalho missionário e de folhetos enquanto você estiver maquinando tirar vantagem. Está em perigo de considerar o ganho como religiosidade. O tentador lhe apresentará seduções lisonjeiras, para fasciná-lo e induzi-lo a manifestar um espírito de intriga que destruirá sua religiosidade. T4 351 1 O mundo, os anjos e os homens o vêem como um homem astuto que procura o próprio interesse e assegura vantagens para si mesmo sem considerar cuidadosa e conscienciosamente os interesses daqueles com quem trata. Em sua vida de negócios há uma inclinação para desonestidade que macula a alma e atrofia a experiência religiosa e o crescimento em graça. Você está espreitando com aguda visão de negócios, pela melhor chance de assegurar uma transação vantajosa. Essa propensão maquinadora se tornou sua segunda natureza; e você não vê nem compreende o mal de incentivar isso. T4 351 2 Os negócios em que se empenha justa e honestamente, beneficiando a outros bem como a si mesmo, estariam corretos no que se referem a negociar de maneira honrosa; o Senhor, porém, aceitaria seu serviço e usaria suas faculdades, suas agudas percepções, em assegurar a salvação de almas, caso você tivesse sido santificado pela verdade. A cobiça dos olhos no amor ao lucro tem guerreado contra o Espírito. Os hábitos e cultura de anos deixaram a sua impressão deformadora sobre seu caráter, e o têm desqualificado para a obra de Deus. Você tem um constante e ansioso desejo de negociar. Se santificado para o serviço de Deus, isso o tornaria um obreiro zeloso e perseverante para o Mestre; mas mal usado como tem sido, coloca em perigo a sua própria alma, e outros também estão em perigo de se perderem através de sua influência. T4 351 3 Às vezes a razão e a consciência protestam, e você se sente repreendido por causa de sua conduta; sua alma anseia a santidade e a segurança do Céu; a agitação do mundo lhe parece repulsiva, você a coloca de parte e acaricia o Espírito de Deus. Mas depois, suas propensões mundanas novamente se introduzem e dominam tudo. Você certamente tem que confrontar os assaltos de Satanás; e deve preparar-se para eles, resistindo firmemente a sua inclinação. T4 352 1 Enquanto o apóstolo Paulo estava cercado pelos muros da prisão, impregnados pela umidade, ele próprio sofrendo enfermidades, desejou muito ver Timóteo, seu filho no evangelho, e deixar-lhe sua última exortação antes da morte. Não tinha esperança de ser solto de seu cativeiro, até que sua vida se extinguisse. O ímpio coração de Nero era totalmente satânico, e com uma palavra ou aceno dele, a vida do apóstolo poderia ser eliminada. Paulo solicitou a presença imediata de Timóteo, embora temesse que ele não viesse suficientemente cedo para receber o último testemunho de seus lábios. Ele, portanto, repetiu as palavras que falaria a Timóteo a um de seus colaboradores, que teve permissão de ser o seu companheiro nas algemas. Esse fiel assistente escreveu a última exortação de Paulo, uma pequena porção da qual citamos aqui: T4 352 2 "Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas." 1 Timóteo 6:9-12. "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. "E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros. Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente." 2 Timóteo 2:2-5. Um homem pode ser avarento e ainda desculpar-se dizendo que está trabalhando pela causa de Deus; mas não obtém recompensa, pois Deus não deseja dinheiro obtido por manipulação ou qualquer semelhança de desonestidade. T4 353 1 Paulo ainda solicita a Timóteo: "Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica." 2 Timóteo 4:9, 10. Essas palavras ditadas por Paulo pouco antes de sua morte, foram registradas por Lucas para nosso proveito e advertência. T4 353 2 Ensinando a Seus discípulos, Cristo disse: "Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o lavrador. Toda vara em Mim, que não dá fruto, a tira; e limpa [poda] toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto." João 15:1, 2. Aquele que está unido a Cristo, participando da seiva e nutrição da videira, fará as obras de Cristo. O amor de Cristo precisa estar nele, do contrário não pode estar na Videira. Amor supremo para com Deus, e amor ao semelhante como a si mesmo, eis a base da religião verdadeira. T4 353 3 De todo aquele que Lhe professa o nome, Cristo indaga: "Amas-Me?" João 21:15. Se você ama a Jesus, amará as almas por quem Ele morreu. Talvez um homem não apresente o exterior mais agradável, talvez seja deficiente em muitos respeitos; se, porém, sua reputação é a de uma pessoa reta e honesta, granjeará a confiança dos outros. O amor da verdade, a dependência e confiança que os homens podem nele depositar, removerão ou subjugarão os traços indesejáveis de seu caráter. A fidedignidade em sua posição e vocação, a boa vontade de negar-se com a fidelidade de levar benefício a outros, trará paz de espírito e o favor de Deus. T4 354 1 Os que andarem estritamente nas pegadas de seu abnegado Redentor, refletirão em sua mente a mente de Cristo. A pureza e o amor de Jesus irradiar-lhes-ão da vida diária e do caráter, ao mesmo tempo que seus caminhos serão guiados pela mansidão e a verdade. Toda a vara frutífera é podada, para que produza mais fruto. Mesmo varas frutíferas podem exibir demasiada folhagem, e parecer o que realmente não são. Talvez os discípulos de Cristo estejam efetuando alguma obra para o Mestre, não fazendo todavia metade do que poderiam produzir. Ele os poda, então, porque o mundanismo, a condescendência consigo mesmos e o orgulho estão brotando em sua vida. O lavrador corta o excesso de gavinhas das videiras, pois estão a pegar o lixo da terra, e as torna assim mais frutíferas. Essas causas de embaraço precisam ser removidas, e os brotos defeituosos cortados, a fim de dar espaço aos saudáveis raios do Sol da Justiça. T4 354 2 Por meio de Cristo, designou Deus que o homem caído passasse por outra prova. Muitos compreendem mal o objetivo para que foram criados. Foi para beneficiarem a humanidade e glorificarem a Deus, de preferência a exaltarem e glorificarem a si mesmos. O Senhor está continuamente podando a Seu povo, cortando os ramos profusos e espalhados, para que eles dêem fruto para Sua glória, em vez de produzirem unicamente folhas. Ele nos poda por meio de tristezas, desapontamentos e aflições, para que os rebentos dos fortes e perversos traços de caráter enfraqueçam, e os traços bons tenham ocasião de se desenvolver. Os ídolos precisam ser abandonados, a consciência tornada mais sensível, mais espirituais as meditações do coração, e todo o caráter tornado simétrico. Os que desejam realmente glorificar a Deus, serão gratos pela revelação de todo ídolo e todo pecado, de modo que vejam esses males e os afastem de si; o coração dividido, porém, pleiteará por condescendência em vez de renúncia. T4 354 3 O ramo aparentemente seco, ligando-se à videira viva, torna-se parte dela. Fibra por fibra e veia por veia adere ele à videira até que tire sua vida e nutrição do tronco. O enxerto brota, floresce e dá fruto. A alma, morta em ofensas e pecados, precisa experimentar idêntico processo a fim de reconciliar-se com Deus, e tornar-se participante da vida e alegria de Cristo. Como o enxerto recebe vida quando ligado à videira, assim o pecador participa da natureza divina quando em união com Cristo. O homem finito é ligado com o infinito Deus. Quando unidos assim, as palavras de Cristo permanecem em nós, e não somos atuados por sentimentos intermitentes, mas por um princípio vivo e permanente. As palavras de Cristo precisam ser meditadas, nutridas e entesouradas no coração. Não devem ser repetidas como papagaio, sem que encontrem lugar na memória, nem exerçam influência sobre o coração e a vida. T4 355 1 Como a vara precisa permanecer na videira para receber a seiva vital que a faz florescer, assim os que amam a Deus e guardam Suas palavras precisam permanecer em Seu amor. Sem Cristo, não nos é possível vencer um só pecado, ou resistir à menor tentação. Muitos necessitam do Espírito de Cristo e de Seu poder para iluminar-lhes o entendimento, da mesma maneira que o cego Bartimeu precisava de sua vista natural. "Como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim." João 15:4. Todos quantos estiverem realmente em Cristo experimentarão os benefícios dessa união. O Pai os aceita no Amado, e eles se tornam objeto de Sua solicitude e terno e amoroso cuidado. Essa ligação com Cristo resultará na purificação do coração, e em uma vida prudente e um caráter irrepreensível. O fruto dado pela árvore cristã é "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Gálatas 5:22, 23. T4 355 2 Meu irmão, você precisa de íntima comunhão com Deus. Você tem traços de caráter pelos quais é responsável. Suas forças têm sido usadas de maneira errada. Deus não pode aprovar sua conduta. O seu padrão é o dos mundanos, não aquele que Cristo nos deu em Sua vida. Você tem olhado através dos olhos do mundo, e discernido com o não santificado entendimento deles. Sua alma precisa ser purificada da poluidora influência do mundo. Repetidamente você tem se desviado da integridade estrita para aquela da qual se convenceu era ganho, mas que na realidade foi perda. Todo o ato de manipulação nos negócios reduzirá sua recompensa no Céu, caso alcance esse lar. Todo homem receberá a recompensa segundo suas obras. T4 356 1 Você não tem tempo a perder, mas deve fazer esforços diligentes para vencer os marcantes traços de caráter, que, se tolerados, lhe fecharão as portas da glória. Você não pode perder o Céu. Deve agora fazer decidida mudança em palavras e atos, para vencer seu espírito avarento, e fazer volver seus pensamentos ao conduto da santificada verdade. Em resumo, você precisa ser transformado. Então Deus aceitará os seus trabalhos em Sua causa. Deve ser um homem de firme veracidade que o amor ao ganho não seduzirá, e nenhuma tentação o dominará. O Senhor requer de todos os que professam o Seu nome uma estrita adesão à verdade. Isso será como o sal que não perdeu o seu sabor, como uma luz em meio às trevas morais e enganos do mundo. T4 356 2 "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14), diz Cristo. Aqueles que estão verdadeiramente unidos com Deus, por refletir a luz do Céu, exercerão um poder salvador na igreja e também no mundo; pois o perfume de boas obras e atos verdadeiros os tornaram de boa reputação mesmo entre os que não são de nossa fé. Os que temem a Deus respeitarão e honrarão tal caráter; e mesmo os inimigos de nossa fé, ao verem o espírito e vida de Cristo revelados em sua obras diárias, glorificarão a Deus, a fonte de sua força e honra. T4 356 3 Você, meu irmão, devia ter-se convertido sinceramente à verdade anos atrás e se dedicado inteiramente à obra de Deus. Anos preciosos, que podiam ter sido ricos em experiência nas coisas de Deus e em trabalhos práticos em Sua causa, foram perdidos. Conquanto agora deva ser capaz de ensinar a outros, falhou em alcançar o pleno conhecimento da verdade por si mesmo. Deve ter agora um conhecimento experimental da verdade, e estar qualificado para levar a mensagem de advertência ao mundo. Os seus serviços quase se perderam para a causa de Deus porque a sua mente tem estado dividida; esteve planejando e maquinando, comprando e vendendo, servindo às mesas. T4 357 1 O bolor do mundo tem obscurecido sua percepção e pervertido seu intelecto, de modo que os seus fracos esforços não têm sido ofertas aceitáveis a Deus. Caso tivesse se separado de suas propensões especulativas e trabalhado na direção oposta, seria agora enriquecido com o conhecimento divino, e um ganhador em coisas espirituais de modo geral, enquanto tem estado perdendo poder espiritual e atrofiando sua experiência religiosa. T4 357 2 Ter associação com o Pai e Seu filho Jesus Cristo é ser enobrecido e elevado, e participar de alegrias indizíveis e plenas de glória. O alimento, o vestuário, a posição social e as riquezas, tudo pode ter o seu valor; mas ter ligação com Deus e ser participante de Sua natureza divina é de inestimável valor. Nossa vida deve estar escondida com Cristo em Deus; embora ainda não se tenha manifestado "o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos". 1 João 3:2. A principesca dignidade do caráter cristão brilhará como o Sol e os raios de luz da face de Cristo se refletirão nos que se têm purificado a si mesmos como Ele é puro. O privilégio de tornar-se filhos de Deus é adquirido por baixo preço, mesmo que este preço fosse o sacrifício de tudo que possuímos, mesmo a própria vida. T4 357 3 Meu prezado irmão, você deve decidir ser um homem segundo o coração de Deus. O que outros podem aventurar-se a fazer ou dizer que não esteja estritamente de acordo com o padrão cristão, não lhe deve servir de desculpas. Você deve apresentar-se perante o Juiz de toda a Terra, não para responder por outro, mas por si mesmo. Temos uma responsabilidade individual, e nenhum defeito de caráter do ser humano será o menor pretexto para nossa culpa; pois Cristo nos tem dado em Seu caráter um exemplo perfeito, uma vida imaculada. T4 357 4 Os ataques mais persistentes do inimigo das almas são empreendidos contra a verdade que professamos; e qualquer desvio do direito reflete desonra sobre ela. Nosso principal perigo é ter a mente desviada de Cristo. O nome de Jesus tem poder para afastar as tentações de Satanás e erguer para nós um baluarte contra ele. À medida que a alma repousa com confiança inabalável na virtude e poder da expiação, permanecerá firme como uma rocha ao princípio, e todos os poderes de Satanás e seus anjos não podem desviá-la de sua integridade. A verdade como é em Jesus se constitui uma muralha de fogo ao redor da alma que a Ele se apega. As tentações serão despejadas sobre nós; pois por elas devemos ser provados durante nosso tempo de graça na Terra. Esta é a prova de Deus, uma revelação de nosso próprio coração. Não há pecado em ser tentado; mas o pecado ocorre quando se cai em tentação. T4 358 1 Se suas habilidades e talentos tivessem sido exercitados em salvar almas e em semear a verdade àqueles que estão em trevas na mesma proporção que têm sido para obter ganho e aumentar seus bens terrestres, você teria muitas estrelas na coroa para seu regozijo no reino de glória. Há somente poucos que são tão fiéis no serviço de Deus quanto são em servir aos próprios interesses temporais. Um propósito resoluto seguramente alcançará o fim desejado. Muitos não acham que é essencial serem tão criteriosos, aptos e íntegros na obra de Deus quanto nos próprios negócios temporais. A mente e o coração daqueles que professam crer na verdade devem ser elevados, refinados, enobrecidos e espirituais. A obra de educar a mente para esta grande e importante questão é terrivelmente negligenciada. A obra de Deus é realizada negligente e indolentemente e de forma muito relapsa, porque muitas vezes é deixada ao capricho do sentimento em vez de princípio e propósito santos. T4 358 2 Há a maior necessidade de que homens e mulheres que têm conhecimento da vontade de Deus aprendam a se tornar obreiros bem-sucedidos em Sua causa. Devem ser pessoas corteses, de entendimento, não com o verniz exterior e o afetado sorriso dos mundanos, mas com aquele refinamento e genuína cortesia que caracterizam o Céu, e que todo cristão possuirá se for participante da natureza divina. A falta de verdadeira dignidade e refinamento cristãos nas fileiras dos observadores do sábado depõe contra nós como um povo, tornando sem sabor a verdade que professamos. A obra de educar o espírito e as maneiras pode ser levada à perfeição. Se os que professam a verdade não aproveitam agora seus privilégios e oportunidades para crescer até à plena estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus, não honrarão a causa da verdade, nem a Cristo. T4 359 1 Se você, meu irmão, tivesse estudado as Santas Escrituras tão fielmente como tem procurado obter ganho, seria agora um homem hábil na Palavra de Deus, e apto para ensinar outros. Por sua própria culpa você não está qualificado para ensinar a verdade a outros. Não tem estado cultivando aquele conjunto de faculdades que o tornarão um obreiro espiritual, inteligente e bem-sucedido para seu Mestre. Tais traços de caráter como avidez e perspicácia em negócios mundanos têm sido tão exercitados que sua mente se desenvolveu amplamente no sentido de comprar e vender, e obter maior vantagem nas transações. Em vez de granjear a confiança de seus irmãos, irmãs e amigos como um homem que possui verdadeira nobreza de caráter, elevando-se acima de toda pequenez e avareza, você faz com que o temam. Sua fé religiosa tem sido usada para garantir a confiança de seus irmãos a fim de que possa fazer seus astutos negócios e obter lucro. Isso tem sido realizado tão freqüentemente pelo irmão, que se tornou uma segunda natureza e você não percebe como sua conduta se apresenta a outros. A verdadeira santidade deve caracterizar toda a sua vida e conduta, se deseja neutralizar a influência que tem exercido para afastar de Cristo e da verdade. T4 359 2 Seu relacionamento com seus semelhantes e com Deus requer uma mudança em sua vida. No sermão da montanha, a ordem do Redentor do mundo foi: "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas." Mateus 7:12. Essas palavras nos são do mais elevado valor, uma regra áurea que nos foi dada pela qual medir nossa conduta. Essa é a verdadeira regra de honestidade. Essas palavras abrangem muito. Requerem que tratemos nossos semelhantes como gostaríamos que nos tratassem, caso estivéssemos nas circunstâncias deles. Plano, Texas, 24 de Novembro de 1878. ------------------------Capítulo 32 -- A religião na vida diária T4 360 1 Irmão H: T4 360 2 Foi-me mostrado que você realmente ama a verdade, mas não foi por ela santificado. Você tem uma grande obra diante de si. "E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:3. Você tem esta obra a realizar, e não há tempo a perder. Foi-me mostrado que sua vida tem sido tempestuosa. Você não tem sido correto; mas tem estado profundamente equivocado, e seus motivos têm sido mal interpretados. Mas seus desapontamentos e perdas financeiras têm, na providência de Deus, prevalecido para o seu bem. T4 360 3 Tem-lhe sido difícil sentir que seu Pai celestial é ainda seu bondoso benfeitor. Seus problemas e perplexidades têm tido a tendência de desencorajar, e você sente que seria preferível morrer do que viver. Contudo, em certa ocasião, se seus olhos pudessem ter sidos abertos, teria visto anjos de Deus buscando salvá-lo de si mesmo. Os anjos de Deus o conduziram para onde pudesse receber a verdade e firmar seus pés sobre um fundamento que seria mais firme do que os montes eternos. Aqui você viu luz, e a acolheu. Nova fé e nova vida surgiram em seu caminho. Deus, em Sua providência, ligou-o com a Sua obra no escritório da Pacific Press. Ele tem trabalhado por você, e você deve ver a Sua mão guiadora. O sofrimento tem sido sua porção; mas você tem trazido muito dele sobre si mesmo, porque não tem exercido domínio próprio. Às vezes tem sido muito severo. Tem um temperamento impaciente, que precisa ser dominado. Em sua vida tem estado em perigo, seja de submeter-se à autoconfiança, ou, por outro lado, isolar-se e ficar desanimado. Uma contínua dependência da Palavra e da providência de Deus o qualificará para empregar suas faculdades inteiramente pelo seu Redentor que o tem chamado, dizendo: "Segue-Me." Deve cultivar um espírito de inteira submissão à vontade de Deus, zelosa e humildemente procurando conhecer os Seus caminhos e seguir a direção de Seu Espírito. "Não te estribes em teu próprio entendimento." Provérbios 3:5. Deve desconfiar profundamente da própria sabedoria e suposta prudência. Sua condição requer essas precauções. Não é seguro que o homem confie no próprio discernimento. Ele tem capacidade limitada na melhor das hipóteses, e muitos têm recebido como hereditariedade traços de caráter tanto fortes como fracos, que são defeitos explícitos. Essas peculiaridades caracterizam a vida inteira. T4 361 1 A sabedoria que Deus dá conduzirá os homens ao exame próprio. A verdade os convencerá de seus erros e equívocos existentes. O coração deve estar aberto para ver, perceber e reconhecer esses erros, e então, através da ajuda de Jesus, cada um deve empenhar-se zelosamente na obra de vencê-los. O conhecimento obtido pelos sábios do mundo, por mais diligentes que sejam em adquiri-lo, é, afinal, limitado e comparativamente inferior. Poucos, porém, compreendem os caminhos e obras de Deus nos mistérios de Sua providência. Avançam uns poucos passos, mas não chegam a lugar algum. É o pensador superficial que se julga sábio. Homens de grande valor e elevadas realizações são os mais prontos a admitir a fraqueza do próprio entendimento. Deus deseja que cada um que reivindica ser Seu discípulo seja um aprendiz, mais inclinado a aprender do que a ensinar. T4 361 2 Quantos homens nesta época do mundo deixam de aprofundar-se o suficiente! Mal tocam a superfície. Não pensam de modo suficientemente detalhado para ver dificuldades e lutar contra elas, e não examinarão todo assunto importante que lhes aparece, com estudo acompanhado de oração e meditação, e suficiente precaução e interesse em ver o real ponto da questão. Falam de assuntos que não têm avaliado inteira e cuidadosamente. Muitas vezes pessoas intelectuais e francas têm opiniões próprias que precisam ser firmemente resistidas, ou aqueles de menor força mental estarão em perigo de ser desviados. Através do preconceito mental, hábitos são formados, e costumes, sentimentos e desejos têm maior ou menor influência. Às vezes uma conduta é seguida todos os dias, com persistência, por ser um hábito, e não porque o discernimento aprova. Nesses casos, o sentimento, em vez do dever, tem predominado. T4 362 1 Se pudéssemos entender as próprias fraquezas e ver maus traços em nosso caráter que precisam ser reprimidos, veríamos tanto a ser feito por nós mesmos que humilharíamos nosso coração sob a poderosa mão de Deus. Apoiando nossa alma indefesa sobre Cristo, devíamos suplementar nossa ignorância com a Sua sabedoria, nossa fraqueza com a Sua força, nossa fragilidade com o Seu poder duradouro, e, unidos com Deus, devíamos verdadeiramente ser luzes no mundo. T4 362 2 Prezado irmão, Deus o ama e é muito paciente para com você, apesar de seus muitos erros e faltas. Em vista do terno e piedoso amor de Deus exercido em seu benefício, você não devia ser mais bondoso, perdoador, paciente e tolerante com seus filhos? Sua rispidez e severidade está afastando de você o coração deles. Não pode dar-lhes lições de paciência, tolerância, benignidade e gentileza, quando você é dominador e manifesta mau humor no trato com eles. Eles possuem o cunho de caráter que seus pais lhes deram; e se você deseja aconselhá-los, orientá-los e fazê-los deixar de seguir qualquer conduta errada, o objetivo não pode ser obtido por rispidez e o que lhes pareça tirania. Quando no temor de Deus você pode aconselhá-los e instruí-los com toda solicitude e terno amor que um pai deve manifestar para com o filho errante, então lhes terá demonstrado que há poder na verdade para transformar aqueles que a recebem. Quando os seus filhos não agem de acordo com as suas idéias, em vez de manifestar tristeza por seus erros e pleitear insistentemente com eles e orar por eles, fica irado e segue uma conduta que não lhes fará nenhum bem, apenas os afastarão de suas afeições, e finalmente os separarão de você. T4 362 3 Seu filho mais novo é perverso; ele não faz o que é correto. Seu coração se rebela contra Deus e a verdade. É afetado por influências que somente o tornam ríspido, grosseiro e descortês. Ele lhe é uma provação, e, a menos que se converta, fará você perder a paciência. Mas rispidez e severidade exagerada não o reformarão. Você deve buscar fazer o que pode por ele no Espírito de Cristo, não no próprio espírito, nem sob influência da ira. Deve controlar-se ao conduzir seus filhos. Deve lembrar-se de que a Justiça tem uma irmã gêmea, a Misericórdia. Quando quiser exercer justiça, revele misericórdia, ternura e amor, e não se esforçará em vão. T4 363 1 Seu filho tem uma inclinação perversa, e precisa da mais ponderada disciplina. Considere como tem sido o ambiente de seus filhos, quão desfavorável para a formação de um bom caráter. Eles precisam de compaixão e amor. O mais jovem está agora no período mais crítico de sua vida. O intelecto está agora tomando forma; as afeições estão recebendo a sua impressão. A carreira futura inteira desse jovem está sendo determinada pela conduta que agora adota. Ele está entrando em um caminho que pode conduzir à virtude, ou ao vício. Apelo ao jovem para encher a mente com imagens de verdade e pureza. Não lhe será nenhuma vantagem cair em pecado. Ele pode gabar-se de que é muito agradável pecar e seguir o próprio caminho; mas, afinal, é um caminho terrível. Se ele ama a companhia daqueles que amam o pecado e gostam de praticar o mal, seus pensamentos seguirão por um baixo conduto, e nada verá de atraente na pureza e na santidade. Mas se pudesse ver o fim do transgressor, de que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23), seria dominado pelo temor, e clamaria: "Pai meu, Tu és o guia da minha mocidade." Jeremias 3:4. T4 363 2 O êxito dele nesta vida depende muito da conduta que agora adota. Ele deve assumir as responsabilidades da vida. Não tem sido um jovem promissor. É impaciente e não tem domínio próprio. Esta é a semente que o pai dele está semeando, e que produzirá uma colheita para o semeador ceifar. "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Com que cuidado devemos lançar a semente, sabendo que devemos colher tal como semeamos. Jesus ainda ama esse jovem. Morreu por ele, e o convida a vir para Seus braços, e encontrar nEle paz e felicidade, calma e descanso. Esse jovem está formando amizades que lhe moldarão a vida inteira. Ele deve ligar-se a Deus e sem demora dedicar-Lhe todas as afeições. Não deve hesitar. Satanás dirigirá seus mais aterradores ataques contra ele; mas ele não deve permitir ser vencido pela tentação. T4 364 1 Foram-me mostrados os perigos dos jovens. O coração deles está cheio de elevadas expectativas, e vêem o caminho descendente repleto de prazeres tentadores que parecem muito convidativos; mas a morte ali está. O caminho estreito para a vida pode parecer-lhes destituído de atrações, um caminho de espinhos e cardos; contudo, não é assim. É o caminho que requer renúncia de prazeres pecaminosos; é um caminho estreito, preparado para os redimidos do Senhor nele caminhar. Ninguém pode andar por esse caminho, e levar consigo suas cargas de orgulho, desejo próprio, engano, falsidade, desonestidade, ira e prazeres carnais. O caminho é tão estreito que essas coisas terão que ser deixadas para trás por aqueles que nele trilham; mas o caminho largo é suficientemente amplo para os pecadores viajarem nele com todas as suas propensões pecaminosas. T4 364 2 Jovem, se rejeitar a Satanás com todas as suas tentações, você pode caminhar nas pegadas de seu Redentor e ter a paz do Céu, as alegrias de Cristo. Não pode ser feliz condescendo com o pecado. Pode gabar-se de ser feliz, mas não pode conhecer a verdadeira felicidade. O caráter está se tornando deformado pela condescendência com o pecado. O perigo se encontra a cada passo descendente, e aqueles que podiam ajudar o jovem não o percebem nem o compreendem. O interesse terno e bondoso que devia ser tomado em favor dos jovens não é manifestado. Muitos poderiam ser guardados de influências pecaminosas se fossem rodeados de boa companhia e lhes fossem dirigidas palavras de bondade e amor. T4 364 3 Meu prezado irmão, espero que não se desanime porque seus sentimentos tão freqüentemente o dominam quando seus métodos e sua vontade são contrariados. Nunca desanime. Fuja para a Fortaleza. Vigie, ore e tente novamente. "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós." Tiago 4:7, 8. T4 364 4 Observe outro ponto. Às vezes você não é tão cauteloso como devia para abster-se da própria aparência do mal. Está em perigo de tornar-se por demais familiarizado com as irmãs, de falar com elas de maneira leviana e imprudente. Isso prejudicará sua influência. Guarde-se cuidadosamente em todos esses pontos; vigie contra a primeira aproximação do tentador. Você é extremamente nervoso e irritadiço. O chá tem a influência de agitar os nervos, e o café entorpece o cérebro; ambos são altamente prejudiciais. Você deve ser cuidadoso em seu regime alimentar. Coma o alimento mais saudável e nutritivo, e mantenha-se em estado mental sereno, para que não se torne tão agitado e se deixe levar pela ira. T4 365 1 Você poderá ser de grande utilidade no escritório, pois pode ocupar posição de importância, se for transformado; mas como agora está, certamente falhará em fazer o que devia. Tem-me sido mostrado que você é rude e ríspido em suas emoções. Elas precisam ser abrandadas, refinadas, elevadas. Em todo seu modo de agir, você deve disciplinar-se para desenvolver hábitos de domínio próprio. Com o temperamento que agora possui, jamais poderá entrar no Céu. T4 365 2 "Amados, agora somos filhos de Deus." 1 João 3:2. Pode acaso qualquer honra humana igualar-se a isto? Que mais elevada posição podemos ocupar do que sermos chamados filhos do infinito Deus? Estaria pronto para realizar algo importante para o Mestre; mas as próprias coisas que mais O agradariam, você não pratica. Será fiel em vencer o eu, para que possa ter a paz de Cristo e o Salvador no coração? T4 365 3 Seu aflito filho precisa ser tratado com calma e ternura; ele precisa de sua compaixão. Ele não deve ser exposto a seu temperamento insano e exigências exageradas. Você precisa reformar-se no que se refere ao temperamento que manifesta. A ira desgovernada não será subjugada no momento; mas seu trabalho vitalício é eliminar do jardim do coração as ervas venenosas da impaciência, crítica e disposição dominadora. "Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança." Gálatas 5:22. Aqueles que são de Cristo, crucificaram a carne, com suas afeições e concupiscência; mas a parte brutal de sua natureza assume as rédeas e controla a parte espiritual. Isso é inversão da ordem de Deus. T4 366 1 A sua fidelidade no trabalho é digna de louvor. Outros no escritório fariam bem em imitar o seu exemplo de fidelidade, diligência e integridade. Faltam-lhe, entretanto, as virtudes do Espírito de Deus. Você é um homem inteligente, mas as suas faculdades têm sido mal-empregadas. Jesus lhe apresenta a Sua graça, paciência e amor. Você aceitará a dádiva? Seja cuidadoso com suas palavras e atos. Diariamente você está semeando sementes. Todo pensamento, toda palavra proferida e toda ação realizada são sementes lançadas no solo, que germinarão e produzirão frutos para a vida eterna ou para miséria e corrupção. Pense, meu irmão, como os anjos de Deus consideram seu triste estado quando permite que a ira o controle. E então isso é escrito nos livros do Céu. A colheita será tal como a semente semeada. Você colherá forçosamente aquilo que semeou. T4 366 2 Você deve controlar o apetite, e em nome de Jesus ser um vencedor neste ponto. Através de hábitos corretos, sua saúde pode melhorar. Seu sistema nervoso está muito abalado; mas o grande Médico pode curar seu corpo bem como sua alma. Faça do Seu poder a sua dependência, da Sua graça sua força, e suas faculdades físicas, morais e espirituais melhorarão grandemente. Você tem mais para vencer do que alguns outros, e, portanto, terá conflitos mais severos; mas Jesus considerará seus sinceros esforços; Ele sabe exatamente quão arduamente você tem de trabalhar para manter o eu sob o controle de Seu Espírito. Coloque-se nas mãos de Jesus. O desenvolvimento próprio deve ser sua preocupação, com o objetivo de ser uma bênção aos seus filhos e a todos aqueles com quem se associa. O Céu considerará com satisfação cada vitória que você obtiver no esforço de vencer. Se puser de lado a ira e a paixão, e olhar a Jesus, autor e consumador da sua fé, poderá, através de Seus méritos, desenvolver caráter cristão. Faça imediatamente uma mudança decidida e tome a resolução de usar dignamente o intelecto que Deus lhe concedeu. T4 366 3 Quando me foi mostrada a presente condição das faculdades física, mental e moral do homem, e o que ele poderia tornar-se mediante os méritos de Cristo, fiquei surpresa de que ele preservasse um nível tão baixo. O ser humano pode crescer à estatura de Cristo, sua cabeça viva. Não é obra de um momento, mas da vida inteira. Por crescer diariamente na vida espiritual, ele não alcançará a plena estatura de um homem perfeito em Cristo senão quando terminar seu tempo de graça. O crescimento é uma obra contínua. Homens de fortes paixões têm um constante conflito consigo mesmos; mas quanto mais árdua for a batalha, mais gloriosa será a vitória e a recompensa eterna. T4 367 1 Você está ligado ao escritório de publicações. Nessa posição seus traços peculiares de caráter serão desenvolvidos. As pequenas cortesias da vida devem ser cultivadas. Um temperamento agradável e cordial, combinado com firme princípio de justiça e honestidade, fará de você um homem de influência. Agora é o momento de obter aptidão moral para o Céu. A igreja a que você pertence deve ter a graça refinadora e enobrecedora de Cristo. Deus requer que Seus seguidores sejam homens de boa reputação, bem como puros, dignos e honestos; bondosos, bem como fiéis. É essencial ser correto nas questões de maior peso; mas isto não é desculpa para negligenciar coisas aparentemente de menor importância. Os princípios da lei de Deus devem ser desenvolvidos na vida e no caráter. Um temperamento cordial, combinado com firme integridade e fidelidade, constituirá em aptidão moral para qualquer posição. O apóstolo Pedro exorta: "Sede... afáveis." 1 Pedro 3:8. T4 367 2 Devemos ser aprendizes na escola de Cristo. Não podemos imitar Seu exemplo a menos que tenhamos disposição agradável e comportamento brando. A verdadeira polidez cristã deve ser cultivada. Ninguém pode diminuir nossa influência a não ser nós mesmos pela condescendência com um temperamento incontrolável. O homem mal-humorado por natureza não conhece a verdadeira felicidade, e raramente está satisfeito. Está sempre com a esperança de alcançar uma posição mais favorável ou modificar o ambiente de modo que tenha paz e tranqüilidade mental. Sua vida parece carregada de pesadas cruzes e provações, quando, se ele tivesse controlado o temperamento e refreado a língua, muitos desses aborrecimentos poderiam ter sido evitados. É a "resposta branda" que "desvia o furor". Provérbios 15:1. A vingança nunca venceu um inimigo. Temperamento bem equilibrado exerce boa influência sobre todos ao redor; mas "como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio". Provérbios 25:28. T4 368 1 Considere a vida de Moisés. A mansidão em meio à murmuração, censura e provocação constituíam os traços mais brilhantes de seu caráter. Daniel foi humilde de espírito. Conquanto estivesse cercado de desconfiança e suspeita, e seus inimigos preparassem um ardil para sua vida, ele, contudo, nunca se desviou do princípio. Manteve alegre e serena confiança em Deus. Acima de tudo, permita que a vida de Cristo lhe ensine. "Quando O injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava." 1 Pedro 2:23. Você deve aprender essa lição, ou jamais entrará no Céu. Cristo deve tornar-Se sua força. Em Seu nome você será mais que vencedor. Nenhum encantamento contra Jacó, nenhum presságio contra Israel, prevalecerá. Se sua alma estiver arraigada à Rocha eterna, você estará seguro. Venha alegria ou sofrimento, nada o desviará do que é correto. T4 368 2 Você tem estado a flutuar no mundo, mas a verdade eterna se lhe demonstrará uma âncora. Você precisa guardar a fé. Não proceda por impulso nem entretenha teorias vagas. Fé experimental em Cristo e submissão à lei de Deus são da mais alta importância para você. Esteja disposto a aceitar a advertência e conselho dos que têm experiência. Não adie a obra de tornar-se vencedor. Seja sincero a si mesmo, a seus filhos e a Deus. Seu aflito filho precisa ser tratado com ternura. Como pai, você deve lembrar-se de que os nervos que podem estremecer de alegria podem também estremecer sob a mais intensa dor. O Senhor identifica Seu interesse com o da sofredora humanidade. T4 368 3 Muitos pais se esquecem de sua responsabilidade para com Deus de educar filhos para utilidade e dever de tal forma que sejam uma bênção para si mesmos e a outros. Freqüentemente, as crianças são mimadas desde a meninice, e maus hábitos se tornam fixos. Os pais têm estado curvando o rebento. Pela sua maneira de educar, o caráter ou se desenvolve com deformidades ou com simetria e beleza. Mas enquanto muitos erram do lado da condescendência, outros vão ao extremo oposto e governamos filhos com vara de ferro. Nenhum deles segue a direção bíblica, mas ambos estão fazendo uma obra temível. Estão moldando a mente dos filhos e devem prestar contas, no dia de Deus, pela maneira como o têm feito. A eternidade revelará o resultado da obra feita nesta vida. "Para onde o galho se curva, a árvore se inclina." T4 369 1 Sua maneira de orientar está errada, decididamente errada. Você não é um pai carinhoso e compassivo. Que exemplo dá aos filhos com suas explosões insanas de ira! Que contas terá de prestar a Deus por sua perversa disciplina! Se deseja ter o amor e respeito de seus filhos, você precisa manifestar-lhes afeição. A condescendência com a ira nunca é desculpável; é sempre cega e perversa. T4 369 2 Deus requer que você mude de conduta. Pode ser um homem útil e eficiente no escritório se empreender esforços determinados para vencer. Não estabeleça como critério as opiniões próprias. O Senhor o ligou ao Seu povo para que você pudesse aprender na escola de Cristo. Suas idéias têm sido pervertidas; "não te estribes no teu próprio entendimento". Provérbios 3:5. Você não pode ser salvo a menos que sua mentalidade seja mudada. Não obstante o fato de Moisés ter sido o mais manso de todos os homens que já viveram na Terra, houve uma ocasião em que ele trouxe sobre si o desagrado de Deus. Ele foi grandemente importunado pela murmuração dos filhos de Israel por falta de água. As injustas acusações do povo contra ele o levaram por um momento a esquecer que as queixas não eram contra ele, mas contra Deus; e em vez de mostrar-se magoado porque o Espírito de Deus recebia insulto, ele se mostrou irritado, ofendido, e de maneira voluntariosa, impaciente, feriu a rocha duas vezes dizendo: "Ouvi agora, rebeldes: porventura, tiraremos água desta rocha para vós?" Números 20:10. Moisés e Arão puseram-se à frente no lugar de Deus, como se o milagre tivesse sido realizado por eles. Não exaltaram a Deus, mas a si mesmos perante o povo. Muitos no final não alcançarão a vida eterna porque se deixam levar por conduta semelhante. T4 369 3 Moisés mostrou grande fraqueza perante o povo. Revelou grande falta de domínio próprio, um espírito igual ao que possuíam os murmuradores. Ele devia ter sido um exemplo de paciência e tolerância diante daquela multidão que estava agora pronta a desculpar suas faltas, desafeições e murmurações irrazoáveis por causa dessa manifestação de erro de sua parte. O maior pecado constituiu em assumir ele o lugar de Deus. A posição de honra que Moisés havia ocupado até aí não lhe diminuía a culpa, mas ao contrário a aumentava. Aqui estava um homem até então irrepreensível, agora caído. Muitos em posição semelhante haveriam de arrazoar que seu pecado deveria ser desculpado em virtude de sua longa vida de invariável fidelidade. Mas não; era mais grave um homem que tinha sido honrado por Deus mostrar fraqueza de caráter na demonstração de ira do que se ele ocupasse posição de menor responsabilidade. Moisés era um representante de Cristo, mas quão tristemente foi o simbolismo maculado! Moisés havia pecado, e sua fidelidade passada não podia expiar o pecado presente. Todo o grupo de Israel estava fazendo história para futuras gerações. Essa história a pena da inspiração que não erra deve traçar com exata fidelidade. Homens de todo o tempo futuro devem ver o Deus do Céu como um governante firme que em caso algum justifica o pecado. Moisés e Arão teriam de morrer sem entrar em Canaã, ficando sujeitos à mesma punição que caiu sobre os que estavam em posição de menor importância. Eles se curvaram em submissão, embora sua angústia de coração fosse inexprimível; mas seu amor por Deus e sua confiança nEle ficaram inalterados. O exemplo deles é uma lição que muitos passam por alto sem aprender dela como deviam. O pecado não parece iníquo. A exaltação do eu não lhes parece grave. T4 370 1 Poucos, todavia, percebem a malignidade do pecado; gabam-se de que Deus é muito bom para punir o ofensor. Os casos de Moisés e Arão, Davi e numerosos outros, mostram que não é seguro pecar por palavra, por pensamento ou ação. Deus é um ser de amor e compaixão infinitos. No discurso de despedida que Moisés apresentou aos filhos de Israel, ele disse: "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor" (Hebreus 12:29), um Deus zeloso. O apelo tocante feito por Moisés de que poderia ser privilegiado a entrar em Canaã foi firmemente recusado. A transgressão em Cades havia sido pública e marcante; e quanto mais elevada a posição do ofensor, quanto mais distinto o homem, mais firme era o decreto e mais certa a punição. Prezado irmão, fique alerta. Seja fiel à luz que brilha em seu caminho. Declarou Paulo: "Subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. ------------------------Capítulo 33 -- Pastores consagrados T4 371 1 Três anos atrás, o Senhor me deu uma visão das coisas passadas, presentes e futuras. Vi jovens pregando a verdade, alguns dos quais, naquele tempo, ainda não a tinham recebido. Eles têm desde então se apegado à verdade, e tentam conduzir outros a ela. Foi-me mostrado o seu caso, irmão I. No passado sua vida não foi de modo a levá-lo a esquecer o eu. Você é por natureza egoísta e auto-suficiente, depositando total confiança em sua força. Isso o impedirá de adquirir a experiência necessária para torná-lo um humilde e eficiente ministro de Cristo. T4 371 2 Há muitos no campo que estão numa condição semelhante. Podem apresentar a teoria da verdade, mas têm falta da verdadeira piedade. Se os pastores agora trabalhando no campo do evangelho, incluindo você, sentissem diariamente a necessidade do exame próprio e comunhão com Deus, então estariam em condição de receber as palavras de Deus para dá-las ao povo. Suas palavras e viver diário serão "cheiro de vida para a vida" ou "de morte para a morte". 2 Coríntios 2:16. T4 371 3 Você pode inteligentemente crer na verdade; mas a obra está ainda diante de você para colocar todo o ato de sua vida e toda a emoção de seu coração em harmonia com sua fé. A oração de Cristo por Seus discípulos pouco antes de Sua crucifixão foi: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. A influência da verdade não deve afetar meramente o entendimento, mas o coração e a vida. A religião genuína, prática, levará o seu possuidor a controlar suas emoções. Sua conduta exterior deve ser santificada através da verdade. Asseguro-lhe perante Deus de que você é seriamente deficiente em religiosidade prática. Os pastores não devem assumir a responsabilidade de professores do povo, imitando a Cristo, o Grande Exemplo, a menos que sejam santificados para a grande obra, a fim de poderem ser exemplos para o rebanho de Deus. Um pastor não santificado pode causar incalculável mal. Conquanto professando ser embaixador de Cristo, seu exemplo será copiado por outros; e se lhe faltam as verdadeiras características de um cristão, suas faltas e deficiências serão reproduzidas neles. T4 372 1 Homens podem ser capazes de repetir com fluência as grandes verdades expressas com integridade e perfeição em suas publicações; podem falar fervorosa e inteligentemente do declínio da religião nas igrejas; podem apresentar o padrão do evangelho perante o povo de um modo muito capaz, enquanto os deveres do dia-a-dia da vida cristã, que requerem ação, bem como sentimento, são considerados por eles como não estando entre as questões de maior peso. Este é seu perigo. A religião prática reivindica sua ação igualmente sobre o coração, a mente e a vida diária. Nossa sagrada fé não consiste em sentimento nem meramente em ação, mas esses dois aspectos precisam ser combinados na vida cristã. A religião prática não existe independentemente da atuação do Espírito Santo. Você precisa deste agente, meu irmão, e assim também todos quantos entram na obra de esforçar-se para convencer transgressores de sua condição perdida. Este instrumento do Espírito de Deus não nos isenta da necessidade de exercitarmos nossas faculdades e talentos, mas nos ensina a usar toda capacidade para a glória de Deus. As faculdades humanas, quando sob a direção especial da graça de Deus, são suscetíveis de ser usadas para o melhor propósito na Terra, e serão exercidas na futura vida imortal. T4 372 2 Meu irmão, foi-me mostrado que você poderia tornar-se um professor de muito êxito se se consagrasse totalmente ao trabalho, mas seria um obreiro muito fraco caso não o fizesse. Não aceita, como o Redentor do mundo aceitou, a posição de servo, a difícil parte do dever do pregador do evangelho; e neste particular há muitos tão deficientes quanto você. Aceitam seus salários praticamente sem considerar se fizeram o máximo para servir à causa ou a si mesmos, se dedicaram o seu tempo e talentos inteiramente à obra de Deus ou se apenas falaram no púlpito e devotaram o restante de seu tempo aos próprios interesses, inclinações ou prazer. T4 373 1 Cristo, a Majestade do Céu, pôs de lado as Suas vestes de realeza, e veio a este mundo todo endurecido e arruinado pela maldição, para ensinar os homens como viver uma vida de abnegação e sacrifício próprio, e como pôr em prática a religião na vida diária. Ele veio para dar o exemplo correto de um ministro do evangelho. Esforçava-Se constantemente por um objetivo; todas as Suas forças eram empregadas para a salvação do ser humano, e todo o ato de Sua vida visava este fim. Viajava a pé, ensinando Seus seguidores à medida que prosseguia. Suas vestes eram empoeiradas e manchadas pela viagem, e Sua aparência era pouco convidativa. Contudo, as verdades simples e objetivas que saíam de Seus divinos lábios logo faziam com que os ouvintes se esquecessem de Sua aparência, e ficassem encantados, não com o homem, mas com a doutrina que Ele ensinava. Após ensinar durante todo o dia, freqüentemente dedicava a noite à oração. Fazia Suas súplicas a Seu Pai com forte clamor e lágrimas. Orava, não por Si mesmo, mas por aqueles a quem veio redimir. T4 373 2 Poucos pastores oram a noite inteira, como fez nosso Salvador, ou dedicam horas do dia para orar a fim de se tornarem aptos ministros do evangelho, e eficientes em levar homens a ver as belezas da verdade e serem salvos através dos méritos de Cristo. Daniel orava três vezes ao dia; mas muitos que fazem a mais exaltada profissão de fé não humilham nenhuma vez ao dia sua alma perante Deus em oração. Jesus, o querido Salvador, a todos deu notáveis lições de humildade, mas em especial ao ministro do evangelho. Em Sua humilhação, ao achar-se quase concluída Sua obra na Terra e Ele prestes a voltar para o trono do Pai, de onde viera, tendo nas mãos todo o poder e na fronte toda a glória, entre Suas últimas lições aos discípulos houve uma sobre a importância da humildade. Enquanto eles contendiam a respeito de quem seria o primeiro no reino prometido, cingiu-Se Ele como um servo, e lavou os pés daqueles que O chamavam Senhor e Mestre. T4 374 1 Seu ministério estava quase terminado; poucas lições mais tinha a ensinar. E para que jamais esquecessem a humildade do puro e impecável Cordeiro de Deus, o grande, o eficaz Sacrifício pelo homem humilhou-Se a lavar os pés dos discípulos. Ser-lhe-á benéfico, bem como aos pastores em geral, o recapitular freqüentemente as cenas finais da vida de nosso Redentor. Ali, rodeado como estava de tentações, podemos todos aprender lições da mais alta importância para nós. T4 374 2 Bom seria passar cada dia uma hora de reflexão, recapitulando a vida de Jesus da manjedoura ao Calvário. Devemos tomá-la, ponto por ponto, deixando que a imaginação se apodere vividamente de cada cena, em particular das cenas finais de Sua vida terrestre. Contemplando assim Seus ensinos e sofrimentos, e o infinito sacrifício por Ele feito para redenção da raça humana, podemos revigorar nossa fé, vivificar nosso amor e imbuir-nos mais profundamente do espírito que sustinha nosso Salvador. T4 374 3 Caso queiramos afinal ser salvos, todos nós devemos aprender, junto à cruz, a lição de penitência e de fé. Cristo sofreu humilhação a fim de salvar-nos da vergonha eterna. Consentiu em receber escárnio, zombaria e maus-tratos para que nos pudesse proteger. Foi nossa transgressão que Lhe adensou em torno da divina alma o véu da escuridão, e arrancou-Lhe um brado como de pessoa ferida e abandonada por Deus. "Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si" (Isaías 53:4), por causa de nossos pecados. Fez-Se oferta pelo pecado a fim de que, por meio dEle, pudéssemos ser justificados perante Deus. Tudo quanto é nobre e generoso no homem será suscetível à contemplação de Cristo crucificado. T4 375 1 Anseio ver nossos pastores se demorarem mais na cruz de Cristo, o coração enternecido e subjugado pelo incomparável amor do Salvador, amor que inspirou o sacrifício imenso. Se a par da teoria da verdade, nossos obreiros se demorassem mais sobre a piedade prática, falando inspirados por um coração possuído do espírito da verdade, veríamos muito mais almas se arrebanharem em torno do estandarte da verdade; o coração ser-lhes-ia tocado ante os apelos da cruz de Cristo, da infinita generosidade e piedade de Jesus em sofrer pelo homem. Esses assuntos vitais, aliados aos pontos doutrinários de nossa fé, efetuariam grande bem entre o povo. O coração do mestre, porém, precisa achar-se possuído do conhecimento experimental do amor de Cristo. T4 375 2 O poderoso argumento da cruz convencerá do pecado. O divino amor de Deus pelos pecadores, expresso no dom de Seu Filho para sofrer vergonha e morte de modo a que eles fossem enobrecidos e dotados de vida eterna, constitui estudo para toda a existência. Peço-lhes que estudem de novo a cruz de Cristo. Se todos os orgulhosos e vangloriosos cujo coração anseia aplauso dos homens e distinção acima de seus companheiros pudessem calcular devidamente o valor da mais exaltada glória terrena em comparação com o valor do Filho de Deus -- rejeitado, desprezado, cuspido por aqueles mesmos a quem viera salvar -- quão insignificantes pareceriam todas as honras que o homem mortal pudesse conferir! T4 375 3 Prezado irmão, você sente, em suas realizações imperfeitas, que é qualificado para quase qualquer posição. Mas ainda não foi achado capaz de controlar a si mesmo. Sente-se competente para dar ordens aos homens de experiência, quando deveria estar disposto a ser conduzido e colocar-se na posição de um aprendiz. Quanto menos meditar em Cristo e em Seu incomparável amor, e quanto menos se assemelhar a Sua imagem, tanto melhor parecerá ser aos próprios olhos e tanto maior será sua autoconfiança e satisfação própria. O correto conhecimento de Cristo, a constante contemplação do Autor e Consumador de nossa fé, lhe darão tal visão do caráter de um cristão genuíno, que você não poderá deixar de fazer correta avaliação de sua própria vida e caráter, em contraste com os do grande Exemplo. Verá então sua própria fraqueza, sua ignorância, seu amor ao conforto e sua indisposição para negar o eu. T4 376 1 Você apenas começou a estudar a Santa Palavra de Deus. Apanhou algumas gemas da verdade, que, com muita luta e muitas orações, foram cavadas por outros; mas a Bíblia está cheia delas; faça desse Livro o objeto de seu zeloso estudo e a regra de sua vida. Seu perigo será sempre de desprezar o conselho, e atribuir-se um valor mais elevado do que Deus lhe atribui. Há muitos que estão sempre prontos a lisonjear e louvar o pastor que sabe falar. Para seu próprio prejuízo um jovem pastor está sempre em perigo de ser mimado e aplaudido, enquanto ao mesmo tempo pode ser deficiente nas coisas essenciais que Deus requer daquele que professa ser um porta-voz Seu. Você tem meramente entrado na escola de Cristo. A adaptação para a sua obra é uma tarefa vital, uma luta diária, penosa e renhida com hábitos estabelecidos, inclinações e tendências hereditárias. Guardar e controlar o próprio eu, para manter Jesus preeminente e o eu fora de vista, requer constante, diligente e vigilante esforço. T4 376 2 É necessário que você cuide dos pontos fracos de seu caráter, para conter más tendências e para fortalecer e desenvolver nobres faculdades que não têm sido devidamente exercidas. O mundo nunca conhecerá a obra que prossegue secretamente entre a alma e Deus, nem a amargura de espírito, a aversão ao próprio eu e os constantes esforços para dominá-lo; mas muitos do mundo serão capazes de apreciar o resultado desses esforços. Eles verão a Cristo revelado em sua vida diária. Você será carta viva, "conhecida e lida por todos os homens" (2 Coríntios 3:2), e possuirá caráter simétrico, nobremente desenvolvido. T4 376 3 "Aprendei de Mim", disse Cristo, "que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Ele instruirá os que se dirigem a Ele em busca de conhecimento. Há multidões de falsos mestres no mundo. O apóstolo declara que, nos últimos dias, homens "cercar-se-ão de mestres... como que sentindo coceira nos ouvidos" (2 Timóteo 4:3), porque desejam ouvir coisas agradáveis. Cristo nos preveniu contra eles: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:15 e16. A classe de mestres religiosos aí descrita professa ser cristã. Eles têm forma de piedade, e parecem estar trabalhando para o bem das almas, enquanto no íntimo são avarentos, egoístas, amantes da comodidade, seguindo as inclinações do próprio coração não consagrado. Estão em conflito com Cristo e Seus ensinos, e se acham destituídos de Seu espírito manso e humilde. T4 377 1 O pregador que transmite a sagrada verdade para estes últimos dias deve ser o oposto de tudo isso, e por sua vida de santidade prática, claramente marca a diferença que existe entre o falso e o verdadeiro pastor. O Bom Pastor veio buscar e salvar o perdido. Ele manifestou em Suas obras o Seu amor por Suas ovelhas. Todos os pastores que trabalham sob a direção do Supremo Pastor possuirão Suas características; eles serão mansos e humildes de coração. Fé semelhante à de uma criança traz descanso à alma, e também atua pelo amor e sempre se interessa pelos outros. Se o Espírito de Cristo habita neles, serão semelhantes a Cristo e farão as obras de Cristo. Muitos que professam ser ministros de Cristo têm se equivocado quanto a seu mestre. Alegam estar servindo a Cristo, e não estão cientes de que é sob a bandeira de Satanás que estão se posicionando. Podem ser sábios segundo o mundo, e ansiosos por disputa e vanglória, exibindo-se com a realização de um grande trabalho; mas eles não são de utilidade para Deus. Os motivos que promovem a ação caracterizam o trabalho. Conquanto os homens não possam discernir a deficiência, Deus a observa. T4 377 2 A letra da verdade pode convencer algumas almas que se apegarão firmemente à fé e finalmente serão salvas; mas o pregador egoísta que lhes apresentou a verdade não terá crédito para com Deus pelas conversões. Será julgado por sua infidelidade enquanto professa ser um vigia sobre os muros de Sião. O orgulho de coração é um terrível traço de caráter. "A soberba precede a ruína." Provérbios 16:18. Isso é verdade na família, na igreja e na nação. Como quando Ele esteve na Terra, o Salvador do mundo está escolhendo homens simples e sem instrução, ensinando-os a levarem a Sua verdade, bela em sua simplicidade, ao mundo, especialmente aos pobres. O Sumo Pastor ligará o subpastor a Si mesmo. Ele não determina que esses homens incultos permaneçam ignorantes ao realizarem a sua tarefa, mas que dEle recebam o conhecimento, a fonte de todo o conhecimento, luz e poder. T4 378 1 É a ausência do Espírito Santo e da graça de Deus que torna o ministro do evangelho tão destituído de poder para convencer e converter. Após a ascensão de Jesus, doutores, advogados, sacerdotes, maiorais, escribas e fariseus ouviram com admiração as palavras de sabedoria e poder de homens indoutos e humildes. Esses sábios se maravilharam do sucesso dos modestos discípulos, e finalmente o atribuíram, para sua própria satisfação, ao fato de haverem estado com Jesus e aprendido dEle. Seu caráter e a simplicidade de seus ensinos eram semelhantes ao caráter e aos ensinos de Cristo. O apóstolo o descreve nestas palavras: "Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele." 1 Coríntios 1:27-29. T4 378 2 Os que hoje ensinam verdades impopulares precisam ter poder do alto para juntá-lo a sua doutrina, do contrário seus esforços serão de pouco valor. A preciosa virtude da humildade faz muita falta no ministério e na igreja. Homens que pregam a verdade têm um conceito exagerado de suas próprias capacidades. A verdadeira humildade levará o homem a exaltar a Cristo e a verdade, e a reconhecer sua total dependência do Deus da verdade. É penoso aprender lições de humildade; contudo, nada é mais benéfico no fim. A dor que acompanha o aprendizado de lições de humildade é a conseqüência de nos ensoberbecermos por uma falsa avaliação de nós mesmos, sendo, portanto, incapazes de ver nossa grande necessidade. A vaidade e o orgulho enchem o coração dos homens. Só a graça de Deus pode efetuar uma reforma. T4 378 3 Sua tarefa, meu irmão, é humilhar-se e não esperar que Deus o humilhe. A mão de Deus às vezes pesa intensamente sobre os homens, para humilhá-los e conduzi-los à correta posição diante dEle; quão melhor, porém, é manter diariamente o coração bem humilde diante de Deus! Podemos humilhar-nos, ou podemos encher-nos de orgulho e esperar até que Deus nos humilhe. Atualmente, os ministros do evangelho sofrem pouco pela causa da verdade. Se fossem perseguidos, como foram os apóstolos de Cristo, e como foram homens santos de Deus em tempos posteriores, haveria pressa em estarem mais perto de Cristo, e essa ligação mais íntima com o Salvador tornaria suas palavras um poder na Terra. Cristo "foi homem de dores e que sabe o que é padecer". Isaías 53:3. Suportou as perseguições e contradições dos pecadores; foi pobre e sofreu fome e fadiga; foi tentado pelo diabo, e Suas obras e ensinos despertaram o mais amargo ódio. Que negamos a nós mesmos hoje por amor de Cristo? Onde está nossa devoção à verdade? Evitamos as coisas que não nos agradam, e fugimos de cuidados e responsabilidades. Podemos esperar o poder de Deus atuando com nossos esforços quando temos tão pouca consagração à obra? T4 379 1 Meu irmão, foi-me mostrado que seu nível de religiosidade não é elevado. Você precisa ter senso mais profundo de sua responsabilidade para com Deus e a sociedade. Então não se sentirá satisfeito consigo mesmo, nem tentará desculpar-se apontando as deficiências de outros. Você não tem tão completo conhecimento da verdade para que possa diminuir seus esforços em qualificar-se para instruir a outros. Precisa ter nova conversão a fim de tornar-se capaz e dedicado ministro do evangelho, um homem de piedade e santidade. Se você devesse dedicar todas as suas energias à causa de Deus, não estaria fazendo nada demais. Isso é, no máximo, uma oferta defeituosa que qualquer um de nós pode oferecer. Se estiver continuamente buscando a Deus, e procurando consagrar-se mais profundamente a Ele, estará reunindo novas idéias ao pesquisar as Escrituras por si mesmo. T4 379 2 Para compreender a verdade, você deve disciplinar e educar a mente, e procurar constantemente possuir as virtudes de genuína piedade. Agora você mal sabe o que é isso. Quando Cristo estiver em você, terá algo mais do que uma teoria da verdade. Não somente repetirá as lições que Cristo deu quando esteve na Terra, mas educará a outros por sua vida de abnegação e dedicação à causa de Deus. Sua vida será um sermão vivo, e possuirá mais poder do que qualquer sermão proferido do púlpito. T4 380 1 Precisa cultivar em si mesmo aquele espírito altruísta, aquela bondade abnegada e genuína devoção que deseja ver outros praticarem. A fim de ampliar continuamente a inteligência espiritual, e tornar-se cada vez mais eficiente, você precisa cultivar hábitos de utilidade nos pequenos deveres em seu caminho. Você não deve esperar por oportunidades para realizar uma grande obra, mas aproveitar a primeira ocasião propícia para demonstrar que é fiel no mínimo, e assim poderá ser elevado de uma posição de confiança para outra. Estará apto a pensar que não é deficiente em conhecimento, e inclinado a negligenciar a oração secreta, a vigilância e um cuidadoso estudo das Escrituras, e conseqüentemente ser vencido pelo inimigo. Sua maneira de ser pode parecer perfeita a seus próprios olhos, enquanto, na realidade, pode ser muito deficiente. Não deve ter tempo para discutir com o adversário das almas. Agora é tempo para tomar a sua posição e desapontar o inimigo. Deve criticar a si mesmo íntima e zelosamente. Estará inclinado a colocar a sua opinião como padrão, sem levar em conta as opiniões e julgamento de homens de experiência, a quem Deus tem usado para fazer avançar a Sua causa. Homens jovens no ministério agora conhecem somente pouco das dificuldades; e muitos deixarão de se tornar tão úteis quanto poderiam pela própria razão de que as coisas são-lhes tornadas muito fáceis. T4 380 2 Você tem responsabilidades em sua família que julga que entende; mas sabe menos sobre elas do que deveria saber. Tem muitas coisas para desaprender das quais se orgulhava em saber. Foi-me mostrado que você reuniu muitas idéias que entende ser verdade, mas que estão diretamente em oposição à Bíblia. Paulo teve que defrontar e contender acerca dessas coisas com jovens pastores de seus dias. Você tem sido muito pronto a aceitar como luz as declarações e posições dos homens; mas seja cuidadoso em como apresenta as suas idéias como verdade bíblica. Seja cuidadoso em seus passos. Eu esperava que uma tal reforma tivesse tido lugar em sua vida de modo que eu jamais precisasse ser chamada para escrever-lhe estas palavras. T4 381 1 Você tem um dever a cumprir no lar, ao qual não pode fugir, e ainda ser leal a Deus e ao encargo que Ele lhe confiou. O que agora menciono não me foi mostrado definidamente em seu caso, porém em centenas de casos semelhantes; portanto, quando vejo que você está a cair no mesmo erro em que muitos pais nesta época do mundo estão caindo, não posso desculpar a sua negligência do dever. Você tem uma criança, uma alma confiada a sua guarda. Mas quando você mostra tão manifesta fraqueza e falta de sabedoria em instruir essa criança, seguindo as próprias idéias em vez de a regra bíblica, como pode merecer confiança para ensinar e conduzir questões onde os interesses eternos de muitos estão envolvidos? T4 381 2 Dirijo-me a você e a sua esposa. Minha posição na causa e obra de Deus requer que eu me expresse em questões de disciplina. Seu exemplo nos próprios afazeres domésticos causarão um grande prejuízo à causa de Deus. O campo do evangelho é o mundo. Vocês desejam semear o campo com a verdade evangélica, esperando que Deus regue a semente semeada para que dê fruto. Confiaram a si mesmos uma pequena área; mas seu próprio jardim é deixado a crescer com sarças e espinhos, enquanto estão empenhados em capinar jardins alheios. Esta não é uma pequena obra, mas uma tarefa momentosa. Estão pregando o evangelho a outros; pratiquem-no vocês mesmos no lar. Estão condescendendo com os caprichos e paixões de uma criança perversa, e por fazê-lo cultivam traços de caráter que Deus odeia, e que torna a criança infeliz. Satanás tira vantagem de sua negligência e controla a mente. Você tem uma obra a realizar para mostrar que compreende os deveres que pesam sobre um pai cristão em moldar o caráter de seu filho segundo o Modelo Divino. Se tivesse começado esta obra em sua infância, seria fácil agora, e a criança seria muito mais feliz. Mas, sob a sua disciplina, a vontade e a perversidade da criança têm por todo tempo sido fortalecidas. Agora requererá maior severidade, e mais constante, perseverante esforço para desfazer o que esteve fazendo. Se não pode controlar uma criancinha que é o seu especial dever controlar, será deficiente em sabedoria ao dirigir os interesses espirituais da igreja de Cristo. T4 382 1 Há erros que jazem no próprio alicerce de sua experiência e que precisam ser desarraigados, e você precisa tornar-se um aprendiz na escola de Cristo. Abra os olhos para discernir onde está a dificuldade, e então apresse-se em se arrepender dessas coisas e começar a atuar de um ponto de vista correto. Não se esforce no eu, mas em Deus. Deixe de lado o orgulho, a exaltação própria, a vaidade, e aprenda de Cristo as suaves lições da cruz. Você precisa dedicar-se sem reservas à obra. Seja um sacrifício vivo sobre o altar de Deus. T4 382 2 Se o filho de um pastor manifesta ira, e é favorecido em quase todos os seus desejos, isso tem a influência de desfazer os testemunhos que Deus tem me dado aos pais com respeito ao próprio cuidado de seus filhos. Você está indo diretamente contra a luz que Deus tem Se comprazido em dar, e escolhendo uma teoria específica por si próprio. Mas essa experiência, tão diretamente em oposição às instruções da Palavra de Deus, não deve ser levada avante para prejuízo daqueles a quem Deus nos quis instruir com referência à educação de seus filhos. T4 382 3 Seu interesse não deve ser absorvido na própria família com exclusão de outros. Se você desfruta a hospitalidade de seus irmãos, podem eles com razão esperar alguma coisa em retribuição. Identifique seus interesses com os dos pais e filhos, e procure instruir e abençoar. Santifique-se para a obra de Deus, e seja uma bênção para os que o hospedam, conversando com os pais, e de maneira nenhuma passando por alto os filhos. Não pense que sua própria filha é mais preciosa à vista de Deus que outras crianças. Você corre o risco de negligenciar a outros enquanto agrada e satisfaz a sua criança; e ela mesma dá evidência de sua orientação deficiente. Ela é culpada de atos de desobediência e ira tantas vezes em um dia quanto sua vontade seja contrariada. Que influência está isto trazendo sobre as famílias a quem Deus está buscando instruir e corrigir acerca de idéias frouxas com respeito à disciplina! T4 383 1 Em seu apego tolo e cego, ambos têm-se submetido a sua criança. Tem-na permitido manter as rédeas em suas pequenas mãos, e ela dominou a ambos antes que fosse capaz de caminhar. O que pode ser esperado do futuro em vista do passado? Não permita que o exemplo dessa criança favorecida e mimada acarrete repreensões que testifiquem contra vocês e que no Juízo mostrem ter resultado na perda de inúmeras crianças. Se os homens e mulheres o aceitarem como mestre da parte de Deus, não estarão inclinados a seguir seu pernicioso exemplo ao submeterem-se aos seus filhos? Não será o pecado de Eli o seu? E não recairá sobre você a retribuição que recaiu sobre ele? Sua criança, com os seus atuais hábitos e temperamento, nunca verá o reino de Deus. E vocês, seus pais, serão aqueles que fecharam os portões do Céu diante dela. Como, então, permanecerão com respeito à própria salvação? Lembrem-se de que colherão aquilo que semearam. ------------------------Capítulo 34 -- O juízo T4 384 2 Na manhã de 23 de Outubro de 1879, por volta das duas horas, o Espírito do Senhor repousou sobre mim, e vi cenas do juízo vindouro. Faltam-me palavras para descrever devidamente as coisas que passaram diante de mim, e o efeito que tiveram sobre meu espírito. T4 384 3 Parecia haver chegado o grande dia da execução do juízo de Deus. Milhões achavam-se reunidos diante de um grande trono, sobre o qual estava sentada uma pessoa de aparência majestosa. Vários livros achavam-se diante dEle, e na capa de cada um estava escrito em letras de ouro, que pareciam como chama ardente: "Livros de Registro do Céu." Foi então aberto um desses livros, contendo os nomes dos que professam crer na verdade. Perdi imediatamente de vista os inúmeros milhões que se achavam em redor do trono, e unicamente os que eram professos filhos da luz e da verdade me prenderam a atenção. Ao serem nomeadas essas pessoas, uma a uma, e mencionadas suas boas ações, sua fisionomia iluminava-se de santa alegria que se refletia em todas as direções. Isto, porém, não pareceu fixar-se em meu espírito com a maior intensidade. T4 384 4 Abriu-se outro livro, no qual se achavam registrados os pecados dos que professam a verdade. Sob o cabeçalho geral de egoísmo, vinha uma legião de pecados. Havia também cabeçalhos sobre cada coluna e, embaixo destes, ao lado de cada nome, achavam-se registrados, em suas respectivas colunas, os pecados menores. T4 385 1 Sob a cobiça vinha a falsidade, o furto, o roubo, a fraude e a avareza; sob a ambição vinha o orgulho e a prodigalidade; o ciúme encabeçava a maldade, a inveja e o ódio; e a intemperança servia de cabeçalho a uma longa lista de terríveis crimes, como a lascívia, o adultério, a condescendência com as paixões sensuais etc. Ao contemplar isto, enchi-me de inexprimível angústia, e exclamei: "Quem poderá salvar-se? quem subsistirá justificado diante de Deus? quem terá os vestidos sem mancha? quem é impecável aos olhos de um Deus puro e santo?" T4 385 2 À medida que o Santo que estava sobre o trono ia virando lentamente as folhas do livro de registro e Seus olhos pousavam momentaneamente sobre os indivíduos, esse olhar parecia queimar-lhes até ao íntimo da alma, e no mesmo instante cada palavra e ação de sua vida passava-lhe diante da mente, clara como se fosse traçada ante seus olhos com letras de fogo. Apoderava-se deles o temor, e os rostos empalideciam. Seu primeiro aspecto quando se achavam diante do trono era de descuidosa indiferença. Mas como se lhes mudara agora esse aspecto! Desaparecera o sentimento de segurança, substituindo-o insuportável terror. Toda alma está aterrada, não seja ela achada entre os que estão em falta. Todos os olhos se acham voltados para a face dAquele que está sobre o trono; e enquanto Seu olhar solene e esquadrinhador passa por aquele grupo, há tremor de coração, pois sentem por si mesmos condenados, sem que fosse pronunciada uma palavra. Em angústia de alma, cada um declara a própria culpa e de maneira terrivelmente vívida vê que, pecando, atirou fora a preciosa dádiva da vida eterna. T4 385 3 Uma classe estava registrada como empecilhos do terreno. Ao cair sobre esses o penetrante olhar do Juiz, foram distintamente revelados seus pecados de negligência. Com lábios pálidos e trêmulos reconheceram haver sido traidores do santo depósito que lhes fora confiado. Haviam tido advertências e privilégios, mas não os haviam atendido e aproveitado. Podiam ver agora que haviam se prevalecido demais da misericórdia de Deus. Em verdade, não tinham a fazer confissões como as dos vis e baixamente corrompidos; mas, como a figueira, eram amaldiçoados por não produzirem frutos, por não haverem usado os talentos a eles confiados. T4 386 1 Essa classe dera ao próprio eu o supremo lugar, trabalhando apenas pelo interesse egoísta. Não eram ricos para com Deus, não havendo correspondido a Suas reivindicações sobre eles. Conquanto professassem ser servos de Cristo, não Lhe trouxeram almas. Houvesse a causa de Deus dependido de seus esforços, e haveria definhado; pois eles, não somente retiveram os recursos que lhes foram emprestados por Deus, mas a si mesmos se retiveram. Estes, porém, podiam ver agora e sentir que, assumindo para com a obra e a causa de Deus uma posição de irresponsabilidade, haviam-se colocado do lado esquerdo. Haviam tido oportunidade, mas não fizeram a obra que podiam e deviam ter feito. T4 386 2 Foram mencionados os nomes de todos quantos professam a verdade. Alguns foram reprovados por sua incredulidade, outros por terem sido servos negligentes. Deixaram que outros fizessem a obra na vinha do Mestre e levassem as mais pesadas responsabilidades, enquanto eles estavam servindo egoistamente seus próprios interesses temporais. Houvessem eles cultivado as aptidões que o Senhor lhes dera, teriam sido dignos de confiança como portadores de responsabilidades, trabalhando pelos interesses do Mestre. Disse o Juiz: "Todos serão justificados por sua fé, e julgados por suas obras." Quão vividamente aparecia então sua negligência, e quão sábia a medida de Deus de dar a cada homem uma obra a fazer a fim de promover a causa e salvar seus semelhantes! Cada um devia demonstrar na família e na vizinhança uma fé viva, mediante a bondade manifestada ao pobre, a compaixão para com o aflito, o empenhar-se em obra missionária, e o ajudar a causa de Deus com seus recursos. Mas, como aconteceu em Meroz, a maldição de Deus repousou sobre eles pelo que não fizeram. Amaram a obra que traria mais proveito nesta vida; e ao lado de seus nomes no Livro consagrado às boas obras havia um lamentável vazio. T4 386 3 As palavras dirigidas a esses foram soleníssimas: "Vocês foram pesados na balança, e achados em falta. Negligenciaram as responsabilidades espirituais devido à atarefada atividade nos assuntos temporais, ao passo que sua própria posição de confiança tornava necessário possuírem sabedoria mais que humana e discernimento acima do finito. Precisavam disto a fim de realizarem mesmo a parte mecânica de seu trabalho; e quando desligaram Deus e Sua glória de sua ocupação, desviaram-se de Sua bênção." T4 387 1 Foi então feita a pergunta: "Por que não lavaram suas vestes de caráter, e as branquearam no sangue do Cordeiro? 'Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.' João 3:17. Meu amor por vocês foi mais abnegado do que o de mãe. Foi para poder apagar seu sombrio registro de iniqüidade, e pôr-lhes nos lábios o cálice da salvação, que sofri a morte de cruz, suportando o peso e a maldição de sua culpa. As agonias da morte, e os horrores das trevas do sepulcro, Eu suportei, a fim de vencer aquele que tinha o império da morte, descerrar a prisão e abrir-lhes os portais da vida. Submeti-Me à vergonha e à angústia porque os amava com infinito amor, e queria trazer de volta Minhas ovelhas desgarradas e errantes ao paraíso de Deus, à árvore da vida. Essa vida de bênção que para vocês comprei a tal preço, vocês a desprezaram. Vergonha, injúria e ignomínia como as que por vocês sofreu seu Mestre, vocês têm evitado. Não apreciaram os privilégios pelos quais Ele deu a Sua vida para pô-los ao seu alcance. Não quiseram ser participantes de Seus sofrimentos, e agora não podem partilhar com Ele de Sua glória." T4 387 2 Foram então proferidas estas solenes palavras: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. Fechou-se então o livro, e caiu o manto da pessoa que estava no trono, revelando a terrível glória do Filho de Deus. T4 387 3 A cena dissipou-se, e encontrei-me ainda na Terra, inexprimivelmente grata porque o dia de Deus ainda não chegara, e o precioso tempo da graça ainda nos fosse concedido, de modo a nos prepararmos para a eternidade. ------------------------Capítulo 35 -- Nossas publicações T4 388 1 Algumas coisas de séria importância não têm recebido a devida atenção em nossas casas publicadoras. Homens que estão em posições de responsabilidade deveriam ter executado planos pelos quais fazer circular nossos livros, em vez de ficarem nas prateleiras, como peso morto depois de sair do prelo. Nosso povo está atrasado e não está seguindo a providência de Deus, que lhe abre o caminho. T4 388 2 Muitas de nossas publicações têm sido lançadas no mercado por preço tão baixo, que os lucros não são suficientes para manter a instituição e conservar um bom fundo para uso contínuo. E aqueles dentre nosso povo que não têm especial preocupação pelos vários ramos da obra em Battle Creek e Oakland não se tornam informados com respeito às necessidades da causa e o capital requerido para conservar em movimento o negócio. Não compreendem a possibilidade de perdas e as despesas que diariamente ocorrem a tais instituições. Parece pensarem que tudo prossiga sem muito cuidado ou dispêndio de recursos, e por isso insistirão na necessidade de preços mais baixos para nossas publicações, não deixando assim quase nenhuma margem de lucro. E depois de terem os preços sido reduzidos aos mais danosos algarismos, manifestam simplesmente um débil interesse no aumento das vendas dos próprios livros para os quais pediram tão baixos preços. Alcançado o objetivo, cessa sua preocupação, quando deviam ter um ardente interesse e um verdadeiro cuidado para impulsionar a venda de nossas publicações, assim semeando as sementes da verdade e trazendo recursos às casas [editoras] para serem empregados em outras publicações. T4 388 3 Tem havido muito grande negligência do dever da parte de pastores em não despertarem o interesse das igrejas nas localidades em que trabalham, a respeito deste assunto. Uma vez reduzidos os preços dos livros, é questão bem difícil levá-los de novo a uma base compensadora, visto como homens de visão estreita haverão de clamar: especulação!, não discernindo que nenhum homem é beneficiado e que os instrumentos de Deus não devem ser impedidos por falta de capital. Livros que deviam circular largamente, jazem inúteis em nossas casas publicadoras porque não é manifestado suficiente interesse para fazê-los circular. T4 389 1 A imprensa é um poder; mas se seus produtos deixam de sair por falta de homens que executem os planos para os fazer circular amplamente, seu poder é perdido. Conquanto tenha havido uma pronta previsão para discernir a necessidade de despender recursos em instalações para multiplicar livros e folhetos, têm sido negligenciados planos para recuperar os recursos empregados, a fim de produzir outras publicações. O poder da imprensa, com todas as suas vantagens, está em suas mãos; e podem usá-lo para o melhor de todos os fins, ou podem estar sonolentos e, por meio da inatividade, perder as vantagens que poderiam ganhar. Mediante cuidadosos cálculos, podem fazer a luz estender-se na venda de livros e folhetos. Podem mandá-los a milhares de famílias que ora se acham nas trevas do erro. T4 389 2 Outros publicadores têm sistemas regulares de introduzir no mercado livros de nenhum interesse vital. "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz." Lucas 16:8. Áureas oportunidades ocorrem quase que diariamente onde os silenciosos mensageiros da verdade poderiam ser introduzidos entre famílias e indivíduos; mas nenhum proveito é tirado destas oportunidades pelos indolentes e irrefletidos. Os pregadores vivos são poucos. Há só um onde deveria haver uma centena. Muitos estão cometendo um grande erro em não pôr seus talentos em uso, procurando salvar a alma de seus semelhantes. Centenas de homens deveriam estar empenhados em levar a luz a todas as nossas cidades, vilas e povoados. O espírito do povo precisa ser agitado. Deus diz: Seja a luz levada a todas as partes do campo. Ele deseja que os homens sejam condutos de luz, levando-a aos que estão em trevas. T4 389 3 Necessitam-se missionários em toda a parte. Em todas as partes do campo devem-se escolher colportores, não do elemento inconstante da sociedade, não dentre homens e mulheres que para nada mais prestam e em nada têm tido êxito, mas dentre os que têm boa apresentação, tato, fina percepção e habilidade. Tais pessoas são necessárias para ter êxito como colportores e diretores. Homens adaptados a esta obra empreendem-na; mas algum pastor imprudente haverá de lisonjeá-los, dizendo que seu talento deveria ser empregado no púlpito, em vez de simplesmente na obra do colportor. Assim esta obra é diminuída. Eles são influenciados a buscar licença para pregar; e justamente aqueles que poderiam ter sido preparados para se tornarem bons missionários, a fim de visitar as famílias em seus lares, falar e orar com elas, são levados a se tornarem pastores deficientes; e o ramo em que é preciso tanto trabalho e onde tanto bem poderia ser efetuado pela causa é negligenciado. O colportor eficiente, do mesmo modo que o pastor, deve ter suficiente remuneração por seu serviço, se seu trabalho é feito fielmente. T4 390 1 Se há um trabalho mais importante do que outro, é o de colocar nossas publicações perante o público, levando-o assim a examinar as Escrituras. A obra missionária -- introduzir nossas publicações nas famílias, conversar e orar com e por elas -- é uma boa obra, e que educará homens e mulheres para fazerem trabalho pastoral. T4 390 2 Nem todos se adaptam a esta obra. Os que possuem o melhor talento e habilidade, que lançarão mão da obra inteligente e sistematicamente, e a levarão avante com perseverante energia, são os que devem ser escolhidos. Deve haver um plano mais completamente organizado, e este deve ser fielmente executado. As igrejas em toda a parte devem sentir o mais profundo interesse pela obra missionária e de folhetos. T4 390 3 Os volumes de Spirit of Prophecy, e também os Testemunhos, devem ser introduzidos em cada lar de observadores do sábado, e os irmãos devem saber o seu valor e serem estimulados a lê-los. Não foi o plano mais sábio colocar esses livros a preço baixo e ter somente uma coleção numa igreja. Eles devem estar na biblioteca de cada família, e serem lidos vez após vez. Que sejam mantidos onde possam ser lidos por muitos, e ser desgastados pela leitura por todos os vizinhos. T4 390 4 Deve haver leituras noturnas, em que alguém leia em voz alta aos que se reúnem junto à lareira. Há pouco interesse manifesto em fazer o máximo da luz que Deus concedeu. Muita dessa luz se refere a deveres familiares, e instrução é dada para atender a quase cada caso e circunstância. Dinheiro será gasto para chá, café, laços, enfeites e acessórios, e muito tempo e esforço gastos no preparo de vestuário, enquanto a obra interior do coração é negligenciada. Deus fez com que luz preciosa fosse transmitida em publicações, e essas devem ser adquiridas e lidas por todas as famílias. Pais, seus filhos estão em perigo de irem contra a luz dada pelo Céu, e tanto vocês como eles devem adquirir e ler os livros, pois serão uma bênção para ambos. Devem emprestar Spirit of Prophecy aos seus vizinhos, e instar com eles para que adquiram exemplares para si mesmos. Vocês devem ser missionários para Deus, obreiros zelosos, ativos e vigorosos. T4 391 1 Muitos estão indo diretamente contra a luz que Deus tem dado ao Seu povo, porque não lêem os livros que contêm a luz e o conhecimento em advertências, reprovações e admoestações. Os cuidados do mundo, o amor da moda e a falta de religião têm desviado a atenção da luz que Deus tão graciosamente deu enquanto livros e periódicos contendo erros estão percorrendo todo o país. O ceticismo e a infidelidade estão aumentando por toda a parte. Luz tão preciosa, procedente do trono de Deus, é escondida sob o alqueire. Deus fará o Seu povo responsável por essa negligência. Um relatório deve ser prestado a Ele por todo raio de luz que tem feito brilhar sobre nosso caminho, quer seja utilizado para o nosso progresso nas coisas divinas, ou rejeitado porque é mais agradável seguir a inclinação. T4 391 2 Temos agora grandes facilidades para espalhar a verdade; mas nosso povo não está à altura dos privilégios que lhe são concedidos. Nem todas as igrejas vêem e sentem a necessidade de usar suas habilidades em salvar almas. Não reconhecem seu dever de angariar assinantes para nossos periódicos, inclusive o que trata sobre saúde, e de apresentar ao público nossos livros e folhetos. Devem estar na obra homens que estejam dispostos a ser ensinados quanto à melhor maneira de se aproximarem de indivíduos e famílias. Seu vestuário deve ser correto, mas não ostentoso, e suas maneiras, tais que não desagradem ao povo. Existe entre nós, como um povo, grande necessidade da verdadeira polidez. Ela deve ser cultivada por todos os que lançam mão da obra missionária. T4 392 1 Nossas casas publicadoras devem mostrar notável prosperidade. Nosso povo pode sustentá-las se mostrar um decidido interesse em colocar nossas publicações no mercado. Mas caso se manifeste tão pouco interesse no ano vindouro como demonstrado no ano passado, haverá bem pouca margem sobre a qual trabalhar. Quanto maior a circulação de nossas publicações, tanto maior será a procura de livros que esclarecem a verdade das Escrituras. Muitos estão descontentes com as incoerências, os erros e a apostasia das igrejas e com as festas, as quermesses, as rifas e numerosas invenções para extorquir dinheiro para fins da igreja. Há muitos que estão buscando luz nas trevas. Se revistas, folhetos e livros, exprimindo a verdade em clara linguagem bíblica, fossem amplamente circulados, muitos haveriam de reconhecer que esses são exatamente o que desejam. Mas muitos de nossos irmãos agem como se o povo devesse vir a eles ou pedir publicações de nossas casas, quando milhares não sabem que estas existem. T4 392 2 Deus requer que Seu povo trabalhe como homens vivos, e não indolentes, preguiçosos e indiferentes. Precisamos levar as publicações ao povo e insistir para que as aceitem, mostrando-lhes que receberão muito mais do que vale seu dinheiro. Exaltem o valor dos livros que oferecem. Isto nunca será demais. T4 392 3 Minha alma estava angustiada ao ver a indiferença de nosso povo que faz tão elevada profissão de fé. Foi-me mostrado que o sangue das almas estará sobre as vestes de muitos que agora se sentem confortáveis e não responsáveis pelas almas que estão perecendo ao seu redor por falta de luz e conhecimento. Tiveram contato com eles, porém nunca os advertiram, nunca oraram com eles ou por eles, nem fizeram esforços dedicados para apresentar-lhes a verdade. Foi-me mostrado que tem havido uma impressionante negligência sobre esse ponto. Pastores não estão cumprindo metade do que deveriam para educar o povo pelo qual trabalham sobre todos os pontos da verdade e do dever; e, em conseqüência, o povo está desanimado e inativo. A estaca e o cadafalso não estão designados para, neste tempo, testar o povo de Deus, e por essa mesma razão o amor de muitos esfriou. Quando surgem provas, graça é proporcionada para a emergência. Precisamos individualmente consagrar-nos no próprio lugar onde Deus disse que nos encontraria. ------------------------Capítulo 36 -- Embaixadores de Cristo T4 393 1 Os embaixadores de Cristo têm importante e solene obra a realizar, a qual alguns assumem muito levianamente. Ao mesmo tempo que Cristo é oficiante no santuário celeste, é também, por intermédio dos Seus delegados, o Líder de Sua igreja na Terra. Fala ao povo mediante homens, e, por meio deles, leva avante a obra do mesmo modo que o fazia nos dias de Sua humilhação, quando andava visivelmente aqui no mundo. Apesar de decorridos séculos, o lapso de tempo não mudou a promessa por Ele deixada aos discípulos: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Desde a ascensão de Cristo até hoje, homens ordenados por Deus, homens que dEle derivam sua autoridade, têm-se tornado mestres da fé. Cristo, o Pastor verdadeiro, superintende Sua obra por intermédio desses subpastores. Assim a função dos que trabalham na palavra e na doutrina se torna muito importante. Rogam ao povo, da parte de Cristo, que se reconciliem com Deus. T4 393 2 O povo não deve considerar seus pastores como simples oradores públicos, mas como embaixadores de Cristo, os quais recebem sabedoria e poder do grande Chefe da igreja. Menosprezar e desatender a palavra falada pelo representante do Senhor é, não somente um desrespeito para com o homem, mas também para com o Mestre que o enviou. Ele está em lugar de Cristo; e deve-se ouvir a voz do Salvador em Seu representante. T4 393 3 Muitos de nossos pastores têm cometido grande erro com o proferir discursos que eram inteiramente argumentativos. Almas há que escutam a teoria da verdade e ficam impressionadas com as provas apresentadas; então, se uma parte do sermão põe em foco a Cristo como Salvador do mundo, a semente lançada poderá brotar e dar fruto para a glória de Deus. Em muitas pregações, porém, não é apresentada ao povo a cruz de Cristo. Talvez alguns estejam escutando o último sermão que lhes é dado ouvir, e outros não terão nunca mais a oportunidade de ouvir uma exposição da cadeia da verdade, com uma aplicação prática da mesma a seu próprio coração. Perdida essa áurea oportunidade, fica perdida para sempre. Houvesse Cristo, com Seu amor redentor, sido exaltado em ligação com a teoria da verdade, e isso os poderia haver feito pender para o lado dEle. T4 394 1 Existem mais almas anelando compreender como poderão chegar a Cristo do que nós imaginamos. Muitas pessoas ouvem sermões proferidos do púlpito e depois não ficam sabendo mais do que sabiam antes acerca de encontrarem a Jesus e a paz e descanso ansiados por sua alma. Os pastores que pregam a última mensagem de misericórdia ao mundo devem ter em mente que Cristo deve ser exaltado como o refúgio do pecador. Muitos deles acham que não é necessário pregar arrependimento e fé, com o coração totalmente subjugado pelo amor de Deus; tomam por certo que seus ouvintes se acham perfeitamente familiarizados com o evangelho, e que, para lhes prender a atenção, é preciso apresentar-lhes assuntos de natureza diversa. Caso seus ouvintes mostrem interesse, tomam-no como prova de êxito. O povo é mais ignorante acerca do plano da salvação, e necessita mais instruções sobre esse importante assunto, do que a respeito de qualquer outro tema. T4 394 2 Os que se reúnem para ouvir a verdade devem esperar tirar proveito, como fez Cornélio com seus amigos: "Agora, pois, estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado." Atos dos Apóstolos 10:33. T4 394 3 São essenciais os sermões teóricos, para que todos conheçam a forma de doutrina, e vejam a cadeia da verdade, elo por elo, unidos em um todo perfeito. Sermão algum deve ser feito, no entanto, sem apresentar a Cristo, e Cristo crucificado, como o fundamento do evangelho, fazendo aplicação prática das verdades apresentadas, e gravando no povo a idéia de que a doutrina de Cristo não é sim e não, mas sim e amém em Cristo Jesus. T4 395 1 Depois de a teoria da verdade haver sido apresentada, vem a parte laboriosa da obra. O povo não deve ser deixado sem instrução no que respeita às verdades práticas relacionadas com sua vida diária. Devem ver e sentir que são pecadores, e precisam converter-se a Deus. O que Cristo disse, o que fez e ensinou, tem de ser posto diante deles da maneira mais impressiva possível. T4 395 2 A obra do pastor está simplesmente começada quando se expõe a verdade ao entendimento do povo. Cristo é nosso mediador e oficiante sumo sacerdote diante do Pai. A João foi Ele mostrado como um Cordeiro que fora morto, mesmo no ato de derramar Seu sangue em benefício do pecador. Quando a lei de Deus é posta diante do pecador, mostrando-lhe a profundidade de seus pecados, ele deve ser encaminhado ao Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Tem-se de ensinar-lhe arrependimento para com Deus, e fé para com nosso Senhor Jesus Cristo. Assim estará o trabalho do representante de Cristo em harmonia com Sua obra no santuário celeste. T4 395 3 Os pastores alcançariam muito mais corações, caso insistissem mais na piedade prática. Freqüentemente, quando se fazem esforços para introduzir a verdade em novos campos, o trabalho é quase inteiramente teórico. O povo está em condição instável. Vêem a força da verdade, e ficam ansiosos por obter um firme fundamento. Ao serem seus sentimentos abrandados, é o tempo por excelência para insistir na religião de Cristo, fazendo-a penetrar na consciência; demasiadas vezes, porém, tem-se permitido que termine o período das conferências sem haver sido feito em favor do povo aquela obra de que eles necessitam. Esse esforço assemelha-se muito à oferta de Caim; não contém o sangue sacrifical que o torna aceitável a Deus. Caim tinha razão em fazer uma oferta, mas deixou fora tudo quanto lhe dava valor -- o sangue da expiação. T4 395 4 É triste que o motivo por que muitos acentuam tanto a teoria e tão pouco a piedade prática é não terem Cristo no coração. Não possuem viva ligação com Deus. Muitas almas decidem em favor da verdade levadas pela força das provas, sem estarem convertidas. Não foram feitas pregações práticas juntamente com as doutrinas, de modo que, ao verem os ouvintes a bela cadeia de verdades, fossem possuídos de amor para com o Autor das mesmas e santificados por meio da obediência. O trabalho do pastor não se acha consumado enquanto ele não impressionar os ouvintes com a necessidade de uma mudança de caráter em harmonia com os puros princípios da verdade que receberam. T4 396 1 É de temer uma religião formal; pois nela não há Salvador. Jesus fazia sermões simples, concisos, esquadrinhadores e práticos. Seus embaixadores devem seguir-Lhe o exemplo em todo discurso. Cristo e o Pai eram um; Cristo concordava de boa vontade com todas as reivindicações do Pai. Ele tinha a mente de Deus. O Redentor era o Modelo perfeito. NEle Se manifestava Jeová. O Céu estava envolto na humanidade, e a humanidade abrigava-se no seio do Infinito Amor. Caso os pastores se assentem humildemente aos pés de Jesus, alcançarão em breve visões do caráter de Deus, sendo também habilitados a ensinar a outros. Alguns entram para o ministério sem profundo amor para com Deus ou os semelhantes. Na vida desses, manifestar-se-ão egoísmo e condescendência consigo mesmos; e ao passo que esses vigias não consagrados e infiéis servem a si mesmos em vez de alimentar o rebanho e atender a seus deveres pastorais, o povo perece por falta da devida instrução. T4 396 2 Em todo sermão, deve-se fazer um fervoroso apelo ao povo, para que deixem seus pecados e se voltem para Cristo. Devem-se condenar os pecados comuns e as condescendências de nossos dias, salientando-se a piedade prática. O próprio pastor deve falar com profunda sinceridade, sentindo de coração as palavras proferidas, e estando como incapaz de conter o próprio interesse pela alma dos homens e mulheres por quem Cristo morreu. Foi dito a respeito do Mestre: "O zelo da Tua casa Me devorou." Salmos 69:9. O mesmo zelo deve ser experimentado por Seus representantes. T4 396 3 Infinito foi o sacrifício feito em prol do homem, e feito em vão para toda alma que não aceitar a salvação. Quão importante, pois, que aquele que apresenta a verdade o faça plenamente sob o senso da responsabilidade que sobre ele pesa! Quão benigno, piedoso e cortês deve ser todo o seu proceder no trato com a alma dos homens, quando o Redentor do mundo mostrou que Ele os tem em tão alto apreço! Cristo indaga: "Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a Sua casa?" Mateus 24:45. Jesus pergunta: "Quem", e cada ministro do evangelho deve repetir a mesma pergunta ao próprio coração. Ao considerar as solenes verdades, e contemplar mentalmente o quadro do fiel e prudente mordomo, sua alma deve comover-se até às profundezas. T4 397 1 A todo homem é dada sua obra; ninguém é dispensado. Cada um tem uma parte a desempenhar, segundo sua capacidade; e cabe àquele que apresenta a verdade, com cuidado e oração, descobrir as aptidões de todos quantos aceitam essa verdade, e depois instruí-los e guiá-los, passo a passo, deixando que eles avaliem o peso da responsabilidade que sobre eles repousa de realizar a obra que Deus lhes designa. Deve insistir em mostrar-lhes que ninguém poderá resistir à tentação, corresponder ao desígnio de Deus e viver a vida cristã, a menos que lance mão de sua obra, seja ela grande ou pequena, executando-a com conscienciosa fidelidade. Há para todos uma tarefa além de ir à igreja e escutar a Palavra de Deus. É preciso que pratiquem a verdade ouvida, introduzindo-lhe os princípios na vida diária. Importa que façam constantemente obra para Cristo, não por motivos egoístas, mas visando unicamente a glória dAquele que fez todo sacrifício a fim de salvá-los da ruína. T4 397 2 Os pastores devem fazer com que os que aceitam a verdade sejam impressionados com o fato de que precisam ter Jesus no lar; de que necessitam de Sua graça e sabedoria para guiar e governar seus filhos. É uma parte do trabalho que Deus lhes deixou a fazer -- educar e disciplinar esses filhos, levando-os à sujeição. Que a bondade e cortesia do pastor se manifeste no trato para com as crianças. Convém que tenha sempre em mente que as mesmas são homens e mulheres em miniatura, membros mais novos da família do Senhor, os quais podem estar bem achegados e ser muito preciosos ao Mestre e, caso sejam devidamente instruídos e disciplinados, ser-Lhe-ão de utilidade, mesmo em seus tenros anos. Cristo Se ofende com toda palavra áspera, severa e precipitada dirigida às crianças. Seus direitos nem sempre são respeitados, e são muitas vezes tratadas como se não possuíssem um caráter individual que necessita ser devidamente desenvolvido a fim de não ficar prejudicado e o desígnio de Deus em sua vida vir a falhar. T4 398 1 Desde a infância, Timóteo conhecia as Escrituras; e esse conhecimento lhe foi uma salvaguarda contra as más influências que o rodeavam e a tentação de preferir o prazer e a satisfação própria ao dever. Todos os nossos filhos necessitam dessa salvaguarda; e deve constituir parte da obra dos pais e dos embaixadores de Cristo, o ver que as crianças sejam convenientemente instruídas na Palavra de Deus. T4 398 2 Caso o pastor queira receber a aprovação do seu Senhor, tem de trabalhar com fidelidade para apresentar todo homem perfeito em Cristo. Em sua maneira de trabalhar, ele não deve dar a impressão de ser de pouca importância se os homens aceitam ou não aceitam a verdade e exercitam a verdadeira piedade; a fidelidade e a abnegação manifestadas em sua vida, porém, devem ser de molde a convencer o pecador de que se acham em jogo interesses eternos, e que sua alma se acha em perigo a menos que ele corresponda aos diligentes esforços feitos em seu favor. Os que têm sido trazidos do erro e das trevas para a verdade e a luz têm grandes mudanças a fazer, e a menos que a necessidade de completa reforma lhes seja insistentemente mostrada à consciência, serão como o homem que contemplou o rosto ao espelho -- a lei de Deus -- e descobriu os defeitos de seu caráter moral, mas foi embora e esqueceu como era. A mente deve ser conservada alerta quanto ao senso de responsabilidade, do contrário volve a um estado de ainda mais descuidosa atenção do que antes de ser despertada. T4 398 3 A obra dos embaixadores de Cristo é muito maior e de mais responsabilidade do que muitos sonham. Eles não devem absolutamente ficar satisfeitos com o próprio êxito enquanto não puderem, por seus zelosos esforços e a bênção de Deus, apresentar-Lhe cristãos prestimosos, possuídos de um verdadeiro senso de sua responsabilidade, e que realizem a obra que lhes foi designada. O devido esforço e instrução levarão às fileiras do trabalho homens e mulheres de caráter vigoroso e de tão firmes convicções, que coisa alguma de natureza egoísta consiga estorvá-los em sua obra, diminuir-lhes a fé ou detê-los no cumprimento do dever. T4 399 1 Caso o pastor tenha instruído devidamente os que se lhe acham sob o cuidado, a obra deixada quando ele parte para outro campo não se desmorona; pois está firmemente construída. A menos que os que recebem a verdade se achem inteiramente convertidos, e haja mudança radical em sua vida e caráter, a alma não está firmada à Rocha eterna; e depois de cessar o trabalho do pastor e de desaparecer a novidade, logo se dissipa a impressão, a verdade perde seu poder e encanto, e não exercem nenhuma influência santificadora nem são melhores por professarem a verdade. T4 399 2 Fico surpresa de que, com os exemplos que temos diante de nós do que o homem pode ser, e do que lhe é possível realizar, não sejamos estimulados a maiores esforços para imitar as boas obras dos justos. Nem todos poderão ocupar posição de destaque; todavia, todos são capazes de preencher cargos de utilidade e confiança e, por sua perseverante fidelidade, fazer muito maior bem do que supõem poder realizar. Os que abraçam a verdade devem buscar uma clara compreensão das Escrituras, e um conhecimento experimental do Salvador vivo. O intelecto precisa ser cultivado, a memória exercitada. Toda preguiça intelectual é pecado, e a letargia espiritual é morte. T4 399 3 Quem me dera manejar a língua com suficiente vigor para produzir em meus coobreiros no evangelho a impressão que desejaria! Meus irmãos, vocês estão lidando com as palavras da vida; estão tratando com mentes susceptíveis do máximo desenvolvimento, uma vez que sejam orientadas na devida direção. Há, porém, demasiada exibição do próprio eu nas pregações. Cristo crucificado, Cristo assunto ao Céu, Cristo prestes a voltar, deve por tal forma abrandar, alegrar e encher a mente do ministro do evangelho, que ele apresente essas verdades ao povo com amor e ardor profundo. Perder-se-á então de vista o pastor, e Jesus será magnificado. O povo ficará tão impressionado com esses assuntos todo-absorventes, que falarão neles e os louvarão em lugar de elogiar o pastor, mero instrumento. Mas se, enquanto o povo elogia o pastor, tem pouco interesse na palavra pregada, ele pode saber que a verdade não lhe está santificando a própria alma. Ele não fala a seus ouvintes de tal maneira que Jesus seja honrado, e exaltado o Seu amor. T4 400 1 Cristo disse: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Façam brilhar de tal maneira a sua luz, que a glória redunde em favor de Deus em vez de recair sobre vocês mesmos. Caso sejam vocês os louvados, bem podem tremer e envergonhar-se, pois perdeu-se o grande objetivo; não é Deus, mas o servo que é exaltado. Assim resplandeça a sua luz; cuidem, ministros de Cristo, com a maneira por que sua luz resplandece. Caso ela irradie para o alto, revelando a excelência de Cristo, brilha como convém. Se ela se volta para vocês, se exibem o próprio eu, e atraem o povo a admirá-los, melhor seria que se calassem de todo; pois sua luz resplandece de maneira errônea. T4 400 2 Ministros de Cristo, vocês podem estar ligados a Deus, caso vigiem e orem. Sejam suas palavras temperadas com sal, e façam com que suas maneiras sejam impregnadas de cortesia cristã e verdadeira elevação. Se a paz de Deus reinar no interior, seu poder não somente fortalecerá, mas lhe abrandará o coração, e serão representantes vivos de Cristo. O povo que professa a verdade está-se desviando de Deus. Jesus está prestes a vir, e eles não se acham preparados. O pastor deve, ele próprio, atingir elevada norma, ter uma fé assinalada por maior firmeza, uma viva e brilhante experiência, não aquela enfadonha e comum dos professos nominais. A Palavra de Deus apresenta-lhes elevado padrão. Haverão vocês de, mediante um esforço apoiado por jejum e oração, atingir a integridade e coerência do caráter cristão? Vocês devem fazer "caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco". Hebreus 12:13. Uma íntima ligação com Deus lhes trará, em seu esforço, aquele poder vital que desperta a consciência, e convence o pecador do pecado, levando-o a clamar: "Que devo fazer para que seja salvo?" Atos dos Apóstolos 16:30. T4 401 1 A comissão dada por Cristo aos discípulos exatamente antes de ascender ao Céu, foi: "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:19, 20. "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim." João 17:20. A comissão atinge aos que por intermédio dos discípulos, hão de crer em Sua Palavra. E todos quantos por Deus são chamados para servirem como embaixadores Seus, devem tomar as lições de piedade prática a eles dadas por Cristo em Sua Palavra, e ensiná-las ao povo. T4 401 2 Cristo abriu as Escrituras diante de Seus discípulos, começando com Moisés e os profetas, e instruiu-os em todas as coisas que Lhe diziam respeito, e explicou-lhes também as profecias. Em suas pregações, os apóstolos volviam ao tempo de Adão, e traziam os ouvintes através da história profética, terminando com Cristo e Ele crucificado, chamando os pecadores ao arrependimento, e a que se volvessem de seus pecados para Deus. Os representantes de Cristo em nossos dias devem-lhes seguir o exemplo, exaltando a Cristo em todos os seus sermões, como o Excelso, como tudo em todos. T4 401 3 A formalidade não está tomando posse apenas das igrejas nominais, mas aumenta em proporções alarmantes entre os que professam ser observadores dos mandamentos de Deus e aguardar o breve aparecimento de Cristo nas nuvens do céu. Não devemos ser estreitos em nossos pontos de vista e limitar nossas oportunidades de fazer o bem; todavia, ao mesmo tempo que estendemos nossa influência e ampliamos os planos à medida que a Providência abre o caminho, devemos ser mais zelosos em evitar a idolatria do mundo. Enquanto fazemos maiores esforços para aumentar nossa utilidade, precisamos fazer esforços correspondentes para alcançar a sabedoria de Deus de modo a levar avante todos os ramos da obra segundo Sua determinação, e não conforme o ponto de vista mundano. Não devemos seguir o exemplo do mundo nos costumes, mas tirar o máximo das oportunidades colocadas por Deus ao nosso alcance para pôr a verdade diante do povo. T4 402 1 Quando, como um povo, nossas obras corresponderem à nossa profissão de fé, veremos realizado muito mais do que testemunhamos agora. Quando tivermos homens consagrados como Elias, e possuídos da fé que o animou, veremos que Deus Se nos revelará como o fez aos homens santos de outrora. Quando tivermos homens que, ao passo que reconhecem as próprias deficiências, como Jacó pleiteiam com Deus em fervente fé, havemos de ver idênticos resultados. Em resposta à oração da fé, virá poder ao homem da parte de Deus. Bem pouca é a fé que existe no mundo. Poucos são os que vivem perto de Deus. E como poderemos esperar mais poder, e que Deus Se revele aos homens, quando Sua Palavra é negligentemente manuseada, e os corações não são santificados pela verdade? Homens que não são nem metade convertidos, cheios de confiança em si mesmos e de caráter presunçoso, pregam a verdade a outros. Deus, porém, não trabalha com eles, visto faltar-lhes santidade de coração e vida. Não andam humildemente com Deus. Precisamos de um ministério convertido, e então veremos a luz de Deus, e Seu poder a cooperar com todos os nossos esforços. T4 402 2 Os vigias que eram antigamente colocados nos muros de Jerusalém e outras cidades, ocupavam uma posição de grande responsabilidade. De sua fidelidade dependia a segurança de todos os que se encontravam nessas cidades. Ao perceberem qualquer perigo, não deviam calar-se, quer de dia quer de noite. De momento a momento cumpria-lhes chamarem-se uns aos outros, a ver se todos estavam alerta e não lhes acontecera mal algum. Punham-se sentinelas em elevações que dominavam postos importantes a serem guardados, e dali ressoavam os gritos de advertência ou de animação. Estes eram levados de uns para outros, repetindo cada um as palavras, até passarem por toda a cidade. T4 402 3 Esses vigias representam o ministério, de cuja fidelidade depende a salvação de almas. Os despenseiros dos mistérios de Deus devem postar-se como vigias sobre os muros de Sião; e se eles vêem vir a espada, precisam fazer soar o toque de advertência. Caso sejam sentinelas sonolentas, se suas percepções espirituais se encontram tão entorpecidas que não vêem nem compreendem o perigo, e o povo perece, Deus requererá o sangue dele das mãos do vigia. T4 403 1 "A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte." Ezequiel 33:7. Os atalaias necessitam viver bem achegados a Deus, para ouvir-Lhe a palavra e serem impressionados por Seu Espírito, de modo que o povo não espere neles em vão. "Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:8, 9. Os embaixadores de Cristo devem cuidar que não venham, pela sua infidelidade, a perder a própria alma e a dos que os ouvem. T4 403 2 Foram-me mostradas as igrejas de vários Estados que professam guardar os mandamentos de Deus e aguardar a segunda vinda de Cristo. Alarmante é a quantidade de indiferença, orgulho, amor ao mundo e fria formalidade existente entre elas. E essas são as pessoas que se vão rapidamente assemelhando ao antigo Israel, no que respeita à falta de piedade. Muitos fazem uma elevada profissão de piedade, e todavia são destituídos de domínio próprio. O apetite e a paixão têm as rédeas; o eu, a preeminência. Muitos são arbitrários, ditatoriais, despóticos, jactanciosos, orgulhosos e destituídos de consagração. Todavia alguns desses são pastores, a lidar com sagradas verdades. A menos que se arrependam, seu castiçal será removido do lugar que ocupa. A maldição do Salvador sobre a figueira estéril é um sermão a todos os que têm uma religião formal, aos jactanciosos hipócritas que se apresentam ao mundo com pretensiosa folhagem, mas se acham destituídos de frutos. Que repreensão aos que têm uma forma de piedade ao passo que na falta de cristianismo de sua vida negam a eficácia dela! Aquele que tratou brandamente ao próprio cabeça dos pecadores, Aquele que jamais menosprezou a verdadeira mansidão e arrependimento, por maior que fosse a culpa, caiu com esmagadoras denúncias sobre os que faziam elevada profissão de piedade, mas nas obras negavam a própria fé. Maneira de falar T4 404 1 Alguns de nossos mais talentosos pastores estão causando grande dano a si mesmos por sua maneira defeituosa de falar. Ao passo que ensinam ao povo seu dever de obedecer à lei moral de Deus, não devem ser achados a violar as leis do Senhor com respeito à saúde e à vida. Os pastores devem manter-se eretos, falar devagar, com firmeza e distintamente, inspirando profundamente o ar a cada sentença, e emitindo as palavras com o auxílio dos músculos abdominais. Se observarem esta regra simples, atendendo às leis da saúde em outros sentidos, poderão conservar a vida e a utilidade por muito mais tempo que os homens em qualquer outra profissão. T4 404 2 O tórax tornar-se-á mais amplo, e ao educar a voz, o orador raramente fica rouco, mesmo falando continuamente. Em vez de ficarem enfraquecidos, os pastores podem, mediante cuidado, vencer qualquer tendência para o definhamento. Devo dizer a meus irmãos de ministério: A menos que vocês se eduquem, de maneira a falarem em harmonia com a lei física, hão de sacrificar a vida, e muitos lamentarão a perda desses "mártires da causa da verdade"; quando o caso é que, condescendendo com hábitos errôneos, eles prejudicaram a si próprios e à verdade que representavam, e roubaram a Deus e ao mundo do serviço que poderiam haver prestado. Seria do agrado de Deus que vivessem, mas eles se suicidaram pouco a pouco. T4 404 3 A maneira em que a verdade é apresentada tem freqüentemente muito que ver com o ser ela aceita ou rejeitada. Todos os que trabalham na grande causa da reforma devem estudar a fim de se tornarem obreiros eficientes, para que possam realizar a maior soma possível de bem, e não subtrair da força da verdade por suas deficiências. T4 405 1 Os pastores e professores devem disciplinar-se para ter pronúncia clara e distinta, fazendo soar perfeitamente cada palavra. Os que falam rapidamente pela garganta, misturando as palavras entre si, e elevando a voz a um timbre agudo fora do normal, dentro em pouco enrouquecem, e as palavras proferidas perdem metade da força que teriam se proferidas devagar, com clareza, e não tão alto. A simpatia dos ouvintes se desperta em favor do orador; pois sentem que ele está se prejudicando, e receiam que a qualquer momento fique impossibilitado de prosseguir. Não é nenhuma demonstração de que um homem possui zelo de Deus o subir ele a um delírio de agitação e gestos. "O exercício corporal", diz o apóstolo, "para pouco aproveita." 1 Timóteo 4:8. T4 405 2 O Salvador do mundo quer que Seus colaboradores O representem; e quanto mais de perto um homem andar com Deus, tanto mais impecável será sua maneira de dirigir-se a outros, sua conduta, atitude e gestos. Maneiras vulgares, sem polidez, nunca se viram em nosso modelo, Jesus Cristo. Ele era um representante do Céu, e Seus seguidores devem ser como Ele. T4 405 3 Alguns raciocinam que o Senhor há de habilitar a pessoa, mediante Seu Santo Espírito, para falar segundo a Sua vontade; Ele, porém, não Se propõe fazer a obra que deu aos homens. Deu-nos capacidade de raciocínio e oportunidades para educar a mente e as maneiras. E depois de havermos feito tudo que nos seja possível por nós mesmos, empregando da melhor maneira as vantagens que se acham ao nosso alcance, então podemos volver-nos para Deus em fervorosa oração, para que faça por meio de Seu Espírito aquilo que nós mesmos não podemos conseguir. Qualificações para o ministério T4 405 4 Grande prejuízo é freqüentemente causado aos jovens por permitir-lhes começarem a pregar quando não têm conhecimento suficiente das Escrituras para apresentar nossa fé de maneira inteligente. Alguns que entram no campo são meros principiantes nas Escrituras. Em outras coisas eles também são incompetentes e ineficientes. Não podem ler as Escrituras sem titubear, errando palavras, e misturando-as de tal modo que a Palavra de Deus é mal-empregada. Aqueles que não estão qualificados para apresentar a verdade de maneira apropriada não precisam ficar perplexos com respeito ao seu dever. O lugar deles é o de aprendizes, não de professores. Os jovens que desejam preparar-se para o ministério são grandemente beneficiados por freqüentar o nosso Colégio; mas, para que possam qualificar-se como oradores aceitáveis é necessário algo mais. Um professor deve ser empregado para instruir os jovens a falar sem desgastar os órgãos vocais. Os modos também devem receber atenção. T4 406 1 Alguns jovens que entram no campo não têm êxito em ensinar a verdade a outros, porque não educaram a si próprios. Aqueles que não podem ler corretamente devem aprender, e devem tornar-se aptos a ensinar antes de tentarem se levantar perante o público. Os professores de nossas escolas são obrigados a aplicar-se dedicadamente ao estudo, para que possam ser preparados para instruir outros. Esses professores não são aceitos até que tenham passado por um exame criterioso, e sua capacidade de ensinar tenha sido testada por juízes competentes. Não menor cuidado deve ser empregado no exame dos pastores; aqueles que estão para entrar na sagrada obra de ensinar a Bíblia. Aqueles que estão prontos a ingressar na obra sagrada de ensinar a verdade bíblica ao mundo devem ser cuidadosamente examinados por pessoas fiéis e experientes. Depois de terem alguma experiência, há ainda outro trabalho a ser feito quanto a eles: devem ser apresentados ao Senhor em fervorosa oração, a fim de que Ele indique, por Seu Santo Espírito, se são aceitáveis a Seus olhos. Diz o apóstolo: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos." 1 Timóteo 5:22. Nos dias dos apóstolos, os ministros de Deus não ousavam confiar em seu próprio juízo quanto à escolha ou aceitação de homens para tomar a solene e sagrada posição de porta-vozes de Deus. Eles escolhiam os homens de acordo com o seu juízo, e depois os punham perante o Senhor, a ver se Ele os aceitaria como representantes Seus. Nada menos do que isso se deve fazer agora. T4 406 2 Encontramos em muitos lugares homens que foram postos à pressa em cargos de responsabilidade como anciãos de igrejas, quando não se achavam habilitados para ocupar tal posição. Não têm o devido domínio de si mesmos. Não exercem boa influência. As igrejas se acham continuamente perturbadas em conseqüência do caráter defeituoso dos dirigentes. As mãos foram muito precipitadamente impostas sobre esses homens. T4 407 1 Os ministros de Deus devem ser homens de boa reputação, capazes de dirigir com prudência o interesse por eles despertado. Achamo-nos em grande necessidade de homens competentes, que tragam honra e não ignomínia à causa que representam. T4 407 2 Os pastores devem ser examinados especialmente a ver se possuem clara compreensão da verdade para este tempo, de modo a poderem apresentar um bem organizado discurso sobre as profecias ou sobre assuntos práticos. Se eles não podem apresentar com clareza assuntos bíblicos, precisam ouvir e aprender ainda. A fim de serem mestres da verdade bíblica, devem examinar as Escrituras com zelo e oração, familiarizando-se com elas. Tudo isso deve ser considerado cuidadosamente e com oração, antes de se mandarem homens para o campo de trabalho. T4 407 3 O plano que foi adotado, para que o irmão Smith dirija institutos bíblicos em diferentes Estados, é aprovado por Deus. Grande bem tem sido obtido por esses institutos; mas todo o tempo não é dedicado a esse trabalho que seria proveitoso para nossos jovens pastores e para a causa de Deus. Os frutos dos esforços que já têm sido feitos jamais podem ser plenamente percebidos nesta vida, mas serão vistos na eternidade. ------------------------Capítulo 37 -- Ministros do evangelho T4 407 4 Irmão A: T4 407 5 Foi-me mostrado que você não está preparado para trabalhar com êxito no ministério. Por algum tempo o sucesso acompanhou seus esforços; mas embora isso devesse tê-lo inspirado a maior zelo e dedicação, o efeito foi o oposto. A percepção da bondade de Deus devia tê-lo levado a continuar a trabalhar com humildade, e desconfiar do eu. Mas especialmente após a sua ordenação, você começou a sentir que era um pastor amadurecido, capaz de apresentar a verdade em grandes locais; e tornou-se indolente, não sentindo responsabilidade pelas almas, e seu trabalho desde então tem sido de pouco valor para a causa de Deus. Possuindo força física, você não percebe que é responsável pelo uso que faz dela como o homem de recursos é pelo uso do seu dinheiro. Você não aprecia trabalho manual; contudo, tem uma constituição que requer esforço físico severo para a preservação da saúde, bem como para agilizar as faculdades mentais. No que se refere à saúde, o exercício físico seria do maior valor para todos os nossos pastores; e quando quer que possam ser liberados do serviço ativo no ministério, deviam sentir-se no dever de empenhar-se em esforço físico para o sustento de sua família. T4 408 1 Irmão A, você tem dissipado tempo no sono, que, em vez de ser essencial a sua saúde, tem sido prejudicial. As preciosas horas que tem perdido, não realizando nenhum bem a si mesmo nem a outros, permanecem contra você no Registro do Céu. Seu nome foi-me mostrado sob o título "servos preguiçosos". Seu trabalho não suportará o teste do juízo. Você gastou muito tempo precioso em dormir a ponto de suas faculdades parecerem paralisadas. Pode-se obter a saúde por hábitos corretos de vida, e pode ela ser levada a render e a capitalizar juros. Este capital, porém, mais precioso do que qualquer depósito bancário, pode ser sacrificado pela intemperança no comer e beber, ou permitindo que os órgãos se enferrujem pela inação. Condescendências acariciadas devem ser abandonadas; deve-se vencer a preguiça. T4 408 2 A razão pela qual muitos de nossos pastores se queixam de doença é deixarem de fazer exercício suficiente e condescenderem em comer demais. Não compreendem que tal conduta põe em perigo o organismo mais resistente. Os que, como você, são de temperamento moroso devem comer muito moderadamente e não evitar sobrecargas físicas. Muitos de nossos pastores estão cavando suas sepulturas com os dentes. Em se responsabilizando pelo fardo colocado sobre os órgãos digestivos, o físico sofre, e é imposto ao cérebro um pesado ônus. Pois toda ofensa cometida contra as leis da saúde, requer do transgressor o pagamento da penalidade em seu próprio corpo. T4 409 1 Quando não empenhado ativamente em pregar, o apóstolo Paulo trabalhava em seu ofício como fabricante de tendas. Ele foi obrigado a fazer isto pelo fato de ter aceitado uma verdade impopular. Antes de aceitar o cristianismo, havia ocupado uma posição elevada, e não dependia de seu trabalho para se manter. Era costume entre os judeus ensinar-se aos filhos algum ofício, por mais elevada que fosse a posição que esperassem ocupar, para que circunstâncias adversas não viessem deixá-los incapacitados de manterem a si mesmos. De conformidade com este costume, tornou-se Paulo fabricante de tendas; e ao serem seus recursos empregados para o avanço da causa de Cristo e em benefício de seu próprio sustento, recorreu ele a sua profissão a fim de conseguir um meio de vida. T4 409 2 Jamais alguém viveu que fosse mais zeloso, enérgico e altruísta discípulo de Cristo do que Paulo. Ele foi um dos maiores mestres do mundo. Cruzou os mares, e viajou para perto e longe, até que uma vasta porção do mundo ouvisse de seus lábios a história da cruz de Cristo. Ele possuía desejo ardente de levar homens prestes a perecer ao conhecimento da verdade através do amor do Salvador. Sua alma estava envolvida na obra do ministério, e foi com sentimentos de dor que se afastou do trabalho por causa das próprias necessidades físicas; mas estabeleceu-se na lida de artesão para não ser um peso às igrejas que estavam afligidas pela pobreza. Embora tivesse implantado muitas igrejas, recusou ser por elas sustentado, temendo que sua utilidade e êxito como ministro do evangelho pudesse sofrer interferência pela desconfiança de sua motivação. Ele desejava remover todo motivo para que seus inimigos não o interpretassem mal, e assim diminuísse a força de sua mensagem. T4 409 3 Paulo apela aos irmãos coríntios para entenderem que, como um obreiro do evangelho, ele poderia reivindicar o apoio deles, em vez de sustentar-se; mas ele abria mão desse direito, temendo que a aceitação de recursos para o seu sustento pudesse possivelmente colocar-se no caminho de sua utilidade. Embora de saúde frágil, ele trabalhava durante o dia no serviço da causa de Cristo, e então boa parte da noite ele labutava, e às vezes a noite inteira, para que pudesse fazer provisão para as próprias necessidades e as de outros. O apóstolo queria também dar um exemplo aos seus irmãos, assim dignificando e honrando a laboriosidade. Quando nossos pastores sentem que estão sofrendo dificuldades e privações na causa de Cristo, que visitem com a imaginação a oficina do apóstolo Paulo, tendo em mente que enquanto esse escolhido homem de Deus estava fabricando tendas, trabalhava pelo pão que merecidamente ganhara por seus esforços como apóstolo de Jesus Cristo. Ao chamado do dever, este grande apóstolo poria de parte o seu negócio para enfrentar os mais violentos oponentes e deter sua altiva jactância, e depois reassumir o seu humilde ofício. Sua laboriosidade religiosa é uma repreensão à indolência de alguns de nossos pastores. Quando têm a oportunidade de trabalhar para ajudar a sustentar a si mesmos, devem fazê-lo com alegria. T4 410 1 Deus nunca planejou que o homem vivesse em apatia. Quando Adão estava no Éden, meios foram criados para a sua ocupação. Embora nem sempre a corrida seja do mais ágil nem a batalha do forte, contudo aquele "que trabalha com mão enganosa empobrece". Provérbios 10:4. Os que são diligentes em negócios nem sempre prosperarão; mas a preguiça e a indolência certamente ofenderão o Espírito de Deus e destruirão a verdadeira religiosidade. Uma poça de água estagnada é prejudicial, mas um riacho puro e corrente espalha saúde e alegria sobre a terra. O homem de perseverante laboriosidade será uma bênção em qualquer parte. O exercício das faculdades físicas e mentais do homem é necessário para o seu desenvolvimento pleno e apropriado. T4 410 2 Os jovens pastores devem procurar meios de se tornarem úteis onde quer que estejam. Quando convidados a visitar pessoas em seus lares, não devem sentar-se passivamente, sem fazer esforço para ajudar aqueles cuja hospitalidade compartilham. As obrigações são mútuas; se o pastor compartilha a hospitalidade de seus amigos, é seu dever corresponder à sua bondade por sua conduta, sendo atencioso e mostrando consideração para com eles. Aqueles que o acolhem podem ser pessoas preocupadas que trabalham arduamente. Por manifestar disposição, não somente esperar para si mesmo, mas prestar ajuda oportuna, o pastor pode muitas vezes encontrar acesso ao coração e abrir o caminho para o recebimento da verdade. T4 411 1 Deus não emprega homens preguiçosos em Sua causa; Ele quer obreiros atenciosos, bondosos, afetuosos e diligentes. O esforço ativo fará bem a nossos pregadores. A indolência é prova de perversão. Cada faculdade da mente, cada osso do corpo, cada músculo dos membros, mostra que Deus designou nossas faculdades para serem usadas, e não para permanecerem inativas. O irmão A é indolente demais para gastar suas energias na obra e envolver-se em perseverante esforço. Homens que, desnecessariamente, empregam as horas do dia para dormir, não têm o senso do valor dos preciosos e áureos momentos. Tais homens se provarão somente uma maldição para a causa de Deus. O irmão A é muito presunçoso. Não é um dedicado estudante da Bíblia. Não é o que devia ser, nem o que pode tornar-se pela dedicação zelosa. Ele ocasionalmente se anima a fazer alguma coisa; mas a sua preguiça, o seu amor natural pelo conforto, levam-no a voltar ao mesmo conduto da morosidade. As pessoas que não adquiriram hábitos de estrita operosidade e economia de tempo devem ter regras estabelecidas para as estimular à regularidade e à presteza. T4 411 2 Washington, o estadista americano, foi habilitado a realizar grande quantidade de negócios, porque era exato em conservar a ordem e a regularidade. Cada papel tinha sua data e seu lugar, e tempo algum era perdido em procurar o que não estava no lugar designado. Os homens de Deus precisam ser diligentes no estudo, zelosos na aquisição de conhecimentos, nunca desperdiçando uma hora. Mediante esforços perseverantes, podem atingir quase qualquer grau de eminência como cristãos, como homens de poder e influência. Muitos, porém, nunca alcançarão distinção superior no púlpito ou nos negócios devido à sua instabilidade de propósito e à frouxidão dos hábitos contraídos na juventude. Em tudo que empreendam, ver-se-á descuidosa desatenção. Um súbito esforço aqui e ali não é suficiente para efetuar uma transformação nesses amantes da comodidade e indolência; isso é obra que exige paciente perseverança em fazer o que é correto. Homens de negócios só podem ter verdadeiro êxito, se tiverem horas regulares para levantar-se, orar, comer e deitar-se. Se a ordem e a regularidade são essenciais nas atividades mundanas, quanto mais na obra de Deus! T4 412 1 As brilhantes horas da manhã são por muitos desperdiçadas na cama. Estas preciosas horas, uma vez perdidas, passam para nunca mais voltar; são perdidas para o tempo e a eternidade. Uma hora apenas perdida cada dia, e que desperdício de tempo durante um ano! Pense nisso o dorminhoco, e detenha-se a considerar como há de dar a Deus conta das oportunidades perdidas. T4 412 2 Os pastores devem dedicar tempo à leitura, ao estudo, a meditar e orar. Devem enriquecer o espírito com conhecimentos úteis, aprendendo de cor porções das Escrituras, traçando o cumprimento das profecias, e aprendendo as lições que Cristo deu a Seus discípulos. Levem um livro consigo para ler enquanto viajam de trem, ou esperam na estação da estrada de ferro. Empreguem todo momento vago em fazer alguma coisa. Assim se fechará, a milhares de tentações, uma porta eficaz. Se o rei Davi tivesse se empenhado em algum trabalho útil não seria culpado de assassinar Urias. Satanás está sempre pronto para ocupar aquele que não se ocupa. A mente que está continuamente lutando para elevar-se às alturas da grandeza intelectual não encontrará tempo para pensamentos desprezíveis e frívolos, que são a fonte de más ações. Há homens de boa habilidade entre nós, que, com apropriado cultivo, poderiam tornar-se eminentemente úteis; contudo, não apreciam o esforço físico, e deixando de ver o crime de negligenciar pôr no melhor uso as faculdades com que foram dotados pelo Criador, acomodam-se em seu conforto, permanecendo com a mente inculta. Muito poucos, porém, estão travando conhecimento com a mente de Deus. Dos servos negligentes Deus inquirirá: "Que fizeste com os talentos que te dei?" Muitos naquele dia serão encontrados, que havendo recebido um talento, embrulharam-no num lenço, e o esconderam no solo. Esses servos inúteis serão lançados nas trevas exteriores; enquanto os que colocaram seus talentos com os cambistas e os duplicaram receberão o elogio: "Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor." Mateus 25:23. T4 413 1 Ao se terem de confiar responsabilidades a um indivíduo, não se indague se ele é eloqüente ou rico, mas se é honesto, fiel e trabalhador; pois sejam quais forem suas realizações, sem estas qualidades ele se acha inteiramente inabilitado para qualquer cargo de confiança. Muitos que começaram a vida com boas perspectivas deixam de alcançar êxito por lhes faltar a operosidade. Jovens que habitualmente se misturam com pequenos grupos que se juntam nos armazéns ou nas ruas, sempre envolvidos em argumentações ou mexericos, jamais se desenvolverão à simetria de homens de entendimento. Incessante diligência efetuará pelo homem o que nada mais pode efetuar. Os que nunca se contentam se não tiverem a percepção de que estão crescendo cada dia, realmente tornarão a vida um sucesso. T4 413 2 Muitos têm fracassado, fracassado de maneira significativa, onde poderiam haver tido sucesso. Não sentiram a responsabilidade da obra; têm levado as coisas tão comodamente, como se tivessem um milênio em que trabalhar pela salvação das almas. Por causa dessa falta de dedicação e zelo, poucos teriam a impressão de que realmente falavam sério. A causa de Deus não tem tanta necessidade de pregadores, como de obreiros diligentes e perseverantes, para o Mestre. Só Deus pode medir a capacidade da mente humana. Não era Seu desígnio que o homem permanecesse na ignorância, mas que se aproveitasse de todas as vantagens de um intelecto esclarecido e culto. Todos devem sentir que sobre si repousa a obrigação de atingir as alturas da grandeza intelectual. Conquanto ninguém deva ficar ensoberbecido pelos conhecimentos que haja adquirido, é privilégio de todos desfrutar a satisfação de saber que, com cada passo adiante, tornam-se mais capazes de honrar e glorificar a Deus. Eles podem beber de uma fonte inesgotável, a Fonte de toda sabedoria e conhecimento. T4 413 3 Havendo entrado na escola de Cristo, o estudante está preparado a se empenhar na perseguição do saber, sem experimentar a vertigem das alturas que está galgando. Ao prosseguir de verdade em verdade, obtendo uma visão mais clara e luminosa das maravilhosas leis da ciência e da natureza, enleva-se ante as surpreendentes manifestações do amor de Deus para com o homem. Vê, com olhar inteligente, a perfeição, o conhecimento e a sabedoria de Deus estendendo-se para além, até ao infinito. À medida que sua mente se amplia e expande, puras correntes de luz se lhe projetam na alma. Quanto mais bebe da fonte do conhecimento, tanto mais pura e feliz sua contemplação da infinitude de Deus, e maior seu anseio de sabedoria suficiente para compreender as coisas profundas do Senhor. T4 414 1 Cultura mental é o que, como povo, precisamos, e temos de ter para satisfazer as exigências do tempo. Pobreza, origem humilde e ambiente desfavorável não precisam impedir o cultivo da mente. As faculdades mentais têm de ser mantidas sob o controle da vontade, não se permitindo que a mente vagueie ou fique distraída por uma variedade de assuntos ao mesmo tempo, sem se aprofundar em nenhum. Dificuldades são encontradas em todos os estudos; nunca, porém, parem por causa de desânimo. Examinem, estudem e orem; enfrentem varonil e vigorosamente cada dificuldade; chamem em socorro o poder da vontade e a graça da paciência, e então cavem mais diligentemente, até que a gema da verdade se mostre a sua frente, límpida e linda, tanto mais preciosa por causa das dificuldades envolvidas em sua busca. Não fiquem, então, a demorar-se sempre nesse único ponto, nele concentrando todas as energias da mente, para ele chamando insistentemente a atenção dos outros, mas tomem outro assunto, examinando-o atentamente. Assim, mistério após mistério se desdobrará a sua compreensão. Por esse procedimento, duas valiosas vitórias serão ganhas. Não só terão assegurado úteis conhecimentos, mas o exercício da mente aumentou a força e poder mentais. A chave encontrada para descobrir um mistério pode desenvolver outras preciosas gemas de conhecimento ainda escondidas. T4 414 2 Muitos de nossos pastores só podem apresentar ao povo alguns sermões doutrinários. O mesmo esforço e aplicação que os familiarizou com esses pontos os habilitaria a adquirir conhecimento de outros. As profecias e outros assuntos doutrinários devem ser plenamente compreendidos por todos os pastores. Mas alguns que têm estado a pregar durante anos, ficam satisfeitos de se limitar a uns poucos assuntos, sendo demasiadamente indolentes para estudar as Escrituras com diligência e oração, a fim de se tornarem gigantes na compreensão das doutrinas bíblicas e das lições práticas de Cristo. A mente de todos deve ser enriquecida com o conhecimento das verdades da Palavra de Deus, a fim de que possam achar-se preparados, em qualquer momento que lhes seja requerido, a apresentar do tesouro coisas novas e velhas. Há mentes que têm sido prejudicadas e atrofiadas por falta de zelo e de esforço diligente e árduo. Chegou o tempo em que Deus diz: Avancem e cultivem as aptidões que lhes dei. T4 415 1 No mundo multiplicam-se erros e fábulas. Novidades em forma de dramas sensacionais estão continuamente surgindo para absorver a mente, e há abundância de teorias absurdas que destroem o progresso moral e espiritual. A causa de Deus necessita de homens de intelecto, homens que pensem, homens bem versados nas Escrituras, para enfrentar a avolumante onda de oposição. Não devemos sancionar a arrogância, a estreiteza de espírito e as incoerências, embora se lançam sobre elas as vestes de professa piedade. Os que possuem no coração o poder santificador da verdade hão de exercer uma influência persuasiva. Sabendo que os defensores do erro não podem criar nem destruir a verdade, eles se podem manter calmos e ponderados. T4 415 2 Não é suficiente que nossos pastores tenham conhecimento superficial da verdade. Assuntos tratados por homens que perverteram suas faculdades concedidas por Deus para lançarem por terra a verdade estão constantemente surgindo para investigação. A intolerância deve ser deixada de lado. Os enganos satânicos desta época precisam ser clara e inteligentemente enfrentados com a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus. A mesma Mão invisível que guia os planetas em suas órbitas e sustém os mundos por Seu Poder, tomou providências para que o homem formado à Sua imagem possa ser um pouco menos do que os anjos de Deus no desempenho de seus deveres na Terra. Os propósitos de Deus não têm sido atendidos por homens a quem foi confiada a mais solene verdade que já foi dada ao homem. Ele quer que subamos cada vez mais alto em direção a um estado de perfeição, vendo e percebendo a cada passo o poder e a glória de Deus. O homem não conhece a si mesmo. Nossas responsabilidades são exatamente proporcionais a nossa luz, oportunidades e privilégios. Somos responsáveis pelo bem que poderíamos ter feito, mas deixamos de fazer por termos sido muito indolentes em empregar os meios para o progresso que foram colocados a nosso alcance. T4 416 1 O precioso Livro de Deus contém regras de vida para homens de todas as classes e vocações. Nele se encontram exemplos que seria bom que todos estudassem e imitassem. "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir." Mateus 20:28. A verdadeira honra e glória do servo de Cristo não consiste no número de sermões pregados, nem na quantidade de seus escritos, mas na obra de atender fielmente às necessidades das pessoas. Se ele negligencia esta parte do trabalho, não tem direito ao nome de pastor. T4 416 2 Necessitam-se em nossos dias, homens capazes de compreender as necessidades do povo, e a elas ministrar. O fiel ministro de Cristo vigia em todos os postos avançados, para advertir, reprovar, aconselhar, suplicar e animar seus semelhantes, cooperando com o Espírito de Deus, que nele atua poderosamente, a fim de que possa apresentar todo homem perfeito em Cristo. Um homem assim é reconhecido no Céu como pastor, trilhando as pegadas de seu grande Exemplo. T4 416 3 Nossos pregadores não são suficientemente minuciosos em relação a seus hábitos de alimentação. Tomam o alimento em quantidades demasiado grandes, e vasta variedade numa só refeição. Alguns são reformadores apenas no nome. Não têm regras pelas quais nortear seu regime, mas condescendem em comer frutas ou nozes entre as refeições, e assim impõem cargas sobremodo pesadas aos órgãos digestivos. Alguns ingerem três refeições ao dia, quando duas seriam mais condizentes com a saúde física e espiritual. Se as leis que Deus fez para governar o organismo físico são violadas, a penalidade há de seguir-se fatalmente. T4 417 1 Por causa da imprudência no comer, os sentidos de alguns parecem meio paralisados, e eles são apáticos e sonolentos. Esses pastores de rosto pálido que estão sofrendo em conseqüência de egoística tolerância para com o apetite, não recomendam a reforma de saúde. Quando sofrendo em virtude de sobrecarga de trabalho, muito melhor seria dispensar ocasionalmente uma refeição, dando assim oportunidade à natureza para refazer-se. Nossos obreiros fariam pela reforma de saúde mais pelo exemplo do que pregando-a. Quando amigos bem-intencionados fazem para eles alimentos muito elaborados, eles ficam fortemente tentados a desrespeitar o princípio; mas recusando os pratos requintados, os ricos condimentos, chá e café, podem demonstrar assim que são praticantes reformadores da saúde. Alguns estão sofrendo agora em conseqüência da transgressão das leis da vida, deixando assim um estigma sobre a causa da reforma de saúde. T4 417 2 A exagerada condescendência no comer, beber, dormir ou ver é pecado. A ação harmoniosa, saudável, de todas as faculdades do corpo e da mente resulta em felicidade; e quanto mais elevadas e refinadas as faculdades, mais pura e perfeita a felicidade. As faculdades da mente devem exercitar-se em temas relacionados com nossos interesses eternos. Isso será conducente à saúde do corpo e mente. Há muitos, mesmo entre nossos pregadores, que desejam elevar-se no mundo sem esforço. São ambiciosos em realizar grande obra de utilidade, enquanto desconsideram os pequenos deveres do dia-a-dia que os tornariam úteis, e os fariam pastores segundo a ordem de Cristo. Desejam realizar a obra que outros estão empreendendo, mas não têm entusiasmo pela disciplina necessária para a ela se adaptar. Esse desejo ardente tanto de homens quanto de mulheres de fazerem algo bem acima de sua atual capacidade, simplesmente os está levando a cometerem evidentes erros logo de início. Eles indignadamente recusam galgar a escada, desejando elevar-se por um processo menos trabalhoso. ------------------------Capítulo 38 -- Nosso colégio T4 418 1 A educação e preparo da juventude é uma obra importante e solene. O grande objetivo a alcançar deve ser o adequado desenvolvimento do caráter, de modo que o indivíduo esteja corretamente habilitado para desempenhar os deveres da vida presente e entrar afinal na imortal vida futura. A eternidade revelará a maneira em que a obra tem sido feita. Se pastores e professores tivessem plena consciência de sua responsabilidade, veríamos um diferente estado de coisas no mundo hoje. Mas eles são demasiado estreitos em seus pontos de vista e propósitos. Não compreendem a importância do seu trabalho ou os seus resultados. T4 418 2 Deus não poderia fazer pelo homem mais do que fez ao dar o Seu amado Filho, nem poderia fazer menos e ainda assim garantir a redenção do homem e manter a dignidade da lei divina. Ele derramou em nosso benefício todo o tesouro do Céu, pois ao dar o Seu Filho abriu para nós os portões dourados do Céu, fazendo um infinito dom àqueles que aceitarem o sacrifício e voltarem à obediência a Deus. Cristo veio ao nosso mundo com amor em Seu coração, tão amplo quanto a eternidade, propondo-Se fazer do homem o herdeiro de todas as Suas riquezas e glória. Neste ato Ele desvelou ao homem o caráter de Seu Pai, mostrando a cada ser humano que Deus pode "ser justo" e ainda assim "justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. T4 418 3 A Majestade do Céu não agradou a Si mesma. Fosse o que fosse que fizesse era em consideração à salvação do homem. O egoísmo em todas as suas formas via-se repreendido em Sua presença. Ele assumiu nossa natureza para poder sofrer em nosso lugar, fazendo de Sua alma uma oferta pelo pecado. Foi ferido de Deus e afligido para salvar o homem do golpe que ele merecia em virtude da transgressão da lei de Deus. Pela luz que da cruz refulge, Cristo Se propôs atrair todos os homens a Si. Seu humano coração afligia-Se pela humanidade. Seus braços estavam abertos para recebê-los; e convidou a todos para que a Ele viessem. Sua vida na Terra foi um ato contínuo de abnegação e condescendência. T4 419 1 Visto como o homem custou tanto ao Céu, isto é, o preço do amado Filho de Deus, quão cuidadosos devem os pastores, professores e pais ser no trato das almas que foram levadas sob sua influência! É uma bela obra tratar com mentes, e deve-se cumpri-la com temor e tremor. Os educadores da juventude devem manter perfeito domínio próprio. Destruir a influência de alguém sobre uma alma humana, pela impaciência ou para manter indevida dignidade e supremacia, é um terrível erro, pois pode ser o meio de perder para Cristo essa alma. As mentes juvenis podem tornar-se tão deformadas por uma orientação imprudente, que o dano causado pode nunca mais ser vencido completamente. A religião de Cristo deve ter uma influência controladora sobre a educação e preparo dos jovens. O exemplo do Salvador, de abnegação, bondade universal e longânimo amor, é uma repreensão aos pastores e professores impacientes. Ele pergunta a esses instrutores impetuosos: "É esta a maneira como tratam as almas pelas quais dei Minha vida? Não têm em maior estima o infinito preço que paguei por sua redenção?" T4 419 2 Todos os que estiverem ligados a nosso colégio devem ser homens e mulheres que tenham diante de si o temor de Deus e Seu amor no coração. Devem tornar sua religião atraente aos jovens que estiverem dentro de sua esfera de influência. Os professores devem constantemente sentir sua dependência de Deus. Sua obra está neste mundo, mas sua Fonte de sabedoria e conhecimento, da qual precisam tirar de contínuo, está no alto. O eu não deve predominar. O Espírito de Deus precisa controlar. Devem andar humildemente com Deus e sentir sua responsabilidade, que não é menor que a do pastor. A influência que os professores exercem sobre a juventude em nosso colégio será conduzida aonde quer que esses jovens forem. Uma sagrada influência deve partir deste colégio para fazer face às trevas morais presentes por toda a parte. Quando me foi mostrado pelo anjo de Deus que uma instituição devia ser estabelecida para educação de nossos jovens, vi que este seria um dos maiores meios ordenados por Deus para a salvação de almas. T4 420 1 Os que esperam ter sucesso na educação dos jovens devem aceitá-los como são, não como deviam ser nem como serão quando saírem de sob sua instrução. Estarão sob prova com estudantes lentos, e precisam suportar com paciência sua ignorância. Precisam tratar terna e bondosamente com estudantes sensíveis, nervosos, lembrando que terão no futuro de enfrentar os seus estudantes diante do tribunal de Cristo. O senso de suas próprias imperfeições deve levar constantemente o educador a abrigar sentimentos de terna simpatia e perdão em relação àqueles que estão lutando com as mesmas dificuldades. Eles podem ajudar os seus estudantes, não por relevar-lhes os defeitos, mas por fielmente corrigir ao que erra, de tal modo que o reprovado se ligue ainda mais ao coração do professor. T4 420 2 Deus uniu velhos e jovens pela lei da mútua dependência. Os educadores da juventude devem mostrar nobre interesse pelos cordeiros do rebanho, conforme o exemplo que Cristo deu em Sua vida. Há muito pouca terna piedade, e demasiado da irredutível dignidade do juiz severo. Justiça exata e imparcial deve ser distribuída a todos, pois a religião de Jesus requer isto; mas deve-se lembrar sempre que a firmeza e a justiça têm uma irmã, que é a misericórdia. Manter-se à distância dos estudantes, tratá-los com indiferença, mostrar-se inacessível, ríspido, censurador, é contrário ao espírito de Cristo. T4 420 3 Precisamos individualmente abrir o coração ao amor de Deus, vencer o egoísmo e a aspereza, e deixar que Jesus tome posse da alma. O educador dos jovens fará bem em lembrar que com todas as vantagens de sua idade, educação e experiência, ainda não é um perfeito vencedor; ele mesmo erra e comete muitas faltas. Do modo como Cristo trata com ele, deve ele procurar tratar com os jovens sob seus cuidados, os quais tiveram menores vantagens e ambiente menos favorável do que ele, o professor, desfrutou. Cristo tem tolerado o que erra, em toda a sua manifesta perversidade e rebelião. O Seu amor pelo pecador não esfriou, os Seus esforços não cessaram, e Ele não o abandonou aos açoites de Satanás. Permanece com os braços abertos para receber de novo o errante, o rebelde e até mesmo o apóstata. Por preceito e exemplo, devem os professores representar a Cristo na educação e preparo dos jovens; e no dia do juízo não serão sujeitados a vergonha ao enfrentar os seus estudantes e o relato do modo como os tratou. T4 421 1 Mais de uma vez tem o educador dos jovens levado para dentro da sala de aula a sombra das trevas que se acumularam sobre sua alma. Tem sido sobrecarregado e está nervoso, ou a dispepsia tem dado a tudo um sombrio matiz. Ele entra na sala com os nervos tensos e o estômago irritado. Nada parece ser feito para agradar-lhe; acha que os alunos estão propensos a mostrar-lhe desrespeito, e ele distribui críticas ferinas e censuras a torto e a direito. T4 421 2 Talvez um ou mais tenham cometido erros ou sejam insubmissos. O caso é exagerado em sua mente, e ele se torna injusto e se mostra severo e mordaz na repreensão, chegando mesmo a insultar aquele que ele considera culpado. Esta mesma injustiça o impede de admitir mais tarde que não agiu do modo adequado. Para manter a dignidade de sua posição, ele perdeu uma preciosa, uma áurea oportunidade de manifestar o espírito de Cristo, talvez até de ganhar uma alma para o Céu. T4 421 3 Homens e mulheres de experiência devem compreender que este é um tempo de especial perigo para os jovens. As tentações os cercam por todos os lados; e ao passo que é fácil esforçar-se a favor da corrente, o maior empenho é necessário para opor-se à maré do mal. É estudado esforço de Satanás manter os jovens no pecado, pois assim está mais seguro em relação ao homem. O inimigo das almas está cheio de intenso ódio contra todo esforço para influenciar a juventude na direção certa. Ele odeia tudo que permita uma correta visão de Deus e de nosso Salvador, e seus esforços são especialmente dirigidos contra todos que estão colocados em posição favorável para receber a luz do Céu. Ele sabe que qualquer movimento da parte deles para entrar em contato com Deus dar-lhes-á poder para resistir a seus enganos. Os que se sentem à vontade em seus pecados estão a salvo sob sua bandeira. Mas tão logo se fazem esforços para quebrar o seu poder, sua ira é despertada, e ele começa com ardor sua obra de impedir, se possível, o propósito de Deus. T4 422 1 Se a influência de nosso colégio for o que deve ser, os jovens que aí são educados serão hábeis em discernir a Deus e glorificá-Lo em todas as Suas obras; e enquanto empenhados em cultivar as faculdades que Deus lhes deu, estarão a preparar-se para prestar-Lhe mais eficiente serviço. O intelecto santificado abrirá os tesouros da Palavra de Deus e reunirá suas preciosas gemas para apresentar a outras mentes e levá-las também a buscar as coisas profundas de Deus. O conhecimento das riquezas de Sua graça enobrecerá e elevará a alma humana, e mediante a associação com Cristo tornar-se-á participante da natureza divina e obterá poder para resistir às investidas de Satanás. T4 422 2 Os alunos devem ser impressionados com o fato de que o conhecimento sozinho pode ser, nas mãos do inimigo de todo bem, um poder para destruí-los. Foi um ser muito intelectual, aquele que ocupava alta posição entre o exército de anjos, que finalmente se tornou um rebelde; e muitas mentes com excelente conhecimento intelectual estão agora sendo levadas cativas por seu poder. O conhecimento santificado que Deus provê tem a qualidade apropriada e contribuirá para Sua glória. T4 422 3 A tarefa dos professores em nosso colégio será difícil. Entre os que freqüentam a escola haverá alguns que são nada menos que instrumentos de Satanás. Não respeitam as regras da escola, e desmoralizam a todos que com eles se associam. Depois de haverem os professores feito tudo que podem para reformar esses alunos; depois de terem, mediante esforço pessoal, por rogos e oração, procurado alcançá-los, e haverem eles recusado todo esforço feito em seu favor e continuarem sua conduta pecaminosa, será então necessário desligá-los da escola, a fim de que outros não sejam contaminados por sua má influência. T4 422 4 A fim de manter a devida disciplina e, contudo, exercer piedoso amor e ternura pelas almas dos que estão sob seus cuidados, o professor necessita de constante suprimento da sabedoria e graça de Deus. A ordem precisa ser mantida. Mas os que amam as almas, a aquisição do sangue de Cristo, devem fazer o máximo para salvar os que erram. Esses pobres seres pecadores são mui freqüentemente deixados nas trevas e no engano a seguirem o seu próprio caminho, e os que deviam ajudá-los os deixam prosseguir desamparados para a ruína. Muitos desculpam sua negligência desses seres descuidados e perdidos, citando os privilégios religiosos de Battle Creek. Dizem que se estes não os chamarem para o arrependimento, nada o fará. As oportunidades de assistir à Escola Sabatina e ouvir os sermões do púlpito são, sem dúvida, preciosos privilégios; mas poderão passar inteiramente sem ser notados, ao passo que se alguém com verdadeiro interesse se aproximasse dessas almas com simpatia e amor, poderia ter êxito em alcançá-las. Tem-se-me mostrado que o esforço pessoal, cuidadosamente empregado, terá marcante influência sobre esses casos considerados tão difíceis. Nem todos podem ser tão duros de coração como parecem. Nosso povo em Battle Creek deve sentir profundo interesse pelos jovens a quem a providência de Deus colocou sob sua influência. Temos visto boa obra feita para a salvação de muitos que vieram para o nosso colégio, mas muito mais pode ser alcançado mediante esforço pessoal. T4 423 1 O amor egoísta do "mim e meu" impede a muitos de fazer por outros o que devem. Acham que toda obra que tiverem de fazer será para si mesmos e para seus filhos? "Sempre", disse Jesus, "que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a Mim o deixastes de fazer." Mateus 25:45. São seus filhos de mais valor à vista de Deus do que os filhos de seus vizinhos? Deus não faz acepção de pessoas. Devemos fazer tudo que pudermos para a salvação das almas. Ninguém deve ser passado por alto porque não tenha a cultura e o preparo religioso de filhos mais favorecidos. Se essas pessoas corrompidas, negligenciadas, tivessem desfrutado as mesmas vantagens do lar, e poderiam mostrar muito mais nobreza de caráter e maiores talentos para o que fosse útil do que muitos que têm sido assistidos dia e noite com o mais terno cuidado e exuberante amor. Os anjos têm piedade desses cordeiros extraviados; choram, enquanto os olhos humanos estão secos e o humano coração fechado para eles. Não me houvesse Deus entregue outra obra, e eu faria o negócio de minha vida cuidar daqueles a quem outros não desejem dar-se ao incômodo de salvar. No dia de Deus alguém será responsabilizado pela perda dessas queridas pessoas. T4 424 1 Pais que têm negligenciado as responsabilidades que Deus lhes deu terão de enfrentar essa negligência no juízo. O Senhor inquirirá: "Onde estão os filhos que lhes entreguei para os educarem para Mim? Por que não estão à Minha mão direita?" Muitos pais verão então que o amor irrazoável lhes cegou os olhos para as faltas de seus filhos e deixou que estes adquirissem caráter deformado, inadequado para o Céu. Outros verão que não deram a seus filhos tempo e atenção, amor e bondade; sua própria negligência do dever fez dos seus filhos o que são. Os professores verão onde poderiam ter trabalhado para o Mestre, procurando salvar os jovens aparentemente incorrigíveis, que foram por eles rejeitados. E os membros da igreja verão que podiam ter feito bom serviço para o Mestre procurando ajudar os que mais necessitavam de auxílio. Enquanto o seu amor e interesse eram prodigamente dispensados a suas próprias famílias, havia muito jovem inexperiente que podia ter sido atraído a seu coração e lar, e cuja alma preciosa poderia ter sido salva mediante interesse e bondoso cuidado. T4 424 2 Devem os educadores entender como conservar a saúde de seus alunos. Devem impedi-los de sobrecarregar a mente com demasiado estudo. Se deixam o colégio com o conhecimento das ciências, mas com a constituição física enfraquecida, melhor teria sido se nem mesmo tivessem entrado para a escola. Alguns pais sentem que seus filhos estão sendo educados a um preço considerável, e os obrigam em seus estudos. Os estudantes desejam tomar muitas matérias a fim de completar sua educação no tempo mais curto possível. Os professores têm permitido que alguns avancem demasiado rápido. Enquanto uns precisam ser encorajados, outros necessitam ser contidos. Os estudantes devem ser sempre diligentes, mas não devem tumultuar a mente a ponto de se tornarem intelectuais dispépticos. Não devem ser tão pressionados nos estudos que negligenciem a cultura de boas maneiras; e, acima de tudo, não devem permitir que coisa alguma interfira com os seus períodos de oração, que os põem em comunhão com Jesus Cristo, o melhor Mestre que o mundo já conheceu. Em nenhum caso devem afastar-se dos privilégios religiosos. Muitos estudantes têm feito de seus estudos o primeiro e maior objetivo, negligenciando a oração e ausentando-se da Escola Sabatina e das reuniões de culto, e pela negligência dos deveres religiosos voltam ao lar apostatados de Deus. Uma parte muito importante de sua educação foi negligenciada. O que está no fundamento de todo conhecimento verdadeiro não deve ser considerado como secundário. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 9:10. "Buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça." Mateus 6:33. Isto não deve ser feito por último, mas primeiro. Os alunos precisam ter oportunidade de relacionar-se com sua Bíblia. Necessitam tempo para isto. O estudante que faz de Deus sua força, que está se tornando entendido no conhecimento de Deus como revelado em Sua Palavra, está lançando o fundamento de uma educação completa. T4 425 1 Pertence ao desígnio de Deus que o colégio de Battle Creek alcance mais elevada norma de cultura intelectual e moral do que qualquer outra instituição da espécie em nosso país. Aos jovens deve ensinar-se a importância do cultivo de suas faculdades físicas, mentais e morais, de modo que não somente alcancem as maiores alturas na ciência, mas, mediante o conhecimento de Deus, sejam educados para glorificá-Lo; que possam desenvolver caráter simétrico, e estar assim plenamente preparados para serem úteis neste mundo e alcançar condições morais para a vida imortal. T4 425 2 Eu desejaria encontrar linguagem para expressar a importância de nosso colégio. Todos devem sentir que ele é um dos instrumentos divinos para tornar Deus conhecido ao homem. Os professores podem realizar uma obra maior do que a que têm considerado possível até aqui. As mentes devem ser moldadas e o caráter desenvolvido pelo interesse experimental. No temor de Deus, todo esforço para desenvolver as faculdades superiores, mesmo que marcado por grande imperfeição, deve ser encorajado e fortalecido. A mente de muitos dentre os jovens é rica em talentos que não são postos em uso algum porque lhes têm faltado a oportunidade de desenvolvê-los. Suas faculdades físicas são fortalecidas pelo exercício, mas as faculdades da mente permanecem escondidas, porque o discernimento do educador e o tato que lhe foi dado por Deus não têm sido exercitados. Aos jovens devem dar-se recursos para o desenvolvimento próprio. Eles devem ser atraídos, estimulados, encorajados e impelidos à ação. T4 426 1 No mundo todo necessita-se de obreiros. A verdade de Deus deve ser levada a terras estrangeiras, de modo que os que estão em trevas possam ser iluminados por ela. Deus requer que se mostre zelo infinitamente maior nesta direção do que o que até aqui se tem demonstrado. Como um povo, estamos quase paralisados. Não estamos fazendo a vigésima parte do bem que podíamos fazer, porque o egoísmo prevalece entre nós em grande medida. Intelectos cultos são agora necessários na causa de Deus, pois principiantes não podem fazer o trabalho de modo aceitável. Deus planejou nosso colégio como um instrumento para o desenvolvimento de obreiros de quem Ele não Se envergonhará. A altura que o homem pode alcançar mediante a cultura adequada não foi ainda compreendida. Temos entre nós alta porcentagem de homens de habilidade. Se seus talentos fossem postos em uso, poderíamos ter vinte obreiros onde agora só temos um. T4 426 2 Os professores não devem achar que o seu dever está cumprido quando os seus alunos foram instruídos em ciências. Mas devem compreender que dispõem do mais importante campo missionário do mundo. Se a capacidade de todos que se empenham como instrutores for usada como Deus deseja, eles serão os mais bem-sucedidos missionários. Deve lembrar-se que a juventude está formando hábitos que, em nove de dez casos, decidirão o seu futuro. A influência das companhias que mantiverem, das associações que formarem, e dos princípios que adotarem, será levada com eles no decurso de toda a sua vida. T4 426 3 É um fato terrível, desses que deviam fazer tremer o coração dos pais, que os colégios para os quais são enviados os jovens de nossos dias para o cultivo da mente, põem em perigo sua moral. Assim como um inocente jovem, quando deixado com endurecidos criminosos, aprende lições de crime com que jamais havia sonhado, jovens de mente pura, mediante associação com companheiros de hábitos corruptos no colégio, perdem sua pureza de caráter e se tornam viciados e maus. Devem os pais despertar para suas responsabilidades e compreender o que estão fazendo ao enviar os seus filhos do lar para colégios dos quais nada podem esperar senão que se tornem destituídos de moral. O colégio de Battle Creek deve permanecer mais alto em tono moral do que qualquer outro colégio da região, de modo que a segurança dos filhos confiados a sua guarda não possa ser posta em perigo. Se os professores fizerem a sua obra no temor de Deus, trabalhando com o espírito de Cristo para a salvação dos alunos, Deus lhes coroará os esforços com êxito. Pais tementes a Deus estarão mais preocupados com o caráter que seus filhos trarão do colégio para o lar do que em relação ao sucesso e progresso feito nos estudos. T4 427 1 Foi-me mostrado que nosso colégio foi designado por Deus para realizar a grande obra de salvar almas. É somente quando postos sob o pleno controle do Espírito de Deus que os talentos de uma pessoa são considerados utilizáveis ao máximo. Os preceitos e princípios da religião são os primeiros passos na aquisição do conhecimento, e jazem no próprio fundamento da verdadeira educação. O conhecimento e a ciência precisam ser vitalizados pelo Espírito de Deus para servirem aos mais nobres propósitos. Só o cristão pode fazer o correto uso do conhecimento. A ciência, para ser plenamente apreciada, tem de ser considerada do ponto de vista religioso. O coração enobrecido pela graça de Deus pode compreender melhor o verdadeiro valor da educação. Os atributos de Deus, como vistos em Suas obras criadas, só podem ser apreciados quando temos conhecimento do Criador. Para conduzir a juventude à fonte da verdade, ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, o professor precisa não somente estar familiarizado com a teoria da verdade, mas ter também o conhecimento prático do caminho da santidade. Conhecimento é poder quando unido com a verdadeira piedade. Dever dos pais para com o colégio T4 428 1 Nossos irmãos e irmãs de outras partes devem sentir o dever de manter esta instituição idealizada por Deus. Alguns dos alunos voltam para casa murmurando e queixando-se, e os pais e os membros da igreja dão ouvidos às declarações exageradas, unilaterais. Bem fariam em considerar que a história tem dois lados; no entanto, permitem que essas informações truncadas criem uma barreira entre eles e o colégio. Começam então a manifestar temores, dúvidas e suspeitas quanto à maneira por que o colégio está sendo dirigido. Tal influência produz grande dano. As palavras de descontentamento propagam-se como uma doença contagiosa, e a impressão causada sobre o espírito de outros dificilmente se apagará. A história avoluma-se a cada repetição, chegando a gigantescas proporções, quando uma investigação revelaria o fato de que não houve falta da parte dos professores ou mestres. Estes cumpriram apenas seu dever em fazer vigorar os regulamentos da escola, o que se deve fazer, do contrário a escola ficará desmoralizada. T4 428 2 Nem sempre os pais agem com prudência. Muitos são demasiado exigentes no desejar levar outros a participarem de suas idéias, e tornam-se impacientes e arrogantes se não o conseguem; quando, porém, é exigido de seus filhos que observem as regras e regulamentos da escola, e eles se zangam diante da necessária restrição, com freqüência os pais, que professam amar e temer a Deus, unem-se aos filhos em vez de reprová-los e corrigir-lhes as faltas. Isto se demonstra muitas vezes o ponto decisivo no caráter desses filhos. Ordens e regras são quebradas, a disciplina é pisada a pés. Os filhos desprezam a restrição, sendo-lhes permitido falar com desrespeito das instituições de Battle Creek. Se tão-somente os pais refletissem, veriam os maus resultados da orientação que estão seguindo. Seria na verdade coisa maravilhosa se, numa escola de quatrocentos alunos, dirigida por homens e mulheres sujeitos às fraquezas da humanidade, tudo fosse tão perfeito, tão exato, que desafiasse a crítica. T4 429 1 Caso os pais se colocassem na posição dos professores, e vissem quão difícil é administrar e disciplinar uma escola de centenas de alunos de todas as séries e de todas as tendências mentais, talvez com reflexão, vissem os fatos de modo diferente. Devem considerar que alguns filhos nunca receberam disciplina em casa. Tendo sido sempre tratados complacentemente, sem nunca serem treinados na obediência, ser-lhes-ia grandemente proveitoso serem afastados dos pais excessivamente liberais e colocados sob regulamentos e exercícios tão rigorosos como os que regem os soldados num exército. A menos que se faça algo por esses filhos tão negligenciados por pais infiéis, eles jamais poderão ser aceitos por Jesus; a menos que sejam controlados por algum poder, virão a ser de nenhum préstimo nesta vida, e não terão parte na futura. T4 429 2 É perfeita a ordem no Céu, assim como a obediência, a paz e a harmonia. Os que não têm tido nenhum respeito pela ordem e a disciplina nesta vida, não respeitarão a ordem observada no Céu. Não poderão ser ali admitidos; pois todos quantos houverem de ter entrada no Céu amarão a ordem e respeitarão a disciplina. O caráter formado nesta vida determinará o destino futuro. Quando Cristo vier, não mudará o caráter de ninguém. O precioso tempo da graça é concedido a fim de ser aproveitado em lavar nossas vestes de caráter e branqueá-las no sangue do Cordeiro. O remover as manchas do pecado requer a obra de toda uma existência. Necessitam-se dia a dia novos esforços no refrear e negar o próprio eu. A cada dia há novas batalhas a combater, e vitórias novas a serem obtidas. Diariamente deve a alma dilatar-se, pleiteando fervorosamente com Deus pelas poderosas vitórias da cruz. Os pais não devem negligenciar de sua parte nenhum dever para beneficiar seus filhos. Devem educá-los de tal maneira, que venham a ser uma bênção para a sociedade aqui, e possam colher a recompensa da vida eterna no futuro. ------------------------Capítulo 39 -- A causa em Iowa T4 430 1 Tem-se-me mostrado que a causa em Iowa está em deplorável condição. Em diferentes ramos da obra têm sido colocados jovens que não estão em condição espiritual de beneficiar o povo. Razoável número de homens inexperientes e ineficientes tem estado a trabalhar na causa, homens que precisam de que por eles se faça uma grande obra. Estudantes do colégio T4 430 2 A influência do irmão B não tem sido de modo algum a que devia ser. Enquanto esteve no colégio de Battle Creek, ele foi em muitos sentidos um jovem exemplar; mas, juntamente com outros rapazes e moças, furtivamente fez uma excursão a _____. Isto não foi nobre, franco e justo. Sabiam que era uma quebra dos regulamentos, mas aventuraram-se no caminho da transgressão. Esses jovens, por este ato e sua atitude posterior em relação a sua errônea conduta, têm propiciado observações muito injustas sobre o colégio. T4 430 3 Quando os irmãos em Iowa aceitaram os trabalhos do irmão B, sob tais circunstâncias, cometeram um erro. Se mostrarem comportamento similar em outros casos, desagradarão grandemente a Deus. O fato de ter sido ele um jovem de excelente comportamento deu-lhe maior influência sobre outros, e seu exemplo em se pôr em desafio às regras e autoridade que sustentam e controlam a escola levou outros a fazerem o que ele havia feito. Leis e regulamentos não terão nenhuma força na condução da escola se tais coisas são sancionadas a esmo por nossos irmãos. Desmoralizante influência é facilmente introduzida numa escola. Muitos participarão prontamente do espírito de rebelião e desafio, a menos que se façam continuamente imediatos e vigilantes esforços na manutenção das normas da escola mediante regras estritas aplicáveis à conduta dos estudantes. T4 430 4 Os esforços do irmão B não serão aceitáveis a Deus até que ele veja e reconheça inteiramente o seu erro em violar as regras do colégio e procure desfazer a influência que exerceu em prejuízo da reputação da escola. Muitos estudantes mais teriam vindo de Iowa não fora esta infeliz circunstância. Pudesse você, irmão B, ver e compreender a influência deste passo errado, e os sentimentos de paixão, de ciúmes, e do quase ódio que lhe encheram o coração porque o seu comportamento foi questionado pelo Prof. Brownsberger, e tremeria à vista do seu próprio estado e do triunfo por parte dos que não podem suportar restrições e travam guerra contra regras e regulamentos que os impedem de seguir sua conduta pessoal. Como professo discípulo que é do manso e humilde Jesus, sua influência e responsabilidade são grandemente aumentadas. T4 431 1 Irmão B, eu espero que o irmão proceda com cuidado e considere sua primeira tentação de afastar-se das normas do colégio. Analise criticamente o caráter do governo de nossa escola. As regras que foram estabelecidas não são de modo algum demasiado estritas. Mas a ira foi acalentada; no momento a razão foi destronada e o coração tornou-se presa de incontrolável paixão. Antes que se desse conta, você deu um passo que poucas horas antes não teria dado sob qualquer pressão da tentação. O impulso havia subjugado a razão, e você não pensou no dano feito a si mesmo e nem a uma instituição de Deus. Nossa única segurança sob qualquer circunstância é ser sempre senhores de nós mesmos na força de Jesus nosso Redentor. T4 431 2 Nosso colégio não dispõe daquela influência da opinião popular que os outros colégios possuem ao exercer o governo e impor suas regras. Num sentido, ele é uma escola denominacional; mas, a menos que resguardado, ser-lhe-ão dados caráter e influência seculares. Estudantes que guardam o sábado precisam possuir mais coragem moral do que a que até aqui tem sido mostrada, de modo a preservar a influência moral e religiosa da escola, ou diferirá apenas no nome, dos colégios de outras denominações. Deus planejou e estabeleceu este colégio, desejando que fosse moldado por alto interesse religioso, e que cada ano estudantes não convertidos que são enviados a Battle Creek retornassem a seus lares como soldados da cruz de Cristo. T4 432 1 Professores e instrutores devem refletir sobre os melhores meios de manter o caráter peculiar de nosso colégio; todos devem apreciar muitíssimo os privilégios que desfrutamos em ter tal escola, devendo sustentá-la fielmente e guardá-la de qualquer sombra de acusação. O egoísmo pode debilitar as energias dos estudantes, ganhando o elemento secular o predomínio sobre toda a escola. Isto atrairia sobre esta instituição o desagrado de Deus. T4 432 2 Os alunos que professam amar a Deus e obedecer à verdade devem possuir tal grau de domínio próprio e resistência de princípios religiosos que sejam habilitados a permanecer inabaláveis em meio das tentações, e a defender a Cristo no colégio, nas casas que se acham hospedados, ou onde quer que estejam. A religião não é para ser usada meramente como uma capa, na casa de Deus; antes, os princípios religiosos devem caracterizar toda a vida. Os que bebem da fonte da vida não manifestarão, à semelhança dos mundanos, ansioso desejo de variações e de prazer. Em sua conduta e caráter ver-se-ão o sossego, a paz e a felicidade que encontraram em Jesus mediante o depositar-Lhe aos pés, dia-a-dia, suas perplexidades e preocupações. Mostrarão que há contentamento e mesmo alegria no caminho da obediência e do dever. Esses exercerão sobre os colegas uma influência que se fará sentir na escola inteira. Os que compõem esse fiel exército serão um refrigério e fortalecimento para os professores e dirigentes em seus esforços, contrariando toda espécie de infidelidade, de discórdia e negligência no que concerne a cooperar com os regulamentos. Sua influência será salvadora, e no grande dia de Deus suas obras não perecerão, mas segui-los-ão no mundo por vir; e a influência de sua vida aqui falará através dos séculos sem fim da eternidade. Um jovem sincero, consciencioso, fiel na escola, é inestimável tesouro. Os anjos do Céu o contemplam com amor. O precioso Salvador o ama, e no livro do Céu serão registrados toda obra de justiça, cada tentação resistida, todo mal subjugado. Ele estará assim depositando um bom fundamento contra o tempo que há de vir, de modo a lançar mão da vida eterna. T4 433 1 O comportamento do irmão C no colégio, ao procurar a companhia de moças, estava errado. Não foi para isto que ele fora enviado a Battle Creek. Os estudantes não são enviados para ali para formar associações, para se entregarem a flertes ou namoro, mas para adquirir educação. Fosse-lhes permitido seguir suas próprias inclinações neste ponto, o colégio ficaria logo desmoralizado. Muitos têm usado seus preciosos dias escolares em dissimulado flerte e namoro, não obstante a vigilância de professores e instrutores. Quando um professor de qualquer dos ramos tira vantagem de sua posição para ganhar a afeição de suas alunas tendo em vista o casamento, sua conduta é merecedora da mais severa censura. T4 433 2 A influência dos filhos do irmão D e de vários outros de Iowa, como também do Sr. E, de Illinois, não tem sido benéfica para nossa escola. Os parentes e amigos desses estudantes os têm apoiado em fazer comentários sobre o colégio. Os filhos do irmão D têm habilidades e aptidões que são uma fonte de satisfação para os pais; mas quando as habilidades desses jovens são exercidas no sentido de quebrar as regras e regulamentos do colégio, não é algo que deva despertar prazer no coração de ninguém. O trabalho escrito contendo essa mordaz e ferina crítica a alguém que ensina no colégio não será lido com igual satisfação no dia em que a obra de cada um será passada em revista diante de Deus. Então o irmão e a irmã D enfrentarão o registro da obra que fizeram em dar a seu filho mal disfarçada justificativa nesta questão. Terão então de responder pela influência que exerceram em prejuízo da escola, um dos instrumentos de Deus, e por fazerem tendenciosas afirmações que impediram os jovens de ir ao colégio, onde poderiam ter sido guardados sob a influência da verdade. Alguns indivíduos se perderão em conseqüência dessa má influência. O grande dia do juízo de Deus revelará a influência de palavras proferidas e atitudes assumidas. O irmão e a irmã D têm deveres no lar aos quais negligenciaram. Têm-se embriagado com os cuidados desta vida. Trabalho, correria e movimentação têm sido a ordem do dia, e seu intenso mundanismo tem exercido modeladora influência sobre os filhos, a igreja e o mundo. É o exemplo dos que sustentam a verdade em justiça que condenará o mundo. T4 434 1 Da juventude cristã depende em grande medida a preservação e perpetuidade das instituições que Deus delineou como meio de fazer prosperar Sua obra. Esta solene responsabilidade repousa sobre a juventude de hoje que está entrando no palco da ação. Jamais houve um período em que tão importantes resultados dependessem de uma geração de homens; quão importante, pois, que a juventude esteja qualificada para a grande obra, de modo que Deus possa usá-la como instrumentos Seus. O Criador tem sobre eles reclamos que transcendem todos os outros. T4 434 2 Foi Deus quem lhes deu vida e cada uma das faculdades físicas e mentais que possuem. Concedeu-lhes habilidades para sábio aproveitamento, de modo que lhes pudesse confiar uma obra que seria tão duradoura quanto a eternidade. Em retribuição pelos Seus grandes dons Ele requer o devido cultivo e exercício das faculdades intelectuais e morais. Ele não lhes concedeu essas faculdades para mero entretenimento ou para serem abusivamente utilizadas contra Sua vontade e Seu propósito, mas para que pudessem usá-las no progresso do conhecimento da verdade e da santidade no mundo. Ele reclama sua gratidão, veneração e amor, em virtude de Sua continuada bondade e infinita misericórdia. Com razão Ele requer obediência a Suas leis e a todos os sábios regulamentos que protegem e guardam a juventude dos enganos de Satanás, e conduz os jovens no caminho da paz. Se os jovens pudessem ver que na concordância com as leis e regulamentos de nossas instituições estão apenas fazendo aquilo que lhes melhorará a posição na sociedade, lhes elevará o caráter, enobrecerá a mente e lhes aumentará a felicidade, não se rebelariam contra regras justas e saudáveis regulamentos, nem se empenhariam em criar suspeita e preconceito contra essas instituições. Nossos jovens devem ter um espírito de energia e fidelidade para fazer face ao que deles se requer, e isto será uma garantia de sucesso. O caráter incontrolado e indiferente de muitos jovens nesta idade do mundo é assustador. Muito da culpa cabe a seus pais no lar. Sem o temor de Deus ninguém pode ser verdadeiramente feliz. T4 435 1 Esses estudantes que se têm mostrado desgostosos sob autoridade, e voltam aos seus lares para lançar acusação sobre o colégio, terão de reconhecer o seu pecado e desfazer a influência que exerceram, antes que possam ter a aprovação de Deus. Os crentes em Iowa têm desgostado a Deus pela simplicidade ao aceitar o relatório que lhes tem sido trazido. Deviam ser encontrados sempre ao lado da ordem e da disciplina, em vez de encorajar uma administração frouxa. T4 435 2 Um jovem é enviado de um Estado distante para partilhar dos benefícios do colégio de Battle Creek. Deixa o lar com a bênção dos pais sobre si. Ouviu diariamente as ferventes orações feitas junto ao altar da família, e está realmente bem firmado numa vida de nobres resoluções e pureza. Suas convicções e propósitos quando deixa o lar são corretos. Em Battle Creek irá encontrar-se com companheiros de todas as classes. Torna-se bem familiarizado com alguns cujo exemplo é uma bênção para todos que estão dentro de sua esfera de influência. E eis que se encontra também com outros que são naturalmente bondosos e interessantes, e cuja inteligência o fascina; mas estes possuem uma baixa norma de moralidade e nenhuma fé religiosa. Por algum tempo ele resiste a toda insinuação de render-se à tentação; mas como observa que outros que professam ser cristãos parecem encontrar prazer na companhia deste grupo irreligioso, os seus propósitos e altas resoluções começam a vacilar. Ele desfruta da vivacidade e espírito jovial destes jovens, e quase imperceptivelmente se envolve cada vez mais com eles. Sua firmeza parece estar cedendo; seu coração até então resoluto está se debilitando. Ele é convidado a acompanhá-los numa saída, e o conduzem a um bar. Alimentos inconvenientes são solicitados, e ele se sente acanhado em voltar atrás e recusar a gentileza. Uma vez transposto o limite, ele o faz outras vezes. Um copo de cerveja passa a ser inofensivo, e ele o aceita; mas ainda assim sua consciência é aguilhoada. Ele não toma posição aberta ao lado de Deus, da verdade e da justiça. A companhia da classe dissimulada e enganadora com que está associado agrada-lhe, e ele é levado um passo além. Seus tentadores insistem que não há certamente mal algum em jogar cartas, e assistir aos jogadores numa disputa de sinuca, e ele cai repetidamente em tentação. T4 436 1 Há jovens freqüentando o nosso colégio que, sem que os pais ou responsáveis suspeitem, rondam os bares, bebem cerveja, jogam cartas e participam de outros jogos de salão. Isto os estudantes procuram manter em profundo segredo entre si, e os professores e auxiliares são conservados na ignorância da obra satânica em marcha. Quando este jovem é induzido a seguir algum caminho mau, que tem de ser mantido em segredo, há uma batalha em sua consciência; mas a inclinação triunfa. Ele tencionava ser cristão quando veio para Battle Creek, mas é firme e seguramente conduzido para a ruína. Maus e sedutores companheiros encontrados entre jovens de pais guardadores do sábado, alguns deles vivendo em Battle Creek, descobrem que ele pode ser tentado, e secretamente exultam com o seu poder e com o fato de que ele é fraco e prontamente se renderá a sua sedutora influência. Verificam que ele pode ser envergonhado e confundido pelos que tiveram a luz e endureceram o coração no pecado. Influências justamente como estas serão encontradas onde quer que os jovens se associem. T4 436 2 Virá o tempo em que esse jovem que deixou a casa do pai, puro e fiel, com nobres propósitos, estará arruinado. Ele aprendeu a amar o mal e a rejeitar o bem. Não compreendeu o perigo, e não se armou de vigilância e oração. Não se pôs imediatamente sob a guia e cuidado da igreja. Foi levado a crer que era varonil ser independente, não aceitando que sua liberdade fosse restringida. Foi ensinado que ignorar as regras e desafiar as leis era desfrutar a verdadeira liberdade; que era escravidão estar sempre temendo e tremendo com medo de errar. Ele se entregou à influência de pessoas ímpias que, enquanto exibindo um cativante exterior, praticavam o engano, a violência e a iniqüidade; e ele foi desprezado e escarnecido por ser tão facilmente ludibriado. Foi aonde não podia encontrar o que era puro e bom. Aprendeu modos de vida e hábitos no falar que não eram elevados e enobrecedores. Muitos estão em perigo de ser assim desviados imperceptivelmente até se tornarem degradados a seus próprios olhos. Para ganhar o aplauso de perversos e ímpios, estão em perigo de abrir mão da pureza e nobreza da varonilidade, tornando-se escravos de Satanás. Jovens pastores T4 437 1 Foi-me mostrado que Iowa será deixado muito atrás de outros Estados no padrão da religiosidade pura, se for permitido aos jovens exercerem influência em sua Associação enquanto é evidente que não estão unidos a Deus. Sinto ser meu mais solene dever dizer que Iowa estaria em melhor condição hoje se os irmão F e G tivessem permanecido em silêncio. Não tendo eles próprios religião prática, como podem conduzir pessoas à Fonte com a qual não estão familiarizados? T4 437 2 Um predominante ceticismo está continuamente aumentando com referência aos Testemunhos do Espírito de Deus; e esses jovens encorajam questionamentos e dúvidas em vez de removê-los, porque ignoram o espírito, poder e força dos Testemunhos. Enquanto com o coração assim não santificado, seus esforços não podem realizar nenhum bem para o povo. Podem aparentemente convencer as almas de que temos a verdade; mas onde está o Espírito e poder de Deus para impressionar o coração e despertar a convicção do pecado? Onde está o poder para conduzir ao conhecimento prático da piedade vital os que foram convencidos? Eles mesmos não têm conhecimento disso; então como podem representar a religião de Cristo? Se os jovens desejam penetrar o campo, não sejam de modo algum desencorajados; mas primeiro devem aprender o ofício. T4 437 3 O irmão G poderia ter unido os seus esforços com os dos médicos do hospital, mas não pôde harmonizar-se com eles. Era muito auto-suficiente para ser um aprendiz. Era presunçoso e egoísta. Tinha uma tão boa perspectiva como outros jovens; mas enquanto estes estavam dispostos a receber instrução, e ocupar qualquer posição onde pudessem ser de maior utilidade, ele não se adaptou à situação. Julgava que sabia demasiado para ocupar uma posição secundária. Não se recomendou aos pacientes. Era tão exigente e ditatorial que sua influência não pôde ser tolerada no hospital. Não lhe faltava habilidade e, se estivesse disposto a ser ensinado, poderia ter obtido conhecimento prático do trabalho de um médico; se tivesse preservado seu espírito em mansidão e humildade, poderia ter tido êxito. Mas os defeitos naturais de caráter não foram percebidos e vencidos. Tem havido uma disposição de sua parte em enganar, mentir. Isso destruirá a utilidade da vida de qualquer um, e certamente lhe fechará as portas do ministério. A veracidade mais estrita deve ser cultivada, e todo engano evitado como se evita a lepra. Ele tem se sentido desconcertado por causa de sua pequena estatura. Isso não pode ser remediado; mas está a seu alcance remediar as deficiências de caráter, se ele quiser. Mente e caráter podem, com cuidado, ser moldados segundo o Modelo divino. T4 438 1 É a verdadeira elevação da mente, não uma afetação de superioridade, que faz o homem. O cultivo apropriado das faculdades mentais faz do homem tudo que ele é. Essas enobrecedoras faculdades são concedidas para ajudar a formação do caráter para a vida futura, imortal. O homem foi criado para um mais alto, mais santo estado de desfruto do que este mundo pode oferecer. Ele foi criado à imagem de Deus, para altos e nobres propósitos que cativam a atenção dos anjos. T4 438 2 Os jovens de hoje em geral não pensam profundamente nem agem de maneira sábia. Se eles estivessem cientes dos perigos que rodeiam todos os seus passos, agiriam mais cautelosamente e escapariam de muitos ardis que Satanás tem preparado para seus pés. Seja cuidadoso, meu irmão, para não parecer o que não é. A imitação dourada será prontamente distinguida do metal puro. Examine com o maior cuidado não somente a si próprio, mas a posição que cada um de sua família ocupa. Analise a história de cada um, e medite sobre o resultado da conduta seguida. Considere por que algumas pessoas são amadas e respeitadas pelos verdadeiramente bons, enquanto outros são desprezados e evitados. Considere essas coisas à luz da eternidade, e onde descobrir que outros falharam, evite cuidadosamente a conduta que eles seguiram. Será bom lembrar-se de que as tendências de caráter são transmitidas de pais para filhos. Medite seriamente sobre essas coisas, e então no temor de Deus se revista da armadura para uma vida de conflito com tendências hereditárias, imitando nenhum outro, senão o divino Modelo. Deve trabalhar com perseverança, constância e zelo se desejar ter êxito. Terá que vencer o eu, o que será a mais árdua batalha. Decidida oposição aos próprios caminhos e hábitos errôneos lhe assegurará preciosas e duradouras vitórias. Mas enquanto seus fortes traços de caráter são acariciados, enquanto deseja liderar, em vez de estar disposto a seguir, não obterá êxito. Seus sentimentos são intensos, e a menos que esteja alerta, sucumbirá ao mau temperamento. Responsabilidades e o desempenho de importantes deveres devem repousar sobre os jovens; está você se qualificando para fazer a sua parte no temor de Deus? T4 439 1 O irmão F não está apto para o seu trabalho. Tem quase tudo para aprender. Seu caráter é defeituoso. Ele não foi educado desde a infância para ser uma pessoa zelosa, trabalhadora, alguém que assuma responsabilidades. Ele não percebeu nem sentiu o trabalho a ser feito em favor de si mesmo, por isso não está preparado para apreciar o trabalho a ser feito em favor de outros. Ele é auto-suficiente. Pretende saber mais do que realmente sabe. Quando se tornar inteiramente consagrado pelo Espírito de Deus, e perceber plenamente a solenidade e responsabilidade da obra de um ministro de Cristo, sentir-se-á inteiramente insuficiente para a tarefa. Ele é deficiente em muitos aspectos; e suas deficiências serão reproduzidas em outros, dando ao mundo uma impressão desfavorável do caráter de nossa obra e dos pastores que estão nela empenhados. Ele deve tornar-se familiarizado com as responsabilidades e deveres da vida prática antes que possa estar apto a empenhar-se na obra de maior responsabilidade já dada ao homem mortal. Todos os jovens pastores precisam ser aprendizes antes de se tornarem mestres. Conquanto eu deseje encorajar os jovens a entrarem no ministério, diria que estou autorizada por Deus a recomendar e instar com eles a se qualificarem para o trabalho em que devam empenhar-se. T4 440 1 Os irmãos F não estão inclinados a ser zelosos e assumir responsabilidades. Negligência e imperfeição são vistos em todos os seus empreendimentos. Eles são descuidados em sua conversação e conduta. A influência solene, elevadora e enobrecedora que deve caracterizar todo ministro do evangelho não pode ser manifestada na vida deles até que tenham sido transformados e moldados segundo a imagem divina. Existe egoísmo em maior ou menor grau em cada um deles, embora em muito maior medida em uns do que em outros. Há um espírito de auto-suficiência e importância própria nesses jovens que os desqualifica para a obra de Deus. Eles precisam seriamente disciplinar-se antes de serem aceitos como obreiros de Deus em Sua causa. Há uma preguiça natural que precisa ser vencida. Eles devem exercitar-se fielmente nas atividades temporais da vida. Precisam ser aprendizes; e quando mostrarem notável êxito em suas responsabilidades menores, então estarão aptos para as maiores. As diferentes Associações estarão em melhor condição sem tais obreiros ineficientes. O peso das almas não pode repousar sobre homens em seu estado de falta de consagração assim como não pode repousar sobre bebês. Eles ignoram a religiosidade vital, e precisam da mais completa conversão antes mesmo de poderem ser cristãos. T4 440 2 O irmão A F precisa de um treinamento completo em nosso Colégio. Sua linguagem é defeituosa. Há grosseria e falta de refinamento em sua conduta; além disso, ele é auto-suficiente e está completamente equivocado com respeito a sua habilidade. Não tem fé verdadeira nos Testemunhos do Espírito de Deus. Não os estudou cuidadosamente, nem praticou as verdades que lhes foram apresentadas. Conquanto tenha tão pequena espiritualidade, não entenderá o valor dos Testemunhos nem o seu real objetivo. Esses jovens lêem a Bíblia, mas têm tido pouca experiência em pesquisar as Escrituras com oração, zelo e humildade para que possam ser totalmente instruídos para toda boa obra. T4 441 1 Há grande perigo em animar a entrar no campo uma classe de homens que não tem genuína responsabilidade pelas almas. Eles podem ser capazes de interessar as pessoas e envolver-se em controvérsia, embora de modo algum sejam homens de propósito que aperfeiçoarão sua capacidade e ampliarão suas habilidades. Temos um ministério atrofiado e defeituoso. A menos que Cristo habite nos homens que pregam a verdade, eles rebaixarão o padrão moral e religioso onde quer que sejam tolerados. Um exemplo lhes é dado, o do próprio Cristo: "Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra." 2 Timóteo 3:16, 17. Temos na Bíblia o infalível conselho de Deus. Seus ensinos, postos em prática, habilitarão os homens para qualquer posição de dever. É a voz de Deus falando cada dia à alma. Quão cuidadosamente devem os jovens estudar a Palavra de Deus e entesourar seus pontos de vista no coração, para que seus preceitos lhes governem toda a conduta. Nossos jovens pastores, e os que por vezes têm pregado, demonstram notável deficiência na compreensão das Escrituras. A obra do Espírito Santo é iluminar o obscurecido entendimento, abrandar o coração egoísta, empedernido, conquistar o rebelde transgressor, e salvá-lo das influências corruptoras do mundo. A oração de Cristo por Seus discípulos foi: "Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade." João 17:17. A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, penetra o coração do pecador, cortando-o em pedaços. Quando a teoria da verdade é repetida sem que sua sagrada influência seja sentida na alma do que fala, não tem nenhuma força sobre os ouvintes, mas é rejeitada como erro, tornando-se o próprio orador responsável pela perda de almas. Precisamos estar seguros de que nossos pastores sejam homens convertidos, modestos, mansos, e humildes de coração. T4 442 1 Deve haver uma decidida mudança no ministério. Um exame mais criterioso é necessário com respeito às qualificações de um pastor. Moisés foi dirigido por Deus para obter experiência em zelar, considerar e demonstrar terna solicitude por seu rebanho para que pudesse, como um fiel pastor, estar pronto quando Deus o chamasse a liderar Seu povo. Experiência semelhante é essencial para aqueles que se empenham na grande obra de pregação da verdade. A fim de conduzir almas à fonte vivificante, o próprio pregador deve primeiro beber da fonte. Ele precisa compreender o infinito sacrifício feito pelo Filho de Deus para salvar os homens caídos, e sua própria alma deve estar imbuída com o espírito do infinito amor. Se Deus nos determina que realizemos um árduo trabalho, precisamos fazê-lo sem murmurar. Se o caminho é difícil e perigoso, é plano de Deus fazer com que sigamos em humildade, e clamemos a Ele por força. Uma lição deve ser aprendida da experiência de alguns de nossos pastores que comparativamente nada souberam de dificuldades e provações, contudo sempre se julgam mártires. Eles ainda têm que aprender a aceitar com gratidão o caminho da escolha de Deus, lembrando-se do Autor de nossa salvação. A obra do pastor deve ser realizada com muito mais energia, zelo e dedicação do que manifesta nas transações comerciais, pois o trabalho é muito mais sagrado e os resultados mais significativos. O trabalho de cada dia deve constar nos registros eternos com um "bem está", de modo que se nenhum outro dia fosse concedido no qual trabalhar, a obra estaria inteiramente concluída. Nossos pastores, jovens especialmente, devem perceber a preparação necessária para qualificá-los para seu solene trabalho, e prepará-los para a sociedade dos imaculados anjos. A fim de estar no lar do Céu, precisamos aqui entesourá-lo em nosso coração. Se esse não for o nosso caso, será melhor não termos parte na obra de Deus. T4 442 2 O ministério é corrompido por pastores não santificados. A menos que haja um padrão inteiramente mais elevado e mais espiritual para o ministério, a verdade do evangelho se tornará mais e mais impotente. A mente humana é representada pelo solo rico de um jardim. A menos que receba cultivo apropriado, ficará cheio de ervas daninhas e espinheiros de ignorância. A mente e o coração precisam diariamente de cultura, e a negligência causará prejuízo. Quanto mais habilidade natural Deus conceder a um indivíduo, maior aperfeiçoamento lhe será requerido, e maior a sua responsabilidade de usar seu tempo e talentos para a glória de Deus. A mente não deve permanecer inativa. Se não for exercitada na aquisição de conhecimento, submergirá em ignorância, superstição e fantasia. Se as faculdades intelectuais não forem cultivadas como devem ser para glorificar a Deus, tornar-se-ão fortes e poderosos condutos para levar à perdição. T4 443 1 Conquanto os jovens devam guardar-se contra serem pretensiosos e independentes, devem estar continuamente obtendo assinalado progresso. Devem aceitar cada oportunidade para cultivar os traços mais nobres e generosos de caráter. Se os jovens sentirem sua dependência de Deus a cada momento, e cultivarem um espírito de oração, um respirar da alma a Deus em todo o tempo e em todos os lugares, poderão melhor conhecer a vontade de Deus. Mas foi-me mostrado que os irmãos F e G desconhecem quase totalmente a atuação do Espírito de Deus. Têm estado trabalhando em sua própria força, e se envolvido tão plenamente consigo mesmos que não têm visto e percebido sua grande deficiência. Conversam petulantemente acerca dos Testemunhos dados por Deus em benefício de Seu povo, exercem juízo sobre eles, dando a sua opinião acerca deles e criticando isto e aquilo, quando fariam melhor em pôr a mão sobre a boca e prostrar-se no pó, visto não conhecerem mais do espírito dos Testemunhos do que conhecem do Espírito de Deus. T4 443 2 Eles são principiantes na verdade, e anões em experiência religiosa. As maiores vitórias para a causa não são obtidas através de argumentos, amplas instalações, abundância de influência e de recursos; mas são aquelas vitórias obtidas na câmara de audiência com Deus, quando a fé zelosa e angustiante lança mão do poderoso braço do poder. Quando Jacó se achou inteiramente prostrado em condição de desamparo, derramou sua alma a Deus em fervorosa angústia. O anjo de Deus pleiteou para ser libertado; mas Jacó não o deixava desvencilhar-se. O homem ferido, sofrendo dor física, apresentou sua fervorosa súplica com a ousadia concedida pela fé viva. "Não Te deixarei ir", disse ele, "se me não abençoares." Gênesis 32:26. T4 444 1 Há profundos mistérios na Palavra de Deus, que nunca serão descobertos pela mente não auxiliada pelo Espírito de Deus. Há também mistérios insondáveis no plano da redenção, que as mentes finitas jamais podem compreender. Os jovens inexperientes devem esforçar mais a mente e exercitar melhor as habilidades para obter compreensão das questões que são reveladas; pois a menos que possuam mais iluminação espiritual do que agora têm, levariam a vida toda para conhecer a vontade revelada de Deus. Quando têm acariciado a luz que já receberam, e feito uso prático dela, serão capazes de dar um passo à frente. A providência de Deus é uma escola contínua que está sempre levando os homens a perceberem as verdadeiras metas da vida. Ninguém é demasiado jovem ou demasiado velho para aprender nessa escola, ao prestar diligente atenção às lições ensinadas pelo divino Mestre. Ele é o verdadeiro Pastor e chama Suas ovelhas pelo nome. Sua voz é ouvida pelos errantes, dizendo: "Este é o caminho; andai nele." Isaías 30:21. T4 444 2 Jovens que nunca tiveram êxito nos deveres temporais da vida estarão igualmente despreparados para empenhar-se em deveres mais elevados. Uma experiência religiosa é obtida somente mediante conflito, através de desapontamento, severa disciplina do eu e fervorosa oração. A fé viva precisa apegar-se inabalavelmente às promessas, e então muitos podem sair de uma íntima comunhão com Deus com rosto radiante, dizendo como Jacó: "Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva." Gênesis 32:30. T4 444 3 Os passos rumo ao Céu devem ser dados um de cada vez; cada passo para a frente fortalece-nos para o seguinte. O poder transformador da graça de Deus sobre o coração humano é obra que somente poucos compreendem, porque são demasiado indolentes para fazer o necessário esforço. As lições que os jovens pastores aprendem ao saírem em suas visitas quando não têm qualificação para a obra, têm influência desmoralizante sobre eles. Não conhecem o seu lugar nem o mantêm. Não são equilibrados por firmes princípios. Falam eruditamente de coisas sobre as quais nada sabem, e daí aqueles que os aceitam como mestres são desviados. Uma tal pessoa inspirará mais ceticismo na mente dos outros do que várias serão capazes de desfazer, por melhor que façam! A mente limitada dos homens se deleita em ninharias, em criticar, buscar algo para questionar, pensando eles ser isso um sinal de esperteza; no entanto, mostram que a mente tem falta de refinamento e dignidade. Quão melhor seria empenhar-se em buscar educar a si mesmos, enobrecer e elevar a mente. Tal como a flor que se volta para o sol a fim de que os brilhantes raios possam ajudá-la a aperfeiçoar sua beleza e simetria, assim devem os jovens volver-se para o Sol da Justiça, para que a luz do Céu possa brilhar sobre eles, aperfeiçoando-lhes o caráter e dando-lhes uma profunda e permanente experiência nas coisas de Deus. Então podem refletir os divinos raios de luz sobre outros. Aqueles que escolhem reunir dúvidas, incredulidade e ceticismo não experimentarão crescimento na graça ou espiritualidade, e serão desqualificados para a solene responsabilidade de levar a verdade a outros. T4 445 1 O mundo deve ser advertido de sua destruição vindoura. A apatia daqueles que estão no pecado e no erro é tão profunda, tão semelhante à morte, que a voz de Deus através de um pastor bem alerta é necessária para despertá-los. A menos que os pastores sejam convertidos, o povo não o será. O frio formalismo que está agora prevalecendo entre nós deve dar lugar ao vivo vigor da religião prática. Não há falha na teoria da verdade; ela é perfeitamente clara e harmoniosa. Todavia, os jovens pastores podem falar a verdade fluentemente, contudo não ter verdadeira percepção das palavras que proferem. Eles não apreciam o valor da verdade que apresentam, e pouco percebem o que isso custou àqueles que com orações e lágrimas, através de provações e oposição, por ela buscaram como por tesouros ocultos. Todo novo elo na cadeia da verdade lhes foi tão precioso quanto ouro provado. Esses elos agora estão unidos em um todo perfeito. As verdades têm sido cavadas do lixo da superstição e erro, através de oração fervorosa por luz e conhecimento, e apresentadas ao povo como preciosas pérolas de infinito valor. T4 446 1 O evangelho é uma revelação dos raios de luz e esperança do mundo eterno ao homem. Toda luz não brilha sobre nós de uma vez, mas vem segundo possamos suportá-la. Mentes inquiridoras que têm fome de um conhecimento da vontade de Deus nunca estão satisfeitas; quanto mais profundamente buscam, mais percebem sua ignorância e deploram a sua cegueira. Está além do poder do homem conceber as elevadas e nobres realizações que estão ao seu alcance, se ele combinar o esforço humano com a graça de Deus, que é a Fonte de toda a sabedoria e poder. E há no futuro um eterno peso de glória. "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. T4 446 2 Temos a mais solene mensagem da verdade já apresentada ao mundo. Essa verdade é mais e mais respeitada pelos descrentes, porque não pode ser contestada. Em vista deste fato, nossos jovens se tornam autoconfiantes e arrogantes. Tomam as verdades que foram apresentadas por outros, e sem estudar ou orar fervorosamente enfrentam oponentes e se envolvem em debates, submetendo-se a mordazes discussões e sagacidade, gabando-se de que isso é fazer a obra de um ministro do evangelho. A fim de estarem aptos para o trabalho de Deus, esses homens precisam de uma completa conversão tal como Paulo experimentou. Os pastores devem ser representantes vivos da verdade que pregam. Devem ter vida mais espiritual, caracterizada por maior simplicidade. As palavras devem ser recebidas de Deus e transmitidas ao povo. Deve-se prender a atenção do povo. Nossa mensagem é um "cheiro de vida para a vida" ou "de morte para morte". 2 Coríntios 2:16. O destino das almas está na balança. "Multidões" estão "no vale da decisão". Joel 3:14. Uma voz deve ser ouvida clamando: "Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. T4 447 1 Ação pronta, enérgica e dedicada pode salvar uma alma indecisa. Ninguém pode dizer quanto é perdido por tentar pregar sem a unção do Espírito Santo. Há em toda congregação almas hesitantes, quase persuadidas a se dedicarem inteiramente a Deus. A decisão está sendo feita para o tempo e para a eternidade; mas com demasiada freqüência acontece que o pastor não possui no próprio coração o espírito e o poder da mensagem da verdade, pelo que não faz apelos diretos às almas que tremem na balança. O resultado é que as impressões não se aprofundam no coração dos convictos; e saem da reunião sentindo-se menos inclinados a aceitar o serviço de Cristo, do que quando chegaram. Decidem esperar oportunidade mais favorável, mas esta nunca chega. Esse discurso profano, semelhante à oferta de Caim, estava destituído do Salvador. A oportunidade áurea é perdida, e os casos dessas almas são decididos. Não é arriscado demais pregar de forma indiferente, e sem sentir o peso das almas? T4 447 2 Nesta época de trevas morais é requerido mais do que árida teoria para impressionar as pessoas. Os pastores devem ter um relacionamento vivo com Deus. Devem pregar como quem crê no que diz. Verdades vivas, procedendo de lábios do homem de Deus, farão com que pecadores tremam, e os convictos exclamem: "Jeová é Deus; estou resolvido a ficar inteiramente do lado do Senhor." Nunca deve o mensageiro de Deus cessar seu empenho por maior luz e poder procedentes do Alto. Ele deve batalhar, orar, esperar, em meio a desânimo e trevas, determinado a obter conhecimento pleno das Escrituras, e não ficar aquém em nenhum dom. Enquanto houver uma alma a ser beneficiada, ele deve avançar com nova coragem em cada esforço. Há trabalho, trabalho intenso, a ser realizado. Almas pelas quais Cristo morreu estão em perigo. Enquanto Jesus disser, "nunca te deixarei nem te abandonarei", enquanto a coroa da justiça for oferecida ao vencedor, enquanto nosso Advogado pleitear em favor do pecador, os ministros de Cristo devem trabalhar com esperança, energia incansável e perseverante fé. T4 448 1 Mas enquanto a verdade de Deus é levada avante por homens jovens e inexperientes, cujo coração mal é tocado pela graça de Deus, a causa enfraquecerá. Os irmãos F e G estão mais prontos a argumentar do que a orar; mais prontos a contender do que a persuadir ou esforçar-se por impressionar as pessoas com o solene caráter da obra para este tempo. Homens que ousam assumir a responsabilidade de receber a palavra da boca de Deus e transmiti-la ao povo tornam-se responsáveis pela verdade que apresentam e a influência que exercem. Se são verdadeiramente homens de Deus, sua esperança não está em si mesmos, mas naquilo que Ele fará por eles e através deles. Eles não avançam cheios de si, chamando a atenção das pessoas para sua habilidade e esperteza; sentem sua responsabilidade e trabalham com vigor espiritual, trilhando o caminho da abnegação que o Mestre trilhou. O sacrifício próprio é visto a cada passo, e lamentam sua falta de habilidade em realizar mais na causa de Deus. Seu caminho é de provas e conflitos; mas está assinalado pelas pegadas de seu Redentor, o Capitão de sua salvação, que Se tornou perfeito através do sofrimento. T4 448 2 Em seu trabalho, os subpastores devem seguir cuidadosamente as instruções e manifestar o espírito do Sumo Pastor. Ceticismo e apostasia são encontrados por toda a parte. Deus deseja que trabalhem em Sua causa, homens cujo coração seja tão verdadeiro quanto o aço, e que permaneçam firmes na integridade, inamovíveis pelas circunstâncias. Em meio a provação e tristeza eles são exatamente o que eram quando suas perspectivas estavam iluminadas pela esperança, e quando seu ambiente exterior era exatamente o que desejavam. Daniel na cova dos leões era o mesmo Daniel que permanecera perante o rei, envolvido pela luz de Deus. Paulo no calabouço escuro, esperando pela sentença que sabia viria do cruel Nero, era o mesmo Paulo que se dirigira aos ouvintes no Areópago. Um homem cujo coração estava firmado em Deus na hora das provas mais aflitivas e as mais desanimadoras circunstâncias, era exatamente o que fora na prosperidade, quando a luz e favor de Deus pareciam estar sobre ele. A fé alcança o invisível e se apega às coisas eternas. T4 449 1 Há muitos em Iowa que estão destruindo, em lugar de edificar, lançando descrença e trevas em vez de luz; e a causa de Deus está se enfraquecendo, quando devia estar prosperando. Os pastores devem ousar ser verdadeiros. Paulo escreveu a Timóteo: "Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza." 1 Timóteo 4:12. "Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem." 1 Timóteo 4:15, 16. T4 449 2 A palavra e a vontade de Deus são expressas nas Escrituras por autores inspirados. Devemos atá-las como testeiras entre os olhos e caminhar segundo os seus preceitos; então marcharemos em segurança. Todo capítulo e todo versículo é uma comunicação de Deus ao homem. Ao estudar a Palavra, a alma que tem fome e sede de justiça será impressionada pelas declarações divinas. O ceticismo não pode ter poder sobre uma alma que pesquisa com humildade as Escrituras. ------------------------Capítulo 40 -- Nossas casas publicadoras T4 449 3 Deus deseja que todos que estão ligados a suas instituições revelem aptidão, discernimento e prudência. Deseja que se tornem homens e mulheres de intelecto culto, não ficando em falta nenhuma qualificação; e ao sentirem individualmente a necessidade disso e trabalharem na medida certa, Jesus os ajudará em seus esforços. Ao trabalharem no plano da adição em assegurar as graças do Espírito, Deus atuará em seu favor no plano da multiplicação. O relacionamento com Deus dará expansão à alma, a exaltará, transformará e a tornará sensível aos próprios potenciais, e dará uma percepção mais clara da responsabilidade que repousa sobre cada indivíduo de fazer sábio uso das faculdades que Deus lhe tem concedido. T4 450 1 Todos devem observar estrita economia no dispêndio de recursos; e devem exercer ainda maior fidelidade ao lidar com aquilo que pertence a outros do que ao administrar seus próprios negócios. Mas raramente isso é feito. Nenhum indivíduo é pessoalmente beneficiado com os lucros de nossos escritórios ou levado a sofrer por causa das perdas experimentadas; todavia, a propriedade pertence ao Senhor, e Sua causa é materialmente afetada pela maneira em que o trabalho é realizado. Quando os recursos da causa de Deus são limitados, é negligenciado importante trabalho que pode e deve ser feito. T4 450 2 Embora se deva sempre exercer economia, ela nunca deve degenerar-se em mesquinhez. Todos quantos trabalham em nossos escritórios devem sentir que estão lidando com a propriedade de Deus, que são responsáveis pelo aumento do capital investido, e que serão responsáveis no dia de Deus, se mediante falta de diligência e cuidadosa consideração ele diminui em suas mãos. Todos são chamados a evitar desperdício de tempo e recursos. A fidelidade ou infidelidade dos obreiros a sua presente responsabilidade determinará sua aptidão para lhes serem confiadas riquezas eternas. Deus requer que todos executem com integridade e presteza o trabalho que lhes foi designado. O exemplo de cada um deve servir para despertar diligência e atenção da parte de outros. Por meio de zelosa e conscienciosa fidelidade em tudo, a Terra pode ser levada para mais perto do Céu, e preciosos frutos podem ser produzidos para ambos os mundos. T4 450 3 As mãos empregadas nos vários departamentos de nossos escritórios de publicação não realizam o montante de trabalho que seria exigido em qualquer outro escritório desse ramo. Muito tempo é gasto em conversa desnecessária, com perda de preciosas horas, enquanto o trabalho sofre atraso. Em vários dos departamentos, perda é ocasionada ao escritório por causa de pessoas que se empenham no trabalho sem exercer cuidado e economia. Se essas pessoas estivessem empenhadas em trabalhar para si mesmas, algumas realizariam diariamente um terço a mais do que agora. Outros não fariam mais do que estão fazendo agora. T4 451 1 As horas de trabalho devem ser fielmente empregadas. Ser desperdiçador de tempo ou material é desonestidade perante Deus. Uns poucos momentos são dissipados aqui e outros ali, o que no decurso de uma semana representa quase um dia, às vezes até passando disso. "Tempo é dinheiro", e desperdício de tempo é desperdício de dinheiro para a causa de Deus. Quando aqueles que professam a fé são vagarosos e descuidados com o tempo, mostrando que não têm interesse na prosperidade da obra, os descrentes que são empregados seguirão o seu exemplo. Se todos empregassem o tempo da melhor maneira, muitos recursos seriam economizados para a causa da verdade. Quando o coração está no trabalho, ele será realizado com zelo, energia e prontidão. Todos devem estar atentos para ver o que precisa ser feito, aptos e rápidos para executar, trabalhando como se estivessem sob a supervisão direta do Grande Mestre, Jesus Cristo. T4 451 2 Por outro lado, perdas ocorrem por falta de cuidado consciencioso no uso de material e maquinaria. Há uma falha em cuidar de todas as questões maiores e menores, de modo que nada seja desperdiçado ou prejudicado pela negligência. Um pouco de desperdício aqui e ali representa uma elevada soma no decorrer de um ano. Alguns nunca aprenderam a exercer suas faculdades para economizar as sobras, não obstante a ordem de Cristo: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Material não deve ser cortado para se obter um pequeno pedaço. Um pouco de cuidado consciencioso levaria a recolher e a empregar os pequenos pedaços que agora são postos de lado e desperdiçados. Deve ser dada atenção para economizar mesmo em algo tão insignificante como sobras de papel, pois podem ser transformadas em dinheiro. T4 451 3 Por falta de interesse pessoal muitas coisas que vão para o lixo seriam economizadas mediante poucos momentos de atenção cuidadosa no tempo certo. "Eu me esqueci" causa muita perda aos nossos escritórios. E alguns não sentem interesse em trabalho algum nem coisa alguma que não esteja relacionada à sua área específica de trabalho. Tudo isso está errado. O egoísmo sugeriria o pensamento: "não me compete cuidar disso"; mas a fidelidade e dever motivariam todos a cuidar de tudo que está sob sua observação. T4 452 1 O exemplo dos obreiros chefes da encadernação é seguido pelos funcionários; todos se tornam descuidados e negligentes; e um valor igual aos seus salários é desperdiçado. Uma pessoa conscienciosa e cuidadosa na chefia do trabalho economizaria centenas de dólares para o escritório em um departamento apenas. T4 452 2 O princípio de economizar deve prevalecer em todo o escritório. A fim de economizar os dólares, os centavos e as moedinhas devem ser cuidadosamente entesourados. Homens que têm tido êxito em negócios sempre têm sido econômicos, perseverantes e ativos. Que todos quantos estão relacionados com a obra de Deus comecem agora a disciplinar-se cabalmente para ser zelosos. Mesmo que o seu trabalho não possa ser apreciado na Terra, jamais devem rebaixar-se aos próprios olhos pela infidelidade em qualquer coisa que assumir. Leva tempo para uma pessoa tornar-se tão acostumada com um determinado estilo de vida como para ser feliz em persegui-lo. Seremos, individualmente, para o tempo e a eternidade, o que nossos hábitos fizerem de nós. A vida dos que formam bons hábitos, e são fiéis no cumprimento de todo dever, será como luz brilhante, lançando raios vivos no caminho dos outros; caso, porém, haja condescendência com hábitos de infidelidade, se se permitem fortalecer os hábitos frouxos, indolentes e descuidados, repousará sobre as perspectivas dessa vida uma nuvem mais sombria que a meia-noite, a qual excluirá para sempre a vida futura. T4 452 3 Um pensamento egoísta tolerado, um dever negligenciado, prepara o caminho para outro. O que nos aventuramos a fazer uma vez, somos mais inclinados a repetir. Os hábitos de sobriedade, domínio próprio, economia, minuciosa atenção, conversa sadia e sensata, paciência e verdadeira cortesia não são formados sem diligente e estrita vigilância sobre o eu. É muito mais fácil tornar-se corrompido e depravado do que vencer os defeitos, conservando o eu sob controle e cultivando as verdadeiras virtudes. Exigir-se-ão perseverantes esforços se as graças cristãs algum dia forem aperfeiçoadas em nossa vida. T4 452 4 Importantes mudanças devem ser realizadas em nossos escritórios. Retardar a obra que precisa de imediata atenção até um tempo mais conveniente é um erro, e resulta em perda. A obra de consertar às vezes custa o dobro do que deveria caso tivesse recebido atenção no tempo certo. Muitas perdas terríveis e acidentes fatais têm ocorrido por se retardar questões que deviam ter recebido imediata atenção. O tempo para ação é gasto em indecisão, julgando-se que ela poderá ser adiada para o dia seguinte; mas freqüentemente se descobre que o dia seguinte foi tarde demais. Nossos escritórios sofrem financeiramente todo dia por causa da indecisão, perda de tempo, descuido, indolência e, da parte de alguns, pura desonestidade. Alguns que trabalham nesses escritórios se comportam tão indiferentemente como se Deus não lhes tivesse dado faculdades mentais para serem utilizadas com diligência. Eles não são qualificados para qualquer posto de dever; nunca podem merecer confiança. Homens e mulheres que evitam deveres nos quais envolvem dificuldades permanecerão fracos e ineficientes. T4 453 1 Aqueles que se educam para realizar o seu trabalho com prontidão, bem como com economia, dirigirão seus negócios em vez de permitir que eles os conduzam. Não estarão constantemente apressados e atribulados por seu trabalho estar em confusão. Diligência e zelosa fidelidade são indispensáveis para o êxito. O trabalho de cada hora é passada em revista diante de Deus e é registrado para fidelidade ou infidelidade. O registro dos momentos desperdiçados e oportunidades não aproveitadas terá de ser enfrentado quando se assentar o juízo, e os livros forem abertos e cada um for julgado segundo as coisas escritas nos livros. Egoísmo, inveja, orgulho, ciúmes, preguiça, ou qualquer outro pecado nutrido no coração, excluirão uma pessoa da bem-aventurança do Céu. "A quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis." Romanos 6:16. T4 453 2 Nossos escritórios estão sofrendo pela falta de homens de estabilidade e firmeza. Ao ser-me mostrado sala após sala, vi que o trabalho era conduzido com indiferença. Ocorriam perdas em todos os postos de confiança. A falta de perfeição é evidente. Enquanto alguns levam o peso de cuidados e responsabilidades, outros, em vez de compartilharem esses fardos, têm adotado uma conduta que aumenta a ansiedade e o cuidado. Aqueles que não aprenderam a lição de economia, nem adquiriram o hábito de aproveitar ao máximo seu tempo na infância e juventude, não serão prudentes e econômicos em qualquer negócio em que se empenhem. É pecado negligenciar o aperfeiçoamento de nossas habilidades de modo a que ser usadas para a glória de Deus. Todos têm responsabilidades a assumir; ninguém pode ser dispensado. T4 454 1 Há uma variedade de intelectos, e todos precisam de cultivo e treinamento em menor ou maior grau. Todo movimento relacionado à causa de Deus deve ser caracterizado por cautela e determinação. Sem determinação, a pessoa é volúvel e instável como a água, e nunca pode ser verdadeiramente bem-sucedida. Todos que professam cristianismo devem ser trabalhadores. Não há zangãos na família da fé. Cada membro da família tem alguma tarefa que lhe é designada, alguma porção da vinha do Senhor em que trabalhar. A única maneira de atender a ordem de Deus é estar constantemente perseverando em nossos esforços para maior utilidade. Por melhor que façamos, é pouco o que podemos realizar; mas o esforço de cada dia aumentará nossa habilidade de trabalhar eficientemente e de produzir frutos para a glória de Deus. T4 454 2 Alguns não exercem controle sobre seu apetite, mas satisfazem o gosto às expensas da saúde. Como resultado, o cérebro é obscurecido, os pensamentos ficam lentos, e eles deixam de realizar o que poderiam se houvessem exercido domínio próprio e abstinência. Essas pessoas privam a Deus de suas forças físicas e mentais que podiam ser devotadas ao Seu serviço se tivessem observado temperança em todas as coisas. T4 454 3 Paulo foi um reformador de saúde. Disse ele: "Subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. Ele compreendia que sobre si repousava a responsabilidade de preservar toda a plenitude de suas forças para que pudesse usá-las para glória de Deus. Se Paulo corria o perigo de intemperança, nós corremos perigo ainda maior, porque não sentimos e compreendemos como ele a necessidade de glorificar a Deus em nosso corpo e em nosso espírito, os quais Lhe pertencem. Comer demais é o pecado deste século. T4 454 4 A Palavra de Deus coloca o pecado de glutonaria na mesma categoria que a embriaguez. Tão ofensivo era este pecado à vista de Deus que Ele deu indicações a Moisés de que um filho que não pudesse ser restringido quanto ao apetite, mas que se empanturrasse com tudo que desejasse o seu paladar, devia ser levado pelos pais aos juízes de Israel, para que fosse apedrejado e morto. A condição de um glutão era considerada sem esperança. De nenhuma utilidade seria ele para outros, sendo uma maldição para si mesmo. Em coisa alguma se poderia depender dele. Sua influência estaria sempre contaminando a outros, e o mundo seria melhor sem essa espécie de caráter; pois seus terríveis defeitos poderiam perpetuar-se. Ninguém que possua o senso de sua responsabilidade diante de Deus permitirá que as propensões sensuais controlem a razão. Os que isto fazem não são cristãos, não importa quem sejam ou quão exaltada seja sua profissão de fé. A injunção de Cristo é: "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. Aqui Ele nos mostra que podemos ser tão perfeitos em nossa esfera quanto Deus o é na Sua. T4 455 1 Aqueles que trabalham em nossas casas publicadoras não estão progredindo como o Senhor gostaria que fizessem. Há falta de interesse zeloso e abnegado na obra em que estão empenhados. Deus requer que esses trabalhadores em Sua causa progridam diariamente em conhecimento. Deviam realizar uma melhoria de suas faculdades dadas por Deus, para que possam tornar-se obreiros eficientes, aplicados, e realizar o seu trabalho sem perda para o escritório. T4 455 2 O mais sábio dos homens pode aprender lições úteis dos métodos e hábitos de pequenas criaturas da Terra. A operosa abelha dá aos homens inteligentes um exemplo que bem fariam em imitar. Esses insetos observam perfeita ordem e não admitem nenhum ocioso em sua colmeia. Executam o trabalho que lhes foi designado com uma inteligência e atividade além da nossa compreensão. As formigas, que consideramos apenas praga para serem esmagadas sob nossos pés, são em muitos aspectos superiores ao homem; pois ele não aperfeiçoa tão sabiamente os dons de Deus. O sábio chama nossa atenção para as pequenas coisas da Terra: "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos e sê sábio. A qual, não tendo superior, nem oficial, nem dominador, prepara no verão o seu pão; na sega ajunta o seu mantimento." Provérbios 6:6-8. "As formigas são um povo impotente; todavia, no verão preparam a sua comida." Provérbios 30:25. Destes pequeninos professores podemos aprender uma lição de fidelidade. Caso melhorássemos com a mesma diligência as faculdades que um Criador todo-sabedoria nos tem concedido, quão grandemente aumentaria a nossa aptidão para utilidade. Os olhos de Deus estão sobre a menor de Suas criaturas; não considera Ele então o homem formado à Sua imagem, e dele requer correspondente retorno por todas as vantagens que lhe tem concedido? T4 456 1 Os escritórios de publicação devem ser postos em ordem. Aqueles que trabalham nessas instituições devem ter elevadas metas e uma profunda e rica experiência no conhecimento da vontade de Deus. Devem permanecer ao lado do que é correto e exercer uma influência salvadora. Toda alma que leva o nome de Cristo deve fazer o máximo com os privilégios desfrutados e fielmente realizar os deveres que lhe são determinados, sem murmuração ou queixa. A conversação de cada um deve ser de caráter elevado, visando conduzir outras mentes na direção correta. A pequena menção que se faz da bondade divina e do amor de Deus mostra a assinalada ingratidão, e que Cristo não está entronizado no coração. T4 456 2 Os escritórios nunca prosperarão a menos que haja mais obreiros desinteressados e altruístas, que sejam homens e mulheres verdadeiramente tementes a Deus, abnegados e conscienciosamente independentes para Deus e o que é correto. O editor local da Review and Herald terá ocasião de falar com seriedade e firmeza. Ele deve colocar-se em defesa do direito, exercendo toda a influência que sua posição lhe concede. O Pastor Waggoner foi colocado numa posição não invejável, mas não foi deixado só. Deus o tem ajudado, e dadas as circunstâncias ele tem agido nobremente. O Senhor não o liberou de sua posição; ele precisa ainda trabalhar em Oakland e São Francisco. T4 456 3 Daqueles a quem Deus muito confiou, muito Ele requer; enquanto daqueles que têm pouco, é requerido conforme o que têm. Todos, porém, podem dar a si mesmos e, através de suas ações, mostrar fidelidade à preciosa causa de Cristo. Muitos podem reduzir suas despesas e assim aumentar sua liberalidade a Cristo. A abnegação por amor a Cristo é a batalha que está diante de nós. T4 457 1 "O amor de Cristo", disse Paulo, "nos constrange." 2 Coríntios 5:14. Esse foi o princípio atuante de sua conduta, seu poder motivador. Se por um momento seu ardor no caminho do dever arrefecesse, um relance à cruz e ao impressionante amor de Cristo revelado em Seu incomparável sacrifício era suficiente para levá-lo a novamente controlar seu pensamento e avançar no caminho da abnegação. Em seus trabalhos por seus irmãos, ele confiava muito na manifestação do infinito amor na maravilhosa condescendência de Cristo, com todo o seu poder subjugador e motivador. T4 457 2 Quão zeloso, quão tocante o seu apelo. "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis." 2 Coríntios 8:9. Vocês sabem da altura da qual Ele desceu; estão familiarizados com a profundidade da humilhação a que Ele Se submeteu. Os Seus pés entraram no caminho da abnegação e sacrifício próprio, e não se desviaram até que deu a Sua vida. Não houve descanso para Ele entre o trono no Céu e a cruz. O Seu amor pelo homem O levou a acolher bem toda a indignidade e sofrer todos os maus-tratos. "E por eles Me santifico a Mim mesmo." João 17:19. Eu Me aproprio de toda a Minha glória, de tudo o que sou, para trabalhar para a redenção do homem. Quão pouco são os homens agora movidos a santificarem-se para o trabalho de Deus a fim de que almas possam ser salvas através deles. T4 457 3 Paulo nos admoesta. "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros." Filipenses 2:4. Ele nos insta a imitar a vida do grande Exemplo e nos exorta a possuir o "sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz." Filipenses 2:5-8. O apóstolo se demora em ponto após ponto para que nossa mente possa compreender plenamente a maravilhosa condescendência do Salvador em favor dos pecadores. Ele apresenta Cristo perante nós como Ele foi quando era igual a Deus, recebendo a adoração dos anjos, e então acompanha Sua descida até alcançar a mais profunda humilhação, para que com Seu braço humano pudesse alcançar o homem caído, e erguê-lo de sua degradação para a esperança, a alegria e o Céu. T4 458 1 Paulo estava profundamente ansioso de que a humilhação de Cristo fosse vista e percebida. Estava convencido de que se a mente das pessoas pudesse ser levada a compreender o maravilhoso sacrifício feito pela Majestade do Céu, todo egoísmo seria banido de seu coração. Ele dirige a mente primeiro à posição que Cristo ocupou no Céu, no seio do Pai; revela-O posteriormente como Se despojando de Sua glória, voluntariamente Se submetendo a todas as condições humilhantes da natureza humana, assumindo as responsabilidades de um servo, e Se tornando obediente até à morte, sendo essa morte a mais ignominiosa e revoltante, a mais vergonhosa, a mais angustiante -- a morte de cruz. Podem os cristãos contemplar essa extraordinária manifestação do amor de Deus ao homem sem um sentimento de amor e percepção profunda do fato de que não somos de nós mesmos? Tal Mestre não deve ser servido por motivos egoístas, ambiciosos, e de má vontade. T4 458 2 "Sabendo", diz Pedro, "que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados." 1 Pedro 1:18. Oh, tivessem sido essas coisas suficientes para comprar a salvação do homem, e quão facilmente isso teria sido realizado por Aquele que diz: "Minha é a prata, e Meu é o ouro." Ageu 2:8. Mas o transgressor da lei de Deus só poderia ser redimido pelo precioso sangue do Filho de Deus. Aqueles que deixando de apreciar o maravilhoso sacrifício feito em seu favor, retêm do serviço de Cristo os seus recursos e suas faculdades físicas, mentais e morais, perecerão em seu egoísmo. T4 458 3 "Mas aquele que não tem [colocado ao melhor uso sua habilidade e seus recursos] até aquilo que tem lhe será tirado." Mateus 13:12. Os que são demasiado indolentes para cumprir as responsabilidades e exercitar suas faculdades, deixarão de receber a bênção de Deus, e a capacidade que tinham ser-lhes-á tirada e dada aos obreiros ativos, zelosos, que pelo uso aumentam constantemente seus talentos. "Viste um homem diligente na sua obra? Perante reis será posto; não será posto perante os de baixa sorte." Provérbios 22:29. Uma pessoa que diligentemente trabalha sob a direção do Espírito de Deus possuirá poder e influência; pois todos podem ver nela um espírito de devoção incansável à causa de Deus em qualquer departamento a que o dever a chame. T4 459 1 Todas as mãos em nossos escritórios devem colocar-se na mais favorável condição para a formação de hábitos bons e corretos. Várias vezes, cada dia, preciosos e áureos momentos devem ser dedicados à oração e ao estudo das Escrituras, nem que seja para guardar na memória um texto só, a fim de que a vida espiritual seja estimulada. Os variados interesses da causa fornecem-nos alimento para reflexão, e uma inspiração para nossas orações. A comunhão com Deus é altamente essencial para a saúde espiritual; e somente através dela pode ser obtida aquela sabedoria e correto discernimento tão necessários à realização de todo dever. T4 459 2 A força adquirida na oração a Deus, unida com o esforço individual em educar a mente para responsabilidade e vigilante cuidado, prepara a pessoa para os deveres diários e conserva em paz o espírito em todas as circunstâncias, por difíceis que sejam. As tentações a que estamos diariamente expostos tornam a oração uma necessidade. Para que possamos ser guardados pelo poder de Deus mediante a fé, os desejos da mente devem estar de contínuo subindo em silenciosa oração suplicando auxílio, luz, força e conhecimento. Mas reflexão e oração não podem tomar o lugar do intenso e fiel aproveitamento do tempo. Oração e trabalho são ambos requeridos no aperfeiçoamento do caráter cristão. T4 459 3 Precisamos viver uma vida dupla -- vida de pensamento e de ação, de oração silenciosa e diligente trabalho. Todos quantos receberam a luz da verdade devem reconhecer como dever seu, espargir raios de luz na senda dos impenitentes. Devem ser testemunhas de Cristo em nossos escritórios, da mesma maneira que na igreja. Deus requer que sejamos cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. A alma que, mediante diária e fervorosa oração, se volve a Deus em busca de forças, apoio, poder, terá aspirações nobres, claras percepções da verdade e do dever, elevados desígnios de ação, e constante fome e sede de justiça. Mantendo ligação com Deus, seremos habilitados a difundir entre outros, por nossa associação com eles, a luz, a paz, a serenidade que reinam em nosso coração, e a dar-lhes um exemplo da inabalável fidelidade aos interesses da obra em que nos achamos empenhados. T4 460 1 Em muitos que estão trabalhando em nossos escritórios há quase total ausência do amor e temor de Deus. O eu reina e controla, e Deus e o Céu raramente penetram a mente. Se essas pessoas pudessem ver que estão no limiar do mundo eterno, e que os seus interesses futuros serão determinados por sua atividade presente, haveria assinalada mudança em cada mão empregada nesses escritórios. T4 460 2 Muitos, porém, que estão empenhados na sagrada obra de Deus estão paralisados pelos enganos de Satanás. Estão adormecidos em terreno encantado. Dias e meses estão passando, enquanto eles continuam descuidados e despreocupados, como se não houvesse Deus, nem futuro, nem Céu, nem punição pela negligência do dever ou por fugirem à responsabilidade. Mas o dia logo se aproxima quando o caso de cada um será decidido segundo as suas obras. Muitos têm um registro terrivelmente manchado no livro do Céu. T4 460 3 Quando esses obreiros se despertarem para a sua responsabilidade, quando colocarem sua alma poluída tal como é perante Deus, e seu ardente clamor apoderar-se de Sua força, então saberão que Deus ouve e responde à oração. E quando despertarem, verão o que perderam por sua indiferença e infidelidade. Então descobrirão que alcançaram apenas um baixo padrão, quando, tivessem a mente e as faculdades sido cultivadas e melhoradas por Deus, poderiam ter tido uma rica experiência e sido instrumentos em salvar os seus semelhantes. E ainda que sejam salvos, perceberão por toda a eternidade a perda de oportunidades desperdiçadas no tempo de graça. T4 461 1 Os privilégios religiosos têm sido negligenciados demais pelos que trabalham nos escritórios. Ninguém que trate esses privilégios com indiferença deve empenhar-se no trabalho de Deus; pois todos eles se associam a anjos malignos e são uma nuvem de trevas, um empecilho para outros. A fim de tornar a obra bem-sucedida, todos os departamentos dos escritórios devem ter a presença de anjos celestiais. Quando o Espírito de Deus atuar no coração, purificando o templo da alma de sua contaminação de mundanismo e busca de prazeres, todos serão vistos na reunião de oração, fiéis a seu dever, e zelosos e ansiosos para colher todos os benefícios que possam obter. O obreiro fiel para com o Mestre valer-se-á de cada oportunidade para colocar-se diretamente sob os raios de luz do trono de Deus; e esta luz será refletida sobre outros. T4 461 2 Não somente deve a reunião de oração ser fielmente freqüentada, mas realizar-se pelo menos uma vez por semana. Nela devem ser enfatizadas a bondade e as múltiplas misericórdias de Deus. Fôssemos tão livres para dar expressão à nossa gratidão pelas misericórdias recebidas como somos para falar de mágoas, dúvidas e incredulidade, poderíamos levar alegria ao coração de outros, em vez de lançar desânimo e trevas sobre eles. Os murmuradores e queixosos, que estão sempre vendo desânimo pelo caminho, e falando de provas e dificuldades, devem contemplar o infinito sacrifício que Cristo fez em seu benefício. Então poderiam avaliar todas as suas bênçãos à luz da cruz. Enquanto contemplamos a Jesus, o Autor e Consumador de nossa fé, a quem nossos pecados traspassaram e nossas dores sobrecarregaram, teremos motivo para gratidão e louvor, e nossos pensamentos e desejos serão levados em sujeição à vontade de Cristo. T4 461 3 Nas graciosas bênçãos que nosso Pai celeste nos tem concedido discernimos inúmeras provas de um amor que é infinito, e uma terna piedade que supera a anelante compaixão de uma mãe para com seu filho extraviado. Quando estudamos o caráter divino à luz da cruz, vemos misericórdia, ternura e perdão unidos a eqüidade e justiça. Na linguagem de João exclamamos: "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Vemos no trono Aquele que traz nas mãos e pés e no lado as marcas do sofrimento suportado para reconciliar o homem com Deus e Deus com o homem. Incomparável misericórdia revela-nos um Pai infinito, que habita em luz inacessível, contudo nos recebendo para Si mesmo através dos méritos de Seu Filho. A nuvem de vingança, que ameaçava somente miséria e desespero, revela na luz refletida da cruz a escrita de Deus: Vivam pecadores, vivam! Almas penitentes e crentes, vivam! Eu paguei o resgate. T4 462 1 Temos de reunir-nos em torno da cruz. Cristo, e Ele crucificado, deve ser o tema de contemplação, de conversa e de nossas mais jubilosas emoções. Devemos ter essas entrevistas especiais a fim de conservar vivo em nossos pensamentos tudo que recebemos de Deus, e de exprimir nossa gratidão por Seu grande amor, e nossa boa vontade de confiar tudo às mãos que por nós foram pregadas à cruz. Devemos aqui aprender a falar a língua de Canaã, a cantar os hinos de Sião. Pelo mistério e glória da cruz podemos calcular o valor do ser humano, e então veremos e sentiremos a importância de trabalhar pelos nossos semelhantes, a fim de que sejamos exaltados ao trono de Deus. ------------------------Capítulo 41 -- A santidade dos votos T4 462 2 A breve mas terrível história de Ananias e Safira foi traçada pela pena da inspiração para benefício de todos quantos professam ser seguidores de Cristo. Essa importante lição não tem penetrado suficientemente no espírito de nosso povo. Seria proveitoso para todos considerarem refletidamente a natureza da séria ofensa pela qual esses culpados foram postos como exemplo. Essa assinalada demonstração da justiça retribuidora de Deus é terrível; repetir pecados que trouxeram tal punição deve levar todos a temerem e tremerem. Egoísmo foi o grande pecado que deformou o caráter desse culpado casal. T4 463 1 Juntamente com outros, Ananias e sua esposa Safira haviam tido o privilégio de ouvir o evangelho pregado pelos apóstolos. O poder de Deus apoiava a palavra falada, apoderando-se de todos os presentes profunda convicção. A enternecedora influência da graça de Deus tivera sobre o coração deles o efeito de libertá-los do seu apego egoísta às posses terrenas. Enquanto se achavam sob a direta influência do Espírito de Deus, fizeram o voto de dar ao Senhor certas terras; ao dissipar-se, porém, essa influência celeste, a impressão era menos forte, e eles começaram a duvidar e a recuar do cumprimento do voto que haviam feito. Pensaram que haviam sido muito precipitados, e queriam reconsiderar o assunto. Abriu-se assim uma porta pela qual Satanás entrou imediatamente, tomando-lhes posse da mente. T4 463 2 Esse caso deve ser uma advertência a todos para que se guardem da primeira aproximação de Satanás. Primeiro, foi nutrida a cobiça; depois, envergonhados de que os irmãos soubessem que sua alma egoísta tinha má vontade de dar aquilo que haviam solenemente consagrado e prometido a Deus, foi praticado o engano. Consideraram o assunto juntos, e decidiram deliberadamente reter parte do preço da herdade. Quando convictos de sua falsidade, o castigo deles foi morte instantânea. Sabiam que o Senhor, a quem haviam defraudado, havia-os achado; pois Pedro disse: "Por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus." Atos dos Apóstolos 5:3, 4. T4 463 3 Era necessário um exemplo especial a fim de guardar a jovem igreja de ficar desmoralizada, pois seu número crescia rapidamente. Era assim dada a todos os que professavam a Cristo naquele tempo, e a todos os que houvessem de professar-Lhe o nome posteriormente, a advertência de que Deus exige fidelidade no cumprimento dos votos. Não obstante esse assinalado castigo do engano e da mentira, os mesmos pecados têm sido muitas vezes repetidos na igreja cristã, e se acham largamente disseminados em nossos dias. Foi-me mostrado que Deus deu esse exemplo como advertência a todos os que fossem tentados a proceder semelhantemente. O egoísmo e a fraude são diariamente praticados na igreja no reter de Deus aquilo que Ele reivindica, roubando-O assim, e entravando Suas disposições para difundir a luz e o conhecimento da verdade pela extensão e largura da Terra. T4 464 1 Em Seus sábios planos, Deus fez com que o progresso de Sua obra fosse dependente dos esforços pessoais de Seu povo e de suas ofertas voluntárias. Aceitando a cooperação do homem no grande plano da salvação, Ele conferiu-lhe notável honra. O pastor não pode pregar a menos que seja enviado. A obra de comunicar a luz não depende unicamente do pastor. Toda pessoa, ao tornar-se membro da igreja, compromete-se a ser representante de Cristo mediante o viver a verdade que professa. Os seguidores de Cristo devem levar avante a obra que Ele lhes deixou a fazer quando ascendeu ao Céu. T4 464 2 Importa que se apóiem as instituições que são instrumentos de Deus no promover Sua obra na Terra. Devem-se construir igrejas, estabelecer escolas, e aparelhar as casas publicadoras com os recursos necessários à realização de uma grande obra na publicação da verdade a ser propagada por todas as partes do mundo. Essas instituições são ordenadas por Deus, e devem ser mantidas com dízimos e ofertas liberais. À medida que a obra se expande, necessitar-se-ão de recursos para que ela avance em todos os seus ramos. Os que se converteram à verdade e se fizeram participantes de Sua graça, podem tornar-se coobreiros de Cristo mediante sacrifícios e ofertas a Ele feitos voluntariamente. E quando os membros da igreja desejam, em seu coração, que não haja mais pedidos de recursos, estão na realidade dizendo que ficam satisfeitos com a falta de progresso da causa de Deus. T4 464 3 "E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus; e esta pedra, que tenho posto por coluna, será casa de Deus; e, de tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo." Gênesis 28:20-22. As circunstâncias que moveram Jacó a fazer este voto ao Senhor eram idênticas às que levam homens e mulheres a fazerem votos a Deus em nossos dias. Por meio de uma ação pecaminosa obtivera a bênção que, ele sabia, lhe fora prometida pela firme palavra de Deus. Assim fazendo, manifestara grande falta de fé no poder de Deus para realizar Seus desígnios, por mais desanimadoras que fossem as aparências no momento. Em vez de colocar-se na posição que ambicionara, viu-se obrigado a fugir para salvar a vida da ira de Esaú. Levando consigo apenas um cajado, devia atravessar centenas de quilômetros por uma região deserta. Desfaleceu-lhe o ânimo, e sentiu-se tomado de remorsos e timidez, buscando evitar os homens, para que seu irmão irado não o rastreasse. Não possuía a paz de Deus a confortá-lo; pois o atormentava a idéia de haver perdido a proteção divina. T4 465 1 Vai declinando o segundo dia de sua jornada. Jacó sente-se fatigado, com fome, sem lar, e julga-se desamparado por Deus. Sabe haver trazido isso sobre si mesmo em conseqüência de seu errado procedimento. Envolvem-no as sombras do desespero, e sente-se como um rejeitado. O coração é-lhe invadido de indizível terror, e mal ousa fazer sua oração. Está, porém, tão solitário, que sente, como nunca dantes, a necessidade da proteção divina. Chora e confessa diante de Deus o seu pecado, e pede uma prova de que Ele não o tenha desamparado por completo. O coração opresso, no entanto, não encontra alívio. Perdera toda a confiança em si mesmo, e teme que o Deus de seus pais o tenha rejeitado. Mas Deus, o misericordioso Deus, Se compadece daquele homem desolado, tomado de dor, que faz das pedras seu travesseiro, e não tem por cobertura senão a abóbada celeste. T4 465 2 Numa visão da noite, viu ele uma escada mística, cuja base descansava na Terra e cujo topo tocava o Céu, para além das estrelas. Anjos mensageiros subiam e desciam por essa escada de brilho refulgente, indicando-lhe o meio de comunicação entre a Terra e o Céu. E aos seus ouvidos chega uma voz que lhe renova a promessa de misericórdia e proteção e de bênçãos futuras. Quando Jacó despertou desse sonho, disse: "Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia." Gênesis 28:16. Olhou em volta de si como se esperasse ver os mensageiros celestes; mas seu olhar ansioso, errante, não divisou senão o indeciso contorno dos objetos terrestres, e em cima o céu repleto de estrelas cintilantes. A escada e os luminosos mensageiros haviam desaparecido, e só com a imaginação podia ele ver a gloriosa Majestade do alto. T4 466 1 Jacó ficou tomado de respeito diante do profundo silêncio da noite, e sentiu a vívida impressão de que se achava na presença imediata de Deus. O coração encheu-se-lhe de gratidão por não haver sido destruído. Não pôde mais conciliar o sono aquela noite; um profundo e fervoroso reconhecimento, impregnado de santa alegria, invadiu-lhe a alma. "Então, levantou-se Jacó pela manhã, de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela." Gênesis 28:18. E ali fez ele seu voto solene a Deus. T4 466 2 Jacó fez seu voto enquanto se achava refrigerado pelos orvalhos da graça, e revigorado pela presença e promessa de Deus. Após haver-se dissipado a glória divina, teve tentações, como os homens de nossos tempos; foi, no entanto, fiel ao voto que fizera, e não abrigou pensamentos quanto à possibilidade de ser libertado do que prometera. Poderia haver raciocinado em grande parte como o fazem hoje os homens, que aquela revelação fora apenas um sonho, que ele estava indevidamente emocionado quando fizera o voto, e que, portanto, não era necessário cumpri-lo; mas assim não fez. T4 466 3 Longos foram os anos transcorridos até que Jacó ousasse voltar a seu país; ao fazê-lo, porém, quitou fielmente sua dívida para com o Senhor. Tornara-se rico, e grande soma de seus bens passou ao tesouro de Deus. T4 466 4 Muitos falham hoje no ponto em que Jacó teve êxito. Aqueles a quem Deus tem dado mais, têm mais forte inclinação de reter o que possuem, visto deverem dar importância proporcional a seus bens. Jacó deu o dízimo de tudo quanto possuía, e depois calculou o dízimo que usara, e deu ao Senhor o benefício daquilo que estivera usando para o próprio proveito durante o tempo em que estivera em terra pagã, e não pudera pagar seu voto. Isto representava uma grande soma; no entanto, ele não hesitou; o que votara ao Senhor, não considerava como seu, mas do Senhor. T4 467 1 Segundo a importância concedida, será a soma requerida. Quanto maior o capital confiado, tanto maior a dádiva que Deus requer Lhe seja devolvida. Caso um cristão possua dez ou vinte mil dólares, os direitos de Deus sobre ele são imperativos no sentido de dar, não somente a proporção relativa ao sistema dizimal, mas de apresentar-Lhe as ofertas pelo pecado e as ofertas de gratidão. A dispensação levítica se caracterizava notadamente pela santificação da propriedade. Quando falamos do dízimo como a norma de contribuição dos judeus para fins religiosos, não falamos com compreensão. O Senhor colocava Seus direitos como prioridade, e quase todos os artigos faziam as pessoas se lembrarem do Doador por ser-lhes requerido fazer-Lhe devoluções. Exigia-se-lhes que pagassem o resgate dos primogênitos, das primícias dos rebanhos e das colheitas. Cumpria-lhes deixar os cantos de suas searas para os desamparados. Qualquer coisa que lhes caísse das mãos ao fazerem a colheita era deixada para os pobres, e a cada sete anos, as terras deviam ser deixadas livres, ficando para os necessitados o que elas produzissem espontaneamente. Além disso havia as ofertas sacrificais, ofertas por ofensas, ofertas pelo pecado, e a remissão, a cada sete anos, de todas as dívidas. Havia também numerosas despesas com hospitalidade e dádivas aos pobres, e havia impostos sobre suas propriedades. T4 467 2 A determinados períodos, a fim de conservar a integridade da lei, o povo era entrevistado quanto a sua fidelidade no cumprimento dos votos que haviam feito. Uma conscienciosa minoria devolvia a Deus cerca de um terço de toda a sua renda para benefício dos interesses religiosos e dos pobres. Essas exigências não se limitavam a uma classe particular do povo, tocavam a todos, sendo proporcionais às posses da pessoa. Além de todos esses donativos sistemáticos e regulares, havia objetivos especiais que pediam ofertas voluntárias, como o tabernáculo construído no deserto, e o templo erigido em Jerusalém. Esses pedidos vinham de Deus até o povo, e tanto serviam para a manutenção de Seu serviço quanto para o próprio bem deles. T4 468 1 Importa que haja entre nós, como um povo, um despertamento nessa questão. Poucos são os homens que sentem doer a consciência se negligenciarem o dever quanto à beneficência. Poucos, apenas, são possuídos de remorso por roubarem diariamente a Deus. Caso um cristão deliberada ou acidentalmente pague menos do que é devido a seu próximo, ou se recuse a liqüidar uma dívida honesta, sua consciência, a menos que se ache cauterizada, há de perturbá-lo; ele não pode sossegar, ainda que ninguém seja sabedor do fato senão ele próprio. Há muitos votos negligenciados e promessas por pagar, e no entanto quão poucos sentem a consciência turbada por causa disso! Quão poucos experimentam o sentimento de culpa por essa violação do dever! Precisamos sentir novas e mais profundas convicções a esse respeito. A consciência precisa ser despertada, e examinar-se o assunto com diligente atenção; pois no último dia ter-se-á de prestar contas a Deus, e Seus direitos serão apurados. T4 468 2 As responsabilidades do comerciante cristão, seja grande ou pequeno seu capital, estarão em exata proporção aos dons por ele recebidos de Deus. O engano das riquezas tem arruinado a milhares e dezenas de milhares. Esses ricos se esquecem de que são mordomos, e que se aproxima rapidamente o dia em que lhes será dito: "Dá contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Como nos é mostrado pela parábola dos talentos, todo homem é responsável pelo sábio emprego dos dons que lhe foram concedidos. O pobre homem da parábola, por ter o dom menor, sentiu ser menor a responsabilidade e não pôs em uso o talento que lhe fora confiado; portanto, foi lançado nas trevas exteriores. T4 468 3 Disse Cristo: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" Marcos 10:23. E os discípulos se admiraram de Sua doutrina. Quando um pastor que tem trabalhado com êxito no ganhar almas para Jesus Cristo abandona sua sagrada obra a fim de adquirir lucro temporal é chamado apóstata, e será responsável diante de Deus pelos talentos que aplicou mal. Quando homens de negócios, fazendeiros, mecânicos, comerciantes, advogados etc. tornam-se membros da igreja, passam a ser servos de Cristo; e embora seus talentos sejam inteiramente diversos, a responsabilidade que lhes cabe de promover a obra de Deus mediante o esforço pessoal e com seus recursos não é inferior à do pastor. O ai que cairá sobre o pastor caso ele não pregue o evangelho, cairá sobre o comerciante tão seguramente como sobre o pastor, se ele, com seus diversos talentos, não for um coobreiro de Cristo em produzir os mesmos resultados. Ao ser isto compreendido, alguns dirão: "Duro é esse discurso"; no entanto é verdadeiro, se bem que de contínuo contrariado pela prática de pessoas que professam ser seguidoras de Cristo. T4 469 1 Deus proveu pão para Seu povo no deserto mediante um milagre de misericórdia, e poderia haver provido tudo quanto era necessário para a cerimônia religiosa; não o fez, porém, porque em Sua infinita sabedoria, viu que a disciplina moral de Seu povo dependia de eles cooperarem com Ele, cada um fazendo alguma coisa. Enquanto a verdade for progressiva, vigoram sobre os homens as reivindicações de Deus, no que respeita a dar daquilo que Ele lhes concedeu para esse fim. Deus, o Criador do homem, instituindo o plano da doação sistemática, fez com que a obra pesasse igualmente sobre todos, segundo as diversas aptidões que possuem. Cada um tem de decidir suas próprias contribuições, sendo deixado na liberdade de dar segundo se propôs em seu coração. Existem, porém, pessoas culpadas do mesmo pecado de Ananias e Safira, pensando que, se eles retêm uma parte daquilo que Deus lhes requer no sistema do dízimo, os irmãos nunca o saberão. Isso pensou o culpado casal cujo exemplo nos é dado como advertência. Nesse caso, Deus prova que Ele sonda o coração. Os motivos e desígnios do homem não se Lhe podem encobrir. Ele deixou perpétua advertência aos cristãos de todas as épocas a fim de estarem alerta contra o pecado a que o coração humano está sempre inclinado. T4 469 2 Embora não sejam notadas hoje as demonstrações do desagrado de Deus às repetições do pecado de Ananias e Safira, o mesmo pecado é tão odioso aos olhos de Deus como então, e será com a mesma certeza cobrado do transgressor no dia do juízo; e muitos sentirão a maldição de Deus mesmo nesta vida. Quando se faz uma promessa à causa, isso é um voto feito a Deus, e deve ser mantido como sagrado. À vista de Deus não é nada menos que sacrilégio aproveitar-nos, para o próprio uso, daquilo que foi uma vez votado para promover Sua sagrada obra. T4 470 1 Quando um compromisso verbal ou escrito foi tomado em presença de nossos irmãos, de dar determinada importância, eles são as testemunhas visíveis de um contrato feito entre nós e Deus. A promessa não foi feita ao homem, mas a Deus, e é como uma nota escrita dada a um semelhante. Nenhuma promissória legal é mais obrigatória para um cristão quanto ao pagamento do dinheiro, do que uma promessa feita ao Senhor. T4 470 2 As pessoas que assim se comprometem com seus semelhantes, geralmente não pensam em pedir liberação dos compromissos. Um voto feito a Deus, doador de todas as dádivas, é ainda de maior importância; então, por que havemos nós de buscar ser dispensados de nossos votos a Deus? Considerará o homem seu voto menos obrigatório pelo fato de ser feito ao Senhor? Porque esse voto não será levado a juízo nos tribunais de justiça, é ele menos válido? Há de um homem que professa estar salvo pelo sangue do infinito sacrifício de Jesus Cristo "roubar a Deus"? Não são seus votos e suas ações pesados nas balanças da justiça nas cortes celestes? T4 470 3 Cada um de nós tem um caso pendente no tribunal do Céu. Há de nossa conduta contrabalançar as provas que nos são contrárias? O caso de Ananias e Safira foi do mais agravante caráter. Guardando parte do preço, mentiram ao Espírito Santo. Da mesma maneira, pesam culpas sobre todo indivíduo, proporcionalmente às ofensas dessa natureza. Quando o coração dos homens é abrandado pela presença do Espírito de Deus, eles são mais susceptíveis às impressões do Espírito Santo, e tomam resoluções no sentido de negar ao próprio eu e sacrificar-se pela causa de Deus. É quando a luz divina ilumina o mais íntimo da mente com clareza e poder incomuns, que os sentimentos do homem natural são vencidos, que o egoísmo perde sua força sobre o coração, e despertam-se desejos de imitar o Modelo, Jesus Cristo, no exercer beneficência e abnegação. A disposição do homem naturalmente egoísta, torna-se assim bondosa e compassiva para com os pecadores perdidos, e ele faz um voto solene a Deus, como fizeram Abraão e Jacó. Nessas ocasiões acham-se presentes anjos celestes. O amor para com Deus e as almas triunfa sobre o egoísmo e sobre o amor ao mundo. Isso, especialmente, quando o pregador, no Espírito e poder de Deus, apresenta o plano da redenção, estabelecido pela Majestade do Céu no sacrifício da cruz. Podemos ver, pelos textos seguintes, como o Senhor considera a questão dos votos: T4 471 1 "E falou Moisés aos cabeças das tribos dos filhos de Israel, dizendo: Esta é a palavra que o Senhor tem ordenado: Quando um homem fizer voto ao Senhor ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra; segundo tudo o que saiu da sua boca, fará." Números 30:1, 2. "Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão Se iraria Deus contra a tua voz, de sorte que destruísse a obra das tuas mãos?" Eclesiastes 5:6. "Entrarei em Tua casa com holocaustos; pagar-Te-ei os meus votos, que haviam pronunciado os meus lábios, e dissera a minha boca, quando eu estava na angústia." Salmos 66:13, 14. "Laço é para o homem dizer precipitadamente: É santo; e, feitos os votos, então inquirir." Provérbios 20:25. "Quando votares algum voto ao Senhor, teu Deus, não tardarás em pagá-lo; porque o Senhor, teu Deus, certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti. O que saiu da tua boca guardarás e o farás, mesmo a oferta voluntária, assim como votaste ao Senhor, teu Deus, e o declaraste pela tua boca." Deuteronômio 23:21-23. T4 471 2 "Fazei votos e pagai ao Senhor, vosso Deus; tragam presentes, os que estão em redor dEle, Àquele que é tremendo." Salmos 76:11. "Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é impura, e o seu produto, a sua comida, é desprezível. E dizeis: Eis aqui, que canseira! e o lançastes ao desprezo, diz o Senhor dos Exércitos; vós ofereceis o roubado, e o coxo e o enfermo; assim fazeis a oferta; ser-Me-á aceito isto de vossa mão? diz o Senhor. Pois maldito seja o enganador que, tendo animal no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque Eu sou grande Rei, diz o Senhor dos Exércitos, o Meu nome será tremendo entre as nações." Malaquias 1:12-14. T4 472 1 "Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não Se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues." Eclesiastes 5:4, 5. T4 472 2 Deus deu ao homem uma parte em efetuar a salvação de seus semelhantes. Ele pode trabalhar em ligação com Cristo, mediante o praticar atos de misericórdia e beneficência. Mas não os pode redimir, pois não é apto a satisfazer os reclamos da justiça ofendida. Isto, unicamente o Filho de Deus pode fazer, pondo de parte Sua honra e glória, revestindo Sua divindade com humanidade, e vindo à Terra para humilhar a Si mesmo, e derramar o próprio sangue em favor da raça humana. T4 472 3 Ao comissionar os discípulos a irem "por todo o mundo" e pregarem "o evangelho a toda a criatura" (Marcos 16:15), Cristo designou aos homens a obra de propagarem o evangelho. Enquanto, porém, alguns vão a pregar, Ele pede a outros que Lhe atendam às reivindicações quanto aos dízimos e ofertas com que se possa sustentar o ministério e disseminar a verdade impressa pela Terra inteira. Esse é o meio pelo qual Deus quer exaltar o homem. É justamente a obra de que ele necessita; pois moverá as mais profundas simpatias de seu coração, chamando à ação as mais elevadas faculdades mentais. T4 472 4 Tudo quanto na Terra existe de bom, foi aqui colocado pela generosa mão de Deus, como expressão de Seu amor ao homem. Os pobres são Seus, e Sua é a causa da religião. Ele pôs recursos nas mãos dos homens, para que Seus divinos dons fluam por intermédio de condutos humanos no realizar a obra a nós designada em salvar nossos semelhantes. Cada um tem uma tarefa designada no grande campo; e todavia ninguém deve conceber a idéia de que o Senhor depende do homem. Ele poderia proferir a palavra, e todo filho da pobreza ser enriquecido. Num momento poderia Ele curar a raça humana de todas as suas doenças. Poderia dispensar todos os pastores, e tornar os anjos embaixadores de Sua verdade. Poderia haver escrito a verdade no firmamento, ou impresso nas folhas das árvores e nas flores do campo; ou poderia, com voz audível, havê-la proclamado do Céu. O onisciente Deus, no entanto, não escolheu nenhum desses meios. Sabia que o homem precisava de ter algo a fazer de modo que a vida lhe fosse uma bênção. O ouro e a prata pertencem ao Senhor, e ser-Lhe-ia possível fazer chover os mesmos do Céu, se assim quisesse; em lugar disso, no entanto, Ele fez o homem Seu mordomo, confiando-lhe recursos, não para serem amontoados, mas empregados em beneficio dos outros. Assim torna Ele o homem o instrumento pelo qual distribui Suas bênçãos na Terra. Deus planejou o sistema de beneficência a fim de que o homem se tornasse como seu Criador, benevolente e de caráter altruísta, vindo a ser afinal participante com Ele da recompensa eterna e gloriosa. T4 473 1 Deus atua por meio de instrumentos humanos; e quem quer que desperte a consciência dos homens, induzindo-os às boas obras e ao real interesse no avançamento da causa da verdade, não o faz por si mesmo, mas pelo Espírito de Deus a atuar nele. As promessas feitas em tais circunstâncias são de caráter sagrado, sendo fruto da atuação do Espírito do Senhor. Ao serem esses compromissos satisfeitos, o Céu aceita a oferta, e esses obreiros liberais são creditados pela importância investida no banco celeste. Os que assim procedem estão pondo um bom fundamento contra o tempo por vir, de modo a lançarem mão da vida eterna. T4 473 2 Quando, porém, a imediata presença do Espírito de Deus não é tão vividamente sentida, e a mente fica presa aos interesses temporais da vida, eles são tentados a duvidar da validade da obrigação que voluntariamente assumiram; e, cedendo às sugestões de Satanás, raciocinam que houve sobre eles indevida pressão, e que agiram sob a emoção do momento; que as necessidades de recursos para uso da causa de Deus foram exageradas; e que foram induzidos a comprometer-se movidos por falsos motivos, sem compreenderem bem o assunto, e, portanto, desejam ser dispensados. Têm os pastores poder para aceitar suas desculpas, e dizer: "O irmão não ficará preso a sua promessa; está livre de seu voto"? Caso ousem fazer isso, tornam-se participantes do pecado daquele que retém o que prometeu. T4 474 1 Devemos fazer ao Senhor a primeira doação de todas as nossas receitas. No sistema de beneficência ordenado aos judeus, ou deles se exigia que levassem ao Senhor as primícias de todas as Suas dádivas, fosse aumento de seus rebanhos e manadas ou no produto dos campos, pomares ou vinhedos, ou deveriam eles redimi-las, dando em substituição o equivalente. Quão diversa é a ordem de coisas nos nossos dias! As reivindicações e exigências do Senhor são deixadas para o fim, se é que recebem alguma atenção. No entanto, nosso trabalho necessita dez vezes mais recursos agora do que necessitavam os judeus. A grande comissão dada aos apóstolos foi a de irem a todo o mundo pregar o evangelho. Mostra isso a extensão da obra, e a crescente responsabilidade que repousa sobre os seguidores de Cristo, nos nossos dias. Se a lei exigia dízimos e ofertas milhares de anos atrás, quão mais necessários são eles agora! Se ricos e pobres deviam dar uma importância proporcional a sua prosperidade, na economia judaica, isso agora é duplamente indispensável. T4 474 2 A maioria dos professos cristãos dispõe de seus recursos com grande relutância. Muitos deles não dão a vigésima parte de sua renda a Deus, e muitos dão menos ainda do que isso; enquanto há uma grande classe que rouba a Deus do pequeno dízimo, outros há que darão somente o dízimo. Se todos os dízimos de nosso povo fluíssem para o tesouro do Senhor como deviam, seriam recebidas bênçãos tais que as dádivas e ofertas para propósitos sagrados seriam multiplicadas dez vezes, e assim a ligação entre Deus e o homem seria mantida aberta. Os seguidores de Cristo não devem esperar por apelos missionários emocionantes para despertá-los à ação. Se espiritualmente despertos, ouviriam na renda de cada semana, seja muito ou pouca, a voz de Deus e da consciência com autoridade exigindo os dízimos e ofertas devidas ao Senhor. T4 475 1 As dádivas e esforços dos seguidores de Cristo são não só desejáveis, mas em certo sentido indispensáveis. O Céu inteiro está interessado na salvação dos seres humanos, e esperando que eles se tornem interessados em sua própria salvação, e na de seus semelhantes. Todas as coisas estão prontas, mas a igreja está aparentemente sobre terreno encantado. Quando despertarem e apresentarem suas orações, sua riqueza e todas as suas energias e recursos aos pés de Jesus, a causa da verdade triunfará. Anjos se surpreendem de que os cristãos façam tão pouco, em face de um tal exemplo como dado por Jesus que não poupou a Si mesmo da morte -- uma morte vergonhosa. Eles ficam admirados de que, quando professos cristãos têm contato com o egoísmo do mundo, cedem à sua visão estreita e motivos egoístas. T4 475 2 Um dos maiores pecados no mundo cristão de hoje é a dissimulação e a avareza no trato com Deus. Há da parte de muitos um crescente descuido em relação ao satisfazer os compromissos com as várias instituições e empreendimentos religiosos. Muitos consideram o ato de comprometer-se como se não impusesse nenhuma obrigação de pagar. Se pensam que seu dinheiro lhes trará considerável lucro sendo investido em ações bancárias ou em mercadorias, ou se há pessoas ligadas à instituição a quem prometeram ajudar e para quem fazem exceções, sentem-se perfeitamente à vontade para usar seus recursos segundo lhes apraz. Esta falta de integridade prevalece em considerável proporção entre os que professam guardar os mandamentos de Deus e aguardar o breve aparecimento do seu Senhor e Salvador. T4 475 3 O plano da benevolência sistemática foi do próprio arranjo de Deus; mas o fiel pagamento das reivindicações de Deus é muitas vezes recusado ou retardado, como se promessas solenes nada significassem. É porque membros da igreja negligenciam devolver seus dízimos e cumprir seus votos que nossas instituições não estão livres de dificuldades. Se todos, tanto ricos quanto pobres, trouxessem seus dízimos à casa do tesouro, haveria suprimento suficiente de recursos para livrar a causa de dificuldades financeiras, e nobremente levar avante o trabalho missionário em seus vários departamentos. Deus chama aqueles que crêem na verdade para submeterem a Ele as coisas que são dEle. Os que julgam que reter de Deus é ganho, finalmente experimentarão a maldição divina como resultado de roubar ao Senhor. Nada senão completa incapacidade de pagar pode justificar alguém de negligenciar atender prontamente às suas obrigações para com o Senhor. A indiferença nessa questão mostra que estão em cegueira e engano, e são indignos do nome de cristão. T4 476 1 A igreja é responsável pelos compromissos de seus membros individuais. Uma vez que vejam que um irmão está negligenciando cumprir seus votos, devem trabalhar bondosa e claramente com ele. Caso o irmão não esteja em condições de pagar seu voto, e seja um membro digno e de coração voluntário, ajude-o então a igreja compassivamente. Assim poderão transpor a dificuldade, e receber eles próprios uma bênção. Deus quer que os membros de Sua igreja considerem seus compromissos para com Ele tão obrigatórios como as dívidas que tenham no comércio. Que todos passem em revista sua vida passada, e vejam se não há quaisquer compromissos por pagar e redimir, os quais foram negligenciados, fazendo então especiais esforços para pagar até "ao último ceitil" (Mateus 5:26); pois havemos todos de enfrentar e suportar a decisão final de um tribunal a cuja prova só poderão resistir a integridade e a veracidade. ------------------------Capítulo 42 -- Testamentos e legados T4 476 2 "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam." Mateus 6:19, 20. O egoísmo é um pecado que destrói a alma. A esta classe pertence a cobiça, que é idolatria. Todas as coisas pertencem a Deus. Toda a prosperidade de que desfrutamos é o resultado da beneficência divina. Deus é o grande e generoso Doador. Se Ele, pois, requer uma parte qualquer do que nos tem dado em abundância, não é para com isso Se enriquecer com as nossas dádivas, pois nada necessita de nossas mãos. Seu objetivo é dar-nos oportunidade de exercer abnegação, amor e simpatia para com os nossos semelhantes, e sermos desse modo grandemente elevados. Em cada dispensação, desde os dias de Adão até hoje, Deus tem reivindicado o ser humano como propriedade Sua, dizendo: Eu sou o legítimo dono do Universo; por isso peço que Me consagrem suas primícias, tragam um tributo de lealdade, entreguem a Mim o que é Meu, reconhecendo assim a Minha soberania, então serão livres para preservar e desfrutar Minha generosidade, e Minha bênção estará com vocês. "Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda." Provérbios 3:9. T4 477 1 As reivindicações de Deus têm a primazia. Não fazemos Sua vontade quando Lhe consagramos aquilo que resta depois de suprir nossas supostas necessidades. Antes de gastarmos uma só parcela de nossos rendimentos devemos separar e oferecer a Deus a parte que de nós requer. Na antiga dispensação uma oferta em ações de graças era conservada sempre queimando sobre o altar, evidenciando assim a eterna obrigação em que estamos para com Deus. Se somos prósperos em nossos negócios seculares, é porque Deus nos abençoa. Uma parte de nossa renda deve ser consagrada aos pobres e uma grande parte à causa de Deus. Se dermos a Deus o que Ele pede, o restante será santificado e abençoado em proveito nosso. Porém, se alguém rouba a Deus retendo a parte que Ele requer, a maldição recai sobre tudo que possui. T4 477 2 Deus constitui os seres humanos como condutos através dos quais devem fluir os recursos para custear a obra que pretende realizar no mundo. Conferiu-lhes bens que deverão saber usar sabiamente, não os acumulando egoistamente ou empregando-os extravagantemente no luxo e em satisfazer a si próprios, quer no vestuário quer no adorno de sua casa. Confiou-lhes recursos para com eles suprir as necessidades de Seus servos que trabalham como missionários e pregadores, e para manter as instituições que Ele estabeleceu entre nós. Os que se regozijam na preciosa luz da verdade devem experimentar um desejo ardente de enviá-la a toda parte. Temos alguns fiéis porta-bandeiras que nunca se esquivam a seus deveres nem evitam responsabilidades. Seu coração e bolsa estão sempre abertos a todo pedido de recursos para promover a causa de Deus. Com efeito, alguns parecem até exceder a justa medida de sua obrigação, como que receando perder a oportunidade de depositar sua parte no banco do Céu. Há outros que fazem o mínimo possível. Esses, se não acumulam seus bens, os dissipam, só contribuindo relutantemente com uma pequena parte para a obra de Deus. Quando fazem uma promessa ou voto a Deus, arrependem-se mais tarde, e protelam o pagamento tanto quanto podem, ou não pagam. Calculam o dízimo o mais escassamente possível, como se considerassem perdido o que restituem a Deus. Podem as nossas várias instituições sentir-se embaraçadas por falta de recursos, mas eles continuam se portando como se não lhes importasse a sua subsistência. E, contudo, são instrumentos pelos quais Deus Se propõe iluminar o mundo! T4 478 1 Essas instituições não recebem, como outras do mesmo ramo, doações ou legados. E, contudo, Deus as tem abençoado e feito prosperar grandemente, servindo-Se delas para a realização de grande bem. Há pessoas de idade entre nós que estão se aproximando do término de seu tempo de graça, mas por falta de homens inteligentes que saibam assegurar as propriedades dessas pessoas para a obra de Deus, elas passam para as mãos dos que servem a Satanás. Esses recursos lhes foram apenas emprestados por Deus para Lhe serem devolvidos, mas em nove casos dentre dez esses irmãos, ao cessarem seu período de atividade, dispõem da propriedade de Deus de um modo que não O glorifica, pois nem um centavo da mesma jamais irá para a tesouraria do Senhor. Nalguns casos esses irmãos aparentemente bons tiveram conselheiros não consagrados, que os aconselharam segundo seu ponto de vista e não de acordo com o pensamento de Deus. Muitas vezes os bens são legados a filhos ou netos apenas para seu próprio prejuízo. Eles não têm amor por Deus ou pela verdade, e por isso todos esses bens que pertencem a Deus, passam para as fileiras de Satanás para serem controlados por ele. Satanás é muito mais vigilante, perspicaz e hábil para conseguir recursos para si do que são os nossos irmãos para assegurar a propriedade de Deus para Sua obra. Muitos testamentos foram feitos de modo tão vago que não tiveram validade perante a lei, e deste modo grandes somas para a causa foram perdidas. Nossos irmãos devem reconhecer que sobre eles, como fiéis servos na causa de Deus, pesa a responsabilidade de agir prudentemente nesses casos, a fim de assegurar para o Senhor o que Lhe pertence. T4 479 1 Muitos manifestam nesse aspecto uma delicadeza descabida. Procedem como se estivessem pisando terreno proibido quando apresentam a pessoas de idade avançada ou inválidos o assunto de seus bens, a fim de saber como pretendem dispor deles. Entretanto, é este um dever tão sagrado como pregar o evangelho para a salvação de almas. Consideremos uma pessoa que tem dinheiro e propriedades de Deus em suas mãos. Ela está prestes a transferir sua mordomia. Colocará ela os recursos, que de Deus recebeu emprestados para serem usados em Sua obra, nas mãos de ímpios, simplesmente por serem estes seus parentes? Não devem homens cristãos tomar o devido interesse e experimentar ansiedade, tanto pelo bem-estar futuro dessa pessoa como pelos interesses da causa de Deus, a fim de que disponha retamente dos bens de seu Senhor -- os talentos que lhe foram confiados para sábio uso? Quererão seus irmãos que a assistem, vê-la deixar esta vida, ao mesmo tempo privando de recursos a tesouraria de Deus? Isto significaria uma perda tremenda para ela e para a causa; porque, abandonando seus talentos nas mãos de indivíduos que não têm nenhuma consideração pela verdade divina, de caso pensado coloca os talentos em um lenço e os esconde na terra. T4 479 2 Deus deseja que Seus seguidores disponham pessoalmente de seus bens, enquanto isso lhes seja possível. Dirá alguém: "Temos porventura de renunciar a tudo que consideramos nossa propriedade?" Pode isto não nos ser exigido ainda, mas devemos estar prontos a fazê-lo por amor de Cristo. Devemos reconhecer que nossas propriedades são totalmente Suas, e usá-las liberalmente quando o progresso da obra o exigir. Muitos fecham os ouvidos aos pedidos de dinheiro para enviar missionários ao estrangeiro, e para a difusão da verdade por meio de impressos que devem ser espalhados por todo o mundo como folhas de outono. Essas pessoas justificam sua avareza, alegando que tomaram disposições que deverão revelar sua caridade por ocasião da morte. Na disposição de sua última vontade, contemplaram a obra de Deus. Por isso conduzem uma vida de avareza, roubam a Deus nos dízimos e ofertas, e pelo seu testamento Lhe restituem apenas pequena parte do que lhes confiou, enquanto a parte maior reverte para os parentes, que não tomam nenhum interesse pela verdade. Constitui esta uma das piores formas de roubo. Roubam a Deus daquilo que Lhe devem, e isto não só durante a vida mas também na morte. T4 480 1 É completa loucura deixar até quase à hora da morte a preparação para a vida futura. É também um erro grave protelar a resposta aos apelos de liberalidade para a obra de Deus, até o tempo de transferir a outros a mordomia. Aqueles a quem confiarem os talentos que de Deus receberam podem não administrá-los assim como vocês o têm feito. Como poderão pessoas abastadas arriscar-se a tanto? Os que esperam até à hora da morte para dispor sobre seus bens, parece que o fazem mais por causa da morte do que por amor a Deus. Assim procedendo, muitos estão agindo em oposição direta ao plano que Deus estabeleceu em Sua Palavra. Se quiserem fazer bem, devem aproveitar os preciosos momentos do presente, e empenhar todos os esforços, como que temendo perder a oportunidade favorável para o fazer. T4 480 2 Os que negligenciam deveres de que estão perfeitamente inteirados, deixando de corresponder às reivindicações que Deus lhes faz nesta vida, e procurando acalmar a consciência com o propósito de por ocasião de sua morte estabelecer um legado, não receberão da parte do Mestre palavras de aprovação nem recompensa. Eles não praticaram abnegação, mas retiveram egoistamente seus recursos enquanto puderam, renunciando-os só quando a morte os levou. Se fossem cristãos verdadeiros, praticariam em vida, estando ainda sãos e fortes, o que transferem até estarem prestes a morrer. Dedicariam a Deus o próprio ser e o que possuem, e conquanto agindo como Seus mordomos, teriam a satisfação de estar cumprindo seu dever. Como executores de seus próprios testamentos poderiam por si mesmos satisfazer às reivindicações divinas, em vez de deixar a responsabilidade disso a outros. Devemos considerar-nos despenseiros da propriedade do Senhor, e a Deus como Proprietário absoluto, a quem devemos entregar o que é Seu, quando Ele o requer. Quando Ele vier para receber com juros o que Lhe pertence, os cobiçosos se persuadirão de que, em vez de ter multiplicado seus talentos, acarretaram sobre si mesmos a condenação pronunciada contra o servo mau e infiel. T4 481 1 O Senhor deseja que a morte de Seus servos seja sentida como uma perda por causa da boa influência que exerceram e das muitas ofertas voluntárias que entregaram para abastecer o tesouro de Deus. Legados deixados ao morrer são uma miserável compensação da beneficência que se deveria praticar em vida. Os servos de Deus devem fazer seus legados todos os dias por meio de boas obras e ofertas liberais ao Senhor. Não devem contentar-se com dar a Deus uma porção desproporcionadamente pequena, em comparação ao que gastam consigo mesmos. Ao fazer seus legados cada dia, lembrarão dos objetivos e amigos que maior lugar ocupam em suas afeições. Seu melhor amigo é Cristo. Ele não lhes negou a própria vida, e por amor deles Se fez pobre para que por Ele enriquecessem. Merece, portanto, todo o nosso coração, nossos bens, tudo quanto temos e somos. Mas muitos supostos cristãos protelam em vida as reivindicações de Jesus e O insultam na morte, dando-Lhe uma parte mesquinha de seus bens. Lembrem-se todos que estiverem nessa classe de que essa maneira de roubar a Deus não é um ato impulsivo, mas um plano premeditado que eles prefaciam dizendo: "Estando em pleno uso de suas faculdades mentais." Depois de haverem defraudado a obra de Deus durante a vida, perpetuam essa fraude após a morte e com pleno apoio de todas as faculdades mentais. Tal testamento muitos consideram um suave travesseiro em que reclinar a cabeça na hora da morte. Representa uma espécie de preparação para a morte, e é arranjado de modo que seus bens não os perturbem ao exalarem o último alento. Poderão essas pessoas descansar tranqüilamente a respeito das contas que lhes hão de ser pedidas de sua mordomia? T4 481 2 Devemos ser todos ricos em boas obras se queremos garantir-nos a vida futura e imortal. Quando o juízo se instituir e os livros forem abertos, cada qual será julgado e recompensado segundo as suas obras. Muitos nomes que estão inscritos nos livros da igreja, estão arrolados no livro de registro do Céu como "defraudadores". E a menos que essas pessoas se arrependam, e trabalhem para o Mestre com desinteressada benevolência, hão de compartilhar a sorte do mordomo infiel. T4 482 1 Sucede muitas vezes que um ativo homem de negócios é arrebatado pela morte sem prévio aviso, e acharem-se seus negócios em condição embaraçosa. No empenho de pô-los em ordem, uma grande parte dos bens dessa pessoa, senão tudo, é consumida em honorários aos advogados, ficando a família e a causa de Cristo defraudadas daquilo que lhes seria devido. Os que são fiéis mordomos dos recursos do Senhor saberão exatamente como andam seus negócios e, como homens sensatos, estarão preparados para qualquer emergência. Se porventura seu tempo de graça terminar inesperadamente, não acarretarão tão grandes perplexidades aos que forem incumbidos de acertar seu espólio. T4 482 2 Muitos não estão informados acerca da questão de fazer o testamento quando se acham ainda aparentemente com saúde. Essa precaução deve, entretanto, ser tomada por nossos irmãos. Devem saber qual sua situação financeira, e não permitir que seus negócios se embaracem. Devem arranjar sua propriedade de tal maneira que a possam deixar a qualquer tempo. T4 482 3 Os testamentos devem ser feitos de acordo com as prescrições legais. Depois de feitos, eles podem ser conservados durante anos e não causarão prejuízo se continuarem contribuindo para a obra conforme suas necessidades. A morte, meus irmãos, não se antecipará um dia sequer por terem feito seu testamento. Ao dispor de seus bens por testamento a favor de seus parentes não se esqueçam da obra de Deus. Vocês são Seus instrumentos, incumbidos de zelar por Sua propriedade; e Suas reivindicações devem merecer sua principal consideração. A esposa e os filhos, naturalmente, não devem ficar ao abandono; provisões devem ser feitas para eles caso necessitem. Vocês não devem, porém, simplesmente por ser costume, contemplar em seu testamento uma longa lista de parentes que não estão em necessidade. T4 482 4 Devem lembrar-se sempre de que o atual sistema egoísta de dispor dos bens não é conforme o plano de Deus, mas simplesmente invenção humana. Os cristãos devem ser reformadores e romper com esse sistema, dando uma feição inteiramente nova à maneira de fazer testamentos. Tenham sempre presente que é da propriedade de Deus que vão dispor. A vontade divina deve ser lei neste particular. Suponham que alguém lhes houvesse instituído executor de seu testamento, acaso não fariam diligência em inteirar-se da vontade do testador, a fim de que a menor quantia tivesse sua aplicação justa? Seu Amigo celestial lhes confiou propriedades, manifestando-lhes Sua vontade quanto ao modo por que devem ser usadas. Se essa Sua vontade for acatada com coração altruísta, aquilo que pertence a Deus não será mal aplicado. A causa do Senhor tem sido vergonhosamente negligenciada, ao passo que Ele deu aos homens recursos suficientes com que fazer face a todas as emergências, se apenas fossem dotados de coração grato e obediente. T4 483 1 Os que fazem seu testamento não devem imaginar que acabam aqui suas obrigações, mas sim desenvolver constante atividade, usando seus talentos para o engrandecimento da causa de Deus. Deus delineou planos segundo os quais todos podem cooperar diligentemente na distribuição de seus recursos. Deus não Se propõe sustentar Sua obra por meio de milagres. Ele tem alguns poucos mordomos fiéis, que estão economizando e usando seus recursos para promover Sua obra. A abnegação e a beneficência, longe de constituírem a exceção, devem ser a regra. As crescentes necessidades da obra de Deus requerem recursos. Chegam-nos constantemente pedidos do país e do estrangeiro, solicitando missionários que lhes ensinem a luz da verdade. Isto significa aumento de obreiros e acréscimo de despesas para sua manutenção. T4 483 2 Apenas uma pequena soma entra para os tesouros do Senhor, a fim de ser aplicada no trabalho de salvar almas, e é a muito custo que até mesmo essa soma é obtida. Se pudessem ser abertos os olhos de todos, de modo a poderem verificar como a cobiça tem impedido o progresso da obra de Deus, e quanto mais poderia ser realizado se todos agissem de conformidade com o plano divino dos dízimos e ofertas, uma reforma decisiva se notaria da parte de muitos; pois não ousariam impedir o avanço da causa de Deus como até aqui o têm feito. A igreja tem os olhos fechados ao trabalho que poderia fazer, se renunciasse a tudo por amor de Cristo. O verdadeiro espírito de sacrifício seria uma prova da realidade e do poder do evangelho, que o mundo não poderia interpretar mal nem negar, e abundantes bênçãos adviriam daí para a igreja. T4 484 1 Eu exorto meus irmãos a não mais defraudarem a Deus. A situação de alguns é tal que precisam fazer testamento. Ao fazê-lo, precisam cuidar para que não seja legado aos filhos o que deve entrar para o tesouro de Deus. Esses testamentos não raro se tornam um ponto de discórdia e dissensões. Em honra do antigo povo de Deus foi relatado que Ele não Se envergonhou de ser chamado seu Deus; e a razão alegada era que, em vez de buscarem seus próprios interesses e cobiçarem bens terrestres, devotavam a si mesmos e tudo quanto possuíam ao Senhor. Viviam tão-somente para Sua glória, declarando expressamente que buscavam outra pátria melhor, isto é, a celestial. De tal povo Deus não Se envergonhou. Não O desonravam aos olhos do mundo. A Majestade suprema não desdenhou chamá-los irmãos. T4 484 2 Há muitos que alegam não poder fazer mais a favor da causa do que estão presentemente fazendo; entretanto, não contribuem de acordo com suas posses. O Senhor muitas vezes lhes abre os olhos, cegados pelo egoísmo, reduzindo-lhes as rendas àquilo que estão dispostos a dar. O gado lhes morre no campo ou no estábulo, a casa ou celeiro é destruído pelo fogo, ou lhes falha a colheita. Em muitos casos Deus prova o homem com bênçãos e, em se manifestando a infidelidade quanto aos dízimos e ofertas, essas bênçãos são retiradas. "O que semeia pouco, pouco também ceifará." 2 Coríntios 9:6. Pela graça de Cristo e pela abundância de Suas misericórdias, e honra da verdade e da religião, nós os exortamos a dedicar de novo a Deus seu ser e a propriedade. Que cada qual, em vista do amor e da compaixão manifestados por Cristo em deixar a corte celeste a fim de sofrer renúncias, humilhação e morte, se proponha esta pergunta: "Quanto devo ao meu Senhor?", permitindo que suas ofertas de gratidão correspondam ao apreço em que têm o dom do Céu, na dádiva do Filho unigênito de Deus. T4 485 1 Ao determinar a proporção da oferta a dar para a causa de Deus, deve-se de preferência exceder às exigências do dever a não cumpri-las. Considerem a quem a oferta é destinada. Essa reflexão banirá a cobiça. Pensem somente no grande amor com que Cristo nos amou, e a mais preciosa oferta parecerá indigna de Sua aceitação. Se Cristo for o objeto de nossas afeições, os que recebemos a graça do Seu perdão não nos demoraremos a avaliar o preço do vaso de alabastro que contém o precioso ungüento. O cobiçoso Judas foi capaz de tanto, mas o que partilhou a graça da salvação somente lamentará que sua oferta não tenha perfume mais fino e de maior valor. Os cristãos devem considerar-se como simples condutos através dos quais as misericórdias e bênçãos divinas devem transmitir-se da Fonte de toda bondade aos semelhantes, por cuja conversão ondas de glória deveriam reverter ao Céu em louvor e ações de graças pelos que com eles se tornaram participantes do dom celestial. ------------------------Capítulo 43 -- Relacionamento entre os membros da igreja T4 485 2 Todo indivíduo que se propõe vencer terá de lutar primeiramente contra as próprias fraquezas; e como é muito mais fácil descobrir erros em outros do que em si mesmo, importa haver muito mais cuidado e mais rigor no julgamento dos próprios atos do que nos alheios. T4 485 3 Todos os membros da igreja, se são filhos e filhas de Deus, terão de se submeter a um processo de disciplina, antes que possam constituir-se luzes neste mundo. Deus não fará condutos de luzes a pessoas que, estando em trevas, se contentam de nelas permanecer, sem fazer nenhum esforço especial para pôr-se em comunicação com a fonte da luz. Os que sentem as suas necessidades e se despertam para nelas meditar profundamente, oram e agem séria e perseverantemente, obterão auxílio de Deus. Há muito a desaprender no que respeita à própria pessoa, como também há muito a aprender. Velhos hábitos e costumes precisam ser renunciados e é somente mediante um esforço sério e persistente para corrigir esses erros, e a prática dos princípios da verdade, que, pela graça divina, a vitória pode ser obtida. T4 486 1 Desejaria encontrar expressões adequadas para incutir na mente de todos o fato de que nossa única esperança como indivíduos está na comunhão com Deus. Importa conseguirmos pureza de alma; e há ainda muito exame introspectivo a ser feito e muito amor-próprio e obstinação a serem vencidos, o que requererá constante e fervorosa oração. T4 486 2 Pessoas severas e propensas a censurar, desculpam-se às vezes ou procuram justificar a sua falta de cortesia cristã porque muitos reformadores manifestaram esse mesmo espírito, e alegam que a obra do presente tempo exige espírito idêntico; mas tal não é o caso. Um espírito manso e sob perfeito controle ajusta-se melhor a qualquer meio, mesmo na companhia dos mais rudes. Zelo imprudente não beneficia a ninguém. Deus não escolheu os reformadores porque fossem homens impetuosos e ávidos dominadores. Aceitou-os tal qual eram, a despeito desses traços de caráter; ter-lhes-ia, porém, imposto responsabilidades dez vezes maiores, se tivessem sido humildes e subordinado sempre o espírito ao controle da razão. Embora os ministros de Cristo devam denunciar o pecado e a impiedade, a impureza e hipocrisia, embora algumas vezes sejam chamados a condenar o pecado entre os mais elevados bem como entre os humildes, expondo-lhes que a indignação de Deus cairá sobre os transgressores de Sua lei, por outro lado não lhes compete ser dominadores ou tirânicos; devem antes manifestar bondade e amor, uma disposição para salvar e não para destruir. T4 486 3 A longanimidade de Deus ensina aos pastores e membros da igreja, que aspiram ser cooperadores de Cristo, lições positivas de paciência e amor. Cristo associou Judas e o impulsivo Pedro a Si, não porque Judas fosse cobiçoso e Pedro impetuoso, mas para que dEle, seu grande Mestre, aprendessem a ser semelhantes a Ele: desinteressados, mansos e humildes de coração. Jesus descobriu traços bons nesses homens. Judas possuía talento financeiro e podia ter sido de grande utilidade à igreja, se tivesse aceitado a lição que dava Cristo, repreendendo todo egoísmo, fraude e avareza, mesmo nos negócios de pouca importância. Essas lições foram muitas vezes repetidas: "Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito." Lucas 16:10. T4 487 1 Nosso Salvador procurou deste modo convencer os ouvintes de que, se alguém tirasse proveito em defraudar o próximo nas coisas mínimas, também faria o mesmo em negócios mais importantes, se tivesse oportunidade. O menor deslize da estrita retidão destrói os obstáculos de ordem moral e predispõe o coração para injustiças maiores. Cristo nos ensinou, por preceito e exemplo, que nosso procedimento para com nossos semelhantes se deve caracterizar pela mais perfeita integridade. "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. Cristo constantemente destacava e reprovava a conduta errônea dos fariseus. Eles professavam guardar a lei de Deus, contudo os seus atos diários denunciavam a sua iniqüidade. Muitas viúvas e órfãos foram despojados do pouco que possuíam, a fim de satisfazer-lhes a avareza. Judas poderia ter aprendido essas lições, se no seu coração houvesse o desejo de ser reto; mas a avareza venceu e o amor ao dinheiro tornou-se poder dominante. Carregava a bolsa que continha os recursos a serem usados para levar avante a obra de Cristo e da qual, de vez em quando, retirava pequenas quantias para as empregar em proveito próprio. Seu coração egoísta se enfadou com a oferta de Maria, ao trazer esta um vaso de alabastro cheio de nardo puro para com ele ungir a Jesus, a ponto de repreendê-la por sua imprudência. Em vez de manifestar atitude de discípulo, considerou-se como mestre, propondo-se persuadir a Jesus da inconveniência daquele ato. T4 487 2 Esses dois homens desfrutaram igualmente das oportunidades e do privilégio que ofereciam as lições e o exemplo de Jesus, para se corrigirem dos seus defeitos de caráter. Enquanto ouviam Suas severas reprovações e denúncias contra a hipocrisia e a corrupção, percebiam que aqueles tão terrivelmente reprovados eram objeto de solícito e incansável esforço por sua regeneração. O Salvador chorou por causa de sua ignorância e dos seus erros. Movido de infinita compaixão e amor para com eles, exclamou para Jerusalém: "Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste!" Lucas 13:34. T4 488 1 Pedro era ativo e zeloso, firme e intransigente, e Cristo viu nele um elemento útil para a Sua igreja. Por isso ligou Pedro a Si, buscando cultivar nele o que tivesse de bom e valioso, e atenuar pelo Seu ensino e exemplo o que tinha de ríspido em seu temperamento, amenizando-lhe as asperezas de conduta. Se o coração estivesse verdadeiramente transformado pela graça divina, uma transformação exterior seria vista através de sincera bondade, simpatia e cortesia. Jesus nunca Se mostrou frio e inacessível. Os aflitos muitas vezes iam buscá-Lo no Seu retiro, quando Ele precisava descansar e restaurar-Se; contudo, Ele tinha um olhar bondoso e palavras encorajadoras para todos. Jesus foi o modelo da verdadeira cortesia. Pedro negou seu Senhor; mas depois arrependeu-se e foi profundamente humilhado por causa de seu grande pecado. Cristo, entretanto, mostrou que perdoara ao discípulo a falta cometida, fazendo menção especial de seu nome depois da ressurreição. T4 488 2 Judas cedeu às tentações de Satanás e traiu seu melhor Amigo. Pedro aprendia e aproveitava as lições de Cristo, e assim levou adiante a obra de reforma que foi deixada aos discípulos quando seu Senhor foi para o Céu. Esses dois homens representam as duas classes de pessoas que Cristo associa a Si, dando-lhes as oportunidades de Suas lições e o exemplo de Sua vida altruísta e compassiva, para que dEle possam aprender. T4 488 3 Quanto mais o homem contemplar seu Salvador e familiarizar-se com Ele, tanto mais assimilará Sua imagem e fará as Suas obras. A época em que vivemos está reclamando uma ação reformadora. A luz da verdade que brilha sobre nós requer homens de determinação e verdadeiro valor moral, a fim de diligente e perseverantemente atuarem em prol da salvação de todos os que atenderão ao convite do Espírito de Deus. T4 488 4 O amor que deve reinar entre os membros da igreja freqüentemente cede lugar à crítica e censura, que aparecem até mesmo nas atividades religiosas através de observações e severos ataques pessoais. Essas coisas não devem ser admitidas pelos pastores, anciãos ou pelo povo. As reuniões da igreja devem ser celebradas em honra exclusiva de Deus. Quando pessoas de disposições peculiares se reúnem no recinto da igreja, a menos que a verdade de Deus suavize e subjugue os rudes traços de caráter, a igreja será prejudicada e sua paz e harmonia sacrificadas pela condescendência com esses traços egoístas e não santificados. Muitos, movidos pelo zelo de descobrir as faltas dos irmãos, negligenciam o exame do próprio coração e a purificação da própria vida. Isso provoca o desagrado de Deus. Os membros devem zelar, individualmente, pela própria alma, vigiar com cuidado as próprias ações, a fim de não agirem movidos por motivos egoístas e se tornarem pedra de tropeço para os fracos. T4 489 1 Deus aceita os homens tais quais são, com seus naturais traços de caráter, e os prepara para o Seu serviço, contanto que estejam dispostos a deixar-se educar e a aprender dEle. As raízes de amargura, inveja, desconfiança, suspeita e mesmo ódio que existem no coração de alguns membros da igreja são obra de Satanás. Esses elementos têm influência deletéria sobre a igreja. "Um pouco de fermento faz levedar toda a massa." 1 Coríntios 5:6. O zelo religioso que se manifesta em ataques aos irmãos é sem entendimento. Cristo nada tem que ver com esses testemunhos. ------------------------Capítulo 44 -- Desonestidade na igreja T4 489 2 "O amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males." 1 Timóteo 6:10. Alguns que professam a verdade não suportam a tentação neste ponto. Entre mundanos nesta geração, os maiores crimes são perpetrados devido ao amor ao dinheiro. Se a riqueza não pode ser assegurada por meio de trabalho honesto, os homens recorrerão à fraude, ao engano e ao crime a fim de obtê-lo. A taça da iniqüidade está quase cheia e a justiça retributiva de Deus está para descer sobre os culpados. Viúvas são roubadas em seus escassos recursos por advogados e professos amigos interessados, e pobres são levados a sofrer pela falta de coisas indispensáveis à vida, por causa da desonestidade que é praticada a fim de satisfazer a extravagância. O terrível registro de crime em nosso mundo é suficiente para gelar o sangue e encher a alma de pavor; mas o fato de que mesmo entre aqueles que professam crer na verdade os mesmos males estão penetrando, os mesmos pecados praticados em maior ou menor grau, apela a uma profunda humilhação de alma. T4 490 1 O homem que sinceramente teme a Deus preferiria trabalhar noite e dia, sofrer privação e comer o pão da pobreza do que condescender com a obsessão pelo ganho que oprimiria a viúva e o órfão ou destituiria o estranho de seu direito. Os crimes que são cometidos por causa do amor à exibição e ao dinheiro transformam este mundo num covil de ladrões e salteadores e fazem os anjos chorarem. Mas os cristãos são peregrinos na Terra; estão em terra estranha, parando, por assim dizer, por apenas uma noite. Nosso lar está nas mansões que Jesus foi preparar-nos. Esta vida é apenas um vapor que se desfaz. T4 490 2 A aquisição de propriedade torna-se uma mania para alguns. Toda vez que a regra áurea é violada, Cristo é maltratado na pessoa de Seus santos. Toda vantagem tirada dos semelhantes, sejam eles santos ou pecadores, permanecerá como fraude no livro de registro do Céu. Deus planejou que nossa vida representasse a vida de nosso grande Modelo ao fazer o bem aos outros e ao cumprir uma parte santa na elevação do ser humano. Sobre esse trabalho paira verdadeira dignidade, e uma glória que nunca pode ser vista e percebida nesta vida, mas que será plenamente apreciada na vida futura. O registro de atos bondosos e ações generosas alcançará a eternidade. Exatamente na medida que o homem se beneficia à custa de seu semelhante, seu coração se tornará endurecido à influência do Espírito de Deus. O ganho assim obtido é uma perda terrível. T4 490 3 Tem havido homens em lugares importantes que não têm sido guardiães dos interesses dos outros. Eles têm estado inteiramente absorvidos em seus próprios interesses e negligenciado preservar a reputação da igreja. Têm sido egoístas e avarentos, não agindo com o objetivo único de glorificar a Deus. A igreja como um todo é, em certa medida, responsável pelos erros de cada um de seus membros, porque eles toleram o mal não levantando a voz contra ele. O favor de Deus não é desfrutado por várias razões. Seu Espírito é ofendido pelo orgulho, extravagância, desonestidade e fraude aos quais se entregam alguns que professam santidade. Todas essas coisas trazem o desagrado de Deus sobre o Seu povo. T4 491 1 A incredulidade e os pecados do antigo Israel foram apresentados perante mim, e vi que erros e iniqüidade semelhantes existem entre o moderno Israel. A pena da inspiração registrou os seus crimes para o benefício daqueles que vivem nestes últimos dias, para que possam evitar seu mal exemplo. Acã cobiçou e escondeu uma barra de ouro e uma boa veste babilônica, que foram tomados como espólio do inimigo. Mas o Senhor havia declarado a cidade de Jericó amaldiçoada e ordenado que as pessoas não tomassem despojos de seus inimigos para seu próprio uso. "Tão-somente guardai-vos das coisas condenadas, para que, tendo-as vós condenado, não as tomeis; e assim torneis maldito o arraial de Israel e o confundais. Porém toda prata, e ouro, e utensílios de bronze e de ferro são consagrados ao Senhor; irão para o tesouro." Josué 6:18, 19. T4 491 2 Mas Acã, da tribo de Judá, tomou o objeto amaldiçoado, e a ira do Senhor acendeu-se contra os filhos de Israel. Quando os exércitos de Israel saíram para combater o inimigo foram repelidos e tiveram de recuar e alguns deles foram mortos. Isto trouxe grande desânimo sobre o povo. Josué, o seu líder, ficou perplexo e confuso. Na maior humilhação, ele caiu sobre seu rosto e orou: "Ah! Senhor Jeová! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer? Tomara nos contentáramos com ficarmos dalém do Jordão. Ah! Senhor! Que direi, pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos? Ouvindo isso, os cananeus e todos os moradores da terra nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e, então, que farás ao Teu grande nome?" Josué 7:7-9. T4 492 1 A resposta do Senhor a Josué foi: "Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel pecou, e até transgrediram o Meu concerto que lhes tinha ordenado, e até tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram, e até debaixo da sua bagagem o puseram." Josué 7:10, 11. Acã havia roubado aquilo que era reservado por Deus e colocado em Seu tesouro; e também dissimulou, porque quando viu o acampamento de Israel perturbado, não confessou a sua culpa; pois sabia que Josué havia repetido as palavras do Senhor ao povo, que se o povo se apoderasse daquilo que Deus havia separado, o acampamento de Israel seria perturbado. T4 492 2 Enquanto se regozijava em seu ganho adquirido impiamente, sua segurança foi despedaçada; ele fica sabendo que uma investigação deve ser feita. Isso o torna inquieto. Repete vez após vez para si mesmo -- o que eles têm a ver com isso? Eu sou responsável por meus atos. Ele, aparentemente, assume um semblante corajoso e da maneira mais convincente condena o culpado. Se tivesse confessado, teria sido salvo; mas o pecado endurece o coração, e ele continua a afirmar sua inocência. Em meio a tão grande multidão, pensa que escapará da investigação. Sortes são lançadas para descobrir o ofensor; a sorte cai sobre a tribo de Judá. O coração de Acã agora começa a pulsar com temor de culpa, pois ele é dessa tribo; mas ainda se vangloria de poder escapar. A sorte é lançada novamente e a família à qual pertence é apontada. Agora Josué pode ver estampada a culpa no pálido semblante. A sorte novamente é lançada e identifica o homem infeliz. Ali está ele em pé, apontado pelo dedo de Deus como o culpado que causou toda aquela perturbação. T4 492 3 Se quando Acã se deixou levar pela tentação tivesse sido indagado se desejava provocar tal derrota e morte no acampamento de Israel, ele teria respondido: "Não, não! É teu servo um cão para fazer tão grande maldade?" Mas ele se deteve na tentação para satisfazer a própria cobiça, e quando a oportunidade se apresentou, ele foi além daquilo que havia proposto em seu coração. É exatamente dessa maneira que membros individuais da igreja são imperceptivelmente levados a ofender o Espírito de Deus, a defraudar seus semelhantes e acarretar o desagrado de Deus sobre a igreja. Nenhum homem vive para si mesmo. Vergonha, derrota e morte foram levadas sobre Israel pelo pecado de um só homem. Aquela proteção que lhes havia abrigado a cabeça no dia da batalha foi retirada. Vários pecados que são praticados e acariciados por professos cristãos acarretam o desagrado de Deus sobre a igreja. No dia em que o livro de registro do Céu for aberto, o Juiz não expressará em palavras ao homem a sua culpa, mas lançará um olhar penetrante e convincente e todo ato e toda transação da vida estarão vividamente gravados sobre a memória do malfeitor. A pessoa não precisará, como no tempo de Josué, ser procurado de tribo a família, mas os próprios lábios confessarão sua vergonha, egoísmo, cobiça, desonestidade, dissimulação e fraude. Seus pecados, ocultos do conhecimento do homem, serão então proclamados, por assim dizer, do alto dos telhados. T4 493 1 A influência mais temida pela igreja não é a dos francos opositores, dos infiéis e blasfemos, mas a dos incoerentes professos seguidores de Cristo. Há aqueles que afastam de Israel as bênçãos de Deus e trazem fraqueza à igreja, reprovação que não é facilmente eliminada. Enquanto Josué permanecia com o rosto em terra, derramando sua alma a Deus em agonia de espírito e com lágrimas, a ordem de Deus foi uma reprovação: "Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?" Josué 7:10. T4 493 2 As igrejas populares estão cheias de homens, que, embora apresentando uma pretensão de servir a Deus, são ladrões, assassinos, adúlteros e fornicadores; aqueles, porém, que professam nossa humilde fé reivindicam um padrão mais elevado. Eles devem ser cristãos bíblicos; devem ser diligentes no estudo do Decálogo da vida. De maneira cuidadosa e com oração devem examinar os motivos que os levam à ação. Aqueles que desejam colocar sua confiança em Cristo devem começar a estudar as belezas da cruz agora. Se desejam ser cristãos vivos, devem começar a temer e obedecer agora. Se quiserem, podem livrar sua alma da ruína e ter êxito em obter a vida eterna. T4 494 1 O costume de enganar nos negócios, que existe no mundo, não é exemplo para os cristãos. Eles não devem desviar-se da perfeita integridade, mesmo nas mínimas questões. Vender um artigo por preço maior do que seu valor, tirando vantagem da ignorância dos compradores, é fraude. Ganhos ilegais, pequenos truques em negócios, exagero, competição, oferecer uma quantia inferior a um irmão que está procurando fazer um negócio honesto -- essas coisas estão corrompendo a pureza da igreja e são prejudiciais à sua espiritualidade. T4 494 2 O mundo dos negócios não está fora dos limites do governo de Deus. O cristianismo não deve ser meramente mostrado no sábado e exibido no santuário; é para todos os dias da semana e todos os lugares. Seus reclamos devem ser reconhecidos e obedecidos na oficina de trabalho, no lar, nas transações comerciais com os irmãos e com o mundo. Para muitos, o mundanismo absorvente eclipsa o verdadeiro sentido da obrigação cristã. A religião de Cristo terá uma influência sobre o coração que controlará a vida. Homens possuindo o genuíno artigo da verdadeira religião, revelarão em todas as suas transações comerciais tão clara percepção do direito como quando oferecem suas súplicas diante do trono da graça. A vida, com todo o seu potencial, pertence a Deus e deve ser usada para promover a Sua glória, em vez de ser pervertida ao serviço de Satanás no defraudar nossos semelhantes. T4 494 3 Satanás tem sido o conselheiro de alguns. Ele lhes diz que se desejam prosperar devem atender a seu conselho: "Não sejam excessivamente conscienciosos a respeito de honra e honestidade; procurem dedicadamente o seu próprio interesse e não sejam levados pela piedade, suavidade e generosidade. Não precisam cuidar da viúva e do órfão. Não os encorajem a procurá-los e a depender de vocês; que eles cuidem de si mesmos. Não perguntem se têm alimento ou se vocês podem beneficiá-los com atenção bondosa e conscienciosa. Cuidem de si mesmos. Agarrem tudo quanto puderem. Roubem a viúva e o órfão e despeçam o estrangeiro de seu direito, e terão recursos para suprir suas várias necessidades." Alguns têm acatado este conselho e desprezado Aquele que disse: "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. T4 495 1 Satanás oferece aos homens os reinos do mundo se lhe concederem a supremacia. Muitos fazem isso e perdem o Céu. Antes morrer do que pecar; é melhor passar necessidade do que defraudar; melhor passar fome do que mentir. Todos os que são tentados enfrentem Satanás com as palavras: "Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos! Pois comerás do trabalho de tuas mãos, feliz serás, e te irá bem." Salmos 128:1, 2. Aqui está uma condição e uma promessa que serão inegavelmente cumpridas. Felicidade e prosperidade serão o resultado de servir ao Senhor. ------------------------Capítulo 45 -- Importância de domínio próprio T4 495 2 Irmã H: T4 495 3 Sei muito pouco de sua vida antes de você ter professado a Cristo; mas desde esse tempo não tem sido uma mulher verdadeiramente convertida; não tem representado corretamente a Cristo, o seu Mestre. Aceitou a teoria da verdade, mas tem deixado de ser santificada por ela. Não tem praticado domínio próprio, mas satisfeito seus desejos e caprichos em detrimento da saúde e da religião. Você se irrita com facilidade, e em vez de guardar rigorosamente suas palavras e ações, tem dado rédea solta às inclinações. A mente é controlada por Satanás ou por Jesus; e quando você não pratica domínio próprio, Satanás reina e a leva a fazer e dizer coisas que são inteiramente satânicas. Isso tem sido repetido tantas vezes que se tornou habitual. T4 495 4 Desde que tem estado a viver com seu atual marido, tem-se permitido tornar-se exasperada em questões muito insignificantes; e nessas ocasiões parece ter frenética obsessão, enquanto Satanás observa e ri com a miséria que você está acarretando a si mesma e àqueles a quem é seu dever tornar felizes. Seus filhos herdaram seus traços de caráter; e, além disso, estão diariamente copiando o seu exemplo de cega e exagerada obsessão, impaciência e irritação. T4 496 1 No coração humano há egoísmo e corrupção naturais, que somente podem ser vencidos pela mais completa disciplina e severa restrição; e mesmo então requererá anos de paciente esforço e zelosa resistência. Deus nos permite experimentar os males da pobreza e nos coloca em posições difíceis para que os defeitos de nosso caráter possam ser revelados e suas asperezas suavizadas. Todavia, após privilégios e oportunidades terem sidos concedidos por Deus, após luz e verdade terem sido trazidas ao entendimento, se as pessoas ainda buscam desculpas para sua deformidade de caráter e continuam em seu egoísmo e ciúmes, seu coração se torna como granito, tornando impossível ser reformado, exceto pelo cinzel, o martelo e o polimento do Espírito de Deus. T4 496 2 Foram-me mostradas sua vida e experiência quando pela primeira vez veio a _____. Sua conduta não era coerente; suas associações não eram corretas. Seu costume de visitar as cervejarias com os filhos não causou boa impressão sobre outros no que se refere a sua conduta moral. Esses são capítulos tristes em sua experiência. Tinha luz e conhecimento; mas suas inclinações e loucuras a separaram de Deus. T4 496 3 Muitos incidentes que ocorreram enquanto você estava morando em _____ me foram mostrados. Sua vontade forte e perversa desonrou a verdade que professava. Sua conduta perante o mundo não era justificável. A punição que sua filha recebeu na escola por desobediência voluntária foi exagerada em sua mente até que se tornou uma ofensa tão terrível que a levou a buscar a proteção da lei. O engano que ali praticou, seu exagero da verdade, foi uma lição muito perigosa à moral. Essas coisas permanecem registradas contra você nos livros do Céu. Você possui disposição obstinada e não humilhará seu coração para confessar um erro, mas justificará sua conduta perante os homens, sem levar em conta como isso se apresenta à vista de Deus. Pode admirar-se de que sob orientação tão enganosa, sua filha tenha se tornado o que é? Que influência podia tal orientação ter sobre a mente jovem, a não ser fazê-la sentir que ninguém tinha o direito de controlar sua perversa vontade? A semente semeada por sua própria mão brotou e produziu frutos que são muito amargos. T4 497 1 É movida de amor para com sua alma que me acho compelida a escrever-lhe no momento. Sinto-me opressa sob o peso da responsabilidade que tomo agora sobre mim, de escrever-lhe estas coisas. Está, pela sua conduta, fechando as portas do Céu diante de você mesma e de seus filhos; pois nem você nem eles ali entrarão com o caráter defeituoso que têm atualmente. Você está, minha irmã, jogando uma partida triste na vida, sem perspectivas de ganhá-la. Santos anjos a contemplam com tristeza, ao passo que anjos maus olham triunfantes ao verem como você está perdendo rapidamente as graças que adornam o caráter cristão, enquanto em lugar delas vai Satanás gravando seus próprios traços maus. T4 497 2 Você tem se entregado à leitura de romances e novelas a ponto de viver em um mundo imaginário. A influência dessa leitura é prejudicial tanto à mente como ao corpo; enfraquece o intelecto e ocasiona terrível sobrecarga às forças físicas. Ocasiões há em que sua mente possui sanidade precária, devido à imaginação ter sido superagitada e levada a um estado doentio pela leitura de ficção. A mente deve ser disciplinada por tal forma, que todas as suas faculdades sejam harmonicamente desenvolvidas. Determinado exercício poderá revigorar algumas dessas faculdades, deixando ao mesmo tempo outras sem desenvolvimento, de modo que sua utilidade ficará prejudicada. A memória sofre grande detrimento com as leituras mal escolhidas, as quais tendem a desequilibrar as faculdades de raciocínio, criam um estado de nervosismo, fadiga mental e prostração de todo o organismo. Caso a imaginação seja constantemente superalimentada e estimulada com literatura de ficção, torna-se em breve um tirano, controlando todas as outras faculdades da mente, fazendo com que o gosto se torne caprichoso e pervertendo as tendências. T4 498 3 Você é uma dispéptica mental. Sua mente tem-se abarrotado de conhecimentos de toda espécie -- política, história, teologia, anedotas -- dos quais apenas uma parte pode ser retida pela maltratada memória. Muito menos conhecimentos, em uma mente bem disciplinada, seria de proveito incomparavelmente maior. Você tem negligenciado exercitar a mente à ação enérgica; assim, a vontade e a inclinação a têm dominado e se assenhoreado de você, em vez de serem servas. E o resultado é perda de energia física e mental. T4 498 1 Por anos sua mente tem sido como uma fonte rumorejante, quase cheia de seixos e ervas daninhas, por onde a água corre em desperdício. Fossem suas faculdades regidas por desígnios elevados, e não seria a inválida que agora é. Imagina que deve ser satisfeita em seu caprichoso apetite e na leitura excessiva. Vi a lâmpada ardendo à meia-noite em seu quarto, enquanto tinha os olhos pregados em alguma história fascinante, estimulando dessa maneira o já superexcitado cérebro. Essa atitude lhe tem diminuído a resistência física e a enfraquecido mental e moralmente. A irregularidade tem criado desordem no lar e, caso assim continue, levará sua mente a imergir na imbecilidade. O período de graça que lhe é dado por Deus tem sido mal-empregado, desperdiçado o tempo que Ele lhe tem concedido. T4 498 2 Deus nos concede talentos a fim de serem usados sabiamente e não para serem mal-empregados. A educação não é senão um preparo das faculdades físicas, intelectuais e morais para o melhor desempenho de todos os deveres da vida. A leitura imprópria proporciona uma educação falsa. O poder de resistência e a força e a atividade do cérebro poderão ser diminuídos ou aumentados conforme são utilizados. Você tem uma obra a fazer para abandonar sua leitura leviana. Afaste-a de sua casa. Não tenha a tentação diante de si para perverter-lhe a imaginação, desequilibrar-lhe o sistema nervoso e arruinar seus filhos. Com o muito ler, você está se incapacitando para os deveres de esposa e mãe e, na realidade, desqualificando-se para fazer o bem em qualquer lugar. T4 498 3 A Bíblia não é estudada como devia; portanto, você não se torna sábia nas Escrituras, nem está perfeitamente preparada para toda boa obra. A leitura leviana fascina a mente e torna desinteressante a leitura da Palavra de Deus. Você busca fazer com que os outros creiam que é versada nas Escrituras; isto, porém, não pode ser, porquanto tem a mente entulhada de lixo. A Bíblia requer pesquisa atenta, apoiada por oração. Não basta deslizar sobre a superfície. Ao passo que algumas passagens são tão claras que não podem ser mal compreendidas, outras há que são mais complicadas, exigindo cuidadoso e paciente estudo. Qual precioso metal oculto nos montes e montanhas, suas gemas de verdade precisam ser procuradas e entesouradas na mente para uso futuro. Quem dera que todos exercitassem tão constantemente o espírito em buscar o ouro celeste como na procura do ouro que perece! T4 499 1 Quando pesquisar as Escrituras com fervoroso desejo de aprender a verdade, Deus lhe comunicará Seu Espírito ao coração e lhe impressionará a mente com a luz de Sua Palavra. A Bíblia é seu próprio intérprete, uma passagem explicando a outra. Mediante a comparação de textos referentes aos mesmos assuntos, você verá beleza e harmonia com que nunca sonhou. Não há nenhum outro livro cujo manuseio fortaleça e amplie, eleve e enobreça tanto o espírito, como o Livro dos livros. Seu estudo comunica novo vigor à mente, que é assim posta em contato com assuntos que exigem séria reflexão, sendo levada a Deus em oração em busca de poder para compreender as verdades reveladas. Uma vez que a mente seja deixada a lidar com matérias comuns, em vez de se aplicar a problemas profundos e difíceis, estreitar-se-á e baixará ao nível dos assuntos que contempla, perdendo finalmente seu poder de expansão. T4 499 2 O que deve ser mais deplorado com respeito a sua conduta é que seus erros e enganos estão sendo reproduzidos em seus filhos. I está se tornando absorvida em leitura; as faculdades mentais dela estão sendo prejudicadas permanentemente por seguir o seu exemplo. Ela não terá gosto nem aptidão para o estudo. Na infância a mente é impressionável. Que a boa semente seja lançada sobre bom terreno, e produzirá frutos para a vida eterna. T4 499 3 Os hábitos formados na juventude, conquanto possam na vida posterior ser um pouco modificados, na essência são raramente mudados. Sua vida inteira tem sido moldada pelo legado de caráter que lhe foi transmitido no nascimento. O temperamento perverso de seu pai é visto nos filhos dele. A graça de Deus pode vencer essas tendências más; mas que batalha precisa ser empreendida! Assim é com os seus filhos. Você condescende com eles como condescende consigo mesma. Não tem força para negar ao apetite o que você deseja e coloca terrível carga sobre seus órgãos digestivos. Nenhuma mulher pode ter boa saúde e entregar-se a seu capricho como faz. T4 500 1 O mesmo é verdade quanto a seus filhos. A disciplina errada da mãe quando tem sido capaz de cuidar deles e por serem deixados tanto tempo sem os cuidados dela, quase os arruinou. Contudo, mesmo agora uma conduta firme e sem desvios produzirá grande melhoria neles; eles não estão fora de controle, embora seja bastante difícil fazer deles o que poderiam ter sido, caso os pais agissem corretamente. Se desejar, a mãe pode ver o resultado da conduta que seguiu ou pode corrigir-se e tentar desfazer o erro. O caminho no qual seus filhos estão agora entrando pode conduzi-los à virtude ou ao vício, à honra ou à infâmia, ao Céu ou ao inferno. A influência de uma mãe de oração e temente a Deus perdurará pela eternidade. Ela pode morrer, mas sua obra permanecerá. T4 500 2 Irmão e irmã H, nenhum de vocês percebe a triste condição de seus filhos. O irmão H tem negligenciado tomar uma posição decidida para controlá-los. O garotinho, em grande medida, governa a casa. Seus dois filhos mais velhos foram orientados de maneira totalmente errada. Embora às vezes o irmão H fosse demasiado severo e exigente, requerendo deles aquilo que não exigiria de seus próprios filhos, a sua conduta, irmã H, foi ainda pior. Tomou o partido dos filhos na presença deles e acendeu-lhes no coração o sentimento de vingança. Deu-lhes lições de insubordinação e falou desrespeitosamente de seu marido perante eles. Tal conduta os levou a desprezar a restrição. Uma impressão indelével foi assim colocada sobre a mente deles. T4 500 3 Agora você está começando a ver em seu filho mais velho os resultados dessa educação; contudo, está realizando a mesma obra, em grande extensão, com os filhos que Deus desde então confiou ao seu cuidado. Seu espírito incoerente e incontrolável é como um veneno insidioso introduzido no organismo; seus amargos resultados aparecerão mais cedo ou mais tarde. Sua marca está sendo feita, não sobre areia, mas sobre rocha; e nos anos posteriores testificará de sua obra. T4 501 1 Minha irmã, você não tem consciência sensível. Deve considerar cuidadosamente que hábitos está formando e orar fervorosamente para que seu caráter pervertido possa ser lavado de sua contaminação, no sangue do Cordeiro. A consciência precisa ser iluminada, as paixões restringidas e o amor da verdade acariciado na alma, antes que você possa ver o reino de Deus. T4 501 2 Durante toda sua vida você tem necessitado de princípios firmes e resolutos. Satanás está ainda ao seu encalço. Sua única esperança agora está em total conversão a Deus. Não seja enganada, pois "Deus não Se deixa escarnecer". Gálatas 6:7. Se o seu tempo de graça se encerrasse hoje, eu não teria esperança de que você fosse salva. Sua própria saúde física, mental e moral depende de um apropriado controle de seu temperamento. Sem dúvida, você enfrentará coisas que irão exacerbar o seu espírito e testá-la severamente; mas o domínio próprio pode ser seu na força de Jesus. Salomão coloca aquele que se controla como vencedor na batalha. "Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade." Provérbios 16:32. T4 501 3 Por permitir-se ficar indevidamente irritada, você estabeleceu uma condição de coisas em seu organismo que irá, a menos que seja mudado, custar-lhe a vida. Você maltrata seu marido; diz-lhe coisas que nenhuma esposa deveria ser culpada de dizer. Tem procedido mal vez após outra, indo a ponto de ser culpada de deliberadas falsidades para alcançar os seus fins. Determinação de fazer a própria vontade a todo o custo é uma característica dominante de sua família. T4 501 4 O procedimento do irmão H não tem sido o que deveria. Seus gostos e aversões são muito fortes e ele não tem conservado os próprios sentimentos sob controle da razão. Irmão H, sua saúde está grandemente prejudicada por comer em excesso e em horas impróprias. Isto causa um afluxo de sangue para o cérebro. A mente torna-se confusa, e você não tem o devido controle sobre si mesmo. Dá a impressão de um homem cuja mente esteja desequilibrada. Tem gestos violentos, irrita-se facilmente e vê as coisas sob uma luz exagerada e pervertida. Bastante exercício ao ar livre e um regime abstêmio são essenciais à sua saúde. Você não deve tomar mais de duas refeições ao dia. Se sente que deve comer à noite, tome um pouco de água fria, e de manhã se sentirá muito melhor por não haver comido. T4 502 1 Não deve permitir a seus filhos que comam doces, frutas, nozes ou qualquer outro alimento entre as refeições. Duas refeições ao dia será para eles melhor do que três. Se os pais derem o exemplo e agirem dirigidos pelo princípio, os filhos logo os acompanharão. Irregularidades no comer destroem a condição sadia dos órgãos digestivos e, quando seus filhos vêm à mesa, não lhes apetece o alimento saudável; seu apetite anseia por aquilo que lhes é mais prejudicial. Muitas vezes eles têm sofrido febre e calafrios devidos ao comer de modo impróprio, sendo os pais os culpados de sua doença. É dever dos pais cuidar que os filhos formem hábitos conducentes à saúde, poupando-se assim muito aborrecimento. T4 502 2 O irmão H está em perigo de sofrer apoplexia e, se continuar a desobedecer às leis de saúde, sua vida será subitamente encurtada. Como família, vocês podem ser felizes ou infelizes. Fica ao seu encargo. Seu próprio procedimento determinará o futuro. Ambos precisam abrandar as agudas arestas de seu caráter e só proferir palavras das quais não terão que se envergonhar no dia de Deus. Tornem uma regra em sua vida seguir diretamente no caminho do dever. Em desafio às numerosas tentações que os assaltam, sejam verdadeiros a uma boa consciência e a Deus, e o seu caminho será tornado plano para os seus pés. Podem discordar acerca de coisas pequeninas que não merecem discussão e o resultado será aborrecimento. A vereda do justo é vereda de paz. É tão clara que o homem humilde, temente a Deus nela pode andar sem tropeçar e sem fazer trilhos tortuosos. É vereda estreita; mas homens de temperamentos vários podem andar lado a lado, contanto que sigam o Capitão de sua salvação. Aqueles que desejam carregar consigo todos os seus maus traços de caráter e hábitos egoístas não podem caminhar nesse caminho, pois ele é muito estreito e apertado. T4 503 1 Que esforços o grande Pastor faz para chamar as Suas ovelhas pelo nome e convidá-las a seguir os Seus passos. Ele busca os errantes. Ele acende a luz de Sua Palavra para mostrar-lhes o seu perigo. Fala-lhes do Céu através de advertências, repreensões e em convites para retornarem ao caminho certo. Busca ajudar os errantes por Sua presença e erguê-los quando caem. Mas muitos têm seguido o caminho do pecado por tanto tempo que não ouvirão a voz de Jesus. Deixam tudo que lhes pode dar descanso e segurança; submetem-se a um falso guia e presunçosamente se apressam em cega autoconfiança, desviando-se para mais e mais longe da luz e da paz, da felicidade e descanso. T4 503 2 Imploro-lhe que atente para a luz que Deus tem dado, e se corrija. A cruz de Cristo é nossa única esperança. Ela nos revela a grandeza do amor de nosso Pai e o fato de que a Majestade do Céu Se submeteu a insulto, zombaria, humilhação e sofrimento pela alegria de ver almas que estavam prestes a perecer salvas em Seu reino. Se você amar seus filhos, faça com que seu principal estudo seja prepará-los para a vida futura e imortal. Com as infelizes inclinações que agora possuem, eles nunca verão o paraíso de Deus. Trabalhe enquanto é dia; redima o tempo e ganhe a coroa de glória imortal. Salve a si mesma e à sua família, pois a salvação da alma é preciosa. ------------------------Capítulo 46 -- Casamentos não-bíblicos T4 503 3 Vivemos nos últimos dias, quando a mania do assunto matrimonial constitui um dos sinais da breve vinda de Cristo. Deus não é consultado nessas questões. A religião, o dever e os princípios são sacrificados a fim de satisfazer aos impulsos do coração não consagrado. Não deve haver grande ostentação e regozijo sobre a união dos nubentes. Não há um casamento em cem que resulte em felicidade, tenha a aprovação de Deus e coloque os cônjuges em condições de melhor O glorificarem. Inúmeras são as más conseqüências de maus casamentos. São contraídos por impulso. Mal se pensa em obter uma visão sincera do assunto, e a consulta com as pessoas de experiência é considerada coisa antiquada. T4 504 1 Impulso e paixão profana, eis o que ocupa o lugar do amor puro. Muitos põem em risco a própria alma, e trazem sobre si a maldição de Deus por entrarem nas relações conjugais unicamente para satisfazer à fantasia. Foram-me mostrados casos de pessoas que professam a verdade, e cometeram grande erro casando-se com incrédulos. Foi por eles nutrida a esperança de que a parte não crente havia de abraçar a verdade; mas uma vez que essa parte conseguiu seu objetivo, a pessoa fica mais afastada da verdade que antes. Começam então as sutis atuações, os contínuos esforços do inimigo para desviar o crente da fé. T4 504 2 Muitos há que estão perdendo o interesse e a confiança na verdade por terem entrado em íntimo contato com incrédulos. Respiram uma atmosfera de dúvida, desconfiança e infidelidade. Têm a incredulidade diante dos olhos e dos ouvidos, e afinal a acalentam. Alguns talvez resistam a essas influências; em muitos casos, porém, sua fé fica imperceptivelmente minada, destruída afinal. Satanás foi então bem-sucedido em seus planos. Atuou tão sorrateiramente por meio de seus instrumentos, que as barreiras da fé e da verdade foram derribadas antes de os crentes terem qualquer idéia da situação em que se encontravam. T4 504 3 Coisa perigosa é formar uma aliança mundana. Bem sabe Satanás que o momento que testemunha o casamento de muitos rapazes e moças, põe um ponto final em sua história religiosa, em sua utilidade nesse sentido. Acham-se perdidos para Cristo. Poderão, por algum tempo, fazer um esforço para viver a vida cristã; todos esses esforços, no entanto, são feitos contra decidida corrente em sentido contrário. Outrora era para eles um privilégio e prazer falar acerca de sua fé e esperança; chegam, porém, a relutar para mencionar tal assunto, sabendo que aquele com quem uniram o destino não tem nenhum interesse no mesmo. Em conseqüência, perece no coração a fé na preciosa verdade, e Satanás tece traiçoeiramente em torno deles uma rede de ceticismo. T4 505 1 Ao se levar a excessos aquilo que é permitido, comete-se um grave pecado. Os que professam a verdade espezinham a vontade de Deus ao desposar incrédulos; perdem-Lhe o favor e tornam difícil a obra do arrependimento. O incrédulo poderá ser dotado de excelente caráter moral; o fato, porém, de que ele ou ela não atendeu às reivindicações de Deus, e negligenciou tão grande salvação, é razão suficiente para que se não consume tal união. O caráter do incrédulo talvez seja semelhante ao do jovem a quem Jesus dirigiu as palavras: "Uma coisa te falta" (Lucas 18:22); essa era a coisa necessária. T4 505 2 Alega-se por vezes que o incrédulo é favorável à religião, e é tudo quanto se poderia desejar para um companheiro, a não ser uma coisa: não ser cristão. Se bem que o melhor discernimento do crente lhe sugira ser inconveniente unir-se para toda a vida com uma pessoa que não partilha da fé, todavia, em nove casos de cada dez triunfa a inclinação. O declínio espiritual começa no momento em que se proferem os votos no altar; o fervor religioso é arrefecido e vão sendo derribadas uma após outra as fortalezas, até que se encontram ambos unidos sob a negra bandeira de Satanás. Mesmo nos festejos do casamento, o espírito mundano triunfa sobre a consciência, a fé e a verdade. No novo lar não é respeitada a hora da oração. A noiva e o noivo preferiram-se um ao outro e despediram a Jesus. T4 505 3 A princípio talvez o incrédulo não manifeste oposição; quando, porém, é apresentado à sua atenção o assunto da verdade bíblica, para que o considere, ergue-se imediatamente o sentimento: "Você casou comigo sabendo que eu era o que sou; não quero ser incomodado. Daqui em diante fique entendido que são proibidas as conversas sobre seus peculiares pontos de vista." Caso o crente manifestasse qualquer zelo especial com relação a sua fé, pareceria descortês para com aquele que não toma nenhum interesse na vida cristã. T4 506 1 O crente raciocina que em seu novo relacionamento tem de conceder alguma coisa ao companheiro de sua escolha. São patrocinados entretenimentos sociais, mundanos. A princípio com grande relutância de sentimentos por parte do crente ao fazer isto, mas depois o interesse na verdade vai se tornando cada vez menor, e a fé se transforma em dúvida e incredulidade. Ninguém haveria suspeitado que aquele outrora firme e consciencioso crente e consagrado seguidor de Cristo se pudesse tornar um dia duvidoso e vacilante. Oh! que mudança ocorrida por aquele casamento imprudente! T4 506 2 Que deve fazer todo cristão quando levado à difícil situação que prova a solidez dos princípios religiosos? Com firmeza digna de imitação, deve ele dizer francamente: "Sou cristão consciencioso. Creio que o sétimo dia da semana é o sábado bíblico. Nossa fé e princípios são tais, que levam a direções opostas. Não nos é possível ser felizes juntos, pois se prossigo em adquirir mais perfeito conhecimento da vontade de Deus, tornar-me-ei mais e mais diferente do mundo e mais me assemelharei a Cristo. Se você continua a não ver beleza em Jesus, nenhuma atração na verdade, amará o mundo, que eu não posso amar, ao passo que eu me deleitarei nas coisas de Deus que você não pode apreciar. As coisas espirituais "se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. Sem discernimento espiritual, você será incapaz de ver os direitos que Deus tem sobre mim, ou de avaliar minhas obrigações para com o Mestre a quem sirvo; então você achará que negligencio você por causa de meus deveres religiosos. Você não se sentirá feliz; terá ciúmes da afeição que consagro a Deus; e sentir-me-ei só em minha crença religiosa. Quando seus pontos de vista mudarem, quando seu coração atender aos reclamos de Deus e você aprender a amar a meu Salvador, então poderemos reatar nosso relacionamento." T4 506 3 O crente faz então por Cristo um sacrifício que sua consciência aprovará, e que mostra que ele valoriza a vida eterna demasiado alto para correr o risco de perdê-la. Sente que é melhor permanecer solteiro do que ligar seus interesses por toda a vida com uma pessoa que prefere o mundo a Jesus, e que o levaria para longe da cruz de Cristo. Mas o perigo de dedicar afeto aos incrédulos não é avaliado. Na mente juvenil, o casamento se acha revestido de romance e difícil é despojá-lo desse aspecto com que a imaginação o envolve, e impressionar a mente com o senso das pesadas responsabilidades compreendidas nos votos matrimoniais. Esses votos ligam os destinos de duas pessoas com laços que coisa alguma, senão a mão da morte, deve desatar. T4 507 1 Há de uma pessoa que está em busca da glória, honra, imortalidade e vida eterna formar união com outra que se recusa a entrar na fileira com os soldados da cruz de Cristo? Haverá você, que professa escolher a Cristo como seu mestre e ser-Lhe obediente em tudo, unir seus interesses com uma pessoa que é controlada pelo príncipe dos poderes das trevas? "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" Amós 3:3. "Se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos Céus." Mateus 18:19. Quão estranho, porém, o que se nos depara! Enquanto um daqueles que se acham tão estreitamente unidos está empenhado em devoção, o outro vive indiferente e descuidoso; ao passo que um busca o caminho da vida eterna, o outro segue a estrada larga que conduz à morte. T4 507 2 Centenas de pessoas têm sacrificado a Cristo e ao Céu em conseqüência de haverem desposado um inconverso. Acaso pode ser que o amor e o companheirismo com Cristo seja de tão pouco valor para eles, que prefiram a companhia de pobres mortais? É o Céu tão pouco estimado que estejam dispostos a arriscar esse prêmio por alguém que não sente amor algum para com o precioso Salvador? T4 507 3 A felicidade e o êxito da vida de casados depende da união dos cônjuges. Como pode a mente carnal se harmonizar com a mente semelhante à de Cristo? Um semeia na carne, pensando e agindo em harmonia com os impulsos do próprio coração; o outro semeia no Espírito, reprimindo o egoísmo, vencendo as inclinações e vivendo em obediência ao Mestre, a quem professa servir. Existe, portanto, eterna diferença de gostos, inclinações e desígnios. A menos que o crente, mediante sua firme adesão aos princípios, conquiste o impenitente, há de, como é o mais comum, ficar desanimado e vender seus princípios religiosos pela desvaliosa companhia de alguém que não tem ligação com o Céu. T4 508 1 Deus proibiu rigorosamente o intercâmbio matrimonial de Seu povo com outras nações. Alega-se agora que essa proibição foi feita a fim de impedir os hebreus de casarem com idólatras e formarem ligações com famílias pagãs. Os pagãos, no entanto, achavam-se em condições mais favoráveis do que os impenitentes desta geração, os quais, tendo a luz da verdade, ainda se recusam persistentemente a aceitá-la. O pecador de hoje é incomparavelmente mais culpado que os gentios, pois a luz do evangelho brilha claramente ao seu redor. Ele viola a consciência e é inimigo deliberado do Senhor. O motivo indicado por Deus para proibir esses casamentos, foi: "Pois... fariam desviar teus filhos de Mim." Deuteronômio 7:4. Aqueles, dentre o antigo Israel, que se arriscaram a desprezar a proibição divina, fizeram-no com sacrifício dos princípios religiosos. Tomem o caso de Salomão como exemplo. Suas mulheres lhe desviaram de Deus o coração. ------------------------Capítulo 47 -- Os pobres do Senhor T4 508 2 Foi-me mostrado que o nosso povo que vive em Battle Creek não aprecia os cuidados e responsabilidades que repousam sobre aqueles que estão no centro da obra. Permitem que os membros de sua igreja que não são capazes de se sustentar venham para Battle Creek, julgando que podem obter trabalho em nossas instituições. Não escrevem primeiro para assegurar-se de que há vaga para eles; mas aglomeram-se na igreja, e descobrem, após o pedido, que já há um excesso de pessoas empregadas, muitas das quais são tão necessitadas quanto eles próprios. Foram admitidos por misericórdia, e ainda são mantidos, não porque sejam de grande préstimo à instituição, mas porque necessitam tanto. T4 509 1 Há famílias residentes em Battle Creek que viram essas instituições crescendo, que necessitam e são dignas de emprego nelas, mas que não conseguem obtê-lo porque muitos de longe sofrerão se não forem empregados. Isso traz sobre a igreja e essas instituições responsabilidades de perplexidade em saber como tratar todos esses casos com sabedoria, sem ofender ninguém e mostrar misericórdia para com todos. Nossas instituições têm sofrido perda por buscar ajudar esses casos; pois freqüentemente os solicitantes não gozam de boa saúde, e, portanto, não podem depender deles. Caso seus lugares fossem ocupados por obreiros capazes e eficientes, economizariam uma boa soma para a causa de Deus. T4 509 2 É o dever de toda a igreja sentir interesse por seus próprios pobres. Todavia, muitos egoístas ficaram satisfeitos por terem os seus membros pobres se mudado para Battle Creek; pois então não lhes seria exigido ajudar a sustentá-los. A igreja de Battle Creek gasta a cada ano de cem a quinhentos dólares para o sustento dos pobres e doentes, cujas famílias devem sofrer a menos que sejam sustentadas pela caridade. Deus não ficaria satisfeito em ter esta igreja permitido que os pobres entre eles sofram pelas necessidades da vida; portanto, há uma contínua pressão sobre os fundos daqueles que estão no coração da obra. T4 509 3 Nossos irmãos precisam conservar seus pobres no lugar onde vivem, e livrar a igreja de Battle Creek do encargo daqueles que já estão ali. Eles poderiam realizar muito mais do que agora fazem pelos pobres ao fornecer-lhes trabalho, e assim os auxiliando a ajudar a si mesmos. Seria muito melhor empregar essas pessoas em seus negócios temporais do que enviá-las ao grande coração da obra, e permitir que a causa de Deus seja sobrecarregada por essa ineficiente classe de obreiros. Somente homens e mulheres de cultura e de força mental e física, zelosos, que se acostumaram a usar o próprio cérebro em vez do cérebro de outros são necessários em Battle Creek. Julgariam aconselhável, meus irmãos, preencher as posições de responsabilidade com pessoas que são incompetentes para obter o sustento nos negócios comuns da vida? T4 509 4 Há jovens, homens e mulheres, que precisam ser ensinados a empregar sua habilidade exatamente onde estão. Este não é um dever agradável; mas todas as igrejas são responsáveis por seus membros individualmente e não devem permitir que uma classe, que não pode obter o sustento onde estão no campo, mude-se para Battle Creek. Irmãos no campo possuem propriedades e podem cultivar os próprios suprimentos. É, portanto, muito menos dispendioso para os pobres serem sustentados no campo, onde as provisões são baratas, do que fazê-los mudar para Battle Creek, onde, em vez de ajudarem a igreja e nossas instituições, os recursos devem ser continuamente tirados do tesouro para ajudá-los. Aqueles que vivem na cidade têm que comprar quase todas as suas provisões, e custa alguma coisa cuidar dos pobres. T4 510 1 Irmãos em igrejas menores, se Deus deixou uma obra para cumprirem no cuidado de seus pobres, no conforto aos desanimados, na visita aos doentes, na atenção aos necessitados, não sejam tão liberais para querer que a igreja de Battle Creek receba todas as bênçãos dessa obra. Vocês serão justificados em cobiçar as bênçãos que Deus tem prometido àqueles que cuidam dos pobres e simpatizam com o sofrimento. T4 510 2 Deve haver um fundo de caridade levantado para atender às necessidades dos pobres que têm permissão de ir para Battle Creek. Cada ano o hospital despende milhares de dólares com pacientes da assistência social; mas quem aprecia esse grande desgaste sobre a instituição? Ninguém cujo nome está no livro da igreja deveria ser deixado a sofrer ano após ano de doença, quando uns poucos meses no hospital lhe daria alívio e uma valiosa experiência de como cuidar de si mesmo e de outros quando estiverem doentes. Todas as igrejas devem sentir como dever bíblico que recai sobre elas cuidar de seus pobres e doentes merecedores. T4 510 3 Quando um digno filho de Deus precisa do benefício do hospital e pode pagar apenas uma pequena quantia de suas despesas, que a igreja faça sua nobre parte e assuma a conta. Alguns podem não ser capazes de pagar nada, mas não se deve permitir que continuem a sofrer por causa do egoísmo. Vocês devem enviá-los ao hospital, e também assumir o compromisso e enviar o dinheiro com eles para pagarem as despesas. Ao fazer isso, vocês obterão preciosa bênção. Custa dinheiro manter tal instituição, e não deve ser exigido que os doentes sejam tratados de graça. Se a soma que esta instituição tem gasto com pacientes de assistência social fosse reembolsada, a instituição poderia fazer muito mais para ser aliviada das dificuldades atuais. T4 511 1 Irmãos, não deixem a responsabilidade de seus pobres sobre as pessoas e instituições de Battle Creek, mas assumam nobremente a obra e realizem o seu dever. Renunciem algumas coisas em suas casas ou em seu vestuário, e coloquem de lado em algum lugar seguro uma importância para os pobres necessitados. Que os seus dízimos e ofertas de gratidão a Deus não sejam de menos, mas em excesso. Deus não propõe prodigalizar recursos do Céu com os quais sustentar os pobres, mas tem colocado os Seus bens nas mãos de agentes. Eles devem reconhecer a Cristo na pessoa de Seus santos. E o que fazem para Seus filhos sofredores, fazem para Ele; pois Ele identifica Seus interesses com os da humanidade sofredora. T4 511 2 Deus convida os jovens a renunciarem a ornamentos e artigos de vestuário desnecessários, mesmo quando quase nada custem, e a depositarem esta quantia na caixa de caridade. Ele apela também a pessoas de mais idade a que se detenham quando estão examinando um relógio ou corrente de ouro ou algum artigo caro de mobiliário, e façam a si mesmos a pergunta: Seria correto gastar tão grande soma em algo de que não necessitamos, ou quando um artigo mais barato serve igualmente para o mesmo fim? Negando a si mesmos e exaltando a cruz de Jesus, que por amor de vocês Se fez pobre, podem fazer muito para aliviar os sofrimentos dos pobres dentre nós; e por assim imitar o exemplo de seu Senhor e Mestre, receberão Sua aprovação e bênção. ------------------------Capítulo 48 -- A causa em Battle Creek T4 511 3 Muitos que vieram a Battle Creek não vieram com o propósito de assumir responsabilidades. Não vieram porque sentem qualquer ansiedade especial pela prosperidade da causa ali, mas pelos próprios interesses, porque desejam obter vantagens. Esperam assegurar os benefícios provindos das instituições ali localizadas, sem assumirem quaisquer responsabilidades. T4 512 1 Alguns que se fixaram em Battle Creek a fim de terem oportunidade mais favorável de se beneficiar, são culpados de egoísmo, e mesmo de fraude, no trato com nossos irmãos que vieram de longe. Se houver quaisquer vantagens a serem obtidas, nossas instituições deviam recebê-las, e não esses indivíduos que nada fizeram para levantá-las, e que somente têm por elas um interesse egoísta. Muitos que vêm a Battle Creek não são nenhuma força, do ponto de vista religioso, à causa. No coração se assemelham a Coré, Datã, Abirão; e se uma oportunidade favorável se apresentar, seguirão o exemplo daqueles homens ímpios. É verdade que suas transações fraudulentas podem ser ocultas dos olhos de seus irmãos em geral, mas Deus assinala a sua conduta, e finalmente os recompensará segundo as suas obras. T4 512 2 Alguns que há muito têm estado em Battle Creek, e que deviam ser homens responsáveis, estão ocupando posições de confiança apenas nominalmente. Têm se tornado guardiães de nossas instituições; contudo, sua conduta revela que não têm interesse especial nelas nem com elas se preocupam. Seus pensamentos centralizam-se em si mesmos. Se devêssemos julgá-los por suas obras, decidiríamos que consideram as próprias energias por demais preciosas para serem exercidas em favor desses instrumentos de Deus, a menos que possam assegurar vantagens temporais para si mesmos. Esses estão negligenciando guardar o forte, não porque não podem fazê-lo, mas porque são condescendentes e estão satisfeitos em embalar-se para dormir no berço da segurança carnal. T4 512 3 Homens que tornam o seu alvo e objetivo na vida agradar-se e beneficiar-se não devem permanecer neste importante posto. Não têm direito de ali estar; pois colocam-se diretamente no caminho da obra de Deus. Aqueles que negligenciam os pobres do Senhor, que não sentem responsabilidade pelas viúvas e órfãos, não tornam esses casos de especial interesse e trabalho para ver a justiça e eqüidade entre o homem e seu semelhante, são culpados de negligenciar a Cristo na pessoa de Seus santos, porque não investigam a respeito da causa que desconhecem. Eles não têm responsabilidades e não fazem esforço para sustentar o direito. Se a mais dedicada vigilância não for manifesta no grande coração da obra para proteger os interesses da causa, a igreja se tornará tão corrupta quanto as igrejas de outras denominações. T4 513 1 Todos que vivem em Battle Creek terão terrível contas a prestar a Deus se tolerarem o pecado em um irmão. É fato alarmante que a indiferença, a sonolência e a apatia tenham caracterizado homens em posições de responsabilidade, e haja crescente aumento de orgulho e alarmante desconsideração às advertências do Espírito de Deus. As barreiras que a Palavra de Deus coloca em torno de Seu povo estão sendo despedaçadas. Homens que estão familiarizados com a forma em que Deus conduziu o Seu povo no passado, em vez de indagar sobre os antigos caminhos e defenderem nossa posição como povo peculiar, têm unido mãos com o mundo. O aspecto mais alarmante no caso é que as vozes de advertência não têm sido ouvidas em protestos, apelos e advertências. Os olhos do povo de Deus parecem estar cegados, enquanto a igreja rapidamente se afasta para o conduto de mundanismo. T4 513 2 Deus não deseja homens débeis protegendo os interesses de Suas instituições e da igreja, mas homens ativos e atuantes -- homens que tenham habilidades e percepção rápida -- homens que tenham olhos e os usem para poderem ver, e coração suscetível às influências de Seu Espírito. Ele requer dos homens uma estrita prestação de contas na guarda dos interesses de Sua causa em Battle Creek. T4 513 3 Há alguns em Battle Creek que nunca se submeteram plenamente à reprovação. Eles tomaram um rumo de sua própria escolha. Têm sempre em maior ou menor grau exercido influência contra aqueles que se levantam para defender o direito e reprovar o erro. A influência dessas pessoas sobre indivíduos que aqui vêm, e que são postos em contato com eles como hospedeiros, é muito má. Eles enchem a mente desses recém-chegados com questionamentos e dúvidas a respeito dos testemunhos do Espírito de Deus. Dão falsas interpretações aos Testemunhos; e em vez de levar pessoas a se tornarem consagradas a Deus e ouvirem a voz da igreja, eles as ensinam a serem independentes e não se preocuparem com as opiniões e julgamento dos outros. A influência dessa classe tem estado secretamente em atuação. Alguns são inconscientes do prejuízo que estão causando; mas, sendo sem consagração, orgulhosos e rebeldes, conduzem outros no caminho errado. Uma atmosfera venenosa é respirada por esses indivíduos não consagrados. O sangue das almas está nas vestes desses, e Cristo lhes dirá no dia do acerto final: "Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:23. Eles ficarão espantados; mas sua professa vida cristã foi um engano, uma fraude. T4 514 1 Se todos em Battle Creek fossem fiéis à luz que Deus lhes tem dado, leais aos interesses da igreja, reconhecendo o valor das almas pelas quais Cristo morreu, uma influência diferente seria exercida. Vemos, porém, sendo repetida aqui em grande escala a experiência dos filhos de Israel. Ao estar o povo perante o Monte Sinai, ouvindo a voz de Deus, ficou tão grandemente impressionado com Sua sagrada presença que recuou em terror, e clamou a Moisés: "Fala tu conosco, e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que não morramos." Êxodo 20:19. Ali diante do monte fizeram votos solenes de fidelidade a Deus; mas mal haviam os trovões, a trombeta e a voz do Senhor cessado, estavam curvados sobre os joelhos diante de um ídolo. O seu líder havia sido chamado para longe de seus olhos e envolvido numa densa nuvem, em conversação com Deus. T4 514 2 O companheiro de atividades de Moisés, que foi deixado com a solene incumbência do povo em sua ausência, ouviu as pessoas expressando queixa de que Moisés as havia deixado, e expressando o desejo de retornarem ao Egito; contudo, com medo de ofender as pessoas, ele ficou em silêncio. Não se levantou ousadamente por Deus, mas para agradar as pessoas preparou um bezerro de ouro. Ele parecia estar adormecido à evidência do mal. Quando as primeiras palavras rebeldes foram proferidas, Arão poderia tê-las impedido; estava, porém, tão temeroso de ofender o povo que aparentemente se uniu a eles e foi finalmente persuadido a fazer um bezerro de ouro para que adorassem. T4 515 1 Pastores devem ser vigias fiéis, vendo os males e advertindo o povo. Os perigos do povo devem ser-lhes continuamente apresentados com insistência. A exortação dada a Timóteo foi: "Redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." 2 Timóteo 4:2. T4 515 2 Tem havido relações matrimoniais formadas em Battle Creek com as quais Deus nada tem a ver. Casamentos têm sido mal escolhidos em alguns casos, e imaturos em outros. Cristo nos tem advertido que esse estado de coisas existiria antes de Seu segundo aparecimento. Constitui um dos sinais dos últimos dias. Uma condição semelhante de coisas existiu antes do dilúvio. A mente do povo foi enfeitiçada na questão do casamento. Quando há tanta incerteza, tanto perigo, não há razão por que devemos fazer uma grande exibição, mesmo se as partes estiverem perfeitamente ajustadas uma à outra; mas isso precisa ser comprovado. T4 515 3 Quando aqueles que professam ser reformadores, os de vida humilde, imitam os costumes e modas dos ricos mundanos, é uma desonra à nossa fé. Há alguns a quem Deus deu palavras de advertência; mas isso os deteve? Não; eles não temeram a Deus, pois o poder enfeitiçante de Satanás estava sobre eles. E alguns em Battle Creek têm influenciado a esses pobres apaixonados a seguirem o seu próprio discernimento, e, por fazê-lo, tornaram-se inúteis e incorreram no desprazer de Deus. T4 515 4 Deus deseja que os homens cultivem a força de caráter. Os que são meramente oportunistas não são os que receberão uma rica recompensa futura. Deus deseja que os que trabalham em Sua causa sejam homens de fina sensibilidade e aguda percepção. Devem ser temperantes no comer; alimentos ricos e condimentados não devem ter lugar em suas mesas; e quando o cérebro é constantemente sobrecarregado, e há falta de exercício físico, devem comer com moderação, mesmo em se tratando de alimentos simples. A clareza mental e a firmeza de propósito de Daniel e sua força de intelecto na aquisição de conhecimento eram devidas em grande parte à simplicidade de seu regime alimentar, associado à sua vida de oração. T4 516 1 Eli era um homem bom, puro quanto à moral; mas era demasiado condescendente. Ele incorreu no desagrado de Deus porque não fortaleceu os pontos fracos de seu caráter. Não queria ferir os sentimentos de ninguém e não teve a coragem moral necessária para repreender e reprovar o pecado. Seus filhos eram homens perversos; contudo, ele não os removeu de seu cargo de confiança. Esses filhos profanaram a casa de Deus. Ele sabia disso e sentia tristeza pelas conseqüências, pois amava a pureza e a justiça, mas lhe faltava força moral suficiente para suprimir o mal. Ele amava a paz e a harmonia, e tornou-se cada vez mais insensível quanto à impureza e ao crime. Mas o grande Deus assume a questão em Suas próprias mãos. Quando a repreensão cai sobre ele, através da intervenção de uma criança, ele a aceita, sentindo ser o que ele merece. Não mostra qualquer ressentimento para com Samuel, o mensageiro de Deus; ele o ama como antes, mas condena a si mesmo. T4 516 2 Os culpados filhos de Eli foram mortos em batalha. Ele pôde suportar ouvir que seus filhos haviam sido mortos, mas não pôde suportar as notícias de que a arca de Deus tinha sido tomada. Sabia que seu pecado de negligência em deixar de defender o que era correto e restringir o erro tinha finalmente privado Israel de sua força e glória. A palidez da morte recobriu-lhe a face; ele caiu para trás e morreu. T4 516 3 Que lição temos aqui para os pais, os guardiães dos jovens e aqueles que ministram no serviço de Deus. Quando males existentes não são enfrentados e detidos, porque os homens têm pouquíssima coragem de reprovar o erro, ou porque têm pouquíssimo interesse ou são por demais indolentes para exercerem suas faculdades em despender esforços dedicados para purificar a família ou a igreja de Deus, eles são responsáveis pelo mal que possa resultar em conseqüência da negligência de seu dever. Somos tão responsáveis por males que poderíamos haver reprimido em outros pela reprovação, pela advertência, pelo exercício da autoridade paterna ou pastoral, como se fôssemos nós mesmos culpados desses atos. T4 517 1 Eli devia ter primeiro tentado restringir o mal com medidas suaves; mas se isso não adiantasse, devia ter subjugado o erro por medidas severas. A honra de Deus deve ser sagradamente preservada, mesmo que nos separe do parente mais próximo. Um defeito em um homem doutro modo talentoso pode destruir sua utilidade nesta vida e levá-lo a ouvir no dia de Deus as palavras terríveis. "Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade." Mateus 7:23. T4 517 2 Eli era gentil, amável e bondoso, e tinha verdadeiro interesse no serviço de Deus e na prosperidade de Sua causa. Era um homem que tinha poder na oração. Jamais se levantou em rebelião contra as palavras de Deus. Mas era um homem carente; não tinha o caráter necessário para reprovar o pecado e executar a justiça contra o pecador a ponto de que Deus pudesse depender dele para conservar puro a Israel. Eli não acrescentou a sua fé a coragem e o poder para dizer "Não" no momento certo e no lugar certo. Pecado é pecado; justiça é justiça. A nota de advertência da trombeta deve ser soada. Estamos vivendo numa época terrivelmente ímpia. A adoração de Deus se tornará corrompida a menos que haja homens bem despertos em todo o posto de dever. Agora não é tempo para qualquer pessoa estar absorvida em comodidade egoísta. Nenhuma das palavras que Deus falou deve ser deixada cair por terra. T4 517 3 Enquanto alguns em Battle Creek professam acreditar nos Testemunhos, eles os têm estado espezinhado. Poucos, todavia, os leram com interesse; poucos os têm acatado. A condescendência com o eu, o orgulho, a moda e a ostentação estão misturados com a adoração a Deus. Ele deseja homens corajosos para a ação, que não considerarão a instituição de ídolos e a introdução de abominações sem levantar a voz como trombeta, anunciando ao "povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados". Isaías 58:1. T4 517 4 Tão logo Samuel começou a julgar Israel, ainda em sua juventude, convocou uma assembléia do povo para jejum e oração, e profunda humilhação diante de Deus. Ele deu o seu solene testemunho vindo da boca de Deus. O povo então começou a aprender onde estava a sua força. Eles apelaram a Samuel para não cessar de clamar a Deus por eles. Os seus inimigos foram despertados a enfrentá-los em batalha; mas Deus ouviu a oração intercessória. Atuou em favor deles, e a vitória foi de Israel. T4 518 1 Há uma grande obra a ser feita em Battle Creek. Deveres têm sido negligenciados, importantes tarefas têm sido retardadas. Homens têm vindo aqui, os quais nada acrescentaram ao vigor da causa, mas que estão constantemente em ação para reunir os poucos recursos de outros nas próprias mãos, roubando assim o tesouro de Deus. O egoísmo natural do coração deles é revelado onde quer que uma oportunidade favorável se apresente para beneficiar a si mesmos em detrimento de outros. Têm feito isso até que o padrão de mundanismo seja satisfeito e haja apenas pouca diferença entre sua maneira de ser e a do mundo. T4 518 2 Nosso povo em Battle Creek tem tido maiores responsabilidades a levar do que em qualquer outro lugar. Todos que escolheram morar aqui, devem aceitar o fato, não meramente para sua própria conveniência e benefício, mas visando unicamente a glória de Deus. Devem estar plenamente preparados para aliviar os fardos onde e quando necessitem ser aliviados; e com abnegada devoção sustentar as instituições que Deus colocou entre eles. Aqueles que não estão dispostos a seguir essa conduta devem ir para onde não haja responsabilidades tão pesadas a serem assumidas. Neste importante posto, onde tantos dependem de esforço pessoal, todos devem cumprir sem hesitação a sua parte; devem estar bem despertos, para que a causa de seu Mestre não sofra a perda de uma alma. Muitos falham em assumir o padrão do evangelho; têm consideração egoísta por seus próprios interesses e negligenciam ver o que podem fazer para ser uma bênção a seus semelhantes. Cristo não deseja preguiçosos em Sua vinha. Ele requer que cada um trabalhe para o tempo e para a eternidade. ------------------------Capítulo 49 -- Aperfeiçoar talentos T4 519 1 Deus quer que o aperfeiçoamento seja a obra vitalícia de todos os Seus seguidores, e que seja dirigido e controlado pela experiência correta. O verdadeiro homem é aquele que está disposto a sacrificar o próprio interesse para o bem de outros e que se ocupa em sanar os quebrantados de coração. O verdadeiro objetivo da vida apenas começou a ser compreendido por muitos; e o que é real e substancial em sua vida é sacrificado por causa de erros acariciados. T4 519 2 Nero e César foram reconhecidos pelo mundo como grandes homens; mas acaso Deus assim os considerou? Não; não estavam ligados por fé viva ao grande Coração da humanidade. Estavam no mundo; e comeram, beberam e dormiram como homens do mundo; mas eram satânicos em sua crueldade. Onde quer que esses monstros da humanidade iam, o sangue derramado e a destruição assinalavam seu trajeto. Foram louvados pelo mundo enquanto viviam; quando, porém, foram sepultados, o mundo se regozijou. Em contraste com a vida desses homens está a vida de Lutero. Ele não nasceu como príncipe. Não ostentou uma coroa real. Da cela do mosteiro sua voz foi ouvida e sua influência sentida. Ele possuía disposição humanitária, que foi exercida para o bem dos homens. Defendeu corajosamente a verdade e o direito e enfrentou a oposição do mundo a fim de beneficiar os seus semelhantes. T4 519 3 De acordo com o padrão divino, apenas o intelecto não faz o homem. Há poder no intelecto se for santificado e controlado pelo Espírito de Deus. Ele é superior às riquezas e à força física, mas precisa ser cultivado para fazer o homem. O direito que a pessoa tem a reivindicar para ser homem é determinado pelo uso feito de seu intelecto. Byron tinha concepção intelectual e profundeza de pensamento; mas não foi um homem segundo o padrão divino. Foi um agente de Satanás. Suas paixões eram impetuosas e incontroláveis. Durante a vida semeou as sementes que frutificaram numa safra de corrupção. A obra de sua vida rebaixou os padrões da virtude. Esse homem foi um dos homens mais ilustres do mundo; contudo, o Senhor não o reconheceria como um homem, mas somente como alguém que abusou de seus talentos dados por Deus. Gibbon o cético, e muitos outros a quem Deus concedeu mentes gigantescas, e a quem o mundo chamou de grandes homens, colocou-se sob a bandeira de Satanás e empregou os dons de Deus para a perversão da verdade e a destruição de almas. Um grande intelecto, quando transformado em servo do vício, é uma maldição ao possuidor e a todos que estejam no círculo de sua influência. T4 520 1 A vida espiritual é o que será uma bênção para a humanidade. Se o homem estiver em harmonia com Deus, dependerá continuamente dEle para obter força. "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. Nossa obra vitalícia é estar prosseguindo para a perfeição do caráter cristão, procurando continuamente viver em conformidade com a vontade de Deus. Os esforços começados na Terra continuarão na eternidade. O padrão de Deus para o homem é elevado ao mais alto significado da palavra, e se agir de acordo com a varonilidade que lhe foi dada por Deus, ele promoverá a felicidade nesta vida, a qual conduzirá à glória e à recompensa eterna na vida por vir. T4 520 2 Os membros da família humana só fazem jus ao nome de homens e mulheres quando empregam os seus talentos, de todo modo possível, para o bem de outros. A vida de Cristo está diante de nós como um modelo, e é quando atende, como anjos da misericórdia, às necessidades de outras pessoas, que o ser humano é intimamente ligado a Deus. A natureza do cristianismo é tornar famílias felizes e feliz a sociedade. A discórdia, o egoísmo e a contenda serão eliminados de todo homem e mulher que possuem o verdadeiro espírito de Cristo. T4 520 3 Os que são participantes do amor de Cristo não têm o direito de pensar que há um limite para sua influência e obra em procurar beneficiar a humanidade. Cristo ficou cansado em Seus esforços para salvar o homem decaído? Nossa obra deve ser contínua e perseverante. Encontraremos uma obra a ser feita até que o Mestre nos ordene depor nossa armadura a Seus pés. Deus é um governante moral, e precisamos esperar, submissos a Sua vontade, prontos e dispostos a lançar-nos ao nosso dever sempre que haja uma obra a ser feita. T4 521 1 Anjos estão empenhados noite e dia no serviço de Deus para elevar o homem de acordo com o plano da salvação. Ao homem é requerido amar supremamente a Deus, ou seja, de todo o seu coração, entendimento e força, e ao seu próximo como a si mesmo. Isso possivelmente não pode ocorrer a menos que você negue a si mesmo. Disse Cristo: "Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. T4 521 2 Negar a si mesmo significa governar o espírito quando a paixão está buscando o domínio; resistir à tentação de censurar e falar palavras de crítica; ter paciência com a criança que é insensível e cuja conduta é perturbadora e difícil; permanecer no posto do dever quando outros falham; assumir responsabilidades onde quer e quando quer que possa, não para ser aplaudido, não por política, mas pela causa do Mestre, que lhe deu uma obra a ser feita com fidelidade inabalável; quando desejar louvar a si mesmo, manter-se em silêncio e deixar que outros lábios o louvem. Abnegação é fazer o bem aos outros onde a inclinação o levaria a servir e agradar a si mesmo. Conquanto seus semelhantes nunca possam apreciar os seus esforços ou lhe dar crédito por eles, contudo você deve continuar se esforçando. T4 521 3 Busquem cuidadosamente e vejam onde a verdade que aceitaram se lhes tornou um firme princípio. Levam a Cristo consigo quando deixam a câmara de oração? A sua religião monta guarda à porta de seus lábios? Seu coração é atraído em simpatia e amor por outros fora de sua própria família? Vocês estão diligentemente buscando uma compreensão mais clara da verdade escriturística, para que possam permitir que a sua luz brilhe para os outros? Vocês podem responder intimamente a essas perguntas. Permitam que a sua fala seja temperada com graça e o seu comportamento revele nobreza cristã. T4 521 4 Um novo ano começou. Qual foi o registro de sua vida cristã no ano passado? Como se apresenta o seu registro no Céu? Apelo-lhes que façam uma entrega sem reservas a Deus. O coração de vocês está dividido? Entreguem-no inteiramente ao Senhor agora. Façam no ano vindouro uma história de vida diferente da história passada. Humilhem sua alma perante Deus. "Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam." Tiago 1:12. Ponham de parte toda a pretensão e afetação. Ajam de maneira simples e natural. Sejam verazes em todo pensamento, palavra e ação e, em humildade "cada um considere os outros superiores a si mesmo". Filipenses 2:3. Lembrem-se sempre que a natureza moral precisa ser reforçada com constante vigilância e oração. Enquanto contemplarem a Cristo, estarão seguros; mas no momento em que pensarem em seus sacrifícios e dificuldades e começarem a simpatizar e se preocupar consigo mesmos, perderão a confiança em Deus e estarão em grande perigo. T4 522 1 Muitos limitam a Providência divina, e separam de Seu caráter a misericórdia e o amor. Instam para que a grandeza e a majestade de Deus impeçam de se interessarem pelas preocupações das mais fracas de suas criaturas. "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai." Mateus 10:29. T4 522 2 É difícil para os seres humanos darem atenção às questões menores da vida enquanto a mente está envolvida em negócios de grande importância. Mas não deve existir essa união? O ser humano formado à imagem de seu Criador deve unir as responsabilidades maiores com as menores. Pode estar empenhado em ocupações de tremenda importância, porém negligenciar a instrução de que seus filhos carecem. Esses deveres podem ser vistos como os menores deveres da vida, quando na realidade estão no próprio fundamento da sociedade. A felicidade de famílias e igrejas depende das influências domésticas. Os interesses eternos dependem do devido desempenho dos deveres desta vida. O mundo não necessita tanto de grandes mentalidades como de homens bons, que serão uma bênção em seu lar. ------------------------Capítulo 50 -- Os servos de Deus T4 523 2 Deus escolheu Abraão como Seu mensageiro através do qual comunicaria luz ao mundo. A palavra de Deus veio a ele, não com o oferecimento de perspectivas lisonjeiras nesta vida, de elevado salário, ou de grande reconhecimento e honras mundanas. "Sai da tua terra e dentre a tua parentela e dirige-te à terra que Eu te mostrar" (Atos dos Apóstolos 7:3) foi a mensagem divina a Abraão. O patriarca obedeceu, "e saiu, sem saber para onde ia" (Hebreus 11:8), como portador da luz divina, a fim de manter o Seu nome lembrado na Terra. Ele abandonou seu país, sua casa, seus parentes e todas as relações amistosas ligadas a sua vida anterior, a fim de tornar-se peregrino e estrangeiro. T4 523 3 É freqüentemente mais essencial do que muitos percebem, que as associações anteriores devam ser interrompidas, a fim de que aqueles que falam "no lugar de Cristo" possam permanecer numa posição onde Deus possa educá-los e qualificá-los para Sua grande obra. Parentes e amigos muitas vezes têm uma influência que Deus vê que interferirá grandemente com as instruções que Ele determinou dar aos Seus servos. Sugestões serão feitas por aqueles que não estão em íntima ligação com o Céu que, se acatadas, afastarão de Sua santa obra aqueles que devem ser portadores de luz ao mundo. T4 523 4 Antes que Deus pudesse usá-lo, Abraão teve de separar-se de seus companheiros anteriores, para não ser controlado por influências humanas ou confiar no auxílio humano. Agora, que ele havia se ligado a Deus, devia habitar entre estranhos. Seu caráter precisava ser especial, diferente de todos os demais no mundo. Ele não podia sequer explicar seu modo de proceder, de maneira a ser compreendido por seus amigos, pois eles eram idólatras. As coisas espirituais precisam ser discernidas espiritualmente; conseqüentemente, seus motivos e ações estavam além da compreensão de seus parentes e amigos. T4 524 1 A obediência incondicional de Abraão foi um dos mais notáveis exemplos de fé e confiança em Deus encontrados no Registro Sagrado. Tendo apenas a simples promessa de que os seus descendentes possuiriam a terra de Canaã, sem a menor evidência externa, ele seguiu para onde Deus o conduziria, cumprindo sincera e integralmente as condições que lhe competiam, e confiando em que o Senhor fielmente cumpriria a Sua palavra. O patriarca foi para onde quer que Deus indicasse ser seu dever; atravessou o deserto sem temor; penetrou em nações idólatras com o único pensamento: "Deus falou; estou obedecendo à Sua voz; Ele me guiará e protegerá." T4 524 2 Os mensageiros de Deus necessitam hoje exatamente da mesma fé e confiança que Abraão teve. Mas muitos que poderiam ser usados por Deus não avançam, ouvindo e obedecendo à Voz que é superior a todas as outras. A ligação com parentes e amigos, os hábitos e associações anteriores, muitas vezes têm tão grande influência sobre os servos de Deus, que Ele pode dar-lhes apenas pouca instrução, pode comunicar-lhes apenas pouco conhecimento sobre Seus propósitos; e freqüentemente após certo tempo os deixa de lado e chama outros em seu lugar, a quem prova e testa da mesma maneira. O Senhor faria muito mais por Seus servos se eles fossem totalmente consagrados a Ele, valorizando Seu serviço acima dos laços de parentesco e de todos os demais relacionamentos terrenos. T4 524 3 Os ministros do evangelho têm um trabalho sagrado. Têm uma mensagem solene de advertência para levar ao mundo -- uma mensagem que será "cheiro de vida para a vida" ou de "morte para morte". 2 Coríntios 2:16. São mensageiros de Deus ao ser humano; e nunca devem perder de vista a sua missão ou suas responsabilidades. Não são como os mundanos; não podem ser semelhantes a eles. Se desejarem ser fiéis a Deus, devem manter caráter santo, distinto. Se deixarem de relacionar-se com o Céu, estão em maior perigo do que outros e podem exercer uma influência mais forte na direção errada; pois Satanás tem o seu olhar constantemente sobre eles, esperando pelo desenvolvimento de alguma fraqueza, com a qual possa realizar um ataque bem-sucedido. E como ele exulta quando tem êxito; pois, quando alguém que é embaixador de Cristo não está vigiando, o grande adversário pode assegurar muitas almas para si mesmo através dessa pessoa. T4 525 1 Os que estão intimamente ligados a Deus talvez não sejam prósperos nas coisas desta vida; muitas vezes poderão ser severamente provados e afligidos. José foi difamado e perseguido porque preservou sua virtude e integridade. Davi, esse mensageiro escolhido por Deus, foi caçado como um animal de rapina por seus perversos inimigos. Daniel foi lançado numa cova de leões porque era sincero e inflexível em sua lealdade a Deus. Jó foi privado de suas posses terrenas, e tão afligido no corpo que sofreu a repulsa de seus parentes e amigos, mas preservou a integridade e a fidelidade a Deus. Jeremias falou as palavras que Deus pôs em sua boca, e o seu claro testemunho enfureceu de tal modo o rei e os príncipes, que foi lançado num poço asqueroso. Estêvão foi apedrejado por pregar a Cristo, e Este crucificado. Paulo foi preso, surrado com varas, apedrejado e finalmente condenado à morte porque era um mensageiro fiel para levar o evangelho aos gentios. O amado João foi banido para a ilha de Patmos por causa "da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo". Apocalipse 1:2. T4 525 2 Esses exemplos de firmeza humana, na força do poder divino, são para o mundo um testemunho da fidelidade das promessas de Deus -- de Sua permanente presença e graça mantenedora. Ao considerar esses homens humildes, o mundo não consegue discernir o seu valor moral para Deus. É uma obra de fé descansar calmamente em Deus na hora mais escura -- embora severamente provados, e açoitados pelo vento, sentir que nosso Pai está no leme. Só o olhar da fé pode enxergar além das coisas do tempo e dos sentidos, para apreciar o valor das riquezas eternas. T4 526 1 O grande comandante militar conquista nações e abala os exércitos da metade do mundo, mas morre de desapontamento e no exílio. O filósofo que vagueia através do Universo, seguindo por toda a parte as manifestações do poder de Deus e deleitando-se em sua harmonia, muitas vezes deixa de contemplar nessas maravilhas a Mão que formou todas elas. "O homem que está em honra, e não tem entendimento, é semelhante aos animais, que perecem." Salmos 49:20. T4 526 2 Nenhuma esperança de gloriosa imortalidade ilumina o futuro dos inimigos de Deus. Mas aqueles heróis da fé têm a promessa de uma herança de maior valor do que quaisquer riquezas terrenas -- uma herança que satisfará os anseios da alma. Eles podem ser desconhecidos ao mundo e não reconhecidos por ele; são, porém, inscritos como cidadãos nos livros de registro do Céu. Excelsa grandeza, duradouro e eterno peso de glória será a recompensa final daqueles a quem Deus tornou herdeiro de todas as coisas. T4 526 3 Ministros do evangelho devem tornar a verdade de Deus o tema de estudo, meditação e conversação. A mente que se demora muito na revelada vontade de Deus ao homem tornar-se-á forte na verdade. Os que lêem e estudam com sincero anseio pela luz divina, quer sejam pastores quer não, logo descobrirão nas Escrituras a beleza e a harmonia que lhes cativarão a atenção, elevarão os pensamentos e lhes darão inspiração e vigor de raciocínio que serão poderosos para persuadir e converter almas. T4 526 4 Há perigo de que os pastores que professam crer na verdade presente se satisfaçam em apresentar a teoria somente, enquanto a própria alma não sente o seu poder santificador. Alguns não têm o amor de Deus no coração suavizando, moldando e enobrecendo a existência. O salmista declara o seguinte sobre o homem bom: "Tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite." Salmos 1:2. Ele se refere a sua própria experiência, e exclama: "Oh! Quanto amo a Tua lei! É a minha meditação em todo o dia!" Salmos 119:97. "Os meus olhos anteciparam-me às vigílias da noite, para meditar na Tua palavra." Salmos 119:148. T4 526 5 Nenhum homem está qualificado a permanecer no púlpito sagrado, a menos que sinta a influência transformadora da verdade de Deus sobre a própria alma. Então, e só então, pode por preceito e exemplo representar corretamente a vida de Cristo. Muitos, porém, em seus esforços, exaltam a si mesmos em vez de ao Mestre; e as pessoas são convertidas ao pastor, em vez de sê-lo a Cristo. T4 527 1 Estou triste por saber que alguns que atualmente pregam a verdade presente são na realidade homens não convertidos. Não estão ligados a Deus. Têm uma religião racional, mas não têm coração convertido; e esses são os mesmos que têm mais confiança em si mesmos e suficiência própria; e esta auto-suficiência se colocará no caminho de obterem aquela experiência que é essencial para torná-los eficientes obreiros na vinha do Senhor. Gostaria de poder despertar aqueles que alegam serem atalaias sobre os muros de Sião, para perceberem sua responsabilidade. Devem despertar e assumir posição mais elevada por Deus; pois as almas estão perecendo por causa de sua negligência. Devem ter aquela sincera devoção a Deus que os levará a ver como Deus vê, aceitar Suas palavras de advertência e dar o aviso àqueles que estão em perigo. O Senhor não ocultará da fiel sentinela a Sua verdade. Aqueles que cumprem a vontade de Deus conhecerão Sua doutrina. "Os sábios entenderão"; mas "os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá." Daniel 12:10. T4 527 2 Disse Jesus a Seus discípulos: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." Mateus 11:29. Insto com os que aceitaram a posição de instrutores para que primeiro se tornem humildes discípulos e sempre continuem sendo alunos na escola de Cristo, a fim de receber do Mestre lições de mansidão e humildade de coração. Humildade de espírito, combinada com diligente atividade, resultará na salvação de pessoas tão ternamente adquiridas pelo sangue de Cristo. O pastor pode entender e acreditar na teoria da verdade, e ser capaz de apresentá-la a outros; mas isto não é tudo o que dele se requer. "A fé sem obras é morta." Tiago 2:20. Ele necessita da fé que atua pelo amor e purifica a alma. A viva fé em Cristo porá toda ação da vida e toda emoção da alma em harmonia com a verdade e a justiça de Deus. T4 528 1 A irritabilidade, a exaltação de si mesmo, o orgulho, a paixão e qualquer outro traço de caráter dessemelhante de nosso santo Modelo precisam ser vencidos; e então a humildade, a mansidão e a sincera gratidão a Jesus por Sua grande salvação fluirão continuamente da fonte pura do coração. A voz de Jesus deve ser ouvida na mensagem que provém dos lábios de Seu embaixador. T4 528 2 Devemos ter um ministério convertido. A eficiência e poder que acompanham o ministério verdadeiramente convertido fariam os hipócritas de Sião tremer e os pecadores temer. O padrão da verdade e santidade está se arrastando no pó. Se aqueles que dão os solenes avisos de advertência para este tempo compreendessem sua responsabilidade para com Deus, veriam a necessidade de fervorosa oração. Quando as cidades se aquietavam no sono da meia-noite, quando todos os homens tinham ido para a própria casa, Cristo, nosso Exemplo, dirigia-se ao Monte da Oliveiras, e ali, entre as árvores protetoras, passava a noite inteira em oração. Aquele que estava, Ele mesmo, sem mancha de pecado -- um reservatório de bênção; cuja voz fora ouvida na quarta vigília da noite pelos atemorizados discípulos no mar tempestuoso, em bênção celestial; e cuja palavra podia chamar os mortos para fora de suas sepulturas -- era O que fazia súplicas com fortes clamores e lágrimas. Ele orava, não por Si mesmo, mas por aqueles a quem viera salvar. Ao tornar-Se um suplicante, buscando da mão de Seu Pai suprimentos novos de força, e saindo refrigerado e revigorado como substituto do homem, Ele Se identifica com a humanidade sofredora, e lhe dá um exemplo da necessidade de oração. T4 528 3 Sua natureza estava sem mancha de pecado. Como Filho do homem, Ele orava ao Pai, mostrando que a natureza humana requer todo o apoio divino que o homem possa obter para ser fortalecido para o dever e preparado para a prova. Como o Príncipe da Vida, Ele tinha poder com Deus, e prevaleceu para o bem de Seu povo. O Salvador, que orou pelos que não sentiam necessidade de oração, e que chorou pelos que não sentiam necessidade de lágrimas, agora está diante do trono, para receber e apresentar a Seu Pai as petições daqueles por quem Ele orou na Terra. O exemplo de Cristo é para ser seguido por nós. A oração é uma necessidade em nosso trabalho pela salvação de almas. Só Deus pode promover o crescimento da semente que semeamos. T4 529 1 Falhamos muitas vezes porque não compreendemos que Cristo está conosco, por Seu Espírito, tão verdadeiramente como quando, nos dias de Sua humilhação, andou visivelmente na Terra. O passar do tempo não efetuou nenhuma modificação em Sua promessa de despedida aos apóstolos, ao retirar-Se deles e ser elevado para o Céu: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Ele ordenou que houvesse uma sucessão de homens cuja autoridade proviesse dos primeiros mestres da fé para a contínua pregação de Cristo e Este crucificado. O grande Mestre delegou poder a Seus servos, que têm "este tesouro em vasos de barro". 2 Coríntios 4:7. Cristo dirigirá a obra de Seus embaixadores se eles aguardarem Sua instrução e orientação. T4 529 2 Os pastores que são verdadeiramente representantes de Cristo serão homens de oração. Com ardor e fé que não serão negados, eles pleitearão com Deus para que sejam fortalecidos e encorajados para o dever e a provação, e para que seus lábios sejam santificados pelo toque da brasa viva tirada do altar a fim de falarem as palavras de Cristo ao povo. "O Senhor Jeová me deu uma língua erudita, para que eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem." Isaías 50:4. T4 529 3 Cristo disse a Pedro: "Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça." Lucas 22:31, 32. Quem pode avaliar o resultado das orações do Redentor do mundo? Quando Cristo vir o fruto do penoso trabalho de Sua alma e ficar satisfeito, então será visto e compreendido o valor de Suas fervorosas orações enquanto Sua divindade foi revestida com humanidade. T4 529 4 Jesus rogou, não apenas por um só, mas por todos os Seus discípulos: "Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." João 17:24. Seu olhar atravessou o escuro véu do futuro e leu a história da vida de cada filho e filha de Adão. Ele sentiu os fardos e as tristezas de toda alma açoitada pela tempestade, e aquela fervorosa oração, além de Seus discípulos vivos, incluiu todos os Seus seguidores até o fim do tempo. "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim." João 17:20. Sim; essa oração de Cristo nos abrange. Devíamos ser confortados pelo pensamento de que temos um grande intercessor no Céu, apresentando nossas petições a Deus. "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo." 1 João 2:1. Na hora da maior necessidade, quando o desânimo subjugaria a alma, é então que o olhar vigilante de Jesus vê que precisamos de Seu auxílio. A hora da necessidade do homem é o momento da oportunidade de Deus. Quando falha todo o apoio humano, Jesus vem em nosso auxílio, e Sua presença dissipa as trevas e dispersa a nuvem de tristeza. T4 530 1 Em seu pequeno barco sobre o Mar da Galiléia, em meio à tempestade e à escuridão, os discípulos lutavam duramente para alcançar a praia, mas viram que os seus esforços não tinham êxito. Ao serem dominados pelo desespero, Jesus foi visto caminhando sobre as águas espumejantes. Mesmo a presença de Cristo não foi inicialmente discernida, e o seu terror aumentou, até que a voz dEle dizendo "Sou Eu, não temais", desfez os seus temores, e lhes deu esperança e alegria. Então, quão voluntariamente os pobres e aterrorizados discípulos cessaram os seus esforços, e confiaram tudo ao Mestre. T4 530 2 Este impressionante incidente ilustra a experiência dos seguidores de Cristo. Quão freqüentemente nós nos agarramos aos remos como se nossa força e sabedoria fossem suficientes, até que descobrimos serem inúteis os nossos esforços. Então, com mãos trementes e as forças enfraquecidas, submetemos a obra a Jesus, e confessamos que somos incapazes de realizá-la. Nosso misericordioso Redentor Se compadece de nossa fraqueza; e quando, em resposta ao clamor de fé, assume a obra que lhe pedimos que cumpra, quão facilmente Ele realiza aquilo que nos parecia tão difícil. T4 530 3 A história do antigo povo de Deus nos fornece muitos exemplos encorajadores de oração eficaz. Quando os amalequitas vieram para atacar o acampamento de Israel no deserto, Moisés sabia que o seu povo não estava preparado para o confronto. Ele enviou Josué com um grupo de soldados ao encontro do inimigo, enquanto ele próprio, com Arão e Hur, tomaram posição sobre uma colina de onde podiam ver o campo de batalha. Ali o homem de Deus apresentou o caso ao Único que era capaz de lhes dar a vitória. Com mãos erguidas para o céu, Moisés orou fervorosamente pelo êxito dos exércitos de Israel. Observou-se que enquanto suas mãos estavam erguidas, Israel prevalecia contra o inimigo; mas quando pela fadiga ele permitia que descessem, Amaleque prevalecia. Arão e Hur sustentaram as mãos de Moisés, até que a vitória, plena e completa, se volveu para o lado de Israel, e seus inimigos foram expulsos do campo. T4 531 1 Este exemplo deve ser uma lição para todo o Israel até o fim do tempo, de que Deus é a força de Seu povo. Quando Israel triunfou, Moisés estava estendendo suas mãos para o céu, intercedendo em seu favor; assim, quando todo o Israel de Deus prevalece, é por causa do Todo-poderoso ter assumido o seu caso e lutado as suas batalhas por eles. Moisés não pediu nem acreditou que Deus derrotaria seus inimigos enquanto Israel permanecesse inativo. Ele dispõe todas as suas forças e as envia tão bem preparadas quanto suas condições o permitiam, e então leva toda a questão a Deus em oração. Moisés sobre a montanha está pleiteando com Deus, enquanto Josué com os seus corajosos seguidores está embaixo, fazendo o seu melhor para enfrentarem e expulsarem os inimigos de Israel e de Deus. T4 531 2 A oração que procede de um coração confiante e fervoroso é a oração eficaz que "pode muito em seus efeitos". Tiago 5:16. Deus nem sempre responde às nossas orações como esperamos, pois podemos não pedir o que seria para o nosso mais elevado bem; mas no Seu infinito amor e sabedoria Ele nos dará as coisas que mais necessitamos. Feliz o pastor que tem um fiel Arão e Hur para fortalecer suas mãos quando se tornam cansadas, e sustentá-las por meio de fé e oração. Tal apoio é uma ajuda poderosa aos servos de Cristo em Sua obra, e freqüentemente fará a causa da verdade triunfar gloriosamente. T4 532 1 Depois da transgressão de Israel por fazer o bezerro de ouro, Moisés de novo pleiteia com Deus em favor de seu povo. Ele tem algum conhecimento a respeito daqueles que foram colocados sobre seu cuidado; conhece a perversidade do coração humano e compreende as dificuldades com as quais deve contender. Mas aprendeu por experiência que para ter influência sobre o povo precisa antes ter poder com Deus. O Senhor lê a sinceridade e o propósito altruísta do coração de Seu servo e condescende em conversar com esse frágil mortal, face a face, como um homem fala com seu amigo. Moisés lançou a si mesmo e todo o seu fardo sobre Deus e livremente derramou sua alma perante Ele. O Senhor não reprova o Seu servo, mas Se curva para ouvir suas súplicas. T4 532 2 Moisés tem um profundo senso de sua indignidade e sua desqualificação para a grande obra à qual Deus o chamara. Ele pleiteia com intenso fervor para que o Senhor vá com ele. A resposta vem: "Irá a Minha presença contigo para te fazer descansar." Êxodo 33:14. Mas Moisés não sente que deve parar aqui. Ele já recebera muito, mas anseia aproximar-se ainda mais de Deus, a fim de obter maior segurança de Sua permanente presença. Ele conduzira o fardo de Israel; levara o esmagador peso de responsabilidade; quando o povo pecou, ele sofreu mortificante pesar, como se ele próprio fosse culpado; e agora pesa sobre sua alma o senso dos terríveis resultados se Deus deixar Israel em sua dureza de coração e impenitência. Eles não hesitariam em matar Moisés, e pela própria imprudência e perversidade logo cairiam presas de seus inimigos, desonrando assim o nome de Deus diante dos pagãos. Moisés faz sua petição com tal fervor que a resposta vem: "Farei também isto, que tens dito; porquanto achaste graça aos Meus olhos; e te conheço por nome." Êxodo 33:17. T4 532 3 Agora, naturalmente, poderíamos esperar que o profeta cessasse de suplicar; mas não. Animado pelo sucesso, ele se aventura a ir ainda para mais perto de Deus, com santa familiaridade que vai além de nossa compreensão. Agora ele faz um pedido que nenhum ser humano fizera antes: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória." Êxodo 33:18. Que petição de um homem finito, mortal! Mas ele é repelido? Reprova-o Deus por sua presunção? Não; ouvimos as graciosas palavras: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti." Êxodo 33:19. T4 533 1 A glória não velada de Deus nenhum homem podia contemplar e viver; mas a Moisés é assegurado que contemplará o máximo da glória divina que possa suportar nessa presente condição mortal. Aquela mão que fez o mundo, que sustenta as montanhas nos seus lugares, toma este homem do pó -- esse homem de poderosa fé -- e misericordiosamente o cobre numa fenda da rocha, enquanto a glória de Deus e toda a Sua bondade passam perante ele. Podemos maravilhar-nos de que a "magnífica glória" refletida da Onipotência brilhou na face de Moisés com tal esplendor que as pessoas não podiam contemplá-la? O aspecto de Deus estava sobre ele, fazendo-o parecer como um dos anjos resplandecentes do trono. T4 533 2 Essa experiência, acima de tudo a segurança de que Deus ouviria a sua oração, e que a presença divina o acompanharia, foi de maior valor para Moisés como líder do que o aprendizado no Egito ou todas as suas conquistas na ciência militar. Nenhum poder terreno, habilidade ou instrução pode superar o lugar da presença imediata de Deus. Na história de Moisés podemos ver quão íntima comunhão com Deus é privilégio do homem usufruir. Para o transgressor é coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo. Mas Moisés não temia estar sozinho com o Autor daquela lei que fora proferida com tão tremenda grandeza no Monte Sinai; pois a sua alma estava em harmonia com a vontade de seu Criador. T4 533 3 A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo. Os olhos da fé discernirão a Deus muito próximo, e o suplicante pode obter preciosa evidência do amor e cuidado divinos por ele. Mas por que será que tantas orações nunca são atendidas? Declara Davi: "A Ele clamei com a minha boca, e Ele foi exaltado pela minha língua. Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Salmos 66:17, 18. O Senhor nos dá a promessa: "E buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração." Jeremias 29:13. Refere-Se Ele, ainda, a alguns que "não clamaram a Mim com seu coração". Oséias 7:14. Tais petições são orações formais, tão-somente culto de lábios, que o Senhor não aceita. T4 534 1 A oração que Natanael ofereceu enquanto estava debaixo da figueira, veio-lhe de um coração sincero, e foi ouvida e respondida pelo Mestre. Cristo lhe disse: "Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo." João 1:47. O Senhor lê o coração de todos e entende os seus motivos e propósitos. "A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." Tiago 5:16. Ele não será vagaroso em ouvir aqueles que Lhe abrem o coração, não se exaltam, mas sinceramente sentem a sua grande fraqueza e indignidade. T4 534 2 Há necessidade de oração -- oração totalmente sincera, fervorosa, angustiante -- oração como a que Davi fez quando exclamou: "Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por Ti, ó Deus!" Salmos 42:1. "Eis que tenho desejado os Teus preceitos." Salmos 119:40. "Tenho desejado a Tua salvação." Salmos 119:174. "A minha alma está anelante e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo." Salmos 84:2. "A minha alma está quebrantada de desejar os Teus juízos em todo o tempo." Salmos 119:20. Este é o espírito da oração perseverante, espírito possuído pelo rei salmista. T4 534 3 Daniel orou a Deus, não exaltando a si mesmo ou reivindicando qualquer mérito; "ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar; por amor de Ti mesmo, ó Deus meu". Daniel 9:19. Isso é o que Tiago chama oração eficaz e fervorosa. De Cristo é dito: "E, posto em agonia, orava mais intensamente." Lucas 22:44. Em que contraste com esta intercessão feita pela Majestade do Céu se acham as orações fracas, insensíveis, que são feitas a Deus! Muitos se satisfazem com o culto de lábios, e bem poucos têm sincero, fervoroso e afetuoso anelo de Deus. T4 534 4 A comunhão com Deus comunica à alma um íntimo conhecimento de Sua vontade. Mas muitos que professam a fé não sabem o que é verdadeira conversão. Não têm experiência e comunhão com o Pai através de Jesus Cristo, e nunca sentiram o poder da graça divina para santificar o coração. Orar e pecar, pecar e orar, a vida deles está cheia de maldade, engano, inveja, ciúmes e amor-próprio. As orações desse grupo são uma abominação a Deus. A oração verdadeira ocupa as energias da alma e afeta a vida. Aquele que assim desabafa suas necessidades perante Deus, sente o vazio de tudo o mais, debaixo do céu. "Senhor, diante de Ti está todo o meu desejo, e o meu gemido não Te é oculto", disse Davi. Salmos 38:9. "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus." Salmos 42:2. "Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma." Salmos 42:4. T4 535 1 Ao crescer os nossos números, planos mais amplos devem ser estabelecidos para atender à crescente demanda dos tempos; mas não vemos aumento especial de piedade fervorosa, de simplicidade cristã e sincera devoção. A igreja parece contente em apenas dar os primeiros passos na conversão. Está mais pronta para o trabalho ativo do que para humilde devoção -- mais pronta para empenhar-se em serviço religioso exterior do que para a obra interior do coração. A meditação e a oração são negligenciadas pelo burburinho e exibição. A religião deve começar com o esvaziar do coração e sua purificação, e deve ser nutrida pela oração diária. T4 535 2 O firme progresso de nossa obra e nossas crescentes instalações estão enchendo de satisfação e orgulho o coração e a mente de muitos de nosso povo, que tememos tomarão o lugar do amor de Deus na alma. A atividade intensa na parte mecânica, mesmo na obra de Deus, pode ocupar a mente de tal maneira que a oração seja negligenciada, e a importância própria e a auto-suficiência, tão prontas para impor os seus meios, tomarão o lugar da verdadeira virtude, mansidão e humildade de coração. O zeloso clamor pode ser ouvido: "Templo do Senhor, templo do Senhor é este." Jeremias 7:4. "Vai comigo e verás o meu zelo para com o Senhor." 2 Reis 10:16. Mas onde estão os que assumem responsabilidades? Onde estão os pais e mães em Israel? Onde estão aqueles que têm no coração preocupação pelas almas, e que têm cuidadosa simpatia pelos semelhantes, prontos para colocar-se em qualquer posição a fim de salvá-los da ruína eterna? T4 535 3 "Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6. "Vós sois", diz Cristo, "a luz do mundo." Mateus 5:14. Que responsabilidade! Há necessidade de jejum, humilhação e oração com respeito a nosso decadente zelo e enfraquecida espiritualidade. O amor de muitos está se esfriando. Os esforços de muitos de nossos pregadores não são como deviam ser. Quando alguns que têm falta do Espírito e poder de Deus entram em um novo campo, começam a denunciar outras denominações, pensando que podem convencer as pessoas acerca da verdade por apresentar as incoerências das igrejas populares. Pode parecer necessário em algumas ocasiões falar dessas coisas, mas em geral somente cria preconceito contra a nossa obra e fecha os ouvidos de muitos que poderiam de outra maneira ouvir a verdade. Se esses instrutores estivessem intimamente ligados a Cristo, teriam a sabedoria divina para saber como aproximar-se do povo. Não se esqueceriam tão cedo das trevas e do erro, da ira e do preconceito, que os mantêm longe da verdade. T4 536 1 Se esses instrutores trabalhassem com o espírito do Mestre, resultados muito diferentes se seguiriam. Com mansidão e paciência, bondade e amor, mas com decidido fervor, buscariam conduzir aquelas almas errantes a um Salvador crucificado e ressurreto. Quando isto for feito, veremos a Deus impressionando o coração dos seres humanos. Diz o grande apóstolo: "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Que trabalho para os pobres mortais! Somos providos de armas espirituais para combater "o bom combate da fé" (1 Timóteo 6:12); mas alguns parecem ter tirado da armadura do Céu somente os trovões. Por quanto tempo devem existir tais defeitos? T4 536 2 Enquanto em meio ao interesse religioso, alguns negligenciam a parte mais importante da obra. Deixam de visitar e de familiarizar-se com aqueles que mostraram interesse em apresentar-se noite após noite para ouvirem a explicação das Escrituras. Conversação sobre assuntos religiosos e fervorosa oração com tais pessoas no momento apropriado, podem fazer muitas almas tomarem a direção certa. Os pastores que negligenciam o seu dever nesse aspecto não são verdadeiros pastores do rebanho. Exatamente quando devem estar mais ativos em visitar, conversar e orar com esses interessados, alguns estarão ocupados escrevendo desnecessariamente longas cartas a pessoas distantes. Oh, que estamos fazendo pelo Mestre! Quando terminar o tempo de graça, quantos verão as oportunidades que negligenciaram em prestar serviço ao seu querido Senhor que por eles morreu! E mesmo aqueles que foram considerados mais fiéis verão quanto mais poderiam ter feito, não tivesse sua mente sido desviada pelo ambiente mundano. T4 537 1 Apelamos aos arautos do evangelho de Cristo a que nunca desanimem no trabalho, nunca considerem como além do alcance da graça de Deus os pecadores mais endurecidos. Eles podem aceitar a verdade por amor a ela, e se tornar o sal da Terra. Aquele que move o coração dos seres humanos assim como a água dos rios é movida, pode levar o coração mais egoísta e endurecido pelo pecado a entregar-se a Cristo. É alguma coisa difícil demais para Deus? "A palavra que sair da Minha boca", diz Ele, "não voltará para Mim vazia, mas fará o que Me apraz e prosperará naquilo para que a designei." Isaías 55:11. T4 537 2 Deus não colocará Sua bênção sobre aqueles que são negligentes, egoístas e amantes da comodidade -- que não assumirão responsabilidades em Sua causa. O "bem está" será pronunciado somente sobre aqueles que fizerem o bem. Todos os seres humanos deverão ser recompensados "segundo as suas obras". Desejamos um ministério ativo -- homens de oração, que lutarão com Deus como Jacó, dizendo: "Não Te deixarei ir, se me não abençoares." Gênesis 32:26. Para obter a coroa do vencedor, devemos retesar todos os nervos e exercitar todas as faculdades. Nunca poderemos ser salvos na inatividade. Ser um preguiçoso na vinha do Senhor é renunciar a todo título de recompensa dos justos. ------------------------Capítulo 51 -- Advertências e admoestações T4 537 3 Em 23 de Novembro de 1879, algumas coisas foram-me mostradas com referência às instituições entre nós, e os deveres e perigos daqueles que ocupam posições de liderança em relação a elas. Vi que esses homens foram suscitados para realizar um trabalho especial como instrumentos de Deus, para serem conduzidos, guiados e controlados por Seu Espírito. Devem responder às reivindicações de Deus, e nunca sentir que pertencem a si mesmos e que podem empregar as suas forças como julgarem que lhes seja mais conveniente. Embora tenham o propósito de ser corretos e fazer o que é correto, certamente errarão, a menos que sejam constantes discípulos na escola de Cristo. Sua única segurança é caminharem humildemente com Deus. T4 538 1 Os perigos assediam todos os caminhos, e aquele que sair vitorioso terá na verdade um cântico de triunfo a entoar na cidade de Deus. Alguns possuem fortes traços de caráter que precisarão ser constantemente reprimidos. Uma vez mantidos sob o domínio do Espírito de Deus, esses traços serão uma bênção; do contrário, demonstrar-se-ão uma maldição. Se os que cavalgam agora a onda da popularidade não se tornarem inconstantes, será um milagre de misericórdia. Se eles se apoiarem na própria sabedoria, como têm feito muitos em idênticas situações, sua sabedoria se mostrará insensata. Mas enquanto estiverem se entregando desinteressadamente à obra de Deus, nunca se desviando no mínimo do princípio, o Senhor lhes envolverá com braços eternos e Se demonstrará poderoso ajudador. "Aos que Me honram honrarei." 1 Samuel 2:30. T4 538 2 Para qualquer homem que tenha talentos que possam ser de valor na obra de Deus a época em que vivemos é perigosa, pois Satanás está continuamente forçando suas tentações sobre tal pessoa, procurando sempre enchê-la de orgulho e ambição. Quando Deus a quer usar, dá-se muitas vezes ela se tornar independente e presunçosa, sentindo-se capaz de manter-se sozinha. Esse será o seu perigo, irmãos, a menos que vivam uma vida de constante fé e oração. Vocês podem ter um senso profundo e perdurável das coisas eternas e aquele amor pelo ser humano que Cristo revelou em Sua vida. Um íntimo relacionamento com o Céu dará o tom certo a sua fidelidade e será a base de seu sucesso. Os seus sentimentos e dependência os conduzirão à oração, e o seu senso de dever lhes imporá o esforço. A oração e o esforço, o esforço e a oração, eis a ocupação de sua vida. Vocês devem orar como se a eficiência e o louvor fossem todos devidos a Deus, e trabalhar como se o dever fosse todo seu. Se querem poder, vocês o terão; ele está esperando que o saquem. Tão-somente creiam em Deus, tomem-nO pela palavra, ajam pela fé, e as bênçãos hão de vir. T4 539 1 Nessa questão, habilidade, lógica e eloqüência de nada valerão. Deus aceita os que têm coração humilde, confiante e contrito, e ouve suas orações. Quando Deus ajuda, todos os obstáculos serão vencidos. Quantos homens de grande aptidão natural e elevada cultura têm falhado quando colocados em posições de responsabilidade, enquanto os de intelecto mais limitado, com ambiente menos favorável, têm tido maravilhoso êxito. O segredo estava em que os primeiros confiaram em si mesmos, enquanto os últimos se uniram Àquele que "é maravilhoso em conselho e grande em obra" (Isaías 28:29) para realizar o que deseja. T4 539 2 O trabalho deles sendo sempre urgente, torna difícil para alguns conseguir tempo para meditação e oração; mas isso não deveriam deixar de fazer. As bênçãos do Céu, obtidas por súplicas diárias, serão como o pão da vida para a alma e farão com que ela aumente em força moral e espiritual, "como árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem". Salmos 1:3. T4 539 3 Alguns têm cometido sério erro em negligenciar assistir ao culto público de Deus. Os privilégios do culto divino lhes serão tão benéficos quanto aos outros, e plenamente essenciais. Eles podem ser incapazes de se valer desses privilégios tão freqüentemente quanto muitos outros o fazem. Médicos muitas vezes serão chamados no sábado para visitar doentes, e podem ser obrigados a fazer dele um dia de trabalho exaustivo. Tal trabalho para aliviar o sofrimento foi pronunciado por nosso Salvador como obra de misericórdia, e não uma violação do sábado. Mas aqueles que regularmente dedicam seus sábados a escrever ou trabalhar, não realizando qualquer mudança especial, prejudicam a própria alma, dão aos outros um exemplo que não é digno de imitação e não honram a Deus. T4 539 4 Alguns têm deixado de ver a verdadeira importância, não somente de assistir às reuniões religiosas, mas também de testemunhar em favor de Cristo e da verdade. Se esses irmãos não obtêm força espiritual pela fiel realização de todo dever cristão, chegando assim a um relacionamento mais íntimo e mais sagrado com seu Redentor, eles se tornarão fracos em poder ou em força moral. Certamente definharão espiritualmente, a menos que mudem de atitude a esse respeito. T4 540 1 Os homens que têm sido encarregados de nossas instituições ocupam posições importantes e de responsabilidade. Não podem ser dispensados de seu posto de dever, contudo não devem sentir-se indispensáveis. Deus poderia passar sem eles, mas eles não podem passar sem Deus. Esses homens devem empenhar-se em trabalhar em harmonia. Se ocupam sua posição honradamente, cada um deve zelar pelos interesses financeiros da instituição confiada a seus cuidados. Contudo, esses homens devem ser extremamente cautelosos para que não cuidem apenas de sua área de trabalho, esforçando-se pelo seu departamento em detrimento de outras áreas de igual importância. T4 540 2 Irmãos, vocês estão em perigo de cometer graves erros em suas transações comerciais. Deus os adverte a estarem alerta para não sobrecarregarem uns aos outros. Sejam cuidadosos para não cultivarem a habilidade do trapaceiro; pois isto não suportará o teste do dia de Deus. Perspicácia e cálculos precisos são necessários, pois vocês lidam com todas as classes de pessoas; vocês devem proteger os interesses de nossas instituições, ou milhares de dólares irão para as mãos de homens desonestos. Que esses aspectos, porém, não se tornem um poder dominante. Sob o devido controle, são elementos essenciais ao caráter; se vocês conservarem diante de si o temor de Deus, e Seu amor no coração, estarão seguros. T4 540 3 É muito melhor renunciar a certas vantagens que poderiam ser obtidas, do que cultivar um espírito de avareza, e assim torná-lo uma lei da natureza. A astúcia mesquinha é indigna de um cristão. Fomos separados do mundo pela grande talhadeira da verdade. Nossos maus traços de caráter nem sempre são visíveis a nós mesmos, embora sejam muito evidentes a outros. Mas o tempo e as circunstâncias certamente nos provarão, e trarão à luz o ouro do caráter ou descobrirão o metal inferior. Nenhum de nós é conhecido ou lido "por todos os homens" (2 Coríntios 3:2), até o que crisol de Deus nos teste. Todo pensamento baixo e toda ação errada revelam algum defeito no caráter. Esses traços rudes devem ser levados sob o cinzel e o martelo na grande oficina de Deus, e a graça de Deus deve suavizar e polir, antes que possamos ser preparados para um lugar no glorioso templo. T4 541 1 Deus pode tornar esses irmãos mais preciosos "do que o ouro puro e mais" raros "do que o ouro fino de Ofir" (Isaías 13:12) se eles se submeterem à Sua mão transformadora. Eles devem estar determinados a empreender o mais nobre uso de todas as faculdades e oportunidades. A Palavra de Deus deve ser o seu estudo e guia ao decidirem o que é mais elevado e melhor em todas as situações. O caráter sem mácula, o perfeito Modelo demonstrado a eles no evangelho, deve ser estudado com o mais profundo interesse. A lição mais essencial para aprenderem é que apenas a bondade proporciona verdadeira grandeza. Que Deus nos livre da filosofia de homens sábios no que respeita à vida mundana. A sua única esperança está em se tornarem tolos, para que sejam verdadeiramente sábios. T4 541 2 Os mais fracos seguidores de Cristo entraram em aliança com o poder infinito. Em muitos casos, Deus pode fazer pouco com os homens de erudição, porque não sentem necessidade de apoiar-se nAquele que é a fonte de toda a sabedoria; por isso, após uma prova, Ele os põe de lado por homens de talento inferior que aprenderam a confiar nEle, cuja alma é fortalecida pela bondade, verdade e inabalável fidelidade, as quais não se rebaixarão a nada que deixe qualquer mácula na consciência. T4 541 3 Irmãos, se unirem sua alma a Deus pela fé viva, Ele os tornará homens de poder. Se confiarem na própria força e sabedoria, certamente fracassarão. Não é agradável a Deus que tomem tão pouco interesse nos serviços religiosos. Vocês são representantes, e como tais, exercem uma influência mais ampla do que as pessoas em posições de menor proeminência. Devem sempre buscar "primeiro o reino de Deus e a Sua justiça". Mateus 6:33. Devem ser ativos, obreiros interessados na igreja, cultivando as suas faculdades religiosas e conservando a própria alma no amor de Deus. Nessa questão o Senhor tem reivindicações sobre vocês que não podem desconsiderar; vocês devem crescer em graça ou ser atrofiados e incapacitados nas coisas espirituais. Não é apenas seu privilégio, mas seu dever testemunharem por Cristo quando e, onde puderem; e ao exercitarem a mente dessa maneira, cultivarão amor pelas coisas sagradas. T4 542 1 Estamos em perigo de considerar os ministros de Cristo simplesmente como homens, não os reconhecendo como Seus representantes. Todas as considerações pessoais devem ser postas de parte; devemos ouvir a Palavra de Deus através de Seus embaixadores. Cristo está sempre enviando mensagens àqueles que ouvem a Sua voz. Na noite da agonia do Salvador no Jardim do Getsêmani, os discípulos adormecidos não ouviam a voz de Jesus; eles possuíam uma fraca percepção da presença dos anjos, mas perderam o poder e a glória da cena pela sonolência e desânimo, e assim deixaram de perceber a evidência que teria fortalecido sua alma para as terríveis cenas que se seguiriam. Assim, os próprios homens que mais precisam da instrução divina freqüentemente deixam de recebê-la, porque não se colocam em comunhão com o Céu. Satanás está sempre buscando impressionar e controlar a mente, e nenhum de nós está em segurança, exceto ao estarmos em constante ligação com Deus. Devemos a todo momento receber suprimentos do Céu; e se quisermos ser conservados pelo poder de Deus, devemos ser obedientes a todas as Suas ordens. T4 542 2 A condição para produzirem frutos é que permaneçam na Videira viva. "Estai em Mim, e Eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em Mim, e Eu nele, este dá muito fruto, porque sem Mim nada podereis fazer. Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem." João 15:4-6. T4 542 3 Todos os seus bons propósitos e boas intenções não os capacitarão a suportar o teste da tentação. Vocês devem ser homens de oração. Suas petições não devem ser fracas, ocasionais e vacilantes, mas sinceras, perseverantes e constantes. Não é necessário estar sozinho nem dobrar os joelhos para orar; mas em meio aos trabalhos, sua alma pode ser freqüentemente elevada a Deus, apossando-se de Sua força; então vocês serão homens de propósito elevado e santo, de nobre integridade, que não serão de forma alguma desviados da verdade, do direito e da justiça. T4 543 1 Vocês são pressionados por cuidados, responsabilidades e deveres urgentes; mas quanto maior lhes for a pressão, e mais pesadas as responsabilidades que têm de assumir, maior é sua necessidade de ajuda divina. Jesus será o seu ajudador. Vocês precisam constantemente da luz da vida para iluminar o seu caminho, e então seus divinos raios incidirão sobre outros. A obra de Deus é perfeita em todas as suas partes. É a atenção conscienciosa ao que o mundo chama coisas pequenas, que faz a grande beleza e o êxito da vida. Pequenos atos de caridade, palavrinhas de bondade, pequenos atos de abnegação, o sábio emprego de pequenas oportunidades, diligente cultivo dos talentos pequeninos, fazem grandes os homens à vista de Deus. Se essas pequenas coisas forem fielmente acatadas, se essas graças estiverem abundantemente em vocês, elas os aperfeiçoarão "em toda a boa obra". Hebreus 13:21. T4 543 2 Não é suficiente estar disposto a dar liberalmente de seus recursos para a causa de Deus. Ele apela a uma consagração sem reservas de todas as suas faculdades. Reterem a si mesmos tem sido o erro de sua vida. Podem pensar ser muito difícil em sua posição manterem íntima ligação com Deus; mas seu trabalho será dez vezes mais difícil se deixarem de fazê-lo. Satanás bloqueará seu caminho com tentações, e é somente através de Cristo que poderão obter a vitória. A mesma vontade indomável que concede êxito em empreendimentos intelectuais é essencial na conduta cristã. Vocês devem ser representantes de Jesus Cristo. Sua energia e perseverança em aperfeiçoar um caráter cristão devem ser muito maiores do que as manifestadas em qualquer outra atividade, uma vez que as coisas da eternidade são de maior importância do que os assuntos temporais. T4 543 3 Se vocês querem alcançar êxito na vida cristã, precisam decidir que serão homens segundo o coração de Deus. O Senhor deseja que a sua influência seja exercida na igreja e no mundo para elevar o padrão do cristianismo. O verdadeiro caráter cristão deve ser assinalado por uma firmeza de propósito, uma determinação irrefreável que não pode ser moldada ou subjugada pela Terra nem pelo inferno. Aquele que não é cego à atração das honras mundanas, não é indiferente às ameaças nem impassível às seduções, será enredado pelos ardis de Satanás de maneira inesperada. T4 544 1 Deus pede completa e total consagração; e não aceitará nada menos do que isso. Quanto mais difícil sua condição, mais você necessita de Jesus. O amor e temor de Deus conservaram José puro e imaculado na corte do rei. Ele foi exaltado a grandes riquezas, à elevada honra de ser o primeiro depois do rei; e essa ascensão foi tão súbita quanto grandiosa. É impossível permanecer sem perigo numa posição elevada. A tempestade deixa ilesa a modesta flor do vale, enquanto luta com a altaneira árvore que se acha sobre o topo da montanha. Há muitos homens a quem Deus poderia ter usado com maravilhoso sucesso quando pressionados pela pobreza -- Ele poderia tê-los feito úteis aqui, coroando-os com glória no futuro -- mas a prosperidade os arruinou; foram arrastados para o abismo, porque se esqueceram de ser humildes, esqueceram-se de que Deus era sua força, e se tornaram independentes e auto-suficientes. T4 544 2 José suportou a prova de caráter na adversidade, e o ouro não perdeu o seu brilho na prosperidade. Ele demonstrou para com a vontade de Deus, quando estava junto ao trono, a mesma elevada consideração que revelou quando na cela de prisioneiro. José levava a sua religião para onde quer que fosse, e este foi o segredo de sua inabalável fidelidade. Como homens representativos, vocês devem possuir o poder todo penetrante da verdadeira piedade. Afirmo-lhes, no temor de Deus, que seu caminho está cercado de perigos que não vêem nem imaginam. Vocês devem abrigar-se em Jesus. Estão sem segurança a menos que segurem a mão de Cristo. Devem guardar-se contra tudo o que se assemelha a presunção, e cultivar aquele espírito que prefere sofrer do que pecar. Nenhuma vitória que possam obter será tão preciosa quanto a conquistada sobre o eu. ------------------------Capítulo 52 -- Cultura moral e intelectual T4 545 1 Na visão que me foi dada em 9 de Outubro de 1878, foi-me mostrada a posição que nosso hospital de Battle Creek deve ocupar, e o caráter e influência que devem ser mantidos por todos os que com ele se relacionam. Essa importante instituição foi estabelecida pela providência de Deus, e Sua bênção é-lhe indispensável ao êxito. Os médicos não são charlatões nem infiéis, mas homens que entendem do corpo humano e dos melhores métodos de tratamento das doenças, homens que temem a Deus e que têm zeloso interesse pelo bem-estar moral e espiritual dos pacientes. Este interesse tanto pelo bem espiritual como físico não devem os administradores da instituição fazer esforço algum para ocultá-lo. Por uma vida de verdadeira integridade cristã podem eles dar ao mundo um exemplo digno de imitação; e não devem hesitar que se veja que além de sua habilidade no tratamento das doenças, estão constantemente adquirindo sabedoria e conhecimento de Cristo, o maior Professor que o mundo já conheceu. Devem eles manter-se em contato com a Fonte de toda a sabedoria, para tornarem o seu trabalho mais bem-sucedido. T4 545 2 A verdade tem poder para elevar o que a recebe. Se a verdade bíblica exercer a sua santificadora influência sobre o coração e o caráter, tornará os crentes mais inteligentes. O cristão compreenderá a sua responsabilidade para com Deus e para com os seus semelhantes, se estiver verdadeiramente relacionado com o Cordeiro de Deus, que deu a vida pelo mundo. Somente por meio de contínuo desenvolvimento das faculdades intelectuais e morais podemos esperar corresponder ao propósito de nosso Criador. T4 545 3 Deus Se desagrada com os que são demasiado indolentes e descuidados para se tornarem obreiros eficientes, bem informados. O cristão deve possuir mais inteligência e fina percepção que os mundanos. O estudo da Palavra de Deus dilata continuamente o espírito e fortalece o intelecto. Coisa alguma refinará e elevará mais o caráter, e dará tanto vigor a toda faculdade, como o constante exercício da mente para compreender e apreender sérias e importantes verdades. T4 546 1 A mente humana fica raquítica e debilitada quando se ocupa apenas de assuntos triviais, não se elevando nunca acima do nível das coisas temporais e lógicas, para apreender os mistérios do invisível. O entendimento é gradualmente levado ao nível dos assuntos com que constantemente se familiariza. A mente restringirá suas faculdades e perderá as aptidões de que é dotada, uma vez que não se exercite para adquirir mais conhecimentos, e se dilate para compreender as revelações do poder divino na natureza e na Palavra Sagrada. T4 546 2 Mas o conhecimento de fatos e teorias, embora possa ser importante em si mesmo, será de pouco valor real, a menos que se ponha em prática. Há perigo de que aqueles que obtiveram a sua educação principalmente de livros deixem de reconhecer que são principiantes no que se refere ao conhecimento prático. Isto é especialmente verdadeiro quanto aos que estão relacionados com o hospital. Essa instituição necessita de homens de raciocínio e habilidade. Os médicos, superintendentes, enfermeira-chefe e auxiliares devem ser pessoas de cultura e experiência. Mas alguns deixam de compreender o que é necessário em tal estabelecimento, e se arrastam, ano após ano, sem alcançar desenvolvimento significativo. Parecem estar estereotipados; cada dia que se sucede não é senão uma repetição do anterior. T4 546 3 A mente e o coração desses obreiros rotineiros estão empobrecidos. As oportunidades estão diante deles; se fossem estudiosos, poderiam obter uma educação do mais alto valor, mas não valorizam seus privilégios. Ninguém deve estar satisfeito com sua educação atual. Todos podem estar diariamente se qualificando para desempenhar alguma função de confiança. T4 546 4 É de suma importância que aquele que é escolhido para cuidar dos interesses espirituais dos pacientes e auxiliares seja um homem de bom senso e firme aos princípios, um homem que exerça influência moral, que saiba lidar com as mentes. Deve ser pessoa sábia e culta, afetuosa, bem como inteligente. Pode a princípio não ser inteiramente eficiente em todos os sentidos; deve, porém, mediante intensas reflexões e o exercício de suas habilidades, qualificar-se para essa importante obra. É necessário muita sabedoria e bondade para servir convenientemente nesta posição, não obstante com inflexível integridade, pois devem ser enfrentados preconceito, fanatismo e erro de toda forma e espécie. T4 547 1 Esse lugar não deve ser ocupado por um homem de temperamento irritável, de combatividade violenta. Deve-se ter cuidado para que a religião de Cristo não se torne repulsiva em virtude de severidade ou impaciência. Os servos de Deus devem procurar, por meio da mansidão, da bondade e do amor representar corretamente nossa fé sagrada. Conquanto a cruz jamais deva ser ocultada, deve ele apresentar também o inigualável amor do Salvador. O obreiro deve estar imbuído do espírito de Jesus, e então os tesouros da alma devem ser apresentados em palavras que encontrem o seu caminho para o coração dos ouvintes. A religião de Cristo, exemplificada na vida diária de Seus seguidores, exercerá uma influência dez vezes maior do que os mais eloqüentes sermões. T4 547 2 Obreiros inteligentes, tementes a Deus, podem realizar grande quantidade de bem no sentido de reformar os que chegam como enfermos para serem tratados no hospital. Essas pessoas estão doentes, não só fisicamente, mas mental e moralmente. A educação, os hábitos e a vida inteira de muitos têm sido errôneos. Não podem em poucos dias realizar as grandes mudanças necessárias para a adoção de hábitos corretos. Precisam de tempo para considerar a questão e aprender o caminho certo. Se todos os que estão relacionados ao hospital forem bons representantes das verdades da reforma de saúde e de nossa fé sagrada, estarão exercendo uma influência que tende a moldar o pensamento de seus pacientes. O contraste entre os hábitos errôneos e os que estão em harmonia com a verdade de Deus exerce um poder convincente. T4 547 3 O homem não é o que podia ser, nem o que é a vontade de Deus que ele seja. O grande poder de Satanás sobre a humanidade os mantém em baixo nível; mas isto não precisa ser assim, do contrário Enoque não poderia ter-se tornado tão elevado e enobrecido para andar com Deus. Os homens não precisam cessar de crescer intelectual e espiritualmente durante o seu tempo de vida. Todavia, a mente de muitos está tão ocupada com eles mesmos e seus interesses egoístas que não deixa espaço para pensamentos mais elevados e nobres. E o padrão de consecuções intelectuais, bem como espirituais, é baixo demais. Para muitos, quanto maior a responsabilidade da posição que ocupam, tanto mais satisfeitos se revelam consigo mesmos; e abrigam a idéia de que a posição caracteriza o homem. Poucos percebem que têm um trabalho constante diante deles para desenvolver paciência, simpatia, caridade, consciência e fidelidade -- traços de caráter indispensáveis àqueles que ocupam posições de responsabilidade. Todos os que estão ligados ao hospital devem ter sagrada consideração pelos direitos dos outros, o que é na realidade obedecer aos princípios da lei de Deus. T4 548 1 Alguns nessa instituição são tristemente deficientes nas qualidades tão essenciais à felicidade de todos os que com eles se relacionam. Os médicos, e os auxiliares nos vários setores do trabalho, devem guardar-se cuidadosamente contra a frieza egoísta, o distanciamento e a disposição anti-social; pois isso desvia a afeição e confiança dos pacientes. Muitos dos que vêm ao hospital são pessoas educadas, sensíveis, de fino trato e agudo discernimento. Essas pessoas descobrem tais defeitos imediatamente, e comentam a respeito deles. Os seres humanos não podem amar a Deus supremamente e ao próximo com a si mesmos, e ser tão frios como os icebergs. Não somente roubam a Deus do amor a Ele devido, mas também roubam ao seu semelhante. O amor é uma planta de origem celeste, e precisa ser cultivada e nutrida. Corações afetivos, palavras verdadeiras e amáveis farão famílias felizes e exercerão elevada influência sobre todos quantos entram na esfera dessa influência. T4 548 2 Aqueles que se aproveitam ao máximo de seus privilégios e oportunidades serão, no sentido bíblico, homens talentosos e educados; não meramente eruditos, mas educados em sua disposição, maneiras e conduta. Serão refinados, ternos, piedosos e afetuosos. Foi-me mostrado que isso é o que o Deus do Céu requer das instituições de Battle Creek. Deus nos tem dado faculdades para serem utilizadas, desenvolvidas e fortalecidas pela educação. Devemos raciocinar e refletir, observando cuidadosamente a relação entre causa e efeito. Quando isso for praticado, haverá, da parte de muitos, maior atenção e cuidado com respeito a suas palavras e atos, para que possam corresponder plenamente ao propósito de Deus ao criá-los. T4 549 1 Devemos sempre ter em mente que não somos apenas aprendizes, mas professores neste mundo, preparando a nós mesmos e a outros para mais elevada esfera de ação na vida futura. A medida da utilidade do homem está em conhecer a vontade de Deus e praticá-la. Está em nosso poder aperfeiçoar nossa disposição e maneiras de modo que Deus não Se envergonhe de nós. Deve haver um elevado padrão no hospital. Se há homens de cultura, de poder intelectual e moral em nossas fileiras, eles devem ser chamados à linha de frente para ocupar posições de liderança em nossas instituições. T4 549 2 Os médicos não devem ser deficientes em aspecto algum. Um amplo campo de utilidade está aberto diante deles, e se não se tornarem hábeis em sua profissão, eles serão os únicos culpados. Devem ser estudantes diligentes; e por cuidadosa aplicação e fiel atenção a detalhes, podem tornar-se pessoas de responsabilidade. Não deve ser necessário que alguém as acompanhe, para ver se o trabalho é feito corretamente. T4 549 3 Aqueles que ocupam posições de responsabilidade devem educar e disciplinar a si mesmos de modo que todos dentro da esfera de sua influência possam ver o que o ser humano pode ser e o que pode fazer, quando unido ao Deus de sabedoria e poder. E por que um homem assim privilegiado não deve tornar-se intelectualmente forte? Vez após vez os mundanos têm ironicamente afirmado que aqueles que crêem na verdade presente são pessoas mentalmente fracas, deficientes em educação, sem posição ou influência. Sabemos que isso não é verdade; mas não haveria alguma razão para essas afirmações? Muitos têm considerado o ser ignorante e sem cultura como um sinal de humildade. Tais pessoas estão enganadas quanto ao que constitui verdadeira humildade e mansidão cristã. ------------------------Capítulo 53 -- Dever para com os pobres T4 550 1 Os gerentes dos hospitais não devem reger-se pelos princípios que controlam outras instituições dessa espécie, nas quais os dirigentes, agindo com astúcia, muitas vezes são atenciosos para com os ricos, enquanto os pobres são negligenciados. Estes geralmente estão em grande necessidade de simpatia e conselho, que eles nem sempre recebem, embora em valor moral possam estar bem mais elevados na estima de Deus do que os mais ricos. O apóstolo Tiago deu instruções definidas com respeito à maneira pela qual devemos tratar os ricos e os pobres: T4 550 2 "Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com vestes preciosas, e entrar também algum pobre com sórdida vestimenta, e atentardes para o que traz a veste preciosa, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui, num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam?" Tiago 2:2-5. T4 550 3 Embora Cristo fosse rico nas cortes celestiais, não obstante Se tornou pobre para que por intermédio de Sua pobreza pudéssemos tornar-nos ricos. Jesus honrou os pobres ao participar de sua humilde condição. Por meio da história de Sua vida devemos aprender como tratar os pobres. Alguns levam o dever da beneficência a extremos, e na realidade prejudicam os necessitados fazendo demais em favor deles. Os pobres nem sempre se esforçam como deviam. Conquanto eles não devam ser negligenciados e deixados a sofrer, devem ser ensinados a ajudar a si próprios. T4 550 4 A causa de Deus não deve ser passada por alto para que os pobres possam receber nossa principal atenção. Certa vez Cristo deu aos Seus discípulos uma lição muito importante neste particular. Quando Maria derramou o ungüento sobre a cabeça de Jesus, o ambicioso Judas fez um apelo em benefício dos pobres, murmurando contra aquilo que ele considerava um desperdício de dinheiro. Jesus, porém, defendeu o ato, dizendo: "Por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo." "Onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua." Marcos 14:6, 9. Por meio disso somos ensinados que Cristo deve ser honrado com a consagração do melhor de nossas posses. Se toda a nossa atenção for concentrada em atender as necessidades dos pobres, a causa de Deus será negligenciada. Ninguém sofrerá, se Seus mordomos cumprirem o seu dever; mas a causa de Cristo deve estar em primeiro lugar. T4 551 1 Os pobres devem ser tratados com tanto interesse e atenção quanto os ricos. O costume de honrar os ricos e desprezar e negligenciar os pobres é crime aos olhos de Deus. Os que estão cercados de todo conforto na vida, ou que são acariciados e mimados pelo mundo porque são ricos, não sentem a necessidade de simpatia e terna consideração como acontece com as pessoas cuja vida tem sido uma longa luta contra a pobreza. Estes não têm senão pouca coisa nesta vida para torná-los felizes e alegres, e apreciarão simpatia e amor. Médicos e auxiliares não devem em hipótese alguma negligenciar essa classe, pois se assim o fizerem poderão negligenciar a Cristo na pessoa de Seus santos. T4 551 2 Nossa clínica foi construída para beneficiar a humanidade sofredora, ricos e pobres, de todo o mundo. Muitas de nossas igrejas não têm senão pequeno interesse nessa instituição, apesar de terem suficiente evidência de que ela é um dos instrumentos de Deus, designado a levar homens e mulheres à influência da verdade e salvar muitas almas. As igrejas, que têm pobres entre elas, não devem negligenciar a sua mordomia e lançar a carga dos pobres e enfermos sobre o hospital. Todos os membros das várias igrejas são responsáveis perante Deus por seus doentes. Devem eles carregar os próprios fardos. Se tiverem pessoas doentes entre eles, as quais desejam que sejam beneficiadas por tratamento, devem eles, se puderem, enviá-las ao hospital. Ao fazerem isso, não só estarão favorecendo a instituição que Deus estabeleceu, mas estarão auxiliando aqueles que necessitam de ajuda, cuidando dos pobres como Deus deseja que o façamos. T4 552 1 Não é plano de Deus que a pobreza desapareça do mundo. As classes sociais jamais deveriam ser igualadas; pois a diversidade de condições que caracteriza os seres humanos é um dos meios pelos quais Deus tem pretendido provar e desenvolver o caráter. Muitos têm insistido com grande entusiasmo que todos os homens devem ter parte igual nas bênçãos temporais de Deus; mas este não era o propósito do Criador. Cristo afirmou que sempre teremos conosco os pobres. Os pobres, bem como os ricos, são comprados por Seu sangue; e, entre os Seus professos seguidores, na maioria dos casos, os primeiros O servem com singeleza de propósito, enquanto os últimos estão constantemente colocando as suas afeições nos tesouros terrenos, e Cristo é esquecido. Os cuidados desta vida e a ambição das riquezas eclipsam a glória do mundo eterno. Seria a maior desgraça que já sobreveio à humanidade se todos devessem ser colocados em posição de igualdade em possessões terrenas. ------------------------Capítulo 54 -- Saúde e religião T4 552 2 O temor do Senhor fará mais pelos clientes do hospital do que qualquer outro meio que possa ser empregado para a restauração da saúde. A religião em caso algum deve ser mantida em segundo plano, como se prejudicial àqueles que vêm para ser tratados. Pelo contrário, deve ser sempre tornado notório que as leis de Deus, tanto na natureza quanto na revelação, são "vida para os que as acham e saúde, para o seu corpo". Provérbios 4:22. T4 552 3 O orgulho e a moda mantêm homens e mulheres na mais verdadeira escravidão aos costumes que são fatais à saúde, e mesmo à própria vida. Os apetites e paixões, que clamam por tolerância, espezinham a razão e a consciência. Esta é a cruel obra de Satanás, e ele está constantemente dedicando os mais determinados esforços para fortalecer as cadeias que retêm suas vítimas. Os que durante toda a vida têm estado a condescender com hábitos errôneos nem sempre compreendem a necessidade de mudança. E muitos persistirão em satisfazer a todo o custo os seus desejos pelo prazer pecaminoso. Desperte-se a consciência, e muito será ganho. Nada senão a graça de Deus pode convencer e converter o coração; somente aqui podem os escravos dos costumes obter poder para quebrar as algemas que os mantêm presos. A condescendência própria pode ser levada a ver e sentir que grande renovação moral é necessária se quiserem fazer face aos reclamos da lei divina; o templo da alma foi desonrado, e Deus pede que despertem e lutem com todas as forças a fim de reconquistar a varonilidade que Deus lhes deu e que fora sacrificada por pecaminosa condescendência. T4 553 1 A verdade divina pode causar pouca impressão sobre o intelecto enquanto os costumes e atos são opostos a seu princípio. Aqueles que estão dispostos a informar-se acerca do efeito da condescendência pecaminosa sobre a saúde, e que começam a efetuar a reforma, mesmo que seja por motivos egoístas, colocam-se onde a verdade de Deus pode encontrar acesso ao coração. E, por outro lado, aqueles que são alcançados pela apresentação da verdade escriturística, colocam-se numa posição onde sua consciência será despertada ao tema da saúde. Vêem e sentem a necessidade de afastar-se dos hábitos e apetites tirânicos que os têm dominado por tanto tempo. Há muitos que receberiam as verdades da Palavra de Deus, houvessem sido convencidos pela mais clara evidência; mas os desejos carnais, reivindicando satisfação, controlam o intelecto, e eles rejeitam a verdade como se fosse falsidade, porque entra em choque com suas afeições concupiscentes. T4 553 2 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Salmos 111:10. Quando homens de hábitos errôneos e práticas pecaminosas se rendem ao poder da verdade divina, a entrada da Palavra de Deus "dá luz e dá entendimento aos símplices". Salmos 119:130. Há aplicação da verdade ao coração; e revive o poder moral, que parecia ter sido paralisado. O que a recebe é possuído de mais forte e claro entendimento do que antes. Firmou a alma na Rocha eterna. A saúde melhora, no mesmo sentido de sua segurança em Cristo. Assim, a religião e as leis de saúde andam de mãos dadas. ------------------------Capítulo 55 -- Obreiros fiéis T4 554 1 A administração de uma instituição tão grande e importante como o hospital envolve forçosamente grande responsabilidade, tanto em questões temporais como espirituais. É de especial importância que este refúgio para os que estão doentes do corpo e da mente seja tal que Jesus, o Médico Poderoso, possa presidir entre eles, e tudo o que for feito esteja sob o controle de Seu Espírito. Todos os que se acham relacionados com esta instituição devem qualificar-se para o fiel desempenho das responsabilidades que lhes foram confiadas por Deus. Devem dedicar-se a cada pequenino dever com a mesma fidelidade dispensada às questões de grande importância. Todos devem estudar com oração a forma em que podem tornar-se mais úteis e fazer deste refúgio para os doentes um grande sucesso. T4 554 2 Não imaginamos com que ansiedade os pacientes com as suas várias enfermidades chegam ao hospital, todos à espera de auxílio, mas alguns duvidosos e desconfiados, enquanto outros estão mais confiantes de que serão aliviados. Os que não visitaram a instituição estão vigiando com interesse toda indicação dos princípios defendidos por seus administradores. T4 554 3 Todos os que professam ser filhos de Deus devem ter sempre em mente que, em suas atividades, são missionários colocados em contato com os mais variados tipos de pessoas. Há corteses e rudes, humildes e orgulhosas, religiosas e céticas, confiantes e desconfiadas, liberais e avarentas, puras e corruptas, educadas e ignorantes, ricas e pobres; na verdade, quase toda a espécie de caráter e condição será encontrada entre os pacientes que estão no hospital. Os que se dirigem a este refúgio vêm porque necessitam de auxílio; e dessa forma, a despeito de sua situação ou condição, reconhecem eles que não são capazes de auxiliar a si mesmos. Essas diferentes pessoas não podem ser tratadas de igual maneira; não obstante, quer sejam ricas quer pobres, altas ou baixas, dependentes ou independentes, precisam de bondade, simpatia e amor. Pelo mútuo contato, deve a nossa mente tornar-se delicada e refinada. Dependemos uns dos outros, e estamos intimamente unidos pelos laços da fraternidade humana. T4 555 1 Fazendo-os depender da mútua ajuda, Os servos, os amigos e os senhores, Querem os Céus que um ao outro acuda. Té que em vigor se tornem seus langores. T4 555 2 É pelas relações sociais que o cristianismo entra em contato com o mundo. Todo homem ou mulher que provou o amor de Cristo e recebeu no coração a iluminação divina, é instado por Deus a fazer brilhar a luz na senda escura dos que desconhecem um caminho melhor. Todo obreiro deste hospital deve tornar-se uma testemunha de Jesus. O poder social, santificado pelo Espírito de Cristo, deve ser desenvolvido para conquistar almas para o Salvador. T4 555 3 Aquele que tem de lidar com pessoas que diferem tão grandemente em caráter, disposição e temperamento terá dificuldades, perplexidades e atritos, mesmo quando fizer o melhor possível. Poderá ressentir-se com a ignorância, o orgulho e a independência que encontrará; isto, porém, não deve desanimá-lo. Deve permanecer onde ele controlará mais do que será controlado. Firme ao princípio como uma rocha, com uma fé inteligente, deve ele permanecer incontaminado pelas influências que o cercam. O povo de Deus não deve ser transformado pelas várias influências às quais deve forçosamente expor-se; deve antes permanecer firme por Jesus, e mediante o auxílio de Seu Espírito exercer um poder transformador nas mentes deformadas pelos falsos hábitos e contaminadas pelo pecado. T4 555 4 Cristo não deve ser escondido no coração e encerrado como um tesouro oculto, sagrado e atraente, para ser desfrutado apenas pelo possuidor. Devemos ter a Cristo no coração como uma fonte de água que salta para a vida eterna, refrigerando a todos os que entram em contato conosco. Devemos confessar a Cristo aberta e destemidamente, exibindo em nosso caráter a Sua mansidão, humildade e amor, até que os homens sejam fascinados pela beleza da santidade. A melhor maneira de preservarmos a nossa religião não é como fazemos com os perfumes, engarrafando-os para que a fragrância não se exale. T4 556 1 Os muitos conflitos e obstáculos com que nos deparamos devem tornar-nos mais fortes e dar estabilidade à nossa fé. Não devemos ser como uma cana agitada pelo vento, por qualquer influência passageira. Aquecidas e revigoradas pelas verdades do evangelho, e refrigeradas pela graça divina, deve a nossa alma descerrar, expandir e espalhar a sua fragrância sobre os outros. Vestidos de toda a armadura de justiça, podemos fazer face a qualquer influência, permanecendo nossa pureza imaculada. T4 556 2 Devem todos considerar que as reivindicações de Deus para com eles têm a primazia sobre todas as demais. Deus confiou a cada pessoa habilidades para serem desenvolvidas, a fim de que possa ela refletir a glória de seu Doador. Todos os dias se deve fazer algum progresso. Se os obreiros deixam o hospital da mesma forma como nele entraram, sem fazerem progresso definido, crescendo em conhecimento e força espiritual, sofreram uma perda. Deus deseja que os cristãos cresçam continuamente -- cresçam até à plena estatura de homens e mulheres em Cristo. Todos os que não se tornam mais fortes e mais firmemente enraizados e fundamentados na verdade, estão retrocedendo constantemente. T4 556 3 Deve-se fazer esforço especial para conseguir os serviços de obreiros conscienciosos e cristãos. É desígnio de Deus que uma instituição de saúde seja organizada e dirigida exclusivamente pelos adventistas do sétimo dia; e ao serem introduzidos descrentes para ocuparem posições de responsabilidade, reina ali tal influência que falará com grande peso contra o hospital. Deus não tenciona que esta instituição seja dirigida segundo o método de qualquer outra instituição de saúde da Terra, mas que ela seja em Suas mãos um dos mais eficazes agentes para comunicar a luz ao mundo. Deve ela permanecer com habilidade científica, com poder moral e espiritual, e como uma fiel sentinela da reforma em todos os seus aspectos; e todos os que desempenham nela uma parte, devem ser reformadores, demonstrando respeito para com suas normas, e atentando para a luz da reforma de saúde que agora brilha sobre nós como um povo. T4 556 4 Todos podem ser uma bênção para outros, caso se coloquem onde representarão corretamente a religião de Jesus Cristo. Mas tem havido mais preocupação em tornar a aparência exterior de toda maneira atraente, para que ela possa ir ao encontro das opiniões dos pacientes mundanos, do que em manter vivo relacionamento com o Céu, vigiar e orar, a fim de que este instrumento de Deus possa ser inteiramente bem-sucedido em fazer o bem ao corpo, bem como à alma dos homens. T4 557 1 Que se pode dizer, e que se pode fazer, para despertar convicção no coração de todos os que se acham relacionados com esta importante instituição? Como podem eles ser levados a ver e sentir o perigo de darem passos errados, a não ser que tenham uma experiência viva nas coisas de Deus? Os médicos encontram-se em posição na qual, exercessem uma influência condizente com sua fé, teriam um poder modelador sobre todos os que estão ligados à instituição. Este é um dos melhores campos missionários do mundo, e todos os que se encontram em posição de responsabilidade devem familiarizar-se com Deus e estar sempre recebendo luz do Céu. Nunca houve um período tão importante na história do hospital como no presente, nunca um tempo em que tanto esteve em jogo. Somos cercados de perigos dos últimos dias. Satanás tem vindo com grande poder, atuando "com todo o engano da injustiça para os que perecem" (2 Tessalonicenses 2:10); "sabendo que tem pouco tempo". Apocalipse 12:12. A luz deve agora brilhar em nossas palavras e conduta com crescente fulgor sobre o caminho daqueles que estão em trevas. T4 557 2 Alguns há que não são o que o Senhor desejaria que fossem. São impulsivos e rudes, e necessitam da suavizante e subjugadora influência do Espírito de Deus. Nunca é fácil tomar a cruz e seguir no caminho da abnegação; todavia, isto deve ser feito. Deus deseja que todos tenham Sua graça e Seu Espírito para que tornem fragrante sua vida. Alguns são demasiadamente independentes e auto-suficientes, não se aconselhando com os outros como devem. T4 557 3 Meus irmãos, estamos vivendo num tempo solene. Uma importante obra deve ser feita pela nossa alma e pela de outros, ou defrontaremos uma perda infinita. Precisamos ser transformados pela graça de Deus ou perderemos o Céu; e através de nossa influência, outros fracassarão conosco. Permitam-me assegurar-lhes que as lutas e conflitos que precisam ser suportados no desempenho do dever, a abnegação e os sacrifícios que devem ser feitos quando somos fiéis a Cristo não são criados por Ele. Não são impostos por ordens arbitrárias ou desnecessárias; não vêm da severidade da vida que Ele requer que assumamos em Seu serviço. Provas existiriam em maior poder e número se recusássemos obedecer a Cristo e nos tornássemos servos de Satanás e escravos do pecado. T4 558 1 Jesus nos convida a ir ter com Ele e tirará de nossos cansados ombros a carga, colocando sobre nós o Seu jugo, que é suave; e o Seu fardo, que é leve. O trilho pelo qual Ele nos convida a andar nunca nos teria custado um tormento se sempre tivéssemos nele andado. É quando nos extraviamos do caminho do dever que este se torna difícil e espinhoso. Os sacrifícios que temos que fazer ao seguir a Cristo são apenas outros tantos passos para retornar ao caminho da luz, da paz e felicidade. As dúvidas crescem ao contemporizarmos com elas, e quanto mais contemporizarmos, tanto mais difícil é vencê-las. É seguro largar todo suporte terrestre e tomar a mão dAquele que levantou e salvou o discípulo que se afogava no mar tempestuoso. T4 558 2 Deus apela a que combinem a simplicidade de uma criança com a força e maturidade de um homem. Ele deseja que vocês desenvolvam o verdadeiro ouro do caráter; e pelos méritos de Cristo podem fazê-lo. Minha alma está apreensiva por aqueles que não sentem sua necessidade de constante ligação com o Céu a fim de realizar a obra que lhes é requerida como fiéis sentinelas de Deus. T4 558 3 Religião é o que se faz necessário. Devemos comer do pão da vida e beber da água da salvação. Devemos cultivar o amor, não aquele que é falsamente assim denominado caridade, que nos leva a amar o pecado e apreciar os pecadores, mas o amor bíblico e a sabedoria bíblica, que é "primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos". Tiago 3:17. T4 558 4 Deve haver, em todos os que têm qualquer influência no hospital, conformação à vontade de Deus, humilhação do eu, o abrir do coração à preciosa influência do Espírito de Cristo. O ouro provado no fogo representa o amor e a fé. Muitos se acham quase destituídos de amor. A auto-suficiência lhes cega os olhos à sua grande necessidade. Existe verdadeira necessidade de conversão diária a Deus -- nova, profunda e diária experiência na vida religiosa. T4 559 1 Deve ser despertado no coração dos médicos, em especial, o mais ardente desejo de obter aquela sabedoria que só Deus pode comunicar; pois tão logo se tornam confiantes em si mesmos, são entregues à própria sorte para seguirem os impulsos do coração não santificado. Quando vejo o que estes médicos podem tornar-se, ligados a Cristo, e o que deixarão de ser se a Ele não se unirem diariamente, sinto-me cheia de apreensão pelo fato de estarem eles satisfeitos em alcançar uma norma mundana e não possuírem nenhum desejo ardente, nenhuma fome e sede das belezas da santidade, o ornamento "de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. T4 559 2 A paz de Cristo, a paz de Cristo -- o dinheiro não a pode comprar; o brilhante talento não pode dela assenhorear-se; o intelecto não pode consegui-la; ela é um dom de Deus. A religião de Cristo -- como hei de fazer todos compreenderem a grande perda que sofrerão se deixarem de pôr em prática seus santos princípios na vida diária? A mansidão e a humildade de Cristo, eis a força do cristão. Isto é na verdade mais precioso que todas as coisas que a habilidade possa criar, ou possam ser adquiridas com a riqueza. De todas as coisas que se buscam, acariciam e cultivam, coisa alguma há, tão valiosa aos olhos de Deus, como um coração puro, uma disposição impregnada de gratidão e paz. T4 559 3 Caso exista no coração a divina harmonia da verdade e do amor, ela resplandecerá em palavras e ações. O mais cuidadoso cultivo das boas maneiras e cortesias da vida não possui suficiente poder para excluir toda a impaciência, juízo precipitado e linguagem imprópria. O espírito de genuína bondade deve habitar no coração. O amor concede graça, boas maneiras e modéstia àquele que o possui. O amor ilumina o semblante e suaviza a voz, e enobrece e eleva todo o ser. Põe-no em harmonia com Deus; pois é um atributo celeste. T4 560 1 Muitos se acham em risco de pensar que, nos cuidados do trabalho, escrevendo e trabalhando como médicos, ou cumprindo seus deveres nos vários departamentos, são desculpáveis se deixam de orar, se negligenciam o sábado e os cultos. As coisas sagradas são assim rebaixadas a fim de favorecer-lhes as conveniências, ao passo que os deveres, as renúncias e as cruzes são deixados de lado. Nem os médicos nem os auxiliares devem tentar fazer seu trabalho sem consagrar tempo à oração. Deus seria o ajudador de todos quantos O professam amar, caso com Ele fossem ter com fé e, sentindo a própria fraqueza, ansiassem Seu poder. Quando eles se separam de Deus, sua sabedoria demonstrar-se-á insensatez. Quando se acham pequenos aos próprios olhos, e se apóiam com todo o peso em seu Deus, então Ele lhes é o braço de seu poder, e os esforços que fizerem serão seguidos de êxito; ao permitirem, porém, que a mente se desvie do Senhor, Satanás nela penetra, controla os pensamentos e perverte o juízo. T4 560 2 Pessoa alguma se acha em maior perigo do que aquela que crê estar segura a sua montanha. É então que o pé lhe começa a deslizar. Sobrevirão tentações, uma após outra, e será tão imperceptível a influência das mesmas sobre a vida e o caráter que, a menos que seja guardada pelo poder divino, ela será corrompida pelo espírito do mundo, e deixará de realizar o desígnio de Deus. Tudo quanto o homem possui, foi-lhe dado pelo Senhor, e aquele que desenvolve suas aptidões para glória de Deus será um instrumento para o bem; mas, da mesma forma que não nos é possível ser fisicamente fortes sem tomar alimento temporal, não podemos viver a vida religiosa sem constante oração e o cumprimento dos deveres espirituais. Precisamos sentar-nos diariamente à mesa de Deus. Importa que recebamos forças da Videira Viva, caso nos devamos nutrir. T4 560 3 A direção seguida por alguns, de empregarem métodos mundanos a fim de conseguirem seus desígnios, não se encontra em harmonia com a vontade divina. Vêem erros que necessitam ser corrigidos, mas não querem trazer a reprovação sobre si mesmos, e em vez de, animosamente, enfrentarem essas coisas, lançam a responsabilidade sobre outros, e os deixam fazer face às dificuldades a que se eximiram; e, em muitos casos, o que fala claramente é considerado o grande culpado. T4 561 1 Irmãos, rogo-lhes que procedam tendo unicamente em vista a glória de Deus. Seja Seu poder a sua confiança, Sua graça a sua força. Por meio de estudo das Escrituras e de fervorosa oração, busquem obter percepções claras de seu dever, e depois o cumpram fielmente. É essencial cultivarem fidelidade nas pequeninas coisas e, assim fazendo, formarão hábitos de integridade nas responsabilidades maiores. Os pequenos incidentes da vida diária passam muitas vezes sem os notarmos; são, no entanto, essas coisas que moldam o caráter. Todo acontecimento da vida é de grande importância para bem ou para mal. A mente precisa ser exercitada pelas provas diárias, a fim de adquirir vigor para resistir em qualquer situação difícil. Nos dias de prova e de perigo, vocês necessitarão estar fortalecidos para ficar firmes ao lado do direito, a despeito de toda influência contrária. T4 561 2 Deus está disposto a fazer muito por vocês, uma vez que tão-somente sintam sua dependência dEle. Jesus os ama. Procurem andar sempre à luz da sabedoria divina; e em meio a todas as mutáveis circunstâncias da vida, não descansem a menos que saibam que sua vontade se acha em harmonia com a vontade de seu Criador. Mediante fé nEle, vocês podem conseguir força para resistir a toda tentação de Satanás, crescendo assim em energia moral a cada prova enviada por Deus. T4 561 3 Poderão tornar-se homens de responsabilidade e influência se, pelo poder de sua vontade unido à força divina, empenharem-se fervorosamente no trabalho. Exercitem as faculdades mentais, e em caso algum negligenciem as físicas. Não deixem que a preguiça intelectual feche sua trajetória para maior conhecimento. Aprendam a refletir, assim como a estudar, a fim de que sua mente se expanda, fortaleça e desenvolva. Nunca pensem que já aprenderam bastante e que podem agora afrouxar seus esforços. A mente culta é a medida do homem. Sua educação deve continuar por toda a vida; cada dia devem estar aprendendo e pondo em prática o conhecimento adquirido. T4 562 1 Vocês crescem em verdadeira dignidade e valor moral ao praticarem a virtude e abrigarem a retidão no coração e na vida. Não permitam seja seu caráter atingido pela mácula da lepra do egoísmo. Uma alma nobre, em parceria com um intelecto culto, fará de vocês homens a quem Deus usará em posições de sagrada confiança. T4 562 2 Deve constituir obra prioritária de todos os que se acham relacionados com esta instituição serem eles próprios retos diante de Deus, e depois, no poder de Cristo, permanecerem inatingidos pelas influências errôneas às quais estarão expostos. Se fizerem dos amplos princípios da Palavra de Deus o fundamento do caráter, poderão eles estar rodeados por quaisquer influências deletérias, onde quer que o Senhor em Sua providência os chame, e contudo não se desviarão do caminho da retidão. T4 562 3 Muitos falham onde deviam ter êxito, porque não percebem quão grande é a influência de suas palavras e atos. São afetados pelas circunstâncias, e parecem pensar que a vida lhes pertence, e que podem seguir a conduta que lhes parecer mais agradável, sem levar em conta os outros. Tais pessoas serão consideradas auto-suficientes e indignas de confiança. Não consideram com oração sua posição e responsabilidades, e deixam de perceber que somente por um desempenho fiel dos deveres da vida presente podem aspirar ganhar a futura vida imortal. T4 562 4 Se essas pessoas fizessem da Palavra de Deus seu estudo e guia, veriam que, nenhum homem "vive para si mesmo". Romanos 14:7. Aprenderiam no Registro Inspirado que Deus atribuiu elevado valor à família humana. As obras de Sua criação em cada dia sucessivo foram chamadas boas, mas o homem, formado à imagem de seu Criador, foi pronunciado muito bom. Nenhuma criatura que Deus fez tem atraído tal demonstração de Seu amor. E quando tudo foi perdido pelo pecado, Deus deu o Seu querido Filho para redimir a humanidade caída. Foi Sua vontade que o ser humano não perecesse em seus pecados, mas vivesse para empregar as suas faculdades em abençoar o mundo e honrar ao seu Criador. Professos cristãos que não vivem para beneficiar os outros, seguem sua própria vontade perversa em lugar da vontade de Deus, e serão chamados a prestar contas ao Mestre por seu abuso das bênçãos que Ele lhes concedeu. T4 563 1 Jesus, o grande Comandante do Céu, deixou as cortes reais para vir ao mundo endurecido e arruinado pela maldição. Ele tomou sobre Si a nossa natureza, para que com o Seu braço humano pudesse envolver a humanidade, enquanto com Seu braço divino Se apegava à Onipotência, ligando assim o homem finito ao Deus infinito. Nosso Redentor veio ao mundo para mostrar como o homem deve viver a fim de garantir a vida imortal. Nosso Pai celestial fez um sacrifício infinito ao dar o Seu Filho para morrer pelo homem caído. O preço pago por nossa redenção deve dar-nos uma exaltada compreensão do que nos podemos tornar por meio de Cristo. T4 563 2 Ao João considerar a altura, profundidade e largura do amor do Pai para com a humanidade a perecer, enche-se de admiração e reverência. Ele não pode achar linguagem mais adequada para expressar esse amor, mas convoca o mundo para contemplá-lo: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Que valor isso coloca sobre o homem! Pela transgressão, os filhos dos homens se tornaram súditos de Satanás. Através do sacrifício infinito de Cristo, e a fé em Seu nome, os filhos de Adão se tornam filhos de Deus. Por assumir a natureza humana, Cristo eleva a humanidade. Aos homens caídos é concedida outra prova, e são colocados onde, mediante ligação com Cristo, podem educar, aperfeiçoar e elevar a si mesmos, para que possam na verdade se tornar dignos do nome de "filhos de Deus". T4 563 3 Tal amor não tem paralelo. Jesus requer que aqueles que foram comprados pelo preço de Sua própria vida façam o melhor uso dos talentos que Ele lhes tem dado. Devem crescer no conhecimento da vontade divina e constantemente melhorar intelectual e moralmente, até que possam atingir a perfeição de caráter, pouco menor do que a dos anjos. T4 563 4 Se aqueles que professam crer na verdade presente fossem verdadeiros representantes da verdade, vivendo à altura de toda a luz que brilha sobre o seu caminho, estariam constantemente exercendo sobre outros uma influência para o bem, assim deixando uma trilha luminosa em direção ao Céu para todos os que são colocados em contato com eles. Mas a falta de fidelidade e integridade entre seus professos amigos é um sério obstáculo à prosperidade da causa de Deus. Satanás trabalha através de homens que estão sob seu controle. O hospital, a igreja e outras instituições em Battle Creek têm menos a temer dos infiéis e blasfemadores diretos do que dos incoerentes professos seguidores de Cristo. Esses são os Acãs no acampamento, que trazem vergonha e derrota. São os que retêm a bênção de Deus, e desencorajam os obreiros zelosos e abnegados da causa de Cristo. T4 564 1 Em sua conduta para com os pacientes, devem todos ser movidos por motivos mais elevados do que por interesses egoístas. Todos devem compenetrar-se de que esta instituição é um dos instrumentos divinos para aliviar as enfermidades do corpo e apontar à alma enferma pelo pecado Aquele que pode curar tanto a alma como o corpo. Juntamente com o cumprimento dos deveres especiais que lhes foram designados, devem todos ter interesse no bem-estar dos outros. O egoísmo é contrário ao espírito de cristianismo. É totalmente satânico em sua natureza e desenvolvimento. T4 564 2 Numa de Suas preciosas lições aos discípulos, nosso Salvador descreveu o cuidado de Deus por Suas criaturas nestas palavras: "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão todos contados." Mateus 10:29. Aquele que Se curva para observar até os pequenos pássaros, tem especial cuidado por todos os ramos de Sua obra. Todos os que são empregados em nossas instituições estão sob o olhar do Deus infinito. Ele vê se seus deveres são realizados com estrita integridade ou de maneira descuidosa e desonesta. Os anjos estão caminhando invisivelmente através de cada sala dessas instituições. Seja com tristeza ou com alegria os anjos estão constantemente ascendendo ao Céu, levando os registros. Cada ato de fidelidade é registrado; cada ato de desonestidade também é registrado; e toda a pessoa é finalmente recompensada segundo suas obras. ------------------------Capítulo 56 -- Influência cristã T4 565 1 No relacionamento com outros, todos no hospital que são seguidores de Cristo devem procurar elevar o padrão de cristianismo. Tenho hesitado em mencionar isso, porque alguns que estão sempre prontos para ir a extremos concluirão ser necessário discutir com os pacientes sobre pontos de doutrina e falar durante as reuniões religiosas mantidas no hospital como se fosse aos irmãos em nossa própria casa de culto. Alguns não manifestam sabedoria ao dar o seu testemunho nessas pequenas reuniões que visam especialmente beneficiar os pacientes, mas em seu zelo se apressam e falam da terceira mensagem angélica, ou de outros pontos peculiares de nossa fé, enquanto esses doentes não entendem do que estão falando mais do que se lhes falassem em grego. T4 565 2 Pode ser adequado introduzir esses assuntos em reuniões de oração dos fiéis; todavia, não onde o objetivo é beneficiar aqueles que nada sabem de nossa fé. Devemos adaptar nossas orações e testemunhos à ocasião e ao grupo presente. Aqueles que não podem fazer isso não devem ir a tais reuniões. Há temas que os cristãos podem em qualquer tempo se demorar com proveito, tais como a experiência cristã, o amor de Cristo e a simplicidade da fé; e se o próprio coração estiver imbuído do amor de Jesus, permitirão que a luz brilhe em toda oração e exortação. Permitam que os frutos da verdade santificadora sejam vistos na vida, no exemplo de santidade, e isso causará uma impressão que nenhuma influência oposta pode contradizer. T4 565 3 É uma vergonha ao nome de cristão, que tão pouca estabilidade e verdadeira religiosidade sejam vistas na vida de muitos que professam a Cristo. Quando trazidos em contado com as influências mundanas, ficam com o coração dividido. Inclinam-se para o mundo, em vez de para Cristo. A menos que haja poderoso entusiasmo para agitar os sentimentos, as pessoas jamais pensariam, pela sua conduta, que eles amavam a verdade ou eram cristãos. T4 565 4 Alguns reconhecerão a veracidade do que escrevi, mas não farão nenhuma mudança radical; não podem discernir a atuação enganosa do coração carnal, e por causa de sua cegueira espiritual serão seduzidos pelas influências que corrompem e arruínam a alma. O encanto da tentação manterá sob sua fascinação aqueles que não vêem nem sentem seu perigo. Em toda a oportunidade favorável o adversário das almas os empregará como seus agentes, e agitará todo o elemento de depravação que existe em sua natureza não santificada. Manifestarão uma contínua tendência para o que é errado. O apetite e a paixão reivindicarão a condescendência. Os hábitos de anos serão revelados sob o forte poder das tentações satânicas. Se tais pessoas estivessem a muitos quilômetros de qualquer de nossas instituições em Battle Creek, a causa de Deus seria muito mais próspera. T4 566 1 Tais pessoas poderiam reformar-se, se tivessem qualquer senso de sua condição e da perniciosa influência que exercem, e fariam esforços decididos para corrigir os seus erros. Mas elas não meditam, não oram nem lêem as Escrituras como devem. São frívolas e volúveis. Não estão ancoradas em nada. Aqueles que querem ser fiéis e exercer uma influência salvadora sobre outros, encontram nesse grupo uma pedra de tropeço em seu caminho, e sua obra é dez vezes mais difícil do que de outro modo seria. T4 566 2 Foi-me mostrado que os médicos devem entrar em uma relação mais íntima com Deus, e erguer-se e trabalhar ardorosamente em Sua força. Eles têm uma parte de responsabilidade a desempenhar. Não só a vida dos pacientes, mas a salvação deles está em jogo. Muitos que são beneficiados fisicamente podem, ao mesmo tempo, ser grandemente auxiliados no sentido espiritual. Tanto a saúde do corpo como a salvação da alma dependem em grande parte do procedimento dos médicos. É da máxima importância que eles sejam corretos, que não tenham apenas o conhecimento científico, mas o conhecimento da vontade e dos caminhos de Deus. Grandes responsabilidades repousam sobre eles. T4 566 3 Meus irmãos, vocês devem ver e sentir sua responsabilidade, e, em face dela, humilhar a alma diante de Deus e implorar-Lhe sabedoria. Vocês não têm compreendido quanto a salvação das almas, daqueles cujo corpo estão procurando aliviar do sofrimento, depende de suas palavras, atos e comportamento. Estão realizando obra que deve suportar a prova do juízo. Devem proteger a própria alma contra os pecados do egoísmo, da auto-suficiência e da confiança própria. T4 567 1 Vocês devem preservar a verdadeira dignidade cristã, mas evitar toda presunção. Sejam estritamente honestos de coração e vida. Permitam que a fé, à semelhança da palmeira, estenda as suas penetrantes raízes por baixo das coisas que aparecem, e obtenha o refrigério espiritual das fontes vivas da graça e da misericórdia de Deus. Há "uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". João 4:14. Vocês devem receber vida dessa fonte oculta. Se vocês se despirem do egoísmo e fortalecerem sua alma pela constante comunhão com Deus, poderão promover a felicidade de todos com quem entrarem em contato. Notarão os negligenciados, informarão os ignorantes, encorajarão os oprimidos e desanimados, e, na medida do possível, aliviarão os sofredores. E não só indicarão o caminho para o Céu, mas vocês mesmos andarão nele. T4 567 2 Não se contentem com conhecimento superficial. Não exultem por causa de lisonjas, nem se oprimam por motivo de censuras. Satanás os tentará a proceder de tal maneira que sejam admirados e lisonjeados; mas devem desviar-se de seus ardis. Vocês são servos do Deus vivo. T4 567 3 Seu trato com os enfermos é um procedimento exaustivo, e consumiriam gradualmente as fontes da vida caso não houvesse nenhuma mudança, nenhuma oportunidade para recreação, e se anjos de Deus não os guardassem e protegessem. Se vocês pudessem ver os muitos perigos através dos quais são guiados a salvo cada dia por esses mensageiros do Céu, a gratidão brotaria de seu coração e encontraria expressão em seus lábios. Se fizerem de Deus a sua força, poderão, sob as circunstâncias mais desanimadoras, atingir uma altura e uma amplitude de perfeição cristã que dificilmente pensariam ser possível alcançar. Seus pensamentos podem ser tão elevados, vocês podem ter tão nobres aspirações, percepções claras da verdade e propósitos de ação que serão elevados acima de todos os motivos sórdidos. T4 568 1 Serão necessárias tanto reflexão como ação, se desejarem alcançar perfeição de caráter. Conquanto postos em contato com o mundo, devem estar em guarda a fim de que não procurem com tanto empenho o aplauso dos homens e vivam de acordo com sua opinião. Andem com cuidado, se desejam prosseguir com segurança; desenvolvam a graça da humildade e confiem a Cristo a sua alma indefesa. Vocês podem ser, em muitos sentidos, homens de Deus. Em meio da confusão e tentação das multidões profanas, podem manter, com perfeita suavidade, a independência da alma. T4 568 2 Se mantiverem comunhão diária com Deus, aprenderão a avaliar os homens como Ele os avalia, e as obrigações de abençoar a humanidade sofredora, que sobre vocês repousam, encontrarão uma resposta voluntária. Não são de vocês mesmos; seu Senhor possui sagradas reivindicações sobre suas supremas afeições e sobre as mais elevadas realizações de sua vida. Ele tem o direito de utilizar o seu corpo e o seu espírito, ao mais pleno grau de suas faculdades, para Sua própria honra e glória. Sejam quais forem as cruzes que lhes seja exigido levar, os esforços ou sofrimentos a vocês impostos por Sua mão, vocês devem aceitar sem murmuração. T4 568 3 Aqueles para quem vocês trabalham são seus irmãos na dor, sofrendo perturbações físicas e a lepra espiritual do pecado. Se vocês são em algum sentido melhores do que eles, isto deve ser creditado à cruz de Cristo. Muitos estão sem Deus e sem esperança no mundo. Eles são culpados, corruptos e degradados, escravizados pelos ardis de Satanás. Todavia, são essas as pessoas a quem Cristo veio do Céu para redimir. Eles são objeto da mais terna compaixão, simpatia e incansável esforço, pois estão à beira da ruína. Sofrem de desejos insatisfeitos, paixões desordenadas e pela condenação de sua própria consciência; são infelizes em todo o sentido da palavra, pois estão perdendo a posse desta vida e não possuem perspectiva alguma da vida futura. T4 568 4 Vocês têm um importante campo de trabalho, e devem ser ativos e vigilantes, prestando obediência alegre e irrestrita aos reclamos do Mestre. Tenham sempre em mente que seus esforços para reformar outros devem ser feitos no espírito de invariável bondade. Nada jamais conseguirá mantê-los afastados daqueles aos quais vocês querem auxiliar. Vocês devem conservar na lembrança dos pacientes o fato de que, ao sugerirem a reforma de seus hábitos e costumes, lhes estão apresentando não o que é para arruiná-los, mas para salvá-los; que, enquanto deixam o que estimaram e amaram até aqui, devem edificar sobre um fundamento mais firme. Ao mesmo tempo que a reforma deve ser defendida com firmeza e resolução, toda aparência de fanatismo ou espírito autoritário deve ser cuidadosamente evitada. Cristo nos deu preciosas lições de paciência, tolerância e amor. Rudeza não é força; nem a prepotência, heroísmo. O Filho de Deus era persuasivo. Ele Se manifestou para atrair a Si todos os homens. Seus seguidores devem estudar-Lhe mais atentamente a vida e andar na luz de Seu exemplo, seja qual for o sacrifício próprio. Deve-se manter a reforma, contínua reforma, perante o povo, e seu exemplo deve fortalecer os seus ensinamentos. T4 569 1 O caso de Daniel foi-me apresentado. Conquanto fosse um homem de paixões semelhantes às nossas, a pena da inspiração o apresenta como de um caráter imaculado. Sua vida nos é dada como brilhante exemplo do que um homem pode tornar-se, mesmo nesta vida, se fizer de Deus a sua força e sabiamente aproveitar as oportunidades e privilégios ao seu alcance. Daniel foi um gigante intelectual; contudo, estava continuamente buscando maior conhecimento, mais elevadas realizações. Outros jovens tinham as mesmas vantagens, mas eles não dedicaram, como ele, todas as energias em busca da sabedoria -- o conhecimento de Deus como revelado em Sua Palavra e Suas obras. Embora Daniel fosse um dos maiores homens do mundo, não era orgulhoso nem auto-suficiente. Sentia a necessidade de refrigerar sua alma com oração, e cada dia era encontrado em fervorosa súplica perante Deus. Ele não se privava desse privilégio, mesmo quando uma cova de leões estava aberta para recebê-lo se continuasse a orar. T4 569 2 Daniel amava, temia e obedecia a Deus. Todavia não fugiu para longe do mundo para evitar sua corruptora influência. Na providência de Deus ele devia estar no mundo, todavia não ser do mundo. Com todas as tentações e fascinações da vida da corte em torno de si, ele permaneceu na integridade de sua alma, firme como uma rocha em sua aderência aos princípios. Ele fez de Deus sua força e não foi por Ele abandonado no tempo de sua maior necessidade. T4 570 1 Daniel era verdadeiro, nobre e generoso. Conquanto estivesse ansioso para estar em paz com todos os homens, não permitiria que qualquer poder o apartasse do caminho do dever. Estava disposto a obedecer àqueles que tinham poder sobre ele, enquanto pudesse fazê-lo em harmonia com a verdade e a justiça; mas reis e decretos não podiam fazê-lo desviar-se de sua aliança com o Rei dos reis. Daniel tinha apenas dezoito anos quando foi levado a uma corte pagã a serviço do rei de Babilônia; e por ser jovem, sua nobre resistência ao erro e sua firme adesão ao direito são os pontos em que mais é admirado. Seu nobre exemplo deve comunicar força aos provados e tentados, mesmo no tempo presente. T4 570 2 Uma estrita aceitação dos requisitos bíblicos será uma bênção, não somente para a alma, mas para o corpo. O fruto do espírito não é somente amor, alegria e paz, mas também domínio próprio. Somos instados a não contaminar o nosso corpo, pois ele é templo do Espírito Santo. O caso de Daniel nos mostra, que, através de princípio religioso, os jovens podem triunfar sobre a concupiscência da carne, e permanecer firmes aos requisitos de Deus mesmo que custe grande sacrifício. Que seria se ele tivesse se comprometido com aqueles oficiais pagãos, e cedido à pressão, da ocasião, comendo e bebendo como era costume entre os babilônios. Esse passo errado provavelmente conduziria a outros, até que sua ligação com o Céu seria interrompida, e ele teria sido dominado pela tentação. Mas enquanto ele se apegou a Deus com confiança inabalável, o espírito de poder profético veio sobre ele. Embora tenha sido instruído pelos homens nos deveres da vida da corte, foi ensinado por Deus a ler os mistérios dos tempos futuros. ------------------------Capítulo 57 -- Economia e abnegação T4 571 1 A economia no gasto de recursos é um excelente aspecto da sabedoria cristã. Esse assunto não é suficientemente considerado pelos que ocupam posição de responsabilidade em nossas instituições. O dinheiro é um excelente dom de Deus. Nas mãos de Seus filhos é ele alimento para o faminto, bebida para o sedento e vestido para o nu; é defesa ao oprimido e um meio de saúde para o enfermo. Os recursos não devem ser gastos desnecessária e prodigamente para satisfação do orgulho e da ambição. T4 571 2 A fim de satisfazermos as reais necessidades do povo, os austeros motivos dos princípios religiosos devem ser um poder controlador. Quando cristãos e incrédulos são mantidos juntos, o elemento cristão não deve assimilar o não santificado. Deve-se manter o contraste distinto e positivo entre ambos. Eles são servos de senhores diferentes. Uma classe se esforça para manter-se no caminho humilde da obediência aos mandamentos de Deus -- o caminho da simplicidade, da mansidão e da humildade -- imitando o Modelo, Cristo Jesus. A outra classe é em todos os sentidos o oposto da primeira. Eles são servos do mundo, ávidos e ambiciosos para seguir as suas modas no vestir-se com extravagância e em satisfazer o apetite. Esse é o campo onde Cristo deu aos que se relacionam com o hospital sua obra específica. Não devemos encurtar a distância que nos separa das pessoas do mundo seguindo suas normas, descendo do elevado caminho aberto para que os redimidos do Senhor nele andem. Mas a beleza demonstrada na vida do cristão -- os princípios mantidos em nosso trabalho diário, ao submetermos o apetite ao controle da razão, o mantermos a simplicidade no vestir-nos e entregar-nos à conversação santa -- será uma luz a brilhar continuamente no caminho daqueles cujos hábitos são errôneos. T4 571 3 Há aqueles que são fracos e vãos e que não têm profundidade mental ou poder de princípio, que são suficientemente néscios para serem influenciados e afastados da simplicidade do evangelho pelos adeptos da moda. Se virem que os que professam ser reformadores, de acordo com suas circunstâncias, estão se submetendo ao apetite e vestindo-se segundo os costumes do mundo, os escravos da condescendência própria se confirmarão em seus hábitos perversos. Concluem que afinal não estão tão desviados do caminho assim, e que nenhuma grande mudança precisa ser feita por eles. O povo de Deus deve sustentar firmemente o padrão do que é correto e exercer uma influência para corrigir os hábitos errados daqueles que têm estado adorando diante do templo da moda, e quebrar o fascínio que Satanás tem sobre essas pobres almas. Os mundanos devem ver um assinalado contraste entre sua própria extravagância e a simplicidade dos reformadores que são seguidores de Cristo. T4 572 1 O segredo do êxito na vida está na atenção cuidadosa e consciente às pequenas coisas. Deus faz a simples folha, a delicada flor, a haste de grama, com tanto cuidado quanto cria um mundo. A estrutura simétrica de um caráter forte e belo é desenvolvida por atos individuais de obediência. Todos devem aprender a ser fiéis tanto no menor dever, quanto no maior. Sua obra não pode suportar a inspeção de Deus, a menos que inclua atenção fiel, diligente e prudente pelas coisas pequenas. T4 572 2 Todos os que se acham relacionados com as nossas instituições devem ter zeloso cuidado para que nada seja desperdiçado, mesmo que a questão não se prenda justamente à parte da obra a eles designada. Todos podem fazer alguma coisa no sentido da economia. Todos devem realizar o seu trabalho, não para receber a aprovação dos homens, mas de tal maneira que esta possa resistir ao escrutínio de Deus. T4 572 3 Certa vez Cristo deu ao Seus discípulos uma lição sobre economia, a qual é digna de cuidadosa atenção. Ele realizou um milagre a fim de alimentar os milhares de famintos que estiveram escutando os Seus ensinamentos; todavia, após todos se haverem alimentado e estarem satisfeitos, não permitiu que as sobras fossem desperdiçadas. Aquele que pôde alimentar a grande multidão, em sua necessidade, pelo Seu divino poder, mandou que os discípulos ajuntassem as sobras, a fim de que nada se perdesse. Esta lição foi dada para o nosso benefício tanto quanto para o das pessoas que viviam nos dias de Cristo. O Filho de Deus cuida das necessidades temporais da vida. Não desprezou Ele as sobras após a refeição, embora pudesse fazer tal milagre todas as vezes que achasse por bem. Os obreiros de nossas instituições fariam bem em atentar para esta lição: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Este é o dever de todos, e os que ocupam posição de liderança devem dar o exemplo. T4 573 1 Aqueles cujas mãos estão abertas para responder aos apelos em prol de recursos para manter a causa de Deus e aliviar os sofredores e necessitados, não são os descuidados, negligentes e vagarosos em dirigir os seus negócios. Eles são sempre cuidadosos em manter suas despesas dentro de suas receitas. São econômicos por princípio; sentem que é seu dever economizar, para que possam ter alguma coisa para dar. T4 573 2 Alguns dos obreiros, à semelhança dos filhos de Israel, permitem que apetites pervertidos e velhos hábitos de condescendência clamem pela vitória. Anseiam, como fez o antigo Israel, pelos "porros" e "cebolas" do Egito. Números 11:5. Todos os que estão ligados com essas instituições devem aderir estritamente às leis da vida e da saúde, e assim não dar margem, por seu exemplo, aos hábitos errados de outros. T4 573 3 O que primeiro leva a alma para longe de Deus é a transgressão nas pequenas coisas. Por seu pecado em partilhar do fruto proibido, Adão e Eva abriram as comportas da dor sobre o mundo. Alguns podem considerar a transgressão como coisa muito pequena; mas vemos que suas conseqüências não foram nada pequenas. Os anjos no Céu têm uma esfera mais elevada e ampla de ação do que nós; mas o que é certo para eles também é certo para nós. T4 573 4 Não é o espírito avarento e mesquinho que levaria os devidos oficiais a reprovar erros existentes e requerer de todos os obreiros justiça, economia e abnegação. Não é descer da dignidade própria zelar pelos interesses de nossas instituições nesses assuntos. Aqueles que são fiéis, naturalmente esperam fidelidade em outros. Estrita integridade deve governar o trato dos administradores e deve ser imposta a todos os que trabalham sob sua direção. T4 573 5 Homens de princípio não precisam da restrição de chaves e fechaduras; não necessitam ser vigiados nem guardados. Lidarão de maneira veraz e honrosa em todos os momentos, tanto sozinhos, sem nenhum olhar sobre eles, como em público. Não trarão mácula sobre sua alma por nenhuma soma de ganho ou vantagem egoísta. Eles desprezam atos mesquinhos. Conquanto ninguém mais possa sabê-lo, saberiam por si mesmos, e isso destruiria o seu respeito próprio. Aqueles que não são conscienciosos e fiéis nas coisas pequenas não se reformarão, caso houvesse leis, restrições e penalidades sobre a questão. T4 574 1 Poucos são os que têm força moral para resistir à tentação, especialmente quanto ao apetite, e para praticar abnegação. Para alguns é demasiado forte resistir à tentação de ver outros tomarem a terceira refeição; e imaginam estar com fome, quando essa sensação não é um pedido do estômago para se alimentar, mas um desejo da mente que não foi fortalecida através de princípio firme, e disciplinada quanto à abnegação. Os muros do domínio próprio e da restrição própria em nenhum caso devem ser enfraquecidos e derribados. Paulo, o apóstolo aos gentios, diz: "Subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:27. T4 574 2 Os que não vencem em coisas pequeninas, não terão poder moral para resistir a tentações maiores. Todos os que buscam fazer da honestidade o princípio governante nos negócios diários da vida, precisarão estar em guarda para que não cobice de ninguém "a prata, nem o ouro, nem a veste". Atos dos Apóstolos 20:33. Enquanto se contentam com roupa e comida conveniente, será fácil proteger o coração e as mãos da contaminação da cobiça e desonestidade. T4 574 3 Os hábitos formados na infância e juventude têm mais influência do que qualquer dote natural em tornar os homens e mulheres intelectualmente grandes ou atrofiados e enfraquecidos; pois os melhores talentos podem, mediante hábitos errados, tornar-se desvirtuados e debilitados. Em grande extensão, o caráter é determinado nos primeiros anos. Hábitos corretos e virtuosos formados na juventude, geralmente assinalarão a conduta do indivíduo ao longo da vida. Na maioria dos casos, aqueles que reverenciam a Deus e honram o direito, serão vistos como tendo aprendido essa lição antes que o mundo pudesse estampar a sua imagem de pecado na alma. Homens e mulheres de idade madura são geralmente tão insensíveis às novas impressões, como é a rocha endurecida; mas a juventude é impressionável, e o caráter correto pode então ser facilmente formado. T4 575 1 Aqueles que estão empregados em nossas instituições têm, em muitos respeitos, as melhores vantagens para a formação de hábitos corretos. Ninguém será colocado além do alcance da tentação; pois em todo o caráter há pontos fracos que estão em perigo quando atacados. Aqueles que professam o nome de Cristo, como o fariseu cheio de justiça própria, não devem ter grande prazer em relembrar os seus bons atos, mas todos devem sentir a necessidade de manter a natureza moral protegida por constante vigilância. Como fiéis sentinelas, devem guardar a cidadela da alma, nunca achando que podem relaxar a sua vigilância por um momento. Sua única segurança está em oração fervorosa e em fé viva. T4 575 2 Aqueles que começam a ser descuidados em seus passos, descobrirão que antes de estarem cientes disso, seus pés estão embaraçados numa rede da qual é impossível desvencilhar-se. Ser fiéis e honestos deve ser um princípio estabelecido com todos. Sejam ricos ou pobres, quer tenham amigos ou não, venha o que vier, devem resolver na força de Deus que nenhuma influência os levará a cometer o menor ato errado. Todos devem perceber que deles, individualmente, depende em certa medida a prosperidade das instituições que Deus estabeleceu entre nós. ------------------------Capítulo 58 -- Posição e obra do hospital T4 575 3 Enquanto viajando pelo Estado do Maine, não muito tempo atrás, conhecemos a irmã A, uma mulher que aceitou a verdade enquanto estava no hospital. O seu marido havia sido um rico industrial; mas vieram reveses, e ele foi reduzido à pobreza. A irmã A perdeu a saúde e foi para o nosso hospital para tratamento. Ali recebeu a verdade presente que é adornada por sua coerente vida cristã. Ela tem quatro distintos e inteligentes filhos, que são perfeitos reformadores da saúde, e podem nos dizer por que agem assim. Tal família pode fazer muito bem numa comunidade. Exerce forte influência na direção certa. T4 576 1 Muitos que vêm ao hospital para tratamento são levados ao conhecimento da verdade, e assim não só são curados fisicamente, mas as câmaras escuras da mente são iluminadas pela luz do querido amor do Salvador. Quanto maior bem poderia ser realizado se todos os que estão relacionados com essa instituição primeiro estivessem ligados ao Deus da sabedoria, e assim se tornassem condutos de luz para outros. Os hábitos e costumes do mundo, o orgulho da aparência, o egoísmo e a exaltação própria freqüentemente se intrometem, e esses pecados de seus professos seguidores são tão ofensivos a Deus que Ele não pode atuar com poder por eles ou através deles. T4 576 2 Aqueles que são infiéis nas questões temporais serão igualmente infiéis nas espirituais. Por outro lado, negligência das reivindicações de Deus leva à negligência das reivindicações humanas. A infidelidade prevalece nesta época degenerada; ela está aumentando em nossas igrejas e nossas instituições. Sua pegada escorregadia é vista por toda a parte. Este é um dos pecados condenadores desta época, e levará milhares e dezenas de milhares à perdição. Se aqueles que professam a verdade em nossas instituições de Battle Creek fossem representantes vivos de Cristo, partiria deles um poder que seria sentido por toda a parte. Satanás bem sabe disso, e trabalha "com todo o engano da injustiça para os que perecem" (2 Tessalonicenses 2:10) a fim de que o nome de Cristo não seja magnificado naqueles que professam ser Seus seguidores. Meu coração dói quando vejo como Jesus é desonrado pela vida indigna e caráter defeituoso daqueles que poderiam ser um ornamento e uma honra a Sua causa. T4 576 3 As tentações com as quais Cristo foi assediado no deserto -- apetite, amor ao mundo e presunção -- são os três atrativos principais pelos quais os homens são mais freqüentemente derrotados. Os administradores do hospital serão freqüentemente tentados a afastar-se dos princípios que devem orientar uma instituição como essa. Eles, porém, não devem desviar-se do caminho certo para satisfazer as inclinações ou servir o apetite depravado de pacientes ricos ou de amigos. A influência de tal procedimento é simplesmente danosa. O afastamento dos ensinos ministrados em conferências ou através da imprensa exerce um efeito muito desfavorável sobre a influência e a moral da instituição e, em grande parte, anulará todos os esforços para instruir e reformar as vítimas de apetite e paixões depravados e para levá-las a Cristo, o único refúgio seguro. T4 577 1 O mal não terminará aqui. A influência atinge não só os pacientes, mas também os obreiros. Uma vez derribadas as barreiras, um passo após outro é dado na direção errada. Satanás apresenta lisonjeiras propostas mundanas aos que se afastarem dos princípios e sacrificarem a integridade e honra cristãs para obter a aprovação dos ímpios. Seus esforços são muitas vezes bem-sucedidos. Ele obtém a vitória onde deveria encontrar rejeição e derrota. T4 577 2 Cristo resistiu a Satanás em nosso benefício. Temos o exemplo de nosso Salvador para fortalecer os nossos fracos propósitos e resoluções; apesar disto, porém, alguns cairão pelas tentações de Satanás, e não cairão sozinhos. Toda alma que deixa de obter a vitória faz outros caírem por meio de sua influência. Os que deixam de associar-se com Deus e de receber sabedoria e graça para aprimorarem e sublimarem a sua própria vida serão julgados pelo bem que poderiam ter feito, mas que deixaram de realizar por estarem satisfeitos com o mundanismo e a amizade com os não santificados. T4 577 3 Todo o Céu está interessado na salvação do ser humano, e está pronto para derramar sobre ele seus generosos dons, se ele preencher as condições estipuladas por Cristo: "Saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo." 2 Coríntios 6:17. T4 577 4 Os que têm a responsabilidade no hospital devem ser sobremodo cuidadosos de que as diversões não sejam de molde a rebaixar o padrão de cristianismo, colocando esta instituição em pé de igualdade com outras e debilitando o poder da verdadeira religiosidade na mente daqueles que com ela estão relacionados. Os entretenimentos mundanos ou teatrais não são necessários à prosperidade do hospital ou à saúde dos pacientes. Quanto mais lhes for apresentado este tipo de diversões tanto menos eles se sentirão satisfeitos, a não ser que alguma coisa dessa espécie lhes seja oferecida continuamente. A mente está sempre na expectativa de alguma coisa nova e provocante, exatamente aquilo que ela não deve receber. E se esses entretenimentos são permitidos uma vez, são aguardados novamente, e os pacientes perdem o seu gosto por qualquer arranjo simples para ocupar o tempo. Mas repouso, mais do que agitação, é o de que necessitam os pacientes. T4 578 1 Assim que essas diversões são introduzidas, as objeções para não ir a casas de espetáculos são removidas de muitas mentes, e a alegação de que cenas morais de alto padrão vão ser representadas no teatro faz ruir a última barreira. Os que desejariam permitir essa espécie de divertimentos no hospital fariam melhor se buscassem de Deus sabedoria para guiar estas pobres, famintas e sedentas almas à Fonte da alegria, paz e felicidade. T4 578 2 Depois que houve um afastamento do caminho reto, é difícil voltar. As barreiras foram removidas e derribadas as salvaguardas. Um passo em direção errada prepara o caminho para outro. Um único copo de vinho pode abrir a porta da tentação que levará a hábitos de embriaguez. A condescendência com um único sentimento de vingança pode abrir o caminho para um cortejo de sentimentos que terminarão em assassínio. O menor desvio do direito e dos princípios levará à separação de Deus, e poderá terminar em apostasia. O que fazemos uma vez, fazemos outra vez mais pronta e naturalmente; e prosseguir em determinado caminho, seja ele certo ou errado, é mais fácil do que começar. Exige menos tempo e trabalho corromper os nossos caminhos diante de Deus do que implantar no caráter hábitos de justiça e verdade. Tudo aquilo a que um homem se acostuma, seja sua influência boa ou má, ele acha difícil abandonar. T4 578 3 Os administradores dos hospitais podem igualmente concluir, desde logo, que jamais serão capazes de satisfazer essa espécie de mentalidade que só pode encontrar felicidade em alguma coisa nova e atrativa. Para muitas pessoas este tem sido o seu regime dietético intelectual durante toda a sua vida; há dispépticos tanto mentais como físicos. Muitos estão sofrendo muito mais de males da alma do que de enfermidades do corpo, e não encontrarão alívio enquanto não forem a Cristo, a fonte da vida. Os queixumes de fadiga, solidão e descontentamento cessarão então. As alegrias que satisfazem comunicarão vigor à mente, e saúde e energia vital ao físico. T4 579 1 Se os médicos e obreiros se lisonjearem com o pensamento de que devem encontrar uma panacéia para os diversos males de seus pacientes, suprindo-os com uma série de entretenimentos semelhantes aos que têm constituído a maldição de sua vida, eles serão desapontados. Não permitam que estes divertimentos sejam colocados no lugar que a Fonte da vida deve ocupar. A alma faminta e sedenta continuará a ter fome e sede enquanto participar destes prazeres que não satisfazem. Mas aqueles que bebem da água da vida não mais terão sede de entretenimentos frívolos, sensuais e estimulantes. Os princípios enobrecedores da religião fortalecerão as energias mentais e destruirão o gosto por estas satisfações. T4 579 2 O fardo do pecado, com seu desassossego e desejos não satisfeitos, jaz mesmo à base de grande parte das doenças sofridas pelos pecadores. Cristo é o poderoso comunicador de cura à alma enferma de pecado. Esses pobres sofredores precisam ter conhecimento mais claro dAquele a quem conhecer devidamente é vida eterna. Eles precisam ser paciente e bondosa mas diligentemente ensinados quanto à maneira de abrir de par em par as janelas da alma, deixando entrar o Sol do amor de Deus para iluminar os obscurecidos recantos da mente. As mais exaltadas verdades espirituais podem ser levadas ao coração pelas coisas da natureza. Os pássaros do ar, as flores do campo, com suas belas cores vivas, o cereal germinando, a videira com seus ramos cheios de frutos, as árvores soltando os seus tenros renovos, o glorioso pôr-do-sol, as nuvens carmesim a anunciarem uma bela manhã, a sucessão das estações -- tudo isto pode ensinar-nos preciosas lições de confiança e fé. A imaginação tem aqui um campo fértil no qual estender-se. A mente inteligente pode contemplar com a maior satisfação estas lições da verdade divina, as quais o Redentor do mundo associou às coisas da natureza. T4 580 1 Cristo reprovou severamente os homens de Seu tempo por não terem eles aprendido da natureza as lições espirituais que poderiam ter aprendido. Todas as coisas, animadas e inanimadas, expõem ao homem o conhecimento de Deus. A mesma mente divina que está atuando nas coisas da natureza, está a falar à mente e ao coração dos homens e a produzir um inexprimível anseio por alguma coisa que eles não possuem. As coisas do mundo não podem satisfazer-lhes os anelos. Àquelas almas sedentas é dirigida a mensagem divina: "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. T4 580 2 O Espírito de Deus está continuamente impressionando a mente dos homens para buscar aquelas coisas que somente concederão paz e descanso -- as alegrias mais elevadas e santas do Céu. Cristo, o Senhor da vida e da glória, deu a Sua vida para redimir o homem do poder de Satanás. O nosso Salvador está constantemente em ação, através de influências visíveis e invisíveis, para atrair a mente dos homens dos prazeres insatisfatórios desta vida ao tesouro de valor incalculável que lhes pode pertencer no futuro imortal. T4 580 3 Deus gostaria que o Seu povo, em palavras e conduta, declarasse ao mundo que nenhuma atração terrena ou posses mundanas são de valor suficiente para compensar a perda da herança celestial. Aqueles que são verdadeiros filhos da luz e do dia não serão vãos nem frívolos na conversação, no vestuário ou na conduta, mas sóbrios, meditativos, constantemente exercendo uma influência para atrair almas ao Redentor. O amor de Cristo, refletido da cruz, pleiteia em favor do pecador, atraindo-o pelas cordas do infinito amor à paz e felicidade encontradas em nosso Salvador. Deus requer de todos os Seus seguidores que dêem um testemunho vivo em linguagem inconfundível pela conduta, vestuário, conversação e em todas as atividades da vida, de modo que o poder da verdadeira piedade seja proveitoso a todos nesta vida e na que há de vir; possa isso unicamente satisfazer a alma do recebedor. T4 581 1 A glória de Deus se revela nas obras de Suas mãos. Eis aqui mistérios cujo exame fortalecerá a mente. As mentes que têm sido distraídas e abusadas pela leitura de ficção poderão ter na natureza um livro aberto e ler a verdade nas obras de Deus, que as rodeiam. Todos poderão achar temas para estudo na simples folha da árvore da floresta. A haste da grama que cobre a terra com seu verde tapete de veludo, as plantas e flores, as majestosas árvores da floresta, as montanhas altaneiras, as rochas de granito, o oceano revolto, as preciosas gemas de luz que enfeitam os céus para embelezar a noite, as inesgotáveis riquezas da luz solar, as solenes glórias da lua, o frio hibernal, o calor do verão, as estações que mudam e se repetem em perfeita ordem e harmonia, controladas pelo poder infinito; eis assuntos que exigem profunda meditação para desenvolver a imaginação. T4 581 2 Se o frívolo e amante dos prazeres permitir que a mente se demore sobre o que é real e verdadeiro, o coração não poderá deixar de se encher de reverência e adorará ao Deus da natureza. A contemplação e o estudo do caráter de Deus, conforme é revelado nas obras por Ele criadas, abrirá um campo de meditação que afastará a mente dos divertimentos vulgares, degradantes e debilitantes. O conhecimento das obras e caminhos de Deus, só podemos começar a obter neste mundo; o estudo será continuado por toda a eternidade. Deus tem provido para o homem assuntos para meditação que porão em atividade cada faculdade mental. Podemos ler o caráter do Criador nos céus em cima e na terra embaixo, enchendo o coração de gratidão e ações de graças. Todo nervo e sentido atenderão à expressão do amor de Deus em Suas maravilhosas obras. Satanás inventa atrações terrenas para que a mente carnal seja colocada naquelas coisas que não podem elevar, refinar e enobrecer; suas faculdades são assim atrofiadas e enfraquecidas, e os homens e mulheres que poderiam atingir a perfeição de caráter se tornam mesquinhos, fracos e defeituosos. T4 582 1 Deus designou que o hospital que Ele estabeleceu devia permanecer como um farol de luz, advertência e reprovação. Ele provaria ao mundo que uma instituição conduzida por princípios religiosos como um refúgio para doentes poderia ser mantida sem sacrificar a sua natureza peculiar e santa; que poderia ser mantida livre dos aspectos objetáveis que são achados em outras instituições do gênero. Devia ser um instrumento em Suas mãos para efetuar grandes reformas. Atos errados de vida devem ser corrigidos, a moral elevada, os gostos mudados, o vestuário reformado. T4 582 2 Doenças de todo tipo são acarretadas ao corpo por estilos de vestuário insalubres da moda; e deve ser tornado notório o fato de que uma reforma precisa ter lugar antes que o tratamento proporcione cura. O apetite pervertido tem sido satisfeito, até que a doença seja produzida como resultado certo. As faculdades e órgãos enfraquecidos e atrofiados não podem ser fortalecidos e revigorados sem decididas reformas. E se aqueles que estão ligados ao hospital não são em todo aspecto representantes corretos das verdades da reforma de saúde, uma reforma decisiva precisa fazer deles o que devem ser, ou precisam ser separados da instituição. T4 582 3 A mente de muitos assume tão baixo nível que Deus não pode trabalhar por eles ou com eles. A corrente do pensamento tem de ser mudada, as sensibilidades morais têm de ser alertadas, de modo a perceber os direitos de Deus. A suma essência da verdadeira religião é possuir e reconhecer continuamente -- por palavras, pelo vestuário, pelo comportamento -- nosso relacionamento com Deus. A humildade deve tomar o lugar do orgulho; a sobriedade, da leviandade; e a devoção, da irreligiosidade e descuidosa indiferença. T4 582 4 Aqueles que têm tido muitos anos de experiência na causa de Deus, devem, acima de todos os outros, colocar os seus talentos no mais elevado uso que lhes foi confiado pelo Mestre. Contudo, o exemplo de alguns tem estado por demais do lado da conformidade com o mundo, em vez de manter o caráter distinto e separado do povo peculiar de Deus. Eles têm tido a tendência de condescender em vez de negar o apetite e a inclinação de vestir-se segundo o padrão mundano. Tudo isso está em oposição à obra que Deus e os anjos estão buscando realizar por nós como um povo, para trazer-nos fora, separar-nos e distinguir-nos do mundo. Devemos santificar-nos como um povo, e buscar força com Deus para defrontar as demandas deste tempo. Quando a iniqüidade prevalece no mundo, o povo de Deus deve buscar estar mais intimamente ligado ao Céu. A maré de imoralidade vem sobre nós com tal poder que perderemos nosso equilíbrio e seremos engolidos pela correnteza, a menos que nossos pés permaneçam firmemente sobre a Rocha, Cristo Jesus. T4 583 1 A prosperidade do hospital não depende só da inteligência e conhecimento de seus médicos, mas do favor de Deus. Se for conduzido de modo que Deus possa abençoar, terá elevado êxito, e permanecerá adiante de qualquer outra instituição similar no mundo. Grande luz, grande conhecimento e privilégios superiores têm sido dados. E segundo a luz que tem sido recebida, mas não tem sido aproveitada, e portanto não é uma luz que brilha sobre outros, será a condenação. T4 583 2 A mente de alguns está sendo desviada para o conduto da incredulidade. Essas pessoas pensam que vêem razão para duvidar da Palavra e da obra de Deus, porque a conduta de alguns professos cristãos lhes parece questionável. Mas acaso isso modifica o alicerce? Não devemos tornar a conduta de outros a base de nossa fé. Devemos imitar a Cristo, o exemplo perfeito. Se alguém permite que o domínio dEle sobre si seja enfraquecido porque os homens erram, porque os defeitos são vistos no caráter daqueles que professam a verdade, estarão sempre sobre areia movediça. Seus olhos devem ser dirigidos ao "Autor e Consumador da fé" (Hebreus 12:2); devem fortalecer sua alma com a segurança do grande apóstolo: "Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus." 2 Timóteo 2:19. Deus não pode ser enganado. Ele lê o caráter corretamente. Ele pesa os motivos. Nada escapa a Seus olhos que tudo vêem; os pensamentos, as intenções e propósitos do coração -- tudo é discernido por Ele. T4 583 3 Não há desculpa para a dúvida ou ceticismo. Deus tomou amplas medidas para estabelecer a fé de todos os homens, caso eles estejam dispostos a tomar sua decisão em face da força das evidências. Se, porém, esperam que sejam removidas todas as aparentes objeções, para então crerem, nunca virão a ficar estabelecidos, arraigados e firmados na verdade. Deus nunca afastará todas as aparentes dificuldades de nosso caminho. Os que desejam duvidar, encontrarão oportunidade para isso; os que desejam crer, acharão abundância de provas em que basearem a fé. T4 584 1 É inexplicável a atitude de alguns -- inexplicável mesmo para eles. Esses andam flutuando sem uma âncora, jogados daqui para ali na cerração da incerteza. Bem depressa Satanás se apodera do leme, e dirige-lhes o frágil barquinho de acordo com sua vontade. Eles ficam sujeitos a sua vontade. Não houvessem essas mentes dado ouvidos a Satanás, e não teriam sido iludidas pelos seus enganos; houvessem permanecido firmes do lado de Deus, e não teriam ficado confundidas e perplexas. T4 584 2 Deus e os anjos observam com intenso interesse o desenvolvimento do caráter, e estão pesando o valor moral. Os que resistirem aos ardis do inimigo sairão como ouro provado no fogo. Os que são derribados de sua posição pelas ondas das tentações, imaginam, como Eva, que estão ficando admiravelmente sábios, saindo da ignorância e estrita conscienciosidade; à semelhança dela, porém, achar-se-ão lamentavelmente iludidos. Andaram em perseguição de sombras, trocando a sabedoria celeste pelo frágil juízo humano. Um pouquinho de conhecimento os tornou presunçosos. Um conhecimento mais profundo e completo acerca de Deus e deles próprios, tê-los-ia tornado novamente homens sãos e sensatos, firmando-os do lado da verdade, dos anjos e de Deus. T4 584 3 A palavra divina julgar-nos-á, a cada um de nós, no grande dia final. Os rapazes falam acerca de ciência, e sua sabedoria está acima do que está escrito; buscam explicar os caminhos e obras de Deus de modo a satisfazer a própria compreensão finita; tudo isso, porém, é deplorável fracasso. A verdadeira ciência e a Inspiração se acham em perfeita harmonia. A falsa ciência é um tanto independente da divindade. Não passa de pretensiosa ignorância. Esse enganoso poder tem cativado e escravizado a mente de muitos, os quais preferiram as trevas à luz. Colocaram-se ao lado da incredulidade, como se duvidar fora virtude, indício de elevação de espírito -- quando, ao contrário, é sinal de espírito demasiado fraco e estreito para perceber a Deus em Suas obras criadas. Não poderiam sondar o mistério de Sua providência, ainda que, com todas as suas forças, o estudassem por toda vida. E porque as obras divinas não podem ser explicadas por mentes finitas, Satanás traz sobre eles seus enganos, e enreda-os nas malhas da incredulidade. Caso esses duvidosos se ponham em íntimo contato com Deus, Ele tornará claros Seus desígnios à compreensão deles. T4 585 1 As coisas espirituais "se discernem espiritualmente". 1 Coríntios 2:14. A mente carnal não é capaz de compreender esses mistérios. Continuem os questionadores e duvidosos a seguir o grande enganador, e as impressões e convicções do Espírito de Deus hão de tornar-se mais e mais fracas, mais freqüentes as sugestões do inimigo, até que a mente se submeterá de todo ao seu domínio. Então o que a essas mentes confundidas se afigura como sendo loucura, será o poder de Deus, e o que Ele considera como loucura ser-lhes-á sabedoria e força. T4 585 2 Um dos grandes males que tem acompanhado a pesquisa do conhecimento, as descobertas da ciência, é que os que se têm empenhado nesses estudos, perdem demasiadas vezes de vista o caráter divino da religião pura e incontaminada. Os sábios, segundo o mundo, têm procurado explicar, baseados em princípios científicos, a influência do Espírito de Deus sobre o coração. O menor passo nessa direção introduzirá a alma no labirinto do ceticismo. A religião da Bíblia é simplesmente o mistério da piedade; nenhuma mente humana o pode plenamente entender, e é de todo incompreensível ao coração não regenerado. T4 585 3 O Filho de Deus comparou as atuações do Espírito Santo com o vento, que "assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai". João 3:8. Lemos ainda, no Sagrado Registro, que o Redentor do mundo regozijou-Se em espírito, e disse: "Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos, e as revelaste aos pequeninos." Mateus 11:25. O Salvador regozijou-Se porque o plano da salvação é de tal natureza que aqueles que são sábios aos próprios olhos, que se acham inchados pelos ensinos da vã filosofia, não podem ver a beleza, o poder e o oculto mistério do evangelho. Mas a todos quantos são humildes de coração, que possuem um desejo dócil, sincero, infantil, de conhecer e fazer a vontade de seu Pai celeste, Sua Palavra é revelada como o poder de Deus para salvação. A atuação do Espírito de Deus é loucura para o homem não renovado. O apóstolo Paulo diz: "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Coríntios 4:3, 4. T4 586 1 O sucesso do hospital depende de sua permanência na singeleza da piedade e abstinência das loucuras do mundo no comer, beber, vestir-se e divertir-se. Deve ele ser reformatório em todos os seus princípios. Coisa alguma deve ser inventada para satisfazer as necessidades da alma e ocupar o lugar e o tempo que Cristo e Seu serviço demandam, pois isso destruirá o poder da instituição como agente de Deus para converter as pobres almas enfermas pelo pecado, que, ignorantes acerca do caminho de vida e paz, têm buscado a felicidade no orgulho e na loucura vã. T4 586 2 "Estabelecido para um propósito verdadeiro" deve ser a posição de tudo o que se relaciona com o hospital. Conquanto não devamos insistir junto aos pacientes para que aceitem a nossa fé, nem entrar em discussão religiosa com eles, nossas publicações, cuidadosamente selecionadas, devem estar à vista em quase todos os lugares. O elemento religioso deve predominar. Este tem sido e deverá ser ainda o poder dessa instituição. Não seja nossa instituição de saúde pervertida a serviço da profanação e da moda. Há muitas instituições de saúde em nossa terra que mais se parecem com um hotel do que com um lugar onde os enfermos e sofredores podem obter alívio de suas enfermidades físicas, e onde a alma enferma pelo pecado pode encontrar aquela paz e repouso em Jesus, não encontrada em nenhum outro lugar. Sejam os princípios religiosos evidenciados e assim mantidos; sejam a ostentação e a popularidade abandonadas; sejam a simplicidade e a modéstia, a bondade e a fidelidade visíveis por toda a parte; então o hospital será justamente o que Deus desejava que fosse; então o Senhor o aprovará. ------------------------Capítulo 59 -- A influência dos companheiros T4 587 1 Em nossas instituições, onde muitos trabalham juntos, bem grande é a influência dos companheiros. É natural buscar companheirismo. Todos encontrarão companheiros ou os farão. E exatamente na medida da força da amizade, será o grau de influência exercida pelos amigos uns nos outros, para bem ou para mal. Todos terão amigos, e influenciarão e serão influenciados. T4 587 2 Misterioso é o laço que liga entre si os corações humanos, de modo que os gostos, os sentimentos e os princípios das duas pessoas ficam intimamente associados. Um apanha o espírito e copia as maneiras e as ações do outro. Como a cera toma a forma do sinete, assim a mente recebe a impressão produzida pelo intercâmbio e o convívio. Talvez a influência seja inconsciente, todavia não será menos poderosa. T4 587 3 Fosse a juventude persuadida a associar-se com os puros, os sensatos e amáveis, muito salutar seria o efeito. Caso se escolham companheiros que temam ao Senhor, a influência induzirá à verdade, ao dever, à santidade. Uma vida verdadeiramente cristã é uma força para o bem. Por outro lado, porém, os que se associam com homens e mulheres de moral duvidosa, ou de maus costumes e princípios, dentro em breve estarão andando nos mesmos caminhos. As tendências do coração natural são descendentes. Os que convivem com os céticos tornar-se-ão em breve céticos também; os que preferem a companhia dos vis, com certeza tornar-se-ão vis por sua vez. Andar no "conselho dos ímpios" é o primeiro passo para deter-se "no caminho dos pecadores" e sentar-se "na roda dos escarnecedores". Salmos 1:1. T4 588 1 Ora, todos os que quiserem formar um caráter reto, escolham companheiros de uma séria e refletida disposição de espírito, e que tenham inclinação religiosa. Os que fizeram as contas, e desejam construir para a eternidade, devem pôr bom material nessa construção. Se aceitam vigas apodrecidas, se se contentam com as deficiências do caráter, o edifício está condenado à ruína. Cuidem todos na maneira por que edificam. A tempestade da tentação se abaterá sobre a casa e, a menos que ela esteja firme e fielmente construída, não resistirá à prova. T4 588 2 O bom nome é mais precioso do que o ouro. Há da parte dos jovens a tendência de se associarem com outros de espírito e moral inferiores. Que satisfação real pode uma pessoa jovem esperar da voluntária ligação com outras de baixa norma nas idéias, nos sentimentos e na conduta? Alguns têm gostos corrompidos e hábitos depravados, e todos quantos buscam tais companheiros seguir-lhes-ão o exemplo. Vivemos em tempos de perigos de molde a fazer temer o coração de todos. Vemos a mente de muitos vagueando pelo labirinto do ceticismo. As causas são ignorância, orgulho e um caráter defeituoso. É difícil para o coração do homem caído aprender a lição da humildade. Há alguma coisa no coração humano que se insurge contra a verdade revelada quanto aos assuntos relacionados com Deus e os pecadores, a transgressão da lei divina e o perdão através de Cristo. T4 588 3 Irmãos e irmãs, idosos e jovens, quando tiverem uma hora de lazer, abram a Bíblia e entesourem na mente suas preciosas verdades. Quando empenhados no trabalho, guardem a mente, conservem-na firme em Deus, falem menos e meditem mais. Lembrem-se de que "de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo". Mateus 12:36. Escolham as palavras; isto fechará uma porta ao adversário de sua alma. Que o dia comece com oração; trabalhem como diante de Deus. Seus anjos se acham sempre ao seu lado, anotando suas palavras, seu comportamento e a maneira como fazem o trabalho. Caso se desviem do bom conselho, e prefiram associar-se com os que vocês têm razão de suspeitar que não se inclinam para a religião, embora professem cristianismo, vocês se tornarão em breve semelhantes a eles. Vocês se colocam no caminho da tentação, no campo de batalha de Satanás e, a menos que estejam continuamente em guarda, serão vencidos por seus ardis. Pessoas há que por algum tempo professaram ser religiosas, e que estão, para todos os intentos e propósitos, sem Deus e sem uma consciência sensível. São vãs e frívolas; sua conversa é de baixo teor. O namoro e o casamento lhes ocupam a mente, com exclusão dos pensamentos mais elevados e nobres. T4 589 1 As companhias escolhidas pelos obreiros estão-lhes decidindo o destino para este mundo e o outro. Alguns que dantes eram conscienciosos e fiéis têm mudado lamentavelmente; desligaram-se de Deus, e Satanás os tem seduzido para o seu lado. São agora irreligiosos e irreverentes, e exercem influência sobre outros facilmente moldáveis. As más companhias estão deteriorando o caráter; os princípios estão sendo minados. "Quem anda com os sábios será sábio; mas o companheiro dos insensatos se tornará mau." Provérbios 13:20. T4 589 2 Os jovens se acham em perigo; são, porém, cegos para discernir as tendências e resultado da direção que seguem. Muitos deles se empenham em flertes. Parecem absorvidos. Nada há de nobre, digno ou sagrado nessas amizades; como são suscitadas por Satanás, a influência delas é de molde a agradar-lhe. As advertências dadas a essas pessoas caem em ouvidos moucos. Elas são obstinadas, voluntariosas, desafiadoras. Acham que a advertência, o conselho, ou a reprovação, não se aplicam a elas. Não se preocupam absolutamente com o rumo que estão seguindo. Estão continuamente se separando da luz e do amor de Deus. Perdem todo o discernimento das coisas sagradas e eternas; e conquanto observem uma árida forma de deveres cristãos, não põem o coração nesses exercícios religiosos. Essas almas iludidas compreenderão tarde demais que "estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem". Mateus 7:14. T4 589 3 Acham-se registradas as palavras, as ações, os motivos; quão pouco, porém, compreendem essas cabeças leves, superficiais, e esses corações duros, que um anjo de Deus está escrevendo a maneira em que são empregados seus preciosos momentos! Deus trará à luz toda palavra e toda ação. Ele está em toda a parte. Embora invisíveis, Seus mensageiros visitam-nos na sala de trabalho, no quarto de dormir. As obras ocultas das trevas serão trazidas à luz. Revelados serão os pensamentos, os intentos e desígnios do coração. "Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar." Hebreus 4:13. T4 590 1 Os obreiros devem levar Jesus consigo para todo departamento de trabalho. Seja o que for que seja feito, deve ser executado com uma exatidão e esmero que resista à inspeção. O coração deve estar na obra. A fidelidade é tão essencial nos deveres comuns da vida, como naqueles que envolvem maior responsabilidade. Talvez alguns concebam a idéia de que seu trabalho não é enobrecedor; ele, porém, será justamente aquilo que o quiserem tornar. Unicamente eles podem rebaixar ou elevar sua ocupação. Quiséramos que todo zangão fosse compelido a labutar para ganhar o pão de cada dia; pois o trabalho é uma bênção, não uma maldição. O trabalho diligente guardar-nos-á de muito laço de Satanás, que "ainda encontra alguma maldade para as mãos ociosas". T4 590 2 Nenhum de nós deve envergonhar-se do trabalho, por menor e mais servil que pareça. O trabalho é enobrecedor. Todos quantos labutam com a cabeça ou com as mãos são homens e mulheres de trabalho. E todos estão cumprindo seu dever e honrando sua religião tanto quando lidam no tanque de lavar roupa ou na pia dos pratos, como quando vão às reuniões. Enquanto as mãos se encontram ocupadas nos serviços mais comuns, a mente pode ser elevada e enobrecida por pensamentos santos e puros. Quando qualquer dos obreiros manifestar falta de respeito pelas coisas religiosas, deve ser desligado da obra. Ninguém pense que a instituição depende deles. T4 590 3 Os que têm estado por muito tempo trabalhando em nossas instituições deviam ser agora obreiros de responsabilidade, de confiança em todo lugar, tão fiéis ao dever como a bússola ao pólo. Houvessem eles empregado devidamente suas oportunidades, e teriam agora caráter harmônico e uma profunda e viva experiência nas coisas religiosas. Mas alguns deles se separaram de Deus. A religião é posta de lado. Não é um princípio arraigado, cuidadosamente nutrido aonde quer que vão, seja qual for a sociedade a que sejam lançados, e que se demonstra uma âncora para a alma. Quero que todos os obreiros considerem atentamente que o êxito nesta vida, bem como em alcançar a vida futura, depende em alto grau da fidelidade nas coisas pequeninas. Os que anseiam maiores responsabilidades devem-se mostrar fiéis no cumprimento dos deveres que têm justamente onde Deus os colocou. T4 591 1 A perfeição da obra de Deus é tão claramente vista nos mais pequenos insetos, como no rei dos pássaros. A alma da criancinha que crê em Cristo é tão preciosa à Sua vista, como o são os anjos que Lhe rodeiam o trono. "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. Como Deus é perfeito em Sua esfera, assim pode o homem ser na sua. Tudo quanto as mãos acharem para fazer deve ser executado com exatidão e rapidez. A fidelidade e a integridade nas coisas pequenas, o cumprimento dos pequenos deveres e a prática de diminutos atos de bondade, animarão e darão alegria no caminho da vida; e quando findar nossa obra na Terra, todos os deverezinhos cumpridos com fidelidade serão apreciados diante de Deus quais jóias preciosas. ------------------------Capítulo 60 -- Sociedades de publicações T4 591 2 Em minha última visão voltei ao início e progresso da causa da verdade presente. Quando nossa casa publicadora em Battle Creek foi originalmente estabelecida, os amigos da causa eram poucos, e nosso povo geralmente pobre. Quando, porém, apelos para ajuda eram feitos, muitos vinham nobremente à frente, e ajudavam a causa adquirindo ações da obra de publicações. O Senhor Se alegrava com o espírito de sacrifício manifestado. T4 591 3 Vinte e seis anos se passaram desde aquele tempo, e na providência de Deus a luz da verdade tem brilhado por toda a parte. O início foi pequeno e os primeiros amigos da causa tiveram que fazer grandes sacrifícios. A cada passo, grandes obstáculos tiveram que ser enfrentados e vencidos. Nossos irmãos que investiram seus recursos no escritório da Review estavam realizando a própria obra que o Senhor desejava que fizessem. Ele lhes havia dado recursos para serem usados com o propósito de fazer progredir a Sua causa. T4 592 1 O passar do tempo tem trazido muitas mudanças. A luz tem aumentado e se espalhado. Enquanto o povo que estava ansioso pela verdade tem clamado, "guarda, a que horas estamos da noite?" (Isaías 21:11), a resposta tem sido dada inteligentemente: "Vem a manhã, e também a noite." Isaías 21:12. Pela investigação meticulosa das profecias entendemos onde estamos na história do mundo; sabemos com certeza que a segunda vinda de Cristo está próxima. O resultado dessas investigações devem ser trazido perante o mundo através da imprensa. E à medida que a obra tem se expandido e aumentado, maiores instalações têm sido requeridas ano após ano; têm havido melhorias ininterruptamente. Tem sido motivo de admiração para o mundo que com essa verdade impopular tal prosperidade pudesse acompanhar a obra. Contudo, com a luz aumentada, a verdade confirmada e maiores vantagens de todos os lados para o avanço da causa, nossos trabalhos não correspondem a nossa fé. T4 592 2 Se fosse certo os irmãos adquirirem ações de nossa casa publicadora quando o nosso trabalho era pequeno e nossa influência limitada, não é de maior importância hoje, quando um trabalho muito mais amplo está indo avante, e um correspondente aumento de recursos se faz necessário? As evidências de nossa posição têm aumentado ano após ano. Temos recebido novas garantias de que possuímos a verdade como revelada na Palavra de Deus, que ao aceitar a mensagem do terceiro anjo não temos dado atenção a fábulas, mas à firme palavra dos profetas. 2 Pedro 1:19. Estamos vivendo à plena luz da verdade bíblica. T4 592 3 O Senhor apela ao Seu povo para despertar, e mostrar a sua fé por suas obras. Em tempos passados, quando nosso número era pequeno, quando aqueles que eram aptos sentiam ser seu dever adquirir ações de nossa casa publicadora, suas orações e ofertas, o fruto da perseverança e o esforço abnegado se apresentavam diante de Deus como cheiro suave. Nossos irmãos e irmãs que têm recebido o precioso pão da vida, a eles oferecido em nossas publicações, devem estar ainda mais dispostos a dar de seus recursos para sustentar a causa do que aqueles que amavam a verdade em anos anteriores. T4 593 1 Irmãos, Deus os abençoará ao demonstrarem seu interesse por nossas casas publicadoras fazendo delas sua propriedade. Aqueles que não possuem ações nessas instituições têm o privilégio de investir os seus recursos nessa boa obra. Precisamos de sua simpatia, orações e recursos. Precisamos de sua generosa cooperação. Esperamos que todos aqueles cujo coração o Senhor despertar, levantem-se com os seus recursos para investir nessas instituições. É de fato verdade que temos a última mensagem de misericórdia a ser dada ao mundo? É verdade que nossa obra logo findará? Assim diz a Palavra de Deus. O fim de todas as coisas está próximo. Então a advertência deve ser enviada a todas as partes da Terra. T4 593 2 Nossas casas publicadoras se tornaram um poder no mundo. Uma grande mudança teve lugar. Com nossas instalações aumentadas para fazer a clara luz brilhar àqueles que estão nas trevas, não é agora tão difícil como foi outrora ver e aceitar a verdade. Aqueles que primeiro conduziram a obra foram objeto dos ataques combinados de homens malignos e anjos maus. A inimizade de Satanás, atuando através de homens como seus instrumentos, foi impressionantemente desenvolvida. Por outro lado os crentes, conquanto poucos em número, eram zelosos e dedicados a vindicar a honra de Deus por exaltar a Sua lei que havia sido tornada sem valor, e desfazer as obras de Satanás reveladas em toda forma de erro destrutivo. T4 593 3 Desde o início, Satanás tem se levantado contra esta obra. Ele tem estado determinado a trazer todo o seu poder para impor silêncio e varrer da Terra aqueles que estão trabalhando para o avanço da luz e da verdade. Ele sempre tem tido certo êxito. Calúnia e cruel oposição têm sido trazidos para esmagar a preciosa verdade pelo desencorajamento de seus defensores. O grande adversário tem empregado seus enganos infernais de várias maneiras, e cada esforço feito tem levado para o seu lado um ou mais dos professos seguidores de Cristo. Aqueles cujo coração é carnal, que estão mais em harmonia com o arquienganador do que com Cristo, após um tempo desenvolveram o seu verdadeiro caráter e seguiram para o seu próprio grupo. T4 594 1 Satanás mantém sob seu controle não poucos que se passaram como amigos da verdade, e através deles trabalha contra o seu progresso. Ele os emprega para semear joio entre o povo de Deus. Assim, quando o perigo não foi suspeitado, grandes males existiram entre nós. Mas enquanto Satanás estava atuando "com todo o engano da injustiça" nos "que perecem" (2 Tessalonicenses 2:10), firmes defensores da verdade têm feito frente à maré de oposição e mantido a palavra incorrupta em meio a um dilúvio de heresias. Embora a igreja às vezes tenha sido enfraquecida por múltiplos desencorajamentos e pelo elemento rebelde que tem enfrentado, ainda a verdade brilha mais forte após cada conflito. As energias do povo de Deus não foram esgotadas. O poder de Sua graça tem despertado, renovado e enobrecido os firmes e os verdadeiros. T4 594 2 Vez após vez o antigo Israel fora afligido por murmuradores rebeldes. Estes nem sempre foram pessoas de pouca influência. Em muitos casos, homens de renome, governantes de Israel, voltaram-se contra a liderança providencial de Deus, e dispuseram-se ferozmente a destruir aquilo que haviam antes zelosamente edificado. Temos visto algo assim repetido muitas vezes em nossa experiência. É inseguro para qualquer igreja apoiar-se sobre alguns pastores favoritos, confiar num braço de carne. Somente o braço de Deus é capaz de suster todos aqueles que nEle se apóiam. T4 594 3 Até que Cristo apareça nas nuvens do céu, com poder e grande glória, os homens se perverterão no espírito, e se desviarão da verdade para as fábulas. A igreja verá ainda dias trabalhosos. Profetizará vestida de saco. Mas se bem que tenha de enfrentar heresias e perseguições, embora tenha de combater contra infiéis e apóstatas, pelo auxílio de Deus, ela ainda está esmagando a cabeça de Satanás. O Senhor terá um povo tão verdadeiro como o aço, de fé tão firme como o granito. Eles devem ser-Lhe testemunhas no mundo, instrumentos Seus para realizar uma obra especial, gloriosa, no tempo designado por Ele. T4 595 1 A mensagem evangélica não ganha uma alma para Cristo, nem abre caminho para um só coração, sem ferir a cabeça de Satanás. Sempre que um cativo lhe é arrancado das garras, libertado de sua opressão, o tirano é derrotado. As casas publicadoras, os prelos, são instrumentos nas mãos de Deus para enviar a toda língua e nação a preciosa luz da verdade. Essa luz está atingindo mesmo as terras pagãs, e faz constantes incursões contra a superstição e todo erro concebível. T4 595 2 Pastores que pregam a verdade com todo zelo e fervor podem apostatar, e unir-se às fileiras dos inimigos; tornará isso, porém, a verdade divina em mentira? "Todavia", diz o apóstolo, "o fundamento de Deus fica firme." 2 Timóteo 2:19. A fé e os sentimentos dos homens podem mudar; mas a verdade de Deus, nunca. A terceira mensagem angélica está soando; é infalível. T4 595 3 Homem algum pode servir a Deus sem atrair contra si mesmo os homens e anjos maus. Espíritos maus serão lançados no encalço de toda alma que busca unir-se às fileiras de Cristo; pois Satanás deseja reaver a presa que lhe foi arrebatada. Homens maus se submeterão a crer em fortes enganos, para sua perdição. Esses homens se revestirão das roupagens da sinceridade "para enganar, se possível, os próprios eleitos". Marcos 13:22. T4 595 4 É tão certo possuirmos a verdade, como o é que Deus vive; e Satanás, com todas as suas artimanhas e poder infernal, não pode mudar a verdade de Deus em mentira. Enquanto o grande adversário faz tudo quanto lhe é possível para tornar sem efeito a Palavra de Deus, a verdade tem de avançar como uma lâmpada resplandecente. T4 595 5 O Senhor nos destacou, e tornou-nos objetos de Sua admirável misericórdia. Havemos nós de encantar-nos com os palavreados do apóstata? Preferiremos tomar posição ao lado de Satanás e seus exércitos? Unir-nos-emos aos transgressores da lei de Deus? Antes seja nossa oração: "Senhor, põe inimizade entre mim e a serpente." Se não estivermos em inimizade com suas obras tenebrosas, seremos rodeados por seus poderosos laços, e seu aguilhão está pronto a ser cravado em nosso coração. Devemos considerá-lo um inimigo mortal. Precisamos nos opor a ele em nome de Cristo. Nossa obra ainda prossegue avante. Temos de lutar por toda polegada de terreno. Que todos quantos tomam nos lábios o nome de Cristo se revistam da armadura da justiça. T4 596 1 Irmãos e irmãs, em nome de nossas casas publicadoras nós apelamos para que invistam nessas instituições. Nada tenham a temer; invistam os seus recursos onde renderão; espalhem raios de luz às partes entenebrecidas do mundo. Não há tal coisa como fracasso nessa obra. É seu privilégio e dever fazer agora como os seus irmãos fizeram quando havia bem poucos amigos da causa da verdade. Invistam em nossas casas publicadoras, para que possam sentir que têm interesse nelas. Muitos investem o seu dinheiro em especulações mundanas, e ao fazer isso, são roubados em cada dólar. Pedimos que mostrem sua liberalidade fazendo investimentos em nossa obra de publicações. Far-lhes-á bem. O seu dinheiro não será perdido, mas colocado a juros, para aumentar o seu capital no Céu. Cristo deu tudo por vocês; o que darão por Ele? Ele pede o seu coração; a Ele o entreguem, pois Lhe pertence. Cristo pede o seu intelecto; a Ele o entreguem, pois Lhe pertence; pede o seu dinheiro; a Ele o entreguem, pois Lhe pertence. "Não sois de vós mesmos." "Porque fostes comprados por preço." 1 Coríntios 6:19, 20. Deus deseja vocês e os seus. Que as palavras do salmista real expressem o sentimento de seu coração. "Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. T4 596 2 Chegou o tempo em que devemos saber por nós mesmos por que cremos da maneira como o fazemos. Devemos defender a Deus e a verdade, contra uma geração descuidada e incrédula. O homem que uma vez conheceu o caminho da vida, e volveu-se das convicções de seu próprio coração ao sofisma de Satanás, será mais inacessível e mais indiferente do que aquele que nunca provou o amor de Cristo. Ele será sábio para fazer o mal. Ligou-se a Satanás, mesmo contra a luz e o conhecimento. Eu digo aos meus irmãos: Sua única esperança está em Deus. Precisamos ser revestidos da justiça de Cristo se queremos resistir à impiedade predominante. Devemos revelar a nossa fé por nossas obras. Lancemos para nós mesmos um sólido fundamento para o futuro, a fim de que possamos apoderar-nos da vida eterna. Devemos trabalhar, não em nossa própria força, mas na força de nosso Senhor ressuscitado. O que faremos e ousaremos por Jesus? T4 597 1 Nossas casas publicadoras são propriedades de todo o nosso povo, e todos devem trabalhar até elevá-las acima de dificuldades financeiras. Para circular nossas publicações, elas foram oferecidas a um preço tão baixo que pouco lucro chegava ao escritório para reeditar os mesmos trabalhos. Isso tem sido feito com os melhores motivos, mas não com critério experiente e de longo alcance. T4 597 2 Com o baixo preço das publicações, o escritório não podia preservar um capital sobre o qual operar. Isso não foi plenamente visto e criteriosamente investigado. Esses preços baixos levaram o povo a subestimar as obras, e não foi totalmente discernido que uma vez que essas publicações fossem colocadas a preço baixo, seria muito difícil aumentá-lo até o devido valor. T4 597 3 Nossos pastores não tiveram encorajamento adequado. Eles precisam ter recursos a fim de viver. Tem havido uma triste falta de previsão ao colocar nossas publicações a preço baixo, e ainda outra em fazer com que os lucros fossem dedicados às sociedades de publicações. Essas questões têm sido levadas a extremos e haverá uma reação. Para que as sociedades de publicações prosperem, os instrumentos para fazer e imprimir livros precisam prosperar. Se esses instrumentos forem prejudicados e as casas publicadoras sobrecarregadas de débito, as associações de publicações não se demonstrarão um êxito. T4 597 4 Tem havido gerenciamento errado, não proposital, mas com zelo e ardor para levar avante a obra missionária. Na distribuição e ampla circulação de periódicos, folhetos e panfletos, os instrumentos para produzir essas publicações foram prejudicados e embaraçados. Sempre há perigo de levar qualquer bom trabalho ao extremo. Homens responsáveis estão em perigo de se tornarem homens de uma única opinião, de concentrar os seus pensamentos sobre um ramo da obra em detrimento de outras partes do grande campo. T4 598 1 Como um povo precisamos resguardar-nos em todo aspecto. Não há a menor segurança para alguém, a menos que diariamente busque sabedoria de Deus, e não ouse agir em sua própria força. O perigo sempre nos circunda, e devemos ter grande precaução para que nenhum ramo da obra seja tornado uma exclusividade, enquanto outros interesses são deixados a sofrer. T4 598 2 Erros têm sido cometidos em reduzir o preço das publicações para atender certas dificuldades. Esses esforços precisam mudar. Aqueles que tomaram essas medidas eram sinceros. Imaginaram que a sua liberalidade levaria pastores e povo a trabalharem para aumentar grandemente a demanda pelas publicações. T4 598 3 Pastores e povo devem agir nobre e liberalmente no trato com nossas casas publicadoras. Em vez de estudarem e imaginarem como podem obter periódicos, folhetos e livros, com o mais baixo preço, devem procurar levar a mente do povo a perceber o verdadeiro valor das publicações. Todos esses centavos obtidos de milhares de publicações têm causado uma perda de milhares de dólares aos nossos escritórios, quando uns poucos centavos a mais de cada indivíduo dificilmente seriam sentidos. T4 598 4 Review and Herald e Signs of the Times são periódicos baratos em seu preço total. A Review é um periódico valioso; contém assuntos de grande interesse para a igreja, e deve ser colocado em toda a família de fiéis. Se alguém é por demais pobre para obtê-lo, a igreja deve por subscrição, arrecadar o montante do preço total do periódico, e supri-lo às famílias necessitadas. Quão melhor seria esse plano do que colocar esses pobres à mercê da casa publicadora ou da sociedade de publicações. T4 598 5 A mesma atitude deve ser seguida com respeito ao Signs. Com pequenas variações, esse periódico tem aumentado em interesse e em valor moral como uma publicação pioneira desde o seu estabelecimento. Esses periódicos são unânimes em interesse. São dois instrumentos no grande campo para realizar seu trabalho específico em difundir a luz neste tempo designado por Deus. Todos devem empenhar-se tão zelosamente para fortalecer tanto um quanto o outro. T4 598 6 "Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações." 1 Pedro 3:12. Cristo socorrerá aqueles que recorrem a Ele em busca de sabedoria e força. Se enfrentarem o dever e a prova com humildade de alma, dependendo de Jesus, Seu poderoso anjo estará por perto, e Aquele em quem confiaram Se provará um ajudador todo-suficiente em toda emergência. Aqueles que ocupam posições de responsabilidade devem diariamente tornar-se mais intimamente familiarizados com a excelência, a fidelidade e o amor de Cristo. Devem ser capazes de exclamar com segurança: "Eu sei em quem tenho crido." 2 Timóteo 1:12. Esses homens devem trabalhar como irmãos, sem qualquer sentimento de contenda. Cada um deve praticar o seu dever, sabendo que o olho de Deus está perscrutando os motivos e propósitos, e lendo os sentimentos mais íntimos da alma. A obra é uma. E se os homens de liderança não permitirem que a própria mente e os próprios sentimentos e idéias sejam introduzidos para governar e mudar o desígnio do Senhor, haverá a mais perfeita harmonia entre esses dois ramos da mesma obra. T4 599 1 Nosso povo deve fazer maiores esforços para ampliar a circulação da Review. Se nossos irmãos e irmãs tão-somente manifestassem maior zelo e dedicassem mais perseverantes esforços para realizá-lo, isso seria feito. Cada família deve ter esse periódico. E caso negassem a si mesmos seus pequenos luxos, chá e café, muitos que agora não têm suas visitas semanais poderiam pagar para que o mensageiro de luz alcançasse os seus lares. Quase toda família tem uma ou mais revistas seculares, e essas freqüentemente contêm histórias de amor e relatos excitantes de vilania e assassinato que prejudicam a mente daqueles que os lêem. Os que consentem em passar sem a Review and Herald perdem muito. Através de suas páginas, Cristo pode falar-lhes em advertências, reprovação e conselho, que mudariam a corrente de seus pensamentos e para eles seria como o pão da vida. T4 599 2 Nossas revistas não devem estar cheias de longas discussões ou longos argumentos doutrinários, que cansariam o leitor; mas conter artigos doutrinários interessantes e práticos. O preço de nossas revistas não deve ser tão baixo que nenhuma margem de lucro seja deixada para continuar o trabalho. O mesmo interesse que tem sido manifesto em circular Signs of the Times deve ser demonstrado em ampliar a circulação da Review. Se isso for feito, o êxito acompanhará o esforço. T4 600 1 Estamos sobre terreno encantado, e Satanás está continuamente trabalhando para embalar nosso povo no berço da segurança carnal. Há uma indiferença, uma falta de zelo, que paralisa todos os nossos esforços. Jesus foi um obreiro zeloso; e quando Seus seguidores nEle se apoiarem, e trabalharem como Ele trabalhou, verão e perceberão os resultados correspondentes. Um esforço deve ser feito para atribuir um preço apropriado às nossas publicações, e levá-las de volta gradualmente a um patamar adequado. Não devemos ser afetados pelo clamor de especulação, de fazer dinheiro! Devemos avançar firmemente, indiferentes à censura, não corrompidos pelo aplauso. Voltar a um patamar adequado será uma tarefa mais difícil do que muitos supõem; mas deve ser feita a fim de salvar nossas instituições de dificuldades financeiras. T4 600 2 Nossos irmãos devem ser precavidos, para que não se tornem estereotipados em seus planos e esforços. Podem gastar tempo e dinheiro elaborando um plano correto para que o trabalho seja feito desse modo, caso contrário, ele não será realizado corretamente. Há perigo de ser por demais específico. Deve haver maior cuidado em evitar despesa no transporte de livros e pessoas. A influência é má sobre a causa de Deus. Irmãos, vocês devem agir cautelosa, econômica e criteriosamente. Uma grande obra deve ser feita, e nossos escritórios estão em dificuldades financeiras. Há homens que trabalham fielmente no escritório de Battle Creek que não recebem o equivalente por seus esforços. Justiça não é feita para com esses homens. Em outro trabalho eles poderiam ganhar o dobro da quantia que recebem aqui; mas conscienciosamente continuam trabalhando, porque sentem que a causa de Deus precisa de sua ajuda. T4 600 3 Há uma grande obra a ser feita no tempo designado por Deus, em planejar e executar projetos para o avanço de Sua causa. Nossas publicações devem ter uma ampla circulação; pois estão realizando um grande trabalho. Há muita obra missionária a ser feita. Mas tem-me sido mostrado que há perigo de tornar esta obra mecânica demais, tão confusa e complicada que muito menos será realizado do que se fosse mais simples, direta, clara e decidida. Não temos tempo nem dinheiro para manter todas as partes dessa maquinaria em ação harmoniosa. T4 601 1 Nossos irmãos que têm responsabilidades em estabelecer planos para levar avante essa parte da obra, devem ter em mente que embora sejam essenciais educação e treinamento a fim de trabalhar inteligentemente, há perigo de fazer disso uma questão exagerada. Ao obter a mais completa educação em todos os detalhes, e deixar princípios vitais fora de cogitação, tornamo-nos obreiros áridos e formais. Os corações que Deus tem tornado dispostos pela atuação de Sua graça são capacitados para a obra. T4 601 2 Deus deseja trabalho dedicado. Propósito altruísta, princípio puro e elevado, motivação nobre e santa, Ele aceitará. Sua graça e poder atuarão nesses esforços. Todos que percebem que é obra de Deus preparar um povo para a Sua vinda, encontrarão em seus esforços desinteressados oportunidades onde possam realizar trabalho missionário e com folhetos. Todavia, pode haver demasiados recursos gastos e muito tempo ocupado em tornar as coisas tão exatas e minuciosas que a dedicação é negligenciada e preservada a aridez. T4 601 3 Digo-lhes francamente que Jesus e o poder de Sua graça são deixados fora de consideração. Os resultados mostrarão que o trabalho mecânico tomou o lugar da piedade, humildade e santidade de coração e vida. Os obreiros mais espirituais, dedicados e humildes não encontram lugar onde possam firmar-se; então se afastam. Os jovens e os sem experiência aprendem o método e realizam seu trabalho mecanicamente; mas o verdadeiro amor -- a preocupação pelas almas -- não é sentido. Demorar-se menos em métodos estabelecidos e no que é mecânico, e possuir mais do poder da santidade são coisas essenciais neste solene e terrível tempo de responsabilidades. T4 601 4 Há ordem no Céu; e deve haver método e ordem na Terra para que a obra possa avançar sem confusão e fanatismo. Nossos irmãos têm estado trabalhando com este objetivo; mas enquanto alguns de nossos pastores continuamente assumem responsabilidade pelas almas, e sempre buscam elevar as pessoas em suas realizações espirituais, aqueles que não são tão conscienciosos e que não têm levado a cruz de Cristo nem sentem o valor das almas como refletido no Calvário, ao ensinar e educar outros no trabalho mecânico, se tornarão formais e sem forças e não levarão o Salvador às pessoas. T4 602 1 Satanás está sempre atuando para fazer com que o serviço de Deus se degenere em formalidade estéril e se torne fraco para salvar almas. Embora a energia, o zelo e a eficiência dos obreiros se tornem amortecidos pelos esforços em manter trabalho tão sistemático, o esforço exaustivo que deve ser feito pelos nossos pastores para manter essa complicada maquinaria em funcionamento absorve tanto tempo que o trabalho espiritual é negligenciado. E com tantas coisas por fazer, esse trabalho requer tão grande soma de recursos que outros ramos da obra definharão e morrerão por falta de devida atenção. T4 602 2 Embora os mensageiros silenciosos da verdade devam ser espalhados como folhas de outono, nossos pastores não devem fazer desse trabalho uma formalidade e deixar fora de questão a devoção e a verdadeira piedade. Dez obreiros verdadeiramente convertidos, dispostos e abnegados podem efetuar mais no campo missionário do que uma centena dos que limitem seus esforços a formalidades estabelecidas e se prendam a regulamentos mecânicos, trabalhando sem profundo amor pelas almas. T4 602 3 Em caso algum a vigilante obra missionária deve ser negligenciada. Ela muito tem feito para a salvação de almas. O sucesso da obra de Deus depende muito disso; contudo, aqueles que realizam esse trabalho devem ser os que são espirituais, cujas cartas manifestem a luz e o amor de Jesus, e que sintam a responsabilidade da obra. Devem ser homens e mulheres que orem e tenham íntima ligação com Deus. Mente pronta, vontade santificada e sólido discernimento são necessários. Eles terão aprendido do Mestre celestial a maneira bem-sucedida de apelar às almas e aprendido suas lições na escola de Cristo. Realizarão seu trabalho visando unicamente a glória de Deus. T4 602 4 Sem esse preparo, todos os ensinos recebidos de seus instrutores a respeito de formalidades e regulamentos, embora possam ser lições completas, deixarão vocês continuamente como principiantes no trabalho. Vocês precisam aprender de Cristo. Devem negar o eu em favor de Cristo e colocar o pescoço sobre Seu jugo. Devem levar o fardo de Cristo e sentir que não pertencem a si mesmos, mas são servos de Cristo, realizando um trabalho que Ele lhes designou, não para qualquer louvor, honra ou glória que possam receber, mas por amor a Ele. Em todo o seu trabalho devem entrelaçar a graça, o amor, a devoção, o zelo, a perseverança incansável e a energia indomável de Cristo, o que contará para o tempo e para a eternidade. T4 603 1 A obra de publicações é um bom trabalho. É obra de Deus. De maneira alguma deve ser subestimada; mas há contínuo perigo de pervertê-la de seu verdadeiro objetivo. Colportores são necessários para trabalhar no campo missionário. Pessoas de maneiras grosseiras não estão qualificadas para essa obra. Homens e mulheres que possuem tato, boa conversa, aguda percepção e mente perspicaz são os que podem ser bem-sucedidos. T4 603 2 A obra do colportor é elevada e se provará um êxito se ele for honesto, zeloso e paciente, realizando com perseverança a obra a que se propôs. O seu coração deve estar no trabalho. Deve levantar cedo e trabalhar diligentemente, utilizando de maneira correta as faculdades que Deus lhe concedeu. As dificuldades precisam ser enfrentadas. Se confrontadas com perseverança incessante, elas serão vencidas. Muito é ganho através da cortesia. O obreiro pode estar continuamente formando um caráter simétrico. Um grande caráter é formado por pequenos atos e esforços. T4 603 3 Há perigo de não darmos suficiente encorajamento a nossos pastores. Foram-me mostrados alguns homens a quem Deus estava chamando para a obra do ministério, entrando no campo como colportores. Este é um excelente preparo, se o seu objetivo é disseminar a luz e levar a verdade revelada na Palavra de Deus diretamente ao círculo familiar. Através de conversação, o caminho pode ser freqüentemente aberto para falar da religião da Bíblia. Se a obra é assumida como devia ser, famílias serão visitadas, os obreiros manifestarão ternura e amor pelas almas, e exalarão, em palavra e conduta, a fragrância da graça de Cristo, e grande bem disso resultará. Seria uma excelente experiência para qualquer que tenha em vista o ministério. T4 604 1 Muitos, porém, são atraídos para o campo da colportagem para vender livros e quadros que não expressam nossa fé e não proporcionam luz ao comprador. São induzidos a fazê-lo por causa das perspectivas financeiras mais atraentes do que as que lhes são oferecidas como licenciados. Essas pessoas não estão obtendo nenhum preparo especial para o ministério evangélico. Não estão obtendo aquela experiência que as tornaria qualificadas para o trabalho. Estão perdendo tempo e oportunidades por esse tipo de esforço. Não estão aprendendo a sentir responsabilidade pelas almas e a obter diariamente conhecimento do método para ser bem-sucedido na conquista de almas para a verdade. Esses homens são freqüentemente desviados das convicções do Espírito de Deus, e recebem um cunho mundano de caráter, esquecendo-se de quanto devem ao Senhor que deu a Sua vida por eles. Empregam suas faculdades para seus próprios interesses egoístas, e recusam trabalhar na vinha do Senhor. T4 604 2 Fiquei alarmada ao ver as várias redes que Satanás tece em torno de homens a quem Deus usaria, desviando-os da obra do ministério. Certamente haverá escassez de obreiros, a menos que haja mais encorajamento dado aos homens para melhorar a sua habilidade com o propósito de se tornarem ministros de Cristo. Satanás está constante e perseverantemente apresentando ganho financeiro e vantagens mundanas para atrair a mente e faculdades dos homens, e impedi-los de realizar os deveres essenciais que lhes proporcionem uma experiência nas coisas de Deus. E quando ele vê que esses homens avançarão, dando-se ao trabalho de ensinar a verdade àqueles que estão em trevas, fará o máximo para levá-los ao extremo em alguma coisa para que tenha sua influência enfraquecida e sejam levados a perder a vantagem que obteriam, caso fossem equilibrados pelo Espírito de Deus. T4 604 3 Foi-me mostrado que nossos pastores estão causando grande prejuízo a si mesmos pelo descuido no uso dos órgãos vocais. Chamamos-lhes a atenção para este importante assunto e demos, por intermédio do Espírito de Deus, advertências e instruções. Era dever deles aprender a maneira mais sábia de usar esses órgãos. A voz, este dom do Céu, é uma poderosa faculdade para o bem e, caso não seja pervertida, glorificará a Deus. Tudo o que era essencial era estudar e seguir conscienciosamente algumas regras simples. Mas em vez de se educarem, como deviam ter feito, usando um pouco de bom senso, contrataram um professor de elocução. T4 605 1 Em resultado disso, muitos que sentiam que Deus tinha uma obra para fazer em ensinar a verdade a outros, tornaram-se obcecados e enlouquecidos pela elocução. Tudo que alguns precisavam era ter essa tentação apresentada a eles. O seu interesse foi atraído pela novidade, e jovens e alguns pastores foram dominados por essa empolgação. Deixaram os seus campos de trabalho -- tudo na vinha do Senhor foi negligenciado -- e despenderam seu dinheiro e dedicaram seu precioso tempo para freqüentar uma escola de elocução. Quando terminaram esse treinamento, a devoção e a religião haviam-se afastado deles, e a responsabilidade pelas almas foi deixada de lado, como se deixa de lado uma vestimenta. Haviam aceitado as sugestões de Satanás, e ele os conduziu para onde bem quis. T4 605 2 Alguns se põem como professores de elocução, não tendo prudência nem habilidade, e se tornam repulsivos ao público, pois não empregam apropriadamente o conhecimento que têm obtido. Seu desempenho era isento de dignidade ou bom senso; e essas façanhas de sua parte têm fechado a porta, tanto quanto se saiba, a qualquer influência que possam ter no futuro como homens para levar avante a mensagem da verdade ao mundo. Esse foi um artifício de Satanás. Era correto procurar aperfeiçoar a arte de falar; mas dedicar tempo e dinheiro a esse ramo, e absorver a mente com isso, foi ir a extremos e mostrar grande fraqueza. T4 605 3 Jovens que se chamam de observadores do sábado atribuem o título de professores a seus nomes, e abusam da comunidade com aquilo que não entendem. Muitos assim pervertem a luz que Deus tem julgado adequado lhes dar. Não possuem mente bem equilibrada. A elocução tornou-se um provérbio. Tem levado homens a se empenharem no trabalho que não podem sabiamente exercer, e os estragado para realizar um trabalho, que tivessem sido humildes e modestamente buscado realizá-lo no temor de Deus, teria sido um grande sucesso. Esses jovens poderiam estar se qualificando para ser úteis no campo missionário como colportores, ou como licenciados, provando-se para o trabalho ministerial, realizando obra para o tempo e para a eternidade. Mas eles têm se enlouquecido com o pensamento de se tornarem professores de elocução, e Satanás observa e ri por tê-los apanhado na rede que armou para eles. T4 606 1 Os servos de Deus sempre devem ser unidos. Devem reprimir e controlar os fortes traços de caráter, e dia após dia cuidadosamente refletir sobre a natureza da estrutura da vida que estão formando. São cavalheiros cristãos na vida diária? São vistos em sua vida atos nobres e retos, que farão com que a sua edificação de caráter permaneça em pé como um belo templo de Deus? Assim como uma tábua defeituosa afundará o navio, e uma falha tornará uma corrente sem valor, igualmente um desmoralizador traço de caráter revelado em palavras e ações deixará sua influência para o mal; e se não for vencido destruirá toda virtude. T4 606 2 Cada faculdade do homem é um operário a construir para o tempo e a eternidade. Dia a dia a estrutura vai subindo, embora o possuidor não se aperceba disso. É uma construção que tem de figurar como farol de advertência por causa de sua deformidade ou como estrutura que Deus e os anjos admirarão, por sua harmonia com o Modelo divino. As faculdades mentais e morais que Deus nos concedeu não constituem o caráter. Elas são talentos que devemos aperfeiçoar e que, quando devidamente aperfeiçoados, formarão um caráter reto. Pode um homem ter na mão sementes preciosas, mas essas sementes não são um pomar. A semente tem de ser plantada antes de se tornar árvore. A mente é o terreno; o caráter é o fruto. Deus nos deu as faculdades para as cultivarmos e aperfeiçoarmos. Nosso próprio procedimento determina nosso caráter. No educar essas faculdades de modo que se harmonizem e formem um caráter de valor, temos uma obra que ninguém senão nós mesmos podemos efetuar. T4 606 3 Aqueles que têm traços de caráter mordazes e rudes são culpados perante Deus se, por treinamento, não reprimirem e desarraigarem toda a amargura de sua natureza. O homem que cede à impaciência está servindo a Satanás. "Daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos." Romanos 6:16. Um bom caráter é mais precioso à vista de Deus do que o ouro de Ofir. O Senhor deseja que os homens atuem para o tempo e para a eternidade. Recebemos o bem e o mal como legado; e pelo cultivo podemos fazer o ruim pior ou o bom melhor. O mal, como aconteceu com Judas, terá ascendência ou será expurgado de nossa alma, predominando o bem? T4 607 1 Os princípios, a justiça e a honestidade sempre devem ser acalentados. A honestidade não permanecerá onde se abriga a astúcia. Elas jamais estarão de acordo; uma é de Baal, a outra é de Deus. O Mestre requer que Seus servos sejam nobres nos intuitos e ações. Toda cobiça e avareza precisam ser vencidas. Os que escolhem a honestidade como sua companheira, introduzi-la-ão em todos os seus atos. Para uma grande classe, tais homens não são agradáveis, mas para Deus eles são belos. T4 607 2 Satanás trabalha para inserir-se em toda a parte. Ele quer separar verdadeiros amigos. Há homens que sempre estão falando, bisbilhotando e dando falso testemunho, lançando as sementes da discórdia e causando disputas. O Céu considera esta classe como os mais eficientes servos de Satanás. Mas o homem que é difamado se encontra numa posição muito menos perigosa do que quando é adulado e elogiado por alguns de seus esforços que parecem ser bem-sucedidos. O louvor de pretensos amigos é mais perigoso do que a censura. T4 607 3 Todo homem que enaltece a si mesmo remove o brilho de seus melhores esforços. Um caráter verdadeiramente nobre não condescenderá em ressentir-se das falsas acusações dos inimigos; toda palavra proferida se torna inofensiva, pois ela fortalece o que não pode destruir. O Senhor quer que Seu povo esteja firmemente unido com Ele, o Deus de paciência e amor. Todos devem manifestar em sua vida o amor de Cristo. Que ninguém se aventure a depreciar a reputação ou a posição de outrem; isto é egoísmo. Está dizendo: "Eu sou muito melhor e mais capaz do que você, que Deus me dá a preferência. Você não é muito apreciado." T4 607 4 Nossos pastores que ocupam cargos de responsabilidade são homens aceitos por Deus. Sua origem, sua posição anterior, se andaram atrás do arado, se usaram os instrumentos de carpinteiro ou desfrutaram as vantagens de um colégio, não importa; se Deus os aceitou, acautelem-se todos quanto a lançar sobre eles a mais leve crítica. Não falem nunca desdenhosamente de algum homem; pois ele pode ser grande aos olhos do Senhor, ao passo que aqueles que se sentem grandes talvez sejam pouco estimados por Deus devido à perversidade de seu coração. Nossa única segurança está em prostrar-nos junto à cruz, ser pequenos aos nossos próprios olhos e confiar em Deus; pois só Ele tem poder para tornar-nos grandes. T4 608 1 Nossos pastores estão em perigo de tomar para si mesmos o crédito do trabalho que realizam. Julgam que Deus os está favorecendo e se tornam independentes e auto-suficientes; então o Senhor os entrega aos golpes de Satanás. A fim de realizar o trabalho de Deus com aceitação, devemos ter o espírito de mansidão, mente humilde, cada um considerando os outros melhores do que si mesmo. Há muito em jogo. O juízo e a habilidade de todos agora são necessários. A obra de cada homem é de suficiente importância para requerer que seja realizada com cuidado e fidelidade. Um homem não pode realizar o trabalho de todos. Cada um tem seu respectivo lugar e seu trabalho especial. E cada um deveria compreender que a maneira como é realizado o seu trabalho precisa resistir à prova do Juízo. T4 608 2 O trabalho perante nós é importante e extenso. O dia de Deus se apressa, e todos os obreiros no grande campo do Senhor devem ser homens que estão se empenhando para se tornarem perfeitos, em nada falhando, não ficando atrás em nenhum dom, esperando pelo aparecimento do Filho do homem nas nuvens do céu. Nem um momento de nosso precioso tempo deve ser dedicado a fazer com que outros se conformem com nossas idéias e opiniões pessoais. Deus quer educar os homens empenhados em colaborar nesta grande obra, no mais alto exercício da fé, e no desenvolvimento de um caráter harmônico. T4 608 3 Os homens têm diversos dons, e uns são mais aptos para um ramo da obra do que para outro. Aquilo que um pode ser incapaz de realizar, seu colega de ministério pode estar apto a fazer. A obra de cada um é importante, em sua posição. A cabeça de um homem não deve reger a de outro. Se alguém se ergue, julgando que não deve ser influenciado por ninguém, que possui discernimento e capacidade para compreender todo ramo da obra, esse homem decairá da graça de Deus. T4 609 1 Meu marido tem experiência e qualidades que são valiosas, se puderem ser santificadas pela graça de Cristo. Deus fará os seus esforços inteiramente aceitáveis, se ele imitar o Modelo. Deus desejaria que os Pastores Haskell, Butler, Whitney e White se aproximassem dEle. Esses homens podem ter preciosas qualidades, mas a menos que Cristo seja revelado no caráter, eles não serão mais aceitos do que a oferta de Caim. Sua oferta foi boa em si mesma, mas nela não havia Salvador. ------------------------Capítulo 61 -- O amor ao mundo T4 609 2 Queridos irmãos e irmãs de _____: T4 609 3 Vocês estão num rico e belo país onde as bênçãos da providência de Deus têm sido espalhadas com mão liberal, mas a menos que sejam aproveitadas sabiamente, essas mesmas bênçãos se revelarão uma maldição. Alguns de vocês estão empanturrados com os cuidados desta vida, e alguns estão se tornando embriagados com o espírito do mundo. A posição de vocês é perigosa. Este é principalmente o caso com os jovens entre vocês. Os pais não têm se relacionado intimamente com Deus, de modo que possam trabalhar inteligentemente, em Seu Espírito e poder, pela conversão de seus filhos. O contínuo falar não os converterá. A reprovação e a restrição são freqüentemente necessárias; mas essas coisas com freqüência são levadas a excesso, especialmente quando a santidade vital não é exemplificada na vida daqueles que aplicam a reprovação. T4 609 4 Nossas palavras e atos constituem o fruto que produzimos. Uma vida consagrada é um vivo sermão diário. Todavia, a piedade interior e a verdadeira devoção estão rapidamente dando lugar a formas exteriores. A religião pura e incontaminada é a grande necessidade da igreja em _____. O aproximar-se de Deus deve tornar-se uma obra individual. Ninguém pode ser salvo por procuração; mas todo homem e mulher deve operar sua própria "salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. Satanás tem muito mais poder sobre alguns que professam a verdade do que muitos percebem. O eu reina no coração, em vez de Cristo. Vontade e interesse próprios, inveja e orgulho excluem a presença de Deus. T4 610 1 O amor de Deus deve impregnar a alma, ou os frutos da justiça não aparecerão. Não é seguro condescender com vaidade e orgulho, amor do poder ou ganho. Queixar-se, censurar e reclamar simplesmente por poder fazê-lo e porque aqueles a quem assim ofendem não podem impedir-lhes é a pior fase do egoísmo. É o egoísmo que causa diferenças no círculo familiar e na igreja. Corações não-cristãos pensarão que podem discernir grandes erros em outros onde não existe nenhum, e se demorarão sobre questões pequenas até que pareçam grandemente aumentadas. O trabalho de ajustar essas pequenas questões, que parecem tão grandes para alguns, Deus tem deixado para os Seus seguidores realizarem. Não deixem que essas infelizes diferenças permaneçam até que se tornem uma raiz de amargura na igreja, pela qual muitos serão contaminados. Quando Cristo está no coração ele será tão suavizado e subjugado pelo amor a Deus e ao homem, que as queixas, críticas e dissensão não existirão ali. A religião de Cristo no coração obterá para o seu possuidor uma completa vitória sobre essas paixões que estão buscando o domínio. T4 610 2 Disse Cristo: "Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas [necessárias] vos serão acrescentadas." Mateus 6:33. Essa promessa jamais falhará. Não podemos desfrutar o favor de Deus a menos que cumpramos as condições sob as quais esse favor é concedido. Assim fazendo, nos virá aquela paz, contentamento e sabedoria que o mundo não pode dar nem tirar. Se, como igreja, desejarem assegurar a rica bênção de Deus, devem individualmente torná-Lo o primeiro, o último e o melhor em todo pensamento, plano e obra. Obediência a Deus é o primeiro dever do cristão. O espírito humilde e o coração agradecido nos elevará acima das pequeninas provas, assim como das reais dificuldades. Quanto menos fervorosos, ativos e vigilantes formos no serviço do Mestre, mais a mente se demorará no próprio eu, fazendo de um pequeno monte, montanhas de dificuldades. Sentiremos que fomos maltratados, quando nenhum desrespeito foi sequer intencionado. T4 611 1 A responsabilidade da causa de Deus posta sobre Moisés tornou-o um homem de poder. Enquanto apascentava, por tantos anos, os rebanhos de Jetro, obteve uma experiência que lhe ensinou a verdadeira humildade. Mas o chamado de Deus encontrou Moisés, como nos encontrará, ineficiente, hesitante e desconfiado de si mesmo. A ordem de libertar Israel parecia avassaladora; mas, no temor de Deus. Moisés aceitou a incumbência. Eis o resultado: Ele não rebaixou a obra ao nível de sua deficiência; mas, no poder de Deus, envidou os mais sinceros esforços por elevar-se e santificar-se para sua sagrada missão. T4 611 2 Moisés jamais se teria preparado para sua posição de confiança se esperasse que Deus fizesse a obra em seu lugar. Virá luz do Céu aos que sentem necessidade dela, e que a buscam como a tesouros escondidos. Mas se nos encolhemos num estado de inatividade, dispostos a ser controlados pelo poder de Satanás, Deus não nos enviará Sua inspiração. A menos que exerçamos ao máximo os poderes que nos conferiu, permaneceremos para sempre fracos e ineficientes. Muita oração e o mais vigoroso exercício mental são necessários, se quisermos estar preparados para fazer a obra que Deus nos quer confiar. Muitos jamais alcançam a posição que bem poderiam ocupar, porque esperam que Deus faça por eles aquilo que eles mesmos teriam força, dada por Deus, para fazer. Todos os que se preparam para a utilidade nesta vida tem de ser educados pela mais severa disciplina, mental e moral, e então Deus os ajudará, combinando com o esforço humano o poder divino. T4 611 3 Muitos em _____ falharão porque não se mantêm à altura do avanço da obra, e não revelam em seu viver diário a santificação da verdade. Não buscavam colocar a vida à altura do exaltado padrão, como Moisés colocava. Se tivessem agido assim, muitos mais seriam agora acrescentados a seus números, regozijando-se na verdade. É algo terrível afastar almas de Cristo por nossa vida não santificada. Nossa religião dever ser algo mais do que uma religião mental. Precisa afetar o coração, e então terá uma influência corretiva sobre a vida. Maus hábitos não são vencidos por um simples esforço. O próprio eu é dominado unicamente através de longa e severa luta. Esse treinamento próprio deve ser assumido pelos membros individuais da igreja, e o entulho que tem sido acumulado ao redor da porta do coração dever ser removido, antes que possam servir a Deus com singeleza de propósito, adornando a sua religião com uma vida bem-ordenada e uma conversação santificada. Então, e só então, podem ensinar a verdade a pecadores e ganhar almas para Cristo. T4 612 1 Há homens nesta igreja que sentem que devem ensinar a verdade a outros, enquanto são impacientes, mal-humorados e críticos em sua própria família. Esses precisam que alguém lhes ensine, até que se tornem pacientes, homens tementes a Deus no lar. Precisam aprender os primeiros princípios da verdadeira religião. Devem buscar a Deus com fervor de alma; pois têm sido uma maldição em suas famílias, e uma desoladora saraiva para deprimir e destruir os seus irmãos. Esses homens não merecem o nome de maridos, "house band" [laço de união do lar]; pois eles não unem a família com o amor cristão, simpatia e a verdadeira dignidade de uma vida piedosa e um caráter semelhante ao de Cristo. T4 612 2 A solene, sagrada verdade -- a probante mensagem dada por Deus a nós para comunicar ao mundo -- coloca-nos sob a mais forte obrigação de assim transformar nossa vida diária e caráter de modo a que o poder da verdade possa ser bem representado. Devemos ter um contínuo senso da brevidade do tempo e dos terríveis eventos que a profecia declarou que devem rapidamente ter lugar. É por causa dessas verdades não serem tornadas uma realidade que a vida é tão incoerente com a fé que professamos. Muitos escondem na terra os talentos que deveriam ser investidos onde estarão tendo crescimento para serem devolvidos a Deus quando Ele disser: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Moisés tornou-se grande porque empregou os seus talentos para realizar a obra de Deus, e um aumento dos talentos lhe foi então concedido. Ele se tornou eloqüente, paciente, autoconfiante e competente para a maior obra já confiada ao homem mortal. Esse é o efeito sobre o caráter sempre que os homens se entreguem a Deus com plenitude de alma e ouçam os Seus mandamentos para que possam obedecer-lhes. A voluntária obediência aos requisitos de Deus concede energia vital e poder à alma. Uma obra duradoura como a luz solar é realizada pelo obreiro, bem como por aqueles por quem ele trabalha. Conquanto limitada a capacidade daquele que se empenha nesse trabalho, o empenho por ele assumido em sua humilde esfera será aceitável a Deus. T4 613 1 "Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E, em Teu nome, não expulsamos demônios? E, em Teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas Minhas palavras e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda." Mateus 7:21-27. T4 613 2 A razão pela qual nosso povo não tem mais poder é porque professa a verdade, mas não a pratica. Tem pequena fé e pouca confiança em Deus. Há somente poucos que assumem as responsabilidades relacionadas à Sua obra. O Senhor reivindica a força da mente, dos ossos e dos músculos; mas ela é freqüentemente retida dEle e dada ao mundo. O serviço de Deus é tornado uma questão secundária, enquanto os interesses mundanos recebem pronta atenção. Assim, as coisas de menor conseqüência são tornadas importantes, enquanto os requisitos de Deus, coisas espirituais e eternas, são tratados de modo indiferente, como algo que pode ser recebido à vontade, ou deixado segundo se deseja. Se a mente permanecesse em Deus, e a verdade exercesse uma influência santificadora sobre o coração, o eu seria oculto em Cristo. Se considerássemos a importância da verdade que professamos crer, sentiríamos que temos uma missão sagrada a cumprir -- uma responsabilidade envolvendo resultados eternos. Todos os interesses temporais seriam submetidos a isto. T4 614 1 Irmãos em _____, vocês não percebem sua obrigação para com Deus e o trabalho individual que Ele lhes tem dado para realizar para Ele. Vocês possuem a teoria da verdade, mas não sentem o seu poder na alma. A figueira estéril exibia seus galhos pretensiosos rumo ao céu; todavia, quando o Redentor foi em busca de frutos, nada tinha senão folhas. A menos que haja uma obra completa efetuada por vocês como indivíduos e como igreja, a maldição de Deus certamente recairá sobre vocês como recaiu sobre aquela árvore infrutífera. T4 614 2 Os membros da igreja de _____ possuem talentos que seriam valiosos se colocados em correto uso. Homens fracos podem tornar-se fortes, os tímidos podem transformar-se em corajosos e os irresolutos e indecisos podem se tornar homens de firme e pronta decisão, quando sentem que Deus os considera de suficiente importância para aceitar os seus esforços. T4 614 3 Homens nesta igreja devem sentir que Deus deseja que se tornem obreiros em Sua causa em qualquer função. A menos que mudem de conduta, alguns se acharão numa posição semelhante à dos fariseus quando Cristo a eles Se dirigiu: "Os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus." Mateus 21:31. Muitos se sentem seguros porque professam a verdade, enquanto não sentem a sua influência santificadora sobre o coração, e não progridem na vida religiosa. T4 614 4 Irmãos, enquanto como um povo vocês professam ter luz bem mais avançada do que outras denominações, os seus trabalhos não correspondem a sua profissão de fé. Muitos que têm estado nas trevas do erro, alegremente aceitam a verdade quando lhes é aberta ao entendimento. Embora tenham passado a vida em pecado, quando vêm para Deus em penitência e com o senso de sua pecaminosidade, são aceitos por Ele. Tais pessoas estão numa posição mais favorável para a perfeição do caráter cristão do que os que têm tido grande luz e deixaram de aproveitá-la. O que deixa homens e mulheres nas trevas é sua negligência de aproveitar a luz e as oportunidades que lhes são concedidas. Cristo odeia a vã pretensão. Quando na Terra, Ele sempre tratou com ternura o penitente, embora este fosse o pior dos pecadores; mas suas denúncias caíam pesadamente sobre toda a hipocrisia. T4 615 1 Deus tem dado a cada homem o seu trabalho e ninguém mais pode fazer essa obra por ele. Oh, que individualmente apliquem o colírio, para que possam ver os seus defeitos de caráter, e percebam como Deus considera o seu amor ao mundo, que está expulsando o amor divino. Nada pode dar tal poder, tal autoconfiança e nobreza de alma, como a percepção da dignidade de Sua obra -- segurança de que são coobreiros com Deus em realizar a obra de salvar almas. T4 615 2 O Filho de Deus veio a este mundo para deixar um exemplo de uma vida perfeita. Ele Se sacrificou "pelo gozo que Lhe estava proposto" (Hebreus 12:2) -- a alegria de ver almas resgatadas do poder de Satanás, e salvas no reino de Deus. "Segue-Me", foi a ordem de Cristo. Aqueles que seguem o Seu exemplo compartilharão da obra divina de fazer o bem, e finalmente entrarão "no gozo" de seu Senhor. Mateus 25:21. T4 615 3 Há atualmente muitos homens em posições humildes, a quem o Senhor poderia denominar como fez com Abraão, "o amigo de Deus". Tiago 2:23. Tais homens aprovam aquilo que Deus aprova, e condenam o que Ele condena. Em presença deles, até o pecador tem um senso de respeito e se sente constrangido; pois Deus está com eles, e eles são cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. 2 Coríntios 3:2. Há ternura suavizante, dignidade e retidão divina em sua conduta, que lhes dão poder sobre o coração de seus semelhantes. T4 615 4 Em seguir a Cristo, e olhar para Aquele que é Autor e Consumador de nossa fé, vocês sentirão que estão trabalhando sob o Seu olhar, que são influenciados por Sua presença e que Ele conhece os seus motivos. A cada passo indagarão humildemente: Agradará isto a Jesus? Glorificará a Deus? De manhã e à noite as suas orações fervorosas ascenderão a Deus em busca de Sua bênção e guia. A verdadeira oração apega-se à Onipotência e nos dá a vitória. Sobre os joelhos o cristão obtém forças para resistir à tentação. T4 616 1 O pai "que é o laço de união da família" unirá seus filhos ao trono de Deus pela fé viva. Desconfiando de sua própria força, achegará sua alma indefesa a Jesus, apossando-se da força do Altíssimo. Irmãos, orem no lar, em família, de noite e de manhã; orem fervorosamente em seu aposento; e enquanto empenhados em seu trabalho diário, elevem a alma a Deus em oração. Foi assim que Enoque andou com Deus. A oração silenciosa e fervorosa da alma elevar-se-á como incenso ao trono da graça e será aceitável a Deus como se oferecida no santuário. A todos que assim O buscam, Cristo Se tornará "socorro bem presente nas tribulações". Salmos 46:1. Serão fortes no dia da adversidade. T4 616 2 A Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho. "Guardo no coração as Tuas palavras, para não pecar contra Ti." Salmos 119:11. O coração previamente ocupado com a Palavra de Deus é fortalecido contra Satanás. Os que fazem de Cristo seu companheiro diário e amigo familiar, sentirão que os envolvem os poderes de um mundo invisível, e olhando para Jesus se tornarão semelhantes a Sua imagem. Contemplando, tornam-se transformados, segundo o modelo divino; o caráter deles se torna brando, puro e enobrecido para o reino celestial. T4 616 3 Irmãos da igreja de _____, quando em seu caráter e obras é manifestado verdadeiro e intenso zelo, os descrentes verão por sua conduta, e sentirão em sua presença, que vocês têm uma paz da qual eles não têm conhecimento -- uma serenidade que lhes é estranha. Eles crerão que vocês estão trabalhando para Deus; pois as suas obras serão realizadas nEle. Foi-me mostrado que esta é a característica de um cristão. Satanás tem destruído muitas almas levando-as a se colocarem no caminho da tentação. Ele vem a elas como veio a Cristo, tentando-as com o amor ao mundo. Diz-lhes que podem investir com vantagem neste ou naquele empreendimento, e em boa fé elas seguem as suas instruções. Em breve são tentadas a se desviarem de sua integridade a fim de fazerem tantos bons negócios para si mesmas quanto possível. Sua conduta pode ser perfeitamente legal segundo o padrão mundano do que é correto, e, todavia, não suportar o teste da lei de Deus. Seus motivos são questionados por seus irmãos, e eles são suspeitos de fraude para beneficiar a si mesmos, e assim é sacrificada aquela preciosa influência que teria sido sagradamente preservada para o benefício da causa de Deus. Aquele negócio que poderia ser um êxito financeiro nas mãos de um especulador que venderia a sua integridade por ganho mundano, seria inteiramente inadequado para um seguidor de Cristo. T4 617 1 Todas essas especulações são acompanhadas de provas e dificuldades imprevistas, e são uma tremenda provação para aqueles que nelas se empenham. Muitas vezes ocorrem incidentes que naturalmente fazem com que suspeitas sejam lançadas sobre os motivos desses irmãos; mas conquanto algumas coisas possam parecer decididamente erradas, essas coisas não devem ser sempre consideradas um verdadeiro teste de caráter. Contudo, muitas vezes provam ser o ponto decisivo na experiência e destino de alguém. O caráter é transformado pela força das circunstâncias sob as quais o indivíduo se colocou. T4 617 2 Foi-me mostrado ser perigosa experiência para nosso povo envolver-se em especulação. Desse modo, colocam-se no terreno do inimigo, tornando-se sujeitos a grandes tentações, desapontamentos, provas e perdas. Então vem uma febril inquietação, o veemente desejo de obter recursos com maior rapidez do que as circunstâncias atuais permitiriam. Mudam, portanto, o seu ambiente, na esperança de fazer mais dinheiro. Mas, freqüentemente, suas expectativas não se realizam, e eles desanimam e vão para trás, em vez de para a frente. É esse o caso de alguns em _____. Estão se extraviando de Deus. Fizesse o Senhor prosperar alguns de nossos queridos irmãos em suas especulações, ter-se-ia isso demonstrado sua eterna ruína. Deus ama Seu povo, e ama os desafortunados. Se aprenderem as lições que Ele pretende lhes ensinar, sua derrota se demonstrará, afinal, uma preciosa vitória. O amor ao mundo tem afastado o amor de Cristo. Sempre que o entulho é retirado da porta do coração, e esse se abre de par em par, em resposta ao convite de Cristo, Ele entra e toma posse do templo da alma. Tivessem essas palavras do apóstolo sido mais cuidadosamente consideradas, muita prova teria sido poupada: T4 618 1 "Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13:5. "Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas." 1 Timóteo 6:6-12. T4 618 2 O presente é o nosso dia de confiança. A toda pessoa é atribuído algum dom ou talento peculiar que deve ser usado para avançar o reino do Redentor. Todos os agentes responsáveis de Deus, do mais humilde e mais obscuro àqueles em elevadas posições na igreja, são responsabilizados pelos bens do Senhor. Não é só o pastor que pode trabalhar pela salvação de almas. Aqueles que têm os menores dons não são dispensados de empregar os melhores dons que têm; e fazendo assim seus talentos serão aumentados. Não é seguro ser leviano com responsabilidades morais, nem desprezar "o dia das coisas pequenas". Zacarias 4:10. A providência de Deus proporciona Seus dons segundo as variadas habilidades do povo. Ninguém deve lamentar por não poder glorificar a Deus com talentos que nunca possuiu, e pelos quais não é responsável. T4 618 3 Uma grande causa de fraqueza na igreja de _____ tem sido a de que, em vez de aumentar os seus talentos para a glória de Deus, embrulharam-nos num lenço e os enterraram no mundo. Conquanto alguns possam estar limitados a um talento, se exercitarem este único, ele aumentará. Deus valoriza o serviço segundo "o que qualquer tem e não segundo o que não tem". 2 Coríntios 8:12. Se nós realizarmos os nossos deveres diários com fidelidade e amor, receberemos a aprovação do Mestre como se tivéssemos realizado uma grande obra. Devemos deixar de ansiar fazer grande serviço e negociar grandes talentos, enquanto temos sido responsabilizados somente por pequenos talentos e a realização de deveres humildes. Ao passar por alto os pequenos deveres diários e buscar responsabilidades mais elevadas, falhamos inteiramente em realizar a própria obra que Deus nos atribuiu. T4 619 1 Oh, se eu pudesse convencer esta igreja sobre o fato de que Cristo tem reivindicações sobre o seu serviço! Meus irmãos e irmãs, vocês se tornaram servos de Cristo? Então, se dedicarem a maior parte de seu tempo em servir a si mesmos, que resposta darão ao Mestre quando Ele lhes ordenar prestar contas de sua mordomia? Os talentos confiados a nós não são nossos, sejam eles talentos de propriedade, de força ou de habilidade mental. Se abusarmos de qualquer desses ou de todos, seremos com justiça condenados por nossa indigna mordomia. Quão grandes são as obrigações que sobre nós repousam em devolver a Deus as coisas que são dEle. T4 619 2 A menos que esta igreja desperte de sua letargia, e se livre do espírito do mundo, lamentará quando, muito tarde, descobrir que suas oportunidades e privilégios são perdidos para sempre. O Senhor às vezes prova o Seu povo com prosperidade em coisas temporais. Ele, porém, tenciona que façam uso correto de Seus dons. Sua propriedade, seu tempo, seu vigor e suas oportunidades são todas de Deus. Por todas essas bênçãos devem prestar contas ao Doador. Enquanto escassez e pobreza são vistas entre nossos irmãos, e deles retemos o socorro quando nossas próprias necessidades são supridas, negligenciamos um claro dever revelado na Palavra de Deus. Ele nos dá liberalmente para que possamos dar a outros. É a beneficência que vence o egoísmo e enobrece e purifica a alma. Alguns empregam mal os talentos que lhes são dados por Deus; fecham os olhos para não verem as necessidades de Sua causa, e afastam os ouvidos para não ouvirem a Sua voz mostrando-lhes o seu dever de alimentar os famintos e vestir os nus. Alguns que professam ser filhos de Deus parecem ansiosos em investir os seus recursos no mundo, para que não retornem ao Doador em dons e ofertas. Esquecem-se de sua divina missão, e se continuarem a seguir os ditames de seu coração egoísta e gastar tempo e recursos preciosos para satisfazer seu orgulho, Deus lhes enviará reveses, e sentirão aguda necessidade por causa de sua ingratidão. Ele confiará os Seus talentos a outros mordomos fiéis, que reconhecerão as Suas reivindicações sobre eles. T4 620 1 A riqueza é um poder com o qual fazer o bem ou o mal. Se for usada corretamente, torna-se uma fonte de contínua gratidão, porque os dons de Deus são apreciados e o Doador reconhecido pelo emprego deles como Deus tencionou. Aqueles que roubam a Deus retendo de Sua causa e dos pobres sofredores, enfrentarão o Seu juízo retributivo. Nosso Pai celestial, que nos tem dado em confiança toda boa dádiva, Se compadece de nossa ignorância, nossa fragilidade e nossa condição desesperadora. A fim de salvar-nos da morte, Ele livremente nos deu Seu amado Filho. Ele reivindica de nós tudo o que reivindicamos como nosso. Negligenciar Seus pobres sofredores é negligenciar a Cristo, pois Ele nos disse que os pobres são os Seus representantes na Terra. Compaixão e benevolência a eles demonstradas são aceitas por Cristo como se demonstradas a Ele. T4 620 2 Quando os pobres do Senhor são negligenciados e esquecidos, recebidos com indiferença e com palavras cruéis, deve o culpado ter em mente que está negligenciando a Cristo na pessoa dos Seus santos. Nosso Salvador identifica os Seus interesses com os da humanidade sofredora. Como o coração dos pais é piedoso e se sensibiliza com os sofrimentos de um dos membros do seu pequeno rebanho, assim o coração do nosso Redentor simpatiza com os mais pobres e mais humildes dos Seus filhos terrestres. Ele os colocou entre nós a fim de despertar em nosso coração aquele amor que Ele sente pelos sofredores e oprimidos, e os Seus juízos cairão sobre qualquer que os injustice, menospreze ou os prejudique. T4 620 3 Consideremos que Jesus assumiu as dores e pesares -- pobreza e sofrimento -- do homem em Seu próprio coração, e os tornou parte de Sua própria experiência. Embora fosse o Príncipe da vida, Ele não tomou a Sua posição com os grandes e honrados, mas com os humildes, os oprimidos e os sofredores. Ele foi o desprezado Nazareno. Ele não tinha onde reclinar a cabeça. Tornou-Se pobre por nossa causa, para que pela Sua pobreza pudéssemos enriquecer. Ele é agora o Rei da glória, e se viesse a ser coroado com majestade, milhões Lhe prestariam homenagem. Todos competiriam entre si em prestar-Lhe honras; todos pleiteariam ser achados em Sua presença. Uma oportunidade nos é agora concedida de receber a Cristo na pessoa de Seus santos. Deus deseja que vocês apreciem os Seus dons e os usem para a Sua glória. Apelo-lhes a abrirem o coração à verdade e à beneficência desinteressada. T4 621 1 Queridos irmãos, como igreja vocês têm lamentavelmente negligenciado seu dever para com as crianças e jovens. Conquanto regras e restrições sejam postas sobre eles, deve tomar-se grande cuidado para mostrar-lhes o lado cristão de seu caráter, e não o satânico. As crianças necessitam constante vigilância e terno amor. Liguem-nas ao coração, mantendo diante delas tanto o amor como o temor de Deus. Pais e mães não controlam o próprio espírito e, portanto, não estão em condições de governar a outros. Restringir e advertir seus filhos não é tudo o que se requer. Vocês têm de aprender a praticar a justiça, a amar a beneficência e andar humildemente com seu Deus. Miquéias 6:8. Tudo deixa sua impressão na mente juvenil. A fisionomia é estudada, a voz tem sua influência, o comportamento é por eles imitado bem de perto. Pais e mães irritadiços e impertinentes estão dando aos filhos lições que, algum dia em sua vida, eles dariam o próprio mundo, se este lhes pertencesse, para desaprenderem. Os filhos precisam ver na vida dos pais aquela coerência que está em harmonia com sua fé. Por revelar uma vida coerente e exercer domínio próprio, os pais podem modelar o caráter dos filhos. T4 621 2 Cuidados e responsabilidades em demasia estão sendo colocados sobre nossas famílias, e muito pouco da natural simplicidade, paz e felicidade é acariciado. Devia haver menos preocupação pelo que o mundo exterior dirá e mais profunda atenção para com os membros do círculo familiar. Deve haver menos ostentação e afetação de polidez mundana, e mais ternura e amor, alegria e cortesia cristã entre os membros da família. Muitos precisam aprender como tornar o lar atrativo, um lugar de alegria. Corações agradecidos e bondoso olhar são mais valiosos que riqueza e luxo; e o contentamento com as coisas simples tornará o lar feliz se nele existir o amor. T4 622 1 Jesus, nosso Redentor, andou na Terra com a dignidade de um rei; era, contudo, manso e humilde de coração. Era uma luz e bênção em todo lar, porque levava alegria, esperança e coragem consigo. Oh, que possamos ficar satisfeitos com menos anseios do coração, menos apego por coisas difíceis de serem obtidas para embelezar nossos lares, enquanto o que Deus avalia acima de jóias -- um espírito manso e quieto -- não é acariciado. A graça da simplicidade, mansidão e verdadeira afeição faria um paraíso do mais humilde lar. É melhor suportar alegremente cada inconveniência do que perder a paz e o contentamento. T4 622 2 Vocês precisam grandemente humilhar o coração perante Deus e ver a triste condição de seus filhos -- sem Deus e sem esperança no mundo. Eles não apreciam e não reverenciam as coisas sagradas, porque os negócios comuns e mundanos foram situados ao mesmo nível dos interesses eternos. Há jovens entre vocês cujo serviço Deus aceitará se submeterem o coração a Ele, e se unirem a Ele como fez Daniel e os seus companheiros. Poucos, porém, têm a verdadeira idéia do perigo que rodeia a juventude de hoje. Para alcançar a nobre condição de virilidade requer-se grande soma de coragem moral e constante resistência à tentação. É raro um caráter incontaminado diante de Deus. Muitos que não têm o temor de Deus, e cujos pés estão na estrada larga da morte, estão esperando para ser companheiros de seus filhos. Quisera poder fazer com que a juventude visse e sentisse seu perigo, especialmente o de fazerem casamentos infelizes. T4 622 3 Um pouco de tempo passado a semear joio, queridos amigos jovens, produzirá uma colheita que fará amarga a vida inteira de vocês; uma hora de irreflexão -- o ceder uma vez à tentação - pode-lhes desviar todo o curso da vida para uma direção errada. Vocês não podem ser jovens senão uma vez; tornem útil essa juventude. Uma vez que tenham passado por esse caminho, não poderão retroceder para retificar os erros cometidos. Aquele que se recusa a unir-se a Deus, colocando-se no caminho da tentação, há de infalivelmente cair. Deus está provando cada jovem. Muitos têm desculpado sua falta de cuidado e reverência com os maus exemplos a eles dados por professos crentes de mais experiência. Isto, porém, não deveria impedir pessoa alguma de proceder bem. No dia do final ajuste, não alegarão tais desculpas como agora fazem. Serão com justiça condenados, porque sabiam o caminho, mas não decidiram andar nele. T4 623 1 Satanás, esse arquienganador, transforma-se em anjo de luz, achega-se aos jovens com suas enganosas tentações e é bem-sucedido em desviá-los, passo a passo, do caminho do dever. Ele é descrito como um acusador, enganador, mentiroso, atormentador e homicida. "Quem comete o pecado é do diabo." 1 João 3:8. Toda desobediência leva o ser humano à condenação, provocando o desagrado divino. Os pensamentos do coração são discernidos por Deus. Quando os pensamentos impuros são acariciados, não necessitam ser expressos em palavras ou atos para consumar o pecado e trazer condenação à alma. Sua pureza é manchada, e o tentador triunfou. T4 623 2 Todo homem é tentado quando atraído e engodado por suas próprias concupiscências. É desviado do caminho da virtude e do verdadeiro bem por seguir as próprias inclinações. Se a juventude possuísse integridade moral, as mais poderosas tentações inutilmente lhe seriam apresentadas. É a ação de Satanás tentar vocês; é sua a de ceder-lhe. Não se acha no poder de todo o exército satânico o forçar o tentado a transgredir. Não há desculpa para o pecado. T4 623 3 Enquanto alguns dos jovens estão desperdiçando suas energias em vaidade e extravagância, outros estão disciplinando a mente, acumulando conhecimentos, revestindo-se da armadura para empenhar-se na batalha da vida, decididos a torná-la um sucesso. Não poderão, no entanto, ter êxito na vida, por mais alto que tentem galgar, a menos que concentrem em Deus as suas afeições. Se se voltarem para o Senhor de todo o coração, rejeitando as lisonjas dos que desejam, no mínimo grau, enfraquecer-lhes o propósito de proceder retamente, terão força e confiança em Deus. T4 624 1 Os que amam a vida social, freqüentemente condescendem com esse traço até que ele se torna paixão dominante. Vestir, ir a lugares de entretenimento, rir e tagarelar sobre assuntos de modo geral mais levianos que a própria vaidade -- eis o objetivo de sua vida. Não podem suportar ler a Bíblia e meditar nas coisas celestiais. Sentem-se infelizes, a menos que haja qualquer coisa fantasiosa. Não possuem em si mesmos o poder de ser felizes; mas dependem para isso da companhia dos outros jovens tão irrefletidos e irrequietos como eles mesmos. As energias que poderiam ser encaminhadas para nobres fins, eles as entregam à loucura. T4 624 2 O jovem que encontra prazer e felicidade em ler a Palavra de Deus e na oração, é constantemente refrigerado pela Fonte da vida. Atingirá excelência moral e amplitude de pensamentos que outros não podem ter idéia. A comunhão com Deus encoraja bons pensamentos, nobres aspirações, claras percepções da verdade e altos propósitos de ação. Os que assim ligam a própria alma a Deus, são por Ele reconhecidos como filhos e filhas. Estão de contínuo ascendendo mais alto, obtendo mais clara visão de Deus e da eternidade, até que Ele os torna condutos de luz e sabedoria para o mundo. T4 624 3 Alguns dos jovens em _____ estão numa condição endurecida pelo pecado; são grosseiros, descorteses, rudes e rebeldes. Tiveram grande luz e a rejeitaram. Se agora escolherem o caminho da paz, devem fazê-lo por princípio, em vez de fazê-lo por sentimento. O pecado e a santidade não podem comprometer-se. A Bíblia não sanciona a impiedade, nem contém palavras suaves de tolerância e caridade para com o impenitente. Jesus veio para atrair a Si todos os homens, e os Seus seguidores devem caminhar à luz do Seu glorioso exemplo, com sacrifício da comodidade ou fama e risco dos bens ou da vida. Somente dessa maneira podem combater o bom combate da fé. T4 625 1 Uma pérola de grande preço é oferecida aos jovens. Eles podem vender tudo e comprar esta pérola, ou podem recusá-la, para sua infinita perda. O Céu pode ser alcançado por todos que se submeterem às condições estabelecidas na Palavra de Deus. Nosso Redentor foi obediente até a morte; entregou-Se em oferta pelo pecado. Somos redimidos "com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado". 1 Pedro 1:19. "O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado." 1 João 1:7. Jovens amigos, vocês podem assumir determinado propósito em sua própria força, podem gabar-se de poder seguir uma conduta reta sem submeter o coração à influência controladora do Espírito de Deus; mas dessa maneira não serão felizes. Seu espírito irrequieto precisa de mudança. Ele tem sede de prazer nas diversões, alegria e sociedade de seus jovens companheiros. Vocês estão cavando para si "cisternas rotas que não retêm as águas". Jeremias 2:13. Um poder enganoso lhes controla a mente e as ações. A felicidade será encontrada unicamente no arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo; pois o coração de vocês está cheio de rebelião; isso se percebe em suas palavras. Suas orações egoístas e formalidades religiosas podem acalmar a consciência, mas somente aumentam o seu perigo. Sua natureza não foi renovada. T4 625 2 O precioso sangue de Jesus é a fonte preparada para purificar a alma da contaminação do pecado. Quando determinarem torná-Lo seu amigo, uma nova e perdurável luz brilhará da cruz de Cristo. Um verdadeiro senso do sacrifício e intercessão do querido Salvador quebrantará o coração que se tornou endurecido pelo pecado; e amor, gratidão e humildade encherão a alma. A entrega do coração a Jesus reduz o rebelde em penitente e então a linguagem da alma obediente será: "As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." 2 Coríntios 5:17. Essa é a verdadeira religião da Bíblia. Tudo que seja menos do que isso é um engano. T4 625 3 A juventude não percebeu que a liberdade e a luz podem ser mantidas somente através da abnegação, constante vigilância e oração, e contínua dependência dos méritos do sangue de Cristo. Quando o Espírito Santo é soprado sobre a alma, a vontade e as faculdades do ser humano devem responder a Sua influência. Os que permanecem em Jesus serão felizes, bem-humorados e alegres em Deus. Uma suave afabilidade lhes distinguirá a voz, as ações exprimirão reverência pelas coisas espirituais e eternas, e haverá música, jubilosa música em seus lábios -- música irradiada do trono de Deus. Este é o mistério da piedade, não facilmente explicado, mas nem por isso menos experimentado e fruído. Um coração obstinado e rebelde pode fechar as portas a todas as doces influências da graça de Deus, e a toda alegria no Espírito Santo; mas os caminhos da sabedoria são caminhos aprazíveis, "e todas as suas veredas, paz". Provérbios 3:17. Quanto mais intimamente nos acharmos ligados a Cristo, tanto mais nossas palavras e ações revelarão o poder enternecedor e transformador de Sua graça. T4 626 1 Apelo aos jovens em _____ a considerarem os seus caminhos e a mudarem a sua conduta antes que seja tarde demais. Alguns de vocês se orgulham de suas habilidades; mas quanto mais valiosos os talentos que lhes forem confiados, maior será a sua condenação se empregarem esses dons do Céu no serviço de Satanás. Deus pode passar sem vocês, mais vocês não podem passar sem Deus. São vocês que sofrerão sem Jesus. Os mandamentos de Deus são como espinhos e cardos para alguns dos jovens em _____. O seu conhecimento da verdade torna-lhes difícil condescenderem com os prazeres pecaminosos; pois não podem de modo radical remover da mente as reivindicações de Deus sobre eles. Há um sentimento de impaciência diante da restrição assim imposta. Eles tentam contornar a voz de advertência; mas se encontram golpeando contra os aguilhões, ferindo-se com muitos sofrimentos. Oh, que viessem à Fonte da água viva antes de ofenderem o Espírito de Deus pela última vez! T4 626 2 Umas poucas palavras mais para os membros da igreja. Disse Cristo: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. Não devemos fazer cruzes para nós mesmos, vestir pano de saco nem flagelar nosso corpo ou negar-nos inteiramente alimento nutritivo. Não devemos fechar-nos em mosteiros, longe do mundo, e não fazer bem para os nossos semelhantes, pensando ser esta a cruz de Cristo; nem nos é requerido expor a saúde e a vida desnecessariamente, nem lamentar enquanto ascendendo a colina da vida cristã, sentindo ser um pecado ser alegres, contentes, felizes e jubilosos. Essas são cruzes feitas pelo homem, mas não a cruz de Cristo. T4 627 1 Levar a cruz de Cristo é controlar nossas paixões pecaminosas, praticar cortesia cristã mesmo quando é inconveniente fazê-lo, ver as necessidades dos carentes e angustiados, privando-nos a fim de aliviá-los; e abrir nosso coração e portas aos órfãos sem lar, embora fazer isso possa enfraquecer nossos recursos e nossa paciência. Tais filhos são os membros mais jovens da família de Deus e devem receber amor e cuidado, e serem criados "na doutrina e admoestação do Senhor". Efésios 6:4. Esta é uma cruz, que se for levantada e alegremente carregada por amor a Cristo, se provará um diadema de glória no reino de Deus. T4 627 2 Irmãos, pelo amor de Cristo encham a vida de boas obras, mesmo que o mundo não aprecie os seus esforços, e não lhes dê crédito. Isso é abnegação. O egoísmo é o jugo mais cruel que os membros da igreja já colocaram sobre o pescoço; mas muito disso é acalentado por aqueles que professam ser seguidores de Cristo. Tudo que possuem pertence a Deus. Sejam cuidadosos, para que não acumulem egoistamente as bênçãos que Ele lhes entregou para as viúvas e os órfãos. Cristo deixou a Sua glória, Sua honra, Seu elevado comando, e por nossa causa Se tornou pobre para que através de Sua pobreza enriquecêssemos. Agora a pergunta que surge é: Que farei individualmente por Jesus que deu a vida por um mundo arruinado? ------------------------Capítulo 62 -- Simplicidade no vestuário T4 628 1 No Sermão do Montanha, Cristo exorta Seus seguidores a não permitirem que sua mente se absorva com as coisas terrenas. Diz Ele claramente: "Não podeis servir a Deus e a Mamom. Por isso, vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir: Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que a vestimenta?" "E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam; e Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles." Mateus 6:24, 25, 28, 29. T4 628 2 Palavras cheias de significado são essas. Eram aplicáveis aos dias de Jesus, assim como são para os nossos dias. Jesus contrasta aqui a natural simplicidade das flores do campo com o adorno artificial do vestuário. Declara que a glória de Salomão não era para se comparar com uma flor em sua beleza natural. Aqui se encontra uma lição para todos quantos desejam conhecer e cumprir a vontade de Deus. Jesus observou o cuidado e a atenção dados às vestimentas, e advertiu, ou melhor, ordenou-nos a não lhes dar demasiada atenção. É importante que consideremos cuidadosamente Suas palavras. Salomão absorveu-se tanto com a ostentação exterior, que se esqueceu de elevar o espírito pela constante ligação com o Deus da sabedoria. A perfeição e a beleza de caráter foram passadas por alto em sua tentativa de alcançar a beleza exterior. Vendeu a honra e a integridade do caráter na busca da glorificação própria diante do mundo, e tornou-se afinal um déspota, mantendo sua extravagância por meio de opressivos impostos sobre o povo. Primeiro, corrompeu-se no coração, depois apostatou de Deus e se tornou por fim adorador de ídolos. T4 628 3 Quando vemos nossas irmãs se desviando da simplicidade no vestuário, e cultivando o amor pelas modas do mundo, sentimo-nos perturbados. Adiantando-se passo a passo nessa direção, vão-se separando de Deus, e negligenciando o adorno interior. Elas não devem sentir-se na liberdade de gastar o tempo que lhes é dado por Deus com a desnecessária ornamentação de seu vestuário. Quão melhor seria ele empregado em examinar as Escrituras, obtendo assim um conhecimento cabal das profecias e das lições práticas de Cristo! T4 629 1 Como cristãos, não devemos empenhar-nos em nenhum empreendimento sobre o qual não possamos pedir conscienciosamente a bênção do Senhor. Vocês sentem, minhas irmãs, a consciência limpa, no desnecessário esforço que dedicam ao vestuário? Podem, enquanto tornam perplexa a mente a respeito de franzidos, laços e fitas, estar elevando a alma a Deus em oração para que Ele lhes abençoe os esforços? O tempo gasto dessa maneira poderia ser dedicado a fazer o bem aos outros e a cultivar a própria mente. T4 629 2 Muitas de nossas irmãs são pessoas de boa habilidade, e se seus talentos fossem usados para a glória de Deus, seriam elas bem-sucedidas na conquista de almas para Cristo. Não serão elas responsáveis pelas almas que poderiam ter salvado se a extravagância do vestuário e os cuidados deste mundo não tivessem prejudicado e reduzido as faculdades que Deus lhes deu, de modo que não sentissem responsabilidade pelo trabalho? Satanás inventou as modas a fim de manter a mente das mulheres tão obcecada com o tema do vestuário a ponto de não poderem pensar em mais nada. T4 629 3 Os deveres que recaem sobre as mães de criarem seus filhos "na doutrina e admoestação do Senhor" (Efésios 6:4) não podem ser cumpridos enquanto elas continuarem em sua atual maneira de vestir-se. Não têm tempo de orar nem de pesquisar as Escrituras para que possam entender a verdade e ensiná-la a seus filhos. Não é apenas privilégio, mas dever de todos, crescer diariamente no conhecimento de Deus e da verdade. Todavia, o objetivo de Satanás é conseguido se ele puder inventar qualquer coisa que atraia de tal modo a mente que isso não venha a acontecer. A razão por que tantas não estão desejosas de assistir às reuniões de oração e empenhar-se em exercícios religiosos é que a sua mente está concentrada em outras coisas. Estão se conformando com o mundo na questão do vestuário; e enquanto fazem assim, almas que elas poderiam ter ajudado ao deixar sua luz brilhar por meio de boas obras, são fortalecidas em sua incredulidade pela conduta incoerente dessas professas cristãs. T4 630 1 Deus Se agradaria de ver nossas irmãs trajadas com roupas simples e de bom gosto, e diligentemente empenhadas na obra do Senhor. Não lhes falta habilidade, e caso empregassem na devida maneira os talentos que já possuem, sua eficiência seria grandemente aumentada. Se o tempo que agora empregam em trabalho desnecessário fosse dedicado a pesquisar a Palavra de Deus e a explicá-la aos outros, sua mente seria enriquecida com as gemas da verdade, e seriam fortalecidas e enobrecidas pelo esforço feito para compreenderem as razões de nossa fé. Fossem nossas irmãs conscienciosas cristãs bíblicas, buscando aproveitar toda oportunidade para esclarecer a outros, e veríamos dezenas e dezenas de almas abraçando a verdade, unicamente mediante seus abnegados esforços. Irmãs, no dia em que forem ajustadas as contas de todos, experimentarão vocês alegria ao ser passada em revista sua vida, ou sentirão que a beleza do homem exterior é que foi buscada, enquanto a beleza interior da alma ficou quase de todo negligenciada? T4 630 2 Não terão nossas irmãs suficiente zelo e força moral para se colocarem, sem desculpas, sobre a plataforma bíblica? O apóstolo deu orientações muito explícitas sobre esse ponto: "Quero, pois, que... as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras." 1 Timóteo 2:8-10. Aqui o Senhor, por meio de Seu apóstolo, fala expressamente contra o uso de ouro. Que as que têm tido experiência cuidem em não fazer com que outros se desviem nesse ponto por causa de seu exemplo. Aquele anel que cerca seu dedo, talvez seja muito simples, mas é inútil, e seu uso exerce errônea influência sobre outros. T4 630 3 Especialmente as esposas de nossos pastores devem ser cuidadosas em não se afastarem dos claros ensinos da Bíblia em questão do vestuário. Muitos consideram essas recomendações como demasiado antiquadas para merecerem atenção; Aquele, porém, que as deu a Seus discípulos, compreendia os perigos do amor ao vestuário em nossos tempos, e mandou-nos essa advertência. Dar-lhe-emos ouvidos e seremos sábios? A extravagância no vestuário está em constante progresso. Ainda não é o fim. A moda muda sempre, e nossas irmãs seguem-lhe os rastos, a despeito do tempo ou das despesas. Grande é a quantia despendida com o vestuário, quando devia voltar a Deus, o doador. T4 631 1 O vestuário simples e de bom gosto da classe mais pobre aparece muitas vezes em marcante contraste com a vestimenta de suas irmãs mais ricas, e esta diferença produz freqüentemente certo constrangimento da parte dos pobres. Algumas procuram imitar suas irmãs mais ricas, enfeitam, franzem e adornam fazendas de qualidade inferior, de maneira que se aproximam delas o máximo possível no vestir-se. Moças pobres, que não recebem mais do que dois dólares por semana pelo seu trabalho, gastarão cada centavo para se vestirem como as outras que não são obrigadas a ganhar a própria manutenção. Essas jovens não possuem coisa alguma para colocar na tesouraria de Deus. E seu tempo é tão completamente absorvido em tornar seus vestidos tão na moda como os de suas irmãs, que elas não dispõem de nenhum tempo para o aperfeiçoamento da mente, o estudo da Palavra de Deus, a oração particular ou para a reunião de oração. A mente é inteiramente absorvida em planejar como aparecer tão bem como suas irmãs. Para alcançar este objetivo, a saúde física, mental e moral é sacrificada. A felicidade e a aprovação de Deus são colocadas sobre o altar da moda. T4 631 2 Muitas deixarão de assistir ao culto no sábado, porque seu vestuário pareceria diferente em estilo e adorno, do de suas irmãs cristãs. Considerarão as minhas irmãs estas coisas como são, e perceberão completamente o peso de sua influência sobre os outros? Ao andarem elas próprias num caminho proibido, levam outros pelo mesmo trajeto de desobediência e apostasia. A simplicidade cristã é sacrificada pela exibição exterior. Minhas irmãs, de que maneira mudaremos tudo isso? Como nos libertaremos da cilada de Satanás e despedaçaremos as cadeias que nos têm conservado escravas da moda? Como recuperaremos nossas oportunidades perdidas? Como conservaremos nossas energias em ação sadia e vigorosa? Existe um modo apenas, este é tornar a Bíblia nossa norma de vida. Todos devem trabalhar zelosamente para fazer o bem aos outros, vigiar em oração, tomar a cruz há tanto negligenciada, e atender às advertências e ordens dAquele que disse: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. T4 632 1 Minhas irmãs cristãs, defrontem o espelho, a lei de Deus, e testem a sua conduta pelos primeiros quatro mandamentos. Eles explicitamente definem o nosso dever para com Deus. Ele reivindica as afeições não divididas; e qualquer coisa que tenda a absorver a mente e desviá-la de Deus assume a forma de um ídolo. O Deus vivo e verdadeiro é eliminado dos pensamentos e corações, e o templo da alma é contaminado pela adoração de outros deuses diante do Senhor. "Não terás outros deuses diante de Mim" (Êxodo 20:3), diz o mandamento. Pesquisemos o coração, comparemos a vida e caráter com os estatutos e preceitos de Jeová, e então busquemos diligentemente corrigir os nossos erros. T4 632 2 Os últimos seis mandamentos especificam os deveres do homem para com seus semelhantes. Aqui é trazido à tona as solenes obrigações que são espezinhadas todo dia pelos professos observadores dos mandamentos. Aqueles que têm sido iluminados pela graça de Deus, que foram adotados na família real, não deviam ser sempre crianças na obra do Senhor. Se sabiamente se apropriarem das graças dadas, sua capacidade aumentará, e seu conhecimento se tornará mais extenso, e se lhes confiará uma maior medida do poder divino. Ao empreender esforços zelosos, empenho bem direcionado para levar os seus semelhantes ao conhecimento da verdade, tornar-se-ão fortes no Senhor; e ao fazerem justiça na Terra, receberão a recompensa da vida eterna no reino do Céu. Este é o privilégio de nossas irmãs. E quando as vemos empregando tempo e o dinheiro de Deus na desnecessária exibição de vestuário, não podemos senão adverti-las de que estão transgredindo não só os primeiros quatro, mas os últimos seis mandamentos. Não tornam a Deus o supremo objeto de sua adoração, nem amam os seus semelhantes como a si mesmas. T4 632 3 Cristo é o nosso exemplo. Devemos conservar o Modelo continuamente diante de nós, e contemplar o sacrifício infinito que foi feito para redimir-nos da servidão do pecado. Se nos acharmos condenados ao contemplarmos o espelho, não nos aventuremos mais longe na transgressão, mas demos meia-volta, e lavemos nossas vestes de caráter no sangue do Cordeiro para que possam ser sem mancha. Clamemos, como Davi: "Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua lei." Salmos 119:18. Aqueles a quem Deus confiou tempo e recursos para que pudessem ser uma bênção à humanidade, mas que desperdiçaram esses talentos desnecessariamente consigo mesmos e com seus filhos, terão terríveis contas a prestar à barra do tribunal de Deus. T4 633 1 "Porque eis que aquele dia vem ardendo como forno; todos os soberbos e todos os que cometem impiedade serão como palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo." Malaquias 4:1. O mundo descrente logo terá algo em que pensar além de seu vestuário e aparência; e ao ser sua mente desviada dessas coisas pela angústia e perplexidade, nada têm a que recorrer. São prisioneiros de esperança (Zacarias 9:12), e, portanto, não se volvem à Fortaleza. Seu coração lhes definhará com lamentos e temor. Não fizeram de Deus o seu refúgio e Ele não será o seu Consolador. Ele rirá de sua calamidade, e zombará quando lhes sobrevier temor. T4 633 2 Aqueles entre os observadores do sábado que sucumbiram à influência do mundo devem ser provados. Os perigos dos últimos dias estão sobre nós. E uma prova, que muitos não anteciparam, está diante do professo povo de Deus. A genuinidade de sua fé será provada. Muitos se uniram aos mundanos em orgulho, vaidade e busca de prazer, lisonjeando-se de que podiam assim agir e ainda ser cristãos. Mas tais condescendências os separam de Deus e os tornam filhos do mundo. Cristo não nos deixou tal exemplo. Somente aqueles que negarem a si mesmos e viverem uma vida de sobriedade, humildade e santidade são verdadeiros seguidores de Jesus; e esses não podem desfrutar a companhia dos amantes do mundo. T4 633 3 Muitos se vestem semelhante ao mundo, a fim de exercer influência sobre os descrentes; eles, porém, cometem aqui um erro lamentável. Se quiserem ter verdadeira e salvadora influência, vivam de acordo com a sua profissão de fé, mostrem sua fé pelas suas obras de justiça, e façam clara distinção entre o cristão e o mundano. As palavras, o vestuário e as ações devem testemunhar de Deus. Então uma santa influência se espalhará sobre todos os que lhes estão ao redor, e até os descrentes tomarão conhecimento de que eles têm estado com Jesus. Caso alguém deseje que sua influência fale em favor da verdade, que viva de acordo com a sua profissão de fé e dessa forma imitem o humilde Modelo. T4 634 1 O orgulho, a ignorância e a loucura são companheiros inseparáveis. O Senhor está descontente com o orgulho manifestado entre o Seu povo professo. Ele é desonrado por sua conformidade com as modas prejudiciais, imodestas e dispendiosas dessa era degenerada. T4 634 2 A moda governa o mundo; e ela é uma senhora tirânica, muitas vezes obrigando os seus devotos a se submeterem às maiores inconveniências e desconforto. A moda domina sem razão e exige sem misericórdia. Ela tem um poder fascinante, e está pronta a criticar e ridicularizar os pobres se não a seguirem a qualquer custo, mesmo com o sacrifício da própria vida. Satanás exulta de que seus ardis tenham tanto êxito, e a Morte ri da loucura insalubre e zelo cego dos adoradores do altar da moda. T4 634 3 Para proteger o povo de Deus da corruptora influência do mundo, bem como para promover a saúde física e moral, foi a reforma do vestuário introduzida entre nós. Não foi ela planejada para ser um jugo de escravidão, mas uma bênção; não para aumentar o trabalho, senão para poupar trabalho; para poupar gastos, e não para acrescentar gasto com vestuário. Faria distinção entre o povo de Deus e o mundo, e dessa forma serviria de barreira contra suas modas e loucuras. Aquele que conhece o fim desde o princípio, que compreende nossa natureza e nossas necessidades -- nosso compassivo Redentor -- viu nossos perigos e dificuldades, e condescendeu em dar-nos oportuna advertência e instrução atinentes a nossos hábitos de vida, até mesmo na escolha apropriada da alimentação e do vestuário. T4 634 4 Satanás está inventando constantemente novo estilo de vestuário que se provará uma maldição para a saúde física e moral; exulta quando vê professos cristãos aceitarem avidamente as modas por ele inventadas. Não se pode calcular a quantidade de sofrimento físico originado pelo vestuário anormal e prejudicial à saúde. Muitos se têm tornado eternos doentes por causa de sua condescendência com os preceitos da moda. Deslocamentos e deformidades, câncer e outras doenças terríveis estão entre os males resultantes do vestuário da moda. T4 635 1 Muitos estilos de vestuário que são impróprios e mesmo ridículos têm sido geralmente adotados por estarem na moda. Entre essas modas perniciosas estavam as grandes saias-balão, que freqüentemente causavam indecente exposição da pessoa. Em contraste com estas foi apresentada uma vestimenta simples, modesta e decente, a qual deveria dispensar as saias-balão e os vestidos de cauda, e proveria a devida proteção aos membros. Mas a reforma do vestuário compreendia mais do que encurtar o vestido e proteger os membros. Incluía toda peça de vestuário que está sobre a pessoa. Aliviava o peso de sobre os quadris, fazendo penderem as saias dos ombros. Removia os apertados espartilhos, que comprimem os pulmões, o estômago e outros órgãos internos, e induz à curvatura da espinha e a quase uma incontável série de enfermidades. A devida reforma do vestuário provia a proteção e o desenvolvimento de cada parte do corpo. T4 635 2 Para aqueles que coerentemente adotaram o vestido da reforma, apreciando suas vantagens, e alegremente colocando-se em oposição ao orgulho e à moda, ele se provou uma bênção. Quando apropriadamente feito, é um vestuário coerente e adequado, e recomenda-se às pessoas mentalmente sinceras, mesmo entre aqueles que não são de nossa fé. T4 635 3 Pode ser feita a pergunta: "Por que esse vestido foi deixado de lado? E por que razão a reforma do vestuário deixou de ser defendida?" Em poucas palavras declararei a razão para essa mudança. Embora muitas de nossas irmãs aceitassem essa reforma por princípio, outras se opuseram ao estilo simples e saudável de vestuário que ela defendia. Requeria muito esforço introduzir essa reforma entre o nosso povo. Não foi suficiente apresentar perante nossas irmãs as vantagens de tal vestido, e convencê-las de que obteriam a aprovação de Deus. A moda tinha tão forte domínio sobre elas, que foram vagarosas em desligar-se de seu controle, até mesmo de obedecer aos ditames da razão e da consciência. E muitas que professavam aceitar a reforma não fizeram mudança em seus hábitos errôneos de vestuário, exceto em encurtar as saias e cobrir os membros. T4 636 1 Isso não foi tudo. Algumas que adotaram a reforma não estavam contentes em mostrar pelo exemplo as vantagens do vestuário, dando, quando indagadas, suas razões por adotá-lo, e deixando que a questão aí parasse. Buscavam controlar a consciência de outros por sua própria. Se o adotavam, outros deveriam adotá-lo. Esqueceram-se de que ninguém era obrigado a usar o vestido da reforma. T4 636 2 Não era meu dever impor o assunto às minhas irmãs. Após apresentá-lo a elas, como me fora mostrado, deixei-o a seu critério. O ato de reformar é sempre acompanhado de sacrifício. Requer que o amor ao conforto, o interesse egoísta e a concupiscência da ambição sejam mantidos em sujeição aos princípios do que é correto. Quem quer que tenha a coragem de reformar encontrará obstáculos. O conservadorismo daqueles cujos negócios ou prazer lhes colocam em contato com os defensores da moda e que perderão sua posição social pela mudança, opor-se-á a tal pessoa. T4 636 3 Muito sentimento infeliz foi suscitado por aqueles que estavam constantemente impondo a reforma do vestuário sobre suas irmãs. Com os extremistas, essa reforma parecia constituir a síntese e a substância de sua religião. Era o tema de conversação e a preocupação de seu coração; e a mente deles era assim desviada de Deus e da verdade. Deixaram de abrigar o espírito de Cristo e manifestaram uma grande falta de verdadeira cortesia. Em vez de apreciar o traje por suas reais vantagens, pareciam orgulhar-se de sua singularidade. Talvez nenhuma questão tenha jamais surgido entre nós que ocasionasse tal desenvolvimento de caráter como a reforma do vestuário. T4 636 4 Enquanto muitas das jovens adotaram esse traje, algumas se empenharam em evitar a cruz condescendendo com adornos extras, tornando-o assim uma maldição em vez de bênção. Àquelas que o adotaram relutantemente, por um senso de dever, tornou-se ele um jugo pesado. Outras ainda, que eram aparentemente as reformadoras mais zelosas, manifestaram uma triste falta de ordem e capricho em seu traje. Ele não fora feito segundo o modelo aprovado. Algumas tinham um traje variado -- vestido de um tecido, casaco de outro e calças de outro ainda. Outras usavam saia longa demais, de modo que apenas uma polegada da calça podia ser vista, tornando-se assim um traje desproporcional e de mau gosto. Esses trajes grotescos e desleixados desgostaram muito as que se agradariam com a apropriada reforma do vestuário. T4 637 1 Algumas ficaram grandemente perturbadas por eu não ter tornado o vestuário uma questão de prova, e outras ainda porque eu recomendei àquelas que tinham maridos ou filhos descrentes a não adotarem o traje da reforma, pois poderia acarretar infelicidade que neutralizaria todo o bem a ser derivado de seu uso. Por anos assumi a responsabilidade dessa obra e esforço para estabelecer a uniformidade do vestuário entre nossas irmãs. T4 637 2 Numa visão que me foi dada em Battle Creek, em 3 de Janeiro de 1875, foi-me mostrado o estado de coisas que aqui tenho apresentado, e que a ampla diversidade em vestuário era um dano à causa da verdade. Aquilo que poderia ter-se provado uma bênção, se uniformemente adotado e apropriadamente usado, havia se tornado uma vergonha, e, em alguns casos, mesmo uma desgraça. T4 637 3 Algumas que adotaram o traje suspiravam a respeito dele como se fosse um pesado fardo. A linguagem de seu coração era: "Qualquer coisa menos isto! Se nos sentíssemos livres para deixar de lado este estilo peculiar, nós voluntariamente adotaríamos um vestido simples, sem adornos, de comprimento comum. Os membros poderiam ser protegidos como antes, e poderíamos garantir todos os benefícios físicos com menos esforço. Requer muito trabalho preparar o traje da reforma da maneira apropriada." Murmuração e queixas estavam rapidamente destruindo a religiosidade vital. T4 637 4 Não tive peso de testemunho sobre o assunto do traje. Não fiz referência a ele de maneira alguma, seja para defender ou condenar. Era propósito do Senhor provar o Seu professo povo e revelar os motivos de Seu coração. Em campais raramente tive algo a dizer sobre o assunto. Evitei todas as perguntas e não respondi nenhuma carta. T4 637 5 Um ano atrás o assunto do traje foi novamente apresentado perante mim. Vi que nossas irmãs estavam se afastando da simplicidade do evangelho. As próprias irmãs que sentiam que a reforma do vestuário requeria trabalho desnecessário, que reivindicavam que não seriam influenciadas pelo espírito do mundo, agora adotaram as modas que antes condenavam. Seus vestidos foram arranjados com todos os adornos desnecessários dos mundanos, de maneira inadequada aos cristãos, e inteiramente em contradição com nossa fé. T4 638 1 Assim se tem desenvolvido o orgulho de coração a que se submete um povo que professa ter saído do mundo, e ser separado. A Inspiração declara que a amizade do mundo é inimizade contra Deus; contudo, o Seu professo povo gastou o seu tempo e recursos concedidos por Deus sobre o altar da moda. T4 638 2 Nosso povo tem estado firmemente recuando na obra da reforma. Sabedoria e discernimento parecem paralisados. O egoísmo e o amor à exibição têm corrompido o coração e deteriorado o caráter. Há uma crescente disposição de sacrificar a saúde e o favor de Deus sobre o altar da moda sempre mutante e nunca satisfatória. T4 638 3 Não há estilo de vestido mais apropriado para ser usado no hospital do que o traje da reforma. A idéia acolhida por alguns, de que ele diminuiria a dignidade ou utilidade daquela instituição, é um erro. É exatamente esse traje que se esperaria ser ali encontrado, e não devia ser descartado. Com tal traje, as auxiliares poderiam realizar o seu trabalho com muito menos esforço do que é agora requerido. Tal vestimenta pregaria o seu próprio sermão aos devotos da moda. O contraste entre suas vestes insalubres, com cauda e babados, e o vestuário da reforma, apropriadamente apresentado, sugerindo conveniência e conforto no uso dos membros, teria sido instrutivo ao máximo. Muitas das pacientes teriam obtido maior nível de recuperação se tivessem aceitado o traje da reforma. T4 638 4 Lamentamos que qualquer influência tenha sido exercida contra esse traje modesto, saudável e de bom gosto. O coração natural está sempre pleiteando em favor de costumes mundanos, e qualquer influência fala com poder dez vezes maior quando exercido na direção errada. T4 639 1 Embora ninguém fosse compelido a adotar o traje da reforma, nosso povo podia e devia ter apreciado suas vantagens, e tê-lo aceitado como uma bênção. Os maus resultados de uma conduta oposta podem ser agora vistos. No hospital, médicos e auxiliares se desviaram grandemente das instruções do Senhor a respeito do vestuário. A simplicidade agora é rara. Em vez de um traje de bom gosto e sem adornos, que a pena da Inspiração tem prescrito, quase todo estilo de vestimenta da moda pode ser visto. Aqui, como em outras partes, as mesmas pessoas que se queixam do trabalho requerido para preparar o traje da reforma, agora têm ido a grandes extremos em adornos desnecessários. Tudo isso envolve tanto tempo e trabalho que muitas são obrigadas a contratar os que lhes fazem o trabalho, a um custo duas vezes maior do que se as vestes tivessem sido feitas com simplicidade, como seria adequado a mulheres que professam religiosidade. A confecção desses trajes da moda freqüentemente custa mais do que o próprio traje. E o dobro do valor do tecido é muitas vezes gasto para os adornos. Aqui o orgulho e a vaidade são exibidos, e uma grande falta de verdadeiro princípio é percebida. Se estivessem contentes com o vestuário simples e sem ostentação, muitas que agora dependem de seus ganhos semanais podiam tirar o máximo do próprio trabalho de costurar. Isso, porém, é agora impossível e a conta da costureira requer de seus baixos salários uma soma considerável. T4 639 2 Deus designou o traje da reforma como uma barreira para impedir que o coração de nossas irmãs se afastasse dEle por seguirem a moda do mundo. Aqueles que removeram essa barreira não tomaram sobre si a responsabilidade para impedir os perigos que devem seguir-se. Algumas pessoas em posições de responsabilidade têm exercido influência em favor de práticas mundanas, e estão totalmente em desacordo com o padrão bíblico. Elas tiveram parte em acarretar a presente condição de mundanismo e apostasia. T4 639 3 Deus tem provado o Seu povo. Ele permitiu que o testemunho concernente ao vestuário fosse silenciado para que nossas irmãs pudessem seguir a própria inclinação, e assim mostrar o verdadeiro orgulho existente em seu coração. Foi para impedir o presente estado de mundanismo que o traje da reforma foi recomendado. Muitas zombaram da idéia de que esse traje fosse necessário para salvaguardá-las de seguir as modas; mas o Senhor permitiu-lhes demonstrar que o orgulho fora acariciado em seu coração e que isso era exatamente o que fariam. É agora revelado que precisavam da restrição que o traje da reforma impunha. T4 640 1 Se todas as nossas irmãs adotassem um vestido simples e sem adornos, de comprimento modesto, a uniformidade assim estabelecida seria muito mais agradável a Deus e exerceria influência mais salutar sobre o mundo do que a diversidade apresentada quatro anos atrás. Sendo que nossas irmãs geralmente não aceitavam o traje da reforma como devia ser usado, outro estilo menos objetável é agora apresentado. Ele é desprovido de enfeites desnecessários e de sobre-saias com ilhoses, amarradas atrás. Consiste de uma túnica simples ou blusa de ajuste livre e saia, a última curta o suficiente para evitar a lama e sujeira das ruas. O tecido devia ser isento de xadrezes e estampas grandes, e de uma só cor. A mesma atenção devia ser dada à proteção dos membros como no vestido curto. T4 640 2 Aceitarão minhas irmãs esse estilo de vestuário e recusarão imitar as modas que são planejadas por Satanás, e que mudam constantemente? Ninguém pode dizer que moda extravagante surgirá a seguir. Os mundanos cuja única preocupação é "que havemos de comer e que havemos de vestir?" não devem ser o nosso critério. T4 640 3 Algumas têm dito: "Depois de eu usar esse vestido, farei o próximo mais simples." Se a conformidade com as modas do mundo é correta e agradável a Deus, que necessidade há de fazer então uma mudança? Contudo, se for errada, seria melhor continuar no erro por mais tempo do que fazer a mudança positivamente necessária? Exatamente agora eu lhes lembraria do zelo, fervor, habilidade e perseverança que manifestaram em preparar seu traje segundo a moda. Não seria digno de louvor manifestar pelo menos igual zelo e fazê-lo conforme o padrão bíblico? Tempo e recursos preciosos dados por Deus foram empregados para adaptar essas vestes à moda; e agora o que se dispõem a sacrificar para corrigir o mau exemplo que vêm dando a outros? T4 641 1 É uma vergonha para nossas irmãs, esquecerem tanto seu santo caráter e o dever que têm para com Deus, que imitem as modas do mundo. Não há desculpas para nós, senão na perversidade de nosso coração. Não ampliamos nossa influência com tal maneira de proceder. É tão incoerente com a fé que professamos, que nos torna ridículas aos olhos dos mundanos. T4 641 2 Muitas almas convencidas da verdade têm sido levadas a decidir-se contra ela por causa do orgulho e do amor ao mundo manifestado por nossas irmãs. A doutrina pregada parecia clara e harmônica e os ouvintes sentiam deverem levantar uma pesada cruz, com a aceitação da verdade. Quando essas pessoas viram nossas irmãs fazendo tanta ostentação no vestuário, disseram: "Esse povo veste-se mesmo como nós. Não podem realmente crer o que professam; afinal, devem estar enganados. Se na verdade pensassem que Cristo havia de vir em breve, e o caso de cada alma devia ser decidido para a vida eterna ou morte eterna, não podiam dedicar tempo e dinheiro para se vestirem de acordo com as modas existentes." Mal sabiam aquelas professas irmãs crentes o sermão que seu vestuário estava pregando! T4 641 3 Nossas palavras, ações e vestidos são diariamente pregadores vivos, juntando com Cristo, ou espalhando. Isto não é coisa insignificante para ser passada por alto com um gracejo. A questão do vestuário exige séria reflexão e muita oração. Muitos incrédulos sentiram que não estavam procedendo bem em se permitirem ser escravos da moda; mas quando vêem alguns que fazem elevada profissão de piedade vestindo-se da mesma maneira que os mundanos, fruindo a sociedade dos frívolos, entendem que não pode haver mal em tais coisas. T4 641 4 "Somos", disse o inspirado apóstolo, "feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." 1 Coríntios 4:9. Todo o Céu está notando a influência diária que os professos seguidores de Cristo exercem sobre o mundo. Minhas irmãs, seu vestuário está falando ou em favor de Cristo e da sagrada verdade, ou em favor do mundo. De qual deles? Lembrem-se de que havemos todos de responder a Deus pela influência que exercemos. T4 641 5 Não quereríamos, de maneira alguma, incentivar a negligência no vestuário. Que as roupas sejam adequadas e decentes. Ainda que seja apenas um tecido de pouco preço, deve estar limpo e bem assentado. Caso não haja babados, a dona de casa não somente poderá economizar alguma coisa fazendo-o ela própria, como também economizará lavando-o e passando-o ela mesma. Famílias há que tomam sobre si pesados fardos vestindo as crianças de acordo com a moda. Que perda de tempo! As pequenas haviam de parecer muito atrativas com um vestido livre de babados e adornos, mas limpinho e bem-arranjado. É tão fácil lavar e passar um vestido assim, que esse trabalho não parecerá uma carga. T4 642 1 Por que hão de nossas irmãs roubar a Deus do serviço que Lhe é devido, e a Seu tesouro do dinheiro que cumpria dar-Lhe à causa, para servir às modas deste século? Os primeiros e os melhores pensamentos são dados ao vestuário; desperdiça-se tempo e gasta-se dinheiro. Negligencia-se a cultura do espírito e do coração. O caráter é considerado de menos importância que o vestido. É de infinito valor o ornamento "de um espírito manso e quieto". 1 Pedro 3:4. A pior das loucuras é gastar em frívolos empreendimentos nossas oportunidades de adquirir esse precioso ornamento da alma. T4 642 2 Irmãs, podemos realizar uma nobre obra para Deus, se o quisermos. As mulheres não conhecem o poder que possuem. Deus não pretende que suas aptidões sejam todas absorvidas em indagar: Que comerei? que beberei? e com que me vestirei? Há para a mulher um mais elevado desígnio, mais grandioso destino. Ela deve cultivar e desenvolver as próprias faculdades, pois Deus as pode empregar na grande obra de salvar almas da ruína eterna. T4 642 3 No domingo, as igrejas populares parecem mais um teatro do que um lugar de adoração a Deus. Todo o estilo de veste da moda é ali exibido. Os pobres não têm coragem de entrar nessas casas de culto. Os seguintes comentários chegaram aos meus ouvidos quando assistia a uma dessas igrejas da moda: "Isso me permite uma tão ótima oportunidade para estudar as modas. Posso ver o efeito de diferentes estilos de vestuário; e, sabe de uma coisa? Obtenho grande benefício em meu negócio, observando o efeito dos vários vestidos sobre diferentes formas e diferentes compleições. Notou aquela grande cauda e aquele maravilhoso chapéu? Sei exatamente como foram feitos. Tenho estado tomando lições o dia todo, que depois colocarei em prática." T4 643 1 Nenhuma palavra foi dita de Cristo ou do sermão pregado. Como, pensei eu, pode Jesus considerar esse grupo, com sua ostentação de ornamentos e vestuário extravagante? Que desonra é revelada à casa de Deus! Estivesse Cristo na Terra, e visitasse tais igrejas, não expulsaria os profanadores da casa de Seu Pai? T4 643 2 Mas o mal maior é a influência que se exerce sobre as crianças e os jovens. Ao virem ao mundo, por assim dizer, já se acham sujeitos às exigências da moda. As criancinhas ouvem mais de vestuário do que da salvação. Vêem as mães mais diligentes em consultar os figurinos do que a Bíblia. Fazem-se mais visitas à loja e à modista do que à igreja. A exibição do vestuário se torna de mais importância do que o adorno do caráter. Há rigorosas repreensões por sujar os finos trajes, e o espírito se torna impertinente, irritável sob as contínuas restrições. T4 643 3 Um caráter deformado não preocupa tanto a mãe como um vestido sujo. A criança ouve mais acerca de roupas do que da virtude, pois a mãe se acha mais familiarizada com a moda do que com seu Salvador. O exemplo dela muitas vezes circunda os jovens com uma atmosfera envenenada. O vício, disfarçado sob as roupagens da moda, introduz-se entre os filhos. T4 643 4 O vestuário simples fará com que uma mulher sensata se apresente sob o melhor aspecto. Julgamos o caráter de uma pessoa pelo estilo do seu traje. O vestuário pomposo indica um espírito fraco e vaidoso. A mulher modesta e piedosa se trajará modestamente. Fino gosto e espírito culto se revelarão na escolha de traje simples e apropriado. T4 643 5 Existe um ornamento imperecível, o qual promoverá a felicidade das pessoas que convivem conosco, e manterá seu brilho no futuro. É o adorno de um espírito manso e humilde. Deus nos manda usar na alma o mais precioso vestido. A cada olhar ao espelho, devem os adoradores da moda lembrar-se da negligência da alma. Toda hora desperdiçada em frente ao espelho, deve reprová-los por deixarem ao abandono o intelecto. Então poderia haver uma reforma que elevasse e enobrecesse todos os objetivos e desígnios da vida. Em lugar de buscar ornamentos de ouro para o exterior, cumpria fazer-se diligente esforço para obter aquela sabedoria que é mais valiosa que o fino ouro, sim, mais preciosa que os rubis. T4 644 1 Os adoradores do altar da moda são dotados de pequena resistência de caráter e pouca energia física. Não vivem para qualquer objetivo elevado, e sua existência não preenche nenhuma finalidade digna. Encontramos em toda a parte mulheres cuja mente e coração se acham inteiramente absorvidos com o amor ao vestuário e à ostentação. A alma feminina torna-se atrofiada e amesquinhada, e seus pensamentos se centralizam no pobre e desprezível eu. Ao passar na rua uma jovem trajada na moda, observada por vários homens, um deles fez algumas perguntas a seu respeito. E a resposta foi: "Ela é um bonito adorno em casa de seu pai, mas não tem nenhuma utilidade." É deplorável que pessoas que professam ser discípulas de Cristo julguem coisa desejável imitar o vestuário e as maneiras desses ornamentos inúteis. T4 644 2 Pedro dá valiosas instruções quanto ao vestuário das mulheres cristãs: "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes; mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus." 1 Pedro 3:3-5. Tudo quanto insistentemente lhes recomendamos, é o cumprimento das determinações da Palavra de Deus. Somos nós leitores da Bíblia, e seguidores de seus ensinos? Obedeceremos a Deus, ou nos conformaremos com os costumes do mundo? Serviremos a Deus ou a Mamom? Podemos nós esperar fruir paz de espírito e a aprovação de Deus, ao passo que andamos diretamente em contradição aos ensinos de Sua Palavra? T4 645 1 O apóstolo Paulo exorta os cristãos a não se conformarem com o mundo, mas se transformarem pela renovação do entendimento "para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus". Romanos 12:2. Alguns que professam ser filhos de Deus, no entanto, não sentem escrúpulos de se adaptarem aos costumes do mundo no uso de ouro, pérolas e vestes dispendiosas. Os que são demasiado conscienciosos e não usam essas coisas são considerados como espíritos estreitos, supersticiosos, e mesmo fanáticos. É Deus, porém, que condescende em dar-nos essas instruções; elas são declarações da infinita Sabedoria; e os que as desconsideram o fazem com perigo e perda para si mesmos. Os que se apegam aos adornos proibidos na Palavra de Deus, nutrem orgulho e vaidade no coração. Desejam atrair a atenção. Seu vestuário diz: Olhem para mim; admirem-me. Assim cresce decididamente a vaidade inerente ao coração humano, devido à condescendência. Quando a mente está firme na idéia de apenas agradar a Deus, desaparecem todos os desnecessários embelezamentos pessoais. T4 645 2 O apóstolo coloca o adorno exterior em positivo contraste com um espírito manso e quieto, e dá então testemunho em favor do valor relativo deste -- "que é precioso diante de Deus". 1 Pedro 3:4. Há um claro contraste entre o amor aos adornos exteriores e a graça da mansidão, do espírito quieto. Unicamente quando buscamos em tudo conformar-nos à vontade de Deus, é que reinarão na alma essa paz e alegria. T4 645 3 O amor ao vestuário põe em perigo a moral e faz com que a mulher seja o contrário do que é uma senhora cristã, que se caracteriza pela modéstia e sobriedade. O vestuário extravagante muitas vezes incute concupiscência no coração da que o usa, despertando baixas paixões no que o contempla. Deus vê que a ruína do caráter é freqüentemente precedida pela condescendência com o orgulho e a vaidade no vestir, que os caros enfeites sufocam o desejo de fazer o bem. T4 645 4 Quanto mais as pessoas gastam em roupas, menos podem ter para alimentar os famintos e vestir os nus; e os fluxos de beneficência que deviam estar constantemente jorrando se tornam secos. Cada centavo poupado mediante o negar-se o uso inútil de ornamentos pode ser dado aos necessitados ou posto no tesouro do Senhor para sustentar o evangelho, enviar missionários aos países estrangeiros ou multiplicar publicações que levem raios de luz às almas que estão nas trevas do erro. Cada centavo usado desnecessariamente priva o seu possuidor de uma preciosa oportunidade de fazer o bem. T4 646 1 Minha irmã, quanto tempo você tem gasto em adornos desnecessários -- tempo pelo qual deve prestar contas a Deus? Quanto dinheiro gastou para agradar a sua fantasia, e obter admiração de corações tão vãos quanto o seu? Era dinheiro de Deus. Quanto maior bem poderia ter feito com ele! E que perda você sofreu nesta vida e na futura vida imortal, por não fazer isso! Toda alma será julgada de acordo com as obras feitas no corpo. Deus lê os propósitos e motivos. Todo trabalho e toda coisa secreta está aberta aos Seus olhos que tudo vêem. Nenhum pensamento, palavra ou ação escapam de Sua observação. Ele sabe se nós O amamos e O glorificamos ou agradamos e exaltamos a nós mesmos. Ele sabe se colocamos nossas afeições nas coisas de cima, onde Cristo Se assenta à direita de Deus, ou nas coisas terrenas, sensuais e diabólicas. T4 646 2 Ao você colocar uma peça de vestuário inútil ou extravagante, está retendo o que pertence aos desnudos. Ao pôr em sua mesa uma variedade desnecessária de alimentos caros, está negligenciando alimentar os famintos. Como se acha o seu registro, professa cristã? Não gaste, peço-lhe, com condescendências tolas e prejudiciais aquilo que Deus requer em Sua tesouraria, e a parte que deve ser dada aos pobres. Que não nos vistamos com roupas dispendiosas, mas, como mulheres que professam piedade, com boas obras. Não permitamos que o clamor da viúva e do órfão cheguem até o Céu contra nós. Não permitamos que o sangue das almas seja encontrado em nossas vestes. Que o precioso tempo de graça não seja esbanjado em nutrir orgulho no coração. Não há nenhum pobre para ser visitado? Olhos cegos aos quais possa ler a Palavra de Deus? Alguma pessoa desapontada e desanimada que necessite de suas palavras de conforto e de suas orações? T4 646 3 Na medida em que Deus a fez prosperar, a condescendência do orgulho e vaidade não têm estado continuamente crescendo? Enquanto está dedicando precioso tempo ao estudo do vestuário, o adorno interior é negligenciado; não há crescimento na graça. Em vez de tornar a mente mais voltada ao Céu, está se tornando cada vez mais voltada às coisas terrenas. A insensata e prejudicial concupiscência e os apetites vorazes anuviam sua percepção das coisas sagradas. Por que todos que professam amar a Jesus não fogem dessas condescendências destruidoras da alma? O mundo está obcecado por exibição, moda e prazer. A licenciosidade está firme e terrivelmente aumentando. Por que os cristãos não serão leais a sua elevada profissão de fé? T4 647 1 Cristo Se envergonha de Seus professos seguidores. Em que apresentamos qualquer semelhança com Ele? Em que nossa maneira de vestir se harmoniza com as exigências bíblicas? Não quero que recaiam sobre mim os pecados do povo, e darei à trombeta um sonido certo. Tenho por anos dado um testemunho claro e decidido acerca desse assunto, seja pela imprensa, seja do púlpito. Não tenho me esquivado a declarar todo o conselho de Deus. Preciso estar limpa do sangue de todos. O mundanismo e o orgulho que dominam por toda a parte não servem de desculpa para um cristão fazer o que os outros fazem. Disse Deus: "Não seguirás a multidão para fazeres o mal." Êxodo 23:2. T4 647 2 Não brinquem, minhas irmãs, por mais tempo com sua própria alma e com Deus. Foi-me mostrado que a principal causa de sua apostasia é o amor que têm ao vestuário. Isto leva à negligência de sérias responsabilidades, e mal se acham possuidoras de uma centelha do amor de Deus no coração. Renunciem, sem demora, à causa de seu desvio, pois é pecado contra sua própria alma e contra Deus. Não se endureçam pelo engano do pecado. A moda está deteriorando o intelecto e carcomendo a espiritualidade de nosso povo. A obediência à moda está penetrando em nossas igrejas adventistas do sétimo dia, e fazendo mais que qualquer outro poder para separar de Deus nosso povo. Foi-me mostrado que as regras de nossa igreja são muito deficientes. Todas as manifestações de orgulho no vestuário, proibidas na Palavra de Deus, devem ser motivo suficiente para disciplina na igreja. Caso haja continuação em face de advertências, apelos e ameaças, perseverando a pessoa em seguir sua vontade perversa, isto poderá ser considerado como prova de que o coração não foi absolutamente levado à semelhança com Cristo. O eu, e unicamente o eu, é objeto de adoração, e um professo cristão assim induzirá muitos a se afastarem de Deus. T4 648 1 Há sobre nós, como um povo, um terrível pecado -- termos permitido que os membros de nossa igreja se vistam de maneira incoerente com sua fé. Precisamos erguer-nos imediatamente, e fechar a porta contra as seduções da moda. A menos que façamos isso, nossas igrejas se tornarão desmoralizadas. ------------------------Capítulo 63 -- A devida educação T4 648 2 A educação compreende mais que conhecimentos de livros. A devida educação inclui, não somente a disciplina mental, mas aquele cultivo que garante a sã moral e o correto comportamento. Temos receado muito que os que recebem os estudantes em suas casas não compreendam sua responsabilidade e deixem de exercer uma boa influência sobre esses jovens. Assim deixarão os estudantes de receber todos os benefícios que poderiam receber no colégio. Com freqüência faz-se a pergunta: "'Sou eu guardador do meu irmão?' Gênesis 4:9. Que cuidados, que fardo ou responsabilidade, devo sentir pelos estudantes que ocupam aposentos em minha casa?" Eu respondo: O mesmo interesse que têm por seus filhos. T4 648 3 Cristo diz: "[Amai-vos] uns aos outros, assim como Eu vos amei." João 15:12. A alma dos jovens que são colocados sob seu teto é tão preciosa aos olhos do Senhor como a alma de seus próprios queridos filhos. Quando rapazes e moças são separados das brandas e subjugantes influências do círculo do lar, é dever dos que os têm sob os seus cuidados criar para eles influências de família. Estariam assim suprindo uma grande falta e fazendo para Deus uma obra igual a do pastor em seu púlpito. Circundar esses estudantes com uma influência que os preservaria das tentações para a imoralidade, e conduzi-los a Jesus, é um trabalho que o Céu aprovaria. Graves responsabilidades recaem sobre os que residem nos grandes centros da obra, onde há importantes interesses a serem sustentados. Os que preferem residir em Battle Creek devem ser homens e mulheres de fé, de sabedoria e de oração. T4 649 1 Centenas de jovens de várias disposições e educação diversa se associam na escola, e requer grande cuidado e muita paciência equilibrar na devida direção espíritos torcidos por uma educação errônea. Alguns nunca foram disciplinados, outros sofreram demasiado as rédeas, sentindo, quando longe das mãos vigilantes que as dirigiam, talvez as apertando demais, que se achavam livres para fazer o que lhes aprouvesse. Desprezam até o próprio pensamento de restrição. Esses vários elementos postos ao lado uns dos outros em nosso colégio, inspiram cuidado, provocam preocupações e pesada responsabilidade, não só aos professores, mas à igreja inteira. T4 649 2 Os alunos de nosso colégio acham-se expostos a múltiplas tentações. Serão postos em contato com pessoas de quase todo tipo de espírito e moral. Os que possuem qualquer experiência religiosa são passíveis de censura se não tomam posição de resistência a toda má influência. Muitos, porém, preferem seguir a própria inclinação. Não consideram que precisam construir ou arruinar a própria felicidade. Está em suas mãos aproveitar por tal forma o tempo e as oportunidades, que desenvolvam caráter capaz de torná-los felizes e úteis. T4 649 3 Os jovens que residem em Battle Creek estão em constante perigo, porque não se unem com o Céu. Se fossem fiéis a sua profissão de fé, poderiam ser ativos missionários para Deus. Por revelar interesse, simpatia e amor cristãos, poderiam beneficiar muito os jovens que de outros lugares vêm para Battle Creek. Fervorosos esforços devem ser feitos para evitar que esses principiantes escolham companheiros superficiais, frívolos, amantes de prazeres. Essa classe exerce desmoralizante influência sobre o colégio, sobre o hospital e sobre o setor de publicações. Nossos números estão constantemente aumentando, e a vigilância e o zelo para conservar nossa posição estão diminuindo constantemente. Se quiserem abrir os olhos, todos poderão ver para onde as coisas se encaminham. T4 650 1 Muitos que se mudam para Battle Creek a fim de dar a seus filhos as vantagens do colégio, não sentem ao mesmo tempo suas próprias responsabilidades ao fazerem essa mudança. Não compreendem que algo mais do que o seu próprio interesse egoísta deve ser levado em conta; que eles podem vir a ser um estorvo em vez de uma bênção, a menos que venham com o pleno propósito de fazer o bem tanto quanto de obter o bem. Ninguém, entretanto, precisa perder sua espiritualidade ao vir para Battle Creek; se quisermos seguir a Cristo, não está no poder de ninguém desviar-nos do caminho aberto para que nele andem os remidos do Senhor. Ninguém é obrigado a copiar os erros de professos cristãos. Se ele vê os erros e faltas dos outros, será responsável diante de Deus e diante de seu próximo se não der melhor exemplo. Mas alguns fazem das faltas dos outros uma desculpa para os próprios defeitos de caráter, e até copiam os próprios traços objetáveis que condenam. Tais pessoas fortalecem aqueles de quem se queixam estarem seguindo uma conduta não cristã. De olhos abertos eles caem no laço do inimigo. Não são poucos os que em Battle Creek adotam este procedimento. Alguns têm ido a lugares onde estão localizadas nossas instituições, com o motivo egoísta de ganhar dinheiro. Isso não beneficia os jovens nem por preceito nem por exemplo. T4 650 2 São grandemente aumentados os perigos da juventude ao serem os jovens lançados na companhia de grande número dos de sua idade, diferentes em caráter e hábitos de vida. Sob tais circunstâncias, muitos pais se inclinam mais a afrouxar do que a redobrar seus esforços para proteger e controlar os filhos. Lançam assim tremenda carga sobre os que sentem a responsabilidade. Ao verem esses pais que os filhos estão ficando desmoralizados, dispõem-se a lançar a culpa sobre os que estão à testa da obra em Battle Creek, quando os males foram causados pela própria conduta dos pais. T4 650 3 Em vez de se unirem aos que assumem as responsabilidades, para erguer as normas morais e, trabalhando com a mente e o coração no temor de Deus, corrigirem o mal nos próprios filhos, muitos pais tranqüilizam a consciência dizendo: "Meus filhos não são piores do que outros." Procuram esconder os manifestos malfeitos que Deus aborrece, para que os filhos não se ofendam e tomem qualquer atitude desesperada. Se o espírito de rebelião lhes está no interior, muito melhor é dominá-lo agora, do que permitir que ele cresça e se fortaleça pela condescendência. Se os pais cumprissem seu dever, veríamos diferente estado de coisas. Muitos desses pais se desviaram de Deus. Não têm Sua sabedoria para perceber as artimanhas de Satanás e resisti-las. T4 651 1 Nesta fase do mundo, os filhos devem ser estritamente vigiados. Devem ser aconselhados e controlados. Eli foi amaldiçoado por Deus porque não restringiu a seus ímpios filhos pronta e decididamente. Há pais em Battle Creek que não estão fazendo melhor do que Eli. Temem controlar os filhos. Vêem-nos servindo a Satanás com arrogância, e passam-no por alto como uma desagradável necessidade que tem de ser suportada porque não pode ser remediada. T4 651 2 Todo filho e filha deve ser chamado a prestar contas quando se ausenta de casa à noite. Os pais devem saber em que companhia andam os filhos, e em que casa passam eles as primeiras horas da noite. Alguns filhos enganam os pais com mentiras, a fim de ocultar seu procedimento errado. Uns há que buscam a sociedade de companheiros corrompidos, visitando às ocultas bares e outros lugares proibidos de diversão na cidade. Há alunos que freqüentam as salas de bilhar, e metem-se em jogo de cartas, lisonjeando-se de que não há perigo. Uma vez que seu objetivo é meramente divertir-se, sentem-se em perfeita segurança. Não são apenas os de classe mais baixa que fazem isto. Alguns cuidadosamente criados e educados a olharem estas coisas com aversão, estão-se arriscando a penetrar em terreno proibido. T4 651 3 Os jovens devem ser regidos por princípios firmes, a fim de poderem desenvolver devidamente as faculdades com que Deus os dotou. Mas seguem tanto e tão cegamente aos impulsos, sem consideração para com o princípio, que se acham constantemente em perigo. Uma vez que lhes não é dado ter sempre a guia e proteção dos pais e tutores, precisam ser exercitados na dependência de si mesmos, e no domínio próprio. Devem ser ensinados a pensar e agir por consciencioso princípio. T4 652 1 Aqueles que se acham empenhados em estudo necessitam relaxar-se. A mente não deve estar constantemente entregue a meditação profunda, pois o delicado mecanismo mental se desgasta. O corpo bem como a mente devem fazer exercício. Há, porém, grande necessidade de temperança nos divertimentos, da mesma forma que em todas as outras atividades. E a natureza dessas diversões deve ser cuidadosa e inteiramente considerada. Cada jovem deve perguntar a si mesmo: "Que influência exercerão essas diversões sobre a saúde física, mental e moral? Deverá minha mente tornar-se tão obcecada que se esqueça de Deus? Deixaria eu de ter Sua glória diante de mim?" T4 652 2 Deve-se proibir o jogo de cartas. As companhias e tendências são perigosas. O príncipe dos poderes das trevas preside nos salões de diversões e onde quer que haja jogo de cartas. Os anjos maus são hóspedes familiares nesses lugares. Nada existe de benefício à alma ou ao corpo nesses divertimentos. Coisa alguma para fortalecer o intelecto, nada para provê-lo de idéias valiosas para uso futuro. A conversa gira em torno de assuntos triviais e degradantes. Ouve-se aí gracejo indecente, palavreado baixo e vil, que diminui e destrói a verdadeira dignidade varonil. Essas diversões são as mais néscias, inúteis, prejudiciais e perigosas atividades que os jovens podem praticar. Aqueles que se dão ao jogo de cartas se tornam grandemente agitados e logo perdem todo o gosto pelas ocupações úteis e elevadas. A perícia no manuseio das cartas conduzirá logo ao desejo de empregar esse conhecimento e tato em proveito próprio. É apostada uma pequena soma e, em seguida, uma maior, até que se adquire uma sede de jogar que leva a ruína certa. A quantos não têm essa diversão perniciosa levado a toda sorte de práticas pecaminosas, à miséria, à prisão, ao assassínio e à morte! E muitos pais ainda não vêem o terrível abismo de ruína que está aberto aos nossos jovens. T4 653 1 Entre as casas de diversões, a mais perigosa é o teatro. Em lugar de ser uma escola de moralidade e virtude, como costuma ser chamada, é ele justamente o viveiro da imoralidade. Hábitos viciosos e tendências pecaminosas são fortalecidos e confirmados por esses entretenimentos. As cantigas baixas, os gestos, expressões e atitudes indecentes corrompem a imaginação e rebaixam a moral. Todo jovem que assiste habitualmente a tais exibições será corrompido em princípio. Não existe em nosso país influência mais poderosa para corromper a imaginação, destruir as impressões religiosas e enfraquecer o gosto pelos prazeres tranqüilos e as sóbrias realidades da vida, do que as diversões teatrais. O gosto por estas cenas aumenta com cada transigência, assim como o desejo para com as bebidas intoxicantes se fortalece com seu uso. O único caminho seguro é evitar o teatro, o circo e todos os outros lugares de diversões duvidosos. T4 653 2 Há modalidades de recreação grandemente benéficas tanto para a mente como para o corpo. A mente esclarecida e perspicaz encontrará abundantes meios de entretenimentos e diversão nas fontes não só inocentes, mas instrutivas. A recreação ao ar livre e a contemplação das obras de Deus na natureza serão do mais elevado benefício. T4 653 3 O grande Deus, cuja glória brilha desde o Céu, e cuja divina mão sustenta milhões de mundos, é nosso Pai. Basta-nos somente amá-Lo, confiar nEle em fé e segurança como crianças, e Ele nos aceitará como Seus filhos e filhas, e seremos herdeiros de toda a inexprimível glória do mundo eterno. A todos os mansos Ele guiará em juízo, ensinar-lhes-á o Seu caminho. Se andarmos em obediência a Sua vontade, alegre e diligentemente aprendermos as lições de Sua providência, dentro em breve Ele dirá: Filho, entre para as mansões celestiais que lhe preparei. ------------------------Capítulo 64 -- Responsabilidade para com Deus T4 654 1 Somos responsáveis diante de Deus pelo sábio aproveitamento de toda faculdade mental e todo vigor físico. Quem pode medir a sua responsabilidade? Devemos prestar contas da influência que exercemos. Aquilo que nos parece um pequeno defeito em nosso caráter será reproduzido em outros em maior medida, e assim a influência que temos exercido para o mal será aumentada e perpetuada. T4 654 2 Que ninguém se aventure a falar levianamente das advertências dadas por aqueles cujo dever é zelar pelo seu bem-estar moral e espiritual. As palavras podem parecer de pouca importância, produzindo somente uma impressão momentânea sobre a mente dos ouvintes. Mas isso não é tudo. Em muitos casos essas palavras encontram resposta no coração não santificado dos jovens que nunca se submeteram à advertência ou restrição. A influência de uma palavra impensada pode afetar o destino eterno de uma alma. Toda pessoa está exercendo influência sobre a vida de outros. Devemos ser uma luz para iluminar e alegrar o caminho, ou uma tempestade desoladora para destruir. Estamos conduzindo os nossos companheiros rumo ao alto, à felicidade e vida imortal, ou para baixo, para o sofrimento e ruína eterna. Nenhum homem perecerá sozinho em sua iniqüidade. Embora nossa esfera de influência possa ser limitada, a influência é exercida para o bem ou para o mal. Um homem em seu leito de morte exclamou: "Reúnam minha influência e a sepultem comigo." Podia isso ser feito? Não, não; como a semente do espinheiro, ela havia sido levada para toda a parte e adquirido raiz, para produzir uma colheita abundante. T4 654 3 Há poucos que deliberadamente formam maus hábitos. Pela repetição freqüente de atos errados, hábitos são inconscientemente formados, e se tornam tão firmemente estabelecidos que o mais persistente esforço é requerido para efetuar uma mudança. Nunca devíamos ser vagarosos em quebrar um hábito pecaminoso. A menos que hábitos malignos sejam dominados, eles nos dominarão e destruirão nossa felicidade. Há muitas pobres criaturas, agora miseráveis, desapontadas e degradadas, uma maldição a todos ao seu redor, que poderiam ter sido seres humanos úteis e felizes, tivessem eles se aproveitado de suas oportunidades. Muitos jovens desperdiçam as preciosas horas da vida com fantasias inúteis. Tais pessoas não têm muita força de caráter nem de princípio. Muitos se deixam levar por toda mudança de circunstância. Estão sempre procurando outros em busca de simpatia, dependendo futilmente de outros para a felicidade. Todos os que assim procedem, naufragarão suas esperanças para esta vida e para a vida futura. T4 655 1 Os jovens que são colocados noutro convívio, podem fazer dele uma bênção ou maldição. Podem edificar, abençoar e fortalecer uns aos outros, melhorando em conduta, disposição e conhecimento; ou ao permitir se tornarem descuidosos e infiéis, poderão apenas exercer influência desmoralizadora. T4 655 2 Jesus será o ajudador de todos os que depositam a sua confiança nEle. Aqueles que estão ligados a Cristo têm felicidade à sua disposição. Seguem o caminho onde o seu Salvador conduz, por Sua causa crucificam o eu, com as afeições e concupiscências. Essas pessoas edificaram suas esperanças em Cristo, e as tempestades da Terra são impotentes para arrebatá-las do fundamento seguro. T4 655 3 Depende de vocês, moços e moças, se tornarem pessoas de confiança, integridade e verdadeira utilidade. Devem estar prontos e resolutos para assumirem posição pelo que é correto, sob todas as circunstâncias. Não podemos levar nossos hábitos errados conosco para o Céu e, a menos que os vençamos aqui, eles nos fecharão a habitação dos justos. Os hábitos maus, quando encontram oposição, oferecem a mais vigorosa resistência; mas se a luta é mantida com energia e perseverança, eles podem ser vencidos. T4 655 4 A fim de formar hábitos corretos, devemos buscar a companhia de pessoas de moral íntegra e influência religiosa. Devemos constantemente ter em mente que podemos estar nos qualificando para habitar as cortes celestiais. As preciosas horas de graça nos são concedidas para que possamos remover todo defeito de caráter; e devemos buscar fazê-lo, não só para que obtenhamos a vida futura, mas para que possamos ser de utilidade aqui. Moços e moças devem considerar um bom caráter como um capital de maior valor do que ouro, prata ou ações. Não serão afetados por pânico e fracassos, e produzirão ricos dividendos quando as posses terrenas forem arrebatadas. Os jovens precisam de uma visão mais elevada e nobre do valor do caráter cristão. O pecado cega os olhos e contamina o coração. A integridade, a firmeza e a perseverança são qualidades que todos devem zelosamente cultivar; pois elas revestem seu possuidor de um poder irresistível -- um poder que o torna forte para fazer o bem, forte para resistir ao mal, forte para suportar a adversidade. É aí que a verdadeira excelência de caráter resplandece com maior brilho. T4 656 1 A fortaleza de caráter consiste em duas coisas -- força de vontade e domínio de si mesmo. Muito jovem confunde paixão forte, desenfreada, com força de caráter; o fato, porém, é que aquele que é dominado pelas paixões é um homem fraco. A genuína grandeza e nobreza do homem medem-se pela força dos sentimentos que ele subjuga, não pela dos que o dominam. O homem mais forte é aquele que, embora sensível aos maus-tratos, ainda refreia a paixão e perdoa aos inimigos. Tais homens são verdadeiros heróis. T4 656 2 Muitos têm tão imperfeita idéia quanto ao que se podem tornar, que permanecerão sempre raquíticos e mesquinhos quando, se aproveitassem as faculdades que Deus lhes concedeu, poderiam desenvolver caráter nobre e exercer influência de molde a ganhar almas para Cristo. Conhecimento é poder; a capacidade intelectual, porém, sem bondade de coração, é uma força para o mal. T4 656 3 Deus nos deu as faculdades intelectuais e morais que possuímos; mas toda pessoa é, em grande medida, o arquiteto do próprio caráter. Dia a dia a estrutura aumenta. A Palavra de Deus adverte-nos a cuidar em como construímos, para ver que nosso edifício se ache fundado sobre a Rocha Eterna. Aproxima-se o tempo em que a obra que fazemos se revelará tal qual é. Agora é o tempo de todos cultivarem as faculdades que Deus lhes deu, a fim de formarem caráter que seja útil aqui, e tenham uma vida mais elevada no porvir. T4 657 1 Todo ato da vida, por mais insignificante, tem sua influência na formação do caráter. Um caráter bem formado é mais precioso que as posses mundanas; e moldá-lo é a obra mais nobre em que os homens possam se empenhar. T4 657 2 O caráter formado segundo as circunstâncias é mutável e discordante -- uma massa de contradições. Seus possuidores não têm nenhum objetivo elevado ou propósito na vida. Não exercem nenhuma influência enobrecedora no caráter dos outros. São destituídos de finalidade e de poder. T4 657 3 O pequeno prazo de vida que nos é designado aqui deve ser sabiamente aproveitado. Deus quer que Sua igreja seja viva, consagrada e ativa. Nosso povo, porém, como corporação, acha-se longe disso agora. Deus pede almas fortes, valorosas, cristãos vivos e laboriosos, que sigam o verdadeiro Modelo e exerçam decidida influência em favor de Deus e do que é correto. Qual sagrado depósito, concedeu-nos o Senhor as mais importantes e solenes verdades, e devemos mostrar a influência delas sobre nossa vida e caráter. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 5 T5 3 1 Breve Histórico do Volume Cinco T5 9 1 Capítulo 1 -- A Reunião Campal de Michigan T5 21 2 Capítulo 2 -- Nosso Colégio T5 36 3 Capítulo 3 -- Educação dos Pais T5 45 2 Capítulo 4 -- Importante Testemunho T5 62 2 Capítulo 5 -- Testemunhos Menosprezados T5 84 1 Capítulo 6 -- Obreiros em Nosso Colégio T5 94 2 Capítulo 7 -- Condenadas a Inveja e a Crítica T5 98 3 Capítulo 8 -- O dia do Senhor está Perto T5 105 3 Capítulo 9 -- Casamentos Imprudentes T5 114 1 Capítulo 10 -- Advertências e Reprovações T5 132 2 Capítulo 11 -- Cooperadores de Deus T5 137 4 Capítulo 12 -- Agentes de Satanás T5 148 2 Capítulo 13 -- Roubará o Homem a Deus T5 157 2 Capítulo 14 -- O Poder da Verdade T5 162 2 Capítulo 15 -- Nossas Reuniões Campais T5 167 3 Capítulo 16 -- Amor Fraternal T5 178 1 Capítulo 17 -- Diligência no Trabalho T5 182 1 Capítulo 18 -- Mudança Para Battle Creek T5 188 1 Capítulo 19 -- Mundanismo na Igreja T5 191 2 Capítulo 20 -- Consultaremos Médicos Espiritualistas T5 199 5 Capítulo 21 -- Olhando a Jesus T5 202 2 Capítulo 22 -- Chamado aos Obreiros T5 207 2 Capítulo 23 -- O Selo de Deus T5 217 1 Capítulo 24 -- Um Apelo T5 236 1 Capítulo 25 -- Unidade Cristã T5 249 1 Capítulo 26 -- A Obra do Pastor Evangelista T5 263 2 Capítulo 27 -- Crescimento Cristão T5 272 2 Capítulo 28 -- Fidelidade na Obra de Deus T5 285 2 Capítulo 29 -- A Influência da Incredulidade T5 289 1 Capítulo 30 -- O Engano do Pecado T5 298 1 Capítulo 31 -- Criticando os Pastores T5 302 1 Capítulo 32 -- Necessidade de Fidelidade e Perseverança T5 309 2 Capítulo 33 -- A Pecaminosidade da Murmuração T5 315 1 Capítulo 34 -- Louvai ao Senhor T5 319 1 Capítulo 35 -- Responsabilidade dos Pais T5 323 1 Capítulo 36 -- A Educação dos Filhos T5 331 2 Capítulo 37 -- Tolerância Cristã T5 336 2 Capítulo 38 -- Ambição Mundana T5 341 3 Capítulo 39 -- Amor fraternal T5 349 1 Capítulo 40 -- Remindo o Tempo T5 354 2 Capítulo 41 -- Fabricação de Vinho e Sidra T5 361 3 Capítulo 42 -- Casamento Com Infiéis T5 368 3 Capítulo 43 -- Manutenção de Missões Urbanas T5 385 1 Capítulo 44 -- O Verdadeiro Espírito Missionário T5 390 1 Capítulo 45 -- Jovens Como Missionários T5 396 1 Capítulo 46 -- Importância da Obra de Colportagem T5 407 2 Capítulo 47 -- A Obra de Publicações T5 422 2 Capítulo 48 -- Negócio e Religião T5 430 1 Capítulo 49 -- A Armadilha das Inclinações Mundanas T5 439 2 Capítulo 50 -- Responsabilidades do Médico T5 449 2 Capítulo 51 -- A Crise Vindoura T5 454 3 Capítulo 52 -- A Igreja a Luz do Mundo T5 467 2 Capítulo 53 -- Josué e o Anjo T5 477 1 Capítulo 54 -- Unidade e Amor na Igreja T5 491 1 Capítulo 55 -- O Comportamento na Casa de Deus T5 501 1 Capítulo 56 -- Religião e Educação Científica T5 505 1 Capítulo 57 -- A Educação de Nossos Filhos T5 508 1 Capítulo 58 -- Perigos Aos Homens T5 516 1 Capítulo 59 -- Leitura Adequada Para os Filhos T5 520 2 Capítulo 60 -- Conselhos Aos jovens T5 529 2 Capítulo 61 -- Mente Mundana T5 532 2 Capítulo 62 -- Religiosidade Prática T5 541 3 Capítulo 63 -- Culto Racional T5 542 2 Capítulo 64 -- Influências Mundanas T5 549 2 Capítulo 65 -- Necessidades de Nossas instituições T5 555 1 Capítulo 66 -- Nossas Instituições em Battle Creek T5 559 2 Capítulo 67 -- Reuniões Administrativas T5 568 1 Capítulo 68 -- Influência Cristã no Lar e na Igreja T5 571 3 Capítulo 69 -- Sonho Impressionante T5 573 2 Capítulo 70 -- Necessidade de Estudo Diário da Bíblia T5 580 1 Capítulo 71 -- Educação de Obreiros T5 586 2 Capítulo 72 -- Ambição Profana T5 591 1 Capítulo 73 -- A Aparência do Mal T5 603 2 Capítulo 74 -- Amor pelos que erram T5 613 3 Capítulo 75 -- Deveres da Igreja T5 621 2 Capítulo 76 -- Uma Carta T5 629 1 Capítulo 77 -- O Amor de Deus Pelos Pecadores T5 635 1 Capítulo 78 -- Confissão Aceitável T5 642 1 Capítulo 79 -- Ideias Erroneas Sobre Confissão T5 651 1 Capítulo 80 -- A Presença de Deus, Uma Realidade T5 654 2 Capítulo 81 -- Natureza e Influência dos Testemunhos T5 692 1 Capítulo 82 -- Boatos Infundados T5 696 2 Capítulo 83 -- Falso Milagre T5 698 2 Capítulo 84 -- Os Mistérios da Bíblia Prova de Sua Inspiração T5 711 3 Capítulo 85 -- O Conflito Futuro T5 718 1 Capítulo 86 -- O Periódico The American Sentinel e Sua Missão T5 721 1 Capítulo 87 -- Obreiros em Sua Causa T5 729 3 Capítulo 88 -- O inestimável Dom T5 737 1 Capítulo 89 -- O Caráter de Deus Revelado em Cristo T5 746 3 Capítulo 90 -- O Verbo Se Fez Carne T5 749 2 Capítulo 91 -- O Cuidado de Deus Por Sua Obra ------------------------Breve histórico do volume cinco T5 3 1 Pouco menos de uma década é coberta pelos Testemunhos n 31 a 33, os quais formam o volume 5. O primeiro foi publicado em 1882, mas inclui mensagens comunicadas a partir de 1881. O n 32 foi publicado em 1885 e o n 33 saiu em 1889. Nesse mesmo ano, os três foram unidos para constituir este volume 5. T5 3 2 Esse foi um período curiosamente interessante dentro do rápido desenvolvimento da obra dos adventistas do sétimo dia. Nos Estados Unidos, dois novos colégios começaram a funcionar em 1882, um em South Lancaster, Massachusetts, e o outro em Healdsburg, Califórnia. Portanto, partindo de nosso centro denominacional em Battle Creek, a obra educacional começou a avançar para pontos mais distantes. Dez anos antes, nossa primeira escola fora fundada em Battle Creek, e dois anos depois seus novos edifícios foram dedicados. Durante esses dez anos, muitos problemas surgiram relacionados com o pioneirismo desse novo e importante ramo da obra. Algumas vezes as questões eram amplas e em não poucas situações especial conselho chegou através do Espírito de Profecia para guiar e proteger essa obra. Tais mensagens, que têm a ver com temas que vão desde a disciplina até a formação de um currículo, constituem boa parte deste livro. T5 3 3 O período de nove anos coberto por este volume foi também um tempo em que Ellen White escreveu e publicou muito. Em 1882, os acordos foram feitos para reimprimir A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White e também o volume 1 de Spiritual Gifts. No mesmo ano, os dois livros foram fundidos em um só volume com o título Primeiros Escritos. Para atender à constante demanda pelos Testemunhos, os primeiros trinta foram reimpressos em 1885, formando quatro volumes -- que correspondem aos atuais primeiros quatro volumes dos Testemunhos Para a Igreja. Sketches From the Life of Paul, que pode ser considerado um antecessor de Atos dos Apóstolos, foi publicado em 1883. Em 1884, a senhora White completou seu trabalho relacionado com o volume 4 da série Spirit of Prophecy, que ficou conhecido como O Grande Conflito, o qual foi publicado imediatamente. Em pouco tempo, esse livro alcançou milhares de lares, através do canal da colportagem, tanto que foram realizadas dez edições no curto período de apenas três anos. Em 1888, O Grande Conflito foi ampliado para chegar ao livro que temos atualmente e, ao ser publicado, ocupou o espaço que antes era do volume mais condensado. T5 4 1 Na sede denominacional, em Battle Creek, houve um razoável progresso. Novos equipamentos foram comprados para a casa publicadora. O hospital e o colégio também prosperaram grandemente e passaram por ampliações. Tal desenvolvimento atraiu grande quantidade de adventistas para essa cidade. As complicações de juntar grande população adventista num mesmo lugar, com a inevitável tendência para um sentimento de menos responsabilidade e uma tentação para relaxar as normas, é a grande preocupação que transparece na parte inicial deste volume. Todo esse desenvolvimento institucional veio recheado com o perigo de a obra se tornar mecânica, perdendo a simplicidade que a caracterizava no início. Esses problemas ficam bem evidentes na casa publicadora. Os testemunhos deste volume enfatizam a economia, a produtividade, a vigilância quanto aos princípios, e apresentam importantes instruções para que gerentes e chefes desempenhem melhor suas responsabilidades. T5 4 2 Nessa mesma ocasião, enquanto os problemas característicos de uma obra estabelecida há mais tempo ocorriam na sede, no noroeste da Califórnia novos campos estavam sendo implantados, com boa aceitação da mensagem. Com a abertura da obra nessas regiões mais distantes, diversos novos problemas surgiram. A própria Ellen White realizou duas visitas à região, e em conexão com a última produziu muitos conselhos endereçados aos que trabalhavam naquele local -- conselhos que focalizam questões práticas e vitais para o bom funcionamento da obra e para os pastores que estavam trabalhando com aquela gente aventureira e independente que fora atraída para o oeste e se estabelecera naquelas vastas regiões recentemente ocupadas. Eram homens e mulheres de energia, audácia e individualidade forte; muitos possuíam profundas convicções e aceitaram o chamado da mensagem do advento. Esses vigorosos pioneiros necessitavam da influência forte e corretiva do Espírito de Deus para o desenvolvimento do caráter cristão. Essas pessoas careciam de advertências contra o amor ao dinheiro e as ambições mundanas. T5 5 1 Para o ministério foram enviados cuidadosos conselhos destacando o perigo de suas mensagens serem moldadas segundo as opiniões de resolutos membros da igreja. Alguns conselhos tinham em vista negligências em termos de construção de edifícios para igrejas, como chegou a ocorrer. Outras advertências aconteceram em função de desleixo no cumprimento de promessas de doação para a causa de Deus. Todos esses e outros conselhos relacionados com diversos problemas que tinham a ver com a obra nesses novos territórios ocupam um lugar proeminente neste volume. T5 5 2 Os olhos dos adventistas do sétimo dia foram se voltando mais e mais para o campo mundial. Fazia já uma década que estávamos tocando a obra na Europa. Em 1885, os Pastores S. N. Haskell e J. O. Carliss, em companhia de obreiros, foram enviados para a Austrália para iniciar a obra nesse continente. Fazia dois anos que havíamos iniciado o trabalho na África, através dos Pastores D. A. Robinson e C. L. Boyd, e a mensagem foi levada até Hong Kong nesse mesmo ano por um leigo, o irmão Abraham LaRue. Então, em 1889, os colportores iniciaram seu trabalho na América do Sul. Até a senhora White foi chamada para trabalhar no estrangeiro, indo para a Europa em 1885. Lá ela passou dois anos e meio viajando, aconselhando, pregando e escrevendo. Em Junho de 1887, em Moss, na Noruega, ela esteve na primeira reunião campal realizada fora dos Estados Unidos. Seu ministério no estrangeiro foi muito apreciado. T5 5 3 Aconteceu também, durante o tempo coberto por este volume 5, considerável oposição movida por parte de um pequeno grupo de insatisfeitos que anos antes deixara nossas fileiras. Seus ataques foram dirigidos basicamente contra o agente do dom profético e seus escritos que tiveram como objetivo erguer e fortalecer a igreja nesses anos. Também, durante a década deste volume, um de nossos principais evangelistas perdeu o seu rumo e acabou tentando destruir a obra que antes ele ajudara a estabelecer. Duas mensagens escritas por Ellen White para evitar que esse homem executasse aquilo que estivera planejando podem ser encontradas neste livro. Uma começa na página 571 e a outra na 621. A tentativa de salvá-lo não teve sucesso e ele se transformou num ácido crítico da senhora White e do dom profético. Embora esses ataques não tenham tido o efeito de deter a obra dos adventistas do sétimo dia, é evidente que foram reconhecidos como elementos que causaram algum distúrbio e, por isso, deveriam ser enfrentados. T5 6 1 Não é estranho, portanto, que diversos artigos relacionados com o dom profético tenham sido produzidos nesse período. Um deles forneceu a base para a introdução ao livro O Grande Conflito, edição de 1888. Os outros aparecem neste volume. Foi nessa ocasião também que Ellen White juntou material já publicado nos Testemunhos acerca da natureza e influência dos Testemunhos Para a Igreja e os compilou no texto de 38 páginas encontrado quase no final deste volume. T5 6 2 Na primavera de 1888, uma importante sessão da Associação Geral ocorreu em Minneapolis, estado de Minnesota. Nesse encontro, foi apresentado um conceito mais amplo e adequado das grandes verdades da justificação pela fé. A dificuldade manifestada por alguns para abrir o coração à luz ali derramada de forma tão brilhante impulsionou a senhora White a lançar um apelo em favor do diligente estudo da Bíblia e para derrubar as barreiras contra o avanço na percepção da verdade. Na sessão da Associação Geral do ano seguinte, 1889, obreiros e leigos mencionaram durante os encontros sociais que "o ano anterior tinha sido o melhor de sua vida; que a luz que os atingira vindo da Palavra de Deus tinha sido clara e distinta -- justificação pela fé, Cristo nossa justiça. ... O testemunho universal dos que falaram foi no sentido de que essa mensagem de luz e verdade que alcançou o nosso povo é exatamente a verdade para este tempo, e por onde estiveram, entre as igrejas, notaram luz, alívio e as bênçãos de Deus." Manuscrito 10, de 1889, citado em The Fruitage of Spiritual Gifts, pág. 234. A mensagem de Deus a Seu povo transformou em gloriosa vitória a maré que ameaçava vencê-los. T5 7 1 Quando o texto deste volume já estava quase terminado, a proposta de uma lei dominical nacional levantou uma nova crise nos Estados Unidos. Nesse contexto foram apresentadas à senhora White visões sobre o conflito iminente e as dificuldades que a igreja deve enfrentar quando o protestantismo se unir ao catolicismo para impor medidas opressivas. Foi retratada a patética letargia daqueles que deveriam estar acompanhando a situação e houve um apelo para que agissem. T5 7 2 O volume 5 contém uma maior diversidade de temas do que qualquer outro dos nove volumes dos Testemunhos. Este é último dos volumes da série Testemunhos que contém "testemunhos pessoais" endereçados a várias pessoas. Seguiu-se um período de onze anos até ser publicado o volume 6 dos Testemunhos. T5 7 3 Este volume é muito importante para a igreja hoje por causa da natureza prática de suas oportunas advertências e conselhos. Fundamentando tudo isso estão as solenes declarações que demonstram a proximidade do fim e a preparação necessária, à luz do iminente conflito. Os pastores são chamados a uma mais profunda consagração. Os executivos são advertidos. Médicos são aconselhados. Os professores são admoestados contra a adoção de princípios mundanos e encorajados a conduzir seus alunos para atividades missionárias. Os colportores-evangelistas são desafiados a elevar seu padrão de qualificação. Aos pais são oferecidas instruções relacionadas com a vida no lar e a educação dos filhos. Aqueles que se apresentam com uma nova luz, porém com mensagem contrária aos fundamentos da doutrina, são reprovados. E para os membros em geral há um apelo para reavivamento e reforma. T5 7 4 A instrução e as advertências presentes neste volume têm exercido uma influência soberana e estabilizadora sobre os adventistas do sétimo dia à medida que avançam em direção a maiores desafios. E seguramente vão continuar a exercer a mesma influência. Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White. ------------------------Capítulo 1 -- A reunião campal de Michigan T5 9 1 Boulter, Colorado, 25 de Setembro de 1881, Queridos Irmãos Reunidos para a Campal de Michigan: T5 9 2 Tenho muito mais interesse nesta reunião do que em qualquer outra realizada nesta temporada. Michigan não trabalhou como deveria. Deus implantou instituições importantes entre vocês e isso lhes impõe maiores responsabilidades do que em qualquer outra Associação do Campo. Grande luz lhes foi concedida e poucos atenderam a ela; todavia, meu coração extravasa de terno cuidado por nossos amados irmãos em Michigan. A advertência de que o Filho do homem logo virá nas nuvens do céu se tornou para muitos uma história sem importância. Eles abandonaram a atitude de espera e vigilância. O espírito egoísta e mundano, manifestado na vida, revela o sentimento do coração: "Meu Senhor demora-Se." Mateus 24:48. Alguns estão envolvidos em tão grande escuridão, que abertamente expressam sua incredulidade, apesar da declaração de nosso Salvador de que esses são servos infiéis e de que sua parte será com os hipócritas e incrédulos. T5 9 3 Nossos pastores não estão cumprindo integralmente seu dever. A atenção do povo deveria ser chamada para o glorioso evento que deve acontecer em breve. Os sinais dos tempos precisam permanecer claros em sua mente. As visões proféticas de Daniel e João predizem um período de escuridão e declínio moral, mas no tempo do fim -- o tempo no qual estamos vivendo agora -- elas falarão e não mentirão. Quando os sinais preditos começarem a acontecer, o expectante povo de Deus deve olhar para cima e erguer a cabeça, porque a sua redenção está próxima. T5 10 1 Como essas coisas parecem tardar a ocorrer, surgem "escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação." 2 Pedro 3:3, 4. Mas, "quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição". 1 Tessalonicenses 5:3. "Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão." 1 Tessalonicenses 5:4. Graças a Deus que nem todos serão embalados em berço de segurança carnal. Haverá fiéis que discernirão os sinais dos tempos. Enquanto um grande número que professa a verdade presente negará sua fé pelas obras que pratica, haverá aqueles que resistirão até o fim. T5 10 2 O mesmo espírito de egoísmo, de conformidade com as práticas do mundo, existe em nosso tempo assim como nos dias de Noé. Muitos que professam ser filhos de Deus seguem seu empenho mundano com uma intensidade que contradiz sua profissão de fé. Estarão plantando e edificando, comprando e vendendo, comendo e bebendo, casando e dando-se em casamento até o último momento de seu tempo de graça. Essa é a condição de um grande número de nosso próprio povo. Por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. De poucos poderá ser dito: "Vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas." 1 Tessalonicenses 5:5. T5 10 3 Meu coração fica oprimido quando vejo a grande falta de espiritualidade entre nós. As modas e os costumes do mundo, orgulho, amor às diversões, amor à ostentação, extravagância no vestuário, em casas, em terras -- essas coisas estão fraudando o tesouro de Deus, dedicando à satisfação do próprio eu os recursos que deveriam ser usados para transmitir ao mundo a luz da verdade. Os propósitos egoístas tornam-se a principal consideração. A obra de pessoas dignas que trabalham pela salvação de outras não é considerada de tão grande importância quanto os empreendimentos mundanos. Pessoas estão se perdendo por falta de conhecimento. Aqueles que possuem a luz da verdade presente e todavia não sentem desejo de trabalhar para advertir seus semelhantes acerca do julgamento vindouro devem dar contas a Deus por sua negligência do dever. O sangue dos que se perdem estará sobre suas vestes. T5 11 1 Os antigos baluartes estão desfalecendo e tombando. Nossos jovens não têm sido educados para sentir sua responsabilidade diante de Deus; pouco incentivo lhes é apresentado para trabalhar na causa, e eles procuram oportunidades que lhes propiciem grande remuneração, com o mínimo de trabalho e responsabilidade. Como um povo, não estamos avançando em espiritualidade à medida que o fim se aproxima. Não percebemos a magnitude e a importância da obra que está diante de nós. Conseqüentemente, nossos planos não são mais elevados e abrangentes. Há uma triste carência de homens e mulheres preparados para levar avante a obra para este tempo. T5 11 2 Não estamos fazendo a vigésima parte do que Deus requer de nós. Tem havido um afastamento da simplicidade da obra; tornaram-na complicada, difícil de compreender e de executar. A sabedoria e os pensamentos humanos, e não os de Deus, é que têm freqüentemente assumido o controle. Muitos acham que não têm tempo para cuidar da salvação das pessoas, ainda que tenham de prestar contas disso. Que desculpa apresentarão pela negligência dessa importante obra que lhes foi confiada? T5 11 3 Os jovens de nosso colégio deveriam ser educados para a obra de Deus da maneira mais cuidadosa e completa possível. Esse era o objetivo para o qual a instituição fora criada. Nossos irmãos de outros lugares deveriam sentir interesse não apenas em sustentar mas em defender nossa escola, para que ela não seja desviada de seu propósito original e modelada conforme instituições similares. O objetivo religioso deveria ser constantemente conservado em mente. O tempo avança para o final. A eternidade está às portas. A grande colheita deve ser realizada. Que estamos fazendo a fim de nos prepararmos para esse trabalho? T5 12 1 Os dirigentes de nosso colégio deveriam ser homens piedosos e consagrados. Deveriam fazer da Bíblia sua regra de fé e manual de vida, dando ouvidos à segura palavra da profecia, que é "como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso". 2 Pedro 1:19. Nenhum de nós deveria relaxar sua guarda nem por um momento; "por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis." Mateus 24:44. Somente aqueles que forem fiéis obterão a recompensa. A muitos que não têm parte com Cristo é permitido ter um lugar entre nós. Pastores, professores universitários e de níveis básicos ajudam Satanás a fincar sua bandeira em nosso território. T5 12 2 O objetivo de nosso colégio tem sido repetido inúmeras vezes, embora muitos estejam tão cegados pelo deus deste século que não conseguem compreender seu real propósito. Deus determinou que os jovens sejam aí conduzidos até Ele, que aí obtenham o preparo para pregar o evangelho de Cristo, para expor os infindáveis tesouros da Palavra de Deus, tanto o que é novo quanto o mais conhecido, para a instrução e edificação do povo. Professores de todos os níveis deveriam possuir um claro senso dos perigos deste tempo e da obra que tem de ser realizada para preparar um povo para estar em pé no dia de Deus. T5 12 3 Alguns professores têm espalhado, em vez de ajuntar com Cristo. Por seu próprio exemplo levam os que estão sob seus cuidados a adotar costumes e hábitos mundanos. Colocam os estudantes em relação com os descrentes amantes da moda e diversões, e os conduzem em direção ao mundo, afastando-os de Cristo. Fazem isso a despeito das advertências enviadas pelo Céu; desconsideram não somente aquelas dadas ao povo em geral, como também os apelos pessoais a eles feitos. A ira do Senhor é provocada por esse tipo de procedimento. T5 12 4 Deus testará a fidelidade de Seu povo. Muitos dos erros cometidos pelos professos servos de Deus são resultado de seu amor próprio, do desejo de aprovação e da sede por popularidade. Cegados por tudo isso, não compreendem que são agentes das trevas e não da luz. "Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei." 2 Coríntios 6:17. Estas são as condições sob as quais podemos ser reconhecidos como filhos de Deus: separação do mundo e abandono das coisas que enganam, seduzem e enredam. T5 13 1 O apóstolo Paulo declara que é impossível aos filhos de Deus unirem-se aos mundanos: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis." 2 Coríntios 6:14. Isso não se refere apenas ao casamento; qualquer estreita relação de confiança ou parceria com aqueles que não amam a Deus ou à verdade é uma cilada. T5 13 2 E ele continua: "Que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo." 2 Coríntios 6:14-16. Considerando esses fatos, exclama o apóstolo: "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. T5 13 3 Se atendermos às condições, o Senhor cumprirá Suas promessas a nosso respeito. Há, contudo, uma obra que de modo nenhum podemos negligenciar. Com o poder de Cristo, vamos conseguir executá-la perfeitamente. Podemos constantemente avançar para a frente e para o alto, crescendo na graça e no conhecimento da verdade. T5 13 4 Os filhos da luz e do dia não devem se deixar envolver pelas sombras da noite e das trevas que acompanham os obreiros da iniqüidade. Pelo contrário, têm de permanecer fielmente no posto do dever como portadores de luz, captando luz de Deus para lançá-la sobre os que se encontram em trevas. O Senhor requer que Seu povo mantenha sua integridade, não tocando -- isto é, não imitando -- as práticas dos ímpios. T5 14 1 Os cristãos serão neste mundo uma "nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus", proclamando as virtudes dAquele que os chamou "das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. Essa luz não deve ser obscurecida, mas tem de brilhar mais e mais até ser dia perfeito. Os que carregam a bandeira de Cristo nunca fogem ao dever. Eles têm um inimigo vigilante que está à espreita para tomar de assalto a fortaleza. Alguns dos professos atalaias de Cristo convidam o inimigo a penetrar nas fortificações e misturar-se com eles, e em seus esforços para satisfazer-se, acabam com a distinção entre os filhos de Deus e os de Satanás. T5 14 2 O Senhor nunca pretendeu que nosso colégio imitasse outras instituições de ensino. O elemento religioso deve ser a força que controla. Se os descrentes escolherem pôr-se ao alcance dessa influência, tudo bem; se aqueles que se acham em escuridão escolherem vir para a luz, será como Deus desejar. Mas afrouxar nossa vigilância e permitir que influências mundanas assumam o controle, a fim de atrair maior número de estudantes, é contrário à vontade de Deus. A força de nossa escola está em manter o elemento religioso em ascendência. Quando os professores sacrificam princípios religiosos para agradar aos mundanos amantes dos prazeres, devem ser considerados como infiéis e dispensados de suas funções. T5 14 3 A sensacional verdade que tem soado em nossos ouvidos por muitos anos: "O Senhor está às portas; estai vós também preparados", não é menos verdade hoje em dia do que quando ouvimos a mensagem pela primeira vez. Os mais caros interesses da igreja e do povo de Deus, e o destino de um mundo rebelde e ímpio, para o tempo e a eternidade, estão aí envolvidos. Estamos no limiar do Juízo. "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." 1 Tessalonicenses 4:16, 17. Cristo então Se revelará desde o céu, "tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo". 2 Tessalonicenses 1:8. T5 15 1 Esses eventos momentosos estão próximos, às portas; todavia, muitos que professam crer na verdade estão dormindo. Caso permaneçam na condição em que estão, eles certamente serão tidos como servos infiéis, os quais dizem em seu coração: "meu Senhor tarde virá". É tão-somente àqueles que O estão aguardando em esperança e fé que Cristo aparecerá, sem pecado, para a salvação. Muitos detém a teoria da verdade, mas negam a eficácia da piedade. Quando a Palavra de Deus habita o coração, ela também controla a vida. Fé, pureza e conformidade com a vontade de Deus testificarão de seu poder santificador. A responsabilidade dos pastores T5 15 2 Solene responsabilidade pesa sobre os pastores. Quão cuidadosos devem ser eles para compreender e explanar a Palavra de Deus. "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:3. Diz o profeta Ezequiel: "E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, fala aos filhos do teu povo e dize-lhes: Quando Eu fizer vir a espada sobre a terra e o povo da terra tomar um homem dos seus termos e o constituir por seu atalaia; e, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo; se aquele que ouvir o som da trombeta não se der por avisado, e vier a espada e o tomar, o seu sangue será sobre a sua cabeça. Ele ouviu o som da trombeta e não se deu por avisado; o seu sangue será sobre ele; mas o que se dá por avisado salvará a sua vida. Mas, se, quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vier e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, mas o seu sangue demandarei da mão do atalaia. A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:1-9. T5 16 1 A responsabilidade dos vigilantes [pastores] de hoje é muito maior do que nos dias do profeta, assim como nossa luz é muito mais intensa, radiante, e nossos privilégios e oportunidades maiores que os seus. É dever do pastor advertir e ensinar a todo homem, com mansidão e sabedoria. Não deve ele conformar-se às práticas do mundo, mas, como servo de Deus, precisa combater pela fé que uma vez foi entregue aos santos. Satanás está constantemente operando para derrubar as proteções que o impedem de ter livre acesso à mente das pessoas. Enquanto nossos pastores não forem espiritualmente mais vigilantes; enquanto não se unirem mais estreitamente a Deus, o inimigo tomará grande vantagem e o Senhor considerará os sentinelas responsáveis pelo sucesso satânico. T5 16 2 Eu gostaria de, neste momento, fazer soar a nota de advertência àqueles que se reúnem em nosso encontro campal. O fim de todas as coisas está próximo, às portas. Meus irmãos, pastores e povo, tem-me sido mostrado que vocês precisam trabalhar de modo diverso do que têm feito. Orgulho, inveja, presunção e não santificada independência têm arruinado seu trabalho. Quando os homens permitem ser lisonjeados e exaltados por Satanás, o Senhor pouco pode fazer por eles e através deles. A que imensurável humilhação o Filho do homem desceu para que pudesse erguer a humanidade! Não somente os pastores, mas todos os obreiros e povo de Deus necessitam da mansidão e humildade de Cristo, se desejarem beneficiar seus semelhantes. Como Deus, nosso Salvador humilhou-Se quando tomou sobre Si a natureza humana. Mas Ele baixou mais ainda. Como homem, "humilhou-Se a Si mesmo até a morte e morte de cruz". Filipenses 2:8. Como poderia eu encontrar palavras com as quais apresentar-lhes tais pensamentos? Ah, se o véu que tolda seus olhos pudesse ser retirado e meus irmãos pudessem ver a causa de sua fraqueza espiritual! Oxalá pudessem imaginar os ricos suprimentos de graça e poder que aguardam sua procura! Os que têm fome e sede de justiça serão satisfeitos. Precisamos exercitar maior fé reivindicando de Deus todas as bênçãos necessárias. Precisamos nos esforçar, angustiar-nos, para entrar pela porta estreita. T5 17 1 Cristo diz: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:28, 29. Asseguro-lhes, amados irmãos, pastores e povo, que vocês ainda não aprenderam essa lição. Cristo padeceu vergonha, agonia e morte por nós. "De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filipenses 2:5. Suportou desonra e insultos sem retaliação ou espírito revanchista. Jesus morreu não apenas para fazer expiação por nós, mas para ser nosso Modelo. Oh, que maravilhosa condescendência! Que amor infinito! Ao olhar para o Príncipe da Vida suspenso na cruz, como podem vocês nutrir o egoísmo? Como podem nutrir vingança e ódio? T5 17 2 Que o espírito soberbo se curve em humilhação. Que o duro coração seja quebrantado. Que não haja mais mimos, autocomiseração e exaltação do eu. Olhem, oh, olhem Àquele a quem nossos pecados pregaram na cruz! Vejam-nO descendo passo após passo a senda da humilhação para nos erguer, humilhando-Se até o ponto de não ter mais onde baixar. E tudo para salvar-nos; a nós a quem o pecado abateu. Seremos nós tão indiferentes, tão frios, tão formais, tão orgulhosos, tão auto-suficientes? T5 18 1 Quem entre nós segue fielmente o Modelo? Quem começou e continua na batalha contra o orgulho próprio? Quem tem, com determinação, lutado contra o egoísmo até expulsá-lo do coração e da vida? Queira Deus que as lições a nós dadas, enquanto contemplamos a cruz de Cristo e vemos os sinais que nos aproximam do Juízo Final se cumprindo, possam impressionar nosso coração e tornar-nos mais humildes, mais abnegados e bondosos uns para com os outros, menos ressentidos, menos críticos e mais dispostos a levar as cargas uns dos outros. T5 18 2 Foi-me mostrado que, como um povo, estamos nos afastando da simplicidade da fé e da pureza do evangelho. Muitos estão em grande perigo. A menos que mudem seu curso, serão cortados da Videira Verdadeira como ramos inúteis. Irmãos e irmãs, vi que estamos sob os umbrais do mundo eterno. Precisamos conquistar vitórias a cada passo agora. Toda boa obra é uma semente semeada a fim de dar frutos para a vida eterna. Cada sucesso obtido coloca-nos num degrau superior da escada do progresso e nos dá força espiritual para novas vitórias. Cada ação reta prepara o caminho para sua própria repetição. T5 18 3 Alguns estão limitando suas provações. Será que isso é bom para eles? Têm eles obtido o preparo para a vida futura? Não exibirão seus registros oportunidades desperdiçadas, privilégios negligenciados, uma vida de mundanismo e egolatria, que não produziu o mínimo fruto para a glória de Deus? Quanto da obra que o Mestre deixou para realizarmos tem sido deixado por fazer! Todos os que nos cercam devem ser advertidos, mas em geral o tempo tem sido ocupado para atender unicamente ao eu. Sobe até Deus o relatório sobre pessoas que descem à sepultura sem ser advertidas, e por isso perdidas para sempre. T5 18 4 O Senhor ainda tem misericordiosos propósitos a nosso respeito. Há ainda tempo para arrependimento. Podemos tornar-nos amados de Deus. Rogo àqueles que têm retardado o aparecimento de nosso Senhor que comecem a obra de remir o tempo. Estudem a Palavra Deus. Que todos os presentes a este encontro façam um concerto com Deus, pondo de lado a conversa banal e irrefletida, e a leitura frívola e sem propósito. E, no próximo ano, já estejam os irmãos capacitados a dar a quem quer que seja a razão da fé que aceitaram, com mansidão e temor. Não estão vocês, porventura, dispostos a humilhar o coração diante de Deus, arrependendo-se de sua apostasia? T5 19 1 Que ninguém entretenha o pensamento de que eu lastimo ou me retrate de qualquer claro testemunho dado a indivíduos ou povo. Se eu errei de alguma forma, foi em não repreender mais firme e decididamente o pecado. Alguns irmãos assumiram a responsabilidade de criticar meu trabalho e propor um meio mais fácil de corrigir os erros. Gostaria de dizer a essas pessoas que prefiro o caminho de Deus e não o delas. O que eu disse ou escrevi como testemunho ou reprovação não tem sido expresso corretamente. T5 19 2 Deus me deu uma obra da qual devo prestar contas no Juízo. Aqueles que têm escolhido seu próprio caminho e se têm erguido contra os claros testemunhos a eles dados, procurando abalar a fé dos demais nessas mensagens, devem decidir a questão com Deus. Não amenizarei mensagem alguma para acompanhar suas idéias ou relevar seus defeitos de caráter. Reconheço que não tenho falado tão claramente quanto o caso requer. Os que querem, de algum modo, amenizar a força das agudas reprovações que Deus me deu para transmitir haverão de enfrentar sua obra no Juízo. T5 19 3 Há algumas semanas, estando face a face com a morte, tive um vislumbre da eternidade. Se o Senhor tiver interesse em erguer-me de meu presente estado de fraqueza, espero, na graça e força que vêm do alto, expor com fidelidade as palavras que Ele me dá a transmitir. Através de toda a minha vida, tem-me sido doloroso ferir os sentimentos de alguém ou perturbar sua tranqüilidade, enquanto profiro os testemunhos que Deus me passa. Isso é contrário à minha natureza. Custa-me grande dor e muitas noites insones. Àqueles que se sentem na responsabilidade de me censurar e, em seu finito julgamento, propor-me uma conduta que lhes pareça mais sábia, repito: não concordo com sua atitude. Deixem-me em paz em meu relacionamento com Deus e permitam que Ele me ensine. Receberei as palavras do Senhor e as comunicarei ao povo. Não espero que todos aceitem a reprovação e reformem sua vida, mas devo desempenhar meu dever fielmente. Andarei em humildade diante de Deus, fazendo meu trabalho para o tempo e a eternidade. T5 20 1 O Senhor não confiou a meus irmãos a obra que me deu para fazer. Alguns têm reclamado que minha maneira de dar reprovação em público leva outros a serem críticos, cortantes e severos. Se esses assumem a responsabilidade que Deus não depôs sobre eles; se desrespeitam as instruções que Ele seguidamente lhes deu através do humilde instrumento de Sua escolha, a fim de torná-los bondosos, pacientes e indulgentes, somente eles responderão pelos resultados. Com o coração carregado de tristeza, tenho desempenhado meu desagradável dever para com meus mais caros amigos, não ousando agradar a mim mesma por reter a reprovação, mesmo quando dirigida a meu marido. Não serei menos fiel em advertir a outros, quer ouçam ou não. Quando estou falando ao povo, digo muita coisa que de forma alguma premeditei. O Espírito do Senhor freqüentemente vem sobre mim. Parece-me que sou levada para fora de mim mesma e a vida e o caráter de diferentes pessoas me são claramente apresentados. Vejo seus erros e perigos que correm. Sinto-me então compelida a falar do que me tem sido mostrado. Não ouso resistir ao Espírito de Deus. T5 20 2 Sei que alguns se desgostam com meus testemunhos. Eles desagradam a seu altivo e não-consagrado coração. Sinto mui profundamente o dano que nosso povo sofre por causa de sua resistência em aceitar e obedecer à luz que Deus lhes tem dado. Meus irmãos mais jovens no ministério, rogo-lhes que reflitam mais sobre sua solene responsabilidade. Se consagrados a Deus, vocês podem exercer uma poderosa influência para o bem na igreja e no mundo. Mas falta-lhes sincera piedade e devoção. Deus os tem enviado para ser uma luz ao mundo mediante as boas obras e também por palavras e doutrina. Porém, muitos de vocês podem perfeitamente ser representados pelas virgens tolas, que não tinham óleo em suas lâmpadas. T5 21 1 Meus irmãos, ouçam a reprovação e o conselho da Testemunha Fiel e Verdadeira, e Deus agirá por vocês e em vocês. Seus inimigos podem ser fortes e determinados, mas Alguém mais poderoso do que eles será seu ajudador. Permitam que a luz brilhe e cumpra seu papel. O Senhor dos Exércitos está com vocês; o Deus de Jacó é o seu refúgio. ------------------------Capítulo 2 -- Nosso colégio T5 21 2 Há risco de nosso colégio ser desviado de seu desígnio original. O propósito de Deus foi dado a conhecer -- que nosso povo tenha a oportunidade de estudar as ciências, aprendendo ao mesmo tempo os reclamos de Sua Palavra. Devem fazer-se conferências sobre temas bíblicos; o estudo das Escrituras deve ter o primeiro lugar em nosso sistema de educação. T5 21 3 De grandes distâncias são enviados alunos a fim de estudarem no colégio de Battle Creek, com o exato objetivo de serem instruídos por meio das preleções sobre assuntos bíblicos. Mas, por um ou dois anos passados, tem havido certo esforço para moldar nossa escola de acordo com outros colégios. Assim sendo, não nos é possível incentivar os pais a enviar seus filhos ao Colégio de Battle Creek. A influência moral e religiosa não deve ser deixada para trás. Em tempos passados, Deus atuou por meio dos esforços dos professores e muitas pessoas viram a verdade e a abraçaram, voltando para casa a fim de viver daí em diante para Deus; e isso em virtude de sua estada no colégio. Vendo que o estudo da Bíblia era uma parte de sua educação, foram levados a considerá-la como um assunto de grande interesse e importância. T5 22 1 Pouca atenção tem sido dispensada à educação de jovens para o ministério. Esse era o principal objetivo no estabelecimento do colégio. De maneira alguma deve isto ser passado por alto ou considerado como assunto secundário. Por vários anos, entretanto, poucos têm saído dessa instituição preparados para ensinar a verdade a outros. Alguns que ali chegaram à custa de grandes gastos, tendo em vista o ministério, têm sido animados pelos professores a tomar um curso completo de estudos, ocupando vários anos, e para obter meios a fim de levar a cabo esse plano, entraram no ramo da colportagem, abandonando a idéia de pregar. Isso está completamente errado. Não dispomos de muitos anos para trabalhar, e os mestres e o diretor deviam achar-se possuídos pelo Espírito de Deus, e agir em harmonia com Sua vontade revelada, em lugar de executar seus próprios planos. Estamos perdendo muito, todos os anos, por não darmos atenção ao que Deus tem dito a esse respeito. T5 22 2 Nosso colégio é designado por Deus para satisfazer às necessidades deste tempo de perigo e desmoralização. O estudo de livros apenas não pode proporcionar aos estudantes a disciplina de que necessitam. É preciso estabelecer uma base mais ampla. O colégio não foi fundado para receber o cunho da mente de homem algum. Os mestres e o diretor devem trabalhar em comum acordo, como irmãos. Espera-se que se consultem mutuamente, bem como busquem o conselho de pastores e homens de responsabilidade, e, acima de tudo, a sabedoria do alto, a fim de que todas as decisões quanto à escola sejam de molde a receber a aprovação de Deus. T5 22 3 Não é o propósito da instituição dar aos estudantes o mero conhecimento de livros. Essa espécie de educação pode ser obtida em qualquer colégio da região. Foi-me mostrado que é alvo de Satanás impedir que se alcance o verdadeiro objetivo para o qual o colégio foi estabelecido. Embaraçados por seus enganos, raciocinam os dirigentes segundo o costume do mundo e copiam os seus planos e imitam suas maneiras. Mas, em assim fazendo, não estarão à altura da mente do Espírito de Deus. T5 23 1 Necessita-se de mais ampla educação -- uma educação que exija de professores e do diretor consideração e esforço que a mera instrução nas ciências não requer. O caráter precisa receber a devida disciplina para atingir seu desenvolvimento máximo e mais nobre. Os alunos devem receber no colégio preparo capaz de habilitá-los a manter posição respeitável, honesta e virtuosa na sociedade, em oposição às desmoralizadoras influências que estão corrompendo a juventude. T5 23 2 Bom seria que se pudesse ter junto ao nosso colégio terra para cultivo, bem como oficinas sob a direção de homens competentes para instruir os alunos nas várias modalidades do trabalho manual. Muito se perde pela negligência de unir o esforço físico ao mental. As horas vagas dos alunos são muitas vezes ocupadas com divertimentos frívolos, que enfraquecem as faculdades físicas, mentais e morais. Sob a aviltante força da condescendência com o sensual, ou a precoce preocupação com namoro e casamento, muitos alunos deixam de atingir o nível de desenvolvimento mental que de outro modo alcançariam. T5 23 3 Devem os jovens ser cada dia impressionados com o senso de sua obrigação para com Deus. Sua lei é de contínuo violada, até mesmo por filhos de pais religiosos. Alguns desses mesmos jovens freqüentam antros de dissipação, e em conseqüência são afetadas as faculdades da mente e o corpo. Tais pessoas influenciam outras a seguir sua perniciosa conduta. Assim, enquanto dirigentes e professores estão dando instruções sobre ciências, Satanás, com infernal astúcia, está exercendo toda energia para obter o controle da mente dos alunos e levá-los à ruína. T5 23 4 Falando de modo geral, os jovens não têm senão pouca força moral. Esse é o resultado da negligenciada educação na infância. O conhecimento do caráter de Deus e de nossas obrigações para com Ele não deve ser considerado como coisa de pouca importância. A religião da Bíblia é a única proteção para os jovens. Moralidade e religião devem receber especial atenção em nossas instituições educativas. A Bíblia como livro de texto T5 24 1 Nenhum outro estudo enobrecerá cada pensamento, sentimento e aspiração como o estudo das Escrituras. Esta Sagrada Palavra é a vontade de Deus a nós revelada. Nela podemos descobrir o que Deus espera dos seres formados à Sua imagem. Nela podemos aprender como aperfeiçoar a vida presente e como assegurar a vida futura. Nenhum outro livro pode satisfazer as indagações da mente e os anseios do coração. Ao obter o conhecimento da Palavra de Deus e dar-lhe ouvidos, podem os homens erguer-se das maiores profundezas da ignorância e degradação para se tornarem filhos de Deus, companheiros de anjos sem pecado. T5 24 2 O claro conceito do que Deus é, e do que Ele requer que sejamos, nos dará outra visão do ser humano. Aquele que estuda corretamente a Palavra Sagrada aprenderá que o intelecto humano não é onipotente; que, sem o auxílio que ninguém senão Deus pode dar, a força e a sabedoria humanas não passam de fraqueza e ignorância. T5 24 3 Como poderoso meio de educação, a Bíblia não tem rival. Coisa alguma comunicará tanto vigor a todas as faculdades como quererem os estudantes compreender as maravilhosas verdades da revelação. A mente se adapta, de maneira gradual, aos assuntos sobre os quais se lhe permite demorar. Se só se ocupa com assuntos comuns, com exclusão de temas grandes e altíssimos, tornar-se-á mesquinha e enfraquecida. Se nunca for solicitada a lidar com problemas difíceis ou obrigada a compreender verdades importantes, depois de algum tempo, ela quase perderá o poder de crescimento. T5 25 1 A Bíblia é a mais vasta e mais instrutiva história que os homens possuem. Ela veio pura da fonte da verdade eterna, e uma divina mão preservou sua pureza através dos séculos. Seus brilhantes raios penetram o mais distante passado, onde a pesquisa humana tenta em vão chegar. Só na Palavra de Deus encontramos um relato autêntico da criação. Nela contemplamos o poder que lançou os fundamentos da Terra e estendeu os céus. Somente aí podemos encontrar a história de nossa raça, não contaminada pelo preconceito ou o orgulho humano. T5 25 2 Na Palavra de Deus a mente encontra assunto para a mais profunda reflexão, a mais sublime aspiração. Por meio dela podemos manter comunhão com patriarcas e profetas, e ouvir a voz do Eterno falando com as pessoas. Ali contemplamos a majestade do Céu ao humilhar-Se para Se tornar nosso substituto e penhor, para sozinho enfrentar os poderes das trevas e alcançar a vitória em nosso favor. Uma reverente contemplação de temas como esses não pode deixar de sublimar, purificar e enobrecer o coração e, ao mesmo tempo, inspirar a mente com renovada força e vigor. T5 25 3 Se a moralidade e a religião devem existir em uma escola, isso tem de ser estabelecido por meio do conhecimento da Palavra de Deus. Talvez alguns argumentem que, se o ensino religioso for tornado preeminente, nossa escola ficará impopular; que os que não pertencem à nossa fé não apoiarão o colégio. Muito bem, nesse caso, vão eles para outros lugares onde encontrem um sistema de educação conforme desejam. Nossa escola foi estabelecida não meramente para ensinar as ciências, mas com o objetivo de ministrar instrução nos grandes princípios da Palavra de Deus e nos práticos deveres da vida diária. T5 25 4 Essa é a educação de que tanto se necessita nos tempos atuais. Se uma influência mundana tiver que dominar nossa escola, seja ela então vendida aos mundanos, e assumam eles o total controle; e os que investiram seus recursos nessa instituição estabelecerão outra escola para ser dirigida, não de acordo com o plano das escolas populares, nem segundo a vontade de diretores e mestres, mas de acordo com o plano especificado por Deus. T5 26 1 Em nome de meu Mestre, rogo a todos quantos se acham em posição de responsabilidade naquela escola que sejam homens de Deus. Quando o Senhor nos exige ser distintos e peculiares, como podemos nós cobiçar popularidade, ou buscar imitar os costumes e práticas do mundo? Deus declarou ser desígnio Seu possuir na região um colégio em que a Bíblia tenha seu devido lugar na educação da juventude. Faremos nossa parte por cumprir esse desígnio? T5 26 2 Pode parecer que os ensinos da Palavra de Deus não tenham senão pouco efeito sobre a mente e o coração de muitos estudantes; mas, se a tarefa do professor tiver sido desempenhada em Deus, algumas lições da verdade divina subsistirão na memória até do mais descuidado. O Espírito Santo regará a semente semeada, e ela muitas vezes brotará depois de vários dias, e dará fruto para a glória de Deus. T5 26 3 Satanás está de contínuo procurando desviar da Bíblia a atenção do povo. As palavras de Deus aos homens, as quais deviam receber nossa primeira atenção, ficam negligenciadas pelas sentenças da sabedoria humana. Como pode Aquele que é infinito em poder e sabedoria tolerar assim a presunção e a afronta de homens! T5 26 4 Por intermédio da imprensa, conhecimentos de todo tipo são colocados ao alcance de todas as pessoas; e todavia quão grande é, na comunidade em geral, a depravação moral e quão superficiais as consecuções mentais! Se tão-somente os homens se tornassem leitores da Bíblia, estudantes da Bíblia, muito diferente seria o estado de coisas que haveríamos de ver. T5 26 5 Em uma época como a nossa, cheia de iniqüidade, e em que o caráter de Deus e Sua lei são igualmente olhados com desdém, especial deve ser o cuidado tomado em ensinar a juventude a estudar, reverenciar e obedecer à vontade divina revelada. O temor do Senhor está-se extinguindo do espírito de nossos jovens, devido à sua negligência de estudar a Bíblia. T5 27 1 O diretor e os professores devem manter viva comunhão com Deus, colocando-se firme e destemidamente como Suas testemunhas. Jamais, por covardia ou política mundana, seja permitido que a Palavra de Deus fique para trás. Os alunos crescerão intelectual, moral e espiritualmente com o seu estudo. Objetivo do colégio T5 27 2 Nosso colégio está hoje numa posição que Deus não aprova. Têm-me sido mostrados os perigos que ameaçam essa importante instituição. Se seus responsáveis procurarem alcançar as normas do mundo, se copiarem os planos e métodos de outros colégios, o desagrado de Deus recairá sobre nossa escola. T5 27 3 Chegou o tempo de eu falar decididamente. O propósito de Deus no estabelecimento de nosso colégio foi exposto de modo claro. Há urgente demanda de obreiros na pregação do evangelho. Jovens que desejam entrar no ministério não podem gastar numerosos anos para obter educação. Os professores deviam ter sido capazes de compreender a situação e adaptar sua instrução às necessidades desta classe. Vantagens especiais deviam ter-lhes sido concedidas de um breve, embora completo, estudo dos ramos mais importantes que os capacitasse para o seu trabalho. Mas foi-me mostrado que isso não tem sido feito. T5 27 4 O irmão _____ poderia ter feito muito melhor trabalho do que realizou pelos que estavam se preparando para ser obreiros. Deus não Se tem agradado de sua conduta nessa questão. Ele não se tem adaptado à situação. Homens que deixaram o seu campo de trabalho, com considerável sacrifício, a fim de aprender o que lhes fosse possível em pouco tempo, nem sempre têm recebido aquele auxílio e encorajamento que deveriam receber. Homens que chegaram à idade madura, e que possuem sua própria família, têm sido submetidos a desnecessárias complicações. O irmão _____ é pessoalmente muito sensível, mas ele não percebe que outros podem sentir o peso do ridículo, do sarcasmo e da censura tanto quanto ele. Nisso ele tem ferido seus irmãos e desagradado a Deus. A responsabilidade do professor T5 28 1 Há uma obra a fazer por parte de cada professor em nosso colégio. Não há nenhum isento de egoísmo. Caso o caráter moral e religioso dos mestres fosse o que deveria ser, melhor seria a influência exercida sobre os alunos. Os professores não buscam individualmente cumprir seu dever, tendo em vista meramente a glória de Deus. Em lugar de olhar a Jesus e Lhe imitarem a vida e o caráter, olham ao próprio eu, visando demasiado a atingir uma norma humana. Desejaria que me fosse permitido impressionar cada professor com um avançado senso de sua responsabilidade quanto à influência que ele exerce sobre os jovens. Satanás é incansável em seus esforços para conseguir a aceitação de nossa juventude. Com grande cuidado está ele armando laços aos pés inexperientes. O povo de Deus deve zelosamente guardar-se de seus ardis. T5 28 2 Deus é a personificação da benevolência, misericórdia e amor. Os que se acham verdadeiramente ligados a Ele não podem estar em divergência uns com os outros. Seu Espírito, reinando no coração, criará harmonia, amor e união. O contrário disso se vê entre os filhos de Satanás. É sua obra provocar inveja, discórdia e ciúme. Em nome de meu Senhor, eu pergunto aos professos seguidores de Cristo: Que frutos estão vocês produzindo? T5 28 3 No sistema de instrução usado nas escolas seculares, é negligenciada a parte mais importante da educação -- a religião da Bíblia. A educação não afeta somente em alto grau a vida do aluno aqui na Terra, mas sua influência se estende para a eternidade. Quão importante, pois, é que os professores sejam pessoas capazes de exercer correta influência! Devem ser homens e mulheres de experiência religiosa, que recebem diariamente luz divina a fim de a comunicar aos alunos. T5 28 4 Não se espera, no entanto, que os professores façam a obra dos pais. Tem havido, da parte de muitos pais, terrível negligência do dever. Como Eli, falham quanto a exercer a devida restrição; depois, mandam os indisciplinados filhos para o colégio a fim de receber a educação que deviam ter-lhes ministrado em casa. Os mestres têm uma tarefa que poucos apreciam. Caso sejam bem-sucedidos em reformar esses extraviados jovens, pouco reconhecimento merecem. Se os jovens procuram a companhia dos que são inclinados para o pecado, e vão de mal a pior, então os professores são censurados e a escola é acusada. T5 29 1 Em muitos casos, a censura caberia justamente aos pais. Eles tiveram a primeira e mais favorável oportunidade de controlar e educar os filhos, quando o espírito dos mesmos era dócil, a mente e o coração facilmente impressionáveis. Devido à negligência dos pais, porém, as crianças têm permissão de seguir a própria vontade, até se endurecerem em má direção. T5 29 2 Estudem os pais menos do mundo e mais de Cristo; ponham menos esforço em imitar os costumes e modas do mundo, e consagrem mais tempo e esforço a moldar a mente e o caráter dos filhos em harmonia com o divino Modelo. Poderiam então enviar os filhos e filhas fortalecidos por uma moral pura e nobres ideais, a fim de se educarem para ocupar posições de utilidade e confiança. Professores que são controlados pelo amor e o temor de Deus poderiam levar esses jovens ainda mais adiante e mais acima, preparando-os para ser uma bênção ao mundo e uma honra a seu Criador. T5 29 3 Ligado a Deus, todo instrutor exercerá influência no sentido de induzir os discípulos a estudarem a Palavra de Deus e obedecer-Lhe à lei. Encaminhará a mente deles à consideração dos interesses eternos, abrindo-lhes vastos campos de ideais, grandes e enobrecedores temas, em cuja apreensão o mais vigoroso intelecto poderá exercer todas as suas energias e ainda sentir que existe um infinito além. T5 29 4 Os males da estima própria e de uma não santificada independência, que tanto prejudicam nossa utilidade e que acabarão se demonstrando nossa ruína se não forem vencidos, provêm do egoísmo. "Aconselhai-vos uns aos outros", é a mensagem que me foi dada repetidamente pelo anjo de Deus. Influindo no julgamento de um homem, Satanás pode empenhar-se em controlar os assuntos de acordo com seus planos. Pode ter êxito em desviar a mente de duas pessoas, mas, quando vários trocam idéias juntos, há mais segurança. Cada plano será estudado mais rigorosamente e cada movimento rumo ao progresso será considerado mais completamente. Então haverá menos perigo de precipitação de planos desavisados, que trariam confusão, perplexidade e derrota. Na união há força. Na divisão há fraqueza e derrota. T5 30 1 Deus está conduzindo um povo e preparando-o para a trasladação. Estamos nós, que desempenhamos uma parte nesta obra, portando-nos como sentinelas de Deus? Estamos buscando agir unidos? Estamos dispostos a tornar-nos servos de todos? Estamos seguindo nosso grande Exemplo? T5 30 2 Coobreiros, estamos todos lançando sementes no campo da vida. Conforme a semente, será a colheita. Se semearmos desconfiança, inveja, ciúmes, amor-próprio, pensamentos e sentimentos amargos, haveremos de ceifar amargura. Se manifestarmos bondade, amor, terna consideração para com os sentimentos de outros, o mesmo haveremos de colher. T5 30 3 O professor severo, crítico, despótico e desatencioso para com os sentimentos alheios deve esperar que o mesmo espírito se manifeste em relação a ele. Aquele que deseja conservar a própria dignidade e o respeito de si mesmo precisa ter cuidado em não ferir desnecessariamente o respeito próprio dos demais. Essa regra deve ser observada como sagrada quanto aos menos inteligentes, os mais jovens, os mais distraídos estudantes. Não se pode prever o que Deus pretende fazer com esses jovens aparentemente desinteressantes. Ele já tem recebido no passado pessoas que não eram as mais promissoras nem atraentes para realizar uma grande obra para Ele. Atuando Seu Espírito no coração, despertou toda faculdade para vigorosa ação. O Senhor viu naquelas pedras brutas, não lavradas, matéria preciosa, capaz de suportar a prova da tempestade, do calor e da pressão. Deus não vê como vê o homem. Não julga pela aparência, mas esquadrinha o coração e julga retamente. T5 31 1 O professor deve sempre conduzir-se como um cristão gentil. Deve manifestar em relação a seus alunos uma atitude de amigo e conselheiro. Se todo o nosso povo -- professores, pastores e membros em geral -- cultivasse o espírito da cortesia cristã, encontraria muito mais facilmente acesso ao coração do povo; muitos mais seriam levados a examinar e receber a verdade. Quando cada professor esquecer o próprio eu, experimentando profundo interesse no êxito e prosperidade dos alunos, compreendendo que são propriedade de Deus, e que ele tem de prestar contas de sua influência sobre a mente e o caráter desses alunos, então teremos uma escola na qual os anjos se deleitarão em demorar. Jesus contemplará e aprovará a obra dos professores e derramará Sua graça no coração dos estudantes. T5 31 2 Nosso colégio em Battle Creek é um lugar onde os membros mais jovens da família do Senhor devem ser preparados segundo o plano divino de crescimento e desenvolvimento. Devem ser impressionados com a idéia de que são criados à imagem de Deus e que Cristo é o Modelo ao qual devem seguir. Nossos irmãos têm permitido que sua mente se fixe em parâmetros demasiado estreitos e baixos. Não conservam sempre em vista o plano divino, mas têm os olhos fixados em modelos mundanos. Deveriam olhar para cima, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e então trabalhar para que seus alunos sejam postos em conformidade com esse caráter perfeito. T5 31 3 Caso abaixem a norma a fim de conseguir popularidade e aumento de números, fazendo desse acréscimo objeto de regozijo, estarão demonstrando grande cegueira. Fossem os números indício de êxito, Satanás poderia reclamar a soberania; pois, neste mundo, os que o seguem constituem a grande maioria. É o grau de força moral de que o colégio se acha possuído a prova de sua prosperidade. A virtude, a inteligência e a piedade do povo que compõe nossa igreja, não seu número, deveriam ser causa de alegria e gratidão. T5 32 1 Sem a influência da graça divina, a educação não se demonstrará nenhum bem real; o aprendiz se tornará orgulhoso, vão, fanático. A educação recebida sob a enobrecedora e purificadora influência do grande Mestre, porém, elevará o homem na escala do valor moral para com Deus. Ela o habilitará a subjugar o orgulho e a paixão, e a andar humildemente diante de Deus, como quem dEle depende quanto a toda aptidão, toda oportunidade e todo privilégio. T5 32 2 Dirijo-me aos obreiros de nosso colégio: Vocês não devem apenas professar ser cristãos, mas exemplificar o caráter de Cristo. Que a sabedoria do alto permeie todo o seu ensino. Em um mundo de trevas morais e corrupção, patenteiem que o espírito que os impulsiona à ação vem do alto, não de baixo. Enquanto se apoiarem inteiramente na própria força e sabedoria, os melhores esforços que fizerem pouco realizarão. Se forem impulsionados pelo amor para com Deus, tendo como fundamento a Sua lei, farão obra mais permanente. Ao passo que a palha, a madeira e o mato serão consumidos, sua obra resistirá à prova. Vocês irão encontrar outra vez os jovens postos sob o seu cuidado em torno do grande trono branco. Se permitirem que suas maneiras incultas ou o descontrolado temperamento dominem a situação, deixando assim de influenciar esses jovens para seu eterno bem, vocês deverão naquele dia enfrentar as conseqüências de sua obra. Pelo conhecimento da lei divina e a obediência aos Seus preceitos, podem os homens tornar-se filhos de Deus. Pela violação dessa mesma lei, fazem-se servos de Satanás. Por um lado, podem eles erguer-se a qualquer altitude na excelência moral; podem, por outro lado, descer a qualquer profundidade na degradação e iniqüidade. Os obreiros de nosso colégio devem manifestar zelo e diligência proporcionais ao valor da recompensa em jogo -- a salvação de seus alunos, a aprovação de Deus, vida eterna e as alegrias dos remidos. T5 33 1 Como colaboradores de Cristo, tendo oportunidades tão favoráveis de comunicar o conhecimento de Deus, nossos professores devem trabalhar como inspirados do alto. O coração dos jovens não está endurecido, nem suas idéias e opiniões estereotipadas, como acontece com os mais idosos. Poderão ser conquistados para Cristo através de uma santa conduta, devoção e proceder semelhante a Cristo. Seria muito melhor sobrecarregá-los menos de estudos em outras matérias e dar-lhes mais tempo para as atividades religiosas. Tem-se cometido um grande erro nessa questão. T5 33 2 Foi perdido de vista o objetivo de Deus em trazer à existência o colégio. Pastores têm mostrado sua carência de sabedoria do alto a ponto de unir um elemento mundano com o colégio; uniram-se com os inimigos de Deus e da verdade para prover entretenimento aos estudantes. Ao encaminhar dessa forma os jovens, fazem uma obra para Satanás. Essa obra, com todos os seus resultados, eles terão de enfrentar de novo diante do tribunal de Deus. Os que seguem tal conduta mostram que não são dignos de confiança. Depois da má obra que têm feito, eles podem confessar o seu erro; mas será que conseguirão, com a mesma facilidade, reverter a influência que exerceram? Será proferido o "bem está" em relação aos que têm feito mau uso do que se lhes confiou? Esses homens infiéis não têm construído sobre a Rocha Eterna. Logo ficará claro que o seu fundamento é areia movediça. "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Qualquer, pois, que se faz amigo do mundo constitui-se em inimigo de Deus." Tiago 4:4. T5 33 3 Não é possível limitar a nossa influência. Um ato impensado pode resultar na ruína de muitas pessoas. O procedimento de cada obreiro em nosso colégio está causando impressões no espírito dos jovens, impressões que são levadas para fora, para se reproduzirem em outros. Deve ficar claro que o objetivo do professor é preparar cada jovem sob seu cuidado para se tornar uma bênção ao mundo. Esse objetivo não deveria jamais ser perdido de vista. Alguns professam estar trabalhando para Cristo, mas como que acidentalmente passam para o lado de Satanás e colaboram com ele. Poderá o Salvador declarar tais obreiros como bons e fiéis servos? Estão eles, como atalaias, dando à trombeta o sonido certo? T5 34 1 Cada um receberá no juízo segundo as obras praticadas nesta vida, sejam boas, sejam más. Recomenda-nos o Salvador: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Marcos 14:38. Se encontramos dificuldades e, no poder de Cristo, as vencemos; se nos defrontamos com inimigos e, no poder de Cristo, os colocamos em fuga; se aceitamos responsabilidades e, na força de Cristo, delas nos desempenhamos fielmente, então estamos adquirindo preciosa experiência. Aprendemos, como não poderíamos fazer de outro modo, que nosso Salvador é socorro bem presente em todo tempo de necessidade. T5 34 2 Em nosso colégio há grande obra a ser feita, a qual exige a cooperação de todo professor; e desagrada a Deus que uns desanimem os outros. Mas quase todos parecem esquecer que Satanás é acusador dos irmãos, e se unem com o inimigo nessa obra. Enquanto professos cristãos contendem, Satanás está preparando suas armadilhas para os pés inexperientes das crianças e dos jovens. Quem possui mais experiência religiosa tem o dever de proteger os jovens contra os seus ardis. Jamais deverão esquecer que eles próprios ficaram, uma vez, fascinados com os prazeres do pecado. Necessitamos da misericórdia e paciência de Deus a toda hora; por isso, é absolutamente impróprio impacientar-nos com os erros da inexperiente juventude. Enquanto Deus os suporta, ousaremos nós, que também somos pecadores, repeli-los? T5 34 3 É nosso dever considerar sempre os jovens como a aquisição do sangue de Cristo. Como tais, têm eles direito ao nosso amor, paciência, simpatia. Se queremos seguir a Jesus, não podemos restringir nosso interesse e afeições a nós mesmos e às pessoas de nossa própria família; não podemos dispensar tempo e atenção a assuntos temporais e esquecer os interesses eternos dos que nos rodeiam. Tem-se-me mostrado que é resultado de nosso próprio egoísmo o não haver uma centena de jovens empenhados em fervoroso trabalho de salvação do seu próximo onde agora só existe um. "Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (João 15:12), é o mandamento de Jesus. Imagine a abnegação de Cristo; a espécie de amor que Ele tem dispensado; procure então imitar o Modelo. T5 35 1 Nos moços e moças que têm atuado como professores em nosso colégio tem havido muita coisa que desagrada a Deus. Vocês têm estado tão absorvidos consigo mesmos, e de tal modo vazios de espiritualidade, que não puderam levar os jovens à santidade e ao Céu. Muitos têm retornado a seus lares mais endurecidos em sua impenitência em virtude da falta de amor de vocês por Deus e por Cristo. Andando sem o espírito de Jesus, vocês têm encorajado a falta de religiosidade, a leviandade e a ausência de bondade naqueles em quem têm tolerado esses males. Vocês não compreendem o resultado desse procedimento: perdem-se almas que poderiam ter sido salvas. T5 35 2 Muitos têm fortes sentimentos contra o irmão _____. Acusam-no de falta de bondade, dureza e severidade. Mas alguns dentre os que o condenam não são menos culpados. "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela." João 8:7. O irmão _____ nem sempre tem agido com sabedoria, e não tem sido fácil convencê-lo de que deixou de fazer o que melhor convinha. Ele não se tem mostrado disposto a receber conselho e a modificar o seu método de ensino e sua maneira de tratar os estudantes. Mas os que o condenam por seus defeitos poderiam por sua vez ser igualmente condenados. Cada pessoa tem defeitos peculiares de caráter. Alguém pode estar livre das fraquezas que vê em seu irmão, embora possa ter, ao mesmo tempo, faltas até mais graves à vista de Deus. T5 35 3 Esse cruel criticismo de uns em relação aos outros é inteiramente satânico. Foi-me mostrado que o irmão _____ merece consideração pelo bem que tem feito. Seja tratado com bondade. Ele tem realizado o trabalho que deveria ter sido dividido por três homens. Os que estão avidamente procurando suas faltas pensem no que eles têm feito, em comparação com ele. Ele trabalhou arduamente enquanto outros procuravam descanso e prazeres. Ele está exausto; Deus desejaria vê-lo aliviado de algumas de suas cargas extras por algum tempo. São tantas as coisas com que tem de dividir o seu tempo e atenção que não pode fazer justiça a ninguém. T5 36 1 Não deve o irmão _____ permitir que seu combativo espírito se exalte e o conduza à justificação própria. Ele tem dado ocasião a insatisfações. O Senhor tem-lhe apresentado isso em testemunho. T5 36 2 Os estudantes não devem ser encorajados a desenvolver o hábito de procurar faltas. Esse espírito de queixa aumentará, se encorajado, e os estudantes sentir-se-ão em liberdade de criticar os professores que não apreciam, e o espírito de insatisfação e discórdia aumentará rapidamente. Tal coisa deve ser reprimida até que seja extinta. Não será esse mal corrigido? Não abandonarão os professores o seu desejo de supremacia? Não trabalharão em humildade, amor e harmonia? O tempo dirá. ------------------------Capítulo 3 -- Educação dos pais T5 36 3 Foi-me mostrado que muitos pais que professam crer na solene mensagem para este tempo não têm educado os filhos para Deus. Não se têm restringido, antes se irritam contra qualquer pessoa que os tente reprimir. Não têm, por meio de uma fé viva, unido os filhos no altar do Senhor. A muitos desses jovens se têm permitido transgredir o quarto mandamento, em procurar seus próprios prazeres no santo dia do Senhor. Não sentem a consciência pesarosa por perambularem pelas ruas em busca de seus próprios divertimentos. Muitos vão aonde lhes apraz, e fazem o que querem; e seus pais têm tanto medo de desagradá-los que, imitando o procedimento de Eli, deles não exigem nada. T5 37 1 Esses jovens finalmente perdem todo o respeito ao sábado e nenhuma apreciação têm pelas reuniões religiosas e pelas coisas sagradas e eternas. Se seus pais ternamente argumentarem com eles, se defenderão apontando as faltas de alguns dos membros da igreja. Em lugar de silenciar a primeira investida de algo dessa espécie, os pais pensam do mesmo jeito dos filhos; se um ou outro fosse perfeito, seus filhos seriam justos. Em vez disso, deveriam ensinar-lhes que os pecados dos outros não são desculpa para os deles. Somente Cristo é o Modelo. Os erros de muitos não desculpam um erro dessas pessoas, nem mesmo diminuem sua culpa. Deus lhes deu um modelo perfeito, nobre e elevado. Esse devem eles copiar, a despeito do procedimento adotado por quem quer que seja. Muitos pais parecem ter perdido a razão e o discernimento em sua afeição pelos filhos e, através dessa condescendente, egoísta e mal-orientada juventude, Satanás opera eficazmente para arruinar os pais. Foi-me chamada a atenção para a ira de Deus derramada sobre os incrédulos e desobedientes do antigo povo de Israel. O dever de instruir os filhos foi-lhes ordenado claramente. A mesma obrigação recai sobre os pais nesta geração. "Escutai a Minha lei, povo Meu; inclinai os ouvidos às palavras da Minha boca. Abrirei a boca numa parábola; proporei enigmas da antigüidade, os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-los têm contado. Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do Senhor, assim como a Sua força e as maravilhas que fez." Salmos 78:1-4. T5 37 2 Os filhos são aquilo que seus pais fazem deles por sua instrução, disciplina e exemplo. Daí a tremenda importância da fidelidade dos pais ao educar os jovens para o serviço de Deus. Os filhos devem, desde cedo, ser ensinados sobre a santidade dos deveres religiosos. Essa é a parte mais importante de sua educação. Nosso dever para com Deus deve ser realizado antes de qualquer outro. A estrita observância da lei de Deus deve ser ensinada e reforçada. "Porque Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei em Israel, e ordenou aos nossos pais que a fizessem conhecer a seus filhos, para que a geração vindoura a soubesse, e os filhos que nascessem se levantassem e a contassem a seus filhos; para que pusessem em Deus a sua esperança e se não esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os Seus mandamentos e não fossem como seus pais, geração contumaz e rebelde, geração que não regeu o seu coração, e cujo espírito não foi fiel para com Deus." Salmos 78:5-8. T5 38 1 Nesse texto inspirado é vista a grande responsabilidade delegada aos pais. Filhos e filhas a quem é permitido chegar à juventude com sua vontade indisciplinada e paixões descontroladas geralmente prosseguem na vida de um modo que Deus condena. São ávidos por divertimentos frívolos e associações com incrédulos. Tem-lhes sido permitido negligenciar os deveres religiosos e condescender com as inclinações do coração carnal e, como conseqüência, Satanás controla sua mente e disposições. Em _____, os pais lhe têm dado amplo espaço para operar. A maioria das apostasias ocorreu em razão da negligência dos pais em orientar seus filhos para uma conscienciosa vida espiritual. A condições desses filhos é lamentável. Eles professam ser cristãos, mas seus pais não tomaram sobre si a responsabilidade de ensiná-los a serem cristãos, a contar as bênçãos de Deus, louvá-Lo, e a exemplificar em sua existência a vida de Cristo. T5 38 2 Quando esses filhos vão para a escola e se associam com outros estudantes, aqueles que realmente têm tentado ser cristãos ficam envergonhados de praticar sua fé na presença daqueles que tiveram tanta luz. Ficam com receio de parecerem esquisitos, negando sua inclinação. Assim, lançam de si sua armadura justamente no tempo em que ela é mais necessária, quando os poderes das trevas estão trabalhando através desses companheiros profanos para afastá-los de Cristo. Enveredam por caminhos cheios de perigos, sem a proteção e apoio dos princípios religiosos, porque pensam ser desagradável e difícil manter sua religião na sala de aula, no recreio e em suas relações com outros alunos. Conseqüentemente, expõem sua mente às influências de Satanás. Quem são os protetores dessa juventude? Quem tem se agarrado ao trono de Deus com uma das mãos, enquanto com a outra alcança a juventude para atraí-la a Cristo? É exatamente dessa forma que os filhos precisam conhecer o poder da religião, necessitam ser seguros com firme mão. T5 39 1 Muitos daqueles que há tanto tempo têm rejeitado a guia e proteção estão avançando no caminho da frivolidade e prazer egoísta, em atos indecorosos e violação do corpo. Em conseqüência, sua mente fica poluída e a religião se torna desagradável. Alguns têm ido tão longe nessa direção descendente e seguido tão determinadamente na vereda dos sodomitas, que estão hoje quase sob maldição, e a voz de reprovação e advertência não tem valor para eles. Esses jamais poderão ser redimidos e os pais são culpados de sua ruína. Os prazeres aviltantes pelos quais eles fizeram tão árduo sacrifício -- comprometendo a saúde, a paz mental e a vida eterna -- estão chegando ao fim com amargura. T5 39 2 Pais, por amor de Cristo não cometam um erro em seu trabalho mais importante, o de moldar o caráter de seus filhos para o tempo e para a eternidade. Um erro de sua parte negligenciando a instrução fiel, ou na condescendência daquele afeto insensato que lhes cega os olhos para os defeitos deles e impede de lhes aplicar a disciplina apropriada, resultará na ruína dos filhos. Sua atitude pode imprimir uma direção errada a toda a carreira futura deles. Vocês determinarão o que eles serão e o que farão em favor de Cristo e dos semelhantes e pela própria salvação. T5 40 1 Lidem honesta e fielmente com seus filhos. Atuem corajosa e pacientemente. Não temam as cruzes, não poupem tempo ou trabalho, responsabilidade ou sofrimento. O futuro de seus filhos testificará do caráter da obra de vocês. Sua fidelidade para com Cristo pode ser melhor percebida através do caráter bem equilibrado de seus filhos do que de qualquer outro modo. Eles são propriedade de Cristo, comprados pelo Seu sangue. Se a influência deles for totalmente do lado de Cristo, eles serão Seus colaboradores, ajudando outros a encontrar o caminho da vida. Se vocês negligenciarem a obra que lhes foi confiada por Deus, sua atitude insensata quanto à disciplina colocará seus filhos na classe dos que se afastam de Cristo e fortalecem o reino das trevas. T5 40 2 Falo de coisas que conheço, testifico-lhes de coisas que tenho visto quando digo que há entre nossos jovens, entre educados moços filhos de pais professamente cristãos, uma grave ofensa à vista de Deus, tornada tão comum que é um dos sinais dos últimos dias. É algo tão pleno de más tendências que clama por decidida exposição e denúncia. É o pecado de encarar com leviandade ou desdém os antigos votos de consagração a Deus. O Espírito Santo os convida a tomar uma posição integral sob a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. Mas os próprios pais estão tão distanciados de Deus, tão ocupados com os negócios mundanos, ou tão cheios de dúvidas e insatisfação com relação à sua própria experiência religiosa, que ficam totalmente incapacitados para transmitir instruções aos filhos. Esses jovens, em sua inexperiência, necessitam de alguma mão firme e sábia para lhes apontar o caminho reto e desviá-los, com conselho e disciplina, da senda errada. T5 40 3 A vida religiosa deve ser vista como estando em marcado contraste com a vida de mundanismo e busca de prazeres. Aquele que deseja ser discípulo de Cristo deve tomar sua cruz e seguir após Jesus. Nosso Salvador não viveu para agradar a Si mesmo. Assim também deveríamos ser. Altas conquistas espirituais requerem inteira consagração a Deus. Mas essa instrução não tem sido transmitida à juventude porque contradiz a vida de seus pais. Desse modo, os filhos são deixados a obter conhecimento da vida cristã como melhor puderem. Quando tentados a estabelecer relacionamento com os mundanos e participar de diversões seculares, os pais afetuosos, não querendo negar qualquer indulgência, assumem uma posição tão indefinida e indecisa que os filhos julgam que o curso que desejam seguir está em harmonia com a vida e o caráter cristãos. Isso quando os pais dizem ou fazem alguma coisa sobre o assunto! T5 41 1 Tendo uma vez iniciado seu caminho, os jovens tendem a continuar até que o elemento mundano prevaleça e eles passem a olhar com desprezo para suas primeiras convicções. Desprezam a simplicidade manifestada na época em que seu coração estava enternecido, e acham desculpa para descuidar dos sagrados reclamos da igreja e do Salvador crucificado. Essa classe nunca se tornará o que poderia ter sido se as convicções da consciência não houvessem sido sufocadas e as santas e ternas afeições embotadas. Caso ao longo dos anos ainda venham a se tornar seguidores de Cristo, continuarão carregando as cicatrizes que a irreverência pelas coisas sagradas causou em sua mente. T5 41 2 Os pais não enxergam essas coisas. Não prevêem o resultado de sua conduta. Não sentem que seus filhos necessitam de carinhosa educação e da mais cuidadosa disciplina na vida espiritual. Não contemplam seus filhos como sendo, em sentido especial, propriedade de Cristo, aquisição de Seu sangue, troféus de Sua graça e, como tais, importantes instrumentos nas mãos de Deus para ser usados na edificação de Seu reino. Satanás está sempre buscando arrancar a juventude das mãos de Cristo, e os pais não discernem que o grande adversário está fincando seus infernais convites bem ao lado dos jovens. Acham-se tão cegos que pensam ser esses conteúdos parte da instrução que vem de Cristo. T5 41 3 Através de ambição ou indolência, ceticismo ou amor à vida fácil, Satanás atrai os jovens do estreito caminho da santidade, que foi construído para os resgatados do Senhor. Geralmente eles não abandonam essa estrada de uma vez, mas aos poucos. Tendo dado um passo errado, perdem o testemunho de sua aceitação por Deus, dado pelo Espírito. Assim, caem num estado de desânimo e dúvida. Sentem aversão pelos cultos porque sua consciência os condena. Caíram na armadilha de Satanás e há somente um meio de escape. Devem fazer meia-volta e com humildade de coração confessar seus pecados e renunciar à sua conduta indiferente. Precisam renovar sua primeira experiência, acalentar cada aspiração sagrada e deixar que as santas emoções que somente o Espírito de Deus pode inspirar reinem em sua vida. Fé no poder de Cristo resultará em poder e luz. T5 42 1 A instrução prática, a experiência religiosa, é o que os pais cristãos devem estar preparados para passar a seus filhos. Deus exige isso de vocês, pais. E estarão negligenciando seu dever se deixarem de realizar essa obra. Instruam seus filhos quanto aos métodos de disciplina escolhidos por Deus e as condições do êxito na vida cristã. Ensinem-lhes que não vão conseguir servir a Deus se mantiverem o espírito absorvido pelas coisas desta vida; mas não deixem que acariciem o pensamento de que não precisam trabalhar e de que podem gastar na ociosidade os momentos de lazer. A Palavra de Deus é clara nesse ponto. Jesus, a Majestade do Céu, deixou um exemplo para os jovens. Ele labutou na oficina de Nazaré por Seu pão diário. Era submisso a Seus pais e não procurava controlar Seu próprio tempo ou seguir Sua própria vontade. Se adotar uma vida de complacente condescendência, o jovem jamais poderá alcançar verdadeira excelência como homem ou como cristão. Deus não nos promete conforto, honra ou riqueza em Seu serviço; mas nos assegura que todas as bênçãos necessárias serão nossas, "com perseguições", "e no mundo por vir, a vida eterna". Marcos 10:30. Cristo nada aceitará menos do que a inteira consagração a Seu serviço. Essa é a lição que cada um de nós precisa aprender. T5 43 1 Os que estudam a Bíblia, se achegam a Deus e confiam em Cristo serão habilitados a agir sensatamente em todas as ocasiões e circunstâncias. Os bons princípios serão exemplificados na vida diária. Apenas permitam que a verdade para este tempo seja cordialmente recebida e se torne a base do caráter, e ela produzirá uma firmeza de propósito que as seduções do prazer, a instabilidade dos costumes, o desprezo dos amantes do mundo e os clamores do próprio coração por condescendência pessoal são incapazes de alterar. A consciência precisa primeiro ser esclarecida, e a vontade tem de ser subjugada. O amor à verdade e à justiça deve reinar no coração, e então o resultado será um caráter com a aprovação do Céu. T5 43 2 Temos bons exemplos do poder mantenedor de firmes princípios religiosos. Nem o temor da morte poderia fazer o desfalecido Davi beber da água de Belém, para cuja obtenção homens valentes haviam arriscado a vida. A aterradora cova dos leões não pôde impedir Daniel de realizar suas orações diárias, nem a fornalha ardente induzir Sadraque e seus companheiros a se prostrarem diante do ídolo que Nabucodonosor erguera. Jovens de firmes princípios rejeitarão o prazer, desafiarão a dor e até enfrentarão a cova dos leões e a terrível fornalha de fogo ardente, de preferência a ser desleais a Deus. Notem o caráter de José. A virtude foi severamente provada, mas seu triunfo foi completo. O mesmo princípio elevado e inflexível se fez notar em toda a provação. O Senhor estava com ele, e Sua palavra era lei. T5 43 3 Semelhante firmeza e não empanado princípio brilha com mais intensidade em contraste com a debilidade e a ineficiência dos jovens desta época. Com raras exceções, são eles vacilantes, oscilando a cada mudança de circunstâncias e ambiente, sendo uma coisa hoje e outra amanhã. Sejam apresentadas as seduções do prazer e da satisfação própria, e a consciência será sacrificada em prol da indulgência. Como pode uma pessoa assim ser confiável? Nunca! Na ausência de tentação, tal indivíduo pode até conduzir-se de tal forma que as dúvidas e suspeitas a seu respeito pareçam injustas. Seja, porém, apresentada a oportunidade e ele trairá sua confiança, pois é insano de coração. Justamente num tempo em que a firmeza e o princípio são mais requeridos, vocês verão que ele se afasta e, se não se tornar um Arnold ou um Judas, é porque lhe faltou apenas a oportunidade. T5 44 1 Pais, a primeira preocupação de vocês deveria ser atender ao chamado do dever e entrar de coração e alma na obra que Deus lhes deu a fazer. Se em tudo o mais falharem, sejam completos e eficientes, pelo menos nesse ponto. Se seus filhos aprenderem no lar a ser puros e virtuosos, se estiverem em condições preencher o menor, o mais humilde lugar no grande plano de Deus em fazer bem ao mundo, jamais a vida de vocês poderá ser considerada um fracasso e jamais será lembrada com remorso. T5 44 2 A idéia de que devemos satisfazer todos os desejos de crianças perversas constitui um erro. Eliseu, bem no começo de sua obra, foi escarnecido e ridicularizado pelos jovens de Betel. Ele era um homem muito brando, mas o Espírito de Deus o impeliu a proferir uma maldição sobre aqueles zombadores. Eles tinham ouvido falar da ascensão de Elias, e fizeram dessa solene ocorrência objeto de zombaria. Eliseu deixou claro que não deveria ser desdenhado por jovens ou idosos em sua sagrada vocação. Quando lhe disseram que seria melhor que também subisse, como Elias fizera antes dele, ele os amaldiçoou em nome do Senhor. O terrível juízo que incidiu sobre eles era de Deus. Depois disso, Eliseu não teve outras dificuldades dessa natureza em sua missão. Por cinquenta anos entrou e saiu pela porta de Betel, e foi de cidade a cidade, passando por entre ajuntamentos dos piores e mais rudes jovens ociosos e devassos, mas ninguém caçoou dele ou menosprezou suas qualificações como profeta do Altíssimo. Esse único exemplo de terrível severidade no começo de sua carreira foi suficiente para impor respeito durante toda a sua vida. Houvesse ele permitido que a zombaria passasse despercebida, poderia ter sido ridicularizado, maltratado e mesmo morto pela turba, e sua missão de instruir e salvar a nação dos perigos que a ameaçavam teria fracassado. T5 45 1 Mesmo a bondade deve ter limites. A autoridade deve ser mantida com firme severidade, ou por muitos será recebida com escárnio e desprezo. A chamada ternura, a adulação e a transigência usadas pelos pais e tutores para com os jovens são o pior mal que lhes pode sobrevir. Firmeza, decisão e regras positivas são essenciais em cada família. Pais, assumam suas responsabilidades negligenciadas; eduquem seus filhos segundo o plano de Deus, "para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. ------------------------Capítulo 4 -- Importante testemunho T5 45 2 Healdsburg, Califórnia, 28 de Março de 1882, Prezado irmão _____: T5 45 3 Sua carta foi recebida no devido tempo. Conquanto me alegrasse por trazer notícias suas, entristeceu-me o seu conteúdo. Eu havia recebido cartas similares da irmã _____ e do irmão _____. Mas não tenho tido quaisquer informações por parte do irmão _____ ou de alguém que o apóie. Por meio de suas próprias cartas tomo conhecimento de sua posição a respeito das medidas contra o irmão _____. T5 45 4 Não me surpreende que tal estado de coisas exista em Battle Creek, mas aflige-me vê-lo, meu estimadíssimo irmão, envolvido nessa questão do lado errado com aqueles que eu sei que Deus não está dirigindo. Algumas dessas pessoas são honestas, mas estão equivocadas. Receberam suas impressões de outra fonte que não o Espírito de Deus. T5 45 5 Tenho tido muito cuidado em não expor minha opinião sobre assuntos importantes a pessoas individualmente, pois tira-se muitas vezes vantagem injusta do que eu digo mesmo do modo mais confidencial. Pessoas põem-se em campo para arrancar observações de minha parte sobre diferentes pontos, depois distorcem, interpretam mal, e fazem que minhas palavras expressem idéias e opiniões inteiramente diferentes das que eu mantenho. Mas isso eles terão de enfrentar diante do tribunal de Deus. T5 46 1 No caso de suas presentes dificuldades decidi manter silêncio; achei que poderia ser melhor deixar que as coisas se desenvolvessem, de modo que os que se haviam mostrado tão prontos a censurar meu marido pudessem ver que o espírito de murmuração existia no próprio coração deles e estava ainda ativo, até mesmo depois que o homem de quem haviam se queixado estava silenciosamente dormindo na sepultura. T5 46 2 Eu sabia que uma crise viria. Deus tem dado a este povo claros e definidos testemunhos para evitar este estado de coisas. Tivessem eles obedecido à voz do Espírito Santo em advertir, aconselhar e insistir, e poderiam estar agora desfrutando de união e paz. Mas esses testemunhos não têm sido ouvidos pelos que professavam neles crer, e como resultado tem havido grande afastamento de Deus e a retirada de Sua bênção. T5 46 3 Deus emprega diferentes instrumentos para efetuar a salvação de homens. Fala-lhes por meio de Sua Palavra e de Seus pastores, e envia pelo Espírito Santo mensagens de advertência, reprovação e instrução. Esses são meios destinados a iluminar o entendimento do povo, a revelar-lhes seus deveres e seus pecados, e as bênçãos que podem receber. Destinam-se a despertar neles o senso de necessidade espiritual, de modo que possam ir a Cristo e nEle encontrar a graça de que necessitam. Muitos, porém, preferem seguir o seu próprio caminho em vez do caminho de Deus. Não estão reconciliados com Deus, nem podem estar, até que o eu seja crucificado e Cristo viva no coração pela fé. T5 46 4 Cada pessoa, por seus atos, ou afasta Cristo de si ao recusar dar valor ao Seu espírito e seguir o Seu exemplo, ou entra em união pessoal com Ele mediante renúncia, fé e obediência. Precisamos, cada um por si mesmo, escolher a Cristo, porque Ele nos escolheu primeiro. Esta união com Cristo deve ser alcançada pelos que estão naturalmente em inimizade com Ele. É uma relação de perfeita dependência que deve envolver o orgulhoso coração. É uma obra muito pessoal, e muitos que professam ser seguidores de Cristo nada conhecem dela. Nominalmente aceitam o Salvador, mas não como o único Senhor de seu coração. T5 47 1 Alguns sentem a necessidade de expiação e, com o reconhecimento dessa necessidade e o desejo de mudança de coração, começa a luta. Renunciar à própria vontade, e talvez a estimados objetos de afeição ou apreço, requer esforço, no que muitos hesitam, falham e recuam. Todavia, esta batalha tem de ser travada por todo coração que esteja realmente convertido. Temos de guerrear contra as tentações de fora e de dentro. Precisamos alcançar a vitória sobre o eu, crucificar as afeições e os desejos; e então começa a união da alma com Cristo. Assim como o ramo ressequido e notoriamente sem vida é enxertado na árvore viva, podemos tornar-nos ramos vivos da Verdadeira Videira. E os frutos que brotam de Cristo serão produzidos por todos os Seus seguidores. Depois de ser formada essa união, ela só pode ser preservada mediante contínuo, fervente e penoso esforço. Cristo exerce o Seu poder para preservar e guardar esse sagrado vínculo, e o dependente, desajudado pecador precisa fazer a sua parte com incansável energia, ou Satanás o separará de Cristo mediante seu poder cruel e ardiloso. T5 47 2 Todo cristão precisa manter-se em guarda continuamente, vigiando cada avenida da alma por onde Satanás possa encontrar acesso. Ele necessita orar por divino auxílio e ao mesmo tempo resistir resolutamente a toda inclinação para o pecado. Mediante coragem, fé, perseverante esforço, ele pode vencer. Mas lembre-se de que para alcançar a vitória Cristo precisa habitar nele e ele em Cristo. T5 47 3 A união dos crentes com Cristo terá como resultado natural a união de uns com os outros, união cujo vínculo é o mais duradouro sobre a Terra. Somos um em Cristo, como Cristo é Um com o Pai. Os cristãos são ramos, apenas ramos, na Videira viva. Um ramo não deve tirar o seu sustento de outro ramo. Nossa vida tem de vir da videira-mãe. É somente mediante união pessoal com Cristo, por comunhão com Ele diariamente, a toda hora, que podemos produzir os frutos do Espírito Santo. T5 48 1 Na igreja de Battle Creek penetrou um espírito que não tem parte em Cristo. Não é o zelo pela verdade, nem o amor pela vontade de Deus como revelada em Sua Palavra. É um espírito de justiça própria. Ele os leva a exaltar o eu acima de Jesus e a considerar suas próprias opiniões e idéias como mais importantes do que a união com Cristo e de uns com os outros. Vocês são tristemente carentes de amor fraternal. São uma igreja apostatada. Conhecer a verdade, professar união com Cristo, e todavia não produzir fruto, não viver no exercício de constante fé -- isso endurece o coração na desobediência e na confiança própria. Nosso crescimento na graça, nossa felicidade, nossa utilidade, tudo depende de nossa união com Cristo e o grau de fé que nEle exercemos. Aí está a fonte de nosso poder. T5 48 2 Muitos de vocês estão correndo atrás de honra. Mas de que vale a honra ou aprovação de homens para quem se considera filho de Deus e co-herdeiro de Cristo? De que valem os prazeres do mundo para quem está diariamente a partilhar do amor de Cristo que excede o entendimento? Que são o desprezo e a oposição de homens para quem é aceito por Deus mediante Jesus Cristo? O egoísmo não pode subsistir no coração que está exercendo fé em Cristo, mais do que poderiam conviver luz e trevas. Frieza espiritual, indolência, orgulho e covardia, tudo recua ante a presença da fé. Podem os que estão de tal modo unidos a Cristo como o ramo o está na videira falar de qualquer pessoa senão de Jesus? T5 48 3 Estão vocês em Cristo? Não, se vocês não se reconhecerem como errantes, desajudados, condenados pecadores. Não, se estão exaltando e glorificando o próprio eu. Se há qualquer bem em vocês, deve ser atribuído inteiramente à misericórdia do compassivo Salvador. Sua origem, reputação, riqueza, seus talentos, virtudes, piedade, filantropia, ou qualquer outra coisa que seja sua ou relacionada com vocês, não formarão um laço de união entre sua alma e Cristo. Sua ligação com a igreja e o modo como os irmãos os considerem não terão qualquer valor a menos que creiam em Cristo. Não basta crer a respeito dEle; vocês precisam crer nEle. Têm de confiar inteiramente em Sua graça salvadora. T5 49 1 Muitos de vocês em Battle Creek estão vivendo sem oração, sem reflexão sobre Cristo e sem exaltá-Lo diante dos que os rodeiam. Não têm palavras para exaltar a Cristo; não praticam obras que O honrem. Muitos de vocês são tão estranhos a Cristo como se jamais houvessem realmente ouvido o Seu nome. Não têm a paz de Cristo, pois não possuem o verdadeiro terreno para a paz. Não têm comunhão com Deus porque não estão unidos em Cristo. Disse nosso Salvador: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim." João 14:6. Vocês não têm qualquer utilidade na causa de Cristo. "Sem Mim", disse Jesus, "nada podeis fazer" (João 15:15) -- nada à vista de Deus, nada que Cristo aceite de suas mãos. Sem Cristo, nada podem ter vocês exceto uma enganadora esperança, pois Ele mesmo declara: "Se alguém não estiver em Mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem." João 15:6. T5 49 2 O progresso na vida cristã é caracterizado por maior humildade, em resultado do aumento de conhecimento. Quem de fato estiver unido a Cristo se afastará de toda a iniquidade. Digo-lhes, no temor de Deus, que me foi mostrado que muitos de vocês perderão a vida eterna porque estão construindo suas esperanças quanto ao Céu sobre um alicerce falso. Deus os está abandonando, "para te humilhar, para te tentar, para saber o que estava no teu coração". Deuteronômio 8:2. Vocês negligenciaram as Escrituras. Agora desprezam e rejeitam os testemunhos porque eles reprovam seus acariciados pecados e perturbam sua autocomiseração. Quando Cristo é bem aceito no coração, Sua imagem será revelada na vida. Reinará a humildade onde antes predominava o orgulho. A submissão, a mansidão e a paciência abrandarão as asperezas da disposição por natureza perversa, impetuosa. O amor a Jesus se manifestará em amor ao Seu povo. Não é intermitente, volúvel, mas calmo, profundo e forte. A vida do cristão será despida de toda pretensão, livre de qualquer afetação, artifício e falsidade. É fervorosa, verdadeira, sublime. Cristo fala através de cada uma de suas palavras. Ele é visto em cada ação. A vida irradia a luz de um Salvador a habitar no íntimo. Em conversação com Deus e em feliz contemplação das coisas celestiais, a pessoa se prepara para o Céu, empenhando-se em reunir outras no redil de Cristo. Nosso Salvador é capaz de fazer por nós mais do que podemos pedir ou mesmo imaginar, e está disposto a fazê-lo. T5 50 1 A igreja de Battle Creek necessita de um espírito de humildade e altruísmo. Tem-me sido mostrado que muitos estão abrigando um não santificado desejo de supremacia. Muitos gostam de ser adulados, e estão zelosamente procurando falhas ou negligências. Há um espírito de dureza, de ausência de perdão. Há inveja, atritos, competição. T5 50 2 Nada há tão essencial à comunhão com Deus do que a mais profunda humildade. "Habito", diz o Alto e Sublime, "também com o contrito e abatido de espírito." Isaías 57:15. Enquanto avidamente procuram ser o primeiro, lembrem-se de que serão o último no favor de Deus se deixarem de cultivar um espírito manso e humilde. Orgulho de coração será a causa de muitos falharem onde poderiam ter tido êxito. "Diante da honra vai a humildade" (Provérbios 15:33), e "melhor é o longânimo do que o valente". Provérbios 16:32. "Quando Efraim falava, tremia-se; foi exaltado em Israel; mas ele fez-se culpado em Baal e morreu." Oséias 13:1. "Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Mateus 20:16. Muitos ouvem o convite de misericórdia, são testados e provados; mas poucos são selados com o selo do Deus vivo. Poucos se mostrarão humildes como uma criancinha, para que possam entrar no reino do Céu. T5 50 3 Poucos recebem a graça de Cristo com humildade, com profundo e permanente senso de sua indignidade. Eles não podem ser agentes das manifestações do poder de Deus, porque isso os encorajaria na estima a si mesmos, no orgulho e na inveja. É por isso que o Senhor pode fazer tão pouco por nós agora. Deus gostaria que individualmente vocês buscassem a perfeição do amor e humildade no próprio coração. Apliquem seus principais cuidados a vocês mesmos, cultivem aquela excelência de caráter que os capacitará para a sociedade dos puros e santos. T5 51 1 Todos vocês necessitam do poder convertedor de Deus. Precisam buscá-Lo por vocês mesmos. Por amor de sua salvação, não negligenciem mais essa obra. Todo o seu problema é conseqüência da separação de Deus. Sua desunião e dissensões são fruto de um caráter não cristão. T5 51 2 Eu havia pensado em permanecer calada e deixar que prosseguissem até que pudessem ver e abominar a pecaminosidade de sua conduta; mas o afastamento de Deus produz dureza de coração e cegueira de espírito, e há cada vez menos percepção do verdadeiro estado, até que a graça de Deus é finalmente retirada, como aconteceu com a nação judaica. T5 51 3 Desejo que minha posição seja claramente compreendida. Não simpatizo com o procedimento adotado em relação ao irmão _____. O inimigo tem insuflado sentimentos de ódio no coração de muitos. Os erros por ele cometidos têm sido levados de pessoa a pessoa, constantemente aumentando em magnitude, à medida que línguas ativas, mexeriqueiras, lançavam combustível ao fogo. Pais que jamais sentiram a preocupação que deveriam pela salvação de seus filhos, e que jamais lhes deram a necessária disciplina e instrução, agora são os que fazem a mais amarga oposição quando seus filhos são disciplinados, reprovados ou corrigidos na escola. Alguns desses filhos são uma infelicidade para a igreja e para o nome de adventistas. T5 51 4 Os pais desprezaram eles mesmos a reprovação, e desprezaram a reprovação em seus filhos, e não tiveram o cuidado de lhes ocultar isso. O pecado dos pais começou com sua má administração do lar. A vida de alguns desses filhos estará perdida, porque não receberam instrução da Palavra de Deus e não se tornaram cristãos no lar. Em vez de simpatizar com os filhos em seu perverso comportamento, os pais deviam tê-los reprovado e apoiado o fiel professor. Esses pais não estavam unidos com Cristo, e essa é a razão de sua terrível negligência do dever. O que eles têm semeado, também irão ceifar. Estejam certos da colheita. T5 52 1 Na escola, o irmão _____ não tem sido sobrecarregado apenas com a má conduta dos filhos, mas pela desavisada orientação dos pais também, que produziram e nutriram o ódio à disciplina. O excesso de trabalho, o incessante cuidado, sem nenhuma ajuda no lar, antes sob constante irritação, levaram-no algumas vezes a perder o domínio próprio e a agir desavisadamente. Alguns têm tirado vantagens disso, e faltas de pequena importância têm sido apresentadas como graves pecados. T5 52 2 Os professos guardadores do sábado que procuram formar uma união entre Cristo e Belial, que sustentam a verdade com uma das mãos, e com a outra o mundo, têm circundado os seus filhos e envolvido a igreja com uma atmosfera inteiramente estranha à religião e ao Espírito de Cristo. Não têm ousado opor-se abertamente aos reclamos da verdade, nem tomam nítida posição para dizer que não crêem nos testemunhos; mas, ao passo que nominalmente crêem em ambos, não obedecem a nenhum. Por seu comportamento têm negado a ambos. Desejam que o Senhor cumpra para com eles Suas promessas, mas recusam aceitar as condições sobre que estão baseadas essas promessas. Não estão dispostos a renunciar a nenhum concorrente por Cristo. Sob a pregação da Palavra há uma supressão parcial do mundanismo, mas nenhuma radical mudança das afeições. Desejos mundanos, concupiscência da carne, concupiscência dos olhos, soberba da vida, ganham finalmente a vitória. Esse grupo é todo composto de cristãos professos. Seus nomes estão nos livros da igreja. Por algum tempo, eles vivem aparentemente uma vida religiosa, e então entregam o coração, não raro definitivamente, à predominante influência do mundo. T5 53 1 Sejam quais forem as faltas do irmão _____, a conduta de vocês é injustificada e anticristã. Vocês têm revisto sua história de anos e procurado tudo que fosse desfavorável, toda sombra de mal, e o transformaram em ofensor por uma palavra. Têm trazido todos os recursos que podiam dispor para sustentar-se em seu procedimento como acusador. Lembrem-se, Deus tratará cada um de vocês do mesmo modo. "Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. Os que têm participado desse infeliz procedimento enfrentarão sua obra de novo. Que influência terá seu comportamento sobre os estudantes, os quais jamais toleram disciplina? Como essas coisas lhes afetarão o caráter e a história de sua vida? T5 53 2 Que dizem os testemunhos sobre essas coisas? Uma simples falha de caráter, um único desejo pecaminoso acariciado, neutralizará fatalmente todo o poder do evangelho. A predominância de um desejo pecaminoso mostra a falsidade de uma vida. Cada condescendência para com esse desejo fortalece a aversão da pessoa em relação a Deus. As responsabilidades do dever e os prazeres são as cordas com que Satanás prende as pessoas em suas armadilhas. Os que preferem antes morrer a praticar um ato errôneo são os únicos que serão achados fiéis. T5 53 3 Uma criança pode receber instrução religiosa saudável; mas se os pais, professores ou responsáveis permitirem que seu caráter seja influenciado por um só hábito errôneo, esse hábito, se não vencido, tornar-se-á um poder predominante, e a criança se perderá. T5 53 4 O testemunho dado a vocês pelo Espírito de Deus é: Não argumente com o inimigo. Destruam os espinhos, ou eles os destruirão. Trabalhem o solo não cultivado do coração. Seja a obra profunda e completa. Que o arado da verdade remova os espinhos e ervas daninhas. T5 53 5 Disse Cristo aos fariseus irados e acusadores: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela." João 8:7. Estavam sem pecado os que tão pronto se mostraram em acusar e condenar o irmão _____? Se o seu caráter fosse investigado tão severa e publicamente como o foi o do irmão _____, alguns deles apareceriam muito pior do que procuraram apresentar o dele. T5 54 1 Não ouso permanecer calada por mais tempo. Falo a você e à igreja de Battle Creek. Vocês cometeram um grande erro. Trataram com injustiça alguém com quem vocês e seus filhos têm um débito de gratidão que não compreendem. Vocês são responsáveis pela influência que têm exercido sobre o colégio. Veio a paz porque os estudantes vivem a seu modo. Em outra crise eles estarão tão determinados e perseverantes como estiveram nesta ocasião; e, se encontrarem advogado tão hábil como encontraram no irmão _____, poderão de novo alcançar o seu objetivo. Deus tem estado a falar aos professores, aos estudantes e aos membros da igreja, mas vocês desprezaram absolutamente Suas palavras. Acharam melhor seguir o próprio caminho, independente das conseqüências. T5 54 2 Deus nos tem dado, como um povo, advertências, reprovações e avisos por todos os lados, a fim de conduzir-nos para longe dos costumes e procedimentos mundanos. Ele requer que sejamos peculiares na fé e no caráter, a fim de alcançarmos uma norma mais avançada do que a dos que pertencem ao mundo. O irmão _____ chegou entre vocês não familiarizado com o modo de o Senhor nos tratar. Sendo recém-chegado à fé, ele tinha que aprender quase tudo. No entanto vocês, sem hesitar, concordaram com o seu parecer. Sancionaram nele um espírito e um modo de agir que nada têm de Cristo. T5 54 3 Vocês têm encorajado nos estudantes um espírito de crítica que o Espírito de Deus tem procurado reprimir. Vocês os têm levado a trair a confiança. Há entre nós não poucos jovens que devem muitos de seus valiosos traços de caráter ao conhecimento e princípios recebidos do irmão _____. Pelo preparo através dele, muitos devem boa parte de sua utilidade, não somente na Escola Sabatina, mas também em vários outros ramos de nossa obra. No entanto, sua influência encorajou a ingratidão, e isso tem levado os estudantes a desprezar as coisas que deviam estimar. T5 55 1 Os que não têm os traços peculiares a que outros estão sujeitos podem vangloriar-se de ser melhores do que esses. Sejam postos, porém, na fornalha da aflição, e poderão não resistir pelo menos tão bem como aqueles a quem censuram e julgam mal. Quão pouco podemos saber das angústias de coração de alguém. Quão poucos compreendem as circunstâncias de outros. Daí a dificuldade de aconselhar de modo sábio. O que nos pode parecer apropriado poderá ser, na realidade, exatamente o contrário. T5 55 2 O irmão _____ tem sido um fervoroso pesquisador do conhecimento. Ele tem procurado imprimir nos estudantes o senso de que são responsáveis por seu tempo, talentos e oportunidades. É impossível a um homem ter tantos cuidados e carregar tão pesadas responsabilidades sem se tornar precipitado, cansado e nervoso. Os que recusam aceitar encargos que lhes absorverão as forças ao máximo nada sabem das pressões a que estão sujeitos os que têm de levar esses fardos. T5 55 3 Há no colégio alguns que só têm olhado para o que lhes desagrada e para o que é reprovável em seu relacionamento com o irmão _____. Essas pessoas não possuem aquele espírito nobre, semelhante ao de Cristo, que não pensa mal. Elas têm feito o maior alarde de cada palavra ou ato inadequados, e a isso recorrem cada vez que a inveja, o preconceito e o ciúme se mostram ativos nos corações não cristãos. T5 55 4 Disse um escritor que "a memória do invejoso nada mais é do que uma fileira de ganchos onde pendurar os ressentimentos". Há no mundo muitos que consideram prova de superioridade falar de coisas e pessoas que eles "não toleram", em vez de fazê-lo com referência a coisas e pessoas a que são atraídos. Não é assim que aconselha o grande apóstolo. Ele exorta os seus irmãos: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filipenses 4:8. T5 56 1 A inveja não é meramente um desvio de temperamento, mas uma desordem que afeta todas as faculdades. Começou com Satanás. Ele desejou ser o primeiro no Céu e, como não alcançasse todo o poder e glória que buscava, rebelou-se contra o governo de Deus. Invejou nossos primeiros pais, tentando-os ao pecado, e assim os arruinou, e a todo o gênero humano. T5 56 2 O invejoso fecha os olhos às boas qualidades e nobres ações dos outros. Está sempre pronto a desprezar e representar falsamente aquilo que é excelente. Os homens muitas vezes confessam e abandonam outras faltas; do homem invejoso, porém, pouco se pode esperar. Visto como invejar a alguém é admitir que ele é superior, o orgulho não tolerará nenhuma concessão. Se for feita uma tentativa de convencer de seu pecado a pessoa invejosa, ela se torna ainda mais amarga contra o objeto de sua paixão, e muitas vezes permanece incurável. T5 56 3 O invejoso espalha veneno aonde quer que vá, separando amigos e suscitando ódio e rebelião contra Deus e as pessoas. Procura ser considerado o melhor e o maior, não mediante heróicos e abnegados esforços por alcançar o alvo da excelência, mas sim ficando onde está e diminuindo o mérito dos outros. T5 56 4 A inveja tem sido abrigada no coração de alguns na igreja e no colégio. Deus está descontente com o seu comportamento. Eu lhes rogo, pelo amor de Cristo, que jamais tratem a outros como têm tratado o irmão _____. Uma natureza nobre não exulta em infligir sofrimento a outrem, nem se deleita em descobrir suas deficiências. O discípulo de Cristo desviar-se-á enojado do banquete do escândalo. Alguns que têm estado ativos nesta ocasião estão repetindo o comportamento seguido em relação a um dos servos do Senhor em aflição, alguém que havia sacrificado a saúde e a força em Seu serviço. O Senhor vindicou a causa do oprimido e voltou a luz do Seu rosto para o Seu servo sofredor. Então vi que Deus provaria essas pessoas de novo, como faz agora, a fim de revelar o que havia em seu coração. T5 57 1 Quando Davi pecou, Deus lhe propôs escolher sofrer a punição de Sua mão ou da mão do homem. O arrependido rei preferiu cair nas mãos de Deus. A terna misericórdia do ímpio é crueldade. O homem falho, pecador, que só pode manter-se no caminho reto pelo poder de Deus, é não obstante duro de coração, incapaz de perdoar o irmão que erra. Meus irmãos de Battle Creek, que conta prestarão vocês perante o tribunal de Deus? Grande luz lhes tem enviada, em reprovações, advertências e apelos. Como vocês têm desprezado os raios de luz que o Céu lhes envia! T5 57 2 O apóstolo Tiago diz que a língua que se deleita no dano que causa, a língua mexeriqueira que diz: "Conte, e eu o espalharei" (Tiago 3:6), é inflamada pelo inferno. Ela espalha tições de fogo por toda parte. Que importa ao tagarela se ele difama o inocente? Ele não deterá sua obra má, embora destrua a esperança e o ânimo daqueles que já estão se afogando sob as suas cargas. O que mais fazem é condescender com a sua inclinação de amar o escândalo. Mesmo professos cristãos fecham os olhos a tudo que é puro, honesto, nobre e amável, entesourando tudo que é objetável e desagradável, e publicando-o ao mundo. T5 57 3 Vocês mesmos têm aberto a porta para que Satanás entre. Têm-lhe dado honroso lugar em suas reuniões de investigação ou sindicância. Mas não têm mostrado respeito algum pela excelência de um caráter firmado por anos de fidelidade. Línguas ciumentas e vingativas têm colorido atos e motivos para que expressem suas idéias pessoais. Elas fizeram que o preto pareça branco, e o branco preto. Quando postos em face de suas afirmações, alguns têm dito: "É verdade." Admitindo que o fato afirmado seja verdadeiro, isso justificaria sua conduta? Não, não. Se Deus tomasse todas as acusações que podem em verdade ser levantadas contra vocês e delas fizesse um açoite para puni-los, suas feridas seriam mais numerosas e mais profundas do que as que têm infligido ao irmão _____. Até fatos podem ser apresentados de modo a dar uma falsa impressão. Não têm o direito de juntar todo relato contra ele e usá-lo para arruinar-lhe a reputação e destruir sua utilidade. Se o Senhor manifestasse para com vocês o mesmo espírito que têm demonstrado para com seu irmão, seriam destruídos sem misericórdia. Vocês não sentem a consciência pesada? Temo que não. Chegou o tempo dessa satânica fascinação liberar o seu poder. Se o irmão _____ fosse tudo o que dele dizem -- e eu creio que não é -- ainda assim o comportamento de vocês seria injustificado. T5 58 1 Quando damos ouvidos a uma difamação contra nosso irmão, somos responsáveis pela mesma. À pergunta: "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte?", responde o salmista: "Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo." Salmos 15:1-3. T5 58 2 Que quantidade de vã tagarelice seria evitada, se todos se lembrassem de que aqueles que lhes contam as faltas dos outros, com a mesma sem-cerimônia publicarão as faltas dos seus interlocutores, caso tenham oportunidade! Devemos esforçar-nos por pensar bem de todas as pessoas, especialmente de nossos irmãos, até que sejamos forçados a pensar de outro modo. Não devemos ter pressa em acreditar em relatórios maus. Eles são muitas vezes resultado de inveja ou mal-entendidos, ou podem proceder de exageros ou de uma exposição tendenciosa de fatos. O ciúme e a suspeita, caso se lhes dê atenção, espalhar-se-ão aos quatro ventos, como as sementes de uma praga. Se um irmão se desvia, é então ocasião de mostrarem seu real interesse por ele. Vão falar com ele bondosamente, orem com ele e por ele, lembrando-se do preço infinito que Cristo pagou por sua redenção. Desse modo poderão salvar uma pessoa e cobrir "multidão de pecados". Tiago 5:20. T5 59 1 Um olhar, uma palavra e mesmo a inflexão da voz, podem ser a expressão da falsidade, cravando-se qual seta farpada em algum coração, infligindo-lhe ferida incurável. Assim uma dúvida, uma difamação, pode ser lançada sobre uma pessoa por intermédio da qual Deus iria realizar uma boa obra, prejudicando-lhe a influência e destruindo-lhe a utilidade. Entre algumas espécies de animais, se um dentre eles é ferido e cai, é imediatamente atacado e rasgado em pedaços por seus companheiros. No mesmo espírito cruel condescendem homens e mulheres que tomam o nome de cristãos. Manifestam um zelo farisaico em apedrejar outros menos culpados que eles. Alguns apontam para as faltas e fracassos alheios a fim de distrair a atenção dos outros, ou para serem considerados muito zelosos em prol de Deus e da igreja. T5 59 2 Faz poucas semanas, fui levada em sonho a uma de suas reuniões de investigação. Ouvi os testemunhos dados por estudantes contra o irmão _____. Esses mesmos estudantes haviam recebido grande benefício de sua fiel e completa instrução. Tempos houve em que eles não sabiam mais o que dizer em seu louvor. Era então popular estimá-lo. Mas agora a corrente ia no sentido contrário. Essas pessoas revelaram o seu verdadeiro caráter. Vi um anjo com um pesado livro aberto, no qual escrevia cada testemunho apresentado. Em frente a cada testemunho foram escritos os pecados, defeitos, os erros do que dera o testemunho. Eram então registrados os grandes benefícios que essas pessoas haviam recebido pela atuação do irmão _____. T5 59 3 Nós, como um povo, estamos colhendo os frutos do duro trabalho do irmão _____. Não há entre nós uma só pessoa que tenha dedicado mais tempo e preocupação ao seu trabalho do que o irmão _____. Ele sente que não há ninguém para apoiá-lo, e sente-se grato por qualquer encorajamento. T5 59 4 Um dos grandes objetivos a serem alcançados no estabelecimento do colégio era a separação de nossa juventude do espírito e influência do mundo, de seus costumes, orgia e idolatria. O colégio deveria erguer uma barreira contra a imoralidade do presente século, que torna o mundo tão corrupto como nos dias de Noé. Os jovens são seduzidos com a mania de namoro e casamento. Prevalece o sentimentalismo doentio. Grande vigilância e tato são necessários para proteger a juventude contra essas influências errôneas. Muitos pais são cegos às tendências de seus filhos. Alguns pais têm-me declarado, com grande satisfação, que seus filhos ou filhas ainda não tinham o desejo de atenções do sexo oposto, quando na verdade esses filhos já estavam secretamente dando ou recebendo tais atenções, e os pais continuavam tão absorvidos em mundanismo e mexericos que nada sabiam do assunto. T5 60 1 O objetivo primordial de nosso colégio era permitir aos moços uma oportunidade de estudar para o ministério e preparar jovens de ambos os sexos para se tornarem obreiros nos diferentes ramos da causa. Esses estudantes precisavam do conhecimento dos aspectos comuns da educação e, acima de tudo, do conhecimento da Palavra de Deus. Nisso nossa escola tem-se mostrado deficiente. Não tem aparecido um homem devotado a Deus que se dedique a este ramo da obra. Jovens movidos pelo Espírito de Deus a se entregarem ao ministério vêm ao colégio para este propósito, e ficam desapontados. O preparo adequado para esta classe não tem sido feito, e alguns dos professores, sabendo disso, têm aconselhado os jovens a tomarem outras matérias e a se prepararem para outras carreiras. Se esses jovens não fossem firmes em seu propósito, seriam induzidos a abandonar a idéia de estudar para o ministério. T5 60 2 Tal é o resultado da influência exercida por professores não santificados, que trabalham apenas por salário, que não estão imbuídos do Espírito de Deus e não têm união com Cristo. Ninguém tem estado mais ativo nesse trabalho do que o irmão _____. A Bíblia deve ser um dos principais assuntos de estudo. Esse Livro, que nos diz como viver a vida presente, de modo que possamos assegurar a vida futura, imortal, é de mais valor para os estudantes do que qualquer outro. Temos apenas breve período para nos familiarizarmos com suas verdades. Mas aquele que havia feito da Palavra de Deus o seu estudo e que, mais do que qualquer outro professor, ajudou os jovens a obter o conhecimento das Escrituras foi afastado da escola. T5 61 1 Professores e mestres não têm compreendido o propósito do colégio. Temos empregado meios, preocupação e trabalho para torná-lo no que Deus desejava que ele fosse. A vontade e o discernimento dos que quase nada sabem sobre a forma como Deus nos tem conduzido como um povo não deveriam ter uma influência dominante nesse colégio. O Senhor tem mostrado repetidamente que não devemos copiar o modelo das escolas populares. Pastores de outras denominações gastam anos para obter educação. Nossos jovens têm que conseguir o mesmo em pouco tempo. Onde há agora um obreiro deveria haver vinte preparados por nosso colégio com a ajuda de Deus, para entrar no campo evangelístico. T5 61 2 Muitos de nossos obreiros jovens, e alguns de mais experiência, estão negligenciando a Palavra de Deus e também desprezando os testemunhos do Seu Espírito. Não sabem o que os testemunhos contêm, e não têm o menor desejo de saber. Não querem descobrir e corrigir seus defeitos de caráter. Muitos pais não buscam eles próprios instrução dos testemunhos, e naturalmente não podem partilhá-la com seus filhos. Mostram descaso pela luz que Deus concedeu, ao procederem exatamente ao contrário da Sua instrução. Os que estão no coração da obra têm que dar o exemplo. T5 61 3 O mundo está tomando conhecimento de suas disputas. E vocês ainda acham que continuam, como um povo, sob uma luz mais favorável em Battle Creek? Cristo orou para que Seus discípulos fossem um, como Ele era Um com o Pai, a fim de que o mundo reconhecesse que Deus O enviara. T5 62 1 Que testemunho têm sido dado nos últimos meses? O Senhor está olhando para o interior de cada coração. Ele avalia nossos motivos. Provará cada pessoa. Quem resistirá ao teste? ------------------------Capítulo 5 -- Testemunhos menosprezados T5 62 2 Healdsburg, Califórnia, 20 de Junho de 1882, Prezados irmãos e irmãs em Battle Creek: T5 62 3 Entendo que o testemunho que enviei ao irmão _____, com a recomendação de que fosse lido para a igreja, foi retido de vocês por várias semanas após ter sido recebido por ele. Antes de enviar esse testemunho, minha mente foi tão impressionada pelo Espírito de Deus, que eu não tive descanso nem de dia nem de noite até escrevê-lo e enviar a vocês. Esse não foi um trabalho que eu teria escolhido por mim mesma. Antes da morte de meu marido, eu havia decidido que não era meu dever dar testemunho a quem quer que fosse como reprovação de erros ou em reivindicação do direito, porque pessoas se valeram de minhas palavras para tratar duramente os culpados, e para exaltar outros cuja conduta eu não teria, de forma alguma, endossado. Muitos usam os testemunhos do modo que lhes convêm. A verdade divina não está em harmonia com as tradições dos homens, nem se conforma às suas opiniões. Como seu divino Autor, ela é imutável e a mesma ontem, hoje e eternamente. Aqueles que se afastaram de Deus chamam à luz trevas e ao erro verdade. Porém, a escuridão nunca se provará ser luz nem o erro poderá tornar-se verdade. T5 62 4 A mente de muitos está tão obscurecida e confundida pelos costumes, práticas e influências mundanas, que todo o poder para distinguir entre luz e trevas, verdade e erro dá a impressão de ter sido destruído. Tenho pouca esperança de que minhas palavras sejam compreendidas, mas, quando o Senhor repousa sobre mim tão decididamente, não posso resistir ao Seu Espírito. Sabendo que vocês estão presos às armadilhas de Satanás, sinto que me é muito grande o perigo de manter silêncio. T5 63 1 Durante anos, o Senhor tem apresentado a situação da igreja perante vocês. Repetidas vezes, reprovações e advertências foram dadas. Em 23 de Outubro de 1879, o Senhor revelou-me um testemunho impressionante com respeito à igreja de Battle Creek. Durante os últimos meses em que estive com vocês, suportei pesado fardo por causa da igreja, enquanto aqueles que deveriam senti-lo com todas as conseqüências estavam despreocupados e tranqüilos. Eu não sabia o que fazer ou dizer. Não tinha a menor confiança no procedimento que alguns estavam seguindo, pois estavam fazendo exatamente aquilo que o Senhor os advertira a não fazer. T5 63 2 O Deus que conhece a condição espiritual de quem quer que seja declara: Eles têm acalentado o mal e se separado de Mim. Desviaram-se todos. Ninguém está isento de culpa. Eles Me abandonaram, a Fonte de águas vivas, e cavaram para si cisternas rotas que não retêm as águas. Muitos corromperam seus caminhos diante de Mim. Inveja, ódio, ciúmes, ruins suspeitas, rivalidades, contendas e amarguras são os frutos que têm produzido. Eles não atenderão ao testemunho que lhes tenho enviado. Não perceberão seus perversos caminhos para serem convertidos e curados. T5 63 3 Muitos olham com complacência para os longos anos durante os quais advogaram a verdade. Agora acham que são dignos de recompensa por suas tribulações passadas e pela obediência. Todavia, a genuína experiência nas coisas de Deus no passado os torna mais culpados ainda por não preservarem sua integridade e prosseguirem avante rumo à perfeição. A fidelidade no ano passado nunca expiará a negligência deste ano. A veracidade do homem praticada ontem não remirá sua falsidade hoje. T5 63 4 Muitos se desculpam por sua desconsideração para com os testemunhos, dizendo: "A Sra. White é influenciada por seu marido e os testemunhos são moldados pelos pensamentos e juízos dele." Outros estavam recorrendo a eles para obter algum proveito para si mesmos, a fim de poderem apoiar sua conduta ou conseguir exercer influência. Foi então que decidi que nada mais sairia de minha pena até que o convertedor poder de Deus fosse visto na igreja. O Senhor, porém, colocou esse encargo sobre mim e trabalhei diligentemente por vocês. Quanto isso custou a mim e meu marido, só a eternidade o dirá. Por acaso não tenho eu conhecimento do estado da igreja, quando o Senhor me tem apresentado seu caso repetidas vezes durante anos? Seguidas advertências têm sido dadas; todavia, não houve decidida mudança. T5 64 1 Vi que o desagrado de Deus estava sobre Seu povo por causa de sua absorção do mundo. Vi que os filhos do irmão _____ têm-lhe sido uma armadilha. Suas idéias, opiniões, sentimentos e declarações tiveram influência sobre sua mente e cegaram-lhe o discernimento. Essa juventude é fortemente inclinada à infidelidade. A falta de fé em Deus foi transmitida como herança a seus filhos. Sua devoção a eles é maior do que a dedicação a Deus. O pai tem negligenciado seu dever. O resultado de seu errôneo curso é revelado em seus filhos. T5 64 2 Quando falei à igreja, tentei impressionar os pais sobre sua solene obrigação para com os filhos, porque eu sabia do estado desses jovens e de quais tendências os conduziram à situação em que se achavam. Mas minhas palavras não foram aceitas. Ainda me lembro muito bem dos fardos que levei por causa de meu trabalho entre vocês no passado. Eu nunca teria sobrecarregado minhas forças ao máximo se não houvesse visto o perigo que vocês corriam. Eu ansiava despertá-los para que humilhassem o coração diante de Deus, voltando para Ele com penitência e fé. T5 64 3 Não obstante, quando lhes envio um testemunho de advertência e reprovação, muitos de vocês declaram ser ele simplesmente a opinião da irmã White. Têm assim insultado o Espírito de Deus. Vocês sabem como o Senhor Se tem manifestado por meio do espírito de profecia. Passado, presente e futuro têm passado perante mim. Tenho antevisto rostos em visão, os quais nunca havia contemplado antes, para depois de muitos anos reconhecê-los prontamente quando em sua presença. Tenho sido despertada de meu sono com um vívido senso dos assuntos previamente apresentados, e à meia-noite escrevo cartas que vão cruzar o continente e, nos momentos de crise, salvar de grandes desastres a causa de Deus. Essa tem sido minha obra por muitos anos. Um poder tem-me impelido a reprovar e censurar erros dos quais não tinha o menor conhecimento. Esse trabalho dos últimos trinta e seis anos seria de cima ou de baixo? T5 65 1 Suponham -- como alguns querem fazer parecer, incorretamente todavia -- que fui influenciada a escrever pelas cartas recebidas dos irmãos da igreja. O que ocorreu com o apóstolo Paulo? As novas que recebera através da casa de Cloé com respeito às condições da igreja de Corinto induziram-no a escrever sua primeira carta àquela igreja. Cartas particulares chegavam-lhe às mãos declarando os fatos como eles eram e, em resposta, ele assentava princípios gerais que, se ouvidos, corrigiriam os males existentes. Com grande ternura e sabedoria ele os exortava a que todos falassem as mesmas coisas, e que não houvesse divisões entre eles. T5 65 2 Paulo era um apóstolo inspirado; contudo, o Senhor não lhe revelava todo o tempo a condição exata de Seu povo. Os que estavam interessados na prosperidade da igreja e que tinham visto males nela penetrando apresentaram o assunto perante ele, e, pela luz que recebera anteriormente, achava-se preparado para julgar o verdadeiro caráter dessas ocorrências. Conquanto o Senhor não lhe houvesse dado uma nova revelação para esse tempo especial, os que estavam realmente buscando luz não rejeitaram sua mensagem como se fosse apenas uma carta comum. Não mesmo. O Senhor lhe mostrara as dificuldades e os perigos que surgiriam nas igrejas, para que quando se manifestassem ele soubesse exatamente como enfrentá-los. T5 65 3 Paulo recebeu a missão de defender a igreja. Tinha de vigiar pelas almas como alguém que devesse prestar contas a Deus. Não deveria ele, pois, prestar atenção aos relatórios concernentes ao estado de anarquia e divisão em que elas se encontravam? Seguramente! E a reprovação que ele lhes enviou foi escrita sob a mesma inspiração do Espírito de Deus como qualquer de suas epístolas. Mas quando a reprovação chegou, alguns não se sentiram atingidos. Assumiram a posição de que Deus não falara através de Paulo; que ele lhes havia transmitido meramente uma opinião humana, e que seu julgamento tinha tanto mérito quanto o de Paulo. T5 66 1 Assim é com muitos de nosso povo que se afastaram dos velhos marcos e seguiram seu próprio entendimento. Que grande alívio teria sido para eles se pudessem aquietar sua consciência com a idéia de que minha obra não procede de Deus. Mas a descrença de vocês não muda a verdade dos fatos. Os irmãos são defeituosos no caráter, na moral e na experiência religiosa. Fechem os olhos para a realidade, se quiserem, mas isso não os tornará uma partícula mais perfeitos. O único remédio é lavar-se no sangue do Cordeiro. T5 66 2 Se procurarem desviar-se do conselho de Deus para seguir suas próprias opiniões; se solaparem a confiança do povo de Deus nos testemunhos que Ele lhes enviou, estarão se rebelando contra o Senhor tão certamente como Coré, Datã e Abirão. A história desses rebeldes serve de ensino para os irmãos. Vocês sabem quão obstinados foram eles em suas opiniões. Achavam que seus pontos de vista eram melhores que os de Moisés e que ele estava causando grande prejuízo a Israel. Os que se uniram a eles estavam tão determinados em suas posições que, apesar dos juízos de Deus terem destruído os líderes e príncipes, na manhã seguinte os sobreviventes achegaram-se ao grande líder hebreu e lhe disseram: "Vós matastes o povo do Senhor." Números 16:41. Podemos ver aí o terrível engano apresentado à mente do povo. Quão difícil é convencer as pessoas que se acham controladas por um espírito que não é de Deus. Como embaixadora de Cristo gostaria de dizer-lhes: "Sejam cuidadosos nas posições que assumem. Esta é a obra de Deus e vocês precisam dar contas a Ele pela maneira como tratam Sua mensagem." T5 67 1 Enquanto estava ao lado do leito de morte de meu marido, eu sabia que se houvera outros com quem repartir as cargas dele, teria ele sobrevivido. Então supliquei com agonia que os que estavam ali presentes não mais ofendessem o Espírito do Senhor por sua dureza de coração. Uns dias mais tarde, eu mesma estive face a face com a morte. Nessa ocasião, tive mais claras revelações de Deus com respeito a mim mesma e à igreja. Em meio a grande fraqueza, apresentei meu testemunho a vocês, não sabendo se essa seria minha última oportunidade. Vocês já esqueceram, porventura, dessa solene ocasião? Eu jamais conseguirei esquecê-la, pois tive a impressão de estar sendo levada diante do trono de Cristo. Seu estado de apostasia, dureza de coração, falta de harmonia, amor e espiritualidade, seu afastamento da simplicidade e pureza que Deus requeria que fossem preservados, eu os conhecia e percebia completamente. Havia entre vocês muita crítica, censura, inveja e contendas pelos mais altos postos. Vi tudo isso e quais seriam as conseqüências. Cheguei a temer que esse esforço viesse a custar a minha vida, mas o interesse que senti por vocês incitou-me a falar. Deus falou aos irmãos naquele dia. Será que isso fez alguma impressão duradoura? T5 67 2 Quando fui ao Colorado, achava-me tão preocupada por vocês que, em minha fraqueza, escrevi muitas páginas para serem lidas em sua reunião campal. Débil e trêmula, levantei-me às três horas da madrugada para escrever. Deus estava falando por intermédio da argila. Podem dizer que essa comunicação não passava de uma carta. Sim, foi uma carta, mas motivada pelo Espírito de Deus, a fim de apresentar diante de vocês as coisas que me foram mostradas. Nessas cartas que escrevo, nos testemunhos que apresento, coloco diante das pessoas exatamente aquilo que o Senhor me apresentou. Não escrevo um artigo sequer, na revista, expressando meras idéias minhas. Correspondem ao que Deus me revelou em visão -- os preciosos raios de luz que brilham do trono. T5 68 1 Após chegar a Oakland, fiquei impressionada ao perceber o que estava acontecendo em Battle Creek, mas eu estava fraca e impossibilitada de ajudá-los. Sabia que o fermento da incredulidade estava atuando. Aqueles que desprezavam as claras injunções da Palavra de Deus estavam desrespeitando os testemunhos que lhes apelavam para que dessem ouvidos à Bíblia. Ao visitar Healdsburg, no último inverno, passei muito tempo em oração, sobrecarregada de ansiedade e tristeza. Mas o Senhor removeu as trevas de uma vez, enquanto eu orava, e extraordinária luz encheu a sala em que me encontrava. Um anjo de Deus estava a meu lado e eu parecia estar em Battle Creek, num dos concílios. Ouvi palavras sendo proferidas e vi e ouvi coisas que, se Deus permitisse, gostaria de apagar de minha memória para sempre. Meu coração estava tão ferido que eu não sabia o que fazer ou dizer. Algumas coisas nem posso mencionar. Foi-me ordenado não revelar isso a ninguém, pois a situação ainda deve piorar. T5 68 2 Foi-me dito para reunir a luz que me fora dada e deixar que seus raios brilhassem sobre o povo de Deus. Fiz isso mediante artigos publicados nos jornais. Levantei-me cerca das três da madrugada, durante meses, e reuni os diferentes assuntos escritos após os dois últimos testemunhos me terem sido dados em Battle Creek. Passei a limpo esses temas e os enviei urgentemente a vocês, mas não cuidei de mim mesma e o resultado foi curvar sob o peso. Meus escritos não puderam ser todos concluídos para chegar até vocês na Associação Geral. T5 68 3 Novamente, enquanto em oração, o Senhor Se revelou. Eu estava uma vez mais em Battle Creek. Passava por muitas casas e ouvia as palavras de vocês ao redor da mesa. Não tenho liberdade de relatar agora os pormenores. Espero nunca ser chamada a mencioná-los. Tive também muitos sonhos impressionantes. T5 68 4 Que voz vocês reconhecerão como a voz de Deus? Que poder tem o Senhor reservado para corrigir seus erros e mostrar-lhes sua conduta como ela de fato é? Que poder opera na igreja? Se vocês se recusarem a crer até que toda sombra de incerteza e toda possibilidade de dúvida sejam removidas, nunca crerão. A dúvida que exige perfeito conhecimento nunca se renderá à fé. A fé repousa sobre evidências e nunca demonstrações. O Senhor requer que obedeçamos à voz do dever, quando há outras vozes insistindo em que sigamos direção oposta. É necessário que haja de nossa parte fervente atenção para perceber a voz que fala da parte de Deus. Precisamos resistir e vencer as inclinações, e obedecer à voz da consciência sem parlamentação ou transigência, pois do contrário os seus rogos cessam e a vontade e o impulso assumem o controle. A palavra do Senhor vem a todos nós que não temos resistido ao Seu Espírito com a determinação de não ouvir nem obedecer. Esta voz é ouvida em advertências, conselhos e reprovação. A mensagem do Senhor é luz para Seu povo. Se esperarmos por chamados mais insistentes ou melhores oportunidades, a luz poderá ser retirada e ficaremos em trevas. T5 69 1 Por negligenciarem uma vez atender ao chamado do Espírito de Deus e Sua Palavra, quando a obediência envolve uma cruz, muitos têm perdido muito. Quanto, eles nunca saberão até que os livros sejam abertos no dia final. Os rogos do Espírito negligenciados hoje porque o prazer ou as inclinações levam em sentido oposto podem ser impotentes para convencer ou mesmo para impressionar amanhã. Aproveitar as oportunidades do presente, com coração pronto e disposto, é a única maneira de crescer na graça e no conhecimento da verdade. Devemos estimar sempre o senso de que, individualmente, estamos diante do Senhor dos exércitos; nenhuma palavra, nenhum ato e nem mesmo um pensamento que ofendam os olhos do Eterno devem ser tolerados. Se sentirmos que em toda parte somos os servos do Altíssimo, seremos mais cuidadosos. Toda a nossa vida terá para nós um significado e uma santidade que qualquer honra terrena jamais poderá oferecer. T5 70 1 Os pensamentos do coração, as palavras dos lábios e todo ato da vida tornarão mais valioso o nosso caráter, se a presença de Deus for continuamente sentida. Seja a linguagem do coração: "O Senhor está neste lugar." Então a vida será pura, o caráter sem mácula, a mente continuamente dirigida para o Senhor. Vocês não seguiram esse procedimento em Battle Creek. Vi que sofrem de uma doença dolorosa e contagiosa que produzirá morte espiritual, a menos que seja detida. T5 70 2 Muitos se arruinaram por seu desejo de uma vida de facilidades e prazeres. A abnegação lhes é desagradável. Estão constantemente desejando evitar provações, as quais são inseparáveis de uma conduta de fidelidade a Deus. Inclinam o coração para a posse das boas coisas desta vida. Será que esse sucesso puramente humano não está sendo buscado em detrimento dos interesses eternos? O mais importante na vida é ser um verdadeiro servo de Deus, amar a justiça e abominar a iniqüidade. Deveríamos aceitar com gratidão o que é possível alcançar em termos de felicidade e sucesso. Nossa grande força está em compreender e sentir nossa fraqueza. A maior perda que vocês em Battle Creek podem sofrer é a perda da determinação e perseverante zelo, do poder de resistir à tentação, da fé nos princípios da verdade e do dever. T5 70 3 Que nenhum homem se orgulhe de ser bem-sucedido, a menos que preserve a integridade de sua consciência, dedicando-se integralmente à verdade e a Deus. Deveríamos mover-nos firmemente para diante, nunca perdendo o ânimo ou a esperança na boa obra, quaisquer que sejam as aflições que venham bloquear nosso caminho, qualquer que seja a escuridão moral a envolver-nos. Paciência, fé e amor pelo dever são lições que precisamos aprender. Subjugar o eu e olhar para Jesus é uma obra diária. O Senhor nunca abandonará a alma que nEle confia e busca Seu auxílio. A coroa da vida será colocada apenas sobre a fronte do vencedor. Enquanto a vida durar, todos devem realizar uma obra zelosa e solene para Deus. Enquanto o poder de Satanás aumenta e seus enganos são multiplicados, habilidade, aptidão e inteligente estratégia deveriam ser exercidos por aqueles que estão à frente do rebanho de Deus. Cada um de nós não tem apenas uma obra a fazer por si mesmo, mas temos também o dever de estimular outros a obterem a vida eterna. T5 71 1 É-me doloroso dizer, meus irmãos, que sua pecaminosa negligência em andar na luz os envolveu em trevas. Vocês podem agora estar sendo sinceros em não reconhecer e obedecer à luz. As dúvidas que têm mantido e a negligência em ouvir os reclamos divinos têm cegado suas percepções de forma que a escuridão agora lhes é como luz e a luz como trevas. Deus lhes ordena que caminhem rumo à perfeição. O cristianismo é uma religião que incentiva ao progresso. A luz que provém de Deus é plena e ampla; só falta pedirmos. Quaisquer que sejam as bênçãos que o Senhor possa dar, Ele ainda tem um suprimento infinito além, um inexaurível estoque ao qual podemos recorrer. O ceticismo pode considerar os sagrados reclamos do evangelho com frivolidade, escárnio e negação. O espírito mundano pode contaminar muitos e controlar uns poucos. A causa de Deus pode conservar seu terreno apenas mediante ação vigorosa e contínuo sacrifício; todavia, triunfará no final. T5 71 2 A palavra de ordem é: avante! Cumpra seu dever individual e deixe as conseqüências nas mãos de Deus. Se avançarmos no caminho pelo qual Cristo nos conduz, veremos Seu triunfo e participaremos de Sua felicidade. Precisamos enfrentar os conflitos se quisermos conquistar a coroa da vitória. Como Jesus, precisamos nos aperfeiçoar pela via do sofrimento. Houvesse a vida de Cristo sido de facilidades, então poderíamos com segurança ceder à indolência. Visto que Sua vida foi marcada por contínua abnegação, sofrimento e sacrifício próprio, não nos queixaremos se formos participantes com Ele. Podemos andar com segurança no caminho escuro se tivermos a Luz do mundo como nossa guia. T5 72 1 O Senhor está testando e provando as pessoas. Ele tem aconselhado, advertido e suplicado. Todas essas solenes advertências tornarão a igreja melhor ou decididamente pior. Quanto mais o Senhor fala para corrigir ou aconselhar e vocês desrespeitam Sua voz, mais dispostos se tornam em rejeitá-la, até Deus dizer: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a Minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o Meu conselho e não quisestes a Minha repreensão; também Eu Me rirei na vossa perdição e zombarei, vindo o vosso temor, vindo como assolação o vosso temor, e vindo a vossa perdição como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia. Então, a Mim clamarão, mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, mas não Me acharão. Porquanto aborreceram o conhecimento e não preferiram o temor do Senhor; não quiseram o Meu conselho e desprezaram toda a Minha repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu caminho e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o desvio dos simples os matará, e a prosperidade dos loucos os destruirá. Mas o que Me der ouvidos habitará seguramente e estará descansado do temor do mal." Provérbios 1:24-31. T5 72 2 Está você equilibrando-se entre dois pensamentos opostos? Estará negligenciando atender à luz que Deus lhe deu? Atente a ela a fim de que não haja um coração maligno de incredulidade que o afaste do Deus vivo. O irmão não conhece o tempo de sua visitação. O maior pecado dos judeus foi negligenciar e rejeitar as oportunidades presentes. Quando Jesus olha para o estado de seus professos seguidores hoje, vê ingratidão, formalismo oco, hipocrisia, orgulho farisaico e apostasia. T5 72 3 As lágrimas que Cristo verteu no cume do monte das Oliveiras foi pela impenitência e ingratidão de cada indivíduo no final dos tempos. Ele vê Seu amor desdenhado. Ele vê o pátio do templo do coração convertido em lugar de tráfico profano. Egoísmo, riquezas, malícia, inveja, orgulho e paixão são todos acalentados no coração humano. Suas advertências são rejeitadas e ridicularizadas, Seus embaixadores tratados com indiferença. Suas palavras são vistas como contos vazios. Jesus fala através de Suas misericórdias, mas elas não são reconhecidas. Ele fala mediante solenes advertências, mas são recusadas. T5 73 1 A quem tem por tanto tempo professado a fé e ainda presta homenagens exteriores a Cristo, rogo que não engane a si próprio. Jesus quer contar com a integridade do coração do homem. Somente a lealdade é de valor à vista de Deus. "Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence!" Lucas 19:42. "Se tu conhecesses..." Cristo, neste momento, Se dirige pessoalmente a cada um, inclinando-Se de Seu trono, curvando-Se com infinita ternura sobre aqueles que não sentem o perigo que correm, que não têm piedade de si mesmos. T5 73 2 Muitos têm o nome de que vivem, enquanto estão espiritualmente mortos. Esses um dia dirão: "Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E, em Teu nome, não expulsamos demônios? E, em Teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:22, 23. Maldições serão pronunciadas sobre os que se demorarem e hesitarem até que o Sol da Justiça se ponha. A escuridão da noite eterna será sua porção. Que o frio, formal e mundano coração possa ser comovido! Cristo não verteu apenas lágrimas, mas Seu próprio sangue. Porventura essas manifestações de Seu amor não nos despertarão para uma profunda humilhação diante de Deus? É de humildade e auto-rebaixamento que necessitamos para ser aprovados por Deus. T5 73 3 O homem a quem Deus está guiando nunca estará satisfeito consigo mesmo por causa da luz do Homem Perfeito que incide sobre ele. Mas os que perderam de vista o Padrão, e se estimam indevidamente em alto grau, observarão faltas para criticar os outros; serão mordazes, suspeitosos e condenadores; arrasarão os semelhantes para elevarem a si mesmos. T5 73 4 Quando o Senhor apresentou o caso de vocês perante mim, e me tornou conhecido que não estavam observando a luz que lhes fora dada, foi-me ordenado que falasse claramente em Seu nome, pois a ira divina estava acesa contra vocês. Foram-me faladas estas palavras: "Seu trabalho foi apontado por Deus. Muitos não a ouvirão, pois se recusam ouvir o Grande Mestre; muitos não serão corrigidos pois seus caminhos só são retos aos próprios olhos. Todavia, leve-lhes as reprovações e advertências que Eu lhe dei, quer ouçam quer deixem de ouvir." T5 74 1 Apresentei aos irmãos o testemunho do Senhor. Aqueles que estiverem dispostos a ser corrigidos ouvirão Sua voz. Mas os que foram enganados pelo inimigo não querem vir para a luz a fim de que seus feitos sejam reprovados. Muitos de vocês não podem discernir a obra e a presença de Deus. Não a conhecem. O Senhor ainda é gracioso, disposto a perdoar a todos os que tornarem a Ele em penitência e fé. Diz o Senhor: "Muitos não sabem até que ponto são obstinados. Não ouvem a voz de Deus, mas andam segundo a própria vista e coração. Incredulidade e ceticismo tomaram o lugar da fé. Eles Me abandonaram." T5 74 2 Foi-me mostrado que pais e mães se afastaram de sua simplicidade e negligenciaram o santo chamado do evangelho. O Senhor os advertiu para não adotarem os costumes e máximas do mundo. Cristo lhes teria dado livre e abundantemente das inescrutáveis riquezas de Sua graça, mas eles se provaram indignos. T5 74 3 Muitos estão se entregando à vaidade. Tão logo a pessoa imagina possuir algum talento que possa ser usado na causa de Deus, superestima o dom e é inclinada a se ter em tão alta conta como se ela fosse uma coluna da igreja. A obra que poderia ter feito, transfere-a para alguém com menos capacidade do que se considera possuir. Ela pensa e fala como se estivesse num patamar superior. Tem o dever de deixar que sua luz brilhe sobre os homens, mas em lugar de graça, mansidão, humildade, bondade, cortesia e amor iluminando-lhe a vida, o eu, o importante eu, desponta em toda parte. T5 75 1 O Espírito de Cristo deve controlar tanto o nosso caráter como a conduta, para que nossa influência possa sempre encorajar, abençoar e edificar. Nossos pensamentos, palavras e atos devem testificar que somos nascidos de Deus e que a paz de Cristo reina em nosso coração. Desse modo, lançamos ao nosso redor a graciosa radiação da qual fala o Salvador, quando nos ordena deixar nossa luz brilhar diante dos homens. Assim deixamos uma esteira luminosa na direção do Céu. Por esse meio todos os que estão ligados com Cristo podem tornar-se muito mais eficientes pregadores da justiça do que pelo mais ativo esforço de púlpito feito sem a unção celestial. Esses portadores de luz irradiam o mais puro esplendor, embora pouco conscientes de seu próprio brilho, assim como as flores difundem a mais doce fragrância sem a mínima exibição. T5 75 2 Nosso povo está cometendo erros perigosíssimos. Não podemos aplaudir e lisonjear qualquer pessoa sem causar-lhe grande dano. Aqueles que agem assim sofrerão sérios desapontamentos. Confiam plenamente em pessoas finitas e não em Deus, que nunca erra. O ansioso desejo de estimular seres humanos à notoriedade é evidência de apostasia em relação a Deus e amizade com o mundo. Esse é o espírito que caracteriza os dias atuais. Ele mostra que os homens não têm a mente de Cristo. Cegueira espiritual e pobreza de alma os acometem. Em geral, pessoas com mente limitada desviam seu olhar de Jesus para um mero padrão humano, pelo que não se conscientizam de sua própria pequenez, daí terem uma estima indevida de suas próprias habilidades e dotações. Há entre nós como um povo uma idolatria de agentes e meros talentos humanos, mesmo de caráter superficial. Precisamos morrer para o eu e acalentar uma fé humilde e infantil. O povo de Deus se afastou de sua simplicidade. Não têm eles feito de Deus a sua força; por isso, são espiritualmente fracos e frágeis. T5 75 3 Foi-me mostrado que o espírito do mundo está levedando rapidamente a igreja. Vocês estão seguindo o mesmo caminho que o antigo Israel. Há a mesma rebeldia ao seu santo chamado como povo peculiar de Deus. Os irmãos estão tendo associação com as infrutuosas obras das trevas. Sua concordância com os descrentes têm provocado o desprazer divino. Vocês não sabem das coisas que dizem respeito à sua paz e as estão rapidamente ocultando de seus olhos. Sua negligência em seguir a luz os colocará numa posição mais desfavorável do que os judeus, sobre quem Cristo pronunciou uma maldição. T5 76 1 Vi que essa incredulidade com relação aos testemunhos tem aumentado à medida que o povo apostata de Deus. Isso ocorre em nossas fileiras e em todo o campo. Mas poucos sabem o que nossas igrejas estão para experimentar. Foi-me mostrado que presentemente estamos sob tolerância divina; porém, ninguém sabe até quando. Ninguém sabe quão grande é a misericórdia que tem sido exercida sobre nós. Poucos são fervorosamente consagrados a Deus. Há apenas uns poucos que, como as estrelas numa noite tempestuosa, brilham aqui e acolá entre as nuvens. T5 76 2 Muitos que complacentemente ouvem as verdades da Palavra de Deus estão mortos espiritualmente, embora professem estar vivos. Por anos têm eles ido e vindo em nossas congregações, mas parecem cada vez menos sensíveis ao valor da verdade revelada. Não estão famintos e sedentos de justiça. Não sentem o menor prazer nas coisas espirituais. Concordam com a verdade, mas não são santificados por ela. Nem a Palavra de Deus nem os testemunhos de Seu Espírito fazem qualquer impressão definitiva sobre eles. Exatamente de acordo com a luz, privilégios e oportunidades que desprezaram será sua condenação. Muitos que pregam a verdade a outros estão eles mesmos em acariciada iniqüidade. As súplicas do Espírito de Deus, como divina melodia, as promessas de Sua Palavra tão ricas e abundantes, Suas ameaças contra a idolatria e desobediência, todas são impotentes para sensibilizar o mundano coração endurecido. T5 77 1 Muitos de nosso povo são mornos. Eles ocupam a posição de Meroz, nem a favor nem contra, nem frio nem quentes. Ouvem as palavras de Cristo, mas não as põem em prática. Se permanecerem nesse estado, Ele os rejeitará com aversão. Muitos daqueles que receberam grande luz, grandes oportunidades e toda vantagem espiritual, louvam a Cristo e ao mundo com a mesma intensidade. Inclinam-se perante Deus e Mamom. Divertem-se com os mundanos e ainda reivindicam ser abençoados com os filhos de Deus. Desejam ter a Cristo como seu Salvador, mas não carregam a cruz e tomam Seu jugo. Que o Senhor tenha misericórdia de vocês, pois se prosseguirem nessa vereda, nada senão o mal pode ser profetizado a seu respeito. T5 77 2 A paciência de Deus tem um objetivo, mas vocês estão conspirando contra ele. Deus está permitindo que ocorra um estado de coisas o qual vocês se alegrariam em ver logo frustrado, mas será muito tarde então. Deus ordenou a Elias que ungisse o cruel e traiçoeiro Hazael como rei da Síria, para que se tornasse um açoite contra o idólatra Israel. Quem sabe se Deus não os abandonará aos enganos que vocês tanto amam? Quem sabe se os pregadores fiéis, firmes e verdadeiros podem ser os últimos a apresentar o evangelho da paz às nossas igrejas ingratas? Pode ser que os destruidores já estejam nas mãos de Satanás, aguardando apenas que uns poucos porta-bandeiras tomem seus lugares e com a voz de falsos profetas clamem: paz, paz, quando o Senhor não falou de paz. Eu raramente choro, mas agora meus olhos estão marejados de lágrimas, que caem sobre o papel em que escrevo. Pode ser que dentro em breve tudo o que foi profetizado entre nós atinja o final, e a voz que agitou o povo não mais perturbe seus cochilos carnais. T5 78 3 Quando Deus realizar Sua estranha obra na Terra, quando as santas mãos não mais carregarem a arca, desgraças se abaterão sobre o povo. "Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence!" Lucas 19:42. Oh, que nosso povo possa, como a cidade de Nínive, arrepender-se com todas as suas forças e crer de todo o coração, a fim de que Deus retire Sua ardente ira de sobre eles. T5 78 1 Sinto dor e angústia ao ver pais identificados com o mundo permitindo a seus filhos adotar o padrão mundano em um tempo como este. Encho-me de horror ao me ser apresentada a condição de famílias que professam a verdade presente. É quase incrível a depravação dos jovens e mesmo das crianças. Não sabem os pais que o vício está destruindo e desfigurando em seus filhos a imagem de Deus. Entre eles há os pecados que caracterizaram os sodomitas. Os pais são responsáveis, pois não educam os filhos a amar e obedecer a Deus. Não os têm reprimido, nem lhes têm ensinado diligentemente o caminho do Senhor. Têm-lhes permitido entrar e sair quando querem, e associarem-se com os mundanos. Essas influências mundanas que anulam o ensino e a autoridade paternos encontram-se grandemente na chamada boa sociedade. Por seu vestuário, aparência, divertimentos, cercam-se eles duma atmosfera contrária a Cristo. T5 78 2 Nossa única segurança é manter-nos como o povo peculiar de Deus. Não devemos ceder um milímetro ante os costumes e modas deste século degenerado, mas permanecer em independência moral, sem transigir com suas práticas corruptas e idólatras. T5 78 3 São necessárias coragem e independência para erguer-se acima da norma religiosa do mundo cristão. E as pessoas em geral não estão dispostas a seguir o exemplo do Salvador, de abnegação e sacrifício; mas buscam constantemente esquivar-se da cruz, que Cristo declara ser o sinal do discipulado. T5 78 4 Que posso dizer para despertar nosso povo? Digo-lhes que não poucos dentre os pastores que se apresentam perante o povo para expor as Escrituras estão corrompidos. Têm o coração poluído e as mãos imundas. Muitos estão clamando "paz, paz" e os obreiros da iniqüidade não estão alarmados. A mão do Senhor não está recolhida para que não possa salvar, nem seu ouvido cerrado para que não possa ouvir, mas são os nossos pecados que nos têm separado de Deus. A igreja está corrompida por causa de membros que poluem o corpo e mancham sua alma. T5 79 1 Se todos aqueles que vêm para as reuniões de edificação e oração pudessem ser considerados verdadeiros adoradores, então poderíamos ter esperança; mesmo assim, muito ainda teria de ser feito por nós. Mas não devemos nos enganar. As coisas estão muito distantes do que a aparência indica. À distância podem parecer belas, porém, se examinadas mais proximamente, mostrar-se-ão cheias de deformidades. O prevalecente espírito de nossos dias é de infidelidade e apostasia -- um espírito de pretensa iluminação por causa do conhecimento da verdade, mas, em realidade, da mais cega presunção. Há um espírito de oposição à clara Palavra de Deus e ao testemunho de Seu Espírito. Há um espírito de idolátrica exaltação da mera razão humana acima da revelada sabedoria divina. T5 79 2 Há homens em cargos de responsabilidade entre nós que sustentam que as opiniões de uns poucos supostos filósofos são mais confiáveis do que a verdade bíblica ou os testemunhos do Espírito Santo. Fé como a de Paulo, Pedro ou João é considerada obsoleta e intolerável nos dias modernos. Ela é considerada absurda, mística e indigna de consideração por pessoas inteligentes. T5 79 3 Deus me mostrou que esses homens são Hazaéis para açoitarem nosso povo. Eles se consideram mais sábios do que o que está escrito. Tal descrença nas verdades da Palavra de Deus porque o juízo humano é incapaz de compreender os mistérios de Sua ação é vista em cada distrito e em todas as classes da sociedade. É ensinada na maioria de nossas escolas e vem embutida nas lições da escola maternal. Milhares que professam ser cristãos dão ouvidos a espíritos enganadores. Em toda parte o espírito das trevas, trajado de roupagens religiosas, defrontará vocês. T5 79 4 Se tudo o que aparenta ser vida espiritual o fosse em realidade; se todos os que professam apresentar a verdade ao mundo estivessem pregando a favor da verdade e não contra ela, e se todos fossem homens de Deus, guiados por Seu Espírito, então poderíamos ver algo brilhando em meio à prevalecente escuridão moral. Todavia, o espírito do anticristo predomina em extensão tal como nunca vista antes. Bem podemos clamar: "Salva-nos, Senhor, porque faltam os homens benignos; porque são poucos os fiéis entre os filhos dos homens." Salmos 12:1. Eu sei que muitos pensam mui favoravelmente em relação aos tempos atuais. Esses amantes das comodidades serão mergulhados em ruína total. Contudo, não precisamos nos desesperar. Podemos pensar que onde não há pastores fiéis não pode haver cristãos verdadeiros, mas não é esse o caso. Deus prometeu que onde os pastores não fossem fiéis, Ele mesmo se encarregaria do rebanho. Deus nunca deixou o rebanho totalmente dependente das pessoas. Os dias de purificação da igreja estão chegando rapidamente. Deus terá um povo puro e fiel. No grande peneiramento prestes a acontecer, seremos melhor capacitados a medir a força de Israel. Os sinais revelam que o tempo está próximo, quando o Senhor mostrará que a ferramenta está em Sua mão e que Ele limpará completamente a eira. T5 80 1 Estão rapidamente se aproximando dias quando haverá grande perplexidade e confusão. Satanás, trajado com vestes angelicais, enganará, se possível, os próprios escolhidos. Haverá muitos deuses e senhores. Soprará todo vento de doutrina. Aqueles que têm rendido altas homenagens à falsamente chamada ciência não serão os líderes de então. Os que confiaram no intelecto, no gênio ou talento não permanecerão à frente das fileiras e colunas. Eles não progrediram de acordo com a luz. Os que se têm mostrado infiéis não serão então incumbidos do rebanho. T5 80 2 Na última e mais solene obra, poucos grandes homens se empenharão. Os presumidos e independentes de Deus, Ele não os pode usar. O Senhor tem servos fiéis, que se hão de revelar no tempo da sacudidura e prova. Há elementos preciosos, hoje ocultos, que não prostraram o joelho a Baal. Não tiveram a luz que tem estado a brilhar sobre vós, em chama concentrada. Mas pode sob um rude e não convidativo exterior revelar-se o puro brilho de um genuíno caráter cristão. Durante o dia olhamos para o céu, mas não vemos estrelas. Ali se acham, fixas no firmamento, mas os olhos não as distinguem. À noite contemplamos o seu genuíno brilho. T5 81 1 Não vai longe o tempo em que a prova envolverá a todos. A marca da besta nos será recomendada com insistência. Os que, passo a passo, cederam às exigências do mundo e se sujeitaram a costumes mundanos não acharão difícil submeter-se aos poderes dominantes, de preferência a expor-se a escárnio, insultos, ameaças de prisão e morte. O conflito é entre os mandamentos de Deus e os mandamentos de homens. Nesse tempo, o ouro será separado da escória na igreja. A verdadeira piedade distinguir-se-á então claramente daquela que é só aparência. Muitas estrelas cujo brilho temos admirado, então se apagarão transformando-se em trevas. A palha, como nuvem, será levada pelo vento, mesmo de lugares onde só vemos ricos campos de trigo. Todos os que se apoderam dos ornamentos do santuário, mas não se acham vestidos com a justiça de Cristo, aparecerão na vergonha da sua nudez. T5 81 2 Quando as árvores infrutíferas forem cortadas como obstáculos no terreno, quando multidões de falsos irmãos forem distinguidas dos verdadeiros, então os anônimos se revelarão e com hosanas se alinharão sob a bandeira de Cristo. Aqueles que têm sido tímidos e receosos declarar-se-ão abertamente por Cristo e Sua verdade. Os mais fracos e hesitantes na igreja serão como Davi, dispostos a fazer e ousar. Quanto mais profunda a noite para o povo de Deus, mas brilhantes as estrelas. Satanás acossará intensamente os fiéis, mas em nome de Jesus eles se tornarão mais que vencedores. Então a igreja de Cristo surgirá "formosa como a lua, brilhante como o sol, formidável como um exército com bandeiras". Cantares 6:10. T5 82 1 As sementes da verdade que estão sendo semeadas através dos esforços missionários brotarão, florirão e darão frutos. As pessoas receberão a verdade, suportarão tribulações e louvarão a Deus porque podem sofrer por Jesus. "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; Eu venci o mundo." João 16:33. Quando a torrente flagelante passar sobre o mundo, quando a eira de Jeová estiver sendo limpa, Deus será o auxílio de Seu povo. Os troféus de Satanás podem ser erguidos ao alto, mas a fé dos puros e santos não será intimidada. T5 82 2 Elias tomou Eliseu de detrás do arado e lançou sobre ele o manto de consagração. O chamado a esta grande e solene obra foi apresentado perante os homens de saber e posição. Houvessem eles sido pequenos a seus próprios olhos e confiado plenamente no Senhor, Ele os haveria honrado com o conduzir Seu estandarte em triunfo até a vitória. Porém, eles se separaram de Deus submetendo-se à influência do mundo, e o Senhor os rejeitou. T5 82 3 Muitos têm exaltado a ciência e perdido de vista o Deus da ciência. Não aconteceu isso com a igreja nos tempos de maior fidelidade. T5 82 4 Deus realizará uma obra em nosso tempo que poucos esperam. Ele suscitará e exaltará entre nós os que estão mais preparados pela unção de Seu Espírito do que pelo preparo exterior de instituições científicas. Esses meios não devem ser desprezados ou condenados; eles são ordenados por Deus, mas só podem fornecer as habilitações exteriores. Deus mostrará que não depende de seres humanos instruídos e cheios de si. T5 82 5 Há poucos homens realmente consagrados entre nós; poucos que têm lutado e vencido na batalha contra o próprio eu. A real conversão é uma decidida mudança de sentimentos e motivos; é uma virtual despedida das ligações mundanas, um apressado abandono de sua atmosfera espiritual, um afastamento do poder controlador de seus pensamentos, opiniões e influências. A separação produz dor e amargura a ambas as partes. Essa é a dissensão que Cristo declarou vir trazer. Mas os convertidos sentirão contínuo desejo de que seus amigos abandonem tudo por Cristo, sabendo que a menos que façam isso, haverá final e eterna separação. O verdadeiro cristão não pode, diante de seus amigos não-crentes, ser luz e obstáculo ao mesmo tempo. O valor das pessoas por quem Cristo morreu é imenso. T5 83 1 "Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem", disse Cristo, "não pode ser Meu discípulo." Lucas 14:33. O que quer que desvie as afeições de Deus precisa ser abandonado. Mamom é o ídolo de muitos. Suas áureas cadeias ligam-nos a Satanás. Reputação e honras mundanas são reverenciadas por outra classe. Uma vida de tranqüilidade egoísta e isenção de responsabilidade é o ídolo de outros. Essas são armadilhas de Satanás preparadas para pés descuidados. Esses laços escravizantes precisam ser rompidos; a carne, com suas concupiscências e afeições, precisa ser crucificada. Não podemos ser metade do Senhor e metade do mundo. Não seremos povo de Deus a menos que o sejamos integralmente. Cada fardo e cada pecado acariciado precisam ser postos de lado. Os atalaias de Deus não podem proclamar "paz, paz", quando Deus não falou de paz. A voz dos fiéis vigilantes será ouvida: "Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. T5 83 2 A igreja não pode medir-se pelo mundo nem pela opinião humana, nem mesmo pelo que ela uma vez foi. Sua fé e posição no mundo, como agora se vê, precisa ser comparada com o que ela deveria ter sido se o seu rumo fosse continuamente para a frente e para o alto. A igreja será pesada nas balanças do santuário. Se seu caráter moral e estado espiritual não corresponderem aos benefícios e bênçãos que o Senhor lhe conferiu, será achada em falta. A luz que tem brilhado clara e definida sobre seu caminho e a luz de 1882 cobram uma posição da igreja. Se seus talentos não estiverem sendo de proveito; se seu fruto não for perfeito diante de Deus; se sua luz se tem tornado em trevas, ela será realmente achada em falta. A percepção de nosso estado como Deus o vê parece nos estar oculta. Vemos, mas não percebemos; ouvimos, mas não compreendemos, e descansamos despreocupados como se a coluna de nuvem de dia e a coluna de fogo durante a noite descansassem sobre nosso santuário. Professamos conhecer a Deus e crer na verdade, mas as obras o desmentem. Nossos atos estão em confronto direto com os princípios da verdade e justiça, pelos quais professamos ser governados. ------------------------Capítulo 6 -- Obreiros em nosso colégio T5 84 1 O próprio fundamento para toda verdadeira prosperidade em nosso colégio está numa íntima união com Deus por parte dos professores e estudantes. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Seus preceitos devem ser reconhecidos como regra de vida. Na Bíblia a vontade de Deus está revelada a Seus filhos. Onde quer que ela seja lida -- no círculo familiar, na escola ou na igreja -- todos devem tributar-lhe calma e devotada atenção, como se Deus estivesse de fato presente e falando-lhes a eles. T5 84 2 Nem sempre tem sido mantida em nossa escola uma elevada norma religiosa. A maioria tanto de professores como de estudantes está constantemente procurando esconder sua religião. Este tem sido especialmente o caso desde que pessoas do mundo têm financiado o colégio. Cristo requer de todos os Seus seguidores confissão corajosa e franca de sua fé. Cada um tem de tomar a sua posição e ser o que Deus deseja que ele seja: um espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. Todo cristão deve ser uma luz, não oculta sob o alqueire ou debaixo da cama, mas posta no velador, para que ilumine a todos que estão na casa. T5 85 1 Os professores em nosso colégio não se devem conformar aos costumes do mundo nem adotar os princípios mundanos. Os atributos que Deus mais preza são amor e pureza. Esses atributos devem ser estimados por todo cristão. "E qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus." 1 João 4:7. "Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é, em nós, aperfeiçoado." 1 João 4:12. "Porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:2, 3. T5 85 2 Deus tem estado a mover o coração de jovens para que se devotem ao ministério. Eles têm vindo ao nosso colégio na esperança de encontrar aí vantagens que não obteriam em nenhum outro lugar. Mas as solenes convicções do Espírito de Deus têm sido levianamente consideradas pelos professores que conhecem muito pouco do valor das pessoas e sentem muito pouco o peso de sua salvação, e têm procurado desviar os jovens do caminho pelo qual Deus tem procurado conduzi-los. T5 85 3 A retribuição pelo trabalho de professores bem qualificados é muito mais alta do que a de nossos pastores, e o professor não chega a trabalhar tanto nem se sujeita a tantas inconveniências como o pastor que se dá inteiramente ao trabalho. Estas coisas são apresentadas perante os jovens, e eles têm sido encorajados a duvidar de Deus e a descrer de Suas promessas. Muitos têm escolhido o caminho mais fácil, preparando-se para ensinar ciências ou para empenhar-se em algum outro trabalho em vez de pregar a verdade. T5 85 4 Assim tem a obra de Deus sido dificultada por professores não consagrados, que professam crer na verdade, mas não têm no coração o amor à mesma. O jovem educado é ensinado a considerar suas habilidades como demasiado preciosas para serem devotadas ao serviço de Cristo. Mas não possui Deus nenhum direito sobre ele? Quem lhe deu o poder de obter essa disciplina mental e de alcançar essas conquistas? Seriam elas conseguidas independentemente de Jeová? T5 86 1 Muito jovem há que, ignorante do mundo, ignorante de suas fraquezas, ignorante do futuro, não sente qualquer necessidade de uma divina mão para indicar-lhe o seu comportamento. Ele se considera absolutamente capaz de conduzir o seu próprio barco em meio às ondas encapeladas. Lembrem-se tais jovens de que, aonde quer que forem, não estão fora dos domínios de Deus. Não estão livres para escolher o que desejarem sem consulta à vontade do seu Criador. T5 86 2 O talento é sempre melhor desenvolvido e melhor apreciado onde é mais necessário. Mas essa verdade é passada por alto por muitos que avidamente aspiram à distinção. Embora superficiais na experiência religiosa e nas consecuções mentais, sua cega ambição cobiça uma esfera de ação mais alta do que aquela em que a Providência os colocou. O Senhor não os chama, como fez a José e a Daniel, para resistir a tentações de honra mundana e alta posição. Mas eles forçam passagem para essas posições de perigo e desertam do único posto de dever para o qual estão habilitados. T5 86 3 O clamor macedônico está vindo a nós de todas as direções. "Enviem-nos obreiros", é o apelo urgente do leste e do oeste. Ao nosso redor há campos brancos "para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna". João 4:35, 36. Não é uma estultícia deixar de lado esses campos para empenhar-se nalgum negócio que só pode render lucro financeiro? Cristo não quer obreiros egoístas que só estão procurando os mais altos salários. Ele chama os que estão dispostos a se tornarem pobres por amor a Ele, assim como Ele Se fez pobre por eles. Que incentivos foram apresentados diante de Cristo neste mundo? Insultos, zombaria, pobreza, vergonha, rejeição, traição e crucifixão. Procurarão os subpastores uma missão mais fácil que a do seu Mestre? T5 86 4 A Palavra de Deus é uma grande simplificadora dos complicados processos da vida. Ela concede divina sabedoria a cada fervoroso pesquisador. Jamais devemos esquecer que fomos redimidos pelo sofrimento. É o precioso sangue de Cristo que faz expiação por nós. Mediante labuta, sacrifícios e perigo, pela perda de bens terrenos, e em angústia de alma tem o evangelho sido levado ao mundo. Deus chama a jovens no vigor e força de sua juventude, para que com Ele compartilhem abnegação, sacrifício e sofrimento. Se aceitarem o chamado, Ele os fará Seus instrumentos na salvação das pessoas por quem Ele morreu. Mas Ele gostaria que considerassem o custo e entrassem na obra com pleno conhecimento das condições sob as quais servem a um Redentor crucificado. T5 87 1 Dificilmente posso expressar meus sentimentos quando penso em como o propósito de Deus no estabelecimento de nosso colégio tem sido desconsiderado. Os que possuem uma forma de piedade estão negando, por sua vida não consagrada, a eficácia da verdade para tornar os homens sábios para a salvação. Considerem a história dos apóstolos, que sofreram pobreza, abusos, maus-tratos e até mesmo a morte por amor à verdade. Eles se alegravam de que fossem achados dignos de sofrer por Cristo. T5 87 2 Se grandes resultados podem ser alcançados por grandes esforços e grandes sofrimentos, quem dentre nós, que seja súdito da divina graça, pode recusar o sacrifício? O evangelho de Cristo inclui em seus reclamos toda alma que tenha ouvido a mensagem das novas de grande alegria. Que daremos a Deus por todos os Seus benefícios para conosco? Sua incomparável misericórdia jamais pode ser retribuída. Somente pela voluntária obediência e serviço de gratidão podemos testificar de nossa lealdade e coroar com honra nosso Redentor. T5 87 3 Não tenho maior desejo do que ver nossa juventude imbuída do espírito da religião pura que os levará a tomar a cruz e seguir a Cristo. Prossigam, jovens discípulos de Jesus, controlados pelo princípio, envolvidos nas vestes de pureza e de justiça. Seu Salvador os conduzirá à posição melhor preparada aos seus talentos e onde possam servir melhor. No caminho do dever podem estar certos de receber graça bastante para o seu dia. T5 87 4 A pregação do evangelho é o instrumento escolhido por Deus para a salvação das pessoas. Nosso primeiro trabalho, porém, deve ser pôr o nosso próprio coração em harmonia com Deus, e então estaremos preparados para trabalhar por outros. Nos primeiros dias houve grande exame do coração entre nossos fervorosos obreiros. Eles se aconselhavam mutuamente e uniam-se em oração pedindo humilde e ferventemente a direção divina. Tem havido declínio no verdadeiro espírito missionário entre obreiros e professores. No entanto, a vinda de Cristo está mais próxima do que quando a princípio cremos. Cada dia que passa é um dia a menos para proclamarmos a mensagem de advertência ao mundo. Seria de desejar que houvesse hoje mais fervente intercessão com Deus, maior humildade, maior pureza e maior fé. T5 88 1 Todos estão em constante perigo. Advirto a igreja a que se acautele dos que pregam a outros a palavra da vida mas não estimam eles mesmos o espírito de humildade e abnegação que ela inculca. Não se pode confiar nesses homens num momento de crise. Desrespeitam a voz de Deus tão prontamente como o fez Saul e, como ele, muitos se mostram dispostos a justificar sua conduta. Quando repreendido pelo Senhor por meio de Seu profeta, Saul ousadamente afirmou que havia obedecido à voz de Deus; mas o balido das ovelhas e o mugido das vacas provavam que não. Do mesmo modo muitos hoje afirmam sua lealdade a Deus, mas suas reuniões de concertos e outros prazeres, suas associações mundanas, sua glorificação do eu e seu ávido desejo de popularidade -- tudo testifica de que não estão obedecendo à Sua voz. "Os opressores do Meu povo são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo." Isaías 3:12. T5 88 2 Esta é uma elevada norma que o evangelho coloca diante de nós. O cristão coerente não é apenas uma nova, mas também nobre criatura em Jesus Cristo. Ele é uma permanente luz para mostrar a outros o caminho para o Céu e para Deus. Aquele que está usufruindo sua vida em Cristo não terá qualquer desejo por prazeres mundanos, frívolos, que não satisfazem. T5 88 3 Grande diversidade de caráter e de educação pode ser encontrada entre os jovens. Alguns têm suportado muita restrição e dureza, o que desenvolveu neles um espírito de obstinação e desafio. Outros têm sido mimados no lar, permitindo-lhes os pais que seguissem suas próprias inclinações, desculpando-lhes cada defeito, até que o seu caráter se deformasse. Para tratar com sucesso com cada uma dessas diferentes personalidades, o professor precisa usar grande tato e delicadeza no modo de agir, bem como firmeza no controle. T5 89 1 Desprazer e mesmo desdém pelos necessários regulamentos serão manifestos muitas vezes. Alguns porão em prática toda a sua habilidade para fugir às penalidades, enquanto outros mostrarão atrevida indiferença quanto às conseqüências da transgressão. Tudo isso exigirá muita paciência e maior diligência da parte dos que têm a missão de educar. T5 89 2 Uma das maiores dificuldades que o professor tem de enfrentar é a falta de cooperação dos pais na administração da disciplina do colégio. Se os pais se comprometessem a sustentar a autoridade do professor, muita insubordinação, vício e libertinagem seriam evitados. Os pais devem exigir que seus filhos respeitem e obedeçam à legítima autoridade. Devem trabalhar com infatigável cuidado e diligência para instruir, guiar e restringir os filhos até que hábitos corretos sejam firmemente estabelecidos. Com tal disciplina os jovens se acostumariam a ficar sujeitos às instituições da sociedade e às restrições gerais de obrigação moral. T5 89 3 Tanto por preceito como pelo exemplo se deve ensinar ao jovem simplicidade no vestir e nas maneiras, atividade, sobriedade e economia. Muitos estudantes gastam de forma extravagante os recursos que seus pais lhes fornecem. Procuram mostrar-se superiores aos seus companheiros mediante o uso perdulário do dinheiro em exibição e satisfação própria. Em algumas instituições de ensino essa questão tem sido considerada de tão grande conseqüência que há regulamentação para a roupa do estudante e o uso que faz do dinheiro é limitado por lei. Mas pais e estudantes condescendentes sempre encontram algum modo de burlar a lei. Creio que não vamos precisar recorrer a nenhum desses meios. Pedimos aos pais cristãos que tomem todas essas questões em consideração, com oração e cuidado, que busquem conselho da Palavra de Deus, e então procurem agir de acordo com seus ensinos. T5 90 1 Se condições para atividade manual forem providas em nossa escola, e se for solicitado aos estudantes que devotem parte de seu tempo a algum trabalho ativo, isso será uma salvaguarda contra muitas das más influências que existem nas instituições de ensino. Ocupações úteis, que exercitem o corpo, oferecidas em lugar de divertimentos corruptores e frívolos, darão forma e exuberância à vida juvenil e promoverão sobriedade e estabilidade de caráter. Deve-se fazer todo esforço possível para encorajar o desejo de aprimoramento físico, moral e mental. Se as moças aprendessem a cozinhar, especialmente a assar bom pão, sua educação seria de muito mais valor. A habilidade para realizar trabalho útil ajudaria a evitar esse sentimentalismo enfermiço que tem arruinado e continua arruinando a milhares. O exercício dos músculos, bem como do cérebro, estimulará o gosto pelas tarefas domésticas da vida prática. T5 90 2 Em termos de educação, o século atual se caracteriza pela superficialidade e ostentação. O irmão _____ possui um natural interesse por planejamento e organização, o que se tem tornado um hábito de preparo e disciplina, através de toda a sua vida. Ele foi aprovado por Deus, agindo assim. Seus trabalhos são de real valor, porque ele não permite que os estudantes sejam superficiais. Desde o início, porém, em seus esforços no sentido do estabelecimento de uma escola, ele tem enfrentado muitos obstáculos. Tivesse sido menos resoluto e perseverante, haveria abandonado a luta. Alguns pais negligenciaram o sustento da escola, e seus filhos não respeitaram o professor porque ele usava roupa humilde. Permitiram que sua aparência despertasse neles o preconceito contra o professor. Esse espírito de desrespeito foi condenado pelo Senhor, sendo o professor encorajado em seu trabalho. Mas as queixas e as informações imprudentes levadas aos lares pelos filhos fortaleceram o preconceito dos pais. Enquanto o irmão _____ estava procurando inculcar princípios verdadeiros e estabelecer hábitos corretos, os filhos supermimados estavam se queixando de sobrecarga nos estudos. Essas mesmas pessoas, foi-me mostrado, estavam sofrendo porque sua mente não fora suficientemente ocupada com assuntos convenientes. Seus pensamentos estavam concentrados em coisas desmoralizantes, e tanto a mente como o corpo ficaram debilitados pelo hábito da masturbação. Era esta vil prática, não o excesso de estudo, que causava as freqüentes enfermidades desses filhos e os impedia de fazer o progresso que os pais desejavam. T5 91 1 O Senhor aprovou de modo geral o procedimento do irmão _____, ao lançar ele os fundamentos para a escola que está agora em atividade. O homem tem trabalhado muito, sem contar, entretanto, com uma influência firme, benfazeja e fortalecedora do lar para aliviar-lhe o fardo. Pressionado pelo excesso de trabalho, ele tem cometido alguns erros, os quais não chegam a ter nem a metade da gravidade do que as pessoas amarguradas atribuem a ele. Em seu relacionamento com os jovens, ele está enfrentando esse espírito de rebelião e desafio que o apóstolo apresenta como um dos sinais dos últimos dias. T5 91 2 Alguns professores no colégio têm deixado de compreender a responsabilidade de sua posição. Não têm sido discípulos na escola de Cristo, daí não se apresentarem preparados para instruir a outros. T5 91 3 Entre os estudantes existem alguns de hábitos indolentes e viciosos. Esses necessitam de reprovação e disciplina; mas se não puderem ser reeducados, não sejam empurrados mais para o fundo do abismo por causa de impaciência e rudeza. Devem os professores ter sempre em mente que os jovens sob seus cuidados são a aquisição do sangue de Cristo, e são os membros mais novos da família do Senhor. Cristo fez um sacrifício infinito para redimi-los. E os professores devem sentir que estão na posição de missionários, a fim de ganhar esses estudantes para Jesus. Professores que têm o hábito de se colocarem como adversários, tomem muito cuidado em condescender com esse traço de caráter. Os que já passaram o período crítico da juventude jamais se devem esquecer das tentações e provas dos primeiros anos da vida, e quanto ansiavam por simpatia, bondade e amor. T5 92 1 Aquele que se dedica ao árduo trabalho público na causa da humanidade muitas vezes encontra pouco tempo para dedicar-se à própria família e, em certo sentido, é deixado quase sem família e sem influências sociais benéficas. Assim tem acontecido com o irmão _____. Sua mente está constantemente sobrecarregada. Pouca oportunidade teve ele de conquistar as afeições dos filhos ou de dar-lhes a necessária disciplina e orientação. T5 92 2 Há muitos no colégio que precisam de completa conversão. Que ninguém procure discernir o cisco que está no olho de seu irmão, quando há uma trave no seu próprio olho. Cada um deve limpar de toda impureza o templo de sua própria alma. Sejam expulsos toda inveja e ciúme, juntamente com o lixo acumulado. Exaltados privilégios e realizações celestiais, para nós adquiridos a imenso custo, são liberalmente oferecidos a nós. Deus nos faz individualmente responsáveis pela porção de luz e privilégios que nos tem concedido. E se recusarmos entregar-Lhe o lucro dos talentos a nós confiados, perderemos o Seu favor. T5 92 3 O professor _____ teria sido muito bem aceito, caso não fosse adulado por uns e condenado por outros. Ele ficou confuso. Possuía traços de caráter que precisavam ser suprimidos. Em seu entusiasmo, alguns lhe têm manifestado indevida confiança e louvor. Vocês colocaram o homem onde lhe será difícil recuperar-se e encontrar o seu lugar certo. Ele foi sacrificado por ambos os partidos na igreja, porque deixaram de atender à admoestação do Espírito de Deus. Isto é injusto para com ele. Ele era recém-chegado à fé, e não estava preparado para os tais acontecimentos. T5 92 4 Quão pouco sabemos acerca do efeito que nossos atos terão sobre nossa futura história e a dos outros! Muitos pensam ser de pouca conseqüência o que fazem. Não lhes causa qualquer mal-estar assistirem a esse concerto, ou se unirem com o mundo naquele divertimento, caso o desejem fazer. Assim, Satanás lhes dirige e controla os desejos, e eles não consideram que os resultados podem ser os mais complicados. Isso poderá ser o elo na cadeia dos acontecimentos que ligam uma pessoa aos laços de Satanás, e lhe determina a ruína eterna. T5 93 1 Todo ato, embora pequeno, tem seu lugar no grande drama da vida. Imagine que o desejo de uma única satisfação do apetite introduziu o pecado no mundo, com seus terríveis resultados. Os casamentos profanos dos filhos de Deus com as filhas dos homens deram em resultado a apostasia que terminou com a destruição do mundo pelo dilúvio. O mais insignificante ato de condescendência com o próprio eu tem resultado em grandes revoluções. É o que acontece agora. Poucos há que são cuidadosos. Como os filhos de Israel, não dão ouvidos aos conselhos, mas seguem as próprias inclinações. Unem-se a um elemento mundano freqüentando reuniões em que se porão em evidência, e assim abrem o caminho que será seguido por outros. O que foi feito uma vez, será repetido por eles e por muitos outros. Todo passo dado por essas pessoas produz forte impressão, não só em sua própria consciência e hábitos, como nos dos outros. Esta consideração destaca a dignidade da vida humana. T5 93 2 Meu coração dói todos os dias e noites por nossas igrejas. Muitas estão progredindo, mas no caminho de volta. "Mas a vereda dos justos... vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. Sua marcha é para a frente e para o alto. Eles vão de força em força, de graça em graça e de glória em glória. Esse é o privilégio de todas as nossas igrejas. Mas, oh, quão diferente tem sido! Elas precisam de divina iluminação. Precisam mudar o rumo da marcha. Eu sei o que digo. A menos que se tornem cristãos de fato, irão de fraqueza em fraqueza, as divisões aumentarão, e muitas pessoas serão levadas para a perdição. T5 93 3 Tudo que lhes posso dizer é: Tomem a luz que Deus lhes deu e a sigam a qualquer preço. Esta é sua única segurança. Vocês têm um trabalho a fazer no promover a harmonia, e que o Senhor os ajude a fazê-lo mesmo com a crucifixão do eu. Reúnam os raios de luz que têm menosprezado e rejeitado. Levantem esses raios com mansidão, com temor e tremor. O pecado do antigo Israel foi desconsiderar a expressa vontade de Deus e seguir o próprio caminho segundo as tendências do coração não santificado. O moderno Israel está depressa seguindo-lhe os passos, e o desprazer do Senhor seguramente repousando sobre ele. T5 94 1 Nunca é difícil fazer aquilo que gostamos de fazer, mas seguir um rumo diretamente contrário a nossas inclinações é como arrastar uma cruz. Cristo orou para que Seus discípulos fossem um como Ele era um com o Pai. Essa união é a credencial de Cristo ao mundo comprovando que Deus O enviou. Quando a vontade própria for renunciada em relação a questões, haverá união dos crentes com Cristo. Todos devemos orar e trabalhar determinadamente para isso, assim respondendo tanto quanto for possível à oração de Cristo por união em Sua igreja. ------------------------Capítulo 7 -- Condenadas a inveja e a crítica T5 94 2 Dói-me dizer que existem línguas desenfreadas entre os membros da igreja. Há línguas falsas, que se alimentam da maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são movidos pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Todos esses elementos discordantes estão ativos. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. T5 94 3 Vi que o próprio espírito de perjúrio, capaz de transformar a verdade em falsidade, o bem em mal, e em crime a inocência, está agora ativo. Satanás está exultante com a condição do professo povo de Deus. Enquanto muitos negligenciam sua própria salvação, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros. Todos têm defeitos de caráter, e não é difícil descobrir alguma coisa que a inveja pode interpretar para seu mal. "Ora", dizem esses juízes por iniciativa própria, "temos fatos. Nós lhes faremos uma acusação da qual não se poderão livrar". Daí aguardam uma oportunidade apropriada e então põem em ação sua enorme coleção de boatos e maledicências. T5 95 1 Em seu empenho por apresentar um problema, pessoas que têm por natureza uma imaginação criativa estão em perigo de se enganarem a si mesmas e aos outros. Apanham expressões que outros utilizaram em momento descuidado, despercebidas de que as palavras podem ser pronunciadas precipitadamente, não refletindo assim os verdadeiros sentimentos de quem as proferiu. Mas essas observações não ponderadas, muitas vezes tão banais que não merecem atenção, são olhadas através da lente de Satanás, meditadas e repetidas, até que montículos de terra juntados pelas toupeiras se transformam em montanhas. Separados de Deus, os suspeitadores do mal tornam-se joguete da tentação. Mal sabem a força que têm os seus sentimentos, nem o efeito de suas palavras. Enquanto condenam os erros alheios, condescendem eles mesmos com erros muito maiores. A coerência é uma jóia. T5 95 2 Não existe então uma lei de bondade que deva ser observada? Foram os cristãos autorizados por Deus a criticarem-se e condenarem-se mutuamente? Será honroso, ou mesmo honesto, extorquir dos lábios de alguém, à guisa de amizade, segredos que lhe foram confiados, e em seguida fazer reverter em seu prejuízo o conhecimento assim alcançado? Será caridade cristã apanhar todo boato que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter de outro, e então ter prazer em empregar isso para prejudicar as pessoas? Satanás exulta quando pode difamar ou ferir um seguidor de Cristo. Ele é o "acusador dos irmãos". Apocalipse 12:10. Deverão os cristãos ajudá-lo em sua obra? T5 95 3 Os olhos de Deus, que tudo vêem, notam os defeitos de todos e a paixão dominante de cada qual; contudo, têm paciência com os nossos erros, e Se compadecem de nossa fraqueza. Ele ordena ao Seu povo que nutra o mesmo espírito de ternura e paciência. Os verdadeiros cristãos não exultarão em expor as faltas e deficiências de outros. Manterão distância da vileza e deformidade, para fixar a mente naquilo que é atraente e amável. Para o cristão todo ato de crítica e toda palavra de censura ou condenação são penosos. T5 96 1 Sempre tem havido homens e mulheres que professam a verdade, e no entanto não submetem a vida à sua influência santificadora. São pessoas infiéis, que se enganam a si mesmas, e encorajam-se no pecado. A incredulidade é vista em sua vida, em seu comportamento e no caráter, e esse mal terrível atua como uma gangrena. T5 96 2 Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição muito mais saudável. Há os que são honestos quando isso nada lhes custa, mas quando a astúcia dá melhores dividendos, esquecem-se da honestidade. A honestidade e a astúcia não atuam juntas na mesma mente. A seu tempo, ou a astúcia será expelida dominando então supremas a verdade e a honestidade, ou, se a astúcia for nutrida, jazerá esquecida a honestidade. Jamais ambas se acham em harmonia; nada têm em comum. Uma é o profeta de Baal, a outra o verdadeiro profeta de Deus. Quando o Senhor juntar Suas jóias, os verdadeiros, os francos, os honestos serão por Ele contemplados com prazer. Anjos se acham empenhados em fazer coroas para eles, e sobre essas coroas adornadas de estrelas se refletirá, com esplendor, a luz que irradia do trono de Deus. T5 96 3 Nossos irmãos dirigentes são muitas vezes molestados com a narração de questões na igreja, e eles mesmos freqüentes vezes a elas se referem em seus sermões. Não deveriam encorajar os membros da igreja a queixarem-se uns dos outros, mas sim colocá-los como vigias de suas próprias ações. Ninguém deve permitir que seus sentimentos ou preconceitos e ressentimentos sejam despertados pela narração de erros alheios; todos devem esperar pacientemente até que tenham ouvido ambos os lados da questão, e então só acreditar no que os fatos reais os levem a crer. Em todos os tempos, o procedimento seguro é não ouvir um relatório mau, antes que a regra da Bíblia tenha sido executada estritamente. Isso se aplica a alguns que trabalharam artificiosamente para extorquir alguma coisa dos que nada suspeitam, sobre assuntos com que nada têm que ver, e cujo conhecimento nenhum bem lhes faz. T5 97 1 Por amor de sua salvação, meus irmãos, tenham em vista apenas a glória de Deus. Deixem fora de suas cogitações, tanto quanto possível, o próprio eu. Aproximamo-nos do fim do tempo. Examinem seus motivos à luz da eternidade. Tenho a convicção de que vocês devem ser despertados; pois estão se desviando das veredas antigas. Sua ciência, assim chamada, está solapando o alicerce do princípio cristão. Tem-me sido mostrado o procedimento que certamente vocês seguirão, no caso de se desligarem de Deus. Não confiem em sua própria sabedoria. Digo-lhes que sua alma está em perigo iminente. Por amor de Cristo, esquadrinhem e vejam porque é que têm tão pouco amor às atividades religiosas. T5 97 2 O Senhor está experimentando e provando Seu povo. Vocês podem ser severos e críticos com o seu próprio caráter defeituoso, o quanto quiserem; sejam, porém, bondosos, misericordiosos e corteses para com os outros. Indaguem todos os dias: Sou absolutamente íntegro, ou tenho coração falso? Supliquem ao Senhor que os salve de todo engano nesse ponto. Acham-se nisso envolvidos interesses eternos. Ao passo que tantos anseiam honras e ambicionam o ganho, busquem vocês, meus amados irmãos, ansiosamente a certeza do amor de Deus, e clamem: Quem me mostrará como tornar certas minha vocação e eleição? T5 97 3 Satanás estuda cuidadosamente os pecados básicos dos homens, e a seguir começa seu trabalho de os seduzir e enlaçar. Estamos no mais grosso da tentação, mas há vitória para nós se corajosamente travarmos as batalhas do Senhor. Todos estão em perigo. Mas se andarem humilde e devotamente, emergirão do processo de prova mais preciosos do que o ouro puro, sim, do que o ouro fino de Ofir. Se forem relapsos e negligenciarem a oração, serão como o sino que tine e o címbalo que soa. T5 98 1 Alguns quase que se têm perdido nas malhas do ceticismo. A esses eu diria: Levantem seu espírito para além desse limite. Prendam-no em Deus. Quanto mais intimamente a fé e a santidade ligarem você ao Eterno, tanto mais clara e brilhante lhe parecerá a justiça de Seu trato. Faça da vida, da vida eterna, o objeto de sua busca. T5 98 2 Conheço seu perigo. Se perder a confiança nos testemunhos, cairá das verdades da Bíblia. Tenho temido que muitos assumiriam uma atitude questionadora, duvidosa, e em minha aflição por sua salvação, quero adverti-lo. Quantos atenderão à advertência? De acordo com sua atitude atual para com os testemunhos, porventura no caso de lhe ser dado um testemunho contrário a seu pensar, corrigindo seus erros, você se sentirá na perfeita liberdade de aceitar ou rejeitar qualquer parte, ou todo ele? Aquilo que menos inclinado se acha a receber pode ser justamente a parte mais necessária. Deus e Satanás jamais trabalham em parceria. Os testemunhos, ou trazem a aprovação de Deus, ou de Satanás. Uma árvore boa não pode produzir fruto mau, nem pode uma árvore má produzir bom fruto. "Pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:20. Foi Deus quem o disse. Quem tremeu ante Sua Palavra? ------------------------Capítulo 8 -- O dia do Senhor está perto T5 98 3 "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito a voz do dia do Senhor: amargamente clamará ali o homem poderoso. Aquele dia é um dia de indignação, dia de angústia e de ânsia, dia de alvoroço e de desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortes e contra as torres altas. E angustiarei os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor." Sofonias 1:14-17. T5 99 1 "E há de ser que, naquele tempo, esquadrinharei a Jerusalém com lanternas, e castigarei os homens que estão assentados sobre as suas fezes, que dizem no seu coração: O Senhor não faz bem nem faz mal." Sofonias 1:12. T5 99 2 "Congrega-te, sim, congrega-te, ó nação que não tens desejo, antes que saia o decreto, e o dia passe como a pragana; antes que venha sobre vós a ira do Senhor, sim, antes que venha sobre vós o dia da ira do Senhor. Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da Terra, que pondes por obra o Seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura sereis escondidos no dia da ira do Senhor." Sofonias 2:1-3. T5 99 3 Estamos perto do final dos tempos. Foi-me mostrado que os juízos de Deus já estão caindo sobre a Terra. O Senhor nos advertiu quanto aos acontecimentos que estão prestes a ocorrer. Luz irradia de Sua Palavra, contudo as trevas cobrem a Terra e densa escuridão os povos. "Quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição... e de modo nenhum escaparão." 1 Tessalonicenses 5:3. T5 99 4 É o nosso dever inquirir a causa de tão terríveis trevas, a fim de podermos evitar os caminhos pelos quais os homens acalentaram tão grande ilusão. Deus deu ao mundo uma oportunidade de conhecer e de obedecer a Sua vontade. Deu-lhe em Sua Palavra a luz da verdade e lhe enviou advertências, conselhos e exortações; mas poucos obedecerão à Sua voz. Como a nação judaica, a maioria dos cristãos professos se gloria de suas superiores vantagens, porém não se mostra grata a Deus por essas grandes bênçãos. Por causa de Sua graça infinita uma última mensagem de advertência é enviada ao mundo, anunciando que Cristo está às portas e chamando a atenção para a desprezada lei divina. Mas como os antediluvianos rejeitaram com zombaria a advertência de Noé, assim os amantes dos prazeres hoje em dia hão de rejeitar a mensagem dos fiéis servos de Deus. O mundo segue o seu curso inalterado, absorvido como sempre em seus negócios e prazeres, enquanto a ira divina está prestes a ser derramada sobre os transgressores de Sua lei. T5 100 1 Nosso compassivo Redentor, prevendo os perigos que haveriam de cercar Seus seguidores neste tempo, lhes dirige esta admoestação especial: "Olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra. Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem." Lucas 21:34-36. Se a igreja tomar um caminho idêntico ao do mundo, virá a partilhar a mesma sorte; ainda mais: como recebeu maior luz, seu castigo será maior do que o dos impenitentes. T5 100 2 Nós, como povo, professamos possuir mais verdades do que qualquer outro na Terra. Neste caso, nossa conduta e caráter devem também corresponder a nossa profissão. Está próximo o dia em que os justos, qual semente preciosa, hão de ser ajuntados para os celeiros celestiais, enquanto os ímpios, à semelhança do joio, o serão para o fogo do grande dia. Mas o trigo e o joio deverão "crescer ambos juntos até à ceifa". Mateus 13:30. No desempenho de seus deveres cotidianos, os justos hão de estar, até o fim, em contato com os ímpios. Os filhos da luz estão espalhados entre os das trevas para que o contraste salte aos olhos de todos. É assim que os filhos de Deus devem anunciar "as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. O amor divino, ardendo em seu coração, a harmonia à semelhança de Cristo manifestada em sua vida, será como um vislumbre do Céu concedido aos homens do mundo, para que possam apreciar sua excelência. T5 100 3 Os semelhantes se atraem mutuamente. Os que beberem da mesma fonte de bênçãos hão de unir-se entre si. A verdade, habitando no coração dos crentes, há de conduzir a uma abençoada e feliz unificação. Deste modo a oração de Cristo, pedindo que Seus discípulos fossem um como Ele o é com o Pai, será atendida. Por essa unidade espiritual, toda pessoa verdadeiramente convertida há de suspirar. T5 101 1 Entre os ímpios, porém, há de prevalecer uma harmonia ilusória que só em parte encobrirá a perpétua discórdia. Achar-se-ão unidos na sua oposição à vontade e à verdade divinas, mas quanto ao mais estarão divididos pelo ódio, emulação, inveja e contenda mortal. T5 101 2 O metal precioso e o comum estão agora de tal modo misturados, que somente o olhar perscrutador do infinito Deus pode com certeza discernir entre um e outro. Mas o ímã moral da santidade e verdade há de atrair e reunir o metal puro, ao mesmo tempo que repelirá a escória e o falso. T5 101 3 "O ... dia do Senhor está perto, ... e se apressa muito" (Sofonias 1:14); onde está, porém, o verdadeiro espírito do advento? Quem se está preparando para subsistir neste tempo de tentação que se acha iminente? O povo a quem Deus confiou as sagradas, solenes e probantes verdades para este tempo está dormindo em seu posto. Por seu procedimento, diz: "Tenho a verdade", "rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta", ao passo que a testemunha verdadeira o adverte: "Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." Apocalipse 3:17. T5 101 4 Com que fidelidade retratam essas palavras a presente condição da igreja! "Não sabes que és desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." Pelos servos do Senhor são transmitidas mensagens de advertência ditadas pelo Espírito Santo, e descobertos defeitos de caráter aos que se têm desviado; eles, entretanto, dizem: "Isto não se aplica ao meu caso. Recuso a mensagem que me transmitis. Estou fazendo o melhor que posso. Creio na verdade." T5 101 5 Aquele mau servo que em seu coração diz: "Meu Senhor tarde virá" (Mateus 24:48), professa estar esperando a Cristo. É um "servo" que só aparentemente se dedica ao serviço de Deus, enquanto no coração se entregou a Satanás. Diferente dos escarnecedores, não nega abertamente a verdade, mas pela conduta revela o desejo que sente de que a vinda do Senhor se dilate. O orgulho torna-o descuidado em relação aos interesses eternos. Adota as máximas do mundo e se conforma às suas práticas e costumes. O egoísmo, o orgulho e as ambições mundanas nele predominam. Temendo que seus irmãos lhe levem alguma vantagem, deprecia seus esforços e contestam suas as razões. Desse modo espanca seus conservos. À proporção que se vai alienando do povo de Deus, une-se mais aos ímpios. É achado comendo e bebendo "com os ébrios" (Mateus 24:49) -- associando-se com o mundo cujo espírito compartilha. Dessa maneira é embalado numa segurança carnal, e vencido pela negligência, indiferença e ociosidade. T5 102 1 A causa propriamente dita do mal foi a negligência da vigilância e da oração secreta, a que sucedeu naturalmente a negligência de outros deveres religiosos, sendo assim preparado o caminho para todos os pecados subseqüentes. Cada cristão é assediado pelas seduções do mundo, pelas solicitações da natureza carnal e por tentações diretas de Satanás. Ninguém está livre dessas coisas. Não importa qual tenha sido a nossa experiência, não importa quão elevada a nossa posição, precisamos vigiar e orar continuamente. Temos de ser diariamente guiados pelo Espírito de Deus, ou havemos de ser dirigidos por Satanás. T5 102 2 As instruções do Salvador aos discípulos foram dadas em benefício de Seus seguidores de todos os tempos. Tinha em vista os que viveriam próximo ao fim do tempo, quando disse: "Olhai por vós." É nossa tarefa acariciar no coração, cada qual por si, as preciosas graças do Espírito. T5 102 3 Satanás está trabalhando com inabalável perseverança e intenso ardor, a fim de atrair para suas fileiras os seguidores professos de Cristo. Está operando "com todo o engano da injustiça para aos que perecem". 2 Tessalonicenses 2:10. Satanás não é, porém, o único instrumento pelo qual é sustentado o reino das trevas. Quem quer que convide ao pecado é um tentador. Quem imitar o grande impostor se torna seu auxiliar. Os que emprestam sua influência para favorecer uma obra má estão prestando um serviço a Satanás. T5 103 1 Os atos revelam princípios e motivos. Os frutos apresentados por muitos que pretendem ser plantas na vinha do Senhor revelam que são apenas espinheiros e abrolhos. Toda uma igreja poderá sancionar o procedimento errado de alguns de seus membros, mas essa sanção não prova que seu erro seja justo. Ela não pode colher uvas dos espinheiros. T5 103 2 Se alguns dos que professam crer na verdade presente pudessem compreender sua verdadeira condição, haviam de desesperar da misericórdia divina. Têm estado exercendo toda a sua influência contra a verdade, a voz de admoestação e o povo de Deus. Estiveram a fazer deste modo a obra de Satanás. Muitos se tornaram de tal modo envaidecidos em virtude de seus enganos, que jamais se poderão reabilitar. Semelhante estado de apostasia não pode prevalecer sem acarretar a ruína de muitas pessoas. T5 103 3 A igreja tem recebido advertências e mais advertências. Os deveres que tem e os perigos que corre o povo de Deus foram claramente expostos. Entretanto, o elemento mundano está nela agindo fortemente. Costumes, práticas e modas que tendem a desviar de Deus as pessoas há anos têm estado lançando raízes, a despeito das advertências e exortações do Espírito divino, e, afinal, seus caminhos se tornaram retos aos seus próprios olhos, e a voz do Espírito mal é ouvida. Ninguém pode prever até onde se embrenhará no pecado quando uma vez se tiver rendido ao poder do grande enganador. Satanás penetrou em Judas Iscariotes e induziu-o a trair seu Senhor. Induziu Ananias e Safira a mentir ao Espírito Santo. Os que não estiverem inteiramente consagrados a Deus podem ser levados a fazer a obra de Satanás, ao passo que se jactam de estar fazendo a obra de Cristo. T5 103 4 Irmãos e irmãs, eu os exorto: "Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos." 2 Coríntios 13:5. A fim de conservar o calor e a pureza do amor de Cristo, vocês precisam de constante suprimento da graça divina. Têm feito todos os esforços para que "a vossa caridade abunde mais e mais... para que aproveis as coisas excelentes", "cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus"? Filipenses 1:9-11. T5 104 1 Muitos que deviam tomar atitude decisiva do lado da justiça e da verdade manifestaram fraqueza e indecisão que incentivaram os assaltos de Satanás. Os que deixam de crescer na graça, não se esforçando por atingir o mais alto padrão da perfeição divina, serão vencidos. T5 104 2 O mundo é para os cristãos um país de estrangeiros e inimigos. Se não se revestirem da armadura de Deus e usarem a espada do Espírito, serão vencidos pelas potências das trevas. A fé de todos há de ser testada. Todos deverão ser provados como o ouro o é pelo fogo. T5 104 3 A igreja se compõe de homens e mulheres imperfeitos e cheios de fraquezas que necessitam da prática constante do amor e da contemplação. Entretanto, faz tempo que reina uma atmosfera de mornidão espiritual. Penetrou na igreja um espírito mundano, seguido por frieza recíproca, acusações mútuas, maldades, contendas e iniqüidade. T5 104 4 Se fossem pregados menos sermões por parte de homens não consagrados no coração e na vida e se mais tempo fosse devotado a humilhar a alma diante de Deus, haveria esperança de que o Senhor acudisse em seu auxílio, a fim de sará-los da sua apostasia. Muitas das pregações destes últimos tempos produzem uma falsa segurança. Os importantes interesses da causa de Deus não podem ser sabiamente tratados pelos que mantêm tão pouca real ligação com Ele como o têm feito alguns de nossos pastores. Confiar a obra a tais pessoas seria o mesmo que entregar a crianças o comando de grandes navios no mar. Pessoas destituídas de sabedoria divina e do poder vivificante de Deus não são competentes para conduzir a nau do evangelho por entre obstáculos e tempestades. A igreja está atravessando um período de sérios conflitos, mas a despeito do perigo muitos estariam dispostos a confiar sua direção a pessoas que certamente a fariam afundar. Necessitamos agora de um piloto a bordo, pois, estamos nos aproximando do porto. Como um povo, devemos ser a luz do mundo, mas quantos são como as virgens loucas, que não levaram azeite nos vasos com suas lâmpadas! Oxalá o Senhor, abundante em misericórdia e cheio de perdão, tenha piedade de nós e nos salve, para que não venhamos a partilhar a sorte dos ímpios! T5 105 1 Neste tempo de lutas e provações, precisamos de todo o apoio e consolação que podemos obter de princípios justos, convicções religiosas estabelecidas, certeza íntima do amor de Cristo e rica experiência nas coisas divinas. Só chegaremos à estatura perfeita de homens e mulheres em Cristo Jesus como resultado de um crescimento constante na graça divina. T5 105 2 Oh, que poderei eu dizer a fim de lhes abrir os olhos cegados e iluminar o entendimento espiritual? O pecado deve ser crucificado. Uma transformação moral completa tem de ser operada pelo Espírito divino. Devemos compenetrar-nos do amor de Deus, e ter fé viva e perseverante -- que é o ouro provado pelo fogo. Só o podemos obter de Cristo. Todo o que sincera e diligentemente buscar essas coisas tornar-se-á participante da natureza divina. Seu coração se encherá de ardente desejo de conhecer a plenitude do amor que sobrepuja todo o entendimento. À proporção que for crescendo na vida espiritual, será mais perfeitamente capaz de compreender as elevadas e enobrecedoras verdades da Palavra de Deus, até que, pela contemplação, seja transformado e se torne apto a refletir a semelhança de seu Salvador. ------------------------Capítulo 9 -- Casamentos imprudentes T5 105 3 Foi-me mostrado que a juventude de hoje não tem verdadeira noção de seu grande perigo. Há entre os jovens muitos que Deus aceitaria como obreiros nos vários ramos de Sua obra, mas Satanás barra os seus passos e assim os apanha em suas teias, de maneira que se tornam arredios em relação a Deus e incapazes para Sua obra. Satanás é um trabalhador perspicaz e perseverante. Ele sabe precisamente como enlaçar o incauto, e é alarmante que poucos conseguem escapar aos seus ardis. Eles não vêem o perigo e não se protegem contra seus enganos. Satanás os anima a se afeiçoarem depressa um ao outro sem buscar a sabedoria de Deus ou daqueles a quem Ele enviou para os advertir, reprovar e aconselhar. Consideram-se auto-suficientes e não desejam ser contidos. T5 106 1 Seu caso, irmão _____, é uma ilustração convincente disso. Você se tornou obcecado com a idéia do casamento. Como geralmente acontece com aqueles que têm a mente dirigida para essa questão, as advertências dos servos de Deus exercem pouca influência sobre você. Foi-me revelado o quão facilmente o irmão é afetado pelas influências que o rodeiam. Se você se associar com aqueles cuja mente se conforma a moldes inferiores, tornar-se-á como eles. A menos que o amor e temor de Deus esteja diante de você, seus pensamentos serão os pensamentos deles. Se lhes falta reverência, você também se tornará irreverente. Se eles são frívolos e se entregam à busca de prazeres, você seguirá o mesmo caminho com zelo e perseverança dignos de melhor causa. T5 106 2 A jovem a quem você dedica sua afeição não possui profundidade de pensamento ou caráter. Sua vida tem sido frívola e sua mente é muito estreita e superficial. Você tem inflexivelmente recusado as advertências de seu pai, sua amorosa irmã ou amigos da igreja. Venho até você como embaixadora de Cristo, mas seus fortes sentimentos de autoconfiança cerraram-lhe os olhos ao perigo e os ouvidos às advertências. Essa conduta tem sido tão persistente como se ninguém soubesse tanto quanto você, ou como se a salvação de sua alma dependesse de seguir o próprio juízo. T5 106 3 Se cada jovem que professa a verdade agisse como você fez, qual seria a condição das famílias e da igreja? Considere a influência do desrespeito que você demonstrou por seus pais, através de uma vontade auto-centrada e auto-suficiente. O irmão está entre a classe descrita como precipitada e arrogante. Essa paixão causou-lhe a perda de interesse pelas coisas religiosas e o voltar-se para si mesmo em lugar de ter como objetivo a glória de Deus. Nenhum bem pode provir dessa intimidade ou ligação. A bênção de Deus não contemplará essa conduta obstinada que você está adotando. Você não deveria estar ansioso por entrar num relacionamento matrimonial e assumir o encargo de uma família antes de haver estabelecido completamente o próprio caráter. Vejo-o como numa grande escuridão e incapaz de compreender seu perigo. T5 107 1 A verdade estava reformando sua vida e caráter e você estava ganhando a confiança de seus irmãos, mas Satanás viu que o estava perdendo e aumentou os esforços para enredá-lo em sua astuciosa armadilha, sendo muito bem-sucedido. A debilidade de seu caráter, já previamente descoberta, está agora bem desenvolvida. Você não consegue discernir sua condição, embora essa seja bem evidente aos outros. A luz não incide sobre o homem que não faz qualquer esforço para obtê-la. Quando você percebeu que seus irmãos e irmãs foram ofendidos por sua conduta, era tempo de parar e considerar o que estava fazendo, orar muito e aconselhar-se com homens de experiência na igreja, agradecendo-lhes as orientações. T5 107 2 "Mas", você se perguntou, "deveria eu porventura seguir os conselhos de meus irmãos, independentemente de meus próprios sentimentos?" Eu respondo: A igreja é, sobre a Terra, a autoridade estabelecida por Deus. Jesus disse: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. Há, de modo geral, muito pouco respeito demonstrado pelo parecer dos membros dessa igreja. É a falta de deferência pelas suas opiniões que causa tantas dificuldades entre os irmãos. Os olhos da igreja precisam ser capazes de discernir em seus membros, individualmente, o que os que erram não conseguem ver. Poucas pessoas podem ser tão cegas como aquela que está em erro, mas a maioria da igreja é uma força que deveria controlar seus membros. T5 107 3 O apóstolo Pedro diz: "Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes." 1 Pedro 5:5. Paulo exorta: "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:10. "Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus". Efésios 5:21. "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo." Filipenses 2:3. A não ser que as recomendações e conselhos da igreja sejam respeitados, ficará ela enfraquecida. Deus deu autoridade à igreja a qual deve controlar seus membros. T5 108 1 Se você for guiado pela verdade e não pelo erro, estará disposto a obedecer a seus pais e atender estritamente à voz da igreja. Suas orações tem sido feitas com a determinação de pôr em prática o que entende ser certo, a despeito da vontade de seus pais ou da igreja. Através de toda a vida você agiu grandemente por sentimentos egoístas. Com freqüência, o sentimento deve ser sacrificado para cumprir as condições estabelecidas na Palavra de Deus e agir por princípio. T5 108 2 "Devem os pais", você pergunta, "escolher o companheiro sem atenção para com o espírito ou os sentimentos do filho ou da filha?" Eu lhe dirijo a pergunta como deveria ser: Deve um filho ou uma filha escolher um companheiro sem primeiro consultar os pais, quando tal passo pode afetar grandemente a felicidade dos pais, uma vez que tenham algum afeto a seus filhos? E deve esse filho, não obstante o conselho de seus pais, persistir em seguir o próprio caminho? Respondo positivamente: Não; não, mesmo que ele nunca se haja de casar. O quinto mandamento proíbe tal orientação. "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá." Êxodo 20:12. Eis um mandamento com uma promessa que o Senhor certamente cumprirá aos que obedecem. Os pais prudentes nunca escolherão para seus filhos companheiros sem o respeito para com os desejos deles. T5 108 3 Pais sábios nunca escolherão as companhias dos filhos sem respeitar suas preferências. Ninguém jamais propôs fazer isso em seu caso. Muito do que a maior parte dos jovens de nossos dias chama amor não passa de impulso cego originado por Satanás para ocasionar-lhes a destruição. T5 109 1 Se você, meu irmão, fosse agora para o colégio, como planejou, eu temeria pela sua carreira lá. Sua manifesta determinação de ter a companhia de uma mulher onde quer que vá demonstrou-me que você está distante de obter benefícios em Battle Creek. A fascinação que o move é mais satânica que divina. Não desejo desapontá-lo com relação a Battle Creek. Ali as regras são rígidas. Os namoros não são permitidos. A escola de nada serviria aos estudantes se eles se envolvessem em casos amorosos como aconteceu com você. Nosso colégio logo ficaria desmoralizado. Os pais não enviam seus filhos aos nossos colégios ou casas publicadoras para viverem uma vida sentimental doentia, mas para serem educados nas ciências ou para aprenderem a profissão de impressor. Onde as regras são tão frouxas que aos jovens é permitido envolver-se e apaixonar-se em associação com o sexo oposto, como aconteceu com você há meses, perde-se o objetivo da permanência em Battle Creek. Se você não é capaz de tirar isso de sua mente e ir para lá com espírito de aprendiz, e com o propósito de envidar os mais determinados, humildes e sinceros esforços, orando para que possa estar em íntima ligação com Deus, seria melhor ficar em casa. T5 109 2 Se você for, deve estar preparado para resistir às tentações e apoiar os professores e instrutores, pondo sua influência totalmente ao lado da disciplina e da ordem. Deus deseja que todos os que trabalham em Sua causa se sujeitem uns aos outros, e estejam prontos a receber conselhos e recomendações. Deveriam treinar-se para a mais severa disciplina mental e moral, a fim de que, assistidos pela graça de Deus, possam estar preparados mental e emocionalmente para ajudar a outros. Oração fervente, humildade e seriedade devem estar combinadas com a ajuda de Deus, pois as fraquezas e sentimentos humanos estão continuamente lutando pela supremacia. Todo homem deve purificar sua mente pela obediência à verdade e, com o olhar posto na glória de Deus, humilhar-se e exaltar a Jesus e Sua graça. Assim avançando continuamente para a luz, ele se tornará familiarizado com Deus e receberá Sua ajuda. T5 110 1 Alguns dos que freqüentam o colégio não aproveitam devidamente o tempo. Tomados da vivacidade da juventude, desdenham das restrições. Especialmente se rebelam contra as regras que não permitem a rapazes dispensar atenções a moças. Muito bem conhecido é o mal de semelhante procedimento, neste século corrupto. Num colégio onde tantos jovens se associam, imitar os costumes do mundo nesse aspecto seria o mesmo que encaminhar os pensamentos para um conduto que os atrapalharia na aquisição de conhecimentos e em seu interesse nos assuntos religiosos. A paixão por parte de ambos, rapazes e moças, partilhando mútuas afeições nos dias escolares, demonstra falta de são juízo. Como em seu próprio caso, o cego impulso controla a razão e o discernimento. Sob esse cativante engano a momentânea responsabilidade sentida por todo cristão sincero é posta de lado, morre a espiritualidade, e o juízo e a eternidade perdem seu solene significado. T5 110 2 Cada uma das faculdades dos que são afetados por esta doença contagiosa -- o amor cego -- é levada em sujeição a ela. Esses jovens parecem não ter bom senso, e seu procedimento é aborrecível a todos os que presenciam seu procedimento. Meu irmão, você se tornou assunto de comentários e rebaixou-se na estima daqueles cuja aprovação deveria valorizar. Para muitos, a crise da doença chega por motivo de um casamento imaturo, e passada a novidade e o enfeitiçante poder do namoro, uma ou ambas as partes despertam a sua verdadeira situação. Então encontram-se desajustados, mas unidos por toda a vida. Ligados um ao outro pelos mais solenes votos, contemplam, de coração deprimido, a miserável vida que têm de encarar. Devem então fazer o melhor possível com a sua situação; muitos, porém, não querem isso fazer. Ou se demonstram falsos em relação a seus votos matrimoniais, ou tornam o jugo que persistiram em colocar sobre o próprio pescoço tão torturante que não poucos põem covardemente fim à existência. T5 111 1 A associação com os levianos, os superficiais e os céticos produzirá depravação moral e ruína. Moços e moças confiantes e presunçosos podem ter algo de agradável em suas maneiras; podem ter faculdades mentais brilhantes e habilidades para fazer com que o mau pareça preferível ao bom. Essas pessoas encantarão e fascinarão a alguns e, em conseqüência, seres humanos se perderão. A influência dos pensamentos e ações de uma pessoa a circunda como se fosse uma atmosfera invisível, que é inconscientemente absorvida por todos aqueles que entram em contato com ela. Essa atmosfera é freqüentemente carregada de influências tóxicas que, se inaladas, produzem a degeneração moral. T5 111 2 Meu jovem irmão, gostaria de impressioná-lo acerca de sua verdadeira condição. Você precisa arrepender-se ou nunca entrará no reino do Céu. Muitos jovens de ambos os sexos que professam piedade não sabem o que é seguir a Cristo. Não imitam Seu exemplo em fazer o bem. Amor e gratidão para com Deus não lhes brotam do coração, nem são expressos em palavras e atitudes. Não possuem espírito abnegado nem se encorajam no caminho da santidade. Não queremos que esses jovens se envolvam com a solene obra de Deus, pois professam a Cristo, mas não possuem força moral para assumir posição ao lado daqueles que são sóbrios e vigiam em oração, cuja conversação é sobre o Céu e têm a vista voltada para o Salvador. Não estamos ansiosos para que a juventude vá a Battle Creek, pois apesar de professar ser guardadora do sábado indica, pela escolha que faz de suas companhias, seu baixo estado de moralidade. T5 112 1 As portas de nosso colégio sempre estão abertas àqueles que não professam religião, e a juventude que vem a Battle Creek pode ter seus relacionamentos não religiosos, se assim escolher. Se os jovens tiverem motivos justos para se associar com aqueles e suficiente poder espiritual para resistir à sua influência, poderão ser um poder para o bem. Conquanto sejam discípulos, podem tornar-se mestres. O verdadeiro cristão não opta pela companhia de pessoas não convertidas pelo gosto de fruir a atmosfera que lhes cerca a vida irreligiosa ou para suscitar admiração e aplauso, mas com o propósito de comunicar luz e conhecimento e elevar essa gente a um nobre e alto padrão -- a ampla plataforma da verdade eterna. T5 112 2 Uma pessoa com motivos puros e desejo de se preparar para fazer reto uso de suas habilidades será uma força para o bem na escola. Exercerá uma influência modelar. Quando os pais justificam as queixas dos filhos contra a autoridade e disciplina da escola, não vêem que estão aumentando o poder desmoralizador que agora prevalece em tão temível extensão. Toda a influência de que o jovem está cercado precisa estar do lado certo, pois a corrupção juvenil está aumentando. T5 112 3 Para a juventude mundana o amor da sociedade e do prazer tem se tornado uma paixão absorvente. Vestir-se, conversar, tolerar o apetite e as paixões e girar em torno de dissipação social parece ser o grande objetivo da existência. Eles se sentem infelizes se deixados em solidão. Seu principal desejo é serem admirados e adulados e provocar sensação na sociedade; e quando esse desejo não é satisfeito, a vida parece insuportável. T5 112 4 Os que põem toda a armadura de Deus e devotam algum tempo cada dia à meditação, oração e estudo das Escrituras estarão em ligação com o Céu e terão uma influência salvadora, transformadora sobre os que os cercam. Pensamentos elevados, nobres aspirações, claras percepções da verdade e dever para com Deus serão seus. Ansiarão por pureza, luz, amor, por todas as graças do novo nascimento. Suas orações sinceras penetrarão além do véu. Essa classe possuirá santa ousadia em vir à presença do Infinito. Sentirão que a luz e as glórias celestiais lhes pertencem e se tornarão refinados, elevados e enobrecidos por sua íntima familiaridade com Deus. Tal é o privilégio do verdadeiro cristão. T5 113 1 Não basta a meditação abstrata; o excesso de atividade não basta -- ambos são essenciais à formação do caráter cristão. O poder adquirido na fervente oração secreta nos prepara para resistir aos enganos da sociedade. Não obstante, não devemos nos excluir do mundo, pois nossa experiência cristã exige que sejamos a luz do mundo. A associação com os descrentes não nos causará dano se nos relacionarmos com eles no intuito de uni-los a Deus, e formos suficientemente fortes para evitar sua influência. T5 113 2 Cristo veio ao mundo para salvá-lo, para ligar o homem caído ao Deus Infinito. Os discípulos de Cristo devem ser canais de luz. Mantendo comunhão com Deus, devem transmitir àqueles que estão em trevas e erro especiais bênçãos celestes. Enoque não se contaminou com a iniqüidade prevalecente em seus dias. Por que ocorreria o contrário conosco hoje? Podemos, à semelhança de nosso Mestre, ter compaixão pela humanidade sofredora, piedade dos desafortunados e generosa consideração pelos sentimentos e necessidades dos indigentes, aflitos e desesperados. T5 113 3 Aqueles que são realmente cristãos buscarão fazer o bem aos outros e, ao mesmo tempo, conduzirão sua conversação e comportamento de modo a fruir calma e santificada paz mental. A Palavra de Deus requer que sejamos como nosso Salvador, que reflitamos Sua imagem, imitemos-Lhe o exemplo, vivamos Sua vida. Egoísmo e mundanismo não são frutos de uma árvore cristã. Nenhum homem vive para si mesmo e ainda consegue a aprovação de Deus. 5 de Setembro de 1879. ------------------------Capítulo 10 -- Advertências e reprovações T5 114 1 Há uma pessoa na igreja de _____ que é um perigo para os seus interesses espirituais. Há grande necessidade de piedade vital, de religião experimental. Não vou citar nomes. Que cada um investigue o próprio coração e compreenda suas imperfeições. Há alguns que sempre se inclinam para o mundo, baixando o padrão religioso por sua conversação mundana. Esses não têm o amor de Deus no coração. Suas mãos são débeis justamente quando a igreja necessita de ajuda coerente. Essa fraqueza espiritual é o resultado de sua própria indisposição de assumir responsabilidades quando e onde seja necessário. Quando, todavia, há qualquer plano ou sugestão de sua própria autoria, então, sim, estão dispostos a assumir qualquer encargo. Seguir os próprios caminhos é seu objetivo. Se esses caminhos fossem os santificados, até que não seria tão mau, mas na realidade não são. T5 114 2 Há grande necessidade de obreiros zelosos e desinteressados na causa de Deus. Um membro dedicado e que ama a Cristo fará maior soma de bem na igreja do que cem meio-convertidos, auto-suficientes e não consagrados. É impossível que a igreja seja viva e ativa, a menos que seus membros estejam dispostos a cumprir deveres e assumir responsabilidades. O relacionamento entre os membros na igreja aproxima diferentes temperamentos e disposições. Na igreja de _____ há algumas pessoas dedicadas, fiéis e tementes a Deus, que oram muito e desempenham as responsabilidades da igreja, e cuja maior alegria está na prosperidade de seus membros. Ali, como noutros lugares, Satanás está constantemente trabalhando para tragar e desmoralizar. Essa é a ocupação do adversário para enfraquecer e destruir toda organização, a qual, se próspera, glorificaria a Deus. T5 114 3 Jovens há que receberam a verdade e correram bem por algum tempo, mas Satanás os tem enredado em suas malhas mediante uniões insensatas e casamentos desaconselháveis. Essa, viu ele, seria a forma mais bem-sucedida para desviá-los dos caminhos da santidade. Durante algum tempo, parte desses jovens vestiram a armadura do evangelho com dignidade e graça. Em todo o tempo em que seu coração e mente estiveram sujeitos à vontade divina, houve prosperidade. Mas quando o olhar se desviou de Jesus e foi posto em objetos indignos, aconteceu que o eu assumiu o domínio, que a razão carnal prevaleceu sobre o são juízo e a integridade, e a armadura cristã foi considerada muito pesada para ser usada pelos jovens. Talvez poderia ser boa para os velhos e experimentados soldados do evangelho, mas foi considerada imprópria para a juventude. O tentador fez muitas sugestões calculadas para produzir inconstância e vacilação na carreira cristã. T5 115 1 A ordem do Capitão de sua salvação foi: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Mateus 26:41), mas havia muita dificuldade para guardar fielmente o coração, e o ilusório poder de Satanás mais uma enganosa tendência os levou para longe de Cristo. Se esses moços e moças houvessem considerado as palavras do apóstolo: "Não sois de vós mesmos" (1 Coríntios 6:19), "fostes comprados por bom preço" (1 Coríntios 7:23), não se sentiriam em liberdade de reter de Deus aquilo que Ele adquiriu a custo infinito. T5 115 2 Não há um jovem em cem que sinta a responsabilidade que Deus lhe deu. Cada faculdade física e mental deveria ser cuidadosamente preservada, e empregada da melhor maneira possível para a glória de Deus. Os jovens que permitem que sejam pervertidas as suas potencialidades abusando assim dos dons divinos serão chamados a dar estrita conta do bem que poderiam ter feito caso houvessem se beneficiado da provisão feita mediante Cristo Jesus. Deus requer o emprego de cada faculdade. T5 115 3 Há jovens na igreja de _____ que deveriam estar cultivando a graça cristã da perseverança e se desenvolvendo para serem pessoas de fé. Deveriam ser tenazes, resolutos, arraigados e firmados na verdade. A igreja necessita da participação que Deus reservou para os jovens. Alguns há que professam Seu nome e não consagraram plena e inteiramente suas energias a Ele, porém, em certa medida, empregaram-nas no serviço de Satanás. Esses jovens estiveram, e ainda estão, roubando a Deus. Como o mordomo infiel a quem foram confiados talentos, enterraram os dons divinos no mundo. T5 116 1 Outro grande peso existente na igreja de _____ tem sido o material humano trazido para dentro dela. Precisa ser polido pelo Espírito de Deus. Essas arestas podem ser vistas nos rudes e ásperos traços de caráter, os quais poderiam ser removidos se seus possuidores houvessem sido aprendizes de Cristo. Mas eles não se separaram completamente do espírito e influências do mundo. Estão roubando a Deus ao misturar seu tempo, talentos e sua força com coisas mundanas. Isso não pode ser sonegado de Deus sem produzir ruína eterna. Você foi comprado por preço, ainda que acabe se perdendo porque não quis aceitar a salvação do modo apontado por Deus. T5 116 2 Os santos anjos estão observando com intenso interesse para ver se os membros da igreja honram seu Redentor, se eles se põem em conexão com o Céu e não mais defraudam o Senhor a quem professam honrar, amar e servir. Deus reclama o que é Seu. Você pertence a Ele, pela criação e também pela redenção. Quando, porém, permite que os fogos de paixões profanas inflamem as percepções; quando pronuncia palavras que afastam os santos anjos; quando pensa mal de seus irmãos; quando profana as mãos com os lucros da impiedade, está consentindo que seus membros sejam instrumentos de injustiça. T5 116 3 Irmão _____, vi que a expressão "em falta" foi acrescentada junto ao seu nome nos registros celestiais. "Em falta" na paciência, na tolerância, no autocontrole, na humildade e mansidão. A carência dessas graças celestiais certamente fechará as portas do Céu a você. Seu corpo, mente, todo o seu ser, com todas as suas habilidades, Deus os reclama para Si. Seu temperamento impaciente, descontrolado, precisa ser vencido. Doença espiritual é o seguro resultado de ceder a esse espírito murmurador, queixoso e agitado. Tal moléstia de alma virá por sua própria culpa. Pare de lamuriar-se, deixe de ser teimoso, de mimar-se e seja um homem corajoso, valente, para Deus. Jesus o ama. Não fez Ele, porventura, ampla provisão por você, para que recebesse auxílio quando levado a situações difíceis? Diz Ele: "Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?" Isaías 5:4. O fruto que Cristo reclama, após paciente cuidado exercido para com a igreja, é fé, paciência, amor, longanimidade, piedade e mansidão. Esses são os cachos do frutos que maturam em meio a tormentas, nuvens, escuridão, bem como sob a luz solar. T5 117 1 O irmão _____ está ligado à igreja, mas não ao Senhor. Possui uma religião dispéptica, não é reto para com Deus e está pleno do próprio eu. Ele sofreu grande perda por unir-se a indivíduos que não possuem o Espírito de Cristo. Está em falta em quase todas as graças. Tornou-se inútil a si mesmo e uma grande pedra de tropeço para a igreja. Caro irmão, Satanás tem-no controlado em grande parte; seus pensamentos não são santificados; suas ações estão em desacordo com o espírito de um verdadeiro cristão. O irmão causou a própria doença e precisa ser seu próprio curador por meio da ajuda do Divino Médico. Suas forças morais são débeis por necessidade de nutrição. Você está espiritualmente faminto pela verdade bíblica, pelo Pão da Vida. Precisa diariamente extrair nutrimento da Videira Viva. A igreja não recebe forças do irmão e, em sua presente condição, passaria ela melhor sem sua presença. Se algo cruza seu caminho e você não tem condições de controlar os problemas, recua com obstinação e coloca sobre a igreja um peso morto. O irmão não carrega pesos ou fardos pela causa. Deus tem sido longânimo com você, mas há um limite para Sua tolerância, uma linha além da qual o irmão não se pode aventurar, quando Seu Espírito não mais trabalhará com você, mas o deixará entregue à própria perversidade, corrompido pelo próprio egoísmo e envilecido pelo pecado. T5 118 1 O irmão _____ não possui um espírito reto. Sua disposição para comandar causa-lhe sofrimento, pois ele não está preparado para isso. Ele tem condições de fazer um bom trabalho na igreja se o eu não se tornar proeminente. Mais mansidão e humildade tornarão seus esforços uma bênção à igreja, em lugar de um peso. T5 118 2 Irmão _____ e irmã _____, vi que ao lado de seus nomes nos registros celestiais, também está a frase "em falta". Vocês necessitam ser esvaziados do eu e terem purificado o templo da alma. Ambos têm capacidade para fazer o bem, mas esse bem não é santificado. Os irmãos são muito deficientes no que tange à singeleza da piedade que praticam. Se a igreja tivesse sido moldada por seu padrão religioso, teria sido reduzida a uma forma não consagrada, mundana. Vocês poderiam ter sido uma grande bênção à igreja, mas falharam completamente. Jesus lhes ordena que abandonem esse espírito mundano. Irmã _____, estou alarmada por você e por aqueles que recebem sua influência. Você chegou a um padrão muito baixo. "Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Por suas palavras e ações vocês estão lançando a semente. Estão semeando ou na carne ou no Espírito. No dia do juízo final, cada um precisa tomar a foice e ceifar a lavoura que sua própria mão semeou. T5 118 3 Seu marido está equivocado na obra que realiza. Quando ele humilhar seu coração como uma criancinha e não mais se sentir tão importante; quando sentir maior necessidade da ajuda divina, então estará onde possa ser de maior utilidade para a glória de Deus. Porém, como está, não pode compreender as carências da causa. Há tanto ego e tão pouco Cristo revelado na vida e caráter de muitos, que Deus nada aceitará de suas mãos. Poucos compreendem a solenidade do tempo em que vivemos -- o dia da preparação de Deus. Se ambos se converterem e dedicarem suas habilidades à edificação da igreja, em lugar de debilitá-la ajudando o inimigo a desviar seus membros para o mundo, obterão valiosa experiência a cada dia que passa. O irmão _____ tem sido um grande obstáculo para a igreja. Ele não deveria ser membro dela até que sua vida diária esteja em harmonia com a profissão que faz. Hoje ele se acha sob a negra bandeira dos poderes das trevas. Satanás tem-no completamente sob controle. T5 119 1 Influências poderosas e desencorajantes como essas têm sido como maré quase avassaladora sobre a igreja. Dez membros que andem humildemente, terão maior poder sobre o mundo do que toda a igreja com seu presente número e falta de unidade. Quando mais elementos divididos houver, menos poder terá a igreja para fazer o bem no mundo. T5 119 2 Tomara pudesse eu tornar mais claro aos seus anuviados sentidos, o grande perigo que vocês correm. Cada ação, boa ou má, prepara o caminho para sua repetição. O que aconteceu à casa de Faraó? A declaração bíblica diz que Deus endureceu-lhe o coração e, a cada repetição da luz mediante a manifestação do poder de Deus, a declaração é repetida. Cada vez que ele se recusava submeter-se à vontade de Deus, seu coração se tornava mais endurecido e menos impressionável pelo Espírito Santo. Faraó semeou a semente da obstinação e Deus permitiu que ela se desenvolvesse. O Senhor poderia impedi-la de crescer mediante intervenção direta, mas esse não era Seu plano. Ele permitiu que ela crescesse e produzisse a própria colheita, atestando assim a veracidade da Escritura: "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Quando o homem semeia dúvidas, também colherá dúvidas. Por rejeitar a primeira luz e cada raio subseqüente, Faraó foi de um grau de dureza de coração a outro, até que a forma fria e inerte do primogênito deteve sua descrença e obstinação por um pouco. Então, determinado a não se submeter aos caminhos de Deus, continuou sua desvairada conduta até ser tragado pelas águas do Mar Vermelho. T5 120 1 Esse caso foi registrado para nosso benefício. Aquilo que ocorreu no coração de Faraó, também ocorrerá com cada pessoa que negligencie receber a luz e andar prontamente sob seus raios. Deus não destrói a ninguém. O pecador destrói a si mesmo por sua própria impenitência. Quando alguém se recusa a dar ouvidos aos convites, reprovações e advertências do Espírito de Deus, sua consciência se torna cauterizada, e na próxima vez que for aconselhado será muito mais difícil atender do que antes. E assim sucessivamente a cada repetição. A consciência é a voz de Deus, ouvida em meio ao conflito das paixões humanas; quando resistida, o Espírito de Deus é entristecido. T5 120 2 Todos nós desejamos compreender como a alma é destruída. Não é que Deus mande um decreto para que o homem não se salve. Ele não lança trevas perante os olhos, de modo a não poderem ser penetradas. Mas o ser humano resiste a princípio a uma impressão do Espírito de Deus e, havendo uma vez resistido, é menos difícil assim fazer pela segunda vez, menos a terceira, e muito menos a quarta. Então vem a colheita a ser ceifada, da semente de incredulidade e resistência. Oh, que colheita de pecaminosas condescendências está sendo preparada para a foice! T5 120 3 Se a oração particular e a leitura das Escrituras forem negligenciadas hoje, amanhã elas poderão ser omitidas com menos protestos da consciência. Haverá uma longa lista de omissões, tudo por causa de um único grão semeado no solo do coração. Por outro lado, todo raio de luz acariciado, proporcionará uma colheita de luz. A tentação uma vez resistida, dará poder para resistir mais firmemente a segunda vez; toda nova vitória ganha sobre o próprio eu, aplainará o caminho para mais elevados e mais nobres triunfos. Toda vitória é uma semente semeada para a vida eterna. T5 121 1 Há grande necessidade de obreiros zelosos, fiéis e abnegados em nossas igrejas pelo país. Ninguém que trabalhe na Escola Sabatina ou no setor de temperança trabalhará sem obter generosa colheita, não apenas no fim do mundo como também na vida presente. No esforço de iluminar e abençoar a outros, suas percepções se tornarão mais claras e amplas. Quando mais nos esforçarmos para explicar a verdade a outros, com amor pelas almas, mais clara ela se tornará a nós. Ela se abrirá em nova beleza e força à compreensão do expositor. T5 121 2 Há alguns bons obreiros em sua igreja e esses nunca saberão quanto bem têm realizado por seus perseverantes esforços no campo missionário. Mas o Senhor tem reivindicações sobre mais homens e mulheres na igreja do que aqueles que se têm submetido aos Seus requerimentos. Algumas das pedras componentes do santo templo de Deus refletem a luz proveniente de Jesus Cristo, enquanto outras não emitem luz alguma, revelando assim que não são pedras vivas, eleitas e preciosas. Não são pessoas consagradas, mas pouco religiosas, loquazes e ímpias. Os verdadeiros cristãos copiarão o padrão que lhes foi dado pelo Salvador, e serão mansos, humildes, pacientes, gentis, solícitos, livres de pompa e obstinação. Perigos para jovens T5 121 3 O Sr. _____ tem uma natureza tal que Satanás maneja com maravilhoso sucesso. Esse caso é um dos que deveriam ensinar ao jovem uma lição com respeito ao casamento. Sua esposa seguiu os sentimentos e os impulsos, e não a razão e o juízo, na escolha do companheiro. Foi o seu casamento o resultado de verdadeiro amor? Não, não foi; foi o resultado do impulso -- paixão cega e não santificada. Nenhum dos dois estava afinal preparado para as responsabilidades da vida de casados. Quando o enlevo da nova ordem de coisas passou, e um tomou maior conhecimento do outro, tornou-se mais forte o seu amor, mais profunda sua afeição e sua vida mais unida em beleza e harmonia? Exatamente o oposto. Os piores traços do seu caráter foram intensificados com o exercício; e em vez de sua vida de casados ser de felicidade, tem sido de crescente perturbação, especialmente para a esposa. Deus provou-a em Sua misericórdia, poupando-lhe a vida e prolongando sua provação a fim de prepará-la para a vida futura. T5 122 1 Seu marido possui um caráter extremamente defeituoso. Sem completa transformação mediante a graça de Deus, ele está despreparado para o matrimônio. É tão impregnado do próprio eu, tão inteiramente abandonado a hábitos de condescendência própria e comodismo, que necessita disciplinar a si próprio antes de fazer algo com relação à disciplina de sua esposa ou filhos. A mente desse homem foi forjada num molde inferior. Ele tem manifestado grosseria e objetáveis traços de caráter e pelo que me foi apresentado ele quase que não possui uma única boa qualidade em seu caráter. Existe apenas uma esperança: que ele possa ver-se como de fato é e assim ter horror a si próprio e desprezar-se, buscando um novo coração, novo nascimento, e tornar-se um novo homem em Cristo Jesus. Ele precisa tornar-se um homem diligente. O trabalho lhe será de grande proveito. Sua conduta é ofensiva a Deus porque convida a tentação. Rispidez, ameaças e um espírito irrefreável e descortês, tornam-no uma maldição a si mesmo e aos outros. O tratamento que dispensa à sua sogra tem sido rude e indelicado. Deve ser motivo de estudo, durante toda a vida de ambos, marido e mulher, como evitar tudo o que produza desavença, para conservar intactos os votos do casamento. T5 122 2 Esses casamentos não-santificados enchem as fileiras dos guardadores do sábado. Deus deseja que Seus filhos sejam felizes e, se aprenderem do Senhor, Ele os salvará da miséria diária que ocorre nessas uniões infelizes. Muitos casamentos só podem produzir misérias; e no entanto o espírito dos jovens vai nessa direção, porque Satanás os conduz, fazendo-os crer que precisam casar para serem felizes, quando é certo que não possuem a habilidade para controlar-se ou sustentar a família. Os que não estão dispostos a adaptar-se ao temperamento um do outro, bem como a abandonar desagradáveis divergências e controvérsias, não devem dar o passo. Mas esse é um dos tentadores enganos dos últimos dias, e por ele milhares estão sendo arruinados para esta vida e a futura. Devemos evitar a paixão doentia e o sentimentalismo amoroso como se evita a lepra. Muitos, muitos dos rapazes e moças nesta época do mundo, carecem de virtude; portanto é necessário haver muita cautela. Um caráter virtuoso é o fundamento sobre o qual se deve edificar, porém, se o alicerce se mostra comprometido, todo o edifício fica desvalorizado. Os que conservaram um caráter virtuoso, se bem que tenham falta de outras qualidades desejáveis, podem ser de real valor moral. T5 123 1 Para que a igreja prospere, deve haver estudado esforço da parte de seus membros para nutrir a preciosa planta do amor. Que ela possa usufruir de todos os benefícios para florescer no coração. Cada cristão verdadeiro desenvolverá em sua vida as características do amor divino; ele revelará um espírito tolerante, beneficente e isento de inveja e ciúmes. O caráter assim manifestado em palavras e ação, não rejeitará e não será frio e indiferente aos interesses dos outros. Aquele que cultiva a preciosa planta do amor será abnegado e não perderá o autocontrole sob provocação. Não atribuirá errôneos motivos e más intenções aos outros, mas sentirá profundamente quando o pecado for descoberto em qualquer dos discípulos de Cristo. T5 123 2 O amor não se vangloria. É elemento humilde; nunca estimula o homem a orgulhar-se, a exaltar-se. O amor a Deus e aos semelhantes não se manifestará em atos precipitados, nem nos levará a ser despóticos, críticos ou ditatoriais. O amor não se envaidece. O coração em que reina o amor, será levado a um procedimento delicado, cortês, compassivo para com os outros, quer satisfaçam ou não nossa fantasia, quer nos respeitem ou nos tratem mal. O amor é um princípio ativo; conserva continuamente diante de nós o bem dos outros, refreando-nos de praticar atos desatenciosos, a fim de não falharmos em nosso objetivo de ganhar pessoas para Cristo. O amor não busca seus próprios interesses. Não levará os homens a buscar seu bem-estar e a satisfação do próprio eu. É o respeito que prestamos ao eu, que tantas vezes estorva o crescimento do amor. T5 124 1 Há homens pobres e obscuros cuja vida Deus aceitaria e tornaria cheia de utilidade na Terra e de glórias no Céu, mas Satanás está atuando persistentemente para derrotar Seus desígnios e arrastá-los à perdição mediante o casamento com pessoas cujo caráter é de tal natureza que os faz ficar como que atravessados na estrada da vida. Bem poucos saem vitoriosos desse emaranhado. Irmão _____, você está disposto a tentar provar que é uma exceção à regra geral. José foi um dos poucos que poderiam resistir à tentação. Ele mostrou que tinha em vista a glória de Deus. Evidenciou alta consideração pela vontade de Deus tanto quando estava prisioneiro, como quando próximo ao trono. Levava sua religião consigo onde quer que fosse e em qualquer situação em que era posto. A verdadeira religião tem um poder de influir sobre todas os aspectos da vida. Ela dá cor a tudo quanto o ser humano faz. Você não precisa sair do mundo para ser um cristão, mas necessita pôr sua religião, com toda a sua santificadora influência, em tudo quanto fizer e disser. O irmão pode bem cumprir todos os deveres envolvidos na situação em que Deus o pôs, ao manter o coração fixo nas coisas celestiais, quebrando assim o encanto que agora o prende por causa de um relacionamento imprudente. Se você tivesse seguido a luz, seria agora capaz de escapulir das armadilhas que aqueles que não discernem a vontade de Deus têm armado para capturar sua alma. T5 125 1 Outro ponto admirável no caráter de José e digno de imitação pelos jovens, é seu profundo respeito filial. Ao reencontrar seu pai com lágrimas nos olhos, envolveu-o num afetivo e amoroso abraço. Parecia sentir que não podia fazer o suficiente pelo conforto de seu pai, e cuidou dele durante seus últimos anos com amor mais terno que o de uma mãe. Nada poupou para mostrar-lhe seu respeito e amor em todas as ocasiões. José é um exemplo do que a juventude deve ser. O amor manifestado por sua mãe revelaria um belo traço de caráter, sobre o qual Deus poria sua aprovação. T5 125 2 A falta de respeito pelo conselho de pais piedosos é um dos marcantes pecados desta época degenerada. Há muitas vidas em nosso país que foram obscurecidas e envilecidas por causa de um passo errado na direção das trevas. Por um ato de desobediência, muitos jovens têm arruinado sua vida e sobrecarregado de angústia um amoroso coração materno. Deus não o terá por inocente se continuar seguindo essa conduta. Desprezando os conselhos de uma mãe temente a Deus, a qual estaria disposta a dar sua vida pelos filhos, você está transgredindo o quinto mandamento e não têm ciência de onde seus passos o estão levando. T5 125 3 Novamente advogo a reivindicação materna, o amor de mãe. Não há mais terrível ingratidão do que aquela que marca o pecado da desobediência a uma mãe cristã. Nos dias de sua infância, ela cuidou de você; suas orações e lágrimas foram testemunhadas pelo Céu, enquanto carinhosamente cuidava de você. Por seus filhos ela trabalhou arduamente e planejou, meditou, orou e exerceu abnegação. Através de toda a vida seu coração esteve ansioso e anelante por seu bem-estar. Todavia, agora você resolve seguir os próprios caminhos, atendendo a uma vontade cega e obstinada a despeito da amarga colheita que terá e das tristezas que trará sobre ela. T5 125 4 Enfermidades acumularam-se sobre ela. Ela precisa de você; qualquer atenção que lhe possa dar ser-lhe-á muito valiosa. Nenhum de seus outros filhos pode cuidar dela. Eles não se sentem sob essa obrigação. Mas você verá que o privilégio agora ofertado, logo poderá ser perdido. Não pense, entretanto, que se você negligenciasse seu privilégio e dever como filho, ela iria sofrer. Sua mãe tem muitos amigos que julgariam ser uma regalia cumprir deveres dos quais você declinou. Deus ama sua mãe e a tomará sob Seus cuidados. Se seus próprios filhos a negligenciam, Ele levantará outros para fazer o trabalho que eles deveriam ter feito e receberão as bênçãos que lhes foram oferecidas. É seu privilégio tornar-lhe os últimos dias melhores e mais felizes. T5 126 1 Quero dizer-lhe com clareza: Deus não está satisfeito com seu modo de agir. Há problemas futuros que você não pode prever, mas que poderão ser evitados se aceitar um sábio conselho. Nosso Salvador fê-lo objeto de Seus infatigáveis labores e terna solicitude, para que você possa ser sábio e evitar a própria ruína. Ele anseia por você com ilimitada compaixão e amor, exclamando: "Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?" Lucas 13:34. Seu coração insensato recusou o conselho dos melhores amigos. T5 126 2 Em virtude das fervorosas e fiéis advertências para guardá-lo de cometer erros que afetariam toda a existência, você imaginou que era um grande benefício para a igreja. Verdadeiramente, você poderia, em Jesus Cristo, ser bastante útil, mas, apesar disso, o Senhor e a igreja podem se dar muito bem sem você. O irmão pode se unir ao exército dos seguidores de Cristo se quiser; pode tomar parte em seus conflitos e triunfos. Mas, se escolher o contrário, o abnegado exército sob a bandeira ensangüentada da cruz seguirá adiante para a vitória certa e o deixará para trás. Se optar por guiar seu frágil barco pelas tempestuosas águas, você responderá pela presunção e será responsável pelos resultados. T5 126 3 Se o irmão pudesse ver como já enfraqueceu nos princípios; se pudesse perceber o quando sua honra e honestidade foram atingidas, notaria que Deus não está mais com você e que não deveria mais permanecer no lugar que ocupa. Você é indigno. Meu coração ficou realmente triste quando soube o que você poderia ter sido se houvesse se submetido integralmente a Deus. Vi também o poder que o inimigo tem exercido sobre você. T5 127 1 A obra da Escola Sabatina é importante e todos os que se interessam pela verdade deveriam esforçar-se por torná-la próspera. O irmão _____ poderia ter servido muito bem nesse ramo da obra, caso, juntamente com outros na igreja, tivesse seguido o caminho certo. Mas ele tem sido muito elogiado e muito mimado. Isso quase o arruinou. O Senhor pode fazer as coisas sem ele, mas ele não pode dar-se ao luxo de realizar qualquer coisa sem Deus. O Senhor confiará Sua obra a homens de mãos limpas e coração puro, pois é uma honra assumir responsabilidades em Sua causa. T5 127 2 A obra de temperança também é digna dos maiores esforços. Grande cuidado deve ser dispensado a fim de tornar as reuniões de temperança tão elevadas e enobrecedoras quanto possível. Evite-se o trabalho superficial e tudo que seja de natureza teatral. Aqueles que compreendem o caráter sagrado desta obra hão de manter alta a norma. Há, porém, uma classe, que não tem verdadeiro respeito pela causa da temperança; seu único interesse é mostrar sua habilidade no palco. Os puros, os refletidos e aqueles que compreendem o assunto da obra, devem ser animados a trabalhar nesses grandes ramos de reforma. Talvez eles não sejam intelectualmente grandes, mas se forem puros e humildes, tementes a Deus e fiéis, o Senhor aceitará os seus esforços. T5 127 3 As sociedades literárias são normalmente bem organizadas, mas, em nove entre dez casos, demonstram-se um prejuízo à espiritualidade antes que uma bênção. Isso porque formaram uma aliança com o mundo ou com uma classe cuja influência e tendências sempre conduzem do sólido para o superficial, do real para o fictício. As sociedades literárias poderiam ser um grande benefício se controladas por pessoas consagradas; mas cedo ou tarde, elementos não consagrados ganham ascendência e exercem influência controladora. Isso também acontece com nossas sociedades de temperança. A solenidade da obra é encoberta pelo superficial, e contínua tentação é apresentada aos jovens a quem desejamos salvar. T5 128 1 Os fatos estão perante nós. Os que entre nós têm arcado com as responsabilidades estão descendo à silente sepultura. Os membros ativos da igreja, os verdadeiros obreiros em todas as reformas, já viveram a maior parte de sua vida e estão declinando em força física e mental. Ansiosamente gostaríamos de ver quem são os que preencherão seu lugar. A quem serão confiados os interesses vitais da igreja? Uma questão pode ser por nós colocada com profunda preocupação: "Quem assumirá as responsabilidades da causa de Deus quando os poucos porta-bandeiras caírem?" Olhamos ansiosos para os jovens de hoje como aqueles que precisam assumir esses fardos e sobre quem as responsabilidades devem repousar. Eles precisam assumir a obra onde outros a deixaram, e sua conduta determinará se a moralidade, a religião e a piedade vital prevalecerão, ou se a imoralidade e infidelidade corromperão e frustrarão tudo o que é valioso. O padrão que agora é adotado determinará o futuro. T5 128 2 Pais, desejam vocês demonstrar por sua conduta que os limites salutares, a boa ordem, a harmonia e a paz serão os princípios diretrizes? Ou deverão aqueles cujo comportamento revela serem possuidores de mentalidade frívola e baixa escala de dignidade moral ter influência decisiva, controladora? Deus apela a Seu povo fiel para se unir a Ele e purificar sua vida andando humildemente nas pegadas de Jesus. Deus exorta vocês a porem de lado o orgulho das opiniões, do vestuário e a ostentação, e a permitirem que as boas e nobres faculdades mentais se fortaleçam pelo uso. T5 128 3 Serão leais aos princípios os homens e mulheres que professam as mais solenes verdades jamais trazidas aos mortais? Se quisessem produzir uma influência para levar o mundo a uma séria reflexão, deveriam exercê-la; seu vestuário e conversação também precisam estar em estrita harmonia com sua fé peculiar. Os mais velhos devem educar os mais jovens, por preceito e exemplo, a atenderem as reivindicações que a sociedade e seu Criador têm sobre eles. Sobre os ombros de jovens devem ser postas sérias responsabilidades. A questão é se eles são capazes de governar a si mesmos e permanecer na pureza de sua determinação concedida por Deus, aborrecendo tudo o que sugira licenciosidade e discórdia. T5 129 1 Será que posso dizer alguma coisa que faça impressão sobre os jovens? Nunca antes houve tanto em jogo; nunca houve tão importantes resultados dependendo de uma geração, como os que estão agora na cena de ação. Nem por um momento deveríamos pensar que eles podem assumir qualquer posição de confiança sem possuir um bom caráter. Da mesma maneira, não se pode esperar colher uvas dos espinheiros ou figos dos cardos. Um caráter reto precisa ser edificado tijolo a tijolo, crescendo cada dia em proporção aos esforços exercidos. Aquelas características que eles levarão ao Céu consigo, precisam ser obtidas por diligente exercício de suas próprias faculdades, por aprimorar cada benefício que a Providência lhes concedeu, e por unir-se à fonte de toda sabedoria. Não se pode tomar por base a nenhum padrão baixo. Não se deve permitir que a mente seja ajustada num molde inferior. As características de José e Daniel são bons modelos a seguir, mas Cristo é o Modelo Perfeito. T5 129 2 Alguns dos irmãos e irmãs da igreja de _____ têm feito um bom trabalho missionário, mas seu interesse não deve esmorecer. Poucos têm feito mais do que suas forças poderiam suportar; mas era seu deleite fazer isso. Todos podem desempenhar uma parte nessa obra e ninguém é descartado. Jesus deseja que todos os que professam Seu nome se tornem obreiros fervorosos. É necessário que todo membro individual construa sobre a rocha que é Jesus Cristo. Arma-se uma tempestade que forçará e provará ao máximo o fundamento espiritual de cada um. Por isso, evite o solo arenoso; busque a rocha. Cave fundo; ponha alicerce seguro. Construa, oh, construa para a eternidade! Construa com lágrimas, com orações provindas do coração. Que cada um de vocês, daqui por diante, embeleze a vida através de boas obras. Calebes são os homens mais necessários nestes últimos dias. O que tornará nossas igrejas vigorosas e bem sucedidas em seus esforços, não é a obra ruidosa, mas a que se faz quieta e humildemente; não é a ostentação e exibicionismo, mas o esforço paciente, perseverante e acompanhado de oração. T5 130 1 "Quem não é comigo", disse Cristo, "é contra Mim." Lucas 11:23. Homens e mulheres decididos, que se entregam de todo o coração, são os que hão de subsistir neste tempo. Cristo joeirou Seus seguidores repetidas vezes, até que afinal só ficaram onze, e algumas mulheres fiéis, para assentar as bases da igreja cristã. Existem alguns que se deixam ficar para trás quando há responsabilidades a assumir, mas quando a igreja está toda possuída de zelo, entusiasmam-se, cantam e bradam, e ficam enlevados; mas cuidado com esses. Passado o entusiasmo, apenas alguns fiéis Calebes tomarão a frente e manifestarão princípios inabaláveis. Esses correspondem ao sal que conserva seu sabor. É quando a obra vai com dificuldade que as igrejas desenvolvem seus verdadeiros ajudadores. Eles não estarão falando de si mesmos, reivindicando o eu, mas imergirão sua identidade em Cristo Jesus. Para ser grande no reino de Deus, deve-se ser uma criança em termos de humildade, em simplicidade de fé e pureza de amor. Todo orgulho deve ser excluído, todo ciúme vencido, toda ambição por supremacia abandonada, e a mansidão e confiança infantil estimuladas. Esses encontrarão em Cristo sua Rocha protetora, sua poderosa fortaleza. NEle podem confiar implicitamente, pois nunca lhes falhará. T5 130 2 Oh, que todos os que crêem na verdade presente sejam exortados a buscar ao Senhor! Os pensamentos divinos de infinita misericórdia e Seu amor incomparável deveriam influenciar todos a imitar Seu exemplo. Mas isso não ocorre. Algumas de nossas irmãs condescendem abertamente com o amor ao vestuário e à exibição. Não se trajam absolutamente em harmonia com nossa fé. Isso é verdadeiro quanto à irmã _____. O mundo deve contemplar um melhor exemplo do que o que essa irmã tem apresentado. Ela deveria sentir sua responsabilidade de pôr toda a sua influência ao lado de Cristo, e procurar tornar aqueles com quem se associa menos mundanos. Ela e a irmã _____ seriam de grande benefício à igreja se estimulassem a simplicidade no vestuário nelas próprias e nas outras. Essas irmãs, que são costureiras e que estudam as tendências da moda, freqüentemente levam outras mulheres na igreja a fazer aquilo que desagrada a Deus, animando-as a cortar e ornamentar seus vestidos e imitar o mundo. O empenho dessas irmãs em fazer o bem seria muito mais aceitável a Deus, caso fossem observados em sua vida menos amor ao vestuário, menos conversa fútil e mundana, menos críticas e murmurações contra os pastores que trabalham por vocês, e mais oração e leitura da Bíblia. T5 131 1 O Senhor não está satisfeito com a conduta seguida por muitos na igreja, com referência a alguns de seus irmãos do ministério. Ele ordena que cessem seus cruéis falatórios e que palavras de encorajamento tomem o lugar das murmurações, descontentamentos e críticas. Cristo fala-lhes na pessoa de Seus santos e vocês têm desprezado Seu conselho e rejeitado Sua reprovação. Não faça mais isso. O Pastor _____ tem um trabalho a fazer, não apenas no Leste, mas em muitos lugares. Deus vai ajudá-lo e vai lhe dar sucesso, se ele se esconder em Jesus. Ele não é infalível e pode, às vezes, errar em seus julgamentos. Mas tome cuidado ao falar para não anular o efeito das palavras que Deus ordena a ele proferir. T5 131 2 Quando ele sabe qual é a vontade de Deus, não deveria hesitar em cumpri-la, mesmo que lhe custasse a vida. Enquanto muitos de vocês cogitam apenas em como podem satisfazer o eu e ter uma vida fácil, toda a vida e interesses dele estão envolvidos na causa de Deus. Quando estudando e planejando em favor da causa, ele tem algumas vezes sido arguto e sutil, o que tem levado outros a julgá-lo mal. Seu objetivo não é obter vantagens para si mesmo, mas para a causa que ele ama. Ao mesmo tempo em que o Senhor deseja ter você sustentando fielmente as mãos de Seus provados servos, também adverte contra o colocar excessiva confiança naqueles que recentemente vieram para a fé ou cuja vida anterior e trabalhos sejam desconhecidos. T5 132 1 Temos o privilégio de colaborar para que a igreja seja próspera e feliz. Que cada um examine o próprio coração, purifique o contaminado templo da alma e vigie em oração. Determine-se a buscar Jesus até encontrá-Lo; não ceda até que Seu amor habite o coração e Seu Espírito esteja subjugando sua vida e modelando o caráter. Então creia e com ousadia aproxime-se de Seu trono, sabendo que Ele ouvirá as suas orações. ------------------------Capítulo 11 -- Cooperadores de Deus T5 132 2 Companheiros de trabalho na grande seara, temos pouco tempo para trabalhar. É agora a mais favorável oportunidade que havemos de ter, e quão cuidadosamente deve ser empregado cada momento! Tão devotado Se achava nosso Redentor à obra de salvar, que Ele mesmo ansiava por Seu batismo de sangue. Os apóstolos apanharam o zelo de seu Mestre, e firme, constante e zelosamente saíram a consumar sua grande obra, lutando contra os principados e potestades e contra a maldade espiritual nas regiões celestes. T5 132 3 Vivemos em um tempo em que é necessário mesmo maior fervor do que nos dias dos apóstolos. Mas entre muitos dos pastores há uma sensação de desassossego, um desejo de imitar o estilo romântico dos reavivalistas, um desejo de fazer algo de grande, de criar sensação, a fim de serem considerados oradores hábeis, e ganharem honra e distinção para si mesmos. Se esses pudessem ir ao encontro do perigo para receber a honra prestada aos heróis, empenhar-se-iam na obra com energia inquebrantável. Mas viver e labutar quase anonimamente, gastar-se e sacrificar-se por Jesus na obscuridade, sem receber dos homens louvores especiais -- isso requer uma integridade de princípios e uma firmeza de propósitos que bem poucos possuem. Houvesse maior empenho por andar humildemente com Deus, desviando os olhos dos homens e trabalhando unicamente por amor de Cristo, e muito mais seria realizado. T5 133 1 Meus irmãos no ministério, busquem a Jesus com toda a humildade e mansidão. Não procurem atrair a atenção do povo para vocês. Percam eles de vista o instrumento, enquanto exaltam a Jesus. Falem em Jesus; percam nEle o próprio eu. Há por demais ruído e comoção acerca de nossa religião, ao passo que permanecem esquecidos o Calvário e a cruz. T5 133 2 Estamos no maior dos perigos quando recebemos louvor uns dos outros, quando nos unimos para exaltar-nos mutuamente. A grande preocupação dos fariseus era assegurar o louvor dos homens; e disse-lhes Cristo que era essa toda a recompensa que iriam acabar recebendo. Empenhemo-nos no trabalho que nos é designado, e cumpramo-lo como para Cristo; se sofrermos privações, seja por amor dEle. Nosso divino Senhor Se aperfeiçoou através do sofrimento. Oh! quando veremos pessoas trabalhando como Ele trabalhou! T5 133 3 A Palavra de Deus é nossa norma. Cada ato de amor, toda palavra de bondade, toda oração em favor dos sofredores e oprimidos, tudo é relatado perante o trono eterno, e posto no imperecível registro do Céu. A Palavra divina derrama luz sobre o entendimento mais obscurecido, e essa luz leva os mais cultos a sentirem sua ineficiência e pecaminosidade. T5 133 4 O inimigo hoje compra indivíduos a preço bem baixo. "Por nada fostes vendidos" (Isaías 52:3) é a linguagem das Escrituras. Um vende a alma pelos aplausos do mundo, outro por dinheiro; um para satisfazer a paixões baixas, outro por diversões mundanas. Essas transações são efetuadas diariamente. Satanás faz ofertas por aqueles que são aquisição do sangue de Cristo, e compra-os a baixo preço, apesar do preço infinito pago pelo seu resgate. T5 134 1 Possuímos grandes bênçãos e privilégios. Podemos adquirir os mais valiosos tesouros celestiais. Lembrem-se os pastores e o povo de que a verdade do evangelho, quando não salva, leva à ruína. A pessoa que se recusa a escutar dia a dia os convites da misericórdia, cedo poderá ouvir os mais urgentes apelos sem que uma emoção lhe agite o coração. T5 134 2 Como coobreiros de Deus, carecemos de mais fervente piedade, e menos exaltação própria. Quanto mais for exaltado o próprio eu, tanto mais diminuirá a fé nos testemunhos do Espírito de Deus. Os que se acham mais intimamente ligados a Deus são os que conhecem Sua voz quando Ele lhes fala. Os que são espirituais discernem as coisas espirituais. Esses se sentirão gratos porque o Senhor lhes apontou os erros, ao passo que os que confiam inteiramente em si mesmos verão cada vez menos de Deus nos testemunhos de Seu Espírito. T5 134 3 Nossa obra tem de ser acompanhada de profunda humilhação, jejum e oração. Não devemos esperar que só haja paz e alegria. Haverá tristeza; mas se semearmos em lágrimas, ceifaremos com alegria. Trevas e desapontamento podem por vezes insinuar-se no coração daqueles que se sacrificam; mas isso não lhes é contrário. Pode ser o desígnio de Deus levá-los a buscá-Lo mais fervorosamente. T5 134 4 O que precisamos agora são Calebes, homens fiéis e verdadeiros. A indolência assinala a vida de muitos, atualmente. Retiram os ombros da roda que estavam ajudando a empurrar, justamente quando deviam perseverar e empregar todas as suas energias no serviço ativo. Ministro de Cristo, "desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá". Efésios 5:14. Seu trabalho se acha tão impregnado do próprio eu, que Cristo é esquecido. Alguns estão sendo por demais insuflados e lisonjeados. Como nos dias de Noé, só se pensa em comer e beber, plantar e construir. O mundo roubou as energias dos servos de Cristo. Irmãos, se vocês querem sua religião honrada pelos descrentes, honrem-na vocês mesmos através de obras correspondentes. Por íntima ligação com Deus e estrita fidelidade à verdade bíblica em face de dificuldades e pressão mundana, poderão incutir o espírito da verdade no coração de seus filhos de modo que eles trabalharão eficazmente com vocês, como instrumentos nas mãos de Deus para o bem. T5 135 1 Muitos estão se incapacitando para o trabalho, mental e fisicamente, pelos excessos no comer e pela satisfação de paixões concupiscentes. Fortalecem-se as tendências pecaminosas, enquanto a natureza moral e espiritual se debilita. Quando estivermos junto ao grande trono branco, que registro apresentará então a vida de muitos! Então verão o que poderiam ter realizado se não tivessem envilecido as faculdades que Deus lhes concedera. Então reconhecerão que alturas de grandeza intelectual poderiam ter atingido, se tivessem dedicado a Deus toda a força mental e física que lhes confiara. Em sua agonia de remorso ansiarão poder viver de novo toda a sua vida. T5 135 2 Apelo para os que professam ser portadores de luz -- exemplos ao rebanho -- a que se afastem de toda a iniqüidade. Empreguem bem o pequeno remanescente de tempo que lhes resta. Será que estão desenvolvendo aquele forte apego a Deus, aquela consagração ao Seu serviço, de modo que sua religião não lhes falte quando chegar a mais terrível perseguição? Tão-somente o profundo amor de Deus susterá a alma em meio às provas que estão para nos atingir. T5 135 3 Abnegação e a cruz são nossa porção. Estamos dispostos a aceitar? Nenhum de nós deve esperar que, quando as últimas grandes provas nos sobrevierem, desenvolvamos então, num momento, por causa de nossa necessidade, um espírito de renúncia e dedicação completa. Não, absolutamente. Esse espírito tem de ser desenvolvido com as nossas experiências diárias, e incutido na alma e coração de nossos filhos, tanto pelo ensino como pelo exemplo. As mães de Israel podem não ser elas mesmas guerreiras, mas poderão suscitar guerreiros que hão de utilizar toda a armadura e ganhar corajosamente as batalhas do Senhor. T5 135 4 Os pastores e o povo precisam do convertedor poder da graça antes de estarem habilitados a ficar em pé no dia do Senhor. O mundo se aproxima rapidamente do ponto de iniquidade e depravação humanas em que se tornará necessária a interferência de Deus. E nesse tempo os Seus professos seguidores devem destacar-se ainda mais pela fidelidade a Sua santa lei. Sua oração será como a de Davi: "Já é tempo de operares ó Senhor, pois eles têm quebrantado a Tua lei." Salmos 119:126. E por sua conduta dirão: "Pelo que amo os Teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino." Salmos 119:127. O próprio desprezo que é mostrado para com a lei de Deus é razão suficiente para o Seu povo, observador dos mandamentos, destacar-se e mostrar sua estima e reverência para com a Sua combatida lei. T5 136 1 "E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." Mateus 24:12. A própria atmosfera acha-se poluída pelo pecado. Logo o povo de Deus será testado por ardentes provas, e a grande proporção dos que agora parecem genuínos e verdadeiros, demonstrar-se-á metal vil. Em vez de se fortalecerem e serem confirmados pela oposição, ameaças e abusos, tomarão covardemente o lado dos oponentes. A promessa é: "Aos que Me honram, honrarei." 1 Samuel 2:30. Será que vamos nos apegar menos firmemente à lei de Deus pelo fato de o mundo em geral estar tentando anulá-la? T5 136 2 Já os juízos de Deus se manifestam na Terra, em forma de tempestades, inundações, terremotos e perigos por terra e mar. O grande EU SOU está falando aos que anulam Sua lei. Quando a ira de Deus for derramada sobre a Terra, quem estará em condições de subsistir? Agora é tempo de mostrar-se o povo de Deus leal aos princípios. Quando a religião de Cristo for mais desprezada, quando Sua lei mais olvidada for, então deve nosso zelo ser mais ardo-roso e nosso ânimo e firmeza mais inabaláveis. Permanecer em defesa da verdade e justiça quando a maioria nos abandona, participar das batalhas do Senhor quando são poucos os campeões -- essa será nossa prova. Naquele tempo, devemos tirar calor da frieza dos outros, coragem de sua covardia, e lealdade de sua traição. A nação ficará do lado do grande líder rebelde. T5 137 1 A prova virá por certo. Trinta e seis anos atrás foi-me mostrado que o que agora se desenrola haveria de suceder, que seria imposta ao povo a observância de uma instituição do papado por meio de uma lei dominical, enquanto seria pisado o santificado dia de repouso de Jeová. T5 137 2 O Capitão de nossa salvação fortalecerá o Seu povo para o conflito no qual terá de se empenhar. Quantas vezes, quando Satanás arregimentou contra os seguidores de Cristo todas as suas forças, e estiveram face a face com a morte, orações sinceras, feitas com fé, trouxeram para o campo de ação o Capitão dos exércitos do Senhor, volvendo a vaga da batalha e livrando os oprimidos! T5 137 3 Agora é o tempo em que devemos ligar-nos intimamente a Deus, para que sejamos escondidos quando for derramado sobre os filhos dos homens o ímpeto de Sua ira. Estamos nos afastando dos marcos antigos. Voltemos. "Se o Senhor é Deus, servi-O; se é Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. De que lado você se colocará? ------------------------Capítulo 12 -- Agentes de Satanás T5 137 4 Satanás serve-se de homens e mulheres como agentes para seduzir ao pecado e torná-lo atraente. Esses agentes ele educa fielmente de modo a disfarçarem o pecado por tal forma que possa com mais êxito destruir vidas e roubar a Cristo de Sua glória. Satanás é o grande inimigo de Deus e do ser humano. Ele se transforma, mediante seus agentes, em anjo de luz. Nas Escrituras é ele chamado destruidor, acusador dos irmãos, enganador, mentiroso, atormentador e homicida. Satanás tem muitos às suas ordens, mas tem mais êxito quando pode servir-se de professos cristãos para sua obra satânica. E quanto maior sua influência, quanto mais elevada sua posição, quanto mais conhecimentos possuírem de Deus e de Seu serviço, com tanto maior êxito deles se poderá servir. Todo aquele que incita ao pecado, é seu agente. T5 138 1 Enquanto assistindo a uma das reuniões campais no Leste, foi apresentada, certa sexta-feira, a um homem que ocupava uma tenda com muitas mulheres e crianças. Naquela noite fui incapaz de conciliar o sono; sentia-me profundamente sobrecarregada. Ao elevar minhas preces a Deus na madrugada, uma visão dada anos antes, onde o comportamento de Nathan Fuller foi condenado, sobreveio-me bem clara à mente. Naquele tempo foram-me mostrados três homens com quem eu deveria me encontrar, os quais estavam seguindo a mesma conduta iníqua sob profissão de piedade. Esse homem era um deles. Enquanto estive apresentando meu testemunho no encontro matutino, o poder e o Espírito de Deus repousaram sobre mim, mas não fiz menção de casos individuais. Mais tarde, senti claramente o dever e dei meu testemunho referindo-me a seu caso como o mais destacado. Por seu procedimento, esse homem estava andando contrariamente à direção do apóstolo que pediu para que evitássemos toda aparência do mal. Ele estava transgredindo o sétimo mandamento, enquanto professava guardar o quarto. Em seu engano, ele estava cercado por mulheres que o seguiam a todo lugar, como uma fiel esposa deveria acompanhar o marido. T5 138 2 Como povo, somos considerados peculiar. Nossa posição e fé nos distinguem de todas as outras denominações. Caso não sejamos em nada melhores do que o mundo na vida e no caráter, eles nos apontarão o dedo escarnecedor, e dirão: "Estes são adventistas do sétimo dia." "Temos aqui um exemplo do povo que guarda o sétimo dia em lugar do domingo." O estigma que deveria aplicar-se corretamente a uma determinada classe é, dessa forma, colocado sobre todos os que conscienciosamente guardam o sétimo dia. Oh! quão melhor seria se tal classe não fizesse qualquer alegação de obedecer à verdade! T5 138 3 Fui impelida a repreender esse homem em nome do Senhor, e apelar às mulheres que o acompanhavam para separar-se e retirar dele sua equivocada confiança, pois infelicidade e ruína estavam no caminho que agora trilhavam. T5 139 1 Os registros celestiais testificam a respeito desse homem: "Um enganador, adúltero, introduzindo-se nas casas e levando cativas mulheres néscias." Quantas vidas conseguiu ele comprometer com seu satânico sofisma somente o Juízo poderá revelar. Tais homens devem ser repreendidos e envergonhados de vez, para que não mais tragam contínua vergonha sobre a causa de Deus. T5 139 2 Ao nos aproximarmos do final da história da Terra, aumentarão em torno de nós os riscos e perigos. Não adiantará uma mera profissão de piedade. Deve haver viva ligação com Deus para que possamos ter a visão espiritual e discernir a impiedade, que do modo mais artificioso e secreto vai se insinuando em nosso meio mediante os que fazem profissão de nossa fé Os maiores pecados são introduzidos através dos que professam ser santificados e alegam não poder mais pecar. Entretanto, muitos dessa classe pecam diariamente e são corruptos de coração e vida. São presunçosos e justos aos próprios olhos, fazendo sua própria norma de justiça e deixando por completo de satisfazer a norma bíblica. Não obstante suas altas pretensões, são estranhos ao concerto da promessa. É em grande misericórdia que Deus suporta sua perversidade e não os arranca imediatamente como usuários inúteis do terreno, mas permanecem dentro das possibilidades de perdão. A longanimidade e misericórdia de Deus são continuamente abusadas. Davi, em seus dias, pensava que os homens haviam excedido os limites da longanimidade divina, e que ele precisava interferir para vindicar a honra de Deus e restringir a injustiça. T5 139 3 O Sr. _____ é um professor de ensino religioso que profana o templo de Deus. Quase não há esperança para ele. Esse homem engana a si mesmo e ilude a outros há tanto tempo que Satanás tem quase que inteiro controle sobre sua mente e corpo. Se sua aparente veste de justiça puder ser retirada e seus vis propósitos e pensamentos expostos, de forma que ele não mais prossiga a conduzir outros nos caminhos do inferno, isso é tudo o que podemos esperar. T5 139 4 Ele primeiramente detestou as advertências de Deus e então a elas resistiu porque expuseram sua conduta à luz da lei divina. Essa é uma das mais tristes evidências da cegante influência do pecado, meses e anos se passam e não há um despertamento para a contrição. Com firme persistência, seguiu ele seu caminho descendente. Não foi tomado de amargos sentimentos de remorso nem temeu a vingança do Céu. Como podia, mediante mentiras e enganos, acobertar seus pecados da observação alheia, estava contente. Todo o senso de certo e errado está morto dentro dele. A colheita que lhe está reservada terá ele horror de ceifar. T5 140 1 A pior característica desse caso é que toda a sua satânica obra é feita sob pretensão de ser o envolvido um representante de Jesus Cristo. Um só pecador vestido de anjo de luz pode causar incalculável dano. Planos sombrios e temerários são deliberadamente feitos para separar marido e mulher. Disse o apóstolo: "Porque deste número são os que se introduzem pelas casas e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências". 2 Timóteo 3:6. Esses caracteres licenciosos insinuam-se nas famílias e, por sua astúcia enganadora e intrigas, desencaminham os conscienciosos. Heresias abomináveis são recebidas como verdade e os mais revoltantes pecados praticados como atos de justiça, pois a consciência se torna confusa e entorpecida. T5 140 2 Esse homem aceitou a doutrina impopular do sétimo dia como o sábado do Senhor, de forma a dar à sua experiência religiosa uma aparência de honestidade. Nossos pontos de vista têm sido claramente definidos em nossas publicações, mas, dissimulando esse fato, ele misturou com verdade suas próprias heresias viciosas e tentou fazer os outros crerem que Deus lhe havia dado nova luz sobre a Bíblia. Professando assim ter grande luz para o povo acerca do sábado do quarto mandamento e verdades semelhantes, ele apresentou aos incautos a aparência de realmente ser guiado por Deus. Uma vez ganha a confiança das pessoas, ele começou sua satânica obra de deturpar o verdadeiro significado das Escrituras, buscando mostrar que o adultério condenado na lei de Deus não é aquilo que geralmente se compreende. Ele procura, por todos os modos, fazer com que mulheres sensatas creiam que não é ofensivo a Deus que as esposas sejam desleais a seus votos matrimoniais. Ele não admite que isso seja transgressão do sétimo mandamento. Satanás se regozija ao ver pecadores entrarem na igreja como professos guardadores do sábado, enquanto lhe permitem governar-lhes a mente e afeições, usando-as para enganar e corromper os outros. T5 141 1 Nesta época degenerada, serão encontrados muitos que estão de tal forma cegados para a malignidade do pecado que escolhem uma vida licenciosa, pois esta agrada a inclinação natural e perversa do coração. Em lugar de se contemplarem ao espelho -- a lei de Deus -- e porem o coração e caráter de acordo com a norma divina, permitem que instrumentos de Satanás lhes estabeleçam no coração sua norma. Homens corruptos consideram mais fácil falsear as Escrituras para apoiá-los em sua iniqüidade, do que abrir mão de sua corrupção e pecado e se tornarem puros de coração e vida. T5 141 2 Há mais homens dessa espécie do que muitos têm imaginado, e eles se multiplicarão à medida que nos aproximarmos do fim do tempo. A menos que se tornem arraigados e alicerçados na verdade da Bíblia e tenham uma viva relação com Deus, muitos se tornarão apaixonados e enganados. Os perigos ocultos bloqueiam nosso caminho. Nossa única segurança está na constante vigilância e oração. Quanto mais perto andarmos de Jesus, tanto mais nos tornaremos participantes do Seu caráter puro e santo; e quanto mais ofensivo se nos parecer o pecado, tanto mais exaltados e desejáveis parecerão a pureza e o brilho de Cristo. T5 141 3 Para acobertar sua vida corrompida e fazer com que seus pecados pareçam inofensivos, esse homem cita exemplos bíblicos em que homens bons caíram em tentação. Paulo enfrentou tal tipo de gente em seus dias, e a igreja tem sido afligida por eles em todas as épocas. Em Mileto, Paulo convocou os anciãos da igreja e os advertiu com respeito ao que iriam enfrentar: "Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue. Porque eu sei isto: que, depois da Minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós." Atos dos Apóstolos 20:28-31. T5 142 1 Aquele que professa a verdade mas vive na injustiça, que professa crer nela e contudo a fere cada dia por sua vida incoerente, está-se entregando ao serviço de Satanás, e levando pessoas à ruína. Essa classe de pessoas tem comunhão com anjos caídos, e são por eles ajudados para alcançar o domínio de outras mentes. Quando o enfeitiçante poder de Satanás domina uma pessoa, Deus é esquecido e exalta-se o ser humano, cheio de propósitos corruptos. A licenciosidade secreta é praticada por essas pessoas iludidas como uma virtude. É essa uma espécie de feitiçaria. Bem pode ser feita a pergunta que o apóstolo fez aos gálatas: "Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?" Gálatas 3:1. Há sempre um enfeitiçante poder nas heresias e na licenciosidade. A mente é tão iludida que não pode arrazoar inteligentemente, e uma ilusão a está continuamente desviando da pureza. A visão espiritual torna-se manchada; e pessoas de moral até aí impoluta, tornam-se confusas debaixo dos enganadores sofismas daqueles agentes de Satanás que professam ser mensageiros da luz. É esse engano que dá poder a tais agentes. Se se apresentassem ousadamente, fazendo em aberto os seus avanços, seriam repelidos sem hesitação alguma; mas atuam primeiro no sentido de captar a simpatia e conseguir a confiança neles, como sendo homens santos, que se sacrificam pela causa de Deus. Como Seus mensageiros especiais, começam então sua artificiosa obra de afastar pessoas do caminho da retidão, tentando anular a lei de Deus. T5 143 1 Quando pastores dessa forma se prevalecem da confiança que o povo neles deposita, e levam pessoas à ruína, fazem-se tanto mais culpados do que o pecador comum, quanto mais alta é sua profissão. No dia de Deus, quando se abrir o grande livro do Céu, ver-se-á que contém nomes de muitos pastores que fizeram profissão de pureza de coração e vida, alegando ter-lhes sido confiado o evangelho de Cristo, mas que se aproveitaram de sua posição para induzir pessoas a transgredirem a lei de Deus. T5 143 2 Quando homens e mulheres caem sob o corruptor poder de Satanás, é quase impossível recuperá-los dessa horrível cilada, de modo que voltem a ter pensamentos puros e concepções claras quanto ao que Deus requer. O pecado, para seu espírito iludido, foi santificado por seu pastor, e nunca mais será considerado com a repugnância com que Deus o considera. Depois que o padrão moral foi rebaixado no espírito dos homens, seu juízo se torna pervertido e consideram o pecado como se fosse justiça, e a justiça como se fosse pecado. Associando-se com esses cujas inclinações e hábitos não são elevados nem puros, outros se lhes tornam semelhantes. Adotam quase inconscientemente seus gostos e princípios. T5 143 3 Se a sociedade de um homem mentalmente impuro e de hábitos licenciosos é escolhida de preferência à dos puros e virtuosos, é isso indício certo de que se harmonizam os gostos e inclinações, e de que se chegou a um baixo nível moral. Esse baixo nível é por essas pessoas iludidas e apaixonadas, tido como alta e santa afinidade de espírito -- uma harmonia espiritual. Mas o apóstolo a denomina "maldade, nos lugares celestiais" (Efésios 6:12), contra a qual devemos empreender vigorosa guerra. T5 143 4 Quando o enganador começa sua obra de engano, encontra freqüentemente diferença de gostos e hábitos; mas mediante grandes pretensões a piedade, ele capta a confiança, e isto feito, exerce a seu modo o astucioso poder de enganar, a fim de levar a termo seus artifícios. Associando-se com esse elemento perigoso, as mulheres se habituam a respirar a atmosfera da impureza, e quase insensivelmente se saturam do mesmo espírito. Perdem sua identidade; tornam-se mera sombra de seu sedutor. T5 144 1 Homens que professam ter nova luz, pretendem ser reformadores, terão grande influência sobre certa classe de pessoas convencidas das heresias que existem no século presente, e que não estão satisfeitas com a condição espiritual das igrejas. Com coração verdadeiro e sincero, desejam estas ver uma mudança para melhor, no sentido de alcançar-se uma norma mais alta. Se os fiéis servos de Cristo apresentassem a essa classe a verdade pura e cristalina, aceitá-la-iam e se purificariam pela obediência a ela. Mas Satanás, sempre vigilante, persegue os rastos dessas pessoas indagadoras. Alguém vai falar com elas, como se fosse um verdadeiro reformador, do mesmo modo que Satanás acercou-se de Cristo, disfarçado em anjo de luz, e as atrai ainda para mais longe do caminho da justiça. T5 144 2 A infelicidade e degradação que vêm após a licenciosidade, não podem ser avaliadas. O mundo está contaminado por seus habitantes. Quase que encheram a medida de sua iniqüidade; mas o que trará a mais pesada retribuição é a prática do pecado sob o disfarce da piedade. O Redentor do mundo nunca repele o arrependimento verdadeiro, por grande que seja a culpa; mas Ele lança ardentes acusações contra os fariseus e os hipócritas. Há mais esperança para o pecador aberto, do que para essa classe. T5 144 3 "E, por isso, [não recebendo o amor da verdade], Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:11, 12. Esse homem e os que por ele foram enganados não amam a verdade e têm prazer na iniqüidade. E que mais poderoso engano poderia vir sobre eles do que achar que não há nada ofensivo a Deus na licenciosidade e no adultério? A Bíblia contém muitas advertências contra esses pecados. Paulo escreveu a Tito sobre aqueles que "confessam que conhecem a Deus, mas negam-nO com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda boa obra". Tito 1:16. "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores [ou instrutores], que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções [ou práticas lascivas], pelos quais será blasfemado o caminho da verdade." 2 Pedro 2:1, 2. Os que são aí referidos não são aqueles que abertamente dizem não possuir qualquer fé em Cristo, mas os que professam crer na verdade e por sua falsidade de caráter trazem vergonha sobre ela, fazendo com que seja mal falada. T5 145 1 "E por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não [ou o juízo não tarda] será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." 2 Pedro 2:3. "Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção, recebendo o galardão da injustiça; pois que tais [ou reputam por prazer o viver diariamente em delícias]; homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco; tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição; os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça." 2 Pedro 2:12-15. T5 145 2 "Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva; porque, falando coisas mui arrogantes de vaidades", vangloriando-se de sua luz, conhecimento e amor pela verdade, "engodam com as concupiscências da carne e com dissoluções aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro." 2 Pedro 2:17, 18. T5 146 1 Nesta época de corrupção, quando nosso adversário, o diabo, anda em derredor bramando como leão, buscando a quem possa tragar, vejo a necessidade de erguer minha voz em advertência: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Marcos 14:38. Há muitos que possuem talentos brilhantes, e que os devotam impiamente ao serviço de Satanás. Que advertência posso fazer a um povo que professa ter saído do mundo e deixado suas obras de trevas? Que posso dizer ao povo que Deus tornou o depositário de Sua lei, mas que, qual a figueira pretensiosa, espalham seus ramos aparentemente viçosos diante do Todo-poderoso, contudo não produzem fruto para a glória de Deus? Muitos deles acariciam pensamentos impuros, imaginações ímpias, desejos não santificados e vis paixões. Deus aborrece o fruto produzido em semelhante árvore. Anjos, puros e santos, olham com aversão o seu procedimento, enquanto Satanás exulta. Oh! que os homens e mulheres considerassem o que se ganha pela transgressão da lei de Deus! Sob toda e qualquer circunstância, a transgressão é desonra a Deus e maldição ao homem. Assim a devemos considerar, por lindo que seja seu disfarce e seja quem for que a pratique. T5 146 2 Como embaixadora de Cristo eu lhe rogo, a você que professa a verdade presente, que aborreça prontamente qualquer aproximação da impureza, e que abandone a companhia dos que respiram sugestões impuras. Abomine com o mais intenso ódio esses pecados corruptores. Fuja daqueles que, mesmo em conversa, permitem que a mente siga semelhante rumo, "pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca". Mateus 12:34. T5 146 3 Como no mundo aumentam constantemente os que praticam esses pecados degradantes, e querem introduzir-se em nossas igrejas, eu o advirto a que não lhes dê lugar. Afaste-se do sedutor. Embora professo seguidor de Cristo, ele é Satanás em forma de gente; tomou emprestadas as vestes do Céu, para melhor poder servir a seu senhor. Você não deve nem por um momento dar atenção a uma sugestão impura, dissimulada; pois até isso manchará a alma, como a água impura mancha o canal pelo qual passa. T5 147 1 Prefira a pobreza, a ignomínia, a separação dos amigos ou qualquer outro sofrimento, a manchar a vida com o pecado. Antes a morte que a desonra ou a transgressão da lei de Deus -- esse deve ser o lema de cada cristão. Como um povo que professa ser reformador, de posse das mais solenes e purificadoras verdades da Palavra de Deus, devemos elevar a norma, muito mais do que está acontecendo agora. Deve-se tratar prontamente com o pecado e os pecadores na igreja, para que outros não sejam contaminados. A verdade e a pureza exigem que façamos uma obra completa para purificar o acampamento de Acãs. Que os que ocupam posições de responsabilidade não sofram pecado num irmão. Mostrem-lhe que ele, ou tira o seu pecado, ou é separado da igreja. T5 147 2 Quando os membros da igreja agirem como verdadeiros seguidores do manso e humilde Salvador haverá menos empenho em encobrir e desculpar o pecado. Todos se esforçarão por agir como estando na presença de Deus. Reconhecerão que os olhos de Deus estão sempre sobre eles, e que o mais secreto pensamento Lhe é conhecido. O caráter, os motivos, os desejos e propósitos são claros como a luz do Sol aos olhos do Onisciente. Mas poucos se lembram disso. A maioria não reconhece, nem de longe, que terrível conta terá de ser prestada no tribunal de Deus, por todos os transgressores de Sua lei. T5 147 3 Poderão vocês que professaram ter recebido tão grande luz, estar satisfeitos com um nível baixo? Oh! quão fervorosa e constantemente deveríamos buscar a presença divina, e o reconhecimento da solene verdade de que está às portas o fim de todas as coisas, e que o Juiz de toda a Terra está prestes a vir! Como podem desconsiderar Seus justos e santos requisitos? Como são capazes de transgredi-los na própria presença de Jeová? Poderão acariciar pensamentos não santificados e baixas paixões à plena vista dos puros anjos e do Redentor, que Se entregou a Si mesmo por vocês, para redimi-los "de toda a iniqüidade, e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras?" Tito 2:14. Quando vocês contemplam a questão à luz que se reflete da cruz de Cristo, não se afigurará o pecado por demais mesquinho, perigoso demais, para com ele condescendermos quando nos achamos às próprias bordas do mundo eterno? T5 148 1 Falo ao nosso povo. Se vocês se aproximarem de Jesus e procurarem honrar sua profissão de fé mediante uma vida bem ordenada e conversação santa, seus pés serão guardados de se desviarem para caminhos proibidos. Se tão-somente vigiarem continuamente em oração, se fizerem tudo como se estivessem na presença imediata de Deus, então estarão livres de ceder à tentação, e poderão esperar ser conservados puros, imaculados e incontaminados até o fim. Se retiverem "firmemente o princípio da" sua "confiança até ao fim" (Hebreus 3:14), seus caminhos serão estabelecidos em Deus, e aquilo que a graça começou, a glória coroará no reino de nosso Deus. "O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei." Gálatas 5:22, 23. Se Cristo estiver em nós, crucificaremos a carne com suas paixões e concupiscências. ------------------------Capítulo 13 -- Roubará o homem a Deus? T5 148 2 O Senhor fez a difusão da luz e verdade na Terra dependente dos esforços voluntários e das ofertas dos que são participantes dos dons celestiais. Relativamente poucos são chamados a viajarem como pastores ou missionários, mas multidões devem cooperar em disseminar a verdade através de seus recursos. T5 148 3 A história de Ananias e Safira nos é dada para que possamos compreender o pecado do engano com respeito a nossas dádivas e ofertas. Eles tinham voluntariamente prometido dar uma porção de sua propriedade para a promoção da causa de Cristo; mas quando os recursos estavam em suas mãos, deixaram de cumprir aquela obrigação, desejando ao mesmo tempo dar aos outros a impressão de terem dado tudo. Sua punição foi assinalada, a fim de que pudesse servir como perpétua advertência aos cristãos de todas as épocas. O mesmo pecado acha-se terrivelmente prevalecente nos tempos atuais, no entanto não se ouve de semelhante punição notável. O Senhor mostra uma vez aos homens com que aversão Ele considera tamanha ofensa contra Suas sagradas reivindicações e Sua dignidade, e então os deixa a seguir os princípios gerais da administração divina. T5 149 1 Ofertas voluntárias e o dízimo constituem a receita do evangelho. Dos meios confiados ao homem, Deus reivindica determinada porção -- o dízimo; mas Ele deixa todos livres para dizerem quanto seja o dízimo, e se querem ou não dar mais que isso. Devem dar segundo propõem no coração. Mas quando o coração é comovido pela influência do Espírito de Deus, fazendo-se um voto de dar determinada importância, aquele que faz o voto não tem mais direito à porção consagrada. Comprometeu-se diante dos homens, e esses são chamados a testemunharem o ajuste. Ao mesmo tempo incorreu ele numa obrigação da mais sagrada espécie, de cooperar com o Senhor em construir o Seu reino na Terra. Promessas dessa espécie, feitas a homens, devem ser consideradas como compromisso obrigatório. Não serão mais sagradas e obrigatórias quando feitas a Deus? Porventura as promessas feitas perante o tribunal da consciência serão menos obrigatórias do que acordos escritos, feitos com homens? T5 149 2 Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder incomuns, o egoísmo habitual afrouxa as garras, e há disposição de dar à causa de Deus. Ninguém precisa esperar que lhe seja permitido cumprir as promessas feitas então, sem um protesto da parte de Satanás. Ele não se agrada de ver desenvolver-se na Terra o reino do Redentor. Sugere ele que a promessa feita foi demasiadamente grande, que lhes poderá anular os esforços de adquirir propriedade ou satisfazer aos desejos da família. É maravilhoso o poder que Satanás tem sobre a mente humana. Ele labuta com todo o fervor para conservar o coração dos homens dominado pelo egoísmo. T5 150 1 A única maneira que Deus ordenou para fazer avançar Sua causa é abençoar os homens com propriedades. Dá-lhes Sua luz do Sol e a chuva; faz a vegetação crescer; dá saúde e habilidade para adquirir recursos. Todas as nossas bênçãos provêm de Suas generosas mãos. Por sua vez, deseja que os homens e mulheres mostrem sua gratidão devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas -- em ofertas de gratidão, ofertas voluntárias e ofertas pelo pecado. T5 150 2 O coração dos homens fica endurecido pelo egoísmo, e como Ananias e Safira, são tentados a reter parte do preço, ao mesmo tempo que pretendem cumprir as regras do dízimo. Roubará o homem a Deus? Se os recursos entrassem no tesouro exatamente de acordo com o plano de Deus -- um décimo de toda a renda -- haveria abundância para levar avante a Sua obra. T5 150 3 Bem, dirá alguém, continuam a vir os pedidos para dar à causa. Estou cansado de dar. Estarão mesmo cansados? Então, permitam que lhes pergunte: Vocês estão cansados de receber das beneficentes mãos de Deus? Só se Ele deixasse de os abençoar, deixariam de estar sob obrigação de restituir-Lhe a porção que reivindica. Ele os abençoa para que esteja em seu poder abençoar os outros. Quando estiverem cansados de receber, então poderão dizer: Estou cansado de tantos pedidos para dar. Deus reserva para Si uma parte de tudo que recebemos. Quando essa Lhe é restituída, a parte restante é abençoada; mas se for retida, tudo se tornará, mais dia menos dia, uma maldição. A reivindicação divina deve vir primeiro; tudo o mais é secundário. T5 150 4 Em cada igreja deveria ser estabelecido um tesouro para os pobres. Então cada membro apresente a Deus uma oferta de gratidão uma vez por semana ou uma vez por mês, conforme for mais conveniente. Essa oferta exprimirá nossa gratidão pelas dádivas da saúde, do alimento e do vestuário. E segundo Deus nos tenha abençoado com esses confortos, poremos de parte para os pobres, sofredores e aflitos. Desejo chamar a atenção de nossos irmãos especialmente para este ponto. Lembrem-se dos pobres. Renunciem a alguns dos supérfluos, sim, os próprios confortos, e ajudem àqueles que apenas conseguem o mais escasso alimento e vestuário. Fazendo isso por eles, vocês o estão fazendo por Jesus na pessoa de Seus santos. Ele identifica-Se com a humanidade sofredora. Não esperem até que estejam satisfeitas todas as suas necessidades imaginárias. Não confiem em seus sentimentos, dando quando estão inclinados a fazê-lo, e retendo quando não têm desejo. Dêem regularmente, dez, vinte ou cinqüenta centavos por semana, como desejariam ver escrito no registro celestial no dia de Deus. T5 151 1 Seus bons desejos, nós lhes agradecemos por eles, mas os pobres não se podem manter em conforto, com bons desejos apenas. Precisam de provas tangíveis de sua bondade, em forma de alimento e vestuário. Deus não pretende que nenhum de Seus seguidores tenha de mendigar o pão. Ele lhes deu abundância, a fim de que vocês possam suprir-lhes as necessidades que pelos seus esforços e economia não são capazes de suprir. Não esperem até que chamem sua atenção para as suas necessidades. Ajam como fazia Jó. Aquilo que não sabia, ele investigava. Façam um giro de inspeção e verifiquem o que é necessário, e como melhor pode ser suprido. T5 151 2 Foi-me mostrado que muitos de nosso povo roubam ao Senhor em dízimos e ofertas, e em resultado Sua obra é grandemente desfavorecida. A maldição de Deus repousará sobre os que vivem das bênçãos de Deus e contudo cerram o coração e nada ou quase nada fazem para promover Sua causa. Irmãos e irmãs, como pode o beneficente Pai continuar a considerá-los como mordomos, fornecendo-lhes recursos que deveriam ser empregados em Seu favor, se vocês a tudo agarram, reclamando egoistamente que lhes pertence! T5 151 3 Em vez de render a Deus os recursos que Ele colocou em suas mãos, muitos os empregam em mais terras. Esse mal está aumentando entre nossos irmãos. Já antes possuíam tudo de que podiam cuidar, mas o amor ao dinheiro ou o desejo de ser considerados tão ricos quanto os seus vizinhos, leva-os a enterrar seus recursos no mundo, e reter de Deus o que Lhe é justamente devido. Ainda vamos nos surpreender se não prosperarem? Ficarão decepcionados se Deus não lhes abençoar as colheitas? T5 152 1 Se nossos irmãos se lembrassem de que Deus pode abençoar uns poucos hectares de terra, e torná-los tão produtivos como se fosse uma grande propriedade, não continuariam a enterrar-se em aquisições, mas deixariam seus recursos derivarem para o tesouro de Deus. "Olhai por vós", disse Cristo, "não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida." Lucas 21:34. Satanás se agrada com que aumentem suas fazendas e empreguem seus recursos em empreendimentos mundanos, pois assim procedendo não só impedem a causa de avançar, mas pela ansiedade e excesso de trabalho vocês diminuem sua perspectiva da vida eterna. T5 152 2 Agora é tempo de acatar a ordem de nosso Salvador: "Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe." Lucas 12:33. Nossos irmãos deveriam estar reduzindo suas posses, em vez de aumentá-las. Estamos prestes a mudar-nos para uma terra melhor, a celestial. Não vamos proceder como quem quer continuar habitando confortavelmente sobre a Terra, mas ajuntemos nossos objetos no espaço mais limitado possível. T5 152 3 Tempo virá em que de modo algum poderemos vender. Logo sairá o decreto proibindo os homens de comprar ou vender a qualquer pessoa senão aos que tenham o sinal da besta. Estivemos perto de ver isso acontecer na Califórnia, pouco tempo atrás, mas foi apenas a ameaça do sopro dos quatro ventos. Até agora eles têm sido contidos pelos quatro anjos. Não estamos bem preparados. Ainda há uma obra a ser efetuada, e então os anjos receberão a ordem de soltá-los, para que os quatro ventos soprem sobre a Terra. Esse será um tempo decisivo para os filhos de Deus, um tempo de tribulação tal como nunca ocorreu antes. Agora é nossa oportunidade de trabalhar. T5 152 4 Há, entre muitos que professam a verdade, um espírito de inquietude. Alguns desejam mudar de cidade ou Estado, comprar grandes glebas de terra e desenvolver um próspero negócio. Outros desejam ir para a cidade. Assim as igrejas pequenas são abandonadas à fraqueza e desânimo para depois desaparecer, quando, houvessem os que as deixaram estado dispostos a trabalhar um pouco e com fidelidade, poderiam proporcionar comodidade à sua família e ficar desembaraçados para se conservar no amor de Deus. Muitos que se mudam acabam ficando desiludidos. Perdem a pequena propriedade que possuíam, sacrificam a saúde e finalmente abandonam a verdade. T5 153 1 O Senhor está vindo. Que cada um mostre sua fé através das obras. A fé na breve volta de Cristo está desaparecendo das igrejas, e o egoísmo as leva a roubar a Deus para servir aos próprios interesses pessoais. Quando Cristo habita em nós, seremos abnegados como Ele. T5 153 2 Em tempos passados, houve grande liberalidade por parte de nosso povo. Eles não relutaram em responder aos clamores por auxílio dos vários ramos da obra. Depois, porém, ocorreu uma mudança. Houve, especialmente da parte de nossos irmãos do Leste, retenção de recursos, ao mesmo tempo em que o mundanismo e amor às posses aumentou. Há um crescente desrespeito às promessas de ajuda às várias instituições e empreendimentos. Fundos para a construção de igrejas, equipar um colégio ou atender a obra missionária, são vistos como compromissos aos quais as pessoas não têm qualquer obrigação em atender se não lhes for conveniente. Essas promessas foram feitas sob as santas impressões do Espírito de Deus. Então, não O roubem pela retenção do que por direito Lhe pertence. Irmãos e irmãs, examinem cuidadosamente seu passado e vejam se trataram fielmente com Deus. Será que vocês têm votos ainda não cumpridos? Em caso positivo, procurem cumpri-los se estiver ao seu alcance. T5 153 3 Ouçam o conselho do Senhor: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:10-12. T5 154 1 Está você disposto a aceitar as promessas que o Senhor faz aqui e afastar o egoísmo, começando a trabalhar diligentemente para fazer avançar a Sua causa? Não se fortaleça o apego ao mundo pela obtenção de vantagens sobre seu semelhante mais pobre, pois os olhos de Deus estão sobre você; Ele lê cada motivo e pesa o homem nas balanças do santuário. T5 154 2 Vi que muitos sonegam a causa de Deus enquanto estão vivos, acalmando a consciência com a idéia de que serão caridosos na morte; dificilmente ousam exercer fé e confiança em Deus para dar qualquer coisa enquanto vivem. Mas essa caridade de leito de morte não é o que Cristo exige dos Seus seguidores; ela não pode desculpar o egoísmo da sua vida. Os que se apegam às suas propriedades até o último momento, entregam-nas à morte em vez de fazê-lo para a causa. Os prejuízos ocorrem continuamente. Bancos vão à falência e as propriedades são consumidas de muitas maneiras. Muitos se propõem a fazer algo, mas adiam o assunto, e Satanás entra em ação para que de modo algum os recursos sejam entregues à igreja. Perdem-se antes de voltar para Deus e Satanás exulta com isso. T5 154 3 Quem deseja fazer o bem com seus recursos, faça-o logo, antes que Satanás meta suas mãos e retarde a obra de Deus. Muitas vezes, quando o Senhor abre o caminho para os irmãos usarem seus meios no avanço da Sua causa, agentes de Satanás lhes apresentam algum empreendimento que, sendo positivo, poderia duplicar seus bens. Engolindo a isca, investem seu dinheiro, e a causa, e freqüentemente eles mesmos, nunca recebem uma moeda sequer. T5 154 4 Irmãos, lembrem-se da causa; e quando tiverem recursos à sua disposição, estabeleçam um bom fundamento para o futuro a fim de que possam desfrutar a vida eterna. Por amor a vocês, Jesus Se tornou pobre para que através da Sua pobreza os tornassem rico em tesouros celestiais. Que será oferecido a Jesus, que tudo deu por vocês? T5 155 1 Não lhes será conveniente dispor de suas dádivas generosas através de testamento na hora da morte. Não é possível garantir, com o menor grau de segurança, que a causa seja beneficiada dessa maneira. Satanás age com muita astúcia para incitar os parentes a tomarem posições falsas para que o mundo fique com o que foi solenemente dedicado para a causa de Deus. Recebe-se sempre muito menos do que a soma desejada. Satanás põe no coração de homens e mulheres um protesto contra a ação de parentes que se propõem a executar seus desejos na aplicação de sua propriedade. Eles parecem considerar tudo o que foi dado para o Senhor como um roubo feito aos parentes do falecido. Quem deseja que seus recursos sejam aplicados na causa, faça, enquanto vive, a doação de tudo aquilo que não necessita para seu sustento. Uns poucos irmãos estão fazendo isso e desfrutando o prazer de serem seus próprios testamenteiros. Tornará a cobiça dos homens necessário que sejam privados da vida para que as propriedades que Deus lhes emprestou não fiquem inúteis para sempre? Que ninguém traga sobre si a condenação do servo negligente que enterrou o dinheiro do seu Senhor. T5 155 2 A caridade na hora da morte é um pobre substituto para a beneficência em vida. Muitos legam tudo para amigos e parentes, exceto uma insignificância que dão para o supremo Amigo, Aquele que Se tornou pobre por causa deles, que sofreu insultos, zombarias e morte para que pudessem ser filhos e filhas de Deus. Contudo, esperam que, quando os justos mortos ressuscitarem para a vida imortal, esse Amigo os leve também para Suas eternas habitações. T5 155 3 A causa de Cristo é roubada não por um simples pensamento passageiro, não por um ato impensado. Não. É por um ato deliberado de quem faz o próprio testamento, colocando suas propriedades à disposição de descrentes. Depois de terem roubado a Deus durante a vida, alguns continuam a roubá-Lo após a morte e fazem isso com o pleno consentimento de todas as suas faculdades mentais, num documento que é chamado de seu testamento. Qual, pensam, será o testamento do Mestre em seu favor, por assim procederem para com Ele? Que dirão quando se lhes pedir conta de sua mordomia? T5 156 1 Irmãos, despertem dessa vida de egoísmo e procedam como cristãos coerentes. O Senhor exige que economizem seus recursos e façam fluir para Seu tesouro tudo aquilo que não necessitarem para seu conforto. Irmãs, tomem aquele dinheiro que iriam gastar em doces, adornos ou fitas e doem-nos para a causa de Deus. Muitas das nossas irmãs têm bons rendimentos, mas gastam quase tudo na satisfação do orgulho no vestuário. T5 156 2 À medida que nos aproximamos do fim do tempo, aumentam continuamente as necessidades da causa. Necessitam-se de recursos para dar aos jovens um breve curso em nossas escolas a fim de prepará-los para trabalhar com eficiência no ministério e em outros ramos da causa. Não estamos correspondendo aos privilégios que temos neste assunto. Todas as nossas escolas serão fechadas em breve. Quanto mais poderia ter sido feito se os homens tivessem obedecido aos pedidos de Cristo no tocante à beneficência cristã! Que influência teria tido sobre o mundo esta prontidão em dar tudo para Cristo! Teria sido um dos mais convincentes argumentos em favor da verdade na qual professamos crer -- argumento que o mundo não poderia deixar de compreender nem contradizer. O Senhor certamente nos distinguiria diante do mundo através de Suas bênçãos. T5 156 3 A primeira igreja cristã não possuía os privilégios e oportunidades que temos. Eram pessoas pobres, mas sentiam o poder da verdade. O objetivo que tinham diante de si era suficiente para animá-las a nele investir tudo. Elas pensavam que a salvação ou perdição do mundo dependia de sua participação. Por isso estavam sempre dispostas a ir ou vir, de acordo com a vontade do Senhor. T5 157 1 Sempre dizemos que somos governados pelos mesmos princípios, que temos o mesmo espírito. Mas ao invés de darmos tudo para Cristo, muitos temos tomado uma parte do ouro e das vestes de Babilônia e escondido para nós. Se a presença de um só Acã foi suficiente para enfraquecer todo o acampamento de Israel, será que ainda vamos nos surpreender diante dos pequenos sucessos que conseguimos, uma vez que cada igreja e quase cada família tem o seu Acã? Partamos individualmente para o trabalho de estimular outros pelo nosso exemplo de beneficência desinteressada. A obra poderia ter avançado com muito mais poder se todos tivessem feito o que pudessem para suprir o tesouro com recursos. ------------------------Capítulo 14 -- O poder da verdade T5 157 2 A Palavra de Deus foi pregada por Seus ministros no princípio "em demonstração do Espírito e de poder". 1 Coríntios 2:4. O coração das pessoas foi comovido pela pregação do evangelho. Por que a pregação da verdade tem agora tão pouco poder para agitar o povo? Estará Deus agora menos disposto a conceder bênçãos aos obreiros de Sua causa do que nos dias dos apóstolos? T5 157 3 A advertência que devemos legar ao mundo deve provar ser para eles um cheiro de vida para a vida ou de morte para a morte. Enviará o Senhor Seus servos a proclamar essa extraordinária e solene mensagem e recusar-lhes Seu Santo Espírito? Ousaram os frágeis e errantes homens, sem a graça e poder especiais, pôr-se em pé diante de vivos e mortos e proclamar as palavras da vida eterna? Nosso Senhor é rico em graça, poder e força; abundantemente Ele outorgará esses dons a todos que vêm a Ele em fé. O Senhor está mais disposto a dar o Espírito Santo àqueles que Lhe pedem do que os pais a dar boas dádivas a seus filhos. A razão por que a preciosa e importante verdade para este tempo não é poderosa para salvar é que não trabalhamos com fé. T5 158 1 Devemos orar tão fervorosamente pela descida do Espírito Santo como os discípulos oraram no dia de Pentecoste. Se eles precisaram disso naquele tempo, nós, hoje, mais ainda. Trevas morais, como um manto fúnebre, cobrem a Terra. Toda espécie de doutrinas falsas, heresias e satânicos enganos estão desviando a mente das pessoas. Sem o Espírito e o poder de Deus, será em vão trabalharmos pela verdade presente. T5 158 2 É pelo contemplar a Cristo, por exercer fé nEle, por experimentar em nós mesmos Sua graça salvadora, que somos qualificados a apresentá-Lo ao mundo. Se aprendermos dEle, Jesus será nosso tema; Seu amor, ardendo sobre o altar de nosso coração, alcançará o coração das pessoas. A verdade será apresentada, não como uma teoria fria e sem vida, mas em demonstração do Espírito. T5 158 3 Em seus sermões, boa parte de nossos pastores demoram-se muito na teoria e não o suficiente na piedade prática. Eles possuem um conhecimento intelectual da verdade, mas seu coração ainda não foi tocado com o genuíno fervor do amor de Cristo. Muitos, pelo estudo de nossas publicações, têm obtido conhecimento dos argumentos que sustentam a verdade, mas não se tornaram estudantes da Bíblia por si mesmos. Não estão constantemente buscando um maior e mais completo conhecimento do plano da salvação, como revelado nas Escrituras. Conquanto pregando a outros, tornaram-se anões no crescimento espiritual. Não vão constantemente a Deus para rogar por Seu Espírito e graça, a fim de poderem apresentar corretamente Cristo ao mundo. T5 158 4 A força humana é fraqueza; a sabedoria humana é loucura. Nosso sucesso não depende de nossos talentos ou cultura, mas de uma viva ligação com Deus. A verdade é privada de seu poder quando pregada por homens que procuram ostentar sua cultura e capacidade. Esses também demonstram que conhecem bem pouco sobre religião experimental; que não são santificados de coração e vida, mas cheios de vaidade. Não aprendem de Cristo. E não têm condições de apresentar aos outros um Salvador com o qual não estão familiarizados. Seu coração não foi abrandado e subjugado pelo vívido senso do grande sacrifício que Jesus fez para salvar o homem decaído. Não percebem que é um privilégio negarem a si mesmos e sofrer por Sua amada causa. Alguns exaltam a si mesmos e falam de si. Preparam sermões e escrevem artigos para chamar a atenção do povo ao pastor, temendo não receber a devida honra. Houvessem eles exaltado mais a Jesus e enaltecido menos o pastor, mais louvor seria dado ao Autor da verdade e menos a seus mensageiros. Ocuparíamos diante de Deus uma posição mais favorável do que hoje temos. T5 159 1 O plano da salvação não é apresentado em sua simplicidade porque poucos pastores conhecem o que seja uma fé simples. Um conhecimento intelectual da verdade não é suficiente; precisamos conhecer seu poder sobre nosso coração e vida. Os pastores precisam ir a Cristo como crianças pequenas. Busquem a Jesus, irmãos, confessem seus pecados, lutem com Deus dia e noite, até que saibam que, por causa de Cristo, vocês foram perdoados e aceitos. Então, os irmãos muito amarão porque muito foram perdoados; então, poderão apontar Cristo aos outros como um Redentor que aprecia perdoar; então, poderão apresentar a verdade com inteireza de um coração que sente seu poder santificador. Temo por vocês, meus irmãos. Aconselho-os a permanecer em Jerusalém como os primeiros discípulos, até que, semelhantemente a eles, recebam o batismo do Espírito Santo. Nunca se sintam em liberdade de ir para o púlpito, até que tenham pela fé agarrado o braço do Todo-poderoso. T5 159 2 Se tivermos o espírito de Cristo, trabalharemos como Ele trabalhou; captaremos as idéias do Homem de Nazaré e as apresentaremos ao povo. Se, em lugar de pastores formais e não convertidos, formos realmente discípulos de Cristo, pregaremos a verdade com tal mansidão e fervor e a exemplificaremos em nossa vida, que o mundo não mais estará continuamente questionando se cremos naquilo que professamos. Com a mensagem nascida no amor de Cristo e tendo o valor das pessoas constantemente diante de nós, ouviremos até dos mundanos a afirmação: "Eles são como Jesus." T5 160 1 Se desejarmos reformar outros, devemos nós mesmos praticar os princípios que queremos ensinar-lhes. Palavras, embora boas, serão de nenhum poder se contrariadas pela vida diária. Ministro de Cristo, eu o admoesto: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina..." 1 Timóteo 4:16. Não tolere em si mesmo pecado que reprova em outros. Se você pregar sobre mansidão e amor, permita que essas graças sejam exemplificadas na própria vida. Se estiver tentando persuadir outros a serem bondosos, corteses e atenciosos em casa, que o seu exemplo transmita força às admoestações. Como você têm recebido maior luz do que os outros, assim sua responsabilidade é aumentada. Você será severamente castigado se negligenciar fazer a vontade do seu Mestre. T5 160 2 As armadilhas de Satanás estão preparadas para você assim como o foram para os filhos de Israel justo antes de sua entrada na terra de Canaã. Estamos repetindo a história desse povo. Leviandade, vaidade, amor às regalias e prazeres, egoísmo e impureza estão aumentando entre nós. Há necessidade, hoje, de homens que sejam firmes e não tenham medo de declarar todo conselho de Deus; homens que não sejam descuidados como outros, mas vigiem e sejam sóbrios. Conhecendo como eu conheço a falta de santidade e poder de nossos pastores, estou profundamente penalizada de ver os esforços visando à exaltação própria. Se eles pudessem ver a Jesus como Ele é e a si mesmos como verdadeiramente são, tão fracos, incompetentes e tão diferentes de seu Mestre, diriam: "Se meu nome for escrito na mais obscura parte do livro da vida, isso me é suficiente, tão indigno que sou dessa menção." T5 160 3 É sua obrigação estudar e imitar o Modelo. Foi Cristo, porventura, abnegado? Assim você deve ser. Foi Ele zeloso na obra de salvar? Da mesma forma você. Trabalhou Ele para promover a glória de Seu Pai? Faça o mesmo. Buscou Ele constantemente ajuda de Deus? Imite-O. Cristo foi paciente? Assim você também deve ser paciente. Como Cristo perdoou a Seus inimigos, assim deve você perdoar. T5 161 1 Não é tanto a religião do púlpito quanto a da família que revela nosso verdadeiro caráter. A esposa do pastor, seus filhos e os que estão empregados como auxiliares em sua família são o juiz mais bem qualificado de sua piedade. Um homem bom será uma bênção a sua casa. Esposa, filhos e empregados serão o melhor para sua religião. T5 161 2 Pastor, leve a Cristo na família, leve-O para o púlpito, leve-O consigo aonde quer que for. Assim não necessitará apelar aos outros para que aprecie o ministério, pois estará levando as credenciais do Céu que provarão a todos que você é um servo de Cristo. Lembre-se que Jesus orava seguidamente, e Sua vida era constantemente sustentada por inspirações novas do Espírito Santo. Sejam assim seus pensamentos e a sua vida íntima; que não lhe envergonhem de ver o seu registro no dia de Deus. T5 161 3 O Céu não está fechado para as orações fervorosas dos justos. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, no entanto o Senhor, de maneira extraordinária lhe ouviu as petições e a elas atendeu. O único motivo de nossa falta de poder para com Deus, terá que ser achado em nós mesmos. Se a vida interior de muitos que professam a verdade lhes fosse apresentada, eles não se jactariam de ser cristãos. Não estão crescendo em graça. Uma oração apressada é proferida de quando em quando, mas não existe real comunhão com Deus. T5 161 4 Se queremos fazer progresso na vida espiritual, precisamos orar muito. No início da proclamação da mensagem da verdade, quanto oramos! Com que freqüência era ouvida a voz da intercessão dentro de casa, no celeiro, no pomar ou no bosque! Freqüentemente empregávamos horas inteiras em orações fervorosas, em grupos de dois ou três, reclamando a promessa; ouvindo-se muitas vezes palavras de agradecimento e o som de cânticos de louvor. O dia de Deus está agora mais próximo do que no início de nossa crença, e deveríamos ser mais sinceros, mais zelosos e fervorosos do que naqueles dias primitivos. Nossos perigos atuais são maiores do que então. As pessoas estão ainda mais endurecidas. Precisamos estar agora imbuídos do Espírito de Cristo, e não devemos descansar sem que O recebamos. T5 162 1 Irmãos e irmãs, têm vocês esquecido que suas orações devem sair como foices agudas com os trabalhadores, na grande colheita? Enquanto os jovens saem para pregar a verdade, vocês deveriam ter reuniões de oração por eles. Orem para que Deus os una a Si e lhes dê sabedoria, graça e conhecimento. Orem para que eles possam ser guardados das armadilhas de Satanás e ser conservados puros de pensamento e santos no coração. Rogo a vocês que temem ao Senhor, para não desperdiçar tempo em conversações inúteis ou em desnecessário trabalho para satisfazer o orgulho ou condescender com o apetite. Que o tempo assim remido seja despendido em lutar com Deus em favor de nossos pastores. Sustentem suas mãos como Arão e Hur mantiveram erguidas as mãos de Moisés. ------------------------Capítulo 15 -- Nossas reuniões campais T5 162 2 Foi-me mostrado que algumas de nossas reuniões campais estão longe de ser o que Deus deseja que sejam. O povo vem despreparado para a unção do Espírito Santo de Deus. Geralmente as irmãs devotam considerável tempo antes da ocasião no preparo de vestidos para o adorno exterior, enquanto esquecem inteiramente o adorno interior, que é de grande valor à vista de Deus. Também é gasto muito tempo em culinária desnecessária, na preparação de ricas tortas e bolos e outros artigos de alimentação que fazem positivo dano aos que deles participam. Preparassem nossas irmãs bom pão e algumas outras espécies de alimentos saudáveis, e tanto elas como sua família estariam melhor preparadas para apreciar as palavras de vida, e muito mais susceptíveis à influência do Espírito Santo. T5 163 1 Muitas vezes é o estômago sobrecarregado com alimentos que raramente são tão saudáveis e simples como os ingeridos no lar, onde a quantidade de exercício feita é dupla ou tripla. Isso leva a mente a ficar em tal letargia que é difícil apreciar as coisas eternas; as reuniões terminam e eles ficam desapontados por não haverem desfrutado mais do Espírito de Deus. T5 163 2 Ao se preparar para a reunião, cada indivíduo deveria examinar íntima e criticamente o próprio coração diante de Deus. Se houver sentimentos desagradáveis, discórdia, ou conflitos na família, uma das primeiras ações de preparação deveria ser confessar as faltas uns aos outros e orar uns pelos outros. Humilhar-se diante de Deus e fazer sinceros esforços para esvaziar o templo da alma de todo entulho -- inveja, ciúmes, suspeitas e críticas. "Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará." Tiago 4:8-10. T5 163 3 O Senhor fala. Entre em seu aposento e em silêncio comungue com o próprio coração; ouça a voz da verdade e da consciência. Nada dará mais clara visão de si mesmo do que a oração secreta. Aquele que vê em secreto e sabe todas as coisas iluminará o entendimento e responderá às suas orações. Deveres simples e evidentes, que não podem ser negligenciados, se abrirão diante de você. Faça um concerto com Deus para dedicar a si mesmo e todas as suas faculdades a Seu serviço. Não leve para a reunião campal essa tarefa. Se ela não for feita em casa, a pessoa sofrerá e outros serão grandemente prejudicados por sua frieza, desinteresse e letargia espiritual. T5 164 1 Vi a condição do povo que professa a verdade. As palavras do profeta Ezequiel são aplicáveis a eles neste tempo: "Filho do homem, estes homens levantaram os seus ídolos no seu coração e o tropeço da sua maldade puseram diante da sua face; devo Eu de alguma maneira ser interrogado por eles? Portanto, fala com eles e dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos no seu coração, e puser o tropeço da sua maldade diante da sua face, e vier ao profeta, Eu, o Senhor, vindo ele, lhe responderei conforme a multidão dos seus ídolos." Ezequiel 14:3, 4. T5 164 2 Se amamos as coisas do mundo e temos prazer na injustiça, ou no companheirismo com as nocivas obras das trevas, colocamos a pedra de tropeço de nossa iniqüidade diante de nós mesmos e estabelecemos ídolos em nosso coração. A menos que mediante esforços determinados os coloquemos para fora, nunca seremos reconhecidos como filhos e filhas de Deus. T5 164 3 Eis uma obra na qual as famílias se devem empenhar antes de ir às nossas santas convocações. Seja o preparo da comida e do vestuário questão secundária, antes comece já em casa profundo exame de coração. Orem três vezes ao dia, e, como Jacó, sejam importunos. É em casa o lugar de encontrar a Jesus; então O levem consigo à reunião, e quão preciosas serão as horas que ali passarem. Mas como poderão esperar sentir a presença de Deus, e ver a manifestação de Seu poder, quando a obra de preparo para essa ocasião é negligenciada? T5 164 4 Por amor à sua salvação, por amor a Cristo, e por amor aos outros, trabalhem em casa. Orem como não estão acostumados a orar. Quebrante-se o coração diante de Deus. Ponham sua casa em ordem. Preparem seus filhos para essa ocasião. Ensinem a eles que não é de tanta importância que apareçam com finas vestes, como que se apresentem diante de Deus com mãos limpas e coração puro. Removam cada obstáculo que lhes esteja no caminho -- todas as diferenças que possam ter existido entre eles mesmos ou entre vocês e eles. Assim fazendo, convidarão a presença de Deus em seu lar e os santos anjos os acompanharão ao irem à reunião e a luz e a presença deles afugentarão as trevas dos anjos maus. Mesmo os descrentes sentirão a santa atmosfera quando entrarem no acampamento. Oh, quanto se perde pela negligência dessa importante obra! Vocês poderão apreciar a pregação e ficar animados e reavivados, mas o poder convertedor e reformador de Deus não será sentido no coração, e a obra não será tão profunda, completa e duradoura como deveria. Que o orgulho seja crucificado e a pessoa vestida com o precioso manto da justiça de Cristo, e que a reunião lhe proporcione alegria. Ela será para o seu espírito como que a porta do Céu. T5 165 1 A mesma obra de humilhação e exame de coração deveria ser feita também na igreja, para que todas as diferenças e malquerenças entre os irmãos possam ser postas de lado, antes de comparecerem diante do Senhor nos encontros anuais. Comecem essa obra com determinação e não descansem até que ela se complete, pois se vocês vieram às reuniões com dúvidas, murmurações e disputas, atrairão os anjos maus para o acampamento e trarão trevas aonde quer que forem. T5 165 2 Foi-me mostrado que por falta dessa preparação as reuniões têm realizado tão pouco. Os pastores raramente estão preparados para trabalhar pelo Senhor. Há muitos oradores -- aqueles que em geral dizem coisas extravagantes e perspicazes, saindo de seu caminho para atacar outras igrejas e ridicularizar sua fé -- mas poucos sinceros obreiros de Deus. Esses astutos e presunçosos oradores professam ter a verdade mais do que qualquer outro povo, mas a maneira de trabalhar e o zelo religioso de modo nenhum correspondem à sua profissão de fé. T5 165 3 Olhei para ver a humildade de espírito que sempre deveria ajustar-se como uma veste apropriada sobre nossos pastores, mas ela não existia neles. Olhei para o profundo amor pela salvação das pessoas, o que o Mestre disse que deveriam eles possuir, mas não o encontrei. Procurei ouvir as ferventes orações apresentadas com lágrimas e angústia de espírito, em favor dos descrentes e impenitentes havidos em seus próprios lares e na igreja, porém nada ouvi. Atentei para os apelos feitos no Espírito, mas não os havia. Procurei pelos portadores de cargas, que em tal tempo deveriam estar chorando entre o alpendre e o altar, clamando "poupa o Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio..." (Joel 2:17), mas não ouvi tais súplicas. Uns poucos fervorosos e humildes estavam buscando ao Senhor. Em algumas dessas reuniões um ou dois pastores sentiam a carga e arqueavam como uma carroça debaixo dos molhos. A grande maioria dos pastores, porém, não possuía mais senso da santidade de sua obra do que as crianças. T5 166 1 Vi o que esses encontros anuais podiam ser e o que eles deveriam ser -- reuniões de fervoroso trabalho. Os pastores deveriam procurar obter preparo de coração antes de assumir a obra de ajudar os outros, pois o povo está muito mais adiantado do que muitos dos pastores. Deveriam eles incansavelmente lutar em oração até que o Senhor os abençoasse. Quando o amor de Deus estiver queimando no altar do coração, eles não pregarão para exibir sua inteligência, mas apresentarão a Cristo que tira os pecados do mundo. T5 166 2 Na igreja primitiva o cristianismo era ensinado em sua pureza; seus preceitos eram transmitidos mediante inspiração; suas ordenanças não eram corrompidas pelos artifícios humanos. Ela revelava o espírito de Cristo e se mostrava bela em sua simplicidade. Seus adornos eram os santos princípios e vidas exemplares dos membros. Multidões eram ganhas para Cristo, não através de ostentação ou cultura, mas pelo poder de Deus que assistia à correta pregação da Palavra. Mas, a igreja se corrompeu e agora há mais necessidade do que nunca de que os pastores sejam condutos de luz. T5 166 3 Há muitos faladores loquazes da verdade bíblica, cujo coração está destituído do Espírito de Deus assim como os montes de Gilboa o estão de orvalho e chuva. O que necessitamos são homens que sejam completamente convertidos e que possam ensinar outros a como entregar seu coração a Deus. O poder da piedade quase que cessou em nossas igrejas. E por que isso? O Senhor ainda aguarda para ser gracioso; Ele não fechou as janelas do Céu. Nós é que nos separamos dEle. Precisamos fixar nossa visão sobre a cruz e crer que Jesus é nossa força e salvação. T5 167 1 Enquanto vemos tão pouca responsabilidade pelo trabalho por parte de pastores e povo, perguntamos: "Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura, achará fé na Terra?" Lucas 18:8. Está faltando fé. Deus tem abundância de graça e poder aguardando nossa demanda. Mas a razão por que não sentimos nossa grande necessidade é que olhamos para nós mesmos, e não para Jesus. Não exaltamos a Jesus nem descansamos inteiramente em Seus méritos. T5 167 2 Como eu gostaria de poder impressionar pastores e povo com a necessidade de uma profunda obra de graça no coração, e mais integral preparo para participar das reuniões campais, a fim de que possam receber o maior benefício possível desses encontros. O que eles serão para você, caro leitor? Cada um deve decidir por si mesmo. ------------------------Capítulo 16 -- Amor fraternal T5 167 3 "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." João 13:35. Quanto mais intimamente nos assemelharmos ao nosso Salvador no caráter, tanto maior será nosso amor para com aqueles pelos quais Ele morreu. Os cristãos que manifestam mutuamente um espírito de amor altruísta estão dando, em favor de Cristo, um testemunho que os descrentes não podem contradizer nem a ele resistir. É impossível calcular o poder de semelhante exemplo. Coisa alguma com tanto êxito derrotará os ardis de Satanás e seus emissários, coisa alguma contribuirá tanto para erguer o reino do Redentor, como o fará o amor de Cristo manifesto pelos membros da igreja. Paz e prosperidade só podem ser usufruídas quando a mansidão e o amor estão em ativa operação. T5 168 1 Em sua primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo destaca a importância daquele amor que deve ser nutrido pelos seguidores de Cristo: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria." 1 Coríntios 13:1-3. T5 168 2 Não importa quão elevada seja a profissão, aquele cujo coração não está impregnado do amor por Deus e por seus semelhantes, não é discípulo de Cristo. Embora possa ter grande fé e mesmo o poder de operar milagres, sem amor, todavia, sua fé será inútil. Ele pode até demonstrar espírito de liberalidade, mas seria por algum outro motivo que não o amor genuíno; pode distribuir todos os seus bens para alimentar os pobres; no entanto esse ato não o recomendaria ao favor divino. Em seu zelo pode até sofrer a morte de mártir, todavia, se destituído do áureo amor, seria ele visto por Deus como um iludido entusiasta ou um ambicioso hipócrita. T5 168 3 O apóstolo segue especificando os frutos do amor: "A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa." O amor divino atuando no coração elimina o orgulho e o egoísmo. "A caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece." 1 Coríntios 13:4. O mais puro contentamento emerge da profunda humilhação. Os mais fortes e nobres caracteres repousam sobre o fundamento da paciência, do amor e da confiante submissão à vontade de Deus. T5 168 4 "Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal." 1 Coríntios 13:5. O coração no qual reina o amor não será tomado de paixão ou desejo de vingança, por ofensas que o orgulho e o amor-próprio julgariam insuportáveis. O amor não suspeita, sempre dando aos motivos e atos alheios a mais favorável estima. O amor nunca expõe desnecessariamente as faltas alheias. Não ouve avidamente referências desfavoráveis, mas busca antes ter em mente algumas boas qualidades do difamado. T5 169 1 O amor "não folga com a injustiça, mas folga com a verdade". 1 Coríntios 13:6. Aquele cujo coração está imbuído de amor se entristece com os erros e as fraquezas dos outros; mas regozija-se quando triunfa a verdade, quando é removida a nuvem que obscurecia a boa reputação de outra pessoa, ou quando são confessados os pecados e corrigidas as injustiças. T5 169 2 "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:7. O amor não somente tolera as faltas dos outros, mas submete-se alegremente a qualquer sofrimento ou incômodo que essa clemência torne necessário. Esse amor "nunca falha". Ele nunca pode perder o seu valor; é o atributo do Céu. Como precioso tesouro será levado pelo seu possuidor através dos portais da cidade de Deus. T5 169 3 O fruto do Espírito é amor, alegria e paz. Discórdia e contenda são a obra de Satanás e o fruto do pecado. Se nós, como um povo, queremos ter paz e amor, precisamos abandonar os nossos pecados; precisamos estar em harmonia com Deus, e assim estaremos em harmonia uns com os outros. Pergunte cada qual a si mesmo: Possuo a virtude do amor? Tenho aprendido a ser longânimo e bondoso? Talentos, cultura e eloqüência, sem esse atributo celestial, serão tão destituídos de significação como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Pena que esse precioso tesouro seja tão menosprezado e tão pouco procurado por muitos que professam a fé! T5 169 4 Paulo escreve aos colossenses: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai." Colossences 3:12-15, 17. T5 170 1 O fato de que estamos em grande obrigação para com Cristo coloca-nos sob o mais sagrado dever para com aqueles por cuja redenção Ele morreu. Devemos manifestar para com eles a mesma simpatia, a mesma terna compaixão e amor altruísta que Cristo mostrou para conosco. Ambição egoísta e desejo de supremacia, perecerão quando Cristo tomar posse das afeições. T5 170 2 Nosso Salvador ensinou Seus discípulos a orar: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Mateus 6:12. Uma grande bênção é aqui solicitada sob condição. Nós mesmos afirmamos essas condições. Pedimos que a misericórdia de Deus para conosco seja medida pela misericórdia que mostramos a outros. Cristo declara que esta é a regra pela qual o Senhor tratará conosco: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:14, 15. Maravilhosos termos! Mas quão pouco são compreendidos ou acatados. Um dos pecados mais comuns, e que é seguido dos resultados mais perniciosos, é a tolerância de um espírito não disposto a perdoar. Quantos não abrigam animosidade ou espírito de vingança, e então curvam a cabeça diante de Deus e pedem para serem perdoados assim como perdoam. Certamente não podem possuir o verdadeiro senso do que esta oração importa, ou não a tomariam nos lábios. Dependemos da misericórdia de Deus cada dia e cada hora; como podemos então agasalhar amargura e malícia para com o nosso próximo pecador! Se, em seus relacionamentos diários os cristãos aplicarem os princípios dessa oração, que bendita mudança se operará na igreja e no mundo! Esse seria o mais convincente testemunho dado sobre a realidade da religião bíblica. T5 171 1 Deus exige mais de Seus seguidores do que muitos pensam. Se não queremos basear nossas esperanças do Céu num falso fundamento, precisamos aceitar o que diz a Bíblia e crer que o Senhor cumpre o que afirma. Ele não requer coisa alguma de nós para cuja realização não nos conceda graça. Não teremos desculpa no dia de Deus se deixarmos de alcançar o padrão que nos é apresentado em Sua Palavra. T5 171 2 Somos advertidos pelo apóstolo: "O amor seja não fingido. Aborrecei o mal, e apegai-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:9, 10. Paulo desejava que distinguíssemos, entre o amor puro, abnegado, que é induzido pelo espírito de Cristo, e a pretensão sem sentido e enganosa, que é abundante no mundo. Essa vil falsificação tem desviado muitas pessoas. Pretendia apagar a distinção entre o certo e o errado, concordando com o transgressor, em vez de fielmente mostrar-lhe os seus erros. Tal procedimento nunca provém da verdadeira amizade. O espírito pelo qual é induzido só habita no coração carnal. Conquanto o cristão seja sempre bondoso, compassivo e perdoador, não pode ele sentir-se em harmonia com o pecado. Aborrecerá o mal e se apegará ao que é bom, mesmo com sacrifício da associação ou amizade com os ímpios. O espírito de Cristo nos levará a odiar o pecado, ao mesmo tempo que estaremos dispostos a fazer qualquer sacrifício para salvar o pecador. T5 171 3 "E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza." Efésios 4:17-19. O apóstolo admoesta seus irmãos, em nome e pela autoridade do Senhor Jesus, que depois de terem feito profissão do evangelho, não deveriam eles andar como os gentios, mas demonstrar por sua conduta diária que haviam sido verdadeiramente convertidos. T5 172 1 "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade." Efésios 4:22-24. Uma vez foram eles corrompidos, degradados e escravizados por paixões lascivas, narcotizados pelas atrações mundanas, cegados, confundidos e traídos pelos estratagemas de Satanás. Agora que foram ensinados na verdade tal como é em Jesus, precisam fazer decidida mudança em sua vida e caráter. T5 172 2 A aquisição de membros que não foram renovados no coração e reformados na vida é uma fonte de fraqueza para a igreja. Esse fato é muitas vezes passado por alto. Alguns pastores e igrejas acham-se tão desejosos de assegurar um aumento de membros, que não dão testemunho fiel contra hábitos e costumes não cristãos. Aos que aceitam a verdade não é ensinado que eles não podem, sem perigo, ser mundanos em sua conduta, ao passo que de nome são cristãos. Até então, eram súditos de Satanás; daí em diante, devem ser súditos de Cristo. A vida deve testificar da mudança de dirigente. A opinião pública favorece uma profissão de cristianismo. Pouca abnegação ou sacrifício é exigido de uma pessoa para se revestir da forma da piedade e ter o nome registrado na igreja. Daí muitos se unem à igreja sem primeiro se haverem unido a Cristo. Nisto Satanás triunfa. Tais conversos são seus instrumentos mais eficientes. Servem de laço para outras pessoas. São falsas luzes, atraindo os incautos à perdição. É em vão que os homens procuram tornar o caminho cristão amplo e aprazível para os mundanos. Deus não suavizou ou fez mais largo o caminho áspero e estreito. Se quisermos entrar na vida, cumpre-nos seguir o mesmo trilho palmilhado por Jesus e os discípulos -- o trilho da humildade, da abnegação e do sacrifício. T5 172 3 Os pastores devem procurar certificar-se de que o próprio coração esteja santificado pela verdade, e então trabalhar para assegurar os mesmos resultados a seus conversos. É de religião pura que pastores e povo necessitam. Os que afastam do coração a iniqüidade e estendem as mãos em fervorosa súplica a Deus, terão aquela ajuda que somente Deus pode dar. Foi pago um resgate pela vida dos homens, a fim de que eles tivessem a oportunidade de escapar da servidão do pecado e obter perdão, pureza e o Céu. T5 173 1 Deus ouve o clamor do humilde e contrito. Os que freqüentam o trono da graça, fazendo sinceras e fervorosas petições por sabedoria divina e poder, não deixarão de tornar-se ativos e úteis servos de Cristo. Eles podem não possuir grandes talentos, mas com humildade de coração e firme confiança em Jesus, farão uma boa obra em levar pessoas a Cristo. Eles podem atingir os homens através de Deus. T5 173 2 Os ministros de Cristo deveriam sentir sempre que a sagrada obra exige o comprometimento de toda o ser; seus esforços deveriam visar à edificação do corpo de Cristo e não exaltar a si mesmos diante do povo. Conquanto os cristãos devam estimar o pastor fiel como embaixador de Cristo, precisam evitar todo o louvor ao homem. T5 173 3 "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave." Efésios 5:1, 2. O homem, por suas ímpias obras, aliena-se de Deus, mas Cristo deu a Sua vida para que todos os que quisessem pudessem ser libertados do pecado e reintegrados no favor do Criador. Foi a antecipação de um Universo redimido e santo que levou Cristo a fazer esse grande sacrifício. Temos nós aceito os privilégios tão custosamente adquiridos? Somos seguidores de Deus como filhos amados, ou somos servos do príncipe das trevas? Somos adoradores de Jeová, ou de Baal? Do Deus vivo, ou dos ídolos? T5 173 4 Talvez não haja relicários visíveis por fora, e nenhuma imagem sobre a qual incida o olhar; contudo, podemos estar praticando a idolatria. É tão fácil fazer um ídolo de idéias ou objetos acariciados como formar deuses de madeira ou de pedra. Milhares têm um falso conceito de Deus e Seus atributos. Eles estão servindo tão verdadeiramente a um falso deus como o faziam os servos de Baal. Estamos adorando o Deus verdadeiro segundo é revelado em Sua Palavra, em Cristo e na natureza, ou adoramos algum ídolo filosófico entronizado em Seu lugar? Deus é um Deus de verdade. Justiça e misericórdia são os atributos de Seu trono. Ele é um Deus de amor, de piedade e de terna compaixão. Assim é Ele representado em Seu Filho, nosso Salvador. Ele é um Deus de paciência e longanimidade. Se esse é o ser a quem adoramos e cujo caráter procuramos assimilar, estamos adorando o Deus verdadeiro. T5 174 1 Se estamos seguindo a Cristo, os Seus méritos, imputados a nós, ascendem ao Pai como aroma suave. E as virtudes do caráter de nosso Salvador, implantadas em nosso coração, difundirão preciosa fragrância ao nosso redor. O espírito de amor, mansidão e clemência que impregna nossa vida terá poder para abrandar e enternecer corações e conquistar para Cristo ferrenhos opositores da fé. T5 174 2 "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros." Filipenses 2:3, 4. "Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo." Filipenses 2:14, 15. T5 174 3 Vanglória e ambição egoísta constituem o rochedo no qual soçobraram muitas pessoas e muitas igrejas se tornaram ineficazes. Aqueles que menos entendem de devoção, que menos estão ligados a Deus, são os que mais ansiosamente buscam o lugar mais elevado. Eles não têm noção de suas fraquezas e deficiências de caráter. A menos que muitos dos nossos jovens pastores venham a sentir o poder convertedor de Deus, seu trabalho será um entrave mais do que uma ajuda para a igreja. Eles podem ter aprendido as doutrinas de Cristo, mas não se renderam a Cristo. Quem olha continuamente para Jesus verá o Seu abnegado amor e profunda humildade, e seguirá o Seu exemplo. O coração precisa ser purificado de todo orgulho, ambição, falsidade, ódio e egoísmo. Em muitas pessoas, esses maus traços são parcialmente subjugados, mas não completamente desarraigados do coração. Em circunstâncias favoráveis, tornam a brotar e se transformam em rebelião contra Deus. Isso constitui um terrível perigo. Poupar algum pecado é acalentar um inimigo que só está à espera de um momento de descuido para causar a nossa ruína. T5 175 1 "Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria." Tiago 3:13. Meus irmãos e irmãs, como vocês estão empregando o dom da fala? Aprenderam vocês a controlar a língua para que ela possa sempre seguir as ordens de uma consciência esclarecida e de santas afeições? Está sua conversação isenta de leviandade, orgulho e malícia, engano e impurezas? Está você livre de engano diante de Deus? As palavras exercem um poder revelador. Satanás, se possível, manterá a língua ativa em seu serviço. Por nós mesmos não podemos controlar esse membro ingovernável do corpo. A graça divina é nossa única esperança. T5 175 2 Os que tão avidamente planejam como podem assegurar a preeminência, deveriam estudar antes como podem obter sabedoria que é "primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia". Tiago 3:17. Foi-me mostrado que nossos pastores necessitam ter essas palavras impressas em sua alma. Aquele em cujo interior Cristo foi formado, a esperança da glória, mostrará "pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria". Tiago 3:13. T5 175 3 Pedro exorta os crentes: "E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis, não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção. Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males." 1 Pedro 3:8-12. T5 176 1 Embora o caminho reto seja tão claramente definido, por que o professo povo de Deus não anda nele? Por que não estudam, oram e trabalham diligentemente para serem todos de um mesmo parecer? Por que não procuram nutrir compaixão uns pelos outros, amarem-se como irmãos, em lugar de pagar mal com mal e zanga com zanga? Por que não amar a vida e desejar bons dias? Quão poucos cumprem as condições, refreando sua língua do mal e seu lábios de proferir engano. Poucos estão dispostos a seguir o exemplo de mansidão de humildade do Salvador. Muitos pedem ao Senhor para torná-los humildes, mas não estão dispostos a se submeterem à necessária disciplina. Quando sobrevêm a prova, quando as aflições ou mesmo os contratempos ocorrem, o coração se rebela e a língua profere palavras que são como setas envenenadas ou saraiva de granizo. T5 176 2 A maledicência é uma dupla maldição, caindo mais pesadamente sobre quem fala do que sobre quem ouve. Aquele que espalha as sementes da dissensão e contenda, colhe na própria vida os terríveis frutos. Quão miserável é o leva-e-traz, o mexeriqueiro, o que suspeita mal. É ele um inimigo da verdadeira felicidade. T5 176 3 "Bem-aventurados os pacificadores." Mateus 5:9. Graça e paz permanecem sobre aqueles que se recusam a participar da contenda de línguas. Enquanto os mascates do escândalo vão de família em família, aqueles que temem a Deus serão os virtuosos zeladores domésticos. O tempo normalmente desperdiçado em maliciosos, ociosos e frívolos mexericos, será dirigido a mais altos e nobres objetivos. Se nossos irmãos e irmãs se tornarem missionários para Deus, visitando o enfermo e aflito, e trabalhando paciente e bondosamente pelos errantes, em suma, se copiarem o Modelo, a igreja terá prosperidade em todas as suas fronteiras. T5 177 1 O pecado da maledicência começa com a alimentação de maus pensamentos. A malícia inclui a impureza em todas as suas formas. Um pensamento impuro tolerado, um desejo pecaminoso acariciado, e a pessoa é contaminada e sua integridade comprometida. "Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte." Tiago 1:15. Se não quisermos cometer pecado, temos de evitar seu princípio. Cada emoção e desejo tem de ser mantido em sujeição à razão e à consciência. Todo pensamento pecaminoso tem de ser instantaneamente repelido. Para a câmara de oração, seguidores de Cristo! Orem com fé e de todo o coração. Satanás está vigilante, para lhes enlaçar os pés. Vocês precisam ter socorro do alto, se querem escapar de seus ardis. T5 177 2 Com fé e oração todos podem satisfazer os requisitos do evangelho. Nenhum homem pode ser forçado a transgredir. E preciso primeiro obter seu próprio consentimento; a pessoa tem de propor-se a praticar o ato pecaminoso, antes de a paixão poder dominar a razão, ou a iniqüidade triunfar sobre a consciência. A tentação, por forte que seja, nunca é desculpa para o pecado. "Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos atentos ao seu clamor." Salmos 34:15. Clama ao Senhor, se você está sendo tentado! Basta lançar-se, desamparado, indigno, sobre Jesus, e reclamar-Lhe a promessa. O Senhor ouvirá. Ele sabe quão fortes são as inclinações do coração natural, e ajudará em cada ocasião de tentação. T5 177 3 Caiu você em pecado? Então, sem demora, procure de Deus a misericórdia e o perdão. Quando Davi foi convencido de seu pecado, derramou sua alma em penitência e humilhação diante de Deus. Sentiu que poderia suportar a perda da coroa, mas não ficar privado do favor divino. A misericórdia é ainda oferecida ao pecador. O Senhor nos chama em todos os nossos extravios: "Voltai, ó filhos rebeldes, Eu curarei as vossas rebeliões." Jeremias 3:22. A bênção de Deus pode ser nossa se ouvirmos a suplicante voz de Seu Espírito. "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem." Salmos 103:13. ------------------------Capítulo 17 -- Diligência no trabalho T5 178 1 "Viste a um homem diligente na sua obra? perante reis será posto; não será posto perante os de baixa sorte." Provérbios 22:29. "O que trabalha com mão enganosa empobrece, mas a mão dos diligentes enriquece." Provérbios 10:4. "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. Não sejais vagarosos no cuidado: sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:10, 11. T5 178 2 As muitas admoestações à diligência, encontradas tanto no Antigo como no Novo Testamentos, indicam claramente a íntima relação existente entre nossos hábitos de vida e nossos sentimentos e práticas religiosas. A mente e o corpo são constituídos de tal maneira que se torna necessário uma quantidade de exercício para o pleno desenvolvimento de todas as faculdades. T5 178 3 Enquanto uns se empenham demasiado em atividades mundanas, outros vão para o extremo oposto e não trabalham suficientemente para sustentar-se ou aos que deles dependem. O irmão _____ pertence a essa classe. Ao passo que ocupa a posição de provedor e protetor da família, não o é em realidade. As mais pesadas responsabilidades e encargos, permite que recaiam sobre sua esposa, ao passo que ele fica em descuidosa indolência, ou se ocupa com pequeninas coisas, que pouco valem para o sustento de sua família. Senta-se por horas e conversa com os filhos ou vizinhos sobre coisas que não têm muita importância. Toma as coisas folgadamente, e se diverte, ao passo que a esposa e mãe faz o trabalho que precisa ser feito para preparar as refeições e aprontar as roupas para uso. T5 179 4 Esse irmão é um homem pobre, e sempre será um peso à sociedade, a menos que assegure o privilégio a ele concedido por Deus, e se torne um homem. Qualquer pessoa pode encontrar alguma espécie de trabalho, caso realmente o queira; mas, se é descuidoso e desatento, verá que as colocações que poderia obter serão preenchidas pelos de maior atividade e mais aptidão para o trabalho. Deus nunca o designou, meu irmão, à situação de pobreza em que se encontra. Por que lhe deu Ele essa estrutura física? Você é tão responsável por suas habilidades físicas, como o são seus irmãos por seus recursos. Alguns deles sairiam hoje lucrando, caso lhes fosse possível trocar sua propriedade pela força física que você possui. Mas, uma vez colocados em sua posição haveriam de, mediante diligência no emprego tanto das forças físicas como das mentais, estar em breve acima da necessidade, sem dever coisa alguma a ninguém. Não é por ter Deus má vontade que as circunstâncias parecem ser contra você, mas por não usar a energia que lhe deu. Não era Sua intenção que suas faculdades se enferrujassem pela inação, mas fossem robustecidas pelo uso. T5 179 1 A religião que você professa torna tanto seu dever empregar o tempo durante os seis dias de trabalho como ir à igreja no sábado. Você não é diligente no serviço. Deixa passar horas, dias e mesmo semanas sem nada realizar. O melhor sermão que lhe seria possível pregar ao mundo seria mostrar decidida reforma em sua vida e prover às necessidades de sua família. Diz o apóstolo: "Mas se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel." 1 Timóteo 5:8. T5 179 2 Você acarreta descrédito sobre a causa estabelecendo residência em um lugar, onde condescende por algum tempo com a indolência, e depois é obrigado a incorrer em débito para alimentar sua família. E nem sempre você é correto em pagar esses seus débitos honestos, mas em vez disso, muda-se para outro lugar. Isso é defraudar o próximo. O mundo tem direito de esperar estrita integridade dos que professam ser cristãos. Pela indiferença de um homem quanto a pagar suas justas dívidas, todo o nosso povo está em risco de ser considerado indigno de confiança. T5 179 3 "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mateus 7:12. Isso se refere tanto aos que trabalham com suas mãos como aos que têm dádivas a conceder. Deus lhe deu forças e habilidade, mas você não as tem usado. Sua energia é suficiente para sustentar perfeitamente a família. Levante-se pela manhã, mesmo enquanto as estrelas ainda brilham, se necessário for. Planeje alguma coisa, e então a realize. Cumpra cada compromisso, a menos que seja prostrado pela enfermidade. Prive-se da comida e do sono de preferência a ser culpado de reter de outros aquilo que lhes é devido. T5 180 1 A montanha do progresso não pode ser escalada sem esforço. Ninguém espere ser carregado para receber o prêmio, seja em assuntos religiosos, seja nos seculares, caso não haja diligência de sua parte. Nem sempre ganha a corrida o que é ligeiro ou a batalha o forte; todavia "o que trabalha com mão remissa empobrece". Provérbios 10:4. Os perseverantes e industriosos, não só se sentem contentes eles próprios, como contribuem grandemente para a felicidade de outros. A competência e o conforto não são em geral conseguidos senão à custa de diligente esforço. Faraó mostrou seu apreço por esse traço de caráter, quando disse a José: "E se sabes que entre eles [os irmãos de José] há homens valentes [aptos, diz a margem], os porás por maiorais do gado, sobre o que eu tenho." Gênesis 47:6. T5 180 2 Não há desculpa para o irmão _____, a não ser que o amor da comodidade e a incapacidade para planejar sejam uma desculpa. A melhor solução a ser seguida por ele agora é sair de casa e ir trabalhar para alguém que planeje por ele. Ele tem sido por tanto tempo um patrão descuidoso e indolente para si próprio, que pouco realiza, e seu exemplo é mau para os filhos. Estes têm o mesmo cunho de caráter. Deixam a mãe suportar as responsabilidades. Quando se lhes pede que façam alguma coisa, fazem-na; mas todos os filhos não cultivam, como devem fazer, a faculdade de ver o que deve ser feito, e fazê-lo sem que se lhes diga. T5 180 3 Uma mulher comete para consigo mesma e a família uma grave injustiça quando ela faz seu trabalho e o deles também -- quando traz a lenha e a água, e até pega o machado para cortar a lenha, enquanto o marido e os filhos se sentam por perto do fogo, entretendo-se em conversar. Nunca foi desígnio de Deus que as mães e esposas fossem escravas de suas famílias. Muita mãe se acha sobrecarregada de cuidados, ao passo que os filhos não são educados a partilhar dos encargos domésticos. Em conseqüência, elas envelhecem e morrem prematuramente, deixando os filhos justamente quando a mãe é mais necessária para guiá-los em sua inexperiência. De quem é a culpa? T5 181 1 Os maridos devem fazer tudo quanto lhes seja possível para poupar cuidados à esposa, e manter-lhe o espírito animoso. Nunca se deve fomentar ou permitir nos filhos a preguiça, pois em breve se torna hábito. Quando não empregadas em ocupação útil, as faculdades ou se enfraquecem ou se tornam ativas em alguma obra má. T5 181 2 O que você necessita, meu irmão, é exercício ativo. Cada traço de seu semblante, cada faculdade de sua mente, assim o indica. Você não gosta de trabalho árduo, nem de ganhar seu pão com o suor de seu rosto. Mas esse é o plano ordenado por Deus na economia da vida. T5 181 3 Você deixa sem concluir aquilo que inicia. Não se disciplinou na regularidade. A sistematização é tudo. Faça apenas uma coisa de cada vez, e faça-a bem, finalizando-a antes de começar um segundo trabalho. Você deve ter horas regulares para levantar, para orar, para comer. Muitos perdem preciosas horas de atividade na cama, porque isso satisfaz sua inclinação natural, e fazer o contrário requer esforço. Uma hora perdida de manhã, está perdida para nunca mais ser recuperada. Diz o sábio: "Passei pelo campo do preguiçoso, e junto à vinha do homem falto de entendimento; e eis que toda estava cheia de cardos, e a sua superfície coberta de urtigas, e a sua parede de pedra estava derribada. O que tendo eu visto, o considerei; e, vendo-o, recebi instrução. Um pouco de sono, adormecendo um pouco, encruzando as mãos outro pouco, para estar deitado; assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado." Provérbios 24:30-34. T5 181 4 Os que têm qualquer pretensão à piedade, devem adornar a doutrina que professam, e não dar ocasião de que a verdade seja ultrajada em virtude de seu procedimento precipitado. "A ninguém devais coisa alguma" (Romanos 13:8), diz o apóstolo. Você deve agora, meu irmão, empreender imediatamente a correção de seus hábitos de indolência, remindo o tempo. Veja o mundo que a verdade efetuou uma reforma em sua vida. ------------------------Capítulo 18 -- Mudança para Battle Creek T5 182 1 Nosso Salvador Se representa como um homem que empreendeu uma viagem a um país distante e que deixou sua casa a cargo de servos escolhidos, dando a cada um seu trabalho. Cada cristão tem alguma coisa a fazer no serviço de seu Mestre. Não devemos ir à cata de nossas próprias facilidades ou conveniências, mas fazer da edificação do reino de Cristo nossa primeira preocupação. Esforços abnegados para auxiliar e abençoar nossos semelhantes não apenas evidenciarão nosso amor por Jesus, mas nos manterão ligados a Ele em dependência e fé, e em contínuo crescimento na graça e no conhecimento da verdade. T5 182 2 Deus tem espalhado Seus filhos por várias comunidades, para que a luz da verdade possa brilhar em meio à escuridão moral que cobre a Terra. Quanto mais densa a escuridão ao nosso redor, maior a necessidade de nossa luz brilhar por Deus. Podemos ser colocados em circunstâncias difíceis e probantes, mas isso não significa que não estamos na exata posição que a Providência designou. Entre os cristãos romanos, nos dias de Paulo, o apóstolo menciona os da casa de César. Em parte alguma poderia a atmosfera moral ser mais desfavorável ao cristianismo do que na corte romana, sob o cruel e devasso Nero. Todavia, aqueles que tinham, enquanto a serviço do imperador, aceito a Cristo, não se sentiam em liberdade de abandonar seu posto de dever. Em face das sedutoras tentações, ferrenha oposição e aterrorizantes perigos, foram eles fiéis testemunhas de Cristo. T5 182 3 Qualquer um que confie integralmente na divina graça pode fazer de sua vida um constante testemunho da verdade. Ninguém está em situação tal que não possa ser um verdadeiro e fiel cristão. Conquanto grandes os obstáculos, todos os que estão determinados a obedecer a Deus encontrarão um caminho aberto para prosseguir. T5 183 1 Aqueles que mantêm sua fidelidade a Deus em meio a influências contrárias, estão obtendo uma experiência de altíssimo valor. Sua força aumenta a cada obstáculo ultrapassado e a cada tentação vencida. Esse fato é freqüentemente passado por alto. Quando alguém recebe a verdade, seus equivocados amigos temem expô-lo a testes ou provas, e de pronto se esforçam para garantir-lhe uma situação confortável. Vai essa pessoa a lugares onde todos estão em harmonia com ela. Mas, será que assim sua força espiritual aumenta? Em muitos casos, não. Ela acaba ficando com pouca capacidade de resistência, assim como uma planta confinada. Cessa de vigiar e sua fé se enfraquece. Nem cresce na graça nem auxilia outros. T5 183 2 Será que alguém encolhe espiritualmente por manter a verdade em meio a descrença e oposição? Peço-lhe que tenha em mente os crentes da casa de Nero; considere a depravação e perseguição que enfrentaram e extraia de seu exemplo uma lição de coragem, firmeza e fé. T5 183 3 Às vezes pode ser aconselhável para aqueles que são novos na fé ser poupados de tentações e oposição, e colocados onde possam desfrutar do cuidado e conselho de cristãos experientes. Deveria, porém, ser dito claramente a esses que a vida cristã é uma guerra constante, e que a condescendência com a preguiça será fatal ao sucesso. T5 183 4 Não deveríamos, depois de aceitar a verdade, juntar-nos com aqueles que se opõem a ela, nem de alguma forma colocarmo-nos onde nos seja difícil viver nossa fé. Mas, se houver necessidade de enfrentar uma situação assim adversa ao aceitar a verdade, cada um deve ponderar a questão cuidadosamente antes de tomar qualquer atitude. Pode ser desígnio da Providência que sua influência e exemplo traga outros ao conhecimento da verdade. T5 184 1 Muitos estão ligados por laços familiares a opositores da fé. Esses crentes em geral sofrem duras provações, mas, pela graça divina, podem glorificar a Deus pela obediência à verdade. T5 184 2 Como servos de Cristo deveríamos permanecer fielmente na posição onde Deus vê que podemos render mais eficiente serviço. Se nos são apresentadas oportunidades de grande utilidade, deveríamos aceitá-las como ordens do Mestre e Seu sorriso de aprovação estará sobre nós. Deveríamos, porém, temer abandonar a obra que nos foi designada, a menos que o Senhor claramente indique ser nosso dever servi-Lo em outro lugar. T5 184 3 São necessárias diferentes qualificações para os variados departamentos da obra. O carpinteiro não está capacitado para trabalhar com a bigorna, nem o ferreiro com a plaina. O comerciante estaria fora de lugar ao lado do leito do enfermo, assim como o médico no escritório de contabilidade. Aqueles que se aborrecem com o trabalho que o Senhor lhes deu e se colocam numa posição onde não podem ou não querem trabalhar, serão tidos como servos indolentes. "A cada homem o seu trabalho." Ninguém está dispensado. T5 184 4 Nosso dever de atuar como missionários de Deus na exata posição em que Ele nos colocou, tem sido grandemente negligenciado por nós como um povo. Muitos estão impulsivamente se afastando das oportunidades e deveres atuais e indo para um campo mais amplo. Imaginam que em alguma outra posição acharão menos dificuldades para obedecer à verdade. Nossas grandes igrejas são vistas como oferecendo especiais vantagens, e há entre nosso povo crescente tendência de deixar seu designado posto de dever e mudar-se para Battle Creek, ou nas vizinhanças de alguma outra grande igreja. Essa prática não apenas ameaça a prosperidade e mesmo a existência de nossas igrejas menores, como também nos impede de fazer o trabalho que Deus nos deu a cumprir, e ainda está destruindo nossa espiritualidade e utilidade como um povo. T5 184 5 De quase todas as igrejas em Michigan, e em alguma extensão, de outros Estados, nossos irmãos e irmãs se tem comprimido em Battle Creek. Muitos deles foram obreiros eficientes nas igrejas menores, e sua mudança enfraqueceu muito essas congregações. Em alguns casos, a igreja se desorganizou completamente. T5 185 1 Será que aqueles que se mudaram para Battle Creek se provaram uma ajuda à igreja? Quando o assunto me foi apresentado, olhei para ver quem estava dando um testemunho vivo em favor de Deus; quem estava sentindo responsabilidade pelos jovens, quem estava fazendo visitas de casa em casa, orando com as famílias e trabalhando por seus interesses espirituais. Vi que esse trabalho foi grandemente negligenciado. Ao virem para uma igreja grande, muitos sentem que não têm nada a fazer ali. Conseqüentemente, cruzam os braços e evitam toda responsabilidade e esforço. T5 185 2 Há alguns que vem para cá simplesmente para garantir vantagens financeiras. Esses representam um pesado fardo para a igreja. São pedras de tropeço no terreno; seus ramos improdutivos excluem de outras árvores a glória da luz celestial. T5 185 3 Não agrada a Deus que muitos de nossos pastores se fixem em Battle Creek. Se essas famílias estivessem espalhadas por diferentes partes do campo, seriam de muito maior utilidade. É verdade que os pastores ficam pouco tempo em casa, todavia, há muitos e preciosos lugares onde o tempo poderia ser usado com muito maior proveito para a causa de Deus. T5 185 4 O Senhor pergunta a muitos que estão em Battle Creek: "O que vocês estão fazendo aqui?" Que conta darão vocês por deixar sua obra designada e tornar-se um empecilho antes que uma ajuda à igreja? T5 185 5 Irmãos, rogo-lhes que comparem seu atual estado espiritual com aquele que desfrutavam quando envolvidos ativamente na causa de Cristo. Enquanto auxiliando e animando a igreja, vocês estavam adquirindo experiência útil e conservando a própria vida no amor de Deus. Quando deixaram de trabalhar pelos outros, não aconteceu que seu amor esfriou e o zelo diminuiu? E o que sucedeu com seus filhos? Estão eles mais firmemente estabelecidos na verdade, mais consagrados a Deus do que antes de vir para uma igreja grande? T5 186 1 A influência exercida por alguns que por muito tempo têm estado ligados à obra de Deus é fatal à espiritualidade e à devoção. Esses jovens insensibilizados para o evangelho se têm cercado de uma atmosfera de mundanismo, irreverência e infidelidade. Ousariam vocês expor seus filhos aos efeitos de tais associações? Seria melhor para eles nunca obter educação do que adquiri-la com o sacrifício dos princípios e bênçãos de Deus. T5 186 2 No meio dos jovens que vêm para Battle Creek há alguns que mantêm sua fidelidade a Deus sob tentação, mas seu número é pequeno. Muitos que aqui vêm com fé na verdade, na Bíblia, na religião, foram desviados por causa de companheiros profanos e voltaram a seus lares duvidando de cada verdade que, como um povo, tanto estimamos. T5 186 3 Que nossos irmãos que desejam mudar-se para Battle Creek ou mandar seus filhos para cá, considerem a questão muito bem antes de dar esse passo. A menos que as forças neste grande centro resistam, a menos que a fé e a devoção da igreja seja proporcional a seus privilégios e oportunidades, essa é a mais perigosa posição que vocês podem assumir. Tenho observado a condição dessa igreja do modo como os anjos a vêem. Há enganos espirituais tanto sobre o povo como sobre os seus vigilantes. Eles mantêm as formas da religião, mas falta-lhes os princípios de justiça. Se não houver decidida mudança, uma marcante transformação nessa igreja, é melhor que a escola seja mudada para outra localidade qualquer. T5 186 4 Houvesse os jovens que há tanto tempo moram ali aproveitado seus privilégios, muitos que agora são céticos teriam se consagrado ao ministério. Mas eles consideram evidência de superioridade intelectual duvidar da verdade e orgulhar-se de sua independência em acalentar a infidelidade. Desprezam assim o Espírito da graça e fazem pouco caso do sangue de Cristo. T5 187 1 Onde estão os missionários que deveriam sair do centro dessa obra? Entre vinte e cinqüenta deveriam sair de Battle Creek cada ano para levar a verdade àqueles que se assentam na escuridão. Mas a piedade está tão baixa como a maré vazante, o espírito de devoção tão debilitado, o mundanismo e o egoísmo tão prevalecentes, que a atmosfera moral produz uma letargia fatal ao zelo missionário. T5 187 2 Não temos necessidade de ir às terras além-mar para nos tornarmos missionários para Deus. Ao nosso redor há campos brancos para a colheita e quem quiser pode colher frutos para a vida eterna. Deus conclama muitos em Battle Creek que estão morrendo de indolência espiritual, para irem aonde seu trabalho seja necessário à causa. Saiam de Battle Creek, mesmo que isso requeira um sacrifício financeiro. Vão aonde possam ser uma bênçãos aos semelhantes. Vão aonde possam levar força a alguma igreja enfraquecida. Ponham em uso as forças que Deus lhes deu. T5 187 3 Sacudam de si essa letargia espiritual. Trabalhem com todas as forças para salvar sua própria vida e a de outros. Agora não é o tempo de se clamar: "Paz e Segurança!" O que necessitamos para dar a mensagem, não são oradores eloqüentes. A verdade deve ser anunciada em toda a sua incisiva severidade. Necessitam-se homens de ação -- homens que trabalhem com fervorosa e incessante energia em prol da purificação da igreja e para advertir o mundo. T5 187 4 Uma grande obra tem de ser efetuada; planos mais vastos devem ser delineados; uma voz se deve elevar para despertar as nações. Aqueles que têm fé fraca e vacilante não são os homens talhados a levar avante a obra nesta importante crise. Necessitamos da coragem dos heróis e da fé dos mártires. ------------------------Capítulo 19 -- Mundanismo na igreja T5 188 1 Dos santos homens do passado está escrito que Deus não Se envergonhava de ser chamado de seu Deus. Hebreus 11:16. A razão apresentada é que em vez de cobiçar posses terrenas ou de buscar a felicidade em planos ou aspirações mundanos, eles depuseram tudo no altar de Deus e abriram mão disso para a edificação do Seu reino. Viveram apenas para glória de Deus e declararam claramente que eram estrangeiros e peregrinos na Terra, procurando uma pátria melhor, a celestial! Sua conduta proclamava-lhes a fé. Deus podia confiar neles e deixar que o mundo recebesse deles o conhecimento de Sua vontade. T5 188 2 Como, porém, está o professo povo de Deus hoje mantendo a honra do Seu nome? Como pode o mundo perceber que eles são um povo peculiar? Que prova dão de sua cidadania no Céu? Sua condescendência própria e amor à comodidade falsifica o caráter de Cristo. Ele não poderia distingui-los de nenhuma forma assinalada diante do mundo sem endossar a falsa representação de Seu caráter. T5 188 3 Pergunto à igreja de Battle Creek: Que testemunho estão vocês dando ao mundo? À medida que sua conduta me foi apresentada, chamou-me a atenção as habitações recentemente erigidas por nosso povo nessa cidade. Essas edificações são monumentos de sua incredulidade nas doutrinas que professam defender. Estão elas pregando sermões mais eficazes do que muitos proferidos do púlpito. Vi os mundanos apontando para elas com motejos e zombaria, como uma negação de nossa fé. Essas construções proclamam que seus proprietários têm dito em seu coração: "Meu Senhor tarda em vir!" Lucas 12:45. T5 188 4 Contemplei seu vestuário e ouvi a conversação de muitos que professam a verdade. Ambos eram opostos aos princípios da verdade. Vestes e conversas revelam o que é mais prezado por aqueles que dizem ser peregrinos e estrangeiros na Terra. "Do mundo são; por isso, falam do mundo, e o mundo os ouve." 1 João 4:5. T5 189 1 Simplicidade e singeleza devem assinalar as habitações e vestuário de todos os que crêem nas solenes verdades para este tempo. Todos os recursos desnecessariamente gastos em vestuário ou no adorno de nossa casa são um desperdício do dinheiro do Senhor. É defraudar a causa de Deus para satisfazer ao orgulho. Nossas instituições estão carregadas de débitos, e como podemos esperar que o Senhor responda às nossas orações por sua prosperidade, quando não estamos fazendo o que podemos para aliviá-las das complicações? T5 189 2 Gostaria de dirigir-me a vocês como Cristo o fez com Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo." João 3:7. Aqueles que têm a Cristo não sentem qualquer desejo de imitar o exibicionismo do mundo. Eles levarão a todos os lugares o estandarte da cruz, testemunhando acerca dos elevados alvos e nobres temas, diversamente daqueles que estão absorvidos em interesses mundanos. Nosso vestuário, nossas casas, nossa conversação, devem testificar de nossa consagração a Deus. Que poder assistiria a todos que assim demonstrassem que deixaram tudo por Cristo. Deus não Se envergonharia de reconhecê-los como Seus filhos. Ele abençoaria seu consagrado povo e o mundo descrente haveria de temê-Lo. T5 189 3 Cristo anseia atuar poderosamente através de Seu Espírito para a convicção e conversão de pecadores. Porém, de acordo com Seu divino plano, a obra precisa ser realizada através dos instrumentos de Sua igreja. Os membros da igreja tanto se afastaram dEle, que Ele não pode cumprir Sua vontade através deles. Ele preferiu trabalhar com recursos, todavia, os recursos empregados precisam estar em harmonia com Seu caráter. T5 189 4 Quem de Battle Creek é fiel e verdadeiro? Que venha para o lado do Senhor. Para estarmos em posição que Deus nos possa usar, teremos de possuir fé e experiência individuais. Somente os que confiam totalmente em Deus estão seguros agora. Não devemos seguir qualquer exemplo humano ou nos firmarmos em apoio humano. Muitos estão constantemente tomando posições erradas e fazendo mudanças equivocadas. Se confiarmos em sua guia, seremos desencaminhados. T5 190 1 Muitos que professam ser porta-vozes de Deus estão, por sua vida diária, negando a fé. Apresentam ao povo verdades importantes, mas quem se impressiona com elas? Quem é convencido de pecado? Os ouvintes sabem que aqueles que estão pregando hoje serão amanhã os primeiros a buscar o prazer, a algazarra e a frivolidade. Sua influência fora dos púlpitos acalma a consciência do impenitente e faz com que o ministério seja desprezado. Eles estão cochilando no limiar do mundo eterno. O sangue das almas está em suas vestes. T5 190 2 Como devem os fiéis servos de Deus se ocupar? "Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito", orando individualmente, em família, na congregação, em todo lugar, "e vigiando nisso com toda perseverança". Efésios 6:18. Eles sentem que as pessoas estão em perigo e, com fervente e humilde fé, suplicam as promessas de Deus em seu favor. O resgate pago por Cristo -- a expiação sobre a cruz -- está sempre diante deles. Esses terão as conversões como selos de seu ministério. T5 190 3 A reprovação do Senhor recai sobre Seu povo por seu orgulho e incredulidade. Ele não lhes dará as alegrias da salvação enquanto estiverem se afastando das instruções de Sua Palavra e Seu Espírito. Dará graça àqueles que O temem e andam na verdade, e subtrairá Suas bênçãos de todos aqueles que assimilaram o mundo. Misericórdia e verdade são prometidas aos humildes e penitentes, e juízos são pronunciados contra os rebeldes. T5 190 4 A igreja de Battle Creek poderia ter permanecido livre da idolatria, e sua fidelidade teria sido um exemplo para outras igrejas. Mas ela está mais disposta renunciar aos mandamentos de Deus do que à sua amizade com o mundo. Está ligada aos ídolos que escolheu, e porque a prosperidade temporal e o favor do mundo ímpio são seus, ela crê ser rica para com Deus. Isso provará ser para muitos um engano letal. Seu caráter divino e poder espiritual apartaram-se dela. T5 191 1 Aconselho que a igreja dê ouvidos à admoestação do Salvador: "Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:5. ------------------------Capítulo 20 -- Consultaremos médicos espiritualistas T5 191 2 "E caiu Acazias pelas grades de um quarto alto, que tinha em Samaria, e adoeceu; e enviou mensageiros, e disse-lhes: Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença. Mas o anjo do Senhor disse a Elias tesbita: Levanta-te, sobe para encontrar-te com os mensageiros do rei de Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás." 2 Reis 1:2-4. T5 191 3 Esta narração mostra de maneira clara o desagrado divino contra os que se desviam de Deus para os instrumentos satânicos. Pouco tempo antes dos acontecimentos acima registrados, o reino de Israel mudara de governo. Acabe caíra sob o juízo de Deus, e fora substituído por seu filho Acazias, de caráter indigno, que só fez mal aos olhos do Senhor, andando nos caminhos de seu pai e sua mãe, fazendo pecar a Israel. Serviu a Baal, adorou-o, e provocou à ira o Senhor Deus de Israel, como fizera Acabe, seu pai. Seguiram-se, porém, de perto, juízos sobre os pecados do rebelde rei. Uma guerra com Moabe, e depois o acidente pelo qual estava ameaçada sua vida, atestaram a ira de Deus contra Acazias. T5 192 1 Quanto vira e ouvira o rei de Israel no tempo de seu pai, das maravilhosas obras do Altíssimo! Que terrível demonstração de Sua severidade e zelo dera Deus ao apóstata Israel! De tudo isto tinha Acazias conhecimento; todavia procede como se essas horríveis realidades, e mesmo o terrível fim de seu pai, fossem apenas um conto irreal. Em vez de humilhar o coração diante do Senhor, arriscou-se ao mais ousado ato de impiedade que lhe assinalou a vida. Ordenou a seus servos: "Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença." 2 Reis 1:2. T5 192 2 O ídolo de Ecrom, supunham, dava informações por meio de seus sacerdotes, quanto a acontecimentos futuros. Alcançara tão vasto crédito, que a ele recorria grande número de pessoas vindas de considerável distância. As predições ali feitas, e as informações dadas, provinham diretamente do príncipe das trevas. Foi Satanás que criou e mantém o culto aos ídolos, a fim de desviar de Deus a mente das pessoas. É por sua atuação que o reino das trevas e da mentira é sustentado. T5 192 3 A história do pecado do rei Acazias e seu castigo encerra uma lição de advertência que ninguém pode desatender impunemente. Conquanto não rendamos homenagem a deuses pagãos, todavia milhares estão adorando no altar de Satanás, tão certo como o fez o rei de Israel. O mesmo espírito da idolatria pagã é hoje predominante, se bem que sob a influência da ciência e da educação tenha assumido mais fina e atrativa forma. Cada dia traz nova e dolorosa evidência de que a fé na firme Palavra da profecia está rapidamente decrescendo, e que em seu lugar a superstição e a feitiçaria satânicas estão cativando a mente das pessoas. Todos quantos não pesquisam diligentemente as Escrituras, e submetem todo desejo e desígnio da vida a essa infalível prova, todos quantos não buscam a Deus em oração pedindo o conhecimento de Sua vontade, hão de por certo desviar-se do caminho reto, e cair sob o engano de Satanás. T5 193 1 Os oráculos pagãos têm sua imitação nos médiuns espíritas, nos videntes, nos necromantes de hoje. As vozes místicas que falaram em Ecrom e em En-Dor estão ainda, por suas palavras de mentira, desviando os filhos dos homens. O príncipe das trevas apenas apareceu sob novo disfarce. Os mistérios do culto pagão acham-se substituídos pelas associações secretas e as sessões, a obscuridade e as maravilhas dos feiticeiros de nosso tempo. Suas revelações são ansiosamente recebidas por milhares que recusam aceitar a luz da Palavra de Deus, ou de Seu Espírito. Ao passo que falam desdenhosamente dos mágicos de antigamente, o grande enganador ri triunfante, vendo-os ceder a suas artes manifestadas sob aspecto diferente. T5 193 2 Seus agentes ainda pretendem curar a doença. Atribuem seu poder à eletricidade, ao magnetismo, ou aos chamados "remédios de simpatia". Efetivamente, eles não são senão veículos das correntes elétricas de Satanás. Por esse meio lança ele seu encantamento sobre o corpo e o espírito das pessoas. T5 193 3 Tenho recebido de tempos em tempos cartas de pastores e de membros leigos da igreja, perguntando se acho errado consultar médicos espíritas e videntes. Não tenho respondido a essas cartas por falta de tempo. Mas agora o assunto me é de novo insistentemente apresentado. Tão numerosos se estão tornando esses instrumentos de Satanás, e tão geral é o costume de buscar deles conselho, que parece necessário proferir palavras de advertência. T5 193 4 Deus colocou ao nosso alcance o obter conhecimento das leis da saúde. Constituiu em dever para nós o conservar nossas energias físicas nas melhores condições possíveis, a fim de Lhe podermos prestar serviço aceitável. Os que se recusam a aperfeiçoar a luz e o conhecimento postos ao seu alcance, estão rejeitando um dos meios a eles assegurados por Deus para promover tanto a vida espiritual como a física. Colocam-se assim na condição de ficar expostos aos enganos de Satanás. T5 194 1 Muitos professos cristãos, nesta época e nação, recorrem aos maus espíritos em vez de confiar no poder do Deus vivo. Cuidando junto ao leito de enfermidade de seu filho, a mãe exclama: "Não posso fazer mais nada. Não haverá médico que possa restaurar meu filho?" Contam-lhe as maravilhosas curas realizadas por algum vidente ou operador de curas pelo magnetismo, e ela confia seu querido aos cuidados dele, colocando-o tão certamente nas mãos de Satanás como se ele lhe estivesse ao lado. Em muitos casos, a vida futura da criança é regida por uma força satânica, que parece impossível quebrar. T5 194 2 Muitos são os que não têm boa vontade para exercer o necessário esforço a fim de obter conhecimento das leis da vida, e os simples meios a serem empregados para a restauração da saúde. Não se colocam na devida relação para com a vida. Quando a doença é a conseqüência de sua transgressão da lei natural, não buscam corrigir seus erros, para depois pedir a bênção de Deus, mas recorrem aos médicos. Se recuperam a saúde, atribuem às drogas e aos médicos toda a honra. Estão sempre prontos a idolatrar o poder e sabedoria humanos, parecendo não conhecer outro Deus senão a criatura -- pó e cinza. T5 194 3 Ouvi uma mãe rogando a um médico descrente que lhe salvasse a vida do filho; mas quando lhe pedi insistentemente que buscasse auxílio do Grande Médico que é capaz de salvar perfeitamente todo aquele que O busca com fé, ela se afastou com impaciência. Vemos aí o mesmo espírito manifestado por Acazias. T5 194 4 Não é seguro confiar em médicos que não têm diante de si o temor de Deus. Sem a influência da graça divina, o coração dos homens é "enganoso... mais do que todas as coisas, e perverso". Jeremias 17:9. Seu objetivo é o engrandecimento próprio. Sob a capa da profissão médica, quanta iniqüidade tem sido ocultada; que enganos apoiados! O médico pode pretender possuir grande sabedoria e habilidade maravilhosa, quando seu caráter é depravado e sua prática contrária às leis da vida. O Senhor nosso Deus nos afirma estar esperando para mostrar-Se bondoso; convida-nos a invocá-Lo no dia da angústia. Como nos podemos desviar dEle para confiar em um braço de carne? T5 195 1 Venha comigo a um quarto de doente. Ali jaz um esposo e pai, homem que é uma bênção à sociedade e à causa de Deus. Foi subitamente vencido pela doença. O ardor da febre parece consumi-lo. Ele anseia um pouco de água fresca para lhe umedecer os ressequidos lábios, saciar a sede abrasadora, e refrescar a fronte febril. Mas não; o médico proibiu a água. Dá-se-lhe o estimulante da bebida forte, acrescentando combustível ao fogo. A bendita água, enviada pelo Céu, quando habilmente aplicada, extinguiria a chama devoradora, mas é substituída por drogas venenosas. T5 195 2 Por algum tempo, a natureza luta por seus direitos, mas afinal, vencida, desiste da luta, e a morte liberta o sofredor. Deus desejava que aquele homem vivesse, que fosse uma bênção ao mundo; Satanás decidiu destruí-lo, e por meio do médico, conseguiu-o. Até quando permitiremos que nossas mais preciosas luzes sejam assim apagadas? T5 195 3 Acazias enviou seus servos a indagar de Baal-Zebube, em Ecrom; mas em vez de uma mensagem do ídolo, ouviu a tremenda denúncia vinda do Deus de Israel: "Da cama a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás." 2 Reis 1:4. Foi Cristo que mandou Elias dizer estas palavras ao rei apóstata. Jeová Emanuel tinha razão de ficar grandemente desgostoso com a impiedade de Acazias. Que não fizera Cristo para conquistar o coração dos pecadores, e inspirar-lhes inabalável confiança nEle? Durante séculos visitara Seu povo com manifestações da mais condescendente bondade e amor sem paralelo. Desde os tempos dos patriarcas Ele manifestara como Suas "delícias" estavam com os filhos dos homens. Provérbios 8:31. Fora um socorro bem presente para todos quantos O buscavam em sinceridade. "Em toda a angústia deles foi Ele angustiado, e o anjo da Sua face os salvou; pelo Seu amor, e pela Sua compaixão Ele os remiu." Isaías 63:9. Todavia Israel se rebelara contra Deus, e se volvera para os piores inimigos do Senhor. T5 196 1 Os hebreus eram a única nação favorecida com o conhecimento do Deus verdadeiro. Quando o rei de Israel mandou indagar de um oráculo pagão, proclamou aos pagãos que confiava mais nos ídolos deles do que no Deus de seu povo, o Criador dos Céus e da Terra. Da mesma maneira os que professam conhecer a Palavra de Deus O desonram, quando se voltam da Fonte da força e da sabedoria, para pedir conselhos aos poderes das trevas. Se a ira de Deus se acendeu por tal procedimento da parte de um rei ímpio, idólatra, como considerará Ele atitude semelhante quando seguida pelos que professam ser servos Seus? T5 196 2 Por que será que os homens são tão contrários a confiar nAquele que criou o homem, e que pode, por um toque, uma palavra, um olhar, curar toda espécie de doença? Quem é mais digno de nossa confiança do que Aquele que fez tão grande sacrifício para nossa redenção? Nosso Senhor deu-nos definidas instruções, mediante o apóstolo Tiago, quanto a nosso dever em caso de doença. Quando falha o auxílio humano, Deus será o auxílio de Seu povo. "Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará." Tiago 5:14, 15. Se os professos seguidores de Cristo, com pureza de coração, exercessem tanta fé nas promessas de Deus como descansam nos instrumentos satânicos, experimentariam no corpo e na alma o poder restaurador do Espírito Santo. T5 197 3 Deus concedeu a este povo grande luz; todavia não nos achamos além do alcance da tentação. Quem dentre nós está buscando auxílio dos deuses de Ecrom? Considere este quadro -- não pintado pela imaginação. Em quantos, mesmo entre os adventistas do sétimo dia, podem-se ver suas características principais? Um inválido -- aparentemente muito consciencioso, todavia supersticioso e presumido -- confessa francamente seu desprezo pelas leis da saúde e da vida que a misericórdia divina nos fez aceitar como um povo. Sua comida precisa ser preparada de maneira a satisfazer seus mórbidos, ardentes desejos. De preferência a sentar-se a uma mesa em que se oferece comida saudável, favorecerá os restaurantes, porque aí pode satisfazer sem restrições o apetite. Fluente advogado da temperança, desconsidera-lhe os princípios fundamentais. Quer alívio, mas recusa-se a obtê-lo à custa de abnegação. Esse homem está adorando no altar do apetite pervertido. É um idólatra. As faculdades que, santificadas e enobrecidas, poderiam ser empregadas para a honra de Deus, são enfraquecidas e tornadas de pouco préstimo. Um temperamento irritável, cérebro confuso e nervos desenfreados, eis alguns dos resultados de sua desconsideração para com as leis naturais. Esse homem é ineficiente, não se pode confiar nele. T5 197 1 Quem tiver a coragem e a sinceridade de o advertir do perigo, incorre por isso no seu desagrado. O mais leve indício de oposição é bastante para suscitar-lhe o espírito combativo. Mas agora apresenta-se oportunidade de buscar auxílio de alguém cujo poder vem por intermédio da feitiçaria. A essa fonte se aplica ele com fervor, gastando abundantemente tempo e dinheiro na esperança de conseguir a graça proposta. Ele está enganado, enfatuado. O poder do bruxo torna-se objeto de louvor, e outros são influenciados a buscar-lhe o auxílio. Assim é desonrado o Deus de Israel, ao passo que é reverenciado e exaltado o poder de Satanás. T5 197 2 Quero dirigir-me em nome de Cristo a Seus professos seguidores: Permaneçam na fé que receberam desde o princípio. Fujam da tagarelice profana e vã. Em vez de porem a confiança na feitiçaria, tenham fé no Deus vivo. Maldita é a estrada que conduz a En-Dor e a Ecrom. Os pés que se arriscam a pisar terreno proibido, tropeçarão e cairão. Há um Deus em Israel, no qual há livramento para todos quantos se acham opressos. A justiça é a morada de Seu trono. T5 198 1 Há perigo em desviar-se no mínimo das instruções do Senhor. Quando nos afastamos do reto caminho do dever, surgirá uma série de circunstâncias que nos parecem arrastar irresistivelmente para mais e mais longe do direito. A desnecessária intimidade com aqueles que não têm respeito por Deus irá nos seduzi antes que nos apercebamos. O temor de ofender os amigos mundanos poderá nos impedir de exprimir nosso reconhecimento para com Deus, ou de reconhecer nossa dependência dEle. Cumpre manter-nos apegados à Palavra de Deus. Necessitamos de suas advertências e ânimo, suas ameaças e promessas. Precisamos do exemplo perfeito que é dado unicamente na vida e no caráter de nosso Salvador. T5 198 2 Anjos de Deus preservarão Seu povo enquanto ele andar no caminho do dever; não há, porém, garantia dessa proteção para os que deliberadamente se aventuram no terreno de Satanás. Um instrumento do grande enganador dirá e fará qualquer coisa a fim de conseguir seu objetivo. Pouco importa se ele se chama um espiritualista, "médico eletroterapista", ou "curador pelo magnetismo". Mediante ilusórios pretextos, ele ganha a confiança dos ingênuos. Pretende ler a história da vida e compreender todas as dificuldades e aflições dos que a ele recorrem. Disfarçando-se em anjo de luz, ao passo que tem no coração a negrura do abismo, manifesta grande interesse em mulheres que lhe buscam o conselho. Diz-lhes que todas as suas tribulações provêm de um casamento infeliz. Isto pode ser bem verdade, mas tal conselheiro não lhes melhora a situação. Diz-lhes que elas necessitam de amor e simpatia. Simulando grande interesse em seu bem-estar, lança uma fascinação sobre suas vítimas desprevenidas, encantando-as como a serpente encanta o trêmulo passarinho. Em breve elas se acham inteiramente em seu poder; pecado, desonra e ruína, eis a terrível seqüência. T5 198 3 Esses obreiros da iniqüidade não são poucos. Sua esteira é assinalada por lares desolados, reputações arruinadas e corações partidos. De tudo isso, porém, mal sabe o mundo; e eles continuam ainda fazendo novas vítimas, e Satanás exulta na ruína por ele realizada. T5 199 1 O mundo visível e o invisível acham-se em íntimo contato. Pudesse erguer-se o véu, e veríamos anjos maus forçando suas trevas ao redor de nós, e trabalhando com todas as suas forças para enganar e destruir. Homens ímpios são rodeados, influenciados e ajudados por espíritos maus. O homem de fé e oração entrega sua vida à guia divina, e anjos de Deus trazem-lhe do Céu luz e resistência. T5 199 2 Homem algum pode servir a dois senhores. A luz e as trevas não são mais opostos do que o serviço de Deus e o de Satanás. O profeta Elias apresentou a questão em seu verdadeiro aspecto quando, destemidamente, apelou para o apóstata Israel: "Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. T5 199 3 Os que se entregam à feitiçaria de Satanás, podem gabar-se de grande benefício recebido daí; mas prova isso que sua orientação é sábia ou segura? Que aconteceria se a vida fosse prolongada? Se o ganho temporal fosse assegurado? Valerá isso afinal o desrespeito à vontade de Deus? Todo esse aparente ganho se demonstrará por fim irremediável perda. Não podemos, impunemente, retirar uma única barreira erguida por Deus a fim de guardar Seu povo do poder de Satanás. T5 199 4 Nossa única segurança consiste em conservar os antigos limites. "À Lei, e ao Testemunho: se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não têm iluminação." Isaías 8:20 (TT). ------------------------Capítulo 21 -- Olhando a Jesus T5 199 5 Muitos cometem em sua vida religiosa um erro sério por manterem a atenção fixa nos sentimentos próprios, julgando assim seu progresso ou declínio. Os sentimentos não são critério seguro. Não devemos olhar para nosso interior em busca de prova de nossa aceitação diante de Deus. Aí nada encontraremos senão para nos desanimar. Nossa única esperança está em olhar a "Jesus, Autor e Consumador da fé". Hebreus 12:2. NEle há tudo quanto possa inspirar esperança, fé e ânimo. Ele é nossa justiça, nossa consolação e regozijo. T5 200 1 Os que olham para dentro de si mesmos em busca de conforto ficarão fatigados e decepcionados. O senso de nossa fraqueza e indignidade deve levar-nos, em humildade de coração, a aceitar o sacrifício expiatório de Cristo. Ao nos apoiarmos em Seus méritos, encontraremos descanso, paz e alegria. Ele salva perfeitamente a todos quantos, por meio dEle, vão ter com Deus. T5 200 2 Precisamos confiar em Jesus cada dia, a cada hora. Ele prometeu que como os nossos dias será a nossa força. Por Sua graça, podemos levar todos os fardos do presente e cumprir todos os seus deveres. Muitos, porém, se preocupam pela antecipação de aflições futuras. Estão continuamente a trazer para hoje as preocupações de amanhã. Assim, grande parte de suas tribulações são imaginárias. Para essas, Jesus não tomou providências. Ele promete graça apenas para o dia. Manda-nos que não nos preocupemos com os cuidados e tribulações de amanhã; pois "basta a cada dia o seu mal". Mateus 6:34. T5 200 3 O hábito de ficar pensando em males antecipados não é sábio nem cristão. Assim fazendo, deixamos de desfrutar as bênçãos e aproveitar as oportunidades do presente. O Senhor exige que cumpramos os deveres do dia de hoje, e lhe suportemos as provas. Hoje, devemos vigiar a fim de não pecarmos por palavras e atos. Cumpre-nos hoje louvar e honrar a Deus. Pelo exercício de uma fé viva hoje, temos de conquistar o inimigo. Precisamos buscar hoje a Deus, e estar decididos a não ficar satisfeitos sem Sua presença. Devemos vigiar e trabalhar e orar como se este fosse o último dia a nós concedido. Quão intensamente zelosa, então, seria nossa vida! Quão de perto seguiríamos a Jesus em todas as nossas palavras e ações! T5 200 4 Poucos há que apreciam ou aproveitam devidamente o precioso privilégio da oração. Devemos ir a Jesus e contar-Lhe todas as nossas necessidades. Podemos levar-Lhe nossos pequenos cuidados e perplexidades, da mesma maneira que as maiores aflições. Seja o que for que surja para nos perturbar ou afligir, devemos levar ao Senhor em oração. Quando sentirmos que necessitamos da presença de Cristo a todo instante, Satanás terá pouco ensejo de introduzir suas tentações. É seu estudado esforço manter-nos afastados de nosso melhor e mais compassivo amigo. Não devemos tornar ninguém senão Jesus nosso confidente. Podemos com segurança comunicar-Lhe tudo quanto se acha em nosso coração. T5 201 1 Irmãos e irmãs, quando vocês se reúnem para o culto de oração, creiam que Jesus Se reúne com vocês; creiam que Ele está disposto a abençoá-los. Desviem os olhos do próprio eu; olhem a Jesus, falem de Seu incomparável amor. Contemplando-O, serão transformados à Sua semelhança. Quando orarem, sejam breves, vão diretamente ao ponto. Não preguem um sermão ao Senhor em suas longas orações. Peçam o pão da vida como uma criança faminta pede pão a seu pai terrestre. Deus nos concederá toda bênção de que necessitamos, uma vez que Lhe peçamos em simplicidade e fé. T5 201 2 As orações feitas por pastores antes de seus sermões, são muitas vezes longas e inadequadas. Abrangem toda uma série de necessidades que não têm relação com o momento ou com as carências do povo. Tais orações são apropriadas para nosso aposento particular, não para serem feitas em público. Os ouvintes ficam fatigados, e anseiam que o pastor pare. Irmãos, arrebatem consigo o povo em suas orações. Vão com fé ao Salvador, digam-Lhe do que necessitam nessa ocasião. Deixem que a alma se dilate buscando a Deus com intenso anelo quanto à bênção necessária na ocasião. T5 201 3 A oração é o mais santo exercício da alma. Deve ser sincera, humilde, fervorosa -- os desejos de um coração renovado, expressos na presença de um Deus santo. Quando o suplicante sente achar-se na presença divina, o próprio eu será perdido de vista. Ele não terá desejos de exibir talento humano; não procurará agradar o ouvido dos homens, mas obter a bênção intensamente ambicionada pela alma. T5 202 1 Se tão-somente nos apegássemos à Palavra do Senhor, quantas bênçãos poderiam pertencer-nos! Quem dera que houvesse mais oração fervente, eficaz! Cristo será o ajudador de todos quantos O buscam com fé. ------------------------Capítulo 22 -- Chamado aos obreiros T5 202 2 Um espírito mundano e egocêntrico está privando a igreja de muitas bênçãos. Não temos qualquer direito de supor que tem havido uma retenção arbitrária da divina luz e poder, para explicar a limitada utilidade da igreja. A medida do sucesso que no passado acompanhou os bem dirigidos esforços, contradiz tal idéia. O êxito nem sempre é proporcional ao esforço realizado. É tão-somente a limitação dos trabalhos e sacrifícios que restringe a utilidade da igreja. O espírito missionário é débil; a devoção é fraca. Egoísmo, cobiça e fraude existem em seus membros. T5 202 3 Porventura não Se importará Deus com essas coisas? Não pode Ele ler os intentos e propósitos do coração? Diligente, fervente e contrita oração abrir-lhes-iam as janelas do Céu e derramariam chuveiros de graça. Uma clara e constante visão da cruz de Cristo frustraria seu mundanismo, e encheria seu coração de humildade, penitência e gratidão. Então, sentiriam eles que não são de si mesmos, mas que são aquisição do sangue de Cristo. T5 202 4 Uma fatal moléstia espiritual ataca a igreja. Seus membros foram feridos por Satanás, mas eles não contemplam a cruz de Cristo, como os israelitas olharam para a serpente de bronze para poderem viver. O mundo lhes faz tantas exigências que eles não têm tempo suficiente para contemplar a cruz do Calvário, e ver sua glória ou sentir-lhe o poder. Quando, vez por outra, apanham um vislumbre da abnegação e consagração que a verdade exige, indispõem-se e voltam sua atenção em outra direção, para que possam rapidamente esquecê-lo. O Senhor não pode tornar Seu povo útil e eficiente enquanto não forem cuidadosos em atender às condições que Ele estabeleceu. T5 203 1 Altas exigências são feitas em toda parte pela luz que Deus concedeu a Seu povo, mas esses chamados são, para a maioria, feitos em vão. Quem sente o peso de se consagrar a Deus e à Sua obra? Onde estão os jovens que se qualificaram para responder a esses chamados? Vastos territórios estão abertos diante de nós, onde a luz da verdade nunca penetrou. Para onde olhamos vemos ricos campos prontos para serem colhidos, mas não há pessoas para fazer a colheita. Orações são feitas em favor do triunfo da verdade. O que significam suas orações, irmãos? Que tipo de sucesso vocês desejam? Um que se adapte à sua indolência e condescendência egoísta? Um êxito que se sustente e se garanta sem qualquer esforço de sua parte? T5 203 2 Precisa haver decidida mudança na igreja, a qual perturbará aqueles que preferem acomodar-se, de preferência a serem obreiros preparados e enviados ao campo para cumprirem sua solene obra. Deve haver um despertamento, uma renovação espiritual. A temperatura da piedade cristã precisa elevar-se. Devem ser feitos e executados planos para a propagação da verdade em todas as nações da Terra. Satanás está embalando ao sono os professos seguidores de Cristo, enquanto pessoas estão perecendo a seu redor. Que desculpa podem apresentar ao Mestre por sua negligência? T5 203 3 As palavras de Cristo são aplicáveis à igreja: "Por que estais ociosos todo o dia?" Mateus 20:6. Por que vocês não estão trabalhando em alguma área de Sua vinha? Novamente Ele ordena: "Ide vós também para a vinha e recebereis o que for justo." Mateus 20:7. Mas Seu gracioso chamado celestial tem sido desrespeitado pela grande maioria. Já não é alto tempo de vocês obedecerem às ordens de Deus? Há trabalho para cada indivíduo que profere o nome de Cristo. Uma voz do Céu os chama solenemente ao dever. Dêem ouvidos a essa voz, e vão imediatamente trabalhar em qualquer lugar, em qualquer serviço. Por que estão o dia todo ociosos? Há trabalho para fazer, uma obra que requer as melhores energias. Todo precioso momento da vida se acha relacionado com algum dever pelo qual são devedores a Deus ou ao semelhante, e no entanto vocês estão ociosos! T5 204 1 Uma grande obra de salvação está ainda por fazer. Todos os anjos no Céu se acham empenhados nessa obra, ao mesmo tempo que todos os demônios nas trevas estão se opondo a ela. Cristo nos demonstrou o grande valor de uma pessoa, no fato de ter vindo ao mundo trazendo no coração o acumulado amor da eternidade, oferecendo tornar o homem herdeiro de todas as Suas riquezas. Desvenda-nos o amor do Pai pela humanidade culpada e apresenta-O como justo e justificador daquele que crê. T5 204 2 Cristo não procurou agradar a Si mesmo. Nada fez Ele em Seu favor; Sua obra era em prol do homem caído. O egoísmo ficava humilhado em Sua presença. Ele assumiu a natureza humana para que pudesse sofrer em nosso lugar. Egoísmo, o pecado do mundo, tornou-se o pecado prevalecente na igreja. Ao sacrificar-Se pelo bem do homem, Cristo golpeou a raiz de todo egoísmo. Ele nada reteve, nem mesmo Sua própria honra e glória celestiais. Jesus espera abnegação e sacrifício correspondente por parte daqueles a quem veio abençoar e salvar. De cada um é requerido trabalhar para o aumento de sua habilidade. Cada consideração mundana deveria ser posta de lado para a glória de Deus. O único desejo por vantagens mundanas deveria ser que pudéssemos fazer avançar melhor a causa de Deus. T5 204 3 Os interesses de Cristo e de Seus seguidores deveriam ser únicos, assim o mundo concluiria que eles foram separados e distintos; em vez disso, aqueles que reivindicam ser de Cristo perseguem seus próprios fins tão zelosamente e gastam seus bens de forma tão egoísta como os de fora. A prosperidade secular vem primeiro, nada se lhe pode equiparar. A causa de Cristo precisa esperar até que acumulem certa quantia para si mesmos. Eles tem de aumentar seus ganhos a todo custo. As pessoas devem perecer sem o conhecimento da verdade. De quanto valor é uma pessoa por quem Cristo morreu, em comparação com seus lucros, comércio, casas e terras? As pessoas precisam continuar esperando até que eles se preparem para fazer algo. Deus convoca esses servidores de Mamom, preguiçosos e infiéis servos, porém Mamom gaba-se deles como estando entre seus mais diligentes e dedicados servos. Estão sacrificando os bens de seu Senhor para seu conforto e prazer. O eu é seu ídolo. T5 205 1 Nada fazem para trazer pessoas a Jesus, que sacrificou tudo para que a salvação viesse ao nosso alcance. O egoísmo está levando a beneficência e o amor de Cristo para fora da igreja. Milhões pertencentes ao Senhor são esbanjados na satisfação das concupiscências, enquanto Seu tesouro é esvaziado. Não sei como apresentar esse assunto a vocês, da maneira como me foi mostrado. Milhares de dólares são gastos cada ano para atender ao orgulho do vestuário. Esses meios deveriam ser usados em nossas missões. Foram-me mostradas famílias que carregam suas mesas com quase todo o tipo de ostentação e atendem a quase cada desejo por roupas finas. Seus membros estão envolvidos em negócios prósperos ou auferindo bons salários, mas quase todo o dinheiro é gasto consigo mesmos ou com outros familiares. Essa é, porventura, uma imitação de Cristo? Que peso sentem eles para cuidadosamente economizar meios e negar as próprias inclinações, a fim de fazerem mais pelo avançamento da obra de Deus na Terra? Se o Pr. Andrews recebesse os benefícios de parte desses meios desnecessariamente gastos; esses lhe seriam uma grande bênção que prolongaria sua vida. A obra missionária poderia aumentar cem vezes mais se houvesse meios para empregar em grandes planos. Porém, os recursos que Deus designou fossem usados para esse propósito são despendidos em artigos tidos como necessários ao conforto e felicidade, os quais não seria ilícito possuir se não houvesse grande carência na divulgação da verdade. Muitos de vocês, meus irmãos, estão buscando aquilo que é seu e não as coisas que são de Cristo. T5 206 1 Supondo que Cristo habitasse em cada coração e que o egoísmo em todas as suas formas fosse banido da igreja, qual seria o resultado? Harmonia, unidade e amor fraternal seriam vistos tão verdadeiramente como na igreja que Cristo primeiramente estabeleceu. A ação cristã seria notada em toda parte. Toda a igreja seria inflamada com a chama do sacrifício para a glória de Deus. Cada cristão lançaria o fruto de sua abnegação para ser consumido sobre o altar. Haveria muito maior diligência para criar novos métodos de utilidade, e para estudar como se aproximar dos pobres pecadores para salvá-los da ruína eterna. T5 206 2 Caso nos vestíssemos com trajes simples, modestos, sem atenção às últimas modas; caso nossa mesa fosse em todo tempo provida com alimentos simples e saudável, evitando-se todos os luxos, toda extravagância; caso construíssemos nossa casa com apropriada singeleza, e da mesma maneira fosse ela mobiliada, isto mostraria o santificador poder da verdade, e exerceria notável influência sobre os incrédulos. Mas enquanto nos conformamos com os mundanos nessas coisas, parece que procurando às vezes até mesmo excedê-los em fantasiosos arranjos, a pregação da verdade não terá senão pouco ou nenhum efeito. Quem acreditará na solene verdade para este tempo, quando os que já professam nela crer contradizem pelas obras sua fé? Não foi Deus que nos fechou as janelas do Céu, mas nossa própria conformidade com os costumes e práticas do mundo. T5 206 3 O terceiro anjo de Apocalipse 14 é representado como voando velozmente pelo meio do céu e clamando: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Ali é mostrada a verdadeira natureza da obra do povo de Deus. Eles possuem uma mensagem de tão grande importância, que são vistos como voando em sua apresentação ao mundo. Têm nas mãos o Pão da vida para um mundo faminto. O amor de Cristo os constrange. Essa é a última mensagem. Não se lhe segue nada mais; não mais convites de misericórdia a serem dados após essa mensagem ter feito sua obra. Que fé! Que responsabilidade repousa sobre todos, a fim de levarem as palavras do gracioso convite! "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. T5 207 1 Quem ouve diga vem. Não apenas os pastores como também o povo. Todos devem unir-se no convite. Não somente por sua profissão, como também em seu caráter e vestuário, todos precisam exercer vitoriosa influência. Todos são provedores do mundo, executores da vontade de Alguém que tem legado sagradas verdades aos homens. Gostaria que todos pudessem sentir a dignidade e a glória do legado a eles dado por Deus. ------------------------Capítulo 23 -- O selo de Deus T5 207 2 "Então me gritou aos ouvidos com grande voz, dizendo: Fazei chegar os intendentes da cidade, cada um com as suas armas destruidoras na mão." T5 207 3 "E clamou ao homem vestido de linho, que tinha o tinteiro de escrivão à sua cinta. E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela. E aos outros disse, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, mancebos, e virgens, e meninos, e mulheres, até exterminá-los; mas a todo o homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo Meu santuário. E começaram pelos homens mais velhos que estavam diante da casa." Ezequiel 9:1, 3-6. T5 207 4 Jesus está prestes a deixar o propiciatório do santuário celestial, a fim de usar vestes de vingança, e derramar Sua ira em juízo sobre aqueles que não corresponderam à luz que Deus lhes deu. "Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal." Eclesiastes 8:11. Em vez de se sensibilizarem pela paciência e longanimidade que o Senhor tem exercido para com eles, os que não temem a Deus nem amam a verdade, fortalecem o coração no mau caminho. Há, porém, limites até para a longanimidade de Deus, e muitos estão ultrapassando tais limites. Sobrepujaram os limites da graça, e portanto Deus deve intervir e reivindicar Sua honra. T5 208 1 Disse o Senhor acerca dos amorreus: "E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia." Gênesis 15:16. Posto que essa nação se salientasse por sua idolatria e corrupção, não havia contudo enchido a taça de sua iniqüidade, e Deus não queria dar a ordem para sua destruição completa. O povo deveria ver o poder divino manifestado de maneira destacada, para que ficasse sem desculpa. O compassivo Criador desejava suportar-lhes a iniqüidade até à quarta geração. Então, se não se visse mudança para melhor, Seus juízos cairiam sobre eles. T5 208 2 Com infalível precisão, o Ser infinito ainda mantém, por assim dizer, uma conta com todas as nações. Enquanto Sua misericórdia se oferece com convites ao arrependimento, essa conta permanecerá aberta; quando, porém, os algarismos atingem um certo total que Deus fixou, começa o ministério de Sua ira. Encerra-se a conta. Cessa a paciência divina. Não mais há intercessão de misericórdia. T5 208 3 O profeta, olhando através dos séculos, teve uma revelação a respeito desse tempo. As nações da atualidade têm recebido misericórdias inéditas. As mais escolhidas bênçãos de Deus lhes foram concedidas, mas ao seu débito se acham registrados crescente orgulho, cobiça, idolatria, menosprezo de Deus e vil ingratidão. Estão a passos rápidos encerrando sua conta com Deus. T5 209 1 Mas o que me faz tremer é o fato de que aqueles que têm recebido maior luz e privilégios tornaram-se contaminados pela iniqüidade que prevalece. Influenciados pelos injustos que os cercam, muitos dos que professam a verdade se tornaram frios e são levados ao sabor das fortes correntes do mal. O geral escárnio lançado contra a verdadeira piedade e santidade, leva os que não se acham intimamente ligados a Deus a perder a reverência por Sua lei. Se seguissem a luz e de coração obedecessem à verdade, essa santa lei lhes pareceria até mais preciosa quanto mais é desprezada e rejeitada. Ao tornar-se mais claro o desrespeito à lei de Deus, torna-se mais distinta a linha de demarcação entre seus observadores e o mundo. O amor aos preceitos divinos aumenta da parte de algumas pessoas, ao mesmo tempo que aumenta o desprezo por parte de outras pessoas. T5 209 2 A crise está se aproximando rapidamente. Os acontecimentos rapidamente se intensificam demonstrando que o tempo do castigo divino se aproxima. Conquanto Lhe repugne punir, não obstante castigará, e rapidamente. Aqueles que andam na luz verão sinais do perigo que se aproxima; mas não deverão sentar-se em silenciosa e despreocupada expectativa de ruína, conformando-se com a crença de que Deus abrigará Seu povo no dia da ira. Longe disso, deverão compreender que é seu dever trabalhar diligentemente para salvar outros, esperando, com grande fé, auxílio da parte de Deus. "A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." Tiago 5:16. T5 209 3 O fermento da piedade não perdeu inteiramente seu poder. Na ocasião em que o perigo e a crise da igreja crescem, o grupo que permanece na luz estará suspirando e clamando por causa das abominações cometidas na Terra. Mais especialmente, porém, suas orações subirão em favor da igreja porque seus membros estão agindo segundo a maneira do mundo. T5 210 1 As fervorosas orações desses poucos fiéis não serão em vão. Quando vier o Senhor para exercer vingança, virá também como protetor de todos os que conservaram pureza de fé e se guardaram incontaminados do mundo. É nessa ocasião que Deus prometeu vingar Seus escolhidos, que a Ele clamam de dia e de noite, embora Ele Se demore em defendê-los. T5 210 2 A ordem é: "Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela." Ezequiel 9:4. Esses que suspiram e gemem haviam estado a pregar as palavras da vida; haviam reprovado, aconselhado e suplicado. Alguns dos que estavam desonrando a Deus, arrependeram-se e humilharam o coração diante dEle. Mas a glória do Senhor apartara-se de Israel; se bem que muitos ainda mantivessem os aspectos formais da religião, faltava Seu poder e Sua presença. T5 210 3 Ao tempo em que Sua ira se manifestar em juízos, esses humildes e devotados seguidores de Cristo se distinguirão do resto do mundo pela angústia de sua alma, a qual se exprime em lamentos e pranto, reprovações e advertências. Ao passo que outros procuram lançar uma capa sobre o mal existente, e desculpam a grande impiedade reinante em toda parte, os que têm zelo pela honra de Deus e amor às pessoas, não se calarão a fim de conseguir o favor de ninguém. Seu espírito justo aflige-se dia a dia pelas obras e costumes profanos dos ímpios. São impotentes para deter a impetuosa torrente da iniqüidade, e assim se enchem de dor e sobressalto. Lamentam diante de Deus o verem a religião desprezada nos próprios lares daqueles que receberam grande luz. Lamentam-se e afligem o espírito porque se encontram na igreja orgulho, avareza, egoísmo e engano quase de toda espécie. O Espírito de Deus, que impulsiona a aceitar a reprovação, é espezinhado, ao passo que os servos de Satanás triunfam. Deus é desonrado, a verdade tornada de nenhum efeito. T5 211 1 A classe que não se entristece por seu próprio declínio espiritual, nem chora sobre os pecados dos outros, será deixada sem o selo de Deus. O Senhor comissiona Seus mensageiros, os homens que têm armas destruidoras nas mãos: "Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho, nem vos compadeçais. Matai velhos, jovens, e virgens, e meninos, e mulheres, até exterminá-los; mas a todo homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo Meu santuário. E começaram pelos homens mais velhos que estavam diante da casa." Ezequiel 9:5, 6. T5 211 2 Vemos aí que a igreja -- o santuário do Senhor -- foi a primeira a sentir o golpe da ira de Deus. Os anciãos, aqueles a quem Deus dera grande luz, e que haviam ocupado o lugar de depositários dos interesses espirituais do povo, haviam traído o seu depósito. Colocaram-se no ponto de vista de que não precisamos esperar milagres e as assinaladas manifestações do poder de Deus, como nos dias da antigüidade. Os tempos mudaram. Estas palavras fortaleceram-lhes a incredulidade, e dizem: O Senhor não fará bem nem mal. É demasiado misericordioso para visitar Seu povo em juízos. Assim, paz e segurança é o grito de pessoas que nunca mais erguerão a voz como trombeta para mostrar ao povo de Deus suas transgressões, e à casa de Jacó os seus pecados. Esses cães mudos, que não querem ladrar, são aqueles que sentirão a justa vingança de um Deus ofendido. Adultos, jovens e crianças, todos perecerão juntos. T5 211 3 As abominações pelas quais os fiéis suspiravam e gemiam era tudo quanto podia ser discernido por olhos finitos, mas os pecados incomparavelmente piores, os que provocavam o zelo de um Deus puro e santo, achavam-se encobertos. O grande Esquadrinhador dos corações sabe de todo pecado cometido secretamente pelos obreiros da iniqüidade. Essas pessoas chegam a sentir-se seguras em seus enganos e, por causa da longanimidade divina, dizem que o Senhor não vê, e depois procedem como se Ele houvesse abandonado a Terra. Ele, porém, irá expor a hipocrisia e revelar perante outros os pecados que ocultavam com tanto cuidado. T5 212 1 Nenhuma superioridade de classe, dignidade ou sabedoria humana, nenhuma posição no serviço sagrado, guardará os homens de sacrificar o princípio quando abandonados a seu próprio, enganoso coração. Aqueles que têm sido considerados como dignos e justos, demonstram-se cabeças de facção na apostasia, e exemplos na indiferença e no abuso das misericórdias de Deus. Ele não tolerará por mais tempo seu ímpio procedimento, e em Sua ira, os tratará sem misericórdia. T5 212 2 É com relutância que o Senhor retira Sua presença daqueles que foram abençoados com grande luz e experimentaram o poder da Palavra em ministrar aos outros. Foram antes servos fiéis, favorecidos com Sua presença e guia; mas dEle se apartaram e induziram outros ao erro, e caíram, portanto, no desagrado divino. T5 212 3 O dia da vingança de Deus está precisamente diante de nós. O selo de Deus será colocado somente na testa daqueles que suspiram e clamam por causa das abominações cometidas na Terra. Aqueles que se ligam ao mundo por laços de simpatia, estão comendo e bebendo com os ébrios e certamente serão destruídos com os que praticam a iniqüidade. "Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os Seus ouvidos atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males." 1 Pedro 3:12. T5 212 4 Nossa maneira de proceder determinará se receberemos o selo do Deus vivo, ou seremos abatidos pelas armas destruidoras. Já algumas gotas da ira de Deus caíram sobre a Terra; quando, porém, as sete últimas pragas forem derramadas sem mistura no cálice de Sua indignação, então para sempre será demasiado tarde para o arrependimento e procura de um abrigo. Nenhum sangue expiatório lavará então as manchas do pecado. T5 212 5 "E naquele tempo Se levantará Miguel, o grande príncipe, que Se levanta pelos filhos de Teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o Teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro." Daniel 12:1. Quando vier este tempo de angústia, todo caso estará decidido; não mais haverá graça, nem misericórdia para o impenitente. O selo do Deus vivo estará sobre o Seu povo. Esses poucos remanescentes, incapazes de se defenderem no conflito mortal com os poderes da Terra, arregimentados pelas forças do dragão, fazem de Deus a sua defesa. Pela mais elevada autoridade terrestre foi feito o decreto para que, sob pena de perseguição e morte, adorem a besta e recebam seu sinal. Queira Deus auxiliar Seu povo agora, pois sem Sua assistência, que poderão eles fazer naquele tempo, em tão terrível conflito? T5 213 1 Ânimo, fortaleza, fé e implícita confiança no poder de Deus para salvar, não nos vêm num instante. Essas graças celestiais são adquiridas pela experiência dos anos. Por uma vida de santo esforço e firme apego à retidão, os filhos de Deus estiveram selando o seu destino. Assediados de inúmeras tentações, souberam que deveriam resistir firmemente ou ser vencidos. Compreenderam que tinham uma grande obra para fazer, e em qualquer momento poderiam ser chamados a depor sua armadura; e se chegassem ao final de sua vida com seu trabalho inacabado, isso significaria perda eterna. Aceitaram avidamente a luz do Céu, como fizeram os primeiros discípulos, dos lábios de Jesus. Quando estes primitivos cristãos foram exilados para as montanhas e desertos; quando abandonados em masmorras para morrer de fome, de frio, ou pela tortura; quando o martírio parecia ser o único caminho para saírem de sua angústia, regozijaram-se de que fossem considerados dignos de sofrer por amor de Cristo, que por eles foi crucificado. O digno exemplo deles será um conforto e animação para o povo de Deus, que passará por um tempo de angústia tal como nunca houve. T5 213 2 Nem todos os que professam guardar o sábado serão selados. Muitos há, mesmo entre os que ensinam a verdade a outros, que não receberão na testa o selo de Deus. Tinham a luz da verdade, souberam a vontade de seu Mestre, compreenderam todos os pontos de nossa fé, mas não tiveram as obras correspondentes. Aqueles que estiveram tão familiarizados com as profecias e com os tesouros da sabedoria divina, deveriam ter agido de conformidade com sua fé. Deveriam ter dirigido sua casa segundo os mesmos princípios, para que por meio de uma família bem ordenada pudessem apresentar ao mundo a influência da verdade no coração humano. T5 214 1 Por sua falta de consagração e piedade, e por deixarem de alcançar uma norma religiosa elevada, levam outros a contentarem-se com sua posição. Homens de juízo finito não podem ver que, imitando esses homens que tantas vezes lhes abriram os tesouros da Palavra de Deus, certamente hão de pôr em perigo sua salvação. Jesus é o único modelo verdadeiro. Cada qual tem de agora estudar a Bíblia por si mesmo, de joelhos perante Deus, com o coração humilde e dócil de uma criança, se quiser saber o que é que o Senhor dele requer. Por muito alto que qualquer pastor tenha estado no favor de Deus, se negligenciar seguir a luz que lhe é dada por Deus, se se recusar a ser ensinado como uma criancinha, entrará em trevas e enganos satânicos, e levará outros para o mesmo caminho. T5 214 2 Nenhum de nós jamais receberá o selo de Deus, enquanto o caráter tiver uma nódoa ou mácula sequer. Cumpre-nos remediar os defeitos de caráter, purificar de toda a contaminação o templo da alma. Então a chuva serôdia cairá sobre nós, como caiu a temporã sobre os discípulos no dia de Pentecostes. T5 214 3 Satisfazemo-nos muito facilmente com nossas realizações. Sentimo-nos ricos e acrescidos de bens, e não sabemos que somos desgraçados, miseráveis, pobres, cegos e nus. Apocalipse 3:17. Hoje é o tempo para atender-se à admoestação da Testemunha verdadeira: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:18. T5 215 1 Devemos nesta vida enfrentar terríveis provas e fazer grandes sacrifícios, mas a paz de Cristo é a recompensa. Tem havido tão pouca abnegação, tão pouco sofrimento por amor a Cristo, que a cruz é quase inteiramente esquecida. Devemos ser co-participantes de Cristo em Seus sofrimentos, se quisermos sentar-nos em triunfo com Ele em Seu trono. Enquanto preferirmos o caminho fácil da condescendência própria, e nos amedrontarmos com a abnegação, nunca se afirmará a nossa fé, e não poderemos conhecer a paz de Jesus nem a alegria que provêm do sentimento da vitória. Os mais exaltados daquela multidão de resgatados que estão em pé diante do trono de Deus e do Cordeiro, vestidos de branco, conhecem a luta necessária para vencer, pois vieram de grande tribulação. Aqueles que se renderam às circunstâncias em vez de empenhar-se neste conflito, não saberão como ficar em pé naquele dia em que haverá angústia em toda alma, e, ainda que Noé, Jó e Daniel estivessem na Terra, não poderiam salvar nem filho nem filha, pois cada um deve livrar sua alma por sua própria justiça. T5 215 2 Ninguém necessita dizer que não há esperança para o seu caso, e que não pode viver a vida de cristão. Mediante a morte de Cristo, amplas providências foram tomadas em favor de cada pessoa. Jesus é o nosso auxílio sempre presente em tempo de necessidade. Tão-somente O invoque com fé, e Ele prometeu ouvir e atender suas petições. T5 215 3 Sim, fé viva e eficaz! Dela necessitamos; devemos possuí-la, ou desfaleceremos e fracassaremos no dia da prova. As trevas que hão de cair em nosso caminho não deverão desanimar-nos nem levar-nos ao desespero. É o véu com que Deus cobre Sua glória, ao vir Ele para comunicar Suas ricas bênçãos. Deveríamos saber isso por nossa experiência passada. No dia em que Deus tiver uma contenda com o Seu povo, essa experiência será uma fonte de conforto e esperança. T5 215 4 É agora que devemos conservar-nos e a nossos filhos incontaminados do mundo. É agora que devemos lavar as vestes de nosso caráter, tornando-as alvas no sangue do Cordeiro. Agora é que devemos vencer o orgulho, as paixões, e a indolência espiritual. Agora é que devemos despertar e fazer decididos esforços para dar simetria ao nosso caráter. "Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração." Hebreus 4:7. Encontramo-nos em situação muitíssimo difícil, esperando e aguardando o aparecimento de nosso Senhor. O mundo está em trevas. "Mas vós, irmãos", diz Paulo, "já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão." 1 Tessalonicenses 5:4. Sempre foi propósito de Deus tirar das trevas luz, da tristeza alegria, do cansaço descanso, para serem fruídos pela alma expectante, anelante. T5 216 1 Que estão fazendo, irmãos, na grande obra de preparação? Os que se estão unindo com o mundo, estão-se amoldando ao modelo mundano, e preparando-se para o sinal da besta. Os que desconfiam do eu, que se humilham diante de Deus, e purificam a alma pela obediência à verdade, estão recebendo o molde divino, e preparando-se para receber na fronte o selo de Deus. Quando sair o decreto, e o selo for aplicado, seu caráter permanecerá puro e sem mácula para toda a eternidade. T5 216 2 Agora é o tempo de preparar-nos. O selo de Deus jamais será colocado à testa de um homem ou mulher impuros. Jamais será colocado à testa de um homem ou mulher cobiçosos ou amantes do mundo. Jamais será colocado à testa de homens ou mulheres de língua falsa ou coração enganoso. Todos os que recebem o selo devem ser imaculados diante de Deus -- candidatos para o Céu. Pesquisem as Escrituras por vocês mesmos, para que possam compreender a terrível solenidade do tempo presente. ------------------------Capítulo 24 -- Um apelo T5 217 1 Encho-me de tristeza quando penso em nossa condição como um povo. O Senhor não nos cerrou o Céu, mas nosso próprio procedimento de constante apostasia nos separou de Deus. O orgulho, a cobiça e o amor do mundo têm habitado no coração, sem temor de ser banidos ou condenados. Pecados graves e presunçosos têm habitado entre nós. E no entanto, a opinião geral é que a igreja está florescendo, e que paz e prosperidade espiritual se encontram em todas as suas fronteiras. A igreja deixou de seguir a Cristo, seu Guia, e está constantemente retrocedendo rumo do Egito. Todavia, poucos ficam alarmados ou atônitos com sua falta de poder espiritual. Dúvidas e mesmo descrença dos testemunhos do Espírito de Deus estão levedando nossas igrejas por toda parte. Satanás assim o deseja. Pastores que pregam o eu em lugar de Cristo, desejam que seja assim. Os testemunhos não são lidos e apreciados. Deus tem falado a vocês. Luz tem sido derramada de sua Palavra e dos testemunhos, e ambos têm sido desprezados e desobedecidos. O resultado aparece na falta de pureza, consagração e fervente fé entre nós. T5 217 2 Que cada um proponha estas questões em seu coração: "Como pude cair neste estado de fraqueza espiritual e dissensão? Tenho atraído sobre mim o desagrado divino por causa de minhas ações que não correspondem à fé que professo? Não estarei, porventura, buscando amizade e aplausos do mundo, antes que a presença de Cristo e um profundo conhecimento de Sua vontade?" Examine seu próprio coração, avalie sua conduta. Considere com quem se está associando. Está você buscando a companhia dos sábios ou desejando escolher companheiros mundanos que não temem a Deus nem obedecem ao evangelho? T5 218 1 São suas recreações de tal índole que promovam vigor espiritual e moral? Conduzem elas à pureza de pensamento e ação? A impureza acha-se hoje amplamente disseminada, mesmo entre os professos seguidores de Cristo. As paixões correm soltas; as propensões sensuais ganham força pela condescendência, enquanto as faculdades morais se tornam cada vez mais fracas. Muitos estão avidamente participando de prazeres mundanos, desmoralizantes, os quais a Palavra de Deus proíbe. Cortam assim sua ligação com Deus e se enfileiram entre os amantes dos prazeres do mundo. Os pecados que destruíram os antediluvianos e as cidades da planície prevalecem hoje -- não meramente em terras pagãs, não apenas entre os populares professos do cristianismo, mas mesmo entre os que afirmam estar aguardando a vinda do Filho do homem. Se Deus lhe apresentasse esses pecados como aparecem a Sua vista, você se encheria de vergonha e terror. T5 218 2 O que produziu essa alarmante condição? Muitos têm aceito a teoria da verdade mas não provaram real conversão. Sei do que estou falando. Há poucos que sentem verdadeira tristeza por seus pecados e que têm profundas e pungentes convicções sobre a depravação da natureza não regenerada do homem. O coração de pedra não foi trocado por um coração de carne. Poucos estão dispostos a cair sobre a Rocha e ser despedaçados. T5 218 3 Não importa quem são ou qual tem sido a sua vida, você só pode ser salvo da maneira designada por Deus. Deve arrepender-se; deve cair desvalido sobre a Rocha, Cristo Jesus. Deve sentir necessidade de um médico e do único remédio para o pecado, o sangue de Cristo. Esse remédio só pode ser obtido através de arrependimento para com Deus e fé para com o nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é uma obra que ainda deve ser iniciada em relação a muitos que professam ser cristãos e mesmo ministros de Cristo. Como os fariseus de antigamente, muitos não sentem necessidade de um Salvador. São auto-suficientes e presunçosos. Disse Jesus: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento." Lucas 5:32. O sangue de Cristo só será de proveito para os que sentem necessidade de seu poder purificador. T5 219 1 Que sublime amor e condescendência, que quando não tínhamos direito à misericórdia divina, Cristo esteve disposto a assegurar a nossa redenção! Mas nosso grande Médico requer submissão incondicional. Jamais devemos prescrever o remédio para nosso próprio caso. Cristo deve ter completo domínio sobre a vontade e as ações. T5 219 2 Muitos não são sensíveis à própria condição e perigo, e há muito na natureza e procedimento da obra de Cristo que é avesso a cada princípio mundano, e oposto ao orgulho do coração humano. Jesus requer de nós que nos entreguemos inteiramente em Suas mãos e confiemos em Seu amor e sabedoria. T5 219 3 Poderemos lisonjear-nos, assim como fez Nicodemos, de que nosso caráter moral tem sido correto e de que não precisamos humilhar-nos diante de Deus como o pecador comum. Temos, porém, de estar dispostos a entrar na vida do mesmo modo que o principal dos pecadores. Devemos renunciar a nossa própria justiça e suplicar que nos seja imputada a justiça de Cristo. Precisamos confiar inteiramente em Cristo no que diz respeito a nossa força. O próprio eu tem de morrer. Precisamos reconhecer que tudo o que temos provém das insuperáveis riquezas da graça divina. Seja esta a linguagem de nosso coração: "Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Teu nome dá glória, por amor da Tua benignidade e da Tua verdade." Salmos 115:1. T5 220 4 A fé genuína é seguida pelo amor, e o amor pela obediência. Todas as energias e paixões da pessoa convertida são postas sob o controle de Cristo. Seu Espírito é um poder renovador, transformando à imagem divina todos os que O receberem. Isso me leva a dizer que essa experiência é conhecida por poucos que professam a verdade. Muitos perseveram em seus próprios caminhos e condescendem com seus desejos pecaminosos, e ainda professam ser discípulos de Cristo. Esses não entregaram seu coração a Deus. Como as virgens néscias, negligenciaram ter o óleo da graça extra para usá-lo nas lâmpadas. Eu lhes digo, meus irmãos, que um grande número dos que professam crer e mesmo ensinar a verdade, estão sob a escravidão do pecado. Baixas paixões contaminam a mente e corrompem o coração. Alguns que vivem na mais vil iniqüidade tomaram emprestada a veste celestial, para poderem servir a Satanás mais efetivamente. T5 220 1 "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado." 1 João 3:9. Ele sente que é a aquisição do sangue de Cristo e que está comprometido pelos mais solenes votos a glorificar a Deus em seu corpo e em seu espírito, os quais pertencem a Deus. O amor ao pecado e ao eu estão nele subjugados. Ele diariamente pergunta: "Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito?" Salmos 116:12. "Senhor, que queres que faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. O verdadeiro cristão jamais se queixará de que o jugo de Cristo é torturante. Ele considera o serviço de Cristo como a mais autêntica liberdade. A lei de Deus é todo o seu prazer. Em vez de procurar rebaixar as ordens divinas, para estarem de acordo com as suas deficiências, ele se esforça constantemente por elevar-se ao nível de sua perfeição. T5 220 2 Tal deve ser a nossa experiência se queremos estar preparados para subsistir no dia de Deus. Agora, enquanto se prolonga o tempo da graça, enquanto ainda se ouve a voz da misericórdia, é o tempo de afastarmos os nossos pecados. Enquanto a escuridão moral cobre a Terra como um manto negro, a luz dos refletores de Deus deve brilhar com a maior intensidade, marcando o contraste entre a luz celestial e a as trevas de Satanás. T5 220 3 Deus tomou amplas providências para que possamos ser considerados perfeitos em Sua graça, não sendo faltosos em coisa alguma, aguardando o aparecimento de nosso Senhor. Está você pronto? Usando a veste nupcial? Essa vestimenta jamais cobrirá o engano, a impureza, a corrupção ou a hipocrisia. O olhar de Deus está sobre você, discernindo os pensamentos e propósitos do coração. Podemos encobrir nossos pecados aos olhos humanos, mas nada podemos ocultar de nosso Criador. T5 221 1 Deus não poupou a Seu próprio Filho, mas entregou-O à morte por nossas ofensas e ressuscitou-O para nossa justificação. Por meio de Cristo podemos apresentar nossas petições ao trono da graça. Por Seu intermédio, indignos como somos, podemos obter todas as bênçãos espirituais. Iremos a Ele para conseguir a vida? T5 221 2 Como conheceremos por nós mesmos a bondade de Deus e Seu amor? O salmista não nos diz: Ouvi, e conhecei, lede e sabei, ou crede e sabei. O que ele nos diz é: "Provai e vede que o Senhor é bom." Salmos 34:8. Em vez de confiar na palavra dos outros, prove-O por você mesmo. T5 221 3 Experiência é conhecimento derivado de experimentação. Experimentar a religião é o que é necessário agora. "Provai e vede que o Senhor é bom." Salmos 34:8. Alguns -- sim, grande número -- têm conhecimento teórico da verdade religiosa, mas jamais sentiram o poder renovador da graça divina no próprio coração. Essas pessoas são sempre tardias para ouvir os testemunhos de advertência, reprovação e instruções dadas pelo Espírito Santo. Crêem na ira de Deus, mas não fazem sérios esforços para evitá-la. Crêem no Céu, mas não fazem sacrifício para alcançá-lo. Crêem eles no valor da salvação, e que dentro em breve a redenção cessará para sempre. Todavia, negligenciam as mais preciosas oportunidades de fazer a paz com Deus. T5 221 4 Podem ler a Bíblia, mas suas ameaças não os alarmam, nem suas promessas os cativam. Aprovam as coisas excelentes, entretanto, seguem o caminho que Deus proibiu. Conhecem o refúgio, mas dele não fazem uso. Conhecem um remédio para o pecado, mas não o usam. Sabem o que é justo, mas não o apreciam. Todo o seu conhecimento só servirá para aumentar sua condenação. Jamais provaram e aprenderam por experiência própria que o Senhor é bom. T5 222 1 Tornar-se discípulo de Cristo é negar o próprio eu e seguir a Jesus tanto nas más como nas boas circunstâncias. Poucos estão fazendo isso no momento. Muitos profetizam falsidades e o povo gosta disso, mas, o que ocorrerá no final disso? Qual será o veredicto quando sua obra, com todos os resultados, for passada em revista diante de Deus? T5 222 2 A vida cristã é uma guerra. O apóstolo Paulo fala de uma luta contra os principados e potestades enquanto porfiava no bom combate da fé. Novamente ele declara: "Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado." Hebreus 12:4. Ah, não! Hoje o pecado é acariciado e desculpado. A afiada espada do Espírito, a Palavra de Deus, não cortou até a alma. Mudou, porventura, a religião? A inimizade de Satanás por Deus diminuiu? A vida religiosa antes apresentava dificuldades e demandava abnegação. Tudo é fácil agora. E por que isso? O professo povo de Deus comprometeu-se com os poderes das trevas. T5 222 3 Precisa haver um reavivamento do rigoroso testemunho. O caminho para o Céu não é mais plano agora do que nos dias de nosso Salvador. Todos os pecados devem ser afastados. Toda acarinhada condescendência que prejudica nossa vida religiosa precisa ser eliminada. O olho direito precisa ser sacrificado, ou a mão direita, se for a causa de ofensa. Estamos dispostos a renunciar à nossa própria sabedoria, e receber o reino do Céu como uma criancinha? Estamos dispostos a nos apartar da justiça própria? Estamos dispostos a abandonar nossos caros companheiros mundanos? Estamos dispostos a sacrificar a aprovação humana? O prêmio da vida eterna tem um valor infinito. Estamos dispostos a fazer os esforços e sacrifícios proporcionais ao valor do objetivo a ser alcançado? T5 222 4 Toda associação que formamos, embora restrita, exerce alguma influência sobre nós. A amplitude em que nos submetemos a essa influência será determinada pelo grau de intimidade, pela constância da comunicação e por nosso amor e respeito para com a pessoa com quem nos associamos. Assim, por meio de convivência e associação com Cristo podemos tornar-nos semelhantes a Ele, o Exemplo irrepreensível. T5 223 1 Comunhão com Cristo -- quão inexprimivelmente preciosa! É nosso privilégio desfrutar tal comunhão se a procurarmos, se fizermos qualquer sacrifício para obtê-la. Quando os primeiros discípulos ouviram as palavras de Cristo, sentiram necessidade dEle. Buscaram-nO, encontraram-nO e seguiram-nO. Estavam com Ele em casa, à mesa, no aposento e no campo. Estiveram com Ele como os alunos com seu professor, diariamente recebendo de Seus lábios lições da santa verdade. Observavam-nO como servos a seu Senhor, para aprender qual era o dever. Serviam-nO satisfeitos, alegremente. Seguiam-nO como soldados a seu comandante, combatendo o bom combate da fé. "... Os que estão com Ele, chamados, eleitos e fiéis." Apocalipse 17:14. T5 223 2 "Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:6. "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle." Romanos 8:9. Essa conformidade com Jesus não deixará de ser observada pelo mundo. É assunto notado e comentado. Pode o cristão não estar consciente da grande mudança, pois quanto mais de perto ele se assemelhar a Cristo no caráter, tanto mais humilde será sua opinião acerca de si mesmo; mas será vista e sentida por todos ao redor. Os que têm a mais profunda experiência nas coisas de Deus, são os que mais completamente estão isentos do orgulho ou exaltação própria. Têm os mais humildes pensamentos a respeito de si mesmos e os mais exaltados conceitos da glória e excelência de Cristo. Sentem que o mais humilde lugar em Seu serviço é honroso demais para eles. T5 223 3 Moisés não percebeu que sua face resplandecia com um brilho doloroso e aterrorizante para aqueles que não haviam, como ele, comungado com Deus. Paulo nutria uma opinião humilde de seu próprio progresso na vida cristã. Ele disse: "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito..." Filipenses 3:12. Falou de si mesmo como o "principal dos pecadores". Todavia, Paulo havia sido altamente honrado pelo Senhor. Fora ele levado, em santa visão, até o terceiro céu, e recebera revelações da glória divina que não lhe fora permitido tornar conhecidas. T5 224 1 João Batista foi chamado por nosso Salvador como o maior de todos os profetas. No entanto, que contraste entre a linguagem desse homem de Deus e a de muitos que professam ser ministros da cruz. Quando perguntado sobre se ele era o Cristo, João declarou-se indigno mesmo de desatar as sandálias de seu Mestre. Quando seus discípulos vieram reclamando que a atenção do povo estava se voltando para o novo Mestre, João lembrou-lhes aquilo que ele mesmo havia já declarado: ser apenas o precursor do Prometido. A Cristo, como Noivo, pertence o primeiro lugar nas afeições de Seu povo. "Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário que Ele cresça e que eu diminua. Aquele que vem de cima é sobre todos... Aquele que aceitou o Seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro." João 3:29-31, 33. T5 224 2 Esse tipo de obreiro é hoje necessário à causa de Deus. O auto-suficiente, o invejoso e ciumento, o crítico e o descobridor de faltas, bem podem ser dispensados dessa sagrada obra. Esses não deveriam ser tolerados no ministério, embora possam, aparentemente, ter feito algum bem. Deus não Se constrange por homens ou meios. Ele chama obreiros que são verdadeiros e fiéis, puros e santos; aqueles que sentem sua necessidade do sangue expiatório de Cristo e da santificadora graça de Seu Espírito. T5 224 3 Meus irmãos, Deus é ofendido por seus ciúmes e desconfianças, amarguras e brigas. Em todas essas coisas vocês estão prestando obediência a Satanás e não a Cristo. Quando vemos homens firmes nos princípios, sem medo do dever, zelosos na causa de Deus, todavia humildes e mansos, bondosos e ternos, pacientes com todos, prontos a perdoar e manifestando amor pelas pessoas por quem Cristo morreu, não necessitamos perguntar: "São eles cristãos?" Dão eles inequívoca evidência de que têm estado com Cristo e aprendido dEle. Quando os homens revelam traços opostos, quando são orgulhosos, presunçosos, frívolos, mundanos, avarentos, grosseiros e críticos, não precisamos que nos seja dito com quem eles estão associados, e quem é seu amigo íntimo. Podem não crer em feitiçarias, mas, apesar disso, estão tendo comunhão com espíritos maus. T5 225 1 A essa classe, eu gostaria de dizer: "Não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz." Tiago 3:14-18. T5 225 2 Quando os fariseus e saduceus afluíam ao batismo de João, esse destemido pregador da justiça assim se dirigia a eles: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento." Lucas 3:7, 8. Esses eram movidos por motivos inconfessáveis ao virem a João. Eram homens de princípios nocivos e práticas corruptas. Entretanto, não tinham noção de sua verdadeira condição. Cheios de orgulho e ambição, não hesitavam em exaltar-se e fortalecer sua influência sobre o povo, fossem quais fossem os meios. Vieram para receber o batismo das mãos de João para que pudessem melhor levar avante seus desígnios. T5 225 3 João leu seus motivos e enfrentou-os com a penetrante pergunta: "Quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?" Lucas 3:7. Houvessem eles ouvido a voz de Deus falando a seu coração, teriam dado evidência do fato produzindo frutos dignos de arrependimento. Mas, tais frutos não existiam. Ouviam a advertência como mera voz de homem. Estavam encantados com o poder e a coragem com que João falava, mas o Espírito de Deus não havia podido trazer convicção a seu coração e produzido fruto para a vida eterna. Eles não davam evidência de transformação do coração. João queria fazê-los entender que, sem o transformador poder do Espírito Santo, nenhuma cerimônia exterior poderia beneficiá-los. T5 226 1 A repreensão do profeta é aplicável a muitos em nossos dias. Eles não podem contradizer os claros e convincentes argumentos que sustentam a verdade, mas a aceitam mais como resultado do arrazoamento humano do que pela divina revelação. Não têm eles verdadeiro senso de sua condição como pecadores; não manifestam qualquer contrição real em seu coração, mas, como os fariseus, sentem que é uma grande concessão de sua parte aceitarem a verdade. T5 226 2 Ninguém está mais distanciado do reino do Céu do que os formalistas justos a seus próprios olhos, cheios de orgulho e realizações pessoais, totalmente destituídos do espírito de Cristo; embora inveja, ciúmes e amor ao aplauso e à popularidade os dominem. Eles pertencem à mesma classe daqueles a quem João se dirigiu chamando-os de raça de víboras, filhos do maligno. Tais pessoas se acham entre nós, despercebidas, insuspeitas. Elas servem à causa de Satanás mais efetivamente do que os mais vis e devassos, pois esses não disfarçam seu verdadeiro caráter; são o que são. T5 226 3 Deus requer frutos dignos de arrependimento. Sem eles, nossa profissão de fé é sem valor. O Senhor é capaz de suscitar verdadeiros crentes entre aqueles que nunca ouviram de Seu nome. "Não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão." Lucas 3:8. T5 226 4 Deus não depende de pessoas não convertidas de coração e vida. Ele nunca dará Seu favor a quem quer que seja que pratique a iniqüidade. "E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo." Lucas 3:9. T5 227 1 Os que enaltecem e bajulam o pastor, enquanto negligenciam as obras de justiça, dão inequívoca evidência de que estão convertidos ao pastor e não a Deus. Perguntamos: "Quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?" Lucas 3:7. Foi a voz do Espírito Santo ou meramente a do homem que vocês ouviram na mensagem enviada por Deus? O fruto testificará do verdadeiro caráter da árvore. T5 227 2 Nenhuma forma exterior pode tornar-nos puros; nenhuma ordenança administrada pelo mais santo dos homens pode tomar o lugar do batismo do Espírito Santo. O Espírito de Deus precisa fazer Sua obra no coração. Todos os que não experimentaram Seu poder regenerador são joio entre o trigo. Nosso Senhor está com a peneira na mão e limpará totalmente Sua eira. No dia final Ele fará diferença "entre o que serve a Deus e o que não O serve". Malaquias 3:18. T5 227 3 O espírito de Cristo será revelado em todos aqueles que nasceram de Deus. Rivalidades e contendas não podem ocorrer entre aqueles que são controlados por Seu Espírito. "Purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor." Isaías 52:11. A igreja dificilmente adotará padrão mais elevado do que aquele de seus pastores. Precisamos de um ministério convertido e de um povo convertido. Pastores que vigiam pelos salvos como quem deve deles dar conta, conduzirão o rebanho nos caminhos de paz e santidade. Seu sucesso nessa obra será proporcional ao próprio crescimento na graça e conhecimento da verdade. Quando os professores são santificados de corpo, alma e espírito, podem impressionar o povo com a importância de tal santificação. T5 227 4 Falar de assuntos religiosos de modo casual, orar por bênçãos espirituais sem verdadeira fome de alma e viva fé, pouco aproveita. A assombrada multidão que se comprimia junto a Cristo não compreendia o poder vital do contato. Mas quando a pobre e sofredora mulher, em sua grande necessidade, estendeu a mão e tocou a orla da veste de Cristo, sentiu Sua virtude curadora. Foi seu o toque da fé. Cristo o reconheceu e Se determinou a dar uma lição a todos os Seus seguidores até o final dos tempos. Percebera que dEle saíra virtude e, voltando-Se para a multidão, perguntou: "Quem tocou nas Minhas vestes?" Marcos 5:30. Surpreendidos com a pergunta de Jesus, os discípulos responderam: "Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou?" Marcos 5:31. T5 228 1 Jesus olhou para ela e a mulher encheu-se de temor. Sua alegria era imensa, mas será que havia se excedido? Sabendo o que ocorrera consigo, ela veio tremendo, prostrou-se a Seus pés e Lhe contou toda a verdade. Cristo não a reprovou. Gentilmente disse-lhe: "Vai em paz e sê curada deste teu mal." Marcos 5:34. T5 228 2 Aqui está a diferença do contato casual com o toque da fé. Oração e pregação, sem o exercício de uma viva fé em Deus, serão vãs. Mas o toque da fé nos abre o cofre do tesouro do poder e sabedoria. Assim, mediante instrumentos de barro, Deus realiza as maravilhas de Sua graça. T5 228 3 Essa fé viva é nossa grande necessidade hoje em dia. Precisamos conhecer que Jesus é realmente nosso; que Seu Espírito está purificando e refinando nosso coração. Se os ministros de Cristo tiverem fé genuína, em mansidão e amor, que obra poderão realizar! Que fruto seria produzido para a glória de Deus! T5 228 4 Que lhes poderei dizer, meus irmãos, que os desperte de sua segurança carnal? Têm-me sido mostrados seus perigos. Há na igreja tanto crentes como descrentes. Cristo apresenta essas duas classes em Sua parábola da videira e seus ramos. Exorta Ele a Seus seguidores: "Estai em Mim, e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em Mim, e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer." João 15:4, 5. T5 228 5 Há grande diferença entre uma suposta união e uma união verdadeira com Cristo, pela fé. O professar crer na verdade põe homens na igreja, mas isso não prova que tenham união vital com a Videira verdadeira. É-nos dada uma regra pela qual pode ser distinguido o verdadeiro discípulo dentre aqueles que alegam seguir a Cristo mas nEle não têm fé. Aqueles produzem fruto; estes são infrutíferos. Aqueles são muitas vezes sujeitos à podadeira de Deus, para que possam produzir mais fruto; estes, como ramos murchos, estão para ser cortados da Videira viva. T5 229 1 Estou profundamente desejosa de que nosso povo preserve o testemunho vivo; e que a igreja seja mantida isenta do elemento descrente. Poderemos imaginar uma relação mais íntima com Cristo do que a exposta nas palavras: "Eu sou a Videira, vós as varas?" João 15:5. As fibras dos ramos são quase idênticas às da videira. A comunicação da vida, força e frutificação, do tronco para os ramos, é constante e sem obstáculos. A raiz envia seu alimento através dos ramos. Tal é a verdadeira relação do crente para com Cristo. Permanece em Cristo, e dEle obtém sua nutrição. T5 229 2 Essa relação espiritual só pode ser estabelecida pelo exercício da fé pessoal. Essa fé deve expressar suprema preferência de nossa parte, perfeita confiança, inteira consagração. Nossa vontade tem de estar completamente submetida à vontade divina, nossos sentimentos, desejos, interesses e honra, identificados com a prosperidade do reino de Cristo e a honra de Sua causa, nós constantemente dEle recebendo graça, e Cristo aceitando nossa gratidão. T5 229 3 Estabelecida essa intimidade de relação e comunhão, nossos pecados são postos sobre Cristo e Sua justiça nos é imputada. Ele foi feito pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Por Ele temos acesso a Deus; somos aceitos no Amado. Todo aquele que, por palavra ou ato, prejudicar um crente, por esse modo fere a Jesus. Todo que der um copo de água fria a um discípulo por ser filho de Deus, será por Cristo considerado como Lho tendo dado a Ele. T5 230 1 Foi quando Cristo estava para Se despedir de Seus discípulos, que Ele lhes deu o lindo emblema de Sua relação com os crentes. Estivera a apresentar-lhes a íntima união com Ele, pela qual podiam manter a vida espiritual quando fosse afastada Sua presença visível. Para impressionar-lhes o espírito, apresentou-lhes a videira como seu símbolo mais notável e apropriado. T5 230 2 Os judeus tinham sempre considerado a videira a mais nobre das plantas, símbolo de tudo que era poderoso, excelente e frutífero. Era como se Jesus dissesse: "A videira, que tanto prezam, é um símbolo. Eu sou a realidade; Eu sou a Videira verdadeira. Como nação, dão importância à videira; como pecadores que são, deveriam valorizar-Me acima de todas as coisas terrenas. Não pode o ramo viver separado da videira; tampouco podem vocês viver a menos que permaneçam em Mim." T5 230 3 Todos os seguidores de Cristo terão profundo interesse nessa lição, como os discípulos que ouviram pessoalmente Suas palavras. Em sua apostasia, o homem alienou-se de Deus. A separação é profunda e terrível, mas Cristo fez provisão para religar-nos a Ele. O poder do mal está tão identificado com a natureza humana, que nenhum homem pode vencê-lo, exceto pela união com Cristo. Através dessa ligação recebemos poder moral e espiritual. Se temos o Espírito de Cristo produziremos o fruto da justiça, que abençoará os homens e glorificará a Deus. T5 230 4 O Pai é o Viticultor. Misericordiosa e habilmente Ele limpa cada ramo frutífero. Aqueles que compartilham dos sofrimentos e vitupério de Cristo agora, participarão de Sua glória no futuro. Cristo não Se envergonha de chamá-los irmãos. Seus anjos os atendem. Em Sua segunda vinda Ele aparecerá como o Filho do homem, identificando-Se, mesmo em Sua glória, com a humanidade. Aos que se unem a Ele, Cristo diz: "Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que, na palma das Minhas mãos, te tenho gravado; os teus muros estão continuamente perante Mim." Isaías 49:15, 16. T5 231 1 Oh, que excepcionais privilégios nos são oferecidos! Envidaremos nós os mais diligentes esforços para formar aliança com Cristo, através da qual somente essas bênçãos são concedidas? Apartar-nos-emos de nossos pecados pela justiça e de nossas iniqüidades, voltando-nos para o Senhor? Ceticismo e infidelidade estão disseminados. Cristo fez a pergunta: "Quando, porém, vier o Filho do homem, porventura, achará fé na Terra?" Lucas 18:8. Precisamos alimentar uma fé viva e ativa. A permanência da fé é a condição de nossa união. T5 231 2 A união com Cristo, por meio da fé viva, é duradoura; qualquer outra união está condenada a perecer. Cristo nos escolheu primeiro pagando por nossa redenção um preço infinito; e o verdadeiro crente escolhe a Cristo como primeiro, e último, e melhor de todas as coisas. Essa união porém, custa-nos alguma coisa. É uma união da mais íntima dependência, da qual deverá participar um ser orgulhoso. Todos os que a formam precisam sentir sua necessidade do sangue propiciador de Cristo. Precisam experimentar a mudança do coração. Precisam submeter sua própria vontade à vontade de Deus. Haverá luta contra obstáculos externos e internos. É preciso que haja doloroso trabalho de desligamento bem como de ligamento. O orgulho, o egoísmo, a vaidade, o mundanismo -- o pecado em todas as suas formas -- precisa ser vencido, se quisermos entrar em comunhão com Cristo. A razão por que muitos acham a vida cristã tão deploravelmente difícil, por que são tão inconstantes, tão volúveis, é que procuram ligar-se a Cristo sem primeiramente se desligarem de ídolos acariciados. T5 231 3 Depois de haver sido formada a união com Cristo, ela só pode ser conservada por meio de fervorosa oração e incansável esforço. Devemos resistir ao próprio eu, negá-lo, vencê-lo. Mediante a graça de Cristo, pela coragem, pela fé, pela vigilância, é-nos possível obter a vitória. T5 231 4 Os crentes tornam-se um em Cristo, mas um ramo não pode sustentar outro. A nutrição precisa ser obtida através de conexão vital com a Videira. Precisamos sentir nossa completa dependência de Cristo. Devemos viver pela fé no Filho de Deus. Esse é o significado da ordem "Habita em Mim". A vida que vivemos na carne não é pela vontade dos homens, nem para agradar aos inimigos de nosso Senhor, mas para servir e honrar Aquele que nos amou e a Si mesmo Se deu por nós. Um mero assentimento a essa união, enquanto as afeições não estão afastadas do mundo, de seus prazeres e dissipações, apenas estimula o coração no caminho da desobediência. T5 232 1 Como um povo, estamos tristemente destituídos de fé e amor. Nossos esforços são, de modo geral, muito débeis em vista do perigo que enfrentamos em nossos dias. O orgulho e o amor aos prazeres, a impiedade e iniqüidade pelas quais estamos cercados, exercem influência sobre nós. Poucos há que reconhecem a importância de evitar, quanto possível, todas as associações inimigas da vida religiosa. Ao escolher seu ambiente, poucos dão a sua prosperidade espiritual a primeira consideração. T5 232 2 Pais, com a família, afluem às cidades porque na sua fantasia pensam ser mais fácil ganhar o pão ali, do que no campo. Os filhos, não tendo nada que fazer quando não estão na escola, obtêm a educação da rua. Das más associações contraem hábitos de vício e dissipação. Os pais vêem tudo isso; mas requereria um sacrifício corrigir seu erro, e assim deixam-se ficar onde estão, até que Satanás ganhe controle completo sobre seus filhos. É melhor sacrificar toda e qualquer consideração mundana, do que pôr em perigo as preciosas vidas confiadas ao seu cuidado. Elas serão assediadas pelas tentações, e devem ser ensinadas a enfrentá-las; mas é seu dever cortar qualquer influência, romper com todo hábito, quebrar todo laço que impedir de, com a sua família, se entregarem a Deus de maneira mais franca, positiva e sincera. T5 232 3 Em lugar da cidade apinhada, busquem algum ambiente afastado onde seus filhos possam estar, tanto quanto possível, ao abrigo das tentações, e ali os preparem e os eduquem de modo a se tornarem úteis. O profeta Ezequiel assim enumera as causas que levaram ao pecado e destruição de Sodoma: "Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre e do necessitado." Ezequiel 16:49. Todos os que querem escapar da condenação de Sodoma, devem fugir do procedimento que trouxe os juízos de Deus sobre aquela ímpia cidade. T5 233 1 Meus irmãos, vocês desrespeitam as mais sagradas reivindicações de Deus, por sua negligência de se consagrarem a Ele, vocês e seus filhos. Muitos de vocês estão repousando em falsa segurança, absortos em interesses egoístas e atraídos por tesouros terrestres. Não temem mal algum. O perigo lhes parece muito remoto. Serão enganados, iludidos, para sua ruína eterna, a menos que despertem e com penitência e profunda humilhação se voltem ao Senhor. T5 233 2 Vez após outra, a voz do Céu tem se dirigido a vocês. Obedecerão a essa voz? Atenderão ao conselho da Testemunha Verdadeira, de buscar o ouro provado no fogo, as vestes brancas e o colírio? O ouro é fé e amor. As vestes brancas são a justiça de Cristo. O colírio é aquele discernimento espiritual que os habilitará a reconhecer as ciladas de Satanás e evitá-las, a detectar e abominar o pecado, a ver a verdade e obedecer-lhe. T5 233 3 A mortal letargia do mundo está paralisando seus sentidos. O pecado já não lhes parece repulsivo, porque vocês estão cegados por Satanás. Os juízos de Deus dentro em breve serão derramados sobre a Terra. "Escapa-te por tua vida" (Gênesis 19:17), eis a advertência dos anjos de Deus. Outras vozes se ouvem, dizendo: "Não os impressionem; não existe motivo para alarme especial." Os que, em Sião, se acham à vontade, clamam: "Paz e segurança!" (1 Tessalonicenses 5:3) enquanto o Céu declara que está para vir sobre os transgressores rápida destruição. Os jovens, os frívolos, os amantes de prazeres, consideram essas advertências como fábulas vãs, e lhes volvem costas com um gracejo. Os pais inclinam-se a pensar que seus filhos vão muito bem, e todos continuam em estado de sonolência. Assim foi ao ser destruído o mundo antigo, e quando Sodoma e Gomorra foram destruídas pelo fogo. Na véspera de sua destruição, as cidades da planície tumultuavam em prazeres. Ló foi ridicularizado por seus temores e advertências. Mas foram aqueles escarnecedores que pereceram nas chamas. Naquela mesma noite a porta da misericórdia foi para sempre cerrada para os ímpios descuidosos habitantes de Sodoma. T5 234 1 É Deus quem segura nas mãos o destino das pessoas. Ele não será escarnecido para sempre; não será para sempre desdenhado. Já os Seus juízos se manifestam na Terra. Ferozes e terríveis tempestades deixam destruição e morte em sua esteira. O fogo devorador nivela a desolada floresta e a cidade apinhada. Tempestade e naufrágio aguardam os que viajam no mar. Acidentes e calamidades ameaçam a todos os que viajam em terra. Furacões, terremotos, espada e fome, seguem em rápida sucessão. Contudo, o coração dos homens se acha endurecido. Não reconhecem a voz de advertência de Deus. Não fogem da tempestade que se aproxima para o único refúgio. T5 234 2 Muitos que foram colocados sobre os muros de Sião, para vigiar com vista de águia a aproximação do perigo e erguerem a voz de advertência, estão eles mesmos adormecidos. Os mesmos que deveriam ser os mais ativos e vigilantes nesta hora de perigo, estão negligenciando seu dever e trazendo sobre si mesmos a condenação dos perdidos. T5 234 3 Meus irmãos, acautelem-se contra um coração incrédulo e maligno. A Palavra de Deus é clara e minuciosa em suas restrições; ela se opõe à sua condescendência egoísta, por isso vocês não lhe obedecem. Os testemunhos de Seu Espírito chamam a atenção para as Escrituras, apontando-lhes seus defeitos de caráter e repreendendo seus pecados, por essa razão vocês não os ouvem. E, para justificar sua conduta carnal e amante de facilidades, vocês duvidam que os testemunhos provenham de Deus. Se os irmãos obedecessem a seus ensinos, estariam certos de sua origem divina. Lembrem-se: a incredulidade de vocês não afeta a sua autenticidade. Se eles são de Deus, permanecerão. Aqueles que buscam diminuir a fé do povo de Deus nesses testemunhos, que têm estado na igreja nesses últimos trinta e seis anos, estão lutando contra Deus. Não é ao instrumento a quem vocês menosprezam e insultam, mas a Deus, que lhes tem dado essas advertências e reprovações. T5 235 1 Na instrução dada por nosso Salvador a Seus discípulos, há palavras de admoestação que nos são especialmente aplicáveis: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. Vigiar, orar e trabalhar -- eis o que é verdadeira vida de fé. "Orai sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17), isto é, estar sempre em espírito de oração e então ficar sempre de prontidão para a vinda do Senhor. T5 235 2 Os vigias são responsáveis pela condição do povo. Enquanto vocês abrem a porta ao orgulho, à inveja, dúvida e outros pecados, haverá contenda, ódio e toda má obra. Jesus, o manso e humilde, pede entrada como seu convidado, mas vocês estão temerosos de mandá-Lo entrar. Ele nos tem falado através do Novo e do Antigo Testamentos e ainda nos fala por meio de Seu Espírito e providências. Suas instruções são designadas a tornar os homens leais para com Deus e para consigo mesmos. T5 235 3 Jesus tomou sobre Si a natureza humana, para que pudesse deixar um padrão completo e perfeito para a humanidade. Ele propõe tornar-nos semelhantes a Si mesmo, leais a todo propósito, sentimento e pensamento, retos de coração, espírito e vida. Isso é cristianismo. Nossa natureza decaída precisa ser purificada, enobrecida e consagrada pela obediência à verdade. A fé cristã nunca se harmonizará com os princípios mundanos; a integridade cristã é oposta a todo engano e pretexto. O homem que mais acalenta o amor de Cristo em seu coração, que reflete a imagem do Salvador mais perfeitamente, é, à vista de Deus, o mais nobre e mais honrado sobre a Terra. ------------------------Capítulo 25 -- Unidade cristã T5 236 1 "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer." 1 Coríntios 1:10. T5 236 2 A união é força; a divisão, fraqueza. Quando se acham unidos os que crêem na verdade presente, exercem poderosa influência. Satanás bem compreende isso. Nunca se achou mais determinado do que agora para tornar de nenhum efeito a verdade de Deus, causando amargura e dissensão entre o povo do Senhor. T5 236 3 O mundo é contra nós, as igrejas populares são contra nós, as leis da Terra em breve serão contra nós. Se já houve tempo em que o povo de Deus devesse unir-se, é agora esse tempo. Deus nos confiou as verdades especiais para este tempo, a fim de as tornar conhecidas ao mundo. A última mensagem de misericórdia está sendo proclamada agora. Estamos lidando com homens e mulheres que rumam ao juízo. Quão cuidadosos devemos ser em cada palavra e ato para seguir de perto o Modelo, a fim de que nosso exemplo leve homens a Cristo. Com que cuidado devemos procurar apresentar a verdade de tal modo que os outros, contemplando-lhe a beleza e simplicidade, sejam levados a recebê-la. Se nosso caráter testifica de seu poder santificador, seremos uma contínua luz aos outros -- epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos. Não podemos agora correr o risco de dar lugar a Satanás nutrindo desunião, discórdia e lutas. T5 236 4 A preocupação expressa na última oração de nosso Salvador pelos discípulos, antes de Sua crucifixão, foi que imperassem união e amor entre eles. Tendo ante Si a agonia da cruz, Sua solicitude não foi por Si mesmo, mas por aqueles que Ele deixaria a continuar Sua obra na Terra. As provas mais severas os aguardavam; mas Jesus viu que seu perigo maior proviria de um espírito de amargura e divisão. Daí orar Ele: T5 237 1 "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade. Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela Sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:17-21. T5 237 2 Essa oração de Jesus abrange todos os Seus seguidores, até ao fim do tempo. Nosso Salvador previa as provas e perigos de Seu povo; Ele não é indiferente às dissensões e divisões que perturbam e enfraquecem Sua igreja. Contempla-nos com mais profundo interesse e mais terna compaixão do que a do coração dos pais terrestres para com um filho transviado e aflito. Manda que aprendamos dEle. Convida-nos a nEle confiarmos. Ordena-nos que abramos o coração para acolher o Seu amor. Deu-Se em penhor, para nos ajudar. T5 237 3 Quando Cristo ascendeu ao Céu, deixou a obra na Terra aos cuidados de Seus servos, os subpastores: "Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:11-13. T5 237 4 Ao enviar os Seus pastores, nosso Salvador deu dons aos homens, pois por meio deles Ele comunica ao mundo as palavras da vida eterna. Este é o meio ordenado por Deus para o aperfeiçoamento dos santos em conhecimento e verdadeira santidade. A obra dos servos de Cristo não é meramente pregar a verdade; devem vigiar pelas almas, como os que têm que dar contas a Deus. Devem redargüir, repreender, exortar, com toda a longanimidade e doutrina. T5 238 1 Todos os que foram beneficiados pelos trabalhos do servo de Deus, devem, segundo sua habilidade, unir-se-lhe no trabalho pela salvação das pessoas. Essa é a obra de todos os verdadeiros crentes, pastores e povo. Devem conservar sempre em mente o grande objetivo, buscando cada qual preencher sua devida posição na igreja, e todos trabalhando conjuntamente em ordem, harmonia e amor. T5 238 2 Nada existe de egoísta ou estreito na religião de Cristo. Seus princípios são difusivos e progressivos. Ela é por Cristo representada como a luz brilhante, como o sal que conserva, como o fermento que transforma. Com zelo, fervor e devoção, os servos de Deus procurarão propagar perto e longe o conhecimento da verdade; contudo, não negligenciarão o empenho pelo fortalecimento e unidade da igreja. Vigiarão cuidadosamente a fim de que não seja dada oportunidade para se introduzirem diversidade e divisão. T5 238 3 Têm ultimamente surgido entre nós homens que professam ser servos de Cristo, mas cuja obra se opõe àquela unidade que nosso Senhor estabeleceu na igreja. Têm métodos e planos de trabalho originais. Desejam introduzir mudanças na igreja, segundo suas idéias de progresso, e imaginam que desse modo se obtenham grandes resultados. Esses homens precisam ser discípulos em vez de mestres na escola de Cristo. Estão sempre desassossegados, aspirando realizar alguma grande obra, fazer algo que lhes traga honra a si mesmos. Precisam aprender aquela mais proveitosa de todas as lições: a humildade e fé em Jesus. Alguns há que observam seus coobreiros, procurando ansiosamente mostrar os seus erros, quando deveriam, em vez disso, procurar fervorosamente preparar sua própria vida para o grande conflito que têm à frente. O Salvador lhes ordena: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas." Mateus 11:29. T5 239 4 Professores da verdade, missionários, oficiais da igreja, podem efetuar boa obra pelo Mestre, se tão-somente purificarem seu próprio coração pela obediência à verdade. Todo cristão vivo será um desinteressado obreiro para Deus. O Senhor nos deu o conhecimento de Sua vontade, a fim de que nos pudéssemos tornar condutos de luz aos outros. Se Cristo habitar em nós, não poderemos deixar de por Ele trabalhar. É impossível reter o favor de Deus e gozar a bênção do amor do Salvador, e ao mesmo tempo ser indiferente ao perigo dos que estão a perecer em seus pecados. "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto." João 15:8. T5 239 1 Paulo insta com os efésios para que preservem a unidade e o amor: "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos." Efésios 4:1-6. T5 239 2 O apóstolo exorta seus irmãos a manifestarem em sua vida o poder da verdade que ele lhes apresentara. Por sua mansidão e bondade, paciência e amor, deviam exemplificar o caráter de Cristo e as bênçãos de Sua salvação. Só há um corpo, e um Espírito, um Senhor, uma fé. Como membros do corpo de Cristo, todos os crentes são animados pelo mesmo espírito e a mesma esperança. Divisões na igreja desonram a religião de Cristo ante o mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar o seu procedimento. As instruções de Paulo não foram escritas apenas para a igreja de seus dias. Era desígnio de Deus que viessem até nós. Que estamos fazendo para preservar a unidade, nos laços da paz? T5 239 3 Quando o Espírito Santo foi derramado sobre a igreja primitiva, os irmãos amavam-se uns aos outros. "Comiam juntos com alegria e singeleza de coração. Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar." Atos dos Apóstolos 2:46, 47. Aqueles cristãos primitivos eram poucos em número, sem riquezas ou honras, mas exerciam poderosa influência. Deles irradiava a luz do mundo. Eram um terror aos malfeitores, onde quer que eram conhecidos seu caráter e doutrinas. Por isso eram odiados pelos ímpios e perseguidos até à morte. T5 240 1 A norma de santidade é hoje a mesma que nos dias dos apóstolos. Nem as promessas nem as reivindicações de Deus perderam coisa alguma de sua força. Mas qual é o estado do professo povo do Senhor, em comparação com a igreja primitiva? Onde está o Espírito e o poder de Deus que, naquele tempo, acompanhava a pregação do Evangelho? Ai, "como se escureceu o ouro! como se mudou o ouro fino e bom!" Lamentações 4:1. T5 240 2 O Senhor plantou Sua igreja como uma vinha em campo fértil. Com o mais terno cuidado Ele a cultivou, para que produzisse frutos de justiça. Sua linguagem é: "Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito?" Mas essa vinha, plantada por Deus, inclinou-se para a terra e prendeu suas gavinhas em volta de suportes humanos. Seus ramos se estendem por toda a parte, mas produz frutos de uma videira degenerada. O Senhor da vinha declara: "Esperando Eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas." Isaías 5:4. T5 240 3 O Senhor concedeu grandes bênçãos a Sua igreja. A justiça exige que ela devolva esses talentos com juros. Como aumentaram os tesouros da verdade confiados a sua guarda, aumentaram também suas obrigações. Mas em vez de desenvolver esses dons e avançar no rumo da perfeição, ela volveu atrás daquilo que alcançara em sua experiência anterior. A mudança em seu estado espiritual processou-se gradualmente, e quase imperceptivelmente. Ao começar a buscar o louvor e amizade do mundo, sua fé diminuiu, seu zelo acabou, sua fervorosa devoção cedeu lugar à formalidade morta. Cada passo rumo ao mundo foi um passo para mais longe de Deus. À medida que o orgulho e ambição mundana foram acariciados, afastou-se o espírito de Cristo e insinuaram-se rivalidade, dissensão e luta, para desviar e enfraquecer a igreja. T5 241 1 Escreve Paulo aos seus irmãos coríntios: "Ainda sois carnais. Pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?" 1 Coríntios 3:3. É impossível que espíritos perturbados pela inveja e luta, compreendam as profundas verdades espirituais da Palavra de Deus. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." 1 Coríntios 2:14. Não podemos compreender nem apreciar devidamente a revelação divina sem o auxílio daquele Espírito pelo qual foi dada a Palavra. T5 241 2 Os que são designados para guardar os interesses espirituais da igreja devem ser cuidadosos em dar o exemplo devido, não dando ocasião a invejas, ciúmes ou suspeitas, manifestando sempre aquele mesmo espírito de amor, respeito e cortesia que desejam incentivar em seus irmãos. Atenção diligente deve ser dada às instruções da Palavra de Deus. Seja contida toda manifestação de animosidade ou falta de bondade, seja removida toda raiz de amargura. Quando surgem dificuldades entre irmãos, deve ser seguida à risca a regra do Salvador. Todo esforço possível deve ser feito para conseguir a reconciliação, mas se as partes persistirem obstinadamente em continuar em divergência, devem ser suspensas até que possam harmonizar-se. T5 241 3 Ao ocorrerem dificuldades na igreja, examine cada membro o seu coração para ver se a causa da dificuldade não está nele. Pelo orgulho espiritual, o desejo de mandar, um ambicioso anelo de honras ou posição, falta de domínio próprio, condescendência com a paixão ou preconceito, pela instabilidade ou falta de discernimento, a igreja pode ser perturbada e sacrificada sua paz. T5 241 4 As dificuldades são muitas vezes causadas pelos passadores de diz-que-diz-ques, cujas insinuações e sugestões cochichadas envenenam espíritos confiados, e separam os amigos mais íntimos. Os promotores de desordens são apoiados em sua má obra pelos muitos que estão de ouvidos abertos e coração mau, dizendo: "Diga, e nós o espalharemos." Esse pecado não deve ser tolerado entre os seguidores de Cristo. Nenhum pai cristão deve permitir que boatos sem fundamento sejam repetidos no círculo da família, ou feitas observações que desonrem os membros da igreja. T5 242 1 Devem os cristãos considerar como dever religioso reprimir um espírito de inveja ou rivalidade. Devem alegrar-se com a boa reputação ou prosperidade de seus irmãos, mesmo quando seu próprio caráter ou realizações pareçam lançados na sombra. Foi o orgulho e ambição nutridos no coração de Satanás que o baniram do Céu. Esses males acham-se arraigados profundamente em nossa natureza caída, e se não forem removidos, lançarão sua sombra sobre todas as qualidades boas e nobres, produzindo invejas e discórdias como seus frutos malignos. T5 242 2 Devemos buscar a verdadeira bondade, em vez da grandeza. Os que possuem a mente de Cristo terão de si mesmos opinião humilde. Trabalharão pela pureza e prosperidade da igreja, e estarão prontos a sacrificar os próprios interesses e desejos, em vez de causar dissensão entre os irmãos. T5 242 3 Satanás busca constantemente produzir desconfiança, separação e malícia entre o povo de Deus. Seremos muitas vezes tentados a julgar que nossos direitos tenham sido postergados, quando não existe causa real para semelhantes pensamentos. Aqueles cujo amor ao próprio eu é mais forte que seu amor a Cristo e Sua causa, colocarão em primeiro lugar os próprios interesses, recorrendo a quase todos os expedientes para os defender e manter. Quando se consideram ofendidos pelos irmãos, alguns recorrerão mesmo à justiça, em vez de seguirem a regra dada pelo Salvador. Mesmo muitos que parecem cristãos conscienciosos, são pelo orgulho e estima própria impedidos de ir em particular àqueles que eles julgam estar em erro, para tratarem do caso no espírito de Cristo, e orarem uns pelos outros. Contendas, discórdias e processos entre irmãos são uma desgraça para a causa da verdade. Os que enveredam por esse procedimento expõem a igreja ao ridículo de seus inimigos, e fazem que triunfe a causa dos poderes das trevas. Dilaceram de novo as feridas de Cristo, expondo-O à ignomínia. Desprezando a autoridade da igreja, mostram desprezo a Deus, que conferiu a autoridade à igreja. T5 243 1 Escreve Paulo aos gálatas: "Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando. Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros. Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne." Gálatas 5:12-16. T5 243 2 Falsos mestres haviam levado aos gálatas doutrinas que se opunham ao evangelho de Cristo. Paulo procurou expor e corrigir esses erros. Desejava ele grandemente que os falsos mestres fossem separados da igreja, mas sua influência afetara de tal forma os crentes que parecia arriscado agir contra eles. Havia perigo de causar discórdia e divisão que seriam ruinosos aos interesses espirituais da igreja. Procurou, pois, impressionar os irmãos com a importância de buscarem ajudar-se uns aos outros, em amor. Declarou ele que todas as reivindicações da lei que estabelecem nosso dever para com os semelhantes cumprem-se no amor mútuo. Advertiu-os de que, se condescendessem com ódio e lutas, dividindo-se em partidos, e como os animais se mordessem e devorassem uns aos outros, trariam sobre si mesmos infelicidade no presente e ruína no futuro. Um só caminho havia para prevenir esses males terríveis, isto é, como o apóstolo lhes ordenou, "andai em Espírito". Tinham de, por meio de constante oração, buscar a guia do Espírito Santo, que os levaria ao amor e à unidade. T5 244 1 Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Quando os cristãos se desentendem, Satanás se insinua para tomar o controle. Quantas vezes teve ele êxito em destruir a paz e a harmonia nas igrejas! Que conflitos ferozes, que amargura, que ódio, se iniciaram por uma pequenina questão! Que esperanças se esfacelaram, quantas famílias foram divididas pela discórdia e contenda! T5 244 2 Paulo insiste com seus irmãos para tomarem cuidado, a fim de que, procurando corrigir as faltas alheias, não cometessem eles mesmos pecados igualmente grandes. Adverte-os de que ódio, rivalidade, ira, lutas, sedições, heresias e invejas são tão verdadeiramente obras da carne, como o são a lascívia, o adultério, a bebedice e o homicídio, e, como aqueles, fecharão ao culpado a porta do Céu. T5 244 3 Declara Cristo: "E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no mar." Marcos 9:42. Todo aquele que, por deliberado engano ou por um mau exemplo desvia um discípulo de Cristo, é culpado de um grande pecado. Todo aquele que o queira fazer objeto de calúnia ou ridículo, está insultando a Jesus. Nosso Salvador observa todo mal praticado contra Seus seguidores. T5 244 4 Como eram punidos os que, na antigüidade, desprezavam aquilo que Deus escolhera para Si mesmo, como sagrado? Belsazar e seus mil grandes profanaram os vasos de ouro de Jeová, e louvaram os ídolos de Babilônia. Mas o Deus a quem desafiaram, foi testemunha da cena profana. Em meio de sua alegria sacrílega, foi vista uma branca mão traçando caracteres misteriosos na parede do palácio. Cheios de terror, o rei e os cortesãos ouviram pronunciada sua condenação, pelo servo do Altíssimo. T5 244 5 Lembrem-se os que se deleitam em lançar palavras de calúnia e falsidade contra os servos de Cristo, de que Deus é testemunha de seus atos. Suas arremetidas caluniosas não profanam vasos ou objetos, mas sim o caráter daqueles que Cristo adquiriu por Seu sangue. A mão que traçou as letras nas paredes do palácio de Belsazar, mantém fiel registro de todo ato de injustiça ou opressão cometido contra o povo de Deus. T5 245 1 A história sagrada apresenta exemplos notáveis do zeloso cuidado do Senhor para com o mais fraco de Seus filhos. Durante as jornadas de Israel no deserto, os cansados e débeis que haviam caído atrás da congregação foram atacados e mortos pelos covardes e cruéis amalequitas. Posteriormente Israel declarou guerra aos amalequitas e os derrotou. "Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos Céus." Êxodo 17:14. De novo a ordem foi repetida por Moisés exatamente antes de sua morte, para que não fosse esquecida pela posteridade: "Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito: Como te saiu ao encontro no caminho, e te derribou na retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. ... Apagarás a memória de Amaleque de debaixo do Céu; não te esqueças." Deuteronômio 25:17-19. T5 245 2 Se Deus assim puniu a crueldade de uma nação pagã, como terá Ele de considerar os que, professando serem Seu povo, farão guerra aos próprios irmãos que são obreiros gastos e cansados em Sua obra? Satanás tem grande poder sobre os que cedem ao seu controle. Foram os principais dos sacerdotes e anciãos -- os mestres religiosos do povo -- os que incitaram a turba homicida da sala do julgamento para o Calvário. Há hoje entre os professos seguidores de Cristo, corações inspirados pelo mesmo espírito que clamou pela crucifixão de nosso Salvador. Lembrem-se os obreiros do mal de que, para todos os seus atos há uma testemunha -- um Deus santo, que odeia o pecado. Ele trará a juízo todas as suas obras, com todas as coisas secretas. T5 245 3 "Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a Si mesmo." Como Cristo tem tido misericórdia de nós, ajudando-nos em nossas fraquezas e pecaminosidade, assim devemos nós ter misericórdia de outros e ajudá-los. Muitos estão perplexos por dúvidas, carregados de fraquezas, débeis na fé, e incapazes de apreender o que não vêem; mas um amigo a quem podem ver, vindo-lhes em nome de Cristo, poderá ser um elo de ligação que lhes firme em Deus a vacilante fé. Oh! é esta uma obra bendita! Não deixemos que o orgulho e egoísmo nos impeçam de fazer o bem que podemos fazer, se trabalharmos em nome de Cristo, e com espírito amoroso e terno. T5 246 1 "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo." Gálatas 6:1, 2. Aqui, de novo, acha-se-nos exposto claramente nosso dever. Como podem os professos seguidores de Cristo considerar tão levianamente essas ordens inspiradas? Há pouco tempo, recebi uma carta descrevendo uma circunstância na qual um irmão manifestara indiscrição. Embora tenha ocorrido anos atrás, e fosse questão muito insignificante, que não merecia nenhuma preocupação, a pessoa que escreveu a carta declarava que lhe destruíra para sempre a confiança naquele irmão. Se a vida daquela irmã, sendo passada em revista, não mostrasse maiores erros, seria na verdade uma maravilha, pois é muito fraca a natureza humana. Tenho estado e continuo em comunhão com irmãos e irmãs que têm sido culpados de graves pecados, e que mesmo agora não vêem esses pecados como Deus os vê. Mas o Senhor suporta essas pessoas, e por que não as suportaria eu? Ele fará ainda Seu Espírito por tal forma lhes impressionar o coração, que o pecado lhes parecerá, como pareceu a Paulo, grandemente maligno. T5 246 2 Pouco sabemos de nosso próprio coração, e pouca intuição temos de nossa própria necessidade da misericórdia de Deus. Por isso é que tão pouco acariciamos aquela suave compaixão que Jesus manifesta para conosco, e que devemos também manifestar uns para com os outros. Devemos lembrar-nos de que nossos irmãos são fracos e falíveis mortais, tais como nós mesmos. Suponhamos que um irmão, por falta de vigilância, tenha sido arrastado pela tentação; e que, contrariamente à sua conduta geral, tenha cometido algum erro; que procedimento devemos ter para com ele? Aprendemos, da história bíblica, que homens que Deus empregara para realizar uma grande e boa obra, cometeram pecados graves. O Senhor não os passou por alto, sem repreensão, tampouco rejeitou Ele Seus servos. Quando se arrependeram, Ele graciosamente lhes perdoou, revelando-lhes a Sua presença e por eles operando. Considerem os pobres e fracos mortais quão grande é sua necessidade de misericórdia e longanimidade de Deus e de seus irmãos. Guardem-se eles de julgar e condenar os outros. Devemos encarar as instruções do apóstolo: "Vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado." Gálatas 6:1. Podemos cair sob tentação e precisar de toda a paciência que somos chamados a exercer para com o ofensor. "Com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. T5 247 1 O apóstolo acrescenta uma advertência aos independentes e confiantes em si mesmos: "Se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. ... Cada qual levará a sua própria carga." Gálatas 6:3-5. Aquele que se considera superior a seus irmãos em juízo e experiência, e lhes despreza o conselho e advertência, demonstra que se acha num perigoso engano. O coração é enganoso. Deve ele provar seu caráter e vida pela norma bíblica. A Palavra de Deus derrama sobre o curso da vida humana uma luz que não pode errar. Não obstante as muitas influências que se levantam para distrair e desviar a mente, aqueles que buscam sinceramente a Deus pedindo sabedoria, serão guiados na conduta correta. Todo homem terá, afinal, de ficar em pé ou cair por si mesmo, não de acordo com a opinião do partido que o sustém ou a ele se opõe, não de acordo com o juízo de qualquer homem, mas de acordo com o seu real caráter à vista de Deus. A igreja pode advertir, aconselhar e admoestar, mas não pode obrigar ninguém a tomar o bom caminho. Todo que persistir em menosprezar a Palavra de Deus, terá de levar a própria carga -- responder a Deus por si mesmo, e sofrer as conseqüências de seu procedimento. T5 248 1 Deu-nos o Senhor em Sua Palavra, instruções definidas e inequívocas, e na obediência a elas podemos preservar a união e harmonia na igreja. Irmãos e irmãs, estão dando ouvidos a essas ordens inspiradas? São leitores da Bíblia, e praticantes da Palavra? Estão lutando para cumprir a oração de Cristo, de que Seus seguidores sejam um? "O Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo." Romanos 15:5, 6. "Quanto ao mais, irmãos, ... sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco." 2 Coríntios 13:11. ------------------------Capítulo 26 -- A obra do pastor evangelista T5 249 1 Há muitas coisas que necessitam ser corrigidas nas Associações de Colúmbia e do Norte do Pacífico. [Esses territórios atualmente formam a União do Norte do Pacífico.] O Criador esperava que esses irmãos produzissem fruto de acordo com a luz e os privilégios concedidos, mas ficou desapontado. Ele lhes deu todas as vantagens, mas eles não se aprimoraram em mansidão, piedade e beneficência. Não seguiram tal conduta, não revelaram esse caráter, nem exerceram aquela influência que honraria mais a seu Criador, enobreceria a si mesmos e os faria uma bênção aos semelhantes. Há egoísmo em seu coração. Gostam de seguir os próprios caminhos e buscar comodidades, honras, riquezas, e seu prazer nas mais rudes ou refinadas formas. Se seguirmos a conduta do mundo e a tendência de nossa mente, será isso para nosso maior bem? Não terá Deus, que formou o homem, algo melhor para nós? T5 249 2 "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados." Efésios 5:1. Os cristãos devem ser como Cristo. Devem ter o mesmo espírito, exercer a mesma influência, e ter a mesma excelência moral que Ele possuía. Os idólatras e corruptos de coração precisam se arrepender e voltar-se para Deus. Os que são orgulhosos e cheios de justiça própria devem humilhar o eu, arrepender-se e tornar-se mansos e humildes de coração. Os que têm a mente voltada para as coisas do mundo, precisam fazer com que os laços do coração sejam arrancados do lixo, ao redor do qual eles se apegaram, e se entrelacem em Deus; eles precisam voltar a mente para as coisas espirituais. Os desonestos e mentirosos precisam se tornar justos e verdadeiros. Os ambiciosos e avarentos precisam esconder-se em Jesus e buscar a Sua glória, e não a deles mesmos. Eles precisam menosprezar a própria santidade e ajuntar tesouros no Céu. Os que não oram precisam sentir a necessidade tanto da oração secreta como da familiar, e precisam fazer suas súplicas a Deus com muito fervor. T5 250 1 Como adoradores do Deus verdadeiro e vivo precisamos produzir frutos que correspondam à luz e privilégios que desfrutamos. Muitos estão adorando ídolos em lugar do Senhor do Céu e da Terra. Qualquer coisa que os homens amem e na qual confiem em vez de amarem ao Senhor e nEle confiarem integralmente, torna-se um ídolo e como tal é registrado nos livros do Céu. Até mesmo as bênçãos freqüentemente se tornam maldição. As afinidades do coração humano, fortalecidas pelo exercício, são às vezes pervertidas a ponto de se tornarem uma armadilha. Se alguém é censurado, sempre há quem se compadeça dele. Eles passam inteiramente por alto o dano efetuado à causa de Deus pela influência maléfica de alguém cuja vida e caráter de modo algum se assemelha à do Modelo. Deus envia os Seus servos com uma mensagem àqueles que professam ser seguidores de Cristo; mas alguns são filhos de Deus apenas no nome, e rejeitam a advertência. T5 250 2 Deus dotou o homem com um maravilhoso poder de raciocínio. Aquele que capacitou a árvore a produzir sua colheita de bons frutos, criou o homem apto a produzir os preciosos frutos da justiça. Ele plantou o homem em Seu jardim, e carinhosamente teve cuidado dele, e esperou que produzisse fruto. Na parábola da figueira Cristo diz: "Há três anos venho procurar fruto." Lucas 13:7. Por mais de dois anos tem o Proprietário buscado pelo fruto ao qual tem direito de esperar dessas associações. Mas como sua procura tem sido recompensada? Quão ansiosamente observamos uma árvore ou planta predileta, esperando que ela recompense nosso cuidado produzindo botões, flores e frutos; e quão desapontados ficamos ao encontrar apenas folhas. Mas com que maior ansiedade e meigo interesse não observa nosso Pai celestial o crescimento espiritual daqueles que Ele criou a Sua própria imagem, e pelos quais consentiu em dar o Seu Filho, para que pudessem ser exaltados, enobrecidos, e glorificados. T5 251 1 O Senhor tem seus agentes escolhidos para ir ao encontro dos homens em seus erros e apostasias. Seus mensageiros são enviados a dar um claro testemunho a fim de erguê-los de sua condição de desinteresse e abrir-lhes as preciosas palavras da vida, as Escrituras Sagradas, à compreensão. Esses homens não são meramente pregadores, mas pastores, portadores de luz, vigilantes fiéis, que verão os perigos ameaçadores e advertirão o povo. Precisam eles assemelhar-se a Cristo em seu diligente zelo, tato amável, esforços pessoais, em suma, em todo o seu ministério. Necessitam estar em vital ligação com Deus e tão familiarizados com as profecias e as lições práticas do Antigo e Novo Testamentos, que possam sacar do tesouro da Palavra de Deus coisas novas e antigas. T5 251 2 Alguns desses pastores cometem erros no preparo de seus sermões. Exploram cada minúcia com tal exatidão, que não dão espaço ao Senhor para conduzir e impressionar sua mente. Cada ponto é estabelecido, estereotipado, por assim dizer, e eles não conseguem sair dessa linha planejada. A continuar assim, produzirão para si mesmos estreiteza de mente, limitados pontos de vista, e em breve ficarão destituídos de vida e energia como os montes de Gilboa de orvalho e chuva. Eles devem abrir seu coração e permitir que o Espírito Santo tome posse para impressionar a mente. Quando tudo é assentado de antemão, e eles sentem que não podem alterar essa linha de sermões, o efeito é pouco melhor do que aquele produzido pela leitura de um sermão. T5 251 3 Deus gostaria que esses pastores fossem totalmente dependentes dEle, mas, ao mesmo tempo, deveriam eles estar integralmente providos para toda boa obra. Nenhum assunto pode ser tratado diante de todas as congregações da mesma maneira. O Espírito de Deus, se Lhe permitirem fazer Sua obra, impressionará a mente com idéias adequadas para atender os casos daqueles que estão em necessidade. Mas os sermões formais, insípidos, de muitos que usam ao púlpito, têm muito pouco do vitalizante poder do Espírito Santo. O hábito de fazer esse tipo de sermão destrói efetivamente a utilidade e a capacidade do pastor. Essa é a única razão por que os esforços dos obreiros em _____e _____ não têm sido melhor sucedidos. Deus tem sido impedido de fazer mais para impressionar-lhes a mente no púlpito. T5 252 1 Outra causa do fracasso nessas associações é que o povo a quem o mensageiro é enviado, deseja moldar-lhe as idéias e colocar-lhe na boca as palavras que deve falar. Os vigias de Deus não devem estudar meios de agradar ao povo, nem ouvir suas palavras, nem expressá-las; devem antes ouvir o que diz o Senhor, e qual é Sua mensagem para o povo. Se se basearem em sermões preparados anos atrás, poderão deixar de atender às necessidades do momento. Seu coração deve estar aberto para que o Senhor possa impressionar a mentalidade, e então terão condições de transmitir ao povo a preciosa verdade acolhedora do Céu. Deus não Se agrada com esses pastores de mentalidade estreita, que dedicam a capacidade dada pelo Senhor a assuntos de pouca importância e falham em crescer no divino conhecimento, até a estatura completa de homens em Cristo Jesus. Ele deseja que Seus pastores possuam amplitude mental e verdadeira coragem moral. Tais homens estarão preparados para enfrentar oposição, sobrepujar dificuldades e conduzir o rebanho de Deus, em lugar de serem guiados por ele. T5 252 2 Há ao mesmo tempo muito pouco do Espírito e poder de Deus no trabalho dos vigias. O Espírito que caracterizou a maravilhosa reunião no dia de Pentecostes, está esperando a fim de manifestar o Seu poder sobre os homens que agora se acham colocados entre os vivos e os mortos, como embaixadores de Deus. O poder que tão fortemente sacudiu o povo no movimento de 1844 se revelará novamente. A mensagem do terceiro anjo irá avante, não em voz baixa, mas num alto clamor. T5 252 3 Muitos que professam possuir grande luz estão andando em fagulhas de seu brilho. Eles precisam ungir os seus lábios com a brasa viva do altar, para que possam difundir a verdade como homens inspirados. É grande o número dos que vão para o púlpito com discursos sem vida, sem nenhuma luz do Céu. T5 253 1 Há demais da própria personalidade e muito pouco de Jesus nos pastores de todas as denominações. Se Cristo tivesse vindo na majestade de um rei, com a pompa que acompanha os grandes homens da Terra, muitos O teriam aceito. Mas Jesus de Nazaré não ofuscou os sentidos com uma exibição de glória externa, a fim de fazer disso a base de Sua reverência. Ele veio como um homem humilde, a fim de ser Mestre e Modelo, bem como Redentor da raça humana. Tivesse Ele incentivado a pompa, e sido seguido por uma comitiva de grandes homens da Terra, como poderia Ele ter ensinado humildade? Como poderia Ele ter apresentado as verdades candentes que ensinou em Seu Sermão da Montanha? Seu exemplo foi tal que Ele deseja ser imitado por Seus seguidores. Onde ficaria a esperança dos humildes desta vida se Ele tivesse vindo em exaltação, e vivido como um rei na Terra? Jesus conhecia as necessidades do mundo melhor do que as próprias pessoas. Ele não veio como um anjo, revestido da armadura celestial, mas como homem. No entanto, com Sua humildade se achavam combinados inerente poder e grandeza que espantaram os homens que O amaram. Embora possuindo tal amabilidade e modesta aparência, Ele andava entre eles com a dignidade e poder de um rei de origem celeste. As pessoas ficavam assombradas, confusas. Tentavam arrazoar sobre o assunto, mas não se mostrando dispostas a renunciar às próprias idéias, cederam lugar a dúvidas e se apegaram à velha expectativa de um Salvador que viria em grandeza terrena. T5 253 2 Quando Jesus proferiu o Sermão da Montanha, Seus discípulos se aglomeraram em torno dEle, e a multidão, cheia de intensa curiosidade, também procurou se aproximar o máximo possível. Esperava-se algo fora do comum. Rostos ansiosos e disposição atenta evidenciavam o mais profundo interesse. A atenção de todos parecia fixa no Orador. Seus olhos estavam iluminados de inefável amor, e a expressão celestial em Seu semblante emprestava significado especial a cada palavra pronunciada. Anjos do Céu se achavam presentes em meio à multidão atenta. Ali estava, também, o adversário, com seus anjos maus, preparados para neutralizar, tanto quanto possível, a influência do Mestre celestial. As verdades ali enunciadas atravessaram os séculos e têm sido uma luz em meio às trevas generalizadas do erro. Muitos têm encontrado nelas o que a alma mais necessita -- um firme alicerce de fé e prática. Mas nessas palavras emitidas pelo maior Mestre que o mundo já conheceu, não há ostentação de eloquência humana. A linguagem é simples, e os pensamentos e sentimentos se caracterizam por sua extrema simplicidade. Os pobres, os incultos, os mais ignorantes conseguem compreendê-las. O Senhor do Céu Se dirigia em misericórdia e bondade às pessoas que viera salvar. Ele as ensinava como tendo autoridade, falando palavras que continham vida eterna. T5 254 1 Todos devem imitar o Modelo o máximo possível. Embora não possam ter a mesma percepção de poder que Jesus possuía, eles podem de tal modo ligar-se à Fonte de poder que Jesus poderá neles habitar, e eles nEle, e assim Seu espírito e poder serão neles revelados. T5 254 2 Andem na luz como Ele está na luz. É o mundanismo e o egoísmo que nos separam de Deus. As mensagens vindas do Céu são de natureza tal que despertam oposição. As fiéis testemunhas de Cristo e da verdade reprovarão o pecado. Suas palavras serão como um martelo a quebrar o coração empedernido, como um fogo a consumir matéria inútil. Há necessidade constante de fervorosas e decididas mensagens de advertência. Deus deseja ter homens fiéis ao dever. Na ocasião apropriada Ele envia Seus fiéis mensageiros para fazerem uma obra semelhante à de Elias. Pastores como educadores T5 254 3 O estado de coisas em _____ é causa de grande pesar. Aquilo que o Senhor Se dignou mostrar-me, tem sido de caráter a me causar aflição. Quem quer que ali ou em _____ for trabalhar daqui em diante, terá serviço penoso e precisará transportar pesado fardo, porque a obra, além de não ter sido fielmente realizada, foi deixada inacabada. E isso é mais grave porque o fracasso não foi totalmente devido ao mundanismo e falta de amor por Cristo e pela verdade por parte do povo. Muito desse malogro permanece à porta dos pastores, que, enquanto ali trabalhando, falharam no cumprimento de seu dever. Não possuíam espírito missionário, não sentiram a grande necessidade de ensinar integralmente o povo em todos os ramos da obra, em todos os lugares onde a verdade alcançou posições seguras. A obra feita totalmente por uma pessoa é extensiva a muitas. Mas os pastores não compreenderam isso e falharam em educar as pessoas que, por sua vez, deveriam permanecer firmes em defesa da verdade e instruir outras. Esse modo negligente, frouxo e incompleto de trabalhar desagrada a Deus. T5 255 1 O pastor pode gostar de pregar; pois essa é a parte aprazível da obra, e é relativamente fácil; nenhum pastor, porém, deve ser julgado por sua capacidade de falar. A parte mais difícil vem ao deixar ele o púlpito, no regar a semente lançada. O interesse despertado deve ser apoiado por trabalho pessoal -- visitar, dar estudos bíblicos, ensinar a pesquisar as Escrituras, orar com as famílias e pessoas interessadas, aprofundar a impressão causada no coração e na consciência. T5 255 2 Há muitos que não têm a menor intenção de relacionar-se com vizinhos descrentes e com aqueles com quem entram em contato. Não sentem o dever de sobrepujar essa relutância. A verdade que ensinam e o amor de Jesus deveria exercer grande poder para ajudá-los a vencer esses sentimentos. Precisam lembrar-se de que devem encontrar novamente esses homens e mulheres no Juízo. Será que deixaram de proferir palavras que tinham obrigação de dizer? Têm eles, porventura, sentido interesse bastante pelas pessoas, para adverti-las, fazer-lhes apelos, orar por elas, e envidar todo esforço a fim de conquistá-las para Cristo? Uniram eles discernimento ao zelo, ouvindo a diretriz dada pelo apóstolo: "E salvai alguns, arrebatando-os do fogo; tende deles misericórdia com temor, aborrecendo até a roupa manchada da carne"? Judas 23. T5 255 3 Há uma diligente obra a ser feita por todos os que querem ser bem-sucedidos em seu ministério. Rogo a você, caro irmão, ministro de Cristo, que não falhe no cumprimento do dever que lhe foi designado, de educar o povo a trabalhar inteligentemente para amparar a causa de Deus em todos os seus múltiplos interesses. Cristo foi um educador e os pastores que O representam deveriam ser educadores. Quando negligenciam ensinar ao povo sua obrigação para com Deus nos dízimos e ofertas, descuidam de uma importante parte da obra que seu Mestre lhes deixou, e a expressão "servo infiel" é escrita ao lado de seus nomes nos livros do Céu. A igreja chega à conclusão de que se essas coisas fossem essenciais, o pastor, a quem Deus enviou para apresentar-lhes a verdade, lhas teria dito. Assim, sentem-se seguros e à vontade enquanto negligenciam seu dever. Vão contra os expressos reclamos de Deus e, como resultado, tornam-se sem vida e ineficientes. Não exercem influência salvadora sobre o mundo e são representados por Cristo como sal insípido. T5 256 1 Grupos de observadores do sábado podem ser constituídos em vários lugares. Não serão, regularmente, grupos grandes, mas nem por isso devem ser passados por alto. Não devem ser deixados a perecer por falta de esforço pessoal apropriado e treinamento. A obra não deve ser abandonada prematuramente. Vede que todos estejam esclarecidos na verdade, firmados na fé, e interessados em todo ramo da obra, antes de os deixar para ir a outro campo. E então, como fazia o apóstolo Paulo, devem ser visitados com frequência para ver como vão. Oh, a obra negligente que é feita por muitos que pretendem ser comissionados por Deus para pregar Sua Palavra, faz com que os anjos chorem! T5 256 2 A causa poderia estar em condições favoráveis em cada campo, e estaria se os pastores confiassem em Deus e nada permitissem que se interpusesse entre eles e seu trabalho. São muito mais necessários obreiros do que pregadores, mas as duas funções podem muito bem ser unificadas. Tem sido provado no campo missionário que, seja qual for o talento da pregação, se parte de trabalho é negligenciada, se não se ensina o povo como trabalhar, como dirigir reuniões, como desempenhar sua parte no trabalho missionário, como alcançar com êxito o povo, a obra será praticamente um fracasso. Há também muito a ser feito na obra da Escola Sabatina, no que respeita a levar o povo a sentir sua obrigação e fazer sua parte. Deus os chama para que trabalhem para Ele, e os pastores devem guiar-lhe os esforços. T5 257 1 O fato lamentável e evidente é que o obra nesses campos deveria estar anos à frente, em relação à sua situação agora. A negligência da parte dos pastores desanimou o povo, e a falta de interesse, abnegação e apreciação da obra por parte do povo, desencorajou os pastores. "Dois anos de atraso" é o que se acha registrado nos livros do Céu. Esse povo poderia ter feito muito para o avançamento da causa da verdade e conquista de pessoas para Cristo nas diferentes localidades, e, ao mesmo tempo, crescer em graça e no conhecimento da verdade, caso houvessem aproveitado as oportunidades e desfrutado melhor seus privilégios, andando, não com murmurações e queixas, mas com fé e coragem. Somente a eternidade poderá revelar o quando se perdeu durante esses anos; quantas pessoas foram deixadas a perecer por causa desse estado de coisas. A perda é muito grande para ser calculada. Deus foi insultado. Essa conduta infligiu à causa uma ferida que levará anos para ser curada. Se os erros cometidos não forem percebidos e deles não houver arrependimento, certamente se repetirão. T5 257 2 A percepção desses fatos foi uma indizível carga sobre mim, furtando o sono de meus olhos. Às vezes pareceu que meu coração explodiria. Eu apenas podia orar, enquanto provia escape às minhas angústias chorando em voz alta. Oh, sinto-me tão triste por meu Salvador! Sua busca por frutos na figueira, entre os galhos cobertos de folhagens, e o desapontamento em nada encontrar senão folhas, surgiu mui vívido perante mim. Senti não poder suportar isso. De modo algum pude conformar-me com os passados anos de negligência do dever por parte de pastores e povo. Temi que o fulminante destino da figueira no passado pudesse ser o mesmo desses descuidosos. A terrível negligência em fazer a obra e cumprir a missão que Cristo lhes confiou, produz uma perda que nenhum de nós pode dar-se ao luxo de assumir. Esse é um risco tão pavoroso de se ver e tão assombroso de correr em qualquer tempo de nossa história religiosa, mas especialmente agora, quando o tempo é curto e há tanto a ser feito neste tempo de preparo para o dia de Deus. Todo o Céu está ativamente empenhado na salvação dos homens; e luz é enviada por Deus sobre Seu povo, definindo seu dever de forma que ninguém erre o caminho da justiça. O Senhor, porém, não envia Sua luz para que seja zombada e desperdiçada. Se o povo é descuidado, torna-se duplamente culpado perante Ele. T5 258 1 Quando Cristo Se dirigia a Jerusalém, no cume do Olivete, foi tomado de incontrolável pesar, exclamando em entrecortadas expressões, enquanto contemplava a cidade: "Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus olhos." Lucas 19:42. Ele pranteava, não por Si mesmo, mas pelos desprezadores de Sua graça, benignidade e paciência. A conduta seguida pelos endurecidos e impenitentes habitantes da cidade condenada, é semelhante à atitude das igrejas e indivíduos com respeito a Cristo no tempo presente. Negligenciam a Seus reclamos e desprezam Sua longanimidade. Há uma aparência de piedade, há adoração cerimonial, há orações lisonjeiras, mas o poder genuíno está faltando. O coração não foi suavizado pela graça, e se mostra frio e indiferente. Muitos, como os judeus, estão cegos pela incredulidade e não conhecem o tempo da sua prova. Até onde a verdade lhes diz respeito, eles têm tido todas as vantagens. Deus lhes tem apelado ao longo dos anos através de reprovações, advertências, correções e instrução em justiça, mas essas orientações especiais foram dadas apenas para serem desprezadas e colocadas no nível das coisas comuns. O dever de reprovar os amantes do dinheiro T5 258 2 Muitos que são contados com os crentes não estão realmente com eles em fé e princípio. Estão fazendo exatamente o que Jesus lhes disse para não fazer -- ajuntando tesouros na Terra. Cristo disse: "Não ajunteis tesouros na terra. ... Mas ajuntai tesouros no Céu. ... Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. Eis aí um perigo que ameaça os cristãos. Eles não obedecem às positivas diretrizes de Cristo. Não demonstram fé genuína em Deus. A fim de obter riquezas acumulam fardos e cuidados, até que sua mente fique quase que totalmente envolvida por eles. Eles estão sequiosos por lucros e sempre aflitos com medo de prejuízos. Quanto mais dinheiro e terras possuem, mais ansiosos ficam por aumentá-los. "Bêbados estão, mas não de vinho; andam titubeando, mas não de bebida forte." Isaías 29:9. Acham-se assoberbados pelos cuidados desta vida, que os afetam como a bebida forte faz com o ébrio. Encontram-se tão cegados pelo egoísmo que trabalham noite e dia para assegurar-se de tesouros perecíveis. Seus interesses espirituais são desprezados; não têm eles tempo para essas coisas. Os grandes temas da verdade não são mantidos em sua mente, como é evidenciado por suas palavras, planos e conduta. O que importa se as pessoas ao seu redor estão perecendo em seus pecados? Isso não lhes é de tanto efeito quanto seus tesouros terrenos. Que as pessoas por quem Cristo morreu caiam em ruína; eles não têm tempo para salvá-las. Ao fazer planos para obter ganhos seculares, mostram capacidade e talento, mas essas preciosas qualidades não são dedicadas a conduzir salvos a Jesus, para a edificação do reino do Redentor. Não estão, porventura, pervertidas as sensibilidades dessa gente? Não estão eles embriagados com a intoxicante taça do mundanismo? Não foi a razão posta de lado e não têm os objetivos e propósitos egoístas se tornado o poder governante? A obra de se preparar para estar em pé no dia do Senhor e o emprego das habilidades dadas por Deus para ajudar a aprontar um povo para esse dia, são consideradas atividades maçantes e insatisfatórias. T5 259 1 O Salvador do mundo tem apresentado o negócio mais lucrativo, no qual ricos e pobres, cultos e ignorantes podem se engajar. Todos podem, com segurança, ajuntar para si mesmos um "tesouro nos Céus que nunca acabe". Lucas 12:33. Isso é investir os recursos no lado certo. Isso é utilizar os talentos da forma correta. T5 259 2 Jesus ilustrou Seu ensino com o caso de um próspero fazendeiro a quem o Senhor favoreceu grandemente. Deus abençoou seus campos fazendo com que produzissem abundantemente, pondo assim em seu poder exercer liberalidade para com outros não tão favorecidos. Mas quando ele descobriu que suas terras produziram farta messe, até além de sua expectativa, em lugar de planejar como aliviar os pobres em suas necessidades, começou a projetar meios de garantir tudo para si mesmo. Quando viu as dádivas do Céu enchendo seus celeiros, não expandiu seu coração em ações de graças ao generoso Doador, nem considerou que essa grande bênção lhe havia trazido responsabilidade adicional. Em seu natural egoísmo, perguntou: "Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos." Tomando conselho com seu cobiçoso coração, disse: "Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga." Lucas 12:17-19. Os meios de real prazer e elevação da alma são atividade, autocontrole e santos propósitos, mas tudo o que esse homem se propunha fazer com as bênçãos que Deus lhe havia dado era para degradar. E qual foi o resultado? "Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com Deus." Lucas 12:20, 21. T5 260 1 Esse pobre homem rico possuía grande tesouro terreno, mas estava destituído das verdadeiras riquezas. Muitos, hoje em dia, acham-se sob condenação por razões similares. Torrentes de salvação são derramadas sobre nós do trono de Deus. Bênçãos temporais são conferidas, mas elas não têm sido utilizadas para abençoar a humanidade ou glorificar a Deus. O Senhor é nosso gracioso benfeitor. Ele trouxe luz e imortalidade através de Jesus Cristo. Oh, que cada boca reconheça o grande Doador! Que cada voz, em claros e jubilosos tons, proclame as felizes novas de que, através de Jesus, a vida futura, imortal, é a nós oferecida, e o convite feito a todos para que aceitem esse grande favor. Todos os tesouros do Céu são-nos trazidos ao alcance, esperando nosso pedido. Ficaremos surpresos de que esse pobre rico tenha sido chamado de tolo porque recuou das riquezas eternas, do dom inapreciável da vida imortal, do eterno peso de glória, e ficou satisfeito com tesouros terrenos efêmeros? T5 261 1 Deus prova o homem, alguns de uma forma, e outros, de outra. Ele prova a alguns concedendo-lhes ricos patrimônios, e a outros retirando-lhes Seus favores. Prova os ricos para ver se eles amarão a Deus, o Doador, e ao próximo como a si mesmos. Quando o homem faz uso correto desses recursos, Deus Se agrada e pode confiar-lhe mais altas responsabilidades. O Senhor revela a relativa avaliação que o homem faz do tempo e da eternidade, da Terra e do Céu. Ele nos admoestou: "Se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração." Salmos 62:10. Elas têm valor quando usadas para o bem de outros e a glória de Deus; mas nenhum tesouro terrestre deve ser seu prêmio final, seu deus ou seu salvador. T5 261 2 Meu irmão, o mundo jamais crerá que você leva a sério sua fé, a não ser que tenha menos a dizer sobre coisas temporais e mais sobre as realidades do mundo eterno. O Senhor vem, mas muitos que professam a fé não compreendem que esse evento está próximo. Não podem firmar sua fé sobre os revelados propósitos divinos. Para alguns, a paixão por ganhar dinheiro tornou-se dominante e as riquezas terrenas eclipsaram o tesouro celestial. As coisas eternas se desvaneceram em sua mente como se fossem de menor importância, enquanto o mundanismo flui qual dilúvio. A grande questão é: Como posso ganhar dinheiro? As pessoas estão atentas a cada oportunidade de ganho. Tentam mil planos e artifícios, entre esses, várias invenções e direitos de patentes. Alguns escavam a terra em busca de metais preciosos, outros lidam com fundos de investimentos, outros ainda, cultivam o solo, mas todos têm um único objetivo em vista -- fazer dinheiro. Eles se tornam estranhos e até mesmo insanos, na caça às riquezas, mas se recusam a ver a vantagem de assegurar para si uma herança imortal. T5 262 3 Quando Cristo esteve na Terra, punha-Se em contato com alguns cuja imaginação estava agitada pela esperança de ganho secular. Eles nunca descansavam, estavam constantemente tentando algo novo, e suas extravagantes expectativas surgiam apenas para ser desapontadas. Jesus conhecia as necessidades do coração humano, que sempre foram as mesmas em todas as épocas, e Ele lhes chamava a atenção para as riquezas permanentes. Ele disse: "Também o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo." Mateus 13:44. Ele falava acerca de tesouros inestimáveis, os quais estão ao alcance de todos. Jesus veio a este mundo para mostrar como chegar a essas riquezas. O caminho está demarcado; os mais pobres que o seguirem serão tornados mais ricos do que os bilionários da Terra que não conhecem a Jesus, e cada vez mais abençoados ao repartir sua felicidade com outros. T5 262 1 "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam." Mateus 6:19, 20. Os que desejam fazer Sua vontade não sofrerão qualquer prejuízo ou perda. O tesouro acumulado no Céu é seguro e está em nossa conta, pois Jesus disse: "Ajuntai tesouros no Céu." Os homens podem semear aqui, todavia, colherão na eternidade. T5 262 2 É esse eterno tesouro que os ministros de Cristo devem apresentar onde quer que forem. Devem insistir com o povo a fim de que se tornem sábios para a salvação. Não devem permitir que professos crentes, servis e amantes do mundo, influenciem sua conduta e lhes enfraqueçam a fé. Não é sua missão ajudar indivíduos ou igrejas a planejar como economizar dinheiro através de planos acanhados e esforços limitados na causa de Deus. Em lugar disso, precisam ensinar os homens a como trabalhar desinteressadamente e assim se tornarem ricos para com Deus. Devem educar as pessoas a fazer uma justa estimativa das coisas eternas e a dar prioridade ao reino de Deus. T5 262 3 Calebes são necessários nesses dois campos. Nessas Associações precisa haver não crianças, mas homens que ajam com entendimento e assumam responsabilidades, fazendo com que sua voz seja ouvida acima das vozes dos infiéis que apresentam objeções, dúvidas e críticas. Grandes interesses não podem ser administrados por crianças. Um cristão imaturo, atrofiado em seu crescimento religioso, destituído de sabedoria do alto está despreparado para enfrentar os ferozes conflitos pelos quais a igreja é chamada a passar. "Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais se calarão." Isaías 62:6. A menos que o pastor declare destemidamente toda a verdade, a menos que tenha em vista unicamente a glória de Deus e trabalhe sob a liderança do grande Capitão de sua salvação, a menos que avance a despeito das críticas e incontaminado pelos aplausos, será tido como vigia infiel. T5 263 1 Há alguns em _____ que precisam tornar-se homens em vez de meninos, e ter mente espiritual em lugar de terrena e sensual, mas sua visão espiritual tornou-se obscurecida. O grande amor do Salvador não cativou seu coração. Ele tem muitas coisas a dizer-lhes, mas vocês não podem suportá-las agora. Em termos de crescimento, vocês são crianças e não podem compreender os mistérios de Deus. Quando o Senhor suscita homens para fazer Seu trabalho, esses traem-Lhe a confiança se permitem que seu testemunho seja adaptado para agradar a mentes não consagradas. Ele preparará homens para as ocasiões certas. Eles serão humildes, tementes a Deus, não conservadores nem astuciosos, mas homens de independência moral, que avançarão no temor do Senhor. Serão bondosos, nobres, corteses; também não se desviarão do reto caminho, mas proclamarão a verdade em justiça, quer os homens ouçam ou deixem de ouvir. ------------------------Capítulo 27 -- Crescimento cristão T5 263 2 Foi-me mostrado que os que têm conhecimento da verdade, e no entanto permitem que suas faculdades se absorvam em interesses mundanos, são infiéis. Não estão, por meio de boas obras, fazendo brilhar a luz da verdade. Usam quase toda sua habilidade para se tornarem perspicazes e hábeis homens do mundo. Esquecem-se de que seus talentos lhes foram dados por Deus a fim de serem usados para promover Sua causa. Se fossem fiéis ao seu dever, o resultado seria grandes conversões para o seu Senhor; muitos, porém, se perdem por causa de sua negligência. T5 263 3 Deus conclama os que conhecem Sua vontade, a serem praticantes de Sua Palavra. Fraquezas, indiferença e indecisão convidam os assaltos de Satanás; e os que permitem que esses traços de caráter aumentem, serão irremediavelmente tragados pelos vagalhões da tentação. De todo que professe o nome de Cristo se requer que cresça até à estatura completa de Cristo, a cabeça viva do cristão. T5 264 1 Todos nós precisamos de um guia que nos dirija através das muitas perplexidades da vida, assim como o marinheiro precisa de um piloto que guie a nau entre os bancos de areia ou nos rios cheios de recifes; e onde se encontrará semelhante guia? Apontamo-lhes, prezados irmãos, a Bíblia. Inspirada por Deus, escrita por santos homens, ela assinala com grande clareza e precisão quais os deveres, tanto dos idosos como dos jovens. Eleva a mente, enternece o coração e comunica ao espírito alegria e felicidade. A Bíblia apresenta uma perfeita norma de caráter; é guia infalível sob todas as circunstâncias, até ao fim da jornada da vida. Tomem-na como sua conselheira, como a regra de sua vida diária. T5 264 2 Todo meio de graça deve ser diligentemente aproveitado para que o amor de Deus possa influir mais e mais na vida, "para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo; cheios de frutos de justiça." Filipenses 1:10, 11. Sua vida cristã tem de assumir formas vigorosas e rijas. Poderão alcançar a alta norma que lhes é apresentada nas Escrituras, e terão de fazê-lo, se quiserem ser filhos de Deus. Vocês não podem ficar parados; terão de, ou avançar ou retroceder. Devem ter conhecimento espiritual, para que possam "perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo", "para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus". Efésios 3:18, 19. T5 264 3 Muitos que possuem um conhecimento profundo da verdade, e são capazes de defendê-la mediante argumentos, nada fazem em prol do reerguimento do reino de Cristo. Atuam de quando em quando; mas não dão um testemunho vivo da experiência pessoal na vida cristã; não relatam novas vitórias alcançadas na santa milícia. Em vez disso, nota-se a mesma velha rotina, as mesmas expressões na oração e na exortação. Suas orações não têm aspectos novos; não exprimem maior compreensão das coisas de Deus, nem fé mais fervorosa e viva. Essas pessoas não são plantas vivas no jardim do Senhor, a produzir novos rebentos e nova folhagem, e a agradável fragrância de uma vida santa. Não são cristãos em crescimento. Têm pontos de vista e planos limitados, e não há para eles expansão do espírito, nem valiosos acréscimos aos tesouros do crescimento cristão. Suas faculdades não foram exercitadas nessa direção. Não aprenderam a olhar aos homens e às coisas como Deus as vê, e em muitos casos a simpatia não santificada tem prejudicado pessoas e estorvado grandemente a causa de Deus. É terrível a estagnação espiritual que prevalece. Muitos levam uma vida cristã formal e alegam que seus pecados foram perdoados, quando são destituídos de todo o real conhecimento de Cristo, tal como o pecador. T5 265 1 Irmão, quer ter um crescimento cristão restrito, ou ter um sadio progresso na vida religiosa? Onde há saúde espiritual aí há crescimento. O filho de Deus cresce à plena estatura de homem ou mulher em Cristo. Não há limite para seu desenvolvimento. Quando o amor de Deus é um princípio vivo no coração, não há pontos de vista estreitos e confinados; há amor e fidelidade em advertências e reprovações; há trabalho fervoroso e disposição de assumir encargos e responsabilidades. T5 265 2 Alguns não estão dispostos a fazer trabalho que exija abnegação. Mostram verdadeira impaciência quando instados a assumirem alguma responsabilidade. "Que necessidade existe", dizem, "de maior conhecimento e experiência?" Isso diz tudo. Julgam achar-se ricos e enriquecidos, e de nada terem falta, quando o Céu os pronuncia como pobres, miseráveis, cegos e nus. A esses diz a Testemunha Verdadeira: "Aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas." Apocalipse 3:18. Sua própria complacência demonstra que estão em necessidade de tudo. Vocês estão doentes espiritualmente e precisam de Jesus como seu médico. T5 266 1 Nas Escrituras, milhares de gemas da verdade se encontram ocultas para o pesquisador superficial. Jamais se esgota a mina da verdade. Quanto mais se estuda a Bíblia, com coração humilde, tanto maior será seu interesse, e tanto mais sentirá a impressão de exclamar, com Paulo: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!" Romanos 11:33. Dia a dia você deve aprender alguma coisa nova das Escrituras. Pesquise-as como se buscasse tesouros escondidos, pois contêm as palavras da vida eterna. Ore pedindo sabedoria e entendimento a fim de compreender esses santos escritos. Se isso fizer, você encontrará novas belezas na Palavra de Deus; sentirá que recebeu nova e preciosa luz sobre assuntos relacionados com a verdade, e a Bíblia será cada vez mais valorizada em seu apreço. T5 266 2 "O grande dia do Senhor está perto, e se apressa muito." Sofonias 1:14. Diz Jesus: "Eis que presto venho." Apocalipse 22:7. Devemos conservar sempre presentes essas palavras, e agir como crendo na verdade de que a vinda do Senhor está perto, e que somos peregrinos e forasteiros na Terra. As energias vitais da igreja de Deus têm de ser postas em ativo exercício, no grande objetivo de renovação própria; cada membro deve ser um ativo agente de Deus. "Porque por Ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo do Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito." Efésios 2:18-22. Essa é uma obra particular, que tem de ser levada avante em toda a harmonia, em unidade de espírito, e nos laços da paz. Nenhum lugar se deve dar a críticas, dúvidas e incredulidade. T5 266 3 As Associações de Colúmbia e do Norte do Pacífico estão anos atrasadas. Alguns que deveriam ser fortes e estabelecidos em Cristo, são como bebês no entendimento e conhecimento experimental das atuações do Espírito de Deus. Depois de anos de experiência, são capazes de compreender apenas os rudimentos do grande sistema de fé e doutrina que constitui a religião cristã. Não percebem que a perfeição de caráter é que receberá a aprovação "bem está". T5 267 1 Irmão, seu dever, felicidade e utilidade futura, assim como salvação final, convidam-no a cortar os laços de suas afeições, de tudo que é terreno e corruptível. Existe uma simpatia não santificada, que participa da natureza de um sentimentalismo apaixonado e é terrena, sensual. Serão necessários decididos esforços para que alguns de vocês vençam e mudem o rumo de sua vida, pois não se puseram em ligação com a Força de Israel, e isso tornou frágeis suas iniciativas. Agora você está sendo chamado em altas vozes a ser diligente no emprego de todo recurso da graça, a fim de poder ser transformado no caráter e crescer à estatura completa em Cristo Jesus. T5 267 2 Temos grandes vitórias a ganhar, e um Céu a perder, se não as alcançarmos. Tem de ser crucificado o coração carnal; pois sua tendência é para a corrupção moral, cujo fim é a morte. Coisa alguma senão as vivificantes influências do evangelho nos pode ajudar. Oremos para que as poderosas energias do Espírito Santo, com todo o seu poder vivificador, restaurador e transformador possam atuar como uma corrente elétrica sobre o coração atacado de paralisia, fazendo com que cada nervo estremeça com nova vida, restaurando o homem todo, de seu estado terreno, sensual e morto, para o de perfeita saúde espiritual. Como resultado, você se tornará participante da natureza divina, "tendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, que há no mundo" (2 Pedro 1:4); e em sua alma será refletida a imagem dAquele por cujas feridas você foi curado. Dízimos e ofertas T5 267 3 O Senhor requer que retornemos a Ele na forma de dízimos e ofertas, uma parte dos bens que nos confiou. Ele aceita essas oferendas como um ato de humilde obediência e grato reconhecimento de nossa parte, por todas as bênçãos que desfrutamos. Que ofertemos de boa vontade, dizendo como Davi: "Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. Reter mais do que é permitido tende à pobreza. Deus será paciente por muito tempo com alguns, Ele testará e provará a todos, mas Sua maldição certamente seguirá o egoísta e amante do mundo, porém professo seguidor da verdade. Deus conhece o coração, cada pensamento e cada propósito estão abertos diante de Seus olhos. Ele diz: "Aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão envilecidos." 1 Samuel 2:30. Ele sabe a quem abençoar e quem é merecedor de Sua maldição. Ele não comete erros, além do fato de que os anjos mantêm um registro de todas as nossas obras e palavras. T5 268 1 Quando o antigo povo de Deus estava prestes a erigir o santuário no deserto, fizeram-se necessários intensos preparativos. Materiais custosos foram angariados e entre eles havia muito ouro e prata. Como legítimo possuidor de todos os tesouros, o Senhor pediu essas ofertas a Seu povo, mas aceitava apenas aquelas que eram dadas voluntariamente. O povo deu espontaneamente, até que disseram a Moisés: "O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse." Êxodo 36:5. Então proclamou-se a toda a congregação: "Nenhum homem nem mulher faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim, o povo foi proibido de trazer mais, porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava." Êxodo 36:6, 7. T5 268 2 Houvessem alguns homens de idéias limitadas estado ali, e o povo teria seus olhos desviados com horror. Como Judas perguntariam: "Por que este desperdício?" Mateus 26:8. "Por que não se faz tudo da maneira mais barata?" Mas o santuário não era destinado a honrar o homem, e sim ao Deus do Céu. Ele havia dado instruções específicas sobre como tudo deveria ser feito. O povo deveria ser ensinado de que Ele era um Ser de grandeza e majestade, e que devia ser adorado com reverência e respeitoso temor. T5 268 3 A casa onde Deus é adorado deveria estar de acordo com Seu caráter e majestade. Há igrejas que sempre serão pequenas, porque colocam os próprios interesses acima dos interesses da causa de Deus. Enquanto seus membros têm casas grandes e adequadas, as quais estão constantemente sendo melhoradas, estão eles satisfeitos com um inadequado lugar para a adoração de Deus, onde Sua santa presença habita. Surpreendem-se de que José e Maria tenham sido obrigados a encontrar abrigo num estábulo e que ali nosso Salvador nasceu. Estão, porém, dispostos a gastar consigo mesmos grande parte de seus recursos, enquanto a casa de adoração é vergonhosamente negligenciada. Com que freqüência dizem: "Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do Senhor deve ser edificada." Ageu 1:2. Mas a palavra do Senhor a eles é: "É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta?" Ageu 1:4. T5 269 1 A casa onde Jesus vem Se encontrar com Seu povo deveria ser atraente e de bom gosto. Se houver poucos membros num determinado lugar, acomodem-se numa casa humilde, porém asseada, e dediquem-na a Deus, convidando a Jesus para ser seu hóspede. Como será que Ele vê Seu povo quando esse possui todas as comodidades que o coração pode desejar, mas concorda em ter seus cultos de adoração num celeiro, num miserável e distante edifício, ou nalgum apartamento abandonado e de baixo nível? Vocês se ocupam com seus amigos, despendem recursos para tornar tudo ao seu redor o mais atraente possível, mas Jesus, o Único que deu tudo por vocês, mesmo Sua preciosa vida -- Ele, que é a majestade do Céu, o Rei dos reis e Senhor dos senhores -- é recebido num lugar pouco melhor do que o estábulo que foi Seu primeiro lar. Não deveríamos olhar para essas coisas como Deus as vê? Não deveríamos provar nossos motivos e ver que espécie de fé possuímos? T5 269 2 Deus ama a quem dá com alegria e aqueles que O amam darão voluntária e alegremente quando, em assim fazendo, podem promover o progresso da Sua causa e a Sua glória. O Senhor nunca exige que Seu povo ofereça mais do que é capaz, mas de acordo com suas possibilidades. Ele Se agrada em aceitar e abençoar-lhes as ofertas de gratidão. Que a obediência voluntária e o puro amor ligue ao altar cada oferta feita a Deus, pois de tais sacrifícios Ele Se agrada, enquanto que aquelas oferecidas de má vontade são-Lhe uma ofensa. Quando igrejas ou indivíduos não põem o coração em suas ofertas, mas limitam os gastos no avançamento da obra de Deus e aferem-na segundo seus estreitos pontos de vista, mostram decididamente que não estão vivendo em ligação com Deus. Estão assim em desarmonia com Seu plano e maneira de trabalhar, e Ele não os pode abençoar. T5 270 1 Nós somos os construtores para Deus e devemos edificar sobre o fundamento que Ele preparou para nós. Nenhum homem deve construir sobre os próprios alicerces, independentemente do plano que Deus projetou. Há homens a quem Deus constituiu como conselheiros, a quem Ele tem ensinado, e cujo coração, espírito e vida estão postos na obra. Esses devem ser tidos em alta estima por causa de seu trabalho. Há alguns que desejarão seguir as próprias noções imperfeitas, mas precisam aprender a receber conselho e a trabalhar em harmonia com seus irmãos, ou semearão dúvidas e discórdia que não apreciarão colher depois. É vontade de Deus que aqueles que se alistam em Sua obra estejam sujeitos uns aos outros. Seu culto deve ser dirigido com consistência, unidade e idôneo julgamento. Deus é nosso único e suficiente auxiliador. As leis que governam Seu povo, seus princípios de pensamento e ação, são recebidas dEle através de Sua Palavra e Espírito. Quando Sua Palavra é amada e obedecida, Seus filhos andam na luz e não há tropeço para eles. Eles não aceitam a baixa norma do mundo, mas trabalham segundo o ponto de vista bíblico. T5 270 2 O egoísmo existente entre o povo de Deus Lhe é muito ofensivo. As Escrituras denunciam a cobiça como idolatria. Paulo diz: "Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus." Efésios 5:5. A dificuldade de muitos é que eles têm pequena fé. Como o homem rico da parábola, desejam ver seus suprimentos se acumulando nos celeiros. O mundo precisa ser advertido e Deus quer ver-nos totalmente empenhados em Sua obra, mas os homens têm tanto que fazer em levar adiante seus projetos de ganhar dinheiro, que não dispõem de tempo para promover os triunfos da cruz de Cristo. Eles não têm tempo nem disposição para empenhar seu intelecto, discernimento e energia na causa de Deus. T5 271 1 Irmãos e irmãs, desejo despertar em sua mente aversão por idéias limitadas com respeito à causa e obra de Deus. Gostaria que entendessem o grande sacrifício que Cristo fez por vocês quando Se tornou pobre, para que por sua pobreza vocês pudessem tomar posse das riquezas eternas. Oh, que por sua indiferença para com o eterno peso de glória que lhes está ao alcance, os irmãos não façam os anjos chorar e ocultar sua face em vergonha e desgosto. Despertem da letargia; estimulem cada faculdade dada por Deus e trabalhem pelas pessoas preciosas por quem Cristo morreu. Elas, se trazidas a Jesus, viverão pelas infindáveis eras da eternidade. E vocês ainda pretendem fazer o mínimo possível por sua salvação, enquanto, a exemplo do homem de um só talento, investem seus meios na Terra? Como o servo infiel estão vocês acusando a Deus, colhendo onde Ele não semeou e ajuntando onde Ele não espalhou? T5 271 2 Tudo o que vocês têm e são pertence a Deus. Não dirão vocês de coração: "Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos."? 1 Crônicas 29:14. "Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda." Provérbios 3:9. Assim Paulo exorta seus irmãos de Corinto à beneficência cristã: "Portanto, assim como em tudo sois abundantes na fé, e na palavra, e na ciência, e em toda diligência, e em vossa caridade para conosco, assim também abundeis nessa graça." 2 Coríntios 8:7. Em sua epístola a Timóteo, ele diz: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. T5 271 3 A liberalidade não nos é tão natural para que possamos obter essa virtude por acidente. Ela precisa ser cultivada. Devemos escolher honrar a Deus com nossos recursos, e então não permitir que coisa alguma nos tente a furtá-Lo nos dízimos e ofertas que Lhe são devidos. Devemos ser inteligentes, sistemáticos e contínuos em nossos atos caridosos aos homens e em nossas expressões de gratidão a Deus por Seus benefícios a nós concedidos. Esse é um dever tão sagrado que não deve ser deixado ao acaso ou sob o controle de impulsos ou sentimentos. Deveríamos reservar com regularidade alguma coisa para a causa de Deus, para que Ele não seja roubado da porção que requer. Quando roubamos a Deus, tiramos de nós mesmos. Desistimos do tesouro celestial por causa de acumular mais tesouros na Terra. Essa é uma perda que não podemos dar-nos ao luxo de suportar. Se vivermos de modo tal a podermos receber as bênçãos de Deus, teremos Sua mão prosperadora conosco em nossos assuntos temporais. Mas, se ela se tornar contra nós, frustrará todos os nossos planos e espalhará mais rapidamente do que podemos ajuntar. T5 272 1 Foi-me mostrado que o estado de coisas nessas duas associações é realmente triste, mas Deus tem muitos preciosos servos ali, sobre os quais exerce zeloso cuidado. Ele não permitirá que sejam enganados e desencaminhados. ------------------------Capítulo 28 -- Fidelidade na obra de Deus T5 272 2 Há preciosos talentos nas igrejas em Oregon e Washington. Se fossem desenvolvidos por um trabalho bem dirigido, agora haveria eficientes obreiros nessas associações. Uma igreja viva é sempre uma igreja ativa. A verdade é um poder, e aqueles que lhe conhecem a força permanecerão corajosa e destemidamente em sua defesa. Ela precisa ser apreendida pelo intelecto, recebida no coração e seus princípios incorporados ao caráter. Então, será constante o esforço para levar outros a aceitá-la, pois Deus considera os homens responsáveis pelo uso que fazem da luz que Ele lhes concede. T5 272 3 O Senhor pede a Seu povo que desenvolva os talentos que lhes tem concedido. As faculdades mentais devem ser desenvolvidas ao máximo; devem ser fortalecidas e enobrecidas mediante o demorar-se em verdades espirituais. Se a mente é permitida ocupar-se quase inteiramente em coisas frívolas e em negócios comuns da vida cotidiana, ela, de acordo com uma de suas invariáveis leis, tornar-se-á débil e frívola, e deficiente em poder espiritual. T5 273 1 Estão justamente ante nós, tempos que hão de provar o coração dos homens, e os que são fracos na fé, não resistirão à prova daqueles dias de perigo. As grandes verdades da revelação devem ser estudadas cuidadosamente, pois todos teremos necessidade de um conhecimento inteligente da Palavra de Deus. Mediante o estudo da Bíblia e a diária comunhão com Jesus alcançaremos pontos de vista claros, bem definidos, da responsabilidade individual e a força necessária para subsistir no dia da prova e da tentação. Aquele cuja vida está unida a Cristo por elos ocultos será guardado pelo poder de Deus, mediante a fé para salvação. T5 273 2 Mais atenção deve ser dada às coisas divinas, e menos a assuntos temporais. O crente professo, amante do mundo, se utilizar a mente nessa direção, pode tornar-se tão familiarizado com a Palavra de Deus como o é hoje com os negócios do mundo. "Examinais as Escrituras", disse Cristo, "porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam." João 5:39. Requer-se do cristão que seja diligente em examinar as Escrituras lendo e relendo sempre as verdades da Palavra de Deus. A ignorância voluntária neste assunto põe em perigo a vida e o caráter cristãos. Cega o entendimento e corrompe as faculdades mais nobres. É isso que traz confusão à nossa vida. Nosso povo precisa compreender a Palavra de Deus. Muitos carecem de um conhecimento sistemático dos princípios da verdade revelada, que os habilitará para o que há de vir sobre a Terra e os impedirá de serem desviados por algum vento de doutrina. T5 273 3 Grandes mudanças logo se efetuarão no mundo, e todos precisarão de um conhecimento experimental das coisas de Deus. É obra de Satanás desanimar o povo de Deus e abalar-lhes a fé. Procura ele de todos os modos insinuar dúvidas e interrogações com respeito à atitude, à fé e aos planos dos homens sobre os quais Deus colocou o encargo de uma obra especial e que estão zelosamente efetuando essa obra. Embora seja derrotado muitas e muitas vezes, renova ele os ataques, atuando por intermédio dos que professam ser humildes e tementes a Deus, e que aparentemente se interessam na verdade presente ou nela crêem. Os advogados da verdade esperam oposição feroz e cruel de seus inimigos abertos, mas isso é muito menos perigoso do que as dúvidas secretas expressas pelos que se sentem na liberdade de questionar e criticar aquilo que os servos de Deus estão fazendo. Podem eles parecer homens humildes; mas enganam a si mesmos, e enganam aos outros também. Têm no coração inveja e ruins suspeitas. Abalam a fé do povo naqueles em que deviam ter confiança, os que Deus escolheu para fazerem a Sua obra; e quando são reprovados por seu procedimento, consideram-no afronta pessoal. Enquanto professam estar fazendo a obra de Deus, na realidade ajudam ao inimigo. T5 274 1 Irmãos, nunca permitam que as idéias de alguém perturbem sua fé, com relação à ordem e harmonia que deve existir na igreja. Muitos entre vocês não vêem as coisas claramente. As diretrizes com respeito à ordem nos serviços do tabernáculo foram registradas a fim de que todos aqueles que vivessem sobre a Terra pudessem extrair lições delas. Foram selecionados homens para desempenhar as várias partes da obra de montar e desmontar o tabernáculo, e se alguém descuidadamente se desviasse e pusesse as mãos no trabalho designado a outrem, seria morto. Hoje servimos ao mesmo Deus, mas a penalidade da morte foi abolida. Se não houvesse sido, não haveria agora tanto trabalho negligente e desordenado em Sua causa. O Deus do Céu é um Deus de ordem e exige que todos os Seus seguidores tenham regras e regulamentos para preservá-la. Todos deveriam ter perfeita compreensão da obra de Deus. T5 274 2 Não é seguro abrigar dúvidas no coração, nem mesmo por um momento. As sementes da dúvida que Faraó semeou ao rejeitar o primeiro milagre, cresceram e produziram colheita tal, que todos os milagres seguintes não puderam convencê-lo de sua equivocada atitude. Ele prosseguiu a aventurar-se em seu próprio procedimento, indo de um degrau de questionamento a outro. Seu coração tornou-se mais e mais endurecido, até que foi obrigado a contemplar as faces frias e sem vida de seu primogênito. T5 274 3 Deus está trabalhando, mas nós não estamos fazendo metade do que precisaria ser feito, visando a preparar um povo para estar em pé quando Filho do homem Se revelar. Será afligido o homem que buscar dificultar, por pouco que seja, a obra que Deus está fazendo. Precisamos trabalhar pelos outros; precisamos tentar afrouxar o apego de nossos irmãos a seus tesouros terrenos, pois muitos venderão seus direitos de primogenitura da vida eterna, por causa de vantagens mundanas. Quão melhor é estimulá-los a acumular tesouros no Céu, do que lamuriosamente dizer: "É dinheiro, dinheiro, o que esses homens estão continuamente desejando; eles estão ficando ricos." Quão doces são essas palavras para o professo e amante do mundo! Como fortalecem sua coragem para reter de Deus a parte que Lhe pertence, e que deveria retornar-Lhe em dízimos e ofertas! A maldição do Senhor repousa sobre aqueles que falham em devolver-Lhe o que a Ele pertence. Trabalhemos em harmonia com Deus. Seus servos têm uma mensagem para os amantes do dinheiro. Por que não deveriam eles dar um testemunho direto, relativo a trazer todos os dízimos e ofertas ao depósito do Senhor, quando Ele próprio lhes deu o exemplo? T5 275 1 A religião de Cristo subjuga o espírito egoísta e transforma a mente e as afeições; ela deita abaixo o orgulho do homem para que somente Deus seja exaltado. Isso é o que o irmão A necessita. Ele precisa de uma fé prática em Deus; precisa ver e sentir a glória de servir a Cristo; precisa exaltar o princípio e elevar o padrão cristão, e encher sua mente com as ricas promessas, as advertências, os conselhos e ameaças da Palavra de Deus. Precisa ver a importância de ter fé e obras correspondentes, para que possa representar fielmente, no lar, na igreja e em seus negócios, a pureza e o elevado caráter da religião. Ele deveria colocar-se em conexão com Cristo para ter poder espiritual. Sua ligação com o mundo e as influências opostas ao espírito da verdade exercem maior poder sobre ele do que o Espírito de Cristo. Aí está seu perigo. Ele finalmente naufragará na fé, a menos que mude sua conduta e se ligue firmemente com a Fonte da luz. T5 275 2 Caso seu interesse nas coisas espirituais fosse tão grande como é nas coisas mundanas, sua consagração a Deus seria completa; ele se mostraria um verdadeiro discípulo de Cristo, e Deus aceitaria e usaria os talentos que agora são devotados ao serviço do mundo. A mesma capacidade usada agora no acúmulo de propriedades é requerida na causa de Deus. São necessários administradores em cada ramo de Sua obra, para que ela possa ser levada avante com energia e método. Se um homem possui tato, atividade e entusiasmo, terá êxito nos negócios temporais, e as mesmas qualidades, quando consagradas à obra de Deus, demonstrar-se-ão duplamente eficazes; pois o poder divino se aliará ao esforço humano. O melhor dos planos, seja em empreendimentos temporais ou espirituais, fracassará se sua execução for confiada a mãos incompetentes e inexperientes. T5 276 1 Aqueles que enterram seus talentos neste mundo não agradam a Deus. Todas as suas habilidades são dedicadas ao acréscimo de propriedades, e o desejo de acumular se torna uma paixão. O irmão A é um homem ativo, que se orgulha de promover projetos mundanos. Se o mesmo interesse, discernimento e ambição fossem empregados em negociar para o Senhor, quão maiores e nobres resultados conseguiriam. A experiência conseguida na realização de negócios seculares não trará a mínima vantagem para a vida futura, pois esses não poderão ser levados ao Céu. Mas, se as faculdades que Deus concedeu forem usadas para Sua glória, para a edificação de Seu reino, a experiência obtida será transportada para o Céu. T5 276 2 Qual é nossa posição no mundo? Estamos no tempo de espera. Porém, esse período não deve ser despendido em devoção abstrata. Espera, vigilância e trabalho diligente devem ser combinados. Nossa vida não deveria ser toda ela azafamada, impulsionada e planejada visando às coisas do mundo, em detrimento da piedade pessoal e do serviço que Deus requer. Conquanto não devamos ser negligentes nos negócios, deveríamos ser fervorosos no espírito, servindo ao Senhor. Nossa lâmpada precisa ser preparada e precisamos ter o óleo da graça em nossas lâmpadas e ainda uma porção de reserva. Cada precaução deve ser tomada para prevenir o declínio espiritual, receando que o dia do Senhor venha sobre nós como um ladrão. Aquele dia não deve ser tido como muito distante; ele está próximo, e nenhum homem deveria dizer, quer em seu coração e muito menos por palavras: "Meu Senhor tarde virá!", pois fazendo assim sua parte será com os hipócritas e descrentes. T5 277 1 Vi que o povo de Deus está em grande perigo. Muitos são moradores da Terra; seu interesse e afeições estão centralizados no mundo. Seu exemplo não é correto. O mundo é enganado pela conduta seguida por muitos que professam grandes e nobres verdades. Nossa responsabilidade é de acordo com a luz recebida e as graças e dons conferidos. Sobre os obreiros cujos talentos, meios, oportunidades e habilidades são os maiores, repousa pesadíssima responsabilidade. Deus aconselha o irmão A a mudar sua conduta, a usar sua capacidade para a glória de Deus, em lugar de degradá-la em sórdidos interesses mundanos. Agora é o dia da responsabilidade; breve virá o dia da avaliação. T5 277 2 O irmão A me foi apresentado como representante de uma classe que está em semelhante posição. Esses nunca foram descuidosos com relação às menores vantagens seculares. Por diligente tato mercantil e bem-sucedidos investimentos, pela comercialização, não em dólares, mas em centavos e frações de centavos, acumularam propriedades. Mas, assim fazendo, suas faculdades se tornaram inconsistentes com o desenvolvimento do caráter cristão. Sua vida de modo algum representa a Cristo, pois amam o mundo e seus lucros mais do que a Deus ou a verdade. "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." 1 João 2:15. T5 277 3 Todas as habilidades que os homens possuem pertencem a Deus. Conformidade e ligações mundanas são terminantemente proibidas em Sua Palavra. Quando o poder da transformadora graça de Deus é sentido no coração, ele impelirá o homem, até então um mundano, em todo o caminho da beneficência. Aquele que se determina a ajuntar tesouros no mundo, cai "em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." 1 Timóteo 6:9, 10. T5 278 1 Cada membro da igreja deve sentir-se sob sagrada obrigação de guardar estritamente os interesses da causa de Deus. Os membros da igreja são responsáveis por seu estado entorpecido e desalentado, pelo qual muitas das mais sagradas verdades jamais confiadas aos homens são levadas ao descrédito. Não há desculpa para essa condição. Jesus abriu a cada pessoa um caminho pelo qual a sabedoria, a graça e o poder podem ser alcançados. Ele é nosso exemplo em todas as coisas, e nada nos deve desviar a mente do principal objetivo na vida, que é ter a Cristo abrandando e subjugando o coração. Quando esse é o caso, cada membro da igreja, cada ensinador da verdade, será semelhante a Cristo no caráter, em palavras e ações. T5 278 2 Alguns dos que foram condutos de luz e cujos corações se alegraram na preciosa luz da verdade, têm negado a verdade por assemelhar-se ao mundo. Perderam assim o espírito abnegado e o poder da verdade, e têm dependido, para atingir a felicidade, das instáveis coisas terrenas. Eles estão em grande perigo. Tendo-se uma vez regozijado na luz, serão deixados em total escuridão, a menos que prontamente reúnam os raios que ainda brilham sobre si e se voltem ao Senhor com arrependimento e confissão. Vivemos em dias perigosos, quando o erro e o engano estão seduzindo o povo. Quem advertirá o mundo, quem lhes mostrará o caminho melhor, exceto aqueles que têm tido a luz da verdade e são santificados por ela, deixando-a brilhar para que outros possam ver suas boas obras e glorificar a Deus? Gostaria de poder impressioná-los acerca do perigo de perder o Céu. Unir-se à igreja é uma coisa, ligar-se com Cristo é outra completamente diferente. Nem todos os nomes registrados no livro da igreja estão listados no livro da vida do Cordeiro. Muitos, embora aparentemente crentes sinceros, não mantêm um relacionamento vivo com Cristo. Têm seus nomes nos registros, mas a obra interior de graça não atuou em seu coração. Como resultado, eles não são felizes e tornam difícil a obra de servir a Deus. T5 278 3 "Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados." Mateus 7:2. Lembre-se de que seus irmãos são criaturas falíveis como você mesmo, e olhe para seus erros e falhas com a mesma piedade e tolerância que desejaria exercessem eles a seu respeito. Eles não deveriam ser espreitados e seus defeitos passados em revista diante do mundo para seu próprio regozijo. Aqueles que ousam fazer isso sentaram na cadeira judicial e fizeram a si mesmos juízes, enquanto negligenciaram o jardim do próprio coração e permitiram que ervas venenosas crescessem exuberantemente. T5 279 1 Nós, individualmente, temos um caso pendente no tribunal divino. O caráter está sendo pesado nas balanças do santuário e ele deveria ser a fervente aspiração de todos que andam humilde e zelosamente, temendo que, por negligência de deixar brilhar sua luz no mundo, descaiam da graça de Deus e percam tudo o que realmente vale a pena. Todas as dissensões, diferenças e críticas deveriam ser postas de lado, com toda a maledicência e amargura. Bondade, amor, a compaixão de uns para com os outros, devem ser acalentados, para que a oração de Cristo a fim de que Seus discípulos pudessem ser um como Ele é com o Pai, possa ser respondida. A harmonia e unidade da igreja são as credenciais que eles devem apresentar ao mundo de que Cristo é o Filho de Deus. Conversão genuína sempre levará ao amor verdadeiro por Jesus e por todos aqueles por quem Ele morreu. T5 279 2 Cada um que faz por Deus o que está ao seu alcance, que é verdadeiro e zeloso em fazer o bem àqueles que o cercam, receberá a bênção de Deus sobre seus esforços. Um homem pode prestar serviço real a Deus, embora não seja a cabeça ou o coração do corpo de Cristo. O serviço representado na Palavra de Deus pela mão ou o pé, embora humilde, é todavia importante. Não é a grandeza da obra, mas o amor com que é feita que determina seu valor. Há trabalho a ser feito em favor de nossos vizinhos e por aqueles com quem nos associamos. Não temos liberdade para interromper nossos pacientes e piedosos esforços pelas pessoas, enquanto elas estiverem fora da arca da salvação. Não há trégua nessa guerra. Somos soldados de Cristo e estamos sob obrigação de vigiar, receando que o inimigo obtenha vantagem e retenha a seu serviço alguns que podemos conquistar para Cristo. T5 280 1 O dia da confiança e responsabilidade é nosso; temos um trabalho a fazer para Deus. A igreja de _____ tem se tornado cada vez mais fria e irreverente. Há muito o que fazer por seus membros individualmente. Grande luz tem brilhado sobre seu caminho. Por essa razão eles serão tidos por responsáveis. Disse Jesus: "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14); "Vós sois o sal da Terra." Mateus 5:13. Eles necessitam de uma profunda obra de graça em seu coração. Precisa ocorrer uma reforma antes que Deus os possa abençoar. Há uma grande quantidade de membros formais e professos. O apego egoísta ao ganho se sobrepõe à herança celestial. Se o reino do Céu viesse em primeiro lugar, nobre integridade se salientaria de sua vida e caráter. Eis o que o irmão A necessita se quiser exercer influência para o bem. Ele gosta de lidar com dinheiro e vê-lo acumular-se de diversas formas. Sua mente e afeições estão absorvidas em empreendimentos mundanos. Ele está embriagado pelos cuidados da vida, isto é, acha-se tão envolvido em seus negócios que não pode pensar racional e inteligentemente nas coisas de Deus. Sua visão acha-se obscurecida pelo amor ao dinheiro. A verdade deveria penetrar fundo em seu coração e produzir frutos em sua vida particular e pública. T5 280 2 O irmão A desculpa-se por não fazer das Escrituras o seu estudo, porque é um homem de negócios. Mas, para alguém pressionado pelos cuidados comerciais, as Escrituras serão uma fonte de força e segurança. Tal homem tem grande necessidade da luz procedente da Palavra de Deus, de seus conselhos e advertências, mais do que se não estivesse sob posição tão perigosa. Se o irmão A quisesse exercer nas coisas de Deus a mesma prudência e discernimento comercial que ele tem dado a assuntos seculares, obteria abençoados resultados. Se pensa que Deus está satisfeito com ele enquanto emprega seus talentos e energias quase que inteiramente a serviço de Mamom, ficará decepcionado. Disse Cristo: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. Se o irmão A continuar a subordinar as coisas eternas a seus interesses mundanos, sua paixão por acumular aumentará seguramente até prevalecer sobre o princípio. Ele ficará tão cegado pelo deus deste mundo, que será incapaz de discernir entre as coisas sagradas e as profanas. T5 281 1 O irmão A exerce forte influência sobre a mente de seus irmãos. Esses olham as coisas do mesmo ponto de vista dele. Ele precisa melhorar sua saúde espiritual e tornar-se sábio nas coisas de Deus. Deveria esse irmão começar a mostrar interesse e dedicação às coisas celestiais, e assim educar suas habilidades para poder ser útil à causa de Deus. Precisa ele da armadura da justiça com a qual proteger-se dos dardos do inimigo. É-lhe impossível obter a salvação a menos que proceda a decidida mudança nos objetivos e propósitos de sua vida; a menos que se exercite continuamente nas coisas espirituais. T5 281 2 Deus pede que os membros das igrejas pertencentes a essas duas Associações despertem e se convertam. Irmãos, seu mundanismo, desconfianças e murmurações colocaram vocês em posição tal que será extremamente difícil para qualquer um trabalhar entre vocês. Enquanto seu presidente negligenciou sua obra e falhou no cumprimento do dever, sua atitude não serviu para prover-lhe qualquer encorajamento. Aquele que estava em posição de autoridade devia ter se portado como homem de Deus, reprovando, exortando, animando, conforme a situação exigia, quer vocês aceitassem ou rejeitassem o seu testemunho. Mas ele se desanimou facilmente e deixou vocês sem a ajuda que um fiel ministro de Cristo deveria prestar. Ele falhou em não seguir a providência de Deus, e em não lhes mostrar o dever e instruí-los para atender às exigência do momento. A negligência do pastor, porém, não deveria desencorajá-los e levá-los a se desculpar pela negligência do dever. Eis por que há maior necessidade de energia e fidelidade da parte de vocês. Votando e não cumprindo T5 281 3 Alguns de vocês têm estado a tropeçar em suas promessas. O Espírito do Senhor Se apoderou da reunião de _____ em resposta à oração, e enquanto seu coração era enternecido pela Sua influência, vocês fizeram o voto. Enquanto as correntes da salvação fluíam para seu coração, vocês sentiram que deviam seguir o exemplo dAquele que andou fazendo o bem e que alegremente deu Sua vida para resgatar o homem do pecado e da degradação. Sob a inspiradora influência celestial, vocês viram que o egoísmo e o mundanismo não condiziam com o caráter cristão, e que não era possível viver de forma egoísta e ser cristão. Mas, quando a influência de Seu abundante amor e misericórdia deixou de ser sentida de maneira tão acentuada em seu coração, vocês retiveram suas ofertas, e Deus retirou de vocês a Sua bênção. T5 282 1 Veio a adversidade sobre alguns. Houve fracasso em suas colheitas, de maneira que não puderam resgatar suas promessas, e alguns até foram levados a circunstâncias muito difíceis. Então, claro, não se podia esperar que pagassem. Mas se não tivessem murmurado, e afastado seu coração dos votos que fizeram, Deus teria atuado em seu favor, e teria aberto caminhos pelos quais todos poderiam ter pago o que prometeram. Na realidade, não esperaram com fé, confiando em que Deus abrisse o caminho para que pudessem cumprir suas promessas. T5 282 2 Alguns tinham recursos à disposição; e tivessem eles possuído o mesmo espírito voluntário que tinham quando prometeram, e houvessem de coração entregue a Deus em dízimos e ofertas o que Ele lhes emprestou para esse fim, teriam sido grandemente abençoados. Mas Satanás penetrou com suas tentações, e levou alguns a porem em dúvida os motivos e o espírito que levaram os servos de Deus a apresentar o pedido de recursos. Alguns achavam ter sido enganados e defraudados. Em espírito, repudiaram os seus votos, e tudo o que depois disso fizeram foi com relutância, e por isso não receberam bênção alguma. T5 282 3 Na parábola dos talentos, o homem a quem foi confiado um talento manifestou um espírito invejoso e escondeu o dinheiro, de forma que seu senhor não pôde ser beneficiado por ele. Quando lhe foi exigido que prestasse contas de sua mordomia, o servo desculpou a negligência pondo a culpa sobre seu senhor. "Senhor, eu conhecia-te [ele professa estar relacionado com seu senhor], que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado [porque todos os bens não eram meus, e que o senhor os reivindicaria] escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; devias, então, ter dado o meu dinheiro aos banqueiros, e, quando eu viesse, receberia o que é meu com os juros. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver [feito correto uso de meus bens] será dado, e terá em abundância [pois eu posso confiar nele, sabendo que fará correto emprego daquilo que lhe foi cedido]; mas ao que não tiver [que ficou temeroso de confiar em mim], até o que tem ser-lhe-á tirado [eu o privarei daquilo que ele reivindicava como seu. Ele perderá todos os direitos que lhe foram confiados. Tirarei seus talentos e os darei a alguém que os empregará]. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 25:22-30. T5 283 1 O espírito manifestado pelos irmãos com relação a seus votos tem sido muito ofensivo a Deus. Se vissem o progresso da causa nos campos já penetrados, haveriam de pensar de forma diferente. Eles não foram enganados, e a acusação de logro que fizeram foi contra o Espírito de Deus e não contra o servo que Ele enviou. Se o irmão A tivesse assumido sua posição nesse assunto; se tivesse nutrido o sentimento que o levou a fazer o voto, não se sentiria tão indisposto em investir na causa de Deus. Mas ele planejou o quanto poderia fazer com seus meios, investindo-os em empreendimentos seculares. Avareza, mundanismo e cobiça são defeitos de caráter opostos ao exercício das graças cristãs. Disse o apóstolo: "Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque Ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13:5. T5 284 2 Estava evidente que muitos que fizeram os votos não tinham fé e criam-se prejudicados. Falaram sobre isso e insistiram tanto no assunto que o problema lhes pareceu real. Acharam que não deviam ter auxiliado a Associação Geral e argumentaram que tinham a obrigação de usar os meios em seu próprio campo. O Senhor trabalhou por eles de acordo com sua limitada fé. Satanás, que mantinha sua mente no engano, induziu-os a pensar que haviam tido uma atitude liberal ao enviar meios à Associação Geral, mas a investigação dos fatos mostrou que eles ainda estavam em débito na devolução à Associação Geral do montante despendido com o envio de obreiros e na ajuda que receberam de variadas maneiras para iniciar a obra e levá-la adiante. Além do mais, essas pessoas ficaram ofendidas, insatisfeitas, infelizes e apostataram de Deus, porque pensaram estar fazendo grandes coisas. Isso simplesmente mostra que um terrível engano pode ludibriar a mente quando ela não está sob o especial controle do Espírito de Deus. Suas dúvidas, suspeitas e preconceitos com relação à Associação Geral foi tudo induzido por Satanás. A causa de Deus é uma em todo o mundo. Cada ramo da obra se centraliza em Cristo. Nenhuma porção do campo é independente do restante. T5 284 1 Caros irmãos, vocês permitiram a entrada de Satanás em seu coração, e ele não será totalmente vencido até que os irmãos se arrependam de suas ímpias dúvidas e do descumprimento de seus votos. O mensageiro do Senhor foi desprezado e acusado de exercer pressão indevida sobre o povo. Deus não se agradou do irmão B, porque ele não deu um decidido testemunho contra tudo isso, e não mostrou o pecado de vocês como ele realmente era. T5 284 2 "Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não Se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues. Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, de sorte que destruísse a obra das tuas mãos?" Eclesiastes 5:4-6. T5 284 3 Aí o assunto é apresentado em sua verdadeira luz. A obra de vocês foi feita perante o anjo de Deus. Suas palavras não foram ouvidas apenas pelos homens, mas o anjo do Senhor as ouviu. Como podem ficar surpresos de que Deus esteja irado contra vocês? Estão admirados de que Ele não os tenha abençoado e os tornado capazes de cumprir seus votos? Quando os irmãos resmungaram, lamentaram e revogaram os votos, sentindo que os servos de Deus os haviam enganado e extorquido de vocês compromissos que não eram justos, o inimigo exultou. Se vocês pudessem ver sua conduta como ela realmente aconteceu, jamais apresentariam qualquer coisa parecida com uma desculpa para ela. T5 285 1 Sejam cuidadosos ao falar qualquer palavra para diminuir a influência dos mensageiros de Deus. Às vezes tem havido muita insistência por recursos. Mas quando a luz e o amor de Jesus iluminar o coração de Seus seguidores, não haverá ocasião para apelos ou solicitações por dinheiro ou serviço. Quando eles se tornarem um com Jesus e entenderem que não são de si mesmos, que foram comprados por preço e portanto são propriedade do Senhor, que tudo o que eles têm lhes foi confiado como Seus mordomos, com inabalável fidelidade e coração prazeroso devolverão a Deus aquilo que Lhe pertence. O Senhor não aceitará uma oferta feita de má vontade e com relutância. Com os sentimentos presentes, não haveria virtude nenhuma em fazer mais votos. Quando vocês se recuperarem da armadilha do inimigo; quando repararem a brecha que fizeram e compreenderem que as necessidades da causa de Deus são contínuas, assim como Seus dons aos filhos dos homens, suas obras serão correspondentes à fé e vocês receberão uma rica bênção do Senhor. ------------------------Capítulo 29 -- A influência da incredulidade T5 285 2 A igreja de _____ apostatou-se tremendamente de Deus. Ela não mais se encontra num estado de saudável prosperidade. Cada membro da igreja tem suas cargas e desânimo a suportar, mas os deveria ter sofrido com paciência e manter sua fé viva diante de Deus, sem debilitar outros na igreja. Deveria somar com a força da igreja e não reduzi-la. O irmão C não assumiu uma posição de molde a fortalecer a própria fé ou a da igreja. Ele agiu ao lado do inimigo para abater e desencorajar. Satanás está constantemente animando a incredulidade. Ele toma nota dos erros e falhas dos professos seguidores de Cristo, e zomba dos anjos de Deus por isso. Ele é o acusador dos irmãos e influenciará tantos quantos for possível a fazer o mesmo. Aqueles que tomam sobre si vigiar o jardim do vizinho em lugar de capinar seu próprio terreno, certamente descobrirão que seu jardim acha-se tão coberto de mato, que cada planta preciosa está sufocada. T5 286 1 O irmão C não está na posição de ser uma luz para o mundo. Oh, não! Ele é um manto de trevas. A eternidade haverá de revelar o quanto suas palavras imponderadas plantaram as sementes do questionamento, da dúvida e crítica em muitas mentes, e qual sua influência em desviar muitas pessoas da verdade. Ele se tem permitido tornar-se um canal de escuridão, transmitindo suspeitas e semeando desânimo. Deus não Se agrada de sua conduta. Ele próprio se tornou menos e menos suscetível à influência do Espírito de Deus. Possui pequena fé. Como poderia ser de outro modo, quando pelas próprias palavras está ele constantemente fortalecendo a incredulidade? Enquanto sugere dúvidas, em vez de permitir que feixes de preciosa luz brilhem sobre outros, está auxiliando o inimigo em sua obra. Esse espírito torna-o quase um infiel e, a menos que retorne completamente, será por certo um. T5 286 2 O irmão C é imprudente em suas palavras e ações. Palavras ociosas, pelas quais deverá dar contas no dia de Deus, estão quase que constantemente saindo de seus lábios. Ele se coloca no terreno do inimigo e, como resultado, não possui o Espírito de Cristo. De vez em quanto nota que cometeu um grande erro, que tem perdido preciosos e áureos momentos, os quais deveria ter empregado em purificar o próprio coração. O irmão C tem explorado os defeitos dos outros, vivendo às custas de seus erros e isso é inanição espiritual. Todo reavivamento é passível de trazer à igreja pessoas que não sejam realmente convertidas. Detêm nominalmente a verdade, mas não são santificados por sua bela influência. Estando destituídos da graça, esses tornam-se egoístas, severos e inflexíveis. Tais pessoas sempre são imerecedoras de confiança. Estarão sempre fazendo e dizendo coisas contrárias à fé. A igreja que tem de carregar esse peso merece piedade. O mundo acha-se em oposição à igreja e Satanás e seus anjos estão constantemente em guerra contra ela. Por conseguinte, os defeitos desses membros indignos são lançados sobre aqueles que se mostram sadios na fé. T5 287 1 Os que crêem na verdade deveriam estar determinados a auxiliar e não embaraçar a minoria em _____, que está lutando contra o desânimo. Os membros deveriam, cada um, ter zeloso cuidado para que os inimigos da fé não achem ocasião de triunfar sobre o estado de apostasia e mornidão da igreja. Alguns têm desperdiçado sua influência quando, com um pouco de abnegação, determinação e zelo, poderiam ter sido uma força ao lado do bem. Esse ardor não virá sem esforço, sem lutas ardentes. Se tão-somente três fiéis restarem na igreja de _____, esses poderiam, se ligados a Deus, ser vivos condutos de luz, e Ele lhes acrescentaria muitos salvos. Deus suscitou porta-estandartes em _____. Alguns morreram, uns se mudaram e outros se tornaram espiritualmente mortos. Seus serviços são prestados a Satanás. Eles não imaginam que em breve virá o tempo em que sua conta nos registros celestiais será fechada, quando a obra de cada pessoa será vista de que espécie é. T5 287 2 Lembre-se de que cada um deve ser julgado de acordo com sua obra. Quando, no grande dia final do ajuste de contas, o registro de sua vida for aberto diante de você, meu duvidoso, questionador e acusador irmão, que mostrará ele? "As vossas palavras foram agressivas para Mim, diz o Senhor; mas vós dizeis: Que temos falado contra Ti? Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os Seus preceitos e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?" Malaquias 3:13, 14. Essa tem sido a linguagem do seu coração, e da "abundância no coração, disso fala a boca". Mateus 12:34. Pelas suas palavras você será justificado ou condenado. Acusar os irmãos é o trabalho de Satanás desde a sua queda. Você tem desencorajado a igreja que já possuía pouca coragem. O irmão apresentou a verdade sob quase todo aspecto objetável. Essa é a obra que Satanás está levando adiante. Você não tem qualquer razão de se orgulhar de suas palavras, pois elas produzirão confusão, vergonha e desespero, no dia em que cada homem receberá de acordo com o que tiver feito nesta vida. T5 288 1 Sua esposa ouviu-lhe tanto as expressões inconvenientes, até tornar-se amoldada em alto grau às suas idéias. O temor do Senhor foi quase que inteiramente removido de ambos. Você agora está lançando sementes de incredulidade que produzirão grande colheita, a qual não vai lhe trazer a menor alegria. O irmão se alugou ao inimigo, para ser seu agente e conduzir pessoas à dúvida e incredulidade. Todo o seu trabalho tem sido espalhar contra Cristo. Você se gloria em sua astúcia, em sua capacidade de confundir mentes, e pensa ser isso indicativo de inteligência. Mas, essa é a mesma espécie de sagacidade que possui o príncipe das trevas e que receberá a mesma recompensa que ele reservou para si por sua intensa atividade e perspicácia. Esta época tende à incredulidade, a fazer pouco da piedade e da verdadeira religião. Esse é o plano de Satanás, e quando você favorece à incredulidade, é levado cativo por suas artimanhas a fazer essa obra. T5 288 2 Sua esposa travará uma dura luta para vencer os estratagemas do inimigo, suplantando os próprios defeitos de caráter e sujeitando todas as suas habilidades à vontade de Deus, assentando firmemente os pés na plataforma da verdade eterna. Ela não é consagrada por natureza, e você tem posto as coisas diante dela numa luz tão incerta, que a deixa sem âncora e à deriva. Não encontra conforto verdadeiro na fé e na esperança, pois não possui um conhecimento inteligente da verdade. Tem sido grandemente afetada pela atmosfera de incredulidade que respira e se acaso ela se perder, o seu sangue se achará nas vestes do irmão. T5 288 3 Você está tão certamente fazendo a obra de Satanás como qualquer um de seus declarados agentes. As dúvidas que você tem introduzido em muitas mentes dará frutos. Sua safra está madurando para a colheita final. Será que o irmão vai se orgulhar dela? Você pode ainda retornar ao Senhor e encontrar descanso nEle. Porém, você por tanto tempo tem-se treinado para criticar, para mudar e torcer tudo sob falsa luz, que exigirá fervente oração e constante vigilância romper com o hábito que se tornou uma segunda natureza. Meu coração anseia pelo irmão e sua família. O Senhor está desgostoso com você, pois é ofendido diariamente. O irmão precisa ser um homem completamente convertido, transformado, ou nunca terá o dom precioso da vida eterna. ------------------------Capítulo 30 -- O engano do pecado T5 289 1 O irmão D me foi apresentado como estando a fazer uma obra que no Juízo Final desejará anular. Ele não está correto em todos os pontos de doutrina e obstinadamente mantém suas errôneas posições. É ele um acusador dos irmãos. Não somente pensa mal daqueles a quem Deus escolheu como obreiros em Sua causa, mas deles tem falado a outros. Não se conformou à regra bíblica e não busca conselho com os irmãos da liderança, contudo, descobre falta neles todos. T5 289 2 A desculpa a ele imputada é: "Oh, o irmão D é um bom homem. É um modelo de amabilidade e bondade, um legítimo colaborador em qualquer lugar." Esse irmão possui excelentes traços de caráter. Não possui grande capacidade como pregador, mas pode tornar-se um diligente e fiel obreiro. O inimigo tomou ocasião através da alta estima que esse irmão tem de si mesmo. Não houvesse ele se julgado maior do que de realmente é, e nunca teria se atrevido a atingir a reputação de seus irmãos como o fez. Por sua liberdade em coletar e divulgar falsas informações, ele se interpôs entre o povo e a mensagem que Deus deu a Seus ministros para apresentar, a fim de prepará-los para estarem em pé no dia do Senhor. Suas boas qualidades tornaram-no mais perigoso ainda, pois concederam-lhe influência. O povo pensa que o que ele diz deve ser verdade. Se ele fosse um sujeito imoral ou briguento, não teria sido bem-sucedido na conquista da confiança de tantos. T5 290 1 O modo de agir do irmão D também faz sua conduta mais merecedora de censura e uma grande ofensa a Deus. Se ele houvesse revelado seus sentimentos ocultos, houvesse ele dito em público as coisas que falava em particular, ninguém teria pensado nem por um momento em enviá-lo para trabalhar na Associação. Enquanto trabalhando nesse órgão, seus irmãos têm direito de supor que os pontos de vista dele são corretos. E com essa aprovação, sua influência tem sido um poder para o mal. Há alguns que nunca teriam nutrido qualquer suspeita de seus irmãos ou pensado mal deles, se não tivessem ouvido as palavras do irmão D. Ele tem dirigido as mentes a uma conduta tal que, se seguida, findará em rebelião e perda de almas. Removido o disfarce, essa é a obra que nosso bom irmão tem estado a fazer. T5 290 2 Deus me apresentou esse assunto em sua verdadeira luz. O coração do irmão D não é reto. Ele está poluído por amargura, ira, inveja, ciúmes e ruins suspeitas, e precisa ser purificado. Se ele não mudar completamente sua conduta, em breve será um homem arruinado. A caridade, ou amor, "é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:4-7. T5 290 3 Suponha que o irmão D leve o povo a questionar e rejeitar os testemunhos que Deus tem dado a Seu povo durante os últimos trinta e oito anos; suponha que ele os faça crer que os líderes da obra são homens desonestos, astuciosos, empenhados em enganar o povo, que grande e boa obra faria ele? Essa é uma obra bem semelhante à de Coré, Datã e Abirão, e para todos aqueles a quem ele influenciou o resultado será desastroso. Ele pensou que não poderia estar errado, mas traz essa obra o sinete do Céu? Não! O irmão D tem condescendido com um espírito de justiça própria que quase o levou à ruína. Que ele venha até seus irmãos; se tem dificuldades com eles com respeito à sua linha de ação, que lhes mostre onde estão seus erros. T5 291 1 Quando Satanás se tornou indesejável no Céu, não apresentou ele sua queixa perante Deus e Cristo; foi, porém, aos anjos que o julgavam perfeito, afirmando que Deus lhe fizera injustiça, preferindo Cristo a ele. O resultado dessa falsidade foi, por motivo de lhe terem aderido, um terço dos anjos perderem sua inocência, sua alta posição e seu lar feliz. Satanás instiga os homens a continuarem na Terra a mesma obra de inveja e ruins suspeitas que ele começou no Céu. T5 291 2 Quando Jesus esteve na Terra, os judeus sempre Lhe estavam no encalço como espiões. Eles juntavam todo relato falso e O acusavam de um crime após outro. Esforçavam-se continuamente para fazer com que o povo O rejeitasse. Era porventura correta a sua atitude? Se sim, então o irmão D não pecou, pois atuou de modo similar. Agora mesmo pode ele romper as algemas do inimigo, pode vencer sua disposição de exaltar-se sobre seus irmãos. Que esse irmão busque a mansidão e procure aprender a ter os outros em mais alta honra que a si mesmo. Se ele agir com fidelidade e em harmonia com o plano de Deus, ouvirá as amáveis palavras "bem está" dos lábios do Mestre. Porém, se rejeitar os esforços dos servos de Deus, se escolher seu próprio caminho e seguir o próprio entendimento, certamente naufragará na fé. Deus não esqueceu o Seu povo, escolhendo um homem isolado aqui e outro ali, como os únicos dignos de que lhes confie a verdade. Não dá a um homem luz contrária à estabelecida fé do corpo de crentes. Em toda reforma, surgiram homens pretendendo isso. Paulo advertiu a igreja de seu tempo: "Dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si." Atos dos Apóstolos 20:30. O maior mal ao povo de Deus vem por intermédio dos que saem de seu meio, falando coisas perversas. Por eles é blasfemado o caminho da verdade. T5 291 3 Ninguém confie em si mesmo, como se Deus lhe houvesse conferido luz especial acima de seus irmãos. Cristo é representado como habitando em Seu povo, e os crentes, como "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito". Efésios 2:20-22. "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor", diz Paulo, "que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos." Efésios 4:1-6. T5 292 1 Aquilo a que o irmão D chama luz, é aparentemente inofensivo; não parece que alguém pudesse ser prejudicado por aquilo. Mas, irmãos, é o ardil de Satanás, é a cunha que usa para penetrar. Isso foi tentado repetidamente. Alguém aceita umas idéias novas e originais, que não parecem discordar da verdade. Fala disso e sobre isso se demora, até que lhe parece revestido de beleza e importância, pois Satanás tem poder para lhe dar essa falsa aparência. Por fim torna-se o seu tema todo absorvente, o único e grande ponto em volta do qual tudo gira; e a verdade é desarraigada do coração. T5 292 2 Assim que se iniciam idéias erradas no espírito do irmão D, começa ele a perder a fé e a questionar a obra do Espírito, que há tantos anos se vem manifestando entre nós. Não é ele homem capaz de manter isso que ele crê ser luz especial, sem a comunicar a outros; portanto, não é seguro dar-lhe influência que o habilite a abalar outras mentes. Seria abrir uma porta pela qual Satanás introduziria apressadamente muitos erros, para desviar a mente da importância da verdade para este tempo. Irmãos, como embaixadores de Cristo, advirto-lhes que se protejam contra esses movimentos desviados, cuja tendência é distrair a mente da verdade. O erro jamais é inofensivo. Nunca ele santifica, mas sempre traz confusão e dissensão. É sempre perigoso. O inimigo tem grande poder sobre os espíritos que não se achem plenamente fortalecidos pela oração, e firmados na verdade bíblica. T5 293 1 Existem mil tentações disfarçadas, preparadas para os que têm a luz da verdade; e a única segurança para qualquer de nós está em não recebermos nenhuma nova doutrina, nenhuma interpretação nova das Escrituras, antes de submetê-la à consideração dos irmãos de experiência. Apresentem-na a eles, com espírito humilde e pronto para aprender, fazendo fervorosa oração; e, se eles não virem luz nisto, atendam ao seu juízo, porque "na multidão de conselheiros há segurança". Provérbios 11:14. T5 293 2 Satanás viu no irmão D traços que lhe dariam vantagem. Disse Jesus: "Aproxima-se o príncipe deste mundo e nada tem em Mim." João 14:30. Conquanto aparente grande humildade, esse irmão se tem posto em alta estima. Por anos, nutriu ele o sentimento de que seus irmãos não o apreciavam e ele tem expresso essa idéia a outros. Satanás descobriu nele um traço de personalidade que poderia muito bem explorar. T5 293 3 Este é um tempo de extremo perigo para o irmão D e muitos outros. Os anjos de Deus estão observando essas pessoas com intenso interesse, e Satanás e seus anjos acham-se mui ansiosos de ver como seus planos transcorrerão. A vida do irmão D está em crise. Ele deve aqui fazer decisões para o tempo e a eternidade. Deus o ama e essa experiência pode ser de grande valia para ele. Se ele plenamente entregar seu coração a Deus e aceitar toda a verdade, tornar-se-á um obreiro infatigável. Deus trabalhará por meio dele e o irmão D poderá fazer grande soma de bem. Mas ele precisa trabalhar em harmonia com seus irmãos. Precisa vencer sua suscetibilidade e aprender a suportar as dificuldades como bom soldado da cruz de Cristo. T5 293 4 Satanás trabalha constantemente, mas poucos fazem idéia de sua atividade e sutileza. O povo de Deus deve estar preparado para resistir ao perverso inimigo. É esta resistência que apavora a Satanás. Ele conhece, melhor do que nós, o limite de seu poder, e como facilmente pode ser vencido, se lhe resistirmos e o enfrentarmos. Mediante o poder divino, o mais fraco dentre os santos é mais forte do que ele e do que todos os seus anjos e, se submetido a uma prova, poderá demonstrar sua força superior. Portanto, o passo de Satanás é silencioso, seus movimentos são traiçoeiros e suas baterias camufladas. Ele não se atreve a apresentar-se abertamente, para não despertar as energias latentes do cristão, a fim de que este não recorra a Deus mediante a oração. T5 294 1 O inimigo está-se preparando para sua última campanha contra a igreja. Por tal forma se ocultou de vista, que muitos quase que não acreditam em sua existência, muito menos podem ser convencidos de sua espantosa atividade e poder. Esqueceram-se, em grande medida, de seu registro passado; e quando ele faz outro movimento de avanço, não o reconhecem como inimigo seu, aquela velha serpente, mas consideram-no um amigo, que está fazendo uma boa obra. Alardeando sua independência hão de, sob sua perigosa e enfeitiçante influência, obedecer aos piores impulsos do coração humano, e todavia crer que Deus os está guiando. Pudessem seus olhos ser abertos para distinguir o seu comandante, e veriam que não estão servindo a Deus, mas ao inimigo de toda a justiça. Veriam que sua alardeada independência é um dos mais pesados grilhões com que Satanás pode prender espíritos desequilibrados. T5 294 2 O homem é cativo de Satanás, naturalmente inclinado a seguir suas sugestões e cumprir suas ordens. Em si mesmo, não tem poder para opor resistência eficaz ao mal. É só à medida que Cristo nele habita, pela viva fé, influenciando-lhe os desejos e fortalecendo-o com poder do alto, que pode o homem atrever-se a fazer face a tão terrível inimigo. Qualquer outro meio de defesa é inteiramente inútil. É unicamente por meio de Cristo que o poder de Satanás é limitado. É esta uma verdade momentosa, que todos deveriam compreender. Satanás está ocupado a todo momento, indo para cá e para lá, andando acima e abaixo pela Terra, buscando a quem possa tragar. Mas a fervorosa oração da fé lhe frustrará os maiores esforços. Tomem, pois, irmãos, "o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno". Efésios 6:16. T5 294 3 Os piores inimigos que temos são os que procuram destruir a influência dos vigias sobre os muros de Sião. Satanás atua por intermédio de agentes. Faz aqui um fervoroso esforço. Atua segundo um plano preestabelecido, e seus agentes atuam em comum acordo com ele. Uma linha de incredulidade alastra-se através do continente e está em comunicação com a igreja de Deus. Tem exercido sua influência no sentido de solapar a confiança na obra do Espírito de Deus. Esse elemento aqui se encontra, atuando em surdina. Cuidem não aconteça serem encontrados ajudando o inimigo de Deus e do homem, espalhando falsos relatos, criticando e fazendo decidida oposição. T5 295 1 Mediante recursos enganadores e instrumentos invisíveis, Satanás atua para fortalecer sua autoridade e colocar obstáculos no caminho do povo de Deus, para que pessoas não sejam libertas de seu poder, e arregimentadas sob o estandarte de Cristo. Por seus enganos, procura ele atrair pessoas para longe de Cristo, e os que não se acham firmados na verdade, certamente serão levados em suas ciladas. E aqueles que não pode seduzir ao pecado ele perseguirá, como os judeus fizeram com Cristo. T5 295 2 É objetivo de Satanás desonrar a Deus, e atua com todo elemento não santificado, para conseguir seu desígnio. Os homens que ele torna instrumentos seus para fazer essa obra são cegados, não vendo o que estão fazendo senão depois de se acharem tão profundamente envolvidos em culpa que julgam inútil procurar a recuperação, e assim arriscam tudo, e continuam até ao amargo fim seu procedimento de transgressão. T5 295 3 Satanás espera envolver os remanescentes filhos de Deus na ruína geral que está para vir sobre a Terra. À medida que se aproxima a vinda de Cristo, mais determinado e decidido em seus esforços fica ele, a fim de os derrotar. Surgirão homens e mulheres proclamando possuir alguma nova luz ou alguma nova revelação, e cuja tendência é abalar a fé nos marcos antigos. Suas doutrinas não resistem à prova da Palavra de Deus. Mesmo assim, pessoas serão enganadas. Farão circular relatos falsos e alguns serão apanhados pela armadilha. Acreditarão nesses boatos e por sua vez os repetirão, e assim se formará uma cadeia que os liga com o arquienganador. Tal espírito nem sempre se manifestará em aberto desafio às mensagens enviadas por Deus, mas expressa de muitas maneiras uma deliberada incredulidade. Cada falsa declaração feita, alimenta e fortalece essa incredulidade, e por esse meio muitas pessoas serão levadas à decisão do lado errado. T5 296 1 Não podemos ser demasiado vigilantes contra toda forma de erro, pois Satanás está constantemente buscando afastar da verdade os homens. Ele os abarrota com noções de sua própria suficiência e os convence, como fez com o irmão D, de que a originalidade é um dom muito desejável. Esse irmão precisa aprender a verdade mais perfeitamente. Satanás tem tirado vantagem de sua ignorância nessa direção e aí está o perigo. Um homem cuja atenção foi chamada em particular, e que é difícil de ser persuadido uma vez que seus pés estejam postos no caminho do erro. Muitos que pensavam estar seguindo apenas um homem que ia após Cristo, foram traídos quando ele se afastou de seu Salvador. T5 296 2 O orgulho habita no coração do irmão D, e lhe será extremamente difícil subjugá-lo, mas, a menos que se renda inteiramente a Cristo, o inimigo continuará a atuar por meio dele. E se ele não assumir uma decidida posição de uma vez por todas, temo que nunca o fará. T5 296 3 As igrejas de _____ e _____ assumiram uma pesada responsabilidade. O pleno resultado do trabalho que fizeram não será conhecido até o Juízo. Vocês necessitam de visão celestial, caros irmãos, pois o pecado tem muitos disfarces. A falta de percepção espiritual faz com que vocês tropecem como cegos. Se os irmãos possuíssem sinceridade de propósito, isso lhes haveria de ser um elemento de tremendo poder na Associação. As coisas que eu temia, porém, estão acontecendo. Havia uma obra a ser feita e que foi deixada para trás. Onde estão os grupos que eu vira sendo organizados como resultado de esforços bem dirigidos, bem como as igrejas que haviam sido construídas? A incredulidade de vocês embargou a obra. Comparativamente, vocês nada fizeram por si mesmos, e quando alguém queria trabalhar, vocês impediam o caminho de forma que outros não pudessem obter benefícios. T5 296 4 Alguns são vagarosos, muito vagarosos, e se orgulham disso. Mas, essa indolente morosidade é um defeito de caráter do qual nenhum homem poderia se jactar. Tome a firme resolução de estar preparado e com a divina ajuda você será bem-sucedido. Permita que sua consagração seja completa. Vincule propriedade e amigos ao altar de Deus, e quando o coração estiver preparado para receber a influência celestial, raios de luz provindos do trono de Deus brilharão em seu coração, estimulando todas as suas energias adormecidas. T5 297 1 Alguns homens não têm firmeza de caráter. Assemelham-se a uma bola de cera e podem ser moldados em qualquer aspecto concebível. Eles não possuem forma e consistência definitivas e são inúteis no mundo. Essa fraqueza, indecisão e ineficiência precisam ser vencidas. Existe no verdadeiro caráter cristão alguma coisa de indomável, que não pode ser moldada nem subjugada pelas circunstâncias adversas. Os homens precisam ter, moralmente falando, espinha dorsal, uma integridade que não é vencida pela lisonja, pelo suborno ou o terror. T5 297 2 Temo muito pela igreja. Como Paulo disse: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo." 2 Coríntios 11:3. O apóstolo então explicou que é por meio de mestres corrompidos que o inimigo assalta a fé da igreja. Ele adverte: "Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça..." 2 Coríntios 11:13-15. T5 297 3 Quanto mais aprendermos com referência aos primeiros dias da igreja cristã e virmos com que sutileza Satanás trabalhou para enfraquecer e destruir, estaremos melhor preparados para resistir aos seus ardis e enfrentar perigos vindouros. Vivemos num tempo em que tribulações nunca dantes vistas prevalecerão. "Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo." Apocalipse 12:12. Mas Deus pôs limites os quais Satanás não pode ultrapassar. Nossa mui santa fé é essa barreira, e se formos edificados na fé, estaremos seguros sob a guarda do Todo-poderoso. "Como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra." Apocalipse 3:10. ------------------------Capítulo 31 -- Criticando os pastores T5 298 1 Um erro leva a outro. Nossos irmãos devem aprender a agir inteligentemente e não por impulso. Sentimento não deve ser o critério. Uma negligência de dever e uma condescendência com simpatias impróprias serão seguidas pela desatenção em apreciar devidamente aqueles que estão trabalhando para promover a causa de Deus. Jesus disse: "Eu vim em nome de Meu Pai, e não Me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis." João 5:43. T5 298 2 Muitos não consideram a pregação como um meio apontado por Cristo para instruir Seu povo, e que, portanto, deve sempre ser altamente prezado. Não sentem que o sermão é a palavra do Senhor a eles dirigida e que precisa ser avaliado pelo valor das verdades apresentadas, mas julgam-no como se fosse a fala de um advogado diante do tribunal -- pela habilidade argumentativa apresentada e o poder e a beleza da oratória. O pastor não é infalível, mas Deus o dignificou por torná-lo Seu mensageiro. Se vocês o ouvirem como se ele não fosse comissionado pelo alto, não respeitarão suas palavras nem as receberão como mensagem de Deus. Sua alma não poderá ser alimentada pelo maná celestial; surgirão dúvidas concernentes a algumas coisas que não são agradáveis ao coração natural, e vocês se porão a julgar o sermão como se ele fossem observações de um conferencista ou um orador político. Logo que a reunião se encerrar, vocês estarão prontos a fazer alguma queixa ou observação sarcástica, mostrando assim que a mensagem, embora verdadeira e indispensável, não lhes trouxe proveito. Vocês não a estimam. Cultivaram o hábito de criticar, descobrir faltas e ser exigentes na escolha, possivelmente rejeitando as coisas que mais necessitam. T5 298 3 Há pouquíssimo respeito pelas coisas sagradas, tanto na Associação de Colúmbia quanto na do Norte do Pacífico. Os agentes ordenados por Deus são quase que inteiramente perdidos de vista. O Senhor não institui nenhum método novo de atingir os filhos dos homens. Se eles se afastarem das agências apontadas pelo Céu para reprovar seus pecados, corrigir seus erros e apontar a senda do dever, de nenhum modo serão atingidos por qualquer outro meio de comunicação celestial. Deixados em escuridão, serão enganados e apanhados pelo adversário. T5 299 1 Ao ministro de Deus é ordenado: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados." Isaías 58:1. Acerca desse povo diz o Senhor: "Todavia, Me procuram cada dia, tomam prazer em saber os Meus caminhos; como um povo que pratica a justiça." Isaías 58:2. Eis aqui um povo equivocado, cheio de justiça própria, autocomplacente, cujo pastor é mandado clamar em alta voz e mostrar-lhes suas transgressões. Em todas as épocas essa obra tem sido feita em favor do povo de Deus e agora é mais necessária que nunca. T5 299 2 A palavra do Senhor veio a Elias. Ele não pretendia ser o mensageiro do Senhor, mas a palavra chegou até ele. Deus sempre tem homens a quem Ele confia Sua mensagem. Seu Espírito toca-lhes o coração e os constrange a falar. Movidos por santo zelo e com o poderoso impulso divino neles, saem a cumprir seu dever sem calcular friamente as conseqüências de falar ao povo a palavra que o Senhor lhes deu. Mas o servo de Deus é de pronto cientificado de que tem de arriscar algo. Ele se põe a descoberto e a sua mensagem é objeto de crítica. Seus modos, vida, seus bens, tudo é inspecionado e comentado. A mensagem que traz é severamente criticada e rejeitada da maneira mais intolerante e profana, como só os homens em seu finito juízo são capazes de fazer. Tem tal mensagem feito a obra que Deus lhe designou executar? Não, ela falhou marcadamente porque o coração dos homens não estava santificado. T5 299 3 Se a face do pastor não for posta como um seixo, se não ele possui fé indômita e coragem, se seu coração não está fortalecido pela constante comunhão com Deus, ele começará a moldar seu testemunho para agradar os corações e ouvidos não consagrados daqueles a quem se dirige. Esforçando-se para evitar as críticas às quais está exposto, separa-se de Deus e perde o senso do favor divino. Seu testemunho se torna insípido e sem vida. Ele acaba por perceber que sua coragem e fé se foram, e seus trabalhos se tornaram ineficazes. O mundo está cheio de indivíduos aduladores e dissimulados, que desejam agradar. Mas os homens fiéis, que não buscam os próprios interesses, os que amam denodadamente seus irmãos, a ponto de sofrer pelo pecado deles, esses são realmente poucos. T5 300 1 É decidido propósito de Satanás interromper toda comunicação entre Deus e Seu povo, para que possa aplicar seus enganosos enganos sem interferência de qualquer voz de admoestação para conscientizá-los do perigo. Se ele puder levar os homens a desconfiarem do mensageiro ou a eliminar a santidade da mensagem, sabe que o povo não se sentirá sob obrigação de dar ouvidos à Palavra de Deus que lhes é dirigida. Então, quando a luz é tida como trevas, Satanás conseguiu seu objetivo. T5 300 2 Nosso Deus é um Deus zeloso. Ele não Se deixa escarnecer. Aquele que faz todas as coisas de acordo com os conselhos de Sua vontade, decidiu colocar os homens sob variadas circunstâncias e ordenar-lhes deveres e práticas peculiares aos tempos em que estão vivendo e às condições sob as quais se acham. Se eles apreciarem a luz que lhes é dada, suas faculdades serão grandemente desenvolvidas e enobrecidas, e mais amplas visões da verdade lhes serão concedidas. Os mistérios eternos e especialmente a maravilhosa graça de Deus como manifestada no plano da redenção, serão desdobrados a sua mente. Coisas espirituais se discernem espiritualmente. T5 300 3 Nunca devemos nos esquecer de que Cristo ensina através de Seus servos. Pode haver conversões sem a ajuda da pregação. Onde quer que as pessoas estejam situadas de forma a estarem privadas de todos os meios da graça, são impressionadas pelo Espírito de Deus e convencidas da verdade através da leitura da Palavra. Porém, o meio designado por Deus para salvar pessoas é pela "loucura da pregação". 1 Coríntios 1:21. Embora humanos e circundados por toda a fragilidade do mundo, os homens são os mensageiros de Deus. O querido Salvador é ofendido quando tão pouco é realizado pelos esforços de Seus servos. Cada pastor que sai para a grande colheita deveria exaltar seu cargo e buscar não apenas levar os homens ao conhecimento da verdade, mas trabalhar, como Paulo, "admoestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo". Colossences 1:28. T5 301 1 O homem deve ser visto e honrado apenas como embaixador de Deus. Honrar a criatura não é agradar a Deus. A mensagem que ele apresenta deve passar pelo teste da Bíblia. "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." Isaías 8:20. Mas a Palavra do Senhor não pode ser ajuizada por padrões humanos. Será visto que aqueles cuja mente tem o molde do mundanismo, os que têm uma limitada experiência cristã e quase nada sabem das coisas de Deus, são justamente os que têm o mínimo respeito para com os servos do Senhor e a menor reverência para com a mensagem que Ele ordenou levar-lhes. Eles ouvem um sermão penetrante e vão para seus lares preparados para fazer julgamentos sobre ele. Assim desaparece a impressão de sua mente, como o orvalho da manhã sob a luz solar. Se o sermão for de caráter emocional afetará os sentimentos, mas não o coração e a consciência. Tais pregações não resultam em bem permanente, mas com freqüência conquistam o coração do povo e atraem sua afeição para o homem que lhes agrada. Eles se esquecem que Deus disse: "Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz." Isaías 2:22. T5 301 2 Jesus espera com ardente desejo poder apresentar perante Seu povo a glória que Lhe assistirá a segunda vinda, e levá-los à contemplação das paisagens de felicidade. Há maravilhas a ser reveladas. Mesmo uma longa vida de oração e pesquisa deixarão muito ainda a ser explorado e explicado. Mas aquilo que não sabemos agora, será revelado depois. A obra de instrução que se iniciou aqui prosseguirá por toda a eternidade. O Cordeiro, enquanto conduz a multidão dos redimidos à fonte de águas vivas, comunicará os ricos tesouros do conhecimento. Ele deslindará os mistérios das obras e providências de Deus que nunca antes foram entendidos. T5 301 3 Nunca podemos descobrir a Deus pela pesquisa. Ele não revela Seus planos a mentes curiosas e inquisitivas. Precisamos não tentar erguer com mão presunçosa a cortina com a qual Ele protege Sua majestade. Exclama o apóstolo: "Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!" Romanos 11:33. É uma prova de Sua misericórdia o estar oculto o Seu poder, o esconder-Se Ele nas respeitáveis nuvens do mistério e da obscuridade; pois erguer a cortina que esconde a presença divina é morte. Mente alguma mortal pode penetrar no secreto em que habita e atua o Poderoso. Não podemos compreender mais de Seu trato conosco e os motivos que nEle atuam, do que Lhe parece conveniente revelar. Tudo Ele ordena em justiça, e não temos de ficar insatisfeitos e desconfiados, mas inclinar-nos em reverente submissão. Ele nos revelará de Seus desígnios quanto for para nosso bem; e para além disso, devemos confiar na mão que é onipotente, no coração cheio de amor. ------------------------Capítulo 32 -- Necessidade de fidelidade e perseverança T5 302 1 A situação da igreja de _____ está muito distante do que deveria ser. A menos que haja decidida mudança, ela vai definhar e morrer. Há muita crítica. Muitos estão dando lugar a dúvidas e incredulidade. Os que falam de fé e cultivam a fé, terão fé, mas aqueles que alimentam e expressam dúvidas, terão dúvidas. T5 302 2 Tem havido negligência da parte dos pastores. Eles não têm insistido em implantar no coração de seus ouvintes a necessidade de fidelidade. Não têm instruído a igreja em todos os pontos da verdade e do dever, nem trabalhado com zelo para levá-los a agir ordenadamente e torná-los interessados em cada ramo da causa de Deus. Foi-me mostrado que se a igreja houvesse sido adequadamente preparada, estaria muito mais adiantada do que agora. O descaso da parte dos pastores tornou o povo descuidado e infiel. Esse não sentiu ainda sua responsabilidade individual, mas se desculpa por conta da falha dos pastores em fazer a obra de pastor. Mas Deus não os considera sem culpa. Se o povo não tivesse a Bíblia, as advertências, reprovações e súplicas do Céu a mostrar-lhes o dever, não estaria sob condenação. Porém, o Senhor lhes deu conselho e instrução; o dever de cada indivíduo foi tornado tão claro que ele não necessita cometer erros. T5 303 1 Deus concede luz para guiar aqueles que honestamente desejam luz e verdade, mas não é Seu propósito remover toda causa de questionamento e dúvida. Ele dá suficiente evidência em que fundamentar a fé e então requer do homem que aceite essa evidência e exercite a fé. T5 303 2 Quem estudar a Bíblia com humildade e espírito de aprendiz, descobrirá nela um guia seguro, que destaca o caminho da vida com infalível exatidão. Mas de que vale seu estudo da Bíblia, irmãos e irmãs, se vocês não praticam as verdades que ela ensina? Esse livro santo nada contém que não seja essencial; nada revelado que não diga respeito à nossa vida. Quanto mais profundo o nosso amor por Jesus, em mais alta consideração teremos a Palavra, como a voz de Deus dirigindo-se diretamente a nós. T5 303 3 A igreja de _____ está no terreno encantado de Satanás e há necessidade de uma total conversão. São necessários esforços individuais. As ricas promessas da Bíblia são para aqueles que tomam sua cruz e negam o eu diariamente. Cada um que possui sincero desejo de ser um discípulo na escola de Cristo cultivará pendor espiritual e se beneficiará de todos os meios da graça. Mas os privilégios e oportunidades têm sido menosprezados nessa igreja. Alguém pode ser capaz de falar poucas palavras em público e fazer senão pouco na vinha do Senhor, mas está sob expresso dever de dizer algo e ser um obreiro interessado. Cada membro deveria ajudar a fortalecer e sustentar a igreja, mas em muitos casos há um ou dois que possuem espírito de fidelidade que caracterizou Calebe, e a esses é dado levar as cargas e assumir responsabilidades, enquanto que o restante se exime de todos os cuidados. T5 303 4 Calebe foi firme e fiel. Ele não era um gabola. Não fez alarde de seus méritos e boas obras, mas sua influência sempre esteve ao lado do direito. E qual foi sua recompensa? Quando o Senhor pronunciou juízos sobre os homens que se recusaram a ouvir sua voz, disse: "Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito e perseverou em seguir-me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança." Números 14:24. Enquanto os covardes e murmuradores pereceram no deserto, o fiel Calebe obteve um lar na prometida Canaã. "Aos que Me honram honrarei" (1 Samuel 2:30), diz o Senhor. T5 304 1 Ana orou e confiou, e através de seu filho Samuel ela deu ao Israel de Deus o mais precioso tesouro -- um homem útil, com um bem formado caráter, alguém que era firme como uma rocha onde o princípio estava envolvido. T5 304 2 Em Jope, havia uma certa Dorcas, cujos hábeis dedos eram mais ativos que sua língua. Ela sabia quem necessitava de roupas confortáveis e quem necessitava de simpatia, e liberalmente ministrava às necessidades de ambas as classes. E quando Dorcas morreu, a igreja em Jope sentiu sua perda. Não admira que tenham chorado e lamentado, e que lágrimas ardentes hajam caído sobre o seu corpo inanimado. Ela era de tão grande valor que pelo poder de Deus foi trazida de volta da terra do inimigo, a fim de que sua habilidade e energia pudessem ser ainda uma bênção para outros. T5 304 3 Fidelidade tão paciente, consagrada e perseverante como a que possuíam esses santos de Deus é rara; entretanto a igreja não pode prosperar sem ela. Ela é necessária na igreja, na Escola Sabatina e na sociedade. Muitos passam a participar das relações de igreja com seus naturais traços de caráter não subjugados; e quando surge uma crise, e se tornam necessários ânimos fortes e esperançosos, eles se entregam ao desencorajamento e acarretam fardos para a igreja; não vêem que isso está errado. A causa não necessita de tais pessoas, porque são indignas de confiança; mas há sempre um chamado para obreiros firmes, tementes a Deus, que não falhem no dia da adversidade. T5 304 4 Há alguns na igreja de _____ que causarão problemas, pois sua vontade nunca foi posta em harmonia com a vontade de Cristo. O irmão E será um grande obstáculo a essa igreja. Enquanto ele pode ter a supremacia, está satisfeito, mas quando não lhe é possível ser o primeiro, sempre descamba para o lado errado. Ele age por impulso e não se deixará persuadir, mas questionará e assumirá pontos de vista opostos, porque é sua natureza ser crítico e acusador de seus irmãos. Conquanto se afirme zeloso pela verdade, está se apartando da congregação. Ele não possui poder moral e não está arraigado e firmado na fé. Os santos princípios da verdade não fazem parte de sua natureza. Esse irmão não é confiável; Deus não Se agrada dele. T5 305 1 O irmão e a irmã E não têm atendido às diretrizes da Palavra de Deus na educação dos filhos. Eles permitem que seus filhos exerçam em grande parte o controle da casa e façam o que bem entendam. Se eles não forem postos sob influências totalmente diferentes, estarão nas fileiras do inimigo combatendo contra a ordem, a disciplina e a submissão. Crianças assim deixadas a seus próprios caminhos são infelizes, e onde a autoridade paterna é pouco valorizada, a autoridade de Deus não será respeitada. T5 305 2 A obra do pai é solene e sagrada, mas muitos não a compreendem porque seus olhos estão cegados pelo inimigo de toda justiça. Seus filhos crescem sem disciplina, descorteses, convencidos, petulantes, mal-agradecidos e em impiedade, quando uma firme e decidida conduta, na qual a justiça e a misericórdia estão mescladas com a paciência e o domínio próprio, produziria maravilhosos resultados. T5 305 3 O irmão E precisa ter a graça transformadora. Não há segurança para ele enquanto retiver seus naturais defeitos de caráter; ele precisa lutar continuamente contra eles. A menos que ele viva uma vida de vigilância e oração, não será um indivíduo bem equilibrado, e haverá o perigo de a verdade ser manchada, deturpada e lançada em descrédito por causa de sua influência. Que ele seja cuidadoso, temendo despertar nos descrentes preconceitos que jamais possam ser removidos. T5 305 4 Há na natureza humana a tendência de pender para os extremos, e de um extremo a outro inteiramente oposto. Muitos são fanáticos. São consumidos por um ardente zelo, o qual é tomado por religião; mas o caráter é a verdadeira prova do discipulado. Têm eles a mansidão de Cristo? Têm Sua humildade e suave benevolência? Está o templo da alma vazio de orgulho, arrogância, egoísmo e crítica? Caso não seja assim, eles não sabem de que espírito são. Não compreendem que o verdadeiro cristianismo consiste em produzir muito fruto para a glória de Deus. T5 306 1 Outros vão a outro extremo em sua conformidade com o mundo. Não há linha clara, distinta de separação entre eles e os mundanos. Se em um caso os homens são afugentados da verdade por um espírito áspero, censor, condenatório, neste outro caso são levados a concluir que o professo cristão é destituído de princípios, e nada conhece de uma mudança de coração ou caráter. "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus" (Mateus 5:16), são as palavras de Cristo. T5 306 2 Há muitos que não possuem um correto conhecimento do que constitui o caráter cristão, e sua vida é uma vergonha para a causa da verdade. Se fossem totalmente convertidos, não portariam consigo sarças e espinhos, mas ricas messes de frutos do Espírito -- "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio." Gálatas 5:22. O grande risco está em negligenciar uma obra do coração. Muitos se sentem satisfeitos consigo mesmos e pensam que uma observância nominal da lei divina é suficiente, enquanto são estranhos à graça de Cristo e Ele não lhes habita o coração por viva fé. T5 306 3 "Sem Mim", disse Cristo, "nada podereis fazer" (João 15:5), mas com Sua divina graça atuando mediante nossos humanos esforços, podemos todas as coisas. Sua paciência e mansidão penetrarão o caráter, difundindo precioso brilho que torna luminoso e claro o caminho ao Céu. Pela contemplação e imitação de Sua vida seremos renovados à Sua imagem. A glória do Céu iluminará nossa vida e se refletirá sobre outros. Junto ao trono da graça encontraremos o auxílio que precisamos para viver assim. Isso é santificação genuína. Que mais exaltada posição podem os mortais desejar do que estarem ligados a Cristo, assim como os ramos estão unidos à videira? T5 307 1 Vi um quadro representando um bezerro entre um arado e um altar, com a inscrição: "Pronto para uma ou outra coisa", disposto a arfar no fatigante sulco, ou a sangrar no altar do sacrifício. Eis a posição em que se deve achar sempre o filho de Deus -- voluntário para ir aonde o chamar o dever, a negar a si mesmo, a sacrificar-se por amor da causa da verdade. A igreja cristã foi fundada sobre o princípio do sacrifício. "Se alguém quer vir após Mim", diz Cristo, "negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. Ele requer todo o coração, a afeição inteira. As manifestações de zelo, fervor e desinteressado serviço que Seus dedicados seguidores têm dado ao mundo, devem atear-nos o ardor e levar-nos a imitar seu exemplo. A religião genuína comunica uma sinceridade e firmeza de desígnio que molda o caráter segundo a imagem divina, e nos habilita a reputar todas as coisas como perda pela excelência de Cristo. Esse propósito único demonstrar-se-á elemento de tremendo poder. T5 307 2 Possuímos a maior e mais solene verdade jamais confiada a mortais, e somos responsáveis pelo modo como a tratamos. Cada um de nós deveria estar atento à salvação de pessoas. Deveríamos mostrar o poder da verdade sobre nosso coração e caráter, enquanto fazendo tudo o que pudermos para levar outros a amá-la. Trazer um pecador a Cristo é enobrecer e elevar todo o seu caráter, tornando-o uma bênção no lar, na sociedade e na igreja. Não é essa obra digna de nossas mais nobres faculdades? T5 307 3 Cristãos de pouco talento, se forem fiéis em guardar o coração no amor de Deus, podem ganhar muitas pessoas para Cristo. Harlan Page era um pobre mecânico de habilidade comum e educação limitada; mas tornou sua ocupação principal procurar promover a causa de Deus, e seus esforços foram coroados de notável êxito. Trabalhou pela salvação dos semelhantes, em conversas particulares e em fervorosa oração. Instituiu reuniões de oração, organizou escolas dominicais e distribuiu folhetos e outras leituras religiosas. E em seu leito de morte, repousando já sobre seu semblante a sombra da eternidade, pôde dizer: "Sei que tudo é pela graça de Deus, e não por qualquer mérito de qualquer coisa que eu tenha feito; mas creio que tenho evidência de que mais de cem pessoas foram convertidas a Deus por meu intermédio." T5 308 1 Cada membro da igreja deveria ser treinado dentro de um sistema regular de trabalho. De todos é requerido que façam alguma coisa pelo Senhor. Eles podem interessar pessoas na leitura, podem conversar e orar com elas. O pastor que educar, disciplinar e conduzir tal exército de eficientes obreiros, alcançará gloriosas conquistas aqui, e uma rica recompensa a quando se encontrar, ao redor do grande trono branco, com aqueles que foram salvos através de sua influência. T5 308 2 "Faze alguma coisa, faze-a logo, com todas as forças; Mesmo a asa de um anjo desfaleceria, com um repouso muito longo; E o próprio Deus, se inativo, não seria mais bendito." T5 308 3 Depois de a igreja de _____ ter chegado ao conhecimento da verdade, caso houvesse manifestado diligência apropriada, zelo e amor, deveria ter sido frutífera em boas obras e exercido uma influência que a tornaria um poder ao lado do direito. Mas seus membros têm sido indiferentes, frios e mortos. Alguns assistem às reuniões sociais levando com eles uma atmosfera muito mais terrena do que celestial. A igreja não está pronta para responder aos esforços que têm sido feitos por ela. Em seu presente estado, eles não podem ver ou compreender a necessidade de cooperação de sua parte. Sua falta de sinceridade desestimula os pastores. Em lugar de descuido, deveriam possuir um sentimento de responsabilidade individual. Essa igreja não prosperará até que seus membros iniciem a obra de reforma no próprio coração. Muitos que professam a fé satisfazem-se facilmente; se atingem uns poucos níveis de abnegação e reforma, não vêem a necessidade de seguir adiante. Por que existe ali um lugar de repouso? Não há nenhum ponto de parada para nós deste lado do Céu. Nenhum de nós deveria contentar-se com nossas presentes realizações espirituais. Ninguém está vivendo à altura de suas oportunidades a menos que possa mostrar contínuo progresso. Ele deve estar continuamente subindo... subindo... subindo. É privilégio de todo cristão crescer até alcançar a estatura completa de varão perfeito em Cristo Jesus. T5 309 1 Quanto necessita de instrução o querido povo de _____; quanto precisam eles de trabalho pastoral! Eles, porém, não têm agido à altura do que conhecem. Deus os porá à prova, irmãos; uns provarão ser palha e outros, preciosos grãos de trigo. Não se submetam ao poder do tentador. Ele virá como um poderoso homem armado, mas não lhe dêem nenhuma vantagem. Animem-se ao dever e disputem cada centímetro de terreno. Em lugar de retirada, avanço; em lugar de se enfraquecer e desanimar, apóiem-se mutuamente para o conflito. Deus os conclama para se empenharem com todas as forças contra o pecado em suas variadas formas. Revistam-se de toda a armadura de Deus e mantenham firmemente o olhar no Capitão de nossa salvação, porquanto há perigo à frente. Não sigam cores falsas, mas observem a bandeira de nossa santa fé e sejam achados onde essa tremula, ainda que esteja em meio do mais intenso fragor da batalha. Em breve a guerra se findará e a vitória será alcançada. Se você for fiel, será mais do que vencedor por Aquele que o amou. O glorioso prêmio, o eterno peso de glória, então será seu. ------------------------Capítulo 33 -- A pecaminosidade da murmuração T5 309 2 Caros amigos: T5 309 3 Foi-me mostrado que vocês, como uma família, sofrem muita tristeza desnecessária. Deus não designou que os irmãos fossem desventurados. Vocês, no entanto, têm desviado a mente de Cristo e a centralizado sobremaneira em si mesmos. O grande pecado de sua família é a desnecessária murmuração sobre as providências divinas. Sua insubmissão a respeito é realmente alarmante. Vocês amplificam pequenas dificuldades e se demoram muito em falar sobre desânimo. Os irmãos possuem o hábito de revestir de lamentação tudo o que lhes diz respeito, e se fazem infelizes sem causa. Suas continuadas murmurações os estão separando de Deus. T5 310 1 Vocês devem conservar-se afastados do terreno encantado de Satanás, e não permitir que a mente se desvie da fidelidade para com Deus. Por meio de Cristo podem e deve ser felizes, e adquirir hábitos de domínio próprio. Até seus pensamentos devem ser levados em sujeição à vontade de Deus, e seus sentimentos sob o domínio da razão e da religião. Sua imaginação não lhes foi dada para que se lhe permitisse correr desenfreada de acordo com sua vontade, sem nenhum esforço para restringi-la ou discipliná-la. Se os pensamentos forem maus, maus serão também os sentimentos; e os pensamentos e os sentimentos, combinados, constituem o caráter moral. Quando julgam que, como cristãos, não lhes é requerido restringir os pensamentos e sentimentos, vocês são levados sob a influência dos anjos maus, e convidam a presença e o domínio deles. Se derem atenção às suas impressões, e permitirem que os pensamentos sigam o rumo da suspeita, da dúvida, dos lamentos, vocês se acharão então entre os mais infelizes dos mortais, e sua vida se demonstrará um fracasso. T5 310 2 Querida irmã F, você possui uma imaginação doentia; e desonra a Deus por permitir que seus sentimentos tenham completo controle sobre seu raciocínio e discernimento. Você tem vontade inflexível, que leva a mente a reagir sobre o corpo, desequilibrando a circulação e produzindo congestão em certos órgãos; e está sacrificando a saúde aos seus sentimentos. T5 310 3 Você está cometendo um erro que, se não for corrigido, não acabará arruinando meramente sua própria felicidade. A irmã está fazendo positivo dano, não apenas a si mesma, mas também aos outros membros da família, especialmente sua mãe. Ela é muito nervosa e extremamente sensível. Se um de seus filhos está sofrendo, ela fica confusa e quase enlouquecida. Sua mente fica desequilibrada pelos freqüentes ataques de histeria que é compelida a testemunhar, e grande tristeza é lançada sobre todos ao seu redor. Você é capaz de controlar a imaginação e vencer esses acessos nervosos. Você tem força de vontade, e deve trazê-la em seu auxílio. Não tem feito isso, mas tem deixado a imaginação altamente agitada controlar a razão. Nisso você tem ofendido o Espírito de Deus. Se não tivesse poder sobre os seus sentimentos, isso não seria pecado; mas não há justificativa para ceder assim ao inimigo. Sua vontade precisa ser santificada e subjugada, em vez de dispor-se em oposição à de Deus. T5 311 1 Meus queridos amigos, em vez de fazer um curso para combater enfermidades, estão acariciando-as e rendendo-se a seu poder. Devem evitar o uso de drogas, e observar cuidadosamente as leis de saúde. Se estimam sua vida, devem comer alimentos simples, preparados da maneira mais simples, e fazer mais exercícios físicos. Cada membro da família necessita dos benefícios da reforma de saúde. Mas o uso de drogas deve ser definitivamente abandonado; pois além de não curar qualquer mal, enfraquecem o organismo, tornando-o mais susceptível às enfermidades. T5 311 2 O homem foi colocado num mundo de infortúnios, preocupações e perplexidades. Ele foi colocado aqui para ser testado e provado, como o foram Adão e Eva, a fim de que possa desenvolver um caráter reto e produzir harmonia a partir da discórdia e confusão. Temos muita coisa a fazer que é essencial à nossa felicidade e à de outros. E há muito a desfrutar. Através de Cristo somos colocados em contato com Deus. Sua misericórdia nos mantém sob contínua obrigação; sentindo-nos indignos de Seus favores, somos levados a apreciar mesmo a menor concessão. T5 311 3 Por tudo o que vocês têm e são, queridos amigos, devem ser gratos a Deus. Ele lhes concedeu atributos que, em certo sentido, são semelhantes aos que Ele próprio possui; e vocês devem esforçar-se intensamente para desenvolver esses atributos, não para agradar e exaltar o eu, mas para glorificá-Lo. Vocês não tiraram a melhor vantagem de seus privilégios. Os irmãos deveriam preparar-se para assumir responsabilidades. O intelecto precisa ser cultivado. Se deixado na inação, torna-se envilecido. T5 311 4 Este mundo pertence ao Senhor. Pode-se ver aqui que a natureza, animada e inanimada, obedece à Sua vontade. Deus criou o homem como um ser superior; unicamente ele foi formado à imagem de Deus, com capacidade para ser participante da natureza divina, para cooperar com o seu Criador e executar os Seus planos e somente ele acha-se em guerra contra os propósitos de Deus. T5 312 1 Com que maravilhosa beleza foram modeladas todas as coisas na natureza! Por toda parte vemos as obras perfeitas do grande Artista. Os céus declaram a Sua glória; e a Terra, que foi formada para a felicidade do homem, nos fala de Seu inigualável amor. Sua superfície não é uma planície monótona, mas grandes cadeias de montanhas emergem para diversificar a paisagem. Há espumantes correntes e vales férteis, belos lagos, grandes rios e o oceano sem limites. Deus manda o orvalho e a chuva para refrescar a terra sedenta. As brisas, que promovem saúde ao purificar e refrigerar a atmosfera, são controladas por Sua sabedoria. Ele pôs o Sol nos céus para marcar o dia e a noite, e por seus benévolos raios fornece luz e calor à Terra, fazendo com que a vegetação cresça. T5 312 2 Chamo sua atenção para essas bênçãos, advindas da generosa mão de Deus. Que o renovado brilho de cada manhã desperte louvor em seu coração por tais provas de Seu amoroso cuidado. Mas, ao mesmo tempo em que nosso bondoso Pai celestial dá tantas coisas para promover-nos a felicidade, também concede bênçãos disfarçadas. Ele compreende as necessidades do homem decaído, e enquanto nos confere benefícios por um lado, por outro designou inconveniências para estimular-nos ao uso das habilidades que nos outorgou. Elas desenvolvem em nós paciente diligência, perseverança e coragem. T5 312 3 Há males que o homem pode atenuar, mas jamais remover. Ele deve vencer os obstáculos e formar seu ambiente, em vez de ser por ele moldado. Ele tem margem para pôr em prática seus talentos, pondo ordem e harmonia onde há confusão. Nesta obra pode ele ter auxílio divino, se o suplicar. Não é deixado a lutar com suas próprias forças contra as tentações e provas. Um que é poderoso foi autorizado a ajudar. Jesus deixou as cortes reais do Céu e sofreu e morreu num mundo degradado pelo pecado, para que pudesse ensinar o homem a passar pelas provas da vida e vencer as suas tentações. Aqui está um modelo para nós. T5 312 4 À medida que os benefícios concedidos pelo Pai do Céu às Suas criaturas são contados minuciosamente, vocês não se sentem reprovados por suas ingratas lamentações? Por muitos anos Ele lhes concedeu uma filha e irmã, até que vocês começaram a considerá-la como sua e sentiram que tinham o direito a esse belo presente. Deus ouviu suas murmurações. Caso houvesse uma nuvem à vista, vocês pareciam se esquecer de que o Sol brilhava continuamente; então, nuvens e escuridão sempre lhes estiveram em volta. Deus enviou-lhes aflição. Ele removeu-lhes seu tesouro para que pudessem discernir entre prosperidade e sofrimento real. Mas os irmãos não humilharam o coração diante dele e não se arrependeram do grande pecado da ingratidão que os separou do seu amor. Como Jó, julgaram que tinham razão para a ansiedade, e não queriam ser confortados. Era razoável isso? Vocês sabem que a morte é um poder ao qual ninguém pode resistir, mas tornou sua vida quase inútil por sua inútil tristeza. Seus sentimentos têm sido pouco menos que rebelião contra Deus. Vi todos vocês a entregar-se ao luto, e cedendo aos seus agitados sentimentos, até que suas ruidosas demonstrações de tristeza levaram os anjos a esconder a face e afastar-se do cenário. T5 313 1 Enquanto assim davam expressão a seus sentimentos, lembraram-se de que têm no Céu, um Pai que deu Seu Filho unigênito para morrer por nós, a fim de que a morte não fosse um sono eterno? Lembraram-se de que o Senhor da vida e glória passou pelo túmulo e o iluminou com Sua própria presença? Disse o discípulo amado: "Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam." Apocalipse 14:13. Bem sabia o apóstolo acerca do que estava falando, ao escrever essas palavras; mas, quando vocês cedem a uma incontida tristeza, porventura sua conduta é coerente com o conforto que elas expressam? T5 313 2 O Senhor é gracioso, misericordioso e fiel. Ele permitiu que alguém de seus laços domésticos, que era a mais inocente e a melhor preparada, descansasse durante os perigos dos últimos dias. Oh! não se excluam diante da melodia e do regozijo, lamentando como se não houvesse ressurreição dos mortos, mas louvem ao Senhor porque para ela não há mais morte, sofrimento, não mais tristeza. Ela descansa em Jesus até o Doador da vida chamar à gloriosa imortalidade Seus santos que dormem. T5 314 1 F tem uma obra por fazer, mediante a graça de Cristo, para controlar seus sentimentos. Ela sabe que não está no Céu, mas num mundo onde a morte reina e onde nossos amados nos podem ser subtraídos a qualquer momento. Ela deveria sentir que a grande responsabilidade da vida é se preparar para um mundo melhor. Se F tiver um apego correto à vida eterna, isso não a desqualificará para viver neste mundo e portar nobremente as responsabilidades da vida, mas a ajudará no desempenho dos deveres de abnegação e sacrifício próprio. T5 314 2 Como uma família, vocês têm falado tanto em trevas e queixas, que foram transformados à mesma imagem. Parecem querer atrair as simpatias uns dos outros e provocar excitação nervosa, até ficarem numa situação sombria, triste e desoladora. Os irmãos têm-se ocupado em lamentações, mas elas não atraem os anjos. Se não mudarem de conduta, Deus Se achegará e lidará com vocês em juízo. Não é este um tempo de ações de graças em seu lar, e de contar com júbilo as bênçãos que têm sido derramadas sobre vocês? T5 314 3 O poder da verdade deve ser suficiente para suster e consolar em qualquer adversidade. É em habilitar seu possuidor a triunfar sobre a aflição, que a religião de Cristo revela seu verdadeiro valor. Põe os apetites, as paixões e as emoções sob o controle da razão e da consciência, e disciplina os pensamentos de modo a fluírem num conduto sadio. E então a língua não se permitirá desonrar a Deus por expressões de pecaminoso descontentamento. T5 314 4 Nosso Criador reivindica com justiça o direito de fazer o que achar melhor com as criaturas de Suas mãos. Ele tem o direito de governar segundo Sua vontade e não como o homem escolhe. Deus, porém, não é um juiz severo, um cruel e exigente credor. Ele é a verdadeira fonte do amor, o doador de inumeráveis bênçãos. Vocês deveriam sentir o mais profundo pesar por desprezar tal amor e por não possuir gratidão e louvor brotando do coração, pela maravilhosa bondade de Deus. Não merecemos os Seus benefícios, mas eles são contínuos sobre nós, apesar de nossa indignidade e cruel ingratidão. Parem de se lamuriar como se fossem escravos sob um feitor tirano. Jesus é bom. Louvem-nO. Louvem Aquele que é auxílio a saúde e seu Deus. ------------------------Capítulo 34 -- "Louvai ao Senhor" T5 315 1 "Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor." Salmos 150:6. Tem acaso algum de nós considerado devidamente quanto temos por que ser agradecidos? Lembramos nós que as misericórdias do Senhor são novas cada manhã, e que Sua fidelidade é para sempre? Reconhecemos nossa dependência dEle, e exprimimos gratidão por todos os Seus favores? Ao contrário, demasiadas vezes esquecemos que "toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes". Tiago 1:17. T5 315 2 Quantas vezes os que estão com saúde esquecem as maravilhosas bênçãos que lhes são continuamente concedidas dia a dia, ano após ano! Não rendem a Deus tributo de louvor por todos os Seus benefícios. Quando sobrevém a doença, porém, lembram-se de Deus. O forte desejo de restabelecer-se induz a fervorosa oração; e isto é direito. Deus é nosso refúgio tanto na enfermidade como na saúde. Muitos, no entanto, não Lhe entregam seu caso; eles promovem a fraqueza e a doença preocupando-se consigo mesmos. Caso deixassem de afligir-se, e se erguessem acima da depressão e das sombras, mais certa seria sua cura. Devem lembrar-se com gratidão por quanto tempo desfrutaram a bênção da saúde; e, fosse essa preciosa graça a eles restituída, não deveriam esquecer que se acham sob nova obrigação para com seu Criador. Quando os dez leprosos foram curados, unicamente um volveu em busca de Jesus e deu-Lhe glória. Não sejamos nós como os ingratos nove, cujo coração não foi tocado pela misericórdia de Deus. T5 315 3 Deus é amor. Tem cuidado pelas criaturas que formou. "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem." Salmos 103:13. "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Que precioso privilégio este, de sermos filhos e filhas do Altíssimo, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo! Não nos lamentemos, pois, nem nos entristeçamos porque nesta vida não estamos isentos de decepções e aflição. T5 316 1 Se, na providência de Deus, somos chamados a suportar provações, aceitemos a cruz, e bebamos o amargo cálice, lembrando-nos de que é a mão de um Pai que no-lo chega aos lábios. Confiemos nEle nas trevas da mesma maneira que na luz. Não podemos crer que Ele nos dará tudo que for para o nosso bem? "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. Mesmo na noite da aflição, como nos poderemos recusar a erguer o coração e a voz em grato louvor, quando nos lembramos do amor a nós expresso na cruz do Calvário? T5 316 2 Que tema de meditação, o sacrifício feito por Jesus pelos pecadores perdidos! "Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:5. Como estimaremos as bênçãos assim postas ao nosso alcance? Poderia Jesus haver sofrido mais? Poderia haver comprado para nós mais ricas bênçãos? Não deveria enternecer o coração mais duro, o lembrar-nos de que, por amor de nós, Ele deixou a glória e a felicidade do Céu, e sofreu pobreza e vergonha, cruel aflição e morte terrível? Não nos houvesse Ele aberto, por Sua morte e ressurreição, a porta da esperança, e não conheceríamos senão os horrores das trevas e as misérias do desespero. Em nosso estado atual, favorecidos e abençoados como somos, não podemos calcular de que profundidade fomos salvos. Não nos é possível medir quão mais profundas seriam nossas aflições, quão maiores nossas misérias, não nos houvesse Jesus rodeado com Seu braço humano de simpatia e amor, e nos erguido. T5 316 3 Podemos regozijar-nos na esperança. Nosso Advogado está no santuário celestial, intercedendo em nosso favor. Temos perdão e paz por Seus méritos. Ele morreu a fim de que pudesse lavar nossos pecados, revestir-nos de Sua justiça, e habilitar-nos para o convívio celeste, onde podemos habitar para sempre na luz. T5 317 1 Prezado irmão, prezada irmã, quando Satanás quiser encher-lhe a mente de desânimo, sombras e dúvidas, resista-lhe às sugestões. Fale a ele do sangue de Jesus que purifica de todo pecado. Você não pode salvar-se do poder do tentador; porém ele treme e foge quando os méritos daquele precioso sangue são alegados. Não aceitará você então com reconhecimento as bênçãos concedidas por Jesus? Não tomará o cálice da salvação que Ele apresenta, e invocará o nome do Senhor? Não mostre desconfiança nAquele que o chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Nem por um momento magoe o coração do compassivo Salvador por sua incredulidade. Ele observa com o mais intenso interesse seu progresso no caminho celeste; vê seus diligentes esforços; nota suas quedas e reerguimentos, suas esperanças e seus temores, os conflitos e as vitórias. T5 317 2 Hão de todos os nossos exercícios devocionais consistir em pedir e receber? Pensaremos nós sempre em nossas necessidades, e nunca nos benefícios recebidos? Seremos nós recipientes de Suas misericórdias, e nunca exprimiremos nossa gratidão a Deus, nunca O louvaremos pelo que Ele tem feito por nós? Não oramos demasiado, mas somos por demais tardios em dar graças. Caso a amorável bondade de Deus suscitasse mais ações de graças e louvores, teríamos incomparavelmente mais poder na oração. Teríamos mais e mais abundância do amor de Deus, e mais e mais motivos por que O louvar. Você, que se queixa de que Deus não lhe atende as orações, mude a presente ordem de coisas, e misture louvores às suas petições. Quando considerar Sua bondade e misericórdias, poderá verificar que Ele supre suas necessidades. T5 317 3 Ore, ore fervorosa e incessantemente, mas não se esqueça de louvar. É próprio de todo filho de Deus reivindicar-Lhe o caráter. Você pode engrandecer ao Senhor; pode mostrar o poder da graça mantenedora. Multidões há que não apreciam o grande amor de Deus, nem a compaixão divina de Jesus. Milhares até olham com desdém a incomparável graça manifestada no plano da redenção. Nem todos os que são participantes desta grande salvação, se acham limpos a esta altura. Não cultivam coração agradecido. Os anjos, entretanto, demonstram o maior interesse no tema da redenção, o qual será a ciência e o cântico dos remidos por todos os incessantes séculos da eternidade. Não deveria ele ser digno de atenta consideração e estudo agora? Não devemos louvar a Deus de coração, alma e voz por Suas "maravilhas para com os filhos dos homens"? Salmos 107:8. T5 318 1 Louve ao Senhor na congregação de Seu povo. Quando a palavra do Senhor foi falada antigamente aos hebreus, a ordem foi: "E todo o povo dirá: Amém." Salmos 106:48. Quando foi levada a arca do concerto para a cidade de Davi, e se cantou um salmo de alegria e triunfo, todo o povo disse: "Amém! e louvou ao Senhor." 1 Crônicas 16:36. Essa fervorosa resposta era testemunho de que eles compreendiam a palavra que fora falada e se uniam ao culto de Deus. T5 318 2 Há demasiada formalidade em nossos cultos. O Senhor quer que Seus pastores, que Lhe pregam a palavra, sejam possuídos da energia de Seu Santo Espírito; e o povo que ouve não ficará sentado em sonolenta indiferença, ou olhando vagamente de um lado para outro, sem corresponder ao que é dito. A impressão assim causada nos incrédulos é completamente desfavorável à religião de Cristo. Esses lerdos e descuidosos professos cristãos não são destituídos de ambição e zelo quando empenhados em ocupações mundanas; mas as coisas de importância eterna não despertam seu interesse. A voz de Deus por meio de Seus mensageiros, pode ser uma aprazível canção; Suas sagradas advertências, mas Suas reprovações e animações são todas desatendidas. O espírito do mundo os tem paralisado. As verdades da Palavra de Deus são dirigidas a ouvidos pesados e a corações duros, impassíveis. Deve haver igrejas bem despertas, ativas, para animar e suster os pastores, e para ajudá-los na obra de salvar. Onde a igreja anda na luz, haverá sempre satisfeita e sincera correspondência e palavras de alegre louvor. T5 318 3 Nosso Deus, o Criador dos Céus e da Terra, declara: "Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará." Salmos 50:23. Todo o Céu se une em louvar a Deus. Aprendamos agora o cântico dos anjos, a fim de o podermos cantar quando nos unirmos a suas gloriosas fileiras. Digamos com o salmista: "Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto viver." Salmos 146:2. "Louvem-Te a Ti, ó Deus, os povos; louvem-Te os povos todos." Salmos 67:3. ------------------------Capítulo 35 -- Responsabilidade dos pais T5 319 1 Os pais são, em grande medida, responsáveis pela modelação do caráter dos filhos. Devem ter em mira a simetria e a proporção. Existem poucas mentes bem equilibradas porque os pais são impiamente negligentes de seu dever de estimular os traços fracos e reprimir os maus. Não se lembram de que estão sob a soleníssima obrigação de vigiar as tendências de cada um dos filhos, que é dever seu educar os filhos em hábitos corretos e corretas maneiras de pensar. T5 319 2 Algumas vezes os pais esperam pelo Senhor para fazer a obra que Ele lhes deu. Em lugar de repreender e controlar seus filhos como deveriam, mimam-nos e condescendem com eles, atendendo a seus caprichos e desejos. Quando os filhos saem do lar, estão com seu caráter deformado pelo egoísmo, apresentam apetite sem controle, obstinação. Não manifestam cortesia ou respeito para com seus pais e não apreciam a verdade e os cultos divinos. Estão crescendo com traços de caráter que são uma maldição permanente a si mesmos e aos outros. O lar se torna tudo, menos feliz, se as ervas daninhas da dissensão, egoísmo, ciúmes, paixão e sombria obstinação são deixadas a crescer no abandonado jardim do coração. T5 319 3 Os pais não deveriam mostrar parcialidade, mas tratar todos os filhos com ternura, lembrando-se de que eles são a aquisição do sangue de Cristo. Os filhos imitam os pais; deve-se, portanto, tomar muito cuidado para lhes dar modelos corretos. Os pais que são bondosos e delicados em casa, ao mesmo tempo que são firmes e decididos, verão os mesmos traços manifestados nos filhos. Se são corretos, honestos e honrados, é bem provável que os filhos com eles se assemelhem nesse particular. Caso reverenciem e adorem a Deus, seus filhos, educados da mesma maneira, não se esquecerão de servi-Lo também. T5 320 1 Acontece não raro que os pais não têm cuidado de cercar seus filhos de influências benéficas. Ao escolherem o lar, pensam mais em seus interesses mundanos do que na atmosfera social e moral, e os filhos formam associações desfavoráveis ao desenvolvimento da piedade e da formação de um caráter reto. Por isso mesmo, os pais permitem que o mundo ocupe seu tempo, energias e pensamentos, e quando chega o sábado estão eles tão exaustos que nada têm para retribuir a Deus em Seu santo dia, nenhum perfumoso ato de piedade para encantar o lar e tornar o sábado deleitoso a seus filhos. Raramente são visitados por um pastor, pois colocaram a si mesmos fora do alcance dos privilégios religiosos. Uma apatia se abate sobre todos. Os filhos são afetados pelo mau relacionamento, e a ternura que uma vez sentiam se desvanece e é esquecida. T5 320 2 Como estão agindo os pais que condenam os cananeus por oferecerem seus filhos a Moloque? Estão apresentando oferta ainda mais cara a seu deus Mamom; e quando seus filhos crescem sem amor e com um caráter não amável, quando revelam decidida impiedade e tendência para a infidelidade, os pais culpam a fé que professam como se ela fosse incapaz de salvá-los. Vocês estão colhendo o que semearam -- os resultados de seu egoísta amor ao mundo e negligência dos condutos de graça. Levaram sua família para lugares de tentação; e a arca de Deus, glória e defesa de vocês, não consideraram essencial; e o Senhor não realizou um milagre para livrar seus filhos da tentação. T5 320 3 Vocês que professam amar a Deus, tomem a Jesus consigo, aonde quer que forem; e, como os patriarcas de outrora, construam um altar ao Senhor onde quer que armem sua tenda. Necessita-se uma reforma nesse sentido -- reforma que seja profunda e ampla. Os pais necessitam de reforma e os pastores também. Precisam de Deus em seu lar. Precisam edificar os lugares devastados de Sião, erguer seus portais e reforçar os muros para a defesa do povo. T5 321 1 Há uma obra fervorosa a ser feita nestes tempos, e os pais devem educar seus filhos a nela tomar parte. As palavras de Mardoqueu a Ester podem ser aplicadas aos adultos e jovens de hoje: "Quem sabe se para tal tempo como este não chegaste a este reino?" Ester 4:14. Os jovens precisam obter solidez de caráter para que possam ser úteis. Daniel e José eram jovens de princípios firmes e a quem Deus pôde usar para cumprir Seus propósitos. Estudem a vida deles e vejam como Deus atuou através deles. José passou por experiências variadas -- vivências essas que provaram sua coragem e integridade até o limite máximo. Após ter sido vendido e levado para o Egito, a princípio, aceitou grandes responsabilidades, mas, subitamente, sem qualquer culpa de sua parte, foi injustamente acusado e lançado na prisão. Não desanimou, entretanto. Ele confiava em Deus e o propósito de seu coração, a pureza de seus motivos, tornaram-se manifestos. O olhar de Deus estava sobre ele, uma divina mão o guiava. Dentro em pouco vemo-lo sair da prisão para partilhar do trono do Egito. T5 321 2 A vida acidentada de José não foi por acaso; foi ordenada pela Providência. Como, porém, foi ele capaz de fazer de sua vida um registro de tal firmeza de caráter, retidão e sabedoria? Foi resultado da cuidadosa educação em sua infância. Consultara ele o dever, e não a inclinação; e a pureza e singela confiança do menino produziu frutos nos atos do homem. Os mais brilhantes talentos de nenhum valor são, a menos que sejam aproveitados; hábitos de diligência e firmeza de caráter devem ser obtidos pelo cultivo. Um elevado caráter moral e finas qualidades mentais não vêm por acidente. Deus concede oportunidades; o êxito depende do uso que delas se faça. As oportunidades que a Providência depara têm de ser discernidas com rapidez e aproveitadas avidamente. T5 321 3 Jovens, se vocês quiserem ser fortes, se quiserem possuir integridade e sabedoria de José ou Daniel, estudem as Escrituras. Pais, se quiserem educar seus filhos para servir a Deus e fazer o bem no mundo façam da Bíblia o seu guia. Ela expõe os ardis de Satanás. É a grande luz da humanidade, o reprovador e corregedor dos males morais, o que nos habilita a fazer distinção entre o verdadeiro e o falso. Seja o que for que se ensine no lar ou na escola, a Bíblia deve, como grande educadora, ter o primeiro lugar. Caso lhe seja concedida essa posição, Deus será honrado e por vocês trabalhará na conversão de seus filhos. Há nesse santo Livro rica mina de verdade e beleza, e os pais terão de culpar a si mesmos se não o tornarem intensamente interessante para os filhos. T5 322 1 Para muitos, educação é conhecimento dos livros, mas "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria". Provérbios 9:10. O verdadeiro objetivo da educação é restaurar a imagem de Deus no ser humano. O principal e mais precioso conhecimento é o de Cristo e os pais sábios manterão sempre esse fato presente na mente de seus filhos. Se esses fraturam um osso de seu corpo, os pais tentarão todos os meios que o amor e a sabedoria possam conceber para restaurar a saúde ao membro afetado. Isso é justo e faz parte do dever paterno, mas o Senhor exige que ainda mais tato, paciência e perseverantes esforços sejam empregados para curar as imperfeições do espírito. O pai faz-se indigno de seu título se não é para seus filhos um mestre cristão, um governante e amigo, unindo-os ao seu coração pelos fortes laços do amor santo -- um amor cujo fundamento é o dever fielmente cumprido. T5 322 2 Os pais têm uma obra vasta e de responsabilidade a fazer. Eles podem muito bem perguntar: "Quem é capaz de fazê-la?" Mas Deus prometeu dar sabedoria àqueles que a requisitarem em fé, e Ele cumprirá Sua promessa exatamente como disse. Ele Se agrada com a fé que O toma por Sua Palavra. A mãe de Agostinho orou pela conversão de seu filho. Ela não viu evidência de que o Espírito de Deus estava impressionando o coração dele, mas não desanimou. Pôs seu dedo sobre os textos e apresentou perante Deus Suas próprias palavras e suplicou como apenas uma mãe pode fazer. Sua profunda humildade, ferventes importunações e fé inamovível prevaleceram, e o Senhor atendeu ao desejo de seu coração. Exatamente hoje Ele está tão pronto a ouvir as petições de Seu povo. "Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o Seu ouvido, agravado, para não poder ouvir" (Isaías 59:1), e se os pais cristãos O buscarem fervorosamente, Ele encherá sua boca com argumentos e, por amor ao Seu nome, atuará poderosamente em favor deles para a conversão dos filhos. ------------------------Capítulo 36 -- A educação dos filhos T5 323 1 Prezados irmão e irmã G: T5 323 2 Fiquei preocupada com seu caso. Vejo perigos que vocês parecem não compreender. Será que vocês consideraram cuidadosamente e com oração o dever que têm com relação aos filhos que trouxeram ao mundo? Consideraram os irmãos se esses filhos estão recebendo a educação e a disciplina que os conduzirá a honrar o Criador nos dias de sua mocidade? Vocês já pensaram que se falharem em ensinar os filhos a respeitar pai e mãe, e a se submeterem à sua autoridade, os estão educando para desonrar a Deus? Cada vez que vocês lhes permitem tripudiar sobre sua autoridade e a controlá-los, estão alimentando um defeito que levarão por toda a sua experiência religiosa e os ensinará a desrespeitar e pisotear a autoridade divina. T5 323 3 A pergunta que lhes compete fazer é: "Estou formando uma família para fortalecer a influência e engrossar as fileiras dos poderes das trevas, ou estou suscitando filhos para Cristo?" Se vocês não governam seus filhos e não lhes modelam o caráter de modo que correspondam aos reclamos de Deus, então quanto menos filhos tiverem para sofrer as conseqüências de uma educação defeituosa, tanto melhor para vocês, seus pais, e melhor para a sociedade. A menos que os filhos possam ser educados e disciplinados desde o berço por mãe sábia e criteriosa, que seja conscienciosa e diligente, e que governe sua casa no temor do Senhor, talhando e moldando o caráter deles para que possam estar à altura das normas de justiça, é pecado aumentar a família. Deus lhes deu raciocínio, e quer que o usem. T5 324 1 Vocês deveriam se sentir sob obrigação de formar o caráter de seus filhos, mediante esforço paciente, cuidadoso e oração fervente e intensa, tornando-os uma bênção para o lar, para a igreja e para a sociedade. Os irmãos não receberão nenhum mérito por seu trabalho se permitirem que os filhos sejam controlados pelo inimigo de toda justiça. A recompensa é prometida aos que formarem conscienciosamente seu caráter segundo o Modelo divino. Se vocês negligenciarem essa obra que é tão abrangente em seus resultados, porque lhes é mais cômodo agir assim, e seus filhos crescerem moralmente deformados e com os pés postos no largo caminho para a morte, como poderá Deus dizer-lhes: "Bem está"? Aqueles que não podem instruir-se e trabalhar inteligentemente e com todas as suas forças para levar seus filhos a Cristo, não deveriam assumir a responsabilidade de tornar-se pais. T5 324 2 As mães devem estar dispostas e mesmo ansiosas por habilitar-se para sua importante obra de desenvolver o caráter de seus filhos, guiando, instruindo e controlando seu tenro rebanho. A fraqueza em exigir obediência e o falso amor e simpatia -- a falsa noção de que é prudente condescender e não restringir -- constituem um sistema de ensino que entristece os anjos, mas deleita a Satanás, pois traz centenas e milhares de filhos para as suas fileiras. É esse o motivo de ele cegar os olhos dos pais, amortecer-lhes as sensibilidades e confundir-lhes a mente. Vêem que seus filhos e filhas não são agradáveis, amáveis, obedientes e cuidadosos; no entanto, os filhos se aglomeram em casa, para lhes envenenar a vida, encher o coração de tristeza, e acrescentar o número daqueles a quem Satanás está usando para atrair outros para a destruição. T5 324 3 Oh, quando serão sábios os pais? Quando verão e reconhecerão o caráter de sua obra ao negligenciarem exigir obediência e respeito segundo as instruções da Palavra de Deus? Os resultados dessa disciplina frouxa se vêem nas crianças quando saem para o mundo e assumem seu lugar à frente das próprias famílias. Perpetuam os erros dos pais. Seus traços defeituosos são largamente ampliados, e eles transmitem aos outros os gostos, hábitos e temperamentos maus que lhes foi permitido desenvolver em seu próprio caráter. Tornam-se assim uma maldição, em vez de uma bênção para a sociedade. T5 325 1 Visto os homens e mulheres não obedecerem a Deus, antes escolherem seguir os próprios caminhos e à sua imaginação pervertida, permite-se a Satanás plantar sua bandeira infernal nas famílias e fazer com que seu poder seja sentido por intermédio dos bebês, crianças e jovens. Sua voz e sua vontade são expressas na vontade insubmissa e no caráter deturpado dos filhos, e por meio deles exerce poder controlador e executa seus planos. Deus é desonrado pela manifestação de temperamento perverso, que exclui a reverência a Ele e induz à obediência às sugestões de Satanás. O pecado cometido pelos pais em assim permitir que Satanás tenha predomínio vai além de qualquer imaginação. Eles estão lançando a semente que produzirá sarças e espinhos, sufocando a planta de celeste crescimento, e somente o Juízo poderá revelar a colheita que terão. Mas, quão triste é o pensamento de que quando a vida e seus erros forem vistos sob a luz da eternidade, será muito tarde para essa descoberta ser de qualquer proveito. T5 325 2 A total negligência de educar os filhos para Deus tem perpetuado o mal e lançado nas fileiras do inimigo muitos que, com judicioso cuidado, poderiam ter sido coobreiros de Cristo. Idéias falsas e uma afeição tola e mal-direcionada formaram traços que tornaram os filhos infelizes e desencantados, amargurando a vida dos pais e estendendo sua funesta influência de geração em geração. Uma criança a quem se permite seguir os próprios caminhos, desonrará a Deus e envergonhará pai e mãe. Luz tem sido derramada da Palavra de Deus e dos testemunhos de Seu Espírito para que ninguém precise errar com relação a seu dever. Deus exige que os pais eduquem os filhos para conhecê-Lo e para respeitar Suas reivindicações. Devem eles preparar seus pequenos, como membros mais novos da família do Senhor, para ostentarem belo caráter e temperamento atraente, a fim de estar aptos a brilhar nas cortes celestiais. Negligenciando o dever e condescendendo com os erros dos filhos, os pais cerram para si mesmos os portais da cidade de Deus. T5 326 1 Esses fatos devem impressionar os pais; eles precisam despertar e assumir a tarefa há tanto negligenciada. Há pais que professam amar a Deus e não estão atendendo à Sua vontade. Visto não restringirem e dirigirem corretamente os filhos, milhares estão crescendo com caráter deformado, com moral frouxa e com pouca educação nos deveres práticos da vida. É-lhes deixado fazer o que querem com seus impulsos, seu tempo e suas faculdades mentais. A perda desses talentos negligenciados para a causa de Deus é uma realidade diante de pais e mães; e que desculpas darão Àquele de quem são mordomos, encarregados que são do sagrado dever de preparar as crianças sob o seu cuidado para melhorarem todas as suas faculdades para a glória de seu Criador? T5 326 2 Prezado irmão e irmã, que o Senhor lhes abra os olhos e lhes desperte a mente para que possam ver e corrigir suas falhas. Nenhum de vocês está vivendo com os olhos postos na glória de Deus. Vocês demonstram pouca disposição em permanecer ao lado de Jesus e na defesa da fé que uma vez foi entregue aos santos. Vocês negligenciaram seu dever em relação à família e provaram que os jovens que estão sob sua responsabilidade não estão seguros. Assim Deus vê a obra no lar e assim ela permanece registrada nos livros do Céu. Vocês poderiam ter trazido muitos a Jesus, mas sua falta de coragem moral fê-los infiéis em cada situação. T5 326 3 Os erros havidos em seu frouxo sistema de governo familiar estão revelados na caráter dos filhos. Os irmãos não se prepararam para seguir as instruções dadas na Palavra de Deus. Os males resultantes do descumprimento do dever estão se tornando sérios e profundos. A irmã G não exerce boa influência. Ela se tem submetido à vontade forte dos obstinados filhos e condescendido com suas ofensas. Vocês deveriam ter ensinado os filhos desde a primeira infância, para que eles não assumissem o controle mas obedecessem à vontade paterna. Houvesse a irmã G recebido uma educação adequada em sua própria infância; houvesse ela sido educada e disciplinada de acordo com a Palavra de Deus, teria agora um caráter diverso e compreenderia melhor os deveres que lhe foram delegados. Saberia como educar seus filhos de forma a tornar seus caminhos aprazíveis a Deus. Mas as deficiências que resultaram de própria educação errônea são reproduzidas nos filhos. Qual será a natureza das obras deles quando chefiarem a própria família? A filha mais velha pode ter algum conhecimento dos deveres domésticos, mas, a despeito disso, é mera aprendiz. T5 327 1 Com um direcionamento firme e sábio esses filhos poderiam ter sido membros úteis da sociedade, mas nas atuais circunstâncias, são uma maldição, uma vergonha para nossa fé. Eles são vaidosos, frívolos, voluntariosos e extravagantes. Têm pouco respeito por seus pais e sua consciência quase não tem sensibilidade. Gostam de seguir os próprios caminhos e seus desejos dirigem os pais, até ser quase impossível despertar-lhes alguma sensibilidade moral. As tendências naturais dos pais, particularmente as objetáveis, estão muito desenvolvidas nos filhos. Toda a família, pais e filhos, estão sob censura divina e nenhum deles pode esperar entrar nas pacíficas moradas de felicidade, a menos que venham a assumir seus deveres tão longamente negligenciados e, no espírito de Cristo, construam caráter que Deus possa aprovar. T5 327 2 Os pais são responsáveis pelas obras de suas mãos. Eles deveriam possuir sabedoria e firmeza para fazer sua obra fielmente e no reto espírito. Precisam educar seus filhos para serem úteis, desenvolvendo os talentos que Deus lhes deu. O fracasso em levar avante essa missão não deveria ser passado por alto, mas constituir-se em motivo de disciplina na igreja, pois atrai a maldição divina sobre os pais, traz dificuldades para a igreja, além de vergonha e angustiantes julgamentos. Uma lepra moral que é contagiosa, poluente do corpo e espírito da juventude, freqüentemente resulta da deficiência em disciplinar e controlar os jovens. Agora é tempo de fazer alguma coisa para reprimir sua devastação. T5 328 1 A Bíblia fornece diretrizes explícitas com relação ao importante trabalho de educar filhos: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração." Deuteronômio 6:4-6. Os pais devem estar ligados a Deus, temê-Lo e possuir conhecimento de Sua vontade. Então se apresenta sua obra: "E as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas." Deuteronômio 6:7-9. T5 328 2 O Senhor ordenou a Israel que não se unisse em casamento com as nações idólatras que o cercavam. "Não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de Mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós e depressa vos consumiria." Deuteronômio 7:3-4. "Porque povo santo és ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a terra há. O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos, mas porque o Senhor vos amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito." Deuteronômio 7:6-8. T5 328 3 Aqui há positivas diretrizes que alcançam até o nosso tempo. Deus nos está falando nestes últimos dias e Ele será compreendido e obedecido. O Senhor falou a Israel através de Seus servos: "Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás." Josué 1:8. "A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices." Salmos 19:7. "A exposição das Tuas palavras dá luz e dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. "Lâmpada para os meus pés é Tua palavra e luz, para o meu caminho." Salmos 119:105. T5 329 1 Aí os deveres dos pais são claramente dispostos. A Palavra de Deus deve ser seu monitor diário. Ela proporciona instruções tais que os pais não precisam errar com respeito à educação de seus filhos, porém não consente com a indiferença ou negligência. A lei de Deus deve ser mantida diante das mentes infantis como o grande padrão moral. Quando se levantam e quando se assentam, quando saem e quando entram, Sua lei deve-lhes ser ensinada como a grande regra de vida, e seus princípios devem ser entretecidos em toda a sua experiência. Os filhos precisam ser ensinados a ser honestos, verazes, sóbrios, econômicos e industriosos, e a amar a Deus com todo o seu coração. Isso os educará na doutrina e admoestação do Senhor e porá seus pés no caminho do dever e da segurança. T5 329 2 Os jovens são despreparados e inexperientes, e o amor à Bíblia e às suas sagradas verdades não virá naturalmente. A menos que se façam dolorosos esforços para construir barreiras ao seu redor, para abrigá-los dos ardis de Satanás, estarão sujeitos às suas tentações e serão por ele levados cativos à sua vontade. Na tenra infância, as crianças devem ser ensinadas quanto aos reclamos da lei de Deus e a fé em Jesus, nosso Redentor, para purificar da mancha do pecado. Essa fé deve ser ensinada dia a dia, por preceito e exemplo. T5 329 3 Solene responsabilidade repousa sobre os pais. Como pode o Senhor abençoá-los se estão positivamente negligenciando seu dever? Os filhos devem ser moldados quando ainda jovens. Mas, passam-se os anos quando seu coração é tenro e suscetível às impressões da verdade, e pouco tempo é dedicado à sua cultura moral. As preciosas lições da verdade e do dever deveriam ser instiladas diariamente em seu coração. Deveriam eles ter um conhecimento de Deus através de Suas obras criadas; isso lhes será de muito maior valor do que o conhecimento dos livros. T5 330 1 "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4), são palavras de nosso Salvador. Os erros em matéria de doutrina se multiplicam e se ligam com sutileza venenosa às afeições do povo. Não há uma só doutrina bíblica que não seja contraditada. As grandes verdades proféticas, mostrando nossa posição na história do mundo, têm sido despojadas de sua beleza e poder pelo clero, que procura tornar essas importantíssimas verdades obscuras e incompreensíveis. Em muitos casos, as crianças são desviadas dos antigos marcos. O Senhor ordenou a Seu povo Israel: "Quando teu filho te perguntar, pelo tempo adiante, dizendo: Quais são os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor nos tirou com mão forte do Egito. E o Senhor fez sinais grandes e penosas maravilhas no Egito, a Faraó e a toda a sua casa, aos nossos olhos; e dali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra que jurara a nossos pais. E o Senhor nos ordenou que fizéssemos todos estes estatutos, para temermos ao Senhor, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de fazer todos estes mandamentos perante o Senhor, nosso Deus, como nos tem ordenado." Deuteronômio 6:20-25. T5 330 2 Aqui estão princípios que não podemos considerar com indiferença. Aqueles que compreenderam a verdade, sentiram sua importância e tiveram experiência nas coisas de Deus, devem ensinar a sã doutrina a seus filhos. Que tornem os filhos familiarizados com os grandes pilares de nossa fé e as razões por que somos adventistas do sétimo dia, por que fomos chamados, como foram os filhos de Israel, para ser um povo peculiar, uma nação santa, separados e distintos de todos os outros povos sobre a face da Terra. Essas coisas deveriam ser explicadas aos filhos em linguagem simples, fácil de ser entendida e, à medida que avançam em anos, as lições devem ser adaptadas à sua crescente capacidade, até que os fundamentos da verdade tenham sido lançados ampla e profundamente. T5 330 3 Pais, vocês que professam ser filhos de Deus, são porventura filhos obedientes? Estão vocês fazendo a vontade de seu Pai celestial? Estão vocês seguindo Suas diretrizes ou andando segundo as fagulhas da própria iluminação? Estão vocês trabalhando diariamente para superar o inimigo e salvar os filhos de seus artifícios? Estão vocês descobrindo para eles as preciosas verdades da Palavra de Deus, explicando-lhes as razões de nossa fé, para que seus jovens pés estejam firmados sobre a plataforma da verdade? T5 331 1 A Bíblia com suas preciosas gemas de verdade não foi escrita para o sábio somente. Ao contrário, destina-se ao povo comum; e a interpretação que lhe dá o povo comum, quando auxiliado pelo Espírito Santo, harmoniza-se melhor com a verdade como é em Jesus. As grandes verdades necessárias para a salvação tornam-se claras como a luz do meio-dia, e ninguém errará o caminho exceto os que seguem seu próprio juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada. ------------------------Capítulo 37 -- Tolerância cristã T5 331 2 Prezados irmão e irmã H: T5 331 3 Quanto a suas atuais relações com a igreja desejo aconselhá-los a fazer tudo que puderem, de sua parte, para estar em harmonia com seus irmãos. Cultivem um espírito bondoso, conciliatório, e não deixem que nenhum sentimento de vingança se lhes insinue na mente e no coração. Temos apenas pouco tempo neste mundo, e trabalhemos para o tempo e para a eternidade. Sejam diligentes para tornar certa sua vocação e eleição. Cuidem para não cometer erros que venham a comprometer sua entrada no reino de Cristo. Se seu nome se acha registrado no livro da vida do Cordeiro, então tudo está bem. Estejam prontos e ansiosos para confessar suas faltas e abandoná-las, a fim de que seus erros e pecados possam ir antecipadamente a juízo, e ser apagados. T5 331 4 Creio que vocês estão fazendo progresso, mas permitam que a obra seja profunda, mais completa, mais fervorosa. Não deixem por fazer o que pode ser feito. Andem humildemente com Deus, ponham em ordem seu coração, vençam o eu e vigiem para poder evitar todos os artifícios de Satanás. Quando o coração se acha em harmonia com Jesus, quando em palavras, espírito e em comportamento, vocês copiam o Modelo, as maneiras serão refinadas e elevadas, persuadindo a todos de que houve em sua vida uma mudança radical. Então os irmãos serão contados entre os virtuosos e tementes seguidores de Jesus. T5 332 1 Meu irmão, você está com seu registro maculado. Deus e você mesmo sabem disso. Mas ninguém se alegrará mais do que eu em vê-lo pondo os pés no caminho em que Cristo andou, e encontrá-lo no reino de Deus. É difícil compreender a nós mesmos, ter um correto conhecimento de nosso próprio caráter. A Palavra de Deus é clara, mas muitas vezes erramos ao aplicá-la a nós mesmos. Há a possibilidade de nos enganarmos, julgando que suas advertências e repreensões não se referem a nós. "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" Jeremias 17:9. A lisonja própria pode insinuar-se nas emoções e no zelo cristão. O amor e a confiança em si mesmo podem dar-nos a certeza de que estamos certos, quando na verdade estamos longe de cumprir as exigências da Palavra de Deus. T5 332 2 A Bíblia é completa, clara e explícita; o caráter do verdadeiro discípulo de Cristo é assinalado com exatidão. Temos de estudar as Escrituras com coração humilde, tremendo ante a Palavra de Deus, se não desejarmos ser de modo algum enganados com respeito a nosso verdadeiro caráter. Precisa haver perseverantes esforços para vencer o egoísmo e a confiança própria. O exame próprio precisa ser completo para evitar todo perigo de engano. Um breve polimento do eu em ocasiões especiais não é suficiente. Tem de haver um exame diário do fundamento de nossa esperança e para ver se você realmente permanece no amor de Cristo. Trate fielmente com o próprio coração, pois você não pode correr qualquer risco aqui. Considere o custo de ser um cristão sincero e então revista-se da armadura. Estude o Modelo, olhe para Jesus e seja como Ele. Sua paz mental, sua esperança de eterna salvação, dependem da fidelidade dessa obra. Como cristãos, somos menos cuidadosos no exame de nós mesmos do que em qualquer outra coisa; e não admira, então, de que façamos pouco progresso em entender o eu. T5 333 1 Estou-lhe escrevendo estas coisas porque desejo que você seja salvo. Não pretendo desanimá-lo, mas insistir com o irmão para que faça esforços mais diligentes e vigorosos. O amor-próprio procurará instigá-lo a fazer uma obra superficial no exame de si mesmo, mas não permita que alguma falsa confiança o engane com respeito à vida eterna. Não se fundamente nos erros dos outros, mas decida entre Deus e o próprio coração a importante questão sobre onde firmar seu destino eterno. T5 333 2 "Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." (1 Samuel 16:7) -- o coração humano com suas emoções conflitantes de alegria e pesar; o transviado e caprichoso coração, que é habitação de tanta impureza e falsidade. Deus conhece seus motivos, reais intenções e propósitos. Dirija-se a Ele com o espírito todo maculado como está. Como o salmista, abra os recantos do coração ao olhar onisciente de Deus, exclamando: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno." Salmos 139:23-24. Submeta-Lhe o coração para ser refinado e purificado, então você se tornará participante da natureza divina, tendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo. Então o irmão estará "sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós." 1 Pedro 3:15. A paz de Cristo será de você e seu nome permanecerá registrado no livro da vida; seu título à herança celestial trará a chancela real, a qual ninguém sobre a Terra ousará questionar. Ninguém poderá barrar-lhe a entrada pelos portais da cidade de Deus, e o irmão terá livre acesso à presença real e ao templo de Deus. T5 333 3 Umas poucas palavras mais me impressionam a mente. Gostaria que você estivesse unido à igreja, não porque vejo todos os membros da igreja como perfeitos, nem porque acho que você também o seja. Deus possui na igreja filhos preciosos; há também homens e mulheres que são como joio em meio ao trigo. Mas o Senhor não lhe delegou ou a quem quer que seja a função de dizer quem é joio e quem é trigo. Podemos perceber e condenar as faltas alheias, enquanto temos maiores falhas que nunca detectamos, mas que são distintamente identificadas por outros. Deus requer que você dê ao mundo e à igreja um bom exemplo, uma vida que represente Jesus. Há deveres a serem cumpridos e responsabilidades a assumir. O mundo não tem suficientes verdadeiros cristãos; a igreja necessita deles e a sociedade não pode dispensá-los. A oração de Cristo por Seus discípulos foi: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal." João 17:15. Jesus sabe que estamos no mundo, expostos às suas tentações, mas Ele nos ama e nos dará graça para triunfar sobre suas corruptoras influências. Cristo deseja que sejamos perfeitos em caráter e que nossa obstinação não ocasione deformidade moral em outros. T5 334 1 Você percebe que seus irmãos não se aproximam do padrão bíblico, que há defeitos neles, e insiste nessas imperfeições. Então se supre deles em vez de abastecer-se de Cristo, e pelo contemplar transforma-se segundo a mesma imagem. Não critique a ninguém; não procure contrastar sua reta conduta com as deficiências alheias. Você pode cair em perigo de querer corrigir outros e fazê-los sentir os próprios erros. Não faça isso. Essa não é a obra que Deus lhe deu. Ele não o tornou o reformador da igreja. Há muitas coisas que você vê sob a luz da Bíblia. Mas, embora você possa estar certo em alguns pontos, não dê a impressão de que suas posições estão sempre corretas, pois sob muitos pontos de vista suas idéias são distorcidas e não suportariam crítica. T5 334 2 Não procure exaltar a si mesmo, mas aprenda na escola de Cristo a mansidão e a humildade de coração. Você sabe bem como era o caráter de Pedro e quão notavelmente seus traços peculiares se desenvolveram. Antes de sua grande queda, ele era sempre ousado e ditatorial, falando inadvertidamente segundo o impulso do momento. Ele estava sempre pronto para corrigir os outros e expressar os próprios pensamentos, antes de ter uma clara compreensão de si mesmo ou do que deveria dizer. Mas ele se converteu, e o Pedro convertido era diferente do irrefletido e impulsivo Pedro. Conquanto conservando seu primitivo fervor, a graça de Cristo ajustou seu zelo. Em lugar de ser impetuoso, autoconfiante e presunçoso, era agora calmo, ponderado e dócil. Então podia apascentar os cordeiros e as ovelhas do rebanho de Cristo. T5 335 1 Você, meu irmão, tem uma grande obra a fazer por si mesmo, dia após dia. Precisa fazer constantes esforços para refrear o mau temperamento e as perversas propensões. Esses têm evoluído com seu crescimento e somente Jesus pode fortalecê-lo plenamente para vencê-los. O irmão deveria examinar-se como um servo de Cristo e buscar ser semelhante a Ele no caráter. Tente ser agradável aos outros. Nas relações comerciais, seja cortês, bondoso e paciente, mostrando a mansidão de Jesus. Que esse espírito o controle. Você está ligado com a humanidade e precisa ser paciente, amável e compassivo. Tem de cultivar a amabilidade e subjugar o egoísmo. Pergunte-se: "O que posso fazer para beneficiar os outros?" Se o seu coração estiver ansioso por fazer o bem, mesmo com desconforto para si mesmo, você terá a aprovação de Deus. O amor, erguido acima do domínio da paixão e do impulso, torna-se espiritualizado e se revela em palavras e atos. O cristão tem de ter uma ternura e amor santificados, em que não haja impaciência ou irritação; as maneiras ásperas, rudes, têm de ser abrandadas pela graça de Cristo. T5 335 2 Ó, meu irmão, minha irmã, eduque-se na escola de Cristo. Que cesse o espírito de controvérsia, tanto no lar quanto na igreja. Que seu coração se dilate em amor pelo povo de Deus. Corações cheios do amor de Cristo nunca podem estar em desarmonia. Religião é amor, e o lar cristão é aquele onde o amor reina e encontra expressão em palavras e atos de solícita bondade e gentil cortesia. Não se permitam pronunciar palavras ásperas. Que o culto familiar seja agradável e interessante. Seja um cavalheiro cristão, meu irmão, pois os mesmos princípios que caracterizam a vida no lar devem ser transportados para a igreja. Uma falta de cortesia, um momento de petulância, uma única palavra áspera, irrefletida, manchar-lhes-á a reputação, e poderá cerrar de tal modo a porta de corações, que nunca mais sejam alcançados. T5 336 1 Mostrei-lhes agora os perigos que correm e contei-lhes acerca das preciosas vitórias que podem obter. Nunca veremos o reino do Céu a menos que tenhamos a mente e o espírito de Cristo. Imitem o Modelo no lar, no trabalho e na igreja. Não tentem ensinar os outros, nem procurem ver o quanto podem se diferenciar de seus irmãos, mas busquem meios de lhes estar mais próximos e de mais plenamente estar em harmonia com eles. Enquanto fazendo tudo quanto puderem para aperfeiçoar o caráter cristão, entreguem o coração a Deus para que Ele o molde de acordo com Sua vontade. Ele os ajudará, eu sei muito bem. Que Deus possa abençoá-los e também a seus filhos; e que eu possa encontrá-los todos ao redor do grande trono branco, é minha oração. ------------------------Capítulo 38 -- Ambição mundana T5 336 2 Meu prezado irmão I: T5 336 3 Desde nosso encontro na campal do Maine, senti que não era muito tarde para você pôr seu coração e casa em ordem. Sei que o irmão tem sido impressionado pelo Espírito de Deus e agora a questão é: Renderá você alegremente, em resposta a esse convite para o arrependimento, o coração a Deus? Seu caso me foi apresentado em visão, mas enquanto você estava sob o completo controle do inimigo, não tive coragem de lhe enviar a mensagem a mim dada pelo Senhor. Temi que você não a levasse em consideração e que o Espírito Santo seria ofendido pela última vez. Mas agora sinto-me impelida a enviar-lhe este testemunho, que será para você um cheiro de vida para a vida ou de morte para a morte. T5 336 4 Não o leia se você estiver decidido a escolher as trevas em lugar da luz, a servir a Mamom antes que a Cristo. Mas se o irmão desejar realmente fazer a vontade de Deus e estiver disposto a ser salvo da maneira por Ele escolhida, então leia-o. Não o faça, contudo, para criticá-lo, pervertê-lo, ridicularizá-lo e desprezá-lo, pois nesse caso ele terá para você um sabor de morte para a morte e testemunhará contra o irmão no Juízo. Antes de ler esta mensagem de advertência, vá sozinho diante de Deus e peça-Lhe para remover de você o espírito de oposição, rebelião e incredulidade, e para abrandar e subjugar seu coração endurecido. T5 337 1 Nós não compreendemos a grandeza e majestade de Deus nem nos lembramos das imensuráveis distâncias entre o Criador e a criatura formada por Sua mão. Aquele que Se assenta nos Céus, empunhando o cetro do Universo, não julga segundo nossa finita norma, nem soma segundo nossos cálculos. Estamos em erro se pensamos que aquilo que é grande para nós tem de ser grande para Deus, e aquilo que para nós é pequeno precisa ser pequeno para Ele. Ele não seria mais exaltado do que nós se possuísse as mesmas faculdades. T5 337 2 Deus não observa todos os pecados como sendo de igual magnitude. Há graus de culpabilidade a Seus olhos tanto quanto aos olhos do homem finito. Conquanto este ou aquele erro possa ser insignificante aos olhos do homem, não o é, porém, à vista de Deus. Nenhum pecado é pequeno à vista de Deus. Os pecados que o homem está disposto a considerar como pequenos podem ser precisamente aqueles que Deus considera como grandes crimes. O beberrão é desprezado e dele é dito que o seu pecado o excluirá do Céu, ao passo que o orgulho, o egoísmo e a cobiça seguem sem repreensão. Mas esses são pecados de modo especial ofensivos a Deus. Ele "resiste ao soberbo", e Paulo diz que a cobiça é idolatria. Aqueles que estão familiarizados com as denúncias contra a idolatria na Palavra de Deus, verão sem demora quão grave ofensa esse pecado é. T5 337 3 Deus fala através do profeta: "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:7-9. Necessitamos claro discernimento, para que possamos medir o pecado pela norma do Senhor e não pela nossa. Tomemos como nossa regra, não opiniões humanas, mas a Palavra divina. T5 337 4 Estamos no grande campo de batalha da vida. Nunca devemos nos esquecer de que somos individualmente responsáveis pelo resultado da luta. Ainda que Noé, Jó e Daniel estivessem na Terra, não livrariam nem filho nem filha por sua justiça. Você, meu irmão, não tem pensado nisso. Mas justifica sua conduta porque pensa que seus irmãos não agem direito. Algumas vezes você se comporta como uma criança mimada e manifesta descrença e dúvidas com respeito aos outros. Mas será que isso compensa? Há algo em sua família, na igreja ou no mundo para justificar sua indiferença aos reclamos divinos? Serão, porventura, úteis algumas de suas desculpas quando você estiver face a face com o Juiz de toda a Terra. Quão néscia e pecaminosa parecerá sua néscia e mesquinha conduta. Quão irresponsável ela lhe parecerá, a você que deixou as opiniões e os lucros mundanos se sobreporem à recompensa dos fiéis -- uma eternidade de felicidade no Paraíso de Deus. T5 338 1 Quando você estava sob intenso sofrimento físico e não havia esperança na capacidade humana, o Senhor teve piedade de você e misericordiosamente o curou. Satanás procurou afligi-lo, arruiná-lo e mesmo tirar-lhe a vida, mas o Salvador o protegeu repetidas vezes, para que você não fosse abatido enquanto seu coração estava cheio de satânico frenesi e sua língua proferindo palavras de amargura e incredulidade contra a Bíblia e a verdade que uma vez o irmão defendeu. Quando Satanás o reclamou como seu, Jesus repeliu o cruel e maligno inimigo com as palavras: "Eu ainda não retirei Meu Espírito dele. Ele ainda tem dois passos mais a dar antes de passar os limites de Minha misericórdia e amor. As pessoas são aquisição de Meu sangue. O Senhor te repreenda, ó Satanás; o Senhor te repreenda." T5 338 2 Passou diante de mim sua vida anterior e você me foi mostrado no tempo em que a verdade achou resposta em seu coração. O Espírito de Deus o convenceu acerca da direção que deveria seguir e você teve tremenda luta com o eu. Você era um homem astuto e intrigante. Não fazia pelos outros como gostaria que eles lhe fizessem, mas tomava vantagem deles onde quer que pudesse. O irmão teve tremenda luta para subjugar o eu e mortificar o orgulho, e foi tão-somente pela graça de Deus que essa obra pôde ser realizada. Em lugar de realizar uma reforma completa você associou a verdade a um caráter remendado, que não suportaria a prova da tentação. Não começou buscando a Deus com coração contrito, quebrantado, corrigindo os erros. Se houvesse feito isso, não teria tropeçado e caído na armadilha do inimigo. Havia uma mescla de egoísmo em seus motivos, a qual nem mesmo você conseguiu ver com clareza. Argumentos tirados do interesse mundano, da posição social e relativa respeitabilidade, influenciaram-no e você decidiu não fazer um trabalho sério e completo diante de Deus e dos homens. A busca por atingir o padrão mundano prejudicou a sinceridade e a pureza de seu caráter cristão e você não pôde dar frutos dignos de arrependimento. T5 339 1 Zaqueu disse: "Se em alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado." Lucas 19:8. Você poderia ao menos esforçar-se por corrigir seus atos de injustiça com os semelhantes. Não pode acertar todos os casos, pois alguns a quem prejudicou jazem agora na sepultura, e o débito está registrado em seu nome. Aqui, o melhor que o irmão tem a fazer é trazer uma oferta pelo pecado ao altar do Senhor. Ele o aceitará e perdoará. Mas, onde puder, deve fazer reparação aos que foram lesados. T5 339 2 Se os descrentes com quem você teve contato vissem no irmão o poder transformador da verdade, teriam diante de si um argumento em favor do cristianismo que não poderiam contradizer. Você tinha condições de refletir uma luz clara e penetrante para o mundo, mas, em vez disso, misturou-se com ele e absorveu-lhe o espírito. Meu irmão, você precisa nascer de novo. Uma simples forma de cristianismo não tem o mínimo valor. Ela é destituída de poder salvador, não tendo em si qualquer energia reformadora. Uma religião confinada ao culto de sábado não emite raios de luz aos outros. Rogo-lhe que examine intimamente seu coração. O irmão possui um espírito combativo e contencioso, e o está cultivando em vez de reprimir. É seu dever fazer decidida mudança e cultivar mansidão, fé, humildade e amor. Sua vida está em perigo e você certamente estará exposto aos terríveis enganos de Satanás, a não ser que pare onde está e se oponha à corrente do mundanismo e da ambição. Suas relações com o mundo precisam ser mudadas e uma radical separação ter lugar. As posições que ocupa, as quais lhe abrem continuamente as portas da tentação, precisam ser abandonadas. Evite a política, afaste-se da controvérsia. Tenha presente que cada ocupação que estimula esses traços em seu caráter tem de ser posta de lado e vencida. T5 340 1 Meu irmão, você precisa fazer resolutos e enérgicos esforços ou nunca será capaz de lançar fora as obras das trevas. Satanás o vê como um dos seus. Quando você ouve os testemunhos dos servos de Deus, como na última reunião campal, fica profundamente convencido. Mas você não corresponde às impressões do Espírito de Deus, e junta-se aos descrentes, participando de seu espírito e sendo vencido pela corrente mundana, sem possuir qualquer poder moral para resistir à sua influência. Você se uniu aos amantes do mundo e numa situação ainda pior do que a deles, pois sua escolha é voluntária. O irmão gosta de ser bajulado e prefere as possessões temporais acima de Cristo. O amor às riquezas está entretecido em cada fibra de seu ser e se tornou dominante. Erradicá-lo será como arrancar o olho direito ou cortar o braço direito. Falo-lhe como alguém que sabe: a menos que vença esse intenso amor pelo dinheiro, ele lhe custará a salvação e, então, seria melhor para você nunca haver nascido. T5 340 2 "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. À medida que você amar e animar em si mesmo um espírito mundano, terá uma atitude desafiadora, questionará e achará faltas naqueles que lhe trazem a mensagem da verdade. Zombará da verdade e se tornará uma falsa testemunha, um acusador dos irmãos. Os talentos que lhe foram dados por Deus para ser aprimorados para Sua glória, serão ativamente usados contra Sua obra e causa. Não há concórdia entre Cristo e Belial. Você já escolheu a amizade do mundo, portanto, está decididamente ao lado de Satanás. O coração natural acha-se em inimizade contra Deus e resistirá à mais clara evidência da verdade. O ímpio não suportará a luz que condena sua errônea conduta. T5 341 1 Você abriu o coração à dúvida e ao ceticismo, mas nunca será capaz de ser um infiel sincero. Pode até jactar-se de não crer na Bíblia, mas está cometendo perjúrio contra si mesmo todo o tempo, pois a conhece bem. T5 341 2 Suplico-lhe que faça uma obra diligente para a vida eterna. Rompa a armadilha de Satanás, aja contra suas sugestões. Que seja esta a linguagem do seu coração: "Nada há que eu tema tanto no Universo como desconhecer todo o meu dever, ou que, conhecendo-o, falhar em cumpri-lo." "Erguem-se por Cristo", foram as palavras de um santo moribundo. Sim, irmão I, erga-se por Cristo. Tudo lhe será exigido para fazer isso. Você tem de mudar sua posição no mundo, pois que nome, distinção e profissão, são para você uma armadilha que lhe põe em perigo a salvação. Uma calculada e mundana sabedoria está continuamente buscando afastá-lo do Salvador. Uma ousada, desafiadora e blasfema infidelidade tentará esmagar Seu evangelho; não somente extingui-lo de sua vida, como também do mundo. Mas, erga-se por Jesus. Na presença de seus parentes e amigos, em todas as relações comerciais, nos relacionamentos com o mundo, em todo lugar e em toda parte, sobre todas as circunstâncias, erga-se por Jesus. ------------------------Capítulo 39 -- Amor fraternal T5 341 3 Prezados irmãos e irmãs de _____: T5 341 4 Minha mente tem de contínuo se perturbado por causa da condição em que vocês se encontram. Não pude dormir e levantei-me à meia-noite para escrever a J, a você, bem como à igreja. Não posso imaginar qual seria hoje a situação de J, se vocês houvessem adotado uma atitude correta para com ele, o que qualquer filho de Deus teria feito em tal caso. Alguns dos irmãos não serão capazes de entender minhas palavras, pois seu próprio comportamento os colocou numa posição em que não puderam exercer um discernimento santificado. Vocês nutriram sentimentos duros a respeito dele, e se justificaram ao tratá-lo com desdém. Pensaram os irmãos que pela incredulidade e má conduta desse irmão ele estava com certeza prejudicando a igreja e pondo em perigo as pessoas, e que não deviam manter qualquer tipo de amizade com ele. Mas gostariam os irmãos, à luz do grande padrão de justiça divino, de examinar detidamente cada palavra que disseram e cada ato que praticaram e compará-los com a vida de Cristo? Se houvessem feito a vontade de Deus, então Sua luz e aprovação secundaria seus esforços e o sucesso os contemplaria. Gostaria que os membros dessa outrora próspera igreja concordassem cada um em fazer oposição contra a própria casa. Quando vissem esse comportamento sob sua verdadeira luz, saberiam que cometeram um grande erro ao permitir que o espírito crítico e farisaico controlasse sua língua e se desenvolvesse no tratamento dado a seus irmãos. Essa rudeza anticristã exclui a Jesus da igreja e provoca espírito de dissensão. Ela tem favorecido a disposição de julgar e condenar, e aversão àqueles que não vêem as coisas como vocês. Mesmo que seus irmãos dissessem e fizessem muitas coisas que realmente os ofendessem, vocês os empurrariam para o lado e diriam: "Sou mais santo que vocês"? T5 342 1 "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. Cristo não foi revelado no comportamento de vocês perante alguns que estavam muito mais próximos do reino do Céu. O Senhor lhes tem mostrado os erros que cometem para com Seus filhos, como falta de misericórdia e amor, e a determinação de exercer controle sobre as mentes e fazê-las ver as coisas como vocês. Quando a luz chegou até os irmãos, o que vocês fizeram? Admitiram simplesmente que estavam errados ou confessaram sinceramente o erro e humilharam o altivo coração diante de Deus? Desistiram dos próprios caminhos e aceitaram os ensinamentos divinos? Foram vocês até os que ofenderam e feriram, e disseram: "Eu errei. Pequei contra você. Perdoe-me. Falhei. Segui minhas próprias inclinações. Manifestei zelo, mas não de acordo com o entendimento. Agi segundo o espírito de Jeú, e não na mansidão e humildade de Cristo. A Palavra de Deus ordena: 'Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis.' Tiago 5:16. Você orará por mim para que Deus me perdoe pela tristeza e angústia que lhe causei?" T5 343 1 Se vocês que estão empenhados nessa obra de ofender e condenar, sem disposição para se arrepender de coração, então luz, paz e alegria estarão ausentes de sua vida. Quando vocês forem cautelosos, bondosos e ternos para com seus irmãos, no mesmo grau em que foram duros, implacáveis e opressivos; quando confessarem suas faltas, restituindo aquilo que lhes for possível e fizerem tudo o que lhes estiver ao alcance, então poderão pedir ao Senhor para realizar o que lhes é impossível -- curar as feridas que fizeram, perdoar-lhes e apagar as transgressões. Quando há tão grande relutância em confessar um erro tão claramente mostrado aos culpados, isso é evidência de que eles são controlados por sua natureza indomável e decaída, antes que pelo espírito do evangelho de Cristo. T5 343 2 Se Deus tem sempre falado por meu intermédio, digo-lhes que os irmãos têm a mais diligente obra a fazer em zeloso arrependimento, por demonstrarem aos errantes o elemento satânico do caráter de vocês, não apenas em frieza e indiferença, mas em negligência e desprezo. Se estão realmente em trevas e fazendo coisas que põem em perigo sua salvação, vocês deveriam manifestar maior interesse por eles. Mostrem-lhes que conquanto sejam leais aos princípios e não se desviem do direito, vocês os amam. Que eles sintam por suas palavras e ações, que vocês não possuem espírito revanchista e retaliador, mas que, por causa deles, os irmãos sacrificarão os próprios sentimentos e submeterão o eu. Representem a Jesus, nosso Modelo, manifestem Seu espírito em todo o tempo e sob todas as circunstâncias; e que haja em vocês o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Os caminhos dos irmãos não têm sido os de Deus; sua vontade não tem sido a divina. A preciosa planta do amor não tem sido cultivada e irrigada pelo orvalho da graça. Amor-próprio, justiça própria e autocomplacência têm exercido um poder controlador. T5 344 1 O que Jesus tem feito por vocês e o que Ele continuamente está fazendo por nós como indivíduos? O que têm vocês que não hajam recebido? Disse Cristo: "Eu sou a videira, vós, as varas." João 15:5. "Toda vara em Mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto." João 15:2. Não são os ramos que nutrem a videira, mas essa é que alimenta os ramos. Não é a igreja que alimenta a Cristo, mas Seu poder vital sustenta a igreja. Não é suficiente ser um ramo; precisamos ser ramos frutíferos. Jesus afirmou: "Quem está em Mim, e Eu nele, este dá muito fruto." João 15:5. Mas se o fruto produzido for o mesmo do espinheiro, é evidente que não somos ramos da Videira Viva. T5 344 2 A vida é disciplinante. Enquanto no mundo, encontrará o cristão influências adversas. Haverá provocações para provar o temperamento; e é enfrentando essas provas no devido espírito que se desenvolvem as graças cristãs. Se suportamos as injúrias com espírito de mansidão, se reagimos a palavras insultuosas com respostas brandas e a atos opressivos com bondade, isso é prova de que o Espírito de Cristo habita em nosso coração, de que a seiva da Videira Viva está fluindo para os ramos. Estamos na escola de Cristo nesta vida, onde devemos aprender a ser mansos e humildes de coração; e no dia do final ajuste de contas, veremos que todos os obstáculos que encontramos, todas as vicissitudes e contrariedades que somos chamados a suportar, são lições práticas na aplicação de princípios da vida cristã. Quando bem sofridos, desenvolvem semelhança com Cristo no caráter, e distinguem o cristão do mundano. T5 344 3 Há uma elevada norma a que devemos atingir, caso queiramos ser filhos de Deus, nobres, puros, santos e incontaminados; e é necessário um processo de poda, se queremos alcançar essa norma. Como seria efetuada essa poda, se não houvesse dificuldades a enfrentar, obstáculos a transpor, coisa alguma a exigir paciência e capacidade de resistir? Essas provações não são as menores bênçãos em nossa experiência. Têm como objetivo fixar nossa determinação de vencer. Cumpre-nos usá-las como os divinos meios de obter decididas vitórias sobre o próprio eu, em vez de permitir que elas nos entravem, oprimam e destruam. T5 345 1 O caráter será provado. Cristo revelar-Se-á em nós, uma vez que sejamos realmente ramos da Videira Viva. Seremos pacientes, bondosos e tolerantes, contentes em meio de atritos e irritações. Dia a dia e ano após ano havemos de vencer o próprio eu e crescer na direção de um nobre heroísmo. Essa é a tarefa que nos é designada; não pode, porém, ser cumprida, sem contínuo auxílio de Jesus, resoluta decisão, inflexível propósito, constante vigilância e incessante oração. Cada um tem uma batalha individual a travar. Cada um precisa abrir o próprio caminho através de lutas e desânimo. O que desiste da luta, perde a força e a alegria da vitória. Ninguém, nem mesmo Deus, nos pode levar para o Céu a menos que façamos o necessário esforço de nossa parte. Importa introduzirmos traços de beleza em nossa vida. Temos de excluir as desagradáveis características naturais que nos tornam diferentes de Jesus. Ao passo que Deus opera em nós o querer e o efetuar Sua boa vontade, cumpre-nos cooperar com Ele. A religião de Cristo transforma o coração. Torna a mente mundana do homem em mente celestial. Sob sua influência, o egoísta se torna abnegado, porque este é o caráter de Cristo. O homem desonesto, astucioso, torna-se reto, de modo que fica sendo uma segunda natureza nele fazer aos outros o que queria que lhe fizessem a ele. O dissoluto é transformado da impureza para a pureza. Forma hábitos corretos; pois o evangelho de Cristo tornou-se para ele cheiro de vida para vida. T5 345 2 Agora, enquanto dura o tempo de graça, não compete a um proferir sentença sobre outros, e considerar-se como modelo. Nosso modelo é Cristo; imite, ponha os pés em Suas pegadas. Pode-se professar crer em todo ponto da verdade presente, mas a menos que sejam praticadas essas verdades, isso de nada aproveitará. Não nos cumpre condenar a outros; essa não é nossa tarefa; devemos, porém, amar-nos uns aos outros, e uns pelos outros orarmos. Quando vemos uma pessoa se desviar da verdade, podemos então chorar sobre ela como Cristo chorou sobre Jerusalém. Vejamos o que diz nosso Pai celeste em Sua Palavra, a respeito do errante: "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado." Gálatas 6:1. "Se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados." Tiago 5:19, 20. Que grande trabalho missionário, esse! quão mais cristão é isso do que pobres e falíveis mortais estarem sempre acusando e condenando os que não se ajustam exatamente a seu modo de pensar! Lembremo-nos de que Jesus nos conhece individualmente, e é tocado pelo sentimento de nossas fraquezas. Conhece as necessidades de cada uma de Suas criaturas, e lê a dor oculta, recalcada de cada coração. Se um dos pequeninos por quem Ele morreu é ofendido, Ele o vê, e chama a contas o ofensor. Jesus é o Bom Pastor. Cuida de Suas ovelhas fracas, enfermas e desgarradas. Conhece-as todas pelo nome. Toca-Lhe o coração cheio de compassivo amor a aflição de toda ovelha e todo cordeiro de Seu rebanho, e chega-Lhe ao ouvido o brado de socorro. Um dos maiores pecados dos pastores de Israel, é assim apontado pelo profeta: "A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim se espalharam, por não haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As Minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes, e por todo o alto outeiro; sim, as Minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da Terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque." Ezequiel 34:4-6. T5 346 1 Jesus cuida de cada um como se não houvesse outra criatura na face da Terra. Como Divindade, exerce forte poder em nosso favor, ao passo que, como nosso Irmão mais velho, sente todas as nossas tristezas. A Majestade do Céu não Se manteve distante da humanidade degradada e pecaminosa. Não temos um sumo sacerdote que Se ache tão alto, tão exaltado que nos não possa notar ou compadecer-Se de nós, mas um que, em tudo, foi tentado como nós somos, ainda que sem pecado. T5 347 1 Quão diferente desse espírito é o sentimento de indiferença e desprezo que tem sido manifestado por alguns em _____ para com J e os que têm sido afetados por sua influência! Se a transformadora graça de Deus já foi algum dia necessária, ela o é agora nesta igreja. Julgando e condenando um irmão, empreenderam uma obra que Deus não pôs absolutamente em suas mãos. Entremeou-se em sua experiência cristã uma dureza de coração, um espírito crítico, condenatório, tendente a destruir a individualidade e a independência, e desapareceu-lhes do coração o amor de Jesus. Apressem-se, irmãos, a tirar tais coisas de sua vida antes que seja dito no Céu: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. T5 347 2 Vocês terão muitas perplexidades a enfrentar em sua vida cristã em relação com a igreja; porém, não se esforcem demasiadamente por moldar seus irmãos. Se virem que não satisfazem as reivindicações da Palavra de Deus, não condenem; se eles provocam, não retribuam na mesma moeda. Quando dizem coisas de molde a exasperar, guardem quietamente seu espírito de irritação. Vocês vêem nos outros muitas coisas que parecem erradas, e querem corrigir esses erros. Começam, em suas próprias forças, a trabalhar no sentido da reforma; não o empreendem, todavia, pela devida maneira. Vocês devem trabalhar pelos que erram com o coração subjugado, enternecido pelo Espírito de Deus, e deixem que o Senhor atue por meio de vocês, o instrumento. Passem seus fardos a Jesus. Vocês acham que o Senhor precisa tomar a Si o caso quando Satanás está se esforçando por dominar alguma pessoa; mas devem fazer o que estiver ao seu alcance com humildade e mansidão, e pôr a emaranhada obra, as questões complicadas, nas mãos de Deus. Sigam as orientações dadas em Sua Palavra, e deixem o resultado com Sua sabedoria. Havendo feito tudo quanto possam para salvar um irmão, deixem de afligir-se e prossigam calmamente com os outros deveres urgentes. Aquilo não lhes pertence mais, porém a Deus. T5 348 1 Não cortem, movido de impaciência, o nó da dificuldade, tornando o caso desesperado. Permitam que Deus desembarace por vocês os enredados fios. Ele é bastante sábio para lidar com as complicações de nossa vida. Ele tem tato e habilidade. Nem sempre Lhe podemos compreender os planos; precisamos esperar pacientemente o seu desdobramento, e não estragá-los ou destruí-los. A seu tempo, Ele no-los revelará. Busquem unidade; cultivem amor e conformidade com Cristo em tudo. Ele é a fonte da unidade e da força; vocês não têm, porém, buscado a unidade cristã, para enlaçar em amor os corações. T5 348 2 Há trabalho para fazerem na igreja e fora da igreja. "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto." João 15:8. O fruto que damos é a única prova da natureza da árvore, perante o mundo. Isto é a demonstração de nosso discipulado. Se nossas obras são de tal caráter que, como ramos da Videira Viva, damos fartos cachos de precioso fruto, então apresentamos diante do mundo o próprio distintivo de Deus como Seus filhos e filhas. Somos cartas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. T5 348 3 Ora, temo que deixem de realizar a obra que lhes cumpre fazer para redimir o passado e tornar-se ramos vivos, que dêem muito fruto. Se procederem como Deus quer que façam, Sua bênção virá à igreja. Vocês ainda não foram bastante humildes para efetuar uma obra cabal e satisfazer a mente do Espírito de Deus. Tem havido justificação própria, agradar a si mesmo, vingar-se, quando devia ter havido humilhação, contrição e arrependimento. Vocês devem remover toda pedra de tropeço, e fazer "veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente". Hebreus 12:13. Não é demasiado tarde para endireitar os erros; mas não devem sentir sãos e não necessitar de médico, porquanto vocês precisam de auxílio. Quando forem ter com Cristo com o coração quebrantado, Ele os abençoará, e sairão para a obra do Mestre, com coragem e energia. O melhor testemunho de que estão em Cristo, é o fruto que produzem. Se não estiverem verdadeiramente unidos a Ele, a luz e os privilégios que têm os condenarão. ------------------------Capítulo 40 -- Remindo o tempo T5 349 1 Prezado irmão J: T5 349 2 Levantei-me à meia-noite para escrever-lhe, porque estava com minha mente sobrecarregada. Perturbei-me por causa do irmão, pois sei que estamos próximos ao fim da história terrena e o registro de sua vida não é tal que você gostaria de enfrentar no grande dia, quando cada homem receberá de acordo com suas obras. T5 349 3 Talvez julgue que outros procederam mal; e eu sei tão bem quanto você que não se tem manifestado na igreja um espírito semelhante ao de Cristo. Mas acaso você aproveitará isso no juízo? Será que a soma de dois erros é um acerto? Embora um, dois ou três na igreja tenham errado, isso não apagará ou desculpará o seu pecado. Seja qual for a orientação que outros sigam, o que você precisa é pôr em ordem o próprio coração. Deus tem direitos sobre você, e circunstância alguma deve levar você a esquecer ou negligenciar isso; pois toda alma é preciosa aos Seus olhos. T5 349 4 Meu coração se abre para aqueles que têm errado por entre escuras montanhas da incredulidade e quero ajudá-los. Há um bom material humano na igreja de _____, mas os membros não foram transformados pelo Espírito de Deus e postos num lugar onde podem deixar sua luz brilhar ao mundo. Alguns, com os melhores motivos e possuindo habilidades de grande utilidade, falharam totalmente em tempos de provação da igreja, por falta daquele amor e misericórdia que habitaram tão profusamente no coração de Cristo. Quando vêem alguém em erro, em lugar de ajudá-lo, mantêm-se afastados. São inclinados a fazer desagradáveis alusões e tocar em pontos sensíveis quando poderiam muito bem evitar tudo isso. O eu se manifesta e ganha ascendência, então eles produzem dor e sentimentos indevidos. Embora honestas as suas intenções, seus esforços para fazer o bem quase sempre resultam em fracasso, se não em dano efetivo por faltar a ternura e a compaixão de Cristo. Eles poderiam ser bons cirurgiões, mas não passam de pobres enfermeiros. Não possuem aquele tato nascido do amor. Se o tivessem, saberiam como dizer palavras certas e fazer as coisas corretas no tempo e lugar certos. Outros podem não possuir um sincero desejo de agir corretamente, nenhum interesse mais profundo na causa de Deus; vocês podem não ser tão verdadeiros e leais, suas simpatias sem profundidade, seu amor arrefecido, todavia, ainda por causa de sua afabilidade e tato, são muito melhor sucedidos em conquistar os errantes. T5 350 1 O Senhor ficaria satisfeito se Seu povo fosse mais atencioso do que é agora, mais misericordioso e mais solícito uns para com os outros. Quando o amor de Cristo está no coração, cada um terá mais terna consideração pelos interesses dos outros. Irmão não quererá levar vantagens sobre irmão em transações comerciais. Outro não cobrará exorbitantes taxas de juros, em virtude de ver seu irmão em situação difícil, necessitado de ajuda. Aqueles que procuram tirar proveito das necessidades do semelhante, provam conclusivamente que não são governados pelos princípios do evangelho de Cristo. Suas ações são registradas nos livros do Céu como fraude e desonestidade e, onde quer que esses princípios atuem, a bênção do Senhor não será derramada. Tais pessoas estão recebendo as impressões do grande adversário antes que do Espírito de Deus. Aqueles que finalmente herdarão o reino celestial devem ser transformados pela divina graça. Precisam ser puros de coração e vida, e possuir caráter simétrico. T5 350 2 Considero-o, meu irmão, como estando em grande perigo. Seu tesouro está acumulado na Terra e seu coração está posto em suas riquezas. Porém, todos os meios que possa acumular, mesmo que sejam milhões, não serão suficientes para pagar o resgate de sua alma. Não permaneça na impenitência e incredulidade que, em seu caso, anulam os graciosos propósitos de Deus; não force a destruição pela relutante mão divina sobre sua propriedade, nem traga aflição sobre si mesmo. T5 351 3 Quantos há que estão agora tomando um rumo que certamente, em breve, atrairá atos de juízo. Essas pessoas vivem, dia após dia, mês após mês, ano após ano, para os próprios interesses egoístas. Sua influência e meios, acumulados mediante as habilidades e tino dados por Deus, são usados para si mesmos e suas famílias, sem um só pensamento para seu gracioso Benfeitor. Não permitem que coisa alguma retorne ao Doador. Em realidade, acham que sua vida e talentos a eles confiados lhes pertencem, e se devolvem a Deus a parte que Ele reclama com justiça, pensam que põem o Criador sob solene obrigação para com eles. Finalmente, Sua paciência com esses mordomos infiéis se esgota, e Ele faz com que todos os seus projetos egoístas e mundanos cheguem a um fim repentino, para mostrar-lhes que como ajuntaram para a própria glória, Ele pode espalhar e deixá-los desamparados para resistir ao Seu poder. T5 351 1 Irmão J, dirijo-me hoje a você como a um prisioneiro da esperança. Será que vai perceber que seu sol passou por seu meridiano há algum tempo e agora declina rapidamente? Pode você discernir as prolongadas sombras? Você não tem senão pouco tempo no qual trabalhar por você, pela humanidade e por seu Mestre. Há uma obra especial a ser feita pela própria alma, se o irmão quiser ser contado com os vencedores. Como está o registro de sua vida? Estará, porventura, Cristo rogando em vão por você? Ficará Ele desapontado com o irmão? Alguns de seus companheiros, que estavam lado a lado com o irmão, já foram chamados. A eternidade revelará se a fé deles foi à bancarrota e fracassaram em assegurar a vida eterna, ou se foram ricos para com Deus e herdeiros do "peso da glória, acima de toda comparação". 2 Coríntios 4:17. Considerará você que a grande paciência que Deus tem mostrado para com o irmão, chama-o ao arrependimento e humilhação de alma perante Ele? T5 351 2 Há outras considerações importantes, além de sua salvação pessoal, que demandam atenção. Embora tarde como possa ser agora, com seu sol prestes a baixar sobre as colinas ocidentais, você ainda tem uma grande obra a fazer por seus filhos, a quem o amor do mundo separou de Deus. O irmão tem ainda parentes, vizinhos e amigos que não foram salvos. Houvesse seu exemplo sido coerente com a luz que lhe foi dada; houvesse o irmão sido diligente em salvar essas preciosas pessoas, como tem sido rápido em juntar tesouros terrenos; houvesse você usado seus meios e influência, sabedoria e tato, num esforço para trazer esses extraviados ao redil de Cristo; houvesse realizado essa obra e teria assegurado uma colheita de almas e garantido uma rica recompensa no dia de Deus. Teria o irmão assim edificado sobre o real fundamento, valioso e imperecível material, mas, em lugar disso, você tem estado a erigir madeira, feno e restolho, para serem consumidos quando a obra de cada homem for verificada de que espécie se constitui. T5 352 1 Sua vida tem sido um fracasso. O irmão tornou-se uma pedra de tropeço aos pecadores. Eles têm dito de você: "Se a religião que esse homem professa é realmente genuína, por que ele é tão ávido pelas coisas deste mundo? Por que ele não revela em sua conduta o espírito de Cristo." Apresse-se, meu irmão, antes que seja tarde demais para remover essa pedra de tropeço do caminho dos pecadores. Pode você olhar com prazer sua vida ou a influência que exerceu? Ponderará você agora sobre seus caminhos? Fará esforços para estar em correto relacionamento com Deus? Não creio que seu coração esteja endurecido e sei que a benignidade e terna misericórdia de Deus são maravilhosas. Você tem pouco tempo de graça. Será que você se deixará ser aperfeiçoado agora, enquanto Jesus está apelando com Seu sangue diante do Pai? Graciosamente tem Ele poupado sua vida, mas você tem sido como a figueira estéril, na qual, ano após ano, nenhum fruto se viu, nada senão folhas. Por quanto tempo ainda você continuará decepcionando o Mestre? Forçá-lo-á o irmão a dizer: "Nunca mais nasça fruto de ti." (Mateus 21:19) ou "Corta-a. Por que ela ocupa ainda a terra inutilmente?" Lucas 13:7. Oh, não espere que a mão do Senhor se volte contra você e espalhe os bens que acumulou. Lembre-se de que toda a riqueza que possui não lhe dará um só momento de calma segurança e paz em seu leito de morte. T5 352 2 Fervorosamente insisto com o irmão sobre a necessidade de voltar-se para Deus de uma vez por todas. Imploro-lhe que desaponte o inimigo. Afaste-se de seu poder cruel. Empenhe-se, durante o restante de sua vida, em proporcionar um registro diferente no Céu, do qual você não tenha de se envergonhar quando os livros forem abertos e o Juiz pronunciar a sentença sobre aqueles que negligenciaram essa tão grande salvação. T5 353 1 Paulo exorta seus irmãos efésios a remirem o tempo porque os dias são maus. Essa exortação aplica-se perfeitamente a você. Em certo sentido é impossível resgatar o tempo, porquanto uma vez passado, passado para sempre. Mas o irmão foi chamado para a reforma, para ser zeloso de boas obras na mesma intensidade com que foi negligente com relação ao dever. Converta-se totalmente. Redobre os esforços para confirmar seu chamado e vocação. Observe os mandamentos de Deus e viva, e considere Sua lei como a menina dos olhos. Utilize ao máximo cada momento, trabalhando em prol dos próprios interesses eternos e na salvação das pessoas ao seu redor. Assim fazendo, você pode salvar-se e àqueles que são ou mais ou menos influenciados por seu exemplo. Há motivos que deveriam ser levados em conta de forma adequada. T5 353 2 Desperte! Desperte! Você tem uma obra a fazer, pois seu sol está rapidamente declinando no horizonte. Suas forças estão-se debilitando, porém, tudo o que há em você, cada partícula de suas habilidades, pertence a Deus e deveria ser usada diligente e desinteressadamente em Seu serviço. Trabalhe enquanto o sol ainda se demora no Céu, pois "a noite vem quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. T5 353 3 Venha, meu irmão, venha assim como está, pecaminoso e corrompido. Coloque seu fardo de culpa sobre Jesus e, pela fé, reclame Seus méritos. Venha agora, enquanto existe misericórdia; venha com confissão, venha contrito de coração, e Deus o perdoará abundantemente. Não se atreva a menosprezar esta oportunidade. Ouça a voz da misericórdia que agora insiste com você, para erguer-se dentre os mortos a fim de que Cristo lhe conceda luz. Cada momento agora parece ligar-se diretamente com os destinos do mundo invisível. Então não deixe que seu orgulho e incredulidade o levem a rejeitar ainda mais a misericórdia oferecida. Caso contrário, você será deixado a lamentar-se no final. "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos." Jeremias 8:20. T5 353 4 Demore-se em profunda humilhação diante de Deus. A partir de agora, decida-se pertencer a Deus, cumprindo totalmente seu dever, confiando implicitamente na grande expiação. Faça isso e nada terá a temer. O restante de sua vida será tranqüilo e feliz e o irmão assegurará para si mesmo aquela vida que se mede pela vida de Deus. T5 354 1 Escrevi essas palavras porque senti-me impelida a fazê-lo pelo Espírito de Deus, e porque tenho profundo interesse em você. Em nenhum instante permita que seus sentimentos se ergam contra mim, pois fui tão-somente influenciada pelo amor por sua salvação. Temos fruído muitos e preciosos momentos na adoração de Deus, quando nosso coração ficou feliz por causa de Suas ternas bênçãos. Passou esse tempo para sempre? Podemos não nos encontrar novamente nesta vida, mas será que não nos veremos quando os resgatados estiverem reunidos ao redor do grande trono branco? ------------------------Capítulo 41 -- Fabricação de vinho e sidra T5 354 2 Prezados irmãos e irmãs da igreja de _____: T5 354 3 Foi-me mostrado que como igreja vocês não estão crescendo na graça e no conhecimento da verdade. Não há aquela consagração a Deus, aquela devoção a Seu serviço ou aquele desinteressado trabalho na edificação de Sua causa, os quais deveriam fazer dos irmãos uma igreja próspera e saudável. Vocês não se sujeitam uns aos outros. Há muitos entre os irmãos que têm suas próprias idéias a defender e planos egoístas a realizar, e alguns que ocupam posições de destaque na igreja estão entre esses. T5 354 4 O irmão K não tem em vista a glória de Deus; ele enxerga as coisas de um ponto de vista correto. Dá ouvidos às sugestões de Satanás e toma conselho com seu próprio e não-santificado julgamento. Apega-se a cada palavra que pode ser enquadrada na justificação de seu equivocado comportamento. Ele engana a si mesmo e não percebe que está se fechando para o Espírito de Deus. Quando enveredou por esse caminho, não lhe conhecia os perigos nem compreendia onde ele o conduziria. Todos os que trilham a mesmo caminho fariam bem em desviar seus pés para uma rota segura. T5 354 5 Vivemos em uma época de intemperança, e preparar algo para o apetite do bebedor de sidra é uma ofensa a Deus. Juntamente com outros, você se empenhou nesse trabalho por não haver seguido a luz. Houvesse permanecido na luz e não haveria, não poderia haver feito isso. Cada um de vocês que teve parte nesse trabalho estará sujeito à condenação de Deus, a menos que façam inteira mudança em seu negócio. Necessitam ser sinceros. Precisam começar imediatamente a obra para purificar sua vida da condenação. T5 355 1 Alguns de vocês em _____ desenvolveram estupendo zelo em denunciar os clubes da fita vermelha. Na medida em que agiram pelo desejo de condenar o mal existente nessas sociedades, vocês estavam certos, mas quando atuaram como se fosse um crime falar em favor delas ou mostrar-lhes a mínima boa vontade, levaram o assunto a extremos. Vocês deveriam ser coerentes em todas as coisas. Alimentaram um rancor pelo nome "Clubes da Fita Vermelha" que não tem origem no Espírito de Deus, e seus sentimentos de amargura não ajudaram vocês nem aos outros. T5 355 2 Vocês apanharam os testemunhos dados com relação à associação de nosso povo com as sociedades de temperança e, em detrimento de seu interesse espiritual, torceram-nos usando-os para oprimir as pessoas. Ao tratar assim a luz concedida, vocês atraíram descrédito sobre minha obra. Não há a mínima necessidade disso e alguns dos irmãos têm algo a fazer para corrigir essa questão. Quiseram fazer um molde de ferro para os outros; se muito curto, eles precisavam encolher-se; se longo, tinham de ser cortados. "Não julgueis, para que não sejais julgados." Mateus 7:1. T5 355 3 Depois de haverem tomado decidida atitude em oposição à ativa participação na obra das sociedades de temperança, poderiam ainda haver conservado certa influência sobre outros para o bem, caso agissem conscienciosamente em harmonia com a fé que professam; mas, empenhando-se na manufatura da sidra, prejudicaram muito sua influência; e o que é pior, acarretaram vergonha à verdade, e a própria salvação foi prejudicada. Vocês estão construindo uma barreira que os separa da causa da temperança. Essa conduta levou incrédulos a pôr em dúvida os seus princípios. T5 356 1 Vocês não estão fazendo retos caminhos para seus pés; e os coxos estão vacilando e tropeçando em vocês para a perdição. T5 356 2 Não posso ver como, à luz da lei de Deus, podem cristãos empenhar-se conscienciosamente na cultura de lúpulo ou na manufatura de vinho ou de sidra para o mercado. Todos esses artigos podem ser empregados para fins adequados, e demonstrarem-se uma bênção; ou podem ser postos em mau uso, e se demonstrarem uma tentação e uma ruína. Sidra e vinho podem ser engarrafados quando frescos, e conservados doces por longo tempo; e caso sejam usados quando não fermentados, não destronarão a razão. Mas aqueles que transformam maçãs em sidra para o mercado, não são cuidadosos quanto ao estado da fruta usada e, em muitos casos, é extraído o suco de maçãs deterioradas. Aqueles que não pensariam em usar suco de maçãs podres e envenenadas de outra forma, bebem a sidra delas feita e a acham um luxo, mas o microscópio revelaria o fato de que essa "agradável" bebida é imprópria para o estômago, mesmo quando sai fresca da prensa. Se for fervida, cuidando-se assim de remover suas impurezas, é menos objetável. T5 356 3 Ouço freqüentemente o povo dizer: "Oh, esta é apenas sidra doce e perfeitamente inofensiva, até mesmo saudável." Muitos litros, talvez galões, são levados para casa. Por uns dias ela se mantém doce, então se inicia o processo de fermentação. O sabor ácido torna-a aceitável a muitos paladares e o apreciador de vinhos doces ou sidra sente-se relutante em admitir que sua bebida favorita tornou-se desagradável e ácida. As pessoas podem intoxicar-se realmente tanto com vinho e sidra como com bebidas mais fortes, e a pior espécie de embriaguez é produzida por essas bebidas chamadas mais brandas. As paixões são mais perversas; a transformação do caráter é maior, mais decidida e obstinada. Alguns litros de sidra ou de vinho podem suscitar o gosto pelas bebidas mais fortes, e em muitos casos foi assim que os que se tornaram alcoólatras confirmados lançaram o fundamento do hábito da bebida. Para algumas pessoas não é de modo algum seguro ter em casa vinho ou sidra. Herdaram a sede de estimulantes, com que Satanás está continuamente os incitando a condescenderem. Caso cedam a suas tentações, o processo se desencadeia; a sede clama por satisfação, e é satisfeita para ruína sua. O cérebro é obscurecido e anuviado; a razão não mais maneja as rédeas, pelo contrário, a pessoa é por elas dominada. Licenciosidade, adultério e vícios quase de toda sorte são cometidos em resultado da condescendência com o uso do vinho e da sidra. Um religioso que gosta desses estimulantes, e habitua-se a usá-los, jamais crescerá na graça. Torna-se grosseiro e sensual; as paixões animais regem-lhe as mais elevadas faculdades da mente, e não é acalentada a virtude. T5 357 1 Beber moderadamente, essa é a escola na qual estão sendo educados homens para a carreira de alcoólatra. Tão gradualmente desvia Satanás das fortalezas da temperança, tão traiçoeiramente o inofensivo vinho e a sidra exercem sua influência no gosto, que, eles entram no caminho da embriaguez sem o suspeitar. O gosto pelos estimulantes é cultivado; o sistema nervoso fica em desordem; Satanás conserva a mente numa febre de desassossego, e a pobre vítima, imaginando-se perfeitamente segura, vai prosseguindo, até que toda barreira é derribada, e sacrificado todo princípio. As mais firmes resoluções são minadas; e os interesses eternos não são suficientemente fortes para manter o aviltado desejo sob o domínio da razão. T5 357 2 Alguns nunca chegam a ser alcoólatras, mas encontram-se sempre sob a influência da sidra ou do vinho fermentado. Acham-se febris, mente fora de equilíbrio, não realmente delirantes, mas em condição identicamente má, pois todas as nobres faculdades da mente se acham pervertidas. Do uso habitual da sidra ácida resulta a tendência para doenças de várias espécies, como hidropisia, enfermidades do fígado, nervos trêmulos e diminuição do fluxo sangüíneo para a cabeça. Pelo uso dessas bebidas, muitos trazem doenças permanentes sobre si. Uns morrem de tuberculose ou tombam ao golpe da apoplexia, unicamente por essa razão. Alguns sofrem dispepsia. Toda função vital é amortecida, e os médicos lhes dizem que sofrem do fígado, quando se eles arrebentassem o barril de sidra, não o substituindo nunca mais, suas maltratadas forças vitais recuperariam o primitivo vigor. T5 357 3 O beber sidra conduz às bebidas mais fortes. O estômago perde o natural vigor, e é necessário alguma coisa mais forte para o estimular à ação. Certa ocasião, quando meu marido e eu viajávamos, fomos obrigados a esperar várias horas pelo trem. Enquanto aguardávamos na estação, um fazendeiro de rosto avermelhado e intumescido entrou no restaurante e com voz alta e áspera perguntou: "Vocês não tem aí um conhaque de primeira classe?" O garçom respondeu-lhe afirmativamente e ele pediu meio copo de bebida. "Você tem aí molho de pimenta?" "Sim", confirmou o balconista. "Então ponha na bebida duas grandes colheradas." Em seguida, pediu que se adicionassem duas colheradas de álcool e concluiu seu pedido com uma "boa dose de pimenta-do-reino". O garçom perguntou-lhe: "O que senhor pretende com tal mistura?" "Claro que vou tomá-la", e, pondo o copo sobre os lábios, bebeu todo o seu conteúdo abrasador. Aquele homem usou estimulantes até debilitar o delicado revestimento estomacal. T5 358 1 Muitos, enquanto lêem sobre isso, riem-se das advertências de perigo. Dizem: "Certamente o pouco de vinho ou sidra que tomo não pode me fazer mal." Satanás escolheu esses como sua presa. Ele os conduz passo a passo e não o percebem até que as cadeias do hábito e do apetite sejam muito resistentes para romper. Vemos o poder que tem a sede de bebida forte sobre os homens; vemos quantos, pessoas de todas as profissões e de sérias responsabilidades -- homens de posições elevadas e privilegiados talentos, de grandes realizações, de finas sensibilidades, nervos fortes e boas faculdades de raciocínio -- sacrificam tudo pela satisfação do apetite, até que ficam reduzidos ao nível dos animais; e em muitos, muitos casos, sua trajetória decadente começou com o uso do vinho ou da sidra. T5 358 2 Quando homens e mulheres inteligentes que professam ser cristãos alegam não haver mal em fazer vinho ou sidra para o mercado porque, quando não fermentados, não intoxicam, meu coração se entristece. Sei que há outro lado do assunto a que eles se recusam a olhar; pois o egoísmo lhes fechou os olhos aos males terríveis que podem resultar do uso desses estimulantes. Não vejo como nossos irmãos se possam abster de toda aparência do mal e dedicar-se amplamente ao negócio do cultivo do lúpulo, sabendo para que será usado todo esse lúpulo. Os que ajudam a produzir essas bebidas que estimulam e influenciam a sede de estimulantes mais fortes, serão recompensados segundo as suas obras. São transgressores da lei de Deus, e serão castigados pelos pecados que cometem e pelos que eles influenciaram outros a cometer pela tentação que lhes puseram no caminho. T5 359 1 Que vivam em harmonia com sua fé, os que professam crer na verdade para este tempo, e desejam ser reformadores. Se uma pessoa cujo nome se encontra no livro da igreja fabrica vinho ou sidra para vender, importa que se trabalhe fielmente com ela, e, se continuar a assim fazer, deve ser posta sob censura da igreja. Os que não forem dissuadidos de fazer esse trabalho são indignos de um lugar e um nome entre o povo de Deus. Devemos ser seguidores de Cristo, aplicar o coração e a influência contra toda má prática. Como nos sentiríamos no dia em que os juízos de Deus forem derramados, ao encontrar-nos com homens que se tornaram bebedores mediante nossa influência? Estamos vivendo no dia antitípico da expiação, e nossos casos devem ser em breve passados em revista por Deus. Como nos acharemos nos tribunais celestes, se nossa maneira de proceder animou o uso de estimulantes que pervertem a razão e são destruidores da virtude, da pureza, e do amor a Deus? T5 359 2 O doutor da lei perguntou a Cristo: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso e viverás." Lucas 10:25-28. A vida eterna é o prêmio que está em disputa e Cristo nos diz como podemos conquistá-la. Ele nos dirige à Palavra Escrita: "Como lês?" O caminho está indicado; devemos amar a Deus supremamente e ao próximo como a nós mesmos. Mas, se amarmos nosso próximo como a nós mesmos, não devemos pôr no mercado qualquer coisa que lhe possa ser uma armadilha. Amar a Deus e ao homem é o completo dever do cristão. A lei do amor está escrita sobre as tábuas de seu coração, o Espírito de Cristo habita nele e seu caráter transparece em boas obras. Jesus tornou-Se pobre para que por Sua pobreza pudéssemos ser ricos. Que sacrifícios estamos dispostos a fazer por Sua causa? Temos, porventura, Seu amor abrigado em nosso coração? Amamos nosso próximo como Cristo nos amou? Se temos esse amor pelas pessoas, ele nos levará a considerar cuidadosamente se estamos criando, através de nossas palavras, atos e influência, tentações para aqueles que têm pouca força moral. Não devemos criticar os fracos e sofredores, como os fariseus continuamente faziam, mas esforçar-nos por remover toda pedra de tropeço do caminho de nosso irmão, com receio de que o coxo seja desviado dele. T5 360 1 Como um povo, professamos ser reformadores, portadores de luz no mundo, fiéis sentinelas de Deus, guardando toda entrada pela qual Satanás pode penetrar com suas tentações para perverter o apetite. Nosso exemplo e influência podem ser uma força do lado da reforma. Cumpre abster-nos de toda prática que embote a consciência ou estimule a tentação. Não podemos jamais abrir porta alguma que dê a Satanás acesso à mente de um ser formado à imagem de Deus. Se todos fossem vigilantes e fiéis no guardar as pequeninas aberturas feitas pelo uso moderado dos chamados vinho e sidra inofensivos, fechado seria o caminho à embriaguez. O que é necessário em toda comunidade é firmeza de propósito, a força de vontade para não tocar, não provar, não manusear; então a reforma de temperança será vigorosa, permanente e completa. T5 360 2 O amor ao dinheiro levará os homens a violarem a própria consciência. Talvez esse dinheiro seja trazido aos tesouros do Senhor, mas Ele não aceitará tal oferta, pois que Lhe é uma ofensa. Tal lucro foi obtido pela transgressão de Sua lei, a qual requer que o homem ame o próximo como a si mesmo. Não há desculpa para o transgressor em dizer que se ele não fabricasse vinho ou sidra, alguém o faria e transformaria o próximo num bêbedo da mesma maneira. Por que alguns entornarão a garrafa nos lábios do semelhante, aventurar-se-ia o cristão a manchar suas vestes com o sangue dos perdidos, incorrendo assim na maldição pronunciada contra os que põem tentação no caminho do errante? Jesus convoca Seus seguidores para estarem sob Seu estandarte e ajudarem a desfazer as obras do diabo. T5 361 1 O Redentor do mundo, que conhece bem o estado da sociedade nos últimos dias, apresenta o comer e beber como os pecados que condenam este século. Ele nos diz que, como foi nos dias de Noé, assim será quando o Filho do homem Se revelar. "Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e consumiu a todos." Lucas 17:27. Justamente tal estado de coisas existirá nos últimos dias, e os que crêem nessas advertências usarão da máxima cautela para não tomarem uma direção que os leve a ficar sob condenação. T5 361 2 Consideremos, irmãos, este assunto à luz da Bíblia, e exerçamos decidida influência no sentido da temperança em todas as coisas. Maçãs e uvas são dons de Deus; podem ser usadas de maneira excelente como artigos de alimentação, ou podem ser mal-empregadas, sendo usadas de modo errôneo. Deus está enviando pragas sobre a colheita das uvas e das maçãs por causa das práticas pecaminosas dos homens. Estamos diante do mundo como reformadores; não vamos dar motivo aos infiéis e incrédulos para censurarem nossa fé. Disse Cristo: "Vós sois o sal da Terra" (Mateus 5:13), "a luz do mundo." Mateus 5:14. Mostremos que nosso coração e consciência se acham sob a influência transformadora da graça divina, e que nossa vida é governada pelos puros princípios da lei de Deus, mesmo que esses princípios exijam o sacrifício de interesses temporais. ------------------------Capítulo 42 -- Casamento com infiéis T5 361 3 Prezada irmã L: T5 361 4 Eu soube de seu planejado casamento com pessoa que não se acha unida a você na fé religiosa, e receio que não tenha pesado cuidadosamente esta importante questão. Antes de dar um passo que há de exercer influência sobre toda a sua vida futura, insto com você para que dê ao caso cuidadoso estudo e oração. Será esse novo parentesco uma fonte de verdadeira felicidade? Será um auxílio na sua vida cristã? Será agradável a Deus? Poderá seu exemplo, com segurança, ser seguido por outros? T5 362 1 Antes de dar a mão em casamento, deveria toda mulher indagar se aquele com quem está para unir seu destino é digno. Qual é seu passado? É pura a sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado, ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Ser-lhe-á permitido, a ela, conservar sua individualidade, ou terá de submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma, foi comprada por preço. Pode honrar as reivindicações do Salvador como supremas? Serão conservados puros e santos o corpo e a alma, os pensamentos e propósitos? Essas perguntas têm influência vital sobre o bem-estar de toda mulher que se casa. T5 362 2 A religião é necessária no lar. Só ela pode prevenir os ofensivos erros que tantas vezes amarguram a vida conjugal. Unicamente onde Cristo reina, pode haver amor profundo, verdadeiro, altruísta. Então uma pessoa e outra se unirão, e as duas vidas se fundirão em harmonia. Anjos de Deus serão hóspedes do lar, e suas santas vigílias santificarão a câmara matrimonial. Será banida a vil sensualidade. Os pensamentos serão dirigidos para Deus, no alto; a Ele ascenderá a devoção do coração. T5 362 3 O coração anela o amor humano, mas esse amor não é bastante forte, ou bastante puro, ou precioso bastante, para suprir o lugar do amor de Jesus. Unicamente em seu Salvador pode a esposa encontrar sabedoria, força e graça para enfrentar os cuidados, responsabilidades e tristezas da vida. Deve fazer de Cristo sua força e guia. Que a mulher se entregue a Cristo antes de se entregar a qualquer amigo terreno, e não assuma qualquer relação que entre em atrito com isso. Os que encontram a verdadeira felicidade, precisam da bênção dos Céus sobre tudo que possuem e fazem. É a desobediência a Deus que enche de miséria a tantos corações e lares. Minha irmã, a menos que deseje ter um lar de onde nunca se levantem as sombras, não se una com um homem que é inimigo de Deus. T5 363 1 Como uma pessoa que espera enfrentar essas palavras no juízo, eu lhe suplico que reflita no passo que pretende dar. Pergunte a si mesma: "Não desviará um marido descrente os meus pensamentos de Jesus? Ele ama aos prazeres mais do que ama Deus; não me levará a apreciar as coisas de que gosta?" O caminho para a vida eterna é íngreme e difícil. Não tome sobre si fardos além dos necessários, que retardem seu progresso. Você tem pouca força espiritual, e precisa de auxílio, em vez de obstáculo. T5 363 2 O Senhor ordenou ao Israel antigo que não se permitissem casamentos com pessoas das nações idólatras ao seu redor: "Nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos." É dada a razão para isso. A Infinita Sabedoria, prevendo o resultado de semelhantes uniões, declara: "Pois fariam desviar teus filhos de Mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria." "Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há." "Saberás pois que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos; e dá o pago em sua face a qualquer dos que O aborrecem, fazendo-o perecer; não será remisso para quem O aborrece, em sua face lho pagará." Deuteronômio 7:3, 4, 6, 9, 10. T5 363 3 No Novo Testamento existem proibições semelhantes acerca do casamento de cristãos com ímpios. O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos coríntios, declara: "A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor." 1 Coríntios 7:39. De novo, em sua segunda epístola, escreve: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14-18. T5 364 1 Minha irmã, você ousa desrespeitar essas orientações claras e positivas? Como filha de Deus, membro do reino de Cristo, aquisição de Seu sangue, como pode ligar-se a alguém que não reconhece Suas reivindicações, que não é controlado por Seu Espírito? As ordens que citei não são palavras de homens, mas de Deus. Mesmo que o companheiro de sua escolha seja, em todos os outros aspectos, digno (o que, porém, ele não é), no entanto, ele não aceitou a verdade para este tempo; é um descrente, e você está proibida pelo Céu de unir-se a ele. Você não pode, sem perigo para sua salvação, desconsiderar essa ordem divina. T5 364 2 Desejo adverti-la de seu perigo, antes que seja tarde demais. Você dá ouvidos a palavras suaves, agradáveis, e é levada a acreditar que tudo terminará bem; mas você não lê os motivos que produzem essas palavras agradáveis. Não vê as profundezas da maldade oculta no coração. Não pode olhar atrás das cortinas e discernir as ciladas que Satanás está pondo justo à sua frente. Ele quer fazê-la proceder de modo que possa alcançar acesso fácil ao voltar contra você as setas de tentação. Não lhe dê a menor vantagem. Enquanto Deus influi no espírito de Seus servos, Satanás atua pelos filhos da desobediência. Não há concórdia entre Cristo e Belial. Esses dois não podem harmonizar-se. Unir-se a um descrente é colocar-se no terreno de Satanás. Você entristece o Espírito de Deus e perde Sua proteção. Será capaz de suportar tão terríveis desvantagens ao travar a luta pela vida eterna? T5 365 1 Talvez você diga: "Mas dei minha palavra, deverei agora voltar atrás?" Respondo: Se você fez uma promessa contrária às Escrituras, por todos os meios retrate-se sem demora, e em humildade perante Deus arrependa-se da imprudência que a levou a assumir tão precipitadamente um compromisso. É muito melhor desistir de tal promessa, no temor de Deus, do que mantê-la e deste modo desonrar a seu Criador. T5 365 2 Lembre-se de que você tem um Céu a ganhar, e um caminho aberto para a perdição, a evitar. Quando Deus diz uma coisa, quer dizer isso mesmo. Quando proibiu aos nossos primeiros pais de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, sua desobediência abriu a todo o mundo as comportas da desgraça. Se andarmos contrariamente a Deus, Ele andará contrariamente a nós. Nosso único procedimento seguro é prestar obediência a todas as Suas ordens, sejam quais forem as conseqüências. Todas as Suas exigências se baseiam em infinito amor e sabedoria. T5 365 3 O espírito de intenso mundanismo que existe agora, a disposição de não reconhecer motivos mais elevados que o da satisfação própria, constitui um dos sinais dos últimos dias. "Como aconteceu nos dias de Noé", disse Cristo, "assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos." Lucas 17:26, 27. O povo desta geração casa-se e dá-se em casamento com o mesmo desenfreado desrespeito às ordens de Deus que foi manifesto nos dias de Noé. Há no mundo cristão uma assombrosa, alarmante indiferença para com os ensinos da Palavra de Deus acerca do casamento de cristãos com descrentes. Muitos que professam amar e temer a Deus preferem seguir a inclinação de seu próprio espírito, em vez de tomarem conselho com a Sabedoria Infinita. Em uma questão de interesse vital para a felicidade e bem-estar de ambas as partes, para este mundo e o futuro, a razão, o juízo e o temor de Deus são postos de parte, permitindo-se que domine o cego impulso, a obstinada determinação. Homens e mulheres de outro modo sensatos e conscienciosos, fecham os ouvidos aos conselhos; são surdos aos apelos e rogos de amigos e parentes, e dos servos de Deus. A expressão de um aviso ou advertência é considerada impertinente intromissão, e o amigo que é fiel bastante para pronunciar uma admoestação, é tratado como inimigo. Tudo isso é como Satanás deseja. Ele tece seu encanto em volta da pessoa, e esta se torna enfeitiçada, apaixonada. A razão deixa cair as rédeas do domínio próprio sobre o colo da concupiscência, a paixão não santificada toma o domínio até que, demasiado tarde, a vítima desperta para uma vida de miséria e escravidão. Não é este um quadro traçado pela imaginação, mas a realidade dos fatos. Deus não dá Sua aprovação a uniões que Ele proibiu expressamente. Por anos, tenho estado a receber cartas de diferentes pessoas que contraíram casamento infeliz, e as revoltantes histórias que me apresentaram são bastantes para oprimir o coração. Não é coisa fácil decidir que conselho possa ser dado a esses infelizes, ou como sua dura sorte possa ser aliviada; mas sua triste experiência deveria servir de advertência aos outros. T5 366 1 Nesta época, quando as cenas da história terrestre em breve hão de terminar e estamos prestes a entrar no tempo de angústia tal como nunca houve, quanto menor o número de casamentos realizados tanto melhor para todos, homens e mulheres. Acima de tudo, quando Satanás atua com todos os enganos da injustiça naqueles que perecem, acautelem-se os cristãos para não se unirem com descrentes. Deus falou. Todos os que O temem se submetem a Suas sábias ordens. Nossos sentimentos, impulsos e afeições têm de dirigir-se rumo ao Céu, não da Terra, não na baixa e vil sarjeta do pensamento e condescendência sensuais. É tempo agora de perceber que estamos diante do Deus que esquadrinha os corações. T5 366 2 Minha prezada irmã, como discípula de Jesus, você deve indagar qual será a influência do passo que está para dar, não só sobre você mesma, mas também sobre outros. Devem os seguidores de Cristo ser coobreiros de seu Senhor; devem ser "irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual", diz Paulo, "resplandeceis como astros no mundo". Filipenses 2:15. Devemos receber os brilhantes raios do Sol da Justiça, e por nossas boas obras, fazê-los refletir sobre outros em raios claros e constantes, jamais vacilantes, nunca se obscurecendo. Não podemos ter certeza de não estarmos prejudicando os que nos cercam, a menos que estejamos exercendo positiva influência no sentido de dirigi-los rumo ao Céu. T5 367 1 "Vós sois as Minhas testemunhas" (João 3:28), disse Jesus, e em cada ato de nossa vida devemos indagar: Como afetará nosso procedimento os interesses do reino do Redentor? Se você é de fato discípula de Cristo, preferirá andar em Suas pegadas, por penoso que isso seja a seus sentimentos naturais. Disse Paulo: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo." Gálatas 6:14. Você, irmã L, precisa assentar-se aos pés de Jesus e aprender dEle, como Maria outrora. Deus requer de você uma inteira entrega de sua vontade, seus planos e desígnios. Jesus é seu líder; para Ele deve olhar, nEle precisa confiar, e não deve permitir que coisa alguma lhe impeça a vida de consagração que deve a Deus. Sua conversa deve estar no Céu, de onde aguarda o Salvador. Sua religiosidade tem de ser de modo a ser percebida por todos que se acham na esfera de sua influência. Deus requer de você que, em cada ato da vida, fuja da própria aparência do mal. Está você fazendo isso? Sua mais sagrada obrigação é não diminuir ou comprometer sua fé, unindo-se aos inimigos do Senhor. Se é tentada a desprezar as ordens de Sua Palavra porque outros assim fizeram, lembre-se de que seu exemplo também exercerá influência. Outros procederão como você, e assim o mal se estenderá. Enquanto professa ser filha de Deus, um desvio de sua parte, de Suas reivindicações, resultará num infinito dano aos que de você buscam orientação. T5 367 2 A salvação das pessoas será o alvo constante dos que permanecem em Cristo. Que, porém, tem feito você para anunciar as virtudes dAquele que a chamou das trevas? "Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá." Efésios 5:14. Expulse de você essa paixão fatal que lhe anuvia os sentidos e paralisa as energias espirituais. T5 368 1 Os mais fortes incentivos à fidelidade nos são apresentados, os mais elevados motivos, as recompensas mais gloriosas. Devem os cristãos ser representantes de Cristo, filhos e filhas de Deus. São Suas jóias, Seu tesouro particular. De todos os que mantiverem sua firmeza, declara Ele: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso." Apocalipse 3:4. Os que alcançam os portais da eterna bem-aventurança, não considerarão demasiado grande nenhum sacrifício que tenham feito. T5 368 2 Queira Deus ajudá-la a resistir à prova e conservar sua integridade. Apegue-se, pela fé, a Jesus. Não decepcione seu Redentor. Santa Helena, Califórnia, 13 de Fevereiro de 1885. ------------------------Capítulo 43 -- Manutenção de missões urbanas T5 368 3 Prezado Irmão M: T5 368 4 Recebi, há uns dias, uma carta escrita pelo irmão ao Pastor N, na qual o senhor levanta objeções muito graves contra a responsabilidade de manutenção da missão de _____ pela sua Associação, e acha que outras partes do campo deveriam ter o mesmo interesse nela. Mas se essas não possuem, presentemente, missões nas cidades de sua jurisdição, não haveria localidades onde elas poderiam ser estabelecidas? Se fosse solicitado à sua Associação para tomar a missão de _____ sob seus cuidados, sendo promovida sob a supervisão da Associação Geral, homens responsáveis deveriam sentir ser isso uma evidência de que seus irmãos têm confiança neles e que eles deveriam dizer: "Sim, aceitamos o sagrado encargo. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para fazer da missão um sucesso e mostrar que a confiança de nossos irmãos não será baldada. Pediremos sabedoria a Deus, praticaremos abnegação e implantaremos economia rígida, se necessário." Deus os susterá no alegre cumprimento desse dever, e fará com que eles se tornem uma bênção antes que uma maldição sobre você e um obstáculo à causa em seu Estado. T5 369 1 Essa grande cidade está em trevas e engano, e a temos deixado assim por longo tempo. Porventura, perdoará Deus essa negligência de nossa parte? Que conta daremos por homens e mulheres que morreram sem ouvir a voz da verdade presente, mas que poderiam tê-la recebido se a luz lhes houvesse sido levada? Meu espírito se agita porque a obra em _____ está muito atrasada. O trabalho que agora está sendo feito poderia ter sido realizado há muitos anos, e com muito menos gasto de dinheiro, tempo e mão-de-obra. Todavia, não deve ser deixado inacabado agora. Um modesto início teve lugar segundo planejamento econômico próprio para a ocasião, e muito mais do que se poderia esperar foi conseguido, considerando-se o que estava disponível. Porém, maiores instalações precisam ser providas. Importa que haja um lugar onde o povo possa ouvir a verdade. É necessário que haja meios para manter os obreiros nessa missão, não em comodidade e luxo, mas de modo simples e confortável. Eles são instrumentos de Deus e nada deveria ser dito ou feito para desanimá-los. Pelo contrário, suas mãos devem ser fortalecidas e seu coração encorajado. T5 369 2 Há em sua Associação suficientes recursos para levar adiante e com sucesso o trabalho. Deveria, por acaso, o príncipe das trevas ser deixado na posse indisputável de nossas grandes cidades, porque custa alguma coisa sustentar as missões? Que aqueles que desejam seguir a Cristo de coração estejam à altura da obra, mesmo que ela esteja sob a responsabilidade dos pastores e do presidente. Os que estão engajados nesse trabalho e dizem: "Rogo que me tenhas por escusado", deveriam acautelar-se temendo sua dispensa para o tempo e a eternidade. Que os cristãos amantes do dever assumam a responsabilidade que puderem e confiem então em Deus para recepção de força. Ele atuará mediante os esforços de homens e mulheres dedicados e realizará o que eles não podem fazer. Nova luz e poder lhes serão concedidos à medida que usarem o que têm em mãos. Novo fervor e zelo agitarão a igreja à medida que ela vir as coisas acontecendo. T5 370 1 Ficamos alegres quando vemos o que pode ser feito, mas nos envergonhamos diante de nosso Criador ao pensamento do pouco que tem sido realizado. Os pastores têm negligenciado as responsabilidades que Deus lhes deu; tornando-se limitados e vacilantes, e têm alimentado covardia, indolência e ganância. Eles não compreenderam a magnitude e importância do trabalho. São necessários homens cujos olhos estejam ungidos para ver e compreender os desígnios celestiais. Então a norma da piedade será erguida e haverá missionários verdadeiros, que estarão prontos a se sacrificar pela causa da verdade. Na igreja de Deus não há espaço para o egoísta e amante de comodidades, mas serão chamados homens e mulheres que farão esforços para implantar o estandarte da verdade em nossas grandes cidades, nas grandes metrópoles. T5 370 2 Um mundo precisa ser advertido e, em humildade, devemos trabalhar para Deus segundo as habilidades a nós dadas. Que a obra seja desenvolvida em cada Estado. Que direito têm aqueles com idéias estreitas e não santificadas de dizer o que sua Associação fará ou deixará de fazer? A missão de _____ não será deixada inteiramente a cargo de seu Estado, mas se sua Associação tiver o coração na obra, ela poderá manter duas missões semelhantes e não sentir seu peso. Venham, irmãos, despertem para a ação. O tempo perdido por causa de sua incredulidade e falta de coragem se foi para sempre. Que os pastores entrem em ação como se alguma coisa precisasse ser feita e os homens de coração generoso, que amam a Deus e guardam Seus mandamentos virão em auxílio do Senhor. Assim a igreja será preparada para futuros esforços, pois sua beneficência jamais deve cessar. T5 370 3 Pastor M, como presidente da Associação _____, o senhor mostrou por sua administração geral que não é digno da confiança que lhe foi depositada. O irmão revelou que é muito conservador e que suas idéias são em extremo mesquinhas. O senhor não fez metade do que poderia se estivesse imbuído do verdadeiro espírito da obra. Teria condições de alcançar maior experiência e capacidade do que possui agora, e estaria muito melhor preparado para administrar com sucesso essa sagrada e importante missão -- uma obra que lhe teria dado o mais positivo direito à confiança de nosso povo. Mas, semelhantemente a outros irmãos do ministério em seu Estado, o senhor falhou em avançar segundo a providência de Deus. Não demonstrou que o Espírito Santo estava impressionando profundamente seu coração, para que pudesse falar ao povo através do irmão. Se nessa crise o senhor fizer algo para incrementar a dúvida e a desconfiança nas igrejas de seu Estado, algo que impeça o povo de se envolver de coração nessa obra, Deus o considerará responsável. Porventura deu Deus ao irmão inequívoca evidência de que os irmãos de seu Estado estão dispensados da responsabilidade de trabalhar na cidade de _____, com a mesma intensidade que Cristo trabalhou por eles? Se o irmão estivesse na luz, estaria encorajando essa missão através de sua fé. T5 371 1 O irmão necessita beber profundamente das correntes da graça e salvação, antes que possa conduzir outros à Fonte de águas vivas. Estando no cargo de presidente de uma Associação, com a experiência e influência que esse ofício exige, em lugar de desanimar o povo, o senhor deveria insistir com eles para que se empenhassem novamente e que assumissem responsabilidades mais pesadas. Há deveres especiais que competem a homens em posições de responsabilidade; há diligentes esforços que seria conveniente pôr de lado. Mas quando os pastores são negligentes com relação ao dever, que o Senhor tenha piedade das pobres ovelhas. T5 371 2 Seu trabalho, meu irmão, não demonstra que o senhor compreendeu suas obrigações como sagradas e importantes. Foi-me revelado que o irmão é capaz de prestar melhores serviços do que os que realizou, e que Deus exige maior e melhor trabalho de suas mãos. Ele exige fidelidade e integridade. A obra da salvação é a mais alta e mais nobre jamais confiada a mortais, e o irmão não deveria permitir que coisa alguma se interpusesse entre o senhor e essa sagrada obra, que absorvesse sua atenção e confundisse seu pensamento. Quem está na posição de responsabilidade que o irmão ocupa deveria dar prioridade aos interesses eternos e pôr os proveitos terrenos em segundo lugar. O irmão é um embaixador de Cristo e deveria animar aqueles que estão a seu cargo, a procurarem maiores realizações espirituais e viverem vida mais santa e pura. Em seu empenho de salvar pessoas da perdição e edificar a igreja em verdade e justiça, o senhor deveria usar tato, sabedoria e o poder que é seu privilégio possuir através da constante comunhão com Deus. Deus requer isso do irmão e de cada pastor envolvido nessa obra. O irmão deveria demonstrar lealdade a seu crucificado Redentor, agindo como quem compreende ter o solene encargo de apresentar cada homem perfeito em Cristo Jesus, de nada necessitando. T5 372 1 Em seu caso, muito mais poderia ser feito mediante uma vida santa, fervente oração e cuidadoso desempenho de cada dever. O senhor tinha condições de fazer muito através de fiéis advertências, reprovações e afetuosos apelos. Não é necessário apenas capacidade mental, mas poder de coração. A verdade apresentada tal qual é em Jesus produzirá efeitos. Falta-lhe religião fervorosa e ativa no lar. Interesses egoístas têm obscurecido sua mente e pervertido o juízo, e os reclamos de Deus não são compreendidos. O senhor precisa livrar seu coração dos cuidados e negócios mundanos e visar à glória de Deus. T5 372 2 O destino eterno de todos está prestes a ser decidido. Os pastores de Illinois, Wisconsin, Iowa e outras Associações, devem ir adiante com candente zelo para proclamar a última mensagem de advertência. Estarão os presidentes, num tempo como este, sem couraça e recusando-se a assumir a pesada responsabilidade? Por voz e pena exercerão eles uma influência desanimadora sobre aqueles que querem trabalhar? Qualquer atitude da parte deles que estimule indolência e incredulidade, constitui-se um crime gravíssimo. Eles deveriam encorajar os irmãos a se empenharem na causa de Deus e fazerem todo esforço pela salvação das pessoas. E não deveriam deixar nem mesmo a mais leve impressão sobre o povo de que estão sacrificando muito pela causa de Deus, ou que se lhes está exigindo mais do que é razoável. É preciso assumir riscos, na guerra celestial. Agora é tempo de trabalharmos, de enfrentarmos dificuldades e perigos. A providência de Deus diz: "Avancem!" e não: "Voltem ao Egito". E, em lugar de modelar um testemunho para agradar ao povo, os pastores deveriam empenhar-se por despertar os dormentes. T5 373 1 Posso discernir em sua carta, Pastor M, uma tendência à incredulidade, uma falta de bom senso e discernimento. Sua conduta confirma o testemunho que dei sobre o irmão estar imprimindo à Associação um formato estreito e dificultando seu progresso, porque não ergueu o padrão da verdade. Citarei aqui uns poucos parágrafos desse testemunho, que foi escrito durante as reuniões da Associação Geral, em Novembro de 1883: T5 373 2 "Nossa conversa com respeito à missão _____ deixou uma desagradável impressão em minha mente. Não me julgue severa em minhas observações com relação a essa missão. Falei com grande satisfação sobre o modo como esse trabalho estava sendo conduzido. O senhor disse que o irmão O e seus associados estavam dispostos a fazer o trabalho progredir de qualquer jeito; que eles dispunham de um pequeno quarto num sótão, onde preparavam seu alimento e faziam um bom trabalho, do modo mais econômico. Suas idéias a respeito não são corretas. A luz que Deus nos deu, mais preciosa que a prata e o ouro, deve brilhar de um modo que dê personalidade à obra. Os irmãos ligados a essa missão não estão livres das enfermidades humanas, e a menos que seja dada atenção à sua saúde, o trabalho sofrerá tremendo embaraço. Os que estão na liderança da obra na Associação não devem permitir que tal estado de coisas subsista. Eles deveriam educar o povo a dar de seus meios a fim de que os obreiros não sofram opressiva necessidade. Como mordomos de Deus, repousa sobre eles a responsabilidade de verificar que um ou dois não fiquem sacrificados, enquanto outros buscam facilidades, comer, beber e vestir-se, sem sequer um pensamento voltado para nossas sagradas missões ou ao seu dever para com elas. T5 373 3 "Foi-me mostrado, Pastor M, que o senhor não possui uma correta visão da obra, que não compreende sua importância. O irmão falhou em educar o povo no verdadeiro espírito de abnegação e devoção. Temeu exortar os homens ricos a cumprir seu dever, e quando fez débeis esforços na direção correta e eles começaram a apresentar desculpas e apontar pequenas falhas de alguém relacionado à administração da obra, o irmão pensou que talvez eles estivessem certos. Esse subterfúgio que gerou neles dúvidas e incredulidade, produziu efeito no próprio coração do irmão. Eles levaram isso em conta e aprenderam justamente como lidar com seus esforços. Quando manifestaram dúvida com relação aos Testemunhos, o senhor não fez o que deveria para erradicar esse sentimento. O irmão deveria ter-lhes mostrado que Satanás está sempre buscando defeitos, questionando, acusando e trazendo vergonha sobre os irmãos, e que não é seguro ficarem eles em tal posição. T5 374 1 "Meu irmão, o senhor não adotou uma conduta que motivasse homens a se entregarem ao ministério. Em lugar de reduzir as despesas da obra a níveis tão baixos, é seu dever levar as pessoas a entender que 'digno é o trabalhador do seu salário'. As igrejas precisam ser impressionadas com o fato de que é seu dever proceder honestamente para com a causa de Deus, não permitindo que a culpa da pior espécie de furto -- roubar a Deus nos dízimos e nas ofertas -- incida sobre elas. Quando são feitos ajustes com os obreiros em Sua causa, esses não deveriam ser forçados a aceitar pequena remuneração, porque há falta de dinheiro nos cofres. Dessa maneira, muitos têm sido defraudados naquilo que lhes é devido, e isso é tanto um crime à vista de Deus como reter os salários dos que estão empregados em quaisquer outros ramos comuns de negócio. T5 374 2 "Há homens de capacidade que gostariam de sair e trabalhar em nossas várias Associações, mas não têm coragem, pois precisam obter meios para o sustento de sua família. Essa é a pior espécie de estratégia que uma Associação pode adotar, da mesma forma que faltar com o pagamento de seus compromissos. Há muita coisa assim sendo feita, e, onde quer que ocorra, Deus é ofendido. T5 374 3 "Se os presidentes e outros obreiros em nossas Associações impressionarem o povo com o caráter do crime de roubar a Deus, e se eles possuírem espírito consagrado e sentirem o peso da obra, Deus tornará seus trabalhos uma bênção ao povo e serão vistos frutos como resultado de seus esforços. Os pastores têm falhado grandemente em seu dever de trabalhar desse modo com as igrejas. Há uma importante obra a ser feita paralelamente àquela da pregação. Houvesse o trabalho sido feito como Deus o determinara e haveria muito mais obreiros no campo do que agora. Se os pastores tivessem cumprido seu dever de educar cada membro, quer rico quer pobre, a dar segundo sua prosperidade, haveria um tesouro pleno do qual sacar para pagar salários justos aos obreiros e um grande avanço missionário em todas as suas fronteiras. Deus me mostrou que muitas pessoas estão em perigo de eterna ruína por causa do egoísmo e mundanismo, e que os vigias são culpados porque negligenciaram seu dever. Esse é um estado de coisas que Satanás exulta em ver. T5 375 1 "Todos os ramos da obra têm a ver com os pastores. Não é ordem divina que alguns continuem nessa prática e deixem seu trabalho inacabado. Não é obrigação da Associação arcar com as despesas de emprego de outros obreiros para substituí-los e retomar os pontos abandonados por obreiros negligentes. É obrigação do presidente da Associação exercer a supervisão dos obreiros e seu trabalho, e ensiná-los a serem fiéis nessas coisas, pois nenhuma igreja pode prosperar se estiver roubando a Deus. A carência espiritual de nossas igrejas é freqüentemente o resultado da alarmante prevalência do egoísmo. Interesses egoístas e esquemas mundanos interpõem-se entre a pessoa e Deus. Os homens aferram-se ao mundo parecendo temer que se deixassem esse seu apego, Deus não cuidaria deles. Assim tentam encarregar-se de si mesmos e tornam-se inquietos, preocupados, atormentados, presos às suas propriedades e aumentando suas possessões. T5 375 2 A Palavra de Deus fala sobre o salário dos trabalhadores que foi retido com fraude. Tiago 5:4. Geralmente se entende que essa passagem como aplicável aos ricos que empregam servidores e não os remuneram por seu trabalho, mas o significado do verso é bem mais amplo. Ela se aplica com grande força de sentido àqueles que foram instruídos pelo Espírito de Deus e ainda, em certa medida, agem segundo o mesmo princípio dos ricos empregadores ao assalariar seus servos, obrigando-os a trabalhar pesada e longamente pelas mais baixas remunerações. T5 376 1 Solenemente eu os advirto a não adotarem atitude similar aos espias infiéis, que subiram a observar a terra da promessa. Quando retornaram de sua jornada, a congregação de Israel estava acalentando altas esperanças e aguardando em ansiosa expectativa. As novas de sua volta espalharam-se de tribo em tribo e foram saudadas com júbilo. O povo apressou-se a encontrar os mensageiros que haviam suportado o cansaço da viagem nas poeirentas estradas e sob um sol abrasador. Os espias trouxeram vários tipos de frutos para mostrar a fertilidade do solo. A congregação regozijou-se de que estava para entrar na posse de uma terra tão abençoada, e ouviram atentamente o relatório trazido a Moisés para que nenhuma palavra lhes escapasse. Os espias declararam: "Fomos à terra a que nos enviaste; e, verdadeiramente, mana leite e mel, e este é o fruto." Números 13:27. O povo ficou entusiasmado; eles atenderiam ansiosamente à voz de Deus e subiriam a possuir a terra. T5 376 2 Mas os espias continuaram: "O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades, fortes e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Anaque." Verso 13:28. Transmuda-se agora a cena. Esperança e bravura deram lugar ao covarde desespero enquanto os espias expressavam os sentimentos de seu coração incrédulo, pleno de desânimo induzido por Satanás. Sua incredulidade lançou negra sombra sobre a congregação. O poder de Deus, tão freqüentemente manifestado em favor da nação escolhida, foi esquecido. T5 376 3 O povo desesperou-se em sua frustração. Um angustiante lamento se ergueu e misturou-se com um confuso murmúrio de vozes. Calebe compreendeu a situação e corajosamente apresentou-se em defesa da palavra de Deus, fazendo tudo o que lhe estava ao alcance para se opor à péssima influência de seus infiéis companheiros. Por um instante o povo silenciou para ouvir suas palavras de esperança e coragem com relação à formosa terra. Ele não contradisse o que já havia sido dito; os muros eram altos e os cananeus fortes, mas argumentou: "Subamos animosamente e possuamo-la em herança; porque, certamente, prevaleceremos contra ela." Verso 13:30. Mas os dez espias o interromperam e retrataram os obstáculos em cores mais negras do que antes: "Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós." Verso 13:31. "Todo o povo que vimos no meio dela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos e assim também éramos aos seus olhos." Versos 32, 33. T5 377 1 "Então, levantou-se toda a congregação, e alçaram a sua voz; e o povo chorou naquela mesma noite." Números 14:1. Os homens que haviam desde há muito convivido com a perversidade de Israel sabiam muito bem o que viria em seguida. Revolta e amotinação declarada rapidamente se seguiram, pois Satanás havia tomado o controle e o povo parecia privado de sua razão. Amaldiçoaram a Moisés e Arão, esquecendo-se de que Deus ouvia suas ímpias palavras e que, oculto na coluna de nuvem, o Anjo de Sua presença estava testemunhando a terrível explosão de ira. Em amargura clamaram: "Ah! Se morrêramos na terra do Egito! Ou, ah! Se morrêramos neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito?" Números 14:2, 3. T5 377 2 Em humilhação e angústia Moisés e Arão "caíram sobre os seus rostos perante todo o ajuntamento dos filhos de Israel" (Números 14:5), não sabendo o que fazer para desviar de si seu imprudente e apaixonado propósito. Calebe e Josué tentaram acalmar o tumulto. Com suas vestes rasgadas como sinal de pesar e indignação, correram para o meio do povo e suas sonoras vozes foram ouvidas acima da tormenta de lamentação e aflição rebelde: "A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor Se agradar de nós, então, nos porá nesta terra e no-la dará, terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais." Números 14:7-9. T5 378 1 O falso relatório dos espias infiéis foi totalmente aceito e por causa dele toda a congregação foi enganada, assim como Satanás queria que fosse. A voz de Deus através de Seus fiéis servos foi desdenhada. Os traidores haviam feito sua obra. Toda a assembléia, numa só voz, bradou pedindo o apedrejamento de Calebe e Josué. T5 378 2 Nesse momento o poderoso Deus Se revelou em meio à confusão de Seu povo desobediente e murmurador. "Porém, a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel." Que carga fora posta sobre Moisés e Arão, e quão ferventes foram suas súplicas para que Deus não destruísse o povo! Moisés evocou diante do Senhor as maravilhosas manifestações que fizeram o nome do Deus de Israel um terror aos seus inimigos, e implorou que os adversários de Deus e de Seu povo não lograssem ocasião de triunfar, dizendo: "Porquanto o Senhor não podia pôr este povo na terra que lhes tinha jurado; por isso, os matou no deserto." Números 14:16. O Senhor deu ouvidos à oração de Moisés, mas declarou que aqueles que haviam se rebelado contra Ele, após haverem testemunhado Seu poder e glória, cairiam no deserto; não deveriam contemplar a terra que era sua herança prometida. Mas, de Calebe, disse Deus: "Porém o Meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito e perseverou em seguir-Me, Eu o levarei à terra em que entrou, e a sua semente a possuirá em herança." Números 14:24. T5 378 3 Foi a fé de Calebe em Deus que lhe deu coragem, que o guardou do temor do homem, mesmo dos poderosos gigantes, os filhos de Anaque, e o capacitou a permanecer corajosa e resolutamente em defesa do direito. Desta mesma exaltada fonte -- o poderoso General dos exércitos do Céu -- todo fiel soldado da cruz de Cristo deve receber força e coragem para vencer os obstáculos que muitas vezes parecem intransponíveis. Aqueles que quiserem cumprir o seu dever precisam estar sempre prontos para proferir as palavras que Deus lhes dá, e não as palavras de dúvida, desencorajamento e desespero. T5 379 1 Pastor M, embora o irmão possa estar sendo apoiado por muitos, como aconteceu com os espias infiéis, todavia os sentimentos de sua carta não foram incitados pelo Espírito do Senhor. Acautele-se, a fim de que suas palavras e espírito não sejam como os deles e sua obra do mesmo caráter maligno. Num tempo como este, não devemos abrigar um pensamento nem sussurrar uma palavra de incredulidade, tampouco encorajar um ato sequer de serviço do eu. Isso foi feito nas Associações de Colúmbia e do Norte do Pacífico, enquanto sentíamos, na mesma medida, a tristeza, o vexame e o desânimo que Moisés e Arão, Calebe e Josué experimentaram. Tentamos desviar a tendência para a direção oposta, todavia isso ocorreu a custo de muito trabalho duro, grande ansiedade e pesar. A obra de reforma nessas Associações apenas começou. É um trabalho de longo prazo suplantar a incredulidade, desconfiança e a suspeita acumulada durante anos. Satanás tem, em grande medida, sido bem-sucedido em seus propósitos nessas Associações, porque encontrou pessoas que poderia usar como seus agentes. T5 379 2 Por causa de Cristo e da verdade, irmão M, não deixe que a obra em sua Associação atinja tal estado que seja impossível a seu sucessor pôr as coisas em ordem. O povo tem tido percepções estreitas e limitadas da obra; o egoísmo tem sido animado e o mundanismo deixado de ser reprovado. Apelo ao irmão para que faça tudo o que estiver ao seu alcance para desfazer o formato equivocado que você deu à essa Associação, para corrigir os tristes efeitos de sua negligência do dever, e assim preparar o campo para outro obreiro. A menos que faça isso, que Deus tenha piedade de quem o suceder. T5 379 3 Os presidentes de Associações devem ser homens a quem se possa confiar plenamente a obra de Deus. Deveriam ser homens íntegros, cristãos altruístas, consagrados e operosos. Se forem deficientes nesses aspectos, as igrejas sob seus cuidados não poderão prosperar. Esses, mais do que outros ministros de Cristo, deveriam ser exemplos de viver piedoso e devoção desinteressada às conveniências da causa de Deus; que aqueles que os contemplarem como exemplo não sejam desencaminhados. Em alguns casos, eles tentam servir a Deus e a Mamom. Não são abnegados e não se interessam pelas pessoas. Sua consciência não é sensível. Quando a causa de Deus é atingida, não se sentem feridos. Em seu coração questionam e duvidam dos Testemunhos do Espírito de Deus. Não carregam a cruz de Cristo e desconhecem o intenso amor de Jesus. Não são fiéis pastores do rebanho sobre o qual foram feitos superintendentes. Seu registro no Céu é tal que eles não se alegrarão de enfrentar no dia de Deus. T5 380 1 Quanto será requerido do pastor em sua obra de vigiar pela salvação das pessoas como quem tem de dar contas! Que devoção, que singeleza de propósito, que elevada piedade, deveriam ser vistas em sua vida e caráter! Quanto se perde pela falta de tato e habilidade em apresentar a verdade a outros; quanto se perde por atitudes descuidadas, por dureza nas palavras e pela mundanismo que de modo nenhum representa a Cristo ou lembra o Céu. Nosso trabalho está quase por ser encerrado. Brevemente será dito no Céu: "Quem é injusto faça injustiça ainda; e quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda." Apocalipse 22:11. Neste tempo solene a igreja é convocada a ser vigilante por causa da intensa atividade de Satanás. Suas atuações são vistas de todo lado, e ainda pastores e povo agem como se fossem ignorantes de seus estratagemas e estivessem paralisados por seu poder. Que cada membro da igreja desperte. Que cada obreiro se lembre de que a vinha que cultiva não é sua própria, mas pertence a seu Senhor, que saiu para uma longa viagem e em Sua ausência comissionou os servos para cuidarem de Seus interesses. Que o servo se lembre de que se for infiel a seu legado, precisará dar contas ao Senhor quando Ele voltar. T5 380 2 Enquanto os duvidosos falam de impossibilidades, enquanto tremem ao pensamento de muros fortificados e gigantes de grande estatura, os fiéis Calebes, aqueles que têm "outro espírito", venham para a frente. A verdade de Deus que produz salvação, chegará ao povo, se pastores e professos crentes não lhe embaraçarem o caminho, como fizeram os espias infiéis. Nossa obra é impetuosa. Algo precisa ser feito para advertir o mundo. Que nenhuma voz se ouça a encorajar interesses egoístas para negligenciar os campos missionários. Devemos envolver-nos nessa obra de coração, alma e voz. As energias mentais e físicas precisam ser despertadas. Todo o Céu está interessado em nosso trabalho e os anjos de Deus se envergonham de nossos débeis esforços. T5 381 1 Estou alarmada com a indiferença de nossas igrejas. Como Meroz, elas têm falhado no vir em socorro do Senhor. Os leigos estão acomodados. Eles cruzaram seus braços, achando que a responsabilidade repousa sobre os pastores. Mas Deus designou trabalho para todos os homens, não para trabalharem em suas lavouras de milho e trigo, mas na obra perseverante e fervorosa da salvação. Irmão M, Deus o proíbe, e a qualquer outro pastor, extinguirem qualquer partícula do espírito de trabalho que ainda existe. Porventura você o estimulará por suas palavras de candente zelo? O Senhor nos tornou os depositários de Sua lei; Ele confiou-nos a sagrada e eterna verdade, que deve ser transmitida a outros em fiéis advertências, repreensões e encorajamento. Por vias férreas e marítimas, devemos ligar-nos com cada parte do mundo e acessar cada nação com nossa mensagem da verdade. Que semeemos a semente do evangelho sobre todas as águas, pois não sabemos qual prosperará, se esta ou aquela, ou se ambas serão frutíferas. Paulo pode plantar, Apolo regar, mas Deus é quem dá o crescimento. T5 381 2 "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Não coloque sua luz debaixo do alqueire, mas, no velador, para que possa dar luz a todos os que estão na casa. "Não sois de vós mesmos... porque fostes comprados por bom preço...", pelo precioso sangue do Filho de Deus. Não temos o direito de viver para nós mesmos. Cada pastor deveria ser um missionário consagrado; cada leigo, um obreiro, usando seus talentos de influência e meios a serviço do Senhor, pois a beneficência prática é um princípio vital do cristianismo. É o exercício desse princípio que deve trazer os molhos ao Senhor da colheita, enquanto que a ausência dele dificulta a obra de Deus e obstrui o caminho para a salvação das pessoas. T5 382 1 Os pastores têm negligenciado incrementar a beneficência evangélica. O assunto dos dízimos e ofertas não tem sido tratado como deveria. Não são os homens por natureza inclinados à beneficência, mas à mesquinhez e avareza, e a viverem para o eu. Satanás está sempre pronto a apresentar as vantagens que poderão advir pelo uso de todos os meios, para propósitos egoístas e mundanos; e se alegra quando consegue influenciá-los para se esquivarem ao dever e a roubarem a Deus nos dízimos e ofertas. Mas neste assunto ninguém fica dispensado. "Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade." 1 Coríntios 16:2. O pobre, o rico, os rapazes e as moças que recebem salário -- todos devem pôr de parte alguma coisa; pois Deus o pede. A prosperidade espiritual de cada membro da igreja depende do esforço pessoal e da estrita fidelidade a Deus. Diz o apóstolo Paulo: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna." 1 Timóteo 6:17-19. De todos é requerido que mostrem interesse nos vários ramos da causa de Deus. Provas difíceis e repentinas serão trazidas sobre eles para que se veja quem é digno de receber o selo do Deus vivo. T5 382 2 Todos deveriam sentir que não são proprietários, mas mordomos, e que é chegado o tempo de dar contas do uso que têm feito do dinheiro de seu Senhor. Serão necessários meios à causa de Deus. Como Davi, poderiam eles dizer: "Porque tudo vem de ti, e da Tua mão to damos." 1 Crônicas 29:14. Devem ser estabelecidas escolas em vários lugares, as publicações devem ser disseminadas, igrejas devem ser construídas nas grandes cidades e os obreiros devem ser enviados não apenas às cidades, mas às estradas e fronteiras. E agora, meus irmãos crentes na verdade, eis sua oportunidade. Estamos parados, por assim dizer, nas fronteiras do mundo eterno. Estamos esperando pelo glorioso aparecimento de nosso Senhor. A noite se esvai e o dia se aproxima. Quando compreendermos a grandeza do plano da redenção, seremos muito mais intrépidos, abnegados e consagrados do que temos sido. T5 383 1 Há uma grande obra a fazer antes que nossos esforços sejam coroados de êxito. Precisa haver uma decidida reforma em nosso lar e em nossas igrejas. Os pais precisam trabalhar pela salvação de seus filhos. Deus cooperará com nossos esforços quando fizermos tudo quanto nos foi ordenado e para o que fomos qualificados. Mas, por causa de nossa incredulidade, mundanismo e indolência, pessoas que estão às nossas portas e que foram compradas a preço de sangue, estão morrendo sem advertência em seus pecados. Triunfará Satanás sempre assim? Oh, não! A luz que vem da cruz do Calvário indica que uma grande obra, a qual nossos olhos jamais testemunharam, deve ser feita. T5 383 2 O terceiro anjo, voando pelo meio do céu, proclamando os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus, representa nossa obra. Essa mensagem nada perde de sua força à medida que o vôo angélico progride, pois João o vê crescendo em força e poder até toda a Terra ser iluminada por sua glória. O caminho do povo que guarda os mandamentos de Deus é para frente, sempre para frente. A mensagem da verdade que nos foi confiada deve ir a todas as nações, línguas e povos. Brevemente ela atingirá seu alto clamor e a Terra será iluminada com sua glória. Estamos nos preparando para o grande derramamento do Espírito de Deus? T5 383 3 Agentes humanos devem ser empregados nesta obra. Zelo e energia devem ser intensificados. Talentos que se estão enferrujando em virtude da inatividade devem ser impelidos para o serviço. Se uma voz disser: "Espere; não carregue fardos impostos por outros", essa é a voz dos espias covardes. Necessitamos agora de Calebes que abram caminho para a frente -- líderes em Israel que com corajosas palavras apresentem um forte relatório em favor de ação imediata. Quando pessoas egoístas, assustadas, amantes da vida fácil, temendo altos gigantes e muros inacessíveis, clamarem por retirada, seja ouvida a voz dos Calebes, embora os covardes estejam com pedras nas mãos, prontos para abatê-los por seu fiel testemunho. T5 384 1 Podemos nós discernir os sinais dos tempos? Podemos ver quão diligentemente Satanás está atuando para atar o joio em molhos, unindo os elementos de seu reino para obter o controle do mundo? O esforço de atamento do joio está progredindo muito mais rapidamente do que imaginamos. Satanás está erguendo todo o obstáculo possível ao avanço da verdade. Está buscando criar divergências de opinião e estimular o mundanismo e a cobiça. Opera com a sutileza de uma serpente e a ferocidade de um leão. A ruína das pessoas é seu único deleite, a destruição delas, seu único trabalho. Assim, agiremos nós como se estivéssemos paralisados? Aqueles que professam crer na verdade presente ouvirão, porventura, as tentações do astuto adversário, tornando-se egoístas e tacanhos e permitindo que seus interesses mundanos interfiram nos esforços em favor da salvação? T5 384 2 Todos os que transpuserem os portais celestiais entrarão como conquistadores. Quando a multidão de redimidos rodear o trono de Deus, com ramos de palmas em suas mãos e coroas sobre a cabeça, serão conhecidas as vitórias que conquistaram. Será visto como o poder de Satanás foi exercido sobre as mentes; como ligava a si mesmo pessoas que se iludiam pensando estar fazendo a vontade de Deus. Ver-se-á também que seu poder e sutileza não poderiam ter sido resistidos com sucesso, não houvesse o poder divino sido combinado com esforços humanos. O homem precisa ser vitorioso também sobre si mesmo, seu temperamento, inclinações e sua vontade precisa ser levada em sujeição à vontade de Deus. A justiça e o poder de Cristo estão disponíveis a todos os que reivindicarem Seus méritos. T5 384 3 Esforços perseverantes e determinados devem ser realizados para fazer recuar o terrível inimigo. Temos necessidade de toda a armadura da justiça. O tempo está passando e rapidamente nos aproximamos do fim do tempo de graça. Estarão nossos nomes registrados no livro da vida do Cordeiro, ou seremos contados com os infiéis? Somos daqueles que se reunirão diante do grande trono branco, entoando o cântico dos remidos? Não existirão pessoas apáticas nessa multidão. Todos estarão com seu coração pleno de ações de graças pelo maravilhoso amor de Deus e a inexcedível graça que habilitou Seu povo a vencer a guerra contra o pecado. Em alta voz entoarão o cântico: "Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro." Apocalipse 7:10. ------------------------Capítulo 44 -- O verdadeiro espírito missionário T5 385 1 O verdadeiro espírito missionário é o espírito de Cristo. O Redentor do mundo foi o grande missionário modelo. Muitos de Seus seguidores têm trabalhado diligente e abnegadamente na causa da salvação humana; mas o trabalho de homem algum pode-se comparar com a abnegação, o sacrifício, a bondade de nosso Exemplo. T5 385 2 O amor que Cristo demonstrou por nós, é sem paralelo. Quão zelosamente trabalhou Ele! Quantas vezes esteve sozinho, em fervorosa oração, nas encostas das montanhas ou no retiro do horto, derramando Suas súplicas com forte clamor e lágrimas! Com que perseverança insistia Ele em Suas petições pelos pecadores! Mesmo na cruz, esqueceu os próprios sofrimentos, em Seu grande amor por aqueles a quem viera salvar. Quão frio o nosso amor, quão débil nosso interesse, quando comparado com o amor e o interesse manifestados por nosso Salvador! Jesus Se deu a Si mesmo para redimir nossa raça; todavia quão prontos somos a nos desculpar de dar tudo quanto temos a Jesus! Nosso Salvador submeteu-Se a fatigante trabalho, à ignomínia e ao sofrimento. Foi repelido, zombado, escarnecido enquanto Se empenhava na grande obra que viera realizar na Terra. T5 385 3 Acaso indagam, irmãos e irmãs: Que modelo imitarei eu? Não lhes indico grandes homens, homens bons, mas o Redentor do mundo. Caso queiramos ter o verdadeiro espírito missionário, precisamos imbuir-nos do amor de Jesus; precisamos olhar para o Autor e Consumador de nossa fé, estudar-Lhe o caráter, cultivar-Lhe o espírito de mansidão e humildade, e andar em Suas pegadas. T5 385 4 Muitos pensam que o espírito missionário, a habilitação para a obra missionária, é um dom ou dotação especial concedido aos pastores e a alguns poucos membros da igreja, e que todos os outros devem ser meros espectadores. Nunca houve erro maior. Todo verdadeiro cristão possuirá espírito missionário, pois ser cristão é ser semelhante a Cristo. Ninguém vive para si mesmo, e "se alguém não tem o espírito de Cristo, esse tal não é dEle". Romanos 8:9. Todo aquele que tem experimentado as virtudes do mundo futuro, seja ele jovem ou idoso, instruído ou iletrado, será movido pelo espírito que atuou em Cristo. O primeiro impulso do coração regenerado é levar outros também ao Salvador. Os que não possuem este desejo, dão provas de haver perdido o primeiro amor; devem examinar rigorosamente o coração à luz da Palavra de Deus, e procurar um novo batismo do Espírito de Cristo; devem orar por mais profunda compreensão daquele assombroso amor que Jesus manifestou por nós em deixar o reino da glória e vir a um mundo caído para salvar os perdidos. T5 386 1 Há trabalho para cada um de nós na vinha do Senhor. Não devemos buscar para nós a posição que nos permita fruir o máximo, ou ter o maior ganho. A verdadeira religião é isenta de egoísmo. O espírito missionário é um espírito de sacrifício. Devemos trabalhar onde quer que seja e em toda parte, ao máximo de nossa capacidade, pela causa do Mestre. T5 386 2 Assim que uma pessoa está realmente convertida à verdade, brota-lhe no coração um desejo ardente de ir e falar a amigos ou vizinhos acerca da preciosa luz que irradia das páginas sagradas. Em seu desinteressado trabalho para salvar a outros, é uma carta viva, conhecida e lida por todos. Sua vida mostra que ela se converteu a Cristo, e tornou-se colaboradora Sua. T5 386 3 Como uma classe, os adventistas do sétimo dia são um povo generoso e sincero. Podemos confiar, na proclamação da verdade para este tempo, em sua pronta e forte simpatia. Quando se apresenta um objetivo justo para sua liberalidade, apelando-lhe ao discernimento e consciência, isto suscita uma resposta cordial. Suas dádivas para sustentar a causa testificam que ele crê ser esta a causa da verdade. É certo que há exceções entre nós. Nem todos quantos professam aceitar a fé são crentes sinceros e leais. Mas o mesmo acontecia nos dias de Cristo. Até entre os apóstolos, houve Judas; mas isso não prova que todos sejam do mesmo caráter. Não temos motivo de desânimo, pois sabemos que há tantos consagrados à causa da verdade, e que estão dispostos a fazer nobres sacrifícios por seu progresso. Há, porém, ainda uma grande falta, uma grande necessidade entre nós. Bem pouco existe do verdadeiro espírito missionário. Todos os obreiros missionários devem possuir pela salvação de seus semelhantes aquele profundo interesse que unirá em simpatia e no amor de Jesus, coração a coração. Devem rogar fervorosamente o auxílio divino, e trabalhar sabiamente para ganhar as pessoas para Cristo. Um esforço frio, sem vida, nada realizará. É necessário que o espírito de Cristo caia sobre os filhos dos profetas. Então, manifestarão pelas pessoas, aquele amor que vimos exemplificado na vida de Jesus. T5 387 1 A razão de não haver mais profundo fervor religioso, nem mais ardente amor uns pelos outros na igreja, é que o espírito missionário vem-se extinguindo. Pouco se diz agora acerca da vinda de Cristo, a qual era antes o tema dos pensamentos e da conversação. Existe inexplicável relutância, crescente desprazer pela conversa religiosa; e em lugar dela, condescende-se com ociosa e frívola tagarelice, e isso mesmo por parte de professos seguidores de Cristo. T5 387 2 Meus irmãos e minhas irmãs, querem vocês romper o encanto que os prende? Querem despertar dessa indolência que se assemelha ao torpor da morte? Vão trabalhar, quer se sintam dispostos, quer não. Empenhem-se em esforço pessoal para levar pessoas a Jesus e ao conhecimento da verdade. Em tal trabalho, encontrarão tanto um estímulo como um tônico; ele a um tempo despertará e fortalecerá. Mediante exercício, suas faculdades espirituais se tornarão mais vigorosas, de modo que poderão, com mais êxito, colaborar com sua própria salvação. O torpor da morte apoderou-se de muitos professos cristãos. Deve-se fazer todo esforço para despertá-los. Advirtam, roguem, arrazoem. Orem para que o enternecedor amor de Deus aqueça e abrande sua natureza gélida. Ainda que se recusem a ouvir, não será em vão o seu trabalho. No esforço de beneficiar a outros, você mesmo será beneficiado. T5 388 1 Possuímos a teoria da verdade, e agora precisamos buscar mais diligentemente seu poder santificador. Não ouso ficar quieta neste tempo de perigo. É um tempo de tentação, de desânimo. Todo o mundo é assaltado pelos ardis de Satanás, e devemos avançar juntos para resistir-lhe ao poder. Devemos ser unânimes, falando uma mesma coisa, e glorificando unidos a Deus. Então poderemos com êxito ampliar nossos planos, e mediante vigilantes esforços missionários, aproveitar-nos de todo talento que possamos usar nos vários departamentos da obra. T5 388 2 A luz da verdade derrama seus brilhantes raios no mundo, mediante o esforço missionário. A imprensa é o meio pelo qual são alcançados muitos que seria impossível atingir por meio de esforço ministerial. Pode-se fazer grande trabalho apresentando ao povo exclusivamente a Bíblia. Levem a Palavra de Deus à porta de todo homem, insistam em suas positivas declarações diante da consciência de todo homem, repitam a todos o mandamento do Salvador: "Examinai as Escrituras." João 5:39. Admoestem-nos a tomar a Bíblia assim como é, a implorar iluminação divina, e então, ao resplandecer a luz, a aceitar destemidamente cada raio precioso, suportando de boa vontade as conseqüências. T5 388 3 A combatida lei de Deus tem de ser exaltada diante do povo; tão logo eles se volvam sincera e reverentemente para as Santas Escrituras, a luz do Céu lhes revelará coisas extraordinárias da lei de Deus. Grandes verdades, há muito veladas pelas superstições e falsas doutrinas, irradiarão das iluminadas páginas da Palavra Sagrada. As Sagradas Escrituras derramarão seus tesouros novos e antigos, levando luz e júbilo a todos quantos os receberem. Muitos são despertados de sua sonolência. Erguem-se como da morte, e recebem a luz da vida que unicamente Cristo pode dar. Verdades que se demonstraram inexplicáveis para gigantescos intelectos, são compreendidas por criancinhas em Cristo. A essas é plenamente revelado o que tem sido tão difícil para a percepção espiritual dos mais doutos expositores da Palavra, porque, como os saduceus de outrora, eram ignorantes das Escrituras e do poder de Deus. T5 389 1 Os que estudam a Bíblia com um sincero desejo de conhecer a Deus e fazer Sua vontade, se tornarão sábios para a salvação. A Escola Sabatina é um ramo importante da obra missionária, não somente por que dá a jovens e idosos conhecimento da Palavra de Deus, mas porque desperta neles amor por suas verdades sagradas, e um desejo de estudá-la por si mesmos; acima de tudo, ela lhes ensina a regularem a vida pelos santos ensinos que lhes ministra. T5 389 2 Todos quantos tomam a Palavra de Deus como regra de vida, crescem no relacionamento entre si. A Bíblia é seu traço de união. Sua companhia, porém, não será buscada ou desejada pelos que não se curvam à Palavra Sagrada como o único guia infalível. Estarão em discordância, tanto na fé como na prática. Não pode haver harmonia entre eles; são irreconciliáveis. Como adventistas do sétimo dia, apelamos para trocar o costume e a tradição pelo positivo "Assim diz o Senhor", e por essa razão não estamos, e não podemos estar em harmonia com as multidões que ensinam e seguem as doutrinas e mandamentos humanos. T5 389 3 Todos quantos são nascidos de Deus, tornam-se coobreiros de Cristo. Esses são o sal da Terra. "E se o sal for insípido, com que se há de salgar?" Se a religião que professamos deixar de renovar-nos o coração e santificar-nos a vida, como exercerá ela poder salvador sobre os incrédulos? "Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens." Mateus 5:13. A religião que não exerce poder regenerador sobre o mundo, é sem valor. Nela não podemos confiar para nossa salvação. Quanto mais depressa a lançarmos fora, melhor, pois é espúria e destituída de poder. T5 389 4 Cumpre-nos servir sob a direção de nosso grande Líder, avançar contra toda influência adversa, ser coobreiros de Deus. A obra que nos é designada é semear junto a todas as águas a semente do evangelho. Nesta obra, cada um precisa desempenhar uma parte. A multiforme graça de Cristo, a nós comunicada, constitui-nos mordomos de talentos que nos cumpre aumentar entregando-os aos banqueiros, para que, quando o Mestre os pedir, possa receber o Seu com os juros. ------------------------Capítulo 45 -- Jovens como missionários T5 390 1 Os jovens que desejam entrar no campo como pastores ou colportores, devem primeiro obter razoável grau de preparo mental, bem como ser especialmente exercitados para sua carreira. Os que não foram educados, exercitados, polidos, não se acham preparados para entrar num campo onde as poderosas influências do talento e da educação combatem as verdades da Palavra de Deus. Tampouco podem enfrentar com êxito as estranhas formas de erros religiosos e filosóficos associados, cuja exposição requer conhecimento de verdades científicas, bem como bíblicas. T5 390 2 Especialmente os que têm em vista o ministério, devem sentir a importância do método bíblico de preparo ministerial. Devem entrar de coração na obra, e, enquanto estudam na escola, devem aprender do grande Mestre a mansidão e a humildade de Cristo. Um Deus que guarda o concerto prometeu que, em resposta à oração, derramará Seu Espírito sobre esses discípulos da escola de Cristo, a fim de que se tornem ministros da justiça. T5 390 3 Árduo é o trabalho a ser feito para desalojar da mente o erro e a falsa doutrina, para que a verdade e a religião bíblicas possam achar lugar no coração. Foi como um meio ordenado por Deus para educar jovens de ambos os sexos para os vários ramos da obra missionária, que se estabeleceram colégios entre nós. Não é o desígnio de Deus que eles enviem apenas uns poucos, mas muitos obreiros. Satanás, porém, decidido a impedir esse desígnio, tem-se apoderado exatamente daqueles a quem o Senhor havia de habilitar para lugares de utilidade em Sua obra. Muitos há que haveriam de trabalhar, se impelidos a entrar no serviço, e que se salvariam mediante esse trabalho. A igreja deve sentir sua grande responsabilidade quanto a encerrar a luz da verdade, e restringir a graça de Deus dentro de seu estreito âmbito, quando dinheiro e influência deveriam ser liberalmente empregados para enviar pessoas competentes às Missões. T5 391 1 Centenas de jovens deveriam ter-se preparado para desempenhar um papel na obra de espalhar a semente da verdade junto a todas as águas. Queremos pessoas que impulsionem os triunfos da cruz; que perseverem sob o desânimo e as privações; que possuam o zelo e a fé indispensáveis no campo missionário. T5 391 2 Nossas igrejas são exortadas a lançar mão dessa obra com muito mais empenho do que até agora manifestado. Cada igreja deveria fazer um provisionamento especial para preparar seus missionários, auxiliando assim no cumprimento da grande comissão: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a cada criatura." Marcos 16:15. Meus irmãos, temos errado e pecado por tentar tão pouco. Deveria haver mais obreiros nos campos do exterior. Há entre nós pessoas que, sem a fadiga e demora da aprendizagem de outro idioma, se poderiam habilitar para proclamar a verdade a outras nações. Na igreja primitiva, os missionários eram miraculosamente dotados do conhecimento de outras línguas, nas quais eram chamados a pregar as insondáveis riquezas de Cristo. E se Deus estava pronto a ajudar assim Seus servos naquele tempo, podemos nós duvidar de que Sua bênção repousará sobre nossos esforços para habilitar os que possuem conhecimento natural de línguas estrangeiras, e, com o devido incentivo, haveriam de apresentar a seus próprios conterrâneos a mensagem da verdade? Poderíamos ter tido mais obreiros em campos missionários estrangeiros, houvessem os que penetraram nesses campos se aproveitado de todos os talentos ao seu alcance. Mas alguns têm mantido uma disposição de recusar ajuda se essa não estiver exatamente de acordo com suas idéias e planos. E qual é o resultado? Se porventura nossos missionários forem removidos de seus locais de trabalho por doença ou morte, onde estão os homens treinados para ocupar seus lugares? T5 391 3 Nenhum de nossos missionários garantiu a cooperação de todo talento disponível. Muito tempo foi assim perdido. Alegramo-nos na boa obra que tem sido feita nos campos estrangeiros, mas se tivessem sido adotados diferentes planos de trabalho, dez ou, vinte vezes mais poderia ter sido realizado. Uma oferta aceitável teria sido apresentada a Jesus, na forma de muitas pessoas resgatadas da escravidão do erro. T5 392 1 Cada um que recebe a luz da verdade deveria ser ensinado a levá-la a outros. Nossos missionários no exterior deveriam aceitar de bom grado cada auxílio, cada oportunidade a eles oferecida. Precisam estar dispostos a correr algum risco, a aventurar um pouco mais. Deus não Se agrada de que protelemos oportunidades presentes de fazer o bem, na esperança de realizar maior serviço no futuro. Cada um deveria seguir as orientações da Providência, não consultando os interesses próprios e não confiando exclusivamente no próprio critério. Alguns podem estar prontos a ver fracasso onde Deus intenta sucesso; eles podem ver apenas gigantes e cidades muradas, onde outros, com mais clara visão, vêem também Deus e os anjos, prontos a garantir a vitória à verdade. T5 392 2 Em certos casos talvez seja necessário que jovens aprendam línguas estrangeiras. Isso podem eles fazer com maior sucesso mediante o convívio com o povo, e ao mesmo tempo, dedicando parte de cada dia ao estudo da língua. Isso se deveria fazer apenas como um necessário passo preparatório para educar os que se encontram nos campos missionários, e que, com o devido preparo, se podem tornar obreiros. É essencial que se estimule ao serviço aqueles que se podem dirigir na língua materna ao povo de outras nações. Grande empreendimento é para um homem de meia-idade aprender uma nova língua; e com todos os seus esforços, será quase impossível que a fale tão pronta e corretamente que se torne obreiro eficiente. T5 392 3 Não podemos destituir nossas missões nacionais da influência dos pastores de meia-idade ou idosos, para os enviar a campos distantes a fim de se empenharem numa obra para a qual não estão habilitados, e à qual nunca se adaptarão por mais que se esforcem. Os homens assim enviados deixam vagas que os obreiros inexperientes não podem preencher. T5 392 4 A igreja talvez indague se a jovens podem ser confiadas as sérias responsabilidades envolvidas no estabelecimento e direção de uma missão estrangeira. Respondo: Deus designou que fossem preparados em nossos colégios e mediante a associação no trabalho com homens experientes, de maneira que estejam prontos para ocupar lugares de utilidade nesta causa. Cumpre-nos mostrar confiança em nossos jovens. Devem eles ser pioneiros em todo empreendimento que exija fadiga e sacrifício, ao passo que os sobrecarregados servos de Cristo devem ser prezados como conselheiros, para animar e abençoar os que têm de desferir os mais pesados golpes em favor de Deus. A providência colocou esses pais cheios de experiência em posições difíceis, de responsabilidade, quando eram mais jovens, não tendo ainda suas faculdades físicas nem intelectuais atingido desenvolvimento completo. A magnitude do encargo que lhes era confiado despertou-lhes as energias, seu ativo trabalho na obra ajudou-lhes o desenvolvimento físico e mental. T5 393 1 Há necessidade de jovens. Deus os chama para os campos missionários. Achando-se relativamente livres de cuidados e responsabilidades, estão em condições mais favoráveis para se empenharem na obra, do que os que têm de prover o sustento e educação de uma família grande. Além disso, os jovens se podem mais facilmente adaptar a sociedades e climas novos, sendo mais aptos a suportar incômodos e fadigas. Com tato e perseverança, podem pôr-se em contato com o povo. T5 393 2 As forças são produzidas pelo exercício. Todos os que se servem das aptidões que Deus lhes deu, terão crescentes habilidades para consagrar ao serviço dEle. Os que nada fazem, na causa de Deus, deixarão de crescer em graça e no conhecimento da verdade. O homem que se deitasse, recusando servir-se dos membros, perderia em breve a faculdade de utilizá-los. Assim o cristão que não exercita as aptidões concedidas por Deus, não somente deixa de crescer em Cristo, mas perde as forças que já possuía; torna-se um paralítico espiritual. Quem com amor a Deus e ao próximo, se esforça por ajudar outros, é que se torna firme, forte, estável na verdade. O verdadeiro cristão trabalha para Deus, não por impulso, mas por princípio; não um dia ou um mês, mas toda a vida. T5 393 3 Como deve nossa luz brilhar para o mundo a não ser por nossa coerente vida cristã? Como pode o mundo saber que pertencemos a Cristo se nada fazemos por Ele? Disse nosso Salvador: "Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:20. E novamente: "Quem não é comigo é contra Mim." Lucas 11:23. Não há terreno neutro entre os que trabalham ao máximo de sua capacidade para Cristo e os que trabalham para o adversário. Todo aquele que permanece como um indolente na vinha do Senhor não está apenas sem fazer nada ele mesmo, mas está criando embaraços para os que estão procurando trabalhar. Satanás procura ocupar todos os que não estão ferventemente se esforçando para garantir sua própria salvação e a de outros. T5 394 1 A igreja de Cristo bem pode ser comparada a um exército. A vida de todo soldado é de labuta, dificuldade e perigo. Por todos os lados há inimigos vigilantes, dirigidos pelo príncipe das potestades das trevas, o qual jamais cochila nem abandona seu posto. Sempre que um cristão esteja desapercebido, este poderoso adversário faz um súbito e violento ataque. A menos que os membros da igreja estejam ativos e vigilantes, serão vencidos pelos seus ardis. T5 394 2 Que seria se metade dos soldados de um exército estivesse ociosa ou adormecida quando viesse a ordem de estar a postos? O resultado seria derrota, cativeiro ou morte. Se algum deles escapasse das mãos do inimigo, seria ele considerado digno de recompensa? Não; bem depressa receberia a sentença de morte. E se a igreja de Cristo é descuidosa e infiel, acham-se envolvidas conseqüências muito mais importantes. Um exército de soldados cristãos adormecidos -- que poderia ser mais terrível? Que avanço poderia ser feito contra o mundo, que está sob domínio do príncipe das trevas? Os que, no dia da batalha, se põem indiferentemente na retaguarda, como se não tivessem interesse nem sentissem responsabilidade quanto ao resultado da luta, melhor seria que mudassem de atitude, ou deixassem imediatamente as fileiras. T5 394 3 O Mestre pede obreiros evangélicos. Quem responderá? Nem todos os que entram para o exército chegam a ser generais, capitães, sargentos ou mesmo cabos. Nem todos têm o cuidado e a responsabilidade de dirigentes. Há duros trabalhos de outra espécie para serem feitos. Uns devem cavar trincheiras e construir fortificações; outros, ocupar o lugar de sentinelas, e outros, ainda, levar mensagens. Conquanto haja poucos oficiais, são necessários muitos soldados para formar as linhas e fileiras do exército; todavia o êxito depende da fidelidade de cada soldado. A covardia ou a traição de um só homem pode produzir a derrota do exército inteiro. T5 395 1 Há cuidadoso trabalho a ser feito por nós individualmente, se quisermos combater o bom combate da fé. Interesses eternos estão em jogo. Temos de usar a armadura da justiça, precisamos resistir ao diabo, e temos a segura promessa de que ele fugirá de nós. A igreja deve promover firme campanha, fazer conquistas para Cristo, libertar pessoas do poder do inimigo. Deus e os santos anjos estão empenhados nesta luta. Procuremos agradar Aquele que nos alistou como soldados. T5 395 2 Todos podem fazer alguma coisa na obra. Ninguém será pronunciado sem culpa perante Deus, a menos que tenha trabalhado fervorosa e altruisticamente pela salvação. A igreja deveria ensinar a juventude, por preceito e exemplo, a ser obreira de Cristo. Muitos há que se queixam de suas dúvidas, que lamentam não terem certeza de sua união com Deus. Isso muitas vezes é atribuível ao fato de não estarem fazendo coisa alguma na causa de Deus. Que eles busquem seriamente ajudar e abençoar a outros, e suas dúvidas e desânimo desaparecerão. T5 395 3 Muitos que professam ser seguidores de Cristo falam e agem como se seus nomes fossem uma grande honra para a causa de Deus, embora não assumam qualquer responsabilidade e não conquistem nenhuma pessoa para a verdade. Tais pessoas vivem como se Deus não tivesse reclamos sobre elas. Se continuarem em seu curso presente, descobrirão afinal que não possuem quaisquer reivindicações diante de Deus. T5 395 4 Aquele que designou "a cada um, a sua obra" (Marcos 13:34), segundo suas aptidões, jamais deixará ficar sem recompensa o fiel cumprimento de um dever. Cada ato de lealdade e de fé será coroado de testemunhos especiais do favor e aprovação de Deus. A todo obreiro é feita a promessa: "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo seus molhos." Salmos 126:6. ------------------------Capítulo 46 -- Importância da obra de colportagem T5 396 1 Obra muito mais eficaz do que a que tem sido feita até agora no campo da colportagem, poderá ser ainda realizada. Não deve o colportor sentir-se satisfeito a menos que esteja constantemente melhorando. Ele deve fazer completa preparação, mas não deve satisfazer-se com uma forma estabelecida de palavras; deve dar ao Senhor uma oportunidade de cooperar com seus esforços e impressionar sua mente. O amor de Jesus presente no coração capacitá-lo-á a imaginar meios de obter acesso aos indivíduos e famílias. T5 396 2 Os colportores necessitam de cultura adequada e maneiras polidas -- não as maneiras afetadas e artificiais do mundo, mas a forma agradável de se expressar que é resultado natural da bondade de coração e de um desejo de copiar o exemplo de Cristo. Eles devem cultivar hábitos de reflexão e cuidado -- hábitos industriosos e discretos -- e buscar honrar a Deus fazendo de si mesmos tudo que lhes é possível. Jesus fez um infinito sacrifício para colocá-los no devido relacionamento com Deus e seus semelhantes, e o auxílio divino combinado com o esforço humano haverá de habilitá-los a alcançar uma elevada norma de excelência. O colportor deve ser puro como José, manso como Moisés e temperante como Daniel; então um poder o acompanhará aonde quer que vá. T5 396 3 Se o colportor segue um mau procedimento, se profere falsidade ou pratica engano, perde o respeito de si mesmo. Ele pode não ter consciência de que Deus o vê e está a par de cada venda, de que anjos estão pesando seus motivos e ouvindo suas palavras e de que sua recompensa será de acordo com suas obras; mas se fosse possível ocultar seu mau procedimento da inspeção humana e divina, o fato de que ele mesmo o conhece, é degradante a seu espírito e caráter. Um único ato não determina o caráter, mas quebra a barreira; e a próxima tentação é mais prontamente abrigada, até que, finalmente, se forma um hábito de mentira e desonestidade no negócio, e o homem se torna indigno de confiança. T5 397 1 Há muitos, nas famílias e na igreja, que convivem com certas incoerências. Há jovens que parecem o que não são. Parecem honestos e verdadeiros; mas são como sepulcros caiados, bonitos por fora mas corruptos por dentro. O coração está manchado, denegrido pelo pecado; e assim permanece o registro nas cortes celestiais. Tem estado em prosseguimento em seu espírito um processo que os tornou calejados, insensíveis. Mas se seu caráter, pesado nas balanças do santuário, for pronunciado em falta no grande dia de Deus, será uma calamidade que não compreendem agora. A verdade, a preciosa e pura verdade, deve fazer parte do caráter. T5 397 2 Qualquer que seja o caminho escolhido, a estrada da vida está rodeada de perigos. Se os obreiros em qualquer ramo da causa se tornam descuidosos e desatentos a seus deveres eternos, estão enfrentando grande perda. O tentador achará acesso a eles. Ele espalhará redes para seus pés e os guiará em direção a caminhos duvidosos. Só estão seguros aqueles cujo coração está guarnecido de princípios puros. Como Davi, eles orarão: "Dirige os meus passos nos Teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem." Salmos 17:5. Uma constante batalha precisa ser mantida contra o egoísmo e a corrupção do coração humano. Muitas vezes os ímpios parecem ser prósperos em seus caminhos; mas os que se esquecem de Deus, mesmo por uma hora ou um momento, estão num caminho perigoso. Pode ser que não reconheçam seus perigos; mas antes de estarem apercebidos, o hábito, semelhante a um laço de ferro, prende-os em sujeição ao mal, com o qual brincaram. Deus despreza seu procedimento e Sua bênção não os seguirá. T5 397 3 Tenho visto que jovens empreendem este trabalho sem se ligarem ao Céu. Colocam-se no caminho da tentação para mostrar sua bravura. Riem-se da insensatez dos outros. Eles conhecem o caminho reto; sabem como conduzir-se. Quão facilmente podem resistir à tentação! Quão infundado é pensar em sua queda! Mas não fazem de Deus sua defesa. Satanás tem um insidioso laço preparado para eles, e eles mesmos se tornam objeto dos tolos. T5 397 4 Nosso grande adversário tem agentes que estão constantemente à caça de uma oportunidade para destruir as pessoas, como um leão caça sua presa. Foge deles, jovem! Porque conquanto pareçam ser seus amigos, eles astutamente introduzem maus modos e práticas. Eles o lisonjeiam com os lábios e se oferecem para ajudá-lo e guiá-lo; mas seus passos dirigem-se para o inferno. Se você ouvir seus conselhos, esse pode ser o ponto decisivo de sua vida. A remoção de uma única salvaguarda da consciência, a contemporização com um só hábito, uma simples negligência das elevadas exigências do dever, pode ser o princípio de uma série de enganos, que o colocará nas fileiras dos que estão servindo a Satanás, ao passo que está todo o tempo professando amar a Deus e a Sua causa. Um momento de negligência, um único passo em falso, pode levar todo o curso de sua vida para uma direção errada. E pode ser que nunca venha a saber o que causou sua ruína, antes de ser pronunciada a sentença: "Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniqüidade." Mateus 7:23. T5 398 1 Alguns jovens sabem que aquilo que eu tenho dito, descreve plenamente seu procedimento. Seus caminhos não estão ocultos ao Senhor, ainda que estejam ocultos a seus melhores amigos, mesmo seu pai e mãe. Tenho pouca esperança de que alguns destes jamais mudem sua conduta de hipocrisia e engano. Outros que erram estão procurando remir a si mesmos. Que o querido Jesus os auxilie para que fixem a face como um seixo contra todas as falsidades e as lisonjas dos que procuram enfraquecer seus propósitos de fazer o que é reto, ou de insinuar dúvidas ou sentimentos de infidelidade para abalar sua fé na verdade. Jovens amigos, não gastem uma hora sequer na companhia daqueles que os inabilitariam para a pura e sagrada obra de Deus. Não façam diante dos estranhos coisa alguma que não fariam diante de seu pai ou mãe, ou que teriam vergonha de fazer diante de Cristo e dos anjos. T5 398 2 Alguns podem pensar que os observadores do sábado não necessitam destas admoestações; mas aqueles a quem elas se aplicam sabem o que eu quero dizer. Eu lhes digo, jovens, que se acautelem, porque não podem fazer coisa alguma que não seja aberta aos olhos dos anjos de Deus. Vocês não podem praticar uma ação má, sem que outros sejam afetados por ela. Enquanto seu procedimento revela que espécie de material é empregado na formação de seu próprio caráter, exerce também uma poderosa influência sobre os outros. Nunca percam de vista o fato de que pertencem a Deus, de que foram comprados por preço e de que precisam prestar contas a Ele de todos os talentos que lhes confiou. Ninguém cuja mão esteja manchada com pecado, ou cujo coração não seja reto para com Deus, deve ter qualquer parte na colportagem, porque tais pessoas haverão de, certamente, desonrar a causa da verdade. Os que são obreiros no campo missionário, precisam de Deus para os guiar. Devem ser cuidadosos para começar direito, e então prosseguir calma e firmemente no caminho da retidão. Devem ser resolutos, pois Satanás é resoluto e perseverante em seus esforços por vencê-los. T5 399 1 Cometeu-se um erro em angariar assinaturas de nossos periódicos para apenas umas poucas semanas, quando, por meio de um esforço apropriado, se poderiam conseguir assinaturas para prazo muito mais longo. Uma assinatura anual é de muito maior valor do que muitas por um curto tempo. Quando a assinatura é por apenas uns poucos meses, muitas vezes o interesse finda com o curto prazo da assinatura. Poucos renovam suas assinaturas por um período maior, e assim há um grande desperdício de tempo, que traz pequenos resultados, ao passo que, com um pouco mais de tato e perseverança, se poderiam obter assinaturas anuais. Vocês têm um alvo muito baixo, irmãos; são muito limitados em seus planos. Não põem em seu trabalho todo o tato e perseverança que ele merece. Há mais dificuldades nesta obra do que em alguns outros ramos de negócio; mas as lições que serão aprendidas, o tato e a disciplina que serão adquiridos, habilitarão vocês para outros campos de utilidade, onde poderão auxiliar as pessoas. Aqueles que insuficientemente aprendem sua lição e são descuidosos e ásperos ao se aproximarem das pessoas, haveriam de manifestar os mesmos defeitos nas maneiras, a mesma falta de tato e de habilidade, se entrassem no ministério. T5 399 2 Enquanto forem aceitas assinaturas para curto prazo, alguns não farão o esforço necessário para obter assinaturas para um prazo mais longo. Os colportores não devem passar pelo campo de modo descuidado e indiferente. Devem sentir que são obreiros de Deus, e o amor à salvação deve levá-los a fazer todo esforço para iluminar homens e mulheres com respeito à verdade. A providência e a graça, os meios e os fins, estão intimamente relacionados. Quando Seus obreiros fazem o melhor que podem, Deus faz por eles aquilo que, por si mesmos, não podem realizar; mas ninguém deve esperar ter êxito independentemente e por seus próprios esforços. Precisa haver atividade unida a uma firme confiança em Deus. T5 400 1 A economia é necessária em todo departamento da obra do Senhor. A natural inclinação da juventude nesta época é negligenciar e desprezar a economia, e confundi-la com a avareza e a mesquinhez. Mas a economia é coerente com os pontos de vista e sentimentos mais francos e liberais; não pode haver verdadeira generosidade onde ela não é praticada. Ninguém deve pensar que o rebaixa estudar economia e os melhores meios de tomar cuidado com as migalhas. Cristo disse, depois de operar um notável milagre: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. T5 400 2 Somas bastante grandes podem ser gastas em despesas de hotel, que não são absolutamente necessárias. A causa de Deus estava tão perto do coração dos pioneiros desta mensagem, que raras vezes tomavam uma refeição num hotel, não obstante custasse apenas vinte e cinco centavos cada uma. Mas os jovens em geral não são educados a economizar, e um desperdício se segue a outro em toda parte. Em algumas famílias existe um maléfico desperdício que seria suficiente para sustentar outra família, se fosse empregada razoável economia. Se, enquanto viajam, nossos jovens fizessem conta exata do dinheiro que gastam, item por item, seus olhos seriam abertos para verem os escoadouros. Conquanto possam não ser obrigados a privar-se das refeições quentes, como se deu com os primeiros obreiros em sua vida itinerante, eles podem aprender a suprir suas verdadeiras necessidades com menos despesa do que agora pensam ser necessário. Há pessoas que praticam a renúncia própria a fim de prover recursos à causa de Deus; portanto, que os obreiros na causa também pratiquem a renúncia, limitando suas despesas o máximo possível. Seria bom que todos os nossos obreiros estudassem a história dos missionários valdenses e imitassem seu exemplo de sacrifício e renúncia. T5 401 1 Temos uma importante obra a fazer pelo Mestre -- abrir a Palavra de Deus àqueles que estão nas trevas do erro. Jovens amigos, ajam como tendo um sagrado encargo. Devem ser estudantes da Bíblia, sempre preparados para dar "a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós". 1 Pedro 3:15. Por meio de sua verdadeira dignidade cristã, dêem evidência de que sabem que têm uma verdade que é do interesse do povo ouvir. Se essa verdade estiver inserida na alma, ela se manifestará no semblante e no comportamento, num calmo e nobre domínio próprio e numa paz, que só o cristão pode possuir. T5 401 2 Os que têm genuína humildade e cuja mente foi expandida pelas verdades reveladas no evangelho, terão uma influência que será sentida. Farão impressão sobre mentes e corações, e serão respeitados pela maioria, mesmo dos que não têm simpatia por sua fé. Com as verdades da Bíblia e nossas valiosas revistas eles terão êxito, porque o Senhor abrirá o caminho diante deles. Mas insistir com o povo, por meio de dádivas e prêmios, para que fiquem com nossas revistas, não tem uma influência permanente para o bem. Se nossos obreiros saíssem, confiando nas verdades da Bíblia, com amor a Cristo e às pessoas no coração, poderiam executar mais em conseguir assinantes permanentes do que dependendo de prêmios ou preços baixos. A preeminência dada a esses incentivos para adquirir a revista, dá a impressão de que ela não possui em si mesma mérito verdadeiro. Os resultados seriam melhores se a revista fosse exaltada, reservando-se o dinheiro gasto em prêmios, para distribuir gratuitamente alguns exemplares. Quando se oferecem prêmios, alguns, que de outro modo não o fariam, poderão ser levados a comprar a revista; mas outros recusarão assiná-la por julgarem isso uma especulação. Se o colportor apresentasse os méritos da própria revista, com o coração elevado a Deus em busca de êxito, e dependesse menos de prêmios, mais seria executado. T5 401 3 Nesta época o trivial é louvado e engrandecido. Há uma procura por qualquer coisa que crie sensação e vendas elevadas. O país está inundado de publicações completamente imprestáveis, escritas com o fim de ganhar dinheiro, ao passo que livros realmente valiosos não se vendem nem se lêem. Os que manuseiam essa literatura sensacionalista, porque assim fazendo podem ganhar mais, estão perdendo uma preciosa oportunidade de fazer o bem. Precisam ser travadas batalhas, a fim de chamar a atenção de homens e mulheres, e interessá-los em livros realmente valiosos, que têm a Bíblia por base, e será ainda maior tarefa encontrar conscienciosos obreiros tementes a Deus que desejem entrar no campo para colportar com esses livros com o propósito de difundir luz. T5 402 1 O obreiro que tem a causa de Deus no coração não insistirá em receber os maiores salários. Ele não alegará, como alguns de nossos jovens têm feito, que não conseguirá compradores, a menos que possa ostentar uma aparência elegante e de acordo com a moda, e se hospede nos melhores hotéis. O que o colportor precisa não é o traje irrepreensível, ou a aparência do almofadinha ou do excêntrico, mas aquela honestidade e integridade de caráter que se reflete no semblante. A bondade e a gentileza deixam sua impressão na face e a vista exercitada não vê nenhum engano, não descobre nenhuma maneira pomposa. T5 402 2 Grande número tem entrado no campo como colportores, para quem os prêmios são o único meio de êxito. Não têm verdadeiro mérito como obreiros. Não têm qualquer experiência na religião prática; têm as mesmas faltas, os mesmos gostos e condescendências que os caracterizavam antes de se dizerem cristãos. Deles, pode-se dizer que Deus não está em seus pensamentos; Ele não habita em seu coração. Há em seu caráter e comportamento uma pequenez, mundanismo e baixeza, que testificam contra eles, de que estão andando no caminho de seu próprio coração e seguindo a orientação de seus próprios olhos. Não querem praticar a renúncia, mas estão resolvidos a desfrutar a vida. O tesouro celestial não lhes apresenta atrações; todos os seus gostos apontam para baixo, não para cima. Os amigos e parentes não podem elevar tais pessoas, porque elas não têm disposição para desprezar o mal e escolher o bem. T5 403 1 Quanto menos confiarmos nessas pessoas, que não são poucas, melhor a obra da verdade presente parecerá diante dos olhos do mundo. Nossos irmãos devem mostrar discrição em escolher colportores, a menos que tenham resolvido ver a verdade mal compreendida e mal representada. Devem dar a todos os verdadeiros obreiros bons salários, mas a quantia não deve ser aumentada a ponto de comprar colportores, porque esse procedimento os prejudica. Vai torná-los egoístas e pródigos. É preciso fazê-los compenetrar-se do espírito da verdadeira obra missionária e da necessidade de adquirir as habilitações necessárias para assegurar o êxito. O amor de Jesus no coração levará o colportor a sentir ser um privilégio trabalhar para difundir a luz. Ele estudará, planejará e orará a respeito do assunto. T5 403 2 Necessitam-se jovens que sejam amadurecidos no entendimento, que apreciem as faculdades intelectuais que Deus lhes deu, e que as cultivem com o maior cuidado. O exercício amplia essas faculdades, e se a cultura do coração não é negligenciada, o caráter será bem equilibrado. Os meios de progresso estão ao alcance de todos. Ninguém desaponte o Mestre, quando Ele vier para buscar os frutos, apresentando-Lhe nada mais que folhas. Um propósito resoluto, santificado pela graça de Cristo, fará maravilhas. Jesus e os anjos darão êxito aos esforços de homens inteligentes e tementes a Deus, que façam tudo que está em seu poder para salvar as pessoas. Quietamente, modestamente, com o coração transbordante de amor, procurem eles gente que esteja buscando a verdade, empenhando-se em estudos bíblicos, quando podem. Assim fazendo, estarão semeando a semente da verdade ao lado de todas as águas, anunciando as virtudes dAquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Os que estão fazendo essa obra com motivos corretos, estão efetuando um importante trabalho de auxílio. Não manifestarão um caráter débil e indeciso. Seu espírito está-se alargando, suas maneiras estão-se tornando mais polidas. Não devem colocar limites a sua melhora, mas cada dia tornar-se melhor adaptados para fazer bom trabalho. T5 403 3 Muitos dos obreiros no campo da colportagem não estão fazendo o menor sacrifício. Como uma classe, têm menos do espírito missionário do que os obreiros de qualquer outra denominação. Quando o caminho está todo preparado para eles, quando podem conseguir os maiores lucros, então estão dispostos a entrar no campo. Muitas regalias são apresentadas aos colportores para negociarem com livros populares; grandes lucros lhes são oferecidos; e muitos recusam trabalhar por lucros menores para fazer circular livros que tratam da verdade presente. Por isso se têm aumentado as regalias para que correspondam com as que são oferecidas por outras editoras, e, como resultado, a despesa para colocar nossas publicações diante do povo é grande; muitos dos colportores obtêm seu dinheiro facilmente e gastam prodigamente. T5 404 1 Entre o povo que professa a verdade presente não existe um espírito missionário correspondente à nossa fé. Está faltando o diadema do puro ouro do caráter. A vida cristã é mais do que eles pensam ser. Ela não consiste em mera amabilidade, paciência, mansidão e bondade. Essas graças são essenciais, mas há também necessidade de coragem, força, energia e perseverança. Muitos que se alistam na obra da colportagem são fracos, desanimados, desalentados e facilmente desencorajados. Falta-lhes iniciativa. Não possuem aqueles positivos traços de caráter que dão ao homem a capacidade de realizar algo -- o espírito e a energia que despertam entusiasmo. O colportor está engajado num honroso serviço e não deveria agir como se tivesse vergonha dele. Se ele deseja que seus esforços sejam acompanhados de sucesso, precisa ter coragem e esperança. T5 404 2 Precisam eles cultivar virtudes ativas bem como as passivas. O cristão, enquanto sempre pronto a dar resposta mansa que desvia a ira, precisa possuir a coragem de um herói para resistir ao mal. Com aquela caridade que suporta todas as coisas, deve ele possuir a força de caráter que tornará sua influência um positivo poder para o bem. A fé precisa estar forjada em seu caráter. Seus princípios devem ser firmes; ele precisa ser nobre de espírito, acima de qualquer suspeita de mesquinhez. O colportor não pode ser vaidoso. À medida que se associa com os homens, não deve falar sobre sua própria distinção, nem de si mesmo de maneira jactanciosa, pois por seu comportamento ele pode desagradar pessoas inteligentes e sensíveis. Ele não pode ser egoísta em seus hábitos, nem arrogante e dominador em suas maneiras. Muitos estão convencidos de que não têm tempo para ler um dentre os milhares de livros que são publicados e postos à venda. E em muitos casos, quando o colportor torna conhecido seu trabalho, a porta do coração fecha-se firmemente; daí a grande necessidade de fazer seu trabalho com tato e num espírito de humildade e oração. Ele deve estar familiarizado com a Palavra de Deus e ter palavras a sua disposição para expor a preciosa verdade e mostrar o grande valor da leitura pura que carrega. T5 405 1 Bem pode cada um sentir uma responsabilidade individual nesta obra. Bem pode ele considerar como melhor prender a atenção; por sua maneira de apresentar a verdade, pode decidir o destino de um pecador. Se faz uma impressão favorável, sua influência pode ser para aquela pessoa um cheiro de vida para vida; e ela, iluminada com respeito à verdade, pode iluminar muitas outras. Por isso, é perigoso fazer trabalho descuidado em lidar com pessoas. T5 405 2 A obra da colportagem é o meio de Deus para alcançar muitos que, de outro modo, não seriam comovidos pela verdade. A obra é boa, o objetivo sublime e enobrecedor, e deve haver uma correspondente dignidade de comportamento. O colportor encontrará homens de várias opiniões. Encontrará os que são ignorantes e corruptos e que não podem apreciar senão o que lhes traga dinheiro. Esses serão abusivos; mas não lhes deve dar atenção. Sua boa natureza nunca deve falhar; ele deve tirar de toda perplexidade um ponto de vista alegre e esperançoso. Encontrará os que estão em privação, desanimados e de espírito ferido. Terá muitas oportunidades de falar a estes palavras bondosas e palavras de ânimo, esperança e fé. Ele pode ser uma fonte para refrigerar outros, se o quiser; mas, para fazer isto, ele mesmo precisa sorver da fonte da verdade viva. T5 405 3 A obra da colportagem é mais importante do que muitos a têm considerado, e tanto cuidado e sabedoria devem ser usados em escolher obreiros para ela como em escolher homens para o ministério. Jovens podem ser preparados para fazer melhor trabalho do que tem sido feito e com muito menos remuneração do que muitos têm recebido. Elevem a norma; e que os que são desprendidos e abnegados, que amam a Deus e a humanidade, se unam ao exército de obreiros. Que venham, não esperando facilidades, mas para serem valorosos e de bom ânimo sob objeções e contratempos. Venham os que podem dar um bom testemunho de nossas publicações, por que eles mesmos apreciam seu valor. T5 406 1 Possa o Senhor ajudar cada um a desenvolver ao máximo os talentos confiados a seu cuidado. Os que trabalham nesta causa não estudam a Bíblia como deveriam. Se o fizessem, seus ensinos práticos teriam uma influência positiva sobre sua vida. Qualquer que seja seu trabalho, prezados irmãos e irmãs, façam-no como para o Mestre e o melhor que puderem. Não passem por alto as áureas oportunidades presentes, deixando que sua vida se demonstre um fracasso, enquanto se sentam preguiçosamente sonhando com comodidade e êxito num trabalho para o qual Deus nunca os capacitou. Façam o trabalho que lhes está mais próximo. Façam-no, ainda que esteja entre perigos e aflições no campo missionário; mas não se queixem, eu lhes peço, das dificuldades e sacrifícios. Olhem para os valdenses. Vejam que planos delinearam para que a luz do evangelho pudesse brilhar em mentes entenebrecidas. Não devemos trabalhar com a esperança de receber nossa recompensa nesta vida, mas com nossos olhos firmemente fitos no prêmio que será dado ao fim da carreira. Agora são precisos homens e mulheres que sejam tão fiéis ao dever como a bússola ao pólo -- homens e mulheres que trabalhem sem ter o caminho nivelado e removido todo o obstáculo. T5 406 2 Tenho descrito o que os colportores devem ser; e possa o Senhor abrir-lhes a mente para compreenderem esse assunto em sua extensão e largura, e possam eles reconhecer o dever de representar o caráter de Cristo por meio de sua paciência, ânimo e firme integridade. Lembrem-se de que O podem negar por um caráter fraco, relaxado e indeciso. Jovens, se levarem esses princípios consigo ao campo da colportagem, serão respeitados e muitos crerão na verdade que vocês advogam, porque vivem sua fé -- porque sua vida diária é como uma resplendente luz colocada sobre um velador, a qual ilumina a todos os que estão na casa. T5 407 1 Mesmo seus inimigos, conquanto façam guerra contra suas doutrinas, respeitarão vocês; e quando tiverem ganho o respeito, suas simples palavras terão poder e levarão a convicção a corações. ------------------------Capítulo 47 -- A obra de publicações T5 407 2 Há e sempre haverá muitas perplexidades ligadas ao escritório de publicações de Battle Creek. As instituições estabelecidas são instrumentos divinos para realizar Sua obra na Terra. Por essa razão Satanás firmou posição, exercitando toda a sua engenhosidade para estorvar e impedir. Ele vem com suas tentações a homens e mulheres ligados a essas instituições, quer em posições de responsabilidade ou fazendo o serviço mais humilde, e, se possível, tenta enganá-los com seus estratagemas a fim de romperem sua ligação com Deus, tornando-se confusos em seus pensamentos e incapazes de discernir entre o certo e o errado. Ele sabe que virá certamente o tempo em que o espírito que lhes tem controlado a vida será manifesto, e está feliz de ter a existência dessas pessoas testificando contra elas, de que não são coobreiros de Cristo. T5 407 3 Muitos que chegaram à idade e estatura adultas são deficientes nos elementos que constituem um caráter nobre e maduro. Deus não os vê como homens. Eles não são confiáveis. Alguns desses estão vinculados a nossas instituições. Têm influência, mas essa é de caráter pernicioso, pois raramente se acham ao lado do direito. Conquanto professem piedade, seu exemplo tende continuamente a animar a injustiça. O ceticismo está entretecido com seus pensamentos e manifesto em suas palavras; suas energias são usadas na perversão da integridade, da verdade e da justiça. Sua mente é controlada por Satanás e ele opera através deles para corromper e produzir confusão. Quanto mais agradáveis e atraentes suas maneiras, quanto mais dotados de esplêndidos talentos, mais efetivos agentes são nas mãos do inimigo de toda justiça, com a finalidade de desvirtuar a todos os que se acham sob sua influência. Será uma tarefa difícil e ingrata evitar que esses se tornem um poder dirigente e levem a cabo seus propósitos de instigar a desordem e princípios frouxos. T5 408 1 A juventude exposta à sua influência nunca estará segura, a menos que aqueles que cuidam dos jovens exerçam grande vigilância e possuam princípios justos firmemente estabelecidos. É um lamentável fato que, nessa idade, muitos jovens se entregam de boa vontade à influência de Satanás, mas resistem ao Espírito de Deus. Em muitos casos, hábitos errôneos se tornaram tão solidamente estabelecidos, que os maiores esforços por parte dos líderes não conseguem moldar seu caráter no justo sentido. T5 408 2 Aqueles que estão em posições de confiança na casa publicadora têm pesadas responsabilidades a assumir, e não estarão preparados para esses postos a menos que, dia após dia, obtenham uma segura e profunda experiência cristã. Os interesses eternos deveriam ter consideração prioritária, e bem-vinda cada influência que contribua para a vida espiritual. Homens ligados a Sua causa e sobre quem o Senhor depôs o encargo dos assuntos comerciais, deveriam ser espiritualmente vigilantes. Não deveriam negligenciar a assistência aos cultos, nem considerar ser uma sobrecarga falar constantemente uns com os outros de sua vida e experiência religiosa. Deus ouvirá seus testemunhos e eles serão registrados em Seu livro memorial. Ele favorecerá seus fiéis e os poupará assim como um homem poupa seu filho que o serve. T5 408 3 Os que estão à testa da obra de publicações deveriam lembrar-se de que são exemplo para muitos, e que lhes importa ser fiéis na adoração pública a Deus, exatamente como gostariam que cada obreiro fosse nos departamentos do Escritório. Se forem vistos nas igrejas apenas ocasionalmente, outros se sentirão dispensados por conta de sua negligência. Esses profissionais podem, em qualquer tempo, falar fluente e sabiamente sobre negócios, mostrando que não empregam suas energias em vão nessa área. Eles têm posto tato, habilidade e conhecimento em seu trabalho, mas quão importante é que seu coração, mente e energias também sejam adestrados para o fiel serviço na causa e no culto de Deus. Que sejam capazes de chamar a atenção para o meio de salvação mediante Cristo, em linguagem eloqüente e simples. Estão sob obrigação de ser homens de fervente oração e firme confiança em Deus; homens que, como Abraão, ordenem sua casa, e manifestem especial interesse no bem-estar espiritual de todos os que estão ligados ao escritório de publicações. T5 409 1 Aqueles que fazem de Cristo o primeiro em tudo, são confiáveis. Esses não serão auto-suficientes nem submergirão seus interesses religiosos nos negócios. Tem Deus encarregado os homens de sagradas responsabilidades? Então Ele gostaria que sentissem sua própria fraqueza e dependência dEle. Não é seguro aos homens dependerem de seu próprio entendimento; portanto, deveriam buscar diariamente forças e sabedoria do alto. Deus deveria fazer parte de todos os seus pensamentos; então todos os ardis e sutilezas da antiga serpente não poderão induzi-los à pecaminosa negligência do dever. Eles enfrentarão o adversário com a mesma simples arma que Cristo usou: "Está escrito!" ou o expulsarão com: "Para trás de Mim, Satanás." T5 409 2 Na advertência "vigiai e orai", Jesus indicou o único procedimento seguro. Há necessidade de vigilância. Nosso próprio coração é enganoso; estamos rodeados das fraquezas e imperfeições da humanidade, e Satanás está atento para destruir. Podemos estar desprevenidos, mas o nosso adversário jamais estará ocioso. Conhecendo a sua incansável vigilância, "não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios". 1 Tessalonicenses 5:6. O espírito e a influência do mundo precisam ser enfrentados, mas não devem ter permissão para apoderar-se da mente e do coração. T5 409 3 Um ocupado homem de negócios, quando posto em contato com o mundo, terá aflições, perplexidade e ansioso cuidado. Ele descobrirá que existe a tendência de permitir que pensamentos e planos mundanos assumam a dianteira, e que exigirá esforços e disciplina de mente e alma manter um espírito de devoção. Mas a graça divina espera ser pedida, e sua grande necessidade é um poderoso argumento que prevalecerá com Deus. Para homens assim Jesus tem provisões especiais. Ele os convida: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Aqueles que mantêm companheirismo com Cristo, possuem descanso e paz constantes. Então, por que andarmos solitários, desdenhando Sua companhia? Por que não tomar conselho com Ele em tudo? Por que não irmos a Ele em todas as nossas perplexidades e provar o poder de Suas promessas? T5 410 1 O Espírito Santo ilumina nossas trevas, supre nossa ignorância, nos assiste e ajuda em todas as nossas necessidades. A mente, porém, precisa estar sempre buscando a Deus. Se são permitidos indiferença e mundanismo, não teremos condições de orar fervorosamente, nem coragem para entrar em contato com Aquele que é a fonte de poder e sabedoria. Então, orem sempre, caros irmãos e irmãs, "levantando mãos santas, sem ira nem contenda". 1 Timóteo 2:8. Insistam em suas petições junto ao trono da graça e contem com Deus hora a hora, momento a momento. O serviço de Cristo regulará o relacionamento com todos os seus semelhantes, e tornará sua vida rica em boas obras. T5 410 2 Ninguém imagine que o egoísmo, a presunção e a complacência consigo mesmo são compatíveis com o Espírito de Cristo. Repousa sobre todo homem e mulher verdadeiramente convertidos uma responsabilidade que não podemos devidamente estimar. As práticas e os modos do mundo não devem ser adotados pelos filhos e filhas do celeste Rei. "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:2, 3. O mundo, porém, não nos conhece, porque não conhece a Cristo, nosso Mestre. T5 410 3 É necessário ter, nos escritórios da Review, administradores comerciais que representem corretamente a Jesus e o plano da salvação. Deus Se desagrada quando eles usam suas habilidades em empreendimentos mundanos ou mesmo em negócios referentes à obra de publicações, e nada fazem para o fortalecimento de Sua igreja, para a edificação de Seu reino. Trabalhar para Deus e pela salvação das pessoas é a mais alta e nobre vocação que o homem já teve ou pode ter. Lucros e perdas nesse negócio são de grande importância, pois os resultados não terminam com esta vida, mas alcançam a eternidade. T5 411 1 Irmãos, em qualquer negócio que vocês se empenharem, em qualquer departamento da obra que lhes for atribuído, levem a religião consigo. Deus e o Céu não deveriam ser deixados de lado na vida e no trabalho. Os obreiros dessa causa deveriam guardar-se continuamente de ser homens de objetivo parcial, permitindo que apenas o elemento secular transpareça de seu caráter. Houve, no passado, certas falhas por parte de homens ligados ao escritório de publicações. Eles não eram homens espirituais e sua influência não tendeu a conduzir à Canaã celestial, mas de volta ao Egito. T5 411 2 O irmão P foi abençoado com habilidades que, se consagradas a Deus, o habilitariam a fazer grande bem. Ele possui mente ágil. Conhece a teoria da verdade e os reclamos da lei de Deus, mas não aprendeu na escola de Cristo a mansidão e a humildade que poderiam torná-lo um homem apto a estar em um cargo de confiança. Ele foi pesado nas balanças do santuário e achado em falta. O irmão P recebeu grande luz em advertências e reprovações, mas não lhes deu ouvidos e nem mesmo viu necessidade de mudança em seu curso de ação. Seu exemplo perante os que trabalham no escritório não foi coerente com sua profissão. Ele não demonstrou firme propósito e revelou-se alguém infantil. Sua influência tem sido de molde a desviar as pessoas de Cristo e levá-las à conformidade com o mundo. T5 411 3 A cruz de Cristo foi apresentada ao irmão P, mas ele lhe voltou as costas, pois ela envolve humilhação e opróbrio, antes que honra e louvor do mundo. Muitas vezes Jesus chamou: "Tome sua cruz e siga-Me e assim será Meu discípulo." Marcos 8:34. Mas outras vozes chamaram na direção do orgulho mundano e da ambição, e o irmão P as ouviu porque seu apelo era mais agradável ao coração natural. Ele afastou-se de Jesus, divorciou-se de Deus e abraçou o mundo. Foi chamado para representar a Cristo e para ser uma brilhante luz no mundo, mas traiu seu sagrado legado. O mundo se interpôs entre sua alma e Jesus, e ele conseguiu uma experiência secular, quando deveria ter obtido uma de caráter inteiramente oposto. Ele tem sido decididamente mundano em seus gostos e opiniões e, conseqüentemente, tornou-se incapaz de compreender as coisas espirituais. T5 412 1 O sucesso do irmão P no ministério e também seu cargo de confiança no escritório, dependia do caráter que possuísse. Esforços cuidadosos e diligentes foram necessários para que, em seu comportamento diante dos coobreiros, nenhum mau exemplo pudesse ser incluído. O plano que ele deveria ter adotado, o curso de ação que deveria ter seguido, estava claramente demarcado na Palavra de Deus. Houvesse dado ouvidos a essa Palavra, e luz incidiria sobre seu caminho, guiando seus inexperientes pés no caminho certo. Os testemunhos do Espírito de Deus foram-lhe enviados vez após vez, mostrando-lhe em que pontos estava divergindo da elevada rota traçada para os resgatados do Senhor, advertindo-o e rogando-lhe que mudasse sua conduta. Mas seus meandros pareciam retos aos olhos e ele seguiu a própria inclinação, não fazendo caso da luz que lhe fora dada. Ele não foi um sábio supervisor, um homem prudente no escritório, nem tampouco um pastor digno de confiança, pois desviava as ovelhas. Pronunciava excelentes sermões, mas fora do púlpito não vivia os princípios que pregava. Suas palavras eram uma ofensa a Deus. T5 412 2 A união do irmão P com o mundo provou-se uma armadilha a si mesmo e a outros. Oh, quantos tropeços há em vidas como a sua! Dão a impressão de que quando dão os primeiros passos na conversão -- arrependimento, fé e batismo -- isso é tudo o que delas se requer. Mas esse é um erro fatal. A difícil luta pela conquista de si mesmo, pela santidade e o Céu, é uma guerra da vida inteira. Não há trégua nessa batalha; os esforços precisam ser contínuos e perseverantes. A integridade cristã precisa ser buscada com irresistível energia e mantida com resoluta firmeza de propósito. T5 413 1 Uma genuína experiência religiosa se expande e se firma. Progresso contínuo, crescente conhecimento e poder na Palavra de Deus são o resultado natural do relacionamento com o Senhor. A luz do santo amor se tornará mais e mais brilhante até ser dia perfeito. Foi privilégio do irmão P ter uma experiência como essa, mas ele não possuía o óleo da graça em seu vaso e lâmpada, e sua luz se ofuscou. Se ele não fizer uma decidida mudança rapidamente, não haverá mais advertências ou súplicas que o alcancem. Sua luz se extinguirá em trevas e ele será abandonado ao desespero. A importância da economia T5 413 2 O irmão R tem admirável habilidade comercial para alguns ramos da obra, que o capacitariam a servir com sucesso no escritório de publicações, mas ele não se educou e se disciplinou para ser um gerente eficiente e completo. Sob sua direção, tem havido graves negligências, um estado de coisas desorganizado, desordenado, que deveria ser prontamente corrigido. Há muitos pequenos assuntos relacionados à obra que não receberam atenção e, como conseqüência, há rombos. São tolerados perdas e desperdícios que poderiam ter sido evitados. T5 413 3 Estive no escritório e foi-me mostrado como os anjos de Deus observam a obra feita em suas várias salas. Em algumas as condições são melhores do que em outras, mas em todas há erros que podem ser corrigidos. Vê-se em muitos departamentos prejuízos e prejuízos. O modo irresponsável com que muitos trabalham resulta em prejuízo para o escritório e é uma ofensa a Deus. É triste que isso tenha de ser assim. Jesus nos deu lições acerca de economia. Disse Ele: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Teria sido melhor não se ocupar com grandes empreendimentos, se por isso muitos assuntos menores precisem ser deixados sem atenção, pois as pequenas coisas são como pequenos parafusos que mantêm a máquina funcionando, evitando que se desmonte em peças. A Palavra de Deus expõe o dever, ela fornece a regra do fiel serviço: "Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito." Lucas 16:10. T5 414 1 Foi-me mostrado que, além do pessoal existente presentemente no escritório, deveriam ser empregados homens competentes para ajudar na administração dos diferentes departamentos da obra, homens que sejam experientes em negócios e sábios administradores. Teria sido melhor, anos atrás, haver empregado homens que seriam administradores mais competentes -- homens que teriam implantado eficácia, presteza e economia -- mesmo que fosse necessário dobrar os salários pagos aos encarregados. O irmão R é deficiente nesse ponto; ele não possui um modo adequado de corrigir males. Ele pretende fazer isso, mas muitas coisas são completamente postas de lado, as quais deveriam ser reformadas de uma vez. O escritório tem falta de um economista responsável, um perfeito homem de negócios. Tem sido gasto o triplo do que seria requerido para pagar pelos melhores talentos e experiências nessa obra. T5 414 2 Muito se perde pela falta de pessoas competentes, eficientes, aptas e práticas, para supervisionar os diferentes departamentos da obra. É necessário ter um impressor experiente e que esteja familiarizado com cada parte desse trabalho. Há alguns que entendem de impressão, mas são completamente falhos em comandar. Outros fazem o melhor que podem, mas são ainda inexperientes e não entendem a obra de publicações. Suas idéias são em geral estreitas. Não sabem como enfrentar as demandas da causa e, como conseqüência, são incapazes de avaliar as vantagens e desvantagens de ampliar seu trabalho. São também sujeitos a fazer avaliações incorretas, cálculos errados e estimativas falhas. Têm havido prejuízos por causa de falhas em fazer cômputos apropriados e otimizar as oportunidades de impulsionar a obra de publicações. Numa instituição como essa, milhares de dólares podem ser perdidos por causa de cálculos feitos por pessoas incompetentes. O irmão P possuía capacidade em algumas áreas, para compreender e avaliar adequadamente os interesses da obra de publicações, mas sua influência foi danosa ao escritório. T5 415 1 Deveria haver alguém que percebesse que os jovens, quando entram no escritório para aprender comércio, tenham atenção apropriada e imediata. Seria bom que houvesse para esse trabalho um homem que fosse apto a ensinar, paciente, bondoso e perspicaz. Se um só não for suficiente para essa função, que se empreguem outros. Se isso for feito fielmente, economizará para a instituição o salário de três homens. Esses jovens estão formando hábitos que afetarão toda a sua experiência. Eles estão, por assim dizer, numa escola e se forem deixados a obter conhecimento da melhor forma que possam, acentuados defeitos serão percebidos em seu trabalho futuro. A base da perfeição, honestidade e integridade precisa ser posta na juventude. A formação de hábitos corretos na juventude é da máxima importância. Se em lugar de serem educados a obedecer normas e regulamentos e atenderem à pontualidade, meticulosidade, esmero, ordem e economia, forem deixados a formar disposições frouxas e indulgentes, estarão sujeitos a reter esses maus hábitos por toda a vida. Eles podem ter talentos para fazer sucesso em seus negócios, e devem ser ensinados sobre a importância de fazer uso correto de suas energias e aptidões. Também deveriam ser treinados a ser econômicos, e recolher todos os pedaços para que nada se perca. T5 415 2 Homens em posição de responsabilidade precisariam ocupar-se com não mais do que podem fazer com perfeição e pontualidade, pois se devem ter alguém sob seu cuidado para formar hábitos corretos, precisam dar um exemplo adequado. Grande responsabilidade repousa sobre os dirigentes como modelos de caráter, mediante princípios e modo de trabalhar que estão transmitindo à juventude. Deveriam eles considerar que, pela instrução que estão dando com relação ao trabalho e à educação religiosa, estão ajudando os jovens a formarem seu caráter. Progredir é a palavra de ordem. A juventude deveria ser ensinada a mirar a perfeição em qualquer ramo de trabalho que empreenda. Se há chefes de departamentos que não são cuidadosos, econômicos, diligentes no uso de seu tempo e cautelosos em sua influência, irão moldar outros no mesmo formato. Se, mesmo após terem sido aconselhados, não mudam sua conduta, deveriam ser removidos e outros mais competentes ocupar seu lugar, mesmo que seja necessário fazer várias tentativas. Os obreiros deveriam ser muito mais eficientes e fiéis do que têm sido. T5 416 1 As primeiras impressões, as primeiras instruções desse jovens obreiros deveriam ser da mais alta ordem, pois seus caracteres estão sendo modelados para o tempo e a eternidade. Que seus encarregados se lembrem de que têm uma grande e solene responsabilidade. Que modelem a argila maleável antes que endureça e se torne resistente a impressões. Que enverguem a árvore nova, antes que ela se torne um nodoso e rijo carvalho; que dirijam o curso do arroio antes que se torne um caudaloso rio. Se os jovens forem deixados a escolher seu próprio sistema de vida e companhias, uns optarão por aqueles que são bons, e outros escolherão más companhias. Se o elemento religioso não for mesclado ao seu treinamento, eles se tornarão alvos fáceis da tentação, e seu caráter estará sujeito a tornar-se deformado e unilateral. Que os jovens que mostram respeito pelas coisas sagradas aprendam essas lições sob o teto doméstico, antes que o mundo coloque sobre a alma sua marca -- a imagem do pecado, do engano e desonestidade. O amor a Deus é aprendido no altar da família, ensinado pelo pai e pela mãe na infância. T5 416 2 A falta de influência espiritual é tristemente sentida no escritório. Deveria haver maior devoção, mais espiritualidade, mais religião prática. A obra missionária ali realizada por homens e mulheres tementes a Deus seria seguida por muito melhores resultados. A conduta do irmão R não agrada a Deus. Alguém em sua posição deveria ser um homem consagrado; ele deveria ser um dos primeiros em assuntos religiosos. Sua única segurança está em manter viva comunhão com Deus e sentir sua dependência dEle. Sem isso, ele não fará jus ao seu cargo, nem exercerá uma conveniente influência no escritório e sobre aqueles com quem entra em contato a negócios. T5 416 3 Vi também que precisaria haver uma estrita investigação sobre o comportamento no escritório, tanto no que tange a irmãos como a descrentes. Bondade, pureza, verdade e paz são frutos que deveriam ser observados ali. Motivos e ações têm de ser muito bem examinados e comparados com a lei de Deus, pois ela é a única e infalível regra pela qual a conduta deve ser regulada, o único e confiável código de honra entre homem e homem. A unidade da obra T5 417 1 O Senhor gostaria que houvesse união entre aqueles que administram a obra nas diferentes partes do campo. Aqueles que dirigem Sua obra na costa do Pacífico e os que estão engajados nela a leste das Montanhas Rochosas deveriam ser de uma mesma mente e parecer -- um em coração, planos e ação. Deus não deseja que os que se encontram no escritório pensem ser virtude diferir de seus irmãos de outras casas publicadoras. É preciso que haja troca de idéias, intercâmbio de planos e experiências e, se algum melhoramento for sugerido em qualquer dos escritórios, que os administradores considerem as propostas e adotem tais planos e métodos aprimorados. Em ambas as casas publicadoras há grandes melhoramentos a serem implantados e os administradores têm muito a aprender. A lição que fará mais decidida e apropriada marca no avanço da obra é que haverá menos inclinação à sua própria compreensão e mais aprendizado da mansidão e humildade de Cristo. Que aqueles que trabalham nos escritórios não sejam egoístas, de modo tão diverso de Cristo, retendo seus planos pela satisfação própria de serem independentes, a despeito das conseqüências. T5 417 2 Os que estão vinculados a nosso escritório de publicações em Battle Creek, não são o que deveriam nem o que poderiam ser. Eles pensam que seus gostos, hábitos e opiniões são corretos. Estão em constante perigo de se tornarem limitados em suas idéias, ciumentos da Pacific Press e de adotarem atitudes críticas e sentimentos de superioridade. Permite-se que esse sentimento cresça, obstrua e arruíne seus interesses e também os da obra na costa do Pacífico, tudo porque sentimentos egoístas assumem o comando e impedem um claro discernimento, que seria para seu próprio bem e para o progresso e edificação da causa de Deus. Esse sentimento separatista é contrário ao espírito de Cristo. Deus não o aprova. Ele gostaria que cada partícula dele fosse vencida. A causa é una; a vinha é um grande campo, com os servos de Deus empenhados em suas várias partes. Não deve haver senão um único alvo em mente, que é trabalhar desinteressadamente para advertir o descuidoso e salvar o perdido. T5 418 1 Os homens ligados à obra de Deus no escritório, no sanatório e no colégio, somente podem ser tidos como de confiança à medida que assimilam o caráter de Cristo. Mas muitos herdaram traços de caráter que de modo algum representam o divino Modelo. Há não poucos que têm defeitos de caráter recebidos como legado hereditário, os quais não foram vencidos mas acalentados como se fossem fino ouro e trazidos consigo em sua experiência religiosa. Em muitos casos esses traços são conservados através de toda a vida. Por algum tempo, nenhum dano especial pode ser visto como deles resultante, mas o fermento está operando e quando se oferece uma oportunidade favorável, o mal se manifesta. T5 418 2 Alguns desses homens que têm acentuadas deformidades de caráter sustentam opiniões enérgicas e decididas, e mostram-se inflexíveis quando seria cristão submeter-se a outros, cujo amor pela causa da verdade é tão profundo como o seu próprio. Esses precisam cultivar traços diferentes de caráter e aprender a estimar os outros mais do que a si mesmos. Quando estão envolvidos com um importante empreendimento onde grandes planos precisam ser realizados, deveriam ser cuidadosos para que suas idéias peculiares e certos traços de caráter não tenham influência desfavorável em seu desenvolvimento. O Senhor viu o perigo que resultaria de a cabeça e os pontos de vista de um homem controlarem as decisões e executarem os planos, e em Sua inspirada Palavra ordenou que estivéssemos sujeitos uns aos outros e estimássemos os semelhantes mais do que nós mesmos. Quando são feitos planos que digam respeito à causa de Deus, esses deveriam ser trazidos perante uma comissão composta de escolhidos homens de experiência, pois a harmonia de esforços é essencial em todos esses empreendimentos. T5 418 3 Homens de temperamentos diversos e caracteres imperfeitos podem descobrir faltas nos outros, mas não reconhecem as próprias. Se deixados a levar avante seus próprios planos sem consulta a outros, cometerão graves erros. Suas idéias precisam tornar-se mais amplas. A natureza humana abriga egoísmo e ambição, os quais prejudicam a obra de Deus. O interesse próprio precisa ser perdido de vista. Não deveria haver qualquer desígnio em mira, nenhuma posição distante dos obreiros de Deus, falando e escrevendo de maneira intolerante, que não deva ser crítica e piedosamente investigada e humildemente trazida perante o concílio. T5 419 1 O mundo do futuro está às portas, com suas inalteráveis e solenes questões -- muito próximo, realmente muito próximo, e há tão grande obra a ser feita, tantas importantes decisões a serem tomadas. Contudo, em seus concílios as opiniões preconcebidas, as idéias e planos egoístas, os maus traços de caráter recebidos por herança, são trazidos e permitidos exercer sua influência. Vocês deveriam sempre ter consciência de que é pecado agir por impulso. Os irmãos não deveriam abusar do poder, usando-o para atingir os próprios objetivos, a despeito das conseqüências sobre outros, por estarem numa posição que torna isso possível; mas usem a autoridade que lhes foi confiada como um sagrado e solene legado, lembrando-se de que são servos do Deus Altíssimo, e devem enfrentar no Juízo cada decisão que tomam. Caso seus atos sejam altruístas e visando à glória de Deus, eles suportarão o teste final. A ambição é mortal ao desenvolvimento do espírito, a indolência é criminosa, o temperamento é instável, mas a vida onde cada justo princípio é respeitado será bem-sucedida. T5 419 2 Muitos de seus concílios não trazem o selo celestial. Vocês não os assistem como homens que têm estado em comunicação com Deus e que Lhe possuem a mente e piedosa compaixão, mas como quem tem o firme propósito de fazer prevalecer os próprios planos e para assentar as questões de acordo com os propósitos pessoais. Em cada departamento da obra é essencial que se possua o espírito e a mente de Cristo. Vocês são obreiros de Deus e precisam possuir cortesia e graça, pois do contrário não podem representar a Jesus. T5 419 3 Todos os que estão empregados em nossas instituições deveriam entender que poderão ser uma bênção ou uma maldição. Se quiserem ser uma bênção, precisam renovar seu vigor espiritual diariamente, precisam ser participantes da natureza divina, tendo escapado da corrupção que pela concupiscência há no mundo. T5 420 1 Em meio aos afazeres da vida ativa, às vezes é difícil discernirmos nossos próprios motivos, mas diariamente ocorrem progressos, ou para bem ou para mal. Surgirão para procurar controlar nossas ações, preferências ou aversões; sentimentos buscarão nublar nossa visão. Tem-me sido mostrado que Jesus nos ama, mas está preocupado em ver tamanha falta de sábio discernimento, de adaptabilidade ao trabalho e de sabedoria para alcançar corações e penetrar os sentimentos alheios. Conquanto estejamos procurando guardar-nos do constante perigo de formar uma aliança com os inimigos de Cristo e de ser por eles corrompidos, devemos proteger-nos de nós mesmos, contra manifestarmos indiferença para com aqueles a quem o Senhor reclama como Seus. Diz Ele: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. Se com amorável e fervente propósito procurarmos aproveitar cada oportunidade de ajudar aqueles cujos pés têm tropeçado e caído, não teremos vivido em vão. Nossas maneiras não devem ser ásperas, dominadoras, ditatoriais, mas fragrantes da graça de Cristo. T5 420 2 Nosso Pai celestial exige de Seus servos de acordo com aquilo que lhes confiou, e Seus reclamos são razoáveis e justos. Ele não aceitará menos de nós do que exige. Todas as Suas justas exigências precisam ser plenamente atendidas, ou testificarão contra nós de que fomos pesados na balança e achados em falta. Mas Jesus observa nossos esforços com o mais profundo interesse. Ele sabe que os homens com todas as deficiências de sua humanidade estão fazendo Seu trabalho. Observa suas falhas e abatimentos com mui terna piedade. Mas essas deficiências e imperfeições podem tornar-se muito menores do que são. Se estivermos em harmonia com o Céu, anjos ministradores trabalharão conosco e coroarão de sucesso nossos esforços. T5 420 3 Este é o grande dia da preparação, e a solene obra que tem lugar no santuário celestial deveria estar constantemente na mente dos que estão empregados em nossas várias instituições. Não se deveria permitir que os cuidados comerciais absorvessem de tal modo a mente, que a obra no Céu, a qual diz respeito a cada indivíduo, seja vista com despreocupação. As solenes cenas do Juízo, o grande dia da expiação, deveriam ser mantidas constantemente diante do povo, e mostradas à sua consciência com fervor e poder. O assunto do santuário nos dará corretos pontos de vista sobre a importância da obra para este tempo. Uma apreciação adequada desse tema levará os obreiros das casas publicadoras a manifestarem maior energia e zelo em tornar a obra um sucesso. Ninguém deve tornar-se descuidoso e cego às necessidades da causa e aos perigos que ameaçam cada pessoa, mas procurar ser um canal de luz. T5 421 1 Em todas as nossas instituições há muito do eu e pouco de Cristo. Todos os olhos deveriam voltar-se para nosso Redentor, todos os caracteres deveriam ser como os Seus. Ele é o Modelo a ser imitado se quisermos ter mente bem equilibrada e caráter simétrico. Sua vida era como o jardim do Senhor, no qual crescia toda árvore agradável à vista e boa para alimento. Conquanto possuindo em Sua alma todo formoso traço de caráter, Sua sensibilidade, cortesia e amor uniam-nO em íntima simpatia com a humanidade. Ele foi o Criador de todas as coisas, e sustenta os mundos com Seu infinito poder. Os anjos estavam prontos a render-Lhe homenagem e obedecer-Lhe a vontade. Contudo, Ele podia ouvir o balbucio do neném e aceitar seu murmurante louvor. Ele tomava as criancinhas em Seus braços e estreitava-as junto a Seu grande coração amorável. Elas se sentiam perfeitamente à vontade em Sua presença e relutavam em deixar-Lhe os braços. Ele não considerava os desapontamentos e infortúnios do homem como coisas insignificantes, mas Seu coração sempre foi tocado pelos sofrimentos daqueles a quem viera salvar. T5 421 2 O mundo havia perdido o padrão original de bondade e se afundara em universal apostasia e corrupção moral; e a vida de Jesus foi de laborioso e abnegado esforço para trazer de volta o homem ao seu primeiro estado mediante o infundir-lhe o espírito de divina bondade e amor. Conquanto estivesse no mundo, Ele não era do mundo. Era-Lhe sempre doloroso ser posto em contato com a inimizade, a depravação e impureza que Satanás havia suscitado; mas Ele tinha um trabalho a fazer -- pôr o homem em harmonia com o plano divino, e a Terra em conexão com o Céu -- e não considerava nenhum sacrifício demasiado grande para alcançar o Seu objetivo. Ele "como nós, em tudo foi tentado." Hebreus 4:15. Satanás estava a postos para assaltá-Lo a cada passo, arremessando contra Ele Suas mais cruéis tentações; contudo Ele "não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano". 1 Pedro 2:22. Ele "sofreu, tendo sido tentado" (Hebreus 2:18)... sofreu na proporção da perfeição de Sua santidade. Mas o príncipe das trevas nada achou nEle, nem um simples pensamento ou sentimento de resposta à tentação. T5 422 1 Sua doutrina derramava-se como chuva; Suas palavras destilavam-se como o orvalho. Mesclavam-se no caráter de Cristo tal majestade divina como nunca dantes mostrada ao ser humano, e indescritível mansidão como nunca dantes desenvolvida pelo homem. Nunca havia andado entre os homens alguém tão nobre, tão puro, tão inocente, tão bondoso, tão consciente de Sua divina natureza, todavia tão simples, tão pleno de propósitos e planos para fazer o bem em favor da humanidade. Conquanto aborrecendo o pecado, chorava compassivamente pelo pecador. A Majestade do Céu revestiu-Se da humildade de uma criança. Esse é o caráter de Cristo. Estamos nós andando em Suas pegadas? Ó, meu Salvador, quão pobremente é o Senhor representado por Seus professos seguidores! ------------------------Capítulo 48 -- Negócio e religião T5 422 2 As pessoas que estiverem empregadas em nossas diferentes instituições -- casas publicadoras, colégios, hospitais -- devem manter viva comunhão com Deus. Especialmente é muito importante que os que estão à frente desses ramos da obra sejam homens que ponham acima de tudo o reino de Deus e a Sua justiça. Não serão aptos para esses cargos de responsabilidade os que não tomarem conselho com Deus, dando frutos para Sua glória. Devem adotar uma conduta que honre ao seu Criador, enobreça-os e seja uma bênção aos semelhantes. Todos temos traços naturais que cumpre cultivar ou reprimir, segundo se provarem um auxílio ou obstáculo em conseguir o crescimento na graça e uma profunda experiência religiosa. T5 423 1 Os que estão empenhados na obra de Deus não poderão servir em Sua causa de modo aceitável, a menos que façam o melhor uso dos privilégios religiosos de que desfrutam. Somos como árvores plantadas no jardim do Senhor; e Ele vem buscar em nós os frutos que tem direito de esperar. Seus olhos pousam sobre cada um, lêem nosso coração e conhecem nossos caminhos. É esse um exame solene, porque diz respeito ao nosso dever e à nossa sorte, e é executado com grande interesse. Que cada qual que tem encargos sagrados se proponha estas perguntas: "Como enfrentarei o olhar perscrutador de Deus? Porventura meu coração está isento de toda contaminação? ou foram profanados os átrios do Seu templo, invadidos por compradores e vendedores a ponto de não restar espaço para Cristo?" O afã dos negócios, se contínuo, faz esmorecer a espiritualidade e deixa o coração vazio de Cristo. Quando os homens, embora professando a verdade, levam dias sem se comunicar com Deus, são induzidos a atos estranhos e a tomar decisões que não estão de acordo com a vontade divina. Nossos irmãos não agirão com segurança, deixando-se levar por meros impulsos; isto não é estar unidos a Cristo, e proceder de acordo com a Sua vontade. Incapazes, em tais condições, de reconhecer as necessidades da causa, Satanás os induzirá a assumir atitudes que embaraçarão e estorvarão a obra. T5 423 2 Meus irmãos, estão vocês cultivando a devoção? Predomina em vocês o amor das coisas santas? Vivem da fé e estão vencendo o mundo? Assistem aos cultos públicos, e é sua voz ouvida nas reuniões de oração? Está erguido entre vocês o altar de família? De manhã e à tarde, reúnem em torno dele os filhos, apresentando o seu caso a Deus? Buscam instruí-los a se tornarem seguidores do Cordeiro? Sua família, se não for religiosa, testemunhará sua negligência e infidelidade. Será digno de lástima se seus filhos forem indiferentes, desrespeitosos e não tomarem prazer nas reuniões religiosas e verdades santas, ao passo que vocês estão empenhados na obra. Uma família assim exerce influência contrária a Cristo e Sua verdade, porque "quem não é comigo", disse Jesus, "é contra Mim". Lucas 11:23. A negligência do dever de educar os filhos e cultivar a piedade na família é completamente desagradável a Deus. Se um de seus filhos estivesse em risco iminente de afogar-se, que alvoroço isso determinaria! Quantos esforços se empenhariam, quanta prece se faria e que atividade se desenvolveria, a fim de salvar-lhe a vida! Mas aí estão seus filhos, sem Cristo e sem a salvação. É possível que, pela sua rispidez e falta de educação, sejam até uma vergonha para a causa adventista. Estão em risco de se perderem, vivendo sem esperança e sem Deus no mundo, e vocês continuam descuidosos e indiferentes. T5 424 1 Que exemplo dá você a seus filhos? Que espírito reina em sua família? Seus filhos devem ser ensinados a ser afáveis, atenciosos, dóceis, prestativos, mas sobretudo respeitadores das coisas santas e das reivindicações divinas. Devem ser instruídos a respeitar as horas de oração e a levantar-se cedo para tomar parte no culto da família. T5 424 2 Pais e mães que põem a Deus em primeiro lugar na família, ensinam os filhos a considerarem o temor de Deus como o princípio da sabedoria, glorificam a Deus diante dos anjos e dos homens, oferecendo ao mundo o espetáculo de uma família bem-dirigida e bem-educada -- uma família que ama e obedece a Deus e contra Ele não se rebela. Cristo não será um estranho numa família assim; Seu nome lhe será familiar e O reverenciarão e glorificarão. Os anjos se deleitam numa família em que Deus reina soberano e os filhos são ensinados a honrar a religião, a Bíblia e o Criador. Essas famílias têm direito à promessa: "aos que Me honram, honrarei". 1 Samuel 2:30. Quando de uma casa assim o chefe sai a cumprir seus deveres cotidianos, será sempre com espírito manso e submisso, adquirido pela sua comunhão com Deus. Será um cristão, não só de nome, mas em seu trabalho e em todas as suas transações comerciais fará toda a sua obra com honestidade, sabendo que os olhos de Deus O contemplam. T5 425 1 Sua voz se fará ouvir na igreja. Terá palavras de agradecimento e animação a dizer, porque é um cristão que se faz notar pelo crescimento espiritual, alcançando novas experiências cada dia. É um obreiro aplicado e ativo na igreja, que trabalha para glória de Deus e salvação de seus semelhantes. Sua consciência o condenaria e sentir-se-ia culpado diante de Deus, se negligenciasse os cultos públicos, privando-se assim dos privilégios de habilitar-se para prestar maior e mais eficaz serviço à causa da verdade. T5 425 2 Deus não é glorificado quando homens de influência se provam apenas homens de negócio, passando por alto seus interesses eternos, que são muito mais sagrados, muito mais nobres e elevados do que os temporais. Em que se deveria aplicar maior tato e habilidade, senão nas coisas que são imperecíveis e destinadas a durar perpetuamente? Irmãos, desenvolvam seus talentos no serviço do Senhor; manifestem na promoção da causa de Cristo o mesmo tato e habilidade que empregam nos empreendimentos seculares. T5 425 3 Sinto ter que dizê-lo, mas há da parte dos chefes de família grande falta de fervor e legítimo interesse nas coisas espirituais. Há alguns que raramente são vistos na igreja. Dão uma desculpa, depois outra e mais outra, justificando sua ausência; mas a causa verdadeira é que lhes falta o interesse religioso. O espírito de devoção não é cultivado na família. Os filhos não são criados na doutrina e admoestação do Senhor. Esses homens não são o que Deus desejaria que fossem. Não mantêm comunhão viva com Ele; são apenas homens de negócio. Não têm espírito de conciliação. Há tão pouca mansidão, bondade e polidez em sua conduta que seus motivos são geralmente mal-interpretados, fazendo-se mau conceito até mesmo do bem que há neles. Se pudessem reconhecer quanto sua conduta é um tropeço aos olhos de Deus, emendar-se-iam. T5 425 4 A obra de Deus deve ser levada avante por homens que alcancem cotidianamente novas e vivas experiências na vida espiritual. "Sem Mim", disse Jesus, "nada podereis fazer". João 15:5. Nenhum de nós está livre de ser tentado. Todos os que estão ligados com nossas instituições, associações e empreendimentos missionários podem estar certos de que têm contra si um poderoso inimigo, cuja aspiração constante é separá-los de Cristo, que é sua força. Quanto maior for a responsabilidade de seu cargo, tanto mais veementes serão os ataques de Satanás, porque sabe que, se conseguir induzi-los a seguir um caminho errado, outros lhes seguirão o exemplo. Mas os que estão continuamente aprendendo na escola de Cristo terão capacidade suficiente para prosseguir na mesma marcha em seu caminho, e o esforço de Satanás para transtornar esse ritmo há de finalmente fracassar. A tentação não é pecado. Jesus era santo e puro; contudo foi tentado em todas as coisas como nós, mas com uma força e veemência que não há de ser por nenhum de nós experimentada. Na Sua bem-sucedida resistência deixou-nos um belo exemplo a imitar. Se formos confiantes em nós mesmos ou justos aos nossos próprios olhos, Deus nos deixará cair sob a força da tentação; mas se olharmos para Jesus e nEle confiarmos, chamaremos em nosso auxílio um poder que venceu o arquiinimigo em campo aberto e Ele também dará o escape para nossa tentação. Quando Satanás vem sobre nós como uma avalanche, devemos enfrentar suas tentações com a espada do Espírito, e Jesus, que é o nosso auxílio, levantará por nós um pendão contra ele. O pai da mentira se abala e treme quando a verdade de Deus lhe é lançada em rosto com todo o seu irresistível poder. T5 426 1 Satanás faz esforços para afastar os homens de Deus, e é sempre bem-sucedido nesse propósito quando consegue absorver a sua atenção de modo que não tomem tempo para ler a Bíblia, orar particularmente e oferecer seus sacrifícios de ações de graça e louvor de manhã e à tarde sobre o altar de família. Quão poucos reconhecem as estratégias do arquienganador! Quantos lhe ignoram as tramas! Quando nossos irmãos voluntariamente se afastam das reuniões religiosas, quando deixam de pensar em Deus e de O reverenciar, quando não O tomam por seu conselheiro e baluarte de sua defesa, quão depressa passam a adotar os pensamentos mundanos e a incredulidade, e vãs confianças e filosofias substituem a fé humilde e confiante. Muitas vezes a tentação é acariciada como se fosse a voz do verdadeiro Pastor, porque os homens se têm apartado de Jesus. Não poderão estar seguros um só momento, a menos que alimentem no coração princípios justos e os apliquem também em seus negócios de cada dia. T5 427 1 "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada." Tiago 1:5. Essa promessa é de maior valor do que ouro e prata. Se com o coração humilde buscarem a orientação divina em qualquer dificuldade ou embaraço que tiverem, Sua palavra lhes será garantia de que lhes será dada resposta misericordiosa. E Sua palavra não pode falhar. Céus e Terra hão de passar, mas Sua palavra não passará. Confie no Senhor e você jamais será confundido ou envergonhado. "É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes." Salmos 118:8, 9. T5 427 2 Seja qual for a posição que ocupemos na vida e o negócio em que estejamos empenhados, devemos ser sempre humildes reconhecendo a necessidade que temos de assistência; devemos apoiar-nos implicitamente nos ensinos da Palavra de Deus e reconhecer em todas as coisas a Sua providência, abrindo-Lhe com franqueza nossa alma em oração. Apóie-se, meu prezado irmão, no seu próprio entendimento, para a carreira que escolheu, e terá decepção e dissabores. Confie no Senhor com todo o seu coração, e Ele guiará seus passos com sabedoria, ficando salvaguardados seus interesses tanto neste mundo como no futuro. Você necessita de luz e conhecimento. Pode optar entre seguir o conselho de Deus e o de seu próprio coração; entre andar ao clarão de sua própria luz ou colher para você a luz divina do Sol da Justiça. T5 427 3 Você não deve agir movido por princípios terrenos. O maior risco que correm nossos homens de negócio e os que têm cargos de responsabilidade é que se deixem induzir a deixar Cristo para buscar algum auxílio fora dEle. Pedro não teria sido induzido a dar mostras de tanta fraqueza e desatino, se não tivesse procurado evitar a reprovação, zombaria, perseguição e vergonha. Sua mais alta esperança centralizava-se em Cristo; quando, porém, O viu humilhado, a incredulidade insinuou-se em seu espírito e Pedro deixou-se orientar por ela. Caiu então sob o poder da tentação e, em vez de se provar fiel ao Mestre na hora da crise, acabou por negá-Lo covardemente. T5 428 1 Pelo interesse de ganhar dinheiro muitos se afastam de Deus, esquecendo-se de seus interesses eternos. Adotam o caminho do homem calculista e mundano; mas Deus não aprova isso; constitui uma ofensa a Ele. Os homens devem ser aptos a delinear e executar planos, mas todos os seus negócios devem ser efetuados de acordo com a grande lei moral de Deus. Em todos os atos da vida, tanto nos de maior como nos de menor importância, devem ser aplicados os princípios do amor a Deus, e ao próximo. Cumpre que haja um espírito que não se contente em dizimar a hortelã, o endro e o cominho; mas que tome em consideração e viva de acordo com a parte mais importante da lei, que é o juízo, a misericórdia e o amor de Deus; pois o caráter de cada um que estiver relacionado com a obra deixará nela a sua impressão. T5 428 2 Há homens e mulheres que por amor a Cristo abandonaram tudo. Para eles os seus interesses temporais, o convívio com as pessoas de suas relações, sua família, seus amigos são de menor importância do que os interesses do reino de Deus. Em sua afeição, não puseram propriedades, parentes e amigos em primeiro lugar e a causa de Deus em segundo. Os que isso fazem, que devotam a vida ao progresso da verdade, a fim de levar muitos filhos e filhas a Deus, têm a promessa de ser-lhes isso recompensado centuplicadamente nesta vida, devendo fruir a alegria da vida eterna no mundo futuro. Os que trabalham possuídos de ideais nobres e altruístas, consagrarão a Deus o corpo, a mente e o espírito. Não buscarão sua exaltação própria; não se sentirão aptos a assumir responsabilidades, mas não se recusarão a elas, porque terão o desejo de fazer tudo quanto lhes seja possível. Estes não buscarão as próprias conveniências; a pergunta que farão é: qual é o dever? T5 428 3 Quanto maior for a responsabilidade de um cargo, tanto mais importante é que a influência nele exercida seja boa. Cada homem que Deus tiver escolhido para Sua obra, torna-se alvo de Satanás. Fortes e grandes tentações o assaltam, porque nosso sagaz inimigo sabe que sua conduta terá uma influência educadora sobre outros. Estamos no meio dos perigos dos últimos dias, e Satanás desceu com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo. Por isso atua com todo o engano da injustiça; todo o Céu está, porém, à disposição daquele que põe em Deus a sua confiança. A nossa única segurança está em nos apegarmos a Jesus, não consentindo que coisa alguma nos separe de nosso poderoso Ajudador. T5 429 1 Indivíduos relacionados com a obra e que têm apenas uma aparência de piedade, são de temer. Esses certamente hão de trair a confiança neles depositada. Deixando-se vencer pelas seduções do tentador, colocarão em perigo a causa de Deus. Serão assaltados por tentações de fazer prevalecer o próprio eu, revelando-se neles um espírito de exaltação e crítica, e em muitos casos manifestarão falta de compaixão e consideração para com os que deveriam ser tratados com atenciosa ternura. T5 429 2 "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. Que espécie de semente estamos lançando? Qual será nossa colheita no tempo e na eternidade? A cada qual o Mestre designou sua obra de acordo com sua capacidade. Estamos nós lançando a semente da verdade e da justiça, ou da incredulidade, suspeita e amor ao mundo? O que estiver lançando semente má poderá discernir a natureza de sua obra, e, arrependendo-se, ser perdoado. Mas o perdão do Mestre não modificará a natureza da semente que tiver sido lançada, transformando espinhos e abrolhos em trigo precioso. O semeador mesmo poderá ser salvo "como pelo fogo"; mas quando o tempo da ceifa chegar só será encontrado o venenoso joio onde deveriam existir maduras e ondeantes searas. Aquilo que foi semeado com ímpia irreflexão fará a sua obra de morte. Esse pensamento faz doer-me o coração e o enche de tristeza. Se todos os que professam crer na verdade lançassem a semente preciosa da bondade e do amor, da fé e da coragem, em seu peregrinar ascendente, louvariam ao Senhor em seu coração e se regozijariam nos raios resplandecentes do Sol da justiça, recebendo no grande dia da ceifa uma eterna recompensa. ------------------------Capítulo 49 -- A armadilha das inclinações mundanas T5 430 1 Prezados irmão e irmã P: T5 430 2 Minha alma ficou profundamente pesarosa enquanto revia seu caso. Na última noite, minha mente sobrecarregou-se demasiado. Em sonhos, eu estava conversando com você, irmão P. Sua separação de Deus era tão evidente e você estava tão completamente cego em relação à sua verdadeira condição, que parecia que eu estava ordenando a um cego que enxergasse, para tentar fazê-lo perceber sua real condição. T5 430 3 Não me foi possível dormir desde as três horas da madrugada e estive pleiteando com Deus por uma grande medida de Seu Espírito. Inquiri repetidamente: "Quem é competente para estas coisas? Não quis repousar enquanto não me fosse dada luz da parte de Deus. Eu precisava falar e contudo tremia receando que a mensagem fosse rejeitada e as pessoas a quem ela era dirigida fossem envolvidas em escuridão mais densa do que antes de a luz lhes ser dada. Eu precisava estar intimamente ligada a Jesus. Pus minha mão na Sua, com fervente oração: "Conduze-me, guia-me; eu não tenho sabedoria para caminhar sozinha." Jesus me pareceu muito próximo e fui profundamente impressionada com o pensamento de que Ele estava prestes a fazer uma obra especial por Seu povo, particularmente por aqueles que trabalham por palavra e doutrina. Ele está disposto a ajudá-los se vocês receberem o auxílio do modo apontado por Cristo, mas não posso dizer-lhes uma palavra de encorajamento enquanto os irmãos permanecerem em sua atual condição. As palavras de Cristo aos fariseus: "E não quereis vir a Mim para terdes vida" (João 5:40), são aplicáveis aos irmãos. T5 430 4 Gostaria de poder fazer algo para auxiliá-los, mas enquanto vocês estiverem no caminho mundano em que se colocaram, o que lhes pode ser feito? Vocês amam o mundo e o mundo os ama, porque, no que tange à piedade prática, não há separação entre os irmãos e os mundanos. Aos olhos do mundo, vocês são agradáveis, inteligentes e bons. Eles encontram nos irmãos tudo o que lhes agrada. Então os louvam e dizem coisas agradáveis a seu respeito, exercendo assim influência para lisonjeá-los e confortá-los. Vocês, por sua vez, gabam-se e se animam em sua descuidosa indiferença aos reclamos de Deus. Vocês os estimulam ao orgulho e amor aos prazeres, pois suas ações têm dito ao pecador: "Tudo lhes irá bem!" Misturando-se com os mundanos, seu discernimento tornou-se pervertido e os pecados que Deus aborrece são apequenados e tidos como inofensivos por vocês. T5 431 1 Temo grandemente que por sua justiça própria vocês estejam erguendo ao redor de sua alma barreiras que jamais possam ser derrubadas. Os irmãos se distanciaram de Deus, não mais fazendo Suas obras, não mais imbuídos de Seu Santo Espírito do que os professos das igrejas nominais. Vocês não possuem senso real da santidade do sábado, e Deus não tem aceito sua observância do santo dia. Os irmãos não têm verdadeira consagração nem sincera devoção. Deus não tem sido honrado por nenhum de vocês dois; os irmãos não O conhecem experimentalmente. Têm andado tão longe dEle que Ele quase lhes é um estranho. As coisas espirituais são discernidas espiritualmente, mas vocês têm há tanto tempo cultivado gostos e hábitos mundanos, que não lhes será fácil inclinar a mente na direção oposta. T5 431 2 Vocês considerarão: "Este é um duro discurso, quem o poderá ouvir?" Mas o mundo não pode compreender o povo de Deus. Não há qualquer harmonia entre os filhos da luz e os filhos das trevas. Paulo pergunta: "E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:15-18. João testifica: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro." 1 João 3:2, 3. "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?", indaga Tiago. "Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. T5 432 1 Jesus disse a Seus discípulos: "Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos. E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre [não uma profissão da verdade, nem uma forma de piedade, mas], o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê, nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós." João 14:15-17. "Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, este é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado de Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que Te hás de manifestar a nós e não ao mundo? Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra, e Meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nEle morada. Quem não Me ama não guarda as Minhas palavras." João 14:21-24. T5 432 2 As palavras de Cristo não encontram resposta em seu coração, pois vocês têm os olhos cegados e o coração endurecido. Nos livros do Céu vocês são tidos como pertencendo ao mundo. Seu coração fica turbado algumas vezes, mas não o suficiente para conduzi-los ao arrependimento e mudança do curso de vida. O mundo detém suas afeições e seus costumes lhes são mais agradáveis do que a obediência ao Mestre celestial. T5 432 3 O exemplo diante dos filhos não está absolutamente de acordo com a verdade que os irmãos professam. A verdade não pode santificar a vocês nem a eles. Vocês amam o prazer egoísta e as lições ensinadas por preceito e exemplo aos filhos não têm sido de molde a criar neles humildade, mansidão e disposição semelhantes às de Cristo. Os irmãos os estão moldando segundo o padrão do mundo. Quando Jesus abrir diante de vocês o livro dos registros, onde dia a dia suas palavras e ações foram fielmente anotadas, os irmãos verão que a vida de ambos foi um terrível fracasso. T5 432 4 O que sua recente aflição pôde ter efetuado em vocês, eu não sou capaz de dizer, mas se ela teve poder para lhes abrir os olhos e convencê-los, os irmãos certamente tornarão isso evidente pelo rumo que tomarem. Sem uma conversão completa, vocês jamais receberão a coroa da vida eterna, e seus filhos nunca farão parte da multidão que foi purificada pelo sangue de Cristo, a menos que desaprendam as lições que vocês lhes ensinaram, as quais se tornaram parte de sua vida e caráter. O exemplo dado levou-os a pensar que a religião é como uma veste que pode ser usada ou dispensada, conforme a ocasião o requeira ou a conveniência dite. Se não houver inteira mudança nas influências exercidas sobre eles, essas idéias frouxas acerca dos reclamos de Deus serão firmadas neles. Eles não sabem o que constitui a vida cristã; não aprenderam o que é o viver a verdade e o suportar a cruz. T5 433 1 Jesus disse: "Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim." João 15:18. Vocês acham que a razão por que o mundo se opõe tanto a nós é que somos demasiado anti-sociais, modestos demais em nosso vestuário, e estritos demais com respeito às diversões, afastando-nos delas tanto na prática como em preceito. Pensam que se fôssemos menos exclusivistas e nos misturássemos mais com o mundo, suas opiniões e impressões sobre nós seriam grandemente modificadas. Não há maior engano do que esse. Cristo afirmou: "Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vos disse: não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardarem a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isso vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou." João 15:19-21. T5 433 2 Estas são palavras de Alguém cujos próprios inimigos foram forçados a admitir: "Nunca homem algum falou assim como este homem." João 7:46. As palavras dos homens expressam suas opiniões humanas, mas as de Cristo são espírito e vida. Ele disse: "Se vós permanecerdes na Minha palavra, verdadeiramente, sereis Meus discípulos." João 8:31. "Quem é de Deus escuta as palavras de Deus" (João 8:47), mas essas divinas declarações não encontram lugar no coração de alguém que é do mundo e ama seus prazeres. T5 434 1 Deus nos deu orientações específicas para que ninguém precise errar. Ele afirmou: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." Mateus 4:4. A verdade revelada por inspiração "é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça." 2 Timóteo 3:16. Não por uma ou muitas palavras, mas por toda palavra que Deus falou o homem viverá. Vocês não podem desrespeitar por qualquer modo uma palavra, uma simples exigência que Ele fez, por mais insignificante que ela lhes possa parecer, e estarem seguros. "Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus." Mateus 5:19. Quem quer que propositadamente transgredir um mandamento, não pode, em espírito e verdade, observar todos eles. Essa pessoa pode argumentar que, com exceção daquilo que entende como leve desvio, ela os observa todos, todavia, se ela de livre e espontânea vontade transgride num só ponto, é culpada de todos. T5 434 2 Irmão e irmã P, conquanto vocês tenham feito uma profissão de cristianismo, retiveram parte do preço. Roubaram a Deus em seu pensamento e devoção, em seus talentos e influência. Suas inclinações lhes têm sido uma armadilha. Vocês não seguiram a luz que Deus graciosamente lhes deu nos Testemunhos, e têm feito coisas que, se não houver arrependimento e reforma de sua parte, os excluirão do Céu. Se houvessem dado ouvidos às reprovações enviadas pelo Espírito Santo, seriam agora fortes em Deus e muito mais adiantados em sua experiência cristã, tendo um registro inteiramente diverso nos livros do Céu. T5 434 3 Jesus advertiu: "Quem Me rejeitar a Mim e não receber as Minhas palavras já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia." João 12:48. Naquele dia, que vergonha e confusão se abaterão sobre aqueles que possuíram luz e privilégios, que tiveram a salvação ao seu alcance mediante o infinito sacrifício do Filho de Deus, e contudo não se beneficiaram desses preciosos dons. Através de Sua Palavra, Deus está constantemente chamando nossa atenção para o caminho reto, elevado e glorioso do justo. Os usuários desse caminho não andam em escuridão, pois ele é iluminado pelo Sol da Justiça, mas vocês o têm rejeitado porque ele é muito separado do mundo. Amor-próprio e ambição egoísta não podem passar pela porta estreita e andar no caminho estreito e ascendente. T5 435 1 Ver-se-á, no dia do ajuste final de contas, que Deus esteve relacionado com cada pessoa individualmente. Há uma testemunha invisível de toda ação praticada na vida. "Eu sei as tuas obras", diz Aquele que "anda no meio dos sete castiçais de ouro." Apocalipse 2:1. Sabe-se que oportunidades foram negligenciadas, e quão infatigáveis têm sido os esforços do Bom Pastor em buscar os que estavam errantes por caminhos tortuosos, e trazê-los de volta ao trilho da segurança e da paz. Repetidamente tem Deus chamado os amantes de prazeres; freqüentemente tem feito irradiar a luz de Sua palavra em seu caminho, a fim de verem o perigo em que se encontram, e escaparem. Mas eles prosseguem mais e mais, brincando e zombando enquanto viajam pelo caminho largo, até que afinal termina seu tempo de graça. Os caminhos de Deus são justos e iguais; e quando for pronunciada a sentença contra os que são achados em falta, toda boca se calará. T5 435 2 Quão diversamente teria sucedido com vocês se houvessem visto, sob a verdadeira luz, o louvor e a honra que procedem dos homens. Os irmãos têm mais sede do louvor do mundo do que das águas da vida. A idéia de serem vistos como de importância pelos homens do mundo os tem intoxicado; suas palavras de consideração têm enganado vocês. Quando os irmãos fizerem uma justa estimativa das coisas eternas, a amizade e apreciação do rico e do estudado não terão nenhuma influência sobre vocês. Orgulho, sob qualquer forma que se manifeste, não deve mais ser abrigado em seu coração. Vocês, entretanto, têm bebido há tanto tempo das turvas correntes do mundanismo, que não conseguem vislumbrar melhor meio de vida. T5 435 3 Muitas vezes tem Deus estendido Sua mão para salvá-los, mostrando-lhes seus deveres e obrigações. Esses deveres mudam em caráter com o aumento da luz. Quando a luz brilha, tornando manifestos e reprovando erros encobertos, deve haver mudança correspondente na vida e caráter. Os erros que são fruto natural da cegueira de mente, quando revelados, não mais se constituem em pecados de ignorância ou erros de julgamento, e a menos que haja decididas reformas de acordo com a luz dada, tornam-se pecados presunçosos. As trevas morais que envolvem vocês tornam-se mais densas; seu coração irá se tornando mais e mais endurecido, e os irmãos serão mais ofensivos à vista de Deus. Vocês não compreendem o grande perigo em que se encontram, o risco de que em seu caso a luz seja inteiramente obscurecida, ocultada sob completa escuridão. Quando a luz for recebida e posta em prática, vocês estarão crucificados para o pecado, mortos realmente para o mundo, mas vivos para Deus. Seus ídolos serão abandonados e seu exemplo estará ao lado da abnegação antes que da auto-indulgência. T5 436 1 Irmão e Irmã P, se vocês tivessem dado ouvidos aos Testemunhos do Espírito de Deus, estariam agora andando na luz, em harmonia com o povo de Deus, mas sua incredulidade os privou de grande bem. A irmã P não se insurgiu contra os Testemunhos, mas não demonstrou suficiente confiança neles como provindos de Deus para obedecê-los. Ela aprecia ver seu marido louvado e honrado pelo mundo; isso gratifica-lhe o orgulho, que não é, de modo algum, pequeno. Vocês deveriam perguntar-se, individualmente: "Por que sou tão tardo em deixar o mundo e tomar a Cristo como minha herança? Por que deveria eu honrar aqueles que sei que não amam a Deus nem respeitam Seus reclamos? Por que desejaria conservar a amizade dos inimigos de meu Senhor? Por que deveria eu seguir-lhes os costumes ou ser influenciado por suas opiniões?" Vocês não podem, queridos amigos, servir a Deus e a Mamom. Os irmãos precisam fazer uma entrega incondicional ou, num breve futuro, a luz que brilha sobre seu caminho se perderá na escuridão do desespero. Vocês estão no terreno do inimigo. Voluntariamente colocaram-se ali e o Senhor não os protegerá de seus assaltos. T5 436 2 Em seu presente estado, vocês estão fazendo mais mal do que bem, pois têm uma forma de piedade e professam crer na verdade, enquanto que por palavras e ações dizem: "Larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela." Mateus 7:13. Se a vida de vocês é uma confissão de Cristo, então podemos verdadeiramente dizer que o mundo O seguiu. A profissão dos irmãos pode ser correta, mas porventura têm vocês humildade e amor, mansidão e consagração? "E digo-vos que todo aquele que Me confessar diante dos homens", por uma vida santa e piedosa conversação, "também o Filho do Homem o confessará diante dos anjos de Deus". Lucas 12:8. Ninguém pode confessar a Cristo a menos que tenha a mente e o espírito de Cristo; ele não pode comunicar aquilo que não possui. A vida diária precisa ser uma expressão do santificador poder da verdade e evidência de que Cristo está habitando na alma pela fé. Tudo o que é oposto ao fruto do Espírito ou à obra de Deus em separar Seu povo do mundo, é uma negação de Cristo e Suas palavras são: "Mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus." Lucas 12:9. T5 437 1 Podemos negar a Cristo por nossa conversação mundana e orgulho no vestuário. Os irmãos têm um círculo de amigos que são uma armadilha a vocês e a seus filhos. Vocês amam sua companhia. Pela associação com eles, vocês são levados a vestir-se e a seus filhos, segundo as modas adotadas por aqueles que não temem a Deus. Assim mostram que têm amizade com o mundo. "Na multidão de palavras não falta transgressão..." Provérbios 10:19. O relacionamento com esses amigos inclina-os a ir a seus aposentos e suplicar divino amor e graça, ou distancia sua mente de Deus? E seus queridos filhos -- o que a negligência de sua parte por seus interesses eternos está lhes causando? Seu exemplo os têm incitado a precipitar-se pela vida com descuidosa presunção ou cega autoconfiança, não tendo firmes princípios religiosos a guiá-los. Eles não estão conscientes sobre o sábado ou os reclamos de Deus em qualquer respeito; não apreciam os deveres cristãos e se estão afastando mais e mais da Fonte de luz, paz e alegria. T5 437 2 Sem fé é impossível agradar a Deus; pois "tudo que não é de fé é pecado". Romanos 14:23. A fé exigida não é uma simples aceitação de doutrinas; é a fé que opera por amor e purifica a vida. A humildade, a mansidão e a obediência não são fé; mas são os efeitos, ou frutos da fé. Essas graças vocês têm ainda de obter aprendendo na escola de Cristo. Vocês não conhecem os sentimentos e princípios do Céu; sua linguagem é quase um idioma estranho para ambos. O Espírito de Deus ainda intercede em seu favor; mas tenho sérias e dolorosas dúvidas se darão ouvidos àquela voz que lhes tem estado a chamar por anos. Espero que sim, e que se volverão, e viverão. T5 438 1 Julgam ser demasiado grande sacrifício consagrar seu pobre e indigno eu a Jesus? Preferirão a irremediável servidão do pecado e da morte, a separar sua vida do mundo, e uni-la a Cristo pelos laços do amor? Jesus vive ainda para interceder por nós. Isso deve despertar dia a dia o reconhecimento de nosso coração. Aquele que avalia sua culpa e desamparo, pode ir exatamente assim como está, e receber a bênção de Deus. Pertence-lhe a promessa, uma vez que dela se apodere pela fé. Aquele, porém, que é rico aos próprios olhos, e digno de honra, e justo, que vê como vê o mundo, e chama ao mal bem e ao bem mal, não pode pedir e receber, porquanto não sente necessidade alguma. Julga-se cheio; portanto, tem de sair vazio. T5 438 2 Caso se alarmem pela própria salvação e busquem diligentemente a Deus, Ele será achado por vocês; não aceitará, no entanto, um arrependimento parcial. Se abandonarem seus pecados, Ele estará sempre pronto a perdoar. Querem entregar-se a Ele agora mesmo? Olharão ao Calvário, e indagarão: "Fez Jesus esse sacrifício por mim? Sofreu Ele humilhação, vergonha, e ignomínia, e sofreu a cruel morte de cruz, porque desejava me salvar dos sofrimentos da culpa e do horror do desespero, e tornar-me indizivelmente feliz em Seu reino? Olhem para Aquele a quem seus pecados trespassaram, e resolvam: "Vou servir ao Senhor. Não me unirei por mais tempo a Seus inimigos; não emprestarei por mais tempo minha influência aos rebeldes contra Seu governo. Tudo quanto tenho e sou é demasiado pouco para consagrar Àquele que tanto me amou, que deu Sua vida por mim -- deu-Se integralmente por alguém tão pecaminoso e errante." Separem-se do mundo, ponham-se inteiramente do lado do Senhor, levem o combate às portas, e fruirão gloriosas vitórias. T5 439 1 Bem-aventurado aquele que dá ouvidos às palavras da vida eterna. Guiado pelo "Espírito da verdade" (João 16:13), ele será conduzido a toda a verdade. Não será amado, honrado e louvado pelo mundo; será, porém, precioso aos olhos do Céu. "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo nos não conhece; porque O não conhece a Ele." 1 João 3:1. ------------------------Capítulo 50 -- Responsabilidades do médico T5 439 2 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 1:7. Os profissionais, seja qual for sua vocação, necessitam de sabedoria divina. O médico, porém, acha-se em especial necessidade dessa sabedoria no lidar com todos os tipos de mente e de doenças. Sua posição é ainda de mais responsabilidade que a do pastor. Ele é chamado a colaborar com Cristo, e precisa de sólidos princípios religiosos e uma firme ligação com o Deus de sabedoria. Caso tome conselho com Deus, o Grande Médico cooperará com seus esforços, e ele andará com a máxima cautela, não seja que, por um movimento inadequado, prejudique uma das criaturas de Deus. Será firme ao princípio como uma rocha, todavia bondoso e cortês com todos. Sentirá a responsabilidade de sua posição, e no exercício de sua medicina manifestará que é impelido por motivos puros, desinteressados, e o desejo de ser um adorno para a doutrina de Cristo em todas as coisas. Tal médico possuirá uma dignidade de origem celeste, e será poderoso instrumento para o bem do mundo. Embora talvez não seja apreciado pelos que não têm ligação com Deus, será todavia honrado pelo Céu. Será à vista de Deus mais precioso que o ouro, o próprio ouro de Ofir. T5 439 3 O médico deve ser um homem rigorosamente temperante. Os males físicos da humanidade são inúmeros, e ele deve tratar da doença em suas múltiplas formas. Ele sabe que muito sofrimento que procura aliviar é resultado de intemperança e outras formas de condescendências egoístas. É ele chamado para atender a jovens, homens no vigor da vida e homens em idade avançada, que sobre si mesmos trouxeram a doença pelo uso do fumo. Se ele for um médico inteligente, será capaz de seguir a pista da doença até à sua causa; a menos, porém, que ele próprio esteja livre do uso do fumo, hesitará em pôr as mãos sobre a fonte de corrupção e em revelar fielmente aos seus pacientes a causa de sua enfermidade. Deixará de insistir com o jovem sobre a necessidade de abandonar o hábito antes que este se torne enraizado. Se ele próprio usa a erva daninha, como pode apresentar aos jovens inexperientes seus perigosos efeitos, não apenas sobre eles mesmos, mas sobre os que os rodeiam? T5 440 1 Em nossos dias, o uso do fumo é quase universal. Mulheres e crianças sofrem por serem obrigados a aspirar uma atmosfera poluída pelo cachimbo, o charuto ou a imunda respiração do consumidor de fumo. Aqueles que vivem em tal ambiente sempre serão afetados, e o médico fumante está continuamente prescrevendo alguma droga para curar enfermidades que poderiam ser melhor tratadas pelo abandono do fumo. T5 440 2 Os médicos não podem executar com fidelidade seus deveres para com Deus e seus semelhantes, enquanto estiverem adorando um ídolo em forma de fumo. Quão ofensivo aos doentes é o hálito de um usuário de fumo! Como eles recuam diante dele. Quão incoerente para homens que se graduaram nas faculdades de medicina e reivindicam ser capazes de prestar auxílio à humanidade sofredora, é portar constantemente consigo um venenoso narcótico ao visitarem as enfermarias. Todavia, muitos o mastigam e fumam até que o sangue esteja pervertido e o sistema nervoso debilitado. É particularmente ofensivo à vista de Deus que os médicos, que são capazes de realizar grande bem e que professam crer na verdade de Deus para este tempo, condescendam com esse repugnante hábito. As palavras do apóstolo Paulo são aplicáveis a eles: "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus." 2 Coríntios 7:1. "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Romanos 12:1. T5 441 1 Os fumantes não podem ser aceitos como obreiros na causa da temperança, pois não há coerência em sua profissão de serem homens temperantes. Como falarão eles ao homem que está destruindo a razão e a vida pelo hábito da bebida alcoólica, quando têm os bolsos cheios de cigarros, e anseiam estar livres para mascar e fumar e cuspir à vontade? Como podem eles ter qualquer grau de coerência ao apelar em favor de uma reforma moral diante de comissões de saúde e de plataformas de temperança, enquanto eles próprios se encontram sob o estímulo do fumo? Para que eles tenham força para influenciar o povo a vencer o amor pelos estimulantes, suas palavras precisam vir com hálito puro e de lábios limpos. T5 441 2 De todos os homens do mundo, o médico e o pastor especialmente devem possuir hábitos estritamente temperantes. O bem-estar da sociedade exige abstinência total da parte deles, pois sua influência está a falar constantemente pró ou contra a reforma moral e o aperfeiçoamento da sociedade. É pecado intencional da parte deles o serem ignorantes às leis da saúde ou a elas indiferentes, pois eles são olhados como sábios mais do que os outros homens. Isso é verdade principalmente no que diz respeito ao médico, a quem se confia a vida humana. Espera-se que ele não transija em hábito algum que possa debilitar as energias vitais. T5 441 3 Como pode um pastor ou um médico consumidor de fumo educar seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor? Como pode desaprovar em seu filho aquilo que ele se permite usar? Se ele fizer a obra que lhe foi confiada pelo Governador do Universo, protestará contra a iniqüidade em todas as suas formas e exercerá autoridade e influência a favor da abnegação e da estrita e inabalável obediência aos justos reclamos de Deus. Será seu propósito colocar seus filhos sob as mais favoráveis condições de assegurar-lhes felicidade para esta vida e um lar na cidade de Deus. Como pode ele fazer isso enquanto condescende com o apetite? Como pode colocar os pés alheios na escada do sucesso, enquanto ele próprio está caminhando na direção da decadência? T5 442 1 Nosso Salvador deu o exemplo de abnegação. Em Sua oração pelos discípulos, Ele disse: "E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade." João 17:19. Se um homem que assume uma seriíssima responsabilidade, como a de um médico, pecar contra si mesmo pela inconformidade com as leis da natureza, colherá as conseqüências de seus próprios atos e terá de enfrentar sua justa sentença, da qual não há apelação. A causa produz o efeito e em muitos casos o médico, que deveria ter a mente clara, vigorosa e nervos equilibrados para poder ser capaz de discernir com rapidez e executar com precisão, tem os nervos abalados e o cérebro obscurecido pelos narcóticos. Sua competência para fazer o bem está reduzida. Ele acabará por levar outros pelo mesmo caminho que está trilhando. Centenas seguirão o exemplo de um médico intemperante, sentindo que estão seguros em fazer o mesmo que o doutor. No dia de Deus, ele haverá de enfrentar o registro de sua conduta e será chamado a dar conta de todo o bem que poderia ter feito, mas que não fez porque, por vontade própria, enfraqueceu suas faculdades físicas e mentais através da indulgência egoísta. T5 442 2 A questão não é: Que está fazendo o mundo? mas: Que estão fazendo os profissionais com respeito à maldição comum e prevalecente do uso do fumo? Não devem os homens a quem Deus deu inteligência, e que se acham em posições de confiança sagrada, ser leais em seguir o bom senso da inteligência? Não deveriam esses homens responsáveis, que têm a seu cuidado pessoas a quem sua influência poderá orientar numa direção certa ou errada, ser modelos? Não deveriam eles, por preceito e por exemplo, ensinar a obediência às leis que regem o organismo? Se não fizerem uso prático do conhecimento que têm das leis que governam o seu próprio ser, se preferirem a satisfação presente à saúde da mente e do corpo, eles não estão aptos para se incumbirem da vida dos outros. Acham-se eles no dever moral de permanecer na dignidade da condição de homem que lhes foi dada por Deus, livres da servidão de qualquer apetite ou paixão. O homem que masca e fuma está causando um dano, não só a si mesmo, mas a todos os que penetram em sua esfera de influência. Se for necessário chamar um médico, que não se chame o devoto do fumo. Ele não será um conselheiro digno de confiança. Se a doença tiver sua origem no uso do fumo, ele será tentado a mentir e apontar outra causa que não a verdadeira, pois como poderá condenar-se em suas próprias práticas diárias? T5 443 1 Há muitos modos de praticar a arte de curar; mas só existe um aprovado pelo Céu. Os remédios de Deus são os simples agentes da natureza, que não sobrecarregarão nem enfraquecerão o organismo mediante suas fortes propriedades. Ar puro e água, higiene, regime adequado, pureza de vida e firme confiança em Deus, são remédios por cuja falta milhares de pessoas estão perecendo, todavia esses remédios estão caindo em desuso, porque seu hábil emprego requer trabalho que o povo não aprecia. Ar puro, exercício, água pura, e morada limpa e aprazível, acham-se ao alcance de todos, com apenas pouca despesa; as drogas, porém, são dispendiosas, tanto no gasto do dinheiro, como no efeito produzido no organismo. T5 443 2 A obra do médico cristão não termina com a cura das doenças do corpo; seus esforços devem estender-se aos males do espírito, à salvação da pessoa. Talvez não seja seu dever, a menos que seja solicitado, apresentar quaisquer pontos teóricos da verdade; mas pode encaminhar seus doentes para Cristo. As lições do Mestre divino são sempre apropriadas. Devem chamar a atenção do descontente para os sempre novos sinais de amor e cuidado da parte de Deus, para Sua sabedoria e bondade, tais como se manifestam nas obras que criou. A mente pode então ser levada, através da natureza, ao alto, ao Deus da natureza, e concentrada no Céu por Ele preparado para os que O amam. T5 443 3 O médico deve saber orar. Em muitos casos, ele precisa aumentar o sofrimento, a fim de salvar a vida; e seja o paciente cristão ou não, sente-se mais seguro se sabe que seu médico teme a Deus. A oração dará ao doente uma permanente confiança; e muitas vezes, se seu caso é levado ao Grande Médico com humilde confiança, fará mais em seu benefício do que todas as drogas que sejam ministradas. T5 443 4 Satanás é o causador da doença; e o médico está batalhando contra sua obra e poder. A enfermidade da mente reina por toda parte. Nove de cada dez enfermidades sofridas pelo homem têm aí seu fundamento. Talvez algum vivo distúrbio doméstico esteja, como gangrena, roendo até à própria alma, e enfraquecendo as forças vitais. O remorso pelo pecado mina por vezes a constituição, e desequilibra a mente. Há, também, doutrinas errôneas, como a de um inferno eternamente a arder e o tormento perpétuo dos ímpios, as quais, por darem uma visão exagerada e torcida do caráter de Deus, têm produzido os mesmos resultados sobre espíritos sensíveis. Os infiéis têm aproveitado ao máximo esses casos infelizes, atribuindo a loucura à religião; isto, porém, é grosseira difamação, a qual deverão enfrentar afinal. A religião de Cristo, bem longe de causar loucura, é um de seus mais eficazes remédios; é poderoso calmante nervoso. T5 444 1 O médico necessita de sabedoria e poder mais que humanos, a fim de saber a maneira por que deve ministrar aos muitos casos desconcertantes de doença da mente e do coração com que é chamado a lidar. Se ele ignora o poder da graça divina, não pode ajudar ao doente, antes agravará o mal; mas se está firmemente apoiado em Deus, será capaz de ajudar a mente enferma, perturbada. Será capaz de encaminhar seus pacientes a Cristo, e ensiná-los a levarem todos os seus cuidados e perplexidades ao grande Portador de fardos. T5 444 2 Há uma ligação divinamente indicada entre o pecado e a doença. Médico algum pode clinicar por um mês sem isto lhe ser exemplificado. Talvez ele ignore o fato; sua mente poderá estar tão ocupada com outros assuntos, que a atenção não lhe seja chamada para isso; mas, se for observador e sincero, não poderá deixar de reconhecer que o pecado e a doença mantêm entre si a relação de causa e efeito. O médico deve ser pronto a ver isso, e a agir em harmonia. Havendo ele conseguido a confiança dos doentes aliviando-lhes os sofrimentos e trazendo-os da beira do túmulo, pode ensinar-lhes que a doença é o resultado do pecado; e que é o inimigo caído que os procura seduzir às práticas destruidoras da saúde e da alma. Pode impressionar-lhes o espírito com a necessidade de negarem-se a si mesmos, e obedecerem às leis da vida e da saúde. Na mente dos jovens, especialmente, pode ele incutir os retos princípios. Deus ama Suas criaturas com um amor que é a um tempo terno e forte. Estabeleceu as leis da natureza; estas, porém, não são exigências arbitrárias. Todo "Não", seja no que concerne à lei física como no que respeita à lei moral, implica uma promessa. Caso ela seja obedecida, nossos passos serão seguidos de bênçãos; se desobedecida, o resultado será perigo e infelicidade. As leis de Deus visam a levar Seu povo para mais perto dEle. Ele os salvará do mal e os levará ao bem, se quiserem ser conduzidos; forçá-los, porém, Ele jamais fará. Não nos é possível discernir os planos de Deus; cumpre-nos, porém, confiar nEle, e mostrar nossa fé por nossas obras. T5 445 1 Os médicos que amam e temem a Deus são poucos, comparados aos que são infiéis ou declaradamente contrários à religião; e aqueles devem ser procurados de preferência à última classe. Temos motivos para desconfiar do médico ímpio. Abre-se-lhe a porta da tentação, o ardiloso inimigo sugerirá pensamentos e atos indignos, e apenas o poder da graça divina poderá subjugar as tumultuosas paixões e fortalecer contra o pecado. Aos que são moralmente corruptos não faltam oportunidades para corromper as mentes puras. Como, porém, se apresentará o médico licencioso no dia de Deus? Professando cuidar dos doentes, tem ele traído sagrados encargos. Tem degradado tanto a alma quanto o corpo das criaturas de Deus, e colocado os seus pés no caminho que leva à perdição. Quão terrível é confiarmos os nossos queridos às mãos de um homem impuro, que pode corromper a moral e arruinar a vida! Quão fora de lugar está o médico ímpio à beira da cama do moribundo! T5 445 2 O médico é quase diariamente posto em face da morte. Caminha, por assim dizer, à beira da sepultura. Em muitos casos, a familiarização com cenas de sofrimento e morte produz despreocupação e indiferença para com a miséria humana, e negligência no tratamento do enfermo. Tais médicos não são capazes de simpatizar ternamente. São ásperos e abruptos, e os doentes se apavoram ao vê-los aproximarem-se. Esses homens, por maiores que sejam seus conhecimentos e competência, pouco bem podem fazer aos doentes; mas se o amor e a compaixão manifestados por Jesus aos enfermos se misturarem aos conhecimentos do médico, sua própria presença será uma bênção. Ele não considerará o doente uma simples peça do mecanismo humano, mas uma pessoa a ser salva ou perdida. T5 446 1 Os deveres do médico são árduos. Poucos avaliam a tensão mental e física a que ele está sujeito. Cumpre empregar toda energia e capacidade com o mais intenso anseio, na batalha contra a doença e a morte. Muitas vezes ele sabe que um movimento menos hábil da mão, até por um fio de cabelo apenas, em direção errada, pode mandar para a eternidade uma alma não preparada. Quanto precisa o médico fiel da simpatia e das orações do povo de Deus! Suas necessidades nesse sentido não são inferiores às do mais consagrado pastor ou missionário. Privado, como se vê muitas vezes, do necessário repouso e do sono, e mesmo dos privilégios religiosos no sábado, necessita dobrada porção de graça, uma nova provisão a cada dia, do contrário perderá sua segurança em Deus, e estará em risco de imergir mais fundo nas trevas espirituais, do que homens de outras profissões. E todavia é muitas vezes objeto de imerecidas censuras, e deixado sozinho, sujeito às mais cruéis tentações de Satanás, sentindo-se mal compreendido, traído pelos de sua amizade. T5 446 2 Muitos, conhecendo quão pesados são os deveres do médico, e quão poucas oportunidades têm eles de libertar-se das preocupações, mesmo no sábado, não escolherão a medicina como profissão. Mas o grande inimigo está continuamente procurando destruir a obra das mãos de Deus, e homens de cultura e inteligência são chamados a combater-lhe o cruel poder. Necessitam-se mais homens da devida espécie, que se consagrem a essa profissão. Sejam feitos diligentes esforços para induzir homens de aptidão a se habilitarem para essa obra. Devem ser homens cujo caráter esteja baseado nos firmes princípios da Palavra de Deus -- homens dotados de natural energia, força e perseverança que os habilitem a atingir elevada norma de excelência. Não é qualquer um que pode ser transformado num médico de êxito. Muitos têm assumido os deveres dessa profissão, porém despreparados. Não possuem o conhecimento exigido, nem a habilidade e o tato, o cuidado e a inteligência necessários à garantia do êxito. T5 447 1 O médico pode prestar muito melhor serviço, se é dotado de resistência física. Se é fraco, não pode resistir ao fatigante labor inerente a sua profissão. Um homem de constituição débil, um dispéptico, ou um que não tenha perfeito domínio de si mesmo, não se pode habilitar ao trato com todas as classes de doença. Tome-se grande cuidado em não animar pessoas que poderiam ser úteis em algum cargo de menos responsabilidade, a estudar medicina, com grande gasto de tempo e de meios, quando não há razoável esperança de que venham a ser bem-sucedidas. T5 447 2 Alguns se têm destacado como homens que poderiam ser médicos de utilidade, e foram estimulados a fazer o curso de medicina. Mas alguns dos que começaram seus estudos nas escolas médicas como cristãos, não conservaram no devido lugar a lei divina; sacrificaram princípios, e perderam sua firmeza em Deus. Acharam que, sozinhos não poderiam guardar o quarto mandamento, e enfrentar as caçoadas e o ridículo dos ambiciosos, dos amantes do mundo, dos superficiais, dos céticos e infiéis. Tal sorte de perseguição, não estavam eles preparados para enfrentar. Eram ambiciosos de subir mais alto no mundo, e tropeçaram na escura montanha da descrença, e tornaram-se indignos de confiança. Abriram-se diante deles tentações de toda espécie, e não tiveram forças para resistir. Alguns desses tornaram-se desonestos, homens de planos astuciosos, e culpados de graves pecados. T5 447 3 Há neste século perigo para todo aquele que entra no estudo da medicina. Freqüentemente seus instrutores são sábios segundo o mundo, e seus colegas infiéis que não se lembram de Deus, e ele está em perigo de ser influenciado por essas associações com os descrentes. Não obstante, alguns têm atravessado o curso médico e permanecido leais aos princípios. Não estudavam no sábado; e demonstraram que os homens se podem habilitar para os deveres de um médico sem decepcionar as expectativas dos que lhes forneceram meios para fazer seu curso. Como Daniel, honraram a Deus, e Ele os guardou. Daniel propôs em seu coração que não adotaria os costumes das cortes reais; não comeria da comida do rei, nem beberia de seu vinho. Esperaria em Deus quanto à resistência e graça, e Deus lhe deu sabedoria e habilidade, e conhecimento acima dos astrólogos, adivinhos e magos do reino. Nele se verificou a promessa: "Aos que Me honram, honrarei." 1 Samuel 2:30. T5 448 1 O jovem médico tem acesso ao Deus de Daniel. Mediante a graça e o poder divinos, pode-se tornar tão eficiente em sua carreira, como era Daniel em sua exaltada posição. É um erro, porém, fazer do preparo científico a coisa mais importante de sua vida, ao passo que os princípios religiosos, que estão na própria base de uma clínica bem-sucedida, são negligenciados. Muitos são elogiados como hábeis em sua profissão, mas desdenham a idéia de que necessitam apoiar-se em Jesus quanto à sabedoria em sua obra. Mas se esses homens que confiam no próprio conhecimento científico fossem iluminados pela luz celeste, quão maior excelência viriam a atingir! Quão mais vigorosas seriam suas faculdades, com que maior confiança poderiam empreender os casos difíceis! O homem que se acha intimamente ligado ao grande Médico da alma e do corpo, tem os recursos do Céu e da Terra à Sua disposição, e pode agir com uma sabedoria e precisão que não podem possuir os homens destituídos de piedade. T5 448 2 Aqueles aos quais é confiado o cuidado dos doentes, quer como médicos ou como enfermeiros, devem lembrar-se de que o seu trabalho deve resistir ao escrutínio do perscrutador olhar de Jeová. Não há campo missionário mais importante do que o ocupado pelo médico fiel e temente a Deus. Campo algum existe em que um homem possa realizar maior bem ou conquistar mais gemas para brilharem em sua coroa de glória. Pode ele levar a graça de Cristo, como um suave perfume, a todos os quartos dos doentes nos quais entra; pode levar o verdadeiro bálsamo restaurador à alma enferma pelo pecado. Pode apontar ao doente, ao prestes a perecer, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Não atenderá à sugestão de que é perigoso falar de interesses eternos àqueles cuja vida está em perigo, temendo que isto os torne pior, pois em nove de cada dez casos o conhecimento de um Salvador que perdoa os pecados os tornará melhores tanto da mente como do corpo. Jesus pode restringir o poder de Satanás. Ele é o médico em quem a pessoa enferma pelo pecado pode confiar, de quem pode esperar a cura dos males do corpo e do espírito. T5 449 1 Os profissionais superficiais e maliciosos buscarão levantar preconceitos contra o homem que fielmente realiza os deveres de sua profissão, e passa pelos obstáculos, mas essas acusações apenas revelarão o puro ouro do caráter. Cristo será seu refúgio contra a guerra de línguas. Embora sua vida possa ser difícil e abnegada, e, à vista do mundo pareça fracassada à vista do Céu será um sucesso, e ele será contado como um nobre de Deus. "Os entendidos, pois, resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente." Daniel 12:3. ------------------------Capítulo 51 -- A crise vindoura T5 449 2 "E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo." Apocalipse 12:17. Num futuro não muito distante haveremos de ver essas palavras cumpridas, quando as igrejas protestantes se aliarem com o mundo e o poder papal contra os que guardam os mandamentos de Deus. O mesmo espírito que atuou nos católicos em épocas passadas há de induzir os protestantes a adotarem as mesmas medidas contra os que se conservam leais à lei de Deus. T5 449 3 A Igreja e o Estado estão agora fazendo preparativos para um futuro conflito. Como outrora os católicos, os protestantes estão agindo dissimuladamente para exaltar o domingo. Por todo o país a igreja papal está elevando seus gigantescos e maciços edifícios em cujos recessos se hão de repetir as cenas de perseguição de outros tempos. O caminho está sendo aparelhado em proporções vastas para a manifestação dos prodígios de mentira, mediante os quais Satanás pretende enganar, se for possível, até os escolhidos. T5 450 1 O decreto que será promulgado contra o povo de Deus há de oferecer muita semelhança com o de Assuero contra os judeus nos dias de Ester. O edito persa se originara na maldade de Hamã contra Mardoqueu, não porque este lhe houvesse feito mal, mas porque se recusara a tributar-lhe a reverência que só a Deus é devida. A decisão do rei foi obtida sob falsos pretextos, mediante uma errônea representação do caráter desse povo. O plano fora inspirado por Satanás, ao qual interessava desarraigar da Terra os que preservam o conhecimento do Deus vivo. Mas essas conspirações falharam diante do poder dos que são enviados a servir a favor dos homens. Anjos magníficos em poder tiveram a incumbência de proteger o povo de Deus, e as maquinações de seus adversários recaíram sobre eles próprios nas suas conseqüências. O mundo protestante moderno vê no pequeno grupo de observadores do sábado um Mardoqueu à porta. Seu caráter e conduta, exprimindo a verdadeira reverência pela lei de Deus, são uma acusação constante para os que renunciaram ao temor do Senhor, calcando a pés Seu santo sábado. Os intrusos e inoportunos precisam de alguma maneira ser eliminados. T5 450 2 O mesmo espírito despótico que noutras eras tramou contra os fiéis há de tentar extirpar da face da Terra os que temem a Deus e obedecem à Sua lei. Satanás há de incitar a indignação contra uma minoria que conscienciosamente se recusa a aceitar costumes e tradições populares. Homens de destaque e reputação hão de associar-se aos maus e aos que são adversos à lei, a fim de tomarem conselho contra o povo de Deus. A riqueza, o talento e a educação hão de aliar-se a fim de cobri-los de ignomínia. Juízes perseguidores, pastores e membros de igreja, hão de conspirar contra eles. De viva voz e com a pena, com ameaça, escárnio e zombaria, hão de tentar derrotar a sua fé. Desvirtuando os fatos e por meio de apelos violentos hão de procurar instigar as paixões do povo. Não podendo apresentar contra os defensores do sábado bíblico um "está escrito", à falta deste, lançarão mão da violência. A fim de se fazerem populares e conquistarem a simpatia do povo, os legisladores hão de ceder ao desejo deste, de obter leis dominicais. Os tementes a Deus, entretanto, não podem aceitar uma instituição que viola um dos preceitos do decálogo. Nesse campo de batalha será ferido o último grande conflito da controvérsia entre a verdade e o erro. E não somos deixados na dúvida sobre o desenlace dessa batalha. Então, como nos dias de Mardoqueu, o Senhor vindicará Seu povo e Sua verdade. T5 451 1 Por um decreto que terá por objetivo impor uma instituição papal em contraposição à lei de Deus, a nação americana se divorciará por completo dos princípios da justiça. Quando o protestantismo estender os braços através do abismo, a fim de dar uma das mãos ao poder romano e a outra ao espiritismo, quando por influência dessa tríplice aliança os Estados Unidos forem induzidos a repudiar todos os princípios de sua Constituição, que fizeram deles um governo protestante e republicano, e adotar medidas para a propagação dos erros e falsidades do papado, podemos saber que é chegado o tempo das operações maravilhosas de Satanás e que o fim está próximo. T5 451 2 Como a aproximação dos exércitos romanos foi um sinal para os discípulos da iminente destruição de Jerusalém, assim essa apostasia será para nós um sinal de que o limite da paciência de Deus está atingido, que as nações encheram a medida de sua iniqüidade, e o anjo da graça está a ponto de dobrar as asas e partir da Terra para não mais tornar. O povo de Deus entrará então num período de aflição e angústia que o profeta designa como "o tempo de angústia para Jacó". Jeremias 30:7. O clamor dos fiéis perseguidos se elevará até ao Céu. E como o sangue de Abel clamou a Deus desde o pó, assim haverá também vozes clamando desde a sepultura dos mártires, das profundezas do oceano, das cavernas dos montes e das masmorras dos conventos: "Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra?" Apocalipse 6:10. T5 451 3 O Senhor está fazendo Sua obra. Todo o Céu está em atividade. O Juiz de toda a Terra Se levantará em breve para vindicar Sua autoridade insultada. O sinal do libertação será posto naqueles que guardam os mandamentos de Deus, reverenciam Sua lei e se recusam a aceitar o sinal da besta ou da sua imagem. T5 452 1 Deus revelou o que deve acontecer nos últimos dias, para que Seu povo possa estar preparado para enfrentar a tempestade da oposição e da ira. Aqueles que têm sido advertidos dos acontecimentos futuros não devem cruzar os braços numa calma expectativa da tormenta que se anuncia, consolando-se com a idéia de que o Senhor há de proteger os fiéis no dia da calamidade. Devemos ser como os servos que esperam seu Senhor, não nos abandonando a uma expectativa ociosa, mas trabalhando diligentemente com fé inabalável. Não é tempo agora de ocuparmos a mente com coisas de menor importância. Enquanto os homens dormem, Satanás está ativamente ordenando as coisas de modo que o povo de Deus fique privado da graça e da justiça. O movimento dominical está agora preparando o caminho na sombra. Seus dirigentes ocultam seu legítimo intento e muitos dos que a ele aderem ignoram para onde os leva a corrente. Os intuitos professados são de índole branda e aparência cristã, mas sua fala há de revelar o espírito do dragão. É nosso dever fazer tudo ao nosso alcance, a fim de advertir contra o perigo iminente. Devemos esforçar-nos por destruir os preconceitos, assumindo a legítima atitude diante das pessoas. Devemos esclarecer-lhes a questão propriamente dita em torno da qual gira a controvérsia, e deste modo lavrar o mais eficaz protesto contra medidas tendentes a restringir a liberdade de consciência. Devemos examinar as Escrituras, a fim de estar habilitados a dar a razão de nossa fé. Diz o profeta: "Os ímpios obrarão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá; mas os entendidos entenderão." Daniel 12:10. T5 452 2 Os que por Cristo têm acesso a Deus, têm um trabalho importante a fazer. Agora é o tempo de nos apegarmos ao braço de nosso Poder. A oração de Davi deve ser tanto a dos pastores como dos leigos: "É tempo de operares, ó Senhor; pois eles têm quebrantado a Tua lei." Salmos 119:126. Que os servos do Senhor chorem entre o pórtico e o altar, dizendo: "Poupa a Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio." Joel 2:17. Deus sempre agiu a favor de Seu povo nos lances extremos, quando menos probabilidade havia de ser-lhe evitada a ruína. Os desígnios dos ímpios, dos inimigos da igreja, estão subordinados ao Seu poder e à Sua providência que tudo domina. Pode mover o coração dos estadistas, e desviar a ira dos amotinados e dos adversários, dos que aborrecem a Deus, Sua verdade e Seu povo, como se desviam as correntes dos rios, se assim o entender conveniente. A oração move o braço da Onipotência. Aquele que sustenta em suas órbitas as estrelas, e cuja palavra domina as ondas do grande abismo, o grande Criador, operará a favor de Seu povo se este Lhe suplicar com fé. Restringirá as forças das trevas até que a advertência tenha sido proclamada ao mundo, e todos que a aceitarem estejam preparados para o conflito. T5 453 1 Diz o salmista: "A cólera do homem redundará em Teu louvor, e o restante da cólera Tu o restringirás." Salmos 76:10. Deus quer que a verdade probante seja colocada em primeiro plano, tornando-se assim um objeto de estudo e exame, malgrado o desprezo que muitos lhe votem. O espírito do povo precisa ser agitado. Cada contestação, cada censura, cada calúnia será um meio nas mãos de Deus para provocar curiosidade e despertar os espíritos que, de outro modo, continuariam adormecidos. T5 453 2 Assim sucedeu na história passada do povo de Deus. Por recusarem-se a adorar a estátua de ouro que o rei Nabucodonosor construíra, os três hebreus foram lançados na fornalha ardente. Mas Deus preservou Seus servos no meio das chamas, e a tentativa de impor a idolatria contribuiu para levar o conhecimento do Deus vivo aos príncipes e grandes homens do vasto reino de Babilônia ali reunidos. T5 453 3 O mesmo aconteceu ao ser promulgado o decreto vedando fazer súplicas a outro deus que não fosse o rei. Quando, pois, Daniel, conforme seu costume, fazia suas súplicas diante de Deus, três vezes ao dia, seu caso provocou a atenção dos príncipes e governadores, e teve oportunidade de falar por si e revelar o Deus verdadeiro. Ele então apresentou a razão por que só se deve adorar ao Deus vivo e expôs o dever que temos de render-Lhe louvor e honra. A libertação de Daniel da cova dos leões foi outra prova de que o Ser a quem servia era o legítimo Deus. T5 453 4 Da mesma maneira a prisão de Paulo contribuiu para levar o evangelho diante de reis, príncipes e governadores que de outro modo não teriam recebido a luz. O esforço feito para retardar o progresso da verdade há de contribuir para estendê-la. A excelência da verdade se revela melhor a cada novo ponto de vista do qual se observa. O erro exige disfarce e dissimulação. Veste-se da indumentária de anjos, mas com cada revelação de seu verdadeiro caráter diminui sua probabilidade de êxito. T5 454 1 O povo a quem Deus constituiu depositário de Sua lei não deve consentir que se oculte a luz. A verdade tem de ser proclamada nos lugares tenebrosos da Terra. Os obstáculos têm de ser enfrentados e vencidos. Resta uma grande obra a fazer e essa obra está confiada aos que conhecem a verdade. A esses cumpre fazer agora ardentes preces a Deus. O amor de Cristo deve derramar-se em seu coração, e o Espírito de Cristo tomar posse deles, preparando-os para estarem em pé no dia do juízo. Enquanto se consagram a Deus, um poder convincente há de apoiar-lhes os esforços na apresentação da verdade a outros, e a sua luz abrirá acesso a muitos corações. T5 454 2 Não devemos continuar a dormitar no terreno encantado de Satanás, mas socorrer-nos de todos os nossos recursos e lançar mão de todas as facilidades que a Providência nos depara. A última advertência tem de ser proclamada "a muitos povos, e nações, e línguas, e reis" (Apocalipse 10:11), e a promessa é esta: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. ------------------------Capítulo 52 -- A igreja, a luz do mundo T5 454 3 O Senhor chamou Seu povo de Israel e os separou do mundo a fim de poder-lhes confiar um sagrado legado. Fê-los depositários de Sua lei, e era Seu desígnio conservar por meio deles entre os homens o conhecimento de Deus. Por eles devia a luz do Céu brilhar até aos lugares mais escuros da Terra, e fazer-se ouvir uma voz chamando todos os povos a se voltarem da idolatria para servir ao Deus vivo e verdadeiro. Houvessem os hebreus sido fiéis a esse legado, e teriam sido uma força no mundo. Deus teria sido sua defesa, e os haveria exaltado acima de todas as outras nações. Sua luz e verdade teriam sido reveladas por meio deles, e eles se haveriam destacado sob Seu sábio e santo governo como um exemplo da superioridade desse governo sobre toda forma de idolatria. T5 455 1 Eles, porém, não mantiveram seu concerto com Deus. Seguiram as práticas idólatras das outras nações, e em vez de tornarem o nome de seu Criador um louvor na Terra, sua conduta levou-o ao desprezo dos pagãos. Todavia o desígnio de Deus tem de cumprir-se. O conhecimento de Sua vontade precisa ser difundido na Terra. Deus trouxe a mão do opressor sobre Seu povo, e espalhou-os como cativos entre as nações. Na aflição, muitos deles se arrependeram de suas transgressões e buscaram ao Senhor. Dispersos pelos países dos gentios, disseminaram largamente o conhecimento do verdadeiro Deus. Os princípios da lei divina entraram em conflito com os costumes e práticas das nações. Os idólatras buscaram esmagar a fé verdadeira. Em Sua providência, o Senhor pôs Seus servos Daniel, Neemias e Esdras, face a face com reis e governadores, para que esses idólatras tivessem oportunidade de receber a luz. Assim a obra que Deus dera a Seu povo na prosperidade, dentro de suas fronteiras, mas que fora negligenciada devido à infidelidade, teve de ser por eles realizada em cativeiro, sob grande provação e dificuldades. T5 455 2 Deus está chamando Sua igreja hoje, como chamara o antigo Israel, a fim de erguer-se como luz na Terra. Pela poderosa espada da verdade, as mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos, separou-os das igrejas e do mundo para trazê-los a uma santa proximidade dEle. Fê-los depositários de Sua lei, e confiou-lhes as grandes verdades da profecia para este tempo. Como as Santas Escrituras confiadas ao antigo Israel, estas são um sagrado depósito a ser comunicado ao mundo. Os três anjos de Apocalipse 14 representam o povo que aceita a luz das mensagens de Deus, e vão como agentes Seus fazer soar a advertência por toda a extensão e largura da Terra. Cristo declara a Seus seguidores: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. A toda pessoa que aceita a Jesus, diz a cruz do Calvário: "Vede o valor da alma. 'Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.'" Marcos 16:15. Não se deve permitir que coisa alguma impeça esta obra. É a obra mais importante para este mundo; deve ser de tão vasto alcance como a eternidade. O amor que Jesus manifestou pelas pessoas no sacrifício feito por sua redenção, atuará em todos os Seus seguidores. T5 456 1 Muito poucos dos que receberam a luz, no entanto, estão fazendo a obra confiada a suas mãos. Poucos são os homens de incondicional fidelidade, que não procuram a comodidade, as conveniências ou a própria vida, que abrem seu caminho para onde quer que possam achar uma porta por onde forcem a luz da verdade e reivindiquem a santa lei de Deus. Mas os pecados que controlam o mundo têm penetrado nas igrejas e no coração daqueles que professam ser o povo peculiar de Deus. Muitos dos que receberam a luz exercem sua influência no sentido de aquietar os temores dos mundanos e descrentes. Há amantes do mundo mesmo entre os que professam estar aguardando o Senhor. Há ambição de riquezas e de honras. Cristo descreve essa classe quando declara que o dia de Deus virá como um laço sobre todos os que habitam na Terra. Este mundo é seu lar. Fazem do adquirir riquezas sua ocupação. Constroem custosas habitações e mobiliam-nas com tudo quanto é bom; comprazem-se no vestuário e na satisfação do apetite. As coisas do mundo são seus ídolos. Essas coisas se interpõem entre a pessoa e Cristo, e as solenes e assombrosas realidades que se estão adensando sobre nós não são vistas senão muito palidamente e muito fracamente avaliadas. A mesma desobediência e o mesmo fracasso observados na igreja judaica têm caracterizado em maior grau o povo que recebeu esta grande luz do Céu através das últimas mensagens de advertência. Deixaremos que a história de Israel se repita em nossa experiência? Haveremos nós de, à semelhança deles, desperdiçar nossas oportunidades e privilégios até que Deus permita nos sobrevirem opressão e perseguição? Será a obra que podia ser efetuada em paz e relativa prosperidade deixada por fazer até que precise ser realizada em dias de trevas, sob a pressão das provas e da perseguição? T5 457 1 Terrível é a quantidade de culpa que pesa sobre a igreja. Por que não estão os que possuem a luz desenvolvendo diligentes esforços para levá-la a outros? Vêem que o fim está perto. Vêem multidões transgredindo diariamente a lei de Deus; e sabem que essas pessoas não podem salvar-se em transgressão. Têm todavia mais interesse em seu comércio, suas plantações, suas casas, suas mercadorias, seus vestidos, sua mesa, do que na salvação de homens e mulheres que devem encontrar face a face no juízo. O povo que pretende obedecer à verdade acha-se adormecido. Não poderiam estar tão à vontade como estão, caso estivessem despertos. O amor da verdade está se extinguindo em seu coração. Seu exemplo não é de molde a convencer o mundo de que eles possuem uma verdade mais avançada que qualquer outro povo da Terra. No próprio tempo em que deveriam ser fortes em Deus, tendo diariamente uma viva experiência, acham-se fracos, hesitantes, descansando nos pregadores como seu ponto de apoio, quando deveriam estar ministrando a outros com a mente, a alma, a voz, a pena, o tempo e o dinheiro. T5 457 2 Irmãos e irmãs, muitos de vocês se omitem do trabalho sob pretexto de incapacidade para trabalhar por outros. Mas acaso os fez Deus assim incapazes? Não foi essa incapacidade produzida por sua própria inatividade, e perpetuada por própria e deliberada escolha? Não lhes deu Deus pelo menos um talento a multiplicar, não para proveito próprio e satisfação, mas para Ele? Têm vocês compreendido a obrigação que sobre vocês pesa, como servos assalariados Seus, de trazer-Lhe os juros pelo sábio e hábil emprego desse capital a vocês confiado? Não têm vocês perdido oportunidades de desenvolver suas faculdades para esse fim? É demasiado verdadeiro que poucos são os que têm experimentado um real sentimento de sua responsabilidade para com Deus. Amor, discernimento, memória, previsão, tato, energia e todas as outras faculdades têm sido consagradas ao próprio eu. Tem sido manifestada mais sabedoria no serviço do mal do que na causa de Deus. Vocês têm pervertido, inutilizado, e até embrutecido suas faculdades pela intensa atividade que desenvolvem em empreendimentos mundanos, com negligência da obra de Deus. T5 458 1 Todavia acalmam a consciência dizendo que não podem desfazer o passado, e adquirir o vigor, a resistência e habilidade que poderiam ter desenvolvido se houvessem empregado suas faculdades como Deus demandava. Lembrem-se, porém, que Ele os considera responsáveis pela obra negligentemente feita ou deixada de fazer por causa de sua infidelidade. Quanto mais exercitarem vocês as faculdades para o Mestre, tanto mais aptos e hábeis se tornarão. Quanto mais estreitamente se ligarem com a Fonte da luz e do poder, tanto maior luz será derramada, e tanto maior poder terão para usar para Deus. E por tudo quanto poderiam ter recebido, mas deixaram de obter devido a sua entrega ao mundo, são responsáveis. Quando se tornaram seguidores de Cristo, foi feito um compromisso de servi-Lo, e a Ele tão-somente, e Ele prometeu estar com vocês e abençoá-los, refrigerá-los com Sua luz, assegurar-lhes Sua paz, e fazê-los felizes em Seu serviço. Acaso deixaram de receber essas bênçãos? Estejam certos de que foi o resultado do próprio procedimento. T5 458 2 A fim de escapar ao serviço militar durante a guerra, houve homens que atraíram doenças, outros se aleijaram a fim de serem considerados incapazes para o serviço. Aí está uma ilustração da atitude que muitos têm seguido em relação com a causa de Deus. Têm prejudicado suas faculdades, tanto físicas como mentais, de modo que são incapazes para fazer a obra tão grandemente necessitada. T5 458 3 Suponham que lhes fosse posta na mão uma importância em dinheiro para que a empregassem em determinado projeto; haveriam vocês de atirá-la fora e declarar que não eram agora responsáveis pelo emprego da mesma? Sentiriam haver-se poupado grande cuidado? Todavia é isso que têm estado a fazer com os dons de Deus. Deixar de trabalhar por outros sob pretexto de incapacidade, quando estão absorvidos em empreendimentos mundanos, é zombar de Deus. Há multidões descendo à ruína; o povo que tem recebido luz e verdade não passa de uma minoria para conter todo o exército do mal; todavia, esse pequenino grupo está devotando as suas energias a qualquer coisa e a tudo, menos a aprender como salvar almas da morte. Será de admirar que a igreja seja fraca e ineficiente, que pouco possa Deus fazer por Seu povo professo? Eles se colocam em posição onde Lhe é impossível trabalhar com eles e por eles. Ousam acaso continuar a desconsiderar Suas reivindicações? Brincarão ainda com os mais sagrados legados do Céu? Dirão porventura como Caim: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. T5 459 1 Lembrem-se de que sua responsabilidade não se mede por seus recursos e aptidões atuais, mas pelas faculdades originalmente concedidas e as possibilidades de desenvolvimento. A pergunta que cada um deve fazer a si mesmo, não é se ele se encontra agora sem experiência e incapaz para trabalhar na causa de Deus, mas como e por que se encontra nessas condições, e como pode isso ser remediado. Deus não nos dotará sobrenaturalmente das faculdades que nos faltam; mas ao passo que exercitamos as aptidões que temos, Ele atuará conosco, para aumentar e fortalecer toda faculdade; nossas energias adormecidas se despertarão, e potencialidades há muito paralisadas receberão nova vida. T5 459 2 Enquanto nos encontramos no mundo, teremos que ver com as coisas do mundo. Haverá sempre necessidade de transação de negócios temporais, seculares; isto, porém, jamais deve tornar-se nossa obra principal. O apóstolo Paulo deu uma regra segura: "Não sejais vagarosos no cuidado: sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. Os deveres humildes e comuns da vida, devem ser todos cumpridos com fidelidade; "de coração", diz o apóstolo, "como ao Senhor". Colossences 3:23. Seja qual for nosso ramo de serviço, seja ele o trabalho doméstico, seja o trabalho no campo, sejam realizações intelectuais, podemos fazê-los para a glória de Deus enquanto dermos a Cristo o primeiro, o último e o melhor lugar em tudo. Além desses empregos mundanos, porém, é dada a todo seguidor de Cristo uma obra especial para a edificação de Seu reino -- uma obra que requer esforço pessoal pela salvação de seres humanos. Não é um trabalho a ser feito uma vez por semana apenas, no lugar de culto, mas em todo tempo e em todos os lugares. T5 460 1 Todo aquele que se liga à igreja, faz por esse ato um voto solene de trabalhar pelos interesses da igreja, e de manter esse interesse acima de toda consideração mundana. Sua obra é conservar viva comunhão com Deus, empenhar-se de coração e alma no grande plano da redenção, e mostrar, em sua vida e caráter, a excelência dos mandamentos de Deus em contraste com os costumes e preceitos do mundo. Toda pessoa que fez profissão de Cristo, comprometeu-se a realizar tudo quanto lhe seja possível como um obreiro espiritual, a ser ativo, zeloso e eficiente no serviço de seu Mestre. Cristo espera que cada homem cumpra seu dever; seja essa a senha em todas as fileiras de Seus seguidores. T5 460 2 Não devemos esperar que nos solicitem a comunicar luz, a ser importunados por conselho ou instrução. Toda pessoa que recebe os raios do Sol da Justiça, deve refletir-Lhe o brilho a todos os que a cercam. Sua religião deve exercer positiva e decidida influência. Suas orações e súplicas devem estar tão impregnadas do Espírito Santo, que abrandem e subjuguem a alma. Disse Jesus: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:16. Melhor é para um mundano o nunca ter visto um mestre de religião, do que ficar sob a influência de um que seja ignorante do poder da piedade. Se Cristo fosse nosso modelo, Sua vida nossa regra, que zelo se manifestaria, que esforços seriam desenvolvidos, que liberalidade exercida, quanta abnegação praticada! Quão infatigável deveria ser o esforço, quão fervorosas orações em busca de poder e de sabedoria ascenderiam a Deus! Se todos os professos filhos de Deus sentissem ser a primordial ocupação da vida fazer a obra que Ele lhes mandou realizar, se trabalhassem abnegadamente em Sua causa, que mudança se manifestaria em lares e corações, em igrejas, e no próprio mundo! T5 460 3 Em todas as épocas foi requerido dos seguidores de Cristo vigilância e fidelidade; mas agora que nos achamos no limiar do mundo eterno, possuindo as verdades que temos, de posse de tão grande luz, de uma obra tão importante, cumpre-nos dobrar a dedicação. Cada um deve fazer o máximo de suas aptidões. Meu irmão, você põe em risco a própria salvação se fica agora para trás. Deus o chamará a dar contas se falhar na obra que lhe designou. Você tem conhecimento da verdade? Transmita-o aos outros. T5 461 1 Que posso eu dizer para despertar nossas igrejas? Que posso eu dizer aos que têm desempenhado parte preeminente na proclamação da última mensagem? "O Senhor vem", deve ser o testemunho apresentado, não só pelos lábios, mas pela vida e o caráter; porém muitos a quem Deus concedeu luz e conhecimento, talentos de influência e recursos, são homens que não amam a verdade e não a praticam. Beberam a tão largos goles da intoxicante taça do egoísmo e do mundanismo, que ficaram embriagados com os cuidados desta vida. Irmãos, se continuarem a ser tão preguiçosos, tão mundanos, tão egoístas como têm sido, certamente Deus os passará por alto e tomará aqueles que cuidam menos de si mesmos. Os menos ambiciosos de honras mundanas não hesitarão em sair, como fez seu Mestre, levando a desonra. A obra será dada àqueles que lançarão mãos dela, que apreciam, que lhe entretecem os princípios na vida diária. Deus escolherá homens humildes que buscam glorificar-Lhe o nome e promover-Lhe a causa de preferência a honrar e prosperarem-se a si mesmos. Ele suscitará homens que não possuem tanta sabedoria do mundo, mas que estão ligados com Ele e buscarão conselho e forças do alto. T5 461 2 Alguns de nossos dirigentes inclinam-se a condescender com o espírito manifestado pelo apóstolo João quando disse: "Mestre, vimos um que em Teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue." Marcos 9:38. São essenciais a organização e a disciplina, mas há agora grande risco de apartar-nos da simplicidade do evangelho de Cristo. O que necessitamos, é menos confiança em meras formas e cerimônias, e muito mais poder da verdadeira piedade. Se sua vida e caráter forem exemplares, trabalhem todos quantos quiserem, em qualquer atividade. Ainda que não se conformem em tudo com os métodos usados por vocês, não se deve proferir uma palavra para condená-los ou desanimá-los. Quando os fariseus quiseram que Jesus fizesse calar as crianças que Lhe cantavam o louvor, o Salvador disse: "Se estes se calarem, as próprias pedras clamarão." Lucas 19:40. A profecia tem de cumprir-se. T5 462 1 Assim, nestes dias, a obra deve ser feita. Há muitos departamentos de trabalho; desempenhe cada um uma parte, da melhor maneira que lhe seja possível. O homem que tem apenas um talento não o deve enterrar no solo. Deus deu a cada um sua obra, segundo as aptidões que possui. Aqueles a quem foram confiados maiores legados e habilidades, não devem procurar reduzir ao silêncio outros de menos capacidade ou experiência. Os homens dotados de um talento podem alcançar uma classe da qual os que possuem dois ou cinco talentos não se podem aproximar. Grandes e pequenos são igualmente vasos escolhidos para levar a água da vida às almas sedentas. Não ponham os que pregam a Palavra a mão no mais humilde obreiro, dizendo: "Você deve trabalhar neste ramo ou não trabalhar em nenhum outro." Não façam isto, irmãos. Trabalhe cada um em sua própria esfera, revestido de sua própria armadura, fazendo seja o que for que possa fazer em sua maneira humilde. Fortaleçam-lhe as mãos na obra. Não é tempo de o farisaísmo dominar. Deixem que Deus atue por meio de quem Ele quiser. A mensagem precisa avançar. T5 462 2 Todos devem mostrar sua fidelidade para com Deus pelo sábio emprego do capital que lhes foi confiado, não somente em meios, mas em qualquer dom que possa ser usado para a edificação de Seu reino. Satanás empregará todo meio possível para impedir a verdade de chegar aos que se acham imersos no erro; a voz da advertência e do rogo, porém, deve alcançá-los. E ao passo que apenas poucos estão empenhados nessa obra, milhares deviam estar tão interessados quanto eles. Nunca foi desígnio de Deus que os membros leigos da igreja evitassem trabalhar em Sua causa. "Vai trabalhar hoje na Minha vinha" (Mateus 21:28) é a ordem do Mestre a cada um de Seus seguidores. Enquanto houver pessoas por converter no mundo, deve haver pela sua salvação o mais ativo, zeloso, fervente e decidido esforço. Os que receberam a luz, devem buscar esclarecer os que não a têm. Se os membros da igreja não lançarem individualmente mão dessa obra, mostrarão assim não estar em viva conexão com Deus. Seu nome está registrado como servos negligentes. Vocês não podem discernir a razão por que não há mais espiritualidade em nossas igrejas? É porque vocês não são colaboradores de Cristo. T5 463 1 Deus deu a cada homem sua obra. Esperemos, cada um de nós, em Deus, e Ele nos ensinará a trabalhar, e mostrará qual trabalho somos mais aptos para fazer. Todavia ninguém deve começar com espírito independente, a promulgar teorias novas. Os obreiros devem estar em harmonia com a verdade e com seus irmãos. Importa que haja conselho e cooperação. Não devem sentir, porém, que devem a cada passo esperar para perguntar a um obreiro de mais responsabilidade se podem fazer isto ou aquilo. Não olhem para o homem no sentido de receber orientação, mas ao Deus de Israel. T5 463 2 O trabalho que a igreja tem deixado de fazer em tempo de paz e prosperidade terá de realizar em terrível crise, sob as circunstâncias mais desanimadoras e difíceis. As advertências que a conformidade com o mundo tem silenciado ou retido, precisam ser dadas sob a mais feroz oposição dos inimigos da fé. E por aquele tempo a classe dos superficiais, conservadores, cuja influência tem retardado decididamente o progresso da obra, renunciará à fé e tomará sua posição com os francos inimigos dela, para os quais havia muito tendiam suas simpatias. Esses apóstatas hão de manifestar então a mais cruel inimizade, fazendo tudo quanto estiver ao seu alcance para oprimir e fazer mal a seus antigos irmãos e incitar indignação contra eles. Esse tempo se acha justamente diante de nós. Os membros da igreja serão individualmente provados. Serão colocados em circunstâncias em que se verão forçados a dar testemunho da verdade. Muitos serão chamados a falar diante de concílios e em tribunais de justiça, talvez separadamente e sozinhos. A experiência que os haveria ajudado nessa emergência, negligenciaram obter, e sua alma se acha opressa de remorsos pelas oportunidades desperdiçadas e os privilégios que negligenciaram. T5 463 3 Meu irmão, minha irmã, ponderem nessas coisas, eu lhes peço. Tenha, cada um de vocês, uma obra a fazer. Sua infidelidade e negligência acham-se registradas contra vocês no Livro do Céu. Isso tem enfraquecido suas faculdades e diminuído suas aptidões. Faltam-lhes a experiência e eficiência que poderiam ter. Antes, porém, que seja para sempre demasiado tarde, insisto para que despertem. Não se demorem mais. O dia está quase no fim. O Sol poente está prestes a desaparecer para sempre aos seus olhos. Todavia enquanto o sangue de Cristo intercede, vocês podem encontrar perdão. Reúnam todas as energias da alma, empreguem as poucas horas restantes em diligente trabalho para Deus e seus semelhantes. T5 464 1 Meu coração se acha profundamente comovido. As palavras são inadequadas para exprimir meus sentimentos ao interceder eu pelos perdidos. Terei de pleitear em vão? Como embaixadora de Cristo, quisera despertá-los para trabalhar como nunca dantes trabalharam. Seu dever não pode ser passado a outro. Ninguém pode realizar sua obra senão vocês mesmos. Caso retenham a luz que receberam, alguém deve ser deixado em trevas por causa de sua negligência. T5 464 2 A eternidade estende-se diante de nós. A cortina está a ponto de ser erguida. Nós, que ocupamos esta posição solene, de responsabilidade, que estamos fazendo, em que estamos pensando, que nos apegamos a nosso egoístico amor da comodidade, enquanto pessoas estão perecendo ao nosso redor? Acaso nosso coração se tornou inteiramente calejado? Não podemos nós sentir ou compreender que temos uma obra a efetuar pela salvação dos outros? Irmãos, vocês são porventura da classe dos que, tendo olhos não vêem, e tendo ouvidos não ouvem? Será em vão que Deus lhes deu o conhecimento de Sua vontade? Terá sido em vão que Ele lhes tem enviado advertência após advertência? Vocês acreditam nas declarações da verdade eterna quanto ao que está para acontecer na Terra, acreditam que os juízos de Deus estão para cair sobre o povo, e podem ainda sentar-se comodamente, indolentes, descuidosos, amando o prazer? T5 464 3 Não é tempo agora de o povo de Deus estar fixando suas afeições ou entesourando neste mundo. Não está muito distante o tempo em que, como os antigos discípulos, seremos forçados a buscar refúgio em lugares desolados e solitários. Como o cerco de Jerusalém pelos exércitos romanos era o sinal de fuga para os cristãos judeus, assim o arrogar-se nossa nação o poder para decretar obrigatório o dia de repouso papal será uma advertência para nós. Será então tempo de deixar as grandes cidades, passo preparatório para sair das menores para lares retirados em lugares solitários entre as montanhas. E agora, em vez de buscarmos dispendiosas moradas aqui, devemos estar-nos preparando para mudar-nos para um país melhor, isto é, o celestial. Em vez de gastar nosso dinheiro em nos comprazer a nós mesmos, cumpre-nos estudar a maneira de economizar. Cada talento concedido por Deus deve ser empregado para glória Sua, em proclamar a advertência ao mundo. Deus tem uma obra para Seus obreiros fazerem nas cidades. Nossas missões precisam ser mantidas; outras novas precisam ser abertas. Para levar avante esta obra com êxito, o gasto não será pequeno. Necessitam-se casas de culto, onde o povo seja convidado a ouvir as verdades para este tempo. Justamente para esse desígnio confiou Deus capital a Seus mordomos. Não vinculem seus bens a empreendimentos mundanos, de modo que esta obra seja prejudicada. Ponham o dinheiro onde o possam manejar para o benefício da causa de Deus. Mandem seus tesouros adiante de vocês para o Céu. T5 465 1 Os membros da igreja devem-se colocar, juntamente com todos os seus bens, no altar de Deus. Agora, como nunca antes, aplica-se a admoestação do Salvador: "Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração." Lucas 12:33, 34. Os que estão empregando seus recursos em grandes casas, em terras, em empreendimentos mundanos, estão, por suas ações, dizendo: "Não são para Deus; quero-os para mim mesmo." Esses atam seu talento em um lenço, e escondem-no na terra. Há motivo para ficarem alarmados. Irmãos, Deus não lhes confiou recursos para ficarem ociosos, nem para serem cobiçosamente retidos ou escondidos, mas empregados no avanço de Sua causa, para salvar os perdidos. Agora não é tempo para segurar o dinheiro do Senhor em seus custosos edifícios e em grandes empreendimentos, ao passo que Sua obra fica prejudicada, deixada a mendigar para ir adiante, com o tesouro suprido pela metade. O Senhor não apóia essa maneira de trabalhar. Lembrem-se de que se aproxima rapidamente o dia em que se dirá: "Presta contas da tua mordomia." Lucas 16:2. Vocês não podem discernir os sinais dos tempos? T5 466 1 Cada dia que passa nos leva para mais perto do último e grande, importante dia. Achamo-nos um ano mais perto do juízo, mais perto da eternidade, do que estávamos no começo de 1884. Estamos também nos aproximando mais de Deus? Estamos vigiando em oração? Outro ano de nosso tempo de trabalho rolou para a eternidade. Dia a dia temos estado no convívio de homens e mulheres que se encaminham para o juízo. Cada dia pode ter sido a linha divisória de uma criatura; alguém pode ter tomado a decisão que lhe determinará o destino futuro. Qual tem sido nossa influência sobre esses companheiros de viagem? Que esforços desenvolvemos a fim de levá-los a Cristo? T5 466 2 Solene coisa é morrer, mas muito mais solene é viver. Todo pensamento, palavra e ato de nossa vida será novamente enfrentado. O que fazemos de nós mesmos no tempo da graça, isso nos acompanhará por toda a eternidade. A morte traz a dissolução do corpo, mas não efetua mudança no caráter. A vinda de Cristo não nos muda o caráter; fixa-o apenas para sempre, além da possibilidade de qualquer mudança. T5 466 3 Apelo novamente para os membros da igreja, para que sejam cristãos, para que sejam semelhantes a Cristo. Jesus foi um obreiro, não para Si mesmo, mas para os outros. Ele trabalhou a fim de beneficiar e salvar os perdidos. Se vocês são cristãos, imitarão o exemplo de Cristo. Ele pôs o fundamento, e nós somos construtores juntamente com Ele. Que material, porém, estamos nós trazendo para colocar sobre esse fundamento? "A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta, e o fogo provará qual seja a obra de cada um." 1 Coríntios 3:13. Se estão dedicando toda a sua energia e talento às coisas deste mundo, a obra de sua vida é representada pela madeira, feno, palha, a serem consumidos pelo fogo do último dia. O abnegado trabalho para Cristo, porém, e para a vida futura, será como o ouro, a prata e as pedras preciosas; é imperecível. T5 466 4 Meus irmãos e irmãs, rogo-lhes que despertem do sono da morte. É demasiado tarde para consagrar as forças do cérebro, dos ossos e dos músculos ao serviço do próprio eu. Não permitam que o derradeiro dia os encontre destituídos do tesouro celeste. Procurem levar avante os triunfos da cruz, busquem esclarecer almas, trabalhar pela salvação de seus semelhantes, e seu trabalho resistirá à difícil experiência do fogo. T5 467 1 "Se a obra que alguém edificou... permanecer, esse receberá galardão." 1 Coríntios 3:14. Gloriosa será a recompensa concedida quando os fiéis obreiros estiverem reunidos ao redor do trono de Deus e do Cordeiro. Quando João, em seu estado mortal, contemplou a glória de Deus, caiu como morto; não pôde suportar a visão. Quando, porém, o mortal se houver revestido da imortalidade, os remidos serão semelhantes a Jesus, pois tal como é O verão. Acham-se diante do trono, significando que estão aceitos. Todos os seus pecados estão apagados, tiradas todas as suas transgressões. Agora, podem olhar para a plena glória do trono de Deus. Participaram dos sofrimentos de Cristo, foram coobreiros Seus no plano da redenção, e partilham com Ele da alegria de ver pessoas salvas mediante sua atuação a louvarem a Deus por toda a eternidade. ------------------------Capítulo 53 -- Josué e o anjo T5 467 2 Pudesse ser erguido o véu que separa o mundo visível do invisível, e pudesse o povo de Deus contemplar o grande conflito que se trava entre Cristo e os santos anjos, e Satanás e suas forças malignas, acerca da redenção do homem; pudesse compreender a maravilhosa obra de Deus em favor da salvação de almas da escravidão do pecado e a constante operação de Seu poder para sua proteção da maldade do maligno, e estariam melhor preparados para resistir às armadilhas de Satanás. Sentiriam no espírito uma impressão solene em vista da vasta extensão e importância do plano da redenção e da grandeza da obra que se lhes depara, como colaboradores de Cristo. Sentir-se-iam humilhados, todavia animados, sabendo que todo o Céu se acha interessado em sua salvação. T5 467 3 Uma ilustração muito viva e impressionante da obra de Satanás e da de Cristo, e do poder de nosso Mediador para vencer o acusador de Seu povo, é dada na profecia de Zacarias. Em santa visão, o profeta contempla a Josué, o sumo sacerdote, "vestido de vestidos sujos" (Zacarias 3:3), diante do Anjo do Senhor, suplicando a misericórdia de Deus em favor de seu povo, que se acha em profunda aflição. Satanás acha-se a Sua mão direita, para Lhe resistir. Porque Israel fora escolhido para preservar na Terra o conhecimento de Deus, tinham sido eles desde quando vieram a existir como nação, o objeto especial da inimizade de Satanás, e ele determinara promover sua destruição. Não lhes podia ele fazer mal algum enquanto fossem obedientes a Deus; por isso utilizou todo o seu poder e astúcia para os induzir ao pecado. Enganados por suas tentações, haviam transgredido a lei de Deus, separando-se assim da Fonte de sua força, tendo sido deixados a tornar-se presa de seus inimigos gentios. Foram levados em cativeiro para Babilônia, e ali permaneceram por muitos anos. Entretanto, não foram abandonados pelo Senhor. Foram-lhes enviados Seus profetas, com repreensões e advertências. O povo foi desperto para reconhecer sua culpa, humilharam-se perante Deus e a Ele volveram com arrependimento verdadeiro. Então o Senhor lhes enviou mensagens de animação, declarando que os livraria do cativeiro e os restauraria ao Seu favor. Isso era o que Satanás estava resolvido a impedir. Já um remanescente de Israel voltara para sua terra, e procurava Satanás levar as nações pagãs, que eram agentes seus, a destruí-los por completo. T5 468 1 Quando Josué roga humildemente o cumprimento das promessas de Deus, ergue-se Satanás ousadamente, para lhe resistir. Aponta para as transgressões de Israel como razão de não dever o povo ser restaurado ao favor de Deus. Reclama-os como presa sua, e requer que sejam entregues em suas mãos, para serem destruídos. T5 468 2 O sumo sacerdote não se pode defender, nem ao seu povo, das acusações de Satanás. Não alega que Israel esteja livre de falta. Em suas vestes sujas, simbolizando os pecados do povo, com os quais ele arca como representante seu, está ele perante o anjo, confessando a falta deles, mas ao mesmo tempo alegando seu arrependimento e humilhação, confiando na misericórdia de um Redentor que perdoa o pecado e, com fé, suplicando as promessas de Deus. T5 469 1 Então o Anjo, que é o próprio Cristo, o Salvador dos pecadores, reduz a silêncio o acusador do Seu povo, declarando: "O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende: não é este um tição tirado do fogo?" Zacarias 3:2. Israel havia permanecido por muito tempo na fornalha da aflição. Por causa de seus pecados, foram quase consumidos na chama acesa por Satanás e seus agentes, para sua destruição; mas Deus agora Se lançara à obra de os salvar. Penitentes e humilhados como se achavam, o compassivo Salvador não abandona Seu povo ao cruel poder dos pagãos. "A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega." Isaías 42:3. T5 469 2 Aceita a intercessão de Josué, é dada a ordem: "Tirai-lhe estes vestidos sujos", e a Josué declara o Anjo: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos." "E puseram uma mitra limpa sobre a sua cabeça, e o vestiram de vestidos." Zacarias 3:4, 5. Foram perdoados os seus próprios pecados e os do povo. Israel vestiu "vestidos novos" -- a justiça de Cristo imputada a eles. A mitra colocada sobre a cabeça de Josué era como a que usavam os sacerdotes, e trazia a inscrição: "Santidade ao Senhor" (Zacarias 14:20), significando que, não obstante suas transgressões anteriores, achava-se ele agora habilitado a ministrar perante Deus em Seu santuário. T5 469 3 Depois de assim o haver solenemente investido da dignidade do sacerdócio, declarou o Anjo: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se andares nos Meus caminhos, e se observares as Minhas ordenanças, também tu julgarás a Minha casa, e também guardarás os Meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui." Zacarias 3:7. Ele seria honrado, como juiz ou administrador do templo e de todos os seus serviços; deveria andar entre os anjos assistentes, mesmo nesta vida, e no final unir-se à glorificada multidão ao redor do trono de Deus. T5 470 1 "Ouve, pois, Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de ti, porque são homens portentosos; eis que Eu farei vir o Meu Servo, o Renovo." Zacarias 3:8. Aqui se revela a esperança de Israel. Foi pela fé no Salvador vindouro que Josué e seu povo receberam perdão. Pela fé em Cristo, foram restaurados ao favor de Deus. Por virtude dos méritos de Cristo, se andassem nos Seus caminhos e guardassem os Seus estatutos, seriam "homens portentosos" (Zacarias 3:8), honrados como escolhidos do Céu entre as nações da Terra. Cristo era sua esperança, sua defesa, sua justificação e redenção, como é Ele a esperança de Sua igreja hoje. T5 470 2 Como Satanás acusou a Josué e seu povo, assim em todos os séculos acusa os que buscam a misericórdia e favor de Deus. No Apocalipse é ele declarado ser o "acusador de nossos irmãos", "o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite". Apocalipse 12:10. O conflito repete-se em relação a toda pessoa que é salva do poder do mal e cujo nome se acha registrado no livro da vida, do Cordeiro. É impossível alguém sair da família de Satanás e ser aceito na família de Deus sem suscitar a resistência do maligno. As acusações de Satanás contra os que buscam o Senhor não são motivadas pelo desprazer em face de seus pecados. Ele exulta com os defeitos de seu caráter. Unicamente por causa de sua transgressão da Lei de Deus, pode ele alcançar poder sobre eles. Suas acusações advêm tão-somente de sua inimizade a Cristo. Mediante o plano da salvação, Jesus quebra o poder de Satanás sobre a família humana, salvando os que estão em suas garras. Todo o ódio e malignidade do arqui-rebelde é provocado, ao contemplar ele a evidência da supremacia de Cristo e com diabólico poder e astúcia opera para arrebatar o remanescente dos filhos dos homens que aceitaram Sua salvação. T5 470 3 Leva ele homens ao ceticismo, fazendo-os perderem a confiança em Deus e separarem-se de Seu amor; tenta-os a quebrantarem Sua lei, reclamando-os então como cativos seus, e contestando o direito de Cristo, de lhos arrebatar. Sabe ele que os que buscam sinceramente de Deus o perdão e a graça os hão de obter; por isso apresenta perante eles os seus pecados, a fim de os desanimar. Está constantemente buscando ocasião contra os que procuram obedecer a Deus. Mesmo seus melhores e mais aceitáveis serviços busca ele fazer que se afigurem corruptos. Por armadilhas sem-número, as mais sutis e mais cruéis, empenha-se em conseguir a condenação deles. Não pode o homem por si mesmo defender-se dessas acusações. Em suas vestes manchadas de pecado, confessando sua culpa, ei-lo perante Deus. Mas Jesus, nosso Advogado, apresenta um eficaz rogo em favor de todos os que, mediante arrependimento e fé, a Ele confiaram a guarda de sua vida. Defende-lhes a causa e derrota seu acusador, com os poderosos argumentos do Calvário. Sua perfeita obediência à lei de Deus, mesmo até à morte de cruz, conferiu-Lhe todo o poder no Céu e na Terra, e Ele pleiteia de Seu Pai misericórdia e reconciliação para o homem culpado. Ao acusador de Seu povo diz ele: "O Senhor te repreende, ó Satanás." Estes são a aquisição de Meu sangue, "tições apanhados do fogo." Zacarias 3:2. Os que com fé nEle confiarem, receberão a confortadora certeza: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos." Todos os que vestiram as vestes da justiça de Cristo, estarão perante Ele como escolhidos, fiéis e verdadeiros. Satanás não tem poder para arrancá-los da mão de Cristo. Ele não permitirá que passe para o poder do inimigo pessoa alguma que tenha reclamado, com penitência e fé, Sua proteção. Está empenhada Sua palavra: "Que se apodere da Minha força, e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. A todos é feita a promessa dada a Josué: "Se observares as Minhas ordenanças, ... te darei lugar entre os que estão aqui." Zacarias 3:7. Anjos de Deus andarão de ambos os lados seus, mesmo neste mundo, e no final estarão entre os anjos que circundam o trono de Deus. T5 471 1 O serem os reconhecidos filhos de Deus representados como estando na presença do Senhor com vestes sujas, deve levar à humildade e profundo exame do coração, por parte de todos os que Lhe professam o nome. Os que estão de fato purificando o caráter mediante a obediência à verdade, terão de si mesmos uma opinião muito humilde. Quanto mais de perto virem o imaculado caráter de Cristo, tanto mais forte será o seu desejo de serem conformados à Sua imagem, e tanto menos pureza ou santidade verão eles em si mesmos. Mas, conquanto devamos reconhecer nosso estado pecaminoso, temos de confiar em Cristo como nossa justiça, nossa santificação e redenção. Não podemos contestar as acusações de Satanás contra nós. Cristo, unicamente, pode pleitear eficazmente em nosso favor. Ele é capaz de silenciar o acusador com argumentos baseados não em nossos méritos mas nos Seus. T5 472 1 Entretanto, jamais devemos ficar satisfeitos com uma vida pecaminosa. É um pensamento que deve despertar os cristãos a um maior zelo e fervor na luta contra o mal, esse de que cada defeito de caráter, cada ponto no qual deixam de satisfazer a norma divina, é uma porta aberta pela qual Satanás pode entrar a fim de tentá-los e destruí-los. E, além disso, cada falha e defeito dá ao tentador e seus agentes ocasião para atingir a Cristo. Devemos aplicar todas as energias na obra de vencer, e buscar de Jesus a força para fazer o que por nós mesmos não podemos realizar. Pecado algum pode ser tolerado naqueles que hão de andar com Cristo, em vestes brancas. Terão de ser removidos os vestidos sujos, e colocadas sobre nós as vestes da justiça de Cristo. Pelo arrependimento e fé somos habilitados a prestar obediência a todos os mandamentos de Deus, e somos achados sem mácula perante Ele. Os que hão de receber a aprovação de Deus estão agora afligindo a alma, confessando os pecados, e suplicando fervorosamente o perdão, por Jesus seu Advogado. NEle está fixada sua atenção; suas esperanças e sua fé nEle se centralizam, e ao ser dada a ordem: "Tirai-lhe estes vestidos sujos, e ponde-lhe uma mitra limpa sobre a sua cabeça" (Zacarias 3:4), acham-se preparados para Lhe dar toda a glória por sua salvação. T5 472 2 A visão de Zacarias, relativa a Josué e ao Anjo, aplica-se com força particular à experiência do povo de Deus no remate do grande dia da expiação. A igreja remanescente será levada a grande prova e aflição. Os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus, sentirão a ira do dragão e seus seguidores. Satanás conta o mundo como súdito seu, ele adquiriu domínio sobre as igrejas apóstatas; mas ali está um pequeno grupo que lhe resiste à supremacia. Caso os pudesse desarraigar da Terra, seu triunfo seria completo. Como ele influenciou as nações pagãs para destruir Israel, assim, em próximo futuro há de incitar os ímpios poderes da Terra para destruir o povo de Deus. De todos será exigido que prestem obediência a leis humanas em violação à lei divina. Os que forem fiéis a Deus e ao dever, serão ameaçados, denunciados e proscritos. Serão traídos "até pelos pais, irmãos, parentes e amigos". T5 473 1 Sua única esperança está na misericórdia de Deus, sua única defesa será a oração. Como Josué pleiteou diante do Anjo, assim a igreja remanescente, com coração quebrantado e fervorosa fé, pleiteará o perdão e livramento por meio de Jesus, seu Advogado. Acham-se plenamente cônscios da pecaminosidade de sua vida, vêem sua fraqueza e indignidade, e ao olharem a si mesmos, ficam a ponto de desesperar. O tentador está ao seu lado para os acusar, como esteve ao lado de Josué, para lhe resistir. Aponta às suas vestes imundas, seu caráter defeituoso. Apresenta sua fraqueza e descaminhos, seus pecados de ingratidão, sua dessemelhança de Cristo, a qual desonrou seu Redentor. Esforça-se por assustar a pessoa com o pensamento de que seu caso não tem esperança, que a mancha de seu pecado jamais será lavada. Tem esperança de assim destruir-lhe a fé, para que ceda a suas tentações, volva costas à sua aliança com Deus e receba o sinal da besta. T5 473 2 Satanás insiste perante Deus com suas acusações contra eles, declarando que por seus pecados perderam o direito à proteção divina, e reclamando o direito de destruí-los como transgressores. Pronuncia-os tão merecedores como ele mesmo, de exclusão do favor de Deus. "São estas", diz ele, "as pessoas que hão de tomar meu lugar no Céu e o lugar dos anjos que se uniram a mim? Embora professem obedecer à lei de Deus, têm porventura guardado os seus preceitos? Não têm sido amantes de si mesmos, mais do que de Deus? Não colocaram seus próprios interesses acima do Seu serviço? Não amaram as coisas do mundo? Eis os pecados que lhes assinalaram a vida. Eis o seu egoísmo, sua maldade, seu ódio uns para com os outros." T5 474 1 O povo de Deus tem sido, em muitos respeitos, muito faltoso. Satanás possui um exato conhecimento dos pecados que ele os tentou a cometerem, e apresenta esses pecados como exageradamente graves, declarando: "Há de Deus banir-me e aos meus anjos de Sua presença, e contudo recompensar os que são culpados dos mesmos pecados? Não podes, ó Senhor, isso fazer com justiça. Teu trono não se achará baseado em justiça e juízo. A justiça requer que seja pronunciada sentença contra eles." T5 474 2 Mas, conquanto os seguidores de Cristo tenham cometido pecado, não se entregaram ao domínio do mal. Abandonaram os pecados e buscaram o Senhor com humildade e contrição, e o Divino Advogado pleiteia em seu favor. Aquele que mais maltratado foi por sua ingratidão, que conhece os seus pecados e também seu arrependimento, declara: "'O Senhor te repreenda, ó Satanás.' Eu dei a vida por essas criaturas. Acham-se gravadas nas palmas das Minhas mãos." T5 474 3 Os assaltos de Satanás são fortes, terríveis os seus enganos; mas os olhos do Senhor estão sobre o Seu povo. Grande é sua aflição, as chamas da fornalha parecem prestes a consumi-los; mas Jesus os fará sair como ouro provado no fogo. Tem de ser removida sua tendência terrena, a fim de que reflitam perfeitamente a imagem de Cristo; têm de vencer a incredulidade, e desenvolver a fé, esperança e paciência. T5 474 4 O povo de Deus suspira e geme pelas abominações cometidas na Terra. Com lágrimas advertem os ímpios de seu perigo em pisar a lei divina, e com indescritível pesar humilham-se perante o Senhor, por causa de suas próprias transgressões. Os ímpios escarnecem de sua tristeza, ridicularizam seus solenes apelos e zombam do que chamam sua fraqueza. Mas a angústia e humilhação do povo de Deus é inequívoca evidência de estarem recuperando a força e nobreza de caráter perdidas em conseqüência do pecado. É por se estarem aproximando mais de Cristo, e terem os olhos fitos em Sua pureza perfeita, que discernem tão claramente a grande malignidade do pecado. Sua contrição e humilhação própria são infinitamente mais aceitáveis à vista de Deus, do que o é o espírito presunçoso e altivo dos que não vêem motivo para lamentos, que escarnecem da humildade de Cristo e que pretendem ser perfeitos, ao passo que transgridem a santa lei de Deus. Mansidão e humildade de coração são as condições de força e vitória. A coroa de glória aguarda aos que se prostram ao pé da cruz. Bem-aventurados são esses que assim choram, porque serão consolados. T5 475 1 Os fiéis e devotos estão, por assim dizer, com Deus no mesmo recinto. Eles mesmos não sabem quão seguramente se acham protegidos. Instados por Satanás, os governantes deste mundo procuram destruí-los; mas pudessem ser abertos os seus olhos, como o foram os do servo de Eliseu em Dotã, e veriam os anjos de Deus acampados em redor deles subjugando as legiões das trevas por seu brilho e glória. T5 475 2 Ao afligir o povo de Deus seu coração perante Ele, suplicando pureza de caráter, é dada a ordem: "Tirai-lhes os vestidos sujos", e proferem-se as palavras animadoras: "Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniqüidade, e te vestirei de vestidos novos." Zacarias 3:4. As imaculadas vestes da justiça de Cristo são colocadas sobre os provados, tentados mas fiéis filhos de Deus. Os desprezados remanescentes são vestidos de vestes gloriosas, que nunca mais serão manchadas pelas corrupções do mundo. Seus nomes são retidos no livro da vida, do Cordeiro, registrados entre os fiéis de todos os séculos. Resistiram aos ardis do enganador; não foram demovidos de sua lealdade pelos rugidos do dragão. Acham-se agora eternamente seguros dos ardis do tentador. Seus pecados são transferidos para o originador do pecado. E os remanescentes são não só perdoados e aceitos, mas também honrados. Uma "mitra limpa" é-lhes colocada sobre a cabeça. Serão como reis e sacerdotes para Deus. Enquanto Satanás instava com suas acusações, e buscava destruir esse grupo, santos anjos, invisíveis, passavam para cá e para lá, colocando sobre eles o selo do Deus vivo. Estes são os que se acharão sobre o Monte Sião com o Cordeiro, tendo escrito na fronte o nome do Pai. Cantam ante o trono o novo cântico, aquele cântico que homem algum pode aprender a não ser os cento e quarenta e quatro mil, que foram remidos da Terra. "Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus." Apocalipse 14:4, 5. T5 476 1 Agora atingem cumprimento completo aquelas palavras do Anjo: "Ouve, pois Josué, sumo sacerdote, tu e os teus companheiros que se assentam diante de ti, porque são homens portentosos; eis que Eu farei vir o Meu Servo, o Renovo." Cristo é revelado como o Redentor e Libertador de Seu povo. Agora, efetivamente, são os remidos "homens portentosos" (Zacarias 3:8), quando as lágrimas e humilhações de sua peregrinação cederam lugar à alegria e honra na presença de Deus e do Cordeiro. "Naquele dia o Renovo do Senhor será cheio de beleza e de glória, e o fruto da terra excelente e formoso para os que escaparem de Israel. E será que aquele que ficar em Sião e o que permanecer em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito entre os vivos em Jerusalém." Isaías 4:2, 3. ------------------------Capítulo 54 -- Unidade e amor na igreja T5 477 1 Prezados irmãos e irmãs de Healdsburg: T5 477 2 Não se esqueçam de que as mais perigosas armadilhas que Satanás prepara para a igreja procedem de seus próprios membros que não amam a Deus sobre todas as coisas nem ao próximo como a si mesmos. Satanás está continuamente atuando para se introduzir entre os irmãos. Procura obter o controle daqueles que professam crer na verdade, mas não são convertidos. E quando os pode influenciar por meio de sua própria natureza carnal, unindo-se a eles na tentativa de opor-se aos propósitos de Deus, então ele se rejubila. T5 477 3 O Instituto de Saúde, o colégio, o ministério e as sociedades missionárias, todos são instrumentos que Deus emprega para a realização de Sua obra. Se Satanás puder, de qualquer forma, planejar alguma coisa que desvie talentos e meios desses instrumentos para outros canais, ele o fará. Há alguns que estão enganados. Conquanto gabando-se de estar fazendo a obra de Deus, estão proporcionando vantagens ao grande enganador e prestando-lhe serviço efetivo. Resguardem-se contra esses enganos. Tenham sempre presente o que é devido a nossa profissão cristã como particular povo de Deus; guardem-se, não seja que, na prática da independência pessoal sua influência atue contra os propósitos de Deus, e vocês, através das armadilhas de Satanás se tornem pedra de tropeço, diretamente no caminho dos que são fracos e vacilantes. Há o perigo de dar aos nossos adversários ocasião de blasfemar de Deus e acumular escárnio sobre os crentes na verdade. T5 478 1 Estejam especialmente atentos contra o tornarem-se uma ferramenta nas mãos do inimigo para desviar a mente de quem quer que seja -- homens, mulheres ou crianças -- de render-se inteiramente a Deus e à grande obra para este tempo. Acautelem-se contra iludir os jovens por mostrar-lhes perspectivas de ganho financeiro, esplêndidas vantagens educacionais ou grandes realizações pessoais. Palavras lisonjeiras são doces para o coração não-convertido e alguns que pensam ser firmes, estão entorpecidos, seduzidos e intoxicados com esperanças que nunca se realizarão. Uma grande injustiça tem sido feita assim. Todos deveriam pensar e falar modestamente acerca de suas habilidades e ser cuidadosos para não despertar o orgulho e o amor-próprio nos outros. Homens e mulheres, se não consagrados a Deus, são fracos em poder moral e podem estar inteiramente enganados em sua avaliação da capacidade humana e do que constitui a fidelidade cristã. Não apresentem qualquer incentivo que venha diminuir o interesse de alguém no estabelecimento de uma instituição, a qual Deus disse que deveria progredir. T5 478 2 O irmão A não manifesta boa compreensão em todas as ocasiões e em todos os assuntos. Ele não é ponderado, e a menos que ande em humildade diante de Deus, cometerá perigosos erros. Falta-lhe discernimento e por essa razão julga mal o caráter, usando palavras extravagantes de adulação com alguns, muito embora lhes prejudique o caráter. Ele os levará a pensar que podem realizar alguma grande coisa e assim negligenciarão pequenos deveres que estão diretamente em seu caminho. T5 478 3 Eu não apelo para a inatividade, mas para que seu espírito mundano e egoísta seja subjugado. Qualquer empreendimento que una os interesses dos membros da igreja e traga harmonia e unidade de ação à obra de Deus, pode ser seguramente assumido. Mas nunca, nunca se esqueçam que ou vocês são servos de Jesus Cristo, trabalhando arduamente por aquela unidade entre os crentes, pela qual Cristo orou, ou estão agindo contra essa unidade e contra Ele. T5 479 1 Os que procuram diminuir o interesse de quem quer que seja na escola de Healdsburg ou na obra missionária em qualquer de seus ramos, não estão trabalhando com Deus, mas sob as ordens de outro capitão cujo objetivo é minar e destruir. Sua utilidade, irmãos e irmãs da igreja de Healdsburg, exige que vocês sejam honestos em todos os procedimentos; que sejam humildes, santos e impolutos. Deveria haver menos orgulho interesseiro, menos vaidade. Quando os membros da igreja estão revestidos de humildade, quando afastam de si a presunção e o egoísmo, quando buscam constantemente fazer a vontade de Deus, então trabalharão juntos em harmonia. O Espírito de Deus é um. ... T5 479 2 A crise está justamente diante de nós, quando cada um necessitará de muito poder vindo de Deus de forma a poder permanecer firme contra as astúcias de Satanás, pois seus enganos virão de toda forma concebível. Aqueles que se têm permitido ser joguetes das tentações de Satanás, estarão despreparados para ficar do lado da retidão. Suas idéias serão confusas e assim não poderão discernir entre o divino e o satânico. T5 479 3 Virá uma crise a cada uma de nossas instituições. Estarão em operação influências contra elas, tanto por parte dos crentes como dos descrentes. Não deve haver agora traição da confiança ou legado sagrado, para benefício ou exaltação do próprio eu. Devemos constantemente vigiar nossa vida, com zeloso cuidado, do contrário daremos ao mundo impressão errada. É preciso dizer e agir: "Sou cristão. Não posso agir segundo as máximas do mundo. Devo amar a Deus supremamente e a meu próximo como a mim mesmo. Não posso participar de qualquer arranjo, nem cooperar com ele -- se esse arranjo interferir, do modo mínimo que seja, com a minha utilidade, ou enfraquecer minha influência, ou destruir a confiança de quem quer que seja, nos cooperadores de Deus." T5 479 4 Lembrem-se de que o povo de Deus não é senão um pequeno rebanho quando comparado com o mundo professamente cristão e os milhões de homens e mulheres adoradores do mundo. Eles devem ser cristãos bíblicos, exemplos de justiça e exatidão em todas as coisas para nossa juventude. Cada influência que cerca os jovens deveria ser de caráter santo, e ela deveria começar em nossa própria família. O sacro e o profano não deveriam ser misturados. Proteger os interesses dos irmãos T5 480 1 Por seu voto batismal todo membro da igreja se comprometeu solenemente a proteger os interesses dos irmãos. Todos serão tentados a se apegar aos próprios e acariciados planos e idéias, os quais lhes parecem sãos; deviam, porém, vigiar e orar, e esforçar-se ao máximo de sua capacidade, por edificar o reino de Jesus no mundo. Deus requer de todo cristão, tanto quanto estiver ao seu alcance, que desvie de seus irmãos e irmãs toda influência que tenda no mínimo que for, a dividi-los, ou separar seus interesses da obra para nossos dias. Deve não somente ter consideração pelos próprios interesses espirituais, mas manifestar preocupação pela salvação daqueles com quem está relacionado; e deve, através de Cristo, possuir influência inspiradora sobre os outros membros da igreja. Suas palavras e comportamento devem influenciá-los a seguir o exemplo de Cristo na abnegação, no sacrifício e no amor por outros. T5 480 2 Caso haja na igreja alguém que exerça influência contrária ao amor e à desinteressada bondade que Cristo manifestou por nós, que vai em sentido contrário ao de seus irmãos, homens fiéis devem tratar desses casos com sabedoria, trabalhando pela salvação deles, cuidando todavia que sua influência não fermente outros, e que a igreja não seja desviada por seu desafeto ou suas falsas informações. Alguns estão cheios de presunção. Há uns poucos que se julgam corretos, mas questionam e criticam todos os atos dos outros. Tais pessoas não devem ser deixadas a pôr em risco os interesses da igreja. A fim de elevar o nível moral da mesma, cada um deve sentir ser seu dever buscar a própria cultura espiritual, mediante a prática de estritos princípios bíblicos, como na presença de um Deus Santo. T5 481 1 Que todo membro da igreja sinta dever ele próprio estar com sua vida em ordem diante de Deus, que ele precisa ser santificado pela verdade. Então, poderá representar perante os outros o caráter cristão, e dar um exemplo de integridade. Se cada um assim fizer, a igreja crescerá em espiritualidade e em favor para com Deus. T5 481 2 Todo membro de igreja deveria sentir-se sob obrigação de dedicar seu dízimo a Deus. Ninguém deve seguir os próprios caminhos ou a inclinação de seu coração egoísta, roubando assim a Deus. Não devem usar os meios para satisfazer a vaidade ou para qualquer outra indulgência egoísta, pois assim fazendo enredam-se nas armadilhas de Satanás. Deus é o doador do tato, da habilidade para ajuntar riquezas e, portanto, tudo deve ser posto sobre Seu altar. A ordem é: "Honra ao Senhor com a tua fazenda..." Provérbios 3:9. O pendor à cobiça precisa ser constantemente reprimido, pois de outro modo corroerá o coração de homens e mulheres, e eles correrão avidamente atrás do lucro. T5 481 3 No deserto da tentação, Satanás, o adversário das almas, apresentou perante Cristo as glórias do mundo e disse-Lhe: "Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares." Mateus 4:9. O Salvador repeliu Satanás, mas quão facilmente é o homem seduzido pelas simulações do grande inimigo! Muitos ficam fascinados com as atrações do mundo; eles servem a Mamom antes que a Deus, e assim perdem sua salvação. T5 481 4 Ainda um pouco de tempo e nos encontraremos com o Senhor. Que conta Lhe daremos do uso que temos feito de nosso tempo, talentos de influência e posses? Nossa alegria deveria estar na obra de salvar pessoas. Eu solenemente pergunto à igreja de Healdsburg: Está Deus, realmente, entre vocês? Diz a Testemunha Verdadeira: "Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso." Apocalipse 3:4. Fazem vocês parte desse número? Têm vocês mantido firme sua integridade? Como homens imersos nas águas batismais, têm vocês se apegado a Cristo? Estão vocês obedecendo-Lhe, vivendo para Ele, amando-O? Encontra-se cada membro puro, santo e incontaminado, em cuja boca não há engano? Se sim, vocês são muito felizes, pois são, à vista de Deus, "mais preciosos do que o ouro puro e mais raros do que o ouro fino de Ofir". Isaías 13:12. Enquanto multidões são consagradas a Mamom e não servem ao Santo de Israel, há uns poucos que não mancharam seus vestidos, mas mantêm-nos impolutos do mundo. Esses serão uma força. Essa classe possui fé que opera pelo amor e purifica o caráter. Eles exemplificam os elevados princípios cristãos. Buscarão a ligação pessoal com a Fonte da luz e se esforçarão para fazer constante progresso, cultivando cada faculdade em sua máxima extensão. Deus gostaria que vocês tivessem firme integridade e retidão. Isso faria com que os irmãos fossem distinguidos perante o mundo como filhos do Deus Altíssimo. Jesus era sereno e bondoso, não perdendo seu domínio próprio mesmo quando sob tormentoso conflito, em meio aos mais ferozes elementos de oposição. T5 482 1 Deus diz a vocês, que tiveram grande luz: "Subam mais alto" Acheguem-se mais a Deus e ao Céu. Prossigam! Vocês necessitam fé, verdadeiro amor por seus irmãos e mais profundo interesse neles. Deus lhes confiou sagradas responsabilidades. Há um campo missionário para cada membro da igreja, onde ele pode exercer influência para o bem. T5 482 2 Nosso colégio não é o que deveria ser nem o que seria se nossos irmãos e irmãs sentissem que é um santo encargo a eles confiado. Se eles elevarem o padrão de espiritualidade na igreja, se derem um exemplo de integridade em todos os seus relacionamentos, se todos cultivarem a piedade e a dignidade cristã, então a influência do colégio será ampla e a luz fluirá dele com ricas bênçãos. Vi que se o colégio for adequadamente administrado, muitos jovens sairão dele para serem obreiros ativos na causa de Deus. Mas, que todos estejam atentos a fim de não exercer influência contrária à verdade e ao colégio, por causa de uma vida não-consagrada, por maus julgamentos ou mexericos, pois Deus certamente a registrará contra eles. O colégio sempre se verá obrigado a lutar contra dificuldades, porque alguns homens são faltos de fé e não controlados pela mente de Cristo. Se Satanás puder encontrar pessoas entre nós que espreitem para mal e falem depreciativamente de nossas instituições, buscando cada desagradável ninharia que ocorra, ele ficará muito contente. O inimigo não cessará seus esforços para levar pessoas a depreciarem o colégio porque essa instituição não está, em cada particular, conforme suas idéias. Se ele percebe que a juventude pode receber benefícios, estimulará na igreja toda influência para desanimar antes que para fortalecer e edificar. T5 483 1 Que esses elementos se acham em Healdsburg, bem como em outros lugares, ninguém pode negar, e se Satanás não os usasse, valer-se-ia de algum outro tipo de influência visando ao mesmo fim. "É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse lançado ao mar..." Lucas 17:1, 2. Deus tem Seus meios de operação. Os homens nem sempre podem discerni-los, e por darem tanta importância a seus próprios esforços, não somente impedem o Senhor de agir, como também se acham trabalhando contra Ele. "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:12. "Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza; antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." 2 Pedro 3:17, 18. T5 483 2 Aproximamo-nos do fim do tempo. Abundantes serão as provações de fora, mas não permitam que venham de dentro da igreja. Negue o professo povo de Deus a si mesmo por amor da verdade, por amor de Cristo. "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal." 2 Coríntios 5:10. Todo aquele que ama a Deus absolutamente, terá o espírito de Cristo e fervente amor por seus irmãos. Quanto mais o coração de uma pessoa estiver em comunhão com Deus, e quanto mais suas afeições se concentrarem em Cristo, tanto menos ela se perturbará com as asperezas e vicissitudes que encontrar nesta vida. Os que estão crescendo até à estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus, tornar-se-ão mais e mais semelhantes a Cristo em caráter, erguendo-se acima da disposição para murmurar e estar descontentes. Olharão com desprezo a possibilidade de serem críticos. T5 484 1 A igreja, neste tempo, deve ter a fé que uma vez foi entregue aos santos, a qual os habilitará a dizer audazmente: "Deus é o meu ajudador" (Salmos 54:4); "posso todas as coisas nAquele que me fortalece". Filipenses 4:13. O Senhor ordena que nos levantemos e avancemos. Sempre que a igreja, em qualquer período, abandonou os seus pecados, creu e andou na verdade, eles foram honrados por Deus. Na fé e na humilde obediência há um poder a que o mundo não pode resistir. A ordem da providência de Deus em relação a Seu povo é progresso -- contínuo avanço no aprimoramento do caráter cristão, no caminho da santidade, subindo cada vez mais alto na clara luz, no conhecimento e no amor de Deus, até o fim do tempo. Oh! por que estamos sempre aprendendo apenas os princípios mais elementares da doutrina de Cristo? T5 484 2 O Senhor tem ricas bênçãos para a Igreja se os seus membros procurarem diligentemente despertar dessa perigosa mornidão. Uma religião de vaidades, palavras desprovidas de vitalidade, um caráter destituído de força moral -- essas coisas são salientadas na solene mensagem dirigida pela Testemunha Verdadeira às igrejas, advertindo-as do orgulho, mundanismo, formalismo e auto-suficiência. Àquele que diz: "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta", o Senhor do Céu declara: "Não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." Apocalipse 3:17. T5 485 3 Mas, aos humildes, aos sofredores, aos fiéis, aos pacientes, que estão conscientes de sua debilidade e insuficiência, são proferidas palavras de encorajamento: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo." Apocalipse 3:20. A Testemunha Verdadeira diz a todos: "Eu sei as tuas obras. Esse rigoroso escrutínio está sendo feito nas igrejas da Califórnia. Nada escapa à Sua atenta investigação; suas faltas e erros, negligências e malogros, seu pecaminoso afastamento da verdade, declínio e imperfeições, "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar". Hebreus 4:13. T5 485 1 Espero e oro para que vocês possam andar em humildade de espírito e ser uma bênçãos uns aos outros. "Porque ainda um poucochinho de tempo, e O que há de vir virá e não tardará." Hebreus 10:37. As lâmpadas nupciais precisam estar guarnecidas e ardendo. Nosso Senhor demora-Se porque "é longânimo para conosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem a arrependimento". 2 Pedro 3:9. Quando nós, porém, com todos os remidos, estivermos em pé no mar de vidro, com harpas de ouro e coroas de glória, e diante da imensidão da eternidade, veremos então como foi curto o período de espera e provação. "Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando!" Lucas 12:37. T5 485 2 Vivemos em um tempo em que todos devem especialmente dar ouvidos à recomendação do Salvador: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Mateus 26:41. Conserve cada um em mente que ele deve ser verdadeiro e leal a Deus, crendo na verdade, crescendo na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. O convite do Salvador, é: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas." Mateus 11:29. O Senhor está disposto a ajudar-nos, a fortalecer-nos e abençoar-nos; importa, porém, que passemos pelo processo de purificação até que todas as impurezas de nosso caráter sejam consumidas. Todo membro da igreja será submetido à fornalha, não para consumir, mas para purificar. T5 485 3 O Senhor tem atuado entre vocês, mas Satanás também se tem insinuado, para introduzir o fanatismo. Há outros males ainda a serem evitados. Alguns estão em risco de ficar satisfeitos com os vislumbres que têm tido da luz e do amor de Deus, cessando, portanto, de avançar. A vigilância e a oração não têm sido mantidas. Ao próprio tempo em que se faz a aclamação: "Templo do Senhor, templo do Senhor é este" (Jeremias 7:4), entram tentações, e as trevas se adensam ao redor da alma -- mundanismo, egoísmo e exaltação própria. Há necessidade de que o próprio Senhor comunique Suas idéias à pessoa. Que pensamento! -- que em lugar de nossas pobres idéias e planos acanhados, terrenos, o Senhor nos comunique Suas idéias, Seus pensamentos nobres, largos, de vasto alcance, sempre apontando para o Céu! T5 486 1 Eis seu perigo, em deixar de avançar "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". Filipenses 3:14. Deus Lhes deu luz? Vocês são então responsáveis por essa luz; não meramente enquanto esses raios estão brilhando sobre vocês mas por tudo quanto ela lhes tem revelado no passado. Cumpre-lhes entregar sua vontade a Deus diariamente; vocês devem andar na luz, e esperar mais, pois a luz do querido Salvador tem de resplandecer em raios mais brilhantes, mais distintos, entre as trevas morais, aumentando mais e mais em intensidade até ao dia perfeito. T5 486 2 Estão todos os membros de sua igreja procurando colher novo maná cada manhã e cada tarde? Vocês estão buscando a iluminação divina? ou estão imaginando meios pelos quais podem glorificar-se? Estão, com todo o interesse, forças, mente e poder, amando e servindo a Deus no sentido de beneficiar a outros ao seu redor ao conduzi-los à Luz do mundo? Estão satisfeitos com as bênçãos passadas? ou estão andando como Cristo andou, trabalhando como Ele trabalhou, revelando-O ao mundo através de palavras e atos? Estão vocês, como filhos obedientes, vivendo vida pura e santa? Cristo tem de ser introduzido em seu viver. Unicamente Ele os pode curar da inveja, das ruins suspeitas contra os irmãos; Ele somente pode tirar o espírito presunçoso que alguns de vocês acariciam, para seu próprio prejuízo espiritual. Jesus tão-somente pode fazê-los sentir sua fraqueza, ignorância, sua natureza corrupta. Só Ele os pode tornar puros, refinados, habilitá-los para as mansões dos bem-aventurados. T5 487 1 "Em Deus faremos proezas." Salmos 60:12. Quanto bem vocês podem fazer sendo leais a Deus e a seus irmãos, reprimindo todo pensamento destituído de bondade, todo sentimento de inveja ou presunção! Encha-se sua vida do ministério da bondade para com os outros. Não sabem quão cedo poderão ser chamados a depor sua armadura. A morte pode colhê-los de repente, sem lhes dar tempo de preparar-se para a última mudança, nenhuma força física ou poder mental para fixar em Deus os pensamentos, e fazer paz com Ele. Alguns saberão em breve, por experiência, quão vão é o auxílio do homem, quão inútil é a justiça presunçosa com que se têm satisfeito. T5 487 2 Sinto-me solicitada pelo Espírito do Senhor a dizer-lhes que agora é seu dia de privilégio, de confiança, de bênção. Vocês o aproveitarão? Estão trabalhando para a glória de Deus, ou por interesses egoístas? Estão mantendo diante dos olhos de seu espírito lisonjeiras perspectivas de êxito mundano, pelo qual poderão obter a satisfação do próprio eu e o ganho financeiro? Se assim é, serão amargamente decepcionados. Se, porém, buscam viver vida pura e santa, aprender diariamente na escola de Cristo as lições que Ele os convidou a aprender, a ser mansos e humildes de coração, terão paz que circunstância alguma terrena pode mudar. T5 487 3 A vida em Cristo é uma vida de descanso. Desassossego, descontentamento, mal-estar, revelam a ausência do Salvador. Se Jesus for introduzido na vida, essa vida encher-se-á de obras boas e nobres para o Mestre. Vocês se esquecerão de cuidar em servir ao próprio eu, e viverão cada vez mais perto do querido Salvador; seu caráter tornar-se-á semelhante ao de Cristo, e todos quantos os rodeiam conhecerão que estiveram com Jesus e dEle aprenderam. Cada um possui em si mesmo a fonte da própria felicidade, ou infelicidade. Se ele quiser, poderá erguer-se acima das impressões baixas, sentimentais, que constituem a vida de muitos; mas enquanto ele for repleto de si mesmo, o Senhor nada poderá fazer em seu benefício. Satanás apresentará ambiciosos projetos para estontear os sentidos, mas cumpre-nos conservar sempre diante de nós "o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". Filipenses 3:14. Amontoem nesta vida todas as boas obras que puderem. "Os entendidos, pois, resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente." Daniel 12:3. T5 488 1 Caso nossa vida seja cheia de santa fragrância, se honrarmos a Deus tendo bons pensamentos para com os outros, e bons atos para beneficiá-los, não importa se vivemos em uma modesta casinha, ou num palácio. As circunstâncias pouco têm a ver com as experiências da vida. É o espírito nutrido o que dá colorido a todas as nossas ações. Uma pessoa em paz com Deus e seus semelhantes não pode ser infeliz. Em seu coração não há lugar para a inveja; tampouco para as ruins suspeitas; o ódio não pode existir. O coração em harmonia com Deus eleva-se acima dos aborrecimentos e provas desta vida. Mas um coração em que não há a paz de Cristo, é descontente, infeliz; a pessoa vê defeitos em tudo, e ocasionaria desarmonia na mais celestial das músicas. Uma vida de egoísmo é uma vida cheia do mal. Aqueles cujo coração se acha cheio do amor a si mesmos, armazenarão maus pensamentos para com seus irmãos, e falarão contra os servos de Deus. As paixões mantidas ardentes, violentas, pelas sugestões de Satanás, são fonte amarga jorrando sempre amargosas correntes para envenenar a vida de outros. ... T5 488 2 Que todo aquele que professa seguir a Cristo, estime-se menos e aos outros mais. Avancem juntos, avancem juntos! Na união há força e vitória; na discórdia e divisão, fraqueza e derrota. Essas palavras me foram dirigidas do Céu. Como embaixadora de Deus, eu as digo a vocês. T5 488 3 Busquem todos, um por um, atender à oração de Cristo: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti." João 17:21. Oh! que união essa! e Cristo diz: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." João 13:35. T5 489 1 Quando a morte reclama um dos nossos, que lembranças nos ficam do tratamento recebido por ele? São os quadros pendurados nas paredes da memória aprazíveis para neles nos determos? São eles recordações de bondosas palavras proferidas, ou de simpatia dispensada ao devido tempo? Repeliram seus irmãos as ruins suspeitas de pessoas intrometidas e indiscretas? Defenderam-lhe a causa? Foram eles fiéis à inspirada recomendação: "Que... consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos"? 1 Tessalonicenses 5:14. "Eis que ensinaste a muitos, e esforçaste as mãos fracas." Jó 4:3. "Confortai as mãos fracas, e fortalecei os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Esforçai-vos, não temais." Isaías 35:3, 4. T5 489 2 Quando aqueles com quem nos associamos na igreja estão mortos, quando sabemos que seu relatório nos livros do Céu está encerrado, e que eles devem enfrentar esse registro no juízo, quais são as reflexões de seus irmãos quanto à atitude que tiveram para com eles? Qual foi sua influência sobre eles? Quão claramente é invocada agora toda palavra áspera, toda ação desavisada! Quão diferentemente se conduziriam, caso tivessem outra oportunidade! T5 489 3 O apóstolo Paulo deu graças a Deus pelo conforto a ele dado na dor, dizendo: "Bendito seja o Deus e Pai... de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus." 2 Coríntios 1:3, 4. À medida que Paulo sentia o conforto e calor do amor de Deus penetrando em seu coração, refletia a bênção sobre os outros. Disponhamos de tal maneira nossa conduta, que os quadros pendurados nas paredes de nossa memória não sejam de tal sorte que não suportemos refletir sobre eles. T5 489 4 Depois que aqueles com quem convivemos estiverem mortos, jamais haverá oportunidade de retirar qualquer palavra a eles dirigida, ou de apagar da lembrança qualquer dolorosa impressão. Atentemos, pois, para os nossos caminhos, para que não ofendamos a Deus com nossos lábios. Seja afastada toda frieza e desinteligência. Abrande-se o coração em ternura diante de Deus, ao Lhe recordarmos o misericordioso trato para conosco. Permitam que o Espírito de Deus, qual chama santa, consuma todo lixo empilhado à porta do coração, e deixem Jesus entrar; então, Seu amor fluirá para os outros por nosso intermédio em ternas palavras, e pensamentos e ações. Então, se a morte nos separar de nossos amigos, para não mais nos encontrarmos até que nos achemos perante o tribunal de Deus, não nos envergonharemos ao ver aparecer o registro de nossas palavras. T5 490 1 Quando a morte cerra os olhos, e as mãos se dobram sobre o peito silencioso, quão pronto mudam os sentimentos de desinteligência! Não há má vontade nem amargura; as desatenções e as injustiças são perdoadas, esquecidas. Quantas palavras de amor são ditas acerca do morto! Quantas boas coisas em sua vida são evocadas! Louvores e boas apreciações são agora francamente expressas; caem, porém, em ouvidos que nada ouvem, coração que já não sente. Houvessem essas palavras sido ditas quando o fatigado espírito tanto delas carecia, quando os ouvidos as podiam escutar e o coração sentir, que aprazível quadro haveria sido deixado na memória! Quantos, ao estarem respeitosos e em silêncio junto a um morto, recordam com vergonha e dor as palavras e atos que causaram tristeza ao coração agora para sempre quieto! Tragamos agora toda beleza, amor e bondade que nos for possível, à nossa vida. Sejamos considerados, agradecidos, pacientes e longânimos em nossas relações uns com os outros. Que os pensamentos e sentimentos que encontram expressão em torno do moribundo e do morto sejam introduzidos no convívio diário com nossos irmãos e irmãs em vida. ------------------------Capítulo 55 -- O comportamento na casa de Deus T5 491 1 Para a alma crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como que a porta do Céu. Os cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor são os meios que Deus proveu para preparar um povo para a assembléia lá do alto, para aquela reunião sublime à qual coisa nenhuma que contamine poderá ser admitida. T5 491 2 Da santidade atribuída ao santuário terrestre, os cristãos devem aprender como considerar o lugar onde o Senhor deseja encontrar-Se com Seu povo. Houve uma grande mudança, não para melhor mas para pior, nos hábitos e costumes do povo com relação ao culto religioso. As coisas sagradas e preciosas, destinadas a ligar-nos a Deus, estão quase perdendo sua influência sobre nossa mente e coração, sendo rebaixadas ao nível das coisas comuns. A reverência que o povo antigamente revelava para com o santuário onde se encontrava com Deus, em santa adoração, quase deixou de existir. Entretanto, Deus mesmo deu as instruções para Seu culto, elevando-o acima de tudo quanto é terreno. T5 491 3 A casa é o santuário da família; e o aposento particular ou o bosque o lugar mais recôndito para o culto individual; mas a igreja é o santuário da congregação. Devem existir aí regulamentos quanto ao tempo, lugar e maneira de adorar. Nada do que é sagrado, nada do que está ligado à adoração a Deus, deve ser tratado com negligência ou indiferença. Para que os homens possam verdadeiramente glorificar a Deus, importa que em suas relações pessoais façam distinção entre o que é sagrado e o que é profano. Os que têm idéias amplas, nobres pensamentos e aspirações, são os que têm relações que fortalecem todos os pensamentos sobre as coisas divinas. Felizes os que possuem um santuário, seja ele luxuoso ou modesto, no meio de uma cidade ou entre as cavernas das montanhas, no humilde aposento particular ou em algum deserto. Se for esse o melhor lugar que lhes é dado arranjar para esse fim, Deus o santificará pela Sua presença e será santo ao Senhor dos exércitos. T5 492 1 Quando os adoradores entram na igreja devem guardar a devida compostura e tomar silenciosamente seu lugar. Se houver no recinto um aquecedor, não convém agrupar-se em torno dele em atitude indolente e preguiçosa. Conversas vulgares, cochichos e risos não devem ser permitidos na igreja, nem antes nem depois das reuniões. Ardente e profunda piedade deve caracterizar os adoradores. T5 492 2 Se faltam alguns minutos para o começo do culto, devem eles entregar-se à devoção e meditação silenciosa, elevando a alma em oração a Deus a fim de que a adoração se torne para eles uma bênção especial e produza convicção e conversões de outras pessoas. Devem lembrar-se de que estão presentes ali mensageiros do Céu. Perdemos geralmente muito da suave comunhão com Deus pela nossa inquietação, por não promovermos momentos de reflexão e oração. O estado espiritual da alma necessita muitas vezes ser passado em revista, e a mente e o coração serem elevados ao Sol da Justiça. Se ao entrarem na casa de adoração, o povo o fizesse com a devida reverência, lembrando-se de que se acha ali na presença do Senhor, seu silêncio redundaria em testemunho eloqüente. Os cochichos, risos e conversas, que se poderiam admitir em qualquer outro lugar, não devem ser permitidos na casa em que Deus é adorado. A mente deve estar preparada para ouvir a Palavra de Deus, a fim de que esta possa exercer a devida influência e impressionar adequadamente o coração. T5 492 3 O pastor deve entrar na casa de oração com uma compostura digna e solene. Chegado ao púlpito, deve inclinar-se em silenciosa oração e pedir fervorosamente o auxílio de Deus. Que impressão fará isso! Uma profunda solenidade se apodera de todos, e os anjos de Deus são trazidos para bem perto. Cada um dos congregados deve também, de cabeça inclinada, unir-se ao pregador em silenciosa oração, e suplicar a Deus que abençoe a reunião com Sua presença, imprimindo poder à palavra ministrada por lábios humanos. Ao ser aberta a reunião com oração, todos devem ajoelhar-se na presença do Altíssimo e elevar o coração a Deus em silenciosa devoção. As orações dos fiéis adoradores serão ouvidas e o ministério da palavra provar-se-á eficaz. A atitude sem vida dos adoradores na casa de Deus é uma das grandes razões por que o ministério não produz maior bem. Todo o culto deve ser efetuado com solenidade e reverência, como se fora feito na visível presença do próprio Deus. T5 493 1 Quando a Palavra é exposta, vocês devem lembrar-se de que é a voz de Deus que lhes está falando por meio de Seu servo. Escutem com atenção. Não dormitem nessa hora; porque assim fazendo é possível que lhes escapem nesse momento justamente as palavras de que mais necessitam ouvir -- palavras que, atendidas, os livrariam de enveredar por algum caminho errado. Satanás e seus anjos estão ativos, criando uma espécie de paralisia dos sentidos, de modo a não serem ouvidas as admoestações, advertências e repreensões; ou, se ouvidas, não terem efeito sobre o coração, transformando a vida. Às vezes é uma criança que desvia de tal modo a atenção dos ouvintes, que a semente preciosa não cai em terreno fértil para produzir fruto. Outras, são moços e moças que revelam tão pouco respeito pela adoração e pela casa de Deus, que se entretêm a conversar durante a pregação. Se pudessem perceber os anjos que os estão observando e anotando seu procedimento, corariam de vergonha com aversão de si mesmos. Deus quer ouvintes atentos. Foi enquanto os homens dormiam que Satanás aproveitou para semear o joio. T5 493 2 Ao ser pronunciada a bênção final, todos devem conservar-se quietos, como temendo ficar privados da paz de Cristo. Saiam então todos sem se atropelar e evitando falar em voz alta, sentindo que estão na presença de Deus, Seus olhos repousam sobre todos e que devem agir como se estivessem em Sua visível presença. Ninguém deve deter-se nos corredores para encontros e tagarelice, impedindo a passagem aos outros que buscam a saída. Os arredores imediatos da igreja devem caracterizar-se por uma sagrada reverência, evitando os crentes fazer deles lugar de encontro com os amigos, a fim de trocarem frases banais ou tratarem de negócios. Tais coisas não convêm na igreja. Deus e os anjos têm sido desonrados em algumas igrejas pelas risadas barulhentas e irreverentes e o ruído de pés. T5 494 1 Pais, exaltem o padrão do cristianismo na mente de seus filhos, ajudando-os a entretecer a pessoa de Jesus em sua experiência, ensinando-os a ter o maior respeito pela casa de Deus e a compreender que quando entram ali devem fazê-lo com o coração comovido, ocupando-se com pensamentos como estes: "Deus está aqui; esta é a Sua casa. Devo alimentar pensamentos puros e guiar-me pelos mais santos propósitos. Não devo conservar em meu coração orgulho, inveja, ciúme, suspeitas, ódio ou engano, porque estou na presença de Deus. Este é o lugar onde Deus vem encontrar-Se com Seu povo e o abençoa. O Altíssimo e Santo, que habita na eternidade, me vê, esquadrinha meu coração, e lê meus mais secretos pensamentos e atos de minha vida." T5 494 2 Irmãos, não seria bom meditarem um pouco sobre esse assunto, reparando na maneira como se conduzem na casa de Deus e nos esforços que estão fazendo por preceito e exemplo, a fim de cultivar em seus filhos a reverência? Vocês atribuem vastas obrigações ao pregador, responsabilizando-o pela salvação de seus filhos, mas vocês mesmos estão esquecidos do próprio dever como pais e instrutores de, como Abraão, ordenar sua casa, após si, para que guardem o caminho do Senhor. Seus filhos e filhas se corrompem pelo seu próprio exemplo e sua frouxa disciplina, e, apesar dessa grave falha na educação doméstica, entendem que o pastor deve poder combater sua influência e realizar o prodígio de educar o coração de seus filhos na piedade e virtude. Depois de o pastor haver feito pela igreja tudo quanto pôde, admoestando-a fielmente e com bondade, procurando encaminhá-la com paciência e fazendo ardentes preces pelo resgate e salvação de cada um, e não terem seus esforços alcançado o desejado êxito, os pais não raro o censuram por não verem convertidos os filhos, quando a causa está na sua própria negligência. A responsabilidade pesa sobre os pais; quererão eles aceitar a missão de que Deus os incumbiu e desempenhar-se dela com fidelidade? Quererão ir adiante e esforçar-se num espírito humilde, paciente e perseverante, para atingir o elevado padrão, levando consigo os filhos? Não admira que nossas igrejas estejam fracas e não reine nelas a reverência profunda que as deveria caracterizar. Nossos atuais hábitos e costumes, que desonram a Deus e tornam banais as coisas divinas, nos são contrários. Somos depositários de uma verdade sagrada, difícil e santificadora; e se nossos hábitos e práticas não corresponderem a essa verdade, pecamos contra uma grande luz e nossa culpa será correspondente. Mais tolerável do que para nós há de ser para os gentios a justiça retributiva de Deus no dia do juízo. T5 495 1 Muito mais do que estamos atualmente fazendo, poderia ser feito a fim de irradiar a luz da verdade. Deus espera que demos muito fruto. Deseja ver maior zelo e fidelidade, e esforços mais diligentes e caritativos da parte dos membros da igreja a favor dos vizinhos e dos que estão sem Cristo. Os pais devem começar seu trabalho de acordo com um plano elevado. Todos os que mencionam o nome de Cristo devem vestir-se da armadura de Deus e admoestar e advertir, esforçando-se por salvar almas do pecado. Levem todos os que puderem a ouvir a verdade na casa de Deus. Devemos desenvolver maior diligência no que fazemos, a fim de arrancar pessoas do fogo. T5 496 1 É um fato deplorável que a reverência pela casa de Deus esteja quase extinta. As coisas e lugares sagrados quase já não são discernidos; o que é santo e elevado não é apreciado. Não haverá uma causa para essa falta de legítima piedade nas famílias? Não será por que a elevada norma da religião esteja abatida até ao pó? Deus deu a Seu povo na antigüidade procedimentos precisos e exatos. Porventura Seu caráter foi mudado? Não é mais o Altíssimo e Todo-poderoso que domina sobre o Universo? Não conviria lermos com freqüência as instruções que Deus mesmo Se dignou dar aos antigos hebreus para que nós, que temos a verdade gloriosa irradiando sobre nós, os imitemos em sua reverência para com a casa de Deus? Temos motivos de sobra para alimentar espírito de fervor e devoção na adoração a Deus. Temos até motivos para ser mais ponderados e reverentes em nosso culto do que os judeus. Mas um inimigo tem estado a trabalhar, a fim de destruir nossa fé na santidade da adoração cristã. T5 496 2 A casa dedicada a Deus não deveria servir também para negócios. Se as crianças se reúnem para o culto numa sala em que durante a semana funciona uma escola ou loja, é natural que sua atenção seja desviada por lembranças dos estudos ou de fatos ocorridos nessa mesma sala em dias precedentes. Os jovens devem ser educados a elevar em seu conceito o caráter do que é sagrado e a praticar a verdadeira devoção na casa de Deus. Muitos dos que professam ser filhos do celeste Rei não apreciam devidamente a santidade das coisas eternas. Quase todos precisam ser ensinados como se portar na casa de Deus. Os pais devem não só ensinar, como exortar os filhos a entrarem no santuário divino com seriedade e reverência. T5 496 3 O sentimento moral dos que adoram a Deus no Seu santuário tem de ser elevado, apurado e santificado. Esse assunto tem sido deploravelmente negligenciado. Sua importância tem sido passada por alto e como resultado, desordem e irreverência passaram a imperar e Deus é desonrado. Se os líderes das igrejas, pastores e povo, pais e mães, não têm idéias elevadas a esse respeito, que poderão esperar de crianças inexperientes? Estas são muitas vezes encontradas em grupos, afastadas dos pais que deviam tomar conta delas; e embora se encontrem na presença de Deus, cujos olhos sobre elas repousam, são levianas e frívolas, põem-se a cochichar e a rir, portando-se inconvenientemente, e mostrando-se desrespeitosas e desatentas. Raras vezes são instruídas que os pastores são embaixadores de Deus, que a mensagem que pregam é o meio por Ele determinado para a salvação e que para todos os que têm o privilégio de ouvir constitui um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. T5 497 1 A delicada e impressionável mente dos jovens avalia o trabalho dos servos de Deus pela maneira como seus pais tratam o assunto. Muitos chefes de família têm por costume criticar em casa o culto, aprovando urnas poucas coisas e condenando outras. Desse modo a mensagem de Deus aos homens é criticada, posta em dúvida e tratada levianamente. Só os livros do Céu poderão revelar que impressões são produzidas por essas observações imponderadas e irreverentes. Os filhos vêem e compreendem essas coisas muito mais facilmente do que imaginam os pais. Ao seu senso moral é assim dada uma orientação errada que o tempo nunca conseguirá retificar de todo. Os pais muitas vezes se queixam da dureza de coração dos filhos e da dificuldade que têm em convencê-los de seu dever de atender às exigências divinas. Os livros do Céu registram, entretanto, com toda a precisão a legítima causa. Os pais não estavam convertidos. Não estavam em harmonia com o Céu nem com a obra do Céu. Suas idéias estreitas e mesquinhas acerca da santidade do ministério e do santuário de Deus foram entretecidas na educação dos filhos. É de duvidar que alguém que viveu sob a atmosfera corrupta de tal educação, consiga desenvolver a verdadeira reverência e respeito pelo ministério de Deus e pelos agentes por Ele destinados para a salvação de pecadores. Acerca dessas coisas se deve falar com respeito, em linguagem conveniente e com muito escrúpulo, a fim de mostrar às pessoas que nos ouvem que consideramos a mensagem dos servos do Senhor como a nós enviada pelo próprio Deus. T5 498 1 Pais, vejam que exemplo e idéias dão a seus filhos! Sua mente é plástica e as impressões ali são gravadas com a maior facilidade. Se, durante o culto de adoração no santuário, o pregador comete algum erro, evitem referir-se a ele. Falem apenas das coisas boas que fez, das excelentes idéias que apresentou, e que devem aceitar como vindas de um servo de Deus. Pode-se compreender facilmente por que as crianças são tão pouco impressionadas pelo ministério da palavra e por que manifestam tão pouca reverência pela casa de Deus. Sua educação a esse respeito tem sido defeituosa. Os pais carecem da comunhão diária com Deus. Suas próprias idéias necessitam ser elevadas e enobrecidas; seus lábios precisam ser tocados com a brasa viva do altar; então seus hábitos e práticas em casa hão de produzir boa impressão sobre o espírito e caráter dos filhos. A norma religiosa será grandemente elevada. Nestas condições, os pais farão uma grande obra para Deus. Verão desaparecer cada vez mais de seu lar o mundanismo e a sensualidade, e a pureza e a fidelidade aumentarão. Sua vida se revestirá de uma solenidade que mal poderão conceber. Nada do que se refere à adoração a Deus será considerado comum. T5 498 2 Sinto-me muitas vezes penalizada quando entro na casa em que Deus é adorado e noto ali homens e mulheres em trajes desordenados. Se o coração e o caráter se revelassem pelo exterior, nada de divino deveria haver nessas pessoas. Não têm exata compreensão da ordem, da decência e do decoro que Deus exige dos que se chegam à Sua presença a fim de adorá-Lo. Que impressões isso há de fazer sobre os incrédulos e os jovens que têm discernimento perspicaz e estão prontos a tirar suas conclusões? T5 498 3 No entender de muitos não há maior santidade na casa de Deus do que em qualquer outro local dos mais comuns. Muitos penetram na casa de Deus sem tirar o chapéu, e com a roupa suja e em desalinho. Essas pessoas não reconhecem que aí vão encontrar-se com Deus e os santos anjos. Uma reforma radical a esse respeito é necessária em todas as nossas igrejas. Os próprios pastores precisam ter idéias mais elevadas e revelar maior sensibilidade nesse sentido. É um aspecto da obra que tem sido muito negligenciado. Por causa de sua irreverência na atitude, no traje, postura, e sua falta de verdadeiro espírito de adoração, Deus muitas vezes tem afastado Seu rosto dos que se acham reunidos para adorar. T5 499 1 Todos devem ser ensinados a trajar-se com asseio e decência, sem, porém, se esmerarem no adorno exterior que é impróprio para o santuário. Não deve haver ostentação de vestuário, pois isso provoca irreverência. Não raro a atenção das pessoas é dirigida sobre uma ou outra peça de roupa e desse modo são sugeridos pensamentos que não deveriam ocorrer na mente dos adoradores. Deus deve ser a razão exclusiva de nossos pensamentos e de nossa adoração; qualquer coisa tendente a desviar a mente de Seu culto solene e sagrado constitui uma ofensa a Ele. A exibição de enfeites, como laços, fitas e penachos, bem como ouro ou prata, é uma espécie de idolatria que não deve estar associada ao culto sagrado de Deus, onde os olhos de cada adorador só devem ter em vista a Sua glória. Deve-se cuidar estritamente de toda a questão do vestuário, seguindo à risca as prescrições bíblicas; a moda é uma deusa que impera no mundo, e não raro se insinua também na igreja. A igreja deve também a este respeito fazer da Bíblia sua norma de vida, e os pais fariam bem em meditar seriamente neste assunto. Se virem os filhos inclinando-se para a moda, devem, como Abraão, ordenar resolutamente a sua casa de acordo com seus princípios. Em vez de vincular os filhos ao mundo, devem uni-los a Deus. Que ninguém desonre a casa de Deus com enfeites ostensivos. Deus e os anjos estão ali presentes. O Santo de Israel assim Se manifestou por meio de Seu apóstolo: "O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus." 1 Pedro 3:3, 4. T5 500 1 Quando for edificada uma igreja e deixada na ignorância acerca desses pontos, o pastor negligenciou seu dever, e terá de prestar contas a Deus pelas impressões que deixou prevalecer. A menos que aos crentes sejam inculcadas idéias precisas acerca da verdadeira adoração e da verdadeira reverência, prevalecerá entre eles uma crescente tendência para nivelar o que é sagrado e eterno ao que é comum. E os que professam a verdade serão uma ofensa a Deus e uma lástima para a religião. Com suas idéias destituídas de cultivo jamais poderão apreciar um Céu puro e santo, e estar preparados para se associarem aos adoradores de Deus nas cortes celestiais, onde tudo é pureza e perfeição, e onde toda criatura demonstra absoluta reverência a Deus e Sua santidade. T5 500 2 O apóstolo Paulo descreve a obra dos embaixadores de Deus como tendo a finalidade de apresentar todo homem perfeito em Cristo Jesus. Os que abraçam a verdade de origem divina devem ser educados, enobrecidos e santificados por meio dela. Um escrupuloso esforço será requerido a fim de atingir a estatura de pessoas perfeitas em Cristo. As pedras rudes, crivadas de arestas que se tiram das pedreiras, têm de ser cinzeladas e polidas a fim de fazer desaparecer-lhes as asperezas. Estamos numa época que se distingue pela superficialidade do trabalho, facilidade dos métodos, ostentação de uma santidade diversa daquela que se afere pelo padrão de caráter que Deus estabeleceu. Todos os atalhos, todo encurtamento do caminho, toda doutrina que não estabelecer a lei divina como padrão de caráter cristão, é falsa. O aperfeiçoamento do caráter requer trabalho vitalício, sendo inatingível por parte dos que não estiverem dispostos a prosseguir para ele a passos lentos e penosos, da maneira determinada por Deus. Não devemos permitir-nos nenhum passo errado nesse sentido, mas temos de crescer dia a dia nAquele que é nossa cabeça -- Cristo. ------------------------Capítulo 56 -- Religião e educação científica T5 501 1 Prezados irmão e irmã B: T5 501 2 Ambos foram apresentados diante de mim como estando espiritualmente em perigo. Estavam deixando o caminho reto e colocando os pés numa estrada mais larga. A irmã B estava dizendo muitas coisas, fazendo questão de detalhes, um pouco aqui, um pouco ali, o que era como semente semeada, sendo certo que a colheita virá. Ela estava encorajando a incredulidade e dizendo a seu marido que a estrada em que estiveram viajando era toda ela demasiado estreita e modesta. Achava que as qualificações de seu marido eram de ordem muito elevada e deviam ser exercidas de modo mais amplo e mais influente. O irmão B era da mesma opinião; na verdade, ele a havia conduzido nesta linha de pensamento. Ambos levavam a bandeira na qual estava escrito: "Os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apocalipse 14:12); mas ao encontrarem no caminho pessoas que consideravam muito populares, a bandeira era arriada e posta para trás de vocês, enquanto diziam: "Se deixarmos que saibam sermos nós adventistas do sétimo dia, nossa influência terá fim, e perderemos muitas vantagens." Vi a bandeira da verdade sendo arrastada atrás de vocês. Surgiu então a pergunta: "Por que conduzi-la, afinal? Podemos crer nisto que vemos ser verdade, mas não precisamos deixar que os educadores e os estudantes saibam que levamos esta bandeira impopular." Havia em sua companhia os que não se sentiam contentes ou satisfeitos com essas sugestões, mas seguiam sua influência em vez de deixar que sua luz brilhasse por manterem elevada a sua norma. Eles escondiam sua bandeira e marchavam, temendo deixar que brilhasse diante de todos a luz que lhes fora dada pelo Céu. T5 501 3 Vi alguém aproximar-se de vocês com passo firme e semblante magoado. Ele disse: "Que ninguém tome a tua coroa." Apocalipse 3:11. Vocês se esqueceram da humilhação suportada pelo Filho de Deus ao vir ao mundo, como sofreu ofensa, vexame, insulto, ódio, zombaria e traição; como suportou o vergonhoso julgamento na sala do tribunal, depois de haver sofrido assaltos sobre-humanos de Satanás no Jardim de Getsêmani? Esqueceram o selvagem clamor da turba: "Crucifica-O, crucifica-O" (Lucas 23:21), e como morreu como malfeitor? "É o servo maior que o seu Senhor"? João 13:16. Os seguidores de Jesus não serão populares, mas serão como o seu Senhor, mansos e humildes de coração. Vocês estão procurando alcançar os lugares mais altos, mas irão encontrar-se afinal ocupando o último assento. Se procurarem praticar a justiça, amar a beneficência, e andar humildemente com o seu Deus, serão participantes com Cristo de Seus sofrimentos e também de Sua glória no Seu reino. O Senhor os tem abençoado, mas quão pouco vocês têm apreciado Sua amorável bondade! Quão pouco louvor tem Ele recebido de seus lábios! Podem fazer uma boa obra para o Mestre, mas não dando a supremacia a suas idéias. Vocês precisam aprender na escola de Cristo, ou jamais estarão qualificados para passar para grau mais alto, receber o selo do Deus vivo, passar pelos portões da cidade de Deus, e ser coroados com glória, honra e imortalidade. T5 502 1 Satanás atua de muitos modos onde não é identificado, até mesmo por meio de homens e mulheres que estão em posição de confiança. Ele sugerirá à mente deles erros plausíveis de pensamento, ação e palavras que criarão dúvida e produzirão desconfiança onde eles pensam que há garantia de segurança. Ele agirá sobre pessoas descontentes a fim de que sejam colocadas em operação ativa. Haverá o desejo de grandeza e honra. A inveja será ativada em mentes em que não se supunha ela existisse, e circunstâncias não faltarão para pô-la em atividade. Dúvidas serão despertadas, e sedutoras promessas de ganho serão feitas se a cruz não for posta como preeminente. Satanás tentará alguns a pensar que nossa fé funciona como uma barreira contra grandes progressos e obstrui o caminho de ascensão a altas posições mundanas e de serem reconhecidos como homens e mulheres notáveis. T5 502 2 Em sua primeira manifestação de descontentamento, Satanás foi muito dissimulado. Tudo que ele declarava era que desejava promover uma melhor ordem de coisas, fazer grandes melhoramentos. Ele afastou de Deus o santo par, afastou-o da submissão a Seus mandamentos, no mesmo ponto em que milhares são tentados hoje e milhares desanimam: suas vãs imaginações. O conhecimento verdadeiro é divino. Satanás insinuou na mente de nossos primeiros pais um desejo de possuir um conhecimento especulativo mediante o qual, disse ele, melhorariam em muito sua condição; mas para isso conseguir, teriam de seguir um procedimento contrário à santa vontade de Deus, pois Ele não os guiaria às maiores alturas. Não era desígnio de Deus que eles obtivessem o conhecimento que tinha seus alicerces na desobediência. Era vasto o campo para o qual Satanás procurava levar Adão e Eva, e é o mesmo campo que ele abre ao mundo hoje, por suas tentações. T5 503 1 Vocês estiveram apresentando a idéia de que a educação deve permanecer como uma obra independente. Esta mistura de doutrinas religiosas e questões bíblicas com educação científica foi considerada como uma inconveniência em sua obra educacional e um obstáculo à tarefa de levar os estudantes a graus mais altos do conhecimento científico. T5 503 2 A grande razão por que tão poucos dos grandes homens do mundo e dos que têm educação superior são levados a obedecer aos mandamentos de Deus é haverem separado a religião da educação, julgando que cada qual deveria ocupar campo distinto. Deus apresentou um campo bastante amplo para que se aperfeiçoasse o conhecimento de todos os que nele ingressassem. Esse conhecimento foi obtido sob supervisão divina; foi vinculado com a imutável lei de Jeová, e o resultado teria sido uma bênção perfeita. T5 503 3 Deus não criou o mal; Ele criou apenas o bem, que era Sua semelhança. Mas Satanás não tinha a menor satisfação em conhecer e praticar a vontade de Deus. Sua curiosidade impeliu-o no sentido de conhecer o que Deus não designara que ele conhecesse. O mal, pecado e morte não foram criados por Deus; eles são o resultado da desobediência, a qual se originou em Satanás. Mas o conhecimento do mal agora no mundo foi introduzido pelo ardil de Satanás. Essas são lições muito duras e dispendiosas, mas os homens desejarão aprendê-las, e muitos jamais se convencerão de que é uma felicidade ignorar certa espécie de conhecimento que nasce de desejos insatisfeitos e de alvos não santificados. Os filhos e filhas de Adão não são menos indagadores e presunçosos do que foi Eva ao buscar o conhecimento proibido. Eles adquirem uma experiência, um conhecimento, que Deus jamais desejou alcançassem, e o resultado será, como aconteceu com nossos primeiros pais, a perda de seu lar edênico. Quando aprenderão os seres humanos aquilo que é demonstrado de modo tão claro diante deles? T5 504 1 A história do passado mostra um diabo ativo, operante. Ele não poderia ser mais indolente e inofensivo hoje. Satanás se achou numa única árvore, para pôr em perigo a segurança de Adão e Eva. Ele planejou atrair o santo par para essa árvore, de modo que pudesse levá-los a fazer precisamente aquilo que Deus disse não deveriam fazer -- comer da árvore do conhecimento. Não havia para eles perigo em aproximar-se de qualquer outra árvore. Quão plausíveis eram suas palavras! Ele usou os mesmos argumentos que ainda hoje usa: lisonja, inveja, desconfiança, dúvida e incredulidade. Se Satanás foi tão ardiloso no princípio, quanto mais agora, depois de alcançar uma experiência de muitos milhares de anos! Todavia Deus e os santos anjos, e todos os que permanecem na obediência a toda vontade expressa do Pai, são mais sábios do que ele. A sutileza de Satanás não diminuirá, mas a sabedoria dada aos homens mediante uma viva associação com a Fonte de toda luz e divino conhecimento, será proporcional a suas artimanhas. T5 504 2 Se os homens resistissem à prova em que Adão falhou, e, na força de Jesus, obedecessem a todos os reclamos de Deus, porque essas leis são justas, jamais quereriam tornar-se familiarizados com o conhecimento proibido. Deus jamais desejou que o homem tivesse esse conhecimento que vem da desobediência e que, introduzido na vida prática, termina em morte eterna. Quando os homens quase invariavelmente escolhem o conhecimento que Satanás apresenta; quando o seu gosto está de tal modo pervertido que anseiam por esse conhecimento como se ele fosse fonte de suprema sabedoria, estão dando prova de estarem separados de Deus e em rebelião contra Cristo. ------------------------Capítulo 57 -- A educação de nossos filhos T5 505 1 Querida irmã C: T5 505 2 Se Deus em Sua providência estabeleceu uma escola entre Seu próprio povo em _____, e se em vez de enviar sua filha para onde ela estaria em associação e sob a influência dos que amam a verdade, você a envia para o seminário de _____, onde ela estará associada com uma classe mundana que não respeita a Deus e Sua lei, pergunto como espera que o Senhor atue no sentido de neutralizar a má influência que irá cercá-la e que você voluntariamente escolheu? Ordenaria Ele aos anjos que fizessem o trabalho que Ele deixou para que você fizesse? Deus não age dessa maneira; Ele espera que sigamos a luz que nos deu em Sua Palavra. T5 505 3 Quando Deus estava prestes a exterminar os primogênitos do Egito, Ele ordenou aos israelitas que recolhessem os seus filhos espalhados entre os egípcios e os reunissem em suas próprias casas e assinalassem com sangue os umbrais de suas portas, para que o anjo destruidor ao passar visse o sangue e passasse por alto essa casa. Era trabalho dos pais reunir os filhos. Este é seu trabalho, é meu trabalho, é o trabalho de cada mãe que crê na verdade. O anjo deve pôr um sinal na testa de todos os que estão separados do pecado e dos pecadores, e o anjo destruidor virá a seguir, para exterminar por completo tanto adultos como jovens. T5 505 4 Deus não Se agrada de nossa desatenção e menosprezo para com Suas bênçãos postas ao nosso alcance. Nem Se mostra feliz por colocarmos os nossos filhos em sociedade com mundanos, porque isso satisfaz melhor os seus gostos e inclinações. Se a vida de seus filhos deve ser salva, você terá de fazer com fidelidade o seu trabalho. Deus não Se tem agradado por completo com a sua conduta em relação a associações mundanas, e agora o perigo está revelado. Você tem encorajado também a leitura de livros de ficção; esses, e periódicos com histórias em série, presentes sobre sua mesa, têm educado o gosto de sua filha a ponto de ela haver-se tornado uma inebriada mental e necessitar de um poder mais forte, uma vontade mais firme, para controlá-la. T5 506 1 O inimigo tem conduzido sua filha a seu modo, até que suas malhas a têm envolvido com fios de aço, e será necessário um esforço perseverante, vigoroso, para salvá-la. Se você quiser ter sucesso neste caso, deve demonstrar decisão e iniciativa. Os hábitos de anos não podem ser facilmente quebrados. Ela precisa ser posta onde uma influência sólida, firme, duradoura, seja constantemente exercida. Eu a aconselharia a pô-la no colégio de _____ para que ela tenha a disciplina do internato. É onde ela deveria ter estado há anos. O internato é dirigido segundo um plano que o torna um bom lar. Este lar pode não satisfazer às inclinações de alguns, mas porque esses foram condicionados a falsas teorias, à condescendência própria, à satisfação do eu, e todos os seus hábitos e costumes têm sido canalizados de modo errado. Mas, minha querida irmã, estamos nos aproximando do fim do tempo, e o que precisamos agora é não nos ajustarmos aos gostos e práticas do mundo, mas à mente de Deus; é ver o que dizem as Escrituras, e então andar segundo a luz que Deus nos deu. Nossas inclinações, nossos costumes e práticas não devem ter a preferência. A Palavra de Deus é nossa norma. T5 506 2 Quanto ao bem-estar físico de sua filha, hábitos corretos lhe assegurarão saúde, ao passo que hábitos errôneos a arruinarão para esta vida e a futura vida imortal. Há um Céu a ganhar, uma perdição a evitar; e quando você, no temor de Deus, tiver feito tudo que puder de sua parte, então poderá esperar que o Senhor fará a Sua. Ação decisiva agora pode salvar da morte uma alma. T5 507 1 Sua filha necessita de forte influência para neutralizar a influência da sociedade que ela ama. É necessário tão decidido esforço para curá-la de sua desordem mental quanto o é para curar no ébrio o seu desejo de álcool. Você tem um trabalho que ninguém pode fazer em seu lugar; e deixará de fazê-lo? Tratará com sua filha em nome do Senhor como quem trata com uma alma em perigo de ruína eterna? Fosse ela uma jovem que amasse a Deus, alguém que pudesse exercer domínio próprio, o seu perigo não seria tão grande. Mas ela não aprecia pensar em Deus, em sua responsabilidade, no Céu. Ela persiste em agir a seu modo. Não busca diariamente força de Deus para poder vencer as tentações. Deseja, então, colocar sua filha em contato com influências que acabariam por afastar os seus pensamentos de Deus, da verdade, da justiça? Se sim, ponha-a no campo de batalha do inimigo, sem nenhuma força para resistir o seu poder ou vencer suas tentações. T5 507 2 Se ela estivesse onde houvesse influências divinas, celestiais, suas sensibilidades morais, que estão agora paralisadas, poderiam ser despertadas, e seus pensamentos e propósitos, pela bênção de Deus, poderiam ser mudados de modo que fluíssem em canais celestiais, e ela seria restaurada. Mas ela está agora em perigo, internamente de corrupção, e externamente de tentação. Satanás está disputando a sua alma, e tem toda possibilidade de ganhar o jogo. T5 507 3 Em meus sonhos tenho estado a falar com você, como aqui escrevo. Meu coração sente profunda piedade por você. Penoso como possa ser o seu caso agora, não desanime. Você necessita de ânimo e decisão. Busque o auxílio de Deus. Ele é seu amigo. Você nunca estará sozinha. A Bíblia é sua conselheira. É luz para aqueles que estão em trevas. Seja firme na hora da prova, pois terá novas provas a enfrentar. Mas apegue-se a Jesus, e faça dEle sua força. ------------------------Capítulo 58 -- Perigos aos jovens T5 508 1 Irmão D, minhas orações sobem a Deus a seu favor, e meu amor por sua salvação leva-me a escrever-lhe novamente. Sinto-me profundamente aflita acerca de seu caso, não que eu o veja como um perseguido, mas como um homem iludido e desencaminhado, que não possui a semelhança de Cristo em seu coração e que engana a si mesmo para a própria ruína. T5 508 2 Se tivesse a causa de Deus em seu coração, veria que seus irmãos têm apenas cumprido o dever no voto que tomaram em relação a você. O irmão fala de ir para _____ e mostrar que pode ser o homem certo. Tudo o que os irmãos administradores do escritório lhe pedem é que se mostre competente justamente onde está; que não se degrade por associar-se com os pecadores; e a eles não se una para praticar o mal. Deixe de ter pena de você mesmo e se lembre do Redentor do mundo. Considere o infinito sacrifício feito em favor do homem, e pense no Seu desapontamento porque, depois de ter feito tamanho sacrifício pelo ser humano, este ainda prefere aliar-se com os que odeiam a Cristo e a justiça, unindo-se intimamente com eles na condescendência com o apetite pervertido, causando sua eterna ruína. T5 508 3 Você já me ouviu dizer todas essas coisas, leu-as, mas elas não atingiram seu coração e vida. Você endureceu o coração contra o bem e abriu-o ao mal. Colocou-se no caminho do inimigo e não se apegou a Deus para poder resistir-lhe as tentações. Suponha que você rompa todas as ligações com _____ num espírito vingativo, porque seus irmãos lhe disseram a verdade. Quem será prejudicado, você ou eles? Você os magoará fazendo assim, mas a obra continuará do mesmo jeito. Deus está despertando obreiros em todas as partes; Ele não depende de você ou de quem quer que seja para fazer Seu trabalho. Se seu coração não for puro, se suas mãos não estiverem limpas à Sua vista, Ele não pode atuar por seu intermédio. Ele deseja que você tenha a verdade em seu coração e vida, entrelaçada com o caráter. T5 509 1 Aconselho-o a humilhar o coração e confessar seus erros. Considere a solene incumbência que Davi deu a Salomão em seu leito de morte: "Eu vou pelo caminho de toda a terra; esforça-te, pois, e sê homem. E guarda a observância do Senhor, teu Deus, para andares nos Seus caminhos e para guardares os Seus estatutos, e os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e os Seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres, para onde quer que te voltares." 1 Reis 2:2, 3. Assuma essa responsabilidade de coração. Que ninguém o seduza para a maldade. Conquanto seja uma desgraça pecar, não é vergonhoso, mas uma honra confessar alguém seus pecados. Mantenha sua verdadeira individualidade e cultive uma dignidade madura. Afaste o orgulho, a vaidade e a falsa dignidade, pois se conservar essas características serão ainda mais terríveis as conseqüências para você. T5 509 2 Não é a canção agitada, as joviais companhias ou o drinque estimulante que podem fazer de você um homem à vista de Deus ou alegrar o coração na doença e tristezas. Somente a religião verdadeira é que pode ser seu consolo e auxílio na tribulação. A disciplina aplicada a você no escritório não foi mais pesada e severa do que a palavra de Deus dita ao irmão. Você diria que Deus é injusto? Seria capaz de afirmar que Ele é arbitrário porque declara que o malfeitor tem de ser afastado de Sua presença? T5 509 3 Quão claramente está desenhado na Palavra de Deus o quadro de Seu trato com o homem que Lhe aceita o convite para as bodas, mas que não vestiu o traje nupcial comprado para ele -- a veste da justiça de Cristo! Ele pensava que suas roupas manchadas eram suficientemente boas para entrar na presença de Cristo, mas foi lançado fora como alguém que insultou a seu Senhor e abusou de Sua graciosa bondade. T5 510 1 Meu irmão, sua justiça não será suficiente. Você precisa trajar a veste da justiça de Cristo. Tem de ser semelhante a Ele. Tome em consideração a terrível prova que Cristo enfrentou no deserto da tentação sobre a questão do apetite. Ele estava debilitado pelo longo jejum por nossa causa. Jesus lutou e venceu a Satanás, para propiciar um terreno vantajoso e conceder divina força a fim de vencermos o apetite e toda paixão não santificada. T5 510 2 Rogo-lhe que atente para a questão como ela é. Quando você se une aos desprezadores de Deus, bebendo cerveja e vinho ou bebida forte, imagine Jesus diante de você, sofrendo as acutíssimas pontadas da fome para poder romper o poder de Satanás e tornar possível ao homem fazer isso em seu próprio favor. Lembre-se de que quando você estiver erguendo a caneca de cerveja espumante, em companhia dos ímpios que rejeitam a verdade e recusam a salvação, Jesus estará ali observando, Aquele mesmo Jesus que você diz ser seu Salvador e em quem suas esperanças de vida eterna estão centralizadas. Oh, como você pode, como pode estar tão enfraquecido em sua percepção moral para não ver a influência que essas coisas exercem sobre si mesmo e os outros! Você violou o mais solene compromisso e ainda fala que está sendo perseguido. T5 510 3 Quando aqueles que se sentem compelidos a fazer algo para desfazer o poder que Satanás está exercendo sobre nossa juventude, dizem-lhe entristecidos que se você não mudar seus hábitos, não poderão mais conservá-lo ligado à obra de Deus como tradutor, como pode você desafiá-los, sem dar qualquer evidência de arrependimento por causa de sua conduta? Como o Salvador, que deu Sua vida por você, considera sua atitude? E você ainda acha que é alvo de perseguição! "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal." 2 Coríntios 5:10. Quando estiver diante desse supremo e temível tribunal, de cujas decisões não haverá apelação e onde não haverá equívocos nem mal-entendidos, então você silenciará. Não terá uma só palavra a dizer em apoio à sua conduta. Será culpado, condenado e sem esperança, a menos que agora abandone seus pecados, empreenda uma diligente obra de arrependimento e se vista com o manto da justiça de Cristo. T5 511 1 Que outra atitude poderia ter sido tomada com relação a você, além da que se adotou? Tenho os mais ternos sentimentos de piedade e amor por você, mas falsas palavras de simpatia para apoiá-lo na rebelião e no desafio àqueles a quem Deus pôs em cargos de responsabilidade em Sua obra, nunca as direi. Tenho muita consideração por você para dizer-lhe, como alguns seguramente o farão, que tudo está bem com você agindo dessa forma, desgraçando sua masculinidade, deformando a imagem moral de Deus em sua vida, enganando-se a si mesmo e desonrando quem o redimiu com o preço de Seu próprio sangue. T5 511 2 Cristo disse: "Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:21. Será que você está vencendo? Ou sendo vencido por suas próprias concupiscências, apetites e paixões? T5 511 3 Para ser encarregado da tradução de nossos trabalhos mais importantes, para manusear coisas sagradas, não deveria você estar em ligação mais plena com Deus e em completa consagração a Seu serviço? Não deveria estar onde possa ter os santos anjos a auxiliá-lo, dando-lhe sabedoria e conhecimento, como Deus fez com Daniel, inspirando-o a transmitir corretamente as idéias, a fim de poder fazer adequadamente o trabalho de tradução? Se o irmão escolher abrir o coração às sugestões de Satanás; se preferir a sociedade daqueles que são inimigos de Cristo, ainda vai esperar que Deus opere um milagre para evitar que caia sob o poder de Satanás? Os anjos maus estão se ajuntando ao redor de você, e eles vêm como hóspedes convidados. Fazem sugestões e você as aceita. Enquanto o irmão não tomar a resolução de obedecer à vontade de Deus, não poderá ter Sua guia. T5 511 4 Jesus aguarda que todos os que professam ser Seus soldados O sirvam. Espera que você reconheça o inimigo e lhe ofereça resistência, não convidando sua companhia e traindo assim a sagrada confiança. O Senhor colocou-o numa posição onde pode ser elevado e enobrecido, obtendo contínuo aperfeiçoamento para sua obra. Se ainda não conseguiu obter essas qualificações, somente você deve ser responsabilizado. T5 512 1 Há três modos pelos quais o Senhor revela Sua vontade a nós, para guiar-nos e capacitar-nos a conduzir outros. Como poderemos diferenciar Sua voz daquela do estranho? Como podemos distingui-la da voz do falso pastor? Deus nos manifesta Sua vontade através das Santas Escrituras. Sua voz revela-se também em Suas providenciais atuações; e nós a distinguiremos, se dEle não separarmos a alma, andando em nossos próprios caminhos, agindo segundo nossa vontade, e seguindo os impulsos de um coração não santificado, até que a percepção se torna tão confusa que as coisas eternas deixam de ser discernidas, e a voz de Satanás é tão distinta que se aceita como a voz de Deus. T5 512 2 Outro modo pelo qual se ouve a voz do Senhor é mediante os apelos de Seu Santo Espírito, produzindo no coração impressões que se desenvolverão no caráter. Se está em dúvida quanto a qualquer ponto, consulte primeiro as Escrituras. Se começou verdadeiramente a vida de fé, você se entregou ao Senhor para ser inteiramente Seu, e Ele o aceitou para moldá-lo e afeiçoá-lo segundo o Seu desígnio, para que seja um vaso de honra. Você deve sentir desejo sincero de ser maleável em Suas mãos, seguindo aonde quer que Ele o dirija. Estará então confiando nEle para que efetue Seus desígnios, ao mesmo tempo que com Ele coopera, operando a sua "salvação com temor e tremor". Filipenses 2:12. Você, meu irmão, encontrará dificuldade aqui, porque não aprendeu por experiência a reconhecer a voz do Bom Pastor, e isso o porá em dúvidas e perigos. Você deveria ser capaz de discernir Sua voz. O exercício da vontade T5 513 1 A religião pura tem que ver com a vontade. A vontade é o poder que governa a natureza do homem, pondo todas as outras faculdades sob seu comando. A vontade não é o gosto nem a inclinação, mas o poder que decide, o qual atua nos filhos dos homens para obediência a Deus, ou para a desobediência. T5 513 2 Você é um jovem de inteligência; deseja tornar sua vida tal que se habilite enfim para o Céu. Fica por vezes desanimado ao se achar fraco em poder moral, escravizado pela dúvida, e dominado pelos hábitos e costumes da velha vida de pecado. Acha que sua natureza emocional atraiçoa você, as suas melhores resoluções e os seus mais solenes votos. Coisa alguma parece real. Sua própria instabilidade o leva a duvidar da sinceridade dos que lhe quereriam fazer bem. Quanto mais você luta com a dúvida, tanto mais irreal tudo se lhe afigura, até que parece não haver terreno firme para você em parte alguma. Suas promessas são como cordas de areia, e você olha sob o mesmo aspecto irreal as palavras e obras daqueles em quem deveria confiar. T5 513 3 Você estará em perigo constante enquanto não compreender a verdadeira força de vontade. Pode crer e prometer tudo, mas suas promessas ou sua fé não têm qualquer valor enquanto não puser a vontade ao lado da fé e da ação. Se combater o combate da fé com toda a sua força de vontade, há de vencer. Não se pode confiar em seus sentimentos, impressões e emoções, pois não são dignos disso, especialmente com as pervertidas idéias que você tem; e o conhecimento das promessas não cumpridas e dos votos que violou lhe enfraquece a confiança própria, bem como o crédito dos outros em você. T5 513 4 Você não precisa, porém, cair em desespero. Deve estar decidido a crer, embora coisa alguma lhe pareça verdadeira e real. Não é preciso dizer que foi você mesmo que se colocou nessa situação nada invejável. Você deve reconquistar a confiança em Deus e nos irmãos. Cumpre-lhe sujeitar sua vontade à vontade de Jesus Cristo; e, quando assim fizer, Deus tomará imediatamente posse, efetuando "em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:13. Toda a sua natureza será então submetida ao domínio do Espírito de Cristo; e os seus próprios pensamentos a Ele estarão sujeitos. Você não pode controlar seus impulsos e suas emoções segundo desejar, mas pode dominar a vontade e realizar uma total mudança em sua vida. Entregando a Cristo o seu querer, sua vida estará escondida nEle em Deus, e aliada ao poder que se acha acima de todos os principados e potestades. Você receberá de Deus força que o ligará firmemente a Sua força, e uma nova luz, a própria luz da fé viva, lhe será disponível. Sua vontade, porém, deve cooperar com a vontade de Deus, e não com a das companhias por meio das quais Satanás está continuamente atuando para o enredar e destruir. T5 514 1 Não quer, sem demora, estabelecer um bom relacionamento com Deus? Não quer dizer: "Entregarei minha vontade a Jesus, agora mesmo", e deste momento em diante estar inteiramente do lado do Senhor? Despreze o hábito, e o forte clamor do apetite e da paixão. Não dê a Satanás ensejo de dizer: "Você é um miserável hipócrita." Feche-lhe a porta de maneira que Satanás não o acuse e desanime. Diga: "Hei de crer, creio que Deus é meu Ajudador", e verificará que você é vencedor em Deus. Mediante a firme conservação da vontade do lado do Senhor, toda emoção será feita cativa da vontade de Jesus. Encontrará então os pés sobre a firme rocha. Será preciso, por vezes, toda partícula de força de vontade que você possui, mas é Deus que está atuando por você, e sairá do processo de moldagem como um vaso de honra. T5 514 2 Fale de fé. Mantenha-se ao lado de Deus. Não ponha o pé no lado do inimigo, e o Senhor será o seu Ajudador. Ele fará por você aquilo que lhe não é possível fazer por você mesmo. O resultado será que se tornará como um "cedro do Líbano". Sua vida será nobre, e suas obras serão realizadas em Deus. Haverá em você um poder, um zelo e simplicidade que o tornarão um polido instrumento nas mãos de Deus. T5 515 1 Você necessita beber diariamente da fonte da verdade, a fim de poder compreender o segredo do prazer e da alegria no Senhor. Mas deve lembrar-se de que sua vontade é a fonte de todas as suas ações. Esta vontade, que constitui tão importante fator no caráter do homem, foi, pela queda, entregue ao domínio de Satanás, e desde então ele tem estado operando no homem o querer e o realizar, segundo a sua vontade, mas para inteira ruína e miséria humana. T5 515 2 O infinito sacrifício de Deus, porém, em dar Jesus, Seu amado Filho, para Se tornar um sacrifício pelo pecado, habilita-O a dizer, sem violar um princípio de Seu governo: "Submeta-se a Mim; dê-Me sua vontade; tire-a do domínio de Satanás, e dela Me apoderarei; então posso operar em você" efetuando em você tanto o querer como o realizar, segundo a Minha boa vontade. Filipenses 2:13. Quando Ele lhe dá a mente de Cristo, sua vontade se torna afinada com a vontade dEle, e seu caráter se transforma para ser semelhante ao caráter de Cristo. É seu propósito fazer a vontade de Deus? Deseja obedecer às Escrituras? "Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-Me." Marcos 8:34. T5 515 3 Você não estará absolutamente seguindo a Cristo, a menos que se recuse a satisfazer a própria inclinação, e resolva obedecer a Deus. Não são os seus sentimentos e emoções que o tornam um filho de Deus, mas o fazer a Sua vontade. Uma vida de utilidade se acha diante de você, caso sua vontade se alie à de Deus. Então, com a experiência que Ele lhe concede, você será um exemplo de boas obras. Ajudará assim a manter regras de disciplina, em lugar de as derribar. Ajudará então a manter ordem, em lugar de desprezá-la e incitar à irregularidade de vida por seu próprio modo de proceder. T5 515 4 Digo-lhe, no temor de Deus: Eu sei o que você pode ser, se colocar sua vontade do lado do Senhor. "Nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Você pode estar fazendo sua obra para o tempo e a eternidade, de maneira que ela resista à prova do juízo. Experimentará? Mudará agora completamente de direção? Você é objeto do amor e da intercessão de Cristo. Entregar-se-á agora a Deus, e ajudará os que são colocados como sentinelas para cuidar dos interesses de Sua obra, em vez de lhes causar desgosto e desânimo? ------------------------Capítulo 59 -- Leitura adequada para os filhos T5 516 1 Prezado irmão E: T5 516 2 Acabei de ler a Review and Herald [Revista Adventista, em inglês] e vi seu artigo fornecendo uma lista de bons livros para nossos jovens. Fiquei muito surpresa ao ler sua recomendação de A Cabana do Pai Tomás, Robinson Crusoé e similares. Você está em perigo de tornar-se um tanto descuidado em seus artigos. Seria bom fazer um estudo cuidadoso e ponderado sobre o que deve ser perpetuado pela imprensa. Estou realmente alarmada em ver que sua visão espiritual não é mais clara em matéria de seleção e recomendação de leitura para nossa juventude. Sei que a recomendação, em nossos periódicos, de livros romanceados, como A Cabana do Pai Tomás, justificará em muitas mentes a leitura de outros livros que nada são senão ficção. ... Essa indicação produzirá esforço extra para aqueles que estão trabalhando para convencer a juventude a evitar leitura de ficção. Tenho visto repetidas vezes o mal de ler tais livros como os que você recomendou, e tenho um artigo já pronto advertindo nossos jovens sobre essa questão. T5 516 3 Esteja certo, meu irmão, de não se desviar da pesquisa das Escrituras. Foi-me revelado que a compra e venda, por parte de nossos irmãos, de livros de histórias tais como os que costumam circular nas escolas dominicais, é uma armadilha ao nosso povo, especialmente nossas crianças. Gasta-se dinheiro com esse tipo de leitura que atua sobre a imaginação e incapacita para os reais deveres da vida prática. Você pode estar convicto de que essa sua recomendação será posta em prática. A juventude não precisa desse tipo de apoio ou liberdade, pois seu gosto e inclinação são todos nessa direção. Mas eu espero que essas menções não mais apareçam. Você deve estar-se afastando de Jesus e de Seus ensinos e ainda não o percebeu. T5 517 1 É ocupação de Satanás apresentar à nossa juventude histórias em jornais e livros, que fascinam os sentidos e destroem seu gosto pela Palavra de Deus. Meu caro irmão, não lance tudo o que lhe venha à mente na Revista Adventista, mas escreva com prudência. Se o Espírito de Cristo movê-lo a escrever, use então sua pena sentindo o fardo pelas almas, chorando entre o alpendre e o altar, clamando: "Poupa o Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio." Joel 2:17. Mas se for apenas seus próprios sentimentos e mente ativa que o levam a escrever, refreie-se até que o Espírito do Senhor o impressione e mova. Não pense que por seguir certa conduta e fazer certas coisas, isso seja evidência de que elas estejam certas e que você deve apresentá-las aos outros como regra ou guia. Não é bom que o irmão se sinta em liberdade de falar o que pensa sobre assuntos relacionados com o bem-estar de nossa juventude, recomendando livros que não promovem a espiritualidade nem a piedade. Se imagina que tais leituras desenvolvem princípios puros e sólidos, está enganado. Que o Senhor o ajude a agir cuidadosa e humildemente, e a não fazer declarações enganosas nos periódicos, pois elas serão consideradas como sancionadas por nosso povo. Você está pondo um peso sobre os outros, por contrariar a influência desses sentimentos. T5 517 2 Meu irmão, sua segurança está em andar humildemente com Deus. Tremo quando leio seus muitos artigos dando conselhos e regras para outros pastores. É difícil para você ter tanto a dizer nessa direção. Se se tornar auto-suficiente e autoconfiante, o Senhor certamente permitirá que você cometa alguns erros. O irmão precisa guardar cuidadosamente seu coração e buscar diariamente uma experiência viva nas coisas de Deus. Necessita pôr o eu fora de vista e deixar que Jesus apareça. Cristo é sua força, seu escudo; você é um homem fraco e errante, e precisa ser muito cuidadoso a fim de não tropeçar. Rogo-lhe que esteja em guarda para não prejudicar, seja por palavras ou atos, a sagrada obra de Deus. T5 518 1 Senti-me muito grata porque você pôde participar dessa grande obra. Jesus o ama e cooperará com seus esforços se você tiver viva ligação com Deus. Mas você precisa viver em vigilância e oração. Não se descuide. Não se afaste de Jesus, mas leve-O consigo em sua vida diária. Não dê trabalho a si mesmo e aos outros por causa de descuidosas declarações e conselhos. Saiba que, a menos que Jesus esteja em seu coração, a menos que tenha em vista a glória de Deus, o orgulho brotará no coração, a presunção prevalecerá e você, antes que perceba, estará agindo de forma descuidada. "Fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado." Hebreus 12:13. T5 518 2 Deus dotou muitos de nossos jovens de habilidades superiores. Deu-lhes os melhores talentos; mas suas faculdades se enervaram, a mente ficou confusa e enfraquecida, e através de anos não experimentaram o menor crescimento na graça e no conhecimento das razões de sua fé, porque condescenderam com o gosto pela leitura de novelas. Têm tanta dificuldade em controlar o apetite de tais leituras superficiais, como tem o beberrão em controlar sua sede de bebidas intoxicantes. Esses poderiam hoje estar empregados em nossas casas publicadoras e ser eficientes obreiros como funcionários de escritório ou da redação; mas perverteram seus talentos a ponto de se tornarem dispépticos mentais, e conseqüentemente são inaptos para uma posição de responsabilidade onde quer que seja. Têm a imaginação doentia. Vivem uma vida irreal. São inaptos para os deveres práticos da vida; e o que é mais triste e desanimador é que perderam todo estímulo para leituras mais densas. Tornaram-se fascinados e encantados com alimento mental do tipo que é apresentado em A Cabana do Pai Tomás. Esse livro foi até bom, em seus dias, para os que necessitavam de um despertamento em relação ao problema da escravidão; mas nós estamos no próprio limiar do mundo eterno, quando semelhantes histórias não são necessárias no preparo para a vida eterna. T5 519 1 Nossa única segurança é estarmos inteiramente convertidos e familiarizados com a verdade tal como revelada na Palavra de Deus, para que possamos ser capazes de explicar as razões da esperança que há em nós, com mansidão e temor, em todas as ocasiões. T5 519 2 Em todas as nossas fileiras, o esforço especial de pastores e obreiros para este tempo deveria ser desviar a atenção da juventude de toda história excitante para a segura palavra da profecia. A atenção de cada pessoa que está lutando pela vida eterna deveria centralizar-se na Bíblia. T5 519 3 Parece-me surpreendentemente estranho, considerando tudo o que escrevi com relação à leitura de histórias fantasiosas, ver a recomendação que você fez para a leitura de Robinson Crusoé, A Cabana do Pai Tomás, e Fábulas de Esopo. Meu irmão, você errou ao escrever esse artigo. Se esses livros estão entre aqueles que você tem para vender, rogo-lhe que não mais os ofereça à nossa juventude. É seu dever chamar a atenção para a Bíblia. Não se torne tentador dos jovens por ofertar-lhes atraentes livros de histórias, que lhes desviarão a mente do estudo das Escrituras. Precisamos beber da água da vida, senão estaremos constantemente cavando para nós mesmos cisternas rotas que não podem reter águas. T5 519 4 Há mil modos e planos que Satanás tem de se insinuar para perturbar a mente da juventude, e a menos que a pessoa esteja inteiramente firmada em Deus e conscienciosamente protegida pela manutenção da mente na pesquisa das Escrituras e arraigada na fé, os jovens certamente serão enredados. Não podemos abrir a guarda nem por um momento. Não podemos permitir-nos agir por impulso. Temos de montar guarda em nossa mente e nas de nossos filhos, para que eles não sejam seduzidos pelas tentações de Satanás. T5 520 1 Achamo-nos no grande dia da expiação e a santa obra de Cristo em favor do povo de Deus, que transcorre presentemente no santuário celestial, deveria ser nosso estudo permanente. Deveríamos ensinar nossos filhos sobre o significado do dia típico da expiação, e que era um tempo especial de grande humilhação e confissão de pecados a Deus. O dia antitípico da expiação deve ter o mesmo caráter. Cada um que ensina a verdade por preceito e exemplo, dará à trombeta o sonido certo. Você precisa cultivar sempre a espiritualidade porque não lhe é natural possuir uma mente espiritual. A grande obra que está diante de nós é conduzir o povo para longe dos costumes e práticas mundanas, mais e mais alto, para a espiritualidade, piedade e diligente serviço a Deus. É seu dever proclamar a mensagem do terceiro anjo, soar a última nota de advertência ao mundo. Que o Senhor o abençoe com visão espiritual. Escrevo-lhe em amor, vendo o perigo que corre. Por favor, considere essas coisas cuidadosamente e com oração. ------------------------Capítulo 60 -- Conselhos aos jovens T5 520 2 Gostaria de dizer aos estudantes da Academia de South Lancaster: "Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós." Tiago 4:8. Nunca se envergonhem de sua fé, nem sejam vocês encontrados do lado do inimigo. "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Sua fé deve ser revelada como preciosa verdade que todos deveriam possuir e precisam possuir se quiserem ser salvos. Como um povo, somos minoria. Não somos populares. Nossos inimigos estão-nos espreitando para atraiçoar-nos e arruinar nossa vida. Eles não apreciam nossos motivos. Interpretam mal nosso zelo sincero e nosso intenso desejo de que os outros vejam e compreendam a verdade, para que possam fazer a vontade de Deus obedecendo a todos os Seus mandamentos. Porém, deveríamos combater o bom combate da fé e ser achados "firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor". 1 Coríntios 15:58. T5 521 1 É com sentimentos de inexprimível tristeza e algumas vezes quase em desespero, que contemplo a condição dos jovens e vejo quão difícil é motivá-los a obter uma educação para a qual, eu sei, Deus liberalmente lhes concederia habilidades. Sem a educação, eles serão incompetentes e ineficientes em qualquer lugar. Todavia, obtendo-a, serão expostos a perigos e tentações. Satanás tentará empregar suas cultivadas habilidades em seu serviço. T5 521 2 Alguns empregam suas energias para maus propósitos. O sutil veneno da sensualidade corre em suas veias, e pouco empecilho encontra em seu curso. Ele é fascinante, enfeitiçante. A mente, que com o devido cuidado da integridade moral, é capaz de alto grau de cultivo e excelência literária, é em geral degradada para servir à concupiscência. Elevados princípios morais e a piedade prática não possuem qualquer encanto para essas iludidas almas, e é quase impossível exercer sobre elas qualquer influência, quer por preceito quer por exemplo, que possa frustrar os esforços de Satanás para corrompê-las e arruiná-las. A menos que esses moços e moças estejam dispostos a aprender, a ser aconselhados pelos de mais experiência, certamente serão desviados pelos ardis de Satanás. E a menos que aqueles que os ensinam estejam continuamente crescendo na graça, no conhecimento da verdade e em discernimento espiritual, estarão em perigo, por seu exemplo e promoção de idéias errôneas, de inconscientemente auxiliar o inimigo em seu trabalho, levando indivíduos a considerá-las como o melhor para si, mas que trarão o menor bem e serão de mínimo benefício para eles. T5 521 3 Os planos feitos e realizados para a educação de nossa juventude não são em hipótese alguma tão amplos. Eles não deveriam visar a uma educação unilateral, mas todos os seus ramos precisariam merecer igual atenção. Filosofia moral, estudo das Escrituras e educação física deveriam ser combinados com os estudos curriculares usualmente adotados por outras escolas. Cada faculdade -- física, mental e moral -- necessita ser treinada, disciplinada e desenvolvida, para que possa prestar seu melhor serviço. A menos que todas sejam igualmente fomentadas, não poderá cada uma fazer amplamente seu trabalho sem sobrecarregar alguma parte do organismo humano. T5 522 1 Muito se tem falado e escrito acerca da importância de educar a mente para o mais elevado serviço. Isso às vezes tem levado à opinião de que, se o intelecto é educado de modo a pôr em campo suas mais altas faculdades, fortalecerá a natureza física e moral, para o desenvolvimento do homem todo. O tempo e a experiência têm demonstrado ser isso um erro. Temos visto homens e mulheres saírem do colégio como diplomados, sem ser absolutamente qualificados para fazer uso adequado do maravilhoso organismo físico com o qual Deus os proveu. T5 522 2 O corpo todo se destina à ação, e não à inatividade. Se as faculdades físicas não se empenharem da mesma forma que as mentais, demasiado esforço é exigido destas. A menos que cada parte do organismo humano cumpra as tarefas que lhe são designadas, as faculdades mentais não poderão ser usadas até sua capacidade máxima por qualquer período de tempo. Faculdades naturais têm de ser governadas por leis naturais, e têm de ser educadas a trabalhar em harmonia com essas leis. Não podem os professores de nossas escolas desrespeitar nenhum desses pormenores sem esquivar-se à responsabilidade. O orgulho pode levá-los a buscar um alto padrão secular de realização intelectual, a fim de que os estudantes possam brilhar; mas em se tratando de sólidas aquisições -- essas que são necessárias para habilitar homens e mulheres para toda e qualquer emergência na vida prática -- esses estudantes estarão apenas parcialmente preparados para ter êxito na vida. Sua educação defeituosa muitas vezes leva ao fracasso, seja qual for o ramo de atividade que empreendam. T5 523 1 Exercícios em ambiente fechado podem, em alguns pontos, ser vantajosos. Eles foram preparados para atender à necessidade de exercício físico útil, e se têm tornado populares nas instituições educacionais, mas não estão isentos de inconvenientes. Se não forem cuidadosamente dosados, produzirão mais mal do que bem. Alguns têm sofrido permanentes danos físicos devidos a esses esportes. Atividades manuais ligadas às nossas escolas, se corretamente ministradas, tomarão com vantagens o lugar do ginásio de esportes. T5 523 2 Os professores deveriam dar muito mais atenção às influências físicas, mentais e morais em nossas escolas. Conquanto o estudo das ciências possa conduzir os estudantes a altas realizações literárias, ele não proporciona uma educação total e perfeita. Quando atenção especial é dada ao desenvolvimento completo de cada faculdade física e moral que Deus concedeu, os estudantes não deixam os nossos colégios dizendo-se educados, enquanto são ignorantes daquele conhecimento que necessitam para a vida prática e para o pleno desenvolvimento do caráter. T5 523 3 Meu coração dói quando vejo essas deficiências, pois seu resultado é perda da saúde, falta de cuidado e carência de adaptação para aquela espécie de trabalho que é mais essencial ao sucesso na vida. Os jornais são pródigos em sensacionais noticiários de fraudes, desfalques e misérias familiares -- maridos que fogem com esposas de outros e mulheres que se evadem com maridos de outras -- tudo porque essas pessoas não foram educadas em hábitos industriosos e nunca aprenderam como economizar tempo ou empregar suas faculdades da melhor maneira para tornar feliz o lar. T5 523 4 Quisera eu poder chamar a atenção de cada professor em nosso país sobre esse assunto. Há uma tarefa que devem realizar para ampliar e elevar seu trabalho educacional. Temos justamente diante de nós um tempo em que a condição do mundo se tornará desesperadora, quando a verdadeira religião, que rende obediência a um "assim diz o Senhor", se tornará quase extinta. Nossa juventude deveria ser ensinada que as más obras não são esquecidas ou passadas por alto, porque Deus não pune imediatamente e com extrema indignação seus autores. Deus mantém uma conta com as nações. Durante todos os séculos da história deste mundo os maus obreiros têm acumulado ira para o dia da ira; e quando chegar plenamente o tempo em que a iniqüidade houver atingido o limite estabelecido da misericórdia divina, Sua clemência terminará. Quando as contas acumuladas nos livros de registro do Céu indicarem que a soma da transgressão está completa, virá a ira, sem mistura de misericórdia, então se verá que tremenda coisa é esgotar a paciência divina. Esta crise será atingida quando as nações se unirem na invalidação da lei de Deus. T5 524 1 Chegará o tempo em que os justos serão provados por Deus devido à superabundante iniqüidade. Nada, a não ser o poder divino, pode deter a arrogância de Satanás unido a homens maus; porém, na hora de maior perigo para a igreja, serão oferecidas em seu favor as mais ferventes orações pelo fiel remanescente, e Deus ouvirá e atenderá na própria ocasião em que a culpa do transgressor atingir o auge. Deus fará "justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-lo". Lucas 18:7. Serão zelosos pela honra divina. Eles serão zelosos em oração e sua fé crescerá robusta. T5 524 2 Há pouco zelo entre os estudantes. Eles deveriam fazer mais diligentes esforços. Exige muito esforço saber como estudar. Cada estudante deveria cuidar que nenhuma obra de segunda categoria saísse de suas mãos. Deveria tomar para si as palavras que o apóstolo Paulo endereçou a Timóteo: "Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem." 1 Timóteo 4:13-16. T5 525 1 O dever de adultos e jovens deve ser exposto em linguagem simples e positiva, porque nosso destino está lançado em tempos perigosos, quando parece que a verdade será sobrepujada pelas falsidades e enganos de Satanás. No tempo de prova e sofrimento, o escudo da Onipotência será posto sobre aqueles a quem Deus fez depositários de Sua lei. Quando os legisladores renunciarem aos princípios do protestantismo, para apoiar e estender o braço de amizade ao catolicismo, Deus intervirá de modo especial em prol de Sua própria honra e salvação de Seu povo. T5 525 2 Os princípios que nossa juventude necessita cultivar precisam ser mantidos diante deles em sua educação diária, para que quando o decreto for baixado, exigindo que todos adorem a besta e sua imagem, eles possam tomar decisões acertadas e ter coragem para declarar, sem tremor, sua confiança nos mandamentos de Deus e na fé de Jesus, justamente no tempo em que a lei de Deus for abolida pelo mundo religioso. Aqueles que vacilam agora e são tentados a seguir na esteira dos apóstatas que abandonam a fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e doutrinas de demônios, certamente serão encontrados do lado dos que anulam a lei de Deus, a menos que se arrependam e firmem seus pés na fé que uma vez foi entregue aos santos. T5 525 3 Se estamos vivendo entre os temíveis perigos descritos na Palavra de Deus, não deveríamos despertar para as realidades da situação? Por que ficar assim silenciosos? Por que fazer de pequena importância as coisas que são de grande interesse a cada um de nós? A Bíblia deveria ser nosso mais caro tesouro, diligentemente estudada e ensinada de maneira zelosa a outros. Como pode essa espantosa indiferença continuar naqueles que têm tido luz e conhecimento? T5 525 4 Profecia e História deveriam formar uma parte dos estudos em nossas escolas, e todos os que aceitaram o cargo de educadores deveriam prezar mais e mais a revelada vontade de Deus e, em simplicidade, instruir os estudantes. Deveriam desdobrar as Escrituras e mostrar em sua própria vida e caráter as preciosidades da religião bíblica e a beleza da santidade. Mas nunca, nem por um momento, deixar a outros a impressão de que seria proveitoso ocultar sua fé e doutrinas dos descrentes, temendo não serem altamente honrados se seus princípios forem conhecidos. T5 526 1 Não é hora de nos envergonharmos de nossa fé. Somos um espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Todo o Universo está observando com inexprimível interesse para ver a obra de encerramento do grande conflito entre Cristo e Satanás. Num tempo como este, justamente quando a grande obra de julgamento dos vivos está para começar, deveríamos permitir que ambições não santificadas tomem posse do coração? O que pode haver de mais valioso para nós agora, excetuando-se ser encontrado leal ao Deus do Céu? O que pode ser de algum valor real neste mundo, quando estamos no limiar do mundo eterno? Que educação podemos dar aos estudantes de nossas escolas que seja tão necessária como o conhecimento do que diz a Escritura? Exemplos de heróica fidelidade a Deus T5 526 2 José, quando honrado pelos egípcios, não dissimulou sua fidelidade a Deus. T5 526 3 Elias, em meio à geral apostasia, não procurou esconder o fato de que servia ao Deus do Céu. Os profetas de Baal eram em número de quatrocentos e cinqüenta; seus sacerdotes, quatrocentos; e seus adoradores eram milhares. Todavia, Elias não procurou dar a impressão de que estivesse do lado do povo. Solenemente permaneceu só. A montanha estava lotada com o povo cheio de ansiosa expectativa. O rei chegou em grande pompa e os idólatras, confiantes no triunfo, deram-lhe vivas em alta voz. Mas Deus havia sido grandemente desonrado. Um homem, e apenas um, surgiu para vindicar-Lhe a honra. Com voz clara como de trombeta, Elias dirigiu-se à vasta multidão: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. O Senhor Deus, que governa os Céus, foi reivindicado e os adoradores de Baal mortos. Onde estão os Elias de hoje? T5 527 1 A história de Daniel é notável. Ele praticou sua fé e princípios sob grande oposição. Foi condenado à morte porque não quis reduzir um jota de sua submissão a Deus, mesmo em face do decreto real. Nestes dias, poderia ser chamado de excesso de integridade ir, como era seu costume, três vezes por dia e ajoelhar-se diante de uma janela aberta para orar, embora soubesse que olhos espreitadores o estavam observando, e que seus inimigos estavam prontos a acusá-lo de infidelidade para com o rei, mas Daniel não permitiria que nenhum poder terreno se interpusesse entre ele e Seu Deus, mesmo ante a perspectiva de morte na cova dos leões. Embora Deus não tivesse evitado que Daniel fosse lançado na cova dos leões, um anjo esteve com ele e fechou a boca das feras para que nenhum mal lhe acontecesse. Na manhã seguinte, quando o rei chamou por ele, Daniel respondeu: "O meu Deus enviou o Seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dEle; e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum." Daniel 6:22. Ele foi um nobre e inabalável servo de Deus. T5 527 2 Coisa alguma se ganha pela covardia ou pelo temor de que se venha a saber que somos o povo de Deus, observadores dos Seus mandamentos. Ocultar nossa luz, como envergonhados de nossa fé, só resultará em revés. Deus nos deixará à mercê de nossa fraqueza. Não permita Deus que nos recusemos a deixar brilhar nossa luz, em qualquer lugar a que nos possa chamar. Se nos aventurarmos a sair por nossa própria conta, seguindo nossas próprias idéias, nossos planos, deixando atrás a Jesus, não devemos esperar ganhar força, ânimo ou poder moral. Deus tem tido heróis morais, e os tem agora -- os que não se envergonham de ser Seu povo peculiar. Eles têm a vontade e os planos todos subordinados à lei de Deus. O amor de Jesus os levou a não considerar preciosa sua vida. Sua obra é captar a luz da Palavra de Deus e deixá-la brilhar ao mundo, em raios claros, constantes. "Fidelidade a Deus", eis o seu lema. Pastores instruídos T5 528 1 O comerciante, o carpinteiro, o fazendeiro e o advogado, todos precisam aprender seu negócio ou profissão. De início, por falta de conhecimento, eles fazem um trabalho imperfeito, mas à medida que prosseguem pacientemente em sua vocação, tornam-se mestres em suas múltiplas ocupações. Sem rigorosa aplicação de mente e coração, e de todas as energias do ser, o pastor será um fracasso. Ele pode ser um pregador, mas também precisa ser talhado para atuar como pastor. O estudo nunca deve cessar, mas continuar durante todo o tempo de seu trabalho, não importa quão bem qualificado para sua ocupação ele possa pensar estar. T5 528 2 Os tempos exigem pastores inteligentes e preparados, e não noviços. As falsas doutrinas estão se multiplicando. O mundo está se tornando instruído segundo um alto padrão literário. Pecado, incredulidade e infidelidade estão se tornando mais audaciosos e desafiadores, à medida que o conhecimento intelectual e sagacidade são adquiridos. Esse estado de coisas demanda o uso de cada faculdade do intelecto. O pastor deverá enfrentar mentes aguçadas que se acham sob o controle de Satanás. Ele deve ser bem ponderado consoante princípios religiosos, crescendo na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Muito trabalho acidental tem sido feito e as mentes não são exercitadas segundo sua plena capacidade. Nossos pastores terão de defender a verdade contra fundamentos apóstatas, bem como apresentar evidências escriturísticas àqueles que advogam erros capciosos. A verdade precisa ser posta em contraste com argumentos audaciosos. Nossos pastores devem ser homens inteiramente consagrados a Deus e cultos, mas sua mente precisa estar repleta de fervor espiritual, juntando os divinos raios procedentes do Céu e espargindo-os em meio à escuridão que cobre a Terra, e a pesada negridão que envolve o povo. T5 529 1 Vício, crime e iniqüidade de toda espécie estão crescendo constantemente. O penetrante poder da verdade bíblica precisa mostrar o contraste entre a verdade e o erro. Um mais alto grau de preparo é requerido visando à prestação de bons serviços ao Mestre. Porém, se o pastor se acomoda ao conhecimento já adquirido, e não sente a grande necessidade de diária iluminação divina, a educação obtida se torna apenas uma pedra de tropeço aos pecadores. Queremos que o Deus de toda sabedoria esteja envolvido em todos os nossos trabalhos e experiências, e cada jota de conhecimento obtido será um poder para o bem, e ajudará no desenvolvimento da capacidade e zelo cristão. Isso é religião. ------------------------Capítulo 61 -- Mente mundana T5 529 2 Prezado irmão F: T5 529 3 Agora é tempo de examinarmos profundamente nosso coração, para ver se estamos ou não na fé e no amor de Deus. Se não houver um despertamento entre nós que temos tão grande luz e tantos privilégios, seremos levados à ruína e nosso destino será pior do que o de Corazim e Betsaida, pois, como Cristo disse acerca dessas cidades: "Se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido com pano de saco grosseiro e com cinza." Mateus 11:21. T5 529 4 É alto o tempo de você tratar profundamente com a própria mente e a mente de seus filhos. Seu chamado em Cristo requer isso. Meu coração está vergado de dor, ele está triste e abatido, enquanto contemplo sua condição, pois sei que a menos que você se torne um homem convertido, seu ancoradouro será continuamente movido. Oh, "buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto". Isaías 55:6. Imploro-lhe que humilhe seu coração diante de Deus, e nunca, nunca esmoreça em seus esforços até se tornar um homem diferente. Sinto profundo interesse em sua condição espiritual e desejo vê-lo lutando fervorosamente pela própria salvação e de seus queridos filhos, que são orientados tanto quanto Eli dirigia seus filhos. Que toda a sua influência seja em favor do Senhor. Que seus filhos vejam que você não é um homem impulsivo, mas um homem de princípios inabaláveis. Eles copiarão o modelo que você lhes der. Até ver em você uma mudança para melhor, continuarei a insistir com você e exortá-lo. T5 530 1 Nós nos aproximamos do fim do tempo. Necessitamos não somente ensinar a verdade presente do púlpito, mas vivê-la fora dele. Examine detidamente o fundamento de sua esperança de salvação. Você não pode, enquanto se acha na posição de um arauto da verdade, de um vigia nos muros de Sião, ter os seus interesses entrelaçados com negócios de mineração ou de imóveis, e fazer ao mesmo tempo eficazmente a sagrada obra confiada a suas mãos. Onde se acham em jogo almas humanas, onde se encontram envolvidas coisas eternas, o interesse não pode, sem perigo, dividir-se. Esse é especialmente o seu caso. Embora empenhado nesse negócio, você não vem cultivando sincera piedade. Tem tido febril desejo de obter bens. A muitos tem falado acerca das vantagens financeiras a serem alcançadas nos investimentos de terras em _____. T5 530 2 Repetidas vezes você tem-se ocupado em focalizar as vantagens desses empreendimentos; e isso quando era pastor ordenado de Cristo, compromissado a dar sua alma, corpo e espírito à obra de salvação de pessoas. Ao mesmo tempo, estava recebendo dinheiro do tesouro para sustentar-se e a sua família. Sua palestra visava a desviar a atenção e o dinheiro de nosso povo de nossas instituições e do trabalho de promover o reino do Redentor na Terra. A tendência era criar neles o desejo de empregar seus recursos onde você lhes assegurou que duplicariam dentro de pouquíssimo tempo, e enganá-los com a perspectiva de, assim fazendo, poderem ajudar a causa muito mais. Talvez você não os tenha aconselhado conscientemente a reter seus meios da causa de Deus, mas alguns não tinham nenhum dinheiro para empregar a não ser aquele investido em nossas instituições, e que delas foi retirado para ser investido de acordo com suas sugestões. T5 531 1 Somos, em certo sentido, guardadores de nossos irmãos. Estamos individualmente relacionados com as pessoas que podem, através dos méritos de Cristo, aspirar à honra, glória e imortalidade. Sua pureza, sinceridade, zelo, firmeza e religiosidade são afetados por nossas palavras, obras, comportamento, orações e fiel desempenho do dever. Cristo disse a Seus discípulos: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Os ministros de Jesus Cristo devem ensinar, tanto à igreja como a indivíduos, o fato de que a profissão de fé, mesmo dos adventistas do sétimo dia, a menos que proceda de piedade sincera, é impotente para fazer o bem. Luz espiritual deve resplandecer da igreja e especialmente dos pastores, em raios claros e invariáveis. Não deve ela inflamar-se apenas ocasionalmente e então ofuscar-se e bruxulear como se estivesse se extinguindo. A excelência de Jesus Cristo sempre brilha no caráter dos verdadeiros crentes, e eles adornarão a doutrina de nosso Salvador. Assim, a superioridade e o poder do evangelho são revelados. De cada membro da igreja é requerido estar em viva ligação com a Fonte de toda luz e ser um obreiro espiritual, fazendo sua parte para refletir a luz ao mundo. T5 531 2 Especialmente deve o pastor evitar todo embaraço mundano e unir-se à Fonte de todo o poder, para poder demonstrar corretamente o que significa ser cristão. Deve libertar-se de tudo que, de qualquer modo, lhe desviaria a mente de Deus e da grande obra para este tempo. Cristo espera que, como servo por Ele empregado, você seja semelhante a Ele na mente, no pensamento, na palavra e na ação. Espera que todo homem que abre as Escrituras aos outros trabalhe cuidadosa e inteligentemente, não usando suas faculdades de maneira insensata, de modo a prejudicá-las ou sobrecarregá-las, para poder estar habilitado a desempenhar boa obra para o Senhor. Cada pessoa é convocada a ativo trabalho em algum dos vários departamentos da obra, e o Pastor conduzirá e cuidará de Seu rebanho. T5 532 1 A língua do pastor não deve ser empregada para dizer aos homens qual é o melhor meio de empregar seus recursos na Terra. Ele deve indicar-lhes como investir com segurança no banco do Céu. Minha oração é que o Senhor lhe conceda discernimento espiritual, pois você certamente naufragará na fé se não conseguir se achar em situação espiritual diversa. O irmão necessita do convertedor poder de Deus, e a menos que seja transformado, seria melhor deixar seu apego à verdade. Ainda que possa ganhar o mundo inteiro, a perda de sua alma seria um péssimo retorno. Que o Senhor o ajude, meu irmão a prontamente cair em si e agir como um homem equilibrado. Que você possa empenhar-se no trabalho com o coração e os lábios santificados, e andar humildemente com Deus. ------------------------Capítulo 62 -- Religiosidade prática T5 532 2 Prezados irmãos e irmãs de Oakland: T5 532 3 Meu espírito é atraído a escrever-lhes. Repetidamente encontro-me a conversar com vocês em sonhos, e em todas as ocasiões vocês se encontram turbados. Seja o que for que sobrevenha, porém, não permitam que sua coragem moral se enfraqueça, fazendo com que sua religião degenere em uma forma sem vida. O amorável Jesus está disposto a abençoar abundantemente; necessitamos, todavia, obter experiência na fé, na oração fervorosa, e de nos regozijarmos no amor de Deus. Há de algum de nós ser pesado na balança, e achado em falta? Precisamos vigiar a nós mesmos, vigiar os mínimos impulsos profanos de nossa natureza, para que não nos venhamos a tornar traidores das altas responsabilidades que Deus nos confiou como Seus instrumentos humanos. T5 532 4 Cumpre-nos estudar as advertências e correções dadas por Ele a Seu povo nos séculos passados. Não nos falta luz. Sabemos as obras que devemos evitar, e que preceitos nos deu Ele a observar; de modo que se não buscarmos conhecer e fazer o que é direito, é porque o fazer o mal está mais em harmonia com o coração carnal do que fazer o que é correto. T5 533 1 Sempre haverá pessoas sem fé, que esperam ser levadas pela fé dos outros. Elas não possuem conhecimento experimental da verdade, e portanto não lhe sentiram o poder santificador na própria vida. Deve ser obra de todo membro da igreja, esquadrinhar quieta e diligentemente o próprio coração, e ver se sua vida e seu caráter estão em harmonia com a grande norma divina de justiça. T5 533 2 O Senhor tem feito grandes coisas por vocês na Califórnia, em especial em Oakland; mas Ele Se agradaria de fazer muito mais, caso pusessem suas obras em harmonia com a sua fé. Deus nunca honra a incredulidade com ricas bênçãos. Recapitulem o que Ele tem feito, e saibam então que isto é apenas o começo do que está disposto a fazer. T5 533 3 Precisamos dar às Escrituras mais valor do que temos feito, pois nelas se revela a vontade de Deus para os homens. Não basta apenas concordar com a veracidade da Palavra de Deus, mas cumpre-nos pesquisá-la, aprender o que ela contém. Recebemos nós a Bíblia como o "oráculo de Deus"? Ela é tão verdadeiramente uma comunicação divina, como se Suas palavras fossem ouvidas por nós. Não lhes conhecemos a preciosidade, porque não lhe obedecemos às instruções. T5 533 4 Por toda parte ao nosso redor há anjos maus, mas como não os podemos enxergar com nossa visão natural, não consideramos como devemos a realidade de sua existência tal como é apresentada na Palavra de Deus. Se não houvesse nas Escrituras coisa alguma difícil de ser compreendida, o homem, ao pesquisar-lhe as páginas, exaltar-se-ia em orgulho e presunção. Nunca é o melhor para uma pessoa pensar que compreende todos os aspectos da verdade, pois não compreende. Homem algum se lisonjeie, portanto, de ter boa compreensão de todas as partes das Escrituras, e julgue seu dever fazer com que todos os demais as entendam justo como ele. Seja banido o orgulho intelectual. Ergo a voz em advertência contra toda espécie de orgulho espiritual. Existe abundância disto atualmente na igreja. T5 534 1 Quando a verdade que hoje nutrimos foi pela primeira vez reconhecida como verdade bíblica, quão estranha parecia ela, e quão forte a oposição que tivemos de enfrentar para apresentá-la ao povo pela primeira vez! Mas quão zelosos e sinceros foram os obedientes obreiros, amantes da verdade! Éramos realmente um povo peculiar. Poucos em número, destituídos de fortuna, sem sabedoria ou honras mundanas; todavia acreditávamos em Deus, e éramos fortes e bem-sucedidos, um terror para os que faziam o mal. Firme era nosso amor uns pelos outros; esse amor não se abalava facilmente. Então se manifestava entre nós o poder de Deus, os doentes eram curados, e havia muita alegria calma, doce e santa. Mas ao passo que a luz tem continuado a aumentar, a igreja não tem avançado proporcionalmente. O fino ouro se tem gradualmente tornado opaco, e a frieza e a formalidade se têm introduzido para prejudicar as energias da igreja. Seus abundantes privilégios e oportunidades não têm levado o povo de Deus para a frente e para cima, à pureza e à santidade. O fiel emprego dos talentos a eles confiados por Deus, aumentá-los-ia grandemente. Daquele a quem muito é dado, muito também se exigirá. Unicamente os que aceitam fielmente e apreciam a luz a nós dada por Deus, e tomam elevada e nobre posição no espírito de abnegação e sacrifício, serão condutos de luz para o mundo. Os que não avançam, hão de retroceder, mesmo das próprias fronteiras da Canaã celeste. Foi-me revelado que nossa fé e nossas obras não correspondem de maneira alguma à luz da verdade a nós comunicada. Precisamos não ter uma fé dividida, mas aquela fé perfeita que atua por amor e purifica a alma. Deus os convida, a vocês da Califórnia, a entrar em íntima relação com Ele. T5 534 2 Um ponto tem de ser guardado, e esse é a independência individual. Como soldados no exército de Cristo, deve haver harmonia de ação nos vários departamentos da obra. Ninguém tem o direito de, por sua própria responsabilidade, começar a publicar em nossas revistas idéias acerca de doutrinas bíblicas, quando é sabido que outros entre nós mantêm opiniões diversas sobre o assunto, e que isso suscitará controvérsia. Os adventistas do primeiro dia têm procedido assim. Cada um tem seguido independentemente o próprio critério, procurando apresentar idéias originais, a ponto de não haver ação harmônica entre eles, a não ser, talvez, na oposição aos adventistas do sétimo dia. Não lhes devemos seguir o exemplo. Cada obreiro deve agir tendo em vista os demais. Os seguidores de Jesus Cristo não agirão independentemente uns dos outros. Nossa força deve estar em Deus, e ser economizada para empregar-se em ação concentrada e nobre. Não deve ser desperdiçada em movimentos destituídos de sentido. T5 535 1 Há força na união. Deve haver união entre nossas casas editoras e nossas outras instituições. Caso existisse essa união, elas seriam uma potência. Nenhuma contenda ou discórdia deve existir entre os obreiros. A obra é uma, dirigida por um único Líder. Os esforços ocasionais e intermitentes têm sido nocivos. Por mais enérgicos que sejam, são de pouco valor, pois certamente virá a reação. Precisamos cultivar firme perseverança, buscando continuamente saber e fazer a vontade de Deus. T5 535 2 Cumpre-nos saber o que precisamos fazer para ser salvos. Não devemos, irmãos e irmãs, flutuar com a corrente popular. Nossa obra presente é sair do mundo e ser separados. É essa a única maneira em que podemos andar com Deus, como fez Enoque. Influências divinas estavam sempre cooperando com seus esforços humanos. Somos, como ele, chamados a possuir uma fé vigorosa, viva, eficaz, e este é o único meio por que nos é possível ser colaboradores de Deus. Precisamos satisfazer as condições expostas na Palavra de Deus, ou morrer em nossos pecados. Precisamos saber que mudanças morais necessitamos fazer em nosso caráter, pela graça de Cristo, a fim de habilitar-nos para as mansões celestes. Digo-lhes, no temor de Deus, que estamos em risco de viver como os judeus -- destituídos do amor de Deus, e ignorantes de Seu poder, enquanto a brilhante luz da verdade resplandece em todo o nosso redor. T5 536 1 Milhões podem professar obedecer à lei e ao evangelho, e todavia estarem vivendo em transgressão. Os homens podem apresentar de modo claro as exigências da verdade aos outros e, todavia, manterem carnal seu próprio coração. O pecado pode ser amado e praticado em secreto. A verdade de Deus talvez não lhes seja verdade, porquanto o coração não foi santificado por ela. O amor do Salvador talvez não exerça nenhum poder constrangedor sobre suas baixas paixões. Pela história do passado, sabemos que homens podem ocupar sagrados cargos, e ainda lidar enganosamente com a verdade de Deus. Não podem erguer a Deus mãos santas "sem ira nem contenda". Isto é porque Deus não tem domínio sobre a mente deles. A verdade nunca se lhes imprimiu no coração. "Com o coração se crê para a justiça." Romanos 10:10. "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças." Marcos 12:30. Está você fazendo assim? Muitos não o estão, e nunca o fizeram. Sua conversão tem sido apenas superficial. T5 536 2 "Portanto", diz o apóstolo, "se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra." Colossences 3:1, 2. O coração é a fortaleza do homem. Dele procedem as saídas da vida ou da morte. Enquanto o coração não for purificado, a pessoa não está apta a ter parte na comunhão dos santos. Não sabe acaso o Esquadrinhador do coração os que se estão detendo no pecado, sem consideração para com sua salvação? Não tem havido uma testemunha das coisas mais secretas na vida de cada um? Fui compelida a ouvir as palavras que alguns homens dirigiram a mulheres e meninas -- palavras de lisonja, palavras de molde a enganar e enfatuar. Satanás usa todos esses meios para destruir as almas. Alguns de vocês podem haver sido assim agentes seus; e nesse caso, terão de enfrentar essas coisas no juízo. Disse o anjo acerca desta classe: "Seu coração nunca foi entregue a Deus. Cristo não está neles. A verdade aí não está. Seu lugar é ocupado pelo pecado, o engano e a mentira. A Palavra de Deus não é crida e cumprida." T5 537 1 A presente atividade de Satanás atuando nos corações, e nas igrejas e nações, deve assustar a todo estudante da profecia. O fim está próximo. Despertem nossas igrejas. Seja o poder convertedor de Deus experimentado no coração dos membros individualmente, e então veremos a profunda atuação do Espírito de Deus. Não é o perdão dos pecados o único resultado da morte de Jesus. Ele fez o infinito sacrifício, não somente para que o pecado fosse removido, mas para que a natureza humana pudesse ser restaurada, reembelezada, reconstruída de suas ruínas, e preparada para a presença de Deus. T5 537 2 Devemos mostrar nossa fé por nossas obras. Mais ansiedade deve ser manifestada quando se possui maior medida do espírito de Cristo, pois nisto estará a força da igreja. É Satanás quem está se esforçando por fazer com que os filhos de Deus se separem. Amor, oh! quão pouco amor temos nós -- amor para com Deus e uns para com os outros! Habitando a palavra e o espírito da verdade em nosso coração, separar-nos-ão do mundo. Os imutáveis princípios da verdade e do amor ligarão coração a coração, e a força da união será proporcional à medida de graça e verdade fruídas. Bom será que cada um de nós erga o espelho, a real lei de Deus, e nela veja o reflexo do próprio caráter. Sejamos cuidadosos em não negligenciar os sinais de perigo, e as advertências dadas em Sua Palavra. A menos que essas advertências sejam atendidas, e vencidos os defeitos de caráter, esses defeitos vencerão aqueles que os possuem, e eles cairão em erro e apostasia, e em pecado aberto. A mente que não se eleva ao mais alto padrão, perderá com o tempo o poder de conservar aquilo que antes havia alcançado. "Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia." 1 Coríntios 10:12. "Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza, antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo." 2 Pedro 3:17, 18. T5 538 1 Deus escolheu nestes últimos dias um povo a quem fez depositário de Sua lei; e este povo terá sempre desagradáveis tarefas a executar. "Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo Meu nome, e não te cansaste." Apocalipse 2:2, 3. Exigirá muita diligência e contínua luta o manter o mal fora de nossas igrejas. É preciso haver rígido e imparcial exercício de disciplina, pois alguns que têm uma aparência de religião procurarão minar a fé de outros e, às ocultas, trabalharão para se exaltar a si mesmos. T5 538 2 O Senhor Jesus, no Monte das Oliveiras, declarou positivamente que "por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará". Mateus 24:12. Ele fala de uma classe de pessoas que caíram de elevado estado de espiritualidade. Que declarações dessa natureza nos impressionem o coração com solene e penetrante poder. Onde está o fervor, a devoção a Deus, que corresponde à grandeza da verdade que professamos crer? O amor do mundo, o amor de algum pecado predileto, tem privado o coração do amor da oração e da meditação nas coisas sagradas. Conserva-se uma rotina formal de cultos; mas onde está o amor de Jesus? A espiritualidade vai perecendo. Há de este torpor, esta lamentável decadência, ser perpetuada? Há de a lâmpada da verdade bruxulear e extinguir-se em trevas, por não ser novamente cheia de óleo da graça? T5 538 3 Quisera que todo pastor e cada um de nossos obreiros pudesse ver esta questão como me tem sido apresentada. A vaidade e a presunção estão matando a vida espiritual. O eu é exaltado; fala-se sobre o eu. Oh! se morresse esse eu! "Cada dia morro" (1 Coríntios 15:31), disse o apóstolo Paulo. Quando esta orgulhosa, jactanciosa presunção, e esta complacente justiça própria permeiam a alma, não sobra lugar para Jesus. É-Lhe dado um lugar inferior, ao passo que o eu incha em importância, e enche todo o templo da alma. Eis a razão por que o Senhor pode fazer tão pouco por nós. Cooperasse Ele com os nossos esforços, e o instrumento atribuiria toda a glória à própria esperteza, sabedoria, habilidade, e a pessoa se felicitaria a si mesma, como fez o fariseu: "Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto possuo." Lucas 18:12. Quando o eu estiver escondido em Cristo, não será tantas vezes trazido à tona. Não satisfaremos os desígnios do Espírito de Deus? Não nos deteremos mais na piedade prática, e incomparavelmente menos em arranjos e confabulações? T5 539 1 Os servos de Cristo devem viver como em Sua presença, e à vista de Seus anjos. Devem buscar entender as exigências referentes a nossos dias, e prepararem-se para enfrentá-las. Satanás está continuamente nos atacando por novos meios, ainda não experimentados, e por que haviam de os oficiais do exército de Deus ser ineficientes? Por que hão de eles deixar sem cultivo qualquer faculdade de sua natureza? Há uma grande obra a fazer, e se há qualquer falta de ação harmônica em realizá-la, é devido ao amor-próprio e à presunção. Unicamente quando somos cuidadosos em cumprir as ordens do Mestre sem deixar na obra nosso cunho e identidade, é que trabalhamos eficiente e harmoniosamente. "Avancem juntos", disse o anjo, "avancem juntos." T5 539 2 Solicito-lhes com insistência, aos que ministram nas coisas sagradas, para que insistam mais na religião prática. Quão raramente se vê uma consciência sensível e verdadeira, sincera tristeza de alma e convicção do pecado! É porque não há entre nós profunda atuação do Espírito de Deus. Nosso Salvador é a escada que Jacó viu, cuja base repousava na Terra, e cujo topo alcançava os mais altos Céus. Isso indica o designado meio de salvação. Se algum de nós salvar-se afinal, será apegando-se a Jesus como aos degraus de uma escada. Para o crente, Cristo é feito sabedoria e justiça, santificação e redenção. Ninguém imagine que seja coisa fácil vencer o inimigo, e que pode ser levado pelos ares até uma incorruptível herança, sem qualquer esforço de sua parte. Olhar para trás, produz vertigens. Afrouxar o apoio, é perecer. Poucos são os que apreciam a importância de lutar constantemente para vencer. Afrouxam a diligência e, em resultado, tornam-se egoístas e condescendentes consigo mesmos. Julgam não ser essencial a vigilância na vida religiosa. A diligência posta nos esforços humanos, não é introduzida na vida cristã. T5 540 1 Haverá algumas quedas terríveis por parte dos que cuidam estar firmes pelo fato de possuírem a verdade; não a têm, porém, tal como é em Jesus. Um momento de descuido pode imergir uma alma em irreparável ruína. Um pecado leva ao segundo, e o segundo prepara o caminho para o terceiro, e assim por diante. Cumpre-nos, como fiéis mensageiros de Deus, rogar-Lhe constantemente que nos guarde por Seu poder. Se nos desviamos uma polegada que seja do dever, estamos em risco de seguir avante no caminho do pecado que terminará em perdição. Há esperança para cada um de nós, mas unicamente de um modo, e este é ligar-nos a Cristo, e exercer toda energia para atingir a perfeição de Seu caráter. T5 540 2 A religião que faz do pecado coisa leve, confiando no amor de Deus para com o pecador a despeito de suas ações, só anima o pecador a crer que Deus o receberá mesmo continuando naquilo que sabe ser pecado. Isto é o que estão fazendo alguns que professam crer na verdade presente. A verdade é mantida à parte da vida, e essa é a razão por que ela não tem poder para convencer e converter pessoas. T5 540 3 Deus mostrou-me que a verdade, tal como é em Jesus, nunca foi introduzida na vida de alguns da Califórnia. Eles não possuem a religião da Bíblia. Nunca se converteram, e a menos que seu coração seja santificado pela verdade que aceitaram, serão enfeixados com o joio, pois não produzem cachos de precioso fruto para demonstrar que são ramos da Videira Viva. T5 540 4 "Buscai ao Senhor enquanto Se pode achar, invocai-O enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:6, 7. A vida de muitos mostra que eles não têm viva ligação com Deus. Estão flutuando para o canal do mundo. Não possuem, em realidade, parte com Cristo. Amam os divertimentos, e estão cheios de idéias, planos, esperanças e ambições egoístas. Servem o inimigo sob a pretensão de servir a Deus. Acham-se em servidão de um feitor, e esta servidão eles preferem, tornando-se voluntários escravos de Satanás. T5 541 1 A falsa idéia entretida por muitos, de que o refrear os filhos é um dano, está arruinando milhares e milhares. Satanás há de por certo tomar posse dos filhos, se vocês não estiverem em guarda. Não estimulem o convívio deles com os mundanos. Afastem-nos para longe. Saiam vocês mesmos do meio deles, e mostrem-lhes que estão do lado do Senhor. T5 541 2 Hão de aqueles que pretendem ser filhos do Altíssimo, elevar a norma -- não apenas quando congregados em suas reuniões, mas enquanto o tempo durar? Não estarão vocês do lado do Senhor, servindo-O com inteiro propósito de coração? Se fizerem como fizeram os filhos de Israel em abandonar os expressos preceitos de Deus, hão de receber por certo os Seus juízos; se, porém, afastarem o pecado, e exercerem viva fé, as mais ricas das bênçãos celestes lhes pertencerão. Basiléia, Suíça, 1 de Março de 1887. ------------------------Capítulo 63 -- Culto racional T5 541 3 "Que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Romanos 12:1. T5 541 4 No tempo do antigo Israel, os sacerdotes examinavam cuidadosamente toda oferta que era levada para sacrifício. Caso fosse descoberto qualquer defeito, recusavam o animal, pois o Senhor ordenara que a oferta fosse "sem mancha". Cumpre-nos apresentar nosso corpo como sacrifício vivo a Deus; e não devemos procurar tornar a oferta a mais perfeita possível? Deus nos deu toda instrução necessária para nosso bem-estar físico, mental e moral; e é dever de cada um de nós pôr nossos hábitos de vida, em todo particular, em harmonia com a norma divina. Ficará o Senhor satisfeito com coisa alguma a não ser o melhor que nos é possível oferecer? "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração." Mateus 22:37; Marcos 12:30; Lucas 10:27. Se O amarem de todo o coração, desejarão prestar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e buscarão pôr toda faculdade de seu ser em harmonia com as leis que lhes promoverão a capacidade de cumprir o Seu querer. T5 542 1 Toda faculdade de nosso ser nos foi dada a fim de prestarmos serviço aceitável a nosso Criador. Quando, por causa do pecado, pervertemos os dons de Deus e vendemos nossas energias ao príncipe das trevas, Cristo teve de pagar o resgate por nós: Seu próprio sangue precioso. "Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu." 2 Coríntios 5:15. Vocês não devem seguir os costumes do mundo. "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento." Romanos 12:2. ------------------------Capítulo 64 -- Influências mundanas T5 542 2 Prezada irmã G: T5 542 3 Meu coração se expande em amor e simpatia por você. A presente situação em sua família e o seguro resultado de seguir suas idéias equivocadas, todavia ainda não é o fim. Você não vê o perigo de associar-se tão livremente com seus parentes. Eles têm exercido enorme influência sobre você e os seus, mais do que você sobre eles. O fato de serem seus familiares não os torna menores entraves ao seu bem-estar espiritual e não menos transgressores da santa lei de Deus. Sua conduta é tão ofensiva a Deus como a de outros que recusam a luz e a verdade, e não desejam ouvir qualquer evidência em seu favor. Impressões nocivas têm sido feitas sobre sua mente e influenciado seu curso de ação. Deus fez toda a provisão para pôr a salvação ao seu alcance, mas Ele não nos obrigará a aceitá-la contra nossa vontade. Ele estabelece condições em Sua Palavra e deveríamos diligente e interessadamente, com o coração e o entendimento, empreender a tarefa de aprendê-las a fim de não cometer erros e fracassar em garantir nosso título às mansões de cima. T5 543 1 Não podemos servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Não devemos centralizar nossas afeições em parentes mundanos, que não desejam conhecer a verdade. Devemos procurar, por todas as formas, enquanto associados com eles, fazer com que nossa luz brilhe; mas nossas palavras, nosso comportamento, nossos hábitos e práticas, não devem de maneira nenhuma ser moldados por suas idéias e costumes. Em todo nosso trato com eles devemos mostrar-lhes a verdade. Se assim não podemos fazer, então quanto menos nos associarmos com eles tanto melhor para nossa espiritualidade. T5 543 2 Se nos pusermos entre amigos cuja influência tenda a fazer-nos esquecer dos altos reclamos do Senhor, convidamos a tentação e também nos tornamos fracos em poder moral para resistir a ela . Acabamos por participar do espírito de nossos amigos, a acariciar os seus ideais, e a pôr as coisas sagradas e eternas abaixo dos ideais de nossos amigos. Somos, em resumo, influenciados justamente naquilo que o inimigo de toda justiça deseja que sejamos. T5 543 3 Os jovens, se deixados sob esta influência, são mais facilmente afetados por ela do que os de mais idade. Tudo pode deixar uma impressão em seu espírito -- as fisionomias que contemplam, as vozes que ouvem, os lugares que visitam, as companhias que desfrutam, os livros que lêem. É impossível subestimar a importância que têm para esta vida e a futura as associações que escolhemos para nós mesmos e mais especialmente para nossos filhos. T5 543 4 Os primeiros anos de vida são mais importantes do que quaisquer outros. Progresso decidido será feito quer na direção certa, quer na errada. Por um lado, pode haver algum montante de frívolas realizações a ser conseguido, por outro, há conhecimento sólido e valioso para a vida prática, em tornar-se familiarizado com Deus e em aprender como fortalecer cada faculdade que Deus nos confiou. O mais importante e essencial para nosso bem presente e futuro, é o conhecimento da verdade divina como revelada na Palavra de Deus. T5 544 1 Vivemos num tempo em que tudo o que é falso e superficial é exaltado acima do real, natural e duradouro. Deve a mente ser conservada livre de tudo o que a guiaria numa direção errada. Não deve ser atravancada com histórias sem valor, que não acrescentam força às faculdades mentais. Os pensamentos serão do mesmo caráter que o alimento que provemos para a mente. O tempo dedicado a coisas desnecessárias e sem importância, seria melhor empregado na contemplação dos fascinantes mistérios do plano da salvação e em usar cada faculdade concedida por Deus para aprender Seus caminhos, para que nossos pés não tropecem na escura montanha da incredulidade ou se desviem do caminho da santidade, que foi edificado mediante sacrifício infinito para que os resgatados do Senhor andassem nele. A força do intelecto e o substancial conhecimento obtido são aquisições que o ouro de Ofir não pode comprar. Seu valor está acima do ouro e da prata. Esse tipo de educação os jovens comumente não escolhem. Eles insistem em seus desejos, gostos e aversões, preferências e inclinações, mas se os pais tiverem corretos pontos de vista sobre Deus, sobre a verdade e as influências e associações que deveriam cercar seus filhos, sentirão ser sua responsabilidade guiar firmemente os inexperientes jovens no caminho reto, sabendo que o que semeiam haverão de colher. T5 544 2 Pudesse minha voz alcançar os pais através de todo o país, eu os advertiria a que não cedessem aos desejos dos filhos, na escolha de seus companheiros ou associados. Em geral, os pais não se dão conta de que as impressões prejudiciais são muito melhor recebidas pelos jovens do que as impressões divinas; por isso suas associações devem ser as mais favoráveis para o crescimento na graça e para a verdade revelada na Palavra de Deus ser estabelecida no coração. Se as crianças estão em companhia daqueles cuja conversa seja acerca de assuntos seculares, coisa sem valor, sua mente baixará ao mesmo nível. Se ouvem os princípios da religião serem desonrados e nossa fé diminuída, se astutas objeções à verdade lhes são incutidas ao ouvido, essas coisas penetrarão na mente, moldando-lhes o caráter. Se a mente é enchida de histórias, sejam elas verdadeiras ou fictícias, não resta lugar para as informações úteis e conhecimentos científicos que a deveriam ocupar. Que devastação tem causado nas mentes esse interesse pelas leituras levianas! Como tem destruído os princípios da sinceridade e verdadeira piedade, que são a base de um caráter simétrico! É tal qual um lento tóxico introduzido no organismo, e que, mais cedo ou mais tarde, revelará seus amargos efeitos. Quando é deixada na mente de um jovem uma impressão errada, produz-se uma marca, não na areia, mas na resistente rocha. T5 545 1 As amizades de seus filhos são de molde a atraí-los para longe de toda influência que interferiria com ou romperia seus hábitos destruidores da saúde. Eles ficam impacientes quando não podem seguir seu próprio caminho. Os conselhos dos cristãos são-lhes desagradáveis. Eles estão caminhando na direção da ruína e toda influência que busca levá-los em direção oposta provoca os piores impulsos de seu coração. São joguetes das circunstâncias. A formação desses primeiros laços, que são desfavoráveis às impressões religiosas, tem uma influência poderosa e dominante sobre eles em cada passo subseqüente. Sejam os jovens postos em meio das circunstâncias mais favoráveis possíveis, pois os companheiros que escolherem, os princípios que adotarem, os hábitos que formarem, decidirão a questão de sua prestatividade aqui e de seus interesses futuros e eternos, com uma exatidão infalível. Não devem os pais ceder às inclinações de seus filhos, mas seguir o caminho claro do dever que Deus traçou, restringindo-os com bondade, negando com firmeza e determinação, mas também com amor, no que respeita a seus errôneos desejos, guiando com oração fervente e perseverante esforço os seus passos do mundo para o Céu. Os filhos não devem ser deixados a vagar pelos caminhos a que estão acostumados, a penetrar nas avenidas que se abrem por todos os lados, afastando-se do caminho reto. Ninguém está em tão grande perigo como os que não reconhecem qualquer perigo e não têm a paciência da cautela e do conselho. T5 546 1 É porque vejo seu perigo, minha irmã, que lhe escrevo. Conquanto possa haver muitos que a bajulem e gozem de sua hospitalidade sem procurar beneficiá-la com um reto conselho, tenho de adverti-la do perigo oculto, que põe em perigo sua felicidade presente e eterna. Estamo-nos aproximando de tempos tormentosos e precisamos estudar o verdadeiro fundamento de nossa fé. Necessitamos buscar no livro da lei para ver se nosso título à herança imortal acha-se sem defeito. T5 546 2 Nosso povo tem sido considerado por demais insignificante para ser digno de nota; mas virá uma mudança. O mundo cristão está agora procedendo a movimentos que necessariamente trarão em preeminência o povo observador dos mandamentos. Há uma constante suplantação da verdade de Deus pelas teorias e falsas doutrinas de origem humana. Estão-se processando movimentos para escravizar a consciência dos que querem ser leais a Deus. Os poderes legisladores serão contra o povo de Deus. Todos serão provados. Oh, se pudéssemos como um povo ser sábios para nós mesmos e por preceito e exemplo partilhar essa sabedoria com nossos filhos! Cada posição de nossa fé precisa ser investigada, e se não formos profundos estudantes da Bíblia, decididos, fortalecidos e firmados, a sabedoria dos grandes homens do mundo nos desviará. T5 546 3 O mundo acha-se ocupado, ansioso e absorto. O mal é avidamente praticado como se fosse justiça, o erro como se fosse verdade e o pecado como se fosse santidade. Trevas cobrem a terra e profunda escuridão os povos. Dormitará o povo de Deus num tempo como este? Aqueles que sustentam a verdade ficarão silentes como se estivessem paralisados? Os infiéis dizem que se cressem no que os cristãos crêem, seriam muito mais fervorosos do que eles. Se realmente cremos que o fim de todas as coisas está às portas, que pessoas nos convêm ser em santo trato e piedade? T5 547 1 Cada pessoa que verdadeiramente crê na verdade mostrará obras correspondentes. Todas serão zelosas e solenes, e incansáveis em seus esforços para conquistar outros para Cristo. Se a verdade é profundamente plantada de início em seu próprio coração, então buscarão fazer o mesmo no coração de outros. A verdade é mantida muito no pátio exterior. Seja ela trazida ao templo interior da alma, entronizada no coração e que assuma o controle da vida. A Palavra de Deus deve ser estudada e obedecida, então o coração encontrará paz, descanso e alegria, e as aspirações estarão voltadas para o Céu. Mas quando a verdade é posta à parte da vida, no pátio exterior, o coração não é aquecido com o ardente fogo da bondade divina. T5 547 2 A religião de Jesus é, para muitos, reservada para certos dias ou ocasiões, e em outros tempos é posta de lado e negligenciada. O perdurável princípio da verdade não é meramente para umas poucas horas do sábado, ou para uns poucos atos de caridade, mas deve ser inserido no coração, refinando e santificando o caráter. Se há um momento em que o homem está seguro sem essa luz especial e poder do Céu, então ele pode dispensar a verdade de Deus. A Bíblia, a pura e santa Palavra, deve ser seu conselheiro e guia, o poder controlador de sua vida. Ela nos transmitirá suas lições se a recebermos no coração. T5 547 3 Abraão era um homem favorecido por Deus. O Senhor disse: "Porque Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agirem com justiça e juízo." Gênesis 18:19. Abraão foi honrado por Deus porque cultivava a religião no lar e fazia com que o temor do Senhor impregnasse toda a família. Foi Deus quem disse: "Ele há de ordenar..." Não haveria traição do sagrado encargo de sua parte, nem submissão a ninguém senão Deus. Havia uma lei e Abraão a observava. Nenhuma cega afeição nublaria seu senso de justiça e se interporia entre Deus e a salvação de seus filhos. Aquela espécie de indulgência que é verdadeira crueldade, não extraviaria a Abraão. T5 548 1 Tanto os pais como os filhos pertencem a Deus, para serem por Ele dirigidos. Mediante a afeição e a autoridade combinadas, Abraão governou sua casa. A Palavra de Deus nos dá regras para nossa orientação. Essas regras constituem a norma da qual não nos podemos desviar, se quisermos seguir o caminho do Senhor. A vontade de Deus tem de ser soberana. A pergunta que devemos fazer não é: Que fizeram os outros? Que pensarão meus parentes? Ou: Que dirão eles de mim, se eu sigo este procedimento? Mas sim: Que disse Deus? Nem pais nem filhos podem na verdade prosperar em qualquer rumo, a não ser no caminho do Senhor. T5 548 2 Sou grata porque você possui filhos nobres, que estão buscando andar nos caminhos do Senhor, mas espero que você discirna mais claramente o caminho do dever com respeito às suas amizades. Isso haverá de determinar se você está crescendo em espiritualidade ou se tornando raquítica na vida religiosa. Os ditames da consciência precisam ser obedecidos, mesmo que pareçam difíceis. Isso a ajudará a crescer em força moral. Os deveres são freqüentemente cruzes que precisam ser levadas. Oração e louvor a Deus nem sempre são oferecidos sem luta. Abnegação e carregar uma cruz fazem parte do caminho que precisamos trilhar se quisermos alcançar os portais da cidade de Deus. Jesus abriu o caminho. Iremos segui-lo? T5 548 3 Precisamos ser obreiros de Deus, não apenas para nossa própria salvação, como também fazendo tudo o que pudermos pela salvação de outros. Assim nos tornamos participantes do grande plano da redenção, e do eterno peso de glória dentro em breve. Deus o exorta a avançar no caminho, "pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". Filipenses 3:14. Que o Senhor a abençoe, é a minha oração. Mas lembre-se, se você estiver unida a Cristo, precisa ser coobreira com Ele. Nossa piedade e deveres religiosos se tornarão de pouco interesse se não formos diários participantes do espírito de Cristo. Interesse pela salvação das pessoas é calculado para dar largura, profundidade e estabilidade ao caráter cristão. T5 549 1 O Senhor vem. Estamos perto do lar e desejamos respirar profundamente a atmosfera celestial, então estaremos identificados com o Salvador em todos os Seus planos. Seremos elevados, capazes de elevar a outros e frutíferos em boas obras. ------------------------Capítulo 65 -- Necessidades de nossas instituições T5 549 2 De tempos em tempos, tenho-me sentido impelida pelo Espírito do Senhor a dar testemunho com respeito à necessidade da procura dos melhores talentos, para trabalhar nas várias instituições e outros departamentos da causa. Até agora, não tem havido suficiente cuidado para garantir o melhor das habilidades para todas as partes de nossa obra. Aqueles que têm responsabilidades precisam ser homens treinados para a obra, homens a quem Deus possa ensinar e a quem possa honrar com sabedoria e discernimento, como fez com Daniel. Esses precisam ser homens pensantes, que tragam as impressões de Deus e que estão firmemente avançando em santidade, em dignidade moral e na compreensão de seu trabalho. Devem ser homens de oração, homens que subam o monte e vejam a glória de Deus e a dignidade de seres celestiais a quem Ele impôs o encargo de Sua obra. Então, como Moisés, seguirão o modelo que foi mostrado no monte e estarão alerta para convocar e assegurar à obra os melhores talentos. Se forem homens maduros e possuidores de inteligência santificada; se ouvirem a foz divina e buscarem captar cada raio de luz procedente do Céu, seguirão, como o Sol, um curso invariável e crescerão em sabedoria e no favor de Deus. T5 550 1 O departamento de publicações é um importante ramo da obra de Deus, e todos os que estão ligados a ele sentem que foi ordenado pelo Senhor e que todo o Céu está nele interessado. Aqueles que têm o comando da administração da obra deveriam especialmente possuir amplitude de mente e são juízo. Não deveriam gastar o dinheiro de seu Senhor descuidadamente ou por falta de tato comercial, nem cometer o erro de limitar a obra pela adoção de planos acanhados e confiando o trabalho a homens de pouca capacidade. T5 550 2 Tem sido repetidamente exposto perante mim que todas as nossas instituições deveriam ser dirigidas por homens de mente espiritual, que não introduzirão as próprias idéias e planos em sua administração. Essa obra não deveria ser deixada a homens que mesclam o sacro e o profano, e que vêem a obra de Deus como sendo do mesmo nível das coisas terrenas, para ser gerenciada do mesmo modo comum com que habitualmente dirigem assuntos temporais. Até que aqueles que estão ligados às nossas instituições tenham amplitude de mente e possam fazer planos em harmonia com o desenvolvimento da obra e seu exaltado caráter, a tendência será restringir todo empreendimento, e Deus será desonrado. Oh, que todos os que têm responsabilidades na causa de Deus se elevem a uma atmosfera mais alta e santa, onde cada cristão verdadeiro deve estar! Se assim o fizerem, ambos, eles e a obra que representam, serão elevados e revestidos de santa dignidade e merecerão o respeito de todos os que trabalham na obra. T5 550 3 Entre os empregados em nossas instituições têm havido homens que não buscam o conselho de Deus, que não se conformam aos grandes princípios da verdade que Deus estabeleceu em Sua obra e que têm, em conseqüência, manifestado assinalados defeitos de caráter. Como resultado, a maior obra confiada a mortais tem sido prejudicada pela administração ineficiente do homem. Se os regulamentos celestiais houvessem sido o princípio diretor, teria havido muito maior aproximação da perfeição em todos os departamentos da obra. T5 551 1 Os que se acham em posições de comando deveriam ser homens com largueza mental, para poderem apreciar as pessoas de intelecto culto, e recompensá-las proporcionalmente às responsabilidades que assumem. Em verdade, os que se empenham na obra de Deus não deveriam fazê-lo meramente pelo salário que recebem, mas antes pela honra de Deus, para o avançamento de Sua causa e a obtenção das riquezas imperecíveis. Ao mesmo tempo, não deveríamos esperar que aqueles que são capazes de fazer, com exatidão e meticulosidade, a obra que exige raciocínio e diligentes esforços, não recebam maior compensação do que o menos habilidoso obreiro. A estimativa real precisa ser feita levando-se em consideração a aptidão. Aqueles que não podem apreciar o bom trabalho e a verdadeira habilidade, não deveriam ser administradores em nossas instituições, pois sua influência tenderia a limitar a obra e conduzi-la a um baixo nível. T5 551 2 Para que nossas instituições sejam prósperas como Deus designou que fossem, precisa haver mais reflexão e sincera oração, combinada com inquebrantável zelo e ardor espiritual. Unir a classe certa de trabalhadores com a obra pode requerer maior desembolso de meios, mas no fim resultará em economia, pois conquanto seja essencial poupar em tudo o que é possível, verificar-se-á que os esforços feitos para economizar empregando gente que trabalhe por baixos salários e cuja produção corresponda em caráter a essa remuneração, resultarão em prejuízo. A obra sofrerá atraso e a causa será depreciada. Irmãos, vocês podem economizar tanto quanto lhes agrade em suas ocupações pessoais, na construção de suas casas, no vestuário, no alimento e nas despesas gerais, mas não transfiram essa economia para a obra de Deus impedindo que homens de capacidade e real dignidade moral se vinculem a ela. T5 552 1 Nos jogos olímpicos para os quais o apóstolo Paulo nos chama a atenção, exigia-se dos que neles tomavam parte que se preparassem cabalmente. Durante meses, eram preparados por diferentes instrutores, nos exercícios físicos calculados para dar resistência e vigor ao corpo. Tinham de utilizar somente alimentos próprios para mantê-los nas condições mais saudáveis, e seu vestuário era de molde a deixar inteira liberdade a todo órgão e músculo. Ora, se os que se deviam empenhar em correr uma carreira que visava apenas a honras terrestres eram obrigados a se submeterem a tão severa disciplina a fim de ser bem-sucedidos, quão mais necessário não é aos que se hão de empenhar na obra do Senhor, serem inteiramente disciplinados e preparados, se é que querem ser vitoriosos! Sua preparação deveria ser tão mais completa, seu zelo e abnegação nos esforços tanto maiores do que os dos aspirantes a honras mundanas, quanto as coisas celestes são de maior valor que as terrenas. A mente, bem como os músculos, devem ser exercitados para os mais diligentes e perseverantes esforços. A estrada do êxito não é um caminho suave, por onde somos conduzidos em carros palacianos; é antes uma trilha acidentada, cheia de obstáculos que só podem ser transpostos com paciente esforço. T5 552 2 Irmãos, não se tomou metade do cuidado necessário para impressionar aqueles que poderiam trabalhar na causa, apresentando-lhes a importância de se qualificarem para o serviço. Com suas habilidades sem disciplina eles nada podem fazer senão um trabalho imperfeito, mas se forem preparados por professores consagrados e sábios, e conduzidos pelo Espírito de Deus, não apenas serão capazes de fazer uma obra, como também servirão de justo modelo para outros que possam vir a trabalhar com eles. Por isso, deveria ser seu contínuo estudo como tornar-se melhor preparados para o trabalho que fazem. Ninguém deveria descansar em comodidade e inação, mas procurar elevar-se e enobrecer-se, temendo que por sua deficiente compreensão, falhe em compreender o exaltado caráter da obra e o rebaixe para atender a seu padrão finito. T5 553 1 Vi que havia grande deficiência na contabilidade de muitos departamentos da obra. A contabilidade é e sempre será uma parte importante da obra, e aqueles que se nela se especializam são grandemente necessários em nossas instituições e em todos os ramos da obra missionária. É um trabalho que exige estudo para que possa ser feito com correção e presteza, sem tensão ou opressão, mas o preparo de pessoas competentes para esse trabalho tem sido vergonhosamente negligenciado. É uma desgraça permitir que uma obra de tal magnitude como a nossa seja realizada de modo tão inexato e vicioso. Deus exige uma obra tão perfeita quanto os seres humanos possam fazê-la. É uma desonra à sagrada verdade e a seu Autor fazer o trabalho de outro modo. T5 553 2 Vi que, a menos que os obreiros de nossas instituições sejam submissos à autoridade divina, haverá falta de harmonia e unidade de ação entre eles. Se todos obedecerem às Suas instruções, o Senhor será o invisível comandante, mas também precisa haver um líder visível que tema a Deus. O Senhor jamais aceitará um efetivo de obreiros desordenado e descuidado, nem Se ocupará para levar avante a conquistar novas alturas e vitórias certas aqueles que são desobedientes e obstinados. O progresso contínuo na espiritualidade indica que Cristo mantém o governo do coração. Esse coração pelo qual Ele difunde Sua paz e alegria, e os benditos frutos do amor, torna-se Seu templo e Seu trono. "Vós sereis Meus amigos," disse Jesus, "se fizerdes o que Eu vos mando." João 15:14. T5 553 3 Nossas instituições estão muito abaixo do que Deus gostaria, porque muitos dos que se acham ligados a elas não estão em companheirismo com Ele. Não são homens amadurecidos. Não estão aprendendo constantemente de Jesus, portanto, não se estão tornando mais e mais eficientes. Se se aproximassem mais dEle e buscassem Seu auxílio, Ele seria seu conselheiro em todas as coisas e lhes concederia, como fez com Daniel, sabedoria celestial e conhecimento. T5 554 1 Anos atrás, vi que nosso povo estava muito atrasado na obtenção daquele conhecimento que o qualificaria para posições em nossa causa. Cada membro de igreja deveria envidar esforços para se habilitar ao trabalho pelo Mestre. A cada um tem sido apontado um serviço, de acordo com sua capacidade. Mesmo agora, na undécima hora, deveríamos estar despertos para preparar homens de capacidade para a obra, a fim de que possam, enquanto ocupando eles mesmos posições de confiança, educar por preceito e exemplo aqueles com quem estão associados. T5 554 2 Por causa de ambição egoísta, alguns sonegam de outros o conhecimento que lhes deveriam transmitir. Outros não se preocupam em envidar esforços para treinar alguém mais. No entanto, esse seria o melhor tipo de trabalho que poderiam fazer por Jesus. Disse Cristo: "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14), e por essa razão devemos deixar nossa luz brilhar diante dos homens. T5 554 3 Se tudo o que o Senhor falou com referência a essas coisas tivesse sido ouvido, nossas instituições ocupariam hoje uma posição mais elevada e santa do que se acham. Mas os homens têm-se satisfeito com pequenas consecuções. Não buscam, com todas as forças, aprimorar suas faculdades mentais, morais e físicas. Não percebem que Deus exige isso deles, nem compreendem que Cristo morreu para que pudessem fazer essa obra. Como resultado, estão muito atrás do que poderiam em inteligência e capacidade de pensar e planejar. Poderiam ter acrescentado virtude a virtude e conhecimento a conhecimento, tornando-se assim fortes no Senhor. Mas fracassaram. Que cada um trabalhe agora com a firme determinação de crescer. A necessidade presente da causa não é de mais homens, mas de maior capacidade e consagração dos obreiros. ------------------------Capítulo 66 -- Nossas instituições em Battle Creek T5 555 1 Os males resultantes da centralização de muitas responsabilidades em Battle Creek não são poucos. Os perigos são muitos por causa dos elementos não consagrados que esperam apenas até que uma mudança de circunstâncias os encoraje a colocar toda a sua influência ao lado do erro. Se todos os que trabalham em nossas instituições fossem consagrados e possuíssem discernimento espiritual, confiando muito mais em Deus do que em si mesmos, haveria muito maior prosperidade do que temos visto até aqui. Mas enquanto houver tão grande ausência de singela confiança e inteira dependência de Deus, não poderemos estar certos de nada. Nossa grande necessidade, hoje, é de homens que sejam batizados com o Espírito Santo de Deus, homens que andem com Deus como Enoque. Não precisamos de homens que tenham visão estreita, que restrinjam a obra em lugar de expandi-la, ou que sigam o lema: "Religião é religião e negócio é negócio." Necessitamos de homens que tenham sólidas perspectivas, que possam compreender a situação e raciocinem da causa para o efeito. O colégio T5 555 2 Os professores em nosso colégio devem ser homens e mulheres que tenham mente equilibrada, de forte influência moral, que saibam como tratar de modo sábio com pessoas, e que possuam verdadeiro espírito missionário. Se todos fossem desse tipo, as responsabilidades que agora repousam sobre o diretor seriam aliviadas, e o perigo de se tornar prematuramente esgotado seria evitado. Mas essa é exatamente a sabedoria que está faltando. T5 555 3 Não é desejável fixar mensalidades escolares muito baixas. Elas devem ser suficientes para cobrir as despesas, principalmente se o colégio não é muito subvencionado. Os que realmente prezam as vantagens que ali se obtêm farão esforço extra para alcançá-las. A maior parte dos que seriam induzidos a vir em virtude do preço baixo não beneficiaria de modo algum outros estudantes ou a igreja. Quanto maior o número, maior tato, mais habilidade e vigilância seriam necessários para com eles tratar. T5 556 1 Quando o colégio teve o seu início, havia um fundo conservado no escritório da Review and Herald para benefício dos que desejavam obter educação, mas não tinham recursos. Esse fundo foi usado por vários estudantes, que assim tiveram bom começo e puderam ganhar o suficiente para repor a importância usada, de modo que outros pudessem dela beneficiar-se. T5 556 2 Alguma providência deve ser tomada agora a fim de ser mantido tal fundo para empréstimo a estudantes pobres mas dignos, que desejam preparar-se para a obra missionária. Há entre nós pessoas de habilidade, que poderiam prestar bom serviço à causa, fossem elas tão-somente procuradas e encorajadas. Quando qualquer desses é demasiado pobre para obter as vantagens do colégio, as igrejas devem considerar um privilégio assumir suas despesas. Os jovens precisam ter claramente diante de si o fato de que até onde seja possível devem trabalhar para pagar suas despesas. O que custa pouco será pouco apreciado. O que custa algo que esteja perto do seu real valor será considerado nessa base. Mas as igrejas em diferentes campos devem sentir que uma solene responsabilidade sobre elas repousa em relação ao preparo da juventude e à educação de pessoas de mais idade para se empenharem no esforço missionário. Quando vêem alguém de seu meio que dê indicações de se tornar obreiro útil, mas sem condições de se educar, devem assumir a responsabilidade de enviá-lo ao colégio para que se instrua e se desenvolva. Qualificações dos administradores T5 556 3 É preciso haver uma completa reforma da parte dos homens que estão ligados a nossas importantes instituições. Eles possuem alguns preciosos traços de caráter, enquanto são tristemente falhos em outros. Seu caráter necessita ter uma feição diversa, que seja à semelhança de Cristo. Devem todos lembrar-se de que ainda não alcançaram a perfeição, que a obra de edificação do caráter ainda não se concluiu. Se desejarem caminhar sob todo raio de luz que Deus lhes enviou; se quiserem comparar-se com a vida e caráter de Cristo, discernirão onde têm falhado na busca por atingir os reclamos da santa lei de Deus, e buscarão tornar-se perfeitos em sua esfera assim como Deus o é na Sua. Se esses homens compreendessem a importância da obra, estariam hoje muito mais evoluídos e qualificados para preencher cargos de confiança. Durante os tempos de provação deveriam eles estar buscando aperfeiçoamento de caráter. Precisam aprender diariamente de Cristo. Esses estão vinculados à obra de Deus não porque sejam homens perfeitos e infalíveis, sem defeitos de caráter, mas apesar deles. Deus espera que eles, enquanto ligados com a obra, estejam constantemente estudando e aprendendo como copiar o Modelo. T5 557 1 Jesus uniu João, Pedro e Judas a Ele em Sua obra, tornando-os colaboradores, mas ao mesmo tempo deveriam eles estar aprendendo constantemente as lições de Cristo. Deveriam extrair de Seus divinos ensinos instruções para corrigir suas idéias erradas e equivocados pontos de vista sobre o que constituía o caráter cristão. João e Pedro não eram homens perfeitos, mas se aproveitavam de cada oportunidade para aprender. Pedro não aprendeu a desconfiar de si mesmo, a vigiar, até ser vencido pelas tentações do diabo e negar a seu Senhor. Judas teve a mesma oportunidade que esses discípulos para aprender as lições de Cristo, mas não apreciava seu valor. Era apenas um ouvinte e não praticante. O resultado disso verificou-se quando traiu seu Senhor. T5 557 2 Os homens a quem Deus vinculou às Suas instituições não devem sentir que não há melhorias a obter porque alcançaram posições de responsabilidade. Se devem ser representantes e guardiões do mais sagrado trabalho jamais confiado a mortais, precisam assumir a posição de aprendizes. Não devem sentir-se auto-suficientes ou presumidos, mas compreender que estão palmilhando terreno sagrado. Os anjos de Deus estão prontos a servi-los, e eles precisam ser continuamente receptivos à luz e influências celestiais, ou não estarão mais preparados para o trabalho do que os descrentes. T5 558 1 Se o caráter dos homens ligados ao escritório em Battle Creek fosse assim transformado, para que pudessem exercer influência positiva sobre aqueles sob seu controle, então a perspectiva seria mais animadora. Seja o que for que os homens ali empregados pensem acerca de sua capacidade, tenho razões para dizer que não poucos necessitarão melhorar muito antes de estarem qualificados para ocupar aceitavelmente seus cargos. Eles se podem julgar competentes para dar conselhos, mas estão carentes do conselho dAquele que é infalível em sabedoria. Grandes e importantes interesses estão em perigo de ser desfigurados e de tornarem-se prejudicados em suas mãos. Se todos sentissem mais sua ignorância e dependessem menos do eu, poderiam aprender do grande Mestre mansidão e humildade de coração. T5 558 2 Deus está observando tudo o que se passa no escritório. "Tu és o Deus que me vê", deveria sempre ser lembrado. Cada um dos que assumem responsabilidades no escritório deveria ser cortês e bondoso para com todos. Um senso da presença constante de Cristo preveniria a violação do direito dos outros, prática tão comum no mundo, porém uma ofensa a Deus. O amor de Jesus precisa ser incorporado à vida dos obreiros nos vários departamentos do escritório, de forma que a justiça possa ser feita não somente à obra, mas uns para com os outros. T5 558 3 A primeiríssima obra, meus irmãos, é assegurar a bênção de Deus em seu próprio coração. Então levem essa bênção para seu lar, abandonem suas críticas, vençam suas maneiras exigentes, e deixem que prevaleça o espírito de boa disposição e bondade. A atmosfera de seu lar irá com vocês para o escritório, e uma paz celeste lhes circundará a alma. Onde quer que reine o amor de Jesus, aí existe compassiva ternura e consideração pelos outros. A mais preciosa obra em que se podem empenhar meus irmãos é a de cultivar um caráter semelhante ao de Cristo. T5 559 1 Foi-me mostrado que aqueles que presidem nossas instituições deveriam ter em mente que existe um Diretor-Superintendente, que é o Deus do Céu. É necessária estrita honestidade em todas as transações comerciais de cada departamento da obra. É preciso que haja firmeza na preservação da ordem, mas aliada à compaixão, piedade e paciência. A justiça tem um irmão gêmeo, o amor. Eles precisam estar lado a lado. A Bíblia deveria ser nosso guia. Não pode haver engano maior para o homem do que pensar ele haver um melhor guia, quando em dificuldades, do que a Palavra de Deus. A bendita Palavra deve ser a lâmpada para os nossos pés. Os preceitos bíblicos devem ser entretecidos à vida diária. ------------------------Capítulo 67 -- Reuniões administrativas T5 559 2 Aqueles que participam de nossos concílios necessitam assentar-se diariamente aos pés de Jesus e aprender em Sua escola a serem mansos e humildes de coração. Como são homens fracos e errantes eles próprios, devem nutrir sentimentos de bondade e piedade pelos outros, também transviados. Eles não se acham preparados para tratar justamente, amar em compaixão e exercer a verdadeira cortesia que caracterizou a vida de Cristo, a menos que vejam a necessidade de estar em união com Ele. Os dirigentes precisam compreender que estão sob contínua observação divina e que, como homens finitos, devem agir com um permanente senso de que são passíveis de cometer erros na formação de planos, a menos que estejam intimamente ligados a Deus e buscando remover cada deficiência de seu caráter. O padrão divino precisa ser atingido. T5 559 3 Cada um que assiste às mesas administrativas precisa buscar diligentemente a sabedoria do alto. A transformadora graça de Cristo deveria ser sentida em cada reunião. Então, a influência do Espírito de Cristo sobre o coração dos presentes amoldará adequadamente sua obra. Ela dominará as ações tumultuosas e eliminará os profanos efeitos do mundanismo, que torna os homens mordazes, críticos, arrogantes e prontos a acusar. T5 560 1 Nessas reuniões são apresentadas orações formais de algumas palavras, mas os corações dos presentes não são levados em harmonia com Deus pela fervente e importuna oração, oferecida em viva fé e num espírito humilde e contrito. Se os dirigentes se divorciam do Deus da sabedoria e poder, não podem preservar aquela elevada integridade de caráter que Deus exige no tratar com seus semelhantes. Sem a divina sabedoria, acabarão por usar o próprio entendimento nas decisões que tomam. Caso esses homens não estejam em comunicação com Deus, Satanás certamente será um dos presentes em seus concílios e tirará vantagem de sua condição não-consagrada. Atos de injustiça serão cometidos porque Deus não estará presidindo. O Espírito de Cristo precisa ser aquele poder permanente e controlador no coração e na mente. T5 560 2 Vocês têm de levar consigo o Senhor em cada um dos concílios. Se perceberem Sua presença nas assembléias, cada transação será consciente e piedosamente considerada. Todo motivo inescrupuloso será reprimido e a retidão conformará todas as negociações, tanto nas pequenas como nas grandes questões. Busquem primeiro o conselho de Deus, pois ele é necessário antes que vocês possam aconselhar-se convenientemente. T5 560 3 Os irmãos precisam vigiar, temendo que as atarefadas atividades da vida os levem a negligenciar a oração, justamente quando mais necessitam do poder que ela pode proporcionar. A piedade está em perigo de ser excluída por causa da dedicação excessiva aos negócios. Esse é um grande mal que espolia a alma da força e da sabedoria celestial que estão esperando ser solicitadas. Vocês precisam daquela iluminação que somente Deus pode conceder. Ninguém está apto a tratar de Seus negócios, a não ser que possua essa sabedoria. T5 560 4 Desde que a Sociedade de Publicações foi formada, tem sido de tempos em tempos derramada luz quando surgem perplexidades, e o Senhor com freqüência tem estabelecido princípios que devem ser praticados por todos os obreiros. Na experiência inicial da obra, as importantes responsabilidades postas sobre os que estavam em posições de confiança eram continuamente mantidas diante de nós, e buscávamos o Senhor de três a quatro vezes por dia para obter sabedoria celestial, a fim de que pudéssemos consagradamente defender os interesses da causa de Deus e de Seu povo peculiar. T5 561 1 É a pior espécie de tolice deixar o Senhor fora de nossos concílios e pôr a esperança na sabedoria humana. Vocês estão em seus cargos de confiança, em especial sentido, para serem a luz do mundo. Deveriam, pois, sentir um intenso desejo de pôr-se em ligação com o Deus da sabedoria, luz e conhecimento, para poderem ser condutos de luz. Devem ser considerados os importantes interesses que se referem ao avançamento e prosperidade da causa da verdade presente. Como, então, podem vocês ser competentes para tomar corretas decisões, fazer planos sábios e dar conselho inteligente, se não estiverem conectados com a Fonte de toda sabedoria e justiça? As decisões tomadas em seus concílios têm sido consideradas muito ligeiramente. Conversações comuns, observações comuns, comentários sobre ações de outros, têm tido lugar nessas importantes reuniões. Vocês deveriam recordar-se de que o Eterno Deus é testemunha de todas essas assembléias. Os olhos atentos de Jeová analisam cada urna de suas decisões e as comparam com Sua santa lei, Seu grande padrão de justiça. Os conselheiros devem ser homens de oração, de fé, isentos de egoísmo, que não ousem apoiar-se na própria humana sabedoria, mas orem ferventemente por luz como a melhor maneira de conduzir os assuntos que lhes foram confiados. Política mundana T5 561 2 A política que os negociantes mundanos adotam não deve ser aquela escolhida e praticada pelos homens que estão ligados a nossas instituições. Política egoísta não é procedente do Céu, mas terrena. Neste mundo a filosofia predominante é: "O fim justifica os meios", e tal idéia pode ser reconhecida em cada ramo de negócio. Há uma influência controladora em cada classe da sociedade, nos grandes concílios de nações e onde quer que o Espírito de Cristo não seja o princípio dominante. Prudência e cautela, tato e habilidade, deveriam ser cultivados por todo elemento que está ligado ao escritório de publicações e por aqueles que servem em nosso colégio e hospital. Mas as leis da justiça e retidão não podem ser postas de lado e não deve prevalecer o princípio de que cada um deve fazer de seu particular ramo da obra um sucesso, sem consideração para com as outras ramificações. Os interesses de todas deveriam ser zelosamente resguardados, a fim de que o direito de nenhuma delas seja violado. No mundo, o deus do comércio é freqüentemente o mesmo da fraude, mas não deve ser assim com aqueles que estão tratando da obra do Senhor. O modelo mundano não é o mesmo daqueles que estão relacionados com as coisas sagradas. T5 562 1 Quando as cenas do Juízo foram trazidas perante mim, os livros nos quais estão registradas as obras dos homens revelaram o fato de que o relacionamento comercial de alguns que professam piedade em nossas instituições seguiu o modelo mundano e não está em total acordo com o grande padrão de justiça divino. A história dos homens em seu trato de uns com os outros, especialmente os que trabalham na obra de Deus, foi plenamente aberta diante de mim. Vi que não deveria haver qualquer transação confinada e ardilosa entre irmãos que representam importantes instituições, diferentes, talvez, em caráter, mas ramificações da mesma obra. Um espírito nobre e generoso semelhante ao de Cristo deveria ser constantemente mantido por eles. A índole avarenta não pode ter lugar em suas transações. A causa de Deus não pode avançar por meio de qualquer ação contrária ao espírito e caráter de Cristo. O modo egoísta de um provocará a mesma disposição em outros, mas a manifestação de liberalidade e real cortesia despertará o mesmo espírito em retorno, e agradará nosso Pai celestial. T5 563 1 Política mundana não deve ser classificada como saudável discrição, embora seja freqüentemente confundida com isso. Ela é uma espécie de egoísmo, qualquer que seja a razão pela qual é exercida. Discrição e sadio discernimento nunca são estreitos em suas atuações. A mente guiada por esses parâmetros possui idéias amplas e não se restringe a apenas um objetivo. Ela enfoca as coisas de todos os pontos de vista. Mas a política mundana tem um restrito campo de visão. Ela pode ver um objeto mais próximo, à mão, mas falha em identificar os que se acham à distância. Está sempre atenta a oportunidades de obter vantagem. Aqueles que seguem uma política mundana estão se firmando para arrancar o fundamento que outros homens edificaram. Cada estrutura precisa ser posta sobre um reto fundamento para que possa permanecer. Direitos autorais de livros T5 563 2 Trabalhadores intelectuais possuem um capital concedido por Deus. O resultado de seu estudo pertence a Deus e não ao homem. Se o obreiro dedicar fielmente a seu empregador o tempo pelo qual é pago, então este não possui posteriores reclamos sobre ele. E se por diligente e estrita economia de tempo ele prepara outra matéria útil à publicação, é seu direito usá-la da melhor maneira que achar para servir à causa de Deus. Se ele abre mão de tudo menos de um pequeno direito autoral, prestou um bom serviço para aqueles que trabalham com o livro e não lhe deveria ser pedido fazer mais. Deus não pôs sob a diretoria de publicações a responsabilidade de ser consciência para os outros. Não deveriam eles tentar forçar os homens a aceitar seus termos. T5 563 3 Os autores são responsáveis a Deus pelo uso que fazem de seus meios. Haverá muitos pedidos de dinheiro. Os campos missionários terão de ser penetrados e isso requererá grande desembolso. Aqueles a quem Deus confiou talentos devem negociar com eles de acordo com sua habilidade, pois têm parte a desempenhar em promover esses interesses. Quando os membros da diretoria argumentam que todos os lucros de nossos livros denominacionais devem ficar com a Sociedade de Publicações e seus agentes, e que os autores, depois de terem sido pagos pelo tempo e custas de escrever um livro, teriam de abandonar seus reclamos de participação nos lucros, estão se ocupando de um trabalho que não deveriam. Esses escritores têm tanto interesse na causa de Deus como aqueles que compõem o Conselho de Depositários. Alguns deles têm tido ligação com a obra quase que desde a sua infância. T5 564 1 Foi-me mostrado que há homens pobres cujo único meio de sustento era seu trabalho intelectual; também há homens de negócios ligados a nossas instituições que não cresceram com elas e não tiveram o benefício de toda a instrução que Deus tem dado, de tempos em tempos, com referência à sua administração. Eles não incorporaram a verdadeira religião, o espírito de Cristo, em seus negócios. A Sociedade de Publicações não deveria, portanto, tornar-se um poder absolutamente controlador. Talentos e direitos individuais precisam ser respeitados. Se fossem feitos arranjos para investir todos os resultados do talento pessoal na Sociedade de Publicações, outros interesses importantes seriam prejudicados. T5 564 2 A cada homem Deus deu sua obra. A alguns Ele outorgou talentos de meios e influência, e aqueles que têm os interesses de Sua causa no coração serão capazes de ouvir a voz divina dizendo-lhes o que fazer. Assumirão a responsabilidade de impulsionar a obra para onde ela deve ser direcionada. T5 564 3 Muitas vezes foi-me chamada a atenção para o espírito estreito e mesquinho manifestado para com o irmão H, desde o início de seus trabalhos em Battle Creek. Foi-me penoso declarar a razão. Isso ocorreu porque ele lá chegou como estrangeiro e em pobreza. Porque era pobre foi colocado em posições desagradáveis e sua falta de meios lhe pesou mais. Os dirigentes das instituições pensaram que poderiam impor-lhe condições e fizeram-no passar por um período muito difícil. Há capítulos deploráveis em sua experiência, os quais não teriam passado para a história se seus irmãos houvessem sido bondosos e tratado-o de maneira cristã. A causa do Senhor sempre deveria estar livre da mais leve injustiça. Nenhum ato nela praticado deveria conter o mais leve grau de mesquinhez ou opressão. T5 565 1 O Senhor preserva o interesse de cada homem. Ele sempre foi amigo do pobre. Há a mais espantosa escassez do amor de Cristo no coração de quase todos os que manejam as coisas sagradas. Eu desejaria dizer a meus irmãos de toda parte: Cultivem o amor de Cristo! Deve ele brotar da alma do cristão quais torrentes no deserto, refrigerando e aformoseando, trazendo às vidas alheias e à própria, alegria, paz e felicidade. "Nenhum de nós vive para si mesmo." Romanos 14:7. Se for feita a mínima opressão aos pobres ou houver injusto trato com eles, tanto nas pequenas como nas grandes coisas, Deus considerará responsável o opressor. T5 565 2 Que não se imponham termos que não sejam justos e claros com o Pastor J ou o Prof. H, ou com qualquer outro obreiro intelectual. Não sejam obrigados ou forçados a aceitar os termos daqueles que não sabem o que é fazer livros. Esses homens têm uma consciência e são responsáveis a Deus pelo capital que lhes foi confiado e o uso que dele fazem. Vocês não devem servir de consciência para eles. Eles precisam dispor do privilégio de investir os meios que puderem adquirir por trabalho duro, quando e onde o Espírito de Deus indicar. T5 565 3 Meus irmãos precisam lembrar-se de que a causa de Deus engloba muito mais do que a Casa Publicadora de Battle Creek e as outras instituições ali estabelecidas. Ninguém sabe melhor do que o irmão J como aquele escritório veio à existência. Ele esteve ligado à obra de publicações desde seu começo, quando ela era oprimida pela pobreza, quando o alimento sobre as mesas dificilmente era suficiente para atender às necessidades da natureza, porque havia sido praticada abnegação no comer, no vestir e em nossos salários, de forma que o papel pudesse ter vida. Isso foi positivamente necessário então, e aqueles que passaram por essa experiência deveriam estar prontos, sob circunstâncias similares, a fazer o mesmo novamente. T5 566 1 Não é conveniente àqueles que não passaram por essas tribulações, e que estão ligados à obra em sua presente prosperidade, insistir com os obreiros veteranos para que se submetam a seus termos, nos quais não podem ver qualquer justiça. O irmão J ama a causa de Deus e investirá seus recursos onde vir que são necessários para prosperá-la. Então, deixem a responsabilidade de receber e aplicar esses meios a quem ela pertence, a homens a quem Deus confiou talentos de influência e capacidade. Eles são responsáveis diante de Deus. Nem a Sociedade de Publicações nem seus dirigentes deveriam apropriar-se da mordomia desses autores. T5 566 2 Se a Mesa fosse competente para impor condições aos irmãos H e J, será que esses autores sentiriam terem sido tratados injustamente? Não se abriria uma porta de tentação diante deles, a qual interferiria com a simpatia e a harmonia de ação? Houvessem os administradores se apropriado de todos os lucros, e isso não seria bom para a causa e ainda produziria uma sucessão de males desastrosos para a Sociedade de Publicações. Tal condição encorajaria o espírito de intolerância que já se manifesta em certa medida nos concílios. Satanás anseia que um espírito estreito e presunçoso, o qual Deus não pode aprovar, tome posse dos homens ligados à sagrada mensagem da verdade. T5 566 3 Os mesmos princípios que se aplicam à obra em nossas instituições de Battle Creek, ajustam-se ao campo em geral. O seguinte trecho foi extraído de uma carta escrita ao irmão K, em 8 de Novembro de 1880: T5 566 4 "Há um amplo campo para os obreiros, mas muitos estão extrapolando a simplicidade da obra. Agora é tempo de trabalhar e fazê-lo sob o sábio conselho de Deus. Se vocês vincularem pessoas não consagradas às missões e Escolas Sabatinas, a obra se transformará em mera formalidade. Os obreiros de cada setor do campo precisam estudar como trabalhar com economia e na simplicidade de Cristo, e como fazer planejamentos bem-sucedidos para conquistar corações. T5 567 1 "Estamos em perigo de nos expandir no território e iniciar mais empreendimentos do que podemos cuidar adequadamente. Há perigo de negligenciar algumas partes importantes da obra em razão de atenção excessiva a outras. Ocupar-se com tão grande volume de trabalho que ninguém possa fazer com perfeição, é um plano mau. Devemos avançar, mas não de modo a lesar tanto a simplicidade da obra, que seja impossível cuidar de todos os empreendimentos sem sacrificar nossos melhores auxiliares a fim de manter as coisas num ritmo acelerado. A vida e a saúde devem ser preservadas. T5 567 2 "Conquanto devamos estar sempre prontos a seguir as oportunidades proporcionadas pela providência divina, é importante que não façamos planos maiores do que os auxílios e meios que podemos dispor para executá-los com sucesso. Precisamos manter e aumentar o interesse nos empreendimentos já iniciados. T5 567 3 "Enquanto grandes planos e amplos campos estão sendo constantemente abertos, deve haver perspectivas mais amplas com relação à seleção e treinamento de obreiros que devem trabalhar para trazer pessoas à verdade. Nossos jovens pastores precisam ser encorajados a lançar mão do trabalho com energia e levá-lo adiante com simplicidade e perfeição. Fico pasmada de ver em quão pouca apreciação nossos jovens pastores são tidos e quão pequeno o estímulo que recebem. Contudo, alguns deles empenham-se no trabalho e fazem toda e qualquer coisa por interesse egoísta. T5 567 4 "Mesquinhez e trato desonesto não devem ocorrer nos acordos com os obreiros, tantos os de mais alto como de mais baixo escalão. ... Precisa haver mais de Cristo e menos do eu. Críticas severas deveriam ser reprimidas. Cada obreiro deveria cultivar individualmente simpatia, compaixão e amor. A menos que Jesus entre e tome posse do coração, a menos que o eu seja subjugado e Cristo exaltado, não prosperaremos como um povo. Rogo-lhe, meu irmão, que trabalhe exclusivamente para Deus, não fazendo muitos planos, mas lutando para levar cautelosamente a obra adiante e com tal integridade que ela permaneça." ------------------------Capítulo 68 -- Influência cristã no lar e na igreja T5 568 1 Prezados irmão e irmã L: T5 568 2 Meu coração está oprimido por sua causa. O que vocês necessitam é da convertedora graça de Deus no coração. Precisam do espírito de Jesus e de aprender mansidão e humildade de coração na escola de Cristo. Os irmãos não sentem necessidade de piedade interior profunda e por isso enganam a si mesmos. Vocês estão retardando as decisões que deveriam tomar de uma vez por todas, para o próprio bem e dos outros. Deus exige que cada homem cumpra seu dever. Ele requer o coração todo, a total afeição. Ele não nos quer professando conhecimento de Jesus Cristo e da verdade e não produzindo frutos correspondentes. Para grandes e pequenos, cultos e incultos, ricos ou pobres, a exigência é exatamente a mesma. T5 568 3 Cada um é chamado a agir segundo a capacidade recebida de Deus. Ele deve prestar fielmente seu serviço ou manchará a consciência e porá em perigo sua salvação. Ninguém pode dar-se ao luxo de perder o Céu. Lembrem-se das palavras de Cristo a Seus seguidores: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Deus depende daqueles que conhecem o caminho para mostrá-lo aos outros. Ele confiou aos homens o tesouro de Sua verdade. Precisamos é de fé e confiança em Deus. A graça interior será revelada por ações exteriores. Necessitamos daquele espírito que mostre aos outros que estamos aprendendo na escola de Cristo, e que copiamos o Modelo que nos foi dado. Carecemos de um coração que não seja atraído para a vaidade, uma mente não apegada ao eu. Cada um deveria nutrir o constante desejo de ser uma bênção aos outros. Ambos necessitam de piedade interior, doce contentamento e isenção de criticismo, rabugice, espírito de censura e severidade. Que a bondade e o amor sejam a norma em seu lar. Quem quer que impeça a luz de brilhar no próprio lar desonra o Salvador. T5 569 1 A verdade tal como é em Jesus faz muito pelo recebedor, e não apenas por ele, mas por todos os que estão sob sua esfera de influência. O verdadeiramente convertido é iluminado desde o alto e Cristo habita nele, "uma fonte a jorrar para a vida eterna". João 14:14. Suas palavras, motivos e ações podem ser mal-interpretados e falsificados, mas ele não se importa com isso porque tem maiores interesses em jogo. Não considera sua presente conveniência, não ambiciona ostentar-se nem anela pelo louvor dos homens. Sua esperança está no Céu e mantém-se avançando para ele com os olhos fixos em Jesus. Ele age retamente porque assim é justo e porque apenas aqueles que praticam a retidão terão entrada no reino de Deus. É bondoso e humilde e se preocupa com a felicidade dos outros. Ele nunca diz: "Sou eu guardador de meu irmão?" (Gênesis 4:9), mas ama seu próximo como a si mesmo. Suas maneiras não são rudes e ditatoriais como as dos ímpios, mas refletem a luz do Céu sobre os homens. Ele é verdadeiro, intrépido soldado da cruz de Cristo, pregando a palavra da vida. À medida que obtém influência, desfaz os preconceitos contra si; sua piedade é reconhecida e seus princípios bíblicos respeitados. T5 569 2 Assim ocorre com cada um verdadeiramente convertido. Ele produz preciosos frutos e assim fazendo, anda como Cristo andou, fala como Ele falou, trabalha como Ele trabalhou, e a verdade tal como é em Jesus, através dele, faz boa impressão em seu lar, na vizinhança e na igreja. Ele está construindo um caráter para a eternidade, enquanto opera a própria salvação com temor e tremor. Exemplifica diante do mundo os preciosos princípios da verdade, mostrando o que a verdade fará na vida e no caráter do verdadeiro crente. Inconscientemente, ele está fazendo sua parte na sublime obra de Cristo pela redenção do mundo, uma obra que, em seu caráter e influência, está debilitando intensamente o fundamento da falsa religião e da falsa ciência. T5 570 1 Sinto-me obrigada a escrever desta maneira porque sei que seus irmãos nunca lhes diriam essas coisas. Não quero que você como sua esposa percam as mansões celestiais, pois elas são totalmente preciosas para nós, e deveríamos empenhar-nos com energia e zelo proporcional ao valor do objetivo que desejamos alcançar. A vida eterna é digna de esforço perseverante e incansável. T5 570 2 O Senhor deseja que você e sua família sejam cristãos em todo o sentido da palavra e que mostrem em seu caráter o santificador poder da verdade. Se tivessem formado tal caráter, suas obras passariam pelo teste do Juízo. Fossem os fogos do último dia acesos sobre suas obras como agora estão, e elas provariam apenas ser palha, madeira e restolho. Não pensem que isso é muito severo; é verdadeiro. O eu está misturado a todos os trabalhos de vocês. Atingirão vocês o alto padrão? Isso será como aprender os rudimentos do que constitui o caráter cristão. Cristo disse ao apóstolo Pedro: "E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos." Lucas 22:32. Vocês, semelhantemente, precisam ser convertidos antes de poderem fazer uma obra aceitável para o Mestre. T5 570 3 Meu irmão, se quiser, você pode ser um poderoso homem em Deus. O irmão tem talentos que Deus lhe confiou à guarda, para serem santificados a Seu serviço. Mas, se você não submeter tudo a Cristo, sua capacidade se mostrará um risco tanto para o irmão como para os outros, conduzindo-os a andarem longe da verdade e de Cristo. T5 570 4 Os membros da igreja de _____ necessitam fazer muito mais por si mesmos. Precisam ter mais fervoroso zelo por Cristo, ser mais humildes, pacientes, bondosos, mais suscetíveis ao ensino e mais semelhantes a Cristo em cada aspecto. Precisam manifestar ao mundo, mediante seu caráter, o santificador poder da graça. Deus proíbe que vocês, por preceito e exemplo, barrem o caminho para essa obra essencial. Trabalharão vocês com Jesus? Serão leais ao Senhor que os comprou? Porão em segundo plano todo assunto de somenos importância? Os irmãos precisam ser batizados numa fé mais ampla, uma caridade maior. Vocês precisam ter maior reverência pelas coisas de importância eterna. É-me impossível inculcar mais fortemente na mente dos irmãos o poder da influência que flui do exemplo de piedade individual, e da mostra, pela igreja, da santificadora influência da verdade sobre o caráter. T5 571 1 Muito maior colheita teria lugar em _____ se a igreja estivesse numa correta posição diante de Deus, cada um buscando colocar seu coração e casa em ordem. Fale menos e deixe que a legítima piedade interior transpareça em boas obras. Seja bondoso; cultive o amor e a mansidão. Ore mais, leia mais sua Bíblia. Seja diligente estudante da escola de Cristo. Então os membros da igreja não mais serão críticos de seus irmãos e irmãs; essa é obra de Satanás. T5 571 2 Espero que os irmãos sejam fortalecidos e estabelecidos na fé. A obra progredirá certamente, quer avancemos com ela quer não. Ela será vitoriosa, mas a questão é: Que Deus os ajude a sentir a necessidade de uma profunda obra de graça em seu coração. Lembrem-se de que Jesus os adquiriu com o sacrifício da própria vida. "Não sois de vós mesmos. ... Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. ------------------------Capítulo 69 -- Sonho impressionante T5 571 3 Prezado irmão M: T5 571 4 Tive um sonho impressionante na noite passada. Pensei que você estivesse num navio solidamente construído, navegando em águas muito agitadas. Por vezes as ondas passavam por cima, e você ficava completamente molhado. Você dizia: "Vou descer deste navio; ele vai afundar." "Não", dizia alguém que parecia ser o comandante, "este navio vai entrar no porto. Nunca há de afundar." Mas o irmão respondia: "Eu serei arrebatado pelas ondas. Como não sou comandante nem piloto, quem se importará? Vou tentar aquele navio que o senhor vê lá adiante." Respondeu o comandante: "Não o deixarei ir para lá pois sei que aquele navio vai dar contra os rochedos antes de chegar ao porto." O irmão se ergueu, ereto, e disse com toda positividade: "Este navio vai tornar-se um destroço; vejo isso com toda a clareza." O comandante fitou-o com olhar penetrante, e disse firmemente: "Não permitirei que você perca a vida, tomando aquele navio. O madeiramento de sua estrutura está roído de bichos, e é um navio enganoso. Se você tivesse mais conhecimento, discerniria entre o espúrio e o genuíno, o santo e aquilo que se destina à ruína completa." T5 572 1 Despertei; mas é esse sonho o que me leva a escrever-lhe. Fiquei profundamente impressionada com algumas dessas coisas, quando me chegou uma carta, dizendo que você estava "sob grande tentação e prova". Que há, irmão M? Está Satanás tentando-o de novo? Está Deus permitindo que você seja levado ao mesmo lugar onde fracassou anteriormente? Deixará agora que a incredulidade tome posse de sua mente? Fraquejará todas as vezes, como fizeram os filhos de Israel? Deus o ajude a resistir ao maligno, e a sair mais forte de cada prova de sua fé! T5 572 2 Tenha cuidado quanto a suas ações. "Fazei veredas direitas para os vossos pés." Hebreus 12:13. Feche a porta à incredulidade, e faça de Deus a sua força. Quando se achar perplexo, mantenha-se calmo; não dê passos no escuro. Estou profundamente preocupada por sua salvação. Talvez seja esta a última prova que o Senhor lhe esteja concedendo. Não avance nem um passo na estrada descendente da perdição. Espere, e Deus o ajudará. Seja paciente, e aparecerá a clara luz. Se ceder às impressões, perderá a vida, e esta é para Deus de grande valor. T5 572 3 Tenho estado a escrever o primeiro volume da série O Grande Conflito; e causa-me uma impressão muito solene recordar esses assuntos tão importantes: a criação e os acontecimentos da queda de Satanás até à queda de Adão. O Senhor parece estar muito perto de mim ao escrever, e fico profundamente comovida ao contemplar esse conflito, desde o princípio até ao tempo presente. A atuação dos poderes das trevas é-me exposta claramente ante os olhos. Tempos muito difíceis estão à nossa frente; e Satanás, trajando vestes de anjo, apresentar-se-á às pessoas com suas tentações, como foi até Cristo no deserto. Ele citará a Escritura; e a menos que nossa vida esteja oculta com Cristo em Deus, ele por certo prenderá nossa mente na incredulidade. T5 573 1 O tempo é muito breve, e tudo que deve ser feito tem de ser feito rapidamente. Os anjos estão segurando os quatro ventos, e Satanás está tomando vantagem de cada um que não esteja plenamente firmado na verdade. Toda pessoa será provada. Todo defeito de caráter, a menos que seja vencido pelo auxílio do Espírito de Deus, tornar-se-á meio certo de destruição. Sinto como nunca antes a necessidade de que nosso povo seja fortalecido pelo espírito da verdade; pois os ardis de Satanás enredarão a todos que não fazem de Deus a sua força. O Senhor tem muito trabalho por ser feito; e se nós fizermos o que Ele nos designou colaborará com os nossos esforços. ------------------------Capítulo 70 -- Necessidade de estudo diário da Bíblia T5 573 2 Os que são chamados por Deus para obreiros da palavra e da doutrina devem aprender sempre. Constantemente devem buscar aperfeiçoar-se a fim de se constituírem exemplo do rebanho de Deus e fazerem bem a todos que com eles entram em contato. Os que não reconhecem a importância de progredir e de aperfeiçoar-se, não crescerão na graça e no conhecimento de Cristo. T5 573 3 Todo o Céu se interessa na obra que está sendo feita no mundo, que é preparar homens e mulheres para a futura vida imortal. É desígnio divino que instrumentos humanos se sintam honrados ao serem chamados a cooperar com Cristo na salvação de pessoas. A Palavra de Deus claramente revela que é o privilégio de cada instrumento nesta grande obra reconhecer que há alguém à sua direita pronto a assisti-lo em cada esforço sincero, para atingir a mais elevada excelência moral e espiritual na obra do Mestre. Isso acontecerá com todo aquele que sentir a necessidade desse auxílio. Devem olhar para a obra de Deus como uma atividade sagrada e santa e oferecer-Lhe cada dia tributo de alegria e gratidão, em retribuição ao poder de Sua graça pela qual são habilitados a progredir na vida espiritual. O obreiro deve fazer sempre o mais modesto conceito de si próprio, considerando as muitas oportunidades que deixou desaproveitadas por falta de diligência e necessária apreciação da obra. Não deve desanimar-se por isso, mas continuamente renovar seus esforços no sentido de remir o tempo. T5 574 1 Os que Deus escolheu para o Seu ministério devem preparar-se para a obra, mediante escrupuloso exame de consciência e íntima união com o Salvador do mundo. Se não forem bem-sucedidos em ganhar pessoas para Cristo, será porque a própria vida não está bem com Deus. Há, infelizmente, ainda muita ignorância voluntária da parte de grande número de pessoas que pregam a Palavra. Por falta de uma compreensão perfeita das Escrituras, não estão habilitadas para esse trabalho. Não sentem a importância da verdade para o presente tempo, pelo que ela para eles não constitui uma realidade viva. Se humilhassem o coração diante de Deus, se andassem de conformidade com as Escrituras na verdadeira humildade de espírito, teriam visão muito mais distinta do padrão que cumpre imitar; mas deixam de fixar os olhos no Autor e Consumador de sua fé. T5 574 2 Não há necessidade de que alguém se deixe vencer pelas tentações de Satanás, violentando assim a sua consciência e entristecendo o Santo Espírito de Deus. Na Palavra de Deus foram feitas todas as provisões para que o auxílio divino seja dispensado a cada um que se esforce por vencer. Se conservarem a Jesus diante dos olhos, serão transformados na Sua imagem. Todos em quem Cristo habitar pela fé serão assistidos em seu trabalho por um poder que lhes assegurará o êxito. Tornar-se-ão continuamente mais eficientes em sua obra, e a bênção divina, revelando-se na prosperidade de seu trabalho, testificará que em realidade são cooperadores de Cristo. Mas por maiores que sejam os progressos que alguém tenha feito na vida espiritual, nunca atingirá um ponto em que não tenha mais necessidade de examinar diligentemente as Escrituras, pois nelas se contêm as evidências de nossa fé. Todos os pontos de doutrina, ainda que tenham sido aceitos como verdades, têm de ser provados pela lei e pelo testemunho; se não resistirem a essa prova, "nunca verão a alva". Isaías 8:20. T5 575 1 O grande plano de redenção, conforme revelado na obra final para estes últimos dias, deve ser cuidadosamente estudado. As cenas relacionadas com o santuário celestial devem de tal modo impressionar o espírito e o coração de todos, que estes sejam capazes de impressionar também a outros. Todos precisam compreender melhor a obra da expiação que está sendo efetuada no santuário do Céu. Quando essa importante verdade for reconhecida e compreendida, os que a abraçaram trabalharão de acordo com Cristo, a fim de preparar um povo que esteja em pé no grande dia de Deus e seus esforços serão bem-sucedidos. T5 575 2 Pelo estudo, meditação e oração, o povo de Deus será elevado acima do nível das idéias e sentimentos comuns e terrenos, e posto em harmonia com Cristo e Sua grande obra de purificação no santuário celestial. Sua fé O seguirá até dentro do santuário, e Seus adoradores na Terra terão o cuidado de passar em revista a sua vida, aferindo o seu caráter pelo grande padrão de justiça. Descobrirão seus próprios defeitos e reconhecerão também que necessitam do auxílio do Espírito de Deus a fim de estar habilitados para a grande e solene obra do presente tempo, que Deus impôs aos Seus embaixadores. T5 575 3 Cristo disse: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim, quem de Mim se alimenta, também viverá por Mim." João 6:53-57. Quantos dentre os que são obreiros da Palavra e da doutrina se alimentam da carne de Cristo e bebem o Seu sangue? Quantos podem compreender esse mistério? O Salvador mesmo o explicou: "O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. A Palavra de Deus precisa ser entretecida no caráter vivo dos que nela crêem. A única fé verdadeira é a do que recebe e assimila a verdade, até que se torne parte do seu ser e a força motriz de sua vida e atos. Jesus é chamado o Verbo de Deus. Aceitou a lei de Seu Pai, cumpriu os Seus princípios em Sua vida, manifestou o Seu espírito e revelou Sua virtude beneficente sobre o coração. Disse João: "E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." João 1:14. Os seguidores de Cristo precisam comungar em Sua experiência. Devem assimilar a Palavra de Deus. Têm de ser transformados na Sua semelhança e, pela virtude de Cristo, refletir os atributos divinos. Importa-lhes comer a carne e beber o sangue do Filho de Deus, ou não terão vida em si mesmos. O espírito e a obra de Cristo têm de tornar-se o espírito e a obra de Seus discípulos. T5 576 1 Não basta pregar a verdade; é preciso traduzi-la em obras. Cristo tem de habitar em nós e nós nEle, a fim de podermos fazer a obra de Deus. Cada qual necessita de uma experiência individual, e deve fazer esforços pessoais para conquistar almas. Deus requer que cada um dedique à obra todas as suas energias, e que, pelo esforço constante, se eduque para fazê-la de modo aceitável. Espera que cada qual introduza no coração a graça de Cristo, a fim de ser para o mundo uma luz que brilhe e alumie. Os obreiros que educarem devidamente suas faculdades, trabalharão com entendimento e com toda a sabedoria, e Deus certamente corresponderá aos seus esforços por elevar, enobrecer e salvar os semelhantes. Todos os obreiros precisam usar tato e subordinar suas faculdades à influência dominante do Espírito de Deus. Devem fazer ocupação sua estudar a Palavra de Deus, e atender à voz divina que a eles se dirige por meio dela em repreensões, instruções e consolações, e Seu Espírito os fortalecerá para que, como obreiros de Deus, possam progredir na vida religiosa. Desse modo serão conduzidos passo a passo a maiores alturas e sua alegria será completa. T5 577 1 Estando empenhados na obra que Deus lhes deu para fazer, não terão tempo nem se sentirão com disposição para glorificar a si próprios, como também não lhes sobrará tempo para murmurar ou queixar-se, porquanto suas afeições se concentram nas coisas de cima e não nas terrenas. Coração, alma e corpo estarão então empenhados na obra do Mestre. Não trabalharão movidos por egoísmo, mas renunciarão a tudo por amor de Cristo. Exaltarão a Sua cruz, pois são Seus verdadeiros discípulos. Alimentar-se-ão dia a dia das preciosas verdades da Palavra de Deus, e serão assim fortalecidos para o dever e robustecidos para a provação. Tornar-se-ão dessa maneira homens e mulheres fortes e bem desenvolvidos em Cristo. Serão daí verdadeiros filhos e filhas do Rei celestial. A magnitude da verdade que amam e meditam, dilatar-lhes-á o espírito, fortalecendo-lhes o discernimento e elevando-lhes o caráter. Na obra de salvar pessoas não serão aspirantes, pois trabalham com a sabedoria que por Deus lhes é concedida. Nem serão pigmeus na vida religiosa, mas crescerão em Cristo, sua cabeça viva, até à estatura perfeita de homens e mulheres em Cristo Jesus. O antagonismo dos inimigos da verdade só contribuirá para robustecer sua esperança, e alcançarão preciosas vitórias porque chamam em seu auxílio o poderoso Ajudador que jamais desaponta os que O buscam num espírito de humildade. Se seus esforços forem bem-sucedidos, darão toda a glória a Deus. O Céu se aproximará deles em simpatia e cooperação. Serão feitos na verdade um espetáculo para o mundo, para os anjos e os homens. Sua vida se caracterizará pela pureza de coração, pela força de propósito, firmeza e utilidade na causa de Deus. Serão os eleitos de Deus. T5 578 1 Na vida religiosa de cada pessoa que aspira à vitória sobrevêm incidentes terrivelmente embaraçosos e difíceis; mas o conhecimento da Escritura a ajudará a evocar as animadoras promessas de Deus que lhe fortalecerão o coração e robustecerão a fé no poder do Todo-poderoso. Lê-se nela: "Não rejeiteis pois a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão" (Hebreus 10:35), "para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso." 1 Pedro 1:7, 8. A prova da fé é mais preciosa do que o ouro. Todos devem saber que isso constitui uma parte da disciplina na escola de Cristo, a qual é necessária para os purificar e desembaraçá-los das escórias deste mundo. Importa sofrer com fortaleza de espírito os escárnios e ataques dos inimigos e vencer todos os obstáculos que Satanás levantar em seu caminho. Procurará induzi-los a negligenciar a oração e desanimá-los no estudo das Escrituras; e há de projetar em seu caminho a sua sombra odiosa, a fim de ocultar-lhes aos olhos a Cristo e as atrações celestiais. T5 578 2 Ninguém deve viver hesitante e com medo, dominado por dúvidas constantes e semeando queixumes em seu caminho; mas todos devemos erguer os olhos para Deus, considerar Sua bondade e regozijar-nos em Seu amor. Reúna todas as suas energias para elevar os olhos e não deixá-los pousar nas dificuldades. Assim fazendo, você jamais fraquejará em sua vida. Em breve haverá de ver a Jesus por trás da nuvem, estendendo a mão para ajudá-lo; e tudo o que restará a fazer será estender-Lhe sua fé simples, e permitir-Lhe que o guie. Enchendo-se de confiança, pela fé em Jesus, o resultado será uma maravilhosa esperança. A luz que brota do Calvário dará uma demonstração do apreço que Deus tem por uma só pessoa, e pela consideração desse apreço você será levado a refletir essa luz para o mundo. Um grande nome entre os homens é como letras rabiscadas na areia; mas um caráter puro é de duração eterna. Deus dotou você de inteligência e raciocínio para compreender as Suas promessas; e Jesus quer ajudá-lo a formar um caráter sólido e equilibrado. Os que possuem esse caráter não necessitam desanimar-se por não terem sucesso nos negócios seculares. São "a luz do mundo". Mateus 5:14. Satanás não pode destruir ou tornar de nenhum efeito a luz que deles irradia. T5 579 1 Deus tem trabalho para todos. Não entra em Seus desígnios que as pessoas sejam sustentadas na batalha da vida pela simpatia e elogio dos homens; mas quer que saiamos a campo suportando o vitupério de Cristo, pelejando o bom combate da fé, e socorrendo-nos de Sua força em todas as dificuldades. Deus nos franqueou todos os tesouros do Céu pelo precioso dom de Seu Filho, que é perfeitamente capaz de nos elevar, enobrecer e habilitar pela perfeição de Seu caráter, para utilidade nesta vida e para um santo Céu. Ele veio ao mundo e viveu como requer que Seus seguidores vivam. Sua vida foi de renúncia e constante abnegação. Se alimentarmos o egoísmo, a comodidade e a condescendência com as inclinações, não empenhando o melhor dos nossos esforços para cooperarmos com Deus nesta obra maravilhosa de nos elevar, enobrecer e purificar, a fim de nos tornarmos filhos e filhas de Deus, não corresponderemos ao Seu desígnio; sofreremos um contínuo prejuízo nesta vida e finalmente haveremos de perder a futura vida imortal. Deus quer que trabalhemos, não com menosprezo de nós mesmos nem com desalento, mas com robusta fé e esperança, bom ânimo e alegria, apresentando Cristo ao mundo. A religião de Jesus é alegria, paz e ventura. À medida que examinarmos as Escrituras, reconhecendo a infinita condescendência do Pai em dar Seu Filho para que todos os que nEle cressem, tivessem a vida eterna, cada faculdade que em nós há deve ser posta em atividade, para louvá-Lo, honrá-Lo e dar-Lhe glória pelo inexprimível amor que manifestou para com os filhos dos homens. ------------------------Capítulo 71 -- Educação de obreiros T5 580 1 Temos por fazer uma obra cuja importância poucos reconhecem. É a de levar a verdade a todas as nações. Há vasto campo para os obreiros, em terras estrangeiras assim como nos Estados Unidos. Deus chama a homens que sejam dedicados, puros, generosos, de espírito aberto e humildes, para entrar nesses campos. Quão poucos têm qualquer intuição dessa grande obra! Temos que despertar e trabalhar sob um ponto de vista mais alto do que já tivemos até aqui. T5 580 2 Os que agora abraçam a verdade têm toda vantagem, especialmente quanto à abundância de luz e conhecimento que nossas publicações apresentam. As experiências do passado, ricas e variadas, devem agora ser apreciadas em sua justa luz. Sabemos quão arduamente a obra avançava a princípio, quantos obstáculos se lhe opunham, quão poucos recursos estavam ao dispor dos pioneiros da causa, para ser empregados em seu avanço; mas agora tudo está mudado e brilha a clara luz. Se o cristianismo primitivo pudesse penetrar o coração de todos os que professam crer na verdade, traria para eles nova vida e poder. O povo que está em trevas veria então o contraste entre a verdade e o erro, entre os ensinos da Palavra de Deus e as fábulas da superstição. T5 580 3 Têm sido cometidos erros em não buscar alcançar com a verdade pastores e outras pessoas das classes mais elevadas. Temos evitado por demais as pessoas não de nossa fé. Conquanto não nos devamos associar a elas para cedermos à sua influência, existem por toda parte pessoas sinceras pelas quais devemos acautelada, prudente e inteligentemente trabalhar, cheios de amor por sua salvação. Deveria ser formado um fundo a fim de educar homens e mulheres para trabalhar por essas classes mais elevadas, tanto aqui como em outros países. Temos falado demais, muito mesmo, acerca de descer ao nível da mente comum. Deus quer homens de talento e bom discernimento, capazes de pesar os argumentos, homens que cavem em busca da verdade como de tesouros escondidos. Tais homens serão capazes de alcançar não só as classes comuns, mas também as melhores. Esses homens serão sempre estudantes da Bíblia, plenamente despertos à santidade das responsabilidades que sobre eles repousam. Eles darão plena prova de seu ministério. T5 581 1 Temos, nos diferentes ramos da causa, poucas iniciativas. Novos empreendimentos têm de ser realizados. Precisamos de habilidade para delinear planos pelos quais possam ser alcançadas pessoas que se encontram nas trevas do erro. Precisamos da inteligência de espíritos diversos, mas não devemos criticá-los se suas idéias não se adaptarem exatamente às nossas. Devemos ter planos mais amplos para a educação de obreiros que proclamem a mensagem. Os que crêem e amam a verdade têm agido nobremente em dar de seus recursos para manter seus vários empreendimentos, mas há grande falta de obreiros capazes. Não é prudente estar constantemente a despender recursos para abrir novos campos, enquanto tão pouco se faz no sentido de preparar obreiros que ocupem esses campos. A obra de Deus não deve ser atrasada por falta de agentes que a efetuem. Ele chama homens cultos, que sejam estudiosos da Bíblia, que amem a verdade, que a explanam aos outros, e que a introduzam em sua própria vida e caráter. Necessitamos de homens que amem a Jesus e a Ele se apeguem, e que apreciem o infinito sacrifício feito em favor da caída humanidade. Precisamos de lábios tocados pelo fogo sagrado, corações puros da contaminação do pecado. Aqueles cuja religiosidade é superficial, e que têm grande ambição de ser considerados os primeiros e melhores, não são os homens para este tempo. Os que pensam mais em sua própria vontade do que na causa, não são necessários. T5 581 2 Nossas igrejas não estão recebendo a espécie de preparo que as leve a andar em toda a humildade de espírito, despojando-se de todo o orgulho de ostentação externa, e esforçando-se pela posse do adorno interior. A eficiência da igreja é justamente o que o zelo, a pureza, abnegação e inteligente esforço dos pastores a tornam. Um ativo espírito missionário deve caracterizar seus membros. Devem ter mais profunda piedade, fé mais forte e vistas mais amplas. Têm de fazer trabalho mais completo no esforço pessoal. O que precisamos é uma religião viva. Um único indivíduo de amplos conceitos sobre o dever, cuja vida esteja em comunhão com Deus e que seja cheio de zelo por Cristo, exercerá poderosa influência para o bem. Não se abebera ele em corrente baixa, turva, poluída, mas nas águas puras e elevadas das cabeceiras; e pode comunicar à igreja novo espírito e poder. Ao aumentar a pressão do exterior, Deus deseja que Sua igreja seja vitalizada pelas santas e solenes verdades que crê. O Espírito Santo, do Céu, trabalhando com os filhos e filhas de Deus, transporá os obstáculos e manterá vantagem contra o inimigo. Deus tem grandes vitórias em reserva para o Seu povo que ama a verdade e seja observador dos mandamentos. Os campos já embranqueceram para a ceifa. Temos luz, e ricas, gloriosas dotações do Céu, na verdade preparadas para as nossas mãos; mas os homens e mulheres não foram educados e disciplinados para trabalharem na seara que amadurece rapidamente. T5 582 1 Deus sabe com que fidelidade e espírito de consagração cada qual cumpre sua incumbência. Não há, nesta grande obra, lugar para o indolente, não há lugar para o condescendente consigo mesmo, ou os que são incapazes de tornar a vida um êxito em qualquer vocação, nem há lugar para os indiferentes, que não são fervorosos no espírito, dispostos a suportar durezas, oposição, opróbrio, ou morte por amor de Cristo. O ministério cristão não é lugar para zangões. Há homens que tentam pregar e são desmazelados, descuidosos e irreverentes. Melhor fariam cultivando a terra do que ensinando a sagrada verdade de Deus. T5 582 2 Pessoas jovens deverão logo assumir os encargos que os mais idosos têm ocupado. Temos perdido tempo, negligenciando colocar à frente os jovens, e dar-lhes uma educação mais elevada, mais sólida. A obra avança constantemente, e temos que obedecer à ordem: "Avançar!" Muito bem poderia ser feito por jovens firmados na verdade e que não são influenciados facilmente nem desviados da retidão por seu ambiente, mas que andam com Deus, que oram muito, e que se esforçam por juntar toda a luz que podem. O obreiro deve estar preparado para pôr em exercício as mais altas energias mentais e morais com as quais a natureza, o cultivo e a graça de Deus o tenham dotado; mas seu êxito será proporcional ao grau de consagração e sacrifício com o qual é feita a obra, e não aos dons naturais ou adquiridos. São necessários os mais fervorosos e contínuos esforços por adquirir habilitações para a utilidade; mas a menos que Deus atue com os esforços humanos, coisa alguma se poderá realizar. Disse Cristo: "Sem Mim, nada podeis fazer." João 15:5. A graça divina é o grande elemento do poder salvador; sem ela, todos os esforços humanos são de nenhum valor; sua cooperação é necessária mesmo para os mais fortes e fervorosos esforços humanos, para a proclamação da verdade. T5 583 1 A causa de Deus precisa de professores que tenham altas qualidades morais e aos quais se possa confiar a educação de outros; homens que sejam firmes na fé e tenham tato e paciência, que andem com Deus e se abstenham da própria aparência do mal; que estejam tão intimamente ligados a Deus que possam ser condutos de luz -- em suma, cavalheiros cristãos. As boas impressões feitas por essas pessoas, jamais se apagarão, e o preparo assim dado perdurará através da eternidade. O que se negligencia nesse processo de preparo, provavelmente ficará por fazer. Quem empreenderá essa obra? Como seria bom se houvesse jovens cavalheiros fortes, arraigados e firmados na fé, que tivessem tão viva comunhão com Deus que pudessem, se assim fossem aconselhados por nossos irmãos dirigentes, entrar nos colégios mais adiantados de nossa terra, onde tivessem mais vasto campo de estudo e observação. A associação com diversas espécies de mentalidades, a familiarização com a atuação e os resultados dos métodos populares de educação, e um conhecimento de teologia como é ensinado nas instituições de ensino, seriam de grande valor a esses obreiros, preparando-os para trabalharem em favor das classes educadas e a combaterem os erros que prevalecem em nosso tempo. Tal foi o método seguido pelos antigos valdenses; e, permanecendo fiel a Deus, nossa juventude, como a deles, poderia fazer boa obra, mesmo enquanto adquirissem a educação, semeando as sementes da verdade em outras mentes. T5 584 1 "Portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos." 1 Coríntios 16:13. Perguntem Àquele que por vocês sofreu ignomínia, insulto e escárnio: "Senhor, que queres que eu faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. Ninguém alcança educação demasiado elevada para se tornar humilde discípulo de Cristo. Os que julgam privilégio dar o melhor de sua vida e estudo Àquele de quem os receberam, não fugirão a nenhum trabalho, nem sacrifício, para devolver a Deus, no mais excelente serviço, os talentos que Ele confiou. Na grande batalha da vida muitos dos obreiros perdem de vista a solenidade e caráter sagrado de sua missão. A mortal maldição do pecado continua a manchar e a desfigurar a imagem moral de Deus neles, porque não trabalham como Cristo trabalhou. T5 584 2 Vemos a necessidade de estimular mais elevadas idéias acerca da educação, e de empregar no ministério mais homens bem preparados. Os que não obtêm a devida espécie de educação antes de entrar para a obra de Deus, não são competentes para aceitar esse santo legado e levar avante a obra da reforma. No entanto, todos devem continuar sua educação depois de se empenhar na obra. Devem ter a Palavra de Deus a habitar neles. Precisamos de mais cultivo, refinamento e nobreza de coração em nossos obreiros. Semelhante melhoria deve mostrar resultados na eternidade. T5 584 3 "Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes Aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno." 1 João 2:14. O apóstolo liga aqui a experiência dos pais à dos jovens; da mesma maneira que há uma ligação entre os antigos discípulos nesta causa e os que são mais jovens, que não tiveram experiência dos primeiros desenvolvimentos desta mensagem. Os que eram jovens quando surgiu a mensagem, terão de ser educados pelos líderes antigos. Esses mestres devem reconhecer que não se pode fazer esforços demasiado grandes para preparar homens para o seu santo legado, enquanto os porta-estandartes são ainda capazes de manter alto o estandarte. E no entanto, os que por tanto tempo lutaram nas batalhas, podem ainda alcançar vitórias. Têm-se familiarizado tão cabalmente com os ardis de Satanás, que não serão facilmente desviados das veredas antigas. Lembram-se dos dias antigos. Conhecem Aquele que existe desde o princípio. Poderão ser sempre portadores de luz, fiéis testemunhas de Deus, epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. T5 585 1 Vamos dar, pois, graças a Deus por terem ficado alguns, como se deu com João, para relatar sua experiência no princípio desta mensagem, e o recebimento disso que hoje temos como tão querido. Mas, um após outro vão caindo em seu posto, e não é nada mais que prudente prepararmos outros para assumirem a obra onde eles a deixam. T5 585 2 Têm de ser feitos esforços para habilitar os jovens para a obra. Devem eles vir à frente, para assumir encargos e responsabilidades. Os que agora são jovens, devem tornar-se homens fortes. Têm de ser capazes de planejar e dar conselhos. A Palavra de Deus neles habitando, torná-los-á puros enchendo-os de fé, esperança, ânimo e dedicação. A obra é agora grandemente retardada porque homens estão desempenhando cargos para os quais não são aptos. Haverá de continuar e aumentar essa grande necessidade? Hão de essas grandes responsabilidades cair das mãos dos obreiros experientes para as mãos dos que são incapazes de se desempenhar adequadamente? Não estaremos negligenciando uma obra muito importante, deixando de educar e preparar nossos jovens para preencher posições de confiança? T5 586 1 Sejam educados os obreiros, mas ao mesmo tempo sejam eles mansos e humildes de coração. Elevemos a obra ao padrão mais alto possível, sempre lembrados de que, se fizermos nossa parte, Deus não faltará com a Sua. ------------------------Capítulo 72 -- Ambição profana T5 586 2 Prezados irmão e irmã N: T5 586 3 Embora eu não tenha recebido de vocês nenhuma resposta à minha última carta, sinto-me impelida a escrever-lhes novamente. Foi-me mostrado o perigo em que vocês estão incorrendo e não posso poupar-me de tentar impressionar-lhes a mente sobre a necessidade de andar humildemente com Deus. Vocês estarão seguros contanto que tenham pontos de vista mais humildes sobre si mesmos. Sei que a salvação de vocês se acha em perigo. Estão mais buscando um caminho largo para os pés, do que o humilde caminho da santidade, a rota real que conduz à cidade de Deus. Vocês estão muito mais cheios de si do que da mansidão e humildade de Cristo. Muito amor-próprio e confiança própria, e pequena fé em Deus. Os elementos dissidentes de sua natureza estão amplamente desenvolvidos. Paixões incontroláveis exercem um subjugante poder. Orgulho e vaidade lutam pela supremacia. Sei que o inimigo os está tentando severamente. Sua única segurança está na inteira conformidade com a vontade de Deus. Se vocês andarem em humildade diante do Senhor, Ele poderá cooperar com seus esforços e o divino poder se aperfeiçoará em sua fraqueza. Cristo é nosso Salvador. Ele disse para o seu e o meu benefícios: "Sem Mim nada podeis fazer." João 15:5. Oh, não desejam vocês mais de Jesus e menos de si mesmos? T5 586 4 Irmão N, você não é naturalmente inclinado à devoção, por isso mesmo, necessita de constantes esforços para cultivar a fé. É fácil para você retirar a Cristo de sua experiência. O Senhor conferiu-lhe Sua bênção no passado, e quão doce ela lhe foi ao coração! Que conforto, que coragem, lhe deu. Sua paixão é enaltecer a educação, mas digo-lhe que ela, a menos que seja equilibrada por princípios religiosos, será um poder para o mal. T5 587 1 Não estou disposta a observar passivamente e vê-lo seguir, como outros, no fatal engano de que os adventistas do sétimo dia são muito bitolados em suas idéias e que andam por caminhos obscuros; que eles precisam ter grande notoriedade e erguer-se a elevadas eminências; que os professores de nossas escolas deveriam dedicar com maior exclusividade suas energias às ciências, e não misturar tanta religião em seu magistério. Quando essa semente é lançada no coração dos estudantes, desenvolve-se rapidamente numa messe que vocês não gostarão de colher. T5 587 2 Estamos, por assim dizer, no limiar do mundo eterno, e se vocês quiserem fazer nessa escola a obra para a qual ela foi fundada, precisam adestrar-se sobremaneira através do Livro dos livros. Não devem priorizar qualquer outro estudo acima da Bíblia. Outras escolas em nossa terra não devem ser tomadas como padrão. T5 587 3 Foi-me mostrado que vocês se encantaram com uma linha educacional da qual o elemento religioso foi quase que totalmente excluído. Há numerosas escolas desse tipo em nosso país, aonde os estudantes podem ir se desejarem essa espécie de educação. Mas essa escola deve ser de caráter diverso; ela tem de corresponder ao molde divino em cada departamento. T5 587 4 Jesus e Seu amor deveriam ser entremeados com a educação ministrada, como o mais elevado conhecimento que os estudantes podem ter. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 9:10. Se o diretor, em seus ambiciosos projetos, tentar voar para longe da Fonte de toda sabedoria, e pensar que a religião bíblica lhe apara as asas, descobrirá que não se elevará mais do que bolhas de sabão. Então, por amor de sua própria alma, ponham o Príncipe da vida em cada plano, em cada organização. Vocês não podem ter demasiado de Jesus ou da história da Escritura em sua escola. T5 587 5 Temos nós a verdade? Estamos vivendo no período de encerramento da história terrestre? Está Cristo às portas? Essas são questões que precisamos resolver. A educação deve sempre ser de nível alto e santo, e essa necessidade é muito maior e mais imperativa agora do que nunca dantes. A mudança dos fiéis deste mundo logo se cumprirá. Por conseguinte, por que não concentrar todas as energias da mente e da alma numa integral consagração a Deus? T5 588 1 Nunca oculte suas cores, nunca ponha sua luz no alqueire ou sob a cama, mas no candeeiro, para que possa iluminar a todos os que estão na casa. Estarão atentos, você e os professores que estão a seu lado em _____, às oportunidades de iluminar a outros? Buscarão vocês, com sabedoria, fazer todo o bem que poderiam? Tentaram vocês chamar a atenção daqueles para cuja educação contribuíram, às verdades da Bíblia? Não ocultaram vocês sua bandeira porque tiveram vergonha de serem vistos como povo peculiar de Deus? "Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem Se envergonhará dele, quando vier na glória de Seu Pai, com os santos anjos." Marcos 8:38. Se vocês tão-somente se alimentarem de Cristo diariamente, então poderão ser verdadeiros educadores. T5 588 2 Meu irmão, há perigo em sua tentativa de comunicar muita coisa de uma vez só. Não há necessidade de você fazer longos discursos ou falar sobre assuntos que não serão compreendidos e apreciados pelas pessoas comuns. Há riscos de se deter em temas que estão no alto da escada, quando aqueles a quem você se dirige necessitam ser ensinados a como subir os primeiros degraus. Você aborda coisas que aqueles que não estão familiarizados com nossa fé não podem compreender; por essa razão, suas dissertações não são interessantes. Elas não estão alimentando aqueles a quem você se dirige. T5 588 3 Jesus foi o maior educador que o mundo conheceu. Em comparação com Seu conhecimento, a mais alta ciência humana é loucura. Mas, Suas instruções eram tão simples que todos podiam compreender, quer fossem cultos ou iletrados. Ele não Se preocupava em mostrar Seu profundo conhecimento; se assim fosse, eles não O teriam compreendido. Você parece achar que longos discursos exercem especial influência em modelar e conformar os ouvintes como deseja, porém, isso é uma falha de sua parte. O irmão exerceria maior influência se falasse menos e orasse mais; Deus é sua fonte de força. T5 589 1 Seus longos discursos sobre educação em ciências são penosos aos anjos de Deus, que estão constante e intensamente ativos em atrair os pensamentos e afeições para as coisas celestiais. Pessoas estão perecendo enquanto você negligencia trabalhar com os talentos que lhe foram confiados por Deus, seguindo o exemplo dado por Cristo. Elas se perderão enquanto você desfia seus discursos longos e destituídos de Cristo. Sua própria mente está atrofiada e paralítica com relação ao conhecimento de Cristo. O irmão está perdendo muito porque foi cegado pelo espírito e costumes de uma educação que não pode salvar. T5 589 2 A juventude necessita de seus préstimos. Se você fosse um homem convertido, aprendiz diário das lições da escola de Cristo, então seus serviços seriam um cheiro de vida para a vida. Então trabalharia com paciência, amor e no poder de Deus, pelos jovens que estão expostos às tentações. Dedique parte do tempo que consome em longos discursos a fazer um trabalho pessoal pela juventude, que tanto necessita de seu auxílio. Ensine-lhes os reclamos que Deus tem sobre eles e ore com eles. Há muitos que estão algemados aos maus hábitos com cadeias tão fortes como o aço. As pobres vítimas estão fascinadas com os atrativos dos engodos satânicos e são incapazes de romper esse encantamento, e permanecer na liberdade concedida por Deus. Eles já perderam anos. Perderão, porventura, o ano recém-iniciado? Despertará o diretor da escola para suas responsabilidades e se dedicará de corpo e alma à salvação dos estudantes? Caso não o faça, então que outro tome o seu lugar. As despesas não deveriam ocorrer continuamente, enquanto nada ou quase nada está sendo feito no sentido do objetivo pelo qual a escola veio a existir. T5 589 3 Deverão as energias da mente e da alma ser mal-empregadas? Deverão as oportunidades ser perdidas? Permitir-se-á que as formalidades e a rotina prossigam dia após dia, sem que nada seja conquistado? Oh, despertem, despertem, professores e alunos, antes que seja muito tarde! Despertem antes que ouçam de pálidos e angustiantes lábios o terrível lamento: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos." Jeremias 8:20. T5 590 1 Serão os talentos e habilidades de cada educador aprimorados para o melhor bem dos alunos? Quem está vigiando por um momento apropriado para dizer palavras de bondade e amor? Quem tem prazer em contar a história dAquele que tanto amou o mundo que deu Sua vida para redimir pecadores perdidos? Preparem os jovens, moldem-lhes o caráter, eduquem, eduquem, eduquem, para a futura vida imortal. Orem sem cessar. Insistam com Deus para que lhes conceda um espírito de súplicas. Não sintam que seu trabalho como professores está concluído, a menos que possam conduzir seus alunos à fé em Jesus e ao amor por Ele. Que o amor de Cristo penetre sua própria vida e então, naturalmente, vocês ensinarão aos outros. Quando vocês, como instrutores, se entregarem sem reservas a Jesus para que Ele os conduza, guie e controle, não haverão de fracassar. Ensinar os alunos a serem cristãos é a maior obra que lhes foi confiada. Vão a Deus; Ele ouvirá e responderá às orações. Afastem de si questionamentos, dúvidas e incredulidade. Não permitam nenhuma aspereza em seu ensino. Não sejam exigentes, mas cultivem terna simpatia e amor. Sejam alegres. Não ralhem, não censurem com severidade. Sejam firmes, generosos, semelhantes a Cristo, piedosos e corteses. "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. T5 590 2 Não consigo expressar-lhes o intenso desejo de minha alma, para que vocês busquem ao Senhor mui diligentemente enquanto Ele pode ser achado. Estamos no dia divino de preparação. Que nada seja visto como de suficiente valor, para distrair a mente da obra de preparo para o grande dia do juízo. Preparem-se. Que a fria incredulidade não afaste de Deus seu coração, mas permitam que o amor arda no altar do coração. ------------------------Capítulo 73 -- "A aparência do mal" T5 591 1 Sinto-me impelida a falar aos que estão empenhados em dar ao mundo a última mensagem de advertência. Depende muito do próprio obreiro que as pessoas pelas quais ele trabalha reconheçam e abracem a verdade. A ordem de Deus é esta: "Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor" (Isaías 52:11); e Paulo exorta a Timóteo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina." 1 Timóteo 4:16. A obra tem de começar pelo obreiro; precisa ele estar unido a Cristo, como a vara à videira. "Eu sou a videira", disse Jesus; "vós as varas." João 15:5. Nessa imagem está figurada a ligação mais íntima possível. Enxerte na videira verde a vara despida de folhagem e tornar-se-á um ramo vivo, que tira seiva e alimento da mesma videira. Fibra com fibra e artéria com artéria se ligam, e a seiva, subindo por elas, faz que na vara brotem folhas e nasçam frutos. A vara destituída de seiva representa o pecador; unido a Cristo, alma se une a alma, o frágil e mortal ao santo e infinito, e o homem se torna um com Cristo. T5 591 2 "Sem Mim", disse Cristo, "nada podereis fazer." João 15:5. Acaso estamos nós, que presumimos ser obreiros de Cristo, unidos a Ele como a vara à videira? Permanecemos nós em Cristo e somos um com Ele? A mensagem que levamos é mundial. Tem de ser levada a toda a nação, tribo, língua e povo. O Senhor não quer que um só de nós se constitua um portador dessa mensagem, sem dar-nos graça e poder a fim de apresentá-la ao povo de modo correspondente à sua importância. A grande questão para nós hoje é: estamos proclamando esta solene mensagem de verdade no mundo, de modo a fazer ressaltar sua importância? O Senhor promete cooperar com o obreiro que se puser na inteira dependência de Cristo. Não é Sua vontade que os missionários trabalhem sem Sua graça e necessitados de Seu poder. T5 591 3 Cristo nos escolheu do mundo para que fôssemos um povo peculiar e santo. Deu-Se "a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. Os obreiros de Deus precisam ser homens de oração, estudantes diligentes da Escritura, que tenham sede e fome de justiça, a fim de que possam ser uma luz e conforto para outros. Nosso Deus é Deus zeloso; requer de nós que O adoremos em espírito e verdade, na beleza da santidade. Diz o salmista: "Se eu atender a iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Salmos 66:18. Como obreiros devemos ter cuidado dos nossos caminhos. Se o salmista não podia ser ouvido, se atendesse à iniqüidade em seu coração, como poderiam ser agora ouvidas as orações de homens que abrigam a iniqüidade no coração? T5 592 1 Expirando o tempo de expectativa em 1844, o fanatismo penetrou nas fileiras dos adventistas. Deus enviou, pois, mensagens de advertência a fim de afastar o mal que irrompia. Havia exagerada intimidade entre certos homens e mulheres. Apresentei-lhes a santa norma da verdade que nos cumpria seguir e a pureza de conduta que importava observar, a fim de termos a aprovação de Deus e estarmos sem mácula nem ruga diante dEle. As mais solenes ameaças vieram dirigidas de Deus a homens e mulheres cujos pensamentos não eram puros e que pretendiam estar sendo particularmente favorecidos pelo Senhor; mas essas mensagens foram desprezadas e rejeitadas. Voltando-se contra mim, diziam: "Porventura falou Deus somente por meio de ti e não também por meio de nós?" Não se emendaram e Deus permitiu que prosseguissem em seu caminho até que o pecado se patenteasse em sua vida. T5 592 2 Também agora não estamos isentos de perigo. Cada pessoa empenhada em proclamar a mensagem de advertência ao mundo há de ser fortemente tentada a seguir uma conduta que seria a negação de sua fé. É o plano premeditado de Satanás tornar os obreiros, em conseqüência de suas deficiências de caráter, fracos na oração, virtude e influência. Nós, como obreiros, devemos unir-nos no propósito de suprimir e condenar tudo que em nossas relações mútuas tenha alguma afinidade com o mal. Nossa fé é santa; nossa obra tem por fim vindicar a honra da lei de Deus e não pode ser de natureza a reduzir o padrão moral das idéias ou do comportamento de quem quer que seja. T5 593 1 Devemos colocar-nos num ponto de vista elevado. Devemos crer e pregar a verdade como é em Cristo. A santidade nunca há de conduzir a atos menos honestos. Se alguém, que pretende ensinar a verdade, se inclina a estar muito na companhia de uma moça ou mesmo de uma mulher casada; se em confiança, chega a pôr a mão sobre ela, ou se entretém freqüentemente com ela conversações íntimas, tenha cuidado com ele; os princípios puros da verdade não estão arraigados em sua mente. Essas pessoas não estão em Cristo, nem Cristo nelas. Necessitam de uma legítima conversão antes que Deus possa aceitar seu trabalho. A verdade de origem divina jamais degradará ao que a recebe, jamais o induzirá a qualquer intimidade indevida; ao contrário, santifica o crente, educa-lhe o gosto, eleva-o e enobrece-o, e põe-no em comunhão íntima com Jesus. Leva-o a atender à exortação do apóstolo, no sentido de evitar a própria aparência do mal, para que "não seja pois blasfemado o vosso bem". Romanos 14:16. T5 593 2 É este um assunto que nos importa considerar; devemos acautelar-nos contra os pecados desta época corrupta. Devemos fugir de tudo que tenha sinais de uma familiaridade suspeita. Deus o condena. É um terreno proibido e há perigo em pôr nele o pé. Cada palavra e ato devem elevar e enobrecer o caráter. É pecado pensar levianamente acerca destas coisas. O apóstolo Paulo exorta Timóteo à diligência e exatidão em seu ministério, e a meditar sobre coisas que são boas e puras para que o seu aproveitamento seja manifesto a todos. Os moços do presente tempo necessitam muito desses mesmos conselhos. Muita ponderação é o que precisamos. Se os nossos obreiros refletissem mais em vez de se deixarem levar por impulsos de momento, obteriam muito maior êxito em seu trabalho. Estamos tratando com coisas de infinito alcance e não devemos prejudicar a obra com os defeitos de nosso caráter. Devemos representar o caráter de Cristo. T5 594 1 Temos um grande trabalho a fazer, a fim de elevar homens e ganhá-los para Cristo, induzindo-os a aspirarem diligentemente à participação da natureza divina, depois de haverem escapado às corrupções deste século. Cada pensamento, palavra e ato de nossos obreiros deve ter aquele caráter elevado que está em conformidade com a verdade sagrada que defendem. É possível que em nossos grandes campos missionários homens e mulheres tenham de trabalhar juntos. Nessa hipótese todo o cuidado será pouco. Que os homens casados sejam circunspectos e recatados, para que nenhuma acusação lhes possa ser justamente feita. Estamos vivendo em um tempo em que a iniqüidade predomina, e uma palavra irrefletida ou ato inconveniente pode prejudicar muito a utilidade daquele que revelar tal fraqueza. Que os obreiros observem os limites do recato, nada deixando acontecer de que o inimigo possa tirar vantagem. Se começarem a dirigir suas afeições um ao outro, tratando com particular atenção aos preferidos e usando palavras lisonjeiras, o Senhor lhes subtrairá Seu Espírito. T5 594 2 Quando homens casados vão para o trabalho, deixando suas esposas presidindo aos cuidados da casa, estas estão fazendo um serviço tão importante como o marido. Enquanto o marido é missionário lá fora, ela não o é menos em casa, excedendo muitas vezes o marido quanto aos cuidados, solicitude e trabalhos com que tem de arcar. Sua obra, que consiste em desenvolver e moldar a inteligência e o caráter dos filhos e educá-los para serem homens úteis aqui e idôneos para a futura vida imortal, é uma obra sagrada e importante. O marido, lá fora pode ser cumulado de honras da parte dos homens, ao passo que a fiel obreira em casa ficará privada dessa recompensa. Mas se ela se empenhar pela felicidade da família, esforçando-se por formar caracteres à imagem divina, os anjos arrolarão o seu nome junto ao dos maiores missionários do mundo. Deus não vê as coisas como se apresentam à visão finita do homem. Quão cuidadoso deve ser o marido e pai em manter fidelidade ao voto conjugal! Quão circunspecto deve revelar-se quanto ao caráter, a fim de não despertar nas moças ou mesmo nas mulheres casadas pensamentos que não correspondam à elevada e santa norma -- os mandamentos de Deus! Esses mandamentos, como Cristo os expôs, são muitíssimo amplos, atingindo até aos pensamentos e propósitos do coração. É aqui que se prova a delinqüência de muitos. A imaginação de seu coração não é de caráter puro e santo como Deus o requer, e por mais elevada que seja sua vocação, por mais talentoso que seja, Deus assinalará seu pecado e a Seus olhos será mais culpado e mais digno de Sua ira do que os menos prendados, que possuem menos luz e são dotados de menos influência. T5 595 1 Fico contristada ao ver como homens são louvados, lisonjeados e bajulados. Deus me revelou que alguns dos que têm recebido essas atenções não são dignos de tomarem o Seu nome nos lábios; contudo são exaltados até ao Céu na apreciação de seres finitos, que julgam somente pelas aparências. Minhas irmãs, não vos excedam em atenções nem lisonjeiem a pobres homens falíveis e mortais, sejam jovens ou idosos, casados ou solteiros. Não lhes conhecem as fraquezas e não sabem se porventura essas atenções e excessivo louvor que lhes tecem não venham a determinar sua ruína. Estou alarmada com a estreiteza de vista e a falta de prudência que muitos manifestam a este respeito. T5 595 2 Homens que estão fazendo a obra de Deus e têm a Cristo no coração, não amesquinharão o padrão da moralidade cristã, mas procurarão elevá-lo o mais possível. Não acharão prazer nas lisonjas de mulheres ou em ser por elas bajulados. Digam todos, solteiros e casados: Alto! Não quero dar o mais ligeiro motivo para que me acusem. Meu bom nome tem para mim maior valor do que o ouro e prata: quero conservá-lo impoluto. Se os homens desfizerem dele, não deve ser porque lhes tenha dado motivo para isso, mas pelo mesmo motivo pelo qual também blasfemaram de Cristo, isto é, porque odiavam a pureza e santidade de Seu caráter, que para eles era constante acusação. T5 596 1 Quisera que me fosse dado inculcar em todo obreiro da causa de Deus a grande necessidade de orar com zelo e persistência. Não poderão estar continuamente de joelhos, mas poderão elevar o coração a Deus. Esta foi a maneira como Enoque andou com Deus. Tenha cuidado não suceda que o domine a idéia da suficiência própria e Cristo seja eliminado de seu coração, trabalhando você na própria força em vez de na força e no espírito do Mestre. Não desperdice momentos preciosos em conversações frívolas. Quando voltar de algum trabalho missionário, não dê louvor a si mesmo, mas exalte a Jesus; enalteça a cruz do Calvário. Não permita que alguém o elogie, lisonjeie ou lhe aperte a mão como se não quisesse tornar a largá-la. Tema toda demonstração desse gênero. Quando moças ou mesmo jovens casadas revelam inclinação para revelar-lhe segredos de família, acautele-se! Quando manifestam o desejo de possuir sua simpatia, você deve saber que é hora de pôr-se de sobreaviso. Os que estão imbuídos do espírito de Cristo e andam com Deus, não manifestarão desejos não santificados de simpatia. Desfrutam da comunhão de Alguém que satisfaz neles plenamente todo o desejo do espírito e da alma. Homens casados que aceitam as atenções, elogios e lisonjas da parte de mulheres, podem estar certos de que o amor e simpatia dessas pessoas não merecem ser avaliados. T5 596 2 As mulheres são muitas vezes tentadoras. Sob este ou aquele pretexto cativam a atenção dos homens, sejam casados ou solteiros, e continuam seduzindo-os até que tenham transgredido a lei de Deus, tornando-se inaptos para o trabalho, e sua salvação esteja em risco. A história de José foi relatada para benefício dos que são tentados à sua semelhança. José provou-se inabalável em seus princípios, respondendo à sua sedutora: "Como pois faria eu este tamanho mal, e pecaria contra Deus?" Gênesis 39:9. Força moral como a que ele manifestou é de que estamos precisando hoje. Se as mulheres quisessem corrigir sua conduta e tornar-se cooperadoras de Cristo, sua influência ofereceria menos perigo, mas com a sua real negligência quanto aos deveres domésticos e as exigências que Deus tem a seu respeito, sua influência se exerce com força em prejuízo da orientação legítima, suas faculdades se atrofiam, e sua obra não tem a aprovação divina. Não são missionárias em casa nem fora; e com freqüência seu lar, seu precioso lar, é deixado em completo abandono. T5 597 1 Todo o homem que professa a Cristo deve esforçar-se por vencer tudo que é indigno de um homem, toda fraqueza e leviandade. Alguns jamais chegam até a estatura perfeita de homens em Cristo Jesus. São ingênuos e presumidos; mas a religiosidade poderia corrigir todos estes defeitos. A verdadeira religião não se caracteriza por condescendência ingênua. É a todos os respeitos digna. Que nenhum dos que se alistaram como soldados nas fileiras de Cristo venha a desviar-se no dia da prova. Todos devem reconhecer que têm um trabalho sério a fazer, que é elevar os semelhantes de seu estado decaído. Ninguém tem o direito de depor as armas em meio da luta que torna mais desejável a virtude e odioso o vício; para o cristão ativo não há descanso aquém das moradas eternas. Obedecer aos mandamentos de Deus é fazer o que é justo e somente o que é justo. Nisto consiste a maturidade cristã. Mas muitos necessitam tomar repetidas e freqüentes lições do exemplo de Cristo, que é o autor e consumador de nossa fé. "Considerai pois Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo o pecado." Hebreus 12:3, 4. Você deve crescer na graça cristã. Se nas ofensas revelar mansidão e se apartar de todas as coisas vis da Terra, dará a prova de que Cristo habita em você, e com cada pensamento, palavra e ato estará atraindo os homens para Jesus e não para você mesmo. Há uma grande soma de trabalho a fazer e pouco tempo resta para fazê-lo. Seja o propósito de sua vida incutir em todos a idéia de que têm um trabalho a fazer para Cristo. Aceite os deveres que outros deixam de reconhecer, porque não querem compreender a missão que lhes está confiada. T5 597 2 O padrão da moralidade não tem sido suficientemente exaltado entre o povo de Deus. Muitos dos que professam observar os mandamentos divinos, e se propõem a defendê-los, os transgridem. As tentações se apresentam de tal forma que o tentado imagina descobrir uma justificativa para a transgressão. Os que entram para o campo missionário devem ser homens e mulheres que andam e falam com Deus. Os que ocupam o púlpito sagrado como pastores devem ser homens de reputação excelente; sua vida deve ser íntegra, superior a tudo que tenha o menor traço de impureza. Não arrisque sua reputação, aventurando-se no caminho da tentação. Se uma mulher lhe apertar a mão demoradamente, retire-a prontamente, salvando-a do pecado. Se ela lhe manifestar uma afeição indevida, queixando-se de que seu marido não a ama nem se simpatiza com ela, não tente suprir essa falta. A única maneira sábia e segura de agir em tal hipótese é guardar para você a sua simpatia. Tais casos são muito freqüentes. Aponte a essas pessoas Aquele que leva nossas aflições, e é o único Conselheiro sábio e verdadeiro. Se ela tiver escolhido a Cristo por seu companheiro, Ele lhe dará graça para suportar esse abandono sem murmuração; por outro lado cumpre-lhe fazer diligentemente tudo que lhe for possível para unir a si o marido, dedicando-lhe a mais estrita fidelidade, e provando-se também solícita em tornar o lar alegre e atrativo. Se todos os seus esforços forem frustrados, deixando de ser apreciados, terá a simpatia e o apoio do Salvador. Ele a ajudará a levar a carga e a consolará nas decepções. Buscando entre os homens o que supra a falta que sente e que Cristo está sempre pronto a preencher, manifesta a mulher desconfiança nEle. Com sua murmuração peca contra Deus. Seria melhor que fizesse um exame de consciência, a ver se porventura não há no coração algum pecado. O coração que desse modo busca a simpatia humana e aceita as atenções proibidas de quem quer que seja, não está limpo diante de Deus. T5 598 1 A Bíblia apresenta muitas ilustrações marcantes da poderosa influência exercida pela mulher mal-intencionada. Quando Balaão foi chamado para amaldiçoar a Israel, isso não lhe foi permitido, porquanto o Senhor "não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó". Números 23:21. Mas Balaão, que já se havia rendido à tentação, se constituiu totalmente um instrumento de Satanás, e determinou conseguir indiretamente o que diretamente não lhe foi possível. Ideou imediatamente uma cilada que consistiu em seduzir os israelitas pelo encanto das formosas moabitas a transgredirem os mandamentos divinos. Deste modo neles seria achada iniqüidade, e a bênção divina lhes seria retirada. Suas forças seriam notavelmente reduzidas e os inimigos não teriam mais a temer o seu poder, porque a presença do Senhor não continuaria com os seus exércitos. T5 599 1 Constitui isto um aviso para o povo de Deus nos últimos dias. Se seguirem totalmente a justiça e a santidade, guardando os mandamentos de Deus, Satanás e seus agentes não poderão vencê-lo. Toda oposição de seus mais ferrenhos inimigos será impotente para arrancar ou destruir a vinha que o Senhor plantou. Satanás compreende o que Balaão teve de aprender por uma triste experiência, a saber, que contra Jacó não há encantamento nem adivinhação possível enquanto a iniqüidade nele não tiver acolhida. Por tal motivo seu poder e influência se empregam constantemente no sentido de destruir a união do crente com Deus e macular a pureza de seu caráter. Suas ciladas são armadas de mil modos diferentes, a fim de debilitar a eficácia do crente para o bem. T5 599 2 Uma vez mais quero insistir na necessidade de cultivar a pureza de pensamento, palavras e ação. Temos uma responsabilidade individual para com Deus, um trabalho pessoal que ninguém pode fazer por nós: regenerar o mundo pelo ensino, exemplo e esforço pessoal. Cultivando a sociabilidade, não o façamos simplesmente por passatempo, e sim com um propósito útil. Há pessoas a salvar. Aproximemo-nos delas pelo esforço pessoal. Franqueemos as nossas portas aos moços que estão expostos a tentações. O mal os convida de todos os lados. Procure interessá-los. Se têm defeitos, procure corrigi-los. Não se afaste deles, mas busque seu contato. Introduza-os no seu lar, convide-os para assistir ao culto doméstico. Há milhares que precisam que se faça tal serviço por eles. Cada árvore no jardim de Satanás está carregada de frutos sedutores e venenosos, e maldição é pronunciada sobre cada um que deles colher e comer. Lembremo-nos do que Deus exige de nós: que tornemos o caminho do Céu, claro, brilhante e atraente, para que nos seja dado afastar nos dos destrutivos encantamentos de Satanás. T5 600 1 Deus nos deu o entendimento para o usarmos para um fim nobre. É este o nosso tempo de prova para a vida futura. É um tempo demasiado solene para andarmos descuidosos e permanecermos na incerteza. Nossas relações com outros devem caracterizar-se pela honestidade e um espírito de piedade. Nossa conversação deve versar sobre as coisas que são de cima. "Então aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dEle, para os que temem o Senhor, e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos Exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve." Malaquias 3:16, 17. T5 600 2 Que poderia ser mais digno de ocupar nossos pensamentos do que o plano da redenção? É um tema inesgotável. O amor de Jesus, a salvação oferecida através desse infinito amor ao homem decaído, a santidade do coração, a verdade preciosa e salvadora destes últimos dias e a graça de Cristo, são assuntos próprios para animar o espírito e fazer que o coração puro experimente a alegria que tiveram os discípulos quando Jesus com eles caminhou ao dirigirem-se para Emaús. Aquele que tiver feito de Jesus o objeto principal de seu amor, terá prazer em Sua santa companhia e de tal comunhão colherá força; o que, porém, não revelar gosto por essa espécie de conversação e preferir falar sobre futilidades sentimentais, afastou-se muito de Deus e é insensível às aspirações nobres e santas. O sensual e o terreno é por ele confundido com o celestial. Quando a conversação é de caráter frívolo, revelando um desejo não satisfeito de simpatia e reconhecimento humano, procede de um sentimentalismo apaixonado, que faz correr perigo tanto os jovens como os idosos. Se a verdade de Deus for um princípio constante no coração, este será como uma fonte de água viva. Poderão tentar estancá-la, mas irromperá por outro lado; permanece e não pode ser reprimida. A verdade no coração é um manancial de vida, que refrigera ao cansado e abafa os pensamentos e expressões más. T5 601 1 Porventura não existe suficiente evidência a nosso redor, demonstrando os perigos a rondar nossos caminhos? Por toda parte se vêem destroços humanos, altares domésticos quebrados, lares despedaçados. Há um estranho abandono dos princípios, um rebaixamento das normas de moralidade; predominam cada vez mais os pecados que determinaram os juízos divinos por ocasião do dilúvio e da destruição de Sodoma pelo fogo. Aproximamo-nos do fim. Deus tem por longo tempo suportado a perversidade do ser humano, mas nem por isso o seu castigo é menos certo. Que todos os que professam ser a luz do mundo se apartem da iniqüidade. Vemos hoje, manifestado contra a verdade, o mesmo espírito notado nos dias de Cristo. Por falta de argumentos bíblicos, os que invalidam a lei de Deus forjam mentiras, a fim de macular e difamar os obreiros. Fizeram isso ao Redentor do mundo e o farão também a Seus seguidores. Boatos que não têm o menor fundamento serão tidos como fatos. T5 601 2 Deus tem abençoado Seu povo que observa Seus mandamentos, e toda a oposição e mentira que contra ele se levante, contribuirá somente para robustecer os que tomaram a si a defesa da fé "uma vez entregue aos santos". Judas 3. Mas se os que professam ser depositários da lei de Deus se tornarem transgressores dessa mesma lei, Seu cuidado protetor ser-lhes-á retirado e muitos cairão por sua perversidade e licenciosidade. Nessas condições seremos incapazes de manter-nos diante de nossos inimigos. Mas, se o povo de Deus se conservar separado e distinto do mundo, como uma nação justa, Deus será sua defesa, e nenhuma arma usada contra ele poderá prevalecer. T5 601 3 Em vista dos tempos perigosos que atravessamos, não deveríamos, como um povo que guarda os mandamentos de Deus, renunciar a todo pecado, iniqüidade e perversidade? Não deviam as mulheres que professam a verdade pôr-se em estrita guarda, a fim de não darem o menor pretexto para qualquer intimidade indevida? Poderão fechar muitas portas à tentação observando perfeito recato e conduta exemplar. Que os homens se inspirem no exemplo de José, sustentando firmemente seus princípios por mais tentados que sejam. Temos de ser homens e mulheres fortes ao lado do direito. Há ao redor de nós muitas pessoas fracas do ponto de vista moral. Essas necessitam da comunhão das que são fortes e cujo coração está estreitamente ligado ao de Cristo. Os princípios de cada um hão de ser postos à prova. Mas há pessoas que correm ao encontro da tentação como um louco que se mete a si próprio em cadeias. Convidam o inimigo a tentá-las. Debilitam-se e enfraquecem-se em força moral, e a vergonha e a confusão são a natural conseqüência. T5 602 1 Quão desprezíveis aos olhos de um Deus santo devem ser os que professam vindicar Sua lei, e contudo são violadores dela! Acarretam vergonha à boa causa e dão aos adversários oportunidades de triunfar. Jamais a linha de separação entre os seguidores de Jesus e os de Satanás deve ser obliterada. Há uma linha divisória distinta, traçada pelo próprio Deus, entre a igreja e o mundo, entre os que observam Seus mandamentos e os que quebrantam Seus preceitos. Não se unem uns aos outros. Divergem uns dos outros como o dia da noite, pelos seus gostos, aspirações, propósitos e caráter. Cultivando o amor e o temor de Deus, havemos de aborrecer até a coisa mais insignificante que tenha sinais de impureza. T5 602 2 Que o Senhor Se digne atrair as pessoas e incutir-lhes a consciência de sua sagrada responsabilidade de formar caráter tal que Cristo não Se envergonhe de chamá-las irmãos. Proponha-se uma norma elevada, e naquele dia, quando cada um for recompensado conforme suas obras, a bênção divina será pronunciada sobre você. Os obreiros de Deus devem conduzir-se sempre como em Sua presença pessoal e desenvolver continuamente um caráter que se distinga pela virtude e piedade. Seu espírito e coração devem estar de tal forma imbuídos do espírito de Cristo e santificados pela solenidade da mensagem que devem levar, que cada pensamento, ato e motivo de sua vida esteja muito acima de tudo quanto é terreno e sensual. Sua felicidade não consistirá na satisfação de desejos egoístas e proibidos, e sim na comunhão de Jesus e de Seu amor. T5 603 1 Minha prece é esta: "Senhor, unge os olhos de Teus filhos, para que possam distinguir entre o pecado e a santidade, entre a contaminação e a pureza, saindo finalmente triunfantes." ------------------------Capítulo 74 -- Amor pelos que erram T5 603 2 Cristo veio ao mundo, a fim de pôr a salvação ao alcance de todos. Na cruz do Calvário pagou o preço infinito exigido pela redenção do mundo. Sua abnegação e renúncia, Seu trabalho desinteressado, Sua humilhação, e, sobretudo, o holocausto de Sua vida, atestam o amor profundo que dedicou à humanidade decaída. Veio para salvar o que se perdera. Sua missão atingia os pecadores de todas as categorias, de qualquer língua ou nação. Por todos pagou o preço de sua redenção, a fim de reintegrá-los na comunhão e harmonia do Céu. Não desprezava os que se haviam feito culpados dos mais graves erros e delitos. Seu trabalho era desempenhado com especial consideração pelos que mais necessitavam da salvação que viera trazer. Quanto mais urgente reforma um caso pedia, tanto mais profundo era Seu interesse, maior Sua simpatia e mais devotados Seus esforços. Seu amorável coração se comovia até às profundezas por aqueles cuja condição menos esperança oferecia e que mais necessitavam de Sua graça regeneradora. T5 603 3 Na parábola da ovelha perdida foi figurado o amor admirável que Cristo dedica às almas desgarradas. Não Se demora junto dos que Lhe aceitam a graça para, de preferência, circunscrever a eles Seus esforços e receber em troca seu amor e agradecimento. O verdadeiro pastor deixa o rebanho que o ama e corre ao deserto, enfrenta dificuldades, perigos e até a morte, pelo único desejo de encontrar e salvar a ovelha perdida, que está condenada a morrer, se não for restituída ao redil. E quando, finalmente, depois de diligente busca, o pastor a encontra, embora exausto de cansaço, aflição e fome, não se limita a tocá-la para a frente, mas -- oh, amor incomensurável! -- toma-a afetuosamente nos braços, põe-na sobre os ombros e a reconduz ao rebanho. Depois convoca os vizinhos para se alegrarem com ele por se haver achado a que se perdera. T5 604 1 As parábolas do filho pródigo e da dracma perdida ensinam a mesma lição. A pessoa que mais grave perigo corre, pela natureza especial de sua tentação, é que maior cuidado merece da parte de Cristo, tornando-se o objeto de Sua mais terna simpatia e diligente trabalho. A alegria pelo pecador que se arrepende é maior do que a que reina por noventa e nove que não necessitam de arrependimento. T5 604 2 Estas lições são para proveito nosso. Jesus deu aos discípulos a comissão de cooperarem com Ele em Sua obra e de amarem-se uns aos outros como Ele os amou. A agonia que padeceu na cruz atesta o valor que atribui aos seres humanos. Todos os que aceitarem esta grande salvação, assumem o compromisso de cooperar com Ele. Ninguém se poderá considerar especialmente favorecido pelo Céu, concentrando seu interesse e atenção em si mesmo. Todos os que se dedicam ao serviço de Cristo devem trabalhar como Ele o fez e amar aos que vivem em ignorância e pecado, justamente como Ele os amou. T5 604 3 Todavia, entre nós se tem feito notar uma falta de simpatia e amor, profundo e sincero, em prol dos que são tentados e erram. Muitos têm revelado grande frieza e negligência pecaminosa, que Cristo representou pelo indivíduo que passa de largo, guardando a maior distância possível dos que mais necessitam de sua ajuda. A pessoa recém-convertida, sustenta muitas vezes lutas tremendas com hábitos arraigados ou com algumas formas especiais de tentação e, sendo vencida por alguma paixão ou tendência dominante, incorre naturalmente na culpa de imprudência ou real injustiça. Nessas circunstâncias é preciso que os irmãos desenvolvam energia, tato e sabedoria, a fim de ser-lhe restituída a saúde espiritual. É a esses casos que se aplica a admoestação divina: "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado." Gálatas 6:1. "Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos." Romanos 15:1. Quão pouco, porém, os discípulos professos revelam desse amor compassivo de Cristo! Quando alguém comete uma falta, outros não raro tomam a liberdade de agravar tanto quanto possível o caso. Indivíduos que provavelmente cometem faltas da mesma gravidade, embora de natureza diversa, ousam tratar seu irmão com cruel severidade. Faltas que foram cometidas por ignorância, inadvertência ou fraqueza, são transformadas em pecados propositais e premeditados. E quando alguns chegam a apostatar, há indivíduos que, cruzando os braços, solenemente declaram: "Pois não dizia eu? Sabia perfeitamente que com essa gente não se podia contar." Desse modo adotam a atitude de Satanás, e em seu espírito rejubilam porque suas malignas suposições se provam certas. T5 605 1 É natural encontrarmos, nos que são moços e inexperientes, grandes imperfeições que devemos estar dispostos a suportar. Cristo nos ordenou restaurar os que são espiritualmente fracos, e nos torna responsáveis se, por nossa conduta, forem levados ao desânimo, desespero e ruína. A menos que cultivemos diariamente a preciosa planta do amor, correremos o risco de tornar-nos egoístas, apáticos, pessimistas e críticos, tendo-nos na conta de justos, quando estamos longe de ser aceitos aos olhos de Deus. Alguns são indelicados, ríspidos e severos. São como as cascas ouriçadas das castanhas, ferem ao mais leve toque, e causam dano incalculável porque representam mal nosso amoroso Salvador. T5 605 2 Temos de atingir um padrão mais elevado ou seremos indignos do nome de cristãos. Cumpre cultivarmos o espírito que Cristo manifestou em Seu esforço para salvar os que erram. Estes Lhe são tão caros como nós, e podem igualmente tornar-se troféus de Sua graça e herdeiros de Seu reino. Mas estão expostos às ciladas de um inimigo astuto, ao perigo e corrupção, e sem a graça salvadora de Cristo, caminham para a ruína certa. Pudéssemos ver isso em sua plena realidade, quanto nosso zelo seria estimulado e nossos esforços redobrados para atingir essas pessoas que estão necessitando de nosso auxílio, orações, simpatia e amor! T5 606 1 Possam os que se têm revelado negligentes nesta obra considerar sua responsabilidade em face do grande mandamento que diz: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Marcos 12:31. Esse dever pesa sobre todos. De todos se requer que trabalhem, a fim de diminuir os sofrimentos de seus semelhantes e aumentar-lhes as bênçãos. Se somos fortes em nossa resistência às tentações, cumpre-nos ajudar os que são fracos e a elas cedem. Se temos conhecimentos, devemos ensinar os ignorantes. Se Deus nos deu bens deste mundo, devemos com eles socorrer os pobres. Devemos trabalhar em prol de outros. Todos os que se encontram dentro da esfera de nossa influência devem participar de todos os bens que possuímos. Ninguém deve contentar-se em alimentar-se do pão da vida sem reparti-lo com os que estão ao seu redor. T5 606 2 Só vivem para Cristo e Lhe honram o nome os que são fiéis ao Mestre, buscando salvar os perdidos. A verdadeira piedade forçosamente há de traduzir-se naquele ardente anelo e diligente esforço do Salvador crucificado, para salvar aqueles por quem morreu. Quando nosso coração tiver sido enternecido e subjugado pela graça de Cristo, quando arder com o senso da bondade e do amor de Deus, o amor, a simpatia e a ternura se derramarão espontaneamente sobre os outros. A verdade exemplificada na vida há de, como o fermento oculto, exercer seu poder sobre todos os que com ela entrarem em contato. T5 606 3 Deus determinou, como único meio de crescer no conhecimento e na graça de Cristo, que o homem Lhe imite o exemplo e trabalhe como Ele trabalhou. Há de custar muito, às vezes, dominar os próprios sentimentos, a fim de não falar em tom que possa infundir desalento aos que se acham em tentações. Uma vida de oração e ações de graça, que faça incidir sua luz sobre a vida de outros, não é possível sem decididos esforços. Mas esses esforços hão de ser recompensados, trazendo bênçãos não só ao que recebe como também ao que dá. O espírito de trabalho desinteressado em favor de outros, imprime ao caráter solidez e constância, revestindo-o da amabilidade de Cristo, e dá ao seu possuidor paz e ventura. Suas aspirações são enobrecidas, e não há nele lugar para a ociosidade e egoísmo. Os que cultivam as virtudes cristãs hão de crescer, desenvolver nervos e músculos espirituais e ser fortes em seu trabalho para Deus. Revelarão uma percepção espiritual aguda, fé crescente e poder triunfante na oração. Os que se interessam pelas pessoas e se consagram de todo à salvação dos que erram, cooperam o mais seguramente possível com a sua própria salvação. T5 607 1 Mas quanto tem sido negligenciado este trabalho! Se as idéias e sentimentos estivessem sempre assim votados a Deus, porventura teriam podido perecer pessoas, sob o império do erro e das tentações de modo tão insensível e descuidoso como aliás sucedeu? Não se teriam feito antes mais decisivos esforços, inspirados no amor e na humildade de Cristo, a fim de salvar esses errantes? Todos os que forem verdadeiramente devotados a Deus, hão de desempenhar-se com maior zelo da obra pela qual Ele fez o melhor que pôde, oferecendo por ela um sacrifício infinito -- a obra da salvação. É esta uma obra especial que se deve cultivar e custear, sem jamais afrouxar os esforços. T5 607 2 Deus convida Seu povo a despertar, abandonar a atmosfera glacial em que tem vivido, sacudindo energicamente as impressões e idéias que fizeram esfriar os sentimentos de amor, conservando-o numa inatividade egoísta. Convida-o a elevar-se acima do baixo nível terreno e a respirar a atmosfera luminosa do Céu. T5 607 3 Nossos cultos divinos devem ser horas sagradas e preciosas. As reuniões de oração não devem ser feitas pelos irmãos uma oportunidade de recriminarem e se condenarem mutuamente, dando curso a sentimentos e expressões desafáveis e rudes. Jesus Se afastará das reuniões em que reinar esse espírito, e Satanás assumirá a direção delas. Não deve entrar ali nada que tenha um espírito menos benévolo ou cristão, pois o fim da reunião é achar graça e perdão diante do Senhor. E o Salvador advertiu claramente: "Com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2. Quem poderá colocar-se diante de Deus estribado num caráter impecável e vida pura? Como então alguém ousa criticar ou condenar a seus irmãos? Indivíduos cuja esperança de salvação está posta nos merecimentos de Cristo, que devem buscar perdão na virtude de Seu sangue, têm o mais rigoroso dever de demonstrar para com os semelhantes amor, compaixão e espírito de perdão. T5 608 1 Irmãos, a não ser que se eduquem a respeitar o lugar do culto, não receberão bênção alguma de Deus. Poderão adorá-Lo, formalmente, mas será um culto destituído de espiritualidade. "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles", disse Jesus. Mateus 18:20. Todos devem sentir que estão na presença divina, cumprindo-lhes, em vez de se demorarem sobre os erros e as faltas de outros, fazer um consciencioso exame do próprio coração. Se tiverem confissões a fazer de faltas próprias, cumpram o seu dever, deixando aos outros que cumpram o deles. T5 608 2 Cedendo à dureza do próprio caráter e revelando um espírito incompassivo, vocês afastarão os que deviam conquistar. Sua dureza faz com que eles percam o gosto pelas reuniões religiosas e muitas vezes o resultado é que eles renunciam à verdade. Devem lembrar-se de que vocês mesmos têm incorrido na censura de Deus, e que, condenando a outros, determinam a própria condenação. Vocês têm um dever a cumprir, que é confessar a própria falta de religiosidade. Que o Senhor comova o coração de cada membro da igreja, até que a Sua graça regeneradora seja manifesta na vida e no caráter de cada um. Então, reunindo-se para o culto, não será mais a sua preocupação criticar-se mutuamente, e sim falar de Jesus e Seu amor. T5 609 1 Nossas reuniões devem ser intensivamente interessantes. Deve imperar ali a própria atmosfera do Céu. As orações e discursos não devem ser longos e enfadonhos, apenas para encher o tempo. Todos devem espontaneamente e com pontualidade contribuir com sua parte e, esgotada a hora, a reunião deve ser pontualmente encerrada. Desse modo será conservado vivo o interesse. Nisso está o culto agradável a Deus. Seu culto deve ser interessante e atraente, não se permitindo que degenere em formalidade insípida. Devemos dia a dia, hora a hora, minuto a minuto viver para Cristo; então Ele habitará em nosso coração e, ao nos reunirmos, seu amor em nós será como uma fonte no deserto, que a todos refrigera, incutindo nos que estão prestes a perecer um desejo ardente de sorver da água da vida. T5 609 2 Não devemos depender de dois ou três membros para fazer o trabalho da igreja. Devemos pessoalmente desenvolver uma fé forte e ativa para ajudar no avanço da obra de que fomos incumbidos. Devemos ser movidos por um interesse intenso e vivo ao interrogar a Deus: "Que queres que eu faça?" Como devo desempenhar-me de minha missão para o tempo e a eternidade? Devemos pessoalmente fazer todos os esforços no sentido de investigar a verdade, e servir-nos de todo meio ao alcance, que possa facilitar-nos a investigação atenta e devota das Escrituras Sagradas. Depois importa que sejamos santificados na verdade, a fim de podermos salvar pecadores. T5 609 3 Fervorosos esforços devem ser empenhados em cada igreja, a fim de suprimir o espírito de calúnia e crítica, que é o que maior dano causa à igreja. A dureza e o hábito de criticar as faltas de outros devem ser reprovados como obra do diabo. Cumpre fomentar e robustecer nos crentes o amor e a confiança mútua. Que, movido pelo temor de Deus e amor dos irmãos, cada qual feche os ouvidos aos mexericos e acusações, apontando ao delator os ensinos da Palavra de Deus. Seja ele aconselhado a obedecer às Escrituras, levando sua queixa diretamente às pessoas que supõe em falta. Essa maneira de agir, generalizada na igreja, daria em resultado uma plenitude de luz e bênção, fechando a porta a um dilúvio de males. Deus seria assim glorificado e muitas pessoas salvas. T5 610 1 A advertência da fiel Testemunha, dirigida à igreja de Sardes, afirma como segue: "Tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te pois do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te." Apocalipse 3:1-3. O pecado especialmente atribuído a essa igreja era que deixara de confirmar os que estavam prestes a morrer. Porventura essa advertência não se aplicaria também a nós? Examinemos individualmente nosso coração à luz da Palavra Divina e seja todo o nosso empenho pôr em ordem nossa vida diante de Deus com o auxílio de Cristo. T5 610 2 Deus realizou Sua parte no plano de salvar o homem e convida agora a igreja a colaborar com Ele. De um lado estão o sangue de Cristo, a Palavra da verdade e o Espírito Santo; do outro, as pessoas que perecem. Cada discípulo de Cristo tem uma parte a desempenhar nesse plano, a fim de induzir os homens a aceitarem as bênçãos que o Céu lhes provê. Façamos uma indagação minuciosa a ver se temos cumprido essa nossa parte. Examinemos os motivos e todos os atos de nossa vida. Porventura não se nos deparam aí muitos quadros pouco recomendáveis? Muitas vezes recorremos ao perdão de Jesus, sentindo a necessidade de Sua simpatia e amor. Mas acaso não temos negligenciado revelar a outros esse mesmo espírito com que Jesus nos tratou? Tem você experimentado alguma preocupação por pessoas que trilhavam caminhos proibidos, buscando aconselhá-las com bondade? Tem você chorado e orado por elas e com elas, revelando-lhes por palavras e atos que as amava e desejava salvá-las? Estando em contato com pessoas que sucumbiam ao peso de fraquezas e maus hábitos, porventura as abandonou a si próprias quando poderia ter-lhes prestado o indispensável auxílio? Porventura não passou de largo à vista dessas pessoas, ao passo que o mundo acudia, solícito, a manifestar-lhes simpatia e prendê-las nos laços de Satanás? Muitos estão prontos, como Caim, a justificar-se dizendo: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Como reputará o Mestre essa sua obra e considerará essa sua indiferença para com os que se desviaram do caminho reto, quando tem cada vida por preciosa, visto a ter comprado com Seu sangue? Acaso não teme você que Ele o abandone, assim como abandonou a essas pessoas? Pode estar certo de que o Vigia fiel, colocado sobre a casa de Deus, registra toda negligência. T5 611 1 Porventura Cristo e Seu amor não foram gradualmente excluídos de sua vida, até que a mera formalidade houvesse substituído ao culto do coração? Onde está o fervor que sentia em sua alma à menção do nome de Jesus? Quão ardente era seu amor pelas pessoas, quando pela primeira vez se consagrou a Ele! Com que zelo buscava então representar-lhes esse amor de seu Mestre! O arrefecimento desse amor o tornou frio, crítico e severo. Há algum empenho seu em recuperá-lo e buscar então conduzir pessoas para Cristo. Se você se recusar, virão outros com menos luz e experiência e que tiveram menos oportunidades, e tomarão seu lugar para executar aquilo que negligenciou; porque a obra de salvar os tentados, provados e prestes a perecer, terá de ser feita. Cristo oferece esse serviço à Sua igreja; quem está disposto a aceitá-lo? T5 611 2 Deus não esqueceu as boas obras e atos abnegados que Sua igreja praticou no passado; esses estão registrados no Céu. Mas isso não basta; essas coisas não salvarão a igreja se ela deixar de cumprir sua missão. Se não cessarem a cruel negligência e o indiferentismo manifestos no passado, a igreja, em vez de caminhar de força em força, continuará a degenerar-se em fraqueza e formalidade. Convém deixar que isso suceda? Deve perdurar esse estado de entorpecimento espiritual e o contínuo arrefecimento do zelo e amor? Deve Cristo surpreender a igreja nesse estado? T5 612 1 Irmãos, suas lâmpadas entrarão sem dúvida a bruxulear e sua luz se apagará, se não fizerem decidido esforço no sentido de sua regeneração. "Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras." A oportunidade que ora é oferecida pode durar pouco. Se o tempo de graça e arrependimento se escoar sem ser aproveitado, soará a advertência: "Brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal." Apocalipse 2:5. Essas são palavras proferidas por Aquele que é longânimo e paciente. Envolvem solene advertência à igreja e a cada crente, individualmente, lembrando-lhes que o Guarda de Israel, que não dormita, lhes observa os atos. É à Sua longanimidade que devem o não terem sido ainda cortados como os que ocupam inutilmente o terreno. Mas Seu Espírito não contenderá continuamente. Sua paciência não durará por muito tempo mais. T5 612 2 Sua fé tem de provar-se alguma coisa mais do que tem sido até aqui, ou serão pesados na balança e achados em falta. A decisão final do Juiz no último dia se guiará pelo interesse e zelo que tivermos manifestado no trabalho pelos necessitados, tentados e oprimidos. Você não pode passar de largo por eles e entrar com os remidos na cidade de Deus. "Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a Mim." Mateus 25:45. T5 612 3 Ainda não é tarde demais para reparar as negligências do passado. Cumpre haver um reavivamento do primeiro amor e do primeiro zelo. Busquem os que têm repelido, e por sua confissão atem as feridas que lhes causaram. Aproximem-se do grande Coração que arde em amor compassivo, deixando que as torrentes da compaixão divina se lhes infiltrem no coração e daí se derramem sobre seus semelhantes. Tomem por exemplo a terna simpatia e compaixão manifestadas na vida de Jesus, guiando-se por elas no trato com seus semelhantes e principalmente com seus irmãos em Cristo. Muitos se tornaram fracos e desalentados no ardor da luta, aos quais palavras de simpatia e animação teriam ajudado a vencer. Guardem-se sempre de se tornarem frios, negligentes, apáticos, propensos a censurar. Não deixem passar desaproveitada a oportunidade de dizer palavras animadoras que inspirem esperança. Não é possível prever o alcance das palavras boas e amáveis que proferirmos, de qualquer esforço sincero feito para aliviar as cargas aos nossos semelhantes. Certo é, porém, que os que erram só podem ser encaminhados com um espírito de mansidão, bondade e terno amor. T5 613 1 Gostaria de uma alma errante salvar, E levar de volta para Deus um desviado? Que tal como um anjo guardião atuar, Para quem tem sido pela culpa esmagado? Vai até ele, gentil, e tome-o pela mão, Com palavras suaves, toque o empedernido, Procure apoiá-lo como faz um irmão. Até que o pecado seja afinal vencido. T5 613 2 Não despreze o culpado, é preciso amar, Demonstrar carinho, gentileza também. De volta o perdido, é necessário guiar. Até Deus, à humanidade e ao bem. Não esqueça que você é humano, Tão fraco e falho como ele, um errante. Demonstre a misericórdia do samaritano, Pois ela mesma lhe foi tão importante. ------------------------Capítulo 75 -- Deveres da igreja T5 613 3 Onde estiver o Espírito do Senhor aí se notará mansidão, paciência, bondade, longanimidade. O verdadeiro discípulo de Cristo esforçar-se-á por imitar Seu exemplo. Cogitará em fazer a vontade de Deus na Terra como é feita no Céu. Aqueles cujo coração está ainda contaminado com pecado, não poderão ser zelosos de boas obras. Esses infringem ainda os primeiros quatro preceitos do Decálogo, que resumem o dever do homem para com Deus; como também não cumprem os últimos seis, que definem os deveres entre os seres humanos. Seu coração está cheio de egoísmo, e constantemente pretendem descobrir faltas em outros que são melhores do que eles. Propondo-se efetuar o que lhes não foi incumbido por Deus, deixam de fazer o que lhes compete, como ter cuidado de si mesmos para que neles não brote alguma raiz de amargura, perturbando a igreja e contaminando-a. Seus olhos, que deveriam estar voltados para o seu interior, a fim de ver os próprios erros e defeitos, divagam por fora, espreitando os outros, para descobrir-lhes os defeitos de caráter. Se purificassem o coração do próprio eu, da inveja, da malícia e da suspeita, não se assentariam na cadeira de juiz, a fim de sentenciar outros que aos olhos de Deus têm maior merecimento. T5 614 1 Aquele que se propõe reformar os semelhantes, deve começar reformando a si próprio. Deve imbuir-se do espírito do seu Mestre e estar pronto, como Ele, a suportar o opróbrio e a exercer abnegação. Comparado com o valor de uma única alma, o mundo inteiro se reduz a uma insignificância. O desejo de exercer autoridade e dominar sobre a herança do Senhor resulta, quando cultivado, na destruição de muitos que poderiam ser salvos. O que ama verdadeiramente a Jesus há de procurar conformar-se ao Seu divino exemplo, trabalhando no Seu espírito para salvação de outros. T5 614 2 Para reaver para Si o homem e assegurar-lhe eterna salvação, Cristo abandonou a corte celestial e veio à Terra, onde por ele padeceu ignomínia, morrendo para libertá-lo. À vista do preço infinito que pagou pelo seu resgate, como ousará alguém, que professa o nome de Cristo, tratar com indiferença ao mais humilde de Seus discípulos? Quão cuidadosos devem ser na igreja os irmãos e irmãs, tanto nas palavras como nas ações, a fim de não prejudicar o azeite e o vinho! Com que paciência, bondade e carinho devem tratar os que foram remidos com o sangue de Cristo! Com que diligência e solicitude devem esforçar-se por realentar os abatidos e desanimados! Com que ternura devem tratar os que se esforçam por obedecer à verdade e que, não tendo quem os anime em sua família, são obrigados a respirar constantemente uma atmosfera de incredulidade e trevas! Como tratar os que erram T5 615 1 Quando se supõe que um irmão errou, não se deve fazer de seu caso um assunto para a curiosidade, comentando o fato e ampliando a falta cometida. Essas práticas são freqüentes e o resultado é que os indivíduos que isso fazem incorrem no desagrado de Deus, exultando Satanás por conseguir assim debilitar e prejudicar os que deviam ser fortes no Senhor. O mundo nota essas fraquezas, e julga essa gente e a verdade que ela professa pelos frutos que ostenta. T5 615 2 "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? quem morará no Teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo; aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda. Aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe subornos contra o inocente. Quem faz isto nunca será abalado." Salmos 15. Ao caluniador será, pois, vedado habitar no tabernáculo de Deus e morar no santo monte de Sião. O que aceita alguma acusação contra o seu próximo, não pode ter a aprovação divina. T5 615 3 Quantas vezes tem acontecido pastores serem chamados de algum trabalho importante, pelo qual pessoas estavam sendo convertidas a Deus e à Sua verdade, a fim de aplainar dificuldades suscitadas na igreja por irmãos que estavam em erro e revelavam um espírito contencioso e prepotente! T5 615 4 Isso de afastar pastores de seu campo de trabalho, constantemente se tem verificado na realização da obra e é uma astúcia empregada pelo grande adversário, a fim de impedir-lhe o progresso. Quando pessoas que estão a ponto de decidir-se a favor da verdade, são assim abandonadas a influências desfavoráveis, perdem o interesse e só raras vezes se conseguirá tornar a exercer sobre elas uma impressão decisiva. Satanás constantemente projeta qualquer ardil, a fim de em tempos críticos como esse afastar do campo de trabalho o pastor e inutilizar assim o seu serviço. T5 616 1 Há na igreja pessoas não convertidas, profanas, que cogitam menos da salvação de seus semelhantes do que de sustentar sua própria opinião e dignidade. Sobre essas Satanás influi para suscitarem dificuldades que tomem o tempo e o trabalho do pastor, e muitos se percam em conseqüência disso. T5 616 2 Achando-se os membros de uma igreja divididos quanto a seus sentimentos, endurece-se-lhes o coração e se tornam insensíveis. Os esforços do pastor são como golpes de martelo em ferro frio, somente conseguindo tornar a cada qual mais obstinado em seu caminho. Desse modo o pastor fica colocado em situação pouco confortável, porque, por mais sabiamente que proceda, sua decisão fatalmente desagradará a uns e outros, e fica reforçado o partidarismo. T5 616 3 Se por acaso o pregador está hospedado em casa de alguma família, os outros ficarão com receio de que receba impressões desfavoráveis com respeito a eles. Se dá algum conselho, dizem: fulano ou sicrano falou com ele e suas palavras ficam sem efeito. Fundamentado em tais desconfianças e suspeitas, o pregador fica preso a seus preconceitos e ciúmes, e não raro terá de abandonar o caso em pior estado do que estivera antes. Tivesse se recusado a ouvir as declarações partidárias de uns contra outros, limitando-se a ministrar alguns conselhos de acordo com a Bíblia, dizendo como outrora Neemias: "Estou fazendo uma grande obra, de modo que não poderei descer" (Neemias 6:3), a igreja teria ficado em bem melhor condição. T5 616 4 Os pastores e leigos desagradam a Deus, permitindo a indivíduos falar-lhes acerca dos erros e defeitos de seus irmãos. Não deveriam atender a essas informações, mas sim inquirir: Acaso você fez como manda o Salvador? Foi falar com o seu ofensor, advertindo-o de suas faltas entre você e ele só? E ele recusou ouvi-lo? Tomou consigo, depois de orar sobre o caso, duas ou três testemunhas, buscando convencê-lo com ternura, humildade e mansidão, e com o coração palpitante de simpatia por ele? Se as ordens de Cristo, no tocante à norma a seguir em tais casos, foram estritamente obedecidas, ainda há um terceiro passo a dar -- diga-o à igreja e deixa que ela trate do caso de acordo com as Escrituras. Se ela, pois, decidir excluir o ofensor por sua impenitência, Deus lhe aprovará a decisão. Se, porém, o caso não foi tratado desse modo, feche os ouvidos a todas as queixas e recuse-se a aceitar qualquer reprovação contra o seu semelhante. Se houvesse irmãos que energicamente assim procedessem, as línguas más em breve se calariam, porque não encontrariam ambiente favorável para sua obra de se morderem e devorarem uns aos outros. Eleição de oficiais T5 617 1 Escreve o apóstolo Paulo a Tito: "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus." Tito 1:5-7. Convém que os nossos pastores considerem essas palavras e não ponham alguém a exercer um cargo sem muita reflexão e oração, para que Deus, pelo Seu Espírito, possa designar a pessoa de Sua aceitação. T5 617 2 Diz o apóstolo inspirado: "A ninguém imponhais apressadamente as mãos." 1 Timóteo 5:22. Em algumas de nossas igrejas se passou demasiado cedo à organização de igrejas e ordenação de anciãos, com manifesto desprezo da regra estabelecida na Bíblia. Em conseqüência, surgiram grandes dificuldades na igreja. Não se devem eleger e ordenar dirigentes que se não provarem aptos para essa obra de responsabilidade e que primeiro precisam ser convertidos, educados e enobrecidos, a fim de poderem servir na causa de Deus em qualquer ramo. T5 618 1 A rede do evangelho recolhe bons e maus. É preciso tempo para desenvolver o caráter e experiência, para conhecer verdadeiramente as pessoas. Também cumpre tomar em consideração a família daquele que foi sugerido para exercer algum cargo na igreja. Está ela sujeita? Governa o homem a sua própria casa com honra? Qual é o caráter de seus filhos? Trarão eles honra à influência do pai? Se este não revelar tato, sabedoria e virtude no governo de sua própria família, é justo concluir que os mesmos defeitos de sua parte se hão de fazer sentir também na igreja, verificando-se aí o mesmo governo incapaz. É muito melhor provar o homem antes de receber um cargo do que depois; é preferível orar e tomar conselho antes de sua investidura a esforçar-se depois para reparar um ato imprudente. T5 618 2 Em algumas igrejas, o dirigente não possui as qualidades indispensáveis para preparar os membros da igreja para o trabalho. Não se empregam o tato e o bom senso necessários para manter vivo o interesse pela obra de Deus. O dirigente é indolente e tedioso; fala muito, estende-se muito em suas orações em público; não mantém com Deus comunhão viva que lhe proporcionaria novas experiências. T5 618 3 Os dirigentes de igrejas devem em toda parte ser pessoas diligentes, zelosas e desinteressadas, homens de Deus, capazes de dar à obra uma orientação correta. Devem levar suas petições a Deus com fé. À oração particular poderão dedicar o tempo que lhes aprouver, mas em público suas orações e testemunhos devem ser breves e substanciais. Cumpre evitar orações e exortações longas e insípidas. Se os irmãos e irmãs se propõem a dizer alguma coisa com o fim de animar e edificar outros, isso deve vir do coração. Precisam viver todos os dias unidos com Deus, tirando seus suprimentos do inesgotável depósito, a fim de poderem expor coisas novas e velhas. Se sua própria alma tiver sido vivificada pelo Espírito de Deus, estarão no caso de alegrar, esforçar e animar outros; se, porém, não tiverem sorvido da fonte de salvação eles próprios, não serão aptos para aí conduzir outros. T5 619 1 Aos que abraçam a teoria da verdade cumpre fazer compreender a necessidade de religião experimental. Aos pastores importa terem a própria mente vinculada ao amor de Deus, para poderem impressionar o povo com a necessidade de uma consagração pessoal, de uma conversão individual. Todos devem adquirir para si mesmos uma experiência viva. Cumpre-lhes ter Cristo no coração e o Espírito de Cristo moderando-lhes as inclinações, ou sua profissão de fé não terá nenhum valor e seu estado será pior do que antes de terem ouvido a verdade. T5 619 2 Para os pequenos grupos que abraçam a verdade, importa fazer arranjos que garantam a prosperidade da igreja. Poder-se-á nomear uma pessoa para dirigi-lo durante uma semana ou um mês, depois outra por algumas semanas, e assim diversas pessoas poderão sucessivamente ser experimentadas para depois se proceder a uma escolha criteriosa por voto da igreja da que se provar mais apta, para assumir as funções de dirigente; nunca, porém, por mais tempo do que um ano. Poderá então ser eleita outra ou a mesma pessoa poderá ser reeleita, caso o seu serviço se tenha provado uma bênção para a igreja. O mesmo princípio cumpre seguir na escolha de pessoas para outros cargos de responsabilidade, como os das associações. Homens sem experiência não devem ser eleitos presidentes de associações. Muitos agem sem discernimento em assuntos importantes como este, que implicam interesses eternos. T5 619 3 Professamos ser os depositários da lei de Deus; pretendemos ter maior luz e aspirar a um ideal mais elevado do que os outros povos da Terra, mas por isso mesmo devemos revelar maior perfeição de caráter e mais diligente religiosidade. Aos que têm abraçado a presente verdade está confiada uma importantíssima mensagem. Cumpre fazer resplandecer nossa luz, a fim de alumiar o caminho dos que se acham em trevas. Como membros da igreja visível e obreiros na vinha do Senhor, todos os cristãos professos devem fazer tanto quanto possível para preservar a paz, e a harmonia e o amor na igreja. Note a oração de Cristo: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:21. A unidade da igreja é a prova convincente de que Deus enviou Jesus ao mundo para o salvar; um argumento que os ímpios não poderão controverter. T5 620 1 É por isso que Satanás se esforça continuamente por prevenir essa união e harmonia entre os crentes, a fim de os descrentes, observando essa apostasia, dissensão e contenda que reina entre os cristãos professos, aborreçam a religião e sejam confirmados na sua impenitência. Deus é desonrado pelos que, professando a verdade, alimentam entre si divergências e discórdias. Satanás é o grande acusador dos irmãos, e todos os que assim procedem se acham alistados ao seu serviço. T5 620 2 Alegamos possuir maior soma de verdades do que as outras igrejas; porém, se essa convicção não conduzir a maior consagração de nossa parte e a uma vida mais pura e mais santa, de que proveito será? Melhor seria nesse caso que nunca tivéssemos recebido a luz da verdade do que, professando aceitá-la, não sermos por ela santificados. T5 620 3 Para podermos avaliar a importância dos interesses implicados na conversão, do erro para a verdade, cumpre saber apreciar o valor da imortalidade e avaliar os sofrimentos da segunda morte. Devemos poder formar uma idéia da honra e da glória que Deus destina aos remidos e do que significa viver em presença dAquele que morreu para elevar e enobrecer o homem e conferir ao vencedor um diadema real. T5 620 4 O valor de uma vida não pode ser devidamente apreciado pela mente finita. Quão reconhecidos e gratos os remidos e os glorificados hão de um dia recordar-se dos que serviram de instrumentos para a sua salvação! Ninguém se arrependerá então dos esforços abnegados, dos trabalhos perseverantes, da paciência, da renúncia e dos anelos ardentes pela salvação dos outros, o que aliás poderia ter perecido se tivessem negligenciado o seu dever ou se cansado de fazer o bem. T5 621 1 Entretanto, esses salvos, trajando brancas vestes, se acham agora entre o rebanho do grande Pastor. O fiel obreiro e a pessoa que foi salva por seu trabalho, são saudados junto ao trono do Cordeiro e conduzidos à árvore da vida e às fontes de água viva. Com que regozijo o servo de Cristo contemplará esses remidos que então compartilham a glória do Redentor, e quanto mais glorioso será o Céu para os que se tiverem provado fiéis na obra da salvação! "Resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente." Daniel 12:3. ------------------------Capítulo 76 -- Uma carta T5 621 2 Prezado irmão O: T5 621 3 Recebi sua carta e não preciso expressar-lhe a tristeza de meu coração pela súbita mudança que recentemente ocorreu em você. Enquanto recapitulava sua história, lembrei-me da experiência no Colorado, de suas reflexões enquanto sobre aquele rochedo de onde parecia impossível descer, e sua subseqüente e parcial recuperação para a fé, de suas tentações mediante falsas e ambiciosas esperanças de tornar-se maior longe de nosso povo do que com ele, de seu desapontamento, da louvável conduta de guardar silêncio, das orações e compaixão do povo de Deus que ascenderam ao Céu em seu favor, de meus constantes apelos: "Não o abandonem, mas esforcem-se por salvá-lo. Ele está enredado; perdeu seu apego a Deus." T5 621 4 Lembro-me da última vez em que saí com sua esposa, pouco antes de sua morte. A preocupação dela era por você e os filhos. Ela disse temer pelo futuro por causa de seus filhos e do ceticismo do marido. "Se eu morrer", disse, "e ele abandonar a fé e levar meus filhos a deixarem o sábado, após ter ele recebido tão grande luz e tantas evidências, quão terrível seria! Por essa razão eu me apego à vida. Ele não realizou aquela profunda obra íntima na alma e que a ancorará quando as tentações sobrevierem. Oh, irmã White, é pela salvação de meu marido e filhos que tanto me agarro à vida. E desejo dizer-lhe justamente agora, que sinto muito não ter recebido no devido espírito o testemunho dado a mim e a meu marido. Compreendo agora que essa mensagem era justamente o que necessitávamos e que, se a houvéssemos aceitado, estaríamos agora em muito melhor condição espiritual. Ambos éramos orgulhosos e desde aquele tempo sinto-me como se tivesse evitado a irmã, pois eu pensava que você não tivesse fé ou confiança em nós. Mas durante os últimos meses isso tudo desapareceu e sinto a mesma confiança, a mesma estreita simpatia e amor por você que eu tinha antes. Porém, sei que meu marido não sente assim, e que não me adianta muito falar com ele sobre essas coisas. Estou muito debilitada para apresentar-lhe assuntos do jeito que estão em minha mente. Ele é muito obstinado em suas idéias e sentimentos, mas eu precisava dizer-lhe que tenho implícita fé nos Testemunhos e em sua obra, e que tenho ansiado por uma oportunidade de lhe dizer isso. Agora sinto-me livre. Poderá a irmã me perdoar por meus sentimentos e palavras? Ofendi o Espírito de Deus e algumas vezes tive a impressão de que Ele me havia abandonado, mas já por algum tempo não tenho sentido isso e tampouco agora. Nunca compreendi o perigo de manifestar incredulidade como fiz há algumas semanas. Temo muito por meu marido, pois ele manifesta descrença; temo que ele abandone tudo e se torne um infiel. Oh, como eu gostaria de poder ajudá-lo!" T5 622 1 Irmão O, quando você me falou que sua esposa morreu sem crer nos Testemunhos, eu não quis contradizê-lo, mas pensei que você não me havia dito a verdade. Posteriormente achei que você estava em grande escuridão, pois eu tinha em minhas mãos a carta que ela me enviara dizendo que tinha plena confiança nos Testemunhos, e sabia que eram verdadeiros com respeito a você e a ela. Assisti à reunião campal em _____ e você estava presente. Você então passou por uma experiência que se teria mostrado de permanente valor se você houvesse permanecido em humildade diante de Deus como naquele tempo. Você humilhou seu coração e de joelhos pediu-me que eu lhe perdoasse pelas coisas que havia dito sobre mim e meu trabalho. Você disse: "A irmã não tem idéia do que eu quis dizer a seu respeito." Assegurei-lhe que lhe perdoara de todo o coração, assim como esperava que Jesus perdoasse meus pecados e erros. Você declarou na presença de muitas pessoas que havia falado muitas coisas para insultar-me. Perdoei-lhe sinceramente, pois você não falou contra mim. Nenhuma dessas acusações foi dirigida a mim. Eu era apenas uma serva que testemunhava daquilo que o Senhor me dera. Pessoalmente não era eu que você estava visando; era a mensagem que Deus lhe enviara através do humilde instrumento. Você ofendeu a Cristo e não a mim. Disse-lhe eu: "Não quero que você confesse a mim. Acerte tudo entre seu coração e Deus, e tudo estará bem entre você e eu." Algumas expressões que lhe foram escritas, você as tomou num sentido muito diferente. Após relê-las cuidadosamente, você disse que elas não eram o que pareciam e tudo ficou esclarecido. Você declarou após aquele encontro que lamentava nunca antes haver conhecido o que era conversão, mas que agora nascera de novo, convertido pela primeira vez. Pôde então dizer que amava seus irmãos, que seu coração era só luz e felicidade; que via a santidade da obra como nunca dantes e que suas cartas expressavam a profunda mudança realizada pelo Espírito de Deus em você. T5 623 1 Contudo, eu sabia que você seria trazido ao mesmo terreno e testado justamente nos pontos onde falhou antes. Assim o Senhor fez com os filhos de Israel; assim Ele faz com Seus filhos de todas as épocas. Ele os provará onde falharam primeiramente; testá-los-á, e se fracassarem no teste pela segunda vez, trará novamente sobre eles a mesma prova. T5 623 2 Meu coração dói cada vez que penso em você; minha alma está realmente triste. Toda alma é preciosa porque foi adquirida pelo precioso sangue de Jesus Cristo. Eu, algumas vezes, penso que não damos o devido valor à aquisição do sangue de Jesus -- a redenção da alma. Enquanto considero o infinito preço pago pela redenção individual, penso: "O que acontece quando a pessoa finalmente se perde? O que ocorre se ela se recusa a ser um aprendiz na escola de Cristo, falha na prática da mansidão e humildade, e não toma sobre si o jugo de Cristo?" Essa, meu irmão, tem sido sua grande deficiência. Se você tomasse menos conselhos consigo mesmo e fizesse de Jesus o seu conselheiro, seria agora forte em graça e no conhecimento de dEle. Você não se ligou a Cristo, não está imbuído de Seu Espírito. Oh, quanto você necessita do molde divino sobre seu caráter! T5 624 1 Temos muito a responder, considerando nossas vantagens superiores e sabendo que devemos ser julgados pela luz e privilégios que o Senhor nos concedeu. Não podemos alegar que somos menos favorecidos com a luz do que aquele povo que tem sido por séculos um espanto e censura ao mundo. Não podemos esperar um julgamento favorável porque, como Cafarnaum, temos sido exaltados até o Céu. O Senhor tem agido em favor do povo que guarda os Seus mandamentos. A luz que sobre nós se tem refletido desde o Céu não foi concedida a Sodoma e Gomorra, ou elas teriam permanecido até o dia de hoje. E se as poderosas obras, conhecimento e graça que foram manifestas a nosso povo houvessem sido conhecidas pelas nações em trevas, não temos idéia de quão avançadas hoje elas poderiam estar. Não podemos determinar o quão mais favorável seria para elas o dia do juízo, do que para aqueles que tiveram a clara luz da verdade brilhando sobre si, como você, mas que por uma inexplicável razão se desviaram dos santos mandamentos de Deus. Apenas podemos apontar para seu caso com tristeza, como um sinal de advertência. "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia." 1 Coríntios 10:12. O Senhor não vê do mesmo modo que o homem. Seus pensamentos e caminhos não são o que homens cegos e egoístas pensam que são, ou que desejam ser. O Senhor olha para o coração e atua em e com Suas criaturas, para desejarem e fazerem qualquer coisa que Ele ordene ou requeira, a não ser que rejeitem Seu conselho e se recusem obedecer a Seus mandamentos. T5 625 1 A maior parte de sua vida tem sido empregada em apresentar doutrinas que, nos tempos finais de sua existência, você repudiará e condenará. Qual é a obra genuína? Qual a falsa? Podemos nós confiar em seu discernimento? Podemos dar crédito a sua interpretação das Escrituras? Não, não podemos. Estaríamos em perigo de ser desencaminhados. Você não pode agora ou em qualquer tempo futuro de sua vida, sentir que seus pés estão firmados sobre rocha sólida. Não pude evitar de ficar pensando acerca de seu futuro. A verdade para mim é uma viva realidade. Sei o que é a verdade. A Palavra de Deus é segura. "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." Isaías 8:20. Pôr-se-á sua luz em trevas? T5 625 2 Estou escrevendo mais extensamente o volume de O Grande Conflito, contendo a história da queda de Satanás e a introdução do pecado em nosso mundo, e posso ter um senso mais vívido que nunca dantes acerca desse grande conflito entre Cristo, o Príncipe da luz, e Satanás, o príncipe das trevas. Ao ver as várias armadilhas de Satanás para provocar a ruína de pessoas errantes e torná-las como ele próprio, um transgressor da santa lei de Deus, gostaria que anjos de Deus pudessem vir à Terra e apresentassem essa questão em sua grande importância. Então sinto intenso pesar pelas pessoas que se estão voluntariamente afastando da luz, do conhecimento e da obediência à santa lei de Deus. Como Adão e Eva acreditaram na mentira de Satanás: "Sereis como deuses", assim essas pessoas esperam, mediante a desobediência, atingir maiores alturas e obter alguma posição lisonjeira. Sinto-me tão ansiosa que, enquanto outros dormem, passo horas em oração para que Deus atue com grande poder a fim de romper o engano fatal sobre a mente das pessoas e as conduza com simplicidade à cruz do Calvário. Então me acalmo com o pensamento de que todas elas foram adquiridas pelo sangue do Senhor Jesus. Podemos sentir amor por essas pessoas, porém o Calvário testifica de quanto Deus as ama. Essa obra não é nossa, mas do Senhor. Somos apenas instrumentos em Suas mãos para fazer a Sua vontade, e não a nossa. Contemplamos aqueles que desprezam o Espírito da graça, e trememos por eles. Lamentamo-nos e ficamos desapontados porque se mostram desleais para com Deus e a verdade; mas sentimos uma tristeza mais profunda ao pensarmos em Jesus, que os comprou com Seu próprio sangue. Entregaríamos todas as nossas posses para salvar um, mas descobrimos que não podemos fazê-lo. Daríamos a própria vida para salvar uma alma para a vida eterna, mas nem mesmo esse sacrifício seria proveitoso. O grande e único sacrifício foi feito na vida, missão e morte de Jesus Cristo. Quem dera que os homens contemplassem a grandeza desse sacrifício! Então poderiam compreender melhor o valor da salvação. T5 626 1 E agora, irmão O, você que possui tão grande luz, tão abundantes evidências da verdade bíblica, não segue para a frente e para o alto com aqueles que triunfarão com a verdade, afinal. Você agora passa para o lado do primeiro grande rebelde, para anular a lei de Deus. Ele levará outros à mesma senda de transgressão da lei de Deus, a ridicularizarem nossa fé. Quando se assentar o juízo e cada um for julgado pelas coisas escritas nos livros, como se apresentará seu caso? Você contemplará esse e aquele que poderiam ter andado nos caminhos dos mandamentos de Deus, se o irmão não os cercasse com a atmosfera da incredulidade, se não houvesse pervertido as Escrituras com interpretações errôneas e os afastado da estrita obediência à santa lei de Deus. Poderá você olhar com satisfação para esses semblantes? Então ouvirá a voz do Grande Juiz dizendo: "Quem requereu isso de sua mão?" T5 627 1 Sua atual esposa não tem uma profunda experiência de abnegação, sacrifício próprio, comunhão com Deus e fé na verdade. Facilmente ela é levada da obediência a Deus para a transgressão. Seus filhos seguirão onde o pai os conduzir, e a menos que ocorra alguma providência especial para resgatá-los, sua desobediência e transgressão serão lançadas na conta do irmão. O Juiz de toda a Terra vai confrontá-lo com a santa lei, cujos reclamos você não ignora. Seu caráter e o de sua esposa e filhos serão julgados pelo santo padrão de justiça. Você os levou a transgredir e sua ruína a santa lei de Deus imputa ao irmão. Por meio de vários estratagemas, com os quais Satanás está plenamente familiarizado, você trabalhou para o tempo e a eternidade, tentando fazer com que outros cressem no irmão como um homem honesto, que reflete a luz da verdade. Por acaso você é esse homem? Não, não. Isso é um engano, um terrível engano. O que o irmão responderá a Deus naquele dia? Naquele tempo, você será possuído de um terrível temor e sobressalto diante de seu Criador. Tentará então imaginar alguma desculpa para sua conduta, mas tudo parecerá subterfúgio. Será culpado e condenado. Você pode ficar irritado comigo porque tenho configurado o caso dessa maneira, mas assim é e assim será com todo transgressor da santa lei de Deus. T5 627 2 Lembre-se desta verdade: "Onde quer que eu esteja, o que quer que eu faça, Tu, ó Deus, me vês." Não é possível que o menor item de sua conduta escape à observação dAquele que diz: "Eu conheço as tuas obras." Apocalipse 2:19. As profundezas de todo coração estão abertas à inspeção divina. Cada ação, cada propósito, cada palavra, são tão distintamente assinaladas como se só houvesse um único indivíduo em todo o Universo, e toda a vigilância e escrutínio de Deus fossem empregados sobre seu comportamento. Poderemos nós então transgredir um preceito de Sua lei e assim ensinar a outros, por evasões, afirmações, falsidades, sob a vista do Legislador? Poderemos nós recorrer da sentença diante do Juiz? Há nisso uma audácia que parece sobrepujar o pior da soberba humana. Sei, meu irmão, a quem espero encontrar no dia do Juízo, que você não terá palavras para se desculpar por sua traição. T5 628 1 Oh, se eu pudesse apresentar a você e aos demais irmãos a necessidade do constante senso da presença de Deus, o qual poria tal comedimento à sua vida e faria com que sua influência moral e religiosa sobre o povo fosse muito diferente. Precisamos atingir uma norma muito mais elevada. Cada pessoa, ao sair e entrar, em todas as transações comerciais e em todos os tempos e lugares, deveria agir com a consciência de que se está vivendo sob a inspeção de Deus e dos anjos celestiais, e que o Ser que julgará a obra de cada homem para a eternidade, o acompanha em cada passo, observando todas as suas ações e examinando minuciosamente todos os seus motivos. A consciência da presença de Deus e do perigo da violação de Seus preceitos, tomaria posse de todo o ser. Que mudança seria vista no homem, que transformação na sociedade, que males não seriam evitados! Haveria vozes de todas as classes e eras dizendo: "Como faria tamanho mal e pecaria contra Deus?" Gênesis 39:9. T5 628 2 Quem entrará na cidade pelas portas? "Bem-aventurados aqueles que guardam os Seus mandamentos, para que tenham poder na árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas." Apocalipse 22:14. Você sabe quais são esses mandamentos tão bem quanto eu. Amo você, sua esposa e filhos e é por isso que me dirijo agora ao irmão. Considere cuidadosamente o caminho que seus pés estão trilhando. Tenho mais a lhe dizer, mas não por ora. Por favor, responda-me e devolva-me a carta contando o sonho, como lhe pedi. Com muita tristeza, amor e compaixão. 20 de Abril de 1888. ------------------------Capítulo 77 -- O amor de Deus pelos pecadores T5 629 1 Prezado irmão P: T5 629 2 Compreendi, por sua carta, que você está vivendo em dúvidas, questionando se há esperança para seu caso. Como embaixadora de Cristo, gostaria de dizer-lhe: Espere em Deus. Ele "amou o mundo de tal maneira, que deu Seu Filho unigênito para que todo aquele que nEle crê, não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Não pode você, agora, animar-se com essa graciosa promessa? Satanás pode dizer-lhe muitas vezes que você é um pecador, mas o irmão pode responder-lhe: "Não nego que sou pecador, mas 'Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores'." 1 Timóteo 1:15. T5 629 3 Jesus disse: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento." Lucas 5:32. E novamente: "Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:7. Não crê você nessas preciosas palavras? Não as recebe em seu coração? "Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:6, 7. Não é essa promessa ampla, profunda e transbordante? Pode você pedir mais? Não permitirá que o Senhor erga, justamente agora, um estandarte a seu favor e contra o inimigo? Satanás está pronto a escamotear as benditas garantias divinas. Ele deseja retirar cada vislumbre de esperança e cada raio de luz da vida, mas você não deve permitir-lhe fazer isso. Exerça fé, combata o bom combate da fé, lute contra essas dúvidas, familiarize-se com as promessas. T5 629 4 "Quando Eu disser ao justo que certamente viverá, e ele, confiando na sua justiça, praticar iniqüidade, não virão em memória todas as suas justiças, mas na sua iniqüidade, que pratica, ele morrerá. Quando Eu também disser ao ímpio: Certamente morrerás; se ele se converter do seu pecado e fizer juízo e justiça, restituindo esse ímpio o penhor, pagando o furtado, andando nos estatutos da vida e não praticando iniqüidade, certamente viverá, não morrerá. De todos os seus pecados com que pecou não se fará memória contra ele; juízo e justiça fez, certamente viverá." Ezequiel 33:13-16. T5 630 1 "Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus Altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:6-8. Quando Satanás vier tentá-lo a desistir de toda esperança, aponte-lhe essas palavras. Ore como Davi: "Não Te lembres dos pecados da minha mocidade nem das minhas transgressões; mas, segundo a Tua misericórdia, lembra-Te de mim, por Tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor; pelo que ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos retamente; e aos mansos ensinará o Seu caminho." Salmos 25:6-9. T5 630 2 "Vinde, então, e argüi-Me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do Senhor o disse." Isaías 1:18-20. Eis aí as promessas claras e bem definidas, ricas e plenas, porém dadas sob condições. Se você as atender, não terá a certeza de que o Senhor cumprirá Sua palavra? Que essas benditas promessas, apoiadas no arcabouço da fé, sejam gravadas nos arquivos da memória. Nenhuma delas falhará. Tudo o que Deus falou, fará. "Fiel é Aquele que" prometeu. Hebreus 11:11. T5 630 3 A parte que lhe cabe fazer é claramente apresentada: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos e cessai de fazer mal. Aprendei a fazer o bem; praticai o que é reto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas." Isaías 1:16, 17. "Restituindo esse ímpio o penhor, pagando o furtado, andando nos estatutos da vida e não praticando iniqüidade, certamente viverá, não morrerá. De todos os seus pecados com que pecou não se fará memória contra ele; juízo e justiça fez, certamente viverá." Ezequiel 33:15, 16. O Senhor afirma: "Todavia, os filhos do teu povo dizem: Não é reto o caminho do Senhor; mas o próprio caminho deles é que não é reto." Verso 17. "Ouvi, agora, ó casa de Israel: Não é o Meu caminho direito? Não são os vossos caminhos torcidos?" Ezequiel 18:25. "Porque não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei." Verso 32. "Portanto, Eu vos julgarei, a cada um conforme os seus caminhos, ó casa de Israel, diz o Senhor Jeová. Vinde e convertei-vos de todas as vossas transgressões, e a iniqüidade não vos servirá de tropeço. Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós um coração novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei." Ezequiel 18:30-32. T5 631 1 O Senhor revelou aí de modo muito claro Sua vontade com respeito à salvação do pecador. A atitude que muitos tomam em expressar dúvidas e descrença se o Senhor os salvará é uma reflexão sobre o caráter de Deus. Aqueles que reclamam de Sua severidade estão virtualmente dizendo: "O caminho do Senhor não é justo." Mas Ele faz retornar a acusação ao pecador: "Não são os vossos caminhos torcidos?" Posso Eu perdoar suas transgressões quando vocês não se arrependem e se desviam de seus pecados? O caráter de Deus é plenamente reivindicado nas palavras das Escrituras que lhe apresentei. O Senhor acolherá o pecador quando ele se arrepender e abandonar seus pecados, a fim de que Deus possa cooperar com seus esforços na busca da perfeição de caráter. As promessas não são incertas, mas se o homem atender às condições, elas são em Cristo "sim; e por Ele o Amém, para glória de Deus, por nós". 2 Coríntios 1:20. O propósito integral de Deus em dar Seu Filho pelos pecados do mundo é que o homem seja salvo não em transgressão e injustiça, mas abandonando o pecado, lavando suas vestes de caráter, tornando-as alvas no sangue do Cordeiro. Ele Se propõe a remover do homem as coisas ofensivas que odeia, mas o homem precisa cooperar com Deus nessa obra. O pecado precisa ser deixado, odiado, e a justiça de Cristo aceita pela fé. Dessa maneira, o divino coopera com o humano. T5 632 1 Deveríamos tomar cuidado para não dar lugar à dúvida e incredulidade, e em nosso desespero queixarmo-nos de Deus e dEle dar uma impressão falsa perante o mundo. Isso equivale a nos colocarmos do lado de Satanás. Ele diz: "Pobres almas, eu tenho piedade de vocês, afligindo-se sob o pecado, mas Deus não Se compadece. Vocês anseiam por um raio de esperança, porém Deus os deixou a perecer e fica satisfeito com sua miséria." Esse é um terrível engano. Não dêem ouvidos ao tentador, mas digam: "Jesus morreu para que eu pudesse viver. Ele me ama e não quer que eu pereça. Tenho um compassivo Pai celestial, e embora tenha abusado de Seu amor e dissipado as bênçãos que Ele graciosamente me concedeu, levantar-me-ei, irei ter com meu Pai e direi: 'Pai, pequei e não sou digno de ser chamado Seu filho; faz-me como um dos Seus servos assalariados'." A parábola diz como o errante será recebido. "Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou." Lucas 15:20. Assim a Bíblia representa a disposição divina em receber o arrependido pecador que retorna. T5 632 2 Mas mesmo essa parábola, terna e tocante como é, apresenta-se insuficiente ao expressar a infinita compaixão do Pai celeste. O Senhor declara pelo profeta: "Com amor eterno te amei; também com amável benignidade te atraí." Jeremias 31:3. Enquanto o pecador está ainda distante da casa paterna, o coração do Pai anseia vivamente por ele, e cada desejo para voltar para Deus despertado na alma não é senão a terna súplica de Seu Espírito, convidando, apelando, atraindo o peregrino ao coração amorável do Pai. T5 633 1 Com as ricas promessas da Bíblia diante de si, como pode você ainda dar lugar à dúvida? Acredita você que quando o pobre pecador anseia voltar, desejando ardentemente abandonar seus pecados, o Senhor duramente o impeça de prostrar-se a Seus pés em arrependimento? Fora com tais pensamentos! Nada pode ser mais afrontoso a Deus do que essas idéias. Nada pode ferir mais a própria alma do que entreter tais pensamentos acerca de nosso Pai celestial. Toda a nossa vida espiritual contrai um timbre de desesperança com tais concepções de Deus. Elas desencorajam todos os esforços para buscar a Deus ou servi-Lo. Devemos pensar em Deus não como um juiz pronto a pronunciar sentença contra nós. Ele odeia o pecado, mas, por amor aos pecadores, deu a Si mesmo na pessoa de Cristo, para que todos os que quisessem pudessem ser salvos e fruir a eterna bem-aventurança no reino da glória. T5 633 2 O próprio Senhor declara Seu caráter, que Satanás maliciosamente coloca sob falsa luz. Ele a Si mesmo Se revela como "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6, 7. Que mais poderosas ou ternas expressões poderiam ter sido empregadas do que aquelas que Ele escolheu para expressar Seu amor por nós? Ele declara: "Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti." Isaías 49:15. T5 633 3 No plano da redenção, "a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram". Salmos 85:10. O sapientíssimo e todo-poderoso Deus, que habita na luz inacessível, é pleno de amor, de bondade. Portanto, dê glória a Deus, você que está duvidoso e tremente, pois Jesus vive para fazer intercessão por nós. Dê glória ao Senhor pelo dom de Seu dileto Filho, e que Ele não morreu por nós em vão. T5 634 1 Irmão P., você pergunta se cometeu o pecado que não tem perdão nesta vida nem na vida por vir. Respondo: Não vejo a menor evidência de ser esse o caso. Que constitui o pecado contra o Espírito Santo? Está em voluntariamente atribuir a Satanás a obra do Espírito Santo. Por exemplo, suponhamos que alguém seja testemunha de uma nova manifestação especial do Espírito de Deus. Possui prova convincente de que o fato está em harmonia com as Escrituras, e o Espírito testemunha com seu espírito que é de Deus. Depois, entretanto, a pessoa cai em tentação; orgulho, convencimento, ou qualquer outro mau traço a domina; e, ao rejeitar todas as provas de seu divino caráter, declara que tudo o que antes reconhecera como sendo o poder do Espírito Santo era apenas o de Satanás. É por meio de Seu Espírito que Deus atua no coração humano; e quando o homem voluntariamente rejeita o Espírito e declara ser o de Satanás, interrompe o canal por meio do qual Deus Se pode comunicar com ele. Pela negação da prova que Deus Se dignou conceder-lhe, apaga a luz que lhe estivera a brilhar no coração e, como resultado, é deixado em trevas. Assim se verificam as palavras de Cristo: "Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" Mateus 6:23. Por algum tempo, pessoas que tenham cometido este pecado podem parecer serem filhos de Deus; mas quando surgem circunstâncias destinadas a desenvolver o caráter e mostrar de que espírito são, ver-se-á que se acham no terreno do inimigo, arregimentadas sob sua negra bandeira. T5 634 2 Meu irmão, o Espírito o convida. Chegue-se a Jesus, de todo o coração. Arrependa-se de seus pecados, faça confissão a Deus, abandone toda a iniqüidade, e poderá apropriar-se de todas as Suas promessas. "Olhai para Mim, e sereis salvos" (Isaías 45:22), é Seu precioso convite. T5 634 3 Dia virá em que a terrível sentença da ira de Deus será pronunciada contra todos os que persistiram em sua deslealdade para com Ele. Isto será quando Deus tiver que falar e fizer coisas terríveis, em justiça, contra os transgressores de Sua lei. Mas você não precisa estar entre aqueles que estarão sujeitos à ira de Deus. É agora o dia de Sua salvação. A luz da cruz do Calvário está agora resplandecendo em raios claros e brilhantes, revelando Jesus, nosso Sacrifício pelo pecado. Ao ler as promessas que lhe expus, lembre-se de que são a expressão de indescritível amor e piedade. O grande coração de Amor infinito é atraído para o pecador, com ilimitada compaixão. "Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas." Efésios 1:7. Sim, creia tão-somente que Deus é seu Ajudador. Ele quer restaurar Sua imagem moral no homem. Ao aproximar-se dEle, com confissão e arrependimento, Ele Se aproximará de você, com misericórdia e perdão. Tudo devemos ao Senhor. É Ele o Autor de nossa salvação. Ao desenvolver você sua "salvação com temor e tremor", "Deus... efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade". Filipenses 2:12. ------------------------Capítulo 78 -- Confissão aceitável T5 635 1 "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia." Provérbios 28:13. T5 635 2 As condições para se obter misericórdia de Deus são simples, justas e razoáveis. O Senhor não requer de nós que façamos coisas penosas de forma a podermos conseguir perdão do pecado. Não necessitamos fazer longas e penosas peregrinações ou realizar dolorosas penitências para encomendar nossa alma ao Deus do Céu, ou para expiar nossas transgressões, "mas aquele que as confessa e deixa alcançará misericórdia". Provérbios 28:13. Essa é uma preciosa promessa feita ao decaído homem para animá-lo a confiar no Deus de amor e aspirar à vida eterna em Seu reino. T5 635 3 Lemos que Daniel, o profeta de Deus, era um homem muito amado do Céu. Ele tinha uma alta posição nas cortes de Babilônia, e servia e honrava a Deus tanto na prosperidade como na provação; todavia, humilhou-se e confessou seu pecado e o pecado de seu povo. Com profunda tristeza de coração reconhecia: "Pecamos, e cometemos iniqüidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos; e não demos ouvidos aos Teus servos, os profetas, que em Teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, a confusão do rosto, como se vê neste dia; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel; aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa da sua prevaricação, com que prevaricaram contra Ti." Daniel 9:5-7. T5 636 1 Daniel não procurou desculpar-se ou a seu povo diante de Deus, mas em humildade e contrição confessou a total extensão e demérito de suas transgressões, e vindicou o trato de Deus como justo para com a nação que havia considerado em nada Seus reclamos e não se sensibilizou com Seus apelos. T5 636 2 Há hoje grande necessidade de arrependimento e confissão, sinceros e contritos. Os que não humilharam o coração perante Deus, em reconhecimento de sua culpa, não cumpriram ainda a primeira das condições de aceitação. Se não experimentamos ainda aquele arrependimento do qual não há arrepender-se, e não confessamos nosso pecado com verdadeira humilhação e contrição de espírito, detestando nossa iniqüidade, nunca na verdade procuramos o perdão dos pecados; e se nunca procuramos, nunca encontramos a paz de Deus. A única razão por não termos a remissão dos pecados passados é não estarmos dispostos a humilhar nosso orgulhoso coração e cumprir as condições da Palavra da verdade. Deu-se explícita instrução acerca desse assunto. A confissão do pecado, quer público quer particular, deve ser de coração e expressa francamente. Não deve ser extorquida do pecador. Não deve ser feita de maneira leviana e descuidada, nem forçada dos que não têm a compreensão do caráter repugnante do pecado. A confissão misturada com lágrimas e tristeza, que é o desabafo do íntimo da alma, encontra caminho para o Deus de infinita piedade. Diz o salmista: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito." Salmos 34:18. T5 637 1 Há muitas confissões como a de Faraó quando estava sofrendo os juízos de Deus. Ele reconhecia seu pecado para escapar da punição, mas retornava a seu desafio ao Céu tão logo as pragas eram suspensas. A confissão de Balaão teve caráter semelhante. Aterrado pela presença do anjo que se postara em seu caminho com a espada desembainhada, ele reconheceu sua culpa, temendo perder a vida. Não houve genuíno arrependimento do pecado, nem contrição, nem conversão de propósito, nem aborrecimento ao mal. Nenhuma virtude houve em sua confissão. Judas Iscariotes, depois de trair seu Senhor, foi até os sacerdotes confessando: "Pequei, traindo sangue inocente." Mateus 27:4. Mas essa confissão não era de caráter a recomendá-lo à misericórdia divina. Ela foi arrancada de sua alma culpada por um terrível senso de condenação e temerosa expectativa de julgamento. As conseqüências do ato suscitaram o reconhecimento de seu grande pecado. Não houve nenhuma dor profunda de coração por ter entregue o Filho de Deus para ser escarnecido, flagelado e crucificado, por haver traído o Santo de Israel e pô-Lo nas mãos de ímpios e inescrupulosos homens. Sua confissão foi proferida tão-somente por um coração egoísta e em trevas. T5 637 2 Depois de Adão e Eva terem participado do fruto proibido, foram tomados de um senso de vergonha e terror. De início, seu pensamento era como se desculpar por seu pecado diante de Deus e escapar da temível sentença de morte. Quando o Senhor perguntou pelo seu pecado, Adão replicou colocando a culpa parcialmente em Deus e parcialmente em sua companheira: "A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi." Gênesis 3:12. A mulher, por sua vez, pôs a culpa sobre a serpente, dizendo: "A serpente me enganou, e eu comi." Gênesis 3:13. Por que o Senhor fez a serpente? Por que permitiu que ela penetrasse no Éden? Essas eram questões implícitas em sua desculpa pelo pecado, atribuindo assim a Deus a responsabilidade de sua queda. O espírito de justificação própria originou-se com o pai da mentira e foi manifestado por todos os filhos e filhas de Adão. Confissões desse tipo não são inspiradas pelo Divino Espírito e em nada aceitáveis a Deus. O verdadeiro arrependimento levará o homem a assumir a própria culpa e reconhecê-la sem fraude ou hipocrisia. Como o pobre publicano, que não erguia seus olhos ao Céu e batia no próprio peito, clamando: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador." Lucas 18:13. Aqueles que reconhecem sua culpa serão justificados, pois Jesus oferecerá Seu sangue em favor da pessoa arrependida. T5 638 1 Não é degradação para o homem prostrar-se diante de seu Criador e confessar seus pecados e implorar perdão através dos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido. É nobre reconhecer seu erro diante dAquele a quem feriu pela transgressão e rebelião. Isso o exalta diante dos homens e dos anjos; pois "quem a si mesmo se humilhar será exaltado". Mateus 23:12. Mas aquele que se prostra diante do homem caído e abre em confissão os secretos pensamentos e imaginações do coração desonra a si mesmo, rebaixando sua maturidade e degradando todos os nobres instintos de seu ser. Ao revelar os pecados de sua vida a um sacerdote corrompido pelo vinho e licenciosidade, seu padrão de caráter é rebaixado e ele, em conseqüência, se polui. Em seu pensamento, Deus é rebaixado ao nível da pecaminosa humanidade, pois o sacerdote se posta como representante de Deus. É essa degradante confissão do homem para o caído homem que é responsável por muito do crescente mal que está corrompendo o mundo e adaptando-o para a destruição final. T5 639 1 Diz o apóstolo: "Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis." Tiago 5:16. Esse texto bíblico tem sido interpretado de maneira a apoiar a prática de procurar o sacerdote para absolvição, mas não é essa a aplicação. Confesse seus pecados a Deus, o único que pode perdoá-los, e suas faltas uns aos outros. Se você ofendeu a um amigo ou vizinho, deve reconhecer o erro, e é dever dele perdoá-lo voluntariamente. Então você deve buscar o perdão de Deus, porque o irmão a quem feriu é propriedade dEle, e ao prejudicá-lo, você pecou contra seu Criador e Redentor. A questão, absolutamente, não é para ser levada ao sacerdote, mas, antes, ao único e legítimo Mediador, nosso grande Sumo Sacerdote, que "como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado" (Hebreus 4:15), que "Se compadece de nossas fraquezas", e é capaz de purificar-nos de toda mancha de iniqüidade. T5 639 2 Quando Davi pecou contra Urias e sua esposa, ele suplicou perdão a Deus. Ele diz: "Contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que a Teus olhos é mal." Salmos 51:4. Toda injustiça cometida contra outros atinge a Deus. Davi buscava o perdão, não do sacerdote, mas do Criador do homem. Ele orava: "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a Tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das Tuas misericórdias." Salmos 51:1. T5 639 3 A verdadeira confissão é sempre de caráter peculiar e reconhece pecados específicos. Eles podem ser de natureza que devam ser levados a Deus, unicamente; podem ser erros que precisem ser confessados a indivíduos que sofreram insultos por causa deles, ou ser de natureza geral, que tenham de se tornar conhecidos da congregação. Mas toda confissão deve ser definida e ao ponto, reconhecendo os pecados de que você é culpado. T5 640 1 Quando Israel estava sendo oprimido pelos amonitas, o povo escolhido fez uma súplica diante de Deus que ilustra o definido caráter da verdadeira confissão: "Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: Contra Ti havemos pecado, porque deixamos o nosso Deus e servimos aos baalins. Porém o Senhor disse aos filhos de Israel: Porventura, dos egípcios, e dos amorreus, e dos filhos de Amom, e dos filisteus, e dos sidônios, e dos amalequitas, e dos maonitas, que vos oprimiam, quando a Mim clamastes, não vos livrei Eu então da sua mão? Contudo, vós Me deixastes a Mim e servistes a outros deuses; pelo que não vos livrarei mais. Andai e clamai aos deuses que escolhestes; que vos livrem eles no tempo do vosso aperto. Mas os filhos de Israel disseram ao Senhor: Pecamos; faze-nos conforme tudo quanto Te parecer bem aos Teus olhos; tão-somente Te rogamos que nos livres neste dia." Juízes 10:10-15. Então começaram a agir em harmonia com suas confissões e orações. "E tiraram os deuses alheios do meio de si e serviram ao Senhor." E o imenso coração de amor do Senhor se angustiou -- "então, Se angustiou a Sua alma por causa da desgraça de Israel". Juízes 10:16. T5 640 2 A confissão não será aceita por Deus sem sincero arrependimento e reforma. É necessário que haja decidida mudança na vida; tudo o que é ofensivo a Deus tem de ser afastado. Esse será o resultado da genuína tristeza pelo pecado. Diz Paulo, falando acerca da obra de arrependimento: "Porque quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio." 2 Coríntios 7:11. T5 640 3 Nos dias de Samuel, os israelitas se desviaram de Deus. Eles estavam sofrendo as conseqüências do pecado, pois haviam perdido a fé no Senhor, no discernimento de Seu poder e sabedoria para governar a nação; perderam a confiança em Sua capacidade de defender e vindicar Sua causa. Eles se voltaram do grande Governador do Universo e desejaram ser governados como as nações a seu redor. Antes de encontrarem a paz, fizeram esta específica confissão: "Porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei." 1 Samuel 12:19. Sua ingratidão lhes oprimia a própria alma e os separava de Deus. T5 641 1 Quando o pecado amortece as percepções morais, o malfeitor não discerne os defeitos de seu caráter, nem compreende a enormidade do mal que cometeu, e a menos que se renda ao convincente poder do Espírito Santo, permanecerá em cegueira parcial com relação a seu pecado. Suas confissões não são sinceras e fervorosas. A cada reconhecimento de culpa acrescenta uma desculpa para sua conduta, declarando que, se não fosse por determinadas circunstâncias, ele não teria feito isso ou aquilo, pelo qual está sendo reprovado. Mas os exemplos de genuíno arrependimento e humilhação dados na Palavra de Deus revelam um espírito de confissão no qual não há desculpas para o pecado ou tentativas de justificação própria. T5 641 2 Paulo não buscava defender-se; ele pintava seu pecado nas mais negras nuances, não tentando diminuir sua culpa. Ele diz: "E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles. E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui." Atos dos Apóstolos 26:10, 11. Ele não hesitava em declarar que "Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." 1 Timóteo 1:15. T5 641 3 O humilde e contrito coração, dominado pelo genuíno arrependimento, apreciará algo do amor de Deus e do custo do Calvário, e como um filho se confessa a seu amoroso pai, assim o verdadeiro penitente trará todos os seus pecados a Deus. Está escrito: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." 1 João 1:9. ------------------------Capítulo 79 -- Idéias errôneas sobre confissão T5 642 1 Queridos irmãos e irmãs em _____: T5 642 2 Ouvi sobre o bom trabalho que tem sido feito entre vocês, e meu coração se regozija. Desde que cheguei a Battle Creek, tenho-me preocupado muito com sua igreja. Durante a semana de oração, o Senhor operou em nosso favor e em todas as nossas instituições tem havido um firme, continuado e equilibrado interesse. T5 642 3 As reuniões são realizadas no Colégio, com assinalado sucesso. Têm havido várias conversões entre os estudantes vindos do mundo. Essas conversões foram as mais impressionantes porque os indivíduos não tinham nenhuma experiência religiosa antes de terem vindo ao Colégio, e alguns deles estavam determinados a não se deixarem influenciar pela luz proveniente das reuniões. Mas eles as assistiram e foram convencidos pelo Espírito do Senhor e genuinamente convertidos. Eles dizem que nunca foram tão felizes em sua vida como agora. Muitos vão para suas casas passar os feriados. Seus pais não são professos religiosos e por isso sua fé é severamente provada. Mas belas cartas têm chegado, dando conta que eles assumiram novas responsabilidades e estão tentando mostrar a seus amigos que a nova fé que abraçaram não os tornou fanáticos ou extremistas, mas cristãos equilibrados, melhores em cada ponto do que antes de sua conversão; também que eles possuem princípios de fé pura e amor a Deus e a seus semelhantes, e os manifestam por meio de uma vida bem ordenada e piedosa conversação. Essa boa obra no Colégio tem sido uma fonte de regozijo para todos nós. T5 642 4 Fizemos encontros matinais para os auxiliares do sanatório durante as últimas três semanas, às cinco e meia da manhã. Tenho falado nessas ocasiões com bons resultados. Também falei aos pacientes por diversas vezes. T5 642 5 Tivemos reuniões com os obreiros, ao meio dia, nos escritórios da Review. Ali o Senhor está manifestamente em ação. Homens que têm professado a verdade por anos e ainda não pareciam possuir qualquer fervor foram visitados pelo Espírito do Senhor. Vocês deveriam ouvir seus sinceros testemunhos falando do precioso amor de Deus. Alguns deles dizem que nunca foram convertidos antes. T5 643 1 Foram realizadas reuniões no Tabernáculo, duas vezes por dia durante duas semanas, e a mensagem apresentada tomou conta dos corações. Os testemunhos proferidos deram o sonido certo. Sou grata ao Senhor por essa boa obra. Tivemos também algumas reuniões especiais no Tabernáculo. Nessa grande igreja, após termos convocado o povo para as orações de sábado à tarde, no último sábado do ano velho, convidamos a todos os que sentiam dever fazer confissões a irem a outra sala, onde lhes seria dada uma oportunidade especial. Falei sobre o último capítulo de Malaquias: "Roubará o homem a Deus?" "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós benção sem medida." Malaquias 3:10. Foram feitas muitas confissões sobre esse ponto. T5 643 2 Alguns não agiam corretamente com seus semelhantes e confessaram esses pecados e lhes fizeram restituição. Durante a semana seguinte, alguns daqueles que não haviam lidado honestamente com Deus, e conseqüentemente se separado dEle, começaram a restituir aquilo que haviam retido. Um irmão que já não devolvia dízimos há dois anos fez uma promissória no valor correspondente aos dízimos retidos e os juros devidos, no total de 571,50 dólares, e a entregou ao secretário da Associação. Agradeço a Deus porque esse irmão teve coragem para fazer isso. Outro passou uma promissória no valor de 300 dólares. Outro, ainda, que tanto se desviara de Deus ao ponto de quase não se nutrir mais esperança de que voltasse aos caminhos da justiça assinou um título de dívida de mil dólares. Foi proposto que esses dízimos e ofertas retidos fossem enviados à Missão Central-Européia. Com esse montante e as ofertas natalinas, foram arrecadados cerca de seis mil dólares para a causa missionária. T5 644 1 Quem vive pela fé em Cristo não deseja maior bem do que conhecer e atender à vontade de Deus. É a vontade de que a fé em Cristo seja aperfeiçoada pelas obras. Ele une a salvação e a vida eterna dos crentes a essas obras, e através delas providencia para que a luz da verdade chegue a todas as nações e povos. Isso é fruto da operação do Espírito de Deus. T5 644 2 A verdade se apossou dos corações. Isso não é um impulso espasmódico, mas um retorno real ao Senhor, onde a perversa vontade do homem é levada em sujeição à vontade de Deus. Roubar a Deus nos dízimos e ofertas é uma transgressão da clara ordem de Jeová e produz o maior prejuízo àquele que age assim, pois priva-o da bênção de Deus que é prometida aos que tratam honestamente com Ele. T5 644 3 Temos visto em nossa experiência que, se Satanás não consegue prender as pessoas no gelo da indiferença, ele procurará impeli-las para o fogo do fanatismo. Quando o Espírito do Senhor Se faz notar entre o Seu povo, o inimigo aproveita a oportunidade para também atuar sobre várias mentes, levando-as a misturar seus próprios traços de caráter peculiares com a obra de Deus. Assim, sempre há o perigo de que eles permitam que suas idéias se misturem com a obra e se tomem resoluções imprudentes. Muitos se empenham numa obra por eles mesmos idealizada, e que não é inspirada por Deus. T5 644 4 Mas enquanto a obra prosseguiu aqui em Battle Creek, não houve nenhuma manifestação de fanatismo. Sentíamos a necessidade de protegê-la de todos os lados com grande cuidado, pois se o inimigo puder levar indivíduos a extremos, ele fica bem satisfeito. Ele pode assim produzir maior dano do que se não houvesse um despertamento religioso. Sabemos que nunca houve um empenho espiritual no qual Satanás não tenha tentado fazer seu melhor para entremeter-se; nestes últimos dias ele fará isso como nunca antes. Ele vê que seu tempo é curto e quer trabalhar com todo o engano da injustiça para misturar erros e idéias equivocadas com a obra de Deus, e levar homens a falsas conclusões. T5 645 1 Em muitos de nossos reavivamentos espirituais, houve erros com respeito à confissão. Conquanto a confissão seja um bem para a alma, há necessidade de agir sabiamente. T5 645 2 Foi-me mostrado que muitas, muitas confissões nunca deveriam ser pronunciadas aos ouvidos de mortais; pois o resultado é tal que o limitado julgamento de seres finitos não antecipa. Sementes do mal são espalhadas na mente e coração dos que ouvem, e quando estão sob tentação, essas sementes germinarão e trarão fruto, e a mesma triste experiência se repetirá. Pois, pensa o tentado, esses pecados não podem ser tão ofensivos; afinal, os que fizeram confissão, cristãos de longa data, não fazem essas mesmas coisas? Assim, a confissão aberta desses pecados secretos na igreja se demonstrará um cheiro de morte, e não de vida. T5 645 3 Não deve haver movimento algum descuidado e indiscriminado sobre esse assunto, para evitar que a causa de Deus seja desacreditada aos olhos dos descrentes. Se eles ouvirem confissões de conduta indigna feitas por aqueles que professam ser seguidores de Cristo, será trazida vergonha sobre a causa. Se Satanás puder, por algum meio, espalhar a impressão de que os adventistas do sétimo dia são a escória de todas as coisas, ele ficará feliz em fazê-lo. Deus não quer que ele tenha essa oportunidade. Deus será melhor glorificado se confessarmos a secreta e inata corrupção do nosso coração somente a Jesus do que se abrirmos seus recessos ao homem finito e sujeito a erro, e que não pode julgar com justiça a menos que o seu coração esteja constantemente impregnado do Espírito de Deus. Deus conhece o coração, até cada segredo do íntimo; então não espalhe ao ouvido humano aquilo que somente Deus deve ouvir. T5 645 4 Há certas confissões que devem ser feitas perante uns poucos escolhidos e reconhecidas pelo pecador em profunda humildade. O assunto não deve ser conduzido de tal forma que o mau hábito seja transformado em virtude, e o pecador se orgulhe de seus maus feitos. Se houver coisas de natureza ignominiosa que devam vir perante a igreja, que sejam trazidas diante de umas poucas pessoas selecionadas antecipadamente para ouvi-las. Que não se exponha a causa de Deus ao reproche tornando pública a hipocrisia que tem existido na igreja. Isso deveria provocar reflexões por parte daqueles que têm tentado ser semelhantes a Cristo no caráter. Essas coisas devem ser consideradas. T5 646 1 Há, então, confissões que o Senhor nos ordena fazer uns aos outros. Se você ofendeu a seu irmão por palavra ou ação, deve primeiro reconciliar-se com ele antes que seu culto seja aceitável ao Céu. Deve confessar àqueles a quem você prejudicou e fazer restituição, produzindo frutos dignos de arrependimento. Se alguém nutre sentimentos amargos, ira ou rancor para com um irmão, que vá pessoalmente, confesse seu pecado e busque o perdão. T5 646 2 Da maneira de Cristo tratar com o errante podemos aprender preciosas lições, que são igualmente aplicáveis à confissão. Ele nos ordena ir a alguém caído em tentação e trabalhar com ele somente. Se não for possível ajudá-lo por causa de sua escuridão mental e separação de Deus, devemos tentar novamente levando conosco mais duas ou três pessoas. Se o errante não se emendar, então o que temos a fazer é dizê-lo à igreja. É muito melhor que os erros sejam corrigidos e as ofensas resolvidas sem que haja necessidade de levar o assunto a toda a igreja reunida. A igreja não deve se tornar um receptáculo de toda queixa ou confissão. T5 646 3 Reconheço, por outro lado, o perigo de ceder à tentação de ocultar o pecado ou de condescendência com ele, e assim agirmos como hipócritas. Estejam certos de que a confissão cobrirá plenamente a influência do erro cometido. Que nenhum dever para com Deus, o semelhante ou a igreja seja deixado por cumprir. Então, vocês poderão apegar-se a Cristo com confiança, esperando Sua bênção. Mas a questão de como e a quem os pecados devem ser confessados é tal que exige cuidadoso estudo acompanhado de oração. Precisamos considerá-la de todos os pontos de vista, ponderando-a diante do Senhor e procurando a divina iluminação. Deveríamos inquirir se a confissão pública dos pecados de que temos sido culpados fará bem ou mal. Redundará ela em louvores Àquele que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz? Concorrerá para a purificação da mente do povo, ou o aberto relato dos enganos praticados pela negação da verdade terá influência contaminadora sobre outras mentes e destruirá a confiança em nós? T5 647 1 Os homens não possuem a sabedoria provinda de Deus e a constante iluminação da Fonte de todo poder, para que estejam seguros em seguir impulsos ou impressões. Tenho visto em minha experiência esse tipo de atitude operar a ruína não somente daqueles que a tomam, como dos que lhes estão sob a influência. A mais turbulenta extravagância foi o resultado dessa obra feita por impulso. Seguiu-se-lhe um declínio da fé, e a incredulidade e o ceticismo tornaram-se fortes, na mesma proporção do extremo fervor religioso. A obra que não é feita em Deus resulta em nada, tão logo passe a excitação. T5 647 2 Há poder e estabilidade naquilo que o Senhor faz, quer opere por meio de agentes humanos, quer por quaisquer outros. O progresso e a perfeição da obra da graça no coração não dependem de exaltação ou demonstrações extravagantes. O coração que se acha sob a influência do Espírito de Deus estará em doce harmonia com Sua vontade. Foi-me mostrado que quando o Senhor atua através de Seu Espírito, nada há nessas demonstrações que degrade o povo do Senhor perante o mundo, mas, pelo contrário, o exalta. A religião de Cristo não torna ásperos e rudes aqueles que a seguem. Os súditos da graça não são intratáveis, mas sempre dispostos a aprender de Jesus e se aconselharem uns com os outros. T5 647 3 Aquilo que aprendemos do Grande Mestre da verdade é duradouro; não recende a auto-suficiência, mas conduz à humildade e mansidão, e a obra que faremos será proveitosa, pura e enobrecedora, porque feita em Deus. Aqueles que assim trabalham demonstram em sua vida familiar e em sua associação com outros que possuem a mente de Cristo. Graça e verdade reinarão em seu coração, inspirando e purificando seus motivos, e controlando suas ações. T5 648 1 Espero que ninguém fique com a idéia de que está obtendo o favor de Deus por confessar a seres humanos. Tem de haver na vida aquela fé que atua por amor e purifica a vida. O amor de Cristo subjugará as tendências sensuais. A verdade não só traz em si mesma a evidência de sua origem celestial, mas prova que, pela graça do Espírito de Deus, ela é eficaz na purificação da alma. O Senhor deseja que recorramos a Ele diariamente, com todas as nossas dificuldades e confissões de pecado, e Ele pode dar-nos descanso ao usarmos Seu jugo e levarmos Seu fardo. Seu Santo Espírito, com Sua afável influência, encherá o coração, e cada pensamento será levado cativo à obediência de Cristo. T5 648 2 Agora estou temerosa de que, por algum erro de sua parte, a bênção de Deus que lhes foi dada em _____ se torne em maldição; que alguma falsa idéia venha à tona, fazendo-os, em poucos meses, ficar em pior condição do que antes do reavivamento. Se vocês não permanecerem vigilantes, aparecerão sob a pior luz possível diante dos incrédulos. Deus não seria glorificado com esse tipo de serviço espasmódico. Sejam cuidadosos para não levar as coisas a extremos e atrair permanente censura sobre a preciosa causa de Deus. A falha que muitos cometem é de, após terem sido abençoados por Deus, não buscarem, na humildade de Cristo, ser uma bênção aos outros. Agora que as palavras da vida eterna foram semeadas em seu coração, rogo-lhe que ande humildemente com Deus, fazendo as obras de Cristo e produzindo muito fruto para a justiça. Oro e espero que vocês ajam como filhos e filhas do Altíssimo e não se tornem extremistas, ou façam qualquer coisa que agrave o Espírito de Deus. T5 649 1 Não olhe para os homens nem ponha sua esperança neles, achando que são infalíveis, mas contemple a Jesus constantemente. Confesse seus pecados secretos somente a seu Deus. Confesse os descaminhos de seu coração Àquele que sabe perfeitamente como tratar seu caso. Se você tem defraudado seu próximo, reconheça o pecado diante dele, e mostre o fruto desse reconhecimento fazendo a restituição. Então reclame a bênção. Venha a Deus assim como está, e O deixe curar todas as suas enfermidades. Apresente o seu caso diante do trono da graça; deixe que a obra se complete. Seja sincero no trato com Deus e com sua alma. Se vier a Ele com o coração verdadeiramente contrito, Ele lhe dará a vitória. Então você poderá dar um suave testemunho de liberdade e manifestar os louvores dAquele que o chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Ele não Se equivocará nem o julgará erradamente. Seus semelhantes não lhe podem absolver do pecado ou purificá-lo da iniqüidade. Jesus é o único que lhe pode dar a paz. Ele o ama, e deu a Si mesmo por você. Seu grande coração de amor compadece-se "das nossas fraquezas". Hebreus 4:15. Que pecados são demasiados grandes que Ele não os possa perdoar? Quem está demasiado entenebrecido e oprimido pelo pecado que Ele não possa salvar? Ele é gracioso, não busca méritos em nós, mas por Sua ilimitada bondade sara nossa apostasia e nos ama além de qualquer expectativa, conquanto sejamos ainda pecadores. Ele é "tardio" em irar-Se e "grande em beneficência". Neemias 9:17. Ele é "longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se". 2 Pedro 3:9. T5 649 2 Não procure demonstrar um alto grau de fervor, mas vá e trabalhe pelos outros instruindo-os pacientemente. Você tenderá a pensar que cada um tem uma carga de males a confessar e ficará em perigo de fazer disso o ponto principal. Quererá fazer com que cada um tenha a mesma experiência que você e sentirá que nada pode ser feito até que todos passem pela mesma obra de confissão. Não estará disposto a assumir o trabalho de ajudar outros através da ação do Espírito de Deus, com o próprio coração enternecido e subjugado pela obra de purificação. Você estará em grande perigo de frustrar a obra de Deus por sua própria conduta. Se trabalhar pela conversão das pessoas com humilde e confiante dependência de Deus, se o esplendor de Seu Espírito for refletido pelos irmãos a partir de um caráter semelhante ao de Cristo, se simpatia, bondade, paciência e amor forem princípios permanentes em sua vida, você será uma bênção a todos com quem conviver. Você não será crítico dos outros nem manifestará um sentimento áspero e acusador; não sentirá que as idéias deles devem se harmonizar com as suas, mas o amor de Jesus e os pacíficos frutos da justiça serão revelados em sua vida. T5 650 1 "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio... E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros." Gálatas 5:22, 24, 25. T5 650 2 O inimigo procurará introduzir-se mesmo em meio aos cultos. Cada avenida necessitará ser fielmente guardada a fim de que o egoísmo e o orgulho não se misturem com a obra. Se o eu tiver realmente sido crucificado com suas afeições e concupiscências, o fruto se manifestará em boas obras para a glória de Deus. Rogo-lhes, no temor de Deus, não permitam que suas obras degenerem. Sejam cristãos firmes, simétricos. Quando o coração concedeu suas afeições a Cristo, as velhas coisas ficaram para trás e tudo se fez novo. T5 650 3 Nossa religião deve ser inteligente. A sabedoria do alto precisa nos fortalecer, estabelecer e firmar. Precisamos ir cada vez mais para a frente e para o alto, de luz para luz ainda maior, e Deus ainda revelará Sua glória a nós como Ele não fez ao mundo. Battle Creek, Michigan, 6 de Janeiro de 1889. ------------------------Capítulo 80 -- A presença de Deus, uma realidade T5 651 1 Prezado irmão Q: T5 651 2 Acho ótimo que você esteja hoje em _____, e se cumprir o seu dever, será o homem certo no lugar certo. Conserve fora de vista o próprio eu; não permita que ele se apresente para manchar a obra, embora isso seja natural. Ande humildemente com Deus. Trabalhe pelo Mestre com energia desinteressada, tendo presente uma intuição da constante presença de Deus. Pense em Moisés, na perseverança e paciência que lhe caracterizaram a vida. Paulo, em sua epístola aos Hebreus, diz: "Ficou firme, como vendo o Invisível." Hebreus 11:27. O caráter que Paulo assim credita a Moisés não indica simples resistência passiva ao mal, mas perseverança no bem. Tinha sempre presente o Senhor, e o Senhor estava sempre à sua mão direita para o ajudar. T5 651 3 Moisés tinha profunda intuição da presença pessoal de Deus. Não só olhava através dos séculos, aguardando a manifestação de Cristo na carne, mas viu a Cristo de maneira especial acompanhando os filhos de Israel em todas as suas peregrinações. Deus lhe era real, sempre presente em seus pensamentos. Quando mal compreendido, quando chamado a enfrentar perigo e suportar insultos por amor de Cristo, sofreu-o sem vingança. Moisés cria em Deus como Aquele de quem ele necessitava, e que o ajudaria por causa de sua necessidade. Era-lhe Deus um auxílio presente. T5 651 4 Grande parte da fé que presenciamos é meramente nominal; é rara a fé real, confiante e perseverante. Moisés viu cumprida em sua própria experiência a promessa de que Deus há de ser um galardoador dos que O buscam diligentemente. Tinha ele respeito para com o galardão da recompensa. Aqui está outro ponto que desejamos estudar acerca da fé: Deus recompensará o homem de fé e obediência. Se essa fé for introduzida na experiência da vida, ela habilitará a quem quer que tema e ame a Deus a suportar as provas. Moisés era cheio de confiança em Deus porque tinha uma fé que se apropriava das bênçãos. Ele precisava de auxílio, e por ele orou, apoderou-se dele pela fé, e entreteceu em sua experiência a crença de que Deus dele cuidava. Cria que Deus lhe regia a vida, particularmente. Viu e reconheceu a Deus em cada pormenor de sua vida e sentia estar sob o olhar dAquele que tudo via, que pesa os motivos, que prova o coração. Olhava a Deus e nEle confiava quanto à força para atravessar toda forma de tentação sem se corromper. Ele sabia que lhe fora designada uma obra especial, e desejava, quanto possível, tornar essa obra um êxito completo. Mas sabia que não poderia fazê-lo sem o auxílio divino, pois tinha que tratar com um povo perverso. A presença de Deus era suficiente para conduzi-lo através das situações mais difíceis em que um homem possa ser colocado. T5 652 1 Moisés não só pensava em Deus; ele O via. Deus era a constante visão que tinha presente; nunca Lhe perdeu de vista a face. Via a Jesus como seu Salvador, e cria que os méritos do Salvador lhe seriam imputados. Essa fé não era para Moisés simples conjectura; era uma realidade. Esta é a espécie de fé de que carecemos, fé que há de suportar a prova. Oh, quantas vezes cedemos à tentação porque não mantemos os olhos fitos em Jesus! Nossa fé não é contínua porque, mediante a condescendência com nós mesmos, pecamos, e então não podemos perseverar, "como vendo o Invisível". T5 652 2 Meu irmão, faça de Cristo seu Companheiro de cada dia, cada hora, e não se queixará de que não tem fé. Contemple a Cristo. Olhe a Seu caráter. Fale a Seu respeito. Quanto menos se exaltar a si mesmo, tanto mais verá em Jesus digno de exaltar. Deus tem uma obra para o irmão fazer. Mantenha o Senhor sempre presente. Irmão e irmã Q, elevem-se mais e mais, em busca de mais claras visões do caráter de Cristo. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória", o Senhor não o repreendeu, mas atendeu-lhe a oração. Declarou Deus ao Seu servo: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti, e apregoarei o nome do Senhor diante de ti." Êxodo 33:19. Nós nos mantemos afastados de Deus, e por isso é que não vemos as manifestações de Seu poder. A presença de Cristo na escola do lar T5 653 1 Prezado irmão e irmã, que o Senhor conceda sabedoria a vocês para que saibam como lidar com a mente das pessoas. Que o Senhor consiga ensiná-los sobre as grandes coisas que Ele pode realizar, caso apenas as pessoas nEle creiam. Levem a Jesus com vocês, como um Companheiro, para a sala de aulas. Tenham-nO sempre presente quando estiverem falando, para que a bondade seja uma constante em seus lábios. Que ninguém mais lhes sirva de inspiração nesse particular. Permitam que os filhos sob o seu cuidado tenham individualidade, como vocês mesmos. Sempre procurem guiá-los, mas nunca forçá-los. T5 653 2 Vejo aqui na Suíça algo que julgo digno de imitação. Os professores das escolas muitas vezes saem com os alunos quando estão brincando e os ensinam a entreter-se, ficando perto para reprimir qualquer desordem ou erro. Às vezes saem com os alunos para uma longa caminhada. Aprecio isto; penso que há menos oportunidade para as crianças cederem à tentação. Parece que os professores participam das brincadeiras das crianças e as supervisionam. Não posso de modo algum aprovar a idéia de que as crianças devam sentir-se constantemente como não merecendo confiança, não podendo agir como crianças. Mas participem os professores dos entretenimentos das crianças, unam-se a elas e mostrem que desejam vê-las felizes, e isso lhes inspirará confiança. Podem ser controladas pelo amor, sem que haja a necessidade de segui-las em suas refeições e em seus entretenimentos com rigorosa e inflexível severidade. T5 653 3 Os que jamais tiveram os próprios filhos -- permita-se-me dizer aqui -- não são em geral os mais qualificados para de modo sábio cuidar das mentes diversificadas de crianças e jovens. Eles são aptos para fazer uma lei da qual não pode haver apelação. Devem os professores ter em mente que eles mesmos já foram crianças um dia. Devem adaptar os seus ensinos à mente das crianças, pondo-se eles próprios em simpatia com elas; então podem as crianças ser instruídas e beneficiadas tanto por preceito como por exemplo. T5 654 1 Que o espírito de Jesus venha moldar seu coração, burilar seu caráter, para elevar e enobrecer sua alma! Cristo disse aos discípulos: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus." Mateus 18:3. É preciso deixar de lado algumas regras de ferro, dobrar um pouco a espinha e ficar no nível da humildade da criança. Oh, se um pouco do espírito de severidade gratuita fosse trocado pelo espírito do amor, quanta felicidade e alegria tomariam o lugar do desânimo e do senso de culpa! ------------------------Capítulo 81 -- Natureza e influência dos testemunhos T5 654 2 À medida que o fim se aproxima e há um contínuo crescimento da obra que tem por objetivo transmitir ao mundo a última advertência, torna-se mais importante para os que abraçaram a verdade possuir uma compreensão clara da natureza e da influência dos Testemunhos que Deus, em Sua providência, vinculou à obra da terceira mensagem angélica desde a sua origem. Nas páginas seguintes, serão apresentados trechos do que escrevi durante os últimos quarenta anos com relação à minha própria experiência inicial nesta obra especial e o que Deus me tem revelado, quanto à natureza e importância dos Testemunhos, a maneira como foram dados e a atenção que devem receber. T5 654 3 "Não muito tempo depois da passagem do tempo em 1844, foi-me concedida a primeira visão. Estava em Portland, em visita a uma querida irmã em Cristo, cujo coração estava enlaçado ao meu. Cinco de nós, todas mulheres, estávamos ajoelhadas silenciosamente no culto familiar. Enquanto estávamos orando, o poder de Deus me sobreveio como nunca o havia sentido antes. Parecia estar cercada de luz, e achar-me subindo mais e mais alto da Terra."1 Nessa ocasião tive uma visão da experiência dos crentes adventistas, da vinda de Cristo e do galardão destinado aos fiéis. T5 655 1 "Em minha segunda visão, cerca de uma semana depois da primeira, o Senhor me apresentou uma perspectiva das provas por que eu iria passar, e disse-me que eu deveria relatar a outros o que Ele me havia revelado. Foi-me mostrado que meus trabalhos encontrariam grande oposição, e meu coração seria ferido pela angústia; mas a graça de Deus seria suficiente para amparar-me em tudo. Fiquei imensamente perturbada com o assunto dessa visão, pois ela indicava o meu dever de ir entre o povo e apresentar a verdade." T5 655 2 "Oprimia-me o grande receio de que, se eu obedecesse ao chamado do dever e fosse declarar-me favorecida do Altíssimo com visões e revelações para o povo, pudesse entregar-me à exaltação pecaminosa, e elevar-me acima da posição que me cumpria ocupar, bem como trazer sobre mim o desagrado de Deus e perder a própria alma. Eu sabia de casos tais, e meu coração recuava ante a severa prova. T5 655 3 "Supliquei então que, se eu devesse relatar o que o Senhor me mostrara, fosse preservada de exaltação. Disse o anjo: 'Suas orações são ouvidas e serão atendidas. Se esse mal que você receia a ameaçar, a mão de Deus estará estendida para salvá-la; por meio de aflições Ele a trará a Si, e preservará sua humildade. Apresente a mensagem fielmente; resista até ao fim, e você comerá do fruto da árvore da vida e beberá da água da vida.'"2 T5 655 4 Por esse tempo o fanatismo se apoderara de alguns dentre os que tinham abraçado a primeira mensagem. Sustentavam-se graves erros de doutrina e de prática religiosa, e alguns estavam prontos a condenar fosse quem fosse que não partilhasse o seu modo de ver. Esses erros me foram revelados em visão, enviando-me o Senhor a esses filhos desviados para que lhos declarasse; no desempenho dessa missão, porém, defrontei dura oposição e rijas acusações. T5 656 1 "Era muito penoso para mim relatar aos que erravam o que me havia sido mostrado concernente a eles. Causava-me grande angústia ver outros perturbados ou entristecidos. E, sendo obrigada a declarar as mensagens, queria muitas vezes abrandá-las e fazê-las parecer tão favoráveis às pessoas quanto eu podia, e então ficava a sós e chorava em agonia de espírito. Eu olhava àqueles que pareciam ter apenas a si mesmos para cuidar, e achava que, se estivesse em sua situação, não murmuraria. Era penoso descrever os testemunhos claros e incisivos a mim apresentados por Deus. Ansiosamente aguardava o resultado; e, se as pessoas reprovadas se rebelavam contra a reprovação, e mais tarde se opunham à verdade, eu me perguntava: Terei eu apresentado a mensagem exatamente como devia? Não haveria algum meio de as salvar? E então me oprimia o coração uma angústia tal que muitas vezes achava que a morte seria um bem-vindo mensageiro e a sepultura um suave lugar de descanso. T5 656 2 "Não compreendia o perigo e pecado de tal procedimento, até que em visão fui levada à presença de Jesus. Ele me olhou com o semblante carregado, e desviou o rosto de mim. Não é possível descrever o terror e a agonia que então senti. Prostrei-me sobre o rosto diante dEle, mas não tinha ânimo para proferir uma palavra. Oh, quanto eu desejava ocultar-me e esconder-me daquela terrível expressão sombria! Pude compreender então até certo ponto quais serão os sentimentos dos perdidos, quando clamarem às montanhas e às rochas: 'Caí sobre nós, e escondei-nos da face dAquele que está assentado no trono, e da ira do Cordeiro.' Apocalipse 6:16. T5 656 3 "Imediatamente um anjo me mandou levantar, e o quadro que meus olhos viram dificilmente poderá ser descrito. Diante de mim havia uma multidão, de cabelos desgrenhados e vestes despedaçadas, e cujo rosto era a própria expressão do desespero e terror. Achegaram-se a mim, e roçaram suas vestes nas minhas. Quando olhei às minhas vestes, vi que estavam manchadas de sangue. De novo caí como morta aos pés do meu anjo assistente. Não podia alegar uma desculpa, e desejava estar fora daquele santo lugar. O anjo me pôs de pé, e disse: "Este não é o seu estado agora; mas esta cena lhe foi apresentada para que você saiba qual será sua situação, se negligenciar declarar a outros o que o Senhor lhe revelou."1 Com essa solene advertência bem clara para mim, saí para falar ao povo as palavras de reprovação e ensinamento que o Senhor me comunicara. Testemunhos individuais T5 657 1 As mensagens que me foram comunicadas para indivíduos, eu as tenho às vezes lançado sobre papel, fazendo-o quase sempre por insistente pedido das pessoas a quem diziam respeito. À medida que o meu trabalho se estendia, isso se tornou uma parte considerável e laboriosa das minhas ocupações. Antes da publicação do Testemunho n 15, numerosos pedidos me foram dirigidos por parte de pessoas que eu aconselhara e repreendera, para dar-lhes esses testemunhos por escrito; sentia-me, porém, de tal forma prostrada em virtude de trabalhos exaustivos, que recuei diante da tarefa, tanto mais que sabia que muitas dessas pessoas eram absolutamente indignas, e que pouca esperança havia de que as advertências recebidas operassem nelas uma mudança decisiva. Nesse tempo recebi grande animação do seguinte sonho que tive: T5 657 2 "Alguém me trouxe uma peça de tecido branco e me incumbiu de cortar dele vestes para pessoas de todos os tamanhos, de todas as condições de vida e de todas as modalidades de caráter. Foi-me ordenado que as cortasse e as deixasse preparadas para serem feitas, quando solicitadas. Tive a impressão de que muitos daqueles para os quais fora incumbida de cortar vestes não as mereciam. Indaguei então se essa era a última peça de tecido que tinha a cortar, ao que me foi respondido que não; que tão depressa houvesse acabado essa, haveria ainda outras para cortar. Senti-me desanimar ante o acúmulo de trabalho que vi diante de mim; verifiquei que estivera empenhada em talhar vestes para outros durante mais de vinte anos e que o meu trabalho não fora apreciado; também não podia ver que houvesse sido de grande benefício. Falei então à pessoa que me trouxera os tecidos, aludindo particularmente a uma mulher, para a qual tinha sido incumbida de cortar uma veste. Observei-lhe que ela não saberia apreciar a veste e que presenteá-la com a mesma seria perder tempo e tecido. Era muito pobre, de pouca cultura, desordenada nos hábitos, de sorte que havia de sujá-la muito breve. T5 658 1 "A pessoa respondeu-me: 'Corte as vestes. É esse o seu dever. O prejuízo não é seu senão meu. 'O Senhor não vê como vê o homem.' 1 Samuel 16:7. Ele distribui o trabalho que deseja ver feito, e 'tu não sabes qual prosperará' (Eclesiastes 11:6), se este ou aquele... T5 658 2 "Levantei então minhas mãos, calejadas como estavam do longo uso das tesouras, e ponderei-lhe que não podia reprimir um sentimento de contrariedade ante a idéia de ter de continuar esse gênero de trabalho. O meu interlocutor respondeu-me: T5 658 3 "'Corte as vestes. Ainda não é tempo de você ser disso dispensada.' T5 658 4 "Com uma sensação de invencível fadiga levantei-me para recomeçar o trabalho. Diante de mim estavam algumas tesouras novas, perfeitamente afiadas, com as quais me pus a trabalhar. Imediatamente senti desaparecer todo o cansaço e desalento; as tesouras pareciam cortar sem que fosse necessário maior esforço da minha parte, e talhava vestes e mais vestes com relativa facilidade."1 T5 658 5 Há muitos sonhos que derivam dos fatos ordinários da vida, e com os quais o Espírito de Deus nada tem que ver. "Há também falsos sonhos, bem como falsas visões que são inspirados por Satanás. Mas os sonhos provenientes do Senhor estão classificados na Palavra de Deus juntamente com as visões, e são tão verdadeiramente frutos do espírito de profecia como as visões. Tais sonhos, levando-se em conta as pessoas que os têm e as circunstâncias sob as quais foram dados, contêm suas próprias provas de genuinidade."2 T5 658 6 Visto as advertências e instruções ministradas por meio de testemunhos a casos individuais se aplicarem com igual propriedade a muitos outros que não foram neles especialmente mencionados, pareceu-me um dever publicar esses testemunhos individuais em benefício da igreja. No Testemunho n 15, falando da necessidade de assim proceder, disse: "E eu não conheço maneira melhor de apresentar meus pontos de vista sobre os perigos gerais e os erros, e o dever de todos os que amam a Deus e guardam Seus mandamentos, do que pela publicação destes testemunhos. Talvez não haja meio mais direto e eficaz de tornar público o que o Senhor me tem mostrado."1 T5 659 1 Numa visão que tive a 12 de Junho de 1868, foi-me revelado o que plenamente justificava o meu ato de publicar também testemunhos individuais. "Quando o Senhor discrimina casos particulares, especificando os seus erros, outros, que não foram mostrados em visão, freqüentemente os admitem como exatos, ou aproximadamente semelhantes. Se alguém é repreendido por alguma falta especial, os irmãos e irmãs devem examinar cuidadosamente a si mesmos e indagar em que eles próprios têm faltado, e em que se têm feito culpados de idêntico pecado. Devem manifestar um espírito de humilde confissão. Se alguém supõe estar correto, isto não decide seu caso. Deus "olha para o coração". 1 Samuel 16:7. Desse modo, Ele experimenta e prova as pessoas. Ao repreender os erros de alguém, Ele pretende corrigir a muitos. Se estes, porém, deixam de tomar para si a repreensão, lisonjeando-se de que Deus passa por alto os seus erros porque não os aponta individualmente, enganam a si mesmos e se afundam em trevas, sendo abandonados aos próprios caminhos para seguirem "as imaginações de seu coração". Salmos 73:7. T5 659 2 "Muitos não usam de sinceridade consigo mesmos e estão laborando em grande erro quanto sua legítima condição diante de Deus. Deus Se serve de caminhos e meios que melhor satisfazem a Seu propósito, para provar o que há no coração de Seus professos seguidores. Ele torna patentes as faltas de uns, para que outros se dêem por avisados e temam, procurando evitá-las. Pelo exame de si mesmos, podem ver que estão fazendo as mesmas coisas que Deus condena em outros. Se desejam realmente servir a Deus e temem ofendê-Lo, não hão de esperar que primeiro lhes sejam notificados os seus pecados antes que os confessem, mas tornar-se-ão ao Senhor humildemente arrependidos, renunciando aquelas coisas que desagradam a Deus, de conformidade com a luz que outros receberam. Se, pelo contrário, aqueles que estão em faltas vêem que são culpados dos mesmos pecados reprovados em outros, mas contudo continuam a não manifestar nenhum arrependimento, simplesmente porque esses pecados não lhes foram especialmente notificados, correm perigo, subjugados por Satanás à vontade dele."1 T5 660 1 "Vi que, na sabedoria de Deus, os erros e pecados de todos não seriam revelados. ... Todos os culpados são igualmente visados por esses testemunhos individuais, embora seus nomes não estejam neles expressamente mencionados; e se tais indivíduos passam por alto e encobrem os próprios pecados porque seus nomes não foram especificamente citados, não serão prosperados por Deus. Não poderão progredir na vida espiritual, mas se aprofundarão cada vez mais nas trevas, até que a luz do Céu seja deles completamente retirada."2 T5 660 2 Numa visão que tive há uns vinte anos [1871], "fui instruída a destacar alguns princípios gerais, oralmente e por escrito, e ao mesmo tempo especificar os perigos, erros e pecados de alguns indivíduos, para que todos fossem advertidos, reprovados e aconselhados. Vi que todos devem fazer um exame minucioso de sua consciência para saber se não têm cometido os mesmos erros pelos quais outros foram repreendidos, e se as advertências feitas a outros não se aplicam também ao seu caso. Em caso afirmativo, devem sentir que esses conselhos e repreensões foram dados também a eles, e fazer deles uma aplicação tão prática como se estivessem sido dirigidos especialmente a eles. ... Deus intenta provar a fé de todos os que alegam ser seguidores de Cristo. Ele provará a sinceridade das orações de todos aqueles que dizem ser seu sincero desejo conhecer o próprio dever. Ele tornará claro o dever de cada um, dando a todos uma oportunidade de desenvolver o que está dentro do coração."3 Objetivo dos testemunhos T5 661 1 "Nos tempos antigos, Deus falou aos homens pela boca de profetas e apóstolos. Nestes dias, Ele lhes fala por meio dos testemunhos do Seu Espírito. Nunca houve um tempo no qual Deus instruísse Seu povo mais intensamente do que os instrui agora a respeito de Sua vontade e da conduta que deseja que sigam."1 T5 661 2 "O Senhor achou por bem dar-me uma visão das necessidades e erros de Seu povo. Por penoso que me haja sido, tenho exposto fielmente aos ofensores suas faltas e o meio de remediá-las... Assim tem o Espírito de Deus pronunciado advertências e juízos, sem recusar, contudo, a doce promessa da misericórdia. ... T5 661 3 "Os pecadores arrependidos não têm motivo de desesperar-se por lhes serem lembradas suas transgressões e serem advertidos do perigo em que se encontram. Esses próprios esforços em seu favor indicam quanto Deus os ama e deseja salvá-los. Só têm de seguir-Lhe os conselhos e fazer Sua vontade para herdarem a vida eterna. Deus põe os pecados diante de Seu povo errante a fim de que os vejam em toda a sua enormidade à luz da verdade divina. É seu dever então a eles renunciar para sempre." "Caso o povo de Deus reconhecesse Sua maneira de lidar com eles, e Lhe aceitassem os ensinos, encontrariam caminho reto para seus pés, e uma luz para guiá-los por entre as trevas e o desânimo."2 T5 661 4 "Não são feitas aos que erram entre os adventistas do sétimo dia advertências e reprovações porque sua vida seja mais repreensível do que a de professos cristãos das igrejas nominais, ou porque seu exemplo e atos sejam piores do que os dos adventistas que não prestam obediência aos reclamos da lei de Deus; mas porque eles têm grande luz, e porque, pela sua profissão de fé, se colocaram como povo especial, escolhido de Deus, tendo Sua lei escrita no coração. Eles mostram sua lealdade ao Deus do Céu prestando obediência às leis de Seu governo. São representantes de Deus na Terra. Qualquer pecado que neles houver os separa de Deus e, de modo especial, desonra-Lhe o nome, pois dá aos inimigos de Sua santa lei ocasião de reprovar Sua causa e Seu povo, o qual Ele chamou 'a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido', a fim de que eles anunciem 'as virtudes dAquele que ... [os] chamou das trevas para Sua maravilhosa luz'. 1 Pedro 2:9. ... T5 662 1 "Mas o Senhor reprova e corrige o povo que professa guardar Sua lei. Aponta-lhes os pecados e manifesta-lhes a iniqüidade, porque deles deseja separar todo pecado e impiedade, a fim de que aperfeiçoem a santidade em Seu temor... Deus os repreende, reprova e castiga, de modo a serem purificados, santificados, elevados, sendo afinal exaltados a Seu próprio trono."1 T5 662 2 "Tenho verificado os Testemunhos dirigidos aos observadores do sábado, e fiquei pasmada diante da misericórdia de Deus e do Seu cuidado por Seu povo em dar-lhes tantas advertências, apontar-lhes os perigos e apresentar-lhes a posição elevada que deseja ver ocupada por eles. Se eles se conservassem no Seu amor, separando-se totalmente do mundo, Ele faria repousar sobre eles Sua bênção particular e resplandecer a luz divina ao seu redor. A influência deles para o bem se faria sentir em todos os ramos da obra e em todos os campos de evangelização. Se, porém, deixarem de corresponder ao pensamento de Deus, se continuarem a ter uma compreensão tão acanhada do caráter exaltado de Sua obra como tiveram no passado, sua influência e seu exemplo hão de provar-se uma terrível maldição. Eles farão mal e só mal. O sangue de almas preciosas será encontrado em suas vestes. T5 662 3 "Os testemunhos de advertência têm sido repetidos. Eu pergunto: Quem lhes tem dado atenção? Quem tem sido zeloso em arrepender-se de seus pecados e idolatria, prosseguindo fervorosamente para o 'prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus'? Filipenses 3:14. ... Tenho aguardado ansiosamente, esperando que Deus derrame Seu Espírito sobre alguns e os use como instrumentos de justiça para despertar e colocar em ordem Sua igreja. Tenho quase me desesperado ao ver, ano após ano, maior afastamento daquela simplicidade que Deus me mostrou que deve caracterizar a vida de Seus seguidores. Tem havido cada vez menos interesse na causa de Deus e dedicação a ela. Pergunto: Até que ponto aqueles que professam confiança nos Testemunhos têm procurado viver de acordo com a luz concedida através deles? Até que ponto têm considerado as advertências dadas? Até que ponto têm acatado as instruções recebidas?"1 Não para substituir a Bíblia T5 663 1 Que os Testemunhos não foram dados para substituir a Bíblia, se evidencia da seguinte porção de um testemunho publicado em 1876: T5 663 2 "O irmão J confundiria a mente buscando fazer parecer que a luz que Deus tem dado mediante os Testemunhos é uma acréscimo à Palavra de Deus; mas nisso apresenta a questão sob uma falsa luz. Deus tem julgado adequado trazer desse modo à mente de Seu povo a Sua Palavra para lhe dar mais clara compreensão dela."2 "A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido, e pode ser compreendida por todo aquele que sinceramente deseja entendê-la. Mas não obstante isso, alguns, que dizem fazer da Palavra de Deus o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus mais claros ensinos. Então, para que tanto homens como mulheres ficassem sem desculpa, Deus deu testemunhos claros e decisivos a fim de reconduzi-los à Sua Palavra que eles negligenciaram seguir."1 "A Palavra de Deus tem abundância de princípios gerais para a formação de corretos hábitos de vida, e os testemunhos, gerais e pessoais, têm sido planejados para chamar a sua atenção de modo mais especial para esses princípios."2 T5 664 1 Em 3 de Abril de 1871, esse assunto foi-me apresentado num sonho. Pareceu-me estar assistindo a uma importante reunião, a que havia concorrido grande número de pessoas. Muitos estavam inclinados diante de Deus em súplicas fervorosas, parecendo contritos. Insistiam com o Senhor por luz especial. Alguns pareciam estar com o espírito angustiado; seus sentimentos eram intensos e com lágrimas suplicavam em alta voz auxílio e luz. Os nossos mais preeminentes irmãos figuravam nessa impressionante cena. O irmão S estava prostrado no chão, aparentemente muito atribulado. Sua mulher estava sentada no meio de um grupo de insensíveis escarnecedores. Tinha ares de quem dava a entender que votava ao desprezo os que assim se humilhavam. T5 664 2 "Sonhei que o Espírito do Senhor pousou então sobre mim, e que me levantei no meio dos clamores e súplicas e disse: O Espírito do Senhor Deus veio sobre mim. Sinto-me impelida a dizer-lhes que devem começar a trabalhar individualmente por vocês mesmos. Estão olhando para Deus desejosos de que faça por vocês a obra que Ele lhes deu para fazer. Se fizerem aquilo que sabem ser o seu dever, Deus lhes ajudará quando precisarem de auxílio. Deixaram de cumprir o que Deus lhes incumbiu de fazer. Invocam a Deus para que faça o seu trabalho. Se tivessem seguido a luz que Ele lhes deu, Ele teria feito mais luz brilhar sobre vocês; mas já que negligenciam conselhos, advertências e repreensões que lhes foram dados, como podem pretender que Ele lhes dê mais abundante luz e bênçãos somente para negligenciarem e desprezarem? Deus não Se equipara aos homens; dEle não se zomba. T5 664 3 "Tomei a preciosa Bíblia, e agrupei em torno dela os diferentes Testemunhos Para a Igreja, dados ao povo de Deus. Aqui, disse eu, se encontram os casos de quase todos. Os pecados que devem evitar estão neles apontados. Os conselhos que eles buscam podem ser encontrados aqui, apresentados para outros casos que definem situações semelhantes às suas. Deus Se tem agradado de dar-lhes preceito sobre preceito e regra sobre regra. Isaías 28:10. Mas não há muitos entre vocês que sabem realmente o que está contido nos Testemunhos. Vocês não estão familiarizados com as Escrituras. Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição cristã, não necessitariam dos Testemunhos. E porque negligenciaram se familiarizar com o Livro inspirado de Deus, Ele procurou alcançar vocês por meio de testemunhos simples e diretos, chamando a sua atenção para as palavras da inspiração que negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para modelarem a vida de acordo com os seus ensinamentos puros e elevados. T5 665 1 "Por meio dos testemunhos o Senhor Se propõe advertir, repreender e aconselhar Seus filhos, e impressionar-lhes a mente com a importância da verdade de Sua Palavra. Os testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz; e sim a imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram reveladas. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra de Deus, mas poucos de vocês se têm submetido em obediência a essa luz. Não se trata de escavar verdades adicionais; mas pelos Testemunhos Deus tem facilitado a compreensão de importantes verdades já reveladas, e posto estas diante de Seu povo pelo meio que Ele próprio escolheu, a fim de despertar e impressionar com elas a sua mente, para que todos fiquem sem desculpa. T5 665 2 "Orgulho, amor-próprio, egoísmo, ódio, inveja e ciúme obscureceram o poder perceptivo, e a verdade que deveria fazê-los sábios para a salvação perdeu seu poder de cativar e controlar a mente. Os mais essenciais princípios da piedade não são compreendidos, porque não há fome e sede de conhecimento bíblico, pureza de coração e santidade de vida. Os Testemunhos não têm por fim diminuir o valor da Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela as mentes, para que a bela singeleza da verdade possa impressionar a todos. T5 666 1 "Além disso, eu disse: Como a Palavra de Deus se acha circundada por estes livros e folhetos, assim também Deus os circundou com reprovações, conselhos, advertências e encorajamento. Aí estão vocês com o coração angustiado, clamando a Deus por mais luz. Estou autorizada por Deus a declarar-lhes que nenhum raio mais dessa luz há de incidir sobre seu caminho através dos Testemunhos, até que façam uso prático da luz que já lhes foi concedida. O Senhor lhes tem circundado de luz; mas vocês não a têm apreciado, antes a espezinham. Enquanto uns a desprezam, outros a negligenciam ou a seguem indiferentemente. Poucos dispuseram o coração a obedecer a luz que Deus Se agradou dispensar-lhes. T5 666 2 "Alguns que receberam advertências especiais por meio de testemunhos esqueceram-se dentro de poucas semanas das admoestações que lhes foram feitas. A alguns os testemunhos foram várias vezes repetidos; eles, porém, não os consideraram bastante importantes para levá-los a sério. Eles lhes pareceram como loucura. Se tivessem apreciado a luz recebida, teriam evitado prejuízos e provações que vocês consideraram duros e severos. Tinham somente a si próprios para culpar. Acabaram pondo sobre o próprio pescoço um jugo que acharam penoso suportar. Não era esse o jugo que Cristo lhes havia imposto. A solicitude e o amor de Deus tinham sido demonstrados a seu favor; mas seu coração egoísta, maldoso e incrédulo não pôde discernir a Sua misericórdia e bondade. Prosseguiram agindo em sua sabedoria até que, subjugados por provações, perplexos e confusos, ficaram enredados nas ciladas de Satanás. Quando reconhecerem os raios de luz que lhes foram concedidos no passado, então a luz de Deus lhes será aumentada. T5 666 3 "Eu lhes mencionei o antigo Israel. Deus lhes deu a Sua lei, mas eles se recusaram a obedecê-la. Depois lhes deu cerimônias e ordenanças para que, celebrando-as, Deus fosse lembrado. Eram tão propensos a esquecê-Lo e às Suas reivindicações sobre eles, que lhes cumpria conservar desperta a mente de modo a compreenderem o dever de obedecer e honrar a seu Criador. Se tivessem sido obedientes e com amor guardado os mandamentos de Deus, o grande número de cerimônias e ordenanças não teria sido necessário. T5 667 1 "Se o povo que agora professa ser a 'propriedade peculiar' (Êxodo 19:5) de Deus obedecesse a Seus requisitos especificados em Sua Palavra, não haveria necessidade de testemunhos especiais para despertar neles o sentimento do dever e impressioná-los acerca de sua pecaminosidade e do temível risco que correm ao negligenciar obedecer à Palavra de Deus. As consciências têm-se entorpecido porque a luz foi posta de parte, sendo negligenciada e desprezada... T5 667 2 Sonhei que enquanto eu falava o poder de Deus se apossou de mim de maneira extraordinária e fiquei totalmente sem forças, mas não tive nenhuma visão. Imaginei que meu marido se levantou perante o povo e exclamou: "Esse é o maravilhoso poder de Deus. Ele tornou os testemunhos um poderoso meio de alcançar as pessoas, e atuará mais poderosamente por seu intermédio do que tem feito até aqui. Quem estará ao lado do Senhor?" T5 667 3 "Alguém se levantou ao meu lado e disse: 'Deus a suscitou e deu-lhe palavras para dizer ao povo e atingir-lhe o coração, como a nenhuma outra pessoa foram dadas. Ele formulou seus testemunhos para resolver casos que têm necessidade de auxílio. Você deve ficar impassível às zombarias ou escárnio, às acusações e censura. A fim de ser um instrumento especial nas mãos de Deus, importa não se apoiar em ninguém, a não ser somente em Deus, e, como a videira que sobe, entrelaçar nEle as suas gavinhas. Ele a constituiu o meio de comunicar Sua luz ao povo. Você deve diariamente suplicar forças de Deus a fim de fortificar-se, para que sua influência não tolde ou eclipse a luz que Ele permitiu brilhar sobre Seu povo por seu intermédio. É objetivo especial de Satanás impedir que essa luz atinja o povo de Deus, que tanto dela necessita em meio aos perigos destes últimos dias. T5 667 4 "'Seu êxito depende de sua simplicidade. Tão depressa dela se apartar, formulando os testemunhos de modo a acomodá-los à índole das pessoas por eles visadas, o poder a abandonará. Quase tudo nesta época é enganoso e fictício. No mundo há grande quantidade de testemunhos que visam somente agradar e encantar momentaneamente, e exaltar o eu. O seu testemunho tem cunho diferente. Ele atinge os pormenores da vida, impedindo que se extinga a fé vacilante e impressionando o coração dos crentes com a necessidade de fazer resplandecer a sua luz diante do mundo. T5 667 5 "'Deus lhe tem dado os testemunhos para por eles expor aos apostatados e aos pecadores sua verdadeira condição, bem como o imenso prejuízo que estão sofrendo em continuar com uma vida de pecado. Deus lhe confiou isto, revelando-o a você em visão, como não o fez a nenhum outro vivente, e de acordo com a luz que lhe tem dado a considerará responsável. 'Não por força, nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.' Zacarias 4:6. 'Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados.'" Isaías 58:1.1 Mau uso dos testemunhos T5 668 1 Alguns que acreditam nos Testemunhos têm errado em querer impô-los indevidamente a outros. No volume 1, n 8, há um testemunho a esse respeito: "Havia alguns em _____ que eram filhos de Deus, mas duvidavam das visões. Outros havia que não lhes faziam qualquer oposição, contudo não ousavam assumir atitude definida a seu respeito. Alguns eram céticos e tinham motivos suficientes para isso. As falsas visões e práticas fanáticas, bem como as conseqüências desastrosas que delas decorreram, exerceram sobre a causa em Wisconsin uma influência capaz de tornar as pessoas desconfiadas de tudo que se apresentasse com o nome de visões. Todas essas coisas devem ser tomadas em consideração, procedendo-se com sabedoria. Não se deve atribular nem forçar os que nunca tenham visto um indivíduo receber visões, e não possuem um conhecimento pessoal da sua influência. Essas pessoas não devem ser separadas dos benefícios e privilégios de membros da igreja, se no demais a sua vida cristã se prova correta. ... T5 668 2 "Alguns, conforme me foi mostrado, receberiam as visões publicadas, julgando a árvore pelos seus frutos. Outros são como o duvidoso Tomé; não podem crer nos Testemunhos publicados, nem convencer-se deles pelo testemunho de outros, precisando ver e tirar a prova por si mesmos. Esses não devem por isso ser postos de lado, cumprindo tratá-los com paciência e amor fraternal até que tomem posição e tenham opinião definida contra ou a favor deles. Se, porém, começarem a combater as visões de que não têm conhecimento; se levarem a sua oposição ao ponto de opor-se àquilo de que não têm experiência, ... a igreja pode saber que eles não estão certos."1 T5 669 1 "Alguns de nossos irmãos têm tido larga experiência na verdade e por anos estado familiarizados comigo e minha obra. Eles comprovaram a veracidade dos Testemunhos e declararam sua crença neles. Sentiram a poderosa influência do Espírito de Deus sobre si ao testemunhar a legitimidade das visões. Se esses tais, quando reprovados através dos Testemunhos, se insurgirem contra eles e trabalharem secretamente para prejudicar sua influência, devem ser tratados exemplarmente, pois sua atitude pode pôr em perigo os inexperientes."2 T5 669 2 Já o primeiro número dos Testemunhos publicados encerra uma advertência contra a maneira desavisada de usar a luz que Deus desse modo comunicou ao Seu povo.3 Afirmei que alguns não haviam procedido sabiamente. Quando falavam de sua fé aos descrentes e esses lhes exigiam a prova, citavam os meus escritos em vez de fornecer-lhes a prova da Bíblia. Foi-me mostrado que tal procedimento é incoerente, tornando os incrédulos prevenidos contra a verdade. Os Testemunhos não têm qualquer força de prova com os que lhes desconhecem o espírito. Não deveriam ser citados em tais casos. T5 669 3 Outras advertências relativas ao uso dos Testemunhos têm sido dadas de tempos em tempos, como segue: T5 669 4 "Alguns pregadores ficaram bem para trás. Esses professam crer nos testemunhos dados, e alguns agem muito mal fazendo deles uma regra férrea para os que não tiveram qualquer experiência anterior com relação às mensagens, mas fracassam em praticá-los eles mesmos. Repetem testemunhos que são completamente desconsiderados por eles. Sua conduta não é coerente."4 T5 669 5 "Vi que muitos tiram vantagem do que Deus mostrou com respeito aos pecados e erros dos outros. Tiram conclusões extremadas do que me foi mostrado em visão, e usam-nas de tal maneira a enfraquecer a fé de muitos naquilo que Deus tem mostrado, e também desanimam a igreja."1 T5 670 1 O inimigo se prevalecerá de tudo o que puder empregar para destruir. "Testemunhos têm sido apresentados a favor de indivíduos que ocupam posições importantes. Eles começam bem a desempenhar responsabilidades e fazer sua parte na obra de Deus. Mas Satanás os persegue com suas tentações, e eles são afinal vencidos. Quando outros contemplam sua conduta errada, Satanás sugere à mente deles que deve haver um erro nos testemunhos dados a tais pessoas, de outro modo esses homens não se teriam demonstrado indignos de ter uma parte na obra de Deus."2 T5 670 2 Desse modo é suscitada a dúvida com relação à luz que Deus concedeu. "O que pode ser dito das pessoas sob certas circunstâncias não se poderá dizer em outras. Os homens são fracos em poder moral e tão supremamente egoístas, tão auto-suficientes e tão facilmente inchados de presunção, que Deus não pode trabalhar com eles, e são deixados a se mover como cegos e a manifestar tão grande fraqueza e loucura que muitos se admiram que tais indivíduos tivessem jamais sido aceitos e reconhecidos como dignos de ter qualquer ligação com a obra de Deus. Isso é justamente o que Satanás planejara. Esse foi seu objetivo desde o tempo em que a princípio os seduziu a censurar a causa de Deus e a lançar dúvidas sobre os Testemunhos. Tivessem eles ficado onde sua influência não fosse especialmente sentida sobre a causa de Deus, Satanás não os teria assediado tão ferozmente; pois não poderia ter realizado seu propósito, usando-os como seus instrumentos para fazer uma obra especial."3 Pelos seus frutos T5 671 1 Que os Testemunhos sejam julgados pelos seus frutos. Que espírito revelam seus ensinos? Qual tem sido o resultado de sua influência? "Todos os que desejam podem familiarizar-se com os frutos dessas visões. Por dezessete anos o Senhor permitiu que sobrevivessem e se fortalecessem contra a oposição das forças satânicas, e a influência de agentes humanos que auxiliam Satanás em sua obra."1 T5 671 2 "Ou Deus está ensinando Sua igreja, reprovando seus erros e fortalecendo a sua fé, ou não está. Esta obra é de Deus ou não é. Deus nada faz em parceria com Satanás. Meu trabalho, ao longo dos últimos trinta anos, traz o selo de Deus ou o do inimigo. Não há meio-termo nesta questão. Os Testemunhos são do Espírito de Deus ou do diabo."2 T5 671 3 Desde que o Senhor Se tem manifestado pelo Espírito de Profecia, "passado, presente e futuro têm passado perante mim. Tenho antevisto rostos em visão, os quais nunca havia contemplado antes, para depois de muitos anos reconhecê-los prontamente quando em sua presença. Tenho sido despertada de meu sono com um vívido senso de assuntos previamente apresentados, e à meia-noite escrevo cartas que vão cruzar o continente e, nos momentos de crise, salvar de grandes desastres a causa de Deus. Essa tem sido minha obra por muitos anos. Um poder tem me impelido a reprovar e censurar erros dos quais não tinha o menor conhecimento. Esse trabalho dos últimos trinta e seis anos seria de cima ou de baixo?"3 T5 671 4 Cristo advertiu os Seus discípulos: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis." Mateus 7:15-20. Aqui está uma prova que todos podem aplicar à vontade. Os que realmente desejam conhecer a verdade hão de encontrar provas suficientes em que apoiar sua fé. Duvidando dos testemunhos T5 672 1 "É plano de Satanás enfraquecer a fé do povo de Deus nos Testemunhos." "Satanás sabe fazer seus ataques. Ele trabalha na mente das pessoas para despertar ciúmes e descontentamento com relação aos dirigentes da obra. Os dons são logo questionados, atribui-se-lhes pequeno valor e a instrução dada mediante a visão é desconsiderada." "Em seguida vem o ceticismo no tocante aos pontos vitais de nossa fé, as colunas de nossa posição, depois as dúvidas acerca das Escrituras Sagradas, e então a caminhada descendente para a perdição. Quando os Testemunhos, nos quais se acreditava anteriormente, são postos em dúvida e rejeitados, Satanás sabe que as pessoas enganadas não pararão aí; e ele redobra seus esforços até lançá-las em rebelião aberta, a qual se torna irremediável e termina em destruição."1 "Dando lugar a dúvidas e descrença com relação à obra de Deus, e acariciando sentimentos de desconfiança e cruel inveja, estão se preparando para uma decepção total. Levantam-se com sentimentos amargos contra aqueles que ousam falar de seus erros e reprovar seus pecados."2 T5 672 2 Um testemunho dirigido a alguns moços, e publicado pela primeira vez em 1880, refere-se a esse ponto nos seguintes termos: "Um predominante ceticismo está continuamente aumentando com referência aos Testemunhos do Espírito de Deus; e esses jovens encorajam questionamentos e dúvidas em vez de removê-los, porque ignoram o espírito, poder e força dos Testemunhos."3 T5 672 3 Foi-me mostrado que muitos estão tão necessitados de espiritualidade que não compreendem o valor dos Testemunhos ou o seu real objetivo. Conversam voluvelmente acerca dos Testemunhos dados por Deus em benefício de Seu povo, exercem o juízo sobre os mesmos, dando a sua opinião acerca deles e criticando ora isto ora aquilo, quando fariam melhor em pôr a mão sobre os lábios e prostrar-se no pó. Não conseguem apreciar o espírito dos Testemunhos por conhecerem muito pouco o Espírito de Deus.1 T5 673 1 "Há alguns em _____ que nunca se submeteram plenamente à reprovação. Eles tomaram um rumo de sua própria escolha. Têm sempre em maior ou menor grau exercido influência contra aqueles que se levantam para defender o direito e reprovar o erro. A influência dessas pessoas sobre indivíduos que aqui vêm e que são postos em contato com elas... é muito má. Elas enchem a mente desses recém-chegados com questionamentos e dúvidas a respeito dos Testemunhos do Espírito de Deus. Dão falsas interpretações aos Testemunhos; e em vez de levar pessoas a se tornarem consagradas a Deus, e ouvirem a voz da igreja, ensinam-nas a serem independentes, e não se preocuparem com as opiniões e julgamento dos outros. A influência dessa classe tem estado secretamente em atuação. Alguns não têm noção do prejuízo que estão causando; mas, sendo sem consagração, orgulhosos e rebeldes, conduzem outros no caminho errado. Uma atmosfera venenosa é respirada por esses indivíduos não consagrados. O sangue das almas está nas vestes deles, e Cristo lhes dirá no dia do acerto final: 'Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.' Mateus 7:23. Eles ficarão espantados; mas sua professa vida cristã foi um engano, uma fraude."2 T5 673 2 "Alguns expressam sua opinião que o testemunho da irmã White não é digno de confiança. Isso é tudo o que algumas pessoas não consagradas desejam. Os testemunhos de reprovação têm frustrado sua vaidade e orgulho; mas se elas se atrevessem, iriam ao limite na moda e no orgulho. Deus dará a todos estes uma oportunidade de se revelarem e de desenvolver seu verdadeiro caráter."3 T5 674 1 "Vi que a razão por que as visões não têm sido mais freqüentes nos últimos tempos é que não têm sido apreciadas pela igreja. A igreja quase perdeu sua espiritualidade e fé, e as reprovações e advertências não têm exercido sobre os membros senão um pequeno efeito. Muitos dos que têm professado ter fé nelas não as têm atendido."1 T5 674 2 "Se você perder a confiança nos Testemunhos, cairá das verdades da Bíblia. Tenho temido que muitos assumiriam uma atitude questionadora, duvidosa, e em minha aflição por sua salvação, quero adverti-lo. Quantos atenderão à advertência? De acordo com sua atitude atual para com os Testemunhos, porventura no caso de lhe ser dado um testemunho contrário a seu pensar, corrigindo seus erros, você se sentirá na perfeita liberdade de aceitar ou rejeitar qualquer parte, ou todo ele? Aquilo que menos inclinado se acha a receber pode ser justamente a parte mais necessária."2 T5 674 3 "Meus irmãos, acautelem-se contra um coração incrédulo e maligno. A Palavra de Deus é clara e minuciosa em suas restrições; ela se opõe à sua condescendência egoísta; por isso, vocês não lhe obedecem. Os Testemunhos de Seu Espírito chamam a atenção para as Escrituras, apontando-lhes seus defeitos de caráter e repreendendo seus pecados; por essa razão vocês não os ouvem. E, para justificar sua conduta carnal e amante de facilidades, vocês duvidam que os Testemunhos provenham de Deus. Se os irmãos obedecessem a seus ensinos, estariam certos de sua origem divina. Lembrem-se: a incredulidade de vocês não afeta a sua autenticidade. Se eles são de Deus, permanecerão."3 T5 674 4 "Foi-me mostrado que a incredulidade nos testemunhos de advertência, animação e reprovação está afugentando a luz do povo de Deus. A incredulidade fecha-lhes os olhos, de modo que se acham ignorantes de sua verdadeira condição." "Pensam que não é necessário o testemunho do Espírito de Deus em reprovação, ou que não se refere a eles. Esses estão na maior necessidade da graça de Deus e de discernimento espiritual, para que descubram sua deficiência no conhecimento das coisas do espírito."1 T5 675 1 "Muitos que apostataram da verdade atribuem como razão para o seu modo de agir o não terem fé nos Testemunhos. ... A questão agora é: Renunciarão eles a seu ídolo que Deus condena, ou continuarão em seu errôneo caminho de indulgência, e rejeitarão a luz que Deus lhes tem dado, reprovando as próprias coisas em que se deleitam? A questão a ser estabelecida com eles é: Negarei a mim mesmo e receberei como de Deus os Testemunhos porque eles reprovam os meus pecados? T5 675 2 "Em muitos casos, os Testemunhos são plenamente recebidos, o pecado e a condescendência eliminados, e a reforma imediatamente começa em harmonia com a luz que Deus concedeu. Noutros casos, condescendências pecaminosas são mantidas, os Testemunhos rejeitados, apresentando-se aos outros muitas falsas desculpas para justificar a recusa. O verdadeiro motivo não é revelado. É uma falta de coragem moral, de uma vontade fortalecida e dirigida pelo Espírito de Deus para renunciar a hábitos prejudiciais."2 T5 675 3 "Satanás tem a habilidade de sugerir dúvidas e inventar objeções ao testemunho que Deus envia, e muitos consideram uma virtude e indício de inteligência o mostrar-se incrédulo, questionar e contrafazer. Os que querem duvidar têm suficiente oportunidade para isso. Deus não Se propõe fazer desaparecer toda ocasião para a incredulidade. Apresenta evidências que precisam ser cuidadosamente verificadas com espírito humilde e suscetível ao ensino; e todos devem julgar pela força dessas mesmas evidências."3 "Deus oferece suficiente evidência para a mente sincera crer; mas aquele que se desvia do peso da evidência porque há umas poucas coisas que não podem tornar claras à sua compreensão finita será deixado na atmosfera fria e insensível da descrença e das dúvidas questionadoras e naufragará na fé."1 A tarefa de corrigir T5 676 1 "Se há erros claros entre Seu povo, e os servos de Deus continuam em frente, indiferentes a isso, estão por assim dizer apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado. Foram-me mostrados em visão muitos casos em que o desagrado de Deus foi atraído por negligência da parte de Seus servos quanto a tratar dos erros e pecados existentes entre eles. Os que passaram por alto esses erros têm sido considerados pelo povo muito amáveis e de disposição benigna simplesmente por haverem eles recuado do desempenho de um claro dever escriturístico. Essa tarefa não agradava a seus sentimentos; portanto, eles a evitaram."2 T5 676 2 O perscrutador Espírito de Deus "vai separar de Israel aqueles que já estiveram em guerra com os meios que Deus ordenou para manter a corrupção fora da igreja. Erros precisam ser chamados erros. Pecados graves precisam ser chamados por seu nome exato. Todo o povo de Deus devia achegar-se mais perto dEle. ... Então verão o pecado na luz verdadeira e reconhecerão quão ofensivo é à vista de Deus."3 "O testemunho claro e direto precisa viver na igreja, ou a maldição de Deus repousará sobre Seu povo tão certamente como repousou sobre o antigo Israel por causa de seus pecados."4 T5 676 3 "Nunca houve maior necessidade de fiéis advertências, reprovações e um tratamento íntimo e direto do que neste tempo. Satanás desceu com grande poder, 'sabendo que... tem pouco tempo'. Apocalipse 12:12. Ele está inundando o mundo com fábulas agradáveis, e o povo de Deus gosta que se lhes fale coisas lisonjeiras. ... Foi-me mostrado que o povo de Deus precisa fazer esforços mais firmes e resolutos para repelir a escuridão que está tomando conta. O trabalho rigoroso do Espírito de Deus é necessário agora como nunca antes."1 T5 677 1 Quando na minha juventude aceitei a obra que me foi confiada por Deus, também recebi a promessa de que teria especial ajuda do poderoso Auxiliador. Nessa ocasião, recebi o solene encargo de apresentar fielmente a mensagem do Senhor, sem fazer diferença entre amigos e inimigos. Deus não discrimina pessoas. Lidando com ricos ou pobres, pessoas bem ou mal conceituadas, cultas ou ignorantes, o mensageiro do Senhor não pode trair o seu sagrado dever. T5 677 2 "Que ninguém entretenha o pensamento de que eu lastimo ou me retrate de qualquer claro testemunho dado a indivíduos ou povo. Se eu errei de alguma forma, foi em não repreender mais firme e decididamente o pecado. Alguns irmãos assumiram a responsabilidade de criticar meu trabalho e propor um meio mais fácil de corrigir os erros. Gostaria de dizer a essas pessoas que prefiro o caminho de Deus e não o delas. O que eu disse ou escrevi em testemunho ou reprovação não tem sido expresso corretamente. ... T5 677 3 "Os que querem, de algum modo, amenizar a força das agudas reprovações que Deus me deu para transmitir haverão de enfrentar sua obra no Juízo. ... Àqueles que se sentem na responsabilidade de me censurar e, em seu finito julgamento, propor-me uma conduta que lhes pareça mais sábia, repito: não concordo com sua atitude. Deixem-me em paz em meu relacionamento com Deus e permitam que Ele me ensine. Receberei as palavras do Senhor e as comunicarei ao povo. Não espero que todos aceitem a reprovação e reformem sua vida, mas devo desempenhar meu dever fielmente. Andarei em humildade diante de Deus, fazendo meu trabalho para o tempo e a eternidade. T5 677 4 "O Senhor não confiou a meus irmãos a obra que me deu para fazer. Alguns têm reclamado que minha maneira de dar reprovação em público leva outros a serem críticos, cortantes e severos. Se esses assumem a responsabilidade que Deus não depôs sobre eles; se desrespeitam as instruções que Ele seguidamente lhes deu através do humilde instrumento de Sua escolha, a fim de torná-los bondosos, pacientes e indulgentes, somente eles responderão pelos resultados. Com o coração carregado de tristeza, tenho desempenhado meu desagradável dever com meus mais caros amigos, não ousando agradar a mim mesma por reter a reprovação, mesmo quando dirigida a meu marido. Não serei menos fiel em advertir a outros, quer ouçam ou não. Quando estou falando ao povo, digo muita coisa que de forma alguma premeditei. O Espírito do Senhor freqüentemente vem sobre mim. Parece-me que sou levada para fora de mim mesma e a vida e o caráter de diferentes pessoas me são claramente apresentados. Vejo seus erros e perigos que correm. Sinto-me então compelida a falar do que me tem sido mostrado. Não ouso resistir ao Espírito de Deus."1 Rejeitando a correção T5 678 1 "Muitos atualmente desprezam a fiel reprovação que Deus lhes envia pelos testemunhos. Foi-me mostrado que alguns chegaram mesmo a ponto de queimar as palavras escritas de reprovação e advertência, como fez o ímpio rei de Israel. Mas a oposição às ameaças de Deus não impede que elas se cumpram. Desprezar as palavras do Senhor, transmitidas por Seus instrumentos escolhidos, só Lhe provocará a ira, causando finalmente a ruína certa aos ofensores. A indignação freqüentemente se acende no coração dos pecadores contra o agente que Deus escolheu para transmitir Suas reprovações. Isto em todo o tempo foi assim, e existe hoje o mesmo espírito que perseguiu e encarcerou a Jeremias por obedecer à Palavra do Senhor."2 T5 678 2 Desde o início do meu trabalho, fui chamada a dar um testemunho direto e claro, a reprovar erros e não omitir nada de ninguém. Mas sempre tem havido aqueles que se opõem ao meu testemunho, e continuam a dizer palavras agradáveis, rebocando com argamassa fraca, e destruindo a influência do meu trabalho. O Senhor prometeu me guiar ao enfrentar a oposição, e então indivíduos iriam se colocar entre mim e o povo para tornar o meu testemunho de nenhum efeito. T5 679 1 "Em quase todo caso em que se faz necessária a reprovação, haverá alguns que deixarão de considerar que o Espírito do Senhor foi ofendido, Sua causa injuriada. Esses se condoerão dos que mereceram a censura, por terem sido magoados sentimentos pessoais. Toda essa não santificada compaixão torna os que a manifestam participantes da culpa da pessoa reprovada. Em nove casos de dez, fosse o que sofreu a repreensão deixado sob o senso de suas culpas, haveria sido ajudado a vê-las, sendo assim reformado. Mas os que de forma intrometida e profana se condoem dão significado totalmente errôneo aos motivos do reprovador, bem como à natureza da repreensão, e assim se condoendo pelo que foi repreendido o levam a achar que foi realmente maltratado; e seus sentimentos se insurgem em rebelião contra uma pessoa que simplesmente cumpriu seu dever. Os que com fidelidade se desempenham de seus penosos deveres, sob o senso da responsabilidade para com Deus, hão de receber-Lhe a bênção."1 T5 679 2 "Há alguns nestes últimos dias que clamarão: 'Dizei-nos coisas aprazíveis, profetiza-nos ilusões.' Isaías 30:10. Este, porém, não é o meu trabalho. Deus me colocou como reprovadora de Seu povo; e tão seguramente como me colocou essa pesada carga, fará aqueles a quem essa mensagem é dada responsáveis pela maneira com que a tratam. 'Deus não Se deixa escarnecer' (Gálatas 6:7), e aqueles que desprezam a Sua obra receberão de acordo com os seus atos. Não escolhi este trabalho desagradável por mim mesma. Não é um trabalho que me proporcione o favor ou o louvor dos homens. É um trabalho que apenas poucos apreciarão. Mas os que buscam tornar o meu trabalho duplamente difícil por suas falsas interpretações, vãs suspeitas e incredulidade, assim criando preconceito na mente de outros contra os Testemunhos que Deus me tem dado, e limitado meu trabalho, têm que acertar esta questão com Deus, enquanto eu avançarei segundo a Providência e meus irmãos abram o caminho perante mim. No nome e na força de meu Redentor eu farei o que posso. ... Meu dever não é satisfazer-me, mas realizar a vontade de meu Pai celestial, que me tem dado este trabalho."1 T5 680 1 Se Deus me deu uma mensagem para transmitir ao Seu povo, aqueles que querem me atrapalhar na obra e enfraquecer a fé das pessoas nessas verdades não estão lutando contra o instrumento, mas contra Deus. "Não é ao instrumento a quem vocês menosprezam e insultam, mas a Deus, que lhes tem dado essas advertências e reprovações."2 "É quase impossível às pessoas oferecer maior insulto a Deus do que desprezando e rejeitando os instrumentos que Ele designou para dirigi-los."3 Negligenciando os testemunhos T5 680 2 Não é só os que abertamente rejeitam os Testemunhos ou os que alimentam dúvidas em relação a eles que estão pisando em terreno perigoso. Desprezar a luz é rejeitá-la. T5 680 3 "Alguns de vocês, em palavras, reconhecem a reprovação; mas não a aceitam de coração. Continuam como antes, somente sendo menos suscetíveis à influência do Espírito de Deus, tornando-se cada vez mais cegos, tendo menos sabedoria, menos domínio próprio, menos poder moral, e menos zelo e entusiasmo pelas atividades religiosas; e a menos que sejam convertidos, deixarão afinal de apegar-se inteiramente a Deus. Não realizaram mudanças decisivas na vida quando veio a reprovação, porque não viram nem perceberam os seus defeitos de caráter e o grande contraste entre a sua vida e a vida de Cristo." "Para que servem suas orações enquanto atendem 'a iniqüidade no coração'? Salmos 66:18. A menos que façam uma mudança completa, não demorará muito tornar-se-ão cansados de reprovação, como se deu com os filhos de Israel; e, à semelhança deles, apostatarão de Deus."4 T5 681 1 "Muitos estão indo diretamente contra a luz que Deus tem dado ao Seu povo, porque não lêem os livros que contêm a luz e o conhecimento em advertências, reprovações e admoestações. Os cuidados do mundo, o amor da moda e a falta de religião têm desviado a atenção da luz que Deus tão graciosamente deu, enquanto livros e periódicos contendo erros estão percorrendo todo o país. O ceticismo e a infidelidade estão aumentando por toda a parte. Luz tão preciosa, procedente do trono de Deus, é escondida sob o alqueire. Deus fará o Seu povo responsável por essa negligência. Um relatório deve ser prestado a Ele por todo raio de luz que tem feito brilhar sobre o nosso caminho, quer seja utilizado para o nosso progresso nas coisas divinas, ou rejeitado porque é mais agradável seguir a inclinação."1 T5 681 2 "Os volumes da série Spirit of Prophecy2, e também os Testemunhos, deviam ser introduzidos em cada lar de observadores do sábado, e os irmãos devem saber o seu valor e serem estimulados a lê-los. Não foi o plano mais sábio colocar esses livros a preço baixo e ter somente uma coleção numa igreja. Eles devem estar na biblioteca de cada família, e serem lidos vez após vez. Que sejam mantidos onde possam ser lidos por muitos."3 T5 681 3 Que os pastores e todo o povo se lembrem de que a verdade do evangelho condena, quando ela não salva. A rejeição da luz coloca as pessoas num cativeiro, prendendo-as com as cadeias das trevas e da descrença. "A pessoa que se recusa a escutar dia a dia os convites da misericórdia, cedo poderá ouvir os mais urgentes apelos sem que uma emoção lhe agite o coração. Como coobreiros de Deus, carecemos de mais fervente piedade, e menos exaltação própria. Quanto mais for exaltado o próprio eu, tanto mais diminuirá a fé nos Testemunhos do Espírito de Deus. ... Os que confiam inteiramente em si mesmos verão cada vez menos de Deus nos Testemunhos de Seu Espírito."4 Como receber uma reprovação T5 682 1 "Os que são repreendidos pelo Espírito de Deus não devem insurgir-se contra o humilde instrumento. É Deus, e não um falível mortal, que falou para salvá-los da ruína."1 Não é agradável para a natureza humana receber reprovação, nem é possível para o coração humano, sem ser iluminado pelo Espírito de Deus, perceber a necessidade da reprovação ou a bênção que vem junto com a correção. Na medida em que o ser humano se rende à tentação e aceita o pecado, sua mente se torna obscurecida. O senso moral fica pervertido. Os avisos da consciência passam a ser desrespeitados e sua voz se torna cada vez menos clara. Ele perde gradualmente a capacidade de distinguir entre o certo e o errado, até o ponto de ficar sem a menor referência de sua situação perante Deus. Pode manter os aspectos formais da religião, conservar zelosamente suas doutrinas, sem o espírito que os caracteriza. Sua condição fica sendo aquela descrita pela Fiel Testemunha: "pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu." Apocalipse 3:17. Quando o Espírito de Deus declara ser essa a sua condição, ele não consegue ver que essa é uma mensagem verdadeira. Tem ele que automaticamente rejeitar a advertência? Não. Deus fornece suficiente evidência para que todos os que desejam possam se satisfazer quanto à natureza dos Testemunhos, e aceitando-os como vindos de Deus, devem naturalmente aceitar a reprovação, ainda que não consigam ver o caráter pecaminoso da vida que levam. Se eles tivessem uma clara noção de sua condição, iriam precisar de reprovação? Pelo fato de não perceberem é que Deus misericordiosamente lhes envia o testemunho, a fim de que tenham chance se arrepender e empreender uma reforma antes que seja tarde demais. "Os que desprezam a advertência serão deixados na cegueira, para iludirem a si mesmos. Mas os que lhe dão ouvidos, empenhando-se zelosamente na obra de afastar de si os seus pecados, a fim de terem as graças necessárias, abrirão a porta do coração para que o querido Salvador entre e com eles habite."2 "Os que se acham mais intimamente ligados a Deus são os que conhecem Sua voz quando Ele lhes fala. Os que são espirituais discernem as coisas espirituais. Esses se sentirão gratos porque o Senhor lhes apontou os erros."1 T5 683 1 "Davi aprendeu sabedoria do trato de Deus para com ele, e curvou-se humildemente sob o castigo do Altíssimo. O quadro fiel de sua verdadeira condição, feito pelo profeta Natã, deu a Davi o conhecimento dos próprios pecados, e ajudou-o a afastá-los de si. Aceitou humildemente o conselho, e humilhou-se diante de Deus. 'A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma', exclama ele." Salmos 19:7.2 T5 683 2 "Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos." Hebreus 12:8. "Nosso Senhor disse: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo." Apocalipse 3:19. "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça." Hebreus 12:11. Por mais amarga que seja a disciplina, ela é escolhida por um Pai amoroso "a fim de sermos participantes da sua santidade". Hebreus 12:10. Distinção imprópria T5 683 3 Alguns adotam o ponto de vista segundo o qual as advertências, admoestações e correções dadas pelo Senhor, por intermédio de Sua serva, não têm maior importância que conselhos e advertências provenientes de outras fontes, a menos que sejam recebidas em visão especial para cada caso, individualmente. Nalguns casos alegou-se que, ao dar testemunhos para igrejas ou indivíduos, eu era influenciada por cartas que recebia de membros da igreja. Alguns chegaram a alegar que testemunhos que se dizem ser do Espírito de Deus eram somente manifestações do meu próprio juízo, baseadas em informações colhidas em fontes humanas. Essa afirmação é absolutamente falsa. Se, todavia, em resposta a alguma pergunta, informação ou consulta de uma igreja ou de indivíduos, um testemunho é escrito, apresentando a luz que Deus me deu a esse respeito, o fato de se haver originado dessa forma de modo algum depõe contra sua validade ou importância. Citarei a propósito um trecho do Testemunho n 31, que trata justamente desse assunto: T5 684 1 "O que ocorreu com o apóstolo Paulo? As novas que recebera através da casa de Cloé com respeito às condições da igreja de Corinto levaram-no a escrever sua primeira carta àquela igreja. Cartas particulares chegavam-lhe às mãos declarando os fatos como eles eram e, em resposta, ele assentava princípios gerais que, se ouvidos, corrigiriam os males existentes. Com grande ternura e sabedoria ele os exortava a que todos falassem as mesmas coisas, e que não houvesse divisões entre eles. T5 684 2 "Paulo era um apóstolo inspirado; contudo, o Senhor não lhe revelava todo o tempo a condição exata de Seu povo. Os que estavam interessados na prosperidade da igreja e que tinham visto males nela penetrando apresentaram o assunto perante ele, e, pela luz que recebera anteriormente, achava-se preparado para julgar o verdadeiro caráter dessas ocorrências. Conquanto o Senhor não lhe houvesse dado uma nova revelação para esse tempo especial, os que estavam realmente buscando luz não rejeitaram sua mensagem como se fosse apenas uma carta comum. Não mesmo. O Senhor lhe mostrara as dificuldades e os perigos que surgiriam nas igrejas, para que quando se manifestassem ele soubesse exatamente como enfrentá-los. T5 684 3 "Paulo recebeu a missão de defender a igreja. Tinha de vigiar pelas almas como alguém que devesse prestar contas a Deus. Não deveria ele, pois, prestar atenção aos relatórios concernentes ao estado de anarquia e divisão em que elas se encontravam? Seguramente! E a reprovação que ele lhes enviou foi escrita sob a mesma inspiração do Espírito de Deus como qualquer de suas epístolas. Mas quando a reprovação chegou, alguns não se sentiram atingidos. Assumiram a posição de que Deus não falara através de Paulo; que ele lhes havia transmitido meramente uma opinião humana, e que seu julgamento tinha tanto mérito quanto o de Paulo. Muitos de nosso povo se afastaram dos velhos marcos e seguiram seu próprio entendimento."1 T5 685 1 Quando nosso povo assume essa atitude, as advertências e conselhos especiais de Deus, dados pelo Espírito de Profecia, não podem ter sobre ele alguma influência no sentido de operar uma reforma da vida e do caráter. O Senhor não dá uma visão especial para enfrentar cada emergência que possa surgir nas diferentes situações de Seu povo com o progredir da obra, mas mostrou-me que Sua maneira de proceder para com a igreja, no passado, foi impressionar o espírito de Seus servos escolhidos com as necessidades e perigos de Sua causa e dos indivíduos, e impor sobre eles o encargo de aconselhar e advertir. T5 685 2 Assim, em muitos casos, Deus me esclareceu quanto a defeitos peculiares de caráter nos membros da igreja, e os perigos daí decorrentes para os indivíduos e para a obra, caso não fossem corrigidos. Em dadas circunstâncias, tendências erradas são suscetíveis de se fortalecerem e arraigarem, acarretando danos à causa de Deus e a ruína de indivíduos. Às vezes, quando perigos especiais ameaçam a causa de Deus ou a pessoas, sou advertida da parte de Deus em sonhos ou visões, sendo tais casos apresentados vivamente ao meu espírito. Ouço então uma voz dizer-me: "Levanta-te e escreve; estas pessoas estão em perigo." Obedeço à direção do Espírito de Deus, e minha pena descreve sua legítima condição. Ao viajar e estar perante o povo, em diferentes lugares, o Espírito do Senhor me lembra os casos a mim antes mostrados, avivando em minha memória as revelações que me foram feitas. T5 685 3 Durante os últimos quarenta e cinco anos, o Senhor tem estado a revelar-me as necessidades de Sua causa, e os casos de indivíduos em todas as fases da experiência humana, mostrando-me onde e como deixaram de aperfeiçoar o caráter cristão. As histórias de centenas de casos se desenrolaram aos meus olhos, sendo-me apresentadas com clareza as coisas que Deus aprova e as que condena. Deus mostrou-me que certo caminho, quando prosseguido, ou certos traços de caráter, quando cultivados, hão de produzir determinados resultados. Desse modo tem estado a preparar-me e disciplinar-me para que possa conhecer os perigos que ameaçam as pessoas e instruir e advertir Seu povo, dando-lhe regra sobre regra e preceito sobre preceito, de sorte a não estar em ignorância quanto aos enganos do diabo, e poder fugir às suas ciladas. T5 686 1 A obra de que o Senhor especialmente me incumbiu é insistir com jovens e idosos, instruídos ou não, para examinarem as Escrituras por si mesmos; fazer sentir a todos que o estudo da Palavra de Deus robustece a inteligência e todas as faculdades do espírito, habilitando-o a resolver problemas difíceis e de grande alcance com relação à verdade; assegurar a todos que o conhecimento perfeito da Bíblia é superior a qualquer outro para tornar o homem aquilo que Deus Se propôs fosse. "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. Com a luz comunicada pelo estudo de Sua Palavra, e com o conhecimento especial que me foi dado de casos individuais entre o Seu povo, sob todas as circunstâncias e em todas as fases da vida, poderia eu laborar ainda na mesma ignorância, na mesma incerteza e cegueira espiritual que ao começo de minha experiência? Quererão meus irmãos sustentar que a irmã White foi uma aluna tão sem inteligência que o seu juízo a esse respeito não é para ser estimado mais agora do que antes de ela entrar para a escola de Cristo, a fim de ser preparada e disciplinada para essa obra especial? Porventura não terei compreensão mais nítida dos deveres e perigos do povo de Deus do que aqueles a quem essas coisas nunca foram apresentadas? Não desonraria meu Mestre com admitir que toda essa luz, todas as manifestações de Seu grande poder em meu trabalho e vida fossem em vão, não tendo logrado educar meu juízo ou tornar-me mais idônea para a Sua obra. T5 686 2 Quando vejo homens e mulheres trilharem o mesmo caminho ou cultivarem os mesmos traços de caráter que puseram em perigo outras pessoas e trouxeram agravo à causa de Deus, e que o Senhor repetidas vezes corrigiu, poderia deixar de alarmar-me com isso? Quando vejo almas tímidas, vergando ao peso do sentimento de suas imperfeições, mas esforçando-se conscienciosamente por cumprir o que Deus declarou ser justo, e sabendo que o Senhor nelas atenta com bondade, em razão de seu sincero empenho, não deveria eu ter palavras de animação e conforto para essas pessoas? Deveria remeter-me ao silêncio, como se não me tivesse sido revelado em visão definida cada caso individualmente? T5 687 1 "Mas, se quando o atalaia vir que vem a espada, não tocar a trombeta, e não for avisado o povo; se a espada vier, e levar uma vida dentre eles, este tal foi levado na sua iniqüidade, mas o seu sangue demandarei da mão do atalaia. A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:6-9. T5 687 2 Num sonho recente fui levada a uma reunião de pessoas, algumas das quais se esforçavam por abafar a impressão de um solene testemunho de advertência que eu lhes transmitira. Diziam: "Acreditamos nos testemunhos da irmã White; quando, porém, nos diz coisas que não lhe foram diretamente reveladas em visão sobre o caso em apreço, suas palavras não têm para nós maior importância do que as de qualquer outra pessoa." Então veio sobre mim o Espírito do Senhor e eu, erguendo-me, repreendi-os em Seu nome. Repeti-lhes em substância o que acima citei com relação ao vigia. "Isto", disse-lhes, "se adapta ao caso de vocês e ao meu." T5 687 3 Se, pois, aqueles a quem estas solenes advertências dizem respeito objetarem: "Isto não é senão a opinião individual da irmã White, prefiro seguir o meu próprio juízo", e continuarem a fazer as mesmas coisas contra as quais foram advertidos, revelarão com isso que desprezam os conselhos divinos, e o resultado será justamente o que o Espírito de Deus me revelou que haveria de ser: agravo à causa de Deus e perdição própria. Alguns, no intuito de garantir melhor a sua própria atitude, apresentarão declarações dos Testemunhos que pensam favorecer a sua opinião, dando-lhes a mais vigorosa interpretação possível; aquilo, porém, que torna suspeita a sua conduta, ou que não se coaduna com o seu modo de ver, denunciam como opinião individual da irmã White, negando-lhe a origem divina e nivelando-o aos seus próprios conceitos. T5 688 1 Se vocês, meus irmãos, que há muitos anos conhecem a mim e ao meu trabalho, entendem que os meus conselhos não são mais para se estimar do que os daqueles que não foram especialmente educados para esta obra, não me peçam mais para cooperar com vocês; porque, assumindo tal atitude, fatalmente estarão neutralizando a influência do meu trabalho. Se julgam que seguir os próprios impulsos seja tão seguro como seguir a luz transmitida pela serva comissionada do Senhor, o risco será seu; serão condenados por rejeitar a luz que lhes foi enviada do Céu. T5 688 2 Estando em _____, o Senhor veio a mim à noite e me encorajou com preciosas palavras de animação quanto à minha obra, repetindo a mesma mensagem que por diversas vezes me dera antes. Relativamente aos que voltaram as costas à luz que lhes foi enviada, disse-me: "Ao menosprezar e rejeitar o testemunho que lhes fiz transmitir, têm desprezado não a ti, mas a Mim, o Senhor." T5 688 3 Se os obstinados e presunçosos prosseguirem impunemente em seu caminho, a que estado será finalmente reduzida a igreja? Como poderão ser corrigidos os erros sustentados por esses teimosos e ambiciosos? Por que meios poderia Deus atingi-los? Como deverá manter a ordem em Sua igreja? Divergências de opinião surgem constantemente, e a igreja freqüentemente é visitada pela apostasia. Quando se suscitam controvérsias e divisões, todas as partes pretendem estar com a razão e agindo sinceramente, recusando ser instruídos pelos que durante muito tempo suportaram o peso do trabalho, e que, como devem perfeitamente saber, foram guiados pelo Senhor. A luz é enviada para desfazer as trevas; porém, em seu excessivo orgulho, a rejeitam, preferindo continuar às escuras. Desprezam os conselhos divinos, porque não correspondem aos seus pontos de vista e intenções, e não aprovam seus maus traços de caráter. A operação do Espírito de Deus, que os poderia ajudar a entrar no bom caminho, se a aceitassem, não se faz de modo a comprazê-los e lisonjear sua justiça própria. Não reconhecem a luz comunicada por Deus, pelo que se deixam ficar nas trevas. Pretendem que não se pode depositar maior confiança no discernimento de alguém que tem tão longa experiência e a quem o Senhor instruiu e usou para fazer uma obra especial do que no de qualquer outra pessoa. É o desígnio divino que assim procedam, ou é isso a operação do inimigo de toda a justiça, a fim de conservar as pessoas em erro e enredá-las com fortes ilusões que não podem ser desfeitas, porque se colocam fora do alcance dos meios que Deus para esse fim estabeleceu em Sua igreja? T5 689 1 Correções, admoestações e repreensões da parte do Senhor têm sido dirigidas a Sua igreja em todas as épocas. Essas advertências foram desprezadas e rejeitadas nos dias de Cristo, pelos fariseus, que eram justos a seus próprios olhos e pretendiam não necessitar de semelhantes admoestações, considerando-se por isso injustamente tratados. Recusaram também receber a Palavra do Senhor, anunciada por Seus servos, por não satisfazer as suas inclinações. Se o Senhor consentisse em dar uma visão em presença dessa classe de gente hoje, apontando-lhes os erros, censurando-lhes a justiça própria e condenando-lhes os pecados, insurgir-se-iam contra ela como os habitantes de Nazaré quando Cristo revelou sua verdadeira condição. T5 689 2 A menos que essas pessoas humilhem o coração diante de Deus, deixando de acolher as sugestões de Satanás, a dúvida e a incredulidade delas se apoderarão, começando a ver tudo por um prisma falso. E uma vez lançada a semente da dúvida em seu coração, terão abundante frutos a colher. Chegarão a ponto de desconfiar e descrer de verdades que são intuitivas e cheias de beleza para os que não se educaram na incredulidade. Os que habituam o espírito a insistir em tudo que se presta para estabelecer uma dúvida, sugerindo-a a outros, sempre terão oportunidade para assim proceder. Meter-se-ão a discutir e criticar tudo que lhes surgir à frente com o desdobrar da verdade, criticando a obra e a atitude de outros, bem como cada ramo da obra de que não fazem parte. Deste modo alimentar-se-ão dos erros, enganos e faltas de outros "até que", como me disse o anjo, "o Senhor Jesus Se levante de Sua obra de mediação no santuário celestial, e, tomando as vestes de vingança, venha a surpreendê-los em seu banquete profano, desprevenidos para as bodas do Cordeiro". O seu gosto está de tal modo pervertido que se inclinariam a criticar até a mesa do Senhor no Seu reino. T5 690 1 Revelou Deus alguma vez a essas pessoas que as repreensões e correções que dEle provém não têm, para elas, a menor importância a não ser que sejam transmitidas por visões diretas? Insisto sobre esse ponto, porque a posição que muitos assumiram a esse respeito é um engano de Satanás, a fim de arruinar almas. Depois de os haver enredado e enfraquecido por seus sofismas a ponto de, quando reprovados, persistirem em tornar de nenhum efeito as operações do Espírito de Deus, seu triunfo sobre eles será completo. T5 690 2 Alguns que professam a justiça hão de, como Judas, entregar seu Senhor nas mãos de seus mais duros adversários. Esses que confiam em si mesmos, resolvidos, como estão, a seguir seu próprio caminho e a defender suas próprias idéias, irão de mal a pior, até estarem prontos a aceitar qualquer proposta, menos a de renunciar à sua própria vontade. Cegamente prosseguirão no caminho do mal e tão enganados a respeito de si mesmos, que, como os fariseus iludidos, imaginam estar fazendo a obra de Deus. Cristo deu a conhecer o caminho por que certa classe havia de tomar quando tivesse oportunidade de desenvolver o seu legítimo caráter: "Até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós." Lucas 21:16. T5 691 1 Deus me concedeu, em conexão com esta obra, uma experiência definida e solene, e podem estar certos de que, enquanto a vida me for poupada, não deixarei de levantar a voz de advertência quando for impelida pelo Espírito de Deus, quer os homens me ouçam quer deixem de ouvir-me. Não sou dotada de nenhuma sabedoria especial; sou apenas um instrumento nas mãos de Deus para fazer a obra que me designou. As instruções que tenho dado pela pena e de viva voz são uma expressão da luz que Deus Se dignou conceder-me. Tentei expor-lhes os princípios que o Espírito de Deus, durante anos, tem estado a imprimir em meu espírito e a escrever em meu coração. T5 691 2 E agora, irmãos, eu os conjuro a que não se interponham entre mim e o povo, desviando dele a luz que Deus lhe deseja dar. Não comprometam, pela crítica, a força, a virtude e a importância dos Testemunhos. Nem imaginem que são capazes de analisá-los de modo a acomodá-los às suas idéias, pretendendo que Deus lhes tenha dado habilidade para discernir o que é luz do Céu e o que é mera sabedoria humana. Se os Testemunhos não falarem de acordo com a Palavra de Deus, podem rejeitá-los. Cristo e Belial não se unem. Por amor de Cristo, parem de confundir o espírito do povo com sofismas e ceticismo, tornando de nenhum efeito a obra que Deus deseja fazer. Não procurem, pela falta de discernimento espiritual, fazer desse método de operação de Deus uma pedra de escândalo pela qual muitos venham a tropeçar e cair, ser enlaçados e presos. ------------------------Capítulo 82 -- Boatos infundados T5 692 1 Muitas vezes durante o inverno [de 1888-1889] passado, ouvi o relato de que na Conferência de Mineápolis "a irmã White viu que o julgamento dos justos mortos havia terminado, e que desde 1844 havia começado para os vivos". Isso não é verdadeiro. Um boato semelhante, que circulou por cerca de dois anos, originou-se deste modo: numa carta escrita na Basiléia, Suíça, para um pastor na Califórnia, fiz uma observação essencialmente como a que se segue: "O Juízo esteve em execução durante 40 anos tratando dos casos dos mortos, e não sabemos quão brevemente passará para os vivos." A carta foi lida para diversas pessoas, e ouvintes descuidosos fizeram referência ao que supuseram ter ouvido. A questão começou por aí. O problema de Minneapolis originou-se da errônea compreensão de alguns de uma citação dessa carta. Não há qualquer outra razão para um boato como esse. T5 692 2 Em segundo lugar, esse relato dizia que um pastor vivo foi visto por mim em visão como estando salvo no reino de Deus, representando assim que sua salvação final estava assegurada. Não há qualquer verdade nessa declaração. A Palavra de Deus descreve as condições de nossa salvação, e está em nosso arbítrio decidir se as atenderemos ou não. T5 692 3 Diz o Revelador: "Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e Comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos." Apocalipse 3:4, 5. T5 692 4 "Mas nós, segundo a Sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Pelo que, amados, aguardando estas coisas, procurai que dEle sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz." 2 Pedro 3:13, 14. T5 693 1 "Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza." 2 Pedro 3:17. "E o Senhor vos aumente e faça crescer em amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco; para confortar o vosso coração, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos." 1 Tessalonicenses 3:12, 13. "Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma." Hebreus 10:38, 39. T5 693 2 Aqui temos a eleição bíblica plenamente afirmada. Aqui está indicado quem será coroado na cidade de Deus e quem não deverá ter parte com os justos. "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na cidade pelas portas." Apocalipse 22:14. T5 693 3 O terceiro boato declara que, na Conferência de Minneapolis, "a irmã White confessou que ela cometeu erros em algumas de suas observações naquele encontro, e manifestou errônea disposição". Essas afirmações também são totalmente infundadas. Não pude deixar de transmitir na Conferência a luz que o Senhor me havia dado. Apresentei-a nas mensagens de advertência e reprovação e em palavras de esperança e fé. Mas nada do que eu disse naquele encontro teve de ser retificado ou confessado estar em erro. Ainda mantenho o mesmo ponto de vista sobre as coisas e tenho a mesma opinião que quando em Minneapolis. Todos os perigos que então vi e que me trouxeram sobrecarga têm evoluído desde aquele encontro. Enquanto me torno mais plenamente familiarizada com a condição de nossas igrejas, vejo que cada advertência dada em Minneapolis foi necessária. T5 693 4 A influência dos relatos procedentes de Minneapolis tenderam a destruir a confiança em todas as reprovações e advertências dadas por meu intermédio ao povo. Quero expor aqui um exemplo disso. T5 694 1 Uma irmã ligada a uma de nossas missões havia sido reprovada por sua má influência sobre os jovens com quem tinha contato. Ela animara um espírito de leviandade, vulgaridade e inconstância que entristeceu o Espírito de Deus e desmoralizou os obreiros. Quando chegou de Minneapolis, através de uma carta, o relatório sobre a conduta equivocada da irmã White, a qual exigiu uma confissão nesse particular, os parentes da irmã T observaram: "Bem, se a irmã White estava errada com relação a assuntos da Conferência de Minneapolis e confessou isso, ela também pode ter cometido erros com relação à mensagem que deu à minha irmã, e pode ter de fazer igualmente confissão." Assim justificaram a malfeitora em sua conduta. Desde aquele tempo, porém, a irmã T reconheceu o erro pelo qual foi reprovada. Aqueles que dão origem e espalham boatos exercem influência no sentido de incentivar os pecadores a rejeitarem a reprovação e colocarem sua salvação em perigo. Que todos os que estão envolvidos nessa tarefa se acautelem a fim de que o sangue dessas pessoas não recaia sobre si no grande dia do julgamento final. T5 694 2 Os casos mencionados servirão para mostrar quão pouca confiança pode ser depositada em boatos referentes ao que fiz ou escrevi. Durante meus trabalhos ligados à obra de Deus, nunca tomei uma atitude para reivindicar minha própria causa ou para contraditar boatos a meu respeito postos em circulação. Fazer isso ocuparia meu tempo e eu negligenciaria a obra que o Senhor me designou. Deixo esses assuntos com Aquele que cuida de Seus servos e Sua causa. T5 694 3 Mas gostaria de dizer a meus irmãos: Tomem cuidado em dar crédito a tais rumores. O Salvador disse a Seus discípulos: "Vede, pois, como ouvis..." Lucas 8:18. E Ele falou de certa classe que ouve mas não entende, a fim de não serem convertidos e curados. Novamente disse: "Vede, pois, como ouvis..." "Quem é de Deus escuta as palavras de Deus." João 8:47. T5 694 4 Os que escutavam as palavras de Cristo ouviam e transmitiam Seus ensinos de acordo com o sentido que havia neles. É exatamente assim com os que ouvem a Palavra de Deus. A maneira de entenderem e receberem a Palavra depende da disposição de seu coração. T5 695 1 Há muitos que dão sua própria interpretação àquilo que ouvem, fazendo com que o pensamento do orador pareça completamente diferente daquilo que ele se esforçou em apresentar. Alguns, ouvindo por meio de seus próprios preconceitos ou predisposições, entendem o assunto como desejam que seja -- como melhor se harmoniza com seus propósitos -- e assim o relatam. Seguindo os impulsos de um coração não santificado, levam para o mal aquilo que, corretamente compreendido, poderia ser instrumento de grande bem. T5 695 2 Uma expressão perfeitamente verdadeira e justa em si mesma pode ser totalmente distorcida por meio de mentes capciosas, descuidosas e indiscretas. Pessoas bem-intencionadas são freqüentemente descuidosas e cometem erros graves e não é nada provável que outros a apresentem sob luz mais favorável. Alguém que não compreendeu claramente aquilo que o orador quis dizer repete uma observação ou afirmativa, dando-lhe seu próprio significado. Isso causa uma impressão sobre o ouvinte moldada de acordo com seus preconceitos e imaginações. Ele a refere a um terceiro, que por sua vez acrescenta um pouco mais e passa-a adiante. E antes que alguns deles estejam cientes do que estão fazendo, atendem ao propósito de Satanás em plantar as sementes da dúvida, do ciúme e da suspeita em muitas mentes. T5 695 3 Quando as pessoas ouvem as mensagens divinas de reprovação, advertência ou encorajamento com seu coração cheio de preconceito, não compreenderão a verdadeira importância daquilo que lhes foi enviado para ser um cheiro de vida para a vida. Satanás está a postos para apresentar-lhes tudo sob falsa luz. Mas a pessoa que está faminta e sedenta do conhecimento divino ouvirá corretamente e obterá as preciosas bênçãos que Deus lhe destinou. Sua mente está sob a influência do Santo Espírito e ela saberá ouvir com acerto. Quando o coração é purificado do egoísmo e egolatria, fica em harmonia com a mensagem que Deus lhe envia. As percepções são avivadas, as sensibilidades enobrecidas. O semelhante aprecia o semelhante. "Quem é de Deus escuta as palavras de Deus." João 8:47. T5 696 1 A todos os que sentem desejo pela verdade, eu gostaria de dizer: Não dêem crédito a relatórios não-autorizados sobre o que a irmã White fez, disse ou escreveu. Se desejam saber o que o Senhor revelou por meio dela, leiam suas publicações. Há alguns pontos de interesse concernentes aos quais ela não escreveu; não apanhem avidamente e veiculem rumores sobre o que ela disse. ------------------------Capítulo 83 -- Falso milagre T5 696 2 Alguns tiveram dificuldade em conciliar a declaração feita em Testemunhos Para a Igreja 1:292, com outra registrada em O Grande Conflito 184. Essas passagens referem-se à ação dos feiticeiros para contrafazer o milagre realizado por Arão, transformando sua vara em serpente. O Testemunho diz: "Os magos não podiam efetuar todos os milagres que Deus operara através de Moisés. Poucos deles poderiam fazer isso. As varas dos magos tornaram-se em serpentes, mas a de Arão as tragou." A última sentença, tornada uma das questões, é substancialmente a mesma feita pela Bíblia: "Pois lançaram cada um a sua vara, e elas se tornaram em serpentes, mas a vara de Arão devorou as varas deles." A afirmação no volume 1 do Conflito é: "Os magos, através de seus encantamentos, aparentavam fazer as mesmas coisas que Deus operara por meio de Moisés e Arão. Eles não fizeram realmente suas varas tornarem-se em serpentes, mas pela mágica e auxiliados pelo grande enganador, fê-las parecer como serpentes para contrafazer a obra de Deus." Essa declaração, em lugar de contradizer a primeira, é-lhe simplesmente explanatória. T5 697 1 Não há, no Testemunho, a plena expressão do pensamento que eu desejava transmitir. Na pág. 293 há uma frase que torna claro esse significado: "Os magos não agiram por sua própria conta e ciência, mas pelo poder de seu deus, o diabo, que engenhosamente realizou sua obra de engano para contrafazer a obra de Deus." Moisés, pelo poder de Deus, transformara sua vara em uma serpente viva. Satanás, através dos mágicos, contrafez esse milagre. Ele não podia criar serpentes vivas, pois não possui o poder de criar ou conceder vida. Esse poder pertence somente a Deus. Mas tudo o que Satanás podia fazer, ele fez -- produzir uma imitação fraudulenta. Seu poder, operando através dos magos, produziu varas com a aparência de serpentes. T5 697 2 A afirmação de que elas se tornaram serpentes simplesmente quer dizer que as aparentaram. Assim creram Faraó e sua corte. Nada havia em sua aparência para distingui-las da serpente produzida por Moisés e Arão. Mas enquanto uma era real, as outras eram imitação. E o Senhor fez com que a serpente viva engolisse as falsas. T5 697 3 Faraó queria justificar sua obstinação resistindo à ordem divina. Ele estava buscando alguma desculpa para desprezar o milagre que Deus operara através de Moisés. Satanás deu-lhe justamente aquilo que ele queria. Agindo através dos magos, Satanás fez parecer que Moisés e Arão eram apenas mágicos e feiticeiros; por isso, eles não eram portadores de uma mensagem vinda de um ser superior. T5 697 4 Mesmo a ação de engolir as falsas serpentes não foi vista por Faraó como uma obra especial do poder de Deus, mas realizada por uma espécie de magia superior à de seus servos. Assim, a contrafação encorajou-o em sua rebelião, induzindo-o a resistir à convicção. T5 698 1 Foi pela exibição de poder sobrenatural, ao fazer da serpente seu médium, que Satanás ocasionou a queda de Adão e Eva no Éden. Antes do fim do tempo, ele operará maravilhas ainda maiores. Ao ampliar seu poder, ele há de realizar verdadeiros milagres. Dizem as Escrituras: "E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse" (Apocalipse 13:14), não meramente os que ele pretende fazer. Esse texto apresenta alguma coisa mais que simples ilusões. Há, porém, um limite além do qual Satanás não pode ir; e aí ele chama em seu auxílio o engano, e falsifica a obra que não tem realmente o poder de efetuar. Nos últimos dias ele se apresentará de tal maneira que faça os homens crerem que ele é Cristo vindo pela segunda vez ao mundo. Ele se transformará na verdade em anjo de luz. Mas ao passo que ostentará em todos os sentidos a aparência de Cristo, até aonde possa chegar a simples aparência, isso não enganará a ninguém senão aos que, como Faraó, estão procurando resistir à verdade. ------------------------Capítulo 84 -- Os mistérios da Bíblia: prova de sua inspiração T5 698 2 "Porventura alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber?" Jó 11:7, 8. "Os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os Céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:8, 9. "Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a Mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam." Isaías 46:9, 10. É impossível para a finita mente humana compreender plenamente o caráter ou as obras do Infinito. Para o intelecto mais perspicaz, para o espírito mais poderoso e mais altamente educado, aquele santo Ser tem de permanecer para sempre envolto em mistério. T5 699 1 O apóstolo Paulo exclama: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!" Romanos 11:33. Mas embora "nuvens e obscuridade" estejam "ao redor dEle; justiça e juízo são a base do Seu trono". Salmos 97:2. Podemos compreender Seu trato conosco, e os motivos que sobre Ele atuam, ao ponto de podermos discernir ilimitado amor e misericórdia unidos a poder infinito. Podemos, de Seus propósitos, compreender o quanto seja para nosso bem saber; e para além disso devemos ainda confiar no poder do Onipotente, no amor e sabedoria do Pai e Soberano de todos. T5 699 2 A Palavra de Deus, como o caráter de seu Autor divino, apresenta mistérios que jamais poderão ser plenamente compreendidos por seres finitos. Dirige nosso espírito ao Criador, que "habita na luz inacessível". 1 Timóteo 6:16. Apresenta-nos Seus propósitos que abrangem todos os séculos da história humana e alcançam seu cumprimento na eternidade. Chama nossa atenção para assuntos de infinita profundidade e importância, relacionados com o governo de Deus e o destino da humanidade. T5 699 3 A entrada do pecado no mundo, a encarnação de Cristo, a regeneração, a ressurreição e muitos outros assuntos apresentados na Bíblia são mistérios demasiado profundos para a mente humana poder explicar, ou mesmo compreender plenamente. Mas Deus nos deu nas Escrituras evidência suficiente quanto ao seu caráter divino, e não devemos duvidar de Sua Palavra por não compreendermos todos os mistérios de Sua providência. T5 699 4 As porções da Escritura Sagrada que apresentam esses grandes temas não devem ser passadas por alto como não tendo utilidade ao homem. Tudo que Deus desejou revelar, devemos aceitar, sob a autoridade de Sua Palavra. Acontece ser apresentada apenas uma simples declaração de fatos, sem explicação quanto aos motivos ou circunstâncias; mas embora não o compreendamos, devemos ter a certeza de ser verdade, porque Deus o disse. Toda a dificuldade está na fraqueza e estreiteza da mente humana. T5 700 1 Diz o apóstolo Pedro que há nas Escrituras "pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, ... para sua própria perdição". 2 Pedro 3:16. As dificuldades da Escritura têm sido pelos céticos insistentemente apresentadas como argumento contra a Bíblia; mas longe disso, constituem forte evidência de sua inspiração divina. Se não contivesse nenhum relato acerca de Deus além do que pudéssemos compreender facilmente; se Sua grandeza e majestade pudessem ser apreendidas por mentes finitas, então a Bíblia não traria as inequívocas credenciais da autoridade divina. A própria grandeza e mistério dos temas apresentados devem inspirar fé na Bíblia como a Palavra de Deus. T5 700 2 A Escritura desvenda a verdade com uma simplicidade e uma tão perfeita adaptação às necessidades e anelos do coração humano, que tem surpreendido e encantado os espíritos mais altamente cultos, ao mesmo tempo que habilita os humildes e iletrados a discernir o caminho da salvação. E, todavia, essas verdades expressas com singeleza tratam de assuntos tão elevados, tão vastos, tão infinitamente para além do poder da compreensão humana, que só os podemos aceitar porque Deus os externou. Assim, o plano da redenção nos é exposto de tal modo que toda alma possa ver os passos que deve dar, em arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de salvar-se pela maneira designada por Deus; entretanto, envoltos nessas verdades tão facilmente compreendidas acham-se mistérios que são o esconderijo de Sua glória -- mistérios que avassalam a mente que os esquadrinha, ao mesmo tempo que inspiram reverência e fé ao pesquisador sincero da verdade. Quanto mais ele estuda a Bíblia, tanto mais profunda é sua convicção de ser ela a Palavra do Deus vivo, e a razão humana inclina-se ante a majestade da revelação divina. T5 700 3 Os que estão dispostos a assim aceitar as Sagradas Escrituras sob a autoridade de Deus são os que são abençoadas com a mais clara luz. Solicitados a explicarem certas declarações, só saberão responder: "Assim é apresentado nas Escrituras." Vêem-se obrigados a reconhecer que não sabem explicar a operação do poder divino ou a manifestação da divina sabedoria. Bem pretendia o Senhor que assim fosse, isto é, que nos víssemos levados a aceitar algumas coisas pela fé tão-somente. Essa é uma forma de demonstrar que a mente finita é incapaz de abranger o infinito; que o homem, com seu conhecimento limitado, humano, não pode compreender os propósitos da Onisciência. T5 701 1 Porque não podem devassar todos os seus mistérios, rejeitam os céticos e descrentes a Palavra de Deus; e nem todos os que professam crer na Bíblia estão seguros contra a tentação nesse ponto. Diz o apóstolo: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo." Hebreus 3:12. Espíritos que têm sido educados em criticar, insistir e duvidar pelo fato de que não podem devassar os propósitos de Deus cairão "no mesmo exemplo de desobediência". Hebreus 4:11. É correto estudar com afinco os ensinos da Bíblia e pesquisar "as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10), até o ponto em que são revelados na Escritura. Ao passo que "as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus", "as reveladas são para nós e para nossos filhos". Deuteronômio 29:29. Mas é obra de Satanás perverter as faculdades investigativas da mente. Mistura-se certo orgulho à consideração da verdade bíblica, de modo que os homens se sentem derrotados e impacientes se não sabem explicar, para sua própria satisfação, todas as porções da Escritura. É-lhes por demais humilhante reconhecer que não compreendem as palavras inspiradas. Estão indispostos a esperar pacientemente até que Deus haja por bem revelar-lhes a verdade. Julgam que sua sabedoria humana, desajudada, seja suficiente para habilitá-los a compreender a Escritura; e, não o conseguindo, negam virtualmente sua autoridade. Verdade é que muitas teorias e doutrinas que o povo supõe serem ensinamentos da Bíblia não têm fundamento na Escritura e são, com efeito, contrárias a todo o teor da inspiração. Essas coisas têm sido causa de dúvida e perplexidade a muitos espíritos. Elas não são, porém, atribuíveis à Palavra de Deus, mas sim à perversão dela por parte do homem. As dificuldades da Bíblia não lançam sombra sobre a sabedoria de Deus e jamais causarão a ruína de qualquer pessoa que não seria destruída se não existissem essas dificuldades. Se não houvesse na Bíblia mistérios para questionarem, elas mesmas, por sua falta de discernimento espiritual, encontrariam causa de tropeço nas mais claras expressões de Deus. T5 702 1 Homens que se imaginam dotados de faculdades mentais tão elevadas a ponto de buscarem explanação para todos os caminhos e obras de Deus procuram exaltar a sabedoria humana à igualdade com a divina, e a glorificar o homem como Deus. Apenas repetem o que Satanás disse a Eva, no Éden: "Sereis como Deus." Gênesis 3:5. Satanás caiu por causa de sua ambição de ser igual a Deus. Desejava participar dos conselhos e propósitos divinos, dos quais foi excluído por sua própria incapacidade, como ser criado que era, de compreender a sabedoria do Infinito Deus. Foi esse orgulho ambicioso que o levou à rebelião, e por esse mesmo meio procura ele causar a ruína do ser humano. T5 702 2 Há no plano da redenção mistérios -- a humilhação do Filho de Deus, o ser achado em forma de homem, o maravilhoso amor e condescendência do Pai ao entregar Seu Filho -- que são para os anjos celestiais motivo de contínuo assombro. O apóstolo Pedro, falando das revelações dadas aos profetas, dos "sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir", diz que para essas coisas "os anjos desejam bem atentar". 1 Pedro 1:11, 12. E isso será o estudo dos remidos através dos séculos eternos. Ao contemplarem a obra de Deus na criação e redenção, novas verdades continuamente se lhes desdobrarão ao espírito surpreso e deleitado. À medida que vão aprendendo mais e mais da sabedoria, amor e poder de Deus, seu espírito se lhes expandirá constantemente, e sua alegria aumentará continuamente. T5 703 1 Se fosse possível aos seres criados alcançarem plena compreensão de Deus e Suas obras, então, tendo alcançado esse ponto, não haveria para eles novas descobertas de verdade, nem crescimento em sabedoria, nem outro desenvolvimento do espírito e do coração. Deus não mais seria supremo; e os homens, tendo atingido os limites do conhecimento e das realizações, deixariam de avançar. Demos graças a Deus por assim não ser. Deus é infinito; nEle "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Colossences 2:3. E por toda a eternidade os homens poderão pesquisar sempre, sempre aprendendo, e no entanto jamais esgotarão os tesouros de Sua sabedoria, Sua bondade e Seu poder. T5 703 2 É desígnio de Deus que, mesmo nesta vida, a verdade seja sempre desvendada a Seu povo. Há unicamente um modo em que esse conhecimento pode ser obtido. Só podemos alcançar a compreensão da Palavra de Deus mediante a iluminação do Espírito pelo qual foi dada a Palavra. "Ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus"; "porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus." 1 Coríntios 2:11, 10. E a promessa do Salvador a Seus discípulos foi: "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; ... porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar." João 16:13, 14. T5 703 3 Deus deseja que o homem exerça suas faculdades de raciocínio; e o estudo da Bíblia fortalecerá e enobrecerá o espírito como nenhum outro estudo o poderá fazer. É o melhor exercício mental e espiritual para a mente humana. Devemos, entretanto, acautelar-nos contra o deificar a razão, que é sujeita às fraquezas e enfermidades da humanidade. Se não quisermos que as Escrituras se envolvam em trevas para nosso entendimento, de modo que as mais claras verdades não sejam compreendidas, temos de ter a simplicidade e a fé de uma criancinha, pronta a aprender, e suplicando o auxílio do Espírito Santo. Uma intuição do poder e sabedoria de Deus, e de nossa incapacidade de compreender Sua grandeza, deve inspirar-nos humildemente, e devemos abrir Sua Palavra como se chegássemos à Sua presença, com santo temor. Quando nos achegamos à Bíblia, a razão deve reconhecer uma autoridade superior a si mesma, e coração e intelecto devem prostrar-se ante o grande EU SOU. T5 704 1 Só avançaremos em verdadeiro conhecimento espiritual à medida que reconhecermos nossa pequenez e nossa completa dependência de Deus; mas todos os que se aproximam da Bíblia com espírito dócil e devoto, para estudar suas expressões como a Palavra de Deus, receberão iluminação divina. Há muitas coisas aparentemente difíceis ou obscuras que Deus tornará claras e simples aos que assim buscarem compreendê-las. T5 704 2 Acontece, às vezes, haver homens de capacidade intelectual, desenvolvida pela educação e cultura, os quais não chegam a compreender certas passagens da Escritura, enquanto outros que não têm instrução, cujo entendimento parece débil e a mente não disciplinada, compreendem sua significação, achando força e consolo naquilo que os primeiros declaram ser misterioso, ou passam por alto como se não tivesse importância. Por que é isso? Foi-me explicado que a última classe não confia em seu próprio entendimento. Vão à Fonte da luz, Àquele que inspirou as Escrituras e, com humildade de coração, pedem a Deus sabedoria e a recebem. Há minas de verdade ainda por descobrir por parte do fervoroso pesquisador. Cristo representou a verdade como sendo um tesouro escondido em um campo. Não está logo na superfície; para encontrá-lo é preciso cavar. Mas o nosso êxito em encontrá-lo não depende tanto de nossa capacidade intelectual como de nossa humildade de coração, e da fé que se apropria da ajuda divina. T5 704 3 Sem a guia do Espírito Santo estaremos continuamente sujeitos a torcer as Escrituras ou a interpretá-las erradamente. Há muita leitura da Bíblia que é sem proveito, e em muitos casos positivo mal. Quando a Palavra de Deus é aberta sem reverência e sem oração; quando os pensamentos e afeições não se fixam em Deus ou não estão em harmonia com a Sua vontade, o espírito se envolve em dúvida; e no próprio estudo da Bíblia se fortalece o ceticismo. O inimigo toma conta dos pensamentos, e sugere interpretações incorretas. T5 705 1 Sempre que os homens não estejam buscando, na palavra e nos atos, estar em harmonia com Deus, então, por mais eruditos que sejam, estão sujeitos a errar em sua maneira de entender a Escritura, e não é seguro confiar em suas explanações. Quando buscamos verdadeiramente fazer a vontade de Deus, o Espírito Santo toma os preceitos de Sua Palavra e torna-os os princípios da vida, escrevendo-os nas tábuas da alma. E são só os que seguem a luz que já lhes foi dada que podem esperar receber maior iluminação do Espírito. Isto está claramente expresso nas palavras de Cristo: "Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se Eu falo de Mim mesmo." João 7:17. T5 705 2 Os que consultam as Escrituras para nelas encontrar incoerências não têm discernimento espiritual. Com a visão deturpada, verão muitas causas de dúvida e incredulidade em coisas que na realidade são claras e singelas. Mas para os que tomam a Palavra de Deus com reverência, buscando conhecer Sua vontade a fim de que lhe possam obedecer, tudo se transforma. Enchem-se de reverência e assombro ao contemplarem a pureza e exaltada excelência das verdades reveladas. Os semelhantes atraem-se mutuamente. Apreciam-se mutuamente. A santidade alia-se com a santidade, a fé com a fé. Para o coração humilde e sincero, para a mente indagadora, a Bíblia está repleta de luz e conhecimento. Os que neste espírito se aproximam das Escrituras são levados em comunhão com profetas e apóstolos. Seu espírito assemelha-se ao de Cristo, e anelam tornar-se um com Ele. T5 705 3 Julgam muitos que repousa sobre eles a responsabilidade de explicar todas as aparentes dificuldades da Bíblia, a fim de enfrentar as cavilações dos céticos e infiéis. Mas, procurando explicar aquilo que compreendem apenas imperfeitamente, acham-se em perigo de confundir a mente dos outros com referência a pontos claros e facilmente compreensíveis. Não é esta nossa obra. Tampouco devemos lamentar que existam essas dificuldades, mas aceitá-las como foram permitidas pela sabedoria de Deus. É dever nosso receber Sua Palavra, que é clara em todos os pontos essenciais à salvação da alma, e praticar seus princípios em nossa vida, ensinando-os a outros, tanto pelo preceito como pelo exemplo. Assim será evidente ao mundo que temos comunhão com Deus e implícita confiança em Sua Palavra. Uma vida de piedade e um exemplo diário de integridade, mansidão e amor abnegado serão exemplificação viva dos ensinos da Palavra de Deus, e argumento em favor da Bíblia a que poucos serão capazes de resistir. Isso se demonstrará a mais eficaz barreira à prevalecente tendência ao ceticismo e infidelidade. T5 706 1 Pela fé devemos contemplar o além e tomar posse do penhor de Deus quanto ao desenvolvimento de nosso intelecto, unindo com as divinas as faculdades humanas, e pondo em contato direto com a Fonte da luz todas as faculdades da alma. Poderemos regozijar-nos por tudo o que, nas providências de Deus, se nos tornou objeto de perplexidade. Coisas difíceis de compreender encontrarão explicação; e onde nossa mente finita só descobriu confusão e propósitos fracassados, veremos a mais perfeita e bela harmonia. Diz o apóstolo Paulo: "Agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido." 1 Coríntios 13:12. T5 706 2 Pedro exorta os irmãos: "Crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." 2 Pedro 3:18. Sempre que o povo de Deus estiver crescendo em graça, obterá constantemente uma compreensão mais clara de Sua Palavra. Há de distinguir mais luz e beleza em suas sagradas verdades. Isso se tem verificado na história da igreja em todos os séculos, e assim continuará até ao fim. Mas, à medida que a verdadeira vida espiritual declina, tem sido sempre a tendência cessar o crente de avançar no conhecimento da verdade. As pessoas ficam satisfeitas com a luz já recebida da Palavra de Deus, e desistem de qualquer posterior estudo mais profundo das Escrituras. Tornam-se conservadoras e procuram evitar a discussão do assunto. T5 707 1 O fato de não haver controvérsias ou agitações entre o povo de Deus não deveria ser olhado como prova conclusiva de que todos estão mantendo com firmeza a sã doutrina. Há razão para temer que não estejam discernindo claramente entre a verdade e o erro. Quando não surgem novas questões em resultado de investigação das Escrituras, quando não aparecem divergências de opinião que instiguem os homens a examinar a Bíblia por si mesmos, para se certificarem de que possuem a verdade, haverá muitos agora, como antigamente, que se apegarão às tradições, cultuando nem sabem o quê. T5 707 2 Tem-me sido mostrado que muitos dos que professam a verdade presente não sabem o que crêem. Não compreendem as provas de sua fé. Não apreciam devidamente a obra para este tempo. Homens que agora pregam a outros, ao examinarem, quando chegar o tempo de angústia, a posição em que se encontram, verificarão que há muitas coisas para as quais não podem dar uma razão satisfatória. Até serem assim provados, desconheciam sua grande ignorância. E há na igreja muitos que contam por certo que compreendem aquilo em que crêem, mas que, até surgir uma discussão, ignoram sua fraqueza. Quando separados dos da mesma fé, e forçados a estar sozinhos e expor por si mesmos sua crença, ficarão surpreendidos de ver quão confusas são suas idéias sobre o que têm aceito como verdade. É certo que tem havido entre nós um afastamento do Deus vivo e um voltar-se para os homens, pondo a sabedoria humana em lugar da divina. T5 707 3 Deus despertará Seu povo; se outros meios falharem, introduzir-se-ão entre eles heresias, as quais os hão de peneirar, separando a palha do trigo. O Senhor chama todos os que crêem em Sua Palavra, para que despertem do sono. Tem vindo uma preciosa luz, apropriada aos nossos dias. É a verdade bíblica, mostrando os perigos que se acham mesmo despencando sobre nós. Essa luz nos deve levar a um diligente estudo das Escrituras, e a um mais atento exame crítico das posições que mantemos. É vontade de Deus que todos os fundamentos e posições da verdade sejam acurada e perseverantemente investigados, com oração e jejum. Os crentes não devem ficar em suposições e mal definidas idéias do que constitui a verdade. Sua fé deve estar firmemente estabelecida sobre a Palavra de Deus, de maneira que, quando o tempo de prova chegar, e eles forem levados perante os concílios para responder por sua fé, sejam capazes de dar uma razão para a esperança que neles há, com mansidão e temor. T5 708 1 Agitar, agitar, agitar! Os assuntos que apresentamos ao mundo devem ser para nós uma realidade viva. É importante que, ao defender as doutrinas que consideramos artigos fundamentais da fé, nunca nos permitamos o emprego de argumentos que não sejam inteiramente retos. Eles podem fazer calar um adversário, mas não honram a verdade. Devemos apresentar argumentos legítimos, que não somente façam silenciar os oponentes, mas que suportem a mais acurada e perscrutadora averiguação. Quanto aos que se preparam para debates, há grande perigo de que eles não lidem com lisura em relação à Palavra de Deus. Ao enfrentar um adversário, deve ser nosso mais sincero esforço apresentar os assuntos de maneira tal que despertemos a convicção em seu espírito, em vez de procurar meramente inspirar confiança ao crente. T5 708 2 Seja qual for o grande adiantamento intelectual do homem, não pense ele, nem por um momento, que não há necessidade de inteira e contínua pesquisa das Escrituras em busca de maior luz. Como um povo, somos convidados individualmente ao estudo da profecia. Devemos observar atentamente, a fim de distinguir qualquer raio de luz que Deus nos apresente. Devemos apanhar os primeiros clarões da verdade; e, mediante estudo apoiado pela oração, poder-se-á obter mais intensa luz, a qual poderá ser apresentada aos outros. T5 708 3 Quando o povo de Deus está à vontade, satisfeito com a luz que já possui, podemos estar certos de que Ele os não favorecerá. É Sua vontade que eles marchem sempre avante, recebendo a sempre crescente luz que para eles brilha. A atitude atual da igreja não agrada a Deus. Tem-se introduzido uma confiança em si mesmos que os tem levado a não sentir nenhuma necessidade de mais verdade e maior luz. Vivemos numa época em que Satanás opera à direita e à esquerda, em nossa frente e por trás de nós; e todavia, como um povo, estamos dormindo. Deus deseja que se faça ouvir uma voz despertando Seu povo para a ação. T5 709 1 Em vez de abrir a mente para receber os raios de luz do Céu, alguns têm trabalhado em direção contrária. Tanto pela imprensa como do púlpito têm sido apresentados, com respeito à inspiração da Bíblia, opiniões que não têm o apoio do Espírito nem da Palavra de Deus. Certo é que nenhum homem ou grupo de homens deve procurar apresentar teorias sobre assunto de tão grande importância sem um claro "Assim diz o Senhor" em seu apoio. E quando homens, rodeados de fraquezas humanas, afetados em maior ou menor medida pelas influências ambientais, e tendo tendências hereditárias e cultivadas que estão longe de os tornar sábios ou espirituais, empreendem acusar publicamente a Palavra de Deus, e lavrar sentença sobre o que é divino e o que é humano, estão eles trabalhando sem o conselho de Deus. O Senhor não fará prosperar semelhante obra. O efeito será desastroso, tanto sobre o que nisso se empenha, como sobre os que o aceitam como obra de Deus. As teorias apresentadas quanto à natureza da inspiração têm despertado em muitas mentes o ceticismo. Seres finitos, com sua visão estreita e curta, julgam-se competentes para criticar as Escrituras, dizendo: "Esta passagem é necessária, e aquela outra não é necessária, nem é inspirada." T5 709 2 Cristo não deu semelhante instrução a respeito das Escrituras do Antigo Testamento, a única parte da Bíblia que o povo de Seu tempo possuía. Seus ensinos se destinavam a dirigir-lhes o espírito para o Antigo Testamento e fazer incidir mais luz sobre os grandes temas ali apresentados. Por séculos o povo de Israel estivera a afastar-se de Deus, e perdera de vista as preciosas verdades que Ele lhes confiara. Essas verdades foram cobertas com fórmulas e cerimônias supersticiosas, que lhes ocultavam o verdadeiro significado. Cristo veio para remover o lixo que lhes obscurecera o brilho. Colocou-as, quais gemas preciosas, em novo engaste. Mostrou que, longe de desdenhar a repetição de velhas verdades familiares, Ele veio para as fazer aparecer em sua verdadeira força e beleza, cuja glória nunca fora discernida pelos homens de Seu tempo. Autor Ele mesmo dessas verdades reveladas, bem podia apresentar ao povo seu sentido verdadeiro, libertando-as das falsas interpretações e teorias adotadas pelos líderes para satisfazer seu estado profano, sua falta de espiritualidade e de amor a Deus. Removeu Ele aquilo que roubara a essas verdades a vida e o poder vital, restituindo-as ao mundo em toda a sua frescura e força originais. T5 710 1 Se temos o Espírito de Cristo e somos cooperadores Seus, é nossa tarefa levar avante a obra que Ele veio fazer. As verdades da Bíblia de novo se tornaram obscurecidas pelos costumes, tradições e doutrinas falsas. Os ensinamentos errôneos da teologia corrente têm feito milhares e milhares de céticos e infiéis. Há erros e incoerências que muitos denunciam como sendo ensinos da Bíblia, mas que não passam, em realidade, de falsas interpretações da Escritura, adotados durante os séculos das trevas papais. Multidões têm sido levadas a nutrir um conceito errado de Deus, como os judeus, influenciados pelos erros e tradições de seu tempo, mantinham falso conceito de Cristo. "Se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória." 1 Coríntios 2:8. A nós é que compete revelar ao mundo o verdadeiro caráter de Deus. Em vez de criticar a Bíblia, busquemos, por preceito e exemplo, apresentar ao mundo as verdades sagradas e doadoras de vida, a fim de que possamos anunciar "as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2:9. T5 711 1 Os males que se têm insinuado gradualmente entre nós têm imperceptivelmente desviado indivíduos e igrejas da reverência devida a Deus, excluindo o poder que Ele lhes deseja dar. T5 711 2 Meus irmãos, que a Palavra de Deus permaneça exatamente tal qual é. Que nenhuma sabedoria humana presuma diminuir a força de uma só declaração das Escrituras. A solene denúncia do Apocalipse deveria advertir-nos contra semelhante atitude. Em nome de meu Senhor eu vos ordeno: "Tira os teus sapatos de teus pés, porque o lugar em que tu estás é terra santa." Êxodo 3:5. ------------------------Capítulo 85 -- O conflito futuro T5 711 3 Uma grande crise aguarda o povo de Deus. Uma crise vai envolver o mundo. A mais terrível luta de todos os séculos está justamente à nossa frente. Acontecimentos que, há mais de quarenta anos, baseados na autoridade da palavra profética, declarávamos ser iminentes desenrolam-se agora perante nossos olhos. Já os legisladores da nação [refere-se aos Estados Unidos] foram instados a emendarem a Constituição, restringindo a liberdade de consciência. A questão de impor a observância do domingo tornou-se de interesse e importância nacionais. Bem sabemos qual será o resultado desse movimento. Mas estaremos prontos para o acontecimento? Temo-nos desincumbido fielmente do dever que Deus nos confiou, de dar ao povo a advertência quanto ao perigo que tem pela frente? T5 711 4 Muitos há, mesmo entre os que se empenham neste movimento em favor da imposição do domingo, que se acham cegos aos resultados que virão após essa ação. Não vêem que golpeiam diretamente a liberdade religiosa. Muitos jamais compreenderam as reivindicações do sábado bíblico e o falso fundamento sobre o qual repousa a instituição do domingo. Qualquer movimento em favor da legislação religiosa é realmente um ato de concessão ao papado, que por tantos séculos tem constantemente guerreado contra a liberdade de consciência. A observância do domingo deve sua existência como uma chamada instituição cristã ao "mistério da iniqüidade"; e sua imposição será o virtual reconhecimento dos princípios que são a pedra angular do catolicismo. Quando nossa nação renunciar aos princípios de seu governo de tal forma que vote uma lei dominical, nesse próprio ato o protestantismo dará a mão ao papado; isso não será outra coisa senão dar vida à tirania que há muito aguarda ansiosa sua oportunidade de saltar de novo para o despotismo ativo. T5 712 1 O movimento da Reforma Nacional, exercendo o poder da legislação religiosa, manifestará, quando plenamente desenvolvido, a mesma intolerância e opressão que prevaleceram nos séculos passados. Concílios humanos assumiam então as prerrogativas da Divindade, esfacelando, sob seu poder despótico, a liberdade de consciência; e a prisão, o exílio e a morte seguiam aos que se opunham aos seus ditames. Se o papado ou seus princípios forem de novo conduzidos ao poder pela lei, os fogos da perseguição de novo se acenderão contra os que não quiserem sacrificar a consciência e a verdade em deferência a erros populares. Este mal está prestes a realizar-se. T5 712 2 Se Deus nos proporcionou luz que mostra os perigos à nossa frente, como poderemos subsistir perante Ele se negligenciarmos fazer todos os esforços que pudermos para apresentá-la ao povo? Poderemos contentar-nos com deixá-los ir ao encontro desse acontecimento momentoso sem os advertir? T5 712 3 Há perante nós a perspectiva de uma luta contínua, com risco de prisão, perda de propriedade, e da própria vida, para defender a lei de Deus, que é anulada pelas leis dos homens. Nesta situação, os planos de ação mundanos instarão em que se condescenda exteriormente com as leis do país, por amor da paz e harmonia. E alguns há que mesmo instarão com esse procedimento baseando-se na passagem: "Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores. ... As potestades que há foram ordenadas por Deus." Romanos 13:1. T5 713 1 Mas qual foi o procedimento dos servos de Deus nos séculos passados? Quando os discípulos pregaram a Cristo, e Ele crucificado, após Sua ressurreição, as autoridades mandaram-lhes que não falassem nem ensinassem mais nada em nome de Jesus. "Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido." Atos dos Apóstolos 4:19, 20. Continuaram a pregar as boas novas da salvação por Cristo, e o poder de Deus acompanhou a mensagem. Os doentes foram curados e milhares foram acrescentados à igreja. "Levantando-se o sumo sacerdote, e todos os que estavam com ele (e eram eles da seita dos saduceus), encheram-se de inveja, e lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na prisão pública." Atos dos Apóstolos 5:17, 18. T5 713 2 Mas o Deus do Céu, o grande Governador do Universo, tomou o caso em Suas mãos; porque os homens estavam combatendo a Sua obra. Mostrou-lhes claramente que há um governador acima dos homens, cuja autoridade tem de ser respeitada. O Senhor enviou o Seu anjo à noite para abrir as portas da prisão, e ele livrou àqueles homens que Deus comissionara para fazer Sua obra. Disseram os principais dos sacerdotes que "absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus" (Atos dos Apóstolos 4:18); mas o mensageiro celestial, enviado por Deus, disse: "Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta vida." Atos dos Apóstolos 5:20. T5 713 3 Os que procuram obrigar os homens a observarem uma instituição do papado, e pisam a autoridade de Deus, estão fazendo uma obra semelhante à dos guias judeus nos dias dos apóstolos. Quando as leis dos governadores terrestres são postas em oposição às leis do Governador Supremo do Universo, então os que são leais súditos de Deus ser-Lhe-ão fiéis. T5 713 4 Nós como um povo não temos cumprido a obra que Deus nos confiou. Não estamos preparados para o desfecho ao qual nos levará a imposição da lei dominical. É nosso dever, ao vermos os sinais do perigo que se aproxima, despertar-nos para a ação. Que ninguém se assente em calma expectativa do mal, confortando-se com a crença de que esta obra terá de prosseguir porque a profecia o predisse, e que o Senhor guardará o Seu povo. Não estamos cumprindo a vontade de Deus se nos deixarmos ficar em quietude, nada fazendo para preservar a liberdade de consciência. Fervente e eficaz oração deve ascender ao Céu para que essa calamidade seja adiada até que possamos realizar a obra por tanto tempo negligenciada. Haja as mais fervorosas orações, e então trabalhemos em harmonia com as nossas orações. Pode parecer que Satanás esteja triunfando e que a verdade seja abatida pela falsidade e o erro; o povo sobre o qual Deus estendeu Sua proteção, e o país que tem sido um refúgio para os servos de Deus e defensores da verdade, oprimidos em sua consciência, podem correr perigo. Mas Deus deseja que recordemos Seu trato com Seu povo no passado, para salvá-lo dos inimigos. Ele sempre tem escolhido extremidades, ocasiões em que parecia não haver possibilidade de libertamento das operações de Satanás, para a manifestação de Seu poder. A necessidade do homem é a oportunidade de Deus. Pode ser que ainda seja concedido ao povo de Deus um prazo para despertar e fazer brilhar sua luz. Se a presença de dez justos teria salvo as ímpias cidades da planície, não será possível que Deus, em resposta às orações de Seu povo, mantenha em xeque as operações dos que anulam Sua lei? Não deveremos humilhar grandemente o coração perante Deus, fugindo para junto do trono de misericórdia, e instar com Ele para que revele Seu grande poder? T5 714 1 Se nosso povo continuar na atitude indiferente na qual têm estado, Deus não poderá derramar sobre eles o Seu Espírito. Não estão preparados para cooperar com Ele. Não estão despertos para com a situação e não reconhecem o perigo que ameaça. Devem sentir agora, qual nunca dantes, sua necessidade de vigilância e ação coordenada. T5 714 2 A obra peculiar do terceiro anjo não foi ainda vista em sua importância. Deus pretendia que Seu povo estivesse muito mais adiante da posição que ocupa hoje. Mas agora que é chegado o tempo para se porem em ação, têm ainda que fazer o preparo. Quando os Reformadores Nacionais começaram a instar por medidas tendentes a restringir a liberdade religiosa, nossos dirigentes deveriam ter estado despertos à situação e deveriam ter trabalhado fervorosamente para neutralizar esses esforços. Não era plano de Deus que a luz fosse retida de nosso povo -- a própria verdade presente de que careciam para este tempo. Nem todos os nossos pastores que estão proclamando a mensagem do terceiro anjo compreendem realmente o que constitui essa mensagem. O movimento da Reforma Nacional foi por alguns considerado de tão pouca importância que não julgaram necessário dar-lhe muita atenção, imaginando mesmo que, assim procedendo, concederiam tempo para questões diferentes da mensagem do terceiro anjo. Que o Senhor perdoe a nossos irmãos por assim terem interpretado a própria mensagem para este tempo. T5 715 1 O povo deve ser despertado em relação aos perigos do tempo presente. Os vigias estão adormecidos. Estamos com anos de atraso. Que os principais vigias sintam a necessidade urgente de olharem por si mesmos, a fim de que não percam as oportunidades que lhes são dadas de ver os perigos. T5 715 2 Se os dirigentes de nossas Associações não aceitarem agora a mensagem que Deus lhes envia, e não cerrarem fileiras para a ação, as igrejas sofrerão grande perda. Quando o vigia, vendo vir a espada, dá à trombeta um sonido certo, o povo engajado ecoa a advertência, e todos terão oportunidade de preparar-se para o conflito. Mas demasiadas vezes o líder fica hesitando, como que dizendo: "Não nos apressemos demais. Pode haver engano. Devemos ter cuidado para não levantar alarme falso." A própria hesitação e incerteza de sua parte como que estão a dizer: "'Paz e segurança!' Sem muita exaltação! Nada de alarme! Tem-se falado mais dessa questão da emenda religiosa do que ela merece. Essa agitação toda passará." Assim ele virtualmente nega a mensagem enviada de Deus, e a advertência que se destinava a despertar as igrejas deixa de realizar sua obra. A trombeta do vigia não dá sonido certo, e o povo não se prepara para a batalha. Que os vigias não deixem acontecer que, por sua hesitação e demora, pessoas sejam deixadas a perecer, e seu sangue seja requerido de sua mão. T5 716 1 Por muitos anos temos aguardado a imposição de uma lei dominical em nossa terra; e, agora que o movimento está quase nos atropelando, perguntamos: Cumprirá nosso povo seu dever na questão? Não poderemos ajudar a erguer a norma e chamar para a frente os que têm consideração pelos seus direitos e privilégios religiosos? Aproxima-se rapidamente o tempo em que os que preferem obedecer a Deus e não obedecer ao homem serão levados a sentir a mão da opressão. Desonraremos, pois, a Deus conservando-nos silenciosos enquanto Seus santos mandamentos são pisados? T5 716 2 Enquanto o mundo protestante está por sua atitude fazendo concessões a Roma, despertemos para compreender a situação e observar em seus verdadeiros lances a contenda ante nós. Ergam os vigias agora a voz e dêem a mensagem que é verdade presente para este tempo. Mostremos ao povo onde nos encontramos na história profética e procuremos despertar o espírito do verdadeiro protestantismo, acordando o mundo para a intuição do valor dos privilégios da liberdade religiosa por tanto tempo usufruídos. T5 716 3 Deus nos convida a despertarmo-nos, pois está perto o fim. Cada hora que passa é de atividade nas cortes celestiais, para preparar sobre a Terra um povo que faça sua parte nas grandes cenas que em breve se desenrolarão ante nós. Esses momentos que passam, e que de tão pouco valor se nos afiguram, estão repletos de interesses eternos. Estão a moldar o destino de pessoas para a vida eterna ou a eterna morte. As palavras que proferimos hoje aos ouvidos do povo, as obras que efetuamos, o espírito da mensagem que proclamamos, serão um cheiro de vida para vida ou de morte para morte. T5 716 4 Meus irmãos, estamos nós reconhecendo que nossa própria salvação, assim como o destino de outras pessoas, depende do preparo que agora fazemos para a prova que se aproxima? Estamos demonstrando aquela intensidade de zelo, aquela piedade e devoção, que nos habilitarão a subsistir quando se manifestar a oposição contra nós? Se Deus já falou por mim, virá o tempo em que seremos levados perante conselhos, e cada aspecto da verdade que mantemos será criticado severamente. O tempo que tantos estão deixando passar desperdiçado deveria ser dedicado ao encargo que Deus nos deu de preparar-nos para a crise que se aproxima. T5 717 1 A lei de Deus deve ser amada e honrada por Seu verdadeiro povo agora mais que nunca. Há a mais imperativa necessidade de impressionar a mente e o coração de todos os crentes, homens e mulheres, jovens e crianças, com a ordem de Cristo: "Examinai as Escrituras." João 5:39. Estudemos nossa Bíblia como nunca antes. A menos que nos elevemos a um estado mais alto e santo em nossa vida religiosa, não estaremos prontos para o aparecimento de nosso Senhor. Como foi dada grande luz, Deus espera correspondente zelo, fidelidade e devoção da parte de Seu povo. Tem de haver mais espiritualidade, mais profunda consagração a Deus, e um zelo em Sua obra, nunca visto anteriormente. Muito tempo deve ser gasto em oração, para que as vestes de nosso caráter sejam lavadas e branqueadas no sangue do Cordeiro. T5 717 2 Devemos, especialmente, com fé inabalável, buscar de Deus graça e poder para Seu povo agora. Não acreditamos ter chegado plenamente o tempo em que Ele haja por bem que nossas liberdades sejam restringidas. O profeta viu "quatro anjos que estavam sobre os quatro cantos da Terra, para que nenhum vento soprasse sobre a Terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma". Outro anjo, vindo do oriente, bradou-lhes, dizendo: "Não danifiqueis a Terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos assinalado nas suas testas os servos do nosso Deus." Apocalipse 7:1, 3. Isso assinala o trabalho que devemos fazer agora. Uma grande responsabilidade cabe aos homens e mulheres de oração através do país, de pedir a Deus que detenha a nuvem do mal e conceda mais alguns anos de graça nos quais trabalhar para o Mestre. Clamemos a Deus para que os anjos segurem os quatro ventos até que sejam enviados missionários a todas as partes do mundo, e proclamem a advertência contra a desobediência à lei de Jeová. ------------------------Capítulo 86 -- O periódico "The American Sentinel" e sua missão T5 718 1 Deus emprega variados instrumentos a fim de preparar Seu povo para resistir à grande crise que está diante de nós. Ele fala por Sua Palavra e por Seus pastores. Convoca sentinelas e as envia com mensagens de advertência, reprovação e instrução, para que o povo seja iluminado. Por ordem divina, o Sentinel tem sido uma das vozes de alerta para fazer o povo ouvir e compreender o perigo e fazer a obra requerida para o tempo presente. O Senhor pretende que Seu povo ouça tudo quanto Ele lhes enviar. Quando a luz é apresentada, é dever do povo não apenas recebê-la como também passá-la adiante, somando sua influência em favor dela, a fim de que sua força plena possa ser sentida na igreja e no mundo. O Sentinel é como uma trombeta com sonido certo. Nosso povo deve lê-lo cuidadosamente e então enviá-lo a alguns parentes ou amigos, dando assim o melhor uso à luz que Deus lhes enviou. T5 718 2 Durante três anos têm ressoado das colunas do Sentinel advertências para o mundo, mas aqueles que professam crer na verdade presente não têm sido despertados como deveriam para esses sinais de perigo. Houvessem nossos irmãos se utilizado do Sentinel como era seu privilégio fazê-lo e se unido para recomendá-lo em cada Associação e igreja, assim como Deus desejava; houvesse a atenção de nosso povo sido chamada para essa obra que é tão essencial para este tempo; houvessem eles apreciado a luz que Deus permitiu brilhar através de advertências, conselhos e no esboço dos eventos que estão ocorrendo, estaríamos agora, como um povo, muito mais avançados na preparação para a obra. Tem havido surpreendente indiferença e inatividade neste tempo de perigo. A verdade, a verdade presente, é o que o povo necessita, e se o assustador significado dos movimentos que estão em progresso para a Emenda Religiosa houvesse sido compreendido por nossos irmãos de cada igreja; houvessem discernido nesses movimentos o claro e direto cumprimento da profecia apelando-lhes para enfrentar as exigências da crise, eles não estariam agora em tal estupor e sono mortal. T5 719 1 A Palavra de Deus não está silente com respeito a estes tempos momentosos, e será compreendida por todos os que não resistirem a Seu Espírito por se determinarem a não ouvi-la, recebê-la e obedecer-lhe. As mensagens de luz provindas do Senhor têm estado perante nós durante anos, mas influências operaram indiretamente para tornar de nenhum efeito as advertências publicadas no Sentinel, nos Testemunhos e através de outros instrumentos que o Senhor enviou a Seu povo. Muito mais poderia ter sido feito com o Sentinel se essas influências contrárias não houvessem agido para impedi-lo. Ainda que nada possa ser dito contra ele, as ações revelam a indiferença com que é tratado. Enquanto os atalaias não derem à trombeta o sonido certo, o povo não será advertido e não estará de prontidão diante do perigo. T5 719 2 O desagrado do Senhor está sobre nós por nossa negligência diante das solenes responsabilidades. Suas bênçãos têm sido retidas por causa dos testemunhos negligenciados por aqueles que professam crer neles. Oh, que ocorra um despertamento religioso! Os anjos de Deus estão indo de igreja a igreja, cumprindo seu dever, e Cristo está batendo à porta de nosso coração solicitando entrada. Mas os meios designados por Deus para despertar a igreja quanto à realidade de sua pobreza espiritual não têm sido considerados. A voz da Testemunha Verdadeira tem sido ouvida em reprovação, mas não é obedecida. Os homens escolheram seguir os próprios caminhos em lugar dos de Deus, porque o eu não foi crucificado neles. Assim a luz teve pouco efeito sobre mentes e corações. T5 720 1 Despertará o povo de Deus de sua letargia carnal? Tirará ele maior proveito das bênçãos e advertências, não permitindo que coisa alguma se interponha entre sua mente e a luz que Deus derrama? Que cada obreiro de Deus compreenda a situação e leve o Sentinel às nossas igrejas, explicando seu conteúdo e argumentando sobre os fatos e advertências que ele contém. Que o Senhor ajude todos a remirem o tempo. Que não haja sentimentos iníquos para levar a quem quer que seja a resistir aos apelos do Espírito de Deus. Não se interponham no caminho dessa luz; que ela não seja negligenciada ou marginalizada como indigna de atenção ou crédito. T5 720 2 Se vocês acham que virá do Céu luz para agradar a todos, esperarão em vão. Se esperarem por mais altos clamores e melhores oportunidades, a luz será retirada e vocês deixados em trevas. Aceitem cada raio de luz que Deus envia. Aqueles que negligenciam dar ouvidos aos apelos do Espírito e Palavra de Deus porque obediência envolve cruz perderão sua salvação. Quando os livros forem abertos e a obra de cada homem e os motivos que o impeliram forem examinados pelo Juiz de toda a Terra, verão eles que a perda poderia ter sido evitada. Deveríamos sempre alimentar o temor do Senhor e compreender que, individualmente, estamos diante do Senhor dos Exércitos e nenhum pensamento, palavra e ato em conexão com a obra de Deus deveriam conter egoísmo ou indiferença. ------------------------Capítulo 87 -- Obreiros em sua causa T5 721 1 O fato de haver tão grande ajuntamento de pessoas em Battle Creek e por estarem muitos interesses ali centralizados torna-a um preeminente campo missionário. Gente de todas as partes do país acorre ao Hospital e muitos jovens de diversos Estados vêm estudar no Colégio. Esse campo demanda os mais dedicados e fiéis obreiros e os melhores métodos de trabalho, de sorte que uma forte influência em favor de Cristo e da verdade possa ser constantemente exercida. Quando a obra for dirigida como Deus deseja, o poder salvador da graça de Cristo se manifestará entre os que crêem na verdade e será uma luz para os outros. T5 721 2 Mas há em Battle Creek uma triste negligência em relação aos benefícios disponíveis para manter o coração da obra em saudável condição. Suas vigorosas batidas deveriam ser sentidas em todo o corpo de crentes. Mas se o músculo cardíaco estiver doente e debilitado em sua ação, todos os ramos da Obra ficarão enfraquecidos. É positivamente essencial que haja um saudável poder operante nesse centro, de forma que a verdade possa ser levada a todo o mundo. O conhecimento da última mensagem precisa ser difundido entre as famílias e comunidades de toda parte, e isso requer sábia estratégia para formular planos e educar homens no trabalho. T5 721 3 Como a obra progride ano após ano, a necessidade de obreiros experientes e fiéis torna-se cada vez mais urgente, e se o povo do Senhor andar em Seus conselhos, tais trabalhadores serão multiplicados. Enquanto nos apoiarmos em Deus buscando sabedoria e poder, Ele desenvolverá nossas habilidades à sua plena extensão. À medida que os obreiros adquirem capacidade mental e espiritual e se tornam familiarizados com os propósitos e procedimentos divinos, terão perspectivas mais amplas da obra para este tempo e estarão melhor qualificados a idear e executar planos visando ao seu progresso. Assim podem acompanhar os passos da providência divina. T5 722 1 Deveria ser envidado constante esforço para recrutar novos obreiros. Os talentos deveriam ser identificados e reconhecidos. Pessoas possuidoras de piedade e capacidade deveriam ser estimuladas a obter a educação necessária, capacitando-se assim para auxiliar da divulgação da luz da verdade. Todos os que são competentes para isso deveriam ser engajados em algum ramo da obra, de acordo com sua capacidade. T5 722 2 A solene e importante obra para este tempo não deve ser levada avante unicamente através dos esforços de uns poucos homens escolhidos que têm, até agora, desempenhado as responsabilidades da causa. Enquanto aqueles a quem Deus convocou para ajudarem na realização de determinado serviço fizerem sua parte usando a capacidade que Ele lhes deu, o Senhor não permitirá que a obra sofra interrupções. Em Sua providência Ele chamará e qualificará outros a se unirem com os primeiros, para que juntos avancem ainda mais além e elevem mais alto a bandeira. T5 722 3 Há, porém, algumas cabeças que não acompanham a obra. Em vez de se adaptarem a suas crescentes demandas, permitem que ela os ultrapasse e os incapacite a compreender e atender às exigências dos tempos. Quando homens a quem Deus qualifica para assumir responsabilidades na causa assumem-na de modo ligeiramente diverso daquele pelo qual foi conduzida até agora, os obreiros mais experientes deveriam ser cuidadosos para que sua conduta não seja tal que impeça de alguma forma esses auxiliares ou restrinja a obra. Alguns podem não compreender a importância de certas medidas, simplesmente porque não discernem as necessidades da obra em todos os seus procedimentos, e não sentem a carga que Deus pôs especialmente sobre outros homens. Aqueles que não estão qualificados para determinado trabalho deveriam acautelar-se a fim de não se interporem no caminho de outros, impedindo-os de realizar os propósitos divinos. T5 723 1 O caso de Davi ilustra bem o ponto. Ele desejava construir o templo do Senhor e fez ricos estoques de material para esse propósito. Mas o Senhor disse-lhe que ele não faria essa obra e que ela seria delegada a seu filho Salomão. A grande experiência de Davi capacitou-o a aconselhar e animar a Salomão, mas o jovem é quem deveria construir o templo. As fatigadas e extenuadas mentes dos velhos obreiros nem sempre podem discernir a grandeza da obra e acompanhar adequadamente as providências de Deus. Portanto, não deveriam ser integralmente postas sobre eles pesadas responsabilidades. Eles podem não estar proporcionando à obra todos os elementos essenciais ao seu avançamento e, conseqüentemente, retardando-lhe o progresso. T5 723 2 Por carência de sábia direção, a obra em Battle Creek e em todo o Michigan está muito atrasada. Conquanto nos seja imperioso compreender a situação e necessidades das missões estrangeiras, deveríamos também entender as necessidades do campo doméstico. Se utilizados com sabedoria, os benefícios que Deus pôs ao nosso alcance nos capacitam a enviar aos campos um maior número de obreiros. Há necessidade de um vigoroso trabalho em nossas igrejas. A mensagem especial mostrando importantes e iminentes questões, os deveres e perigos de nosso tempo, deveriam ser apresentados a elas, não de maneira monótona, sem vida, mas "em demonstração do Espírito e poder". 1 Coríntios 2:4. As responsabilidades precisam ser passadas aos membros da igreja. O espírito missionário deveria ser despertado como nunca antes e os obreiros apontados como necessários, os quais devem agir como pastores do rebanho, empreendendo esforços pessoais para elevar a igreja a uma condição onde a vida espiritual e a atividade sejam vistas em todas as suas fronteiras. T5 723 3 Muitos talentos se têm perdido para a causa porque os dirigentes não conseguem discerni-los. Sua visão não é ampla o suficiente para descobrir que a obra está se expandindo muito para ser levada avante pelo corpo de obreiros nela empenhado atualmente. Muito, muito mesmo do que deveria ser realizado ainda está por fazer, porque os homens têm tomado as coisas em suas próprias mãos em lugar de dividi-las entre um número maior de trabalhadores, confiando que Deus os ajudará em seus esforços. Eles têm tentado administrar todos os ramos da obra, temendo que outros sejam menos competentes. Sua vontade e discernimento interferem em vários departamentos, e por causa de sua incapacidade de compreender todas as carências da causa em suas diversas partes, grandes prejuízos são contabilizados. T5 724 1 Uma lição precisa ser aprendida. Quando Deus aponta meios para determinado trabalho, não devemos marginalizá-los e então orar e esperar que Ele opere um milagre para suprir a falta. Se o agricultor falha em arar e semear, Deus não fará um milagre para suprir os efeitos de sua negligência. Na época da colheita, seus campos estão estéreis; não há grãos a serem colhidos, não há feixes a serem recolhidos aos celeiros. Deus providencia a semente e o solo, o sol e a chuva. Se o fazendeiro emprega os meios à sua disposição, colherá de acordo com sua semeadura e trabalho. T5 724 2 Há grandes leis que governam o mundo natural; as coisas espirituais são controladas por princípios igualmente exatos. Quando se deseja chegar a determinados fins, deve-se empregar os meios adequados. Deus apontou a cada homem uma missão de acordo com sua capacidade. É pela educação e prática que as pessoas são qualificadas para atender a qualquer emergência que possa surgir, e é preciso planejamento sábio para colocar cada uma no lugar certo, visando a proporcionar-lhe experiência para assumir responsabilidades. T5 724 3 Mas conquanto a educação, o preparo e o conselho dos que têm experiência sejam todos necessários, deve-se ensinar aos obreiros que não se apóiem inteiramente no juízo de qualquer homem. Como livres agentes de Deus, todos devem dEle pedir sabedoria. Quando o discípulo confia inteiramente nos pensamentos de outro e não vai mais além do que lhe aceitar os planos, ele só vê através dos olhos daquele homem e, até certo ponto, é apenas um eco de outro. Deus trata com os homens como seres responsáveis. Ele, por Seu Espírito, atuará através da mente que Ele pôs no homem, contanto que o homem Lhe dê oportunidade de operar e reconheça o Seu trato. É Seu plano que cada um use por si mesmo a mente e a consciência. Ele não deseja que um homem se torne a sombra de outro, tão-somente externando os sentimentos do outro. T5 725 1 Todos deveriam amar seus irmãos e também respeitar e estimar seus líderes, mas não torná-los seus portadores de cargas. Não devemos despejar todas as nossas dificuldades e perplexidades sobre a cabeça dos outros para esgotá-los. "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando..." Tiago 1:5, 6. Jesus nos convida: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:29-30. T5 725 2 O fundamento do cristianismo é Cristo, nossa justiça. Os homens são individualmente responsáveis diante de Deus e cada um deve agir como sentindo Sua presença e não ser dirigido pela mente de outrem, pois, se essa conduta for seguida, as pessoas não serão impressionadas e dirigidas pelo Espírito do grande Eu Sou. Serão mantidas debaixo de uma restrição que não permite qualquer liberdade de ação ou de escolha. T5 725 3 Não é vontade de Deus que Seu povo em Battle Creek permaneça na presente condição de frieza e inação até que um miraculoso poder opere na igreja e a desperte para a vida e a atividade. Se quisermos ser sábios e usar diligente, piedosa e reconhecidamente os meios por intermédio dos quais luz e bênção advenham ao povo de Deus, então nenhum poder na Terra será capaz de arrebatá-los de nós. Porém, se recusarmos os métodos divinos, não esperemos um milagre Seu para conceder-nos luz, força e poder, pois isso nunca ocorrerá. T5 726 1 O Senhor mostrou-me que os dirigentes estão embaraçando os rumos de Sua obra, porque acham que ela deve ser feita de determinada maneira e que a bênção terá de vir, mas não reconhecem o que vem de outro jeito. Meus irmãos, que o Senhor possa mostrar-lhes essa questão como de fato é. Deus não age conforme os planos humanos ou como os homens desejam; Ele tem um misterioso modo de executar Suas maravilhas. Por que rejeitar os métodos de trabalho do Senhor? Por que eles não coincidem com nossas idéias? Deus tem Seus indicados canais de luz, mas esses não são necessariamente as mentes de nenhum peculiar grupo de homens. Quando todos assumirem seu lugar indicado na obra de Deus, buscando realmente sabedoria e orientação dEle, então grande progresso será feito ao deixarmos a luz brilhar sobre o mundo. Quando os homens pararem de se colocar no caminho, Deus operará entre eles como nunca dantes. T5 726 2 Quando amplos planos estiverem sendo feitos, grande cuidado deve ser tomado para que cada ramo da causa esteja harmoniosamente unido a outro, formando assim um todo perfeito. Mas é freqüente ocorrer o contrário, e como resultado a obra fica incompleta. Um homem que tem a supervisão de certo ramo da obra aumenta suas responsabilidades até que, a seu modo de ver, um departamento esteja acima de todos os outros. Quando essa visão estreita é adotada, exerce-se forte influência para conduzir outros a olharem o assunto sob um mesmo prisma. Isso procede da natureza humana; não é do Espírito de Cristo. À medida que se segue essa política, Cristo é excluído da obra e o eu se salienta. T5 726 3 Os princípios que devem impelir-nos como obreiros na causa de Deus são enunciados pelo apóstolo Paulo. Ele diz: "nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. "E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens." Colossences 3:23. E Pedro exorta os crentes: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo." 1 Pedro 4:10, 11. T5 727 1 Quando estes princípios nos controlam o coração, compreenderemos que a obra é de Deus, não nossa; que Ele tem o mesmo cuidado de cada uma das partes do grande todo. Quando Cristo e Sua glória ocupam o primeiro lugar, e o amor do próprio eu é absorvido pelo amor às pessoas pelas quais Cristo morreu, então nenhum obreiro estará tão completamente absorto num só ramo da causa que perca de vista a importância de todos os outros. T5 727 2 É o egoísmo também que desperta nos obreiros o sentimento de que seu discernimento é mais digno de confiança e seus métodos de trabalho são os melhores, ou que é seu privilégio de alguma forma subjugar a consciência de outros. Tal era o espírito dos líderes judeus nos dias de Cristo. Em sua exaltação própria, os sacerdotes e rabinos apresentavam normas tão rígidas, e tantas formalidades e cerimônias para desviar de Deus a mente do povo, que não Lhe davam oportunidade para atuar em favor deles. Desse modo, perderam de vista o amor e a misericórdia divinos. Meus irmãos, não sigam pelo mesmo caminho. Permitam que a mente do povo se volte para Deus. Dêem-Lhe a oportunidade de trabalhar por aqueles que O amam. Não imponham sobre o povo normas e regulamentos que, se forem seguidos, o deixariam tão destituído do Espírito de Deus assim como as colinas de Gilboa de orvalho e chuva. T5 727 3 Há uma deplorável falta de espiritualidade entre nosso povo. É preciso realizar uma grande obra por eles antes que possam tornar-se aquilo que Cristo deseja que sejam, a luz do mundo. Durante anos venho sentindo profunda angústia de alma por causa do que o Senhor me apresenta acerca da carência de Jesus e Seu amor em nossas igrejas. Tem havido um espírito de auto-suficiência e uma disposição para lutar por posições e supremacia. Vi que a glorificação própria tornou-se comum entre os adventistas do sétimo dia, e a menos que o orgulho do homem seja abatido e Cristo exaltado, não estaremos, como um povo, em melhor condição de receber a Cristo em Seu segundo advento do que o povo judeu estava por ocasião da primeira vinda. T5 728 1 Os judeus aguardavam o Messias; mas Ele não veio como haviam predito que viria, e se Ele houvesse de ser aceito como o Prometido, seus eruditos mestres seriam forçados a reconhecer que haviam errado. Esses líderes separaram-se de Deus, e Satanás lhes trabalhou o espírito a fim de os levar a rejeitar o Salvador. De preferência a diminuir seu orgulho de opinião, fecharam os olhos a todas as evidências de que era o Messias, e não só rejeitaram eles mesmos a mensagem da salvação, mas endureceram o coração do povo contra Jesus. Sua história deve servir-nos de solene advertência. Não devemos nunca esperar que, quando o Senhor tem luz para Seu povo, Satanás se deixe ficar tranquilo a um lado, sem fazer esforços por impedi-los de recebê-la. Trabalhará nos espíritos para despertar desconfiança, inveja e incredulidade. Cuidemos para não recusar a luz que Deus envia, por não vir da maneira que nos agrada. Não seja desviada de nós a bênção de Deus por não conhecermos o tempo de nossa visitação. Se houver quem não reconheça nem aceite a luz, que não feche o caminho a outros. Não se venha a dizer deste povo, altamente favorecido, o que foi dito dos judeus quando lhes foram pregadas as boas novas do reino: "Vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam." Lucas 11:52. T5 728 2 Na Palavra de Deus é-nos ensinado que este é o tempo, acima de todos os outros, em que podemos esperar luz do Céu. É agora que devemos aguardar um refrigério pela presença do Senhor. Devemos estar atentos às atuações da Providência Divina como o exército de Israel estava atento ao "ruído de andadura pelas copas das amoreiras" (1 Crônicas 14:15) -- o sinal de que o Céu agiria em seu favor. T5 729 1 Deus não pode glorificar o Seu nome por meio de Seu povo enquanto estiverem se apoiando no homem e fazendo da carne mortal o seu braço. Sua condição atual de debilidade continuará até que só Cristo seja exaltado; até que, com João Batista, digam com coração humilde e reverente: "É necessário que Ele cresça e que eu diminua." João 3:30. Foram-me dadas palavras para ser ditas ao povo de Deus: "Exaltem o Homem do Calvário. Recue a humanidade para que todos contemplem Aquele em quem se centralizam as esperanças de vida eterna. Diz o profeta Isaías: 'Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.' Isaías 9:6. Que a igreja e o mundo olhem para o seu Redentor. Proclamem todas as vozes com João: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.'" João 1:29. T5 729 2 É à alma sedenta que se abre a fonte das águas vivas. Deus declara: "Derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca." Isaías 44:3. Às pessoas que buscam diligentemente a luz e que aceitam de boa vontade todo raio de iluminação divina vindo de Sua Santa Palavra, unicamente a essas, será a luz comunicada. É por meio dessas pessoas que Deus revelará aquela luz e poder que iluminarão toda a Terra com Sua glória. ------------------------Capítulo 88 -- O inestimável dom T5 729 3 "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nEle... para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em caridade; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, ... para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado, em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça." Efésios 1:3-7. T5 730 1 "Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo... e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus." Efésios 2:4-7. T5 730 2 Tais são as palavras com que Paulo, já idoso, "prisioneiro de Jesus Cristo", escrevendo de sua prisão em Roma, procurou expor a seus irmãos aquilo para o que considerou a linguagem insuficiente para exprimir em toda a sua plenitude -- "as riquezas incompreensíveis de Cristo" (Efésios 3:8), o tesouro da graça livremente oferecido aos caídos filhos dos homens. O plano da redenção foi estabelecido por um sacrifício, uma dádiva. Diz o apóstolo: "Sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis." 2 Coríntios 8:9. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Cristo "Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade". Tito 2:14. E como a suprema bênção da redenção, "o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". Romanos 6:23. T5 730 3 "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam." 1 Coríntios 2:9. Certamente não há ninguém que, contemplando as riquezas de Sua graça, possa deixar de exclamar com o apóstolo: "Graças a Deus pois pelo Seu dom inefável." 2 Coríntios 9:15. T5 730 4 Como o plano da redenção começa e finda com um dom, assim deve ele ser levado adiante. O mesmo espírito de sacrifício que nos comprou a salvação habitará no coração de todos quantos se tornarem participantes do dom celestial. Diz o apóstolo Pedro: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." 1 Pedro 4:10. Disse Jesus a Seus discípulos, quando os enviou: "De graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:8. Não pode haver na pessoa que se acha em harmonia com Cristo sinal algum de egoísmo ou exclusivismo. O que bebe da água viva verificará que ela é "nele uma fonte de água que salte para a vida eterna". João 4:14. O Espírito de Cristo é, dentro dele, uma fonte que brota no deserto para refrigerar a todos, fazendo com que os que se acham prestes a perecer fiquem ansiosos de beber da água da vida. Foi o mesmo espírito de amor e abnegação que habitou em Cristo que impeliu o apóstolo Paulo a seus múltiplos labores. "Eu sou devedor", diz ele, "tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." Romanos 1:14. "A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo." Efésios 3:8. T5 731 1 Nosso Senhor pretendia que Sua igreja refletisse ao mundo a plenitude e eficiência que nEle encontramos. Recebemos continuamente da graça de Deus, e comunicando-a, por nossa vez, representamos para o mundo o amor e a beneficência de Cristo. Enquanto todo o Céu está em movimento, despachando mensageiros a todas as partes da Terra a fim de levarem avante a obra da redenção, a igreja do Deus vivo deve também colaborar com Cristo. Somos membros de Seu corpo. Ele é a cabeça, regendo todos os membros do corpo. O próprio Jesus, em Sua infinita misericórdia, está operando nos corações humanos, efetuando transformações espirituais tão admiráveis, que os anjos as contemplam com assombro e alegria. O mesmo abnegado amor que se destaca no Mestre manifesta-se no caráter e na vida de Seus verdadeiros seguidores. Cristo espera que os homens se tornem participantes de Sua natureza divina enquanto estão aqui no mundo, refletindo assim não somente Sua glória para louvor de Deus, mas iluminando as trevas deste mundo com as irradiações do Céu. Assim se cumprirão as palavras de Cristo: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. T5 731 2 "Nós somos cooperadores de Deus" (1 Coríntios 3:9), "despenseiros da multiforme graça de Deus." 1 Pedro 4:10. O conhecimento da graça de Deus, as verdades de Sua Palavra, bem como os dons temporais -- tempo e meios, talentos e influência -- constituem todos um legado da parte de Deus, para serem empregados para glória Sua e salvação dos homens. Coisa alguma pode ser mais ofensiva a Deus, que está constantemente outorgando Seus dons ao homem, do que vê-lo de forma egoísta apegado a esses dons, sem nada devolver ao Doador. Jesus está agora no Céu preparando mansões para os que O amam; sim, mais que mansões, um reino que nos há de pertencer. Todos, porém, quantos hão de herdar essas bênçãos precisam partilhar da abnegação e sacrifício de Cristo para o bem de outros. T5 732 1 Jamais houve maior necessidade de diligente e abnegado labor na causa de Cristo do que agora, quando as horas do tempo de graça se estão rapidamente a encerrar, e a última mensagem de misericórdia tem de ser dada ao mundo. Meu espírito se comove dentro de mim ao vir de todas as direções o grito macedônico, de cidades e vilas de nossa própria terra, de além do Atlântico e do vasto Pacífico e das ilhas do mar: "Passa... e ajuda-nos." Atos dos Apóstolos 16:9. Irmãos e irmãs, responderão vocês a esse clamor, dizendo: "Faremos tudo ao nosso alcance, tanto em enviar missionários como em dar dinheiro. Renunciaremos a nós mesmos no embelezamento de nossa casa, no adorno de nossa pessoa e na satisfação do apetite. Poremos na causa de Deus o dinheiro que nos foi confiado e nos devotaremos também sem reservas a Sua obra"? As necessidades da obra são-nos expostas; os tesouros vazios constituem para nós mui comovente apelo. Um dólar agora vale mais do que dez num período futuro. T5 732 2 Trabalhemos, irmãos, trabalhemos enquanto temos oportunidade, enquanto o dia se prolonga. Trabalhemos, pois "a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". Não temos como saber quanto tempo falta para chegar aquela noite. Agora é a nossa oportunidade; vamos aproveitá-la. Se existem alguns que não podem fazer esforço pessoal na obra missionária, que vivam economicamente, dando de seus rendimentos. Podem assim contribuir com dinheiro para o envio de revistas e livros para os que não têm a luz da verdade. Podemos também ajudar a pagar as despesas de alunos que estão se preparando para a obra missionária. Que todo dinheiro que for possível poupar seja posto no banco celeste. T5 733 1 "Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no Céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração." Mateus 6:19-21. T5 733 2 Eis as palavras de Jesus, que tanto nos amou que deu a própria vida, para que pudéssemos ter um lar com Ele em Seu reino. Não desonremos nosso Senhor desprezando-Lhe a ordem explícita. T5 733 3 Deus pede aos que têm posses em terras e casas que as vendam para empregar o dinheiro onde ele pode suprir a grande necessidade no campo missionário. Havendo eles experimentado a verdadeira satisfação que provém de assim fazer, manterão aberto o conduto, e os meios que o Senhor lhes confiou fluirão sem cessar para o tesouro, a fim de que pessoas sejam convertidas. Essas pessoas, por sua vez, exercerão a mesma abnegação, economia e simplicidade por amor a Cristo, de maneira a poderem, também, levar suas ofertas a Deus. Mediante esses talentos, sabiamente empregados, outras pessoas ainda podem ser convertidas; e assim prossegue a obra, mostrando que os dons de Deus são apreciados. O Doador é reconhecido, e a fidelidade de Seus mordomos redunda em glória para Ele. T5 733 4 Quando fazemos esses fervorosos apelos em benefício da causa de Deus, e apresentamos as necessidades financeiras de nossas missões, pessoas conscienciosas que crêem na verdade ficam profundamente comovidas. Como a viúva pobre, a quem Cristo elogiou, a qual pôs no tesouro as duas moedinhas, dão de sua pobreza, ao máximo de sua capacidade. Essas pessoas privam-se muitas vezes das próprias necessidades aparentes da vida; ao passo que há homens e mulheres que, possuindo casas e terras, apegam-se ao tesouro terreno com tenaz egoísmo, e não têm fé suficiente na mensagem e em Deus para empregar seus meios em Sua obra. A estes se aplicam especialmente as palavras de Cristo: "Vendei o que tendes, e dai esmolas." Lucas 12:33. T5 734 1 Homens e mulheres pobres há que me escrevem pedindo conselho quanto a deverem eles vender sua morada e darem o resultado à causa. Dizem que os apelos no sentido de meios lhes tocam o coração, e querem fazer alguma coisa pelo Mestre que tudo tem feito por eles. A esses, eu diria: "Talvez não seja seu dever vender sua casinha agora; busque, porém, a Deus por si mesmo; certamente o Senhor lhe ouvirá a sincera oração pedindo sabedoria para compreender seu dever." Caso houvesse mais pessoas buscando de Deus sabedoria celestial, e menos pessoas procurando a sabedoria humana, seria incomparavelmente maior a luz vinda do Céu, e Deus abençoaria o humilde indagador. Posso, todavia, dizer àqueles a quem Deus confiou bens, que são possuidores de casas e terras: "Comecem a vender, e dar ofertas. Não se detenham. Deus espera de vocês mais do que têm tido boa vontade de dar." Convidamos a todos os que possuem recursos a indagar com sincera oração: Até que ponto requer Deus de mim e de minha propriedade? Há agora uma obra a fazer no sentido de preparar um povo para subsistir no dia do Senhor. Importa empregar meios na obra de salvar homens que, por sua vez, hão de trabalhar por outros. Sejamos prontos em devolver a Deus o que Lhe é devido. Uma razão de haver tão grande carência do Espírito de Deus é estarem tantos roubando ao Senhor. T5 734 2 Há na experiência das igrejas da Macedônia, tal como Paulo a descreve, uma lição para nós. Diz ele que eles "a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor". 2 Coríntios 8:5. Depois, estavam ansiosos por dar seus meios a Cristo. "Em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e... a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico), e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente, pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço." 2 Coríntios 8:2-4. T5 735 1 Paulo estabelece uma regra para dar à causa de Deus, e diz-nos quais serão os resultados, tanto em relação a nós mesmos como a Deus. "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." "E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará." "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra. ... Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus." 2 Coríntios 9:7, 6, 8, 10, 11. T5 735 2 Não devemos pensar que podemos fazer ou dar qualquer coisa que nos dê direito ao favor de Deus. Diz o apóstolo: "Que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?" Quando Davi e o povo de Israel haviam reunido o material que prepararam para a construção do templo, o rei, ao entregar o tesouro aos príncipes da congregação, regozijou-se e deu graças a Deus em palavras que deveriam permanecer sempre no coração do povo de Deus. "Davi louvou ao Senhor perante os olhos de toda a congregação; e disse Davi: Bendito és Tu, Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eternidade em eternidade. Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder e a honra, e a vitória, e a majestade, porque Teu é tudo quanto há nos Céus e na Terra; ... E na Tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo. Agora, pois, ó Deus nosso, graças Te damos, e louvamos o nome da Tua glória. Por que, quem sou eu, e quem é o meu povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas? Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos. Porque somos estranhos diante de Ti, e peregrinos como todos os nossos pais; como a sombra são os nossos dias sobre a Terra, e não há outra esperança. Senhor, Deus nosso, toda esta abundância, que preparamos, para Te edificar uma casa ao Teu santo nome, vem da Tua mão, e toda é Tua. E bem sei eu, Deus meu, que Tu provas os corações, e que da sinceridade Te agradas. Eu também na sinceridade de meu coração voluntariamente dei todas estas coisas; e agora vi com alegria que o Teu povo, que se acha aqui, voluntariamente Te deu." 1 Crônicas 29:10-17. T5 736 1 Fora Deus que provera o povo com as riquezas da terra, e Seu Espírito o fizera voluntário para levar das preciosidades que possuíam para o templo. Tudo era do Senhor; se Seu divino poder não houvesse movido o coração do povo, os esforços do rei teriam sido em vão, e nunca se haveria construído o templo. T5 736 2 Tudo quanto os homens recebem da generosidade divina pertence ainda a Deus. Tudo quanto Ele tem concedido das coisas valiosas e belas da Terra é colocado em nossas mãos para provar-nos, para sondar a profundidade de nosso amor por Ele, e de nossa apreciação de Seus favores. Sejam os tesouros da riqueza ou da inteligência, devem ser depositados como oferta voluntária aos pés de Jesus. T5 736 3 Nenhum de nós pode passar sem as bênçãos de Deus, mas Ele pode fazer Sua obra sem auxílio humano, se assim quiser. Deus, no entanto, dá a cada homem sua obra, e confia-lhes tesouros de riqueza e de inteligência, como a mordomos Seus. Seja o que for que devolvamos a Deus é, pela Sua misericórdia, posto em nosso favor como mordomos fiéis. Devemos compreender sempre, porém, que isto não é uma obra de mérito por parte do homem. Por grande que seja a capacidade do homem, nada ele possui que não lhe tenha sido dado por Deus, e que Ele não possa retirar, caso esses preciosos testemunhos de Seu favor não sejam apreciados e devidamente aplicados. Os anjos de Deus, cujas percepções não foram obscurecidas pelo pecado, reconhecem os dons do Céu como concedidos com a intenção de que os mesmos sejam devolvidos de tal maneira que acrescentem a glória do grande Doador. O bem-estar do homem está ligado à soberania de Deus. A glória de Deus é a alegria e a bênção de todos os seres criados. Quando buscamos promover-Lhe a glória, estamos procurando para nós mesmos o máximo bem que nos é possível receber. Irmãos e irmãs em Cristo, Deus pede a consagração de toda faculdade, todo dom que dEle receberam, a Seu serviço. Quer que digam com Davi: "Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. ------------------------Capítulo 89 -- O caráter de Deus revelado em Cristo T5 737 1 Disse o Salvador: "E a vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. E Deus declarou por meio do profeta: "Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23, 24. T5 737 2 Homem algum, sem auxílio divino, pode atingir esse conhecimento de Deus. O apóstolo diz que "o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria". 1 Coríntios 1:21. Cristo "estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu". João 1:10. Jesus declarou aos discípulos: "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar." Mateus 11:27. Naquela última oração por Seus seguidores, antes de penetrar nas sombras do Getsêmani, o Salvador elevou os olhos ao céu, e em piedade para com a ignorância dos homens caídos, disse: "Pai justo, o mundo não Te conheceu; mas Eu Te conheci." "Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste." João 17:25, 26. T5 738 1 Desde o princípio, tem sido plano estudado de Satanás fazer com que os homens se esqueçam de Deus, de modo a dominá-los. Daí, tem procurado desfigurar o caráter de Deus, levar os homens a nutrir uma falsa concepção a Seu respeito. O Criador tem sido apresentado ao espírito deles revestido com os atributos do próprio príncipe do mal -- arbitrário, severo, inexorável -- para que seja temido, evitado e mesmo odiado pelos homens. Satanás esperava confundir por tal forma a mente daqueles a quem havia enganado, que excluíssem a Deus de suas cogitações. Então apagaria a imagem divina no homem e imprimiria sua própria semelhança na alma; faria com que os homens se possuíssem de seu próprio espírito, escravizando-os à sua vontade. T5 738 2 Foi mediante a falsificação do caráter de Deus e o instigar desconfiança contra Ele que Satanás tentou Eva a transgredir. Devido ao pecado foi a mente de nossos primeiros pais obscurecida, degradada sua natureza, e suas concepções acerca de Deus foram moldadas por sua própria estreiteza e egoísmo. E à medida que os homens se tornaram mais ousados no pecado, o conhecimento e o amor de Deus se desvaneceram da mente e do coração deles. "Porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus", "em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu." Romanos 1:21. T5 738 3 Por vezes a contenda de Satanás em busca do controle da família humana parecia coroada de êxito. Durante os séculos que precederam o primeiro advento de Cristo, o mundo parecia quase inteiramente sob o domínio do príncipe das trevas, e ele governava com poder terrível, como se por meio do pecado de nossos primeiros pais os reinos do mundo se houvessem tornado de direito propriedade sua. O próprio povo do concerto, a quem Deus escolhera para preservar no mundo o Seu conhecimento, tanto se apartara dele que perdera toda verdadeira concepção de Seu caráter. T5 738 4 Cristo veio a fim de revelar Deus ao mundo como um Deus de amor, pleno de misericórdia, ternura e compaixão. A espessa escuridão com que Satanás se esforçara por circundar o trono da Divindade foi dissipada pelo Redentor do mundo, e o Pai mais uma vez Se manifestou aos homens como a luz da vida. T5 739 1 Quando Filipe foi até Jesus, pedindo: "Mostra-nos o Pai, o que nos basta", o Salvador respondeu-lhe: "Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? quem Me vê a Mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" João 14:8, 9. Cristo declara-Se enviado ao mundo como representante do Pai. Em Sua nobreza de caráter, em Sua misericórdia e terna piedade, em Seu amor e bondade, Ele Se acha perante nós como a encarnação da perfeição divina, a imagem do Deus invisível. T5 739 2 Diz o apóstolo: "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo." 2 Coríntios 5:19. Unicamente ao contemplarmos o grande plano da redenção podemos apreciar devidamente o caráter de Deus. A obra da criação foi uma manifestação de Seu amor; mas somente o dom de Deus para salvar a culpada e perdida raça revela as infinitas profundezas da ternura e compaixão divinas. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Ao passo que a lei de Deus é mantida, e sua justiça reivindicada, pode o pecador ser perdoado. O mais precioso dom que o Céu possuía para conceder foi outorgado para que Deus "seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus". Romanos 3:26. Por esse dom são os homens erguidos da ruína e degradação do pecado para se tornarem filhos de Deus. Diz Paulo: "Recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Abba, Pai." Romanos 8:15. T5 739 3 Irmãos, com o amado João, rogo: "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Que amor, que incomparável amor, que, pecadores e estranhos como somos, possamos ser levados novamente a Deus e adotados em Sua família! A Ele nos podemos dirigir chamando-O pelo terno nome de "Pai nosso" (Mateus 6:9), o que é um sinal de nossa afeição por Ele, e um penhor de Sua terna consideração e parentesco para conosco. E o Filho de Deus, olhando aos herdeiros da graça, "não Se envergonha de lhes chamar irmãos". Hebreus 2:11. Têm para com Deus uma relação ainda mais sagrada do que os anjos que jamais caíram. T5 740 1 Todo o amor paternal que veio de geração em geração através do coração humano e toda fonte de ternura que se abriu na alma do homem não passam de tênue riacho em comparação com o ilimitado oceano, quando postos ao lado do infinito, inesgotável amor de Deus. A língua não o pode exprimir, nem a pena é capaz de o descrever. Pode-se meditar nele todos os dias de nossa vida; pode-se esquadrinhar diligentemente as Escrituras a fim de compreendê-lo; pode-se reunir toda faculdade e poder a nós concedidos por Deus, no esforço de compreender o amor e a compaixão do Pai celeste; e todavia existe ainda um infinito para além. Pode-se estudar por séculos esse amor; não obstante jamais se poderá compreender plenamente a extensão, a largura, a profundidade e a altura do amor de Deus em dar Seu Filho para morrer pelo mundo. A própria eternidade nunca o poderá bem revelar. No entanto, ao estudarmos a Bíblia e meditarmos sobre a vida de Cristo e o plano da redenção, esses grandes temas se desdobrarão mais e mais ao nosso entendimento. E sobre nós virá a bênção que Paulo desejava à igreja de Éfeso ao orar "que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em Seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da Sua vocação, e quais as riquezas da glória da Sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos". Efésios 1:17-19. T5 740 2 É o constante cuidado de Satanás manter a mente dos homens ocupada com aquilo que os impede de obter o conhecimento de Deus. Busca mantê-los pensando nas coisas que obscurecerão o entendimento e desanimarão a alma. Achamo-nos em um mundo de pecado e corrupção, rodeados de influências que tendem a seduzir ou desanimar os seguidores de Cristo. Disse o Salvador: "Por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará." Mateus 24:12. T5 741 1 Muitos fixam os olhos na terrível impiedade que existe em torno deles, a apostasia e fraqueza de todos os lados, e falam sobre essas coisas até que o coração se lhes enche de tristeza e dúvida. Conservam especialmente na imaginação a magistral operação do arquienganador, e pensam nos aspectos desanimadores de sua vida, ao passo que parecem perder de vista o poder do Pai celeste e Seu incomparável amor. Tudo isso é justamente o que Satanás quer. É um erro pensar no inimigo da justiça como revestido de tão grande poder, quando tão pouco demoramos no amor de Deus e em Sua força. Precisamos falar no poder de Cristo. Somos indizivelmente impotentes para nos salvar das garras de Satanás; Deus, porém, indicou um meio de escape. O Filho do Altíssimo tem poder para combater o combate por nós, e "por Aquele que nos amou", podemos sair "mais que vencedores". Romanos 8:37. T5 741 2 Não há nenhuma força espiritual para nós em continuamente pensar em nossa fraqueza e nossos desvios, e lamentar a força de Satanás. Esta grande verdade deve ser estabelecida como princípio vivo em nosso espírito e coração -- a eficácia da oferta feita por nós; que Deus pode salvar perfeitamente, e salva todos quantos a Ele se achegam cumprindo as condições especificadas em Sua Palavra. Nossa obra é colocar a própria vontade ao lado da Sua. Então, mediante o sangue da expiação, tornamo-nos participantes da natureza divina; por intermédio de Cristo, somos filhos de Deus, e temos a certeza de que Deus nos ama, mesmo como amou a Seu Filho. Somos um com Jesus. Andamos seguindo a direção de Cristo; Ele tem poder para dissipar as negras sombras lançadas por Satanás em nosso caminho; e, em vez de trevas e desânimo, brilha em nosso coração o sol de Sua glória. T5 742 1 Nossa esperança deve ser constantemente fortalecida pelo conhecimento de que Cristo é nossa justiça. Repouse nossa fé sobre esse fundamento, pois ele subsiste para sempre. Em vez de deter-nos nas trevas do inimigo e temer-lhe o poder, devemos abrir o coração para a luz vinda de Cristo e deixar que ela irradie sobre o mundo, declarando que Ele está acima de todo o poder satânico, que Seu braço mantenedor sustentará todos quantos nEle confiam. T5 742 2 Disse Jesus: "O mesmo Pai vos ama." João 16:27. Se nossa fé se fixa em Deus, por meio de Cristo, ela se demonstrará "como âncora da alma segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, onde Jesus, nosso Precursor, entrou por nós". Hebreus 6:19. É verdade que sobrevirão decepções; temos de esperar tribulações; mas cumpre-nos entregar tudo, pequeno ou grande que seja, a Deus. Ele não fica perplexo com a multidão de nossos pesares, nem sobrecarregado pelo peso de nossas preocupações. Seu vigilante cuidado estende-se a cada família, circunda cada pessoa; Ele Se interessa em todos os nossos negócios e dores. Observa cada lágrima; é tocado pelo sentimento de nossas enfermidades. Todas as aflições e provas que nos sobrevêm aqui são permitidas a fim de operarem Seus desígnios de amor a nosso respeito, "para sermos participantes da Sua santidade" (Hebreus 12:10) e assim nos tornarmos participantes daquela plenitude de alegria que se encontra em Sua presença. T5 742 3 "O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Coríntios 4:4. Mas a Bíblia apresenta-nos, nos termos mais vigorosos, a importância de obter o conhecimento de Deus. Diz Pedro: "Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus, e de Jesus nosso Senhor." "Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento dAquele que nos chamou por Sua glória e virtude." 2 Pedro 1:2, 3. E a Escritura nos manda: "Une-te, pois, a Ele, e tem paz." Jó 22:21. T5 743 1 Deus nos ordenou: "Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:16. E um inspirado apóstolo declara que, sem santidade, "ninguém verá o Senhor". Hebreus 12:14. Santidade é harmonia com Deus. Pelo pecado, a imagem divina foi desfigurada no homem, e quase obliterada; é a obra do evangelho restaurar o que se havia perdido; e cumpre-nos cooperar com o agente divino nessa obra. E como podemos chegar à harmonia com Deus, como nos é possível receber-Lhe a imagem, a menos que obtenhamos conhecimento a Seu respeito? Foi esse conhecimento que Cristo veio ao mundo para nos revelar. T5 743 2 A deficiente visão que muitos têm do ofício e caráter de Cristo tem-lhes estreitado a experiência religiosa, prejudicando grandemente o progresso na vida divina. A religião pessoal, entre nós como um povo, acha-se pouco valorizada. Há muita fama, muito equipamento, muita promessa; mas algo mais profundo e mais sólido precisa ser introduzido em nossa vida religiosa. Com todos os nossos recursos, nossas casas publicadoras, escolas, hospitais e muitas, muitas outras vantagens, era para estarmos incomparavelmente mais adiantados do que nos encontramos. T5 743 3 A obra do cristão nesta vida é representar a Cristo perante o mundo, revelando, na vida e no caráter, o bendito Jesus. Se Deus nos tem dado luz, é para que a revelemos aos outros. Mas, em comparação com a luz que temos recebido e as oportunidades e privilégios a nós concedidos para alcançar o coração do povo, os resultados de nossa obra até aqui têm sido demasiado pequenos. É desígnio de Deus que a verdade que nos apresentou ao entendimento produza mais frutos do que tem apresentado até agora. Mas, quando nosso espírito se acha cheio de sombras e tristezas, fixando-se nas trevas e no mal que nos rodeiam, como podemos representar a Cristo perante o mundo? Como pode nosso testemunho possuir força para ganhar almas? O que precisamos é conhecer a Deus e o poder de Seu amor, tal como se acham revelados em Cristo, mediante conhecimento experimental. Precisamos examinar diligentemente as Escrituras, com oração; nosso entendimento deve ser avivado pelo Espírito Santo, e o coração erguido a Deus com fé, esperança e contínuo louvor. T5 744 1 Por meio dos méritos de Cristo, de Sua justiça, que pela fé nos são imputados, cumpre-nos atingir a perfeição do caráter cristão. Nossa obra diária e de cada momento é salientada nas palavras do apóstolo: "Olhando para Jesus, autor e consumador da fé." Hebreus 12:2. Enquanto assim fazemos, nossa mente se torna mais clara e nossa fé mais robusta, e nossa esperança é confirmada; ficamos tão absorvidos com a visão de Sua pureza e amabilidade e pelo sacrifício que Ele fez para nos pôr em harmonia com Deus, que não temos disposição para falar de dúvidas e desânimo. T5 744 2 A manifestação do amor de Deus, Sua misericórdia e bondade, e a obra do Espírito Santo sobre o coração a fim de iluminá-lo e renová-lo colocam-nos, mediante a fé, em tão íntima ligação com Cristo que, tendo uma clara concepção de Seu caráter, somos habilitados a discernir os magistrais enganos de Satanás. Olhando para Jesus e confiando em Seus méritos, apoderamo-nos das bênçãos da luz, da paz, da alegria no Espírito Santo. E em vista das grandes coisas que Cristo tem feito por nós, somos habilitados a exclamar: "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. T5 744 3 Irmãos e irmãs, é pela contemplação que somos transformados. Fixando-nos no amor de Deus e nosso Salvador, mediante a contemplação da perfeição do caráter divino e reclamando a justiça de Cristo como sendo nossa pela fé, haveremos de ser transformados à mesma imagem. Não reunamos, pois, todos os quadros desagradáveis -- iniqüidades, corrupções e decepções, provas do poder de Satanás -- a fim de os suspender nas paredes da memória, para falar e lamentar sobre essas coisas até que todos fiquem completamente desanimados. Uma alma desanimada é um corpo entenebrecido, não deixando de receber, ele somente, a luz de Deus, mas impedindo-a de atingir aos outros. Satanás gosta de ver o efeito dos quadros de seus triunfos, tornando as criaturas humanas destituídas de fé e desalentadas. T5 745 1 Graças a Deus, quadros mais luminosos e animadores são-nos apresentados pelo Senhor. Agrupemos as benditas afirmações de Seu amor como preciosos tesouros, a fim de que as possamos continuamente contemplar. O Filho de Deus deixando o trono de Seu Pai, revestindo de humanidade Sua divindade, de maneira a poder resgatar o homem do poder de Satanás; Seu triunfo em nosso favor, abrindo o Céu ao homem, revelando aos olhos humanos a câmara em que a Divindade manifesta Sua glória; a raça caída, elevada do abismo em que o pecado a imergira e novamente posta em ligação com o infinito Deus, e, havendo suportado a prova divina mediante a fé em nosso Redentor, revestida da justiça de Cristo e exaltada a Seu trono -- eis os quadros com que Deus nos manda alegrar as lembranças mais profundas da nossa mente. E, "não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem", verificaremos que "nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente". 2 Coríntios 4:18, 17. T5 745 2 No Céu, Deus é tudo em todos. Ali reina suprema a santidade; não há nada para manchar a perfeita harmonia com Deus. Caso estejamos realmente jornadeando para lá, o espírito do Céu habitará em nosso coração desde aqui. Mas, se não encontramos prazer agora na contemplação das coisas celestes; se não temos qualquer interesse em buscar o conhecimento de Deus, deleite algum em deter os olhos no caráter de Cristo; se a santidade não tem a menor atração para nós -- podemos então estar certos de que é vã nossa esperança do Céu. A perfeita conformidade com a vontade de Deus é o elevado objetivo que deve estar sempre diante do cristão. Terá prazer de falar acerca de Deus, de Jesus, do lar puro e bem-aventurado que Cristo preparou para os que O amam. O meditar nesses temas, quando o espírito se deleita nas benditas promessas de Deus, é representado pelo apóstolo como provar "as virtudes do século futuro". T5 746 1 Acham-se mesmo adiante de nós as lutas finais do grande conflito em que, com "todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça", Satanás trabalhará para apresentar falsamente o caráter de Deus, a fim de poder, "se possível fora", enganar "até os escolhidos". Mateus 24:24. Se já houve um povo necessitado de luz sempre crescente do Céu, é o povo que, neste tempo de perigo, Deus chamou para serem depositários de Sua lei e reivindicar Seu caráter perante o mundo. Aqueles a quem foi confiado tão sagrado legado devem ser espiritualizados, elevados, possuídos de vitalidade mediante as virtudes que professam crer. T5 746 2 Jamais a igreja necessitou tanto, e nunca foi Deus tão solícito para que ela fruísse, a experiência descrita na carta de Paulo aos Colossenses, quando escreveu: Nós "não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da Sua vontade em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus". Colossences 1:9, 10. ------------------------Capítulo 90 -- O verbo se fez carne T5 746 3 A união do divino com a natureza humana é uma das mais preciosas e misteriosas verdades do plano da redenção. É dela que fala o apóstolo Paulo nestas palavras: "Sem dúvida nenhuma, grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne." 1 Timóteo 3:16. T5 746 4 Essa verdade tem sido para muitos causa de dúvida e incredulidade. Quando Cristo veio ao mundo -- como Filho de Deus e do homem -- não foi compreendido pelo povo de Seu tempo. Humilhou-Se, tomando a natureza humana para poder atingir a raça decaída e reabilitá-la. Em virtude do pecado, porém, os homens tinham o espírito obscurecido, as faculdades entorpecidas e a percepção embotada a ponto de não Lhe discernirem o caráter divino sob as vestes da humanidade. Essa falta de compreensão de sua parte foi um obstáculo à obra que Cristo Se propunha realizar em seu favor; de sorte que, para imprimir força aos Seus ensinos, precisou muitas vezes definir e defender Sua posição. Pela referência ao Seu caráter misterioso e divino, tentou dar às Suas idéias uma orientação que favorecesse a virtude reformadora da verdade. T5 747 1 De outras vezes, servia-Se dos objetos da natureza, que lhes eram familiares, a fim de ilustrar as verdades divinas. O terreno do coração era desse modo preparado para receber a boa semente. Fazia sentir aos ouvintes que Seus interesses estavam identificados com os deles e que Seu coração pulsava em simpatia por eles, nas suas alegrias e tristezas. Ao mesmo tempo, podiam observar nEle a revelação de um poder e excelência que muito excediam os que possuíam seus mais respeitáveis rabinos. Os ensinos de Cristo se assinalavam por uma simplicidade, dignidade e virtude até então deles desconhecidas, e sua involuntária exclamação eram estas palavras: "Nunca homem algum falou assim como este Homem." João 7:46. O povo escutava-O com prazer; mas os sacerdotes e príncipes -- que faltavam eles próprios à sua dignidade de guardiães da verdade -- aborreciam a Cristo pela graça nEle revelada, que afastava deles as multidões para seguirem a Luz da vida. Por sua influência, a nação judaica, deixando de discernir o caráter divino de Cristo, rejeitou o Salvador. T5 747 2 A união do divino com o humano, manifestada em Cristo, se nos depara também na Bíblia. As verdades nela reveladas são inspiradas por Deus; contudo, são expressas por palavras de homens e adaptadas às necessidades humanas. Assim se poderia afirmar acerca do Livro de Deus o que se disse de Cristo, que "o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós". João 1:14. E esse fato, longe de constituir um argumento contra a Bíblia, deve fortalecer a nossa fé nela como a Palavra de Deus. Os que se pronunciam sobre a inspiração das Escrituras Sagradas, aceitando algumas partes como divinas, enquanto rejeitam outras como de origem humana, perdem de vista o fato de que Cristo, o divino, participou da natureza humana a fim de poder atingir a humanidade. Na obra de Deus para a redenção do homem, a divindade e a humanidade se identificaram. T5 748 1 Há muitas passagens nas Escrituras que os críticos céticos declaram não ser inspiradas, mas que, na sua excelente adaptação às necessidades dos homens, constituem as mensagens do próprio Deus para conforto de Seus filhos que nEle confiam. Uma bela ilustração desse fato ocorre na história do apóstolo Pedro. Estava preso, esperando ser executado no dia seguinte. Aquela noite dormia "entre dois soldados, ligado com duas cadeias, e os guardas diante da porta guardavam a prisão. E eis que sobreveio o anjo do Senhor, e resplandeceu uma luz na prisão; e, tocando a Pedro no lado, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa! E caíram-lhe das mãos as cadeias". Atos dos Apóstolos 12:6, 7. Pedro, subitamente despertado, extasiou-se com a claridade que inundava o cárcere, e a beleza celestial do mensageiro divino. Não compreendeu a cena, mas sabia que estava livre, e em seu assombro e júbilo se teria retirado da prisão sem ter o cuidado de agasalhar-se do frio ar da noite. O anjo de Deus, notando todas as circunstâncias, disse-lhe com terna solicitude pelas necessidades do apóstolo: "Cinge-te e ata as tuas sandálias." Atos dos Apóstolos 12:8. Pedro obedeceu mecanicamente; mas, tão embevecido estava diante da revelação daquela glória celestial, que não pensou em tomar a capa. Ordenou-lhe então o anjo: "Lança às costas a tua capa e segue-me. E, saindo, o seguia. E não sabia que era real o que estava sendo feito pelo anjo, mas cuidava que via alguma visão. E, quando passaram a primeira e segunda guarda, chegaram à porta de ferro que dá para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua, e logo o anjo se apartou dele." Atos dos Apóstolos 12:8-10. Achou-se, pois, o apóstolo só nas ruas de Jerusalém. "E Pedro, tornando a si, disse: Agora sei verdadeiramente -- não eram pois um sonho ou uma visão, e sim um acontecimento real -- que o Senhor enviou o Seu anjo, e me livrou da mão de Herodes, e de tudo que o povo dos judeus esperava." Atos dos Apóstolos 12:11. T5 748 2 Os céticos podem sorrir à idéia de que um anjo glorioso do Céu houvesse de dar atenção a uma coisa tão trivial como a de cuidar destas simples necessidades humanas, pondo talvez em dúvida a inspiração dessa narrativa. Mas na sabedoria divina essas coisas foram relatadas na história sagrada não para benefício dos anjos, mas em atenção aos homens, para que, quando postos em situações difíceis, encontrassem conforto na idéia de que o Céu a todos conhece. T5 749 1 Jesus declarou que nem mesmo um passarinho cai ao solo sem ser notado pelo Pai celestial, e que se Deus tem presentes as necessidades de todas essas pequenas aves, muito mais cuidará dos que se fizerem súditos de Seu reino, e que, pela fé nEle, se constituírem herdeiros da vida eterna. Oh, se o espírito humano pudesse ao menos compreender -- na medida em que o plano da redenção pode ser apreendido por mentes finitas -- a obra de Jesus em tomar a natureza humana e o que Se propõe realizar por nós com esta Sua maravilhosa condescendência, o coração dos homens se comoveria de gratidão pelo grande amor de Deus, e humildemente adorariam a divina sabedoria que delineou o mistério da graça! ------------------------Capítulo 91 -- O cuidado de Deus por sua obra T5 749 2 Foi sob circunstâncias difíceis e desalentadoras que Isaías, sendo ainda moço, foi chamado para exercer o ministério da profecia. Seu país estava nesse tempo ameaçado de destruição. Por sua transgressão da lei de Deus, o povo judeu se privara da proteção divina, e os exércitos dos assírios estavam a ponto de invadir o reino de Judá. Entretanto, o perigo que ameaçava a nação da parte dos inimigos não era o que mais o afligia. Era a perversidade de seu povo que mais profundamente deprimia o espírito do servo de Deus. Por sua apostasia e rebelião, esse povo desafiava os juízos divinos. Chamado a transmitir-lhe uma mensagem de advertência, o jovem profeta sabia que teria de defrontar a mais obstinada resistência. Tremeu por isso, quando pôs os olhos em si mesmo e pensou na pertinácia e incredulidade do povo a favor do qual lhe cumpria trabalhar. Sua tarefa pareceu-lhe não oferecer nenhuma probabilidade de êxito. Deveria, em seu desespero, subtrair-se à sua missão e abandonar Israel à idolatria? Deveriam os deuses de Nínive dominar a Terra em desafio ao Deus do Céu? T5 750 1 Esses pensamentos o agitaram, quando Isaías se achava no pórtico do templo. De repente, pareceu-lhe que a porta e o véu do interior do templo se abriram ou foram corridos, sendo-lhe permitido relancear a vista para dentro do santo dos santos, onde nem mesmo os pés de um profeta poderiam pisar. Perpassou-lhe então diante dos olhos uma visão em que Jeová apareceu sentado num alto e sublime trono, enchendo o Seu séquito o recinto do templo. De cada lado do trono se vinham os serafins, que com duas asas voavam, com outras duas cobriam o rosto em adoração e com duas os pés. Em adoração solene exclamavam esses anjos: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: Toda a Terra está cheia de Sua glória!" (Isaías 6:3) até que os umbrais, as colunas e o portal de cedro pareciam tremer ao som e toda a casa se encheu de Seu louvor. T5 750 2 Nunca dantes compreendera Isaías tão plenamente a grandeza de Jeová ou Sua perfeita santidade; e, em sua fragilidade e imperfeição, pareceu-lhe que teria de perecer ante a divina presença. "Ai de mim", exclamou, "que vou perecendo porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" Isaías 6:5. Desceu então a ele um dos serafins, a fim de prepará-lo para sua grande missão. Com uma brasa viva tirada do altar, tocou-lhe nos lábios e disse: "Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e purificado o teu pecado." Quando, pois, se fez ouvir a voz de Deus perguntando: "A quem enviarei, e quem há de ir por Nós?" Isaías respondeu em tom repassado de santa confiança: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:7, 8. T5 751 1 Que aconteceria se os poderes terrestres se arregimentassem contra Judá? Que sucederia se Isaías enfrentasse oposição e resistência em sua missão? Contemplara o Rei, o Senhor dos Exércitos; ouvira o canto dos serafins: "toda a Terra está cheia da Sua glória"; e o profeta foi confortado para a obra que tinha à frente. A lembrança desta sua visão o acompanhou através de toda a sua longa e árdua missão. T5 751 2 Ezequiel, o melancólico profeta do exílio na terra dos caldeus, foi agraciado com uma visão que lhe ensinou a mesma lição de fé no Deus Todo-poderoso de Israel. Estando à margem do rio Quebar, eis que um vento tempestuoso vinha do norte, "uma grande nuvem, com um fogo a revolver-se; e um resplendor ao redor dela, e no meio uma coisa como da cor de âmbar". Ezequiel 1:4. Várias rodas de estranha aparência, girando umas dentro das outras, pareciam movidas por criaturas viventes. E acima de tudo isto "havia uma semelhança de trono, como duma safira; e sobre a semelhança do trono havia como que a semelhança dum homem, no alto sobre ele". Ezequiel 1:26. "E, quanto à semelhança dos animais, o seu parecer era como brasas de fogo ardentes, como uma aparência de tochas; o fogo corria por entre os animais, e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos." Ezequiel 1:13. "E tinham mãos de homem debaixo das suas asas." Ezequiel 1:8. T5 751 3 O complexo de rodas visto por Ezequiel era uma combinação tão complicada que à primeira vista lhe pareceu uma verdadeira confusão. Mas quando se moviam, havia nelas a mais admirável ordem e perfeita harmonia. Essas rodas eram impelidas por criaturas celestiais, e acima de todo aquele conjunto estava assentado sobre um trono de safira o Deus eterno, cujo trono era circundado por um arco-íris, o símbolo da graça e do amor. Dominado pela glória terrível dessa cena, Ezequiel caiu sobre o rosto quando uma voz lhe ordenou que se erguesse e ouvisse a Palavra do Senhor. Foi-lhe dada então uma mensagem de advertência ao povo de Israel. T5 752 1 Essa visão foi dada a Ezequiel num tempo em que seu espírito se achava abatido por tristes pressentimentos. Via desolada a terra de seus pais. A cidade, antes tão populosa, estava despovoada. A voz de alegria e o cântico de louvor ali não eram mais ouvidos. O profeta mesmo era peregrino em terra estranha, onde imperavam, supremas, a desmedida ambição e a selvagem crueldade. As injustiças e tiranias que era obrigado a presenciar contristavam-lhe a alma e de dia e de noite se queixava amargamente. Mas os símbolos gloriosos que lhe foram apresentados junto ao rio Quebar revelaram-lhe um poder muito superior ao dos dominadores terrestres. Acima do orgulho e crueldade dos reis da Assíria e Babilônia, estava entronizado um Deus de misericórdia e verdade. T5 752 2 Aquele complexo de rodas que ao profeta parecera tão confuso era governado por mão onipotente. O Espírito de Deus, que lhe fora mostrado movendo e dirigindo aquelas rodas, convertia aquela confusão em harmonia; do mesmo modo, o mundo inteiro se acha sob o Seu domínio. Milhares de seres celestiais estavam prontos para sob a Sua Palavra dominar o poder e os planos dos homens maus, e fazer tudo redundar em benefício dos fiéis servos de Deus. T5 752 3 Da mesma maneira, quando Deus estava a ponto de revelar a João, o discípulo amado, a história futura de Sua igreja, deu-lhe a segurança do interesse e cuidado do Salvador pelo Seu povo, mostrando-lhe em visão "um semelhante ao Filho do homem" (Apocalipse 14, 14), andando por entre os castiçais que simbolizam as sete igrejas. Ao passo que João recebia a revelação das últimas grandes lutas da igreja com as potências do mundo, foi-lhe dado também contemplar a vitória final e o libertamento dos fiéis. Viu a igreja empenhada num conflito moral com a besta e sua imagem, e a adoração dessa besta imposta sob pena de morte. Mas, olhando através da fumaça e ruído da batalha, notou sobre o monte Sião, unido ao Cordeiro, um grupo que, em vez do sinal da besta, "em suas testas tinham escrito o nome... de Seu Pai". Apocalipse 14:1. Depois viu "o número dos que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus". Apocalipse 15:2. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro. T5 753 1 Essas lições são para benefício nosso. Necessitamos exercer fé em Deus, porque estamos justamente enfrentando um tempo de grandes provações. Cristo, no Monte das Oliveiras, enumerou os juízos terríveis que deviam preceder Sua volta: "E ouvireis de guerras e de rumores de guerras." "Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores." Mateus 24:6-8. Se bem que essas profecias tivessem tido cumprimento parcial na destruição de Jerusalém, aplicam-se mais diretamente aos últimos dias. T5 753 2 Estamos às vésperas de grandes e importantes acontecimentos. As profecias rapidamente se estão cumprindo. O Senhor está às portas. Está prestes a inaugurar-se um período da mais alta importância para todos os viventes. As controvérsias do passado serão reavivadas, e outras novas suscitadas. As cenas que deverão desenrolar-se neste mundo não são nem sequer sonhadas. Satanás está operando por meio de instrumentos humanos. Os que se empenham em conseguir uma emenda à Constituição, para obter uma lei que imponha a observância do domingo, mal compreendem qual vai ser o resultado. Uma crise é iminente. T5 753 3 Entretanto, os servos de Deus não devem confiar em si mesmos nesta hora calamitosa. Nas visões dadas a Isaías, Ezequiel e João, vemos o interesse que o Céu toma nos acontecimentos da Terra e quão grande é a solicitude de Deus pelos que Lhe são fiéis. O mundo não está sem um governante. O programa dos acontecimentos futuros está nas mãos do Senhor. A Majestade do Céu tem sob Sua direção o destino das nações e os negócios de Sua igreja. T5 753 4 Na obra de Deus, muitas vezes nos deixamos influenciar pelos cuidados e dificuldades. O peso da responsabilidade não pesa apenas sobre mortais. Precisamos confiar em Deus, crer nEle e avançar. A incansável vigilância dos mensageiros celestiais e seu incessante empenho em prol dos que vivem na Terra nos revelam como a mão de Deus está guiando uma roda dentro de outra. O Instrutor divino diz a cada qual que desempenha uma parte em Sua obra o que outrora disse a respeito de Ciro: "Eu te cingirei, ainda que tu Me não conheças." Isaías 45:5. T5 754 1 Na visão de Ezequiel, a mão divina aparece debaixo das asas dos querubins. Isso tem por fim ensinar aos servos de Deus que é Seu poder que lhes há de garantir o êxito. Operará por meio deles, se renunciarem à iniqüidade, purificando o coração e a vida. T5 754 2 A brilhante luz que resplandece por entre as criaturas viventes, com a velocidade do relâmpago, representa a rapidez com que a obra de Deus há de por fim ser consumada. Aquele que não tosqueneja e está operando continuamente a fim de realizar Seus desígnios há de levar avante a Sua grande obra de modo harmonioso. Aquilo que a homens finitos parece confuso e complicado, a mão do Senhor pode manter em perfeita ordem. Tem meios e modos de frustrar as intenções de homens ímpios, e pode destruir o conselho dos que maquinam o mal contra Seu povo. T5 754 3 Irmãos, não é tempo de nos lamentarmos e entregarmos ao desespero, nem de ceder à dúvida e incredulidade. Cristo não é para nós um Salvador que jaz no sepulcro de José, vedado por uma grande pedra selada com o selo romano; temos um Salvador ressuscitado. É o Rei, o Senhor dos exércitos, que está assentado entre querubins, e que no meio da peleja e do tumulto das nações continua a guardar Seu povo. Aquele que domina nos Céus é nosso Salvador. Avalia cada provação; vigia a fornalha ardente destinada a provar cada alma. Quando as fortalezas dos reis ruírem e as flechas da ira de Deus atravessarem o coração de Seus inimigos, Seu povo estará seguro em Suas mãos. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 6 T6 3 1 Breve Histórico do vol. 6 T6 9 1 Capítulo 1 -- O Propósito de Deus na Igreja T6 14 1 Capítulo 2 -- A Obra Para o Tempo Atual T6 23 1 Capítulo 3 -- Expansão dos Trabalhos nos Campos Estrangeiros T6 31 1 Capítulo 4 -- A Reunião Campal T6 72 1 Capítulo 5 -- A Sequência da Reunião Campal T6 87 1 Capítulo 6 -- Menos Pregação e Mais Ensino T6 89 1 Capítulo 7 -- Institutos ministeriais T6 91 1 Capítulo 8 -- O Batismo T6 100 1 Capítulo 9 -- A Construção de Capelas e Igrejas T6 105 1 Capítulo 10 -- Reuniões Para Crianças T6 110 1 Capítulo 11 -- A Obra de Temperança T6 112 1 Capítulo 12 -- Lições Práticas da Reforma de Saúde T6 114 1 Capítulo 13 -- Mulheres Como Obreiras Evangélicas T6 119 1 Capítulo 14 -- O Ensino da Religião do Lar T6 120 1 Capítulo 15 -- Enfrentando oposição T6 124 1 Capítulo 16 -- A Parábola da Ovelha Perdida T6 126 1 Capítulo 17 -- A Necessidade de Reforma na Educação T6 141 1 Capítulo 18 -- Obstáculos à Reforma T6 152 1 Capítulo 19 -- O Caráter e a Obra do Professor T6 162 1 Capítulo 20 -- Palavras de Um Instrutor Celestial T6 168 1 Capítulo 21 -- Escolas Com Internato T6 176 1 Capítulo 22 -- A Reforma Industrial T6 181 1 Capítulo 23 -- A Fazenda da Escola de Avondale T6 193 1 Capítulo 24 -- Escolas Junto às Igrejas T6 206 1 Capítulo 25 -- Administração e Finanças Das Escolas T6 219 1 Capítulo 26 -- O Plano de Deu Para as Instituições Médicas T6 229 1 Capítulo 27 -- A Obra Espiritual do Médico T6 235 1 Capítulo 28 -- Unidade em Nossa Obra T6 243 1 Capítulo 29 -- Responsabilidade dos Obreiros Médicos T6 254 1 Capítulo 30 -- A Necessidade do Mundo T6 261 1 Capítulo 31 -- A Necessidade da Igreja T6 269 1 Capítulo 32 -- O Dever Para Com os da Nossa Fé T6 273 1 Capítulo 33 -- Nosso Dever Para Com o Mundo T6 281 1 Capítulo 34 -- O Cuidado dos Órfãos T6 288 1 Capítulo 35 -- A Obra Médico-Missionária e a Terceira Mensagem Angélica T6 294 1 Capítulo 36 -- Negligência da Igreja e do Ministério T6 305 1 Capítulo 37 -- A Recompensa do Serviço T6 313 1 Capítulo 38 -- Importância da Obra de Colportagem T6 317 1 Capítulo 39 -- Qualificações do Colportor T6 321 1 Capítulo 40 -- O Colportor Como Obreiro evangélico T6 326 1 Capítulo 41 -- Esforços Unidos na Colportagem T6 329 1 Capítulo 42 -- Reavivamento da Obra de Colportagem T6 341 1 Capítulo 43 -- Demonstrando Hospitalidade T6 349 1 Capítulo 44 -- A Observância do Sábado T6 369 1 Capítulo 45 -- Reavivamento da Reforma de Saúde T6 380 1 Capítulo 46 -- A Importância da Educação da Voz T6 384 1 Capítulo 47 -- Dando a Deus o Que lhe Pertence T6 392 1 Capítulo 48 -- Cristo em Toda Biblia T6 394 1 Capítulo 49 -- Nossa Atitude Para Com as Autoridades Civis T6 402 1 Capítulo 50 -- A Palavra de Deus é Suprema T6 404 1 Capítulo 51 -- Preparação Para a Crise Final T6 411 1 Capítulo 52 -- Jovens no ministério T6 417 1 Capítulo 53 -- A Igreja e o ministério T6 421 1 Capítulo 54 -- Atividades Missionárias Nacionais T6 440 1 Capítulo 55 -- O Crescimento das Insta;ações T6 445 1 Capítulo 56 -- Auxílio Para o Campo Missionário T6 454 1 Capítulo 57 -- A Casa Publicadora da Noruega T6 463 1 Capítulo 58 -- O Sanatório Dinamarquês T6 468 1 Capítulo 59 -- A Ajuda a Nossas Escolas T6 479 1 Capítulo 60 -- O Direito Conferido Pela Redenção ------------------------Breve histórico do volume seis T6 3 1 Este volume apresenta testemunhos escritos por Ellen G. White durante sua estada na Austrália. Exceto por alguma referência ocasional ao campo local, o leitor não detectaria que a autora se encontrava em outro continente, já que a orientação é de alcance mundial. Constitui um fato, entretanto, que as revelações dadas à senhora White possuíam especial significado para questões da época e para o desenvolvimento do trabalho no tempo em que o livro foi escrito. É compreensível, portanto, que se encontrem representados neste volume tópicos relacionados com linhas de trabalho que estavam sendo desenvolvidas no campo australiano durante aquele período. A publicação do livro ocorreu na fase final do ano 1900, logo após haver a senhora White retornado aos Estados Unidos. T6 3 2 Em seu arranjo por tópicos, o sexto volume é um tanto diferente dos cinco anteriores. Até esse tempo os testemunhos haviam aparecido em primeiro lugar sob a forma de panfletos e pequenos livros, à medida que os conselhos eram progressivamente dados à igreja. Os artigos eram geralmente publicados em ordem cronológica, lidando com praticamente todas as fases da experiência cristã e com cada uma das linhas de atuação denominacional. Quando o conteúdo dessas trinta e três publicações foi reimpresso sob a forma dos volumes 1 a 5, a ordem original manteve-se inalterada. Bom número de artigos eram comunicações dirigidas originalmente a indivíduos e mais tarde publicadas para a igreja, já que os casos apresentados ilustravam a experiência de muitos outros. Alguns dos artigos lidavam com situações locais e assuntos especiais. Houve alguma repetição de pensamentos, pois importantes linhas de verdade foram destacadas vez após outra à igreja que se encontrava sob o perigo de negligenciar alguma linha de trabalho ou de rebaixar algum padrão. Esses testemunhos produziram rico fruto na vida dos adventistas do sétimo dia e na atividade da denominação. T6 3 3 Com a publicação do sexto volume, onze anos depois do lançamento do volume 5, os Testemunhos ganharam outra forma. A obra da denominação, agora assumindo alcance mundial, apresentava problemas que requeriam considerável conselho e instrução em certas linhas particulares. Isso representou em grande medida uma amplificação das linhas de instrução apresentadas em anos anteriores, e uma renovada ênfase nos conselhos. Conseqüentemente, não foi difícil, ao serem reunidos os artigos do volume 6, arranjá-los sob a forma de tópicos. T6 4 1 Para que a senhora White pudesse prestar assistência na implantação de uma escola na Austrália, foi pedido que ela se deslocasse para aquele campo em 1891. Ela começou direcionando apelos e colaborando na formulação dos planos. Como era um campo novo, havia pouca experiência passada para influenciar nos projetos. Sob essas circunstâncias favoráveis, e com os conselhos do espírito de profecia para guiar e proteger, foi estabelecido o Colégio Missionário Australiano, numa região rural. A partir desse centro de treinamento, a juventude australiana, com base na educação prática adquirida em Avondale, deveria servir nos campos do país e penetrar nas espalhadas e distantes ilhas do Pacífico Sul. No tocante a seu ambiente rural, em seu abrangente programa industrial e em alguns outros aspectos, a escola de Avondale deveria tornar-se uma instituição modelar. Conforme a instrução concernente à condução de nossa obra educacional ia sendo apresentada vez após outra para guiar e moldar a instituição, trazendo muitos detalhes de localização, finanças, currículo, disciplina e administração, foi ela sendo incluída neste volume, para benefício da igreja em todo o mundo. T6 4 2 Quando a senhora White chegou às praias australianas, encontrou uma obra adequadamente iniciada, porém ainda em sua infância. No agressivo programa evangelístico que se desenvolvia e era estimulado, não apenas os evangelistas estavam envolvidos, como ainda em não poucos casos uniam-se a eles suas esposas, em administrar estudos bíblicos e por vezes também na pregação. Várias reuniões campais bem planejadas ocorriam, as quais tinham uma seqüência cuidadosa, de modo a conservar a colheita. Ocorriam muitas conversões, seguidas de batismos e da organização de novas igrejas, bem como da construção de capelas e igrejas. T6 5 1 Não apenas no planejamento do trabalho era sentida a influência do Espírito de Profecia, como ainda a senhora White assumia participação ativa na pregação, no trabalho pessoal, e ajudando no levantamento de fundos para a construção de novas igrejas. Conselhos relacionados com essa fase de nossa obra são encontrados no presente volume. T6 5 2 Foi nos tempos do volume 6 que os adventistas do sétimo dia se tornaram mais conscientes da sua missão e entenderam que o mundo inteiro era seu campo de trabalho. A construção e inauguração do barco missionário, "Pitcairn", na Califórnia, em 1890, incendiou a imaginação da juventude e dos idosos, focalizando a atenção num programa missionário que abrangia o mundo todo. Os relatórios das viagens do "Pitcairn", enquanto realizava obra missionária pioneira nas ilhas dos Mares do Sul, eram ansiosamente aguardados por todos. T6 5 3 Não tardou muito para que colportores-evangelistas ingressassem na Índia com a nossa literatura. Em 1894, nossos missionários na África penetraram em territórios nativos distintos, estabelecendo a Missão Solusi, nossa primeira missão estrangeira entre povos não alcançados pelo evangelho. Logo os pregadores estavam sendo enviados à América do Sul. Também a presença da senhora White na Austrália, durante nove anos, como pioneira, ajudou a manter os olhos dos adventistas do sétimo dia voltados para os confins da Terra, e a colocarem ênfase na admoestação encontrada à página 31 do presente volume: "É nosso trabalho levar ao mundo inteiro -- a cada nação, tribo, língua e povo -- as salvadoras verdades da mensagem do terceiro anjo." Ao longo do volume vários campos missionários são nominalmente mencionados, e são apresentados apelos a homens e mulheres, ao lado de conselhos e estímulos concernentes à obra em diferentes lugares. T6 5 4 Bom número de colégios e escolas de treinamento de obreiros foram iniciados durante os tempos do volume 6. Bem cedo no período, o Union College, em Lincoln, Nebraska, foi aberto (1891), assim como o Walla Walla College, no Estado de Washington (1892). Os demais encontravam-se na Austrália, África do Sul e Dinamarca. Sanatórios também foram abertos, em Boulder, Colorado (1896), na Dinamarca e na África do Sul (1897), e em South Lancaster, Massachusetts (1899). Duas novas casas publicadoras foram acrescentadas à lista de instituições, uma em Hamburgo, Alemanha (1895), e a outra em Buenos Aires, Argentina (1897). Escolas paroquiais, oferecendo educação elementar, também tiveram início em vários lugares. T6 6 1 Embora muitas advertências tenham sido apresentadas contra grandes centros denominacionais e tendências centralizadoras, a obra em rápido crescimento parecia requerer mais pessoas e maiores instalações em nossos escritórios centrais, em Battle Creek, Michigan; planos foram até mesmo iniciados para colocar certas linhas de nossa obra denominacional sob o controle central de Battle Creek. Assim, em vez de se permitir que os planos para as várias seções do campo fossem estabelecidos pelos obreiros locais, eram estes em grande medida dirigidos pelos escritórios de Battle Creek. Isso passava a impressão de eficiência empresarial, mas em verdade se constituía em séria ameaça à eficiência e liderança vital na obra de Deus. Durante a década de 1890, essas tendências se desenvolveram rapidamente, mas no devido tempo e à Sua maneira Deus as corrigiu. T6 6 2 Foi nesses anos e sob a influência dos conselhos do Espírito de Profecia que se lançaram as bases para mudanças organizacionais e administrativas da obra denominacional mundial. Enquanto a causa avançava com características pioneiras e se desenvolvia rapidamente sob favoráveis condições na Austrália, passos foram dados para agrupar as associações locais no que passou a ser chamado de "união", estabelecendo assim um nível organizacional entre as associações locais e a Associação Geral. Isso tornou possível o planejamento local, por iniciativa dos obreiros relacionados com os problemas, liberando ainda a Associação Geral de muitos detalhes menores. O resultado demonstrou-se animador e criou o modelo que em breve seria adotado amplamente pela denominação. T6 6 3 Quanto ao evangelismo médico observou-se um começo na Austrália durante esse período, mas foi nos Estados Unidos que no mesmo período ocorreu grande expansão. Uma escola médica foi iniciada, atraindo um crescente número de jovens adventistas desejosos de se prepararem como médicos missionários. Novas instituições filiais foram abertas, recebendo as diretrizes, dinheiro e pessoal da grande instituição-mãe sediada em Battle Creek. Uma obra de largo alcance foi também iniciada em favor dos desafortunados. Entretanto, bons empreendimentos são muitas vezes ameaçados por excessiva ênfase, trazendo como resultado um desequilíbrio à obra de Deus como um todo. Chegou-se ao ponto de a obra médico-missionária, designada para ser o braço direito da mensagem, ameaçar tornar-se o próprio corpo. T6 7 1 Ocorreu ainda que, ao mesmo tempo em que acontecia grande desenvolvimento de missionários médicos e obra médico-missionária em conexão com o Sanatório de Battle Creek, se observava crescente indiferença por parte de alguns adventistas do sétimo dia diante dos princípios básicos do viver saudável. Tais condições nos ajudam a compreender o significado de repetidos apelos no volume 6, conclamando o povo a praticar mais elevados padrões de vida, insistindo na união entre o ministério médico e o evangelístico, delineando nosso dever para com os órfãos e idosos da fé, e advertindo contra desequilíbrios entre as várias linhas de trabalho. T6 7 2 À medida que a obra denominacional se desenvolvia em muitos campos, a literatura passou a ocupar lugar de sempre crescente importância. Colportores evangelistas constituíram um exército, com o colportor individual sendo reconhecido como parte da equipe de arautos do evangelho em cada seção do campo mundial. Em não poucas ocasiões esses evangelistas da literatura formaram a ponta-de-lança de penetração da mensagem em novas e distantes terras. O volume 6 destaca a dignidade e importância do ministério da página impressa. T6 7 3 O período de onze anos, entre a publicação dos volumes 5 e 6 dos Testemunhos testemunhou o lançamento de vários e importantes livros de Ellen G. White. Em 1890, Patriarcas e Profetas saiu do prelo. Caminho a Cristo foi publicado em 1892, e aquilo que hoje é conhecido como a "antiga edição" de Obreiros Evangélicos também apareceu no mesmo ano. Educação Cristã, o precursor de Educação, foi lançado em 1894. Dois anos mais tarde, foi a vez de O Maior Discurso de Cristo e Christ Our Saviour. O manuscrito de O Desejado de Todas as Nações foi completado e o livro impresso em 1898, sendo que em 1900 foi publicado Parábolas de Jesus. T6 8 1 Num esforço para livrar nossas instituições das pesadas dívidas que tinham de carregar, a senhora White doou o manuscrito de Parábolas de Jesus e insistiu em que os membros da igreja e os obreiros se unissem numa venda de larga escala junto a vizinhos e amigos. Centenas de milhares de dólares foram carreados para a causa por intermédio da campanha com esse livro, assim como ocorreu a distribuição de milhares de exemplares desse volume repleto de verdades. T6 8 2 Iniciou-se assim um tipo de trabalho que levou um grande número de membros leigos a bater de casa em casa, em favor da obra. Abriu-se dessa forma o caminho para as campanhas da "recolta", que poucos anos mais tarde se revelariam uma fonte de recursos para a obra de Deus, reunindo milhões de dólares. T6 8 3 Evidentemente, ao longo desses doze anos, dezenas e centenas de comunicações apresentando conselhos, advertências e encorajamento foram escritas pela mensageira do Senhor e enviadas ao campo sob a forma de cartas e artigos em nossas revistas denominacionais. Enquanto muitos desses escritos tratavam de assuntos já apresentados de modo menos abrangente nos Testemunhos anteriores, alguns novos conselhos foram emitidos, e enfatizados conselhos anteriores. Esses são encontrados em seções como "Precauções e Conselhos" e "Chamado ao Serviço". Entre os importantes artigos que fazem parte dessas seções, estão aqueles que falam sobre "A Observância do Sábado", "Reavivamento da Reforma de Saúde", "Nossa Atitude Para com as Autoridades Civis", "Preparação Para a Crise Final" e "A Ajuda a Nossas Escolas". A adição deste novo volume à série dos Testemunhos Para a Igreja impressionou profundamente os adventistas do sétimo dia com o modo direto pelo qual Deus prosseguia guiando e conduzindo Seu povo. Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White. "Erguei os vossos olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa." João 4:35. ------------------------Capítulo 1 -- O propósito de Deus na igreja T6 9 1 É o propósito de Deus tornar evidentes, por meio de Seu povo, os princípios de Seu reino. Mas para que possa revelar esses princípios em sua vida e caráter, o Senhor deseja separá-lo dos costumes, hábitos e práticas do mundo. Procura aproximá-lo de Si para que lhe possa dar a conhecer Sua vontade. T6 9 2 Esse foi Seu propósito na libertação de Israel do Egito. Na sarça ardente, Moisés recebeu de Deus a mensagem destinada a Faraó: "Deixa ir o Meu povo, para que Me sirva." Êxodo 7:16. Com mão forte e braço estendido, Deus tirou o povo hebreu da terra do cativeiro. Foi maravilhosa a libertação que operou em seu favor, punindo com uma destruição completa os inimigos que recusaram atender à Sua Palavra. T6 9 3 Deus queria separar Seu povo do mundo e prepará-lo para receber Sua Palavra. Do Egito conduziu-o ao monte Sinai, onde lhe revelou Sua glória. Ali nada havia que pudesse desviar seu espírito de Deus; e enquanto o povo levantava os olhos para os elevados cimos que se erguiam para o Céu, podia compreender a sua nulidade em face do grande Criador. Ao lado desses rochedos, que nada podia mover exceto a vontade divina, o Senhor Se comunicou com o homem. E para que Sua Palavra lhes ficasse clara e distintamente gravada no espírito, proclamou Sua lei, que tinha dado no Éden e era o transcrito de Seu caráter, em meio a trovões e relâmpagos, com tremenda majestade. Essas palavras foram escritas sobre tábuas de pedra pelo dedo de Deus. Desse modo a vontade divina foi revelada a um povo que fora chamado a dar a conhecer a todas as nações, tribos e línguas, os princípios de Seu governo no Céu e na Terra. T6 10 1 Para o mesmo fim, Deus chamou Seu povo na atualidade. Revelou-lhe a Sua vontade e dele requer obediência. Nos últimos dias da história deste mundo, a voz que falou do Sinai volta a dizer aos homens: "Não terás outros deuses diante de Mim." Êxodo 20:3. Contra a vontade de Deus os homens opuseram a própria vontade, mas não podem fazer silenciar esse preceito. A inteligência humana pode não compreender cabalmente as obrigações que tem para com o Poder mais elevado, mas não poderá delas fugir. Embora os homens acumulem teorias e especulações, tentando opor a ciência à revelação e anular assim a Lei de Deus, o Espírito divino, com insistência sempre crescente, reiterará o preceito que diz: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás." Mateus 4:10. T6 10 2 De que modo trata o mundo a Lei de Deus? -- Por toda parte nota-se forte oposição aos divinos preceitos. No desejo de fugir à obrigação de levar a cruz imposta pela obediência, até igrejas se unem com os apóstatas, declarando que a lei divina foi mudada ou abolida. Os homens, em sua cegueira espiritual, se gloriam de grandes progressos e conhecimentos; mas os vigias celestiais vêem a Terra cheia de corrupção e violência. Por causa do pecado, a atmosfera do mundo se tornou como o ambiente de um foco de pestilências. T6 10 3 Uma grande obra a fazer é apresentar aos homens as verdades salvadoras do evangelho. Esse é o meio estabelecido por Deus para represar a onda da corrupção moral. É esse o meio de restaurar no homem a imagem divina. É esse o Seu remédio contra a dissolução universal. É o poder que conduz os homens para a unidade. Apresentar essas verdades é a obra da mensagem do terceiro anjo. O Senhor determinou que a proclamação dessa mensagem fosse a maior e mais importante obra no mundo para o tempo atual. T6 11 1 Satanás está constantemente instigando os homens a aceitarem seus princípios. Dessa forma procura contrariar a obra de Deus. Constantemente representa o escolhido povo de Deus como iludido. É o acusador dos irmãos e se prevalece desse meio contra os que procedem com justiça. O Senhor deseja refutar as argüições de Satanás patenteando o resultado da obediência aos princípios justos. T6 11 2 Toda a luz do passado, toda a luz do presente e que alumia até o futuro, conforme revelada na Palavra de Deus, é para todo o que a aceita. A glória dessa luz, que é a própria glória do caráter de Cristo, deve manifestar-se no cristão, individualmente, na família, na igreja, no ministério da Palavra e em cada instituição criada pelo povo de Deus. Todas essas coisas devem ser, no plano divino, figuras do que pode ser realizado em favor do mundo. Devem constituir símbolos do poder salvador das verdades do evangelho. São instrumentos no cumprimento do grande propósito divino em relação à humanidade. T6 11 3 O povo de Deus deve servir de conduto para a transmissão da mais elevada influência que opera no Universo. Na visão de Zacarias, as duas oliveiras que estão diante de Deus são representadas transmitindo o azeite puríssimo, através de tubos de ouro, ao vaso de azeite do santuário. Dele são providas as lâmpadas do santuário, para que possam conservar-se acesas e brilhando. Assim também dos seres ungidos, que estão na presença de Deus, a plenitude de divina luz, amor e poder se comunica ao Seu povo para que possa ser portador de luz, alegria e refrigério a outras pessoas. Devem servir de condutos pelos quais Deus possa derramar sobre o mundo fluxos de Seu infinito amor. T6 12 1 O propósito que Deus quer realizar por meio de Seu povo hoje é o mesmo que desejou realizar por meio de Israel quando o tirou do Egito. Pela contemplação da bondade, misericórdia, justiça e amor de Deus, manifestados na igreja, deve o mundo ter uma idéia de Seu caráter. E se a lei divina for desse modo exemplificada na conduta dos que a professam, o próprio mundo reconhecerá a superioridade dos que amam, temem e servem a Deus sobre o restante da humanidade. Os olhos do Senhor fixam-se em cada um dos membros de Seu povo; Ele tem um plano para cada um. É Seu propósito que os que cumprem Seus santos preceitos, sejam um povo distinto. Ao povo de Deus aplica-se ainda hoje, como ao antigo Israel, as palavras escritas por Moisés sob inspiração divina: "Povo santo és ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há." Deuteronômio 7:6. "Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus, para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo só é gente sábia e entendida. Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que O chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós?" Deuteronômio 4:5-8. T6 13 1 Mesmo essas palavras não exprimem cabalmente a magnitude e a glória do propósito de Deus a respeito de Seu povo. Cumpre-nos tornar manifestos os princípios de Seu reino, não só em relação ao mundo, como a todo o Universo. O apóstolo Paulo, escrevendo sob inspiração divina, diz: "A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor." Efésios 3:8-11. T6 13 2 Irmãos, "somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens". 1 Coríntios 4:9. "Que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus?" 2 Pedro 3:11, 12. T6 13 3 Se queremos manifestar o caráter divino sem iludir a nós mesmos, a igreja e o mundo com um cristianismo hipócrita, temos que desenvolver um relacionamento pessoal com Deus. Se mantivermos comunhão com Ele, seremos Seus ministros, ainda que não preguemos um só sermão à igreja. Seremos Seus cooperadores apresentando a perfeição de Seu caráter através de nossa humanidade. ------------------------Capítulo 2 -- A obra para o tempo atual T6 14 1 Estamos diante de importantes e solenes acontecimentos. As profecias estão em cumprimento. Uma estranha e acidentada História está sendo registrada nos livros do Céu. Tudo em nosso mundo se mostra em estado de agitação. Há guerras e rumores de guerras. As nações estão iradas, e é chegado o tempo dos mortos serem julgados. Os acontecimentos se sucedem, alternando-se e apressando o dia de Deus, que está muito próximo. Só nos resta, por assim dizer, um pequeno instante. Embora nação esteja se levantando contra nação e reino contra reino, não se desencadeou ainda um conflito geral. Os quatro ventos sobre os quatro cantos da Terra ainda estão sendo retidos até que os servos de Deus estejam assinalados na testa. Então as potências do mundo hão de mobilizar as forças para a última grande batalha. T6 14 2 Satanás está atarefado em formular planos para o último e tremendo conflito em que todos hão de definir sua atitude. Depois de o evangelho haver sido pregado ao mundo, durante quase dois mil anos, ele continua a apresentar aos homens e mulheres a mesma cena que exibiu a Cristo. De modo maravilhoso, faz passar por diante de seus olhos o panorama dos reinos deste mundo e sua glória. Isso promete a todos os que prostrados o adorarem. Desse modo busca impor a todos o seu domínio. T6 14 3 Satanás está atuando com todas as suas forças, a fim de ocupar o lugar de Deus e destruir a todos que a isso se opuserem. E hoje vemos todo o mundo inclinando-se diante dele. Seu poder é aceito como o de Deus. Cumpre-se a profecia do Apocalipse: "toda a Terra se maravilhou após a besta". Apocalipse 13:3. T6 14 4 Os homens na sua cegueira se ufanam de grandes progressos e conhecimentos; mas aos olhos do Onisciente se descobrem o pecado e depravação de seu íntimo. Os anjos vêem a Terra cheia de violência e crime. Acumulam-se riquezas por meio de toda a espécie de roubos, e roubos praticados não só em relação aos homens, mas também em relação a Deus. Os homens se servem dos bens a eles confiados para satisfazer seu egoísmo. Tudo que conseguem adquirir tem de servir à sua avareza. A mesquinhez e a sensualidade estão liberadas. Os homens cultivam as mesmas qualidades do arquienganador. Aceitaram-no como Deus e tornaram-se imbuídos de seu espírito. T6 15 1 Mas as nuvens da justiça divina já se condensam sobre eles, repletas dos elementos que destruíram Sodoma. Nas visões que lhe foram concedidas dos acontecimentos futuros, o profeta João contemplou essa cena. Este culto dos demônios lhe foi revelado e pareceu-lhe que todo o mundo estava à borda da perdição. Mas enquanto olhava com grande interesse, notou a assembléia dos que guardam os mandamentos de Deus. Tinham na testa o selo do Deus vivo, e disse: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. E ouvi uma voz do Céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam. E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem Um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a Sua cabeça uma coroa de ouro, e na Sua mão uma foice aguda. E outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao que estava assentado sobre a nuvem: Lança a tua foice, e sega; é já vinda a hora de segar, porque já a seara da Terra está madura. E Aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a Sua foice à Terra, e a Terra foi segada. E saiu do templo, que está no Céu, outro anjo, o qual também tinha urna foice aguda. E saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e clamou com grande voz ao que tinha a foice aguda, dizendo: Lança a tua foice aguda, e vindima os cachos da vinha da Terra, porque já as suas uvas estão maduras. E o anjo meteu a sua foice à Terra e vindimou as uvas da vinha da Terra, e lançou-as no grande lagar da ira de Deus." Apocalipse 14:12-19. T6 16 1 Quando a tempestade da ira de Deus irromper sobre a Terra, quão terrível será a decepção daqueles cujas casas hão de ser arrebatadas porque estavam fundadas sobre areia! Devemos apresentar-lhes a divina advertência antes que seja tarde demais! Devemos sentir agora a nossa responsabilidade de trabalhar com intenso fervor, a fim de comunicar a outros as verdades que Deus nos tem revelado para o tempo atual. Sempre podemos fazer um pouco mais. T6 16 2 O coração de Deus se comove. As pessoas são muito preciosas a Seus olhos. Foi por este mundo que Jesus chorou em agonia -- por este mundo foi crucificado. Deus deu Seu Filho unigênito para salvar pecadores, e quer que nos amemos uns aos outros como nos amou. Sua vontade é que os que têm o conhecimento da verdade comuniquem esse conhecimento aos seus semelhantes. T6 16 3 Agora é o tempo de proclamar a última advertência. Uma virtude especial acompanha presentemente a proclamação dessa mensagem; mas por quanto tempo? -- Só por um pouco de tempo ainda. Se deve haver uma crise, essa crise é justamente agora. T6 16 4 Todos estão decidindo agora o seu perpétuo destino. As pessoas precisam ser despertadas a fim de reconhecer a solenidade do momento, e a proximidade do dia em que terá terminado a graça. Esforços decisivos têm de ser feitos, a fim de apresentar esta mensagem ao povo de modo preeminente. O terceiro anjo deverá avançar com grande poder. Que ninguém passe por alto esta obra ou a considere como de pouca importância. T6 17 1 A luz que recebemos sobre a terceira mensagem angélica é a legítima. O sinal da besta é exatamente o que tem sido proclamado. Nem tudo que se refere a esse assunto é compreendido; nem compreendido será até que tenha sido completamente aberto o rolo do livro. Uma solene obra será, entretanto, realizada no mundo. A intimação do Senhor aos Seus servos é esta: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Isaías 58:1. T6 17 2 Nenhuma mudança deverá efetuar-se nos traços gerais de nossa obra. Deve permanecer clara e distinta como foi criada pela profecia. Não nos compete entrar em aliança com o mundo, supondo com isso poder levar a melhor. Se alguém cruzar o caminho a fim de atrapalhar o avanço da obra nas linhas que Deus lhe traçou, incorrerá no desagrado divino. Nenhum traço da verdade que tornou o povo adventista do sétimo dia o que ele é, deve ser apagado. Temos antigos marcos da verdade, da experiência e do dever, e cumpre-nos defender firmemente nossos princípios diante do mundo. T6 17 3 Importa levantarem-se homens que apresentem a todos os povos as Escrituras de Deus. Homens de todas as classes e de todas as capacidades, com seus variados dons, devem cooperar harmonicamente para um resultado comum. Deverão unir-se no esforço de levar a verdade a todo o povo, cumprindo cada qual sua missão especial. T6 17 4 Os três anjos de Apocalipse 14 são representados como voando pelo meio do Céu, o que simboliza a obra dos que estão proclamando a primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Todas estão relacionadas entre si. As evidências da verdade eterna e inalterável dessas importantes mensagens, tão significativas para a igreja que lhe custaram violenta oposição do mundo religioso, não estão extintas. Satanás procura constantemente projetar sombra sobre essas mensagens para que o povo de Deus não possa discernir claramente sua importância, tempo e lugar; não obstante, permanecem e deverão exercer sua influência sobre nossa vida religiosa, enquanto durar o tempo. T6 18 1 A influência dessas mensagens tem sido cada vez mais ampla e profunda, pondo em movimento as molas de ação de milhares de corações, e fazendo surgir estabelecimentos de ensino, casas editoras e de saúde. Todos esses estabelecimentos são instrumentos nas mãos de Deus, destinados a cooperar na grande obra representada pelo primeiro, segundo e terceiro anjos: a obra de advertir o mundo de que Cristo virá segunda vez com poder e grande glória. T6 18 2 Irmãos e irmãs, meu ardente desejo é por estas palavras chamar sua atenção para a gravidade do tempo e a significação dos acontecimentos que agora estão ocorrendo. Eu lhes aponto para os movimentos intensos que atualmente estão sendo realizados para a restrição da liberdade religiosa. O santificado monumento divino foi pisoteado, e erguido em seu lugar diante do mundo o falso sábado, que não tem santidade alguma. E enquanto as potências das trevas instigam os elementos terrenos, o Senhor do Céu envia Seu poder do alto a fim de apoiar Seu movimento, despertando instrumentos para exaltarem a lei do Céu. Agora, precisamente agora, é o tempo de trabalharmos em países estrangeiros. Quando os Estados Unidos, o país da liberdade religiosa, se aliar com o papado, a fim de dominar as consciências e obrigar os homens a reverenciar o falso sábado, os povos de todos os demais países do mundo hão de ser induzidos a imitar-lhe o exemplo. O nosso povo não tem sequer utilizado a metade do poder de que dispõe para estender a mensagem de advertência. T6 19 1 O Senhor do Céu não enviará Seus juízos destinados a punir a desobediência e transgressão, até que sejam proclamadas Suas advertências. Não encerrará o tempo da graça até que a mensagem seja mais distintamente proclamada. A lei divina deve ser engrandecida; seus reclamos, expostos em seu caráter legítimo e sagrado, para que o povo seja induzido a decidir-se pró ou contra a verdade. Contudo, a obra será abreviada em justiça. A mensagem da justiça de Cristo há de soar desde uma até a outra extremidade da Terra, a fim de preparar o caminho ao Senhor. Essa é a glória de Deus com que será encerrada a mensagem do terceiro anjo. T6 19 2 Não há obra na Terra tão importante, tão sagrada e tão gloriosa, que tanto honre a Deus, como a obra do evangelho. A mensagem apresentada para o presente tempo é a última mensagem de graça a um mundo decaído. Os que têm o privilégio de ouvir e persistem em recusar atender à sua advertência, rejeitam a última esperança de salvação. Não haverá um segundo tempo de graça. T6 19 3 A palavra da verdade -- "está escrito" -- é o evangelho que cumpre pregar. Diante dessa árvore da vida não foi postada uma espada inflamada. Todos os que quiserem, dela participarão livremente. Não há poder que possa vedar a uma alma comer do seu fruto. Todos podem dela comer e viver perpetuamente. T6 19 4 Nas mensagens de Deus, proclamadas pela igreja remanescente, estão encerrados mistérios que os próprios anjos desejariam penetrar, e que profetas e reis e homens justos de todos os tempos desejaram compreender. Os profetas pregaram acerca dessas coisas e se esforçaram para compreender o que haviam predito, mas não tiveram esse privilégio. T6 20 1 Anelaram ver o que estamos vendo e ouvir o que ouvimos, mas não puderam. Vão, porém, entender tudo quando Cristo vier segunda vez, rodeado de uma multidão que ninguém poderá contar, e lhes explicar o libertamento propiciado por Seu grande sacrifício. T6 20 2 As verdades da mensagem do terceiro anjo têm sido apresentadas por alguns como uma teoria árida; entretanto, nessa mensagem deve ser exposto o Cristo Vivo, por excelência. Deve Ele ser revelado como o primeiro e o último, como o Eu Sou, a Raiz e Rebento de Davi, como a radiante Estrela da Manhã. Através dessa mensagem o caráter de Deus em Cristo deve ser manifestado ao mundo. Deve soar o chamado: "Tu, anunciador de boas-novas a Sião, sobe a um monte alto. Tu, anunciador de boas-novas a Jerusalém, levanta a voz fortemente; levanta-a, não temas e dize às cidades de Judá: Eis aqui está o vosso Deus. Eis que o Senhor Jeová virá como o forte, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão vem com ele, e o seu salário, diante da sua face. Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os braços, recolherá os cordeirinhos e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará mansamente." Isaías 40:9-11. T6 20 3 Agora, como o fez João Batista, devemos apontar para Jesus, dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. Agora, como nunca antes, deve soar o convite: "Se alguém tem sede, que venha a Mim e beba." João 7:37. "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. T6 20 4 Há uma grande obra a fazer, e cada esforço possível deve ser empreendido para revelar Cristo como o Salvador que perdoa pecados, Cristo como o Portador de Pecados, Cristo como a brilhante Estrela da Manhã; e o Senhor nos concederá graça perante o mundo até que a obra seja completada. T6 21 1 Enquanto os anjos seguram os quatro ventos, cumpre-nos trabalhar com todas as nossas forças. Precisamos proclamar nossa mensagem sem demora. Perante o Universo celestial e os homens desta época degenerada, precisamos dar o testemunho de que nossa religião é uma fé e um poder, dos quais o Autor é Cristo, e Sua Palavra o divino oráculo. Pessoas pendem na balança. Ou serão súditas do reino de Deus ou escravas do despotismo de Satanás. Todos devem ter o privilégio de lançar mão da esperança embutida no evangelho; mas como podem eles ouvir sem pregador? A família humana está carente de uma renovação moral, um preparo de caráter, a fim de poder subsistir diante de Deus. Muitos estão prestes a perecer devido aos erros heréticos que predominam, os quais são calculados para neutralizar a mensagem evangélica. Quem se consagrará agora plenamente para tornar-se coobreiro de Deus? T6 21 2 Ao ver o perigo e as misérias do mundo sob a operação de Satanás, não permitamos esgotar as energias que Deus nos dá em ociosas lamentações, mas trabalhemos por nós e pelos outros. Estejamos atentos e preocupados com os que perecem. Se não forem ganhos para Cristo, perderão uma eternidade de bem-aventurança. Pensemos no que podem alcançar. Quem foi criado por Deus e redimido por Cristo é de grande valor pelas possibilidades que tem diante de si, pelas vantagens espirituais que lhe foram asseguradas, e pelas aptidões que pode vir a possuir caso seja vivificado pela Palavra de Deus, além da imortalidade que, mediante o Doador da vida, pode obter sendo obediente. Uma pessoa é de mais valor para o Céu do que um mundo inteiro de propriedades, casas, terras e dinheiro. Deveríamos empregar o máximo de nossos recursos para a conversão de uma pessoa. Uma alma ganha para Cristo irradiará a luz celestial para tudo o que a rodeia, penetrando as trevas morais e salvando outras almas. T6 22 1 Se Cristo deixou as noventa e nove a fim de buscar e salvar a única ovelha perdida, seremos nós justificados, caso façamos menos? Não seria a negligência de trabalhar como Ele trabalhou, de sacrificar-nos como Ele Se sacrificou, uma traição aos sagrados legados, um insulto a Deus? T6 22 2 É preciso acionar um alarme através da extensão e largura da Terra. Dizer ao povo que o dia do Senhor está perto, e se apressa grandemente. Ninguém fique por advertir. Poderíamos achar-nos no lugar dessas pessoas que se encontram em erro. Poderíamos ter sido colocados entre os que não tiveram contato com o cristianismo. Segundo a verdade que recebemos mais que os outros, somos nós devedores e devemos comunicá-la aos demais. T6 22 3 Não temos tempo a perder. O fim está próximo. Em breve a ida de um lugar para outro a fim de transmitir a verdade será cercada de perigos à direita e à esquerda. Far-se-á tudo para obstruir o caminho dos mensageiros do Senhor, de modo que não possam realizar o que lhes é possível executar agora. Cumpre-nos olhar de frente nossa obra, e avançar o mais depressa possível em luta intensa. Segundo a luz que me foi dada por Deus, sei que as potências das trevas estão trabalhando com intensa energia que procede de baixo, e a passos furtivos vai Satanás avançando para se apoderar dos que agora se acham adormecidos, qual lobo que se apodera da presa. Temos agora advertências que nos é possível dar, uma obra que nos é concedida fazer; em breve, porém, será mais difícil do que podemos imaginar. Ajude-nos Deus, a conservar-nos na vereda da luz, trabalhar com os olhos fixos em Jesus, nosso Líder, e, paciente e perseverantemente, avançar para a vitória. ------------------------Capítulo 3 -- Expansão do trabalho nos campos estrangeiros T6 23 1 Durante a noite, vêm-me estas palavras para eu dizer às igrejas que conhecem a verdade: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. T6 23 2 As palavras do Senhor no capítulo cinqüenta e quatro de Isaías são para nós: "Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; e a tua posteridade possuirá as nações e fará que sejam habitadas as cidades assoladas. Não temas porque não serás envergonhada; e não te envergonhes porque não serás confundida. ... Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor: Ele será chamado o Deus de toda a Terra." Isaías 54:2-5. T6 23 3 E as palavras de Cristo a Seus discípulos são também para o Seu povo hoje: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem." João 4:35, 36. T6 23 4 O povo de Deus tem diante de si uma poderosa obra, obra esta que deve continuar a elevar-se a maior preeminência. Nossos esforços nos ramos missionários devem tornar-se muito mais extensos. Um trabalho mais decidido do que o que tem sido feito deve ser efetuado antes do segundo aparecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. O povo de Deus não deverá interromper seu trabalho antes que este alcance o mundo inteiro. T6 24 1 A vinha abrange o mundo todo, e todas as suas partes devem ser atingidas. Lugares há que são agora um deserto moral; e estes deverão tornar-se como o jardim do Senhor. Os lugares incultos da Terra deverão ser cultivados, para que possam brotar e florescer como a rosa. Novos territórios deverão ser trabalhados por homens inspirados pelo Espírito Santo. Novas igrejas devem ser estabelecidas e novas congregações organizadas. Nesta época deve haver representantes da verdade presente em cada cidade e nas mais remotas partes da Terra. A Terra toda deve ser iluminada com a glória da verdade de Deus. A luz deve resplandecer em todas as terras e povos. E é daqueles que receberam a luz que ela deve resplandecer. A estrela d'Alva raiou sobre nós, e devemos projetar sua luz no caminho dos que andam em trevas. T6 24 2 Uma crise acha-se precisamente diante de nós. Devemos agora, pelo poder do Espírito Santo, proclamar as grandes verdades para estes últimos dias. Não levará muito tempo para que todos tenham ouvido a advertência e tomado sua decisão. Então virá o fim. T6 24 3 E a essência mesma de toda fé perfeita consiste em agir bem, no devido tempo. Deus é o grande Obreiro por excelência, e por Sua providência prepara o caminho para que Sua obra se cumpra. Ele provê oportunidades, estabelece esferas de influência e condutos para as atividades. Se Seu povo estiver atento às indicações de Sua providência, e se dispuser a cooperar com Ele, verá cumprido um grande trabalho. Seus esforços, dirigidos convenientemente, produzirão resultados cem vezes maiores do que se poderiam cumprir com os mesmos meios e facilidades por outro instrumento em que Deus não estivesse tão manifestamente atuando. Nossa obra é reformadora, e é o propósito de Deus que a excelência da obra em todos os ramos seja uma lição objetiva para o povo. Sobretudo nos novos campos é de importância que a obra seja estabelecida de maneira a dar uma correta representação da verdade. Em todos os nossos planos de atividades missionárias esses princípios deverão ser tidos em vista. T6 25 1 Certos países apresentam condições que os tornam próprios como centros de educação e influência. Entre as nações que falam o inglês, e as protestantes da Europa, é comparativamente fácil ter acesso ao povo, e oferecem elas numerosas vantagens para a fundação de estabelecimentos e o progresso de nossa obra. Em outras terras, tais como Índia e China, os obreiros precisam passar por um longo período de treinamento antes que as pessoas consigam entendê-los, e eles ao povo. A cada passo existem grandes dificuldades a serem enfrentadas no trabalho. Nos Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e alguns outros países europeus, muitos desses impedimentos não existem. A América do Norte tem muitas instituições que dão reputação à obra. Instituições semelhantes devem ser implantadas na Inglaterra, Austrália, Alemanha, Escandinávia e outros países continentais da Europa, com o evoluir da obra. Nesses países o Senhor tem hábeis obreiros, trabalhadores experimentados. Podem eles liderar o estabelecimento de instituições, o preparo de obreiros e a promoção da obra em seus diferentes ramos. É a vontade divina que todos os recursos lhes sejam concedidos. As instituições estabelecidas dariam crédito à obra em outros países, oferecendo oportunidades de os obreiros se habilitarem para o trabalho nos países mais distantes. Desse modo a eficiência de nossos obreiros seria centuplicada. T6 25 2 Uma grande obra deve ser feita na Inglaterra. A luz irradiada de Londres deve alcançar as regiões mais distantes em raios límpidos, claros. Deus tem operado na Inglaterra, porém esse mundo de língua inglesa tem sido terrivelmente negligenciado. A Inglaterra necessita de mais obreiros e recursos. Londres mal tem sido tocada. Meu coração se comove profundamente ao ser-me apresentada a situação naquela grande cidade. Tenho grande pesar quando me lembro de que o trabalho na Europa não dispõe de maiores recursos. Dói-me o coração ao pensar na obra na Suíça, Alemanha, Noruega e Suécia. Onde ali se encontram atualmente um ou dois homens se esforçando por levar avante os diferentes ramos da obra, deveriam existir centenas de obreiros. Só na cidade de Londres deveriam estar empenhadas nada menos de cem pessoas. O Senhor anota a negligência de Sua obra, e haverá futuramente sérias contas a ajustar. T6 26 1 Se os obreiros na América do Norte compartilharem suas muitas bênçãos, verão a prosperidade na Inglaterra. Simpatizarão com os obreiros que ali estão lutando com dificuldades, e chegarão a dizer, não apenas em palavras, mas pelas ações: "Todos vós sois irmãos." Mateus 23:8. Verão uma grande obra sendo realizada em Londres, em outras cidades da Inglaterra e em diferentes países europeus. T6 26 2 Deus nos chama para realizar os triunfos da cruz na Austrália. Novos campos se estão abrindo. Diante da falta de obreiros e meios, a obra tem sido retardada, porém isso não deve ocorrer por mais tempo. Dentre todos os países, a Austrália lembra mais de perto a América do Norte. Ali existem todas as classes de pessoas. A mensagem de advertência não foi ainda apresentada e rejeitada. Existem milhares de almas sinceras orando por luz. Os atalaias de Deus devem estar em pé nos muros de Sião, apresentando a advertência: "Vem a manhã, e, também, a noite" (Isaías 21:12) -- a noite em que ninguém poderá trabalhar. Enquanto os anjos estão segurando os quatro ventos, a mensagem deve penetrar em cada campo da Austrália, tão rápido quanto possível. T6 27 1 O fortalecimento do trabalho nesses países de fala inglesa dará a nossos obreiros uma influência cem vezes maior do que até aqui tiveram, para plantar os padrões da verdade em muitas terras. T6 27 2 Enquanto estamos tentando operar nesses campos destituídos, vem-nos de todos os países distantes o clamor: "Passa... e ajuda-nos!" Atos dos Apóstolos 16:9. Esses países não são tão facilmente atingidos nem se apresentam tão maduros para a ceifa, como os que estão mais perto de nós; entretanto, não devem eles ser negligenciados. T6 27 3 A pobreza das missões na África foi-me recentemente exposta. Os missionários enviados da América do Norte aos nativos da África sofreram e ainda estão sofrendo necessidades básicas. Missionários de Deus, que conduzem a mensagem de misericórdia a terras pagãs, não estão sendo adequadamente sustentados em seu trabalho. T6 27 4 Nossos irmãos não têm compreendido que, auxiliando o avanço da obra nos campos estrangeiros, estariam ajudando-a no próprio país. Aquilo que é dado para iniciar a obra num campo, resultará no fortalecimento da mesma noutros lugares. Quando os obreiros estão livres de dificuldades, podem ampliar seus esforços, e trazendo pessoas para a verdade, estabelecendo igrejas, haverá acréscimo de potencial financeiro. Logo essas igrejas estarão aptas a não somente levar avante a obra em seu território, como a compartilhá-la com outros campos. Será partilhado, assim, o encargo que recai sobre as igrejas dos países que enviam missionários. T6 27 5 A obra missionária em nosso país progredirá muito, em todos os sentidos, quando for manifestado em prol da prosperidade das missões estrangeiras um espírito de maior liberalidade, abnegação e desprendimento; pois a prosperidade da obra em nosso país depende grandemente, abaixo de Deus, da influência resultante da obra evangélica nos países distantes. É agindo ativamente para suprir as necessidades da causa de Deus que pomos a alma em contato com a Fonte de todo poder. T6 28 1 Embora a obra nos campos estrangeiros não tenha progredido como deveria, o que foi realizado oferece motivos para gratidão e encorajamento. Muito menos recursos têm sido despendidos nesses campos do que nos de nosso país, e a obra tem sido executada com grandes dificuldades e sem as condições básicas. Contudo, considerando o auxílio que tem sido enviado a esses campos, é na verdade surpreendente o resultado. Nosso êxito missionário tem sido plenamente proporcional ao nosso esforço de abnegação e sacrifício. Somente Deus pode avaliar a obra feita à medida que a mensagem evangélica tem sido proclamada de maneira clara e direta. Novos campos têm sido penetrados e se tem feito um trabalho agressivo. As sementes da verdade têm sido semeadas, a luz tem resplandecido em muitas mentes, proporcionando ampla visão de Deus e uma apreciação mais correta quanto ao caráter a ser formado. Milhares têm sido levados ao conhecimento da verdade, tal qual é em Jesus. Têm sido imbuídos da fé que opera por amor e purifica a vida. T6 28 2 O valor de tais vantagens acha-se além de nossa compreensão. Que sonda poderá medir a profundidade da palavra que é pregada? Que balanças poderão de modo correto pesar a influência daqueles que se convertem à verdade? Por sua vez tornam-se missionários para trabalhar em prol de outros. Em muitos lugares foram erigidas casas de oração. A Bíblia, a preciosa Bíblia, é estudada. O tabernáculo de Deus está entre os homens, com os quais Ele habita. T6 28 3 Regozijemo-nos de que haja sido feita nesses campos uma obra que Deus pode aprovar. Em nome do Senhor, levantemos a voz em louvor e ações de graças pelos resultados na obra no exterior. T6 28 4 Diz-nos ainda nosso General, que jamais erra: "Avancem, penetrem novos territórios. Ergam o estandarte em todas as terras." "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. T6 29 1 Nossa senha é: Avante, sempre avante. Adiante de nós irão os anjos de Deus para preparar o caminho. A nossa responsabilidade pelas "terras de além" nunca poderá cessar sem que a Terra inteira seja iluminada com a glória do Senhor. T6 29 2 O espírito missionário necessita ser reavivado em nossas igrejas. Cada membro deve estudar de que modo poderá contribuir para o avanço da causa de Deus, tanto em seu país quanto em terras estrangeiras. Mal se tem realizado nos campos missionários uma milésima parte do que deveria ser feito. Deus convida Seus obreiros a anexarem novos territórios para Ele. Existem ricos campos de labuta aguardando pelo obreiro fiel. Anjos ministradores cooperarão com cada membro da igreja que trabalhar sem egoísmo para o Mestre. T6 29 3 A igreja de Cristo na Terra foi organizada com propósito missionário, e o Senhor deseja ver toda a igreja planejando formas e meios pelos quais o exaltado e o humilde, o rico e o pobre, possam ouvir a mensagem da verdade. Nem todos são chamados a trabalhar pessoalmente nos campos missionários, mas todos podem fazer alguma coisa por meio de suas orações e ofertas, para ajudar a obra missionária. T6 29 4 Um cidadão americano, homem de negócios, fervoroso cristão, em conversa com um colega, fez notar que ele próprio trabalhava para Cristo 24 horas por dia. "Em todas as minhas relações comerciais", disse ele, "procuro representar meu Mestre. Quando encontro oportunidade, procuro salvar outros para Ele. Trabalho para Cristo durante o dia todo. E à noite, enquanto durmo, tenho na China um homem trabalhando para Ele." T6 30 1 Acrescentou, então: "Quando era mais jovem, queria ser missionário. Com a morte de meu pai, contudo, tive de assumir seus negócios, de modo a prover às necessidades da família. Agora, em vez de estar lá pessoalmente, sustento um missionário. Em tal cidade de tal província da China, acha-se estabelecido o meu obreiro. Assim, mesmo enquanto durmo, através de meu representante prossigo trabalhando para Cristo. T6 30 2 Porventura não existem adventistas do sétimo dia que poderiam fazer o mesmo? Em vez de manterem os ministros junto às igrejas que já conhecem a verdade, digam os membros das igrejas a esses obreiros: "Trabalhem pelas almas que estão perecendo nas trevas. Nós cuidaremos das atividades da igreja. Dirigiremos os cultos e, permanecendo em Cristo, manteremos a vida espiritual. Trabalharemos pelas almas que estão à nossa volta, e enviaremos nossas orações e ofertas para sustentar obreiros em campos necessitados e destituídos." T6 30 3 Por que não haveriam de unir-se os membros de uma igreja ou de várias igrejas menores para manterem um missionário em campos estrangeiros? Se as pessoas se recusarem a condescender com indulgências egoístas, dispensando coisas desnecessárias ou prejudiciais, conseguirão isso. Irmãos e irmãs, não ajudarão vocês nessa obra? Imploro que façam algo por Cristo, e agora! Por intermédio do professor que o dinheiro de vocês mantiver no campo, almas serão salvas da ruína para brilharem como estrelas na coroa do Redentor. T6 30 4 "Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia cousas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: 'O teu Deus reina!'" Isaías 52:7. ------------------------Capítulo 4 -- A reunião campal T6 31 1 A reunião campal é um dos mais importantes instrumentos em nossa obra. É um dos métodos mais eficazes para chamar a atenção do povo, e alcançar todas as classes com o convite evangélico. O tempo em que vivemos é de intensa agitação. Ambição e guerra, prazer e ganho de dinheiro, absorvem o interesse das pessoas. Satanás sabe que seu tempo é curto e tem posto todos os seus agentes no trabalho, de modo que os homens sejam enganados, iludidos, ocupados e arrebatados, até que o tempo de graça expire e a porta da misericórdia se encerre para sempre. É nosso trabalho levar ao mundo inteiro -- a cada nação, tribo, língua e povo -- as salvadoras verdades da mensagem do terceiro anjo. Tem sido um problema difícil saber como alcançar o povo nos centros densamente populosos. Não temos permissão de entrar nas igrejas. Nas cidades, os salões grandes são caros e, em muitos casos, apenas poucas pessoas vão aos melhores salões. Os que não nos conhecem falam mal de nós. As razões de nossa fé não são compreendidas pelo povo, e temos sido considerados como fanáticos, como quem ignorantemente guarda o sábado em lugar do domingo. Temo-nos achado perplexos em nossa obra, por não saber como romper as barreiras do mundanismo e dos preconceitos, apresentando ao povo a preciosa verdade que tanta significação encerra para eles. O Senhor nos tem indicado que as reuniões campais são um dos mais importantes instrumentos na realização dessa obra. T6 32 1 Necessitamos planejar sabiamente para que o povo tenha oportunidade de ouvir por si mesmo a última mensagem de misericórdia ao mundo. Deve o povo ser advertido a preparar-se para o grande dia de Deus, que está muito próximo. Não temos tempo a perder. Temos de realizar os maiores esforços para alcançar as pessoas onde estão. O mundo está atingindo agora os limites da impenitência e desrespeito às leis do governo divino. Em cada cidade de nosso mundo a advertência precisa ser proclamada. Tudo que puder ser feito, deve ser feito sem demora. T6 32 2 Nossas reuniões campais têm outro objetivo, que vem antes desse. Devem promover a vida espiritual entre nosso próprio povo. O mundo, em sua sabedoria, não conhece a Deus. É incapaz de ver a beleza, a amabilidade, a bondade e a santidade das verdades divinas. Para que os homens consigam entendê-las, precisa existir um canal que as comunique ao mundo. A igreja foi constituída para ser esse canal. Cristo revela-Se a nós para que O revelemos aos outros. Através de Seu povo devem se manifestar as riquezas e a glória de Seu indescritível dom. T6 32 3 Deus confiou a nossas mãos uma obra por demais sagrada, e necessitamos de nos ajuntar em reuniões para receber instruções, a fim de nos habilitarmos a realizar essa obra. Precisamos compreender que parte seremos individualmente chamados a desempenhar na edificação da obra de Deus na Terra, em vindicar Sua santa lei, e em exaltar o Salvador como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Precisamos nos reunir e receber o toque divino a fim de compreendermos qual deve ser nossa obra no lar. Os pais precisam compreender como poderão enviar os filhos e filhas do santuário do lar, educados de tal maneira que estejam preparados para brilhar como luzes no mundo. Necessitamos compreender como realizar a divisão do trabalho, e como cada parte da obra deve ser levada avante. Cada um deve entender qual a sua parte, para que exista harmonia nos planos e na ação do trabalho combinado de todos. Alcançando as multidões T6 33 1 No sermão do Monte, Cristo disse aos discípulos: "Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus." Mateus 5:14-16. Se nossas reuniões campais forem dirigidas como devem ser, serão realmente uma luz no mundo. Elas devem ser realizadas nas grandes cidades e vilas onde a mensagem da verdade não foi proclamada. E devem continuar por duas ou três semanas. Talvez seja, às vezes, aconselhável realizar uma reunião campal por várias ocasiões no mesmo local; mas, em regra, o lugar de reuniões deve ser mudado de ano para ano. Em vez de se efetuarem enormes reuniões em outras localidades, haverá mais benefício em ter reuniões menores em muitos lugares. Assim a obra se estenderá continuamente para novos campos. Somente quando o padrão da verdade for erguido em um local e for considerado seguro deixar que os novos crentes avancem por si é que devemos planejar entrar em novos campos. Nossas reuniões campais são poderosas, e quando realizadas num local em que a comunidade possa ser despertada, revelar-se-ão um poder muito maior do que quando, por conveniência de nosso próprio povo, são realizadas num local em que, em virtude de reuniões prévias e da rejeição da verdade, o interesse do público tenha sido anulado. T6 34 1 Tem-se cometido um erro em realizar reuniões campais em sítios fora de mão, e em continuar a fazê-las no mesmo lugar durante anos. Assim se tem feito para poupar despesas e trabalho; mas a economia deve ser feita noutras coisas. Especialmente em novos campos, a falta de meios torna às vezes difícil cobrir as despesas de uma reunião campal. Deve-se exercer cuidadosa economia, delineando-se planos não dispendiosos; pois assim muito se pode poupar. Porém, sem prejudicar a obra. Esse método de apresentar a verdade ao povo provém de nosso Deus. Quando se tem de trabalhar em benefício das pessoas, e levar a verdade aos que a desconhecem, a obra não deve ser prejudicada para poupar despesas. T6 34 2 Nossas reuniões campais devem ser conduzidas de modo a se obter o maior benefício possível. Seja a verdade adequadamente apresentada e representada por aqueles que nela crêem. Ela é luz, a luz do Céu que o mundo necessita, e tudo aquilo que manifesta o Senhor Jesus Cristo é luz. Uma lição prática T6 34 3 Toda reunião campal deveria ser uma lição prática de asseio, ordem e bom gosto. Temos de prestar atenção à economia e evitar desperdício; entretanto, tudo que se relacione com os terrenos deve ser feito com capricho e bem arrumado. A apresentação do local deve ser atrativa. E em todo o nosso trabalho deveríamos apresentar disciplina de organização e ordem. T6 34 4 Tudo deve ser arranjado de modo a impressionar tanto o nosso próprio povo quanto o mundo com a santidade e importância da obra de Deus. As regras observadas no acampamento dos israelitas são um exemplo para nós. Foi Cristo quem concedeu aquelas instruções especiais a Israel, e Ele pretende que elas se apliquem também a nós, os que vivemos nos dias finais do mundo. Devemos estudar cuidadosamente as especificações da Palavra de Deus e pôr em prática essas orientações como sendo a vontade de Deus. Que tudo o que se relaciona com o acampamento seja puro, saudável e limpo. Especial atenção deve ser dada às instalações sanitárias, e homens de são juízo e discernimento devem verificar que não haja qualquer tipo de contaminação ou disseminação de doenças e morte em parte alguma do acampamento. T6 35 1 As barracas devem ser fixadas com segurança e, sempre que houver risco de chuva, devem ser abertas valas ao redor das mesmas. Que isso não seja de modo algum negligenciado. Doenças sérias e mesmo fatais têm sido contraídas pela falta dessa precaução. T6 35 2 Devemos sentir que somos os representantes de verdades de origem celestial. Temos de apresentar louvores Àquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Mantenhamos sempre em mente que os anjos de Deus caminham pelo acampamento, contemplando a ordem e arranjos de cada barraca. Para a multidão de pessoas que comparece ao acampamento, todos os arranjos constituem ilustração das crenças e princípios do povo que lidera as reuniões. Devem, pois, constituir a melhor ilustração possível. Todas as cercanias devem representar uma lição. Especialmente as barracas das famílias, com seu bom gosto e ordem, devem prover um lampejo da vida doméstica, sendo um constante sermão quanto aos hábitos, costumes e práticas dos adventistas do sétimo dia. Garantindo a participação T6 35 3 Enquanto estávamos preparando uma reunião campal próximo de uma grande cidade onde nosso povo era pouco conhecido, pareceu-me, uma noite, achar-me numa comissão de preparo da referida reunião. Foi proposto que se fizessem grandes esforços, e se incorresse em grandes despesas para distribuir estudos e outros impressos. Estavam-se tomando providências para a execução desse plano, quando Alguém que é sábio em conselhos, disse: T6 36 1 "É melhor armar as tendas, começar as reuniões, então fazer propaganda, e mais será conseguido. A verdade falada pelo pregador vivo terá maior influência do que quando anunciada nos jornais. Mas ambos os métodos unidos terão ainda mais força. T6 36 2 "Não é o melhor plano manter uma determinada maneira de trabalhar, ano após ano. É preciso mudar a ordem das coisas. Concedendo tempo e oportunidade, Satanás se prepara para reunir suas forças, e trabalhará para destruir toda alma que seja possível. T6 36 3 "Não se deve despertar a oposição antes de o povo ter oportunidade para ouvir a verdade, e saber a que estão fazendo oposição. Sejam reservados meios para fazer uma vigorosa obra depois da reunião, de preferência a fazê-la antes. Se for possível conseguir um prelo que funcione durante a reunião, imprimindo folhetos, notícias e jornais para serem distribuídos, isso terá considerável influência." T6 36 4 Em algumas de nossas reuniões campais, grandes grupos de obreiros se têm organizado para sair pela cidade e seus subúrbios distribuindo literatura e convidando o povo para as reuniões. Por esse meio tem se conseguido centenas de pessoas como assistência regular durante a última metade das reuniões; pessoas que, de outro modo, mal teriam pensado a respeito delas. T6 36 5 Precisamos empregar todo meio razoável de levar a luz ao povo. Que a impressora seja usada, e que se utilizem todos os meios de publicidade para chamar a atenção quanto ao trabalho. Isso não deve ser considerado como não essencial. Em cada esquina vêem-se cartazes e placas anunciando o que está ocorrendo, de várias formas, algumas das quais são do mais objetável caráter. Deveriam aqueles que possuem a luz da vida satisfazer-se com débeis esforços quanto a chamar a atenção das massas para a verdade? T6 37 1 Os interessados na verdade têm de enfrentar os enganos e falsas apresentações dos ministros populares, e não sabem como reagir a essas coisas. A verdade apresentada pelo pregador vivo deve ser publicada na maneira mais condensada possível, e amplamente disseminada. Na medida do possível, publiquem-se nos jornais as importantes palestras proferidas em nossas reuniões campais. Assim, a verdade que foi apresentada a um limitado número, terá acesso a muitas mentes. E em casos em que tenha havido desfiguração da verdade, o povo terá oportunidade de saber exatamente o que o pastor disse. T6 37 2 Coloque sua luz num ponto bem alto, para que possa iluminar a todos os que estão na casa. Se a verdade nos foi dada, devemos torná-la tão clara aos outros, que os sinceros de coração possam reconhecê-la e alegrar-se em seus brilhantes raios. T6 37 3 Natanael orou para que pudesse saber se a Pessoa anunciada por João Batista como sendo o Messias, era de fato o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Enquanto depositava suas perplexidades diante de Deus e suplicava por luz, Filipe o chamou e, em sinceros e jubilosos tons, exclamou: "Havemos achado Aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José." João 1:45. T6 37 4 Ocorre que Natanael tinha preconceitos contra o Nazareno. Através de falsos ensinamentos, a descrença ergueu-se em seu coração, e ele perguntou: "De Nazaré pode sair alguma cousa boa?" Filipe não tentou combater o preconceito e descrença do amigo. Apenas disse: "Vem e vê." João 1:46. Isto foi sábio, pois tão logo Natanael viu a Jesus, convenceu-se de que Filipe estava certo. Sua descrença desapareceu, e a fé firme, forte e repousante tomou conta de sua alma. Jesus elogiou a confiante fé de Natanael. T6 38 1 Existem muitos na condição de Natanael. Nutrem o preconceito e a descrença porque nunca entraram em contato com as verdades especiais para estes últimos dias, ou com o povo que as sustenta; não lhes será necessário mais do que assistir a uma reunião plena do Espírito de Cristo para que desapareça sua incredulidade. Não importa o que tenhamos de enfrentar, quanta oposição, quantos esforços para afastar as pessoas da verdade de origem celeste, temos de dar publicidade a nossa fé, para que pessoas sinceras possam ver, ouvir e convencer-se por si mesmas. Nosso trabalho é dizer, tal como fez Filipe: "Vem e vê." João 1:46. T6 38 2 Não sustentamos doutrina alguma que desejemos esconder. Para aqueles que foram ensinados a guardar o primeiro dia da semana como sendo sagrado, o aspecto mais objetável de nossa fé é o sábado do quarto mandamento. Por acaso não declara a Palavra de Deus que o sétimo dia é o sábado do Senhor? Sim, essa não é uma questão fácil, mudar do primeiro para o sétimo dia da semana como dia de guarda. Envolve uma cruz. Colide frontalmente com os preceitos e práticas dos homens. Pessoas eruditas têm ensinado ao povo a tradição, até que este se tenha enchido de descrença e preconceito. Ainda assim, precisamos dizer a tais pessoas: "Vem e vê." Deus requer que proclamemos a verdade, e que ela ponha a descoberto o erro. A participação dos membros da igreja T6 38 3 É importante que os membros de nossas igrejas assistam às reuniões campais. Os inimigos da verdade são muitos; e como pequeno é o nosso número, cumpre-nos apresentar uma frente tão forte quanto possível. Individualmente, necessitamos dos benefícios da reunião, e Deus vos convida a ser os primeiros nas fileiras da verdade. T6 39 1 Dirão alguns: "É caro viajar, e nos seria preferível economizar o dinheiro e dá-lo para o avanço da obra onde é tão necessário." Não se deve raciocinar assim; Deus nos chama a ocupar o lugar que nos pertence nas fileiras de Seu povo. Tanto quanto for possível, é necessário fortalecer a reunião estando presente, nós e nossa família. Façamos um esforço extraordinário para assistir à reunião do povo de Deus. T6 39 2 Irmãos e irmãs, é muito melhor deixar que os negócios sofram um pouco do que perder o ensejo de ouvir a mensagem de Deus. Nenhuma desculpa deve nos impedir de obter toda vantagem espiritual possível. Necessitamos de todo raio de luz. Precisamos nos habilitar para dar a razão da esperança que há em nós, com mansidão e temor. Não se pode perder um privilégio assim. T6 39 3 No passado o Senhor instruiu Seu povo a se reunir três vezes por ano para tributar-Lhe culto. A essas santas convocações ia o povo de Israel, levando dízimos, ofertas pelo pecado e ofertas de gratidão à casa do Senhor. Encontravam-se para contar as misericórdias de Deus, tornar conhecidas as Suas maravilhosas obras e dar louvores e ações de graças ao Seu nome. E deviam unir-se no serviço sacrifical que apontava a Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Assim seriam eles ser preservados do poder corruptor do mundanismo e da idolatria. A fé, o amor e a gratidão deviam ser mantidos vivos no coração deles e, por meio de sua associação nessa sagrada adoração, deviam ser mais estreitamente ligados a Deus e uns aos outros. T6 39 4 Nos dias de Cristo, essas festas eram assistidas por vastas multidões vindas de todas as terras; e, houvessem elas sido conservadas como era intenção do Senhor, no espírito do verdadeiro culto, a luz da verdade poderia ter sido comunicada por meio deles a todas as nações do mundo. T6 40 1 Para os que moravam distante do tabernáculo, mais de um mês de cada ano era gasto para assistir a essas santas convocações. O Senhor viu que essas reuniões eram necessárias à vida espiritual de Seu povo. Precisavam desviar-se de seus cuidados terrenos para comungar com Deus, e contemplar as realidades invisíveis. T6 40 2 Se os filhos de Israel necessitavam dessas santas convocações em seu tempo, quanto mais as necessitamos nós nesses dias finais de perigo e conflito! E se o povo do mundo então precisava da luz que Deus confiara a Sua igreja, quanto mais dela necessitarão agora! T6 40 3 O tempo atual é de molde a todos irem em socorro do Senhor, em socorro do Senhor contra os poderosos. Avigoram-se as forças do inimigo, e, como um povo, somos falsamente apresentados. Desejamos que o povo se relacione com nossas doutrinas e obra. Queremos que saibam o que somos e o que cremos. Precisamos abrir caminho até o coração deles. Que o exército do Senhor se ache em campo a fim de representar a obra e a causa de Deus. Não há desculpa. O Senhor necessita de nós. Ele não faz Sua obra sem a cooperação do instrumento humano. Freqüentemos as reuniões campais, ainda que isso nos custe algum sacrifício. E vamos dispostos a trabalhar. Além disso, devemos fazer todo esforço para levar os amigos, não em nosso lugar, mas conosco, para estarem ao lado do Senhor e obedecer-Lhe os mandamentos. Precisamos ajudar os que mostram interesse em ir, dando-lhes, se necessário, comida e alojamento. Os anjos comissionados a ministrar aos herdeiros da salvação, nos farão companhia. Deus fará grandes coisas por Seu povo. Abençoará todo esforço para honrar-Lhe a causa e promover o avanço de Sua obra. O preparo do coração T6 40 4 Precisamos lembrar que, nessas reuniões, há duas forças em operação. Uma batalha invisível a olhos humanos está sendo travada. Está em campo o exército do Senhor, buscando salvar almas. Satanás e suas legiões também estão em atividade, buscando por todos os meios possíveis enganar e destruir. O Senhor ordena-nos: "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais." Efésios 6:11, 12. Dia a dia prossegue a batalha. Se nossos olhos pudessem abrir para ver em operação os instrumentos bons e os maus, não haveria frivolidade e vaidade, nem gracejos e brincadeiras. Se todos se revestissem de toda a armadura de Deus e combatessem corajosamente as batalhas do Senhor, obter-se-iam vitórias que fariam tremer o reino das trevas. T6 41 1 Nenhum de nós deve ir à reunião campal confiando nos pastores ou nos obreiros bíblicos para torná-la uma bênção para nós. Deus não quer que Seu povo dependa inteiramente dos pastores. Não quer que se enfraqueçam dependendo do auxílio de criaturas humanas. Não devem, como crianças impotentes, apoiar-se em outros. Como despenseiro da graça de Deus, todo membro de igreja deve sentir sua responsabilidade individual de ter vida e raiz em si mesmo. Cada um deve sentir que, em certa medida, o êxito da reunião depende dele. Não é correto dizer: "Não sou responsável. Nada terei a fazer nessa reunião." Quem se sente assim está dando a Satanás oportunidade de operar por seu intermédio. Ele vai encher sua mente com maus pensamentos, dando-lhe alguma coisa para fazer em suas fileiras. Em vez de somar com Cristo, você estará dividindo. T6 41 2 O êxito da reunião depende da presença e do poder do Espírito Santo. Todo o que ama a causa da verdade, deve orar pelo derramamento do Espírito. E o quanto estiver em nosso alcance, cumpre-nos remover todo obstáculo a Sua atuação. O Espírito jamais poderá ser derramado enquanto os membros da igreja nutrirem desarmonia e amargura uns contra os outros. Inveja, ciúmes, ruins suspeitas e maledicências, são coisas de Satanás, e barram eficazmente o caminho à operação do Espírito Santo. Coisa alguma neste mundo é tão preciosa para Deus como Sua igreja. Coisa alguma é por Ele guardada com tão cioso cuidado. Coisa alguma ofende tanto ao Senhor como um ato que prejudique os que Lhe estão fazendo o serviço. Ele chamará a contas todos quantos ajudam Satanás em sua obra de criticar e desanimar. T6 42 1 Os que são destituídos de compaixão, ternura e amor, não podem fazer a obra de Cristo. Antes de se poder cumprir a profecia: O fraco será "como Davi", e a casa de Davi "como o anjo do Senhor" (Zacarias 12:8), os filhos de Deus precisam afastar todo pensamento de suspeita com referência a seus irmãos. Os corações devem bater em uníssono. A beneficência cristã e o amor fraternal devem ser manifestados muito mais abundantemente. Soam aos meus ouvidos as palavras: "União, união!" A solene e sagrada verdade para este tempo deve unificar o povo de Deus. Importa que morra o desejo de supremacia. Todos os outros objetos de interesse devem ser absorvidos por um único: quem se assemelhará mais a Cristo no caráter? Quem esconderá mais completamente em Cristo o próprio eu? T6 42 2 "Nisto é glorificado Meu Pai", diz Cristo, "em que deis muito fruto." João 15:8. Se há um lugar em que os crentes devam dar muito fruto, é em nossas reuniões campais. Nessas reuniões são observados nossos atos, nossas palavras e o espírito que mostramos, e nossa influência é de tão vasto alcance como a eternidade. T6 42 3 A transformação do caráter deve ser perante o mundo, o testemunho do amor de Cristo no coração. O Senhor espera que Seu povo manifeste que o poder redentor da graça pode operar sobre o caráter faltoso, e fazer com que ele se desenvolva em simetria, sendo abundantemente frutífero. T6 43 1 A fim de cumprirmos os desígnios de Deus, porém, há uma obra preparatória a fazer. O Senhor nos pede que esvaziemos o coração do egoísmo que é a raiz de toda alienação. Ele anseia derramar sobre nós Seu Santo Espírito em fartas medidas, e que aplainemos o caminho mediante a renúncia. Quando o próprio eu for entregue a Deus, nossos olhos serão abertos para ver as pedras de tropeço que nossa dessemelhança com Cristo tem posto no caminho dos outros. Tudo isso Deus nos manda remover. Diz Ele: "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis." Tiago 5:16. Então poderemos ter a certeza experimentada por Davi quando, depois de confessar o seu pecado, orou: "Torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os Teus caminhos, e os pecadores a Ti se converterão." Salmos 51:12, 13. T6 43 2 Quando a graça de Deus reinar no interior, a alma será circundada por uma atmosfera de fé, ânimo e amor cristão, atmosfera revigoradora para a vida espiritual de todos os que a respiram. Então podemos ir à reunião campal, não somente para receber, mas para comunicar. Todo aquele que é participante do amor perdoador de Cristo, todo o que foi esclarecido pelo Espírito de Deus e convertido à verdade, por essas preciosas bênçãos sentir-se-á devedor a toda alma com quem se põe em contato. Os que são humildes de coração serão usados pelo Senhor para alcançar almas de quem o pastor ordenado não se pode aproximar. Serão impulsionados a proferir palavras que revelam a salvadora graça de Cristo. T6 43 3 E, beneficiando aos outros, serão eles próprios abençoados. Deus nos dá oportunidade de comunicar graça, para que nos possa encher novamente de mais graça. A esperança e a fé se robustecerão à medida que o instrumento de Deus opera com os talentos e os recursos fornecidos por Ele. Terá um agente divino a cooperar com ele. Assuntos comerciais T6 44 1 Nossas reuniões campais devem, o quanto possível, ser dedicadas a interesses espirituais. Não se devem tornar ocasião para efetuar reuniões de comissões. Reúnem-se obreiros de todas as partes do campo, e parece uma ocasião favorável para considerar assuntos de negócios relacionados com os vários ramos da obra, e para o preparo de obreiros nos vários ramos também. T6 44 2 Todos esses interesses são importantes, mas quando são considerados numa reunião campal, pouca é a oportunidade que resta para tratar das relações práticas da verdade para com as pessoas. Os pastores são distraídos de sua obra de edificar os filhos de Deus na santíssima fé, e a reunião campal não preenche o fim a que se designava. T6 44 3 Em muitas dessas reuniões a maior parte do povo não tem interesse; e se pudessem assistir a todas, retirar-se-iam cansados, em lugar de ter recebido refrigério e benefício. Muitos ficam decepcionados por falhar sua esperança de receber auxílio da reunião campal. Os que vieram em busca de luz e de forças, regressam para casa pouco mais habilitados a trabalhar na família e na igreja, do que o estavam antes de assistirem às reuniões. T6 44 4 Os assuntos administrativos devem ser tratados pelos que são especialmente designados para isso. E, o quanto possível, devem ser apresentados ao povo em outras ocasiões, e não nas reuniões campais. Instruções relativas à colportagem, à obra da Escola Sabatina e às minúcias do trabalho missionário devem ser dadas nas igrejas locais, ou em reuniões especialmente designadas. O mesmo quanto às classes culinárias. Se bem que essas sejam boas em seu devido lugar, não devem ocupar o tempo de nossas reuniões campais. T6 45 1 Os presidentes de Associação e os pastores devem dedicar-se aos interesses espirituais do povo, e portanto serem dispensados do trabalho mecânico que acompanha as reuniões. Os pastores devem estar prontos para agir como mestres e guias na obra do acampamento, quando a ocasião o exija, mas não ser levados ao ponto de exaustão. Devem sentir-se refrigerados, em animada disposição de espírito, pois isto é essencial ao máximo benefício da reunião. Devem ser capazes de proferir palavras de ânimo e coragem, e lançar sementes de verdade espiritual no solo dos corações sinceros, de modo a brotar e produzir precioso fruto. T6 45 2 Os pastores devem ensinar o povo a se aproximar do Senhor e a conduzir outros a Ele. Devem-se adotar métodos, delinear planos pelos quais a norma seja elevada, e o povo seja ensinado quanto ao modo como conseguir purificar-se da iniqüidade e elevar-se pela adesão aos princípios puros e santos. T6 45 3 Deve haver tempo para exame do coração, para a cultura do espírito. Quando a mente está ocupada com assuntos de negócios deve haver necessariamente carência de poder espiritual. A piedade pessoal, a fé genuína e a santidade do coração devem ser conservadas diante do espírito até que o povo compreenda sua importância. T6 45 4 Precisamos possuir o poder de Deus em nossas reuniões campais, do contrário não nos será possível prevalecer sobre o inimigo das almas. Cristo diz: "Sem Mim, nada podeis fazer." T6 45 5 Os que se ajuntam nessas reuniões campais devem ser impressionados com o fato de que o objetivo das mesmas é atingir a experiência cristã mais elevada, crescer no conhecimento de Deus, fortalecer-se com vigor espiritual; e a menos que compreendamos isso, as reuniões serão infrutíferas. Auxílio ministerial T6 46 1 Nas reuniões campais ou conferências em tendas, junto ou próximo às grandes cidades, deve existir abundante auxílio ministerial. Em todas as nossas reuniões campais a força ministerial deve ser a máxima possível. Não é sábio lançar contínua carga sobre um ou dois homens. Sobrecarregados, eles se tornam física e mentalmente exaustos, e assim se incapacitam para a obra a eles designada. Para que possam dispor de forças necessárias para as reuniões, os ministros devem fazer arranjos antecipados para que seu campo de trabalho fique sob o cuidado de pessoas responsáveis que, embora não sendo talvez aptas a pregar, possam levar avante a obra de casa em casa. Em Deus muitos poderão agir valorosamente, e seus esforços redundarão em resultados cuja riqueza os surpreenderá. T6 46 2 Em nossos grandes encontros se fazem necessários muitos dons. Novos talentos devem ser trazidos à obra. O Espírito Santo deve ter a oportunidade de operar na mente. Então a verdade será apresentada com solidez e poder. T6 46 3 Ao dirigir os importantes interesses das reuniões próximo de uma grande cidade, é essencial a cooperação de todos os obreiros. Devem eles manter-se na própria atmosfera das reuniões, travando conhecimento com as pessoas ao entrarem e saírem, mostrando-lhes a máxima cortesia, bondade e terna consideração. Devem estar dispostos a falar-lhes em tempo e fora de tempo, espreitando a ocasião de ganhar seu coração. Que os obreiros de Cristo mostrem a metade da vigilância que manifesta Satanás, que está sempre nas pegadas dos seres humanos, sempre bem alerta, pronto para armar alguma armadilha ou laço para a sua destruição. T6 46 4 Que cada dia seja considerado o mais importante para o trabalho. Esse dia ou noite pode representar a única oportunidade que alguém terá para ouvir a mensagem de advertência. Mantenha isso sempre em mente. T6 47 1 Quando os ministros permitem ser afastados de seu trabalho para visitar as igrejas, não apenas esgotam suas forças físicas, como ainda roubam a si próprios do tempo necessário ao estudo, oração e meditação diante de Deus. Assim se inabilitam para realizar a obra quando e onde ela deveria ser feita. T6 47 2 Coisa alguma é mais necessária na obra do que os resultados práticos da comunhão com Deus. Devemos mostrar por nossa vida diária que temos paz e descanso em Deus. Sua paz no coração irá refletir-se no semblante. Dará à voz um poder persuasivo. A comunhão com Deus comunicará elevação moral ao caráter e a todo procedimento. Os homens observarão, como no caso dos primeiros discípulos, que estivemos com Jesus. Isso comunicará aos trabalhos do pastor um poder ainda maior do que o que provém da influência de sua pregação. Desse poder não deve ele permitir que seja privado. A comunhão com Deus mediante a oração e o estudo de Sua Palavra não deve ser negligenciada, pois aí é que está a fonte de seu poder. Nenhuma atividade em prol da igreja deve ter precedência em relação a isso. T6 47 3 Temos uma concepção demasiado pequena de Deus e das realidades eternas. Se os homens andarem com Deus, Ele os esconderá na fenda da Rocha. Assim ocultos, poderão eles ver a Deus, tal como ocorreu com Moisés. Com o poder e a luz que Deus outorga, eles compreenderão melhor e realizarão mais do que alguma vez haviam imaginado ser possível. T6 47 4 Maior habilidade, tato e sabedoria são necessários na apresentação da Palavra e na alimentação do rebanho de Deus do que muitos supõem. Uma apresentação árida e sem vida da verdade deprecia a mais sagrada mensagem conferida por Deus aos homens. T6 48 1 Aqueles que ensinam a Palavra precisam viver cada hora em consciente e viva comunhão com Deus. Os princípios da verdade, da justiça e da misericórdia necessitam estar dentro deles. Devem abeberar-se da Fonte de toda sabedoria moral e poder intelectual. Seu coração necessita estar vivo sob as profundas impressões do Espírito de Deus. T6 48 2 A fonte de todo poder é ilimitada; se os irmãos, em sua grande necessidade, procurarem que o Espírito Santo trabalhe em sua própria alma, se entrarem em reclusão com Deus, assegurem-se de que não comparecerão diante do povo com a alma árida e sem ânimo. Ao orarem mais e contemplarem a Jesus, vocês deixarão de exaltar o eu. Se, pacientemente, exercitarem a fé, confiando implicitamente em Deus, reconhecerão a voz de Jesus dizendo: "Subi para aqui." Apocalipse 11:12. Todos devem ser obreiros T6 48 3 "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:11-13. T6 48 4 Esse texto apresenta um vasto programa de trabalho, que deve ser trazido às nossas reuniões campais. Todos esses dons precisam ser exercitados. Todo obreiro fiel ministrará com vistas ao aperfeiçoamento dos santos. T6 48 5 Os que estão se preparando para qualquer ramo da obra devem aproveitar toda oportunidade de trabalhar na reunião campal. Onde quer que se realizem essas reuniões, os rapazes que receberam preparo em assuntos médicos devem sentir que é seu dever desempenhar sua parte. Devem ser animados a não somente agir como médicos, mas também a falar sobre os pontos da verdade presente, dando a razão de sermos adventistas do sétimo dia. Esses jovens, uma vez que lhes seja facultada a oportunidade de trabalhar com pastores mais experientes, terão muito proveito e bênçãos. T6 49 1 Há para cada um alguma coisa a fazer. Toda pessoa que crê na verdade deve permanecer em seu lugar, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim". Isaías 6:8. Ao se envolverem no trabalho durante a reunião campal, todos podem aprender como atuar com êxito na igreja local. T6 49 2 Quando devidamente dirigidas, as reuniões campais são uma escola em que pastores, anciãos e diáconos podem aprender a fazer trabalho mais perfeito para o Mestre. Elas devem ser uma escola onde os membros da igreja, adultos e jovens, tenham oportunidade de aprender mais perfeitamente o caminho do Senhor, onde os crentes possam receber um preparo que os auxilie a ajudar outros. T6 49 3 Os pais que comparecem à reunião campal deveriam prestar especial atenção às lições que são administradas para sua orientação. A seguir, na vida doméstica, por preceito e exemplo, compartilhem eles essas lições com os filhos. Ao lutarem assim para salvar seus filhos das influências corruptoras do mundo, observarão melhoras em sua família. T6 49 4 O melhor auxílio que os pastores podem oferecer aos membros de nossas igrejas, não é pregar sermões, e sim planejar o trabalho para eles. Que cada um receba algo a fazer pelos outros. Sejam todos ajudados a ver que, como recebedores da graça de Cristo, encontram-se sob a obrigação de trabalhar para Ele. Que a todos seja ensinado como trabalhar. Especialmente os recém-conversos devem ser treinados como colaboradores de Deus. Se postos a trabalhar, os murmuradores logo esquecerão suas murmurações; os fracos se tornarão fortes; os ignorantes, inteligentes; assim todos se prepararão para apresentar a verdade tal qual é em Jesus. Encontrarão um infalível Ajudador nAquele que prometeu salvar os que forem a Ele. Oração e aconselhamento T6 50 1 Aqueles que atuam nas reuniões campais deveriam unir-se freqüentemente em oração e aconselhamento, para que possam agir inteligentemente. Nessas reuniões há muitas coisas a demandarem atenção. Contudo, devem os ministros tomar tempo diariamente, reunindo-se a fim de orar e tomar conselho entre si. Devem certificar-se de que tudo está sendo conduzido corretamente, ou, conforme as palavras que me foram ditas, "vocês devem estar em pé, ombro a ombro, marchando em linha reta, ninguém se afastando." Quando a obra é conduzida dessa forma, existe unidade de coração, logo haverá também harmonia de ação. Será esse um meio maravilhoso de trazer a bênção de Deus sobre o povo. T6 50 2 Antes de proferirem um sermão, devem os ministros reservar tempo para buscar em Deus sabedoria e poder. Em tempos passados muitas vezes os ministros se afastavam para orar juntos, e não interrompiam as preces até que o Espírito de Deus respondesse as preces. Retornavam então do lugar de oração com a face iluminada; ao falarem à congregação, suas palavras possuíam poder. Atingiam o coração das pessoas, porque o Espírito que lhes outorgava as bênçãos, preparava também os corações para o recebimento da mensagem. Existe muito mais do que aquilo que reconhecemos, sendo feito pelo universo celestial na preparação do caminho para a conversão das pessoas. Devemos agir em harmonia com os mensageiros do Céu. Desejamos mais de Deus; não devemos imaginar que nossas palestras e sermões sejam capazes de realizar a obra. A menos que as pessoas sejam alcançadas através de Deus, jamais serão alcançadas. Temos de depender unicamente de Deus, reclamando Sua promessa: "E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6. T6 51 1 Quando aqueles aos quais Deus confiou responsabilidades como líderes temerem e tremerem diante dEle por causa da responsabilidade do trabalho; quando sentirem a própria indignidade, e buscarem humildemente ao Senhor; quando se purificarem de tudo aquilo que Lhe desagrada; quando suplicarem diante dEle até saberem que receberam perdão e paz, então Deus Se manifestará por intermédio deles. Então o trabalho avançará com poder. T6 51 2 Meus coobreiros, precisamos ter a Jesus, o precioso Jesus, habitando em nosso coração muito mais plenamente, se quisermos obter sucesso em apresentá-lO ao povo. Achamo-nos em grande necessidade da influência celestial, do Espírito Santo de Deus, para conceder poder e eficiência a nossa obra. Necessitamos abrir o coração a Cristo. Precisamos de mais firme fé e mais fervente devoção. Temos de morrer para o eu, acariciando na mente e no coração um amor adorável por nosso Salvador. Quando buscarmos ao Senhor de todo o coração, vamos encontrá-lO, e nosso coração transbordará de Seu amor. O eu será afogado em sua insignificância e Jesus será tudo para a alma. T6 51 3 Cristo apresenta a nós, os sedentos, a água da vida, para que bebamos livremente; ao fazê-lo, teremos a Cristo dentro de nós, como fonte de água que salta para a vida eterna. Então nossas palavras serão cheias de umidade. Estaremos preparados para irrigar outros. T6 51 4 Temos de aproximar-nos de Deus. Temos de ser Seus coobreiros, caso contrário fraquezas e erros serão percebidos em tudo que empreendermos. Se nos fosse permitido administrar os interesses da causa de Deus segundo nossos próprios caminhos, não haveria razão para se esperar muito; entretanto, se o eu se esconder em Cristo, todo nosso trabalho será forjado em Deus. Tenhamos fé nEle a cada passo. Ao mesmo tempo que reconhecemos nossa fraqueza, não sejamos desprovidos de fé, e sim crentes. T6 52 1 Se tomarmos a Deus pela palavra, veremos Sua salvação. O evangelho que apresentamos para a salvação de almas que perecem, deve ser o mesmo evangelho que salva nossa própria vida. Necessitamos receber a Palavra de Deus. Temos de comê-la, temos de vivê-la; é ela a carne e o sangue do Filho de Deus. Precisamos comer Sua carne e beber Seu sangue -- receber pela fé os Seus atributos espirituais. T6 52 2 Devemos receber luz e bênção para termos algo a compartilhar. É privilégio de cada obreiro, andar em primeiro lugar com Deus no lugar secreto da oração, e então falar às pessoas como porta-voz de Deus. Homens e mulheres que comungam com Deus, que têm a Cristo habitando dentro de si, tornam sagrada a própria atmosfera, pois são cooperadores dos anjos. Tal testemunho é necessário neste tempo. Necessitamos do poder enternecedor de Deus, do poder que conduz a Cristo. Necessidades da igreja T6 52 3 Muitos chegam às reuniões campais com o coração cheio de murmuração e queixa. Por intermédio da obra do Espírito Santo, devem estes ser levados a compreender que suas murmurações constituem ofensa a Deus. Devem ser levados a reprovar a si próprios, pois permitiram ao inimigo exercer controle sobre sua mente e julgamento. As queixas devem converter-se em arrependimento, a incerteza e abatimento em sincera indagação: "De que modo poderei adquirir fé genuína?" T6 52 4 Quando o homem é participante da natureza divina, o amor de Cristo é um princípio permanente na alma, e o próprio eu e suas peculiaridades não serão exibidos. Contudo, é triste ver os que deveriam ser vasos de honra, manifestarem indulgência na gratificação da natureza inferior, andando em caminhos que a consciência condena. Homens que professam ser seguidores de Cristo descem a um baixo nível, sempre lamentando suas limitações, mas jamais sobrepujando a Satanás e calcando-o debaixo dos pés. Culpa e condenação constantemente sobrecarregam a alma, e o clamor destes bem pode ser: "Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?" Romanos 7:24. Pela condescendência com o pecado é destruído o respeito próprio; e uma vez ausente este, diminui-se o respeito aos outros; concluímos que os outros sejam tão injustos como nós. T6 53 1 Em nossas convocações anuais essas coisas devem ser apresentadas ao povo, que deve ser encorajado a buscar em Cristo a libertação do poder do pecado. Ele diz: "E buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós." Jeremias 29:13, 14. O padrão deve ser elevado, e a pregação deve ser de caráter inteiramente espiritual, para que o povo possa ser levado a ver as razões de sua fraqueza e infelicidade. Muitos se sentem infelizes porque não são santos. Somente a pureza de coração e a inocência de mente podem ser abençoadas por Deus. Quando o pecado é acariciado, terminará por produzir nada além da infelicidade; e o pecado que desemboca na maior infelicidade é o orgulho de coração, a ausência de simpatia e amor cristãos. Como apresentar a mensagem T6 53 2 Em toda parte existem corações clamando pelo Deus vivo. Sermões insuficientes para a alma faminta têm sido apresentados pelas igrejas. Em tais palestras não existe aquela manifestação divina que toca a mente e cria fervor no coração. Os ouvintes não conseguem dizer: "Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?" Lucas 24:32. A maior parte dos ensinos apresentados não possui poder para despertar o pecador ou convencer as pessoas do pecado. As pessoas que vêm ouvir a Palavra necessitam de uma apresentação clara e distinta da verdade. Alguns que uma vez provaram a Palavra de Deus estiveram por longo tempo vivendo numa atmosfera em que não existe Deus, e agora almejam a presença divina. T6 54 1 A primeira e mais importante coisa a fazer é abrandar e subjugar a alma, apresentando o nosso Senhor Jesus Cristo como o Salvador que perdoa pecados. Jamais deveria ser pregado um sermão, ou apresentada instrução bíblica sobre qualquer assunto, sem que os ouvintes fossem encaminhados ao "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. Toda verdadeira doutrina torna a Cristo o centro, todo preceito recebe força de Suas palavras. T6 54 2 Mantenham diante do povo a cruz do Calvário. Mostrem o que causou a morte de Cristo -- a transgressão da lei. Não seja encoberto o pecado, ou tratado como coisa de pouca importância. Deve ele ser apresentado como agressão contra o Filho de Deus. Então indiquem Cristo às pessoas, contando-lhes que a imortalidade advirá tão-somente ao O receberem como seu Salvador pessoal. T6 54 3 Façam o povo perceber quão longe tem estado das ordenanças do Senhor, ao adotar condutas mundanas e se conformar com princípios mundanos. Isso o tem feito transgredir a lei de Deus. T6 54 4 Muitos no mundo fixam suas afeições em coisas que, em si mesmas, não são más; contentam-se, entretanto, com essas coisas, e não buscam o maior e mais elevado bem que Cristo lhes deseja conceder. Não devemos procurar rudemente privar as pessoas das coisas que lhes são preciosas. Revelem a elas a beleza e preciosidade da verdade. Conduzam-nas a contemplarem a Cristo em amabilidade; então elas deixarão tudo aquilo que afastaria dEle as suas afeições. Esse é o princípio pelo qual o Salvador Se relaciona com os homens; é o princípio que deve ser trazido para dentro da igreja. T6 54 5 Cristo veio a este mundo "para pregar boas-novas aos mansos; ... a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos." Isaías 61:1. O Sol da Justiça nascerá "e salvação trará debaixo das suas asas." Malaquias 4:2. O mundo está repleto de homens e mulheres que carregam um pesado fardo de tristeza, sofrimento e pecado. Deus envia a esses os Seus filhos, para que lhes revelem Aquele que tomará sobre Si o fardo e lhes dará descanso. É a missão dos servos de Cristo ajudar, abençoar e curar. T6 55 1 O tema favorito de Cristo era o caráter paternal e o abundante amor de Deus. Esse conhecimento de Deus foi o próprio dom de Cristo aos homens, e esse dom, entregou-o a Seu povo, para que seja comunicado ao mundo. T6 55 2 Ao apresentarmos ao povo as várias lições e advertências da mensagem especial para o tempo presente, devemos ter em mente que nem todas são igualmente apropriadas para as congregações que formam as nossas reuniões campais. Mesmo Jesus disse aos discípulos, com os quais estivera durante três anos: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora." João 16:12. Temos de esforçar-nos por apresentar a verdade de um modo que as pessoas estejam preparadas para ouvir e apreciar seu valor. O Espírito de Deus está operando na mente e coração dos homens, e temos de agir em harmonia com isso. T6 55 3 Algumas verdades já são do conhecimento das pessoas. Em algumas estão elas interessadas e prontas a aprender mais. Mostrem-lhes o valor dessas verdades, e a relação das mesmas com outras que ainda não são compreendidas. Assim se despertará o desejo de maior luz. Quem assim procede, "maneja bem a palavra da verdade." 2 Timóteo 2:15. T6 56 1 Seja a verdade para esse tempo apresentada não em longos e elaborados discursos, mas em pequenas apresentações, diretamente ao ponto. Não pensem que, havendo apresentado uma vez certo ponto, é possível passar logo a outros mais, e que os ouvintes reterão tudo aquilo que foi apresentado. Existe perigo em se passar muito rápido de um ponto a outro. Apresentem lições breves, em linguagem direta e simples, e repitam-nas com freqüência. T6 56 2 Não apresentem um sermão logo em seguida ao anterior, mas concedam um período de repouso, para que a verdade seja fixada na mente, e para que tanto os ministros quanto o povo tenham a oportunidade de meditar e orar. Assim as pessoas crescerão no conhecimento e na experiência religiosa. T6 56 3 Mantenham a mente concentrada nalguns poucos pontos vitais. Não apresentem idéias sem importância em seus sermões. Deus não quer que vocês imaginem estar sendo impressionados pelo Seu Espírito, se sua mente se afasta do assunto, introduzindo matérias estranhas, que não possuem conexão com o texto em estudo. Ao divagar para longe de linhas retas, apresentando aquilo que desvia a mente do assunto, vocês perdem o ponto de apoio e enfraquecem tudo o que disseram previamente. Ofereçam a seus ouvintes trigo puro, totalmente peneirado. T6 56 4 Sejam cuidadosos para nunca perderem o senso da presença do divino Vigia. Lembrem-se de que estão falando não apenas diante de uma assembléia de homens, como também diante de Alguém a quem devem sempre reconhecer. Falem como se todo o universo celestial estivesse diante de vocês. T6 57 1 Uma noite, antes de uma importante reunião, pareceu-me, enquanto dormia, achar-me em reunião com os irmãos, escutando a Alguém que falava com autoridade. Disse Ele: "Assistirão a esta reunião muitas pessoas sinceramente ignorantes das verdades que hão de ser apresentadas. Elas ouvirão e ficarão interessadas porque Cristo as está atraindo; a consciência lhes diz que o que ouvem é verdade, pois tem a Bíblia por base. É importante ter o máximo cuidado ao tratar com essas pessoas. T6 57 2 "Ofereçam porções da mensagem que elas sejam capazes de apreender e assimilar. Embora possam parecer estranhas e surpreendentes, muitos hão de reconhecer com alegria que se projeta através da Palavra de Deus uma nova luz; ao passo que, se novas verdades forem apresentadas de uma só vez, essas pessoas terão dificuldade para compreendê-las, correndo o risco de se afastarem e nunca mais voltar. Alguns interessados, na tentativa de partilhar as novidades, poderão distorcer o que ouviram. Outros poderão modificar as Escrituras ao ponto de deixar confusa a cabeça de quem os ouve. T6 57 3 "Aqueles que estudarem os métodos da didática de Cristo e se educarem em seguir Sua orientação, atrairão grande número de pessoas, mantendo o interesse dos ouvintes como Cristo fez no passado. Em cada reunião, Satanás se achará no acampamento a fim de lançar sua sombra infernal entre o homem e Deus, para interceptar cada raio de luz que possa brilhar na alma. Mas, quando a verdade em seu caráter prático for insistentemente apresentada ao povo com amor, muitos se convencerão, porque o Espírito Santo de Deus impressionará os corações. T6 57 4 "Revestir-se de humildade e orar para que os anjos de Deus estejam estreitamente unidos com você para impressionar a mente do povo; pois não é você que dirige o Espírito Santo, mas é ao Espírito Santo que compete dirigir você. É o Espírito Santo que torna a verdade admirável. Mantenha a verdade prática sempre perante o povo." T6 58 1 Não saliente os aspectos da verdade que são uma reprovação dos costumes e práticas do povo enquanto eles não tiverem ocasião de saber que acreditamos em Cristo, em Sua divindade e preexistência. Insistamos no testemunho do Redentor do mundo. Ele diz: "Eu, Jesus, enviei o Meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas." Apocalipse 22:16. T6 58 2 Na reunião campal de Queensland, em 1898, foi-me dada instrução no tocante a nossos obreiros bíblicos. Nas visões noturnas, ministros e obreiros pareciam estar numa reunião em que lições bíblicas eram apresentadas. Dissemos: "Temos o Grande Mestre conosco hoje", e escutamos com interesse as Suas palavras. Ele disse: "Neste lugar existe uma grande obra para vocês. Terão de apresentar a verdade em sua singeleza. Tragam as pessoas à fonte de água da vida. Falem a elas as coisas mais relacionadas com o seu presente e eterno bem-estar. Não estudem as Escrituras de modo leviano ou casual. Em tudo que disserem, saibam que têm algo que valha o tempo gasto em dizê-lo, e o tempo dos que ouvem. Falem das coisas essenciais, coisas que instruem e que trarão luz com cada palavra. T6 58 3 "É necessário aprender a ir ao encontro das pessoas onde elas estão. Não apresentar assuntos que suscitem controvérsia. Não dar instruções que possam confundir a mente. Não levem as pessoas a se preocuparem com coisas que vocês entendem, mas que elas não são capazes de ver, a menos que sejam assuntos de conseqüências vitais para a salvação. Não apresentem as Escrituras de modo a exaltar o eu e a estimular a vanglória daquele que abre a Palavra. A obra para o tempo presente é treinar estudantes e obreiros a lidarem com os assuntos de modo claro, sério e solene. Nessa grande obra nenhum tempo deve ser usado sem utilidade. Não podemos perder o objetivo. O tempo é demasiado curto para pretendermos revelar tudo aquilo que pode ser exposto à compreensão. Precisaremos da eternidade para conhecer toda a extensão, largura, profundidade e altura das Escrituras. Existem pessoas para as quais certos pontos da verdade são mais importantes do que outros. Vocês necessitam de mais habilidade com as verdades bíblicas. Leiam e estudem o Salmos 40:7, 8; João 1:14; 1 Timóteo 3:16; Filipenses 2:5-11; Colossences 1:14-17; Apocalipse 5:11-14. T6 59 1 "Ao apóstolo João, na ilha de Patmos, foram reveladas as coisas que Deus desejava fossem comunicadas ao povo. Estudem essas revelações. Aí encontram-se temas dignos de nossa contemplação, grandes e abrangentes lições que toda a hoste angélica está agora procurando comunicar. Contemplem a vida e caráter de Cristo e estudem Sua obra mediadora. Encontram-se aí infinita sabedoria, infinito amor e infinita misericórdia. Aí estão as profundezas e alturas, extensões e larguras, para a nossa consideração. Inumeráveis textos têm sido usados para a apresentação ao mundo da vida, caráter e obra intercessória de Cristo, e ainda assim cada pessoa através da qual o Espírito Santo tem trabalhado, vem apresentando esses temas sob um novo enfoque." T6 59 2 Desejamos levar o povo a compreender o que Cristo significa, e quais as responsabilidades a que são chamados a aceitar em favor dEle. Como Seus representantes e testemunhas, necessitamos chegar à plena compreensão das salvadoras verdades, através de um conhecimento experimental. T6 59 3 Ensinem as grandes verdades práticas que necessitam ser estampadas no coração. Ensinem sobre o salvador poder de Jesus, "em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados." Colossences 1:14. Foi na cruz que a misericórdia e a verdade se encontraram, que a justiça e a verdade se beijaram. Que todo aluno e todo obreiro estude isso vez após outra, e assim possam, ao levantar o Senhor crucificado entre nós, torná-lO um assunto sempre novo para as pessoas. Mostrem que a vida de Cristo revela um caráter infinitamente perfeito. Ensinem que "a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome." João 1:12. Digam isso mais e mais vezes. Temos de tornar-nos filhos de Deus, membros da real família, filhos do Rei celestial. Seja tornado conhecido que todos os que aceitam a Jesus Cristo e mantêm firme a sua confiança do início ao fim, serão herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo de "uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo." 1 Pedro 1:4, 5. A última advertência T6 60 1 A mensagem do terceiro anjo deve ser dada com poder. O poder da proclamação da primeira e segunda mensagens deve ser intensificado com a terceira. No Apocalipse, João fala do mensageiro celestial que se une ao terceiro anjo: "E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz." Apocalipse 18:1, 2. Estamos sob o risco de apresentar a mensagem do terceiro anjo de maneira tão indefinida, que ela não cause impressão sobre o povo. Tantos outros interesses aparecem, que a própria mensagem que deveria ser proclamada com poder torna-se insípida e sem expressão. Um equívoco tem ocorrido em nossas reuniões campais. A questão do sábado tem sido abordada, mas não tem sido apresentada como o grande teste para o presente momento. Ao passo que as igrejas professam crer em Cristo, estão violando a lei que o próprio Cristo proclamou no Sinai. O Senhor ordena: "Anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados." Isaías 58:1. A trombeta precisa dar o sonido certo. T6 61 1 Quem tem diante de si uma congregação por apenas duas semanas não pode adiar a apresentação do assunto do sábado até que tudo mais haja sido apresentado, na suposição de que assim será preparado o caminho para ele. A norma tem de ser elevada: os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Esse é o tema importante. A seguir, por meio de fortes argumentos, ele deve ser ainda reforçado. Gaste mais tempo com o Apocalipse. Leia, explique e reforce o seu ensino. T6 61 2 Nossa batalha é agressiva. Desfechos tremendos estão perante nós; e mesmo iminentes. Ascendam a Deus as nossas orações para que os quatro anjos ainda retenham os quatro ventos a fim de que não soprem para danificar nem destruir sem que a última advertência haja sido feita ao mundo. Trabalhemos, então, em harmonia com as nossas orações. Que nada reduza a força da verdade para este tempo. A verdade presente tem que ser o nosso principal assunto. Deve a mensagem do terceiro anjo realizar a sua obra de separar das igrejas um povo que se decidirá em prol dos princípios da verdade eterna. T6 61 3 Nossa mensagem é de vida ou morte, e devemos permitir que ela apareça como realmente é, o grande poder de Deus. Devemos apresentá-la em toda a sua força. O Senhor então a tornará eficaz. É nosso privilégio esperar grandes coisas, até mesmo a demonstração do Espírito de Deus. É esse o poder que convencerá e converterá a alma. T6 61 4 Os perigos dos últimos dias estão sobre nós, e cabe-nos a obra de advertir as pessoas do perigo em que se encontram. Que não fiquem intocadas as solenes cenas reveladas pela profecia. Se nosso povo estivesse apenas meio desperto, se compreendessem a proximidade dos eventos retratados no Apocalipse, haveria uma reforma em nossas igrejas, e muitos mais creriam na mensagem. Não temos tempo a perder; Deus nos chama a vigiarmos as almas das quais teremos de prestar contas. Apresentem novos princípios, a clara e decisiva verdade. Será como espada de dois fios. Contudo, não sejam apressados a entrar em controvérsia. Haverá ocasiões em que teremos de permanecer calados, esperando a salvação de Deus. Deixem que falem os livros de Daniel e Apocalipse, dizendo o que é a verdade. Seja, porém, qual for o assunto apresentado, exaltem a Jesus como o centro de toda esperança, "a Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da manhã." Apocalipse 22:16. Encontros de louvor T6 62 1 Nos cultos de nossas campais, deve haver música vocal e instrumental. Instrumentos musicais eram utilizados nos serviços religiosos dos tempos antigos. Os adoradores louvavam a Deus com a harpa e címbalo, e a música deve ter também seu lugar em nossos cultos. Fará aumentar o interesse. Todos os dias deve ser realizado um encontro de louvor, um culto simples de ações de graças a Deus. Haveria muito maior poder em nossas reuniões campais se possuíssemos genuíno senso da bondade, misericórdia e longanimidade de Deus, e se maior quantidade de louvor irrompesse de nossos lábios para honra e glória de Seu nome. Temos de cultivar maior fervor de espírito. O Senhor diz: "Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará." Salmos 50:23. T6 62 2 É obra de Satanás falar daquilo que diz respeito a ele, sendo-lhe um deleite ouvir os homens falando de seu poder, da obra que ele realiza através dos filhos dos homens. Mediante a indulgência com semelhante conversação, a mente torna-se melancólica, mal-humorada e cheia de discórdia. Podemos chegar a tornar-nos canais de comunicação satânica, pelos quais fluam palavras sem o brilho do sol para algum coração. Decidamos, pois, que não será assim. Decidamos não servir de canais para que Satanás comunique pensamentos sombrios e de discórdia. Que nossas palavras não sejam um cheiro de morte para morte, e sim de vida para vida. T6 63 1 Nas palavras que proferimos diante do povo ou em nossas preces, Deus deseja que ofereçamos inequívoca evidência de que possuímos vida espiritual. Não desfrutamos da plenitude das bênçãos que o Senhor tem preparado para nós, pelo fato de não pedirmos com fé. Se exercêssemos fé na palavra do Deus vivo, teríamos as mais ricas bênçãos. Desonramos a Deus por essa falta de fé; dessa forma não conseguimos compartilhar vida com outros, mediante um testemunho vivo e edificante. Não podemos dar aquilo que não possuímos. T6 63 2 Se andarmos humildemente com Deus, se trabalharmos no espírito de Cristo, nenhum de nós terá de carregar pesados fardos. Depositá-los-emos sobre o grande Portador de Fardos. Poderemos então esperar triunfos na presença de Deus, na comunhão de Seu amor. Do início ao fim, toda reunião campal será uma festa de amor, pois a presença de Deus estará com Seu povo. T6 63 3 Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Anjos de Deus, milhares de milhares, e dezenas de milhares vezes dezenas de milhares, são comissionados a ministrar em favor dos que herdarão a salvação. Guardam-nos do mal e fazem recuar as forças das trevas que estão procurando destruir-nos. Não temos razão para nos sentirmos agradecidos a cada momento, gratos até mesmo quando aparentes dificuldades existem em nosso caminho? T6 63 4 O próprio Senhor é nosso ajudador. "Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo." Sofonias 3:14, 17. Esse é o testemunho que o Senhor deseja que apresentemos ao mundo. Seu louvor deve estar continuamente em nosso coração e lábios. T6 64 1 Semelhante testemunho terá influência sobre outros. Quando buscamos desviar os homens de seus esforços indulgentes com o eu, com vistas a assegurar sua felicidade, temos de mostrar-lhes que possuímos algo melhor do que aquilo que buscam. Ao falar com a mulher samaritana, Jesus não a reprovou por vir buscar água no poço de Jacó, antes apresentou-lhe algo de mais elevado valor. Em comparação com a fonte de Jacó, expôs a fonte de água viva. Disse Ele: "Se tu conheceras o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna." João 4:10-14. T6 64 2 A igreja necessita da experiência nova e viva dos membros que mantêm uma habitual comunhão com Deus. Testemunhos e orações insípidos, rançosos, destituídos da presença de Cristo, não ajudam o povo. Se todo aquele que pretende ser filho de Deus fosse cheio de fé, de luz e de vida, que maravilhoso testemunho seria dado àqueles que vêm ouvir a verdade! E quantas almas poderiam ser ganhas para Cristo! Esforços pelo reavivamento T6 64 3 Poucos esforços de reavivamento são feitos em nossas reuniões campais. Há pouquíssima busca do Senhor. Cultos de reavivamento devem ser realizados desde o começo até ao fim das reuniões. Os mais decididos esforços devem ser feitos para despertar as pessoas. Vejam todos que somos fervorosos porque temos uma mensagem maravilhosa do Céu. Digamo-lhes que o Senhor vem julgar, e que nem reis, nem governantes, nem riqueza, nem influência, serão de ajuda para evitar os juízos que logo hão de cair. No fim de cada reunião, devem ser feitos apelos. Apeguem-se firmemente aos interessados, até que sejam confirmados na fé. T6 65 1 Temos de ser mais decididos e sinceros. Precisamos expor a verdade em particular e em público, apresentando todo argumento, realçando todo motivo de valor infinito, para atrair seres humanos ao Salvador erguido na cruel cruz. Deus deseja que todos alcancem a vida eterna. Notem como em toda a Palavra de Deus é manifestado o espírito de urgência, de implorar que homens e mulheres venham a Cristo e reneguem apetites e paixões que corrompem a vida. Com toda a nossa capacidade, precisamos insistir com eles para que olhem a Jesus e aceitem Sua vida de abnegação e sacrifício. Temos de mostrar-lhes que esperamos que tragam alegria ao coração de Cristo, usando cada um de Seus dons para honrar o Seu nome. T6 65 2 Muitos dos que comparecem à campal estão desanimados e pesadamente carregados de pecado. Não se sentem seguros com sua fé religiosa. Deve ser dada oportunidade aos que estão atribulados e necessitados de descanso de espírito, a que encontrem auxílio. Depois de um sermão, os que desejam seguir a Cristo devem ser convidados a manifestar seu anelo. Devem ser convidados todos quantos não estão convencidos de estar preparados para a vinda de Cristo, e todos quantos se sentem opressos e pesadamente sobrecarregados, para se reunirem separadamente. Conversem com essas pessoas os que são espirituais. Orem com elas e por elas. Consagre-se muito tempo à oração e ao profundo exame da Palavra. Apossem-se todos, em seu próprio coração, das realidades genuínas da fé, por meio da crença de que o Espírito Santo lhes será concedido porque têm verdadeira fome e sede de justiça. Ensine-os a entregarem-se a Deus, a crer, a reivindicar as promessas. Seja o profundo amor a Deus expresso em palavras de animação, em palavras de intercessão. T6 66 1 Haja muito mais lutas com Deus pela salvação dos perdidos. Trabalhem desinteressada e resolutamente, com um espírito que nunca desiste. Induzam as almas a virem para a ceia das bodas do Cordeiro. Haja mais do que se chama orar, crer e receber, e mais cooperação com Deus. T6 66 2 Existe a mais angustiosa indiferença e negligência no tocante à grande salvação. Os descuidados precisam ser despertados, do contrário se perderão. Uma vez que Deus ofereceu Seu próprio Filho para salvar culposos pecadores, pretende Ele, por intermédio de Seus agentes, contrapor-Se aos agentes humanos e satânicos que se uniram para destruir a alma. O Senhor tomou todas as providências para que o elevado Salvador seja revelado aos pecadores. Embora estejam mortos em delitos e pecados, sua atenção precisa ser despertada pela pregação de Cristo crucificado. Os homens precisam ser convencidos do mal do pecado. Os olhos do transgressor precisam ser iluminados. Todos os que foram atraídos para Cristo, contem a história de Seu amor. Cada um que sentiu o poder convertedor de Cristo em sua própria alma, faça o que estiver ao seu alcance, em nome do Senhor. T6 66 3 O infinito valor do sacrifício requerido para a nossa redenção revela o fato de que o pecado é um terrível mal. Deus poderia haver eliminado essa repulsiva mancha de Sua criação, extirpando o pecador de sobre a face da Terra. Mas Ele "amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Por que todos os que afirmam amar a Deus não estão procurando esclarecer os seus vizinhos e amigos, para que não mais negligenciem esta grande salvação? T6 67 1 Cristo a Si mesmo Se entregou a uma morte ignominiosa e torturante, demonstrando o penoso trabalho de Sua alma para salvar os que perecem. Oh! Cristo pode, Cristo deseja, Cristo anela salvar todos os que se achegam a Ele. Falem às pessoas em perigo e incentivem-nas a contemplarem Jesus na cruz, morrendo para tornar possível a Ele perdoar. Falem ao pecador com seu coração transbordante do terno e compassivo amor de Cristo. Haja profunda solicitude; mas nenhuma nota dissonante e ruidosa deve ser ouvida de parte daquele que está procurando conquistar a alma para olhar e viver. Em primeiro lugar, consagrem sua própria vida a Deus. Ao olhar para o seu Intercessor no Céu, quebrantem o coração. Então, abrandados e subjugados, vocês poderão dirigir-se aos pecadores arrependidos como alguém que compreende o poder do amor redentor. Orem com essas pessoas, conduzindo-as pela fé junto à cruz; elevem-lhes a mente com a mente de vocês, para que fixem o olhar da fé onde vocês estão olhando, em Jesus, o Portador de pecados. Façam com que elas desviem o olhar de si mesmas, de seus pecados, e se voltem para o Salvador, e a vitória estará ganha. Elas passarão a contemplar o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Verão o Caminho, a Verdade e a Vida. O Sol da Justiça lançará seus brilhantes raios dentro do coração. A forte corrente do amor redentor penetra na alma ressequida e sedenta, e o pecador é salvo para Jesus Cristo. T6 67 2 Cristo crucificado -- falem, orem e cantem isso, o que abrandará e conquistará corações. Esse é o poder e sabedoria de Deus para colher almas para Cristo. Frases formais e estereotipadas, a apresentação de assuntos meramente argumentativos, produzirão pouco benefício. O enternecedor amor de Deus no coração dos obreiros será reconhecido por aqueles pelos quais eles trabalham. As pessoas estão sedentas da água da vida. Não sejam cisternas vazias. Se vocês lhes revelarem o amor de Cristo, poderão conduzir os famintos e sedentos a Jesus e Ele lhes dará o pão da vida e a água da salvação. Trabalho pessoal T6 68 1 Os servos do Senhor devem não apenas pregar a Palavra do púlpito, mas precisam também entrar em contato pessoal com as pessoas. Quando se faz um discurso, semeia-se preciosa semente. Se, porém, não for feito um esforço pessoal para cultivar o solo, a semente não cria raiz. A menos que o coração seja abrandado e subjugado pelo Espírito de Deus, perde-se muito do que foi falado. Observe, na congregação, as pessoas que parecem interessadas, e fale com elas, depois do culto. Algumas palavras ditas em particular farão muitas vezes mais benefício do que toda a pregação ouvida. Indague a impressão causada pelos assuntos apresentados, se o ponto ficou claro na mente dos ouvintes. Por meio de bondade e cortesia, demonstre que tem real interesse neles, e também cuidado por sua salvação. Muitos têm sido levados a crer que, como povo, não acreditamos em conversão. Quando apelarmos a eles para que venham a Cristo, corações serão enternecidos e o preconceito afastado. Estudos bíblicos T6 68 2 Sempre que for possível, toda palestra importante deve ser seguida de um estudo bíblico. Então, os pontos apresentados podem ser ajustados, perguntas podem ser feitas e idéias corretas incutidas. Deve-se consagrar mais tempo a educar pacientemente as pessoas, dando-lhes oportunidade de se expressarem. É de instrução que as pessoas necessitam, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra. T6 68 3 Também devem ser realizadas reuniões especiais para os que estão tomando interesse pelas verdades apresentadas e necessitam de instruções. O povo deve ser convidado a essas reuniões, e todos, tanto crentes como não, devem ter oportunidade de fazer perguntas sobre pontos que não sejam plenamente entendidos. Deve ser dada oportunidade a todos de falar de suas perplexidades, que certamente existirão. O povo deve ver que em todos os sermões e estudos bíblicos se apresenta um claro "Assim diz o Senhor" para a fé e as doutrinas que defendemos. T6 69 1 Esse era o método de ensino de Cristo. Ao falar ao povo, este O interrogava quanto ao sentido de Suas palavras. Aos que estavam buscando humildemente a luz, Ele estava sempre pronto a dar explicações. Mas Cristo não animava a crítica nem a astúcia, e nós não o devemos fazer. Quando as pessoas procuram provocar uma discussão acerca de pontos controversos de doutrina, temos de dizer-lhes que a reunião não se destina a isso. T6 69 2 Quando responder a uma pergunta, certifique-se de que os ouvintes vejam e reconheçam que ela está respondida. Não despreze uma pergunta, dizendo que a façam de outra vez. Tome consciência do seu caminho passo a passo, e sinta quanto tem avançado. T6 69 3 Nessas reuniões, os que entendem a mensagem podem fazer perguntas que tragam luz sobre pontos da verdade. Mas outros talvez não tenham sabedoria para tanto. Se alguém formula perguntas que só servem para confundir o espírito e lançar as sementes da dúvida, devem ser advertidos a refrearem-se de fazê-las. Temos de aprender quando falar e quando calar, aprender a lançar as sementes da fé, a comunicar luz, não trevas. Palavras a seu tempo T6 69 4 Aqueles que mantêm uma atitude mental de oração, terão a habilidade para falar as palavras adequadas aos que se encontram sob sua esfera de influência; Deus lhes concederá sabedoria para servirem ao Senhor Jesus. "Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será suave à tua alma. O bom siso te guardará, e a inteligência te conservará." Provérbios 2:10, 11. Você abrirá a boca sabiamente e na sua língua estará a lei da bondade. T6 70 1 Se aqueles que afirmam ser cristãos atenderam à Palavra de Cristo, todos que entrarem em contato com eles saberão que estiveram com Jesus e dEle aprenderam. Representarão a Cristo, e os assuntos eternos serão o seu tema. As realidades eternas estarão sempre perto. Vigiarão pelas almas como delas havendo de prestar contas. Isso representa muito mais do que alguns parecem imaginar. Significa sair e procurar a ovelha perdida. Coleta de fundos T6 70 2 Ninguém deve aproveitar-se das reuniões campais, quando se congrega um grande número de pessoas, para introduzir interesses especiais ou levantar fundos para os vários projetos assistenciais, cada vez mais numerosos. A obra de Deus no ministério da palavra, a proclamação da verdade em regiões distantes, os grandes interesses da obra educacional em novos campos e o estabelecimento de hospitais e clínicas em conexão com o ministério evangélico -- esses são assuntos que deveriam ser apresentados ao povo em nossas reuniões campais. Resultados do trabalho nas reuniões campais T6 70 3 Grande obra deve ser realizada pelas nossas reuniões campais. O Senhor honra de modo especial esses encontros, que Ele identifica como "santas convocações". Levítico 23:2, 4, 21, 27. A essas reuniões comparecem milhares de pessoas, muitas meramente movidas pela curiosidade de ver e ouvir coisas novas. Entretanto, muitos são impressionados ao ouvirem a mensagem da verdade e entrarem em contato com os que nela crêem. Percebem que este povo não é aquilo que outros diziam ser. Preconceito, oposição e indiferença são afastados, e agora tais pessoas ouvem com grande interesse as palavras proferidas. T6 71 1 O Senhor tem Seus representantes em todas as igrejas. A essas pessoas as decisivas verdades especiais para estes últimos dias não foram apresentadas sob circunstâncias que trouxessem convicção ao coração e à mente; portanto, ao rejeitar a luz, elas não romperam sua ligação com Deus. Há muitos que têm andado fielmente na luz que incidiu sobre seu caminho. Desejam conhecer mais dos caminhos e das obras de Deus. Por todo o mundo, homens e mulheres olham ansiosamente para o Céu. Orações, lágrimas e indagações ascendem de almas anelantes de luz, de graça e do Espírito Santo. Muitos estão no limiar do reino, apenas esperando ser recolhidos. T6 71 2 Quando as lições de Cristo, as verdades da Bíblia, em sua simplicidade são apresentadas a essas pessoas, elas reconhecem a luz e se alegram nela. Sua perplexidade se dissipa diante da luz da verdade como o orvalho diante do sol matinal. Seus conceitos da verdade bíblica são ampliados, e a revelação de Deus em Cristo chega até elas, mostrando-lhes a profundidade, a largura e a altura do divino mistério espiritual que não discerniam anteriormente, o qual não pode ser explicado, mas só exemplificado no caráter semelhante ao de Cristo. T6 71 3 Muitos que não se acham unidos a alguma igreja e que parecem ser completamente indiferentes às reivindicações de Deus, no coração não são assim indiferentes como parecem. Até os menos religiosos têm seus momentos de convicção, em que lhes advém o anseio de algo que não possuem. Em cada povoado e cidade há grande número de pessoas que não freqüentam igreja alguma. Muitas delas são atraídas para reuniões campais. Vêm muitos que são escravos do pecado, vítimas indefesas de maus hábitos. Muitos são persuadidos e convertidos. Ao se apegarem pela fé à promessa de Deus para o perdão de seus pecados, é desfeita a escravidão do hábito. Abandonando sua condescendência pecaminosa, tornam-se livres em Cristo Jesus e se regozijam na liberdade dos filhos de Deus. Essa é a obra a ser feita em todas as nossas reuniões campais. Por esse meio milhares serão ganhos para Cristo. ------------------------Capítulo 5 -- A seqüência da reunião campal T6 72 1 Por intermédio das reuniões campais realizadas nas cidades, milhares serão chamados a ouvir o convite para a festa: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Depois de despertar o interesse do povo, não devemos encerrar as reuniões, desmontar as barracas e deixar a impressão de que tudo acabou. Exatamente depois que centenas de pessoas se tornaram interessadas, o maior bem pode ser obtido mediante trabalho fiel e sincero. Portanto, as reuniões devem ser conduzidas de tal forma que o interesse do público se mantenha. T6 72 2 Depois de determinada reunião campal, considerou-se a conveniência de prosseguir as reuniões na tenda. Contei aos irmãos um sonho que tivera. Nele, vi uma construção inacabada. Os trabalhadores reuniam as ferramentas, preparando-se para deixar o serviço por terminar; pedi-lhes, entretanto, que considerassem o assunto. Disse eu: "A construção ainda não terminou. Voltem, e prossigam com o trabalho até à colocação do telhado." Eles retornaram e prosseguiram com a obra. Dessa forma, os irmãos atenderam meu conselho, permanecendo para prosseguir com o trabalho da reunião campal. Como resultado, bom número aceitou a verdade. T6 72 3 Não é necessário que ocorram tantos fracassos no dispendioso esforço aplicado às reuniões campais e em tendas; não há necessidade de que sejam tão poucos os molhos trazidos ao Senhor. Nos lugares em que as normas das verdade presente nunca hajam sido erguidas, mais pessoas serão agora convertidas como resultado de um determinado montante de trabalho, do que em qualquer oportunidade anterior. A todos cujas mãos parecem enfraquecer e perder a firmeza, tenho estas palavras: "Abracem o padrão mais firmemente." A fé assegura: "Avancem." Vocês não precisam falhar e nem perder o ânimo. Não existe enfraquecimento da fé por parte daquele que avança constantemente. T6 73 1 Depois de uma reunião campal, poderá ser difícil reter a presença dos principais oradores por várias semanas, a fim de consolidar o interesse. Pode ser caro manter o terreno e preservar suficiente número de barracas com famílias, que cause a aparência de um acampamento. Talvez constitua um sacrifício para várias famílias permanecer no local para ajudar os ministros e obreiros bíblicos na assistência e estudos bíblicos aos que freqüentam as reuniões, e na visitação das pessoas em suas casas, falando das bênçãos recebidas nos encontros, e convidando-as a virem. Sem dúvida será difícil assegurar número suficiente de obreiros para que levem avante tal trabalho com sucesso. Todavia, os resultados justificarão os esforços. É através de tais posições sinceras e enérgicas que algumas de nossas reuniões se têm demonstrado instrumentos em erguer igrejas fortemente voltadas para o trabalho. E é exatamente por intermédio desse trabalho fervoroso que a mensagem do terceiro anjo precisa ser levada ao povo de nossas cidades. T6 73 2 Por vezes um grande número de oradores participa da reunião campal por uns poucos dias; então, no preciso momento em que o interesse do povo foi plenamente despertado, quase todos correm para outra reunião, deixando para trás apenas dois ou três pregadores a lutar contra a triste influência da desmontagem e remoção das barracas. Quão melhor seria se as reuniões fossem conduzidas por tempo mais prolongado; se pessoas pudessem vir de cada igreja preparadas para permanecerem um mês ou mais, auxiliando nas reuniões e aprendendo como trabalhar de modo mais aceitável. Ao retornarem a suas igrejas locais, levariam consigo uma valiosa experiência. Quão melhor se alguns dos mesmos oradores que despertaram o interesse do povo durante as reuniões maiores do encontro, pudessem permanecer para dar seguimento ao trabalho, através de um prolongado e organizado esforço. Conduzir as reuniões dessa maneira requererá que várias estejam em andamento ao mesmo tempo, o que não permitiria que uns poucos homens participassem de todas elas. Devemos lembrar, entretanto, que a obra deverá ser realizada, "não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6. T6 74 1 Não deveria o trabalho cessar ao se encerrarem as reuniões no acampamento. Foram apresentadas doutrinas novas e estranhas às pessoas. Aqueles que se convenceram e desejam aceitar a verdade, terão de enfrentar aberta ou sutil oposição. Ministros, amigos e conhecidos empreenderão todo esforço possível para remover a semente da verdade plantada no coração. Não devemos permitir que isso ocorra. Não devemos deixar que ela seque por falta de umidade. T6 74 2 Mudanças tendem a enfraquecer a influência das reuniões. Prossigam com as reuniões no acampamento sempre que possível. Contudo, se parecer recomendável a mudança, seja a tenda grande removida para alguma localização favorável, e que prossigam ali as reuniões. Deve-se estabelecer uma missão. Consigam um lugar adequado, e certo número de obreiros se unam formando uma família missionária. A liderança deve estar a cargo de um homem e sua esposa, pessoas hábeis e consagradas, cuja influência seja produtiva para o trabalho. T6 74 3 No seguimento do interesse após a reunião campal, são necessários ajudantes em várias linhas, sendo que tais ocasiões deveriam funcionar como escolas de treinamento de obreiros. Que os jovens trabalhem vinculados a obreiros experientes, que orarão com eles e os instruirão pacientemente. Mulheres consagradas devem engajar-se na obra bíblica de casa em casa. Alguns dos obreiros devem atuar como colportores, vendendo nossa literatura ou distribuindo-a aos que não puderem comprá-la. T6 75 1 Que alguns dos obreiros participem de reuniões religiosas em outras igrejas, tomando parte nos cultos quando se apresentar oportunidade. Jesus, com a idade de apenas doze anos, dirigiu-se à escola dos sacerdotes e rabis no templo, onde apresentou perguntas. Naquela escola, os estudos eram realizados diariamente, mais ou menos como nós realizamos estudos bíblicos. Jesus apresentou as questões na qualidade de aprendiz, mas suas perguntas forneceram novos assuntos para a reflexão dos experientes sacerdotes. Obra similar deve ser empreendida hoje. Jovens criteriosos deveriam ser estimulados a participar das reuniões da Associação Cristã de Moços, não com a finalidade de contender, senão de pesquisar as Escrituras com os demais e de levantar questões úteis. T6 75 2 Houvesse o trabalho em seus vários ramos sido realizado decidida e vigorosamente depois de todas as nossas reuniões campais, um número muito maior de conversos haveria sido reunido como fruto da semente espalhada nessas reuniões. T6 75 3 Que os obreiros se relacionem com as pessoas, lendo para elas as preciosas palavras de Cristo. Ergam a Jesus Crucificado entre elas, e em breve aqueles que ouviram a mensagem de advertência por parte dos ministros na tenda serão convencidos e estarão procurando maiores informações. Esse será o momento de apresentar as razões de nossa fé com mansidão e temor; não temor servil, mas um prudente temor quanto a não falarmos irrefletidamente. Que a verdade seja apresentada em toda a sua beleza, com simplicidade e sinceridade, oferecendo o alimento no tempo certo, e a cada um a sua porção. T6 75 4 Essa obra requer que vocês cuidem das pessoas como quem deve prestar contas. A ternura de Cristo deve permear o coração do obreiro. Se vocês amam os pecadores, revelarão terna solicitude por eles. Oferecerão orações humildes, sinceras, de inteiro coração, em favor daqueles a quem visitam. A fragrância do amor de Cristo será revelada no trabalho dos irmãos. Aquele que deu Sua própria vida pela vida do mundo, cooperará com o obreiro altruísta para causar impressões nos corações humanos. A obra do evangelista T6 76 1 Ensinar as Escrituras e orar com as famílias -- essa é a obra do evangelista, que deve ser mesclada com a pregação. Se ela for omitida, a pregação será, em grande medida, um fracasso. Aproximem-se das pessoas por meio de esforços pessoais. Ensinem-lhes que o amor de Deus precisa penetrar no santuário da vida doméstica. T6 76 2 Não assumam qualquer glória para vocês próprios. Não trabalhem com a mente dividida, tentando servir o eu e a Deus ao mesmo tempo. Mantenham o eu fora de vista. Que as palavras de vocês conduzam os que estão pesadamente carregados a depositarem seus fardos sobre Jesus. Trabalhem como se estivessem vendo Aquele que está à sua direita, pronto a dar-lhes Sua eficiência e onipotente poder em toda emergência. O Senhor será para vocês o Conselheiro, o Guia, o Capitão de sua salvação. O Senhor vai adiante de vocês, vencendo e para vencer. Nos caminhos e atalhos T6 76 3 A ordem de Cristo a Seu povo é: "Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha." Lucas 14:23. T6 76 4 Em primeiro lugar, deve o convite para a festa do evangelho ser apresentado nas rodovias principais. Deve ser dado aos que afirmam encontrar-se nos bons caminhos da experiência cristã -- os membros das diferentes igrejas. "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas." Apocalipse 2:7. Nessas igrejas, existem adoradores verdadeiros e falsos. Uma obra deve ser feita em favor dos que decaíram do primeiro amor, que perderam o zelo e o interesse inicial pelas coisas espirituais. Temos de apresentar advertências a professos cristãos que são transgressores da lei de Deus. A esses precisa ser dada a mensagem. T6 77 1 O Senhor diz: "E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer, porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:1-3. T6 77 2 A advertência à última igreja precisa também ser proclamada a todos os que afirmam ser cristãos. A mensagem a Laodicéia, tal qual uma espada de dois fios, bem aguçados, deve ser estendida a todas as igrejas: "Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te." Apocalipse 3:15-19. É nossa obra proclamar esta mensagem. Porventura estamos envidando todos os esforços para que as igrejas sejam advertidas? T6 77 3 Temos uma obra a fazer pelos ministros de outras igrejas. Deus quer que eles sejam salvos. Como nós mesmos, eles só poderão obter a imortalidade mediante a fé e a obediência. Precisamos trabalhar diligentemente por eles, a fim de que a possam alcançar. Deus quer que eles tenham parte em Sua obra especial para este tempo. Quer que se achem entre os que estão dando o alimento a tempo a seu povo. Por que não se empenhariam eles nesta obra? T6 78 1 Nossos pastores devem tentar se aproximar dos pastores de outras denominações. Orar por esses homens e com eles, por quem Cristo está fazendo intercessão. Pesa sobre eles solene responsabilidade. Como mensageiros de Cristo, cumpre-nos manifestar profundo e fervoroso interesse nesses pastores do rebanho. T6 78 2 O chamado a ser feito nos "caminhos", deve ser proclamado a todos quantos têm parte ativa na obra mundial, aos mestres e guias do povo. Aos que têm sérias responsabilidades na vida pública -- médicos e professores, advogados e juízes, funcionários públicos e comerciantes -- deve ser dada clara, distinta mensagem. "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate de sua alma?" Marcos 8:36, 37. T6 78 3 Muito falamos e escrevemos acerca dos pobres negligenciados; não se deveria dar alguma atenção aos negligenciados ricos? Muitos consideram essa classe como sem esperança, e pouco fazem para abrir os olhos dos que, cegados e deslumbrados pelo poder de Satanás, perderam de vista a eternidade. Milhares de ricos baixaram à sepultura sem serem advertidos porque foram julgados pelas aparências, e passados por alto como casos perdidos. Mas, por mais indiferentes que pareçam, foi-me mostrado que a maioria dessa classe é de almas opressas. Milhares de ricos acham-se famintos quanto ao alimento espiritual. Muitos que ocupam cargos governamentais, sentem a própria necessidade de alguma coisa que não possuem. Poucos entre eles vão à igreja, porque acham que não recebem benefício. O ensino que ouvem não lhes toca a alma. Não faremos nós esforço pessoal em seu favor? T6 78 4 Alguém perguntará: Não os podemos alcançar por meio de publicações? Muitos há que não podem ser atingidos por esse método. É de esforço pessoal que eles precisam. Hão de perecer sem uma advertência especial? Não acontecia assim nos tempos da antigüidade. Os servos de Deus eram enviados aos que se encontravam em altas posições, que só podiam encontrar descanso e paz no Senhor Jesus Cristo. T6 79 1 A Majestade do Céu veio ao mundo a fim de salvar a perdida e degradada humanidade. Seus esforços incluíam não somente os miseráveis, mas também os que ocupavam posições de honra. Habilmente buscava Ele acesso às pessoas das classes altas que não conheciam a Deus e não guardavam Seus mandamentos. T6 79 2 A mesma obra continuou depois da ascensão de Cristo. Fico comovida ao ler sobre o interesse manifestado pelo Senhor em Cornélio. Ele era um homem de posição elevada, oficial do exército romano, mas estava andando estritamente em harmonia com a luz que recebera. O Senhor mandou-lhe especial mensagem do Céu e, por meio de outra mensagem, encaminhou Pedro para visitá-lo e comunicar-lhe luz. Deve servir-nos de grande animação em nosso trabalho pensar na compaixão e terno amor de Deus para com os que estão buscando luz, e por ela orando. T6 79 3 Muitos me são apresentados como sendo semelhantes a Cornélio, homens que Deus deseja unir a Sua igreja. Eles simpatizam com o povo que guarda os mandamentos do Senhor. As ligações que os prendem ao mundo, porém, seguram-nos firmemente. Não têm a coragem moral de tomar posição ao lado dos humildes. Cumpre-nos fazer especiais esforços por essas almas, necessitadas também de trabalho especial em virtude de suas responsabilidades e tentações. T6 79 4 Segundo a luz que me foi dada, sei que deve ser dito agora aos homens de influência e autoridade no mundo, um positivo: "Assim diz o Senhor." Eles são mordomos a quem Deus confiou importantes legados. Caso Lhe aceitem o convite, Ele os empregará em Sua causa. T6 80 1 Existem no mundo homens que receberam de Deus a capacidade de organizar, e que são necessários para o avanço da obra nestes últimos dias. Homens que possam assumir o encargo de dirigir instituições, homens que possam atuar como líderes e educadores em nossas associações. Deus chama homens capazes de olhar à frente e de discernir a obra a ser realizada, que se desempenhem como fiéis financistas, homens que permaneçam como a rocha, fiéis ao princípio em cada perigo e crise que porventura surja. T6 80 2 A causa de Deus necessita agora, tal como em anos passados, os talentos que era o propósito de Deus que tivesse. Contudo, em nossas instituições tem-se observado a presença de tanto egoísmo, que o Senhor não tem podido conectar-Se com o trabalho de muitos, como deveria. Ele vê que eles não reconheceriam nem apreciariam devidamente essa relação. T6 80 3 Deus convida obreiros sinceros e humildes, que levem a verdade às classes mais elevadas. Não será através de contato casual ou acidental que os ricos, amantes do mundo e adoradores do mundanismo serão conduzidos a Cristo. Decidido esforço pessoal deve ser empreendido por homens e mulheres imbuídos do espírito missionário, pessoas que não falharão nem serão desencorajadas. T6 80 4 Devemos realizar reuniões de oração, pedindo ao Senhor que abra o caminho para que a verdade penetre nas fortalezas em que Satanás assentou o seu trono, dissipando as trevas que ele vem lançando no caminho daqueles que busca enganar e destruir. Temos esta segurança: "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." Tiago 5:16. T6 80 5 Solicitem orações pelas pessoas em favor das quais vocês estão trabalhando; apresentem-nas diante da igreja como assunto de súplicas. Será exatamente o que os membros da igreja necessitam, o terem sua mente desviada de insignificantes dificuldades, para sentirem um grande fardo de interesse pessoal pela alma prestes a perecer. Escolham outra e mais outra alma, buscando diariamente orientação de Deus, depositando todas as coisas diante dEle através de oração sincera, e agindo guiados pela divina sabedoria. Ao assim procederem, Deus concederá a vocês o Santo Espírito, para convencer e converter as almas. T6 81 1 Alguns há especialmente aptos para trabalhar entre as classes mais altas: Esses devem buscar diariamente o Senhor, estudando a maneira de se aproximarem dessas pessoas, não tendo apenas uma relação acidental, mas apoderar-se delas por meio de esforço pessoal e fé viva, manifestando profundo amor por sua salvação, verdadeiro interesse em que recebam o conhecimento da verdade como está na Palavra de Deus. T6 81 2 Para que possam atingir essas classes, os próprios crentes precisam ser uma mensagem viva, "conhecida e lida por todos os homens." 2 Coríntios 3:2. Não representamos de modo tão pleno quanto possível o caráter da verdade, que exalta e enobrece. Estamos sob o risco de nos tornarmos estreitos e egoístas. Com temor e tremor de cairmos em fracasso, relembremos sempre esse fato. T6 81 3 Que aqueles que trabalham pelas classes mais altas se portem com verdadeira dignidade, lembrando que os anjos são seus companheiros. Que mantenham a casa do tesouro de sua mente e coração repleta do "Está escrito." Dependurem na ante-sala da memória as preciosas palavras de Cristo. Elas devem ser valorizadas acima da prata e do ouro. T6 81 4 Não devemos ocultar o fato de que somos adventistas do sétimo dia. Talvez a verdade tenha razão de envergonhar-se de nós, por não agirmos em harmonia com seus puros princípios; nós, entretanto, jamais devemos envergonhar-nos da verdade. Sempre que tiverem oportunidade, confessem sua fé. Sempre que alguém lhes perguntar, ofereçam a razão da esperança que existe em vocês, com mansidão e temor. T6 82 1 É a constante percepção da preciosidade do sacrifício expiatório de Cristo em nosso favor que nos habilita a chamar a atenção de outros para o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Precisamos tornar-nos expositores da eficácia do sangue de Cristo, por meio do qual foram perdoados os nossos pecados. Só assim poderemos alcançar as classes mais elevadas. T6 82 2 Nessa obra vamos conhecer muitos motivos para tristeza, muitas revelações de partir o coração. Cristo disse que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus. Mas para Ele tudo é possível. Pode e quer atuar por meio de instrumentos humanos na mente de ricos cuja vida tem sido dedicada a ganhar dinheiro. T6 82 3 O universo celestial há muito tempo está esperando para cooperar com instrumentos humanos nessa obra que eles têm evitado e negligenciado. Muitos que procuraram efetuar a obra, ficaram desanimados e desistiram; quando, se houvessem perseverado, teriam sido muito bem-sucedidos. Os que realizam fielmente esse trabalho serão abençoados por Deus. A justiça de Cristo irá adiante deles, e a glória do Senhor será a sua retaguarda. T6 82 4 Há milagres a serem operados em genuína conversão, milagres que agora não são discernidos. Os maiores homens do mundo não estão fora do alcance de um Deus que realiza maravilhas. Se os Seus cooperadores forem homens de oportunidade, cumprindo corajosa e fielmente o seu dever, Deus converterá homens que ocupam posições de responsabilidade, homens de intelecto e influência. Pelo poder do Espírito Santo, muitos aceitarão os princípios divinos. Contemplando a Jesus em Sua amabilidade, em Sua abnegação e desprendimento, o rico auto-suficiente verá a si mesmo, em contraste com isso, como infeliz, miserável, pobre, cego e nu, e tornar-se-á tão pequeno em sua própria opinião, que preferirá Cristo a si mesmo e se apossará da vida eterna. T6 83 1 Tendo-se convertido à verdade, ele se tornará um instrumento na mão de Deus para comunicar a luz. Terá especial interesse por outras almas dessa classe negligenciada. Sentirá que lhe é confiado um encargo evangélico para com os que fizeram deste mundo o seu tudo. Tempo e dinheiro serão consagrados a Deus, meios serão levados para a Sua tesouraria, talentos e influência reverterão para a verdade, e nova eficiência e poder serão acrescidos à igreja. T6 83 2 Cristo instrui Seus mensageiros a irem também aos que se acham nos caminhos e atalhos, aos pobres e humildes da Terra. Muitos destes não compreendem o que precisam fazer a fim de serem salvos. Muitos estão mergulhados no pecado. Muitos se encontram em aflição. Doenças de todo tipo os oprimem, tanto no físico quanto no espírito. Suspiram por encontrar consolo para suas aflições, e Satanás tenta-os a buscarem isso nas luxúrias e prazeres que conduzem à ruína e morte. Gastam seu dinheiro naquilo que não é pão e seus esforços em favor de algo que não os satisfaz. Tais pessoas não devem ser passadas por alto. T6 83 3 Com a obra de defender os mandamentos de Deus e de reparar a brecha efetuada em Sua lei, temos de revelar compaixão pela sofredora humanidade. Temos de revelar o supremo amor de Deus; devemos exaltar o Seu memorial, que tem sido calcado sob pés não santificados; junto com essa obra temos de manifestar misericórdia, benevolência e a mais terna piedade pelos sofredores e pecaminosos. T6 83 4 Em todo lugar em que seja apresentada a verdade, devem fazer-se desde o princípio sinceros esforços para pregar o evangelho aos pobres e para curar os enfermos. Essa obra, feita com fidelidade, acrescentará à igreja muitos daqueles que se hão de salvar. T6 83 5 Os que se empenham em trabalho de casa em casa, encontrarão ocasiões para servir em muitos sentidos. Devem orar pelos doentes, e fazer tudo ao seu alcance para aliviá-los dos sofrimentos. Trabalhem eles entre os humildes, os pobres e oprimidos. Devemos orar pelos desamparados e com eles, esses que não têm força de vontade para dominar os apetites degradados pela paixão. Fervorosos e perseverantes esforços devem ser feitos pela salvação daqueles em cujo coração se despertou interesse. Muitos só podem ser alcançados mediante atos de desinteressada bondade. Supram-se primeiro suas necessidades materiais. Ao verem as demonstrações de amor abnegado de nossa parte, mais fácil lhes será crer no amor de Cristo. T6 84 1 Os enfermeiros missionários estão mais habilitados para essa obra; outros, porém, se devem aliar a eles. Estes, embora não especialmente instruídos e preparados na enfermagem, podem aprender de seus coobreiros a melhor maneira de trabalhar. T6 84 2 Palavrório, farisaísmo e auto-elogio são abundantes; mas isso jamais conquistará almas para Cristo. Amor puro, santificado, amor como o que foi expresso nas atividades da vida de Cristo, é como sagrado perfume. Como o vaso de alabastro partido por Maria, ele enche a casa toda com fragrância. Eloqüência, conhecimento da verdade, talentos raros, misturados com amor, constituem todos eles preciosas dotações. Mas a habilidade somente, talentos somente, ainda que os mais escolhidos, não podem tomar o lugar do amor. T6 84 3 Esse amor deve ser manifestado pelos obreiros de Deus. Amor a Deus e àqueles por quem Cristo morreu, efetuará uma obra que quase não podemos compreender. Os que não acalentarem e cultivarem tal amor não poderão ser missionários de sucesso. T6 84 4 Que todos os que se decidem por Cristo sejam postos a trabalhar por outros, que se acham mortos em transgressões e pecados. Sempre que a verdade haja sido proclamada e as pessoas despertadas e convertidas, devem os crentes imediatamente unir-se em exercícios de caridade. Sempre que a verdade bíblica haja sido apresentada, uma obra prática de bondade deve começar. Sempre que se estabeleça uma igreja, obra missionária deve ser empreendida em favor dos carentes e sofredores. Cuidando dos nossos pobres T6 85 1 É-nos ordenado que "façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé". Gálatas 6:10. Em nosso trabalho de beneficência deve se dar especial atenção aos que, pela apresentação da verdade, foram convencidos e convertidos. Devemos manifestar apreço pelos que têm a coragem moral de aceitar a verdade, e assim perdem seu emprego e não conseguem trabalho com que sustentar sua família. Deve-se fazer provisão para ajudar os que são dignamente pobres, e prover emprego aos que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos. Não devem ser deixados sem ajuda, a fim de que não venham a sentir que precisam trabalhar no sábado ou passar fome. Os que assumem posição ao lado do Senhor devem ver nos adventistas do sétimo dia um povo cordial, abnegado, altruísta, que alegremente e com prazer ministram a seus irmãos em necessidade. É especialmente dessa classe que o Senhor fala quando diz: "E recolhas em casa os pobres desterrados." Isaías 58:7. Oficiais e obreiros da igreja T6 85 2 Grande cuidado se deve exercer na escolha de oficiais para as igrejas novas. Que sejam homens e mulheres inteiramente convertidos. Escolham-se os mais habilitados para instruir, aqueles que sejam capazes de servir tanto pela palavra como pelos atos. Existe uma profunda necessidade na obra em todos os setores. T6 86 1 Jamais permitam que o interesse se enfraqueça. Divisem métodos capazes de trazer profundo e vivo interesse às novas igrejas. Todos os que estão ligados à igreja deveriam sentir responsabilidade individual. Todos deveriam agir com o máximo de dedicação para fortalecer a igreja e tornar as reuniões tão cheias de vida, que os de fora fossem atraídos e se interessassem. Todos deveriam sentir que é pecado permitir que o interesse esvaneça, quando temos tão solenes e sagradas verdades dos oráculos vivos, para serem repetidas vez após outra. Imprimam sobre todos a necessidade do batismo do Espírito Santo, a santificação dos membros da igreja, de modo que venham a se tornar árvores da plantação do Senhor, vivas, crescentes e produtoras de frutos. T6 86 2 Deus chama os obreiros à auto-negação, ao sacrifício de si mesmos. Os que dedicam o tempo concedido por Deus à busca de almas, a labutar por almas, a vigiar por elas como havendo de prestar contas, obterão rica experiência. Enquanto comunicam as preciosas verdades da Palavra de Deus a outros, seu próprio coração se abrirá para a entrada da palavra. Serão instruídos pelo Grande Professor. T6 86 3 Cristo abriu uma fonte para o mundo pecaminoso e sofredor, e ouve-se a voz da divina misericórdia: "Ó vós todos os que tendes sede, vinde às águas." Isaías 55:1. Vocês poderão tomar gratuitamente da água da vida. Que todo "e quem ouve diga: Vem! ... e quem quiser tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. Que toda pessoa, mulheres e homens, anunciem essa mensagem. Então a obra será levada a todos os lugares da Terra. As Escrituras se cumprirão: "Abrirei ... fontes, no meio dos vales" e "rios, no ermo". Isaías 41:18; Isaías 43:19. "E vós, com alegria, tirareis águas das fontes da salvação." Isaías 12:3. ------------------------Capítulo 6 -- Menos pregação e mais ensino T6 87 1 Não se deve exigir, em nossas reuniões campais, que um ou dois obreiros dirijam todas as pregações e ensinos dos temas bíblicos. Haverá, geralmente, mais benefício, dividindo a grande congregação em grupos. Assim pode o educador em matéria bíblica chegar em mais estreito contato com o povo, do que numa grande assembléia. T6 87 2 Há muito mais pregação do que deveria haver em nossas reuniões campais. Isso impõe aos pastores um pesado encargo e conseqüentemente fica negligenciado muito do que merece atenção. Muitas pequeninas coisas que abrem a porta a males sérios, passam despercebidas. O pastor é prejudicado em sua resistência física, e privado do tempo de que necessita para meditação e oração, a fim de manter sua própria alma no amor de Deus. E quando se amontoam tantos discursos, um após outro, o povo não tem tempo de assimilar o que ouve. A mente fica confusa, e os cultos se tornam, para eles, enfadonhos e cansativos. T6 87 3 Deve haver menos pregação e mais ensino. Há pessoas que desejam uma luz mais definida do que a que recebe ouvindo os sermões. Alguns requerem mais tempo do que outros para compreender os pontos apresentados. Se se pudesse esclarecer um pouco mais a verdade apresentada, vê-la-iam e dela se haveriam de apoderar; ela seria como um prego colocado em lugar firme. T6 87 4 Foi-me mostrado que nossas reuniões campais hão de crescer em interesse e êxito. Ao aproximarmo-nos do fim, tenho visto que deve haver, nessas reuniões menos pregação, e mais estudos bíblicos. Haverá por todo o acampamento pequenos grupos, de Bíblia na mão, e várias pessoas dirigindo um estudo escriturístico de maneira franca, em forma de conversação. T6 88 1 Era esse o método como Cristo ensinava Seus discípulos. Quando as grandes multidões se apinhavam em torno do Salvador, Ele costumava dar instruções aos discípulos e ao povo. Então, depois do discurso, os discípulos misturavam-se com o povo, repetindo-lhes o que Cristo dissera. Muitas vezes os ouvintes haviam aplicado mal as palavras de Cristo, e os discípulos lhes diziam o que declaravam as Escrituras, e o que Cristo havia ensinado que elas diziam. T6 88 2 Se o homem que sente haver sido chamado por Deus para ser ministro humilhar-se e aprender de Cristo, tornar-se-á um verdadeiro professor. O que necessitamos em nossas reuniões campais é de um ministério vivificado pelo Espírito Santo. Deve haver menos sermões e mais tato em educar as pessoas na religião prática. Devem elas ser impressionadas com o fato de que Cristo é a salvação para todo o que crê. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Existem grandes temas dos quais deve o pastor se ocupar. Cristo disse: "Aquele que crê em Mim tem a vida eterna." João 6:47. T6 88 3 Se os lábios do ministro forem tocados pela brasa do altar, destacará ele a Jesus como a única esperança do pecador. Quando o coração do pecador é santificado pela verdade, suas palavras se tornam vivas realidades para si mesmo e para os outros. Aqueles que o ouvirem, perceberão que ele esteve com Deus, e dEle se aproximou com fervorosa e verdadeira prece. O Espírito Santo desceu sobre ele, seu espírito sentiu o vital fogo do Céu, e ele será capaz de comparar coisas espirituais com coisas espirituais. Poder lhe será outorgado para derrubar as fortalezas de Satanás. Corações serão quebrantados por sua apresentação do amor de Deus, e muitos inquirirão: "Que é necessário que eu faça para me salvar?" Atos dos Apóstolos 16:30. ------------------------Capítulo 7 -- Institutos ministeriais T6 89 1 "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15), é a ordem do Salvador a Seus obreiros. Todavia, essa clara orientação tem sido desatendida. Embora a luz tenha sido outorgada vez após outra, homens têm sido chamados de seus campos de trabalho para gastarem semanas freqüentando institutos ministeriais. Houve um tempo em que isso era necessário, porque nosso próprio povo se opunha à obra de Deus recusando a luz da justificação pela fé em Cristo. Isso deveriam eles haver recebido e compartilhado com o coração, a voz e a pena; essa é a sua única eficácia. Deveriam eles haver trabalhado sob a direção do Espírito Santo para apresentar a luz a outros. T6 89 2 A realização de tantos institutos bíblicos entre nosso próprio povo não é sábia. O objetivo é bom, mas existe obra mais urgente a ser feita, que é levar a luz da verdade a regiões em que ela ainda não penetrou. Os obreiros mantidos trabalhando por aqueles que já possuem conhecimento da verdade, ficam afastados daqueles que não a conhecem. Devotando mais tempo, ano após ano, aos institutos ministeriais, nossos irmãos têm negligenciado campos que já se apresentam brancos para a colheita. Almas em cegueira espiritual, sob o preconceito dos que representam erroneamente a verdade, são deixadas sem a advertência. Oh! tal negligência será lançada contra indivíduos, organizações e igrejas, naquele dia em que cada homem será julgado de acordo com as obras praticadas no corpo! Então será percebida quão grande era a medida da responsabilidade por se falhar em estender a obra às regiões distantes. T6 90 1 O fato de freqüentarem tantos institutos não trouxe aos próprios obreiros o maior benefício possível. O talento se desenvolve melhor onde é mais necessário. Pastores convocados de seus campos de trabalho para a participação em institutos ministeriais não se acham tão bem preparados para a obra, como seria o caso se eles se entregassem à atividade consagrada em campos destituídos, onde o estandarte da verdade precisa ser levantado. Se estudarem a Palavra de Deus com espírito disposto a aprender, orando e vigiando em oração, e também trabalhando enquanto oram, anjos de Deus lhes abrirão o entendimento para que percebam a verdade em sua beleza. T6 90 2 À medida que o conhecimento da verdade é recebido, seja ele compartilhado com os que se encontram em trevas, sem Deus e sem esperança no mundo. Em tal trabalho é necessário lidar com uma variedade de pensamentos, e Deus abençoará grandemente Seus servos quando O buscarem procurando sabedoria. O Espírito Santo virá a todos os que suplicam pelo pão da vida com o intento de reparti-lo com os semelhantes. T6 90 3 Em vez de manter institutos para habilitar ministros ao seu trabalho, que seja dado a esses ministros um trabalho nos locais em que se realizam as reuniões campais. Depois de haverem sido alimentados com o pão da vida através de um milagre da misericórdia divina, trabalhem eles para a nutrição de outros. T6 90 4 O grande montante de recursos requeridos pelos institutos ministeriais poderia haver obtido maior retorno, tivessem tais valores sido aplicados na manutenção de ministros em trabalho efetivo nos campos missionários. T6 90 5 Existem no ministério homens de fé e oração, capazes de dizer: "O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida ... o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos." 1 João 1:1-3. Esses homens devem instruir outros. Sejam os obreiros treinados em trabalho produtivo, vinculados a homens experientes. ------------------------Capítulo 8 -- O batismo Significado da ordenança T6 91 1 O rito do batismo e o da Ceia do Senhor são dois monumentos comemorativos, colocados um fora e outro dentro da igreja. Sobre essas ordenanças Cristo inscreveu o nome do Deus verdadeiro. T6 91 2 Fazendo do batismo o sinal de entrada para o Seu reino espiritual, Cristo o estabeleceu como condição positiva à qual têm de atender os que desejam ser reconhecidos como estando sob a jurisdição do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Antes que o homem possa obter abrigo na igreja, antes mesmo de transpor o limiar do reino espiritual de Deus, deve receber a impressão do nome divino -- "O Senhor Justiça Nossa". Jeremias 23:6. T6 91 3 Simboliza o batismo soleníssima renúncia ao mundo. Os que ao iniciar a carreira cristã são batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, declaram publicamente que renunciaram ao serviço de Satanás, e se tornaram membros da família real, filhos do Rei celestial. Obedeceram ao preceito que diz: "Saí do meio deles, e apartai-vos... e não toqueis nada imundo." Cumpriu-se em relação a eles a promessa divina: "E Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:17, 18. Preparo para o batismo T6 91 4 É necessário mais cuidadoso preparo dos que se apresentam candidatos ao batismo. Têm necessidade de mais conscienciosa instrução do que em geral recebem. Os princípios da vida cristã devem ser claramente explicados aos recém-convertidos. Não se pode confiar na sua mera profissão de fé como prova de que experimentaram o contato salvador de Cristo. Importa não só dizer "creio" mas também praticar a verdade. É pela nossa conformidade com a vontade divina em nossas palavras, atos e caráter, que provamos nossa comunhão com Ele. Quando alguém renuncia o pecado, que é a transgressão da lei, sua vida é posta em harmonia com essa lei, caracterizando-se por perfeita obediência à mesma. Essa é a obra do Espírito Santo. A luz obtida pelo exame cuidadoso da Palavra de Deus, a voz da consciência e as operações do Espírito produzem no coração o genuíno amor de Cristo, que Se deu em sacrifício perfeito para salvar o homem todo -- corpo, alma e espírito. Esse amor se manifesta na obediência. A linha de demarcação entre os que amam a Deus e guardam Seus mandamentos e os que não O amam e desprezam Seus preceitos é clara e marcante. T6 92 1 Cristãos fiéis devem ter grande interesse em comunicar às pessoas convencidas de seu erro o conhecimento perfeito da justiça em Cristo. Se entre algumas delas prevalece o desejo de agradar a si próprias, os crentes sinceros devem cuidar dessas pessoas como os que devem dar conta delas. Não devem negligenciar o cuidado que lhes incumbe de instruir com fidelidade, ternura e carinho os recém-conversos, para que a boa obra não fique pela metade. A primeira experiência de tais pessoas deve ser legítima. T6 92 2 Satanás tem se empenhado para que ninguém reconheça a necessidade de se entregar completamente a Deus. Quando, porém, a alma não faz essa oferta de si mesma, o pecado não é renunciado; os apetites e paixões entram a disputar a primazia; tentações várias confundem a consciência, e não ocorre a conversão legítima. Se todos soubessem avaliar o conflito que cada pessoa tem de travar com as agências satânicas que a buscam laçar, seduzir e iludir, um trabalho mais diligente se faria notar a favor dos que são novos na fé. T6 93 1 Essas pessoas, abandonadas a si mesmas, são muitas vezes tentadas, não conseguindo discernir a malignidade da tentação que as assalta. Elas devem ser levadas a perceber que é seu privilégio solicitar conselho dos mais experientes. Que procurem a companhia dos que lhes podem ser úteis. Comunicando-se com os que amam e temem a Deus, serão fortalecidas. T6 93 2 Nossas conversas com essas pessoas devem ser espirituais e de caráter animador. O Senhor avalia os embaraços de cada alma fraca, hesitante e que luta consigo própria, e está pronto a socorrer a todas que se chegarem a Ele. Seus olhos poderão ver o Céu aberto e anjos de Deus descendo e subindo a escada luminosa que tentam galgar. T6 93 3 A obra dos pais -- Os pais cujos filhos desejam ser batizados têm uma obra a fazer, examinando-se a si próprios e instruindo conscienciosamente os filhos. O batismo é um rito muito importante e sagrado, e importa compreender bem o seu sentido. Simboliza arrependimento do pecado e começo de uma vida nova em Cristo Jesus. Não deve haver qualquer precipitação na administração desse rito. Pais e filhos devem avaliar os compromissos que por ele assumem. Consentindo no batismo dos filhos, os pais estabelecem, em relação a eles, uma responsabilidade sagrada de despenseiros, para guiá-los na formação do caráter. Comprometem-se a guardar com especial interesse esses cordeiros do rebanho, para que não desonrem a fé que professam. T6 93 4 A instrução religiosa deve ser ministrada aos filhos desde a mais tenra infância; não num espírito de condenação, mas de alegria e bondade. As mães devem vigiar constantemente, para que a tentação não sobrevenha aos filhos de modo a não ser deles reconhecida. Os pais devem proteger os filhos por meio de instruções sábias e valiosas. Como os melhores amigos desses seres inexperientes, devem ajudá-los a vencer a tentação, porque ser vitoriosos é quase sempre a sua sincera aspiração. Devem considerar que os filhinhos, que procuram proceder bem, são os membros mais novos da família do Senhor, sendo o seu dever ajudá-los com profundo interesse a dar passos firmes no caminho da obediência. Com carinhoso zelo, devem ensinar-lhes dia a dia o que significa ser filhos de Deus e induzi-los a render-se em obediência a Ele. E, ao mesmo tempo, obediência a Deus implica obediência aos pais. Esse deve ser seu empenho de cada dia e de cada hora. Os pais devem vigiar; vigiar e orar, e fazer dos filhos seus companheiros. T6 94 1 E quando enfim chegar a época mais feliz de sua existência, e, amando de coração a Jesus desejarem ser batizados, haja reflexão. Antes de batizá-los, pergunte a eles se o principal propósito de sua vida é servir a Deus. Ensine-lhes então como dar os primeiros passos, pois essa primeira lição é muito significativa. Mostre-lhes com simplicidade como prestar o primeiro serviço a Deus. Torne essa lição tão compreensível quanto possível. Explique-lhes o que significa entregar-se ao Senhor e, ajudados pelos conselhos dos pais, proceda como manda Sua Palavra. T6 94 2 Depois de feito tudo o que é necessário, e eles revelarem ter compreendido o que significam a conversão e o batismo, e estarem verdadeiramente convertidos, devem ter permissão para serem batizados. Mas, repito, é preciso primeiramente agir como pastores fiéis na condução dos inexperientes pés no caminho estreito da obediência. Deus tem de operar nos pais para que possam dar aos filhos bom exemplo em relação ao amor, à cortesia, humildade cristã e inteira devoção a Cristo. Se, porém, for permitido que os filhos sejam batizados e depois forem deixados a viver de qualquer maneira, não sentindo obrigação de guiá-los pelo caminho estreito, vocês serão responsáveis pelo fracasso de sua fé, ânimo e interesse pela verdade. T6 95 1 A obra do pastor -- Os batizandos adultos devem compreender melhor do que os de menor idade os seus deveres; mas o pastor da igreja tem obrigações em relação a eles. Talvez cultivem maus hábitos e práticas, cumprindo por isso ao pastor realizar com eles reuniões especiais. Deve-se estudar com eles a Bíblia, falar e orar com eles, mostrando-lhes claramente o que o Senhor deles requer. Apresente a eles o que diz a Bíblia com respeito à conversão. Mostre-lhes o que seja o fruto da conversão, a prova de que amam deveras a Deus. Explique-lhes que a legítima conversão se manifesta numa mudança do coração, pensamentos e intenções, pela renúncia de maus costumes, mexericos, ciúme e desobediência. Uma luta tem de ser travada contra cada mau traço de caráter; e então o crente poderá prevalecer-se da promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mateus 7:7. Exame dos candidatos T6 95 2 Os candidatos ao batismo não têm sido tão cuidadosamente examinados em relação ao seu discipulado, quanto o deviam ser. Importa saber se meramente adotaram o nome de "Adventistas do Sétimo Dia" ou se realmente se colocaram ao lado do Senhor, renunciando ao mundo e estando dispostos a não tocar nada imundo. Antes do batismo devem ser feitas a eles perguntas relativas às suas experiências, porém, não de modo frio e reservado, e sim com mansidão e bondade, encaminhando-se os recém-convertidos para o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. As exigências do evangelho devem ser estudadas a fundo com os batizandos. T6 96 1 Um ponto sobre o qual cumpre instruir os que abraçam a fé é o vestuário -- assunto que deve ser cuidadosamente considerado da parte dos recém-conversos. Revelam vaidade no tocante à roupa? Acariciam o orgulho de coração? A idolatria praticada em matéria de vestuário é enfermidade moral; não deve ser introduzida na nova vida. Na maioria dos casos a submissão às reivindicações do evangelho requer uma mudança decisiva em matéria de vestuário. T6 96 2 Cumpre não haver nenhum desleixo. Por amor de Cristo, cujas testemunhas somos, devemos apresentar exteriormente o melhor dos aspectos. Nas cerimônias do tabernáculo, Deus especificou cada detalhe no tocante ao vestuário dos que deviam oficiar perante Ele. Com isso nos ensinou que tem Suas preferências também quanto à roupa dos que O servem. Prescrições minuciosas foram por Ele dadas em relação à roupa de Arão, por ser esta simbólica. Do mesmo modo as roupas dos seguidores de Cristo devem ser simbólicas, pois que lhes compete representar a Cristo em tudo. O nosso exterior deve caracterizar-se em todos os seus aspectos pelo asseio, modéstia e pureza. O que, porém, a Palavra de Deus não aprova são as mudanças no vestuário pelo mero amor da moda -- a fim de nos exibirmos como o mundo. Os cristãos não devem enfeitar o corpo com roupas caríssimas e adornos dispendiosos. T6 96 3 As palavras das Escrituras Sagradas referentes a vestuários devem ser bem consideradas. Importa compreender o que seja agradável ao Senhor até em matéria de roupa. Todos os que sinceramente buscam a graça de Cristo, hão de atender a essas preciosas instruções da Palavra divinamente inspirada. O próprio feitio da roupa há de comprovar a veracidade do evangelho. T6 96 4 Todos os que estudam a vida de Cristo e praticam os Seus ensinos se tornarão semelhantes a Ele. Sua influência será idêntica à de Cristo, revelando santidade de caráter. Palmilhando a vereda humilde da obediência, pela submissão à vontade de Deus, exercerão uma influência que atestará o progresso de Sua obra e a saudável pureza da mesma. Através dessas pessoas perfeitamente convertidas, o mundo terá um testemunho do poder santificador da verdade sobre o caráter humano. T6 97 1 O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, manifestado pelo caráter, é mais sublime do que qualquer outra coisa a ser estimada na Terra e no Céu. Representa a mais elevada educação, sendo a chave que nos abre as portas do Céu. Deus quer que esse conhecimento seja o atributo de todos os que se revestirem de Cristo pelo batismo. É o dever dos servos de Deus colocar diante dessas pessoas o privilégio de sua alta vocação em Cristo Jesus. A administração do rito T6 97 2 Sempre que seja possível, o batismo deve ser ministrado num tanque limpo ou em água corrente. Dê-se ao ato toda a importância e solenidade que ele merece. Essa cerimônia é sempre assinalada pela presença de anjos de Deus. T6 97 3 A pessoa encarregada de ministrar o batismo deve esforçar-se por celebrar o ato de modo a exercer uma influência solene e sagrada sobre todos os espectadores. Cada rito da igreja deve ser executado dessa forma. Nada deve receber um feitio vulgar ou insignificante, ou ser reduzido ao nível das coisas triviais. Nossas igrejas necessitam ser educadas para maior respeito e reverência pelo culto divino. O modo como o pastor dirige o culto divino determina como ele educa e prepara o povo. Pequeninos atos que educam, preparam e disciplinam a pessoa para a eternidade são de vastas conseqüências na edificação e santificação da igreja. T6 97 4 Cada igreja deve estar provida de roupas apropriadas para o batismo, nunca considerando isso como despesa inútil. Faz isso parte da obediência devida ao preceito que diz: "Faça-se tudo decentemente e com ordem." 1 Coríntios 14:40. T6 98 1 Não convém que uma igreja se limite a tomar emprestadas essas roupas de alguma outra. Muitas vezes, quando tiver necessidade não as conseguirá; por outro lado, tem havido certa negligência na restituição dessas roupas. Cada igreja deve pois prover as suas próprias necessidades no tocante a isso. Crie-se um fundo para esse fim. Se toda a igreja contribuir para isso, não será um encargo pesado. T6 98 2 As roupas de batismo devem ser feitas de um tecido encorpado, de cor escura que não desbote com a água, sendo conveniente colocar pesos na barra. É importante que assentem bem e sejam feitas segundo um molde aprovado. Não devem levar ornamento, nem rendas, nem enfeites. Qualquer exibição, seja de bordado ou qualquer outro enfeite, será descabida. Quando o candidato tem uma compreensão exata do que significa esse ato, não experimentará nenhum desejo de cobrir-se de adornos. Contudo, devemos evitar usar coisas feias e de mau gosto, pois isso seria uma ofensa a Deus. Tudo que de algum modo se relaciona com esse rito sagrado deve revelar cuidadoso preparo. Depois do batismo T6 98 3 Os compromissos que assumimos no ato do batismo são muitos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo fomos sepultados com Cristo na semelhança de Sua morte e com Ele ressuscitamos na de Sua ressurreição, a fim de andarmos em novidade de vida. Nossa vida está vinculada à de Cristo, e o crente deve lembrar-se de que daí por diante está consagrado a Deus, a Cristo e ao Espírito Santo. Todos os negócios deste mundo entram para segundo plano nesta sua nova relação. Publicamente confessa não querer continuar mais uma vida de vaidade e satisfação própria. Sua conduta deve deixar de ser descuidosa e indiferente. Contraiu aliança com Deus, e está morto para o mundo. Deve viver agora para o Senhor, dedicar-Lhe todas as faculdades de que dispõe, e não esquecer-se de que traz o sinal de Deus, de que é súdito do reino de Cristo e participante de Sua natureza divina. Cumpre-lhe entregar a Deus tudo quanto é e possui, usando todos os seus dons para glória de Seu nome. T6 99 1 São recíprocos os compromissos assumidos pela aliança espiritual que celebramos mediante o batismo. O homem, cumprindo sua parte numa obediência tributada de coração, tem o direito de orar: "Ó Senhor, ... manifeste-se hoje que Tu és Deus em Israel." 1 Reis 18:36. O fato de que fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma garantia de que esses poderes nos assistirão em qualquer situação de emergência que Os invocar. O Senhor ouvirá as orações de Seus fiéis seguidores que levam o jugo de Cristo e com Ele aprendem a mansidão e humildade. T6 99 2 "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Colossences 3:1-3. T6 99 3 "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai." Colossences 3:12-17. ------------------------Capítulo 9 -- A construção de capelas e igrejas T6 100 1 Em se despertando qualquer interesse numa vila ou cidade, esse interesse deve ser apoiado. Os lugares devem ser completamente trabalhados, até que se erga uma humilde casa de culto como sinal, como monumento do sábado de Deus, como uma luz entre as trevas morais. Esses monumentos devem aparecer em muitos lugares, como testemunhos da verdade. Em Sua misericórdia, Deus providenciou para que os mensageiros do evangelho vão a todos os países, línguas e povos, até que o estandarte da verdade seja estabelecido em todas as partes do mundo habitado. T6 100 2 Onde quer que surja um grupo de crentes, deve-se construir uma casa de culto. Não deixem os obreiros o lugar sem fazer isso. T6 100 3 Em muitos lugares onde se tem pregado a verdade, os que a têm aceito não dispõem de muitos recursos, e pouco podem fazer quanto a garantir certas vantagens que recomendem a obra. Muitas vezes isso torna difícil a continuação da mesma. À medida que as pessoas ficam interessadas na verdade, os pastores de outras igrejas lhes dizem -- e essas palavras são ecoadas pelos membros das ditas igrejas: "Esse povo não tem igreja, e vocês não têm local adequado para o culto. Esse é um grupinho pobre e ignorante. Em breve os pastores irão embora, e o interesse há de desaparecer. E o passo final será vocês abandonarem essas novas idéias que receberam." T6 100 4 Acaso não supomos que isso traz uma forte tentação aos que vêem as razões de nossa fé e são convencidos pelo Espírito de Deus quanto à verdade presente? Repete-se muitas vezes que um grande interesse pode se desenvolver a partir de um pequeno começo. Se manifestarmos sabedoria, santificado discernimento e hábil administração no sentido de promover os interesses do reino de nosso Redentor, haveremos de fazer tudo que estiver ao nosso alcance para dar ao povo a certeza da estabilidade de nossa obra. Como resultado, serão erguidos santuários simples, onde os que aceitam a verdade encontram um lugar para adorar a Deus de acordo com os ditames de sua consciência. T6 101 1 Sempre que possível, ao serem dedicadas a Deus, encontrem-se as igrejas livres de dívidas. Quando se vai edificar uma igreja, os membros devem se envolver para edificá-la. Sob a orientação de um pastor que seja guiado pelos conselhos de seus companheiros de ministério, trabalhem os recém-conversos com suas próprias mãos, dizendo: "Precisamos de uma casa de reuniões, temos de conseguir isso." Deus pede a Seu povo que faça corajosos e unidos esforços em Sua causa. Faça-se assim, e em breve se ouvirão vozes de ações de graças: "Que coisas Deus tem feito!" Números 23:23. T6 101 2 Existem, entretanto, casos em que uma jovem igreja não é capaz de arcar imediatamente com todo o peso da construção de um prédio. Em tais casos, ajudem-na os irmãos de outras igrejas. Em alguns casos será preferível tomar algum dinheiro emprestado, a deixar de construir. Se alguém tem dinheiro e, após ofertar o que pode, ainda dá para emprestar, que o faça sem juros ou com uma taxa baixa; assim é justo empregar o dinheiro até que seja possível satisfazer o compromisso. Mas, repito, sendo possível, os edifícios de igrejas devem ser dedicados livres de dívida. T6 101 3 Em nossas igrejas, os assentos não devem ser alugados. Os ricos não devem ser honrados acima dos pobres. Não se façam distinções. "Todos vós sois irmãos." Mateus 23:8. T6 101 4 Não devemos fazer ostentação em nenhuma de nossas igrejas, pois isso não haveria de dar impulso à obra. Nossa economia deve dar testemunho de nossos princípios. Devemos empregar métodos de trabalho que não sejam transitórios. Tudo deve ser feito com solidez. T6 102 1 Foi-me apresentado o modo frouxo de certas igrejas quanto a incorrer em dívidas e conviver com elas. Em alguns casos, pesa um contínuo compromisso sobre a casa de Deus. Há um juro a ser pago, durante muito tempo. Isso não deve ser, nem é necessário que assim seja. Com a sabedoria, tato e zelo que Deus requer, será realizada uma mudança nessas coisas. As dívidas serão liquidadas. Deus pede as ofertas dos que podem dar, e mesmo os membros mais pobres podem fazer sua pequena parte. A abnegação habilitará todos a fazerem alguma coisa. Tanto idosos como jovens, pais como filhos, têm de mostrar sua fé através de suas obras. Que os membros da igreja sejam vigorosamente impressionados quanto à necessidade de desempenhar cada um sua parte. Que cada um faça o seu melhor. Quando há vontade de fazer, Deus abre o caminho. Não é Seu desígnio que Sua obra seja entravada por dívidas. T6 102 2 Deus pede sacrifício individual. Isso não trará somente prosperidade financeira, mas também espiritual. A abnegação e o sacrifício próprio hão de operar maravilhas no crescimento da espiritualidade da igreja. T6 102 3 Desagrada a Deus que nossas igrejas estejam endividadas. "Minha é a prata, e Meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos." Ageu 2:8. Deus é desonrado quando esse ouro e essa prata são utilizados com finalidade egoísta, para gratificar a ambição, o orgulho ou o desejo de algum tipo de indulgência. Quando o povo escolhido de Deus embeleza suas próprias casas e investe o Seu dinheiro na gratificação egoísta, deixando a Sua causa à míngua, não podem eles ser abençoados. T6 103 1 Quando os irmãos colocam a Deus em primeiro lugar e decidem que a Sua casa não mais será desonrada através de dívidas, Deus os abençoará. Esforcem-se por colocar semanalmente alguma coisa à parte, algo além do dízimo. Tenham um cofre para tal propósito. Expliquem aos filhos que esse é o cofre da negação própria, no qual vocês colocarão cada centavo não requerido para as reais necessidades. Destina-se à casa do Senhor, para liquidar o débito da igreja, o qual desonra os Céus. Ao efetuar tal oferta, cada membro da família receberá uma bênção. T6 103 2 Deus lê todo pensamento. Observa cada ação. Tudo que é feito com o sincero propósito de fazer avançar a Sua obra, será por Ele abençoado. As duas pequeninas moedas, um copo de água fria, presenteados com simpatia e amor, serão eficazes em realizar o bem aqui, e trarão recompensa no porvir. T6 103 3 A pergunta que cada cristão tem de dirigir a si mesmo como prova, é: "Tenho eu, no mais íntimo do meu coração, o supremo amor por Cristo? Amo eu Seu tabernáculo? Não será o Senhor honrado por eu tornar Sua sagrada instituição minha consideração primeira? É meu amor por Deus e por meu Redentor bastante forte para me levar a renunciar o próprio eu? Quando tentado a me distrair com entretenimentos ou diversão egoístas, hei de dizer: Não, não gastarei coisa alguma para meu próprio deleite, enquanto a casa de Deus se achar sobrecarregada de dívidas?" T6 103 4 Nosso Redentor pede muito além do que Lhe ofertamos. O próprio eu interpõe seus desejos de ser o primeiro; mas o Senhor exige o coração inteiro, a inteira afeição. Ele não entrará aí em segundo lugar. E será que não deve Cristo ser nossa primeira e mais elevada consideração? Não exigirá Ele essa prova de nosso respeito e lealdade? Essas coisas se acham no fundo da própria vida de nosso coração, no círculo familiar e na igreja. Se o coração, a alma, as energias, a vida, forem inteiramente consagrados a Deus, se as afeições Lhe forem inteiramente dedicadas, haveremos de torná-Lo supremo em todo o nosso serviço. Quando nos acharmos em harmonia com Deus, a idéia de Sua honra e glória sobrepujará a tudo mais. Pessoa alguma é a Ele preferida em nossas dádivas e ofertas. Temos a consciência do que significa ser sócios de Cristo na sagrada firma. T6 104 1 A casa onde Deus Se encontra com Seu povo será querida e sagrada a qualquer de Seus filhos leais. Não se permitirá que ela seja embaraçada com dívidas. Consentir em tal coisa, é quase o mesmo que negar a fé. Deve-se estar pronto a fazer um grande sacrifício pessoal, para que haja uma casa livre de compromissos, onde Deus Se encontre com Seu povo e o abençoe. T6 104 2 A dívida de nossas igrejas pode ser paga, se os membros tomarem sábias medidas, desenvolvendo ativos e zelosos esforços para cancelar o débito. E em todos os casos em que se salde uma dívida, seja realizada uma reunião de ação de graças, a qual será como uma nova consagração dessa casa a Deus. T6 104 3 Deus prova a fé de Seu povo ao testar o seu caráter. Aqueles que em tempos de emergência estão dispostos a sacrificar-se por Ele, são os que receberão a honra de compartilharem de Sua obra. Os que não se dispõem a praticar o auto-sacrifício de modo a levar avante os propósitos de Deus, serão provados, para que o seu curso de ação apareça diante dos olhos humanos tal qual se manifesta aos olhos dAquele que lê os corações. T6 104 4 Quando o Senhor vir o Seu povo restringindo seus desejos imaginários, praticando o desprendimento, não o fazendo num espírito de lamentação ou pesar -- como fez a esposa de Ló ao ter de abandonar Sodoma -- mas alegrando-se por amor a Cristo, então a obra prosseguirá com poder! ------------------------Capítulo 10 -- Reuniões para crianças T6 105 1 Em nossas reuniões campais deve ser feito um trabalho em favor das crianças e jovens. Encontros de crianças ou classes bíblicas para o jardim de infância devem ser realizados diariamente sob a direção de professores qualificados para o trabalho. Em linguagem simples, devem ser apresentadas as lições tanto da Bíblia quanto da natureza. Métodos de jardim da infância e lições práticas da natureza serão de grande vantagem para conseguir o interesse dos pequeninos. Em algumas de nossas campais os encontros para crianças têm sido realizados duas vezes ao dia. Depois da lição matutina, em dias agradáveis, professores e crianças podem dedicar-se a uma longa caminhada; durante a mesma, às margens de um rio ou sobre verdes gramados, pode-se fazer uma pausa, aproveitando-se para apresentar uma curta lição da natureza. Em lições como essas, pode-se ensinar às crianças as parábolas de Cristo. A verdade será fixada em suas mentes como um prego em lugar firme. T6 105 2 Em nosso trabalho pelas crianças, o objetivo não deve ser meramente educá-las e entretê-las, e sim trabalhar por sua conversão. Devemos pedir a bênção de Deus sobre a semente semeada, e a convicção do Espírito Santo se apoderará até mesmo dos pequeninos. Se exercermos fé em Deus, seremos habilitados a levá-los ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. T6 105 3 É essa uma obra da maior importância para os membros mais novos da família do Senhor. Nesses encontros, mesmo as crianças favorecidas com a instrução cristã em seus lares, aprenderão muito, o que será de grande ajuda para elas. Se as crianças forem ensinadas na simplicidade de Cristo, receberão o conhecimento e, ao retornarem para casa, porão em prática os preciosos ensinamentos entesourados no coração. T6 106 1 Os jovens devem ter oportunidade de receber mais ampla instrução na Palavra de Deus. A verdade bíblica deve ser tornada clara a eles. Os que possuem experiência na verdade devem pesquisar as Escrituras com eles. Isso será como semente plantada em solo fértil. T6 106 2 Tais reuniões para crianças e jovens, se corretamente conduzidas, serão freqüentadas por muitos que não pertencem à nossa fé, e as lições aprendidas nos encontros serão repetidas nos lares. Por intermédio das crianças os pais poderão ser alcançados. Em nossas reuniões campais, na Austrália, esse foi um meio para se alcançar grandes resultados. T6 106 3 O que segue é um breve relato da obra realizada nesse sentido numa reunião campal australiana, redigido por alguém que participou do trabalho: T6 106 4 "No primeiro sábado, as crianças foram organizadas em departamentos e classes, e os professores iniciaram sua obra. No começo, havia seis crianças no departamento do primário, e cerca de quinze no jardim da infância. Tão logo as crianças das redondezas souberam das reuniões, começaram a participar, e a cada dia novos membros eram acrescentados às classes. A frequência média desses participantes "externos" variou entre oitenta e cem, sendo que aos domingos o número era ainda maior. Muitas dessas crianças eram absolutamente regulares em sua participação. O mesmo espírito de sinceridade, atenção e ordem que caracterizou os cultos dos adultos, marcou também os encontros infantis. Tanto nos trabalhos de classe quanto nos exercícios de revisão geral, o trabalho foi arranjado de modo que as crianças tanto participavam das atividades quanto ouviam, e assim logo se sentiram como em casa, e sua avidez por realizar alguma parte do trabalho bem testificou de seu interesse. T6 106 5 "Cada lição começava com um exercício geral, seguido pelos estudos de classe; no encerramento, todos se reuniam para uma breve revisão e cânticos. Nos exercícios de abertura, depois de cântico e oração, o lema e todos os versos de memorização previamente aprendidos eram recitados, quer em conjunto, quer individualmente, ou de ambas as formas. Uma breve e apropriada leitura ou recitação era feita por uma das crianças, que previamente se oferecera para fazê-lo. O 'alfabeto das Escrituras' era aprendido e recitado pelas crianças, cada uma escolhendo sua própria letra e verso. A escolha e aprendizado dos versos eram realizados em casa, sendo que essas responsabilidades colocadas sobre as crianças demonstraram-se um incentivo adicional para estarem presentes no dia seguinte, tornando regular a participação. T6 107 1 "As prontas respostas nos exercícios de revisão testificaram que o interesse no trabalho de classe era marcante, e que muitas verdades valiosas haviam encontrado o caminho da mente e do coração dos pequenos. Quando as crianças retornavam aos lares, os pais surpreendiam-se e ficavam contentes ao ouvi-las repetirem toda a lição. Muitos pais expressaram, de variadas maneiras, seu agradecimento pelo trabalho feito em favor de seus filhos, e lamentavam-se de que as reuniões tivessem de encerrar-se tão cedo. T6 107 2 Vários professores de escolas dominicais freqüentaram as reuniões e declararam que eles próprios estavam muito contentes e se sentiam beneficiados pela obra realizada. Pais por vezes compareciam com os filhos, parecendo tão interessados quanto os pequenos. Outros, embora não se sentido em harmonia com nossos pontos de vista, tiveram o trabalho de vestir primorosamente seus filhos, permitindo-lhes comparecer. Alguns pais declararam não saber o que havíamos feito com seus filhos, mas que uma coisa era certa: os pequenos queriam ir às reuniões, e eles, pais, não conseguiam retê-los em casa. Algumas das crianças vinham de longas distâncias, e temos todas as razões para crer que muito da semente plantada caiu em solo fértil." T6 108 3 A boa semente plantada nesses encontros não deve ser deixada a perecer por falta de cuidado. Muitos pais se alegrariam se as instruções oferecidas a seus filhos nas reuniões campais pudessem prosseguir. Alegremente colocariam seus filhos numa escola em que esses princípios fossem ensinados e praticados. Enquanto o interesse, tanto de pais quanto de crianças, ainda está desperto, temos a áurea oportunidade de estabelecer uma escola na qual o trabalho, iniciado através da reunião campal, pode ser continuado. T6 108 1 Quando os crentes despertam e as igrejas se organizam, semelhante escola demonstrar-se-á de grande valor em promover o caráter permanente e a estabilidade do trabalho. Obreiros em um novo território não se devem sentir à vontade para deixar seu campo de trabalho enquanto não forem providenciados os necessários recursos para as igrejas sob seu cuidado. Não somente se deve erguer uma humilde casa de culto, como tomar todas as providências necessárias para o estabelecimento permanente da escola de igreja. T6 108 2 Essa questão foi-me claramente apresentada. Vi surgindo em diferentes lugares novos grupos de crentes, e casas de culto sendo estabelecidas. Os recém-chegados à fé ajudavam com mãos voluntárias, e os que dispunham de meios, ajudavam com eles. Na parte térrea da igreja, foi-me mostrada uma sala providenciada para servir de escola onde as crianças seriam educadas nas verdades da Palavra de Deus. Professores consagrados foram escolhidos para ir a esses lugares. Não havia grande número de matrículas na escola, mas constituía um feliz começo. T6 108 3 Enquanto o trabalho avançava, ouvi as vozes de crianças e pais cantando: T6 108 4 "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela." T6 108 5 "Louvai ao Senhor! Ó minha alma, louva ao Senhor! Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus enquanto viver. Não confieis em príncipes nem em filhos de homens, em quem não há salvação." T6 109 1 Louvai ao Senhor desde os céus, louvai-o nas alturas. Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos. Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes." Salmos 127:1; 146:1-3; 148:1-3. T6 109 2 O estabelecimento de igrejas e a construção de casas de oração e edifícios escolares foi estendido de cidade a cidade. Em todos os lugares os crentes empreendiam esforço unido e perseverante, e o Senhor atuava para aumentar Suas forças. Estava-se estabelecendo algo que daria publicidade à verdade. T6 109 3 Essa é a obra a ser realizada na América, na Austrália, na Europa e onde quer que grupos sejam trazidos à verdade. Os grupos que se formam necessitam de um lugar para a adoração. São necessárias escolas em que a instrução bíblica seja oferecida às crianças. A sala de aulas é tão necessária quanto o edifício da igreja. O Senhor tem pessoas para serem envolvidas na obra de estabelecer escolas paroquiais, tão logo algo seja feito para preparar o caminho para elas. T6 109 4 Nas localidades em que são poucos os crentes, unam-se duas ou três igrejas para construir um modesto edifício para a escola. Que todos partilhem das despesas. É alto tempo de os observadores do sábado separarem seus filhos do convívio dos mundanos, colocando-os sob a orientação dos melhores professores, que façam da Bíblia o fundamento de todo estudo. ------------------------Capítulo 11 -- A obra de temperança T6 110 1 Cumpre-nos, em nossa obra, dar mais atenção à reforma da temperança. Toda atividade relacionada com reforma, envolve arrependimento, fé e obediência. Isso significa o reerguimento da pessoa a uma vida nova e mais nobre. Assim toda verdadeira reforma tem seu lugar na obra da terceira mensagem angélica. A reforma da temperança requer nossa especial atenção e apoio. Devemos, em nossas reuniões campais, chamar a atenção para essa obra, tornando-a um assunto vivo. Precisamos apresentar ao povo os princípios da verdadeira temperança, e pedir assinaturas para o compromisso de temperança. Importa dar cuidadosa atenção aos que se acham escravizados pelos maus hábitos. Cumpre-nos levá-los à cruz de Cristo. T6 110 2 Nossas reuniões campais devem ter a cooperação de médicos. Para isso requerem-se homens de sabedoria e bom discernimento, homens que respeitem o ministério da Palavra e não sejam vítimas da incredulidade. Esses homens são os responsáveis pela saúde do povo, e devem ser reconhecidos e respeitados. Eles devem dar instruções ao povo no que respeita aos perigos da intemperança. Esse mal terá de ser enfrentado mais ousadamente no futuro do que tem sido no passado. Os pastores e os médicos devem salientar os males da intemperança. Importa que ambos trabalhem no evangelho com poder, condenando o pecado e exaltando a justiça. Os pastores e médicos que não fazem apelos individuais ao povo, estão falhando em seu dever. Deixam de cumprir a obra que Deus lhes designou. T6 110 3 Há, noutras igrejas, cristãos que estão na defesa dos princípios da temperança. Devemos nos aproximar desses obreiros, abrindo caminho para que estejam conosco lado a lado. Devemos convidar grandes homens, homens bons, para apoiarem nossos esforços em salvar o que se havia perdido. T6 111 1 Caso a obra de temperança fosse levada avante por nós como foi iniciada trinta anos atrás; se em nossas reuniões campais expuséssemos diante do povo os males da intemperança no comer e no beber, e especialmente o mal das bebidas alcoólicas; apresentando essas coisas em ligação com os sinais da próxima vinda de Cristo, haveria uma sacudidura entre o povo. Se mostrássemos zelo proporcional à importância das verdades de que estamos tratando, seríamos instrumentos para salvar centenas, ou melhor, milhares da ruína. T6 111 2 Unicamente a eternidade revelará o que tem sido realizado por esse tipo de ministério -- muitas pessoas oprimidas pela dúvida e cansadas do mundanismo e da agitação têm sido levadas ao grande Médico, que almeja salvar perfeitamente todos quantos se chegam a Ele. Cristo é o Salvador ressuscitado, e há cura debaixo de Suas asas. T6 111 3 Ao vermos os homens se dirigindo para lugares onde se oferece o venenoso líquido que lhes destrói a razão, ao ver-lhes a alma vacilante, que estamos nós fazendo para os salvar? Nossa obra pelos tentados e caídos só terá êxito real à medida que a graça de Cristo remodelar o caráter, e o homem seja posto em viva ligação com o infinito Deus. Tal é o desígnio de todo verdadeiro esforço em prol da temperança. Somos chamados a trabalhar com energia mais que humana, com o poder que reside em Jesus Cristo. Aquele que veio e Se revestiu da natureza humana é O que nos mostrará a maneira de dirigir a batalha. Cristo deixou em nossas mãos Sua obra, e temos de lutar com Deus, suplicando dia e noite o poder invisível. É simplesmente apegando-se a Ele, através de Jesus Cristo, que se obtém a vitória. ------------------------Capítulo 12 -- Lições práticas da reforma de saúde T6 112 1 As grandes reuniões de nosso povo constituem uma excelente oportunidade para serem apresentados os princípios da reforma de saúde. Falava-se muito, alguns anos atrás, nessas reuniões a respeito da reforma de saúde e dos benefícios do regime vegetariano; ao mesmo tempo, porém, ofereciam-se alimentos cárneos no refeitório, e diversos artigos prejudiciais de alimentação eram vendidos no posto de abastecimento. A fé sem as obras é morta; e a instrução sobre a reforma de saúde, contestada pela prática, não causa impressão mais profunda. Em reuniões campais posteriores, os encarregados têm ensinado pela prática e por preceito. Nenhum alimento cárneo tem sido oferecido no refeitório, mas se têm oferecido frutas, cereais e verduras em abundância. Quando os visitantes fazem perguntas com respeito à ausência de carne, a razão claramente apresentada é que a carne não é a alimentação mais saudável. T6 112 2 Ao aproximar-nos do fim do tempo, precisamos erguer-nos mais e mais alto na questão da reforma de saúde e temperança cristã, apresentando-a de maneira mais positiva e decidida. Precisamos esforçar-nos continuamente para educar o povo, não apenas por palavras, mas por nossa maneira de viver. O preceito e a prática aliados possuem uma influência poderosa. T6 112 3 Deve-se dar ao povo instrução sobre assuntos de saúde na reunião campal. Em nossas reuniões na Austrália faziam-se diariamente preleções sobre assuntos de saúde, e foi despertado profundo interesse. Havia no terreno uma tenda para uso dos médicos e enfermeiras, e instruções médicas eram dadas livremente, e requisitadas por muitos. Milhares de pessoas assistiam às preleções, e no encerramento da reunião campal as pessoas não ficavam satisfeitas a ponto de permitirem que o assunto se encerrasse com o que já haviam aprendido. Em várias cidades onde se realizavam reuniões campais, alguns dos principais cidadãos faziam apelos para que se estabelecesse uma clínica, prometendo sua cooperação. O trabalho tem sido iniciado em diversas cidades com excelente sucesso. Dirigida de maneira adequada, uma instituição de saúde pode representar a nossa obra em novos campos. E não é apenas um benefício para as pessoas, mas os obreiros com ela relacionados podem ser um auxílio para os que trabalham em setores evangelísticos. T6 113 1 Em toda cidade onde temos uma igreja, há necessidade de um lugar no qual se possa aplicar tratamentos. Poucos há, entre os nossos membros de igreja, que podem fornecer salas e espaço para o cuidado adequado dos doentes. Deve-se prover um lugar no qual se possam tratar as doenças comuns. A construção pode ser pouco atrativa e mesmo rude, mas deve proporcionar as condições necessárias para a aplicação de tratamentos simples. Sabiamente empregados, demonstrar-se-ão ser uma bênção não só para o nosso próprio povo, mas para seus vizinhos, e podem tornar-se um meio de chamar a atenção de muitos para os princípios de saúde. T6 113 2 É plano do Senhor que em toda parte de nosso mundo se estabeleçam instituições de saúde como um ramo do evangelismo. Essas instituições devem ser Suas agências para ensinar uma classe à qual nenhuma outra coisa alcançará. Não precisam ser grandes construções, mas devem ser bem arranjadas para que possam realizar trabalho eficaz. T6 113 3 Podem-se realizar começos em todo lugar de importância no qual forem feitas reuniões campais. A obra pode começar pequena, e ser ampliada conforme exigirem as circunstâncias. É necessário calcular o custo de cada empreendimento, para ter certeza de que ele tem condições de ir até o fim, retirando-se o mínimo possível da tesouraria. Necessitam-se de homens de fé e habilidade financeira para planejarem economicamente. Nossas clínicas devem ser construídas com uma despesa limitada de fundos. Os edifícios nos quais começar a obra, podem, muitas vezes, ser conseguidos por baixo preço. ------------------------Capítulo 13 -- Mulheres como obreiras evangélicas T6 114 1 É boa e necessária a obra iniciada para ajudar nossas irmãs a sentirem sua responsabilidade individual para com Deus. Por muito tempo tem ela sido negligenciada. O Senhor quer que acentuemos sempre o valor da alma humana aos que não lhe compreendem o valor. E quando essa obra é realizada de forma clara, simples e com definição, vamos verificar que os deveres domésticos, em vez de serem negligenciados, serão cumpridos muito mais inteligentemente. T6 114 2 Caso possamos arranjar grupos efetivos, organizados, inteligentemente instruídos quanto ao trabalho que devem desempenhar como servas do Mestre, nossas igrejas terão uma vitalidade de que há muito necessitam. Será apreciada a excelência da alma por cuja salvação Cristo morreu. Nossas irmãs passam em geral dificuldades com sua família em crescimento e as suas implicações sem que isso seja reconhecido. Tenho desejado tanto que mulheres se preparem a fim de ajudar nossas irmãs a se reanimar e sentirem que podem participar da obra do Senhor! Isso trará raios de sol a sua existência, raios que se refletirão na vida de outros. Deus abençoará a todos quantos se unirem a essa grande obra. T6 114 3 Muitas jovens, bem como irmãs de mais idade, mostram-se tímidas no que respeita a conversas religiosas. Não aproveitam as oportunidades. Fecham as janelas da alma, as quais deveriam ser abertas em direção ao Céu, e abrem-nas de par em par para as coisas da Terra. Quando, porém, virem a excelência da alma humana, cerrarão essas janelas para a Terra, que mostra diversões e convívio mundano na estultícia e no pecado, e abri-las-ão para o Céu, à contemplação das coisas espirituais. A Palavra de Deus deve constituir sua certeza, sua esperança e paz. Então, poderão dizer: "Receberei a luz do Sol da Justiça, para que ela possa irradiar para outros." T6 115 1 Os mais bem-sucedidos obreiros, são aqueles que empreendem de bom ânimo a obra de servir a Deus nas coisas pequenas. Toda criatura humana tem de trabalhar com o fio de sua vida, tecendo-o na trama, a fim de ajudar a concluir o modelo. T6 115 2 A obra de Cristo compôs-se em grande parte de conversas individuais. Ele tinha em grande apreço o auditório constituído de uma única alma. Depois daquela alma, saía para milhares o conhecimento recebido. T6 115 3 Devemos educar os jovens sobre como ajudar a juventude; e ao realizarem essa obra, obterão uma experiência que os habilitará a se tornarem consagrados obreiros em esfera mais ampla. Milhares de corações podem ser alcançados pela maneira mais simples e humilde. Os mais intelectuais, aqueles que são considerados e louvados como os homens e mulheres mais bem dotados do mundo, são muitas vezes refrigerados pelas palavras simples originadas do coração de uma pessoa que ama a Deus e pode falar desse amor com naturalidade, como os mundanos falam daquilo que seu espírito contempla e de que se nutre. Muitas vezes as palavras bem preparadas e estudadas, exercem pouca influência. Mas a expressão verdadeira e sincera de um filho ou filha de Deus, emitida com natural simplicidade, abrirá a porta de corações por muito tempo fechados. T6 115 4 Ouvem-se, por toda parte ao nosso redor, os lamentos de uma dor mundial. O pecado impõe-nos sua sombra, e nosso espírito deve estar preparado para toda boa palavra, para toda boa obra. Sabemos que possuímos a presença de Jesus. A suave influência de Seu Santo Espírito, ensina e guia nossos pensamentos, levando-nos a proferir palavras que iluminarão e alegrarão a estrada dos outros. Se podemos falar freqüentemente a nossas irmãs e, em vez de dizer: "Ide", levamo-las nós mesmos, a fazer como queremos fazer, a sentir como queremos sentir, haverá crescente apreciação do valor da alma humana. Somos discípulos e podemos nos tornar mestres. Esse pensamento deve ser gravado na mente de todo membro de igreja. T6 116 1 Cremos plenamente em organização de igreja; isso, porém, não deve prescrever a maneira exata pela qual devemos trabalhar, pois nem todos os espíritos são alcançados pelos mesmos métodos. Coisa alguma deve ter permissão de desviar o servo de Deus de seu semelhante. O crente individual deve trabalhar em benefício do pecador individual. Cada pessoa precisa manter acesa sua própria lâmpada; e caso o óleo celestial seja passado a essas lâmpadas pelos tubos dourados; caso os vasos se esvaziem do próprio eu, e sejam preparados para receber o óleo santo, a luz será derramada na vereda do pecador, para algum desígnio. Mais luz será projetada no caminho de um errante por uma lâmpada assim, do que por toda uma procissão de tochas reunidas para exibição. A consagração pessoal a Deus e a santificação trarão melhores resultados do que a mais imponente ostentação. T6 116 2 Nossas irmãs devem ser ensinadas, dia a dia, a indagar: "Senhor, que queres que eu faça hoje?" Todo vaso consagrado transmitirá a outros vasos diariamente o santo óleo que nele é posto. T6 116 3 Se a vida que vivemos aqui no mundo é inteiramente consagrada a Cristo, será uma vida de entrega diária. Ele terá o serviço voluntário, e cada alma é uma jóia Sua. Caso nos seja possível impressionar nossas irmãs com o pensamento do bem que lhes está ao alcance realizar mediante o poder de Cristo, veremos realizada uma grande obra. Se nos for dado despertar a mente e o coração para cooperar com o divino Obreiro, haveremos de, mediante o trabalho que podem efetuar, obter grandes vitórias. O próprio eu, todavia, precisa ficar escondido; Cristo deve aparecer como o obreiro. T6 116 4 Importa que haja um intercâmbio de tomar e dar, receber e comunicar. Isso nos une como coobreiros de Deus. Eis a obra de toda a vida do cristão. O que perder sua vida, achá-la-á. T6 117 1 A capacidade de receber do santo óleo das duas oliveiras aumenta à medida que o recebedor se esvazia desse santo óleo mediante a palavra e a ação, a fim de prover às necessidades de outras almas. Trabalho, precioso trabalho que satisfaz -- estar constantemente recebendo e comunicando sem cessar! T6 117 2 Necessitamos e precisamos receber nova provisão a cada dia. E quantas pessoas podemos nós ajudar transmitindo-lhes também! Todo o Céu espera condutos pelos quais possa fazer fluir o santo óleo, de maneira a ser alegria e bênção aos outros. Não receio que alguém faça trabalho malfeito, desde que se torne um com Cristo. Se Ele habitar em nós, iremos trabalhar contínua e solidamente, de modo que nossa obra permaneça. A plenitude divina fluirá através do agente humano consagrado, a fim de ser comunicada a outros. T6 117 3 O Senhor tem uma obra para as mulheres, da mesma maneira que para os homens. Elas podem efetuar uma boa obra para Deus, caso aprendam primeiro na escola de Cristo a preciosa e importante lição da mansidão. É necessário que não somente usem o nome de Cristo, mas que possuam Seu espírito. Importa que andem como Ele andou, purificando a vida de tudo quanto contamine. Então serão de benefício aos outros, apresentando-lhes a completa suficiência de Jesus. T6 117 4 As mulheres podem ocupar na obra o seu lugar, nesta crise, e o Senhor operará por intermédio delas. Caso se achem imbuídas do senso do dever, e trabalhem sob a influência do Espírito de Deus, serão senhoras de si mesmas como é necessário neste tempo. O Salvador refletirá sobre essas abnegadas mulheres a luz de Seu rosto, e isso lhes proporcionará um poder que ultrapassará o dos homens. Elas poderão efetuar nas famílias uma obra que eles não podem realizar, uma obra que atingirá a vida interior. T6 118 1 Podem chegar bem perto do coração daqueles que os homens não podem atingir. Seu trabalho é necessário. T6 118 2 A obra das mulheres está satisfazendo a uma positiva necessidade -- das mulheres que se consagraram ao Senhor e estão se voltando a ajudar um povo carecido, vítima do pecado. É preciso que se faça obra evangelística pessoal. As mulheres que empreendem essa obra, levam o evangelho aos lares do povo nos caminhos e valados. Lêem e explicam a Palavra às famílias, orando com elas, cuidando dos doentes, aliviando-lhes as necessidades temporais. Apresentam a famílias e indivíduos a influência purificadora, transformadora da verdade. Elas mostram que o meio de alcançar a paz e a alegria, é seguir a Jesus. T6 118 3 Todos quantos trabalham para Deus, devem possuir um misto dos atributos de Marta e de Maria -- a boa vontade para servir e sincero amor pela verdade. O próprio eu e o egoísmo precisam ser descartados. Deus demanda fervorosas obreiras, prudentes, afetivas, ternas e fiéis aos princípios. Ele convida mulheres perseverantes, que não pensam tanto em si mesmas e em seus interesses pessoais, mas concentram o pensamento em Cristo, proferindo palavras de verdade, orando com as pessoas às quais conseguem acesso, trabalhando pela conversão de almas. T6 118 4 Oh! que desculpa temos, irmãs, para não devotar todo o tempo possível à pesquisa das Escrituras, tornando a mente um depósito de preciosidades a fim de apresentá-las aos que não se acham interessados na verdade? Hão de nossas irmãs erguer-se à altura da emergência? Trabalharão elas pelo Mestre? ------------------------Capítulo 14 -- O ensino da religião no lar T6 119 1 Os que levam a última mensagem de misericórdia ao mundo devem sentir ser seu dever instruir os pais quanto à religião a ser praticada no lar. O grande movimento de reforma deve começar com a apresentação dos princípios da Lei de Deus aos pais, mães e filhos. Ao serem apresentadas as reivindicações da lei, e homens e mulheres se convencerem de seu dever de prestar obediência, perceberão a responsabilidade de sua decisão, não somente quanto a si mesmos, mas no que respeita a seus filhos. Deve ser mostrado a eles que a obediência à Palavra de Deus é nossa única salvaguarda contra os males que estão destruindo o mundo. Os pais estão dando aos filhos um exemplo, seja de obediência, seja de transgressão. Por seu exemplo e ensino, será, na maioria dos casos, decidido o destino de sua família. Na vida futura, os filhos serão o que seus pais os influenciaram a ser. T6 119 2 Caso os pais fossem levados a seguir o resultado de suas ações, e pudessem ver como, por seu exemplo e ensino, eles perpetuam e aumentam o poder do pecado, ou o poder da justiça, certamente haveria uma mudança. Muitos haveriam de romper o encantamento da tradição e dos costumes. T6 119 3 Que os pastores insistam nisto diante da congregação. Reforcem na consciência dos pais a convicção de seus solenes deveres, por tanto tempo negligenciados. Isto vencerá, como nenhuma outra coisa, o espírito de farisaísmo e resistência à verdade. A religião no lar é nossa grande esperança, e ilumina a perspectiva da conversão de toda a família à verdade de Deus. ------------------------Capítulo 15 -- Enfrentando oposição T6 120 1 Nossos pastores e professores têm de representar o amor de Deus para com o mundo caído. Que a palavra da verdade seja proferida com o coração abrandado pela ternura. Os que se acham em erro sejam tratados com a benignidade de Cristo. Se aqueles por quem estão trabalhando não aceitam imediatamente a verdade, não devem ser censurados, nem criticados nem condenados. Lembrem-se de representar, em todo o tempo, a Cristo em Sua mansidão, benignidade e amor. T6 120 2 Devemos esperar incredulidade e oposição. A verdade sempre teve de enfrentar esses elementos. Mas, embora tendo de fazer face à mais intensa oposição, não se deve acusar os adversários. Eles podem pensar, como fez Paulo, que estão prestando um serviço a Deus; e com tais pessoas devemos manifestar paciência, mansidão e longanimidade. T6 120 3 Não vamos ficar magoados porque temos duras provas a sofrer, sérias lutas a suportar na apresentação de uma verdade impopular. Pensemos em Jesus e no que Ele sofreu por nós, e calemo-nos. Mesmo quando maltratados e falsamente acusados, não nos queixemos; não falemos palavras de murmuração; não demos lugar em nosso espírito a pensamentos de censura ou descontentamento. Prossigamos em linha reta, "tendo o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem". 1 Pedro 2:12. T6 120 4 "E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis, não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção. Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males. E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem? Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo." 1 Pedro 3:8-16. T6 121 1 Devemos nos conduzir com mansidão para com os que se acham em erro; pois nós mesmos estávamos, até pouco tempo, cegos em nossos pecados! Não deveríamos, em face da paciência de Cristo para conosco, ser brandos e pacientes para com os outros? Deus nos tem dado muitas advertências para manifestarmos grande bondade para com os que se nos opõem; tenhamos cuidado para não influenciarmos uma alma na direção errada. T6 121 2 Nossa vida tem de estar escondida com Cristo em Deus. Precisamos conhecer a Cristo individualmente. Só então poderemos representá-Lo devidamente perante o mundo. Que seja esta a nossa constante prece: "Senhor, ensina-me a agir sempre como Jesus agiria em meu lugar." Onde quer que estejamos, devemos fazer brilhar a nossa luz para a glória de Deus em boas obras. Esse é o grande, importante interesse de nossa vida. T6 121 3 O Senhor deseja que Seu povo siga outros métodos que não os que levam a condenar o erro, mesmo que a condenação seja justa. Ele quer que façamos alguma coisa melhor do que atirar contra nossos adversários acusações que só servem para mais os afastar da verdade. A obra que Cristo veio fazer em nosso mundo, não foi erguer barreiras, nem lançar constantemente no rosto do povo o fato de que se achavam em erro. T6 122 1 Aquele que espera esclarecer um povo iludido, deve-se aproximar dele, e por ele trabalhar com amor. Essa pessoa deve tornar-se um centro de santa influência. T6 122 2 Na defesa da verdade, devem-se tratar os mais cruéis adversários com respeito e deferência. Alguns não hão de corresponder aos nossos esforços, mas menosprezarão o convite do evangelho. Outros, mesmo os que supomos haverem passado dos limites da misericórdia de Deus, serão ganhos para Cristo. A última obra no conflito talvez seja a iluminação dos que não rejeitaram a luz e a evidência, mas que se têm encontrado em densas trevas, e, em ignorância, têm trabalhado contra a verdade. Portanto, tratemos a todo homem como sendo sincero. Não pronunciemos uma palavra, nem pratiquemos uma ação que venha a confirmar alguém na incredulidade. T6 122 3 Se alguém procurar arrastar os obreiros para discussões ou debates sobre política ou outras questões, não demos atenção, seja à persuasão, seja ao desafio. Levemos avante a obra de Deus com firmeza e vigor, mas, na mansidão de Cristo, e tão discretamente quanto possível. Nenhuma ostentação humana se faça ouvir. Não se faça notar nenhum indício de presunção. Seja manifesto que Deus nos chamou para lidar com sagradas verdades; preguemos a palavra, sejamos diligentes, sinceros, fervorosos. T6 122 4 A influência de nosso ensino seria dez vezes maior, se tivéssemos cuidado com as nossas palavras. As palavras que devem ser um cheiro de vida para vida, podem, em virtude do espírito que as acompanha, tornar-se um cheiro de morte para morte. E, lembremo-nos de que, se por nosso espírito ou palavras, fecharmos a porta a uma alma que seja, essa alma nos há de enfrentar no juízo. T6 122 5 Quando nos referimos aos Testemunhos, não julguemos ser nosso dever fazê-lo de maneira autoritária. Ao lê-los, não devemos introduzir ali expressões nossas; pois isso tornaria impossível aos ouvintes distinguir entre a palavra do Senhor a eles dirigida, e as nossas palavras. Tenhamos cautela para não tornar ofensiva a palavra do Senhor. T6 123 1 Almejamos ver reformas; e porque não vemos aquilo que desejamos, permitimos muitas vezes que um mau espírito acrescente gotas de fel em nosso cálice, e assim outros sejam amargurados. Em razão de nossas palavras inadequadas, seu espírito se irrita, e são levados à rebelião. T6 123 2 Todo sermão que pregamos, todo artigo que escrevemos, pode ser inteiramente verdadeiro; mas se contiver uma gota de fel será veneno para o ouvinte ou o leitor. Por causa dessa gota de veneno, alguém irá rejeitar todas as nossas boas e aceitáveis palavras. Outro pode acolher o veneno; pois gosta de palavras duras. Seguramente vai seguir o nosso exemplo e falar da mesma maneira. E assim o mal é multiplicado. T6 123 3 Aqueles que apresentam os eternos princípios da verdade necessitam do santo óleo que escorre dos ramos das duas oliveiras para o coração. Esse óleo exalará em palavras que transformarão, sem exasperar. A verdade deve ser dita com amor. Então, o Senhor Jesus, por Seu Espírito, proporcionará a força e o poder. Essa é a Sua obra. T6 123 4 Coloque-se na divina corrente, onde você irá receber inspiração celestial, o que é um privilégio. Aponte então Jesus, a fonte de toda força espiritual, ao cansado, ao sobrecarregado, ao de coração partido, à alma perplexa. Seja um fiel obreiro para exaltar os louvores dAquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Conte, usando a pena e a voz, que Jesus vive para interceder por todos nós. ------------------------Capítulo 16 -- A parábola da ovelha perdida T6 124 1 A parábola da ovelha perdida deve ser considerada como um lema em todo lar. O divino Pastor deixa as noventa e nove, e vai ao deserto em busca da que se perdera. Há mato cerrado, atoleiros, perigosas cavidades nas rochas, e o Pastor sabe que, se a ovelha se encontra em qualquer desses lugares, é preciso que uma mão amiga a ajude a sair. Ao ouvir-lhe de longe o balido, afronta Ele toda e qualquer dificuldade a fim de salvar Sua ovelha perdida. Ao descobri-la não lhe dirige censuras. Alegra-Se simplesmente por havê-la encontrado com vida. Com mão firme e delicada ao mesmo tempo, afasta os espinhos ou tira-a do lamaçal; ergue-a ternamente e põe-na ao ombro, levando-a de volta ao redil. O puro e imaculado Redentor, conduz o pecaminoso, o impuro. T6 124 2 O Portador do Pecado carrega a enlameada ovelha; tão precioso no entanto é o Seu fardo, que Se regozija, cantando: "Achei a Minha ovelha perdida." Lucas 15:6. Cada um de nós, individualmente, fomos assim levados aos ombros de Cristo. Que ninguém alimente um espírito arrogante, um espírito de justiça própria e de crítica; pois ovelha alguma haveria jamais entrado no aprisco, não houvesse o Pastor empreendido a penosa busca no deserto. O fato de uma ovelha se haver perdido, foi suficiente para despertar a compaixão do Pastor, e compeli-Lo a ir em sua procura. T6 125 3 Este mundo transtornado foi o cenário da encarnação e sofrimento do Filho de Deus. Cristo não foi a mundos não caídos, mas a este mundo, todo ressequido e arruinado pela maldição. Não era favorável a perspectiva, antes por demais desanimadora. Todavia, "não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo". Isaías 42:4. Precisamos ter em mente a grande alegria manifestada pelo Pastor ao reaver a perdida. Convoca os Seus amigos: "Regozijai-vos comigo, porque já achei a Minha ovelha perdida." Lucas 15:6. E o Céu inteiro ecoa a nota da alegria. O próprio Pai, com cânticos Se regozija pela salva. Que santo êxtase de júbilo é expresso nessa parábola! E dessa alegria temos o privilégio de partilhar. T6 125 1 Estamos nós, que temos ante os olhos esse exemplo, cooperando com Aquele que deseja salvar o perdido? Somos colaboradores de Cristo? Não podemos, por amor a Ele, suportar o sofrimento, o sacrifício e a provação? Temos oportunidades de fazer bem aos jovens e aos errantes. Se vemos alguém cujas palavras ou atitudes mostram estar separado de Deus, não devemos censurá-lo. Não nos compete a obra de condená-lo, antes devemos nos colocar a seu lado a fim de o ajudar. Consideremos a humildade de Cristo, Sua mansidão, e trabalhemos como Ele trabalhava, com o coração pleno de santificada ternura. "Naquele tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as gerações de Israel, e elas serão o Meu povo. Assim diz o Senhor: O povo que escapou da espada achou graça no deserto; Israel mesmo, quando Eu o fizer descansar. Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor eterno te amei, também com amorável benignidade te atraí." Jeremias 31:1-3. T6 125 2 Para que trabalhemos como Cristo trabalhava, importa que o eu seja crucificado. É uma dolorosa morte; é, porém, vida, vida para a alma. "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. T6 125 3 "Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento." Provérbios 2:6. ------------------------Capítulo 17 -- A necessidade de reforma na educação T6 126 1 "E edificarão os lugares antigamente assolados e restaurarão os de antes destruídos, e renovarão as cidades assoladas, destruídas de geração em geração." Isaías 61:4. "E chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar." Isaías 58:12. Essas palavras da Inspiração apresentam aos crentes na verdade presente a obra que deve ser feita na educação de nossas crianças e jovens. Ao vir ao mundo a verdade para os últimos dias, na proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas, foi-nos mostrada a necessidade de introduzir na educação de nossos filhos uma diferente ordem de coisas; passou, porém, muito tempo para que compreendêssemos as mudanças que deveriam ser feitas. T6 126 2 Nossa obra é de reforma; e é desígnio de Deus que, mediante a excelência da obra feita em nossas instituições de ensino, seja chamada a atenção do povo para o grande e final esforço para salvar os que estão a perecer. A norma de educação em nossas escolas não deve ser rebaixada. Importa erguê-la mais e mais alto, muito acima do nível em que ora se encontra; mas a educação ministrada não se deve limitar ao conhecimento dos livros adotados. O estudo dos mesmos, por si só, não pode dar aos alunos a disciplina de que necessitam, nem comunicar a verdadeira sabedoria. O objetivo de nossas escolas é prover lugares onde os membros mais jovens da família do Senhor, possam ser educados de acordo com o Seu plano de crescimento e desenvolvimento. T6 127 1 Satanás tem empregado os métodos mais engenhosos para entretecer seus planos e princípios nos sistemas de educação, obtendo assim forte domínio na mente de crianças e jovens. A obra do verdadeiro educador é impedir-lhe os ardis. Achamo-nos sob solene e sagrado concerto com Deus para criar nossos filhos para Ele e não para o mundo; para ensinar-lhes que não dêem a mão ao mundo, mas amem e temam a Deus, e Lhe observem os mandamentos. Cumpre impressioná-los com o fato de serem criados à imagem de Seu Criador, e de Cristo ser o modelo segundo o qual devem ser talhados. É preciso que se faça mui zeloso estudo da educação que comunicará o conhecimento da salvação, e conformará a vida e o caráter com a semelhança divina. É o amor de Deus, a pureza da alma entretecida na existência como fios de ouro, que é de verdadeiro valor. A altura que o homem pode assim atingir, ainda não foi devidamente avaliada. T6 127 2 Para realização dessa obra, é preciso lançar um amplo fundamento. Temos de introduzir um novo propósito e dar-lhe lugar, e os alunos precisam ser ajudados a aplicar os princípios bíblicos a tudo quanto fazem. Tudo o que está torcido, tudo o que se acha desviado da linha reta, tem de ser claramente indicado e evitado; pois é iniqüidade que não deve ser perpetuada. É importante que todo professor ame e nutra sãos princípios e doutrinas, pois essa é a luz a refletir-se na formação dos alunos. A terceira mensagem angélica nas escolas T6 127 3 No livro de Apocalipse, lemos acerca de uma obra especial que Deus deseja que Seu povo faça nestes últimos dias. Ele revelou Sua lei, e mostrou-nos a verdade para este tempo. Essa verdade se desdobra constantemente, e é o desejo de Deus que sejamos inteligentes em relação a ela, para podermos distinguir entre o certo e o errado, a justiça e a injustiça. T6 128 1 A terceira mensagem angélica, a grande verdade para nossos dias, deve ser ensinada em todas as nossas instituições. É desígnio de Deus que por meio delas seja dada essa advertência especial, e sejam irradiados para o mundo resplandecentes raios de luz. O tempo é breve. Acham-se sobre nós os perigos dos últimos dias, cumpre-nos vigiar e orar, estudar e dar ouvidos às lições que nos são dadas nos livros de Daniel e Apocalipse. T6 128 2 Quando João foi afastado daqueles a quem amava e banido para a solitária ilha de Patmos, Cristo sabia onde encontrar Sua fiel testemunha. João disse: "Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta." Apocalipse 1:9, 10. O dia do Senhor é o sétimo dia, o sábado da criação. Nesse dia que Deus santificou e abençoou, Cristo mostrou a Seu servo João o significado das "coisas que brevemente devem acontecer" (Apocalipse 1:1) antes do fim da história do mundo, e Ele indicou que devemos ser esclarecidos em relação a elas. Não é em vão que Ele declarou: "Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:3. Essa é a educação que deve ser pacientemente provida. Sejam nossas lições apropriadas para o tempo em que vivemos, e nossa instrução religiosa dada de acordo com a mensagem que Deus envia. T6 128 3 Haveremos de comparecer diante de juízes para responder por nossa lealdade para com a Lei de Deus, para dar a conhecer as razões de nossa fé. E os jovens devem compreender essas coisas. Devem saber o que há de acontecer antes do encerramento da história terrestre. Isso diz respeito a nosso bem-estar eterno, e cumpre a professores e alunos dar-lhe mais atenção. Pelos livros e pela palavra viva, importa comunicar conhecimentos que serão como alimento no tempo certo, não somente para os jovens, mas também aos de idade madura. T6 129 1 Estamos vivendo as cenas finais destes perigosos tempos. O Senhor previu a incredulidade que agora prevalece em relação a Sua volta, e repetidamente Ele nos tem dado advertências em Sua Palavra de que esse acontecimento será inesperado. O grande dia virá como um laço "sobre todos os que habitam na face de toda a Terra". Lucas 21:35. Mas há duas classes. A uma o apóstolo profere estas animadoras palavras: "Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão." 1 Tessalonicenses 5:4. Alguns estarão prontos quando o noivo vier, e com Ele irão para as bodas. Quão precioso é esse pensamento aos que estão esperando e vigiando o Seu aparecimento! "Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível." Efésios 5:25-27. Aqueles a quem Deus ama desfrutam esse favor porque são de caráter amorável. T6 129 2 Importa ser consumada a importante obra de preparar um povo de caráter semelhante ao de Cristo, e que seja capaz de subsistir no dia do Senhor. Enquanto navegamos com a corrente do mundo, não necessitamos de velas, nem de remos. É quando nos voltamos completamente para ir de encontro à correnteza, que começam nossas lutas. Satanás introduzirá toda espécie de teorias para perverter a verdade. A obra irá com dificuldade, pois desde a queda de Adão tem sido costume do mundo pecar. Mas Cristo está no campo de ação. O Espírito Santo está em atividade. Instrumentos divinos estão se combinando com os humanos na remodelação do caráter segundo o perfeito modelo, e o homem deve demonstrar no exterior aquilo que Deus opera no seu interior. Realizaremos como um povo essa obra que Deus nos deu? Cuidadosamente abraçaremos toda a luz que nos foi dada, tendo constantemente diante de nós o principal objetivo de preparar os estudantes para o reino de Deus? Se pela fé avançarmos passo a passo no caminho reto, seguindo o Grande Líder, a luz iluminará o nosso caminho; e as circunstâncias serão de molde a remover as dificuldades. A aprovação de Deus dará esperança, e anjos ministradores cooperarão conosco, trazendo luz, graça, coragem e alegria. T6 130 1 Então, não se perca mais tempo demorando nas muitas coisas não essenciais e que não têm importância quanto às presentes necessidades do povo de Deus. Não se perca mais tempo em exaltar homens que não conhecem a verdade, "pois o tempo está às portas". Não há agora tempo para encher a mente de teorias do que se chama popularmente de "educação elevada". O tempo dedicado àquilo que não tende a tornar a pessoa semelhante a Cristo é tempo perdido para a eternidade. Não podemos permitir isso, pois cada momento se acha pleno de interesses eternos. Agora, quando está para começar a grande obra de julgar os vivos, deixaremos que se apoderem do coração ambições profanas, levando-nos a negligenciar a educação exigida para satisfazer as necessidades nesta época de perigo? T6 130 2 Em cada caso deverá ser tomada a grande decisão: se receberemos o sinal da besta e de sua imagem ou o selo do Deus vivo. E agora, quando estamos no limiar do mundo eterno, que pode ser de tanto valor para nós como sermos encontrados leais e fiéis ao Deus do Céu? Que devemos desejar mais do que Sua verdade e Sua lei? Que educação pode ser provida aos estudantes em nossas escolas que seja tão necessária como o conhecimento do que dizem as Escrituras? T6 131 1 Sabemos que há muitas escolas que oferecem oportunidades para aquisição de conhecimentos em ciências, mas desejamos alguma coisa mais que isso. A ciência da verdadeira educação é a verdade, que deve ser tão profundamente gravada na alma que não se possa apagar pelo erro tão abundante em toda parte. A mensagem do terceiro anjo é verdade, luz e poder, e apresentá-la de tal maneira que cause as devidas impressões no coração, eis o que deve ser a obra de nossas escolas e de nossas igrejas, do professor e do pastor. Os que aceitam a função de educadores devem considerar cada vez mais a vontade revelada de Deus, de forma clara e precisa, em Daniel e Apocalipse. O estudo da Bíblia T6 131 2 As necessidades urgentes que se fazem sentir nesta época exigem contínua educação na Palavra de Deus. Essa é a verdade presente. Importa que haja em todo o mundo uma reforma no estudo da Bíblia, pois ela é agora mais necessária que nunca. À medida que essa reforma progredir, se efetuará uma poderosa obra. Deus foi muito claro quando declarou que Sua Palavra não voltaria para Ele vazia. O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, "a quem Ele enviou", é a mais alta educação, e ela tem de cobrir a Terra com sua maravilhosa luz, assim como as águas cobrem o mar. T6 131 3 O estudo da Bíblia é especialmente necessário nas escolas. Os alunos devem estar arraigados e fundamentados na verdade divina. Sua atenção deve ser chamada, não para as afirmações dos homens, mas para a Palavra de Deus. Acima de todos os outros livros, deve a Bíblia merecer nosso estudo, como o grande livro didático, a base de toda educação; e nossos filhos devem ser instruídos nas verdades que nela se encontram, a despeito de hábitos e costumes anteriores. Assim fazendo, professores e alunos encontrarão o tesouro escondido, a mais alta educação. T6 132 1 As regras bíblicas devem servir de guia na vida diária. A cruz de Cristo, servir de tema, revelando as lições que precisamos aprender e praticar. Cristo tem de ser introduzido em todos os estudos, para que os alunos possam beber aí o conhecimento de Deus, e representá-Lo através do caráter. A excelência de Cristo, eis o que deve constituir nosso estudo hoje e na eternidade. A Palavra de Deus, transmitida por Cristo no Antigo e no Novo Testamentos, é o pão do Céu; mas muito do que é chamado ciência é como um prato de invenção humana, alimento adulterado; não é o verdadeiro maná. T6 132 2 Na Palavra de Deus encontra-se inquestionável, inesgotável sabedoria -- sabedoria que se originou, não no finito, mas na mente infinita. Muito, porém, do que Deus revelou em Sua Palavra, é obscuro para os homens, porque as gemas da verdade acham-se enterradas sob o lixo da sabedoria e tradição humanas. Para muitos, os tesouros da Palavra permanecem escondidos porque não foram procurados com diligente perseverança, até que os áureos preceitos fossem compreendidos. A Palavra deve ser pesquisada a fim de purificar e preparar os que a recebem para se tornarem membros da família real, filhos do Rei celestial. T6 132 3 O estudo da Palavra de Deus deve tomar o lugar daqueles livros que têm induzido a mente ao misticismo, desviando-a da verdade. Seus princípios vivos, entretecidos em nossa existência, nos serão uma salvaguarda nas provas e tentações; sua divina instrução é o único caminho para o êxito. À medida que sobrevierem provas a toda alma, haverá apostasias. Alguns se revelarão traidores, obstinados, altivos e cheios de presunção, e se desviarão da verdade, naufragando na fé. Por quê? Porque não viveram "de toda a palavra que sai da boca de Deus". Eles não cavaram fundo, tornando firmes seus alicerces. Quando as palavras do Senhor por meio de Seus escolhidos mensageiros lhes são trazidas, murmuram achando que o caminho está sendo tornado demasiado estreito. No capítulo sexto de João, lemos acerca de alguns que se julgavam discípulos de Jesus mas que, ao ser-lhes apresentada a positiva verdade, ficaram desgostosos, e não andaram mais com Ele. Da mesma maneira esses discípulos superficiais também se desviarão de Cristo. T6 133 1 Todo aquele que se converteu a Deus é chamado a crescer em aptidão pelo exercício de seus talentos; toda vara da Videira viva que não cresce, é cortada e lançada fora como lixo. Qual, então, será o caráter da educação ministrada em nossas escolas? Será de acordo com a sabedoria deste mundo ou segundo aquela sabedoria que vem do alto? Não despertarão os professores para sua responsabilidade quanto a esse assunto, percebendo que a Palavra de Deus deve ter maior destaque na instrução dada em nossas escolas? O preparo de obreiros T6 133 2 Um dos grandes objetivos de nossas escolas é o preparo de jovens para se empenharem no serviço de nossas instituições, bem como nos vários ramos da obra do evangelho. O povo de toda parte precisa que a Bíblia seja aberta perante ele. Chegou o tempo, o importante tempo, em que o rolo do livro está sendo desdobrado diante do mundo pelos mensageiros de Deus. A verdade contida na primeira, segunda e terceira mensagens angélicas, deve ir a toda nação, e tribo, e língua e povo; ela deve iluminar as trevas de todo continente e estender-se às ilhas do mar. Coisa alguma de invenção humana deve ter licença de retardar esta obra. Para conseguir isso, necessitam-se talentos cultivados e consagrados; necessitam-se pessoas capazes de realizar obra excelente na mansidão de Cristo, porque o próprio eu nEle se acha escondido. Pessoas pouco preparadas não podem realizar aceitavelmente a obra de revelar os tesouros ocultos para enriquecer as almas com os bens espirituais. "Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo." "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade." 2 Timóteo 2:7, 15. Essa recomendação a Timóteo deve constituir uma força para toda família e escola, no que respeita à educação. T6 134 1 Requer-se diligente empenho por parte de todos quantos se acham ligados a nossas instituições, não somente nossas escolas, mas também sanatórios e casas publicadoras, a fim de habilitar homens, mulheres e jovens para se tornarem colaboradores de Deus. Os alunos devem ser ensinados a trabalhar inteligentemente nos ramos de atividade cristã, a apresentar caráter cristão nobre e elevado àqueles com quem estiverem em contato. As pessoas a cujo cargo se acha o preparo dos jovens em qualquer ramo de nossa obra, devem ser possuidoras de profundo senso do valor das almas. A menos que se abeberem largamente do Espírito Santo, o mau vigia suscitará circunstâncias desagradáveis. O educador deve ser sábio para discernir que não será com aspereza que as almas serão ganhas, mas com fidelidade e bondade. Palavras e atos arbitrários suscitam as piores paixões do coração humano. Se homens e mulheres que professam ser cristãos não aprenderem a vencer o próprio temperamento mau e imaturo, como poderão esperar merecer respeito e honra? T6 134 2 Então muito cuidado deveria ser exercido na escolha de pessoas apropriadas para serem instrutoras, de modo que não somente sejam fiéis no trabalho, mas manifestem o devido temperamento! Caso não sejam dignas de confiança, é preciso dispensá-las. Deus considera toda instituição responsável por qualquer negligência no estimular a bondade e o amor. Jamais se deve esquecer que o próprio Cristo Se acha à testa de nossas instituições. T6 134 3 O que houver de melhor no talento ministerial deve ser usado no ensino de Bíblia em nossas escolas. Os que são escolhidos para essa obra, precisam ser cuidadosos estudantes da Bíblia, e possuidores de profunda experiência cristã, sendo seu salário pago através dos dízimos. É desígnio de Deus que todas as nossas instituições sejam instrumentos para preparar e desenvolver obreiros de quem Ele não Se envergonhe, obreiros que possam ser enviados para outros lugares e qualificados missionários a fim de realizar serviço para o Mestre; esse objetivo, entretanto, não tem sido conservado em vista. Estamos, de modo geral, muito atrasados nessa obra, e o Senhor requer que manifestemos um zelo infinitamente maior do que temos mostrado até aqui. Ele nos chamou do mundo, para que sejamos testemunhas de Sua verdade e, em todas as nossas fileiras, jovens de ambos os sexos devem ser preparados para funções de utilidade e influência. T6 135 1 Há urgente demanda de obreiros na linha pastoral. Necessitam-se rapazes para essa obra; Deus os chama. Sua educação é de primeira importância em nossos colégios, e em nenhum caso deve ser passada por alto ou considerada como coisa secundária. É completamente errado que os professores, por meio de sugestões quanto a outras carreiras, desanimem jovens que são aptos para uma boa obra no ministério. Os que apresentam obstáculos para dificultar rapazes de se habilitarem para esse serviço, estão contrariando os planos de Deus e terão de dar contas de sua atitude. Temos entre nós uma grande quantidade de homens capazes. Se suas aptidões fossem exercitadas, teríamos vinte pastores onde agora possuímos um. T6 135 2 Moços que têm o objetivo de entrar para o ministério não devem gastar uma porção de anos apenas em se preparar. Os professores precisam compreender a situação, e adaptar o ensino às necessidades dessa classe, dando-lhes vantagens especiais para um rápido, se bem que amplo estudo das áreas mais necessárias para sua obra. No entanto, esse plano não tem sido seguido. Bem pouca atenção se tem dispensado ao preparo de rapazes destinados ao ministério. Não temos muitos anos para trabalhar, e os professores devem ser imbuídos do Espírito de Deus e operar em harmonia com Sua vontade revelada, em vez de executar os próprios planos. Perdemos muito, cada ano, porque não damos ouvidos aos conselhos do Senhor sobre esses pontos. T6 136 1 Enfermeiras missionárias devem receber em nossas escolas lições de médicos competentes, aprendendo, como parte de seu preparo, a maneira de combater as doenças e mostrar o valor dos remédios naturais. Essa obra é grandemente necessária. Cidades e vilas se acham mergulhadas no pecado e na corrupção moral; todavia existem Lós em toda Sodoma. O veneno do pecado está em operação no âmago da sociedade, e Deus pede reformadores que fiquem em defesa da lei estabelecida por Ele para reger o organismo físico. Ao mesmo tempo, eles devem manter elevada norma no preparo da mente e na cultura do coração a fim de que o Grande Médico possa cooperar com a mão ajudadora do homem para realizar uma obra de misericórdia e necessidade no alívio aos sofredores. T6 136 2 Também é desígnio do Senhor que nossas escolas ministrem aos jovens um preparo que os habilite a ensinar em qualquer departamento da Escola Sabatina, ou a se desempenharem de responsabilidades em qualquer de suas atividades. Veríamos uma situação bem diferente se uma quantidade de jovens consagrados se dedicasse ao trabalho da Escola Sabatina, esforçando-se por se habilitarem e depois instruírem outros quanto aos melhores métodos a serem empregados no levar almas a Cristo. Eis um ramo de trabalho que produz resultados. Professores missionários T6 136 3 Os professores devem ser educados para a obra missionária. Há em toda parte portas abertas ao missionário, e não será possível fornecer obreiros de apenas dois ou três países para atender a todos os apelos. Além da educação dos que serão enviados de nossas associações mais antigas, como missionários, devem ser preparadas pessoas em todas as partes do mundo para trabalharem por seus próprios patrícios e vizinhos; e é melhor e mais seguro para essas pessoas, o quanto possível, receberem o seu preparo no próprio campo em que estão trabalhando. Raramente é preferível, tanto para o obreiro como para o avanço da causa, que ele vá para terras distantes em busca de preparo. O Senhor quer que se tomem todas as providências possíveis para satisfazer essas necessidades; e, se as igrejas estiverem alertadas sobre suas responsabilidades, saberão como convém agir em qualquer emergência. T6 137 1 Para suprir a necessidade de obreiros, Deus deseja que sejam estabelecidos centros educativos em diferentes países, onde estudantes promissores possam ser educados nos ramos práticos do conhecimento e na verdade bíblica. Ao se empenharem essas pessoas no serviço, recomendarão a obra da verdade presente nos novos campos. Despertarão interesse entre os incrédulos, e ajudarão a salvar pessoas da servidão do pecado. Devem ser enviados os melhores professores aos vários países onde serão estabelecidas escolas para promover a obra educativa. T6 137 2 É possível ter demasiados recursos educacionais centralizados num só lugar. Escolas menores, dirigidas segundo o plano das escolas dos profetas, seriam uma bênção muito maior. O dinheiro que foi investido na ampliação do Colégio de Battle Creek para acomodar a escola de obreiros teria melhor aplicação no estabelecimento de escolas em distritos rurais nos Estados Unidos e nas regiões distantes. Não eram necessários mais edifícios em Battle Creek; havia já amplas acomodações para a educação de tantos estudantes quantos devêssemos congregar num só lugar. Não era o melhor que tantos estudantes freqüentassem essa escola, pois havia talento e sabedoria para cuidar de somente determinado número. Os cursos ministeriais poderiam ter sido mantidos nos edifícios já construídos, e o dinheiro usado para ampliar o colégio poderia ter sido investido com mais proveito na construção de escolas em outras localidades. T6 138 1 Novos edifícios em Battle Creek significam encorajamento às famílias para que se mudem para lá a fim de educarem os filhos no colégio. Entretanto, seria uma bênção muito maior para todos se os estudantes fossem educados em alguma outra localidade e em número muito menor. A vinda de pessoas para Battle Creek é um erro tanto dos que estão em funções de liderança como dos que se têm mudado para esse lugar. Há melhores campos do que Battle Creek para empreendimentos missionários, e no entanto os que estão em posições de responsabilidade ainda estão planejando ter tudo ali da mais conveniente qualidade; e as grandes instalações estão dizendo ao povo: "Venham para Battle Creek; mudem-se para cá com suas famílias, e eduquem aqui os filhos." T6 138 2 Se algumas de nossas grandes instituições educacionais fossem desdobradas em instituições menores, e escolas fossem estabelecidas em diferentes lugares, maior progresso poderia ser alcançado em cultura física, mental e moral. O Senhor não disse que deveria haver poucos edifícios, mas sim que esses edifícios não deveriam ser centralizados num só lugar. Os grandes recursos investidos em poucas localidades devem ser usados em prover acomodações para um campo mais vasto, de modo que muito mais estudantes possam ser recebidos. T6 138 3 É chegado o tempo de exaltar a norma da verdade em muitos lugares, para o despertamento de interesse e a extensão do campo missionário até que envolva o mundo todo. É chegado o tempo em que muitos mais devem ter sua atenção despertada para a mensagem da verdade. Muito pode ser feito nesse sentido, e isso não está sendo realizado. Ao passo que as igrejas são responsáveis por conservar suas próprias lâmpadas arejadas e acesas, jovens consagrados devem ser educados em seus próprios países para levar avante esta obra. Devem ser estabelecidas escolas, não tão elaboradas como as de Battle Creek e College View, porém mais simples, com prédios mais humildes, e com professores que adotem os mesmos planos que eram seguidos nas escolas dos profetas. Em vez de concentrar a luz num só lugar, onde muitos não apreciam ou não aproveitam o que está sendo oferecido, deve a luz ser levada a muitos lugares da Terra. Se professores consagrados, tementes a Deus, de mente equilibrada e idéias práticas, fossem para os campos missionários e trabalhassem de modo humilde, repartindo o que receberam, Deus concederia o Seu Santo Espírito a muitos que estão destituídos de Sua graça. Elementos de sucesso T6 139 1 Professores e estudantes devem cooperar na obra de reforma, cada um agindo no sentido do melhor interesse para que nossas escolas sejam o que Deus possa aprovar. Para o sucesso é necessário haver unidade de ação. Um exército em batalha ficaria confuso e seria derrotado se cada soldado agisse individualmente segundo os seus próprios impulsos, em vez de agirem todos harmoniosamente sob a orientação de um competente general. Os soldados de Cristo devem agir harmoniosamente. Poucos conversos, unindo-se para um grande propósito sob uma só cabeça, obterão vitórias diante de cada obstáculo. T6 139 2 Se há desunião entre os que dizem crer na verdade, o mundo concluirá que esse povo não pode ser de Deus, porque estão trabalhando uns contra os outros. Quando somos um com Cristo, estaremos unidos entre nós mesmos. Os que não estão ligados a Cristo sempre puxam para o lado errado. Possuem temperamento pertencente à natureza carnal do homem, e diante do menor pretexto sua paixão se desperta para se opor à paixão de outros. Isso provoca conflito, e nas reuniões de comissão, de mesas, nas assembléias públicas, ouvem-se vozes ruidosas opondo-se a métodos de reforma. T6 140 1 Obediência a toda palavra de Deus é outra condição de sucesso. As vitórias não são alcançadas por meio de cerimônias ou ostentação, mas mediante a simples obediência ao mais exaltado General, o Senhor Deus do Céu. Aquele que confia nesse Líder jamais conhecerá a derrota. Esta vem em conseqüência da confiança em métodos e planos do homem, deixando o divino em segundo lugar. Obediência era a lição que o Capitão dos exércitos do Senhor procurou ensinar ao extenso exército de Israel -- obediência mesmo naquilo em que não podiam ver nenhum sucesso. Quando houver obediência à voz de nosso Líder, Cristo conduzirá Suas batalhas de tal modo que surpreenderá os maiores poderes da Terra. T6 140 2 Somos soldados de Cristo; e dos que se alistam em Seu exército espera-se que executem os trabalhos mais difíceis, trabalhos esses que lhes sugarão as energias ao máximo. Temos de entender que a vida de um soldado é uma vida de constante esforço, de firmeza e perseverança. Por amor de Cristo precisamos suportar provas. Não estamos empenhados em batalhas virtuais. Temos de enfrentar os mais terríveis adversários, pois "não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais". Efésios 6:12. Devemos encontrar nossa força justamente onde os primeiros discípulos encontraram a sua: "Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas." Atos dos Apóstolos 1:14. "Todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus. E era um o coração e a alma da multidão dos que criam." Atos dos Apóstolos 4:31, 32. ------------------------Capítulo 18 -- Obstáculos à reforma T6 141 1 Até certo ponto, a Bíblia tem sido introduzida em nossas escolas, e alguns esforços têm sido feitos no sentido da reforma; é, porém, mais difícil adotar os princípios corretos, depois de estar por tanto tempo habituado aos métodos populares. As primeiras tentativas para mudar os velhos costumes, trouxeram duras provas aos que queriam trilhar o caminho indicado por Deus. Foram cometidos erros e houve grande prejuízo. Tem havido obstáculos cuja tendência é conservar-nos numa orientação comum, mundana, e impedir-nos de assimilar os verdadeiros princípios educacionais. Para o não convertido, que vê as coisas do ponto de vista do egoísmo humano, da incredulidade e indiferença, os retos princípios e métodos têm parecido errôneos. T6 141 2 Alguns professores e administradores apenas meio-convertidos são pedras de tropeço para os outros. Aceitam alguns pontos e fazem reformas pela metade; mas, ao vir maior conhecimento, recusam-se a avançar, preferindo trabalhar segundo as próprias idéias. Assim fazendo, colhem e comem daquela árvore de conhecimentos que coloca o humano acima do divino. "Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-O com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais." Josué 24:14, 15. "Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. Estaríamos muito adiante da condição espiritual em que nos achamos, caso avançássemos segundo a luz que nos foi enviada. T6 141 3 Ao serem defendidos novos métodos, tantas indagações duvidosas têm sido apresentadas, tantos concílios reunidos para tentar discernir todas as dificuldades, que os reformadores têm sido entravados e alguns deixaram de insistir em reformas. Parecem impotentes para resistir à corrente de dúvidas e críticas. Foram relativamente poucos os que receberam o evangelho em Atenas, porque o povo nutria orgulho de sabedoria intelectual e mundana, e consideravam loucura o evangelho de Cristo. Mas "a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens". Portanto "pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus". 1 Coríntios 1:25, 23, 24. T6 142 1 Precisamos agora recomeçar novamente. Cumpre entrar nas reformas com alma, coração e vontade. Os erros podem estar encanecidos pela idade; esta, porém, não torna o erro verdade, nem a verdade erro. Faz muito tempo que os velhos costumes e hábitos são seguidos. O Senhor quer que toda idéia falsa seja afastada de professores e alunos. Não temos liberdade para ensinar o que se harmoniza com as normas do mundo ou da igreja, simplesmente por ser costume assim fazer. As lições ensinadas por Cristo devem servir de norma. O que o Senhor ensinou relativamente à instrução a ser ministrada nas nossas escolas deve ser rigorosamente observado; e, caso não se vá na direção de uma espécie de educação inteiramente diversa da que tem sido seguida em algumas de nossas escolas, não valeria a pena termos incorrido no ônus de compra de terras e construção de edifícios escolares. T6 142 2 Insistem alguns em que, se os ensinos religiosos forem tornados preeminentes em nossas escolas, estas se tornarão impopulares; que os que não pertencem à nossa fé não as apoiarão. Muito bem; vão eles então a outras escolas, onde encontrarão um sistema educativo segundo o seu gosto. Com essas considerações, é desígnio de Satanás impedir a realização do objetivo pelo qual nossas escolas foram estabelecidas. Entravadas por seus ardis, os diretores raciocinam segundo a maneira do mundo, copiam-lhe os planos e imitam-lhe os costumes. Muitos têm manifestado tanta falta de sabedoria do alto, que se unem com os inimigos de Deus e da verdade em prover entretenimentos mundanos para os alunos. Assim fazendo, trazem sobre si mesmos o desagrado de Deus, pois desencaminham a juventude e fazem obra para Satanás. Essa obra, com todos os seus resultados, eles terão de encontrar perante o tribunal de Deus. T6 143 1 Os que seguem tal orientação, mostram que não podem merecer confiança. Uma vez o mal praticado, podem confessar seu erro; poderão, todavia, anular a influência que exerceram? Há de o "bem está" ser pronunciado sobre os que foram infiéis a seu legado? Esses obreiros infiéis não construíram sobre a Rocha eterna, e seu fundamento se demonstrará areia movediça. Quando o Senhor exige de nós que sejamos distintos e diferentes, como podemos cobiçar popularidade ou imitar os costumes e práticas do mundo? "Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tiago 4:4. T6 143 2 Abaixar as normas a fim de conseguir popularidade e aumento de números e fazer depois desse acréscimo motivo de regozijo, mostra grande cegueira. Fossem algarismos prova de êxito, e Satanás poderia reclamar a preeminência; pois neste mundo seus seguidores são claramente mais numerosos. É o grau de poder moral que permeia a escola, o que lhe demonstra a prosperidade. É a virtude, a inteligência e a piedade dos que compõem nossas escolas, não seu número, que deve ser fonte de alegria e reconhecimento. Devem então nossas escolas se converter ao mundo e seguir-lhe os costumes e modas? "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que ... não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. T6 144 1 Os homens empregarão todos os meios para tornarem menos destacada a diferença entre os adventistas do sétimo dia e os observadores do primeiro dia da semana. Foi-me apresentado um grupo com o nome de adventistas do sétimo dia, o qual estava aconselhando que a bandeira ou sinal que nos torna um povo distinto, não deveria ser salientada de maneira tão chocante; pois pretendiam que esse não seria o melhor método para assegurar êxito a nossas instituições. Não estamos, porém, em tempo de arriar nossa bandeira, de nos envergonharmos de nossa fé. Esta distintiva bandeira, descrita nas palavras: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apocalipse 14:12), deve ser levada através do mundo até ao fim do tempo de graça. Ao passo que devem ser aumentados os esforços para avançarmos nos diferentes lugares, não devemos esconder nossa fé para assegurar mais apoio. A verdade deve alcançar as almas prestes a perecer; e caso ela seja de algum modo oculta, Deus é desonrado, e sobre nossas vestes se encontrará o sangue dos perdidos. T6 144 2 Enquanto os que se acham ligados a nossas instituições andarem humildemente diante de Deus, os seres celestiais hão de cooperar com eles; conservem, porém, todos em mente o que Deus disse: "Aos que Me honram honrarei." 1 Samuel 2:30. Nunca, ainda que seja por um momento, deve ser dada a alguém a impressão de que lhe seria proveitoso ocultar sua fé e doutrinas diante do povo incrédulo do mundo, temendo não ser tão altamente estimado se seus princípios forem conhecidos. Cristo exige de todos os Seus seguidores confissão aberta e corajosa de sua fé. Cada um deve ocupar sua posição e ser aquilo que Deus designa que ele seja, como espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. Todo o Universo olha com inexprimível interesse para ver a obra final do grande conflito entre Cristo e Satanás. Todo cristão deve ser uma luz, não escondida, ou debaixo da cama, mas posta numa posição bem alta, para que ilumine a todos quantos se acham na casa. Jamais, por covardia ou tática mundanas, deixemos que a verdade de Deus seja obscurecida. T6 145 1 Embora em muitos sentidos nossas instituições de ensino tenham adotado o conformismo com o mundo; embora tenham em direção a ele avançado passo a passo, são ainda "prisioneiros de esperança". Zacarias 9:12. A fatalidade não teceu suas malhas em torno de suas atividades a tal ponto que tenham de permanecer impotentes e na incerteza. Se derem ouvidos a Sua voz, e seguirem em Seus caminhos, Deus os corrigirá e ensinará, e os trará de volta a sua exata posição de distinção do mundo. Quando se discernir a vantagem de trabalhar fundamentado nos princípios cristãos, quando o eu estiver escondido em Cristo, se fará progresso muito maior, pois cada obreiro sentirá sua própria fraqueza humana; ele suplicará de Deus sabedoria e graça, e receberá o divino auxílio prometido para cada emergência. T6 145 2 As circunstâncias adversas deveriam criar o firme propósito de vencê-las. Uma barreira vencida dará maior coragem e condições para ir avante. Basta marchar na direção certa, e iniciar uma mudança, sólida, inteligentemente. Então as circunstâncias se demonstrarão uma ajuda e não um embaraço. É preciso começar. O carvalho começa na semente. Aos professores e administradores T6 145 3 Apelo a nossas escolas de ensino superior a que apliquem um saudável discernimento e trabalhem num plano mais elevado. Nossas instalações educacionais devem ser purificadas de toda impureza. Nossas instituições têm de ser dirigidas com base em princípios cristãos, caso queiram vencer todo empecilho. Se forem dirigidas segundo a sistemática do mundo, haverá falta de solidez na obra, uma falta de perspicaz discernimento espiritual. A condição do mundo antes do primeiro aparecimento de Cristo é um quadro da condição do mundo exatamente antes do segundo advento. O povo judeu foi destruído porque rejeitou a mensagem de salvação enviada pelo Céu. Será que aqueles que vivem nesta geração, a quem Deus tem enviado grande luz e maravilhosas oportunidades, vão seguir o exemplo dos que rejeitaram a luz para sua própria ruína? T6 146 1 Muitos hoje vivem como se estivessem usando um véu sobre o rosto. Esse véu é a simpatia com práticas e costumes do mundo, que oculta nessas pessoas a glória de Deus. O Senhor deseja que conservemos os nossos olhos fixos nEle, para deixarmos de olhar para as coisas deste mundo. T6 146 2 À medida que a verdade é introduzida na vida prática, a norma deve ser cada vez mais elevada, até estar à altura das exigências da Bíblia. Isso exigirá oposição às modas, costumes, práticas e filosofias do mundo. Influências mundanas, como as ondas do mar, arremessam-se contra os seguidores de Cristo para afastá-los dos verdadeiros princípios de Sua mansidão e graça; mas devemos estar firmes nos princípios como uma rocha. Fazer isso requererá coragem moral, e aqueles cuja vontade não está fixada à Rocha eterna serão varridos pela correnteza do mundo. Só poderemos permanecer firmes se nossa vida estiver escondida com Cristo em Deus. A independência moral é absolutamente legítima quando em oposição ao mundo. Ao nos conformarmos inteiramente com a vontade de Deus, somos firmados em terreno vantajoso, e veremos a necessidade de decidida separação dos costumes e práticas do mundo. T6 146 3 Não devemos elevar nossa norma apenas um pouco acima das normas do mundo, mas devemos fazer com que a distinção seja decididamente notória. A razão de exercermos tão pouca influência sobre parentes e amigos incrédulos é que tem havido pouquíssima decidida diferença entre nossas práticas e as do mundo. T6 147 1 Muitos professores permitem que sua mente desça a um nível demasiado estreito e baixo. Não conservam sempre em vista o plano divino, mas estão fixando os olhos em modelos seculares. É preciso olhar para cima, "onde o Filho do homem... está em pé à mão direita de Deus" (Atos dos Apóstolos 7:56), e lutar então para que seus alunos sejam colocados em conformidade com o Seu caráter perfeito. Vale indicar aos jovens a escada de oito degraus de Pedro, e colocar os seus pés, não no último degrau, mas no primeiro, e com fervor pedi-lhes que subam até o último. T6 147 2 Cristo, que une a Terra ao Céu, é a escada. A base está plantada firmemente na Terra, através de Sua humanidade; o topo alcança o trono de Deus, através de Sua divindade. A humanidade de Cristo envolve a caída família humana, enquanto a Sua divindade Se firma no trono de Deus. Somos salvos pelo subir a escada, degrau a degrau, olhando para Cristo, apegando-nos a Cristo, elevando-nos passo a passo até a estatura de Cristo, de modo que Ele Se torne para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção. A fé, a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor são degraus dessa escada. Todas essas graças devem ser vistas no caráter cristão; e "fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". 2 Pedro 1:10, 11. T6 147 3 Não é coisa fácil obter o incalculável tesouro da vida eterna. Ninguém pode fazer isso e deixar-se levar pela a corrente do mundo. Terá que sair do mundo, separar-se, e não tocar coisa imunda. Ninguém pode agir como mundano sem ser levado pela corrente do mundo. Ninguém fará qualquer progresso para o alto sem perseverante esforço. Aquele que quiser vencer tem de apegar-se a Cristo. Não deve olhar para trás, mas manter os olhos no alto, indo de graça em graça. Vigilância individual é o preço da segurança. Satanás está disputando nossa salvação no jogo da vida. Não nos inclinemos para o seu lado nem um só passo, para que ele não venha a obter vantagem sobre nós. T6 148 1 Se alcançarmos o Céu, será por havermos ligado nossa vida a Cristo, apoiando-nos nEle e libertando-nos do mundo, de suas atrações e encantamento. Deve haver de nossa parte cooperação espiritual com as inteligências celestiais. Precisamos crer, trabalhar, orar, vigiar e esperar. Como aquisição do Filho de Deus, somos propriedade Sua, e cada um deve ser educado na escola de Cristo. Tanto os professores como os alunos devem fazer diligente trabalho para a eternidade. O fim de todas as coisas está próximo. Há necessidade agora de homens armados e equipados para batalhar por Deus. T6 148 2 Não devemos exaltar os homens, mas Deus, o único Deus vivo e verdadeiro. A vida altruísta, o espírito generoso, capaz de sacrificar-se, a simpatia e o amor daqueles que detêm posições de confiança em nossas instituições devem ter uma influência purificadora, enobrecedora, que fale com eloqüência em favor do bem. As palavras de conselho não estarão vindo então de um espírito auto-suficiente, de si mesmo exaltado, mas suas virtudes seriam mais valiosas que o ouro. Se os homens lançarem mão da natureza divina, trabalhando num plano de adição, acrescentando graça a graça no aperfeiçoamento do caráter cristão, Deus agirá num plano de multiplicação. Ele diz em Sua Palavra: "Graça e paz vos sejam multiplicadas, pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor." 2 Pedro 1:2. T6 148 3 "Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23, 24. "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:8. "Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniqüidade e que Te esqueces da rebelião do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade." Miquéias 7:18. "Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos e cessai de fazer mal. Aprendei a fazer o bem." Isaías 1:16, 17. T6 149 1 Essas são as palavras de Deus a nós. O passado está contido no livro onde todas as coisas estão escritas; não podemos apagar o seu registro; mas se escolhermos aprender delas, o passado nos ensinará suas lições. Ao fazê-lo nosso instrutor, podemos torná-lo também nosso amigo. Ao recordar do passado aquilo que é desagradável, aprendamos a não repetir o mesmo erro. Que coisa alguma no futuro seja registrado que nos cause pesar mais tarde. T6 149 2 Podemos evitar agora uma semeadura deplorável. Cada dia estamos fazendo nossa história. O ontem está além de nosso poder corrigir ou controlar; o hoje nos pertence. Não entristeçamos, pois, o Espírito de Deus hoje, porque amanhã não seremos capazes de trazer de volta o que tivermos feito. Hoje será então ontem. T6 149 3 Procuremos seguir o conselho de Deus em todas as coisas, pois Ele é infinito em sabedoria. Embora no passado tenhamos deixado de fazer por nossas crianças e jovens o que podíamos ter feito, arrependamo-nos agora e redimamos o tempo. O Senhor diz: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada." Isaías 1:18-20. A mensagem: "Avante", deve ainda ser ouvida e repetida. As diferentes situações que ocorrem em nosso mundo exigem um trabalho que faça frente a esses peculiares desenvolvimentos. O Senhor tem necessidade de homens que sejam espiritualmente corretos e talentosos, homens que estejam sem dúvida recebendo o renovado maná celestial. O Espírito opera no coração desses homens, e a Palavra de Deus lança luz na mente, revelando-lhes, mais do que nunca antes, a verdadeira sabedoria. T6 150 1 A educação dada aos jovens molda toda a estrutura social. Por todo o mundo se acha em desordem a sociedade, tornando-se necessária uma transformação completa. Muitos julgam que as melhores condições para educação, maior capacidade e métodos mais modernos, operarão o milagre da mudança. Professam crer e aceitar a Palavra de Deus, e todavia lhe dão lugar inferior na grande estrutura da educação. Aquilo que deveria estar em primeiro lugar é subordinado às invenções humanas. T6 150 2 É tão fácil deixar-se levar pelos planos, métodos e costumes à maneira do mundo, sem dar mais atenção ao tempo em que vivemos, ou à grande obra a ser realizada, do que o fez o povo do tempo de Noé! Há constante perigo de que nossos educadores sigam os passos dos judeus, conformando-se com os costumes, as práticas e tradições não provindas de Deus. Com tenacidade e firmeza se apegam alguns aos velhos hábitos e ao amor por vários estudos não essenciais, como se sua salvação dependesse dessas coisas. Assim procedendo, desviam-se da obra especial de Deus, e dão aos alunos uma instrução deficiente e errada. As mentes são desviadas de um positivo "Assim diz o Senhor", que envolve interesses eternos, para teorias e ensinos humanos. A verdade infinita e eterna, a revelação de Deus, é explicada em face de interpretações humanas, quando unicamente o poder do Espírito Santo pode revelar as coisas espirituais. A sabedoria humana é loucura; pois lhe falta o todo das providências de Deus, que têm como objetivo a vida eterna. T6 151 1 Os reformadores não são demolidores. Jamais procurarão arruinar os que se não conformam com seus planos e não se lhes assemelham. Os reformadores precisam avançar, não recuar. Cumpre-lhes ser decididos, firmes, resolutos, inflexíveis; mas a firmeza não deve degenerar em espírito dominador. É desejo de Deus que todos quantos O servem sejam firmes como a rocha no que diz respeito a princípios, mas mansos e humildes de coração, como era Cristo. Então, permanecendo em Cristo, poderão realizar a obra que Ele faria se estivesse em seu lugar. Um espírito rude e condenador não é essencial ao heroísmo nas reformas para este tempo. Todos os métodos egoístas no serviço de Deus, são uma abominação aos Seus olhos. T6 151 2 Satanás age para tornar de nenhum efeito a oração de Cristo. Ele faz contínuos esforços para criar amargura e discórdia, pois onde há união há força, há uma unanimidade que nem todos os poderes do inferno conseguem quebrar. Todos os que ajudam os inimigos de Deus ao promoverem fraqueza, tristeza e desânimo em relação a qualquer pessoa dentre o povo de Deus, mediante seus próprios métodos e temperamentos perversos, estão trabalhando diretamente contra a oração de Cristo. ------------------------Capítulo 19 -- O caráter e a obra do professor T6 152 1 A obra feita em nossas escolas não deve ser como a que se faz nos colégios e seminários do mundo. Na grande obra da educação, a instrução nas ciências não deve ser de caráter inferior, mas deve ser considerado de primeira importância o conhecimento que habilitará um povo a subsistir no grande dia da preparação de Deus. Nossas escolas têm de assemelhar-se mais às escolas dos profetas. Devem ser escolas de preparo missionário, onde os alunos sejam confrontados com a disciplina de Cristo e aprendam do Grande Mestre. Escolas familiares, em que cada aluno seja objeto de especial auxílio de seus professores, como os membros da família devem receber no próprio lar. Brandura, simpatia, união e amor devem ser nutridos aí. Importa haver professores abnegados, cheios de dedicação, fiéis; professores que sejam constrangidos pelo amor de Deus e que, coração possuído de ternura, tenham cuidado da saúde e do bem-estar dos alunos. Cumpre-lhes ter como objetivo o progresso dos estudantes em todo ramo essencial de conhecimento. T6 152 2 Professores sábios devem ser escolhidos para nossas escolas, daqueles capazes de sentir diante de Deus a responsabilidade de impressionar a mente com a necessidade de conhecer a Cristo como um Salvador pessoal. Desde o mais alto ao mais baixo grau, devem manifestar cuidado especial pela salvação dos alunos e, mediante esforço pessoal, dirigir-lhes os pés no caminho reto. Olhem eles compassivamente os que foram mal educados na infância, e busquem remediar defeitos, que, se conservados, hão de prejudicar grandemente o caráter. Ninguém pode realizar essa obra, a menos que primeiro haja aprendido na escola de Cristo o modo de ensinar. T6 153 1 Todos quantos ensinam em nossas escolas devem estar em íntima comunhão com Deus, e ter cabal conhecimento de Sua Palavra, a fim de porem sabedoria e conhecimentos divinos na obra de educar a juventude para utilidade nesta vida e para a outra, futura e imortal. Precisam ser homens e mulheres que não somente possuem certo conhecimento da verdade, mas que são observadores da Palavra de Deus. "Está escrito", eis o que devem exprimir por palavras e obras. Por sua própria maneira de viver devem ensinar simplicidade e correção de hábitos em tudo. Nenhum homem ou mulher deve estar ligado a nossas escolas como educador, a não ser que tenha demonstrado obediência ao preceito do Senhor. T6 153 2 O diretor e os professores necessitam ser batizados com o Espírito Santo. A fervorosa oração de almas contritas será acolhida pelo trono, e Deus atenderá a essas súplicas no tempo por Ele designado, uma vez que nos apeguemos a Seu braço pela fé. Que o próprio eu seja imerso em Cristo, e Cristo em Deus, e haverá tal manifestação de Seu poder, que abrandará e empolgará os corações. Cristo ensinava de maneira inteiramente diversa dos métodos comuns, e cumpre-nos ser colaboradores Seus. T6 153 3 Ensinar quer dizer muito mais do que muitos supõem. Requer grande habilidade fazer a verdade ser compreendida. Por isso todo professor se deve esforçar para possuir crescente conhecimento da verdade espiritual, mas não o pode obter enquanto se mantém divorciado da Palavra de Deus. Caso ele queira ter suas faculdades e aptidões em diário progresso, precisa estudar; cumpre-lhe comer e digerir a Palavra, e trabalhar à maneira de Cristo. A alma nutrida pelo pão da vida, terá toda faculdade revigorada pelo Espírito de Deus. Esta é a nutrição que vale para a vida eterna. T6 153 4 Os professores que aprenderem do Grande Mestre, experimentarão o auxílio de Deus, como aconteceu com Daniel e seus companheiros. Eles precisam ascender em direção ao Céu, em vez de permanecerem na planície. A experiência cristã deve estar aliada a toda verdadeira educação. "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo." 1 Pedro 2:5. Professores e alunos devem ponderar essa descrição e ver se pertencem à classe dos que, mediante a abundante graça concedida, estão obtendo a experiência que todo filho de Deus precisa alcançar antes de poder entrar em uma classe superior. Em todo ensino que comunicam, os professores devem transmitir luz do trono de Deus; pois a educação é uma obra cujo efeito se manifestará pelos incessantes séculos da eternidade. T6 154 1 Os professores devem induzir os alunos a pensar, e a entender claramente a verdade por si mesmos. Não basta ao mestre explicar, ou ao aluno crer; cumpre suscitar o espírito de pesquisa, e o aluno ser atraído a enunciar a verdade em sua própria linguagem, tornando assim evidente que lhe vê a força e faz a aplicação. Por trabalhosos esforços, as verdades vitais devem assim ser gravadas no espírito. Talvez esse seja um processo lento; é, porém, mais valioso do que passar correndo sobre assuntos importantes, sem a devida consideração. Deus espera que Suas instituições ultrapassem as do mundo; pois são representantes Suas. Os homens, verdadeiramente ligados a Deus, revelarão ao mundo que se acha ao leme um agente mais que humano. T6 154 2 Nossos professores precisam aprender constantemente. Os reformadores também necessitam ser reformados, não somente em seus métodos de trabalho, mas no próprio coração. Devem ser transformados pela graça de Deus. Quando Nicodemos, importante mestre em Israel, foi falar com Jesus, o Mestre lhe expôs as condições de vida divina, ensinando-lhe o próprio alfabeto da conversão. Nicodemos perguntou: "Como pode ser isso?" "Tu és mestre em Israel, e não sabes isso?" respondeu-lhe Cristo. Essa pergunta poderia ser feita a muitos que ocupam agora posição de mestres, mas que negligenciaram o preparo essencial que os habilitaria para essa obra. Se as palavras de Cristo fossem recebidas no coração, então haveria muito maior inteligência e muito mais profundo conhecimento espiritual do que constitui um discípulo, um sincero seguidor de Cristo e um educador a quem Ele pode aprovar. Deficiências dos professores T6 155 1 Muitos de nossos professores têm bastante a desaprender e outro tanto a aprender. A menos que tenham vontade de fazer isso -- a menos que se tornem inteiramente familiarizados com a Palavra de Deus e sua mente mergulhe no estudo das gloriosas verdades concernentes à vida do Grande Mestre -- estimularão os próprios erros que o Senhor está tentando corrigir. Planos e opiniões que não devem ser nutridos, serão gravados na mente e, com toda a sinceridade, chegarão a conclusões errôneas e perigosas. Assim serão semeadas sementes não genuínas. Muitos costumes e práticas comuns na atividade escolar, e que podem ser considerados como coisas sem importância, não podem ser agora introduzidos em nossas escolas. Talvez seja difícil aos professores abandonarem idéias e métodos longamente cultivados; mas se eles indagarem, sincera e humildemente, a cada passo: "É este o caminho do Senhor?" e se submeterem a Sua direção, Ele os conduzirá por caminhos seguros, e suas idéias se mudarão pela experiência. T6 155 2 Os professores em nossas escolas precisam pesquisar as Escrituras, até compreendê-las por si mesmos, abrindo o coração e andando de acordo com os preciosos raios de luz que Deus concedeu. Serão então ensinados por Deus, e trabalharão em sentido inteiramente diverso, introduzindo na instrução que ministram menos das teorias e sentimentos dos homens que nunca tiveram ligação com Deus. Honrarão incomparavelmente menos a sabedoria finita, e sentirão profunda fome de alma pela sabedoria que provém de Deus. T6 156 1 À pergunta dirigida por Cristo aos doze: "Quereis vós também retirar-vos?" Pedro respondeu: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que Tu és o Cristo, o Filho de Deus." João 6:67-69. Quando os professores levarem essas palavras para o trabalho em suas salas de aula, o Espírito Santo estará presente para fazer com que elas operem em mentes e corações. O trabalho do professor T6 156 2 Os professores devem ser colaboradores de Deus na promoção e condução da obra que Cristo, por Seu exemplo, os ensinou a realizar. Devem ser sem nenhuma dúvida a luz do mundo, porque manifestam aqueles graciosos atributos revelados no caráter e obra de Cristo, atributos que enriquecerão e embelezarão sua própria vida como discípulos de Cristo. T6 156 3 Que solene, sagrada, importante obra é o esforço de representar o caráter de Cristo e Seu Espírito diante de nosso mundo! Esse é o privilégio de cada responsável e de cada professor com ele relacionado na obra de educar, instruir e disciplinar a mente dos jovens. Todos precisam estar sob a inspiradora e confortante convicção de que estão sem qualquer dúvida tomando o jugo de Cristo e levando o Seu fardo. T6 156 4 Haverá dificuldades nesse trabalho; o desânimo oprimirá a alma ao verem os professores que seus esforços nem sempre são apreciados. Satanás exercerá sobre eles o seu poder através de tentações, desânimo, aflições por enfermidades físicas, tentando levá-los a murmurar contra Deus e fechar-lhes o entendimento para Sua bondade, misericórdia e amor, e o excessivo peso de glória que deve ser a recompensa do vencedor. Mas Deus está levando essas almas à mais perfeita confiança em seu Pai celestial. Seus olhos estão sobre eles a cada momento; e se erguerem o seu clamor a Ele em fé, se em sua perplexidade levarem o espírito a Ele, o Senhor os trará como ouro purificado. O Senhor Jesus disse: "Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13:5. Deus pode permitir o surgimento de uma cadeia de circunstâncias que os levem a correr para a Fortaleza, pela fé insistindo junto ao trono de Deus em meio a espessas nuvens de trevas, pois mesmo aqui Sua presença está oculta. Mas Ele está sempre pronto a livrar a todos que nEle confiam. Assim obtida, a vitória será mais completa, o triunfo mais seguro, porque o provado, pressionado e afligido, pode dizer: "Ainda que Ele me mate, nEle esperarei." Jó 13:15. "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação." Habacuque 3:17, 18. Um apelo pessoal T6 157 1 Apelo aos professores em nossas instituições educativas a que não deixem o fervor religioso e o zelo retrocederem. Não façam movimentos de recuo, mas seja seu objetivo: "Avante." Nossas escolas devem erguer-se para um plano de ação muito mais elevado; mais ampla visão deve ser alcançada; deve existir mais forte fé e mais profunda piedade; a Palavra de Deus deve tornar-se a raiz e os ramos de toda sabedoria e de toda conquista intelectual. Quando o convertedor poder de Deus tomar posse deles, verão que o conhecimento de Deus cobre um campo muito mais vasto do que os assim chamados "métodos avançados" da educação. Em toda instrução dada, devem lembrar-se das palavras de Cristo: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Não experimentarão assim embaraços tão grandes ao prepararem missionários que saiam e dêem a outros o seu conhecimento. T6 158 1 Temos toda dotação de capacidade, toda possibilidade provida para o desempenho de deveres que pesam sobre nós; e devemos ser gratos a Deus que por Sua misericórdia temos essas vantagens, e possuímos o conhecimento de Sua graça, da verdade e do dever presentes. Estão, vocês, como professores, procurando manter a falsa educação que receberam? Estão perdendo as preciosas oportunidades a vocês concedidas para se familiarizarem melhor com os planos e métodos de Deus? Crêem na Palavra de Deus? Estão se tornando cada dia melhor capacitados a compreender, a entregar-se ao Senhor, e a ser usados em Seu serviço? Estão realmente dispostos a fazer a vontade de Deus? Crêem na Bíblia e a obedecem? Crêem que estamos vivendo nos últimos dias da história da Terra? Seu coração ainda está sensível? Temos diante de nós uma grande obra; devemos ser portadores da santa luz da Palavra de Deus, a qual deve iluminar a todas as nações. Somos cristãos, e que estamos fazendo? T6 158 2 Os professores devem assumir sua posição, como educadores de fato e, mediante palavras e expressões de interesse, devem derramar no coração dos estudantes torrentes vivas do amor que redime. Que sejam eles aconselhados antes que sua mente esteja previamente ocupada com seus trabalhos escolares. Que sejam eles animados a buscar a Cristo e Sua justiça. Mostre-se a eles as mudanças que certamente ocorrerão se entregarem o coração a Cristo. A atenção deles em Cristo deve ser fortalecida; isso fechará a porta a tolas aspirações que naturalmente surgem, e lhes preparará a mente para a recepção da verdade divina. Os jovens devem aprender que o tempo é de ouro, que é perigoso pensar que podem semear loucuras e deixar de colher dores e ruína. Devem ser ensinados a ser sensatos e a admirar o que é bom no caráter de outros, a pôr a sua vontade ao lado da vontade de Deus, para estarem habilitados a cantar o novo cântico em conjunto com as harmonias do Céu. T6 159 1 Deve ser afastada toda manifestação de importância pessoal, pois isso não ajuda no trabalho; contudo eu lhes imploro que tenham na mais alta consideração o próprio caráter, já que foram comprados por preço infinito. Sejam cuidadosos, dedicados à oração, compenetrados. Nem imaginem poder misturar o santo e o profano. Isso tem sido feito no passado de modo tão constante que o discernimento espiritual dos professores ficou obscurecido, e eles não conseguem discernir entre o que é sagrado e o que é comum. Eles têm utilizado o fogo comum e têm-no apreciado, exaltado e louvado, e o Senhor tem-Se afastado com desgosto. Professores, não seria melhor fazer uma total reconsagração a Deus? Ou vão prosseguir arriscando a salvação através de um serviço dividido? T6 159 2 Pela pena e pela voz deve ser dada a Deus a honra que Lhe é devida. Que o Senhor Deus seja santificado em seu coração, e estejam sempre prontos para dar a qualquer que lhes pergunte, com mansidão e temor, a razão da sua esperança. Não compreenderão isso os professores de nossas escolas? Não tomarão a Palavra de Deus como livro de texto capaz de fazê-los sábios para a salvação? Não partilharão com os estudantes essa mais alta sabedoria, dando-lhes claras e aprimoradas idéias da verdade, a fim de que saibam apresentá-las aos outros? Pode parecer que o ensino da Palavra de Deus tem pouco efeito sobre muitas mentes e corações; mas se o trabalho do professor for realizado no espírito de louvor a Deus, algumas lições da verdade divina permanecerão na memória até mesmo do mais desatento. O Espírito Santo regará a semente semeada, e não raro depois de muitos dias ela germinará, dando fruto para glória de Deus. T6 160 1 O Grande Mestre que veio do Céu não determinou que os professores estudem quaisquer dos considerados grandes autores. Ele diz: "Vinde a Mim. ... Aprendei de Mim... e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:28, 29. Ao aprendermos as lições de Cristo encontraremos descanso, Ele prometeu. Todos os tesouros do Céu Lhe foram confiados, a fim de que pudesse dá-los ao pesquisador perseverante e diligente. Ele é por Deus feito para nós "sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. T6 160 2 Os professores devem compreender que lições comunicar, pois não podem apenas preparar estudantes para passarem de ano. Devem estudar as lições de Cristo e o caráter de Seu ensino. Devem ver sua libertação do formalismo e da tradição, e apreciar a originalidade, autoridade, espiritualidade, bondade, benevolência e o caráter prático do Seu ensino. Os que fazem da Palavra de Deus o seu estudo, que cavam em busca dos tesouros da verdade, se tornarão imbuídos do Espírito de Cristo, e pela contemplação serão transformados à Sua semelhança. Os que apreciam a Palavra ensinarão como discípulos que se têm colocado aos pés de Jesus e se acostumaram a aprender dEle. Em lugar de introduzir em nossas escolas livros que contêm teorias dos grandes autores do mundo, eles dirão: Que nada me induza a desconsiderar o maior Autor e o maior Mestre, por cujo intermédio obtenho a vida eterna. Ele jamais erra. É a grande Fonte de onde flui toda sabedoria. Semeie, portanto, todo professor a semente da verdade no espírito dos estudantes. Cristo é o Professor-Modelo. T6 160 3 A Palavra do Deus eterno é nosso guia. Por meio dessa Palavra temos nos tornado sábios para a salvação. Essa Palavra deve estar sempre em nosso coração e em nossos lábios. "Está escrito" deve ser nossa âncora. Os que fazem da Palavra de Deus o seu conselheiro compreendem a fraqueza do coração humano e o poder da graça de Deus para subjugar todo impulso profano, não santificado. O seu coração está sempre em atitude de oração, e eles têm a guarda de santos anjos. Quando o inimigo vem como uma inundação, o Espírito de Deus ergue contra ele a Sua proteção. Há harmonia no coração; pois as preciosas e poderosas influências da verdade promovem o equilíbrio. Há uma revelação da fé que age com amor e purifica a vida. T6 161 1 É preciso orar pelo novo nascimento. Quem experimenta esse novo nascimento se deleita, não nos tortuosos caminhos dos próprios desejos, mas no Senhor. Tem prazer em estar sob Sua autoridade. Continuamente estará procurando alcançar a norma mais elevada. Sejam não apenas leitores da Bíblia, mas fervorosos estudantes dela, para que possam saber o que Deus requer. É necessário o conhecimento experimental de como fazer a Sua vontade. Cristo é nosso Professor. T6 161 2 Estude cada professor em nossas escolas e cada administrador de nossas instituições o que lhes é necessário fazer para trabalhar segundo Suas diretrizes e levar consigo o senso do perdão, do conforto e da esperança. T6 161 3 Mensageiros celestiais são enviados para ministrar aos que serão herdeiros da salvação; e eles poderiam conversar com os professores, não estivessem estes tão satisfeitos com o bem-conhecido caminho da tradição, se não estivessem tão temerosos de se afastar das sombras do mundo. Devem os professores estar atentos, para que não venham a fechar as portas, de modo que o Senhor não encontre entrada no coração dos jovens. ------------------------Capítulo 20 -- Palavras de um instrutor celestial T6 162 1 Durante a noite, eu participava de um grande grupo, em que o espírito de todos os presentes estava sendo agitado com o assunto da educação. Muitos apresentavam objeções contra a mudança do tipo de educação, há tanto tempo praticado. Alguém, que tem sido nosso instrutor há muito tempo, falava ao povo. Dizia: "O assunto da educação deve interessar a todos os adventistas do sétimo dia. As decisões referentes ao caráter de nossa obra escolar não devem ficar na mão só dos diretores e professores." T6 162 2 Alguns insistiam fortemente em favor do estudo de autores incrédulos, e recomendavam os próprios livros condenados pelo Senhor e que, portanto, não devem de maneira alguma ser adotados. Depois de muita conversa e discussão fervorosa, nosso instrutor adiantou-se e, segurando livros que haviam sido defendidos com ardor como sendo essenciais a uma educação mais elevada, disse: "Vocês conseguem localizar nestes autores sentimentos e princípios que podemos, com segurança, colocar nas mãos dos alunos? O espírito humano é facilmente fascinado pelas mentiras de Satanás; e estas obras produzem desinteresse pela contemplação da Palavra de Deus, a qual, caso seja recebida e apreciada, assegurará vida eterna ao que a recebe. Somos o fruto de nossos hábitos, e devemos nos lembrar que os bons hábitos são bênçãos, tanto em seu efeito sobre o caráter, como em sua influência para o bem de outros; os maus hábitos, porém, uma vez estabelecidos, exercem poder despótico, escravizando o espírito. Se alguém jamais houvesse lido uma palavra nesses livros, estaria hoje incomparavelmente mais capacitado para compreender aquele Livro que, acima de todos os outros, é digno de ser estudado, e que dá as únicas idéias corretas acerca da educação mais elevada. T6 163 1 "O fato de ter se tornado hábito introduzir esses autores como leitura obrigatória, e que esse costume haja envelhecido pelos anos, não é argumento suficiente em seu favor. O uso prolongado não recomenda necessariamente tais livros como livres de perigos ou essenciais. Esses livros têm levado milhares onde Satanás levou Adão e Eva -- à árvore daquele conhecimento que Deus lhes proibira receber. Têm induzido alunos a abandonar o estudo das Escrituras em troca de uma espécie de estudo que não é essencial. Para que os alunos assim educados estejam aptos para trabalhar em favor das pessoas terão de desaprender muito do que aprenderam. Verificarão que será um processo difícil; pois as idéias condenáveis já estarão arraigadas em seu espírito como as ervas ruins em um jardim, de modo que alguns jamais serão capazes de discernir entre o certo e o errado. O bem e o mal estarão mesclados em sua educação. Foram exaltados os homens para que os contemplassem, suas teorias glorificadas; de modo que, ao buscarem ensinar a outros, o pouco de verdade que podem repetir se acha entremeada de opiniões, ditos e feitos humanos. As palavras de homens que demonstram não possuir conhecimento prático de Cristo não devem ter lugar em nossas escolas. Servirão de obstáculo à verdadeira educação. T6 163 2 "Vocês possuem a Palavra do Deus vivo e, pedindo, poderão receber o dom do Espírito Santo para tornar essa Palavra um poder para os que crêem e obedecem. A obra do Espírito Santo é guiar em toda a verdade. Quem depende, de espírito, alma e coração, da palavra do Deus vivo, terá os canais de comunicação desobstruídos. O estudo profundo e sincero da Palavra, sob a guia do Espírito Santo, proporcionará o fresco maná, e o mesmo Espírito tornará seu uso eficaz. Será recompensado o esforço feito pelos jovens a fim de lhes disciplinar a mente em busca de elevados e santos ideais. Os que se esforçam perseverantemente nesse sentido, aplicando a mente à tarefa de compreender a Palavra de Deus, acham-se habilitados a ser colaboradores de Deus. T6 164 1 "O mundo reconhece como mestres alguns a quem o Senhor não pode recomendar como instrutores dignos de confiança. São pessoas que desdenham a Bíblia e recomendam as produções dos autores incrédulos, como se contivessem os sentimentos que convém entretecer no caráter. Que se pode esperar dessa espécie de semeadura? No estudo desses livros objetáveis, a mente dos professores, juntamente com a dos alunos, vem a corromper-se, e o inimigo semeia seu joio. Nem poderia ser de outro modo. Bebendo de uma fonte impura, introduzimos veneno no organismo. Os jovens inexperientes que são levados nessa direção de estudo, recebem impressões que lhes dirigem os pensamentos a caminhos fatais à piedade. Jovens mandados a nossas escolas têm aprendido de livros considerados bons, apenas porque eram usados e recomendados nas escolas seculares. Mas dessas escolas que seguem um padrão mundano muitos alunos têm saído incrédulos em razão exatamente do estudo nesses livros. T6 164 2 "Por que não temos exaltado a Palavra de Deus acima de toda produção humana? Não seria suficiente manter-se achegado ao Autor de toda verdade? Não ficaríamos satisfeitos apenas com a água pura das correntes do Líbano? Deus possui fontes vivas com que refrigerar a alma sedenta, e depósitos de precioso mantimento com que revigorar a espiritualidade. Temos de aprender com Ele, e Ele nos habilitará a dar aos que pedirem a razão da esperança que há em nós. Acaso estamos pensando que um melhor conhecimento daquilo que o Senhor disse terá efeito nocivo sobre professores e alunos?" T6 164 3 Fez-se silêncio na assembléia e a convicção apoderou-se de cada coração. Homens que se haviam julgado sábios e fortes, viram que eram fracos e faltos do conhecimento daquele Livro que interessa para a salvação eterna do ser humano. T6 165 1 O mensageiro de Deus tomou então das mãos de vários professores os livros que estavam usando como didáticos, alguns dos quais escritos por autores infiéis e continham sentimentos do mesmo gênero, e os colocou à parte, dizendo: "Nunca houve tempo em que o estudo desses livros trouxesse benefício, ou para o presente ou vida futura e eterna. Por que encher as estantes de livros que afastam a mente de Cristo? Por que gastar o dinheiro naquilo que não é pão? Cristo lhes pede: 'Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração.' É necessário se alimentar do Pão da Vida, que desceu do Céu. É preciso ser diligente estudante das Santas Escrituras, e beber da Fonte viva. Absorver, absorver de Cristo em fervente oração. Dia a dia vivenciar a experiência de comer da carne e beber do sangue do Filho de Deus. Os autores humanos jamais poderão suprir a grande necessidade para este tempo; mas contemplando a Cristo, Autor e Consumador de nossa fé, seremos transformados à Sua semelhança." T6 165 2 Colocando a Bíblia nas mãos deles, continuou: "Vocês possuem pouco conhecimento deste livro. Não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus, nem entendem a profunda importância da mensagem a ser levada a um mundo que está morrendo. O passado mostra que tanto professores como alunos conhecem bem pouco das assombrosas verdades que são assuntos vivos para o tempo atual. Fosse a terceira mensagem angélica proclamada em todos os aspectos a muitos que ocupam posição de educadores, e não seria compreendida por eles. Se vocês possuíssem o conhecimento que provém de Deus, todo o ser proclamaria a verdade do Deus vivo ao mundo agonizante em ofensas e pecados. Mas livros e revistas que pouco encerram da verdade presente são exaltados, e os homens estão se considerando demasiado sábios para seguir um 'Assim diz o Senhor'. T6 166 1 "O único verdadeiro Deus deve ser exaltado por todo professor em nossas escolas, mas muitas sentinelas se acham adormecidas. São como o cego que conduz outro cego. Todavia o dia do Senhor continua se aproximando. Vem a passos furtivos como o ladrão, e encontrará desapercebidos todos os que não estão vigilantes. Quem, entre nossos professores, está alerta e como mordomo fiel da graça de Deus, dando à trombeta um sonido certo? Quem está proclamando a mensagem do terceiro anjo, chamando o mundo a preparar-se para o grande dia de Deus? A mensagem que apresentamos tem o selo do Deus vivo." T6 166 2 Apontando para a Bíblia, Ele disse: "As Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos devem ser unidas na obra de preparar um povo para subsistir no dia do Senhor. Devem ser aproveitadas diligentemente as oportunidades atuais. Utilizem a Palavra do Deus vivo como o livro de estudos. Caso isso houvesse sido sempre feito, alunos que estão hoje perdidos para a causa de Deus seriam agora missionários. Jeová é o único Deus verdadeiro, e deve ser reverenciado e adorado. Os que respeitam as palavras de autores incrédulos e levam os alunos a considerar esses livros como essenciais em sua educação, diminuem sua fé em Deus. O tom, o espírito e a influência desses livros são nocivos aos que deles dependem quanto ao conhecimento. Tem-se exercido sobre os alunos influências que os levaram a desviar os olhos de Cristo, a Luz do mundo, e os anjos maus se regozijam de que os que professam conhecer a Deus O neguem como Ele tem sido negado em nossas escolas. O Sol da Justiça tem brilhado sobre a igreja para dissipar as trevas e chamar a atenção do povo de Deus para o preparo essencial aos que devem brilhar como luzes no mundo. Os que recebem essa luz, irão compreendê-la; os que a não recebem, andarão em trevas, não sabendo em que tropeçam. A pessoa nunca se acha em segurança a menos que esteja sob a guia divina. Então, será conduzida a toda a verdade. A Palavra de Cristo cairá com poder vivo sobre os corações obedientes; e mediante a aplicação da verdade divina, reproduzir-se-á a perfeita imagem de Deus, e se dirá no Céu: 'Estais perfeitos nEle.'" Colossences 2:10. T6 167 1 Em caso algum deve ser permitido que os alunos tenham tantos estudos que sejam impedidos de assistir aos cultos. T6 167 2 Ninguém a não ser Aquele que criou o homem pode efetuar uma mudança no coração humano. Somente Deus pode dar o crescimento. Cada professor deve compreender que precisa ser movido por agentes divinos. Julgamentos e idéias humanas, mesmo do mais experimentado, são passíveis de imperfeições e de faltas, e o frágil instrumento, sujeito aos próprios traços hereditários de caráter, precisa submeter-se à santificação do Espírito Santo diariamente, ou o eu assumirá as rédeas e procurará dirigir. No manso e humilde espírito de discípulo, todos os métodos, planos e idéias humanos devem ser levados a Deus para sua correção e aprovação; de outro modo a incansável energia de Paulo ou a habilidosa lógica de Apolo serão impotentes para efetuar a conversão de homens. ------------------------Capítulo 21 -- Escolas com internato T6 168 1 Para cursarem nossos colégios, muitos jovens são separados das influências do círculo doméstico, próprias para abrandar e enternecer. Exatamente ao tempo em que necessitam de vigilante fiscalização, são retirados das restrições da influência paternal e de sua autoridade, sendo lançados no convívio de grande número de outros da mesma idade, de hábitos e caráter diversos. Alguns desses receberam em criança bem pouca disciplina, e são superficiais e frívolos; outros foram demasiado refreados e sentiram, quando longe das mãos que lhes seguravam as rédeas do controle, que eram livres para fazer como lhes aprouvesse. Desprezam até o pensar em restrição. Por essas associações, são aumentados os perigos para os jovens. T6 168 2 Nossos internatos foram estabelecidos a fim de nossos jovens não serem levados a flutuar daqui para ali, e serem expostos às más influências que se multiplicam em toda parte; mas para que, o quanto possível, se proveja uma atmosfera doméstica em que sejam preservados de tentações à imoralidade, e sejam encaminhados a Jesus. A família do Céu representa aquilo que a terrena devia ser; e nossos internatos, onde se reúnem jovens em busca de preparo para o serviço de Deus, devem-se aproximar o quanto possível do modelo divino. T6 168 3 Os professores colocados à frente desses lares assumem sérias responsabilidades; pois devem desempenhar o papel de pais e mães, demonstrando interesse pelos alunos, individualmente, da mesma maneira que os pais pelos filhos. Os variáveis elementos que compõem o caráter da mocidade com quem são chamados a lidar, trazem sobre eles cuidado e pesadas responsabilidades, e requer-se grande tato bem como muita paciência para equilibrar na devida direção mentes influenciadas por uma orientação errônea. Os professores precisam de grande capacidade administrativa; cumpre-lhes ser leais aos princípios, e todavia sábios e brandos, aliando o amor e a simpatia cristã com a disciplina. Devem ser homens e mulheres de fé, de sabedoria e oração. Não devem manifestar uma dignidade severa, inflexível, mas associarem-se com os jovens, identificando-se com eles em suas alegrias e dores, bem como em sua diária rotina de trabalho. A obediência prestada com alegria e amor será em geral o fruto de tal esforço. Tarefas de casa T6 169 1 A educação que um rapaz ou moça, que cursa nossos colégios, deve receber em casa é merecedora de especial atenção. É de grande importância, na obra da formação do caráter, que alunos que estão em nossos colégios sejam ensinados a desempenhar o trabalho que lhes é designado, afastando toda tendência a ser negligentes. Eles precisam familiarizar-se com as tarefas da vida diária. Devem ser ensinados a cumprir suas tarefas de casa de forma completa e zelosa, com o mínimo de ruído e confusão possível. Tudo deve ser feito decentemente e com ordem. A cozinha e todas as outras partes da habitação devem ser mantidas agradáveis e limpas. Os livros sejam postos de lado até o tempo próprio, e não assumam mais estudos do que os que possam ser atendidos sem prejudicar as tarefas de casa. O estudo dos livros não deve absorver a mente a tal ponto que se negligenciem as tarefas de casa de que depende o conforto da família. T6 169 2 No cumprimento desses deveres, importa vencer os hábitos descuidados, negligentes e desordenados; pois a menos que sejam corrigidos, tais hábitos serão levados para todos os aspectos da vida, e esta será arruinada para a utilidade, para o verdadeiro trabalho missionário. A menos que sejam corrigidos com perseverança e resolução, eles vencerão o aluno agora e com resultados para a eternidade. Os jovens devem ser estimulados a formar hábitos corretos no vestir, de modo a que sua aparência seja alinhada e atrativa; sejam ensinados a conservar as roupas limpas e bem consertadas. Todos os seus hábitos devem ser de molde a torná-los um auxílio e um conforto aos outros. T6 170 1 Foram dadas instruções especiais aos filhos de Israel para que, ao redor de suas tendas, tudo estivesse limpo e em ordem para que o anjo do Senhor não passasse pelo meio do acampamento e visse sujeira. Seria o Senhor tão exigente que notasse essas coisas? Sim. Pois é declarado que, vendo Ele a imundícia do povo não poderia sair com seus exércitos a batalhar contra os inimigos deles. De igual modo todas as nossas ações são notadas por Deus. Aquele Deus que requeria que os filhos de Israel crescessem com hábitos de limpeza, não sancionará qualquer impureza no lar hoje. T6 170 2 Deus confiou aos pais e professores a obra de educar as crianças e os jovens nessas direções, e em todos os atos de sua vida podem ser-lhes ensinadas lições espirituais. Enquanto são exercitados em hábitos de asseio, devemos ensinar-lhes que Deus deseja que sejam limpos de coração, da mesma maneira que de corpo. Enquanto varrem um local, podem aprender como o Senhor purifica o coração. Eles não fechariam portas e janelas e deixariam no local alguma substância purificadora, mas abririam as portas e as janelas de par em par, tirando o pó com toda a diligência. Assim as janelas do impulso e sentimento se devem abrir em direção ao Céu, e o pó do egoísmo e mundanismo deve ser expelido. A graça de Deus precisa varrer as partes mais íntimas da mente, e todo elemento da natureza ser purificado e vivificado pelo Espírito de Deus. A desordem e desasseio nas tarefas diárias levarão ao esquecimento de Deus e a manter uma forma de piedade numa profissão de fé, havendo perdido a realidade. Cumpre-nos vigiar e orar, do contrário andaremos num mundo imaginário e perderemos o real. T6 171 1 Uma fé viva, qual fios de ouro, deve entretecer-se na experiência diária, no cumprimento dos pequeninos deveres. Então os alunos serão levados a compreender os puros princípios que Deus designa que impulsionem todos os atos de sua vida. Então todo o trabalho diário será de tal natureza que promova o desenvolvimento cristão. Os princípios vitais da fé, da confiança e amor para com Jesus penetrarão os mínimos pormenores da vida diária. Os olhos estarão postos em Jesus, e o amor para com Ele será o motivo constante, dando força vital a todo dever empreendido. Haverá esforço na busca da justiça, uma esperança que "não envergonha". Tudo quanto for feito será para a glória de Deus. T6 171 2 A todo aluno no lar, desejo dizer: Seja fiel aos deveres domésticos. Seja fiel no desempenho das pequenas responsabilidades. Seja um cristão verdadeiramente ativo no lar. Deixe que os princípios cristãos lhe governem o coração e rejam a conduta. Dê ouvidos a toda sugestão feita pelo professor, mas não deixe que se torne uma necessidade que lhe digam sempre o que deve fazer. Acostume-se a discernir por si mesmo. Observe por si mesmo se tudo em seu quarto está impecavelmente limpo e em ordem, de modo que coisa alguma aí seja ofensiva a Deus, mas que, ao passarem os santos anjos por seu quarto, sejam atraídos a se demorar, atraídos pelo asseio e a ordem que reinam. Cumprindo pronta, esmerada e fielmente suas tarefas, você será um missionário. Será uma testemunha de Cristo. Mostre que a religião de Cristo não o torna, em princípio ou na prática, desalinhado, vulgar, desrespeitoso para com os professores, pouco atencioso para com seus conselhos e instruções. A religião bíblica, quando praticada, o tornará bondoso, ponderado e fiel. Não negligencie as pequeninas coisas que devem ser feitas. Adote como lema as palavras de Cristo: "Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito." Sociabilidade e cortesia cristãs T6 172 1 A sociabilidade cristã é na verdade bem pouco cultivada pelo povo de Deus. Essa parte da educação não deve ser negligenciada ou perdida de vista em nossas escolas. T6 172 2 Aos alunos deve ser ensinado que eles não são átomos independentes, mas que cada um é um fio que se deve unir a outros fios na composição de um tecido. Em nenhum lugar pode essa instrução ser ministrada com mais eficácia, do que na escola doméstica. Aí se acham os alunos diariamente circundados de oportunidades que, se forem aproveitadas, ajudarão grandemente no desenvolvimento dos traços de caráter a formarem. Está no poder deles próprios aproveitarem de tal maneira seu tempo e oportunidades que formem um caráter que os torne úteis e felizes. Os que se excluem, que são avessos a se desdobrarem para beneficiar os outros mediante amigável convívio, perdem muitas bênçãos; pois mediante o contato mútuo o caráter é polido e refinado; por meio do intercâmbio social formam-se relações e amizades que dão em resultado certa unidade de coração e uma atmosfera de amor que agradam ao Céu. T6 172 3 Especialmente, os que provaram o amor de Cristo devem desenvolver aptidões sociais, pois dessa maneira podem ganhar almas para o Salvador. Cristo não deve ficar oculto no coração deles, encerrado como cobiçado tesouro, sagrado e aprazível, a ser desfrutado apenas por eles próprios; tampouco deve o amor de Cristo ser manifestado unicamente para com aqueles que lhes alimentam a fantasia. Cumpre ensinar os estudantes a cultivar o traço cristão de um bondoso interesse, uma disposição sociável para com aqueles que se encontram em mais necessidade, embora não sejam os companheiros de sua preferência. Em todo tempo e lugar, Jesus manifestava amorável interesse pela humanidade, irradiando em torno de Si a luz da piedade. Os alunos devem ser ensinados a seguirem os passos de Jesus. A mostrarem interesse cristão, simpatia e amor por seus jovens companheiros, e tentar atraí-los para Jesus; qual fonte de água que salta para a vida eterna, deve Cristo estar no coração deles, refrigerando a todos com quem entrarem em contato. T6 173 1 Esse pronto e amorável ministério pelos outros em tempos de necessidade é considerado precioso aos olhos de Deus. Assim, mesmo enquanto freqüentam a escola, podem os alunos, uma vez que sejam fiéis a sua profissão de fé, ser missionários vivos de Deus. Tudo isso requer tempo; mas o tempo assim empregado é empregado proveitoso, pois dessa forma está o aluno aprendendo a maneira de apresentar o cristianismo ao mundo. T6 173 2 Cristo não Se recusava a associar-Se aos outros em amistoso intercâmbio. Quando convidado a uma festa por um fariseu ou publicano, aceitava o convite. Nessas ocasiões, toda palavra por Ele emitida era um cheiro de vida para vida a Seus ouvintes; pois tornava a hora do jantar ocasião de comunicar muitas lições preciosas adequadas à necessidade deles. Assim ensinava Cristo a Seus discípulos a maneira de se conduzirem quando em companhia dos não religiosos, e também como se comportar diante dos religiosos. Pelo próprio exemplo ensinava-lhes que, ao assistirem a qualquer reunião pública, sua conversação não precisava ser do tipo daquela a que geralmente se entregavam as pessoas em tais ocasiões. T6 173 3 Quando os alunos se sentam à mesa, uma vez que Cristo lhes habite na mente, do tesouro do coração brotarão palavras puras e de molde a elevar; caso Ele aí não Se encontre, acharão prazer na frivolidade, em gracejos e chocarrices, o que constitui entrave ao desenvolvimento espiritual e será causa de desgosto aos anjos de Deus. A língua é um membro indomável, mas assim não deve ser. Precisa converter-se; pois o talento da linguagem é um talento muito precioso. Cristo sempre está pronto a doar Suas riquezas, e devemos juntar as jóias que dEle provêm a fim de que, ao falarmos, essas jóias possam cair de nossos lábios. T6 174 1 O temperamento, as peculiaridades individuais, os hábitos que fundamentam o caráter -- tudo quanto é praticado no lar, se revelará em todos os intercâmbios da vida. As inclinações seguidas serão manifestas através de pensamentos, palavras e ações da mesma natureza. Se todos os alunos que compõem a família escolar fizessem um esforço para refrear toda palavra descortês ou desagradável, falando a todos de maneira respeitosa; se conservassem na mente que estão se preparando para se tornar membros da família celestial; se sua influência fosse como que guardada por fiéis sentinelas, para que não se exercesse no sentido de afastar de Cristo; se se esforçassem para que todo ato de sua vida manifestasse os louvores dAquele que os chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, que influência reformadora sairia de cada internato! Práticas religiosas T6 174 2 De todos os aspectos da educação a ser dada em nossos internatos são as práticas religiosas as mais importantes. Cumpre tratá-las com a máxima solenidade e reverência, ao mesmo tempo que devem ser tão atrativas quanto possível. Não devemos prolongá-las de maneira a torná-las enfadonhas, pois a impressão assim causada na mente dos jovens fará com que associem a religião com tudo quanto é árido e desinteressante; e muitos serão levados a pôr sua influência do lado do inimigo, ao passo que, se fossem devidamente ensinados, se tornariam uma bênção ao mundo e à igreja. As reuniões de sábado, os cultos matutinos e vespertinos no lar e na capela, a menos que sejam bem orientados e tenham a vivificação do Espírito de Deus, podem-se tornar por demais formais, desinteressantes e sem atrativos, sendo para os adolescentes os mais tediosos dos exercícios escolares. As reuniões de oração e todos os demais cultos religiosos devem ser planejados e dirigidos de maneira que, não somente sejam proveitosos, mas tão agradáveis que exerçam positiva atração. O orar juntos, ligará os corações a Deus com laços perduráveis; o confessar a Cristo, franca e corajosamente, manifestará em nosso caráter Sua mansidão, humildade e amor, e fará com que outros fiquem encantados com a beleza da santidade. T6 175 1 Em todas essas ocasiões Cristo deve ser apresentado como o primeiro "entre dez mil", Aquele que é "totalmente desejável". Cantares 5:10, 16. Seja Ele destacado como a Fonte de todo verdadeiro prazer e satisfação, o Doador de toda dádiva perfeita, o Autor de toda bênção, Aquele em quem se concentram todas as nossas esperanças de vida eterna. Em toda prática religiosa, transpareçam em sua real beleza o amor de Deus e a alegria da vida cristã. Seja apresentado o Salvador como o restaurador de todo efeito do pecado. T6 175 2 Para chegar a esse resultado, é preciso evitar toda estreiteza de visão. É necessária uma devoção sincera, fervorosa, do íntimo do coração. Será essencial nos professores a piedade ativa e ardente. Haverá poder para nós, se a possuirmos. Haverá graça, se a apreciarmos. O Espírito Santo aguarda nossa solicitação, uma vez que a façamos com intensidade de propósito proporcional ao valor do objeto que buscamos. Os anjos do Céu estão tomando nota de toda a nossa obra, e procuram ver como poderão ministrar a cada um de maneira que ele reflita a semelhança de Cristo no caráter, e se transforme à imagem divina. Quando os que se acham à frente de nossos internatos apreciarem as oportunidades e privilégios postos ao seu alcance, realizarão para Deus uma obra aprovada pelo Céu. ------------------------Capítulo 22 -- A reforma industrial T6 176 1 Em virtude de surgirem dificuldades, não devemos abandonar as indústrias de que temos lançado mão como parte da obra educativa. Enquanto cursam a escola, os moços devem ter ensejo de aprender a usar as ferramentas. Sob a liderança de obreiros experimentados, carpinteiros aptos para ensinar, pacientes e bondosos, os próprios alunos devem erguer os prédios da escola e fazer os necessários melhoramentos, aprendendo assim, mediante lições práticas, a construir com economia. Os alunos também devem ser exercitados em todo tipo de trabalho relacionado com a tipografia, como composição, impressão e encadernação, juntamente com fazer tendas e outros ramos de trabalho prático. Devem-se plantar frutas miúdas, cultivar verduras e flores, e isso até as alunas devem ser chamadas a fazer, ao ar livre. Assim, ao mesmo tempo que exercitam o cérebro, os músculos e ossos, adquirem conhecimentos da vida prática. T6 176 2 O preparo em todos esses pontos tornará nossos jovens úteis no levar a verdade aos campos estrangeiros. Não terão aí que depender do povo entre o qual vão viver, para cozinhar, semear ou construir para eles, nem será necessário gastar dinheiro para transportar homens de milhares de quilômetros para planejarem edifícios escolares, casas de culto e habitações. Os missionários desfrutarão de muito mais influência entre o povo, uma vez que sejam capazes de ensinar os inexperientes a trabalhar de acordo com os melhores métodos e a produzir os melhores resultados. Serão assim aptos a demonstrar que os missionários podem se tornar educadores industriais, e essa espécie de instrução será apreciada especialmente onde escasseiam os recursos. Será necessário muito menor capital para sustentar esses missionários, pois, a par de seus estudos, exercitaram da melhor maneira possível a capacidade física em trabalho prático; e onde quer que forem, tudo quanto obtiveram nesse sentido, lhes proporcionará vantagens. Seja proporcionada aos alunos dos departamentos industriais, quer se empreguem em trabalho doméstico, no cultivo do solo ou em outras atividades, a oportunidade de contarem as lições práticas e espirituais que aprenderam em relação com o seu trabalho. Em todos os deveres práticos da vida, devem-se fazer comparações com os ensinos da natureza e da Bíblia. T6 177 1 Os motivos que nos têm levado, em alguns lugares, a nos afastar das cidades e localizar nossas escolas no campo aplicam-se da mesma maneira a escolas em outros lugares. Gastar dinheiro em mais construções numa escola grandemente endividada, não está de acordo com os planos de Deus. Houvesse o dinheiro que nossas escolas maiores empregaram em prédios dispendiosos sido aplicado em terrenos onde nossos estudantes pudessem receber a educação apropriada, não haveria tão grande número de alunos agora lutando sob o peso de débitos crescentes, e a obra dessas instituições estaria em mais prósperas condições. Houvesse sido seguida essa orientação, e teria havido algumas murmurações por parte dos alunos, seriam suscitadas muitas objeções da parte dos pais; mas os estudantes teriam assegurado uma educação completa, a qual os haveria preparado, não somente para o trabalho prático em vários ofícios, mas para um lugar na fazenda do Senhor na terra renovada. T6 177 2 Houvessem nossas escolas estimulado o trabalho na agricultura, apresentariam agora um quadro inteiramente diverso. Não haveria tão grande desânimo. As influências contrárias estariam superadas e seriam diferentes as condições financeiras. Quanto aos estudantes, o trabalho seria bem aceito; e, como todo o maquinismo humano seria proporcionalmente exercitado, se desenvolveria maior resistência física e mental. Mas as instruções que ao Senhor quis dar foram tão frouxamente aplicadas, que os obstáculos não têm sido vencidos. T6 178 1 É covardia avançar de forma tão lenta e sem firmeza na questão do trabalho -- exatamente aquilo que comunicará a melhor espécie de educação. Basta olhar a natureza. Há dentro de seus vastos limites espaço para se estabelecerem escolas onde se possam desbravar terrenos e cultivar a terra. Esse trabalho é essencial à educação mais favorável ao progresso espiritual; pois a voz da natureza é a voz de Cristo, ensinando-nos inúmeras lições de amor e poder, submissão e perseverança. Alguns não apreciam o valor do trabalho agrícola. Não devem ser pessoas assim que façam os planos para nossas escolas, pois impedirão que tudo se desenvolva na direção certa. No passado, a influência dessas pessoas foi prejudicial. T6 178 2 Se a terra for cultivada, com a bênção de Deus, irá suprir nossas necessidades. Não nos devemos desanimar por causa de coisas temporais, por causa de aparentes fracassos, nem ficar desalentados pela demora. Cumpre-nos lavrar animadamente o solo, com esperança e gratidão, crendo que a terra contém em seu seio fartos resultados para o trabalhador fiel recolher -- produção mais preciosa do que a prata e o ouro. A escassez que lhe é atribuída é um falso testemunho. Com o cultivo apropriado, inteligente, a terra dará seus tesouros para benefício do homem. As montanhas e os montes estão mudando; a terra está envelhecendo como uma roupa; mas a bênção de Deus, que estende uma mesa para Seu povo no deserto, nunca faltará. T6 178 3 Acham-se perante nós tempos difíceis, e grande é a necessidade de famílias saírem das cidades para o campo, a fim de que a verdade seja levada pelos valados assim como pelos caminhos principais da Terra. Tudo depende de fazermos nossos planos segundo a Palavra do Senhor, executando-os com perseverante energia. Depende mais de consagrada atividade e perseverança do que de inteligência e do saber adquirido nos livros. Todos os talentos e aptidões concedidos aos instrumentos humanos, se não forem usados, de pouco valor são. T6 179 1 A volta a métodos mais simples será apreciada pelas crianças e jovens. O trabalho no jardim e no campo será uma agradável variação para a fatigante rotina das lições abstratas a que nunca se deveria limitar sua mente juvenil. Para a criança nervosa, que acha as lições dos livros exaustivas e difíceis de lembrar, isso será de especial valor. Há saúde e satisfação para ela no estudo da natureza; e as impressões causadas não se lhe apagarão da memória, pois se acharão associadas a objetos que estão continuamente diante de seus olhos. T6 179 2 Trabalhar na terra é uma das melhores espécies de ocupação, chamando à ação os músculos e repousando a mente. O estudo da agricultura deve ser o ABC da educação dada em nossas escolas. Esse deve ser justo o primeiro trabalho pelo qual iniciar. Nossas escolas não devem depender de produtos importados quanto a verduras, cereais e às frutas tão essenciais à saúde. Nossos jovens precisam ser instruídos acerca de derrubar árvores e de cultivar o solo, da mesma maneira que nos ramos literários. Devem ser indicados vários professores para dirigir certo número de alunos em seu trabalho, e trabalhar com eles. Assim os próprios mestres aprenderão a desempenhar suas responsabilidades levando uma parte da carga. Dessa forma, alunos aptos devem também ser preparados para desempenhar responsabilidades e colaborar com os mestres. Todos se devem aconselhar juntamente quanto aos melhores métodos de levar avante a obra. T6 179 3 O tempo é agora demasiado curto para que se realize aquilo que poderia ter sido feito em gerações passadas. Mesmo nestes últimos dias, porém, podemos fazer muito para corrigir os males existentes na educação da juventude. E por que o tempo é curto, devemos manter o fervor e trabalhar com zelo para dar aos jovens uma educação coerente com sua fé. Somos reformadores. Desejamos que nossos filhos estudem com o máximo de proveito. Para isso, deve-se-lhes dar ocupação que exija o exercício dos músculos. Diariamente, o trabalho sistemático deve constituir parte da educação dos jovens mesmo neste período tardio. Muito se pode ganhar agora com esse procedimento. Ao seguirem tal plano, os estudantes ganharão elasticidade de espírito e vigor de pensamento, e num dado período podem realizar mais trabalho mental do que o conseguiriam só pelo estudo. E assim poderão deixar a escola com o físico incontaminado e com força e coragem para perseverar em qualquer cargo em que a providência de Deus os coloque. T6 180 1 O exercício que ensina a mão a ser útil e prepara o cérebro do jovem para fazer sua parte nos encargos da vida dá força física e desenvolve todas as faculdades. Todos devem encontrar alguma coisa para fazer que lhes seja benéfica a si mesmo e útil aos outros. Deus indicou o trabalho como uma bênção, e unicamente o diligente obreiro encontra a verdadeira satisfação e alegria da vida. T6 180 2 O cérebro e os músculos devem ser proporcionalmente exercitados, se se quer manter a saúde e o vigor. A juventude pode, então, pôr no estudo da Palavra de Deus saudável percepção e nervos bem equilibrados. Terão pensamentos sadios, e poderão reter as coisas preciosas tiradas da Palavra. Estarão em condições de assimilar as verdades e, em resultado, terão energia mental para compreender o que é a verdade. Depois, de acordo com a necessidade, poderão dar a quem lhes pedir, a razão da esperança que neles há, com mansidão e respeito. ------------------------Capítulo 23 -- A fazenda da escola de Avondale T6 181 1 Há, com relação à disposição e ao uso das terras próximas a nossa escola e igreja, algumas coisas que me foram mostradas, e que fui instruída a lhes apresentar. Até há pouco, não me sentia livre para falar a esse respeito, e mesmo agora não me sinto na liberdade de revelar tudo, pois nosso povo ainda não está preparado para compreender tudo quanto, na providência de Deus, se desenvolverá em Avondale. T6 181 2 Nas visões da noite, foram-me claramente apresentadas algumas coisas. Havia pessoas escolhendo lotes de terra perto da escola, nos quais pretendiam construir casas e estabelecer residências. Ergueu-Se, todavia, Alguém em nosso meio e disse: "Estão cometendo um grande erro, o qual terão de lamentar. Essa terra não deve ser ocupada por edifícios, a não ser para proporcionar acomodações para os professores e alunos da escola. A terra ao redor da escola é para ser reservada como a fazenda da escola. Ela deve se tornar uma parábola viva para os alunos. Eles não devem considerar as terras da escola como coisa comum, mas olhá-la como um livro aberto diante deles, o qual o Senhor quer que estudem. Suas lições comunicarão um conhecimento vital para as pessoas. T6 181 3 "Caso permitam que a terra próxima à escola seja ocupada com casas particulares, e tenham depois que escolher para cultivo outra terra distante da escola, será um grande erro, daqueles para sempre lamentados. Toda a terra nos arredores do edifício escolar deve ser considerada como fazenda da escola, onde os alunos podem ser educados sob a direção de habilitados superintendentes. Os jovens que hão de cursar nossas escolas necessitam de toda a terra ao redor. São para o plantio de árvores ornamentais e de frutas, e cultivo de hortaliças. T6 182 1 "A fazenda da escola deve ser considerada um livro aberto da natureza, do qual os professores tirarão lições objetivas. Cumpre ensinar aos nossos estudantes que Cristo, Criador do mundo e de tudo o que nele há, é a vida e a luz de toda criatura vivente. A vida de toda criança e jovem dispostos a apoderar-se das oportunidades de receber a devida educação, tornar-se-á reconhecida e feliz por aquilo em que seus olhos contemplam enquanto se acha na escola." A obra diante de nós T6 182 2 Necessitamos de mais professores e mais talento para educar os alunos nos vários ramos de atividade, para que muitas pessoas saiam deste lugar aptas e dispostas a levar a outros o conhecimento que receberam. Rapazes e moças órfãos, devem encontrar nele um lar. Devem ser construídos edifícios para um hospital, e prover barcos para atender a escola. Deve ser empregada para gerir a fazenda uma pessoa competente, e também homens prudentes e enérgicos para supervisionar os vários empreendimentos industriais; homens que empreguem seus talentos inteiramente para ensinar os alunos a trabalhar. T6 182 3 Virão à escola muitos jovens com o desejo de obter preparo em atividades industriais. A instrução nesse ramo deve incluir contabilidade, carpintaria, e tudo quanto diz respeito à agricultura. Devem também ser feitos preparativos para ensinar ferraria, pintura, arte culinária, fazer sapatos, padaria, lavanderia, consertos de roupa, datilografia e impressão. Toda energia de que dispusermos deve ser posta nessa obra de preparo, a fim de que saiam alunos preparados para os deveres da vida prática. T6 182 4 As casas e edifícios essenciais ao trabalho escolar devem ser construídos pelos próprios alunos. Essas construções não devem ser feitas muito juntas, nem situadas perto dos edifícios escolares propriamente ditos. Na execução dessa obra devem-se formar pequenos grupos que, sob a administração de competentes líderes, sejam ensinados a experimentar um perfeito senso de responsabilidade. Todas essas coisas não podem ser realizadas de uma vez, mas devemos começar a trabalhar com fé. A terra a ser reservada T6 183 1 É desejo do Senhor que os terrenos em volta da escola Lhe sejam consagrados como Sua própria sala de aulas. Achamo-nos situados em lugar onde há bastante terra, e os terrenos próximos à escola e à igreja não devem ser ocupados com residências particulares. Os que crêem na verdade para este tempo não se acham todos transformados no caráter. Não constituem todos lições práticas, apropriadas, pois não apresentam o caráter de Cristo. Muitos há que gostariam de ficar perto da escola e da igreja, os quais não seriam auxílio, antes entraves. Acham que devem ser ajudados e favorecidos. Não apreciam nem a espécie nem a situação da obra em que nos achamos empenhados. Não compreendem que tudo quanto tem sido feito em Avondale tem sido efetuado com o mais árduo labor e mediante o dinheiro dado com sacrifício, ou que deve ser restituído àqueles de quem foi tomado emprestado. T6 183 2 Entre os que desejam instalar-se perto de nossas escolas, há alguns cheios de importância própria e de ansiedade quanto à própria reputação. São susceptíveis e facciosos. Essas pessoas precisam ser convertidas, pois se acham longe de estar em condições de poder receber as bênçãos do Senhor. Satanás os tenta a pedirem favores que, se concedidos, só os prejudicariam, e assim eles causam ansiedade a seus irmãos. Os princípios vivos da Palavra de Deus precisam de ser introduzidos na vida de muitos que agora não acham lugar para eles. Os que estão aprendendo na escola de Cristo considerarão todo favor recebido de Deus como demasiado bom para eles. Compreenderão que não merecem todas as boas coisas que recebem, e se considerarão felizes. Sua fisionomia exprimirá paz e serenidade no Senhor, pois têm a promessa de Deus, de que cuidará deles. T6 184 1 "Assim diz o Senhor: O Céu é o Meu trono, e a Terra o escabelo dos Meus pés. Que casa Me edificaríeis vós? e que lugar seria o do Meu descanso? Porque a Minha mão fez todas estas coisas, e todas estas coisas foram feitas, diz o Senhor; mas eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito, e que treme da Minha palavra." Isaías 66:1, 2. Durante os dias finais de 1898, tivemos muitas experiências a nos ensinarem o que significavam essas palavras. Meu coração se achava grandemente opresso, e as questões me foram então expostas quanto aos males que surgiriam em conseqüência da venda das terras em torno da escola para serem ocupadas por residências. Parecia como se estivéssemos em uma reunião de conselho, e entre nós Se achava Alguém de quem se esperava que nos ajudasse a sair das dificuldades. As palavras que Ele proferiu foram claras e decisivas: T6 184 2 "Esta terra, por indicação de Deus, é para benefício da escola. Vocês já tiveram provas da operação da natureza humana e do que ela manifesta sob a tentação. Quanto maior o número de famílias que se estabeleçam ao redor dos edifícios escolares, tanto mais dificuldades haverá no caminho dos professores e alunos. O egoísmo, natural aos filhos dos homens, está pronto a se revelar na vida se tudo não estiver de acordo com suas conveniências. A terra anexa à escola, deve servir de fazenda para a mesma, e esta deve ocupar muito mais espaço do que vocês estão pensando. Deve ser feita nela uma obra em harmonia com os conselhos dados. Avondale deve ser um centro filantrópico. O povo de Deus na Austrália será movido pelo Espírito do Senhor a dar simpatia e meios para a manutenção e estímulo de muitos empreendimentos caritativos e beneficentes, que serão o meio de ensinar os pobres, os desamparados e os ignorantes a se ajudarem a si mesmos." Um panorama T6 185 1 Têm-me sido enviados em várias ocasiões esclarecimentos quanto a deverem ser as terras ao redor de nossa escola usadas como fazenda do Senhor. Em sentido especial, porções dessa fazenda devem ser completamente cultivadas. Vi estender-se diante de mim um terreno plantado de toda espécie de árvores frutíferas, que produzirão frutos nesta localidade; havia também hortas em que se semeavam e cultivavam sementes. T6 185 2 Caso os gerentes dessa fazenda e os professores da escola recebam o Espírito Santo para operar com eles, terão sabedoria em sua liderança, e Deus lhes abençoará o trabalho. O cuidado das árvores, o plantar e semear, bem como a colheita, hão de ser admiráveis lições para todos os estudantes. Os invisíveis laços que ligam a semeadura e a colheita, devem ser estudados, e seja a bondade de Deus acentuada e apreciada. É o Senhor que dá o poder e a energia à terra e à semente. Não fosse o agente divino aliado ao tato e habilidade humanos, e seria inútil semear. Há um poder invisível a operar constantemente em benefício do homem a fim de o alimentar e vestir. A parábola da semente, tal como se estuda na experiência diária do professor e do aluno, deve ensinar que Deus está atuando na natureza, e que isso demonstra as coisas do reino do Céu. Deus e a natureza T6 185 3 Depois da Bíblia, a natureza deve ser o nosso maior livro de estudo. Não há virtude, porém, em deificar a natureza, pois isso seria exaltar a coisa feita acima do grande Mestre Construtor que planejou a obra e a mantém em atividade todo o tempo segundo o Seu desígnio. Ao semearmos a semente e cultivarmos a planta, devemos nos lembrar de que Deus criou a semente e a destinou à terra. Por Seu divino poder Ele cuida dessa semente. É por determinação Sua que a semente ao morrer dá sua vida à erva e à espiga que contém em si outras sementes que serão armazenadas e de novo lançadas à terra para dar a sua colheita. Podemos também estudar como a cooperação do homem desempenha uma parte. O ser humano tem sua parte a realizar, sua obra a fazer. Essa é uma das lições que a natureza ensina, e nela temos de ver uma obra bela e solene. T6 186 1 Fala-se muito a respeito de Deus na natureza, como se o Senhor estivesse obrigado por leis da natureza a ser servo dela. Muitas teorias querem levar a mente a supor que a natureza é um instrumento auto-sustentado independentemente da Divindade, tendo o seu poder inerente para operar. Nisso os homens não sabem de que estão falando. Supõem eles que a natureza tem um poder auto-existente sem a contínua assistência de Jeová? O Senhor não age por meio de Suas leis para ultrapassar as leis da natureza. Ele realiza a Sua obra por meio das leis e atributos de Seus instrumentos, e a natureza obedece a um "Assim diz o Senhor". T6 186 2 O Deus da natureza está o tempo todo em atividade. Seu infinito poder opera de modo invisível, mas as manifestações aparecem nos efeitos que a obra produz. O mesmo Deus que guia os planetas opera no plantio do fruto e na horta. Jamais Ele criou um espinho, um cardo, uma erva daninha. Essas são obras de Satanás, resultado de degeneração, por ele introduzidas entre as coisas preciosas; mas é por meio da imediata ação de Deus que cada botão se abre em flor. Quando esteve no mundo, na forma humana, Cristo disse: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também." João 5:17. Assim, quando os estudantes empregam o seu tempo em atividade agrícola, deles é dito no Céu: São "cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. T6 187 1 Sejam conservadas as terras que estão perto da escola e da igreja. Os que vêm para se estabelecer em Cooranbong podem, se desejarem, encontrar para si lares nas proximidades ou em partes da propriedade de Avondale. Mas segundo a luz que me é dada, toda essa parte de terra, desde o pomar da escola até a estrada de Maitland, e estendendo-se de ambos os lados da capela para a escola, deve tornar-se chácara e parque, embelezados com flores fragrantes e árvores ornamentais. Deve haver pomares, e cultivar-se toda espécie de produtos que se adapte ao solo, de modo que este lugar se torne uma lição objetiva tanto para os que vivem perto como para os que vivem longe. T6 187 2 Seja portanto mantido à distância tudo que não é essencial para o trabalho da escola, de modo que a santidade do lugar não seja perturbada pela proximidade de famílias e edificações. Permaneça a escola isolada. Será melhor que as famílias por mais devotadas que sejam ao serviço do Senhor se localizem a alguma distância dos prédios escolares. A escola é propriedade do Senhor, e os terrenos ao redor são Sua fazenda, da qual o Grande Semeador pode fazer um livro de estudo. Os resultados dos esforços serão vistos "primeiro a erva, depois a espiga, e, por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. A terra entregará os seus recursos, trazendo o regozijo de abundante colheita; e o produto reunido pela bênção de Deus deve ser usado como livro de estudo da natureza, do qual se podem tirar lições espirituais claras e aplicáveis às necessidades das pessoas. Uma lição objetiva T6 188 1 Há diante de nós grandes coisas que, como vemos, devem ser feitas; e tão depressa quanto os meios o permitam, devemos ir adiante. Paciente e dedicado esforço deve ser feito para o estímulo e elevação das comunidades circunvizinhas, e para sua educação nos setores industriais e de saúde. A escola e todos os seus arredores devem ser lições objetivas que ensinem os caminhos do progresso e apelem ao povo por reformas, de modo que o gosto, a diligência e o refinamento possam tomar o lugar do que é grosseiro, impuro, da desordem, da ignorância e do pecado. Até mesmo os mais pobres podem melhorar o ambiente ao seu redor levantando-se cedo e trabalhando diligentemente. Mediante nossa vida e exemplo podemos ajudar outros a discernir o que há de repulsivo em seu caráter e em torno de suas propriedades, e com cortesia cristã podemos estimular a melhoria. T6 188 2 Muitas vezes se levantará a pergunta: Que se pode fazer onde predomina a pobreza e com ela se depara a cada passo? Sob tais circunstâncias como podemos imprimir nos espíritos idéias corretas de progresso? A obra é sem dúvida difícil; e a menos que os professores, os homens de pensamento, e aqueles que têm recursos ponham em ação os seus talentos, e se levantem como Cristo faria se estivesse em lugar deles, uma importante obra ficará inacabada. A necessária reforma jamais será feita, a menos que homens e mulheres sejam ajudados por um poder de fora deles mesmos. Os que têm talentos e habilidade devem usar esses dons para beneficiar os seus semelhantes, esforçando-se por colocá-los numa posição em que possam ajudar-se a si mesmos. Assim é como a educação obtida em nossas escolas deve ser utilizada com o máximo proveito. T6 188 3 Os talentos confiados por Deus não devem ser escondidos debaixo do alqueire ou sob a cama. "Vós sois a luz do mundo", disse Cristo. Mateus 5:14. Quando virem famílias vivendo em galpões, com escassez de mobiliário e de roupas, sem utensílios, ou livros, e outros indícios de refinamento em seus lares, não demonstrarão interesse por eles, e não procurarão ensinar-lhes como usar suas energias com o máximo rendimento, de modo que haja progresso e seu trabalho avance? É mediante diligente trabalho, fazendo-se o mais sábio uso de toda habilidade, aprendendo a não desperdiçar o tempo, que serão bem-sucedidos em melhorar suas propriedades e cultivar sua terra. T6 189 1 Esforço físico e faculdades morais devem estar unidos em nossas tentativas de regeneração e reforma. Devemos procurar obter conhecimento tanto nos aspectos temporais como espirituais, para que possamos comunicá-lo a outros. Devemos procurar viver o evangelho em todos os seus ângulos, de modo que suas bênçãos temporais e espirituais possam ser experimentadas por todos em torno de nós. Trabalho missionário, o melhor treino T6 189 2 O Senhor abençoará com certeza a todos os que procuram beneficiar a outros. A escola deve ser de tal modo dirigida que professores e alunos estejam de contínuo aumentando em poder mediante o fiel uso dos talentos que lhes foram concedidos. Pondo em prática o que aprenderam, crescerão constantemente em sabedoria e conhecimento. Devemos aprender no Livro dos livros os princípios segundo os quais devemos viver e trabalhar. Ao consagrar todas as habilidades que Deus nos deu, Àquele que tem o primeiro direito a elas, podemos fazer apreciável progresso em tudo que seja digno de nossa atenção. T6 189 3 Quando abraçado com esse espírito, o trabalho missionário torna-se enobrecedor e inspirador, tanto para o obreiro como para a pessoa ajudada. Todo aquele que se declara filho do Rei celestial busque representar constantemente os princípios do reino de Deus. Lembre-se de que no espírito, em palavras e em obras ele deve ser fiel e leal a todos os preceitos e mandamentos do Senhor. Devemos ser fiéis súditos do reino de Cristo, dignos de confiança, para que os que são mundanos possam ter uma fiel imagem das riquezas, da bondade, misericórdia, compaixão e cortesia dos cidadãos do reino de Deus. T6 190 1 Os estudantes que obterão o máximo bem da vida são os que viverem a Palavra de Deus em suas relações e trato com os semelhantes. Os que recebem para dar, experimentarão a maior alegria nesta vida. Aqueles membros da família humana que vivem para si mesmos estão sempre em carência, pois jamais ficam satisfeitos. Não existe cristianismo algum em cercar de simpatia nosso próprio coração egoísta. O Senhor indicou os condutos pelos quais deixa fluir Sua bondade, misericórdia e verdade; e devemos ser coobreiros de Cristo para comunicar a outros sabedoria prática e benevolência. Devemos levar-lhes à vida alegria e bênção, fazendo desse modo um bom e santo trabalho. T6 190 2 Se a escola de Avondale tornar-se um dia o que o Senhor está desejando que seja, o esforço missionário dos professores e estudantes dará fruto. Tanto na escola como fora, súditos bem dispostos serão levados à obediência a Deus. A rebelião que ocorreu no Céu sob a força de uma mentira e o engano que levou Adão e Eva a desobedecerem a lei de Deus abriram as comportas das maldições sobre o mundo; mas todos os que crerem em Cristo poderão se tornar filhos e filhas de Deus. Mediante o poder da verdade podem ser restaurados, e o homem caído pode tornar-se leal a seu Criador. A verdade, peculiar em seu operante poder, é adaptada à mente e coração de pecadores extraviados. Por meio de sua influência a ovelha perdida pode ser reconduzida ao aprisco. T6 190 3 Sejam quais forem a posição ou posses de alguém que tenha o conhecimento da verdade, a Palavra de Deus lhe ensina que tudo quanto tem lhe é entregue como depósito, em confiança. É-lhe fornecido para provar o seu caráter. Seus negócios seculares, seus talentos, renda, oportunidades, tudo deve ser atribuído Àquele a quem ele pertence tanto pela criação como pela redenção. Quando ele usa cada precioso talento em promover a divina e grande obra da educação., quando se esforça em obter o mais completo conhecimento de como ser útil, de como trabalhar pela salvação das almas prestes a perecer, as bênçãos de Deus seguramente acompanharão os seus esforços. Deus nos concede os Seus dons para que possamos servir a outros, tornando-nos assim semelhantes a Ele. Os que recebem os Seus dons para que possam reparti-los com outros, tornam-se semelhantes a Cristo. É em ajudar e erguer a outros que nos tornamos enobrecidos e purificados. Essa é a obra que faz a glória refluir para Deus. Precisamos tornar-nos entendidos nestes pontos. Nossa vida precisa ser purificada de todo egoísmo, pois Deus deseja usar o Seu povo como representante do reino celestial. T6 191 1 Nossas escolas precisam ser dirigidas sob a supervisão de Deus. Há uma obra a ser feita em favor de rapazes e moças, a qual não foi ainda completada. Há um número muito maior de jovens que necessitam das vantagens de nossas escolas de preparo. Eles precisam do curso de preparo manual, que lhes ensinará como levar uma vida ativa, com boa disposição. Toda espécie de trabalho deve estar associada com nossas escolas. Sob a liderança de homens sábios, prudentes, tementes a Deus, devem os estudantes ser ensinados. Cada ramo da obra deve ser dirigido do modo mais completo e sistemático que a longa experiência e a sabedoria nos capacitem a planejar e executar. T6 191 2 Despertem os professores para a importância deste assunto e ensinem agricultura e outras atividades que sejam necessárias ao preparo dos estudantes. Procure cada departamento de trabalho alcançar os melhores resultados. T6 191 3 Seja a ciência da Palavra de Deus introduzida no trabalho, para que os estudantes possam assimilar princípios corretos e alcançar a mais elevada norma possível. Exercitemos as habilidades que Deus nos deu, e apliquemos todas as energias no desenvolvimento da fazenda do Senhor. Devemos estudar e trabalhar para que os melhores resultados e o máximo de rendimento resultem da semeadura, de modo que haja abundante suprimento de alimentos, tanto temporal como espiritual, para que o crescente número de estudantes que serão reunidos sejam treinados como obreiros cristãos. T6 192 1 Temos visto gigantescas árvores caídas e desarraigadas; temos visto o arado sulcando a terra, abrindo profundas valas para o plantio de árvores e a semeadura do grão. Os estudantes estão aprendendo o que significa arar, e que a enxada e a pá, o ancinho e a grade, são todos implementos de honrosa e proveitosa indústria. Erros serão cometidos muitas vezes, mas todo erro está próximo da verdade. A sabedoria será adquirida mediante fracassos, e a energia que se aplica no começo dá esperança de sucesso no fim. A hesitação retardará as coisas, e o mesmo fará a precipitação; mas tudo servirá como lições se o instrumento humano o desejar. T6 192 2 A idéia de que o trabalho é degradante tem levado milhares para a sepultura. Os que realizam somente trabalho manual freqüentemente trabalham em excesso, enquanto os que trabalham com o cérebro sofrem por falta de saudável vigor que o trabalho físico proporciona. Se os intelectuais partilhassem o fardo da classe operária a ponto de terem os músculos fortalecidos, os operários poderiam dedicar parte de seu tempo à cultura mental e moral. Os que se dedicam a hábitos sedentários e literários devem fazer exercícios físicos. A saúde deve ser suficiente incentivo para levá-los a unir o trabalho físico com o mental. ------------------------Capítulo 24 -- Escolas junto às igrejas O trabalho das escolas paroquiais T6 193 1 A igreja tem uma obra especial a fazer no educar e preparar suas crianças a fim de que, freqüentando outras escolas ou em outros convívios, não venham a ser influenciadas pelos que têm hábitos corruptos. O mundo está cheio de iniqüidade e de desprezo pelas reivindicações de Deus. As cidades tornaram-se como Sodoma, e nossos filhos estão diariamente sendo expostos a muitos males. Os que freqüentam as escolas públicas associam-se muitas vezes com outros mais negligenciados que eles, crianças que, fora do tempo passado na sala de aulas, são deixadas a obter a educação da rua. O coração dos pequenos é facilmente impressionado; e a menos que seu ambiente seja da devida espécie, Satanás usará essas crianças negligenciadas para influenciar as que são educadas com mais cuidado. Assim, antes que os pais observadores do sábado se dêem conta do mal que está sendo feito, são aprendidas as lições de depravação, e a vida de seus pequenos é corrompida. T6 193 2 As igrejas protestantes aceitaram o sábado espúrio, o filho do papado, e exaltaram-no acima do santo e santificado dia de Deus. Cumpre-nos tornar claro a nossos filhos que o primeiro dia da semana não é o verdadeiro sábado e que sua observância, depois de nos haver sido enviada a luz quanto ao dia verdadeiro de descanso, está em plena contradição com a lei de Deus. Acaso recebem nossas crianças dos professores da escola pública idéias em harmonia com a Palavra de Deus? É o pecado apresentado como uma ofensa contra o Senhor? É a desobediência a todos os Seus mandamentos ensinada como sendo o princípio de toda a sabedoria? Mandamos nossos filhos à Escola Sabatina para que sejam instruídos acerca da verdade, e depois, ao irem eles à escola diária, são-lhes ministradas lições cheias de falsidade. Tais coisas confundem a mente. Não deveria ser assim; pois se os jovens recebem idéias que pervertem a verdade, como será neutralizada a influência dessas instruções? T6 194 1 Podemos nos admirar de que, sob tais circunstâncias, alguns de nossos jovens não apreciem as vantagens religiosas? Podemos admirar de que sejam arrastados à tentação? É de admirar que, negligenciados como têm sido, suas energias sejam dadas a divertimentos que não lhes fazem bem, que sejam enfraquecidas suas aspirações religiosas, e obscurecida a vida espiritual? O espírito será da mesma espécie daquilo de que ele se alimenta, a colheita da mesma natureza da semente plantada. Não mostram esses fatos suficientemente a necessidade de guardarmos desde os mais tenros anos a educação da juventude? Não seria melhor para o jovem crescer em certo grau de ignorância quanto ao que se chama comumente de educação, do que se tornar descuidoso no que respeita à verdade de Deus? Separação do mundo T6 194 2 Quando os filhos de Israel foram tirados dentre os egípcios, o Senhor disse: "E Eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos; Eu sou o Senhor." "Então tomai um molho de hissopo, e molhai-o no sangue que estiver na bacia, e lançai na verga da porta, e em ambas as ombreiras, do sangue que estiver na bacia; porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até amanhã. Porque o Senhor passará para ferir aos egípcios, porém quando vir o sangue na verga da porta, e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e não deixará ao destruidor entrar em vossas casas, para vos ferir. Portanto guardai isto por estatuto para vós e para vossos filhos, para sempre." Êxodo 12:12, 22-24. O sangue na verga da porta simbolizava o sangue de Cristo que, unicamente, salvava da condenação o primogênito dos hebreus. Qualquer dos filhos dos hebreus que fosse encontrado em uma habitação egípcia, seria destruído. T6 195 1 Essa experiência dos israelitas foi escrita para instrução dos que haviam de viver nos últimos dias. Antes que passe o dilúvio do açoite sobre os habitantes da Terra, o Senhor está chamando a todos quantos são verdadeiramente israelitas a que se preparem para esse acontecimento. Ele envia aos pais o grito de advertência: Recolham seus filhos em sua própria casa; afastem-nos dos que desrespeitam os mandamentos de Deus, que ensinam e praticam o mal. Saiam o mais depressa possível das grandes cidades. Estabeleçam escolas junto às igrejas. Dêem a seus filhos a Palavra de Deus como fundamento de toda a sua educação. Ela está cheia de belas lições, e se os alunos a tornam seu estudo no curso fundamental aqui embaixo, estarão preparados para o curso superior lá em cima. T6 195 2 Vem a nós a Palavra de Deus a este tempo: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14-18. Onde estão nossos filhos? Estamos nós os educando para discernir a corrupção que pela concupiscência há no mundo, e dela escapar? Estamos nos esforçando para salvar-lhes a vida, ou, pela nossa negligência, ajudando em sua destruição? Crianças negligenciadas T6 196 1 Pouquíssima atenção na verdade tem sido dada a nossas crianças e jovens. Os membros mais idosos da igreja não os têm olhado com ternura e simpatia, desejando que avancem na vida religiosa, e assim as crianças têm deixado de se desenvolver na vida cristã como deveriam. Alguns membros da igreja, que tiveram o amor e o temor de Deus no passado, estão permitindo que os negócios se tornem absorventes, escondem sua luz debaixo do alqueire. Têm-se esquecido de servir a Deus, e estão tornando os negócios a sepultura de sua religião. T6 196 2 Será a juventude deixada a vaguear aqui e ali, ficar desanimada e cair em tentações que estão por toda parte? A obra que mais perto está dos membros de nossa igreja é interessar-se pelos nossos jovens, dando, com bondade, paciência e ternura, regra sobre regra, mandamento sobre mandamento. Oh! onde estão os pais e mães em Israel? Deveria haver grande número de pessoas que, como mordomos da graça de Cristo, sentisse pela mocidade não apenas um interesse meramente casual, mas especial. Deveria haver muitos cujo coração fosse tocado pela lamentável situação em que se acha colocada nossa juventude, que compreendessem que Satanás está operando por todos os meios imagináveis para os arrastar a sua rede. Deus requer que Sua igreja desperte da letargia em que se encontra, e veja que espécie de serviço é exigido neste tempo de perigo. T6 196 3 Os olhos de nossos irmãos e irmãs devem ser ungidos com o colírio celestial, para que venham a discernir as necessidades dos tempos atuais. Os cordeiros do rebanho precisam ser alimentados, e o Senhor do Céu observa para ver quem está realizando a obra que Ele deseja que se faça pelas crianças e os jovens. A igreja está adormecida e não avalia a magnitude do assunto. "Ora", diz alguém, "que necessidade há de ser tão exigente para educar nossa mocidade? Parece-me que, se alguns que resolveram seguir alguma profissão literária, ou qualquer outra carreira que exija determinado preparo, são objeto de especial atenção, isso é suficiente. Não é preciso que toda a nossa juventude seja tão bem preparada. A educação completa de alguns não satisfará a todas as exigências?" T6 197 1 Não, respondo; mui decididamente não. Que escolha seríamos capazes de fazer entre nossos jovens? Como poderemos dizer quem será mais promissor, quem haverá de prestar o melhor serviço para Deus? Em nosso juízo humano, poderemos fazer como fez Samuel que, quando enviado a buscar o ungido do Senhor, olhou para a aparência exterior. Mas o Senhor disse a Samuel: "Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." 1 Samuel 16:7. Nenhum dos de nobre aparência, dentre os filhos de Jessé, foi aceito pelo Senhor; mas quando Davi, o filho mais novo, um simples pastor de ovelhas, foi chamado do campo e passou diante de Samuel, o Senhor disse: "Levanta-te, e unge-o, porque este mesmo é." 1 Samuel 16:12. Quem pode decidir qual membro de uma família se demonstrará eficiente na obra de Deus? A todos os jovens deve ser permitido receber as bênçãos e privilégios da educação em nossas escolas, e poderão ser inspirados a tornar-se coobreiros de Deus. Necessitam-se escolas junto às igrejas T6 198 1 Muitas famílias que, com o intuito de educar seus filhos, pretendem se mudar para lugares onde se acham situadas nossas grandes escolas, fariam melhor serviço ao Mestre permanecendo onde estão. Devem animar a igreja de que são membros a estabelecer uma escola em que as crianças dos arredores recebam uma educação cristã prática, bem equilibrada. Seria muitíssimo melhor para seus filhos, para eles próprios e para a causa de Deus, se eles permanecessem nas igrejas menores, onde seu auxílio é necessário, em vez de irem para as maiores onde, devido a não serem ali necessários, há constante tentação a cair em inatividade espiritual. T6 198 2 Onde quer que haja alguns observadores do sábado, os pais se devem unir para providenciar um lugar para uma escola em que suas crianças e jovens possam ser instruídos. Empreguem um professor cristão que, como consagrado missionário, eduque as crianças de tal maneira que as induza a se tornarem missionárias. Empreguem-se professores capazes de ministrar uma educação completa em todos os ramos comuns da vida, tornando a Bíblia o fundamento e a vida de todo o estudo. Os pais devem revestir-se da armadura e, por meio do próprio exemplo, ensinar as crianças a serem missionárias. Devem trabalhar enquanto é dia, pois "a noite vem, quando ninguém pode trabalhar". João 9:4. Caso façam abnegados esforços, ensinando perseverantemente os filhos a assumirem responsabilidades, o Senhor cooperará com eles. T6 198 3 Algumas famílias de observadores do sábado vivem isoladas ou muito separadas de outras da mesma fé. Essas têm às vezes mandado os filhos a nossos internatos, onde foram ajudados, e voltaram para ser uma bênção no próprio lar. Outros, porém, não podem mandar os filhos para longe, a fim de serem educados. Nesses casos os pais devem esforçar-se por empregar um professor exemplarmente religioso, que considere um prazer trabalhar para o Mestre em qualquer ocupação, e esteja disposto a cultivar qualquer parte da vinha do Senhor. Pais e mães devem cooperar com o professor, trabalhando zelosamente para a conversão de seus filhos. Esforcem-se para manter o interesse espiritual sempre vivo e saudável no lar, criando seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor. Consagrem eles parte de cada dia ao estudo, e tornem-se alunos com seus filhos. Assim tornarão a hora educativa um prazer e um proveito, e se fortalecerá sua confiança nesse método de buscar a salvação dos próprios filhos. Os pais verificarão que seu próprio desenvolvimento será mais rápido à medida que eles aprenderem a trabalhar pelos filhos. Ao trabalharem assim, de maneira humilde, desaparecerá a incredulidade. A fé e a atividade comunicam certeza e satisfação que aumentam dia a dia, à medida que prosseguem em conhecer ao Senhor, e torná-Lo conhecido. Suas orações se tornarão fervorosas, pois terão algum objeto definido por que orar. T6 199 1 Em alguns países os pais são obrigados por lei a mandar os filhos à escola. Nesses países, nas localidades onde há igreja, devem-se estabelecer escolas, mesmo que não haja mais de seis crianças para freqüentá-las. Trabalhemos como se o fizéssemos para salvar a própria vida, para salvar os filhos de serem afogados nas influências contaminadoras e corruptoras do mundo. T6 199 2 Achamo-nos demasiado aquém de nosso dever quanto a esse importante assunto. Em muitos lugares, as escolas já deveriam estar funcionando há anos. Muitas localidades teriam assim representantes da verdade que acrescentariam reputação à obra do Senhor. Em vez de concentrar tantos grandes edifícios em poucos lugares, deveriam ser estabelecidas escolas em muitas localidades. T6 199 3 Iniciem-se agora essas escolas sob liderança sábia, para que a infância e a juventude sejam educadas em suas próprias igrejas. É uma séria ofensa a Deus o ter havido tão grande negligência nesse sentido, quando a Providência nos tem tão abundantemente provido de facilidades para o trabalho. Mas se bem que no passado tenhamos deixado de fazer o que poderíamos haver feito para as crianças e jovens, arrependamo-nos agora, cuidando em redimir o tempo. Diz o Senhor: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra." Isaías 1:18, 19. O caráter de nossas escolas e professores T6 200 1 O caráter da obra feita em nossas escolas deve ser da mais alta ordem. Jesus Cristo, o Restaurador, é o único remédio para uma educação errônea, e as lições ensinadas em Sua Palavra devem ser sempre mantidas diante da juventude pela maneira mais atrativa. A disciplina escolar deve apoiar a educação doméstica, e manter-se, tanto em casa como na escola, a simplicidade e a piedade. Surgirão homens e mulheres que têm talento para trabalhar nessas pequenas escolas, mas que não teriam sucesso nas escolas maiores. Ao praticarem as lições bíblicas, receberão eles próprios uma educação do mais alto valor. T6 200 2 Ao escolher professores, usemos a máxima cautela, sabendo ser uma questão tão séria quanto a escolha de pessoas para o ministério. Essa escolha deve ser feita por homens sábios, aptos a discernir qualidades, pois para educar e moldar o espírito dos jovens para desempenharem com êxito os diversos segmentos da obra, necessitam-se os melhores talentos que se possam conseguir. Não se deve pôr à frente dessas escolas qualquer pessoa com mente inferior ou estreita. Não sejam deixadas as crianças a cargo de jovens e inexperientes professores, destituídos de aptidão para dirigir, pois seus esforços tenderiam para a desorganização. A ordem é a primeira lei do Céu e toda escola deve, a esse respeito, ser um modelo do Céu. T6 201 1 É uma impiedade confiar as crianças a professores orgulhosos e destituídos de amor. Um professor assim fará grande dano aos que estão em rápido desenvolvimento de caráter. Se os professores não forem submissos a Deus, se não tiverem amor pelas crianças que têm a seu cargo, ou se mostrarem parcialidade pelos que lhes agradam e manifestarem indiferença pelos menos atrativos ou os que são desassossegados e nervosos, não devem ser empregados; pois o resultado de sua obra será perda de almas para Cristo. T6 201 2 Necessitam-se, em especial para as crianças, de professores que sejam calmos e bondosos, que manifestem paciência e amor justamente por aqueles que disso mais carecem. Jesus amava as crianças e as considerava como membros mais jovens da família do Senhor. Tratava-as sempre com bondade e respeito, e os professores devem seguir o Seu exemplo. Devem ter o verdadeiro espírito missionário, pois as crianças precisam ser preparadas para se tornarem missionárias. Cumpre-lhes sentir que o Senhor lhes confiou, como um solene depósito, a salvação dos jovens e das crianças. Nossas escolas necessitam de professores de elevadas qualidades morais, dignos de confiança, fortes na fé e dotados de paciência e tato; pessoas que andem com Deus e se abstenham até da aparência do mal. Haverá momentos difíceis em sua obra. Terão de enfrentar nuvens e escuridão, tormentas, tempestades e preconceitos por parte dos pais que nutrem incorretas idéias quanto ao caráter que seus filhos devem formar; pois há muitos que pretendem crer na Bíblia, ao passo que deixam de introduzir-lhe os princípios na vida doméstica. Mas, se os professores forem constantes discípulos da escola de Cristo, essas circunstâncias jamais os vencerão. T6 202 1 Que os pais busquem ao Senhor com fervor intenso, a fim de não virem a ser pedras de tropeço no caminho dos próprios filhos. Afugentem do coração a inveja e o ciúme, e deixem que a paz de Cristo aí penetre de modo a unir os membros da igreja em verdadeira fraternidade cristã. Cerrem-se as janelas do coração contra as venenosas influências da Terra, abrindo-as em direção ao Céu, para receber os benéficos raios do Sol da justiça de Cristo. Enquanto o espírito de crítica e de suspeita não for banido do coração, o Senhor não pode realizar Seu anelo para a igreja -- abrir o caminho para o estabelecimento de escolas; enquanto não houver unidade, Ele não moverá aqueles a quem confiou recursos e aptidões para o avanço dessa obra. Os pais precisam atingir uma norma mais elevada, observando o caminho do Senhor e praticando a justiça, de modo a serem portadores de luz. Importa que haja inteira transformação de espírito e caráter. O espírito de desunião nutrido no coração de alguns se comunicará a outros, e anulará a influência que a escola exerceria para o bem. A menos que os pais estejam prontos e ansiosos no sentido de cooperar com o professor para salvação de seus filhos, não se acham preparados para o estabelecimento de uma escola entre eles. Resultados da obra da escola da igreja T6 202 2 Quando devidamente dirigidas, as escolas serão o meio de erguer o estandarte da verdade nos lugares em que funcionam; pois as crianças que receberem educação cristã, serão testemunhas de Cristo. Como Jesus, no templo, desvendou os mistérios que os sacerdotes e os príncipes não haviam podido penetrar, assim na história final da Terra, crianças que foram devidamente educadas hão de, em sua simplicidade, proferir palavras que surpreenderão os que agora falam em "educação refinada". Como as crianças cantavam "Hosanas" no pátio do templo, e "Bendito o que vem em nome do Senhor" (Marcos 11:9), assim nestes últimos dias as vozes das crianças se erguerão para dar a última mensagem de advertência a um mundo agonizante. Quando os seres celestiais virem que os homens não mais têm permissão de apresentar a verdade, o Espírito de Deus virá sobre as crianças, e elas farão na proclamação da verdade um trabalho que os obreiros mais idosos não podem fazer, pois seus passos serão entravados. T6 203 1 Nossas escolas são ordenadas por Deus a fim de preparar as crianças para essa grande obra. Aí devem elas ser instruídas nas verdades especiais para este tempo, e na obra missionária prática. Devem alistar-se no exército de obreiros para ajudar o enfermo e o sofredor. As crianças podem tomar parte na obra médico-missionária e ajudar a levá-la avante em todos os seus aspectos. Suas contribuições poderão ser pequenas, mas ainda assim úteis, e mediante seus esforços muitas pessoas serão ganhas para a verdade. Por elas será proclamada a mensagem de Deus e Sua salvação a todas as nações. Que a igreja se preocupe, portanto, com os cordeirinhos do rebanho. Sejam as crianças educadas e preparadas para servirem a Deus, pois são a herança do Senhor. T6 203 2 Anos atrás deveriam ter sido construídos edifícios apropriados para escolas junto às igrejas, nas quais as crianças e os jovens pudessem receber a verdadeira educação. T6 203 3 Os livros usados nas escolas de nossas igrejas devem chamar a atenção para a lei de Deus. Assim a luz, a força e o poder da verdade serão engrandecidos. Estudarão nessas escolas jovens de fora, alguns cuja mente fora depravada, e aí serão convertidos. Seu testemunho em favor da verdade poderá ser impedido por algum tempo em razão das falsas teorias dos pais, mas afinal a verdade triunfará. Fui instruída a dizer que essa espécie de obra missionária exercerá uma influência eficaz na difusão da luz e do conhecimento. T6 204 1 Quão importante é que as famílias que se estabelecem num lugar em que há uma escola sejam boas representantes de nossa sagrada fé! T6 204 2 As igrejas em que se acham estabelecidas escolas, bem podem tremer ao se verem depositárias de responsabilidades morais demasiado grandes para serem expressas por palavras. Há de esta obra nobremente iniciada falhar ou ser enfraquecida pela falta de consagrados obreiros? Será que os projetos e ambições egoístas vão achar lugar nesse empreendimento? Será que os obreiros permitirão que o amor ao ganho, o amor pela comodidade, a falta de piedade, excluam Cristo de seu coração e O eliminem da escola? De modo nenhum! A obra já está bastante adiantada. No ramo educacional, tudo está arranjado para uma zelosa reforma, para uma educação mais verdadeira, mais eficaz. Há de nosso povo aceitar esse santo legado? Humilhar-se-ão eles aos pés da cruz do Calvário, prontos para todo sacrifício e todo serviço? T6 204 3 Os pais e os professores devem buscar com muita diligência aquela sabedoria que Jesus sempre está pronto a conceder; pois estão lidando com mentes humanas no período mais interessante e impressionável de seu desenvolvimento. Eles devem ter como objetivo cultivar por tal forma as tendências da juventude que, em cada estágio de sua vida, possam apresentar a beleza natural própria daquele período, desdobrando-se gradualmente, como acontece com as plantas e flores do jardim. T6 205 1 A orientação e instrução das crianças é o mais nobre trabalho missionário que qualquer homem ou mulher possa empreender. Por meio do devido emprego de objetos, tornem-se bem claras as lições, para que sua mente seja levada da natureza para o Deus da natureza. Precisamos ter em nossas escolas pessoas dotadas daquele tato e habilidade capazes de levar avante esse ramo de trabalho, semeando assim as sementes de verdade. Unicamente o grande dia de Deus pode revelar o bem que essa obra realizará. T6 205 2 Especial talento deve ser consagrado à educação dos pequeninos. Muitos podem saber como elevar o nível da manjedoura, e dar de comer às ovelhas, mas é bem mais difícil abaixá-la e alimentar os cordeirinhos. Eis uma lição que os professores de nossas escolas precisam aprender. T6 205 3 Os olhos da mente necessitam ser educados, do contrário a criança terá prazer em contemplar o mal. T6 205 4 Os professores deveriam algumas vezes tomar parte nos jogos e brinquedos dos pequeninos, e ensiná-los a brincar. Dessa maneira terão condições de controlar os sentimentos e ações desagradáveis sem demonstrar crítica ou achar defeitos. Esse companheirismo ligará o coração dos professores e dos alunos, e a escola será um deleite para todos. T6 205 5 Os professores devem amar as crianças, porque elas são os membros mais jovens da família do Senhor. O Senhor indagará deles, como dos pais: "Onde está o rebanho que se te deu, e as ovelhas da tua glória?" Jeremias 13:20. ------------------------Capítulo 25 -- Administração e finanças das escolas T6 206 1 Quem dera que eu pudesse manejar a língua de maneira a exprimir claramente a importância da devida administração de nossas escolas! Todos devem compreender que essas escolas são instrumentos do Senhor, instrumentos por meio dos quais Ele quer Se tornar conhecido aos homens. Necessitam-se por toda parte homens e mulheres que sirvam de condutos de luz. A verdade de Deus deve ser levada a todas as terras, para que os homens sejam iluminados por ela. T6 206 2 Como um povo que possui avançada luz, devemos imaginar meios para desenvolver um exército de missionários educados para participar dos vários departamentos da obra de Deus. Precisamos de jovens de ambos os sexos bem disciplinados e cultos, em nossos sanatórios, na obra médico-missionária, nos escritórios de publicações, nas Associações dos vários Estados, bem como no campo em geral. Necessitamos de rapazes e moças que, possuindo elevada cultura intelectual, estejam habilitados a fazer a melhor obra para o Senhor. Temos feito alguma coisa no sentido de atingir essa norma, mas ainda estamos muito aquém daquilo que o Senhor tem em vista. Como igreja, como indivíduos, se queremos estar limpos no juízo, cumpre-nos fazer maiores esforços para o preparo de nossos jovens, a fim de estarem mais aptos para os diversos ramos da grande obra confiada a suas mãos. Como um povo possuidor de grande luz, devemos fazer planos sábios de maneira que a mente dos que são dotados de talento seja robustecida, disciplinada e polida, de modo que a obra de Cristo não seja prejudicada por falta de obreiros capazes, que façam seu trabalho com diligência e fidelidade. T6 207 1 Alguns se contentariam com a esmerada educação de uns poucos dos mais promissores dentre nossos jovens; mas todos eles necessitam educar-se a fim de estarem aptos para ser úteis na vida, habilitados para lugares de responsabilidade, tanto na vida particular como na pública. Há grande necessidade de que se façam planos para que haja grande número de obreiros competentes, e muitos se devem habilitar como professores, de modo que outros venham a ser preparados e disciplinados para a grande obra do futuro. A igreja deve avaliar a situação e, por sua influência e recursos, procurar promover esse tão desejado objetivo. Livre de dívidas T6 207 2 A fim de que nossas escolas possam realizar nobremente o desígnio para que foram estabelecidas, devem estar livres de dívidas. Não se deve permitir que pese sobre elas o pagamento de juros. No estabelecimento de escolas missionárias para obreiros, e especialmente nos campos novos, em que são poucos os irmãos e limitados seus recursos, é melhor, em vez de retardar a obra, tomar dinheiro emprestado de amigos desse empreendimento; mas sempre que seja possível, consagrem-se nossas instituições livres de débitos. T6 207 3 O Senhor tem recursos para Sua obra nas mãos de Seus mordomos; e enquanto as escolas tiverem dívidas contraídas para sua fundação, para construírem-se os necessários edifícios, e proverem-se as precisas instalações, é nosso dever apresentar o caso aos irmãos, e pedir-lhes que diminuam esses débitos. Nossos pastores devem preocupar-se com essa obra. Cumpre-lhes animar todos a trabalhar harmonicamente, e a auxiliar segundo suas possibilidades. Caso essa obra houvesse sido empreendida com fidelidade e diligência anos atrás, as dívidas de nossas escolas mais antigas já há muito poderiam haver sido saldadas. Economia T6 208 1 Na construção dos edifícios escolares, em seu mobiliário, bem como em todo aspecto de sua administração, cumpre exercer a mais estrita economia. Nossas escolas não devem ser conduzidas segundo qualquer plano estreito ou egoísta. Devem assemelhar-se o mais possível a um lar, e ensinar em todos os aspectos lições corretas de simplicidade, utilidade e economia. T6 208 2 Os estudantes se acham em nossas escolas a fim de receber especial preparo para se relacionarem com todos os ramos de serviço, de modo que, se tiverem que sair como missionários, contem consigo mesmos e sejam capazes, por meio de sua aprimorada habilidade, de se proverem com os necessários recursos. Quer sejam homens ou mulheres, devem aprender a remendar, lavar e manter as próprias roupas em ordem. Devem poder cozinhar suas refeições. Estar familiarizados com a agricultura e serviços mecânicos. Assim poderão diminuir suas despesas e, por seu exemplo, incutir princípios de economia e equilíbrio. Tais lições serão melhor ensinadas onde se exercita conscienciosamente a economia em tudo. T6 208 3 Não somente para benefício financeiro das escolas, mas também como educação para os estudantes, a economia deve ser fielmente considerada, conscienciosa e diligentemente exercida. Cuidem os dirigentes em todos os pontos, para que não haja desnecessária despesa, que venha ocasionar um encargo de dívida à escola. Todo aluno que ama a Deus acima de tudo, cooperará aceitando responsabilidades a esse respeito. Os que foram educados em assim fazer podem demonstrar, por preceito e por exemplo, àqueles com quem se põem em contato, os princípios ensinados por nosso abnegado Redentor. A condescendência consigo mesmo é um grande mal e precisa ser vencida. T6 208 4 Alguns têm sido relutantes para dar a conhecer aos alunos as dificuldades financeiras das escolas; mas será muito melhor que eles vejam e compreendam a falta de meios, pois serão assim capazes de ajudar no fazer economia. Muitos dos que vêm às nossas escolas originam-se de lares pobres, e foram acostumados a comer comida simples, sem muita variedade. Que influência terá nosso exemplo sobre esses? Ensinemo-lhes que, ao passo que temos tantos modos de gastar nossos recursos, enquanto milhares estão perecendo à míngua, morrendo de peste, de fome, por derramamento de sangue ou pelo fogo, cabe a cada um de nós considerar cuidadosamente não adquirir coisas desnecessárias simplesmente para satisfazer o apetite ou por amor da aparência. T6 209 1 Caso nossas escolas sejam bem orientadas, não acumularão débitos, os alunos terão conforto, e a mesa será provida com bastante alimento bom e nutritivo. Nossa economia nunca deveria ser daquela espécie que leve a alimentar os alunos de modo deficiente. Eles devem ter abundância de alimento saudável. Ajuntem, porém, os encarregados da cozinha as sobras, para que nada se perca. T6 209 2 Ensinem-se os alunos a conservarem cuidadosamente o que lhes pertence, bem como o que é da escola. Importa fazê-los compreender o dever de limitarem toda despesa desnecessária, seja na escola, seja quando viajam indo para casa ou vindo. A abnegação é coisa essencial. Precisamos dar ouvidos às instruções dadas, porque estamos nos aproximando do fim do tempo. Seremos cada vez mais obrigados a planejar, criar e fazer economia. Não podemos dirigir como se tivéssemos um banco de onde pudéssemos sacar em ocasião de emergência; portanto não devemos nos meter em dificuldades. Como indivíduos e administradores das instituições do Senhor, teremos de cortar necessariamente tudo quanto tenha como objetivo a mera ostentação, pondo as despesas dentro dos estreitos limites de nossas rendas. Boa administração T6 210 1 A administração financeira de algumas de nossas escolas pode ser grandemente melhorada. Mais sabedoria e mais capacidade mental devem ser empregadas no trabalho. Cumpre introduzir melhores métodos práticos a fim de deter o aumento de despesas, o que daria em resultado o meter-se em dívidas. Em Battle Creek e College View têm-se empregado demasiado capital em prédios e foi gasto mais que o necessário para mobiliar os internatos. T6 210 2 Quando os diretores de uma escola verificam que ela não está satisfazendo as despesas correntes, e estão-se contraindo dívidas, devem proceder como os equilibrados homens de negócio, e mudar seus métodos e planos. Quando se demonstra ao fim de um ano que a administração financeira foi errada, dê-se ouvido à voz da sabedoria. Haja decidida reforma. Os professores devem manifestar excelência cristã no pensar e planejar séria e solidamente para melhorar a situação. Cumpre-lhes aderir de coração aos planos do administrador, partilhando-lhe as preocupações. Despesas de educação T6 210 3 Em algumas de nossas escolas, o preço da instrução tem sido demasiado baixo. Isso tem sido em muitos sentidos prejudicial ao trabalho educativo. Tem trazido compromissos desanimadores; lançado sobre a administração contínua suspeita de não calcularem bem, de falta de economia e de planejar erroneamente; isso tem causado desânimo aos professores, levando o povo a exigir preços correspondentemente baixos em outras escolas. Seja qual for o motivo que tenha levado a tornar os preços do custo escolar abaixo do custo de vida, o fato de a escola estar ficando grandemente atrasada é suficiente razão para reconsiderar os planos, e ajustar o que ela cobra de maneira a produzir futuramente outros resultados. A quantia cobrada pela mensalidade escolar, dormitório e refeições deve ser suficiente para pagar os salários do corpo docente, prover a mesa com abundância de comida saudável e nutritiva, manter o mobiliário dos quartos, atender à conservação dos edifícios e a outras despesas operativas necessárias. Isso é questão importante, e não admite cálculos estreitos, mas uma verificação completa. É preciso o conselho do Senhor. A escola deve ter renda suficiente, não só para pagar as necessárias despesas operativas, mas para poder prover aos alunos, durante o período escolar, aquilo que é essencial ao seu trabalho. T6 211 1 Importa não acumular dívidas período após período. A mais importante educação a ser ministrada é fugir de incorrer em dívidas, como se evita a doença. Quando passa ano após ano, e não há sinal de diminuir a dívida, antes aumentando, é preciso parar. O diretor deve dizer: "Recusamo-nos a prosseguir na administração da escola, a menos que se imagine um sistema eficaz." Seria melhor, muito melhor, fechar a escola até que os líderes aprendessem a ciência de administrá-la de forma viável. Por amor de Cristo, como o povo escolhido de Deus, apliquemo-nos ao trabalho e iniciemos um sistema financeiro sustentável em nossas escolas. T6 211 2 Sempre que se torna preciso elevar os preços, em qualquer escola, seja primeiro o assunto exposto aos patrocinadores dessa escola, mostrando-lhes que as entradas estão muito baixas e que, em resultado, estão acumulando dívidas sobre a instituição, prejudicando e entravando seu funcionamento. Talvez uma elevação dos preços ocasione diminuição na matrícula, mas o maior número de alunos não deveria ser maior motivo de regozijo do que a libertação do débito. T6 212 3 Um dos resultados das baixas taxas escolares em Battle Creek tem sido o ajuntamento de maior número de alunos e de famílias do que é prudente em um lugar. Se dois terços do povo de Battle Creek estivessem em outros lugares, teriam espaço para se desenvolver. Maior proveito haveria se parte do tempo e da energia dedicados à escola maior de Battle Creek a fim de conservá-la em razoáveis condições houvesse sido empregada em outras localidades onde há margem para empreendimentos agrícolas a serem promovidos como parte da educação. Se houvesse boa vontade para seguir os caminhos do Senhor, muitos estabelecimentos estariam agora florescendo em outros lugares. T6 212 1 Repetidamente nos tem vindo a palavra do Senhor, dizendo que deveriam existir outros estabelecimentos, tanto igrejas como escolas, em outras localidades, que há demasiado peso de responsabilidades em um lugar. Que o povo saia dos grandes centros e estabeleça pólos de interesse em outros lugares, é a recomendação feita. Houvessem essas instruções sido atendidas e sido distribuídos os recursos, o dinheiro gasto nos edifícios a mais em Battle Creek teria sido suficiente para construir dois novos edifícios em outras localidades, e os três estariam crescendo e dando frutos como não se têm visto, por que os homens preferiram seguir sua própria sabedoria. T6 212 2 Dizem os irmãos que pastores e pais alegam que há dezenas e dezenas de jovens em nossas fileiras que necessitam das vantagens oferecidas em nossas escolas missionárias, os quais não as podem estudar a menos que as mensalidades sejam menores. Mas os que pleiteiam preços mais baixos devem ponderar cuidadosamente todos os lados da questão. Se os alunos não podem por si mesmos dispor de suficientes recursos para pagar o custo real de um bom e fiel trabalho em sua educação, não seria melhor que os pais, amigos, as igrejas a que eles pertencem ou irmãos de coração generoso e liberal da Associação à qual pertencem os ajudassem, do que se trouxesse sobre a escola um fardo de dívidas? Seria muito melhor insistir com os muitos patrocinadores da instituição partilharem as despesas do que ficar a escola com débitos. T6 213 1 É preciso encontrar métodos de impedir a acumulação de dívidas sobre nossas instituições. Não se deve permitir que toda a causa sofra em virtude de compromissos que nunca serão saldados a menos que haja inteira mudança, e o trabalho seja levado avante de forma diferente. Que todos quantos tiveram parte em permitir que essa nuvem de débitos baixasse sobre eles, sintam agora ser seu dever fazerem o que lhes for possível a fim de a dissipar. Auxílio a alunos merecedores T6 213 2 Às igrejas das diferentes localidades cumpre sentir que repousa sobre elas solene responsabilidade de preparar os jovens e cultivar os talentos para se empenharem em obra missionária. Quando vêem na igreja rapazes ou moças promissores de virem a tornar-se úteis obreiros, mas que não podem se manter na escola, devem assumir a responsabilidade de os mandar a uma de nossas escolas missionárias. Há nas igrejas pessoas com excelente capacidade, as quais precisam ser encaminhadas para o serviço. Pessoas que realizariam ótimo trabalho na vinha do Senhor, mas muitas são demasiado pobres para, sem assistência, obter a educação de que necessitam. As igrejas devem considerar um privilégio tomar parte em custear as despesas dessas pessoas. T6 213 3 Quem tem no coração a verdade, tem sempre a alma aberta, ajudando no que é necessário. Essas pessoas abrem o caminho, e outras seguem seu exemplo. Caso haja alguns que devam ser ajudados na escola, pois não podem pagar toda a despesa escolar, mostrem as igrejas sua liberalidade ajudando a tais pessoas. T6 213 4 Além disso, deve ser constituído em cada Associação um fundo para emprestar a dignos estudantes pobres que desejam se consagrar à obra missionária; e em alguns casos devem mesmo receber como dádiva. Quando foi iniciado o colégio de Battle Creek, foi formado no escritório da Review and Herald um fundo para o benefício dos que desejassem preparar-se, mas não tivessem meios. Isso foi usado por vários estudantes, até que conseguissem um bom impulso; depois pagavam de seus ganhos o que haviam retirado, de modo que outros tivessem por sua vez o benefício daquele fundo. É preciso que os jovens compreendam claramente que se devem esforçar o quanto possível para abrir o próprio caminho, pagando assim em parte as próprias despesas. O que custa pouco, pouco também será apreciado. Mas o que envolve um custo mais ou menos aproximado a seu real valor, será proporcionalmente estimado. Ensinar a depender de si mesmo T6 214 1 Por preceito e por exemplo, devemos ensinar a abnegação, a economia, a generosidade, o esforço próprio. Todo aquele que possui caráter verdadeiro, estará habilitado a enfrentar as dificuldades, e pronto para atender a um "Assim diz o Senhor". Os homens não se acham preparados para compreender sua obrigação para com Deus enquanto não houverem aprendido na escola de Cristo a usar o jugo da economia e obediência. O sacrifício faz parte das iniciativas de nossa obra para promover a verdade e estabelecer instituições. Constitui parte essencial da educação. O sacrifício deve tornar-se habitual em toda a edificação de nosso caráter nesta vida, se desejamos ter um edifício não feito com mãos e eterno, no Céu. T6 214 2 A juventude está exposta a muitos perigos em virtude de errôneas idéias relativas ao uso do dinheiro. Não devem os jovens ser supridos com dinheiro como se houvesse inesgotável abastecimento de onde pudessem tirar interminavelmente para satisfação de toda suposta necessidade. O dinheiro é para ser considerado um dom de Deus a nós confiado para efetuar Sua obra, promover-Lhe o reino, e os jovens devem aprender a restringir os próprios desejos. Eles têm de entender que ninguém deve corromper suas faculdades ao agradar-se e satisfazer-se a si mesmo. Aqueles a quem Deus dotou de habilidade para adquirir meios se acham para com Ele na obrigação de empregar esses meios, mediante a sabedoria comunicada pelo Céu, para a glória de Seu nome. Todo dinheiro gasto para satisfação própria, ou dado a amigos prediletos que o vão gastar para satisfação do orgulho e do egoísmo, é roubado do tesouro de Deus. O dinheiro gasto em roupas para agrado pessoal é tanto, que poderia haver sido empregado para promover a obra de Deus em novos lugares. Oh! se Deus desse a todos um verdadeiro senso do que significa ser cristão! É ser semelhante a Cristo, e Cristo não viveu para agradar a Si mesmo. O dever de nossas associações T6 215 1 As Associações desejam receber de nossas escolas obreiros educados e bem preparados, por isso devem dispensar-lhes um apoio mais caloroso e inteligente. Tem sido comunicada positiva luz para que os que ministram em nossas escolas ensinando a Palavra de Deus, explicando as Escrituras, educando os alunos nas coisas divinas, sejam sustentados com o dinheiro do dízimo. Essas instruções foram dadas há muito tempo, e mais recentemente têm sido reafirmadas. T6 215 2 Onde quer que sejam estabelecidas escolas, devem ser colocados diretores sábios, "homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza" (Êxodo 18:21), homens que façam tudo quanto lhes é possível nas várias responsabilidades de sua posição. Devem ser dotados de capacidade para os negócios, porém é ainda de maior importância que andem humildemente diante de Deus e sejam guiados pelo Espírito Santo. Esses homens serão ensinados por Deus, e buscarão conselho de irmãos acostumados a orar. T6 215 3 Os que dirigem nossas escolas devem trabalhar impelidos por motivos puros. Em sua abnegação, se lembrarão de que outras partes da grande seara têm necessidade dos mesmos recursos que a sua escola. Lembrarão, em todos os planos, que a igualdade e a unidade devem ser preservadas. Hão de calcular cuidadosamente o custo de todo empreendimento, e se esforçarão por não gastar tão grande soma de dinheiro que privem outros campos dos necessários recursos. T6 216 1 Muito freqüentemente pastores têm sido levados a assumir responsabilidades para as quais de maneira alguma estavam aptos. Tais encargos devem ser colocados sobre homens dotados de tato comercial, que podem se dedicar aos negócios, que podem visitar as escolas e manter um relatório das condições financeiras, e que também estão aptos a dar instruções quanto a manter a contabilidade. O trabalho da escola deve ser inspecionado várias vezes por ano. Desempenhem os pastores o papel de conselheiros, mas não se coloque sobre eles as responsabilidades financeiras. Inspeção pelo revisor da associação geral T6 216 2 A luz que me foi dada pelo Senhor é que homens prudentes, homens de habilidade financeira, visitem nossas escolas em todos os países e mantenham o controle de sua situação econômica. Esse assunto não deve ser deixado a cargo dos pastores ou dos membros da comissão, que não dispõem de tempo para assumir esse encargo. Tampouco se deve pôr sobre os professores essa responsabilidade. Essas questões de negócios escolares exigem talento que ainda não foi provido. T6 216 3 Caso os dirigentes houvessem exercitado clara percepção no passado, as desanimadoras condições financeiras que tanto têm estorvado a Causa nos últimos anos nunca teriam existido. T6 216 4 Se nossa obra educacional houvesse sido levada avante em harmonia com as instruções dadas, não pairaria hoje sobre nossas instituições a pesada sombra das dívidas. As finanças das escolas de igreja T6 216 5 Os mesmos princípios que, quando seguidos, trazem êxito e bênçãos a nossas escolas e colégios missionários, devem reger nossos planos quanto às escolas junto às igrejas. Que todos partilhem das despesas. Cuide a igreja que todos quantos devem receber os benefícios da escola a freqüentem realmente. As famílias pobres devem ser ajudadas. Não podemos nos chamar verdadeiros missionários, se negligenciarmos aqueles que, mesmo às nossas portas, se encontram na idade mais crítica, necessitados de nosso auxílio a fim de adquirir conhecimento e experiência que os habilitem para o serviço de Deus. T6 217 1 O Senhor quer que façamos os maiores esforços na educação de nossos filhos. Genuína obra missionária feita por professores diariamente ensinados por Deus, traria muitas almas ao conhecimento da verdade tal como é em Jesus, e as crianças assim educadas comunicarão a outros a luz e o conhecimento recebidos. Darão os membros da igreja os meios necessários para avançar a causa de Cristo entre os outros, deixando os próprios filhos promoverem o serviço e obra de Satanás? T6 217 2 Ao serem estabelecidas as escolas junto às igrejas, o povo de Deus verificará que é para eles valiosa educação o aprenderem a dirigir uma escola de maneira que venha a ser um êxito no sentido financeiro. Caso isso não possa ser conseguido, fechem a escola até que, com o auxílio de Deus, haja planos adequados para levá-la avante sem a mancha de débitos. Os livros devem ser revisados uma, duas e três vezes anualmente, por homens de habilidade financeira, de modo a verificar-se o verdadeiro estado da escola, e ver que não tenham lugar aí grandes despesas que venham a resultar em acumulação de compromissos. Devemos fugir de dívidas como da lepra. T6 217 3 Muitos de nossos jovens que desejam educar-se, pouco se preocupam com envolver-se em débitos. Consideram o estudo teórico como a principal maneira de se educar. Não compreendem o valor da educação nos negócios práticos, e ficam satisfeitos em gastar anos e anos se instruindo com recursos de outros, em vez de o fazerem com o próprio trabalho. Não analisam os resultados disso. Não raciocinam da causa para o efeito. T6 218 1 Freqüentemente a conseqüência dessa atitude é um desproporcionado desenvolvimento das faculdades. O aluno não compreende os pontos fracos de seu caráter; não avalia as próprias deficiências. Com o depender dos outros, perde uma experiência da vida prática, que dificilmente recuperará. Não aprende a dependência de si mesmo. Não aprende a exercer fé. A fé genuína habilitará a alma a erguer-se e sair de um estado imperfeito, atrasado, e compreender o que seja a verdadeira sabedoria. Caso os alunos desenvolvam o cérebro, a estrutura óssea e os músculos, de maneira harmônica, serão mais capazes de estudar, mais habilitados a lidar com as realidades da vida. Mas no caso de seguirem as próprias idéias errôneas acerca do que constitui a educação, não virão a ser homens e mulheres devidamente desenvolvidos, bem preparados. T6 218 2 "Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Porque melhor é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis; e tudo o que podes desejar não se pode comparar a ela. Aumento de dias há na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra. Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz." Provérbios 3:13-17. T6 218 3 "Toda criatura vivente ... viverá por onde quer que passe este rio." "Porque as suas águas saem do santuário." Ezequiel 47:9, 12. ------------------------Capítulo 26 -- O plano de Deus para as instituições médicas T6 219 1 Toda instituição estabelecida pelos adventistas do sétimo dia, deve ser para o mundo o que foi José para o Egito, e o que Daniel e seus companheiros foram para Babilônia. Quando, na providência de Deus, esses escolhidos foram levados cativos, foi para levarem às nações pagãs as bênçãos que sobrevêm à humanidade mediante o conhecimento de Deus. Cumpria-lhes ser representantes de Jeová. Nunca deveriam transigir com os idólatras; cumpria-lhes considerar uma honra especial sua fé religiosa e seu nome como adoradores do Deus vivo. T6 219 2 E assim fizeram. Na prosperidade e na adversidade, honraram a Deus, e Deus os honrou. T6 219 3 Chamado da prisão -- servo de cativos, presa da ingratidão e da malignidade -- José se demonstrou fiel à sua aliança com o Deus do Céu. E todo o Egito se maravilhou da sabedoria do homem a quem Deus instruíra. Faraó "fê-lo senhor da sua casa, e governador de toda a sua fazenda, para, a seu gosto, sujeitar os seus príncipes, e instruir os seus anciãos". Salmos 105:21, 22. Não somente ao povo do Egito, mas a todas as nações ligadas com aquele poderoso reino, Deus Se manifestou por intermédio de José. Desejava torná-lo um portador de luz a todos os povos, e colocou-o como o segundo no trono do maior império da Terra, a fim de que a iluminação celestial se estendesse perto e longe. Por sua sabedoria e justiça, pela pureza e benevolência de sua vida diária, por sua devoção aos interesses do povo -- e esse povo era uma nação de idólatras -- José foi um representante de Cristo. Em seu benfeitor, para quem todo o Egito se voltava com gratidão e louvor, aquele povo gentio, e por meio dele todas as nações com quem estavam em contato, deviam contemplar o amor de seu Criador e Redentor. T6 220 1 Da mesma forma, por meio de Daniel, Deus colocou uma luz ao lado do trono do maior império do mundo, para todos quantos quisessem aprender acerca do Deus vivo e verdadeiro. Reuniam-se, nas cortes de Babilônia, representantes de todas as terras, homens de talentos os mais seletos, os homens mais ricamente dotados de dons naturais, e possuidores da mais elevada cultura que este mundo podia proporcionar; todavia entre eles todos, os cativos hebreus eram inigualáveis. T6 220 2 Na resistência física e na beleza, no vigor mental e nas realizações literárias, no poder espiritual e na visão, eram sem rival. "E em toda a matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino." Daniel 1:20. Ao mesmo tempo que era fiel a seus deveres na corte do rei, tão fielmente mantinha Daniel sua lealdade a Deus, que Ele o pôde honrar como mensageiro Seu ao rei babilônio. Por meio dele foram revelados os mistérios do futuro, e o próprio Nabucodonosor foi constrangido a reconhecer o Deus de Daniel como "Deus dos deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos". Daniel 2:47. T6 220 3 Igualmente devem as instituições estabelecidas hoje pelo povo de Deus glorificar-Lhe o nome. O único modo como podemos satisfazer-Lhe a expectativa, é ser representantes da verdade para este tempo. Deus deve ser reconhecido nas instituições estabelecidas pelos adventistas do sétimo dia. Por meio delas deve a verdade para este tempo ser apresentada perante o mundo com poder convincente. T6 221 1 Somos chamados a representar perante o mundo o caráter de Deus, tal como ele foi revelado a Moisés. Em resposta à oração de Moisés: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória", o Senhor prometeu: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti." Êxodo 33:18, 19. "Passando pois o Senhor perante a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado." Êxodo 34:6, 7. Tal é o fruto que Deus deseja de Seu povo. Na pureza de seu caráter, na santidade de sua vida, em sua misericórdia e longanimidade e compaixão, devem eles demonstrar que "a lei do Senhor é perfeita, e converte a alma". Salmos 19:7 (TT). T6 221 2 O desígnio de Deus para Suas instituições hoje em dia, pode ser visto também no que Ele buscou realizar por meio da nação judaica. Era Seu intento, por meio de Israel, comunicar ricas bênçãos a todos os povos. Por intermédio deles devia o caminho ser preparado para a difusão de Sua luz a todo o mundo. As nações do mundo, seguindo costumes corruptos, haviam perdido o conhecimento de Deus. Todavia, em Sua misericórdia, Deus não as exterminou. Propôs-Se a dar-lhes oportunidade de se familiarizarem com Ele por meio de Sua igreja. Era Seu desígnio que os princípios revelados mediante Seu povo, fossem os meios de restaurar no homem a imagem moral de Deus. T6 221 3 Cristo era seu instrutor. Quando estava com eles no deserto, e da mesma maneira depois de seu estabelecimento na Terra Prometida, era ainda seu Mestre e Guia. No tabernáculo e no templo, Sua glória pousava no Shekinah, sobre o propiciatório. Em favor deles manifestava constantemente as riquezas de Seu amor e paciência. T6 222 1 Deus desejava fazer de Seu povo Israel um louvor e uma glória. Toda vantagem espiritual lhes foi dada. Deus não reteve deles coisa alguma favorável à formação do caráter que os tornaria Seus representantes. T6 222 2 Sua obediência às leis de Deus os tornaria uma maravilha de prosperidade perante as nações do mundo. Aquele que lhes poderia dar sabedoria e habilidade em toda obra de arte, continuaria a ser seu mestre e os enobreceria e elevaria por meio da obediência a Suas leis. Caso fossem obedientes, seriam guardados das doenças que afligiam outras nações, e seriam abençoados com vigor intelectual. A glória de Deus, Sua majestade e poder, revelar-se-iam em toda a sua prosperidade. Eles deviam ser um reino de sacerdotes e príncipes. Deus lhes proveu todos os recursos para se tornarem a maior nação da Terra. T6 222 3 Da maneira mais definida, Deus pôs diante deles, por meio de Moisés, o Seu desígnio, e tornou claras as condições de sua prosperidade. "Porque povo santo és ao Senhor teu Deus", disse Ele; "o Senhor teu Deus te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há... . Saberás pois que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos. ... Será pois que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o Senhor teu Deus te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais, e amar-te-á, e abençoar-te-á, e te fará multiplicar. ... Bendito serás mais do que todos os povos." Deuteronômio 7:6, 9, 12-14. T6 222 4 "Hoje declaraste ao Senhor que te será por Deus, e que andarás nos Seus caminhos, e guardarás os Seus estatutos, e os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e darás ouvidos à Sua voz. E o Senhor hoje te fez dizer que Lhe serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos. Para assim te exaltar sobre todas as nações que fez, para louvor, e para fama, e para glória, e para que sejas um povo santo ao Senhor teu Deus, como tem dito." Deuteronômio 26:17-19. T6 223 1 Nessas palavras acham-se expostas as condições de toda a verdadeira prosperidade, condições que, para satisfazerem o desígnio de sua fundação, todas as nossas instituições precisam cumprir. T6 223 2 O Senhor deu-me anos atrás esclarecimentos especiais quanto ao estabelecimento de uma instituição de saúde, onde os doentes pudessem ser tratados de maneira diferente das que são seguidas em qualquer outra instituição do mundo. Ela seria fundada e dirigida sobre princípios bíblicos, como instrumento do Senhor, e devia ser em Suas mãos um dos mais eficazes meios para transmitir luz ao mundo. Era desígnio de Deus que ela se destacasse em capacidade científica, em poder moral e espiritual e como fiel sentinela da reforma em toda a sua conduta. Todos quantos desempenhem uma parte nela, devem ser reformadores, respeitando-lhe os princípios, e dando atenção à luz da reforma da saúde, a qual incide sobre nós como um povo. T6 223 3 Deus determinou que a instituição por Ele estabelecida fosse um foco de luz, constituísse uma advertência e uma reprovação. Queria provar ao mundo que uma instituição dirigida por princípios religiosos, como um refúgio para os doentes, poderia ser mantida sem sacrificar o caráter santo, que lhe é peculiar; que ela se poderia manter livre dos aspectos objetáveis que se encontram em outras instituições de saúde. Seria um instrumento na promoção de grandes reformas. T6 223 4 O Senhor revelou que a prosperidade do sanatório não dependeria apenas do conhecimento e perícia de seus médicos, mas do favor de Deus. Ele devia ser conhecido como uma instituição onde Deus era reconhecido como o Rei do Universo, instituição sob Seu especial controle. Seus dirigentes tinham de dar a Deus o primeiro, o último e o melhor lugar em tudo. E nisso estaria sua força. Caso fosse dirigida de maneira que o Senhor pudesse aprovar, teria grande êxito, e estaria na dianteira de todas as instituições congêneres mantidas pelo mundo. Grande luz, grande conhecimento e privilégios superiores lhe foram conferidos. E, em harmonia com a luz recebida, seria a responsabilidade daqueles a quem estava confiado o andamento da instituição. T6 224 1 Ao passo que nossa obra se tem ampliado e as instituições se têm multiplicado, os desígnios de Deus ao estabelecê-las permanecem os mesmos. As condições de prosperidade são imutáveis. T6 224 2 A família humana está sofrendo por causa da transgressão das leis de Deus. O Senhor deseja que os homens sejam levados a compreender a causa de seus sofrimentos e o único meio de encontrar alívio. Deseja que vejam que seu bem-estar -- físico, mental e moral -- depende da obediência a Sua lei. É Seu desígnio que nossas instituições sejam lições práticas, mostrando os resultados da obediência aos retos princípios. T6 224 3 Grande obra tem de ser realizada na promulgação dos princípios de saúde, ao preparar-se um povo para a segunda vinda do Senhor. O povo deve ser instruído com relação às necessidades do organismo e ao valor do viver saudável tal como é ensinado nas Escrituras, para que o corpo criado por Deus possa ser-Lhe apresentado como sacrifício vivo, apto a prestar-Lhe serviço aceitável. Há uma grande obra a ser realizada pela humanidade sofredora, em aliviar-lhe as penas mediante o emprego de agentes naturais providos por Deus, e em ensinar-lhes a evitar a doença pelo controle do apetite e das paixões. Cumpre ensinar ao povo que a transgressão às leis da natureza é transgressão das leis de Deus. Ensinar-lhes a verdade de que, tanto no aspecto físico quanto no espiritual, "o temor do Senhor encaminha para a vida". Provérbios 19:23. "Se queres, porém, entrar na vida", disse Jesus, "guarda os mandamentos." Mateus 19:17. Guarda "a Minha lei, como a menina dos teus olhos". Provérbios 7:2. As palavras de Deus, uma vez obedecidas, são "vida para os que as acham, e saúde para o seu corpo". Provérbios 4:22. T6 225 1 Nossos hospitais e clínicas são uma força educadora para ensinar o povo a esse respeito. Os que são ensinados podem por sua vez comunicar a outros o conhecimento dos princípios restauradores e conservadores da saúde. Assim nossos sanatórios devem ser instrumento para alcançar o povo, agência para mostrar-lhes o mal de desprezar as leis da vida e da saúde, e para ensinar a conservar o corpo nas melhores condições. Devem-se estabelecer instituições de saúde nos diferentes países penetrados pelos missionários, os quais devem ser centros de onde se irradie uma obra de cura, restauração e educação. T6 225 2 Cumpre-nos trabalhar tanto pela saúde física, como pela salvação da pessoa. Nossa missão é a mesma de nosso Mestre, de quem está escrito que andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo. Atos dos Apóstolos 10:38. Acerca de Sua própria obra, diz Ele: "O Espírito do Senhor Jeová está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu para pregar boas novas aos mansos." Isaías 61:1. "Enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos." Lucas 4:18, 19. Ao seguirmos o exemplo de Cristo, de trabalhar pelo bem dos outros, despertaremos o interesse deles no Deus a quem amamos e servimos. T6 225 3 Em todos os seus departamentos, nossos sanatórios devem ser monumentos a Deus, instrumentos Seus para semear a semente da verdade no coração humano. E isso cumprirão eles, caso sejam bem administrados. T6 226 1 A verdade viva de Deus deve ser dada a conhecer em nossas instituições médicas. Acham-se famintas e sedentas da verdade muitas das pessoas que a elas se dirigem, e quando a verdade é devidamente apresentada, recebem-na com alegria. Nossos sanatórios têm sido o meio de exaltar a verdade para este tempo, e apresentá-la perante milhares de pessoas. A influência religiosa de que essas instituições se acham impregnadas, inspira confiança a seus hóspedes. A certeza de que o Senhor ali preside e as muitas orações feitas pelos doentes impressionam os corações. T6 226 2 Muitos que nunca haviam pensado no valor da salvação, ficam convencidos pelo Espírito de Deus, e não poucos são levados a mudar todo o curso de sua vida. Serão causadas impressões que jamais se desfarão em muitos que estão satisfeitos consigo mesmos, que têm julgado suficientes suas normas de caráter, e não sentem necessidade da justiça de Cristo. Ao sobrevir a prova futura, quando lhes for dada iluminação, não poucos se colocarão ao lado do povo remanescente de Deus. T6 226 3 Deus é honrado por instituições dirigidas dessa maneira. Em Sua misericórdia, Ele tornou os sanatórios um tal poder no alívio do sofrimento físico, que milhares a eles têm sido atraídos a fim de se curarem de suas enfermidades. E, em muitos, a cura do corpo é acompanhada da restauração da alma. Recebem do Salvador o perdão dos pecados. Recebem a graça de Cristo e se identificam com Ele, com Seus interesses, Sua honra. Muitos saem de nossos sanatórios com novo coração. A mudança é decisiva. Voltando para o lar, essas pessoas são como luzes no mundo. Tornam-se testemunhas do Senhor. Seu testemunho é: "Vi Sua grandeza, tenho provado Sua bondade. 'Vinde, e ouvi, todos os que temeis a Deus, e eu contarei o que Ele tem feito à minha alma.'" Salmos 66:16. T6 227 1 Assim, mediante a prosperidade trazida pela mão de Deus, nossos sanatórios têm sido o meio de realizar grande bem. E têm de crescer ainda mais. Deus cooperará com o povo que O honrar. T6 227 2 Maravilhosa é a obra que Deus pretende realizar por intermédio de Seus servos, para que Seu nome seja glorificado. O Senhor fez de José uma fonte de vida para a nação egípcia. Por meio de José, foi conservada a vida de todo aquele povo. Por meio de Daniel, Deus salvou a vida de todos os sábios de Babilônia. E esses livramentos foram como lições práticas; ilustraram ao povo as bênçãos espirituais a eles proporcionadas mediante a ligação com o Deus a quem José e Daniel adoravam. T6 227 3 Assim, por intermédio de Seu povo hoje, Deus deseja trazer bênçãos ao mundo. Todo obreiro em cujo coração Cristo habita, todo aquele que manifeste Seu amor ao mundo, é um colaborador de Deus para bênção da humanidade. À medida que ele recebe do Salvador graça para comunicar aos outros, emana de todo o seu ser uma onda de vida espiritual. Cristo veio como grande Médico para curar as feridas produzidas pelo pecado na família humana; e Seu Espírito, operando por intermédio de Seus servos, comunica aos seres humanos enfermos de pecado e sofredores poderosa virtude curadora, eficaz para o corpo e para a alma. "Naquele dia", dizem as Escrituras, "haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de Jerusalém, contra o pecado, e contra a impureza." Zacarias 13:1. As águas dessa fonte possuem propriedades medicinais que hão de curar tanto as enfermidades físicas como as espirituais. T6 227 4 Dessa fonte emana o poderoso rio visto na visão de Ezequiel. "Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, sararão as águas. E será que toda a criatura vivente que vier por onde quer que entrarem estes dois ribeiros viverá. ... E junto do ribeiro, à sua margem, de uma e de outra banda, subirá toda sorte de árvore que dá fruto para se comer; não cairá a sua folha, nem perecerá o seu fruto. Nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do santuário; e o seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio." Ezequiel 47:8, 9, 12. T6 228 1 Tal rio de vida e de cura Deus designa que, mediante Seu poder operando por eles, sejam nossos sanatórios. T6 228 2 Nossos sanatórios devem mostrar ao mundo a beneficência do Céu; e embora a presença visível de Cristo não seja percebida no edifício, todavia os obreiros podem reclamar a promessa: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. T6 228 3 As promessas de Deus a Israel pertencem igualmente às instituições hoje estabelecidas para a glória de Seu nome: "Assim diz o Senhor que faz estas cousas, o Senhor que as forma para as estabelecer; o Senhor é o Seu nome. Invoca-Me, e te responderei; anunciar-te-ei cousas grandes e ocultas, que não sabes. Porque assim diz o Senhor, o Deus de Israel, a respeito ... desta cidade. ... Eis que lhe tarei a ela saúde e cura, e os sararei; e lhes revelarei abundância de paz e segurança. ... Purificá-los-ei de toda a sua iniqüidade. ... Jerusalém Me servirá por nome, por louvor e glória, entre todas as nações da Terra, que ouvirem todo o bem que Eu lhe faço." "Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; ela será chamada: Senhor, Justiça Nossa." Jeremias 33:2-9, 16. ------------------------Capítulo 27 -- A obra espiritual do médico T6 229 1 Todos os que exercem a medicina podem, pela fé em Cristo, ter em sua posse uma cura do mais alto valor, um remédio para a alma enferma de pecado. O médico convertido e santificado pela verdade é registrado no Céu como um cooperador de Deus, um seguidor de Jesus Cristo. Mediante a santificação da verdade, o Senhor dá aos médicos e enfermeiras sabedoria e habilidade para tratar os enfermos, e essa obra vai abrindo a porta firmemente fechada de muitos corações. Homens e mulheres são levados a compreender a verdade necessária para a salvação. T6 229 2 Esse é um elemento que distingue a obra para este tempo. A obra médico-missionária é como o braço direito da terceira mensagem angélica, que deve ser proclamada ao mundo caído; e os médicos, os administradores, e os obreiros em qualquer ramo, desempenhando-se fielmente de sua parte, estão fazendo a obra da mensagem. Assim o som da verdade irá a toda nação, tribo, língua e povo. Nesse trabalho, os anjos fazem uma parte. Despertam alegria e melodia espirituais no coração dos que foram libertados do sofrimento, e ascendem a Deus ações de graças dos lábios de muitos que receberam a preciosa verdade. T6 229 3 Todo médico em nossas fileiras deve ser cristão. Unicamente os que são genuínos cristãos bíblicos se podem desempenhar devidamente dos altos deveres de sua profissão. T6 229 4 O médico que compreende a responsabilidade de sua posição sentirá a necessidade da presença de Cristo com ele em sua obra em benefício daqueles por quem foi feito tal sacrifício. Subordinará tudo aos mais elevados interesses que dizem respeito à vida que pode ser salva para a eternidade. Fará tudo ao seu alcance para salvar tanto o corpo como a alma. Procurará fazer justamente a obra que Cristo faria se estivesse em seu lugar. O médico que ama a Cristo e as pessoas por quem Cristo morreu, buscará fervorosamente levar para o quarto do doente uma folha da árvore da vida. Ele procurará partir o pão da vida com o sofredor. Não obstante os obstáculos e dificuldades a serem enfrentados, essa é a obra sagrada e solene da profissão médica. T6 230 1 A verdadeira obra missionária é aquela em que a obra do Salvador é mais bem representada, mais exatamente copiados os Seus métodos, Sua glória melhor promovida. A obra missionária que falha em atingir essa norma, é registrada no Céu como deficiente. É pesada na balança do santuário e achada em falta. T6 230 2 Os médicos devem procurar encaminhar o espírito dos doentes para Cristo, o Médico da alma e do corpo. Aquilo que os profissionais da saúde apenas podem tentar fazer, Cristo realiza. O agente humano se esforça para prolongar a vida. Cristo é a própria vida. Aquele que passou pela morte a fim de destruir o que tem o império da morte, é a Fonte de toda vitalidade. Há bálsamo em Gileade, há Médico. Cristo suportou morte angustiosa, sob as mais humilhantes circunstâncias, para que pudéssemos viver. Depôs Sua vida preciosa a fim de vencer a morte. Mas surgiu da tumba, e as dezenas de milhares de anjos que vieram assistir o retomar Ele a vida que depusera, ouviram-Lhe as palavras de triunfante alegria quando Ele Se ergueu do fendido sepulcro de José, proclamando: "Eu sou a ressurreição e a vida." T6 230 3 A pergunta "Morrendo o homem, porventura tornará a viver?" foi respondida. Ao sofrer a pena do pecado, baixando à sepultura, Cristo iluminou a sepultura para todos quantos morrem na fé. Deus em forma humana, trouxe à luz vida e salvação pelo evangelho. Morrendo, assegurou Cristo a vida eterna a todos que nEle crêem. Morrendo, condenou o originador do pecado e a infelicidade de sofrer a pena do pecado: a morte eterna. T6 231 1 Possuidor e doador da vida eterna, Cristo era o único Ser que podia vencer a morte. Ele é nosso Redentor; e bem-aventurado é todo médico que, no verdadeiro sentido da palavra, é um missionário, um salvador de almas por quem Cristo deu a vida. Tal médico aprende dia a dia do Grande Médico a cuidar e trabalhar pela salvação e cura de homens e mulheres. O Salvador acha-Se presente no quarto do doente, na sala de cirurgia; e Seu poder opera grandes coisas para glória do Seu nome. T6 231 2 O médico pode efetuar um nobre trabalho, desde que esteja ligado ao Grande Médico. Ele pode encontrar oportunidade de dirigir palavras de vida aos familiares do doente, cujo coração está cheio de simpatia pelo sofredor; e pode acalmar e erguer o espírito do paciente levando-o a olhar Àquele que pode salvar perfeitamente todos quantos se aproximam dEle em busca de salvação. T6 231 3 Quando o Espírito de Deus opera na mente do enfermo, levando-o a indagar a verdade, trabalhe o médico pela preciosa alma como faria Cristo. Não deve insistir com ele sobre qualquer doutrina especial, mas encaminhá-lo a Jesus como o Salvador que perdoa os pecados. Os anjos de Deus impressionarão a mente. Alguns se recusarão a ser iluminados pela luz que Deus deseja fazer brilhar nas recâmaras da mente e no templo da alma; muitos, porém, corresponderão a essa luz, e desses espíritos serão banidos o engano e o erro em suas diferentes formas. T6 231 4 Toda oportunidade de trabalhar, como fez Cristo, deve ser cuidadosamente aproveitada. O médico deve falar acerca das obras de cura realizadas por Cristo, de Sua benignidade e amor. Ele deve crer que Jesus é seu companheiro, que lhe está de fato ao lado. "Somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Nunca deve o médico negligenciar o encaminhamento do espírito dos doentes a Cristo, o Médico dos médicos. Uma vez que ele tenha o Salvador no coração, seus pensamentos serão sempre dirigidos ao Restaurador do corpo e da alma. Conduzirá a mente dos aflitos Àquele que pode restaurar, que, quando na Terra, restituía o enfermo à saúde, e curava a alma da mesma maneira que o corpo, dizendo: "Filho, perdoados estão os teus pecados. " Marcos 2:5. T6 232 1 Jamais a familiaridade com o sofrimento deve fazer com que o médico se torne descuidoso ou destituído de compaixão. Em casos de doenças perigosas, o enfermo sente achar-se na dependência do médico. Olha-o como sua esperança terrestre, e o médico deve sempre encaminhar a alma tremente Àquele que lhe é superior, ao Filho de Deus, que deu a vida a fim de salvá-lo da morte, que Se compadece do sofredor e que, por Seu divino poder, dará habilidade e sabedoria a todos quantos as peçam a Deus. T6 232 2 Quando o paciente ignora qual o desenlace de seu caso, é a ocasião de o médico impressionar-lhe a mente. Não o deve fazer movido do desejo de distinguir-se, mas a fim de dirigir a alma para Cristo como um Salvador pessoal. Caso a existência seja poupada, há uma alma por quem cumpre ao médico cuidar. O paciente acha que o médico é a própria vida de sua vida. E para que fim deve essa grande confiança ser empregada? Sempre para ganhar uma pessoa para Cristo, e engrandecer o poder de Deus. T6 232 3 Quando a crise passar e manifestar-se o êxito, seja o doente crente ou não, devem ser consagrados alguns momentos para orar com ele. Essa é a oportunidade para exprimir o reconhecimento pela vida que foi poupada. O médico que segue essa orientação leva seu paciente Àquele de quem ele depende para viver. Palavras de gratidão podem brotar da parte do doente para com o médico, pois, por Deus, ele ligou essa vida com a sua; mas sejam os louvores e as ações de graças dados a Deus como Aquele que Se acha presente, embora invisível. T6 233 1 No leito de enfermidade Cristo é com freqüência aceito e confessado; e isto será mais comum no futuro do que tem sido no passado, pois o Senhor fará uma obra rápida em nosso mundo. Nos lábios do médico devem estar palavras de sabedoria, e Cristo regará a semente semeada, fazendo com que dê fruto para a vida eterna. T6 233 2 Perdemos as mais preciosas oportunidades por negligenciar dizer uma boa palavra a seu tempo. Demasiadas vezes um talento precioso que poderia produzir mil vezes mais, é deixado inútil. Caso não estejamos alerta para o áureo privilégio, ele passará. Foi permitido que alguma coisa impedisse que o médico fizesse a obra que lhe era designada como ministro da justificação. T6 233 3 Não há muitos médicos piedosos para ministrarem em sua profissão. Há muito trabalho a ser feito, e os pastores e os médicos devem trabalhar em perfeita união. Lucas, autor do Evangelho que traz o seu nome, é chamado "o médico amado" (Colossences 4:14), e os que fazem obra semelhante à sua, estão vivendo o evangelho. T6 233 4 Inúmeras são as oportunidades do médico para advertir o impenitente, animar o desconsolado e sem esperança, e prescrever para saúde da mente e do corpo. Ao instruir assim o povo nos princípios da verdadeira temperança e, como guardião de almas, aconselhar aos que se acham física e mentalmente enfermos, o médico está desempenhando sua parte na grande obra de preparar um povo para o Senhor. Eis o que a obra médico-missionária tem de realizar em sua relação para com a terceira mensagem angélica. T6 233 5 Os pastores e os médicos devem trabalhar harmonicamente e com zelo para salvar almas que estão sendo emaranhadas nas redes de Satanás. Cumpre-lhes dirigir homens e mulheres a Jesus, sua justiça, sua força, e a saúde de sua expressão. Cumpre-lhes cuidar continuamente das pessoas. Alguns há que estão lutando com fortes tentações, em perigo de serem vencidos na luta contra os agentes satânicos. Serão essas pessoas passadas por alto, sem lhes dar assistência? Ao notar uma pessoa em necessidade de auxílio, deve-se iniciar uma conversa com ela, mesmo não a conhecendo. Deve-se orar com ela. E encaminhá-la a Jesus. T6 234 1 Essa obra pertence tão certamente ao médico como ao pastor. Mediante esforço público e particular, o médico deve procurar atrair almas a Cristo. T6 234 2 Em todos os nossos empreendimentos e em todas as nossas instituições, Deus deve ser reconhecido como o Obreiro Mestre. Os médicos devem conduzir-se como representantes de Cristo. A fraternidade médica tem feito muitas reformas, e cumpre-lhes avançar ainda mais. Aqueles que têm nas mãos a vida de criaturas humanas, devem ser educados, dignos, santificados. Então o Senhor operará por meio deles com poderosa força para glorificar Seu nome. T6 234 3 A obra de Cristo em favor do paralítico é uma ilustração da maneira pela qual devemos trabalhar. Por meio dos amigos ouvira ele falar de Jesus, e pedira para ser levado à presença do Poderoso Restaurador. O Salvador sabia que o paralítico andava torturado pelas sugestões dos sacerdotes, de que Deus o havia rejeitado por causa de seus pecados. Portanto, Sua primeira obra foi dar-lhe paz de espírito. "Filho", disse, "perdoados estão os teus pecados". Essa certeza encheu-lhe o coração de paz e alegria. Mas alguns dos presentes começaram a murmurar, dizendo em seu coração: "Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Marcos 2:7. Então, para que soubessem que o Filho do homem tinha poder de perdoar pecados, Cristo disse ao enfermo: "Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa." Marcos 2:11. Isso mostra como o Salvador ligava a obra da pregação da verdade e a de curar os doentes. ------------------------Capítulo 28 -- Unidade em nossa obra T6 235 1 À medida que a obra médico-missionária se estender, haverá tentação de torná-la independente de nossas associações. Foi-me, porém, apresentado, que esse plano não é certo. Os diferentes ramos de nossa obra não são senão partes de um grande todo. Têm um único centro. T6 235 2 Lemos em Colossenses: "O corpo é de Cristo. Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus." Colossences 2:17-19. Nossa obra, em todas as suas linhas, é demonstrar a influência da cruz. A obra de Deus no plano da salvação não deve ser realizada de qualquer forma desarticulada. Não deve ser operada ao acaso. O plano que proveu a influência da cruz, proveu igualmente os métodos de sua difusão. Esse método é simples em seus princípios e abrangente em suas linhas claras e distintas. Parte une-se a parte em perfeita ordem e relação. T6 235 3 Deus uniu Seu povo sob a forma de igreja de modo que revele ao mundo a sabedoria Daquele que formou esta organização. Ele sabia quais planos estabelecer para a eficiência e sucesso de Seu povo. A adesão a esses planos os habilitará a testificarem da autoria divina do grande plano para a restauração do mundo. T6 235 4 Os que tomam parte na obra de Deus deverão ser conduzidos e guiados por Ele. Toda ambição humana deve fundir-se em Cristo, que é a Cabeça de todas as instituições estabelecidas por Deus. Ele sabe como colocar e manter em operação todas as Suas agências. Sabe que a cruz deve ocupar o lugar central, pois ela é o meio de expiação para o homem e exerce influência em todas as partes do governo divino. O Senhor Jesus, que tem estado presente em toda a história deste mundo, conhece os métodos que devem ser investidos com poder para atuar sobre as mentes humanas. Ele sabe da importância de cada agência e compreende como cada uma delas deve relacionar-se com todas as demais. T6 236 1 "Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si." Romanos 14:7. Essa é uma lei de Deus no Céu e na Terra. Ele é o grande centro. DEle procede toda vida. A Ele pertencem todo serviço, homenagem e lealdade. Para todos os seres criados existe o grande princípio de vida -- dependência de Deus e cooperação com Ele. O relacionamento existente na pura família de Deus no Céu deveria existir na divina família terrestre. Abaixo de Deus, deveria Adão desempenhar o papel de cabeça da família humana, a fim de manter os princípios da família celestial. Isso traria paz e felicidade. Mas Satanás determinara-se a fazer oposição à lei que diz que "ninguém vive para si mesmo." Ele desejou viver para o eu. Procurou deslocar para si mesmo o centro de influência. Foi isso que incitou a rebelião no Céu, e foi a aceitação humana desse princípio que trouxe o pecado à Terra. Ao Adão pecar, o homem rompeu com o centro ordenado pelo Céu. O demônio tornou-se o poder central do mundo. Onde estivera antes o trono de Deus, estabeleceu Satanás o seu trono. O mundo depositou suas homenagens, uma espécie de oferta voluntária, aos pés do inimigo. T6 236 2 Quem seria capaz de introduzir os princípios ordenados por Deus em Sua jurisdição e governo a fim de contrafazer os planos de Satanás e conduzir o mundo de volta à lealdade? Deus disse: "Enviarei Meu Filho." "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. T6 237 1 Esse é o remédio para o pecado. Cristo diz: "Onde Satanás estabeleceu o seu trono, estará a Minha cruz. Ele será expulso, e Eu serei erguido para atrair a Mim todos os homens. Tornar-Me-ei o centro do mundo redimido. O Senhor Deus será exaltado. Os que agora são controlados por ambições humanas, por humanas paixões, tornar-se-ão Meus obreiros. Influências malignas têm conspirado para contrafazer todo o bem. Uniram-se em confederação para levar os homens a pensarem que é correto opor-se à lei de Jeová. Entretanto, o Meu exército entrará em conflito com as forças satânicas. Meu Espírito se combinará com todas as agências celestiais para opor-se àquelas. Unir-Me-ei a cada agente humano santificado, em todo o Universo. Nenhum de Meus agentes deverá estar ausente. Tenho trabalho para todos os que Me amam, ocupação para cada alma disposta a agir sob Minha direção. A atividade do exército de Satanás, o perigo que envolve a alma humana, reclama as energias de cada obreiro. Entretanto, não será exercida a compulsão. A depravação humana deve ser tratada com o amor, a paciência, a longanimidade de Deus. Minha obra será a salvação dos que se encontram sob o governo de Satanás." T6 237 2 Por meio de Cristo, Deus opera para trazer o homem de volta ao seu original relacionamento com o Criador, e para corrigir as desorganizadoras influências introduzidas por Satanás. Unicamente Cristo permaneceu incontaminado num mundo de egoísmo, onde os homens são capazes de destruir um amigo ou irmão de modo a levar a cabo o esquema posto em suas mãos por Satanás. Cristo veio a nosso mundo, revestindo Sua divindade com a humanidade, para que a humanidade pudesse tocar a humanidade, e a divindade abraçar a divindade. Por entre os ruídos do egoísmo Ele pôde dizer aos homens: "Retornem ao centro de vocês -- Deus." Ele próprio tornou possível ao homem realizar isso ao representar na Terra os princípios do Céu. Como ser humano viveu a lei de Deus. Aos homens, em todas as nações, países e recantos, compartilhará Ele os mais preciosos dons do Céu, se tão-somente aceitarem a Deus como seu Criador e a Cristo como seu Redentor. Cristo unicamente pode efetuar isso. Seu evangelho, presente no coração e nas mãos de Seus seguidores, é o poder que realizará essa grande obra. "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!" Romanos 11:33. Tornando-Se Ele próprio sujeito às representações errôneas de Satanás, Cristo tornou possível que se realizasse a obra da redenção. Assim Satanás revelaria por si mesmo ser ele a causa da deslealdade no Universo de Deus. Assim se decidiria para sempre a grande controvérsia entre Cristo e Satanás. T6 238 1 Satanás fortalece as tendências destruidoras da natureza humana. Ele introduz a inveja, o ciúme, o egoísmo, a cobiça, a disputa e a contenda pela mais elevada posição. Agências malignas operam sob a orientação de Satanás. Assim os planos do inimigo, com suas tendências destrutivas, têm sido trazidos para dentro da igreja. Cristo vem com Suas próprias influências redentoras e, através da operação de Seu Espírito, propõe-Se a transferir Sua eficiência aos homens, empregando-os como Seus representantes, como coobreiros Seus, na tentativa de conduzir o mundo de volta à lealdade. T6 238 2 Os homens acham-se unidos em companheirismo, em dependência, uns aos outros. Pelos dourados laços da cadeia do amor devem unir-se firmemente ao trono de Deus. Isso pode ser conseguido tão-somente ao Cristo imputar ao homem finito os atributos que este sempre teria possuído, houvesse ele se mantido leal e fiel a Deus. T6 238 3 Os que, mediante uma inteligente compreensão das Escrituras, têm visão adequada da cruz, os que na verdade crêem em Jesus, têm alicerce seguro para sua fé. Possuem aquela fé que opera por amor e purifica a alma de todas as suas imperfeições, hereditárias e cultivadas. T6 239 1 Deus uniu os crentes através da igreja de modo que um pudesse fortalecer o outro nos bons e justos desafios. A igreja na Terra efetivamente constituirá um símbolo da igreja no Céu, se os membros tiverem uma só mente e uma só fé. O plano de Deus é maculado por aqueles que não são conduzidos pelo Espírito Santo. Outro espírito toma conta deles, pelo que auxiliam no fortalecimento das forças das trevas. Os que são santificados pelo precioso sangue de Cristo não se tornarão um meio para agir em sentido contrário ao grande plano arquitetado por Deus. Não introduzirão a humana depravação em coisas pequenas ou grandes. Não farão coisa alguma que perpetue a divisão na igreja. T6 239 2 É bem verdade que existe joio em meio ao trigo; entre o grupo de guardadores do sábado observam-se males; contudo, desprezaremos a igreja em virtude disso? Não será o caso de os administradores de cada instituição, os dirigentes de cada igreja, assumirem a obra da purificação, de tal modo que a transformação da igreja a torne uma brilhante luz em lugar escuro? T6 239 3 O que não conseguirá realizar cada crente no exercício dos puros princípios celestiais, se ele se recusar a contaminar-se, se permanecer firme como a rocha ao "Assim diz o Senhor"? Jeremias 17:5. Anjos de Deus virão em seu auxílio, preparando o caminho diante dele. T6 239 4 Paulo escreveu aos romanos: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. Esse capítulo inteiro é uma lição que, imploro, deve ser estudada por todos os que pretendem ser membros do corpo de Cristo. Outra vez Paulo escreveu: "E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem! Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado." Romanos 11:16-22. De modo extremamente claro esses versos mostram que não deve haver menosprezo dos agentes que Deus estabeleceu na igreja. T6 240 1 Ministério santificado reclama negação do eu. A cruz precisa ser erguida e demonstrado o seu lugar na obra do evangelho. A influência humana deve derivar sua eficácia dAquele que é capaz de salvar e de manter salvos todos os que reconhecem sua dependência dEle. Através da união dos membros da igreja com Cristo e uns com os outros, o transformador poder do evangelho será difundido por todo o mundo. T6 240 2 Usa o Senhor, na obra do evangelho, diversos meios, e não se deve permitir que coisa alguma separe esses agentes. Jamais se deve estabelecer uma instituição de saúde como um empreendimento independente da igreja. Nossos médicos devem unir-se com a obra dos ministros do evangelho. Por meio do seu trabalho as pessoas devem ser salvas, para que o nome de Deus seja engrandecido. T6 240 3 A obra médico-missionária não deve em hipótese alguma ser divorciada do ministério evangélico. O Senhor declarou que os dois se acham tão intimamente ligados como o braço com o corpo. Sem essa união, parte alguma da obra é completa. A obra médico-missionária é o evangelho ilustrado. T6 241 1 Deus, porém, não pretende que a obra médico-missionária deva eclipsar a obra da mensagem do terceiro anjo. O braço não deve tornar-se o corpo. A terceira mensagem angélica é a mensagem do evangelho para os últimos dias, e em caso algum deve ela ser obscurecida por outros interesses, e dar a idéia de uma ponderação desnecessária. Em nossas instituições, quando qualquer coisa é colocada acima da mensagem do terceiro anjo, o evangelho não é aí o grande poder que lidera. T6 241 2 A cruz é o centro de todas as instituições religiosas. Essas instituições devem estar sob a direção do Espírito Santo de Deus; em nenhuma instituição deve homem algum ser a única cabeça. A mente divina tem homens para cada lugar. T6 241 3 Mediante o poder do Espírito Santo, toda obra designada por Deus deve ser elevada e enobrecida e levada a testificar em favor do Senhor. Deve o homem colocar-se sob o controle da Mente infinita, cujos ditames lhe cumpre obedecer em cada detalhe. T6 241 4 Procuremos compreender o nosso privilégio de andar e trabalhar com Deus. Embora contenha a expressa vontade de Deus, não possui o evangelho valor algum para os homens, elevados ou humildes, ricos ou pobres, a não ser que se coloquem em sujeição a Deus. Aquele que proporciona aos seus semelhantes o remédio para o pecado, deve ele próprio ser primeiro influenciado pelo Espírito de Deus. Não deve movimentar os remos a menos que esteja sob a direção divina. Não pode trabalhar com eficiência, não pode cumprir a vontade de Deus em harmonia com a mente divina, a menos que descubra, não de fontes humanas, mas da infinita sabedoria, que Deus está satisfeito com os Seus planos. T6 242 1 O benévolo desígnio de Deus abrange cada ramo de Sua obra. A lei da dependência e influência mútuas deve ser reconhecida e seguida. "Nenhum de nós vive para si." Romanos 14:7. O inimigo tem usado a corrente da dependência para aproximar os homens. Eles se têm unido para destruir no homem a imagem de Deus, para opor-se ao evangelho pervertendo-lhe os princípios. São representados na Palavra de Deus como sendo atados em molhos para ser queimados. Satanás está unindo suas forças para perdição. A unidade do povo escolhido de Deus tem sido terrivelmente abalada. Deus apresenta um remédio. Esse remédio não é uma influência entre muitas influências, e no mesmo nível delas; é uma influência acima de todas as demais sobre a face da Terra, uma influência neutralizante, enaltecedora e enobrecedora. Os que trabalham com o evangelho devem ser elevados e santificados; pois estão lidando com os princípios de Deus. Atrelados a Cristo, são cooperadores de Deus. Assim deseja o Senhor unir Seus seguidores uns aos outros, para que possam ser uma força para o bem, realizando cada qual a sua parte, não obstante nutrirem todos os sagrados princípios de dependência da Cabeça. T6 242 2 Cristo achava-se ligado a todos os ramos da obra de Deus. Não fazia divisões. Não Lhe parecia estar infringindo a obra do médico ao curar os enfermos. Proclamou a verdade, e quando os doentes vinham para receber a cura, estava tão pronto a colocar sobre eles as mãos quanto estava para pregar o evangelho. Sentia-Se tão à vontade nesse tipo de trabalho quanto Se sentia na proclamação da verdade. ------------------------Capítulo 29 -- Responsabilidades dos obreiros médicos T6 243 1 O quarto capítulo da epístola aos efésios contém lições que nos foram dadas por Deus. Nesse capítulo está falando alguém sob inspiração divina, alguém a quem Deus ofereceu instruções por intermédio de santa visão. Descreve o autor a distribuição dos dons de Deus aos obreiros, dizendo: "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:11-13. Aqui nos é mostrado que Deus atribui a cada pessoa a sua obra, e ao cumpri-la está o homem preenchendo a sua parte no grande plano de Deus. T6 243 2 Essa lição deve ser cuidadosamente considerada por nossos médicos e missionários da área médica. Deus estabeleceu Seus representantes entre um povo que reconhece as leis do divino governo. Os enfermos devem ser curados através da combinação dos esforços humanos e divinos. Todo dom, toda capacidade prometidos por Cristo aos discípulos, derrama Ele sobre os que O servem fielmente. Aquele que outorga capacitação mental, e que confia talentos aos homens e mulheres que são Seus por criação e por redenção, espera que tais talentos e habilidades cresçam pela utilização. Todo talento precisa ser empregado em abençoar outros, redundando assim em honra a Deus. No entanto, os médicos têm sido levados a crer que suas habilidades representam propriedade individual deles próprios. Os recursos a eles concedidos para a obra de Deus, eles os têm aplicado em linhas de trabalho que Deus não lhes indicou. T6 244 1 Satanás age, a cada momento, procurando encontrar uma oportunidade para defraudar. Diz ao médico que seus talentos são demasiado valiosos para se vincularem aos adventistas do sétimo dia, que se ele for verdadeiramente livre, conseguirá realizar trabalho muito mais amplo. O médico é tentado a sentir que dispõe de métodos que ele poderá levar a cabo de modo independente em relação ao povo, acerca do qual Deus disse que seria colocado acima de todos os outros povos sobre a face da Terra. Que não pense o médico, entretanto, que sua influência será aumentada se ele se separar desse trabalho. Insistindo ele em levar a cabo seus planos, não desfrutará de sucesso. T6 244 2 O egoísmo, introduzido em qualquer grau na obra ministerial ou médica, constitui infração da lei de Deus. Quando os homens se gloriam em sua capacidade, fazendo com que o louvor humano se dirija a finitos seres criados, isso desonra a Deus, e Ele removerá aquilo que os faz gloriarem-se. Os médicos associados a nossos hospitais e à obra médico missionária foram pela providência de Deus vinculados a este povo, que recebeu dEle a incumbência de ser uma luz ao mundo. A obra desses médicos é devolver tudo aquilo que Deus lhes deu -- não como uma influência entre muitas, mas como a influência que, através de Deus, tornará efetiva a verdade para o tempo presente. T6 244 3 Deus nos outorgou uma obra especial, obra que nenhum outro povo pode realizar. Prometeu-nos o auxílio de Seu Santo Espírito. A corrente celestial flui para a Terra tendo em vista empreender a própria obra que nos foi indicada. Que esta corrente celestial não seja posta de lado em virtude de nossos desvios do reto caminho que nos foi indicado por Cristo. T6 244 4 Os médicos não devem supor que sejam capazes de abarcar o mundo com seus planos e esforços. Deus não determinou que eles utilizem tanto meramente os seus esforços. O homem que investe sua capacidade em muitas linhas de trabalho não pode assumir a administração de uma instituição de saúde, e fazê-lo corretamente. T6 245 1 Se os obreiros do Senhor assumem funções que os sobrecarregam naqueles aspectos em que deveriam comunicar luz ao mundo, Deus não recebe através de sua atividade a glória que deveria ser atribuída a Seu santo nome. Quando Deus chama alguém para realizar determinado trabalho em Sua causa, não deposita sobre essa pessoa fardos que outras deveriam carregar. Essas podem ser essenciais; entretanto, de acordo com Sua sabedoria, Deus reparte a cada um o seu trabalho. Não deseja Ele que a mente de Seus homens de responsabilidade seja extenuada por ter de assumir muitas frentes de trabalho. Se o obreiro não assumir a tarefa que lhe foi indicada, aquela que o Senhor sabe estar ele mais bem preparado a desempenhar, estará ele negligenciando deveres que, se adequadamente atendidos, resultariam na proclamação da verdade e preparariam os homens para a grande crise diante de nós. T6 245 2 Deus não poderá outorgar em maior medida a capacidade, tanto física quanto mental, àqueles que trazem para cima de seus ombros fardos que Ele não lhes indicou. Quando os homens assumem para si tais responsabilidades, não importa quão boa possa ser a obra, suas forças físicas são exigidas em excesso, sua mente torna-se confusa, e eles se incapacitam para o mais elevado sucesso. T6 245 3 Os médicos de nossas instituições não deveriam engajar-se em numerosos empreendimentos, permitindo assim que seu trabalho enfraqueça, num tempo em que deveria repousar sobre corretos princípios e exercer influência de âmbito mundial. Deus não determinou que Seus coobreiros abarquem tantas coisas, que estabeleçam planos tão grandiosos, ao ponto de fracassarem no lugar que lhes foi designado para a realização do grande bem que Ele espera façam eles, ao difundirem a luz ao mundo, e ao atraírem homens e mulheres enquanto Ele os conduz em Sua suprema sabedoria. T6 245 4 O inimigo acha-se determinado a contrafazer os desígnios de Deus em beneficiar a humanidade através da revelação daquilo que constitui a verdadeira obra médico-missionária. Tantos interesses têm sido envolvidos que os obreiros não têm conseguido realizar todas as coisas de acordo com o modelo mostrado no monte. Fui instruída de que a obra indicada aos médicos em nossas instituições é suficiente para eles, e que o que o Senhor requer deles é sua íntima ligação com os missionários evangélicos, e que realizem fielmente o seu trabalho. Ele não pediu a nossos médicos que assumam tão grande e variado trabalho como alguns têm posto sobre si próprios. Não designou ele que fosse obra especial dos médicos labutarem pelos que se acham nas densas trevas da iniqüidade, nas grandes cidades. O Senhor não requer coisas impossíveis de Seus servos. O trabalho por Ele outorgado aos nossos médicos deveria simbolizar perante o mundo o ministério do evangelho através de obra médico-missionária. T6 246 1 O Senhor não põe sobre o Seu povo todo o fardo de trabalhar por uma classe tão endurecida pelo pecado que muitos deles jamais serão beneficiados ou beneficiarão a outros. Se há homens que podem assumir o trabalho pelos mais degradados, se Deus põe sobre eles o fardo de trabalhar pelas massas de várias maneiras, que vão e reclamem do mundo os meios requeridos para esse trabalho. Não devem depender dos recursos que Deus destina ao sustento da obra da terceira mensagem angélica. T6 246 2 Nossas instituições de saúde necessitam da capacidade da mente e do coração, que outros tipos de trabalho lhes têm roubado. Satanás fará tudo que puder para multiplicar as responsabilidades de nossos médicos, pois sabe que por esse meio enfraquecerá, em vez de fortalecer, as instituições às quais eles se encontram vinculados. T6 246 3 Grande cuidado deve ser exercido com relação ao trabalho que assumimos. Não devemos tomar grandes encargos no cuidado de crianças pequenas. Essa obra está sendo feita por outros. Temos um trabalho especial no cuidado e educação de crianças maiores. Famílias que podem fazê-lo adotem as crianças pequenas, e receberão uma bênção por assim fazer. Existe, porém, uma obra mais elevada e especial a merecer a atenção de nossos médicos na educação dos que cresceram com caracteres deformados. Os princípios da reforma de saúde devem ser apresentados diante dos pais. Eles precisam converter-se, a fim de poderem atuar como missionários em seus próprios lares. Esse trabalho tem sido e poderá prosseguir sendo realizado por nossos médicos, contanto que não sacrifiquem a si próprios desempenhando tantas e tão variadas responsabilidades. T6 247 1 O médico-chefe em qualquer instituição ocupa uma difícil posição; deveria, portanto, manter-se livre de responsabilidades menores, pois estas não lhe permitiriam tempo para repouso. Deve poder contar com auxiliadores dignos de confiança, pois a ele cabe o desempenho de trabalhos difíceis. Deve ajoelhar-se em oração com os que sofrem, conduzindo seus pacientes ao Grande Médico. Se, na qualidade de humilde suplicante, buscar a Deus pedindo sabedoria para lidar com cada caso, sua força e influência será grandemente aumentada. T6 247 2 Por si mesmo, que poderá fazer o homem para realizar a grande obra posta diante dele pelo Deus infinito? Cristo diz: "sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Ele veio ao mundo para mostrar aos homens como realizar a obra que Deus lhes outorgara, de modo que nos diz: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Por que é suave o jugo de Cristo e leve o Seu fardo? Porque Ele suportou esse peso na cruz do Calvário. T6 247 3 A religião pessoal é essencial a cada médico que pretenda ser bem sucedido no cuidado dos doentes. Necessita ele de um poder mais elevado que sua própria intuição ou habilidade. Deus almeja que os médicos se unam a Ele e saibam que cada alma é preciosa à Sua vista. Quem depende de Deus, compreendendo que unicamente Aquele que fez o homem sabe como dirigir, não fracassará como obreiro indicado por Ele para a cura das enfermidades físicas, ou como médico das almas pelas quais Cristo morreu. T6 248 1 Alguém que carrega as pesadas responsabilidades de médico necessita das orações do ministro do evangelho e deve ter seu espírito, mente e corpo ligados à verdade de Deus. Será então capaz de falar no devido tempo uma palavra ao aflito. Vigiará pela salvação das pessoas como alguém que delas terá de prestar contas. Poderá apresentar a Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida. As Escrituras aflorarão de modo claro à sua mente, e ele falará como quem conhece o valor das pessoas com as quais está lidando. Conformidade com o mundo T6 248 2 Disse o Senhor Jesus: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. As palavras de Cristo produziram impressão na mente dos ouvintes. Muitos destes, embora não compreendendo perfeitamente Suas instruções, foram movidos por profunda convicção e declararam, decididamente: "Nunca homem algum falou assim como este homem." João 7:46. Nem sempre os discípulos compreenderam as lições que, através de parábolas, Jesus desejou ensinar-lhes; quando a multidão se retirava, perguntavam-Lhe quanto ao significado de Suas palavras. Ele sempre estava disposto a conduzi-los a uma perfeita compreensão de Sua Palavra e Sua vontade; era a partir deles que, em linhas claras e distintas, a verdade deveria ser dirigida a todo o mundo. T6 248 3 Por vezes, Cristo reprovou os discípulos pela lentidão de compreensão que demonstravam. Colocou ao alcance deles verdades de cujo valor pouco suspeitavam. Havia estado com eles por bastante tempo, oferecendo-lhes as lições da divina verdade; contudo, a educação religiosa anterior e as interpretações errôneas que haviam ouvido dos ensinadores judeus em relação às Escrituras mantinham a mente dos discípulos nubladas. Cristo lhes prometeu enviar o Espírito Santo, que lhes faria relembrar as palavras de verdade porventura esquecidas. Disse Cristo: "O Espírito Santo ... vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." João 14:26. T6 249 1 O modo como os mestres judeus expunham as Escrituras, suas infindáveis repetições de máximas e ficção, levaram Cristo a proferir as palavras: "Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de Mim." Mateus 15:8. Realizavam nos compartimentos do templo suas rotinas de serviço. Ofereciam sacrifícios que tipificavam o grande Sacrifício, dizendo através de suas cerimônias: "Vem, meu Salvador." Entretanto, Cristo, Aquele a quem as cerimônias representavam, achava-Se entre eles, e não foram capazes de reconhecê-lO e nem de recebê-lO. O Salvador declarou: "Mas em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens." Mateus 15:9. T6 249 2 Cristo diz a Seus servos ainda hoje, como dissera aos discípulos de antigamente: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. Também hoje, como então, são os homens lentos em compreender a lição. Deus tem concedido a Seu povo advertência sobre advertência; todavia, os costumes, hábitos a práticas do mundo têm exercido tão grande poder sobre a mente de Seu professo povo, que Seus avisos têm sido desconsiderados. T6 249 3 Aqueles que desempenham uma parte na grande causa de Deus não devem seguir o exemplo dos mundanos. A voz de Deus precisa ser atendida. Quem depende de homens para fortalecimento e influência está se apoiando em um cajado quebrado. T6 249 4 A grande fraqueza da igreja tem sido a dependência de homens. Esses vêm desonrando a Deus por fracassarem em apreciar a Sua suficiência, ao cobiçarem a influência dos homens. Foi assim que Israel se enfraqueceu. O povo desejava ser como as demais nações do mundo, de modo que insistiram para ter um rei. Desejaram ser guiados pelo poder humano, ao qual podiam ver, em lugar do invisível poder divino que até então os conduzira e lhes dera a vitória na batalha. Fizeram sua própria escolha, e o resultado foi observado na destruição de Jerusalém e na dispersão da nação judaica. T6 250 1 Não podemos repousar nossa confiança em homem algum, não importa quão preparado e elevado seja, a menos que ele mantenha firme a base de sua confiança em Deus, do começo ao fim. Qual não terá sido o poder do inimigo sobre Salomão, um homem a quem a Inspiração por três vezes identifica como "amado de Deus", e a quem foi outorgada a grande obra de construção do templo! Exatamente nesse grande trabalho, Salomão estabeleceu aliança com nações idólatras, e através de casamentos uniu-se a mulheres pagãs, por intermédio de cuja influência ele, em seus anos tardios, esqueceu o templo de Deus e foi adorar nos altos que preparara para os ídolos de suas esposas! T6 250 2 Da mesma forma agora, os homens colocam a Deus de lado, como não sendo suficiente para eles. Voltam-se para os mundanos em busca de reconhecimento e pensam que por meio da influência obtida no mundo serão capazes de realizar alguma coisa grandiosa. Acham-se em erro. Por se apoiarem no braço do mundo em vez de no braço de Deus, põem de lado a obra que Deus deseja realizar através de Seu povo escolhido. T6 250 3 Ao serem postos em contato com as classes mais elevadas da sociedade, não pensem os médicos que devem ocultar as características peculiares que a santificação através da verdade produz neles. Os médicos que se unem à obra de Deus devem cooperar com Ele como agentes por Ele indicados; devem oferecer toda as sua capacidade e sua eficiência para o engrandecimento da obra do povo que guarda os mandamentos de Deus. Aqueles que, em sua sabedoria humana, procuram esconder as características peculiares que distinguem do mundo o povo de Deus, perderão sua vida espiritual, e deixarão de ser sustentados por Seu poder. T6 251 1 Nossos obreiros médicos jamais deveriam entreter a idéia de que é essencial apresentarem a aparência de riqueza. Existirá forte tentação de assim procederem, com a justificativa de que isso lhes aumentará a influência. Entretanto, fui instruída a dizer que o efeito será exatamente o oposto. T6 251 2 Todos os que exaltam a si mesmos ao se conformarem com o mundo, estabelecem um exemplo negativo. Deus reconhece como Seus apenas aqueles que praticam a auto-negação e o sacrifício por Ele próprio experimentados. Os médicos devem entender que seu poder repousa na humildade e bondade de coração. Deus honrará aqueles que fazem dEle o seu ponto de dependência. T6 251 3 O estilo com que se veste um médico, seus equipamentos e sua mobília não contam um jota diante de Deus. Ele não poderá atuar com Seu Espírito através daqueles que tentam competir com o mundo no vestuário e na aparência. Aquele que segue a Cristo precisa negar a si mesmo e tomar sua cruz. T6 251 4 O médico que ama e teme a Deus não terá necessidade de exibição exterior de modo a distinguir-se; pois o sol da Justiça irradia em seu coração e se revela através de sua vida, o que lhe fornece distinção. Os que atuam nos ramos da obra de Cristo serão como epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos os homens. Através de seu exemplo e influência, homens de talento e riqueza serão afastados da desvalia das coisas materiais e levados a repousar sobre realidades eternas. O maior respeito possível será demonstrado para com o médico que revela receber suas orientações de Deus. Coisa alguma operará de modo tão poderoso para o avanço da obra de Deus, como a permanência em posição de fidelidade por parte dos que atuam como Seus representantes. T6 251 5 O médico descobrirá que será para o seu presente e eterno bem seguir o modo de trabalho do Senhor. A mente criada por Deus pode ser por Ele moldada sem o auxílio humano; contudo, Ele honra os homens, ao pedir-lhes que cooperem com Sua grande obra. T6 252 1 Muitos consideram sua própria sabedoria como suficiente, e arranjam as coisas segundo seu julgamento, imaginando que assim obterão maravilhosos resultados. Entretanto, se dependessem de Deus, e não de si mesmos, receberiam sabedoria celestial. Aqueles que se encontram tão subjugados pelo trabalho, a ponto de não encontrarem tempo para clamar junto ao trono da graça e obter conselho de Deus, acabarão conduzindo a obra por canais errados. Nossa força repousa sobre a união com Deus através de Seu Filho unigênito e em nossa união uns com os outros. T6 252 2 O cirurgião que tem mais sucesso é aquele que ama a Deus, que vê a Deus nas obras criadas e O adora enquanto observa a sábia organização divina no organismo humano. O mais bem sucedido médico é aquele que teme a Deus desde a juventude, como foi o caso de Timóteo, e que sente ser Cristo o seu constante companheiro, um amigo com o qual pode sempre estar em comunhão. Tal médico não trocará a sua posição nem mesmo pelo mais alto cargo que o mundo lhe possa oferecer. Está mais ansioso por honrar a Deus e assegurar-se de Sua aprovação, do que em garantir patrocínio e honra dos mais graduados homens do mundo. Oração T6 252 3 Cada instituição de saúde estabelecida entre os adventistas do sétimo dia deve tornar-se uma Betel. Todos os que se encontram ligados a esse ramo da obra devem ser consagrados a Deus. Os que ministram aos doentes, que executam delicadas e graves cirurgias, deveriam lembrar-se de que um leve escorregão do bisturi, um tremor nervoso, podem fazer com que uma vida seja perdida. Não deveriam permitir, portanto, serem sobrecarregados com tantas responsabilidades, a ponto de não disporem de tempo para sessões especiais de oração. Através de oração fervorosa, devem reconhecer sua dependência de Deus. Unicamente por intermédio da pura verdade divina operando na mente e no coração, tão-somente através da quietude e força que só Ele pode outorgar, estarão esses obreiros qualificados para executar operações críticas, que significarão vida ou morte para os enfermos. T6 253 1 O médico genuinamente convertido não acarretará sobre si mesmo responsabilidades que interfiram em seu trabalho em favor das pessoas. Uma vez que sem Cristo nada podemos fazer, como seria possível a um médico ou obreiro da área médica engajar-se com êxito nessa importante obra sem buscar fervorosamente ao Senhor em oração? A oração e o estudo da Palavra redundam em vida e saúde. T6 253 2 O Senhor espera poder manifestar Sua graça e poder por intermédio de Seu povo. Requer, entretanto, que a mente daqueles empenhados em Seu serviço seja mantida sempre ligada a Ele. Todos os dias precisam dispor de tempo para ler a Palavra de Deus e orar. Cada oficial e cada soldado sob o comando do Deus de Israel necessita de tempo para consultar a Deus e buscar a Sua bênção. Se o obreiro permitir o afastamento dessa linha, perderá o poder espiritual. Precisamos, individualmente, andar e conversar com Deus; então a sagrada influência do evangelho de Cristo, em toda a sua preciosidade, aparecerá em nossa vida. T6 253 3 Uma obra de reforma precisa ocorrer em nossas instituições. Médicos, obreiros e enfermeiras devem compreender que se encontram sob prova, sendo testados para essa vida e para a vida que se mede segundo a vida de Deus. Necessitamos expandir cada faculdade de modo a trazer as verdades salvadoras à atenção dos sofredores seres humanos. Isso precisa ser realizado em conexão com o trabalho de curar os enfermos. Conseqüentemente, a causa da verdade será posta diante do mundo com toda a força que Deus designou ela tivesse. Através da influência de obreiros santificados, a verdade será magnificada. Avançará "como uma tocha acesa." Isaías 62:1. ------------------------Capítulo 30 -- A necessidade do mundo T6 254 1 Quando Cristo viu a multidão que se reunia em torno dEle, "teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor". Cristo via as enfermidades, as dores, a carência e degradação das multidões que Lhe dificultavam os passos. Foram-Lhe apresentadas as necessidades e misérias da humanidade em todo o mundo. Entre os mais altos e os mais humildes, os mais honrados e os mais degradados, via seres anelando as próprias bênçãos que Ele viera trazer, almas que necessitavam apenas conhecer-Lhe a graça para se tornarem súditos de Seu reino. "Então disse aos Seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai pois ao Senhor da seara que mande ceifeiros para Sua seara." Mateus 9:36-38. T6 254 2 Hoje existem as mesmas necessidades. O mundo carece de obreiros que trabalhem como Cristo fazia pelos aflitos e os pecadores. Há, na verdade, uma multidão a ser alcançada. O mundo está cheio de doenças, sofrimentos, misérias e pecados. Cheio de criaturas necessitadas de quem delas cuide -- o fraco, o desamparado, o ignorante, o degradado. T6 254 3 Muitos dos jovens desta geração, entre as igrejas, as instituições religiosas e os lares supostamente cristãos, estão escolhendo o caminho da destruição. Devido a hábitos de intemperança, trazem doenças sobre si mesmos, e movidos pela ganância de ganhar dinheiro para as satisfações pecaminosas, caem em práticas desonestas. Arruínam a saúde e o caráter. Separados de Deus e rejeitados pela sociedade, essas pessoas sentem-se destituídas de esperança tanto para esta vida como para a futura. O coração dos pais é quebrantado. Os homens falam desses errantes como de casos sem esperança, mas Deus os contempla terna e compassivamente. Compreende todas as circunstâncias que os levaram a cair em tentação. Essa é uma classe que demanda trabalho em seu favor. T6 255 1 Perto e longe há pessoas, não somente jovens mas de todas as idades, na pobreza e na miséria, imersas no pecado e vergadas ao sentimento da culpa. É a obra dos servos de Deus buscar essas almas, orar com elas e por elas, e levá-las passo a passo ao Salvador. T6 255 2 Os que não reconhecem os direitos de Deus não são os únicos que se acham em aflição e necessitados de auxílio. No mundo atual, esse mundo onde reinam o egoísmo, a ganância e a opressão, muitos dos verdadeiros filhos do Senhor se acham necessitados e aflitos. Muitos estão, nos lugares humildes e miseráveis, rodeados de pobreza, doenças e culpas, suportando pacientemente o próprio fardo de sofrimento, e procurando confortar o desalentado e ferido pelo pecado que o atingiu. Muitos deles são quase desconhecidos das igrejas ou dos pastores; são, no entanto, luzes do Senhor, brilhando por entre as trevas. Desses tem o Senhor especial cuidado, e chama Seu povo a que Lhe sirvam de mão auxiliadora no suprir-lhes as faltas. Onde quer que haja uma igreja, deve-se dispensar especial atenção a procurar essas pessoas e ajudá-las. T6 255 3 E, ao mesmo tempo que trabalhamos pelos pobres, devemos dar atenção também aos ricos, cuja salvação é igualmente preciosa aos olhos de Deus. Cristo trabalhou por todos quantos Lhe ouviam a palavra. Buscava não somente o publicano e o rejeitado, como o rico e o culto fariseu, o nobre judeu e a autoridade romana. O homem rico necessita de que se trabalhe com ele no amor e temor de Deus. Muito freqüentemente ele confia em suas riquezas e não sente o próprio perigo. Os bens do mundo, confiados pelo Senhor aos homens, são muitas vezes fonte de grande tentação. Milhares são assim levados a pecaminosas condescendências que os confirmam em hábitos de intemperança e vício. Entre as arruinadas vítimas da miséria e do pecado, encontram-se muitos que dantes se achavam de posse de riquezas. Homens de diferentes vocações e situações na vida foram vencidos pelas corrupções do mundo, pelo uso de bebida forte, pela condescendência com as concupiscências da carne, e caíram em tentação. Ao mesmo tempo que esses caídos nos despertam compaixão e requerem nosso auxílio, não devemos também dedicar alguma atenção aos que ainda não desceram às profundezas, mas estão pondo os pés na mesma estrada? Milhares há que ocupam posição de honra e utilidade, os quais estão cedendo a hábitos que significam ruína para o corpo e a alma. Não se deve fazer o mais diligente esforço a fim de os esclarecer? T6 256 1 Ministros do evangelho, estadistas, escritores, homens de fortuna e de talento, homens de vasta capacidade na esfera dos negócios e de energia para serem úteis, acham-se em perigo mortal por não verem a necessidade de estrita temperança em tudo. Importa chamar-lhes a atenção para os princípios de temperança, não de maneira estreita ou arbitrária, mas em face do grande desígnio de Deus para a humanidade. Pudessem os princípios da verdadeira temperança lhes ser assim apresentados, e muitos membros das classes mais elevadas reconheceriam seu valor e os acolheriam de coração. T6 256 2 Há outro perigo a que as pessoas com mais dinheiro se acham especialmente expostas, e também aí há um campo para a obra médico-missionária. Muitas pessoas prósperas no mundo, e que nunca descem às formas comuns de vício, são ainda levadas à destruição pelo amor das riquezas. Absorvidas com os tesouros terrenos que possuem, são insensíveis aos reclamos de Deus e às necessidades de seus semelhantes. Em vez de considerar a própria riqueza como um talento a ser empregado para a glória de Deus e o reerguimento da humanidade, olham-na como um meio de condescender consigo mesmos e de glorificarem a si mesmos. Acumulam casas, terras, enchem suas moradas de luxo, ao passo que a necessidade caminha pelas ruas, e ao seu redor estão as criaturas humanas mergulhadas na miséria e no crime, na doença e na morte. Os que assim se dedicam a servir ao próprio eu, desenvolvem em si, não os atributos de Deus, mas os de Satanás. T6 257 1 Tais pessoas se acham carentes do evangelho. É preciso que volvamos os seus olhos da vaidade das coisas materiais, para contemplar a preciosidade das riquezas eternas. Precisam aprender a alegria de dar, a bênção de serem colaboradores de Deus. T6 257 2 As pessoas dessa classe são muitas vezes as de mais difícil acesso, mas Cristo abrirá caminhos pelos quais possam ser alcançadas. Que os obreiros mais sábios, mais fiéis e mais esperançosos procurem essas almas. Com a sabedoria e o tato nascidos do divino amor, com a cortesia e a delicadeza que resultam unicamente da presença de Cristo na alma, trabalhem eles pelos que, deslumbrados com o brilho das riquezas terrenas, não vêem a glória dos tesouros celestes. Estudem os obreiros a Bíblia com eles, insistindo por introduzir-lhes a verdade sagrada no coração. Leiam as palavras de Deus: "Mas vós sois dEle, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção." 1 Coríntios 1:30. "Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na Terra; porque destas coisas Me agrado, diz o Senhor." Jeremias 9:23, 24. "Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça." Efésios 1:7. "O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus." Filipenses 4:19. T6 258 1 Tal apelo, feito no espírito de Cristo, não será considerado impertinente. Impressionará o espírito de muitos da classe mais elevada. T6 258 2 Mediante esforços feitos com sabedoria e amor, muito rico poderá ser despertado para o senso de sua responsabilidade para com Deus. Quando fica evidente que o Senhor espera que eles, como Seus representantes, aliviem a humanidade sofredora, muitos corresponderão e darão de seus meios e simpatia para benefício dos pobres. Quando o espírito for assim desviado de seus interesses egoístas, muitos serão levados a se entregar a Cristo. Com seus talentos de influência e recursos, se unirão de bom grado à obra de beneficência com o humilde missionário que foi instrumento de Deus em sua conversão. Pelo devido emprego de seus tesouros terrenos, ajuntarão "tesouro no Céu que nunca acabe, onde não chega ladrão e a traça não rói". Lucas 12:33. Assegurarão para si o tesouro que a sabedoria oferece, isto é, "riquezas duráveis e justiça". Provérbios 8:18. T6 258 3 Observando nossa vida, o povo do mundo forma sua opinião de Deus e da religião de Cristo. Todos quantos não conhecem a Cristo precisam de que os elevados e nobres princípios de Seu caráter sejam constantemente mantidos diante deles através da vida dos que O conhecem. Satisfazer essa necessidade, levar a luz do amor de Cristo aos lares dos grandes e dos humildes, dos ricos e dos pobres, é o alto dever e o precioso privilégio do médico-missionário. T6 258 4 "Vós sois o sal da Terra" (Mateus 5:13), disse Cristo a Seus discípulos; e por essas palavras estava Ele falando aos Seus obreiros de hoje. Quem é representado pelo sal possui habilidade para salvar e caráter que inclui uma influência salvadora. T6 259 1 Ainda que um homem tenha mergulhado até às profundezas do pecado, há possibilidade de salvá-lo. Muitos perderam o senso das realidades eternas, perderam a semelhança com Deus e mal sabem se têm uma alma a salvar ou não. Nem têm fé em Deus nem confiança no homem. Mas podem compreender e apreciar atos de simpatia e assistência práticas. Ao verem pessoas que, sem desejar louvores ou recompensas terrenas, vão a seus infelizes lares, tratando o doente, dando de comer ao faminto, vestindo o nu e encaminhando ternamente todos para Aquele de cujo amor e compaixão o obreiro humano é simples mensageiro -- ao verem isso, seu coração é tocado. Desperta-se a gratidão. Acende-se a fé. Vêem que Deus cuida deles, e se tornam dispostos a escutar quando a Palavra divina é aberta. T6 259 2 Esforços importantes serão necessários nessa obra de restauração. Não é o caso de fazer comunicações surpreendentes de doutrinas estranhas a essas almas; à medida, porém, que são ajudadas materialmente, cumpre apresentar-lhes a verdade para este tempo. Homens, mulheres e jovens precisam ver a lei de Deus com suas reivindicações de vasto alcance. Não são as vicissitudes, a labuta ou a pobreza que degradam a humanidade; é o pecado, a transgressão da lei de Deus. Os esforços no sentido de salvar os excluídos e os degradados não terão proveito algum, a menos que o espírito e o coração sejam impressionados com os reclamos da lei de Deus e a necessidade de lealdade para com Ele. Deus não exige coisa alguma que não seja precisa para ligar a humanidade com Ele. "A lei do Senhor é perfeita, e converte a alma. ... O mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos." Salmos 19:7, 8 (TT). "Pela palavra dos Teus lábios", diz o salmista, "me guardei das veredas do destruidor." Salmos 17:4. T6 260 1 Os anjos estão ajudando nesta obra de restaurar os caídos e levá-los de volta Àquele que deu a vida para os redimir, e o Espírito Santo está cooperando com o ministério dos agentes humanos a fim de despertar as faculdades morais mediante Sua obra no coração, convencendo do pecado, da justiça e do juízo. T6 260 2 Ao se consagrarem os filhos de Deus a essa obra, muitos se agarrarão à mão que lhes é estendida para os salvar. São constrangidos a se desviar dos maus caminhos. Alguns dentre os libertos podem chegar, por meio da fé em Cristo, a elevadas posições de serviço, sendo-lhes confiadas responsabilidades na obra de salvar almas. Conhecem por experiência as necessidades daqueles por quem trabalham, e sabem como os podem auxiliar; sabem quais os melhores meios a serem usados para recuperar os que se acham prestes a perecer. Enchem-se de gratidão para com Deus pelas bênçãos recebidas; o coração é-lhes avivado pelo amor, e suas energias fortalecidas para erguerem outros que jamais o poderiam fazer sem auxílio. Tomando a Bíblia como guia e o Espírito Santo como ajudador e consolador, vêem abrir-se diante deles uma nova carreira. Cada uma dessas pessoas acrescentadas ao corpo de obreiros, provida de facilidades e de instrução quanto à maneira de salvar almas para Cristo, torna-se uma colaboradora dos que lhe trouxeram a luz da verdade. Assim Deus é honrado, e promovida Sua verdade. T6 260 3 O mundo não será tão convencido pelo que o púlpito ensina, como pelo que a igreja vive. O pregador anuncia a teoria do evangelho, mas a piedade prática da igreja demonstra-lhe o poder. ------------------------Capítulo 31 -- A necessidade da igreja T6 261 1 Enquanto o mundo necessita de simpatia, orações e assistência do povo de Deus, enquanto precisa ver a Cristo na vida de Seus seguidores, o povo de Deus se acha em igual necessidade de exercer simpatia, de dar eficácia a suas orações e desenvolver um caráter segundo o modelo divino. T6 261 2 É para proporcionar essas oportunidades que Deus colocou entre nós os pobres, os desafortunados, os doentes e sofredores. São o legado de Cristo a Sua igreja, e devem ser cuidados como Ele o faria. Assim tira Deus a escória e purifica o ouro, dando-nos aquela cultura de coração e de caráter que nos é necessária. T6 261 3 O Senhor poderia levar avante Sua obra sem nossa cooperação. Não depende de nós quanto a dinheiro, tempo ou trabalho. Mas a igreja é muito preciosa a Seus olhos. É o tesouro que encerra Suas jóias, o redil que Lhe abriga as ovelhas, e anela vê-la sem mácula nem ruga ou coisa semelhante. Anseia por ela com inexprimível amor. Eis porque nos tem dado oportunidades de trabalhar para Ele, e aceita-nos os serviços como testemunhos de amor e lealdade. T6 261 4 Ao colocar os pobres e sofredores entre nós, o Senhor nos está provando a fim de nos revelar o que está em nosso coração. Não podemos, sem incorrer em risco, esquivar-nos dos princípios. Não podemos violar a justiça, não podemos negligenciar a misericórdia. Ao vermos um irmão em decadência, não devemos passar de largo, mas fazer decididos e imediatos esforços para cumprir a Palavra de Deus, ajudando-o. Não podemos trabalhar em contrário às especiais direções de Deus, sem que o resultado de nossa obra se reflita sobre nós. Importa que fique firmemente determinado, arraigado e cimentado na consciência que não nos será benéfica qualquer coisa, em nossa conduta, que desonre a Deus. T6 262 1 Deve ser escrito na consciência, como com pena de ferro sobre a rocha, que aquele que despreza a misericórdia, a compaixão e a justiça, o que negligencia o pobre, que passa por alto as necessidades da humanidade sofredora, que não é bondoso e cortês, está-se conduzindo de maneira que Deus não pode cooperar com ele no desenvolvimento do caráter. O cultivo do espírito e do coração ocorre mais facilmente quando sentimos tão terna compaixão pelos outros, que oferecemos nossos benefícios e privilégios a fim de suprir-lhes as necessidades. Adquirir e segurar tudo quanto nos é possível para nós mesmos, tende a empobrecer a alma. Mas todos os atributos de Cristo aguardam a recepção dos que fazem a própria obra que Deus lhes designou, trabalhando à maneira de Cristo. T6 262 2 Nosso Redentor envia Seus mensageiros a darem testemunho perante Seu povo. Ele diz: "Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Apocalipse 3:20. Muitos, porém, recusam recebê-Lo. O Espírito Santo espera abrandar e submeter o coração; porém, eles não estão dispostos a abrir a porta e deixar o Salvador entrar, por temor de que Ele lhes exija alguma coisa. E, assim, Jesus de Nazaré passa. Anseia conceder-lhes as ricas bênçãos de Sua graça, mas recusam aceitá-las. Que terrível coisa é excluir a Cristo de Seu próprio templo! Que prejuízo para a igreja! T6 262 3 As boas obras nos custam sacrifícios, mas é no próprio sacrifício que elas provêem a disciplina. Essas obrigações nos põem em conflito com os sentimentos e propensões naturais, e ao cumpri-las obtemos vitória após vitória sobre os traços indesejáveis de nosso caráter. A luta prossegue, e assim crescemos na graça. Assim refletimos a imagem de Cristo, e nos preparamos para um lugar entre os bem-aventurados no reino de Deus. T6 263 1 Aos que transmitem aos necessitados o que recebem do Mestre, acompanharão bênçãos, tanto temporais, como espirituais. Jesus operou um milagre a fim de alimentar os cinco mil, uma multidão fatigada e faminta. Procurou um lugar aprazível para acomodá-los, e mandou-os sentar. Tomou, então, os cinco pães e os dois peixinhos. Sem dúvida, foram feitas muitas observações quanto à impossibilidade de satisfazer cinco mil homens famintos, além de mulheres e crianças, com aquela escassa provisão. Mas Jesus deu graças, e pôs a comida nas mãos dos discípulos para ser distribuída. Eles deram à multidão a comida que lhes aumentava nas mãos. E quando ela havia comido, os próprios discípulos sentaram-se e comeram com Cristo da provisão fornecida pelo Céu. Essa é uma preciosa lição para cada seguidor de Cristo. T6 263 2 A religião pura e imaculada é "visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo". Tiago 1:27. Os membros de nossa igreja acham-se em grande necessidade de conhecimento da piedade prática. Precisam praticar a abnegação e o sacrifício. Precisam dar provas ao mundo de que se assemelham a Cristo. Portanto, a obra que Cristo exige deles não é para ser feita por procuração, colocando em alguma comissão ou instituição o encargo que eles próprios devem assumir. Cumpre-lhes tornar-se semelhantes a Cristo no caráter, mediante o dar de seus meios e tempo, sua simpatia e esforço pessoal, o ajudar o enfermo, o confortar o contristado, aliviar o pobre, animar o abatido, esclarecer as almas em trevas, encaminhar os pecadores a Cristo, impressionar os corações com a obrigação de observar a lei de Deus. T6 264 1 O povo está observando e pesando os que pretendem crer nas verdades especiais para este tempo. Está observando a ver em que sua vida e conduta representam a Cristo. Empenhando-se humilde e zelosamente na obra de fazer bem a todos, o povo de Deus exercerá uma influência que testificará em toda vila e cidade em que a verdade penetrar. Se todos quantos conhecem a verdade se apoderarem dessa obra segundo se apresentarem as oportunidades, praticando dia a dia pequenos atos de amor na vizinhança do lugar em que moram, Cristo será manifesto aos seus vizinhos. O evangelho revelar-se-á um poder vivo, e não fábulas artificialmente compostas ou ociosas especulações. Revelar-se-á como realidade, não como resultado da imaginação ou do entusiasmo. Isso será de mais conseqüência do que sermões ou exposições doutrinárias. T6 264 2 Satanás está jogando com toda alma a partida da vida. Sabe que a simpatia prática é uma prova de pureza e desprendimento do coração, e fará todo esforço possível para fechar-nos o coração às necessidades dos outros, para que fiquemos afinal impassíveis diante do sofrimento. Ele introduzirá muitas coisas a fim de impedir a expressão de amor e simpatia. Foi assim que ele arruinou Judas. Este cuidava continuamente de beneficiar-se a si mesmo. Nisso representa vasta classe de professos cristãos de hoje. Precisamos, portanto, refletir sobre seu caso. Achamo-nos tão perto de Cristo como ele estava. Todavia, como aconteceu com Judas, a associação com Cristo não nos torna um com Ele, se isso não cultiva em nosso coração sincera simpatia por aqueles por quem Cristo deu a vida, encontramo-nos no mesmo perigo em que estava Judas de ficar separados de Cristo, joguetes das tentações de Satanás. T6 265 1 Cumpre-nos guardar-nos do primeiro desvio da justiça; pois uma transgressão, uma negligência em manifestar o espírito de Cristo, abre caminho para outra e outra ainda, até que a mente é dominada pelos princípios do inimigo. Caso seja cultivado, o espírito de egoísmo se torna uma paixão devoradora, que coisa alguma senão o poder de Cristo pode subjugar. A mensagem de Isaías 58 T6 265 2 Não posso deixar de ser demasiado veemente em insistir com todos os membros de nossas igrejas, todos quantos são verdadeiros missionários, todos quantos crêem na terceira mensagem angélica, todos quantos desviam o pé de profanar o sábado, para considerarem a mensagem do capítulo cinqüenta e oito de Isaías. A obra de beneficência recomendada nesse capítulo é a obra que Deus requer de Seu povo neste tempo. É uma obra indicada por Ele próprio. Não somos deixados em dúvida quanto ao lugar da mensagem e ao tempo de seu assinalado cumprimento, pois lemos: "E os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados; e levantarás os fundamentos de geração em geração; e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar." Isaías 58:12. O memorial de Deus, o sábado do sétimo dia, o sinal de Sua obra em criar o mundo, foi removido pelo homem do pecado. O povo de Deus tem uma obra especial a fazer em reparar as brechas feitas em Sua lei; e quanto mais nos aproximamos do fim, tanto mais urgente se torna essa obra. Todos quantos amam a Deus mostrarão que Lhe trazem o sinal pela guarda de Seus mandamentos. Eles são os restauradores de veredas para a habitação. Diz o Senhor: "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, ... então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó." Isaías 58:13, 14. Assim o genuíno trabalho médico-missionário acha-se inseparavelmente ligado à observância dos mandamentos de Deus, dentre os quais o sábado é especialmente mencionado, uma vez que é o grande memorial da obra criadora de Deus. Sua observância está ligada com a obra de restaurar a imagem moral de Deus no homem. Esse é o ministério que o povo de Deus deve levar avante neste tempo. Esse ministério, quando devidamente cumprido, trará ricas bênçãos à igreja. T6 266 1 Necessitamos, como crentes em Cristo, de uma fé maior. Importa que sejamos mais fervorosos na oração. Muitos cogitam por que suas orações são tão sem vida, tão fraca e vacilante a sua fé, sua vida cristã tão sombria e incerta. Não temos nós jejuado, dizem, e andado "de luto diante do Senhor dos Exércitos?" No capítulo cinqüenta e oito de Isaías, Cristo mostrou como se podem mudar essas condições. Diz Ele: "Porventura não é este o jejum que escolhi? que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?" Isaías 58:6, 7. Eis a receita prescrita por Cristo para a alma desfalecida, duvidosa, tremente. Que os tristes, que andam lamentosamente na presença de Deus, levantem-se e ajudem alguém que está em necessidade. T6 266 2 Toda igreja se acha necessitada do poder controlador do Espírito Santo, e é agora o tempo de orar por ele. Mas em todo o trabalho de Deus pelo homem, Seus desígnios são que este coopere com Ele. Para isso, o Senhor roga à igreja que tenha maior piedade, mais justo senso de dever, mais clara compreensão de suas obrigações para com seu Criador. Roga-lhes que sejam um povo puro, santificado, ativo. E a obra de auxílio cristão é um dos meios de operar isso, pois o Espírito Santo participa com todos os que estão fazendo o serviço de Deus. T6 267 1 Aos que se acham empenhados nessa obra, quero dizer: Continuem a trabalhar com tato e habilidade. Despertem os companheiros para trabalhar sob algum nome com o qual se organizem para cooperar em ação harmônica. Mobilizem os rapazes e as moças das igrejas para trabalhar. Unam a obra médico-missionária com a proclamação da terceira mensagem angélica. Façam esforços regulares, organizados, para erguer os membros da igreja acima da atmosfera morta em que se têm colocado por anos. Enviem às igrejas obreiros que vivam os princípios da reforma da saúde. Sejam enviadas pessoas que sintam a necessidade de abnegação no apetite, do contrário serão um laço para a igreja. Notem então que um sopro de vida se apoderará de nossas igrejas. Importa introduzir na obra um novo elemento. O povo de Deus precisa compreender sua grande necessidade e perigo, e lançar mãos à obra que lhes fica mais perto. T6 267 2 O Salvador está sempre presente com os que se empenham nesta obra, dizendo uma palavra a tempo e fora de tempo, ajudando os necessitados, falando-lhes do maravilhoso amor de Cristo por eles, e impressionando o coração dos pobres, miseráveis e infelizes. Quando a igreja aceita a obra que lhe é dada por Deus, tem a promessa: "Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isaías 58:8. Cristo é nossa justiça; vai adiante de nós nesta obra, e a glória do Senhor vem como conseqüência. T6 267 3 Tudo quanto o Céu contém está à espera para ser utilizado pela alma que trabalha com Cristo. Quando os membros de nossa igreja iniciarem individualmente o trabalho que lhes é indicado, serão circundados por uma atmosfera totalmente diversa. Suas atividades serão acompanhadas de bênção e poder. Experimentarão mais elevado cultivo de espírito e coração. O egoísmo que lhes atava a alma será vencido. Sua fé será um princípio vivo. Serão mais fervorosas as orações. A vivificante e santificadora influência do Espírito Santo será derramada sobre eles, e estarão mais perto do reino de Deus. T6 268 1 O Salvador desconhece tanto classe social como posição, tanto as honras mundanas como as riquezas. Caráter e dedicação de propósito são de alto valor para Ele. Não toma partido ao lado dos fortes e dos favorecidos pelo mundo. Ele, o Filho do Deus vivo, inclina-Se para erguer os caídos. Por meio de promessas e palavras de segurança, busca atrair a Si a alma perdida e prestes a perecer. Os anjos de Deus estão observando para ver quais de Seus seguidores exercerão terna compaixão e simpatia. Observam para ver quais dentre o povo de Deus manifestarão o amor de Jesus. T6 268 2 Os que avaliam a miséria do pecado, e a divina compaixão de Cristo em Seu infinito sacrifício pelo homem caído, terão comunhão com Cristo. Seu coração estará cheio de benignidade; a expressão da fisionomia e o tom da voz manifestarão simpatia, seus esforços se caracterizarão por sincera solicitude, amor e energia, e, ajudados por Deus, serão uma força para ganhar almas para Cristo. T6 268 3 Todos nós precisamos semear uma colheita de paciência, compaixão e amor. Ceifaremos aquilo que estamos semeando. Nosso caráter está-se formando agora para a eternidade. Aqui na Terra, estamos nos preparando para o Céu. Tudo devemos à graça, abundante graça, graça soberana. A graça no concerto ordenou nossa adoção. A graça do Salvador efetuou nossa redenção, regeneração e adoção como co-herdeiros de Cristo. Que essa mesma graça seja manifesta aos outros. ------------------------Capítulo 32 -- O dever para com os da nossa fé T6 269 1 Há duas classes de pobres que temos sempre ao nosso alcance -- os que se arruínam a si mesmos por sua maneira de agir independente e que continuam na transgressão, e os que por amor da verdade foram levados a circunstâncias difíceis. Devemos amar nosso próximo como a nós mesmos e, então, a essas classes, sob a guia e conselho de uma sã prudência, faremos o que for justo. T6 269 2 Não há dúvidas quanto aos pobres do Senhor. Esses devem ser ajudados em todo caso em que isso seja para seu benefício. T6 269 3 Deus quer que Seu povo revele ao mundo pecador que Ele não os deixou a perecer. Devem ser feitos especiais esforços para ajudar os que foram expulsos de seus lares por amor da verdade, sendo obrigados a sofrer. Haverá mais e mais necessidade de corações largos, francos, e generosos, corações que se neguem a si mesmos e se interessem pelos casos desses a quem o Senhor ama. Os pobres entre o povo de Deus não devem ser deixados sem providências a suas necessidades. Cumpre encontrar algum meio pelo qual possam ter a subsistência. Alguns precisarão ser ensinados a trabalhar. Outros, que trabalham ao máximo de suas forças a fim de sustentar a família, necessitarão de especial assistência. Devemos interessar-nos por esses casos e ajudá-los a encontrar emprego. Deve haver um fundo para ajudar essas dignas famílias pobres que amam a Deus e guardam Seus mandamentos. T6 269 4 É preciso cuidar que os meios necessários a essa obra não sejam desviados para outros desígnios. É diferente se ajudamos os pobres que, devido a observarem os mandamentos de Deus, são reduzidos à escassez e sofrimento, ou se negligenciamos esses a fim de ajudar os que blasfemam e pisam os mandamentos de Deus. E o Senhor considera a diferença. Os observadores do sábado não devem passar pelos necessitados e aflitos do Senhor, e passarem a sustentar os que continuam em transgressão da lei de Deus, os que estão sendo educados a esperar auxílio de quem quer que os sustente. Essa não é a verdadeira espécie de obra missionária. Não está em harmonia com o plano do Senhor. T6 270 1 Sempre que se estabelece uma igreja, seus membros devem fazer uma obra fiel em favor dos crentes necessitados. Mas não deveria ficar nisso. Devem também ajudar a outros, independentemente de sua fé. Em resultado de tais esforços, alguns desses receberão as verdades especiais para este tempo. Os pobres, os doentes e os idosos T6 270 2 "Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos em alguma das tuas portas, na tua terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. Guarda-te, que não haja palavra de Belial no teu coração, dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao Senhor, e que haja em ti pecado. Livremente lhe darás, e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e em tudo no que puseres a tua mão. Pois nunca cessará o pobre do meio da Terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra." Deuteronômio 15:7-11. T6 270 3 Devido a certas circunstâncias, alguns dos que amam e obedecem a Deus caem em pobreza. Outros não são cuidadosos; não sabem se dirigir. Outros ainda são pobres por causa de doenças e infortúnios. Seja qual for a causa, acham-se necessitados, e ajudá-los é um importante ramo da obra missionária. T6 271 1 Todas as nossas igrejas devem cuidar de seus pobres. Nosso amor para com Deus deve exprimir-se no fazer o bem aos necessitados e sofredores da família da fé, cujas carências nos chegam ao conhecimento e exigem nosso cuidado. Toda pessoa se acha diante de Deus sob particular obrigação de observar com especial compaixão Seus pobres dignos. Sob consideração alguma devem eles ser passados por alto. T6 271 2 Escreve Paulo à igreja de Corinto: "Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como, em muita prova de tribulação, houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza superabundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente, pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus; de maneira que exortamos a Tito que, assim como antes tinha começado, assim também acabe esta graça entre vós." 2 Coríntios 8:1-6. T6 271 3 Houve uma fome em Jerusalém, e Paulo sabia que muitos dos cristãos se haviam dispersado e que os que haviam ficado estariam da mesma maneira privados de simpatia humana e expostos à inimizade religiosa. Exortou, portanto, as igrejas a enviarem ajuda financeira a seus irmãos em Jerusalém. A importância arrecadada pela igreja excedera à expectativa dos apóstolos. Constrangidos pelo amor de Cristo, os crentes deram liberalmente, e encheram-se de alegria por exprimirem assim sua gratidão ao Redentor e seu amor pelos irmãos. Essa é a verdadeira base da caridade, segundo a Palavra de Deus. T6 272 1 Insiste-se constantemente no assunto da necessidade do cuidado pelos nossos irmãos idosos que não têm lar. Que pode ser feito por eles? A luz que o Senhor me deu é muito clara: Não é o melhor estabelecer instituições para cuidar dos idosos, para que fiquem juntos, em companhia uns dos outros, nem devem eles ser mandados embora de casa para receberem cuidados. Os membros de cada família devem cuidar dos seus próprios parentes. Quando isso não for possível, o trabalho cabe à igreja, e deve ser aceito como dever e privilégio. Todos os que têm o espírito de Cristo hão de considerar os debilitados e idosos com especial respeito e ternura. T6 272 2 Deus permite que os pobres se achem dentro dos limites de toda igreja. Eles estarão sempre conosco, e o Senhor põe sobre os membros de toda igreja uma responsabilidade pessoal de cuidar deles. Não devemos passar a outros nosso encargo. Cumpre-nos manifestar aos que se acham ao nosso redor o mesmo amor e simpatia que Cristo demonstraria, caso estivesse em nosso lugar. Assim devemos ser disciplinados a fim de preparar-nos para trabalhar segundo Cristo. T6 272 3 O pastor deve educar as várias famílias e fortalecer a igreja para cuidar dos próprios doentes e pobres. Ele deve levar o povo a utilizar as condições que Deus lhe deu, e se uma igreja está sobrecarregada nesse sentido, outras devem chegar em auxílio. Apliquem os membros das igrejas talento e tato no cuidado deles, do povo de Deus. Neguem-se eles a si mesmos luxo e adornos desnecessários, a fim de dar conforto aos sofredores necessitados. Assim fazendo, põem em prática as instruções dadas no capítulo cinqüenta e oito de Isaías, e lhes pertencerão as bênçãos proferidas ali. ------------------------Capítulo 33 -- Nosso dever para com o mundo T6 273 1 "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." Ele "enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele." João 3:16, 17. O amor de Deus abrange toda a humanidade. Ao dar a comissão aos discípulos, Cristo disse: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." Marcos 16:15. T6 273 2 Cristo pretendia que se fizesse em favor das pessoas uma obra mais vasta do que a que temos visto até agora. Não pretendia que tão grande número preferisse ficar sob a bandeira de Satanás, e fossem alistados como rebeldes contra o governo de Deus. Não era desígnio do Redentor do mundo que a herança comprada por Ele vivesse e morresse em seus pecados. Por que, então, são tão poucos alcançados e salvos? É porque tantos dos que professam ser cristãos estão trabalhando no mesmo sentido do grande apóstata. Milhares que não conhecem a Deus, poderiam estar hoje se regozijando em Seu amor, caso os que professam servi-Lo trabalhassem como Cristo o fez. T6 273 3 As bênçãos da salvação, as temporais bem como as espirituais, são para toda a humanidade. Muitos há que se queixam de Deus porque o mundo está tão cheio de necessidades e sofrimentos; Deus, porém, jamais pretendeu que essa miséria existisse. Ele nunca pretendeu que um homem tivesse abundância das regalias da vida, ao passo que os filhos de outros chorassem por pão. O Senhor é um Deus de beneficência: Tomou amplas providências para as necessidades de todos, e mediante Seus representantes, aos quais confiou os Seus bens, quer que as necessidades de todas as Suas criaturas sejam supridas. T6 274 1 Leiam os crentes na Palavra de Deus as instruções dadas em Levítico e Deuteronômio. Ali aprenderão eles a espécie de educação que era ministrada às famílias de Israel. Ao passo que o povo escolhido de Deus devia ser distinto, santo, separado das nações que O não conheciam, cumpria-lhes tratar bondosamente o estrangeiro. Este não devia ser desprezado por não pertencer a Israel. Os israelitas deviam amar o estrangeiro, porque Cristo morreu para salvá-lo da mesma maneira que para dar a salvação a Israel. Em suas festas de ações de graças, quando contavam as misericórdias do Senhor, o estrangeiro devia ser bem recebido. Por ocasião da colheita, deviam deixar no campo uma porção para o estrangeiro e o pobre. Assim deviam os estrangeiros partilhar também das bênçãos espirituais de Deus. O Senhor Deus de Israel ordenou que fossem recebidos, caso preferissem o convívio dos que conheciam e reconheciam a Deus. Dessa forma aprenderiam a lei de Jeová, e O glorificariam por sua obediência. T6 274 2 Assim, hoje, Deus deseja que Seus filhos, tanto nas coisas espirituais como nas temporais, comuniquem bênçãos ao mundo. Para todo discípulo de Cristo em todos os séculos, foram proferidas as preciosas palavras do Salvador: Dele correrão "rios de água viva". T6 274 3 Mas em vez de distribuir os dons de Deus, muitos dos que professam ser cristãos acham-se fechados em seus próprios, estreitos interesses, e retêm de forma egoísta de seus semelhantes as bênçãos de Deus. T6 274 4 Enquanto, em Sua providência, Deus tem carregado a Terra com Sua generosidade, e enchido seus tesouros com os confortos da vida, a falta e a miséria encontram-se por toda parte. A liberal Providência tem colocado nas mãos de Seus agentes humanos o necessário para suprir abundantemente as necessidades de todos, mas os mordomos de Deus são infiéis. Gasta-se no professo mundo cristão, em extravagância e ostentação, o suficiente para suprir as faltas a todos os famintos e vestir a todos os nus. Muitos que usam o nome de Cristo estão empregando Seu dinheiro em prazeres egoístas para satisfação do apetite, em bebida forte e dispendiosos artigos finos, casas, mobílias e roupas de custo extravagante, ao passo que aos pobres seres humanos em sofrimento dificilmente concedem um olhar de piedade ou uma palavra de simpatia. T6 275 1 Que miséria existe no próprio centro de nossos chamados países cristãos! Pense nas condições dos pobres de nossas grandes cidades. Há, nessas cidades, multidões de seres humanos que não recebem tanto cuidado e consideração quanto se dispensa aos animais. Há milhares de crianças miseráveis, desprotegidas e subnutridas, tendo estampados no rosto o vício e a depravação. Arrebanham-se famílias em promiscuidade em míseros casebres, muitos deles escuros celeiros cheios de umidade e de imundícia. As crianças nascem nesses terríveis lugares. A infância e a juventude nada vêem de atrativo, nada de beleza natural das coisas criadas por Deus para deleite dos sentidos. As crianças são deixadas a crescer e formar o caráter segundo os baixos preceitos, a miséria e os maus exemplos que vêem em torno de si. O nome de Deus só ouvem proferir de maneira profana. Palavras impuras, o cheiro das bebidas e do fumo, a degradação moral de toda espécie, eis o que se lhes depara aos olhos e perverte os sentidos. E dessas infelizes habitações partem lamentáveis clamores por pão e roupa, clamores saídos de lábios que nada sabem acerca da oração. T6 275 2 Há uma obra a ser feita por nossas igrejas, da qual muitos mal fazem uma idéia, obra até aqui nem tocada, por assim dizer. "Tive fome", diz Cristo, "e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me." Mateus 25:35, 36. Pensam alguns que, se dão dinheiro para essa obra, isso é tudo quanto deles se requer; mas isso é um erro. A dádiva do dinheiro não pode tomar o lugar do serviço pessoal. É direito dar de nossos meios, e muitos mais deveria ser feito; porém, é exigido deles o serviço pessoal segundo suas oportunidades e suas forças. T6 276 1 A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidade físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isso fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado. T6 276 2 Todo membro de igreja deve considerar seu especial dever o trabalhar pela vizinhança. É preciso imaginar a melhor maneira de auxiliar os que não têm interesse nas coisas religiosas. Ao visitar amigos e vizinhos, deve-se manifestar interesse em seu bem-estar temporal e espiritual. Apresentar a Cristo como o Salvador que perdoa o pecado. Convidar os vizinhos para virem a sua casa, e ler com eles a preciosa Bíblia e os livros que lhes explicam as verdades. Isso, aliado a hinos singelos e fervorosas orações, vai lhes tocar o coração. Que os membros da igreja sejam preparados para assim fazer. Isso é tão essencial como salvar as pessoas em trevas nos campos estrangeiros. Enquanto uns sentem a preocupação pelos que estão distantes, tomem os muitos que se acham na pátria sobre si o encargo de cuidar das preciosas almas que os rodeiam e trabalhem diligentemente por sua salvação. T6 276 3 As horas tão freqüentemente passadas em diversões que não refrigeram o corpo nem a mente devem ser gastas em visitar os pobres, os doentes e os aflitos, ou em ajudar alguém que se ache em necessidade. T6 277 1 Ao tentar ajudar o pobre, o desprezado e abandonado não é correto trabalhar por eles como se fosse do alto de um pedestal de dignidade e superioridade, pois dessa maneira nada se conseguirá. É preciso estar verdadeiramente convertido, tendo aprendido dAquele que é manso e humilde de coração. Cumpre-nos ter sempre o Senhor diante de nós. Como servos de Cristo, devemos dizer sempre, para que nunca o esqueçamos: "Fui comprado por preço." T6 277 2 Deus pede não somente nossa beneficência, mas um semblante satisfeito, palavras de esperança e um aperto de mão. Ao visitar os aflitos do Senhor, encontraremos alguns a quem a esperança já abandonou; levemos a eles de volta os seus raios. Outros há que carecem do pão da vida; leiamos para eles a Palavra de Deus. Há em outros uma enfermidade que bálsamo algum terrestre pode amenizar, nenhum médico pode curar; oremos por esses e os levemos a Jesus. T6 277 3 Em ocasiões especiais, alguns cedem ao sentimentalismo, o qual leva a movimentos impulsivos. Talvez eles pensem estar prestando grande serviço a Cristo, mas não é assim. Seu zelo logo diminui, e então é negligenciado o servir a Cristo. Não são serviços intermitentes que o Senhor aceita; não é por acessos emocionais de atividade que podemos fazer bem a nosso próximo. Os esforços esporádicos para fazer o bem resultam muitas vezes mais dano que benefício. T6 277 4 Cumpre considerar cuidadosamente e com oração os métodos de ajudar os necessitados. Precisamos buscar em Deus sabedoria, pois Ele sabe mais que os limitados mortais como cuidar das criaturas que fez. Alguns há que dão indiscriminadamente a todos quantos lhes solicitam o auxílio. Nisso eles erram. Ao procurar ajudar o necessitado, devemos cuidar em conceder-lhes a justa espécie de auxílio. Pessoas há que, uma vez ajudadas, continuarão a tornar-se especiais objetos de necessidade. Dependerão enquanto virem alguma coisa de que depender. Dando a essas pessoas tempo e atenção, estimularemos a preguiça, a incapacidade, o desperdício e a intemperança. T6 278 1 Ao darmos aos pobres, convém considerarmos: "Estou eu estimulando o desperdício? Estou eu os ajudando, ou os prejudicando?" Ninguém que possa ganhar a subsistência tem direito a depender de outros. T6 278 2 O provérbio: "O mundo me deve a subsistência", encerra a essência da falsidade, da fraude e do roubo. O mundo não deve a subsistência a nenhum homem capaz de trabalhar e ganhar sua manutenção. Mas se nos chega à porta alguém pedindo pão, não o devemos mandar embora com fome. Sua pobreza pode ser resultado de infortúnios. T6 278 3 Cumpre-nos ajudar aqueles que, tendo uma grande família a sustentar, têm de lutar constantemente com a debilidade e a pobreza. Muita mãe viúva, carregada de filhos órfãos, trabalha muito além de suas forças a fim de manter consigo seus pequeninos, e prover-lhes alimento e roupa. Muitas dessas mães têm morrido de excesso de trabalho. Toda viúva necessita do conforto de palavras esperançosas, de animação, e muitas, muitas há que devem receber considerável ajuda. T6 278 4 Homens e mulheres de Deus, pessoas de discernimento e sabedoria, devem ser designados para cuidar dos pobres e necessitados, dando o primeiro lugar aos domésticos da fé. Essas pessoas deveriam se reportar à igreja e aconselharem-se quanto ao que deve ser feito. T6 278 5 Em vez de animar os pobres a pensarem que podem receber sua comida e bebida de graça, ou quase de graça, precisamos colocá-los em situação de se ajudarem a si mesmos. Devemos esforçar-nos por prover-lhes trabalho e, se necessário, ensiná-los a trabalhar. Ensine-se os membros de famílias pobres a cozinhar, a fazer e remendar suas roupas, e cuidar devidamente do lar. Ensine-se aos rapazes e meninas algum ofício ou ocupação útil. Precisamos educar os pobres a dependerem de si mesmos. Isso será um real auxílio, pois não somente os faz capazes de se manterem por si, como os habilitará a ajudarem aos outros. T6 279 1 É desígnio de Deus que o rico e o pobre estejam intimamente ligados pelos laços da simpatia e da assistência. Manda-nos que nos interessemos em todo caso de sofrimento e necessidade que nos venha ao conhecimento. T6 279 2 Não julguemos abaixo de nossa dignidade o servir à humanidade sofredora. Não olhemos com indiferença e desprezo os que arruinaram o templo da alma. Tais pessoas são objeto da compaixão divina. Aquele que criou a todos, de todos também cuida. Mesmo os que caíram mais baixo, não se acham além do alcance de Seu amor e piedade. Se somos verdadeiramente Seus discípulos, manifestaremos espírito semelhante. O amor, que é inspirado por nosso amor a Jesus, verá em toda pessoa, rica ou pobre, um valor que não se pode medir pela estimativa humana. Que nossa vida revele um amor mais alto do que pode ser expressado por palavras. T6 279 3 Muitas vezes o coração dos homens se endurecerá em face da censura, mas não pode resistir ao amor que lhes é expresso em Cristo. Devemos convidar o pecador a não se sentir um rejeitado de Deus. Convidá-lo a olhar a Cristo, o único a poder curar a alma da lepra do pecado. Mostremos ao sofredor desesperado e abatido que ele é um prisioneiro da esperança. Seja a nossa mensagem: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." T6 279 4 Fui instruída de que a obra médico-missionária descobrirá, nas próprias profundezas da degradação, homens que, se bem que se tenham entregue à intemperança e hábitos dissolutos, corresponderão a um trabalho feito pela maneira correta. Precisam, porém, ser reconhecidos e animados. Serão necessários esforços firmes, pacientes e sinceros a fim de erguê-los. Eles não se podem recuperar sozinhos. Podem ouvir o chamado de Cristo, mas têm o ouvido por demais embotado para lhe apreender o significado; seus olhos se acham demasiado obscurecidos para ver qualquer coisa boa a eles reservada. Acham-se mortos em ofensas e pecados. Todavia mesmo esses não devem ser excluídos do banquete evangélico. Devem receber o convite: "Vinde." Embora se sintam indignos, o Senhor diz: "Forçai-os a entrar." Lucas 14:17, 23. Não demos ouvidos a qualquer desculpa. Com amor e bondade, vamos atraí-los. T6 280 1 "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos na caridade de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna. E apiedai-vos de alguns, que estão duvidosos; e salvai alguns arrebatando-os do fogo." Judas 20, 23. Impressionemos a consciência deles com os terríveis resultados da transgressão da lei de Deus. Mostremo-lhes que não é Deus que causa dor e sofrimento, mas que, por sua própria ignorância e pecado, o homem trouxe sobre si essas condições. T6 280 2 Devidamente dirigida, essa obra salvará muitos pecadores negligenciados pelas igrejas. Muitas pessoas que não pertencem a nossa fé, estão anelando o exato auxílio que os cristãos têm o dever de dar. Caso o povo de Deus mostrasse genuíno interesse em seu próximo, muitos seriam alcançados pelas verdades especiais para este tempo. Coisa alguma dará, ou jamais poderá dar reputação à obra, como ajudar o povo indo ao seu encontro onde se acham. Milhares de pessoas poderiam estar hoje regozijando na mensagem, se aqueles que professam amar a Deus e guardar Seus mandamentos trabalhassem como Cristo trabalhava. T6 280 3 Quando o obra médico-missionária ganhar homens e mulheres para um conhecimento salvador de Cristo e Sua verdade, nela se poderão empregar com segurança dinheiro e diligentes esforços, pois é uma obra que permanecerá. ------------------------Capítulo 34 -- O cuidado dos órfãos T6 281 1 Entre todos quantos necessitam de nosso interesse, são as viúvas e os órfãos os que maior direito têm à nossa terna simpatia. São objeto de especial cuidado do Senhor. São emprestados aos cristãos como depósito de Deus. "A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:27. T6 281 2 Muitos pais que morrem na fé, descansando na eterna promessa de Deus, têm deixado os seus queridos com a plena confiança de que o Senhor deles cuidará. E de que maneira provê o Senhor para esses seres privados de amparo? Ele não opera um milagre, enviando maná do Céu; não manda corvos levar-lhes o alimento; opera, porém, um milagre no coração humano, expelindo o egoísmo da alma e fazendo fluir as fontes da beneficência. Prova o amor de Seus professos seguidores confiando a suas ternas misericórdias as almas aflitas e desamparadas. T6 281 3 Abram, aqueles que têm o amor de Deus, o coração e o lar a essas crianças. Não é o melhor plano cuidar dos órfãos em grandes instituições. Caso não tenham parentes capazes de tomar conta deles, os membros de nossas igrejas devem adotar esses pequenos em sua família ou encontrar lugar conveniente para eles em outros lares. T6 281 4 Essas crianças são, em sentido especial, objeto da atenção do Senhor e negligenciá-las é uma ofensa a Ele feita. Todo ato de bondade para com elas, em nome de Jesus, é aceito por Ele como feito a Ele próprio. T6 281 5 Os que as privam de algum modo dos meios que elas deviam ter, os que com indiferença lhes consideram as necessidades, terão de tratar com o Juiz de toda a Terra. "E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça." Lucas 18:7, 8. "Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia." Tiago 2:13. O Senhor recomenda que: "... recolhas em casa os pobres desterrados." Isaías 58:7. O cristianismo deve suprir pais e mães e lares para esses desamparados. A compaixão para com as viúvas e os órfãos, manifestada em orações e em atos correspondentes, subirá em memória diante de Deus, para ser a seu tempo recompensada. T6 282 1 Há, para todos quantos trabalham para o Mestre, um vasto campo de utilidade no cuidar dessas crianças e jovens que foram privados da vigilante guia dos pais, e da importante influência de um lar cristão. Muitos deles herdaram maus traços de caráter; e, se deixados a crescer na ignorância, serão atraídos para o convívio de outros que os levarão ao vício e ao crime. Essas crianças, que parecem não promissoras, precisam ser colocadas em situação favorável para a formação de um caráter reto, de modo a se tornarem filhas de Deus. T6 282 2 Estamos nós, que professamos ser filhos de Deus, fazendo nossa parte em ensinar a esses que tanto necessitam de ser pacientemente ensinados a irem ao Salvador? Estamos desempenhando nossa parte como fiéis servos de Cristo? Estão essas mentes mal formadas, talvez sem muito equilíbrio, recebendo cuidados com aquele amor por Cristo a nós manifestado? A salvação das crianças e dos jovens acha-se em perigo, caso fiquem entregues a si mesmos. Eles necessitam paciente instrução, amor e terno cuidado cristão. T6 282 3 Se porventura não houvesse uma revelação a apontar-nos o dever, a própria vista de nossos olhos, e tudo quanto sabemos dos inevitáveis resultados de causa e efeito nos deveria despertar para salvar esses desafortunados. Pusessem os membros da igreja nessa obra a mesma energia, tato e habilidade que empregam nas relações de negócios comuns da vida, buscassem eles sabedoria em Deus e estudassem diligentemente a maneira de moldarem essas mentes indisciplinadas, e muitas almas prestes a perecer haveriam de ser salvas. T6 283 1 Se os pais sentissem pela salvação dos próprios filhos a solicitude que deveriam, se os levassem em oração ao trono da graça, e vivessem as próprias orações, sabendo que Deus cooperaria com eles, seriam bem-sucedidos obreiros pelas crianças fora da própria família, e especialmente pelos que não têm conselhos e guia paternos. O Senhor chama todo membro da igreja a cumprir seu dever para com esses órfãos. Obra semelhante à de Cristo T6 283 2 Ao cuidar das crianças, não o devemos fazer apenas sob o ponto de vista do dever, mas do amor, pois Cristo morreu para sua salvação. Cristo comprou essas vidas necessitadas de nosso cuidado, e espera que as amemos assim como Ele nos amou em nossos pecados e descaminhos. O amor é o meio pelo qual Deus opera para atrair a Si o coração, pois "Deus é amor". Em todo empreendimento de graça, é unicamente esse princípio que pode comunicar eficiência; o finito deve unir-se ao Infinito. T6 283 3 Essa obra por outros exige esforço, abnegação e sacrifício. Mas que é esse pequeno sacrifício que possamos fazer em comparação com aquele feito por Deus em nosso benefício, ao dar Seu Filho unigênito? T6 283 4 Deus nos comunica Suas bênçãos, a fim de que as possamos transmitir a outros. Quando Lhe pedimos o pão de cada dia, Ele olha ao nosso coração a ver se o repartiremos com os mais necessitados que nós. Quando oramos: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador" (Lucas 18:13), observa para ver se manifestaremos compaixão àqueles com quem nos associamos. Esta é a prova de nossa ligação com Deus, que sejamos misericordiosos assim como nosso Pai no Céu. T6 284 1 Deus está sempre dando; e a quem são concedidos os Seus dons? Aos que são impecáveis no caráter? "Faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos." Mateus 5:45. Não obstante a pecaminosidade do gênero humano, não obstante tantas vezes ofendermos o coração de Cristo e nos demonstrarmos tão ingratos, ainda ao Lhe pedirmos perdão Ele não nos repele. Seu amor nos é abundantemente oferecido, e Ele nos recomenda: "Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós." João 13:34. T6 284 2 Irmãos e irmãs, rogo-lhes que considerem cuidadosamente essa questão. Pensem nas necessidades dos que não têm pai e mãe. Não lhes comove o coração ao observar seus sofrimentos? Vejam se não é possível fazer alguma coisa por esses desamparados. Tanto quanto esteja em seu poder, tentem arranjar um lar para os destituídos de lar. Esteja cada um pronto a fazer uma parte para promover essa obra. Disse o Senhor a Pedro: "Apascenta os Meus cordeiros." João 21:15. Essa ordem é dada a nós, e abrindo nosso lar aos órfãos, cooperamos em seu cumprimento. Não permitamos que Jesus fique decepcionado convosco. T6 284 3 Tomemos essas crianças e as apresentemos a Deus como uma fragrância. Peçamos sobre elas Suas bênçãos, e então tratemos de moldá-las e educá-las segundo a ordem de Cristo. Aceitará nosso povo esse santo legado? Em virtude de nossa piedade superficial e da ambição mundana que nutrimos, serão deixados a sofrer aqueles por quem Cristo morreu, a enveredarem por errados caminhos? T6 284 4 A Palavra de Deus é farta de instruções quanto à maneira por que devemos tratar as viúvas, os órfãos e os pobres necessitados e sofredores. Se todos obedecessem a essas instruções, o coração da viúva cantaria de alegria; criancinhas famintas seriam alimentadas; vestidos os desamparados; e reavivados os que já estavam a ponto de perecer. Os seres celestiais estão contemplando e, quando possuídos de zelo pela honra de Cristo, nos colocamos na direção da providência de Deus, esses mensageiros celestiais nos comunicarão novo poder espiritual de maneira que sejamos aptos a combater as dificuldades e triunfar sobre os obstáculos. T6 285 1 E que bênçãos recompensariam os obreiros! Para muitos que agora são indolentes, egoístas e concentrados em si mesmos, seria como uma ressurreição. Haveria entre nós um reavivamento da caridade celestial, de sabedoria e zelo. Adoção de órfãos pelas esposas de pastores T6 285 2 Tem surgido a questão de dever ou não a esposa de um pastor adotar criancinhas. Respondo: Caso ela não possua inclinação ou capacidade para se empenhar em obra missionária fora do lar, e sinta-se no dever de adotar órfãos e deles cuidar, poderá fazer uma boa obra. Escolham-se, porém, crianças deixadas por pais observadores do sábado. Deus abençoará homens e mulheres ao partilharem, de coração voluntário, seu lar com esses que os não têm. Mas se a esposa do pastor é capaz por sua vez de ter uma parte na obra de educar a outros, deveria consagrar suas habilidades a Deus como obreira cristã. Deve ser uma verdadeira ajudadora para seu marido, auxiliando-o em seu trabalho, desenvolvendo o próprio intelecto e ajudando a dar a mensagem. T6 285 3 O caminho está aberto para que mulheres humildes, consagradas, dignificadas pela graça de Cristo, visitem os que se acham necessitados de auxílio, e transmitam luz a essas almas desanimadas. Elas podem reerguer os abatidos orando com eles, e encaminhando-os a Cristo. Tais senhoras não devem consagrar seu tempo e força a apenas um desamparado ser que exige constante cuidado e atenção. Elas não deviam atar assim voluntariamente as próprias mãos. Lares de órfãos T6 286 1 Quando se fizer tudo quanto pode ser feito a fim de providenciar para os órfãos em nossos próprios lares, haverá ainda no mundo muitos necessitados de cuidado. Talvez sejam rotos, incultos, aparentemente de todo sem atrativos; foram, no entanto, comprados por preço, e são tão preciosos aos olhos de Deus como nossos próprios pequenos. São propriedade de Deus, pela qual os cristãos são responsáveis. Sua alma, diz Deus, "da tua mão o requererei". Ezequiel 3:20. T6 286 2 O cuidar desses necessitados é uma boa obra; todavia nesta época do mundo o Senhor não nos dá, como um povo, orientações no sentido de estabelecer grandes e dispendiosas instituições para esse fim. Caso, entretanto, haja entre nós pessoas que se sintam chamadas por Deus a estabelecer instituições para cuidado de crianças órfãs, sigam suas convicções de dever. Cuidando, porém, dos pobres do mundo, devem apelar para o mundo quanto à sua manutenção. Não devem tirar do povo a quem Deus deu a realizar a mais importante obra que já foi confiada a homens -- a obra de levar a todas as nações, tribos e línguas e povos a última mensagem de misericórdia. O tesouro do Senhor deve ter um excesso para manter a obra do evangelho nas "regiões de além-mar". T6 286 3 Que aqueles que sentirem a preocupação de fundar instituições assim, utilizem sábios solicitadores para apresentar-lhes as necessidades e arrecadar fundos. Desperte-se o povo do mundo, e que as igrejas denominacionais sejam recoltadas por homens empenhados em fazer alguma coisa em benefício dos pobres e dos órfãos. Há, em todas as igrejas, pessoas que temem a Deus. Apele-se para essas pessoas, pois a elas o Senhor deu essa obra. T6 286 4 As instituições estabelecidas por nosso povo a fim de cuidar dos órfãos, dos enfermos e idosos entre nós, devem ser mantidas. Não se permita que elas definhem e tragam descrédito à causa de Deus. O ajudar a manter essas instituições não deve ser considerado unicamente como um dever, mas como precioso privilégio. Em vez de presentear-nos desnecessariamente uns aos outros, demos nossas dádivas aos pobres e desamparados. Quando o Senhor vê que estamos fazendo tudo ao nosso alcance em benefício desses necessitados, tocará o coração de outros a fim de ajudarem nessa boa obra. T6 287 1 O objetivo de um lar de órfãos deve ser, não só proporcionar alimento e roupa às crianças, mas colocá-las sob os cuidados de professores cristãos, que as eduquem no conhecimento de Deus e de Seu Filho. Os que trabalham nesse sentido devem ser homens e mulheres de coração grande, e inspirados pelo entusiasmo aos pés da cruz do Calvário. Devem ser homens e mulheres cultos e abnegados, que trabalhem como Cristo fazia, pela causa de Deus e da humanidade. T6 287 2 Ao serem esses pequeninos seres, destituídos de lar, colocados em lugar onde possam obter conhecimento, felicidade e virtude, e tornarem-se filhos e filhas do Rei celestial, preparar-se-ão para desempenhar um papel cristão na sociedade. Cumpre que sejam educados de maneira que, por sua vez, venham a ajudar outros. Assim a boa obra será estendida e perpetuada. T6 287 3 Que mãe já amou seu filho como Jesus ama os Seus? Ele contempla com profundo desgosto o caráter manchado, desgosto mais vivo do que qualquer mãe experimenta. Vê a conseqüência futura de uma ação errada. Portanto, que todo o possível seja feito em prol da alma negligenciada. ------------------------Capítulo 35 -- A obra médico-missionária e a terceira mensagem angélica T6 288 1 Tenho sido repetidamente instruída quanto ao fato de que a relação da obra médico-missionária com a obra da terceira mensagem angélica é a mesma relação que o corpo mantém com o braço e a mão. Sob a direção da divina Cabeça, devem trabalhar unidos no preparar o caminho para a vinda de Cristo. O braço direito do corpo da verdade deve estar constantemente ativo, trabalhando incessantemente, e Deus o fortalecerá. Não deve, porém, tornar-se o corpo. Ao mesmo tempo o corpo não deve dizer ao braço: "Não tenho necessidade de ti." 1 Coríntios 12:21. O corpo necessita do braço a fim de fazer obra ativa e intensiva. Ambos têm seu trabalho designado, e ambos sofrerão grande prejuízo caso operem independentemente um do outro. T6 288 2 A obra de pregar a terceira mensagem angélica não tem sido considerada por alguns como Deus designa que seja. Tem sido olhada como trabalho inferior, quando deve ocupar lugar importante entre os instrumentos humanos na salvação do homem. O espírito dos homens deve ser atraído para as Escrituras como o meio mais eficaz na salvação de almas, e o ministério da palavra é a grande força educacional para produzir tal resultado. Os que rebaixam o ministério e procuram levar avante a obra médico-missionária independentemente estão buscando separar o braço do corpo. Qual seria o resultado, caso fossem eles bem-sucedidos nisso? Veríamos braços e mãos voando de um lado para outro dispensando meios, sem ser dirigidos pela cabeça. O trabalho tornar-se-ia desproporcionado e carente de equilíbrio. Aquilo que Deus designou que fosse o braço e a mão, tomaria o lugar do corpo todo e o ministério seria amesquinhado ou totalmente passado por alto. Isso causaria perturbação e confusão, ficando muitas partes da vinha do Senhor sem serem alcançadas. T6 289 1 A obra médico-missionária deve fazer parte do trabalho de toda igreja em todos os lugares. Desligada da igreja, ela se tornaria em breve uma estranha miscelânea de desorganizados átomos. Consumiria, mas não produziria. Em vez de servir de mão auxiliadora de Deus para promover a verdade, sugaria a vida e a força da igreja, e enfraqueceria a mensagem. Conduzida independentemente, não somente consumiria talento e meios necessários em outros ramos como, no próprio trabalho de ajudar os desamparados independentemente do ministério da Palavra, colocaria os homens em situação de zombarem de uma verdade bíblica. T6 289 2 O ministério evangélico é necessário a fim de dar permanência e estabilidade à obra médico-missionária; e o ministério necessita da obra médico-missionária para demonstrar a operação prática do evangelho. Nenhuma das duas partes da obra é completa sem a outra. T6 289 3 A mensagem da próxima vinda do Salvador deve ser dada em todas as partes do mundo, devendo em todos os setores ser caracterizada por solene dignidade. Grande é a vinha a ser trabalhada e o sábio agricultor fará a obra de tal maneira que cada parte produza frutos. Caso sejam conservados puros os vivos princípios da verdade na obra médico-missionária, não contaminados por qualquer coisa que lhes prejudique o brilho, o Senhor há de presidir o trabalho. Caso os que têm os pesados encargos permaneçam fiéis e firmes aos princípios da verdade, o Senhor os apoiará e susterá. T6 289 4 A união que deve existir entre a obra médico-missionária e o ministério é claramente salientada no capítulo cinqüenta e oito de Isaías. Há sabedoria e bênção para os que se empenharem na obra segundo é ali apresentada. Esse capítulo é explícito, e nele há o suficiente para esclarecer quem quer que deseje fazer a vontade de Deus. Apresenta grande oportunidade para que a humanidade sofredora seja ajudada, e seja ao mesmo tempo instrumento nas mãos de Deus para levar a luz da verdade a um mundo agonizante. Se a obra da terceira mensagem angélica for levada avante pela maneira certa, não se dará ao ministério um lugar inferior, nem os doentes e pobres serão negligenciados. Deus uniu em Sua Palavra esses dois ramos de trabalho, e pessoa alguma os deveria separar. T6 290 1 Pode haver, e há de fato, perigo em perder de vista os grandes princípios da verdade, ao realizar em benefício dos pobres a obra que é justo fazer, mas devemos ter sempre em mente que, ao fazer esse trabalho, cumpre dar o primeiro lugar às necessidades espirituais do ser humano. Em nossos esforços para aliviar as necessidades temporais, corremos o risco de separar da última mensagem evangélica seus aspectos principais e mais urgentes. Tal como tem sido feita em alguns lugares, a obra médico-missionária tem absorvido talento e meios que caberiam a outros ramos da obra, com negligência de atividades mais diretamente espirituais. T6 290 2 Devido às sempre crescentes oportunidades para ministrar às necessidades temporais de todas as classes, há perigo de essa obra eclipsar a mensagem que Deus nos deu para levar a toda cidade -- a proclamação da próxima vinda de Cristo, a necessidade de obediência aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus. Essa mensagem é a preocupação de nossa obra. Tem de ser proclamada com grande voz e ir a todo o mundo. Tanto no campo nacional como nos estrangeiros, a apresentação dos princípios da saúde precisa estar unida com ela e não ser independente dela ou tomar-lhe de qualquer maneira o lugar; tampouco deve ela absorver tanta atenção que amesquinhe outros ramos. O Senhor nos instruiu a que consideremos a obra em todos os seus aspectos, de modo que se desenvolva de forma proporcional, simétrica e equilibrada. T6 290 3 A verdade para este tempo abrange todo o evangelho. Devidamente apresentada, ela operará no ser humano as adequadas mudanças que manifestarão o poder da graça de Deus no coração. Efetuará uma obra completa, e desenvolverá um completo homem. Portanto, não se trace uma linha divisória entre a genuína obra médico-missionária e o ministério evangélico. Unam-se essas duas para fazer o convite: "Vinde; pois tudo está preparado." Lucas 14:17. Juntem-se elas em inseparável união, da mesma forma como o braço está unido ao corpo. Obreiros médico-missionários T6 291 1 O Senhor necessita todos os tipos de obreiros hábeis. "E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:11-13. T6 291 2 Todo filho de Deus deve ter um santificado discernimento para considerar a causa como um todo, e a relação de cada parte para com cada uma das demais, a fim de que nenhuma falte. Vasto é o campo, e há uma grande obra de reforma a ser desenvolvida, não em um ou dois ramos, mas em toda linha. A obra médico-missionária é uma parte dessa obra de reforma, mas não deveria jamais se tornar um meio de separar os obreiros do ministério de seu campo de trabalho. A educação de alunos nos ramos médico-missionários não se acha completa a menos que eles estejam preparados para trabalhar em ligação com a igreja e o ministério, e a utilidade dos que se acham em preparo para o ministério seria grandemente aumentada caso eles se tornassem esclarecidos acerca do grande e importante assunto da saúde. A influência do Espírito Santo é necessária para que a obra seja devidamente equilibrada, e possa avançar vigorosamente em todo sentido. "Uni-vos" T6 292 1 A obra do Senhor é uma, e um deve ser o Seu povo. Ele não deu instruções para que algum aspecto da mensagem fosse levado avante independentemente ou se tornasse absoluto. Em todos os Seus labores, Ele uniu a obra médico-missionária com o ministério da Palavra. Enviou os doze apóstolos, e posteriormente os setenta, a fim de pregar o evangelho ao povo, e deu-lhes poder também para curar os doentes e expulsar os demônios em Seu nome. Assim devem os mensageiros do Senhor entrar hoje na obra. Chega até nós hoje a mensagem: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo." João 20:21, 22. T6 292 2 Satanás inventará todo meio possível para separar aqueles a quem Deus está tentando unir. Não devemos, porém, ser enganados por seus ardis. Caso a obra médico-missionária seja desenvolvida como parte do evangelho, os de fora verão o bem que se está fazendo; ficarão convencidos de sua genuinidade, e lhe darão seu apoio. T6 292 3 Aproximamo-nos do fim da história terrestre, e Deus convida todos a erguerem o estandarte com a inscrição: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Apocalipse 14:12. Convida Seu povo a trabalhar em perfeita harmonia. Convida os que se acham empenhados na obra médico-missionária a se unirem com o ministério; convida o ministério a cooperar com os obreiros médico-missionários; e convida a igreja a cumprir o dever que lhe é designado, mantendo alto o padrão da verdadeira reforma em seu território, permitindo que os obreiros preparados e experientes avancem para novos campos. Palavra alguma deve ser proferida para desanimar ninguém, pois isso entristece o coração de Cristo e agrada grandemente o adversário. Todos precisam ser batizados com o Espírito Santo; todos devem se refrear quanto a fazer censuras e observações pejorativas, e devem se aproximar de Cristo a fim de apreciarem as pesadas responsabilidades que os coobreiros dEle têm sobre os ombros. "Uni-vos, uni-vos" são as palavras de nosso divino Instrutor. União é força; desunião é fraqueza e derrota. T6 293 1 Em nosso trabalho em prol dos pobres e desafortunados, precisaremos cuidar para que não assumamos responsabilidades para as quais não somos capazes. Antes de adotar planos e métodos que exijam grandes gastos, cumpre-nos considerar se eles trazem a aprovação divina. Deus não sanciona a promoção de um ramo da obra sem consideração para com os outros. É Seu desígnio que a obra médico-missionária prepare o caminho para a apresentação da salvadora verdade para este tempo, a proclamação da terceira mensagem angélica. Uma vez que se cumpra esse desígnio, a mensagem não será eclipsada, nem seu progresso impedido. T6 293 2 Não são numerosas instituições, grandes edifícios ou ostentação o que Deus requer, mas a ação harmoniosa de um povo peculiar, um povo precioso escolhido por Deus. Cada um deve ficar em seu lugar, pensando, falando e agindo em harmonia com o Espírito de Deus. Então, e não antes, será a obra um todo, completa e simétrica. ------------------------Capítulo 36 -- Negligência da igreja e do ministério T6 294 1 No convite para o banquete do evangelho, o Senhor Jesus especificou a obra a ser realizada -- a obra que as igrejas de cada localidade, do norte, do sul, do leste e do oeste devem empreender. T6 294 2 As igrejas necessitam ungir os olhos com o colírio celestial, a fim de que possam ver as muitas oportunidades de servir a Deus que se acham ao seu alcance. Repetidas vezes Deus ordenou a Seu povo que saísse pelos caminhos e atalhos, e forçassem os homens a entrar, para que Sua casa se encha; todavia, mesmo junto às nossas portas, existem famílias pelas quais não mostramos suficiente interesse para as levar a supor que nos preocupamos com a salvação delas. É para empreender essa obra mais próxima de nós, que o Senhor convida agora Sua igreja. Não nos devemos levantar, e dizer: "Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29. Precisamos não esquecer que nosso próximo é aquele que necessita de nossa simpatia e auxílio. Nosso próximo é toda alma ferida e quebrantada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que pertence a Deus. Em Cristo se desvanecem as distinções feitas pelos judeus quanto a quem era seu próximo. Não existem linhas divisórias, nem distinções convencionais, nem classes, nem aristocracias. Oportunidades desconsideradas T6 294 3 O espírito do bom samaritano não tem sido representado com freqüência em nossas igrejas. Muitos em necessidade de auxílio têm sido passados por alto, como o sacerdote e o levita passaram de largo pelo ferido e maltratado estrangeiro que tinha sido deixado à morte ao lado do caminho. Esses em necessidade do poder do divino Médico para curar suas feridas têm sido deixados sem cuidado e sem ser notados. Muitos têm agido como se fosse suficiente saber que Satanás montou sua armadilha para uma alma, e eles voltam para casa tranqüilamente sem cuidar da ovelha perdida. É evidente que os que manifestam tal espírito não têm sido participantes da natureza divina, mas dos atributos do inimigo de Deus. T6 295 1 Alguém deve cumprir a comissão de Cristo; alguém terá de levar avante a obra que Ele começou na Terra; à igreja foi dado esse privilégio. Para isso foi ela organizada. Por que, então, não têm os membros da igreja assumido essa responsabilidade? Há os que têm visto essa grande negligência; eles têm percebido as necessidades de muitos que estão em sofrimento e penúria; têm reconhecido nessas pobres almas aqueles por quem Cristo deu a Sua vida, e seu coração tem sido movido de piedade, levando à ação cada habilidade. Tomaram a si a obra de organizar aqueles que irão cooperar com eles em levar a verdade do evangelho perante muitos que estão agora no vício e em iniqüidade, a fim de serem redimidos de uma vida de dissipação e pecado. Aqueles que se têm empenhado nessa obra de auxílio cristão, têm estado a fazer aquilo que o Senhor deseja que se faça, e Ele tem aceitado seus labores. O que se tem feito nesse sentido é um trabalho com o qual todo adventista do sétimo dia deve de coração simpatizar, e ao qual deve prestar seu apoio, nele empenhando-se zelosamente. Negligenciando essa obra, que se acha ao seu alcance, recusando essas responsabilidades, a igreja está se prejudicando grandemente. Houvesse a igreja enfrentado essa obra como deveria ter feito, e teria sido o instrumento para a salvação de muitas almas. T6 295 2 Em virtude da negligência da igreja, Deus tem olhado para ela com desprazer. Amor à comodidade e indulgência egoísta têm sido demonstrados por muitos. Alguns que tiveram o privilégio de conhecer a verdade bíblica não a introduziram no santuário da alma. Deus considera todos esses como tendo de prestar contas dos talentos que não retornaram a Ele em honesto e fiel serviço, no empreender de todo esforço possível para buscar e salvar os que estão perdidos. Tais servos indolentes são representados como chegando ao banquete do casamento sem as vestes nupciais, o manto da justiça de Cristo. Aceitaram nominalmente a verdade, contudo não a colocaram em prática. Professamente circuncidados, acham-se em realidade entre os incircuncisos. T6 296 1 Por que não nos tornamos entusiasmados com o Espírito de Cristo? Por que somos tão pouco movidos pelos lastimosos clamores de um mundo a sofrer? Tomamos na devida consideração nosso exaltado privilégio de acrescentar uma estrela à coroa de Cristo -- uma alma liberta das cadeias com as quais Satanás a ligou, pessoa salva no reino de Deus? A igreja tem de reconhecer sua obrigação de levar a toda criatura o evangelho da verdade presente. Insto com todos para que leiam o terceiro e quarto capítulos de Zacarias. Se esses capítulos forem compreendidos, se forem assimilados, será feita uma obra em favor dos que estão famintos e sedentos de justiça, uma obra que para a igreja representa: "Avançar para a frente e para cima!" Resultados da negligência T6 296 2 Onde quer que uma igreja seja estabelecida, todos os membros devem empenhar-se ativamente em trabalho missionário. Devem visitar cada família nas vizinhanças e informar-se de sua condição espiritual. Se os professos cristãos se empenhassem nessa atividade desde o momento em que os seus nomes são postos no livro da igreja, não haveria agora tão disseminada incredulidade, tão profunda iniqüidade, impiedade tão sem paralelo como se observa no mundo presentemente. Se cada membro da igreja tivesse procurado iluminar a outros, milhares e milhares hoje estariam ao lado do povo que guarda os mandamentos de Deus. T6 297 1 E não é somente no mundo que vemos os resultados da negligência da igreja em trabalhar nas fileiras de Cristo. Por causa dessa negligência tem sido levado para dentro da igreja um estado de coisas que tem eclipsado os altos e santos interesses da obra de Deus. Um espírito de criticismo e amargura tem penetrado na igreja, e o discernimento espiritual de muitos tem diminuído. Por esse motivo a causa de Cristo tem sofrido grande perda. As inteligências celestiais têm estado à espera de poder cooperar com os agentes humanos, mas nós não temos discernido sua presença. Necessidade de arrependimento T6 297 2 É agora alto tempo de nos arrependermos. Todo o povo de Deus deve interessar-se na obra de fazer o bem. Deve unir os corações e as almas num fervoroso esforço para erguer e esclarecer os seus semelhantes. Necessitam vestir as roupas nupciais providas por Cristo, para poderem estar preparados para o trabalho em Suas fileiras. Não devem receber em vão a graça de Deus. Com humilde e devotada reverência, devem agir à direita e à esquerda, consagrando a Deus todo o seu serviço e todas as suas habilidades. T6 297 3 É necessário um despertamento entre o povo de Deus. Toda igreja está por ser provada. O sábio, segundo o mundo, que medita e planeja, e cuja ocupação está sempre em sua mente, deve procurar tornar-se sábio em assuntos de interesse eterno. Se ele empregasse tanta energia em conseguir os tesouros celestiais e a vida eterna com o mesmo empenho com que tenta conseguir o ganho do mundo, quanto estaria ele realizando? T6 297 4 O servo infiel não se enriqueceu com os bens de seu senhor; apenas os desperdiçou. Permitiu que a ociosidade ocupasse o lugar do trabalho sincero, de todo o coração. Demonstrou-se infiel na apropriação dos bens de seu senhor. Mordomo infiel, não percebe você que irá perder sua alma se não cooperar com Deus, colocando o máximo de seus talentos em favor do Mestre? A mente foi dada a você para que descubra como trabalhar. Seus olhos lhe foram concedidos para que você discirna vividamente as oportunidades concedidas por Deus. Seus ouvidos destinam-se a escutar os mandamentos de Deus. Seus joelhos precisam dobrar-se três vezes ao dia em sincera prece. Seus pés necessitam percorrer o trilho dos mandamentos de Deus. Raciocínio, esforço e talento devem ser postos em exercício, para que você possa estar preparado para graduar-se na escola do alto, e assim consiga ouvir estas palavras dos lábios dAquele que venceu todas as tentações em nosso favor: "Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono." Apocalipse 3:21. "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se andares nos Meus caminhos e se observares as Minhas ordenanças, também tu julgarás a Minha casa e também guardarás os Meus átrios, e te darei lugar entre os que estão aqui." Zacarias 3:7. Se você não cooperar com o Senhor, entregando-se a Ele e realizando o Seu serviço, será julgado inapto para tornar-se súdito de Seu reino celestial de pureza. Negligenciados pelo ministério T6 298 1 Embora eu tenha sido comissionada a destacar o perigo de se permitir uma influência demasiado pesada por parte da obra médico-missionária, em prejuízo de outras linhas de trabalho, isso não representa uma escusa para aqueles que se têm mantido à distância da obra médico-missionária. Os que não têm revelado simpatia para com essa obra devem agora ser muito cuidadosos quanto ao modo como falam, pois não são inteligentes nesse assunto. Qualquer que seja o seu posto na Associação, precisam tomar muito cuidado ao dar vazão a sentimentos que a ninguém ajudarão. A indiferença e oposição manifestadas por alguns no tocante a essa questão, torna inconsistente que suas palavras exerçam ampla influência. Eles não possuem visão clara. T6 299 1 Alguns sentem-se preocupados e perplexos ao verem que a obra médico-missionária está se tornando desproporcional e porque, ao receber tantos talentos e meios, o seu trabalho excede grandemente àquele que é realizado em outros ramos. Qual é o problema? Será o caso de os líderes da obra médico-missionária estarem realizando demais, ou será que os líderes de outros ramos da obra estão realizando muito pouco? Foi-me mostrado que em muitos setores de trabalho estamos realizando apenas uma pequena parcela do que deveria ser feito. Fé, zelo e energia não vêm sendo manifestados do modo como deveriam por parte da obra do ministério. Os esforços de muitos são insípidos e sem vigor. Torna-se evidente que a luz a nós dada por Deus, no tocante a nossos deveres e privilégios, não tem sido reproduzida em ação. Os homens têm suplantado os planos de Deus mediante seus próprios planos. Sou comissionada a dizer que a prosperidade da obra médico-missionária goza do favor divino. Essa obra precisa ser realizada; a verdade deve avançar por caminhos e atalhos. Ministros e membros da igreja devem despertar, percebendo a necessidade de cooperação com esse trabalho. T6 299 2 Mediante decidida e incansável energia, aqueles que sentem sobre si o fardo da obra de beneficência cristã têm testificado através de suas ações que não estão contentes em ser meramente crentes teóricos. Eles têm procurado andar na luz. Têm posto em prática as suas crenças. Têm combinado fé e obras. Têm desempenhado a própria obra que o Senhor especificou deveria ser realizada, e muitas pessoas têm sido iluminadas, convencidas e auxiliadas. T6 299 3 É surpreendente a indiferença, entre nossos ministros, no tocante à reforma de saúde e à obra médico-missionária. Mesmo aqueles que não professam ser cristãos, tratam o assunto com maior respeito do que alguns dentre nosso próprio povo, de modo que se encontram à nossa frente. T6 300 1 Por que, pergunto, alguns de nossos irmãos ministros se encontram tão atrasados na proclamação do exaltado assunto da temperança? Meus irmãos, as palavras dirigidas a vocês são: "Assumam a obra da reforma de saúde; avancem." Se vocês pensam que a obra médico-missionária está assumindo proporções indevidas, levem os homens que têm operado nessa linha de trabalho aos campos de labor em que vocês atuam, dois aqui, mais dois ali. Recebam esses missionários médicos como receberiam a Cristo, e vejam a obra que eles podem empreender. Perceberão que eles não são anões em experiência religiosa. Vejam se não será possível a vocês trazer, por esse meio, muito da vital corrente celestial para dentro das igrejas. Observem se não existirão muitos que conseguirão captar a educação de que tanto necessitam, vindo a dar o seguinte testemunho: "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus." Efésios 2:4-6. Nossa grande necessidade é a união, a perfeita unidade na obra de Deus. T6 300 2 Aqueles que não são capazes de ver a importância e de apoiar a obra médico-missionária não deveriam sentir-se autorizados a tentar o controle de qualquer uma de suas fases. Necessitam eles de crescente conhecimento em cada aspecto da reforma de saúde. Necessitam ser purificados, santificados e enobrecidos. Precisam ser moldados e talhados segundo a semelhança divina. Então conseguirão ver que a obra médico-missionária é uma parte da obra de Deus. A razão pela qual tantos membros da igreja não compreendem esse ramo da obra é porque não estão seguindo seu Líder passo após passo, em auto-negação e auto-sacrifício. A obra médico-missionária é uma obra de Deus e leva a Sua assinatura, e embora os recursos não devam ser absorvidos por esse ramo a ponto de ocultar ou fazer mirrar o trabalho que precisa ser realizado em novos campos, de modo algum deve ela ser considerada como sem importância. T6 301 1 O ministério evangélico é uma organização para a proclamação da verdade aos enfermos e aos sãos. Ele combina a obra médico-missionária e o ministério da Palavra. Mediante essas instituições combinadas dá-se oportunidade de comunicar luz e apresentar o evangelho a todas as classes e a todas as categorias da sociedade. Deus deseja que os pastores e os membros da igreja manifestem um interesse ativo e decidido na obra médico-missionária. T6 301 2 Buscar o povo exatamente onde ele estiver, seja qual for a sua posição ou condição, e ajudá-lo de todo modo possível -- eis o ministério evangélico. Os que estão doentes do corpo quase sempre estão também doentes da mente, e quando a mente está enferma o corpo também é afetado. Os ministros devem sentir ser parte de seu trabalho atuar em favor dos enfermos e aflitos sempre que para tal se apresente uma oportunidade. O ministro do evangelho deve apresentar a mensagem, e esta precisa ser recebida caso se espere que o povo se santifique e se prepare para a vinda do Senhor. Essa obra deve abranger tudo o que foi abrangido pelo ministério de Cristo. T6 301 3 Por que, então, nem todos os nossos ministros cooperam com aqueles que levam avante a obra médico missionária? Por que não estudam eles cuidadosamente a vida de Cristo para que possam descobrir de que modo Ele operava, e passem então a seguir o Seu exemplo? Seria o caso de vocês, ministros apontados por Cristo, que têm diante de si o Seu exemplo, erguerem-se e criticarem a própria obra que Ele veio realizar entre os homens? A obra que agora vem sendo empreendida nos ramos da obra médico-missionária, deveria ter sido executada há anos, e assim aconteceria, caso o povo de Deus se houvesse convertido genuinamente à verdade, se nossos irmãos tivessem estudado a Palavra com o coração contrito, se tivessem reverenciado o Deus do Universo e estudado Sua vontade, em lugar de agradarem a si próprios. Houvesse o nosso povo realizado essa obra, muitas pessoas de habilidade e influência ter-se-iam convertido e se unido a nós na apresentação da mensagem da breve vinda de Cristo. T6 302 1 Aqueles que entendem de fisiologia e de higiene encontrarão, em seu trabalho ministerial, os meios pelos quais esclarecerão outros no tocante ao adequado e inteligente tratamento das capacidades físicas, mentais e morais. Dessa forma, aqueles que estão se preparando para o ministério deveriam empreender diligente estudo do organismo humano, para chegarem a saber como cuidar do corpo, não por meio de drogas, mas através do laboratório da própria natureza. O Senhor abençoará os que fizerem todo esforço para conservar a si mesmos livres de doenças e para levar outros a considerarem como sagrada a saúde do corpo, tanto quanto a do espírito. T6 302 2 Os embaixadores de Cristo, aos quais foram outorgados os vivos oráculos de Deus, poderão duplicar sua utilidade se souberem ajudar os enfermos. O conhecimento prático da reforma de saúde qualificará melhor a homens e mulheres para a proclamação ao mundo da mensagem de misericórdia e juízo. T6 302 3 Os ministros devem ser educadores que compreendam e apreciem as necessidades da humanidade. Devem estimular os membros da igreja a obterem conhecimento prático em todos os ramos de obra missionária, de modo a se tornarem uma bênção a todas as classes de pessoas. Devem ser ágeis em descobrir aqueles que apreciam as questões relativas à vida espiritual, que possuem tato e habilidade para assumir o cuidado de almas, como tendo que delas prestar contas. Os ministros devem assistir essas pessoas na organização de forças de trabalho na igreja, de modo que homens, mulheres e jovens de diferentes temperamentos, em distintas atividades e tarefas, assumam a obra que precisa ser realizada, oferecendo os talentos que Deus lhes concedeu para o mais solene serviço ao Mestre. T6 302 4 Nossas idéias acerca da benevolência cristã precisam ser aperfeiçoadas, se quisermos que elas se ampliem. O trabalho prático realizará muito mais que sermões. As idéias de nossos líderes precisam alargar-se, e a partir de uma genuína experiência pessoal, devem eles proferir palavras que despertem as energias adormecidas do povo. Através de diária ligação com Deus, devem eles obter uma visão mais profunda de sua própria vida e da vida de outros, ampliando desse modo o círculo de sua influência. Tornar-se-ão assim coobreiros de Cristo, aptos a iluminar a outros porque eles mesmos se transformarão em canais de luz. T6 303 1 À medida que os membros da igreja cavem em maior profundidade e tornem seguro o seu fundamento, fixando sua vida na Rocha Eterna, e à medida que aprendam a amar supremamente a Deus, também aprenderão a amar a seu próximo como a si mesmos. T6 303 2 O poder do Senhor se amplifica quando o coração se torna terno e sensível às desgraças humanas, e misericordioso diante de seus sofrimentos. Anjos de Deus estão prontos a cooperar com os agentes humanos no atendimento às necessidades de todos. Quando o Espírito Santo opera em nosso coração e mente, não nos esquivaremos de deveres e responsabilidades, desviando-nos pelo lado oposto e deixando a pessoa ferida e desajudada na miséria. T6 303 3 Em consideração ao valor que Cristo atribui à aquisição obtida por Seu sangue, adota Ele os homens como Seus filhos e torna-os objeto de Seu terno cuidado; de modo a poderem ter supridas suas necessidades materiais e espirituais, Ele os deixa a cargo da igreja, dizendo: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. T6 303 4 Esta deve ser nossa palavra de ordem: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. Se introduzirmos isso fielmente em nossa vida diária, ouviremos também a bênção: "Bem está, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. Valerá a pena suportar como cristão os testes e provas de Deus? T6 304 1 Na obra de alvejarmos e purificarmos nossa alma, o intenso desejo de tornarmos claro o nosso chamado e eleição sem dúvida nos inspirará o anelo de auxiliar outros que se encontrem em necessidade. A mesma energia e cuidadoso raciocínio, uma vez aplicados aos assuntos materiais, serão agora postos a serviço dAquele a quem devemos todas as coisas. Faremos como Cristo, aproveitando cada oportunidade para trabalhar pelos desajudados que perecem em sua degradação. Estenderemos a outros a mão ajudadora. Então, com cânticos e louvor e ações de graças nos regozijaremos com Deus e com os santos anjos, ao vermos pessoas perdidas em pecado, ajudadas e erguidas; ao vermos os enganados e insanos agora com a mente renovada, assentados aos pés de Jesus, dEle aprendendo. T6 304 2 Ao realizarmos tal obra, recebendo de Deus e devolvendo a Ele aquilo que, em confiança, nos atribuiu a fim de dispormos para a glória de Seu nome, Suas bênçãos repousarão sobre nós. Então os desencorajados e mortos em pecado reconhecerão que "em os guardar [os Seus mandamentos] há grande recompensa." Salmos 19:11. Por nossa própria experiência mostraremos aos outros que bênção e serviço estão intimamente ligados entre si. T6 304 3 ***** T6 304 4 Embora tenhamos gasto muito tempo e talento cuidando de nós e a nós mesmos nos agradando, a mão do Senhor ainda Se encontra estendida, e se hoje trabalharmos em Sua vinha, distribuindo ao mundo a mensagem de misericórdia, Ele aceitará o nosso serviço. Por quantos trabalhará você, para que possa chegar ao reino de descanso e ouvir o elogio: "Bem está, servo bom e fiel"? Mateus 25:21. Quantos ajudará você a alcançarem uma coroa de glória e honra, e a eterna vida? O Senhor convida obreiros. Você vai aceitar o chamado? ------------------------Capítulo 37 -- A recompensa do serviço T6 305 1 "Quando deres um jantar ou uma ceia", disse Cristo, "não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:12-14. T6 305 2 Cristo pinta nessas palavras um contraste entre as práticas interesseiras do mundo e o desprendido ministério de que Ele deu o exemplo em Sua vida. Ele não oferece por esse ministério uma recompensa de lucro ou reconhecimento mundano. "Recompensado serás", diz Ele, "na ressurreição dos justos." Lucas 14:14. Então se tornarão manifestos os resultados da vida de cada um, e todos ceifarão aquilo que semearam. T6 305 3 Esse pensamento deve ser para todo obreiro de Deus um motivo de estímulo e ânimo. Nossa obra para Deus parece muitas vezes quase infrutífera nesta vida. Nossos esforços para fazer o bem talvez sejam diligentes e perseverantes, e todavia é possível que não consigamos ver os seus resultados. Talvez o esforço pareça para nós perdido. Mas o Salvador assegura-nos que nossa obra se acha registrada no Céu, e que a recompensa não vai falhar. Diz o apóstolo Paulo, escrevendo inspirado pelo Espírito Santo: "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." Gálatas 6:9. E lemos nas palavras do salmista: "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos." Salmos 126:6. T6 306 1 Conquanto a grande recompensa final seja dada na vinda de Cristo, o serviço feito de coração para Deus proporciona mesmo nesta vida uma recompensa. O obreiro tem de enfrentar obstáculos, oposição, desânimo amargo e desolador. Talvez ele não veja o fruto de seu trabalho. A despeito de tudo isso, porém, encontra em seu trabalho uma bendita recompensa. Todos quantos se entregam a Deus num serviço desinteressado pela humanidade, estão cooperando com o Senhor da glória. Esse pensamento adoça toda fadiga, retempera a vontade, revigora o espírito para qualquer coisa que possa sobrevir. Trabalhando com coração abnegado, enobrecidos por serem participantes dos sofrimentos de Cristo, partilhando de Sua compaixão, eles contribuem para avolumar a onda de Seu gozo, e trazem honra e louvor a Seu exaltado nome. T6 306 2 Na companhia de Deus, de Cristo e dos santos anjos, são envolvidos num ambiente celestial, ambiente que traz saúde ao corpo, vigor ao intelecto e alegria espiritual. T6 306 3 Todos quantos consagram corpo, mente e espírito ao serviço de Deus hão de receber continuamente uma nova provisão de energia física, mental e espiritual. Os inexauríveis abastecimentos celestiais se acham a sua disposição. Cristo lhes dá a proteção de Seu espírito, a vida de Sua vida. O Espírito Santo põe Suas mais elevadas energias a operar no coração e na mente. T6 306 4 "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. ... Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-Me aqui. ... A tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:8-11. T6 307 1 Muitas são as promessas de Deus aos que servem a Seus aflitos. Ele diz: "Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal. O Senhor o livrará e o conservará em vida; será abençoado na Terra, e Tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; Tu renovas a sua cama na doença." Salmos 41:1-3. "Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na Terra e, verdadeiramente, serás alimentado." Salmos 37:3. "Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e trasbordarão de mosto os teus lagares." Provérbios 3:9, 10. "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda." Provérbios 11:24. "Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e Ele lhe pagará o seu benefício." Provérbios 19:17. "A alma generosa engordará, e o que regar também será regado." Provérbios 11:25. T6 307 2 Conquanto muito do fruto de seus trabalhos não apareça nesta vida, os obreiros de Deus têm, da parte dEle a firme promessa do êxito final. Como Redentor do mundo, Cristo tinha constantemente de enfrentar um aparente fracasso. Parecia realizar pouco da obra que anelava fazer para erguer e salvar. Instrumentos satânicos operavam de contínuo para Lhe obstruir o caminho. Mas não desanimava. Ele via sempre diante de Si o resultado de Sua missão. Sabia que a verdade havia de afinal triunfar, no conflito contra o mal, e disse a Seus discípulos: "Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo." João 16:33. A vida dos discípulos de Cristo tem de ser como a dEle, uma série de ininterruptas vitórias -- que aqui não parecem vitórias, mas que serão reconhecidas como tais no grande porvir. T6 308 1 Aqueles que trabalham para o bem dos outros, fazem-no em união com os anjos celestiais. Têm sua constante companhia, seu incessante ministério. Anjos de luz e poder se acham sempre perto para proteger, confortar, sarar, instruir, inspirar. A eles pertence a mais elevada educação, a mais verdadeira cultura, o mais exaltado serviço ao alcance de seres humanos neste mundo. T6 308 2 Muitas vezes nosso misericordioso Pai anima a Seus filhos e lhes fortalece a fé, permitindo que vejam aqui provas do poder de Sua graça sobre o coração e a vida daqueles por quem trabalham. "Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da Minha boca; ela não voltará para Mim vazia; antes, fará o que Me apraz e prosperará naquilo para que a enviei. Porque, com alegria, saireis e, em paz, sereis guiados; os montes e os outeiros exclamarão de prazer perante a vossa face, e todas as árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro, crescerá a faia, e, em lugar da sarça, crescerá a murta; isso será para o Senhor por nome, por sinal eterno, que nunca se apagará." Isaías 55:8-13. T6 308 3 Na transformação do caráter, na renúncia das paixões, no desenvolvimento das doces graças do Espírito Santo, vemos o cumprimento da promessa: "Em lugar do espinheiro, crescerá a faia, e, em lugar da sarça, crescerá a murta." Isaías 55:13. Vemos que o deserto da vida "exultará e florescerá como a rosa". Isaías 35:1. T6 308 4 Cristo Se deleita em tomar material de que, aparentemente, não há esperança -- aqueles que Satanás tem degradado, e por cujo intermédio tem operado -- e torná-los objeto de Sua graça. Ele Se regozija em libertá-los dos sofrimentos e da ira que há de cair sobre os desobedientes. Ele faz de Seus filhos instrumentos na realização desta obra, em cujo êxito, mesmo nesta vida, encontram preciosa recompensa. T6 309 1 Que é isso, porém, comparado com a alegria que hão de experimentar no grande dia da revelação final? "Agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido." 1 Coríntios 13:12. T6 309 2 A recompensa dos obreiros de Cristo é entrar em Sua alegria. Aquela alegria, que o próprio Cristo antecipava com ansioso desejo, é apresentada em Sua petição ao Pai: "Aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." João 17:24. T6 309 3 Os anjos estavam esperando para dar as boas-vindas a Jesus, ao ascender Ele depois da ressurreição. As hostes celestiais anelavam por saudar outra vez seu amado General, que lhes era devolvido da prisão da morte. Rodearam-nO ansiosamente, ao penetrar Ele pelas portas celestiais. Mas acenou-lhes para que recuassem. Seu coração estava com o solitário e pesaroso grupo de discípulos que deixara sobre o Olivete. Com Seus filhos em luta aqui na Terra, os quais têm ainda a ferir a batalha contra o destruidor, acha-se também Seu coração. "Pai", diz Ele, "aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo." João 17:24. T6 309 4 Os remidos de Cristo são Suas jóias, Seu precioso e particular tesouro. "Como as pedras de uma coroa, eles serão" (Zacarias 9:16) -- "as riquezas da glória da Sua herança nos santos." Efésios 1:18. "O trabalho da Sua alma Ele verá" neles, "e ficará satisfeito." Isaías 53:11. T6 309 5 E não se alegrarão Seus obreiros quando, por sua vez, contemplam o fruto de seus trabalhos? O apóstolo Paulo, escrevendo aos conversos tessalonicenses, diz: "Porque qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura, não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em Sua vinda? Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo." 1 Tessalonicenses 2:19, 20. E exorta os irmãos filipenses a serem "irrepreensíveis e sinceros", a resplandecer "como astros no mundo; retendo a palavra da vida, para que, no dia de Cristo, possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão." Filipenses 2:15, 16. T6 310 1 Todo impulso do Espírito Santo, levando homens à bondade e a Deus, é registrado nos livros do Céu, e no dia de Deus todo aquele que se entregou como instrumento à operação do Espírito Santo, poderá ver o que foi produzido por sua vida. T6 310 2 A viúva pobre que entregou suas duas moedas na tesouraria do Senhor, longe estava de imaginar o que fazia. Seu exemplo de sacrifício pessoal exerceu e exerce influência sobre milhares de corações em todas as terras e em todas as eras. Tem trazido para o tesouro de Deus dádivas de nobres e humildes, ricos e pobres. Tem ajudado a manter missões, a estabelecer hospitais, a alimentar os famintos, vestir os nus, curar os doentes e pregar o evangelho aos pobres. Multidões têm sido abençoadas pelo seu ato de desprendimento. E, no dia de Deus, ela verá os resultados de todas essas linhas de influência. O mesmo se pode dizer da preciosa dádiva de Maria ao Salvador. Quantos têm sido inspirados a amoroso serviço pela lembrança daquele partido vaso de alabastro! E como ela se regozijará ao contemplar tudo isso! T6 310 3 Maravilhosa será a revelação, ao ser manifestado o terreno da santa influência, com seus preciosos resultados. Qual não há de ser a gratidão das pessoas que nos encontrarem nas cortes celestiais, ao compreenderem o interesse cheio de simpatia e amor tomado em sua salvação! Todo louvor, honra e glória serão dados a Deus e ao Cordeiro pela nossa redenção; mas não diminuirá a glória de Deus o expressar reconhecimento para com o instrumento por Ele empregado na salvação de almas quase a perecer. T6 311 1 Os remidos hão de encontrar e reconhecer aqueles cuja atenção encaminharam ao excelso Salvador. Que alegres conversas hão de ter com essas pessoas! "Eu era pecador, sem Deus e sem esperança no mundo; e você se aproximou de mim, e atraiu minha atenção para o precioso Salvador, como minha única esperança. E eu cri nEle. Arrependi-me de meus pecados, e foi-me dado assentar juntamente com Seus santos nos lugares celestiais em Cristo Jesus." Outros dirão: "Eu era pagão, em terras pagãs. Você deixou seu lar confortável e veio me ajudar a encontrar Jesus, e a crer nEle como o único Deus verdadeiro. Destruí meus ídolos e adorei a Deus, e agora O vejo face a face. Estou salvo, eternamente salvo, para ver perpetuamente Aquele a quem amo. Então eu O via apenas com os olhos da fé, mas agora vejo-O tal como Ele é. É-me dado agora expressar Àquele que me amou, e me lavou dos pecados em Seu sangue, minha gratidão por Sua redentora misericórdia." T6 311 2 Outros expressarão seu reconhecimento aos que alimentaram o faminto e vestiram o nu. "Quando o desespero acorrentava minha alma à descrença, o Senhor o enviou a mim", dizem eles, "para dizer-me palavras de esperança e conforto. Você me trouxe alimento para as necessidades físicas, e me abriu a Palavra de Deus, despertando-me para minhas necessidades espirituais. Tratou-me como irmão. Teve compaixão de mim. Simpatizou comigo em minhas dores, e restaurou-me o coração quebrantado e ferido, de maneira que me foi possível agarrar a mão de Cristo, estendida para me salvar. Em minha ignorância, me ensinou pacientemente que eu tinha no Céu um Pai que de mim cuidava. Leu para mim as preciosas promessas da Palavra de Deus. Você me inspirou a ter fé em que Ele me haveria de salvar. Meu coração foi abrandado, rendido, despedaçado, ao contemplar o sacrifício que Cristo fizera por mim. Tive fome do pão da vida, e a verdade foi preciosa à minha alma. Aqui estou, salvo, eternamente salvo, para viver eternamente em Sua presença, e louvar Aquele que deu a vida por mim." T6 312 1 Que regozijo haverá quando esses remidos se encontrarem com os que se preocuparam em seu favor, e os saudarem! E os que viveram, não para agradar a si mesmos, mas para ser uma bênção para os desafortunados que tão poucas bênçãos desfrutam -- como lhes há de palpitar satisfeito o coração! Eles compreenderão a promessa: "Serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos." Lucas 14:14. T6 312 2 "Então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:14. T6 312 3 "Não temas, ... Eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão." Gênesis 15:1. T6 312 4 "Eu sou a tua parte e a tua herança." Números 18:20. T6 312 5 "Onde Eu estou, ali estará também o Meu servo." João 12:26. T6 312 6 "Bem-aventurados vós, que semeais sobre todas as águas." Isaías 32:20. ------------------------Capítulo 38 -- Importância da obra de colportagem T6 313 1 A obra da colportagem, devidamente dirigida, é uma obra missionária da mais elevada espécie, o melhor e mais bem-sucedido método que pode ser empregado para apresentar ao povo as importantes verdades para este tempo. A importância da obra do pastor é indiscutível; mas muitos que estão com fome do pão da vida não têm o privilégio de ouvir a palavra dos pregadores enviados por Deus. Por essa razão, é essencial que nossas publicações circulem amplamente. Assim a mensagem irá aonde o pregador não pode ir, e a atenção de muitos será atraída para os importantes eventos relacionados com as cenas finais da história deste mundo. T6 313 2 Deus estabeleceu a colportagem como um meio de apresentar ao povo a luz contida em nossos livros, e os colportores devem estar compenetrados da importância de colocar diante do mundo, tão depressa quanto possível, os livros necessários para educação e esclarecimento espirituais das pessoas. Essa é exatamente a obra que o Senhor deseja que Seu povo faça neste tempo. Todos os que se consagram a Deus para trabalhar como colportores, estão auxiliando na proclamação da última mensagem de advertência ao mundo. Não podemos avaliar plenamente o valor dessa obra. Se não fossem os esforços do colportor, muitos nunca ouviriam a advertência. T6 314 1 É verdade que alguns dos que compram livros os guardarão na estante e raramente os olharão. Contudo, Deus tem cuidado de Sua verdade, e virá o tempo em que esses livros serão procurados e lidos. A doença ou o infortúnio pode entrar no lar e, por meio da verdade contida nos livros, Deus envia paz, esperança e descanso aos corações turbados. Seu amor lhes é revelado, e eles compreendem a maravilha do perdão de seus pecados. Assim o Senhor coopera com Seus abnegados obreiros. T6 314 2 Há muitos que, por causa do preconceito, jamais conhecerão a verdade a não ser que esta seja levada a seu lar. O colportor pode encontrar essas pessoas e ajudá-las. No trabalho de casa em casa, há um aspecto que o colportor pode realizar com maior êxito do que outros. Ele pode familiarizar-se com o povo e compreender suas verdadeiras necessidades; pode orar com eles e apontar-lhes o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Assim o caminho será aberto para que a especial mensagem para este tempo tenha acesso aos corações. T6 314 3 Grande responsabilidade repousa sobre o colportor. Ele deve ir a seu trabalho preparado para explicar as Escrituras. Se puser no Senhor sua confiança, ao ir de lugar em lugar, anjos de Deus estarão ao seu redor, dando-lhe palavras certas, as quais levarão luz, esperança e ânimo a muitas pessoas. T6 314 4 Lembre-se o colportor de que tem oportunidade de semear sobre todas as águas. Lembre-se, ao vender os livros que dão um conhecimento da verdade, que está fazendo a obra de Deus e que todo talento deve ser empregado para a glória de Seu nome. Deus estará com cada um que procure compreender a verdade, a fim de que possa apresentá-la a outros em traços claros. Deus falou clara e compreensivelmente. "O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem." Apocalipse 22:17. Não devemos demorar em dar instrução aos que dela precisam, para que sejam levados ao conhecimento da verdade, tal como é em Jesus. T6 315 1 As ovelhas perdidas do rebanho de Deus estão espalhadas em toda parte, e o trabalho que deveria ser feito por elas está sendo negligenciado. Pela luz que me foi dada, sei que no campo onde há um colportor, deveria haver cem. Os colportores devem ser animados a lançar mão desse trabalho, não para vender livros de histórias, mas para apresentar ao mundo os livros que contêm a verdade essencial para este tempo. T6 315 2 Que os colportores saiam com a Palavra do Senhor, lembrando-se de que aqueles que obedecem aos mandamentos de Deus e ensinam os outros a obedecer-lhes serão recompensados com a conversão de muitas pessoas. E uma pessoa verdadeiramente convertida levará outras a Cristo. Assim a obra avançará para novos territórios. T6 315 3 Chegou o tempo de realizar uma grande obra por meio dos colportores. O mundo dorme e, como atalaias, eles devem fazer soar a campainha de advertência, a fim de despertar homens e mulheres para o reconhecimento de seu perigo. As igrejas não conhecem o tempo de sua visitação. Muitas vezes podem conhecer melhor a verdade por meio dos esforços do colportor. Os que saem em nome do Senhor são Seus mensageiros para dar às multidões que estão em trevas e erro as alegres novas da salvação por meio de Cristo, levando-as a obedecer à lei de Deus. T6 315 4 Fui instruída de que mesmo onde o povo ouve a mensagem do pregador, o colportor deve continuar sua obra em cooperação com o pastor; porque ainda que o ministro apresente fielmente a mensagem, o povo não é capaz de retê-la totalmente. Por isso, a página impressa é essencial, não somente em despertar nas pessoas o reconhecimento da importância da verdade para este tempo, mas também para enraizá-las e firmá-las na verdade e protegê-las contra o erro. As revistas e os livros são o meio de o Senhor conservar a mensagem para este tempo continuamente perante o povo. As publicações farão muito maior obra iluminando e confirmando pessoas na verdade do que a que pode ser cumprida unicamente pelo ministério da palavra. Os silenciosos mensageiros que são colocados nos lares pelo trabalho do colportor fortalecerão o ministério evangélico em todo sentido; porque o Espírito Santo impressionará a mente dos que lerem os livros, do mesmo modo que o faz à mente dos que ouvem a pregação da Palavra. O mesmo ministério de anjos que auxilia a obra do pastor acompanha os livros que contêm a verdade. T6 316 1 As novas de todo bem-sucedido esforço de nossa parte para dissipar as trevas e difundir a luz e o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, a quem Ele enviou, são levadas para o alto. O ato é apresentado aos seres celestiais e comove todas as potestades e principados, atraindo a simpatia de todos os que habitam no Céu. T6 316 2 "E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para essas coisas, quem é idôneo?" 2 Coríntios 2:14-16. ------------------------Capítulo 39 -- Qualificações do colportor T6 317 1 Visto como o colportar com nossa literatura é uma obra evangelística, deve ser executada de um ponto de vista missionário. Os que são escolhidos como colportores devem ser homens e mulheres que sintam a responsabilidade do serviço e que não tenham como objetivo conseguir lucros, mas proporcionar luz ao povo. Todo o nosso serviço deve ser feito para glória de Deus, a fim de dar a luz da verdade aos que estão em trevas. Os princípios egoístas, o amor ao ganho, à dignidade ou à posição, nem devem ser mencionados entre nós. T6 317 2 Os colportores precisam converter-se diariamente a Deus, a fim de que suas palavras e ações sejam um cheiro de vida para vida, para que possam exercer uma influência salvadora. A razão por que muitos fracassaram na colportagem é que não foram cristãos genuínos; não conheciam o espírito da conversão. Tinham uma teoria a respeito de como a obra devia ser feita, mas não sentiam sua dependência de Deus. T6 317 3 Colportores, lembrem-se de que, nos livros que carregam, estão apresentando, não a taça que contém o vinho de Babilônia, as doutrinas do erro ministradas aos líderes da Terra, mas a taça cheia das verdades da redenção. Não seria importante que vocês mesmos bebessem dela? Seu espírito pode ser levado em cativeiro à vontade de Cristo, e Ele pode colocar sobre vocês Sua aprovação. Contemplando-O, serão transformados de glória em glória, de caráter em caráter. Deus deseja que avancem, falando as palavras que Ele lhes concederá. Deseja que demonstrem alta estima pela humanidade que foi adquirida pelo precioso sangue do Salvador. Quando caírem sobre a pedra e forem despedaçados, experimentarão o poder de Cristo, e os outros reconhecerão o poder da verdade em seu coração. T6 318 1 Aos que freqüentam a escola, a fim de que aprendam como fazer mais perfeitamente a obra de Deus, desejo dizer: Lembrem-se de que é unicamente através da consagração diária a Deus que poderão se tornar ganhadores de almas. Há muitos que não puderam freqüentar a escola por serem demasiado pobres para custear os estudos. Mas quando se tornaram filhos e filhas de Deus, em seu ambiente profissional passaram a trabalhar pelos que lhes estavam ao redor. Ainda que destituídos do conhecimento obtido na escola, consagraram-se a Deus, e Deus operou por intermédio deles. Do mesmo modo como os discípulos quando foram chamados de suas redes para seguir a Cristo, eles aprenderam preciosas lições do Salvador. Uniram-se ao Grande Mestre, e o conhecimento que obtiveram das Escrituras, habilitou-os a falar de Cristo aos outros. Tornaram-se verdadeiramente sábios, porque não eram por demais sábios em seu próprio conceito para receberem instrução do alto. O poder renovador do Espírito Santo deu-lhes energia prática e salvadora. T6 318 2 O conhecimento do homem mais sábio, se ele não estudou na escola de Cristo, é loucura no que diz respeito ao conduzir pessoas a Cristo. Deus pode trabalhar unicamente com os que aceitem o convite: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. T6 318 3 Muitos de nossos colportores têm se afastado dos retos princípios. Pelo desejo de colher vantagens mundanas, sua mente tem se desviado do verdadeiro propósito e espírito da obra. Que ninguém pense que a ostentação causa boa impressão sobre o povo. Ela não assegurará os melhores nem mais permanentes resultados. Nossa obra destina-se a dirigir a mente às solenes verdades para este tempo. Somente quando nosso coração está mergulhado no espírito das verdades contidas no livro que estamos vendendo e quando, em humildade, chamamos a atenção do povo para essas verdades, é que o verdadeiro êxito acompanhará nossos esforços. Porque é só então que o Espírito Santo, que convence do pecado, da justiça e do juízo, estará presente para influenciar o coração. T6 319 1 Nossos livros devem ser manejados por obreiros consagrados, a quem o Espírito Santo possa usar como Seus instrumentos. Cristo é nossa suficiência, e devemos apresentar a verdade em humilde simplicidade, deixando-a levar seu próprio cheiro de vida para vida. T6 319 2 A humilde e fervorosa oração faz mais em favor da circulação de nossos livros do que todos os recursos que há no mundo. Se os obreiros voltarem sua atenção para o que é verdadeiro, vivo e real; se orarem pelo Espírito Santo, crerem nEle e nEle confiarem, receberão Seu poder em fortes e celestiais correntes. Como resultado, impressões retas e duradouras serão feitas sobre o coração humano. Portanto orem e trabalhem; trabalhem e orem, e o Senhor atuará por seu intermédio. T6 319 3 Cada colportor tem necessidade constante da assistência dos anjos; porque tem uma importante obra a fazer, uma obra que não pode executar em sua própria força. Os que nasceram de novo e estão dispostos a ser guiados pelo Espírito Santo, fazendo o seu trabalho de acordo com a vontade de Cristo; os que trabalham como se pudessem ver o universo celestial a observá-los, serão acompanhados e instruídos pelos santos anjos, os quais irão adiante deles à morada das pessoas, preparando-lhes o caminho. Tal auxílio está muito acima de todas as vantagens que poderiam ser obtidas pela propaganda mais sofisticada. T6 320 1 Quando os homens reconhecerem o tempo em que estamos vivendo, trabalharão como à vista do Céu. O colportor tomará os livros que levam luz e força à alma. Absorverá o espírito desses livros e porá todo o espírito na obra de apresentá-los ao povo. Sua força, seu ânimo e êxito dependerão de quão plenamente a verdade apresentada nos livros esteja entretecida em sua própria experiência e desenvolvida em seu caráter. Quando sua vida estiver assim moldada, ele poderá ir avante, expondo a outros a sagrada verdade que está manejando. Cheio do Espírito de Deus, ganhará uma profunda e rica experiência, e os anjos celestiais lhe darão êxito no trabalho. T6 320 2 Aos nossos colportores, a todos aqueles a quem Deus confiou talentos para cooperar com Ele, direi: Orem por uma experiência mais profunda! Saiam com o coração suavizado e subjugado pelo estudo das verdades que Deus nos confiou para este tempo. Bebam abundantemente da água da salvação, para que se torne em seu coração uma fonte viva, que sirva para refrigerar as almas prestes a perecer. Então Deus lhes dará sabedoria que os habilite a comunicá-la devidamente. Ele os fará condutos para comunicar Suas bênçãos. Ele os auxiliará a revelar Seus atributos, transmitindo aos outros a sabedoria e o conhecimento que transmitiu a vocês. T6 320 3 Oro ao Senhor para que possam compreender este assunto em toda a sua extensão, largura e profundidade e para que sintam a responsabilidade de representar o caráter de Cristo pela paciência, ânimo e firme integridade. "A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus." Filipenses 4:7. ------------------------Capítulo 40 -- O colportor como obreiro evangélico T6 321 1 O colportor inteligente, temente a Deus e amante da verdade, deve ser respeitado porque ocupa uma posição igual à do pastor. Muitos de nossos jovens pastores e dos que estão se preparando para o ministério fariam, se verdadeiramente convertidos, muito bem trabalhando no campo da colportagem. Aproximando-se do povo e apresentando-lhes nossas publicações, ganhariam uma experiência que não podem obter simplesmente pregando. Ao irem de casa em casa, poderiam conversar com as pessoas, levando-lhes a fragrância da vida de Cristo. Em assim se esforçando para abençoar outros, trariam bênçãos a si mesmos; obteriam uma experiência na fé; seu conhecimento das Escrituras aumentaria grandemente; e estariam constantemente aprendendo como levar pessoas a Cristo. T6 321 2 Todos os nossos pastores devem sentir-se na liberdade de levar livros consigo para dispor deles em qualquer lugar. Aonde quer que o pastor vá, pode deixar um livro com a família em cuja casa se hospeda, seja vendendo-o ou dando-o. Esse trabalho já foi feito nos primeiros tempos da história da mensagem. Os pastores colportavam, usando os lucros obtidos pela venda dos livros para ajudar o avanço da obra em lugares necessitados. Eles podiam falar inteligentemente a respeito desse método de trabalho; porque tiveram experiência nesse ramo. T6 321 3 Ninguém pense que a colportagem, como um meio de levar a verdade ao povo, rebaixa um pastor. Fazendo essa obra, está ele trabalhando como o apóstolo Paulo, que disse: "Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações, que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram; como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo." Atos dos Apóstolos 20:18-21. O eloquente Paulo, a quem Deus Se manifestou de maneira maravilhosa, ia de casa em casa com toda a humildade de espírito, e com muitas lágrimas e tentações. T6 322 1 Todos os que desejem uma oportunidade para o verdadeiro ministério, e que se dêem sem reservas a Deus, encontrarão na colportagem ocasiões de falar sobre muitas coisas pertencentes à futura vida imortal. A experiência assim adquirida será de grandíssimo valor para os que estão se preparando para o ministério. É a assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os obreiros, homens e mulheres, para se tornarem pastores do Seu rebanho. Ao acariciarem o pensamento de que Cristo é seu Companheiro, uma santa reverência e uma sagrada alegria serão sentidas por eles em meio a todas as experiências difíceis e em todas as provações. Aprenderão a orar, enquanto trabalham. Serão educados na paciência, bondade, afabilidade e simpatia. Praticarão a verdadeira cortesia cristã, tendo em mente que Cristo, seu Companheiro, não pode aprovar palavras ou sentimentos ásperos e descorteses. Suas palavras serão purificadas. O poder da palavra será considerado por eles como um precioso talento que lhes foi confiado para fazerem uma obra elevada e santa. O agente humano aprenderá como representar o Companheiro divino, com quem está associado. A esse Ser invisível e santo, ele mostrará respeito e reverência, porque está levando Seu jugo e está aprendendo Seus caminhos puros e santos. Os que tiverem fé nesse divino Assistente, hão de desenvolver-se. Serão dotados de poder para vestir de sagrada beleza a mensagem da verdade. T6 323 1 Há alguns que se adaptam à obra da colportagem e que podem fazer mais nesse ramo do que pregando. Se o Espírito de Cristo habitar em seu coração, acharão oportunidade para apresentar Sua Palavra a outros e para dirigir a mente às especiais verdades para este tempo. Homens que se adaptam a essa obra têm se dedicado a ela; mas alguns pastores insensatos os lisonjeiam dizendo que seus dons deveriam ser usados em pregar, em vez de colportar. Assim, são influenciados a buscar licença para pregar, e esses mesmos que deveriam ter sido preparados a fim de se tornarem bons missionários, para visitar as famílias em seus lares, falar e orar com elas, são desviados da obra à qual se adaptam, para se tornarem pastores deficientes. E o campo onde tanto trabalho é necessário, e onde tanto bem poderia ser feito, é negligenciado. T6 323 2 A pregação da Palavra é um meio ordenado pelo Senhor, pelo qual Sua mensagem de advertência deve ser dada ao mundo. Nas Escrituras, o fiel mestre é representado como um pastor do rebanho de Deus. Ele deve ser respeitado; e sua obra, apreciada. A genuína obra médica está ligada ao ministério, e a colportagem deve participar tanto da obra médico-missionária como do ministério. Aos que estão empenhados nessa obra, digo: Ao visitarem as pessoas, digam-lhes que são obreiros evangélicos e que amam ao Senhor. Não procurem acomodação num hotel, mas hospedem-se numa casa particular e travem conhecimento com a família. Cristo semeava as sementes da verdade onde quer que estivesse, e como Seus seguidores, poderão testemunhar em favor do Mestre, fazendo um grande trabalho no círculo familiar. Associando-se, assim, com o povo, muitas vezes encontrarão os que se acham doentes e desanimados. Quem se achegar a Cristo, e se dispuser a levar Seu jugo, diariamente aprenderá dEle como levar mensagens de paz e conforto aos aflitos e desanimados, tristes e contritos. Poderão indicar aos desanimados a Palavra de Deus e apresentar os doentes ao Senhor em oração. Quando orarem, falem a Cristo como fariam a um amigo fiel e muito amado. Mantenham uma dignidade gentil, franca e agradável, como um filho de Deus. Isso será reconhecido. T6 324 1 Os colportores devem estar habilitados a dar instruções quanto ao tratamento dos doentes. Devem aprender os métodos simples de tratamento de saúde. Dessa forma eles podem trabalhar como missionários-médicos, curando a alma e o corpo dos sofredores. Essa obra deveria agora estar indo avante em todas as partes do mundo. Assim, multidões seriam abençoadas pelas orações e instruções dos servos de Deus. T6 324 2 Necessitamos reconhecer a importância da colportagem como um grande meio de descobrir os que estão em perigo e levá-los a Cristo. Nunca se deve proibir os colportores de falar do amor de Cristo, contar sua experiência no serviço pelo Mestre. Devem ter liberdade de falar e orar com os que se dispõem a ouvi-los. A simples história do amor de Cristo pelo homem abrirá portas, mesmo no lares de incrédulos. T6 324 3 Quando o colportor visita as pessoas em seus lares, muitas vezes terá oportunidade de ler partes da Bíblia ou dos livros que ensinam a verdade. Quando ele descobre aqueles que estão buscando a verdade, pode realizar estudos bíblicos com eles. Esses estudos bíblicos são justamente o que o povo necessita. Deus usará em Seu serviço aqueles que demonstram um profundo interesse nas almas que perecem. Por meio deles, Ele comunicará luz aos que estão prontos para receber instrução. T6 324 4 Alguns dos que trabalham na colportagem têm um zelo que não está de acordo com o entendimento. Devido a sua falta de sabedoria e a vontade de agir como pastores e teólogos, tem se tornado quase uma necessidade impor restrições a nossos colportores. Quando a voz do Senhor pergunta: "A quem enviarei, e quem há de ir por Nós?" o divino Espírito põe no coração a resposta: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. Mas é necessário ter em mente que a brasa viva do altar precisa primeiro tocar os nossos lábios. Então as palavras que forem faladas serão sábias e santas. Teremos sabedoria para escolher o que dizer e o que deixar de dizer. Não tentaremos revelar nossa habilidade como teólogos. Teremos cuidado de não levantar um espírito combativo ou despertar preconceitos, de introduzir pontos controvertidos de doutrina. Encontraremos muito sobre o que falar, que não despertará oposição, mas abrirá o coração para desejar um conhecimento mais profundo da Palavra de Deus. T6 325 1 O Senhor deseja que sejamos ganhadores de almas; por isso, embora não devamos impor ao povo pontos doutrinários, "estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós". 1 Pedro 3:15. Por que temor? Temor de que nossas palavras cheirem a presunção, de que sejam faladas palavras imprudentes, de que nossas palavras e maneiras não sejam segundo a semelhança de Cristo. Liguemo-nos firmemente a Cristo e apresentemos a verdade como se acha nEle. Os corações não podem deixar de ser tocados pela história da expiação. Quando aprendermos a mansidão e humildade de Cristo, saberemos o que dizer ao povo, porque o Espírito Santo nos dirá o que devemos falar. Os que reconhecem a necessidade de conservar o coração sob o domínio do Espírito Santo serão habilitados a semear semente que germine para a vida eterna. Essa é a obra do colportor-evangelista. ------------------------Capítulo 41 -- Esforços unidos na colportagem T6 326 1 Deveria existir perfeita unidade entre os obreiros que divulgam os livros que encherão o mundo de luz. Onde quer que a obra de colportagem seja realizada, tanto os livros de saúde quanto os religiosos devem ser expostos juntos, como partes de um trabalho unido. A relação entre os livros religiosos e os de saúde me é apresentada como sendo ilustrada pela união entre os fios que formam um bonito tecido e uma perfeita obra de arte. T6 326 2 No passado, os livros de saúde não foram tratados com o interesse que sua importância requer. Embora fossem altamente apreciados por uma grande classe de pessoas, muitos não chegaram a concluir que era essencial apresentá-los ao mundo. Todavia, que melhor preparo pode existir para a vinda do Senhor e para o recebimento de outras verdades essenciais, a fim de habilitar um povo para a Sua vinda, do que despertar as pessoas, fazendo-as ver os males de sua época, animando-as à reforma diante dos hábitos insalubres, auto-indulgentes? Porventura não se acha o mundo em necessidade de ser despertado para o assunto da reforma de saúde? Não se encontram as pessoas em necessidade de conhecer as verdades apresentadas nos livros de saúde? Um sentimento diferente daquele até aqui observado, em relação aos livros de saúde, deve ser verificado entre muitos de nossos colportores no campo de trabalho. T6 326 3 Entre nossos colportores e seus líderes, não deve haver divisões e objetivos contraditórios. Todos devem interessar-se pela venda de livros que tratam dos assuntos de saúde, assim como das obras distintamente religiosas. Não devemos seguir a linha de raciocínio segundo a qual somente alguns livros merecem ocupar a atenção dos colportores. Deve existir perfeita unidade, um equilibrado e simétrico desenvolvimento da obra em todas as suas partes. T6 327 1 A indiferença com que os livros de saúde têm sido tratados por muitos é uma ofensa a Deus. Separar a obra de saúde do grande corpo da obra não faz parte de Seus planos. A verdade presente repousa na obra da reforma de saúde tanto quanto nos outros aspectos do evangelho. Nenhum ramo, quando separado dos outros, pode ser um todo perfeito. T6 327 2 O evangelho da saúde tem hábeis defensores, mas sua tarefa tem sido dificultada porque muitos pastores, presidentes de Campo e outros em posições de influência, não têm dado à questão da reforma de saúde a atenção que lhe é devida. Eles não têm reconhecido nela seu papel como o braço direito da missão. Enquanto pouquíssima consideração tem sido mostrada a esse departamento por muitos irmãos, e por alguns pastores, o Senhor tem mostrado Sua consideração por ela dando-lhe abundante prosperidade. T6 327 3 Quando devidamente conduzida, a obra de saúde é uma cunha de penetração, abrindo caminho para que outras verdades alcancem o coração. Quando a mensagem do terceiro anjo for recebida em sua plenitude, a reforma de saúde terá o seu lugar nos concílios dos Campos, no trabalho da igreja, no lar, à mesa e em todos os arranjos do lar. Então o braço direito terá utilidade e protegerá o corpo. T6 328 4 Mas embora a obra de saúde tenha o seu lugar na proclamação da mensagem do terceiro anjo, seus advogados não devem de maneira nenhuma procurar que ela tome o lugar da mensagem. Os livros sobre saúde têm sua importância, mas a circulação desses livros é unicamente um dos muitos ramos da grande obra a ser realizada. As fortes impressões algumas vezes dadas ao colportor com respeito aos livros de saúde não devem resultar na exclusão de outros livros importantes que devem ser apresentados ao povo. Os que têm a seu cargo a colportagem devem ser homens que possam discernir a relação de cada parte da obra para com o grande todo. Que eles dêem a devida atenção à circulação dos livros de saúde, mas não tornem esse ramo tão preeminente que atraia homens de outros ramos de importância vital, excluindo assim os livros que levam ao mundo a especial mensagem da verdade. T6 328 1 Para a apresentação de livros religiosos é necessário tanto preparo como para os que tratam da questão de saúde e temperança. O mesmo que é dito sobre a colportagem com livros que contêm o alimento espiritual, o mesmo esforço feito para encorajar e educar os obreiros a fim de que espalhem os livros que contêm a terceira mensagem angélica, assim deve ser dito e feito para desenvolver obreiros para os livros de saúde. T6 328 2 Uma espécie de livros sempre abrirá lugar à outra. Ambas são essenciais e devem ocupar o campo ao mesmo tempo. Uma é o complemento da outra, e não pode, de modo algum, tomar seu lugar. Ambas tratam de assuntos do mais elevado valor e precisam fazer sua parte no preparo do povo de Deus para estes últimos dias. Ambas devem ser consideradas como a verdade presente, para iluminar, despertar e convencer. Ambas devem confundir-se na obra de santificar e purificar as igrejas que aguardam a vinda do Filho de Deus em poder e grande glória. T6 328 3 Que cada publicador e diretor de colportagem trabalhe entusiasticamente para animar os colportores que agora estão no campo e para conquistar e preparar novos obreiros. Que cada um fortaleça e edifique a obra tanto quanto possível sem enfraquecer nenhum segmento. Que tudo seja feito em amor fraternal e sem egoísmo. ------------------------Capítulo 42 -- Reavivamento da obra de colportagem T6 329 1 A importância da colportagem é conservada sempre diante de mim. Ultimamente não tem sido infundida nessa obra a vida que antes lhe era proporcionada pelos agentes que faziam dela sua especialidade. Colportores têm sido chamados de sua obra evangelística para se empenhar em outro trabalho. Não deveria ser assim. Muitos de nossos colportores, se verdadeiramente convertidos e consagrados, podem fazer mais nesse ramo do que em qualquer outro, quanto a apresentar a verdade para este tempo diante do povo. T6 329 2 Temos a Palavra de Deus para mostrar que o fim está próximo. O mundo deve ser admoestado, e, como nunca dantes, devemos ser cooperadores de Cristo. A obra de admoestar foi-nos confiada. Temos de ser condutos de luz ao mundo, comunicando aos outros a luz que recebemos do grande Portador de Luz. As palavras e ações de todos os homens devem ser provadas. Não sejamos vagarosos agora. Aquilo que deve ser feito para advertir o mundo precisa ser feito sem demora. Não deixemos a colportagem esmorecer. Que os livros que contêm a luz sobre a verdade presente sejam colocados diante de tantos quantos possível. T6 329 3 Os presidentes de nossas Associações e outros que estão em posições de responsabilidade têm um dever a cumprir neste assunto, para que os diferentes ramos de nossa obra possam receber igual atenção. Os colportores devem ser instruídos e preparados para fazer o trabalho de vender os livros sobre a verdade presente, dos quais o povo necessita. São necessários homens de profunda experiência cristã, homens de espírito bem equilibrado, fortes e bem educados, para empenhar-se nessa obra. O Senhor deseja que lancem mão da colportagem os que são capazes de instruir outros, os que podem despertar em moços e moças promissores um interesse por essa atividade, levando-os a realizá-la com êxito. Alguns têm o talento, a educação e a experiência que os habilitariam a instruir os jovens para a colportagem, de tal modo que poderia ser feito muito mais do que está se fazendo agora. T6 330 1 Os que tiveram uma experiência nesse trabalho têm o especial dever de ensinar os outros. Ensinar, ensinar, ensinar moços e moças a venderem os livros que o Senhor, por intermédio de Seu Espírito Santo, inspirou Seus servos a escrever. Deus deseja que sejamos fiéis em ensinar os que aceitam a verdade, para que possam crer com um propósito em vista e trabalhar inteligentemente segundo indica o Senhor. Que os inexperientes se unam aos obreiros experientes, a fim de que aprendam como trabalhar. Que busquem a Deus com mais fervor. Eles farão um bom trabalho na colportagem, se obedecerem às palavras: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina." 1 Timóteo 4:16. Os que dão evidência de verdadeira conversão e que se empenham na colportagem verão que ela é o melhor preparo para outros ramos de trabalho missionário. T6 330 2 Se os que conhecem a verdade a praticassem, seriam formulados métodos para alcançar o povo onde ele se acha. Foi a providência de Deus que, no princípio da igreja cristã, espalhou os santos, enviando-os para fora de Jerusalém a muitas partes do mundo. Os discípulos de Cristo não permaneceram em Jerusalém ou nas cidades circunvizinhas, mas foram além dos limites de seu país, buscando os perdidos para levá-los a Deus. Hoje o Senhor deseja ver Sua obra levada a muitos lugares. Não devemos limitar nosso trabalho a umas poucas localidades. T6 330 3 Não devemos desanimar nossos irmãos, debilitando-lhes as mãos, de modo que a obra que Deus deseja fazer por meio deles, não seja executada. Não é bom empregar muito tempo em preparar homens para fazer o trabalho missionário. A instrução é necessária, mas que todos se lembrem de que Cristo é o Grande Mestre e a Fonte de toda sabedoria. Que jovens e idosos se consagrem a Deus, empreendam a obra e prossigam trabalhando em humildade, sob o domínio do Espírito Santo. Que os estudantes saiam para o campo e ponham em prática o conhecimento que adquiriram na escola. Se os colportores fizerem isso, usando a habilidade que Deus lhes deu, buscando conselho dEle e combinando o trabalho de vender livros com o serviço pessoal em favor do povo, seus talentos aumentarão pelo exercício e eles aprenderão muitas lições práticas, as quais não lhes seria possível aprender na escola. A educação obtida por esse meio prático pode, apropriadamente, ser chamada de educação superior. T6 331 1 Não há obra mais elevada do que a da colportagem evangelística. Ela abrange o cumprimento dos mais elevados deveres morais. Os que se empenham nessa obra precisam estar sempre sob o domínio do Espírito de Deus. Não deve haver exaltação do eu. O que poderíamos ter que não tenhamos recebido de Cristo? Precisamos amar-nos como irmãos e revelar nosso amor ajudando-nos mutuamente. Precisamos ser misericordiosos e corteses. Precisamos unir-nos, avançando na mesma direção. Unicamente os que vivem a oração de Cristo, executando-a na vida prática, suportarão a prova que há de vir sobre todo o mundo. Os que a si se exaltam colocam-se sob o poder de Satanás, preparando-se para receber seus enganos. A palavra do Senhor a Seu povo é que levantemos a norma cada vez mais alto. Se obedecermos a Sua voz, Ele trabalhará conosco e nossos esforços serão coroados de êxito. Em nossa obra receberemos ricas bênçãos do alto, e ajuntaremos tesouros junto ao trono de Deus. T6 332 1 Se tão-somente soubéssemos o que está diante de nós, não seríamos tão vagarosos na obra do Senhor. Estamos no tempo da sacudidura, tempo em que cada coisa que pode ser abalada o será. O Senhor não desculpará os que conhecem a verdade, se não obedecerem a Seus mandamentos por palavra e ação. Se não fizermos algum esforço para conduzir pessoas a Cristo, seremos responsáveis pela obra que poderíamos ter feito, mas deixamos de fazer por causa de nossa indolência espiritual. Os que pertencem ao reino do Senhor precisam trabalhar com zelo pela salvação de pessoas. Precisam fazer sua parte em restaurar a lei e ratificá-la entre os discípulos. T6 332 2 O Senhor quer que a luz que Ele nos deu sobre as Escrituras resplandeça com raios claros e brilhantes; e é o dever de nossos colportores fazer um esforço forte e unido para que o plano de Deus seja cumprido. Uma grande e importante obra está diante de nós. O inimigo reconhece isso, e está empregando todos os meios em seu poder para induzir o colportor a buscar algum outro tipo de trabalho. Esse estado de coisas deve ser mudado. Deus chama os colportores a voltar à obra. Ele chama voluntários que ponham na obra todas as energias e conhecimentos, ajudando onde quer que haja oportunidade. O Mestre chama a cada um para fazer a parte que lhe foi dada, segundo sua habilidade. Quem responderá ao chamado? Quem sairá para trabalhar na sabedoria, na graça e no amor de Cristo pelos que estão perto e longe? Quem se dispõe a sacrificar a comodidade e o prazer, a entrar nos lugares do erro, da superstição e das trevas, trabalhando zelosa e perseverantemente, falando a verdade em simplicidade, orando com fé, fazendo o trabalho de casa em casa? Quem neste tempo sairá do arraial, imbuído do poder do Espírito Santo, levando a injúria por amor de Cristo, abrindo as Escrituras ao povo e chamando-o ao arrependimento? T6 333 1 Deus tem Seus obreiros em todas as épocas. Seu chamado deve ser atendido. Assim, quando a voz divina clamar: "A quem enviarei, e quem há de ir por Nós?" a resposta virá: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. Que todos os que trabalham na colportagem sintam no coração que estão fazendo a obra do Senhor em ministrar às almas que não conhecem a verdade para este tempo. Eles estão fazendo soar a nota de advertência nos caminhos e valados, preparando um povo para o grande dia do Senhor, que está prestes a sobrevir ao mundo. Não temos tempo a perder. Precisamos animar esta obra. Quem sairá agora com nossas publicações? O Senhor concede habilidade a homens e mulheres que desejam cooperar com o poder divino. Talento, ânimo, perseverança, fé e tato exigidos lhes serão outorgados ao vestirem a armadura divina. Uma grande obra deve ser feita em nosso mundo, e certamente agentes humanos responderão à exigência. O mundo precisa ouvir a advertência. Quando vier o chamado: "A quem enviarei, e quem há de ir por Nós?" que cada um dê a resposta, clara e distinta: "Eis-me aqui, envia-me a mim." T6 333 2 "Pela manhã, semeia a tua semente e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas." Eclesiastes 11:6. T6 333 3 Escolha de colportores -- Alguns se adaptam melhor que outros a fazer certo trabalho; portanto, não é correto pensar que qualquer um possa ser colportor. Alguns não têm especial adaptabilidade para essa obra; mas não devem, por isso, ser considerados faltos de fé ou de vontade. O Senhor não é irrazoável em Suas exigências. A igreja é como um jardim em que há uma variedade de flores, cada uma com suas próprias peculiaridades. Embora em muitos aspectos todas possam diferir, cada uma tem um valor particular. T6 334 1 Deus não espera que, com seus diferentes temperamentos, cada um dentre Seu povo esteja preparado para todo e qualquer lugar. Lembrem-se todos de que há variedade de legados. Não é o trabalho de qualquer homem prescrever a obra de outro homem, contrariamente a suas próprias convicções do dever. É correto dar conselho e sugerir planos; mas todo homem deve ser deixado na liberdade de buscar a direção de Deus, a quem pertence e a quem serve. T6 334 2 Preparo para o ministério -- Alguns homens que Deus chamou ao trabalho do ministério entraram no campo como colportores. Fui instruída de que, se seu objetivo é disseminar a luz, esse é um excelente preparo para levar as verdades da Palavra de Deus diretamente ao círculo do lar. Em conversa, muitas vezes o caminho será aberto para falarem da religião da Bíblia. Se o trabalho for empreendido como deve ser, famílias serão visitadas, os obreiros manifestarão ternura cristã e amor às almas, e grande bem será o resultado. Essa será uma excelente experiência para qualquer pessoa que tem o ministério como objetivo. T6 334 3 Aqueles que se estão preparando para o ministério não podem se empenhar em outra ocupação que lhes dê tão ampla experiência como a colportagem. T6 334 4 Suportando dificuldades -- Aquele que em seu trabalho encontra provas e tentações deve aproveitar essas experiências, aprendendo a apoiar-se mais decididamente em Deus. Deve sentir a todo momento sua dependência de Deus. T6 335 1 Nenhuma queixa deve ser cultivada em seu coração ou ser pronunciada por seus lábios. Quando bem-sucedido, não deve tomar para si nenhuma glória, porque seu êxito é devido à operação dos anjos de Deus sobre o coração. E lembre-se ele de que, tanto no tempo de bonança como no de desânimo, os mensageiros celestiais estão sempre a seu lado. Ele deve reconhecer a bondade do Senhor e louvá-Lo com alegria. T6 335 2 Cristo pôs de lado Sua glória e veio à Terra para sofrer pelos pecadores. Se encontrarmos dificuldades em nosso trabalho, olhemos para Aquele que é o Autor e Consumador de nossa fé. Então não falharemos nem ficaremos desanimados. Suportaremos as dificuldades como bons soldados de Jesus Cristo. Lembremo-nos do que Ele diz sobre os verdadeiros crentes: "Nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:9. T6 335 3 Uma preciosa experiência -- Aquele que empreende a obra da colportagem como deve precisa ser tanto educador como estudante. Enquanto procura ensinar aos outros, ele mesmo precisa aprender a fazer a obra de um evangelista. Saindo os colportores ao campo com coração humilde, cheio de fervorosa atividade, acharão muitas oportunidades para falar uma palavra a almas prestes a morrer no desânimo. Depois de trabalhar por esses necessitados, estarão habilitados a dizer: "Noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor." Efésios 5:8. Ao verem o pecaminoso procedimento de outros, podem dizer: "É o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus." 1 Coríntios 6:11. T6 335 4 Aqueles que trabalham para Deus encontrarão o desânimo, mas pertence-lhes sempre a promessa: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Deus dará a mais maravilhosa experiência aos que disserem: "Creio em Tua promessa; não fracassarei nem desanimarei." T6 336 1 Relatar -- Que aqueles que obtêm tal experiência trabalhando para o Senhor escrevam um relato dela para nossas revistas, a fim de que outros possam ser animados. Que o colportor fale da alegria e bênção que recebeu em seu ministério como evangelista. Essas reportagens devem aparecer em nossas revistas, porque são de vasto alcance em sua influência. Serão como uma doce fragrância na igreja, um cheiro de vida para vida. Serão uma evidência de que Deus trabalha com aqueles que cooperam com Ele. T6 336 2 Exemplo na reforma de saúde -- Na associação com os incrédulos, não se permita desviar dos retos princípios. Ao sentar à sua mesa, coma temperantemente e só alimento saudável. Guarde-se da intemperança. Não se pode enfraquecer as faculdades mentais ou físicas, sem se tornar incapaz para discernir as coisas espirituais. Conserve a mente em tal estado que Deus possa impressioná-la com as preciosas verdades de Sua Palavra. T6 336 3 Assim você terá influência sobre outros. Muitos procuram corrigir a vida de outros atacando aquilo que consideram hábitos errôneos. Falam com aqueles a quem julgam estar em erro e apontam defeitos, mas não fazem fervoroso e prudente esforço a fim de dirigir-lhes a mente para os verdadeiros princípios. Tal procedimento muitas vezes deixa de alcançar os resultados desejados. Procurando corrigir os outros, nós também muitas vezes suscitamos o combate, e assim causamos mais dano do que bem. Não é correto observar os outros para lhes apontar faltas ou erros. Deve-se ensinar pelo exemplo. Que nossa renúncia e vitória sobre o apetite seja uma ilustração de obediência aos retos princípios. Que nossa vida dê testemunho da santificadora e enobrecedora influência da verdade. T6 337 1 De todos os dons que Deus confiou aos homens, nenhum é mais precioso do que o dom da palavra. Santificado pelo Espírito Santo, é um poder para o bem. É com a língua que convencemos e persuadimos; com ela oferecemos orações e louvores a Deus; e com ela transmitimos ricos pensamentos do amor do Redentor. Mediante correto uso do dom da palavra, o colportor pode semear as preciosas sementes da verdade em muitos corações. T6 337 2 Integridade nos negócios -- A obra está coxeando porque os princípios do evangelho não são obedecidos por aqueles que professam seguir a Cristo. A maneira negligente com que alguns colportores, tanto idosos como jovens, têm executado seu trabalho, mostra que têm importantes lições a aprender. Muito trabalho feito a esmo tem sido apresentado diante de mim. Alguns foram educados em hábitos deficientes, e trouxeram essa deficiência à obra de Deus. As sociedades de publicações têm se envolvido em dívidas porque colportores não saldam seus débitos. Colportores se sentem maltratados quando são solicitados a pagar os livros recebidos das casas publicadoras. Contudo, exigir pronto pagamento é o único modo de efetuar negócio. T6 337 3 As coisas devem estar arranjadas de modo que os colportores tenham o suficiente para viver sem sacar além do que lhes é devido. Essa porta de tentação precisa ser fechada e trancada. Por mais honesto que seja o colportor, podem surgir circunstâncias em seu trabalho que lhe serão uma tentação dolorosa. T6 337 4 A preguiça e a indolência não são frutos nascidos numa árvore cristã. Nenhuma alma pode praticar a prevaricação ou a desonestidade em lidar com os bens do Senhor e ficar inculpável diante de Deus. Todos os que fazem isso estão negando a Cristo pela ação. Enquanto professam guardar e ensinar a lei de Deus, deixam de manter seus princípios. T6 338 1 Os bens do Senhor devem ser manejados com fidelidade. O Senhor confiou aos homens vida, saúde e as faculdades do raciocínio. Tem-lhes dado força física e mental para ser exercida; portanto, não deveriam esses dons ser empregados fiel e diligentemente para a glória de Seu nome? Têm nossos irmãos considerado que precisam prestar contas de todos os talentos colocados em sua posse? Têm eles negociado sabiamente com os bens de seu Senhor, ou estão gastando negligentemente Sua fazenda e sendo inscritos no Céu como servos infiéis? Muitos estão gastando o dinheiro do Senhor em assim chamados prazeres dissolutos; não estão obtendo uma experiência em abnegação, mas gastando o dinheiro em vaidades e deixando de levar a cruz após Jesus. Muitos que são privilegiados com preciosas oportunidades, dadas por Deus, têm desperdiçado a vida e agora se acham em sofrimento e necessidade. T6 338 2 Deus requer que seja feita decidida melhora nos vários ramos da obra. O negócio feito com a causa de Deus necessita ser caracterizado pela maior precisão e exatidão. Não tem havido firme e decidido esforço para efetuar uma reforma essencial. T6 338 3 Conhecer bem o livro -- Os colportores devem familiarizar-se perfeitamente com o livro que vendem e estar habilitados a chamar a atenção para os capítulos importantes. T6 338 4 O trabalho do colportor -- O colportor deve levar consigo folhetos, brochuras e livros pequenos para dar àqueles que não podem comprar. Desse modo a verdade pode ser introduzida em muitos lares. T6 339 1 Diligência -- Quando o colportor sai para o trabalho, não deve permitir-se ser distraído, mas deve inteligentemente ir em direção ao seu alvo com toda a diligência. E, enquanto está trabalhando, não deve negligenciar as oportunidades de auxiliar as pessoas que estão buscando luz e que precisam do consolo das Escrituras. Se o colportor anda com Deus, se ora pedindo sabedoria celestial para que possa fazer o bem, e unicamente o bem, em seu trabalho, saberá como discernir suas oportunidades e as necessidades das pessoas com as quais entra em contato. Aproveitará ao máximo cada oportunidade para atrair pessoas a Cristo. No espírito de Cristo, ele estará pronto a dizer uma palavra de alívio ao que está cansado. T6 339 2 Pela diligência em colportar, apresentando fielmente ao povo a cruz do Calvário, o colportor duplica sua utilidade. Mas embora apresentemos métodos de trabalho, não podemos estabelecer uma linha fixa, pela qual cada um deva se reger; porque as circunstâncias alteram os casos. Deus impressionará àqueles cujo coração está aberto à verdade e almeja direção. Ele dirá a Seu agente humano: "Fala a este ou àquele do amor de Jesus." Tão depressa é mencionado o nome de Jesus com amor e ternura, aproximam-se os anjos de Deus para abrandar e subjugar o coração. T6 339 3 Sejam os colportores fiéis estudantes, aprendendo como tornar bem-sucedido seu trabalho. E, ao realizá-lo, conservem os olhos, os ouvidos e o entendimento abertos para receber sabedoria de Deus, a fim de que possam saber como ajudar os que estão perecendo por falta do conhecimento de Cristo. Concentre cada obreiro suas energias e use suas faculdades no mais elevado de todos os serviços -- reaver homens do laço de Satanás e ligá-los a Deus, prendendo a cadeia de dependência por Jesus Cristo ao trono circundado pelo arco-íris da promessa. T6 340 1 A certeza do êxito -- Uma grande e boa obra pode ser feita pelo colportor-evangelista. O Senhor deu tato e habilidades aos homens. Aos que usam para Sua glória esses talentos confiados, entretecendo princípios bíblicos na textura, será concedido êxito. Devemos trabalhar e orar, pondo nossa confiança nAquele que jamais falha. T6 340 2 Que os colportores-evangelistas se submetam à operação do Espírito Santo. Que eles, mediante perseverante oração, lancem mão do poder que vem de Deus, confiando nEle com fé viva. Sua grande e eficaz influência estará com todo obreiro verdadeiro e fiel. T6 340 3 Como Deus abençoa o pastor e o evangelista em seus fervorosos esforços por colocar a verdade perante o povo, assim Ele abençoará o colportor fiel. T6 340 4 O humilde e eficiente obreiro, que obedientemente responde ao chamado de Deus, pode estar certo de receber auxílio divino. Sentir tão grande e santa responsabilidade é, em si mesmo, coisa que eleva o caráter. Põe em ação as mais elevadas qualidades mentais, e o contínuo exercício delas fortalece e purifica o espírito e o coração. A influência sobre a própria vida, como sobre a vida de outros, é incalculável. T6 340 5 Os espectadores descuidados podem não apreciar nem perceber a importância de sua obra. Podem julgá-la um negócio que não dá lucro, uma vida de trabalho ingrato e de sacrifício. Mas o servo de Jesus a vê sob a luz que irradia da cruz. Seus sacrifícios parecem pequenos em comparação com os do bendito Mestre, e ele se sente alegre em seguir Suas pisadas. O êxito de seu trabalho outorga-lhe a mais pura alegria e é a mais rica recompensa de uma vida de paciente labuta. T6 340 6 "E os teus ouvidos ouvirão a palavra que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho; andai nele." Isaías 30:21. ------------------------Capítulo 43 -- Demonstrando hospitalidade T6 341 1 A Bíblia põe muita ênfase na prática da hospitalidade. Não somente a recomenda como um dever, mas apresenta muitos belos quadros do exercício dessa graça e das bênçãos que ela produz. Entre eles, destaca-se o exemplo de Abraão. T6 341 2 Vemos o patriarca, nos registros do Gênesis, logo após o meio-dia, descansando à porta de sua tenda, à sombra dos carvalhais de Manre. Passam perto três viajantes. Não fazem solicitação de hospitalidade, de nenhum favor; mas Abraão não lhes permite continuar o caminho sem se refrigerarem. É um homem idoso, revestido de dignidade e riqueza, pessoa altamente honrada e habituada a mandar. Todavia, ao ver esses estranhos, "correu da porta da tenda ao seu encontro, e inclinou-se à terra". Dirigindo-se ao principal, disse: "Meu Senhor, se agora tenho achado graça nos Teus olhos, rogo-Te que não passes de Teu servo." Gênesis 18:2, 3. Trouxe com as próprias mãos água para que eles lavassem os pés. Ele próprio escolheu-lhes o alimento; enquanto descansavam à sombra fresca, Sara, sua esposa, preparou-se para hospedá-los, e Abraão ficou respeitosamente ao lado deles enquanto lhe recebiam a hospitalidade. Mostrou-lhes essa bondade como a simples viajantes, estrangeiros em trânsito, os quais talvez nunca mais cruzassem o seu caminho. Finda a hospitaleira refeição, porém, os hóspedes se revelaram. Ele servira, não apenas a anjos celestiais, mas ao glorioso Comandante deles, a seu Criador, Redentor e Rei. Foram expostos a Abraão os conselhos do Céu, e ele foi chamado "o amigo de Deus". T6 342 1 Ló, sobrinho de Abraão, embora tivesse estabelecido seu lar em Sodoma, estava possuído do espírito de bondade e hospitalidade do patriarca. Vendo ao cair da noite dois estrangeiros à porta da cidade, e conhecendo os perigos que certamente os assaltariam naquele ímpio lugar, Ló insistiu com eles para irem à sua casa. Não pensou absolutamente no perigo que poderia resultar para ele mesmo e sua família. Fazia parte da obra de sua vida proteger os que corriam risco e cuidar dos que não tinham lar. E o ato bondosamente praticado para com dois desconhecidos viajantes introduziu anjos em seu lar. Aqueles a quem ele procurou proteger o protegeram também. Ao cair da noite, ele os levara à sua porta a fim de colocá-los em segurança. Ao alvorecer, eles o levaram, e a sua família, para fora da porta da cidade condenada, a fim de os pôr a salvo. T6 342 2 Tais atos de cortesia foram reputados por Deus suficientemente importantes para serem registrados em Sua Palavra; e mais de mil anos depois, esses atos foram mencionados por um inspirado apóstolo: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos." Hebreus 13:2. T6 342 3 O privilégio concedido a Abraão e a Ló não nos é negado. Mostrando hospitalidade aos filhos de Deus, nós também podemos receber os Seus anjos em nossa morada. Mesmo nos dias atuais, anjos em forma humana entram no lar dos homens e são aí hospedados por eles. E os cristãos que vivem à luz do rosto de Deus estão sempre acompanhados por anjos invisíveis, e esses seres santos deixam após si uma bênção em nosso lar. T6 342 4 "Dado à hospitalidade" (Tito 1:8), eis uma das especificações mencionadas pelo Espírito Santo como devendo caracterizar uma pessoa apta a assumir responsabilidades na igreja. E a toda a igreja é feita a recomendação: "Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações. Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." 1 Pedro 4:9, 10. T6 343 1 Essas admoestações têm sido estranhamente negligenciadas. Mesmo entre os que professam ser cristãos, a verdadeira hospitalidade é pouco exercida. Entre nosso próprio povo, a oportunidade de ser hospitaleiro não é considerada como deve ser, como um privilégio e uma bênção. Há positivamente muito pouca sociabilidade, muito pouca disposição de dar lugar para mais dois ou três à nossa mesa de família, sem embaraço ou ostentação. Alguns alegam ser "demasiado incômodo". Não o será se for dito: "Não fizemos nenhum preparativo especial, mas seja bem-vindo para participar do que temos." Para o hóspede inesperado, um bom acolhimento é muito mais apreciado do que a mais elaborada refeição. T6 343 2 É negar a Cristo fazer para as visitas preparativos que exigem tempo que de direito pertence ao Senhor. Nisso cometemos roubo para com Deus. E prejudicamos igualmente a outros. Com o preparar uma elaborada hospedagem, muitos privam a própria família da necessária atenção, e seu exemplo leva outros a imitá-los. T6 343 3 Fadigas e preocupações desnecessárias são criadas pelo desejo de fazer alarde ao hospedar visitas. A dona-de-casa trabalha excessivamente a fim de preparar grande variedade para a mesa. Por causa dos muitos pratos preparados, os hóspedes comem demais, resultando em doença e sofrimento, provenientes do demasiado trabalho, de um lado, e de comer excessivamente, do outro. Esses elaborados banquetes são um fardo e um dano. T6 343 4 Mas o Senhor requer que cuidemos dos interesses de nossos irmãos e irmãs. O apóstolo Paulo deu um exemplo disso. Disse ele à igreja de Roma: "Recomendo-vos pois Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia. Para que a recebais no Senhor, como convém a santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo." Romanos 16:1, 2. Febe hospedava o apóstolo, e era excelente hospedeira dos estrangeiros que necessitavam de cuidado. Seu exemplo deve ser imitado pelas igrejas de hoje. T6 344 1 Deus Se desagrada com o interesse egoísta tantas vezes manifestado pelo sentimento de "eu e minha família". Toda família que manifesta esse espírito necessita converter-se aos princípios manifestados na vida de Cristo. Os que se fecham em si mesmos, que não estão dispostos a se incomodar para dar hospedagem, perdem muitas bênçãos. T6 344 2 Alguns de nossos obreiros ocupam funções em que freqüentemente lhes é necessário receber hóspedes, sejam os próprios irmãos, sejam estranhos. Alguns insistem em que a Associação tome conta disso, e que, além do salário regular deles, seja-lhes concedida uma importância suficiente para cobrir essa despesa extraordinária. O Senhor, porém, deu a obra de hospedar a todo o Seu povo. Não é plano divino que um ou dois hospedem por toda a Associação ou igreja, ou que obreiros sejam pagos para hospedar seus irmãos. Essa é uma invenção nascida do egoísmo, e os anjos de Deus tomam nota dessas coisas. T6 344 3 Os que viajam de um lugar para outro, como evangelistas ou missionários em qualquer ramo, devem receber hospedagem dos membros das igrejas entre as quais trabalhem. Irmãos e irmãs, proporcionem um lar a esses obreiros, mesmo que seja com sacrifício pessoal. T6 344 4 Cristo mantém um relatório de toda despesa efetuada para dar hospedagem por amor a Ele. O Senhor supre tudo quanto é necessário para essa obra. Aqueles que, por amor a Cristo, hospedam seus irmãos, fazendo o possível para tornar a visita proveitosa tanto aos hóspedes como a si mesmos, são registrados no Céu como dignos de bênçãos especiais. T6 345 1 Em Sua própria vida, Cristo deu uma lição de hospitalidade. Quando rodeado pela multidão faminta à beira-mar, não a mandou para casa sem alimento. Ele disse aos discípulos: "Dai-lhes vós de comer." Mateus 14:16. E, mediante um ato de poder criador, supriu alimento suficiente para satisfazer-lhes às necessidades. Mas, quão simples foi a comida proporcionada! Nada de finas iguarias. Aquele que tinha à Sua disposição todos os recursos do Céu, poderia providenciar um rico banquete. Supriu, no entanto, o que bastasse às necessidades do povo, o que constituía o alimento diário dos pescadores nas proximidades do mar. T6 345 2 Caso as pessoas fossem hoje simples em seus hábitos, vivendo em harmonia com as leis da natureza, haveria abundante provisão para todas as necessidades da família humana. Haveria menos necessidades imaginárias, e mais oportunidades de trabalhar segundo a maneira de Deus. T6 345 3 Cristo não procurava atrair os homens a Si, satisfazendo-lhes o desejo de ostentação A simples refeição que Ele proveu foi uma garantia, não somente de Seu poder, mas de Seu amor, do terno cuidado que tinha por eles nas necessidades comuns da vida. E ao alimentá-los com os pães de cevada, dava-lhes também a comer o pão da vida. Esse é um exemplo para nós. Nossa comida pode ser simples e mesmo escassa. Podemos ter de viver na pobreza. Talvez nossos recursos não sejam maiores do que os dos discípulos com os cinco pães e os dois peixinhos. Todavia, ao nos pormos em contato com os que necessitam, Cristo nos manda: "Dai-lhes vós de comer." Lucas 9:13. Cumpre-nos repartir daquilo que temos; e, ao darmos, Cristo fará com que a falta nos seja suprida. T6 345 4 Em relação a isso, vale a pena ler a história da viúva de Sarepta. A essa mulher em uma terra pagã, enviou Deus Seu servo num tempo de fome, a fim de pedir alimento. "Porém ela disse: Vive o Senhor teu Deus, que nem um bolo tenho, senão somente um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija; e vês aqui, apanhei dois cavacos, e vou prepará-lo para mim e para o meu filho, para que o comamos, e morramos. E Elias lhe disse: Não temas; vai, faze conforme à tua palavra; porém faze disso primeiro para mim um bolo pequeno, e traze-mo para fora; depois farás para ti e para teu filho. Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra. E foi ela, e fez conforme à palavra de Elias." 1 Reis 17:12-15. T6 346 1 Foi maravilhosa a hospitalidade manifestada ao profeta de Deus por essa mulher fenícia, e maravilhosamente lhe foram recompensadas a fé e a generosidade. "E assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha se não acabou, e da botija o azeite não faltou, conforme à Palavra do Senhor, que falara pelo ministério de Elias. E depois destas coisas sucedeu que adoeceu o filho desta mulher, da dona da casa, e a sua doença se agravou muito, até que nele nenhum fôlego ficou. Então ela disse a Elias: Que tenho eu contigo, homem de Deus? Vieste tu a mim para trazeres à memória a minha iniquidade, e matares a meu filho? E ele lhe disse: Dá-me o teu filho. E ele o tomou no seu regaço, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo habitava, e o deitou em sua cama. ... Então se mediu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor. ... E o Senhor ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tomou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive. Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a Palavra do Senhor na tua boca é verdade." 1 Reis 17:15-24. T6 346 2 Deus não mudou. Seu poder não é menor agora do que nos dias de Elias. E a promessa feita por Ele não é menos garantida agora do que quando foi proferida por nosso Salvador: "Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta." Mateus 10:41. T6 347 1 A Seus servos fiéis hoje, da mesma maneira que a Seus primeiros discípulos, aplicam-se as palavras de Cristo: "Quem vos recebe, a Mim Me recebe; e quem Me recebe a Mim, recebe Aquele que Me enviou." Mateus 10:40. Nenhum ato de bondade praticado em Seu nome deixará de ser reconhecido e recompensado. E no mesmo terno reconhecimento Cristo inclui até o mais fraco e mais humilde da família de Deus. "E qualquer que tiver dado", diz Ele, "só que seja um copo de água fria a um destes pequenos" -- os que são como crianças em sua fé e seu conhecimento de Cristo -- "em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão". Mateus 10:42. T6 347 2 A pobreza não nos deve excluir de manifestar hospitalidade. Cumpre-nos partilhar o que temos. Pessoas há que lutam para ganhar a subsistência, e têm grande dificuldade para conseguir que sua renda chegue para as necessidades; amam, porém, a Jesus na pessoa de Seus santos, e estão prontas a manifestar hospitalidade a crentes e descrentes, procurando tornar proveitosas suas visitas. À mesa da família, assim como ao seu altar, os hóspedes são bem-vindos. Os momentos de oração impressionam os que recebem hospedagem e mesmo uma visita pode significar a salvação de uma pessoa. O Senhor leva em conta essa obra, dizendo: "Eu recompensarei." T6 347 3 Irmãos e irmãs, convidem para sua casa os que estão precisando de hospedagem e de bondosa atenção. Sem fazer ostentação, ao notar sua necessidade, os levem para casa e mostrem-lhes genuína hospitalidade cristã. Há preciosos privilégios no intercâmbio social. T6 347 4 "Nem só de pão viverá o homem" (Mateus 4:4), e como repartimos com outros nosso alimento material, assim devemos comunicar esperança, ânimo e amor cristão. Cumpre-nos "consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus". 2 Coríntios 1:4. E pertence-nos a certeza: "Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra." 2 Coríntios 9:8. T6 348 1 Achamo-nos em um mundo de pecado e tentação. Por toda parte, ao nosso redor, há pessoas perecendo sem Cristo, e Deus quer que trabalhemos por elas de toda forma possível. Quem possui um lar aprazível deve convidar para ele os jovens que não têm lar, os que se acham necessitados de auxílio, que anseiam por simpatia e palavras bondosas, respeito e cortesia. Caso deseje levá-los a Cristo, será necessário demonstrar por eles amor e respeito, como aquisição do Seu sangue. T6 348 2 A providência de Deus nos coloca em associação com os inexperientes, com muitos necessitados de piedade e compaixão. Eles precisam de auxílio, pois são fracos. Os jovens necessitam de ajuda. Na força dAquele cuja terna benignidade deve ser exercitada para com os desamparados, os ignorantes e os que são considerados como os menores dentre Seus pequeninos, cumpre-nos trabalhar por seu futuro, pela formação de um caráter semelhante a Cristo. Aqueles que mais necessitam de auxílio às vezes provarão duramente nossa paciência. "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos", diz Cristo, "porque Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai que está nos Céus." Mateus 18:10. E aos que ministram a essas almas, declara o Salvador: "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. T6 348 3 A fronte dos que realizam essa obra vestirá a coroa do sacrifício. Mas receberão a sua recompensa. Veremos no Céu os jovens a quem ajudamos, os que convidamos para nosso lar, a quem desviamos da tentação. Veremos seus rostos refletindo o brilho da glória de Deus. "E verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome." Apocalipse 22:4. ------------------------Capítulo 44 -- A observância do Sábado T6 349 1 Grandes bênçãos estão incluídas na observância do sábado, e a vontade divina é que ele seja um dia de alegria para nós. Houve júbilo na instituição do sábado. Contemplando com satisfação as coisas que criara, Deus declarou "muito bom" tudo quanto fizera. Gênesis 1:31. O Céu e a Terra vibravam então de alegria. "As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam." Jó 38:7. Embora o pecado tenha entrado no mundo e manchado a perfeita obra divina, o Senhor ainda nos dá o sábado como testemunho de que um Ser onipotente, infinito em misericórdia e bondade, criou todas as coisas. É intuito do Pai celestial preservar entre os homens, mediante a observância do sábado, o conhecimento de Si mesmo. Seu desejo é que o sábado nos aponte a Ele como o único Deus vivo e verdadeiro, e pelo conhecimento dEle possamos ter vida e paz. T6 349 2 Quando o Senhor libertou o Seu povo do Egito e confiou-lhes Sua lei, ensinou-lhes que, pela observância do sábado, deveriam distinguir-se dos idólatras. Esse deveria ser o sinal da diferença entre os que reconheciam a soberania de Deus e os que recusavam aceitá-Lo como seu Criador e Rei. "Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre", disse o Senhor. "Guardarão pois o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo." Êxodo 31:17, 16. T6 349 3 Assim como o sábado foi o sinal que distinguiu Israel quando saiu do Egito para entrar em Canaã, é também o sinal que deve distinguir o povo de Deus que sai do mundo para entrar no repouso celestial. O sábado é um sinal do relacionamento entre Deus e o Seu povo, sinal de que este honra a lei de Deus. É o que distingue entre os fiéis súditos de Deus e os transgressores. T6 350 1 Do meio da coluna de nuvem, Cristo declarou, acerca do sábado: "Certamente guardareis Meus sábados; porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica." Êxodo 31:13. Dado ao mundo como o sinal do Criador, o sábado é também o sinal de Deus como nosso Santificador. O poder que criou todas as coisas é o que torna a restaurar a alma à Sua própria semelhança. Para os que guardam o sábado, esse dia é o sinal da santificação. A verdadeira santificação consiste na harmonia com Deus, na imitação de Seu caráter. Essa harmonia e semelhança são alcançadas pela obediência aos princípios que são a transcrição de Seu caráter. E o sábado é o sinal da obediência. Aquele que de coração obedecer ao quarto mandamento obedecerá toda a lei. Será santificado pela obediência. T6 350 2 A nós, como a Israel, o sábado é dado "em concerto perpétuo". Êxodo 31:16. Para os que reverenciam o Seu santo dia, o sábado é um sinal de que Deus os reconhece como Seu povo eleito, o penhor de que cumprirá Sua parte no concerto. Qualquer pessoa que aceitar esse sinal do governo de Deus coloca-se a si mesma sob o concerto divino e perpétuo. Liga-se assim à áurea cadeia da obediência, cada elo da qual representa uma promessa. T6 350 3 De todos os dez preceitos, só o quarto contém o selo do grande Legislador, Criador dos céus e da Terra. Os que obedecem aos Seus mandamentos tomam-Lhe o nome, e todas as bênçãos que esse nome implica lhes serão garantidas. "E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão, e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes: T6 351 1 "O Senhor te abençoe e te guarde: O Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, E tenha misericórdia de ti; O Senhor sobre ti levante o Seu rosto, e te dê a paz. Assim porão o MEU NOME sobre os filhos de Israel, E Eu os abençoarei." Números 6:22-27. T6 351 2 Por intermédio de Moisés, foi feita a seguinte promessa: "O Senhor te confirmará para Si por povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do Senhor teu Deus, e andares nos Seus caminhos. E todos os povos da Terra verão que és chamado pelo NOME do Senhor. ... E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, quando obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e fazer." Deuteronômio 28:9-13. T6 351 3 Falando sob a inspiração divina, diz o salmista: T6 351 4 "Vinde, cantemos ao Senhor, Cantemos com júbilo à Rocha da nossa salvação. Apresentemo-nos ante a Sua face com louvores, E celebremo-Lo com salmos. Porque o Senhor é Deus grande, E Rei grande acima de todos os deuses. Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra, E as alturas dos montes são Suas. Seu é o mar, pois Ele o fez, E as Suas mãos formaram a terra seca. Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos; Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou. Porque Ele é nosso Deus, E nós povo do Seu pasto e ovelhas da Sua mão." Salmos 95:1-7; Salmos 100:3. T6 351 5 Essas promessas, feitas a Israel, também são para o povo de Deus hoje em dia. São as mensagens que o sábado nos traz. Reforma na observância do Sábado T6 352 1 O sábado é um elo de ouro que nos une a Deus. Mas o preceito do sábado tem sido violado. O dia santificado por Deus tem sido profanado. O sábado foi deslocado de seu legítimo lugar pelo homem do pecado, sendo exaltado em lugar dele um dia comum. Foi introduzida na lei uma brecha que tem de ser reparada. O verdadeiro sábado tem que ser restituído à sua legítima condição de santo dia de repouso. No capítulo 58 de Isaías está esboçada a obra que o povo de Deus deve executar. Cumpre-lhe engrandecer a lei e torná-la gloriosa, edificar os lugares antigamente assolados e levantar os fundamentos de geração em geração. Aos que realizam essa obra, diz Deus: "E chamar-te-ão reparador das roturas, restaurador de veredas para morar. Se desviares o teu pé de profanar o sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:12-14. T6 352 2 A questão do sábado será o ponto controverso no grande conflito final em que o mundo inteiro será envolvido. Os homens exaltaram os princípios do diabo acima dos que governam os Céus. Aceitaram o sábado espúrio instituído por Satanás como o sinal de sua autoridade. Entretanto, Deus imprimiu o Seu selo ao Seu estatuto real. Cada instituição sabática traz o nome de Seu Autor, a marca indestrutível que revela Sua autoridade. Nossa missão é levar o povo a compreender isso. Devemos mostrar-lhe a importância de ter o sinal do reino de Deus ou o do reino da rebelião, porque cada indivíduo se reconhece súdito do reino cujo distintivo aceita. Deus nos chamou para desfraldar o estandarte do Seu sábado, que está sendo calcado a pés. É muito importante, portanto, que o nosso exemplo em observá-lo seja correto! T6 353 1 Ao estabelecerem novas igrejas, os pastores devem dar instruções amplas quanto à maneira correta de observar o sábado. Devemos acautelar-nos de que os costumes frouxos que prevalecem entre os observadores do domingo não sejam adotados pelos que professam observar o dia de repouso de Deus. A fronteira de demarcação entre os que ostentam o sinal do reino de Deus e os que trazem o do reino da rebelião deve ser traçada de modo claro e inequívoco. T6 353 2 Há maior santidade no sábado do que lhe atribuem muitos que professam observá-lo. O Senhor tem sido grandemente desonrado por parte dos que não têm observado o sábado conforme o mandamento, quer na letra, quer no espírito. Ele sugere uma reforma da observância desse dia. Preparação para o Sábado T6 353 3 O Senhor inicia o quarto mandamento com esta expressão: "Lembra-te." Ele previu que, em meio de cuidados e perplexidades, o homem seria tentado a eximir-se da responsabilidade de satisfazer todos os reclamos da lei, ou esquecer-se de sua sagrada importância. Por isso, diz: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar." Êxodo 20:8. T6 353 4 Durante toda a semana cumpre-nos ter em mente o sábado e fazer a preparação indispensável, a fim de observá-lo conforme o mandamento. Não devemos observá-lo simplesmente como uma questão de lei. Devemos compreender suas relações espirituais com todos os negócios da vida. Todos os que considerarem o sábado um sinal entre eles e Deus, revelando que Ele é o Deus que os santifica, representarão condignamente os princípios de Seu governo. Praticarão dia a dia os estatutos de Seu reino, orando continuamente a Deus para que a santificação do sábado repouse sobre eles. Cada dia terão a companhia de Cristo, e serão um exemplo da Sua perfeição de caráter. Dia a dia sua luz refulgirá para outros em boas obras. T6 354 1 Em tudo quanto se relaciona com a obra de Deus, as primeiras vitórias devem ser alcançadas na vida doméstica. É aí que deve começar a preparação para o sábado. Durante toda a semana, compete aos pais lembrar que seu lar precisa ser uma escola em que os filhos sejam preparados para o Céu. Sejam justas as suas palavras. Nenhuma palavra que os filhos não possam ouvir deverá proceder de seus lábios. Seja o espírito mantido livre de toda irritação. Durante a semana, os pais devem proceder como estando na presença de Deus, que lhes deu os filhos para serem educados para Ele. A pequena igreja do lar deve ser educada a fim de que, no sábado, esteja preparada para render culto a Deus no Seu santuário. Todas as manhãs e tardes, devemos apresentar nossos filhos a Deus como Sua herança remida com sangue; ensinando-lhes que seu principal dever e privilégio é amar e servir a Deus. T6 354 2 Os pais devem cuidar no sentido de tornar a adoração a Deus uma lição objetiva para os filhos. Seus lábios devem proferir mais frequentemente passagens das Escrituras, principalmente as que dispõem o coração à prática da religião. As seguintes palavras do salmista devem ser sempre repetidas: "Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dEle vem a minha esperança." Salmos 62:5. T6 354 3 Quando o sábado é lembrado dessa forma, as coisas materiais não influirão sobre o exercício espiritual de modo a prejudicá-lo. Nenhum dever relacionado com os seis dias anteriores será deixado para o sábado. Durante a semana, teremos o cuidado de não gastar as energias com trabalho físico a ponto de estarmos demasiadamente cansados para participar do culto, no dia em que o Senhor descansou. T6 354 4 Embora devamos nos preparar para o sábado durante toda a semana, a sexta-feira é o dia especial de preparação. Por intermédio de Moisés, o Senhor disse a Israel: "Amanhã é o repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde em guarda para vós até amanhã." Êxodo 16:23. "Espalhava-se o povo, e o [maná] colhia, e em moinhos o moía, ou num gral o pisava; e em panelas o cozia, e dele fazia bolos." Números 11:8. Tinham, pois, alguma coisa que fazer a fim de preparar o pão que lhes era enviado do Céu, e o Senhor lhes ordenou que o fizessem na sexta-feira, o dia da preparação. Esse era um teste para Israel. Deus queria prová-los se guardariam ou não o Seu santo sábado. T6 355 1 Essas instruções vindas do próprio Deus são para o nosso ensino. A Bíblia é um guia perfeito e, se suas páginas forem estudadas com oração e com espírito disposto a compreender, ninguém necessita estar em erro a esse respeito. T6 355 2 Muitos precisam ser instruídos quanto ao modo de se apresentarem nas reuniões para o culto do sábado. Não devem comparecer à presença divina com roupa usada no trabalho durante a semana. Todos devem ter um traje especial para assistir aos cultos de sábado. Embora não seja lícito adaptar-nos às modas do mundo, não devemos ser indiferentes quanto a nossa aparência exterior. Devemos vestir-nos com asseio e elegância, porém sem luxo e sem adornos. Os filhos de Deus devem estar limpos interior e exteriormente. T6 355 3 Na sexta-feira, deverá ficar terminada a preparação para o sábado. Tenhamos o cuidado de pôr toda a roupa em ordem, deixar cozido o que houver para cozer e escovar os sapatos. É possível deixar tudo preparado, caso se tome isso como regra. O sábado não deve ser empregado em consertar roupa, cozer o alimento, nem em divertimentos ou quaisquer outras ocupações mundanas. Antes do pôr-do-sol, coloquemos de parte todo trabalho material, e façamos desaparecer os jornais seculares. Os pais devem explicar aos filhos esse procedimento e induzi-los a ajudarem na preparação, a fim de observar o sábado segundo o mandamento. T6 356 1 Devemos observar cuidadosamente os limites do sábado. É bom lembrar que cada minuto é tempo sagrado. Sempre que possível, os patrões deverão conceder aos empregados as horas que decorrem entre o meio-dia da sexta-feira e o começo do sábado. Dessa forma, terão tempo para a preparação, a fim de poderem saudar o dia do Senhor com sossego de espírito. Assim procedendo não sofrerão nenhum prejuízo, nem mesmo quanto às coisas materiais. T6 356 2 Há ainda outro ponto a que devemos dar a nossa atenção no dia da preparação. Nesse dia todas as divergências existentes entre irmãos, tanto na família como na igreja, devem ser removidas. Afaste-se do coração toda amargura, ira ou ressentimento. Com espírito humilde "confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis". Tiago 5:16. T6 356 3 Antes de começar o sábado, tanto a mente como o físico devem desembaraçar-se de todos os negócios seculares. Deus colocou o sábado ao final dos seis dias de trabalho, para que o homem nele se detenha e considere o que lucrou, durante a semana finda, em preparativos para aquele reino de pureza onde nenhum transgressor será admitido. Devemos, a cada sábado, fazer um balanço para verificar se a semana finda nos trouxe lucro ou prejuízo espiritual. T6 356 4 Santificar o sábado ao Senhor importa em salvação eterna. Diz Deus: "Aos que Me honram, honrarei." 1 Samuel 2:30. O Sábado na família T6 356 5 Antes do pôr-do-sol, todos os membros da família devem reunir-se para estudar a Palavra de Deus, cantar e orar. A esse respeito estamos precisando de uma reforma, porque muitos há que estão se tornando descuidados. Temos que confessar as faltas a Deus e uns aos outros. Devemos fazer arranjos especiais para que cada membro da família esteja preparado para honrar o dia que Deus abençoou e santificou. T6 357 1 Não devemos perder as preciosas horas do sábado, acordando tarde. No sábado, a família deve se levantar cedo. Despertando tarde, é fácil atrapalhar-se com a refeição matinal e a preparação para a Escola Sabatina. Disso resulta pressa, impaciência e precipitação, dando lugar a que a família tenha sentimentos impróprios para esse dia. Sendo profanado, o sábado torna-se um fardo, e sua aproximação será um motivo de desagrado em vez de regozijo, para a família. T6 357 2 No sábado, não devemos aumentar a quantidade de alimento ou preparar maior variedade do que nos outros dias. Ao contrário, a refeição do sábado deve ser mais simples, e devemos comer menos, a fim de ter o espírito claro e em condições de compreender os temas espirituais. A alimentação em excesso entorpece a mente. As mais preciosas verdades podem ser ouvidas sem ser apreciadas, por estar a mente obscurecida por um regime alimentar impróprio. Por comer demais aos sábados, muitos têm contribuído mais do que imaginam para desonrar a Deus. T6 357 3 Embora devamos evitar cozinhar aos sábados, não é necessário ingerir a comida fria. Em dias frios, convém aquecer o alimento preparado no dia anterior. As refeições, embora simples, devem ser apetitosas e atraentes. Trate-se de arranjar qualquer prato especial, que a família não costuma comer todos os dias. T6 357 4 As crianças devem participar do culto familiar, cada qual com sua Bíblia, lendo um ou dois versículos. Cante-se então um hino preferido, seguido de oração da qual Cristo nos deixou um modelo. A oração do Senhor não foi destinada para ser simplesmente repetida como uma fórmula, mas é uma ilustração de como devem ser as nossas orações -- simples, fervorosas e amplas. Em singela petição, contemos ao Senhor as nossas necessidades exprimindo gratidão por Suas bênçãos. Desse modo, saudaremos a Jesus como hóspede bem-vindo em nosso lar e coração. Em família, convém evitar orações longas e sobre assuntos que não têm a ver com o interesse de todos. Essas orações enfadam, em vez de constituírem um privilégio e uma bênção. Que o momento da hora da oração seja agradável e interessante. T6 358 1 A Escola Sabatina e o Culto Divino ocupam apenas uma parte do sábado. O tempo restante poderá ser passado em casa e ser o mais precioso e sagrado que o sábado proporciona. Os pais deverão passar boa parte desse tempo com os filhos. Em muitas famílias, os filhos menores são deixados à vontade, a fim de se entreterem como melhor puderem. Abandonadas a si mesmas, as crianças em breve ficam inquietas e começam a brincar ou ocupar-se de coisas inadequadas. Desse modo, o sábado perde para elas sua importância sagrada. T6 358 2 Quando faz bom tempo, os pais devem sair com os filhos a passeio pelos campos e matas. Em meio às belas coisas da natureza, expliquem-lhes a razão da instituição do sábado. Descrevam-lhes a grande obra da criação de Deus. Contem-lhes que a Terra, quando Ele a fez, era bela e sem pecado. Cada flor, arbusto e árvore correspondiam ao propósito divino. Tudo sobre que o homem pousava o olhar, o deleitava, sugerindo-lhe pensamentos do amor divino. Todos os sons eram harmônicos, e em consonância com a voz de Deus. Mostrem-lhes que foi o pecado que manchou essa obra perfeita; que os espinhos, cardos, aflição, dor e morte são o resultado da desobediência a Deus. Expliquem-lhes, também, que, apesar da maldição do pecado, a Terra ainda revela a bondade divina. As campinas verdejantes, as árvores altaneiras, o alegre Sol, as nuvens, o orvalho, o silêncio da noite, a magnificência do céu estrelado e a beleza da Lua dão testemunho do Criador. Não cai do Céu uma só gota de chuva, nenhum raio de luz incide sobre este mundo ingrato, sem testificar da longanimidade e do amor de Deus. T6 359 1 Falemos aos nossos filhos que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Vamos repetir para eles a doce história de Belém, mostrando-lhes como Jesus foi filho obediente aos pais, como foi jovem fiel e diligente, ajudando a prover o sustento da família. Desse modo, podemos lhes dar a entender também que o Salvador conhece as provações, dificuldades e tentações, esperanças e alegrias da mocidade, estando por isso em condição de lhes dar simpatia e apoio. De quando em quando, devemos ler para eles as interessantes histórias da Bíblia. Perguntar-lhes acerca do que aprenderam na Escola Sabatina, e estudar com eles a lição do sábado seguinte. T6 359 2 Ao pôr-do-sol, é hora de elevar a voz em oração e cânticos de louvor a Deus, celebrando o término do sábado e pedindo a assistência do Senhor para os cuidados da nova semana de atividades. T6 359 3 Os pais poderão fazer do sábado o que em realidade deve ser, isto é, o dia mais alegre da semana, induzindo assim os filhos a considerá-lo um dia deleitoso, o dia por excelência, santo ao Senhor e digno de honra. T6 359 4 Exorto os caros irmãos e irmãs: Lembrem-se "do dia do sábado, para o santificar". Êxodo 20:8. Quem deseja ver os filhos observarem o sábado conforme o mandamento, deve ensinar-lhes isso, tanto por preceito como pelo exemplo. A verdade, profundamente impressa no coração, jamais será totalmente apagada. Poderá ser obscurecida, mas nunca destruída. As impressões feitas na tenra infância, se manifestarão também nos anos futuros. As circunstâncias podem separar os filhos dos pais, e afastá-los do convívio da família, mas por toda a vida as instruções recebidas na infância e adolescência vão ser uma bênção para eles. Viajar no Sábado T6 359 5 Se desejamos a bênção prometida aos obedientes, devemos observar mais estritamente o sábado. Temo que muitas vezes empreendamos viagens que bem poderiam ser evitadas nesse dia. Segundo a luz que o Senhor nos tem concedido em relação com a observância do sábado, devemos ser mais escrupulosos quanto a viagens nesse dia, por terra ou mar. A esse respeito devemos dar às crianças e jovens bom exemplo. Para ir à igreja, que requer a nossa cooperação ou à qual devemos transmitir a mensagem que Deus lhe destina, pode ser necessário viajar no sábado; mas sempre que possível devemos, no dia anterior, comprar a passagem e fazer todos os arranjos necessários. Quando viajarmos, devemos esforçar-nos o máximo para evitar que o dia da chegada ao destino coincida com o sábado. T6 360 1 Se formos obrigados a viajar no sábado, devemos evitar a companhia dos que procuram atrair-nos a atenção para coisas seculares. Devemos ter a mente concentrada em Deus e com Ele entreter comunhão. Sempre que se nos ofereça a oportunidade, falemos com outros acerca da verdade. Cumpre-nos em todo tempo estar dispostos a aliviar sofrimentos e ajudar os que sofrem necessidades. Nesses casos Deus requer de nós que façamos uso legítimo do conhecimento e sabedoria que nos deu. Não devemos, entretanto, falar acerca de negócios nem iniciar qualquer conversação mundana. Em todo tempo e em qualquer lugar Deus quer que Lhe testemunhemos nossa fidelidade, honrando Seu sábado. Reuniões de Sábado T6 360 2 Cristo disse: "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles." Mateus 18:20. Sempre que houver dois ou três crentes na mesma localidade, deverão eles reunir-se no sábado para reclamar as promessas do Senhor. T6 360 3 O pequeno grupo reunido para adorar a Deus no Seu santo dia tem direito a reclamar as bênçãos de Jeová e pode estar certo de que o Senhor Jesus será honroso visitante em suas reuniões. Todo verdadeiro adorador de Deus, que santifica o sábado do Senhor, deverá reclamar para si a promessa: "Para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica." Êxodo 31:13. T6 361 1 A pregação nas reuniões de sábado em geral deve ser breve, dando-se oportunidade aos que amam a Deus para exprimir sua gratidão e adoração. T6 361 2 Se a igreja estiver sem pastor, alguém deve ser designado para dirigir a reunião. Mas não é necessário que essa pessoa faça longo sermão e tome a maior parte do tempo destinado ao culto. Um resumido estudo bíblico, que seja interessante, será às vezes de maior proveito do que um sermão. O estudo bíblico poderá ser rematado com uma reunião de orações ou testemunhos. T6 361 3 Os que ocupam cargos de liderança na igreja não devem esgotar durante a semana a força física e mental, de modo que não possam levar para a igreja, no sábado, a influência vivificante do evangelho de Cristo. Limitemos o trabalho físico de cada dia, mas não defraudemos a Deus, rendendo-Lhe, no sábado, um culto que Ele não pode aceitar. Não devemos ser como homens destituídos de vida espiritual. Os crentes necessitam do nosso auxílio no sábado. Entreguemos a eles o alimento da Palavra de Deus. Ofereçamos a Deus, nesse dia, nossas melhores dádivas. Ofertemos-Lhe, no Seu santo dia, nossa vida preciosa em serviço consagrado. T6 361 4 Ninguém vá à igreja para dormir. Não é correto dormir na casa de Deus. Não é nosso costume entregar-nos ao sono quando empenhados em algum serviço profissional, porque geralmente estamos nele interessados. Seria lícito, pois, colocar o culto que tem a ver com os nossos interesses eternos em nível inferior aos negócios seculares? T6 361 5 Quando assim procedemos, privamo-nos da bênção que o Senhor nos destina. O sábado não deve ser passado em ociosidade, mas tanto em casa como na igreja cumpre-nos manifestar espírito de adoração. Aquele que nos deu seis dias para nossas ocupações materiais abençoou e santificou o sétimo dia e o separou para Si. Nesse dia, Deus Se propõe abençoar de maneira especial todos os que se consagram a Seu serviço. T6 362 1 Todo o Céu celebra o sábado, mas não de maneira ociosa e negligente. Nesse dia todas as energias da alma devem estar despertas, pois vamos nos encontrar com Deus e com Cristo, nosso Salvador. Podemos contemplá-Lo pela fé. Ele está desejoso de refrigerar e abençoar cada pessoa. T6 362 2 Cada qual deve sentir que tem uma parte a desempenhar, a fim de tornar as reuniões de sábado interessantes. Não devemos nos reunir simplesmente para preencher uma formalidade, e sim para trocar idéias, relatar nossa experiência diária, oferecer ações de graça e exprimir nosso sincero desejo de ser iluminados para conhecer a Deus e a Jesus Cristo, a quem Ele enviou. O encontro coletivo com Cristo fortalece a alma para os embates e provações da vida. Nem é possível imaginar ser cristão e viver concentrado em si mesmo. Todos representamos uma parte do grande conjunto que é a humanidade, e a experiência de cada um será até certo ponto determinada pela de seus companheiros. T6 362 3 Não conseguimos a centésima parte das bênçãos que devemos obter em nossas reuniões de culto a Deus. Nossas faculdades perceptivas precisam ser aguçadas. A comunhão mútua deve encher-nos de alegria. Com a esperança que temos, por que nosso coração não há de entusiasmar-se com o amor de Deus? T6 362 4 A cada reunião religiosa devemos levar a viva consciência espiritual de que Deus e os anjos ali estão presentes, a fim de cooperar com todos os verdadeiros crentes. Ao transpor as portas da casa de Deus, peçamos ao Senhor que tire do nosso coração tudo que é mau. Vamos introduzir em Sua casa somente o que Ele possa abençoar. Ajoelhemo-nos diante de Deus, em Seu templo, e consagremos-Lhe o que Lhe pertence e que Ele adquiriu com o sangue de Cristo. Oremos a favor da pessoa que dirigirá a reunião. Oremos para que grande bênção advenha à congregação, por meio daquele que deve ministrar a palavra da vida. Esforcemo-nos fervorosamente para alcançar uma bênção particular. T6 363 1 Deus abençoará todos quantos dessa maneira se prepararem para o Seu culto, e eles compreenderão o que significa ter o penhor do Espírito, porque pela fé aceitaram a Cristo. T6 363 2 A casa de culto poderá ser muito humilde, mas não será por isso menos reconhecida por Deus. Para os que O adoram em espírito, em verdade e na beleza da santidade, será como a porta do Céu. O número de crentes talvez seja relativamente pequeno, mas será muito precioso aos olhos de Deus. Com o cinzel da verdade, foram cortados da pedreira do mundo, e levados para a oficina de Deus, para aí serem burilados e polidos. Mas embora em estado tosco, Ele os considera preciosos. O machado, o martelo e o cinzel da provação são manejados por um Ser perito. E são usados, não para destruir, mas para conseguir a perfeição de cada um. Como pedras preciosas, polidas a fim de servirem num palácio, Deus pretende colocar-nos em Seu templo celestial. T6 363 3 As determinações e concessões de Deus em nosso favor são ilimitadas. O trono da graça exerce os maiores atrativos, pois está ocupado por Aquele que consente em ser por nós chamado Pai. Mas Deus não considerou completo o princípio da salvação, enquanto era representado somente pelo Seu amor. Por isso determinou colocar junto ao Seu altar um Mediador que personificasse nossa natureza. Como nosso Intercessor, Seu ministério consiste em apresentar-nos perante Deus como filhos e filhas. Cristo intercede em favor dos que O recebem e, por virtude de Seus próprios méritos, lhes concede constituírem-se membros da família real, filhos do Rei celestial. E o Pai demonstra para com Cristo, que pagou com sangue o preço de nossa libertação, o Seu infinito amor, aceitando como Seus os amigos dEle. Está satisfeito com a expiação que Cristo efetuou, e é glorificado na vida, morte e mediação de Seu Filho. T6 364 1 Achegando-se ao trono da graça, o filho de Deus se constitui cliente do grande Advogado. À primeira manifestação de arrependimento e desejo de perdão, Cristo defende a causa desse filho como se fosse Sua, intercedendo perante o Pai como se o fizesse por Si próprio. T6 364 2 Enquanto Cristo intercede por nós, o Pai nos oferece os tesouros de Sua graça para que os possuamos, regozijando-nos neles e repartindo-os com outros. "Naquele dia pedireis em Meu nome", disse Jesus, "e não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama; visto como vós Me amastes." Devemos pedir em nome de Cristo. Isso tornará eficaz nossa oração, e o Pai nos distribuirá as riquezas da Sua misericórdia; por isso "pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra". João 16:26, 27, 24. T6 364 3 Deus quer que Seus obedientes filhos reclamem Suas bênçãos e cheguem à Sua presença com louvor e ação de graças. Deus é a fonte de vida e poder. Para os que guardam Seus mandamentos, pode transformar o deserto em campos férteis, porque isso contribui para a glória de Seu nome. Tanto fez a favor de Seu povo escolhido, que cada coração deve encher-se de gratidão; e Sua alma Se entristece quando Lhe oferecemos um louvor mesquinho. Deseja ver da parte de Seu povo uma manifestação mais forte de que reconhece que tem motivos para se alegrar. T6 364 4 O procedimento de Deus com Seu povo deve ser lembrado freqüentemente. Como são freqüentes as provas de Sua providência em relação ao Israel antigo! Para que este não esquecesse a história do passado, Deus ordenou a Moisés que pusesse esses acontecimentos num hino, para que os pais pudessem ensiná-lo aos filhos. Deveriam reunir memórias e conservá-las bem vívidas, para que, quando os filhos perguntassem a respeito, toda a história lhes fosse repetida. Desse modo, o procedimento providencial de Deus para com Seu povo, Sua bondade, misericórdia e cuidado, deveriam ser conservados na lembrança. Somos exortados a lembrar-nos "dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições". Hebreus 10:32. Como um Deus que opera milagres, o Senhor atua em favor de Seu povo nesta geração. A história passada desta causa deve ser repetida muitas vezes ao povo, tanto aos velhos como aos moços. Necessitamos rememorar freqüentemente a bondade do Senhor e louvá-Lo pelas Suas maravilhas. T6 365 1 Embora sejamos exortados a não deixar as nossas reuniões, elas não se destinam somente ao nosso próprio refrigério. Devemos ser mais fervorosos em comunicar a outros as bênçãos que recebemos. É nosso dever zelar pela glória de Deus, evitando dar qualquer mau testemunho, quer pela expressão triste de nosso rosto quer por palavras de desconsideração, como se os reclamos divinos constituíssem restrição à nossa liberdade. Mesmo em meio a aflições, desapontamentos e pecados deste mundo, o Senhor quer que estejamos jubilosos e fortes no Seu poder. Toda a nossa individualidade é chamada a dar bom testemunho a respeito de tudo. Pela fisionomia, temperamento, palavras e caráter, devemos testificar que é bom servir a Deus. Desse modo proclamaremos que "a lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma". Salmos 19:7. T6 365 2 O lado brilhante e deleitável de nossa religião terá sua justa expressão da parte de todos os que diariamente se consagrarem a Deus. Não devemos desonrá-Lo com a narração queixosa de provações que nos foram penosas. As provações que forem encaradas como instrumentos educativos nos darão alegria. A vida religiosa eleva e enobrece, espalhando ao redor o suave perfume das boas palavras e atos. O inimigo alegra-se ao ver pessoas opressas, abatidas, queixosas e tristes. Seu desejo é ver que essas impressões se produzam como que resultantes de nossa fé. Não é a vontade de Deus, porém, que nosso espírito assuma essa atitude. Ele quer que cada alma triunfe pelo poder mantenedor do Redentor. Diz o salmista: "Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao Seu nome, adorai o Senhor na beleza da Sua santidade." Salmos 29:1, 2. "Exaltar-Te-ei, ó Senhor, porque Tu me exaltaste; e não fizeste com que meus inimigos se alegrassem sobre mim. Senhor, meu Deus, clamei a Ti, e Tu me saraste. ... Cantai ao Senhor, vós que sois Seus santos, e celebrai a memória da Sua santidade." Salmos 30:1-4. T6 366 1 A igreja de Deus na Terra é uma com a igreja de Deus no Céu. Os crentes na Terra e os seres celestiais que não pecaram constituem uma só igreja. Cada ser celestial toma interesse nos santos que na Terra se reúnem para adorar a Deus. Os testemunhos dos crentes são ouvidos por eles na corte celestial. O louvor e ações de graças dos adoradores na Terra, repetidos em seus cânticos divinos, repercutem no Céu seu louvor e alegria porque Cristo não morreu em vão pelos caídos filhos de Adão. E, enquanto os anjos participam diretamente do manancial divino, os santos da Terra abeberam-se das correntes de águas puras que fluem do trono, das correntes de águas que alegram a cidade de Deus. Oxalá todos pudessem compreender quão perto estão a Terra e o Céu! Sem que os filhos de Deus na Terra o percebam, anjos de luz se constituem os seus companheiros. Uma testemunha silenciosa atenta para cada pessoa, procurando atraí-La para Cristo. E a menos que o homem, para sua ruína eterna, resista ao Espírito Santo, enquanto houver esperança, será guardado por seres celestiais. Devemos lembrar sempre que, em cada assembléia de crentes na Terra, anjos de Deus estão escutando os testemunhos, hinos e orações. Devemos lembrar que nossos louvores são completados pelos coros de anjos celestiais. T6 367 1 Portanto, ao reunir-nos sábado após sábado, cantemos louvores Àquele que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz. Ao que nos amou e em Seu precioso sangue nos lavou dos pecados, dediquemos a adoração de nossa alma. Seja o amor de Cristo a preocupação dos que pregam a Palavra! Seja ela expressa em linguagem simples em cada hino de louvor! Sejam nossas orações ditadas pelo Espírito de Deus! Ao ser pregada a palavra da vida, testemunhemos de coração que a aceitamos como uma mensagem vinda de Deus. Isso pode parecer antiquado; mas será uma oferta de ação de graças pelo pão da vida proporcionado à alma faminta. Essa resposta à inspiração do Espírito Santo será uma força para a sua própria alma e incentivo a outros. Será de algum modo a evidência de que existem na casa de Deus pedras vivas que emitem luz. T6 367 2 Passando em revista, não os capítulos escuros de nossa existência mas as provas da grande misericórdia e amor indizível de Deus, encontraremos mais motivos para expandir-nos em louvores do que em queixas. Falaremos sobre a terna fidelidade de Deus como o Pastor legítimo, benigno e compassivo de Seu rebanho, acerca do qual Ele mesmo disse que ninguém poderia arrebatar de Suas mãos. Nossa linguagem não se manifestará, então, em murmurações egoístas e descontentamentos, mas em expressões de louvor que brotarão dos lábios dos verdadeiros crentes em Deus como correntes de águas cristalinas. "A bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias." Salmos 23:6. "Guiar-me-ás com o Teu conselho, e depois me receberás em glória. A quem tenho eu no Céu senão a Ti? e na Terra não há quem eu deseje além de Ti." Salmos 73:24, 25. T6 368 1 Por que não fazer ressoar nossa voz em cânticos espirituais enquanto prosseguimos em nossa peregrinação? Por que não voltarmos à simplicidade de fé e vida? O motivo de não nos alegrarmos mais está em que deixamos o primeiro amor. Sejamos, pois, zelosos e arrependamo-nos para que não venha a ser tirado do seu lugar o nosso castiçal. T6 368 2 O templo de Deus no Céu está aberto. Seus umbrais estão inundados da glória que se derrama sobre toda a igreja que ama a Deus e guarda Seus mandamentos. Devemos estudar, meditar e orar. Então nossos olhos alcançarão o interior do templo celestial e compreenderemos os motivos dos cânticos de louvor do coro divino que cerca o trono de Deus. Quando Sião se levantar e brilhar, essa luz será deslumbrante em alto grau, e preciosos cânticos de louvor e ação de graças serão ouvidos nas assembléias dos santos. As murmurações e queixas, a propósito de mesquinharias, cessarão. Quando aplicarmos o precioso colírio a nós oferecido, divisaremos a glória do além. A fé romperá através das sombras de Satanás, e contemplaremos nosso Advogado, oferecendo o incenso de Seus próprios méritos em nosso auxílio. Quando virmos as coisas como são, como o Senhor deseja que as vejamos, seremos cheios do conhecimento da imensidão e sublimidade do amor divino. T6 368 3 Deus ensina que devemos congregar-nos em Sua casa, a fim de cultivar as qualidades do amor perfeito. Com isso, os habitantes da Terra serão habilitados para as moradas celestiais que Cristo foi preparar para os que O amam. Lá no santuário de Deus, reunir-se-ão, então, sábado após sábado e mês a mês para participarem dos mais sublimes cânticos de louvor e ação de graças, entoados em honra dAquele que está assentado no trono e ao Cordeiro, eternamente. ------------------------Capítulo 45 -- Reavivamento da reforma de saúde Obediência às leis físicas T6 369 1 Uma vez que as leis da natureza são leis de Deus, é nosso claro dever prestar a mais cuidadosa atenção a essas leis. Devemos estudar suas exigências em relação a nosso próprio corpo, ajustando-nos a elas. A ignorância nessas coisas é pecado. T6 369 2 "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo?" 1 Coríntios 6:15. "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque tostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Nosso corpo é propriedade adquirida de Cristo, e não devemos sentir-nos em liberdade de fazer com ele o que nos apraz. As pessoas em geral têm procedido assim; têm tratado o seu corpo como se suas leis não previssem penalidade. Por meio do pervertido apetite, seus órgãos e faculdades têm-se tornado debilitados, enfermos e inutilizados. E Satanás usa esses resultados de suas ilusórias tentações para escarnecer de Deus. Ele apresenta diante de Deus o corpo humano que Cristo adquiriu como Sua propriedade; e que deformada representação de seu Criador é o homem! Porque o ser humano pecou contra o corpo, e corrompeu seus caminhos, Deus é desonrado. T6 369 3 Quando homens e mulheres são verdadeiramente convertidos, conscienciosamente consideram as leis da vida que Deus estabeleceu em seu ser, buscando assim evitar debilidade física, mental e moral. A obediência a essas leis deve ser considerada obrigação pessoal. Nós mesmos sofreremos os danos da lei violada. Temos de responder perante Deus por nossos hábitos e práticas. Portanto, o que nos importa perguntar não é: "Que diz o mundo?" mas: "Como eu, que me declaro cristão, trato o organismo que Deus me deu? Trabalharei para o meu mais alto bem material e espiritual, guardando o meu corpo como um templo para a habitação do Espírito Santo, ou vou me dobrar às práticas e idéias do mundo?" T6 370 1 O viver saudável deve se tornar uma preocupação da família. Os pais devem despertar para as responsabilidades que Deus lhes deu. Estudem os princípios da reforma de saúde e ensinem aos filhos que o trilho da abnegação é o único caminho seguro. Pelo desrespeito à lei física, a maioria dos habitantes do mundo está destruindo o seu poder de domínio próprio e se desqualificando para apreciar as realidades eternas. Voluntariamente ignorantes de sua própria estrutura, levam os filhos para a condescendência própria, preparando o caminho para que eles sofram o castigo da transgressão das lei da natureza. Isso não é uma forma sábia de buscar o bem-estar da família. A igreja e a reforma de saúde T6 370 2 Há uma mensagem acerca da reforma de saúde, a qual deve ser apresentada em todas as igrejas. Há uma obra por fazer em cada escola. Nem a um diretor nem a professores a educação dos jovens deve ser confiada antes que possuam um conhecimento prático desse assunto. Alguns têm se sentido na liberdade de criticar e pôr em dúvida os princípios da reforma de saúde, achando defeitos neles, embora pouco conheçam por experiência. Devem colocar-se ombro a ombro, coração a coração, com os que trabalham no rumo certo. T6 370 3 O assunto da reforma de saúde tem sido apresentado nas igrejas; a luz, porém, não tem sido recebida de coração. As condescendências egoístas, destruidoras da saúde, de homens e mulheres, têm anulado a influência da mensagem que deve preparar um povo para o grande dia de Deus. Se as igrejas esperam ter poder, terão de pôr em prática a verdade que Deus lhes deu. Se os membros de nossas igrejas desprezam a luz sobre esse assunto, colherão os resultados, na forma de degeneração espiritual e física. E a influência desses membros da igreja mais idosos contagiará os novos na fé. O Senhor não opera agora para trazer muitas pessoas para a verdade, por causa dos membros da igreja que nunca foram convertidos, e dos que, uma vez convertidos, voltaram atrás. Que influência teriam esses membros não consagrados sobre os novos conversos? Não tornariam sem efeito a mensagem dada por Deus, a qual Seu povo deve apresentar? T6 371 1 Que todos examinem suas práticas pessoais a fim de descobrir se não estão sendo indulgentes com algo que lhes é definitivamente danoso. Que dispensem todo e qualquer prazer não saudável no tocante ao comer e beber. Alguns se dirigem a países distantes em busca de melhor clima. Porém, aonde quer que vão, o estômago lhes cria uma atmosfera maléfica. Acarretam sobre si mesmos sofrimentos que ninguém consegue aliviar. Que eles coloquem suas práticas diárias em harmonia com as leis da natureza; ao viverem do mesmo modo como crêem irão criar em torno de si uma atmosfera que será um cheiro de vida para a vida. T6 371 2 Irmãos, estamos muito distantes do ponto. Muitas coisas que a igreja deveria estar praticando, para ser uma igreja viva, não está. Por intermédio da indulgência com um apetite pervertido, muitos se colocam numa tal condição de saúde, que se estabelece uma constante luta contra os mais elevados interesses da alma. A verdade, embora apresentada em linhas claras, não é aceita. Desejo colocar esse assunto diante de cada membro da igreja. Nossos hábitos precisam ser desenvolvidos segundo a vontade de Deus. É-nos assegurado: "Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar." Filipenses 2:13. Entretanto, o homem necessita fazer a sua parte no controle do apetite e paixão. A vida religiosa requer a ação da mente e do coração em harmonia com as forças divinas. Nenhuma pessoa consegue, por si mesma, a sua salvação, e Deus tampouco realizará essa obra pela pessoa sem a sua cooperação. Todavia, quando o homem atua sinceramente, Deus age com ele, dando-lhe o poder para tornar-se filho de Deus. T6 372 1 Há pessoas que, quando estão falando sobre o assunto de saúde, muitas vezes dizem: "Sabemos muito mais do que praticamos." Não compreendem que são responsáveis por todo raio de luz recebido com respeito ao seu bem-estar físico, sendo cada um de seus atos exposto à inspeção de Deus. A vida física não deve ser tratada com indiferença. Cada órgão e cada fibra do ser devem estar religiosamente protegidos de práticas danosas. Dieta T6 372 2 Nossos hábitos de comer e beber mostram se estamos ou não entre aqueles a quem o Senhor, por Sua poderosa espada da verdade, separou para Si. Esses são Seu povo peculiar, zeloso de boas obras. Deus assim falou em Sua Palavra. No caso de Daniel e seus três companheiros, há sermões quanto à reforma de saúde. Deus falou na história dos filhos de Israel, dos quais, para seu bem, procurou tirar o regime cárneo. T6 372 3 Alimentou-os com o pão do céu; "pão dos anjos comeu o homem." Eles, porém, animaram seu apetite terreno; e quanto mais concentravam os pensamentos nas panelas de carne do Egito, tanto mais aborreciam a comida que Deus lhes deu para conservar a saúde física, mental e moral. Anelaram as panelas de carne, e nisso fizeram justamente como têm feito muitos em nossos dias. T6 372 4 Muitos estão sofrendo, e muitos estão indo para a sepultura, por causa de condescendência com o apetite. Comem o que mais satisfaz ao seu pervertido paladar, enfraquecendo assim os órgãos digestivos e prejudicando sua faculdade de assimilar o alimento que deve sustentar a vida. Isso produz enfermidade aguda e, não raro, segue-se a morte. O delicado organismo do corpo é enfraquecido por práticas suicidas daqueles que têm a obrigação de saber como proceder corretamente. T6 373 1 As igrejas devem ser firmes e fiéis à luz que Deus tem dado. Cada membro deve trabalhar inteligentemente a fim de afastar de sua vida a prática de qualquer apetite pervertido. Extremos na dieta T6 373 2 Bem sei que muitos de nossos irmãos, de coração e na prática, são contrários à reforma de saúde. Não defendo extremos. Mas ao rever meus manuscritos, vi os decididos testemunhos apresentados e as advertências quanto aos perigos que ameaçam nosso povo por imitarem os costumes e práticas dos incrédulos, sendo indulgentes, demonstrando condescendência no apetite e orgulho no vestuário. Meu coração dói e se entristece por causa do estado atual das coisas. Há os que dizem que alguns irmãos têm acentuado demais essas questões. Mas, pelo motivo de alguns talvez terem agido indiscretamente, pressionando em todas as ocasiões em favor de seus sentimentos acerca da reforma de saúde, ousará alguém esconder a verdade sobre esse assunto? Os descrentes em geral vão longe no extremo oposto da condescendência e intemperança no comer e beber; e em conseqüência crescem as práticas inadequadas. T6 373 3 Acham-se agora sob a sombra da morte muitos que se prepararam para fazer uma obra pelo Mestre, mas que não julgaram ter repousado sobre eles a sagrada obrigação de observar as leis da saúde. As leis do organismo físico são realmente leis de Deus; esse fato, porém, parece ter sido esquecido. Alguns têm se limitado a um regime que não pode mantê-los com saúde. Não providenciaram alimento nutritivo em substituição aos artigos prejudiciais e não consideraram que é preciso exercer tato e perícia no preparo do alimento mais saudável. O organismo tem de ser nutrido adequadamente a fim de fazer seu trabalho. É contrário à reforma de saúde, depois de descartar a grande variedade de alimentos insalubres, ir ao extremo oposto, reduzindo a quantidade e a qualidade do alimento a um padrão baixo. Em vez de reforma de saúde, isso é deformação da saúde. Verdadeira temperança T6 374 1 Escreve o apóstolo Paulo: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado." 1 Coríntios 9:24-27. T6 374 2 No mundo existem muitos que condescendem com hábitos perniciosos. O apetite é a lei que os governa; e, por causa de seus hábitos errôneos, o senso moral é embotado, e o poder de discernir as coisas sagradas é em grande parte destruído. Mas é necessário que os cristãos sejam estritamente temperantes. Devem colocar alto a norma. A temperança no comer, beber e vestir é essencial. Deve dominar o princípio, em vez do apetite ou da fantasia. Os que comem demais, ou cujo alimento é de qualidade objetável, são facilmente levados à dissipação, e a "muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína". 1 Timóteo 6:9. Os "cooperadores de Deus" devem usar cada aspecto de sua influência para incentivar a propagação dos princípios da verdadeira temperança. T6 375 1 Significa muito ser fiel a Deus. Ele tem reivindicações sobre todos os que se empenham em Seu serviço. Deseja que espírito e corpo sejam preservados na melhor condição de saúde, cada faculdade e dom sob o controle divino, e que hábitos de estrita temperança os tornem vigorosos. Temos por obrigação consagrar-nos sem reservas a Deus, corpo e alma, considerando todas as faculdades como dons por Ele confiados, para serem empregados em Seu serviço. T6 375 2 Todas as nossas energias e habilidades devem ser constantemente fortalecidas e aperfeiçoadas durante este período de graça. Unicamente os que apreciam esses princípios, e foram educados no sentido de cuidarem de seu corpo inteligentemente e no temor de Deus, devem ser escolhidos para assumir responsabilidades nesta causa. Os que estão na verdade há muito tempo, mas não sabem distinguir entre os princípios de justiça e os princípios do mal, cuja compreensão com respeito à justiça, misericórdia e amor de Deus é obscura, devem ser aliviados de responsabilidades. Toda igreja precisa de um testemunho claro, vigoroso, dando à trombeta o sonido certo. T6 375 3 Se pudermos despertar as sensibilidades morais de nosso povo em relação ao assunto da temperança, alcançaremos uma grande vitória. A temperança em todas as coisas deve ser ensinada e praticada. Temperança no comer, no beber, no dormir e vestir é um dos grandes princípios da vida religiosa. A verdade, introduzida no santuário da alma, dirigirá o tratamento do corpo. Coisa alguma que diga respeito à saúde do ser humano deve ser considerada com indiferença. Nosso bem-estar eterno depende do uso que fizermos, nesta vida, de nosso tempo, força e influência. T6 375 4 Davi declarou: "Porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado." Salmos 139:14. Uma vez que Deus nos concedeu tal habitação, por que não examinar cuidadosamente cada compartimento? A mente e o coração são os mais importantes. Então, em vez de viver no porão da casa, desfrutando de prazeres sensuais e aviltantes, não deveríamos abrir esses belos compartimentos e convidar o Senhor Jesus a entrar e morar conosco? Pastores devem ensinar a reforma de saúde T6 376 1 Nossos pastores devem se tornar entendidos quanto à reforma de saúde. Eles devem compreender as leis que regem a vida física, e sua ação sobre a saúde da mente e a espiritualidade. Milhares e milhares pouco sabem quanto ao maravilhoso corpo que Deus lhes deu, ou o cuidado que ele deve receber. Consideram de mais importância estudar assuntos de menor conseqüência. Os pastores têm uma obra a fazer. Quando eles se colocarem na devida posição a esse respeito, ganharão muito. Devem obedecer às leis da vida em sua maneira de viver e em sua casa, praticando os sãos princípios, e vivendo saudavelmente. Então estarão habilitados a falar acertadamente a esse respeito, levando o povo cada vez mais acima na obra da reforma. Vivendo eles próprios na luz, podem apresentar uma mensagem de grande valor aos que se acham em necessidade desses testemunhos. T6 376 2 Há preciosas bênçãos e ricas experiências a serem alcançadas, se os pastores unirem a apresentação da questão da saúde com todos os seus trabalhos nas igrejas. O povo precisa receber a luz sobre a reforma de saúde. Essa obra tem sido negligenciada, e muitos estão prestes a perecer, por necessitarem da luz que devem e precisam ter para que abandonem a condescendência egoísta. T6 376 3 Os presidentes de nossas Associações devem compreender que é alto tempo de eles tomarem a devida posição quanto a esse assunto. Pastores e professores devem transmitir aos outros a luz que têm recebido. Sua obra é necessária em todos os setores. Deus os ajudará. Ele fortalecerá Seus servos para que fiquem firmes, e não sejam abalados na verdade e justiça para se acomodar à satisfação egoísta. T6 377 1 A obra de educar nos ramos médico-missionários é um grande avanço no despertar os homens quanto a suas responsabilidades morais. Tivessem os pastores lançado mão dessa obra em seus vários departamentos, em harmonia com a luz comunicada por Deus, e teria acontecido a mais decidida reforma no comer, beber e vestir. Mas alguns têm se colocado no caminho da reforma de saúde. Têm segurado o povo para trás por suas observações indiferentes ou condenatórias, ou por gracejos e pilhérias. Eles próprios e muitos outros têm sofrido a ponto de morrer, mas nem todos aprenderam ainda a sabedoria. T6 377 2 Somente por meio de luta ativa é que se tem feito algum progresso. O povo tem sido contrário a negar-se a si mesmo, contrário a render a mente e o querer à vontade de Deus; e em seus próprios sofrimentos, e em sua influência sobre outros, colhe o seguro resultado de tal conduta. T6 377 3 A igreja está fazendo história. Cada dia é uma batalha e uma marcha. Achamo-nos cercados de inimigos invisíveis por todos os lados; e, ou vencemos pela graça que nos é dada por Deus ou somos vencidos. Insisto em que os que estão tomando atitude neutra quanto à reforma de saúde se convertam. Esta luz é preciosa, e o Senhor dá-me a mensagem de instar para que todos os que têm responsabilidades em qualquer ramo da Sua obra cuidem para que ela tenha ascendência no coração e na vida. Unicamente assim alguém pode enfrentar as tentações que há no mundo. T6 378 1 Por que alguns de nossos irmãos pastores manifestam tão pouco interesse na reforma de saúde? É porque as instruções quanto à temperança em todas as coisas se acham em oposição a sua prática de condescendência consigo mesmos. Em alguns lugares, isso tem sido a grande pedra de tropeço que impede o povo de pesquisar, praticar e ensinar a reforma de saúde. Homem algum deve ser separado como mestre do povo enquanto seu ensino ou exemplo contradiz o testemunho que o Senhor deu a Seus servos para apresentar relativamente ao regime, pois isso trará confusão. Sua desconsideração pela reforma de saúde o desqualifica para levantar-se como mensageiro do Senhor. T6 378 2 A luz comunicada pelo Senhor sobre essa questão em Sua Palavra é clara, e os homens serão provados e experimentados de muitos modos, a ver se a atendem. Toda igreja, toda família, necessita ser instruída com referência à temperança cristã. Todos devem saber como comer e beber de maneira a conservar a saúde. Achamo-nos entre as cenas finais da história do mundo; e deve haver ação harmônica nas fileiras dos observadores do sábado. Os que se abstêm da grande obra de instruir o povo sobre essa questão não seguem o caminho que tem por guia o grande Médico. "Se alguém quiser vir após Mim", disse Cristo, "renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. T6 378 3 O Senhor tem me revelado que muitos, muitos serão salvos de degenerescência física, mental e moral por meio da influência prática da reforma de saúde. T6 379 1 Serão realizadas conferências e multiplicadas as publicações sobre a saúde. Seus princípios serão recebidos com agrado e muitos serão iluminados. As influências relacionadas com a reforma de saúde irão recomendá-la ao julgamento de todos os que desejam a luz, e esses avançarão passo a passo para receber as verdades especiais para este tempo. Assim a verdade e a justiça andarão juntas. T6 379 2 A vida é um sagrado encargo que somente Deus pode habilitar-nos a conservar e utilizar para a Sua glória. Entretanto, Aquele que formou a maravilhosa estrutura do organismo atuará com especial cuidado para mantê-lo em ordem, desde que os homens não entrem em rota de colisão com os Seus propósitos. Ele nos ajudará a desenvolver e utilizar cada talento a nós confiado, de acordo com a disposição do Doador. Dias, meses e anos são acrescentados à nossa existência para que possamos aperfeiçoar nossas oportunidades e vantagens, tendo em vista operar nossa salvação individual e, através de um viver desprendido, promovermos o bem-estar de outros. Assim edificaremos o reino de Cristo e tornaremos manifesta a glória de Deus. T6 379 3 O evangelho e a obra médico-missionária têm de avançar juntos. O evangelho precisa estar ligado aos princípios da verdadeira reforma de saúde. O cristianismo tem de ser introduzido na vida prática. Uma obra de reforma, fervorosa e completa precisa ser feita. A verdadeira religião bíblica é uma manifestação do amor de Deus pelo homem caído. O povo de Deus deve avançar em linha reta, para impressionar o coração dos que estão buscando a verdade, que desejam fazer sua parte retamente nesta época intensamente séria. Cumpre-nos apresentar os princípios da reforma de saúde ao povo, fazendo tudo quanto está ao nosso alcance para induzir homens e mulheres a ver a necessidade desses princípios e a praticá-los. ------------------------Capítulo 46 -- A importância da educação da voz T6 380 1 Em todo o nosso trabalho, o cultivo da voz deve merecer mais atenção. Podemos ter conhecimentos, mas a menos que saibamos servir-nos corretamente da voz, nossa obra será um fracasso. Se não soubermos revestir nossas idéias com a linguagem apropriada, de que nos aproveitará a educação? O saber de pouco proveito nos será, a menos que cultivemos o talento da palavra. Ele será, entretanto, um poder maravilhoso, quando unido à capacidade de proferir palavras sábias e edificantes, de maneira a cativar a atenção. T6 380 2 Os estudantes que desejam tornar-se obreiros na causa de Deus devem ser exercitados em falar clara e incisivamente, do contrário serão prejudicados em metade da influência que poderiam exercer para o bem. A habilidade de falar com simplicidade e clareza, em acentos sonoros, é imprescindível em qualquer ramo da obra. Essa qualidade é indispensável aos que desejam tornar-se pastores, evangelistas, obreiros bíblicos ou colportores. Os que pretendem ingressar em qualquer desses ramos de trabalho devem aprender a usar a voz de maneira tal que, ao falarem ao povo acerca da verdade, se produza uma decidida impressão para o bem. A verdade não deve sofrer detrimento por ser enunciada de maneira imperfeita. T6 380 3 O colportor capaz de falar clara e distintamente sobre o livro que deseja vender verá que isso é de grande utilidade em sua obra. Poderá ter oportunidade de ler um capítulo do livro e, mediante a melodia de sua voz e a ênfase que sabe dar às palavras, será capaz de fazer a cena descrita surgir perante a imaginação do ouvinte tão distintamente como se ele em realidade a visse. T6 380 4 Aquele que dá estudos bíblicos na congregação ou a famílias deve ser capaz de ler com voz branda e harmoniosa cadência, de modo a se tornar aprazível aos ouvintes. T6 381 1 Os ministros do evangelho devem saber falar com vigor e expressão, tornando as palavras da vida eterna tão expressivas e impressivas, que os ouvintes não possam deixar de sentir sua força. Sinto-me penalizada ao ouvir a imperfeita enunciação de muitos de nossos pastores. Tais pastores roubam a glória que Deus poderia receber se eles tivessem se exercitado a falar com poder. T6 381 2 Homem algum deverá julgar-se habilitado a entrar para o ministério, enquanto não houver, mediante perseverantes esforços, corrigido todos os defeitos de sua enunciação. Se ele tentar falar ao povo sem conhecer a maneira de usar o talento da palavra, metade de sua influência ficará perdida, pois sua capacidade de prender a atenção de um auditório será pequena. T6 381 3 Seja qual for sua vocação, cada pessoa deve aprender a servir-se da palavra, de maneira que não venha a falar em tom que desperte os piores sentimentos do coração. Demasiadas vezes o que fala e o que ouve falam áspera e bruscamente. Palavras incisivas, autoritárias, proferidas em tom duro e cortante, têm separado amigos e resultado em perda de almas. T6 381 4 Instruções quanto à cultura vocal devem ser dadas no lar. Os pais precisam ensinar os filhos a falarem de modo tão claro que os ouvintes possam entender cada palavra. Devem ainda ensinar-lhes a ler a Bíblia com voz clara a distinta, de modo a honrar a Deus. E que os que se ajoelham em torno do altar de família não coloquem a face entre as mãos, próximo ao assento, quando se dirigem a Deus. Que levantem a cabeça, e em santa reverência se dirijam ao Pai celestial, emitindo as palavras em tons audíveis. T6 381 5 Pais, exercitem-se para falar de modo que sejam uma bênção aos filhos. As mulheres precisam educar-se nesse aspecto. Mesmo as mães ocupadas, se desejarem fazê-lo, poderão cultivar o talento da fala, ensinando ainda seus filhos a ler e falar corretamente. Podem realizar isso enquanto cumprem seus deveres. Nunca é demasiado tarde para nos aperfeiçoarmos. Deus convoca os pais a introduzirem no círculo familiar toda perfeição possível. T6 382 1 Nas reuniões sociais, é necessário haver uma enunciação clara e distinta, a fim de que todos possam ouvir os testemunhos dados e tirem benefícios deles. Quando o povo de Deus relata suas experiências nas reuniões sociais, são removidas dificuldades e auxílio é proporcionado. Mas muitas vezes os testemunhos são expressos mal e indistintamente, tornando impossível compreender o que foi dito. E assim se perde a bênção. T6 382 2 Os que oram e falam devem pronunciar bem as palavras e falar com clareza, em tons distintos. Quando feita no devido modo, a oração é uma força para o bem. É uma das maneiras empregadas pelo Senhor para comunicar ao povo os preciosos tesouros da verdade. Ela não tem se tornado, porém, o que deveria ser, por causa da imperfeição com que é proferida. Satanás alegra-se quando as orações feitas a Deus são quase inaudíveis. Que o povo de Deus aprenda a falar e a orar de maneira a representar devidamente as grandes verdades que possui. Os testemunhos dados e as orações feitas devem ser claros e distintos. Assim Deus será glorificado. T6 382 3 Que cada um faça o máximo possível com o talento da palavra. Deus pede um ministério mais elevado e perfeito. Ele é desonrado pela imperfeita enunciação da pessoa que, mediante laborioso esforço, deveria ter se tornado um aceitável porta-voz Seu. A verdade é muitas vezes prejudicada pelo veículo que a transmite. T6 382 4 O Senhor roga a todos quantos se acham ligados ao Seu serviço que dêem atenção ao cultivo da voz, a fim de poderem falar de maneira clara as grandes e solenes verdades que lhes tem confiado. Que ninguém prejudique a verdade devido a uma locução imperfeita. Não pensem os que têm negligenciado o cultivo do talento da palavra, que se acham qualificados para ser pastores. Falta-lhes obter a faculdade de comunicar as idéias. T6 383 1 Quando falar, faça com que cada palavra seja pronunciada de forma completa, com clareza; cada sentença distinta, do princípio ao fim. Muitos há que, ao se aproximarem do fim da sentença, abaixam o tom da voz, falando tão indistintamente que a força do pensamento fica anulada. As palavras que de algum modo valem a pena ser proferidas merecem ser ditas em voz clara e distinta, com ênfase e expressão. Nunca, no entanto, procure palavras rebuscadas. Quanto maior for a simplicidade, mais bem compreendidas serão suas palavras. T6 383 2 Jovens, de ambos os sexos: Pôs Deus em seu coração o desejo de servi-Lo? Então, por todos os meios, cultivem a voz o máximo possível, de maneira que possam tornar clara a verdade para os outros. Não formem o hábito de orar tão indistintamente e em voz tão baixa, que seja necessário um intérprete para suas orações. Orem com simplicidade, mas clara e distintamente. Deixar a voz baixar tanto que não possa ser ouvida não é demonstração de humildade. T6 383 3 Desejo dizer aos que pretendem servir a Deus como pastores: Façam um resoluto esforço para adquirir locução perfeita. Peçam a Deus que lhes ajude a conseguir esse elevado objetivo. Quando fizerem oração na igreja, lembrem-se de que estão se dirigindo a Deus, e Ele deseja que falem de maneira que todos quantos se acharem presentes possam ouvir e se unir às suas súplicas. Uma prece proferida tão apressadamente que as palavras são confundidas não honra a Deus nem beneficia os ouvintes. Que os pastores e todos os que fazem oração pública aprendam a fazê-lo de maneira que Deus seja glorificado e os ouvintes abençoados. Falem devagar e com clareza, e em tom alto bastante para serem ouvidos por todos, de modo que o povo esteja unido ao dizer o Amém. ------------------------Capítulo 47 -- Dando a Deus o que lhe pertence T6 384 1 O Senhor deu a Seu povo uma mensagem para o tempo presente. Ela se encontra no terceiro capítulo de Malaquias. O Senhor não poderia ter expresso as Suas ordens de modo mais claro e impressivo do que o fez nesse capítulo. T6 384 2 Devemos ponderar que as reivindicações de Deus a nosso respeito são mais importantes do que todas as demais. Ele nos dá com abundância, e o ajuste que fez com o homem é que a décima parte de todos os bens Lhe seja restituída. O Senhor confia liberalmente Seu tesouro a Seus mordomos, mas quanto ao dízimo, diz: "Este Me pertence." Na mesma proporção em que Deus dá ao homem Seus bens, este deve restituir a Deus fielmente a décima parte de todos os seus proventos. Essa instituição foi estabelecida pelo próprio Cristo. T6 384 3 Essa contribuição envolve resultados solenes e eternos, e é demasiadamente sagrada para ser deixada ao arbítrio do homem. Não devemos nos sentir em liberdade para proceder como nos apraz nessa questão. Em obediência às ordens de Deus, devemos separar quantias regulares, santificadas para a obra do Senhor. Primícias T6 384 4 Afora o dízimo, o Senhor requer de nós as primícias de todas as nossas rendas, e isso para que a Sua obra na Terra possa ser amplamente custeada. Os servos do Senhor não devem estar limitados a suprimentos escassos. Seus mensageiros não devem ter as mãos atadas, em seu trabalho de levar as palavras da vida. Ao proclamarem a verdade, devem ter ao seu dispor meios suficientes para promover a obra de tal modo que ela exerça o maior e mais abençoado efeito. Importa fazer obras de caridade e auxiliar os pobres e sofredores. Para esse fim devem ser empregados donativos e ofertas. Essa obra deve ser realizada especialmente em campos novos, onde não foi fincado ainda o estandarte da verdade. Se todo o povo professo de Deus, velhos e moços, cumprisse o seu dever, não haveria carências na casa do Seu tesouro. Se todos devolvessem fielmente seus dízimos e devotassem ao Senhor as primícias de suas entradas, não escasseariam os fundos para a Sua obra. Mas a lei de Deus deixou de ser respeitada ou obedecida, e isso tem gerado carência de recursos. Lembrar-se dos pobres T6 385 1 Toda extravagância deve ser eliminada de nossos hábitos, porque o tempo que nos resta para trabalhar é curto. Por toda parte, ao nosso redor, vemos miséria e sofrimento; famílias em falta do necessário, crianças sem comida. A casa do pobre ressente-se, muitas vezes, da falta de móveis indispensáveis, de colchões e roupa de cama. Muitos vivem em simples casebres, destituídos de conforto. O clamor dos pobres chega aos Céus. Deus vê e ouve. Mas muitos se glorificam a si mesmos. Enquanto seus semelhantes curtem a miséria, passando fome, eles gastam grandes somas com mesa farta, comendo muito mais do que é necessário. Que contas prestarão a Deus do emprego tão egoísta de Seu dinheiro? O que desprezar as provisões que Deus fez no tocante aos pobres finalmente verá que não só roubou ao próximo, como a Deus, dilapidando Sua propriedade. Todas as coisas pertencem a Deus T6 385 2 Todas as coisas que o homem desfruta são devidas à graça de Deus. Ele é o grande e bondoso Despenseiro de todos os benefícios. Seu amor é revelado nas abundantes providências que tomou para o homem. Ele nos concede um tempo de graça em que nos cumpre formar o caráter para a eternidade. Não é porque Ele necessite de algo que nos pede uma parte de nossos bens para Ele. T6 386 1 O Senhor criou cada árvore que havia no jardim do Éden agradável à vista e boa para comer, e permitiu a Adão e Eva que desfrutassem delas livremente. Fez, porém, uma exceção. Da árvore do conhecimento do bem e do mal, não lhes permitiu comer. Essa árvore foi reservada como lembrança constante de que Ele é o legítimo proprietário de todas as coisas. Desse modo lhes deu a oportunidade de Lhe manifestarem sua fé e confiança, em obediência perfeita às Suas ordens. T6 386 2 Dá-se o mesmo com as reivindicações de Deus a nosso respeito. Ele deposita Seus tesouros nas mãos dos homens, porém requer deles que separem fielmente a décima parte para a Sua obra. Ordena que essa porção seja recolhida à casa do Seu tesouro, e a Ele entregue como propriedade Sua. Ela é sagrada e deve ser usada para propósitos santos, para o sustento dos que levam a Sua mensagem ao mundo. Deus Se reserva essa parte para que não faltem recursos em Sua casa, e a luz da verdade possa ser levada a todos os que estão distantes e os que estão perto. Pela obediência fiel a essa ordem, reconhecemos que todas as coisas pertencem ao Senhor. T6 386 3 E porventura o Senhor não terá o direito de requerer isso de nós? Ele não deu Seu Filho unigênito, porque nos amou e quis nos salvar da morte? E não deverão as nossas ofertas de gratidão voltar aos Seus tesouros para que daí sejam tirados os meios de promover a Sua obra na Terra? Se Deus é o legítimo dono de tudo quanto possuímos, não deveria a nossa gratidão levar-nos a dar ofertas voluntárias e de agradecimento, reconhecendo assim Seu direito sobre nossa alma, corpo, espírito e posses? Se os homens houvessem seguido os planos de Deus, a casa do Seu tesouro não teria falta alguma, e haveria fundos suficientes para enviar pastores e obreiros auxiliares a novos campos, a fim de desfraldarem o estandarte nos lugares obscurecidos da Terra. Sem desculpa T6 387 1 É plano de Deus que o homem deva restituir ao Senhor o que Lhe pertence; e ele foi exposto tão claramente, que homens e mulheres não têm desculpa de não entender os deveres e responsabilidades que Deus lhes impôs, ou a eles se esquivar. Os que não querem ver claramente esse dever revelam ao Universo, à igreja e ao mundo que não desejam reconhecer essa ordem tão explícita. Pensam, talvez, que, seguindo o plano de Deus, sofrerão falta de recursos. Na avareza de seu coração egoísta desejam reter tudo -- o capital e juros -- a fim de empregar no interesse próprio. T6 387 2 Deus, pondo a mão sobre as propriedades dos homens, lhes diz: "Sou o Senhor de todo o Universo, e esses bens são Meus. Eu reservei o dízimo que foi retido, para sustento de Meus servos, no seu trabalho de abrir as Escrituras aos que habitam nas regiões das trevas e aos que não entendem a Minha lei. Empregando o Meu fundo de reserva para satisfazer os seus próprios desejos, vocês estão roubando das pessoas a luz que a elas destinei. Dei-lhes uma oportunidade, mas vocês a rejeitaram. Estão Me roubando, subtraindo as Minhas reservas. Por isso, 'com maldição sois amaldiçoados'". Malaquias 3:9. Outra oportunidade T6 387 3 O Senhor é bondoso e longânimo, proporcionando nova oportunidade aos que cometeram esse pecado. "Tornai-vos para Mim", diz Ele, "e Eu tornarei para vós." Dizem, porém, eles: "Em que havemos de tornar?" Malaquias 3:7. Seus meios foram usados pelo homem para fins egoístas, de glorificação própria, como se esses bens lhes pertencessem de fato e não fossem apenas emprestados. Sua consciência se tornou tão insensível que não podem reconhecer a grande impiedade como um obstáculo no caminho para o avanço da verdade. T6 388 1 Homens, míseros mortais, depois de gastar no interesse próprio os meios que Deus reservara para a obra da salvação, a fim de enviar às almas que perecem a mensagem da graça de um amante Salvador, e por seu egoísmo terem impedido que essa obra se fizesse como deveria ser feita, ainda perguntam: "Em que Te roubamos?" Deus responde: "Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação." Todo o mundo está empenhado em roubar a Deus. Os homens dissipam os bens que lhes foram concedidos por empréstimo em divertimentos, prazeres, festanças e na satisfação dos apetites carnais. Mas Deus diz: "Chegar-Me-ei a vós para juízo." Malaquias 3:8, 9, 5. O mundo inteiro terá contas a ajustar naquele dia em que cada um receberá conforme as suas obras. A bênção T6 388 2 Deus Se compromete a abençoar os que obedecem aos Seus mandamentos. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos exércitos." Malaquias 3:10, 11. T6 388 3 À vista de expressões tão claras e cheias de verdade, como ousará o homem negligenciar um dever tão positivo? Como se atreverá a desobedecer, se a obediência a essa ordem implica a bênção de Deus tanto nas coisas materiais como nas espirituais, e se a desobediência equivale à maldição divina? Satanás é o assolador. Deus não pode abençoar quem se recusa a ser mordomo fiel. Tudo o que pode fazer é permitir a Satanás que realize sua obra destruidora. Vemos calamidades de toda espécie e proporções assolarem a Terra, e por quê? Porque o poder regulador de Deus não é exercido. O mundo tem desprezado a Palavra de Deus. Os homens vivem como se Ele não existisse. Da mesma forma que os habitantes do mundo antediluviano, recusam aceitar qualquer idéia de Deus. A impiedade cresce em proporção assustadora, e a Terra está madura para a ceifa. Os queixosos T6 389 1 "As vossas palavras foram agressivas para Mim, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Que temos falado contra Ti? Vós dizeis: Inútil é servir a Deus. Que nos aproveitou termos cuidado em guardar os Seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos exércitos? Ora pois, nós reputamos por bem-aventurados os soberbos; também os que cometem impiedade se edificam; sim, eles tentam ao Senhor, e escapam." Malaquias 3:13-15. Assim murmuram contra Deus os que retiveram o que Lhe pertence. O Senhor os convida a prová-Lo nisto: trazendo todos os dízimos à casa do tesouro, para verem se não lhes derramará uma bênção. Alimentando sentimentos de rebeldia, porém, queixam-se de Deus, ao mesmo tempo que O roubam e dilapidam o que é Seu. Ao ser-lhes apresentado o seu pecado, dizem: Tive contratempos; minha colheita foi mesquinha, ao passo que os ímpios prosperam. Não vale a pena obedecer às determinações de Deus. T6 389 2 Deus, porém, não quer que alguém se conduza queixosamente em Sua presença. Os queixosos são os próprios causadores de sua adversidade. Roubam a Deus, e Sua causa tem lutado com dificuldades porque o dinheiro que deveria entrar para os tesouros do Senhor foi empregado em finalidades egoístas. Recusando-se a executar o plano determinado por Deus, demonstraram sua deslealdade para com Ele. Quando Deus os prosperava e eram convidados a devolver-Lhe o que Lhe é devido, meneavam a cabeça e se negavam a reconhecer esse dever. Fechavam os olhos da compreensão para não ver. Retendo o dinheiro do Senhor, retardaram a obra que Ele determinou fosse feita. Deus deixou de ser honrado com o emprego conveniente que lhes cumpria dar aos bens a eles confiados. Por isso a maldição caiu sobre eles, permitindo Deus que o devorador destruísse os seus frutos e lhes sobreviessem calamidades. "Aqueles que temem ao Senhor" T6 390 1 Em Malaquias 3:16 é mencionada outra classe que se reúne, não para queixar-se de Deus, mas para falar de Sua misericórdia e exaltar Sua glória. Esses se demonstraram fiéis no cumprimento dos seus deveres, dando ao Senhor o que Lhe pertence. Seus testemunhos são motivos de cânticos e alegria entre os anjos celestiais. Eles não têm agravo algum contra Deus. Aqueles que andam na luz, que são fiéis no cumprimento de seu dever, não se queixam nem acusam faltas. Sua conversação consiste em palavras de ânimo, esperança e fé. Só têm motivos de queixa os que servem a si próprios e não dão a Deus o que Lhe pertence. T6 390 2 "Então aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dele, para os que temem ao Senhor, e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve. Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que O não serve." Malaquias 3:16-18. T6 391 1 A recompensa da sincera liberalidade é a mais íntima comunhão do espírito e do coração com o Espírito Santo. T6 391 2 O homem que fracassou nos negócios e está endividado não deve servir-se da parte que pertence ao Senhor, a fim de liquidar seus compromissos. Deve considerar que é provado nisso e que, retendo a parte do Senhor para fins próprios, está roubando a Deus. É devedor a Deus de tudo quanto tem, mas se emprega os fundos reservados do Senhor para saldar dívidas contraídas com seus semelhantes, torna-se um duplo devedor diante dEle. T6 391 3 "Infidelidade para com Deus", é o que se acha escrito junto ao seu nome nos livros do Céu. Por apropriar-se dos recursos do Senhor para seu próprio interesse, tem uma conta para saldar com Deus. E a falta de princípios que mostrou nesse ato indevido vai revelar-se também noutros negócios que empreender. Mostrar-se-á em todos os assuntos relacionados com seus próprios negócios. O homem que rouba a Deus cultiva traços de caráter que o impedirão de ser admitido na família celestial. T6 391 4 O uso egoísta da riqueza prova infidelidade para com Deus e torna o mordomo inapto para gerir bens celestiais. T6 391 5 Por toda parte se oferecem oportunidades de fazer o bem. A cada passo surgem necessidades, e as missões são impedidas de progredir por falta de meios, tendo que ser abandonadas se o povo não despertar para o sentimento da realidade. Não espere até o dia da morte para fazer seu testamento, mas disponha de seus meios enquanto está vivo. ------------------------Capítulo 48 -- Cristo em toda a Bíblia T6 392 1 O poder de Cristo, o Salvador crucificado, para conceder a vida eterna, deve ser apresentado ao povo. Devemos demonstrar-lhes que o Antigo Testamento é tão verdadeiramente o evangelho em sombras e figuras, como o é o Novo em seu poder revelado. O Novo Testamento não apresenta uma religião nova; o Antigo Testamento não apresenta uma religião que deva ser substituída pelo Novo. O Novo Testamento é apenas a seqüência e revelação do Antigo. T6 392 2 Abel cria em Cristo, e foi salvo pelo Seu poder, da mesma forma como o foram Pedro e Paulo. Enoque foi representante de Cristo tal como João o discípulo amado. Enoque andou com Deus, e não se viu mais, porquanto Deus o tomou para Si. A ele foi confiada a mensagem da segunda vinda de Cristo. "Destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos." Judas 14. A mensagem pregada por Enoque e sua trasladação para o Céu foram um argumento convincente para todos os que viviam em seu tempo; foram um argumento que Matusalém e Noé puderam usar com autoridade para demonstrar que os justos podiam ser trasladados. T6 392 3 O Deus que andou com Enoque foi o nosso Deus e Salvador Jesus Cristo. Era a luz do mundo como o é agora. Os que viviam naquela época não estavam sem mestres que os instruíssem na senda da vida; porque Noé e Enoque eram cristãos. Em Levítico, o evangelho é apresentado em preceitos. Hoje, como naqueles dias, é requerida obediência implícita. Como é necessário que compreendamos a importância dessa palavra! T6 392 4 É feita a pergunta: Qual é a causa da escassez existente na igreja? A resposta é: Permitimos que a nossa mente se apartasse da Palavra. Se a Palavra de Deus fosse comida como alimento espiritual; se fosse tratada com respeito e deferência, não haveria necessidade dos muitos e repetidos Testemunhos que são concedidos. As simples declarações das Escrituras seriam aceitas e obedecidas. T6 393 1 Seus vivos princípios são quais folhas da árvore da vida para a cura das nações. T6 393 2 A palavra do Deus vivente não é apenas escrita, é também falada. A Bíblia é a voz de Deus falando-nos, tão certo quanto se a pudéssemos ouvir literalmente. Se compreendêssemos isso, com quanta reverência e santo temor abriríamos a Palavra de Deus, e com quanta sinceridade pesquisaríamos os seus preceitos! A leitura e contemplação das Escrituras deveria ser entendida como uma audiência com o Infinito. T6 393 3 Quando Satanás pressiona a nossa mente com suas sugestões, podemos, se quisermos, repousar sobre um "assim diz o Senhor"; ser introduzidos ao pavilhão secreto do Santíssimo. T6 393 4 Muitos fracassam em imitar nosso sagrado Modelo, em virtude de estudarem tão pouco os traços de Seu caráter. Tantos estão repletos de planos envolventes, estão sempre ativos, de modo que não lhes sobra tempo ou espaço para que Jesus Se torne para eles uma íntima e preciosa companhia. Não remetem a Ele cada pensamento e ação, indagando: "é este o caminho do Senhor?" Se o fizessem, andariam com Deus, como ocorreu com Enoque. ------------------------Capítulo 49 -- Nossa atitude para com as autoridades civis T6 394 1 Alguns irmãos têm escrito e dito muitas coisas que são interpretadas como contrárias ao Governo e à lei. Está errado expor-nos dessa maneira a um mal-entendido geral. Não é procedimento sábio criticar continuamente os atos dos governantes. Não nos compete atacar indivíduos nem instituições. Devemos exercer grande cuidado para não sermos tomados por oponentes das autoridades civis. É certo que a nossa luta é intensiva, mas as nossas armas estão contidas num simples "Assim diz o Senhor". Nossa ocupação consiste em preparar um povo para estar de pé no grande dia de Deus. Não devemos nos desviar para procedimentos que causem polêmica, ou suscitem oposição nos que não são da nossa fé. T6 394 2 Não devemos agir de maneira tal que sejamos tidos como adeptos da traição. Devemos descartar dos nossos escritos e palestras toda expressão que, tomada isoladamente, poderia ser mal-interpretada e tida por contrária à lei e à ordem. Tudo deve ser cuidadosamente pesado para não passarmos por fomentadores de deslealdade à nossa pátria e às suas leis. Não é exigido de nós que desafiemos as autoridades. Virá o tempo em que, por defendermos a verdade bíblica, seremos considerados traidores; mas não apressemos esse momento por meio de procedimento imprudente que desperte animosidade e luta. T6 394 3 Tempo virá em que expressões descuidadas de caráter denunciante, displicentemente proferidas ou escritas por nossos irmãos, serão usadas por nossos inimigos para nos condenarem. Não serão usadas simplesmente para condenar os que as proferiram, mas atribuídas a toda a comunidade adventista. Nossos acusadores dirão que em tal e tal dia um dos nossos homens responsáveis falou assim e assim contra a administração das leis do governo. Muitos ficarão admirados ao ver quantas coisas foram conservadas e lembradas, as quais servirão de prova para os argumentos dos adversários. Muitos se surpreenderão de como foi atribuído às suas palavras um significado diferente do que era a sua intenção. Sejam nossos obreiros cuidadosos no falar, em todo tempo e sob quaisquer circunstâncias. Estejam todos precavidos para que, por meio de expressões imprudentes, não tragam sobre si um tempo de angústia antes da grande crise que provará os seres humanos. T6 395 1 Quanto menos recriminações diretas fizermos às autoridades e governantes, melhor trabalho seremos capazes de realizar, tanto nos Estados Unidos como em países estrangeiros. As nações estrangeiras seguirão o seu exemplo. Embora ela seja a líder, a mesma crise atingirá todo o nosso povo em toda parte do mundo. T6 395 2 Nossa ocupação é engrandecer e exaltar a lei de Deus. A verdade da santa Palavra de Deus deve ser divulgada. Devemos apresentar as Escrituras como norma de vida. Com toda a modéstia, no espírito da graça, no amor de Deus, devemos apontar aos homens que o Senhor Deus é o Criador dos céus e da Terra, e que o sétimo dia é o sábado do Senhor. T6 395 3 Em nome do Senhor devemos avançar, desfraldando o Seu estandarte, defendendo a Sua Palavra. Quando as autoridades nos ordenarem que não façamos esse trabalho; quando nos proibirem de proclamar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, então será preciso que digamos, como o fizeram os apóstolos: "Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido." Atos dos Apóstolos 4:19, 20. T6 396 1 A verdade deve ser proclamada com o poder do Espírito Santo. Somente isso pode tornar eficazes as palavras. Unicamente através do poder do Espírito a vitória pode ser alcançada e mantida. O agente humano precisa ser influenciado pelo Espírito de Deus. Por meio da fé na salvação, os obreiros devem ser guardados pelo poder de Deus. Eles devem ter visão divina, para que não seja proferida coisa alguma que incite os homens a nos barrar o caminho. Pela assimilação da verdade espiritual, devemos preparar um povo para, com mansidão e temor, expor a razão da sua fé perante as mais altas autoridades de nosso mundo. T6 396 2 Devemos apresentar a verdade em sua simplicidade, pregar em favor da piedade prática; e fazê-lo no espírito de Cristo. A manifestação de semelhante espírito exercerá sobre nossa própria vida, a melhor das influências e, sobre outros, um poder convincente. Basta dar ao Senhor a oportunidade de atuar por meio de Seus próprios agentes. Nem dá para imaginar o que será possível realizar no futuro, caso façamos com que todos reconheçam que, em todo o tempo e sob quaisquer circunstâncias, Deus está ao leme. Ele agirá por meios adequados, Ele guardará, aumentará e fortalecerá o Seu povo. T6 396 3 Os agentes de Deus devem ter zelo santificado, que esteja inteiramente sob o Seu domínio. Tempos tempestuosos nos sobrevirão de forma inesperada, e não devemos agir espontaneamente para apressá-los. Sobrevirão tribulações de espécie tal que encaminharão para Deus todos os que desejam ser Seus, e somente Seus. Sem que sejamos provados na fornalha da provação, não nos conhecemos, e não se justifica que julguemos o caráter de outros nem condenemos os que ainda não receberam a luz da mensagem do terceiro anjo. T6 397 1 Se quisermos que os homens sejam convencidos de que a verdade que cremos santifica a alma e transforma o caráter, não estejamos continuamente lançando veementes acusações sobre eles. Se o fizermos, vamos obrigá-los a deduzir que a doutrina que professamos não pode ser cristã, pois não nos torna bondosos, corteses e respeitosos. O cristianismo não se exterioriza em acusações violentas e condenação. T6 397 2 Muitos dentre o nosso povo estão em perigo de tentar exercer domínio sobre outros, e pressão sobre os seus colegas. Existe o perigo de aqueles a quem são confiadas responsabilidades só reconhecerem um poder -- o da vontade não santificada. Alguns têm exercido esse poder de maneira inescrupulosa, e causado grande abatimento naqueles a quem o Senhor está usando. Uma das maiores maldições do mundo (vista por toda parte, na igreja e na sociedade) é o desejo de supremacia. Os homens se tornam ansiosos por acumular poder e popularidade. Para nossa desolação e vergonha, esse espírito tem se manifestado nas fileiras dos observadores do sábado. Mas o êxito espiritual advém somente aos que aprenderam a mansidão e a humildade, na escola de Cristo. T6 397 3 Devemos lembrar que o mundo nos julgará pelo que aparentamos ser. Que os que buscam representar a Cristo exerçam o cuidado de não exibir traços incoerentes de caráter. Antes de assumirmos um lugar definido na linha de frente, certifiquemo-nos de que o Espírito Santo nos tenha sido outorgado lá dos altos Céus. Quando isso acontecer, pregaremos uma mensagem definida, que será, porém, de espécie muito menos condenatória do que a de alguns; e os que crerem terão muito mais interesse na salvação de nossos oponentes. Deixemos inteiramente com Deus o assunto de condenar as autoridades e governos. Com humildade e amor, defendamos, como sentinelas fiéis, os princípios da verdade tal como é em Jesus. Amor entre os irmãos T6 398 1 As características que mais intensamente precisam ser acariciadas pelo povo que guarda os mandamentos de Deus, são: paciência e longanimidade, paz e amor. Quando falta o amor, observa-se uma perda irrecuperável, pois as pessoas são afastadas da verdade, mesmo depois de estarem em ligação com a causa de Deus. Nossos irmãos em posição de responsabilidade, que possuem força para influenciar, devem lembrar-se das palavras do apóstolo Paulo, proferidas sob a direção do Espírito Santo: "Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam." Romanos 15:1-3. Uma vez mais, diz ele: "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo." Gálatas 6:1, 2. T6 398 2 Conservem em mente que é a obra da restauração que deve constituir o nosso fardo. Tal obra não deve ser realizada de modo orgulhoso, impositivo, autoritário. Que suas maneiras jamais digam: "tenho o poder, vou utilizá-lo", passando a lançar acusações sobre o errante. Façam a obra de restauração "com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado." Gálatas 6:1. A obra que devemos realizar em favor de nossos irmãos não é jogá-los para o lado, não é conduzi-los ao desencorajamento e desespero, dizendo: "Você me desapontou, de modo que não mais tentarei ajudá-lo." Aquele que posiciona a si mesmo como cheio de sabedoria e força, e critica aquele que se sente oprimido, angustiado e suspirando por auxílio, manifesta o espírito dos fariseus, e se enrosca nas vestes de sua pretensa dignidade. Intimamente, tal pessoa agradece a Deus porque não é como os demais homens, e supõe que sua forma de agir é digna de louvor, e que, por ser tão forte, está além do alcance da tentação. Ocorre que "se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo." Gálatas 6:3. Tal pessoa se encontra em constante perigo. Quem ignora as graves necessidades de seu irmão, será colocado pela providência divina no mesmo caminho de provação e tristeza que o irmão trilhou; e, através de amarga experiência, lhe será demonstrado que ele é tão desajudado e necessitado quanto aquele sofredor pelo qual ele antes sentia repulsa. "Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. T6 399 1 "Se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai a minha alegria, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus." Filipenses 2:1-5. T6 399 2 Quanto mais perto nos mantivermos de Cristo, quanto mais meigos, amáveis e desprovidos do eu formos, mais firmemente nos apegaremos a Jesus e maior será o nosso poder para, através dEle, converter os pecadores, pois não é o agente humano quem comove a alma. Inteligências celestiais cooperam com o agente humano, imprimindo a verdade no coração. Se permanecermos em Cristo, seremos capacitados a influenciar outros; mas isso ocorre por causa da presença daquele que diz: "eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. O poder de que dispomos para triunfar sobre Satanás é o resultado de Cristo operando em nós o querer e o efetuar de acordo com Sua boa vontade. Apresentação da verdade com espírito bondoso T6 400 1 A verdade deve ser apresentada com tato divino, gentileza e brandura. Deve provir de um coração enternecido e que tenha simpatia. Necessitamos de íntima comunhão com Deus, do contrário o eu se erguerá, como ocorreu com Jeú, e logo proferiremos uma torrente de palavras inadequadas, que não serão como o orvalho, ou como os suaves chuveiros que fazem reviver as plantas ressequidas. Sejam nossas palavras delicadas ao procurarmos conquistar almas. Deus será sabedoria para aquele que busca sabedoria de uma fonte divina. Devemos procurar oportunidades em toda parte; devemos vigiar em oração e estar sempre prontos para dar a razão da esperança que há em nós, com mansidão e temor. Para que não causemos uma impressão desfavorável numa pessoa por quem Cristo morreu, devemos manter o coração unido a Deus, de modo que quando surgir a oportunidade tenhamos as palavras certas para serem proferidas no tempo certo. Se assim empreendermos a obra para Deus, o Espírito será nosso ajudador. O Espírito Santo aplicará à alma a palavra proferida com amor. A verdade terá poder vivificante ao ser proferida sob a influência da graça de Cristo. T6 400 2 O plano de Deus deve chegar primeiro ao coração. Falemos a verdade, e deixemos que Ele leve avante o poder e o princípio reformadores. Não façamos alusão ao que dizem os oponentes, mas deixemos que só a verdade seja promovida. A verdade pode penetrar até a medula. Desdobremos claramente a Palavra em toda a sua impressiva natureza. T6 400 3 À medida que as aflições se adensam ao nosso redor, serão vistas em nossas fileiras tanto separação como unidade. Alguns que agora estão dispostos a pegar nas armas da peleja, em ocasiões de verdadeiro perigo tornarão manifesto que não edificaram sobre a sólida rocha, pois cairão em tentação. Os que tiveram grande luz e preciosos privilégios, mas não os aproveitaram, irão, sob um pretexto ou outro, retirar-se de nosso meio. T6 401 1 Não tendo recebido o amor da verdade, eles serão induzidos aos enganos do inimigo; darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, e se afastarão da fé. Por outro lado, quando a tempestade da perseguição realmente irromper sobre nós, as ovelhas genuínas ouvirão a voz do verdadeiro Pastor. Serão feitos esforços abnegados para salvar os perdidos, e muitos que se desviaram do aprisco retornarão para seguir o grande Pastor. O povo de Deus se unirá e apresentará ao inimigo uma frente unida. Diante do perigo comum, cessará a luta pela supremacia; não haverá disputas sobre quem será considerado o maior. Nenhum dos crentes genuínos dirá: "Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas." 1 Coríntios 1:12. O testemunho de cada um e de todos será: "E me apego a Cristo; regozijo-me nEle como meu Salvador pessoal." T6 401 2 Assim será a verdade introduzida na vida prática, de modo que seja respondida a oração de Cristo, pronunciada justamente antes de Sua humilhação e morte: "para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:21. O amor de Cristo e o amor de nossos irmãos testificarão para o mundo que temos estado com Jesus e aprendido dEle. Então a mensagem do terceiro anjo se transformará num alto clamor e toda a Terra se iluminará com a glória do Senhor. T6 401 3 Nossas convicções necessitam ser diariamente reforçadas por meio de humilde e sincera prece, e leitura da Palavra. Ao mesmo tempo que cada um de nós tem sua individualidade, e que cada um precisa sustentar firmemente suas convicções, temos de conservá-las como a verdade de Deus e na força que Ele outorga. Se não o fizermos, serão arrancadas de nosso contato. ------------------------Capítulo 50 -- A palavra de Deus é suprema T6 402 1 O povo de Deus deve reconhecer o governo humano como uma instituição divina, de modo que ensinará obediência às autoridades como sendo um sagrado dever, em sua legítima esfera. Entretanto, quando as suas pretensões entram em conflito com os reclamos de Deus, a Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda e qualquer legislação humana. O "assim diz o Senhor" não pode ser posto de lado, ou trocado por um "assim diz a Igreja ou o Estado." A coroa de Cristo deve ser erguida acima dos diademas de potestades terrestres. T6 402 2 O princípio que devemos defender neste tempo é o mesmo que foi mantido pelos adeptos do evangelho na grande Reforma. Quando os príncipes se reuniram na Dieta de Espira, em 1529, parecia que a esperança do mundo estava por extinguir-se. Nessa assembléia, foi apresentado o decreto do imperador, restringindo a liberdade religiosa e proibindo qualquer disseminação adicional das doutrinas reformadas. Aceitariam os príncipes alemães o decreto? Deveria a luz do evangelho ser escondida de multidões que ainda se encontravam em trevas? Assuntos vitais para o mundo achavam-se em debate. Aqueles que haviam aceitado a fé reformada, reuniram-se e unanimemente decidiram: "Rejeitemos o decreto. Em assuntos de consciência, o poder da maioria não deve imperar." T6 402 3 A bandeira da verdade e da liberdade religiosa, erguida tão destacadamente por aqueles reformadores, nos foi confiada neste último conflito. A responsabilidade por esse grande presente repousa sobre aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra. Temos de recebê-la como a autoridade suprema. Devemos aceitar suas verdades. Poderemos apreciar essas verdades tão-somente se as pesquisarmos por intermédio de estudo pessoal. Então, ao tornarmos a Palavra de Deus o guia de nossa vida, estará sendo respondida a oração de Cristo em nosso favor: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. O reconhecimento da verdade em palavras e ações é a nossa confissão de fé. Somente assim outros saberão que acreditamos na Bíblia. T6 403 1 Os reformadores, cujo protesto nos deixou como herança o nome "protestantes", sentiam que Deus os chamara para apresentarem o evangelho ao mundo, e assim se dispuseram a sacrificar posses, a liberdade e até mesmo a vida. Somos nós, neste último conflito da grande controvérsia, tão fiéis a nosso legado quanto o foram os reformadores ao seu? T6 403 2 Mesmo enfrentando perseguição e morte, eles divulgaram a verdade para aquele tempo em todos os lugares. A Palavra de Deus foi levada ao povo; todas as classes, baixas e altas, ricas e pobres, ilustradas e ignorantes, estudaram-na com avidez, e os que receberam a luz também se tornaram seus mensageiros. Naqueles dias, a verdade foi levada aos lares, às pessoas, por meio da página impressa. A pena de Lutero era uma força, e seus escritos, disseminados largamente, agitaram o mundo. Os mesmos instrumentos se acham à nossa disposição, com recursos cem vezes maiores. Bíblias e publicações em muitas línguas, apresentando a verdade para este tempo, acham-se ao nosso alcance, e podem ser rapidamente levadas a todo o mundo. Cumpre-nos dar a última advertência de Deus aos homens. Temos que ser diligentes no estudo da Bíblia e zelosos em difundir a luz! ------------------------Capítulo 51 -- Preparação para a crise final T6 404 1 A grande crise está justamente diante de nós. Para enfrentar suas provas e tentações, e cumprir suas injunções, será necessária fé perseverante. Contudo, podemos triunfar esplendidamente; nenhuma alma vigilante, que ore e creia, será enlaçada pelo inimigo. T6 404 2 No tempo de prova que está perante nós, a promessa divina de segurança será cumprida em relação aos que guardaram a palavra da Sua paciência. Cristo dirá aos que Lhe forem fiéis: "Vai pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira." Isaías 26:20. O Leão de Judá, tão terrível com os que Lhe rejeitam a graça, será o Cordeiro de Deus para os obedientes e fiéis. A coluna de nuvem, que representa ira e terror para o transgressor da lei de Deus, é luz, misericórdia e livramento para os que guardam os Seus mandamentos. O braço enérgico para ferir os rebeldes será forte para libertar os leais. Todos quantos forem fiéis serão ajuntados. "E Ele enviará os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus." Mateus 24:31. T6 404 3 Irmãos, a quem as verdades da Palavra de Deus foram desvendadas, que parte vocês desempenharão nas cenas finais da história deste mundo? Estarão despertos para essas solenes realidades? Reconhecerão a grande obra de preparação que prossegue no Céu e na Terra? Que todos os que receberam a luz, que tiveram a oportunidade de ler e escutar a profecia, atentem para as coisas que nela estão escritas; "porque o tempo está próximo". Apocalipse 1:3. Ninguém condescenda com o pecado, fonte de toda miséria em nosso mundo. Não é bom continuar em letargia e néscia indiferença. Que não fique o destino da alma pendente da incerteza. Tenhamos a certeza de estar inteiramente do lado do Senhor. Façam os corações sinceros e os lábios trementes a pergunta: "Quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:17. Estamos nós, nestas últimas preciosas horas de graça empregando o melhor material na formação do nosso caráter? Temos purificado o coração de toda mancha? Estamos seguindo a luz? Temos obras que equivalem à nossa profissão de fé? T6 405 1 Está atuando em nós a influência suavizante e subjugante da graça de Deus? Possuímos um coração que sente, olhos que vêem, ouvidos que ouvem? Terá sido em vão a declaração da verdade eterna às nações da Terra? Elas estão sob condenação, preparando-se para os juízos divinos; e, neste dia, repleto de resultados eternos, o povo escolhido para ser depositário de importantes verdades deve estar ligado a Cristo. Estamos fazendo a nossa luz brilhar para iluminar as nações que perecem em seus pecados? Reconhecemos que devemos sair em defesa dos mandamentos de Deus, perante aqueles que os pisoteiam? T6 405 2 É possível ser um crente parcial, formal, e contudo ser achado em falta e perder a vida eterna. É possível praticar alguns dos preceitos bíblicos, e ser considerado cristão, e ainda, pela falta das qualificações essenciais ao caráter cristão, perecer. Quem negligencia ou trata com indiferença as advertências divinas, quem acaricia ou desculpa o pecado, está selando o destino de sua alma. Seremos pesados na balança e achados em falta. Graça, paz e perdão serão retirados para sempre; Jesus terá passado para nunca mais voltar ao alcance das nossas orações e súplicas. Enquanto se prolonga a misericórdia, enquanto o Salvador está fazendo intercessão, façamos uma preparação completa para a eternidade. T6 406 1 A volta de Cristo ao nosso mundo ocorrerá dentro de pouco tempo. Seja essa a ênfase de cada mensagem. T6 406 2 A bem-aventurada esperança do segundo advento de Cristo, com suas solenes realidades, precisa ser repetidamente apresentada ao povo. A espera do breve aparecimento de nosso Senhor nos levará a considerar as coisas da Terra como nulas e sem importância. T6 406 3 Logo ocorrerá a batalha do Armagedom. Aquele em cujas vestes está escrito o título "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apocalipse 19:16) deverá, dentro em breve, comandar os exércitos do Céu. Não poderá ser dito agora pelos servos do Senhor, como o foi pelo profeta Daniel: "Uma guerra prolongada." Daniel 10:1. Falta pouco tempo para que as testemunhas de Deus façam o seu trabalho de preparação do caminho para o Senhor. T6 406 4 Devemos desfazer-nos dos nossos planos acanhados, egoístas, lembrando que temos um trabalho da maior magnitude e da mais elevada importância. Ao realizar esse trabalho, estamos fazendo soar a primeira, segunda e terceira mensagens angélicas e, assim, sendo preparados para a vinda do outro anjo celestial que com sua glória iluminará o mundo. T6 406 5 A passos furtivos aproxima-se o dia do Senhor; mas os homens supostamente grandes e sábios não conhecem os sinais da vinda de Cristo e do fim do mundo. Prevalece a iniqüidade, e o amor de muitos esfriou. T6 406 6 Milhares e milhares, milhões e milhões estão fazendo agora sua decisão para a vida ou morte eternas. O homem inteiramente absorto no seu escritório, o que se deleita na mesa do jogo, o que ama o apetite pervertido e com ele condescende, o amante de diversões, os freqüentadores de teatros e salões de baile põem a eternidade fora das suas cogitações. Toda a preocupação da sua vida é: O que vamos comer? O que vamos beber? Como nos vestiremos? esses não compõem o grupo que se encaminha para o Céu. São guiados pelo grande apóstata, e com ele serão destruídos. T6 407 1 A menos que compreendamos a importância dos momentos que rapidamente se escoam para a eternidade, e nos preparemos para enfrentar o grande dia de Deus, seremos mordomos infiéis. O vigia deve saber que horas são da noite. Tudo está agora revestido de uma solenidade tal que deve ser reconhecida por todos quantos crêem na verdade para este tempo. Devem proceder em conformidade com o dia de Deus. Os juízos divinos estão prestes a cair sobre o mundo, e precisamos nos preparar para esse grande dia. T6 407 2 Nosso tempo é precioso. Não temos senão poucos, pouquíssimos dias de graça para nos prepararmos para a vida futura, imortal. Não dispomos de tempo para desperdiçar com movimentos negligentes. Devemos ter medo de ser superficiais em relação à Palavra de Deus. T6 407 3 Tanto é verdade agora como quando Cristo esteve na Terra, que cada incursão feita pelo evangelho nos domínios do inimigo é enfrentada com tenaz oposição por seus vastos exércitos. O conflito que está para acometer-nos será o mais terrível já testemunhado. Mas embora Satanás seja representado como sendo tão forte como o mais forte homem armado, sua derrota será completa, e cada pessoa que a ele se une na escolha da apostasia, em vez da lealdade, perecerá com ele. T6 408 1 O refreador Espírito de Deus está sendo agora mesmo retirado da Terra. Furacões, tormentas, tempestades, incêndios, inundações, desastres em terra e mar, seguem-se um ao outro em rápida seqüência. A ciência busca uma explicação para tudo isso. Os sinais que se avolumam em torno de nós, prenunciando a manifestação do Filho de Deus, são atribuídos a qualquer outra causa que não a verdadeira. Os homens não discernem as sentinelas angélicas que retêm os quatro ventos, para que não soprem até que os filhos de Deus estejam selados. Mas quando Deus mandar que Seus anjos soltem os ventos, haverá uma tal cena de luta que nenhuma pena pode descrever. T6 408 2 Para os que estão indiferentes neste tempo, a advertência de Cristo é: "Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca." Apocalipse 3:16. A figura de vomitar de Sua boca significa que Ele não pode oferecer suas orações ou expressões de amor a Deus. Não pode aprovar de modo algum sua forma de ensinar a Palavra de Deus ou o seu trabalho espiritual. Não pode apresentar seus serviços religiosos com o pedido de que a graça lhes seja concedida. T6 408 3 Caso a cortina pudesse ser erguida, poderíamos discernir os propósitos de Deus e os juízos que estão prestes a vir sobre o mundo condenado. Se pudéssemos ver nossa própria atitude, temeríamos e tremeríamos por nossa salvação e pela de nossos semelhantes. Fervorosas orações e angústia de coração quebrantado seriam elevadas ao Céu. Choraríamos entre o pórtico e o altar, confessando a nossa cegueira e rebeldia espirituais. T6 408 4 "Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, proclamai um dia de proibição. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva, do seu tálamo. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa o teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio." Joel 2:15-17. T6 409 1 "Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus; porque Ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-Se, e grande em beneficência e Se arrepende do mal. Quem sabe se Se voltará, e Se arrependerá, e deixará após Si uma bênção, em oferta de manjar e libação para o Senhor, vosso Deus?" Joel 2:12-14. T6 409 2 Depois da apostasia e amarga retribuição de Israel, a mensagem divina de graça ao povo arrependido foi: "Portanto, eis que Eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E lhe darei as suas vinhas dali e o vale de Acor, por porta de esperança; e ali cantará, como nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito." Oséias 2:14-15. T6 409 3 "E acontecerá naquele dia, diz o Senhor, que Me chamarás: Meu marido e não Me chamarás mais: Meu Baal... E desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás o Senhor." Oséias 2:16-20. T6 409 4 "E vós sabereis que Eu estou no meio de Israel e que Eu sou o Senhor, vosso Deus, e ninguém mais; e o Meu povo não será envergonhado para sempre." Joel 2:27. T6 410 1 Advertências, admoestações, promessas, tudo nos pertence, a nós para quem já são chegados os fins dos tempos. "Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios." 1 Tessalonicenses 5:6. T6 410 2 "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia." Lucas 21:34. T6 410 3 "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Marcos 14:38. Vigiemos contra a furtiva aproximação do inimigo, contra os hábitos antigos e inclinações naturais, pois do contrário eles se firmarão; forcemo-lo a recuar, e vigiemos. Vigiemos os pensamentos, os planos, para que não se centralizem no eu. Vigiemos sobre as almas que Cristo comprou com o Seu sangue. Vigiemos cada oportunidade de lhes fazer o bem. T6 410 4 Vigiai "para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo." Marcos 13:36. T6 410 5 "Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por Nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. ------------------------Capítulo 52 -- Jovens no ministério T6 411 1 Não deve haver amesquinhamento do ministério evangélico. Nenhum empreendimento deve ser dirigido de maneira a dar a impressão de ser o ministério da palavra um ramo inferior. Não é assim. Os que amesquinham o ministério estão menosprezando o próprio Cristo. A mais elevada de todas as obras é o ministério em seus vários ramos, e deve ser conservado no espírito dos jovens que não existe obra mais abençoada por Deus que a do ministério evangélico. T6 411 2 Não sejam nossos moços dissuadidos de entrar no ministério. Há perigo de que, mediante ardorosas sugestões, alguns sejam desviados do caminho em que Deus os convida a andar. Pessoas que deveriam estar se preparando para o ministério têm sido estimuladas a fazer outros cursos. O Senhor convida mais obreiros a trabalharem em Sua vinha. Foram proferidas as palavras: "Fortalecei os postos avançados; tende fiéis sentinelas em todas as partes do mundo." Deus chama os jovens. Ele pede exércitos inteiros de moços de coração grande e espírito aberto, e que possuam um profundo amor por Cristo e a verdade. T6 411 3 A capacidade para aprender é de importância muito menor do que o espírito com o qual a pessoa se envolve no trabalho. Não é de homens importantes e instruídos que o ministério necessita, nem de eloqüentes oradores. Deus convoca homens que desejam entregar-se a Ele, a fim de serem cheios de Seu Espírito. A causa de Cristo e a humanidade demandam homens santificados, que se neguem e si mesmos, que sejam capazes de avançar sem o apoio da retaguarda, não temendo as dificuldades. Sejam eles fortes e valentes, aptos para empreendimentos que valham a pena, e que façam um concerto de sacrifício com Deus. T6 412 1 O ministério não é lugar para ociosos. Os servos de Deus devem dar plena prova de seu chamado. Não devem ser preguiçosos, mas, como expositores da Palavra, devem aplicar as melhores energias a fim de serem encontrados fiéis. Jamais devem deixar de ser aprendizes. Devem manter sua própria alma desperta para a santidade da obra e a grande responsabilidade de seu chamado, a fim de que jamais apresentem algum sacrifício mutilado, uma oferta que não lhes tenha custado estudo e oração. O Senhor necessita de homens de intensa vida espiritual. Cada obreiro pode receber uma dotação de poder do alto, avançando pela fé e esperança no caminho que Deus lhe indica a trilhar. A Palavra de Deus permanece no obreiro jovem e consagrado. Ele é ágil, sincero e poderoso, possuindo sua infalível fonte de suprimento no conselho de Deus. T6 412 2 Deus chamou este povo para entregar ao mundo a mensagem da breve volta de Cristo. Temos de levar aos homens o último convite para a festa do evangelho, o último convite para a ceia das bodas do Cordeiro. Milhares de locais que ainda não ouviram o chamado precisam recebê-lo. Muitos que ainda não anunciaram a mensagem necessitam proclamá-la. Apelo uma vez mais aos nossos jovens: porventura não chamou Deus a vocês para anunciar esta mensagem? T6 412 3 Quantos de nossos jovens entrarão para o serviço de Deus, não a fim de serem servidos, e sim para servir? Em tempos passados houve aqueles que fixaram sua mente em alma após alma, dizendo: "Senhor, ajuda-me a salvar esta pessoa." Agora, porém, tais casos são raros. Quantos agem de uma forma que se permita concluir que compreenderam o perigo dos pecadores? Quantos tomam aqueles que sabem estar em perigo, apresentando-os a Deus em oração, suplicando-Lhe que os salve? T6 413 1 O apóstolo Paulo pôde dizer da igreja primitiva: "E glorificavam a Deus a respeito de mim." Gálatas 1:24. Não lutaremos nós por viver de tal modo que essas palavras possam ser ditas a nosso respeito? O Senhor proverá caminhos e meios para aqueles que O buscarem de todo o coração. Deseja que reconheçamos a supervisão divina demonstrada no preparo dos campos de trabalho e na preparação do caminho para que esses lugares possam ser ocupados com êxito. T6 413 2 Que os ministros e evangelistas tenham mais períodos de sincera oração com aqueles que estão convencidos da verdade. Lembrem-se de que Cristo está sempre com vocês. O Senhor tem em prontidão as mais preciosas exibições de Sua graça, com vistas ao fortalecimento e estímulo do obreiro humilde e sincero. Reflitam então para os outros a luz que Deus fez incidir sobre vocês. Os que assim procedem trazem ao Senhor a mais preciosa oferenda. O coração daqueles que apresentam as boas-novas da salvação, acha-se iluminado com o espírito de louvor. T6 413 3 "Isto diz Aquele que tem na Sua destra as sete estrelas." Apocalipse 2:1. T6 413 4 As doces influências que devem ser abundantes na igreja acham-se vinculadas aos ministros de Deus, os quais devem representar o precioso amor de Cristo. As estrelas do céu acham-se sob o controle de Cristo. Ele as enche de luz. Dirige os seus movimentos. Não o fizesse Ele, elas se tornariam estrelas cadentes. O mesmo ocorre com Seus ministros. São apenas instrumentos em Sua mão, e todo bem que realizam, fazem-no por Seu poder. Por intermédio deles a luz divina deve brilhar. É para a honra de Cristo que Ele torna os ministros, através da operação do Espírito Santo, uma bênção maior para a igreja do que o são as estrelas para o mundo. O Salvador deve constituir a suficiência deles. Se O olharem como Ele o fazia em relação ao Pai, realizarão as Suas obras. Tornando-se dependentes de Deus, Ele fará incidir sobre eles a Sua glória, para que a irradiem ao mundo. T6 414 1 Lembrem-se aqueles que são como estrelas na mão de Cristo, de que necessitam manter sempre uma sagrada dignidade. São os representantes de Cristo. Simplicidade em Cristo é a pura e sagrada dignidade da verdade. T6 414 2 Os servos de Deus devem pregar a Sua Palavra ao mundo. Sob a operação do Espírito Santo, serão como estrelas na mão de Cristo, para brilhar com o Seu fulgor. Que todos os que desejam ser ministros de Cristo levantem-se e brilhem, pois é chegada a Sua luz e a glória do Senhor está sobre eles. Compreendam que Jesus espera que eles realizem a mesma obra que Ele efetuou. Deixem as igrejas que conhecem a verdade e busquem estabelecer novas igrejas, com o fim de apresentar a palavra da verdade àqueles que ainda ignoram a divina mensagem de advertência. T6 414 3 O número de obreiros no ministério não deve diminuir, mas aumentar grandemente. Onde agora existe um ministro no campo de trabalho, devem ser acrescentados vinte; e se o Espírito de Deus os controlar, esses vinte apresentarão a verdade de tal modo que outros vinte serão agregados. T6 414 4 A dignidade e atributos de Cristo Lhe permitem impor as condições que Ele desejar. Seus seguidores devem se tornar uma força cada vez maior na proclamação da verdade, à medida que se aproximarem da perfeição da fé e do amor para com seus irmãos. Deus tem provido auxílio para todas as emergências às quais nossos recursos humanos não podem fazer face. Ele concede Seu Espírito Santo para ajudar em toda dificuldade, fortalecer nossa esperança e certeza, para iluminar nosso espírito e purificar nosso coração. Sua intenção é que nos sejam proporcionados suficientes recursos para o desenvolvimento de Seus planos. Peço-lhes que busquem o conselho de Deus. Busquem-nO de todo o coração, e "fazei tudo quanto Ele vos disser". João 2:5. T6 415 1 O Senhor não chamou jovens para trabalhar nas igrejas. Não são eles convidados a falar a audiências que não necessitam de seu trabalho imaturo, e que estão bem conscientes de não sentir, sob a ministração desses jovens, a atração do Espírito Santo. Que homens jovens, habilidosos, sejam vinculados a obreiros experientes no grande campo de colheita. Muitos serão bem-sucedidos se iniciarem na colportagem, e forem depois aproveitando as oportunidades a eles concedidas no ministério evangélico. T6 415 2 Mas que ninguém se torne a sombra de outro homem. Que não sejam meras máquinas, prontas e executar determinadas tarefas sob as ordens humanas. Nenhum sermão deve ser planejado para esses jovens pregarem. Deixem que eles sejam ensinados por Deus através do Espírito Santo. Que busquem auxílio por intermédio da oração e do diligente estudo da Palavra de Deus. Se assim procederem, Aquele que os chamou ao ministério evangélico tornará evidente que eles constituem vasos escolhidos. Ele lhes dará as palavras que proferirão diante do povo. T6 415 3 Seu primeiro dever é aprender, nas várias atividades, as lições do grande Mestre. Existe uma motivação colocada diante de todos, na Palavra de Deus -- ser semelhantes àquele que "andou fazendo o bem." Atos dos Apóstolos 10:38. T6 416 1 Cristo diz: "Se alguém Me serve, siga-Me." João 12:26. Que os obreiros, ao estudarem a vida de Cristo, aprendam o modo como Ele viveu e trabalhou. Que lutem diariamente para viver a Sua vida. T6 416 2 Prossigam, jovens, em conhecer ao Senhor, e saberão que "como a alva será a Sua saída". Oséias 6:3. Procurem desenvolver-se continuamente. Façam um esforço fervoroso por manter estreitas relações com o Redentor. Vivam em Cristo pela fé. Façam a obra que Ele fazia. Vivam para a salvação das almas por quem Ele deu a vida. Busquem ajudar por todos os meios aqueles com quem entrarem em contato. Esforcem-se continuamente para melhorar. Que a vida de vocês preencha as palavras: "Tu, pelos Teus mandamentos, me fazes mais sábio que meus inimigos." Salmos 119:98. T6 416 3 Conversem com o Irmão mais velho, o qual completará sua educação, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali. Uma íntima ligação com Aquele que Se ofereceu em sacrifício para salvar um mundo a perecer os tornará obreiros aceitáveis. Quando vocês colocarem a mão na verdade e dela se apropriarem, quando puderem de fato de dizer: "Meu Senhor e meu Deus", a graça, a paz e a alegria, na maior proporção, inundarão sua vida. T6 416 4 A palavra do Senhor é: abram novos campos e acrescentem novos obreiros. Eduquem jovens para o trabalho, sem hesitar. Eduquem, eduquem, eduquem. T6 416 5 "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna, para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem." João 4:35-36. ------------------------Capítulo 53 -- A igreja e o ministério T6 417 1 É alto tempo de que os membros de nossas igrejas façam decididos esforços para sustentar os homens que proclamam ao mundo a última mensagem de misericórdia. Que os membros da igreja, numa manifestação de religiosidade prática, apóiem a mensagem de advertência que está sendo levada ao mundo pelos mensageiros de Deus. As pessoas inteligentes estão alarmadas ante as perspectivas existentes no mundo. Se os que possuem conhecimento da verdade praticarem os princípios bíblicos, mostrando que foram santificados pela verdade, e são verdadeiros seguidores do manso e humilde Salvador, exercerão influência que ganhará pessoas para Cristo. T6 417 2 Qualquer coisa menos do que o serviço ativo e fervoroso em favor do Mestre desmente a nossa profissão de fé. Unicamente o cristianismo que se revela por meio de trabalho sincero e prático impressionará os que estão mortos em ofensas e pecados. Cristãos de oração, humildes e crentes, que por seus atos mostrem que o seu maior desejo é comunicar a verdade salvadora, colherão frutos abundantes para o Mestre. T6 417 3 Precisamos quebrar a monotonia de nossa atividade religiosa. Estamos fazendo um trabalho no mundo, mas não demonstramos suficiente atividade e zelo. Se fôssemos mais zelosos, as pessoas seriam convencidas quanto à veracidade da nossa mensagem. A timidez e monotonia no serviço que prestamos a Deus repele muitas pessoas da classe mais elevada, que querem ver zelo mais profundo, sincero e santificado. A religião formal não atenderá às necessidades da época presente. É possível praticarmos todos os atos exteriores de culto, e ainda assim estarmos destituídos da influência vivificante do Espírito Santo, como os montes de Gilboa estavam carentes do orvalho e da chuva. Todos necessitamos do orvalho espiritual, bem como dos brilhantes raios do Sol da Justiça, para nos suavizar e subjugar o coração. Devemos estar sempre firmados nos princípios, como uma rocha. Os princípios bíblicos devem ser ensinados e também apoiados por uma prática santificada. T6 418 1 Os que se empenham no serviço de Deus precisam mostrar ânimo e determinação no trabalho de ganhar almas. Lembrem-se de que muitos perecerão, a menos que nós, como instrumentos de Deus, trabalhemos com uma determinação que nunca falhe nem esmoreça. O trono da graça deve ser o nosso contínuo apoio. T6 418 2 Não existe desculpa para que a fé de nossas igrejas seja tão vacilante e fraca. "Voltai à fortaleza, ó presos de esperança." Zacarias 9:12. Há energia para nós em Cristo. Ele é o nosso Advogado perante o Pai. Ele envia a todas as partes do Seu domínio os Seus mensageiros para comunicarem Sua vontade ao Seu povo. Anda no meio de Suas igrejas. Quer santificar, elevar e enobrecer os Seus seguidores. A influência dos que verdadeiramente nEle crêem será um cheiro de vida no mundo. Ele tem à Sua destra as estrelas, com o propósito de que, por intermédio delas, a Sua luz irradie para o mundo. Assim pretende preparar Seu povo para o mais elevado serviço na igreja do Céu. Ele nos incumbiu de realizar uma grande tarefa. Façamo-la com exatidão e determinação. Mostremos em nossa vida o que a verdade tem feito por nós. T6 418 3 "Aquele ... que anda no meio dos sete castiçais de ouro." Apocalipse 2:1. Esse texto mostra a ligação de Cristo com as igrejas. Em todo o comprimento e largura da Terra, Ele anda no meio das Suas igrejas. Observa-as com interesse intenso a fim de ver se, espiritualmente, estão em condição tal que possam apressar o estabelecimento do Seu reino. Cristo está presente em cada reunião da igreja. Conhece pessoalmente cada pessoa que toma parte nos cultos. Conhece aqueles cujo coração Ele pode encher do óleo santo, para o repartirem com outros. Os que fielmente levam avante a obra de Cristo em nosso mundo, exemplificando por palavras e atos o caráter de Deus, cumprindo o propósito do Senhor para com eles, são muito preciosos à Sua vista. Cristo Se compraz neles, como alguém se deleita num jardim bem cuidado e na fragrância das flores que plantou. T6 419 1 Tem custado abnegação, sacrifício, esforço e muita oração para colocar os vários empreendimentos missionários no nível em que agora estão. Existe o perigo de que alguns dos que agora entram em atividade se conformem sendo ineficientes, pensando que agora não há tanta necessidade de abnegação e diligência, tanto trabalho difícil e desagradável, como o experimentaram os pioneiros desta mensagem; que os tempos são outros; e que, visto haver agora mais recursos na causa de Deus, não há necessidade de se submeterem às provações a que muitos se sujeitaram no início deste movimento. T6 419 2 Porém, se a mesma diligência e abnegação fossem manifestas na fase atual da obra, como o foi no seu início, realizaríamos cem vezes mais do que agora fazemos. T6 419 3 Se quisermos que a obra prossiga no elevado plano de ação com que iniciou, não deve haver desvio dos recursos morais. Impõe-se que se faça continuamente novo suprimento de energia moral. Se os obreiros iniciantes pensarem que podem diminuir os seus esforços, que a abnegação e a economia estrita, não apenas de meios mas também de tempo, não são necessárias agora, a obra regredirá. Os obreiros atuais devem possuir o mesmo grau de religiosidade, esforço e perseverança que os nossos pioneiros possuíam. T6 420 1 A obra avançou de maneira tal que abrange agora um território vasto, e aumentou o número dos crentes. Ainda existe grande deficiência, uma vez que um trabalho maior poderia ter sido realizado se tivesse imperado o mesmo espírito missionário dos primeiros tempos. Sem esse espírito, o obreiro somente maculará e desfigurará a causa de Deus. A obra está realmente regredindo em vez de avançar como Deus pretendia que ocorresse. O nosso número presente e a extensão da nossa obra não têm comparação com o que foram inicialmente. Devemos ponderar o que poderia ter sido feito se cada obreiro consagrasse a Deus alma, corpo e espírito, como deveria fazer. T6 420 2 Nossas igrejas devem cooperar na obra de cultivar o solo espiritual, com a esperança de colher aqui e ali. Há muita perversidade a ser enfrentada, muito bloqueio de planos santos e consagrado esforço, em virtude do coração malvado e descrente. Mas a obra necessita ser realizada. O solo é rebelde, mas precisa ser cultivado e as sementes da justiça devem ser lançadas. Não fiquem parados, instrutores a quem Deus ama, como estando em dúvida quanto a prosseguir num trabalho que crescerá à medida que seja realizado. Não fracassem, nem se sintam desencorajados. Os que semeiam em lágrimas colherão com alegria. "Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:9. Lembrem-se de jamais confiar em si mesmos. T6 420 3 Devemos orar como nunca. Não somente para que sejam enviados obreiros à grande seara, mas também para que tenhamos concepção clara da verdade, de tal forma que, quando vierem os mensageiros da verdade, aceitemos a mensagem e respeitemos o mensageiro. ------------------------Capítulo 54 -- Atividades missionárias nacionais Lições da igreja de Éfeso T6 421 1 A Testemunha Fiel Se dirige à igreja de Éfeso, dizendo: "Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:4, 5. T6 421 2 A princípio, a igreja de Éfeso era caracterizada por simplicidade e fervor iguais aos de uma criança. Manifestava-se amor sincero, vivo e ardente a Cristo. Os crentes rejubilavam-se no amor de Deus, porque Cristo estava continuamente presente em seu coração. Tinham nos lábios o louvor de Deus, e sua manifestação de reconhecimento estava em conformidade com o da família celestial. T6 421 3 O mundo reconhecia que aqueles crentes haviam estado com Jesus. Os pecadores, arrependidos, perdoados, purificados e santificados eram postos em associação com Deus por meio de Seu Filho. Os crentes desejavam insistentemente receber toda Palavra de Deus e a ela obedecer. Cheios de amor ao Redentor, buscavam como seu mais elevado objetivo levar pecadores a Ele. Não pensavam em reter o precioso tesouro da graça de Cristo. Sentiam a importância de sua vocação e, sob o peso da mensagem de "paz na Terra e boa vontade para com os homens", desejavam intensamente proclamar as boas-novas até nos mais remotos confins da Terra. T6 421 4 Os membros da igreja estavam unidos em sentimento e ação. O amor de Cristo era a corrente áurea que os vinculava entre si. Prosseguiam conhecendo o Senhor em perfeição cada vez maior e revelavam em sua vida alegria conforto e paz. Visitavam os órfãos e as viúvas em suas tribulações e mantinham-se incontaminados do mundo. Consideravam que não fazer isso era o mesmo que contradizer sua profissão de fé e negar o Redentor. T6 422 1 Em cada cidade, a obra era levada avante. Pessoas eram convertidas, as quais, por sua vez, sentiam o dever de transmitir a outras o inestimável tesouro. Não tinham sossego até que os raios de luz que lhes haviam iluminado a mente resplandecessem sobre outros. Multidões de incrédulos familiarizavam-se com a razão da esperança cristã. Faziam-se calorosos e inspirados apelos pessoais aos pecadores e errantes, aos desprezados e aos que, embora professassem conhecer a verdade, eram mais amantes dos prazeres do que de Deus. T6 422 2 Depois de algum tempo, porém, o zelo dos crentes, seu amor a Deus e de uns para com os outros, começou a minguar. A frieza penetrou na igreja. Surgiram divergências, e os olhos de muitos deixaram de contemplar a Jesus, como Autor e Consumador da fé. As multidões que poderiam ter sido convencidas e convertidas pela prática fiel da verdade foram deixadas sem advertência. Foi então que a Fiel Testemunha dirigiu Sua mensagem à igreja de Éfeso. Seu desinteresse pela salvação dos semelhantes demonstrava que havia perdido o primeiro amor; porque ninguém pode amar a Deus de todo o coração, espírito e alma, e com todas as forças, sem amar as pessoas por quem Cristo morreu. Deus os convidou a arrependerem-se e tornarem às primeiras obras, para não lhes ser tirado do seu lugar o seu castiçal. T6 422 3 Não estamos vendo repetida na igreja desta geração a experiência da igreja de Éfeso? Como está a igreja usando hoje o conhecimento da verdade recebida de Deus? Quando os seus membros viram pela primeira vez a indizível misericórdia divina para com a humanidade caída, não puderam se calar. Estavam cheios de ânimo e do desejo de cooperar com Deus em transmitir a outros as bênçãos que eles mesmos haviam recebido. Dando, também recebiam continuamente. Cresciam na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Qual a condição de hoje? T6 423 1 Irmãos e irmãs, os que presumem que já conhecem a verdade há muito tempo, pergunto individualmente: Está a sua prática em conformidade com a luz, os privilégios e oportunidades concedidos pelo Céu? Essa é uma pergunta importante. O Sol da Justiça nasceu para a igreja, e a sua obrigação é resplandecer. Cada pessoa tem o privilégio de progredir. Os que estão unidos a Cristo crescerão na graça e no conhecimento do Filho de Deus, até alcançar a estatura completa de homens e mulheres. Se todos quantos professam crer na verdade tivessem aproveitado bem as suas aptidões e oportunidades de aprender e praticar, teriam se tornado fortes em Cristo. Não importa a sua ocupação -- lavradores, mecânicos, professores ou pastores -- se tivessem se consagrado inteiramente a Deus, poderiam ter se tornado obreiros eficientes do Mestre celestial. T6 423 2 Que fazem, porém, os membros da igreja, para que possam ser chamados "cooperadores de Deus"? 1 Coríntios 3:9. Onde vemos o "trabalho da sua alma"? Isaías 53:11. Onde vemos os membros da igreja absortos em assuntos religiosos, submissos à vontade de Deus? Onde vemos os cristãos sentindo sua responsabilidade de tornar a igreja próspera, bem animada e resplandecente? Onde estão os que não restringem nem medem o seu trabalho de amor para o Mestre? Nosso Redentor deve ver "o trabalho de Sua alma" e ficar satisfeito; que acontecerá com os que professam segui-Lo? Ficarão satisfeitos ao verem o fruto de suas atividades? T6 423 3 Por que há tão pouca fé, tão pouco poder espiritual? Por que são tão poucos os que levam o jugo e a carga de Cristo? Por que é necessário apelar às pessoas para empreenderem sua obra em favor de Cristo? Por que são tão poucos os que podem revelar os mistérios da redenção? Por que a imputada justiça de Cristo não resplandece como luz para o mundo, por meio dos que professam segui-Lo? O resultado da inatividade T6 424 1 Quando os homens usarem as suas faculdades como Deus o indica, seus talentos aumentarão, sua capacidade será ampliada, e terão visão celestial ao buscarem salvar os perdidos. Mas enquanto os membros da igreja forem indiferentes e descuidosos para com a responsabilidade que Deus lhes confiou para comunicar a outros, como podem esperar receber o tesouro celestial? Quando os que professam ser cristãos não sentem a preocupação de iluminar os que estão em trevas, quando deixam de comunicar graça e conhecimento, tornam-se menos capazes de discernir, perdem o apreço pelas riquezas dos dons celestiais; e, deixando de valorizá-los para si mesmos, deixam de sentir a necessidade de apresentá-los a outros. T6 424 2 Vemos grandes igrejas sendo estabelecidas em diferentes lugares. Seus membros receberam o conhecimento da verdade, e muitos se contentam com ouvir a Palavra da Vida sem transmitir a luz a outros. Sentem pouca responsabilidade pelo progresso da Obra, pouco interesse na salvação de almas. Estão cheios de zelo por coisas profanas, mas não entretecem a religião nos seus negócios. Dizem: "Religião é religião, e negócio é negócio." Crêem que cada uma dessas coisas tem a sua esfera própria, como se dissessem: "Fiquem separadas." T6 424 3 Por motivo dessas oportunidades desprezadas e do abuso dos privilégios, os membros dessas igrejas não estão crescendo "na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo". 2 Pedro 3:18. Portanto, são débeis na fé, deficientes no conhecimento e meninos na experiência. Não estão arraigados nem firmados na verdade. Se permanecerem nesse estado, os muitos enganos dos últimos dias certamente os seduzirão; porque não terão visão espiritual para distinguir a verdade do erro. T6 425 1 Deus deu aos Seus pastores a mensagem da verdade para que a proclamem. As igrejas devem recebê-la e, por todo meio possível, comunicá-la, assimilando os primeiros raios de luz e os difundindo. Nosso grande pecado consiste em não fazer isso. Estamos anos atrasados. Os pastores têm procurado o tesouro escondido, abriram o cofre, deixando refulgir as jóias da verdade; mas os membros da igreja não têm feito a centésima parte do que Deus requer deles. Que podemos esperar senão retrocesso na vida religiosa, se o povo ouve sermão após sermão, e não põe em prática as instruções? Se não for usada, a capacidade que Deus confere degenera-se. Mais do que isso, quando as igrejas estão entregues à inatividade, Satanás trata de lhes prover ocupação. Ele ocupa o campo, alista os membros em atividades que absorvem as suas energias, destroem a espiritualidade e fazem com que se tornem um peso morto na igreja. T6 425 2 Há pessoas entre nós que, se tomassem tempo para observar, considerariam sua posição indolente como um descuido pecaminoso dos talentos que Deus lhes conferiu. Irmãos e irmãs, o Redentor e todos os santos anjos estão entristecidos com sua dureza de coração. Cristo deu a própria vida para salvar as pessoas e, não obstante, vocês, que provaram o amor de Cristo, pouco esforço estão fazendo para partilhar as bênçãos de Sua graça com aqueles por quem Ele morreu. Semelhante indiferença e negligência do dever assombra os anjos. No juízo terão de encontrar-se com as pessoas de quem se descuidaram agora. Naquele grande dia, vocês se sentirão culpados e condenados. Que o Senhor os induza agora ao arrependimento e perdoe ao Seu povo o ter negligenciado a obra que Ele lhe deu para fazer em Sua vinha. T6 426 1 "Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:5. T6 426 2 Oh! como são poucos os que conhecem o tempo de seu julgamento! Oh! quão poucos, mesmo entre os que afirmam crer na verdade presente, compreendem os sinais dos tempos, ou o que havemos de experimentar antes do fim! Estamos hoje sob a indulgência divina; mas por quanto tempo continuarão os anjos de Deus retendo os ventos para que não soprem? T6 426 3 Apesar da indizível misericórdia divina para conosco, como são poucos, em nossas igrejas, os verdadeiramente humildes, consagrados, servos de Cristo tementes a Deus! Como são poucos os corações repletos de gratidão e reconhecimento por terem sido honrados e chamados para desempenhar uma parte na Obra de Deus, sendo co-participantes dos sofrimentos de Cristo! T6 426 4 Muitíssimos dos que hoje compõem nossas congregações estão mortos em ofensas e pecados. Vão e vêm como a porta sobre seus gonzos. Durante anos, escutaram complacentemente as verdades mais solenes e comovedoras, mas não as puseram em prática. Portanto, são cada vez mais insensíveis à preciosidade da verdade. Os testemunhos comovedores de reprovação e admoestação não os movem ao arrependimento. As mais suaves melodias de origem divina, vindas através de lábios humanos -- a justificação pela fé e a justiça de Cristo -- não lhes arrancam uma manifestação de amor e gratidão. Embora o Mercador celestial lhes exiba as jóias mais preciosas da fé e do amor, ainda que os convide para dEle comprar o "ouro refinado no fogo" (Apocalipse 3:18), "vestidos brancos" para que se vistam, e "colírio" para que vejam, endurecem o coração contra Ele e deixam de trocar a sua mornidão pelo amor e o zelo. Embora professem piedade, negam-lhe o poder. Se continuarem nesse estado, Deus os repudiará. Estão-se incapacitando para ser membros de Sua família. Converter pessoas deve ser o alvo máximo T6 427 1 Não devemos julgar que a obra do evangelho dependa principalmente do pastor. O Senhor deu uma obra para cada um fazer em relação com o Seu reino. Cada um dos que professam o nome de Cristo deve ser obreiro zeloso e desinteressado, decidido a defender os princípios da justiça. Cada pessoa deve desempenhar parte ativa para fomentar a causa de Deus. Qualquer que seja a nossa vocação, como cristãos, temos uma obra a fazer -- tornar Cristo conhecido do mundo. Devemos ser missionários que tenham como alvo principal converter pessoas para Cristo. T6 427 2 Deus confiou à Sua igreja a obra de difundir a luz e disseminar a mensagem do Seu amor. Nossa ocupação não consiste em condenar nem denunciar, mas em atrair juntamente com Cristo, rogando aos homens que se reconciliem com Deus. Devemos animar as pessoas, atraí-las, e assim ganhá-las para o Salvador. Se não tivermos esse interesse, se recusarmos a Deus o serviço de nosso coração e vida, estamos roubando-Lhe influência, tempo, dinheiro e esforço. Deixando de beneficiar nossos semelhantes, roubamos a Deus a glória que fluiria para Ele por meio da conversão de pessoas. Comecemos pelos mais próximos T6 427 3 Alguns que, durante longo tempo professaram ser cristãos mas não sentiram responsabilidade pela salvação das pessoas que perecem, na sua vizinhança, pensam, talvez, que têm uma obra para fazer em países estrangeiros. Mas onde está a prova de serem idôneos para essa obra? De que modo manifestaram preocupação pelas almas? Essas pessoas precisam primeiramente ser ensinadas e disciplinadas em sua própria casa. A verdadeira fé e amor a Cristo criariam nelas o desejo ardente de salvar almas em sua própria vizinhança. Exerceriam toda energia espiritual para trabalhar com Cristo, aprendendo dEle a mansidão e humildade. Então, se Deus quisesse que fossem para países estrangeiros, estariam preparadas. T6 428 1 Os que desejam trabalhar para Deus devem começar em sua própria família, na vizinhança, entre os amigos. Encontrarão ali um bom campo de trabalho. Essa obra missionária é uma prova, que lhes revela a capacidade ou inabilidade para servir numa esfera mais ampla. O exemplo de Filipe com Natanael T6 428 2 O caso de Filipe e Natanael é um exemplo da verdadeira obra missionária. Filipe vira Jesus e convencera-se de que era o Messias. Em seu júbilo, queria que também os seus amigos conhecessem as boas-novas. Queria que a verdade que lhe comunicara tanto conforto fosse compartilhada por Natanael. A verdadeira graça no coração sempre revelará a sua presença, difundindo-se. Filipe saiu em busca de Natanael e, ao chamá-lo, Natanael lhe respondeu de seu lugar de oração, debaixo da figueira. Natanael não tivera o privilégio de escutar as palavras de Jesus, mas estava sendo atraído para Ele em espírito. Anelava receber luz e estava nesse momento sinceramente orando por ela. Filipe exclamou, alegremente: "Havemos achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré." João 1:45. A convite de Filipe, Natanael buscou e achou o Salvador, e por sua vez associou-se à obra de ganhar almas para Cristo. T6 428 3 Um dos meios mais eficazes de comunicar a luz é o trabalho pessoal, individual. No círculo familiar, no lar do vizinho, à cabeceira do doente, de maneira tranqüila podemos ler as Escrituras e falar acerca de Jesus e da verdade. Estaremos, assim, lançando a preciosa semente que germinará e produzirá fruto. A família como campo missionário T6 429 1 Nossa obra para Cristo deve começar com a família, no lar. A instrução da juventude deve ser de espécie diversa da que foi ministrada no passado. Sua felicidade exige muito mais trabalho do que o que lhe foi dedicado antes. Não existe campo missionário mais importante do que esse. Por preceito e exemplo devem os pais ensinar os filhos a trabalharem pelos não convertidos. As crianças devem ser educadas de tal maneira que simpatizem com os idosos e enfermos, e desejem aliviar os sofrimentos dos pobres e oprimidos. Deve-se-lhes ensinar a serem diligentes no trabalho missionário; e, desde tenra idade, inculcar-lhes a abnegação, o sacrifício pelo bem dos outros e o progresso da causa de Cristo, para que possam ser colaboradores de Deus. T6 429 2 Mas se alguma vez tiverem de aprender a fazer trabalho missionário verdadeiro em favor dos demais, devem eles aprender primeiramente a trabalhar pelos que estão em casa e têm direito natural ao seu serviço de amor. Cada criança deve ser ensinada a desempenhar sua parte no trabalho de casa. Ela nunca deveria envergonhar-se de empregar as mãos para cooperar nos afazeres domésticos, nem os pés para levar recados. Estando assim ocupada, não enveredará pelos caminhos da negligência e pecado. Quantas horas as crianças e os jovens desperdiçam, as quais poderiam empregar levando sobre seus fortes ombros parte dos encargos domésticos, manifestando assim amoroso interesse por seus pais! Devem também ser firmados nos verdadeiros princípios da reforma pró-saúde e no cuidado do corpo. T6 429 3 Que os pais considerem isso com oração e cuidado pela felicidade eterna de seus filhos! Perguntem eles: Fomos nós negligentes? Descuidamos dessa obra solene? Permitimos que nossos filhos chegassem a ser joguetes das tentações de Satanás? Não temos que prestar conta solene a Deus por havermos permitido que nossos filhos empreguem seus talentos, tempo e influência para proceder contra a verdade, contra Cristo? Não descuidamos nosso dever de pais, aumentando o número dos súditos do reino de Satanás? T6 430 1 Muitos descuidaram vergonhosamente desse campo do lar, e é tempo de lançar mão dos recursos e remédios divinos para corrigir esse mal. Que desculpas podem apresentar os que professam seguir a Cristo, para o seu descuido de ensinar os filhos a trabalharem para Ele? T6 430 2 Deus pretende que as famílias da Terra sejam um símbolo da família do Céu. Os lares cristãos, estabelecidos e mantidos conforme o plano de Deus, contam-se entre os Seus meios mais eficazes para a formação do caráter cristão e para o avanço de Sua Obra. T6 430 3 Se os pais desejam ver em sua família um resultado diferente, consagrem-se inteiramente a Deus eles mesmos, e cooperem com Ele na obra por cujo meio se possa realizar uma transformação em sua família. T6 430 4 Quando nossa própria casa for o que deve ser, não deixaremos que nossos filhos cresçam na ociosidade e indiferença para com os reclamos de Deus em favor dos necessitados que os rodeiam. Como herança do Senhor, estarão habilitados para empreender a obra onde estão. Desses lares resplandecerá uma luz que se revelará em favor dos ignorantes, levando-os à fonte de todo o conhecimento. Exercerão influência poderosa em prol de Deus e de Sua verdade. Instruir a igreja na atividade missionária T6 431 1 "Guarda, que houve de noite?" Isaías 21:11. Estão as sentinelas a quem essa pergunta é feita em condição de fazer soar o toque certo da trombeta? Estão os pastores cuidando fielmente do rebanho pelo qual são responsáveis? Estão os ministros de Deus cuidando das pessoas, compreendendo que os que estão sob seu cuidado foram comprados pelo sangue de Cristo? Grande obra tem que ser feita no mundo, e que esforços estamos fazendo para realizá-la? Os crentes têm ouvido demasiados sermões; mas foram ensinados a trabalhar por aqueles por quem Cristo morreu? Planejou-se uma espécie de trabalho, que lhes tenha sido apresentado de maneira tal que cada um tenha visto a necessidade de participar da obra? T6 431 2 É evidente que todos os sermões pregados não produziram grande colheita de obreiros abnegados. Devemos considerar que esse assunto envolve os mais importantes resultados. Está em jogo o nosso destino eterno. As igrejas estão definhando porque os seus talentos não foram empregados para difundir a luz. Devem ser dadas instruções cuidadosas, que serão como lições do Mestre, para que todos pratiquem a luz recebida. Os que têm a supervisão das igrejas, devem escolher membros capazes e confiar-lhes responsabilidades, dando-lhes ao mesmo tempo instruções quanto a como melhor servir e beneficiar outros. T6 431 3 Todo meio deve ser usado para apresentar a verdade aos milhares que discernirão as evidências e apreciarão a semelhança de Cristo em Seu povo, se tiverem a oportunidade de vê-la. Utilize-se a reunião missionária para ensinar o povo a fazer trabalho missionário. Deus espera que Sua igreja discipline e prepare seus membros para a tarefa de iluminar o mundo. Devemos instruir centenas de pessoas a investir e multiplicar seus valiosos talentos. Pelo uso desses talentos, revelar-se-ão homens que estarão capacitados para ocupar posições de confiança e influência, e manter princípios puros e incontaminados. Assim, faremos uma grande obra para o Mestre. Colocar os membros da igreja para trabalhar T6 432 1 Muitos que possuem verdadeira capacidade estão se enferrujando na inação por não saberem como trabalhar em ramos missionários. Quem for habilitado apresente a esses inativos o ramo de trabalho que poderiam fazer. Estabeleçam-se pequenas missões em muitos lugares, para ensinar homens e mulheres a empregar e aumentar seus talentos. Compreendam todos o que deles se espera, e muitos dos que agora estão desocupados trabalharão fielmente. T6 432 2 A parábola dos talentos deve ser explicada a todos. Faça-se compreender aos membros da igreja que eles são a luz do mundo e que, segundo suas várias habilidades, o Senhor espera que iluminem e beneficiem outros. Quer sejam ricos ou pobres, quer grandes ou humildes, Deus os chama para servi-Lo ativamente. Ele conta com a igreja para o progresso de Sua causa, e espera que os que professam segui-Lo cumpram seu dever como seres inteligentes. É muito importante conseguir que toda mente preparada, todo intelecto disciplinado e cada parcela mínima de capacidade participem da obra de salvar almas. T6 432 3 Não devemos desprezar as coisas pequenas, buscando uma grande obra. Podemos realizar com êxito a obra pequena, mas fracassar inteiramente ao tentar uma obra maior, e cair em desânimo. Encaremos o trabalho onde quer que ele esteja para ser feito. Realizando com as forças de nossas mãos o que tiver de ser feito, desenvolveremos talentos e aptidões para a obra maior. Por desprezarem as oportunidades diárias, descuidando as coisas pequenas, é que muitos se tornam infrutíferos e débeis. T6 433 1 Há maneiras pelas quais todos podem fazer trabalho pessoal para Deus. Alguns podem escrever uma carta a um amigo distante ou enviar uma revista a quem esteja pesquisando a verdade. Outros podem dar conselhos aos que estão em dificuldades. Os que sabem tratar de enfermos podem ajudar nesse ramo. Outros, que têm as habilitações necessárias, podem dar estudos bíblicos ou dirigir classes bíblicas. T6 433 2 Modalidades mais simples de trabalhar devem ser planejadas e adotadas nas igrejas. Se os membros aceitarem unanimemente esses planos e perseverantemente os executarem, recolherão muitos frutos; porque a sua experiência se enriquecerá, a habilidade aumentando e, por seus esforços, as almas serão salvas. Mesmo os iletrados devem trabalhar T6 433 3 Ninguém deve sentir que, por não ser instruído, não pode ter parte na obra do Senhor. Deus tem uma parte para esses também. Ele deu a cada um a sua obra. Podem estudar a Bíblia. "A exposição das Tuas palavras dá luz; dá entendimento aos símplices." Salmos 119:130. Podem orar pela obra. A oração do coração sincero, feita com fé, será ouvida no Céu. E devem trabalhar segundo sua capacidade. T6 433 4 Cada qual exerce uma influência para o bem ou para o mal. Se a alma está santificada para o serviço de Deus, e consagrada à obra de Cristo, sua influência tenderá para ajuntar com Cristo. T6 433 5 Todo o Céu está em atividade, e os anjos de Deus estão à espera para cooperar com todos os que queiram fazer planos através dos quais as almas por quem Cristo morreu ouçam as boas-novas da salvação. Os anjos que ministram aos que hão de herdar a salvação, dizem a cada verdadeiro santo: T6 434 1 "Há uma obra para fazerdes." "Ide e... dizei ao povo todas as palavras desta vida." Atos dos Apóstolos 5:20. Se todos a quem essa ordem é dirigida obedecessem a ela, o Senhor prepararia o caminho diante deles, dando-lhes recursos para avançarem. Despertar os ociosos T6 434 2 Quantos estão perecendo sem Cristo, e os que professam ser Seus discípulos, os deixam morrer. Foram confiados aos nossos irmãos talentos exatamente para essa obra de salvar; mas alguns os amarraram num lenço e enterraram. Quanto se assemelham esses ociosos ao anjo que é representado voando pelo meio do céu, proclamando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus? Que se pode fazer aos ociosos para despertá-los, a fim de irem trabalhar para o Mestre? Que podemos dizer ao membro da igreja ocioso, a fim de fazer-lhe reconhecer a necessidade de desenterrar o seu talento e investi-lo? Não haverá ociosos nem preguiçosos no reino do Céu. Que Deus apresente este assunto em toda a sua importância às igrejas adormecidas! Que se levante Sião e vista as suas roupagens de gala! Que resplandeça! T6 434 3 Há muitos pastores ordenados que ainda não exerceram sobre o povo de Deus o cuidado de pastor, nunca vigiaram pelas almas, como aqueles que delas hão de dar conta. Em vez de progredir, a igreja é deixada no estado de um corpo débil, dependente e ineficiente. Os membros da igreja, acostumados a confiar na pregação, pouco fazem para Cristo. Não produzem fruto, mas, ao contrário, aumentam seu egoísmo e infidelidade. Põem a esperança no pregador e confiam nos seus esforços para manter viva a sua débil fé. Uma vez que os membros da igreja não foram devidamente instruídos por quem Deus pôs como supervisores, muitos são servos ociosos, que escondem na terra os talentos e, apesar disso, se queixam do modo como o Senhor os trata. Esperam ser atendidos como crianças enfermas. T6 435 1 Esse estado de fraqueza não deve prosseguir. Deve ser feita na igreja uma obra bem organizada, para que seus membros saibam como comunicar a luz a outros e assim fortalecer a própria fé e aumentar o seu conhecimento. Ao repartirem o que receberam de Deus, serão firmados na fé. A igreja que trabalha é uma igreja viva. Somos transformados em pedras vivas, e cada uma delas deve emitir luz. Cada cristão é comparado a uma pedra preciosa que recebe a glória de Deus e a reflete. T6 435 2 A idéia de que o pastor deve levar toda a carga e fazer todo o trabalho é um grande engano. Sobrecarregado de trabalho e exausto, poderá descer ao sepulcro quando poderia ter vivido mais, se a carga fosse repartida como era o plano de Deus. A fim de que a carga seja distribuída, os que podem ensinar outros a seguir a Cristo e trabalhar como Ele trabalhou devem instruir a igreja. Os jovens devem ser missionários T6 435 3 Não se passe por alto a juventude; compartilhem eles do trabalho e da responsabilidade. Sintam caber-lhes uma parte a desempenhar no ajudar e beneficiar a outros. As próprias crianças devem ser ensinadas a fazer pequenos serviços de amor e misericórdia em favor dos menos afortunados. T6 435 4 Concebam os supervisores da igreja planos por meio dos quais os jovens possam ser preparados para empregar os talentos que lhes foram confiados. Busquem os membros mais idosos da igreja trabalhar dedicada e compassivamente em prol das crianças e jovens. Apliquem os pastores toda sua inteligência na idealização de planos em que os membros mais jovens da igreja possam ser induzidos a cooperar com eles no trabalho missionário. Mas não imaginem que possam despertar-lhes o interesse simplesmente pregando um sermão longo na reunião missionária. Formulem planos que despertem vivo interesse. Tenham todos uma parte para desempenhar. Sejam os jovens preparados para fazer o que lhes for indicado, e tragam semanalmente seus relatórios para a reunião missionária, contando sua experiência e, mediante a graça de Cristo, qual tem sido o seu êxito. Se esses relatórios fossem trazidos por pessoas que trabalham com consagração, as reuniões missionárias não seriam áridas nem enfadonhas. Estariam cheias de interesse, e não haveria falta de assistência. T6 436 1 Em toda igreja, os membros devem ser preparados de maneira tal que dediquem tempo para ganhar almas para Cristo. Como poderá ser dito da igreja: "Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14), a menos que seus membros estejam realmente comunicando luz? T6 436 2 Despertem e compreendam seu dever os que estão encarregados do rebanho de Cristo, e ponham muitas pessoas a trabalhar. Despertem as igrejas T6 436 3 Logo ocorrerão mudanças peculiares e rápidas, e o povo de Deus será revestido do Espírito Santo, de modo que, com sabedoria celeste, enfrente as emergências desta época e neutralize ao máximo possível a influência desmoralizadora do mundo. Se a igreja não estiver dormindo, se os seguidores de Cristo vigiarem e orarem, poderão ter entendimento para compreender e avaliar as tramas do inimigo. T6 436 4 O fim está próximo! Deus convida a igreja a pôr em ordem aquilo que deve permanecer. Os cooperadores de Deus são capacitados pelo Senhor para levar outros ao reino. Devemos ser agentes vivos de Deus, condutos de luz para o mundo, pois há anjos celestiais comissionados por Cristo para nos suster, fortalecer e amparar no trabalho em prol da salvação de pessoas. T6 437 1 Apelo para as igrejas em cada Associação: Continuem separados e diferentes do mundo -- no mundo, mas não sendo parte do mundo, refletindo os brilhantes raios do Sol da justiça, sendo puros, santos e imaculados, e, com fé, levando luz a todos os caminhos e valados da Terra. T6 437 2 Que as igrejas estejam despertas, antes que seja tarde demais. Promova cada membro o seu trabalho pessoal, e honre o nome do Senhor pelo qual é chamado. Que a fé firme e a zelosa piedade tomem o lugar da ociosidade e descrença. Quando a fé se apossa de Cristo, a verdade deleitará a alma, e a prática da religião não será árida nem enfadonha. As reuniões sociais, agora insípidas e sem vida, serão vitalizadas pelo Espírito Santo; uma experiência rica será renovada diariamente, quando for praticado o cristianismo. Pecadores serão convertidos. Eles serão enternecidos pela palavra da verdade, e, como alguns dos que ouviram os ensinos de Cristo, dirão: "Vimos e ouvimos coisas maravilhosas hoje." T6 437 3 Em vista do que poderia ser feito se a igreja assumisse as responsabilidades que Deus lhe impõe, dormirão os seus membros ou despertarão para o senso da honra que lhes é conferida através da misericordiosa providência de Deus? Ajuntarão o que lhes foi confiado por hereditariedade, valer-se-ão da luz presente, e sentirão a necessidade de erguerem-se para enfrentar a necessidade urgente que agora se apresenta? Oh! possam todos despertar e manifestar para o mundo que a fé que possuem é viva, que o mundo tem perante si um desfecho vital, que Jesus logo virá. Vejam os homens que nós cremos estar nos limites do mundo eterno. T6 437 4 A edificação do reino de Deus é retardada ou apressada de acordo com a infidelidade ou fidelidade dos agentes humanos. O trabalho é prejudicado pela falta de cooperação do humano com o divino. Podem os homens orar: "Venha o Teu reino; seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu" (Mateus 6:10), mas se deixam de pôr em prática na vida essa oração, suas petições serão infrutíferas. T6 438 1 Mas embora sejam fracos, errantes e pecadores, o Senhor lhes faz o oferecimento de serem Seus coobreiros. Ele os convida para serem participantes da instrução divina. Unindo-se com Cristo, poderão realizar as obras de Deus. "Sem Mim", disse Cristo, "nada podereis fazer." João 15:5. T6 438 2 Por meio do profeta Isaías, é feita a promessa: "A tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." Isaías 58:8. A justiça de Cristo é que vai adiante de nós, e essa é a glória do Senhor que deve ser a nossa retaguarda. A igreja do Deus vivo deve estudar essa promessa, e, apesar de toda a falta de fé, de espiritualidade e de poder divino, verificar o que está impedindo a vinda do reino de Deus. Se nos empenhássemos no trabalho de Cristo, os anjos de Deus iriam adiante, preparando corações para receberem o evangelho. Se cada um de nós fosse um missionário vivo, a mensagem para este tempo seria rapidamente proclamada em todos os países, a cada povo, nação e língua. Esse é o trabalho que precisa ser feito antes que Cristo venha com poder e grande glória. Convido a igreja a orar fervorosamente para que sejam reconhecidas as responsabilidades. Somos individualmente coobreiros de Deus? Se não, por que não? Quando vamos fazer a parte que nos foi designada pelo Céu? T6 438 3 Para todos os que se sentem desencorajados, existe apenas um remédio -- fé, oração e trabalho. T6 439 1 Nossas igrejas não deveriam sentir-se invejosas e negligenciadas por não receberem atenção ministerial. Em vez disso, deveriam elas mesmas tomar o fardo e labutar sinceramente pelas conversões. T6 439 2 Cada talento em nossas igrejas deve ser empregado na obra de fazer o bem. Deus tornou atrativos os lugares rudes e desérticos da natureza ao colocar coisas bonitas entre outras sem interesse. Essa é a obra que somos chamados a realizar. T6 439 3 Necessitamos em nossas igrejas de jovens que estejam trabalhando sobre princípios cristãos, e o início desse processo precisa estar localizado no lar. O desempenho fiel dos deveres domésticos exerce uma influência sobre o caráter. Na casa paterna, devem ser dadas evidências da habilitação para o trabalho na igreja. T6 439 4 O Senhor não nos julga de acordo com a altura de nossas várias esferas de ação, antes segundo a fidelidade com que as preenchemos. T6 439 5 Se realizarmos apenas um terço daquilo que nossos talentos nos permitiriam, os outros dois terços estarão trabalhando contra Cristo. T6 439 6 A maior obra que pode ser feita em nosso mundo é glorificar a Deus vivendo o caráter de Cristo. ------------------------Capítulo 55 -- O crescimento das instalações T6 440 1 Uma grande obra necessita ser efetuada em todo o mundo, e que ninguém conclua que, em virtude de estar próximo o fim, não mais existe necessidade de esforço especial para o estabelecimento das várias instituições que a causa demandará. Vocês não sabem o dia e a hora do aparecimento do Senhor, pois isso não foi revelado; deste modo, ninguém especule diante daquilo que não lhe foi dado compreender. Que cada um trabalhe com aquilo que lhe foi colocado em mãos, desempenhando os deveres diários requeridos por Deus. T6 440 2 Quando o Senhor nos disser que não mais devemos empreender esforços para o estabelecimento de casas de culto, escolas, sanatórios e publicadoras, será chegada a ocasião de cruzarmos os braços e permitirmos que Ele encerre a obra; agora, contudo, é a oportunidade de demonstrar zelo em favor de Deus e amor pela humanidade. T6 440 3 Devemos ser sócios na obra de Deus através do mundo inteiro; onde quer que haja pessoas a ser salvas, devemos prestar nosso auxílio, para que muitos filhos e filhas sejam conduzidos a Deus. O fim está próximo, e por essa razão devemos tirar o máximo proveito de toda habilidade a nós confiada e de todo meio que proporcione ajuda para a obra. T6 440 4 Escolas precisam ser estabelecidas, onde sejam educados os jovens, de modo que aqueles que se engajam na obra do ministério possam obter melhor preparo no conhecimento da Bíblia e das ciências. Instituições para o tratamento de enfermos devem ser erigidas em terras estrangeiras, e necessitam-se de missionários médicos que neguem a si mesmos, que ergam a cruz, que estejam preparados para ocupar posições de confiança, aptos a educar outros. A par de tudo isso, Deus convida missionários nacionais. Os obreiros de Deus, no campo estrangeiro ou nacional, devem praticar a auto-negação, suportar a cruz e restringir seus desejos pessoais, de modo que consigam produzir abundantes frutos. T6 441 1 Uma fé que abranja menos que isso negará o caráter cristão. A fé do evangelho é aquela cujo poder e graça vêm de Deus. Tornemos manifesto que Cristo permanece em nós, deixando de gastar dinheiro com vestuário ou coisas desnecessárias, enquanto a causa de Cristo definha por falta de meios, pois débitos não liquidados existem nas igrejas e a tesouraria se encontra vazia. Não cultivemos o gosto por dispendiosos artigos de vestuário ou mobília. Que a obra avance do modo como começou, em singela negação do eu e fé. T6 441 2 Utilizem seus meios para criar agências para o bem, em vez de usar a influência para diminuí-las. Que ninguém preste atenção à sugestão de que podemos exercer fé, termos assim todas as nossas enfermidades removidas e serem desnecessárias, desta forma, instituições para a recuperação da saúde. Fé e obras não andam separadas. Uma vez que o Senhor logo estará voltando, atuem decidida e determinadamente para aumentar as instalações, para que uma obra maior possa ser realizada em tempo curto. T6 441 3 Sendo que o Senhor logo retornará, é tempo de tirarmos nosso dinheiro da mão dos banqueiros, tempo de colocarmos cada moeda que pudermos economizar na tesouraria do Senhor, a fim de que se estabeleçam instituições para o preparo de obreiros, os quais serão instruídos como foram aqueles que freqüentaram as escolas dos profetas. Se o Senhor, ao voltar, nos encontrar realizando essa obra, dirá: "Bem está, servo bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. T6 441 4 Chegou o tempo em que nenhuma capacidade física, mental ou moral deve ser desperdiçada ou mal aplicada. O Senhor deseja que Seu povo na América não mais confine a uns poucos lugares as grandes instalações que dizem respeito ao avanço moral e espiritual de Seu trabalho. Aqueles aos quais Ele muito concedeu são chamados a repartir. Apliquem agora os recursos onde eles possam ajudar a derramar luz sobre entenebrecidas nações e ilhas da Terra. T6 442 1 Obra a ser realizada -- Se famílias se transferissem para os lugares escuros da Terra, lugares onde as pessoas estão envoltas em trevas espirituais, e permitissem que a luz de Cristo irradiasse por intermédio delas, uma grande obra seria realizada. Que iniciem a obra de modo calmo, sem confronto, e sem depender dos fundos do Campo até que o interesse aumente, a ponto de elas não mais poderem controlar a situação sem auxílio ministerial. T6 442 2 Quando se realizarem institutos bíblicos e encontros similares, que não sejam feitos em conexão com nossas grandes igrejas já estabelecidas. Que tais reuniões dêem caráter à obra e espalhem o conhecimento da verdade em localidades onde esta é pouco conhecida. Isso pode não ser conveniente; entretanto, pergunto: Foi conveniente para Cristo deixar as cortes reais? Foi-Lhe conveniente deixar Sua honra, Sua gloria, Seu elevado posto, e humilhar-Se a ponto de tornar-Se um de nós? Ele não Se dirigiu a seres não caídos, e sim àqueles que mais necessitavam dEle. Nós, a quem Ele confiou Seu trabalho, devemos copiar-Lhe o exemplo. T6 442 3 Devemos apresentar a palavra de vida àqueles que, em nossa opinião, talvez se encontrem tão sem esperança quanto os que jazem na sepultura. Embora pareçam indispostos a ouvir ou receber a luz da verdade, devemos fazer nossa parte sem questionamento ou vacilação. T6 443 1 Há perigo em demorar. Aquela pessoa que ainda estava disponível, aquela alma a quem se poderia ter aberto as Escrituras, passará a ficar além de nosso alcance. Satanás preparou-lhe uma armadilha, e amanhã ela poderá estar desenvolvendo os planos do arquiinimigo de Deus. Por que demorar um dia mais? Por que não pôr mãos à obra imediatamente? T6 443 2 Como devem se sentir os anjos diante da aproximação do fim, e vendo tantos daqueles a quem foi confiada a última mensagem de misericórdia, aglomerando-se, freqüentando reuniões em consideração ao benefício que advirá a sua própria alma e sentindo-se descontentes se não houver muita pregação, ao passo que têm pouco interesse ou pouco fazem pela salvação dos outros! Todos os que por viva fé realmente se acham unidos a Cristo serão participantes da natureza divina. DEle constantemente estarão recebendo vida espiritual, e não podem permanecer calados. T6 443 3 A vida sempre se manifesta pela atividade. Se o coração está vivo, ele enviará o sangue vital a todas as partes do organismo. Aqueles cujo coração está repleto de vida espiritual não precisam ser pressionados para revelar isso. A vida divina fluirá deles em ricas correntes de graça. Ao orarem, ao falarem, ao atuarem, Deus será glorificado. T6 443 4 Os obreiros -- Não é o mais brilhante ou o mais talentoso cuja obra produz os maiores e mais duradouros resultados. Quem são os obreiros mais eficientes? Os que atendem ao convite: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." Mateus 11:29. T6 443 5 Se os homens a quem Deus confiou talentos intelectuais recusarem usar esses dons para Sua glória, depois de provas e provações, Ele os deixará entregues a suas próprias imaginações e tomará homens que não parecem ser tão ricamente dotados, que não têm grande confiança-própria, e fortalecerá os fracos porque confiam que Deus fará por eles o que não podem fazer por si mesmos. Deus aceitará o serviço sincero, e claramente suprirá as deficiências. T6 444 1 O Senhor Jesus toma aqueles que se deixam ser moldados e os utiliza para a glória de Seu nome, para que promovam Seu próprio plano espiritual. Utiliza materiais que outros desprezariam, e aperfeiçoa todos os que Lhe permitem fazê-lo. Através de meios muito simples abre-se uma porta no Céu, e a simplicidade do agente humano é utilizada por Deus para a Sua revelação ao homem. T6 444 2 Têm vocês experimentado o poder do mundo por vir? Têm comido a carne e bebido o sangue do Filho de Deus? Nesse caso, ainda que mãos ministeriais não lhes tenham sido impostas em ordenação, Cristo coloca as Suas sobre vocês, dizendo: "Sois as minhas testemunhas". Isaías 43:10. T6 444 3 Aqueles que Deus emprega como Seus instrumentos podem ser considerados ineficientes por alguns; mas se puderem orar, se em simplicidade puderem falar sobre a verdade, por que a amam, poderão alcançar o povo, mediante o poder do Espírito Santo. Ao apresentarem a verdade em simplicidade, lendo a Palavra, ou recordando incidentes de sua experiência, o Espírito Santo impressionará a mente e o caráter. A vontade se torna subordinada à vontade de Deus; a verdade até então não compreendida vem ao coração com viva convicção, tornando-se realidade espiritual. ------------------------Capítulo 56 -- Auxílio para os campos missionários T6 445 1 Sinto um peso no coração, relacionado com os campos missionários mais carentes. Há uma obra agressiva a ser feita nas missões perto de nós; e também uma grande necessidade de fundos para o avanço do trabalho em campos estrangeiros. Nossas missões de além-mar estão definhando. Os missionários não têm sido sustentados do modo como Deus requer. Por falta de recursos, os obreiros estão impossibilitados de penetrar em novos campos. T6 445 2 Em toda extensão à nossa volta almas perecem em seus pecados. A cada ano milhares e milhares morrem sem Deus e sem esperança de vida eterna. As pragas e juízos de Deus estão realizando sua obra, e almas descem à ruína em virtude de a luz da verdade não haver brilhado em seu caminho. Quão poucos, entretanto, têm sentido sobre si o peso da condição de seus semelhantes! O mundo perece em miséria; isso, contudo, pouco significa até mesmo para os que afirmam crer na verdade mais elevada e de mais vasto alcance jamais concedida aos mortais. Deus requer que Seu povo seja a Sua mão ajudadora para alcançar os que perecem; quantos, porém, satisfazem-se em nada realizar! Existe um vazio daquele amor que levou Cristo a deixar Seu lar eterno e assumir a natureza humana, de modo que a humanidade pudesse tocar a humanidade, aproximando-a da divindade. Existe um estupor, uma paralisia, sobre o povo de Deus, que o impede de compreender o que é necessário no tempo presente. T6 445 3 O povo de Deus está sendo julgado pelo universo celestial; mas a escassez de suas dádivas e ofertas e a debilidade de seus esforços no serviço de Deus os assinalam como infiéis. Se o pouco que agora fazem fosse de fato o melhor que podem realizar, não estariam sob condenação; mas, com os recursos que têm, poderiam fazer muito mais. Eles sabem, e o mundo também, que perderam, em grande escala, o espírito de abnegação e de levar a cruz. T6 446 1 Deus convida as pessoas a darem a mensagem ao mundo adormecido, morto em transgressões e pecados. Solicita ofertas voluntárias daqueles cujo coração está na obra, que sentem sobre si o fardo dos pecadores, para que não pereçam, mas recebam a vida eterna. Satanás está praticando o jogo da vida. Trata de assegurar meios que ele consiga controlar, de modo que não venham a ser utilizados em empreendimentos missionários. Ignoraremos nós os seus artifícios? Permitiremos que ele entorpeça nossos sentidos? T6 446 2 Apelo aos irmãos em todas as partes que despertem, que se consagrem a Deus e dEle busquem sabedoria. Apelo aos oficiais em nossas Associações, para que empreendam os mais vigorosos esforços em nossas igrejas. Mostrem-lhes a necessidade de oferecerem de seus recursos para o sustento das missões estrangeiras. A menos que o seu coração seja tocado diante da situação dos campos mundiais, a última mensagem de misericórdia ao mundo se restringirá, e a obra designada por Deus não será completada. T6 446 3 Rapidamente se aproximam os últimos anos do tempo de graça. O grande dia do Senhor está perto. Devemos empreender agora todo esforço possível para despertar nosso povo. Sejam postas diante de toda pessoa as palavras do Senhor pronunciadas através do profeta Malaquias: "Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos Meus estatutos e não os guardastes; tornai vós para Mim, e Eu tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? Roubará o homem a Deus? Todavia, vós Me roubais e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:7-12. T6 447 1 É alto tempo de prestarmos atenção aos ensinos da Palavra de Deus. Todas as suas ordens são dadas para o nosso bem, para converter a alma do pecado à justiça. Todo converso à verdade deve receber instruções no tocante aos requisitos do Senhor quanto aos dízimos e ofertas. À medida que se ergam igrejas, essa obra necessita ser executada com decisão e levada avante no espírito de Cristo. Tudo o que os homens desfrutam recebem da generosidade do Senhor; Ele Se compraz em que Sua herança receba esses bens; entretanto, todos os que se colocam sob a ensangüentada bandeira do Príncipe Emanuel devem reconhecer sua dependência de Deus e seu dever de prestar contas a Ele, ao devolverem a Seu tesouro uma certa parte daquilo que Lhe pertence. Tais recursos devem ser empregados na obra missionária, de modo que se cumpra a comissão dada aos discípulos pelo Filho de Deus: "Toda autoridade Me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias, até à consumação do século." Mateus 28:18-20. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. T6 447 2 Os que são verdadeiramente convertidos, são chamados a realizar uma obra que requer dinheiro e consagração. A obrigação que vincula nosso nome ao livro da igreja, também nos torna responsáveis por trabalharmos para Deus no limite absoluto de nossa capacidade. Ele requer serviço não dividido, com inteira devoção da alma, coração, mente e forças. Cristo nos colocou na igreja para que Ele possa contar conosco e desenvolver todas as nossas habilidades em devotado serviço pela salvação de almas. Qualquer coisa menos que isso é oposição à obra. Existem no mundo apenas dois lugares em que podemos depositar os nossos recursos -- na tesouraria de Deus ou na de Satanás. Tudo aquilo que não é devotado ao serviço de Cristo, conta para o lado de Satanás e destina-se a fortalecer a sua causa. T6 448 1 O Senhor designa que os meios a nós confiados sejam utilizados na edificação de Seu reino. Seus bens são outorgados aos mordomos, para que estes possam negociar cuidadosamente com eles, trazendo-Lhe de volta um bom rendimento sob a forma de pessoas salvas para a vida eterna. Essas almas, por sua vez, se tornarão mordomos da verdade e cooperadores do grande empreendimento que cuida dos interesses do reino de Deus. T6 448 2 Onde quer que haja vida há crescimento e progresso; no reino de Deus há constante intercâmbio -- dar e receber -- receber e devolver ao Senhor o que é Seu. Deus trabalha com todo verdadeiro crente, e a luz e bênçãos recebidas são dadas outra vez na obra que o crente faz. Assim, a capacidade de receber é ampliada. Ao repartir alguém os dons celestiais, está abrindo espaço para que novas correntes de graça e verdade fluam da fonte viva para a alma. Maior luz, ampliados conhecimentos e bênçãos, lhe pertencem. Nessa obra, que toca a cada membro da igreja, estão a vida e o crescimento da igreja. Aquele cuja vida consiste em receber sempre e nunca dar logo perde a bênção. Se a verdade não flui dele para outros, ele perde sua capacidade de receber. Precisamos repartir as dádivas do Céu se quisermos bênçãos renovadas. T6 448 3 Isso é verdade em coisas temporais, tanto quanto nas espirituais. O Senhor não vem a este mundo com ouro e prata para o avanço de Sua obra. Supre antes os homens com recursos, para que estes, através de suas dádivas e ofertas, mantenham a obra de Deus avançando. O propósito, acima de todos os demais, para o qual os dons de Deus devem ser usados, é o sustento de obreiros no grande campo de colheita. Se os homens e mulheres se tornarem canais de bênçãos para outras almas, o Senhor manterá o suprimento desses canais. Não é o devolver a Deus aquilo que Lhe pertence o que torna pobres os homens; ao contrário, é a retenção que tende a resultar em pobreza. T6 449 1 A obra de compartilhar aquilo que recebeu, definida para cada membro da igreja, torna-o um coobreiro de Deus. De si próprio você nada pode realizar, mas Cristo é o grande Obreiro. É privilégio de cada ser humano que recebe a Cristo tornar-se obreiro ao lado dEle. T6 449 2 Diz o Salvador: "E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. Pela alegria de ver almas redimidas, Cristo suportou a cruz. Tornou-Se o sacrifício vivo em favor do mundo caído. Nesse ato de auto-sacrifício, Cristo colocou o coração, o amor de Deus; através do mesmo sacrifício foi dada ao mundo a poderosa influência do Espírito Santo. É por intermédio de Cristo que a obra de Deus deve avançar. Requer-se o auto-sacrifício de cada um dos filhos de Deus. Cristo diz: "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. A todos os que crêem, provê Cristo um novo caráter. Tal caráter, através de Seu infinito sacrifício, é a reprodução do Seu próprio. T6 449 3 O Autor da nossa salvação será o Consumador da obra. Uma verdade recebida no coração criará lugar para outra mais. E a verdade, sempre que recebida, porá em ação as faculdades do seu recebedor. Quando os membros das nossas igrejas amarem verdadeiramente a Palavra de Deus, revelarão as melhores e mais fortes qualidades; e quanto mais nobres forem, mais semelhantes às crianças serão, crendo na Palavra de Deus e afastando todo o egoísmo. T6 450 1 Uma torrente de luz resplandece da Palavra de Deus, e devemos reconhecer as oportunidades negligenciadas. Quando todos formos fiéis na devolução a Deus dos Seus dízimos e ofertas, o caminho se abrirá para que o mundo ouça a mensagem para este tempo. Se o coração do povo de Deus estiver cheio de amor a Cristo; se cada membro da igreja estiver cabalmente imbuído do espírito de abnegação; se todos manifestarem fervor intenso, não faltarão recursos para as missões. Nossos recursos serão multiplicados; mil portas de utilidade se abrirão, e seremos convidados a por elas entrar. Caso houvesse sido executado o propósito divino de transmitir ao mundo a mensagem da misericórdia, Cristo já teria vindo à Terra e os santos teriam recebido as boas-vindas na cidade de Deus. T6 450 2 Se já houve tempo em que devam ser feitos sacrifícios, esse é agora. Os que têm dinheiro devem compreender que agora é o tempo de empregá-lo para Deus. Não se absorvam recursos para multiplicar as instalações onde a obra já está estabelecida. Não se acrescente edifício a edifício onde já foram concentrados muitos interesses. Empreguem-se os recursos na formação de centros em campos novos. Assim, será possível ganhar almas que desempenharão sua parte em produzir. T6 450 3 Temos de pensar em nossas missões nos países estrangeiros. Algumas delas estão lutando para estabilizar-se; estão privadas mesmo das condições mais precárias. Em vez de aumentar as instalações já existentes, edifiquemos a obra nesses campos necessitados. Repetidamente o Senhor tem falado a esse respeito. Sua bênção não pode acompanhar o Seu povo, se a instrução for desprezada. T6 450 4 Pratiquemos a economia em nossa casa. Muitos estão acariciando e adorando ídolos. Abandonemos os nossos ídolos. Renunciemos aos nossos prazeres egoístas. Rogo-lhes que não empreguem recursos no embelezamento das residências; porque é dinheiro de Deus, e Ele tornará a pedir esse dinheiro. Pais, por amor de Cristo não empreguem o dinheiro do Senhor na condescendência com as fantasias de seus filhos. Não os ensinem a procurar a moda e a ostentação, a fim de alcançarem influência no mundo. Será que isso vai ajudá-los a salvar as almas por quem Cristo morreu? Não; suscitará inveja, ciúme e más suspeitas. Seus filhos serão induzidos a competir com a ostentação e extravagância do mundo, e a gastar o dinheiro do Senhor no que não é essencial para a saúde ou a felicidade. T6 451 1 Não ensinem seus filhos a pensar que seu amor a eles deve manifestar-se pela satisfação do seu orgulho, prodigalidade e amor à ostentação. Agora não é o tempo de inventar novas formas de gastar dinheiro. Empreguem suas faculdades inventivas para tratar de economizá-lo. Em vez de satisfazer a inclinação egoísta, gastando o dinheiro em coisas que destroem as faculdades do raciocínio, estudemos como praticar a abnegação, a fim de ter algo que inverter para desfraldar o estandarte da verdade nos novos campos. O intelecto é um talento; vamos usá-lo para descobrir como melhor empregar nossos recursos na salvação das almas. T6 451 2 Ensinem aos filhos que Deus tem direito sobre tudo quanto possuem, direito que nada pode jamais abolir; qualquer coisa que tenham só lhes pertence como legado de confiança, como prova de sua obediência. Inspirem-nos com a ambição de ganhar estrelas para a sua coroa, fazendo-os ganhar muitas almas do pecado para a justiça. T6 451 3 O dinheiro é um tesouro necessário; não deve ser desperdiçado com quem dele não necessita. Alguns precisam de seus donativos voluntários. Com demasiada freqüência, os que têm recursos deixam de considerar quantos há no mundo que têm fome e sofrem por falta de alimento. Talvez digam: "Eu não posso alimentar a todos." Mas praticando as lições de economia, dadas por Cristo, pode-se alimentar um ou mais. Talvez sejam alimentados muitos que têm fome do alimento material; mas também se pode alimentar seu espírito com o pão da vida. "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Essas palavras foram proferidas por Aquele que tinha ao Seu dispor todos os recursos do Universo; embora o Seu poder miraculoso tenha fornecido alimento para milhares, Ele não deixou de ensinar uma lição de economia. T6 452 1 Pratiquemos a economia no emprego de nosso tempo. Ele pertence ao Senhor. Nossa força vem do Senhor. Se temos hábitos extravagantes, vamos eliminá-los de nossa vida. Tais hábitos, se mantidos, ocasionarão a nossa bancarrota para toda a eternidade. E os hábitos de economia, trabalho e sobriedade, mesmo neste mundo, são para nós e para nossos filhos algo melhor do que uma rica herança. T6 452 2 Somos viajantes, peregrinos e estrangeiros na Terra. Não gastemos os nossos recursos na satisfação dos desejos que Deus nos ordena reprimir. Ao contrário, demos o devido exemplo a quantos conosco se associam. Representemos devidamente nossa fé, restringindo nossos desejos. Levantem-se as igrejas de forma unida, e trabalhem ardorosamente como quem anda à plena luz da verdade para estes últimos dias. Que a nossa influência impressione as pessoas com o caráter sagrado dos reclamos de Deus. T6 452 3 Se pela providência divina nos foram concedidas riquezas, não nos conformemos com o pensamento de que não precisamos nos dedicar a um trabalho útil, que temos bastante e podemos comer, beber e nos alegrar. Não permaneçamos ociosos enquanto outros estão lutando para obter recursos para a Causa. Invistamos nossos recursos na obra do Senhor. Se fizermos menos que o nosso dever para ajudar os que perecem, que fique bem claro que estamos incorrendo em culpa. T6 452 4 Deus é quem dá aos homens a faculdade de adquirir riqueza, e Ele não concedeu essa faculdade como meio de satisfazer o egoísmo, mas como meio de devolver ao Senhor o que Lhe pertence. Com esse objetivo em vista, não é pecado adquirir riqueza. O dinheiro deve ser ganho com trabalho. A todo jovem devem ser ensinados hábitos de laboriosidade. A Bíblia a ninguém condena por ser rico, se adquiriu honestamente a sua riqueza. O amor egoísta do dinheiro, mal empregado, é que constitui a raiz de todo o mal. A riqueza será uma bênção se a considerarmos pertencente ao Senhor, para ser recebida com gratidão e, com gratidão, devolvida ao Doador. T6 453 1 Mas que valor possui a maior riqueza, se amontoada em custosas mansões ou em depósitos bancários? Que valor têm essas coisas, em comparação com a salvação de uma pessoa por quem morreu o Filho do infinito Deus? T6 453 2 Aos que amontoaram riqueza para os últimos dias, o Senhor declara: "As vossas riquezas estão apodrecidas, e os vossos vestidos estão comidos da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne." Tiago 5:2, 3. T6 453 3 Ordena-nos o Senhor: "Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, lhe abram a porta imediatamente. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que Se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-Se, os servirá. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais." Lucas 12:33-40. ------------------------Capítulo 57 -- A casa publicadora da Noruega T6 454 1 [O apelo que segue, escrito em 20 de Novembro de 1900, relaciona-se com as dificuldades financeiras de nossa obra de publicações em Cristiânia, Noruega. Em 1899, foram recebidas notícias, na Junta de Missões Estrangeiras, de que a casa publicadora em Cristiânia se envolvera em débito, e não conseguia atender suas obrigações, de modo que a instituição se achava sob risco de cair nas mãos dos credores. Para aliviar essa situação embaraçosa, se requeria assistência financeira no valor de 50 mil dólares. Tal valor não podia ser suprido pela Junta e, embora nossos irmãos noruegueses prosseguissem mantendo a posse da editora por mais de um ano após esse fato, pouco foi feito para ajudá-los. Pareceu, por fim, que o prédio teria de ser entregue aos credores ou vendido para que se reunissem os fundos necessários à liquidação do débito. Dessa forma, a instituição erigida ao longo de anos de trabalho e sacrifício, estaria perdida para a obra do Senhor. Tendo em vista evitar essa grande calamidade, o Senhor pronunciou-Se através de Sua serva nas seguintes palavras de sincero apelo, instrução e encorajamento.] T6 454 2 Nossa casa publicadora da Noruega acha-se em perigo e, em nome do Senhor, apelo a nosso povo em seu favor. Todos aqueles que amam a causa da verdade presente são chamados a ajudar na presente crise. T6 454 3 Todos os que amam e servem ao Senhor deveriam sentir o mais profundo interesse por tudo aquilo que diz respeito à glória de Seu nome. Quem poderia ver uma instituição onde a verdade tem sido exaltada, onde o Senhor tantas vezes tem revelado a Sua presença, onde instruções têm sido dadas pelos mensageiros de Deus, onde a verdade têm sido enviada por intermédio de publicações que realizam tanto bem -- quem poderia suportar que uma tal instituição passe às mãos dos mundanos, para ser utilizada em propósitos comuns e seculares? Deus por certo seria desonrado se fosse permitido que Sua instituição entrasse em decadência por falta do dinheiro que Ele confiou a Seus mordomos. Se isso acontecesse, os homens diriam que assim sucedeu porque o Senhor não foi capaz de evitar os fatos. T6 455 1 Isso significa muito para nossos irmãos e irmãs na Escandinávia. Eles serão severamente provados se suas instalações lhes forem tiradas. Façamos um esforço para evitar que caiam em depressão e desencorajamento. Que se faça um esforço consagrado e unido para tirar a editora das dificuldades em que se envolveu. T6 455 2 Existem aqueles que têm pequena fé, e que tentarão desencorajar outros e assim afastá-los de participarem dessa boa obra. Necessita-se apenas de uma palavra negativa para despertar e fortalecer o egoísmo no coração. Não prestem atenção aos que tentarem desanimá-los. Fujam das perguntas que surgirão no tocante a como as dificuldades se estabeleceram. Em grande medida, podem ter surgido face a erros cometidos; não nos permitamos, contudo, ceder espaço a críticas e reclamações. Censuras, reclamações e críticas não contribuirão para dar alívio a nossos irmãos em suas perplexidades e dissabores. T6 455 3 Deus tem convocado agentes humanos para com Ele cooperarem na obra de salvação. Utiliza homens portadores de fraquezas e sujeitos ao erro. Não censuremos, pois, aqueles que desafortunadamente cometeram enganos. Em vez disso, procuremos ser de tal modo transformados pela graça de Deus, a ponto de nos tornarmos compassivos, sensíveis às desgraças humanas. Isso causará alegria no Céu; pois ao amarmos nossos irmãos errantes como Deus e Cristo nos amam, proveremos evidência de que estamos compartilhando dos atributos de Cristo. T6 455 4 Este não é o momento para críticas. O que agora se necessita é genuína simpatia e decidida ajuda. Consideremos individualmente as necessidades de nossos irmãos. Que cada esforço devotado a esse assunto seja usado em proferir palavras que encorajem. Que toda capacidade seja utilizada em ações que edifiquem. T6 456 1 Uma parte do ministério dos anjos celestiais consiste em visitar nosso mundo e supervisionar a obra do Senhor em mãos de Seus mordomos. Em cada momento de necessidade eles ministram em favor dos que, na qualidade de coobreiros de Deus, estão lutando por levar avante Sua obra na Terra. Essas inteligências celestiais são representadas como desejando acompanhar o plano da redenção, e se regozijam sempre que alguma parte da obra de Deus prospera. T6 456 2 Anjos se interessam pelo bem-estar espiritual de todos os que buscam restaurar a imagem moral de Deus no homem; e a família terrestre deve ligar-se à família celestial na cura das feridas e contusões provocadas pelo pecado. Agentes angélicos, embora invisíveis, estão cooperando com os agentes humanos visíveis, formando uma associação de ajuda com os homens. Os mesmos anjos que, ao Satanás estar buscando a supremacia, lutaram em batalha nas cortes celestiais e triunfaram ao lado de Deus; os mesmos anjos que rejubilaram alegremente diante da criação de nosso mundo e de seus imaculados habitantes; os anjos que testemunharam a queda do homem e sua expulsão do lar edênico -- sim, esses mesmos mensageiros celestiais acham-se intensamente interessados em atuar unidos à raça decaída e redimida, para a salvação dos seres humanos que perecem no pecado. T6 456 3 Agentes humanos são as mãos de instrumentos celestiais, pois os anjos celestiais empregam mãos humanas no ministério prático. Instrumentos humanos como auxiliares manuais devem pôr em ação o conhecimento e usar os recursos dos seres celestiais. Unindo-se com esses poderes que são onipotentes, somos beneficiados por sua mais alta educação e experiência. Assim, ao nos tornarmos participantes da natureza divina e afastarmos de nossa vida o egoísmo, são-nos concedidos talentos especiais para nos ajudarmos mutuamente. Essa é a forma de o Céu comunicar poder salvador. T6 457 1 Porventura não existe algo estimulante e inspirador no pensamento de que os agentes humanos constituem instrumentos visíveis para transmitir as bênçãos dos agentes angélicos? Assim, quando somos cooperadores de Deus a obra leva sobre si a impressão divina. O conhecimento e atividade dos obreiros celestiais, unidos com o conhecimento e poder imputados aos agentes humanos, trazem alívio aos opressos e desencorajados. Nossos atos de ministério altruísta nos tornam participantes do sucesso que resulta do alívio oferecido. T6 457 2 Com quanta alegria o Céu contempla essas influências unificadas! Todo o Céu está observando esses agentes que estão como que à mão para realizar o propósito de Deus na Terra, assim fazendo a vontade de Deus no Céu. Tal cooperação realiza uma obra que leva honra, glória e majestade a Deus. Oh, se todos amassem como Cristo ama, de modo que os homens que estão a perecer pudessem ser salvos da ruína, e que mudança viria ao nosso mundo! T6 457 3 "Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor. ... serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante. Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O Senhor afastou os teus juízos, exterminou o teu inimigo; o Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti; tu não verás mais mal algum. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se enfraqueçam as tuas mãos. O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se -- á por seu amor, regozijar-se -- á em ti com júbilo." Sofonias 3:12-17. Quão extraordinária representação! Somos nós capazes de captar o seu significado? T6 458 1 "Os que em ti se entristeceram, por causa da reunião solene, eu os congregarei; esses para os quais o peso foi uma afronta. Eis que, naquele tempo, procederei contra todos os que te afligem, e salvarei os que coxeiam, e recolherei os que foram expulsos; e lhes darei um louvor e um nome em toda a terra em que foram envergonhados. Naquele tempo, vos trarei, naquele tempo, vos recolherei; certamente, vos darei um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando reconduzir os vossos cativos diante dos vossos olhos, diz o Senhor." Sofonias 3:18-20. Leia também o primeiro capítulo de Ageu. T6 458 2 Quando agentes humanos, na qualidade de mordomos de Deus, de forma unida tomarem os meios que pertencem ao Senhor e os empregarem para aliviar os fardos que pesam sobre Suas instituições, o Senhor cooperará com eles. T6 458 3 "E tornou o anjo que falava comigo, e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono, e me disse: Que vês? E eu disse: Olho, e eis um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no cimo, com as suas sete lâmpadas; e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos. E, por cima dele, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E falei e disse ao anjo que falava comigo, dizendo: Senhor meu, que é isto? Então, respondeu o anjo que falava comigo e me disse: Não sabes tu o que isto é? E eu disse: Não, Senhor meu. E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Quem és tu, ó monte grande? Diante de Zorobabel, serás uma campina; porque ele trará a primeira pedra com aclamações: Graça, graça a ela. E a palavra do Senhor veio de novo a mim, dizendo: As mãos de Zorobabel têm lançado os fundamentos da casa, também as suas mãos a acabarão, para que saibais que o Senhor dos Exércitos me enviou a vós. Porque quem despreza o dia das coisas pequenas? Pois esse se alegrará, vendo o prumo na mão de Zorobabel; são os sete olhos do Senhor, que discorrem por toda a terra. Falei mais e disse-lhe: Que são as duas oliveiras à direita do castiçal e à sua esquerda? E, falando-lhe outra vez, disse: Que são aqueles dois raminhos de oliveira que estão junto aos dois tubos de ouro e que vertem de si ouro? E ele me respondeu, dizendo: Não sabes o que é isto? E eu disse: Não, Senhor meu. Então, ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra." Zacarias 4:1-14. T6 459 1 Todo o Céu manifesta interesse, não apenas nos lugares perto de nós, como também naqueles que estão longe e necessitam da nossa ajuda. Os seres celestiais estão vigiando e esperando que os agentes humanos sejam profundamente tocados pelas necessidades de seus semelhantes que se encontram em perplexidade e prova, em tristeza e dissabor. T6 459 2 Quando uma das instituições do Senhor entra em decadência, as instituições mais prósperas devem trabalhar com a mais refinada habilidade, prestando assistência à instituição que definha, para que o nome de Deus não seja desonrado. Sempre que os administradores das instituições de Deus fecham seu coração diante das necessidades de instituições irmãs, e negligenciam efetuar todo esforço possível para ajudá-las, dizendo de modo egoísta: "Que se virem!", Deus anota a sua crueldade, e chegará o tempo em que tais pessoas terão de passar por semelhante experiência de humilhação. Porém, meus irmãos, vocês não pretendem agir assim. Bem sei que vocês não pretendem. T6 459 3 Todas as instalações que temos na Europa, destinadas ao avanço da obra, são necessárias; todas elas devem estar em condições funcionais saudáveis e florescentes diante de um mundo mau. Que os anjos de Deus, que se encontram ministrando em favor dos que suportam responsabilidades, não vejam o coração desses obreiros sendo partido de dor. As dificuldades já se acentuaram em virtude de nossa demora, de modo que a obra de restauração exigirá agora maior empenho e maiores gastos. Em nome do Senhor pedimos que Seu povo, possuidor de meios, mostre ser composto de mordomos fiéis. Reparem aquilo que é tão essencial ao avanço da obra de Deus, de modo que Seu povo não se desanime e Sua obra não seja deixada à míngua. T6 460 1 "E a palavra do Senhor veio a Zacarias, dizendo: Assim falou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um a seu irmão; e não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente o mal cada um contra o seu irmão, no seu coração." Zacarias 7:8-10. Essa é também a palavra do Senhor a nós. T6 460 2 Não consigo imaginar que a porção que encerra este capítulo venha a constituir a experiência de vocês: "Eles, porém, não quiseram escutar, e me deram o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram o seu coração duro como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas precedentes; donde veio a grande ira do Senhor dos Exércitos. E aconteceu que, como ele clamou, e eles não ouviram, assim também eles clamarão, mas eu não ouvirei, diz o Senhor dos Exércitos. E os espalharei com tempestade entre todas as nações que eles não conheceram, e a terra será assolada atrás deles, de sorte que ninguém passará por ela, nem se voltará, porque têm feito da terra desejada uma desolação." Zacarias 7:11-14. T6 460 3 Irmãos, ao lidarmos com a casa do Senhor, "Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros." Romanos 14:19. Não profiram palavras de censura. Não lancem acusações sobre este ou aquele. Agora se requer a ajuda que todos possam oferecer. Procurem reparar a brecha que se estabeleceu. Façam-no alegremente. Façam-no com nobreza. Venham em ajuda ao Senhor, juntem-se a Ele contra os poderosos. Efetuem de uma vez a redenção da instituição que se encontra em tão grande perigo. T6 461 1 Que todos os que compreendem a proximidade da volta do Senhor atuem pela fé. Quando vemos o definhar de um dos instrumentos de Deus, seja manifesto o interesse daqueles que têm o coração e a alma postos na obra. T6 461 2 Que o exemplo correto seja dado pelos que se encontram em posição de responsabilidade. Todo instinto cristão nobre deve ser posto a planejar e agir com o mais sincero interesse pela redenção da instituição do Senhor, mais até do que eles poriam em prática para salvar os seus próprios recursos. Que todos procurem fazer alguma coisa. Examinem as suas atividades e vejam de que modo poderão cooperar com Deus nessa obra. T6 461 3 Uma vez que há decidida simpatia entre o Céu e a Terra, e sendo que Deus comissiona anjos a ministrarem a todos os que necessitam de ajuda, sabemos que, se fizermos nossa parte, esses representantes celestiais do poder onipotente proverão ajuda na hora da necessidade. Se nos tornarmos um em mente e coração, com as inteligências celestiais, seremos moldados por elas. Homens a quem Deus outorgou capacidade e talentos materiais serão impressionados por Ele a assumir o fardo das responsabilidades, e ajudarão a nossos irmãos escandinavos. T6 461 4 A causa de Deus na Europa não deve se tornar uma pedra de tropeço ou rocha de escândalo para os descrentes. As instituições desse lugar não devem ser fechadas ou entregues às mãos dos de fora. Que os servos do Senhor na Europa envidem todo esforço possível para recuperar o que se perdeu, e o Senhor operará por eles. Convoco nosso povo na América do Norte a cooperar com seus irmãos da Europa. Se todos cumprirem a sua parte no grande plano divino, Seu propósito se cumprirá. Logo a dificuldade estará no passado, não mais embaraçando a causa de Deus. T6 462 1 Que mão alguma se torne frouxa ou paralisada. Vocês dispõem da certeza de que os anjos de Deus, cuja casa é o pavilhão do Eterno e que vêem a glória de Deus, são os seus ajudadores. Cooperarão vocês em edificar cada instituição que se encontra realizando o serviço de Deus supervisionados pela ministração angélica? T6 462 2 Quem é capaz de compreender o valor das almas por cuja salvação o seu Príncipe, o seu Rei, o Filho do Deus infinito ofereceu Sua vida sem mancha através de morte ignominiosa? Se todos compreendessem isso como deveriam, quão grandiosa obra seria realizada! Através da operação do Espírito Santo, levariam -- por intermédio de sua influência, por suas palavras e pelos recursos materiais -- muitas almas a escapar das cadeias da escuridão e dos ardis infernais de Satanás, fazendo-as lavar seus pecados no sangue do Cordeiro. Oh, que a obra avance mais e mais! Anjos do Céu se alegram ao verem os pecadores arrependidos volvendo-se para o Deus vivo. T6 462 3 Se restringirmos a expressão de incredulidade e, através de palavras esperançosas e ações determinadas, fortalecermos nossa própria fé e a de outros, nossa visão se tornará notavelmente mais clara. A pura atmosfera celestial circundará nossa alma. T6 462 4 Sejam fortes e falem de esperança. Abram caminho através dos obstáculos. Estão espiritualmente casados com Jesus Cristo. A Palavra é sua segurança. Aproximem-se do Salvador com a plena confiança de uma fé viva, unindo suas mãos às dEle. Entrem pelos caminhos que Ele está abrindo. Façam o que Ele disser, seja o que for. Ele os ensinará com tão boa vontade como ensinará a qualquer outra pessoa. ------------------------Capítulo 58 -- O sanatório dinamarquês T6 463 1 Em Skodsborg, subúrbio de Copenhague, Dinamarca, nossos irmãos estabeleceram um sanatório. Avançaram cheios de esperança, sob a convicção de que estavam realizando a obra confiada por Deus a Seu povo. Ocorre que nossos irmãos, de modo geral, não tiveram o interesse que deveriam ter tido em estabelecer sanatórios nos países europeus, de modo que nossos queridos irmãos do Sanatório de Skodsborg avançaram mais depressa do que permitiam os meios de que dispunham, o que os levou a dificuldades e dissabores. T6 463 2 Sinto-me grandemente perturbada diante das dificuldades e perigos que rodeiam nossas instituições na Escandinávia. Minha mente sente-se obrigada a apelar a nosso povo, não apenas em favor da casa publicadora de Cristiânia, como também pelo sanatório dinamarquês. O inimigo foi-me apresentado como estando a esperar ansiosamente por uma oportunidade para destruir essas instituições, que são instrumentos de Deus, usados na redenção da humanidade. Serão atendidos os desejos de Satanás? Permitiremos que essas instituições sejam arrebatadas de nossas mãos e que sua obra beneficente seja interrompida? Pelo fato de terem os nossos irmãos cometido equívocos, vamos deixá-los a suportar sozinhos as conseqüências de seus cálculos errados? É essa a forma como Cristo tem lidado conosco? T6 463 3 Quando alguém se encontra no sopé de uma difícil montanha, sob um pesado fardo, cercado de desencorajamento e necessitando de fortes e animosos ajudadores, muito tempo é gasto em críticas, repreensão e impaciência. Isso não contribui para remover o fardo. Aqueles sobre os quais a carga repousa mais pesadamente não necessitam e nem merecem censura. Mais provavelmente isso deveria recair sobre aqueles que, bem antes, deveriam ter participado da condução do fardo. Mesmo nesse caso, porém, a censura teria sido imprópria e, por certo, sem utilidade. Nosso primeiro pensamento deve ser: De que modo poderei eu ajudar a aliviar a carga? O tempo é precioso. Existem demasiados interesses em jogo para se correr o risco da demora. T6 464 1 Acusar os administradores do Sanatório de Skodsborg de ambição mundana e desejo de exaltação própria seria cometer injustiça. Na ampliação da obra, buscavam eles a glória de Deus; e ali foi realizada uma obra de longo alcance para o bem. Eles erraram, contudo, ao realizarem investimentos além de suas possibilidades, colocando-se assim sob o jugo dos débitos. Por isso, o futuro da instituição e a honra da causa estão sob perigo. Agora, em vez de acrescentar dificuldades à situação, não haveremos nós de empenhar-nos corajosamente na solução do débito? T6 464 2 Sou instada pelo Espírito de Deus a lançar uma advertência. Oh, que visão medonha seria para os anjos, terem de contemplar as instituições estabelecidas para ilustrar e promulgar os princípios da reforma e viver cristão, passando das mãos daqueles que as operam na obra de Deus, e caírem em mãos de pessoas de fora! Irmãos, esta é a hora de nos interessarmos pelas instituições na Europa, que hoje estão clamando por ajuda. Do mesmo modo como Cristo lida conosco, devemos nós tratar com os irmãos que se encontram em dificuldade. T6 465 3 Os tesouros do Senhor acham-se à mão e nos foram confiados exatamente para tais emergências. Que o nosso povo, amante de Deus e de Sua causa, venha em socorro das instituições em perigo. Nossos irmãos americanos devem apressar o resgate. De modo muito especial, os irmãos escandinavos na América do Norte devem tomar ações decididas. Também os irmãos da Dinamarca, Noruega e Suécia devem compreender que este é o tempo de ajudar a Obra do Senhor. Que todos os que confiam em Deus e crêem em Sua Palavra, estudem diligentemente e compreendam seus privilégios, responsabilidades e deveres no tocante a esse assunto. Se falharmos agora em nosso papel de sermos ajudadores de Deus e de salvarmos a editora e o sanatório da Escandinávia, perderemos enorme bênção. T6 465 1 Quem são os que agora se posicionarão ao lado do Senhor? Quem serão as Suas mãos auxiliadoras, aliviando o oprimido? Quem encorajará o quebrantado a confiar no Senhor? Quem manifestará a fé que não falha, antes impulsiona rumo à vitória? Quem lutará neste momento para edificar aquilo que Satanás procura destruir, uma obra que poderá avançar em ramos vigorosos? Quem realizará agora em favor de seus irmãos na Europa aquilo que gostaria de receber, em idênticas circunstâncias? Quem cooperará com os anjos ministradores? T6 465 2 O Senhor convoca Seu povo a negar o próprio eu. Desistamos de alguma coisa que pretenderíamos utilizar para nosso conforto ou prazer pessoal. Ensinemos nossos filhos a negarem o eu e a se tornarem mãos ajudadoras do Senhor na distribuição de Suas bênçãos. T6 465 3 Insisto com meus irmãos da Escandinávia que façam o que estiver ao seu alcance. Uniremos nossos esforços com a obra de amor e ajuda que vocês empreenderem. Existem recursos suficientes nas mãos dos mordomos do Senhor para realizar esta obra, desde que se unam em terna simpatia para restaurar, curar e trazer saúde e prosperidade às agências de Deus. T6 465 4 As somas providas por vocês podem parecer pequenas quando comparadas com as necessidades da obra; não desanimem, contudo. Tenham fé em Deus. Segurem firmemente a mão do Infinito Poder, e aquilo que à primeira vista parece um caso sem esperança, mudará de aspecto. A alimentação das cinco mil pessoas é uma lição prática para nós. Aquele que, dispondo apenas de cinco pães e dois peixinhos, alimentou cinco mil homens e mais as mulheres e crianças, é capaz de realizar grandes coisas por Seu povo nos dias de hoje. T6 466 1 Leiam o relato de como o profeta Eliseu alimentou cem homens: "E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada e espigas verdes na sua palha, e disse: Dá ao povo, para que coma. Porém seu servo disse: Como hei de eu pôr isso diante de cem homens? E disse ele: Dá-o ao povo, para que coma; porque assim diz o Senhor: Comer-se-á, e sobejará. Então, lhos pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do Senhor." 2 Reis 4:42-44. T6 466 2 Quão grande a condescendência de Cristo em operar esse milagre a fim de satisfazer a fome! Satisfez cem filhos de profetas e, vez após outra desde então, embora nem sempre de maneira tão marcante e visível, tem Ele operado a fim de atender as necessidades humanas. Se tivéssemos discernimento espiritual mais claro, de modo a conseguirmos reconhecer mais prontamente o modo misericordioso e compassivo com que Deus Se relaciona com Seu povo, ganharíamos rica experiência. Temos de estudar as maravilhosas obras de Deus, mais do que o temos feito. Ele tem motivado até mesmo homens que não reconhecem a verdade, em favor de Seu povo. O Senhor tem Seus homens da oportunidade, exatamente como ocorreu com o homem que trouxe alimento aos filhos dos profetas. T6 466 3 Quando o Senhor nos dá uma obra a fazer, não paremos para inquirir quanto à razoabilidade da ordem ou aos prováveis resultados de nossa obediência. Os suprimentos em nossas mãos podem parecer muito menores que nossas necessidades; nas mãos do Senhor, contudo, eles se revelarão mais que suficientes. O servo "Então, lhos pôs diante, e comeram, e deixaram sobejos, conforme a palavra do Senhor." 2 Reis 4:44. T6 466 4 Necessitamos de maior fé. Devemos possuir um senso mais amplo do relacionamento de Deus com aqueles a quem comprou com o sangue de Seu Filho unigênito. Devemos exercer fé no vindouro progresso da obra do reino de Deus. T6 467 1 Não percamos tempo deplorando a escassez de nossos recursos visíveis, antes façamos o melhor uso daquilo que temos. Ainda que a aparência exterior não seja promissora, esforço e confiança em Deus desenvolverão recursos. Ofereçamos nossas ofertas com ação de graças, orando para que o Senhor abençoe essas dádivas e as multiplique, assim como fez com os alimentos dados aos cinco mil. Se usarmos as nossas melhores instalações, o poder de Deus nos habilitará a alcançar as multidões que estão famintas pelo pão da vida. T6 467 2 Nessa obra de auxiliar nossos irmãos da Noruega e da Dinamarca, disponhamo-nos zelosa e nobremente, deixando os resultados a cargo de Deus. Tenhamos fé de que Ele fará aumentar nossas ofertas até que elas sejam suficientes para colocar Suas instituições em terreno vantajoso. T6 467 3 Fé é a mão espiritual que toca o infinito. T6 467 4 As orações simples, direcionadas pelo Espírito Santo, ascenderão ao Céu e cruzarão suas portas, a porta aberta da qual Cristo disse: "o que abre, e ninguém fecha." Apocalipse 3:7. Essas orações, mescladas com o incenso da perfeição de Cristo, ascenderão como fragrância ao Pai, e as respostas virão. T6 467 5 Os obreiros de Cristo jamais devem pensar, e muito menos falar, em fracasso da obra. O Senhor Jesus é a nossa eficiência em todas as coisas; Seu Espírito deve constituir nossa inspiração. À medida que nos colocarmos em Suas mãos, para sermos canais de luz, nunca se esgotarão os nossos meios para realizarmos o bem. Podemos abastecer-nos de Sua plenitude, recebendo daquela graça que não conhece limites. ------------------------Capítulo 59 -- A ajuda a nossas escolas Um exemplo de liberalidade T6 468 1 Quando o Senhor convidou Israel a contribuir para a construção do tabernáculo no deserto, houve calorosa resposta. "E veio todo homem, a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o impeliu, e trouxeram a oferta alçada ao Senhor para a obra da tenda da congregação." Êxodo 35:21. E vieram, homens e mulheres, tantos quantos tinham o coração voluntário. Vieram os homens com as suas ofertas em ouro e prata, com tecidos selecionados e madeiras valiosas. Os chefes trouxeram pedras preciosas, especiarias de alto custo, e óleo para as lâmpadas. "E todas as mulheres sábias de coração fiavam com as mãos e traziam o fiado." Êxodo 35:25. Eles "traziam cada manhã oferta voluntária" (Êxodo 36:3), até que se trouxe a Moisés esta informação: "O povo traz muito mais do que basta para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse." Êxodo 36:5. Esse generoso serviço voluntário foi agradável a Deus; e quando o tabernáculo ficou pronto, o Senhor mostrou Sua aprovação à oferta: "Então, a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo." Êxodo 40:34. T6 468 2 Exemplo muito semelhante a esse de serviço voluntário foi o trabalho feito em favor de nossas escolas na publicação e venda do livro Parábolas de Jesus. Alegramo-nos de que tão grande número de pessoas dentre nosso povo tenha se dedicado a essa obra, e que seus esforços estejam propiciando tanto sucesso. Regozijamo-nos de que nossos oficiais de Associações e das sociedades de publicações tenham empregado sua influência e energia nessa grande tarefa, e que os pastores, obreiros bíblicos, colportores e membros da igreja tenham se empenhado tão fervorosamente no especial empreendimento para o rápido alívio de nossas escolas. O generoso e dedicado modo como nossas casas publicadoras e nossos irmãos e irmãs em geral assumiram esse empreendimento é muito agradável ao Senhor. Está em harmonia com Seu plano. O plano do Senhor T6 469 1 Há, na providência divina, períodos particulares quando devemos levantar-nos, responder ao chamado de Deus e fazer uso de nossos recursos, de nosso tempo, de nosso intelecto, de todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, no cumprimento de Seus reclamos. Assim é no tempo presente. O interesse da causa de Deus está em jogo. As instituições do Senhor estão em perigo. Em virtude do terrível fardo de dívidas com que nossas escolas estão lutando, a obra se vê impedida por todos os lados. Em nossa grande necessidade, Deus abriu um caminho em meio às dificuldades, e nos convidou a cooperar com Ele no cumprimento de Seu propósito. Foi Seu plano que o livro Parábolas de Jesus fosse entregue para alívio de nossas escolas, e Ele pede a Seu povo que faça a parte que lhe corresponde em colocar esse livro perante o mundo. Nisso Ele está testando o Seu povo e Suas instituições, para ver se trabalharão unidos e com um só coração em abnegação e altruísmo. Todos devem cooperar T6 469 2 Um bom começo foi feito com as vendas do Parábolas de Jesus. O que se necessita agora é que haja um esforço fervoroso e unido para completar a obra que foi tão bem iniciada. Lemos nas Escrituras: "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. Cada ramo da causa de Deus é digno de diligência; mas nada pode merecer mais do que esse empreendimento nesta oportunidade. Um trabalho decidido deve ser feito na concretização do plano de Deus. Que cada contato para vender o Parábolas de Jesus fale em favor do Mestre. Unam-se aos obreiros todos que tiverem possibilidade de fazê-lo. T6 470 1 Pelo êxito nos esforços já feitos, vemos que é muito melhor obedecer aos reclamos de Deus hoje do que esperar uma ocasião que poderíamos considerar mais favorável. Precisamos tornar-nos os homens e mulheres da oportunidade de Deus, pois grandes responsabilidades e possibilidades estão ao alcance de todos os que se alistaram para uma vida de serviço sob a bandeira de Cristo. T6 470 2 Deus nos convida a ação, a fim de que nossas instituições educativas possam ficar livres de dívidas. Seja o plano de Deus posto em prática segundo Sua própria ordem. T6 470 3 O presente é uma oportunidade que não podemos concordar em perder. Apelamos a todo o nosso povo que ajude o quanto for possível precisamente agora. Apelamos a que façam um trabalho que será agradável a Deus, na aquisição do livro. Suplicamos que todo recurso disponível seja usado para ajudar em sua circulação. Insistimos com todos os presidentes de nossos Campos para que considerem como podem promover esse empreendimento. Apelamos aos nossos pastores que, ao visitarem as igrejas, animem homens e mulheres a saírem como colportores e a fazerem decidido movimento no sentido da abnegação, doando parte de seus lucros para ajudar nossas escolas. T6 470 4 É necessário um movimento geral, mas isso tem de começar com ações individuais. Que em toda igreja os membros de cada família façam esforços decididos de abnegação e de promoção do trabalho. Que as crianças desempenhem uma parte. Que haja cooperação de todos. Façamos nós mesmos o melhor que pudermos neste tempo para dedicar a Deus nossa oferta, e pôr em prática Sua vontade específica, criando assim uma ocasião para testemunho em Seu favor e de Sua verdade, num mundo de trevas. A lâmpada está em nossas mãos. Deixemos que sua luz brilhe com intensidade. T6 471 1 Os jovens que pensam entrar no ministério devem assumir esta obra. O manuseio do livro que o Senhor colocou em suas mãos deve ser seu mestre. Aproveitando essa oportunidade, poderão progredir sem dúvida no conhecimento de Deus e dos melhores métodos para alcançar o povo. T6 471 2 O Senhor conclama rapazes e moças para que entrem em Seu serviço. Os jovens são receptivos, vivos, ardorosos, esperançosos. Uma vez tendo provado a ventura do sacrifício próprio, não se satisfarão a menos que estejam constantemente aprendendo do Grande Mestre. O Senhor abrirá caminhos diante dos que responderem ao Seu chamado. T6 471 3 É só trazer para o trabalho o fervoroso desejo de aprender a assumir responsabilidades. Depois, com braços fortes e coração alegre, é sair para o conflito que todos têm de enfrentar, conflito que se tornará cada vez mais cruel ao nos aproximarmos do embate final. Preparação para o trabalho T6 471 4 Os que se empenham nesta obra devem se dar primeiro a Deus sem reservas. Devem se colocar onde possam aprender de Cristo e seguir o Seu exemplo. Ele os convidou: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Anjos são comissionados para sair com os que assumem esta obra com verdadeira humildade. T6 471 5 Devemos orar sem cessar, e todos devemos viver nossas orações. A fé aumentará sobremodo com o exercício. Os que estão colportando com Parábolas de Jesus devem assimilar as lições ensinadas no livro com que estão trabalhando. Aprendam de Cristo. Tenham fé em Seu poder para os ajudar e salvar. A fé é o próprio fluido vital da alma. Sua presença comunica entusiasmo, saúde, coerência e saudável discernimento. Sua vitalidade e vigor exercem influência poderosa, embora inconsciente. A vida de Cristo na alma é como uma fonte de água que salta para a vida eterna. Ela conduz a um constante cultivo das graças celestiais e à submissão ao Senhor em todas as coisas. T6 472 1 Falo aos obreiros, jovens e idosos, que estão usando nossos livros, especialmente os que estão colportando com o livro que está agora dando o seu recado de misericórdia: Exemplifiquem na vida as lições dadas por Cristo em Seu Sermão do Monte. Isso fará uma impressão mais profunda e terá mais duradoura influência sobre as mentes do que os sermões proferidos do púlpito. Vocês podem não ser capazes de falar com eloqüência aos que desejam ajudar; mas se falarem com modéstia, escondendo o eu em Cristo, suas palavras serão ditadas pelo Espírito Santo; e Cristo, com quem estão cooperando, impressionará o coração. T6 472 2 Exercitem aquela fé que opera por amor e santifica a alma. Que ninguém permita agora, por sua incredulidade, que o Senhor Se envergonhe dele. Desânimo e indolência nada realizam. Embaraços em negócios seculares são algumas vezes permitidos por Deus para estimular faculdades entorpecidas à mais fervorosa ação, a fim de que Ele possa honrar a fé pela concessão de ricas bênçãos. Esse é um modo de fazer Sua obra progredir. Olhando para Jesus, não apenas como nosso Exemplo, mas como o Autor e Consumador de nossa fé, sigamos adiante, tendo confiança de que Ele suprirá força para o cumprimento de cada obrigação. T6 472 3 Penosíssimos esforços serão requeridos daqueles que têm o fardo desta obra; pois deve ser dada a correta instrução, a fim de que o senso da importância da obra possa ser mantido ante os obreiros, e que todos possam desejar o espírito de abnegação e sacrifício exemplificado na vida de nosso Redentor. Cristo fez sacrifícios a cada passo, sacrifícios que nenhum de Seus seguidores poderá jamais fazer. Em toda abnegação de nós requerida nesta obra, em meio a todas as coisas desagradáveis que ocorrem, devemos considerar que estamos ligados a Cristo, partilhando do Seu espírito de bondade, de perdão e abnegação. Esse espírito abrirá o caminho diante de nós e nos dará sucesso, porque Cristo é nossa recomendação ao povo. A obra em todas as terras T6 473 1 Nosso povo em todos os países deve assumir a obra de auxílio a nossas escolas. Seja ela levada avante por nossas igrejas na Austrália e região. Nossa escola ali está necessitando de auxílio, e se nosso povo assumir unido à tarefa, poderá fazer muito para diminuir o fardo de dívidas; podem animar o coração dos que estão trabalhando para alcançar esse objetivo, os instrumentos do Senhor; e podem ajudar a estender sua influência de bênção para as distantes terras pagãs e as ilhas do mar. T6 473 2 Estamos certos de que nossa casa publicadora na Austrália será liberal no planejamento da publicação de Parábolas de Jesus. O Senhor tem abençoado grandemente essa instituição, e ela deve apresentar-Lhe uma oferta de gratidão, fazendo doação irrestrita para liberar a escola de débito. Confiamos em que ela assumirá a tarefa e fará nobremente a sua parte. E essa cooperação com Deus se provará para a casa publicadora da Austrália uma bênção tão grande como tem sido em relação com nossas instituições nos Estados Unidos. T6 473 3 Entreguemo-nos a esta obra, meus irmãos na Austrália. "A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem." Hebreus 11:1. Já não experimentamos isso no passado? Ao sairmos, confiados na promessa de Deus, as coisas que não se vêem, a não ser pelos olhos da fé, tornam-se reais e visíveis. Ao nos movermos e trabalharmos pela fé, Deus cumpriu para conosco cada uma das palavras que proferiu. A prova que temos da fidelidade de Suas promessas deveria impedir qualquer pensamento de incredulidade. Duvidar é um pecado, e não cremos que nossos irmãos na Austrália sejam culpados disso. T6 474 1 O Senhor tem feito muito por todos nós, em cada país. Levantemos os nossos olhos para ver os campos, que já estão brancos para a ceifa. Louvemos a Deus porque Sua palavra tem-se cumprido além de todas as nossas expectativas. T6 474 2 Convoco o nosso povo para que, com fervor e voluntariamente, entre no trabalho de livrar a escola da dívida. Faça a casa publicadora a sua parte na publicação do livro. Que nosso povo em toda a Austrália e região mantenha a venda do Parábolas de Jesus. Deus os abençoará nessa tarefa. T6 474 3 Os obreiros da Inglaterra devem fazer todo esforço possível na venda desse livro, para estabelecer uma escola nesse país. Meus irmãos da Inglaterra, da Alemanha e de todos os outros países da Europa onde a luz da verdade está brilhando, sustentem esta obra. Seja esse livro traduzido para diferentes línguas e posto a circular nos diversos países da Europa. Que nossos colportores em todas as partes da Europa sejam animados a ajudar em sua venda. A venda desse livro fará muito mais do que simplesmente ajudar a aliviar de débito nossas instituições. Ela abrirá o caminho para que nossos livros maiores encontrem um pronto mercado. Assim a verdade alcançará a muitos que de outro modo não a receberiam. T6 474 4 Apelo de modo especial a nossos irmãos na Escandinávia. Não estão dispostos a assumir a tarefa que Deus lhes entregou? Não trabalharão até o máximo de sua capacidade para aliviar as instituições comprometidas dessa região? Não olhem com desespero, dizendo: "Nada podemos fazer." Chega de falar em desânimo. Apeguem-se ao braço do Poder Infinito. Lembrem-se de que os irmãos em outras terras estão se unindo para ajudar. Não se omitam nem se desanimem. O Senhor sustentará os Seus obreiros na Escandinávia se assumirem sua parte com fé, oração e esperança, tudo fazendo para promover Sua causa e apressar Sua volta. T6 475 1 Seja feito na Inglaterra por parte de nosso povo o mais fervoroso esforço, a fim de inspirar com fé e coragem os irmãos da Escandinávia. Irmãos, precisamos ir em socorro do Senhor, em socorro do Senhor com os valorosos. T6 475 2 Lembremo-nos de que quanto mais nos aproximamos do tempo da vinda de Cristo, mais fervorosa e firmemente devemos trabalhar, pois temos a oposição de toda a sinagoga de Satanás. Não precisamos de exaltação, mas daquela coragem que nasce da fé genuína. Resultados do trabalho T6 475 3 Por meio da obra de socorro a nossas escolas, uma bênção quádrupla será experimentada: para as escolas, para o mundo, para a igreja e para os obreiros. T6 475 4 Ao mesmo tempo em que se reúnem recursos para alívio de nossas escolas, a melhor leitura está sendo posta nas mãos de grande número de pessoas que, não fora este esforço, jamais teriam visto o livro Parábolas de Jesus. Há pessoas em lugares solitários que serão alcançadas por esse empenho. As lições tiradas das parábolas de nosso Salvador serão como folhas da árvore da vida para muitos. T6 475 5 É desígnio do Senhor que o Parábolas de Jesus, com sua instrução preciosa, leve os crentes à união. Os abnegados esforços feitos pelos membros de nossa igreja serão um meio de uni-los, de modo que sejam santificados no corpo, alma e espírito, como vasos para honra, preparados para receber o Espírito Santo. Os que procuram fazer a vontade de Deus, investindo cada talento com o máximo de proveito, se tornarão sábios em trabalhar para o Seu reino. Aprenderão lições do maior valor, e sentirão a satisfação mais completa de uma mente racional. Paz, graça e poder de intelecto lhes serão concedidos. T6 476 1 Ao levarem esse livro aos que necessitam da instrução que ele contém, os obreiros ganharão preciosa experiência. Essa obra é um meio de educação. Os que fizerem o melhor como mão ajudadora do Senhor para promover a circulação do Parábolas de Jesus obterão uma experiência que os capacitará a ser bem-sucedidos obreiros de Deus. Muitíssimos, mediante o treino recebido nessa obra, aprenderão a colportar com nossos livros maiores, tão necessários ao povo. T6 476 2 Todo aquele que se dedicar a essa tarefa, de forma correta, alegre e com esperança, encontrará nela uma grande bênção. O Senhor não obriga pessoa alguma a empenhar-se em Seu trabalho; mas aos que decididamente se colocam a Seu lado, Ele dará mente bem disposta. Ele abençoará a todos os que manifestarem externamente o espírito em que Ele opera internamente. A tais obreiros Ele concederá favor e sucesso. Ao penetrarem em campo após campo, novos métodos e novos planos resultarão de novas circunstâncias. Novos pensamentos virão com os novos obreiros que se dedicarem ao trabalho. Ao procurarem o auxílio do Senhor, Ele Se comunicará com eles. Receberão planos elaborados pelo próprio Senhor. Pessoas serão convertidas e haverá dinheiro. Os obreiros encontrarão lugares não cultivados da vinha do Senhor, ao lado de campos já cultivados. Cada campo revela novos lugares a serem conquistados. Tudo o que for feito mostrará quanto mais ainda resta por fazer. T6 476 3 À medida que trabalhamos em associação com o Grande Mestre, as faculdades mentais se desenvolverão. A consciência é posta sob a direção divina. Cristo toma sob Seu controle todo o ser. T6 476 4 Ninguém pode estar verdadeiramente unido a Cristo, praticar Suas lições, submeter-se a Seu jugo, sem compreender aquilo que jamais pode expressar em palavras. Vêm-lhe pensamentos novos e ricos. O intelecto recebe luz; a vontade, determinação; a consciência recebe sensibilidade, e a imaginação, pureza. O coração torna-se mais terno, mais espirituais os pensamentos, o serviço torna-se mais semelhante ao de Cristo. Vê-se na vida o que palavra alguma pode expressar: veracidade, fidelidade, dedicação amorável do coração, da mente e do espírito, e força para o trabalho do Mestre. T6 477 1 Depois de havermos feito, mediante oração e energia santificada, tudo que podíamos em favor de nossas escolas, veremos a glória de Deus. Quando a prova tiver sido cabalmente concluída, haverá um bendito resultado. T6 477 2 Deus fará com que o movimento em favor de nossas escolas seja um sucesso se for promovido em espírito voluntário e liberal. Ele nos capacitará a fazer refluir o descrédito de que têm sido alvo nossas instituições educativas. Se todos assumirem o trabalho em espírito de abnegação por amor de Cristo e da verdade, não demorará muito antes que o cântico de jubileu da liberdade ecoe através de nossos limites. "Não vos canseis de fazer o bem" T6 477 3 Alegra-me que tenha havido tão harmonioso esforço para levar a cabo o propósito de Deus e tirar o máximo proveito de Sua providência. Esse movimento para promover a circulação do Parábolas de Jesus é uma demonstração do que pode ser feito no campo da colportagem. Aos pastores, estudantes, pais, mães, rapazes e moças que se empenharam nessa obra, eu gostaria de dizer: Não permitam que esse interesse esmoreça. Seja essa boa obra levada avante firmemente, de modo perseverante e grandioso, até que o último débito seja removido de todas as nossas escolas e um fundo seja criado para o estabelecimento de escolas em campos importantes, onde haja grande necessidade de obra educativa. T6 477 4 Ao serem pastores e obreiros bíblicos chamados para outros trabalhos, que os membros de nossas igrejas lhes digam: "Façam o trabalho que lhes é indicado e promovam-no, e nós continuaremos a trabalhar na promoção do Parábolas de Jesus e para a libertação de nossas escolas." Ninguém entenda que esse trabalho deve parar com o especial movimento de 1900 e 1901. O campo jamais se esgota, e esse livro deve ser vendido para ajudar nossas escolas nos anos futuros. T6 478 1 Tenhamos fé em Deus. Em Seu nome, levemos avante Sua obra sem esmorecer. O trabalho para o qual Ele nos chamou será uma bênção para nós. E quando o Seu plano para alívio de nossas escolas tiver vingado, quando a obra indicada tiver sido completamente realizada, Ele nos dirá que fazer a seguir. T6 478 2 Por todo o tempo em que a mensagem de misericórdia tiver de ser dada ao mundo, haverá um chamado para esforço em favor de outras instituições e empreendimentos similares a esse em favor de nossas escolas. E enquanto durar o tempo de graça, haverá oportunidade para que o colportor trabalhe. Quando as denominações religiosas se unirem com o papado para oprimir o povo de Deus, lugares onde houver liberdade religiosa se abrirão para a colportagem evangelística. Se em algum lugar a perseguição se tornar severa, façam os obreiros como Cristo ordenou: "Quando pois vos perseguirem numa cidade, fugi para outra." Se ali vier a perseguição, procurem outro lugar ainda. Deus guiará o Seu povo, fazendo que seja uma bênção em muitos lugares. Não fora a perseguição, e não seriam tão vastamente espalhados para proclamar a verdade. E Cristo declara: "Não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem." Mateus 10:23. Até que no Céu seja dito: "Está consumado", haverá sempre lugares para trabalhar e corações para receber a mensagem. T6 478 3 "E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido." Gálatas 6:9. ------------------------Capítulo 60 -- O direito conferido pela redenção T6 479 1 Os dízimos e ofertas trazidos a Deus são um reconhecimento do direito que Deus tem sobre nós pela criação, bem como o reconhecimento desse mesmo direito que a Ele assiste pela nossa redenção. Pelo fato de que tudo que temos e somos provêm de Cristo, tais ofertas devem reverter de nós para Ele. Devem lembrar-nos sempre o direito que a Deus confere a nossa redenção, o maior de todos os direitos, e que inclui todos os demais. A compreensão do sacrifício feito por nós deve conservar-se viva em nossa mente, e sempre exercer influência sobre nossos pensamentos e planos. Cristo é, com efeito, como Alguém que está crucificado entre nós. T6 479 2 "Não sabeis que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço". 1 Coríntios 6:19, 20. Que preço elevadíssimo foi esse que Deus pagou por nós! Olhemos para a cruz e para a Vítima nela dependurada. Olhemos para aquelas mãos traspassadas por cravos e para aqueles pés pregados no madeiro. Cristo levou em Seu próprio corpo o nosso pecado. Aquele sofrimento, aquela agonia, representa o preço de nossa redenção. Do trono de Deus partiu a ordem: "Livra-os para que não desçam à perdição, porque achei uma propiciação." T6 479 3 Será que nos esquecemos de que Ele nos amou e Se deu a Si mesmo por nós, para que em troca nos entregássemos a Ele? Por que o amor de Cristo não há de ser manifestado pelos que O recebem pela fé, do mesmo modo que o Seu amor nos foi manifestado a nós, por quem Ele morreu? T6 479 4 Cristo é representado como Se afligindo e buscando a ovelha perdida. Seu amor nos envolve e reconduz ao redil. Seu amor nos confere o privilégio de assentar-nos com Ele nos lugares celestiais. Quando o Sol da Justiça brilha em nosso coração, e com paz e doce alegria repousamos no Senhor, louvemo-Lo então; louvemos a quem é a saúde do nosso semblante e nosso Deus. Louvemo-Lo, não só por nossas palavras, mas consagrando-Lhe tudo o que somos e possuímos. T6 480 1 "Quanto deves ao meu Senhor?" Lucas 16:5. Isso não é possível calcular. Se tudo quanto temos é dEle, vamos negar-Lhe o que nos pede? Se Ele o requer, vamos segurar de modo egoísta entre as mãos? Será que vamos retê-lo e aplicá-lo noutro fim qualquer, menos no de salvar almas? Desse modo é que milhares de pessoas se perdem. Como poderíamos melhor manifestar nossa apreciação pelo sacrifício de Deus, de Sua grande dádiva ao mundo, do que fazendo doações e ofertas, com louvor e ação de graças, pelo grande amor com que nos amou e nos atrai para Si? T6 480 2 Olhando para o Céu com espírito de súplica, apresentemo-nos a Deus como Seus servos, e com tudo quanto temos como pertencendo-Lhe, e dizendo: "Tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. Contemplando a cruz do Calvário, e o Filho do Deus infinito nela dependurado; considerando esse amor sem mácula e essa maravilhosa manifestação de Sua graça, ansiosamente perguntemos: "Senhor, que queres que eu faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. Ele diz: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." Marcos 16:15. T6 480 3 E quando, no reino de Deus, virmos pessoas que foram salvas pelos nossos dons e trabalho, porventura não se rejubilará nosso coração pelo privilégio de termos realizado tal obra? T6 480 4 Acerca dos apóstolos de Cristo está escrito: "E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os seguiram." Marcos 16:20. O Universo de Deus ainda espera por instrumentos humanos pelos quais a maré da graça celestial possa ser derramada sobre todo o mundo. O mesmo poder que operou pelos apóstolos está pronto para assistir aos que se dispõem a fazer a obra de Deus. T6 481 1 O inimigo empregará toda a astúcia de que é capaz a fim de impedir que a luz resplandeça em lugares novos. Ele não quer que a verdade brilhe como tocha fortíssima. Quererão os irmãos consentir em que seus planos de estorvar a obra tenham êxito? T6 481 2 O tempo rapidamente está beirando a eternidade. Desejará alguém sonegar ainda ao Senhor aquilo que Lhe pertence? Recusará alguém a Ele aquilo que, embora possa ser entregue sem mérito, não pode ser retido sem ruína? O Senhor deu a cada um a sua obra, e os santos anjos de Deus esperam que a façamos. Se trabalharmos orando e vigiando, eles estão prontos para nos assistir em tudo. Quando a inteligência é iluminada pelo Espírito Santo, todas as inclinações cooperarão unidas na realização da divina vontade. Então o homem trará a Deus o que é dEle, dizendo: "Todas as coisas nos vêm de Ti, e daquilo que é Teu liberalmente Te oferecemos." Que o Senhor perdoe ao Seu povo, por não haver feito isso! Irmãos e irmãs, esforcei-me para lhes apresentar as coisas como são, mas a tentativa ficará sempre aquém da realidade. Será que vão rejeitar a minha exortação? Não sou eu quem está apelando; é o Senhor Jesus, que deu Sua vida pelo mundo. Eu somente cumpro a ordem de Deus. Vão vocês aproveitar a oportunidade de honrar a causa de Deus, e respeitar Seus servos, por Ele enviados para cumprirem Sua vontade, guiando as pessoas para o Céu? T6 481 3 "E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra; conforme está escrito: T6 482 1 "Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre. Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também abunda em muitas graças que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. Graças a Deus pois pelo Seu dom inefável." 2 Coríntios 9:6-15. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 7 T7 3 1 Breve histórico do volume sete T7 9 1 Capítulo 1 -- A obra de salvar almas T7 13 1 Capítulo 2 -- O sinal de avançar T7 18 1 Capítulo 3 -- Trabalho para os membros da igreja T7 25 1 Capítulo 4 -- Obreiros de nossas fileiras T7 29 1 Capítulo 5 -- Estendendo os triunfos da cruz T7 34 1 Capítulo 6 -- A obra nas cidades T7 37 1 Capítulo 7 -- A obra na grande Nova Iorque T7 40 1 Capítulo 8 -- Não demorar mais T7 42 1 Capítulo 9 -- O culto doméstico T7 45 1 Capítulo 10 -- Responsabilidades da vida conjugal T7 51 1 Capítulo 11 -- Em todo o mundo T7 62 1 Capítulo 12 -- O conhecimento dos princípios de saúde T7 68 1 Capítulo 13 -- Obreiros de nossas instituições médicas T7 72 1 Capítulo 14 -- Uma mensagem aos nossos médicos T7 76 1 Capítulo 15 -- O valor da vida ao ar livre T7 80 1 Capítulo 16 -- Fora das cidades T7 85 1 Capítulo 17 -- No campo T7 88 1 Capítulo 18 -- Não entre os ricos T7 90 1 Capítulo 19 -- Considerações acerca dos edifícios T7 95 1 Capítulo 20 -- Não para os que buscam prazeres T7 99 1 Capítulo 21 -- O perigo da centralização T7 104 1 Capítulo 22 -- O sinal de nossa ordem T7 110 1 Capítulo 23 -- A obra médico-missionária nas cidades T7 115 1 Capítulo 24 -- A obra dos restaurantes T7 124 1 Capítulo 25 -- Alimentos saudáveis T7 127 1 Capítulo 26 -- Fabricação de alimentos saudáveis T7 132 1 Capítulo 27 -- Educar o povo T7 138 1 Capítulo 28 -- O propósito de Deus para as casas publicadoras T7 150 1 Capítulo 29 -- Nossa literatura denominacional T7 161 1 Capítulo 30 -- Trabalhos comerciais T7 169 1 Capítulo 31 -- Casas publicadoras em campos missionários T7 171 1 Capítulo 32 -- Relacionamento entre as casas publicadoras T7 175 1 Capítulo 33 -- O colportor T7 176 1 Capítulo 34 -- O autor T7 182 1 Capítulo 35 -- A igreja e a casa publicadora T7 191 1 Capítulo 36 -- A santidade dos instrumentos divinos T7 194 1 Capítulo 37 -- Dependência de Deus T7 197 1 Capítulo 38 -- Cooperação T7 199 1 Capítulo 39 -- Domínio próprio e fidelidade T7 203 1 Capítulo 40 -- O perigo das leituras impróprias T7 206 1 Capítulo 41 -- Evitar dívidas T7 210 1 Capítulo 42 -- Fé e ânimo T7 215 1 Capítulo 43 -- Sacrifício próprio T7 220 1 Capítulo 44 -- Necessidades no sul T7 231 1 Capítulo 45 -- Centros de influência T7 235 1 Capítulo 46 -- Instruções para os obreiros T7 242 1 Capítulo 47 -- Bom ânimo T7 246 1 Capítulo 48 -- Os pastores e os negócios T7 250 1 Capítulo 49 -- Consagrar tempo para conversar com Deus T7 254 1 Capítulo 50 -- O trabalho do pastor T7 256 1 Capítulo 51 -- Reuniões de comissões T7 260 1 Capítulo 52 -- Disciplina da igreja T7 265 1 Capítulo 53 -- Consideração mútua T7 267 1 Capítulo 54 -- Os professores de nossas escolas T7 277 1 Capítulo 55 -- Os que estão lutando com dificuldades T7 283 1 Capítulo 56 -- Distribuição dos recursos T7 286 1 Capítulo 57 -- Nossos idosos pioneiros T7 290 1 Capítulo 58 -- O cuidado pelos obreiros ------------------------Breve histórico do volume sete T7 3 1 O volume 7 foi publicado no final de 1902, cerca de dois anos após o lançamento do volume 6, mas nesses poucos meses ocorreram avanços notáveis, especialmente relacionados com a reorganização de nossa obra denominacional. T7 3 2 Em 1863, portanto, 38 anos antes, a Associação Geral tinha sido organizada, compreendendo seis Associações locais, todas nos Estados Unidos. Havia, então, 30 pastores, entre ordenados e licenciados, servindo a 3.500 membros e 125 igrejas. Não existiam escolas adventistas do sétimo dia nem instituições médicas, e havia só uma casa publicadora. T7 3 3 Cada uma das décadas seguintes viu dobrar o número de membros da igreja e também o de obreiros empregados, além do início de novas frentes de trabalho. Na virada do século, a obra tinha crescido para proporções mundiais. O relatório estatístico de 1900 mostra que os impressos adventistas estavam sendo preparados em 39 línguas por 13 casas publicadoras e suas filiais. Havia 500 pastores ordenados, além de mil outros obreiros nos vários ramos da obra denominacional, atendendo a 66 mil membros de 1.892 igrejas, agrupadas em 45 Associações e 42 Missões. Na Austrália e também na Europa, as Associações estavam reunidas em Uniões. T7 3 4 Com o desenvolvimento da obra de publicações e o início da obra médica e educacional, além do surgimento da Escola Sabatina, organizações autônomas foram formadas para cuidar desses seguimentos da causa. Algumas dessas entidades eram: Escola Sabatina Internacional, Associações de Liberdade Religiosa, Associações Médico-Missionárias, várias associações para promover as publicações e outras para sustentar o trabalho educacional. As missões estrangeiras eram dirigidas pelo Conselho de Missões Estrangeiras. Apesar de os interesses das várias organizações estarem relacionados, cada uma funcionava de forma independente e os escritórios e sedes estavam espalhados por diversas partes dos Estados Unidos. O Conselho de Missões Estrangeiras tinha sede em Nova Iorque, por causa das conveniências para despachar encomendas, a partir dessa cidade. Enquanto isso, a Associação da Escola Sabatina ficava em Oakland, Califórnia, por ser o local mais adequado para os obreiros morarem. A obra de liberdade religiosa estava sediada em Chicago, Illinois, e a obra médico-missionária era dirigida a partir de Battle Creek, Michigan. T7 4 1 Não é difícil perceber que a denominação, em seu desenvolvimento natural, estava extrapolando todas as provisões originais de 1863. Alguns ajustes tiveram de ser feitos. A comissão da Associação Geral era composta de 12 membros, sendo que quatro dos quais residiam em Battle Creek. Como poderiam esses poucos homens cuidar da obra que crescia rapidamente, e agora se espalhava pelo mundo todo? Todas as Associações locais e missões, ao redor do mundo, com exceção das da Austrália e da União Européia, tinham de se reportar diretamente à Associação Geral. Obviamente, as necessidades de alguns campos começaram a ficar negligenciadas, ou pelo menos passaram a demonstrar certa falta de eficiência em suas ações. A perplexidade se multiplicava à medida que alguns ramos da obra cresciam de forma desproporcionada, escapavam do controle e avançavam de forma independente para além dos objetivos pelos quais foram criados. T7 4 2 Essas eram as circunstâncias em Abril de 1901, quando Ellen G. White, que tinha acabado de retornar da Austrália para os Estados Unidos, falou na abertura da reunião da Associação Geral. Ela fez uma apelo em favor da reorganização da obra, especialmente destacando a necessidade de delegar responsabilidades. Ao mesmo tempo que a necessidade era clara, a solução não parecia tão evidente. Mas nessa oportunidade, diante do apelo e com a visão e a fé dos líderes, a obra da Associação Geral foi reorganizada. Primeiro, foi adotado o plano das Uniões, algo inaugurado na Austrália e depois tentado na Europa. Com isso a administração da Associação Geral ficou livre de muitos detalhes que passaram a ser cuidados e resolvidos de forma local. Em segundo lugar, foram definidos os princípios para colocar todas as organizações autônomas (publicações, médicas, Escola Sabatina e obra educacional) como departamentos da Associação Geral. Em terceiro, a Comissão da Associação Geral foi grandemente ampliada com representantes de todo o campo mundial e de todos os ramos de atividades. T7 5 1 Algumas fases da obra da Associação Geral foram reorganizadas imediatamente, como os departamentos de Escola Sabatina, Educação e Liberdade Religiosa. Quanto a outros setores, isso tomou mais tempo, e em alguns casos não aconteceu até que verdadeiros desastres confirmaram a necessidade de mudanças. No caso da obra médica, foi necessário que o processo de reorganização atingisse primeiro a forma de pensar dos homens e mulheres nela envolvidos e mudasse sua filosofia a respeito da grande obra na qual participavam. Por ocasião da sessão da Associação Geral, em 1901, parecia que o Sanatório de Battle Creek tinha alcançado o seu ponto mais alto e, com as instituições a ele filiadas, correspondia a uma grande fatia da obra total dos adventistas do sétimo dia. Ficou evidente que seus líderes estavam começando a divisar uma grande obra médico-missionária cristã não denominacional, a qual, da forma como a planejavam, iria logo obscurecer a obra da denominação Adventista do Sétimo Dia. T7 5 2 Então, no dia 18 de Fevereiro de 1902, ocorreu o primeiro desastre. O prédio principal do Sanatório de Battle Creek foi completamente destruído por um incêndio. Enquanto os planos eram apressados para construir outro prédio, a experiência do fogo juntamente com os conselhos do Espírito de Profecia impressionou a mente dos obreiros e muitos deles começaram a distinguir mais claramente o verdadeiro papel da obra médico-missionária como uma atividade distintiva, porém integrada com a obra da denominação. Daí veio um apelo para fracionar e estabelecer diversos centros médico-missionários, não tão grandes e ambiciosos. T7 6 1 Nessa situação é que foram produzidos os textos que compõem a seção "Nossa Obra Médica". Eles foram incluídos neste volume 7 para que possam continuar sendo úteis à denominação. T7 6 2 Nos primeiros tempos, quando a Review and Herald e a Pacific Press foram estabelecidas, havia a necessidade de possuir instalações bem equipadas para produzir, a baixo custo, o tipo de impressos de que a igreja necessitava. Entretanto, inicialmente esses equipamentos não eram usados durante todo o tempo para os trabalhos estritamente denominacionais. Para conservar as máquinas trabalhando e ainda manter uma equipe bem treinada, as casas publicadoras também imprimiam trabalhos de terceiros. Esses impressos variavam desde material de escritório e formulários até livros que eram lançados no mercado. Isso dava um lucro razoável e ajudava a manter as instalações e os obreiros. T7 6 3 Surgiram, porém, problemas com esses impressos comerciais. Originais de livros foram oferecidos e aceitos para publicação, os quais não edificavam de forma alguma o caráter. Parte desses escritos continha sérios erros doutrinários e outros, por diferentes razões, também eram deletérios. Tais condições chegaram a um ponto decisivo no tempo em que foi produzido este volume 7. As pessoas que trabalhavam com as publicações receberam mensagens do Espírito de Profecia destacando os perigos envolvidos nessa obra e apelando por uma reforma. Por outro lado, à medida que o tempo avançava, a obra denominacional também crescia e passava a exigir todo o tempo e dedicação exclusiva dos obreiros para os seus impressos. Só que isso não chegou de fato a acontecer sem que tanto a Review and Herald quanto a Pacific Press fossem destruídas pelo fogo e depois se percebeu os frutos dessas mensagens. Quando os planos foram elaborados para reconstruir os edifícios é que os líderes passaram a avançar pela fé, dedicando as instalações e equipamentos exclusivamente para imprimir os textos denominacionais. Eles realizaram isso à luz dos conselhos contidos neste volume 7, os quais tiveram uma influência determinante sobre nossa obra de publicações em todo o mundo. T7 7 1 Quando a Sra. White viajou desde Santa Helena, Califórnia, até Battle Creek, Michigan, para assistir à sessão de 1901 da Associação Geral, ela atravessou o sul, fazendo uma parada em Nashville para conhecer um escritório de publicações recentemente estabelecido, bem como visitar algumas escolas em outros locais. Esses empreendimentos surgiram em grande parte após seus apelos através das páginas da Review and Herald no sentido de que fosse iniciada uma obra mais ampla no Sul dos Estados Unidos. Seus conselhos tinham inspirado e guiado aqueles que se encarregaram dessa obra, embora, naqueles tempos, ela estivesse vivendo na Austrália. Somente por ocasião dessa viagem é que ela teve o privilégio de visitar os locais e ver com os próprios olhos o que estava sendo realizado. T7 7 2 Depois que a verificação pessoal do campo e suas necessidades suplementou a revelação que ela antes recebera, os apelos se tornaram mais veementes ainda para que um número bem maior de obreiros assalariados e voluntários fosse deslocado para os estados do Sul a fim de aproveitar as oportunidades para espalhar a mensagem e se envolver com os problemas de conduzir a obra, tanto entre os brancos quanto entre os negros. Os comoventes apelos, escritos durante esse período de dois anos, constituem uma parte importante deste volume 7. Eles tiveram influência fundamental no sentido de incentivar não poucas famílias a se mudarem para a importante região do Sul dos Estados Unidos afim de anunciar a mensagem, tanto através do testemunho silencioso da vida santificada quanto do ativo evangelismo. T7 7 3 Como os pioneiros adventistas do sétimo dia praticavam e ensinavam a reforma nos hábitos de vida, eles comandaram o desenvolvimento e manufatura de alimentos saudáveis, alguns para substituir os artigos prejudiciais da alimentação e outros para prover um regime balanceado e saboroso. Foi a partir dos ensinos dos adventistas que surgiram as grandes companhias de cereais matinais e diversos outros alimentos que foram desenvolvidos nos anos seguintes. Já nos tempos cobertos por este volume 7, tínhamos um bom número de centros de produção de alimentos saudáveis e, em algumas cidades, também restaurantes que só serviam alimentação saudável. Diversos capítulos, neste volume, reúnem conselhos a respeito desse trabalho, mostrando como pode ser conduzido de forma a ampliar a influência da mensagem distintiva que este povo tem de anunciar ao mundo. T7 8 1 As mensagens dadas ao longo do tempo deste volume 7 também contemplam os apelos em favor do avanço da obra nos centros urbanos. Embora outros urgentes apelos tenham vindo nos anos seguintes, as carências das grandes cidades foram pela primeira vez destacadas diante de nosso povo, de uma forma geral, na primeira parte deste livro. A obra a ser feita não estava limitada aos obreiros da Associação. Leigos e voluntários deviam ser agregados numa atividade cada vez mais ampla nos grandes centros populacionais. O grande programa de evangelismo estava apenas começando, mas deveria continuar por muitos anos. T7 8 2 Quando o volume 7 foi publicado, os adventistas do sétimo dia já tinham completado meio século de trabalho ativo. A passagem dos anos fez com que um certo número de obreiros tivesse de depor suas armas e passar adiante suas responsabilidades. Eles tinham se sacrificado e trabalhado para erguer a causa de Deus, mas quando chegou o tempo de descansarem e deixarem que outros assumissem as tarefas, não havia provisão para sua manutenção. Tanto a necessidade quanto a solução já tinham sido claramente reveladas para a Senhora White que, em suas últimas palavras neste volume, trata da responsabilidade da igreja com seus obreiros idosos. Um fruto do seu apelo em favor da criação de um fundo para atender às necessidades dos obreiros aposentados é o plano de manutenção dos jubilados que foi criado poucos anos depois do lançamento deste volume. T7 8 3 Este volume 7 contém poucas linhas de instrução, mas seus fundamentais conselhos têm um amplo alcance e estão produzindo importantes frutos. Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White. T7 8 4 "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:2. ------------------------Capítulo 1 -- A obra de salvar almas T7 9 1 Deus me deu uma mensagem para Seu povo. Ele tem de despertar, alargar as suas tendas, dilatar suas fronteiras. Meus irmãos, minhas irmãs, vocês foram comprados por preço, e tudo quanto possuem e são deve ser empregado para a glória de Deus, e para o bem dos semelhantes. Cristo morreu na cruz para salvar o mundo de perecer no pecado. Ele pede nossa cooperação nesta obra. Devemos servir-Lhe de mão ajudadora. Com um esforço sincero e infatigável, devemos buscar salvar os perdidos. Lembremo-nos de que foram nossos pecados que tornaram necessária a cruz. Quando aceitamos a Cristo como nosso Salvador, empenhamo-nos com Ele em carregar a cruz. Como parte do grande plano da redenção, estamos ligados com Ele na vida e na morte. T7 9 2 O poder transformador da graça de Cristo modela aquele que a si mesmo se dá para o serviço de Deus. Imbuído do Espírito do Redentor, ele está pronto a negar-se, pronto para assumir a cruz, pronto para fazer qualquer sacrifício pelo Mestre. Não pode mais ser indiferente em relação às pessoas que perecem em torno de si. Ergue-se acima dos seus próprios interesses. Foi feito nova criatura em Cristo, e o servir-se a si mesmo não tem lugar em sua vida. Ele compreende que cada parte de seu ser pertence a Cristo, que o redimiu da escravidão do pecado; que todo momento de seu futuro foi comprado com o precioso sangue do Unigênito Filho de Deus. T7 10 1 Têm vocês uma apreciação tão profunda do sacrifício feito no Calvário, a ponto de estarem prontos para tornar qualquer outro interesse subordinado à obra de salvar almas? A mesma intensidade de desejo de salvar pecadores, que assinalou a vida do Salvador, assinala a vida de Seu verdadeiro discípulo. O cristão não tem desejo de viver para si. Deleita-se em consagrar ao serviço do Mestre tudo quanto tem e é. É movido pelo inexprimível desejo de ganhar almas para Cristo. Aos que nada possuem de semelhante desejo, seria melhor preocuparem-se com sua própria salvação. Orem pedindo o espírito de serviço. T7 10 2 Como posso glorificar melhor Aquele de quem sou pela criação e redenção? Essa é a pergunta que devemos fazer a nós mesmos. Com ansiosa solicitude, aquele que realmente está convertido procura livrar os que ainda estão em poder de Satanás. Ele se recusa a fazer qualquer coisa que o possa prejudicar em sua obra. Se tem filhos, reconhece que sua obra precisa começar em sua própria família. Seus filhos são muito preciosos para ele. Lembrando-se de que eles são os membros mais novos da família do Senhor, esforça-se ao máximo para colocá-los onde se ponham do lado do Senhor. Comprometeu-se a servir, honrar e obedecer a Cristo; e envida pacientes e incansáveis esforços para educar os filhos de tal modo que nunca sejam hostis ao Salvador. T7 10 3 Sobre os pais e as mães, Deus colocou a responsabilidade de livrarem seus filhos do poder do inimigo. Essa é sua obra -- uma obra que de modo algum devem negligenciar. Os pais que têm viva ligação com Cristo não descansarão enquanto não virem os filhos bem seguros no aprisco. Eles farão disso o principal objetivo de sua vida. T7 11 1 Pais, não negligenciem a obra que a igreja espera de vocês em sua própria família. Esse é o seu primeiro campo de esforço missionário. A obra mais importante que podem fazer é colocar seus filhos ao lado de Deus. Quando errarem, tratem-nos com ternura, contudo, com firmeza. Eles devem estar unidos com vocês na oposição ao mal com que Satanás procura destruir a alma e o corpo dos seres humanos. Compartilhem com eles o segredo da cruz, o segredo que significa santificação, redenção e vitória eterna. Cada vez que levarem os filhos consigo para o culto ao Senhor será uma vitória ganha. T7 11 2 Se as famílias da vizinhança se opõem à verdade, lutem para levá-las a se renderem aos reclamos de Cristo. Trabalhem de forma paciente, sábia, interessada, para conquistar a atenção delas através do suave ministério do amor. Apresentem a verdade de tal maneira que possam percebê-la em toda a sua beleza e ela exerça uma influência à qual não possam resistir. É assim que as barreiras do preconceito são quebradas. T7 11 3 Se esse trabalho fosse feito fielmente, se os pais e as mães trabalhassem com os membros das próprias famílias, e daqueles que estão ao redor, enaltecendo a Cristo através de uma vida piedosa, milhares de pessoas seriam salvas. Quando o povo de Deus estiver verdadeiramente convertido, quando distinguir a obrigação que sobre ele repousa de atuar em favor dos que estão sob sua influência, quando não deixarem de utilizar nenhum método adequado para resgatar os pecadores do poder do inimigo, a reprovação será removida de sobre nossas igrejas. T7 11 4 Agora, pouco tempo nos resta de preparo para a eternidade. Que o Senhor abra os olhos fechados de Seu povo, e desperte seus sentidos adormecidos, para que possa se convencer de que o evangelho é o poder de Deus para a salvação daqueles que crêem. Que vejam a importância de ser uma representação pura e justa de Deus para que o mundo possa contemplá-Lo na Sua beleza. Possam encher-se do Espírito que nEle habita, de tal maneira que o mundo não consiga desviá-los da obra de apresentar aos homens as possibilidades maravilhosas disponíveis diante de toda alma que recebe a Cristo. T7 12 1 Em cada setor da obra há necessidade de maiores esforços. O tempo está passando. Servos de Deus, "não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. O povo carece da verdade, e por meio de zeloso e fiel esforço deve ela ser-lhe comunicada. As pessoas devem ser procuradas, por elas se deve orar e trabalhar. Fervorosos apelos devem ser feitos. Ferventes orações devem ser apresentadas. Nossas petições insípidas e sem vida, devem ser mudadas por petições repletas de intensa dedicação. A Palavra de Deus declara: "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." Tiago 5:16. T7 12 2 O mundo é o nosso campo de trabalho missionário, e devemos sair a trabalhar rodeado da atmosfera do Getsêmani e do Calvário. ------------------------Capítulo 2 -- O sinal de avançar T7 13 1 É uma lei eterna de Jeová que aquele que aceita a verdade que o mundo necessita deve considerar como sua atividade principal torná-la conhecida. Mas quem está de fato assumindo essa responsabilidade pelos pecadores? À medida que observo o professo povo de Deus e vejo sua má vontade para servi-Lo, meu coração é tomado de uma dor que não posso expressar. Quão poucos estão intimamente ligados com Deus, na Sua solene e conclusiva obra. Há milhares para serem advertidos, contudo, quão poucos consagram-se totalmente para o trabalho, dispostos a ser ou fazer alguma coisa para ganhar almas para Cristo. Jesus morreu para salvar o mundo. Com humildade, modéstia e altruísmo, Ele trabalhou e está trabalhando pelos pecadores. Todavia, muitos daqueles que deveriam cooperar com Ele são egoístas e indiferentes. T7 13 2 Entre o povo de Deus hoje há uma preocupante falta daquela simpatia que deveria ser manifesta em relação às pessoas a serem salvas. Falamos das missões cristãs. O som de nossa voz é ouvido; mas será que sentimos realmente o interesse do terno coração de Cristo por aqueles que estão fora do rebanho? A menos que o nosso coração bata em harmonia com o coração de Cristo, como poderemos compreender a importância e santidade do trabalho para o qual somos chamados pelas palavras: "velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas." Hebreus 13:17. T7 13 3 Deus está esperando por homens e mulheres que se despertem para suas responsabilidades. Ele está esperando que se unam com Ele. Que façam o sinal de avançar, e deixem de ser vagarosos para executar a vontade do Senhor. T7 14 1 Estamos cientes do grande número de pessoas no mundo que estão observando nossos movimentos? Das direções de onde menos esperamos, surgirão vozes persuadindo-nos na obra de dar ao mundo a última mensagem de misericórdia. Despertem, pastores e membros! Sejam rápidos em perceber e aproveitar todas as oportunidades e vantagens oferecidas ao girar a roda da providência. Deus, Cristo e os anjos celestiais estão agindo em intensa atividade para segurar a violência da ira de Satanás, para que os planos de Deus não sejam impedidos. Deus vive e reina. Ele está conduzindo o destino do Universo. Que Seus soldados avancem para a vitória. Que haja perfeita unidade em suas fileiras. Que pressionem a batalha até aos portais. Como um poderoso Conquistador, o Senhor atuará por eles. T7 14 2 Que a mensagem do evangelho soe através de nossas igrejas, convidando-as para a ação universal. Que os membros da igreja tenham uma fé crescente, adquirindo zelo de seus invisíveis aliados celestiais, do conhecimento de seus inexauríveis recursos, da grandeza do empreendimento em que se acham empenhados e do poder de seu Guia. Os que se colocam sob a direção de Deus, para ser por Ele guiados, compreenderão a sucessão dos acontecimentos que Ele ordenou. Inspirados pelo Espírito dAquele que deu a vida pela vida do mundo, não se deixarão ficar por mais tempo impotentes, apontando para as coisas que não podem fazer. Vestindo a armadura do Céu, sairão à peleja, dispostos a agir ousadamente em favor de Deus, sabendo que Sua onipotência lhes suprirá as necessidades. Uma obra crescente T7 14 3 Os servos de Deus têm de usar todos os recursos para aumentar o Seu reino. O apóstolo Paulo declara: "Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade." e que "se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos." 1 Timóteo 2:1, 3, 4. E Tiago acrescenta: "Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados." Tiago 5:20. Todo crente deve unir-se com seus irmãos para proclamar o convite: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. Cabe a cada um encorajar os outros a fazer o trabalho de todo coração. Convites zelosos serão apresentados por uma igreja viva. Almas sedentas serão levadas às águas da vida. T7 15 1 Os apóstolos se desempenharam bem na responsabilidade de ampliar sua esfera de ação, proclamando o evangelho nas regiões distantes. Aprendemos de seu exemplo que não podemos ser indolentes na vinha do Senhor. Seus servos estão constantemente aumentando seu raio de influência. Constantemente fazendo mais e nunca menos. A obra do Senhor deve ser ampliada e estendida até atingir o mundo todo. T7 15 2 Depois de fazer uma viagem missionária, Paulo e Barnabé retornaram visitando as igrejas que haviam fundado, e selecionaram pessoas para trabalharem unidas com eles. Da mesma forma, os servos de Deus devem hoje trabalhar selecionando e treinando jovens promissores como colaboradores. Que Deus nos ajude na santificação para que, pelo nosso exemplo, outros possam ser santificados, habilitados a fazer um trabalho de êxito em ganhar almas para Cristo. T7 15 3 Estamos nos aproximando do fim da história da Terra. Muito em breve estaremos diante do grande trono branco. Logo o seu tempo de trabalho estará para sempre no passado. Aproveitemos as oportunidades de falar uma palavra no momento certo àqueles com quem entramos em contato. Que ninguém espere se tornar conhecido antes de oferecer os preciosos tesouros da verdade. Saiamos para o trabalho e as oportunidades se abrirão diante de nós. T7 16 1 No dia do julgamento que virá sobre os perdidos, o significado pleno do sacrifício feito no Calvário será compreendido. Contemplar-se-á o que eles perderam ao recusar ser leais. Meditarão na comunhão elevada e pura da qual era seu privilégio participar. Porém, é tarde demais. O último convite foi feito. O derradeiro pranto é ouvido: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos." Jeremias 8:20. T7 16 2 Sobre nós repousa a pesada responsabilidade de advertir o mundo de sua condenação iminente. De todas as direções, de perto e de longe, vêm pedidos de ajuda. Deus convida Sua igreja a despertar, e revestir-se de poder. Há imortais coroas a ser ganhas; há o reino do Céu a ser alcançado; há o mundo, perecendo na ignorância, a se iluminado. T7 16 3 O mundo ficará convencido, não pelo que o púlpito ensina, mas pelo que a igreja vive. O ministério anuncia do púlpito a teoria do evangelho; a piedade prática da igreja demonstra seu poder. T7 16 4 Debilitada e defeituosa, necessitando constantemente ser admoestada e aconselhada, a igreja é, não obstante, o objeto do supremo cuidado de Cristo. Mediante Sua graça procura influenciar o coração humano, efetuando tal transformação de caráter, que os anjos ficam maravilhados, e expressam sua alegria em cânticos de louvor. Regozijam-se ao pensar que os seres humanos, pecadores e sujeitos a errar, podem ser transformados. T7 17 1 À medida que a mensagem do terceiro anjo se avoluma num alto clamor, grande poder e glória acompanharão sua proclamação. Os semblantes do povo de Deus brilharão com a luz do Céu. T7 17 2 O Senhor preparará homens e mulheres e até mesmo crianças, como fez com Samuel, fazendo-os Seus mensageiros. Aquele que não dorme e nem descuida de cada obreiro, escolheu Sua esfera de ação. Todo o Céu está observando a batalha na qual, debaixo de circunstâncias aparentemente desfavoráveis, os servos de Deus estão envolvidos. Novas conquistas estão sendo alcançadas, novas honras obtidas, à medida que os servos do Senhor se apoiam na bandeira de Seu Redentor, saindo para a boa batalha da fé. Todos os anjos do Céu estão a serviço do povo humilde e crente de Deus, e ao exército de obreiros do Senhor cantar seus cânticos de louvor, o coro no alto se une a ele em ações de graças, tributando louvores a Deus e a Seu Filho. T7 17 3 Nada é, na aparência, mais impotente e, no entanto, realmente mais invencível, que a alma que sente não ser nada e confia inteiramente nos méritos do Salvador. Deus enviaria todos os anjos do Céu em auxílio de tal pessoa, de preferência a permitir que seja vencida. T7 17 4 O grito da batalha é ouvido na linha de frente. Que cada soldado da cruz avance, não na sua suficiência, mas na mansidão e dependência da firme fé em Deus. O seu trabalho, o meu trabalho, não se esgotam nesta vida. Por um pouco de tempo, poderemos descansar na sepultura, mas, quando vier o chamado, no Reino de Deus, assumiremos nossa atividade mais uma vez. ------------------------Capítulo 3 -- Trabalho para os membros da igreja T7 18 1 Temos uma mensagem do Senhor para levar ao mundo -- mensagem que deve ser apresentada na abundante plenitude do poder do Espírito. Vejam os nossos pastores a necessidade de procurar salvar os perdidos. Apelos diretos devem ser feitos aos não convertidos. "Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?" perguntaram os fariseus aos discípulos de Cristo. E o Salvador respondeu: "Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento." Mateus 9:11, 13. Essa é a obra que Ele nos deu. E nunca houve dela maior necessidade do que em nossos dias. T7 18 2 Deus não confiou aos pastores o trabalho de estarem pondo em harmonia as igrejas. Tão depressa se acha aparentemente realizado esse serviço, tem que ser feito de novo. Membros da igreja que são atendidos e ajudados desse modo, tornam-se fracalhões religiosos. Se nove décimos do esforço que se tem empregado em favor dos que conhecem a verdade, houvessem sido empregados em prol dos que dela nunca ouviram, quanto maior teria sido o avanço realizado! Deus tem retido Suas bênçãos porque Seu povo não tem trabalhado em harmonia com as Suas diretrizes. T7 18 3 Os que já conhecem a verdade se tornarão mais fracos, se nossos pastores gastarem com eles o tempo e o talento que deveriam dedicar aos não convertidos. Em muitas de nossas igrejas nas cidades, o pastor prega sábado após sábado e os membros continuam indo à casa de Deus sem palavras que dizer sobre as bênçãos recebidas como resultado das que lhe foram comunicadas. Não trabalham durante a semana pondo em prática as instruções que lhes foram dadas no sábado. Enquanto os membros da igreja não fizerem esforços para dar aos outros o auxílio de que necessitam, o resultado será sempre uma grande debilidade espiritual. T7 19 1 O maior auxílio que se pode prestar a nosso povo é ensiná-lo a trabalhar para Deus e a nEle confiar, e não nos pastores. Aprendam a trabalhar como Cristo trabalhou. Unam-se ao Seu exército de obreiros, e façam por Ele um trabalho fiel. T7 19 2 Ocasiões há em que convém fazerem os nossos pastores, no sábado, em nossas igrejas, breves sermões, cheios de vida e do amor de Cristo. Os membros da igreja não devem, porém, esperar um sermão cada sábado. T7 19 3 Lembremo-nos de que somos peregrinos e estrangeiros na Terra, e que buscamos uma pátria melhor, a celestial. Trabalhemos com fervor e devoção tais que pecadores sejam atraídos a Cristo. Os que se uniram ao Senhor em concerto de serviço, acham-se sob obrigação de a Ele se unir também na grande e sublime obra de salvar almas. Durante a semana, façam os membros da igreja fielmente sua parte e, no sábado, relatem sua experiência. A reunião será então como alimento em tempo oportuno, comunicando a todos os presentes vida nova e renovado vigor. Ao ver o povo de Deus a grande necessidade de trabalhar como Cristo trabalhou pela conversão de pecadores, os testemunhos por eles apresentados no culto do sábado estarão cheios de poder. Com alegria contarão a preciosa experiência que alcançaram no trabalho pelos outros. T7 19 4 Nossos pastores não devem gastar seu tempo trabalhando pelos que já aceitaram a verdade. Com o amor de Cristo a arder-lhes no coração, devem pôr-se a ganhar almas para o Salvador. Junto a todas as águas devem eles lançar as sementes da verdade. Um lugar após outro deve ser visitado; uma igreja após outra ser estabelecida. Os que se põem do lado da verdade devem ser organizados em igrejas, e então, deve o pastor passar a outros campos igualmente importantes. T7 20 1 Logo que seja organizada uma igreja, ponha o pastor os membros a trabalharem. Terão eles que ser ensinados a trabalhar com êxito. Dedique o pastor mais tempo para educar do que para pregar. Ensine o povo a maneira de transmitir a outros o conhecimento que receberam. Se bem que os novos conversos devam ser ensinados a pedir conselho dos mais experientes na obra, devem ao mesmo tempo ser ensinados a não colocar o pastor em lugar de Deus. Os pastores são apenas seres humanos, homens rodeados de fraquezas. Cristo é Aquele de quem devemos esperar guia. "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, ... cheio de graça e de verdade." "E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça." João 1:14, 16. T7 20 2 O poder do evangelho deve sobrevir aos grupos já formados de crentes, habilitando-os para o serviço. Alguns dos novos conversos serão de tal modo cheios do poder de Deus que se porão imediatamente a trabalhar. Trabalharão com tanta diligência que não terão tempo nem vontade de enfraquecer as mãos de seus irmãos com críticas descorteses. Seu único desejo será levarem a verdade às regiões que lhes estão à frente. T7 20 3 O Senhor me apresentou a obra que deve ser feita em nossas cidades. Os crentes nessas cidades podem trabalhar por Deus na vizinhança de seus lares. Devem trabalhar calmamente e com humildade, levando consigo, aonde quer que forem, a atmosfera do Céu. Se deixarem fora de vista o próprio eu, apontando sempre para Cristo, será então sentido o poder de sua influência. T7 21 1 Quando o obreiro se entrega sem reservas ao serviço do Senhor, ganha uma experiência que o habilita para trabalhar para seu Mestre com êxito cada vez maior. A influência que o atraiu a Cristo, ajuda-o a atrair outros. Poderá nunca ser-lhe confiada a obra de orador público, mas nem por isso deixa de ser ministro de Deus; e sua obra testifica ser ele nascido de Deus. T7 21 2 Não é o desígnio do Senhor que se deixe aos pastores a maior parte da obra de semear a semente da verdade. Homens que não são chamados para o ministério, devem ser animados a trabalhar pelo Mestre segundo suas várias habilidades. Centenas de homens e mulheres, agora ociosos, poderiam fazer obra digna de aceitação. Levando a verdade à casa de seus amigos e vizinhos, poderiam fazer grande obra para o Mestre. Deus não faz acepção de pessoas. Ele usa cristãos humildes e dedicados, mesmo que não tenham recebido instrução tão completa quanto alguns outros. Empenhem-se no serviço para Deus, fazendo trabalho de casa em casa. Assentados na intimidade do lar poderão -- se forem humildes, discretos e piedosos -- fazer mais para satisfazer as reais necessidades das famílias, do que o faria um ministro ordenado. T7 21 3 Por que não sentem os crentes preocupação mais profunda, mais fervorosa pelos que estão afastados de Cristo? Por que não se reúnem dois ou três e instam com Deus pela salvação de determinada pessoa, e, em seguida, oram a respeito de outra? Formemos em nossas igrejas grupos para o serviço. Unam-se vários membros para trabalhar como pescadores de homens. Procurem arrebatar almas da corrupção do mundo para a salvadora pureza do amor de Cristo. T7 21 4 A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar. Se há na igreja grande número de membros, convém que se organizem em pequenos grupos a fim de trabalhar, não somente pelos membros da própria igreja, mas também pelos incrédulos. Se num lugar houver apenas dois ou três que conheçam a verdade, organizem-se num grupo de obreiros. Mantenham indissolúvel seu laço de união, apegando-se uns aos outros com amor e unidade, animando-se mutuamente para avançar, adquirindo cada qual ânimo e força com o auxílio dos outros. Manifestem eles paciência e longanimidade cristãs, não proferindo palavras precipitadas, mas empregando o talento da palavra para que uns aos outros se edifiquem na mais santa fé. Trabalhem com amor cristão pelos que se acham fora do redil, esquecendo-se a si mesmos no empenho de ajudar a outros. Ao trabalharem e orarem em nome de Cristo, seu número aumentará, pois diz o Salvador: "Se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos Céus." Mateus 18:19. Os lugares não ocupados T7 22 1 Com humilde confiança em Deus, devem as famílias estabelecer-se nos lugares ainda não ocupados de Sua vinha. Homens e mulheres consagrados são necessários para estar como árvores frutíferas de justiça nos lugares não ocupados da Terra. Como recompensa de seus abnegados esforços para semear as sementes da verdade, haverão de segar colheita farta. Ao visitarem uma família após outra, abrindo as Escrituras aos que estão em trevas espirituais, muitos corações serão tocados. T7 22 2 Nos campos em que as condições são tão desfavoráveis e desanimadoras, que muitos obreiros se recusam a ir para lá, maiores transformações no sentido do melhoramento poderiam ser efetuadas pelo esforço de abnegados membros leigos. Esses humildes obreiros produzirão muito, pois desenvolvem pacientes e perseverantes esforços, não confiando na capacidade humana, mas em Deus, que lhes concede Seu favor. A soma de bem que esses obreiros realizam jamais será conhecida neste mundo. Missionários por conta própria T7 23 1 Missionários que trabalham por conta própria são muitas vezes muito bem-sucedidos. Começando de modo pequeno e humilde, seu trabalho se amplia à medida que prossegue, sob a guia do Espírito de Deus. Comecem dois ou mais juntos, a fazer trabalho de evangelismo. Talvez não recebam dos que se acham à testa da obra nenhum incentivo especial quanto a ser-lhes concedido auxílio financeiro; não obstante, prossigam eles, orando, cantando, ensinando, vivendo a verdade. Poderão empenhar-se em colportar, e desse modo apresentar a verdade a muitas famílias. Ao prosseguirem em sua obra, adquirirão abençoada experiência. Sentem-se humildes pela intuição de seu desamparo, mas o Senhor vai à frente deles, e entre ricos e pobres encontram favor e apoio. Até a pobreza desses dedicados missionários é um meio de acesso ao povo. Ao seguirem seu caminho, são ajudados de muitas maneiras por aqueles a quem levam alimento espiritual. Levam a mensagem que Deus lhes dá, e seus esforços são coroados de êxito. Serão levados ao conhecimento da verdade muitos que, não fossem esses humildes ensinadores, jamais teriam sido ganhos para Cristo. T7 23 2 Deus chama obreiros para que entrem na seara madura. Deveremos esperar porque a tesouraria está sem recursos, porque escasseia o sustento dos obreiros que já se acham no campo? Vamos prosseguir com fé, e Deus estará com vocês. A promessa é: "Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo os seus molhos." Salmos 126:6. T7 24 1 Nada faz tão bem quanto o êxito. Ele é alcançado através do esforço perseverante, e assim a obra progride. Novos campos se abrem. Muitas almas são levadas ao conhecimento da verdade. Mais fé em Deus é o que é necessário. T7 24 2 Nosso povo recebeu grande luz; contudo, muito do esforço ministerial tem sido empregado nas igrejas, ensinando os que deveriam ser professores; iluminando os que deveriam ser "a luz do mundo" (Mateus 5:14); regando aqueles dos quais deveriam brotar rios de água viva; enriquecendo os que poderiam ser minas de preciosa verdade; repetindo o convite evangélico aos que, espalhados nas partes mais remotas da Terra, deveriam estar dando a mensagem do Céu aos que a não ouviram ainda; alimentando os que deveriam estar nos caminhos e valados, fazendo o convite: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. T7 24 3 Jamais serão frios e desanimados aqueles por quem foram despedaçados os grilhões do pecado e, de coração contrito, buscaram ao Senhor e obtiveram resposta ao seu ansioso pedido de justiça. Eles têm o coração cheio de abnegado amor pelos pecadores. Lançam para longe de si toda ambição profana, todo egoísmo. O contato com as coisas profundas de Deus torna-os cada vez mais semelhantes ao seu Salvador. Exultam em Seus triunfos; enchem-se de Seu regozijo. Dia a dia crescem, até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo. ------------------------Capítulo 4 -- Obreiros de nossas fileiras T7 25 1 Deus está olhando para este mundo com muito interesse. Ele sabe da capacidade de servir do ser humano. Considerando Seus obreiros, tanto homens como mulheres, através dos séculos, Ele tem preparado o caminho para eles, dizendo: "Enviar-lhes-ei os Meus mensageiros, e verão grande luz brilhando no meio das trevas. Os que estão no serviço de Cristo usarão seus talentos para glória de Seu nome. Sairão a trabalhar para Mim com grande zelo e devoção. Por meio de seus esforços, a verdade apelará a milhares de maneira irresistível, e os espiritualmente cegos receberão a visão para ver a Minha salvação. A verdade se fará tão destacada que, mesmo aquele que passar correndo, poderá ler. Diferentes maneiras aparecerão para alcançar os corações. Alguns dos métodos usados nessa obra serão diferentes dos métodos usados no passado, todavia, ninguém, por causa disso, poderá bloquear o caminho pelo criticismo." T7 25 2 Nem sempre aqueles a quem Deus escolhe são obreiros talentosos, de acordo com os conceitos do mundo. Às vezes são selecionadas pessoas iletradas. Para essas Ele dá um trabalho especial. Elas alcançam uma classe a que os outros não podem ter acesso. Abrindo o coração para a verdade, elas se tornam sábias por meio de Cristo. Sua vida inala e exala a fragrância da bondade. Suas palavras são cuidadosamente pensadas antes de falar. Lutam para promover o bem-estar de seus semelhantes. Levam o alívio e a felicidade aos necessitados e desanimados. Compreendem a necessidade de permanecer sempre debaixo do treinamento de Cristo, para que possam trabalhar em harmonia com a vontade de Deus. Estudam a melhor maneira de seguir o exemplo de Cristo em carregar a cruz da renúncia própria. São testemunhas de Deus, revelando Sua compaixão e amor, dedicando toda a glória Àquele a quem amam e servem. T7 26 1 Constantemente estão aprendendo do grande Mestre, e sempre alcançando os mais altos degraus da excelência, contudo, todo o tempo, estão se sentindo apreensivas com suas fraquezas e deficiências. São atraídas para cima pela sua força e admiração amorável por Cristo. Praticam Suas virtudes e tentam viver de forma semelhante a Ele. Ao testemunhar, tornam-se uma bênção ao mundo e uma honra para o Seu Redentor. Sobre elas, Cristo diz: "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra." Mateus 5:5. T7 26 2 Esses obreiros precisam ser encorajados. O trabalho que fazem, não é para ser visto pelos homens, mas para glorificar a Deus. Têm a Sua aprovação. O Senhor colocará esses obreiros em conexão com os de comprovada habilidade, para preencherem os espaços deixados por eles. Ele se sentirá satisfeito quando eles são apreciados; porque eles são elos na Sua corrente de serviço. T7 26 3 Homens que são importantes aos seus próprios olhos, convencidos de suas habilidades superiores, menosprezam esses obreiros humildes e contritos; todavia, Deus não os perde de vista. Ele assinala todos aqueles que estão dispostos a ajudar os necessitados. Nas cortes celestiais, quando os remidos forem salvos, eles estarão bem perto do Filho de Deus. Brilharão com esplendor nas cortes do Senhor, honrados por Ele porque sentiram prazer em ministrar àqueles por quem Ele deu a Sua vida. T7 26 4 Deus agirá sobre homens de posição humilde para proclamar a mensagem da verdade presente. Muitos desses estarão correndo para cá e para lá, direcionados pelo Espírito de Deus a levar a luz aos que estão em trevas. A verdade será como um fogo a arder-lhes nos ossos, enchendo-os de um fervoroso desejo de iluminar aqueles que estão em trevas. Muitos, mesmo entre os iletrados, proclamarão a Palavra do Senhor. Crianças serão impelidas pelo Espírito Santo a sair e anunciar a mensagem do Céu. O Espírito será derramado sobre aqueles que se submeterem a Suas incitações. Sacudindo os antiquados regulamentos e movimentos cautelosos dos homens, unir-se-ão ao exército do Senhor. T7 27 1 No futuro, homens de vida simples serão impressionados pelo Espírito do Senhor a deixar seu emprego para se dedicar à proclamação da última mensagem de misericórdia. Tão rápido quanto possível, estarão preparados para esse trabalho, e o êxito vai coroar seus esforços. Cooperam com as agências do Céu; porque estão dispostos a gastar-se completamente no serviço do Mestre. Ninguém está autorizado a impedir esses obreiros. Serão abençoados por Deus na proclamação da grande comissão. Nenhuma palavra de reprovação deve ser dirigida contra esses que semeiam a semente do evangelho nos lugares mais difíceis. T7 27 2 As melhores coisas da vida -- simplicidade, verdade, pureza e imaculada integridade -- não podem ser compradas ou vendidas; são de graça para os ignorantes e para os educados, para os negros e para os brancos, para os humildes camponeses e para os reis em seus tronos. Obreiros humildes que não confiam na sua própria força, mas que trabalham com simplicidade, confiando sempre em Deus, irão compartilhar o regozijo do Salvador. Suas perseverantes orações atrairão pessoas à cruz. Em cooperação com os esforços abnegados deles, Jesus comoverá os corações, operando milagres na conversão de almas. Homens e mulheres se reunirão na igreja para a adoração. Casas de oração serão edificadas, e escolas estabelecidas. O coração dos obreiros encher-se-á de regozijo ao verem a salvação de Deus. T7 28 1 Quando os redimidos estiverem na presença de Deus, irão constatar quão distantes estavam de compreender o que o Céu considera como sucesso. Ao revisar seus esforços para alcançar êxito, verificarão quão simplórios foram nos seus planos, quão insignificantes seus supostos sofrimentos, quão irrazoáveis suas dúvidas. Verificarão como imprimiam freqüentemente falhas em seu trabalho quando não criam de fato na Palavra de Deus. Uma verdade ficará muito clara: a posição que uma pessoa ocupa não a prepara para entrar nas cortes celestiais. Descobrirão, também, que muita honra outorgada ao homem deveria ser dirigida somente a Deus, a quem pertence toda glória. Dos lábios do coro angelical e do exército de redimidos ressoará: "Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor, Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos! Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo." Apocalipse 15:3, 4. ------------------------Capítulo 5 -- Estendendo os triunfos da cruz T7 29 1 "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. T7 29 2 Quando essa Dádiva maravilhosa e preciosa foi concedida, todo o Universo celestial foi desafiado num enorme esforço para compreender o insondável amor de Deus, e para despertar nos corações humanos uma gratidão proporcional ao valor da Dádiva. Nós, para quem Cristo deu a Sua vida, ficaremos divididos entre duas opiniões? Dedicaremos a Deus somente uma pequena parte da capacidade e poder que Ele nos emprestou? Como podemos fazer isso, quando sabemos que Ele, como Comandante de todo Céu colocou de lado Suas vestes e coroa real, e, compreendendo a raça humana desesperançada, veio à Terra assumindo a natureza humana para tornar possível unir nossa humanidade com Sua divindade? Ele Se tornou pobre para que pudéssemos possuir o tesouro celestial, "para nós um peso eterno de glória mui excelente." 2 Coríntios 4:17. Para nos salvar, foi descendo de humilhação em humilhação, até que Ele, o divino-humano, Cristo sofredor, foi levantado sobre a cruz, para atrair a Si mesmo, todos os homens. O Filho de Deus não poderia ter mostrado tão grande condescendência e chegado a um nível tão baixo. T7 29 3 Esse é o mistério da piedade, o mistério que tem inspirado agentes celestiais a ministrar à humanidade caída a fim de despertar um profundo interesse pelo plano da salvação. Esse é o mistério que tem comovido todo o Céu a se unir com o homem para levar avante o grande plano de Deus para a salvação do mundo arruinado. O trabalho da igreja T7 30 1 As agências humanas são comissionadas a trabalhar para levar os triunfos da cruz a todas as partes. Como Cabeça da igreja, Cristo tem autoridade para chamar todo aquele que se diz crer nEle para seguir o Seu exemplo de desprendimento e sacrifício próprio, trabalhando pela conversão daqueles sobre quem Satanás e seu vasto exército estão atuando para destruir. O povo de Deus é chamado para marchar sem demora sob a bandeira ensangüentada de Jesus Cristo. Incessantemente devem continuar sua batalha contra o inimigo, pressionando a luta até aos seus portais. A cada um que se ajunta às fileiras mediante a conversão, deve ser designado seu posto de dever. Cada qual deve estar disposto a ser ou fazer qualquer coisa nessa batalha. Quando os membros da igreja envidarem todos esforços para levar a mensagem, vivenciarão a alegria do Senhor e alcançarão êxito. O triunfo vem após decidido esforço. O Espírito Santo, nossa eficiência T7 30 2 Cristo, em Sua capacidade mediadora, dá aos Seus servos a presença do Espírito Santo. É a eficiência do Espírito que habilita as agências humanas a serem representantes do Redentor na obra de salvar almas. Para nos unir com Cristo nessa atividade, devemos nos colocar sob a influência modeladora do Seu Espírito. Assim, através do poder outorgado, podemos cooperar com o Senhor, unidos com Ele como obreiros na salvação de almas. A todos os que se oferecem ao Senhor para o serviço, sem nada reter para si, é concedido poder para atingir imensuráveis resultados. T7 31 1 O Senhor está ligado a um compromisso eterno de suprir com poder e graça a todos que são santificados pela obediência à verdade. Cristo, a quem é dado todo poder no Céu e na Terra, coopera favoravelmente com Seus representantes -- os sinceros que dia após dia participam do pão vivo "que desceu do Céu". João 6:50. A igreja da Terra unida com a igreja do Céu pode realizar todas as coisas. Poder concedido aos apóstolos T7 31 2 No dia de Pentecostes, o Infinito revelou-Se com poder à igreja. Por intermédio do Espírito Santo, Ele desceu das alturas do Céu como um vento impetuoso na casa onde os discípulos estavam reunidos. Foi como se, por séculos, essa influência estivesse restringida, e então o Céu passasse a se regozijar em poder derramar sobre a igreja as riquezas do poder do Espírito. E, sob a influência do Espírito, as palavras de penitência e confissão se misturaram com cânticos de louvor por pecados perdoados. Palavras de agradecimento e de profecia foram ouvidas. Todo o Céu se curvou para observar e adorar a sabedoria sem igual e incompreensível amor. Perdidos em maravilhas, os apóstolos e discípulos exclamaram: "Nisto está o amor." 1 João 4:10. Eles se apossaram da dádiva distribuída. O que aconteceu? Milhares se converteram num dia. A espada do Espírito, novamente afiada com poder e banhada por raios do Céu, rompeu sobre os descrentes. T7 31 3 O coração dos apóstolos estava repleto de uma benevolência tão profunda, mas tão profunda, que os impeliu a testificar até aos confins da Terra. Deus os proibiu de gloriar-se a não ser na salvação de nosso Senhor Jesus Cristo. Encheram-se de intenso interesse em ajudar a acrescentar à igreja os que deveriam ser salvos. Convidaram os crentes a se levantar e fazer sua parte, para que todas as nações pudessem ouvir a verdade, e a Terra encher-se da glória do Senhor. O mesmo poder deve ser revelado hoje T7 32 1 Pela graça de Cristo os apóstolos foram feitos o que eram. Foi sincera devoção, humildade e fervente oração o que os levou a íntima comunhão com Ele. Assentaram-se com Ele nos lugares celestiais. Compreenderam a enormidade do débito para com Ele. Mediante perseverante e fervorosa oração obtiveram a dotação do Espírito Santo, e saíram, carregados com o fardo da salvação de almas, cheios de zelo para estender os triunfos da cruz. E com seus esforços muitas pessoas foram trazidas das trevas para a luz, e diversas igrejas foram estabelecidas. T7 32 2 Seremos menos fervorosos do que os apóstolos? Não haveremos de, fundamentados em fé viva, reclamar as promessas que os levaram a, da profundeza de seu ser, implorar ao Senhor Jesus o cumprimento de Sua palavra: "pedi e recebereis"? João 16:24. Não virá o Espírito de Deus hoje, em resposta à oração fervorosa e perseverante, suprindo de poder os homens? Não está Deus hoje dizendo aos Seus obreiros que oram, que confiam e crêem, que estão abrindo as Escrituras aos ignorantes da verdade: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos"? Mateus 28:20. Por que, então, a igreja é tão fraca e tão pouco espiritual? T7 32 3 Assim como os discípulos se encheram do poder do Espírito, e saíram para proclamar o evangelho, também hoje os servos de Deus devem fazer o mesmo. Cheios de um desejo altruísta de dar a mensagem de misericórdia àqueles que estão nas trevas do erro e descrença, devemos tomar o trabalho do Senhor. Deu-nos a parte que nos cabe realizar em cooperação com Ele, e também enternecerá o coração dos descrentes para levarem avante o Seu trabalho nas regiões mais distantes. Muitos já estão recebendo o Espírito Santo, e não demorará muito quando o caminho será bloqueado por desatenta indiferença. T7 33 1 Para que foi registrada a história da obra dos discípulos, trabalhando com zelo santo, animados e vitalizados pelo Espírito Santo, se não para que hoje o povo do Senhor obtivesse inspiração para por Ele trabalhar ardorosamente? O que o Senhor fez por Seu povo naquele tempo é igualmente ou mais necessário que faça pelos Seus na atualidade. Tudo que os apóstolos realizaram, deve hoje repetir cada membro da igreja. E nós devemos trabalhar com tanto maior fervor, e ser acompanhados do Espírito Santo em medida tanto maior, pois o aumento da impiedade exige um mais decidido apelo ao arrependimento. T7 33 2 Em quem a luz da verdade presente está brilhando deve existir compaixão por aqueles que estão nas trevas. A luz de todos crentes deve refletir raios claros e distintos. Ele está esperando que hoje seja realizado um trabalho semelhante ao que o Senhor fez através de Seus comissionados mensageiros, após o Pentecostes. Nesse tempo, quando chegar o fim de todas as coisas, não deveria o zelo da igreja ser ainda maior do que aconteceu na igreja primitiva? O zelo pela glória de Deus levou os discípulos a dar testemunho da verdade com extraordinário poder. Não deveria esse zelo incendiar nosso coração com o desejo de contar a história do amor divino, de Cristo crucificado? Não deveria o poder de Deus ser ainda mais poderosamente revelado hoje do que no tempo dos apóstolos? ------------------------Capítulo 6 -- A obra nas cidades T7 34 1 Sonhei que vários irmãos nossos estavam reunidos em concílio, estudando planos de trabalho para esta época do ano. Julgavam preferível não penetrar nas cidades grandes, mas começar pelas localidades pequenas, distantes das cidades; aí encontrariam menos oposição da parte do clero e evitariam despesas avultadas. Arrazoavam que, sendo em pequeno número, nossos pastores não poderiam ser dispensados para instruir nas cidades os que aceitassem a verdade, e que, por motivo da maior oposição que ali encontrariam, iriam precisar de mais auxílio do que em igrejas de pequenas localidades rurais. Desse modo, em grande parte, se perderia o fruto de uma série de conferências na cidade. T7 34 2 Ainda se insistiu que, em vista de serem escassos os nossos recursos e com as muitas alterações causadas pelas mudanças que poderiam acontecer numa igreja de cidade grande seria difícil formar uma igreja que fosse um auxílio para a causa. Meu esposo instava com os irmãos para que traçassem sem demora planos mais amplos e empregassem em nossas grandes cidades, esforços extensos e completos, que melhor correspondessem ao caráter de nossa mensagem. Um obreiro relatou incidentes de sua experiência nas cidades, mostrando que fora quase um fracasso, ao passo que apresentara melhor êxito nas localidades pequenas. T7 35 3 Um Ser de dignidade e autoridade -- presente em todas as nossas reuniões de comissões -- escutava com o mais profundo interesse todas as palavras. Falou deliberadamente e com perfeita segurança: "O mundo todo", disse, "é a grande vinha de Deus. As cidades e vilas constituem parte dessa vinha. Elas têm que ser atingidas. Satanás buscará interpor-se e desanimar os obreiros, para impedi-los de apresentar a mensagem de luz e advertência nos lugares mais importantes, assim como nos mais remotos. Empregará esforços desesperados para levar o povo a voltar-se da verdade para a falsidade. Anjos do Céu são enviados para cooperar com os esforços dos mensageiros de Deus na Terra. Os pastores devem ter coragem, e manter a fé e a esperança inabaláveis, como o fez Cristo, seu Líder vivo. Têm que conservar-se humildes e contritos perante Deus." T7 35 1 Deus pretende que Sua Palavra, com suas mensagens de advertência e encorajamento, atinja os que estão em trevas e desconhecem a nossa fé. Ela deve ser levada a todos, e lhes servirá de testemunha, quer lhe dêem ouvidos, quer a rejeitem. Não considere que é sua a responsabilidade de convencer e converter os ouvintes. Unicamente o poder de Deus é capaz de abrandar o coração das pessoas. Devemos expor a Palavra da vida, para que todos os que desejarem tenham a chance de receber a verdade. Se voltarem as costas à verdade de origem celestial, ela lhes será a condenação. T7 35 2 Não devemos ocultar a verdade nos recantos da Terra. Ela deve ser proclamada; deve brilhar em nossas grandes cidades. Cristo, em Seus trabalhos, Se punha à margem do lago e nas grandes estradas, onde encontrava pessoas de todas as partes do mundo. Ele emitia a luz verdadeira; semeava a semente do evangelho; resgatava a verdade de sua mistura com o erro, apresentando-a em sua original simplicidade e clareza, de modo que os homens a pudessem compreender. T7 35 3 O Mensageiro celestial que conosco estava, disse: "Jamais percam de vista o fato de que a mensagem é mundial. Deve ela ser dada a todas as cidades, a todas as vilas; deve ser proclamada nos caminhos e valados. Não limitem a proclamação da mensagem." Na parábola do semeador, Cristo apresentou uma ilustração de Sua própria obra e da de Seus servos. A semente caiu sobre toda espécie de solo. Parte dela caiu em terreno estéril, contudo, nem por isso deixou o semeador de trabalhar. A semente da verdade deve ser lançada em todos os lugares. Onde quer que haja acesso, deve ser exposta a Palavra de Deus. Semeada sobre todas as águas. Talvez não se note logo o resultado dos labores, mas não se pode desanimar. Falemos as palavras de Cristo. Trabalhemos de acordo com os Seus planos. Devemos ir por toda parte, como fez Ele em Seu ministério na Terra. T7 36 1 O Redentor do mundo tinha muitos ouvintes, mas poucos seguidores. Noé pregou ao povo cento e vinte anos antes do dilúvio, e bem poucos souberam dar valor a esse precioso tempo de graça. Exceto Noé e sua família, ninguém mais foi contado entre os crentes, nem entrou na arca. De todos os habitantes da Terra, somente oito pessoas aceitaram a mensagem; mas aquela pregação condenou o mundo. A luz foi dada para que cressem, a rejeição da luz valeu-lhes a ruína. Nossa mensagem para o mundo será um cheiro de vida para todos quantos a aceitarem, e de condenação para todos os que a rejeitarem. T7 36 2 O Mensageiro Se volveu para um dos presentes, e disse: "Suas idéias acerca do trabalho para este tempo são demasiadamente acanhadas. Sua luz não deve se limitar a um espaço pequeno, nem ser posta debaixo do alqueire ou da cama; deve ser posta no castiçal, para que produza claridade para todos quantos estão na casa de Deus -- o mundo. É preciso ter mais ampla concepção da obra." ------------------------Capítulo 7 -- A obra na grande Nova Iorque T7 37 1 Chegou o tempo para fazer decididos esforços para proclamar a verdade em nossas grandes cidades. A mensagem deve ser dada com tal poder que os ouvintes sejam convencidos. Deus suscitará obreiros para fazer esse trabalho. Eles não devem ser impedidos. Deus lhes está dando essa obra. Eles ocuparão esferas peculiares de influência e levarão a verdade aos lugares mais desprezíveis. Alguns que outrora eram inimigos, se tornarão colaboradores valiosos, propagando a obra com seus próprios recursos e influência. T7 37 2 Nas grandes cidades, as missões devem ser estabelecidas onde os obreiros podem ser treinados para apresentar ao povo a mensagem especial para este tempo. Há necessidade de toda instrução possível para essas missões. T7 37 3 Sob a direção de Deus, foi iniciada a missão na cidade de Nova Iorque. Esse trabalho deve continuar no poder do mesmo Espírito que o estabeleceu. Os que levam a responsabilidade da obra na Grande Nova Iorque devem ter o auxílio dos melhores obreiros que se possa conseguir. Seja instalado ali um centro para a obra de Deus, e tudo quanto for feito seja um símbolo da obra que o Senhor deseja ver realizada em todo o mundo. T7 37 4 Se nesses grandes centros pudessem estabelecer uma obra médico-missionária por homens e mulheres de experiência, com uma representação correta dos verdadeiros princípios médicos missionários, seria de grande poder para causar uma impressão favorável sobre o povo. T7 38 1 Em toda cidade penetrada, deve-se lançar sólido fundamento para uma obra permanente. Cumpre seguir os métodos do Senhor. Fazendo trabalho de casa em casa, dando instruções bíblicas às famílias, o obreiro pode obter acesso a muitos que estão buscando a verdade. Abrindo as Escrituras, fazendo oração, exercendo fé, deve ele ensinar ao povo o caminho do Senhor. T7 38 2 No território da Grande Nova Iorque tem o Senhor muitas almas preciosas que não dobraram os joelhos a Baal; e há os que, pela ignorância, têm andado no caminho do erro. Sobre esses deve brilhar a luz da verdade, a fim de verem Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida. T7 38 3 Temos de apresentar a verdade no amor de Cristo. Essa obra não deve ser feita com extravagância ou exibição. Deve ser feita à maneira de Cristo. Cumpre fazê-la com humildade, na singeleza do evangelho. Não sejam os obreiros intimidados por aparências exteriores, por desanimadoras que sejam. Ensinemos a Palavra, e, por meio de Seu Espírito, o Senhor enviará convicções aos ouvintes. T7 38 4 Depois de a verdade ter impressionado os corações, e de homens e mulheres a terem aceito, todos devem ser tratados como propriedades de Cristo, não como propriedades do homem. Nenhum ser humano deve se apossar de outros para controlá-los, dizendo-lhes o que devem fazer, proibindo-os de fazer isto ou aquilo, comandando, ditando, agindo como um oficial de pelotão do exército. Essa era a maneira de agir dos sacerdotes e líderes no tempo de Jesus; todavia, essa não é a forma correta. Os obreiros devem trabalhar irmanados numa unidade cristã, mas sem exercer uma autoridade inadequada sobre aqueles que aceitam a verdade. A mansidão de Cristo deve ser notada em tudo que falam e fazem. T7 38 5 O obreiro deve mostrar seu crescimento na graça pela submissão à vontade de Deus. Assim conseguirá uma rica experiência. Da mesma forma que pela fé ele recebe, crê e obedece as palavras de Cristo, também haverá um esforço intenso; será alimentada uma fé que opera por amor e purifica a alma. O fruto do Espírito será visto na vida, e a eficiência do Espírito será percebida no trabalho. T7 39 1 Cristo é nosso exemplo, nossa inspiração, nossa maior recompensa, "Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:9. Deus é o Construtor, mas o homem tem sua parte a desempenhar. Ele deve cooperar com Deus. "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Nunca devemos esquecer as palavras: "somos cooperadores de Deus." T7 39 2 Lembre-se que trabalhando com Cristo como seu Salvador pessoal, Ele é sua força e sua vitória. Essa é a parte que todos devem assumir. Para todos os que assim agem, vem a promessa: "Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus." João 1:12. Cristo declara: "Porque sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. E a alma humilde e crente responde: "Posso todas as coisas nAquele que me fortalece." Filipenses 4:13. T7 39 3 Cristo é o simpatizante e compassivo Redentor. A Sua comissão foi: "Ide por todo o mundo." Marcos 16:15. Todos devem ouvir a mensagem de advertência. Um prêmio de grande valor é assegurado àqueles que estão participando da carreira cristã. Os que correm com paciência receberão uma coroa de vida que não perece. ------------------------Capítulo 8 -- Não demorar mais T7 40 1 Nossos obreiros não estão alcançando o que deveriam. Nossos líderes não se despertaram para a obra que deve ser feita. Quando penso nas cidades nas quais pouco foi feito, onde há milhares que precisam ser advertidos da breve volta do Salvador, sinto um intenso desejo de ver homens e mulheres saindo para a obra com o poder do Espírito, cheios do amor de Cristo por almas que perecem. T7 40 2 Os que vivem em nossas cidades -- próximo de nossas portas -- estão sendo estranhamente negligenciados. Esforços organizados deveriam estar à disposição para oferecer-lhes a mensagem da verdade presente. Um novo cântico deve ser colocado na sua boca. A terceira mensagem angélica deve ser compartilhada com aqueles que estão agora nas trevas. T7 40 3 Devemos estar bem alerta, à medida que os caminhos se abrem, para fazer avançar o trabalho nas grandes cidades. Estamos muito atrasados em acompanhar a luz dada para entrar nessas grandes cidades e aí erigir memoriais para Deus. Passo a passo temos de dirigir as pessoas à plena luz da verdade. E temos de continuar o trabalho até que uma igreja seja organizada e construída. Fico encorajada em pensar que muitos, fora de nossa fé, ajudarão consideravelmente com os seus recursos. A luz que me foi dada mostra que em muitos lugares, especialmente nas grandes cidades da América, os recursos virão dessas pessoas. T7 40 4 Os obreiros das cidades devem ler cuidadosamente o décimo e o décimo primeiro capítulos de Hebreus, apropriando-se de suas instruções. O décimo primeiro capítulo relata as experiências de homens fiéis. Os que trabalham para Deus nas cidades devem sair na fé, fazendo o seu melhor. À medida que vigiam, trabalham e oram, Deus ouvirá e responderá suas petições. Obterão uma experiência valiosa para o seu trabalho. "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem." Hebreus 11:1. T7 41 1 A minha mente está profundamente agitada. Há muito trabalho para ser feito em diversas cidades. Obreiros devem partir para as nossas grandes cidades e realizar reuniões campais. Nessas reuniões os melhores talentos devem ser empregados, para que a verdade possa ser proclamada com poder. Devem participar pessoas com diversos dons. Uma única pessoa não possui todos os dons indispensáveis para o trabalho. Para tornar uma reunião religiosa bem sucedida, são necessários vários obreiros. Ninguém deve monopolizar sozinho todo trabalho importante. T7 41 2 Ao proclamar a verdade nessas reuniões o poder do Espírito alcançará os corações. O amor de Cristo, recebido no coração, vai banir o amor ao erro. T7 41 3 Há necessidade dessas conferências religiosas como as que se faziam nos primeiros estágios da obra, reuniões campais separadas dos negócios administrativos da Associação. Nessas reuniões os obreiros devem se sentir livres para transmitir o conhecimento da verdade para aqueles que são de fora. T7 41 4 Arranjos devem ser feitos em nossas reuniões campais para que os pobres possam obter alimento saudável e bem preparado, ao preço mais reduzido possível. Deve haver, também, um restaurante servindo pratos saudáveis e atraentes. Isso será algo educativo para muitos que não são de nossa fé. Esse procedimento não deve ser olhado como algo diferente das reuniões religiosas. Os vários ramos da obra de Deus se articulam uns com os outros, todos colaborando em perfeita harmonia. ------------------------Capítulo 9 -- O culto doméstico T7 42 1 Se já houve tempo em que toda casa deveria ser uma casa de oração, agora é esse tempo. Prevalecem a incredulidade e o ceticismo. Predomina a iniqüidade. A corrupção penetra nas correntes vitais da alma, e irrompe na vida a rebelião contra Deus. Escravas do pecado, as faculdades morais estão sob a tirania de Satanás. A alma torna-se o joguete de suas tentações; e a menos que se estenda um braço poderoso para o salvar, o homem passa a ser dirigido pelo arqui-rebelde. T7 42 2 Contudo, neste tempo de terrível perigo, alguns que professam ser cristãos não celebram culto doméstico. Não honram a Deus no lar; não ensinam os filhos a amá-Lo e temê-Lo. Muitos se afastaram tanto dEle que se sentem sob condenação ao dEle se aproximar. Não podem chegar-se "com confiança ao trono da graça" (Hebreus 4:16), "levantando mãos santas, sem ira nem contenda". 1 Timóteo 2:8. Não desfrutam viva comunhão com Deus. Têm a forma de piedade, sem o poder. T7 42 3 A idéia de que a oração não seja essencial é uma das mais bem-sucedidas armadilhas de Satanás para destruir almas. Oração é comunhão com Deus, a Fonte da sabedoria, o manancial de poder, paz e felicidade. Jesus orava ao Pai "com grande clamor e lágrimas". Hebreus 5:7. Paulo exorta os crentes a orarem "sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17), fazendo em tudo conhecidos os seus pedidos a Deus, em orações e súplicas, com ações de graças. "Orai uns pelos outros", diz Tiago; "a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos". Tiago 5:16. T7 42 4 Pela sincera e fervorosa oração devem os pais construir um muro em torno dos filhos. Devem suplicar, com plena fé, que Deus entre eles habite, e santos anjos os guardem, a eles e aos filhos, do poder cruel de Satanás. T7 43 1 Em cada família deve haver um tempo determinado para os cultos matutino e vespertino. Quão apropriado é reunirem os pais em redor de si aos filhos, antes de quebrar o jejum, agradecer ao Pai celestial Sua proteção durante a noite e pedir-Lhe auxílio, guia e proteção para o dia! Quão adequado, também, em chegando a noite, é reunirem-se uma vez mais em Sua presença, pais e filhos, para agradecer as bênçãos do dia findo! T7 43 2 O pai e, em sua ausência, a mãe, deve dirigir o culto, buscando um trecho das Escrituras que seja interessante e de fácil compreensão. Convém que o culto seja breve. Se for lido um capítulo extenso e feita uma oração longa, o culto torna-se cansativo e, ao terminar, tem-se sensação de alívio. Deus é desonrado quando a hora da adoração se torna insípida e enfadonha, quando é tão tediosa, tão destituída de interesse que as crianças lhe têm horror. T7 43 3 Pais e mães, tornem a hora do culto intensamente interessante. Não há razão para que essa hora não deva ser a mais agradável e jubilosa do dia. Com um pouco de preparo, será possível torná-la cheia de interesse e proveito. De tempos a tempos, deve ser introduzida alguma mudança. Podem-se formular perguntas sobre a porção lida e fazer algumas adequadas e oportunas observações. Pode-se cantar um hino de louvor. A oração feita deve ser breve e concisa. Com palavras simples e fervorosas, a pessoa que faz a oração louve a Deus por Sua bondade e peça-Lhe auxílio. Tomem parte as crianças na leitura e na oração, quando o permitirem as circunstâncias. T7 44 1 A eternidade revelará quanto bem resultou desses períodos de oração. T7 44 2 A vida de Abraão, o amigo de Deus, era uma vida de oração. Onde quer que armasse sua tenda, junto dela construía um altar, sobre o qual oferecia os sacrifícios da manhã e da tarde. Ao remover a tenda, o altar ficava. E o errante cananeu, ao chegar àquele altar, sabia quem ali estivera. Depois de armar a tenda, consertava-o e adorava o Deus vivo. T7 44 3 Assim devem os lares cristãos ser luzes no mundo. Manhã e noite devem deles ascender a Deus, orações como incenso suave. E como o orvalho matutino, Suas misericórdias e bênçãos descerão sobre os suplicantes. T7 44 4 Pais e mães: Cada manhã e noite, reúnam os filhos ao redor de si, e com humilde petição elevem a Deus o coração, suplicando-Lhe auxílio. Seus queridos acham-se expostos à tentação. Contratempos diários atravessam o caminho dos jovens e idosos. Os que quiserem viver vida paciente, amorosa e alegre, precisam orar. Só recebendo auxílio constante de Deus, poderemos alcançar a vitória sobre o próprio eu. T7 44 5 Cada manhã, consagrem-se e a seus filhos a Deus, para esse dia. Não façam cálculos para meses ou anos; eles não lhes pertencem. Um curto dia é o que lhes é dado. Como se fosse esse seu último dia na Terra, trabalhem para o Mestre durante as suas horas. Deponham perante Deus todos os planos, para serem executados ou rejeitados, conforme o indique a Sua providência. Aceitem os Seus planos, mesmo quando sua aceitação exija a renúncia de projetos acariciados. Assim a vida será moldada cada vez mais segundo o modelo divino; e "a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus". Filipenses 4:7. ------------------------Capítulo 10 -- Responsabilidades da vida conjugal T7 45 1 Caro irmão e irmã: T7 45 2 Vocês se uniram em um concerto vitalício. Está começando a sua educação na vida conjugal. O primeiro ano de vida matrimonial é ano de experiência, ano em que, como a criança aprende lições na escola, marido e mulher descobrem mutuamente os diferentes traços de caráter. Nesse primeiro ano de vida conjugal, não permitam que haja capítulos que possam manchar a felicidade futura. T7 45 3 Alcançar a devida compreensão da relação matrimonial é obra da vida inteira. Os que se casam ingressam numa escola onde nunca, nesta vida, se diplomarão. T7 45 4 Meu irmão, o tempo, a força e a felicidade de sua esposa acham-se agora ligados aos seus. Sua influência sobre ela pode ser um cheiro de vida para vida, ou de morte para morte. Seja muito cuidadoso para lhe não estragar a vida. T7 45 5 Minha irmã, você vai agora aprender as primeiras lições práticas no tocante às responsabilidades da vida conjugal. Tenha cuidado para aprender fielmente essas lições, dia a dia. Não dê lugar a descontentamento nem acabrunhamento. Não almeje vida de ócio e inatividade. Guarde-se constantemente de ceder ao egoísmo. T7 45 6 Em sua união vitalícia, as afeições devem conduzir à felicidade mútua. Cada um deve promover a felicidade do outro. Esta é a vontade de Deus a seu respeito. Mas, ao mesmo tempo que se devem unir em um só ser, nenhum de vocês deverá perder sua própria individualidade na do outro. Deus é o dono de sua individualidade. A Ele é que se deve perguntar: Que é direito? Que é errado? Como poderei eu melhor cumprir o propósito de minha criação? "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Seu amor ao que é humano deve ser secundário em relação ao amor a Deus. A força de sua afeição deve refluir para Aquele que deu a vida por você. Vivendo para Deus, a pessoa faz convergir nEle suas melhores e mais elevadas afeições. É para Aquele que morreu por você, a maior manifestação do seu amor? Se assim for, seu amor mútuo será segundo o plano do Céu. T7 46 1 A afeição poderá ser clara como cristal e formosa em sua pureza e, contudo, ser superficial, por não ter sido provada nem refinada. Faça de Cristo em tudo o primeiro, o último e o melhor. Contemple-O constantemente, e, à medida que se for submetendo à prova, seu amor a Ele se tornará dia a dia mais profundo e mais forte. E ao ampliar seu amor a Ele, também sua experiência de amor mútuo há de crescer, aprofundar-se e fortalecer-se. "E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito." 1 Coríntios 3:18. T7 46 2 Você agora tem deveres a cumprir, que não tinha antes do casamento. "Revesti-vos, pois ... de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade." Colossences 3:12. "Andai em amor, como também Cristo vos amou." "Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja. ... De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela." Efésios 5:2, 22-25. T7 46 3 O casamento, uma união vitalícia, é símbolo da união entre Cristo e Sua igreja. O espírito que Cristo manifesta para com a igreja, é o que marido e mulher devem dedicar-se mutuamente. T7 47 1 Nem o marido nem a mulher deve tentar dominar. O Senhor expressou o princípio que orienta este assunto. O marido deve amar a mulher como Cristo à igreja. E a mulher deve respeitar e amar o marido. Ambos devem cultivar espírito de bondade, resolvidos a nunca ofender ou prejudicar o outro. T7 47 2 Meu irmão e minha irmã, os dois têm intensa força de vontade. Podem tornar essa faculdade em grande bênção ou em grande maldição, para vocês e para os com quem entram em contato. Não procurem obrigar o outro a proceder como desejam. Não podem fazer isso e ao mesmo tempo conservar o amor mútuo. Manifestações de vontade própria destroem a paz e a felicidade do lar. Não permitam que sua vida conjugal seja de contenção. Se o permitirem isso, serão ambos infelizes. Sejam bondosos nas palavras e delicados no trato, renunciando aos próprios desejos. Vigiem bem as palavras; pois elas exercem influência poderosa para o bem ou para o mal. Não permitam qualquer aspereza da voz. Tragam para a vida conjugal a fragrância da semelhança de Cristo. T7 47 3 Antes de um homem entrar em união tão íntima como é a relação matrimonial, deve ele aprender a dominar-se e a tratar com outros. T7 47 4 Na educação da criança, há ocasiões em que a vontade firme e amadurecida da mãe encontra a vontade desarrazoada e indisciplinada da criança. Nessas ocasiões há necessidade de grande sabedoria da parte materna. Por procedimento imprudente ou imposição autoritária, pode-se causar grande mal à criança. T7 47 5 Sempre que possível, convém evitar essa crise; pois representa uma luta árdua, tanto para a mãe como para o filho. Porém uma vez que surja, a criança tem que ser levada a sujeitar a sua vontade à vontade mais sábia do pai ou da mãe. T7 48 1 Deve a mãe conservar-se sob domínio perfeito, não fazendo coisa alguma que desperte na criança espírito de desafio. Não deve ela dar ordens em voz alterada. Muito lucrará com manter a voz em tom suave e agradável. Deve tratar a criança de forma que a atraia para Jesus. Deve reconhecer que Deus é seu Auxiliador; e o amor, seu poder. Como uma cristã sábia não tenta forçar a criança a sujeitar-se. Ora fervorosamente para que o inimigo não alcance a vitória e, ao orar, está consciente de um reavivamento da vida espiritual. Vê que o mesmo poder que nela opera, também atua no filho. Ele se torna mais afável, mais dócil. A batalha está ganha. Sua paciência e bondade, suas palavras de sábia restrição, realizaram a obra desejada. Depois do temporal vem a bonança, como, após a chuva, o brilho do Sol. E os anjos, que estiveram a observar a cena, rompem em cânticos de júbilo. T7 48 2 Essas crises ocorrem também na vida de marido e mulher, que, a menos que dominados pelo Espírito de Deus, manifestarão nessas ocasiões o espírito impulsivo, irrefletido, tantas vezes manifestado pelas crianças. Como pedra contra pedra, será o conflito de uma vontade contra a outra. T7 48 3 Meu irmão, seja bondoso, paciente, longânimo. Lembre-se que sua esposa o aceitou como esposo não para que sobre ela dominas-se mas para que lhe fosse o arrimo. Não seja despótico nem autoritário. Não exerça sua grande força de vontade para obrigar sua esposa a proceder como deseja. Lembre-se de que ela tem sua vontade e que, assim como você, pode ela também desejar que essa vontade se cumpra. Lembre-se, ainda, de que você tem a vantagem da experiência mais vasta. Seja compreensivo e cortês. "A sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos." Tiago 3:17. T7 49 1 É positivamente essencial que ambos alcancem uma vitória: a vitória sobre a vontade obstinada. Nessa luta só se pode vencer com o auxílio de Cristo. Pode-se lutar árdua e longamente para vencer o próprio eu, mas, a menos que receba força do alto, haverá fracasso. Pela graça de Cristo pode-se alcançar a vitória sobre o próprio eu e o egoísmo. À medida que for vivendo Sua vida, manifestando a cada passo sacrifício, revelando constante e crescente simpatia pelos que necessitam de auxílio, virá vitória sobre vitória. Dia a dia, vocês aprenderão a conquistar o próprio eu e a fortalecer os pontos fracos de caráter. Ao submeter a vontade ao Senhor Jesus, Ele será sua luz, sua força, sua coroa de glória. T7 49 2 Os homens e mulheres poderão atingir o ideal de Deus por tomarem a Cristo como seu Auxiliador. Façam uma entrega sem reservas a Deus. Saber que estão lutando pela vida eterna os fortalecerá e confortará. Cristo pode conceder-lhes o poder para vencer. Por Seu auxílio poderão destruir inteiramente a raiz do egoísmo. T7 49 3 Cristo morreu para que a vida do homem possa estar ligada à Sua, na união da divindade com a humanidade. Veio ao nosso mundo e viveu vida divino-humana, a fim de a vida de homens e mulheres ser tão harmoniosa quanto Deus pretende que seja. O Salvador nos convida para negarmos o próprio eu e tomarmos a cruz. Então, coisa alguma impedirá o desenvolvimento do ser inteiro. A experiência diária revelará ação salutar e harmoniosa. T7 49 4 Lembrem-se, caro irmão e irmã, que Deus é amor e que pela Sua graça conseguirão fazer-se mutuamente felizes, como prometeram em seu voto matrimonial. E na força do Redentor poderão trabalhar com sabedoria e eficiência para ajudar alguma vida tortuosa a ser endireitada em Deus. Que há que Cristo não possa fazer? Ele é perfeito em sabedoria, em justiça e em amor. Não se fechem em si mesmos, satisfeitos com fruir mutuamente toda sua afeição. Lancem mão de toda oportunidade a fim de contribuir para a felicidade dos que os cercam, partilhando com eles sua afeição. Palavras bondosas, olhares de simpatia e expressões de apreço serão para muita alma a lutar em solidão como um copo de água fresca para o sedento. Uma palavra de animação, um ato de bondade, irá longe para aliviar a carga que pesa sobre ombros cansados. É no ministério altruísta que se encontra a verdadeira felicidade. E cada palavra e ato dessa espécie é registrado nos livros celestiais, como havendo sido feito para Cristo. "Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos", declara Ele, "a Mim o fizestes." Mateus 25:40. T7 50 1 Vivam sob a luz radiante do amor de Cristo. Então, sua influência abençoará o mundo. Que o Espírito de Cristo os domine. Que esteja em seus lábios a lei da bondade. A longanimidade e a abnegação assinalam as palavras dos que são nascidos de novo, para viver a nova vida em Cristo. T7 50 2 "Nenhum de nós vive para si." Romanos 14:7. O caráter há de manifestar-se. Os olhares, o tom da voz, os atos -- tudo tem sua influência para fazer ou pôr a perder a felicidade da vida familiar. Eles moldam o temperamento e o caráter dos filhos; inspiram confiança e amor, ou os destroem. Por essas influências todos se tornam melhores ou piores, felizes ou infelizes. Devemos à nossa família o conhecimento da Palavra transformado em vida prática. Tudo quanto nos é possível ser para purificar, iluminar, confortar e animar os que nos estão ligados por laços de família, deve ser feito. T7 50 3 "Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma." 3 João 2. ------------------------Capítulo 11 -- Em todo o mundo T7 51 1 Deus qualificou o Seu povo para iluminar o mundo. Ele os dotou de faculdades por meio das quais devem eles estender a Sua obra até que ela circunde o globo. Em todas as partes da Terra devem estabelecer hospitais, escolas, casas publicadoras e recursos afins para a consumação de Sua obra. T7 51 2 A mensagem finalizadora do evangelho deve ser levada a "toda a nação, e tribo, e língua, e povo". Apocalipse 14:6. Muitos empreendimentos devem ainda ser iniciados e levados avante em países estrangeiros, para o progresso desta mensagem. A abertura de restaurantes saudáveis, de ambulatórios, e o estabelecimento de hospitais para o cuidado dos doentes e sofredores é tão necessária na Europa como na América do Norte. Devem-se estabelecer missões médico-missionárias em muitos países para atuarem como mão auxiliadora de Deus prestando auxílio aos doentes. T7 51 3 Cristo coopera com aqueles que se empenham na obra médico-missionária. Os homens e as mulheres que fazem desinteressadamente o que podem para estabelecer hospitais e ambulatórios em muitos países serão ricamente recompensados. Aqueles que visitam essas instituições serão beneficiados física, mental e espiritualmente -- os cansados serão refrigerados, restaurada aos doentes a saúde, aliviado o fardo do pecador. Daqueles cujo coração é desviado do serviço ao pecado para a justiça, nesses países distantes, serão ouvidos agradecimentos e voz de melodia. Por seus cânticos de louvor cheios de gratidão será dado um testemunho que induzirá outros à obediência e à associação com Cristo. T7 52 1 A conversão das almas a Deus é o maior e mais nobre trabalho no qual os seres humanos podem ter uma parte. Essa obra revela: o poder de Deus, Sua santidade, Sua paciência e Seu ilimitado amor. Toda conversão verdadeira O glorifica e faz com que os anjos prorrompam em cânticos. T7 52 2 Estamos próximos do fim da história da Terra, e os diferentes aspectos da obra de Deus devem ser levados avante com muito maior sacrifício do que ocorre no presente. A obra para estes últimos dias é, em sentido especial, uma obra missionária. A apresentação da verdade presente, desde a primeira letra do seu alfabeto até a última, significa esforço missionário. A obra a ser feita clama por sacrifício a cada passo. Desse serviço abnegado os obreiros sairão purificados e refinados como o ouro provado no fogo. T7 52 3 A cena das pessoas que perecem no pecado deve estimular-nos a empregar maior esforço para comunicar a luz da presente verdade aos que estão nas trevas, principalmente àqueles que se acham em campos nos quais muito pouco foi feito até agora para construir monumentos para Deus. A obra que deveria ter sido feita há muito tempo em todas as partes do mundo, deve ser iniciada agora e levada avante até sua conclusão. T7 52 4 Em geral, nossos irmãos europeus não têm tomado o interesse que deveriam, no sentido de estabelecer casas de saúde nos países da Europa. Levantar-se-ão na obra, nestes países, as mais desconcertantes perguntas, em virtude das circunstâncias peculiares aos vários campos. De acordo, porém, com a luz que me foi dada, devem-se estabelecer instituições que, embora pequenas a princípio, tornar-se-ão, com as bênçãos de Deus, maiores e mais vigorosas. T7 53 1 Em país algum devem as nossas instituições ser aglomeradas em uma só localidade. Jamais foi desígnio de Deus que a luz da verdade seja assim restringida. Durante algum tempo, foi exigido que a nação judaica adorasse em Jerusalém. Jesus, porém, disse à mulher samaritana: "Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai." "A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade." João 4:21, 23, 24. A verdade deve ser estabelecida em cada lugar aos quais porventura possamos ter acesso. Deve ser levada a regiões que se acham desprovidas do conhecimento de Deus. Os homens devem ser abençoados ao receberem Aquele em quem estão centralizadas as suas esperanças de vida eterna. A aceitação da verdade tal como é em Jesus irá encher-lhes o coração de louvores a Deus. T7 53 2 Consumir grandes somas de dinheiro em uns poucos lugares é contrário aos princípios cristãos. Cada edifício deve ser levantado tomando-se em consideração a necessidade de construções semelhantes em outros lugares. Deus pede aos homens em posições de confiança em Sua obra que não barrem o caminho do progresso usando egoistamente em uns poucos lugares privilegiados ou em um ou dois ramos da obra todos os meios que possam ser adquiridos. T7 53 3 No início da mensagem, muitíssimos de nosso povo possuíam o espírito da renúncia e sacrifício. Dessa forma, foi dado um bom começo e o sucesso correspondeu aos esforços empregados. A obra, porém, não está sendo desenvolvida como deveria. Tem-se concentrado demais em Battle Creek e em Oakland e em uns poucos outros lugares. Nossos irmãos jamais deveriam ter construído tanto em qualquer outro lugar como o fizeram em Battle Creek. T7 54 1 O Senhor declarou que Sua obra deve ser levada avante no mesmo espírito em que foi começada. O mundo deve ser advertido. Deve-se penetrar em campo após campo. É-nos dada a ordem: "Avançar para novos territórios, avançar para novos territórios." Como um povo, não deveríamos através de nossas atividades comerciais, nossa atitude para com o mundo não salvo, dar um testemunho mais claro ainda e mais decisivo do que o que demos vinte ou trinta anos atrás? T7 54 2 Brilhou sobre nós uma grande luz com relação aos últimos dias da história da Terra. Não permitamos que nossa falta de sabedoria e de energia dêem indício de cegueira espiritual. Cumpre aos mensageiros de Deus revestirem-se de poder. Devem eles ter pela verdade aquela elevada reverência que não possuem agora. A sagrada e solene mensagem de advertência do Senhor deve ser proclamada nos campos mais difíceis e nas cidades mais pecadoras -- em todo lugar em que a luz da terceira mensagem angélica ainda não raiou. Deve-se fazer a todos o último convite para a ceia das bodas do Cordeiro. T7 54 3 Ao proclamarem a mensagem, os servos de Deus serão solicitados a empenhar-se em luta com numerosas perplexidades e a vencer muitos obstáculos. Por vezes o trabalho prosseguirá com dificuldade, como aconteceu ao estabelecerem os pioneiros as instituições em Battle Creek, em Oakland e outros lugares. Mas realizem todos o melhor possível, fazendo do Senhor a sua força, evitando todo egoísmo e abençoando a outros por suas boas obras. Cidade de Nova Iorque T7 54 4 Ao encontrar-me em Nova Iorque, no inverno de 1901, recebi informações com respeito à obra naquela grande cidade. Noite após noite, foi-me mostrada a conduta que nossos irmãos deviam seguir. Na Grande Nova Iorque a mensagem deve ser espalhada como uma luz que alumia. Deus suscitará obreiros para essa atividade, e Seus anjos irão à sua frente. Embora nossas grandes cidades estejam atingindo rapidamente uma condição semelhante à do mundo anterior ao Dilúvio; conquanto sejam elas como Sodoma pela iniqüidade; há, todavia, nelas muitas pessoas honestas que, ao ouvirem as alarmantes verdades da mensagem do advento, sentirão a persuasão do Espírito. Nova Iorque está pronta para ser trabalhada. Nessa grande cidade a mensagem da verdade será dada com o poder de Deus. O Senhor chama obreiros. Ele chama aqueles que adquiriram experiência na causa para que empunhem e levem avante no Seu temor a obra que deve ser feita em Nova Iorque e em outras grandes cidades dos Estados Unidos. Ele pede também meios para serem usados nessa obra. T7 55 1 Foi-me mostrado que não devemos ficar satisfeitos por termos um restaurante vegetariano no Brooklin [Nova Iorque], mas que devem ser estabelecidos outros, noutros pontos da cidade. As pessoas que vivem em uma parte da Grande Nova Iorque não sabem o que se passa em outros locais dessa cidade imensa. Os homens e mulheres que comem nos restaurantes estabelecidos nos diversos lugares, vão perceber um melhoramento na saúde. Uma vez conquistada a sua confiança, estarão eles mais prontos a aceitar a mensagem da verdade especial de Deus. T7 55 2 Onde quer que a obra médico-missionária seja levada avante em nossas grandes cidades, devem ser estabelecidas escolas de culinária; e onde houver uma obra educativo-missionária vigorosa em progresso, devem ser estabelecidos restaurantes saudáveis, os quais darão uma ilustração prática da escolha apropriada e do preparo saudável dos alimentos. T7 55 3 Quando me encontrava em Los Angeles, fui informada de que não somente nos vários pontos dessa cidade, mas em San Diego e em outros pontos turísticos do sul da Califórnia, deveriam ser estabelecidos restaurantes e salas para tratamentos de saúde. Nossos esforços nesses setores devem incluir os balneários à beira-mar. Como a voz de João Batista foi ouvida no deserto: "Preparai o caminho do Senhor", assim deve a voz dos mensageiros do Senhor ser ouvida nos grandes pontos turísticos e balneários à beira-mar. Nos estados sulinos T7 56 1 Tenho a transmitir uma mensagem com relação à parte Sul. Temos uma grande obra a realizar nestes Estados. Sua condição é uma condenação a nosso cristianismo professo. Notem a falta de pastores, professores e médicos-missionários. Considerem a ignorância, a pobreza, a miséria, o sofrimento de grande parte das pessoas. E, não obstante, esse campo está às nossas portas. Quão egoístas, quão desatentos, temos sido em relação a nossos vizinhos. Temos nos desviado deles insensivelmente, pouco fazendo para aliviar-lhes os sofrimentos. Caso tivesse a comissão evangélica sido estudada e obedecida por nosso povo, o sul teria recebido sua parte proporcional de ministério. Se os que receberam a luz tivessem andado nela, teriam compreendido que sobre eles repousa a responsabilidade de cultivar essa sua parte da vinha, durante muito tempo negligenciada. T7 56 2 Deus está convidando Seu povo a entregar-Lhe parte dos meios que Ele lhes tem confiado, a fim de que possam ser estabelecidas instituições nos campos necessitados que estão maduros para a ceifa. Ele pede aos que têm dinheiro nos bancos que o ponham em circulação. Ao darmos de nossos meios para sustentar a obra de Deus, demonstramos de maneira prática que O amamos sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. T7 56 3 Que sejam fundadas escolas e clínicas agora em muitas partes dos Estados do Sul. Que sejam estabelecidos centros de influência em muitas cidades do sul, abrindo armazéns para venda de alimentos e restaurantes vegetarianos. Que haja também instalações para a fabricação de alimentos saudáveis simples e baratos. Mas não permitam que o egoísmo e a esperteza mundana sejam introduzidos na obra, pois Deus proíbe isso. Que homens abnegados tomem nas mãos esta obra no temor de Deus e com amor aos semelhantes. T7 57 1 O esclarecimento que tive é que no setor Sul, como em outros lugares, deve-se empreender a fabricação de alimentos saudáveis não como um meio de obter lucro pessoal, senão como uma atividade que Deus planejou, por meio da qual uma porta de esperança pode ser aberta para o povo. No Sul, deve ser demonstrada consideração especial para com os pobres, os quais têm sido grandemente negligenciados. Homens de habilidade e economia devem ser escolhidos para levar avante a obra da alimentação; pois, a fim de torná-la um sucesso, agirão com mais sabedoria e poupança. Deus deseja que Seu povo realize um serviço adequado no preparo de alimentação saudável, não só para suas próprias famílias, que constituem sua principal responsabilidade, mas para auxiliar os pobres em toda parte. Devem eles mostrar liberalidade semelhante a de Cristo, sabendo que são representantes de Deus e que tudo o que possuem é dom Seu. T7 57 2 Irmãos, assumam essa obra. Não deixem o menor espaço para o desânimo. Não critiquem os que estão se esforçando para fazer alguma coisa na direção certa, mas envolvam-se também no trabalho. T7 57 3 Em conexão com a atividade da alimentação saudável, podem-se estabelecer várias indústrias que serão um auxílio à causa no campo sulino. Tudo o que os homens podem fazer em favor dessa região como missionários de Deus, deve ser feito agora, pois se algum campo já necessitou da obra médico-missionária, é o Sul [dos Estados Unidos]. Durante o tempo que passou para a eternidade, muitos deviam ter estado no Sul, trabalhando juntamente com Deus na realização de obra pessoal e dando de seus meios para se manterem a si mesmos e a outros obreiros nesse campo. T7 58 1 Pequenos sanatórios devem ser estabelecidos em muitos lugares. Isso vai abrir as portas para introduzir a verdade bíblica, e removerá muitos preconceitos que existem contra aqueles que olham os negros como pessoas que precisam ser salvas tanto quanto as brancas. T7 58 2 Se tivesse sido estabelecido esse tipo de trabalho para as pessoas negras, imediatamente após a proclamação de liberdade, quão diferente seria sua condição hoje! Em todo mundo T7 58 3 O Senhor apela para que despertemos para o senso de nossas responsabilidades. Deus deu a cada homem a sua obra. Cada um pode viver uma vida de utilidade. Aprendamos tudo que pudermos, sendo então uma bênção aos outros, comunicando o conhecimento da verdade. Cada qual deve fazer de conformidade com sua respectiva habilidade, ajudando voluntariamente a carregar os fardos. T7 58 4 Há em todas as partes uma obra a ser feita em favor de todas as classes da sociedade. Devemos aproximar-nos dos pobres e depravados, aqueles que caíram por meio da intemperança. E, ao mesmo tempo, não devemos esquecer as classes mais elevadas -- os legisladores, pastores, senadores e juízes, muitos dos quais são escravos de hábitos intemperantes. Não devemos deixar de empenhar todo esforço a fim de mostrar-lhes que sua salvação é preciosa, que vale a pena o esforço para alcançar a vida eterna. Aos que se acham em posições elevadas devemos apresentar o compromisso de abstinência total, pedindo-lhes que dêem o dinheiro que eles gastariam de outra maneira nas condescendências nocivas das bebidas alcoólicas e do fumo, para o estabelecimento de instituições nas quais crianças e jovens possam ser preparados para ocupar posições de utilidade no mundo. T7 58 5 Grande luz tem estado a brilhar sobre nós, mas quão pouco dessa luz nós refletimos para o mundo Os anjos celestiais estão esperando pelos seres humanos para com eles cooperarem na execução prática dos princípios da verdade. É através de nossas casas de saúde e empreendimentos afins que grande parte dessa obra deve ser realizada. Essas instituições devem ser monumentos de Deus, pelos quais Seu poder restaurador possa estender-se a todas as classes, altas e baixas, ricas e pobres. Todo recurso nela investido por amor de Cristo trará bênçãos tanto para o doador como para a humanidade sofredora. T7 59 1 A obra médico-missionária é o braço direito do evangelho. Ela é indispensável ao avanço da causa de Deus. Quando por meio dela os homens e mulheres forem levados a ver a importância dos hábitos corretos de vida, o poder salvador da verdade se tornará conhecido. Cada cidade deve ser atingida por obreiros instruídos para realizarem a obra médico-missionária. Como braço direito da mensagem do terceiro anjo, os métodos divinos de tratamento das doenças abrirão portas para a entrada da verdade presente. A literatura sobre saúde deve circular em muitas terras. Nossos médicos na Europa e em outros países devem despertar para a necessidade de se ter obras sobre saúde, preparadas por homens do local e que possam encontrar as pessoas onde elas estão com as instruções mais necessárias. T7 59 2 O Senhor dará às nossas instituições de saúde, cuja obra está quase firmada, uma oportunidade de cooperarem com Ele no apoio a novos projetos. Cada nova instituição deve ser considerada como uma irmã auxiliar na grande obra da proclamação da mensagem do terceiro anjo. Deus deu aos nossos hospitais uma oportunidade de pôr em funcionamento a obra que deve ser como uma pedra dotada de vida, que cresce quando é rolada por uma mão invisível. Vamos fazer com que esta pedra mística seja posta em movimento. T7 59 3 O Senhor me instruiu a advertir aqueles que no futuro estabelecerem clínicas em novos lugares, a começarem sua obra com humildade, consagrando suas habilidades a Seu serviço. As construções erguidas não devem ser grandes ou dispendiosas. Devem-se estabelecer pequenas clínicas em conexão com as nossas escolas de treinamento. Devem ser reunidos nessas clínicas moços e moças que possuam habilidade e consagração -- aqueles que irão pautar sua vida pelo amor e temor de Deus; que, quando prontos para a graduação, não achem que sabem tudo o que necessitam conhecer, mas estudem com diligência e pratiquem cuidadosamente as lições dadas por Cristo. A justiça de Cristo irá à frente deles e a glória de Deus será a sua retaguarda. T7 60 1 Foi-me esclarecido que em muitas cidades é aconselhável relacionar um restaurante com salas de tratamento. Os dois podem cooperar na defesa dos princípios corretos. Em conexão com estes, é às vezes aconselhável obterem-se quartos que servirão de alojamento para os enfermos. Esses estabelecimentos estarão relacionados com sanatórios localizados no campo, e de preferência devem ser administrados em prédios alugados. Não devemos erguer nas cidades grandes construções para nelas cuidarmos dos doentes, pois Deus mostrou claramente que os enfermos podem ser mais bem cuidados fora das cidades. Em muitos lugares, será necessário iniciar a obra dos sanatórios nas cidades; tanto quanto possível, porém, deve essa obra ser transferida para o campo tão logo possam ser adquiridos locais apropriados. T7 60 2 Foi-me mostrado que em vez de despender esforços para construir algumas poucas instituições enormes, devemos estabelecer várias menores. É muito difícil encontrar pessoas capacitadas para administrar um grande hospital. Os obreiros não são todos controlados pelo Espírito de Deus como deveriam ser, e o espírito mundano campeia. T7 60 3 A disposição e alegria de beneficiar a humanidade não depende de edifícios caros. Devemos lembrar de quantos estão sofrendo necessidades de alimento e vestuário. Ao construir edifícios, não devemos ser influenciados pelo desejo da aparência. Cumpramos o nosso dever e deixemos os resultados com Deus, o único que pode proporcionar o sucesso. Vamos investir todos os recursos extras disponíveis para providenciar instalações adequadas para a restauração da saúde. Os nossos sanatórios devem ser construídos para saúde e felicidade; bem localizados, para que os pacientes recebam as bênçãos da luz solar; organizados de tal maneira que evitem gastos desnecessários. T7 61 1 Nessa obra, é melhor começar pequeno em muitos lugares e deixar que a providência de Deus indique quão rapidamente devem crescer as instalações. Pequenas construções poderão crescer até se transformar em grandes instituições. Deve haver uma distribuição de responsabilidades para que seus funcionários gradualmente adquiram melhores condições mentais e espirituais. O estabelecimento dessas instituições fará muito bem, se todos que estiverem relacionados com elas se desvencilharem da ambição egoísta e mantiverem uma visão da glória de Deus. Muitos de nosso povo podem trabalhar nos novos campos, todavia, sem buscar notoriedade. A mente dos obreiros deve ser santificada. T7 61 2 Em toda nossa obra, devemos lembrar que o mesmo Jesus que alimentou a multidão com cinco pães e dois pequenos peixes, está apto hoje a dar-nos o fruto de nosso trabalho. Aquele que disse aos pescadores da Galiléia: "Lançai as vossas redes para pescar," e eles, obedecendo, encheram as redes até romperem-se, deseja, com isso, evidenciar o que pode fazer hoje. O mesmo Deus que deu aos filhos de Israel o maná do Céu, ainda vive e reina. Ele guiará o Seu povo dando-lhe capacitação e entendimento para fazer o trabalho para o qual foi chamado. Em resposta à oração fervorosa, Ele dará sabedoria àqueles que lutam para fazer os seus deveres conscienciosa e inteligentemente. Aqueles que estão relacionados com o abençoado trabalho, vão ver a obra crescer em grande proporção, muitos aprenderão a ser fiéis servidores e o sucesso acompanhará seus esforços. ------------------------Capítulo 12 -- O conhecimento dos princípios de saúde T7 62 1 Atingimos um tempo em que todo membro da igreja deveria utilizar a obra médico-missionária. O mundo é um hospital repleto de enfermidades, tanto físicas como espirituais. Por toda parte, morrem pessoas à míngua de conhecimentos das verdades que nos foram confiadas. Os membros da igreja carecem de um despertamento, para que possam reconhecer sua responsabilidade de comunicar a outros essas verdades. Os que foram iluminados pela verdade devem ser portadores de luz para o mundo. Esconder nossa luz no tempo atual é cometer um erro terrível. A mensagem para o povo de Deus hoje é: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. T7 62 2 Por toda parte, vemos os que receberam muita luz e conhecimento escolhendo deliberadamente o mal em lugar do bem. Não fazendo tentativa alguma para passarem por uma reforma, vão-se tornando cada vez piores. Mas o povo de Deus não tem de andar em trevas. Deve andar na luz, pois são reformadores. T7 62 3 Na vanguarda dos verdadeiros reformadores, a obra médico-missionária abrirá muitas portas. Ninguém precisa esperar até que seja chamado para algum campo longínquo, para então começar a ajudar outros. Onde quer que estivermos, poderemos começar imediatamente. As oportunidades encontram-se ao alcance de todos. Vamos assumir o trabalho pelo qual somos considerados responsáveis -- a obra que deve ser feita em nosso lar e vizinhança. Não esperemos que outros nos incitem à ação. No temor de Deus, avancemos sem demora, tendo presente nossa responsabilidade individual para com Aquele que deu a vida por nós. Vamos agir como se ouvíssemos Cristo nos convidar pessoalmente para fazermos o máximo em Seu serviço. Não olhemos em volta, para ver quem mais estará disposto. Se somos verdadeiramente consagrados, Deus, por nosso intermédio, trará à verdade outros, de quem Se poderá servir como condutos para comunicar luz a muitos que tateiam nas trevas. T7 63 1 Todos podem fazer alguma coisa. Num esforço por evitarem a participação, dizem alguns: "O lar, os deveres, os filhos requerem meu tempo e meus recursos." Pais, seus filhos devem ser sua mão auxiliadora, aumentando sua capacidade e habilidade para trabalhar para o Senhor. Os filhos são os membros mais novos da família do Senhor. Devem ser levados a consagrar-se a Deus, a quem pertencem pela criação e redenção. Devem ser ensinados que todas as suas faculdades do corpo, mente e espírito pertencem a Deus. Devem ser instruídos para ajudar em diferentes ramos de serviço abnegado. Não permitamos que nossos filhos sejam empecilhos. Conosco, devem os filhos partilhar os encargos, tanto espirituais como físicos. Ajudando outros, aumentarão sua própria felicidade e utilidade. T7 63 2 Mostre nosso povo que possui vivo interesse no trabalho médico-missionário. Preparem-se para a utilidade, estudando os livros que nesses ramos foram escritos para nossa instrução. Esses livros merecem muito mais atenção e apreço do que têm recebido. Muito do que é para benefício de todos compreender, foi escrito com o fim especial de instruir nos princípios da saúde. Os que estudam e praticam esses princípios serão grandemente abençoados, tanto física como espiritualmente. A compreensão da filosofia da saúde será uma salvaguarda contra muitos dos males que estão a aumentar constantemente. T7 63 3 Muitos que desejam obter conhecimento em atividades médico-missionárias têm obrigações domésticas que, por vezes, os impedem de unir-se a outros para estudar. Esses poderão em sua própria casa aprender muito a respeito da expressa vontade de Deus relativamente a esse tipo de trabalho missionário, aumentando assim sua habilidade para ajudar outros. Pais e mães, obtenham todo o auxílio possível do estudo de nossos livros e demais publicações. O periódico Good Health [Boa Saúde] está repleto de boa informação. Tomem tempo para ler para seus filhos trechos dos livros de saúde, bem como dos que tratam mais particularmente de assuntos religiosos. Ensinem-lhes a importância do cuidado do corpo -- a casa em que habitam. Formem um grupo doméstico de leitura, em que cada membro da família deponha os ansiosos cuidados do dia, e tome parte no estudo. Pais, mães, moços e moças: Dediquem-se de coração a essa tarefa, e verão se não melhorará muito a igreja do lar. T7 64 1 Especialmente os jovens, que estavam acostumados a ler romances e literatura barata, terão proveito ao tomar parte no estudo doméstico à noite. Moços e moças: Leiam a literatura que vai lhes comunicar o verdadeiro conhecimento, e ser de auxílio para a família inteira. Digam firmemente: "Não passarei preciosos momentos na leitura daquilo que de nenhum proveito me será, e tão-somente me incapacitará para ser prestativo aos outros. Dedicarei meu tempo e pensamentos, buscando habilitar-me para o serviço de Deus. Fecharei os olhos para as coisas frívolas e pecaminosas. Meus ouvidos pertencem ao Senhor, e não escutarei o sutil arrazoamento do inimigo. De maneira alguma minha voz se sujeitará a uma vontade que não esteja sob a influência do Espírito de Deus. Meu corpo é o templo do Espírito Santo, e cada faculdade de meu ser será consagrada a atividades dignas." T7 64 2 O Senhor designou os jovens para serem Sua mão auxiliadora. Se em cada igreja eles se consagrassem a Deus, praticassem abnegação no lar, aliviando a mãe consumida dos cuidados, ela acharia tempo para fazer visitas aos vizinhos e, quando se lhes oferecesse oportunidade, poderiam eles mesmos auxiliar fazendo pequenos serviços de misericórdia e amor. Livros e revistas que tratam de assuntos de saúde e temperança poderiam ser postos em muitos lares. A circulação dessa literatura é questão importante; pois desse modo podem ser transmitidos preciosos conhecimentos relacionados com o tratamento de doenças -- conhecimentos que seriam grande bênção para os que não podem pagar consultas médicas. T7 65 1 Os pais devem procurar interessar os filhos no estudo da fisiologia. Há entre os jovens bem poucos que têm bons conhecimentos acerca dos mistérios da vida. O estudo do admirável organismo humano, a relação e dependência de suas partes complicadas, é assunto em que muitos pais pouco se interessam. Embora Deus lhes diga: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma" (3 João 2), não compreendem eles a influência do corpo sobre a mente ou da mente sobre o corpo. Ninharias desnecessárias lhes ocupam a atenção, e então alegam falta de tempo como desculpa para não adquirir os conhecimentos necessários para os habilitar devidamente a instruir os filhos. T7 65 2 Se todos adquirissem conhecimentos sobre esse assunto, e se compenetrassem da importância de pô-los em prática, veríamos um melhor estado de coisas. Pais: Ensinem seus filhos a raciocinarem da causa para o efeito. Mostrem-lhes que, se violarem as leis da saúde, terão que pagar com sofrimento essa culpa. Mostrem-lhes que a negligência no tocante à saúde física tende à negligência moral. Seus filhos requerem cuidado paciente e fiel. Não basta alimentar e vesti-los; é necessário também tomar providências para desenvolver-lhes as faculdades mentais e encher-lhes o coração de princípios retos. Mas quantas vezes se perdem de vista a beleza de caráter e a amabilidade de gênio, no ansioso desejo da aparência exterior! Ó pais, não se deixem governar pela opinião do mundo; não trabalhem para ficar nos padrões mundanos. Decidam por si mesmos qual é o grande objetivo da vida e, então, empenhem todo esforço para atingir esse objetivo. Não poderão impunemente descuidar do devido preparo de seus filhos. Os defeitos de caráter deles demonstrarão sua infidelidade. Os males que vocês deixam passar sem correção, as maneiras ásperas, rudes, o desrespeito e a desobediência, os hábitos de indolência e desatenção lhes trarão desonra para o nome e amargura à vida. O destino de seus filhos está em grande parte em suas mãos. Deixar de cumprir o dever agora, poderá colocá-los nas fileiras do inimigo e torná-los agentes seus na derrota de outros; por outro lado, se fielmente forem instruídos, se em sua própria vida virem um exemplo piedoso, poderão levá-los a Cristo, e eles, por sua vez, influenciarão outros, e assim muitos poderão ser salvos por sua atuação. T7 66 1 Pais e mães, conseguem vocês reconhecer a importância da sua responsabilidade? Percebem a necessidade de resguardar os filhos dos hábitos negligentes, desmoralizadores? Só permitam que os filhos formem amizades que tenham boa influência sobre seu caráter. Não permitam que estejam fora de casa à noite, a não ser que saibam onde estão e o que fazem. Se negligenciaram ensinar-lhes mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali, comecem imediatamente a cumprir seu dever. Assumam suas responsabilidades e trabalhem para o tempo e a eternidade. Não deixem passar nem um dia mais sem confessar aos filhos sua negligência. Digam-lhes que pretendem agora fazer a obra designada por Deus. Peçam-lhes que se juntem na obra de reforma. Façam esforços diligentes para remir o passado. Não permaneçam por mais tempo no estado da igreja de Laodicéia. Em nome do Senhor, rogo a toda família que mostre suas verdadeiras cores. Reformem a igreja que corresponde à sua própria casa. T7 67 1 Ao cumprir fielmente seu dever em casa, o pai como sacerdote da família, a mãe como sua missionária, estarão multiplicando as forças para fazer o bem fora do lar. Ao aproveitar suas faculdades, se tornarão mais capacitados para trabalhar na igreja e vizinhança. Ligando os filhos a si e a Deus, os pais, as mães e os filhos tornam-se coobreiros de Deus. T7 67 2 A vida do verdadeiro crente revela a presença de um Salvador. O seguidor de Jesus é semelhante a Ele no espírito e no temperamento. Como Cristo, ele é manso e humilde. Sua fé opera por amor e purifica a alma. Toda a sua vida é um testemunho do poder da graça de Cristo. As puras doutrinas do evangelho jamais prejudicam quem as recebe, jamais os fazem rudes, grosseiros ou descorteses. O evangelho refina e eleva, santifica o julgamento e influencia toda a vida. T7 67 3 Deus não permite que um de Seus leais obreiros seja deixado sozinho na luta contra grandes desvantagens, e seja vencido. Ele preserva como jóia preciosa todo aquele cuja vida está escondida com Cristo em Deus. A cada um desses, Ele diz: "Te farei como um anel de selar; porque te escolhi." Ageu 2:23. ------------------------Capítulo 13 -- Obreiros de nossas instituições médicas T7 68 1 Os obreiros dos nossos hospitais foram chamados para uma alta e santa vocação. Precisam eles compreender, melhor do que no passado, o caráter sagrado da sua ocupação. O trabalho que executam e o alcance da influência que exercem, deles exigem esforço fervoroso e consagração irrestrita. T7 68 2 Em nossas instituições de saúde, os enfermos e sofredores devem ser induzidos a compreender que tanto precisam de auxílio espiritual como da cura física. Devem-se-lhes proporcionar todos os elementos para o restabelecimento da saúde física; é preciso fazer-lhes ver, também, o que significa ser abençoado com a luz e a vida de Cristo, o que representa a comunhão com Ele. Devem ser levados a ver que a graça de Cristo na vida eleva o ser todo. E maneira nenhuma melhor existe de aprenderem acerca da vida de Cristo do que a verem revelada em Seus seguidores. T7 68 3 O obreiro fiel mantém os olhos fixos em Cristo. Lembrando que sua esperança de vida eterna depende da cruz de Cristo, está decidido a não desonrar jamais a quem por ele deu a vida. Interessa-se profundamente pelos sofrimentos da humanidade. Ora e trabalha, cuidando das almas como quem delas deverá dar conta, sabendo que são dignas da salvação as pessoas que Deus põe em contato com a verdade e a justiça. T7 68 4 Nossos obreiros das instituições médicas estão empenhados numa luta santa. Devem apresentar aos enfermos e sofredores a verdade tal qual é em Jesus; devem apresentá-la em toda a sua solenidade, não obstante com simplicidade e ternura tais que as pessoas sejam atraídas para o Salvador. Sempre, por preceito e exemplo, exaltarão a Cristo como a esperança de vida eterna. Nenhuma palavra áspera deve ser proferida, nem praticado ato algum egoísta. Os obreiros devem tratar a todos com bondade. Suas palavras devem ser corteses e amáveis. Os que mostram verdadeira modéstia e cortesia cristã ganharão almas para Cristo. T7 69 1 Devemos esforçar-nos para restabelecer a saúde física e espiritual dos que recorrem às nossas instituições. Preparemo-nos, pois, para subtraí-los durante certo tempo desse ambiente que os afastou de Deus, e pô-los em atmosfera mais pura. Fora de casa, rodeados das belas coisas que Deus fez, respirando ar puro e saudável, é mais fácil falar ao doente acerca da nova vida que há em Cristo. Ali, a Palavra de Deus pode ser ensinada. Ali, os raios da justiça de Cristo podem atingir os corações entenebrecidos pelo pecado. Com paciência e simpatia, levem os doentes a compreenderem que necessitam do Salvador. Contem-lhes que Ele é que dá descanso ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem mais vigor. T7 69 2 Precisamos compreender melhor o sentido destas palavras: "Desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento." Cantares 2:3. Elas não nos fazem evocar a lembrança de uma pressa febril, mas de um repouso sossegado. Muitos cristãos há que andam ansiosos e abatidos, muitos andam tão cheios de atividades que não podem achar tempo algum para repousar nas promessas de Deus, que procedem como se não pudessem desfrutar paz e tranqüilidade. A todos esses, Cristo dirige o convite: "Vinde a Mim, ... e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. T7 69 3 Desviemo-nos das estradas quentes e poeirentas da vida, para repousar à sombra do amor de Cristo. Ali, nos fortaleceremos para a luta. Ali, aprenderemos a diminuir nossas lutas e preocupações e a falar e cantar para o louvor de Deus. Os cansados e oprimidos aprendam de Cristo uma lição de confiante calma. Se querem desfrutar paz e descanso, devem eles sentar-se à Sua sombra. T7 70 1 Os que trabalham em nossas instituições de saúde devem possuir rica experiência cristã, porque a verdade lhes está implantada no coração e, como coisa santa, é nutrida pela graça de Deus. Arraigados e firmados na verdade, devem ter fé que opera por amor e purifica a alma. Constantemente pedindo bênçãos, devem manter as janelas da alma fechadas, na direção da Terra, para a atmosfera corrompida do mundo, e abertas na direção do Céu, para receberem os brilhantes raios do Sol da Justiça. T7 70 2 Quem está se preparando para assumir com conhecimento de causa o trabalho médico-missionário? Por meio desse trabalho, os que acorrem às nossas instituições para ali se tratarem, devem ser guiados a Cristo e ensinados a unir à Sua força a fraqueza própria. Cada obreiro deve ser conscienciosamente eficiente. Então, em sentido elevado e amplo, pode ele apresentar a verdade tal qual é em Jesus. T7 70 3 Os obreiros de nossas instituições de saúde estão continuamente expostos à tentação. São postos em contato com os incrédulos, e os que não estão firmados na fé serão prejudicados por essa aproximação. Mas os que estão firmados em Cristo enfrentarão os incrédulos como Ele os enfrentou, inflexíveis em sua obediência, sempre dispostos para dizer uma palavra oportuna e semear as sementes da verdade. Perseverarão em oração, mantendo firmemente a sua integridade e dando provas diárias da coerência da sua religião. A influência de tais obreiros é uma bênção para muitos. Por meio de uma vida bem equilibrada levarão almas à cruz. O verdadeiro cristão dá testemunho constante de Cristo. Está sempre animado, sempre disposto a dirigir palavras de esperança e conforto aos que sofrem. T7 71 1 "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Provérbios 1:7. Uma única frase da Escritura é de muito mais valor que dez mil idéias e argumentos humanos. Os que se recusam a seguir os caminhos de Deus receberão por fim a sentença: "Apartai-vos de Mim." Mateus 25:41. Mas ao nos submetermos à vontade de Deus, o Senhor Jesus nos dirige a mente e põe nos lábios palavras de certeza. Podemos ser fortes no Senhor e na força do Seu poder. Recebendo a Cristo, somos revestidos do Seu poder. Cristo habitando em nós faz com que Seu poder seja nossa propriedade. A verdade se torna nossa especialidade. Nenhuma injustiça é vista na vida. Somos capazes de falar palavras oportunas aos que não conhecem a verdade. A presença de Cristo no coração é um poder vitalizante que fortalece o ser todo. T7 71 2 Foi-me mandado dizer aos obreiros de nossas instituições de saúde que a incredulidade e a presunção são os perigos contra que deverão estar em guarda constante. Devem combater o mal com zelo e ardor tais que os enfermos sintam a influência enobrecedora dos seus esforços abnegados. T7 71 3 Nenhuma sombra de egoísmo deve manchar nosso serviço. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24. Exaltemos o Homem do Calvário. Exaltemo-lO através de uma fé viva em Deus, a fim de que as nossas orações sejam ouvidas. Reconhecemos a proximidade a que Jesus chega de nós? Ele nos fala pessoalmente. Ele Se revelará a cada um que se disponha a revestir-se da Sua justiça. Declara Ele: "Eu ... te tomo pela tua mão direita." Isaías 41:13. Coloquemo-nos em lugar onde Ele nos possa tomar pela mão, onde Lhe possamos ouvir a voz, dizendo com segurança e autoridade: "Eu sou o que vivo e estive morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre." Apocalipse 1:18. ------------------------Capítulo 14 -- Uma mensagem aos nossos médicos T7 72 1 O médico cristão deve ser para o enfermo um mensageiro de misericórdia, levando-lhe o remédio para a alma enferma pelo pecado, bem como para o corpo doente. Ao usar ele os remédios simples que Deus proveu para alívio do sofrimento físico, deve falar do poder de Cristo para sanar os males da alma. T7 72 2 Quão necessário é que o médico viva em íntima comunhão com o Salvador! Os enfermos e sofredores com quem ele lida necessitam do auxílio que unicamente Cristo pode dar. Carecem eles de orações dirigidas pelo Seu Espírito. Esses aflitos se entregam à sabedoria e misericórdia do médico, cuja perícia e fidelidade podem ser sua única esperança. Seja, pois, o médico um fiel mordomo da graça de Deus, um guardião da alma, bem como do corpo. T7 72 3 O médico que recebeu sabedoria do alto, que sabe ser Cristo o seu Salvador pessoal, pois ele próprio foi levado ao Refúgio, sabe como lidar com as almas trementes, culpadas e enfermas pelo pecado, que se voltam para ele em busca de auxílio. Pode responder com segurança à pergunta: "Que devo eu fazer para ser salvo?" E pode contar a história do amor do Redentor. Pode ele falar da experiência do poder do arrependimento e da fé. Ao estar ao lado do sofredor, esforçando-se para falar palavras que trarão auxílio e conforto, o Senhor trabalha com ele e por seu intermédio. Quando a mente do enfermo se volta para o Poderoso Doador da saúde, a paz de Cristo inunda-lhe o coração, e a saúde espiritual que lhe advém é usada como a mão auxiliadora de Deus na restauração da saúde do corpo. T7 73 1 Preciosas são as oportunidades que tem o médico de despertar no coração daqueles com quem entra em contato um senso de sua grande necessidade de Cristo. Deve ele tirar da casa do tesouro do coração coisas novas e velhas, falando as palavras de conforto e instrução ansiosamente desejadas. Deve semear constantemente as sementes da verdade, sem apresentar assuntos doutrinários, mas falar do amor do Salvador que perdoa o pecado. Não deve apenas dar instruções da Palavra de Deus, regra sobre regra, mandamento sobre mandamento; importa que regue com lágrimas essas instruções e as torne vigorosas pela oração, para que as pessoas possam ser salvas. T7 73 2 Em sua zelosa e febril ansiedade para afastar do corpo o perigo, estão os médicos em risco de esquecimento do perigo da alma. Médicos, mantenham-se em guarda, pois no trono do juízo de Cristo deverão encontrar aqueles ao lado de cujo leito de morte estão agora. T7 73 3 A solenidade da obra do médico, seu constante contato com os doentes e os moribundos, exige que, na medida do possível, seja ele retirado dos deveres seculares que outros podem desempenhar. Carga alguma desnecessária deve ser sobre ele colocada, a fim de que possa dispor de tempo para inteirar-se das necessidades espirituais de seus pacientes. Sua mente deve estar sempre sob a influência do Espírito Santo, a fim de que possa estar apto a falar a tempo as palavras que infundirão fé e esperança. T7 73 4 Palavra alguma a respeito de credo ou controvérsia deve ser proferida ao lado do leito do moribundo. Deve-se dirigir o sofredor para Aquele que está desejoso de salvar a todos os que a Ele vêm com fé. Tem de ser feito um esforço zeloso e terno para auxiliar a pessoa que está entre a vida e a morte. T7 73 5 Jamais deve o médico levar seus pacientes a fixarem a atenção nele. Deve ele ensinar-lhes a agarrar com a mão da fé a estendida mão do Salvador. Então a mente será iluminada com a radiante luz do Sol da Justiça. O que os médicos procuram fazer, Cristo o fez em realidade e em verdade. Eles tentam salvar a vida; Ele é a própria vida. T7 74 1 O empenho do médico no sentido de levar a mente de seus pacientes à ação salutar deve estar livre de todo encantamento humano. Não deve deixar-se atrair pelo que é humano, mas projetar para o alto, para o espiritual, apoderar-se das coisas da eternidade. T7 74 2 Não deve o médico tornar-se objeto de crítica maldosa. Isso traz sobre ele um fardo desnecessário. Grandes são as suas preocupações, e ele necessita de simpatia dos que lhes estão ligados na obra. Deve ele ser sustentado pela oração. A consciência de que é apreciado lhe dará esperança e coragem. T7 74 3 O médico cristão inteligente tem uma intuição constantemente aumentada da relação que existe entre o pecado e a doença. Esforça-se para ver sempre mais claramente a relação entre a causa e o efeito. Percebe que, aos que estão cursando enfermagem, se deve dar instrução completa no que tange aos princípios da reforma de saúde; que eles devem ser ensinados a se tornarem estritamente temperantes em todas as coisas, pois o descuido com referência às leis da saúde é imperdoável nos que são separados para ensinar aos outros como viver. T7 74 4 Quando o médico nota que um paciente está sofrendo de um distúrbio causado por alimentação ou bebida impróprias, e mesmo assim negligencia falar-lhe disso, e mostrar-lhe a necessidade da reforma, está fazendo mal a um semelhante. Alcoólicos, maníacos, os que se dão à licenciosidade -- tudo apela clara e distintamente para que o médico declare que o sofrimento é resultado do pecado. Recebemos grande luz sobre a reforma de saúde. Por que, então, não somos mais decididos em zelo e esforço para contra-atacar as causas que produzem as doenças? Vendo o contínuo conflito com a dor, trabalhando constantemente para aliviar o sofrimento, como podem os nossos médicos obter a sua paz? Podem eles deixar de levantar a voz em advertência? São benévolos e misericordiosos, quando não ensinam a estrita temperança como remédio para a doença? T7 75 1 Médicos, considerem o conselho do apóstolo Paulo aos romanos: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. T7 75 2 O trabalho espiritual de nossas instituições de saúde não deve estar sob o controle dos médicos. Esse trabalho requer reflexão, tato e vasto conhecimento da Bíblia. Os pastores que possuem essas qualidades devem estar ligados aos nossos hospitais. Devem eles elevar as normas da temperança do ponto de vista cristão, mostrando que o corpo é o templo do Espírito Santo, e fazerem ver às pessoas a responsabilidade que sobre elas repousa, como possessão adquirida de Deus, de tornarem a mente e o corpo um templo santo e digno da habitação do Espírito Santo. T7 75 3 Quando a temperança for apresentada como parte do evangelho, muitos notarão sua necessidade de reforma. Perceberão o mal das bebidas intoxicantes, e que a completa abstinência é a única plataforma sobre a qual o povo de Deus pode conscienciosamente permanecer. Quando for dada essa instrução, o povo se interessará em outros pontos do estudo da Bíblia. ------------------------Capítulo 15 -- O valor da vida ao ar livre T7 76 1 As grandes instituições médicas de nossas cidades, não fazem senão uma parcela mínima do bem que poderiam fazer se estivessem situadas onde os pacientes pudessem ter as vantagens da vida ao ar livre. Fui instruída no sentido de que as clínicas devem ser estabelecidas em muitos lugares rurais, e de que a obra dessas instituições fará progredir grandemente a causa da saúde e da justiça. T7 76 2 As coisas da natureza são bênçãos de Deus, providas para comunicar saúde ao corpo, à mente e ao espírito. São elas dadas aos sãos, para conservá-los com boa saúde, e aos doentes para torná-los sãos. Associadas ao tratamento por água, são elas mais eficazes no restabelecimento da saúde do que toda a medicação de droga do mundo. T7 76 3 No campo encontram os doentes muitas coisas para desviar-lhes a atenção de si mesmo e de seus sofrimentos. Por toda parte podem eles considerar e apreciar as belas coisas da natureza -- as flores, os campos, as árvores frutíferas carregadas de seus ricos tesouros, as árvores da floresta a projetarem sua agradável sombra, e as colinas e vales com sua variada vegetação e suas muitas formas de vida. T7 76 4 E não somente são eles atraídos por esse ambiente, mas aprendem ao mesmo tempo lições espirituais muito preciosas. Rodeada pelas maravilhosas obras de Deus, sua mente é levada das coisas que são vistas para as que se não vêem. A beleza natural leva-os a pensar nos encantos sem igual da Nova Terra, na qual nada haverá a estragar-lhe a beleza, nada a macular ou destruir, coisa alguma a causar doença ou morte. T7 76 5 A natureza é o médico divino. O ar puro, a alegre luz solar, as belas flores e árvores, os belos pomares e vinhas e o exercício ao ar livre, em meio desse ambiente, são transmissores de saúde -- o elixir da vida. A vida ao ar livre é o único remédio de que muitos doentes necessitam. Sua influência é poderosa na cura das doenças causadas pela vida social, vida que debilita e destrói as energias físicas, mentais e espirituais. T7 77 1 Quão agradáveis aos enfermos deprimidos, acostumados à vida da cidade, ao clarão de muitas luzes e ao ruído das ruas, são a quietude e a liberdade do campo. Com que ansiedade se volvem para as cenas da natureza! Quão satisfeitos se sentirão eles pelas vantagens de uma casa de saúde no campo, onde podem sentar-se sob céu aberto, deleitar-se com a luz solar e respirar a fragrância das árvores e flores! Há propriedades que comunicam vida no bálsamo do pinheiro, na fragrância do cedro e do abeto. E há outras árvores que são promotoras de saúde. Não permitam que essas árvores sejam impiedosamente derrubadas. Tratem-nas com carinho onde elas existirem em abundância, e plantem mais onde há poucas. T7 77 2 Para o doente crônico, nada contribui tanto para restaurar a saúde e a felicidade como viver em meio ao atrativo ambiente do campo. Pode-se deixar sentar ou deitar aí o mais fraco enfermo, à luz do Sol ou à sombra das árvores. É-lhes necessário apenas erguer os olhos e ver ao alto a bela folhagem. Maravilham-se eles de que jamais tenham observado quão graciosamente a curvatura dos galhos, que formam um manto vivo por sobre si, dá-lhes exatamente a sombra de que necessitam. Uma doce sensação de repouso e refrigério lhes sobrevém ao prestarem eles atenção à murmurante brisa. Os espíritos abatidos revivem. A energia é renovada. Sem perceber, a mente torna-se calma; o acelerado pulso, mais lento e regular. Quando os doentes ficam mais fortes, aventuram-se eles a darem alguns passos para colher algumas das mais belas flores -- preciosos mensageiros do amor de Deus à Sua família aflita aqui embaixo. T7 78 1 Animem os pacientes a estarem mais ao ar livre. Façam planos para conservá-los fora de casa, onde, através da natureza, possam comungar com Deus. Localizem as clínicas em extensas áreas de terra, onde os doentes possam ter, no cultivo do solo, oportunidade para exercício salutar ao ar livre. Esse exercício, de parceria com o tratamento médico, operará milagres na restauração e revigoramento do corpo enfermo, e em refrigerar a exausta e fatigada mente. Em meio de condições tão favoráveis, os pacientes não exigirão tanto cuidado, quanto se confinados em um hospital na cidade. Nem estarão eles no campo tão inclinados a descontentamento e queixa. Estarão prontos a aprender as lições relacionadas com o amor de Deus -- prontos a entender que Aquele que cuida tão maravilhosamente dos pássaros e das flores, cuidará das criaturas formadas à Sua própria imagem. Assim é dada aos médicos e auxiliares oportunidade de alcançar-lhes a alma, enaltecendo o Deus da natureza diante daqueles que estão buscando restauração para a saúde. T7 78 2 Durante a noite foi-me dada uma visão de uma casa de saúde do campo. A instituição não era grande, mas era completa. Estava rodeada por belas árvores e arbustos, além dos quais havia pomares e bosques. Ligado com o local havia jardins nos quais as senhoras enfermas, quando achassem conveniente, podiam cultivar toda sorte de flores, selecionando cada paciente um canteiro para dele cuidar. O exercício ao ar livre era, nesses jardins, prescrito como uma parte do tratamento regular. T7 78 3 Cena após cena passava perante mim. Em uma delas vários pacientes sofredores haviam vindo justamente para um de nossos hospitais na área rural. Noutra cena vi o mesmo grupo, mas, oh! quão transformada era a sua aparência A doença desaparecera, a pele estava limpa e o semblante alegre; corpo e mente pareciam animados com nova vida. T7 79 1 Fui também instruída no sentido de que, quando aqueles que estão doentes são restaurados à saúde em nossas clínicas na área rural, e voltam a seus lares, tornam-se eles lições objetivas vivas, e muitos outros serão impressionados favoravelmente pela transformação neles ocorrida. Muitos doentes e sofredores virão das cidades para o campo, recusando conformarem-se com os hábitos, costumes e maneiras da vida da cidade; procurarão eles reaver a saúde em alguma das nossas casas de saúde do campo. Dessa forma, embora estejamos distantes das cidades trinta ou quarenta quilômetros, seremos capazes de alcançar o povo, e aqueles que desejam saúde terão oportunidade de reavê-la sob as condições mais favoráveis. T7 79 2 Deus operará maravilhas por nós se, com fé, cooperarmos com Ele. Procuremos, então, adotar um procedimento sensível, para que nossos esforços possam ser abençoados pelo Céu e coroados de êxito. T7 79 3 Por que nossos rapazes e moças que procuram obter conhecimento de como tratar melhor os doentes não buscam tirar mais vantagens dos recursos maravilhosos da natureza? Por que não lhes ensinar mais diligentemente sobre o valor e o uso desses recursos? T7 79 4 Ao localizar as instituições de saúde, nossos médicos cometeram um erro. Não usaram as provisões da natureza como deveriam. Deus deseja que as localidades escolhidas para os sanatórios sejam agradáveis, para que os pacientes fiquem rodeados de tudo aquilo que possa deleitar os sentidos. Que Deus nos ajude a fazer o nosso melhor a fim de utilizar o poder vital da luz solar e do ar puro. Quando, como um povo, seguirmos bem de perto os planos de Senhor em relação a nossos sanatórios, os recursos da natureza serão apreciados. ------------------------Capítulo 16 -- Fora das cidades T7 80 1 Os que têm algo que ver com a localização de nossos sanatórios devem estudar com oração o caráter e objetivo da nossa obra pró-saúde. Devem sempre se lembrar que trabalham para restaurar no homem a imagem de Deus. Devem, por um lado, ministrar os remédios que aliviam o sofrimento físico, e, por outro, o evangelho, para o alívio dos sofrimentos da alma, resultantes do pecado. Assim, têm de trabalhar como verdadeiros médicos-missionários. Em muitos corações, eles terão de semear as sementes da verdade. T7 80 2 Nenhum egoísmo, nem ambição pessoal devem ser permitidos na escolha da localização para os nossos sanatórios. Cristo veio a este mundo a fim de ensinar-nos a viver e a trabalhar. Aprendamos, pois, dEle, a não escolher para os nossos sanatórios os lugares que mais nos satisfaçam o gosto, mas os que mais convenham ao nosso trabalho. T7 80 3 Foi-me mostrado que em nossa obra médico-missionária perdemos muitas vantagens por deixarmos de reconhecer a necessidade de uma mudança de planos no que toca à localização dos sanatórios. A vontade de Deus é que essas instituições sejam localizadas fora da cidade. Devem ser localizadas no campo, em local o mais atraente possível. Na natureza -- o jardim do Senhor -- o enfermo sempre achará alguma coisa para desviar de si próprio a atenção, e elevar a Deus os pensamentos. T7 80 4 Fui instruída que os enfermos devem ser tratados fora da agitação das cidades, longe do ruído dos bondes e do contínuo barulho de carros e carroças. As pessoas que do interior acorrem aos nossos sanatórios, apreciarão um lugar sossegado; e, num lugar calmo, os pacientes serão melhor influenciados pelo Espírito de Deus. T7 81 1 O jardim do Éden, lar de nossos primeiros pais, era extremamente belo. Graciosos arbustos e flores delicadas deleitavam os olhos a cada passo. Havia ali árvores de toda espécie, muitas delas carregadas de frutos fragrantes e deliciosos. Em seus galhos, trinavam os pássaros seus hinos de louvor. Adão e Eva, em sua pureza imaculada, deleitavam-se no que viam e ouviam no Éden. E hoje, embora o pecado haja lançado sua sombra sobre a Terra, Deus quer que Seus filhos se deleitem nas obras de Suas mãos. Localizar os nossos sanatórios em meio das cenas da natureza equivale a seguir o plano de Deus; e quanto mais minuciosamente ele for seguido, tanto mais maravilhosamente procederá Deus na restauração da humanidade sofredora. Para as nossas instituições educativas e médicas devem ser escolhidos lugares onde, fora das nuvens escuras de pecado que cobrem as grandes cidades, possa nascer o Sol da Justiça, "trazendo curas nas Suas asas". Malaquias 4:2 (VB). T7 81 2 Dêem os dirigentes de nossa obra instruções para que os nossos sanatórios sejam localizados na mais agradável das imediações, distante da agitação da cidade -- lugares em que, por meio de instrução sábia, o pensamento dos pacientes seja posto em contato com os pensamentos de Deus. Eu tenho repetidamente descrito esses lugares; mas parece que os ouvidos não têm me compreendido. Ainda recentemente, a vantagem de localizar fora das cidades as nossas instituições, especialmente os nossos sanatórios e escolas, foi-me apresentada de maneira muitíssimo clara e convincente. T7 81 3 Por que nossos médicos insistem tanto em localizarem-se nas cidades? A própria atmosfera das cidades está poluída. Nelas, os enfermos que têm maus hábitos a vencer não podem ficar preservados de maneira adequada. Para os alcoólicos, os bares das cidades constituem uma tentação contínua. Localizar os nossos sanatórios onde estejam circundados de ambiente ímpio, equivale a neutralizar os esforços feitos para restabelecer a saúde dos pacientes. T7 82 1 No futuro, o estado de coisas nas cidades piorará mais e mais, e a influência do ambiente urbano será considerada desfavorável para o cumprimento da obra que nossos sanatórios devem realizar. T7 82 2 Do ponto de vista da saúde, o fumo e o pó das cidades são extremamente prejudiciais. E os pacientes que ficam grande parte do tempo confinados dentro de quatro paredes, sentem-se como prisioneiros dentro do quarto. Ao olharem por uma janela, nada mais vêem além de casas, casas, casas. Os que assim ficam retidos em quartos, inclinam-se a meditar em seus sofrimentos e infortúnios. Algumas vezes um inválido é envenenado por sua própria respiração. T7 82 3 Muitos outros males resultam da localização de grandes instituições médicas nas grandes cidades. T7 82 4 Por que se haverá de privar os pacientes da bênção restauradora achada na vida ao ar livre? Eu fui instruída de que, ao serem os doentes animados a abandonar o quarto e passar algum tempo ao ar livre, cultivando flores ou fazendo outro trabalho leve e agradável, seu espírito será desviado de si próprios para alguma coisa que lhes favoreça a cura. O exercício ao ar livre deveria ser prescrito como uma necessidade benéfica e vivificante. Quanto mais tempo possam os pacientes ser mantidos ao ar livre, de tanto menos cuidado necessitarão. Quanto mais alegre for o ambiente que os circunda, tanto mais esperança terão. Que sejam eles rodeados das belas coisas da natureza; colocados onde possam ver as flores crescerem e ouvir os pássaros cantarem, e seu coração cantará em uníssono com o trinado deles. Mas se forem encerrados em quartos, embora sejam elegantemente mobiliados, eles ficarão tristes e irritados. Caso tenham a bênção da vida ao ar livre; isso lhes elevará o espírito. Serão aliviados física e espiritualmente. T7 83 1 "Fora das cidades" é a minha mensagem. Nossos médicos há muito deveriam estar bem despertos em relação a esse ponto. Espero e creio que compreenderão agora a importância de saírem para o campo, e oro a Deus para que assim seja. T7 83 2 Aproxima-se o tempo em que as cidades serão alvo dos juízos divinos. Dentro em pouco as cidades serão terrivelmente sacudidas. Não importa quais sejam as dimensões e a solidez dos edifícios, nem quais as precauções tomadas contra incêndios; quando Deus tocar esses edifícios, dentro de poucos minutos ou algumas horas ficarão reduzidos a escombros. T7 83 3 As cidades ímpias do nosso mundo serão varridas pela vassoura da destruição. Nas calamidades que agora atingem edifícios imensos e grandes áreas das cidades, Deus nos está mostrando o que irá acontecer em toda a Terra. Ele nos diz: "Aprendei pois esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que Ele [Cristo em Sua vinda] está próximo às portas." Mateus 24:32, 33. T7 83 4 Os edifícios de tijolo e pedra não são os mais aconselháveis para um sanatório, pois estes são em geral frios e úmidos. Poderá ser alegado que uma construção de alvenaria apresenta uma aparência muito mais atrativa, e que o edifício deve ser vistoso. Nós, porém, carecemos de edifícios espaçosos; e se os tijolos são muito dispendiosos, devemos construir de madeira. A economia deve ser nosso objeto de estudo. Essa é uma necessidade, em virtude da grandiosidade da obra que devemos realizar nos vários aspectos da vinha espiritual de Deus. T7 84 1 Tem-se insinuado que os pacientes não se sentiriam a salvo do fogo em uma construção de madeira. Se, porém, estivermos no campo, e não nas cidades onde as construções estão aglomeradas, um fogo se originaria de dentro, não de fora; por isso o tijolo não será uma salvaguarda. Deve-se fazer ver aos pacientes que, para fins de saúde, a construção de madeira é preferível à de tijolos. T7 84 2 Durante anos me foi ministrada revelação especial acerca do nosso dever de não centralizar a nossa obra nas cidades. A agitação e confusão que enchem essas cidades, as condições nelas criadas pelos sindicatos trabalhistas e as greves, tornar-se-ão grande desvantagem para a nossa obra. Buscam os homens conseguir que as pessoas empenhadas em diferentes profissões se filiem a certos sindicatos. Esse não é o plano de Deus, mas de um poder que não devemos jamais reconhecer. A Palavra de Deus se está cumprindo; os ímpios estão se ajuntando em molhos, prontos para serem queimados. T7 84 3 Devemos empregar agora toda a capacidade que nos foi confiada, no sentido de transmitir para o mundo a grande mensagem de advertência. Nessa obra, cumpre-nos preservar a individualidade. Não devemos nos associar a sociedades secretas nem a sindicatos trabalhistas. Devemos permanecer livres perante Deus, à espera constante das instruções de Cristo. Todos os nossos atos deverão ser exercidos com a convicção da importância da obra a ser feita para Deus. T7 84 4 Foi-me revelado que as cidades se encherão de confusão, violência e crime, e que essas coisas aumentarão até ao fim da história da Terra. ------------------------Capítulo 17 -- No campo T7 85 1 Enquanto assistia às reuniões campais de Los Angeles, em Agosto de 1901, estive, em visões da noite, em uma reunião de concílio. O assunto discutido era o estabelecimento de uma casa de saúde no sul da Califórnia. Insistiam alguns em que a casa de saúde deveria ser construída na cidade de Los Angeles, e eram apresentadas as objeções para o estabelecimento fora da cidade. Outros falavam das vantagens de uma instituição na zona rural. T7 85 2 Havia Alguém entre nós que apresentou esse assunto muito claramente e com a maior simplicidade. Disse-nos que seria um erro estabelecer uma casa de saúde dentro dos limites da cidade. Uma casa de saúde deve ter a vantagem da provisão da terra, de maneira que os doentes possam trabalhar ao ar livre. Para os doentes dos nervos, depressivos e debilitados, o trabalho ao ar livre é inestimável. Eles devem ter permissão para cuidar dos jardins. No uso do ancinho, da enxada e da pá, encontrarão eles alívio de muitos dos seus males. A ociosidade é a causa de muitas doenças. T7 85 3 A vida ao ar livre é boa para o corpo e a mente. É o remédio divino para a restauração da saúde. Ar puro, água potável, luz solar, as circunjacentes belezas da natureza -- são os Seus meios de restaurar o doente à saúde por processos naturais. Para o doente vale mais do que prata ou ouro estar à luz do Sol ou à sombra das árvores. T7 85 4 No campo, nossas casas de saúde podem ser rodeadas por flores e árvores, pomares e vinhas. Aí é fácil aos médicos e enfermeiras extraírem das coisas da natureza lições que falem de Deus. Dirijam eles os pacientes para Aquele cujas mãos fizeram as altaneiras árvores, e relva que brota e as belas flores, encorajando-os a ver em cada botão que desabrocha e flor que viceja uma demonstração de Seu amor para com Seus filhos. T7 86 1 É a expressa vontade de Deus que nossas clínicas sejam estabelecidas tão distantes das cidades quanto o mande a coerência. Tanto quanto possível, essas instituições devem estar situadas em lugares quietos e retirados onde seja oferecida oportunidade de dar aos pacientes instruções a respeito do amor de Deus e do lar edênico de nossos primeiros pais, o qual, por meio do sangue de Cristo, deve ser restaurado para o homem. T7 86 2 No esforço para restaurar a saúde do doente, deve-se fazer uso das coisas belas da criação de Deus. Observar as flores, colher os frutos maduros, escutar o alegre canto dos pássaros, tudo isso exerce um efeito estimulante peculiar sobre o sistema nervoso. Da vida ao ar livre adquirem os homens, mulheres e crianças o desejo de serem puros e honestos. Mediante a influência das propriedades reanimadoras, revivificantes e comunicadoras de vida dos grandes recursos medicinais da natureza, as funções do corpo são fortalecidas, avivado o intelecto, a imaginação despertada, animado o espírito e a mente preparada para apreciar a beleza da Palavra de Deus. T7 86 3 Sob essas influências, combinadas com a influência do tratamento cuidadoso e o alimento saudável, o doente recupera a saúde. O passo vacilante recobra a sua firmeza. Os olhos adquirem novamente o seu brilho. O desesperado torna-se esperançoso. Aquele que outrora apresentava um semblante abatido, mostra agora uma expressão de alegria. Os lamentosos tons da voz cedem lugar aos tons de contentamento. As palavras expressam a convicção: "Deus é o nosso refúgio e fortaleza; socorro bem presente na angústia." Salmos 46:1. A empanada esperança do cristão torna-se iluminada. A fé retorna. São ouvidas as palavras: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam." Salmos 23:4. "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador." Lucas 1:46, 47. "Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor." Isaías 40:29. O reconhecimento da bondade de Deus em prover essas bênçãos revigora a mente. Deus Se acha muito próximo e Se sente satisfeito ao ver Seus dons apreciados. T7 87 1 Quando a Terra foi criada, era santa e maravilhosa. Deus disse que era muito boa. Cada flor, cada arbusto, cada árvore, correspondia ao propósito do Criador. Tudo sobre o que pudesse descansar os olhos era amável, e enchia a mente com pensamentos de louvor a Deus. Tentando levar o homem ao pecado, Satanás esperava frustrar o fluxo do amor divino que fluía para a raça humana; mas, em vez disso, sua tentativa resultou na providência de novas e profundas manifestações da misericórdia e bondade de Deus. T7 87 2 Não era propósito de Deus que Seu povo se aglomerasse nas cidades, amontoados uns com os outros em terraços e apartamentos. No início, colocou Ele os nossos primeiros pais em um jardim, em meio das belas cenas e atrativos sons da natureza, e deseja que essas cenas e sons alegrem as pessoas hoje. Quanto mais intimamente estivermos em harmonia com o plano original de Deus, tanto mais favorável será a nossa posição para o restabelecimento e preservação da saúde. ------------------------Capítulo 18 -- Não entre os ricos T7 88 1 Poderia parecer-nos que fosse melhor escolher para os nossos sanatórios lugares em meio aos ricos; que isso daria feição à nossa obra, e garantiria amparo para as nossas instituições. Mas não há nisso lógica. "O Senhor não vê como vê o homem." 1 Samuel 16:7. O homem atenta para a aparência externa; Deus observa o coração. Quanto menos grandes edifícios houver em volta das nossas instituições, tanto menos aborrecimentos experimentaremos. Muitos dos ricos donos de propriedades são irreligiosos e irreverentes. Pensamentos mundanos lhes ocupam a mente. As diversões, alegrias e hilaridades mundanas lhes ocupam o tempo. A extravagância no vestir-se e a vida luxuosa absorvem os seus recursos. Os mensageiros celestiais não são bem-vindos aos seus lares. Eles querem que Deus esteja longe. É difícil à humanidade aprender a lição da humildade, especialmente aos ricos e aos condescendentes consigo mesmos. Aqueles que não se consideram responsáveis perante Deus por tudo o que possuem são tentados a se exaltarem, como se as riquezas compreendidas pelas terras e os depósitos bancários os tornassem independentes de Deus. Cheios de orgulho e presunção, atribuem a si mesmos uma importância medida por sua riqueza. T7 88 2 Há muitos ricos que aos olhos de Deus são mordomos infiéis. Na aquisição e uso de seus recursos tem Ele visto roubo. Eles têm negligenciado o grande Proprietário de tudo, e deixado de usar os meios que lhes foram confiados para aliviar os sofredores e opressos. Têm estado a acumular para si ira para o dia da ira, pois Deus recompensará a cada um de conformidade com as suas obras. Esses homens não adoram a Deus; o eu é o seu ídolo. Eles põem a justiça e a misericórdia fora de cogitação, substituindo-as pela avareza e a porfia. Deus diz: "Porventura por estas coisas não os visitaria?" Jeremias 9:9. T7 89 1 Deus não Se agradaria em ter qualquer de nossas instituições localizada em uma comunidade dessa espécie, por grandes que sejam suas vantagens aparentes. Os homens ricos e egoístas exercem uma influência modeladora sobre outras mentes, e o inimigo poderia operar por meio deles para obstruir o nosso caminho. As más associações são sempre prejudiciais à piedade e à devoção, e os princípios aprovados por Deus podem ser solapados por essas associações. Deus não gostaria que qualquer de nós fosse como Ló, que escolheu habitar em um lugar em que ele e sua família ficaram em constante contato com o mal. Ló entrou em Sodoma rico; partiu sem nada, conduzido pela mão de um anjo, enquanto os mensageiros da ira aguardavam para derramar as chamas de fogo que deveriam consumir os habitantes daquela cidade grandemente favorecida, e eclipsar sua fascinante beleza tornando desolado e deserto o lugar que Deus outrora fizera tão lindo. T7 89 2 Nossos sanatórios não deverão ser localizados próximos das residências de pessoas ricas, onde serão considerados como algo estranho e objeto de aversão, e comentados desfavoravelmente porque recebem a humanidade sofredora de toda espécie. A religião pura e imaculada faz dos que são filhos de Deus uma só família, ligados com Cristo em Deus. Mas o espírito do mundo é orgulhoso, parcial, exclusivista e favorece apenas uns poucos. T7 89 3 Ao erguermos os nossos edifícios, devemos manter-nos longe das casas dos grandes homens do mundo e deixar que eles busquem o auxílio de que necessitam, ausentando-se de seus amigos para os mais afastados lugares. Não agradaremos a Deus construindo os nossos sanatórios entre pessoas extravagantes no vestir-se e no viver, que são atraídas para aqueles que podem apresentar grande exibição. ------------------------Capítulo 19 -- Considerações acerca dos edifícios T7 90 1 Como povo escolhido de Deus não podemos copiar os costumes, alvos e práticas do mundo, nem imitar a moda que nele impera. Não estamos imersos em ignorância tal que nos conformemos com imitar os modelos que o mundo nos oferece, e contemos com a aparência para alcançar bom êxito. Disse-nos o Senhor de onde provém a nossa força. "Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6. Ao considerar oportuno, o Senhor concede, a quem guarda a Sua Palavra, a faculdade de exercer forte influência para o bem. De fato, eles dependem de Deus, e a Ele terão que prestar contas da maneira em que empregaram os talentos que lhes confiou. Devem compreender que são administradores dos bens do Senhor e que é dever seu exaltar-Lhe o nome. T7 90 2 Os que puserem em Deus todas as suas afeições, alcançarão êxito. Em Cristo, perderão de vista a si próprios, e as atrações do mundo não exercerão poder algum para apartá-los da obediência. Compreenderão que aparência exterior não concede força. Não é a ostentação ou a aparência imponente o que representa de maneira correta a obra que devemos realizar como povo escolhido de Deus. Os que trabalham em ligação com a nossa obra médica devem estar adornados da graça de Cristo. Isso lhes permitirá exercer a maior das influências para o bem. T7 90 3 O Senhor quer realmente o que de nós espera. Suas promessas nos são feitas sob a condição de cumprirmos fielmente a Sua vontade. Por isso, quando se trata de construir sanatórios, Ele deve ter o primeiro, o último e o melhor lugar em tudo. T7 90 4 Os que servem a Deus devem velar para que seu gosto de ostentação não arraste outros para os prazeres fáceis e a vaidade. Deus não quer que servo algum Seu realize empreendimentos custosos e inúteis, que o façam endividar-se e privar-se dos recursos com que poderia contribuir para auxiliar a obra do Senhor. Enquanto os que professam crer na verdade presente andarem nas sendas do Senhor para agir segundo as normas da justiça, poderão contar com que o Senhor os fará prosperar. Mas se preferem vagar longe do caminho estreito, atrairão ruína sobre si mesmos e sobre quem os tomar por modelo. T7 91 1 Os que dirigem o estabelecimento de instituições médicas devem dar um bom exemplo. Mesmo que haja dinheiro, não devem gastar mais do que o absolutamente necessário. A obra do Senhor deve ser dirigida, tendo em conta as necessidades de cada parte da Sua vinha. Somos todos membros de uma mesma família, filhos de um mesmo Pai, e as rendas do Senhor têm que ser empregadas de modo que melhor atenda aos interesses de Sua causa no mundo inteiro. O Senhor considera todas as partes do campo, e Sua vinha deve ser cultivada como um conjunto. T7 91 2 Não devemos gastar em uns poucos lugares todo o dinheiro do tesouro, mas tratar de fundar a obra em muitos lugares. Novos territórios devem ser acrescidos ao reino do Senhor. Outras partes da vinha devem receber o auxílio que dará feição à obra. O Senhor nos proíbe de usar em Sua obra planos egoístas. Proíbe-nos de adotar planos que privem o nosso próximo dos recursos que lhes permitiriam desempenhar a sua parte na difusão da verdade. Devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos. T7 91 3 Temos também de lembrar que a nossa obra deve corresponder à nossa fé. Cremos que o Senhor logo virá, e não deveria a nossa fé manifestar-se pelos edifícios que construímos? Investiremos somas consideráveis em edifícios que logo hão de ser consumidos na grande conflagração? Nosso dinheiro representa almas, e devemos empregá-lo de maneira que dê a conhecer a verdade aos que, por causa do pecado, estão debaixo da condenação divina. Renunciemos aos nossos planos ambiciosos; sejamos precavidos contra a extravagância ou a imprevisão, para que se não esvazie a tesouraria do Senhor e falte aos edificadores os recursos para fazerem o trabalho que lhes foi designado. T7 92 1 Nossas instituições mais antigas gastaram somas de dinheiro maiores do que as necessárias. Os que assim procederam julgaram que esse gasto daria aparência à obra. Esse argumento, porém, não justifica a despesa inútil. T7 92 2 Deus quer que o espírito humilde e manso do Mestre, que é a Majestade do Céu e o Rei da glória, se manifeste constantemente em nossas instituições. A primeira vinda de Cristo não é estudada como deveria. Ele veio para ser nosso exemplo em tudo. Sua vida foi de estrita abnegação. Se Lhe seguirmos o exemplo, jamais gastaremos dinheiro sem necessidade. Não buscaremos o que agrade à vista. Tratemos de que a nossa aparência seja tal que a luz da verdade resplandeça por meio das nossas boas obras, e Deus seja glorificado pelo emprego dos melhores métodos para curar e aliviar os que sofrem. O que dá consistência à nossa obra, não é o dinheiro gasto em grandes edifícios, mas a manutenção dos verdadeiros princípios religiosos e o caráter nobre, à semelhança do de Cristo. T7 92 3 Os erros cometidos no passado, com a construção de edifícios, devem ser advertências proveitosas para o futuro. Devemos observar em que outros fracassaram e, em vez de imitar-lhes os erros, tratar de fazer melhor. Em tudo quanto fazemos para o avanço da obra, devemos levar em conta a necessidade de economia. Não deve ser feito gasto algum inútil. O Senhor logo virá e os nossos gastos em edifícios devem harmonizar-se com a nossa fé. Nossos recursos devem ser empregados para prover quartos alegres, ambiente saudável e bom alimento. T7 93 1 Nossos planos referentes à construção e mobília de nossas instituições devem subordinar-se a um conhecimento verdadeiro e prático sobre o que significa andar humildemente com Deus. Nunca deveria ser considerado necessário dar aparência de riqueza. Jamais a aparência deve ser considerada um meio de alcançar êxito. Isso é um engano. O desejo de ostentar aparência que nem sempre convém à obra de que Deus nos incumbiu, aparência que só pode ser alcançada à custa de gastos excessivos, é um tirano sem misericórdia. Assemelha-se ao câncer que penetra nos órgãos vitais. T7 93 2 Os homens de bom senso preferem o conforto à elegância e luxo. É erro pensar que, com a aparência serão atraídos mais pacientes e, conseqüentemente, mais recursos. Mesmo que esse procedimento nos aumentasse a clientela, não poderíamos consentir em que nossos sanatórios fossem mobiliados em conformidade com a concepção de luxo da época. A influência cristã é valiosa demais para ser sacrificada dessa maneira. Todas as imediações, dentro e fora de nossas instituições, têm de estar em harmonia com os ensinos de Cristo e com os princípios da nossa fé. Em todos os seus ramos, deve a nossa obra ser uma ilustração de critério santificado, e não de ostentação e extravagância. T7 93 3 Não é o edifício grande e dispendioso; não é o mobiliário de luxo; não são as mesas servidas de manjares requintados, o que comunicará à nossa obra influência e êxito. É a fé que atua por amor e purifica a alma; é a atmosfera de graça que circunda o crente, é o Espírito Santo atuando na mente e no coração, que o torna um cheiro de vida para vida, e faz com que Deus abençoe a Sua obra. T7 93 4 Deus pode hoje comunicar-Se com Seu povo, e conceder-lhe a sabedoria necessária para fazer a Sua vontade, da mesma forma como Se comunicou com o Seu povo de outrora, e lhe deu sabedoria para construir o tabernáculo. Na construção desse edifício deu Ele uma demonstração do Seu poder e majestade; e Seu nome deve ser honrado através dos edifícios que são construídos para Ele hoje em dia. A sobriedade, solidez e conveniência devem ser vistos em cada pormenor. T7 94 1 Os que têm o encargo da construção de um sanatório devem representar a verdade trabalhando com o espírito e o amor de Deus. Assim como, ao construir a arca, Noé advertiu o mundo, pelo trabalho feito na construção das instituições do Senhor, pregar-se-ão sermões, e o coração de alguns será convencido e convertido. Sintam, pois, nossos obreiros, a maior ansiedade pela constante ajuda de Cristo, para que nossas instituições não sejam estabelecidas em vão. T7 94 2 Enquanto progride a obra de construção, lembrem-se de que, como nos dias de Noé e Moisés, Deus determinou todos os pormenores da arca e do santuário, também na construção de Suas instituições modernas, Ele vigia o trabalho feito. Lembrem-se de que o grande Arquiteto deseja dirigir a Sua obra por meio de Sua Palavra, Espírito e providência. Por isso devem tomar tempo para aconselharem-se com Deus. A voz da oração e a melodia dos hinos santos, devem elevar-se até Ele como um incenso suave. Todos devem compreender que dependem inteiramente de Deus. Devem lembrar-se de que estão erguendo uma instituição por cujo meio irá cumprir-se com êxito uma obra que terá conseqüências infinitas e que, ao realizarem assim o trabalho, devem ser coobreiros de Deus. "Olhando para Jesus" (Hebreus 12:2) deve ser o nosso lema. E esta é a promessa que nos é feita: "Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os Meus olhos." Salmos 32:8. ------------------------Capítulo 20 -- Não para os que buscam prazeres T7 95 1 Aos obreiros da obra médica no Sul da Califórnia: T7 95 2 Tenho uma mensagem categórica para o nosso povo do Sul da Califórnia. O Senhor não requer que providenciem instalações para o entretenimento de turistas. O estabelecimento de uma instituição para esse propósito colocará um exemplo errado diante dos seguidores do Senhor. O resultado não justificaria os esforços feitos. T7 95 3 Por que fundamos hospitais? Para que os doentes que a eles acorrem em busca de tratamento possam receber o lenitivo para seus sofrimentos físicos e possam também receber auxílio espiritual. Em virtude de seu estado de saúde, acham-se eles suscetíveis à influência santificadora dos missionários médicos que trabalham em favor de sua restauração. Trabalhemos sabiamente, para seu melhor interesse. T7 95 4 Não construímos hospitais para serem hotéis. Recebamos em nossas instituições de saúde apenas aqueles que desejarem conformar-se com os retos princípios, aqueles que aceitarem os alimentos que conscienciosamente podemos colocar diante deles. Se permitíssemos que os pacientes tivessem bebidas intoxicantes em seus quartos, ou lhes servíssemos alimento cárneo, não lhes daríamos o auxílio que devem receber ao virem aos nossos hospitais. Devemos tornar claro que, por princípio, excluímos tais artigos das nossas instituições de saúde e de nossos restaurantes. Não desejamos ver nossos semelhantes livres de doenças e enfermidades, com a alegria da saúde e do vigor? Então sejamos tão fiéis aos princípios como a bússola o é ao pólo. T7 95 5 Aqueles cuja obra tem como objetivo a salvação das almas devem manter-se isentos dos métodos mundanos. Não devem, no interesse de obter a influência de alguma pessoa rica, envolver-se em planos desonrosos para sua profissão de fé. Não devem vender a sua alma por vantagens financeiras. Não devem fazer coisa alguma que retarde a obra de Deus e rebaixe o padrão de justiça. Somos servos de Deus, e devemos ser obreiros juntamente com Ele, fazendo Sua obra à Sua maneira, a fim de que todos para os quais trabalhamos possam ver que o nosso intuito é atingir um elevado padrão de santidade. Aqueles com os quais entramos em contato devem ver que não apenas falamos de abnegação e sacrifício, mas que os revelamos em nossa vida. Nosso exemplo deve inspirar aqueles com quem entramos em contato em nosso trabalho a se tornarem mais bem relacionados com as coisas de Deus. T7 96 1 Se devemos efetuar gastos com a construção de instituições de saúde, a fim de que possamos trabalhar pela salvação dos enfermos e aflitos, importa que planejemos nosso trabalho de tal maneira que os que desejam ajuda recebam o auxílio de que necessitam. Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance pela cura do corpo; devemos, porém, tornar a cura da alma de muito maior importância. Aos que vão aos nossos hospitais como pacientes deve ser mostrado o caminho da salvação, a fim de que possam arrepender-se e ouvir as palavras: Seus pecados foram perdoados; vá em paz, e não peque mais. T7 96 2 A obra médico-missionária no Sul da Califórnia não deve se tornar uma grande instituição para acomodação e divertimento de convivência promíscua de amantes do prazer, que trazem consigo idéias e práticas intemperantes. Uma tal instituição absorveria o tempo e talentos dos obreiros que são necessários em outros lugares. Nossos capacitados homens devem colocar seus esforços no estabelecimento e condução de sanatórios que têm o propósito de preparar mentes para a recepção do evangelho de Cristo. T7 97 1 Não devemos absorver o tempo e os esforços dos homens capazes de levar avante a obra de Deus, da maneira como Ele delineou, em um empreendimento para a acomodação e entretenimento dos que só buscam os prazeres e cujo maior desejo é agradar o eu. Associar obreiros com tal empreendimento é perigoso para sua segurança. Guardemos nossos moços e moças de todas essas influências perigosas. E se nossos irmãos se envolverem com tal empreendimento, não poderão fazer progredir a obra da salvação de almas como pretendem. T7 97 2 Nossos sanatórios devem ser estabelecidos com uma finalidade -- o avanço da verdade presente. Devem ser tão bem dirigidos que se produza uma positiva impressão em favor da verdade na mente daqueles que a eles vêm em busca de tratamento. A conduta dos obreiros, e do administrador-chefe para com o obreiro que ocupa a posição mais humilde, deve pesar em favor da verdade. A instituição deve ser permeada por uma atmosfera espiritual. Temos uma mensagem de advertência para apresentar ao mundo, e nosso zelo e devotamento ao serviço de Deus deve impressionar os que vêm às nossas instituições de saúde. T7 97 3 Tão logo seja possível, hospitais devem ser construídos em diferentes lugares no Sul da Califórnia. Comecem em vários lugares. Se possível comprem propriedade onde já haja edifícios construídos. À medida que a prosperidade da obra demanda, então sejam feitas as ampliações necessárias. T7 97 4 Estamos vivendo justamente no final da história da Terra, e devemos mover-nos cautelosamente, compreendendo o que é a vontade do Senhor e, imbuídos de Seu espírito, fazer a obra que muito significará para Sua causa, obra que proclamará a mensagem de advertência a um mundo obcecado, enganado e a perecer no pecado. T7 98 1 No Sul da Califórnia há muitas propriedades à venda, onde há construções já erigidas, adequadas para a obra médica. Algumas dessas propriedades devem ser compradas, para desenvolver ali uma obra médico-missionária dentro de uma linha racional e adequada. Devem ser estabelecidos vários sanatórios pequenos no Sul da Califórnia, para o benefício de multidões que para lá se dirigirão na esperança de encontrar saúde. A mim foram dadas instruções de que agora é nossa oportunidade para alcançar um grande número de inválidos que buscam refúgios de saúde no Sul da Califórnia, e esse trabalho também deve ser feito em favor de seus acompanhantes. T7 98 2 "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa." João 4:35. T7 98 3 Por meses, carrego em meu coração a responsabilidade da obra médica no Sul da Califórnia. Recentemente recebi muita luz sobre a maneira como Deus deseja que conduzamos a obra médica. Precisamos encorajar os pacientes a gastarem mais do seu tempo ao ar livre. Fui instruída a dizer aos nossos irmãos para procurarem propriedades agradáveis e com preço baixo, em lugares saudáveis, apropriados para a instalação de uma instituição de saúde. T7 98 4 Em vez de investir todos os recursos obtidos numa instituição médica, devemos estabelecer pequenas clínicas em diversos lugares. Breve a reputação desses recantos de saúde no Sul da Califórnia estará muito mais alta do que está presentemente. Agora é o momento de entrar no campo com o propósito de levar avante a obra médico-missionária. ------------------------Capítulo 21 -- O perigo da centralização T7 99 1 Aos dirigentes de nossa Obra Médica: T7 99 2 Caros irmãos: T7 99 3 O Senhor atua imparcialmente em todas as áreas de Sua vinha. São os homens que desorganizam a Sua obra. Ele não concede ao Seu povo o privilégio de coletar grandes somas de dinheiro para estabelecer instituições em poucos lugares, de modo que nada fique para instalar instituições similares noutros lugares. T7 99 4 Muitas outras instituições devem ser fundadas nas cidades dos Estados Unidos, especialmente na parte Sul, onde até agora pouco tem sido feito. Deve-se empreender e dirigir com êxito muitos empreendimentos médico-missionários nos países estrangeiros. A fundação de sanatórios é tão importante na Europa e noutras terras estrangeiras, quanto o é nos Estados Unidos. T7 99 5 Quer o Senhor que Seu povo compreenda devidamente a espécie de trabalho que deve ser realizado, bem como a sua parte como administrador fiel e prudente no investimento de recursos. No tocante à construção de edifícios, Ele quer que se calcule o gasto a fim de saber se há dinheiro suficiente para concluir o empreendimento. Quer, também, que lembremos que não se deve concentrar todo o dinheiro de modo egoísta em poucos lugares somente, mas convém ter em conta outros, muito numerosos, onde também devem de ser construídas instituições. T7 99 6 Das instruções que recebi, depreende-se que os administradores de todas as nossas instituições, especialmente dos sanatórios recém-inaugurados, devem economizar com cuidado para poder acudir em auxílio de instituições similares que devam ser fundadas noutras partes do mundo. Mesmo que tenham em caixa boa quantia de dinheiro, cumpre fazer planos com vistas para as necessidades do grande campo missionário de Deus. T7 100 1 Não é a vontade de Deus que Seu povo construa hospitais gigantescos em qualquer parte. Em vez disso, convém fundar muitos deles. Não devem ser grandes, mas suficientemente equipados para realizarem um trabalho bom e completo. T7 100 2 Foram-me feitas advertências acerca da formação de enfermeiros e evangelistas médico-missionários. Não devemos centralizar esse preparo num único lugar. Em todos os sanatórios existentes devem ser preparados jovens de ambos os sexos para o trabalho médico-missionário. O Senhor abrirá perante eles um caminho ao se porem a trabalhar para Ele. T7 100 3 As provas evidentes do cumprimento das profecias declaram que está próximo o fim de todas as coisas. Muito trabalho importante precisa ser feito fora e distante dos lugares em que, no passado, nossa obra esteve grandemente concentrada. T7 100 4 Ao canalizarmos água para irrigar um jardim, não tratamos de regar uma parte somente, deixando as demais em completa aridez, a clamarem: "Dá-nos água!" Isso, não obstante, representa a maneira como a obra tem sido executada em poucos lugares, com o abandono do vasto campo. Permanecerão desolados os lugares áridos? Não. Circule água por todas as partes, levando consigo alegria e fertilidade. T7 100 5 Jamais devemos confiar na reputação e reconhecimento mundano. Nunca, ao fundar instituições, devemos tentar competir com as instituições mundanas em tamanho e esplendor. Alcançaremos a vitória, não construindo edifícios enormes, nem rivalizando com os nossos oponentes, mas cultivando um espírito cristão -- espírito de mansidão e humildade. Mais valem a cruz e as esperanças frustradas, com a vida eterna afinal, do que viver como príncipes e perder o Céu. T7 101 1 O Salvador da humanidade nasceu de pais humildes, num mundo mau e amaldiçoado por causa do pecado. Foi criado na obscuridade de Nazaré, pequena cidade da Galiléia. Começou o Seu trabalho na pobreza e sem alta linhagem mundana. Assim introduziu Deus o evangelho, de maneira inteiramente diversa da que muitos em nossos dias considerariam aconselhável para a proclamação desse evangelho. T7 101 2 No próprio início da dispensação evangélica, ensinou Ele à Sua igreja a não confiar na grandeza nem no esplendor mundanos, mas no poder da fé e da obediência. O favor de Deus é de mais valioso do que ouro e prata. O poder do Seu Espírito é de valor incalculável. T7 101 3 Assim diz o Senhor: "Os edifícios só darão feição à Minha obra quando os que os constroem seguirem a Minha instrução referente ao estabelecimento das instituições. Se os que, no passado, dirigiram e sustentaram a obra fossem dominados por sentimentos puros e santificados, jamais teria havido acúmulo egoísta de grande quantidade dos Meus recursos em um ou dois lugares. Instituições teriam sido estabelecidas em muitos lugares. As sementes da verdade, semeadas em muitos campos mais, teriam germinado e produzido fruto para Minha glória. T7 101 4 "Os lugares que foram negligenciados precisam agora merecer a nossa atenção. O Meu povo precisa fazer uma obra rápida. Os que com pureza de propósito se consagrarem inteiramente a Mim, de corpo, alma e espírito, trabalharão segundo os Meus métodos e em Meu nome. Cada qual se manterá em seu lugar e olhará para Mim, seu Guia e Conselheiro. T7 101 5 "Instruirei o ignorante, e ungirei com colírio celestial os olhos de muitos que agora estão imersos em trevas espirituais. Suscitarei obreiros que executem a Minha vontade para preparar um povo que subsista perante Mim no tempo do fim. Em muitos lugares que já deveria haver sanatórios e escolas, estabelecerei as Minhas instituições, as quais virão a ser centros de preparo de obreiros." T7 102 1 O Senhor influenciará a mente de pessoas em setores inesperados. Alguns que aparentam ser inimigos da verdade, empregarão, pela providência divina, os seus meios para comprar propriedades e construir edifícios. Com o tempo, essas propriedades serão oferecidas à venda a preço muito inferior ao seu custo. Nossos irmãos reconhecerão nessas ofertas a mão da Providência, e comprarão assim propriedades excelentes para serem usadas na obra de educação. Planejarão e agirão com humildade, abnegação e sacrifício. Assim é que homens de posses estão inconscientemente preparando auxiliares que permitirão ao povo de Deus fazer a Sua obra avançar rapidamente. T7 102 2 Em vários lugares serão compradas propriedades para serem usadas como instituições de saúde. Nossos irmãos devem estar atentos às oportunidades de comprar, fora das cidades, propriedades em que já haja edifícios e pomares em plena produção. A terra é um investimento valioso. Junto aos nossos sanatórios deve haver terrenos, dos quais uma pequena parte seja usada para a construção de residências dos funcionários e de outras pessoas que se preparam para a obra médico-missionária. T7 102 3 Muitas vezes me foi mostrado que não é sábio construir instituições gigantescas. Não é pelo tamanho de uma instituição que deve ser avaliada a grandeza da obra em prol da salvação das pessoas. Um sanatório gigantesco exige muitos obreiros. E onde muitos deles estiverem reunidos, é sobremodo difícil manter padrão elevado de espiritualidade. Numa instituição grande pode ocorrer que os cargos de responsabilidade sejam desempenhados por obreiros de pouca espiritualidade, que não exercem sabedoria no procedimento com os que, se fossem sabiamente tratados, seriam despertados, convencidos e convertidos. T7 103 1 Não foi feita, em nossos sanatórios, a quarta parte do trabalho que poderia haver sido realizado, de abrir as Escrituras aos pacientes em nossos sanatórios, se os próprios obreiros houvessem recebido ampla instrução religiosa. T7 103 2 Onde muitos obreiros estão reunidos num lugar, é necessária uma administração de grau espiritual muito mais elevado do que em geral tem sido mantida em nossos grandes sanatórios. T7 103 3 Estamos muito próximos do mundo eterno. Os juízos de Deus estão prontos para começar a cair sobre os habitantes da Terra. Deus envia esses juízos para sensibilizar homens e mulheres. Ele tem um propósito em tudo que acontece no nosso mundo, e deseja que tenhamos uma mente espiritual para habilitar-nos a perceber Sua obra manifestada em eventos tão extraordinários no passado, mas que agora estão ocorrendo quase que diariamente. T7 103 4 Temos perante nós uma grande obra -- a obra finalizadora de dar a última mensagem de advertência de Deus a um mundo pecador. Mas, que temos nós feito para dar essa mensagem? Observem, peço-lhes, os muitos e muitos lugares que jamais foram penetrados. Vejam nossos obreiros pisando sempre as mesmas terras, enquanto ao seu redor há um mundo negligenciado, jazendo em maldade e corrupção -- um mundo até agora não advertido. Para mim, esse é um terrível quadro. Que espantosa indiferença manifestamos para com as necessidades de um mundo que está perecendo! ------------------------Capítulo 22 -- O sinal de nossa ordem T7 104 1 Fui instruída de que nossas instituições médicas devem ser testemunhas de Deus. Elas foram estabelecidas para aliviar os sofredores e aflitos, para despertar um espírito de indagação, para disseminar a luz e promover a reforma. Essas instituições, corretamente dirigidas, serão o meio de levarmos o conhecimento das reforma essenciais, perante muitos que, de outra maneira, nos seria impossível alcançar, a fim de prepararmos um povo para a vinda do Senhor. T7 104 2 Muitos dos mantenedores de nossas instituições médicas mantêm elevado conceito quanto a habitar a presença de Deus na instituição que eles visitam, e são muito suscetíveis à influência espiritual que predomina. Se todos os médicos, enfermeiros e auxiliares estiverem andando circunspectamente diante de Deus, terão poder mais do que humano no trato com esses homens e mulheres. Toda instituição cujos auxiliares são consagrados, está impregnada do poder divino; e os pacientes não apenas obtêm alívio das enfermidades físicas, mas encontram o bálsamo curador para seu espírito enfermo pelo pecado. T7 104 3 Que os líderes do nosso povo salientem a necessidade de se manter uma poderosa influência religiosa em nossas instituições médicas. O Senhor deseja que elas sejam colocadas onde Ele possa ser honrado em palavras e obras, lugares onde Sua lei seja enaltecida e as verdades da Bíblia postas em evidência. Os missionários médicos devem fazer uma grande obra para Deus. Devem estar atentos e vigilantes, revestindo-se de cada peça da armadura cristã e lutando corajosamente. Devem ser leais ao seu Líder, obedecendo-Lhe os mandamentos, inclusive aquele pelo qual revelam o sinal de sua ordem. T7 105 1 A observância do sábado é o sinal entre Deus e Seu povo. Não nos envergonhemos de usar o sinal que nos distingue do mundo. Recentemente ao considerar esse assunto durante a noite, Aquele que possui autoridade aconselhou-me a examinar a instrução dada aos israelitas com respeito ao sábado. "Certamente guardareis Meus sábados", declarou-lhes o Senhor; "porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque santo é para vós. ... Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá. Guardarão pois o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre." Êxodo 31:13-17. T7 105 2 O sábado é sempre o sinal que distingue os obedientes dos desobedientes. Com magistral poder tem Satanás procurado tornar nulo e inútil o quarto mandamento, a fim de que o sinal de Deus seja perdido de vista. O mundo cristão tem calcado sob os pés o sábado do Senhor e observado o sábado instituído pelo inimigo. Deus, porém, tem um povo leal a Ele. Esta obra deve ser levada avante da maneira devida. O povo que leva o Seu sinal deve estabelecer igrejas e instituições como monumentos a Ele. Esses monumentos, conquanto humildes na aparência, testificarão constantemente contra o falso sábado instituído por Satanás, e em favor do sábado instituído pelo Senhor no Éden, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam. T7 106 1 Um espírito de irreverência e negligência na observância do sábado é suscetível de manifestar-se em nossos hospitais. Sobre os homens que têm a responsabilidade da obra médico-missionária, recai a incumbência de instruir médicos, enfermeiros e auxiliares no tocante à santidade do santo dia de Deus. Especialmente, deve cada médico esforçar-se para dar exemplo correto. A natureza das suas obrigações naturalmente o leva a sentir-se justificado por fazer, no sábado, muitas coisas que deveria evitar. Na medida do possível deve ele planejar o seu trabalho de maneira tal que possa afastar-se das ocupações habituais. T7 106 2 Muitas vezes, médicos e enfermeiros são chamados durante o sábado para atender ao enfermo, e algumas vezes lhes é impossível dispor de tempo para repouso e assistência aos cultos devocionais. As necessidades da humanidade sofredora não devem jamais ser negligenciadas. Por Seu exemplo, o Salvador nos mostrou que é correto aliviar os sofrimentos no sábado. O trabalho desnecessário, porém, tal como tratamentos usuais e operações, que possam ser adiados, devem sê-lo. Faça-se com que os pacientes compreendam que os médicos e auxiliares precisam de um dia de repouso. Devem compreender que os obreiros temem a Deus, e querem santificar o dia que Ele separou para os Seus seguidores observarem como sinal entre Ele e eles. T7 106 3 Os educadores e os que forem instruídos em nossas instituições médicas devem lembrar que a guarda correta do sábado tem muito valor para eles e para a clientela. Com a observância do sábado, que Deus manda santificar, apresentam eles o sinal da sua comissão, mostrando claramente que estão ao lado do Senhor. T7 106 4 Agora e sempre teremos que nos manter como um povo separado e peculiar, isento de toda a prática mundana, sem compromissos de confederação com os que não possuem sabedoria para discernir os reclamos de Deus, tão claramente expostos em Sua lei. Todas as nossas instituições médicas são estabelecidas como instituições adventistas do sétimo dia, para representarem os vários aspectos da obra evangélica missionário-médica, e assim preparar o caminho para a vinda do Senhor. Devemos mostrar que procuramos agir em harmonia com o Céu. Temos que dar a todas as nações, tribos e línguas, testemunho de que somos um povo que ama e teme a Deus, um povo que santifica o Seu memorial da criação, que é, entre Ele e os Seus filhos obedientes, o sinal de que Ele os santifica. E devemos nitidamente mostrar a nossa fé na breve vinda de nosso Senhor nas nuvens do céu. T7 107 1 Como povo, temos sido grandemente humilhados com o procedimento que alguns de nossos irmãos ocupantes de cargos de responsabilidade têm tido ao se apartarem dos limites antigos. Há os que, com o objetivo de executar os seus planos, através das palavras negam a sua fé. Isso revela a pouca confiança que podemos depositar na sabedoria e critério humanos. Agora, como nunca antes, precisamos ver o perigo de ser incautamente desviados da fidelidade aos mandamentos de Deus. É necessário reconhecer que Deus nos confiou uma mensagem categórica de advertência para o mundo, assim como confiou a Noé a mensagem de advertência para os antediluvianos. Que o nosso povo se guarde de amesquinhar a importância do sábado, unindo-se aos incrédulos. Guarde-se de desconsiderar os princípios de nossa fé, fazendo aparentar que não há mal em conformar-se com o mundo. Que se guarde de atentar para o conselho de alguém, qualquer que seja a sua posição, que vá de encontro àquilo que Deus estabeleceu para manter o Seu povo separado do mundo. T7 107 2 O Senhor está provando Seu povo, para ver quem se manterá fiel aos princípios de Sua verdade. Nossa tarefa consiste em proclamar ao mundo a primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Na desincumbência de nossas obrigações não devemos menosprezar nem temer os adversários. Não consta da ordem divina que, por meio de contratos, nos liguemos aos que não pertencem à nossa fé. Devemos tratar com bondade e cortesia os que se recusam a ser fiéis a Deus, mas nunca a eles nos unir em concílios que visem aos interesses vitais de Sua obra. Pondo nossa confiança em Deus, devemos progredir constantemente, fazendo o Seu trabalho, com abnegação, com humilde confiança nEle, confiando-nos às Suas providências tanto nós mesmos como tudo quanto se relaciona com o nosso presente e futuro, retendo firmemente o princípio da nossa confiança até o fim, lembrando que não recebemos as bênçãos do Céu pelos nossos merecimentos, mas pelos méritos de Cristo e nossa aceitação da abundante graça divina pela fé nEle. T7 108 1 Oro para que os meus irmãos reconheçam que a terceira mensagem angélica tem muita significação para nós, e que a observância do verdadeiro sábado se destina a ser o sinal que distingue os que servem a Deus dos que O não servem. Acordem os que ficaram sonolentos e indiferentes. Somos convidados para ser santos, e devemos cuidadosamente evitar dar a impressão de que pouco importará o retermos ou não os traços distintivos de nossa fé. Sobre nós recai a solene obrigação de assumir atitude mais firme em prol da verdade e da justiça, do que fizemos no passado. A fronteira de demarcação entre os que guardam os mandamentos de Deus e os que não guardam deve ser revelada com clareza inequívoca. Devemos conscienciosamente honrar a Deus, usando diligentemente todos os meios para manter a relação de concerto com Ele, a fim de recebermos as Suas bênçãos -- bênçãos tão necessárias para quem irá ser provado com tamanha severidade. Dar a impressão de que nossa fé, nossa religião, não é um poder dominante em nossa vida equivale a desonrar grandemente a Deus. Assim fazendo, desviamo-nos dos Seus mandamentos, que são a nossa vida, negando que Ele é o nosso Deus e nós o Seu povo. T7 109 1 Devemos convidar a todos -- altos e baixos, ricos e pobres, todas as seitas e classes -- para participarem dos benefícios de nossas instituições médicas. Recebemos em nossas instituições pessoas de todas as denominações. Mas quanto a nós mesmos, somos estritamente denominacionais; somos sagradamente denominados por Deus e estamos sob Sua teocracia. Não devemos, porém, imprudentemente fazer pressão sobre quem quer que seja para que aceite os pontos peculiares de nossa fé. T7 109 2 Para que os homens não esquecessem o verdadeiro Deus, Jeová deu-lhes um memorial de Seu amor e poder, o sábado. Ele disse: "Certamente guardareis Meus sábados, porquanto isso é um sinal entre Mim e vós." Êxodo 31:13. T7 109 3 Concernente a Israel, o Senhor declarou: "O povo habitará só e entre as nações não será contado." Números 23:9. Essas palavras são aplicáveis a nós, bem como ao Israel antigo. O povo de Deus habitará só. A observância do sétimo dia, o sábado, foi um sinal entre eles e Deus, mostrando que eram um povo peculiar, separado do mundo em hábitos e práticas. Através deles, Deus trabalhará para ajuntar de todas as nacionalidades um povo para Si mesmo. T7 109 4 "Sentam à mesa a seu tempo para refazerem as forças, e não para bebedice." Eclesiastes 10:17. ------------------------Capítulo 23 -- A obra médico-missionária nas cidades T7 110 1 Há uma obra a ser feita na Califórnia -- uma obra que tem sido inexplicavelmente negligenciada. Que essa obra não seja retardada por mais tempo. Ao se abrirem portas para a apresentação da verdade, estejamos prontos para entrar. Tem-se feito alguma obra na grande cidade de São Francisco, mas, ao examinarmos o campo, vemos claramente que foi feito apenas um começo. Assim que possível, devem ser feitos esforços bem organizados em diversos setores dessa cidade, e também em Oakland. A maldade de São Francisco não é percebida. Nossa obra nessa cidade deve ser ampliada e aprofundada. Deus vê nela muitas pessoas para serem salvas. T7 110 2 Foi aberto em São Francisco um restaurante vegetariano; também uma mercearia e salas de tratamento. Estão fazendo um bom trabalho, mas sua influência deve ser expandida. Outros restaurantes similares ao de Market Street devem ser abertos em São Francisco e Oakland. Com respeito ao esforço que está sendo feito agora nesses setores, podemos dizer: Amém e amém. E logo outros ramos da obra que se tornarão uma bênção para o povo serão estabelecidos. A obra evangélica médico-missionária deve ser levada avante com muita prudência e perfeição. A obra sagrada e solene de salvar, tem de avançar de maneira modesta, contudo elevada. T7 111 1 Onde se acham os obreiros? Homens e mulheres inteiramente convertidos, com discernimento e penetrante visão, eis os que devem servir de diretores. Para empregar pessoas para essa obra especial, é necessário usar de discernimento -- devem ser pessoas que amam a Deus e andam diante dEle em toda humildade; pessoas que se tornem instrumentos eficazes na mão de Deus para realização do objetivo que Ele tem em vista -- o reerguimento e salvação dos seres humanos. T7 111 2 Os evangelistas médico-missionários estarão habilitados a fazer uma excelente obra como pioneiros. A obra do pastor deve unir-se inteiramente com a do evangelista médico-missionário. O médico cristão deve considerar sua obra como sendo tão importante como a do ministério. Repousa sobre ele uma dupla responsabilidade; pois nele se reúnem tanto as qualidades do médico, como as do pastor. Sua obra é sublime, sagrada e muito necessária. T7 111 3 O médico e o pastor devem compreender que se acham empenhados na mesma obra. Devem trabalhar em perfeita harmonia. Cumpre-lhes aconselharem-se mutuamente. Por meio de sua unidade hão de dar testemunho de que Deus enviou Seu Filho unigênito ao mundo para salvar a todos os que nEle crerem como o seu Salvador pessoal. T7 111 4 Os médicos cuja habilidade profissional se acha acima da dos doutores comuns, devem-se dedicar ao serviço de Deus nas grandes cidades. Devem procurar atingir as classes mais elevadas. Alguma coisa está sendo feita em São Francisco, mas se deve fazer muito mais. Que não haja nenhum falso conceito da natureza e da importância desse empreendimento. São Francisco é um campo vasto, e uma parte importante da vinha do Senhor. T7 112 1 Médicos-missionários que trabalham em ramos evangélicos estão fazendo uma obra de tão elevada importância quanto seus companheiros do ministério. Os esforços desenvolvidos por esses obreiros não se devem limitar às classes mais pobres. As classes mais altas têm sido estranhamente negligenciadas. Nas esferas mais elevadas da sociedade encontram-se muitos que hão de corresponder à verdade, porque ela é coerente, porque apresenta o selo do elevado caráter do evangelho. Não poucos dentre os homens de capacidade assim conquistados para a verdade, hão de entrar com energia para a obra do Senhor. T7 112 2 O Senhor pede aos que se acham em posições de confiança, aqueles a quem Ele tem confiado Seus preciosos dons, que empreguem os talentos de inteligência e de meios em Seu serviço. Nossos obreiros devem apresentar a esses homens uma clara exposição de nosso plano de trabalho, dizendo-lhes o que necessitamos para auxiliar o pobre e o necessitado, e para estabelecer esta obra sobre uma base firme. Alguns desses serão impressionados pelo Espírito Santo para empregar os recursos do Senhor de maneira a fazer progredir Sua causa. Eles cumprirão Seus desígnios ajudando a criar centros de influência nas grandes cidades. Obreiros interessados serão levados a oferecer-se para vários ramos de ação missionária. Serão estabelecidos restaurantes saudáveis. Mas com que cuidado deve ser feita essa obra! T7 112 3 Cada restaurante saudável deve ser uma escola. Os obreiros com ele relacionados devem estudar constantemente e fazer experiências, a fim de aperfeiçoarem o preparo de alimentos saudáveis. Nas cidades, é conveniente que essa obra de instrução seja desenvolvida em muito maior escala do que nos lugares pequenos. Mas, em todo lugar onde há uma igreja, devem ser dadas instruções quanto ao preparo de alimentos simples, saudáveis, para uso dos que desejam viver segundo os princípios de saúde. E os membros da igreja devem comunicar ao povo da vizinhança a luz que recebem acerca desse assunto. T7 113 1 Os alunos de nossas escolas devem ser ensinados a cozinhar. Que se demonstre tato e habilidade nesse ramo de educação. Com todo engano da injustiça, está Satanás operando para pôr os pés dos jovens no caminho da tentação que leva à ruína. Devemos fortalecê-los e auxiliá-los a resistir às tentações que serão enfrentadas de todos os lados com relação à condescendência com o apetite. Ensinar-lhes a ciência do viver sadio é fazer obra missionária para o Mestre. T7 113 2 Devem ser estabelecidas escolas de culinária em muitos lugares. Essa obra pode começar humildemente, mas, à medida que inteligentes cozinheiros fizerem o mais que puderem para esclarecer a outros, o Senhor lhes dará habilidade e entendimento. A ordem do Senhor é: "Não os impeçam; pois Me revelarei a eles como seu Instrutor." Deus cooperará com os que efetuam Seus planos, ensinando ao povo a fazer uma reforma em seu regime, mediante o preparo de alimento saudável e não dispendioso. Assim os pobres serão animados a adotar os princípios da reforma de saúde. E lhes será concedido auxílio para que se tornem produtivos e confiantes. T7 113 3 Foi-me mostrado que homens e mulheres de capacidade estavam sendo ensinados por Deus a preparar alimentos saudáveis e apetecíveis, de maneira apropriada. Muitos deles eram jovens, e também havia outros de idade madura. Fui instruída a animar o estabelecimento de escolas culinárias em todos os lugares em que está sendo realizada a obra médico-missionária. Deve-se pôr diante do povo todo estímulo para levá-lo a adotar a reforma. Que brilhe sobre eles o máximo possível de luz. Que sejam ensinados a aperfeiçoar o quanto possível o preparo dos alimentos, estimulando-os a comunicar a outros aquilo que aprendem. T7 114 1 Não faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para promover a obra em todas as nossas grandes cidades? Milhares e milhares que vivem próximo de nós necessitam de auxílio em vários sentidos. Lembrem aos ministros do evangelho que o Senhor Jesus Cristo disse aos Seus discípulos: "Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte." "Vós sois o sal da Terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar?" Mateus 5:14, 13. T7 114 2 O Senhor Jesus operará milagres em favor de Seu povo. Em Marcos 16, lemos: "Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no Céu, e assentou-Se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com sinais que se seguiram." Marcos 16:19, 20. É-nos assegurado aí que o Senhor estava qualificando Seus servos escolhidos para se dedicarem à obra médico-missionária após Sua ascensão. T7 114 3 Da narração do milagre do Senhor, provendo vinho para as bodas, bem como do fato de alimentar a multidão, podemos aprender uma lição da mais alta importância. A produção de alimentos saudáveis em fábricas para isso destinadas é um dos instrumentos do Senhor para satisfazer a uma necessidade. O celestial provedor de todo alimento não deixará Seu povo na ignorância quanto ao preparo das melhores comidas para todos os tempos e ocasiões. ------------------------Capítulo 24 -- A obra dos restaurantes T7 115 1 Devemos fazer mais do que temos feito para alcançar as pessoas de nossas cidades. Não devemos construir grandes edifícios nas cidades, mas, repetidas vezes, foi-me esclarecido que devemos estabelecer em todas as nossas cidades pequenas instalações que se tornem centros de influência. T7 115 2 O Senhor tem uma mensagem para as nossas cidades, e essa mensagem devemos proclamar em nossas reuniões campais, e por outras campanhas públicas, assim como por nossas publicações. Além disso, devem ser estabelecidos restaurantes saudáveis nas cidades, e por eles deve ser proclamada a mensagem da temperança. Devem ser feitos arranjos para realizar reuniões em conexão com os nossos restaurantes. Sempre que possível, proveja-se um recinto onde os clientes possam ser convidados a assistir a conferências sobre a ciência da saúde e temperança cristã, onde recebam instrução sobre o preparo de alimento saudável, e sobre outros assuntos importantes. Nessas reuniões deve haver orações, cânticos e palestras, não só sobre temas de saúde e temperança, mas também sobre outros assuntos apropriados da Bíblia. Ao serem as pessoas ensinadas a preservar a saúde física, serão encontradas muitas oportunidades para semear as sementes do evangelho do reino. T7 115 3 Os assuntos devem ser apresentados de tal maneira que impressionem favoravelmente as pessoas. Nada de cunho teatral deve existir nas reuniões. Os cânticos não devem ser entoados por uns poucos apenas. Todos os presentes devem ser animados a se juntarem nos momentos de louvor. Há os que possuem o dom especial de cantar, e vezes há em que uma mensagem especial é transmitida em conseqüência do cântico entoado por uma única pessoa ou por várias pessoas juntas. Raras vezes, porém, deve o cântico ser entoado por uns poucos. A habilidade do canto é um talento de influência que Deus deseja que todos cultivem e usem para glória do Seu nome. T7 116 1 Aos que freqüentam nossos restaurantes devem receber nossa literatura. Deve-se-lhes chamar a atenção para nossa literatura sobre temperança e reforma dietética, e a eles devem ser oferecidos também folhetos que tratem das lições de Cristo. O encargo de distribuir semelhante literatura deve ser partilhado por todo o nosso povo. A todos os que vêm deve ser dada alguma coisa para ler. Pode ser que muitos não leiam o folheto, mas alguns dentre aqueles em cujas mãos for colocado podem estar à procura dessa luz. Esses lerão e estudarão o que lhes é entregue, e depois o passarão a outros. T7 116 2 Devem os obreiros de nossos restaurantes viver em tão íntima ligação com Deus que reconheçam os impulsos de Seu Espírito para falarem pessoalmente a respeito das coisas espirituais a esta ou àquela pessoa que vem ao restaurante. Quando o eu for crucificado e Cristo formado no íntimo, a esperança da glória, revelaremos por pensamentos, palavras e atos a realidade de nossa crença na verdade. O Senhor estará conosco, e o Espírito Santo operará por nosso intermédio para alcançarmos os que se encontram longe de Cristo. T7 116 3 Fez-me o Senhor saber que essa é a obra que deve ser feita por aqueles que dirigem nossos restaurantes. Não deve a pressão e o atropelo dos negócios levar à negligência do trabalho de salvação. É bom satisfazer as necessidades físicas de nossos semelhantes; se, porém, não são encontradas maneiras de fazer brilhar a luz do evangelho sobre os que buscam diariamente as suas refeições, como pode Deus ser glorificado por nossas obras? T7 116 4 Ao ser iniciada a obra dos restaurantes, esperava-se que ela se tornasse o meio de alcançar a muitos com a mensagem da verdade presente. Será que isso aconteceu? T7 117 1 Aos obreiros de nossos restaurantes foi feita a pergunta por Aquele que possui autoridade: "A quantos foi falado a respeito da salvação? Quantos têm ouvido dos seus lábios apelos veementes para que aceitem a Cristo como o Salvador pessoal? Quantos têm sido levados por suas palavras a se voltarem do pecado para servir ao Deus vivo?" T7 117 2 Ao serem as pessoas, em nossos restaurantes, supridas do alimento físico, não devem os obreiros se esquecer de que eles próprios, e aqueles a quem servem, necessitam ser constantemente alimentados com o pão do Céu. Devem estar sempre atentos às oportunidades para falar da verdade aos que não a conhecem. O cuidado dos auxiliares T7 117 3 Os gerentes de nossos restaurantes devem trabalhar em favor da salvação dos empregados. Não devem se sobrecarregar, pois assim fazendo, colocarão a si mesmos onde não terão vigor nem inclinação para auxiliar espiritualmente os obreiros. Devem eles empregar suas melhores energias para instruir seus empregados nas questões espirituais, explicando-lhes as Escrituras e orando com eles e por eles. Devem cuidar dos interesses religiosos de seus auxiliares tão cuidadosamente como os pais devem guardar os interesses religiosos de seus filhos. Paciente e ternamente devem tomar interesse pelos empregados, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para auxiliá-los no aperfeiçoamento do caráter cristão. Suas palavras devem ser semelhantes a maçãs de ouro em salvas de prata; devem suas ações estar isentas de todo traço de egoísmo e aspereza. Cumpre-lhes permanecer como um soldado, cuidando das pessoas como quem deve delas dar conta. Importa que se esforcem para manter seus auxiliares animados e bem dispostos, de tal forma que sua coragem se torne cada vez mais forte e sua fé em Deus cresça constantemente. T7 118 1 A menos que nossos restaurantes sejam dirigidos dessa maneira, será necessário prevenir nosso povo contra enviar seus filhos a eles como obreiros. Muitos dos que freqüentam nossos restaurantes não trazem consigo os anjos de Deus; nem desejam o companheirismo desses seres santos. Acompanha-os uma influência mundana, e para resistirem a essa influência precisam os obreiros estar intimamente ligados a Deus. Devem os gerentes de nossos restaurantes fazer mais para salvar os jovens em seus empregos. Têm eles de empenhar os maiores esforços para conservá-los vivos espiritualmente, de maneira que sua mente jovem não seja influenciada pelo espírito mundano com o qual entram constantemente em contato. As meninas e as jovens de nossos restaurantes necessitam de um pastor. Cada uma delas necessita ser protegida pelas influências do lar. T7 118 2 Há perigo de que os jovens, que entram como crentes em nossas instituições e que desejam auxiliar na causa de Deus, fiquem exaustos e desanimados, perdendo o zelo e a coragem, e se tornem frios e indiferentes. Não podemos apinhar esses jovens em quartos pequenos e escuros, privá-los dos privilégios da vida do lar, e depois esperar que tenham uma experiência religiosa sadia. T7 118 3 Importa que sejam elaborados planos sábios para o cuidado dos auxiliares em todas as nossas instituições, principalmente para os que estão empregados em nossos restaurantes. Devem ser conseguidos bons auxiliares, e providas todas as vantagens que os ajudem a crescer na graça e conhecimento de Cristo. Não devem eles ser deixados ao benefício de circunstâncias ocasionais, sem disporem de tempo regular para orar e se dedicarem ao estudo da Bíblia. Quando assim deixados, tornam-se desatentos e sem cuidado, indiferentes às realidades eternas. T7 118 4 Devem estar ligados a cada restaurante um homem e sua esposa que possam agir como guardiães dos auxiliares -- um homem e uma mulher que amem o Salvador e as almas por quem Ele morreu, e que observem o caminho do Senhor. T7 119 1 As jovens devem estar sob o cuidado de uma preceptora sábia e judiciosa -- uma mulher inteiramente convertida, que proteja cuidadosamente as obreiras, especialmente as mais jovens. T7 119 2 Os obreiros devem sentir que têm um lar. São eles a mão auxiliadora de Deus, e devem ser tratados tão cuidadosa e ternamente como Cristo declarou que a criancinha a quem Ele pôs no meio dos Seus discípulos devia ser tratada. "Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em Mim", disse Ele, "melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar." "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, por que Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de Meu Pai que está nos Céus." Mateus 18:6, 10. O cuidado que se deve dispensar a esses empregados é uma das razões para que haja em uma grande cidade vários restaurantes pequenos em lugar de um restaurante grande. Essa, porém, não é a única razão por que será melhor estabelecer vários restaurantes pequenos em diferentes partes de nossas grandes cidades. Os restaurantes menores recomendarão os princípios da reforma de saúde tanto quanto os estabelecimentos maiores, e serão muito mais fáceis de dirigir. Não somos comissionados a alimentar o mundo, mas somos instruídos a ensinar o povo. Nos restaurantes menores não haverá tanto trabalho para fazer, e os auxiliares terão mais tempo para consagrar ao estudo da Palavra, mais tempo para aprenderem a fazer o trabalho corretamente, e mais tempo para responderem às perguntas dos clientes que estão desejosos de saber a respeito dos princípios da reforma de saúde. T7 120 1 Se cumprirmos o propósito de Deus nessa obra, a justiça de Cristo irá à nossa frente, e a glória do Senhor será a nossa retaguarda. Se, porém, não houver uma colheita de almas; se os auxiliares não forem, eles próprios, beneficiados; se não estiverem glorificando a Deus por palavra e atos, por que devemos abrir e manter tais estabelecimentos? Se não podemos dirigir nossos restaurantes para glória de Deus; se não podemos exercer por meio deles uma forte influência religiosa, será preferível fechá-los e utilizar os talentos de nossos jovens em outros ramos da obra. Nossos restaurantes, entretanto, podem ser tão bem dirigidos que constituam um meio de salvar almas. Que peçamos fervorosamente ao Senhor humildade de coração, para que Ele possa nos ensinar a andar na luz do Seu conselho, a compreender Sua Palavra, aceitá-la e a pô-la em prática. T7 120 2 Há o perigo de que nossos restaurantes sejam dirigidos de tal maneira que nossos auxiliares trabalhem arduamente dia após dia e semana após semana, e ainda não sejam capazes de apontar qualquer boa realização. Esse assunto necessita de cuidadosa consideração. Não temos o direito de comprometer nossos jovens em obra que não produz algum fruto para a glória de Deus. T7 120 3 Embora considerado como um meio maravilhosamente bem-sucedido de fazer o bem, existe o perigo de que o trabalho de restaurante seja dirigido de tal maneira que promova apenas o bem-estar físico daqueles aos quais serve. Uma obra pode aparentemente levar as características da suprema excelência; ela, porém, não é boa aos olhos de Deus, a menos que esteja possuída de um desejo ardente de fazer Sua vontade e cumprir Seu propósito. Se Deus não for reconhecido como o autor e consumador de nossos atos, eles serão pesados nas balanças do santuário, e achados em falta. Fechando os restaurantes aos Sábados T7 121 1 Alguém fez a pergunta: "Deverão os nossos restaurantes funcionar aos sábados?" Minha resposta é: Não, não! A observância do sábado é o nosso testemunho em prol de Deus -- a marca, o sinal, entre Ele e nós de que somos o Seu povo. Essa marca nunca deverá ser apagada. T7 121 2 Caso os nossos obreiros fornecessem refeições em nossos restaurantes, justamente como o fazem durante toda a semana, a todas as pessoas que ali comparecessem, onde estaria o seu dia de repouso? Que oportunidade teriam de refazer as forças físicas e espirituais? T7 121 3 Não faz muito tempo, foi-me concedido esclarecimento especial sobre esse assunto. Foi-me mostrado que seriam feitos esforços para demolir a nossa norma da observância do sábado; que os homens pediriam que os nossos restaurantes fossem abertos aos sábados; porém que isso nunca deveria ser feito. T7 121 4 Tive a visão de uma cena. Era sexta-feira, em nosso restaurante de São Francisco. Vários obreiros estavam ocupados com o empacotamento de alimentos que poderiam ser com facilidade levados para casa pelas pessoas; e algumas delas estavam esperando que o pacote lhes fosse entregue. Perguntei o que significava aquilo, e os obreiros me disseram que alguns dos seus clientes estavam perplexos porque, pelo fechamento do restaurante, não lhes era possível, no sábado, conseguirem o mesmo tipo de alimento com que estavam acostumados durante a semana. Reconhecendo o valor dos alimentos saudáveis que obtinham no restaurante, haviam protestado contra a privação que sofriam no sétimo dia, e pedido aos dirigentes do restaurante que o mantivessem aberto cada dia da semana, apontando-lhes o que iriam sofrer se isso não fosse feito. "O que a senhora está vendo hoje", disseram os obreiros, "é a nossa resposta a esse pedido de alimentos saudáveis para o sábado. Essas pessoas levam, na sexta-feira, alimento que lhes dura até ao sábado, e dessa forma evitamos condenação pela recusa de abrir o restaurante aos sábados." T7 122 1 A fronteira de demarcação entre o nosso povo e o mundo deve sempre ser mantida inquestionavelmente clara. A nossa plataforma é a lei de Deus, em que nos é mandado que observemos o sábado; pois, como está claramente mencionado no capítulo trinta e um de Êxodo, a observância do sábado é um sinal entre Deus e o Seu povo. "Certamente guardareis Meus sábados", declara Ele, "porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica... Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se." Êxodo 31:13, 17. T7 122 2 Devemos atender a um "assim diz o Senhor", muito embora pela nossa obediência causemos certa inconveniência aos que não manifestam respeito pelo sábado. Por um lado, temos as supostas necessidades do homem; por outro, os mandamentos de Deus. Qual merece mais consideração? T7 122 3 Em nossos sanatórios, os pacientes, juntamente com os médicos, enfermeiros e funcionários, devem ser alimentados no sábado, como qualquer família, com o mínimo trabalho possível. Nossos restaurantes, porém, não deverão funcionar no dia do sábado. Seja esse dia concedido aos obreiros para o culto a Deus. As portas fechadas no sábado assinalam o restaurante como um memorial de Deus, memorial que declara que o sétimo dia é o sábado, e que nele não deve ser feito trabalho algum desnecessário. T7 122 4 Foi-me instruído que um dos motivos principais da instalação de restaurantes que sirvam alimento saudável e salas de tratamentos no centro das grandes cidades é que, por esse meio, a atenção das pessoas influentes será atraída para a terceira mensagem angélica. Ao notarem que esses restaurantes são dirigidos de maneira inteiramente diversa dos restaurantes comuns, os homens inteligentes irão verificar as razões para a diferença nos métodos comerciais, e pesquisarão os princípios que nos induzem a servir alimento melhor. Serão, assim, levados ao conhecimento da mensagem para este tempo. T7 123 1 Ao verificarem os homens pensantes que os nossos restaurantes permanecem fechados no sábado, inquirirão acerca dos princípios que nos levam a cerrar as portas nesse dia. Ao responder-lhes às perguntas, teremos a oportunidade de familiarizá-los com as razões da nossa fé. Poderemos fornecer-lhes exemplares das nossas revistas e folhetos, a fim de que compreendam a diferença existente entre "o que serve a Deus e o que O não serve". Malaquias 3:18. T7 123 2 Nem todos quantos pertencem ao nosso povo são tão escrupulosos no tocante a observância do sábado quanto deveriam sê-lo. Ajude-os Deus a reformarem-se. Convém ao chefe de cada família assentar os pés firmemente na plataforma da obediência. ------------------------Capítulo 25 -- Alimentos saudáveis T7 124 1 No decorrer da noite passada, muitas coisas me foram reveladas. A preparação e venda de alimentos saudáveis requererá atenta consideração, acompanhada de oração. T7 124 2 Há em muitos lugares pessoas a quem o Senhor por certo concederá o conhecimento da preparação de alimentos saudáveis e apetitosos, se Ele vir que irão usar esse conhecimento da maneira correta. Os animais estão se tornando mais e mais enfermos, e não demorará muito até que o alimento cárneo tenha que ser abandonado por muitos, além dos adventistas do sétimo dia. Devem ser preparados alimentos saudáveis e nutritivos, para que os homens e mulheres não tenham que comer carne. T7 124 3 O Senhor ensinará a muitos, em toda parte do mundo, a combinar frutas, cereais e verduras numa alimentação que sustenha a vida e não produza doença. Os que nunca viram as receitas dos alimentos saudáveis que agora há a venda, procederão inteligentemente experimentando os alimentos que a terra produz, e ganharão entendimento em relação ao uso desses produtos. O Senhor lhes mostrará o que fazer. Aquele que concede habilidade e sabedoria ao Seu povo numa parte do mundo, concederá habilidade e sabedoria ao Seu povo noutras partes do mundo. É Seu desígnio que as preciosidades alimentares de cada país sejam preparadas de forma tal que possam ser usadas nos países a que se destinam. Assim como Deus forneceu do Céu o maná para o sustento dos filhos de Israel, também dará ao Seu povo, em diferentes lugares, habilidade e sabedoria para usarem os produtos desses países no preparo de alimentos que substituam a carne. Esses alimentos deverão ser feitos nos diferentes países; o seu transporte de um país para outro os torna tão dispendiosos que os pobres não podem adquiri-los. Jamais se deverá depender dos Estados Unidos para o fornecimento de alimentos saudáveis a outros países. Grande dificuldade haverá para lidar com os artigos importados sem perdas financeiras. T7 125 1 Todos os que lidam com alimentos saudáveis devem trabalhar sem egoísmo em benefício dos seus semelhantes. A menos que os homens permitam que o Senhor lhes guie a mente, surgirão dificuldades incontáveis ao serem esses diversos indivíduos empregados nesta obra. Ao conceder o Senhor habilidade e entendimento a alguém, deve essa pessoa lembrar-se de que sua sabedoria não lhe foi dada unicamente para o seu benefício, senão para que com ela possa auxiliar outros. T7 125 2 Homem algum deve pensar que possui todo o conhecimento relativo à preparação de alimentos saudáveis, e que apenas ele tem o direito de utilizar os tesouros do Senhor da terra e de árvores nesta obra. Homem nenhum deve sentir-se livre para usar segundo a sua vontade o conhecimento que lhe foi outorgado por Deus. "De graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:8. T7 125 3 Compete-nos ser sábios no preparo de alimentos saudáveis, simples e baratos. Muitos dentre o nosso povo são pobres, e devem ser produzidos alimentos saudáveis que possam ser supridos a preços que estejam ao seu alcance. É desígnio do Senhor que as pessoas mais pobres de cada lugar sejam supridas de alimentos saudáveis e baratos. Em muitos lugares deverão ser instaladas indústrias para a preparação desses alimentos. O que constitui bênção para a obra num lugar, também será noutro, onde é mais difícil de ganhar o dinheiro. T7 125 4 Deus está atuando em favor de Seu povo. Ele não quer que fiquem sem recursos. Está reconduzindo-os ao regime alimentar fornecido originalmente ao homem. Esse regime deve consistir em alimentos feitos com produtos que Ele proveu. Os produtos principais usados na preparação desses alimentos serão frutas, cereais e oleaginosos, mas várias raízes também serão usadas. T7 126 1 Os lucros obtidos com esses alimentos deverão provir em grande parte do mundo, e não do povo do Senhor. O povo de Deus tem que sustentar a Sua obra; penetrar em novos campos e instalar igrejas. Sobre eles recai a responsabilidade de muitos empreendimentos missionários. Nenhuma obrigação desnecessária deverá sobre eles pesar. Para o Seu povo, Deus é um socorro presente em todo tempo de necessidade. T7 126 2 Grande cuidado deve ser exercido pelos que preparam receitas para as nossas revistas de saúde. Alguns dos alimentos especiais que são agora preparados podem ser melhorados, e os nossos planos referentes ao seu uso podem ser alterados. Algumas pessoas têm abusado dos pratos que contêm frutos oleaginosos. Algumas me têm escrito, dizendo: "Não podemos usar alimentos que contenham frutos oleaginosos; que deverei usar em substituição da carne?" Uma noite me pareceu estar perante um grupo de pessoas, dizendo-lhes que as nozes são por elas usadas em quantidade demasiada no preparo dos alimentos; que o organismo não as pode suportar quando usadas na quantidade em que aparecem em certas receitas apresentadas; e que, se fossem usadas em menor quantidade, os resultados seriam mais satisfatórios. T7 126 3 O Senhor quer que os que vivem em países onde é possível obterem-se frutas frescas em grande parte do ano, se compenetrem da bênção que há nessas frutas. Quanto maior for o uso que fizermos de frutas frescas, tais como são apanhadas da árvore, maior será a bênção. T7 126 4 Algumas pessoas, depois de adotarem o regime vegetariano, voltam ao uso da alimentação cárnea. Isso é grande insensatez, e revela a falta de conhecimento da maneira de prover o alimento que substitui a carne. T7 126 5 Escolas de culinária, dirigidas por instrutores hábeis, deverão ser instaladas nos Estados Unidos e noutras terras. Tudo quanto nos for possível fazer, deve ser feito, para mostrar ao povo o valor da reforma do regime alimentar. ------------------------Capítulo 26 -- Fabricação de alimentos saudáveis T7 127 1 Na noite passada, parecia-me que estava falando ao nosso povo, dizendo-lhe que, como adventistas do sétimo dia, devem cultivar o amor, a paciência e a verdadeira cortesia. Se os líderes aprenderem de Jesus, serão fortalecidos. O povo de Deus deve lutar para alcançar a mais alta norma de excelência. Especialmente os que são médicos-missionários devem manifestar, no espírito, na palavra e no caráter, estarem seguindo a Cristo Jesus, o Modelo divino nos esforços médico-missionários. T7 127 2 O meu maior desejo é que a obra seja desenvolvida em harmonia com a vontade de Deus. Vejo grandes dificuldades para o nosso povo, pelo modo como as coisas agora estão sendo feitas, e especialmente em relação ao comércio de alimentação saudável. Ao progredirmos nesse setor vamos encontrar muitos problemas difíceis, criados pelas próprias pessoas. Ofertas intrigantes de desonestidade. T7 127 3 Com grande habilidade e diligentes esforços, o Dr. Kellogg e seus associados, prepararam uma linha especial de alimentos saudáveis. Seu principal objetivo é beneficiar a humanidade, e Deus está abençoando esses esforços. Se eles seguirem o conselho de Deus, se andarem no exemplo de Cristo, continuarão progredindo, porque Deus dá condições e entendimento àqueles que desprendidamente O buscam. Em muitos aspectos, é possível fazer aperfeiçoamentos nos artigos alimentícios saudáveis que saem de nossas fábricas. O Senhor ensinará Seus servos a fabricarem preparações alimentícias mais simples e menos caras. Muitos há a quem Ele vai ensinar nesse sentido, se andarem segundo Seu conselho e em harmonia com seus irmãos. Aos irmãos em todos os países T7 128 1 Fui instruída pelo Senhor a dizer que Ele não confiou a umas poucas pessoas toda a luz que deve ser recebida a respeito do melhor preparo de alimentos saudáveis. Ele dará a muitas pessoas, em diferentes lugares, tato e capacidade para habilitá-los a prepararem alimentos sadios e próprios para os países em que vivem. T7 128 2 Deus é o autor de toda sabedoria, de toda inteligência, de todo talento. Ele engrandecerá o Seu nome dando a muitas mentes sabedoria no preparo de alimentos saudáveis. E ao fazer Ele isso, a fabricação desses novos alimentos não deve ser considerada como infração contra os direitos dos que já são fabricantes de alimentos saudáveis, embora em alguns sentidos os alimentos elaborados pelos diversos fabricantes sejam semelhantes. Deus usa homens comuns e lhes dá habilidade e entendimento no uso do fruto da terra. Ele contempla imparcialmente Seus obreiros. Ninguém é esquecido por Ele. Impressiona homens de negócio que guardam o sábado a estabelecerem indústrias que provejam emprego para Seu povo. Ensina Seus servos a prepararem alimentos saudáveis menos dispendiosos, que possam ser comprados pelos pobres. T7 128 3 Em todos os nossos planos devemos lembrar-nos de que a obra de alimentação saudável é propriedade de Deus, e que não deve tornar-se uma especulação financeira para lucro pessoal. É um dom de Deus a Seu povo, e os lucros devem ser usados em benefício da humanidade sofredora em todo mundo. T7 128 4 Especialmente no sul dos Estados Unidos, muitas coisas serão inventadas e proporcionadas muitas oportunidades para que os pobres e os necessitados possam ser mantidos pelas indústrias de alimentos saudáveis. Sob a orientação de professores que estejam trabalhando pela sua salvação, serão eles ensinados a cultivar e preparar para alimentação aquilo que cresce mais rapidamente em sua região. Um procedimento condenável T7 129 1 Alguns dos nossos irmãos fizeram um trabalho que causou grande prejuízo à causa. O conhecimento dos métodos de produção de alimento saudável, que Deus concedeu ao Seu povo como meio de auxiliar na manutenção da Sua causa, esses homens os revelaram a negociantes mundanos, que os estão utilizando para a obtenção de lucro pessoal. Venderam os bens divinos em troca de lucro pessoal. Os que assim revelaram os segredos de que eram possuidores, relacionados com a preparação de alimentos saudáveis, traíram um legado divino. Ao verem o resultado dessa traição, alguns lamentarão amargamente o não haverem deixado sua própria orientação e esperado que o Senhor guiasse os Seus servos e executasse os Seus próprios planos. Alguns dos que se apossam desses segredos planejarão embaraçar o departamento de alimentação do nosso sanatório e, por meio da falsidade enganarão os que o dirigem, prejudicando-os. T7 129 2 O negócio dos alimentos saudáveis não deve ser tomado por empréstimo ou ser furtado dos que, na sua gerência, se empenham por fomentar e fazer avançar a causa de Deus. O Dr. Kellogg, juntamente com seus auxiliares, despenderam uma grande soma de recursos, estudando o processo da preparação de alimentos especiais e providenciando instalações dispendiosas para sua manufatura. Esse trabalho consumiu um enorme tempo precioso; porque tiveram que fazer muitas experiências. Aqueles que assim trabalharam e investiram seus recursos, têm o direito de usufruir dos seus resultados. Como mordomo do Senhor, o Dr. Kellogg deve ter permissão para obter uma entrada razoável desses produtos especiais que, pela bênção de Deus, habilmente produziu, a fim de que tenha meios para fazer avançar a causa de Deus, quando houver necessidade. Ninguém, que conheça os segredos da composição deve preparar esses alimentos especiais e vendê-los para obter lucros pessoais. Não devem dar a impressão que estão trabalhando em harmonia com aqueles que foram pioneiros na preparação desses alimentos para venda, quando na realidade não estão. Ninguém está autorizado a se empenhar na fabricação desses alimentos com qualquer propósito egoísta. Cheguemos todos para mais perto do Senhor e, com coração humilde, procuremos glorificá-Lo em cada ação. T7 130 1 Tenho uma admoestação para os que possuem conhecimento dos métodos de produção dos alimentos saudáveis especiais, elaborados em nossas fábricas. Não devem eles usar o seu conhecimento com propósitos egoístas, ou de maneira a desonrar a causa. Tampouco devem divulgar esse conhecimento. Tomem as igrejas a seu cargo esse assunto e mostrem a esses irmãos que semelhante procedimento é uma traição de confiança, que trará descrédito sobre a causa. T7 130 2 Aqueles que estiveram ou estão trabalhando na preparação de alimentos especiais, criados pelo Dr. Kellogg, ou qualquer outro pioneiro nesse setor, não devem revelar os segredos de sua fabricação, pois estarão defraudando a causa daquilo que deveria ser usado para o seu desenvolvimento. Rogo, meus irmãos, que sejam absolutamente honestos. Não coloquem informações nas mãos de quem, por falta de consciência sobre a reforma de saúde, pode colocar artigos impuros no mercado como se fossem alimentos saudáveis. T7 130 3 Fiquem do lado da justiça em todas as suas transações; e ninguém estará em desvantagem diante de Deus ou dos homens. Não participem de qualquer prática desonesta. Aqueles que manufaturam alimentos saudáveis para o sanatório, tirando benefício próprio, estão usando de uma liberdade que não é correta. Estão causando grande confusão. Alguns estão produzindo e vendendo alimentos dizendo que são saudáveis, no entanto, contendo ingredientes inadequados. Os alimentos, às vezes, têm qualidade tão inferior que os que os comercializam dão mau testemunho da obra, porque os que compram supõem que todos alimentos saudáveis são semelhantes. T7 131 1 Ninguém tem o direito de tirar vantagens de um negócio que foi desenvolvido, pensando nos alimentos saudáveis do sanatório. Aqueles que desejam preparar os alimentos inventados com grandes despesas pelo Dr. Kellogg, deveriam, primeiro, entrar em contato com ele, ou outros que trabalham em conjunto com ele, e aprenderem os métodos de processar esses alimentos. Aquele que entra egoistamente nesse negócio, dando a impressão aos seus fregueses de que os lucros de suas vendas são usados para empreendimentos benevolentes, quando, na realidade, são usados para interesses particulares, está debaixo do desagrado de Deus. Pouco a pouco seu negócio vai caindo, e acaba numa situação em que seus irmãos terão que comprá-lo para salvar a causa de uma desgraça. T7 131 2 O Senhor fica grandemente descontente quando Sua obra é desonrada por aqueles que nela se empenham de maneira egoísta. Ele quer que cada parte de Sua obra esteja em harmonia com o todo. T7 131 3 O Senhor quer que Seu povo se coloque muito acima de qualquer interesse pessoal. Quer que vença as tentações que surgem. Convida para a comunhão dos santos. Deseja que seus obreiros estejam sob Sua supervisão. Ele plana e dá polimento no material para o Seu templo, prepara cada peça, fixando-a uma a outra, para que o edifício seja perfeito e inteiro, não precisando de mais nada. T7 131 4 O Céu deve começar aqui na Terra. Quando o povo do Senhor demonstrar mansidão e benignidade, compreenderá que Sua bandeira sobre eles é o amor, e Seu fruto lhes será grato ao paladar. Será formado aqui embaixo um Céu no qual se prepararão para o Céu em cima. ------------------------Capítulo 27 -- Educar o povo T7 132 1 Onde quer que a verdade seja proclamada, deve ser ministrada instrução quanto ao preparo de alimentos saudáveis. Deus quer que em todo lugar o povo seja ensinado a usar criteriosamente os produtos que podem ser encontrados com facilidade. Instrutores bem preparados devem mostrar ao povo a utilização, para seu maior proveito, dos produtos que podem produzir ou conseguir na sua região do país. Assim, tanto os pobres como os que estão em melhores condições, poderão aprender a viver com boa saúde. T7 132 2 Desde o início da obra da reforma do regime alimentar, consideramos necessário instruir, instruir, instruir. Deus quer que prossigamos nessa obra de educar o povo. Não devemos dela nos descuidar pelo temor dos efeitos que poderá ter sobre a venda dos produtos alimentares preparados em nossas fábricas. Não é esse o assunto de maior importância. Nossa obra é mostrar ao povo como conseguir e preparar o alimento mais saudável, e como as pessoas poderão cooperar com Deus na restauração da sua imagem moral. T7 132 3 Nossos obreiros devem exercer sua habilidade no preparo de alimentos saudáveis. Ninguém deve espreitar os segredos do Dr. Kellogg; todos, porém, devem saber que o Senhor está ensinando muitas mentes em muitos lugares a preparar alimentos saudáveis. Muitos produtos há que, se preparados e combinados de maneira conveniente, podem ser transformados em alimentos que serão uma bênção para os que não podem comprar os alimentos saudáveis mais caros e preparados de maneira especial. Aquele que, na construção do tabernáculo, deu habilidade e entendimento em todo tipo de obra de arte, dará habilidade e entendimento ao Seu povo na combinação de produtos alimentares naturais, mostrando-lhes dessa forma como conseguir um regime alimentar saudável. T7 133 1 O conhecimento com respeito ao preparo de alimentos saudáveis é propriedade de Deus, e foi comunicado ao homem, a fim de que ele possa transmiti-lo aos seus semelhantes. Ao dizer isso, não me refiro ao preparo especial feito pelo Dr. Kellogg e outros que estudaram durante muito tempo e gastaram muito para se aperfeiçoar. Refiro-me especialmente ao preparo simples que todos podem obter para si mesmos, a instrução com respeito à qual se deve falar livremente aos que desejam viver com saúde, e especialmente aos pobres. T7 133 2 É desígnio divino que em toda parte homens e mulheres sejam animados a desenvolver seus talentos no preparo de alimentos saudáveis a partir dos produtos naturais, oriundos da sua própria região. Se recorrerem a Deus, utilizando seus dons e habilidades sob a direção do Seu Espírito, aprenderão a transformar em alimentos saudáveis os produtos naturais. Conseguirão, dessa forma, ensinar os pobres a proverem-se de alimentos que substituirão a alimentação cárnea. Os que assim forem auxiliados, poderão por sua vez instruir outros. Semelhante trabalho será, ainda, feito com zelo e energia consagrados. Caso houvesse sido feito anteriormente, haveria hoje muito mais pessoas na verdade, e muitas outras que poderiam repartir as instruções. Aprendamos qual é o nosso dever, e depois vamos colocá-lo em prática. Não devemos ser dependentes e incapacitados, esperando pelos outros para realizar o trabalho que Deus nos confiou. T7 133 3 No uso dos alimentos devemos exercer discernimento e bom senso. Ao percebermos que certo alimento não nos convém, não precisamos escrever cartas de consulta para aprender a causa do distúrbio. Mudemos a dieta; usemos menor quantidade de alguns alimentos; experimentemos outras preparações. Logo saberemos o efeito que sobre nós tem certas combinações. Como seres inteligentes, estudemos individualmente os princípios e usemos a nossa experiência e discernimento para decidir quanto a que alimentos mais nos convêm. T7 134 1 Os alimentos usados devem adaptar-se às nossas ocupações e ao clima em que vivemos. Alguns alimentos convenientes num país não o serão noutro. T7 134 2 Algumas pessoas serão mais beneficiadas deixando de comer durante um ou dois dias na semana, do que com qualquer quantidade de tratamentos ou orientação médica. O jejum de um dia na semana lhes seria de proveito incalculável. T7 134 3 Foi-me instruído que o alimento composto de frutos oleaginosos é muitas vezes usado sem critério, que é usado em quantidade demasiada, e que alguns deles não são tão saudáveis quanto outros. A amêndoa é preferível ao amendoim; mas este, em pequena quantidade, pode ser usado juntamente com cereais para formar um alimento nutritivo e de boa digestão. T7 134 4 As azeitonas podem ser preparadas de modo tal que sejam comidas com bons resultados em cada refeição. O proveito desejado com o uso da manteiga pode ser obtido substituindo-a por azeitonas devidamente preparadas. O óleo das azeitonas corrige a constipação, e para os tuberculosos e os que sofrem de inflamação e irritação do estômago, ele é melhor do que qualquer medicamento. Como alimento, é melhor do que qualquer gordura de segunda mão, de origem animal. T7 134 5 Seria conveniente cozinhar menos e comer mais frutas em estado natural. Ensinemos o povo a comer abundantemente uvas, maçãs, pêssegos, pêras, amoras e toda outra espécie de frutas que seja possível conseguir. Sejam elas preparadas e conservadas para uso no inverno, usando-se quanto possível vidros, em vez de latas. T7 134 6 No tocante ao alimento cárneo, devemos instruir o povo a nele não tocar. Seu uso é prejudicial ao melhor desenvolvimento das faculdades físicas, mentais e morais. Devemos fazer campanha decidida contra o uso do chá e do café. Convém, também, abster-se das sobremesas complicadas. Leite, ovos e manteiga não devem ser classificados como alimento cárneo. Nalguns casos o uso de ovos é proveitoso. Não chegou ainda o tempo de dizer que deva ser inteiramente abandonado o uso de leite e ovos. Famílias pobres existem, cuja alimentação consiste grandemente em pão e leite. Usam pouca fruta, e não podem comprar alimentos como as nozes. No ensino da reforma do regime alimentar, como em todo outro ramo do evangelho, devemos considerar as pessoas em sua real situação. Até que possamos ensiná-las a preparar alimento saudável que seja apetitoso, nutritivo e, ao mesmo tempo, econômico, não temos a liberdade de apresentar-lhes as sugestões mais avançadas referentes à reforma alimentar. T7 135 1 Seja progressiva a reforma alimentar. Sejam as pessoas ensinadas a preparar o alimento sem o uso de leite ou manteiga. Diga-lhes que logo virá o tempo em que não haverá segurança no uso de ovos, leite, nata ou manteiga, por motivo de as doenças nos animais estarem aumentando na mesma proporção do aumento da impiedade entre os homens. Aproxima-se o tempo em que, por motivo da iniqüidade da raça caída, toda criação animal gemerá com as doenças que amaldiçoam a Terra. T7 135 2 Deus concederá ao Seu povo habilidade e tato para preparar alimento saudável sem o uso dessas coisas. Rejeite o nosso povo toda receita não saudável. Aprendam a viver de maneira adequada, ensinando a outros o que aprenderam. Partilhem esse conhecimento como o fariam com a instrução bíblica. Ensinem às pessoas a, evitando a grande quantidade de cozimentos que têm enchido o mundo de inválidos crônicos, preservarem a saúde e o vigor. Por preceito e exemplo, esclareçam que o alimento que Deus deu a Adão em seu estado isento de pecado é o melhor para o uso do homem, ao buscar ele reaver esse estado de pureza. T7 136 1 Os que ensinam os princípios da reforma de saúde devem ser entendidos quanto às doenças e suas causas, compreendendo que cada ato do ser humano deve estar em perfeita harmonia com as leis da vida. A luz dada por Deus, sobre a reforma de saúde, é para nossa salvação e salvação do mundo. Homens e mulheres devem ser informados quanto ao corpo humano preparado por nosso Criador como o lugar de Sua morada, e do qual Ele deseja que sejamos fiéis mordomos. "Por que vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo." 2 Coríntios 6:16. T7 136 2 Devemos manter os princípios da reforma da saúde, e deixar que o Senhor guie os sinceros de coração. Apresentemos os princípios de temperança em sua forma mais atrativa. Disseminemos os livros que dão instrução a respeito do viver sadio. T7 136 3 As pessoas encontram-se em extrema necessidade da luz que brilha das páginas de nossos livros e revistas sobre saúde. Deus deseja usar esses livros e revistas como meios através dos quais raios de luz atraiam a atenção das pessoas e as leve a atender à advertência da mensagem do terceiro anjo. As revistas de saúde são instrumentos para realizar no campo uma obra especial na disseminação da luz que os habitantes do mundo devem possuir neste dia de preparo de Deus. Exercem elas uma indizível influência no interesse da reforma de saúde, da temperança e pureza social, e realizam um grande benefício ao apresentarem às pessoas esses assuntos de maneira apropriada e no seu verdadeiro sentido. T7 136 4 O Senhor tem estado a enviar-nos regra sobre regra, e, se rejeitarmos esses princípios, não estaremos rejeitando o mensageiro que os ensina, mas Àquele que nos deu esses princípios. T7 137 1 Reforma, uma contínua reforma precisa ser mantida perante o povo, e por meio do nosso exemplo devemos confirmar nosso ensino. A verdadeira religião e as leis da saúde andam de mãos dadas. É impossível trabalhar em prol da salvação de homens e mulheres sem apresentar-lhes a necessidade do afastamento dos prazeres pecaminosos, que destroem a saúde, afetam o espírito e impedem a verdade divina de impressionar a mente. Homens e mulheres precisam ser ensinados a vigiarem atentamente todo hábito e prática, e imediatamente evitarem as coisas que produzem estado insalubre do organismo e conseqüente sombra escura sobre a mente. Deus quer que os Seus representantes vivam continuamente de acordo com uma norma elevada. Por preceito e exemplo, devem sustentar esse padrão perfeito, acima da falsa norma de Satanás que, se for seguida, produzirá miséria, degradação, doença e morte, tanto agora como a morte eterna. Os que alcançaram conhecimento acerca da maneira de comer, beber e vestir para a preservação da saúde, partilhem com outros esse conhecimento. Levem aos pobres o evangelho da saúde, de modo prático, para que saibam cuidar devidamente do corpo, que é o templo do Espírito Santo. T7 137 2 "Arvorai bandeira aos povos. ... Dizei à filha de Sião" Eis que vem o teu Salvador, e diante dele o seu galardão." Isaías 62:10, 11. ------------------------Capítulo 28 -- O propósito de Deus para as casas publicadoras T7 138 1 Dar testemunho da verdade T7 138 2 "Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor", para "proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus." Isaías 61:2. T7 138 3 Nossa obra de publicações foi estabelecida por direção de Deus e sob a Sua especial supervisão. Teve por desígnio o preenchimento de um propósito definido. Os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como um povo peculiar, separado do mundo. Com a grande talhadeira da verdade Ele os cortou da pedreira do mundo, e os ligou a Si. Tornou-os representantes Seus, e os chamou para serem embaixadores Seus na obra final de salvação. O maior tesouro da verdade já confiado a mortais, as mais solenes e terríveis advertências que Deus já enviou aos homens, foram confiadas a este povo, a fim de serem transmitidas ao mundo; e na realização dessa obra nossas casas publicadoras se encontram entre os mais eficientes instrumentos. T7 138 4 Essas instituições devem ser testemunhas de Deus, mestres de justiça para o povo. Delas deve irradiar luz, como de uma lâmpada incandescente. Como grande luz num farol ou numa costa perigosa, devem emitir constantemente raios de luz que penetrem as trevas do mundo, para advertir os homens dos perigos que ameaçam destruí-los. T7 139 1 As publicações expedidas de nossas editoras devem preparar um povo para encontrar-se com Deus. Através de todo o mundo, devem elas fazer a mesma obra feita por João Batista em relação à nação judaica. Mediante comovedoras mensagens de advertência, o profeta de Deus despertou das fantasias mundanas os homens. Por meio dele, o Israel apostatado foi chamado por Deus ao arrependimento. Por suas apresentações da verdade expunha ele os enganos populares. Em contraste com as falsas teorias de seu tempo, a verdade contida em seus ensinos se destacava como uma certeza eterna. "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus", era a mensagem de João. Mateus 3:2. Essa mesma mensagem, por meio de publicações de nossas casas editoras, deve ser proclamada ao mundo hoje. T7 139 2 A profecia cumprida pela missão de João, esboça a nossa obra: "Preparai o caminho do Senhor, endireitei as Suas veredas." Mateus 3:3. Assim como João preparou o caminho para o primeiro advento de Cristo, devemos nós prepará-lo para o segundo advento do Salvador. Nossos estabelecimentos de publicações devem exaltar as reivindicações da desprezada lei de Deus. Enfrentando o mundo como reformadores, devem mostrar que a lei de Deus é a base de toda reforma duradoura. Em termos claros e distintos, devem apresentar a necessidade da obediência a todos os Seus mandamentos. Constrangidos pelo amor de Cristo, devem com Ele cooperar na edificação dos lugares antigamente assolados, levantando os fundamentos de muitas gerações. Devem ser reparadores das roturas, restauradores das veredas para morar. Por seu testemunho deve o sábado do quarto mandamento ser apresentado como uma testemunha: um constante memorial de Deus, para atrair a atenção e despertar perguntas que dirijam o espírito dos homens para seu Criador. T7 139 3 Não se pode esquecer jamais que essas instituições devem cooperar com o ministério dos representantes do Céu. Acham-se entre os agentes representados pelo anjo voando "pelo meio do Céu", que "tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo." Apocalipse 14:6, 7. T7 140 1 Deles deve partir a terrível denúncia: "Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição." Apocalipse 14:8. T7 140 2 São representados pelo terceiro anjo que se seguiu, "dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus". Apocalipse 14:9, 10. T7 140 3 É em grande parte por meio de nossas casas editoras que se há de efetuar a obra daquele outro anjo que desce do Céu com grande poder e, com sua glória, ilumina a Terra. T7 140 4 Solene é a responsabilidade que repousa sobre nossas casas publicadoras. Os que administram essas instituições, os que dirigem os periódicos e preparam os livros, achando-se, como se acham, à luz dos propósitos divinos e chamados para dar a advertência ao mundo, são tidos por Deus como responsáveis pela salvação de seus semelhantes. A eles, bem como aos ministros da Palavra, aplica-se a mensagem dada por Deus ao Seu profeta da antigüidade: "A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca, e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: Ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua impiedade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão." Ezequiel 33:7, 8. T7 141 1 Em tempo algum esta mensagem se aplicou com maior força do que hoje. Mais e mais o mundo despreza as reivindicações divinas. Os homens têm-se tornado ousados na transgressão. A maldade dos habitantes do mundo já quase encheu a medida da sua iniqüidade. A Terra já quase chegou ao ponto em que Deus há de permitir ao destruidor operar nela segundo sua vontade. A substituição da lei de Deus pelas dos homens, a exaltação, por autoridade meramente humana, do domingo, em lugar do sábado bíblico, é o derradeiro ato do drama. Quando essa substituição se tornar universal, Deus Se revelará. Ele Se erguerá em Sua majestade para sacudir terrivelmente a Terra. Sairá de Seu lugar para punir os habitantes do mundo por sua iniqüidade, e a Terra descobrirá seu sangue, e não mais esconderá seus mortos. T7 141 2 O grande conflito que Satanás originou nas cortes celestiais logo, muito logo, há de ser para sempre decidido. Logo, todos os habitantes da Terra terão tomado partido, ou a favor ou contra o governo do Céu. Hoje, como nunca antes, Satanás está exercendo seu poder para iludir, desviar e destruir todos os incautos. Somos chamados a despertar o povo a fim de se preparar para os grandes acontecimentos que o aguardam. Temos que advertir os que se acham à beira da ruína. O povo de Deus deve pôr em ação todas as faculdades para combater as falsidades de Satanás e derrubar suas fortalezas. A todo ser humano, no vasto mundo, que dará ouvidos, devemos esclarecer os princípios que se acham em jogo no grande conflito, princípios de que depende o destino eterno das pessoas. Ao povo de longe e de perto devemos apresentar a questão: "Estão vocês seguindo o grande apóstata na desobediência à lei de Deus, ou o Filho de Deus, que declarou: 'Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai'?" João 15:10. T7 142 1 Essa é a obra que nos espera; para ela foram estabelecidas as nossas instituições; essa é a obra que Deus delas requer. Demonstrações de princípios cristãos T7 142 2 Devemos não somente publicar a teoria da verdade, mas também apresentar no caráter e vida uma ilustração prática da verdade. Nossos estabelecimentos de publicações devem estar perante o mundo como uma concretização dos princípios cristãos. Se nessas instituições se cumpre o propósito de Deus para com elas, o próprio Cristo Se encontra à testa dos obreiros. Santos anjos superintendem o trabalho em todas as seções. E tudo quanto é feito em qualquer ramo deve levar o selo da aprovação do Céu, para apresentar a excelência do caráter de Deus. T7 142 3 Deus ordenou que Sua obra seja apresentada ao mundo em molde santo, distinto. Quer Ele que Seu povo mostre por seu viver a vantagem do cristianismo sobre o mundanismo. Por Sua misericórdia foram tomadas todas as providências para que nós, em todas as transações comerciais, demonstremos a superioridade dos princípios celestiais sobre os do mundo. Devemos mostrar que trabalhamos segundo um plano mais elevado do que o dos mundanos. Em todas as coisas devemos manifestar pureza de caráter, mostrar que a verdade recebida e obedecida torna os recebedores filhos e filhas de Deus, filhos do Rei celestial e, como tais, são honestos em seu trato, fiéis, verdadeiros e sinceros, tanto nas coisas mínimas da vida como nas máximas. T7 142 4 Em toda a nossa obra, mesmo em ramos mais práticos, deseja Deus que apareça a perfeição de Seu caráter. A exatidão, habilidade, tato, sabedoria e perfeição que Ele exigiu na construção do tabernáculo terrestre, deseja que sejam aplicados a tudo quanto se faça em Seu serviço. Toda e qualquer transação efetuada por Seus servos deve ser pura e preciosa à Sua vista, como o foram o ouro, incenso e mirra que, com fé sincera e pura, os sábios do Oriente trouxeram ao menino Salvador. T7 143 1 Assim devem os seguidores de Cristo, em sua vida comercial, ser uma luz para o mundo. Deus não lhes pede que façam esforço para brilhar. Não aprova Ele nenhuma tentativa inspirada pela satisfação própria, para ostentar bondade superior. Deseja que sua vida se encha de princípios do Céu e, então, ao entrarem em contato com o mundo, revelarão a luz que neles há. Sua honestidade, sinceridade e firme fidelidade em todos os atos da vida serão um meio de disseminar a luz. T7 143 2 O reino de Deus não vem com ostentação exterior. Vem pela suave inspiração de Sua palavra, pela operação interior de Seu Espírito, pela comunhão da pessoa com Aquele que é a vida. A maior manifestação de Seu poder é vista no fato de a natureza humana ser elevada à perfeição do caráter de Cristo. T7 143 3 Uma aparência de fortuna ou elevada posição, construções ou mobiliário dispendiosos não são essenciais ao avanço da obra de Deus; tampouco o são as realizações que granjeiam o aplauso dos homens e servem à vaidade. A ostentação mundana, por imponente que seja, não tem valor algum perante Deus. T7 143 4 Embora seja nosso dever buscar a perfeição nas coisas exteriores, cumpre ter sempre em mente que esse objetivo não deve tornar-se supremo. Deve manter-se subordinado aos interesses mais elevados. Acima do visível e transitório, avalia Deus o invisível e eterno. O primeiro só tem valor quando expressa o último. As mais seletas produções de arte não possuem beleza que se possa comparar com a formosura de caráter, que é fruto da operação do Espírito Santo na pessoa. T7 143 5 Ao dar Deus Seu Filho ao mundo, dotou os seres humanos de riquezas imperecíveis -- riquezas que, em se comparando com elas os tesouros dos homens, acumulados desde o princípio do mundo, estes nada são. Cristo veio ao mundo e Se apresentou aos filhos dos homens com o amor acumulado na eternidade, e esse é o tesouro que, mediante nossa ligação a Ele, devemos receber, revelar e comunicar. T7 144 1 Nossas instituições imprimirão dignidade à obra de Deus justamente na medida da consagrada devoção dos obreiros -- revelando eles o poder da graça de Cristo para transformar a vida. Devemos ser diferentes do mundo porque Deus sobre nós colocou o Seu selo e porque manifesta em nós o Seu próprio caráter de amor. Nosso Redentor nos cobre com Sua justiça. T7 144 2 Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se possuem saber, eloquência ou riquezas mundanas. Pergunta: "Andam eles com tanta humildade, que Eu lhes possa ensinar os Meus caminhos? Posso pôr-lhes nos lábios as Minhas palavras? Representar-me-ão eles?" T7 144 3 Deus pode usar cada pessoa na proporção exata em que Lhe é possível colocar Seu Espírito no templo da alma. A obra que Ele aceita é aquela que reflete Sua imagem. Seus seguidores devem apresentar, como credenciais perante o mundo, as indeléveis características de Seus princípios imortais. Agências missionárias T7 144 4 Nossas casas publicadoras são centros designados por Deus, e por meio delas há de ser realizada uma obra cuja magnitude não é ainda compreendida. Há ramos de esforço e influência ainda quase não tocados por elas, nos quais Deus solicita a sua cooperação. T7 144 5 É desígnio de Deus que, à medida que a mensagem da verdade penetra em campos novos, prossiga constantemente a obra de estabelecer centros novos. Através de todo o mundo deve o Seu povo erguer monumentos de Seu sábado -- o sinal entre Ele e eles de que Ele é quem os santifica. Em vários pontos, nos campos missionários, devem ser estabelecidas casas publicadoras. Dar dignidade à obra, servir de centros de apoio e influência, atrair a atenção do povo, desenvolver os talentos e habilidades dos crentes, unir as novas igrejas e apoiar os esforços dos obreiros, dando-lhes recursos para mais pronta transmissão da mensagem -- todas essas e muitas considerações mais obrigam o estabelecimento de centros de publicações em campos missionários. T7 145 1 Participar dessa obra constitui um privilégio, ou melhor, um dever de nossas instituições já estabelecidas. Essas instituições foram fundadas com sacrifício. Foram erguidas graças aos donativos de abnegação do povo de Deus e ao trabalho altruísta de Seus servos. É desígnio de Deus que eles manifestem o mesmo espírito de sacrifício e façam a mesma obra ajudando no estabelecimento de centros novos noutros campos. T7 145 2 Tanto para instituições como para indivíduos prevalece a mesma lei: não se devem concentrar em si mesmos. Ao ser estabelecida uma instituição, e crescer em força e influência, não deve ela estar constantemente procurando conseguir maiores recursos para si mesma. A respeito de cada instituição, tanto como de cada indivíduo, é verdade que recebe para dar. Deus nos dá a fim de podermos dar também. Logo que uma instituição haja conseguido firmar-se, deve empenhar-se em auxiliar outras agências divinas que se encontrem em maior necessidade. T7 145 3 Isso está em conformidade com os princípios, tanto da lei como do evangelho -- princípios exemplificados na vida de Cristo. A maior prova da sinceridade de nossa professa sujeição à lei de Deus e profissão de fidelidade ao Redentor é o altruísta e abnegado amor aos nossos semelhantes. T7 146 1 A glória do evangelho é fundar-se ele sobre o princípio da restauração, na raça caída, da imagem divina por uma constante manifestação de beneficência. Deus honrará esse princípio onde quer que se manifeste. T7 146 2 Os que seguem o exemplo de Cristo, de abnegação pela causa da verdade, fazem grande impressão sobre o mundo. Seu exemplo é convincente e contagioso. Os homens vêem que há entre o professo povo de Deus aquela fé que opera por amor e purifica do egoísmo o coração. Na vida dos que obedecem aos mandamentos de Deus, vêem os mundanos a convincente prova de que a lei divina é uma lei de amor a Deus e aos homens. T7 146 3 A obra de Deus deve ser sempre um sinal de Sua beneficência, e justamente à medida que esse sinal se evidencia no trabalho de nossas instituições, ganhará a confiança do povo e trará recursos para o avanço de Seu reino. O Senhor retirará Sua bênção do lugar em que há condescendência com interesses egoístas, em qualquer ramo da obra; mas Ele concederá ao Seu povo a posse de bens, através de todo o mundo, se desses bens se servirem para o reerguimento da humanidade. A experiência dos dias apostólicos nos há de servir quando aceitarmos de todo o coração o princípio divino da beneficência -- ao consentirmos em obedecer, em todas as coisas, à direção de Seu Santo Espírito. Escolas de preparo para obreiros T7 146 4 Nossas instituições devem ser agências missionárias no mais elevado sentido, e o verdadeiro trabalho missionário começa sempre com os que estão mais próximos. Em cada instituição há trabalho missionário para ser feito. Desde o gerente até ao mais humilde obreiro, todos devem sentir responsabilidade pelos não convertidos, ali próximos. Devem esforçar-se fervorosamente para levá-los a Cristo. Em resultado de tais esforços muitos serão ganhos e se tornarão fiéis e sinceros no serviço de Deus. T7 147 1 Ao adotarem nossas casas publicadoras um sentimento de responsabilidade pelos campos missionários, verão a necessidade de prover aos obreiros uma educação mais ampla e completa. Reconhecerão o valor de seus recursos para essa obra, e verão a necessidade de habilitar os obreiros, não unicamente para desenvolver a obra dentro de seus próprios limites, mas também para dar auxílio eficiente às instituições em campos novos. T7 147 2 É desígnio de Deus que nossas casas publicadoras sejam escolas bem-sucedidas que eduquem tanto em ramos comerciais como espirituais. Dirigentes e obreiros devem ter sempre em mente que Deus requer perfeição em todas as coisas ligadas ao Seu serviço. Compreendam isso todos quantos entram em nossas instituições para receber instrução. A todos seja dada oportunidade de adquirir a maior eficiência possível. Familiarizem-se com diferentes ramos da obra, de maneira que, se forem chamados para outros campos, tenham preparo variado e estejam assim habilitados para assumir responsabilidades diversas. T7 147 3 Os aprendizes devem ser preparados de modo que, depois de haverem passado na instituição o tempo necessário, possam sair habilitados para encarregarem-se inteligentemente dos diferentes ramos da obra publicadora, dando impulso à causa de Deus pelo melhor emprego de suas energias, e sendo capazes de comunicar a outros o conhecimento que receberam. T7 147 4 Todos os obreiros devem estar compenetrados de que não devem unicamente ser instruídos em ramos comerciais, mas tornar-se também hábeis para assumir responsabilidades espirituais. Compenetre-se todo obreiro da importância de uma ligação pessoal com Cristo, uma individual experiência de Seu poder para salvar. Sejam os obreiros educados como o eram os jovens nas escolas dos profetas. Seja o seu espírito modelado por Deus por meio dos instrumentos abnegados por Ele. Todos devem receber preparo bíblico, ficando arraigados e firmados nos princípios da verdade, a fim de poderem permanecer no caminho do Senhor e exercer justiça e juízo. Façam-se todos os esforços para despertar e animar o espírito missionário. Estejam os obreiros compenetrados do reconhecimento do alto privilégio que se lhes oferece nesta última obra de salvação, a saber, o privilégio de ser usado por Deus como Sua mão auxiliadora. Seja cada um ensinado a trabalhar pelos outros, justamente onde se encontra, mediante esforço prático em prol das almas. Aprendam todos a buscar na Palavra de Deus instrução em todos os ramos do trabalho missionário. Então, ao ser-lhes comunicada a Palavra do Senhor, ela dará à mente sugestões para trabalhar os campos de modo que traga para Deus, de todas as partes de Sua vinha, os melhores resultados. Cumprido o propósito de Deus T7 148 1 Cristo deseja fortalecer o Seu povo com a plenitude de Seu poder, de modo tal que todo o mundo seja envolto numa atmosfera de graça. Quando Seu povo se entregar a Deus de todo o coração, esse propósito se cumprirá. A Palavra de Deus aos que se acham empregados em Suas instituições é: "Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor." Isaías 52:11. Em todas as nossas instituições, seja o egoísmo substituído pelo abnegado amor e trabalho pelas pessoas de perto e de longe. Então, o santo óleo verterá dos dois ramos de oliveira para os tubos de ouro, que o entornarão nos vasos preparados para recebê-lo. Assim, a vida dos obreiros de Cristo será de fato uma exposição das verdades de Sua Palavra. T7 149 1 O amor e temor de Deus, a intuição de Sua bondade e Sua santidade passarão de uma para outra instituição. Uma atmosfera de amor e paz permeará cada departamento. Toda palavra falada, cada trabalho executado, terá uma influência do Céu. Cristo habitará na humanidade, e a humanidade habitará em Cristo. Em todo trabalho aparecerá não o caráter do homem finito, mas o do infinito Deus. A influência divina comunicada por santos anjos impressionará as pessoas que entrarem em contato com os obreiros; desses obreiros emanará uma fragrante influência. T7 149 2 Quando chamados a penetrar em novos campos, os obreiros dessa forma preparados sairão como representantes do Salvador, habilitados para serem úteis em Seu serviço, capacitados para comunicar a outros, por preceito e exemplo, o conhecimento da verdade para este tempo. A excelente base do caráter, conseguida pelo poder divino, receberá luz e esplendor do Céu, e estará perante o mundo como testemunha que guia para o trono do Deus vivo. T7 149 3 Então a obra avançará com solidez e força redobrada. Aos obreiros de todos os ramos será comunicada nova eficiência. As publicações expedidas como mensageiros de Deus terão a aprovação do Eterno. Raios de luz do santuário celestial acompanharão as preciosas verdades que nelas se encontram. Como nunca antes, terão poder para despertar nas pessoas a convicção do pecado, criar fome e sede da justiça, e gerar viva solicitude pelas coisas que jamais passarão. Os homens tomarão conhecimento da reconciliação da iniqüidade e da eterna justiça que o Messias veio trazer por meio de Seu sacrifício. Muitos serão levados a participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus, e se unirão ao povo de Deus para aguardar nosso Senhor e Salvador, que em breve virá com poder e glória. ------------------------Capítulo 29 -- Nossa literatura denominacional T7 150 1 A grandeza e eficiência da nossa obra dependem grandemente da espécie de literatura que sai dos nossos prelos. Portanto, deve ser exercido grande cuidado na escolha e preparo da matéria que irá ser divulgada para o mundo. São necessários o maior cuidado e discernimento. Nossas energias devem ser devotadas à publicação de literatura da mais pura qualidade e do mais elevado nível. Nossos periódicos devem sair repletos de verdade que apresente interesse vital e espiritual para o povo. T7 150 2 Deus nos colocou em nossas mãos uma bandeira com a inscrição: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Apocalipse 14:12. Essa é uma mensagem distinta, separada -- mensagem que não deve dar sonido incerto. Deverá ela guiar, desviar um povo das cisternas rotas que não contêm água, para a infalível Fonte da água da vida. O objetivo das nossas publicações T7 150 3 Compete a nossas publicações a mais sagrada obra de tornar clara, compreensível e simples a base espiritual da nossa fé. Em todos os lugares está o povo tomando posição; todos estão se colocando sob a bandeira da verdade e da justiça ou sob a dos poderes apóstatas que lutam para alcançar a supremacia. Neste tempo, a mensagem de Deus para o mundo deverá ser pregada com tal ênfase e poder que o povo seja posto face a face, mente a mente, coração a coração com a verdade. Todos devem ser levados a ver sua superioridade em relação à multidão de erros que buscam colocar em evidência, a fim de suplantar, se possível, a Palavra de Deus para este tempo solene. T7 151 1 O grande objetivo das nossas publicações é exaltar a Deus, e atrair a atenção dos homens para as verdades vivas da Sua Palavra. Deus nos pede que exaltemos, não as nossas próprias normas, não as normas deste mundo, mas as Suas normas da verdade. T7 151 2 Somente ao fazermos isso é que a Sua mão prosperadora poderá nos abençoar. Examinemos o trato de Deus com o Seu povo no passado. Notemos como, à medida que desfraldavam a Sua bandeira, Ele os exaltava perante os inimigos. Mas quando, exaltando-se, traíam a sua fidelidade, quando exaltavam um poder e um princípio opostos aos Seus, foram abandonados para atraírem sobre si o desastre e a derrota. T7 151 3 Examinemos a experiência de Daniel. Quando chamado a postar-se perante o rei Nabucodonosor, Daniel não vacilou no reconhecimento da fonte de sua sabedoria. Prejudicou a influência de Daniel na corte do rei, esse seu fiel reconhecimento de Deus? De maneira alguma! Foi o segredo do seu poder; assegurou-lhe as graças do rei de Babilônia. Em nome de Deus, Daniel revelou ao rei a mensagem celestial de instrução, advertência e reprovação, e não foi repelido. Que os nossos obreiros de hoje leiam o testemunho firme, destemido de Daniel, e sigam-lhe o exemplo. T7 151 4 Nunca mostra o homem loucura maior do que, ao buscar assegurar a aceitação e reconhecimento do mundo, sacrificar qualquer grau de fidelidade e honra devidas a Deus. Ao nos colocarmos onde Deus não pode cooperar conosco, nossa força será transformada em fraqueza. Tudo quanto é feito no sentido de restaurar a imagem de Deus no homem, acontece porque Deus é a eficiência do obreiro. Somente seu poder é que restaura o corpo, fortalece a mente ou renova a alma. Em nossa obra de publicações, como em qualquer outro ramo de esforço ou viver cristãos, será demonstrada a verdade das palavras de Cristo: "Sem Mim nada podeis fazer." João 15:5. T7 152 1 Deus deu aos homens princípios imortais, aos quais se curvará um dia todo poder humano. Quer Ele que demos ao mundo, por preceito e exemplo, uma demonstração desses princípios. Àqueles que O honram com a observância fiel de Sua Palavra, magnífico será o resultado. É muito importante guiar-se por princípios que perdurarão através dos séculos eternos. Experiência pessoal necessária aos obreiros T7 152 2 Os editores dos nossos periódicos, os professores de nossas escolas, os presidentes das nossas Associações, precisam todos abeberar-se das águas puras do rio de água da vida. Todos precisam compreender mais amplamente as palavras dirigidas por nosso Senhor à samaritana: "Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é O que te diz: Dá-Me de beber, tu Lhe pedirias, e Ele te daria água viva. ... Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna." João 4:10-14. T7 152 3 A causa do Senhor precisa ser distinguida das atividades comuns da vida. Diz Ele: "Voltarei contra a Minha mão, e purificarei inteiramente as tuas escórias; e tirar-te-ei toda a impureza. E te restituirei os teus juízes, como eram dantes; e os teus conselheiros, como antigamente; e então te chamarão cidade de justiça, cidade fiel. Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela com justiça." Isaías 1:25-27. Essas palavras estão repletas de importância. Contêm uma lição para todos quantos ocupam a função de editor. T7 153 1 As palavras de Moisés possuem significação profunda. "Os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os consumiu; e morreram perante o Senhor. E disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se cheguem a Mim, e serei glorificado diante de todo o povo." Levítico 10:1-3. Contém isso uma lição para todos quantos manuseiam o material que sai das nossas instituições publicadoras. Coisas sagradas não devem ser misturadas com as comuns. As revistas que têm tão vasta circulação devem conter instruções mais preciosas do que as que aparecem nas publicações comuns da época. "Que tem a palha com o trigo?" Jeremias 23:28. Queremos o trigo puro, perfeitamente joeirado. T7 153 2 "Assim o Senhor me disse com uma forte mão, e me ensinou que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo: Não chameis conjuração, a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o seu temor, nem tão pouco vos assombreis. Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor e seja Ele o vosso assombro. ... Liga o testemunho, sela a lei entre os Meus discípulos. ... À Lei e ao Testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." Isaías 8:11-20. T7 153 3 Chamo a atenção de todos os nossos obreiros para o sexto capítulo de Isaías. Leiam a experiência do profeta de Deus, ao ver "o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e o Seu séquito enchia o templo. ... Então disse eu: Ai de mim, que vou perecendo porque eu sou um homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Mas um dos serafins voou para mim trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz. E com ela tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado. Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:1-8. T7 154 1 Essa é a experiência de que necessitam todos quantos trabalham em todas as nossas instituições. Existe o perigo de deixarem de manter ligação vital com Deus, de não serem santificados pela verdade. Perdem, assim, o senso do poder da verdade, perdem a capacidade de discernimento entre o sagrado e o profano. T7 154 2 Meus irmãos que ocupam cargos de responsabilidade, que o Senhor não somente lhes unja os olhos para que vejam, mas verta em seu coração o santo óleo que, dos dois galhos de oliveira, flui pelos canos de ouro para o vaso de ouro que alimenta as lâmpadas do santuário. Possa Ele dar-lhes "em Seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da Sua vocação, ... e qual a sobreexcelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos". Efésios 1:17-19. T7 154 3 Como o mordomo fiel, dêem alimento adequado aos que pertencem à família de Deus. Apresentem ao povo a verdade. Trabalhem como se estivessem sendo observados por todo o Universo celestial. Não temos tempo para perder -- nem um momento sequer. Acontecimentos importantes logo serão presenciados, e teremos de estar escondidos na fenda da rocha, para vermos Jesus e sermos vivificados pelo Seu Espírito Santo. Assuntos para publicação T7 155 1 Sejam as nossas revistas devotadas à publicação de assuntos vivos, relevantes. Esteja cada artigo repleto de pensamentos práticos, animadores, enobrecedores, pensamentos que comuniquem ao leitor ajuda, iluminação e boa disposição. A religião doméstica, a santidade da família deve ser honrada agora como nunca antes. Se jamais um povo necessitou andar perante Deus como o fez Enoque, devem os adventistas do sétimo dia fazer isso agora, demonstrando a sua sinceridade por meio de palavras puras, limpas, repletas de simpatia, ternura e amor. T7 155 2 Vezes há em que são necessárias palavras de reprovação e censura. Os que estão fora do caminho reto precisam ser despertados para ver o perigo que correm. É preciso transmitir-lhes uma mensagem que os sacuda da letargia que embota seus sentidos. É preciso haver uma renovação moral, para que as pessoas não pereçam em seus pecados. Que a mensagem da verdade, qual espada afiada de dois gumes, penetre até ao coração. Façam apelos que despertem os negligentes, e reconduzam para Deus as mentes néscias e confusas. T7 155 3 A atenção do povo precisa ser atraída. Nossa mensagem é um cheiro de vida para vida, ou de morte para morte. Está em jogo a salvação das pessoas. Multidões estão no vale da decisão. Uma voz deve ser ouvida a proclamar: "Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o." 1 Reis 18:21. T7 155 4 Ao mesmo tempo, nada que se assemelhe a um espírito áspero e acusador, deverá, sob quaisquer circunstâncias, ser tolerado. Não contenham as nossas revistas arremetidas indelicadas, nenhuma crítica amarga nem sarcasmos mordazes. Satanás quase conseguiu eliminar do mundo a verdade divina, e deleita-se quando os seus professos defensores mostram não estar sob a influência da verdade que subjuga e santifica o espírito. T7 156 1 Que os colaboradores de nossas revistas abordem o mínimo possível as objeções e argumentos de nossos oponentes. Em toda a nossa obra devemos opor à falsidade a verdade. Apresentemos a verdade contra toda insinuação, referência ou insulto pessoal. Vamos levar em conta apenas a moeda celestial. Façamos uso somente daquilo que possui a imagem e inscrição de Deus. Inculquemos a verdade, nova e convincente, para solapar e derrubar o erro. T7 156 2 Deus quer que sejamos sempre calmos e tolerantes. Qualquer que seja o procedimento de outros, devemos representar a Cristo, fazendo o que Ele faria em circunstâncias semelhantes. O poder do nosso Salvador não consistia no emprego de palavras vigorosas e incisivas. Foram a Sua gentileza, Seu espírito abnegado e despretensioso que fizeram dEle um conquistador de corações. O segredo do nosso êxito está em revelarmos o mesmo espírito. União T7 156 3 Os que pregam ao público por intermédio das nossas revistas devem preservar entre eles a união. Nada que aparente dissensão deverá ser encontrado em nossas publicações. Satanás está sempre buscando causar dissensão, pois bem sabe que por esse meio poderá com maior eficiência frustrar a obra de Deus. Não devemos dar oportunidade aos seus enganos. A oração de Cristo por Seus discípulos foi: "Para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:21. Todos os fiéis obreiros de Deus trabalharão em conformidade com essa oração. Em seus esforços para impulsionar a causa, manifestarão todos aquela unidade de sentimento e prática que revela serem eles testemunhas de Deus, que amam uns aos outros. Para um mundo dividido pela discórdia e luta, o seu amor e união dará testemunho da sua ligação com o Céu. Essa será a prova convincente do caráter divino da sua missão. Pontos de experiência T7 157 1 Os editores das nossas revistas precisam da cooperação dos nossos obreiros no campo e do nosso povo próximo e distante. Em nossas revistas devem ser encontradas comunicações dos obreiros de todas as partes do mundo -- artigos que apresentem experiências vivas. Não precisamos de ficção; mas há na vida diária experiências que, quando contadas em artigos curtos, e com palavras simples, serão mais fascinantes do que romances, bem como de ajuda incalculável para a experiência cristã e o trabalho missionário prático. Queremos a verdade, a verdade sólida, de homens, mulheres e jovens consagrados. T7 157 2 Vocês, que amam a Deus e cuja mente está saturada de preciosos itens de experiência, e também das realidades vivas da vida eterna, acendam a chama do amor e da luz no coração do povo de Deus. Ajudem-nos a lidar com os problemas da vida. T7 157 3 Os textos que chegam a milhares de leitores devem demonstrar a pureza, elevação e santificação do corpo, alma e espírito da parte dos autores. A pena deve ser usada sob o controle do Espírito Santo, como meio de semear uma semente para a vida eterna. Seja o espaço das nossas revistas ocupado com assuntos de valor real. Elas devem estar repletas do interesse eterno. Deus nos chama para irmos ao monte falar com Ele, e quando contemplamos, pela fé, a Ele, que é invisível, nossas palavras serão realmente um cheiro de vida para vida. A mensagem para este tempo T7 157 4 Tenham todos muito mais para ensinar, escrever e publicar quanto às coisas que estão para se cumprir e se relacionam com a felicidade eterna das pessoas. Devemos distribuir alimento na estação própria a idosos e jovens, a santos e pecadores. Tudo quanto pode ser dito para despertar da sua sonolência a igreja, seja apresentado sem demora. Não haja tempo perdido no trato das coisas que não são essenciais, e não têm relação alguma com as necessidades presentes do povo. Leiamos os três primeiros versículos de Apocalipse, e veremos a tarefa imposta aos que pretendem crer na Palavra de Deus: T7 158 1 "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a João Seu servo; o qual testificou da Palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:1-3. A publicação de livros T7 158 2 Conceda-se mais tempo à publicação e disseminação de livros que contenham a verdade presente. Que a atenção seja atraída para os livros que tratam da fé e da piedade práticas, bem como para os que apresentam as profecias. Deve o povo ser educado para ler a firme palavra da profecia à luz das Sagradas Escrituras. Precisam eles saber que os sinais dos tempos estão se cumprindo. T7 158 3 Só Deus pode conceder êxito, quer no preparo quer na disseminação da nossas publicações. Se com fé mantivermos os Seus princípios, Ele cooperará conosco, pondo os nossos livros nas mãos daqueles a quem irão beneficiar. Deve o Espírito Santo ser pedido em oração, e existir confiança e crença nEle. A oração fervorosa e humilde fará mais para promover a disseminação dos nossos livros, do que toda a dispendiosa ilustração que possa haver no mundo. T7 159 1 Deus tem grandes e valiosos recursos de que o homem se poderá apossar, e pela maneira mais simples incrementará a atuação das agências divinas. Diz o divino Mestre: "Somente o Meu Espírito é capaz de ensinar e convencer do pecado. As aparências fazem na mente impressão apenas passageira. Eu incutirei a verdade na consciência, e os homens Me serão testemunhas, sustentando em todo o mundo as Minhas reivindicações sobre o tempo, o dinheiro e o intelecto do homem. Tudo isso comprei na cruz do Calvário. Usem os talentos que lhes confiei para a proclamação da verdade em sua simplicidade. Seja o evangelho remetido a toda parte do mundo, despertando os que estão carregadas de culpa a perguntarem: Que é necessário que eu faça para ser salvo?" Preços T7 159 2 Nossas revistas foram vendidas por algum tempo, em caráter experimental, a preços reduzidos; mas isso não produziu o resultado almejado -- conseguir muitos assinantes permanentes. Esses esforços são feitos com despesa avultada, muitas vezes com prejuízo, e com a melhor das intenções; mas se nenhuma redução houvesse sido feita no preço, maior quantidade de assinantes permanentes teria sido alcançada. T7 159 3 Foram estudados planos para a redução dos preços de nossos livros, sem a correspondente providência quanto ao custo da produção. Isso é um erro. A obra precisa ser mantida com seu próprio rendimento. Não sejam os preços dos livros reduzidos por meio de ofertas especiais, que podem ser consideradas instigações ou subornos. Deus não aprova esses métodos. T7 159 4 Existe demanda de livros de baixo preço, e essa procura precisa ser atendida. O plano correto, porém, é reduzir o custo da produção. T7 160 1 Em campos novos, entre pessoas ignorantes ou pouco cultas, há grande procura de livros pequenos, que apresentem a verdade em linguagem simples e profusamente ilustrados. Esses livros precisam ser vendidos a preços baixos, e as ilustrações, naturalmente, serem baratas. Traduções T7 160 2 Maior esforço deve ser feito para estender a circulação da nossa literatura a todas as partes do mundo. A advertência precisa ser dada em todas as terras e a todos os povos. Nossos livros precisam ser traduzidos e publicados em muitas línguas. Precisamos multiplicar as publicações sobre nossa fé em inglês, alemão, francês, dinamarquês, norueguês, sueco, espanhol, italiano, português e muitas outras línguas; e o povo de todas as nacionalidades deve ser iluminado e instruído, para que também eles se juntem na obra. T7 160 3 Façam as nossas casas publicadoras tudo quanto lhes está ao alcance para difundir no mundo a luz celestial. Por toda maneira possível atraiam a atenção do povo de cada nação e língua para as coisas que lhes encaminharão a mente para o Livro dos livros. T7 160 4 Grande cuidado deve ser exercido na escolha dos membros da comissão editorial. As pessoas escolhidas para julgar os livros oferecidos para publicação devem ser poucas e bem escolhidas. Somente os que tiveram experiência como autores estão capacitados para atuar nesse sentido. Devem ser escolhidos apenas aqueles cujo coração está sob o controle do Espírito de Deus. Devem ser homens de oração, que não se exaltem, mas amem a Deus, temam-no e respeitem os irmãos na fé. Apenas os que, não confiando em si mesmos são guiados pela sabedoria divina, estão capacitados para desempenhar essa importante função. ------------------------Capítulo 30 -- Trabalhos comerciais T7 161 1 O Senhor determinou que as casas publicadoras fossem estabelecidas para a promulgação da verdade presente, bem como para a efetivação das várias transações que esse trabalho envolve. Ao mesmo tempo devem manter-se em contato com o mundo, para que a verdade possa ser como uma luz posta num candelabro e alumie todos quantos estão na casa. Pela providência divina, Daniel e seus companheiros foram postos em contato com os grandes homens de Babilônia, a fim de que essas pessoas conhecessem a religião dos hebreus e soubessem que Deus governa todos os reinos. T7 161 2 Em Babilônia, Daniel foi posto em uma função muito difícil; mas ao mesmo tempo que desempenhava fielmente os seus deveres de estadista, evitou firmemente participar de qualquer coisa que fosse contrária a Deus. Esse procedimento provocava discussões, e o Senhor atraiu, assim, a atenção do rei de Babilônia para a fé de Daniel. Deus tinha luz para conceder a Nabucodonosor, e por meio de Daniel foram apresentadas ao rei as coisas preditas nas profecias concernentes a Babilônia e a outros reinos. Por meio da interpretação do sonho de Nabucodonosor, Jeová foi exaltado como sendo mais poderoso que os governantes terrestres. Assim, pela fidelidade de Daniel, Deus foi honrado. De igual maneira, deseja o Senhor que as nossas casas publicadoras sejam Suas testemunhas. Oportunidades na atividade comercial T7 161 3 Um dos meios pelos quais essas instituições são postas em contato com o mundo é através da atividade comercial. Por ela é aberta uma porta para a comunicação da luz da verdade. T7 161 4 Podem os obreiros ter a impressão de que desempenham trabalho meramente secular, mas estão empenhados no próprio trabalho que suscitará perguntas acerca da fé e dos princípios que adotam. Se estiverem animados de bom espírito, poderão falar em tempo oportuno. Se há neles a luz da verdade e o amor celestiais, ela não poderá deixar de irradiar-se. A própria maneira de procederem nos assuntos comerciais, manifestará a influência dos princípios divinos. De nossos obreiros, como outrora foi dito dos artífices do tabernáculo, se poderá dizer: "E o enchi do espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o artifício." Êxodo 31:3. Não deve ocupar o primeiro lugar T7 162 1 Em nenhuma situação devem as nossas casas publicadoras dar preferência aos trabalhos comerciais. Se o fizerem, as pessoas que nelas trabalham perderão de vista o propósito para que foram instituídas e seu trabalho vai degenerar. T7 162 2 Há o perigo de que gerentes, cuja percepção espiritual esteja pervertida, assumam compromissos de publicar assunto de mérito duvidoso, apenas por causa do lucro. Disso resultará que o objetivo para que foram instituídas as casas publicadoras será perdido de vista, e as instituições serão consideradas como qualquer outra empresa comercial. Com isso Deus é desonrado. T7 162 3 Em algumas de nossas casas publicadoras, o trabalho comercial requer aumento constante de investimentos em maquinaria dispendiosa e outros equipamentos. Esses gastos oneram pesadamente o orçamento da instituição, e a maior quantidade de trabalho não somente exige instalações mais amplas, mas uma quantidade de obreiros maior que a que se possa disciplinar devidamente. T7 162 4 Afirma-se que o trabalho comercial é de interesse financeiro para a instituição. Mas um Ser que possui autoridade fez o cálculo do que custa esse trabalho para as nossas principais casas publicadoras. Apresentou Ele um balanço exato, que mostra que os prejuízos são superiores aos lucros. Mostrou que esse trabalho obriga os obreiros a estarem continuamente sobrecarregados. Nesse ambiente de pressa, cansaço e mundanismo, decaem a piedade e a devoção. T7 163 1 Não é necessário que o trabalho comercial seja inteiramente suprimido das nossas casas publicadoras, porque isso fecharia a porta para os raios de luz que devem ser comunicados ao mundo. As relações com a gente do mundo não têm de ser necessariamente mais prejudiciais para os obreiros do que foi o trabalho de Daniel, como estadista, que ele não permitiu que afetasse sua fé e princípios. Toda vez, porém, que esse trabalho externo possa prejudicar a espiritualidade da instituição, seja ele rejeitado. Que seja realizado o trabalho que representa a verdade. Que ele tenha a preferência, e o trabalho comercial fique em segundo lugar. Nossa missão consiste em dar ao mundo a mensagem de advertência e misericórdia. Preços T7 163 2 No esforço de conseguir para as nossas casas publicadoras uma clientela que as tire de dificuldades financeiras, foram estabelecidos preços tão baixos que o trabalho não produzia lucro. Os que se iludiam de que havia lucro, não tinham computado estritamente todos os gastos. Não se deve reduzir os preços simplesmente para conseguir trabalho. Só se deve aceitar o trabalho que dê um lucro razoável. T7 163 3 Por outro lado não deve haver em nossas transações comerciais sombra alguma de egoísmo ou cobiça. Não se aproveite ninguém da ignorância ou da necessidade de outros para extorquir-lhe preços exorbitantes por trabalho feito ou por mercadorias vendidas. Haverá tentação forte para desviar do caminho reto; serão encontrados numerosos argumentos em favor da conformidade com as práticas mundanas e a adoção de costumes que em realidade são desonestos. Insistem alguns em que, ao tratar com espertos, é preciso seguir as mesmas regras deles; e que, se for mantida estrita integridade, não será possível ganhar nos negócios ou assegurar a subsistência. Onde está a nossa fé em Deus? Pertencemos-Lhe, como filhos e filhas, sob a condição de separar-nos do mundo e não tocar em nada imundo. Às Suas instituições bem como aos cristãos individualmente, dirige o Senhor estas palavras: "Buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça" (Mateus 6:33), e promete de modo seguro que todas as coisas necessárias à vida serão acrescentadas. Sobre cada consciência, como que com pena de ferro sobre a rocha, seja escrito que o verdadeiro êxito, quer para esta vida quer para a futura, só pode ser alcançado por meio da fiel obediência aos princípios eternos da justiça. Leitura desmoralizadora T7 164 1 Ao fazerem grande quantidade de trabalho comercial, nossas casas publicadoras estão expostas ao perigo de ter que imprimir leitura de valor duvidoso. Certa ocasião em que esses assuntos me foram apresentados, o meu Guia perguntou a alguém que ocupava cargo de responsabilidade numa instituição de publicações: "Quanto está cobrando pela execução deste trabalho?" Foram-Lhe mostradas as importâncias. Disse Ele: "É uma importância pequena demais. Se continuar com esse negócio terá prejuízo. Mas mesmo que recebesse muito mais, essa espécie de leitura só trará um grande prejuízo. A influência que exerce sobre os obreiros é desmoralizadora. Todas as mensagens que Deus lhes enviar, apresentando a santidade da obra, serão neutralizadas por esse procedimento de aceitar imprimir tais coisas." T7 164 2 O mundo está inundado de livros que mais conviria destruir que divulgar. Livros sobre guerras indígenas e assuntos similares, publicados e distribuídos com a finalidade de ganhar dinheiro, melhor seria se nunca fossem lidos. Esses livros contêm fascinação satânica. A descrição horripilante de crimes e atrocidades exerce sobre muitos jovens uma influência enfeitiçante, incitando-lhes o desejo de alcançar celebridade por meio de atos da maior violência. Grande número de obras existe que são mais estritamente históricas e cuja influência nem por isso é melhor. As atrocidades, as crueldades e as práticas licenciosas descritas nessas obras têm atuado em muitos espíritos como um fermento que os leva à prática de atos semelhantes. Livros que descrevem as práticas satânicas dos seres humanos estão fazendo publicidade das más obras. Não é necessário reviver os pormenores horríveis do crime e sofrimentos, e ninguém que crê na verdade presente deveria contribuir para a perpetuação de sua lembrança. T7 165 1 As novelas de amor, e histórias frívolas e provocantes, constituem outra espécie de livros que são uma maldição para todo leitor. Pode o autor inserir um bom conceito moral, e entremear a sua obra de sentimentos religiosos; não obstante, em muitos casos, Satanás não fica senão disfarçado com vestes angélicas, a fim de com mais facilidade enganar e seduzir. Em grande medida a mente é influenciada pelas coisas de que se nutre. Os leitores de histórias frívolas ou provocantes ficam incapacitados para o cumprimento dos seus deveres. Vivem uma vida irreal, e não têm desejo de examinar as Escrituras para nutrir-se do maná celestial. Ficam com a mente debilitada e perdem a faculdade de considerar os grandes problemas do dever e do destino. T7 165 2 Foi-me instruído que a juventude está exposta aos maiores perigos, como conseqüência das más leituras. Satanás está constantemente levando, tanto os jovens como os adultos, a encantarem-se com histórias sem valor. Se fosse possível inutilizar boa parte dos livros publicados, isso deteria uma praga que está fazendo um trabalho espantoso de enfraquecer a mente e corromper o coração. Ninguém está tão firme nos princípios da justiça a ponto de ficar livre da tentação. Toda essa leitura imprestável deve ser banida resolutamente. T7 166 1 Não temos do Senhor permissão para empenhar-nos, quer na impressão, quer na venda dessas publicações; pois são o veículo da perdição de muitas pessoas. Eu sei o que escrevo; pois esse assunto me foi apresentado. Não se empenhem nesse trabalho, pensando em ganhar dinheiro, os que crêem na mensagem para este tempo. O Senhor lançará uma maldição sobre o dinheiro assim obtido; Ele espalhará mais do que é ajuntado. T7 166 2 Outra espécie de leitura existe, mais corruptora do que a lepra, mais mortífera do que as pragas do Egito, contra as quais as nossas casas publicadoras precisam precaver-se constantemente. Ao aceitarem trabalhos comerciais, devem exercer vigilância a fim de não serem recebidos em nossas instituições manuscritos que apresentem a própria ciência de Satanás. Não tenham jamais entrada em nossas casas publicadoras os trabalhos que exponham as teorias destrutoras da alma, tais como o hipnotismo, espiritismo, romanismo e outros mistérios da iniquidade. T7 166 3 Não seja manuseado pelos nossos obreiros coisa alguma que semeie uma semente de dúvida quanto à autoridade ou a pureza das Escrituras. De maneira alguma sejam as convicções dos incrédulos apresentadas aos jovens cujo espírito, com tanta avidez, aceita qualquer novidade. Por mais elevado que seja o preço pago por essa publicação, ele só produzirá imenso prejuízo. T7 166 4 Permitir que tal coisa aconteça em nossas instituições equivale a pôr em mãos dos nossos obreiros e a apresentar ao mundo o fruto proibido da árvore do conhecimento. Equivale a convidar Satanás para entrar com sua ciência sedutora; e a insinuar os seus princípios nas próprias instituições estabelecidas para o avanço da santa obra de Deus. Imprimir obras dessa espécie, equivale a municiar as armas do inimigo e colocá-las nas mãos deles para que as use contra a verdade. T7 167 1 Acha você que Jesus continuará em nossas instituições de publicações para atuar sobre as mentes humanas pelos Seus anjos ministradores; acha você que, se permitirmos que, na própria instituição, Satanás perverta o espírito dos obreiros, Ele fará da verdade que sai dos nossos prelos um poder para advertir o mundo? Poderá a bênção divina ser posta sobre as publicações que saem do prelo, se do mesmo prelo saem heresias e enganos satânicos? "Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?" Tiago 3:11. T7 167 2 Os administradores das nossas instituições precisam reconhecer que ao aceitarem esse cargo se tornam responsáveis pelo alimento intelectual fornecido aos obreiros enquanto estejam na instituição. São responsáveis pela espécie de impressos que saem dos nossos prelos. Serão chamados a prestar contas pela influência exercida pela introdução de matéria que polua a instituição, contamine os obreiros, ou engane o mundo. T7 167 3 Se for permitido que tais coisas tenham entrada em nossas instituições, logo se descobrirá que o poder sutil dos sentimentos satânicos não é facilmente eliminado. Se for consentido que o tentador semeie a má semente, ela germinará e frutificará. Haverá uma seara para que ele ceife nas próprias instituições estabelecidas com os recursos do povo de Deus para o avanço da Sua causa. Disso resultará que, em vez de enviar ao mundo obreiros cristãos, será enviado um grupo de incrédulos instruídos. T7 167 4 Nesses assuntos, uma responsabilidade pesa não somente sobre os administradores, mas também sobre os servidores. Tenho alguma coisa que dizer aos obreiros de cada casa publicadora existente entre nós: Se você ama e teme a Deus, evite o contato com aquele tipo de conhecimento contra o qual Deus advertiu a Adão. Evitem os digitadores de escrever uma única frase a respeito dessas coisas. Abstenham-se os revisores de ler; os impressores, de imprimir; e os encadernadores, de encaderná-las. Se for pedido que você faça esse trabalho, convoque uma reunião dos obreiros da instituição, a fim de que haja compreensão do que essas coisas significam. Podem os que administram a instituição insistir em que você não é responsável, que aos administradores compete decidir esses assuntos. Mas você é responsável -- responsável pelo uso dos seus olhos, mãos e mente. Eles lhe foram confiados por Deus para usá-los para Ele, não para o serviço de Satanás. T7 168 1 Quando são impressos em nossas casas publicadoras assuntos que incluem erros que neutralizam a obra de Deus, Ele considera responsáveis não somente os que permitem que Satanás prepare uma armadilha para as pessoas, mas também os que de qualquer maneira cooperam na obra da tentação. T7 168 2 Meus irmãos que ocupam cargos de responsabilidade: Cuidem de não atrelar ao carro da superstição e heresia os seus obreiros. Não permitam que as instituições estabelecidas por Deus para disseminar a verdade vivificante sejam transformadas em veículo disseminador do erro destruidor de almas. T7 168 3 Que as nossas casas publicadoras, desde a menor até a maior, se recusem a imprimir uma única linha desses assuntos perniciosos. Compreendam todos aqueles com quem temos que tratar, que os impressos que contêm a ciência de Satanás estão excluídos de todas as nossas instituições. T7 168 4 Não somos postos em contato com o mundo para ser levedados pela sua falsidade, mas para, como instrumentos de Deus, ser para o mundo um fermento da verdade divina. ------------------------Capítulo 31 -- Casas publicadoras em campos missionários T7 169 1 Muito há por fazer no sentido de estabelecer centros da nossa obra em campos novos. Pequenas editoras devem ser fundadas em muitos lugares. Ligadas às nossas escolas missionárias deve haver instalações para impressão e treinamento dos obreiros nessa atividade. Onde houver pessoas de várias nacionalidades sendo instruídas e que falem diferentes línguas, cada uma delas deverá aprender a imprimir em sua própria língua, bem como a traduzir do inglês para essa língua. E, ao aprender o inglês, devem estar ensinando a sua língua aos estudantes de língua inglesa que precisem aprendê-la. Assim, alguns dos estudantes estrangeiros poderão reduzir as suas despesas de instrução; e serem preparados obreiros para prestar auxílio valioso em empreendimentos missionários. T7 169 2 Em muitos casos, a obra de publicações terá que ser iniciada em escala reduzida. Terá que enfrentar muitas dificuldades, e ser levada avante com poucos recursos. Mas ninguém deverá com isso desanimar. A maneira mundana é começar a sua obra com pompa, exibição e alarde; mas tudo terminará em nada. A maneira de Deus é fazer do dia das coisas pequenas o começo da vitória da verdade e da justiça. Por esse motivo, ninguém deverá ensoberbecer-se por um começo próspero, nem desanimar por uma fraqueza aparente. Deus é para o Seu povo riqueza, plenitude e poder, ao contemplar ele as coisas invisíveis. Seguir essa direção equivale a escolher o caminho da segurança e do verdadeiro êxito. "Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." 1 João 5:4. T7 170 1 O poder humano não estabeleceu a obra de Deus, nem tem o humano poder para destruí-la. Para os que levam avante a Sua obra enfrentando dificuldade e oposição, Deus dará a guia e a guarda constantes dos Seus santos anjos. Sua obra na Terra nunca cessará. A construção do templo espiritual prosseguirá, até ficar terminada e ser trazida a pedra angular, com brados de "Graça, graça a ela". T7 170 2 O cristão deve ser um benefício aos outros. Assim ele mesmo será beneficiado. "Quem dá a beber será dessedentado." Provérbios 11:25. Essa é a lei da administração divina -- lei pela qual Deus determina que as torrentes de beneficência sejam mantidas, quais águas do grande abismo, em constante circulação, retornando perpetuamente a sua fonte. Na fidelidade a essa lei reside o poder das missões cristãs. T7 170 3 Fui instruída que, em todos os lugares, através de sacrifício próprio e urgentes esforços, onde foram providenciados locais para o estabelecimento e o desenvolvimento da obra, e o Senhor a fez prosperar, os que estão nesses lugares devem dar de seus meios para ajudar os servos de Deus que foram enviados para novos campos. Onde a obra foi estabelecida sobre uma boa fundação, os crentes devem se sentir na obrigação de ajudar os que estão em necessidade, transferindo, ainda que com grande sacrifício, uma porção ou recursos correspondentes aos que foram investidos em favor da obra em sua localidade. É dessa maneira que o Senhor providenciou para que Seu trabalho cresça. Essa é a correta lei da restituição. ------------------------Capítulo 32 -- Relacionamento entre as casas publicadoras T7 171 1 A figura da videira e seus ramos é uma ilustração do relacionamento de Cristo com Seus seguidores, e também da relação entre Seus seguidores. Os ramos estão relacionados um com outro, todavia, cada um tem sua individualidade sem se misturar com os outros. Todos têm uma relação comum com a videira, e dependem dela para sua vida, crescimento e frutificação. Eles não sustentam um ao outro. Cada um por si deve estar ligado à videira. Enquanto os ramos mantêm uma aparente semelhança, também apresentam diversidade. A sua unidade depende do relacionamento comum com a videira, e através de cada um, não da mesma maneira, é manifestada a vida da videira. T7 171 2 Essa ilustração tem uma lição não somente para os cristãos individualmente, mas para as instituições que estão a serviço de Deus. No relacionamento entre elas, cada uma deve manter sua individualidade. A união de uma com outra é decorrência da união com Cristo. NEle, cada instituição se liga às demais, ao mesmo tempo que mantém sua identidade, não sendo confundida com outra. T7 171 3 De tempos em tempos, tem sido sugerido que os interesses da obra poderiam ser favorecidos por uma consolidação de nossas casas publicadoras colocando-as virtualmente sob uma gerência. Porém, o Senhor tem me mostrado que isso não deve ser feito. Não é Seu plano centralizar poder nas mãos de poucas pessoas, ou colocar uma instituição sob o controle de outra. T7 171 4 Foi me mostrada a nossa obra no seu começo, como um pequeno, bem pequeno regato. Para o profeta Ezequiel foi dada a representação de águas saindo "debaixo do umbral da casa, ... da banda do sul do altar." Ezequiel 47:1. Leia Ezequiel 47. Especialmente verifique o verso 8: "Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem à campina, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, sararão as águas." Ezequiel 47:8. Vi que o nosso trabalho estende para o oriente e para o ocidente, para as ilhas do mar, e para todas as partes do mundo. À medida que o trabalho expande, haverá grandes interesses a serem administrados. A obra não deve estar centralizada em um lugar. A sabedoria humana argumenta que é mais conveniente desenvolver o interesse onde a obra já tem propriedade e influência. Todavia, têm-se cometido enganos nesse sentido. É a capacidade para suportar com paciência que dá força e desenvolvimento. Livrar os obreiros de suas responsabilidades em diferentes localidades é impedir sua capacidade de desenvolvimento, reprimindo e enfraquecendo suas potencialidades. A obra é do Senhor, e não é Sua vontade que a força e eficiência seja centralizada em algum lugar. Cada instituição deve permanecer independente, desenvolvendo o trabalho do Senhor de acordo com Sua direção. Consolidação T7 172 1 As praxes de fusão de empresas, seja lá onde for feita, tendem à exaltação do humano em lugar do divino. Aqueles que têm responsabilidade sobre diferentes instituições olham para a autoridade central em busca de orientação e apoio. Assim, o senso de responsabilidade pessoal fica enfraquecido, perdendo o que há de mais elevado e precioso de toda experiência humana, a constante dependência de Deus. Não admitindo sua necessidade, falham em manter constante vigilância e oração, contínua entrega a Deus, que é o único meio que pode capacitar os homens a ouvirem e obedecerem os ensinamentos do Seu Espírito Santo. O homem é colocado onde Deus estaria. Aqueles que são chamados a agir neste mundo, como embaixadores do Céu, se satisfazem em buscar a sabedoria de homens finitos e passíveis de erros, quando deveriam ter a sabedoria e a força do infinito e infalível Deus. T7 173 1 O Senhor não designa que os obreiros em Suas instituições busquem ou confiem em homens. Deseja que eles se centralizem nEle. T7 173 2 Nunca devem nossas casas publicadoras ficarem tão relacionadas entre si que tenham poder de mandar no gerenciamento de outra. Quando tão grande poder é colocado nas mãos de umas poucas pessoas, Satanás fará esforços resolutos para perverter o juízo, insinuar errôneos princípios de ação, introduzir regulamentos incorretos; agindo assim ele conseguirá não somente perverter uma instituição, mas, por meio disto, obter domínio de outras e dar um molde errado à obra em lugares distantes. Dessa forma, a influência para o mal será amplamente difundida. Que cada instituição permaneça na sua independência moral, desempenhando o seu trabalho no seu próprio campo. Os obreiros devem sentir que estão fazendo seu trabalho de acordo com Deus, Seus santos anjos e os mundos não caídos. T7 173 3 Caso uma instituição adote uma praxe errada, não corrompe outra instituição. Fiquem fiéis aos princípios que foram expressos no seu estabelecimento, levando avante o trabalho em harmonia com esses princípios. Cada instituição deve trabalhar em harmonia com as outras enquanto forem coerentes com a verdade e a justiça, mas, além disso, não devem fazer nenhuma fusão. Concorrências T7 173 4 Não deve haver concorrência entre nossas casas publicadoras. Se esse espírito existir, irá crescer e se fortalecer, impedindo o espírito missionário. Entristecerá o Espírito de Deus, e banirá da instituição o ministério dos anjos enviados para cooperar com aqueles que participam da graça de Deus. T7 174 1 Nunca devem os administradores de nossas instituições tentar, ainda que no mínimo, tirar vantagens um do outro. Tais esforços são ofensivos a Deus. Trapacear, tentar realizar barganhas enganosas entre si, é um erro que Deus não tolera. Todo esforço feito para exaltar uma instituição à custa de outra, é um engano. Qualquer reflexão ou insinuação que tende a diminuir a influência de uma instituição ou seus obreiros, é contrária à vontade de Deus. Tal esforço é instigado pelo espírito de Satanás. Uma vez permitido, se desenvolverá como levedo corrompendo os obreiros e impedindo o propósito de Deus para Suas instituições. Cooperação T7 174 2 Cada departamento de nossa obra, cada instituição ligada com a nossa causa, deve ser conduzida dentro de princípios de cooperação e generosidade. Toda ramificação da obra, enquanto mantém seu caráter distinto, procure proteger, fortalecer, e colaborar com as outras ramificações. Homens de habilidade e características diversas são empregados para desenvolver vários ramos da obra. Esse tem sido sempre o plano de Deus. Cada obreiro deve empregar seus esforços especiais no seu próprio setor, mas é o privilégio de cada um estudar e trabalhar para a saúde e bem-estar do corpo todo do qual ele é membro. T7 174 3 Que não haja anexação, concorrência, criticismo, mas cooperação é o plano de Deus para Suas instituições, pois "do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor." Efésios 4:16. ------------------------Capítulo 33 -- O colportor T7 175 1 Devido a falha dos colportores em pagar seus débitos, nossas sociedades de publicações têm-se envolvido com débitos, não podendo saldar suas obrigações com as casas publicadoras, e assim essas instituições entram em dificuldades financeiras, tendo o seu trabalho comprometido. Alguns colportores se sentem mal quando é requerido que façam o pagamento imediato às editoras pelos livros recebidos; mas a remessa imediata é a única maneira bem sucedida de conduzir o negócio. T7 175 2 A maneira descuidada como alguns colportores estão fazendo seu trabalho mostra que estão precisando de aprender importantes lições. Muito trabalho feito a esmo tem sido apresentado diante de mim. Alguns têm formado hábitos de negligência e frouxidão, e trazem essas deficiências para a obra de Deus. T7 175 3 Deus apela por um decidido aperfeiçoamento em vários setores da obra. Os negócios feitos em conexão com a Sua causa devem ser distinguidos pela precisão e exatidão. É necessário esforço firme e decidido para fazer reformas essenciais. T7 175 4 "Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente!" Jeremias 48:10. T7 175 5 "Porque, quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não faz mal! E, quando ofereceis o coxo ou o enfermo, não faz mal! Ora, apresenta-o ao teu príncipe; terá ele agrado em ti? Ou aceitará ele a tua pessoa?" "Pois maldito seja o enganador, que... promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque Eu sou grande Rei, diz o Senhor dos Exércitos, o Meu nome será tremendo entre as nações." Malaquias 1:8, 14. ------------------------Capítulo 34 -- O autor T7 176 1 Deus deseja Se relacionar diretamente com as pessoas. Em Suas ligações com os seres humanos, Ele reconhece o princípio da responsabilidade pessoal. Procura encorajar um senso de dependência pessoal e destacar a necessidade de orientação pessoal. Seus dons são outorgados aos homens como indivíduos. Cada homem é um mordomo da confiança sagrada; usando-a de acordo com a direção do Doador; e prestando contas individualmente de sua mordomia a Deus. T7 176 2 Com tudo isso, Deus está procurando colocar o humano em associação com o divino, para que, através dessa conexão, o homem possa ser transformado na semelhança divina. O princípio do amor e misericórdia se tornará parte de sua natureza. Satanás, procurando impedir esse propósito, atua continuamente para encorajar a dependência do homem, tornando os homens escravos de homens. Quando ele consegue desviar a mente de Deus, insinua seus próprios princípios de egoísmo, ódio e contendas. T7 176 3 Em nosso relacionamento de uns com os outros, Deus espera que cuidadosamente conservemos o princípio da responsabilidade pessoal conjugada com a dependência dEle. Esse é um princípio que deve ser observado especialmente pelas nossas casas publicadoras ao negociarem com os autores. T7 176 4 É a insistência de alguns que os autores não tenham a remuneração ou direito autoral de seus próprios trabalhos; que eles devem doar esses direitos para o controle da casa publicadora ou da associação; e que, além da despesa envolvida na produção do manuscrito, não devem participar do lucro; devem deixar para que a associação ou a casa publicadora seja proprietária e, ao seu julgamento direto, sejam usados para várias necessidades da obra. Com isso, a remuneração do autor pela sua obra seria totalmente transferida dele para outros. T7 177 1 Mas não é assim que Deus considera o assunto. A habilidade para escrever um livro é, como qualquer outro talento, um dom dEle, para o aperfeiçoamento do qual o possuidor é responsável diante de Deus; e ele deve investir o retorno sob Sua direção. Conservemos em mente que isso não é nossa propriedade particular confiada a nós para investimento. Se fosse, poderíamos dela dispor com poder arbitrário, poderíamos transferir nossa responsabilidade para os outros, e deixar nossa mordomia com eles. Todavia, não pode ser assim, porque o Senhor nos fez individualmente Seus mordomos. Portanto, somos responsáveis por investir esses meios por nós mesmos. Nosso coração deve ser santificado; nossas mãos devem ter alguma coisa para distribuir, quando há necessidade, tudo isso a partir do que Deus nos confiou. T7 177 2 Se fosse correto e razoável a associação ou a casa publicadora assumir o controle do que um irmão recebe por suas casas ou terras também ela poderia se apropriar daquilo que resulta do trabalho de seu cérebro. T7 177 3 Não há justiça na alegação de que o obreiro na casa publicadora recebe salário pelo seu trabalho, então as forças de seu corpo, da sua mente e alma, tudo pertence à instituição, e que tem direito sobre todos os resultados de seus escritos. Fora do período de trabalho na instituição, o tempo do obreiro está sob seu controle, para usá-lo como quiser, desde que isso não entre em conflito com os seus deveres para com a instituição. Pelo que produzir nessas horas, ele é responsável diante da sua consciência e diante de Deus. T7 177 4 Não há nada mais desonroso que possa ser apresentado a Deus do que um homem subjugar debaixo de seu absoluto controle os talentos de outro homem. O mal não é diminuído pelo fato de os lucros da transação serem destinados à causa de Deus. Nessa situação, o homem que permite que sua mente seja governada pela mente de outro está se separando de Deus e se expondo à tentação. Ao transferir a responsabilidade de sua mordomia para outra pessoa, de depender de sua sabedoria, ele está colocando o homem no lugar de Deus. Aqueles que estão pensando em transferir essa responsabilidade estão cegos em relação aos resultados de sua decisão; mas Deus deixou isso bem claro diante de nós. Ele disse: "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne mortal o seu braço." Jeremias 17:5. T7 178 1 Que os autores não sejam constrangidos a abrir mão nem a vender seus direitos dos livros que escreveram. Que eles recebam a parte que lhes compete dos lucros de sua obra; e tenham a liberdade para considerar seus recursos como um depósito de Deus para ser administrado de acordo com a sabedoria que Ele comunica. T7 178 2 Os que possuem habilidade para escrever livros devem compreender que possuem também habilidade para investir os lucros que recebem. Ao mesmo tempo que é um direito deles colocar uma parte no tesouro, para suprir as necessidades gerais da causa, deveriam sentir o dever de estar informados das necessidades da obra e, com oração a Deus, pedir sabedoria para pessoalmente empregar seus recursos onde existam maiores necessidades. Que eles se envolvam em algum tipo de benevolência. Se sua mente está sob a direção do Espírito Santo, terão sabedoria para perceber onde há mais necessidade de recursos, e ao aliviar essas necessidades serão grandemente abençoados. T7 178 3 Se o plano de Deus fosse seguido, a situação seria diferente. Recursos demais não seriam aplicados em poucas localidades, deixando tão pouco investimento para muitos lugares, onde a bandeira da verdade ainda não foi desfraldada. T7 179 1 Se nossas casas publicadoras tomassem cuidado ao lidar com os obreiros de Deus, princípios errôneos não seriam admitidos. Se pessoas ligadas com a instituição, não tiverem seu coração sob a direção do Espírito Santo, sem dúvida, desviarão para procedimento errado. Alguns que professam ser cristãos, consideram os negócios relacionados com a obra do Senhor como alguma coisa totalmente à parte da religião. Eles dizem: "Religião é religião, negócio é negócio. Estamos determinados a ter sucesso naquilo que está sob nossa responsabilidade, por isso devemos agarrar cada possibilidade de obter vantagens para este setor da obra." Planos contrários à verdade e à justiça são introduzidos com o argumento de que isso ou aquilo deve ser feito porque é uma boa obra e tem como objetivo o avanço da causa de Deus. T7 179 2 Pessoas que se tornaram limitadas e cegadas por causa do egoísmo acham que é um privilégio derrubar aqueles a quem Deus está usando para difundir a luz que Ele lhes deu. Através de planos opressivos, obreiros que deveriam ficar livres com Deus, acabam limitados pelas restrições impostas por aqueles que deveriam apenas ser seus colegas de trabalho. Espelham o selo humano e não divino. Esse é o plano de homens, o qual leva à injustiça e à opressão. A causa de Deus tem de estar livre de qualquer sinal de injustiça. Ela procura não tirar vantagem dos membros da família de Deus, privando-os de sua individualidade ou seus direitos. O Senhor não sanciona a autoridade arbitrária, nem o serviço misturado com o mínimo de egoísmo ou engano. Para Ele essas práticas são aborrecíveis. T7 180 3 Ele declara: "aborreço a iniqüidade." "Na tua casa não terás duas sortes de efa, um grande e um pequeno. Peso inteiro e justo terás, efa inteiro e justo terás, ... Porque abominação é ao Senhor, teu Deus, todo aquele que faz isso, todo aquele que faz injustiça." Isaías 61:8; Deuteronômio 25:14-16. T7 180 1 "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?" Miquéias 6:8. T7 180 2 Uma das mais elevadas aplicações desses princípios encontra-se no reconhecimento dos direitos do homem quanto a si mesmo, para o controle da própria mente, a mordomia de seus talentos, o direito de receber e distribuir o fruto de seu trabalho. Nossas instituições só revelarão força e poder à medida que, em todo o seu relacionamento com os semelhantes, reconhecerem esses princípios e em qualquer situação derem ouvido à instrução da Palavra de Deus. T7 180 3 Todo poder que Deus nos concede, quer físico, mental ou espiritual, deve ser sagradamente compartilhado para realizar a obra designada em favor do nosso próximo que está perecendo na sua ignorância. Todos devem estar no seu posto de dever desimpedidos, servindo ao Senhor com humildade, responsáveis pelo seu próprio trabalho. "E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis." Colossences 3:23, 24. Ele "recompensará cada um segundo as suas obras". Romanos 2:6. T7 180 4 A habilidade de Satanás é exercida em elaborar planos e métodos incontáveis para cumprir seus propósitos. Trabalha para restringir a liberdade religiosa e trazer para dentro do mundo religioso uma espécie de escravidão. Organizações, instituições, a menos que sejam guardadas pelo poder de Deus, vão trabalhar sob as ordens de Satanás, submetendo homens debaixo do controle de homens; fraudes e astúcias com aparência de zelo pela verdade e para o avanço do reino de Deus. Qualquer que seja nossa prática, se não for clara como o dia, pertence aos métodos do príncipe do mal. T7 181 1 Muitas pessoas caem no erro por causa de falsas premissas e depois fazem de tudo para provar que o erro está certo. Em alguns casos, os primeiros princípios têm uma parte de verdade misturada com o erro; mas isso não leva à ação justa; porque as pessoas são iludidas. Desejam reinar e tornarem-se poderosas e, no esforço de justificar seus princípios, adotam os métodos de Satanás. T7 181 2 Se os homens resistem às advertências enviadas pelo Senhor, chegam a se tornar líderes nas práticas do mal; assumem prerrogativas de Deus, presumindo fazer aquilo que o próprio Deus não faz: procurar controlar a mente das pessoas. Assim, seguem a trilha do romanismo. Introduzem seus próprios métodos e planos e, através de uma compreensão errada de Deus, enfraquecem a fé dos outros na verdade e implantam falsos princípios que se espalham como fermento que macula e corrompe as instituições e igrejas. T7 181 3 Qualquer coisa que diminui a concepção de justiça, eqüidade e julgamento imparcial do homem, qualquer plano ou projeto que leve agentes humanos de Deus a se colocarem debaixo do controle de mentes humanas, enfraquece sua fé e separa as pessoas de Deus. T7 181 4 Deus não justifica qualquer plano mediante o qual o homem, no mínimo grau, oprime seu semelhante ou domina sobre ele. Logo que um homem passa a usar uma regra de ferro para os demais, ele desonra a Deus e põe em perigo sua própria alma e a alma de seus irmãos. ------------------------Capítulo 35 -- A igreja e a casa publicadora O dever da igreja e a casa publicadora T7 182 1 Os membros de uma igreja, dentro de cujos limites se encontra uma de nossas casas publicadoras, são privilegiados por ter em seu meio uma das agências especiais do Senhor. Devem eles avaliar esse privilégio e reconhecer que envolve uma responsabilidade muitíssimo sagrada. A influência e exemplo deles farão muito para ajudar ou estorvar a instituição no cumprimento da sua missão. T7 182 2 Ao nos aproximar da última crise, é de vital importância que haja harmonia e união entre os agentes do Senhor. O mundo está cheio de tempestade, guerra e violência. Contudo, ao mando de um chefe -- o poder papal -- o povo se unirá para opor-se a Deus na pessoa de Suas testemunhas. Essa união é cimentada pelo grande apóstata. Enquanto ele busca unir os seus agentes na guerra contra a verdade, esforça-se por dividir e espalhar os advogados dela. Ciúmes, suspeitas e maledicência são por ele instigados para produzir discórdia e dissensão. Os membros da igreja de Cristo têm o poder de frustrar o propósito do adversário. Num tempo como este, não sejam eles encontrados em dissensão uns com os outros, ou com qualquer dos obreiros de Deus. Por ser a Bíblia o guia da vida, haja, em meio da discórdia geral, um lugar em que imperem a harmonia e a união. Sinta o povo de Deus que sobre ele repousa uma responsabilidade no sentido de desenvolver os representantes dEle. T7 182 3 Irmãos e irmãs, o Senhor ficará satisfeito se houver decidido empenho para sustentar com suas orações e meios a publicadora. Orem, de manhã e de tarde, para que ela receba as mais ricas bênçãos de Deus. Não estimulem a crítica nem as queixas. Não saiam de seus lábios murmurações nem queixumes; lembrem-se de que os anjos ouvem essas palavras. Todos devem ser levados a ver que essas instituições são estabelecidas por Deus. Os que as rebaixam para servir aos próprios interesses, terão que prestar contas a Deus. Determina Ele que tudo que se liga à Sua obra seja tratado como sagrado. T7 183 1 Deus quer que oremos muito mais e falemos muito menos. O limiar do Céu está inundado da luz de Sua glória, e Ele fará essa luz brilhar no coração de todos quantos se relacionem devidamente com Ele. T7 183 2 Toda instituição terá que lutar com dificuldades. As aflições são permitidas para provar o coração do povo de Deus. Quando a adversidade sobrevém a uma das instituições do Senhor, fica evidente quão verdadeira fé temos em Deus e em Sua obra. Nessas ocasiões, ninguém considere as coisas sob o pior aspecto, dando vazão a dúvidas e descrença. Não critiquemos os que arcam com o peso das responsabilidades. Não sejam as conversas envenenadas em nosso lar pela crítica aos obreiros do Senhor. Pais que condescendem com esse espírito de crítica não estão apresentando perante os filhos aquilo que os há de tornar sábios para a salvação. Suas palavras tendem a abalar a fé e a confiança não só das crianças, mas também dos de mais idade. Já existe bem pouco respeito e reverência pelas coisas sagradas. Satanás se unirá mui zelosamente aos que criticam, fomentando incredulidade, inveja, ciúmes e desrespeito. Ele está sempre ativo para encher os homens de seu espírito, a fim de extinguir o amor que deveria ser sagradamente cultivado entre irmãos, desfazer a confiança, incitar à inveja, suspeitas e contendas de palavras. Não sejamos nós achados a atuar como coobreiros seus. O coração aberto para as suas sugestões pode lançar muitas sementes de amargura. Pode, assim, ser efetuado um trabalho cujos resultados, na ruína de almas, não serão jamais manifestos plenamente, senão no grande dia do juízo final. T7 184 1 Cristo declara: "Quem puser uma pedra de tropeço no caminho de um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e que fosse lançado no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos tropeços! porque é necessário que apareçam tropeços; mas ai do homem por quem vem o tropeço!" Mateus 18:6, 7 (VB). T7 184 2 Uma grande responsabilidade repousa sobre os membros da igreja. Cuidem para que, por falta de atenção para com os novos na fé, e pelo lançar sementes de dúvida e incredulidade sob a instigação de Satanás, não sejam achados culpados da ruína da perdição de uma pessoa. "Fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente, antes seja sarado. Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; tendo o cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando vos perturbe, e por ela muitos se contaminem." Hebreus 12:13-15. T7 184 3 Grande é o poder das agências satânicas e o Senhor roga ao Seu povo que se fortaleça mutuamente, "edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé". Judas 20. T7 184 4 Em vez de cooperar com Satanás, aprenda cada qual o que quer dizer cooperar com Deus. Nestes tempos difíceis tem Ele uma obra para ser feita, a qual requer o ânimo firme e a fé que nos habilitarão a suster-nos uns aos outros. Todos devem ficar ombro a ombro e coração a coração, como cooperadores de Deus. Que não se poderia realizar com a graça de Deus e por ela se os membros da igreja estivessem unidos para suster os Seus obreiros, para amparar com suas orações e influência quando o desânimo procura infiltrar-se por todos os lados! Este é o tempo de trabalhar como mordomos fiéis. T7 185 1 Em vez de críticas e censuras, tenham nossos irmãos e irmãs palavras de animação e confiança para os instrumentos do Senhor. Deus lhes roga que animem o coração dos que arcam com grandes responsabilidades, pois com eles está trabalhando. Ele insta com Seu povo para que reconheçam o poder sustentador em Seu instrumento. Honremos ao Senhor procurando, com o máximo de nossa habilidade, dar a essas pessoas a influência que devem possuir. T7 185 2 Tendo oportunidade, falemos aos obreiros, digamos palavras que sejam uma força e inspiração. Somos demasiadamente indiferentes uns com os outros. Demasiadas vezes nos esquecemos de que nossos coobreiros carecem de força e ânimo. Em tempo de perplexidade e responsabilidades especiais, tenhamos a disposição de demonstrar-lhes nosso interesse e simpatia. Enquanto procuramos ajudá-los com nossas orações, comuniquemo-lhes que o estamos fazendo. Transmitamos a mensagem de Deus aos Seus obreiros: "Esforça-te, e tem bom ânimo." Josué 1:6. T7 185 3 Os dirigentes de nossas instituições têm uma tarefa dificílima para manter a ordem e disciplinar sabiamente os jovens que se acham sob o seu cuidado. Os membros da igreja podem fazer muito para lhes suster os braços. Quando os jovens não se dispõem a submeter-se à disciplina da instituição ou por divergirem de seus superiores em qualquer matéria se decidem fazer prevalecer a sua própria vontade, não apóiem os pais cegamente os filhos, tomando-lhes as dores. T7 185 4 Muito, muito melhor seria que sofressem seus filhos, até que jazessem no túmulo, do que serem ensinados a tratar levianamente os princípios que se acham no próprio fundamento da lealdade para com a verdade, para com seus semelhantes e para com Deus. T7 186 1 Em caso de divergência com os que estão sob sua responsabilidade, dirija-se diretamente aos que exercem autoridade e informe-os quanto à verdade. Imagine que os dirigentes dos vários departamentos compreendem muito melhor do que os outros podem compreender quais são os regulamentos essenciais. Manifeste confiança em seu critério e respeito por sua autoridade. Ensine seus filhos a respeitar e honrar a quem Deus mostrou respeito e honra, colocando-os em posições de confiança. T7 186 2 De modo algum podem os membros da igreja mais eficientemente apoiar os esforços dos dirigentes de nossas instituições do que dando em seu próprio lar um exemplo de boa ordem e disciplina. Dêem os pais bom exemplo do que querem que eles sejam. Mantenham constantemente a pureza da linguagem e a verdadeira cortesia cristã. Não haja incentivo para o pecado, nem maledicência ou suspeita. Ensinem as crianças e jovens a respeitar-se a si mesmos, a ser fiéis aos princípios e leais a Deus. Ensinem a respeitar a lei de Deus e a ela obedecer, bem como os regulamentos do lar. Então praticarão em sua vida esses princípios e os executarão em todas as suas relações com os outros. Amarão o próximo como a si mesmos; criarão atmosfera pura e exercerão influência que animará as pessoas para seguirem o caminho que leva à santidade e ao Céu. T7 186 3 Filhos que recebem tal instrução não serão um peso, nem causa de ansiedade em nossas instituições; serão um apoio para os que arcam com responsabilidades. Com a devida instrução, serão preparados para ocupar lugares de confiança, e por preceito e exemplo, ajudarão constantemente os outros a procederem bem. Terão para com os próprios dons estima justa e farão o melhor emprego de suas faculdades físicas, mentais e espirituais. Essas almas são fortalecidas contra a tentação; não são vencidas facilmente. Com a bênção de Deus, tais pessoas são portadoras de luz; sua influência tende a educar outros para uma vida comercial que seja vida cristã prática. T7 187 1 Cheios do amor de Cristo, e atentos aos seus privilégios e oportunidades, podem os membros da igreja exercer sobre os jovens de nossas instituições influência para o bem, que se acha além de avaliação. Seu exemplo de fidelidade no lar, nos negócios e na igreja, sua manifestação de cortesia social e cristã, combinados com o interesse genuíno na felicidade espiritual dos jovens, muito contribuirão para formar o caráter desses jovens para o serviço de Deus e de seus semelhantes, tanto nesta vida como na vida futura. Deveres da casa publicadora para com a igreja T7 187 2 Assim como a igreja tem responsabilidades para com a casa publicadora, também esta as tem para com a igreja. Uma deve apoiar a outra. T7 187 3 Os que ocupam função de responsabilidade nas casas publicadoras não devem permitir-se ficar tão sobrecarregados de trabalho que não tenham tempo para manter o interesse espiritual. Sendo esse espírito mantido desperto na casa publicadora, exercerá ele poderosa influência na igreja; e, sendo mantido desperto na igreja, exercerá influência poderosa na casa publicadora. A bênção de Deus repousará sobre a obra, se for conduzida de modo que as pessoas sejam ganhas para Cristo. T7 187 4 Todos os obreiros da casa publicadora, que professam o nome de Cristo, devem ser ativos na igreja. É essencial para a sua vida espiritual que aproveitem todos os meios de graça. Obterão força, não por se deixarem ficar como espectadores, mas tornando-se ativos. Cada um deve estar alistado nalgum ramo de trabalho regular e sistemático em conexão com a igreja. Todos devem reconhecer que, como cristãos, esse é o seu dever. Por seu voto batismal, acham-se sob compromisso de fazer tudo quanto esteja ao seu alcance para edificar a igreja de Cristo. Mostrem-lhes que isso requer amor e lealdade ao seu Redentor, lealdade para com o padrão da verdadeira varonilidade e feminilidade, a lealdade para com a instituição a que se acham ligados. Os que negligenciam esses deveres, não podem ser servos fiéis de Cristo, não podem ser homens e mulheres de real integridade, não podem ser obreiros aceitáveis na instituição de Deus. T7 188 1 Os dirigentes dos vários departamentos da instituição devem exercer cuidado especial para que os jovens formem hábitos retos nesses ramos. Ao serem negligenciadas as reuniões da igreja, ou deixados por cumprir deveres ligados à sua obra, investigue-se a causa. Por meio de esforço bondoso, que se procure, com tato, despertar os descuidosos e reavivar o interesse diminuído. T7 188 2 Ninguém deve permitir que seu trabalho sirva de desculpa para negligenciar o sagrado culto do Senhor. Muito melhor lhe seria pôr de lado o trabalho que diz respeito a si mesmo, do que negligenciar os deveres para com Deus. T7 188 3 Aos irmãos a quem foram confiadas responsabilidades nas casas publicadoras: Insisto sobre a importância de assistir às nossas reuniões anuais; não simplesmente às de negócios, mas às que sejam para sua iluminação espiritual. Muitos não reconhecem a necessidade de ter ligação íntima com o Céu. Sem ela ninguém está seguro; ninguém está capacitado para fazer aceitavelmente a obra de Deus. T7 188 4 Nesta obra, mais do que em qualquer atividade secular, o êxito é proporcional ao espírito de consagração e sacrifício com que fazemos o trabalho. Os que têm responsabilidades como dirigentes na obra precisam colocar-se no lugar em que possam ser impressionados profundamente pelo Espírito de Deus. Tenham ainda maior ansiedade do que os outros, de receber o batismo do Espírito Santo e o conhecimento de Deus e de Cristo, quanto em sua posição de confiança, são mais responsáveis do que o obreiro comum. T7 189 1 Dons naturais e adquiridos são todos dádivas de Deus e precisam ser constantemente mantidos sob o controle de Seu Espírito, de Seu divino e santificador poder. É preciso sentir muito profundamente a falta de experiência nesta obra, e fazer esforços árduos para adquirir o necessário conhecimento e sabedoria, a fim de empregar todas as faculdades do corpo e espírito de modo que Deus seja glorificado. T7 189 2 "E vos darei um coração novo." Ezequiel 36:26. Cristo tem que habitar em nosso coração, como o sangue se acha no corpo e nele circula como energia vitalizante. Sobre este assunto nunca é demais insistir. Ao mesmo tempo em que a verdade tem que ser nossa armadura, nossas convicções têm que ser fortalecidas pelas vivas simpatias que caracterizam a vida de Cristo. Sem exemplificar no caráter a verdade, a verdade viva, homem nenhum poderá subsistir. Só há um poder capaz de tornar-nos firmes, ou assim nos conservar -- a graça de Deus, na verdade. Quem confia em outra coisa qualquer, já está vacilante, prestes a cair. T7 189 3 O Senhor deseja que confiemos nEle. Aproveitemos o máximo possível toda a oportunidade de vir para a luz. Se permanecermos afastados das santas influências que vêm de Deus, como poderemos discernir as coisas espirituais? T7 189 4 Deus nos roga que façamos uso de toda oportunidade de conseguir o preparo para Sua obra. Ele de nós espera que empenhemos na execução desta obra todas as energias e conservemos o coração consciente de sua santidade e enormes responsabilidades. Os olhos de Deus estão sobre nós. Não é seguro, para nenhum de nós, apresentar-Lhe um sacrifício maculado, sacrifício que não custe nem estudo nem oração. Tal oferta Ele não pode aceitar. T7 190 1 Rogo-lhes que despertem e busquem a Deus por si mesmos. Enquanto Jesus de Nazaré passa, clamem-Lhe com o maior fervor: "Jesus, Filho de Davi! tem misericórdia de mim" (Lucas 18:38), e receberão vista. Pela graça de Deus receberão aquilo que será de mais valor que ouro, prata ou pedras preciosas. T7 190 2 Se há um tempo diferente, quando os homens precisam preservar sua ligação com Deus, é quando são chamados para desempenhar responsabilidade especial. Não é seguro, quando vamos à batalha, lançar de lado nossas armas. É então que precisamos ser equipados com toda a armadura de Deus. Todas as peças são necessárias. T7 190 3 Jamais alimentemos o pensamento de que podemos ser cristãos e retrair-nos. Cada um de nós é uma parte do grande conjunto da humanidade, e a natureza e a finalidade de nossa experiência serão em grande parte determinadas pela experiência daqueles com que nos associamos. Jesus disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." Mateus 18:20. Não vamos esquecer de nos reunir, como alguns fazem, mas exortar um ao outro, quanto mais vemos aproximar o dia. T7 190 4 Tornemos as reuniões sociais da igreja as mais interessantes possíveis. Todos os presentes têm o dever de participar dessas reuniões. E cooperar com os anjos celestiais que estão tentando promover a correta impressão sobre cada obreiro. ------------------------Capítulo 36 -- A santidade dos instrumentos divinos T7 191 1 Muitos há que não reconhecem a diferença existente entre um negócio comum, tais como uma loja, fábrica ou plantação de milho, e uma instituição estabelecida especialmente para fomentar os interesses da causa de Deus. Existe, porém, a mesma diferença que, outrora, Deus estabeleceu entre o sagrado e o comum, o santo e o profano. Essa distinção quer Ele que cada obreiro de nossas instituições discirna e aprecie. Os que ocupam cargos em nossas casas publicadoras são grandemente honrados. Sobre eles recai sagrada responsabilidade. São chamados para serem coobreiros de Deus. Devem ter em devida conta a oportunidade dessa ligação íntima com os agentes celestiais, e sentir que são altamente favorecidos com a oportunidade de dedicar à instituição do Senhor a sua capacidade, serviço e vigilância infatigável. Devem ter propósito firme, aspiração elevada, zelo para fazer da casa publicadora justamente aquilo que Deus quer que seja -- uma luz no mundo, uma Sua testemunha fiel, um memorial do sábado do quarto mandamento. T7 191 2 "E fez a minha boca como uma espada aguda, com a sombra da Sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me escondeu na Sua aljava. E me disse: Tu és Meu servo; e Israel aquele por quem hei de ser glorificado. ... Pouco é que sejas o Meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os guardados de Israel; e também te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra." Isaías 49:2-6. Essa é a palavra do Senhor para todos quantos, de alguma forma, estão ligados às Suas instituições. São favorecidos de Deus, porquanto são postos onde a luz resplandece. Desempenham um serviço especial para Deus e não devem considerar isso de pouca importância. Proporcional à sua função de sagrada confiança deve ser para eles o senso de responsabilidade e devotamento. A conversação vulgar e o comportamento leviano não devem ser tolerados. O senso da santidade do lugar tem de ser estimulado e cultivado. T7 192 1 Sobre esse instrumento escolhido, exerce o Senhor constante e vigilante cuidado. O mecanismo pode ser posto em funcionamento por homens peritos no seu manejo; mas como seria fácil deixar fora de lugar um pequeno parafuso ou uma peça da maquinaria, e que desastroso poderia ser o resultado! Quem evitou os desastres? -- Os anjos de Deus supervisionaram o trabalho. Se fosse possível para os que manejam as máquinas ter os olhos abertos, eles discerniriam os guardas celestiais. Em cada sala da casa publicadora onde é feito o trabalho, há uma testemunha anotando o espírito como ele é feito, bem como a fidelidade e abnegação reveladas. T7 192 2 Se falhei em apresentar a luz a respeito das instituições de Deus, como centros pelos quais Ele opera de maneira especial, Ele pode retratar essas coisas em sua mente por meio do Espírito Santo, para que possa ser compreendida a diferença entre o serviço comum e o sagrado. T7 192 3 Ambos, membros da igreja e funcionários da casa publicadora, devem sentir que, como obreiros de Deus, são responsáveis por proteger Sua instituição. Devem ser guardiães fiéis dos seus interesses em diversos setores, procurando protegê-los, não somente de perdas e desastres, mas de tudo que possa profanar ou contaminar. Jamais devem, através de seus atos, deslustrar sua reputação, ainda que seja por um leve criticismo descuidado ou censura. As instituições de Deus devem ser resguardadas por eles como depósitos santos, protegidos como foi zelosamente protegida a antiga arca de Israel. T7 193 1 Quando os obreiros da casa publicadora são educados a pensar que ela é um grande centro relacionado com Deus, sob Sua supervisão, quando reconhecem que ela é um canal através do qual a luz do Céu deve ser comunicada ao mundo, consideram-na com grande respeito e reverência. Vão dedicar a ela os melhores pensamentos e nobres sentimentos, e em seus trabalhos terão a cooperação de inteligências celestiais. À medida que os obreiros reconhecem que estão na presença de anjos, cujos olhos são tão puros para ver a iniqüidade, uma forte restrição se colocará nos seus pensamentos, palavras e ações. Terão força moral, porque o Senhor disse: "aos que Me honram honrarei." 1 Samuel 2:30. Cada obreiro terá uma experiência preciosa, e possuirá fé e poder que se levanta superior às circunstâncias. Todos poderão dizer: "O Senhor está neste lugar." ------------------------Capítulo 37 -- Dependência de Deus T7 194 1 A primeira lição a ser ensinada aos obreiros de nossas instituições é a lição da dependência de Deus. Antes de obter êxito em qualquer setor, deve, cada um por si mesmo, aceitar a verdade contida nas palavras de Cristo: "Porque sem mim nada podereis fazer." João 15:5. T7 194 2 A justiça tem a sua raiz na misericórdia. Nenhum ser humano é justo a menos que tenha fé em Deus e mantenha uma conexão vital com Ele. T7 194 3 Como a flor no campo tem no solo a raiz; como deve receber ar, orvalho, chuva e luz solar, assim devemos nós receber de Deus aquilo que traz vida. Somente através da participação em Sua natureza recebemos poder para obedecer a Seus mandamentos. Nenhum homem, alto ou baixo, com ou sem experiência, pode manter constantemente diante de seu semelhante uma vida pura, vigorosa, a menos que sua vida esteja ligada com Cristo em Deus. Quanto maior for a atividade das pessoas, mais estreita deve ser a comunhão com Deus. T7 194 4 A instrução dada pelo Senhor é que os empregados das casas publicadoras devem ser educados nos assuntos da religião. Esse trabalho é infinitamente mais importante do que o ganho financeiro. A saúde espiritual dos obreiros deve ser considerada em primeiro lugar. Que seja dedicado tempo, cada manhã, para começar o trabalho com oração. Não pense que isso é uma perda, pois é tempo que perdurará através de séculos eternos. Dessa forma, o êxito e a vitória espiritual serão assegurados. Tudo irá responder ao toque das mãos do Mestre. É claro que em algum momento as bênçãos de Deus serão imploradas, mas o trabalho não pode ser feito corretamente, a menos que o começo seja correto. As mãos dos obreiros devem ser fortalecidas, seu coração purificado, diante do Senhor que pode usá-los eficientemente. T7 195 1 Se é para viver uma verdadeira vida cristã, a consciência tem de ser estimulada pelo constante contato com a Palavra de Deus. Todas as coisas preciosas de preço infinito que Deus providenciou para nós não nos farão bem; não podem nos fortalecer e produzir crescimento espiritual, a menos que nos apropriemos delas. Devemos comer a Palavra de Deus, torná-la parte de nós mesmos. T7 195 2 Juntem-se pequenos grupos no início da noite, ao meio-dia, ou cedo de manhã, para estudar a Bíblia. Observem então um período de oração para que fiquem fortalecidos, esclarecidos e santificados pelo Espírito Santo. Esse trabalho deseja Cristo ver realizado no coração de cada obreiro. Se abrirmos a porta, uma grande bênção vos virá. Anjos de Deus estarão em nossa reunião. Seremos alimentados com as folhas da árvore da vida. Que testemunhos podem ser dados dessa amável convivência entre os colegas de trabalho, nesses preciosos períodos quando estão buscando as bênçãos de Deus! Cada um apresente sua experiência com palavras simples. Isso trará mais conforto e alegria a alma do que a mais agradável música instrumental pode trazer nas igrejas. Cristo virá ao nosso coração. Essa é a única maneira de manter nossa integridade. T7 195 3 Muitos podem pensar na perda de tempo devotado em buscar ao Senhor. Mas quando Ele vem cooperar com o esforço humano, e homens e mulheres cooperam com Ele, há uma mudança marcante que pode ser vista no trabalho e nos resultados. Todo o coração que foi visitado pelos brilhantes raios do Sol da Justiça, revelará a operação do Espírito de Deus na linguagem, na mente e no caráter. Tudo funcionará como que azeitado e conduzido por uma mão de mestre. Haverá menos fricção quando o espírito do obreiro receber o óleo dos dois ramos de oliveira. As santas influências serão comunicadas a outros em palavras de bondade, ternura, amor e animação. T7 196 1 Zelosos esforços de evangelistas tementes a Deus devem ser feitos em favor dos principiantes, para que se convertam. Devem ser cuidadosamente instruídos sobre a verdade. Encorajados a estudar a Bíblia diariamente, e devem ter um instrutor para ler e estudar com eles. T7 196 2 O aumento do conhecimento de Cristo que é ganho através do estudo das Escrituras, ensinadas pelo Espírito Santo, vai habilitá-los a distinguir entre o certo e o errado em todas as questões da vida. Se todos aqueles que estão relacionados com nossas casas publicadoras obtiverem esse conhecimento, enraizado e fundamentado na verdade, se conservarão no caminho do Senhor, para fazer justiça e juízo. T7 196 3 Os que lidam com coisas sagradas nas instituições de publicação e em todos os ramos da obra de Deus devem empregar toda a energia de sua capacidade mental e moral. Devem estudar continuamente, não a vontade do homem mas de Deus. Sua graça deve ser revelada em todo seu trabalho. T7 196 4 "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. Devemos ser ativos no nosso trabalho, mas outro elemento tem de ser somado a essa energia: é um zelo vivo no serviço de Deus. No nosso trabalho diário devemos ter devoção, piedade e misericórdia. Se executarmos nossas tarefas sem isso, estaremos praticando um grande engano em nossa vida; cometendo uma fraude contra Deus, porque professamos servi-Lo. ------------------------Capítulo 38 -- Cooperação T7 197 1 No estabelecimento de instituições em novos campos, é muitas vezes necessário colocar responsabilidades sobre pessoas não plenamente familiarizadas com os pormenores da obra. Essas pessoas trabalham com grande desvantagem e, a menos que elas e seus coobreiros tenham interesse abnegado na instituição do Senhor, disso resultará um estado de coisas que comprometerá sua prosperidade. T7 197 2 Julgam muitos que o ramo de trabalho em que estão empenhados só interessa a eles e que ninguém mais deveria a seu respeito fazer sugestão alguma. Esses mesmos podem ser ignorantes quanto aos melhores métodos de conduzir a obra; contudo, se alguém ousa dar-lhes conselhos, sentem-se ofendidos e tornam-se mais decididos a seguir seu critério independente. Outras vezes, obreiros há que não estão dispostos a ajudar nem a instruir seus companheiros. Há também aqueles, inexperientes, que não desejam que sua ignorância se torne conhecida. Cometem erros, à custa de muito tempo e material, porque são orgulhosos demais para pedir conselho. T7 197 3 Não é difícil determinar a causa das dificuldades. Os obreiros têm sido fios independentes, quando deveriam se considerar fios que têm que ser tecidos juntos, a fim de concorrerem para formar o quadro total. T7 197 4 Essas coisas ofendem o Espírito Santo. Deus deseja que aprendamos uns dos outros. A não santificada independência nos coloca no lugar em que Ele não pode trabalhar conosco. Satanás é que muito se agrada com tal estado de coisas. T7 197 5 Não deve haver segredos, nem ansiedade por temor de que outros adquiram o conhecimento possuído por alguns poucos. Semelhante espírito dá origem a constantes suspeitas e restrições. Condescende-se em pensar e suspeitar mal, e se extingue do coração o amor fraternal. T7 198 1 Cada ramo da obra de Deus tem ligação com outro ramo. Numa instituição presidida por Deus, não pode existir exclusivismo; pois Ele é o Senhor de todo o tato, todo relacionamento; Ele é o fundamento de todos os métodos corretos. Ele é quem comunica conhecimento a respeito deles, e homem algum deve considerar esse conhecimento exclusivamente seu. T7 198 2 Cada obreiro deve ter interesse em todos os ramos da obra, e se Deus lhe concedeu discernimento, capacidade e conhecimentos que ajudem em qualquer ramo, deve ele comunicar aos outros isso que recebeu. T7 198 3 Toda habilidade que possa ser empregada na instituição, por meio do esforço desinteressado, deve ser posta em prática a fim de que a instituição prossiga com êxito, um vivo e operoso agente de Deus. Obreiros consagrados, que possuam talento e influência, é o de que precisam as casas publicadoras. T7 198 4 Todo obreiro será provado para ver se está trabalhando pelo progresso da instituição do Senhor ou para servir aos seus próprios interesses. Os que se converteram darão diariamente prova de que não procuram usar para seu proveito pessoal as vantagens e conhecimentos que adquiriram. Reconhecem que a Providência Divina lhes concedeu essas vantagens; que, como instrumentos do Senhor, podem servir à Sua causa, fazendo o melhor trabalho. T7 198 5 Ninguém deve trabalhar pelo amor do elogio ou ambição de supremacia. O obreiro fiel fará o melhor que está ao seu alcance porque assim procedendo pode glorificar a Deus. Procurará desenvolver todas as suas faculdades. Cumprirá os seus deveres como se fizesse para Deus. Seu único desejo será que Cristo receba homenagem e serviço perfeito. T7 198 6 Empenhem os obreiros todas as suas energias no esforço de conseguir vantagens para a causa do Senhor. Assim fazendo eles mesmos adquirirão capacidade e eficiência. ------------------------Capítulo 39 -- Domínio próprio e fidelidade T7 199 1 Não temos o direito de sobrecarregar nem as faculdades mentais nem as forças físicas, de maneira que nos exaltemos facilmente e sejamos levados a pronunciar palavras que desonrem a Deus. O Senhor deseja que sejamos sempre calmos e pacientes. Não obstante o que façam as pessoas, devemos representar a Cristo, procedendo como Ele procederia em circunstâncias semelhantes. T7 199 2 Quem ocupa posição de confiança, cada dia tem que tomar decisões das quais dependem resultados de grande importância. Muitas vezes tem que pensar com rapidez, e isso só pode ser feito com êxito pelos que praticam estrita temperança. A mente se fortalece sob o correto tratamento das faculdades físicas e mentais. Se o esforço não for grande demais, adquire novo vigor com cada experiência. T7 199 3 Ninguém, senão aquele que é cristão de todo o coração, pode ser um real cavalheiro T7 199 4 O deixar de conformar-se com os reclamos de Deus em todos os pormenores significa fracasso e prejuízo certos para o transgressor. Deixando de seguir o caminho do Senhor, rouba ele ao seu Criador o serviço que Lhe é devido. Isso reflete sobre si mesmo; deixa de conquistar a graça, a capacidade, a força de caráter que toda pessoa que tudo entrega a Deus tem o privilégio de receber. Vivendo separado de Cristo, fica exposto à tentação. Comete erros em sua obra para o Mestre. Infiel aos princípios nas coisas mínimas, deixa de cumprir a vontade de Deus nas maiores. Procede segundo os princípios a que se acostumou. T7 199 5 Deus não pode unir-Se aos que, colocando-se em primeiro lugar, vivem para agradar a si mesmos. Os que assim procedem, no fim hão de ser os últimos de todos. O pecado que mais se aproxima de ser desesperançadamente incurável é o orgulho da opinião própria e o egoísmo. Isso impede todo o crescimento. Quando o homem tem defeitos de caráter, e deixa de reconhecê-los; quando está tão possuído de presunção que não vê a sua falta, como pode então ser purificado? "Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes." Mateus 9:12. Como pode alguém ser aperfeiçoado, se já se considera perfeito? T7 200 1 Quando a pessoa, que os demais supõem ser guiada e ensinada por Deus, se desvia do caminho por causa da presunção, muitos lhe seguem o exemplo. Seu passo errado pode levar milhares a se desviarem também. T7 200 2 Lembre-se da parábola da figueira. T7 200 3 "Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente. E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar." Lucas 13:6-9. T7 200 4 "Deixa-a este ano." Há nessa frase uma lição para todos os que se acham ligados à obra de Deus. Foi concedido um período de graça à árvore que não produzia fruto. E da mesma forma tem Deus muita paciência com o Seu povo. Mas daqueles que tiveram grandes vantagens e se acham em posições de alta e sagrada confiança, e ainda assim não produzem fruto, diz Ele: "Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?" Lucas 13:7. T7 200 5 Lembrem-se os que se acham ligados às instituições especiais do Senhor, de que Ele exigirá fruto de Sua vinha. Proporcionalmente às bênçãos concedidas serão os resultados exigidos. Anjos celestiais têm visitado todos os lugares em que se acham estabelecidas as instituições de Deus, e as têm ajudado. A infidelidade nessas instituições é pecado maior do que seria noutra parte, pois tem maior influência do que noutra parte teria. Infidelidade, injustiça, desonestidade e conivência com o mal impedem a luz que Deus deseja brilhar a partir de Seus servos. T7 201 1 O mundo está observando, pronto para, com rigor e severidade, criticar suas palavras, comportamento e transações comerciais. Todo aquele que desempenha uma parte na obra de Deus é observado e pesado na balança do discernimento humano. No espírito de todos aqueles com quem entram em contato ficam constantemente impressões, favoráveis ou desfavoráveis à religião bíblica. T7 201 2 O mundo observa para ver que fruto é produzido pelos professos cristãos. Ele tem o direito de esperar abnegação e sacrifício da parte dos que pretendem crer em avançada verdade. T7 201 3 Tem havido e continuará a haver entre nossos obreiros os que não sentem necessidade de Jesus a cada passo. Julgam que não podem tomar tempo para orar nem assistir a reuniões religiosas. Têm tanto que fazer que não encontram tempo para conservar o espírito no amor de Deus. Quando isso acontece, Satanás entra em ação para criar vãs imaginações. T7 201 4 Obreiros que não são diligentes nem fiéis, produzem um mal incalculável. Constituem-se em exemplo para outros. Em cada instituição há alguns que prestam serviço sincero, com disposição alegre; mas, não os atingirá o fermento? Deverá a instituição ser deixada sem alguns sinceros exemplos de fidelidade cristã? Quando homens que pretendem ser representantes de Cristo se revelam como não convertidos, de caráter grosseiro, egoísta, impuro, devem ser afastados da obra. T7 202 1 Os obreiros precisam reconhecer a santidade do legado com que o Senhor os honrou. Motivos impulsivos, atos caprichosos, têm que ser postos de lado. Os que não sabem distinguir entre o santo e o profano não são mordomos de confiança em altas responsabilidades. Quando tentados, trairão a confiança neles depositada. Os que não apreciam os privilégios e oportunidades de uma ligação com a obra de Deus, não subsistirão quando o inimigo apresentar suas tentações mais sutis. São facilmente desviados por projetos egoístas, ambiciosos. Se, depois de lhes haver sido apresentada a luz, ainda deixam de discernir entre o correto e o errado, quanto antes forem desligados da instituição, tanto mais pura e elevada será a reputação da obra. T7 202 2 Não deve ser conservado em quaisquer das instituições do Senhor quem, numa crise, deixa de reconhecer que Seus instrumentos são sagrados. Se os obreiros não têm satisfação na verdade; se sua ligação com a instituição não os torna melhores, não lhes traz o amor da verdade, então, depois de prova suficiente, devem ser afastados da obra; pois a sua falta de religião e descrença vão influenciar os demais. Por meio deles operam anjos maus, para desviar os que entram como aprendizes. Devemos escolher para aprendizes jovens promissores, que amem a Deus. Mas se forem colocados em convivência com outros que não têm amor a Deus, estarão sob o perigo constante da influência profana. Os falsos e mundanos, os que são dados à tagarelice, que vivem a comentar as faltas alheias, ao passo que se descuidam das próprias, devem ser afastados da obra. ------------------------Capítulo 40 -- O perigo das leituras impróprias T7 203 1 Vendo o perigo que ameaça a juventude por causa das leituras impróprias, não posso deixar de repetir as advertências que me foram dadas acerca desse grande mal. T7 203 2 O perigo que, para os obreiros, resulta de manusear literatura de índole reprovável é muito pouco reconhecido. O assunto com que estão tratando lhes prende a atenção e desperta o interesse. Sentenças ficam gravadas na sua memória. Pensamentos são sugeridos. Quase inconscientemente o leitor é influenciado pelo espírito do escritor, e espírito e caráter recebem impressão para o mal. Alguns há que têm pouca fé e pouco domínio próprio, e têm dificuldade de banir os pensamentos sugeridos por essa leitura. T7 203 3 Antes de aceitar a verdade presente, alguns haviam formado o hábito de ler romances. Ao unirem-se à igreja, esforçavam-se para vencer esse hábito. Colocar perante essas pessoas leituras semelhantes às que abandonaram, equivale a oferecer bebidas intoxicantes ao viciado. Cedendo à tentação que sempre os assalta, logo perdem o gosto pela leitura sadia. Não têm mais interesse no estudo da Bíblia. Ficam com a força moral debilitada. O pecado lhes parece cada vez menos repulsivo. Demonstram crescente infidelidade, desprazer cada vez maior pelos deveres práticos da vida. O espírito pervertido fica pronto para prender-se a qualquer leitura de caráter estimulante. Assim se acha aberto o caminho para Satanás ter a pessoa sob seu completo domínio. T7 203 4 Mesmo as obras que não desviam nem corrompem tão decididamente devem ser evitadas, se comunicarem desprazer pelo estudo da Bíblia. Essa Palavra é o maná verdadeiro. Que todos reprimam o desejo de leituras que não são alimento para o espírito. Não é possível realizar a obra de Deus com percepção clara, enquanto o espírito se acha ocupado com essa espécie de leitura. Os que estão ao serviço de Deus não devem gastar tempo nem dinheiro com leituras levianas. Que tem a palha com o trigo? T7 204 1 Não há tempo para entregar-se a entretenimentos levianos, à satisfação de inclinações egoístas. É tempo de nos ocuparmos com pensamentos sérios. Não é possível participar da vida abnegada do Redentor do mundo, pronta para sacrificar-se, e ao mesmo tempo achar prazer em matar tolamente o tempo em ócio, brincadeiras e gracejos. Temos grande necessidade de uma experiência prática na vida cristã. Precisamos educar a mente para a obra de Deus. A experiência religiosa é em grande parte determinada pela espécie de livros que lemos em nossos momentos de lazer. T7 204 2 Se amamos as Escrituras e as examinamos sempre que haja oportunidade, a fim de entrar na posse de seus ricos tesouros, então poderemos ter a certeza de que Jesus nos está atraindo para Si. T7 204 3 "Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs subtilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade; e estais perfeitos nEle." Colossences 2:8-10. T7 204 4 Não podemos ser perfeitos em Cristo e ainda estar dispostos a aprender essas coisas que vêm dos chamados grandes homens da Terra, ou colocar sua sabedoria acima da do maior Mestre que o mundo já conheceu. Procurar conhecimentos nessas fontes é representado na Palavra como procurar beber água de cisternas estragadas, incapazes de conter água. T7 205 1 Seja a verdade de Deus o assunto da contemplação e meditação. Leia a Bíblia e considere-a a voz de Deus a falar-lhe diretamente. Então encontrará inspiração e aquela sabedoria que é divina. T7 205 2 A acumulação de muitos livros para estudo, muitas vezes interpõe entre Deus e o homem uma quantidade de conhecimentos que enfraquece o espírito e o torna incapaz de assimilar aquilo que já recebeu. A mente torna-se dispéptica. É preciso discernimento para que o homem possa escolher bem entre esses muitos autores e a Palavra da vida, a fim de que coma a carne e beba o sangue do Filho de Deus. T7 205 3 Irmãos: Abandonem os rios das baixadas, e busquem as águas puras do Líbano. Não poderão andar na luz de Deus enquanto estiverem sobrecarregando o espírito com uma porção de substância que ele não pode digerir. É tempo de resolvermos lançar mão do auxílio celestial e permitir que o espírito seja impressionado pela Palavra de Deus. Fechemos a porta para toda essa espécie de leitura. A menos que uma mais profunda obra de graça ocorra no espírito e no coração, não veremos jamais a face de Deus. ------------------------Capítulo 41 -- Evitar dívidas T7 206 1 Deus não deseja que Sua obra esteja constantemente envolvida em dívidas. Quando parecer conveniente aumentar os nossos edifícios ou outras dependências de uma instituição, evitemos ir além dos nossos meios. É preferível adiar o melhoramento até que a Providência abra o caminho para que ele seja realizado sem contrair pesadas dívidas e ter que pagar juros. T7 206 2 As casas publicadoras têm atraído a confiança de nosso povo e, dessa maneira, se tornaram capazes de fornecer recursos para manter setores da obra nos diferentes campos, e têm auxiliado na condução de outros empreendimentos. Isso está certo. Não tem sido feito o suficiente nesse sentido. O Senhor vê tudo isso. De acordo, porém, com a luz que Ele me deu, devem-se empenhar todos os esforços para estarem livres de dívidas. T7 206 3 A obra de publicações foi iniciada com sacrifício e deve ser administrada de acordo com princípios econômicos rígidos. A questão das finanças pode ser enfrentada se, ao surgir carência de recursos, os obreiros concordarem com uma redução nos salários. Esse foi o princípio que o Senhor me revelou para ser levado às nossas instituições. Quando o dinheiro for escasso, devemos estar dispostos a restringir as nossas necessidades. T7 206 4 Que seja feito o mais detalhado orçamento das publicações e então todos em nossas casas publicadoras estudem cada possibilidade de economizar, ainda que isso possa gerar alguma inconveniência. É preciso cuidar das pequenas despesas. Estancar todo vazamento. São as pequeninas perdas que cobram caro no fim. Deve-se ajuntar os fragmentos; coisa alguma deve ser desperdiçada. Que não se gaste os minutos conversando; os minutos perdidos comprometem as horas. A persistente diligência, que opera pela fé, será sempre coroada de êxito. T7 206 5 Alguns pensam que rebaixa a sua dignidade o cuidar de coisas pequenas. Pensam eles ser isso a evidência de uma mente estreita e de um espírito mesquinho. Mas as pequenas infiltrações têm posto a pique muito navio. Não se deve permitir que coisa alguma que se destine ao benefício de todos seja desperdiçada. A falta de economia acarretará certamente dívida às nossas instituições. Embora se possa receber muito dinheiro, este se perderá nos pequenos gastos de cada setor da obra. Economia não é mesquinhez. T7 207 1 Todo homem ou mulher empregados na casa publicadora deve ser uma fiel sentinela, que vigie para que nada seja desperdiçado. Todos devem acautelar-se contra supostas necessidades que exijam o emprego de meios. Alguns homens vivem melhor com quatrocentos dólares por ano do que outros com oitocentos. A mesma coisa se dá com nossas instituições; algumas pessoas podem dirigi-las com muito menos capital do que outras. Deus deseja que todos os obreiros exerçam economia, e especialmente que sejam fiéis contabilistas. T7 207 2 Cada obreiro de nossas instituições deve receber justa remuneração. Se os obreiros receberem salários adequados, eles terão a satisfação de fazer doações à causa. Não é justo que alguns recebam grande quantia, e outros, que estão realizando trabalho necessário e fiel, recebam tão pouco. T7 207 3 Não obstante, há casos em que se deve estabelecer uma diferença. Há homens ligados com as casas publicadoras que desempenham pesadas responsabilidades, e cujo trabalho é de grande valor para a instituição. Em muitos outros lugares eles poderiam ter muito menos responsabilidade e, financeiramente, obterem maior remuneração. Todos podem ver a injustiça de não se pagar a esses homens um salário maior do que se paga a trabalhadores braçais. T7 207 4 Se uma mulher for apontada por Deus para fazer certo trabalho, seu trabalho deve ser calculado de acordo com o seu valor. Alguns podem pensar que seja correto permitir que as pessoas devotem seu tempo e trabalho à obra sem remuneração. Deus, porém, não sanciona tais soluções. Ao se exigir sacrifício por causa de falta de recursos, não se deve fazer recair o fardo exclusivamente sobre umas poucas pessoas. Todos devem unir-se nesse sacrifício. T7 208 1 O Senhor deseja que os que têm o encargo de Seus bens revelem bondade e liberdade, não mesquinhez. Não devem eles, em seu interesse, procurar exigir cada centavo possível. Deus olha com desprezo para tais métodos. T7 208 2 Devem os obreiros receber remuneração de acordo com as horas que eles dedicam a trabalho honesto. Aquele que dedica tempo integral deve receber de acordo com o tempo. Se alguém emprega mente, alma e energia no desempenho de suas responsabilidades, deve ser pago de acordo com isso. T7 208 3 Ninguém deve receber um salário exorbitante, ainda que ele possua aptidões e qualificações especiais. O trabalho feito para Deus e Sua causa não deve ser realizado de forma mercenária. Nenhuma sobrecarga a mais têm os obreiros da casa publicadora, gasto algum maior, nenhuma responsabilidade mais pesada do que os obreiros de outros setores. Seu trabalho não é mais cansativo do que o do fiel pastor. Ao contrário, os pastores fazem, via de regra, maiores sacrifícios do que os realizados pelos obreiros de nossas instituições. Os pastores vão onde são enviados; são soldados, prontos para se locomoverem a qualquer momento, para enfrentar qualquer emergência. São, até certo ponto, forçosamente separados de suas famílias. Os obreiros das casas publicadoras têm, em geral, uma casa permanente, e podem viver com suas famílias. Isso é uma grande economia e deve ser considerado comparando-se a relativa compensação dos obreiros do ministério com os das casas publicadoras. T7 209 1 Os que trabalham sem reservas na vinha do Senhor, empregando o máximo de sua habilidade, não são os que mais valorizam seu próprio serviço. Em lugar de se encherem de orgulho e presunção, e calcularem com exatidão cada hora de trabalho, comparam seus esforços com o trabalho do Salvador, e se consideram servos pouco úteis. T7 209 2 Irmãos, não considerem quão pouco pode ser feito para atingir o padrão mais baixo, mas despertem-se para a possibilidade de chegar à plenitude de Cristo, a fim de poder fazer muito por Ele. T7 209 3 O Senhor necessita de pessoas que vejam a obra em sua magnitude, e que compreendam os princípios que com ela têm estado entrelaçados desde o seu surgimento. Ele não deseja que um sistema mundano de coisas venha moldar a obra em rumos inteiramente diferentes dos que destinou ao Seu povo. A obra deve demonstrar o caráter de seu Originador. T7 209 4 No sacrifício de Cristo pelos homens caídos, a misericórdia e a verdade se encontraram, a justiça e a paz se beijaram. Quando esses atributos estão separados da mais maravilhosa e visivelmente bem-sucedida obra, ela perde completamente o seu valor. T7 209 5 Deus não escolheu uns poucos homens para Sua estima, e deixou outros abandonados. Ele não exalta um, e abate e oprime outro. Todos os que são verdadeiramente convertidos manifestarão o mesmo espírito. Eles tratarão os seus semelhantes como tratariam a Cristo. Um não ignorará os direitos do outro. T7 209 6 Os servos de Deus devem ter tão grande respeito pela sagrada obra que estão manejando que não tragam para ela nenhum vestígio de egoísmo. ------------------------Capítulo 42 -- Fé e ânimo T7 210 1 O Senhor ordenou a Moisés que recordasse aos filhos de Israel o Seu procedimento com eles ao libertá-los do Egito e protegê-los maravilhosamente no deserto. Deveria ele lembrar-lhes a incredulidade e murmurações quando levados a provações, e a grande misericórdia e benignidade do Senhor, que nunca os abandonara. Isso lhes estimularia a fé e fortaleceria o ânimo. Ao mesmo tempo em que seriam levados a reconhecer seu pecado e fraqueza, reconheceriam também que Deus era sua justiça e força. T7 210 2 Igualmente necessário é que o povo de Deus hoje tenha presente como e quando foram provados, e onde lhes fracassou a fé; onde, pela incredulidade e presunção, puseram em perigo a Sua causa. A misericórdia de Deus, Sua providência mantenedora, Seus maravilhosos livramentos, devem ser rememorados, passo a passo. Ao recordar o passado, deve o povo de Deus ver que o Senhor está sempre repetindo Seu procedimento. Deve compreender as advertências feitas, e cuidar em não repetir os erros. Renunciando a toda confiança própria, deve acreditar que Ele o guardará de desonrar outra vez o Seu nome. Em cada vitória que Satanás alcança, pessoas são postas em perigo. Alguns se tornam objeto de suas tentações para nunca mais serem reabilitados. Andem, pois, cuidadosamente os que cometeram erros, orando a cada passo: "Dirige os meus passos nos Teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem." Salmos 17:5. T7 210 3 Deus manda aflições a fim de provar quem permanecerá fiel sob a tentação. Ele a todos leva a situações de prova, para ver se confiam num poder fora e acima deles. Todos têm traços de caráter não descobertos ainda, que têm que vir à luz pela aflição. Deus permite que os que confiam em suas próprias forças sejam tentados severamente, a fim de que se compenetrem de sua incapacidade. T7 211 1 Quando nos sobrevêm aflições; ao vermos perante nós, não o aumento de prosperidade, mas a pressão que exige sacrifício da parte de todos, como devemos enfrentar as insinuações de Satanás de que haveremos de passar um tempo muito difícil? Se dermos ouvidos às suas insinuações, surgirá a falta de fé em Deus. Em tal tempo, devemos lembrar-nos de que Deus sempre teve cuidado de Suas instituições. Devemos olhar à obra que fez, às reformas que operou. Devemos juntar as evidências das bênçãos celestiais, os sinais para o bem, dizendo: "Senhor, cremos em Ti, nos Teus servos e na Tua obra. Em Ti confiaremos. A casa publicadora é Tua instituição, e não fracassaremos nem desanimaremos. Honraste-nos, ligando-nos com o Teu centro. Permaneceremos no caminho do Senhor, para fazer justiça e juízo. Desempenharemos a nossa parte, sendo fiéis à obra de Deus." T7 211 2 Se, no lugar em que estamos, temos falta de fé quando se apresentam dificuldades, teríamos falta de fé em qualquer lugar. T7 211 3 Nossa maior necessidade é de fé em Deus. Ao olharmos para o lado escuro, perdemos nossa segurança no Senhor Deus de Israel. Quando abrimos o coração aos temores e conjeturas, o caminho do progresso é obstruído pela incredulidade. Não pensemos jamais que Deus tenha abandonado Sua obra. T7 211 4 Tem que falar menos de incredulidade, menos conjeturas de que isto ou aquilo está impedindo o caminho. Vamos avançar com fé; acreditar que o Senhor preparará o caminho para a Sua obra. Então encontraremos descanso em Cristo. Cultivando fé, e colocando-nos na devida relação para com Deus, e dispondo-nos, com fervorosa oração, a cumprir nosso dever, o Espírito Santo atuará em nós. Os muitos problemas que agora parecem misteriosos serão resolvidos, pela contínua confiança em Deus. Não temos de andar em penosa indecisão, pois estamos vivendo sob a guia do Espírito Santo. Podemos andar e trabalhar com confiança. T7 212 1 Se quisermos ter mãos limpas e coração puro, precisamos ter menos fé no que somos capazes de fazer, e mais no que o Senhor pode fazer por nós. Não estamos empenhados em nosso próprio trabalho; estamos fazendo a obra de Deus. T7 212 2 É necessário mais amor, mais franqueza, menos suspeita, menos pensar mal. Precisamos estar menos dispostos a culpar e acusar. É isso que é tão ofensivo a Deus. O coração precisa ser abrandado e subjugado pelo amor. O estado débil de nosso povo resulta de que seu coração não é reto para com Deus. Afastamento dEle, eis a causa da condição complicada de nossas instituições. T7 212 3 Não vamos ficar abatidos. Olhando para as aparências, e queixando-nos quando vêm dificuldades e apuros, revelamos fé doentia, debilitada. Por nossas palavras e obras, mostremos que nossa fé é invencível. O Senhor é rico em recursos. Ele possui o mundo. Olhemos para Ele, que tem luz, poder e eficiência. Ele abençoará todo o que procura comunicar luz e amor. T7 212 4 O Senhor deseja que todos compreendam que sua prosperidade se acha oculta com Ele em Cristo; que ela depende de sua humildade e mansidão, sua sincera obediência e devoção. Ao aprenderem do grande Mestre a lição de morrer para o próprio eu, de não depositar confiança no homem, nem fazer da carne o seu braço, então, invocando-O eles, o Senhor lhes será socorro presente em todo tempo de necessidade. Ele os guiará retamente. Estará à sua mão direita para lhes dar conselho. Dir-lhes-á: "Este é o caminho, andai nele." Isaías 30:21. T7 213 1 Que os irmãos que ocupam posições de responsabilidade inspirem fé e ânimo nos obreiros. Lancemos nossa rede no lado direito do barco, o lado da fé. Enquanto durar a graça, mostremos o que pode ser feito por uma igreja consagrada, viva. T7 213 2 Não temos a compreensão necessária do grande conflito que se desenrola entre seres invisíveis, a luta entre anjos leais e desleais. Por todo homem contendem anjos bons e maus. Não é esse apenas um conflito simulado. Não são batalhas virtuais essas em que nos achamos empenhados. Temos que enfrentar adversários poderosíssimos, e compete-nos determinar quem deverá vencer. Acharemos nossa força onde os primeiros discípulos acharam a sua. "Todos estes perseveraram unanimemente em oração e súplicas." Atos 1:14. "E de repente veio do Céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados." "E todos foram cheios do Espírito Santo." Atos 2:2, 4. T7 213 3 Não há desculpa para a apostasia ou desânimo, porquanto todas as promessas de graça celestial se dirigem aos que têm fome e sede de justiça. A intensidade de desejo representada pela fome e sede é um penhor de que será concedido o suprimento almejado. T7 213 4 Tão logo reconheçamos a nossa incapacidade de fazer a obra de Deus, e nos submetamos à guia de Sua sabedoria, o Senhor poderá operar conosco. Se esvaziarmos do próprio eu a alma, Ele nos suprirá todas as necessidades. T7 214 1 Coloquemos nosso espírito e vontade onde o Espírito Santo os possa alcançar, pois Ele não operará através do espírito e da consciência de outra pessoa para alcançar nossa consciência e espírito. Com fervorosas orações pedindo sabedoria, façamos da Palavra de Deus o objeto de nosso estudo. Busquemos conselho da razão santificada, rendida inteiramente a Deus. T7 214 2 Olhemos para Jesus com simplicidade e fé. Contemplemo-lO até que o espírito desmaie pelo excesso de luz. Não estamos orando a metade do que deveríamos. Não cremos a metade do que deveríamos. "Pedi, e dar-se-vos-á." Lucas 11:9. Vamos orar, crer, fortalecer-nos uns aos outros. Orar como nunca antes oramos, para que o Senhor sobre nós ponha a Sua mão, a fim de podermos compreender a largura, o comprimento, a altura, a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o conhecimento, para que sejamos cheios de toda a plenitude de Deus. T7 214 3 O fato de ser-nos pedido que suportemos aflições, prova que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa muito preciosa, que quer desenvolver. Se não visse em nós coisa alguma pela qual pudesse glorificar Seu nome, não gastaria tempo em refinar-nos. Nós não nos damos ao trabalho de podar espinheiros. Cristo não lança em Sua fornalha pedras sem valor. É o minério valioso o que Ele prova. T7 214 4 O ferreiro põe no fogo o ferro e o aço a fim de lhes provar a têmpera. O Senhor permite que Seus escolhidos sejam postos na fornalha da aflição, a fim de que Ele possa ver de que têmpera são feitos, e se Ele os pode moldar e adaptar para a Sua obra. ------------------------Capítulo 43 -- Sacrifício próprio T7 215 1 As leis do reino de Cristo são tão simples e, ao mesmo tempo, tão completas que as adições inventadas pelo ser humano só acrescentam confusão. Quanto mais simples forem os planos de trabalho na obra de Deus, melhor será a sua execução. Adotar uma programação mundana na obra de Deus é convidar o desastre e a derrota. Simplicidade e humildade devem caracterizar todo esforço eficiente para o desenvolvimento do Seu reino. T7 215 2 Para que o evangelho possa alcançar a todas as nações, reinos, línguas e povos, deve-se manter o sacrifício próprio. Os que estão em posições de confiança devem em todas as coisas agir como fiéis mordomos, conscienciosamente administrando os recursos que foram criados pelo povo. Deve haver o máximo cuidado para evitar gastos desnecessários. Ao construir edifícios e prover instalações para a obra, devemos cuidar para não fazer planos tão elaborados que consumam dinheiro desnecessário, impossibilitando os recursos para a expansão da obra em outros campos, principalmente em terras estrangeiras. Os recursos não devem ser tirados da tesouraria para estabelecer instituições em nosso país, com o risco de comprometer o desenvolvimento da verdade no estrangeiro. T7 215 3 O dinheiro não deve ser usado somente nas circunvizinhanças, mas em países distantes, nas ilhas do mar. Se as pessoas se empenharem nesse trabalho, Deus certamente removerá tudo que não é devidamente apropriado. T7 215 4 Muitos dentre os crentes quase não têm alimento para comer, contudo, na sua profunda pobreza, trazem seus dízimos e ofertas à tesouraria do Senhor. Muitos, sabendo o que significa sustentar a causa de Deus em circunstâncias difíceis e penosas, investem seus recursos nas casas publicadoras. Voluntariamente suportam durezas e privações, vigiam e oram pelo êxito da obra. Suas ofertas e sacrifícios expressam a gratidão de seu coração Àquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Suas orações e ofertas chegam como um memorial diante de Deus. Esse é o incenso mais fragrante que ascende ao Céu. T7 216 1 O mesmo princípio que controla a obra de Deus no seu sentido mais amplo, deve controlar todas as suas ramificações. Deve estampar o selo da obra missionária. Cada departamento da causa está relacionado com todas as partes do campo de evangelismo, e o espírito que controla um departamento deve ser percebido através de todo o campo. Se uma parte dos obreiros receber um salário maior, há outros em diferentes ramos da obra, que também irão clamar por um salário mais alto, e o espírito de sacrifício próprio tornar-se-á enfraquecido. Outras instituições irão adotar esse mesmo espírito, e o favor de Deus será removido deles; porque Ele nunca sanciona o espírito egoísta. Assim, nossa obra mais atuante será minada. É impossível levar avante a obra se não houver constante sacrifício. De diferentes partes do mundo chegam pedidos por homens e recursos para levarem avante a obra. Seremos compelidos a dizer: "Esperem, não temos dinheiro na tesouraria"? T7 216 2 Alguns homens de experiência e piedade, que trabalharam na obra, negando-se a si mesmos, e não hesitaram em se sacrificar para alcançar o êxito, agora já estão dormindo na sepultura. Foram canais apontados por Deus, como Seus representantes comunicaram os princípios da vida espiritual à igreja. Tinham experiência do que era de maior valor. Não podiam ser comprados ou vendidos. Sua pureza, devoção, e sacrifício próprio, o viver com Deus, era uma bênção para o erguimento da obra. Nossas instituições foram caracterizadas pelo espírito de sacrifício próprio. T7 217 1 Naqueles dias em que lutávamos com a pobreza, aqueles que viam como Deus maravilhosamente trabalhava pela causa, sentiam que não havia nada mais honroso que pudesse acontecer com eles do que o fato de estarem ligados com o interesse da obra pelos laços sagrados que os conectavam com Deus. Não discutiam suas responsabilidades com o Senhor do ponto de vista financeiro? Não, não. Ainda que todos os oportunistas abandonassem seu posto, os piedosos jamais abandonariam a obra. T7 217 2 Os crentes que, na história pioneira da causa, sacrificaram-se para estabelecer a obra estavam imbuídos com o mesmo espírito. Sentiam que Deus exigia de todos que estivessem ligados com a Sua causa uma consagração sem reserva do corpo, alma e espírito, de todas as suas energias e habilidades, para fazer do trabalho um sucesso. T7 217 3 Todavia, em alguns aspectos, o trabalho tem-se deteriorado. Embora tenha crescido em extensão e instalações, tem diminuído em piedade. T7 217 4 Há uma lição para nós na história de Salomão. O início da vida desse rei de Israel foi brilhante com promessas. Escolheu a sabedoria de Deus e a glória de seu reino maravilhou o mundo. Deve ter crescido de força em força, de caráter em caráter, até aproximar-se da semelhança do caráter de Deus; mas, quão desagradável é sua história. Depois de ter sido exaltado às posições mais sagradas de confiança, provou ser infiel. Cresceu em auto-suficiência, orgulho e exaltação própria. A lascívia do poder político e o engrandecimento próprio levaram-no a fazer alianças com nações pagãs. A prata de Társis e o ouro de Ofir foram procurados com um custo terrível, mesmo com o sacrifício da integridade e a traição dos sagrados bens. A associação com os idolatras corrompeu sua fé; um passo falso leva a outro; derrubou a barreira que Deus erigiu para salvar Seu povo; sua vida foi corrompida pela poligamia; e finalmente se entregou a adorar deuses falsos. Um caráter que era firme, puro e elevado tornou-se fraco, marcado pela ineficiência moral. T7 218 1 Não faltaram maus conselheiros, os quais influenciaram como quiseram aquela mente, antes nobre e independente, já que Salomão não mais fazia de Deus seu guia e conselheiro. Sua sensibilidade se tornou embotada; o consciencioso e cuidadoso espírito que caracterizou os primeiros tempos do seu reinado também se perdeu. A auto-indulgência se tornou o seu deus; e, como resultado, juízos severos e tirania cruel passaram a caracterizar sua vida. As extravagâncias praticadas por indulgência própria eram alimentadas à custa de uma taxação opressiva sobre os pobres. Salomão, o rei mais sábio que já teve um cetro nas mãos, tornou-se um déspota. Como rei, ele fora um ídolo da nação, e tudo que falava e fazia era copiado. Seu exemplo exerceu uma influência cujos resultados só serão plenamente conhecidos quando as obras forem trazidas em revista diante de Deus, e cada homem for julgado de acordo com o que realizou nesta vida. T7 218 2 Como Deus pode suportar os delitos desses que tiveram grande luz e vantagens, contudo, seguiram o curso de sua própria escolha, para sua injúria eterna! Salomão, que na dedicação do templo solenemente desafiou o povo: "E seja o vosso coração perfeito para com o Senhor, nosso Deus" (1 Reis 8:61), escolheu seu próprio caminho, e em seu coração, separou-se de Deus. A mente que uma vez foi dada a Deus, inspirada por Ele para escrever as mais preciosas palavras de sabedoria (o livro de Provérbios) -- verdades que foram imortalizadas -- aquela mente nobre, por intermédio de associações maléficas e cedendo a tentação, tornou-se ineficiente, fraca em poder moral, e Salomão desonrou a si mesmo, a Israel e a Deus. T7 219 1 Olhando para esse quadro, vemos o que os seres humanos se tornam quando se aventuram separados de Deus. Um passo errado prepara o caminho para outro, cada passo dado se torna mais fácil do que o anterior. Assim as pessoas seguem um outro líder que não é Cristo. T7 219 2 Todos os que ocupam posições em nossas instituições serão provados. Se fizerem de Cristo seu companheiro, receberão sabedoria, conhecimento e compreensão; crescerão na graça e aptidão no caminho de Cristo; e o caráter será modelado à Sua semelhança. Se não seguirem o caminho do Senhor, outro espírito controlará a mente e o discernimento, farão planos sem o Senhor, seguirão seus próprios caminhos, e perderão os cargos que ocupavam. Se afastarem da luz que lhes foi dada, que ninguém apresente suborno para induzir sua permanência. Eles se tornarão um engano e uma cilada. Chegou o tempo em que tudo que pode ser sacudido, será sacudido, só o que estiver firme vai permanecer. Todo caso vem a julgamento diante de Deus; Ele está medindo o templo e seus adoradores. T7 219 3 "Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que está no meio das suas ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas; e as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão." Ezequiel 34:12. ------------------------Capítulo 44 -- Necessidades no sul T7 220 1 O Senhor espera muito mais de nós do que Lhe temos dado, em relação a um serviço altruísta pelas pessoas de todas classes nos Estados do Sul dos Estados Unidos. Esse campo está muito próximo de nós, contudo reserva um grande trabalho a ser feito para o Mestre. Essa obra deve ser realizada agora, enquanto os anjos estão segurando os quatro ventos. Não há tempo a perder. T7 220 2 O Senhor tem esperado longamente para atuar através de instrumentos humanos. Quanto tempo mais O obrigaremos a esperar por homens e mulheres para responderem ao chamado: "Vai hoje trabalhar na Minha vinha"? São necessários mensageiros de misericórdia, não apenas em poucos lugares do Sul, mas através de todo o campo. Ricos e pobres estão clamando por luz. T7 220 3 Homens e mulheres deveriam se oferecer agora para levar a verdade a todos os lugares desse campo. Há milhares que estão dispostos a se entregar a Deus para esse trabalho. Ele os aceitará e atuará por meio deles, fazendo-os mensageiros de paz e esperança. T7 220 4 Os obreiros encontrarão muitos de coração endurecido contra a convicção do Espírito de Deus; mas encontrarão também muitos que estão famintos pelo pão da vida, e que, recebendo a mensagem, sairão a espalhar a semente da verdade. T7 221 1 Quando o Senhor chamou a Moisés para liderar os filhos de Israel ao saírem do Egito, deu-lhe a segurança: "Eu serei contigo." Êxodo 3:12. "Irá a Minha presença contigo para te fazer descansar." Êxodo 33:14. A mesma segurança é dada àqueles que vão trabalhar para o Senhor no campo sulista. T7 221 2 Meus irmãos e irmãs, comunguem com Deus, a fim de que sejam imbuídos do Seu Espírito, e possam ir e repartir com outros a graça que receberam. O exemplo do Salvador deve inspirá-los a fazer um esforço zeloso, e com sacrifício próprio, para o bem de outros. Ele veio a este mundo como um servo convicto da necessidade do homem. Em tudo que disse e fez manifestou amor pela raça perdida. Vestiu a Sua divindade com a humanidade, para viver entre os seres humanos como um deles, participando de sua pobreza e sofrimento. Que vida intensa Ele levou! Dia após dia, podia ser visto entrando nas casas dos mais carentes e sofredores, transmitindo esperança aos deprimidos e paz aos angustiados. Esse é o trabalho que hoje Ele pede ao Seu povo. Humildade, benevolência, sensibilidade, compadecimento. Ele saiu fazendo o bem, levantando os oprimidos e confortando os entristecidos. Ninguém que O buscou saiu desapontado. A todos trouxe esperança e alegria. Por onde andou, transmitiu bênçãos. T7 221 3 Precisamos nos humilhar diante de Deus, porque são tão poucos os membros de Sua igreja que se esforçam da maneira como o Senhor deseja que eles façam. As oportunidades que Ele nos dá, as promessas que fez, os privilégios que nos concedeu, deveriam nos inspirar com muito maior zelo e devoção. Cada pessoa que se junta à igreja deveria ser mais uma agência para levar avante o plano da redenção. Todo poder do povo de Deus deve ser devotado para trazer muitos filhos e filhas até Ele. Em nossa atividade não pode haver indiferença nem egoísmo. Apartar-se do sacrifício próprio ou afrouxar o esforço zeloso significa dar poder ao inimigo. Apelo aos negros T7 222 1 A proclamação da liberdade dos escravos nos Estados do Sul, abriu portas para que os obreiros cristãos entrem e apresentem a história do amor de Deus. Nesse campo há preciosas jóias que os obreiros do Senhor devem buscar como tesouro escondido. Embora os negros tenham sido libertados da política escravista, muitos deles ainda continuam escravos da ignorância e do pecado. Muitos estão terrivelmente degradados. Não há uma mensagem de advertência para eles? Se aqueles a quem Deus deu grande luz e muitas oportunidades tivessem feito o trabalho que Ele desejava, teríamos hoje memoriais através de todo o campo sulista: igrejas, hospitais e escolas. Homens e mulheres de todas as classes teriam sido convidados para a festa do evangelho. T7 222 2 O Senhor está preocupado com a calamidade nos Estados do Sul. Cristo chora diante dessa desgraça. Os anjos silenciaram a música de suas harpas ao ver o povo desajudado, por causa da passada escravidão. Apesar disso, aqueles em cujas mãos Deus colocou a tocha da verdade, acesa sobre o divino altar, não perceberam ainda que são responsáveis pelo trabalho de levar a luz a esse campo marcado pelo pecado. Há os que têm evitado o trabalho de resgatar os deprimidos e degradados, recusando-se a ajudar os necessitados. Os servos de Cristo devem começar a redimir suas negligências, para que possam limpar as manchas de seus relatórios. T7 223 1 A presente condição do campo do Sul está desonrando o Redentor. Mas será que isso deveria nos levar a crer que a comissão de Cristo dada aos Seus discípulos, quando disse que deveriam pregar o evangelho à todas as nações, não pode ser cumprida? -- Não, não! Cristo tem poder para fazer cumprir essa missão. Está plenamente habilitado a fazer o trabalho que Lhe foi confiado. No deserto, protegido com a armadura "Está escrito", Ele enfrentou e venceu as mais fortes tentações que o inimigo pôde apresentar a Ele. Provou o poder da Palavra. É o povo de Deus que está falhando. A presente situação do mundo é uma prova de que a Sua Palavra não tem dominado os corações como deveria. Mas isso só ocorre porque as pessoas escolheram desobedecer, e não porque a Palavra tem menos poder. Apelo dos negros T7 223 2 O Senhor tem olhado com tristeza para a mais deplorável de todas as cenas: a escravidão negra. Ele deseja que nós, em nosso trabalho por eles, nos lembremos de seu livramento providencial da escravidão, de sua relação comum conosco pela criação e redenção, e de seu direito às bênçãos da liberdade. T7 223 3 Algum tempo atrás, numa noite, me vi numa reunião em que se discutia o trabalho nos campos do Sul. As questões foram levantadas por um grupo inteligente de pessoas negras: "Deus não tem mensagem para os negros do Sul? Eles não devem ser salvos? Não estão incluídos na nova aliança? Se Cristo está para voltar em breve, não é tempo de fazer alguma coisa pelo campo sulista? T7 224 1 "Não questionamos," disseram, "a necessidade das missões em terras estrangeiras. Mas questionamos o direito daqueles que clamam pela verdade, de milhões de seres humanos serem deixados de lado, em seu próprio país, muitos deles tão ignorantes quanto os pagãos. Por que tão pouco tem sido feito pelos negros do Sul, muitos dos quais ignorantes, destituídos e necessitados de serem ensinados que Cristo é o Criador e Redentor deles? Como é que poderão crer nEle se não tiverem oportunidade de ouvir? Como poderão ouvir sem um pregador? E como poderá alguém pregar se não for enviado? T7 224 2 "Colocamos esse assunto diante daqueles que professam crer na verdade para este tempo. O que estão vocês fazendo pelos incultos negros? Por que não demonstram um interesse mais profundo nas necessidades do Sul? Não repousa sobre os ministros do evangelho a responsabilidade de estabelecerem planos para que essas pessoas possam ser educadas? Não é isso que diz a ordem do Salvador? É correto que os professos cristãos fiquem indiferentes a esse trabalho, deixando que poucos carreguem toda a responsabilidade? Em todos os planos para o trabalho médico-missionário e missões estrangeiras, não deu Deus alguma mensagem para nós?" T7 224 3 Então, Aquele que tem autoridade Se levantou e apelou a todos para darem atenção à instrução que o Senhor deu com respeito ao trabalho no Sul. Ele disse: "Muito mais trabalho evangelístico deve ser feito no Sul. Deveria ter cem obreiros onde agora some existe um. T7 224 4 "O povo de Deus deve acordar. Imagine se Deus irá abençoar àqueles que não assumirem a responsabilidade por esse trabalho, e os que colaborarem para que o seu avanço seja dificultado?" T7 225 1 Quando essas palavras foram proferidas, uma profunda preocupação foi manifestada. Alguns se ofereceram como missionários, enquanto outros permaneceram em silêncio, aparentemente indiferentes ao assunto. T7 225 2 Então ouviu-se as palavras: "O Sul não é um campo promissor, mas quão diferente poderia ser agora se, depois de os negros terem sido libertos da escravidão, homens e mulheres tivessem trabalhado com eles como os cristãos devem fazer, ensinando-os como cuidarem de si mesmos." T7 225 3 A condição dos negros no Sul não é mais desanimadora do que era a condição do mundo quando Cristo deixou o Céu para vir ajudá-lo. Ele viu a humanidade atolada na miséria e pecaminosidade. Sabia que os homens e as mulheres estavam depravados e degradados, e participavam dos vícios mais asquerosos. Os anjos ficaram maravilhados quando Cristo assumiu a tarefa que lhes parecia sem esperança. Maravilharam-se de como Deus podia tolerar uma raça tão pecaminosa. Não conseguiam ver espaço para o amor. Mas "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. T7 225 4 Cristo veio à Terra com uma mensagem de misericórdia e perdão. Lançou o fundamento de uma religião pela qual judeus e gentios, negros e brancos, livres e escravos são ligados numa irmandade comum, reconhecidos como iguais à vista de Deus. O Salvador tem ilimitado amor por cada ser humano. Em cada um Ele vê a possibilidade de aperfeiçoamento. Com divina energia e esperança, Ele atende àqueles pelos quais deu a vida. Em Sua força, eles podem desenvolver uma vida repleta de boas obras e cheia do poder do Espírito. Evangelho para o pobre T7 226 1 A pobreza do povo a quem somos enviados não deve ser razão para evitarmos trabalhar por eles. Cristo veio a este mundo para andar e trabalhar entre os pobres e sofredores. Eles receberam a maior parte da Sua atenção. E hoje, na pessoa de Seus filhos, Ele visita os pobres e os necessitados, aliviando os angustiados e sofredores. T7 226 2 Eliminando-se o sofrimento e a necessidade não teríamos maneira de compreender a misericórdia e o amor de Deus, não conheceríamos o compassivo e complacente Pai celestial. Jamais o evangelho destaca tão bem a graça do que quando é trazida às regiões mais desprovidas e necessitadas. É aí que a luz brilha com radiante clareza e o maior poder. A verdade da Palavra de Deus entra na choupana do camponês; raios do Sol da Justiça iluminam a simples casa do pobre, trazendo alegria aos doentes e sofredores. Lá estão os anjos de Deus, e a simples fé pode fazer de uma fatia de pão e um copo d'água um banquete. O Salvador que perdoa pecados recebe ao pobre e ignorante, e dá-lhes de comer do pão que desceu do Céu. Bebem da água da vida. Os repugnantes e abandonados são, através da fé e do perdão, elevados à dignidade de filhos e filhas de Deus. Erguidos acima do mundo, sentam nos lugares celestiais com Cristo. Eles podem não possuir tesouros terrestres, mas encontraram a pérola de grande preço. O que pode ser feito? T7 226 3 O problema colocado diante de nós é: como realizar o trabalho nesse campo tão difícil? Os longos anos de negligência, tornaram o trabalho ainda mais difícil do que deveria ser. Obstruções foram acumuladas. T7 227 1 A obra médico-missionária deveria ter feito grande progresso. Sanatórios deveriam ter sido estabelecidos. Os princípios da reforma de saúde tinham de ser proclamados. Esse trabalho tem que ser encarado agora. E sem o menor vestígio de egoísmo. Deve ser feito com zelo, perseverança e devoção que irão abrir as portas para que a verdade possa entrar e permanecer. T7 227 2 No Sul há muitas coisas que podem ser realizadas por membros leigos da igreja, pessoas de limitada educação. Há homens, mulheres e crianças que precisam aprender a ler. Essas pobres almas estão morrendo de fome pelo conhecimento de Deus. T7 227 3 Nosso povo do Sul não está esperando pregadores eloqüentes, homens talentosos; que assumam o trabalho colocado pelo Senhor diante deles, e façam o melhor. Ele aceita e trabalha com homens e mulheres humildes e zelosos, mesmo que não sejam eloqüentes e altamente educados. Meus irmãos e irmãs, formulem planos inteligentes de trabalho e saiam, confiando no Senhor. Não tolerem o sentimento de vocês são muito capacitados e dotados de especial visão. Comecem e continuem com humildade. Sejam expositores vivos da verdade. Façam da Palavra de Deus o seu conselheiro. Então, a verdade avançará com poder, e pessoas serão convertidas. T7 227 4 Famílias de observadores do sábado devem mudar-se para o Sul, e viver a verdade diante dos que não a conhecem. Essas famílias podem se ajudar mutuamente, mas sejam cuidadosas para não fazer coisa alguma que possa comprometer seu avanço. Realizem o trabalho cristão de ajudar, alimentar o faminto e vestir o nu. Isso terá muito maior influência para o bem do que pregar sermões. Necessitam-se atos de simpatia, além de palavras. Cristo fazia preceder a pregação de Sua mensagem por atos de amor e beneficência. Vão esses obreiros de casa em casa, ajudando onde o auxílio for necessário e, à medida que surja a oportunidade, contando a história da cruz. Cristo deve ser o seu texto. Não precisam insistir em assuntos doutrinários; falem da obra e sacrifício de Cristo. Exaltem Sua justiça, revelando na vida a Sua pureza. T7 228 1 O verdadeiro missionário deve revestir-se da mente de Cristo. Seu coração deve estar cheio de amor semelhante ao de Cristo; e deve ser verdadeiro e firme em relação aos princípios. T7 228 2 Escolas devem ser estabelecidas em diversos lugares, e aqueles que são simpáticos e colaboradores, que gostam do Salvador, serão tocados pela visão das aflições e sofrimentos, e devem ensinar a idosos e jovens. A Palavra de Deus deve ser ensinada de tal maneira que todos possam compreendê-la. Os alunos devem ser animados a estudar as lições de Cristo. Isso irá fazer mais para ampliar a mente e fortalecer o intelecto do que qualquer outro estudo. Nada comunica tamanho vigor às faculdades como o contato com a Palavra de Deus. T7 228 3 Os campos de algodão não são o único meio de os negros ganharem a vida. Eles precisam ser ensinados como cultivar o solo, como diversificar as culturas, e como plantar e cuidar de pomares. Apurados esforços devem ser feitos para desenvolver suas habilidades. Despertar neles o pensamento de que são valiosos diante de Deus, porque são Sua propriedade. T7 228 4 Entre os negros há muitos que estiveram com o intelecto comprometido por tão longo tempo que é difícil ajustá-los rapidamente para seu próprio benefício. Mas podem ser ensinados a conhecer a Deus. Os raios brilhantes do Sol da Justiça podem iluminar os recantos mais escuros de sua mente. Têm o privilégio de terem a vida regulada pela vida de Deus. Inserida em sua mente, terão pensamentos elevados e nobres. Vivas diante deles estarão vidas que farão diferença entre o vício e a pureza, as trevas e a luz. Que possam ler nessas vidas o que significa ser um cristão. A corrente que desce do trono de Deus é comprida suficiente para alcançar as maiores profundezas. Cristo é capaz de levantar os mais empedernidos pecadores de sua degradação e colocá-los onde possam ser reconhecidos como filhos de Deus, herdeiros com Cristo da herança imortal. T7 229 1 Muitos estão completamente desanimados. Porque foram menosprezados e esquecidos, se tornaram estóicos. São vistos como incapazes de compreender ou receber o evangelho de Cristo. Todavia, por um milagre da divina graça podem ser mudados. Sob a atuação do Espírito Santo, sua aparência deprimida que parece insolúvel será transformada. A mente entorpecida e obscura será despertada. O escravo do pecado será liberto. A vida espiritual reviverá e será fortalecida. O vício desaparecerá, e a ignorância será vencida. Através da fé que opera por amor, o coração será purificado e a mente iluminada. T7 229 2 Entre os negros há pessoas que têm percepção rápida e mente brilhante. Muitos são ricos em fé e confiança. Deus vê entre eles preciosas jóias, que um dia brilharão intensivamente. T7 229 3 Os negros precisam mais da ajuda dos brancos do que têm recebido. Há milhares que têm mente capaz de ser cultivada e desenvolvida. Com trabalho apropriado, muitos que parecem casos sem esperança se tornarão educadores para seu povo. Através da graça de Deus, aqueles que o inimigo tem oprimido durante gerações, pode ser erguido à dignidade de homens e mulheres de Deus. T7 230 1 O Senhor deseja que os lugares desertos do Sul, onde a paisagem parece tão inóspita, se tornem como o jardim de Deus. Levante-se o nosso povo e redima o passado. A obrigação de trabalhar pela população negra pesa demasiadamente sobre nós. Não devemos tentar, com todas as nossas possibilidades, reparar a injúria do passado cometida contra esse povo? Não deveria o número de missionários no Sul ser multiplicado? Não deveríamos dar atenção a tantos voluntários que estão prontos para entrar nesse campo a fim trazer almas das trevas e da ignorância para a maravilhosa luz na qual regozijamos? Deus derramará Seu Espírito sobre aqueles que responderem ao Seu chamado. Na força de Cristo farão um trabalho que encherá de regozijo o Céu. T7 230 2 "Porque assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que Eu, Eu mesmo, procurarei as Minhas ovelhas e as buscarei. ... e as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão. ... Eu apascentarei as Minhas ovelhas, e Eu as farei repousar, diz o Senhor Jeová. A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei... E farei com elas um concerto de paz... E a elas e aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo; chuvas de bênção serão. ... Saberão, porém, que Eu, o SENHOR, seu Deus, estou com elas ... Vós, pois, ó ovelhas minhas, ovelhas do Meu pasto; homens sois, mas Eu sou o vosso Deus, diz o Senhor Jeová." Ezequiel 34:11-31. ------------------------Capítulo 45 -- Centros de influência T7 231 1 Um bom começo já foi feito no Sul. Na sequência dos eventos, o Senhor tem atuado maravilhosamente para o avanço de Sua obra. Batalhas foram travadas e vitórias ganhas. Impressões favoráveis foram feitas e preconceitos removidos. T7 231 2 Durante a noite, fui levada pelo meu Guia de um lugar para outro, de uma cidade para outra, no Sul. Vi o grande trabalho a ser realizado, que deveria ter sido feito anos atrás. Observamos vários locais. O nosso primeiro interesse foram os lugares onde a obra já tinha sido estabelecida, e aqueles onde o caminho está aberto para se realizar um início. Vi onde estão localizadas as instituições para o desenvolvimento da obra do Senhor. Um desses lugares era Greysville, e outro, Huntsville, onde temos escolas industriais. Essas escolas devem receber ânimo e ajuda, porque o Senhor as estabeleceu. Cada uma têm as suas próprias vantagens. T7 231 3 Da luz que me foi dada, sei que a obra em Hildebran, se dirigida apropriadamente, será uma grande bênção para a região circunvizinha. Foi-me mostrado que devemos fundar escolas nesses distritos, fora das cidades, longe das suas tentações. T7 231 4 Somente a eternidade poderá revelar a extensão da obra realizada em favor dos negros por essas pequenas escolas de Vicksburg, de Yazoo, e outros pontos do Sul. Nesse campo necessitamos muito mais desse tipo de escolas. T7 231 5 No Sul, devemos providenciar grandes instalações para educação e treinamento de jovens, tanto brancos como negros. Devem ser fundadas escolas fora das cidades, onde os jovens possam aprender a cultivar o solo, tornando-se independentes e as escolas auto-suficientes. Em conexão com essas escolas devem ser desenvolvidos todos os tipos de trabalho, tanto de agricultura como de mecânica, que a situação do lugar permitir. Ajuntem os recursos e estabeleçam essas escolas. Nelas, os estudantes poderão obter uma educação que, com a bênção de Deus, irá prepará-los para ganhar almas para Cristo. Unidos com o Salvador, crescerão em espiritualidade, e se tornarão valiosos obreiros na Sua vinha. T7 232 1 Os nossos grandes colégios devem estar ligados a pequenos sanatórios, para que os estudantes possam ter a oportunidade de obter conhecimento da obra médico-missionária. Essa linha de trabalho deve ser introduzida em nossas escolas como parte do currículo regular. Pequenos sanatórios devem ser estabelecidos nas escolas de Graysville e Huntsville. Nashville, um centro T7 232 2 Como um povo, deveríamos tomar interesse especial pela obra em Nashville. No presente, essa cidade é um ponto de grande importância no Sul. Nossos irmãos selecionaram Nashville como uma base da obra no Sul porque o Senhor na Sua sabedoria os dirigiu. É um lugar favorável para começar. Nossos obreiros irão descobrir que é mais fácil trabalhar nessa cidade com os negros do que em muitas outras cidades do Sul. Nessa cidade, um grande interesse nos negros já foi desenvolvido por outros que não são de nossa fé. Na cidade e nos arredores há grandes instituições educacionais para os negros. A influência dessas instituições preparou o caminho para nós, para fazer dessa cidade um centro para a nossa obra. T7 233 1 Dentro das instituições de ensino de Nashville, a verdade deve encontrar a sua porta de entrada. Nessas instituições há pessoas que serão alcançadas pela mensagem do terceiro anjo. Todos os recursos devem ser utilizados para interessar os professores e estudantes na mensagem da verdade presente, e isso deve ser realizado de maneira sábia e compreensiva. Com professores experientes pode-se aprender preciosas lições a respeito da melhor maneira de ajudar os negros. T7 233 2 A verdade também deve ser levada àqueles que consagram seus recursos e influência para o benefício dos negros. Eles assumiram uma atitude nobre para erguer esse povo. Eles têm de ver uma representação da nossa obra que lhes servirá como uma lição objetiva. Devemos fazer tudo que for possível para remover o preconceito que ainda possa existir na mente deles contra a nossa obra. Se os nossos esforços estiverem de acordo com a vontade de Deus, muitos deles serão convencidos e convertidos. O Senhor iluminará o caminho daqueles que estão à procura da luz. T7 233 3 Nashville é um acesso fácil para Graysville e Huntsville. Pelo trabalho em Nashville, a obra em Graysville e Huntsville será confirmada e estabelecida. Graysville e Huntsville estão suficientemente próximas de Nashville, para fortalecer a obra lá, bem como para serem fortalecidas. T7 233 4 De acordo com o propósito de Deus, a obra de publicações foi iniciada em Nashville. Há necessidade de uma casa publicadora no Sul, para a publicação da verdade para este tempo, principalmente a impressão de material adequado para as diferentes classes de pessoas nesse lugar. E não há cidade melhor no Sul do que Nashville para levar avante a obra de publicações. O estabelecimento de uma tal instituição é um movimento avançado. Se devidamente gerenciada, essa instituição dará um caráter especial à obra no Sul, tornando-se um meio para divulgar o conhecimento da verdade. A casa publicadora de Nashville, por algum tempo, irá necessitar de dádivas e ofertas. T7 234 1 Fui instruída a precaver meus irmãos do Sul, no presente, a não se moverem precipitadamente, no estabelecimento de grandes empreendimentos e novos centros, de maneira que venham a dividir nossos obreiros e recursos, assim enfraquecendo nossas forças, num momento crítico da obra. Esperem um pouco até que alguns dos planos começados se aproximem mais da perfeição. Não entrem impetuosamente em novos empreendimentos antes que as instituições de Graysville e Huntsville estejam mais firmemente estabelecidas e os interesses centralizados em Nashville, bem fortalecidos. T7 234 2 Ainda há, comparativamente, poucos lugares trabalhados no Sul. Há muitos e muitos lugares nos quais nada foi feito. Centros de influência podem ser estabelecidos em muitos lugares, abrindo-se lojas de alimentos naturais, restaurantes vegetarianos e salas de tratamento. Nem todas as necessidades podem ser avaliadas antes de começar. Os que estão envolvidos na obra do Sul devem orar sobre o assunto e lembrar que Deus está guiando tudo. Não devem deixar que as limitações e o egoísmo sejam manifestos. Orem para que a obra avance de forma simples, sensível e econômica. ------------------------Capítulo 46 -- Instruções para os obreiros T7 235 1 Devagar, mas com segurança, a roda da Providência está se movimentando. Não sabemos quão logo o nosso Senhor dirá: "Está feito." Sua vinda está próxima. Breve as nossas oportunidades para trabalhar estarão para sempre no passado. Apenas um pouco mais será permitido trabalhar. Meus irmãos, será que estamos nos esforçando com todo o empenho para estabelecer memoriais para Deus nos Estados do Sul? Igrejas devem ser fundadas, casas de culto estabelecidas, e instalações para publicações fortalecidas. T7 235 2 Para estabelecer a obra em diferentes lugares do Sul, necessitaremos de homens e mulheres de sabedoria e oração, homens e mulheres que levem avante a obra de estágio em estágio, silenciosa e inteligentemente, avançando, orando trabalhando economicamente, como obreiros apontados por Deus. A situação requer esforço pessoal, unido e completo. T7 235 3 "Tijolo sobre tijolo e se faz a parede mais alta; Um floco sobre outro e a neve é depositada." T7 235 4 Trabalho contínuo e paciente bem feito, deve ser o nosso lema. Um perseverante esforço, avançando passo a passo até que a corrida esteja concluída e a vitória conquistada. T7 235 5 Quando a obra de publicações em Nashville foi iniciada, foi assentado o propósito dos obreiros de evitar dívidas; mas num esforço desesperado para fazer tijolos sem palha nossos irmãos afastaram-se desse propósito e, como resultado, a obra envolveu-se em dificuldades. Entretanto, os homens de Deus em Nashville não devem ficar desanimados por causa disso. O trabalho não deve parar. Todos, agora, devem, com a maior seriedade, evitar os erros do passado. Guardem-se com uma cerca de arame farpado contra a inclinação de entrar em dívidas. Digam firmemente: "Daqui em diante não avançaremos mais rápido do que o Senhor indicar e do que permitirem os meios que tivermos em mãos, ainda que a boa obra tenha de esperar um pouco. Ao começar em novos lugares, será melhor trabalhar com orçamento apertado do que envolver a causa do Senhor em dívidas." T7 236 1 Não desanimem os que têm trabalhado com afinco para levar a obra até o presente estado de desenvolvimento no Sul. Façam o melhor para colocar em bases sólidas a obra em Nashville. O Senhor confia nesses valentes que lutam para fazer o que realmente tem de ser feito. O Senhor, na Sua piedade, bondade e amor, tem misericórdia deles. Aceita-os, ainda, como Seus coobreiros. O Senhor sabe tudo a respeito de cada um deles. Tiveram que passar pelo fogo da aflição, ao desbravarem o trabalho pioneiro. Deus será glorificado através desses obreiros que têm trabalhado juntamente com Ele no preparo do solo que nunca antes fora trabalhado. T7 236 2 Irmãos, temos no Sul um grande trabalho a ser feito, um trabalho que está apenas começando. Não devemos ficar onde estivemos durante anos, com medo de enfrentar esse trabalho. O Senhor reconhece o trabalho rigoroso e pesado que alguns fizeram e aprova os seus esforços de sacrifício próprio. Ele os têm abençoado. Eles estão recebendo sua recompensa ao verem aqueles que ajudaram a colocar os pés na Rocha dos Séculos, os quais por sua vez passaram a ajudar outros. T7 236 3 Meus irmãos do Sul, peço, em nome do Senhor Deus de Israel, que ajam como adultos. O Senhor está no leme. Ele dará aos seus servos graça e sabedoria. O propósito de Deus é que as pessoas em cargos de responsabilidade devem-se aconselhar e orar juntos em unidade cristã. Há vida na unidade, um poder que não pode ser obtido de outra maneira. Haverá um grande poder na igreja quando as energias dos seus membros estiverem sob o controle do Espírito. Então, Deus estará em condições de fazer um trabalho poderoso através de Seu povo para a conversão dos pecadores. T7 237 1 Deus vive e reina. Abrirá o caminho do negligenciado campo do Sul, para ser cultivado para Ele. Venham os obreiros com alegria, ajudarem o Senhor a proclamar a Sua verdade. O Senhor logo virá. Falem nisso, orem por isso, creiam assim. Que isso se torne uma parte de sua vida. Terão que enfrentar o espírito de dúvida e objeção, mas ele cederá em face da confiança firme e coerente em Deus. Ao surgirem perplexidade e empecilhos, elevem o espírito a Deus em cânticos e ações de graças. Usem a armadura do cristão, e certifiquem-se de ter "calçados os pés na preparação do evangelho da paz". Efésios 6:15. Preguem a verdade com audácia e fervor. Lembrem-se que o Senhor está olhando com compaixão esse campo, e conhece sua pobreza e necessidades. Os esforços não serão em vão. T7 237 2 Nossas igrejas do Sul precisam de uma ressurreição espiritual. Uma grande e solene obra está diante dos membros de cada igreja. Devem se aproximar de Cristo com abnegação e sacrifício próprio, com o único objetivo de dar a misericordiosa mensagem de Deus aos seus semelhantes. Trabalhem cuidadosamente e com humildade, respeitando o trabalho um do outro. Um pode trabalhar de um jeito e outros de outra maneira, de acordo com o chamado do Senhor. Mas não fiquem lamentando por não poder glorificar a Deus no uso de talentos que Ele não lhes confiou desempenhar. Deus somente nos responsabiliza pelo trabalho que Ele colocou em nossas mãos. Uma coisa todos podem fazer: Evitar que o trabalho dos outros fique desnecessariamente mais difícil, criticando seus esforços, colocando pedras na frente do carro que eles estão empurrando montanha acima. Se não estão dispostos a se dedicar à obra, pelo menos deixem de estorvar os que estão trabalhando. Deus chama obreiros que recusam desanimar seus colegas. T7 238 1 Como povo de Deus que trabalha fervorosamente, com humildade e sacrifício próprio, receberão a rica recompensa da qual fala Jó: "Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado... A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Dos necessitados era pai e as causas de que não tinha conhecimento inquiria com diligência." Jó 29:11-16. T7 238 2 As bênçãos das boas obras seguem para o mundo eterno para aqueles que negam a si mesmos por amor do seu Salvador. Quando os redimidos ficarem ao redor do trono de Deus, aqueles que foram salvos do pecado e da degradação, virão àqueles que trabalharam com eles, com as palavras: "Estava sem Deus e sem esperança no mundo. Estava perecendo na corrupção e pecado. Estava morrendo de fome pelo alimento físico e espiritual. Você veio a mim com amor e piedade, e alimentou-me e vestiu-me. Apontou-me o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." T7 238 3 Irmãos do Sul, sejam fortes, vamos, sejam fortes. A mão do opressor e explorador não os afligirá se exaltarem os princípios sagrados da lei de Deus. Quando o inimigo vier como um dilúvio, o Espírito do Senhor levantará contra ele um estandarte a seu favor. Vocês estão empenhados numa obra importante, e devem dar atenção, vigiar e orar, para preparar caminhos retos para os seus pés, a fim de que os menos capazes não se percam. Trabalhem tendo em vista somente a glória Deus, com o senso de sua responsabilidade individual. Lembrem-se de que somente o Senhor pode tornar seus esforços bem-sucedidos. T7 239 1 Os obreiros do Sul devem alcançar as mais altas realizações espirituais, para que seu trabalho nesse campo possa ser um sucesso. Oração em particular, em família, em reuniões públicas, para adorar a Deus, todas são essenciais. E devemos viver de acordo com nossas orações. Devemos cooperar com Cristo em Sua obra. T7 239 2 A união com Cristo e de uns com os outros é a nossa única segurança. Não vamos permitir a possibilidade de Satanás apontar para as nossas igrejas, dizendo: "Veja esse povo: fica debaixo da bandeira de Cristo, mas odiando um ao outro. Não temos nada a temê-los enquanto gastarem mais esforços lutando entre eles mesmos do que na batalha contra as minhas forças." T7 239 3 Precisamos aprender da experiência passada como evitar as falhas. Oramos ao nosso Pai celestial: "Não nos deixes cair em tentação," e então, muito freqüentemente, falhamos em guardar os nossos pés de não cairmos em tentação. Devemos estar longe das tentações, e assim será mais fácil vencer. O nosso êxito é acertado por nós mesmos através da graça de Cristo. Devemos rolar do caminho a pedra de tropeço que causa a nós mesmos e aos outros tanta tristeza. T7 239 4 Ao estabelecer a obra em novos lugares, economizemos em tudo que for possível. Cuidemos das migalhas; que nada se perca. A obra de salvar almas deve ser levada avante segundo a maneira traçada por Cristo. Ele declara: "Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me." Mateus 16:24. É unicamente pela obediência a essa palavra que podemos ser Seus discípulos. Estamos nos aproximando do fim da história deste mundo, e os vários ramos da obra de Deus devem ser desenvolvidos com muito mais sacrifício próprio do que até agora se tem manifestado. T7 240 1 Estamos nesse mundo para ajudar uns ao outros. Na obra de Cristo não há separação territorial, e aqueles que hoje tentam criar tais divisões na Sua obra seria melhor que orassem: "Senhor, dá-me um novo coração." Quando eles tiverem a mente de Cristo, poderão ver que há muitas partes na vinha de Cristo que ainda estão inexploradas. Jamais dirão: "Nossos meios são indispensáveis para levar avante os planos que temos em mãos. Portanto, não venham pedir ajuda." T7 240 2 Dia a dia os seres humanos estão decidindo uma questão de vida ou morte, decidindo se terão a vida eterna ou a destruição eterna. E muitos que professam servir ao Senhor estão satisfeitos em ocupar seu tempo e atenção com matérias de pouca importância. Estão contentes em ter divergências uns com os outros. Se fossem consagrados ao serviço do Mestre, não estariam contendendo como crianças indisciplinadas de uma família. Cada um ficaria no seu posto de dever, trabalhando de coração e alma como um missionário da cruz de Cristo. Que o Espírito Santo habite no coração dos obreiros e as obras da justiça sejam as conseqüências. Os obreiros devem levar consigo para o trabalho, as orações e simpatia de uma igreja desperta. Receberão ordens de Cristo, e não terão tempo para querelas. As mensagens sairão dos lábios tocados pela brasa viva do altar divino. Palavras sinceras e purificadas serão ditas. Orações de fé, de corações quebrantados e humildes acenderão aos Céus. Enquanto que com uma das mãos os obreiros seguram a Cristo, com a outra agarram as mãos dos pecadores e os levam para o Salvador. T7 241 1 "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no Céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. T7 241 2 "Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." Lucas 15:4-10. ------------------------Capítulo 47 -- Bom ânimo T7 242 1 Àqueles que estão trabalhando no Sul, digo: Não desanimem por causa da presente fragilidade do trabalho. Terão de lutar contra as dificuldades que às vezes ameaçam vencê-los. Mas, com a ajuda de Deus terão condições de avançar. Se todos em nossas fileiras soubessem quão difíceis foram os anos passados, para estabelecer a obra em lugares que desde então se tornaram centros importantes, perceberiam quanta coragem é requerida para enfrentar as situações difíceis e declarar, com as mãos levantadas para o Céu: "Não falharemos, nem ficaremos desanimados." Aqueles que não iniciaram algum trabalho em um novo território não sabem das dificuldades do trabalho pioneiro. Se pudessem compreender a atuação de Deus, não somente se regozijariam pelo que têm visto, mas se alegrariam pelo que poderão ver no futuro da obra. T7 242 2 Meus irmãos, não há razão para desânimo. A boa semente foi semeada. Deus está vigiando, fazendo brotar e produzir abundantes colheitas. Lembrem-se de que muitos empreendimentos para salvar almas foram, no começo, levados avante em meio a muitas dificuldades. T7 242 3 Fui instruída a dizer-lhes: Avancem cuidadosamente, fazendo sempre o que manda o Senhor. Avancem corajosamente, seguros de que o Senhor estará sempre com aqueles que O amam e servem. Ele irá operar a favor do povo que guarda a Sua aliança. Purificará a todos que se submetem a Ele, fazendo-os um louvor para o mundo. Nada neste mundo é tão caro para Deus como Sua igreja. Ele atuará com extraordinário poder através dos humildes e fervorosos. Cristo lhes está dizendo hoje: "Eu estou com vocês, cooperando com seus fiéis e confiantes esforços, e dando-lhes vitórias preciosas. Estarei fortalecendo e santificando-os para o Meu serviço. Dar-lhes-ei êxito no esforços para despertar as pessoas que estão mortas em transgressões e pecados." T7 243 1 A fé inabalável e o amor altruísta irão sobrepujar as dificuldades que podem se colocar no caminho do dever para comprometer uma batalha agressiva. Os que foram inspirados por essa fé irão avançar na obra de salvar almas, correndo e não se fatigando, andando e não se desfalecendo. T7 243 2 Asseguro-lhes que se trabalharem de maneira correta, Deus fará com que seus inimigos fiquem em paz com vocês. Ele irá sustentá-los e fortalecê-los. Façam uma aliança com Deus e tomem cuidado com suas palavras. "Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo." Tiago 3:2. Lembrem-se de que um discurso de vingança nunca faz a pessoa sentir ter ganho uma vitória. Deixem que Cristo fale por seu intermédio. Não percam a bênção que advém de não pensar o mal. T7 243 3 Lembrem-se de que a oração é a fonte de sua força. Não pode um obreiro alcançar êxito enquanto se apressa em suas orações, e sai em disparada para tratar de alguma coisa que teme que possa vir a ser negligenciada ou esquecida. Dedica ele a Deus uns poucos momentos apressados; não toma mais tempo para pensar, orar, esperar no Senhor a renovação da robustez física e espiritual. Logo fica cansado. Não sente a influência elevadora e inspiradora do Espírito de Deus. Não é vivificado por vida nova. O corpo exausto e a mente cansada não são refrigerados pelo contato pessoal com Cristo. T7 243 4 "Espera no Senhor, anima-te, e Ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor." Salmos 27:14. "Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor." Lamentações 3:26. Há aqueles que trabalham todo o dia e até tarde da noite para fazer o que parece para eles o que deve ser feito. O Senhor olha piedosamente para os que levam encargos pesados e exaustivos, dizendo-lhes: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei." Mateus 11:28. T7 244 1 Os obreiros de Deus enfrentam tumulto, desconforto e exaustão. Às vezes, indecisos e perturbados, quase entram em desespero. Quando essa insanidade nervosa chega, devem se lembrar do convite de Cristo: "Vinde... repousar um pouco." Marcos 6:31. O Senhor "dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor." Isaías 40:29. T7 244 2 Surgirão dificuldades para provar sua fé e paciência. Enfrentem-nas com bravura. Observem o lado luminoso. Se a obra está em dificuldade, assegure-se de que não é por sua culpa, e então prossiga, regozijando-se no Senhor. T7 244 3 O Céu é um lugar de alegria. Ressoa com o louvor Àquele que fez tão maravilhoso sacrifício pela redenção da raça humana. Não deve a igreja na Terra ser também um lugar feliz? Não devem os cristãos proclamar, pelo mundo inteiro, o prazer de servir a Cristo? Os que tiverem que unir-se com o coro angélico, lá no Céu, em suas antífonas de louvor, devem aprender aqui na Terra o cântico celestial, cuja nota tônica é a ação de graças. T7 244 4 Não permita jamais que sua coragem falhe. Jamais fale de incredulidade porque as aparências são contrárias. Ao trabalhar para o Mestre você sentirá pressão pela carência de meios, mas o Senhor ouvirá e responderá a suas orações por auxílio. Seja sua linguagem: "Porque o Senhor Jeová Me ajuda, pelo que Me não confundo; por isso, pus o Meu rosto como um seixo e sei que não serei confundido." Isaías 50:7. T7 244 5 Se você cometer algum erro, transforme sua derrota em triunfo. As lições que Deus envia, quando bem aprendidas, trarão auxílio em tempo oportuno. Coloque em Deus a sua confiança. Ore muito, e creia. Confiando, esperando, crendo, apegando-se à mão do Poder Infinito, você será mais do que vencedor. T7 245 1 Os verdadeiros obreiros avançam e trabalham pela fé. Eles algumas vezes desanimam ao observar o pequeno avanço da obra, quando é mais difícil a batalha entre as forças do bem e do mal. Mas se não se permitirem fracasso nem desânimo, verão desfazerem-se as nuvens, e cumprir-se a promessa de livramento. Através da névoa com que Satanás os cercou, verão o resplendor dos brilhantes raios do Sol da Justiça. T7 245 2 Trabalhe com fé e deixe com Deus os resultados. Ore com fé, e o mistério de Sua providência dará a resposta. Por vezes, parecerá que você não vai vencer. Trabalhe, porém, e creia, pondo nos seus esforços fé, esperança e ânimo. Depois de haver feito o quanto possível, espere pelo Senhor, declarando a Sua fidelidade, e Ele cumprirá a Sua palavra. Espere, não com impaciente ansiedade, mas com fé inquebrantável e confiança inabalável. T7 245 3 "Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?... Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?... Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" Romanos 8:31-39. T7 245 4 "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." 1 Pedro 4:10. ------------------------Capítulo 48 -- Os pastores e os negócios T7 246 1 Foram-me dadas instruções quanto à importância de nossos pastores se manterem livres das responsabilidades que devem, em grande medida, pesar sobre os homens de negócios. Encontrava-me uma noite, em visão, numa reunião de vários de nossos irmãos que têm a responsabilidade da obra. Eles se achavam profundamente perplexos com relação às questões financeiras, e se consultavam acerca da maneira como a obra poderia ser dirigida com mais êxito. Pensavam alguns que o número dos obreiros deveria ser limitado, conseguindo-se apesar disso todos os resultados essenciais. Um dos irmãos, que ocupava uma posição de responsabilidade, estava expondo seus planos e declarando o que ele desejava ver executado. Vários outros apresentaram pontos a considerar. Então ergueu-Se Alguém de dignidade e autoridade, e passou a expor princípios para nossa orientação. A vários pastores, disse Aquele que falava: T7 246 2 "Sua obra não é o controle de questões financeiras. Não é sábio de sua parte o empreendê-lo. Deus tem responsabilidades para vocês, mas se forem dirigir setores de trabalho para os quais não estão aptos, seus esforços para apresentar a Palavra serão malsucedidos. Isso lhes trará um desânimo que os tornará incapazes para a verdadeira obra que deveriam executar -- uma obra que exige cuidadoso discernimento, e juízo são e desinteressado." T7 247 1 Os que são empregados para escrever e pregar a Palavra devem assistir a menos reuniões de comissões. Devem confiar muitas questões de menor importância a homens de aptidões administrativas, evitando assim manterem-se numa contínua tensão que lhes roube à mente o vigor natural. Devem dar muito mais atenção à conservação da saúde física; pois o vigor mental depende grandemente do físico. Os devidos períodos de sono e repouso, e abundância de exercício corporal, são essenciais à saúde física assim como à mental. Roubar à natureza suas horas de repouso e restauração, por permitir-se a um homem fazer o trabalho de quatro, ou de três, ou mesmo de dois, irá resultar em perda irreparável. Preparo no ramo comercial T7 247 2 Os que julgam que as aptidões de um homem para certo cargo o habilitam para ocupar várias outras funções vão cometer erros ao fazer planos para o avanço da obra. Podem colocar sobre uma pessoa os cuidados e encargos que deveriam ser divididos entre várias. T7 247 3 A experiência é de grande valor. O Senhor deseja ver relacionados com Sua obra homens inteligentes, aptos para vários cargos de confiança em nossas associações e instituições. Necessitam-se especialmente de consagrados homens de negócios que sigam em toda transação comercial os princípios da verdade. Os que têm a seu cargo questões de finanças não devem assumir outras responsabilidades, às quais sejam incapazes de desempenhar; tampouco deve a gerência da parte comercial ser confiada a homens incompetentes. Os que têm a seu cargo a obra, têm errado por vezes, permitindo a indicação de homens destituídos de tato e habilidade para gerirem importantes interesses financeiros. T7 248 1 Homens promissores no ramo comercial devem desenvolver e aperfeiçoar seus talentos mediante estudo e prática. Devem ser estimulados a colocar-se num lugar em que, como alunos, possam adquirir rapidamente o conhecimento dos corretos princípios e métodos comerciais. Nenhum homem de negócios atualmente ligado à causa deve deixar de ampliar sua experiência. Se há em qualquer ramo de trabalho, homens que devam aproveitar suas oportunidades para tornar-se sábios e eficientes, esses são os que estão empregando sua capacidade na obra de estabelecer o reino de Deus em nosso mundo. Dado o fato de vivermos tão próximos do encerramento da história deste mundo, deve haver maior exatidão no trabalho, mais vigilante expectativa, mais vigiar, orar e trabalhar. O instrumento humano deve se esforçar por alcançar a perfeição, a fim de ser um cristão ideal, completo em Cristo Jesus. Essenciais os princípios corretos T7 248 2 Os que trabalham nos ramos comerciais devem tomar toda precaução contra o falhar em razão de princípios ou métodos errôneos. Seu relatório deve ser como o de Daniel na corte de Babilônia. Quando todas as suas transações comerciais eram submetidas ao mais rigoroso exame, não se podia encontrar nem uma falta. O registro de sua vida profissional, embora incompleto, contém lições dignas de consideração. Revela que um homem de negócios não tem de ser necessariamente um homem astuto e cheio de habilidades políticas. Pode ser um homem instruído por Deus a cada passo. Ao mesmo tempo que era primeiro-ministro do reino de Babilônia, Daniel era profeta de Deus, recebendo a luz da inspiração celestial. Sua vida é um exemplo do que cada homem de negócios cristão pode ser. T7 248 3 Deus não aceita o mais esplêndido serviço, a não ser que o próprio eu haja sido colocado sobre o altar em sacrifício vivo, a consumir-se. A raiz deve ser santa, do contrário não pode haver fruto de boa qualidade, saudável, o único que pode ser aceito por Deus. O coração tem que ser convertido e consagrado. Os interesses devem ser corretos. A lâmpada deve estar suprida com o óleo que vem dos mensageiros celestiais através dos tubos de ouro que vêm do vaso de ouro. A comunicação de Deus jamais atinge o homem sem conseqüências. T7 249 1 Verdades preciosas e vitais, estão entrelaçadas com o bem-estar eterno do homem, tanto nesta vida como na eternidade, à nossa disposição. "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade." João 17:17. A Palavra de Deus deve ser colocada em prática. Ela é viva e perene. Enquanto as ambições mundanas, os projetos atuais e os mais altos planos e desígnio dos homens hão de perecer como a erva, "os sábios... resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre, sempre e eternamente". Daniel 12:3. T7 249 2 A causa de Deus encontra-se, neste tempo, em necessidade de homens e mulheres possuidores de raras qualidades e boas aptidões administrativas; homens e mulheres que cuidem paciente e inteiramente das necessidades da obra nos vários campos; que sejam dotados de grande capacidade de trabalho; que possuam coração fervoroso e bondoso, cabeça refletida, bom senso, juízo imparcial; que sejam santificados pelo Espírito de Deus, e possam dizer destemidamente Não, ou Sim, ou Amém, aos planos propostos; que tenham fortes convicções, entendimento claro, e coração puro e compassivo; que ponham em prática as palavras: "Todos vós sois irmãos" (Mateus 23:8); que se esforcem por erguer e restaurar a humanidade caída. ------------------------Capítulo 49 -- Consagrar tempo para conversar com Deus T7 250 1 Tenho recebido instruções especiais quanto a nossos pastores. Não é a vontade de Deus que eles tentem ser ricos. Não se devem meter em empresas mundanas; pois isso os incapacita para dedicar suas melhores energias às coisas espirituais. Mas devem receber o suficiente para manter-se, bem como a sua família. Não devem ter tantas responsabilidades que não possam dar a devida atenção à igreja que é sua própria família; pois é seu especial dever educar os próprios filhos para o Senhor. T7 250 2 É grande erro manter um pastor constantemente ocupado com negócios, viajando de um lugar para outro, e ficando até tarde da noite assistindo a reuniões de mesas e comissões. Isso o fatiga e o deixa sem ânimo. Os pastores devem ter tempo para descansar, para obter da Palavra de Deus o rico alimento do pão da vida. Devem ter tempo para beber da agradável consolação da corrente de água viva. T7 250 3 Lembrem-se os pastores e professores de que Deus os considera responsáveis quanto a desempenhar sua função da melhor maneira possível, e pôr em sua obra o melhor de suas energias. Não devem assumir deveres que estejam em conflito com a obra que Deus lhes deu. T7 250 4 Quando pastores e professores, premidos pelo peso de responsabilidades financeiras, sobem ao púlpito ou entram na sala de aula com o cérebro fatigado e os nervos sobrecarregados, que se pode esperar senão que se use aquele fogo comum, em lugar do fogo sagrado ateado por Deus? Os tensos e impotentes esforços decepcionam os ouvintes, e prejudicam ao que fala. Ele não dedicou tempo para buscar ao Senhor, não consagrou tempo para pedir com fé a unção do Espírito Santo. T7 251 1 Para que os esforços dos obreiros de Deus sejam bem sucedidos, devem receber a graça e eficiência que somente Ele pode dar. "Pedi, e recebereis" (João 16:24), é a promessa. Então, por que não tirar um tempo para pedir, para abrir a mente às impressões do Espírito Santo, para que a mente possa receber o suprimento viçoso da vida? O próprio Cristo se dedicava muito a oração. Em qualquer tempo que tivesse oportunidade, ia à parte para estar a sós com Deus. Quando nos inclinamos humildemente diante de Deus em oração, Ele coloca a brasa viva do Seu altar nos nossos lábios, santificando-os para o trabalho de dar as verdades bíblicas ao povo. T7 251 2 Recebi instruções para dizer a meus coobreiros: Se querem obter os ricos tesouros do Céu, precisam manter íntima comunhão com Deus. A menos que façam isso, sua alma será tão destituída do Espírito Santo como os montes de Gilboa em relação ao orvalho e à chuva. Quando correm de um compromisso para outro, quando têm tanto que fazer que não conseguem dedicar algum tempo para conversar com Deus, como podem esperar poder em sua obra? T7 251 3 A razão por que tantos de nossos pastores pregam sermões fracos, sem vida, é deixarem que uma porção de coisas de natureza mundana lhes ocupe o tempo e atenção. A não ser que haja contínuo crescimento na graça, irão faltar as palavras apropriadas à ocasião. Comunguem com o próprio coração, e depois, comunguem com Deus. A menos que façam assim, seus esforços serão infrutíferos, por causa da pressa não santificada e por causa da confusão. T7 251 4 Pastores e professores, que em sua obra seja percebida a preciosa graça espiritual. Não a tornem comum, misturando-a com coisas profanas. Avancem para frente e para cima. Purifiquem-se "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus". 2 Coríntios 7:1. T7 251 5 Precisamos de nos converter diariamente. Nossas orações devem ser mais fervorosas; então serão mais eficazes. Cada vez mais forte deve ser nossa confiança de que o Espírito de Deus há de estar conosco, tornando-nos puros e santos, tão retos e fragrantes como o cedro do Líbano. T7 252 1 Os ministros do evangelho devem manter suas atividades livres de todas as interferências seculares ou políticas, empregando todo o seu tempo e talentos em ramos de esforço cristão. T7 252 2 Reter um pastor num lugar, dando-lhe a administração de assuntos financeiros da obra da igreja, não lhe favorece a espiritualidade. Fazer isso não está em conformidade com o plano bíblico, esboçado no capítulo seis de Atos. Esse plano deve ser estudado, pois é aprovado por Deus. A Palavra deve ser seguida. T7 252 3 Aquele que expõe a Palavra da vida não deve permitir que sobre ele sejam colocados encargos demasiados. Ele precisa tomar tempo para estudar a Palavra e examinar-se a si mesmo. Se examinar rigorosamente o próprio coração e entregar-se ao Senhor, melhor saberá como entender os mistérios de Deus. T7 252 4 Em vez de escolher o trabalho que mais nos agrade, e recusar realizar alguma coisa que nossos irmãos julgam devermos fazer, cumpre-nos indagar: "Senhor, que queres que eu faça?" Atos 9:6. Em vez de marcar o caminho que a inclinação natural nos indica para seguir, devemos orar: "Ensina-me, Senhor, o Teu caminho, e guia-me pela vereda direita." Salmos 27:11. T7 252 5 Detalhes financeiros da obra urbana -- Nossos pastores devem aprender a despreocupar-se das questões comerciais e financeiras. Repetidamente me tem sido comunicado que não é essa a ocupação do pastor. Não deve ele ser sobrecarregado com os pormenores comerciais, embora se trate do trabalho nas cidades, mas dispor de tempo para visitar os lugares em que foi despertado o interesse pela mensagem, e especialmente para assistir às reuniões de assembléias. No decorrer dessas reuniões, nossos obreiros não devem pensar que é necessário permanecerem na cidade para atender aos assuntos comerciais relacionados com os vários ramos do trabalho que ali é feito; nem devem abandonar apressados as reuniões de assembléia para fazer essa espécie de trabalho. T7 253 1 Aqueles que têm a seu cargo as nossas Associações devem buscar pessoas preparadas para atenderem aos pormenores financeiros do trabalho nas cidades. Se não for possível encontrar esses homens, que sejam providenciados os meios a fim de treinar homens para assumir essas responsabilidades. T7 253 2 Financistas consagrados -- As instituições escandinavas não precisariam estar nas condições em que se encontram se, anos atrás, os nossos irmãos nos Estados Unidos tivessem feito o que deveriam. Alguém com experiência no ramo comercial, com conhecimento prático de finança, deveria ter sido enviado a Europa para supervisionar a contabilidade de nossas instituições. Ainda que esse trabalho exigisse mais do que uma pessoa, deveria ser realizado. Assim, milhares e milhares de dólares teriam sido poupados. T7 253 3 Pessoas com essa capacidade deveriam ter sido empregadas na nossa obra nos Estados Unidos, pessoas devotadas a Deus, que conhecem os princípios dos Céus, que aprenderam o que significa andar com Deus. Se essas pessoas supervisionassem as finanças de nossas Associações e instituições haveria hoje em nossa tesouraria suficiente dinheiro e nossas instituições estariam agora onde Deus declara que deveriam estar, auxiliando a obra no desprendimento e sacrifício próprio. ------------------------Capítulo 50 -- O trabalho do pastor T7 254 1 Muitos campos maduros para colheita ainda não foram alcançados, por causa da falta de colaboradores altruístas. Esses campos devem ser penetrados, e muitos obreiros deveriam ser enviados custeando suas próprias despesas. Mas alguns de nossos ministros estão pouco dispostos a assumir a responsabilidade por esse trabalho com um coração benevolente como caracterizava a vida de nosso Senhor. T7 254 2 Deus Se entristece ao ver a falta de sacrifício próprio e perseverança de Seus servos. Os anjos ficam perplexos diante dessa situação. Que os obreiros de Cristo estudem Sua vida de sacrifício próprio. Ele é o nosso exemplo. Podem os pastores de hoje esperar ser chamados a suportar menos dureza do que os primeiros cristãos, os valdenses e os reformadores, em diferentes épocas, no seus esforços para levar o evangelho a todo mundo? T7 254 3 Deus confiou a Seus ministros a tarefa de proclamar a última mensagem de misericórdia ao mundo. Está descontente com aqueles que não colocam todas as suas energias nesse trabalho da maior importância. A falta de fé da parte dos vigias colocados sobre os muros de Sião põe em perigo a causa da verdade e a expõe ao ridículo do inimigo. É tempo de os pastores compreenderem a responsabilidade e a santidade de sua missão. Sobre eles pesa uma penalidade, caso deixem de fazer a obra que eles mesmos reconhecem que Deus colocou em suas mãos. T7 254 4 Não são poucos os pastores que estão negligenciando o próprio trabalho para cuja realização foram designados. Por que são aqueles que foram destinados para o ministério colocados em comissões e mesas? T7 255 1 Por que são solicitados a assistir a tantas reuniões de negócios, muitas vezes a grandes distâncias de seu campo de trabalho? Por que não são as questões comerciais postas nas mãos dos homens de negócios? Os pastores não foram separados para fazer essa obra. As finanças da causa devem ser dirigidas por homens hábeis; mas aqueles foram separados para outro ramo de trabalho. Que a administração de assuntos financeiros fique com outros e não com aqueles que foram ordenados para o ministério. T7 255 2 Os pastores não devem ser chamados para aqui e para ali para assistir a reuniões de mesas a fim de decidir questões de negócios comuns. Muitos de nossos pastores têm feito essa obra no passado, mas não é aquela em que o Senhor deseja que eles se empenhem. Demasiados encargos financeiros têm sido postos sobre eles. Quando procuram levar esses encargos, negligenciam o cumprimento da comissão evangélica. Deus considera isso como uma desonra ao Seu nome. T7 255 3 A grande vinha do Senhor requer de Seus servos algo que ainda não tem sido realizado: sincero e perseverante trabalho pela salvação das pessoas. O ministério está se tornando fraco, debilitado e, com um serviço insípido, fazendo com que as igrejas também se tornem enfraquecidas. Como resultado de seus esforços, os ministros têm pouco a mostrar em termos de conversões. A verdade não está sendo levada aos lugares mais difíceis. Essas coisas estão privando a Deus da glória que Lhe pertence. Ele está clamando por obreiros que produzam e também sejam consumidores. T7 255 4 O mundo deve ser advertido. Obreiros devem trabalhar sincera e devotadamente abrindo novos campos e empenhando-se pessoalmente pelos pecadores, em vez de ficar nas igrejas que já têm grande luz e muitas vantagens. ------------------------Capítulo 51 -- Reuniões de comissões T7 256 1 Lembrem-se os que assistem a reuniões de comissões, que eles ali se reúnem com Deus, que lhes deu a sua tarefa. Reúnam-se com reverência e coração consagrado. Estão reunidos para estudar questões importantes relacionadas com a causa do Senhor. Em todos os pormenores devem os seus atos mostrar que estão desejosos de conhecer a Sua vontade no tocante aos planos a serem delineados para a promoção da obra de Deus. Não percam um momento com conversas destituídas de importância, pois os negócios do Senhor devem ser efetuados de modo prático, perfeito. Se algum membro de uma comissão é descuidado e irreverente, seja ele lembrado de que se acha na presença de uma Testemunha por quem são pesados todos os atos. T7 256 2 Fui instruída quanto a que nem sempre as reuniões de comissões agradam a Deus. Alguns têm comparecido a essas reuniões com espírito indiferente, endurecido, crítico, não amoroso. Esses podem produzir grande dano, pois com eles está o maligno, que os conserva no lado errado. Não raro sua atitude insensível para com medidas que estão sendo estudadas produz perplexidade, retardando decisões que deveriam ser tomadas. Os servos de Deus, necessitados de repouso de espírito e sono, têm ficado grandemente aflitos e preocupados com esses assuntos. Com a esperança de chegar a uma decisão, prolongam suas reuniões até altas horas da noite. Mas a vida é demasiado preciosa para ser dessa forma posta em perigo. Deixem que o Senhor leve a carga. Dêem tempo para que Ele ajuste as dificuldades. Ofereçam repouso ao cérebro cansado. Trabalhar demais é destrutivo para as faculdades físicas, mentais e morais. Se forem concedidos ao cérebro períodos apropriados de repouso, os pensamentos serão claros e incisivos, e os trabalhos serão feitos com rapidez. Relação da alimentação com as reuniões de comissão T7 257 1 Antes de nossos irmãos se reunirem em concílio ou reuniões de comissão, deve cada um apresentar-se perante Deus, perscrutando cuidadosamente o coração e examinando-lhe rigorosamente os motivos. Orem para que o Senhor lhes revele, de maneira que não critiquem nem condenem imprudentemente alguma proposta. T7 257 2 Em mesas lautas, os homens muitas vezes comem muito mais do que pode ser digerido com facilidade. O estômago sobrecarregado não pode fazer devidamente seu trabalho. O resultado é uma sensação desagradável de embotamento do cérebro, e a mente não age com rapidez. Criam-se perturbações mediante combinações impróprias de alimentos; há fermentação; o sangue fica contaminado e o cérebro confuso. T7 257 3 O hábito de comer em demasia, ou de comer demasiada variedade de alimentos na mesma refeição, causa freqüentemente dispepsia. Sério dano é assim causado aos delicados órgãos digestivos. Em vão protesta o estômago, e apela para o cérebro a fim de que raciocine da causa para o efeito. A quantidade excessiva de alimento ingerido, ou a sua combinação imprópria, faz a sua obra prejudicial. Em vão dão sua advertência os avisos desagradáveis. O sofrimento é a conseqüência. A doença toma o lugar da saúde. T7 257 4 Perguntarão alguns: Que tem isso a ver com as reuniões de comissões? Muitíssimo. Os efeitos da alimentação errada são levados para as reuniões de concílios e comissões. O cérebro é afetado pelo estado do estômago. O estômago perturbado produz estado de espírito perturbado, indeciso. O estômago doente produz estado doentio do cérebro, tornando muitas vezes a pessoa obstinada em manter opiniões errôneas. A suposta sabedoria dessa pessoa é loucura para com Deus. T7 258 1 Apresento isso como a causa da situação em muitas reuniões de concílio e de comissões, nas quais bem pouca consideração foi dada a assuntos que exigiam estudo atento e decisões da maior importância foram tomadas precipitadamente. Muitas vezes, quando deveria ter havido unanimidade de sentimento na afirmativa, opiniões decididamente negativas mudaram inteiramente a atmosfera de uma reunião. Esses resultados têm-me sido apresentados repetidas vezes. T7 258 2 Apresento esses assuntos agora porque fui instruída a dizer aos meus irmãos no ministério: Pela intemperança no comer, vocês ficam incapacitados para ver com clareza a diferença existente entre o fogo sagrado e o comum. E por essa intemperança também revelam desrespeito pelas advertências que o Senhor lhes fez. Sua palavra é: "Quem há entre vós que tema a Jeová, e ouça a voz do Seu servo? quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus. Eis todos vós, que acendeis fogo, e vos cingis com faíscas; andai entre as labaredas do vosso fogo, e entre as faíscas que acendestes; isto vos vem da Minha mão, e em tormentos jazereis." Isaías 50:10, 11. T7 258 3 Não deveremos nos aproximar do Senhor para que Ele nos salve de toda intemperança no comer e beber, de toda paixão profana, sensual, de toda impiedade? Não deveremos nos humilhar perante Deus, pondo de lado tudo quanto corrompa a carne e o espírito, para que em seu temor possamos aperfeiçoar a santidade de caráter? T7 258 4 Que cada um dos que se assentam em concílios e reuniões de comissões escreva no coração as palavras: Estou trabalhando para o tempo e a eternidade; eu sou responsável perante Deus pelos motivos que me levam à ação. Seja esse o seu lema. Seja sua a oração do salmista: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios. Não inclines o meu coração para o mal." Salmos 141:3, 4. T7 259 1 Ao dar conselho para o avanço da obra, homem nenhum sozinho deve ser um poder dominante, uma voz por todos. Os métodos e planos que forem propostos devem ser considerados com cuidado, de modo que todos os irmãos possam pesar os méritos relativos e resolver que métodos e planos devem ser seguidos. Ao estudar os campos para os quais nos pareça que o dever nos chama, convém levar em conta as dificuldades que ali serão encontradas. T7 259 2 Tanto quanto possível, devem as comissões fazer com que o povo compreenda os seus planos, a fim de que a opinião da igreja possa amparar-lhes os esforços. Muitos membros da igreja são prudentes e possuem outras excelentes qualidades de espírito. É necessário despertar-lhes o interesse no progresso da causa. Muitos poderão ser levados a ter conhecimento mais profundo da obra de Deus e buscar sabedoria do alto para estender o reino de Cristo, salvando almas que estão a perecer por falta de acesso ao pão da vida. Homens e mulheres de espírito nobre hão de ser ainda acrescentados ao número dos de quem está escrito: "Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, ... para que vades e deis fruto." João 15:16. ------------------------Capítulo 52 -- Disciplina da igreja T7 260 1 Ao tratar com membros que cometem faltas, o povo de Deus deve seguir estritamente as instruções dadas pelo Salvador no décimo oitavo capítulo de Mateus. T7 260 2 Os seres humanos são propriedade de Cristo, resgatados por preço infinito, e estão vinculados a Ele pelo amor que Ele e o Pai têm manifestado. Que cuidado devemos por isso exercer em nosso relacionamento! O homem não tem o direito de suspeitar mal de seu semelhante. Os membros da igreja não têm o direito de seguir seus próprios impulsos e inclinações no trato com irmãos que cometeram faltas. Não devem nem mesmo manifestar qualquer preconceito em relação a eles, porque assim fazendo implantam no espírito de outros o fermento do mal. Informações desfavoráveis a algum irmão ou irmã são transmitidas entre os irmãos de um para outro, e praticam-se erros e injustiças pelo único fato de que alguém não está disposto a obedecer às instruções do Senhor Jesus. T7 260 3 "Se teu irmão pecar contra ti", disse Cristo, "vai, e repreende-o entre ti e ele só." Mateus 18:15. Não se deve contar a outros o caso de um irmão. Confia-se o caso a uma pessoa, a outra e mais outra; e o mal continua crescendo até que toda a igreja vem a sofrer. O correto é resolver o caso "entre ti e ele só". Esse é o plano divino. "Não te apresses o litigar, para depois, ao fim, não saberes o que hás de fazer, podendo-te confundir o teu próximo. Pleiteia a tua causa com o teu próximo mesmo, e não descubras o segredo de outro." Provérbios 25:8, 9. Não devemos tolerar o pecado em nosso irmão; mas também não o exponhamos ao opróbrio, aumentando assim a dificuldade, de modo que a repreensão pareça vingança. Vamos corrigi-lo do modo proposto na Palavra de Deus. T7 261 1 Não permitamos que nosso ressentimento resulte em maldade. Não consintamos que a ferida supure, abrindo-se em termos envenenados, que venham a deixar nódoa no espírito dos que nos ouvem. Não admitamos que persistam em nosso espírito e no dele pensamentos de amargura. Vamos até nosso irmão para, com humildade e sinceridade, conversar com ele sobre o assunto. T7 261 2 Seja qual for a natureza da ofensa, ela não impede que se adote o mesmo plano divino para dirimir mal-entendidos e ofensas. Falar a sós e no espírito de Cristo com a pessoa que praticou a falta bastará, geralmente, para remover a dificuldade. Portanto, deve-se conversar com a pessoa que cometeu a falta e, com o coração cheio do amor e da simpatia de Cristo, buscar com ela a reconciliação. Arrazoar com ela com calma e mansidão. Não se exprimir em termos violentos. Falar-lhe em tom que apele para o bom senso, lembrando as palavras: "Aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados." Tiago 5:20. T7 261 3 Levemos a nosso irmão o remédio que pode curar o mal-estar da desavença. Façamos todo o possível para levantá-lo. Por amor à paz e unidade da igreja, consideremos um privilégio, senão um dever, fazer isso. Se ele nos ouvir, teremos ganho um amigo. T7 261 4 Todo o Céu toma interesse na entrevista que se efetua entre o ofendido e o ofensor. Se este aceita a repreensão ministrada no amor de Cristo, reconhecendo sua falta e pedindo perdão a Deus e ao irmão, a luz celestial lhe inundará o espírito. A controvérsia estará terminada e restabelecida a confiança. O santo óleo do amor faz cessar a dor provocada pela injustiça. O Espírito de Deus torna a unir os corações e há no Céus música pelo restabelecimento da união. T7 262 1 Quando as pessoas desse modo unidas em comunhão cristã fazem orações a Deus, comprometendo-se a proceder retamente, amar a misericórdia e andar diante dEle em humildade, recebem grandes bênçãos e, se tiverem feito injustiças a outros, prosseguirão em sua obra de arrependimento, confissão e restituição, inteiramente dispostas a praticar mutuamente o bem. Esse é o cumprimento da lei de Cristo. T7 262 2 "Se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada." Mateus 18:16. Diante de irmãos espirituais, deve-se falar acerca da falta com o que estiver em erro. É possível que ceda ao apelo desses irmãos. Vendo que eles concordam no assunto, talvez se persuada. T7 262 3 "E, se não as escutar", que se deverá fazer então? Deverão alguns poucos, em reunião de comissão tomar a responsabilidade de excluir o irmão? "Se não as escutar", continua dizendo Jesus, "dize-o à igreja." Mateus 18:17. Deve a igreja decidir o caso de seus membros. T7 262 4 "Se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." Mateus 18:17. Se não atender à igreja, se rejeitar os esforços feitos para reconquistá-lo, é a igreja que deve tomar a si a responsabilidade de excluí-lo de sua comunhão. Seu nome deve então ser riscado do livro. T7 262 5 Nenhum oficial de igreja deve aconselhar, nenhuma comissão recomendar e igreja alguma votar a eliminação dos livros do nome de alguém que haja cometido falta, sem que as instruções de Cristo a esse respeito sejam fielmente cumpridas. Se essas instruções forem observadas, a igreja será purificada diante de Deus. A injustiça tem que aparecer tal como é e ser removida, para que não prolifere. O bem-estar e a pureza da igreja devem ser salvaguardados para que possa estar sem mancha diante de Deus, revestida da justiça de Cristo. T7 263 1 Quando a pessoa que errou se arrepende e se submete à disciplina de Cristo, deve ter uma nova oportunidade. E mesmo que não se arrependa e venha a ser excluída da igreja, os servos de Deus têm o dever de com ela tentar esforços, buscando induzi-la ao arrependimento. Se se render à influência do Espírito de Deus, dando prova de arrependimento, confessando o pecado e a ele renunciando, por mais grave que seja, deve merecer o perdão e ser de novo recebida na igreja. Aos irmãos compete encaminhá-la pela vereda da justiça, tratá-la como desejariam ser tratados em seu lugar, olhando por si mesmos para que não sejam do mesmo modo tentados. T7 263 2 "Em verdade vos digo", prossegue Jesus, "que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. T7 263 3 Essas palavras de Cristo conservaram sua autoridade em todos os tempos. À igreja foi conferido o poder de agir em lugar de Cristo. É a agência de Deus para a conservação da ordem e disciplina entre Seu povo. A ela o Senhor delegou poderes para resolver todas as questões concernentes à sua prosperidade, pureza e ordem. Sobre ela impôs a responsabilidade de excluir de sua comunidade os que dela são indignos, os que por seu procedimento anticristão acarretam desonra para a causa da verdade. Tudo quanto a igreja fizer em conformidade com as instruções dadas na Palavra de Deus, será sancionado no Céu. T7 263 4 Surgem muitas vezes questões graves que têm que ser liqüidadas pela igreja. Os ministros de Deus, por Ele ordenados para guia de Seu povo, devem, depois de fazer sua parte, submeter todas as questões à igreja a fim de que possa haver unidade na decisão a tomar. T7 264 1 O Senhor exige muito cuidado da parte de Seus seguidores no trato recíproco. Sua missão é elevar, restaurar e curar. Todavia, cumpre não negligenciar a disciplina da igreja. Os membros devem considerar-se alunos de uma escola, cumprindo-lhes aprender a formar caráter digno de sua alta vocação. Na igreja, aqui, os filhos de Deus devem ser preparados para a grande reunião da igreja no Céu. Os que aqui levam vida de conformidade com a doutrina de Cristo, podem ter a certeza de uma vida eterna na família dos remidos. T7 264 2 O amor de Deus à raça caída é uma manifestação peculiar de amor -- amor originado da graça, porque os seres humanos não o merecem. A graça supõe imperfeição naquele que a recebe. Como conseqüência do pecado, a graça se tornou necessária. T7 264 3 É possível que, para a formação de nosso caráter, muito trabalho seja ainda requerido e sejamos ainda pedra tosca que tem de ser burilada antes de poder preencher dignamente seu lugar no templo de Deus. Não devemos nos surpreender, pois, que, com o martelo e o cinzel, Deus Se ponha a desbastar as arestas para ocuparmos o lugar que nos destina. Ser humano algum pode efetuar essa obra. Só Deus a pode executar. E podemos estar certos de que nenhum golpe será dado em falso. Todos os Seus golpes são dados com amor, para a nossa felicidade perpétua. Ele conhece nossas fraquezas e trabalha para restaurar, não para destruir. ------------------------Capítulo 53 -- Consideração mútua T7 265 1 Encontraremos muitas pessoas que se acham sob o peso da tentação. Não sabemos quão severamente Satanás pode estar lutando com elas. Cuidemos para não desanimar essas almas, dando assim vantagem ao tentador. T7 265 2 Ao ver ou ouvir alguma coisa que deva ser corrigida, busquemos do Senhor sabedoria e graça, para que, procurando ser fiéis, não sejamos severos. T7 265 3 É sempre humilhante para uma pessoa ver seus erros apontados. Não tornemos essa experiência mais amarga por meio de censuras desnecessárias. A crítica descortês traz desânimo, tornando a vida sombria e infeliz. T7 265 4 Meus irmãos, prevaleçamos pelo amor mais do que pela severidade. Quando uma pessoa em falta se torna consciente de seu erro, tenhamos cuidado para não destruir seu respeito próprio. Não procuremos machucar e ferir, mas antes sarar a ferida, curar. T7 265 5 Nenhum ser humano possui sensibilidades tão agudas ou natureza tão refinada como nosso Salvador. E que paciência manifesta Ele para conosco! Ano após ano, suporta nossa fraqueza e ignorância, nossa ingratidão e impenitência. Apesar de todos os nossos desvios, nossa dureza de coração, nossa negligência de Suas santas palavras, Sua mão ainda está estendida. E Ele ordena "que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós". João 13:34. T7 265 6 Irmãos, consideremo-nos missionários, não entre pagãos, mas entre nossos coobreiros. Requer grande quantidade de tempo e trabalho convencer uma pessoa acerca das verdades especiais para este tempo. E quando almas são levadas do pecado para a justiça, há alegria na presença dos anjos. Será que os espíritos ministradores que vigiam sobre essas almas se agradam de ver com que indiferença são tratadas por muitos que se declaram cristãos? O que domina são as preferências humanas. Manifesta-se parcialidade. Favorece-se a um, enquanto outro é tratado rudemente. T7 266 1 Os anjos olham com reverência e assombro para a missão de Cristo ao mundo. Maravilham-se do amor que O levou a dar-Se em sacrifício pelos pecados dos homens. Mas quão levianamente consideram os seres humanos a alma comprada por Seu sangue! T7 266 2 Não precisamos começar por esforçar-nos para amar uns aos outros. Só o amor de Cristo no coração é necessário. Quando o próprio eu é submergido em Cristo, o amor verdadeiro brota espontâneo. T7 266 3 Com paciente benignidade haveremos de vencer. É a paciência no serviço que traz descanso à alma. É por meio dos humildes, diligentes, fiéis obreiros que é promovido o bem-estar de Israel. Uma palavra de amor e encorajamento fará mais para subjugar o temperamento precipitado e a disposição voluntariosa do que todas as críticas e censuras que podem ser amontoadas sobre uma pessoa em erro. T7 266 4 A mensagem do Mestre tem de ser declarada no espírito do Mestre. Nossa única segurança está em conservar os pensamentos e impulsos sob o controle do grande Ensinador. Anjos de Deus darão a todo fiel obreiro uma rica experiência ao fazerem isso. A graça da humildade moldará nossas palavras em expressões de ternura semelhante à de Cristo. ------------------------Capítulo 54 -- Os professores de nossas escolas T7 267 1 Queridos irmãos e irmãs: T7 267 2 O Senhor operará em favor de todos que andarem com Ele em humildade. Ele os colocou numa posição de confiança. Andem cuidadosamente diante dEle. Deus tem a mão no leme. Ele guiará a nau por entre as rochas até o porto. Tomará as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. T7 267 3 Imploro que tomem a Deus como seu conselheiro. Vocês não são responsáveis perante homem algum, mas estão sob a liderança de Deus. Mantenham-se junto dEle. Não tomem idéias mundanas como seu critério. Não se afastem dos métodos de trabalho do Senhor. Não usem fogo comum, mas sim o fogo sagrado da chama do Senhor. T7 267 4 Manifestem coragem no trabalho. Por muitos anos, tenho mantido diante de nosso povo a necessidade, na educação da juventude, de igual sobrecarga das faculdades físicas e das mentais. Mas para aqueles que jamais provaram o valor da instrução dada para que se combine a atividade manual com o estudo, é difícil compreender as indicações dadas bem como colocá-las em prática. T7 267 5 Façam o melhor que puderem para partilhar com os estudantes as bênçãos que Deus lhes têm dado. Com profundo e fervente desejo de ajudá-los, conduzam-nos para o terreno do conhecimento. Aproximem-se deles. A menos que os professores tenham o amor e a delicadeza de Cristo em abundância no coração, mostrarão demasiado do espírito de um senhor ríspido e dominador. T7 267 6 O Senhor deseja que aprendam como usar a rede do evangelho. Para que tenham êxito em seu trabalho, as malhas da rede precisam estar bem unidas. A aplicação das Escrituras tem de ser de tal modo que o significado seja facilmente compreendido. Então, basta ter cuidado ao recolher a rede. Indo direto ao ponto: Grande como possa ser o conhecimento de um homem, é de nenhum valor a menos que seja capaz de comunicá-lo a outros. Que o encanto de sua voz, seu profundo sentimento, faça impressão nos corações. Apelem aos estudantes para que se entreguem a Deus. "Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna. E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne." Judas 21-23. Ao seguir o exemplo de Cristo, terão vocês a preciosa recompensa de ver os estudantes ganhos para Ele. Esforço intenso T7 268 1 O Senhor Deus de Israel está ansioso por frutos. Ele reclama de Seus obreiros que se ramifiquem mais do que estão fazendo. Deseja que façam do mundo o seu campo de trabalho em vez de trabalhar apenas em função de nossas igrejas. O apóstolo Paulo ia de lugar em lugar, pregando a verdade aos que estavam nas trevas do erro. Ele trabalhou durante ano e meio em Corinto, e mostrou o caráter divino de sua missão ao levantar ali uma florescente igreja composta de judeus e de gentios. Cristo jamais limitou Seu serviço a um só lugar. Nas vilas e cidades da Palestina repercutiam as verdades que saíam de Seus lábios. Saudações de Cristo ao mundo T7 268 2 O Sermão da Montanha é a bênção do Céu ao mundo, uma voz vinda do trono de Deus. Foi dado à humanidade para que lhe fosse a lei do dever e a luz do Céu, sua esperança e consolação nos momentos mais difíceis. Aqui o Príncipe dos pregadores, o Mestre por excelência, proferiu as palavras que o Pai Lhe entregou para referir. T7 269 1 As bem-aventuranças são as saudações de Cristo não somente aos que crêem, mas a toda a família humana. Jesus parece haver esquecido por um momento que Ele estava no mundo, não no Céu; e usa a saudação familiar do mundo da luz. As bem-aventuranças fluem de Seus lábios como o jorro de uma corrente de vida há muito represada. T7 269 2 Cristo não nos deixa qualquer dúvida quanto aos traços de caráter que Ele sempre reconhece e abençoa. Dos ambiciosos favoritos do mundo Ele Se volta para aqueles a quem eles renegam, declarando benditos os que recebem Sua luz e vida. Os pobres de espírito, os mansos, os humildes, os tristes, os desprezados, os perseguidos, a esses Ele abre os braços de refúgio, dizendo: "Vinde a Mim, ... e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. T7 269 3 Cristo pode olhar a infelicidade do mundo sem sombra de tristeza por haver criado o homem. No coração humano Ele vê mais do que pecado, mais do que miséria. Em Sua infinita sabedoria e amor Ele vê as possibilidades do homem, as alturas que ele pode alcançar. Sabe que, muito embora os seres humanos tenham desvalorizado os benefícios que lhes foram concedidos e destruído a dignidade que Deus lhes dera, deve ainda o Criador ser glorificado na redenção deles. T7 269 4 O Sermão do Monte é um exemplo de como devemos ensinar. Que cuidados Cristo tomou para fazer que os mistérios não mais fossem mistérios, mas verdades claras e singelas! Nada há em Sua instrução que seja vago, difícil de ser entendido. T7 269 5 "Abrindo a boca, os ensinava." Mateus 5:2. Suas palavras não eram ditas num sussurro, nem eram Suas sentenças ríspidas e desagradáveis. Ele falava com clareza e ênfase, com força solene e convincente. T7 269 6 "E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da Sua doutrina; porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas." Mateus 7:28, 29. T7 270 1 O estudo fervoroso e com oração do Sermão da Montanha vai nos preparar para proclamar a verdade, para dar a outros a luz que temos recebido. Devemos primeiro ter cuidado de nós mesmos, recebendo com coração humilde os princípios da verdade e pondo-os em prática em perfeita obediência. Isso produzirá alegria e paz. Desse modo comemos a carne e bebemos o sangue do Filho de Deus, e nos tornamos fortes em Sua força. Nossa vida é absorvida em Sua vida. Nosso espírito, nossas inclinações, nossos hábitos, são conformados à vontade dAquele de quem Deus declarou: "Este é Meu Filho amado, em quem Me comprazo." Mateus 3:17. T7 270 2 Por todo o tempo as palavras que Cristo proferiu no monte das bem-aventuranças conservarão o seu poder. Cada sentença é uma jóia do tesouro da verdade. Os princípios enunciados nesse discurso são para todas as eras e para todas as classes de pessoas. Com divina energia, Cristo expressou Sua fé e esperança ao apresentar classe por classe como benditos por haverem adquirido caráter justo. Por viver a vida do Doador da vida, pela fé nEle, todos podem alcançar a norma indicada em Suas palavras. Não é tal conquista digna de permanente e incansável esforço? As perspectivas T7 270 3 Estamos nos aproximando do fim da história da Terra. Temos diante de nós uma grande obra, a tarefa final de dar a última mensagem de advertência a um mundo pecaminoso. Há homens que serão tirados do arado, da vinha, de vários ramos de trabalho, e enviados pelo Senhor para dar essa mensagem ao mundo. T7 271 1 O mundo encontra-se caótico. Ao olharmos o quadro geral, a perspectiva parece desalentadora. Mas Cristo acena com preciosas promessas a todos os homens e mulheres que nos causam desânimo. Vê neles qualidades que os habilitarão a ocupar um lugar em Sua vinha. Se eles continuarem como aprendizes, por meio de Sua providência, Ele os tornará homens e mulheres capacitados a fazerem uma obra que não está fora de suas possibilidades; através da comunicação do Espírito Santo, dar-lhes-á poder de expressão. T7 271 2 Muitos campos áridos, não trabalhados, devem ser atingidos por iniciadores. A brilhante perspectiva do Campo mundial, como Jesus o viu, inspirará confiança em muitos obreiros que, se começarem em humildade, e puserem o coração na obra, serão considerados como os homens indicados para o tempo e lugar. Cristo vê todas as misérias e dificuldades do mundo, cuja visão deprimiria alguns dos nossos obreiros de grande capacidade com um sentimento de desânimo tão grande que eles não saberiam nem mesmo como começar a obra de guiar homens e mulheres. Seus métodos tradicionais são de pouco valor. Eles se colocam acima dos degraus mais baixos da escada, dizendo: "Subam até onde estamos." Mas os inexperientes não sabem onde colocar os pés. T7 271 3 O coração de Cristo é confortado pela visão daqueles que são pobres no mais amplo sentido do termo; confortado por Sua visão daqueles que são maltratados, mas que são mansos; alegrado pelos aparentemente insatisfeitos e famintos pela justiça, pela incapacidade de muitos para começarem. Ele saúda por assim dizer o mesmo estado de coisas que desanimaria a muitos pastores. Ele corrige o nosso compromisso errado, dando o encargo da obra aos pobres e necessitados nos ásperos recantos da Terra, a homens e mulheres que possuem coração que pode sentir com os ignorantes e perdidos. O Senhor ensina a esses obreiros como encontrar aqueles a quem Ele deseja auxiliar. Eles serão encorajados ao verem as portas se abrirem, ao penetrarem em lugares nos quais poderão fazer trabalho médico-missionário. Tendo pouca confiança própria, dão a Deus toda a glória. Suas mãos podem ser rústicas e inexperientes, mas o coração é suscetível à piedade; eles estão possuídos de um ardente desejo de fazer alguma coisa que possa aliviar o infortúnio tão intenso; e Cristo está ao seu lado para ajudá-los. Ele opera por meio daqueles que descobrem misericórdia na miséria, ganho na perda de todas as coisas. Quando a Luz do mundo passa, os privilégios aparecem em todas as adversidades; ordem na confusão, o sucesso e a sabedoria de Deus naquilo que parecia ser uma falha. T7 272 1 Irmãos e irmãs, aproximem-se das pessoas em seu ministério. Animem aqueles que estão abatidos. Considerem as calamidades como bênçãos disfarçadas, os infortúnios como bênçãos. Ajam de modo a despertar confiança em lugar de desespero. T7 272 2 O povo comum deve ocupar seu lugar como obreiros. Compartilhando as dores de seus semelhantes da mesma maneira que o Salvador participou das da humanidade, assim, pela fé, O verão trabalhando juntamente com eles. T7 272 3 "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito a voz do dia do Senhor; amargamente clamará ali o homem poderoso." Sofonias 1:14. Eu desejo exclamar a todo obreiro: Avance com fé humilde, e o Senhor o acompanhará. Mas vigie em oração. Essa é a ciência de sua obra. O poder é de Deus. Trabalhe sentindo a dependência dEle, lembrando-se de que é Seu coobreiro. Ele é seu ajudador. DEle vem sua força. Ele será sua sabedoria, sua justiça, sua santificação, sua redenção. Tome o jugo de Cristo, aprendendo diariamente dEle a mansidão e a humildade. Ele será seu conforto, seu descanso. Poder do alto T7 273 1 A divina dotação -- o poder do Espírito Santo -- será concedida hoje a todos que a procuram do modo correto, como foi dada aos discípulos. Esse poder sozinho é capaz de nos tornar sábios para a salvação e de nos capacitar para as cortes do alto. Cristo deseja conceder-nos uma bênção que nos fará santos. "Tenho-vos dito isso para que a Minha alegria permaneça em vós", Ele diz, "e a vossa alegria seja completa." João 15:11. Alegria no Espírito Santo é alegria que produz vida, que dá saúde. Ao dar-nos o Seu Espírito, Deus nos dá a Si mesmo, fazendo-Se uma fonte de divinas influências para proporcionar saúde e vida ao mundo. T7 273 2 Ao conceder Deus tão liberalmente os Seus dons a nós, lembremo-nos de que é para que possamos retorná-los ao Doador, multiplicados ao serem compartilhados. Levemos à vida de outros luz, alegria e paz. Cada dia necessitamos da disciplina da humilhação própria, a fim de estarmos preparados para receber o dom celestial, não para armazená-lo, não para roubar a Sua bênção dos filhos de Deus, mas para concedê-lo em toda a sua rica plenitude a outros. Quando mais do que agora vamos necessitar de um coração aberto para receber, com dores, por assim dizer, em anseios por repartir? T7 273 3 Somos obrigados por dever a retirar grande porção do depósito do divino conhecimento. Deus deseja que recebamos muito, a fim de podermos repartir muito. Ele deseja que sejamos canais por cujo intermédio Ele possa repartir ricamente de Sua graça ao mundo. T7 273 4 Que a sinceridade e a fé caracterizem nossas orações. O Senhor está desejoso de fazer por nós "muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos". Efésios 3:20. Falemos sobre isso; oremos sobre isso. Não falemos de incredulidade. Não podemos permitir que Satanás veja que tem poder para lançar sombras sobre nossa fisionomia e acarretar tristeza a nossa vida. T7 274 1 Oremos com fé. E nos asseguremos de que nossa vida foi posta em harmonia com nossas petições, a fim de podermos receber as bênçãos pelas quais oramos. Não deixemos que nossa fé se enfraqueça, pois as bênçãos recebidas são proporcionais à fé demonstrada. "Seja-vos feito segundo a vossa fé." Mateus 9:29. "E tudo quanto pedirdes em Meu nome" (João 14:13), "crendo, recebereis." Mateus 21:22. Vamos orar, crer, regozijar-nos. Cantemos louvores a Deus por haver Ele respondido a nossas orações. Apeguemo-nos à Sua palavra. "Fiel é o que prometeu." Hebreus 10:23. Nenhuma súplica sincera é perdida. O canal está aberto; a corrente está fluindo, levando consigo propriedades curativas e despejando uma restauradora torrente de saúde, vida e salvação. T7 274 2 A cada professor é dado o sagrado privilégio de representar a Cristo. E ao apegarem-se os professores a isso, podem nutrir a tranqüilizadora convicção de que o Salvador está bem ao seu lado, dando-lhes palavras que profiram por Ele, e indicando modos pelos quais possam mostrar Sua excelência. T7 274 3 Os professores enfrentam muitas provas. Sofrem a pressão do desânimo ao verem que seus esforços nem sempre são apreciados pelos alunos. Satanás insiste em afligi-los com enfermidades do corpo, esperando levá-los a murmurar contra Deus, a esquecer Sua bondade, Sua misericórdia, Seu amor e o eterno conteúdo de glória que aguarda o vencedor. Lembrem-se eles de que mediante a provação Deus os está conduzindo a mais perfeita confiança nEle. Seus olhos estão sobre eles, e se em sua perplexidade olharem para Ele em fé, Ele os tirará da fornalha refinados e purificados como ouro provado no fogo. Ele permite que lhes sobrevenham provas a fim de levá-los para mais perto de Si, mas não coloca sobre eles fardo algum maior do que sejam capazes de suportar. E Ele declara: "Não te deixarei, nem te desampararei." Hebreus 13:5. Está sempre pronto a livrar os que nEle confiam. Que o professor pressionado, duramente provado, diga: "Ainda que Ele me mate, nEle esperarei." Jó 13:15. "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação." Habacuque 3:17, 18. T7 275 1 Alunos, cooperem com seus professores. Assim fazendo, estarão lhes dando ânimo e esperança. Serão um auxílio a eles, ao mesmo tempo que uma ajuda a si mesmo para progredir. Lembrem-se de que depende em grande parte de vocês o conceito de seus professores, sendo a sua obra um reconhecido êxito. T7 275 2 Devem vocês serem discípulos no mais alto sentido da palavra, vendo por trás do mestre o próprio Deus, e o mestre cooperando com Ele. T7 275 3 Estão passando rapidamente suas oportunidades de trabalhar. Vocês não têm tempo a gastar consigo mesmos. Unicamente esforçando-se com diligência em busca de êxito, conseguirão a verdadeira felicidade. Preciosas são as oportunidades que lhes são oferecidas durante o tempo que passam na escola. Tornem a vida de estudante o mais perfeita possível. Não percorrerão esse caminho senão uma única vez. E de vocês depende que essa obra seja um êxito ou um fracasso. Ao se tornarem bem-sucedidos na obtenção de conhecimento bíblico, estarão acumulando tesouros para distribuir. T7 275 4 Se tiverem um colega mais atrasado, expliquem-lhe a lição que não compreende. Isso auxiliará sua própria compreensão. Empreguem palavras simples; exponham as idéias em linguagem clara e fácil de ser compreendida. T7 275 5 Ajudando ao colega, estarão sendo úteis aos professores. E muitas vezes alguém cuja mente parece vagarosa, assimilará mais depressa as idéias de um colega que de um professor. T7 276 1 Essa é a cooperação que Cristo louva. O grande Mestre estará ao seu lado, auxiliando-os a ajudar aquele que está mais atrasado. T7 276 2 Talvez tenham vocês, em sua vida escolar, oportunidades de falar ao pobre e ao ignorante acerca das maravilhosas verdades da Palavra de Deus. Aproveitem toda oportunidade para fazer isso. O Senhor abençoará cada momento assim passado. T7 276 3 Estamos vivendo num tempo em que Satanás está operando com todo o seu poder para desencorajar e derrotar os que estão trabalhando no serviço de Deus. Mas nós não precisamos falhar nem nos deixarmos desanimar. Precisamos demonstrar maior fé em Deus. Devemos confiar em Sua palavra viva. A menos que tenhamos mais firme sustentáculo de cima, jamais seremos capazes de competir com os poderes das trevas, que são vistos e sentidos em cada setor da obra. T7 276 4 As cisternas da Terra muitas vezes estarão vazias e seus reservatórios secos; mas em Cristo há uma fonte viva da qual podemos nos servir continuamente. Não importa quanto tiremos e demos a outros, a abundância permanecerá. Não há perigo de que o suprimento se esgote; pois Cristo é a inesgotável fonte da verdade. T7 276 5 A ética do evangelho não reconhece outra norma que não a perfeição da mente e da vontade de Deus. Todos os justos atributos do caráter residem em Deus como um todo harmonioso e perfeito. Todo aquele que recebe a Cristo como seu Salvador pessoal tem o privilégio de possuir esses atributos. Essa é a ciência da santidade. ------------------------Capítulo 55 -- Os que estão lutando com dificuldades T7 277 1 Durante anos, tem-se manifestado falta de sabedoria no tratar com homens que empreendem e levam avante a obra do Senhor em lugares difíceis. Muitas vezes essas pessoas trabalham muito acima de suas forças. Dispõem de poucos recursos para o andamento da obra, e são obrigadas a sacrificar-se em benefício da causa. Trabalham por modestos salários e observam a mais estrita economia. Dirigem apelos ao povo a fim de obter meios e dão, por sua parte, um exemplo de liberalidade. Rendem a Deus o louvor pelo que é realizado, compreendendo que Ele é o autor e consumador da sua fé, e que é mediante Seu poder que eles são habilitados a progredir. T7 277 2 Por vezes, depois de haverem esses obreiros suportado os cuidados e o calor do dia e, mediante pacientes e perseverantes esforços, terem estabelecido uma escola ou um hospital, ou dado qualquer outro passo para o desenvolvimento da obra, seus irmãos decidem que um outro poderia cuidar disso melhor, devendo, portanto, tomar conta do trabalho que eles estavam fazendo. Em alguns casos, essa decisão é tomada sem a devida consideração e honra em relação aos que desempenharam a parte desagradável do trabalho, que labutaram, oraram e lutaram, pondo em seus esforços todas as forças e energias. T7 277 3 Deus não Se agrada dessa maneira de lidar com os obreiros. Ele pede a Seu povo que apóie os que edificam a obra em lugares novos e difíceis, dirigindo-lhes palavras de ânimo. T7 278 1 Em seu ardor, em seu zelo pela divulgação da causa, esses obreiros podem cometer erros. Podem, em seu desejo de obter meios para a manutenção de empreendimentos necessários, envolver-se em projetos que não serão os mais benéficos para a obra. Vendo o Senhor que esses planos os distrairiam daquilo que deseja que façam, permite que lhes sobrevenham decepções, destruindo-lhes as esperanças. O dinheiro é sacrificado, e isso ocasiona grande desgosto para aqueles que esperavam ansiosamente adquirir meios para o sustento da causa. T7 278 2 Enquanto os obreiros estavam pondo em tensão cada nervo a fim de levantar fundos para ajudá-los numa emergência, alguns de seus irmãos ficavam de parte criticando e suspeitando mal, dando má interpretação aos motivos dos sobrecarregados obreiros, e tornando-lhes mais difícil a tarefa. Cegos pelo egoísmo, esses críticos não percebiam sentirem-se seus irmãos suficientemente aflitos sem a censura de homens que não haviam suportado sérios encargos e responsabilidades. A decepção é uma grande provação, mas o amor cristão pode transformar a derrota em vitória. Os reveses ensinarão a cautela. Aprendemos por meio das coisas que sofremos. Assim adquirimos experiência. T7 278 3 Manifeste-se sabedoria e cuidado ao tratar com obreiros que, embora hajam cometido erros, revelaram um interesse sincero e abnegado pela obra. Digam-lhes os irmãos: "Não tornaremos pior a situação, colocando outro em seu lugar, sem lhes dar oportunidade de reparar seu erro, de modo a livrar-se da carga de uma crítica injusta." Que lhes seja concedido tempo para se ajustarem, para vencerem as dificuldades que os rodeiam, e para se colocarem perante os anjos e os homens como obreiros dignos. Eles cometeram erros, mas, teriam aqueles que deles duvidaram e os criticaram procedido melhor? Aos fariseus acusadores, Cristo disse: "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela." João 8:7. T7 279 1 Há pessoas precipitadas em seu desejo de reformar o que lhes parece não estar direito. Pensam que deveriam ser escolhidas para ocupar o lugar dos que cometeram erros. Desvalorizam o que foi feito por esses obreiros sob as críticas dos que os vigiavam. Dizem, por suas ações: "Posso fazer grandes coisas. Sou capaz de levar a obra avante com êxito." Tenho instruções para dizer aos que julgam que sabem tão bem evitar os erros: "Não julgueis, para que não sejais julgados." Mateus 7:1. Talvez possam evitar o erro em certos pontos, mas em outros, estão sujeitos a cometer sérios desatinos, bem difíceis de remediar, e que trariam confusão à obra. Esses erros seriam mais prejudiciais do que os que foram cometidos por seus irmãos. T7 279 2 As instruções que me foram dadas são que os homens que lançam as bases de uma obra, e que, apesar de preconceitos, vão abrindo seu caminho, não devem ser desprezados para que outros lhes ocupem o lugar. Há zelosos obreiros que, a despeito da crítica de alguns de seus irmãos, têm prosseguido avante na obra que Deus indicou para ser realizada. Fossem eles removidos da posição de responsabilidade que ocupam, e restaria uma impressão injusta a respeito deles e desfavorável para a obra, porque as mudanças efetuadas seriam consideradas como a confirmação das injustas críticas feitas, e dos preconceitos existentes. É o desejo do Senhor que não se dê nenhum passo que represente uma injustiça para com aqueles que têm trabalhado longa e ativamente para edificar a obra que lhes foi dada. Mudanças infelizes T7 280 1 São feitas muitas mudanças que melhor seria se nunca tivessem ocorrido. Muitas vezes, quando certos obreiros ficam descontentes, em vez de serem animados a permanecer ali e tornar sua obra bem-sucedida, são enviados a outro lugar. Mas eles levam consigo os mesmos traços de caráter que têm prejudicado o trabalho. Manifestarão o mesmo espírito diferente do de Cristo; pois não aprenderam a lição do serviço paciente e humilde. T7 280 2 Insisto numa ordem diversa de coisas. Precisamos fazer mudanças nos grupos de obreiros em nossas Associações e instituições. Temos de achar homens eficientes e consagrados, os quais devem animar e se unir, na qualidade de auxiliares e colaboradores, aos que carregam as responsabilidades. Haja uma harmônica união entre os novos e os mais idosos, em espírito de amor fraternal. Não se façam, porém, mudanças bruscas na administração, de maneira a causar desânimo aos que têm trabalhado diligentemente e com êxito para levar a obra a certo grau de progresso. Deus não sancionará qualquer coisa que se faça de modo a desanimar Seus fiéis servos. Sejam seguidos os princípios de justiça por aqueles cujo dever é assegurar às nossas casas publicadoras, hospitais e escolas a mais eficiente direção. Chamado para o serviço T7 280 3 Deus chama obreiros. A causa necessita de homens experientes, os quais, colocando-se nas mãos do Senhor como discípulos humildes, se tenham demonstrado coobreiros dEle. Esses são os homens de que se necessita na obra do ministério e das escolas. Os que se têm demonstrado preparados, que avancem e façam o que lhes for possível no serviço do Mestre. Que entrem para fazer parte do corpo de obreiros e, mediante esforço paciente e contínuo, demonstrem seu valor. É na água, e não na terra, que aprendemos a nadar. Preencham eles com fidelidade o lugar a que são chamados, a fim de se habilitarem a aceitar responsabilidades ainda maiores. Deus dá a todos oportunidade de se aperfeiçoar em Seu serviço. T7 281 1 Aquele que coloca a armadura para travar uma batalha, ganha uma grande habilidade enquanto se esforça para aperfeiçoar seus conhecimentos de Deus, trabalhando em harmonia com o plano que Deus estabeleceu para o desenvolvimento perfeito das habilidades físicas, mentais e espirituais. T7 281 2 Rapazes e moças, procurem crescer no conhecimento. Não esperem que algum teste comprove que são competentes, mas saiam em todas as direções, e comecem a trabalhar para Deus. Usem sabiamente os conhecimentos adquiridos. Exercitem suas habilidades com fervor, generosamente distribuam a luz que Deus lhes deu. Estudem a melhor maneira de dar aos outros a paz, a luz, a verdade, e muitas outras ricas bênçãos dos Céus. Melhorem constantemente. Procurem alcançar alto e sempre mais alto. É a habilidade de impor aos poderes da mente e do corpo, conservando sempre as realidades eternas em vista, que presentemente tem valor. Com toda sinceridade busquem o Senhor, para que se tornem cada vez mais refinados, mais preparados espiritualmente. E, então, receberão o melhor diploma que alguém possa ter: a aprovação de Deus. T7 281 3 Lembrem-se que seus talentos, grandes ou pequenos, são dados em confiança. Deus os está testando, dando-lhes oportunidades para que vocês se provem verdadeiros. Vocês estão em débito com Ele quanto ao que podem realizar. A Ele pertencem todas as habilidades, e para Ele devem ser usadas. Seu tempo, influência, potencial e habilidades tudo deve ser creditado a Ele que tudo concede. Os dons de Deus são melhor usados por aqueles que buscam com sincera diligência divulgar o grande plano do Senhor para salvar a humanidade, lembrando sempre que devem continuar como aprendizes enquanto ensinam. T7 282 1 Como jovens envolvam-se nesse trabalho e, a despeito das muitas dificuldades, tenham êxito, não deixem que nenhuma proposta diferente os leve para outro trabalho, e que o trabalho começado por eles seja transferido para pessoas mais idosas e mais experientes. É verdade que os nossos jovens lutam com dificuldades, cometem enganos, mas se prosseguirem com perseverança seus fracassos se transformarão em vitórias. T7 282 2 Prezados colegas, continuem no trabalho que começaram. Avancem até que obtenham vitórias após vitórias. Estejam preparados para esse propósito. Mantenham em vista a mais alta norma, para que possam realizar mais e maiores obras que reflitam a glória de Deus. T7 282 3 Deus dotou alguns de Seus servos com talentos especiais, e ninguém está autorizado a rebaixar a excelência dos mesmos. Pessoa alguma, no entanto, deve servir-se de seus talentos para se exaltar. Ninguém deve se considerar como havendo sido mais favorecido do que seus semelhantes, nem se exaltar sobre outros obreiros sinceros e diligentes. O Senhor olha para o coração. Aquele que é mais dedicado ao serviço de Deus, mais altamente estimado é pelo universo celestial. T7 282 4 O Céu está observando para ver como os que ocupam posições de influência se desempenham de sua mordomia. O que se exige deles, nesse caráter de mordomos, é proporcional à influência que exercem. Em seu trato para com os homens, eles devem ser como pais -- justos, brandos, verdadeiros. Devem assemelhar-se a Cristo no caráter, unindo-se com os irmãos pelos mais estreitos laços de unidade e comunhão. ------------------------Capítulo 56 -- Distribuição dos recursos T7 283 1 A desconcertante questão dos recursos tem perturbado a muitos. Freqüentemente, através de projetos fascinantes e enganosos, Satanás tem bloqueado o caminho para avançar. A igreja não tem se colocado na dependência de Deus, porém, submetendo-se às tentações do inimigo, tem procurado levar avante planos que exigem meios que excedem suas entradas. Muito dinheiro tem sido investido em poucos lugares. Isso tem privado os campos missionários do auxílio que deveriam receber. T7 283 2 Ao construir a obra nessas partes do campo, há pessoas seguindo planos egoístas, que têm tirado meios da tesouraria do Senhor, esquecidas de que toda entrada é do Senhor, e que outras partes da Sua vinha também precisam de suprimento. Pelo motivo de não enfrentarem o julgamento, escolhem fechar os olhos para as necessidades dos seus coobreiros. Assim, campos necessitados deixam de ser trabalhados. Lançando-se impetuosamente na construção de grandes edifícios, sem avaliar o custo, sem levar em consideração quanto precisam para construir a torre, pessoas têm entrado em débito, desânimo e confusão sobre a causa. O progresso em novos campos tem sido prejudicado. T7 283 3 Tem-se apoderado da mente de alguns uma espécie de frenesi que os leva a gastar no que absorve os recursos sem qualquer perspectiva de posterior retorno. Houvesse esse dinheiro sido usado da maneira que o Senhor desejava que fosse, obreiros ter-se-iam levantado e se preparado para fazer a obra que deve ser feita antes da vinda do Senhor. A malversação de meios revela a necessidade da advertência do Senhor, de que Sua obra não deve ser cerceada por projetos humanos, de que ela deve ser feita de maneira que fortaleça Sua causa. T7 284 1 Trabalhando com planos errados, homens têm gerado dívidas para a causa. Não se permita a repetição disso. Cautelosamente ajam os que estão à testa do trabalho, recusando enterrar a causa de Deus em dívidas. Ninguém se mova negligente e descuidadamente, pensando, sem conhecimento de causa, que tudo dará certo no final. T7 284 2 Agitação e interesse inadequado na escolha do local onde investir, não contribui em nada para o avanço do trabalho como um todo. Quando se faz planos para uma edificação num lugar, é preciso levar em cuidadosa consideração os outros lugares que estão igualmente em grande necessidade quanto à construção de um edifício. O tempo é escasso, e enquanto se constroem edifícios, que sejam feitos com a devida consideração por todas as partes da vinha do Senhor. Os que estão encarregados da construção devem ser pessoas de mente equilibrada, santificada, e não alguém que, em sua ansiedade de erigir uma peça de arquitetura, traga perplexidade sobre a obra com investimentos caríssimos. T7 284 3 Deus não é causador de confusão, mas de ordem e progresso. Os que desejam promover o Seu reino, façam-no com equilíbrio e com inteligência. Não se precipitem na suposição falsa de que os recursos devem ser investidos para fazer exibição. Assim diz o Senhor: "Os recursos não devem ser gastos com prejuízo da salvação de pessoas." T7 284 4 O resultado da administração egoísta está diante de nós hoje como uma representação da sabedoria de homens cuja mente e coração necessitam da direção do Espírito Santo. O Senhor tem maneiras de testar e provar aqueles que se dizem cristãos. Com exatidão absoluta, Ele traça os resultados da sabedoria humana, mostrando àqueles que pensavam que estavam fazendo grandes coisas de que necessitavam no passado; que tinham de aceitar que não estavam atuando pelo Espírito Santo, mas que, em muitas situações, haviam recusado o conselho do Senhor. Se tivessem feito uma auto-avaliação do início de sua obra, como pedia o Senhor, anos de serviço desonrando a Deus teriam se transformado em serviço de amor. Cada mordomo necessita realizar um exame próprio, caso contrário terá o mesmo fim que Saul, será listado para a destruição. Isso é especialmente aplicável a pessoas que ocupam cargos administrativos. Disse o Senhor: "Não ajudarei nenhum projeto egoísta." Todos necessitam agora de buscar o Senhor. O povo de Deus não suportará as provas, a menos que haja um reavivamento e uma reforma. O Senhor não admitirá, nas mansões que Ele está preparando para os justos, uma alma auto-suficiente. T7 285 1 Sob nenhuma circunstância deveria nosso povo, em qualquer parte do mundo, colocar todos os seus recursos em grandes e dispendiosas instituições médicas. Ajuntar um grande número de pessoas num único lugar não é o melhor para assegurar os resultados mais favoráveis na restauração física e espiritual. Além do mais, o estabelecimento de tais instituições irá tirar a oportunidade dos outros lugares onde deveriam ser fundadas instituições de saúde. Onde quer que trabalhemos, alguns desejariam obter o máximo de recursos para construir grandes edifícios, mas esse não é um plano sábio. Ao planejar uma instituição num lugar, deve-se ter em mente as necessidades de outros lugares. Que seja praticada a economia, para que se torne possível dar ao povo em outras regiões do país, semelhantes vantagens. ------------------------Capítulo 57 -- Nossos idosos pioneiros T7 286 1 Aos obreiros pioneiros idosos que estão relacionados com a obra da mensagem do terceiro anjo, desde o início, que passaram pela experiência de 1844, o Senhor diz: "Seu auxílio é necessário. Não levem uma carga que os mais novos devem carregar. É seu dever cuidar dos próprios hábitos de vida. Precisam ser sábios em usar a força física, mental e espiritual. Os que já passaram por muitas e variadas experiências devem fazer o possível para preservar suas condições, para que possam trabalhar para o Senhor o quanto Ele permitir que permaneçam nos seus lugares, para ajudar a levar avante Sua obra." T7 286 2 Juntamente com João, esses sobrecarregados podem dizer: "O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada), o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. ... E esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nEle treva nenhuma. Se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado." 1 João 1:1-7. T7 286 3 A causa de Cristo necessita da ajuda dessas mãos idosas, obreiros idosos, que têm anos de experiência na causa de Deus; que viram o desenvolvimento e o progresso da mensagem nos seus diversos setores; que presenciaram muitos saindo para o fanatismo, compartilhando de falsas teorias, resistindo a todos os esforços feitos para deixar a luz da verdade revelar as superstições que vinham para confundir a mente e para não produzir efeito algum sobre a mensagem a qual nestes últimos dias deve ser dada na sua pureza ao povo remanescente de Deus. T7 287 1 Muitos desses experientes servos de Deus já dormem em Jesus. Que a ajuda desses que ainda estão vivos seja apreciada. Que seus testemunhos sejam valorizados. A abençoada mão do Senhor está com esses fervorosos obreiros. Ele os sustenta com o Seu braço forte, dizendo: "Apóiem-se em Mim. Serei sua fortaleza e sua grande recompensa." Os que estiveram na mensagem desde o início, que lutaram bravamente quando a batalha se tornava difícil, não devem perder agora o seu apoio. T7 287 2 O mais terno interesse deve ser nutrido para com aqueles cujo objetivo de vida está vinculado à causa de Deus. Não obstante suas muitas enfermidades, esses obreiros possuem talentos que os qualificam para estar em sua atividade e lugar. Deus deseja que ocupem posições de liderança em Sua obra. Permaneceram fiéis em meio aos temporais e provas e acham-se entre os mais valiosos conselheiros. Quão gratos deveríamos ser por poderem eles ainda usar seus dons no serviço do Senhor! T7 287 3 Que não se perca de vista o fato de que no passado esses fervorosos lutadores tudo sacrificaram para promover a obra. Por terem se tornado idosos e grisalhos no serviço de Deus não é razão para deixarem de exercer uma influência superior à influência de homens que têm muito menos conhecimento da causa e muito menos experiência nas coisas divinas. Embora gastos e incapazes de arcar com os encargos mais pesados do que os mais que jovens podem e devem assumir, seu mérito como conselheiros é da mais elevada importância. Cometeram erros, mas dos fracassos aprenderam sabedoria; aprenderam a evitar erros e perigos, e não serão eles então competentes para dar sábios conselhos? Suportaram trabalhos e provas, e embora tenham perdido algum de seu vigor, não devem ser empurrados para a margem por obreiros menos experientes que pouco sabem acerca da obra e do sacrifício desses pioneiros. O Senhor não os põe à margem. Ele lhes dá graça especial e conhecimento. T7 288 1 Quando João estava idoso e encanecido, foi-lhe dada uma mensagem para ajudar as igrejas perseguidas. Os judeus fizeram várias tentativas de tirar-lhe a vida, mas o Senhor disse: "Deixa-o vivo. Eu quem o criei, estarei com ele e o guardarei." Constantemente esse idoso discípulo deu testemunho a favor do Mestre. Numa linguagem bonita, com uma voz musical, falando de maneira que impressionava o coração de quem o ouvia, contava as palavras e obras de Cristo. Foi exilado em Patmos, mas Cristo o visitou no seu exílio, e lhe comunicou as grandes verdades encontradas no Apocalipse. T7 288 2 À medida que aqueles que gastaram sua vida no serviço do Senhor se aproximarem do fim de sua história terrestre, serão impressionados pelo Espírito Santo a contar as experiências que tiveram, relacionadas com Sua obra. O relatório de Seu procedimento com o Seu povo, da Sua grande bondade em livrá-los das provações, deve ser repetido aos novos que entram na fé. As provas que também vieram aos servos de Deus pela apostasia de alguns que estiveram unidos com eles na obra, e o trabalho do Espírito Santo para que a falsidade não tivesse qualquer efeito contra os que desde o princípio mantiveram sua confiança firme até o fim, devem ser relatadas. T7 289 1 Os pioneiros que ainda vivem não devem ser colocados em lugares difíceis. Os que serviram ao Senhor quando a obra prosseguia árdua, que suportaram pobreza e permaneceram fiéis à verdade quando nossos números eram pequenos, devem sempre ser honrados e respeitados. Sou instruída a dizer: todos os irmãos respeitem os idosos pioneiros que suportaram provas, dificuldades e muitas privações. São primorosos obreiros de Deus e desempenharam parte preeminente na estruturação de Sua obra. T7 289 2 O Senhor deseja que os obreiros mais novos ganhem sabedoria, força e maturidade pela associação com os obreiros mais velhos que se entregaram à causa. Os jovens devem compreender que ter esses obreiros ainda com eles é da maior importância. Demonstrem grande respeito por esses homens de cabelos brancos, que tiveram parte importante no desenvolvimento da obra. Que eles mereçam um lugar de honra nos concílios. Deus quer que aqueles que vieram para a verdade nos últimos anos prestem atenção a estas palavras. T7 289 3 Que o Senhor abençoe e sustenha nossos obreiros idosos e experimentados. Que Ele os ajude a ser sábios quanto à preservação de suas faculdades físicas, mentais e espirituais. Fui instruída pelo Senhor a dizer a esses que apresentaram seu testemunho nos dias primitivos da mensagem: "Deus os dotou com o poder da razão, e Ele deseja que compreendam as leis relacionadas à saúde e a elas sejam obedientes. Não sejam imprudentes. Não trabalhem demais. Tomem tempo para repousar. Deus deseja que estejam em seu posto e lugar, fazendo sua parte para salvar homens e mulheres de serem arrastados para baixo, pela poderosa torrente do mal. Ele deseja que utilizem a armadura até que lhes ordene depô-la. Não demorará para que recebam sua recompensa." ------------------------Capítulo 58 -- O cuidado pelos obreiros T7 290 1 Deve ser constituída uma provisão para cuidar dos ministros e outros fiéis servos de Deus que, por causa dos esforços e trabalho em excesso na Sua causa, ficaram doentes e precisam descansar e restabelecer-se; ou que, por causa da idade ou perda da saúde, não podem mais suportar os fardos e o calor do dia. Muitas vezes, os ministros são enviados a campos de trabalho que eles sabem serem prejudiciais à saúde; mas, não querendo evitar lugares difíceis, aventuram-se na esperança de prestar auxílio e ser uma bênção ao povo. Passado algum tempo, descobrem que a saúde começa a falhar. Tentam uma mudança de clima e de trabalho, mas sem alívio. Então, que devem fazer? T7 290 2 Esses fiéis obreiros que, por amor a Cristo, abandonaram perspectivas mundanas, preferindo a pobreza aos prazeres ou riquezas, e que, esquecendo-se de si mesmos, trabalharam com dedicação para salvar pessoas para Cristo; que deram liberalmente para o progresso dos empreendimentos na causa de Deus, mas foram atingidos na batalha, ficando cansados e doentes, sem recursos de sustentação, não devem ser abandonados para lutar com a pobreza e o sofrimento, ou sentirem-se desprezados. Quando lhes sobrevier a doença e a enfermidade, nossos obreiros não devem ficar preocupados com a angustiante pergunta: "Que vai acontecer com minha esposa e filhos agora, quando não posso mais trabalhar para suprir suas necessidades?" Nada mais justo do que fazer provisões para enfrentar as necessidades desses fiéis obreiros e dos que deles dependem. T7 290 3 Providências generosas são tomadas em favor dos veteranos que lutaram pelo seu país. Esses homens levam as cicatrizes e sofrem longas enfermidades que testemunham de perigosos conflitos, de marchas forçadas, de intempéries que enfrentaram e de sofrimentos em prisões. Todas essas evidências da lealdade e sacrifício próprio os fizeram credores da nação que ajudaram a salvar -- uma reivindicação que é reconhecida e honrada. Mas, que provisão estão fazendo os adventistas do sétimo dia em favor dos soldados de Cristo? Obreiros negligenciados T7 291 1 Nosso povo não sentiu como deveria a importância desse assunto que, por essa razão, foi negligenciado. As igrejas não têm se preocupado e, embora a luz da Palavra de Deus tenha brilhado em seu caminho, elas têm negligenciado esse dever tão sagrado. O Senhor Se desagrada muito com essa negligência dos Seus fiéis servos. Nosso povo deveria estar tão pronto a ajudar essas pessoas nas suas circunstâncias adversas, assim como estiveram prontos para aceitar seus préstimos e recursos quando estavam com saúde. T7 291 2 O Senhor colocou sobre nós a obrigação de dar uma atenção especial aos pobres em nosso meio. Mas esses ministros e obreiros não devem ser classificados como pobres. Eles depositaram para si mesmos um tesouro no Céu que não falhará. Eles serviram às Associações em suas necessidades, e agora elas devem socorrê-los. Quando se nos apresentam casos desse tipo, não podemos nos desviar deles. Não devemos dizer: "aquecei-vos e fartai-vos" (Tiago 2:16), sem tomar medida alguma para suprir as necessidades deles. Isso já aconteceu no passado e, desta maneira, em alguns casos os adventistas do sétimo dia desonraram sua profissão de fé e deram ao mundo a oportunidade de opróbrio em relação à causa de Deus. Lares para os obreiros T7 291 3 Deve agora o povo de Deus remover esse opróbrio, proporcionando aos servos de Deus lares confortáveis com um pedaço de terra no qual possam cultivar seus produtos e sentir que não dependem da caridade dos irmãos. Com quanto prazer e tranqüilidade esses fatigados obreiros olhariam para um pequeno e sossegado lar, onde fossem reconhecidas suas justas reivindicações para o descanso! T7 292 1 O dever que temos para com essas pessoas tem sido mencionado continuamente, e nada foi feito nesse sentido. Como um povo, deveríamos sentir a responsabilidade quanto a esse assunto. Cada membro da igreja deve se interessar por tudo o que diz respeito à fraternidade humana e à fraternidade em Cristo. Somos membros uns dos outros; se um sofre, todos sofrem com ele. Algo deve ser feito e as Associações deveriam ter um discernimento espiritual que lhes permita compreender os privilégios e comodidades que esses obreiros que se deram necessitam e merecem. Casas de saúde como refúgio T7 292 2 Muitas vezes esses pastores necessitam de especial cuidado e tratamento. Nossas casas de saúde devem ser um refúgio para eles, e para todos os nossos esgotados obreiros necessitados de repouso. Devem-se prover quartos onde eles possam desfrutar uma mudança e descanso, sem a contínua ansiedade quanto às despesas. Quando os discípulos estavam cansados do trabalho, Cristo lhes dizia: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco." Marcos 6:31. Ele quer que se tomem medidas, de modo que Seus servos hoje tenham oportunidade de repouso e restabelecimento das energias. Nossas casas de saúde se devem abrir aos nossos operosos pastores, que fizeram tudo a seu alcance para garantir fundos para a edificação e sustento dessas instituições; e, em qualquer tempo em que eles se encontrem na necessidade das vantagens aí oferecidas, devem fazer com que eles se sintam como em casa. T7 292 3 Esses obreiros não deveriam, em tempo algum, ter de pagar preços elevados pela pensão e tratamento, nem ser considerados como mendigos ou levados de algum modo a se sentir como tais diante daqueles de cuja hospitalidade dependem. Manifestar liberalidade no uso dos recursos que Deus proveu para Seus gastos e extenuados servos, é, aos Seus olhos, genuíno trabalho missionário. Os obreiros de Deus acham-se ligados a Ele, e quando são recebidos, convém lembrar que se recebe a Cristo na pessoa de Seus mensageiros. Assim Ele o requer, e é desonrado e Se desagrada quando eles são tratados indiferentemente, com mesquinhez ou egoísmo. A bênção de Deus não acompanha um tratamento dessa espécie dado a qualquer de Seus escolhidos. Entre a irmandade médica nem sempre tem havido certa agudeza de percepção para discernir essas coisas. Alguns não as têm considerado como deveriam. Que o Senhor santifique a percepção dos que têm a administração de nossas instituições, a fim de que saibam quem deve receber verdadeira simpatia e cuidado. T7 293 1 O ramo da causa pelo qual esses cansados obreiros trabalham, deve mostrar apreço por seus esforços, auxiliando-os no tempo de necessidade, assumindo com o hospital as despesas. T7 293 2 Alguns obreiros se acham em situação que lhes permite pôr de parte um pouco do salário; e assim devem fazer, se possível, a fim de enfrentar a uma emergência; todavia, mesmo esses devem ser recebidos como uma bênção para o hospital. Mas a maior parte de nossos obreiros têm diversas e grandes obrigações a satisfazer. Todas as vezes que se necessitava de dinheiro, eles eram solicitados a ajudar, a abrir caminho para que a influência de seu exemplo pudesse estimular os outros a serem liberais e a causa de Deus progredisse. Eles sentiam tão intenso desejo de implantar o estandarte em novos campos, que muitos tomavam mesmo dinheiro emprestado para ajudar em vários empreendimentos. Não davam de má vontade, mas sentiam que era um privilégio trabalhar pela divulgação da verdade. Atendendo assim aos pedidos de dinheiro, ficaram muitas vezes com bem poucas economias. T7 294 1 O Senhor tem mantido um relatório exato de sua liberalidade para com a causa. Sabe a boa obra que eles têm feito, obra de que os obreiros mais jovens nem suspeitam. Ele tem sido conhecedor de todas as privações e renúncias da parte desses obreiros. Tem registrado todas as circunstâncias desses casos. Tudo se acha escrito nos livros. Esses obreiros são um espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens; e são uma lição prática para provar a sinceridade de nossos princípios religiosos. O Senhor quer que nosso povo compreenda que os pioneiros nesta obra merecem tudo quanto nossas instituições puderem fazer por eles. Deus nos pede para compreender que aqueles que envelheceram em Seu serviço merecem nosso amor, honra e profundo respeito. Um fundo para obreiros T7 294 2 Deve-se instituir um fundo para os obreiros que não podem mais trabalhar. Não podemos estar livres de culpa diante de Deus, a menos que façamos todo esforço que é justo a esse respeito, e isso sem demora. Existem entre nós alguns que não vêem a necessidade desse movimento; sua oposição, porém, não deve ter influência sobre nós. Os que propõem em seu coração ser justos e fazer o que é justo devem agir firmemente e prosseguir, para a realização de uma boa obra que o Senhor requer que se faça. Muitos estão tranqüilos protelando realizar um bom trabalho com seus recursos; mas até quando isso vai durar? Devemos amar o dinheiro de maneira que o escondamos na terra? T7 294 3 Deus está chamando os cooperadores de todos esses empreendimentos. Os recursos devem ser abundantes, mas se forem disponibilizados de má vontade, com mais desejo mesmo de investir tudo em algum negócio mundano, não receberão a recompensa. T7 295 1 A humilde dádiva da classe pobre não é, aos olhos de Deus, inferior à maior oferta do mais rico. O Senhor acrescenta Sua bênção à dádiva, transformando-a em frutos de amor de acordo com a alegria do coração com que foi dada. A menor moeda de cada doador deve ser cuidadosamente apreciada. T7 295 2 Necessita-se agora do ardor dos jovens. Eles devem pôr de lado a vaidade e restringir seus desejos. Quero persuadi-los e também a todo o nosso povo que usualmente investe em coisas desnecessárias a aplicar em coisa mais sublime e sagrada. Que seja feito o possível para criar um fundo para os ministros idosos, que se gastaram no trabalho e cuidados. Consagrem tudo que têm para o Senhor. Não usem o seu dinheiro para se gratificarem. Não permitam que os seus recursos saiam das suas mãos meramente para beneficiar os próprios desejos ou de outros. Ao gastarem, considerem que o dinheiro que manuseiam é do Senhor, e que devem prestar contas de seu uso. T7 295 3 Aos idosos, que estão perdendo sua segurança nesta vida, apelo para fazerem disposição correta dos seus bens do Senhor, antes de dormirem em Jesus. Lembrem-se de que são mordomos do Senhor. Devolvam o que pertence ao Senhor enquanto vivem. Não falhem em resolver isso enquanto ainda raciocinam bem. À medida que a velhice chega, é nosso dever dispor dos recursos que temos para os propósitos estabelecidos por Deus. Satanás está usando de todos os expedientes para desviar da causa do Senhor os recursos de que ela tanto necessita. Muitos estão ligando seus talentos financeiros a empreendimentos mundanos, quando a causa de Deus precisa de todos os fundos para promover Sua verdade e glorificar Seu nome. Pergunto: Não deveríamos depositar para nós mesmos tesouros no Céu, em bolsas que não envelhecem? T7 296 1 Gostaria de insistir especialmente com os idosos que estão prestes a dispor dos seus meios para se lembrarem dos que ministraram fielmente a palavra e a doutrina. Coloquem seus recursos onde, caso falte a saúde ou a vida, possam ser investidos na causa de Deus. Dessa forma, serão entregues aos banqueiros [celestiais] onde se multiplicarão constantemente. T7 296 2 Chamo a atenção da igreja como um todo e também dos membros individualmente para que devolvam com juros a Deus o capital que lhes foi confiado. Assim terão um tesouro no Céu. Seja o seu coração fiel a Jesus. Mesmo que alguém pense ser o último de todos os santos, contudo, faz parte do corpo de Cristo, e através dEle se identifica com todas as Suas agências humanas, e com as excelentes e poderosas inteligências celestiais. Não vivemos para nós mesmos. A cada um é designado um posto de dever, não de conformidade com os interesses próprios e limitados, mas que a influência de cada um seja para o fortalecimento de todos. Se realmente cremos que somos individualmente um espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens, não deveríamos como igreja manifestar um espírito diferente do que manifestamos? Não somos uma igreja viva e que trabalha? T7 296 3 As pequenas e grandes correntes de beneficência devem ser mantidas sempre fluindo. A providência de Deus vai muito adiante de nós, movendo-se muito mais depressa que a nossa liberalidade. O caminho para a edificação e progresso da causa de Deus é bloqueado pelo egoísmo, orgulho, cobiça, extravagância e amor à ostentação. Sobre toda a igreja recai a solene responsabilidade de fazer prosperar cada setor da obra. Se seus membros seguirem a Cristo, negarão a inclinação ao exibicionismo, o amor à moda, às casas elegantes e custosos mobiliários. É preciso que haja muito maior humildade, muito maior distinção do mundo, entre os adventistas do sétimo dia, doutro modo Deus não nos aceitará, seja qual for nossa posição ou o caráter da obra em que estivermos empenhados. Economia e abnegação proverão para muitos, em condições medianas, os meios para beneficência. É dever de todo discípulo de Cristo andar humildemente na trilha da abnegação palmilhada pela Majestade do Céu. Toda a vida do cristão deve ser de altruísmo, para que, ao serem feitos pedidos de auxílio, ele possa responder prontamente. T7 297 1 Enquanto Satanás operar com irrefreável energia para destruir as pessoas; enquanto houver um chamado para obreiros no vasto campo da seara, haverá o convite para que se dê para o sustento da obra de Deus em qualquer de seus inúmeros setores. Solucionamos uma necessidade apenas para dar lugar a que se solucione outra de igual caráter. A abnegação pedida para que se obtenham meios a serem aplicados naquilo a que Deus dá o maior valor desenvolverá hábitos e um caráter que nos garantirão a aprovação "bem está", e nos capacitarão a habitar para sempre na presença dAquele que por nós Se tornou pobre, para que por Sua pobreza herdássemos riquezas eternas. T7 297 2 As pessoas em cargos administrativos estão em perigo de serem esmagadas por muitas responsabilidades assumidas, mas o Senhor não coloca sobre alguém fardos demasiados para serem carregados. Ele calcula o peso de cada carga antes de permitir que esteja sobre o coração dos que estão trabalhando juntamente com Ele. A cada um de Seus obreiros, nosso amante Pai celestial diz: "Lança o teu fardo sobre o Senhor, e Ele te sustentará." Compreendam os que carregam fardos, que Ele levará cada carga, grande ou pequena. T7 297 3 Jesus consente em levar nossos fardos somente quando nEle confiamos. Ele está dizendo: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos (Mateus 11:28); entregai-Me as cargas; deixai que Eu faça a obra que é impossível ser feita pelo instrumento humano." Confiemos nEle. A preocupação é cega, e não pode discernir o futuro. Mas Jesus vê o fim desde o princípio, e em cada dificuldade Ele tem Seu caminho preparado para levar alívio. Permanecendo em Cristo, podemos tudo nAquele que nos fortalece. T7 298 1 Por causa de obreiros não consagrados, as coisas por vezes irão mal. Poderemos ter de chorar os resultados do mau procedimento de outros, mas não nos acabrunhemos. A obra está sob a supervisão do bendito Mestre. Tudo que Ele pede é que os obreiros vão ter com Ele para receberem Suas ordens, e que obedeçam a Sua direção. Todas as partes da obra -- nossas igrejas, missões, Escolas Sabatinas, instituições -- tudo Ele tem no coração. Por que preocupar-se? O intenso anelo de ver a igreja impregnada de vida tem de ser temperado com a inteira confiança em Deus; pois "sem Mim", disse o grande Carregador dos Fardos, "nada podeis fazer". João 15:5. "Segue-Me." Mateus 9:9. Ele toma a dianteira; nós devemos segui-Lo. T7 298 2 Não sobrecarregue ninguém as faculdades que Deus lhe deu, num esforço por promover mais rapidamente a causa do Senhor. Não pode o poder do homem apressar a obra; a ele tem de unir-se o poder dos seres celestiais. Unicamente assim pode a obra de Deus ser levada à perfeição. Não pode o homem fazer a parte do trabalho que compete a Deus. Pode um Paulo plantar e um Apolo regar, mas Deus dá o crescimento. Em simplicidade e humildade deve o homem cooperar com os agentes divinos, sempre fazendo o melhor que pode, todavia sempre reconhecendo que é Deus o grande Obreiro Mestre. Não deve ele sentir-se confiante em si mesmo, pois assim esgotará sua força de reserva e destruirá suas faculdades mentais e físicas. Mesmo que todos os obreiros que agora suportam os mais pesados encargos fossem postos de lado, a obra de Deus seria levada avante. Temperemos, pois, com a razão o nosso zelo no trabalho; cessemos os esforços por fazer aquilo que só o Senhor pode efetuar. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 8 T8 5 1 Breve Histórico do Volume 8 T8 9 1 Capítulo 1 -- Nossa Obra T8 14 1 Capítulo 2 -- A Comissão T8 19 1 Capítulo 3 -- Poder Prometido T8 24 1 Capítulo 4 -- Nossa Responsabilidade T8 30 1 Capítulo 5 -- A Obra na Pátria e no Estrangeiro T8 38 1 Capítulo 6 -- A Obra na Europa T8 41 1 Capítulo 7 -- Uma Visão do Conflito T8 48 1 Capítulo 8 -- Advertências e Conselhos à Igreja de Battle Creek T8 53 2 Capítulo 9 -- Nosso Dever para com o Mundo T8 56 3 Capítulo 10 -- Obra Missionária na Pátria e no Estrangeiro T8 61 1 Capítulo 11 -- O Espírito Santo em Nossas Escolas T8 66 3 Capítulo 12 -- Afastamento do que é Correto T8 69 1 Capítulo 13 -- Buscando a Ajuda de Deus T8 76 1 Capítulo 14 -- Apelo aos Irmãos em Battle Creek T8 81 1 Capítulo 15 -- Uma Advertência Desatendida T8 87 1 Capítulo 16 -- O Resultado da Reforma T8 90 1 Capítulo 17 -- Advertência Solene T8 97 1 Capítulo 18 -- O Incêndio da Review and Herald T8 104 1 Capítulo 19 -- O que Poderia ter Acontecido T8 107 1 Capítulo 20 -- Esquecimento T8 123 1 Capítulo 21 -- O Valor da Provação T8 133 1 Capítulo 22 -- Centralização Exessiva em Battle Creek T8 145 1 Capítulo 23 -- Dirijam-se para Muitos Lugares T8 153 1 Capítulo 24 -- O Propósito de Deus para Suas Instituições T8 158 1 Capítulo 25 -- O Propósito de Deus na Obra Médico-Missionária T8 163 1 Capítulo 26 -- Uma Palavra de Advertência T8 166 1 Capítulo 27 -- Apoiando a Obra Médica T8 172 1 Capítulo 28 -- Unidade de Esforços T8 177 1 Capítulo 29 -- Cristo, Intercessor e Fonte de Bençãos T8 180 1 Capítulo 30 -- Palavras de Encorajamento T8 192 1 Capítulo 31 -- O Valor da Palavra de Deus T8 195 1 Capítulo 32 -- A Obra para o Tempo Presente T8 201 1 Capítulo 33 -- Visão Mais Ampla T8 206 1 Capítulo 34 -- Cristo é Nosso Exemplo T8 213 1 Capítulo 35 -- Lições do Passado T8 221 1 Capítulo 36 -- Como Preparar Nossos Jovens T8 231 1 Capítulo 37 -- Divisão de Responsabilidades T8 236 1 Capítulo 38 -- Liderança T8 239 1 Capítulo 39 -- Unidade com Cristo em Deus T8 244 1 Capítulo 40 -- Membros Leigos Devem Avançar T8 247 1 Capítulo 41 -- Achados em Falta T8 252 1 Capítulo 42 -- Rumo ao Lar T8 255 1 Capítulo 43 -- Deus em a Natureza T8 263 1 Capítulo 44 -- Um Deus Pessoal T8 279 1 Capítulo 45 -- Verdadeiro e Falso Conhecimento de Deus T8 290 1 Capítulo 46 -- O Perigo do Conhecimento Especulativo T8 305 1 Capítulo 47 -- O Falso e o Verdadeiro na Educação T8 312 1 Capítulo 48 -- A Importância do Verdadeiro T8 319 1 Capítulo 49 -- Conhecimento Atravéz da Palavra de Deus T8 329 1 Capítulo 50 -- Nossa Grande Necessidade ------------------------Breve histórico do volume oito T8 5 1 O oitavo volume foi publicado para enfrentar uma crise -- a maior de todas as que já atingiram a Igreja Adventista do Sétimo Dia. A urgência do assunto ficou evidenciada pelo fato de que o livro foi enviado para impressão em Março de 1904, quinze meses após haver sido publicado o sétimo volume. Quando de sua publicação, não se sabia que rumo tomariam as coisas. Hoje podemos volver os olhos ao passado e observar que as firmes instruções constituíram importante fator na reversão do desastre iminente. T8 5 2 Ao passo que a obra denominacional se estendia a ponto de abranger o mundo, e sendo que houvera uma reorganização da Associação Geral, o que tornou possível uma rápida e segura expansão, acontecimentos em nossa velha sede, na cidade de Battle Creek, Michigan, apresentavam-se com o potencial risco de, não revertidos, destruírem os próprios fundamentos da fé adventista do sétimo dia. Tudo apareceu de modo tão sutil, que seus perigos não foram detectados inicialmente, pois o erro apresentou a si próprio como sendo uma "nova luz". T8 5 3 Próximo à virada do século, certos obreiros da denominação, especialmente o líder da obra médica apresentou determinados ensinamentos relacionados com a personalidade de Deus que se achavam em desacordo com os claros ensinos da Palavra de Deus e as posições da Igreja. Ainda assim, tais ensinos estavam sendo distribuídos como uma compreensão adicional da mensagem, e cuja aceitação geral, afirmavam os seus defensores, traria uma gloriosa experiência ao povo de Deus e aceleraria a finalização da obra. T8 5 4 Esses ensinamentos panteístas visualizavam a Deus, não como um grande ser pessoal que governava o Universo, senão como um poder, uma força, vista e sentida na natureza e permeando a própria atmosfera. Confundindo o poder de Deus com a Sua personalidade, viam eles a Deus na luz solar, na flor, na relva, na árvore, e nos demais seres humanos. Essas visões estranhas mas fascinantes foram apresentadas publicamente a uma sessão da Associação Geral, defendidas livremente no Colégio de Battle Creek e apresentadas repetidamente no Sanatório de Battle Creek. Com o passar do tempo, essa "nova luz" se tornou um tópico de discussão quando os obreiros adventistas do sétimo dia se reuniam informalmente ou para seções de aconselhamento. Ao passo que era uma questão de profunda preocupação para os líderes da igreja, seus esforços para debelar tais ensinos panteístas pareciam quase completamente. ineficazes T8 6 1 Ao longo do inverno de 1902 o movimento ganhou um reforço especial. O problema tornou-se agudo com a publicação de um livro de fisiologia e higiene, escrito em estilo popular, no qual o principal médico da denominação apresentou esses pontos de vista de forma sutil. O livro foi destinado para venda em larga escala por parte dos adventistas do sétimo dia, para ajudar a angariar fundos para a reconstrução do Sanatório de Battle Creek. Parecia aos líderes da igreja que uma crise iria estourar na sessão da Associação Geral, a ser realizada na primavera de 1903, quando esperaram que a Sra. White trataria claramente do assunto. Mas toda vez em que falou, parecia ela estar sendo contida e apresentou uma mensagem que pedia unidade no trabalho e salientava a necessidade de avançarem juntos no interesse comum. Quando a sessão da Associação Geral se encerrou, o assunto ainda não havia sido abordado. T8 6 2 Alguns meses depois, no outono de 1903, a Sra. White foi instruída em visão a enfrentar pronta e firmemente as doutrinas do panteísmo, e a destacar os perigos de acompanhar os ensinos especulativos e espiritualistas. Comunicações despachadas por ela da Califórnia chegaram aos irmãos em sessão no Conselho Outonal, em Washington, D. C., no ápice da crise. Todos podiam ver agora que Deus estava guiando e protegendo o Seu trabalho, e à luz das mensagens do Espírito de Profecia quase todos tomaram posição ao lado da verdade. No campo, entretanto, houve perplexidade, incerteza e confusão. T8 7 1 Testemunhos Para a Igreja, volume 8, apresentou uma mensagem sobre este assunto, a qual em certos termos definiu a verdade e assim fez com que o erro fosse salientado em flagrante contraste. A crise foi enfrentada, e a igreja foi salva. Nenhum poder humano teria preservado sozinho a igreja nessa crise. T8 7 2 Além dessa controvérsia doutrinária importante, havia outras questões na igreja, nos tempos do volume 8. Apenas algumas semanas depois de ter sido lançado o volume 7, com sua mensagem de conselho relativo ao trabalho realizado em nossas editoras, a Review and Herald foi destruída pelo fogo. Esse foi o segundo grande desastre em Battle Creek, e seguiu-se ao incêndio do Sanatório em menos de onze meses. T8 7 3 Essa perda revelou outros problemas, muito maiores que a questão de substituir propriedades destruídas. Durante anos, o Espírito de Profecia tinha insistido na dispersão dos crentes que moravam em Battle Creek e no estabelecimento de instituições de saúde, obra educacional e publicações em outros lugares. Nosso povo fora instado a não se congregar em grande quantidade junto à sede da Obra. Em resposta a esses conselhos, o antigo Colégio de Battle Creek havia sido transferido para a zona rural de Berrien Springs, Michigan. Agora, com a planta industrial da Review and Herald destruída pelo fogo, pareceu aos líderes ser uma boa oportunidade para relocalizar o trabalho da editora em algum outro ponto, e foram dados passos apropriados nessa direção. T8 7 4 Desde o início, a sede da Associação Geral fora situada perto da Review and Herald. As duas instituições pareciam inseparáveis. Qualquer plano para mudar uma delas envolveria também a outra. Em resposta à orientação do Espírito de Profecia, foram buscados locais satisfatórios, e finalmente, nos subúrbios de Washington, D. C., a capital dos Estados Unidos, foram achadas propriedades aceitáveis, e o trabalho da editora e os escritórios da Associação Geral foram transferidos para essa localidade em Agosto de 1903. T8 8 1 Para ajudar os adventistas do sétimo dia a entenderem o que se encontrava subjacente à causa do desastre que varreu do mapa a casa publicadora, e a necessidade de restabelecer o trabalho em uma base nova e em um local novo, os "Conselhos Freqüentemente Repetidos" foram enviados na forma do volume 8. T8 8 2 Essas questões, envolvendo nossa obra médica, a obra de publicações e as próprias doutrinas da igreja, eram grandes e poderiam facilmente desviar a atenção de nosso povo ao redor do mundo, da tarefa principal colocada diante de nós: a de levar o evangelho eterno a todo o mundo. Embora o volume 8 tenha sido preparado primariamente para enfrentar essas crises e para apontar a direção correta para sempre clara aos adventistas do sétimo dia, Ellen White fez uma abordagem positiva. O livro não inicia com um quadro dos problemas com que nos defrontávamos, mas com a seção intitulada "Oportunidades Presentes", na qual "Nossa Obra" é apresentada em termos atraentes. Então seguem os capítulos "A Comissão", "Poder Prometido", e visões de nossas responsabilidades em casa e no estrangeiro, com especial menção de "A Obra na Europa". Como se teria agradado o grande inimigo da verdade se a mente e os pensamentos do povo de Deus pudessem ter sido desviados da grande tarefa inacabada através de especulações relativas à Divindade, ao fanatismo, ou por causa de idéias confusas quanto à organização. Mas o povo de Deus não deveria ser desviado de seu trabalho de iluminar o mundo. Com os olhos postos no trabalho, foram feitos movimentos de avanço. T8 8 3 É verdade que alguns se perderam na crise de 1902 e 1903. Foram perdidas certas propriedades institucionais da denominação; mas, em vez de retardar o trabalho, a crise marcou a abertura de grandes movimentos. As advertências da seção "Cuidado!" e o delineamento claro da verdade no grupo de capítulos subordinados a "Conhecimento Essencial", sempre servirão para manter a igreja afastada de ensinos enganosos, e os outros conselhos do volume 8 serão de benefício no tempo do fim. Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White. T8 8 4 "Florescerá e brotará Israel, e encherão de fruto a face do mundo." Isaías 27:6. ------------------------Capítulo 1 -- Nossa obra T8 9 1 Qual é nossa obra? Igual àquela determinada a João Batista, de quem lemos: "E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas." Mateus 3:1-3. T8 9 2 Todos que são verdadeiramente comprometidos com o trabalho de Deus durante estes últimos dias terão uma mensagem decidida para apresentar. Leiam os primeiros versos do capítulo 40 de Isaías: T8 9 3 "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo vale será exaltado, e todo monte e todo outeiro serão abatidos; e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda carne juntamente verá que foi a boca do Senhor que disse isso." Isaías 40:3-5. T8 9 4 "Voz que diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda carne é erva, e toda a sua beleza, como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o povo é erva. Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente." Isaías 40:6-8. T8 10 1 Esse capítulo está cheio de instrução apropriada para nós neste momento. A palavra de Deus para nós é: "Arrependam-se; preparem o caminho para um reavivamento de Meu trabalho." T8 10 2 A mudança para Washington do trabalho até agora realizado em Battle Creek é um passo na direção certa. Devemos prosseguir avançando para regiões distantes, onde as pessoas estão em escuridão espiritual. "Todo vale será exaltado, e todo monte e todo outeiro serão abatidos; e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará." Isaías 40:4. Todo obstáculo para a redenção do povo de Deus será removido pela abertura de Sua Palavra e pela apresentação de um claro "Assim diz o Senhor". A verdadeira luz deve brilhar; pois a escuridão cobre a terra, e as pessoas vivem em absoluta escuridão. A verdade do Deus vivo deve aparecer em contraste com o erro. Proclamem as alegres novas. Temos um Salvador que deu a Sua vida para que os que nEle crêem não pereçam, mas tenham a vida eterna. T8 10 3 Obstáculos para o avanço da obra de Deus aparecerão, mas não tenham temor. À onipotência do Rei dos reis, nosso Deus que mantém o concerto, une a bondade e o cuidado de um terno pastor. Nada pode obstar o Seu caminho. O Seu poder é absoluto, e é o penhor do cumprimento seguro das promessas dEle a Seu povo. Ele pode remover todas as obstruções ao avanço de Seu trabalho. Ele dispõe de meios para a remoção de toda dificuldade, de modo que esses que O servem e respeitam os meios que Ele emprega podem ser livrados. Sua bondade e amor são infinitos, e Seu concerto é inalterável. T8 10 4 Os planos dos inimigos de Seu trabalho podem parecer firmes e bem estabelecidos, mas Ele é capaz de subverter o mais forte desses planos, e a Seu próprio tempo e modo Ele fará isso, quando perceber que nossa fé foi testada suficientemente e que estamos nos aproximando dEle e O estamos fazendo nosso Conselheiro. T8 10 5 Nos dias mais escuros, quando as aparências se mostram intransponíveis, não temam. Tenham fé em Deus. Ele está realizando a Sua vontade, operando todas as coisas em benefício do Seu povo. A força dos que O amam e servem será renovada dia a dia. Sua compreensão será colocada a serviço deles, para que não errem ao executar os propósitos divinos. T8 11 1 Não deve existir desânimo no serviço de Deus. Nossa fé deve suportar a pressão que tiver de ser suportada. Deus pode e está disposto a dar a Seus servos toda a força de que necessitarem. Ele irá mais que cumprir as elevadas expectativas desses que nEle depositaram sua confiança. Ele lhes dará a sabedoria que suas variadas necessidades demandarem. T8 11 2 Disse Paulo, o apóstolo experimentado: "E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte." 2 Coríntios 12:9, 10. T8 11 3 Ó, meus irmãos, mantenham firme até ao fim a confiança que tinham no início. A luz de verdade divina não deve ficar mais fraca. Ela tem de brilhar sobre as trevas do erro que envolvem o mundo. A Palavra de Deus precisa ser aberta aos que se acham em posições elevadas na Terra, bem como aos que estão nas mais humildes. T8 11 4 A igreja de Cristo é o instrumento de Deus para a proclamação da verdade; ela se acha por Ele revestida de poder a fim de realizar uma obra especial; e se for leal a Deus, obediente aos Seus mandamentos, contará com a excelência do poder divino. Se ela honrar o Senhor Deus de Israel, não haverá poder que contra ela prevaleça. Se ela for fiel a sua aliança, as forças do inimigo não terão para vencê-la mais poder do que teria a palha para resistir ao redemoinho. T8 11 5 Acha-se diante da igreja o alvorecer de um dia brilhante, glorioso, uma vez que ela se revista da veste da justiça de Cristo, retirando-se de toda aliança com o mundo. T8 11 6 Os membros da igreja precisam confessar agora sua falha em avançar juntos. Meu irmãos, não permitam nada que os separe uns dos outros ou de Deus. Não falem de diferenças de opinião, mas unam-se no amor da verdade como esta é em Jesus. Compareçam diante de Deus, e pleiteiem para que o derramado sangue do Salvador seja a razão por que vocês devem receber ajuda na guerra contra o mal. Vocês não pleitearão em vão. À medida que se aproximarem de Deus, em contrição sincera e em completa certeza de fé, o inimigo que os busca destruir será superado. T8 12 1 Voltem-se para Deus, ó prisioneiros da esperança. Busquem forças em Deus, o Deus vivo. Mostrem uma fé sem vacilação, humilde fé no Seu poder e em Sua disposição para salvar. De Cristo emana a corrente viva da salvação. Ele é a Fonte da Vida, o Manancial de todo poder. Quando, pela fé nos apoderarmos de Sua força, Ele mudará, mudará maravilhosamente a mais desesperada e desalentadora perspectiva. Assim fará, para glória de Seu nome. T8 12 2 Deus chama os Seus fiéis, os que nEle crêem, para falar de coragem aos que estão sem fé e desesperados. Que Deus possa nos ajudar a auxiliarmos uns aos outros e a prová-Lo, vivendo pela fé. T8 12 3 "Cantai alegremente a Deus, nossa fortaleza; celebrai o Deus de Jacó. Tomai o saltério e trazei o adufe, a harpa suave e o alaúde." Salmos 81:1-2. T8 12 4 "Bom é louvar ao Senhor e cantar louvores ao Teu nome, ó Altíssimo, para de manhã anunciar a Tua benignidade e, todas as noites, a Tua fidelidade, sobre um instrumento de dez cordas e sobre o saltério; sobre a harpa com som solene. Pois Tu, Senhor, me alegraste com os Teus feitos; exultarei nas obras das Tuas mãos." Salmos 92:1-4. T8 13 1 "Vinde, cantemos ao Senhor! Cantemos com júbilo à rocha da nossa salvação! Apresentemo-nos ante a Sua face com louvores e celebremo-Lo com salmos. Porque o Senhor é Deus grande e Rei grande acima de todos os deuses. Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra, e as alturas dos montes são Suas. Seu é o mar, pois Ele o fez, e as Suas mãos formaram a terra seca. Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou." Salmos 95:1-6. T8 13 2 "Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todos os moradores da terra. Cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome; anunciai a Sua salvação de dia em dia. Anunciai entre as nações a Sua glória; entre todos os povos, as Suas maravilhas. Porque grande é o Senhor e digno de louvor, mais tremendo do que todos os deuses." Salmos 96:1-4. T8 13 3 "Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da Terra. Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus; foi Ele, e não nós, que nos fez povo Seu e ovelhas do Seu pasto. Entrai pelas portas dEle com louvor e em Seus átrios, com hinos; louvai-O e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna, a Sua misericórdia; e a Sua verdade estende-se de geração a geração." Salmos 100:1-5. ------------------------Capítulo 2 -- A comissão T8 14 1 É propósito de Deus que Seu povo seja um povo santificado, purificado, santo, comunicando luz a todos os que se acham em seu redor. É Seu desejo que, exemplificando em sua vida a verdade, sejam um louvor na Terra. A graça de Cristo é suficiente para efetuar isso. Lembre o povo de Deus, porém, que unicamente crendo e executando os princípios do evangelho, poderá Ele torná-los um louvor na Terra. Unicamente usando no serviço de Deus a capacidade que Ele lhes concedeu, fruirão a plenitude e poder da promessa sobre que a igreja foi chamada a ficar de pé. Se os que professam crer em Cristo como seu Salvador só atingirem a norma baixa da medida mundana, a igreja deixará de produzir a colheita farta que Deus espera. "Achado em falta" (Daniel 5:27), será escrito em seu registro. T8 14 2 A comissão que Cristo deu aos discípulos justamente antes de Sua ascensão é o grande objetivo missionário de Seu reino. Assim os discípulos foram feitos embaixadores Seus, e lhes foram conferidas as credenciais. Se, depois, porventura fossem desafiados e se lhes perguntasse por autoridade de quem eles, iletrados pescadores que eram, saíam a ensinar e curar, poderiam responder: "Aquele a quem os judeus crucificaram, mas ressurgiu dos mortos, nos elegeu para o ministério de Sua Palavra, declarando: 'É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra'." Mateus 28:18. T8 14 3 Cristo deu essa comissão aos Seus discípulos como principais ministros Seus, os arquitetos que deveriam estabelecer as bases de Sua igreja. Sobre eles, e sobre todos quantos os sucedessem como ministros Seus, depôs o encargo de transmitir o Seu evangelho de geração a geração, de século em século. T8 14 4 Os discípulos não deveriam esperar que o povo fosse ter com eles. Deveriam eles ir ao encontro do povo, procurando pecadores, como o pastor busca as ovelhas desgarradas. Cristo lhes apresentou o mundo como seu campo de trabalho. Deveriam "ir a todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. A respeito do Salvador é que deveriam pregar -- acerca de Sua vida de serviço abnegado, Sua morte ignominiosa, Seu amor imutável e inigualável. Seu nome deveria ser-lhes a senha, o vínculo de união. Em Seu nome deveriam vencer as fortalezas do pecado. A fé em Seu nome deveria destacá-los como cristãos. T8 15 1 Dando aos discípulos ainda outras instruções, disse Cristo: "Recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da Terra." Atos dos Apóstolos 1:8. "Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder." Lucas 24:49. T8 15 2 Em obediência à palavra de seu Mestre, os discípulos reuniram-se em Jerusalém para esperar o cumprimento da promessa de Deus. Aí passaram dez dias -- dias de profundo exame de coração. Puseram de lado todas as divergências, e uniram-se estreitamente em comunhão cristã. T8 15 3 Ao fim dos dez dias, cumpriu o Senhor Sua promessa por meio de um maravilhoso derramamento de Seu Espírito. "De repente veio do Céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." "Naquele dia agregaram-se quase três mil almas." Atos dos Apóstolos 2:2-4, 41. T8 15 4 "E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram." Marcos 16:20. A despeito da feroz perseguição que os discípulos sofreram, dentro de breve intervalo de tempo o evangelho do reino fora proclamado a todas as partes habitadas da Terra. T8 15 5 A comissão dada aos discípulos é também repassada a nós. T8 16 1 Hoje, como naquele tempo, um Salvador crucificado e ressurgido deve ser exaltado perante os que, no mundo, se acham sem Deus e sem esperança. O Senhor chama pastores, professores e evangelistas. Porta a porta devem Seus servos proclamar a mensagem da salvação. A toda nação, tribo, língua e povo, devem ser levadas as boas-novas do perdão de Cristo. T8 16 2 Não deve a mensagem ser proclamada com timidez, destituída de vida, mas com clareza, positividade, e de maneira a despertar. Centenas de pessoas estão esperando o aviso de escaparem para salvar a vida. O mundo precisa ver nos cristãos uma prova do poder do cristianismo. Não meramente nalguns lugares, mas por todo o mundo, precisamos de mensageiros de misericórdia. De todos os países se ouve o clamor: "Vem e ajuda-nos!" Atos dos Apóstolos 16:9. Ricos e pobres, elevados e humildes, pedem luz. Homens e mulheres estão famintos da verdade tal como é em Jesus. Ao ouvirem o evangelho pregado com poder do alto, saberão que o banquete lhes está preparado, e atenderão ao convite: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. T8 16 3 As palavras: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15), são dirigidas a cada um dos seguidores de Cristo. Todos os que estão destinados a participar da vida de Cristo, estão destinados para trabalhar pela salvação de seus semelhantes. O mesmo anelo de alma que Ele sentiu pela salvação dos perdidos deve ser neles manifesto. Nem todos podem ocupar o mesmo cargo, mas para todos há um lugar e um trabalho. Todos sobre quem foram derramadas as bênçãos de Deus devem corresponder por meio de serviço fiel. Cada dom deve ser empregado para o progresso do Seu reino. Promessa imutável T8 16 4 Cristo tomou todas as providências para o prosseguimento da obra confiada aos discípulos, e assumiu Ele próprio a responsabilidade pelo êxito da mesma. Enquanto obedecessem à Sua palavra e com Ele trabalhassem em união, não teriam como fracassar. Ir a todas as nações, é Sua ordem. Ir aos povos mais afastados do globo terrestre, e ali a Minha presença estará. Trabalhem com fé e confiança, pois não virá jamais o tempo em que Eu os abandone. T8 17 1 Também a nós é feita a promessa da permanente presença de Cristo. O passar do tempo não operou mudança alguma na promessa que fez ao partir. Ele está conosco hoje, tão realmente como estava com os discípulos, e conosco estará "até a consumação dos séculos". Mateus 28:20. T8 17 2 "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15), diz-nos o Salvador. "Eu estarei junto nessa obra, ensinando, guiando, animando, fortalecendo, dando-lhes êxito no trabalho de abnegação e sacrifício. Farei impressão sobre corações, convencendo-os do pecado, e trazendo-os das trevas para a luz, da desobediência para a justiça. Na Minha luz verão a luz. Haverá oposição de agentes satânicos; mas depositem em Mim a confiança. Eu nunca lhes faltarei." T8 17 3 Vocês acham que Cristo não dá valor aos que vivem inteiramente para Ele? Que não protege os que, como o amado João, estão, por Sua causa, em lugares difíceis e perigosos? Ele sabe o lugar em que se acham os Seus fiéis, e com eles mantém comunhão, animando e fortalecendo-os. E anjos de Deus, magníficos em poder, são enviados por Deus para auxiliar Seus obreiros humanos que estão falando da verdade aos que não a conhecem. T8 17 4 Ao ministro do evangelho Deus deu o trabalho de guiar a Cristo os que se desviaram do caminho estreito. Deve ele ser sábio e sério em seus esforços. Ao término de cada ano deve ele ser capaz de olhar para trás e ver pessoas salvas como resultado de seu trabalho. Alguns deve ele salvar com temor, "arrebatando-os do fogo... aborrecendo até a roupa manchada da carne", "retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina". Judas 23; Tito 1:9. A recomendação de Paulo a Timóteo vem aos ministros de hoje: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, ... pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina." 2 Timóteo 4:1-2. T8 18 1 Mas não é só sobre os que pregam a Palavra que Deus colocou a responsabilidade de salvar os pecadores. Ele deu esse trabalho a todos. Nosso coração deve estar tão repleto do amor de Cristo, que nossas palavras de ações de graça aquecerão outros corações. Essa é a obra que todos podem executar, e o Senhor a aceita como oferecida a Ele. Ele torna eficaz tal serviço, compartilhando com o sincero obreiro a graça que reconcilia o homem com Deus. T8 18 2 Possa o Senhor ajudar Seu povo a perceber que há trabalho genuíno para ser feito. Possa Ele ajudá-los a se lembrarem de que em casa, na igreja, e no mundo eles devem praticar as obras de Cristo. Eles não são deixados a trabalhar sozinhos. Os anjos são seus ajudadores. E Cristo é o seu ajudador. Que trabalhem, então, fiel e incansavelmente. No devido tempo colherão eles, se não desfalecerem. T8 18 3 O peregrino cristão não se rende ao desejo de descansar. Ele avança continuamente, enquanto dizendo: "A noite é passada, e o dia é chegado." Romanos 13:12. Este é o seu lema: "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar... não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filipenses 3:12-14. ------------------------Capítulo 3 -- Poder prometido T8 19 1 Deus não requer de nós que façamos em nossa própria força a obra que temos para realizar. Proveu Ele assistência divina para todas as emergências, para as quais nossos recursos humanos são insuficientes. Dá o Espírito Santo para auxiliar em qualquer situação difícil, para fortalecer-nos a esperança e certeza, para nos iluminar a mente e purificar o coração. T8 19 2 Justamente antes de Sua crucifixão, disse o Salvador aos discípulos: "Não vos deixarei órfãos." "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre." João 14:18, 16. "Quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir." João 16:13. "O Espírito Santo...vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." João 14:26. T8 19 3 Cristo tomou providência para que Sua igreja seja um corpo transformado, iluminado com a luz do Céu, possuindo a glória de Emanuel. É Seu desígnio que todo cristão esteja circundado de uma atmosfera espiritual de luz e paz. Não há limite para a utilidade de quem, pondo de parte o próprio eu, dá lugar à operação do Espírito Santo no coração, e vive vida inteiramente consagrada a Deus. T8 19 4 Qual foi o resultado do derramamento do Espírito no dia de Pentecoste? -- As alegres novas de um Salvador ressurreto foram levadas aos mais longínquos recessos do mundo habitado. O coração dos discípulos estava sobrecarregado de benevolência tão abundante, tão profunda, de alcance tão vasto, que os impelia a ir aos confins da Terra, testificando: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo." Gálatas 6:14. Ao proclamarem a verdade tal como é em Jesus, corações se rendiam ao poder da mensagem. A igreja viu conversos a ela afluírem de todas as direções. Pessoas apostatadas, de novo se converteram. T8 20 1 Pecadores uniam-se aos cristãos em busca da pérola de grande preço. Os que haviam sido os mais fortes oponentes do evangelho tornaram-se os seus campeões. Cumpriu-se a profecia de que o fraco seria "como Davi", e a casa de Davi "como o anjo do Senhor". Zacarias 12:8. Cada cristão via em seu irmão a divina semelhança de amor e benevolência. Um só interesse prevalecia. Um só objeto de imitação absorvia todos os demais. A única ambição dos crentes era revelar a semelhança do caráter de Cristo e trabalhar pelo engrandecimento de Seu reino. T8 20 2 "Os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça." Atos dos Apóstolos 4:33. Em resultado de seus trabalhos, acrescentaram-se à igreja homens escolhidos que, recebendo a Palavra da vida, consagravam-se à obra de comunicar a outros a esperança que lhes enchera de paz e alegria o coração. Centenas proclamavam a mensagem: "O reino de Deus está próximo." Marcos 1:15. Não podiam ser impedidos nem intimidados por ameaças. O Senhor por eles falava; e, aonde quer que fossem, os doentes eram curados e aos pobres era pregado o evangelho. T8 20 3 De maneira assim poderosa pode Deus atuar quando os homens se entregam ao controle de Seu Espírito! T8 20 4 A nós hoje, tão certamente como aos primeiros discípulos, pertence a promessa do Espírito. Deus dotará hoje homens e mulheres com poder do alto, da mesma maneira que dotou aqueles que, no dia de Pentecoste, ouviram a palavra de salvação. Nesta mesma hora Seu Espírito e Sua graça se acham à disposição de todos quantos deles necessitam e crêem em Sua Palavra. T8 20 5 É importante notar que só depois de haverem os discípulos entrado em união perfeita, quando não mais contendiam pelas posições mais elevadas, foi o Espírito derramado. Estavam unânimes. Todas as divergências haviam sido postas de lado. E o testemunho dado a seu respeito depois de derramado o Espírito é o mesmo. Note a expressão: "Era um o coração e a alma da multidão dos que criam." Atos dos Apóstolos 4:32. O Espírito dAquele que morreu para que os pecadores vivessem dirigia a inteira congregação de crentes. T8 21 1 Os discípulos não pediram uma bênção para si. Arcavam sob o peso da preocupação pelos perdidos. O evangelho devia ser levado aos confins da Terra, e reclamaram a dotação de poder que Cristo prometera. Foi então derramado o Espírito Santo e milhares se converteram num dia. T8 21 2 O mesmo pode acontecer agora. Ponham de parte os cristãos toda dissensão, e entreguem-se a Deus para a salvação dos perdidos. Com fé peçam a bênção prometida, e virá. O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi a "chuva temporã", e glorioso foi o resultado. A chuva serôdia será mais abundante, porém. Qual é a promessa para os que vivem nos últimos dias? -- "Voltai à fortaleza, ó presos de esperança; também hoje vos anuncio que vos recompensarei em dobro." Zacarias 9:12. "Pedi ao Senhor chuva no tempo da chuva serôdia; o Senhor, que faz os relâmpagos, lhes dará chuveiro de água, e erva no campo a cada um." Zacarias 10:1. T8 21 3 Cristo declarou que a divina influência do Espírito deveria estar com Seus seguidores até o fim. Mas essa promessa não é devidamente apreciada; e portanto também não a vemos cumprir-se na medida em que a poderíamos ver. A promessa do Espírito é assunto em que pouco se pensa; e o resultado é o que é de esperar -- aridez, trevas, decadência e morte espirituais. Assuntos de menor importância ocupam a atenção, e o poder divino que é necessário ao desenvolvimento e prosperidade da igreja e que traria após si todas as outras bênçãos, esse falta, conquanto oferecido em sua infinita plenitude. T8 21 4 A ausência do Espírito é que torna tão destituído de poder o ministério da pregação. Pode haver erudição, talento, eloqüência, ou qualquer dom natural ou adquirido; mas, sem a presença do Espírito de Deus, nenhum coração será tocado, pecador algum ganho para Cristo. Por outro lado, se estiverem ligados a Cristo, se os dons do Espírito lhes pertencerem, o mais pobre e ignorante de Seus discípulos terá um poder que influenciará corações. Deus os faz condutos para espalhar a mais elevada influência no Universo. T8 22 1 Por que não temos fome nem sede do dom do Espírito, visto como é esse o meio pelo qual haveremos de receber poder? Por que não falamos sobre Ele, não oramos por Ele e não pregamos a Seu respeito? O Senhor está mais disposto a dar-nos o Espírito Santo do que os pais terrestres a dar boas dádivas aos filhos. Pelo batismo do Espírito deve todo obreiro estar pleiteando com Deus. Grupos devem se reunir para pedir auxílio especial, sabedoria celestial, a fim de que saibam como fazer planos e executá-los, com sabedoria. Especialmente devem os homens orar para que Deus batize com o Espírito Santo os Seus missionários. T8 22 2 A presença do Espírito com os obreiros de Deus conferirá à apresentação da verdade um poder que nem toda a honra ou glória do mundo poderiam dar. O Espírito fornece a energia que sustenta as pessoas que se esforçam e lutam, em todas as emergências, em meio ao desamor dos parentes, ao ódio do mundo e à intuição de suas próprias imperfeições e erros. T8 22 3 O zelo por Deus levou os discípulos a darem testemunho da verdade com grande poder. Não deveria esse mesmo zelo fazer nosso coração ficar possuído da ardente resolução de contar a história do amor redentor, de Cristo o crucificado? Não há de vir o Espírito de Deus hoje, em resposta à oração fervorosa, perseverante, e encher-nos de poder para o serviço? Por que, então, se acha a igreja tão fraca e abatida? T8 22 4 É privilégio de todo cristão, não só aguardar, mas mesmo apressar a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Se todos os que professam o Seu nome estivessem produzindo frutos para Sua glória, quão rapidamente seria lançada em todo o mundo a semente do evangelho! Depressa amadureceria a última seara, e Cristo viria para juntar o precioso grão. T8 23 1 Irmãos e irmãs, temos de buscar o Espírito Santo. Deus vai cumprir todas as promessas que fez. Com a Bíblia na mão, digamos: "Fiz como disseste. Apresento a Tua promessa: Pedi, 'e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á'." Mateus 7:7. Cristo declara: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis." Marcos 11:24. "Tudo quanto pedirdes em Meu nome Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho." João 14:13. T8 23 2 O arco-íris ao redor do trono é uma garantia de que Deus é fiel; de que nEle não há mudança nem sombra alguma de variação. Pecamos contra Ele e não merecemos Seu favor; contudo Ele próprio nos pôs nos lábios aquela tão maravilhosa súplica: "Não nos rejeites por amor do Teu nome; não abatas o trono da Tua glória; lembra-Te, e não anules o Teu concerto conosco." Jeremias 14:21. Ele próprio Se obrigou a atender ao nosso clamor, quando nos chegamos a Ele confessando nossa indignidade e pecado. A honra de Seu trono está posta como penhor do cumprimento de Sua palavra a nós. T8 23 3 Cristo envia Seus mensageiros a toda parte do Seu domínio para comunicar aos Seus servos a Sua vontade. Anda Ele no meio de Suas igrejas. Deseja santificar, elevar e enobrecer os Seus seguidores. A influência dos que crêem nEle será no mundo um cheiro de vida para vida. Cristo tem em Sua mão direita as estrelas, e tem o propósito de fazer com que, por meio delas, a Sua luz brilhe, resplandeça para o mundo. Assim quer Ele preparar Seu povo para serviço mais elevado na igreja celestial. Conferiu-nos Ele um grande trabalho para fazer. Façamo-lo com fidelidade. Mostremos em nossa vida o que a graça divina pode fazer em prol da humanidade. ------------------------Capítulo 4 -- Nossa responsabilidade T8 24 1 Há ocasiões em que uma visão distinta é apresentada a mim acerca da condição da igreja remanescente, uma condição de indiferença apavorante em relação às necessidades de um mundo a perecer por falta de conhecimento da verdade para este tempo. Então eu tenho horas, e às vezes dias, de intensa angústia. Muitos aos quais foram confiadas as verdades salvadoras da mensagem do terceiro anjo fracassam em perceber que a salvação de pessoas é dependente da consagração e atividade da igreja de Deus. Muitos estão usando as suas bênçãos a serviço do ego. Oh, como meu coração dói porque Cristo é envergonhado pelo seu comportamento não-cristão! Mas, depois que a agonia passa, eu me sinto como que trabalhando mais que nunca para despertá-los a fim de que ponham em prática um esforço desinteressado para a salvação de seus companheiros humanos. T8 24 2 Deus tornou Seu povo os mordomos de Sua graça e verdade, e como considera Ele a negligência deles em dar essas bênçãos aos membros da raça humana? Suponhamos que uma colônia distante da Grã-Bretanha esteja em grande angústia por causa de escassez e guerra ameaçadora. Multidões morrendo de fome, e um inimigo poderoso está se reunindo na fronteira, ameaçando acelerar o trabalho de morte. O governo nacional abre seus depósitos; a caridade pública é acionada; e o socorro flui por diversos canais. Uma frota é reunida com os preciosos meios de vida e é enviada ao cenário do sofrimento, acompanhada pelas orações daqueles cujo coração está interessado em ajudar. E durante algum tempo a frota dirige-se rápida a seu destino. Mas, tendo perdido a terra de vista, o ardor desses encarregados de levar comida aos sofredores famintos enfraquece. Embora comprometidos em um trabalho que os faz colaboradores dos anjos, eles perdem as boas impressões com as quais haviam começado. Por meio de maus conselheiros, penetra a tentação. T8 24 3 Um grupo de ilhas acha-se em seu curso e, embora longe de seu destino, eles decidem aproximar-se. A tentação que já se manifestara torna-se mais forte. O espírito egoísta de ganho fácil passa a possuir as mentes. Vantagens mercantis se lhes apresentam. Os encarregados da frota determinam-se a permanecer nas ilhas. O propósito original de misericórdia desaparece-lhes de vista. Eles se esquecem das pessoas famintas às quais haviam sido enviados. As mercadorias confiadas a eles são usadas para o seu próprio benefício. São desviados os meios de beneficência para os canais de egoísmo. Eles permutam os meios de subsistência por ganho egoísta, e deixam os seres semelhantes a morrer. Os gritos dos que perecem ascendem ao Céu, e Deus escreve em Seu registro a história do roubo. T8 25 1 Pense no horror de seres humanos morrendo porque aqueles a quem foi designada a responsabilidade dos meios de alívio se provaram infiéis ao encargo recebido. É difícil para nós imaginarmos que uma pessoa pode ser culpada de tão terrível pecado. Entretanto, sou instruída a dizer a você, meu irmão, minha irmã, que os cristãos estão repetindo esse pecado diariamente. T8 25 2 No Éden, o homem caiu de seu elevado estado e por causa da transgressão se tornou sujeito à morte. Foi percebido no Céu que os seres humanos estavam perecendo e a compaixão de Deus foi acionada. A um custo infinito Ele vislumbrou um meio de socorro. Ele "amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Não havia esperança para o transgressor, exceto por causa de Cristo. Deus "viu que ninguém havia e maravilhou-Se de que não houvesse um intercessor; pelo que o Seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a Sua própria justiça o susteve." Isaías 59:16. T8 25 3 O Senhor escolheu um povo e o fez depositário da Sua verdade. Era o Seu propósito que, pela revelação do Seu caráter através de Israel, fossem os homens atraídos a Ele. A todo o mundo seria levado o convite do evangelho. T8 26 1 Por intermédio do serviço sacrifical, Cristo seria enaltecido perante as nações, e todos que olhassem para Ele viveriam. T8 26 2 Mas Israel não cumpriu o propósito de Deus. Esqueceram-se de Deus e perderam a visão de seu alto privilégio como representantes dEle. As bênçãos que eles tinham recebido não trouxeram bênçãos para o mundo. Todas suas vantagens foram utilizadas para a própria glorificação. Eles roubaram a Deus do serviço que deles requeria, e roubaram dos membros da raça humana a orientação religiosa e um exemplo santo. T8 26 3 Deus finalmente enviou Seu Filho para que revelasse aos homens o caráter do Invisível. Cristo veio e viveu neste planeta uma vida de obediência à lei de Deus. Deu Sua vida preciosa para salvar o mundo e fez de Seus servos os Seus mordomos. Com o dom de Cristo foram entregues ao homem todos os tesouros do Céu. A igreja foi provida com o alimento do Céu para almas famintas. Esse é o tesouro que foi comissionado ao povo de Deus para ser levado ao mundo. Eles deveriam fielmente executar o seu dever, continuando seu trabalho até que a mensagem de misericórdia houvesse circundado o mundo. T8 26 4 Cristo ascendeu ao Céu e enviou Seu Santo Espírito para dar poder ao trabalho dos discípulos. Milhares eram convertidos em um dia. Numa única geração o evangelho foi levado a toda nação debaixo do Céu. Mas pouco a pouco ocorreu uma mudança. A igreja perdeu o primeiro amor. Tornou-se egoísta e amante da comodidade. O espírito de mundanismo foi acariciado. O inimigo lançou seu feitiço sobre aqueles a quem Deus havia dado luz para um mundo em escuridão, luz que deveria haver brilhado através de boas obras. O mundo foi roubado das bênçãos que Deus desejara que os homens recebessem. T8 26 5 Não está sendo a mesma coisa repetida nesta geração? Muitos em nossos dias estão ocultando aquilo que Deus lhes confiou para a salvação de um mundo desatento, perdido. Na Palavra de Deus um anjo é representado como voando no meio de céu. "E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas." Apocalipse 14:6, 7. T8 27 1 A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem que somos chamados a apresentar ao mundo. É o pão da vida para estes últimos dias. Milhões de seres humanos estão perecendo em ignorância e iniqüidade. Mas muitos desses a quem Deus comissionou os depósitos da vida olham para essas pessoas com indiferença. Muitos se esquecem de que a eles foi confiado o pão de vida, a ser dado aos que sofrem a fome da salvação. T8 27 2 Oh, que haja cristãos consagrados, que haja coerência semelhante à de Cristo, que haja fé que opera por amor e purifica a alma! Possa Deus ajudar-nos a nos arrependermos e a mudarmos nossos movimentos lentos, transformando-os em atividade consagrada. Possa Ele ajudar-nos a demonstrar em nossas palavras e atos que assumimos o interesse pelas pessoas que perecem. T8 27 3 Sejamos gratos a todo momento pela paciência de Deus para com nossos movimentos tardios e de descrença. Em vez de nos lisonjearmos com o pensamento daquilo que fizemos, depois de realizar tão pouco, temos ainda que trabalhar com mais sinceridade. Não devemos cessar nossos esforços ou relaxar nossa vigilância. Jamais nosso zelo deve deixar de aumentar. Nossa vida espiritual deve ser reavivada diariamente pelo fluxo que torna contente a cidade de nosso Deus. Devemos sempre estar atentos às oportunidades de usar para Deus os talentos que Ele nos confiou. T8 27 4 O mundo é um teatro e seus habitantes são os atores que estão se preparando para desempenhar sua parte no último grande drama. Não há unidade nas grandes massas da humanidade, exceto quando os homens se unem para realizar seus propósitos egoístas. Mas Deus os está observando. Seus desígnios quanto a Seus rebeldes súditos se cumprirão. O mundo não foi entregue às mãos dos homens, embora Deus permita que os elementos de confusão e desordem dominem por algum tempo. Um poder de baixo está operando a fim de promover as últimas grandes cenas do drama: Satanás vindo como Cristo e operando com todo o engano da injustiça nos que se ligam em sociedades secretas. Os que cedem à paixão de confederarem-se estão executando os planos do inimigo. Depois da causa vem o efeito. T8 28 1 A transgressão quase que já chegou ao seu limite. O mundo está cheio de confusão e um grande terror está para vir sobre os seres humanos. O fim está muito perto. Nós, que conhecemos a verdade, deveríamos estar preparados para o que em breve virá sobre o mundo como uma terrível surpresa. T8 28 2 João escreve: "E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras." Apocalipse 20:11, 12. T8 28 3 Somos nós como pessoas adormecidas? Oh, se os homens e mulheres jovens em nossas instituições, que agora se encontram despreparados para o aparecimento do Senhor, não habilitados para se tornarem membros da família de Deus, pudessem pelo menos discernir os sinais dos tempos, que mudança seria vista neles! O Senhor Jesus está pedindo trabalhadores abnegados para que sigam os Seus passos, caminhem e trabalhem para Ele, ergam a cruz, e O sigam aonde Ele os conduzir. T8 28 4 Muitos estão prontamente satisfeitos em oferecer a Deus atos insignificantes de serviço. O cristianismo deles é frágil. Cristo deu-Se pelos pecadores. Quanta ansiedade pela salvação de almas deveríamos nós demonstrar quando vemos seres humanos que perecem em pecado! Essas pessoas foram compradas a um preço infinito. A morte do Filho de Deus na cruz do Calvário é a medida do valor dessas pessoas. T8 29 1 Dia a dia, estão decidindo se terão vida eterna ou morte eterna. Ainda assim, os homens e mulheres que professam servir a Deus estão contentes em ocupar seu tempo e atenção com assuntos de pouca importância. Estão contentes ao estar em desacordo uns com os outros. Se fossem consagrados ao trabalho do Mestre, não estariam lutando e contendendo como um grupo de crianças mal-educadas. Cada mão seria ocupada no serviço. Todos estariam em seu posto de dever, trabalhando com coração e alma como missionários da cruz de Cristo. O espírito do Redentor habitaria no coração dos trabalhadores, e obras de justiça seriam realizadas. Os obreiros levariam consigo, em seu serviço, as orações e a simpatia de uma igreja desperta. Receberiam a direção de Cristo e não gastariam tempo com discussão e contenda. T8 29 2 Mensagens viriam de lábios tocados pela brasa viva do altar divino. Seriam faladas palavras confiáveis, puras. Intercessões de corações partidos ascenderiam ao Céu. Com uma mão os obreiros segurariam a Cristo, enquanto com a outra agarrariam os pecadores e os atrairiam ao Salvador. T8 29 3 "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim." Mateus 24:14. T8 29 4 "Livra os que estão destinados à morte e salva os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: Eis que o não sabemos; porventura, aquele que pondera os corações não o considerará? E aquele que atenta para a tua alma não o saberá? Não pagará ele ao homem conforme a sua obra?" Provérbios 24:11, 12. ------------------------Capítulo 5 -- A obra na pátria e no estrangeiro T8 30 1 "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem. Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa." João 4:35-37. T8 30 2 Depois de semear a semente, o lavrador é obrigado a esperar meses até que germine e se desenvolva o grão até ao ponto de ser ceifado. Mas, ao semeá-lo, ele é incentivado pela expectação do fruto no futuro. Seu trabalho é suavizado com a esperança de boa retribuição no tempo da colheita. T8 30 3 Assim não aconteceu, porém, com as sementes da verdade semeadas por Cristo na mente da samaritana, durante Sua conversa com ela junto ao poço. A ceifa da Sua semeadura não foi remota, mas imediata. Mal haviam Suas palavras sido proferidas, e já as sementes assim semeadas brotaram e produziram fruto, despertando-lhe o entendimento, e capacitando-a para saber que estivera conversando com o Senhor Jesus Cristo. Permitiu ela que os raios da luz divina lhe refulgissem no coração. Esquecida da bilha de água, partiu apressadamente para comunicar aos seus irmãos samaritanos as boas-novas. "Vinde", disse, "vede um Homem que me disse tudo quanto tenho feito." João 4:29. E eles partiram imediatamente para vê-Lo. Foi então que Jesus comparou a um campo de trigo a alma desses samaritanos. "Levantai os vossos olhos", disse Ele aos discípulos, "e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa." João 4:35. T8 30 4 "Indo pois ter com Ele os samaritanos, rogaram-Lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias." E que dias atarefados foram aqueles! Qual é o relato do resultado? "E muitos mais creram nEle, por causa da Sua palavra. E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos O temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo." João 4:40-42. T8 31 1 Ao abrir a mente dos samaritanos para a palavra da vida, Cristo semeou muitas sementes da verdade e mostrou ao povo como também eles poderiam semear na mente de outros a verdade. Quanto de bem poderia ser feito se todos quantos conhecem a verdade trabalhassem em favor dos pecadores -- pelos que tanto precisam conhecer e compreender a verdade bíblica, e que a aceitariam com a mesma presteza com que os samaritanos atenderam às palavras de Cristo! Como é diminuta a nossa afinidade com Deus no ponto que deveria ser o mais forte traço de união entre nós e Ele -- a compaixão pelos depravados, culpados, sofredores, mortos em ofensas e pecados! Se os homens participassem das simpatias de Cristo, condoer-se-iam eles constantemente das condições de muitas terras necessitadas, imensamente desprovidas de obreiros. T8 31 2 A obra em campos estrangeiros deverá ser levada avante com fervor e entendimento. E na própria pátria ela não deverá ser negligenciada. Não sejam os campos que jazem junto às nossas portas, tais como as grandes cidades do nosso país, descuidados e negligenciados. Esses campos são tão importantes quanto qualquer setor estrangeiro. T8 31 3 A animadora mensagem divina de misericórdia deverá ser proclamada nas cidades da América [do Norte]. Os homens e mulheres que vivem nessas cidades estão rapidamente ficando mais e mais enredados em suas relações comerciais. Procedem nesciamente na construção de edifícios que se erguem a grandes alturas. Têm a mente saturada de planos e projetos ambiciosos. Deus está ordenando a cada um de Seus servidores: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Isaías 58:1. T8 32 1 Agradeçamos a Deus por haver uns poucos obreiros que fazem tudo quanto lhes é possível para erguer alguns memoriais de Deus em nossas cidades negligenciadas. Lembremos que temos o dever de animar esses obreiros. Deus Se desagrada com a falta de apreço e amparo manifestados pelo Seu povo para com os nossos obreiros fiéis que trabalham nas cidades grandes de nossa própria pátria. A obra no campo nacional constitui problema vital atualmente. O tempo presente é a oportunidade mais favorável de que disporemos para trabalhar nesses campos. Dentro em breve a situação será muito mais difícil. T8 32 2 Jesus chorou por Jerusalém por causa da culpa e obstinação do Seu povo escolhido. Também chora pela obstinação dos que, professando serem coobreiros Seus, se conformam com não fazer coisa alguma. Estão os que deveriam apreciar o valor das pessoas, carregando com Cristo o fardo de peso e constante aflição, regado com lágrimas pelas cidades ímpias da Terra? A destruição dessas cidades, quase inteiramente devotadas à idolatria, está iminente. No grande dia do ajuste final, que resposta poderemos dar pela negligência de penetrar nessas cidades agora? T8 32 3 Ao levarmos avante a obra na América do Norte, que nos ajude o Senhor a dar a outros países a atenção que merecem, de forma que os obreiros desses campos não fiquem limitados, incapacitados de deixar memoriais divinos em muitas partes. Não permitamos que vantagens demasiadas sejam absorvidas neste país. Não continuemos negligenciando o nosso dever para com os milhões que vivem noutras terras. Adquiramos melhor compreensão da situação, e redimamos o passado. T8 32 4 Meus irmãos e irmãs da América do Norte, poderá acontecer que ao erguerem a vista para ver os campos distantes que estão maduros para a ceifa, recebam no próprio coração a abundante graça de Deus. Os que, por efeito da descrença têm sido espiritualmente pobres, se tornarão, por meio do trabalho pessoal, ricos em boas obras. Sua alma não mais morrerá de fome em meio à abundância, mas se apropriarão das boas coisas que Deus lhes reservou. Ao começarem a verificar quão destituídos de recursos são os obreiros para levar avante a obra em campos estrangeiros, tudo farão para ajudar, e começarão a criar alma nova, seu apetite espiritual ficará saudável, e refrigerada a mente com a Palavra de Deus, que é uma folha da árvore da vida para a saúde das nações. T8 33 1 Em resposta à pergunta do Senhor: "A quem enviarei?", Isaías respondeu: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. Meu irmão, minha irmã, talvez não possam ir para a vinha do Senhor, mas podem fornecer recursos para enviar outros. Estarão, assim, entregando seu dinheiro aos banqueiros; e quando vier o Mestre, poderão devolver-Lhe o que Lhe pertence, com juros. Seus recursos podem ser usados para enviar e sustentar os mensageiros do Senhor que, de viva voz e por sua influência, pregarão a mensagem: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas." Mateus 3:3. Estão sendo feitos planos para o progresso da causa, e agora é sua oportunidade de trabalhar. T8 33 2 Se trabalharem com abnegação, fazendo o que for possível para promover o progresso da causa em campos novos, o Senhor os ajudará, fortalecerá e abençoará. Confiem na garantia da Sua presença, que os sustém, e que é luz e vida. Tudo façam pelo amor de Jesus e das preciosas pessoas por quem Ele morreu. Trabalhem com o propósito puro e divinamente inspirado de glorificar a Deus. O Senhor os observa e compreende, e se oferecerem seu talento como dom consagrado para o Seu serviço, os usará, a despeito da sua fraqueza; porque no serviço ativo e desinteressado, os fracos serão fortalecidos e desfrutarão o Seu precioso louvor. A exaltação do Senhor é um elemento de confiança. Se forem fiéis, a paz que excede todo o entendimento será a sua recompensa nesta vida, e, na futura, participarão da alegria do Senhor. 23 de Janeiro de 1903 T8 34 1 Tenho que escrever algo com respeito ao modo pelo qual nossas cidades na América do Norte têm sido passadas por alto e negligenciadas, cidades nas quais a verdade não foi proclamada. A mensagem precisa ser dada aos milhares de estrangeiros que vivem nessas cidades, no campo nacional. T8 34 2 Não posso entender por que os de nosso povo carregam sobre si tão pequeno fardo quanto a levar avante o trabalho que Deus tem durante anos mantido diante de mim, o trabalho de apresentar a mensagem da verdade presente nos Estados Sulistas. Poucos têm sentido sobre si a responsabilidade de desempenhar esse trabalho. Nosso povo não tem penetrado em território novo e nem trabalhado nas cidades no Sul. Inúmeras vezes Deus apresentou as necessidades deste campo, sem qualquer resultado especial. Às vezes tenho me sentido como se já não pudesse agüentar o fardo deste trabalho. Pensei que, se os homens prosseguissem negligenciando este trabalho, eu deixaria os assuntos se acumularem e oraria para que Deus tivesse clemência do ignorante e dos que estão afastados do caminho. T8 34 3 Mas o Senhor tem uma controvérsia com nossos ministros e povo, e eu necessito falar, enquanto coloco sobre eles o fardo do trabalho no campo sulista e nas cidades de nossa terra. Quem sente seriamente a preocupação de ver a mensagem proclamada na Grande Nova Iorque e nas muitas outras cidades até aqui não trabalhadas? Nem todo o dinheiro que se possa reunir tem de ser mandado da América do Norte para as terras distantes, enquanto no campo nacional há tão providenciais oportunidades de apresentar a verdade a milhões de pessoas que nunca a ouviram. Entre esses milhões, encontram-se os representantes de muitas nações, muitos dos quais estão preparados para receber a mensagem. Resta muito a fazer à sombra de nossas portas -- nas cidades da Califórnia, Nova Iorque e muitos outros Estados. T8 35 1 Deus diz a Seu povo: "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti." Isaías 60:1. Por que, então, sentem eles tão pequeno fardo quanto a implantar o padrão da verdade em lugares novos? Por que não obedecem eles à palavra: "Vendei o que tendes, e dai esmolas, e fazei para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão, e a traça não rói." Lucas 12:33. Por que não devolvem eles ao Senhor o que Lhe pertence, para ser investido em mercadoria divina? Por que não ocorre um chamado mais sério aos voluntários, para que entrem no campo de colheita já embranquecendo? A menos que seja feito mais do que o realizado até agora pelas cidades dos Estados Unidos, os ministros e as pessoas terão uma conta pesada para resolver com quem designou a todo homem a sua obra. T8 35 2 Nós repetimos a oração: "Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, tanto na Terra como no Céu." Mateus 6:10. Estamos nós fazendo nossa parte para responder essa oração? Professamos acreditar que a comissão que Cristo deu aos discípulos também é determinada a nós. Estamos cumprindo isso? Queira Deus perdoar nossa terrível negligência ao não fazermos o trabalho que até agora tocamos escassamente com as pontas de nossos dedos. Quando esse trabalho será realizado? Meu coração fica doente e dolorido ao ver tal cegueira por parte do povo de Deus. T8 35 3 Há milhares na América do Norte que perecem em ignorância e pecado. E olhando ao longe, para algum campo distante, esses que conhecem a verdade estão indiferentemente passando por alto os campos necessitados próximos a eles. Cristo diz: "Vai trabalhar hoje na Minha vinha." Mateus 21:28. "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que Eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa." João 4:35. T8 36 1 Despertem, despertem, irmãos e irmãs meus, e entrem nos campos da América do Norte ainda não trabalhados. Depois de terem dado alguma coisa para os campos estrangeiros, não julguem estar cumprido seu dever. Há uma obra a realizar nos campos estrangeiros, mas há uma obra a fazer na América do Norte, obra da mesma importância. Nas cidades americanas existem pessoas de quase todas as línguas. Elas necessitam da luz que Deus deu a Sua igreja. T8 36 2 O Senhor vive e reina. Logo Ele Se erguerá em majestade, para abalar terrivelmente a Terra. Uma mensagem especial deve agora ser proclamada -- mensagem que penetrará as trevas espirituais e convencerá e converterá pessoas. "Agora é o momento de cuidar de sua salvação", é o apelo a ser feito aos que se demoram no pecado. Devemos agora tomar muitíssimo a sério essa responsabilidade. Não temos um momento a gastar em críticas e acusações. Que os que isso têm feito no passado, se prostrem de joelhos em oração, e que reparem como estão pondo suas palavras e planos em lugar das palavras e planos de Deus. T8 36 3 Não temos tempo para preocupar-nos com assuntos destituídos de importância. Nosso tempo deve ser empregado na proclamação da última mensagem de misericórdia para um mundo culpado. São necessários homens que avancem sob a inspiração do Espírito de Deus. Os sermões pregados por alguns dos nossos pastores terão que ser muito mais vigorosos do que o são agora, senão muitos relapsos na fé serão atingidos por uma mensagem insípida, sem substância, que provoca sono. T8 37 1 Cada sermão deve ser feito tendo em vista os terríveis juízos que logo cairão sobre o mundo. A mensagem da verdade deve ser proclamada por lábios tocados pela brasa viva do altar divino. T8 37 2 Meu coração se enche de angústia quando penso nas mensagens desinteressantes pregadas por alguns de nossos pastores, quando têm para pregar uma mensagem de vida e morte. Os pastores estão dormentes; da mesma forma que os membros da igreja; enquanto o mundo perece em pecado. Queira Deus ajudar o Seu povo a despertar, e andar, e trabalhar como homens e mulheres que estão nas fronteiras de um mundo eterno. Logo uma surpresa terrível sobrevirá aos habitantes do mundo. Imprevistamente, com poder e grande glória, Cristo virá. Não haverá, então, tempo de preparo para encontrá-Lo. Agora é o tempo de proclamarmos a mensagem de advertência. T8 37 3 Nós somos os mordomos, que recebemos de nosso Deus ausente o encargo de cuidar de Sua casa e de Seus interesses, desde que Ele veio servir a este mundo. Ele voltou ao Céu, deixando-nos encarregados de Seus assuntos, e espera que aguardemos e vigiemos até Seu aparecimento. Sejamos fiéis a nosso encargo, para que, em vindo de repente, Ele não nos ache dormindo. ------------------------Capítulo 6 -- A obra na Europa T8 38 1 Aos meus irmãos da Europa: T8 38 2 Tenho alguma coisa para dizer-lhes. Chegou o tempo de serem feitas grandes coisas na Europa: Uma obra importante, semelhante à feita na América [do Norte], pode ser realizada também na Europa. Fundem clínicas e restaurantes que sigam os princípios de saúde. Por meio de publicações, façam resplandecer a luz da verdade presente. Prossigam com a tradução dos nossos livros. Foi-me mostrado que em países da Europa serão acesas luzes em muitos lugares. T8 38 3 Existem muitos lugares em que a obra do Senhor não está representada como deveria. É necessário auxílio na Itália, França, Escócia e em muitos outros países. Um trabalho de maior vulto deve ser feito nesses lugares. Precisam-se obreiros. Há talentos entre o povo de Deus na Europa, e o Senhor quer que sejam empregados para estabelecer em toda a Grã-Bretanha e no continente centros de onde resplandeça a luz da Sua verdade. T8 38 4 Há uma obra a ser feita na Escandinávia. Deus está tão disposto a atuar por meio dos crentes escandinavos quanto pelos norte-americanos. T8 38 5 Irmãos, apeguem-se ao Senhor Deus dos exércitos. Seja Ele seu temor e pavor. Chegou o tempo de Sua obra ser ampliada. Tempos trabalhosos estão perante nós, mas se nos mantivermos unidos por meio de laços cristãos, sem que ninguém lute pela supremacia, Deus agirá poderosamente em nosso favor. T8 38 6 Sejamos esperançosos e corajosos. O desânimo no serviço do Senhor é pecaminoso e insensato. Ele conhece cada uma das nossas necessidades. Tem todo o poder. Pode conceder aos Seus servos a medida da eficiência que a sua necessidade requer. T8 39 1 Seu amor e compaixão infinitos jamais se esgotam. À majestade e onipotência alia Ele a bondade e a compaixão de terno pastor. Não precisamos nutrir o temor de que não cumprirá Suas promessas. Ele é a verdade eterna. Jamais modificará o concerto feito com aqueles que O amam. As promessas que fez à igreja são infalíveis. Dela fará um ornamento eterno, um motivo de júbilo para muitas gerações. T8 39 2 Estudemos o capítulo quarenta e um de Isaías para compreender todo o seu significado. Deus declara: "Abrirei rios em lugares altos, e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em tanques de águas, e a terra seca em mananciais. Plantarei no deserto o cedro, a árvore de sita, e a murta, e a oliveira; conjuntamente porei no ermo a faia, o olmeiro e o álamo; para que todos vejam, e saibam, e considerem, e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isto, e o Santo de Israel o criou." Isaías 41:18-20. T8 39 3 Quem escolheu a Cristo aliou-se a um poder que nenhuma combinação de sabedoria nem força humana pode vencer. "Não temas, porque Eu sou contigo"; declara Ele. "Não te assombres, porque Eu sou teu Deus; Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." "Eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita, e te digo: Não temas, que Eu te ajudo." Isaías 41:10, 13. T8 39 4 "A quem pois Me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou essas coisas, quem produz por conta o Seu Exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará. Por que pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da Terra, nem Se cansa nem Se fadiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento. Dá esforço ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão." Isaías 40:25-31. T8 40 1 A luz da verdade deve resplandecer até aos confins da Terra. Luz contínua e cada vez mais intensa irradia com celestial brilho da face do Redentor sobre os Seus representantes para ser difundida através do mundo mergulhado em trevas. Como coobreiros Seus, supliquemos a santificação do Seu Espírito, para que possamos resplandecer com brilho cada vez mais intenso. T8 40 2 A luz da verdade para este tempo brilha agora nas cortes reais. A atenção dos estadistas está sendo atraída para a Bíblia -- o código das nações -- e com ela comparam as suas leis nacionais. Como representantes de Cristo, não temos tempo a perder. Nossos esforços não devem ser restritos a uns poucos lugares onde a luz se tornou tão abundante que chega a não ser apreciada. A mensagem do evangelho deve ser proclamada a todas as nações, tribos, línguas e povos. ------------------------Capítulo 7 -- Uma visão do conflito T8 41 1 Vi em visão dois exércitos em luta terrível. Um deles ostentava em suas bandeiras as insígnias do mundo; guiava o outro a bandeira ensangüentada do Príncipe Emanuel. Estandarte após estandarte era arrastado no chão, à medida que grupo após grupo do exército do Senhor se juntava ao inimigo, e tribo após tribo das fileiras do adversário se unia ao povo de Deus que guarda os mandamentos. Um anjo que voava pelo meio do céu pôs-me nas mãos o estandarte de Emanuel, enquanto um forte general comandava em alta voz: "Em forma! Tomai posição vós, que sois leais aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Cristo. Saí do meio deles e apartai-vos, e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas. Vinde todos quantos dentre vós quiserem acudir em socorro do Senhor, em socorro do Senhor contra os valentes." T8 41 2 O combate prosseguia. A vitória ia alternadamente de um para outro lado. Às vezes os soldados da cruz cediam terreno, "como quando desmaia o porta-bandeira". Isaías 10:18. Mas a sua retirada aparente não o era senão para conquistar posição mais vantajosa. Ouviram-se aclamações de alegria. Ressoou um cântico de louvor a Deus, e a ele se uniram as vozes angélicas, quando os soldados de Cristo hastearam Sua bandeira sobre os muros da fortaleza, até então em poder do inimigo. O Príncipe da nossa salvação estava dirigindo a batalha, e enviando reforços para Seus soldados. Grandemente se manifestava o Seu poder, encorajando-os a levar o combate até às portas. Ele lhes ensinou coisas importantes em justiça, enquanto passo a passo os guiava, vencendo e para vencer. T8 41 3 Finalmente, veio a vitória. Triunfou gloriosamente o exército que seguia a bandeira que ostentava a inscrição: "Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Apocalipse 14:12. T8 42 1 Os soldados de Cristo estavam junto às portas da cidade que, com alegria, recebeu o seu Rei. Foi estabelecido o reino de paz, alegria e eterna justiça. T8 42 2 A igreja é hoje militante. Enfrentamos agora um mundo em trevas de meia-noite, quase inteiramente entregue à idolatria. Mas aproxima-se o dia em que a batalha terá sido ferida e ganha a vitória. A vontade de Deus deve ser feita na Terra como o é no Céu. Então as nações não possuirão outra lei senão a do Céu. Juntas, constituirão uma família feliz, unida, trajada das vestes de louvor e ações de graça -- as vestes da justiça de Cristo. A natureza toda, em sua inexcedível beleza, oferecerá a Deus um constante tributo de louvor e adoração. O mundo será inundado com a luz do Céu. Os anos transcorrerão em alegria. A luz da Lua será como a do Sol, e a deste sete vezes mais brilhante do que hoje é. Ante esse cenário as estrelas da alva cantarão juntamente, e os filhos de Deus exultarão de alegria, ao Se unirem Deus e Cristo para proclamar: "Não mais haverá pecado, também não haverá morte." T8 42 3 Tal é a cena que me é apresentada. A igreja, porém, deve combater e combaterá os inimigos visíveis e invisíveis. Estão a postos forças satânicas sob forma humana. Homens se têm confederado para oporem-se aos exércitos do Senhor. Essas confederações continuarão até que Cristo deixe Seu lugar de intercessor diante do propiciatório e envergue as vestes de vingança. Agentes satânicos encontram-se em todas as cidades, ocupados em organizar os grupos que se opõem à lei de Deus. Alguns que professam ser santos e outros declaradamente incrédulos, filiam-se a esses partidos. Não é hora de o povo de Deus mostrar fraqueza. Não podemos deixar de ficar alerta um momento sequer. T8 42 4 "Fortalecei-vos no Senhor e na força do Seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra os exércitos espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus." Efésios 6:10-17. T8 43 1 "E peço isto: que a vossa caridade abunde mais e mais em ciência e em todo o conhecimento. Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até o dia de Cristo; cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus." Filipenses 1:9-11. T8 43 2 "Deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, ... estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós, de salvação, e isto de Deus. Porque a vós foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele." Filipenses 1:27-29. T8 43 3 Existem reveladas nestes últimos dias visões de glória futura, cenas traçadas pela mão de Deus; e essas devem ser prezadas por Sua Igreja. O que alentou o Filho de Deus em Sua traição e julgamento? -- Ele viu o trabalho de Sua alma, e ficou satisfeito. Teve uma visão da eternidade, e viu a felicidade daqueles que por Sua humilhação receberiam perdão e vida eterna. Foi ferido pelas transgressões deles, e moído por suas iniqüidades. O castigo que lhes traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras foram sarados. Seus ouvidos ouviram as aclamações dos resgatados. T8 44 1 Ele ouviu os remidos entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. T8 44 2 Devemos ter uma visão do futuro e da felicidade do Céu. Colocando-nos no limiar da eternidade podemos ouvir a acolhida amável feita aos que nesta vida cooperam com Cristo, considerando privilégio e honra sofrer por amor dEle. Ao se reunirem aos anjos, lançam eles suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: "Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças... ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apocalipse 5:12, 13. T8 44 3 Ali os remidos vão saudar aqueles que os guiaram ao Salvador crucificado. Vão se unir em louvor Àquele que morreu para que os seres humanos tivessem vida tão duradoura quanto a de Deus. Então, terá cessado o conflito. Toda tribulação e contenda terá chegado ao fim. Cânticos de vitória estarão enchendo o Céu, ao estarem os remidos de pé em redor do trono de Deus. Todos entoarão a alegre estrofe: "Digno, digno é o Cordeiro que foi morto, e vive novamente, como triunfante vencedor." T8 44 4 "Olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro." Apocalipse 7:9, 10. T8 44 5 "Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos, e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem Sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de Seus olhos toda a lágrima." Apocalipse 7:14-17. "E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." Apocalipse 21:4. T8 45 1 Compreenderá você a inspiração da visão? Deixará sua mente demorar-se sobre a cena? Não será você verdadeiramente convertido para sair e trabalhar com um espírito inteiramente diferente do espírito com o qual tem trabalhado no passado, desalojando o inimigo, removendo toda barreira que impede o progresso do evangelho, e enchendo corações com luz, paz e alegria do Senhor? Não deveria o miserável espírito de crítica e murmuração ser sepultado, para jamais reviver? Não deveria o incenso de louvor e gratidão ascender de corações purificados, santificados e glorificados pela presença de Cristo? Não sairemos em fé buscando pecadores para conduzi-los até à cruz? T8 45 2 Quem se consagrará agora ao serviço do Senhor? Quem se comprometerá a não se unir ao mundo, antes sair do mundo, separar-se, recusar a poluição da alma com os costumes e práticas mundanas, que têm mantido a igreja sob a influência do inimigo? T8 45 3 Estamos neste mundo para erguer a cruz da autonegação. À medida que a levantemos, perceberemos que ela nos erguerá. Que cada cristão permaneça firme em seu posto, captando a inspiração da obra realizada por Cristo em favor das pessoas enquanto esteve neste mundo. Necessitamos do ardor do herói cristão, capaz de suportar a visão dAquele que é invisível. Nossa fé precisa ressuscitar. Os soldados da cruz devem exercer uma positiva influência para o bem. Cristo diz: "Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta espalha." Mateus 12:30. Indiferença na vida cristã constitui manifesta negação do Salvador. T8 45 4 Não deveríamos nós ver hoje no mundo cristãos que em todas as suas características fossem dignos do nome que ostentam? T8 46 1 Quem aspira fazer as ações que correspondam às de valorosos soldados da cruz? Estamos vivendo perto do fim do grande conflito, quando muitas pessoas devem ser resgatadas da escravidão do pecado. Estamos vivendo num tempo em que aos seguidores de Cristo pertence especialmente a promessa: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. Aquele que comandou a luz para que expulsasse a escuridão, Aquele que nos convocou das trevas para a Sua luz maravilhosa, nos suplica que deixemos nossa luz brilhar claramente diante dos homens, para que eles possam ver nossas boas obras e glorifiquem nosso Pai que está no Céu. Tão grande quantidade de luz tem sido dada ao povo de Deus que Cristo tem o direito de pedir-lhes que sejam a luz do mundo. T8 46 2 A nossos médicos e ministros envio a mensagem: Lancem mão do trabalho do Senhor como se vocês cressem na verdade para este tempo. Obreiros médico-missionários e os do ministério do evangelho devem se unir através de indissolúveis laços. O trabalho deles será feito com graça e poder. Deve haver em todas as nossas igrejas uma reconversão e uma reconsagração ao serviço. Não deveremos nós, em nosso trabalho no futuro, e nas reuniões que mantivermos, estar em pleno acordo? Não lutaremos nós com Deus em oração, pedindo que o Espírito Santo entre em cada coração? A presença de Cristo, manifesta entre nós, curaria a lepra da incredulidade, que tornou nossa obra tão fraca e ineficiente. Precisamos do sopro da vida divina dentro de nós. Precisamos ser canais através dos quais Deus possa enviar luz e graça ao mundo. Os renitentes precisam ser recuperados. Precisamos apartar-nos de nossos pecados, por confissão e arrependimento, humilhando nosso orgulhoso coração perante Deus. Torrentes de poder espiritual serão derramadas sobre aqueles que estão preparados para recebê-las. T8 46 3 Se nós apenas compreendêssemos quão sinceramente Jesus trabalhou para semear o mundo com a semente do evangelho, nós, que vivemos no próprio final do tempo de graça, trabalharíamos incansavelmente para dar o pão de vida para as pessoas que perecem. Por que somos tão frios e indiferentes? Por que nosso coração é assim incapaz de ser impressionado? Por que estamos tão pouco dispostos a nos dedicarmos ao trabalho ao qual Cristo consagrou sua vida? Algo deve ser feito para curar a terrível indiferença que tomou conta de nós. Baixemos nossa cabeça em humilhação, ao vermos quão pouco fizemos do que poderíamos ter realizado no espalhar as sementes da verdade. T8 47 1 Meus queridos irmãos e irmãs, falo com vocês em palavras de amor e ternura. Despertem e consagrem-se sem reservas ao trabalho de oferecer a luz da verdade para este tempo aos que se encontram em escuridão. Captem o espírito do grande Obreiro Mestre. Aprendam do Amigo de pecadores como ministrar aos enfermos pelo pecado. Lembrem-se de que na vida dos Seus seguidores deve ser vista a mesma devoção, a mesma sujeição ao trabalho de Deus, de todas as reivindicações sociais, de todo afeto terrestre, que foi visto na Sua vida. As reivindicações de Deus sempre devem ser tornadas o padrão. O exemplo de Cristo deve inspirar-nos a avançar no sentido de empreendermos incessante esforço para o bem de outros. T8 47 2 Deus chama todo membro da igreja para entrar no Seu serviço. Verdade que não é vivida, que não é compartilhada com outros, perde seu poder vivificador, sua virtude curativa. Todos têm que aprender a trabalhar e a ocupar seu lugar como portadores de fardos. Toda adição à igreja deveria ser mais uma agência para concluir o grande plano de redenção. A igreja inteira, agindo como uma só pessoa, irmanada em união perfeita, deve ser uma agência missionária ativa, movida e controlada pelo Espírito Santo. T8 47 3 Não é só por meio de homens em posições de alta responsabilidade, não só por meio de homens que ocupam cargos em comissões, não só pelos gerentes de nossos sanatórios e editoras que será feito o trabalho que levará a Terra a encher-se do conhecimento de Deus, como as águas cobrem o mar. Essa obra só pode ser realizada pela igreja inteira, desempenhando sua parte sob a orientação e poder de Cristo. T8 47 4 "E o Senhor, Deus de seus pais, lhes enviou a Sua palavra pelos Seus mensageiros, madrugando e enviando-lhos, porque Se compadeceu do Seu povo e da sua habitação." 2 Crônicas 36:15. ------------------------Capítulo 8 -- Advertências e conselhos à igreja de Battle Creek T8 48 1 Desejo lembrar meus irmãos das precauções e advertências que me foram dadas em relação ao constante investimento de recursos em Battle Creek, para fazer ampliações ou tornar as coisas mais convenientes. Novos Campos devem ser penetrados; a verdade deve ser proclamada como uma testemunha a todas as nações. A obra está sendo impedida, de forma que a bandeira da verdade não pode ser enaltecida como deveria, nesses novos lugares. Enquanto nossos irmãos na América do Norte se sentirem na liberdade de investir meios em edifícios que o tempo revelará que a obra teria sido realizada da mesma maneira e até melhor sem eles, milhares de dólares serão assim absorvidos, os quais Deus pediu para serem usados em "outras regiões". Tenho apresentado as advertências e palavras de precaução, como sendo a palavra do Senhor; mas meu coração tem-se entristecido ao ver que, não obstante todas essas providências, recursos foram desperdiçados para satisfazer tais supostos desejos; construção foi acrescentada a construção, e assim o dinheiro não pôde ser usado em lugares onde não se dispõe de instalações, de nenhum edifício para a adoração pública a Deus, ou para bem representar a obra, nenhum lugar onde a bandeira da verdade possa ser enaltecida. Essas advertências apresentei diante de vocês; e ainda assim prosseguiram com as mesmas práticas, aplicando os recursos de Deus em uma localidade, sendo que o Senhor já havia falado que demasiado dinheiro estava investido em um mesmo lugar, e nada fora deixado para outros lugares, onde deveria haver edifícios e instalações para se realizar ainda que fosse um começo de trabalho. T8 49 1 Que apelo receberam vocês para investir milhares de dólares em edifícios escolares adicionais? Vocês consideravam que esse investimento era necessário, mas por acaso não receberam orientação para não investir dinheiro dessa forma? O tempo do fim T8 49 2 A terrível situação de nosso mundo foi apresentada a mim. O anjo da misericórdia está movendo suas asas, pronto para partir. O poder desperdiçado de Deus está sendo retirado da Terra, e Satanás está agitando os diversos elementos do mundo religioso, colocando as pessoas sob a liderança do grande enganador, que atua de acordo com todo tipo de engano da injustiça em relação aos filhos da desobediência. Os habitantes da Terra já estão marchando sob a direção do príncipe das trevas, e isso é só o começo do fim. T8 49 3 A lei de Deus está sendo esvaziada. Vemos e ouvimos de confusão e perplexidade, miséria e fome, terremotos e enchentes, terríveis atrocidades que estão sendo cometidas pelas pessoas; a paixão e não a razão é que as dirige. A ira de Deus paira sobre os habitantes do mundo, que rapidamente estão se tornando como os cidadãos de Sodoma e Gomorra. O fogo e a água já estão destruindo milhares de vidas e propriedades que foram acumuladas por causa da opressão aos pobres. Em breve o Senhor colocará um ponto final em Sua obra e dará fim ao pecado. Oh, se as cenas que me foram mostradas das iniqüidades praticadas nestes últimos dias pudessem impressionar profundamente o coração do professo povo de Deus. T8 50 1 Como foi nos dias de Noé, assim ocorrerá quando o Filho do homem for revelado. O Senhor está removendo da Terra Suas restrições, e logo haverá morte e destruição, crime cada vez mais dominante, e maldosos e cruéis movimentos contra os ricos que se exaltaram contra os pobres. Os que estiverem sem a proteção de Deus não encontrarão segurança em lugar ou situação alguma. Agentes humanos estão sendo preparados e estão usando seu poder inventivo a fim de pôr em operação as mais poderosas máquinas para ferir e matar. T8 50 2 Em vez de ampliar e construir edifícios adicionais em Battle Creek ou em outros lugares onde nossas instituições já estão estabelecidas, deveria haver limitação dos desejos. Permitam que os meios e os obreiros se espalhem para representar a verdade e dar a mensagem de advertência nas "outras regiões". Auxílio no tempo de angústia T8 50 3 Quando os filhos de Israel estavam caminhando pelo deserto, Deus os protegeu de serpentes venenosas; mas o tempo veio quando, por causa da transgressão, impenitência e teimosia do povo, Deus removeu o Seu poder restritor desses répteis, e muitas pessoas foram picadas e morreram. Então foi erguida a serpente de bronze, para que todos que se arrependessem e olhassem para ela pela fé pudessem viver. T8 50 4 No tempo de confusão e angústia que se acha diante de nós, um tempo de dificuldade como nunca houve desde que existe nação, o Salvador enaltecido será apresentado às pessoas em todas as terras, para que todos que O contemplarem com fé possam viver. Fracasso em honrar a Deus T8 50 5 Devido à crise terrível diante de nós, o que estão fazendo esses que professam acreditar na verdade? Fui chamada por meu Guia, que disse: "Segue-me", e foram-me mostradas coisas entre nosso povo que não estavam de acordo com a sua fé. Parecia haver uma moda de bicicletas. Foi gasto dinheiro para satisfazer o entusiasmo nessa direção, o qual poderia ser melhor, muito melhor, investido construindo casas de adoração onde são grandemente necessárias. Foram apresentadas diante de mim alguns coisas muito estranhas em Battle Creek. Uma influência encantadora parecia estar passando lá como uma onda por sobre nosso povo, e vi que isso seria seguido por outras tentações. Satanás trabalha com intensidade de propósito para induzir nosso povo a investir seu tempo e dinheiro satisfazendo supostos desejos. Essa é uma espécie de idolatria. O exemplo será seguido, e enquanto centenas estão sofrendo fome de pão, enquanto é vista escassez e percebida a pestilência, e , porque Deus não pode, de acordo com a glória de Seu próprio nome, proteger os que estão trabalhando contra Sua vontade, devem esses que professam amar e servir a Deus agir como fizeram as pessoas nos dias de Noé, seguindo a imaginação de sua mente? T8 51 1 Enquanto vocês têm gratificado suas inclinações na apropriação do dinheiro -- dinheiro de Deus -- pelo qual vocês terão que dar conta, o trabalho missionário tem sido impedido e retardado pela falta de meios e obreiros que plantem a bandeira da verdade em lugares onde as pessoas nunca ouviram a mensagem de advertência. Dirá Deus a esses que estão egoistamente agradando a própria imaginação e satisfazendo os próprios desejos: "Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor"? Mateus 25:23. T8 51 2 Meus irmãos e irmãs de Battle Creek, que tipo de testemunho estão vocês apresentando perante o mundo descrente? Foi-me mostrado que Deus não concorda com as ações de vocês, pois a prática contradiz o que foi prometido. Vocês não estão colocando em prática as palavras de Cristo. T8 52 1 Foi-me dito por meu Guia: "Olhe, e veja a idolatria de Meu povo, com quem tenho Eu falado, em todo o tempo, e apresentado a eles os seus perigos. Eu esperava que eles produzissem frutos." Alguns até estavam se esforçando por passar à frente dos outros, cada um tentando superar o outro em correr mais rápido com suas bicicletas. Havia um espírito de discussão e contenda entre eles, sobre qual deveria ser o maior. O espírito era semelhante ao que se manifesta nos jogos de beisebol, entre os jovens na escola. Disse meu Guia: "Isso é uma ofensa a Deus. Tanto próximo quanto longe as pessoas estão perecendo por falta do pão da vida e da água da salvação." Quando Satanás é derrotado em um plano, ele está pronto com outros esquemas e planos que parecem atraentes e necessários, mas que absorverão dinheiro e energias, e encorajarão o egoísmo, de forma que ele possa vencer os que se deixam ser conduzidos assim facilmente por uma falsa e egoísta indulgência. T8 52 2 Surge a pergunta: Que parte desempenham essas pessoas para o avanço do trabalho de Deus? Será que estão apercebidas da importância do trabalho delas neste tempo? Cristo disse aos discípulos: "Vós sois a luz do mundo... Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:14-16. Está esse investimento de dinheiro e essa correria de bicicletas pelas ruas de Battle Creek oferecendo evidência da autenticidade de sua fé na última e solene advertência a ser dada aos seres humanos que se encontram no limiar do mundo eterno? T8 52 3 Meus irmãos e irmãs na América do Norte, faço a vocês o meu apelo: Não errem: "Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7. A vida de muitos é demasiadamente delicada e frívola. Essas pessoas não têm a menor noção do que significa agüentar o sofrimento como bons soldados de Cristo. São obstáculos à obra de salvação de pessoas. Eles têm muitos desejos; tudo deve ser conveniente e fácil, de modo a satisfazer seu gosto. Eles não farão coisa alguma de própria iniciativa, e os que fariam algo são impedidos por suas suposições e desejos imaginários, e por seu amor aos ídolos. Pensam de si mesmos como sendo cristãos, mas não sabem o que significa uma vida de cristianismo prático. O que significa ser um cristão? Significa ser semelhante a Cristo. T8 53 1 Quando Deus vê pessoas de Seu povo restringindo seus desejos imaginários e praticando a negação do eu, não com um espírito triste, de lamentação, tal como a esposa de Ló quando partiu de Sodoma, mas alegremente, para a causa de Cristo, e porque essa é a coisa certa a fazer, o trabalho então avança com poder. Não deixe coisa alguma, ainda que querida, ainda que amada, absorver sua mente e sentimentos, desviando-os do estudo da Palavra de Deus ou da oração sincera. Vigie em oração. Viva de acordo com seus próprios pedidos. Coopere com Deus, trabalhando em harmonia com Ele. Expulse do templo da alma tudo aquilo que assume a forma de um ídolo. Agora é o tempo de Deus, e o tempo dEle é o seu tempo. Lute o bom combate da fé, recusando-se a pensar ou falar em incredulidade. O mundo deve ouvir a última mensagem de advertência. ------------------------Capítulo 9 -- Nosso dever para com o mundo T8 53 2 Deve haver uma mudança decidida no espírito e caráter da obra nos lugares onde os homens e mulheres receberam luz adicional. O que estão fazendo eles para advertir os que não entendem que o Senhor vem logo? "Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade; e a terra descobrirá o seu sangue e não encobrirá mais aqueles que foram mortos." Isaías 26:21. Quem, pergunto eu, está levando o fardo das pessoas que estão perecendo sem Cristo? Quem sairá do arraial, disposto a suportar o descrédito? Quem deixará casas agradáveis e queridos laços de relacionamento, levando a luz preciosa da verdade para terras distantes? Diariamente, a todo momento, vem aos que foi confiada a luz da verdade o senso de que homens e mulheres em toda Terra estão se preparando para a felicidade ou para a aflição, fixando definitivamente o seu destino. T8 54 1 Deus fez sacrifícios surpreendentes em favor dos seres humanos. Ele gastou energia poderosa para regenerar o homem da transgressão e do pecado para a lealdade e obediência, mas foi-me mostrado que Ele nada faz sem a cooperação de agências humanas. Todo dom de graça, poder e eficiência foi provido liberalmente. Os motivos mais fortes foram apresentados para despertar e manter vivo no coração humano o espírito missionário, para que possam ser combinados esforços de agências divinas e humanas. Mas o que fizeram as pessoas de nosso povo, quanto a mudar-se de Battle Creek, a fim de levar a luz a regiões onde os padrões da verdade nunca foram implantados? Porventura não abriu o Senhor durante a recente reunião as janelas do Céu e não derramou uma bênção? Que uso têm vocês feito do dom de Deus? Ele lhes disponibilizou a força motivadora para a ação, de modo que com paciência, esperança e vigilância incansável vocês possam apresentar a Cristo, o crucificado, apelando para que as pessoas se arrependam dos seus pecados, e fazendo soar a nota de advertência de que Cristo logo deverá vir com poder e grande glória. T8 54 2 Se os membros da igreja de Battle Creek não despertarem agora e não forem trabalhar em campos missionários, eles cairão em sonolência mortal. De que modo o Espírito Santo trabalhou em seu coração? ... Não foram vocês inspirados a exercitar os talentos que Deus lhes deu, os quais todo homem, mulher e jovem deveria empregar para repartir a verdade para este tempo, fazendo esforços pessoais, entrando nas cidades onde a verdade nunca foi proclamada, e elevando o estandarte? T8 55 1 Não foram as suas energias aumentadas pelas bênçãos que Deus derramou profusamente sobre vocês? Não foi a verdade claramente gravada em seu coração? Não conseguem vocês ver mais claramente a sua importância para os que estão perecendo sem Cristo? Desde a manifesta revelação da bênção de Deus, estão vocês testemunhando em favor de Cristo mais distinta e decididamente que em qualquer ocasião anterior? T8 55 2 O Espírito Santo colocou em sua mente as importantes e vitais verdades para este tempo. Será correto embalar e esconder na terra esse conhecimento? Não, não. Deve ser colocado junto aos mercadores. Conforme o homem usa os seus talentos, embora pequenos, com fidelidade, o Espírito Santo toma as coisas de Deus e as apresenta como algo novo à mente. Por meio do Espírito, Deus faz de Sua Palavra um poder vivificador. É rápida e poderosa, exercendo uma forte influência sobre a mente, não por causa do conhecimento ou inteligência do agente humano, mas porque o Poder divino está atuando junto com o poder humano. E é ao poder divino que todo louvor deve ser dado. T8 55 3 É correto ficarmos fascinados pelo egoísmo e apego aos bens desses que têm confortos terrestres e casas atraentes? Cessaremos nós de atuar como agências morais, usando nossas habilidades para a salvação de pessoas? Serão nossas vozes indistintas? Então Deus colocará Sua maldição sobre nós, que tivemos tão grande luz, e inscreverá nas paredes de nossas casas: "Mais amigos dos deleites do que amigos de Deus." 2 Timóteo 3:4. Ele fará com que as pedras clamem, e elas o farão; mas Deus ordena que vocês, de Battle Creek, façam a obra. Como alcançar sucesso T8 55 4 Decidam, não em sua própria força, mas na força e graça concedidas por Deus, que vocês consagrarão a Ele agora, sem deixar passar mais tempo, todo poder e toda habilidade. Então vocês seguirão a Jesus porque Ele o solicita, e vocês não perguntarão para onde, ou que recompensa lhes será dada. Tudo estará bem com vocês porque estarão obedecendo à ordem: "Segue-Me." Sua parte é conduzir outros à luz através de esforços insistentes e fiéis. Sob a proteção do Líder divino, devem realizar e agir, sem hesitação por um só momento. T8 56 1 Quando vocês morrerem para o eu, quando se renderem a Deus para fazer o Seu trabalho, para deixar que a luz que lhes foi dada brilhe em boas obras, não trabalharão sozinhos. A graça de Deus está a postos para cooperar com cada esforço para iluminar os ignorantes e os que não sabem que o fim de todas as coisas está tão perto. Mas Deus não realizará a obra em lugar de vocês. A luz pode até brilhar em abundância, mas a graça dada só converterá seu coração na medida em que ela os despertar para cooperarem com as providências divinas. O chamado é para que usem a armadura cristã e entrem no serviço de Deus como soldados ativos. O poder divino vai cooperar com o esforço humano para quebrar a magia do encantamento mundano que o inimigo lança sobre as pessoas. T8 56 2 Novamente apelo pela ajuda que já deveríamos ter tido, os meios de que vamos nós necessitar, caso alguma coisa vá acontecer neste país. Deixem que o coração seja atraído em amor pelas pessoas que perecem. Obedeçam aos impulsos dados Céu. Não entristeçam o Espírito Santo através da demora. Não resistam aos métodos de Deus para recuperar pessoas imersas em pecado. A todo homem, de acordo com suas várias habilidades, é determinada uma atividade. Façam o melhor, e Deus aceitará seus esforços. ------------------------Capítulo 10 -- Obra missionária na pátria e no estrangeiro T8 56 3 O campo de Deus é o mundo. Jesus disse aos Seus discípulos: "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da Terra." Atos dos Apóstolos 1:8. "E, em Seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém." Lucas 24:47. Pedro disse aos crentes: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar." Atos dos Apóstolos 2:39. T8 57 1 Deus declara: "E semeá-la-ei para mim na terra e compadecer-Me-ei de Lo-Ruama; e a Lo-Ami direi: Tu és Meu povo! E ele dirá: Tu és o meu Deus!" Oséias 2:23. T8 57 2 "Disse mais: Pouco é que sejas o Meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os guardados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até à extremidade da Terra." Isaías 49:6. T8 57 3 Deus derramou ricamente de Seu Espírito Santo sobre os crentes de Battle Creek. Que uso têm vocês feito dessas bênçãos? Vocês têm agido como fizeram os homens sobre os quais o Espírito Santo desceu no Dia de Pentecoste? Então "os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra". Atos dos Apóstolos 8:4. Tem este fruto sido visto em Battle Creek? Foi a igreja ensinada por Deus para saber o seu dever, e a refletir a luz que receberam? Uma ilustração da obra que temos a fazer T8 57 4 "Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João." Atos dos Apóstolos 8:14. O Espírito de Deus estava esperando para iluminar pessoas e convertê-las à verdade. T8 57 5 Note quanto esforço foi posto em prática em favor de um só homem, um etíope. "E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te e vai para a banda do Sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, pelo deserto. Ele levantou-se e foi. E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. T8 58 1 "E disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não abriu a Sua boca. Na Sua humilhação, foi tirado o Seu julgamento; e quem contará a Sua geração? Porque a Sua vida é tirada da Terra. T8 58 2 "E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de algum outro? Então, Filipe, abrindo a boca e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. T8 58 3 "E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho. E Filipe se achou em Azoto e, indo passando, anunciava o evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia." Atos dos Apóstolos 8:26-40. T8 58 4 Na experiência de Filipe e o etíope é apresentada a obra para a qual Deus chama o Seu povo. O etíope representa uma grande parte da população que precisa de missionários como Filipe, missionários que ouvirão a voz de Deus e irão aonde Ele os enviar. Existem no mundo os que estão lendo as Escrituras, mas que não conseguem entender a sua importância. São necessários homens e mulheres que possuem conhecimento de Deus para explicar a Palavra a essas pessoas. Obra negligenciada T8 59 1 Na parábola do bom samaritano, o sacerdote e o levita olharam para o homem que tinha sido roubado e ferido, mas não parecia a eles conveniente ajudá-lo, porque ele se encontrava desamparado e abandonado, muito necessitado de ajuda. O sacerdote e o levita representam a muitos, muitos de Battle Creek. T8 59 2 Poderão ser salvas muitas pessoas se o campo Sulista receber apenas uma pequena parte dos meios descontroladamente gastos em Battle Creek. T8 59 3 A herança do Senhor tem sido estranhamente negligenciada, e Deus julgará Seu povo por esse procedimento. Orgulho e amor à exibição estão sendo satisfeitos através das vantagens acumuladas, enquanto campos novos são deixados intactos. A repreensão de Deus está sobre os administradores, em virtude de sua parcialidade e apropriação egoísta dos bens disponibilizados por Deus. T8 59 4 Algo foi realizado em missões estrangeiras, e alguma coisa nas missões domésticas; mas muito território foi deixado sem trabalhar. A obra está por demais centralizada. Os interesses em Battle Creek estão superdimensionados, e isso significa que são roubadas aquelas outras porções do campo, das instalações que deveriam ter tido. Os investimentos cada vez maiores para construir e ampliar os edifícios que reúnem e mantêm juntas tantas pessoas em Battle Creek não estão de acordo com o plano de Deus, mas em direta oposição a Seu plano. T8 59 5 Tem-se insistido nas grandes vantagens de haver tantas instituições tão próximas, que elas seriam uma força umas às outras e poderiam fornecer ajuda aos que estivessem buscando educação e emprego. Isso está de acordo com o raciocínio humano; pode-se admitir que, de um ponto de vista humano, muitas vantagens são obtidas aglomerando tantas responsabilidades em Battle Creek; mas a visão precisa ser ampliada. T8 60 1 Esses investimentos precisam ser fracionados em muitas partes, para que o trabalho possa começar em cidades em que será necessário criar centros de interesse. Devem ser erguidos edifícios e responsabilidades centralizadas em muitas localidades que são agora roubadas do vital interesse espiritual, para inchar o já excessivo acúmulo em Battle Creek. O Senhor não é glorificado por uma tal administração por parte dos que estão em posições de responsabilidade. "Porque a Terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar." Habacuque 2:14. "E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3. T8 60 2 A salvação dos pagãos é um assunto que deve motivar o interesse de cristãos há muito tempo, e nada é mais justo que levar a luz a todas essas regiões. Mas o trabalho missionário doméstico é igualmente necessário. Os pagãos estão ficando dentro de nossos limites. A ignorância se localiza até mesmo junto da sombra de nossas casas. Algo está sendo feito em favor dos negros, mas isso é algo próximo a nada comparado com o que outros já receberam em termos do conhecimento da verdade, e que tiveram oportunidades inumeráveis mas não apreciaram suas vantagens. Para esses que não conhecem a verdade, deve o amor de Jesus ser apresentado, e ele atuará como levedura para a transformação do caráter. T8 60 3 O que estamos fazendo nós em favor do campo Sulista? Tenho ansiosamente esperado que algum plano seja estabelecido para resgatar os pecadores negligenciados daquele campo, mas não vejo uma disposição ou uma resolução para se fazer alguma coisa. Talvez tenha sido planejado algo que eu não tenha visto. Assim espero, e glória seja dada ao Senhor se for assim. Mas, embora durante anos nosso dever tenha sido apresentado de uma maneira decidida, ainda assim o campo Sulista só foi tocado com as pontas de nossos dedos. Sinto-me agora profundamente impressionada ao trazer novamente diante de você essa porção negligenciada da vinha de Deus. Esse assunto é trazido vez após outra diante de mim. Fui despertada durante as horas da noite, e a ordem veio: Escreve as coisas que revelei a você, quer os homens atendam, quer deixem de atender. ------------------------Capítulo 11 -- O Espírito Santo em nossas escolas T8 61 1 Peço aos que estão vivendo no próprio coração da obra que recapitulem as experiências de anos e vejam se o "bem está" (Mateus 25:21) pode com justiça ser dito a seu respeito. Convido os professores em nossas escolas a considerarem cuidadosamente e com oração: Tenho individualmente vigiado minha própria vida como quem está cooperando com Deus para a purificação de todos os seus pecados e de sua inteira santificação? Pode você, por preceito e exemplo, ensinar aos jovens a santificação, por meio da verdade, que resulta de fato em santidade? T8 61 2 Ou você tem medo do Espírito de Deus? Às vezes esse Espírito tem vindo com a mais completa e penetrante influência à escola de Battle Creek e de outros lugares. Já percebeu isso? Atribuiu-Lhe a honra devida a um mensageiro celestial? Quando parecia estar o Espírito lutando com os jovens, sugeriu você: "Ponhamos de lado todo estudo, pois é evidente que temos entre nós um Hóspede celestial. Vamos dar glórias a Deus"? Com o coração contrito, inclinou-se você em oração com seus estudantes, suplicando as bênçãos que o Senhor lhe estava apresentando? T8 61 3 O Grande Mestre em Pessoa estava entre vocês. Vocês O honraram? Ou era Ele um estranho para alguns dos educadores? Houve necessidade de mandar buscar alguém supostamente autorizado para saudar ou repelir esse mensageiro do Céu? Embora invisível, Sua presença podia ser percebida entre vocês. Ou será que foi expresso o pensamento de que na escola o tempo deve ser dedicado ao estudo, e que para tudo há o momento oportuno, como se as horas dedicadas ao estudo comum fossem demasiado preciosas para serem abandonadas em favor da operação do mensageiro celestial? T8 62 1 Se de algum modo foi restringido ou repelido o Espírito Santo, eu lhes rogo que se arrependam tão depressa quanto possível. Se qualquer de nossos professores não abriu a porta do coração para o Espírito de Deus, mas a mantém fechada ou trancada, eu lhe suplico que abra a porta e ore com fervor: "Fica comigo." Quando o Espírito Santo revela Sua presença nas salas de aula, digam aos estudantes: "O Senhor indica que tem para nós hoje uma lição de origem celestial, de mais valor do que nossas lições comuns. Ouçamos: curvemo-nos diante de Deus e busquemo-Lo de todo coração." T8 62 2 Permitam que lhes fale o que sei sobre esse Visitante celestial. O Espírito Santo pairava sobre os jovens durante as horas escolares; mas alguns corações eram tão frios e entenebrecidos que não tinham qualquer desejo da presença do Espírito, e a luz de Deus foi retirada. O celestial Visitante teria aberto todo entendimento, teria dado sabedoria e conhecimento em todos os aspectos do estudo que pudessem ser empregados para a glória de Deus. O Mensageiro do Senhor veio para convencer do pecado e abrandar os corações endurecidos pelo longo afastamento de Deus. Veio para revelar o grande amor que Deus dispensava àqueles jovens. Eles são a herança de Deus, e os educadores necessitam "a mais elevada educação" antes de estarem qualificados para ser professores e guias da juventude. T8 62 3 O professor pode saber muita coisa em relação ao Universo físico; ele pode saber tudo sobre a estrutura das coisas vivas, sobre as invenções da arte mecânica, as descobertas da ciência natural; mas não pode ser considerado instruído a menos que tenha o conhecimento do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo, a quem Ele enviou. Um princípio de origem divina precisa permear nossa conduta e vincular-nos a Deus. Isso não será de modo algum um empecilho ao estudo da ciência verdadeira. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o homem que consente em ser moldado e talhado segundo a semelhança divina é o mais nobre exemplo da obra de Deus. Todos os que vivem em comunhão com nosso Criador terão a compreensão de Seu desígnio na criação deles, e compreenderão que Deus os faz responsáveis pelo emprego de suas faculdades para o melhor propósito. Eles procurarão nem glorificar e nem depreciar a si mesmos. A vontade de Deus T8 63 1 O conhecimento de Deus é obtido em Sua Palavra. O conhecimento experimental da verdadeira piedade, encontrado na consagração diária e no serviço, garantem-nos a mais elevada cultura do corpo, da mente e do espírito. Essa consagração de todas as nossas faculdades a Deus previne a exaltação própria. A comunicação do poder divino credita nosso sincero esforço em busca da sabedoria que nos capacitará a usar nossas mais elevadas faculdades de modo que honrem a Deus e beneficiem nossos semelhantes. Sendo essas faculdades derivadas de Deus, e não de criação própria, serão apreciadas como talentos oriundos de Deus para serem empregadas em Seu serviço. T8 63 2 As faculdades da mente confiadas pelo Céu devem ser tratadas como as mais elevadas, destinadas a reger o reino do corpo. O apetite natural e as paixões devem ser postos sob o controle da consciência e das faculdades espirituais. T8 63 3 A religião de Cristo jamais degrada o que a recebe; ela nunca o torna ríspido ou rude, descortês ou pretensioso, apaixonado ou duro de coração. Ao contrário, ela refina o gosto, santifica o discernimento, e purifica e enobrece os pensamentos, levando-os cativos a Cristo. O ideal de Deus para Seus filhos é mais alto do que o possa conceber o mais elevado pensamento humano. Em Sua santa lei Ele deu uma mostra do Seu caráter. T8 64 1 Cristo é o maior Mestre que o mundo já conheceu. E qual é a norma que Ele coloca diante de todos que nEle crêem? "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:48. Como Deus é perfeito em Sua esfera, assim pode o homem ser perfeito na sua. T8 64 2 O ideal do caráter cristão é a semelhança com Cristo. Acha-se aberta diante de nós uma senda de progresso contínuo. Temos um objetivo a atingir, uma norma a alcançar, a qual inclui tudo que é bom, puro, nobre e elevado. Deve haver contínuo esforço e constante progresso para a frente e para o alto, rumo à perfeição do caráter. T8 64 3 Paulo diz: "Quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e essa é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." Filipenses 3:13, 14. T8 64 4 Esta é a vontade de Deus para com os seres humanos, sua própria santificação. Ao apressar nosso caminho para cima, rumo ao Céu, cada faculdade deve ser conservada na mais saudável condição, preparada para fiel serviço. As faculdades com que Deus dotou o homem devem ser ampliadas. "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. O homem não tem possibilidade de fazer isso por si mesmo; ele precisa do auxílio divino. Que parte deve o instrumento humano desempenhar? "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:12, 13. T8 64 5 Sem a divina operação, o homem não pode fazer bem algum. Deus convida todo homem a arrepender-se, embora este não possa nem mesmo se arrepender a menos que o Espírito Santo opere em seu coração. Mas o Senhor não deseja que homem algum espere até achar que se arrependeu antes de iniciar os passos em direção a Jesus. O Salvador está continuamente atraindo as pessoas para o arrependimento; tudo que eles precisam fazer é deixar-se atrair, e o seu coração se desmanchará em penitência. T8 65 1 Ao homem é permitido desempenhar uma parte nessa grande luta pela vida eterna; ele deve responder à operação do Espírito Santo. Será preciso travar uma batalha para penetrar as defesas das forças das trevas, e o Espírito opera na pessoa para realizar isso. Mas o homem não é um ser passivo, que deve ser salvo na indolência. Ele é chamado a exercitar e a pôr em ação cada músculo e cada uma de suas habilidades na luta pela imortalidade; todavia é Deus quem supre a eficiência. Nenhum ser humano pode ser salvo na indolência. O Senhor nos ordena: "Porfiai por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão." Lucas 13:24. "Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem." Mateus 7:13, 14. Trabalhando contra o Espírito Santo T8 65 2 Apelo aos estudantes em nossas escolas a que sejam sóbrios. A frivolidade da juventude não é agradável a Deus. Seus esportes e jogos abrem a porta a um dilúvio de tentações. Em suas faculdades intelectuais estão na posse de uma dotação celestial, por isso não devem permitir que os pensamentos sejam baixos, rasteiros. O caráter formado segundo os preceitos da Palavra de Deus revelará princípios firmes, nobres e puras aspirações. Quando o Espírito Santo coopera com as faculdades da mente humana, altos e santos impulsos são o resultado certo. ... T8 65 3 Deus vê aquilo que os cegados olhos dos educadores não conseguem discernir, isto é, que imoralidade de toda espécie está procurando dominar, está atuando contra as manifestações do poder do Espírito Santo. Conversação banal e idéias vis e pervertidas são entretecidas na textura do caráter. T8 66 1 Reuniões para desfrutar dos prazeres frívolos e mundanos, aglomerações para comer, beber e cantar, são inspiradas por um espírito inferior. Representam uma oferta a Satanás. Exibições ousadas de bicicleta são ofensa a Deus. Sua ira está inflamada contra os que fazem tais coisas. Nessas satisfações pessoais a mente se torna tola, como ocorre com a embriaguez. A porta é aberta para associações vulgares. Os pensamentos, autorizados a correr por um canal de baixo nível, logo pervertem todas as faculdades do ser. Como o Israel do passado, os amantes dos prazeres comem e bebem, e se levantam para folgar. Há risos e bebedices, gritaria e farra. Em tudo isso os jovens seguem o exemplo dos autores dos livros postos em suas mãos para estudo. O maior de todos os males é o permanente efeito que essas coisas exercem sobre o caráter. T8 66 2 Os que têm a liderança nessas coisas acarretam sobre a causa uma mácula não facilmente apagável. Eles ferem sua própria alma, e por toda a vida levarão a cicatriz. Os que fazem o mal podem ver os seus pecados e se arrependerem; Deus pode perdoar o transgressor; mas as faculdades de discernimento, que devem ser mantidas sempre agudas e sensíveis para distinguir entre o santo e o profano, são em grande parte destruídas. Muitas vezes os artifícios e a imaginação humanos são aceitos como divinos. Algumas pessoas agirão em cegueira e insensibilidade, prontas para assimilar os sentimentos vis, comuns e até infiéis, ao mesmo tempo que se voltam contra as demonstrações do Espírito Santo. ------------------------Capítulo 12 -- Afastamento do que é correto T8 66 3 Estou contente porque o Senhor está em misericórdia visitando a igreja novamente. Meu coração treme quando penso nas muitas vezes em que Ele entrou, e em como Seu Santo Espírito trabalhou na igreja; mas depois que o efeito imediato terminou, foram esquecidos os procedimentos misericordiosos de Deus. T8 67 1 Orgulho, indiferença espiritual, foi o registro feito no Céu. Os que foram visitados pela rica misericórdia e graça de Deus desonraram o Redentor pela sua incredulidade. ... T8 67 2 O Salvador tem muitas vezes visitado vocês em Battle Creek. Da mesma maneira como Ele andou nas ruas de Jerusalém, almejando soprar a vida espiritual no coração dos desencorajados e prestes a morrer, tem Ele vindo a vocês. As cidades que foram abençoadas tão grandemente por Sua presença, Seu perdão, Seus dons de cura, O rejeitaram; e de maneira tão grande, sim, ainda maior, a evidência de amor não correspondido foi oferecida a Battle Creek. Não enriqueceu Cristo a Sua igreja com benefícios e bênçãos? Não enviou Ele os Seus servos com mensagens de perdão e justiça, para serem dadas livremente a todos que as recebessem? T8 67 3 Jerusalém é uma representação do que a igreja será se ela se recusar a andar na luz que Deus deu. Jerusalém havia sido favorecida por Deus como a depositária das bênçãos sagradas. Mas o seu povo perverteu a verdade e menosprezou todas as solicitações e advertências. Eles não respeitaram Seus conselhos. As áreas do templo foram poluídas com mercadoria e roubo. Egoísmo e amor a Mamom, inveja e discussão, foram acariciados. Todos procuraram o ganho pessoal. Cristo afastou-Se deles, dizendo: "Jerusalém, Jerusalém", terei Eu de abandonar tudo? "Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!" Mateus 23:37. T8 68 4 Assim Cristo Se entristece e lamenta em relação a nossas igrejas, nossas instituições de ensino, que têm fracassado em satisfazer as demandas de Deus. Ele vem investigar Battle Creek, a qual tem seguido na mesma direção de Jerusalém. A editora foi transformada em santuários profanados, em um lugar de negociação profana e tráfico. Tornou-se um lugar em que são praticadas injustiça e fraude, onde egoísmo, malícia, inveja e paixão têm dominado. Ainda assim os homens que foram conduzidos a essa forma de agir com base em princípios errados estão aparentemente inconscientes quanto ao curso errado de ação em que se encontram. Quando advertências e solicitações vêm a eles, dizem: "Será que isso é uma parábola?" Palavras de advertência e reprovação têm sido tratadas como ficção. T8 68 1 Quando Cristo olhou para baixo, do alto do Olivete, viu esse estado de coisas que se nota em cada igreja. As advertências destinam-se a todos aqueles que estão seguindo os passos do povo de Jerusalém, os que possuem tão grande luz. Essas pessoas estão diante de nós como uma advertência. Rejeitando as advertências de Deus, os homens estão repetindo o pecado de Jerusalém. O Senhor vê o que o agente humano não vê e não irá ver -- o resultado de todas as fraudes cometidas em Battle Creek. Ele fez tudo aquilo que um Deus poderia fazer. Fez a luz brilhar diante dos olhos das pessoas, para que os seus pecados não ultrapassassem o limite a partir de onde o arrependimento não pode ser obtido. Mas por um longo processo de afastamento da justiça e dos princípios íntegros, os homens se colocaram onde a verdade, a justiça e a misericórdia não mais são discernidas. Esse processo se tornou parte de sua própria natureza. T8 68 2 Apelo a todos os que se envolveram num processo baseado em princípios errados a fazerem uma decidida reforma e, depois disso, andar para sempre humildemente com Deus. T8 68 3 Isso não é ficção, mas a verdade. Novamente eu pergunto: De que lado estão vocês se posicionando? "Se o Senhor é Deus, segui-O; e, se Baal, segui-o. 1 Reis 18:21. ------------------------Capítulo 13 -- Buscando a ajuda de Deus T8 69 1 Há ocasiões em que a verdade tem de ser dita, quer os homens a ouçam, quer eles a reprimam. O Senhor é grandemente desonrado quando os que professam acreditar na verdade não se harmonizam entre si, e apelam a advogados. Estudarão vocês a Palavra de Deus e atenderão as suas instruções quanto a esse assunto? Os interesses da causa de Deus não devem ser confiados a homens que não têm uma conexão com o Céu. T8 69 2 Foram apresentados assuntos diante de mim, e isso encheu minha alma de uma angústia aguda. Eu vi homens que se achavam lutando uns contra os outros, com a ajuda de advogados, mas Deus não estava em sua companhia. Tendo muitas idéias relativas ao trabalho, vão eles aos advogados para que os ajudem a realizar os seus planos. Sou comissionada a informá-los que eles não estão se movendo sob a inspiração do Espírito de Deus. T8 69 3 "Porventura, não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?" 2 Reis 1:3. Homens em posições de responsabilidade estão se unindo com os da igreja e de fora da igreja, cujo conselho os está enganando. Porventura será necessário que o Senhor venha a vocês com a vara, para mostrar-lhes que precisam de uma experiência mais elevada antes de poderem estar aptos a conectar-se com a família do alto? Unir-se-ão vocês com homens que têm a faculdade de acusar, de pensar e falar mal das coisas que Deus aprova? Em nome de Deus lhes digo que vocês precisam de discernimento mais claro e mais clara visão espiritual. T8 69 4 Se a luz que Deus lhes deu inúmeras vezes, de que os centros missionários deveriam ser estabelecidos em muitas cidades, e que o trabalho e os meios centralizados em Battle Creek deveriam ser divididos e utilizados em muitos lugares, houvesse sido obedecida, o presente estado de confusão e carência de meios nunca teria acontecido. T8 70 1 Homens localizados em Battle Creek têm desconsiderado os conselhos do Senhor, porque para eles era mais conveniente terem o trabalho centralizado lá. Deus os deixou entregues aos resultados de sua sabedoria humana e o fruto é visto no presente estado de perplexidade. T8 70 2 "Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. Todos vós que acendeis fogo e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as faíscas que acendestes; isso vos vem da minha mão, e em tormentos jazereis." Isaías 50:10, 11. T8 70 3 "Ora, pois, fala agora aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Eis que estou forjando mal contra vós e projeto um plano contra vós; convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos caminhos e as vossas ações. Mas eles dizem: Não há esperança, porque após as nossas imaginações andaremos; e fará cada um segundo o propósito do seu malvado coração. Portanto, assim diz o Senhor: Perguntai, agora, entre os gentios quem ouviu tal coisa? Coisa mui horrenda fez a virgem de Israel! Porventura, deixar-se-á a neve do Líbano por uma rocha do campo? Ou deixar-se-ão as águas estranhas, frias e correntes? Contudo, o Meu povo se tem esquecido de Mim, queimando incenso à vaidade; e fizeram-nos tropeçar nos seus caminhos e nas veredas antigas, para que andassem por veredas afastadas, não aplainadas." Jeremias 18:11-15. Obra médico-missionária T8 70 4 Vez após outra, Deus tem mostrado o trabalho que a igreja de Battle Creek e todos na América do Norte devem fazer. Devem eles alcançar um padrão muito mais alto em termos de avanço espiritual do que até agora alcançaram. Devem despertar do sono e sair para fora do acampamento, para trabalhar por pessoas que estão prestes a perecer. T8 71 1 Os obreiros médico-missionários estão realizando o trabalho longamente negligenciado que Deus deu para a igreja em Battle Creek -- estão apresentando o último chamado à ceia que Ele preparou. T8 71 2 Meus irmãos, por que vocês mantêm tantas coisas vinculadas em Battle Creek? Por que vocês não levam a obra missionária a outras cidades, onde há muito trabalho missionário para ser feito? T8 71 3 Deveriam ser divididos e subdivididos os muitos investimentos que se centralizam em Battle Creek, e colocados em outras cidades. Vocês, que pensam ser homens sábios, dizem: "Isso custará muito. Podemos fazer o trabalho aqui em Battle Creek com menos despesa." Por acaso, não sabe o Senhor de tudo isso? Não é Ele um Deus que compreende todos esses raciocínios descrentes, que mantêm tantos investimentos vinculados a Battle Creek? Ele revelou a vocês que deveriam ser erguidos centros em todas as cidades. Isso atrairia muitos para fora de Battle Creek, a fim de trabalharem em outros lugares. T8 71 4 Para ser levada adiante corretamente, a obra médico-missionária precisa de talento. Requer mãos fortes, dispostas e administração sábia, distintiva. Mas, poderá isso ocorrer enquanto os que se encontram em posições de responsabilidade -- presidentes de associações e ministros -- barrarem o progresso? T8 71 5 O Senhor diz aos presidentes de campos e a outros irmãos influentes: "Removam os blocos de tropeço que foram colocados diante das pessoas". T8 71 6 Nosso povo em Battle Creek não tem exercitado os seus talentos, planejando e inventando meios para implantar o padrão da verdade em regiões onde a mensagem não foi proclamada e onde deveriam ser feitos decididos esforços; e o Senhor moveu o Dr. Kellogg e os seus associados para fazerem o trabalho que pertence à igreja e que foi oferecido a eles, mas que não escolheram de sua própria vontade aceitar. Alguns em Battle Creek, em vez de assumirem o trabalho a eles dado por Deus, têm, seguindo o seu próprio modo egoísta, encoberto sua visão espiritual e a visão espiritual de outros; e Deus colocou o Seu trabalho precioso nas mãos daqueles que o assumirão e o levarão adiante. T8 72 1 Deus está em Seu santo lugar, e também habita com aquele que é de espírito humilde e contrito, para reavivar o espírito do humilde e reavivar o coração do arrependido. Os que estão fazendo o trabalho médico-missionário deveriam ter o pleno apoio e cooperação da igreja. Se não obtiverem isso, estarão comprometidos. Não obstante, avançarão. Não está no plano de Deus que existam duas igrejas em Battle Creek por causa da falta de cooperação. Quanto melhor é buscar a unidade de ação! Se os obreiros médicos-missionários desenvolverem esse esforço em todos os lugares nas igrejas, se trabalharem no temor de Deus, acharão muitas portas abertas diante de si, e anjos trabalharão com eles. T8 72 2 Por favor, leiam o convite à ceia, e a última chamada a ser feita. Estudem o que está sendo feito para se atender a ordem de Jesus. Não consigo entender por que tal indiferença é manifestada por muitos, por que vocês deveriam estar afastados, criticando e mantendo-se ressentidos. A rede do evangelho deve ser lançada ao mar, juntando bons e maus. Mas porque isso ocorre, devem os homens e mulheres ignorar os esforços que se têm feito para salvar os que crerão e se unirão para alcançar aquela classe de quem Cristo falou em Sua reprovação aos fariseus? Disse Ele: "Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus." Mateus 21:31. Não serão vocês capazes de perceber que mesmo na igreja existem os que não estão ligados a Deus? Cristo, porém, diz: Deixem o joio e o trigo "crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no Meu celeiro". Mateus 13:30. T8 72 3 Quando o Senhor Se faz presente nas igrejas, pedindo-lhes para fazer um certo trabalho, e as pessoas se recusam a fazê-lo; quando alguns, unidos os seus esforços humanos com os divinos, procuram alcançar as profundezas das dificuldades e misérias humanas, sobre eles repousará ricamente a bênção de Deus. Mesmo que apenas poucos aceitem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, sua obra não será vã; pois uma vida é preciosa, muito preciosa, aos olhos de Deus. Cristo teria morrido por uma só pessoa, a fim de que ela pudesse viver pelos séculos eternos. T8 73 1 Estudemos o décimo oitavo capítulo de Mateus. Esse capítulo deveria iluminar nossos olhos. Cristo diz: "Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque Eu vos digo que os seus anjos nos Céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus. Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido. Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou? E, se, porventura, a acha, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos Céus, que um destes pequeninos se perca." Mateus 18:10-14. T8 73 2 Muitas pessoas estão sendo resgatadas, arrancadas, das mãos de Satanás, pelos fiéis obreiros. É preciso que alguém sinta um anseio de alma para encontrar para Cristo os que estão perdidos. O resgate de uma vida sobre a qual Satanás triunfou produz alegria entre os anjos celestiais. Há os que destruíram em si mesmos a imagem moral de Deus. A rede do evangelho precisa colher esses pobres excluídos. Anjos de Deus cooperarão com os que se encontram empenhados nessa obra, que fazem todo esforço para salvar pessoas que estão a perecer, dando-lhes a oportunidade que muitos nunca tiveram. Nenhuma outra maneira senão a de Cristo é capaz de alcançá-los. Ele sempre trabalhou para aliviar os sofrimentos e ensinar a justiça. Somente assim podem os pecadores ser erguidos das profundezas da degradação. T8 74 1 Os obreiros devem trabalhar em amor, alimentando, lavando e vestindo os que necessitam do seu auxílio. Dessa maneira, esses carentes são preparados para saber que alguém cuida deles. O Senhor mostrou-me que muitas dessas pessoas, mediante o trabalho de seres humanos, cooperarão com o poder divino e procurarão restaurar a imagem moral de Deus em outros pelos quais Cristo pagou o preço do Seu sangue. Eles serão chamados eleitos de Deus, preciosos, e estarão próximos do trono de Deus. Uma palavra de precaução T8 74 2 "Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus." Mateus 24:30-31. T8 74 3 "Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis. Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. Porém, se aquele mau servo disser consigo: O meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos, e a comer, e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 24:42-51. T8 75 1 Irmãos, tenham cuidado, muito cuidado. Há um trabalho sendo feito pelos missionários médicos, que corresponde à descrição apresentada em Mateus 24:48-51. O Senhor está operando para alcançar os mais depravados. Muitos saberão o que significa ser atraído a Cristo, mas não terão coragem moral para guerrear contra os apetites e paixões. Mas os obreiros não devem ficar desencorajados por isso, pois está escrito: "Nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios." 1 Timóteo 4:1. São apenas os que foram tirados das profundezas que apostatarão? Há no ministério os que tiveram luz e conhecimento da verdade e que não serão vencedores. T8 75 2 Não reprimem os apetites e paixões nem negam a si mesmos por amor de Cristo. Muitos pobres, mesmo publicanos e pecadores, apegar-se-ão à esperança do evangelho que está diante deles, e entrarão no reino do Céu antes daqueles que tiveram grandes oportunidades e grande luz, mas têm andado nas trevas. No último grande dia, muitos dirão: "Senhor, senhor, abre-nos a porta!" Mateus 25:11. Mas a porta estará fechada, e suas batidas à mesma serão em vão. T8 75 3 Deveríamos sentir profundamente essas coisas, porque são verdadeiras. Deveríamos ter uma estimativa elevada pela verdade e pelo valor das pessoas. O tempo é curto, e há um grande trabalho a ser feito. Se vocês não sentirem qualquer interesse pelo trabalho que está avançando, se vocês não estimulam o trabalho de médicos-missionários nas igrejas, este será feito sem o seu consentimento; pois é o trabalho de Deus, e deve ser realizado. Meus irmãos e irmãs, tomem posição ao lado do Senhor e sejam fervorosos, ativos, corajosos coobreiros de Cristo, trabalhando com Ele em buscar e salvar os perdidos. ------------------------Capítulo 14 -- Apelo aos irmãos em Battle Creek T8 76 1 Por que é, irmãos, que vocês continuam mantendo tantos interesses em Battle Creek? Por que vocês não escutam os conselhos e advertências que foram dados a vocês, relativos a esse assunto? Por que vocês não dão passos decisivos no sentido de estabelecer centros de influência em muitas das cidades grandes? Por que vocês não estimulam a Sociedade de Tratados de Michigan e a Sociedade Internacional de Tratados a estabelecer os seus escritórios em cidades onde há muito trabalho missionário para fazer, e onde os seus secretários e outros trabalhadores poderão se ocupar pessoalmente do trabalho missionário, agindo como líderes em importantes empreendimentos? Mudem-se, irmãos, mudem-se, e eduquem seus obreiros para trabalhar em favor dos que estão fora do arraial. Por que vocês escondem sua luz, continuando a morar em Battle Creek? Saiam, irmãos, dirijam-se para as outras regiões. T8 76 2 Há muito trabalho a ser feito, e nossos obreiros experientes deveriam se esforçar por se colocar onde entrarão em contato direto com os que estão precisando de ajuda. Eles podem fazer comparativamente pouco em Battle Creek. Porventura está certo, irmãos, que vocês mantenham sua luz escondida debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é melhor que vocês façam aquilo que o Senhor indicou claramente que deveria ser feito? Decidam agora que vocês deixarão suas preferências, seu modo de agir, e que obedecerão a Sua voz. Busquem o Senhor com mais sinceridade, com oração humilde e fervente, em busca de sabedoria e sucesso nesse empreendimento. Tirem então a luz de debaixo do alqueire, para longe do lugar que parece muito favorável a seus interesses financeiros, e de debaixo da cama, para longe do lugar mais conveniente a seu conforto, e ponham-na em um castiçal, para que possa espalhar luz a todos que se encontram na casa. T8 76 3 Uma crise em termos de esforço missionário está sobre nós. Há um grande trabalho a ser feito, e se essa obra for sinceramente feita em Battle Creek, se for fielmente realizado em relação às igrejas em Michigan, se for incentivado vigorosamente em todas nossas igrejas mais velhas e fortalezas de influência, podemos esperar que sua influência se estenderá às igrejas em todos os campos, muitos dos quais estão agora como que paralisados. T8 77 1 As instituições que Deus estabeleceu como centros de influência para a disseminação da luz, não estão fundindo os seus interesses, não estão trabalhando coordenadamente, como Deus queria que estivessem. Os administradores dessas instituições deveriam saber que o seu primeiro trabalho é harmonizarem-se com os seus companheiros de trabalho. Nossos ministros têm que despertar para entenderem a situação. O evangelho é a influência santificadora de nosso mundo. Sua influência nos corações trará harmonia. O estandarte da verdade deve ser enaltecido e a expiação de Cristo apresentada como o tema principal e central de consideração. T8 77 2 A obra médico-missionária deve ser a obra da igreja, assim como o braço direito se relaciona com o corpo. O terceiro anjo proclama os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. O trabalho missionário médico é o evangelho posto em prática. Todas as linhas de trabalho devem se fundir harmoniosamente ao expor o convite: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. T8 77 3 Para os de Battle Creek foi dada a mensagem de que muitos deveriam mudar-se para lugares onde poderiam se ocupar desta mesma obra, em conexão com seus negócios temporais. Se eles tivessem se mudado pela fé, dispostos a suportar dificuldades e privação por causa do trabalho, teriam eles obtido uma experiência rica nas coisas de Deus. Mas eles pensaram que as coisas seriam um pouco mais convenientes em Battle Creek, que o trabalho ali seria menos exigente que em qualquer outro lugar, e assim permaneceram. Muitos que se aglomeram em Battle Creek não adquirem ali nada de bom, porque não fazem uso do conhecimento que receberam. Eles não fazem o menor bem em Battle Creek, antes estão inchando o número dos que precisam de conversão. Não têm espírito de sacrifício. Possuem muito do eu e pouco de Cristo, uma pequena fé e poucas boas obras. Pensam que possuem religião, mas tudo isso vale nada. T8 78 1 Deus fala a vocês em Sua Palavra, dizendo: "Pois que este povo se aproxima de Mim e, com a boca e com os lábios, Me honra, mas o seu coração se afasta para longe de Mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo; uma obra maravilhosa e um assombro, porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá." Isaías 29:13, 14. T8 78 2 "E, naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e, dentre a escuridão e dentre as trevas, as verão os olhos dos cegos. E os mansos terão regozijo sobre regozijo no Senhor; e os necessitados entre os homens se alegrarão no Santo de Israel." Isaías 29:18, 19. T8 78 3 Meus irmãos, o Senhor os chamou para fazer uma obra definida, mas vocês não a fizeram; e no lugar em que vocês estão, há discórdia, contenda e discussão. Entretanto, não precisa ser assim. Deus não quer que Seus obreiros estejam posicionados como átomos separados. Todos têm uma grande e solene obra a fazer, e ela será realizada sob a supervisão de Deus. T8 78 4 Deus fará grandes coisas por Seu povo, se eles cooperarem com Ele. Trabalhará na mente das pessoas, de forma que será visto em sua vida, mesmo neste mundo, o cumprimento da promessa do estado futuro: T8 78 5 "O deserto e os lugares secos se alegrarão com isso; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. "Abundantemente florescerá e também regurgitará de alegria e exultará; a glória do Líbano se lhe deu, bem como a excelência do Carmelo e de Sarom; eles verão a glória do Senhor, a excelência do nosso Deus. "Confortai as mãos fracas e fortalecei os joelhos trementes. "Dizei aos turbados de coração: Esforçai-vos e não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. "Então, os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. "Então, os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará, porque águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo. "E a terra seca se transformará em tanques, e a terra sedenta, em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos. "E ali haverá um alto caminho, um caminho que se chamará O Caminho Santo; o imundo não passará por ele, mas será para o povo de Deus; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. "Ali, não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; mas os remidos andarão por ele. "E os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com júbilo; e alegria eterna haverá sobre a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido." Isaías 35:1-10. T8 79 1 O deserto em si não tem nenhuma glória nem excelência, e ao Senhor deverá ser designada toda honra pela transformação operada. Essa grande obra é de Deus. Portanto, não magnifiquem os homens que estão sob a especial atuação de Seu poder. Glorifiquem a Deus, e Ele continuará atuando. T8 79 2 O Senhor tem uma obra especial para o Seu povo fazer neste momento. Ele diz: "Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados." Esse é exatamente o trabalho de que o apóstolo Paulo encarregou as igrejas. "Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado. Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem." Hebreus 12:12-15. T8 80 1 Oro para que agora, como nunca antes, ministros e membros da igreja venham em ajuda ao Senhor, em ajuda ao Senhor contra as forças poderosas da escuridão. Estudem com oração o décimo sétimo capítulo de João. Esse capítulo deve não apenas ser lido vez após outra; suas verdades devem ser comidas e assimiladas. Cristo orou: "E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:19-23. T8 80 2 Deverão essas palavras, de tão maravilhosa importância para nós, continuar a ser negligenciadas? Deus chama os que professam ser Seus filhos, a que estudem essas palavras, as comam, as vivam. Ele os convoca a que busquem a unidade e o amor, doutra forma o castiçal será removido de seu lugar. ------------------------Capítulo 15 -- Uma advertência desatendida T8 81 1 "Eis que hoje Eu ponho diante de vós a bênção e a maldição: a bênção, quando ouvirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos mando; porém a maldição, se não ouvirdes os mandamentos do Senhor vosso Deus." Deuteronômio 11:26-28. T8 81 2 "E será que, se diligentemente obedecerdes a Meus mandamentos que hoje te ordeno, de amar ao Senhor teu Deus, e de O servir de todo o teu coração e de toda a tua alma, então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, e o teu mosto e o teu azeite. E darei erva no teu campo aos teus gados, e comerás, e fartar-te-ás. Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles; e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche Ele os céus, e não haja água, e a terra não dê a sua novidade, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá." Deuteronômio 11:13-17. T8 81 3 "Ponde pois essas Minhas palavras no vosso coração e na vossa alma e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos, e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; e escreve-as nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas: para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos Céus sobre a Terra." Deuteronômio 11:18-21. T8 82 1 Se os adventistas do sétimo dia houvessem andado no caminho do Senhor, recusando-se a permitir que interesses egoístas os dominassem, o Senhor os teria grandemente abençoado. Os que ficaram em Battle Creek contra a vontade do Senhor, perderam a valiosa experiência e o conhecimento espiritual que poderiam haver alcançado pela obediência. Muitos deles perderam o favor de Deus. O coração da obra ficou congestionado. Por muito tempo foi feita advertência, mas não foi atendida. A razão dessa desobediência está em que o coração e a mente de muitos de Battle Creek não estão sob a influência do Espírito Santo. Não reconhecem quanto trabalho há por fazer. Estão adormecidos. T8 82 2 Quando adventistas do sétimo dia se mudam para cidades em que já há uma grande igreja de fiéis, acham-se ali fora do seu lugar, e tornam-se espiritualmente cada vez mais fracos. Seus filhos estão expostos a muitas tentações. Meu irmão, minha irmã, a menos que seja absolutamente necessário para o progresso da obra nesse lugar, seria prudente irem para algum lugar onde a verdade não foi ainda proclamada, e ali procurarem dar prova de sua habilidade no trabalho para o Mestre. Façam esforços fervorosos para despertar interesse na verdade presente. O trabalho de casa em casa é eficaz, quando feito de modo cristão. Realizem reuniões, e tenham cuidado em torná-las interessantes. Lembrem-se de que isso requer mais do que meramente pregar. T8 82 3 Muitos moram há bastante tempo num lugar, passam a criticar os que estão trabalhando segundo o plano de Cristo para convencer e converter pecadores. Criticam os motivos e intenções dos outros, como se não fosse possível que outro qualquer fizesse o trabalho abnegado que eles mesmos recusam fazer. São pedras de tropeço. Se fossem para lugares onde não há crentes, e ali trabalhassem para ganhar pessoas para Cristo, bem depressa estariam tão ocupados com proclamar a verdade e ajudar os sofredores, que não teriam tempo para dissecar o caráter dos outros, nem suspeitar mal e em seguida espalhar os resultados de sua suposta perspicácia em ver as coisas abaixo da superfície. T8 83 1 Que esses que moraram muito tempo em lugares onde há grandes igrejas, saiam ao campo da seara para semear e colher para o Senhor. No desejo de salvar pessoas, esquecer-se-ão de si próprios. Verão tanto trabalho por fazer, tantos semelhantes por serem ajudados, que não terão tempo para procurar defeitos nos demais. Não terão tempo para agir no lado negativo. T8 83 2 Reunir tantos crentes num lugar, tende a estimular suspeitas e maledicências. Muitos se absorvem em olhar e escutar o mal. Esquecem-se de quão grande pecado estão cometendo. Esquecem-se de que as palavras que proferem não podem jamais ser apagadas, e que por suas suspeitas estão a lançar sementes que germinarão e trarão uma colheita de males. Quão grande será essa colheita ninguém poderá saber antes do último dia, em que todo pensamento, toda palavra e ato serão trazidos a juízo. T8 83 3 As palavras irrefletidas e indelicadas pronunciadas aumentam com cada repetição. Um e outro acrescenta uma palavra, até que o boato assume grandes proporções. Faz-se grande injustiça. Por suas injustas suspeitas e injustos juízos, os mexeriqueiros prejudicam sua própria experiência e lançam na igreja a semente da discórdia. Se pudessem ver as coisas como Deus as vê, mudariam de atitude. Reconheceriam como, enquanto procuravam defeitos em seus irmãos e irmãs, negligenciaram a obra que Ele lhes deu para fazer. T8 83 4 O tempo gasto em criticar os motivos e atos dos servos de Cristo melhor poderia ser empregado em oração. Muitas vezes, se os que buscam defeitos nos outros conhecessem a verdade acerca desses a quem criticam, teriam opinião inteiramente diversa. Quanto melhor não seria que, em vez de criticar e condenar os outros, cada um dissesse: "Preciso cuidar de minha própria salvação. Se eu cooperar com Aquele que deseja salvar a minha alma, terei que vigiar diligentemente a mim mesmo. Terei que excluir de minha vida todo mal. Tenho que tornar-me uma nova criatura em Cristo. Tenho que vencer todo defeito. Então, em vez de enfraquecer os que estão a lutar contra o mal, posso fortalecê-los com palavras animadoras." T8 84 1 Que esses que têm usado o dom da palavra para desencorajar e desanimar os servos de Deus -- aqueles que estão se esforçando para adiantar a causa divina, planejando e trabalhando para dominar os empecilhos -- peçam a Deus perdão pelo dano que têm causado à Sua obra através dos seus ímpios preconceitos e palavras descorteses. Pensem no mal que têm causado, espalhando boatos, julgando aqueles a quem não têm o direito de julgar. T8 84 2 Na Palavra de Deus nos são dadas instruções claras quanto ao procedimento que devemos adotar ao verificarmos que um irmão está a serviço do mal. Disse Cristo: "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." Mateus 18:15-17. Disse mais o Salvador: "Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta." Mateus 5:23, 24. T8 84 3 "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? quem morará no Teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo; aquele a cujos olhos o réprobo é desprezado, mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que jure com dano seu, não muda; aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente. Quem faz isto nunca será abalado." Salmos 15. T8 85 1 "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho; estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão." Mateus 7:1-5. T8 85 2 Muita coisa se acha envolvida na questão de julgar. Lembrem-se de que logo o registro de sua vida será examinado por Deus. Lembrem-se, também, de que Ele disse: "És inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus?" Romanos 2:1-3. T8 85 3 Os que vieram a Battle Creek quando possuíam uma obra a realizar na igreja de onde saíram, perderam seu espírito missionário e o discernimento espiritual. Entraram em contato com o farisaísmo, um estado de justiça própria, que é sempre uma armadilha. Isso é apenas aparência de bondade, sem o poder que a acompanha. T8 86 1 Quando for sentido no coração o poder da verdade, quando forem trazidos os princípios da verdade para a vida diária, haverá um grande movimento de reforma na igreja de Battle Creek. Logo serão cumpridas as palavras: "Eu virei e transtornarei." Não sabemos agora exatamente quando isso vai ocorrer, mas o tempo virá em que haverá um espalhamento de Battle Creek. Os que se mudaram para Battle Creek sem qualquer chamado de Deus, sairão novamente de lá. T8 86 2 Obreiros fervorosos não têm tempo para se demorar nos defeitos alheios. Contemplam o Salvador, e contemplando-O são transformados em Sua semelhança. Ele é Aquele cujo exemplo devemos seguir na formação do nosso caráter. Em Sua vida na Terra Ele revelou claramente a natureza divina. Devemos esforçar-nos por ser perfeitos em nossa esfera, assim como Ele o foi na Sua. Os membros da igreja não devem por mais tempo permanecer despreocupados no tocante à formação de um caráter reto. Colocando-se sob a influência modeladora do Espírito Santo, devem formar caráter que seja um reflexo do divino. ------------------------Capítulo 16 -- O resultado da reforma T8 87 1 Prezado Irmão Daniells: T8 87 2 Ontem de manhã li sua carta, na qual você expressa o desejo ardente de ver um forte exército de obreiros sendo enviado à Índia, China e outros países orientais. Ontem à noite me foi dada instrução de que no presente nossos esforços principais não devem ser constituídos especialmente em favor da China ou outros campos semelhantes. Temos primeiro um trabalho para fazer em casa. Todas as nossas instituições -- nossos sanatórios, casas publicadoras e escolas -- devem alcançar um padrão mais elevado. Então os obreiros enviados a campos estrangeiros alcançarão um padrão mais elevado. Serão mais sinceros, mais espirituais, e o seu trabalho será mais produtivo. T8 87 3 Anos atrás, o Senhor deu-me instruções especiais para que fossem construídos na América do Norte, Europa e outras terras, edifícios para a publicação de literatura contendo a luz da verdade presente. Ele deu instruções no sentido de que fossem feitos todos os esforços para enviar ao mundo, mediante o prelo, as mensagens de convite e advertência. Pela nossa literatura serão alcançadas pessoas que o não seriam por nenhum outro meio. De nossos livros e revistas projetar-se-ão brilhantes raios de luz que iluminarão o mundo quanto à verdade presente. T8 87 4 Pessoas que não são aperfeiçoadas pelas bênçãos que recebem em sua relação com a causa de Deus, não devem ser trazidas para nossa obra de publicações. Nem deve qualquer assunto de caráter censurável ser introduzido nessas instituições, pois assim fazendo, a verdade sagrada de Deus é colocada em pé de igualdade com os assuntos comuns. Quando trabalho de fora é trazido, um número correspondentemente grande de trabalhadores deve ser empregado. Isso traz preocupação e perplexidade. T8 88 1 Foi-me mostrado que estão sendo cometidos erros em nossas editoras. Há um aumento constante de maquinaria de alto custo para realizar trabalho comercial. Uma grande quantidade de trabalho tem sido produzida, que não tem qualquer relação com a obra de fé e amor a ser realizada para a salvação de seres humanos. Tempo e talento têm sido usados fazendo uma classe de trabalho que não traz nenhuma glória a Deus. Muito esforço tem sido empreendido em linhas de atuação que nada fazem para espalhar o conhecimento da verdade. T8 88 2 É alto tempo de dar atenção a esse assunto. Esse erro tem de ser corrigido. Não é sábio usar dinheiro para estabelecer empreendimentos que consomem sem produzir. É dito que mais espaço é necessário nas casas publicadoras. Mas há amplo espaço nelas, e quando as coisas certas forem feitas, ver-se-á que as instalações são suficientes. T8 88 3 Muito menos trabalho comercial deveria ser recebido em nossos escritórios de publicação, e nem uma única linha de assunto que contém os sentimentos de Satanás deveria ser recebida. A introdução de tal assunto destrói todo o senso da santidade da instituição. A instituição inteira é penalizada. Sempre há perigo, quando o comum é misturado com o sagrado, de que ao comum seja permitido ocupar o lugar do sagrado. T8 88 4 De que forma o Senhor considera o uso das máquinas de Suas instituições para imprimir os erros do inimigo? Quando assunto censurável é misturado com assunto sagrado, saindo das impressoras, a bênção de Deus não pode repousar sobre o trabalho feito. Diz o Ensinador divino: "O que ganharam vocês aceitando esse trabalho externo? Ele trouxe muita angústia de espírito para vocês; e os trabalhadores tiveram que se apressar e se afobar para conseguir ter tudo pronto no tempo especificado. Isso ocasionou confusão e discussão. Foram faladas palavras severas, e um espírito desagradável tomou conta da instituição. O ganho financeiro de forma alguma pode ser comparado com a perda que ocorreu diante do apressar-se, do ordenar, do ralhar e do irritar-se." T8 89 1 Possa o Senhor ajudar Seu povo a perceber que isso não é nenhuma sabedoria, e que muito mais se está perdendo do que ganhando. Se houvessem sido reunidos menos máquinas e menos obreiros em um mesmo lugar, enquanto outras porções da vinha se achavam destituídas de recursos; se mais dinheiro tivesse sido gasto construindo edifícios em vários lugares, Deus estaria mais satisfeito. Não foi uma ambição santificada que levou ao investimento de tanto dinheiro em um só lugar. É um engano que nossos irmãos operem tantas impressoras para a produção de assuntos meramente seculares. Aproximamo-nos rapidamente do fim. A nossa obra deve ser a produção e distribuição dos livros e revistas que contêm a verdade para este tempo. T8 89 2 Há uma negligência marcante em relação às precauções e advertências apresentadas de tempos em tempos. Quando houver uma volta para Deus e confissão dos pecados, quando a necessária reforma ocorrer, o zelo vai se unir com a integridade para restaurar o que tem sido adulterado. O Senhor irá manifestar Seu amor perdoador, e os recursos surgirão para pagar as dívidas de nossas instituições. ------------------------Capítulo 17 -- Advertência solene T8 90 1 Aos administradores da Review and Herald: T8 90 2 Queridos Irmãos: T8 90 3 O desígnio de Deus no estabelecimento da editora em Battle Creek era que dela brilhasse uma luz como de uma lâmpada. Isso é o que tem sido apresentado aos administradores. Vez após outra se tem repetido a eles sobre a santidade do escritório de publicações de Deus e da importância de manter sua pureza. Mas eles perderam a verdadeira compreensão e se uniram com as forças do inimigo, consentindo com a impressão de documentos e livros que continham os erros mais perigosos que podem ser trazidos à existência. Eles têm fracassado em perceber as influências más de tais sentimentos errôneos sobre digitadores, revisores, e todos os outros que se ocuparam da impressão de tais textos. Estão espiritualmente adormecidos. T8 90 4 Por intermédio de alguns dos trabalhos externos trazidos a essa instituição, a ciência de Satanás está sendo apresentada à mente dos obreiros. A publicação de tais assuntos é uma desonra a Deus. Isso deteriora a mente dos obreiros. Os administradores concordaram em imprimir por um preço bem baixo. Qualquer lucro teria sido perda mesmo se um valor muito mais alto houvesse sido pedido pelo trabalho. T8 90 5 Recebi uma carta do irmão Daniells, relativa à adição de outro edifício para o escritório da Review and Herald. A resposta que apresento é: Não, não, não. Em vez de ampliar os edifícios já erguidos, limpem o escritório do lixo de origem satânica, e vocês ganharão espaço em todos os sentidos. T8 90 6 Deus não está contente com o estado congestionado de coisas em Battle Creek. Se os trabalhadores fossem divididos e prédios construídos em outros lugares, Deus estaria mais satisfeito, e o estandarte da verdade teria sido plantado em regiões que nunca ouviram a mensagem. Antes de acrescentarem outro edifício ao escritório de Battle Creek, façam a devida restituição ao campo sulista. Isso ainda não foi feito como deveria. Cada passo está sendo apressado. T8 91 1 Os cinco mil dólares que seriam usados para acrescentar prédios à Review and Herald deveriam ser investidos agora no trabalho em outros lugares, onde o evangelho da verdade não está sendo ainda pregado. T8 91 2 Sinto um terror de alma quando vejo a que ponto chegou nossa casa publicadora. As impressoras na instituição de Deus estão imprimindo as teorias destruidoras da alma, apresentadas pelo romanismo e outros mistérios da iniqüidade. O escritório deve ser purificado desse objetável assunto. Tenho um testemunho de Deus para os que colocaram tal assunto nas mãos dos obreiros. Deus os considera responsáveis por apresentarem a homens e mulheres o fruto da árvore proibida do conhecimento. Será possível que vocês não sabem das advertências dadas à Pacific Press quanto a esse assunto? Será possível que com o conhecimento dessas advertências vocês estejam indo pelo mesmo caminho, mas fazendo ainda muito pior? Tem se repetido freqüentemente a vocês que anjos de Deus estão presentes em todas as partes da editora. Que impressão deixou isso na mente de vocês? T8 91 3 Você colocaram matérias que contêm os sentimentos de Satanás nas mãos dos obreiros, trazendo assim seus enganosos e poluidores princípios até suas mentes. O Senhor olha para essa ação da parte de vocês como uma ajuda a Satanás, quanto a preparar suas armadilhas para apanhar as pessoas. Deus não considerará como inocentes os que estão fazendo tal coisa. Ele tem uma controvérsia com os administradores da editora. Tenho até medo de abrir a Review, temendo ver que Deus tenha purificado a editora pelo fogo. T8 92 1 O Senhor me instruiu de que esses que não conseguem ver a maldade de cooperar com Satanás, publicando suas falsidades, melhor fariam em buscar algum trabalho no qual não conseguissem arruinar nossos jovens. Há o perigo de que o padrão da verdade e retidão seja rebaixado a tal ponto que Deus tenha de executar Seus juízos sobre os que praticam o mal. T8 92 2 É alto tempo de entendermos qual o espírito que, durante anos, tem controlado os assuntos nos escritórios da Review and Herald. Sinto-me horrorizada ao pensar que a parte mais sutil do espiritualismo possa estar sendo colocada diante dos obreiros de uma forma calculada para confundir e desconcertar a mente. Estejam certos de que Satanás aproveitará essa vantagem concedida a ele. T8 92 3 O escritório da Review and Herald foi contaminado assim como o templo, só que o resultado foi dez vezes mais desastroso. Destruindo as mesas dos cambistas, Cristo conduziu as ovelhas e o gado para fora dos recintos do templo, enquanto dizia: "Está escrito: A Minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões." Mateus 21:13. Pior até mesmo que a corrupção do templo foi a corrupção da editora, pela publicação de assuntos que jamais deveriam ter sido colocados nas mãos dos obreiros numa instituição de Deus. T8 92 4 A lei de Deus foi transgredida, Sua causa traída, e a Sua instituição transformada num esconderijo de ladrões. O trabalho de impressão e circulação de ferventes apelos em favor da verdade, que deveria ter sido colocado em primeiro lugar, e para o qual o tempo e talento dos trabalhadores deveriam ter sido dedicados, recebeu pequena ou nenhuma atenção. O trabalho comercial, parte do qual de um caráter mais que censurável, assumiu gradualmente a supremacia. Esse trabalho absorveu as energias que deveriam ter sido dedicadas à publicação de literatura da mais pura qualidade e do mais elevado caráter. Tempo tem sido desperdiçado, talento desviado e dinheiro mal empregado. A obra que deveria ter sido terminada foi deixada por acabar. Os sentimentos de Satanás foram exaltados. As suas teorias foram impressas por máquinas que deveriam ter sido usadas a fim de preparar a verdade de Deus para a circulação. Os homens cobiçaram a promoção, quando seus princípios estavam completamente condenados por Deus. O prejuízo é infinitamente melhor que o lucro desonroso. T8 93 1 Oh, o que fará Deus com os que permitiram isso? Será que Jesus irá permanecer no local de impressão, atuando na mente das pessoas através dos Seus anjos, para tornar a verdade impressa um poder para advertir o mundo de que o fim de todas as coisas está próximo, enquanto Satanás tem permissão para perverter a mente dos obreiros, justamente dentro da instituição? A luz que eu tenho é: recusem-se a imprimir uma única linha adicional desse assunto pernicioso. Os que tiveram que ver com a introdução desse material na editora têm de se arrepender diante de Deus em contrição de alma, porque Sua ira está acesa contra eles. Seja esse tipo de trabalho para sempre excluído de nossa editora. Dêem mais tempo à publicação e circulação dos livros que contêm a verdade presente. Esforcem-se para que seu trabalho nessa linha alcance a perfeição. Façam tudo que estiver em seu poder a fim de difundir ao mundo a luz do Céu. T8 93 2 Não devem ser sobrecarregados os aprendizes e os outros trabalhadores, de modo que estejam tão ocupados que não tenham tempo para orar. A juventude em nossas editoras deveria ser educada como o era a mocidade nas escolas dos profetas. Deveriam estar preparados para assumir o trabalho em lugares novos. T8 93 3 Se os homens que ouviram a mensagem apresentada na ocasião da Assembléia -- a mensagem mais solene que se poderia receber -- não se tivessem comportado como tão difíceis de serem impressionados, se em sinceridade tivessem perguntado: "Senhor, que farei?" (Atos dos Apóstolos 22:10), a experiência do último ano teria sido muito diferente do que foi. Mas eles não deixaram um rasto limpo atrás de si. Não confessaram seus enganos, e agora estão entrando pelos mesmos maus caminhos em muitos aspectos, seguindo o mesmo curso errado de ação, porque destruíram sua visão espiritual. T8 94 1 A mensagem do terceiro anjo deve preparar um povo para estar em pé nestes dias de perigo. Será proclamada com alta voz, e deverá realizar um trabalho do qual poucos se dão conta. T8 94 2 João escreve: "E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a Terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, porque vinda é a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu Babilônia, aquela grande cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição!" Apocalipse 14:6-8. Como é isso realizado? Forçando os homens a aceitarem um sábado falso. No trigésimo primeiro capítulo de Êxodo, é-nos dito claramente qual dia é o sábado sagrado de Deus. A guarda do sábado é declarada ser um sinal de lealdade por parte do povo de Deus. T8 94 3 Deus quer dizer exatamente o que diz. O homem se interpôs entre Deus e as pessoas, e o Senhor enviou o terceiro anjo com a mensagem: "E os seguiu o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber o sinal na testa ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro." Apocalipse 14:9-10. T8 95 1 O povo de Deus deve guardar Seus mandamentos, descartando toda prática mundana. Além de adotar os corretos princípios de ação, deve reverenciar tais princípios, pois são de origem celestial. A obediência a Deus é mais importante para nós do que prata ou ouro. Comungar com Cristo, aprender de Sua mansidão e humildade, pode abreviar muitos conflitos, pois quando o inimigo vier como uma inundação, o Espírito do Senhor erguerá uma barreira contra ele. T8 95 2 Dirijo-me àqueles que aceitaram cargos de confiança na editora, assumindo a responsabilidade de ver que os obreiros recebam a educação correta. Busquem compreender a importância de seu trabalho. Esses que mostram por suas ações que não fazem qualquer esforço para distinguir entre o sagrado e o profano, devem saber que, a menos que se arrependam, os juízos de Deus cairão sobre eles. Esses juízos talvez demorem, mas virão. Se, pelo fato de sua mente não ser clara e elevada, vocês apresentarem suas idéias erradas a outras pessoas, Deus pedirá contas a vocês. Perguntará: "Por que vocês fizeram o trabalho do diabo quando se esperava que estivessem fazendo uma boa obra para o Mestre?" T8 95 3 No grande dia do ajuste de contas, o servo infiel se defrontará com o resultado de sua deslealdade. T8 95 4 Eu lhes envio isto porque temo por vocês. Seu grupo sempre crescente de obreiros poderia ser melhor utilizado no trabalho em outros lugares. Nas horas da noite, tenho falado com franqueza a vocês em suas reuniões, apresentando a verdade tal como é em Jesus. Mas por alguns foi ela rejeitada. Passaram para além do ponto de convicção. Eles tinham pecado contra grande luz e conhecimento, sufocando a consciência até que essa luz já não pôde penetrar o coração calejado. T8 96 1 Alguns têm sacrificado o princípio por tão longo tempo que não conseguem ver a diferença entre o sagrado e comum. Os que se recusam a dar atenção à instrução do Senhor, entrarão em franca decadência no caminho da ruína. O dia do teste ou juízo logo estará diante de nós. Que cada pessoa revele suas verdadeiras cores. Vocês escolheram a lealdade ou a rebelião? Mostrem suas cores às pessoas e aos anjos. Só estamos seguros quando nos comprometemos com o que é correto. Então o mundo saberá onde seremos encontrados no dia da provação e do juízo. T8 96 2 Se a obra iniciada na Associação Geral tivesse sido levada adiante com vistas à perfeição, eu não precisaria haver sido chamada a escrever estas palavras. Houve oportunidade para confessar ou negar a injustiça, e em muitos casos a negação ocorreu, para evitar as conseqüências da confissão. T8 96 3 A menos que haja uma reforma, sobrevirá uma calamidade à casa publicadora, e o mundo saberá a razão. Tem-me sido mostrado que não houve um retorno a Deus com pleno propósito de coração. O Senhor está sendo desonrado nas instituições erguidas para a Sua honra. A marcante desconsideração das ordens de Deus na editora exerceu sua impressão nos obreiros. Deus pergunta: "Não julgarei Eu essas coisas"? Vi anjos de Deus saírem com semblantes aflitos. Deus está sendo escarnecido pela dureza de coração de vocês, o que está aumentando continuamente. De acordo com a responsabilidade de cada um, será o castigo dos que conhecem a verdade e ainda assim desconsideram as ordens de Deus. ------------------------Capítulo 18 -- O incêndio da Review and Herald T8 97 1 Aos Irmãos em Battle Creek: T8 97 2 Hoje recebi uma carta do irmão Daniells relativa à destruição das instalações da Review and Herald através do fogo. Sinto-me muito triste quando considero a grande perda que sobreveio à causa. Sei que este deve estar sendo um tempo muito difícil para os irmãos que tomam conta do trabalho e para os obreiros em geral. Sou afligida com todos que são afligidos. Mas não me senti surpresa pelas notícias tristes, pois nas visões da noite vi um anjo em pé com uma espada flamejante estendida sobre Battle Creek. Uma vez, de dia, enquanto a caneta estava em minha mão, perdi a consciência, e parecia como se essa espada de fogo estivesse voltando-se primeiro em uma direção e então para outra. Desastre parecia seguir-se a desastre, porque Deus era desonrado pelas invenções de homens que procuravam exaltar e glorificar a si mesmos. T8 97 3 Esta manhã fui levada a sincera oração para que o Senhor conduzisse a todos que estão ligados com a Review and Herald a uma diligente pesquisa, para que possam ver em que aspectos desconsideraram as muitas mensagens enviadas por Deus. T8 97 4 Há algum tempo os irmãos no escritório da Review me pediram conselhos quanto à construção de outro edifício. Eu disse então que se esses que estavam a favor de acrescentar outro edifício à Review and Herald pudessem ter o futuro traçado diante de seus olhos, se eles pudessem ver o que aconteceria em Battle Creek, nem estariam perguntando quanto a pôr lá outro edifício. Deus disse: "Minha palavra foi menosprezada; Eu me voltarei e destruirei." T8 97 5 Por ocasião da Associação Geral, realizada em Battle Creek em 1901, o Senhor deu a Seu povo evidências de que Ele estava apelando por uma reforma. Mentes foram convencidas, tocados corações; mas um trabalho completo não foi realizado. Se os corações teimosos tivessem se partido em penitência diante de Deus, o resultado teria sido uma das maiores manifestações do poder de Deus jamais observadas. Mas Deus não foi honrado. Não foram atendidos os testemunhos do Seu Espírito. As pessoas não se separaram das práticas que estavam em decidida oposição aos princípios da verdade e retidão que sempre deveriam ser mantidos na obra do Senhor. T8 98 1 As mensagens para a igreja de Éfeso e para a igreja de Sardes foram repetidas freqüentemente a mim por Aquele que me dá instrução para o Seu povo. "Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos; e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:1-5. T8 98 2 "E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer, porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:1-3. T8 99 1 Estamos vendo o cumprimento dessas advertências. Nunca foram as Escrituras mais estritamente cumpridas do que essas. T8 99 2 Homens podem erguer os mais cuidadosamente construídos edifícios à prova de fogo, mas um toque da mão de Deus, uma faísca do céu, varrerão qualquer refúgio. T8 99 3 Tem sido perguntado se disponho de algum conselho para oferecer. Eu já apresentei o conselho que Deus me deu, enquanto esperava prevenir a queda da espada de fogo que estava pendurada em cima de Battle Creek. Agora sobreveio aquilo que eu temia -- as notícias do incêndio da Review and Herald. Quando essas notícias vieram, não senti nenhuma surpresa, e não tive palavra alguma para falar. O que tive que dizer em muitas ocasiões, em termos de advertências, não exerceu qualquer efeito, exceto endurecer os que ouviram, e agora só posso dizer: sinto muito, realmente muito, que tenha sido necessário vir esse golpe. Havia luz suficiente. Se ela houvesse sido aceita, luz adicional nem teria sido necessária. T8 99 4 A nosso povo, ministros e membros leigos, sou instruída a dizer: "Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." Isaías 55:6, 7. T8 99 5 Que todos estejam alertas. O adversário está em nosso encalço. Estejamos vigilantes, observando diligentemente para que alguma cilada cuidadosamente disfarçada e bem preparada não nos apanhe de improviso. Acautelem-se os descuidosos e indiferentes, para que o dia do Senhor não venha sobre eles como ladrão de noite. Muitos se afastarão da vereda da humildade e, pondo de lado o jugo de Cristo, andarão em caminhos estranhos. Cegos e confusos, deixarão o caminho estreito que conduz à cidade de Deus. T8 100 1 Um homem não pode ser um cristão alegre se não for vigilante. Vence aquele que vigia; pois, com enredos, erros e superstições mundanas, Satanás procura conquistar os seguidores de Cristo para o seu lado. Não é suficiente que evitemos perigos manifestos e movimentos arriscados e incoerentes. Devemos manter-nos bem perto ao lado de Cristo, andando no caminho da abnegação e do sacrifício. Estamos na terra do inimigo. Aquele que foi expulso do Céu desceu até nós com grande poder. Com todo ardil e artifício imagináveis, ele procura levar pessoas cativas. A não ser que estejamos constantemente de sobreaviso, cairemos como fácil presa de seus inumeráveis enganos. T8 100 2 A experiência dos discípulos no Jardim do Getsêmani contém uma lição para o povo de Deus hoje. Levando consigo Pedro, Tiago e João, Cristo foi para o Getsêmani a fim de orar. Disse-lhes: "A Minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai. E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-Se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dEle aquela hora. E disse: Aba, Pai, todas as coisas Te são possíveis; afasta de Mim este cálice; não seja, porém, o que Eu quero, mas o que Tu queres. E, chegando, achou-os dormindo e disse a Pedro: Simão, dormes? Não podes vigiar uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Marcos 14:34-38. T8 100 3 Leiam essas palavras cuidadosamente. Muitos hoje estão adormecidos, como aconteceu com os discípulos. Eles não estavam vigiando e orando, para evitarem cair em tentação. Leiamos e estudemos essas porções da Palavra de Deus que se referem especialmente a estes últimos dias, destacando os perigos que ameaçarão o povo de Deus. T8 101 1 Precisamos de uma percepção aguda, santificada. Essa percepção não é para ser usada criticando e condenando uns aos outros, mas discernindo os sinais dos tempos. Temos de manter nosso coração com toda a diligência, para não naufragarmos na fé. Muitos que uma vez foram crentes firmes na verdade, tornaram-se descuidados com respeito ao seu bem-estar espiritual e se têm rendido, sem a mais leve oposição, aos enredos cuidadosamente estabelecidos por Satanás. T8 101 2 É tempo de nosso povo tirar suas famílias das cidades, levando-as para localidades mais retiradas; do contrário, muitos dos jovens e também muitos de mais idade serão enredados e apanhados pelo inimigo. 7 de Janeiro de 1903 T8 101 3 Temos todos estado muito tristes pelas notícias da perda terrível que sobreveio à causa em virtude do incêndio da Review and Herald. Em um ano, duas de nossas maiores instituições foram destruídas pelo fogo. As notícias desta recente calamidade nos levaram a lamentar profundamente, mas isso foi permitido pelo Senhor que nos sobreviesse, e nós não deveríamos fazer nenhuma reclamação, mas aprender antes a lição que o Senhor nos deseja ensinar. T8 101 4 A destruição do edifício da Review and Herald não deveria ser passada por alto, como algo sem significado. Todo os que se acham conectados com a editora deveriam perguntar-se: "Em que mereço eu essa lição? Em que tenho andado contrariamente a um 'Assim diz o Senhor', de modo que Ele devesse enviar essa lição a mim? Tenho eu atendido as advertências e reprovações que Ele enviou, ou segui meu próprio caminho?" T8 101 5 Deixem o Deus que examina o coração reprovar o errante, e que cada um de nós se prostre diante dEle em humildade e contrição, pondo de lado toda justiça própria e toda auto-importância, confessando e abandonando todo pecado, e suplicando, no nome do Redentor, o perdão. Deus declara: "O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (João 6:37); e aqueles que sinceramente se apresentam diante dEle serão perdoados e justificados, e receberão poder para se tornar filhos de Deus. T8 102 1 Oro para que os que resistiram à luz e evidência, recusando-se a escutar as advertências de Deus, vejam na destruição da Review and Herald um apelo para se voltarem a Deus com pleno propósito de coração. Não perceberão que Deus é sincero para com eles? Ele não deseja destruir a vida, antes salvá-la. Na recente destruição, a vida dos obreiros foi graciosamente preservada, para que todos pudessem ter a oportunidade de ver que Deus os estava corrigindo através de uma mensagem que não vem de fonte humana, mas do alto. O povo de Deus tem-se apartado dEle; não seguindo Sua instrução, e Ele procura aproximar-Se deles com correção; mesmo assim, não permitiu a perda de vidas. Nenhuma pessoa foi levada à morte. Todos foram deixados com vida a fim de reconhecer o Poder que nenhum homem pode ignorar. T8 102 2 Louvemos ao Senhor porque a vida de Seus filhos foi tão preciosa à Sua vista. Ele poderia ter eliminado os obreiros em seu descuido e auto-suficiência. Mas, não! Ele diz: "Eles terão outra chance. Deixarei o fogo falar-lhes e verei se agirão contrariamente à ação de Minha providência. Eu os provarei como através de fogo para ver se eles aprenderão a lição que desejo ensinar-lhes." T8 102 3 Quando o Sanatório de Battle Creek foi destruído, Cristo deu-Se a Si mesmo para defender a vida de homens e mulheres. Nessa destruição Deus estava apelando aos homens e mulheres para que se voltassem a Ele. E na destruição do prédio da Review and Herald, e no salvamento de vidas, faz Ele um segundo apelo a essas pessoas. Deseja que vejam que o poder que opera milagres, o do Infinito, foi exercido para salvar vidas, para que todo obreiro possa ter a oportunidade de se arrepender e se converter. T8 103 1 Deus diz: "Se eles se voltarem para Mim, restabelecerei com eles a alegria de Minha salvação. Mas se continuarem andando no próprio modo de vida, Eu Me aproximarei ainda mais; e aflição sobrevirá às famílias que reivindicam acreditar na verdade, mas que não a praticam, que não fazem do Senhor Deus de Israel o seu temor e tremor." T8 103 2 Que todos examinem a si mesmos, para ver se estão na fé. Que o povo de Deus se arrependa e se converta, para que os seus pecados possam ser destruídos quando os tempos de refrigério vierem da presença do Senhor. Que se ponham a averiguar em que aspectos têm fracassado em andar do modo que Deus indicou, em que aspectos não têm purificado sua vida ao darem atenção aos Seus conselhos. ------------------------Capítulo 19 -- O que poderia ter acontecido T8 104 1 À Igreja de Battle Creek: T8 104 2 Um dia, por volta do meio-dia, eu estava escrevendo acerca da obra que poderia ter sido realizada durante a última reunião da Associação Geral, caso os homens que estão nos cargos de confiança tivessem seguido a vontade e os caminhos de Deus. Os que receberam grande luz não andaram de acordo com essa luz. O encontro foi encerrado e a situação não foi resolvida. As pessoas não se humilharam diante de Deus como deveriam ter feito, e o Espírito Santo não foi concedido. T8 104 3 Eu tinha escrito isso muito tempo antes, quando eu tinha perdido a consciência e me parecia estar testemunhando a cena em Battle Creek. T8 104 4 Estávamos reunidos no auditório do Tabernáculo. Foram feitas orações, um hino foi cantado, e outra oração foi oferecida. Fervorosa súplica foi feita a Deus. A reunião foi destacada pela presença do Espírito Santo. A obra foi profunda e algumas pessoas presentes choravam visivelmente. T8 104 5 Um daqueles ergueu-se de sua posição inclinada e declarou que no passado não estivera em união com algumas pessoas, que não sentira amor por elas, mas que agora via a si mesmo tal qual era. Com grande solenidade repetiu as palavras da mensagem à igreja laodiceana: "'Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)', Sim, essa é a minha condição. Abriram-se-me os olhos. Meu espírito tem sido duro e injusto. Pensei de mim mesmo como sendo justo, mas agora meu coração foi quebrantado, e posso ver minha necessidade do precioso conselho dAquele que me conhece completamente. Oh, quão graciosas e compassivas são as palavras: 'Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueça se vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas.'" Apocalipse 3:17-18. T8 105 1 O orador volveu-se para os que haviam estado a orar, dizendo: "Temos algo a fazer. Necessitamos confessar nossos pecados e humilhar o coração diante de Deus. "Ele realizou confissões de coração quebrantado, e então dirigiu-se a vários dos irmãos, um após o outro, estendendo-lhes a mão, e pedindo perdão. Aqueles a quem ele falara ergueram-se de um salto, realizando também suas confissões e solicitando perdão, e logo se abraçavam uns aos outros, chorando. O espírito de confissão espalhou-se por toda a congregação. Foi uma experiência pentecostal. Ergueram-se louvores a Deus, noite adentro, estendendo-se quase até à manhã, e a obra foi realizada. T8 105 2 As seguintes palavras foram repetidas muitas vezes, com enunciação bem clara: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo." Apocalipse 3:19, 20. T8 105 3 Ninguém se orgulhava de ter feito uma confissão sincera, e aqueles que dirigiam essa obra eram os únicos que tinham alguma influência, mas não antes de terem corajosamente confessado seus pecados. T8 105 4 Havia uma alegria como nunca antes fora vista no Tabernáculo. T8 105 5 Então voltei à minha consciência e, por um pouco de tempo, não sabia onde estava. A caneta ainda estava em minha mão. E ouvi as seguintes palavras: "Isso é o que deveria ter acontecido. Deus está esperando para realizar tudo isso pelo Seu povo. Todo o Céu está esperando para conceder a graça." Eu fiquei imaginando onde poderíamos ter chegado se isso tivesse ocorrido durante as últimas reuniões da Associação Geral, então a agonia do desapontamento me envolveu quando me apercebi de que aquilo que eu testemunhara não tinha de fato acontecido. T8 106 1 O caminho de Deus é sempre correto e prudente. Sempre traz honra a Seu nome. A única segurança do homem contra movimentos ríspidos, ambiciosos, é preservar o coração em harmonia com Jesus Cristo. A sabedoria do homem não merece confiança. Este é volúvel, cheio de amor-próprio, orgulho e egoísmo. Que os obreiros incumbidos da obra de Deus confiem plenamente no Senhor. Então os líderes revelarão que estão dispostos a ser conduzidos, não pela sabedoria humana, que é tão inútil quanto apoiar alguém sobre uma cana quebrada, mas sim pela sabedoria do Senhor, que disse: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando." Tiago 1:5-6. ------------------------Capítulo 20 -- Esquecimento T8 107 1 A todos os que professam ser filhos de Deus, gostaria de convidar a considerarem a história dos israelitas, conforme registrada nos Salmos 105, 106, 107. Estudando cuidadosamente esses textos, seremos capacitados a apreciar mais plenamente a bondade, misericórdia e amor de nosso Deus. Hino da terra prometida T8 107 2 "Louvai ao Senhor e invocai o Seu nome; fazei conhecidas as Suas obras entre os povos. Cantai-Lhe, cantai-Lhe salmos; falai de todas as Suas maravilhas. Gloriai-vos no Seu santo nome; alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor. Buscai ao Senhor e a Sua força; buscai a Sua face continuamente. T8 107 3 "Lembrai-vos das maravilhas que fez, dos Seus prodígios e dos juízos da Sua boca, vós, descendência de Abraão, Seu servo, vós, filhos de Jacó, Seus escolhidos. Ele é o Senhor, nosso Deus; os Seus juízos estão em toda a Terra. Lembra-Se perpetuamente do Seu concerto, da palavra que mandou, até milhares de gerações; do concerto que fez com Abraão e do Seu juramento a Isaque, o qual Ele confirmou a Jacó por estatuto e a Israel por concerto eterno, dizendo: A ti darei a terra de Canaã por limite da vossa herança. Quando eram ainda poucos homens, sim, muito poucos, e estrangeiros nela; quando andavam de nação em nação e de um reino para outro povo, não permitiu a ninguém que os oprimisse, e por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis nos Meus ungidos e não maltrateis os Meus profetas. T8 108 1 "Chamou a fome sobre a Terra; fez mirrar toda a planta do pão. Mandou adiante deles um varão, que foi vendido por escravo: José, cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros, até ao tempo em que chegou a Sua palavra; a palavra do Senhor o provou. Mandou o rei e o fez soltar; o dominador dos povos o soltou. Fê-lo senhor da sua casa e governador de toda a sua fazenda para, a seu gosto, sujeitar os seus príncipes e instruir os seus anciãos. Então, Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cam. E Ele multiplicou sobremodo o Seu povo e o fez mais poderoso do que os seus inimigos. T8 108 2 "Mudou o coração deles para que aborrecessem o Seu povo, para que tratassem astutamente aos Seus servos. Enviou Moisés, Seu servo, e Arão, a quem escolhera. Fizeram entre eles os Seus sinais e prodígios na terra de Cam. Mandou às trevas que a escurecessem; e elas não foram rebeldes à Sua palavra. Converteu as suas águas em sangue e assim fez morrer os peixes. A sua terra produziu rãs em abundância, até nas câmaras dos seus reis. Falou ele, e vieram enxames de moscas e piolhos em todo o seu território. Converteu as suas chuvas em saraiva e fogo abrasador, na sua terra. Feriu as suas vinhas e os seus figueirais e quebrou as árvores dos seus termos. Falou ele, e vieram gafanhotos e pulgão em quantidade inumerável, e comeram toda a erva da sua terra, e devoraram o fruto dos seus campos. Feriu também a todos os primogênitos da sua terra, as primícias de todas as suas forças. T8 108 3 "Mas, a eles, os fez sair com prata e ouro, e entre as suas tribos não houve um só enfermo. O Egito alegrou-se quando eles saíram, porque o seu temor caíra sobre eles. T8 109 1 "Estendeu uma nuvem por coberta e um fogo, para os alumiar de noite. Oraram, e ele fez vir codornizes e saciou-os com pão do Céu. Abriu a penha, e dela brotaram águas, que correram pelos lugares secos, como um rio. T8 109 2 "Porque Se lembrou da Sua santa palavra e de Abraão, seu servo. E tirou dali o Seu povo com alegria e, os seus escolhidos, com regozijo. E deu-lhes as terras das nações, e herdaram o trabalho dos povos, para que guardassem os Seus preceitos e observassem as Suas leis. Louvai ao Senhor!" Salmos 105:1-45. Hino do cativeiro T8 109 3 "Louvai ao Senhor! Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque a Sua benignidade é para sempre. Quem pode referir as obras poderosas do Senhor? Quem anunciará os Seus louvores? Bem-aventurados os que observam o direito, o que pratica a justiça em todos os tempos. Lembra-Te de mim, Senhor, segundo a Tua boa vontade para com o Teu povo; visita-me com a Tua salvação, para que eu veja o bem de Teus escolhidos, para que eu me alegre com a alegria do Teu povo, para que me regozije com a Tua herança. T8 109 4 I T8 109 5 "Nós pecamos como os nossos pais; cometemos iniqüidade, andamos perversamente. Nossos pais não atentaram para as Tuas maravilhas no Egito; não se lembraram da multidão das Tuas misericórdias; antes, foram rebeldes junto ao mar, sim, o Mar Vermelho. T8 110 1 "Não obstante, Ele os salvou por amor do Seu nome, para fazer conhecido o Seu poder. Repreendeu o Mar Vermelho, e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto. E livrou-os da mão daquele que os aborrecia e remiu-os da mão do inimigo. As águas cobriram os Seus adversários; nem um só deles ficou. Então, creram nas Suas palavras e cantaram os Seus louvores. T8 110 2 II T8 110 3 Cedo, porém, se esqueceram das Suas obras; não esperaram o Seu conselho; mas deixaram-se levar da cobiça, no deserto, e tentaram a Deus na solidão. E Ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma. E tiveram inveja de Moisés, no acampamento, e de Arão, o santo do Senhor. Abriu-se a terra, e engoliu a Datã, e cobriu a gente de Abirão. E lavrou um fogo na sua gente; a chama abrasou os ímpios. Fizeram um bezerro em Horebe e adoraram a imagem fundida. E converteram a sua glória na figura de um boi que come erva. T8 110 4 "Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera grandes coisas no Egito, maravilhas na terra de Cam, coisas tremendas no mar Vermelho. Pelo que disse que os teria destruído se Moisés, Seu escolhido, se não pusera perante Ele, naquele transe, para desviar a Sua indignação, a fim de os não destruir. T8 110 5 III T8 110 6 "Também desprezaram a terra aprazível; não creram na Sua palavra. Antes, murmuraram em suas tendas e não deram ouvidos à voz do Senhor. Pelo que levantou a mão contra eles, afirmando que os faria cair no deserto; que humilharia também a sua descendência entre as nações e os espalharia pelas terras. Também se juntaram com Baal-Peor e comeram os sacrifícios dos mortos. Assim, O provocaram à ira com as suas ações; e a peste rebentou entre eles. T8 111 1 "Então, se levantou Finéias, que executou o juízo, e cessou aquela peste, e isto lhe foi imputado por justiça, de geração em geração, para sempre. T8 111 2 IV T8 111 3 Indignaram-nO também junto às águas da contenda, de sorte que sucedeu mal a Moisés, por causa deles; porque irritaram o seu espírito, de modo que falou imprudentemente com seus lábios. Não destruíram os povos, como o Senhor lhes dissera. Antes, se misturaram com as nações e aprenderam as suas obras. E serviram os seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço. Demais disto, sacrificaram seus filhos e suas filhas aos demônios; e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e de suas filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã, e a terra foi manchada com sangue. Assim, se contaminaram com as suas obras e se corromperam com os seus feitos. T8 111 4 "Pelo que se acendeu a ira do Senhor contra o Seu povo, de modo que abominou a Sua herança e os entregou nas mãos das nações; e aqueles que os aborreciam se assenhorearam deles. E os seus inimigos os oprimiram, humilhando-os debaixo das suas mãos. Muitas vezes os livrou; mas eles provocaram-nO com o seu conselho e foram abatidos pela sua iniqüidade. Contudo, atentou para a sua aflição, ouvindo o seu clamor. E lembrou-Se do Seu concerto, e compadeceu-Se, segundo a multidão das Suas misericórdias. Por isso, fez com que deles tivessem misericórdia os que os levaram cativos. T8 112 1 "Salva-nos, Senhor, nosso Deus, e congrega-nos dentre as nações, para que louvemos o Teu nome santo e nos gloriemos no Teu louvor. T8 112 2 "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, de eternidade em eternidade, e todo o povo diga: Amém! Louvai ao Senhor! Salmos 106:1-48. Cântico dos redimidos T8 112 3 "Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque a Sua benignidade é para sempre. Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo e os que congregou das terras do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul. T8 112 4 I T8 112 5 "Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade que habitassem. Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia. E clamaram ao Senhor na sua angústia, e Ele os livrou das suas necessidades. E os levou por caminho direito, para irem à cidade que deviam habitar. Louvem ao Senhor pela Sua bondade e pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens! Pois fartou a alma sedenta e encheu de bens a alma faminta, tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro. T8 113 1 "Como se rebelaram contra as palavras de Deus e desprezaram o conselho do Altíssimo, eis que lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve quem os ajudasse. Então, clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas necessidades. Tirou-os das trevas e sombra da morte e quebrou as suas prisões. Louvem ao Senhor pela Sua bondade e pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens! Pois quebrou as portas de bronze e despedaçou os ferrolhos de ferro. T8 113 2 II T8 113 3 "Ele converte rios em desertos; nascentes, em terra sedenta; a terra frutífera, em terreno salgado, pela maldade dos que nela habitam. Converte o deserto em lagos e a terra seca, em nascentes. E faz habitar ali os famintos, que edificam cidade para sua residência, e semeiam campos, e plantam vinhas, que produzem fruto abundante. E Ele os abençoa, de modo que se multiplicam muito; e o seu gado não diminui. T8 113 4 "Mas outra vez decrescem e são abatidos, pela opressão, aflição e tristeza. Derrama o desprezo sobre os príncipes e os faz andar desgarrados pelo deserto, onde não há caminho. Mas Ele levanta da opressão o necessitado, para um alto retiro, e multiplica as famílias como rebanhos. Os retos vêem isto e alegram-se, mas todos os iníquos fecham a boca. T8 113 5 "Quem é sábio observe essas coisas e considere atentamente as benignidades do Senhor." Salmos 107:1-16, 33-43. "Lembrem-se dos dias antigos" T8 113 6 Por que o antigo Israel esquecia tão facilmente o trato de Deus com eles? O povo não retinha na memória as obras de grandeza de poder ou Suas palavras de advertência. Houvessem preservado em mente Seu maravilhoso trato com eles, não lhes haveria sido necessário receber estas palavras de reprovação: T8 114 1 "Eu, Eu sou aquele que vos consola; quem pois és tu, para que temas o homem, que é mortal, ou o filho do homem, que se tornará em feno? E te esqueces do Senhor, que te criou, que estendeu os céus e fundou a Terra, e temes todo o dia o furor do angustiador, quando se prepara para destruir? Onde está o furor daquele que te atribulava?" Isaías 51:12, 13. T8 114 2 Mas os filhos de Israel esqueceram a Deus, a quem pertenciam por criação e por redenção. Depois de haverem presenciado todas as Suas extraordinárias obras, tentaram-nO. T8 114 3 Aos israelitas foram concedidos oráculos sagrados. Entretanto, as obras reveladas de Deus foram por eles mal-interpretadas e aplicadas erroneamente. O povo desprezou a obra do Santo de Israel. T8 114 4 "Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das Suas delícias; e esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor." T8 114 5 "Ai dos que se levantam... e não olham para a obra do Senhor, nem consideram as obras das Suas mãos. Portanto, o Meu povo será levado cativo, por falta de entendimento." T8 114 6 "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal! Que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade, e fazem do amargo doce, e do doce, amargo! T8 114 7 "Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes diante de si mesmos!" T8 115 1 "Pelo que, como a língua de fogo consome a estopa, e a palha se desfaz pela chama, assim será a sua raiz, como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel." Isaías 5:7, 11-13, 20, 21, 24. "Escrito para a nossa admoestação" T8 115 2 "Ora, tudo... estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. A advertência vem soando ao longo da passagem de nosso tempo presente: T8 115 3 "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação. Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés." Hebreus 3:12-16. T8 115 4 Não seremos capazes, nós os que vivemos nesse tempo, de compreender a importância das palavras do apóstolo: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo." Hebreus 3:12. T8 115 5 Sobre nós está brilhando a luz acumulada do passado. O registro do esquecimento de Israel foi preservado para a nossa iluminação. Nesta era estendeu Deus a Sua mão a fim de reunir para Si um povo, provindo de todas as nações, tribos e línguas. No movimento adventista operou Ele em favor de Sua herança, exatamente como o fizera em relação a Israel ao tirá-lo do Egito. No grande desapontamento de 1844, a fé de Seu povo foi provada assim como o havia sido a dos israelitas junto ao Mar Vermelho. Houvessem os adventistas daqueles primeiros dias prosseguido mantendo sua confiança na Mão guiadora que havia sido vista em suas experiências passadas, teriam eles contemplado a salvação de Deus. Se todos os que haviam trabalhado de forma unida na obra de 1844 houvessem recebido a mensagem do terceiro anjo e a proclamado no poder do Espírito Santo, o Senhor teria operado poderosamente em conexão com tais esforços. Um dilúvio de luz ter-se-ia derramado sobre o mundo. Há muitos anos os habitantes da Terra haveriam sido advertidos, o encerramento da obra completado, e Cristo já teria voltado para a redenção de Seu povo. A mensagem para este tempo T8 116 1 Fui instruída a proferir palavras de advertência para nossos irmãos e irmãs que se acham sob o perigo de perder de vista a obra especial para este tempo. O Senhor nos fez depositários de sagrada verdade. Temos de erguer-nos e brilhar. Em todas as terras devemos proclamar a segunda vinda de Cristo, na linguagem que o apóstolo a proclamou: "Eis que vem com as nuvens, e todo olho O verá, até os mesmos que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele." Apocalipse 1:7. T8 116 2 O que estamos fazendo? Porventura estamos anunciando a mensagem do terceiro anjo? "E os seguiu o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta e a sua imagem e receber o sinal na testa ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia nem de noite, os que adoram a besta e a sua imagem e aquele que receber o sinal do seu nome. Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:9-12. T8 117 1 Os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus encontram-se unidos. Devem eles ser claramente apresentados ao mundo. A oposição do inimigo T8 117 2 São-nos mostradas na Palavra de Deus as conseqüências da proclamação da terceira mensagem angélica. "O dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo." Apocalipse 12:17. A recusa de obedecer aos mandamentos de Deus e a determinação de alimentar o ódio aos que proclamam esses mandamentos conduz à mais decidida guerra da parte do dragão, cuja força total é direcionada contra o povo que observa os mandamentos de Deus. "Faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas; para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome." Apocalipse 13:16, 17. T8 117 3 O sinal, ou selo, de Deus é revelado na observância do sábado -- o memorial divino da criação. "Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Tu pois fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados; porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica." Êxodo 31:12, 13. O sábado é aí claramente apresentado como um sinal entre Deus e Seu povo. T8 117 4 A marca da besta é o oposto disso, ou seja, a observância do primeiro dia da semana. Essa marca distingue dos que reconhecem a supremacia da autoridade papal, os que aceitam a autoridade de Deus. O alto clamor T8 118 1 Conforme profetizado no capítulo 18 do Apocalipse, a mensagem do terceiro anjo deve ser proclamada com grande poder por aqueles que vão dar advertência final contra a besta e sua imagem: "E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a Terra foi iluminada com a sua glória. E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, e abrigo de todo espírito imundo, e refúgio de toda ave imunda e aborrecível! Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição. Os reis da terra se prostituíram com ela. E os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias. E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus Se lembrou das iniqüidades dela. Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro." Apocalipse 18:1-6. T8 118 2 Essa é a mensagem dada por Deus para ser apresentada através do alto clamor do terceiro anjo. T8 118 3 Aqueles cuja fé e zelo são proporcionais a seu conhecimento da verdade, revelarão sua lealdade a Deus comunicando a verdade, em todo o seu redentor e santificador poder, àqueles com quem entrarem em contato. Sua vida de santidade e serviço desinteressado estará de acordo com os princípios vitais do reino do Céu. "Vocês esqueceram" T8 118 4 A verdade mais solene e terrível é que muitos que estiveram proclamando zelosamente a mensagem do terceiro anjo agora se tornaram desatentos e indiferentes! A linha de demarcação entre os mundanos e os professos cristãos está quase indistinguível. T8 119 1 Muitos que uma vez foram sinceros adventistas, estão agora se conformando com o mundo -- com suas práticas, costumes e egoísmo. Em vez de assumir a liderança em levar o mundo a render obediência à lei de Deus, a igreja está se unindo mais e mais intimamente com o mundo, em transgressão. Diariamente a igreja está se convertendo ao mundo. Quantos professos cristãos são escravos de Mamom! Sua indulgência com o apetite, seu extravagante gasto de recursos para a gratificação do eu grandemente desonram a Deus. T8 119 2 Em virtude da ausência de zelo na proclamação da mensagem do terceiro anjo, muitos outros, embora não vivendo aparentemente em transgressão, estão ainda assim colocando do lado de Satanás a sua influência, tanto quanto aqueles que abertamente pecam contra Deus. Multidões estão a perecer; quão poucos, entretanto, sentem sobre si o fardo dessas vidas! Existe um estupor, uma paralisia, sobre muitos dentre o povo de Deus, o que lhes impede a visão dos deveres desta hora. T8 119 3 Quando os israelitas entraram em Canaã, não cumpriram o desígnio de Deus, de tomarem posse de toda a terra. Depois de fazerem uma conquista parcial, estabeleceram-se comodamente para consumir os frutos de suas vitórias. Em sua incredulidade e amor ao comodismo, congregaram-se nas partes já conquistadas, em vez de avançarem para ocupar novo território. Assim começaram a afastar-se de Deus. Por seu fracasso em executar Seu propósito, tornaram-Lhe impossível cumprir para com eles a promessa de abençoá-los. T8 119 4 Não está a igreja hoje fazendo a mesma coisa? Tendo ante si o mundo todo em necessidade do evangelho, os professos cristãos congregam-se onde eles mesmos possam desfrutar os privilégios do evangelho. Não sentem a necessidade de ocupar novo território, levando a mensagem da salvação para as regiões de além. Recusam-se a cumprir a ordem de Cristo: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." Marcos 16:15. Serão eles menos culpados do que foi a igreja judaica? "Escolham hoje a quem servir" T8 120 1 Haverá um renhido conflito entre os que são leais a Deus e os que desprezam a Sua lei. A reverência à lei de Deus tem sido subvertida. Os líderes religiosos estão ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Assim como ocorreu nos dias do antigo Israel, acontece nesta era do mundo. Em virtude da prevalência da deslealdade e transgressão, haverão de aqueles que acariciaram a lei de Deus demonstrar agora menor respeito a ela? Será que vão unir-se aos poderes da Terra para ignorá-la? Os fiéis não serão arrastados pela corrente do mal. Não se envolverão em controvérsia em relação àquilo que Deus colocou à parte como sagrado. Não seguirão o exemplo de esquecimento de Israel; trarão antes à lembrança o modo como Deus lidou com Seu povo em todas as épocas, e trilharão o caminho dos Seus mandamentos. T8 120 2 A prova sobrevirá a cada um. Existem apenas dois lados. Em qual deles se posicionará você? O escudo da onipotência T8 120 3 O povo de Deus, observador de Seus mandamentos, permanece sob a proteção do escudo do Onipotente. T8 120 4 "Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nEle confiarei. Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas estarás seguro; a Sua verdade é escudo e broquel. Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia, nem peste que ande na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos olharás e verás a recompensa dos ímpios. Porque Tu, ó Senhor, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos Seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra. Pisarás o leão e a áspide; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente. Pois que tão encarecidamente me amou, também Eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o Meu nome. Ele Me invocará, e Eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias e lhe mostrarei a Minha salvação." Salmos 91:1-16. Jeová reina T8 121 1 "Vinde, cantemos ao Senhor! Cantemos com júbilo à Rocha da nossa salvação! Apresentemo-nos ante a Sua face com louvores e celebremo-Lo com salmos. T8 121 2 "Porque o Senhor é Deus grande e Rei grande acima de todos os deuses. Nas Suas mãos estão as profundezas da Terra, e as alturas dos montes são Suas. Seu é o mar, pois Ele o fez, e as Suas mãos formaram a terra seca. T8 121 3 "Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos! Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou. T8 121 4 "Porque Ele é o nosso Deus, e nós, povo do Seu pasto e ovelhas da Sua mão. Se hoje ouvirdes a Sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá e como no dia da tentação no deserto, quando vossos pais Me tentaram; provaram-Me e viram a Minha obra. T8 122 1 "Quarenta anos estive desgostado com essa geração e disse: é um povo que erra de coração e não tem conhecimento dos Meus caminhos. Por isso, jurei na Minha ira que não entrarão no Meu repouso. T8 122 2 "Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, todos os moradores da Terra. Cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome; anunciai a Sua salvação de dia em dia. Anunciai entre as nações a Sua glória; entre todos os povos, as Suas maravilhas. T8 122 3 "Porque grande é o Senhor e digno de louvor, mais tremendo do que todos os deuses. Porque todos os deuses dos povos são coisas vãs; mas o Senhor fez os céus. Glória e majestade estão ante a Sua face; força e formosura, no Seu santuário. T8 122 4 "Dai ao Senhor, ó famílias dos povos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao Seu nome; trazei oferendas e entrai nos Seus átrios. Adorai ao Senhor na beleza da santidade; tremei diante dele todos os moradores da Terra. T8 122 5 "Dizei entre as nações: O Senhor reina! O mundo também se firmará para que se não abale. Ele julgará os povos com retidão. T8 122 6 "Alegrem-se os Céus, e regozije-se a Terra: brame o mar e a sua plenitude. Alegre-se o campo com tudo o que há nele; então, se regozijarão todas as árvores do bosque, T8 122 7 "Ante a face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a Terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com a Sua verdade." Salmos 95:1-11; 96:1-13. T8 122 8 "Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós." Filipenses 3:1. ------------------------Capítulo 21 -- O valor da provação T8 123 1 Ao Superintendente Médico do Sanatório de Battle Creek: T8 123 2 Querido irmão: T8 123 3 Tenho a maior apreciação por você, e gostaria que aqueles que o estão atacando com reprovações o deixassem em paz. Contudo, meu irmão, lembre-se de que essas perplexidades e aborrecimentos se encontram incluídos em "todas as coisas" que operam para o bem dos que amam a Deus. Os olhos do Senhor estão sobre você, e Ele contempla os que o estão acusando falsamente e deixando-o em frangalhos. Se, entretanto, você mantiver boa disposição, se mantiver seu coração firmemente ligado a Deus, se confiar em seu Pai celestial assim como uma criança confia em seus pais, se agir de modo justo e com amorável misericórdia, Deus poderá atuar por seu intermédio, e o fará. Sua segura promessa é: "Aos que Me honram honrarei." 1 Samuel 2:30. T8 123 4 Lembre-se de que sua experiência não é a primeira do gênero. Você conhece as histórias de José e Daniel. O Senhor não impediu os complôs das pessoas más; agiu, entretanto, no sentido de transformar seus artifícios em algo que resultou no bem daqueles que, em meio a provas e conflitos, preservaram sua fé e lealdade. T8 123 5 Os fogos da fornalha não se destinam a destruir, antes a refinar, enobrecer e santificar. Sem as provações não sentiríamos tanto nossa necessidade conseqüentemente, orgulhosos e auto-suficientes. Nas provas que lhe estão sobrevindo, posso vislumbrar evidências de que os olhos do Senhor repousam sobre o irmão, e que Ele pretende aproximar você ainda mais de Si próprio. Não são os sadios, senão os enfermos, que necessitam de médico; são aqueles que procuram avançar para pontos quase insuportáveis, os que necessitam de um ajudador. Retorne à fortaleza. Aprenda a preciosa lição: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. T8 124 1 Jesus o ama, e sinto-me alegre ao ler a respeito das experiências que você está atravessando, não em virtude de seu sofrimento, mas porque elas constituem para mim uma evidência de que o Senhor Jesus o está testando e provando, para ver se você se aproximará dEle, para descobrir se a sua confiança repousará sobre Ele, em Seu amor encontrando paz e descanso. Estou orando por você, para que possa vir a Ele, à Fonte de águas vivas. Essa é a experiência que necessitará ser enfrentada por qualquer um que pretenda habitar algum dia com Cristo nas mansões que Ele nos está preparando. Aí estão lições do maior valor para o seu aprendizado na escola de Cristo, lições que o conduzirão a operar a sua própria salvação com temor e tremor. T8 124 2 É quando você prospera, quando todos falam bem de sua pessoa, que o perigo espreita. Esteja, pois, em guarda; certamente será provado. Meu maior temor em relação a você, é que tenha tamanha prosperidade, a ponto de deixar de reconhecer sua completa dependência de Deus. Você foi colocado numa posição em que está apto a exercer uma influência de longo alcance para o bem, se tão-somente mantiver em vista atribuir toda glória a Deus. Seu Pai celestial o ama, e procurará aproximá-lo dEle através dessas provas que lhe parecem tão severas. T8 125 1 Sinto o mais sincero desejo de que você entre na cidade de Deus, não como um réu que mal conseguiu ser perdoado, senão como um conquistador. Meu irmão, pensará você nisso? Se você for genuíno, humilde e fiel nesta vida, receberá ampla permissão para entrar lá. Será sua, então, a árvore da vida, pois terá sido um vitorioso sobre o pecado; a cidade cujo arquiteto e construtor é Deus será a sua cidade. Deixe a sua imaginação apossar-se das coisas invisíveis. Permita que seus pensamentos sejam arrastados pelas evidências do grande amor de Deus por você. Ao contemplar o objeto que está perseguindo, deixará de sentir a dor produzida pelas pequenas aflições que duram apenas um momento. A experiência de Paulo T8 125 2 Paulo era um homem que sabia o que significava ser participante dos sofrimentos de Cristo. Você não necessita da repetição de sua história de provações. A vida de Paulo era de constante atividade, embora ele estivesse sujeito a constantes enfermidades. Estava sendo continuamente atingido pelo ódio e malícia dos judeus. Eles estavam extremamente revoltados contra Paulo, e faziam tudo a seu alcance para impedir a obra do apóstolo. Ainda assim, podemos ouvir sua voz soando desde então até nossos dias: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 2 Coríntios 4:17-18. "Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada." Romanos 8:18. De modo algum estimava Paulo como sendo de valor excessivamente alto os privilégios e vantagens da vida cristã. Falo sem qualquer hesitação sobre esse assunto; sei por mim mesma que é verdade o que o apóstolo diz. Repousando no amor de Deus T8 126 1 Paulo prossegue dizendo: "Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai." Romanos 8:14, 15. Uma das lições que temos de aprender na escola de Cristo é que o amor do Senhor por nós é muito maior do que aquele que nutrem por nós os nossos pais terrestres. Necessitamos ter para com Ele inquestionável fé e perfeita confiança. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados." Romanos 8:16, 17. T8 126 2 Possa o Senhor ajudá-lo, como diligente aluno da escola de Cristo, a aprender a repousar seus fardos sobre Jesus. Se você estiver em liberdade em Seu amor, olhará para o alto e se apartará dessas provações perturbadoras. Pense em tudo quanto Jesus suportou por você, e jamais se esqueça de que faz parte do legado que recebemos como cristãos o de ser participantes em Seus sofrimentos, para que igualmente venhamos a participar de Sua glória. O perigo da auto-suficiência T8 126 3 Estude o sonho de Nabucodonosor, conforme registrado no quarto capítulo de Daniel. O rei contemplou uma frondosa árvore plantada na terra. Rebanhos das montanhas e outeiros desfrutavam de sua sombra, e os pássaros construíam seus ninhos nos galhos da árvore. Assim foi representada perante Nabucodonosor a sua própria grandeza e prosperidade. Nações reuniam-se sob a sua soberania. Seu reino achava-se firmemente estabelecido no coração de seus leais súditos. T8 126 4 O rei percebeu sua prosperidade, e em virtude dela orgulhou-se. A despeito das advertências de Deus a ele repassadas, acabou por praticar exatamente aquilo que o Senhor lhe dissera para não fazer. Olhou para seu reino com orgulho, e exclamou: "Não é essa a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?" Daniel 4:30. No instante em que essas palavras foram enunciadas, foi pronunciada a sentença de julgamento. Foi retirada do rei a sua razão. Aquele juízo, que ele imaginava tão perfeito, a sabedoria da qual se orgulhara por possuir, foram agora removidos. A jóia da mente, essa que eleva o homem acima dos animais, ele não mais possuía. T8 127 1 O cetro não mais estava na mão do orgulhoso monarca. O poderoso governante não passava de um louco. Juntara-se ao gado, comendo o mesmo que come o gado. Achava-se em companhia das bestas do campo. Aquela pessoa, antes altiva, estava então desfigurada pela ausência de razão e intelecto. Cumpria-se o mandato: "Derribai a árvore, e cortai-lhe os ramos, e sacudi as suas folhas, e espalhai o seu fruto." Daniel 4:14. T8 127 2 É assim que o Senhor Se exalta como o Deus vivo e verdadeiro. Bem poderia Davi exclamar: "Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não é; procurei-o, mas não se pôde encontrar." Salmos 37:35, 36. Assim que os homens se erguem em seu próprio orgulho, o Senhor não os sustêm, nem os guarda de caírem. Se a igreja se tornar orgulhosa e jactanciosa, não reconhecendo sua dependência de Deus, não exaltando o Seu poder, ela também será certamente abandonada pelo Senhor, até ser conduzida ao pó. Se qualquer povo se gloriar em sua riqueza, intelecto, conhecimento ou em outra coisa que não seja Cristo, em breve será ele lançado em confusão. Nosso portador de fardos T8 127 3 Irmão, lembre-se de que a Terra não é o Céu. Cristo declarou: "Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo." João 16:33. "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." Mateus 5:10-12. T8 128 1 Jesus não nos abandonou dando-nos razão para ficarmos espantados diante das provações e dificuldades. A respeito delas Ele tudo nos falou, e também nos disse que não ficássemos acabrunhados nem abatidos quando sobreviessem as provações. Olhemos para Jesus, nosso Redentor, alegremo-nos e nos regozijemos. As provações mais difíceis de suportar são as causadas por nossos irmãos, nossos próprios amigos íntimos; mas até essas provas podem ser suportadas com paciência. Jesus não permaneceu no sepulcro novo de José. Ele ressuscitou e ascendeu ao Céu, para ali interceder em nosso favor. Temos um Salvador que nos amou de tal maneira que morreu por nós, para que por Ele possamos ter esperança, e força e ânimo, bem como um lugar com Ele no Seu trono. Ele pode e está desejoso de nos ajudar, sempre que a Ele recorrermos. T8 128 2 Se tentarmos carregar sozinhos as nossas cargas, ficaremos esmagados sob o seu peso. Temos pesadas responsabilidades. Jesus tem delas conhecimento e, se O não abandonarmos, Ele também não nos deixará. Ele é honrado quando Lhe confiamos, como fiel Criador, a guarda de nossa alma. Ele nos convida a termos esperança em Sua misericórdia, crendo que Ele não deseja que sejamos esmagados por essas pesadas responsabilidades. Tão-somente temos de crer, para ver a salvação operada por Deus. T8 128 3 Sente-se você insuficiente para o cargo de confiança que ocupa? Agradeça por isso a Deus. Quanto mais sentir sua fraqueza, tanto mais estará inclinado a buscar um auxiliador. "Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós." Tiago 4:8. Jesus quer que você seja feliz, alegre. Quer que realize o melhor que lhe seja possível com a aptidão com que lhe dotou e, então confie em que o Senhor o ajudará, e inspirará os que hão de vir a ser seus auxiliadores para repartir as responsabilidades. T8 129 1 Não se sinta ferido pelo linguajar descortês dos homens. Não proferiram eles descortesias acerca de Jesus? Qualquer um pode errar, e dar motivo a observações descorteses, mas Jesus nunca o fez. Ele foi puro, imaculado, impoluto. Não espere, nesta vida, melhor porção do que a que teve o Príncipe da glória. Ao perceberem seus inimigos que o poderão ferir, jubilarão, e Satanás irá se regozijar. Nesse momento, olhe para Jesus, e trabalhe com fidelidade para a Sua glória. Ame a Deus de todo o coração. Desviando os olhos de homens T8 129 2 Pode ser que mesmo membros da igreja à qual você pertence, digam e façam coisas que o entristecerão. Entretanto, avance de modo calmo e pacífico, sempre confiando em Jesus, lembrando sempre que não pertence a si mesmo, de que é propriedade de Cristo, comprado pelo sangue do amado Filho de Deus, e que se encontra engajado em Seu serviço, buscando ser uma bênção para a humanidade. Esta é uma grande obra. Não permita que a perversidade dos homens o afastem da firme confiança e tranqüila fé nas promessas de Deus. T8 129 3 Certamente fere-o o fato de alguém, a quem você muito ajudou, tornar-se seu inimigo, ao ser posto sob uma influência que se opõe a você. Mas não faz você praticamente a mesma coisa em relação a Jesus, quando dEle se afasta? Ele tem sido o seu melhor amigo. Tem feito tudo que pode para conquistar o seu amor. Convidou-o a depositar nEle a sua confiança. Pediu-lhe que fosse a Ele com todos os seus fardos e todas as suas aflições, e garantiu Sua palavra de que lhe dará descanso e paz, se você tomar o Seu jugo e suportar o Seu fardo. Declarou que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve. Demonstre acreditar nisso. Tome a Deus em Sua palavra. Você jamais poderia haver chegado onde chegou, acumulando as responsabilidades que suporta, não houvesse Jesus lhe concedido Sua ajuda especial. Reconheça isso. Louve a Deus pelo auxílio que Ele representa para você, e prossiga confiando nEle. T8 129 4 Introduza a Cristo em sua vida. Não se sinta sob a responsabilidade do errôneo curso de ação de outras pessoas, mesmo que elas se encontrem na igreja. Nesta existem pessoas infiéis, que tratam a Jesus de modo muito pior do que tratam a você. Estivesse Ele na Terra, certamente O insultariam, ultrajariam e difamariam. "Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" Mateus 18:7. "Mas qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar." Mateus 18:6. T8 130 1 Você está levando uma pesada carga. Gostaria muito que todos pudessem perceber isso do modo como eu o percebo. Apreciaria que todos os seus irmãos fossem genuínos e leais a você, não desejando criar obstáculos, nem exaltando ou glorificando a sua pessoa, mas vendo-o como alguém a quem Deus está usando como instrumento para realizar o Seu trabalho, e lembrando-se de que não devem bloquear as rodas, antes colocar os próprios ombros para movimentá-las, ajudando em vez de atrapalhar. Eterno peso de glória T8 130 2 Digo uma vez mais, alegre-se no Senhor. Repouse nEle. Você necessita de Seu poder, e certamente o terá. Avance firmemente, de modo valente, corajoso. Talvez você erre ao aplicar seu julgamento, mas não deixe de segurar-se em Cristo. Ele é sabedoria, luz e poder. É para você como uma grande Rocha em terra deserta. Repouse sob a Sua sombra. Você necessita de sabedoria, e Jesus a concederá. Não seja descrente. Quanto mais seja você abalroado, mal-compreendido, maltratado e mal-representado, maiores evidências terá de estar realizando a obra em favor do Mestre, e assim mais proximidade precisará desenvolver com o Salvador. Em todas as suas dificuldades, seja calmo e tranqüilo, paciente e perdoador, não retribuindo mal por mal, antes devolvendo o mal com o bem. Olhe para o alto da escada. Deus ali está. Sua glória brilha sobre todos os que se estão dirigindo para o Céu. Jesus é a escada. Erga-se por meio dEle, agarre-se a Ele, e muito em breve terá galgado toda a escada e se encontrará no reino eterno. T8 130 3 Desejo que você receba o Céu. Não conheço qualquer outra pessoa que apreciaria tanto o Céu quanto você, que tem trabalhado de modo tão incansável para aliviar a humanidade sofredora, privando a si mesmo do sono, negligenciando sua alimentação, trazendo muito pouco deleite para a sua própria vida. Por vezes não parece existir muito brilho do sol em seu caminho, apenas uma longa e contínua sombra. As aflições que você testemunha, os dependentes mortais que esperam e almejam ajuda, os seus contatos com seres humanos depravados e corruptos -- essa experiência é de tal ordem que corrói a sua fé na humanidade. T8 131 1 Você precisa, sem dúvida, olhar para Jesus, mantendo seus olhos fixos na glória que irradia do alto da escada. Tão-somente por intermédio de Cristo pode você assegurar o Céu, onde tudo é pureza, santidade, paz e bênçãos, onde se encontram as glórias que nenhum lábio humano é capaz de descrever. O ponto mais avançado ao qual podemos chegar, quando se trata de descrever a recompensa que aguarda o vencedor, é dizer que ela constitui um muito mais excelente e eterno peso de glória. Será uma eternidade de felicidade, uma bendita eternidade, que desdobrará novas glórias ao longo de eras sem fim. T8 131 2 Você precisa estar ali. Não importa o que tenha de perder, determine-se a ganhar a vida eterna. Nunca se torne desencorajado. Muitas vezes tenho visto os braços eternos envolverem a sua pessoa, em momentos em que não parece compreender ou apreciar a grande condescendência dos Céus. Viva para Jesus. Você conseguirá trabalhar melhor no Sanatório se tiver a Jesus como o Médico-chefe. Busque sinceramente a coroa da vida. Torne o seu negócio servir a Deus. Valerá a pena, tanto nesta vida como na vindoura. Tenho um interesse tão grande por você e sua esposa, os quais amo no Senhor, quanto tenho por meus próprios filhos e a esposa de cada um deles. Almejo que você e a esposa estejam entre os redimidos, tomando parte na coroação de Cristo. Desejo ardentemente que você se torne mais que vencedor por meio dAquele que deu Sua vida por você. Por essa razão, querido irmão, falei-lhe de modo tão claro. Desejo sinceramente que você tenha uma eternidade de bênçãos! A posição que ocupa tem-se constituído numa prova. Tenho temido que você venha a perder a fé e a coragem. Você necessita crescer na graça e no conhecimento da verdade. Precisa aproximar-se mais de seus irmãos. Não importa o que sobrevenha, não perca a fé neles e em Cristo; apegue-se firmemente à verdade. T8 132 1 Resumo de uma carta escrita em Adelaide, Austrália, em 17 de Dezembro de 1892: T8 132 2 Meu irmão, você se defrontará com provas, mas mantenha-se firme em sua integridade. Jamais demonstre qualquer outro sentimento que não seja um espírito nobre. O universo celestial observa o conflito. Satanás vigia, ansioso por derrubar sua guarda, almejando ver você proceder de forma impetuosa, para que possa adquirir vantagem sobre você. Lute valentemente as batalhas do Senhor. Proceda exatamente da forma como Cristo faria se estivesse em seu lugar. Que não se observe incoerência em sua fé ou prática. Não permita que sua pessoa se exaspere pelas perturbadoras provações que constantemente estão a surgir. Mantenha a calma, pense em Jesus, e faça aquilo que Lhe agrada. A graça de Cristo e o Espírito Santo são dons de Deus para você, para que possa ser fortalecido com todo o poder no homem interior. ------------------------Capítulo 22 -- Centralização excessiva em Battle Creek T8 133 1 Aos administradores do Sanatório de Battle Creek: T8 133 2 Queridos irmãos: T8 133 3 Enquanto me encontrava em Petoskey, tive uma conversa com o médico-chefe de vocês, concernente ao estabelecimento de um lar para órfãos em Battle Creek. Disse-lhe que isso era exatamente o que necessitamos entre nosso povo, e que em empreendimentos como esse estávamos muito à frente de outras denominações. T8 133 4 Nessa minha conversa com ele, expressei o temor de que estejamos centralizando demasiadas responsabilidades em Battle Creek, e mantenho ainda a mesma opinião. É perigoso centralizar tanto numa só localidade. Grande volume de recursos é aplicado num mesmo lugar, ao passo que outras cidades são negligenciadas, as quais se tornarão mais e mais difíceis à penetração do trabalho. T8 133 5 Estive examinando meus escritos, e pude constatar que advertências quanto a esse erro foram enviadas há vários anos. Foi declarado com firmeza que os edifícios de Battle Creek não deveriam ser ampliados, que não se deveria acrescentar construções às instalações ali existentes. Fomos orientados a não acumular interesses em um mesmo lugar, antes ampliar a nossa esfera de ação. Corria-se o perigo de que Battle Creek se tornasse como a Jerusalém dos tempos antigos -- um centro poderoso. Se não prestarmos atenção a estes conselhos, os males que arruinaram Jerusalém nos sobrevirão. Orgulho, exaltação do eu, negligência dos pobres, e parcialidade para com os ricos -- foram esses os pecados de Jerusalém. Hoje, quando grandes interesses são erguidos num mesmo lugar, os obreiros sentem-se tentados a manifestar egoísmo e orgulho. Se cederem a essa tentação, não mais estarão laborando com Deus. Em vez de buscar aumentar nossas responsabilidades em Battle Creek, devemos brava e voluntariamente dividir nossas responsabilidades já existentes ali, distribuindo-as por vários lugares. T8 134 1 Somos "espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." 1 Coríntios 4:9. Nossa missão é a mesma que foi anunciada por Cristo, no início de Seu ministério, como sendo a Sua missão. Disse Ele: "O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor." Lucas 4:18-19. T8 134 2 Temos o dever de levar avante a obra colocada pelo Mestre em nossas mãos. Ele diz: "Se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam." Isaías 58:10-11. "Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra." Deuteronômio 15:11. "Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque essa é a lei e os profetas." Mateus 7:12. T8 134 3 Talvez sejamos tentados a manifestar cobiça, avareza, e a cultivar um insaciável desejo de receber mais. Se cedermos a essa tentação, trará ela sobre nós os mesmos perigos que recaíram sobre a antiga Jerusalém. Fracassaremos em conhecer a Deus e em representá-Lo em Seu verdadeiro caráter. Temos de vigiar atentamente a nós mesmos, não seja o caso de cairmos em virtude da descrença, tal como ocorreu aos judeus. Temos de trabalhar sem qualquer egoísmo. Necessitamos sentir um profundo interesse pelo estabelecimento e expansão de outras instituições, além daquelas sobre as quais temos supervisão. Eu desejaria sinceramente que o Sanatório estivesse a uma boa distância de Battle Creek. Pela luz que por Deus me foi outorgada, sei que isso seria melhor para a espiritualidade e utilidade da instituição. O colégio próximo a Lincoln, Nebraska, afastará um bom número de pessoas de Battle Creek, e isso é o que realmente tem de acontecer. A luz deve irradiar a partir de outros lugares, tanto quanto de Battle Creek. Deus designa que a luz brilhe de diferentes cidades e de várias localidades. T8 135 1 Centralizar tantas coisas num único lugar é um erro; favorece o egoísmo. Battle Creek está recebendo mais do que é capaz de compartilhar, em termos de vantagens. Se os importantes interesses ali estabelecidos se dividissem e subdividissem, outras igrejas seriam fortalecidas. Devemos trabalhar sem qualquer egoísmo na grande vinha do Senhor, dividindo o tempo, o dinheiro, os interesses educacionais, e os institutos ministeriais, de tal modo que um número tão grande quanto possível receba os benefícios. A ambição que leva os homens a centralizar tantas instalações em Battle Creek deve ser restringida, de modo que outros lugares possam ser abençoados com os benefícios que alguns planejaram deixar naquela cidade. Ao empreendermos tanto num só lugar, uma forma errada de educação está sendo provida ao povo. T8 135 2 Planejar tão amplamente em relação a Battle Creek não é sábio. O mundo é o nosso campo de atividades, e o dinheiro gasto nesse único lugar deveria ir muito mais longe, ajudando a desenvolver com sucesso uma obra agressiva em outras partes. Existem muitas cidades nas quais as pessoas necessitam da mensagem do evangelho. Em vez de termos tantos de nossos obreiros de talento centralizados em Battle Creek, homens de santificada habilidade deveriam ser designados para postos de atividade em diferentes locais. Tais homens deveriam demonstrar vivo interesse por outros lugares, estudando meios e modos pelos quais fazer avançar a obra. Não devem deixar-se levar por seu próprio juízo, antes devem unir-se na grande obra. De ano em ano, à medida que a obra se fortaleça nos lugares em que estão trabalhando, devem eles educar e treinar obreiros e enviar ajuda a outros lugares. Serviço desinteressado T8 135 3 Deve-se estabelecer um limite à expansão de nossas instituições em Battle Creek. O campo é o mundo, e Deus tem interesse por outras partes de Sua grande vinha. Existem igrejas e instituições que estão se desdobrando ao máximo, tentando sobreviver. Que as nossas instituições prósperas procurem formas de fortalecer a obra já existente, mas prestes a morrer. Quão facilmente poderia a grande igreja de Battle Creek destinar alguns de seus recursos para ajudar as igrejas pobres, que estão sendo quase esmagadas sob pesados débitos! Por que devem essas igrejas irmãs ser deixadas, ano após ano, a debater-se com a pobreza e dívidas? O egoísmo resulta em morte espiritual. Quão grande bem poderiam realizar nossas igrejas mais capacitadas se procurassem ajudar as igrejas-irmãs, para que elas possam alcançar uma condição de prosperidade! Auxílio aos necessitados T8 136 1 Como instrumentos de Deus, cumpre-nos ter coração de carne, cheio da caridade que nos leve a auxiliar aqueles que necessitam mais do que nós mesmos. Se virmos nossos irmãos e irmãs em luta com a pobreza e a dívida, caso vejamos igrejas necessitando de auxílio financeiro, devemos manifestar um desprendido interesse por eles e auxiliá-los na proporção em que Deus nos fez prosperar. Se os que são responsáveis por uma instituição virem outras instituições lutando corajosamente para se equilibrar, de maneira que possam fazer uma obra semelhante à da instituição à qual estão ligados, não sejam invejosos. T8 136 2 Não procurem afastar um elemento de trabalho, e exaltarem-se com uma superioridade agressiva. Antes reduzam alguns dos seus grandes planos e auxiliem os que estão lutando. Ajudem-nos a levar avante alguns dos planos para aumentar suas atividades. Não usem cada dólar para ampliar suas instalações e aumentar suas responsabilidades. Reservem parte dos meios para fundar instituições de saúde e escolas em outros lugares. Vocês necessitam de grande sabedoria para escolher exatamente onde colocar essas instituições, de maneira que o povo seja o mais beneficiado. Todos esses assuntos devem merecer sincera consideração. T8 137 1 Os que se acham em posições de responsabilidade necessitam de sabedoria do alto a fim de agir com justiça, amar a misericórdia e demonstrar interesse, não apenas a uns poucos, mas a todos com quem entrarem em contato. Cristo identifica Seus interesses com os de Seu povo, não importa quão pobre e necessitado seja ele. Devem ser fundadas missões para os negros e todos devem procurar fazer alguma coisa, e imediatamente. T8 137 2 Há necessidade de que sejam estabelecidas instituições em lugares diversos, para que homens e mulheres sejam postos em atividade e façam o seu melhor no temor de Deus. Ninguém deve perder de vista sua missão e obra. Devem todos ter em mira levar a bom termo a obra depositada em suas mãos. Todas as nossas instituições devem conservar isso em mente e esforçarem-se para obter sucesso; ao mesmo tempo, porém, devem elas lembrar-se de que seu sucesso aumentará na proporção em que exercerem desinteressada liberalidade, partilhando sua abundância com instituições que estão lutando para manter-se em pé. Nossas instituições prósperas devem auxiliar as instituições que Deus afirmou que devem viver e prosperar, mas que ainda estão lutando pela sobrevivência. Há entre nós uma parcela muito limitada de amor verdadeiro e desinteressado. Diz o Senhor: "E qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor." "Se nos amarmos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o Seu amor." 1 João 4:7, 8, 12. Não é agradável a Deus ver o homem a olhar exclusivamente para o que é propriamente seu, fechando os olhos aos interesses dos outros. O que uma instituição pode fazer por outra T8 137 3 Na providência de Deus o Sanatório de Battle Creek prosperou grandemente, e durante o ano vindouro os que cuidam dele devem restringir os seus projetos. Em lugar de fazerem tudo o que gostariam para aumentar as suas instalações, devem eles realizar trabalho desinteressado para Deus, estendendo a mão da beneficência aos interesses centralizados em outras partes. Que benefício não poderiam eles conceder ao Retiro Rural da Saúde, em Santa Helena, ao darem alguns milhares de dólares para este empreendimento! Tal donativo estimularia os que estão encarregados, inspirando-os a se movimentarem para frente e para o alto. T8 138 1 Foram feitas doações ao Sanatório de Battle Creek no início de sua história, e não deveria essa instituição considerar cuidadosamente o que fazer pela instituição irmã na Costa do Pacífico? Meus irmãos de Battle Creek, não parece estar de acordo com a ordem divina se restringirem a suas necessidades, diminuírem seus gastos com construções e não aumentarem as nossas instituições nesse centro? Por que não consideram ser um privilégio e dever auxiliar os que necessitam de ajuda? Reforma necessária T8 138 2 Fui instruída de que uma reforma é necessária em todos esses aspectos, a fim de que possa haver mais liberalidade entre nós. É constante o perigo de que mesmo os adventistas do sétimo dia sejam vencidos pela ambição egoísta e queiram concentrar todos os meios e energias nos interesses de cuja direção estão à frente de modo especial. Há o perigo de que os homens permitam que um sentimento de ciúme se desperte em seu coração e de que eles se tornem invejosos de interesses tão importantes quanto os que dirigem. Os que experimentam a graça do cristianismo puro não podem olhar com indiferentismo a qualquer parte da obra na grande vinha do Senhor. Aqueles que estão verdadeiramente convertidos demonstrarão igual interesse pela obra em todas as partes da vinha e estarão prontos para ajudar onde quer que haja necessidade de auxílio. T8 138 3 É o egoísmo que impede os homens de enviar auxílio aos lugares em que a obra de Deus não é tão próspera quanto as instituições sobre as quais eles mantêm supervisão. Os que têm responsabilidades devem cuidadosamente buscar o bem-estar de cada ramo da causa e obra de Deus. T8 139 1 Devem incentivar e manter os interesses dos outros campos, tanto quanto os interesses do seu próprio. Assim os laços da fraternidade serão fortalecidos entre os membros da família de Deus na Terra e se fecharão as portas às rivalidades e aos ressentimentos mesquinhos que a posição e a prosperidade certamente despertarão, a não ser que a graça de Deus controle o coração. T8 139 2 "E digo isto", escreve Paulo, "que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra. ... Para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus. Porque a administração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também abunda em muitas graças, que se dão a Deus. Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão que confessais quanto ao evangelho de Cristo, e pela liberalidade de vossos dons para com eles, e para com todos; e pela sua oração por vós, tendo de vós saudades, por causa da excelente graça de Deus que em vós há. Graças a Deus pois pelo Seu dom inefável." 2 Coríntios 9:6-8, 11-15. O princípio da fraternidade T8 139 3 A lei de Deus só é cumprida quando as pessoas O amam com todo o coração, mente, espírito e força, bem como a seu próximo como a si mesmas. É a manifestação desse amor que glorifica a Deus nas maiores alturas, e na Terra promove a paz e a boa vontade entre os homens. O Senhor é glorificado quando o grande objetivo de Sua lei é alcançado. A obra do Espírito Santo através do tempos é impregnar de amor o coração das pessoas, pois o amor é o princípio vivo da fraternidade. T8 139 4 Nenhum recanto da alma deve abrigar uma ponta de egoísmo. T8 140 1 Deus deseja que os planos do Céu sejam postos em execução, e que a divina ordem e harmonia celestial prevaleçam em cada família, em cada igreja, em cada instituição. Fosse esse amor deixado a fermentar a sociedade, e veríamos a operação de nobres princípios em refinamento, cortesia cristã e em caridade para com aqueles que foram adquiridos pelo sangue de Cristo. Uma transformação espiritual seria notada em todas as nossas famílias, instituições e igrejas. Quando essa transformação ocorrer, todas as agências se tornarão instrumentos pelos quais Deus repartirá luz do Céu ao mundo e assim, mediante divina educação e disciplina, capacitará homens e mulheres para a sociedade do Céu. T8 140 2 Jesus foi aprontar mansões para os que se estão preparando, mediante Seu amor e graça, para as habitações de bem-aventurança. Na família de Deus, no Céu, não será encontrada uma única pessoa egoísta. A paz e harmonia das cortes celestiais não serão perturbadas pela presença de alguém que seja rude ou indelicado. Aquele que, neste mundo, exalta o eu na tarefa que lhe é dada realizar, jamais verá o reino de Deus, a menos que modifique seu espírito, a não ser que se torne meigo e suave, revelando a simplicidade de uma pequena criança. O único caminho seguro T8 140 3 Aqueles que ocupam posições de responsabilidade em nossas instituições deveriam buscar diariamente o caminho do Senhor. Não deveriam sentir-se qualificados a escolher seu próprio modo de ação; se assim fizerem, andarão à luz das centelhas produzidas por sua própria candeia. Somente Deus deve ser o seu guia. Os que estão em busca de uma esfera mais ampla, que desejam possuir liberdade mais extensa do que Deus indica, os que fracassam em torná-Lo seu conselheiro, sua sabedoria, sua santificação e sua justiça, jamais herdarão a coroa da vida. Dia após dia, a alma necessita da religião de Cristo. Aqueles que se abeberam profundamente do Espírito Santo não terão ambições em relação a si próprios. Terão consciência de que não devem ultrapassar os domínios de Deus, pois Ele reina em toda a parte. T8 141 1 Aquele que se sente plenamente satisfeito em receber sua comissão do alto, será animado pelas promessas de Deus sempre que buscar a prática da justiça e do correto julgamento. Possuir inabalável confiança em Deus, ser um praticante de Sua vontade, é perseguir um curso seguro de ação. O conselho de Deus simplifica as perplexidades das transações comerciais e dos afazeres domésticos. Os seguidores de Cristo cujos olhos sempre focalizam a glória de Deus possuirão sabedoria celestial. Constitui, entretanto, um doloroso fato que em nossas igrejas e instituições ocorre grande falta de genuíno cristianismo. Queira o Senhor ajudar os que assumem responsabilidades a se unirem uns aos outros no trabalho, tornando-se todos colaboradores de Deus. T8 141 2 Cristo disse aos discípulos: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Assim, quão importante é que cada pessoa mantenha sua luz acesa e radiante, para que possa iluminar a todos com os quais entra em contato. Deus tornou Seu povo o depositário de Sua sagrada verdade. Os talentos lhes foram concedidos a fim de serem sabiamente aperfeiçoados, pois Deus designa que, através de constante uso, sejam multiplicados os talentos. O perigo da expansão T8 141 3 Meus irmãos, a ampliação de suas instalações, o aumento no número de membros, não está sendo feito de acordo com a ordem do Senhor. Grandes construções exigem grandes investimentos, e grandes gastos reclamam homens de boa educação e talento, assim como homens de profunda experiência religiosa, para conduzir essas instituições de acordo com a vontade de Deus; manejá-las com tato e habilidade demanda que ocorra um aumento geral da experiência espiritual, que o temor de Deus circule por todo o Sanatório, de modo que o patrocínio segundo o modelo mundano não amoldará nem determinará como devem ser as coisas em nosso meio, levando a instituição a deixar de ser o que Deus designou que fosse -- um refúgio para o pobre e oprimido. Os que se apegam firmemente à verdade não deveriam ser postos de lado em benefício dos mundanos. Os preços não deveriam ser colocados em nível tão elevado, a ponto de os pobres, que representam uma grande proporção, venham a ser excluídos dos benefícios do Sanatório. T8 142 1 Com o presente conjunto de talentos e instalações, é impossível que o médico-chefe realize tudo que é essencial nos vários ramos de atividade e departamentos, por mais que deseje fazê-lo. Não lhe é possível oferecer supervisão pessoal a todas as partes do trabalho. T8 142 2 Essa questão tem sido aberta diante de mim vez após outra. Ao passo que ocorre um contínuo crescimento da instituição, ao mesmo tempo que os edifícios estão sendo ampliados, não ocorre um correspondente acréscimo nos talentos e capacidade necessários para a administração de tão grande empreendimento. Porventura considerarão o médico-chefe e os demais membros do comitê diretivo essa questão? Meu irmão, você não é imortal. Agradeço a Deus que você seja tão sábio no tocante a sua saúde quanto o é. Mas não lhe será possível prosseguir sempre e sempre atuando do modo como agora o faz. Sua saúde poderá falhar. Sua vida é incerta, e foi-me mostrado que deveria existir no Sanatório uma equipe de trabalho três vezes maior do que aquela que hoje existe. Mesmo assim, os obreiros teriam uma quantidade excessiva de tarefas a realizar, desde que as desejassem fazer bem-feitas. A questão dos salários T8 142 3 A instituição está agora em boas condições, e seus dirigentes não devem insistir em manter os baixos níveis dos salários, como em seus primeiros anos. Os obreiros dignos e eficientes devem receber salários justos pelo seu trabalho, e se lhes deve permitir exercer o seu próprio juízo quanto ao uso que devem fazer dos seus proventos. Em caso algum devem eles ser sobrecarregados. Os próprio médico-chefe deve receber maiores salários. T8 142 4 Desejo dizer ao médico-chefe: Embora não tenha o assunto dos salários sob sua supervisão pessoal, é melhor que atente cuidadosamente para esse problema; pois é de sua responsabilidade, como líder da instituição. Não imponha aos obreiros tantos sacrifícios. Restrinja sua ambição de aumentar a instituição e acumular responsabilidades. Permita que alguns dos meios que fluem para o sanatório sejam canalizados para as instituições que necessitam de auxílio. Com certeza será melhor assim. Está de acordo com a vontade e a direção divinas, e trará a bênção de Deus ao sanatório. T8 143 1 Desejo dizer particularmente ao conselho de diretores: "Lembrem-se de que os obreiros devem ser pagos de acordo com a sua fidelidade. Deus deseja que tratemos os outros com a mais absoluta fidelidade. Alguns de vocês estão sobrecarregados de cuidados e responsabilidades, e fui instruída de que há o perigo de se tornarem egoístas e injustos para com aqueles a quem empregam." T8 143 2 Cada transação comercial, quer seja realizada com um obreiro que ocupe posição de responsabilidade, quer com o mais humilde obreiro relacionado com o sanatório, deve ser tal que Deus possa aprovar. Devemos andar na luz enquanto há luz, para que as trevas não nos alcancem. Será muito melhor gastar menos em construções, e dar aos obreiros salários que correspondam ao valor do seu trabalho, tratando-os com misericórdia e justiça. T8 143 3 De acordo com a luz que o Senhor me concedeu, sei que Ele não está contente com muitas coisas que têm ocorrido com referência aos nossos obreiros. Deus não me revelou cada aspecto, mas têm vindo advertências de que em muitas coisas é necessário decidida reforma. Foi-me mostrado que há necessidade de que pais e mães em Israel estejam unidos com a instituição. Devem ser empregados homens e mulheres consagrados que, por não se acharem constantemente opressos por cuidados e responsabilidades, possam zelar pelo interesse espiritual dos empregados. É necessário que tais homens e mulheres estejam constantemente em atividade nos setores missionários dessa grande instituição. Não está sendo feito nem metade do que poderia ser realizado nesse sentido. Deve ser função desses homens e mulheres trabalhar pelos que estão empregados nas fileiras espirituais, dando-lhes instrução que lhes ensine a ganhar almas, mostrando-lhes que isso deve ser feito não pelo muito falar, mas por uma vida coerente e semelhante à de Cristo. Os obreiros estão expostos a influências mundanas, mas em vez de serem moldados por essas influências, devem ser consagrados missionários, controlados por uma influência que eleva e aprimora. Dessa forma aprenderão a ir ao encontro dos descrentes e a exercer uma influência que, os conquistará para Cristo. T8 144 1 Resumo de uma carta escrita em Cooranbong, Austrália, em 28 de Agosto de 1895 T8 144 2 Deus tem uma obra para cada pessoa que trabalha no sanatório. Cada enfermeiro deve ser um conduto de bênção, recebendo iluminação do alto e deixando-a brilhar sobre os outros. Os obreiros não devem ser influenciados pelos modismos dos que procuram o sanatório em busca de tratamento, mas devem consagrar-se a Deus. A atmosfera que os circunda deve ser um cheiro de vida para a vida. As tentações os assediarão de todos os lados, mas eles devem pedir a Deus Sua presença e guia. Disse o Senhor a Moisés: "Certamente Eu serei contigo" (Êxodo 3:12); e a todo obreiro fiel e consagrado é dada a mesma certeza. ------------------------Capítulo 23 -- Dirijam-se a muitos lugares T8 145 1 A Um Médico em Battle Creek: T8 145 2 Querido irmão: T8 145 3 Recebi suas cartas ontem, e li-as com profundo interesse. Sempre me sinto alegre em poder ouvir falar de você, de sua família, e da instituição da qual o irmão assume responsabilidades de caráter incomum. Sua única segurança encontra-se em obedecer a palavra do Senhor, em andar na luz de Sua face. O inimigo está buscando continuamente encontrar métodos pelos quais consiga apanhar-nos de surpresa, de modo que temos de prestar estrita atenção às advertências apresentadas por Deus. T8 145 4 Se aqueles que no passado sustentaram o estandarte no trabalho de Deus houvessem andado nas linhas que Ele delimitou e O honrado melhor, teriam alcançado mais ampla utilidade. Alguns cujas vozes agora se encontram silenciadas pela morte poderiam haver vivido para advertir, orientar e aconselhar. Se aqueles que nos anos passados receberam em comissão a grande responsabilidade houvessem prestado atenção às advertências e recomendações do Espírito de Deus, estariam agora andando em Sua presença em fortaleza e eficiência. Quando os homens educam outros para que repousem sobre si mesmos e em si mesmos confiem, quando, pela pena e pela voz, ditam aos outros o que eles devem fazer, na verdade estão orientando aos outros no sentido de fazerem da carne o seu braço, a darem glória a seres humanos em vez de a Deus. T8 145 5 Estamos seguros somente quando exaltamos a Cristo, falando no louvor de Sua excelência. Diz o profeta Isaías: "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do incremento deste principado e da paz, não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto." Isaías 9:6-7. T8 146 1 Existe o perigo de que homens recebam o conselho de homens, e ao assim procederem recusem o conselho do Senhor. Oh, quantas lições precisam todos aprender antes de reconhecerem que Deus não vê como o homem! Diz o Senhor: "Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos... Porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos." Isaías 55:8, 9. A menos que haja decidida reforma entre o povo de Deus, Ele apartará deles a Sua face. T8 146 2 Meu irmão, existe a necessidade de constante vigilância, do contrário se acumularão em Battle Creek construções sobre construções, e vantagens serão acrescidas a vantagens. Os meios assim empregados os condenarão. Você deve colocar em operação planos sábios, espalhando a influência centralizada em Battle Creek, e assim difundindo a luz que Deus lhe concedeu. Benditos aqueles que semeiam junto a todas as águas. Quanto mais for investido em Battle Creek, maior será a demanda de investimentos adicionais. Essa, porém, não é a ordem de Deus, e antes que muito tempo transcorra, o erro de se centralizar tantos interesses em Battle Creek tornar-se-á evidente. T8 146 3 Ao se acrescentar edifício a edifício em Battle Creek, estamos estimulando a negligência em relação a outros lugares. Superabundantes vantagens ali significam destituição de meios noutras partes. Essas são roubadas dos meios que deveriam receber. Recursos devem ser investidos em outros campos, na conquista de pessoas para a verdade, e também para prover casas de adoração para esses crentes. T8 146 4 Deus tem destacado o fato de que é dever dos que vivem em Battle Creek ajudar Suas instituições em outros lugares. Como sábio mordomo, deveria você aplicar as suas forças, usando o poder de sua influência para ajudar os que não têm melhor conhecimento de Deus. Necessidade de planos mais amplos T8 147 1 Quantas vilas e cidades estão sendo completamente negligenciadas! Nosso povo está se prejudicando ao amontoar-se em um só lugar. Quando as árvores, num bosque, estão muito próximas umas às outras, não conseguem crescer de modo saudável e fortes. Transplantem as árvores de seu bosque apinhado. Deus não é glorificado quando tantas vantagens se centralizam num só lugar. Provejam espaço. Coloquem suas plantas em muitos lugares, onde uma não ficará dependente de outra. Dêem-lhes espaço para que cresçam. É isso que o Senhor deseja de vocês. T8 147 2 Os meios gastos na ampliação das vantagens em Battle Creek, que se encontram superdimensionadas e já ultrapassaram os limites razoáveis, deveriam ser empregados no estabelecimento de postos missionários em outros lugares. Vocês precisam ampliar seus planos e alargar o seu campo de operações. Vocês deveriam enviar homens sábios às cidades e vilas que ainda não receberam a mensagem do evangelho. Escolham os melhores homens que puderem, e dêem-lhes a oportunidade de se tornarem guardadores de almas e carregadores de seus fardos. Que eles tenham a oportunidade de desenvolver os talentos que no passado estiveram ociosos. Coloquem-nos onde possam utilizar as habilidades que Deus lhes outorgou, no chamado de pecadores ao arrependimento. Que tais homens, depois de demonstrarem que amam ao Senhor, tenham a chance de realizar alguma coisa por Ele. T8 147 3 Que os homens aprendam a orar com sinceridade, e que tais orações tenham um objetivo definido. Aprendam eles a falar do Redentor do mundo, erguendo mais e mais alto o Homem do Calvário. T8 147 4 Toda a pregação realizada no mundo não fará os homens sentirem mais profundamente a necessidade de salvação das pessoas que perecem a seu redor. Coisa alguma despertará tão poderosamente em homens e mulheres um senso de sacrifício e zelo, quanto enviá-los a novos campos, para trabalharem em favor dos que se acham em escuridão. Preparem obreiros para irem aos caminhos e valados. Não chamem homens e mulheres para os grandes centros, estimulando-os a deixarem as igrejas que necessitam de sua ajuda. As pessoas precisam aprender a assumir responsabilidades. Nem um dentre cem, em nosso meio, está fazendo muito mais do que empenhar-se em atividades comuns, seculares. Não estamos nem meio despertos em relação ao valor das pessoas pelas quais Cristo morreu. T8 148 1 Necessitamos de jardineiros sábios, que transplantem árvores para diferentes localidades, dando-lhes assim vantagens que as habilitarão a crescer. É positivo dever do povo de Deus ir para as outras regiões. Ponham-se em operação forças para preparar novo terreno, fundar novos centros de influência onde quer que se encontre uma oportunidade. Escolham-se obreiros que possuam verdadeiro zelo missionário, e saiam eles a difundir luz e conhecimento, perto e longe. Levem eles os vivos princípios da reforma de saúde para as localidades que, em grande parte, ignoram esses princípios. Formem-se classes, e dêem-se instruções acerca do tratamento de doenças. T8 148 2 É bem verdade que por meio da influência do Sanatório a verdade celestial chegou a ser percebida por milhares. Existe, contudo, a ser feita uma obra até aqui negligenciada. Dinheiro tem sido gasto na ampliação das instalações em Battle Creek, quando o Senhor deseja que o fermento seja introduzido na massa de farinha, para que toda ela seja levedada. Em vez de acrescentar construção a construção no Sanatório, deveríamos ter atualmente várias instituições plenamente equipadas e em boas condições operacionais em outros lugares. T8 148 3 Existem homens, há muito tempo vinculados ao Sanatório, que sempre se constituirão em sombras de outros homens se ali permanecerem; eles poderiam, se lhes fosse permitido exercer seu próprio julgamento, tornar-se pensadores confiáveis, capazes de oferecer bom conselho. Que tais homens tenham a chance de aprender a arcar com responsabilidades no poder de Deus. Assim obterão experiência que os capacitará a compartilhar a verdade com outros. T8 149 1 Entretanto, em lugar de afastar homens de Battle Creek, conforme têm destacado os testemunhos enviados por Deus, milhares de dólares têm sido dedicados a ampliar as instituições e aumentar as instalações em Battle Creek. E desse lugar vêm os clamores por maiores conveniências e mais obreiros. Precisa ocorrer uma profunda mudança. T8 149 2 Sentimo-nos animados ao ver a obra que está sendo realizada em Chicago e em outros poucos lugares. Faz anos que as grandes responsabilidades centralizadas em Battle Creek deveriam haver-se distribuído. Talvez você contemple com satisfação o grande crescimento do Sanatório de Battle Creek, mas Deus não vê isso com o mesmo olhar de aprovação. Se houvessem sido erguidas instituições em outros lugares, se responsabilidades houvessem sido atribuídas a homens, hoje teríamos muito maior força, muito maior eficiência em nosso trabalho, e ainda estaríamos muito mais de acordo com a mente e a vontade de Deus do que estamos. Da forma como está, uns poucos homens estão carregando pesadas responsabilidades. Poucos exercem uma influência que se torna um poder controlador na administração do trabalho em todos os lugares, ao passo que existem muitos que não assumem responsabilidades. T8 149 3 Muitos dos que têm pesadas responsabilidades estão sob a necessidade de se converterem. Cristo diz a eles, tal como o fez com Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo." "Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus." João 3:7, 3. Muitos são controlados por um espírito não cristão. Ainda não aprenderam na escola de Cristo, de Sua bondade e mansidão, e a menos que se modifiquem, cederão às tentações de Satanás. Ano após ano, levam eles sobre si sagradas responsabilidades, embora demonstrando-se incapazes de distinguir entre o sagrado e o profano. Por quanto tempo deverão tais homens prosseguir exercendo uma influência controladora? Por quanto tempo se permitirá que suas palavras exaltem ou lancem ao pó, condenem ou ergam? Por quanto tempo conservarão um poder tal, que ninguém seja capaz de atrever-se a modificar seus métodos? Construção de novos centros T8 150 1 As pessoas são estimuladas a se estabelecer em Battle Creek, oferecendo assim sua influência para a construção de uma moderna Jerusalém. Isso não está de acordo com a vontade de Deus. Desse modo, outros lugares são privados das instalações que deveriam abrigar. Ampliem seus espaços; espalhem-se; sim, mas jamais em um único lugar. Vão estabelecer outros centros de influência em lugares onde nada, ou quase nada, tem sido realizado. Rompam essa massa consolidada. Difundam os salvadores raios de luz, levando-os aos cantos escuros da Terra. Precisa ser realizada uma obra semelhante à da águia que alvoroça a sua ninhada. T8 150 2 "Despreocupado esteve Moabe desde a sua mocidade e tem repousado nas fezes do seu vinho; não foi mudado de vasilha para vasilha, nem foi para o cativeiro; por isso, conservou o seu sabor, e o seu aroma não se alterou." Jeremias 48:11. Isso é verdade em relação a muitos dos crentes que estão vindo para Battle Creek. Muitos desenvolvem um zelo espasmódico na batalha, mas sua luz é semelhante a um meteoro que risca os céus em sua luz e em seguida se apaga. T8 150 3 Que os obreiros de Deus, em cujo coração se acham os interesses de Sua obra, façam alguma coisa em favor das pessoas negras, no campo sulista. Que os mordomos de Deus não estejam satisfeitos em meramente tocar esse campo com a ponta dos dedos. Que os que se encontram no centro do trabalho planejem honestamente em favor desse campo. Muitos têm falado a seu respeito, mas o que estão eles realizando como mordomos dos meios de Deus? Por que se sentem na liberdade de amarrar o capital divino a Battle Creek? Por que fazem eles exatamente as coisas que foram instruídos a não fazer? O assunto está se tornando sério; isso porque as advertências e ameaças têm sido em vão. Os braços do poder de Battle Creek estão-se estendendo mais e mais, procurando controlar a obra perto e longe, e a destruir aquilo que não conseguem controlar! Ergo a voz em protesto. O espírito que agora está no comando não é o Espírito do Senhor! T8 151 1 Deus tem abençoado Battle Creek vez após outra, derramando Seu Espírito sobre a igreja e os obreiros, mas quão poucos têm acariciado a influência do Espírito! Quão poucos têm gasto seu dinheiro do modo como Deus determinou! Meios têm sido empregados para educar os que já conhecem a verdade, enquanto campos que se encontram na mais completa escuridão têm sido negligenciados. Houvessem os ministros saído conforme Cristo lhes ordenou, houvessem eles utilizado os talentos que lhes foram confiados em favor dos que se acham na escuridão, haveriam eles obtido muito mais amplo conhecimento de Deus e de Cristo, do que obtiveram ao buscarem educação adicional em nossas escolas. Fracasso em apreciar as responsabilidades T8 151 2 Não nos concedeu o Senhor uma obra a realizar? Não nos suplicou Ele que fôssemos enfrentar as influências opositoras para converter homens do erro à verdade? Por que essas pessoas que tão freqüentemente se reúnem em assembléias em Battle Creek não colocaram em prática a verdade que ouviram? Se houvessem compartilhado a luz que receberam, que transformação de caráter não se haveria observado! Para cada graça compartilhada, Deus oferece nova graça. Não prezaram a obra por eles realizada como deveriam haver feito, do contrário haver-se-iam dirigido aos lugares escuros da Terra, a fim de espalhar a luz. Haveriam apresentado ao mundo a mensagem da justificação pela fé, de modo que sua própria luz se haveria tornado mais e mais clara; pois Deus haveria operado com eles. Muitos têm descido à sepultura em erro, pelo fato de que aqueles que conhecem a verdade fracassaram em comunicar o precioso conhecimento que receberam. Se a luz que tão fortemente brilhou em Battle Creek houvesse sido difundida, muitos haveriam se erguido para se tornarem colaboradores de Deus. T8 151 3 Oh, que nossos irmãos e irmãs valorizem corretamente a verdade! Oh, que se tornem santificados por ela! Oh, que se apercebam de que sobre eles repousa a responsabilidade de comunicarem essa verdade a outros! Mas eles não sentem a importância de viver a verdade, de serem cumpridores das palavras de Cristo. Muitos são auto-suficientes. Não estão imbuídos do espírito missionário que deveria animar os discípulos de Cristo. Se soubessem o que significa suportar dores de parto pela salvação de outros, anjos de Deus operariam por intermédio deles a fim de comunicar o conhecimento da verdade. Conheceriam a verdade, e esta os libertaria. O dinheiro não mais seria gasto em expandir os edifícios em um lugar, antes seria empregado para abrir novos campos, e em plantar o estandarte da verdade em cidades que ainda não foram trabalhadas. Os princípios purificadores e enobrecedores do Céu seriam introduzidos na sociedade, e funcionariam qual fermento. T8 152 1 Resumo de uma carta de 1899, escrita enquanto ela se encontrava em Cooranbong, Austrália T8 152 2 É desígnio de Deus que os campos que possuem abundantes facilidades compartilhem suas vantagens com campos mais necessitados. Esse princípio deve ser sempre seguido em todas as nossas instituições. Deus quer que existam menos planos de construções em lugares onde a obra já se encontra estabelecida, e que os meios sejam enviados a campos onde, por falta de recursos, os obreiros estão labutando em grande desvantagem. ------------------------Capítulo 24 -- O propósito de Deus para suas instituições Ao Superintendente Médico de Uma Grande Instituição T8 153 1 Querido irmão: T8 153 2 Toda instituição que traz sobre si o nome "Adventista do Sétimo Dia", deve ser para o mundo aquilo que José representou para o Egito, ou aquilo que Daniel e seus companheiros significaram para Babilônia. Sob a providência de Deus, esses homens foram conduzidos cativos, a fim de poderem levar a nações pagãs o conhecimento do verdadeiro Deus. Deviam ser representantes de Deus em nosso mundo. Não deveriam estabelecer qualquer compromisso com as nações idólatras com as quais entrassem em contato, antes precisavam permanecer leais à fé, considerando como especial honra o nome de adoradores do Deus que criou os Céus e a Terra. Esses jovens permaneceram fiéis ao princípio. Viveram em íntima ligação com Deus, honrando-O em todos os seus caminhos, e Ele também os honrou. Ele era a sua sabedoria. Deu-lhes conhecimento e compreensão. T8 153 3 Nos dias de hoje o povo remanescente de Deus deve glorificar Seu nome através da proclamação da última mensagem de advertência, o último convite para a ceia das bodas do Cordeiro. A única forma pela qual podem preencher as expectativas divinas é sendo representantes da verdade para este tempo. T8 153 4 O Senhor tem operado através de agentes humanos para o cumprimento das profecias. Tem Ele feito com que a verdade eterna e sagrada se apresente bem clara entre as heresias e enganos que Cristo declarou que haveriam de existir nestes últimos dias. T8 153 5 Meu irmão, você está situado num ponto em que pode ser um representante da verdade para o tempo presente. Mantenha-se junto ao Grande Mestre. Vi você erguendo bem alto uma bandeira em que estava escrito: "Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. Vários homens, alguns dos quais se acham ligados a você na obra do Sanatório, sustentavam diante de você uma bandeira com inscrições diferentes. Você estava deixando de lado a bandeira dos adventistas do sétimo dia e dirigindo-se a esse grupo, para apanhar a bandeira que lhe era apresentada. Uma pessoa de grande dignidade aproximou-se de você e, com profunda sinceridade, disse: T8 154 1 "E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina; e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados. Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:7-9. Vi então a sua mão agarrar firmemente a bandeira genuína, e foram pronunciadas estas palavras encorajadoras: "Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos." Apocalipse 19:7, 8. T8 154 2 Fui instruída de que você e seus colaboradores se encontravam sob o perigo de ocultar os princípios de sua fé, de modo a conseguirem obter maior patrocínio. Qualquer pequeno movimento nesse sentido, em vez de estender a influência da verdade, logrará retardar o seu avanço. T8 154 3 Você e seus associados no Sanatório necessitam constantemente de um piloto, do contrário naufragarão. Certamente você precisa compreender o seu perigo. Satanás encontra-se realizando todo esforço possível para levar você a caminhos estranhos. Deus o tem fortalecido. Sua vida precisa ser santificada pela verdade, para que você permaneça firmemente ligado à verdade e todos vejam isso. Quanto mais plenamente a sua vida desajudada depender de Deus, quanto mais plenamente você fizer dEle a sua confiança, mais faminto você se sentirá do pão da vida. T8 155 1 Deus precisa ser reconhecido e honrado pelo povo que a si mesmo se identifica como os adventistas do sétimo dia. No passado, para a glória de Deus, foi a verdade proclamada através de convincente poder pelos médicos e auxiliares do sanatório. Deus não aceitará menos que isso de você, ao contrário, esperará muito mais. Você e seus associados devem trabalhar com fé e firmeza, a fim de evitar declínio e assegurar progresso. Não deve ocorrer um estreitamento do trabalho, nenhuma ocultação dos princípios da verdade; deve acontecer uma ampliação na base das operações. Muitos estabelecimentos devem ser erguidos em diferentes lugares. Há necessidade de obreiros com maior zelo, mais fé, maior influência, mais atividade e maior espiritualidade. T8 155 2 Lembre-se você de que está trabalhando para o tempo e a eternidade. Anjos celestiais estão comissionados a cooperar com seus esforços para a salvação das pessoas. Esforços mais intensos devem ser feitos para estabelecer a verdade em várias localidades. E não deve ocorrer a ocultação de nenhuma parte de nossa mensagem. A verdade para este tempo precisa ser levada às pessoas prestes a perecer. Aqueles que, de algum modo, ocultam a verdade estão desonrando a Deus. Sobre as suas vestes estará o sangue dos perdidos. O propósito de Deus para os sanatórios T8 155 3 O Sanatório de Battle Creek é um vasto campo missionário. Deus tem movido as pessoas a virem a essa instituição em busca de alívio do sofrimento físico. Requer que tudo aquilo que se vincula ao sanatório seja de tal ordem que Ele possa aprovar. T8 155 4 Ele Se agradaria de que uma capela fosse edificada em relação com o Sanatório, de modo que aqueles que visitam a instituição pudessem ter a oportunidade de ouvir por si mesmos a verdade conforme é em Jesus. O precioso evangelho deve ser-lhes apresentado, não em estilo fraco, vacilante, antes em tons fortes e cálidos. À medida que se torne claro que a semelhança com Deus é necessária à salvação, as peculiaridades de nossa fé aparecerão, distinguindo-nos do mundo. Contudo, nenhuma cruzada deve ser empreendida contra as doutrinas sustentadas por outras denominações. Em nossa associação com os mundanos, devemos recomendar nossa fé por intermédio de como vivemos, em genuína modéstia, os princípios do cristianismo. O valor do estudo da palavra de Deus T8 156 1 Se os estudantes de medicina estudarem diligentemente a Palavra de Deus, estarão melhor capacitados para a compreensão de seus outros estudos; pois do estudo fervoroso da Palavra de Deus sempre advém esclarecimento. Compreendam os nossos obreiros médico-missionários que quanto mais se familiarizarem com Deus e com Cristo, e quanto mais se familiarizarem com a história bíblica, mais bem preparados estarão para fazer o seu trabalho. T8 156 2 Devem os estudantes de nossas escolas aspirar ao mais elevado saber. Nenhuma outra coisa, mais do que o estudo das Escrituras, os ajudará a adquirir boa memória. Nada os ajudará tanto na compreensão dos outros estudos. T8 156 3 Se os descrentes quiserem matricular-se em seus cursos de médicos-missionários, e parecer que não exercerão influência que afastará da verdade os outros estudantes, conceda-lhes uma oportunidade. Dentre eles poderão surgir alguns dos melhores missionários. Eles nunca ouviram a verdade e, ao serem postos onde ficam circundados de uma influência que revela o espírito do Mestre, alguns serão ganhos para a verdade. Nos estudos ministrados não deve haver omissão de um único princípio da verdade bíblica. Se a presença em nossas classes dos que são alheios à nossa fé levar a silenciarem-se os grandes temas que interessam ao nosso bem presente e eterno -- temas que devem sempre ser mantidos em mente -- então esses alunos não devem ser admitidos. Em caso algum devem os princípios ser sacrificados ou encobertas as características peculiares à nossa fé, com o propósito de admitir em nossos cursos estudantes externos. T8 157 1 À frente de nossas classes bíblicas devem ser postos professores fiéis, que se esforcem por fazer os estudantes compreender as lições, não lhes explicando tudo, mas pedindo que expliquem com clareza cada texto que lêem. Lembrem esses professores que pouco proveito será alcançado com apenas roçar de leve a superfície da Palavra. Pesquisa atenta e estudo aplicado e esforçado são necessários para que essa Palavra seja compreendida. Há na Palavra verdades que, qual veios de ouro precioso, estão ocultos sob a superfície. O tesouro escondido é descoberto ao ser buscado, assim como o mineiro busca o ouro e a prata. A prova da verdade da Palavra de Deus é encontrada nela própria. As Escrituras são a chave que abre as Escrituras. O significado profundo das verdades da Palavra de Deus é-nos desvendado à mente por Seu Espírito. T8 157 2 A Bíblia é o grande manual para os alunos das nossas escolas. Ela ensina a completa vontade de Deus para os filhos e filhas de Adão. É a regra de vida, para nos ensinar o caráter que precisamos formar para a vida futura. Não carecemos da pálida luz da verdade para tornar compreensíveis as Escrituras. Semelhantemente poderíamos supor que o Sol do meio-dia necessitasse da singela contribuição da Terra para aumentar-lhe o brilho. As pregações de sacerdotes e ministros não são necessárias para salvar do erro as pessoas. Os que consultam a Escritura terão percepção. Na Bíblia, todo dever é esclarecido. Toda lição dada é compreensível. Cada lição nos revela o Pai e o Filho. A Palavra é capaz de fazer-nos sábios para a salvação. Na Palavra, a ciência da salvação é claramente revelada. Pesquisemos as Escrituras; pois elas são a voz de Deus falando ao coração. ------------------------Capítulo 25 -- O propósito de Deus na obra médico-missionária T8 158 1 Prezado irmão: T8 158 2 Foi-me concedido esclarecimento especial de que você está em perigo de perder a visão da obra para este tempo. Está levantando barreiras para separar da igreja o seu trabalho e os que está instruindo. Isso não deve acontecer. Os que estão recebendo instrução em setores médico-missionários devem ser levados a perceber que sua educação deve prepará-los para fazer a melhor obra em conexão com os ministros de Deus. Meu irmão, deve se lembrar de que o Senhor tem na Terra um povo a quem Ele respeita. Suas palavras, porém, e a maneira como são muitas vezes pronunciadas, criam a descrença na posição que ocupamos como um povo. Há o perigo de deixar de manter firme a fé que uma vez foi entregue aos santos, de naufragar na fé. Foram pronunciadas as palavras: "Um pequenino rombo fará afundar um navio. Um elo defeituoso torna a corrente sem valor." Preparar médicos-missionários T8 158 2 Meu irmão, lembre-se de que a obra médico-missionária não deve tirar os homens do ministério, mas deve colocar os homens no campo, mais qualificados para ministrar em virtude de seu conhecimento da obra médico-missionária. Os jovens devem receber instrução em questões médico-missionárias e depois sair para se juntarem com os pastores. Não devem ser influenciados a se entregarem exclusivamente à obra de resgatar os caídos e degradados. Essa obra se encontra em toda a parte, e deve ser combinada com o trabalho de preparar um povo para tornar as verdades da Bíblia sua defesa contra os sofismas dos mundanos e da igreja caída. O terceiro anjo deve sair com grande poder. Que ninguém ignore essa obra ou a considere de pouca importância. A verdade deve ser proclamada ao mundo, para que os homens e as mulheres possam ver a luz. Nossa obra para hoje T8 159 1 Que diz o Senhor no capítulo cinqüenta e oito de Isaías? Todo o capítulo é da mais alta importância. "Porventura não é este o jejum que escolhi?" pergunta Deus, "que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? e, vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-Me aqui." T8 159 2 "Se desviares o teu pé do sábado, e de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da Terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse." Isaías 58:6-9, 13, 14. T8 159 3 Esta é a nossa obra. A luz que temos sobre a mensagem do terceiro anjo é a verdadeira luz. O sinal da besta é exatamente o que tem sido proclamado ser. Nem tudo o que se relaciona com esse assunto é entendido ainda, e não o será até o desenrolar-se do rolo; uma obra muito solene, porém, deve ser realizada em nosso mundo. A ordem do Senhor a Seus servos é: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados." Isaías 58:1. Deve-se proclamar uma mensagem que desperte as igrejas. Deve-se fazer todo esforço no sentido de comunicar a luz, não apenas ao nosso povo, mas ao mundo. Tenho sido instruída de que as profecias de Daniel e Apocalipse devem ser impressas em pequenos livros, com a necessária explicação, e enviadas a todo o mundo. Nosso próprio povo precisa que a luz lhe seja apresentada em linhas mais claras. Nenhuma mudança na causa de Deus T8 160 1 Não deve haver mudança alguma nos aspectos gerais da causa de Deus. Deve ela permanecer tão clara e distinta como a tornou a profecia. Não devemos fazer qualquer aliança com o mundo, supondo que ao assim fazer podemos realizar mais. Meu irmão, se persistir em impedir o avanço da obra nas linhas traçadas por Deus, é certo que irá desagradar-Lhe grandemente. Deve-se dar a mensagem de advertência, e depois de ter cumprido fielmente a sua parte na obra, não impedir que os outros servos do Senhor façam a obra que devem realizar. O trabalho em favor dos degradados e caídos não deve tornar-se o assunto principal e mais importante. Deve-se combinar esse trabalho com a obra de instruir as igrejas. Nosso povo precisa ser ensinado a como ajudar os necessitados e proscritos. T8 160 2 Nenhum aspecto de nossa fé que nos tornou o que somos deve ser enfraquecido. Possuímos os antigos marcos da verdade, da experiência e do dever, e devemos permanecer firmes na defesa de nossos princípios, com plena visão do mundo. Com o coração repleto de interesse e solicitude, cumpre-nos estender o convite aos que se encontram nos caminhos e valados. A obra médico-missionária deve ser feita. Esta, porém, é apenas uma parte da obra que deve ser executada, e ela não deve tornar-se suprema. Deve ser para a obra de Deus o que a mão é para o corpo. Pode haver pessoas indignas relacionadas com o ministério, contudo ninguém pode ignorar o ministério sem ignorar a Deus. Palavras de precaução T8 161 1 Meu irmão, você está sendo apresentado a mim como estando em perigo de ficar separado do nosso povo, achando que é um todo completo. Caso, porém, se una com os que pensam da mesma forma, independentes da igreja, que é o corpo de Cristo, estarão estabelecendo uma união que se despedaçará, pois união alguma, se não aquela que Deus formou, pode subsistir. Aqueles que estão recebendo instrução em questões médicas ouvem, de tempos em tempos, insinuações que desacreditam a igreja e o ministério. Essas insinuações são sementes que desenvolverão e darão fruto. Os alunos poderiam ser melhor preparados para compreender que a igreja de Cristo na Terra deve ser respeitada. Eles carecem de uma compreensão clara das razões de nossa fé. Essa compreensão devem eles obter a fim de servir a Deus de maneira aceitável. Preceito sobre preceito, regra sobre regra, devem eles receber a evidência bíblica da verdade como é em Jesus. T8 161 2 Não se deve instilar, peço, na mente dos alunos, idéias que lhes cause a perda da confiança nos pastores indicados por Deus. É mais do que certo que vocês estão fazendo isso, quer estejam cientes quer não. Em Sua providência, o Senhor os colocou em uma posição na qual podem fazer um bom trabalho para Ele em conexão com o ministério evangélico, levando a verdade a muitos que de outra maneira não entrariam em contato com ela. Virão tentações para pensar que a fim de levar avante a obra médico-missionária devem se manter separados da organização ou da disciplina da igreja. Permanecer assim seria colocar-se em terreno movediço. O trabalho feito pelos que os procuram em busca de instrução não é completo a menos que eles sejam ensinados a trabalhar em ligação com a igreja. T8 161 3 A obra médico-missionária não deve tornar-se suprema. Nesse particular estão levando as coisas a extremos. Há uma grande obra a ser feita. As publicações que ensinam a verdade devem ser disseminadas por toda a parte. Os estudantes de medicina não devem ser incentivados a distribuir apenas os livros que tratam da reforma de saúde. É preciso cuidado para não acabar executando seus próprios planos, com menosprezo dos planos de Deus. T8 162 1 Resumo de uma carta escrita em Cooranbong, Austrália, em Dezembro de 1898 T8 162 2 Meu irmão, o Senhor Deus de Israel precisa ser o seu conselheiro. Satanás desceu com grande poder para operar com toda a capacidade de engano da injustiça. Aprenda arduamente de Cristo. Você tem trabalhado de modo incansável a fim de conseguir bons resultados. Não cometa enganos agora. Nunca, jamais, tente remover um só dos marcos que o Senhor concedeu a Seu povo. A verdade encontra-se firmemente estabelecida na Rocha eterna -- um alicerce que nenhuma tempestade será capaz de remover. T8 162 3 Lembre-se de que tão logo você permita que sua influência aparte do reto e estreito caminho que o Senhor estabeleceu para Seu povo, sua prosperidade cessará; Deus não mais será o seu guia. Vez após outra o registro da vida de Nabucodonosor tem sido por mim apresentado a você, para que você se sinta advertido a não confiar em sua própria sabedoria, nem faça da carne o seu braço. Não baixe a bandeira da verdade, nem permita que ela seja arrebatada de suas mãos, deixando assim que se una à solene mensagem para estes últimos dias qualquer coisa que tenda a ocultar as características peculiares de nossa fé. ------------------------Capítulo 26 -- Uma palavra de advertência Aos Conselheiros de Estudantes de Medicina T8 163 1 Há um fardo em meu coração. Alguns jovens que são animados a fazer um curso de estudos nos ramos da medicina deveriam estar se preparando de modo mais decidido para proclamar a mensagem do terceiro anjo. Não é necessário que nossos estudantes de medicina gastem todo o tempo que estão despendendo nesses estudos. Sua obra deve ser mais decididamente combinada com o estudo da Palavra de Deus. Assimilam idéias que não são de modo algum necessárias, e o que é necessário não recebe suficiente atenção. Um perigo T8 163 2 Enquanto os estudantes estão sendo educados desse modo, vão se tornando menos capacitados para fazer um trabalho aceitável para o Mestre. O desgaste que sofrem para alcançar um ampliado conhecimento nos ramos médicos incapacita-os para trabalhar como deviam nos setores ministeriais. Esgotamento físico e mental ocorre em virtude do excesso de estudo, e porque os estudantes são encorajados a trabalhar indevidamente pelos miseráveis e degradados. Assim alguns ficam desqualificados para a obra que poderiam realizar, se tivessem eles começado o trabalho missionário onde necessário fosse e deixado o aspecto médico associar-se como uma parte essencial relacionada com a obra do ministério evangélico como um todo, assim como a mão está ligada ao corpo. A vida não deve ser posta em perigo no esforço de obter educação médica. Há o perigo, em alguns casos, de que os estudantes acabem com sua saúde e se incapacitem para fazer o trabalho que poderiam fazer, não tivessem sido animados a fazer um curso médico. T8 164 1 Muitas vezes opiniões errôneas são inscritas na mente, e conduzem a um modo de agir inadequado. Os estudantes devem ter tempo para falar com Deus, tempo para viver em constante e consciente comunhão com os princípios da verdade, justiça e misericórdia. Neste tempo, é essencial rigoroso exame do coração. O estudante precisa colocar-se onde possa beber da Fonte de poder espiritual e intelectual. Ele deve exigir que toda causa que reclame sua simpatia e cooperação tenha a aprovação do raciocínio que Deus lhe deu, e da consciência, a qual o Espírito Santo está controlando. Não deve ele praticar um só ato que não se harmonize com os profundos e santos princípios que ministram luz a sua alma e vigor a sua vontade. Somente assim pode ele prestar a Deus o mais elevado serviço. Não se lhe deve ensinar que a obra médico-missionária o ponha em obrigação para com qualquer homem, o qual lhe ditará o que deve ser a sua obra. T8 164 2 Não deve a obra médico-missionária ser posta à parte e separada da organização da igreja. Os estudantes de medicina não devem receber a idéia de que podem submeter-se apenas aos líderes na obra médica. Devem estar livres para receber conselho de Deus. Não devem comprometer-se e o seu futuro diante de coisa alguma que falíveis seres humanos possam apresentar-lhes. Nenhum fio de egoísmo deve ser entretecido na teia; nenhum esquema que tenha uma só partícula de injustiça deve ser traçado. O egoísmo não deve controlar qualquer aspecto da obra. Lembremo-nos de que individualmente estamos trabalhando a plena vista do Universo celestial. Elevada norma T8 164 3 "Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:27. Pouco antes de deixar os Seus discípulos para retornar ao Céu, Cristo declarou: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34. Aqui estamos vendo a norma elevada cada vez mais. "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." João 13:35. Não puderam os discípulos nessa ocasião compreender as palavras de Cristo; mas após Sua crucifixão, ressurreição, e ascensão, eles compreenderam o Seu amor como nunca antes. Tinham-no visto expresso em Seus sofrimentos no jardim, no tribunal, e em Sua morte na cruz do Calvário. Ensinar e curar T8 165 1 Deve haver unidade no povo de Deus. Não tem de haver separação em Sua obra. Cristo enviou os doze apóstolos, e mais tarde os setenta discípulos, para que pregassem o evangelho e curassem os enfermos. "E, indo", disse Ele, "pregai, dizendo: É chegado o reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai." Mateus 10:7, 8. E ao saírem pregando o reino de Deus, foi-lhes dado poder para curar os enfermos e expulsar os espíritos malignos. Na obra de Deus, o ensino e a cura jamais devem estar separados. Os povo do Senhor, que guarda os Seus mandamentos, deve estar unido. Satanás imaginará todo artifício para separar aqueles que estão procurando ficar unidos. Mas o Senhor Se revelará como um Deus que julga. Estamos trabalhando sob as vistas do exército celestial. Há entre nós um divino Vigia, inspecionando tudo que é planejado e realizado. ------------------------Capítulo 27 -- Apoiando a obra médica T8 166 1 Dirijo-me aos que se encontram em posições de responsabilidade na Associação Geral, e também aos que se acham trabalhando em atividades médico-missionárias. Fui também comissionada a falar à igreja de Battle Creek e a todas as nossas demais igrejas. T8 166 2 Fui instruída a dizer, em referência à obra médico-missionária, que existe o perigo de investirmos demasiadamente em determinado ramo da obra. Entretanto, o que percebo neste ponto não deve ser entendido como sendo, em qualquer sentido, algo que justifica os que têm-se mantido indiferentes à obra médico missionária. Existem muitos que não têm demonstrado simpatia para com essa obra. Deveriam agora ser muito cuidadosos quanto ao modo como falam dessa obra; isso porque não são inteligentes nesse assunto, uma vez que não têm andado na luz. Qualquer que seja a sua função na obra de Deus, devem ser muito cuidadosos ao darem vazão a sentimentos que desencorajarão e atrasarão nossas associações de assumirem esse trabalho. A posição que alguns têm assumido no tocante à obra médico-missionária torna impossível que suas palavras sobre o assunto mereçam qualquer valor. Não possuem discernimento claro; seu julgamento é distorcido. T8 166 3 Cada ramo da obra é necessário, mas todos eles precisam estar sob a supervisão de Deus. A obra médico-missionária deve representar para a obra de Deus aquilo que a mão direita representa para o corpo. Não seria correto que toda a força do corpo se destinasse à mão direita, e tampouco seria adequado que toda a força da causa de Deus se destinasse à obra médico-missionária. O ministro da palavra precisa ser sustentado, e deve existir unidade, perfeita integração na obra de Deus. Aqueles que não têm sentido interesse pela obra médico-missionária estão tratando desrespeitosamente a mão direita da causa de Deus. Que todos esses modifiquem sua atitude em relação a esse trabalho. Que profiram o menor número possível de palavras, até chegarem a assumir a posição correta. O silêncio constitui-se em eloqüência quando a mente não é santificada, e conseqüentemente não consegue discernir as coisas espirituais. Precaução necessária T8 167 1 No tempo presente, deve-se ter grande precaução. "Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar." Tiago 1:19. Atendamos a essa advertência do apóstolo: "E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo... e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos símplices. Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas símplices no mal." Romanos 16:17-19. T8 167 2 "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer." 1 Coríntios 1:10. Esta é a vontade de Deus concernente a nós. Obedecer-Lhe-emos? "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século?... Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus." 1 Coríntios 1:18-24. T8 168 1 Que modificação ocorreria se todos os que ocupam posições de responsabilidade se dessem conta de que estão trabalhando sob os olhos do Deus que tudo vê! O que necessitamos agora é a plena operação do Espírito Santo na mente e no coração. Sem isso, nossos esforços serão infrutíferos. Quando o Espírito nos amolda e talha, nossas palavras e atos passam a revelar genuína gratidão. Importância da obra médico-missionária T8 168 2 Existe necessidade de aumentado conhecimento em cada ramo da reforma de saúde. Aqueles que tiveram o privilégio de ouvir a verdade devem dar à trombeta o sonido certo, enquanto proclamam a mensagem do terceiro anjo. Linhas especiais de trabalho devem ser desenvolvidas, tais como a obra médico-missionária. Tal obra deve ser levada avante em conexão com a mensagem do evangelho para esse tempo. Obra médico-missionária genuína é o evangelho posto em prática. Aqueles que não conseguem ver a importância desse trabalho, não deveriam sentir-se autorizados a controlar qualquer fase do mesmo até que cheguem a compreender seu lugar no plano divino. T8 168 3 Desejo afirmar decididamente que o Senhor tem realizado um grande benefício por intermédio da obra médico-missionária, e que Ele tem utilizado nossos líderes médicos como Seus agentes indicados. Nem tudo na obra médica tem sido sem falhas. Junto com ela uniram-se muitas coisas que macularam a sua santidade. Mas o Senhor assumirá a supervisão de Sua causa, e fará com que esse ramo não assuma proporções excessivas. A obra não será manchada se a igreja erguer-se e brilhar, tornando manifesto que sua luz chegou, e que a glória do Senhor está sobre ela. T8 168 4 Os obreiros médico-missionários devem ser purificados, santificados, enobrecidos. Devem erguer-se ao mais elevado ponto de excelência. Devem ser moldados e talhados de acordo com a semelhança divina. Então perceberão que a reforma de saúde e a obra médico-missionária precisam unir-se com a pregação do evangelho. T8 169 1 A razão pela qual os membros da igreja não compreendem esse ramo do trabalho é que eles não estão seguindo a luz, nem andando passo a passo após seu grande Líder. A obra médico-missionária é de Deus, e traz sobre si a Sua assinatura. Por essa razão, mantenham os homens suas mãos afastadas dela, nem mesmo imaginando dirigi-la segundo suas próprias idéias. T8 169 2 Nossa mensagem possui extensão mundial. Ao mesmo tempo que os recursos não devem ser todos absorvidos por um ramo do trabalho, a ponto de a mensagem do evangelho não conseguir ser levada a novos campos, a obra médico-missionária não deve de modo algum ser diminuída; jamais deve ser representada como constituindo uma obra inferior. O mundo é um grande hospital de leprosos; acha-se corrompido por seus habitantes, e a miséria é universal. O Senhor concedeu a nosso médico-chefe a obra de ajudar a preparar o povo para estar em pé no grande dia de Deus. Ele precisa, contudo, trabalhar sob a supervisão de Deus. Existem algumas coisas em seu trabalho que precisam ser modeladas mais intimamente de acordo com os princípios do Obreiro-chefe. A causa da escassez na igreja T8 169 3 Aquele que é indicado para desempenhar uma parte na obra para este tempo, deve sentir a pesada responsabilidade que repousa sobre si. Estamos trabalhando para a eternidade. Se comermos do pão que provém do Céu, seremos semelhantes a Cristo, em espírito e caráter. Vivemos numa época em que não pode existir ociosidade espiritual. Toda pessoa precisa ser abastecida com a celestial corrente de vida. A questão muitas vezes colocada é: "Qual é a causa da pobreza espiritual da igreja?" A resposta vem: "Os membros permitem que sua mente seja conduzida para longe da Palavra de Deus." Fisicamente somos constituídos daquilo que comemos, e da mesma forma o caráter de nossa espiritualidade é determinado pelo alimento fornecido à mente. Necessitamos dar à mente e ao coração a nutrição adequada, pelo comer a carne e beber o sangue do Filho de Deus. T8 169 4 Cristo declara: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim tem a vida eterna... Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo... Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último Dia. Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim, e Eu, nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim." João 6:47-57. T8 170 1 Necessitamos permanecer em Cristo, e Cristo precisa permanecer em nós, "porque nós somos cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. A obra do cristão é individual. Que os obreiros de Deus cessem de procurar faltas, pois isso constitui pecado. Que aperfeiçoem a si mesmos do mesmo modo como imaginam que seus companheiros precisam aperfeiçoar-se. É seu privilégio viver em Cristo ao comerem do pão da vida. Aqueles que assim procederem, terão uma experiência saudável e crescente, e a justiça de Deus irá adiante deles enquanto realizam a obra especificada no capítulo cinqüenta e oito de Isaías. A cada homem a sua obra T8 170 2 Todo ramo da obra de Deus deve ser reconhecido. "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do Seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo." Efésios 4:11, 12. Esse texto mostra que deve haver diferentes obreiros, instrumentos diversos. Cada um tem uma obra distinta. De ninguém é requerido que assuma o trabalho de outro e tente realizá-lo, embora desqualificado. Deus tem atribuído a cada um de acordo com sua habilidade. Um homem pode imaginar que sua posição lhe confere autoridade para ditar o trabalho de outros, mas não é assim. Ignorante a respeito do trabalho daqueles, ele procurará ampliar onde deveria restringir, e restringir onde deveria ampliar, pois consegue ver apenas aquela parte da vinha na qual está trabalhando. T8 171 1 Viva para Deus. Faça dos ensinamentos do Salvador uma porção de sua vida. O seu caminho será iluminado por clara e radiante luz. Terá a unção celestial, e será preservado de cometer graves equívocos. Não procure ver tão demoradamente a porção da obra na vinha do Senhor que está promovendo, a ponto de não conseguir apreciar aquilo que outros estão desempenhando em diferentes partes da vinha. Talvez eles estejam cultivando fielmente seus talentos, de modo a poderem devolvê-los, duplicadamente, a Deus. Que cada homem examine muito bem seu próprio trabalho, assegurando-se de que é completo, sem mancha ou ruga a macular-lhe a perfeição. Deixe então que Deus profira as palavras: "Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:23. ------------------------Capítulo 28 -- Unidade de esforços A Um Médico Perplexo T8 172 1 Meu querido irmão: T8 172 2 Sinto profundo interesse por você e seu trabalho, e oro para que o Senhor dirija minha pena enquanto lhe escrevo. O Senhor tem feito de você um homem por Ele indicado, e os anjos de Deus têm sido os seus auxiliadores. O Senhor o colocou na posição que ocupa, não porque você seja infalível, mas porque é Seu desejo guiar a mente do irmão pelo Seu Santo Espírito. Deseja que você compartilhe com aqueles que entram em contato com o irmão, o conhecimento da verdade presente. Pesadas responsabilidades lhe foram confiadas, e em hipótese alguma deve o irmão permitir-se ser envolvido numa obra que enfraquecerá a sua influência junto aos adventistas do sétimo dia. O Senhor o escolheu para preencher o lugar por Ele indicado, para estar diante da profissão médica, não para ser moldado por influências mundanas, antes para que o irmão molde outras mentes. Todos os dias, o irmão precisa repousar sob a supervisão divina. Ele é o seu Autor, e seu Redentor. Tem Ele uma obra para o irmão realizar, não separado dos adventistas do sétimo dia, antes em união com eles. Destina-se você a ser uma grande bênção para os seus irmãos, ao repartir com eles o conhecimento que o Senhor lhe outorgou. T8 172 3 Deus tem operado por seu intermédio, e deseja prosseguir cumprindo essa obra, honrando-o ao lhe confiar importantes responsabilidades. "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Ele utilizará o irmão, a mim e a cada ser humano que ingressar em Seu serviço, se nos submetermos à Sua orientação. Cada um deve permanecer fiel em sua torre de observação, escutando atentamente àquilo que o Espírito Santo tem a lhe dizer, lembrando-se sempre de que cada uma de suas palavras e atos produz uma impressão, não apenas sobre seu próprio caráter, como também sobre os caracteres daqueles com os quais se acha vinculado. Edifício de Deus T8 173 1 "Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:9. Essa figura representa o caráter humano, no qual devemos trabalhar, ponto a ponto. Cada dia, Deus trabalha em Seu edifício, martelada sobre martelada, para aperfeiçoar a estrutura, a fim de que se torne um templo santo para Ele. O homem deve cooperar com Deus. Todo obreiro deve tornar-se justamente aquilo que Deus designa ele seja, construindo sua vida mediante atos puros e nobres, para que no fim o seu caráter seja uma estrutura simétrica, um belo templo, honrado por Deus e pelo homem. Não deve haver defeitos no edifício, pois é do Senhor. Cada pedra deve estar colocada com perfeição, para que suporte a pressão que sobre ela é imposta. Uma só pedra mal colocada, afetará o edifício inteiro. A vocês e a todos os outros obreiros Deus dá a advertência: "Tome cuidado para que seu edifício resista à prova da tormenta e tempestade, por estar fundado sobre a Rocha eterna. Coloque a pedra sobre o firme alicerce, para que possa preparar-se para o dia da prova, quando todos serão vistos exatamente tais quais são." Templo de pedras vivas T8 173 2 Essa advertência me foi apresentada por Deus como especialmente necessária para o seu bem-estar. Ele o ama com amor imensurável. Ama a seus irmãos na fé, e com eles opera rumo ao mesmo objetivo dAquele que coopera com você. Sua igreja na Terra deve assumir proporções divinas perante o mundo, como templo construído de pedras vivas, cada uma refletindo luz. Deve ser a luz do mundo, como cidade colocada sobre uma colina, a qual não pode ser escondida. É construída de pedras colocadas lado a lado, bem juntas, uma pedra se adaptando à outra, perfazendo um edifício firme e sólido. Nem todas as pedras são da mesma forma ou tamanho. Algumas são grandes, outras pequenas, mas cada qual tem seu lugar a preencher. E o valor de cada pedra é determinado pela luz que ela reflete. Esse é o plano de Deus. Ele deseja que todos os Seus obreiros preencham o lugar que lhes é designado na obra para este tempo. T8 174 1 Vivemos em meio aos perigos dos últimos dias. Devemos cultivar sabiamente toda faculdade mental e física; pois todas são necessárias para tornar a igreja um edifício que represente a sabedoria do grande Arquiteto. Os talentos que Deus nos dá são dádivas Suas, e devem ser usados em sua devida relação mútua, de modo a formarem um todo perfeito. Deus dá os talentos, as faculdades do espírito; o homem forma o caráter. Diferentes meios T8 174 2 O Senhor tem operado com o irmão, habilitando-o a desempenhar sua parte como artesão de Deus; mas existem outros artesãos que também desempenham sua parte como instrumentos divinos. Eles ajudam a formar o corpo completo. Todos devem unir-se como partes de um grande organismo. A igreja do Senhor é composta de agências vivas e operantes, que derivam sua força para agir, do Autor e Consumador de sua fé. Devem fazer avançar em harmonia a grande obra que sobre eles repousa. Deus deu a você o seu trabalho. Mas Ele dispõe também de outros meios, aos quais deu suas devidas atribuições, a fim de que todos venham a ser, pela santificação na verdade, membros do corpo de Cristo, de Sua carne e de Seus ossos. Quando representamos a Cristo, agimos para o tempo e a eternidade; e os homens, mesmo os homens do mundo, tomarão conhecimento de que estivemos com Jesus e dEle aprendemos. A verdade é indivisível T8 174 3 O povo de Deus não deve estar em confusão, carecendo de ordem e harmonia, coerência e beleza. O Senhor é grandemente desonrado quando existe desunião entre Seu povo. A verdade é indivisível. A unidade exigida por Deus deve ser cultivada dia a dia, para que correspondamos à oração de Cristo. A desunião que insiste por existir entre os que professam crer na última mensagem de misericórdia a ser dada ao mundo não deve encontrar lugar; pois seria terrível impedimento para o progresso da causa de Deus. Seus servos devem ser um, assim como Cristo é um com o Pai; suas faculdades, iluminadas, inspiradas e santificadas, devem unir-se para formar um todo completo. Os que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos não se devem adiantar separadamente; cumpre-lhes avançar juntos. Palavras de estímulo T8 175 1 O Senhor não abandona Seus fiéis cooperadores. Mantenha em mente que nossa vida neste mundo constitui apenas uma peregrinação, que o Céu é o lar para onde nos estamos dirigindo. Tenha fé em Deus. Se minhas palavras feriram, machucaram a sua alma, peço desculpas; eu também me sinto ferida, machucada. Nossa obra, estranha obra, grande obra, a nós outorgada por Deus, vincula um ao outro nosso coração e alma. Não deve o irmão despir a sua armadura. Precisa prosseguir usando-a até o fim. Quando o Senhor o liberar, então será o tempo de depor a armadura a Seus pés. Você alistou-se em Seu exército para servir até o encerramento da batalha, e não deve trazer a desgraça sobre si mesmo e desonra a Deus, desertando agora. T8 175 2 Possa o Senhor abrir diante de seus olhos muitos assuntos, como o tem feito para comigo. Satanás está espreitando a oportunidade de desonrar a causa de Deus. Foi-me mostrado o perigo em que o irmão está incorrendo, mas também me tem sido mostrado o seu anjo guardador, preservando-o vez após outra de si próprio, evitando que o irmão naufrague na fé. Meu irmão, erga o estandarte, erga-o, e não se sinta desfalecido e desencorajado. T8 175 3 Tenho apresentado aos líderes da Associação Geral e do Comitê das Missões a luz que Deus me revelou -- que o irmão e eles devem aconselhar-se mutuamente; que, em vez de manterem-se apartados, devem eles tornar-se ajudadores do irmão; que você foi ordenado por Deus para estar numa posição de confiança, e assim necessita de ajuda em vez de censura. T8 176 1 Na intensidade de meu desejo de que você consiga encontrar caminhos planos para seus pés, escrevi-lhe palavras francas, mas nunca, jamais, para denunciá-lo ou condená-lo. Oh, que Deus o ajude a compreender que meu profundo interesse por você não se modificou no menor grau. Nutro o mais sincero desejo de que o irmão se apegue a Deus, firme, provado e genuíno. Sei que o Senhor almeja que você tenha a coroa da vitória. T8 176 2 "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens... E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor." Efésios 4:8-16. ------------------------Capítulo 29 -- Cristo: intercessor e fonte de bênçãos Ao Médico de um Sanatório T8 177 1 Meu prezado irmão: T8 177 2 Recebi agora mesmo as suas cartas. Vejo que está enfrentando uma batalha renhida no aspecto financeiro. Sinto-me muito contente de que você possa encontrar encorajamento nas palavras: "Ou que se apodere da minha força e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isaías 27:5. Tenhamos fé em Deus. Coloquemos nEle a nossa confiança. Ele compreende tudo a respeito das situações em que somos colocados, e operará em nosso favor. É Ele honrado quando nEle confiamos, quando a Ele levamos todas as nossas perplexidades. Diz Cristo: "E tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho." João 14:13. Os compromissos e doações de Deus em nosso favor são ilimitados. O próprio trono da graça é ocupado por Alguém que permite Lhe chamemos de Pai. T8 177 3 "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Jeová não considerou o plano de salvação completo enquanto investido apenas de Seu amor. Colocou a Seu lado um Advogado revestido de nossa natureza. Como nosso Intercessor, a obra oficial de Cristo é apresentar-nos a Deus como Seus filhos e filhas. Ele intercede em favor dos que O recebem. Pagou-lhes o resgate com o próprio sangue. Pela virtude de Seus méritos, dá-lhes poder de se tornarem membros da família real, filhos do Rei celestial. E o Pai demonstra Seu infinito amor por Cristo recebendo e acolhendo cordialmente como amigos os amigos de Cristo. Ele está satisfeito com a expiação feita. É glorificado pela encarnação, vida, morte e mediação de Seu Filho. T8 178 1 Em nome de Cristo elevam-se nossas petições ao Pai. Ele intercede em nosso favor, e o Pai descerra os tesouros de Sua graça para que dela nos apoderemos, para fruí-la e comunicá-la a outros. "Pedireis em Meu nome", disse Cristo, "e não vos digo que rogarei ao Pai por vós. Porque o próprio Pai vos ama... Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa." João 16:26, 27, 24. T8 178 2 Cristo é o elo de ligação entre Deus e o homem. Prometeu Ele interceder pessoalmente. Põe toda a virtude da Sua justiça ao lado do suplicante. Intercede pelo homem, e o homem, necessitado de auxílio divino, intercede por si próprio na presença de Deus, usando a influência dAquele que deu a Sua vida pela vida do mundo. Ao reconhecermos perante Deus o nosso apreço pelos méritos de Cristo, é dada fragrância às nossas intercessões. Ao aproximarmo-nos de Deus através da virtude dos méritos do Redentor, Cristo nos põe bem junto a Si, abraçando-nos com o Seu braço humano, ao passo que, com o divino, alcança o trono do Infinito. O incenso suave de Seus méritos, põe-no Ele no incensário, em nossas mãos, para nos estimular as petições. Promete escutar as nossas súplicas e a elas atender. T8 178 3 Sim, Cristo Se tornou o intermediário da oração entre o homem e Deus. Tornou-se o instrumento de bênção entre Deus e o homem. Ele uniu a divindade com a humanidade. Os homens devem cooperar com Ele para a sua própria salvação, empreendendo então decisivos e perseverantes esforços para salvar os que estão prestes a perecer. T8 178 4 Devemos todos trabalhar agora, enquanto ainda é dia; pois logo chegará a noite, em que nenhum homem conseguirá trabalhar. Tenho coragem no Senhor. Vezes existem em que me é mostrado distintamente que ocorre em nossas igrejas um estado de coisas que não ajudará senão a confundir as pessoas. Tenho então horas, e por vezes dias, de intensa angústia. Muitos dos que possuem conhecimento da verdade não obedecem às palavras de Deus. Sua influência não é melhor que a dos mundanos. Falam do modo como o mundo o faz, e da mesma forma agem. Oh, como me dói o coração quando penso em quanto o Salvador é envergonhado por esse comportamento tão diferente do de Cristo! Depois que passa a agonia, volto a trabalhar mais intensamente que nunca para ajudar as pessoas, a fim de que venham a revelar a imagem de Deus. T8 179 1 Oração, sim, oração com inabalável fé e confiança. O Anjo do concerto, o próprio Senhor Jesus Cristo, é o Mediador que garante a aceitação das orações dos Seus crentes. ------------------------Capítulo 30 -- Palavras de encorajamento Ao Superintendente Médico do Sanatório de Battle Creek T8 180 1 Meu prezado irmão: T8 180 2 Você fala como se não tivesse amigos. Porém Deus é seu amigo, e a senhora White é sua amiga. Você imagina que perdi a confiança em sua pessoa; entretanto, meu irmão, conforme lhe escrevi antes, sei que o Senhor o colocou numa posição de grande responsabilidade, estando o irmão na posição de médico a quem o Senhor outorgou conhecimento e compreensão, para que possa praticar justiça e julgamento, e revelar genuíno espírito missionário na instituição estabelecida para apresentar a verdade em contraste com o erro. T8 180 3 Irmão, o Senhor não o deixou a enfrentar uma guerra somente com seus recursos. Deu-lhe sabedoria, e favor diante de Deus e dos homens. Ele tem sido o seu ajudador. Escolheu você como Seu agente, a fim de exaltar a verdade no Sanatório de Battle Creek, de um modo como não é exaltada nas instituições médicas do mundo. Era Seu propósito que o Sanatório de Battle Creek se tornasse conhecido como uma instituição onde o Senhor é diariamente reconhecido como o Rei do Universo. "Segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do Céu e os moradores da Terra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes?" Daniel 4:35. T8 180 4 O Senhor deseja que a proclamação da terceira mensagem angélica seja a mais elevada e maior obra realizada no mundo neste tempo. Ele honrou você colocando-o numa posição de grande responsabilidade em Sua obra. Não deve o irmão separar a sua influência da do ministro do evangelho. Em cada aspecto de seu trabalho, deve você trabalhar pela compreensão e obediência à verdade. O lugar que o Senhor designou ao irmão acha-se diretamente subordinado a Ele, na divina teocracia. Você precisa aprender de Jesus, o grande Ensinador, planejando e trabalhando de acordo com Seu exemplo. Deve você tornar a Deus o primeiro, sempre obedecendo a Sua Palavra. É nisso que repousará a sua força. T8 181 1 Você deve ser um fiel médico do espírito assim como do corpo daqueles que se encontram sob os seus cuidados. Houvesse você cumprido essa função, utilizando corretamente os talentos que Deus lhe outorgou, não haveria labutado sozinho. Alguém que jamais comete engano estava presidindo. Tão-somente o poder do Espírito Santo é capaz de conservar o espírito suave e fragrante, humilde e subjugado, habilitando o obreiro a falar as palavras corretas no devido tempo. T8 181 2 Você não tem sido isento de faltas. Muitas vezes perde o próprio controle. Então suas palavras não são aquelas que deveriam ser. Por vezes, você é arbitrário e severo. Quando, porém, você luta por adquirir o domínio de si mesmo, anjos de Deus cooperam com o irmão, pois por intermédio de você Deus está operando a fim de exaltar a Sua verdade, levando-a a receber reconhecimento por parte do mundo. Deus lhe concedeu sabedoria, não para que seu nome fosse glorificado, mas para que os que viessem ao Sanatório pudessem levar consigo impressões favoráveis em relação aos princípios que constituem o fundamento do trabalho da igreja. A honra que lhe tem sido atribuída não ocorre porque você é mais justo que os demais homens, e sim porque Deus deseja utilizá-lo como Seu servo. O propósito de Deus T8 181 3 Era propósito de Deus que, no Sanatório, missionários, professores e médicos pudessem familiarizar-se com a mensagem do terceiro anjo, a qual é tão abrangente. Anjos de Deus deveriam constituir a fortaleza de vocês no trabalho que se deveria levar a cabo, de modo que o Sanatório de Battle Creek pudesse tornar-se conhecido como uma instituição sob a especial supervisão de Deus. O sentimento missionário e a simpatia que prevaleceram nessa instituição foram resultado da obra ali empreendida por invisíveis agentes celestiais. Deus disse: "Considerei por bem revelar sinais e maravilhas. Em Meu poder operei para glorificar o Meu nome." Muitos saíram do Sanatório com o coração renovado. As mudanças foram decisivas. Estes, em retornando a seus lares, tornaram-se luzes ao mundo. Suas vozes têm sido ouvidas, dizendo: "Vinde e ouvi, todos os que temeis a Deus, e eu contarei o que ele tem feito à minha alma. Salmos 66:16. Contemplei a Sua grandeza; provei a Sua bondade." Obra de extensão mundial T8 182 1 O Senhor me mostrou que se o inimigo for capaz, de algum modo, de desviar a obra para canais errados, impedindo assim o seu avanço, ele o fará. Muitos dentre nosso povo têm realizado investimentos sem tomarem tempo para considerar os custos, sem verificarem se havia dinheiro suficiente para levar a cabo a obra iniciada. Estreiteza de visão foi assim demonstrada. Os homens fracassaram em compreender que a vinha do Senhor abrange o mundo inteiro. T8 182 2 As receitas dos sanatórios estabelecidos não devem destinar-se a sustentar numerosos ramos da obra em favor das classes desfavorecidas em nossas ímpias cidades. Grande parte dos recursos utilizados para sustentar essa grande e sempre crescente obra deveria, de acordo com a ordem do Senhor, ter sido utilizada para estabelecer instituições em outros países, onde a luz da reforma de saúde ainda não brilhou. Sanatórios, menos dispendiosos do que os de grande vulto erigidos na América, deveriam ter sido construídos em muitos países. Assim se haveriam erguido instituições que, tornadas fortes, haveriam prestado assistência à construção de novas instituições em outros lugares. T8 182 3 O Senhor não é parcial. Entretanto, tem Ele sido representado erroneamente por Seus obreiros. Aquilo que deveria haver sido empreendido em muitas partes de Sua vinha, foi em grande medida impedido, pois os homens de maior responsabilidade na obra fracassaram em ver como deveria ela haver avançado nas porções mais distantes da vinha. Em algumas partes do campo a obra foi super-exposta. Dessa forma foi absorvido dinheiro que deveria haver sido aplicado para a capacitação de obreiros em outras partes da vinha, para que avançassem sem impedimentos na implantação do estandarte da verdade em lugares novos. Algumas porções da vinha não devem ser roubadas para que os meios sejam livremente utilizados em outras porções do campo. T8 183 1 Os homens julgam de acordo com seu finito discernimento. Deus observa a natureza dos frutos produzidos, e a partir daí julga a árvore. Em nome do Senhor convoco todos a pensar a respeito da obra que nos foi outorgada, e como pode essa obra ser sustentada. O mundo é a vinha do Senhor, e aí está para ser trabalhada. T8 183 2 Não é o grande número de instituições, grandes edifícios, e a aparência externa, que Deus requer, mas a ação harmoniosa de um povo peculiar, um povo escolhido por Deus e precioso, unido um ao outro, tendo a vida escondida com Cristo em Deus. Cada homem deve estar em seu lugar, desempenhando a sua tarefa, exercendo influência correta em pensamento, palavras e ações. Quando todos os obreiros assim procederem, e não antes, Sua obra será um todo completo e simétrico. Uma palavra de precaução T8 183 3 Deus deseja que Suas instituições e Seus escolhidos, como filhos adotados, O honrem ao revelarem os atributos do caráter cristão. A obra abrangida pelo evangelho como obra missionária é um trabalho direto, substancial, que brilhará mais e mais até tornar-se dia perfeito. Deus não deseja que a fé de Seu povo assuma as características ou a aparência da obra humanitária que no momento vem sendo chamada de obra médico-missionária. Os recursos e talentos de Seu povo não devem ser enterrados nas favelas de Nova Iorque ou Chicago. A obra de Deus deve ser desenvolvida nos ramos corretos. T8 183 4 Autonegação e auto-sacrifício precisam ser demonstrados. Precisamos trabalhar como Cristo trabalhou, em simplicidade e bondade, em humildade e consagração. Dessa forma seremos habilitados a realizar uma obra distinta de todas as demais atividades missionárias empreendidas em nosso mundo. T8 184 1 Muitos existem, em relação aos quais se supõe que tenham sido resgatados do abismo em que caíram, nos quais não podemos confiar como conselheiros, nem se lhes pode confiar a obra para estes últimos dias. O inimigo acha-se determinado a misturar o erro com a verdade. Para isso conseguir, utiliza ele a oportunidade que lhe é oferecida pela classe degradada, em favor da qual tanto labor e tanto dinheiro têm sido gastos, a classe cujo apetite foi pervertido mediante a indulgência, cujas pessoas sofreram abusos, cujos caracteres acham-se mal elaborados e deformados, cujos hábitos e desejos são aviltados, e que habitualmente pensam no mal. Tais pessoas podem ser transformadas em seu caráter; quão poucos dentre esses, porém, revelam uma obra completa e duradoura! T8 184 2 Alguns serão santificados pela verdade; muitos, porém, empreendem uma transformação apenas superficial de seus hábitos e práticas, e então se supõe que sejam cristãos. São recebidos na comunidade da igreja, mas revelam-se um grande problema e requerem muito cuidado. Através deles Satanás tenta semear na igreja as sementes da inveja, desonestidade, crítica e acusação. Tenta ele assim corromper os demais membros da igreja. A disposição que os governou desde a infância, que os levou a romper com toda e qualquer restrição, e os conduziu à degradação, ainda os controla. Diz-se que eles foram resgatados, mas com demasiada freqüência o tempo revela que a obra realizada em favor deles não os tornou submissos filhos de Deus. A cada suposto deslize, revelam ressentimentos. Acariciam a amargura, ira e malícia. Por suas palavras e espírito demonstram que não nasceram de novo. Suas tendências operam no sentido descendente, rumo à sensualidade. Não são dignos de confiança; são mal-agradecidos e não santificados. Assim ocorre com todos os que não foram inteiramente convertidos. Cada um desses caracteres maculados, não transformados, torna-se eficiente obreiro de Satanás, ao criar dissensão e contenda. T8 184 3 O Senhor traçou nossa maneira de agir. Como povo não devemos imitar nem harmonizar-nos com os métodos do Exército de Salvação. Essa não é a obra que o Senhor nos mandou fazer. Também não é nossa obra condená-los nem falar duramente contra eles. Há no Exército de Salvação pessoas preciosas, abnegadas. Devemos tratá-las com bondade. Há entre elas pessoas honestas, que estão sinceramente servindo ao Senhor, e que verão maior luz, chegando à aceitação de toda a verdade. Os obreiros do Exército de Salvação estão procurando salvar os negligenciados, espezinhados. Não devem ser desencorajados. Devem poder realizar esse tipo de trabalho pelos seus próprios métodos e a sua própria maneira. Mas a obra que os adventistas do sétimo dia devem fazer foi claramente indicada pelo Senhor. Reuniões campais e em tendas devem ser realizadas. A verdade para este tempo deve ser proclamada. Um testemunho decidido precisa ser sustentado. E os sermões devem ser tão simples que as crianças consigam compreendê-los. Auxiliando ou estorvando o Senhor T8 185 1 Existem aqueles que, ingressando na obra médico-missionária, estão sob o perigo de trazer consigo sentimentos objetáveis, recebidos em sua educação anterior. Necessitam eles praticar os princípios estabelecidos na Palavra de Deus, do contrário será a obra maculada com suas idéias preconcebidas. Quando trabalhamos com toda a santificada habilidade a nós dada por Deus, quando colocamos de lado a nossa vontade para cumprir a de Deus, quando o eu é crucificado dia após dia, então serão observados bons resultados. Avançamos pela fé, sabendo que nosso Senhor prometeu assumir a obra a Ele confiada, e que Sua vontade será cumprida; Ele jamais comete um equívoco nem conhece o fracasso. T8 185 2 Os servos do Senhor são meros mordomos. O Senhor operará por intermédio deles quando se submeterem a Ele a fim de serem trabalhados pelo Espírito Santo. Quando pela fé os homens se colocam nas mãos do Senhor, dizendo: "Eis-me aqui, envia-me a mim" (Isaías 6:8), Ele os aceita para o serviço. Entretanto, não devem os homens atrapalhar os planos divinos com as invenções ambiciosas. Durante anos, o Senhor tem mantido uma controvérsia com Seu povo, porque este tem seguido o seu próprio julgamento, não confiando na sabedoria divina. Que os obreiros tomem cuidado para não se atravessarem no caminho do Senhor, atrapalhando o avanço de Sua obra, ao imaginarem que sua sabedoria é suficiente para o planejamento e execução eficientes do trabalho. Se assim procederem, o Senhor corrigirá seu erro. Através de Seu divino Espírito, ilumina e treina Ele Seus obreiros. Amolda Sua própria providência no sentido de levar avante a obra de acordo com Sua mente e vontade. O propósito de Deus para seus obreiros T8 186 1 Se as pessoas se colocarem humildes diante de Deus, se não exaltarem seu julgamento como absoluto e auto-suficiente, se deixarem espaço para o Senhor planejar e executar, Deus usará as qualificações que lhes concedeu de uma forma que glorificará o Seu nome. Ele purificará Seus obreiros de todo egoísmo, cortando os galhos que poderiam se apegar a objetos indesejáveis e podará a videira para que produza o melhor fruto. Deus é o grande Administrador. Ele cuidará de cada aspecto da vida dos Seus obreiros que juntamente com Cristo se submetem ao Seu grande propósito de crescimento e frutificação. Faz parte do plano de Deus diariamente ajustar os servos à imagem de Cristo, fazendo-os refletores da natureza divina, para que produzam fruto abundantemente. Ele deseja que Seu povo, através de uma experiência real com a verdade do evangelho, se torne missionário verdadeiro e confiável. Deus deseja que apresentem resultados muito mais elevados, mais santos e definitivos do que se têm visto em nossos dias. T8 186 2 O oleiro toma o barro nas mãos e molda-o de acordo com sua vontade. Ele amassa e manipula. Dilacera-o, e então junta e comprime as partes separadas. Ele molha e põe para secar. Ele o deixa de lado por algum tempo, sem nele tocar. Quando o considera no ponto, continua o trabalho de moldá-lo. Dá-lhe a forma desejada, depois vai polir o vaso. Deixa-o secar ao sol e coloca no forno. Assim o barro torna-se um vaso apto para o uso. É desse modo que o grande Artífice deseja moldar-nos e polir-nos. E assim como o barro está nas mãos do oleiro, devemos estar em Suas mãos. Não devemos procurar fazer a obra do Oleiro. Nossa parte consiste em submeter-nos à moldagem do grande Artífice. Conselheiros sábios T8 187 1 O Senhor indicou os médicos do Sanatório para ocuparem o lugar de fiéis sentinelas. Através deles, Deus deseja realizar a obra que precisa ser empreendida na instituição. Eles foram enviados para serem Seus ajudantes. Por meio deles, impressões foram causadas no tocante à obra de aliviar a sofredora humanidade. T8 187 2 Mas você tem necessitado do conselho de outras pessoas, além daqueles que são os seus colaboradores. Idéias novas e vivas são necessárias em suas reuniões; isso porque nem todos os seus planos levam sobre si as credenciais divinas. Você tem influenciado a mente daqueles ligados à sua pessoa na obra médico-missionária, até ao ponto em que você e os demais têm se perdido em meio às brumas da incerteza. T8 187 3 Fui instruída pelo Senhor de que a sua tentação ocorre no sentido de tornar sua obra médico-missionária independente da Associação. Esse plano, porém, não é correto. Foi-me mostrado que você não deve planejar do modo como tem feito, ou impor suas idéias, com o perigo de causar dano a si mesmo e à causa de Deus. Divino ajudador T8 187 4 Meu irmão, na qualidade de cirurgião você precisa tomar conta dos casos mais críticos, e por vezes um certo temor cai sobre você. Para desempenhar tão difíceis deveres, sabe você que um trabalho rápido precisa ser feito, e que nenhum movimento em falso pode ser permitido. Vez após outra você tem passado velozmente de uma tarefa a outra. Quem esteve ao seu lado, ao efetuar essas operações melindrosas? Quem o manteve calmo e dominado na crise, dando-lhe discernimento rápido e perspicaz, vista clara, nervos estáveis e habilidosa precisão? O Senhor Jesus enviou Seu anjo para o seu lado, para lhe dizer o que fazer. Colocou-se uma mão sobre a sua mão. Jesus, e não você, guiou os movimentos de seus instrumentos. Por vezes, você reconheceu isso, e manifestou uma admirável calma. Não se atreveu a ter pressa, e todavia trabalhou com rapidez, sabendo que não havia um momento a perder. T8 188 1 O Senhor o abençoou grandemente. Você tem estado sob a guia divina. Outros, que não sabem da guiadora Presença que atua com você, têm atribuído à sua pessoa toda a glória. Médicos eminentes têm presenciado suas cirurgias e louvado a sua habilidade. Isso tem sido agradável para você. O irmão tem sido grandemente honrado por Deus, para que o Seu nome, e não o do irmão, possa ser magnificado. Nem sempre, porém, tem sido você capaz de suportar o olhar perscrutador do Invisível. Você tem revelado o desejo de distinguir a si próprio, nem sempre colocando toda a sua dependência em Deus. Não tem estado disposto a atender ao conselho dos servos do Senhor. Em sua própria sabedoria tem o irmão planejado muitas coisas. O Senhor quer que você respeite o ministério evangélico. Nas próprias oportunidades em que o irmão necessitou de discernimento, para que conseguisse ver não apenas um lado da obra, mas todos os seus ângulos, escolheu como conselheiros homens que se achavam sob a reprovação de Deus. Você esteve disposto a unir-se a eles, desde que dessem apoio às suas propostas. T8 188 2 Através da oração e consagração, ao pedir ao Senhor por sabedoria e ao render-se à Sua orientação, o irmão poderia ter evitado envolver-se em vários empreendimentos que se originaram, não da vontade de Deus, senão da disposição humana. Ao irmão foi concedida a obra que Deus lhe outorgou. Mas você negligenciou coisas de grande importância a fim de assumir, com espírito impulsivo, sem aconselhar-se com o Senhor ou com seus irmãos, coisas de importância menor. T8 189 1 Os irmãos poderiam haver-lhe provido conselho, mas você desprezou todas as palavras que interferiam em seus planos. Isso o colocou numa situação difícil. Houvesse você se mantido fiel à obra que lhe fora indicada, Deus o teria considerado como um colaborador Seu, cada vez mais bem-sucedido. T8 189 2 O Senhor deseja que sua mente se una a outras mentes. Por vezes, quando os Seus servos divergiam de você, era exatamente isso que Deus deles requeria. Mas você lidava com os conselhos deles de uma maneira tal que, a partir de então, muitas vezes permaneceram em silêncio quando deveriam haver-se pronunciado. Deus deseja que aqueles que Ele colocou em posições de confiança pratiquem a justiça e julguem com toda a sabedoria. Fardos que o Senhor não atribuiu T8 189 3 O Senhor lhe deu uma obra para ser realizada, não precipitadamente, mas de maneira calma e considerada. O Senhor nunca exige movimentos apressados ou complicados. Mas o irmão acumulou para si próprio responsabilidades que o Senhor, o misericordioso Pai, não colocou sobre seus ombros. Deveres que Ele jamais ordenou que o irmão assumisse, atropelaram-se uns aos outros de modo selvagem. Jamais devem os Seus servos deixar um dever prejudicado ou incompleto, para sair correndo atrás de outro. Aquele que age na tranqüilidade do temor de Deus, não atuará de modo aleatório, a esmo, pelo temor de que algo atrapalhe outro plano. T8 189 4 Nem todos os fardos que o irmão está carregando foram colocados sobre seus ombros pelo Senhor. As conseqüências de o irmão estar levando esses fardos extraordinários têm sido sentidas em todo o campo. Se você se houvesse mantido fiel aos deveres que lhe foram atribuídos, laborando em favor das classes de pessoas que o Senhor lhe designou para, através do Sanatório, alcançar com a verdade presente, com a mensagem por Ele dada a Seu povo para ser levada ao mundo, muito mais se haveria conseguido no sentido de levar o povo de Deus a estar diante de homens de alta influência. Muito mais se haveria realizado para demonstrar os caminhos, obras e poder de Deus. O Sanatório deveria ser a testemunha de Deus em favor da verdade, da elevada e santificadora verdade. O Senhor o escolheu, meu irmão, como um honrado instrumento Seu. Jamais requereu de você uma tarefa que sobrecarregue seus vínculos com a instituição que deve estar em pé em favor da verdade, que tem uma obra a realizar para Deus, lançando luz nos caminhos de milhares de pessoas. T8 190 1 Você tem uma grande e sagrada obra a realizar. Se for fiel à parte que lhe foi designada, através da habilidade que Ele lhe outorgou, você será habilitado a empreender essa obra sabiamente, embora jamais precise dar a impressão de estar afobado. Quando seus olhos se abrirem, perceberá a profunda carência dos campos missionários. Perceberá que ali os obreiros estão com muitas dificuldades, ao passo que o dinheiro do Senhor está sendo usado para sustentar empreendimentos e instituições na América do Norte, de tal modo que a mensagem que deveria ser levada ao mundo está sendo perdida de vista. T8 190 2 Deus impressiona diferentes pessoas para serem Suas coobreiras. Determinado homem não está autorizado a reunir sobre si tantas responsabilidades. O Senhor deseja que o médico, sobre quem repousa tanto peso, esteja tão intimamente unido a Ele, que seu espírito não venha a irritar-se diante de coisas pequenas. O Senhor almeja que o irmão seja um dos mais eficientes obreiros na profissão médica, nada desconsiderando, nada prejudicando, e sabendo que possui um Conselheiro justamente a seu lado, para sustentá-lo e fortalecê-lo, para comunicar calma e quietude a seu coração. Mente inquieta e incerteza de espírito tornam a mão carente de habilidade. O toque de Cristo sobre a mão do médico traz vitalidade, repouso, confiança e poder. T8 190 3 Escrevo a você como uma mãe a seu filho. Gostaria de poder ajudá-lo. Gostaria até mesmo de ir vê-lo, se sentisse ser meu dever deixar o trabalho aqui na Austrália; mas não me atrevo a isso. Você tem construído esperanças e alimentado planos sem a devida consideração quanto a como a torre se completará. Na qualidade de alguém que sabe, e que teve a oportunidade de ver os resultados da obra que você tem assumido, suplico-lhe que pare e considere. Deus conhece a sua estrutura. Ele sabe que você é apenas pó. Certamente você necessita de conselho, não apenas por parte dos que o tem estimulado a levar avante a obra que lhe parece tão importante, como ainda o conselho de homens que, no atual momento, estão capacitados a ver com maior clareza as conseqüências de determinadas ações. T8 191 1 Não despreze, como se não tivessem importância, as advertências que ainda não consegue compreender. Se o irmão receber as mensagens de advertência que lhe foram enviadas, livrar-se-á de grandes provações. T8 191 2 Resumo de uma carta escrita em Wellington, Nova Zelândia, em 1899 T8 191 3 Não devemos permitir que nossa perplexidade e desapontamentos nos corroam, tornando-nos impertinentes e impacientes. Não haja discórdia, nem suspeitas ou maledicência, para não ofendermos a Deus. Meu irmão, se abrir seu coração à inveja e às vis suspeitas, o Espírito Santo não poderá habitar em você. Busque a plenitude que há em Cristo. Trabalhe da forma por Ele indicada. Que todo pensamento, palavra e ato O revele. Tem de haver um diário batismo do amor que nos dias dos apóstolos os unificava. Esse amor trará saúde ao corpo, espírito e mente. Circunde seu espírito com uma atmosfera que fortaleça a vida espiritual. Cultive a fé, a esperança, o ânimo e o amor. Que a paz de Deus reine no seu coração. Então você será capacitado para corresponder às suas responsabilidades. O Espírito Santo lhe comunicará uma divina eficiência, uma calma e resignada dignidade, em todos os seus esforços para aliviar o sofrimento. Você testificará de que esteve com Jesus. ------------------------Capítulo 31 -- O valor da palavra de Deus A um Médico e sua Esposa T8 192 1 Nossa viagem de volta foi muito boa. Estive em reuniões em diversos lugares. Em Indianápolis, fiquei surpresa por encontrar tantos crentes. Tive que pregar duas vezes ali. O Senhor me deu uma mensagem parecida com a que apresentei antes em Battle Creek, a respeito dos erros que estão se multiplicando entre nós. E as pessoas estavam prontas para ouvir e receber a mensagem. T8 192 2 Quando se insinuam erros em nossas fileiras, não devemos sobre eles estabelecer discussão. Com fidelidade, temos de apresentar a mensagem de reprovação, e desviar, depois, a mente do povo das idéias fantasiosas, errôneas, apresentando-lhes a verdade em contraste com o erro. A apresentação de temas celestiais desvendará para a mente princípios que assentam sobre um alicerce tão duradouro quanto a eternidade. T8 192 3 Os crentes cujas convicções cristãs são coerentes e firmes, cujo caráter possui valor real, são de grande importância para o Mestre. Nada pode demovê-los da fé. A verdade lhes é um tesouro precioso. T8 192 4 A verdade divina é encontrada em Sua Palavra. Os que desejam buscar noutra parte a verdade presente precisam converter-se de novo. Esses têm hábitos errôneos para emendar, caminhos maus que abandonar. Precisam, uma vez mais, buscar a verdade tal como é em Jesus, para que a sua formação de caráter esteja em harmonia com as lições de Cristo. Ao abandonarem as suas idéias humanas e assumirem as obrigações de determinação divina, contemplando a Cristo e amoldando-se à Sua semelhança, irão dizer: "Mais perto, meu Deus, de Ti; mais perto de Ti." T8 192 5 Com a Palavra de Deus em mãos, podemos nos aproximar, passo a passo, de Jesus, com amor consagrado. Ao tornar-se o Espírito de Deus mais bem conhecido, a Bíblia será aceita como a única base de fé. O povo de Deus receberá a Palavra como sendo as folhas da árvore da vida, mais preciosa do que ouro fino purificado no fogo, e mais poderosa para santificar do que outro meio qualquer. A recompensa do estudo fiel T8 193 1 Cristo e a Sua Palavra estão em harmonia perfeita. Quando recebidos e obedecidos, abrem um caminho seguro para os pés de todos quantos se dispõem a andar na luz, como Cristo na luz está. Se o povo de Deus apreciasse a Sua Palavra, teríamos um Céu na igreja, aqui na Terra. Os cristãos estariam ávidos, famintos de pesquisar a Palavra. Impacientes esperariam o momento de comparar textos com textos, e de meditar sobre a Palavra. Estariam mais ávidos da iluminação da Palavra, do que ansiosos pelo jornal matutino, revistas ou ficção. Seu maior desejo seria comer a carne e beber o sangue do Filho de Deus. Em resultado, sua vida se amoldaria aos princípios e promessas da Palavra. Essas instruções seriam para eles como as folhas da árvore da vida. Ou como uma fonte de água que saltaria para a vida eterna. Chuvas frescas de bênçãos lhes refrigerariam e revigorariam o espírito, levando-os a esquecer todo trabalho e canseira. Seriam fortalecidos e animados pelas palavras da inspiração. T8 193 2 Os pastores seriam inspirados com divina fé. Suas orações se caracterizariam pelo fervor, e estariam cheias da divina certeza da verdade. À luz do Céu, o cansaço seria esquecido. A verdade estaria entrelaçada na sua vida, e os princípios celestiais seriam como água corrente, fresca, satisfazendo constantemente a alma. T8 193 3 A filosofia do Senhor é a regra de vida do cristão. O ser todo está impregnado dos vivificantes princípios celestiais. As freqüentes insignificâncias que consomem o tempo de tantas pessoas, reduzem-se à sua devida proporção perante uma saudável e santificadora religiosidade bíblica. T8 194 1 A Bíblia, e somente a Bíblia, pode produzir esse bom resultado. Ela é a sabedoria de Deus e o poder de Deus, e atua com toda a força no coração receptivo. Oh! que alturas poderíamos atingir se conformássemos a nossa vontade com a vontade de Deus! É do poder de Deus que carecemos, onde quer que estejamos. A frivolidade que embaraça a igreja a torna fraca e indiferente. O Pai, o Filho e o Espírito Santo estão buscando e desejando encontrar canais, pelos quais possam comunicar ao mundo os divinos princípios da verdade. T8 194 2 Podem aparecer luzes artificiais, pretendendo vir do Céu, mas não irão brilhar como a estrela da santidade, de brilho celestial, para guiar à cidade de Deus os pés do peregrino e forasteiro. Luzes falsas tomarão o lugar da verdadeira, e muitas pessoas serão por algum tempo enganadas. Não permita Deus que assim aconteça conosco. A luz verdadeira brilha agora, e iluminará as pessoas que tiverem abertas as janelas que dão para o Céu. ------------------------Capítulo 32 -- A obra para o tempo presente Aos Médicos do Nosso Sanatório T8 195 1 Prezados irmãos: T8 195 2 Aqueles que se acham em posição de responsabilidade na Obra de Deus são representados como vigias sobre os muros de Sião. Deus lhes pede que façam soar um alarme no meio do povo. E ele tem de ser ouvido com toda a clareza. O dia da calamidade, da assolação e da destruição está impendente sobre todos os que fizeram injustiça. Com especial rigor, a mão de Deus descerá sobre os vigias que deixaram de expor perante o povo em linhas claras a sua obrigação para com Aquele que é seu Senhor pela criação e pela redenção. T8 195 3 Irmãos, o Senhor lhes pede que examinem rigorosamente o coração. Pede Ele que valorizem a verdade no viver diário, e em todo o relacionamento de uns com os outros. Requer de vocês uma fé que opere por amor e purifique a vida. É perigoso brincar com os sagrados reclamos da consciência; perigoso dar um exemplo que leve os outros numa direção errada. T8 195 4 Devem os cristãos levar consigo, por onde quer que forem, a doce fragrância da justiça de Cristo, mostrando que estão concordando com o convite: "Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas." Mateus 11:29. Estão vocês de fato aprendendo diariamente na escola de Cristo -- aprendendo a pôr de lado as dúvidas e suspeitas malignas; a ser agradáveis e nobres no trato com os irmãos, por amor de cada um e de Cristo? T8 195 5 A verdade presente conduz para a frente e para o alto, agrupando os necessitados, oprimidos, sofredores e destituídos. Todos os que vierem devem ser levados ao aprisco. Na vida de cada um tem de ocorrer uma reforma que os tornará membros da família real, filhos do celeste Rei. Ao ouvirem a mensagem da verdade, homens e mulheres serão levados a aceitar o sábado e unir-se à igreja pelo batismo. Devem eles levar o sinal de Deus por observarem o sábado da criação. Também, saber por experiência própria que a obediência aos mandamentos de Deus significa vida eterna. T8 196 1 Meios e destemido esforço podem ser seguramente empregados numa obra como essa, pois ela é a obra que subsistirá. Dessa forma, os que estavam mortos em ofensas e pecados são trazidos ao companheirismo dos santos e feitos assentar nos lugares celestiais com Cristo. Seus pés são postos em um firme fundamento. Tornam-se capazes de atingir uma elevada norma, até chegar às maiores alturas da fé, pois os cristãos tornaram direitos os caminhos para seus pés, para que o que manqueja não se desvie do caminho. T8 196 2 Cada igreja tem de trabalhar em favor dos que perecem dentro das suas próprias fronteiras, e pelos que estão fora delas. Devem os membros reluzir como pedras vivas no templo de Deus, refletindo a luz celestial. Trabalho algum deve ser feito a esmo, descuidadamente e sem método. Manter seguros os que estão prestes a perecer, significa mais que orar em favor de um ébrio e, depois, porque ele chora e confessa a degradação de sua vida, declará-lo salvo. Repetidas vezes, pode ser necessário recomeçar a batalha. T8 196 3 Que os membros de cada igreja sintam seu especial dever de trabalhar pelos seus vizinhos. Cada um que alega estar sob a bandeira de Cristo, sinta ter assumido compromisso com Deus para fazer a obra do Salvador. Que os que se encarregam desse trabalho não se cansem de fazer o bem. Quando os redimidos estiverem perante Deus, responderão ao chamado preciosas vidas que ali estão por causa dos fervorosos e perseverantes esforços feitos em seu benefício, e das súplicas e intensa persuasão para que fugissem para a Fortaleza. Dessa forma, os que neste mundo têm estado a cooperar com Deus, receberão a sua recompensa. T8 197 1 Os líderes das igrejas populares não permitirão que a verdade seja apresentada de seus púlpitos ao povo. O inimigo os leva a resistir à verdade com rancor e malícia. Fabricam-se falsidades. Repete-se a experiência de Cristo com os líderes judeus. Satanás procura eclipsar todo raio de luz que vem de Deus para o Seu povo. Ele opera por meio dos líderes como o fez por intermédio dos sacerdotes e dirigentes nos dias de Cristo. Devem os que conhecem a verdade unir a seu partido, para opor, embaraçar e desviar os que estão procurando trabalhar na direção apontada por Deus para levar avante a Sua obra e hastear o estandarte da verdade nas regiões das trevas? Nossa mensagem T8 197 2 A mensagem do terceiro anjo, que abrange as mensagens do primeiro e do segundo anjo, é a mensagem para este tempo. Devemos erguer a bandeira na qual se acha escrito: "Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." O mundo irá logo defrontar-se com o grande Doador da Lei, a respeito de Sua lei quebrada. Não é este o tempo para se perderem de vista as grandes questões que estão diante de nós. Deus pede que Seu povo engrandeça a lei e a torne gloriosa. T8 197 3 Quando as estrelas da manhã juntas, alegremente, cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam, foi o sábado dado ao mundo, para que o homem pudesse lembrar-se sempre de que em seis dias Deus criou o mundo. Ele repousou no sétimo dia, abençoou-o como o dia do Seu repouso e o deu aos seres que criou, para que eles pudessem lembrar-se dEle como o Deus vivo e verdadeiro. T8 197 4 A despeito da oposição de Faraó, por Seu grande poder libertou Deus o Seu povo do Egito, a fim de que pudesse guardar a lei que fora dada no Éden. Ele os trouxe ao Sinai para que ouvissem a proclamação dessa lei. T8 198 1 Ao anunciar os Dez Mandamentos aos filhos de Israel com a Sua própria voz, demonstrou Deus a sua importância. Em maravilhoso esplendor tornou Ele conhecida a Sua majestade e autoridade como Governador do mundo. Isso fez Ele para impressionar as pessoas com a santidade de Sua lei e a importância de obedecer-lhe. O poder e a glória com os quais foi a lei dada, revelam sua importância. Essa é a fé que foi entregue aos santos por Cristo nosso Redentor, de viva voz do Sinai. O sinal de nossa relação com Deus T8 198 2 Por meio da observância do sábado, deviam os filhos de Israel distinguir-se de todas as outras nações. "Certamente guardareis Meus sábados", disse Cristo, "porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica." "Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus, e a Terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se." "Guardarão pois o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo." Êxodo 31:13, 17, 16. T8 198 3 O sábado é um sinal da relação que existe entre Deus e Seu povo -- sinal de que eles são Seus súditos obedientes, de que guardam Sua santa lei. A observância do sábado é o meio ordenado por Deus para preservação do conhecimento de Si mesmo e distinção entre os Seus súditos leais e os transgressores de Sua lei. T8 198 4 Essa é a fé uma vez entregue aos santos, os quais permanecem com poder moral perante o mundo, mantendo firmemente a fé. T8 199 1 Teremos oposição quando anunciarmos a mensagem do terceiro anjo. Satanás porá em execução todo plano possível para tornar sem efeito a fé uma vez entregue aos santos. "E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." 2 Pedro 2:2, 3. A despeito da oposição, porém, todos devem ouvir as palavras da verdade. T8 199 2 A lei de Deus é o fundamento de toda reforma duradoura. Devemos apresentar ao mundo em linhas claras e distintas a necessidade de obedecer a essa lei. A obediência à lei de Deus é o maior incentivo à laboriosidade, economia, veracidade e ao tratamento justo entre homem e homem. T8 199 3 A lei de Deus deve ser o meio de educação na família. Acham-se os pais na mais solene obrigação de obedecer a essa lei, dando aos filhos um exemplo da mais estrita integridade. Os homens que ocupam posições de responsabilidade, cuja influência é de longo alcance, devem guardar bem os seus caminhos e atos, conservando sempre diante de si o temor do Senhor. "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Salmos 111:10. Os que diligentemente dão ouvidos à voz do Senhor, e com prazer guardam os Seus mandamentos, estarão contados entre os que verão a Deus. "O Senhor nos ordenou que fizéssemos todos estes estatutos, para temer ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça quando tivermos cuidado de fazer todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como nos tem ordenado." Deuteronômio 6:24, 25. T8 199 4 Nosso trabalho, como crentes na verdade, é apresentar ao mundo a imutabilidade da lei de Deus. Pastores e professores, médicos e enfermeiros acham-se obrigados, por compromisso com Deus, a apresentar a importância da obediência ao Seus mandamentos. Devemos ser distinguidos como o povo que guarda os mandamentos. O Senhor declarou de maneira explícita que Ele tem uma obra a ser feita em prol do mundo. Como poderá ser ela feita? Devemos procurar encontrar a melhor maneira e então fazer a vontade do Senhor. T8 200 1 Este mundo é uma escola de preparo para a escola do além, esta vida é um preparo para a vida por vir. Devemos preparar-nos aqui para a entrada nas cortes celestiais. Cumpre-nos receber a verdade, crer nela e praticá-la aqui, até que estejamos preparados para habitar com os santos na luz. T8 200 2 Nossos sanatórios devem ser estabelecidos para um propósito -- a proclamação da verdade para este tempo. E devem ser dirigidos a fim de que uma positiva impressão seja causada na mente daqueles que a eles acorrem em busca de tratamento. A conduta de cada obreiro deve falar em favor do direito. Temos uma mensagem de advertência para dar ao mundo, e nosso zelo, nosso devotamento ao serviço de Deus, devem dar testemunho em favor da verdade. ------------------------Capítulo 33 -- Visão mais ampla Aos Médicos Missionários T8 201 1 Cristo, o grande Médico Missionário, veio a nosso mundo como o ideal de toda verdade. A verdade jamais enfraqueceu nos Seus lábios, jamais sofreu em Suas mãos. Palavras de verdade romperam de Seus lábios com o frescor e poder de uma nova revelação. Desdobrou Ele os mistérios do reino dos Céus, apresentando jóia após jóia de verdade. T8 201 2 Cristo falou com autoridade. Toda a verdade essencial ao conhecimento das pessoas proclamou Ele com a indubitável certeza do conhecimento. Nada proferiu de fantasioso ou sentimentalista. Não apresentou sofismas, nem opiniões humanas. Nada de contos vazios, nenhuma falsa teoria revestida de linguagem bonita, brotou de Seus lábios. As declarações que emitiu foram verdades estabelecidas a partir de conhecimento pessoal. Anteviu as enganadoras doutrinas que encheriam o mundo, mas não as revelou. Em Seus ensinamentos, tratou dos imutáveis princípios da Palavra de Deus. Enalteceu as verdades simples e práticas que o povo comum era capaz de entender e aplicar em sua experiência diária. T8 201 3 Cristo poderia haver desvendado aos homens as mais profundas verdades da ciência. Poderia haver revelado mistérios que requereram séculos de árduo estudo a fim de serem penetrados. Poderia haver apresentado sugestões em assuntos científicos, que teriam resultado em alimento para o raciocínio e estímulo para invenções até o tempo do fim. Mas não Se ocupou disso. Nada proferiu para satisfazer a curiosidade ou para gratificar as ambições humanas abrindo as portas para a humana grandeza. Em todos os Seus ensinamentos, Cristo conduziu a mente das pessoas ao contato com a Mente Infinita. Não conduziu os homens ao estudo das teorias humanas a respeito de Deus, Sua Palavra ou Suas obras. Ensinou-lhes a contemplar a Deus conforme manifesto em Suas obras, Sua Palavra e Sua providência. A vitória de Cristo sobre a incredulidade T8 202 1 Enquanto aqui na Terra, o Filho de Deus foi o Filho do homem; ainda assim, em certas ocasiões Sua divindade irradiava. Foi o que ocorreu quando disse ao paralítico: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados." Mateus 9:2. T8 202 2 "E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seu coração." Marcos 2:6. "Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Lucas 5:21. T8 202 3 "Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vosso coração? Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados -- disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa." Mateus 9:4-6. T8 202 4 O grande Médico Missionário removeu os pecados do paralítico, e então o apresentou a Deus como perdoado. Deu-lhe também a cura física. Deus concedera a Seu Filho o poder de lançar mão do trono eterno. Embora Cristo Se apresentasse em Sua própria personalidade, refletiu o brilho da posição de honra que ocupara em meio à enriquecedora luz do trono eterno. T8 202 5 Noutra ocasião, Cristo requereu do Pai: "Pai, glorifica o Teu nome." E a resposta veio através de uma voz do Céu, que disse: "Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei." João 12:28. T8 202 6 Se essa voz não convenceu o impenitente, se o poder de Cristo manifestado em Seus poderosos milagres não levou os judeus a crerem, não deveríamos surpreender-nos grandemente ao constatar que homens e mulheres dos dias de hoje se encontram em perigo, através de contínua associação com incrédulos, que manifestam o mesmo espírito descrente que os judeus apresentaram, e que desenvolvem a mesma compreensão pervertida. T8 203 1 Tenho-me sentido indescritivelmente triste ao considerar aquilo que tem sido aberto diante de mim, relacionado com o estado de coisas que ocorrem em Battle Creek e em outros centros do nosso trabalho, onde grande luz tem brilhado. No passado, quando os assuntos eram apresentados como errados, havia a compreensão do erro, e isso era seguido de confissão, arrependimento e ampla reforma. Mas ultimamente não têm existido mordomos fiéis para reprimir o mal que precisa ser reprimido. Deveríamos nós, então, sentir-nos surpresos de que esteja a ocorrer uma grande cegueira espiritual? T8 203 2 Aqueles que estão envolvidos com o ministério evangélico precisam aprender de Cristo, de Sua bondade e mansidão, precisam converter-se inteiramente para que sua vida testifique ao mundo morto em pecados e transgressões que eles nasceram de novo. Os obreiros médico-missionários também necessitam de conversão. Quando isso ocorrer, sua influência será um vigoroso poder para o bem do mundo. Desejarão receber conselho e ajuda de seus irmãos, pois haverão sido santificados na verdade. Diariamente receberão ricos suprimentos da graça do Céu, a fim de compartilhá-la com outros. T8 203 3 A cada um de Seus indicados agentes, o Senhor envia a mensagem: "Assuma posição em seu posto de dever, e permaneça firme ao que é correto." Sou instruída a dizer a todos: "Encontrem o seu lugar. Não recebam os fantasiosos sentimentos de homens que não foram ensinados por Deus. Cristo está esperando para dar-lhes vislumbres das coisas celestiais; esperando para acelerar seu pulso espiritual em favor de renovada atividade. Não mais subordinem os requisitos dos futuros e eternos interesses aos embates comuns desta vida. 'Não podeis servir a Deus e a Mamom.' Mateus 6:24. Despertem, despertem!" T8 204 1 A dimensão da obra médico-missionária não é entendida. A obra médico-missionária que se requer agora é a esboçada na comissão dada por Cristo aos Seus discípulos precisamente antes de Sua ascensão. "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra", disse Ele. "Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:18-20. T8 204 2 Essas palavras indicam nosso campo e nossa obra. Nosso campo é o mundo; nossa obra a proclamação das verdades que Cristo veio ao mundo anunciar. Os homens e as mulheres devem ter oportunidade de adquirir conhecimento da verdade presente, a oportunidade de saber que Cristo é o seu Salvador, que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Advertência contra a centralização T8 204 3 Cristo incluiu o mundo todo em Sua obra missionária, e o Senhor me mostrou, por meio de revelação, que não é plano Seu que sejam construídos grandes centros, que sejam estabelecidas grandes instituições e que as economias de nosso povo em todas as partes do mundo sejam consumidas na manutenção de umas poucas instituições grandes, quando as necessidades do momento exigem que alguma coisa seja feita, quando a Providência abre o caminho em muitos lugares. Devem ser providenciadas instalações em vários lugares, distribuídas por todo o mundo. Primeiro uma, depois outra parte da vinha deve ser penetrada, até que toda ela tenha sido cultivada. Deve-se fazer esforços onde quer que a necessidade seja maior. Mas não podemos prosseguir com essa luta intensiva e ao mesmo tempo fazer investimentos extravagantes de meios em uns poucos lugares. T8 205 1 O Sanatório de Battle Creek é muito grande. Grande número de obreiros será exigido para cuidar dos pacientes que chegarem. Um décimo dos pacientes que vêm para essa instituição é tudo de que se pode cuidar com os melhores resultados em um centro médico-missionário. Deveriam ser estabelecidos centros em todas as cidades que não estão informadas da grande obra que o Senhor deseja ver realizada para advertir o mundo de que o fim de todas as coisas está próximo. "Há demais em um só lugar", diz o Grande Instrutor. T8 205 2 Os que se preparam para se dedicar à obra médico-missionária nos países estrangeiros devem ir aos lugares que consideram seu campo de trabalho, e começar a trabalhar diretamente entre o povo, aprendendo a língua enquanto trabalham. Muito em breve notarão que são capazes de ensinar as verdades simples da Palavra de Deus. Um campo negligenciado próximo a nós T8 205 3 Há neste país um campo vasto e sem cultivo. Os negros, em número de milhares e milhares, apelam para a consideração e simpatia de todo verdadeiro crente em Cristo. Essas pessoas não vivem em um país estrangeiro e não se prostram diante de ídolos de madeira e de pedra. Vivem entre nós e, vez após vez, tem Deus chamado nossa atenção para elas por meio do testemunho, do Seu Espírito, dizendo-nos que há seres humanos negligenciados. T8 205 4 Esse vasto campo apresenta-se não trabalhado perante nós, clamando pela luz que Deus nos concedeu em confiança. ------------------------Capítulo 34 -- Cristo é nosso exemplo Aos Médicos Missionários T8 206 1 O que mais se faz necessário aos médicos-missionários é a orientação do Espírito do Senhor. Aqueles que atuam como Cristo, o grande Médico-Missionário, precisam ter uma disposição espiritual. Mas nem todos os que estão praticando a obra médico-missionária estão exaltando a Deus e Sua verdade. Nem todos estão se submetendo à orientação do Espírito Santo. Alguns estão acumulando junto aos alicerces madeira, feno e restolho -- materiais que não suportarão a prova do fogo. T8 206 2 Oro para que tenha a sabedoria e o poder de Deus para apresentar diante de vocês aquilo que constitui a obra médico-missionária do evangelho. Esse é um grande e importante setor de nossa obra denominacional. Muitos, contudo, têm perdido de vista os puros e enobrecedores princípios que devem constituir a base de uma obra médico-missionária aceitável. T8 206 3 Em meu diário, encontrei o seguinte texto, escrito há um ano: T8 206 4 29 de Outubro de 1902. Despertei cedo, nesta manhã. Depois de orar intensamente por sabedoria e clareza de mente, para que pudesse expressar de maneira adequada os assuntos para os quais foi chamada a minha atenção, escrevi cerca de dez páginas de instruções. Sei que o Senhor me ajudou a colocar no papel o importante assunto que deve ser colocado diante de Seu povo. T8 206 5 Enquanto escrevia sobre a questão, senti enorme peso, mas depois que as instruções foram registradas, um alívio me sobreveio à mente; pois eu sabia que o assunto que me fora apresentado não se perderia, mesmo que escapasse de minha mente. T8 206 6 Só aqueles que compreendem ser a cruz o fundamento da esperança para a família humana são capazes de entender o evangelho ensinado por Cristo. Veio Ele a este mundo sem outro propósito que não o de colocar o homem em terreno vantajoso diante do mundo e do universo celestial. Veio para revelar o testemunho de que seres humanos decaídos, através da fé em Seu poder e eficácia como Filho de Deus, são capazes de tornar-se participantes da natureza divina. Tão-somente Ele poderia realizar a expiação pelos pecadores e abrir as portas do paraíso à raça caída. Assumiu sobre Si, não a natureza dos anjos, senão a do homem, e viveu aqui no mundo uma vida não contaminada pelo pecado. "E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai." "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome." João 1:14, 12. T8 207 1 Por Sua vida e morte, Cristo ensinou que unicamente pela obediência aos mandamentos de Deus pode o homem encontrar segurança e verdadeira grandeza. "A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma." Salmos 19:7. A lei de Deus é um transcrito de Seu caráter. Foi concedida ao homem no princípio como padrão de obediência. Em sucessivas eras essa lei foi perdida de vista. Centenas de anos após o dilúvio, Abraão foi chamado, e foram-lhe outorgadas as promessas de que seus descendentes exaltariam a lei de Deus. No decorrer do tempo, os israelitas foram para o Egito, onde por muitos anos sofreram feroz opressão nas mãos dos habitantes do país. Depois de haverem estado sob escravidão durante aproximadamente quatrocentos anos, Deus os libertou por intermédio de poderosas manifestações de Sua força. Revelou-Se aos egípcios como o Governador do Universo, Aquele que era maior que todas as divindades pagãs. T8 207 2 No Sinai, foi a lei outorgada pela segunda vez. Em espantosa grandeza o Senhor proferiu os Seus preceitos, e com Seu próprio dedo gravou o Decálogo em tábuas de pedra. T8 207 3 Percorrendo os séculos, constatamos que chegou um tempo em que a lei de Deus precisou uma vez mais ser revelada de modo inconfundível como o padrão de obediência. Cristo veio para vindicar os sagrados reclamos da lei. Veio para viver uma vida de obediência a seus requisitos, provando assim a falsidade das acusações feitas por Satanás, de que era impossível ao homem guardar a lei de Deus. Como homem, enfrentou Ele a tentação e triunfou sobre ela no poder que Deus Lhe concedeu. Enquanto prosseguia fazendo o bem e curando a todos os afligidos por Satanás, tornou bem claro aos homens o caráter da lei de Deus e a natureza de Sua missão. Sua vida testifica de que também a nós é possível obedecer à lei de Deus. T8 208 1 Jamais Se desviou Cristo da lealdade aos princípios da lei de Deus. Nunca realizou qualquer coisa contrária à vontade de Seu Pai. Diante de anjos, homens e demônios, pôde proferir palavras que, provindas de quaisquer outros lábios, haveriam constituído blasfêmia: "Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29. Dia a dia, durante três anos, Seus inimigos O acompanharam, tentando encontrar alguma falha em Seu caráter. Satanás, com toda a sua confederação maligna, procurou sobrepujá-Lo; mas não encontraram coisa alguma nEle, pela qual pudessem obter vantagem. Mesmo os demônios tiveram de reconhecer: "Bem sei quem és: o Santo de Deus." Marcos 1:24. Auto-sacrifício T8 208 2 Que linguagem poderia tão adequadamente expressar o amor de Deus pela família humana quanto aquela expressa no dom de Seu Filho unigênito em favor de nossa redenção? O Inocente suportou o castigo do culpado. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Quem crê nEle não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus." João 3:16-18. T8 208 3 Cristo Se deu, como sacrifício expiatório, para a salvação de um mundo perdido. Foi tratado como nós merecemos, a fim de podermos ser tratados como Ele merece. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que pudéssemos ser justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, a fim de podermos receber a vida que Lhe pertencia. "Pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:5. T8 209 1 Cristo foi tentado em todos os pontos como nós, por aquele que no passado estivera lealmente a Seu lado nas cortes celestiais. Contemplem o Filho de Deus no deserto da tentação, em tempos de grande fraqueza, assaltado pela mais feroz tentação. Vejam-nO durante Seus anos de ministério, atacado por todos os lados pelas forças do mal. Observem-nO em agonia sobre a cruz. Tudo isso Ele sofreu por nós! T8 209 2 A vida terrena de Cristo, tão cheia de labuta e sacrifício, foi encorajada com o pensamento de que Ele não veria frustrados todos os Seus esforços. Ao dar a vida pela vida dos homens, traria o mundo de volta à lealdade. Embora devesse primeiro receber o batismo de sangue, conquanto os pecados do mundo estivessem a pesar sobre a Sua alma inocente, ainda assim, pelo gozo que Lhe estava proposto escolheu suportar a cruz e desprezar a afronta. T8 209 3 Estudemos a definição de Cristo do que seja um verdadeiro missionário: "Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-Me." Marcos 8:34. Seguir a Cristo, conforme está expresso nessas palavras, não é uma presunção, uma farsa. Espera Jesus que os Seus discípulos Lhe sigam de perto os passos, suportando o que Ele suportou, sofrendo o que Ele sofreu, vencendo como Ele venceu. Espera Ele ansiosamente ver os Seus professos seguidores revelarem o espírito de renúncia. T8 209 4 Os que recebem a Cristo como Salvador pessoal, preferindo ser participantes do Seu sofrimento, viver-Lhe a vida de desprendimento, suportar afronta por Sua causa, entenderão o que significa ser um verdadeiro médico-missionário. T8 209 5 Quando todos os nossos médicos-missionários viverem a nova vida em Cristo, quando tiverem como guia a Sua Palavra, terão uma compreensão muito mais clara do que constitui a genuína obra médico-missionária. Esse trabalho assumirá um sentido mais profundo para eles ao prestarem obediência implícita à lei gravada em tábuas de pedra pelo dedo de Deus, inclusive o mandamento do sábado, a respeito do qual o próprio Cristo falou por meio de Moisés aos filhos de Israel dizendo: T8 210 1 "Tu pois fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados; porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica." "Guardarão pois o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre." Êxodo 31:13, 16, 17. T8 210 2 Estudemos diligentemente a Palavra de Deus, para que possamos proclamar com poder a mensagem que deve ser dada nestes últimos dias. Muitos daqueles sobre os quais brilha a luz da vida de renúncia do Salvador se recusam a viver em conformidade com Sua vontade. Não estão dispostos a ter uma vida de sacrifício para o bem dos outros. Desejam exaltar a si mesmos. Para esses, a verdade e a justiça perderam o significado, e em sua influência dessemelhante à de Cristo levam muitos a se afastarem do Salvador. Deus chama obreiros fiéis e resolutos, cuja vida neutralize a influência daqueles que estão trabalhando contra Ele. T8 210 3 Sou instruída a dizer a todo obreiro médico-missionário: Siga o Líder. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é seu exemplo. Que todos os obreiros médicos-missionários assumam a responsabilidade de ter em vista a vida de serviço altruísta de Cristo. Devem eles conservar os olhos fixos em Jesus, o autor e consumador de sua fé. É Ele a fonte de toda a luz, a base de toda bênção. Posição firme em favor do direito T8 210 4 Deus convoca Seus obreiros, nesta época de fingida piedade e pervertidos princípios, a revelarem uma espiritualidade saudável e influente. Meus irmãos e irmãs, isso Deus requer de vocês. Cada parcela de sua influência deve ser empregada do lado de Cristo. Vocês precisam agora identificar as coisas por seus verdadeiros nomes, permanecendo firmes em defesa da verdade tal qual é em Jesus. T8 211 1 É necessário que toda pessoa cuja vida se encontra escondida com Cristo em Deus venha agora para a frente de batalha e lute em favor da fé uma vez entregue aos santos. A verdade precisa ser defendida e o reino de Deus levado a avançar, tal como se Cristo estivesse pessoalmente na Terra. Se Ele aqui estivesse, certamente reprovaria muitos que, embora professando ser médicos missionários, não tomaram a decisão de aprender da mansidão e bondade do Grande Médico missionário. Na vida de alguns que ocupam posições elevadas na obra médico-missionária, o eu é que tem sido exaltado. Até que essas pessoas triunfem sobre todo desejo de projetar o eu, não serão capazes de discernir claramente o caráter de Cristo, nem realizar a obra que Ele empreendeu. T8 211 2 Quando o Espírito Santo controlar a mente de nossos membros da igreja, o resultado será, na igreja, na linguagem, no ministério, na espiritualidade, mais alta norma do que agora existe. Os membros da igreja serão refrigerados pela água da vida, e os obreiros, trabalhando sob as ordens de um único Líder, o próprio Cristo, revelarão o Seu Mestre no espírito, nas palavras, nos atos, e animar-se-ão mutuamente para avançar no glorioso trabalho de finalização em que nos empenhamos. Haverá substancial aumento de unidade e amor, que testificarão para o mundo que Deus enviou Seu Filho para morrer pela redenção dos pecadores. A verdade divina será exaltada; e ao brilhar como uma lâmpada acesa, compreendê-la-emos com maior, muito maior clareza. T8 211 3 A verdade que constitui o parâmetro para o tempo atual não é de elaboração de qualquer mente humana. Provém de Deus. É filosofia genuína para os que dela se apropriam. Cristo tornou-Se carne para que nós, através da fé na verdade, pudéssemos ser santificados e redimidos. Que se levantem aqueles que sustentam a verdade em justiça, e avancem calçados com a preparação do evangelho da paz, para proclamarem a verdade àqueles que não a conhecem. Que preparem caminhos retos para seus pés, para que nem os coxos se desviem do caminho. T8 212 1 Temos que nos unir agora e, através da verdadeira obra médico-missionária, preparar o caminho para o nosso Rei vindouro. Lembremo-nos, porém, de que a unidade cristã não quer dizer que a identidade de uma pessoa deva submergir-se na de outra, também não quer dizer que a mente de um deva ser guiada e controlada pela mente de outro. Deus não deu a homem algum o poder que alguns, por palavra e atos, procuram reivindicar. Deus requer que todo homem siga as direções da Palavra. T8 212 2 Cresçamos no conhecimento da verdade, oferecendo todo louvor e glória Àquele que é Um com o Pai. Busquemos com mais intensidade a unção celestial, o Santo Espírito. Desenvolvamos um cristianismo puro e sempre crescente, de modo que nas cortes celestiais possamos finalmente ser considerados completos em Cristo. T8 212 3 "Aí vem o esposo! Saí-lhe ao encontro!" Mateus 25:6. Não percam agora tempo em espevitar e fazer brilhar as suas luzes. Não percam tempo diante da busca de perfeita unidade uns com os outros. Temos de estar preparados para as dificuldades. Provações sobrevirão. Cristo, o Capitão de nossa salvação, tornou-Se perfeito em meio ao sofrimento. Seus seguidores se defrontarão muitas vezes com o inimigo e serão severamente provados; não necessitam, contudo, entrar em desespero. Cristo lhes diz: "Tende bom ânimo; Eu venci o mundo." João 16:33. T8 212 4 As linhas seguintes retratam a batalha do cristão: T8 212 5 "Pensava eu que do cristão para o Céu o caminho Fosse claro como o sol, como a manhã de virtude. Tu me mostraste o caminho: era escuro e rude, Pontilhado de pedra, crivado de espinhos; Sonhei com celestial recompensa que perdura; Pedi o ramo de palma, as vestes e a coroa; Pedi, mas me mostraste a cruz e a sepultura!" T8 212 6 "Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente e fortalecei-vos. Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade." 1 Coríntios 16:13, 14. ------------------------Capítulo 35 -- Lições do passado T8 213 1 Era desígnio de Deus que após o dilúvio, em cumprimento à ordem dada a Adão, os homens se espalhassem pela Terra, a fim de povoá-la e dominá-la. T8 213 2 À medida, porém, que os descendentes de Noé cresceram em número, a apostasia começou a manifestar-se. Aqueles que desejavam lançar longe as restrições da lei de Deus, decidiram separar-se dos adoradores de Jeová. Determinaram-se a manter sua comunidade unida em um corpo, e a fundar uma monarquia que posteriormente chegasse a abarcar todo o mundo. Na planície de Sinear, resolveram construir uma cidade, e nela uma torre que se constituiria em maravilha ao mundo. Essa torre deveria ser tão alta que nenhum dilúvio atingiria seu topo, tão forte que coisa alguma fosse capaz de arrastá-la. Esperavam conseguir assim sua própria segurança, tornando-se independentes de Deus. T8 213 3 Essa confederação nasceu da rebelião contra Deus. Os habitantes da planície de Sinear estabeleceram seu reino para exaltação própria, não para glória de Deus. Se tivessem êxito, uma grande potência teria dominado, banindo a justiça e fundando uma nova religião. O mundo teria ficado desmoralizado. Teorias errôneas haveriam afastado as mentes de sua fidelidade aos estatutos divinos, e a lei de Jeová haveria sido ignorada e esquecida Deus, porém, jamais deixa o mundo sem testemunhas Suas. Havia naquele tempo homens que se humilharam diante de Deus e clamaram a Ele. "Ó Deus", imploravam eles, "interpõe-Te entre a Tua causa e os planos e métodos dos homens!" "Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam." Gênesis 11:5. Anjos foram enviados para arrasar com os propósitos dos edificadores. T8 214 1 A torre atingira admirável altura, de modo que já era impossível aos operários do topo comunicarem-se diretamente com os que se encontravam na base; assim, homens foram posicionados em diferentes pontos, cada um para receber e transmitir aos que se achavam logo a seguir na seqüência os pedidos de materiais ou outras informações relacionadas com o trabalho. À medida que as mensagens assim passavam de uns para outros, a linguagem tornou-se confusa, de modo que se solicitavam materiais não necessários, e as orientações recebidas eram muitas vezes o inverso das que haviam sido transmitidas. Seguiram-se confusão e desencanto. A obra paralisou por completo. Não mais se conseguiu cooperação ou harmonia. Os construtores ficaram atônitos, inteiramente incapazes de compreender o estranho desentendimento entre si próprios, e em ira e desapontamento censuraram-se mutuamente. Sua confusão terminou em briga e derramamento de sangue. Relâmpagos do Céu arrebentaram a porção superior da torre, lançando-a ao solo. Os homens perceberam que existe um Deus que governa no Céu, e é capaz de confundir e multiplicar a confusão de modo a ensinar aos homens que eles são apenas homens. T8 214 2 Deus tem suportado longamente a perversidade dos homens, dando-lhes ampla oportunidade de arrependimento; Ele identifica, porém, todos os seus artifícios para resistir à autoridade de Sua justa e santa lei. T8 215 1 Até esse tempo todos falavam a mesma linguagem; e depois, os que conseguiam entender a linguagem de outros juntaram-se em grupos; uns tomaram determinado caminho, outros algum diferente. "Porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a Terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a Terra." Gênesis 11:9. T8 215 2 Em nossos dias, o Senhor deseja que Seu povo se disperse através da Terra. Não devem estabelecer-se em colônias. Jesus disse: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Marcos 16:15. Quando os discípulos seguiram sua inclinação de permanecer em grande número em Jerusalém, foi permitido que a perseguição lhes sobreviesse, de modo que foram espalhados para todas as partes do mundo habitado. T8 215 3 Durante anos, mensagens de advertência e súplica têm sido enviadas a nosso povo, insistindo para que se dirija ao grande campo de seara do Mestre e labute pela salvação das pessoas. T8 215 4 De testemunhos escritos em 1895 e 1899, transcrevo os seguintes parágrafos: T8 215 5 "Verdadeiros agentes missionários não se reunirão em colônias. O povo de Deus deve sentir-se como peregrinos e estrangeiros na Terra. O investimento de grandes quantias de dinheiro em construções para levar avante a obra em um só lugar não faz parte da ordem do Senhor. Edifícios devem ser construídos em muitos lugares. Escolas e sanatórios devem ser estabelecidos em lugares onde hoje nada existe para representar a verdade. Esses projetos não devem ser constituídos com o objetivo de ganhar dinheiro, antes com o propósito de espalhar a verdade. Terrenos devem ser adquiridos a certa distância das cidades, onde possam ser edificadas escolas nas quais a juventude receberá instrução em áreas de agricultura e mecânica. T8 215 6 "Os princípios da verdade presente devem ser difundidos mais e mais. Existem alguns que estão raciocinando a partir de um ponto de vista equivocado. Pelo fato de ser mais conveniente ter o trabalho centralizado num só lugar, posicionam-se a favor de amontoar tudo nesse local. Grande mal é o resultado. Lugares que precisariam ser ajudados, encontram-se destituídos. T8 216 1 "O que posso dizer a nosso povo, que o leve a seguir o curso de ação que será para o seu bem presente e futuro? Não atenderão os que vivem em Battle Creek à luz a eles concedida por Deus? Não haverão eles de negar o eu, tomar a cruz e seguir a Jesus? Não atenderão eles o chamado de seu Líder, para deixar Battle Creek e construir em outros lugares? Não se dirigirão eles aos lugares escuros da Terra a fim de contar a história do amor de Cristo, confiando que Deus lhes outorgará o sucesso? T8 216 2 "Não é plano de Deus que o nosso povo se amontoe em Battle Creek. Jesus diz: 'Filho, vai trabalhar hoje na Minha vinha. Mateus 21:28. Afastem-se dos lugares em que não são necessários. Ergam o estandarte da verdade em cidades e vilas que ainda não escutaram a mensagem. Preparem o caminho para a Minha volta. Os que se encontram nos caminhos e valados precisam ouvir o chamado.' T8 216 3 "O Senhor tornará o deserto um lugar sagrado à medida que Seu povo, repleto do espírito missionário, se ponha a edificar centros para a Sua obra, estabelecendo sanatórios onde os enfermos e aflitos possam receber cuidados; e escolas, onde a juventude seja educada nos caminhos corretos." T8 216 4 "Tem sido dito com insistência que existem grandes vantagens em operar tantas instituições em íntima conexão umas com as outras; que uma fortalecerá a outra, além de propiciarem ajuda aos que desejam obter educação e emprego. Isso está de acordo com raciocínios humanos; pode-se admitir que, de um ponto de vista humano, muitas vantagens sejam obtidas ao se acumular tantas responsabilidades em Battle Creek; tal visão, entretanto, precisa ser expandida." T8 216 5 A despeito de freqüentes conselhos em sentido contrário, os homens continuam a fazer planos para a centralização do poder, para juntar muitos interesses sob um controle único. Esta obra foi primeiramente iniciada nos escritórios da Review and Herald. As coisas inclinaram-se primeiro numa direção, depois noutra. Foi o inimigo de nossa obra quem lançou o apelo para a consolidação da obra de publicações sob um só poder controlador em Battle Creek. T8 217 1 Ganhou então simpatizantes a idéia de que a obra médico-missionária teria grande avanço se todas as nossas instituições médicas e outras atividades médico-missionárias fossem reunidas sob o controle da associação médico-missionária de Battle Creek. T8 217 2 Foi-me dito que eu precisaria erguer a voz em advertência contra essas idéias. Não devemos estar sob o controle de homens que são incapazes de controlar a si próprios, e que não estão dispostos a submeter-se a Deus. Não devemos ser guiados por homens que desejam que sua palavra seja o poder controlador. O desejo de exercer controle tem sido muito marcante, e Deus tem enviado advertência após advertência, proibindo confederações e consolidações. Advertiu-nos contra nos unirmos para dar cumprimento a certos acordos que seriam apresentados por homens que se esforçam para controlar os movimentos de seus irmãos. Centro educacional T8 217 3 O Senhor não está satisfeito com alguns arranjos que vêm sendo realizados em Battle Creek. Declarou Ele que outros lugares foram privados da luz e das vantagens que se têm centralizado e multiplicado em Battle Creek. Não agrada a Deus que nossa juventude, proveniente de todas as partes do país, seja convocada a Battle Creek, a fim de trabalhar no Sanatório, e para receber sua educação. Permitindo isso, estamos sendo culpados de roubar dos campos necessitados freqüentemente seus mais preciosos tesouros. T8 218 1 Por intermédio da luz concedida nos testemunhos, o Senhor tem indicado não ser Seu desejo que os jovens deixem as escolas e sanatórios de seus lugares de origem, para serem educados em Battle Creek. Ele nos orientou a remover o Colégio deste lugar. Isso foi feito, mas as instituições remanescentes fracassaram em realizar o plano, compartilhando com outros lugares as vantagens ainda centralizadas em Battle Creek. O Senhor manifestou Seu desprazer ao permitir que os principais edifícios dessas instituições fossem destruídos pelo fogo. T8 218 2 A despeito das claras evidências da providência do Senhor através desses incêndios devastadores, alguns dentre nós não hesitaram em afirmar que tais edifícios foram destruídos porque os homens vinham declarando coisas numa linha de pensamento que o Senhor não poderia aprovar. T8 218 3 Os homens se têm afastado de princípios corretos, para a promulgação dos quais essas instituições foram construídas. Eles falharam em realizar a própria obra que Deus ordenou que fosse realizada de modo a preparar um povo para "edificar os antigos lugares desertos" e a permanecer nas roturas, de acordo com o capítulo cinqüenta e oito de Isaías. Nessa passagem, a obra que necessitamos realizar está claramente definida como sendo uma obra médico-missionária . Tal obra deve ser empreendida em todos os lugares. Deus possui uma vinha; deseja Ele que ela seja trabalhada de modo não egoísta. Nenhuma de suas partes deve ser negligenciada. As porções que menos atenção têm recebido são as que precisam dos missionários mais notáveis para que realizem a obra retratada pelo Espírito Santo através de Isaías: T8 218 4 "Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e que despedaces todo o jugo?" "Se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam. E os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados; e levantarás os fundamentos de geração em geração, e chamar-te-ão reparador das roturas e restaurador de veredas para morar." Isaías 58:6, 10-12. T8 219 1 Em consideração a Seu próprio nome, Deus não permitirá que os obstinados e independentes levem avante seus não santificados planos. Ele os visitará na perversidade de suas ações. "Os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz." Isaías 57:21. Ainda assim, em Seus juízos o Senhor exercerá misericórdia. Ele declara: T8 219 2 "Porque para sempre não contenderei, nem continuamente Me indignarei; porque o espírito perante a Minha face se enfraqueceria, e as almas que eu fiz. Pela iniqüidade da sua avareza, Me indignei e os feri; escondi-Me e indignei-Me; mas, rebeldes, seguiram o caminho do seu coração. Eu vejo os seus caminhos e os sararei; também os guiarei e lhes tornarei a dar consolações e aos seus pranteadores. Eu crio os frutos dos lábios: paz, paz, para os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e eu os sararei." Isaías 57:16-19. T8 219 3 "O espírito do Meu povo cairia diante de Mim", diz o Senhor, "se Eu fosse lidar com eles de acordo com a sua perversidade. Não seriam capazes de suportar Meu desprazer e Minha ira. Tenho visto os caminhos perversos de todos pecadores. Aquele que se arrepender e praticar as obras da justiça, Eu o converterei e sararei, e restaurarei ao Meu favor." T8 219 4 Concernente àqueles que foram enganados e levados a desviar-se por homens não consagrados, diz o Senhor: "Suas atividades não têm estado de acordo com a Minha vontade; ainda assim, por amor à justiça de Minha própria causa, por amor à verdade, sararei todo aquele que honrar o Meu nome. Todos os penitentes de Israel verão a Minha salvação. Eu, o Senhor, governo, e encherei de louvor e ações de graças os corações dos de perto e dos de longe, até mesmo do penitente de Israel que tem guardado os Meus caminhos." T8 220 1 "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. ------------------------Capítulo 36 -- Como preparar nossos jovens T8 221 1 João Batista, o precursor de Cristo, recebeu dos pais sua primeira educação. A maior parte de sua vida ele a passou no deserto, de modo que não pudesse ser influenciado pela contemplação da negligente piedade dos sacerdotes e rabis, ou por aprender suas máximas e tradições, por meio das quais os retos princípios eram pervertidos e amesquinhados. Os líderes religiosos daqueles dias haviam-se tornado tão cegos espiritualmente, que mal conseguiam reconhecer as virtudes de origem celestial. Por tanto tempo haviam acariciado o orgulho, a inveja, o ciúme, que interpretavam as Escrituras do Antigo Testamento de uma tal maneira, que lhes destruía o verdadeiro sentido. Foi escolha de João preferir aos prazeres e luxo da vida da cidade a severa disciplina do deserto. Ali o ambiente era favorável aos hábitos de simplicidade e abnegação. Não perturbado pelo clamor do mundo, podia estudar as lições da natureza, da revelação e da providência. As palavras do anjo a Zacarias foram muitas vezes repetidas a João por seus pais, tementes a Deus. Desde a meninice, teve sua missão diante de si, e ele aceitou o santo encargo. Para ele a solidão do deserto era uma grata oportunidade de escapar da sociedade em que a suspeita, a incredulidade e a impureza tinham praticamente dominado tudo. Ele desconfiava do seu próprio poder de resistir à tentação e fugia ao constante contato do pecado, não viesse ele a perder o senso de sua excessiva malignidade. T8 221 2 Mas a vida de João não era gasta em ociosidade, em ascética contemplação, ou em isolamento egoísta. De tempos em tempos, misturava-se ele com os homens; e era sempre um interessado observador daquilo que ocorria no mundo. De seu calmo retiro observava ele os eventos que se desdobravam. Com a visão iluminada pelo divino Espírito, estudava o caráter das pessoas, de modo a conseguir compreender como alcançaria seus corações com a mensagem do Céu. T8 222 1 Cristo viveu a vida de um genuíno médico-missionário. Almeja Ele que estudemos diligentemente a Sua vida, de modo que possamos aprender a trabalhar do modo como trabalhou. T8 222 2 Sua mãe foi Seu primeiro mestre. De seus lábios e dos rolos dos profetas, Ele aprendeu as coisas celestiais. Viveu num lar campestre, e fiel e alegremente desempenhou Sua parte em levar os fardos da família. Ele havia sido o Comandante do Céu, e os anjos se deleitavam em cumprir Sua vontade; agora era voluntário servo, um amável e obediente filho. Aprendeu um ofício, e com Suas próprias mãos agiu na oficina de carpintaria ao lado de José. Nas vestimentas simples de um operário comum, caminhou pelas ruas da pequena cidade, indo e retornando de Seu humilde labor. T8 222 3 Para as pessoas daquela época, o valor das coisas era determinado por sua aparência exterior. À medida que a religião declinava em poder, crescia em pompa. Os educadores daquele tempo procuravam obter respeito pela exibição externa e ostentação. Diante de tudo isso a vida de Jesus representava um acentuado contraste. Sua vida demonstrava a inutilidade daquelas coisas que os homens reputavam como as essenciais da vida. As escolas de Seu tempo, com sua forma de exaltar as coisas pequenas e diminuir a importância das grandes coisas, não as procurou Ele. Sua educação foi obtida de fontes indicadas pelo Céu, do trabalho útil, do estudo das Escrituras e da natureza, e também das experiências da vida -- os livros-textos de Deus, cheios de instruções para todos os que se apresentam com coração disposto, com olhos que almejam ver, com entendimento pronto a compreender. T8 223 1 "E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Lucas 2:40. T8 223 2 Assim preparado saiu para Sua missão, e em cada momento de Seus contatos com os homens exerceu sobre eles uma influência de bênção, um poder para transformar, como o mundo jamais testemunhara. Palavras de advertência T8 223 3 Vivemos em tempos de especial perigo para a juventude. Satanás sabe que o fim de todas as coisas logo sobrevirá, de modo que determinou-se a aproveitar cada oportunidade para pressionar homens e mulheres a ingressarem em seu serviço. Inventará artifícios variados para levá-los a se desviarem. Necessitamos considerar cuidadosamente as palavras de advertência escritas pelo apóstolo Paulo: T8 223 4 "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14-18. T8 223 5 Luz especial me foi concedida no tocante a como podemos realizar muito mais em favor do Mestre através do estabelecimento de muitos pequenos sanatórios, do que construindo umas poucas instituições grandes. Em grandes instituições poderão reunir-se muitos que não se encontram de fato enfermos e que, à semelhança de turistas, estão procurando sossego e prazer. Esses terão de ser cuidados por enfermeiras e ajudantes. Homens e mulheres, que desde seus mais precoces anos foram protegidos de associações mundanas, serão assim postos em contato com mundanos de todas as classes, e em maior ou menor grau influenciados por aquilo que verão e ouvirão. Tornar-se-ão semelhantes àqueles com os quais se associam, perdendo a simplicidade e modéstia que pais e mães cristãos praticaram e acariciaram através de cuidadosa instrução e sincera oração. T8 224 1 Estamos vivendo em meio aos perigos dos últimos dias. Algo decisivo deve ser dito para advertir nosso povo contra o perigo de permitirem que filhos necessitados de cuidados e instruções paternos, deixem seus lares e se dirijam a locais onde serão postos em contato com pessoas mundanas, pouco religiosas, amantes de prazeres. T8 224 2 Em muitos lares, o pai e a mãe têm permitido que as crianças governem. Tais filhos se encontrarão em perigo muito maior, quando postos em contato com influências que se opõem às coisas de Deus, do que se encontram aqueles que aprenderam a obedecer. Não havendo recebido o necessário ensino em questões de disciplina, pensam que podem proceder do modo como desejam. O conhecimento de como obedecer poderia fortalecê-los para resistirem à tentação, mas esse conhecimento não lhes foi ministrado por seus pais. Quando esses jovens indisciplinados entram numa imensa instituição, onde existem tantas influências que se opõem à espiritualidade, acham-se eles em grave perigo, e muitas vezes sua permanência nesse local representa um dano para si mesmos e para a instituição. T8 224 3 Sou instruída a advertir os pais cujos filhos não possuem firmeza de princípio ou uma clara experiência cristã a não os enviarem para fora do lar, para lugares distantes, onde estarão ausentes por muitos meses, ou talvez anos, onde poderão ser plantadas em sua mente as sementes da descrença e da infidelidade. Será mais seguro, e muito melhor, enviar tais filhos às escolas e sanatórios mais próximos de suas casas. Que os jovens em processo de formação do caráter sejam mantidos afastados de lugares onde poderiam misturar-se com um grande numero de descrentes, e onde as forças do inimigo se acham fortemente entrincheiradas. T8 225 1 Que os administradores de nossos grandes sanatórios se esforcem decididamente por empregar pessoas de mais idade como ajudantes nessas instituições. Na visões da noite eu me encontrava numa grande assembléia, onde esse assunto foi levantado para discussão. Àqueles que planejavam enviar seus indisciplinados filhos a Battle Creek, Alguém de autoridade disse: T8 225 2 "Ousarão vocês fazer tal experiência? A salvação de seus filhos vale muito mais que a educação que possam receber nesse lugar, onde se encontrarão constantemente expostos à influência dos descrentes. Muitos que vêm a essa instituição não se acham convertidos. Encontram-se repletos de orgulho, e não possuem, por meio da fé, ligação com Deus. Muitos dos moços e moças que atendem a esses mundanos possuem apenas uma pequena experiência cristã, e facilmente se enredarão nas artimanhas colocadas diante de seus pés." T8 225 3 Alguém dentre os presentes perguntou: "O que pode ser feito para remediar esse mal?" O Orador respondeu: "Uma vez que vocês colocaram a si próprios nessa posição de perigo, que sejam trazidos à instituição homens e mulheres maduros em anos, e de caráter firmado, a fim de exercerem uma contra-influência para o bem. O desenvolvimento de um tal plano aumentará as despesas atuais do Sanatório, mas poderá representar um meio eficaz de proteger a fortaleza, e de escudar a juventude da instituição diante das contaminadoras influências às quais se encontra exposta presentemente. T8 225 4 "Pais e tutores, coloquem seus filhos em escolas onde a influência seja idêntica à de uma escola do lar, devidamente dirigida; um escola em que os professores os façam avançar de um ponto para outro, e em que a atmosfera espiritual seja um cheiro de vida para vida." T8 226 1 As palavras de advertência e instrução que tenho escrito a respeito do envio de nossos jovens a Battle Creek em busca de preparo para o serviço na causa do Senhor não são palavras inúteis. Alguns jovens tementes a Deus suportarão a prova, mas não é seguro para nós deixá-los, mesmo aos mais conscienciosos, sem o nosso melhor cuidado e proteção. Se nossos jovens que recebem sábia instrução e preparo de pais piedosos continuarão ou não a ser santificados pela verdade, depende em grande parte da influência que, depois de partirem do lar, encontram entre aqueles de quem buscam instrução cristã. T8 226 2 Sou instruída a repetir a nossos irmãos e irmãs a advertência e exortação que Paulo enviou à igreja de Tessalônica: T8 226 3 "Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado; e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:7-12. T8 226 4 "Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade, para o que, pelo nosso evangelho, vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso Deus e Pai, que nos amou e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console o vosso coração e vos conforte em toda boa palavra e obra." 2 Tessalonicenses 2:13-17. Setembro de 1903 T8 227 1 Quando considero o estado de coisas em Battle Creek, tremo por nossos jovens que ali estão. A luz que o Senhor me concedeu, de que nossos jovens não devem agrupar-se em Battle Creek para receber sua educação, não se modificou em nenhum particular. O fato de o Sanatório haver sido reconstruído não modifica a luz a respeito. Aquilo que no passado tornou Battle Creek um lugar inadequado para a educação de nossos jovens, continua a torná-lo inadequado ainda hoje, no que diz respeito às influências. T8 227 2 Quando veio o chamado para a saída de Battle Creek, a súplica foi: "Estamos aqui e tudo está estabelecido. Seria impossível nos mudarmos sem enorme despesa." T8 227 3 O Senhor permitiu que o fogo consumisse os principais edifícios da Review and Herald e do hospital, e dessa maneira removeu a maior objeção apresentada contra a mudança de Battle Creek. Era Seu desígnio que em lugar de reconstruir o mesmo grande edifício, nosso povo criasse instituições em vários lugares. Essas clínicas menores deveriam ter sido estabelecidas onde se pudesse conseguir terra para fins de agricultura. É plano de Deus que a agricultura esteja relacionada com a obra de nossos hospitais e escolas. Nossos jovens precisam da educação que deve ser alcançada por essa espécie de trabalho. É bom, e mais do que bom -- é indispensável -- que se façam esforços para levar avante o plano de Deus nesse sentido. T8 228 1 Deveríamos encorajar nossos mais promissores jovens, moços e moças, a se dirigirem a Battle Creek, a fim de obter seu preparo para o serviço num local em que estarão cercados com tantas influências que tendem a desviá-los? O Senhor me revelou alguns dos perigos que terão de enfrentar os jovens vinculados a um sanatório tão grande. Muitos dos ricos e mundanos homens e mulheres que patrocinam a instituição, constituirão uma fonte de tentação para os auxiliares. Alguns dentre estes tornar-se-ão os favoritos dos pacientes ricos, e lhes serão oferecidas atraentes vantagens para se tornarem seus empregados. Por intermédio da exibição mundana de alguns dos hóspedes do Sanatório, o joio já foi semeado no coração de moços e moças empregados como auxiliares e enfermeiros. Essa é a forma como Satanás está operando. T8 228 2 Em virtude de estar o Sanatório onde não deveria estar, não deverá a palavra do Senhor relacionada com a educação de nossos jovens ser levada em conta? Permitiremos que os mais inteligentes dentre nossos jovens, membros das igrejas de nossas associações, sejam colocados onde alguns deles serão privados de sua simplicidade por meio do contato com homens e mulheres que não possuem o temor de Deus em seu coração? Permitirão os que se encontram em posições de responsabilidade nas associações, que nossa juventude, se matriculada nas escolas de obreiros cristãos, seria habilitada para o serviço do Senhor, seja conduzida a um lugar em relação ao qual o Senhor tem por anos orientado Seu povo a dele sair? T8 228 3 Desejamos que nossos jovens sejam educados de um modo tal que exerçam uma influência salvadora em nossas igrejas, trabalhando em favor de maior unidade e mais profunda piedade. Talvez os homens não vejam a necessidade de chamar as famílias a se retirarem de Battle Creek, localizando-se onde possam desempenhar a obra médico-missionária. Entretanto, o Senhor falou. Questionaremos a Sua palavra? Sem perda de tempo T8 229 1 Existem em nosso meio muitos moços e moças que, se lhes forem apresentados incentivos, naturalmente se sentirão inclinados a realizar cursos de estudos com vários anos de duração, preparando-se para o serviço. Mas valerá isso a pena? O tempo é curto. Obreiros de Cristo são necessários em toda a parte. Deveríamos ter uma centena de sinceros e fiéis obreiros em missões locais e no estrangeiro, onde temos hoje apenas um. Os caminhos e valados ainda estão esperando por serem trabalhados. Incentivos urgentes devem ser oferecidos aos que agora se dispuserem a engajar-se na obra do Mestre. T8 229 2 Os sinais indicadores da proximidade da volta de Cristo estão-se cumprindo rapidamente. O Senhor convida nossos jovens a trabalhar como colportores e evangelistas, a fazer trabalho de casa em casa nos lugares em que ainda não foi ouvida a verdade. Ele Se dirige aos nossos jovens, dizendo: "Não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Os que saem a trabalhar sob a direção de Deus serão maravilhosamente abençoados. Os que nesta vida fizerem seu melhor, habilitar-se-ão para a vida futura e imortal. T8 229 3 O Senhor chama os que se acham vinculados a nossos sanatórios, casas publicadoras e escolas a ensinarem aos nossos jovens a obra evangelística. Nosso tempo e energia não devem ser tão amplamente empregados no estabelecimento de sanatórios, fábricas de alimentos e restaurantes, a ponto de outros ramos da obra serem negligenciados. Moços e moças que deveriam envolver-se no ministério, na obra bíblica e no trabalho de colportagem, não deveriam ser postos em alguma função mecânica. T8 230 1 Os jovens devem ser incentivados a freqüentar nossas escolas de preparo para obreiros cristãos, que deveriam tornar-se mais e mais semelhantes às escolas dos profetas. Essas instituições foram estabelecidas pelo Senhor, e se forem conduzidas de acordo com o Seu propósito, os jovens a elas enviados serão rapidamente preparados para engajar-se nas várias linhas de obra missionária. Alguns serão preparados para ingressar no campo como enfermeiros missionários, outros como colportores, e outros como ministros do evangelho. ------------------------Capítulo 37 -- Divisão de responsabilidades Aos Líderes da Obra Médica T8 231 1 Queridos irmãos: T8 231 2 Tenho uma mensagem para vocês. Sou instruída a dizer que nem todos os arranjos relacionados com a administração da obra médico-missionária devem originar-se em Battle Creek. A obra médico-missionária é a obra de Deus, e em cada associação e cada igreja devemos tomar decidida posição contra o permitir que ela seja controlada de modo egoísta. T8 231 3 Depois que recebi notícias relacionadas com a excelente reunião de confissão e unidade que foi realizada em Battle Creek, achava-me fazendo anotações no diário, e estava justamente no ponto em que ia escrever a respeito da gratidão que sentia porque tal mudança havia ocorrido; então a minha mão foi afastada, e me vieram as palavras: "Não escreva. Não ocorreu modificação para melhor. Ensinamentos que estão desviando as pessoas da verdade vêm sendo apresentados como de grande valor. Estão sendo ensinadas doutrinas que conduzem a caminhos proibidos; doutrinas que levam os homens a agirem em harmonia com suas próprias inclinações, e a operarem com base em propósitos não santificados; doutrinas que, se recebidas, destruiriam a dignidade e poder do povo de Deus, obscurecendo a luz que de outra forma lhes adviria através das agências indicadas por Deus." T8 231 4 Os líderes de nossa obra médica em Battle Creek esforçaram-se por atar firmemente nossas instituições médicas, de acordo com os seus planos. A despeito das muitas advertências que lhes foram dirigidas, dizendo-lhes que não fizessem isso, quiseram amarrar essas instituições de alguma forma, de modo que toda a nossa obra médica estivesse sob o seu controle. T8 231 5 No passado, escrevi muito sobre esse assunto; necessito agora repetir as admoestações dadas, pois aos meus irmãos parece difícil compreender sua perigosa posição. T8 232 1 "O Senhor proíbe que qualquer sanatório ou casa de banhos estabelecidos venha a ser posto sob um comando único -- dependente da instituição médica de Battle Creek. Os administradores do Sanatório de Battle Creek estão agora com suas mãos cheias. Devem devotar suas forças à obra de fazer daquele Sanatório o que ele deve ser. T8 232 2 "Um homem não deve pensar que pode constituir-se na consciência de todos os obreiros médicos. Os seres humanos devem volver-se unicamente ao Senhor Deus do Céu em busca de sabedoria e orientação. T8 232 3 No estabelecimento e desenvolvimento de instituições médicas, nossos irmãos não devem ser solicitados a trabalhar de acordo com os planos de um poder governante, régio. Uma mudança precisa ocorrer nesse sentido. O plano de atar cada instituição médica a uma organização central em Battle Creek deve ser abandonado. Deus proíbe tal plano. T8 232 4 "Durante anos, fui instruída de que existe perigo, constante perigo, de que nossos irmãos olhem a seus companheiros, seres humanos, buscando a permissão para fazer isso ou aquilo, em vez de olharem para Deus. Assim se tornam eles enfraquecidos, permitindo a si mesmos ficarem limitados por restrições de origem humana, desaprovadas por Deus. O Senhor é capaz de impressionar mentes e consciências a fazerem a Sua obra sob vínculos de subordinação a Ele, e num espírito de fraternidade que se acha de acordo com os princípios de Sua lei. ... T8 232 5 "Deus conhece o futuro. Ele é Aquele a quem devemos contemplar em busca de orientação. Confiemos em que Ele nos dirigirá no desenvolvimento dos vários ramos de Sua obra. Que ninguém tente agir de acordo com impulsos não santificados. ... T8 232 6 "A divisão da Associação Geral em Uniões foi uma solução de Deus. No trabalho do Senhor destes últimos dias não devem existir centros semelhantes a Jerusalém, nenhum poder absoluto. A obra em diferentes países não tem de estar vinculada por meio de contratos à administração centralizada em Battle Creek; esse não é o plano de Deus. Os irmãos devem tomar conselho juntos; estamos tão absolutamente sob o comando divino em uma parte da vinha quanto em outra parte. Os irmãos devem ser um em coração e alma, do mesmo modo como Cristo e o Pai são Um. Ensinem isso, pratiquem isso, para que possamos ser um com Cristo em Deus, todos trabalhando para se edificarem mutuamente. T8 233 1 "O poder ditatorial manifestado anteriormente pela Associação Geral em Battle Creek não deve ser perpetuado. A instituição de publicações não deve se constituir num reino. É essencial que os princípios que governam os assuntos da Associação Geral sejam mantidos na administração da obra de publicações e na do Sanatório. Ninguém deve imaginar que o ramo da obra ao qual se encontra vinculado é de muito maior importância do que outros ramos. T8 233 2 "Atividade educacional deve ser desenvolvida em cada sanatório que for estabelecido. Deus tem o comando da obra, e ninguém deve imaginar que qualquer coisa feita no sanatório estabelecido deve primeiro ser submetida a um grupo de homens. Deus proíbe essa atitude. O mesmo Deus que tem instruído os médicos de Battle Creek, orientará os homens e mulheres que são chamados ao serviço do Mestre nas várias partes de Sua vinha. T8 233 3 "Estão sendo elaboradas leis e planos humanos, numa forma que Deus não pode aceitar. Não se revelarão um sabor de vida para vida. Encontro-me sob a necessidade de erguer o sinal de perigo. Os administradores de cada uma de nossas instituições precisam tornar-se mais conscientes em relação ao seu trabalho individual, não dependendo de outra instituição; ainda que preservando a identidade de seu trabalho, devem olhar a Deus como seu instrutor e revelar sua fé nEle por meio de um serviço de coração inteiro. Assim desenvolverão eles seus talentos e capacidade. T8 234 1 Deus reclama um serviço de ordem mais elevada do que aquele que Lhe tem sido oferecido. Homens em funções de responsabilidade devem, através do recebimento do poder do Santo Espírito, revelar o Redentor de modo muito mais claro do que até aqui o fizeram. O Deus infinito amou o mundo de tal maneira, que deu Seu Filho unigênito como sacrifício por nós, para que, recebendo-O pela fé e praticando as Suas virtudes, possamos não perecer, antes receber a vida eterna. Meus irmãos, como supõem vocês que Ele considera a grande falta de entusiasmo manifestada diante do registro da infinita oferta sacrifical apresentada em favor de nossa salvação? T8 234 2 Toda ambição humana, toda jactância, deve ser lançada ao pó. O eu, o pecaminoso eu, deve ser derrotado, não exaltado. Através da santidade no viver diário, devemos revelar Cristo aos que estão à nossa volta. A corrupta natureza humana precisa ser subjugada, e não exaltada. Unicamente assim poderemos tornar-nos puros e incontaminados. Precisamos ser homens e mulheres humildes e fiéis. Nunca devemos assentar-nos sobre o trono do juízo. Deus requer que Seus representantes sejam puros e santos, revelando a beleza da santidade. O canal precisa permanecer sempre desobstruído, para que o Espírito Santo possa agir; doutra maneira alguns terão falsa impressão da obra que precisa ser empreendida no coração natural para que chegue ao perfeito caráter cristão; estes apresentarão suas próprias imperfeições de uma tal maneira, que tornarão ineficaz a verdade de Deus, que é tão firme quanto o trono eterno. Ao passo que Deus convoca Seus vigias a que ergam o sinal de perigo, simultaneamente apresenta diante deles a vida do Salvador como um exemplo daquilo que eles precisam ser e fazer, de modo a serem salvos. T8 235 1 Em favor dos discípulos, Cristo orou: "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade." João 17:17. Um sentimento agradável, de auto-satisfação, não constitui evidência de santificação. Fiel registro é mantido de todos os atos dos filhos dos homens. Coisa alguma pode ser ocultada aos olhos do Alto e Santo que habita a eternidade. Alguns envergonham a Cristo através de seus esquemas de engano e despiste. Deus não aprova sua conduta; o Senhor Jesus Cristo é desonrado por seu espírito e por suas obras. Esquecem-se das palavras do apóstolo: "Pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." 1 Coríntios 4:9. T8 235 2 A instrução dada pelo Senhor concernente à Sua obra indica o caminho correto. Os planos e pensamentos de Deus são tão mais elevados que os planos e pensamentos dos homens, quanto os Céus são mais elevados que a Terra. A voz de Deus deve ser ouvida, Sua sabedoria deve guiar-nos. Delineou Ele o Seu plano na Palavra e nos testemunhos que tem enviado a Seu povo. Unicamente a obra levada avante de acordo com os princípios de Sua Palavra permanecerá firme para sempre. ------------------------Capítulo 38 -- Liderança T8 236 1 Nos jornais de várias cidades apareceram artigos que descrevem uma disputa existente entre o Dr. Kellogg e a Sra. Ellen G. White quanto a qual deles será o líder dos adventistas do sétimo dia. Ao ler esses artigos, senti-me extremamente angustiada por haver alguém compreendido de maneira errada a minha obra e a do Dr. Kellogg, a ponto de publicar tais deturpações. Não houve disputa entre o Dr. Kellogg e eu no tocante à questão de liderança. Ninguém jamais me ouviu pretender a categoria de líder da denominação. T8 236 2 Eu tenho uma obra de grande responsabilidade para fazer -- comunicar pela pena e de viva voz as instruções a mim concedidas, não somente para os adventistas do sétimo dia, mas para o mundo. Publiquei muitos livros, grandes e pequenos, e alguns deles foram traduzidos para várias línguas. Esta é a minha obra -- revelar para outras pessoas as Escrituras, assim como Deus a mim as revelou. T8 236 3 Deus não estabeleceu, entre os adventistas do sétimo dia, nenhuma autoridade suprema para dirigir toda a corporação, ou qualquer parte da obra. Ele não estipulou que a responsabilidade da direção recaísse sobre uns poucos homens. As responsabilidades são divididas entre grande número de homens competentes. T8 236 4 Cada membro da igreja tem participação na escolha dos oficiais da igreja. Esta escolhe os oficiais das Conferências estaduais [conhecidas hoje por Associações]. Os delegados escolhidos pelas Associações escolhem os oficiais das Uniões; e os delegados escolhidos por estas, escolhem os oficiais da Associação Geral [nesse tempo ainda não existiam as Divisões]. Por meio desse sistema, cada associação, instituição, igreja e pessoa, quer diretamente, quer por meio de representantes, participa da eleição dos homens que assumem as responsabilidades principais na Associação Geral. Experiências iniciais T8 237 1 Nos primeiros dias da nossa atividade denominacional, o Senhor indicou o Pastor Tiago White para, juntamente com sua esposa, e sob a guia especial do Senhor, ter atuação destacada na propagação desta obra. T8 237 2 Bem conhecida é a história de como a obra cresceu. A oficina de impressão foi primeiramente estabelecida em Rochester, N. Y, e mudada depois para Battle Creek, Michigan. Anos mais tarde, foi fundada uma editora na costa do Pacífico. T8 237 3 Agradeço ao Senhor por ter-nos concedido o privilégio de haver participado da obra desde o começo. Mas nem naquela ocasião nem depois que a obra alcançou grandes proporções, em cujo tempo as responsabilidades foram largamente distribuídas, ninguém me ouviu reivindicar a liderança deste povo. T8 237 4 Desde o ano de 1844 até o presente, tenho recebido mensagens do Senhor, transmitindo-as ao Seu povo. O meu trabalho é este -- dar ao povo a luz que o Senhor me concedeu. Estou incumbida de receber essas mensagens e divulgá-las. Não devo aparecer perante o povo como detentora de qualquer outro cargo além do de mensageira, portadora de uma mensagem. T8 237 5 Por muitos anos, ocupou o Dr. J. H. Kellogg a função de médico-chefe da obra médica mantida pelos adventistas do sétimo dia. Ter-lhe-ia sido impossível atuar como líder de toda a obra. Nunca foi essa a sua parte, e nunca poderá sê-lo. Deus é o nosso líder T8 238 1 Escrevo isto para que todos saibam que não existe disputa entre os adventistas do sétimo dia a respeito da liderança. O Senhor Deus do Céu é o nosso Rei. Ele é o líder a quem podemos seguir com segurança; pois nunca cometeu engano algum. Honremos a Deus, e a Seu Filho, por cujo intermédio Ele Se comunica com o mundo. T8 238 2 Deus agiria poderosamente em prol do Seu povo hoje, se estivessem inteiramente submissos à Sua guia. Precisam eles da presença constante do Espírito Santo. Caso houvesse mais orações nos concílios dos que arcam com as responsabilidades, mais humilhação do coração a Deus, veríamos demonstrações evidentes da liderança divina, e nossa obra efetuaria progressos rápidos. ------------------------Capítulo 39 -- Unidade com Cristo em Deus T8 239 1 O Senhor chama homens de fé genuína e mente sadia, homens que reconheçam a distinção existente entre o verdadeiro e o falso. Cada qual deve estar de sobreaviso, estudando e pondo em prática as lições ministradas no capítulo dezessete de João, e mantendo fé viva na verdade para este tempo. Precisamos desse domínio próprio que nos habilita a pôr os hábitos em harmonia com a oração de Cristo. T8 239 2 Segundo as instruções que me foram dadas por um Ser que tem autoridade, devemos aprender a atender à oração registrada no capítulo dezessete de João. Devemos fazer dessa oração o nosso estudo principal. Todo ministro do evangelho, todo médico-missionário, deve aprender a ciência dessa oração. Meus irmãos e irmãs, peço-lhes que levem a sério essas palavras, e façam seu estudo com espírito calmo, humilde e contrito, além das energias salutares da mente que se acha sob a direção de Deus. Os que deixam de aprender as lições contidas nessa oração estão em perigo de apresentar um desenvolvimento unilateral, que nenhum preparo futuro há de plenamente corrigir. T8 239 3 "Não rogo somente por estes", disse Cristo, "mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. T8 239 4 "E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como Nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim. T8 239 5 "Pai, aqueles que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a Minha glória que Me deste; porque Tu Me hás amado antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não Te conheceu, mas Eu Te conheci, e estes conheceram que Tu Me enviaste a Mim. E Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja." João 17:20-26. T8 240 1 É propósito de Deus que haja unidade entre Seus filhos. Não esperam viver juntos no mesmo Céu? Está Cristo dividido contra Si mesmo? Dará Ele êxito ao Seu povo antes de removerem eles o lixo da suspeita e da discórdia, antes que os obreiros, em unidade de propósitos, dediquem coração e mente à obra que é tão santa aos olhos de Deus? A união faz a força; a desunião enfraquece. Unidos uns aos outros, trabalhando juntos, em harmonia, pela salvação dos homens, seremos na verdade "cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. Os que se recusam a trabalhar em boa harmonia desonram grandemente a Deus. O inimigo deleita-se em vê-los trabalhando para fins mutuamente contrários. T8 240 2 Essas pessoas precisam cultivar o amor fraternal e a ternura de coração. Se pudessem correr a cortina que lhes vela o futuro e ver o resultado de sua desunião, por certo seriam levados a arrepender-se. T8 240 3 O mundo está a olhar com satisfação para a desunião entre os cristãos. Os infiéis se alegram com isso. Deus requer uma mudança entre o Seu povo. A união com Cristo e dos crentes entre si é nossa única segurança nestes últimos dias. Não tornemos possível que Satanás aponte para os nossos membros da igreja, dizendo: "Eis como este povo, que se põe sob o estandarte de Cristo, se odeia entre si! Nada temos que temer deles, enquanto gastam mais esforço combatendo-se mutuamente, do que na luta contra as minhas forças." T8 241 1 Depois de receberem o Espírito Santo, os discípulos saíram a proclamar um Salvador ressurgido, sendo seu desejo único a salvação das pessoas. Regozijavam-se na doce comunhão com os santos. Eram ternos, corteses, abnegados, dispostos a fazer qualquer sacrifício pela causa da verdade. Em sua diária associação mútua, revelavam o amor que Cristo lhes ordenara revelar. Por palavras e atos abnegados, procuravam acender esse amor noutros corações. T8 241 2 Os crentes devem sempre acariciar o amor que enchia o coração dos apóstolos depois de receberem o Espírito Santo. Devem avançar em obediência voluntária ao novo mandamento. "Como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis." João 13:34. Tão intimamente devem achar-se ligados a Cristo que serão capacitados para cumprir Suas exigências. O poder de um Salvador capaz de os justificar por Sua justiça deve ser engrandecido. T8 241 3 Mas os cristãos primitivos começaram a procurar defeitos uns nos outros. Pensando nos erros alheios, permitindo-se críticas indelicadas, perderam de vista o Salvador e o grande amor por Ele revelado aos pecadores. Tornaram-se mais exigentes no tocante às cerimônias exteriores, mais rigorosos quanto à teoria da fé, mais severos em suas críticas. Em seu zelo por condenar outros, esqueceram-se de seus próprios erros. Esqueceram a lição de amor fraternal que Cristo lhes ensinara, e o mais triste de tudo foi que se demonstraram inconscientes de sua perda. Não perceberam que estavam perdendo a alegria e a felicidade, e que logo estariam andando em trevas, tendo excluído do coração o amor de Deus. T8 241 4 O apóstolo João reconhecia que o amor fraternal estava a declinar na igreja, e deteve-se especialmente sobre este ponto. Até ao dia de sua morte, instou com os crentes para que exercitassem constantemente entre si o amor. Suas cartas às igrejas estão repletas desse pensamento. "Amados, amemo-nos uns aos outros", escreve ele; "porque o amor é de Deus. ... Deus enviou Seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos. ... Amados, se Deus assim nos amou, também nos devemos amar uns aos outros." 1 João 4:7-11. T8 242 1 Na igreja de Deus há hoje grande falta de amor fraternal. Muitos dos que professam amar o Salvador deixam de amar os que a eles se acham unidos em comunhão cristã. Somos da mesma fé, membros de uma família, filhos todos do mesmo Pai celestial, tendo a mesma bendita esperança da imortalidade. Quão íntimo e terno deveria ser o laço que nos une! O povo do mundo observa-nos para ver se nossa fé está exercendo influência santificadora sobre nosso coração. São rápidos para discernir qualquer defeito de nossa vida, qualquer incoerência de nossos atos. Não lhe demos ocasião para difamar nossa fé. T8 242 2 Não é a oposição do mundo que mais perigo nos faz correr; é o mal acariciado no coração dos professos crentes, que nos inflige o mais grave dano e mais retarda o progresso da causa de Deus. Não há meio mais seguro de enfraquecer nossa espiritualidade do que a inveja e a suspeita mútuas, cheias de censuras e desconfianças. "Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa. Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia." Tiago 3:15-17. T8 242 3 A harmonia e a união que existem entre homens de disposições várias constituem o mais forte testemunho que se possa dar de que Deus enviou Seu Filho ao mundo para salvar os pecadores. É nosso privilégio dar este testemunho. Mas para isso fazer, precisamos colocar-nos sob a ordem de Cristo. Nosso caráter tem que ser moldado de conformidade com o caráter dEle, nossa vontade tem que ser rendida à Sua. Então trabalharemos juntos sem um pensamento de colisão. T8 243 1 Pequeninas divergências acariciadas levam a ações que destroem a comunhão cristã. Não permitamos ao inimigo alcançar assim vantagens sobre nós. Continuemos aproximando-nos mais de Deus e uns dos outros. Então seremos como árvores de justiça, plantadas pelo Senhor e regadas pelo rio da vida. E quão frutíferos seremos! Não disse, porventura, Cristo: "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto"? João 15:8. T8 243 2 O coração do Salvador está posto em Seus seguidores que cumprem o propósito de Deus em toda a sua altura e profundidade. Devem eles ser um nEle, embora se achem espalhados por todo o mundo. Mas Deus não os pode fazer um em Cristo, a menos que estejam dispostos a renunciar a sua vontade pela vontade dEle. T8 243 3 Quando o povo de Deus crer plenamente na oração de Cristo, quando praticar na vida diária as instruções nela contidas, a unidade de ação será um fato em nossas fileiras. Irmão estará ligado a irmão, pelos laços áureos do amor de Cristo. O Espírito de Deus, unicamente, é que pode efetuar essa unidade. Aquele que santificou a Si mesmo, pode santificar também a Seus discípulos. Unidos a Ele, estaremos também unidos entre nós, na mais santa fé. Quando buscarmos essa unidade com o empenho que Deus deseja, iremos alcançá-la. ------------------------Capítulo 40 -- Membros leigos devem avançar T8 244 1 Existe um trabalho para membros de igreja fazerem, que é maior do que eles próprios supõem. Não estão eles atentos às reivindicações divinas. É chegado o tempo em que deve ser ideado todo meio possível de ser utilizado para preparar um povo que subsista no dia de Deus. Devemos estar bem despertos, para evitar que oportunidades preciosas passem sem aproveitamento. Precisamos fazer tudo quanto esteja ao nosso alcance para ganhar pessoas que amem a Deus e guardem os Seus mandamentos. Jesus requer isso dos que conhecem a verdade. Será descabido esse Seu pedido? Não temos nós para exemplo a vida de Cristo? Não temos nós para com o Salvador uma dívida de amor, de trabalho intenso e abnegado para salvar aqueles por quem Ele deu a vida? T8 244 2 Muitos dos membros de nossas grandes igrejas praticamente nada realizam. Eles poderiam fazer um bom trabalho se, em vez de se aglomerarem, se dispersassem por lugares ainda não atingidos pela verdade. As árvores plantadas junto demais umas das outras não se desenvolvem. Elas são transplantadas pelo jardineiro a fim de terem espaço para crescer, e não ficarem mirradas e débeis. O mesmo procedimento daria bons resultados em nossas igrejas grandes. Muitos membros estão morrendo espiritualmente por falta dessa atividade. Estão-se tornando fracos e incapazes. Se fossem transplantados, teriam espaço para crescer fortes e vigorosos. T8 244 3 Não é desígnio de Deus que Seu povo forme colônias, ou se agrupe em grandes comunidades. Os discípulos de Cristo são representantes Seus na Terra, e Deus tem por desígnio que se espalhem por todo o país, nas cidades e vilas, como luzes em meio às trevas do mundo. Devem ser missionários de Deus, testificando, por sua fé e obras, da proximidade da vinda do Salvador. T8 245 1 Os membros de nossas igrejas podem realizar um trabalho que, por enquanto, mal iniciaram. Nenhum deles deverá mudar-se para outras localidades simplesmente por interesse em vantagens terrenas; mas as famílias que estejam bem firmadas na verdade, uma ou duas numa localidade, devem ir aonde houver oportunidade de ganhar a subsistência, para trabalhar como missionários. Devem ter amor às pessoas, sentir a responsabilidade de trabalhar por elas, e estudar a maneira de atraí-las para a verdade. Poderão distribuir nossas publicações, realizar reuniões em suas casas, fazer-se amigos dos vizinhos, e convidá-los para freqüentarem essas reuniões. Dessa maneira, poderão fazer brilhar sua luz por meio de boas obras. T8 245 2 Que os obreiros se apeguem a Deus, chorando, orando, trabalhando pela salvação do próximo. Lembrem-se de que estão correndo uma carreira, lutando por uma coroa imperecível. Ao passo que muitos apreciam o louvor dos homens mais do que o favor de Deus, procurem trabalhar com humildade. Aprendam a exercer fé na apresentação do próximo perante o trono da graça, e na intercessão com Deus para que lhes toque o coração. Desse modo pode ser feito trabalho missionário eficaz. Alguns que não escutariam um pastor ou colportor podem ser alcançados. E os que assim trabalham em lugares novos aprenderão os melhores métodos de contato com o povo, e prepararão o caminho para outros obreiros. T8 245 3 Preciosa experiência pode ser adquirida por quem se empenha nesse trabalho. Sente ele, de coração, responsabilidade pela salvação do próximo. Precisa do auxílio de Jesus. Que cuidado deverá exercer no andar prudentemente, para que as suas orações não sejam impedidas, para que nenhum pecado acariciado o separe de Deus! Enquanto auxilia outros, esse mesmo obreiro estará adquirindo firmeza e entendimento espirituais, e nessa escola humilde poderá se tornar capacitado para atuar em mais ampla esfera de atividade. T8 246 1 Cristo declara: "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto." João 15:8. Deus nos dotou com habilidades e confiou-nos talentos para que os usemos para Ele. A cada homem é confiada sua obra -- não apenas trabalho em sua plantação de milho e trigo, mas atividade zelosa, perseverante para a salvação de pessoas. Cada pedra no templo divino precisa ser uma pedra viva, que brilhe, refletindo luz para o mundo. Façam os membros da igreja todo o possível; e ao usarem os talentos que já possuem, Deus lhes concederá mais graça e aumentará sua capacidade. Muitos dos nossos empreendimentos missionários estão em dificuldade porque há pessoas que se recusam a entrar pelas portas da utilidade que lhes são abertas. Todos quantos crêem na verdade devem começar a trabalhar. Façam o trabalho que está mais próximo, qualquer coisa, por humilde que seja, de preferência a serem como os homens de Meroz, que nada fizeram. T8 246 2 Se tão-somente avançarmos confiantes em Deus, não sofreremos restrição por falta de recursos. O Senhor está desejoso de fazer uma grande obra em favor de todos quantos verdadeiramente nEle crêem. Se os membros da igreja se dispuserem a participar da obra que podem fazer, empenhando-se em atividades por conta própria, vendo cada qual quanto pode realizar na conquista de pessoas para Jesus, veremos muitos abandonarem as fileiras de Satanás para manter-se sob a bandeira de Cristo. Se nosso povo agir em conformidade com a luz que lhes é fornecida nestas poucas instruções, certamente veremos a salvação operada por Deus. Seguir-se-ão reavivamentos prodigiosos. Pecadores serão convertidos, e muitas pessoas serão acrescentadas à igreja. Ao unirmos o nosso coração ao de Cristo, e colocarmos nossa vida em harmonia com a Sua obra, virá sobre nós o Espírito que desceu sobre os discípulos no dia de Pentecoste. ------------------------Capítulo 41 -- Achados em falta? T8 247 1 Nossa posição no mundo não é a que deveria ser. Estamos longe de onde estaríamos se nossa experiência cristã estivesse em harmonia com a luz e as oportunidades que nos foram dadas e, se desde o princípio houvéssemos avançado constantemente, para a frente e para cima. Se tivéssemos andado na luz que nos foi concedida, se tivéssemos progredido no conhecimento do Senhor, nossa vereda ter-se-ia tornado cada vez mais brilhante. Mas muitos dos que receberam luz especial acham-se tão conformados com o mundo que mal podem ser distinguidos dos mundanos. Não se destacam como povo peculiar de Deus, eleito e precioso. É difícil discernir entre o que serve a Deus e o que O não serve. T8 247 2 Nas balanças do santuário há de ser pesada a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela será julgada pelos privilégios e vantagens que tem desfrutado. Se sua experiência espiritual não corresponder às vantagens que, a preço infinito, Cristo lhe concedeu; se as bênçãos que lhe foram conferidas não a habilitarem para fazer a obra que lhe foi confiada, sobre ela será pronunciada a sentença: "Achada em falta." Pela luz que lhe foi concedida, pelas oportunidades dadas, será ela julgada. O desígnio de Deus T8 247 3 Deus tem em reserva amor, alegria, paz e glorioso triunfo, para todos os que O servem em espírito e em verdade. Seu povo, observador dos mandamentos, deve estar sempre pronto para o serviço. Deve receber cada vez mais graça e poder, e cada vez mais conhecimento da operação do Espírito Santo. Muitos, porém, não estão preparados para receber os preciosos dons do Espírito que Deus lhes deseja conceder. Não estão a erguer-se mais e mais alto, no empenho de alcançar poder de cima, para que, pelos dons recebidos possam ser reconhecidos como o povo peculiar de Deus, zeloso de boas obras. "Arrepende-te, e pratica as primeiras obras" T8 248 1 Solenes admoestações e advertências, manifestas na destruição das acariciadas instalações para o serviço, como que nos dizem: "Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras." Apocalipse 2:5. Por que há tão pálida percepção da verdadeira condição espiritual da igreja? Não caiu a cegueira sobre os vigias dos muros de Sião? Não se acham muitos dos servos de Deus despreocupados e bem satisfeitos, como se a coluna de nuvem, de dia, e a de fogo, à noite, pousassem sobre o santuário? Não há, em cargos de responsabilidade, os que professam conhecer a Deus, mas em sua vida e caráter O negam? Não se acham muitos dos que se consideram o Seu povo escolhido e peculiar, satisfeitos em viver sem a evidência de que, na verdade, Deus Se acha no meio deles, para os salvar das ciladas e dos ataques de Satanás? T8 248 2 Não possuiríamos hoje muito mais luz se, no passado, tivéssemos acolhido as advertências do Senhor, reconhecido a Sua presença e volvido as costas a todas as práticas contrárias à Sua vontade? Se houvéssemos feito isso, a luz do Céu teria brilhado no templo da alma, habilitando-nos para compreender a verdade, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Oh! quanto não é Cristo desonrado pelos que, professando ser cristãos, trazem opróbrio sobre o nome que tomam, deixando de fazer com que sua vida corresponda à sua profissão de fé, deixando de tratar-se mutuamente com o amor e o respeito que Deus espera revelem em palavras bondosas e atos corteses! T8 249 1 Os poderes satânicos estão intensamente ativados. Guerras e derramamento de sangue são o resultado. A atmosfera moral acha-se envenenada por atos cruéis e horríveis. O espírito da discórdia está a espalhar-se; ele prevalece por toda a parte. Muitas pessoas acham-se possuídas do espírito de fraude ou de procedimentos clandestinos. Muitos se desviarão da fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Não discernem qual o espírito que deles tomou posse. Não honram a Deus T8 249 2 Um Ser que enxerga por sob a superfície e lê o coração de todos os homens diz dos que têm recebido grande luz: "Não se acham aflitos e atônitos por causa de seu estado moral e espiritual." "Escolhem os seus próprios caminhos, e a sua alma toma prazer nas suas abominações; também Eu quererei as suas ilusões, farei vir sobre eles os seus temores; porquanto clamei e ninguém respondeu, falei, e não escutaram, mas fizeram o que parece mal aos Meus olhos, e escolheram aquilo em que não tinha prazer." Isaías 66:3, 4. "Por isso Deus lhe enviará a operação do erro, para que creiam a mentira", "porque não receberam o amor da verdade para se salvarem", "antes tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:11, 10, 12. T8 249 3 O Professor celestial indagou: "Que engano maior poderá seduzir o espírito do que a pretensão de que estão construindo sobre o fundamento reto e de que Deus aceita suas obras, quando na realidade estão efetuando muitas coisas de acordo com princípios mundanos, e estão pecando contra Jeová? Oh! é um grande engano, uma fascinante ilusão, a que toma posse do espírito dos homens, quando, tendo uma vez conhecido a verdade, confundem a forma da piedade com o espírito e a eficiência da mesma; quando supõem ser ricos, e estar enriquecidos, e de nada terem falta, enquanto na realidade têm falta de tudo!" T8 250 1 Deus não mudou em relação a Seus servos fiéis que guardam imaculadas as suas vestes. Mas muitos estão a clamar: "Paz e segurança!" (1 Tessalonicenses 5:3), enquanto está prestes a sobrevir-lhes repentina destruição. A menos que haja arrependimento completo, a menos que os homens humilhem o coração, confessando os pecados e recebendo a verdade tal qual é em Jesus, jamais entrarão no Céu. Quando a purificação se realizar em nossas fileiras, não ficaremos por mais tempo ociosos, jactando-nos de ser ricos e enriquecidos e de nada ter falta. T8 250 2 Quem pode sinceramente dizer: "Nosso ouro é provado no fogo; nossas vestes estão incontaminadas do mundo"? Eu vi nosso Instrutor apontando para as vestes da chamada justiça. Tirando-as, pôs a descoberto a corrupção que estava por debaixo. Disse-me Ele, então: "Não vê como eles pretensiosamente encobriam seu depravamento e corrupção do caráter? 'Como se fez prostituta a cidade fiel!' Isaías 1:21. A casa de Meu Pai é feita casa de comércio, um lugar de onde fugiram a presença e glória divinas! Por esse motivo é que há fraqueza, e falta de poder." Apelo para a reforma T8 250 3 A menos que se arrependa e converta, a igreja que agora está a levedar-se com sua apostasia, comerá do fruto de seus próprios atos, até que se aborreça por si mesma. Quando resistir ao mal e escolher o bem, quando buscar a Deus com toda a humildade e alcançar sua alta vocação em Cristo, permanecendo na plataforma da verdade eterna, e pela fé lançar mão dos dons que para ela se acham preparados, então será curada. Aparecerá então na simplicidade e pureza que Deus lhe deu, separada de embaraços terrenos, mostrando que a verdade com efeito a libertou. Então seus membros serão na verdade os escolhidos de Deus, os Seus representantes. T8 251 1 É chegado o tempo de realizar uma reforma completa. Quando essa reforma começar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da igreja o espírito de discórdia e luta. Os que não estiverem vivendo em comunhão cristã serão levados a se aproximar dos demais. Um membro que trabalhe da maneira devida levará outros a se unir com ele em súplica pela revelação do Espírito Santo. Não haverá confusão, pois todos estarão em harmonia com o Espírito. As barreiras que separam um crente de outro serão derrubadas e os servos de Deus terão o mesmo procedimento. O Senhor cooperará com os Seus servos. Todos orarão com entendimento a prece que Cristo ensinou aos Seus servos: "Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu." Mateus 6:10. ------------------------Capítulo 42 -- Rumo ao lar T8 252 1 Ao ouvir das terríveis calamidades que semana a semana estão ocorrendo, pergunto-me: Que significam estas coisas? As mais terríveis catástrofes seguem-se umas às outras em rápida sucessão. Com que freqüência ouvimos de terremotos e furacões, de destruição por fogo e inundações, com grandes perdas de vidas e propriedades! Aparentemente essas calamidades são caprichosas erupções de forças desordenadas, irregulares, mas nelas se pode ler o propósito de Deus. São um dos meios pelos quais Ele procura despertar homens e mulheres, levando-os a reconhecer o seu perigo. T8 252 2 A vinda de Cristo está mais próxima do que quando aceitamos a fé. Aproxima-se de seu término o grande conflito. Os juízos de Deus estão na Terra. Pronunciam solene advertência, dizendo: "Estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis." Mateus 24:44. T8 252 3 Mas há em nossas igrejas muitos, muitos que pouco sabem do real significado da verdade para este tempo. Apelo para eles a fim de que não passem por alto o cumprimento dos sinais dos tempos, que diz tão claramente estar perto o fim. Oh! quantos que não buscaram a salvação espiritual farão logo o amargo lamento: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos!" Jeremias 8:20. T8 252 4 Vivemos nas cenas finais da história da Terra. A profecia cumpre-se rapidamente. As horas de graça escoam-se depressa. Não temos tempo -- nem um momento -- a perder. Não sejamos achados dormindo na guarda. Ninguém diga em seu coração ou por suas obras: "Meu Senhor tarde virá." Mateus 24:48. Que a mensagem da breve volta de Cristo ressoe em fervorosas palavras de advertência. Persuadamos homens e mulheres de toda parte a arrependerem-se e fugirem da ira vindoura. Despertemo-los, levando-os a preparar-se imediatamente, pois pouco imaginamos o que está diante de nós. Saiam pastores e membros leigos para os campos a fim de dizer aos despreocupados e indiferentes que busquem ao Senhor enquanto Se pode achar. Os obreiros encontrarão sua seara onde quer que proclamem as esquecidas verdades da Bíblia. Encontrarão pessoas que aceitarão a verdade e dedicarão a vida à conquista de outros para Cristo. T8 253 1 O Senhor voltará em breve, e precisamos estar preparados para encontrá-Lo em paz. Estejamos resolvidos a fazer tudo quanto está ao nosso alcance para comunicar luz aos que nos cercam. Não devemos estar tristes, mas animados, e ter sempre perante nós o Senhor Jesus. Ele virá logo, e devemos estar prontos e aguardando o Seu aparecimento. Oh! quão glorioso será vê-Lo e receber as boas-vindas como remidos Seus! Por muito tempo temos esperado; mas nossa esperança não deve diminuir. Se tão-somente pudermos ver o Rei em Sua formosura, seremos para sempre benditos. Tenho a sensação de que devesse exclamar alto: "Rumo ao lar!" Estamo-nos aproximando do tempo em que Cristo virá com poder e grande glória para levar ao lar eterno os Seus resgatados. T8 253 2 "E, naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso Deus, a quem aguardávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na Sua salvação, exultaremos e nos alegraremos." Isaías 25:9. T8 253 3 "Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo; aplainai, aplainai a estrada, limpai-a das pedras; arvorai a bandeira aos povos. Eis que o Senhor fez ouvir até às extremidades da terra: Dizei à filha de Sião: Eis que a tua salvação vem; eis que com Ele vem o Seu galardão, e a Sua obra, diante dEle. E chamar-lhes-ão povo santo, os remidos do Senhor; e tu serás chamada Procurada, Cidade não desamparada." Isaías 62:10-12. T8 254 1 Na grande obra finalizadora encontraremos dificuldades com as quais não saberemos como tratar; mas não esqueçamos que os três grandes poderes do Céu estão atuando, que a mão divina está ao leme, e que Deus cumprirá Suas promessas. Ele congregará do mundo um povo que O servirá em justiça. T8 254 2 "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também." João 14:1-3. T8 254 3 Há muito temos esperado a volta de nosso Salvador. Mas nem por isso é a promessa menos segura. Logo estaremos no lar que nos foi prometido. Ali Jesus nos guiará ao longo das vivas correntes de águas que fluem do trono de Deus, e nos explicará as sombrias providências pelas quais nos conduziu para nos aperfeiçoar o caráter. Ali contemplaremos com clara visão as belezas do Éden restaurado. Lançaremos, ali, aos pés de nosso Redentor, as coroas que nos colocou na cabeça, e, tangendo nossas harpas de ouro, daremos louvor e ação de graças Àquele que está assentado no trono. T8 254 4 "Para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo." 2 Coríntios 4:6. ------------------------Capítulo 43 -- Deus em a natureza T8 255 1 Antes da entrada do pecado, nenhuma nuvem repousava sobre a mente de nossos primeiros pais, a obscurecer-lhes a percepção do caráter de Deus. Achavam-se em perfeita conformidade com a vontade de Deus. Como uma cobertura, uma bonita luz, a glória de Deus os circundava. Essa clara e perfeita luz iluminava qualquer coisa da qual se aproximassem. T8 255 2 A natureza era o seu livro de estudos. No Jardim do Éden a existência de Deus era demonstrada e Seus atributos revelados em todos os objetos que circundavam nossos primeiros pais. Tudo aquilo sobre que os seus olhos repousavam, falava-lhes. As invisíveis coisas de Deus, "tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade" (Romanos 1:20), eram claramente vistos, fazendo-se compreensíveis pelas coisas criadas. Resultados do pecado T8 255 3 Embora seja verdade que no princípio Deus podia ser discernido em a natureza, não se deve deduzir que após a queda um conhecimento perfeito de Deus prosseguisse sendo revelado no mundo natural a Adão e sua posteridade. A natureza podia, sim, apresentar suas lições ao homem no estado de inocência deste. Mas a transgressão trouxe ruína sobre a Terra, interpondo-se entre a natureza e o Deus da natureza. Se Adão e Eva jamais houvessem desobedecido a seu Criador, houvessem eles se mantido no caminho da perfeita retidão, teriam podido prosseguir aprendendo de Deus por intermédio de Suas obras. Contudo, ao darem ouvidos ao tentador e pecarem contra Deus, a luz das vestimentas da celestial inocência apartou-se deles. Privados da luz celestial, não mais eram capazes de discernir o caráter de Deus nas obras de Suas mãos. T8 256 1 Através da desobediência do homem também ocorreu uma alteração na própria natureza. Contaminada pela maldição do pecado, é ela hoje capaz de apresentar apenas um imperfeito testemunho em relação a seu Criador. Não mais consegue revelar a perfeição de Seu caráter. Professor divino T8 256 2 Necessitamos de um Professor divino. Para que o mundo não tivesse que permanecer nas trevas, na eterna noite espiritual, Deus veio ao nosso encontro através de Jesus Cristo. Cristo é "a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem". João 1:9. A luz "do conhecimento da glória de Deus" é revelada "na face de Cristo". 2 Coríntios 4:6. A luz de Cristo, iluminando nosso entendimento e brilhando através da natureza, nos permite ler a lição do amor de Deus em Sua obras. A natureza testifica de Deus T8 256 3 As coisas da natureza, que hoje contemplamos, nos dão apenas uma pálida idéia da beleza e glória do Éden. Ainda assim, muito daquela beleza persiste. A natureza testifica que Alguém infinito em poder, grande em bondade, misericórdia e amor, criou a Terra e a encheu de vida e alegria. Mesmo em seu estado arruinado, todas as coisas revelam a habilidade do grande Artista Mestre. Embora o pecado haja maculado a forma e beleza das coisas naturais, ainda que sobre estas se possa ver os traços da obra do príncipe das potestades do ar, mesmo agora elas nos falam de Deus. Nas sarças, cardos, espinhos e ervas daninhas podemos ler a lei da condenação; da beleza das coisas naturais, entretanto, e de sua maravilhosa adaptação às nossas necessidades e nossa felicidade, logramos aprender que Deus ainda nos ama, e que Sua misericórdia continua manifestando-se no mundo. T8 257 1 "Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes." Salmos 19:1-3. O fracasso do homem em interpretar a natureza T8 257 2 Separados de Cristo ainda somos incapazes de interpretar corretamente a linguagem da natureza. A mais difícil e humilhante lição que o homem tem a aprender é a sua própria ineficiência quando depende da sabedoria humana e o seguro fracasso de seus esforços em interpretar corretamente a natureza. Por si mesmo não é ele capaz de fazer essa interpretação sem colocá-la acima de Deus. Acha-se ele numa condição semelhante à dos atenienses, os quais, em meio aos altares dedicados à adoração da natureza, possuíam um sobre o qual estava escrito: "Ao Deus Desconhecido." Atos dos Apóstolos 17:23. Certamente Deus lhes era desconhecido. Ele é desconhecido de todos que, sem a orientação do divino Ensinador, assumem o estudo da natureza. Será mais que certo que chegarão a conclusões equivocadas. T8 257 3 Em sua humana sabedoria, o mundo não conhece a Deus. Esses homens sábios reúnem um conhecimento imperfeito de Sua Pessoa a partir das obras por Ele criadas; tal conhecimento, contudo, longe de prover-lhes uma exaltada concepção de Deus, longe de elevar-lhes a mente e o espírito, e de conduzi-los à perfeita conformidade com o Seu querer, tende a torná-los idólatras. Em sua cegueira exaltam a natureza e suas leis acima do Deus da natureza. T8 257 4 Deus tem permitido que um dilúvio de luz seja derramado sobre o mundo através das descobertas das ciências e das artes; entretanto, quando homens supostamente instruídos raciocinam diante desses assuntos a partir de um ponto de vista meramente humano, certamente erram. As mais vigorosas mentes, se não forem guiadas pela Palavra de Deus, tornam-se desnorteadas em suas tentativas de investigar as relações entre a ciência e a revelação. O Criador e Suas obras encontram-se além da compreensão dessas pessoas; visto que não conseguem explicar esses fenômenos pelas leis naturais, afirmam que a história bíblica é indigna de confiança. T8 258 1 Aqueles que questionam a confiabilidade dos registros das Escrituras perdem sua âncora e são deixados a debater-se contra as rochas da incredulidade. Quando constatam serem incapazes de medir o Criador e Suas obras com o seu próprio imperfeito conhecimento da ciência, questionam a existência de Deus e atribuem poder infinito à natureza. T8 258 2 Na verdadeira ciência não pode existir coisa alguma contrária aos ensinamentos da Palavra de Deus, uma vez que ambas são originadas do mesmo Autor. A correta compreensão das duas sempre provará que se encontram em mútua harmonia. A verdade, quer seja a da natureza, quer seja a da revelação, é harmoniosa consigo mesma em todas as suas manifestações. Entretanto, a mente que não é iluminada pelo Espírito de Deus sempre se achará em trevas no tocante a Seu poder. É por essa razão que as idéias humanas relativas à ciência tão freqüentemente contradizem os ensinamentos da Palavra de Deus. A obra da criação T8 258 3 A obra da criação jamais poderá ser explicada pela ciência. Que ciência pode explicar o mistério da vida? T8 258 4 A teoria de que Deus não criou a matéria ao trazer à existência o mundo não tem fundamento. Na formação de nosso mundo, Deus não dependeu de matéria preexistente. Ao contrário, todas as coisas, materiais e espirituais, surgiram perante o Senhor Jeová ao Seu comando, e foram criadas pelo Seu próprio desígnio. Os céus e todas as suas hostes, a Terra e tudo quanto nela há, são não somente obra de Suas mãos; vieram à existência pelo sopro de Sua boca. T8 259 1 "Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente." Hebreus 11:3. T8 259 2 "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles... Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." Salmos 33:6-9. Leis da natureza T8 259 3 Por apegarem-se às leis da matéria e da natureza, muitos perdem de vista, ou até chegam a negar, a intervenção contínua e direta de Deus. Insistem eles na idéia de que a natureza atua independentemente de Deus, tendo em si mesma a capacidade de atuar. Têm eles em mente uma distinção definida entre o natural e o sobrenatural. O natural é atribuído a causas comuns, sem ligação com o poder de Deus. O poder vital é atribuído à matéria, e a natureza é transformada num deus. Concebe-se que a matéria é colocada em certas relações e passa a agir segundo leis fixas, em que o próprio Deus não pode interferir; que a natureza está dotada de certas propriedades, e sujeita a leis, e age por si mesma para obedecer a essas leis, e realizar a obra que lhe foi originalmente atribuída. T8 259 4 Isso é ciência falsa; nada há na Palavra de Deus que a sustente. Deus não anula Suas leis, mas está continuamente operando por meio delas, usando-as como instrumentos Seus. Elas não atuam por conta própria. Deus está perpetuamente atuando na natureza. Ela é serva Sua, por Ele dirigida como Lhe apraz. Por sua atuação, a natureza testifica da presença inteligente e da intervenção ativa de um Ser que procede em todas as Suas obras em conformidade com Sua vontade. Não é por meio de uma condição original inerente à natureza que ano após ano a Terra produz as suas dádivas, e prossegue em sua marcha em redor do Sol. A mão do infinito poder está perpetuamente em atividade, guiando este planeta. É o poder de Deus, exercido momento a momento, que o mantém em posição na sua rotação. T8 260 1 O Deus do Céu está continuamente em atividade. É pelo Seu poder que a vegetação cresce, que cada folha brota e toda flor desabrocha. Toda gota de chuva ou floco de neve, cada haste de grama, folha, flor e arbusto, testifica de Deus. Essas pequeninas coisas, tão comuns em torno de nós, ensinam a lição de que nada escapa à consideração do infinito Deus, nada é insignificante demais para a Sua atenção. T8 260 2 A estrutura do corpo humano não pode ser totalmente compreendida; apresenta ela mistérios que desconcertam os mais inteligentes. Não é como resultado de um mecanismo que, uma vez posto em movimento, continue a funcionar, que o pulso bate e respiração se segue a respiração. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Cada respiração, cada batimento do coração constitui prova contínua do poder de um Deus onipresente. T8 260 3 Deus é que faz o Sol surgir no céu. Ele abre as janelas do céu e dá a chuva. Ele faz crescer a vegetação sobre os montes. Ele "dá a neve como lã, esparge a geada como cinza". Salmos 147:16. "Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há tumulto de águas no céu. ... Ele faz os relâmpagos para a chuva, e faz sair o vento dos seus tesouros." Jeremias 10:13. T8 260 4 O Senhor está constantemente empenhado em suster e usar, como servas Suas, as coisas que criou. Disse Cristo: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também." João 5:17. Mistérios do poder divino T8 261 1 Homens da maior inteligência não podem compreender os mistérios de Jeová revelados na natureza. A divina inspiração formula muitas perguntas a que o sábio mais culto não sabe responder. Essas perguntas não foram feitas para que ele a elas respondesse, mas para chamar-nos a atenção para os profundos mistérios de Deus, e ensinar-nos que limitada é a nossa sabedoria; que no ambiente de nossa vida diária muitas coisas existem além da compreensão das mentes finitas; que o discernimento e propósitos de Deus excedem a pesquisa. Sua sabedoria é inescrutável. T8 261 2 Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque com sua mente finita não podem compreender o infinito poder com que Se revela aos homens. Mas Deus deve ser reconhecido mais pelo que Ele não revela acerca de Si, do que pelo que é acessível à nossa compreensão limitada. Tanto na divina revelação, como na natureza, Deus deixou aos homens mistérios para lhes exigir fé. Assim deve ser. Poderemos estar sempre pesquisando, sempre inquirindo, sempre aprendendo, e sempre haverá, além, um infinito. T8 261 3 "Quem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu em uma medida o pó da terra, e pesou os montes e os outeiros em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro O ensinou? Eis que as nações são consideradas por Ele como a gota de um balde e como o pó miúdo das balanças; eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante Ele; Ele considera-as menos do que nada e como uma coisa vã. "A quem, pois, fareis semelhante a Deus ou com que O comparareis?... Porventura, não sabeis? Porventura, não ouvis? Ou desde o princípio se vos não notificou isso mesmo? Ou não atentastes para os fundamentos da Terra? Ele é o que está assentado sobre o globo da Terra, cujos moradores são para Ele como gafanhotos; Ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar; ... A quem pois me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os olhos e vede quem criou essas coisas, quem produz por conta o Seu exército, quem a todas chama pelo seu nome; por causa da grandeza das Suas forças e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará. T8 262 2 "Por que, pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da Terra, nem Se cansa, nem Se fatiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento. Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os jovens certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão." Isaías 40:12-31. ------------------------Capítulo 44 -- Um Deus pessoal T8 263 1 A força potente que atua por meio de toda a natureza e sustenta todas as coisas não é, como alguns cientistas descrevem, simplesmente um princípio dominante, uma energia impulsionante. Deus é espírito; não obstante é um Ser pessoal, pois o homem foi criado à Sua imagem. A natureza não é Deus T8 263 2 As obras divinas na natureza não são o próprio Deus na natureza. As coisas da natureza são uma expressão do caráter divino; por meio delas podemos compreender o Seu amor, poder e glória; mas não devemos considerar a natureza como sendo Deus. O talento artístico dos seres humanos produz obras muito belas, coisas que deleitam os olhos, e essas coisas nos dão em parte um vislumbre de quem as ideou; mas a obra feita não é o homem. Não é a obra, mas o obreiro que é considerado merecedor de honra. Assim, conquanto a natureza seja uma expressão do pensamento de Deus, não a natureza, mas o Deus da natureza é que deve ser exaltado. T8 263 3 "Os deuses que não fizeram os céus e a Terra desaparecerão da Terra e de debaixo deste céu." "Não é semelhante a estes a porção de Jacó; porque ele é o Criador de todas as coisas." "Ele fez a Terra pelo Seu poder; Ele estabeleceu o mundo por Sua sabedoria e com a Sua inteligência estendeu os céus." Jeremias 10:11, 16, 12. T8 263 4 "Procurai o que faz o Sete-estrelo e o Órion, e torna a sombra da noite em manhã, e escurece o dia como a noite; o que chama as águas do mar e as derrama sobre a terra; Senhor é o Seu nome." Amós 5:8. Um Deus pessoal criou o homem T8 264 1 Na criação do homem foi manifesta a intervenção de um Deus pessoal. Quando Deus fez o homem à Sua imagem, a forma humana estava perfeita em toda a sua distribuição, mas sem vida. Então, um Deus pessoal que tem vida em Si mesmo, soprou nessa forma o fôlego da vida, e o homem tornou-se um ser vivente, respirando e dotado de inteligência. Todas as partes do organismo humano entraram em ação. O coração, as artérias, as veias, a língua, as mãos, os pés, os sentidos, as percepções da mente -- todos começaram a funcionar, e todos ficaram sujeitos a uma lei. O homem tornou-se ser vivente. Por meio de Jesus Cristo, um Deus pessoal criou o homem, e dotou-o de inteligência e vigor. T8 264 2 Nossa matéria não estava escondida dEle quando fomos feitos misteriosamente. Seus olhos viram a nossa matéria, se bem que imperfeita; e no Seu livro todos os nossos membros estavam escritos, quando ainda nenhum deles havia. T8 264 3 Acima de todas as ordens de seres inferiores, Deus pretendia que o homem, a obra-prima de Sua criação, expressasse o Seu pensamento e Lhe revelasse a glória. Porém, não deve o homem exaltar-se como se fora Deus. T8 264 4 "Celebrai com júbilo ao Senhor,... Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a Ele com canto. T8 264 5 "Sabei que o Senhor é Deus; foi Ele, e não nós, que nos fez povo Seu e ovelhas do Seu pasto. T8 264 6 "Entrai pelas portas dEle com louvor e em Seus átrios, com hinos; louvai-O e bendizei o Seu nome. T8 264 7 "Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e adorai-O no Seu santo monte, porque o Senhor, nosso Deus, é santo." Salmos 100:1-4; 99:9. Deus revelado em Cristo T8 265 1 Como ser pessoal, Deus Se revelou em Seu Filho. Jesus, o resplendor da glória do Pai, "e a expressa imagem da Sua pessoa" (Hebreus 1:3), veio à Terra sob a forma de homem. Como Salvador pessoal, veio Ele ao mundo. Como Salvador pessoal subiu ao Céu. Como Salvador pessoal, intercede nas cortes celestiais. Perante o trono de Deus ministra em nosso favor "um semelhante ao Filho do homem". Apocalipse 1:13. T8 265 2 Cristo, a luz do mundo, velou o ofuscante esplendor de Sua divindade, e veio viver como homem entre homens, para que, sem serem destruídos, pudessem relacionar-se com seu Criador. Homem algum viu a Deus jamais, exceto na Sua revelação através de Cristo. T8 265 3 "Eu e o Pai somos um" (João 10:30), declarou Cristo. "Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar." Mateus 11:27. T8 265 4 Cristo veio revelar aos seres humanos o que Deus quer que saibam. Nos altos céus, na Terra, na imensidão das águas do oceano, vemos as obras da mão de Deus. Todas as coisas criadas testificam do Seu poder, Sua sabedoria, Seu amor. Mas não é das estrelas, nem do oceano, nem da catarata que podemos aprender acerca da personalidade de Deus segundo é revelado em Cristo. T8 265 5 Viu Deus que uma revelação mais clara do que a natureza era necessária para retratar-Lhe a personalidade e o caráter. Enviou Ele o Seu Filho ao mundo para revelar, tanto quanto podia a vista humana suportar, a natureza e os atributos do Deus invisível. T8 265 6 Se Deus desejasse ser representado como personalidade ligada às coisas da natureza -- flor, árvore, hastes da relva -- não teria Cristo falado disso aos Seus discípulos quando esteve na Terra? Mas em parte alguma nos ensinos de Cristo é Deus representado dessa forma. Cristo e os apóstolos ensinaram claramente a verdade da existência de um Deus pessoal. T8 266 1 Cristo revelou, acerca de Deus, tudo quanto seres humanos pecadores poderiam suportar sem ser destruídos. Ele é o divino Mestre e Iluminador. Se Deus houvesse pensado que necessitávamos de revelações outras que não as feitas através de Cristo, e em Sua Palavra escrita, Ele as teria dado. Revelações de Deus aos discípulos T8 266 2 Estudemos as palavras proferidas por Cristo no cenáculo, na noite anterior à Sua crucifixão. Aproximava-Se Ele de Sua hora de prova, e tratou de confortar Seus discípulos, que iriam ser severamente tentados e provados. T8 266 3 "Não se turbe o vosso coração", disse Ele, "credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. ... T8 266 4 "Disse-Lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por Mim. Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a Meu Pai; e já desde agora O conheceis, e O tendes visto." T8 266 5 "Senhor, mostra-nos o Pai", disse Filipe, "o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não Me tendes conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim, vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que Eu estou no Pai, e que o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras." João 14:1-10. T8 266 6 Não haviam ainda os discípulos compreendido as palavras de Cristo acerca da Sua relação com Deus. Muito do Seu ensino lhes era ainda obscuro. Haviam feito muitas perguntas que revelavam sua ignorância acerca da relação de Deus com eles e quanto aos seus interesses futuros. Cristo queria que tivessem um mais claro e preciso conhecimento de Deus. T8 267 1 "Disse-vos isto por parábolas", disse Ele, "chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai." João 16:25. T8 267 2 Quando, no dia de Pentecoste, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, compreenderam eles as verdades proclamadas por Cristo em parábolas. Os ensinos que lhes haviam sido mistérios foram esclarecidos. A compreensão que lhes adveio com o derramamento do Espírito fê-los envergonharem-se de suas teorias fantasiosas. Suas suposições e interpretações eram loucura quando comparadas com o conhecimento das coisas celestiais que então receberam. Foram guiados pelo Espírito; e raiou luz no seu entendimento anteriormente obscurecido. T8 267 3 Os discípulos não haviam, porém, recebido o cumprimento total da promessa de Cristo. Receberam todo o conhecimento de Deus que poderiam suportar, mas o cumprimento integral da promessa de que Cristo lhes mostraria claramente o Pai ainda estava por vir. Assim acontece hoje. Nosso conhecimento de Deus é parcial e imperfeito. Quando o conflito houver terminado, e Jesus Cristo Homem confessar perante o Pai Seus leais obreiros que, num mundo de pecado, Lhe serviram de testemunhas fiéis, compreenderão eles o que agora lhes são mistérios. T8 267 4 Cristo levou consigo para as cortes celestiais a Sua humanidade glorificada. A quantos O recebem, concede Ele a faculdade de tornarem-se filhos de Deus, para que no final Deus os receba como Seus para com Ele viverem através de toda a eternidade. Se, durante esta vida, forem fiéis a Deus, no final "verão o Seu rosto, e nas suas testas estará o Seu nome". Apocalipse 22:4. E qual é a felicidade do Céu senão a de ver a Deus? Que maior júbilo poderá ter o pecador salvo pela graça de Cristo do que contemplar a face de Deus, e tê-Lo por Pai? O testemunho da escritura T8 268 1 As Escrituras indicam com clareza a relação que há entre Deus e Cristo, e com idêntica clareza apresentam a personalidade e individualidade de cada um. T8 268 2 "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da Sua glória, e a expressa imagem da Sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-Se à destra da Majestade nas alturas; feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és Meu Filho, hoje Te gerei? e outra vez: Eu Lhe serei por Pai, e Ele Me será por Filho?" Hebreus 1:1-5. T8 268 3 Deus é o Pai de Cristo; Cristo é o Filho de Deus. A Cristo foi atribuída uma posição exaltada. Foi feito igual ao Pai. Cristo participa de todos os desígnios de Deus. T8 268 4 Jesus disse aos judeus: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho. ... O Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai; porque tudo quanto Ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-Lhe tudo o que faz." João 5:17-20. T8 269 1 Novamente é apresentada a personalidade do Pai e do Filho, mostrando a unidade existente entre Eles. T8 269 2 Essa unidade é expressa também na oração de Cristo pelos discípulos, no décimo sétimo capítulo de João: T8 269 3 "E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela Sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como Nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:20-23. T8 269 4 Declaração admirável! A unidade existente entre Cristo e Seus discípulos não destrói a personalidade de nenhum deles, são um no propósito, no pensamento, no caráter, mas não em pessoa. Assim é que Deus e Cristo são um. T8 269 5 A relação entre o Pai e o Filho, bem como a personalidade de ambos, fica muito clara também neste texto: T8 269 6 "Assim fala e diz o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; Ele brotará do Seu lugar e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, e assentar-Se-á, e dominará no Seu trono, e será sacerdote no Seu trono, e conselho de paz haverá entre ambos." Zacarias 6:12, 13. "O Deus eterno" T8 270 1 Em Sua Palavra, Deus é apresentado como "o Deus eterno". Esse nome abrange o passado, o presente e o futuro. Deus existe de eternidade a eternidade. Ele é o Eterno. T8 270 2 "O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo de ti estejam os braços eternos; e Ele lance o inimigo de diante de ti e diga: Destrói-o. Israel, pois, habitará só e seguro, na terra da fonte de Jacó, na terra de cereal e de mosto; e os Seus céus gotejarão orvalho. Bem-aventurado és tu, ó Israel! Quem é como tu, um povo salvo pelo Senhor, o escudo do teu socorro e a espada da tua alteza?" Deuteronômio 33:27-29. T8 270 3 "Antes que os montes nascessem, ou que Tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, Tu és Deus. Tu reduzes o homem à destruição; e dizes: Volvei, filhos dos homens. Porque mil anos são aos Teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite. Tu os levas como corrente de água; são como um sono; são como a erva que cresce de madrugada; de madrugada, cresce e floresce; à tarde, corta-se e seca." Salmos 90:2-6. T8 270 4 "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio." T8 270 5 "Sacia-nos de madrugada com a Tua benignidade, para que nos regozijemos e nos alegremos todos os nossos dias. T8 271 6 "Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal. Apareça a Tua obra aos Teus servos, e a Tua glória, sobre seus filhos. E seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos." Salmos 90:12, 14-17. T8 271 1 "O Senhor reina; está vestido de majestade; o Senhor Se revestiu e cingiu de fortaleza; o mundo também está firmado e não poderá vacilar. O Teu trono está firme desde então; Tu és desde a eternidade." Salmos 93:1, 2. Sua amorável bondade T8 271 2 "Porque a palavra do Senhor é reta, e todas as Suas obras são fiéis. Ele ama a justiça e o juízo; a Terra está cheia da bondade do Senhor." T8 271 3 "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para a Sua herança." T8 271 4 "Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que O temem, sobre os que esperam na Sua misericórdia, para livrar a sua alma da morte e para os conservar vivos na fome. T8 271 5 "A nossa alma espera no Senhor; Ele é o nosso auxílio e o nosso escudo. Pois nEle se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no Seu santo nome." Salmos 33:4-5, 12, 18-21. T8 271 6 "Busquei ao Senhor, e Ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores. Olharam para Ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficarão confundidos. Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu; e o salvou de todas as suas angústias. T8 271 7 "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra. Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nEle confia. T8 271 8 "Temei ao Senhor, vós os seus santos, pois não têm falta alguma aqueles que O temem. Os filhos dos leões necessitam e sofrem fome, mas aqueles que buscam ao Senhor de nada têm falta." T8 272 1 "Os justos clamam, e o Senhor os ouve e os livra de todas as suas angústias. Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito." Salmos 34:4-10, 17, 18. T8 272 2 "O Senhor resgata a alma dos Seus servos, e nenhum dos que nEle confiam será condenado." Salmos 34:22. T8 272 3 "Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade. Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a Sua ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu segundo as nossas iniqüidades. T8 272 4 "Pois quanto o Céu está elevado acima da Terra, assim é grande a Sua misericórdia para com os que O temem. Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-Se de que somos pó. T8 272 5 "Porque o homem, são seus dias como a erva; como a flor do campo, assim floresce; pois, passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não conhece mais. Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade sobre aqueles que O temem, e a Sua justiça sobre os filhos dos filhos; sobre aqueles que guardam o Seu concerto, e sobre os que se lembram dos Seus mandamentos para os cumprirem. Salmos 103:8-18. Seu cuidado providencial T8 272 6 O nosso Deus tem o Céu e a Terra sob o Seu comando, e sabe justamente o de que necessitamos. Só vemos um pequeno trecho do caminho que está à nossa frente; mas "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos dAquele com quem temos de tratar". Hebreus 4:13. Ele está entronizado acima do tumulto da Terra; todas as coisas estão ao alcance da Sua divina supervisão; e lá da Sua grande e calma eternidade Ele comanda o que em Sua providência vê ser o melhor. T8 273 1 Nem um passarinho cai ao chão sem que o Pai perceba. O ódio de Satanás contra Deus o induz a deleitar-se até na destruição das mudas criaturas. Somente por meio do cuidado protetor de Deus é que os pássaros são preservados para nos alegrarem com seus cantos de júbilo. Porém, nem os pássaros Ele esquece. "Não temais pois: mais valeis vós do que muitos passarinhos." Mateus 10:31. T8 273 2 "Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor, Deus meu, Tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade. Ele cobre-se de luz como de uma veste, estende os céus como uma cortina. Põe nas águas os vigamentos das Suas câmaras, faz das nuvens o seu carro e anda sobre as asas do vento. Faz dos ventos Seus mensageiros, dos Seus ministros, um fogo abrasador. T8 273 3 "Lançou os fundamentos da Terra, para que não vacile em tempo algum. Tu a cobriste com o abismo, como com uma veste; as águas estavam sobre os montes; à Tua repreensão, fugiram; à voz do Teu trovão, se apressaram. Subiram aos montes, desceram aos vales, até ao lugar que para elas fundaste. Limite lhes traçaste, que não ultrapassarão, para que não tornem mais a cobrir a Terra. T8 273 4 "Tu, que nos vales fazes rebentar nascentes que correm entre os montes. Dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos monteses matam com elas a sua sede. Junto delas habitam as aves do céu, cantando entre os ramos. Ele rega os montes desde as suas câmaras; a Terra farta-se do fruto das Suas obras. Ele faz crescer a erva para os animais e a verdura, para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento e o vinho que alegra o seu coração; ele faz reluzir o seu rosto com o azeite e o pão, que fortalece o seu coração. Satisfazem-se as árvores do Senhor, os cedros do Líbano que Ele plantou, onde as aves se aninham; quanto à cegonha, a sua casa é nas faias. Os altos montes são um refúgio para as cabras monteses, e as rochas, para os coelhos. T8 274 1 "Designou a lua para as estações; o sol conhece o seu ocaso. Ordenas a escuridão, e faz-se noite, na qual saem todos os animais da selva. Os leõezinhos bramam pela presa e de Deus buscam o seu sustento. Nasce o sol e logo se recolhem e se deitam nos seus covis. Então, sai o homem para a sua lida e para o seu trabalho, até à tarde. T8 274 2 "Ó Senhor, quão variadas são as Tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das Tuas riquezas. Tal é este vasto e espaçoso mar, onde se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes. Ali passam os navios; e o leviatã que formaste para nele folgar. Todos esperam de Ti que lhes dês o seu sustento em tempo oportuno. Dando-lho Tu, eles o recolhem; abres a Tua mão, e enchem-se de bens. Escondes o Teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem e voltam ao próprio pó. Envias o Teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da Terra. T8 274 3 "A glória do Senhor seja para sempre! Alegre-se o Senhor em Suas obras! Olhando Ele para a Terra, ela treme; tocando nos montes, logo fumegam. T8 275 1 "Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto existir. A minha meditação a Seu respeito será suave; eu me alegrarei no Senhor." Salmos 104:1-34. T8 275 2 "És a esperança de todas as extremidades da Terra e daqueles que estão longe sobre o mar; o que pela sua força consolida os montes, cingido de fortaleza; o que aplaca o ruído dos mares, ... e o tumulto das nações... Tu fazes alegres as saídas da manhã e da tarde... Tu coroas o ano da Tua bondade, e as Tuas veredas destilam gordura." Salmos 65:5-11. T8 275 3 "O Senhor sustenta a todos os que caem e levanta a todos os abatidos. Os olhos de todos esperam em Ti, e Tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a mão e satisfazes os desejos de todos os viventes." Salmos 145:14-16. Sua misericórdia e longanimidade T8 275 4 Nenhum pai terrestre jamais insistiu tão intensamente com um filho errante quanto pleiteia com o transgressor Aquele que nos fez. Nenhum amorável interesse humano jamais seguiu o impenitente com tão terno convite: T8 275 5 "Contudo, tu não Me invocaste a Mim, ó Jacó, mas te cansaste de mim, ó Israel." Isaías 43:22. T8 275 6 "Ó povo Meu! Que te tenho feito? E em que te enfadei?" Miquéias 6:3. T8 275 7 "Quando Israel era menino, Eu o amei; e do Egito chamei a Meu filho." Oséias 11:1. T8 275 8 "Porque a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a parte da Sua herança. T8 276 1 "Achou-o na Terra do deserto e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as Suas asas." Deuteronômio 32:9-11. T8 276 2 "Não guardaram o concerto de Deus e recusaram andar na Sua lei." Salmos 78:10. T8 276 3 "Mas, como os chamavam, assim se iam... Eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os pelos seus braços, mas não conheceram que Eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com cordas de amor... Porque o Meu povo é inclinado a desviar-se de Mim; bem que clamam ao Altíssimo, nenhum deles O exalta." Oséias 11:2-7. T8 276 4 "Mas Ele, que é misericordioso, perdoou a sua iniqüidade e não os destruiu; antes, muitas vezes desviou deles a Sua cólera e não deixou despertar toda a Sua ira, porque Se lembrou de que eram carne, um vento que passa e não volta." Salmos 78:38, 39. T8 276 5 Embora Ele passasse "e deu a Sua força ao cativeiro, e a Sua glória, à mão do inimigo" (Salmos 78:61), prosseguia afirmando que "não retirarei totalmente dele a Minha benignidade, nem faltarei à Minha fidelidade." Salmos 89:33. T8 276 6 "Não é Efraim para Mim um filho precioso, uma criança das Minhas delícias? Porque, depois que falo contra ele, ainda Me lembro dele solicitamente; por isso, se comove por ele o Meu coração; deveras Me compadecerei dele, diz o Senhor." Jeremias 31:20. T8 276 7 "Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Por-te-ia como Zeboim? Está mudado em Mim o Meu coração, T8 277 1 todos os Meus pesares juntamente estão acesos. Não executarei o furor da Minha ira; não voltarei para destruir Efraim, porque Eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade." Oséias 11:8, 9. T8 277 2 "Converte-te, ó Israel, ao Senhor, teu Deus; porque, pelos teus pecados, tens caído. Tomai convosco palavras e convertei-vos ao Senhor; dizei-Lhe: Expulsa toda a iniqüidade e recebe o bem... Não nos salvará a Assíria, não iremos montados em cavalos e à obra das nossas mãos não diremos mais: Tu és o nosso Deus; porque, por Ti, o órfão alcançará misericórdia." Oséias 14:1-3. T8 277 3 "Andarão após o Senhor... os filhos do Ocidente tremerão. Tremendo, virão, como um passarinho, os do Egito, e, como uma pomba, os da terra da Assíria, e os farei habitar em suas casas, diz o Senhor." Oséias 11:10, 11. T8 277 4 "Eu sararei a sua perversão, Eu voluntariamente os amarei; porque a Minha ira se apartou deles. Eu serei, para Israel, como orvalho; ele florescerá como o lírio e espalhará as suas raízes como o Líbano. Estender-se-ão as suas vergônteas, e a sua glória será como a da oliveira, o seu odor, como o do Líbano. Voltarão os que se assentarem à sua sombra; serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide... Efraim dirá: Que mais tenho eu com os ídolos? Eu o tenho ouvido e isso considerarei; eu sou como a faia verde; de mim é achado o teu fruto. T8 278 1 "Quem é sábio, para que entenda essas coisas? Prudente, para que as saiba? Porque os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles." Oséias 14:4-9. T8 278 2 "Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a iniquidade e que Te esqueces da rebelião do restante da Tua herança? O Senhor não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-Se de nós, subjugará as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar." Miquéias 7:18, 19. T8 278 3 "Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei; também com amável benignidade te atraí." "Porque o Senhor resgatou a Jacó e o livrou das mãos do que era mais forte do que ele." "Então, a virgem se alegrará na dança, e também os jovens e os velhos; e tornarei o seu pranto em alegria, e os consolarei, e transformarei em regozijo a sua tristeza. E saciarei a alma dos sacerdotes de gordura, e o Meu povo se fartará dos Meus bens, diz o Senhor." Jeremias 31:3, 11, 13, 14. T8 278 4 "Canta alegremente, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e exulta de todo o coração, ó filha de Jerusalém. O Senhor afastou os teus juízos, exterminou o teu inimigo; o Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti; tu não verás mais mal algum. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se enfraqueçam as tuas mãos. O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; Ele se deleitará em ti com alegria; calar-Se-á por Seu amor, regozijar-Se-á em ti com júbilo." Sofonias 3:14-17. T8 278 5 "Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será nosso guia até à morte." Salmos 48:14. ------------------------Capítulo 45 -- Verdadeiro e falso conhecimento de Deus Teorias especulativas T8 279 1 "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre." Deuteronômio 29:29. A revelação que Deus oferece de Si mesmo em Sua Palavra é para ser estudada. Temos de procurar compreendê-la. Mas além disso, não vamos conseguir penetrar. A inteligência mais privilegiada pode se esforçar até o ponto de se perder em conjeturas a respeito da natureza de Deus; mas o esforço será inútil. Esse não é um problema cuja solução foi confiada a nós. Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. O ser humano finito não deve tentar interpretar a Deus. Ninguém deve alimentar a especulação a respeito da natureza divina. Nesse assunto, o silêncio é eloqüência. O Onisciente está acima de qualquer discussão. T8 279 2 Mesmo aos anjos não foi permitido compartilhar dos conselhos tomados entre o Pai e o Filho quando o plano da salvação foi estabelecido. Os seres humanos que tentam intrometer-se nos segredos do Altíssimo, demonstram sua ignorância quanto a assuntos espirituais e eternos. Muito melhor fariam se, enquanto a voz da misericórdia ainda está sendo ouvida, se humilhassem até ao pó e suplicassem a Deus que lhes ensinasse o Seu caminho. T8 279 3 Somos tão ignorantes a respeito de Deus quanto crianças pequenas; contudo, à semelhança delas, podemos amá-Lo e obedecer-Lhe. Em vez de especular com respeito a Sua natureza ou Suas prerrogativas, prestemos atenção às palavras que pronunciou: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus." Salmos 46:10. T8 279 4 "Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a Terra; e mais larga do que o mar." Jó 11:7-9. T8 280 1 "Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo. Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por jóia de ouro fino. Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis. Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro. De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?... A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. Deus entende o seu caminho, e Ele sabe o seu lugar. T8 280 2 "Porque Ele vê as extremidades da Terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus... quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou. Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência." Jó 28:12-28. T8 280 3 Nem pela pesquisa dos recessos da Terra, nem em vãos esforços para penetrar os mistérios do ser divino, é encontrada a sabedoria. Antes, é ela encontrada no humilde recebimento da revelação que Ele Se dignou em conceder, e na conformidade da vida com a Sua vontade. A grandeza de nosso Deus T8 281 1 A partir das representações concedidas aos profetas pelo Santo Espírito, aprendamos sobre a grandeza de nosso Deus. Escreveu o profeta Isaías: T8 281 2 "No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dEle; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da Sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. T8 281 3 "Então, disse eu: ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos! T8 281 4 "Mas um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com ela tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e purificado o teu pecado." Isaías 6:1-7. T8 281 5 "Ninguém há semelhante a ti, ó Senhor; Tu és grande, e grande é o Teu nome em força. Quem Te não temeria a Ti, ó Rei das nações?" Jeremias 10:6, 7. T8 281 6 "Senhor, Tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. T8 282 1 "Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a Tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir." Salmos 139:1-6. T8 282 2 "Grande é o nosso Senhor e de grande poder; o Seu entendimento é infinito." Salmos 147:5. T8 282 3 "Ele revela o profundo e o escondido e conhece o que está em trevas; e com Ele mora a luz." Daniel 2:22. T8 282 4 "Faz estas coisas conhecidas desde séculos." Atos dos Apóstolos 15:18. "Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque dEle, e por Ele, e para Ele são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente." Romanos 11:34-36. T8 282 5 "Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre." 1 Timóteo 1:17. A "Aquele que tem, Ele só, a imortalidade e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém!" 1 Timóteo 6:16. T8 282 6 "O norte estende [Deus] sobre o vazio; suspende a Terra sobre o nada. Prende as águas em densas nuvens, e a nuvem não se rasga debaixo delas... Marcou um limite à superfície das águas em redor, até aos confins da luz e das trevas." Jó 26:7-10. T8 282 7 "As colunas do céu tremem e se espantam da Sua ameaça. Com a Sua força fende o mar... Pelo seu Espírito formou os céus; a Sua mão formou a serpente enroscadiça. Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dEle! Quem, pois, entenderia o trovão do Seu poder?" Jó 26:11-14. T8 282 8 "O Senhor tem o Seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos Seus pés." Naum 1:3. T8 283 1 "Quem é como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas; que Se curva para ver o que está nos céus e na Terra." Salmos 113:5, 6. T8 283 2 "Grande é o Senhor e muito digno de louvor; e a Sua grandeza, inescrutável. Uma geração louvará as Tuas obras à outra geração e anunciará as Tuas proezas. Falarei da magnificência gloriosa da Tua majestade e das Tuas obras maravilhosas. E se falará da força dos Teus feitos terríveis; e contarei a Tua grandeza. Publicarão abundantemente a memória da Tua grande bondade e cantarão a Tua justiça. T8 283 3 "Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te bendirão. Falarão da glória do Teu reino e relatarão o Teu poder, para que façam saber aos filhos dos homens as Tuas proezas e a glória da magnificência do Teu reino. O Teu reino é um reino eterno; o Teu domínio estende-se a todas as gerações... A minha boca entoará o louvor do Senhor, e toda a carne louvará o Seu santo nome para todo o sempre." Salmos 145:3-21. Advertências contra a presunção T8 283 4 Quanto mais aprendemos a respeito de quem é Deus, e o que nós somos diante de Seus olhos, mais devemos temer e tremer diante dEle. T8 283 5 Que as pessoas dos dias de hoje tomem como advertência a sorte de pessoas da antigüidade que tentaram lidar de modo leviano com aquilo que Deus declarara ser sagrado. Quando os israelitas se aventuraram a abrir a arca ao ela retornar da terra dos filisteus, seu irreverente trato foi punido severamente. "E feriu o Senhor os homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor, até ferir do povo cinqüenta mil e setenta homens; então, o povo se entristeceu, porquanto o Senhor fizera tão grande estrago entre o povo. Então, disseram os homens de Bete-Semes: Quem poderia estar em pé perante o Senhor, este Deus santo?" 1 Samuel 6:19, 20. T8 284 1 Considerem agora os juízos que caíram sobre Uzá. Agora no reinado de Davi, enquanto a arca era conduzida a Jerusalém, Uzá estendeu a mão para mantê-la sobre o veículo. Por tocar presunçosamente aquele símbolo da presença de Deus, foi ele ferido com morte imediata. T8 284 2 Junto à sarça ardente, quando Moisés, reconhecendo a presença de Deus, volveu-se e contemplou a maravilhosa cena, foi-lhe dada a ordem: "Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa... Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus." Êxodo 3:5, 6. T8 284 3 "E sucedeu que, estando Josué ao pé de Jericó, levantou os seus olhos, e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos inimigos? E disse ele: Não, mas venho agora como Príncipe do exército do Senhor. Então, Josué se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-Lhe: Que diz meu Senhor ao Seu servo? Então, disse o Príncipe do exército do Senhor a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." Josué 5:13-15. T8 284 4 No santuário e no templo, que eram os símbolos terrestres do lugar da habitação de Deus, um compartimento era reservado para Sua sagrada presença. O véu bordado de querubins à sua entrada, não deveria ser removido por mão alguma, exceto uma. Erguer o véu e introduzir-se presunçosamente no compartimento de sagrados mistérios do lugar santíssimo significava a morte. De cima do propiciatório e de entre os anjos inclinados em posição de adoração provinha a glória do Santíssimo -- glória à qual homem algum podia olhar e sobreviver. No único dia do ano indicado para o ministério no lugar santíssimo, o sumo sacerdote adentrava, tremente, à presença de Deus, enquanto nuvens de incenso velavam a divina glória de seus olhos. Em todos os compartimentos do templo qualquer som era interrompido. Nenhum sacerdote ministrava junto aos altares. A hoste de adoradores, inclinava-se em silente reverência, enquanto elevava a Deus petições suplicando a Sua misericórdia. T8 285 1 "Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos." 1 Coríntios 10:11. T8 285 2 "Mas o Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a Terra." Habacuque 2:20. T8 285 3 "O Senhor reina; tremam as nações. Ele está entronizado entre os querubins; comova-se a Terra. O Senhor é grande em Sião e mais elevado que todas as nações. Louvem o Teu nome, grande e tremendo, pois é santo." Salmos 99:1-3. T8 285 4 "O trono do Senhor está nos Céus; os Seus olhos estão atentos, e as Suas pálpebras provam os filhos dos homens." Salmos 11:4. "Porquanto olhara desde o alto do Seu santuário... O Senhor observou." Salmos 102:19. T8 285 5 "Da Sua morada contempla todos os moradores da Terra. Ele é que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras." "Tema toda a Terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo." Salmos 33:14, 15, 8. T8 285 6 Não pode o homem através de pesquisa encontrar a Deus. Que ninguém tente, com mão presunçosa, afastar o véu que oculta a Sua glória. "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!" Romanos 11:33. É como prova de Sua misericórdia que Ele oculta o Seu poder; isso porque o afastamento do véu que esconde a divina presença é morte. Nenhuma mente mortal é capaz de penetrar o lugar secreto em que habita e atua o Todo-poderoso. T8 285 7 Unicamente aquilo que Ele julga por bem revelar é o que dEle podemos compreender. A razão necessita reconhecer uma autoridade superior à sua própria. Coração e intelecto precisam curvar-se diante do grande Eu Sou. A revelação de Deus em Cristo T8 286 1 Tudo aquilo que o homem necessita ou é capaz de conhecer a respeito de Deus foi revelado na vida e caráter de Seu Filho. T8 286 2 "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este O fez conhecer." João 1:18. T8 286 3 Revestindo-Se da humanidade, Cristo veio para ser um com ela e ao mesmo tempo revelar nosso Pai celestial a seres humanos pecaminosos. Em tudo Se fez semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se carne, assim como somos. Tinha fome, sede e fadiga. Era sustentado pelo alimento e refrigerado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens, e todavia era o irrepreensível Filho de Deus. Foi um estrangeiro e peregrino na Terra -- no mundo, mas não do mundo; foi tentado e provado, mas Se manteve livre do pecado. T8 286 4 Gentil, compassivo, simpático, interessado no bem-estar dos outros, Ele demonstrou o caráter de Deus, e esteve o tempo todo servindo a Deus e à humanidade. T8 286 5 "O Verbo Se fez carne e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade." João 1:14. T8 286 6 Disse Ele: "Manifestei o Teu nome aos homens que do mundo Me deste." "E Eu lhes fiz conhecer o Teu nome e lho farei conhecer mais, para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja." João 17:6, 26. T8 286 7 Ele suplicou-lhes: "Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos Céus." Mateus 5:44, 45. "Porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso." Lucas 6:35, 36. A glória da cruz T8 287 1 A revelação do amor de Deus ao homem centraliza-se na cruz. A língua não pode expressar o seu pleno significado; não pode a pena descrevê-lo; a mente do homem não o pode compreender. Contemplando a cruz do Calvário, apenas podemos dizer: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. T8 287 2 Cristo crucificado por nossos pecados, Cristo ressurgido dos mortos, Cristo que subiu ao Céu, eis a ciência da salvação que devemos aprender e ensinar. T8 287 3 "Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz." Filipenses 2:6-8. T8 287 4 "Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus." Romanos 8:34. "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Hebreus 7:25. T8 287 5 "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-Se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado." Hebreus 4:15. T8 287 6 "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!" Romanos 11:33. T8 287 7 É através de Cristo que recebemos todas as bênçãos. Por meio desse Dom vem-nos dia a dia a incessante corrente da bondade de Jeová. Toda flor, com seus delicados matizes e aprazível aroma, é dada para nosso deleite mediante esse Dom. O Sol e a Lua foram feitos por Ele; não há uma estrela a embelezar os céus que não tenha sido feita por Ele. Não há um artigo de alimentação em nossa mesa que não tenha sido provido por Ele para nossa manutenção. A inscrição de Cristo está sobre tudo isso. Tudo é fornecido ao homem por meio do indizível Dom, o unigênito Filho de Deus. Ele foi pregado na cruz para que todas essas bênçãos possam fluir para as obras de Deus. T8 288 1 O fruto da árvore da vida no Jardim do Éden possuía virtude sobrenatural. Comer dele significava viver para sempre. Seu fruto era o antídoto da morte. Suas folhas eram para o sustento da vida e a imortalidade. Mas em virtude da desobediência do homem, a morte entrou no mundo. Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, comeu do fruto que lhe tinha sido proibido tocar. Sua transgressão abriu as comportas das desgraças sobre o mundo. T8 288 2 Depois da entrada do pecado, o Cultivador celestial transplantou a árvore da vida para o Paraíso celestial; mas seus ramos pendem sobre o muro, em direção ao mundo aqui de baixo. Através da redenção adquirida pelo sangue de Cristo, ainda podemos apanhar de seu fruto doador de vida. T8 288 3 Está escrito a respeito de Cristo: "NEle, estava a vida e a vida era a luz dos homens." João 1:4. Ele é a fonte de vida. Obediência a Ele é o poder outorgador de vida que alegra a alma. T8 288 4 Cristo declara: "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a Mim não terá fome; e quem crê em Mim nunca terá sede." "Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim... O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:35, 57, 63. "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus." Apocalipse 2:7. T8 289 1 "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus." 1 João 3:1. Conhecimento que transforma T8 289 2 O conhecimento de Deus conforme revelado em Cristo é o conhecimento que necessitam possuir todos os que são salvos. É o conhecimento que transforma o caráter. Esse conhecimento, recebido, recriará a pessoa à semelhança da imagem de Deus. Outorgará a todo o ser um poder espiritual que é divino. T8 289 3 "Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor." 2 Coríntios 3:18. T8 289 4 Falando de Sua própria vida, o Salvador disse: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 15:10. "E Aquele que Me enviou está comigo; o Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29. Da mesma forma que Jesus agiu em Sua natureza humana, assim deseja Deus que sejam os Seus seguidores. Em Sua força devemos viver a vida de pureza e nobreza que Jesus viveu. T8 289 5 Paulo diz: "Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos Céus e na Terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:14-19. ------------------------Capítulo 46 -- O perigo do conhecimento especulativo T8 290 1 A falsa ciência é um dos meios de que Satanás se serviu nas cortes celestiais, e dela se serve ainda hoje. As declarações falsas que fez aos anjos, suas sutis teorias científicas, seduziram muitos deles, levando-os a romper sua lealdade. T8 290 2 Havendo perdido seu lugar no Céu, Satanás apresentou suas tentações aos nossos primeiros pais. Adão e Eva cederam ao inimigo, e por sua desobediência foi a humanidade separada de Deus, e a Terra separada do Céu. T8 290 3 Se Adão e Eva jamais houvessem tocado a árvore proibida, o Senhor lhes teria comunicado conhecimento -- conhecimento sobre o qual não repousava a maldição do pecado, conhecimento que lhes teria proporcionado alegria eterna. Tudo quanto ganharam por sua desobediência foi a familiarização com o pecado e suas conseqüências. Enganos dos últimos dias T8 290 4 O campo para o qual Satanás levou nossos primeiros pais é o mesmo para o qual está levando os homens hoje. Está inundando o mundo com fábulas agradáveis. Por todas as astúcias ao seu alcance procura impedir os homens de obterem o conhecimento de Deus, que corresponde à salvação. T8 290 5 Vivemos em época de grande luz; mas muita coisa que é considerada como luz está abrindo o caminho para a sabedoria e as artimanhas de Satanás. Muitos fatos serão apresentados que parecerão verdadeiros, e contudo terão que ser ponderados cuidadosamente, com muita oração; pois podem ser sutis artifícios do inimigo. A senda do erro parece muitas vezes estar bem vizinha do caminho da verdade. Ela quase não é distinguível da verdade que leva à santidade e ao Céu. Mas a mente iluminada pelo Espírito Santo sabe discernir que essa senda diverge do caminho reto. Depois de algum tempo se vê que os dois se acham vastamente separados. Teorias panteístas T8 291 1 Já se estão infiltrando entre nosso povo ensinos espiritistas, que enfraquecerão a fé dos que lhes derem ouvido. A teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a natureza é um dos mais sutis artifícios de Satanás. Representa falsamente a Deus e é uma desonra para Sua grandeza e majestade. T8 291 2 As teorias panteístas não são apoiadas pela Palavra de Deus. A luz de Sua verdade mostra que essas doutrinas são meios destruidores de vidas. As trevas são o seu elemento; a sensualidade, a sua esfera. Satisfazem o coração natural, e favorecem a inclinação. A separação de Deus é o resultado de sua aceitação. T8 291 3 Nossa condição tornou-se, pelo pecado, sobrenatural, e o poder que nos restaura tem que ser sobrenatural, do contrário não terá valor. Há um só poder capaz de romper no coração do homem a força do mal, e esse é o poder de Deus em Jesus Cristo. Unicamente pelo sangue do Crucificado pode haver purificação do pecado. Sua graça, tão-somente, pode habilitar-nos a resistir às tendências de nossa natureza caída e sujeitá-las. A esse poder tornam sem efeito as teorias espiritistas acerca de Deus. Se Deus é uma essência que penetra toda a natureza, Ele então habita em todos os homens; e para alcançar a santidade, basta ao homem desenvolver a capacidade que tem em si mesmo. T8 291 4 Estas teorias, seguidas até à sua conclusão lógica, derribam toda a organização cristã. Removem a necessidade da expiação e fazem do homem o seu próprio salvador. Essas teorias a respeito de Deus tornam sem efeito a Sua Palavra, e os que as aceitam estão em grande perigo de ser afinal levados a considerar a Bíblia toda uma obra de ficção. Podem eles considerar a virtude melhor que o vício; mas sendo Deus removido de Sua posição de soberania, põem a confiança no poder humano, que, sem Deus, está destituído de valor. A vontade humana, desajudada, não tem real poder para resistir ao mal e vencê-lo. As fortalezas da alma acham-se derribadas. O homem não tem barreira que o proteja do pecado. Uma vez rejeitadas as restrições da Palavra de Deus e de Seu Espírito, não sabemos a que profundezas pode o homem cair. T8 292 1 Os que continuarem a manter essas teorias espiritualistas hão de, sem dúvida, comprometer sua experiência cristã, cortar a ligação com Deus e perder a vida eterna. T8 292 2 Os que semeiam enganos acerca de Deus e da natureza, os que inundam o mundo com ceticismo, são inspirados pelo inimigo caído, que é também estudante da Bíblia, sabe qual a verdade essencial para o povo e empenha-se em distrair as mentes das grandes verdades destinadas a prepará-las para o que está prestes a sobrevir ao mundo. T8 292 3 Vi as conseqüências desses fantasiosos pontos de vista acerca de Deus, na apostasia, espiritualismo e amor livre. A tendência para o amor livre, que esses ensinos encerram, estava tão disfarçada que, a princípio, era difícil tornar claro o seu verdadeiro caráter. Até que o Senhor mo apresentou, eu não sabia como denominá-lo, mas fui instruída a chamá-lo amor espiritual não santificado. O fanatismo depois de 1844 T8 292 4 Depois de 1844, tivemos que enfrentar fanatismos de todas as espécies. Foram-me dados testemunhos de repreensão, que eu deveria apresentar a alguns que mantinham teorias espíritas. T8 292 5 Havia os que estavam ativos em disseminar idéias falsas acerca de Deus. Foi-me dada luz de que esses homens estavam tornando sem efeito a verdade, por meio de seus falsos ensinos. Fui instruída de que estavam desviando pessoas, apresentando teorias especulativas relativamente a Deus. T8 293 1 Dirigi-me ao lugar onde se encontravam e apresentei-lhes a natureza de sua obra. O Senhor me deu força para lhes revelar, claramente, o seu perigo. Entre outros pontos de vista, sustentavam que os que se achassem uma vez santificados, não poderiam mais pecar. Seu ensino falso estava operando grande mal entre eles mesmos e entre outros. Estavam adquirindo influência espiritista sobre os que não viam o mal dessas teorias vestidas de lindos trajes. A doutrina de que todos eram santos levara à crença de que as afeições dos santos não levariam nunca ao mal. A conseqüência desta crença foi o cumprimento dos maus desejos de corações que, embora professassem ser santos, estavam longe da pureza de pensamentos e de vida. T8 293 2 Os ensinos ímpios são seguidos de práticas pecaminosas. São a sedutora isca empregada pelo pai da mentira, e resultam na impenitência da impureza que se satisfaz consigo mesma. T8 293 3 Esse é apenas um dos casos em que fui chamada a repreender os que estavam apresentando a doutrina de um Deus impessoal permeando toda a natureza, e erros semelhantes. Repetidas as experiências do passado T8 293 4 A experiência do passado há de repetir-se. No futuro, as superstições de Satanás assumirão novas formas. Erros serão apresentados de maneira agradável e lisonjeira. Falsas teorias, revestidas de trajes de luz, apresentar-se-ão ao povo de Deus. Assim procurará Satanás enganar, se possível, até os escolhidos. As mais sedutoras influências serão exercidas; mentes serão hipnotizadas. T8 293 5 Corrupções de toda sorte, semelhantes às que prevaleciam entre os antediluvianos, serão introduzidas para levar cativo o entendimento dos homens. A exaltação da natureza em lugar de Deus, a irrestrita licenciosidade da vontade humana, o conselho dos ímpios -- desses se serve Satanás para conseguir certos fins. Ele empregará o poder de uma mente sobre outra para realizar os seus desígnios. O pensamento mais triste de todos é o de que, sob a sua enganosa influência, os homens terão uma forma de piedade, sem ter verdadeira ligação com Deus. Como Adão e Eva, que comeram o fruto da árvore da ciência do bem e do mal, muitos estão agora mesmo se alimentando com os enganosos bocados do erro. T8 294 1 Agentes satânicos estão vestindo teorias de roupagens atraentes, do mesmo modo que Satanás, no jardim do Éden, ocultou de nossos primeiros pais a sua identidade por intermédio da serpente. Esses agentes estão incutindo no espírito do homem isso que na realidade é erro mortífero. A influência hipnótica de Satanás repousará sobre os que se volvem da clara Palavra de Deus para fábulas agradáveis. T8 294 2 Satanás busca mais assiduamente apanhar os que receberam mais luz. Ele sabe que, se conseguir enganá-los, sob o seu domínio, eles revestirão o pecado com trajes de justiça, levando muitos a se desviarem. T8 294 3 Digo a todos: Estejam de sobreaviso, pois, como anjo de luz, Satanás está percorrendo todas as reuniões de obreiros cristãos, e em cada igreja procura ganhar para seu lado os membros. Tenho que dar ao povo de Deus a advertência: "Não erreis; Deus não Se deixa escarnecer." Gálatas 6:7. Evitar religião sensacionalista T8 294 4 Precisamos, no tempo atual, de homens espirituais na causa de Deus, homens que sejam firmes nos princípios e tenham compreensão clara da verdade. T8 295 1 Tenho sido instruída de que não é de doutrinas novas e fantasiosas que o povo precisa. Eles não necessitam de conjeturas humanas. Precisam do testemunho de homens que conhecem e praticam a verdade, homens que compreendam a ordem dada a Timóteo e lhe obedecem: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério." 2 Timóteo 4:2-5. T8 295 2 Andem firme e decididamente, calçando os pés com a preparação do evangelho da paz. Podem estar certos de que a religião pura e imaculada não é uma religião sensacionalista. Deus não pôs sobre ninguém o encargo de estimular o apetite pelas doutrinas e teorias especulativas. Meus irmãos, não ensinem isso. Não permitam que tais coisas façam parte de sua experiência. Não seja por elas manchada a obra de sua vida. Advertência contra falsos ensinos T8 295 3 Uma advertência contra os falsos ensinos encontra-se na carta de Paulo aos colossenses. Declara o apóstolo que o coração dos crentes deve estar "unido em caridade, e enriquecido da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus -- Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". "E digo isto", prossegue ele, "para que ninguém vos engane com palavras persuasivas. ... Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle, arraigados e edificados nEle, e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, abundando em ação de graças. Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo; porque nEle habita corporalmente toda a plenitude da divindade; e estais perfeitos nEle, que é a cabeça de todo o principado e potestade." Colossences 2:2-10. T8 296 1 Sou instruída a dizer ao nosso povo: Sigamos a Cristo. Não nos esqueçamos de que Ele é quem deve ser em tudo o nosso modelo. Podemos com segurança rejeitar as idéias que não se encontram em Seus ensinos. Apelo para nossos pastores, para que se certifiquem de que tenham os pés firmados na plataforma da verdade eterna. Tenham o cuidado de não seguir o impulso, imaginando que seja o Espírito Santo. Alguns há que estão em perigo nesse sentido. Incito-os a serem sãos na fé, capazes de dar a todo o que lha pedir a razão da esperança que possuem. Desviados do dever presente T8 296 2 O inimigo está procurando desviar o espírito de nossos irmãos e irmãs da obra de preparar um povo que subsista nestes últimos dias. Seus enganos destinam-se a desviar a mente dos perigos e deveres do momento. Avaliam como nada a luz que, por intermédio de João, Cristo deu ao Seu povo, para isso descendo do Céu. Ensinam que as cenas que estão justamente diante de nós não são de importância suficiente para merecer atenção especial. Tornam de nenhum efeito a verdade de origem celestial, roubam ao povo de Deus sua experiência passada, dando-lhes em seu lugar uma ciência falsa. T8 296 3 "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele." Jeremias 6:16. T8 297 1 Que ninguém procure remover os alicerces de nossa fé -- os alicerces lançados no princípio de nossa obra, pelo piedoso estudo da Palavra e pela revelação. Sobre esses alicerces temos estado a construir nestes cinqüenta anos passados. Poderão os homens supor que tenham achado um novo caminho, e sejam capazes de lançar um alicerce mais firme do que o já lançado. Mas isso é grande engano. Homem nenhum pode pôr outro fundamento além do que já foi posto. T8 297 2 No passado, muitos têm empreendido o reerguimento de uma nova fé, o estabelecimento de novos princípios. Mas por quanto tempo resistiu seu edifício? Ruiu logo, pois não se achava alicerçado sobre a Rocha. T8 297 3 Não tinham os primeiros discípulos que enfrentar os ditos dos homens? Não tinham eles que ouvir falsas teorias, e então havendo feito tudo, ficar firmes, dizendo: "Ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto"? 1 Coríntios 3:11. T8 297 4 Assim devemos nós reter firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. Palavras de poder têm sido enviadas por Deus e por Cristo a este povo, tirando-o do mundo, ponto por ponto, para a clara luz da verdade presente. Com os lábios tocados pelo fogo sagrado, têm os servos de Deus proclamado a mensagem. A linguagem divina tem confirmado a genuinidade da verdade proclamada. Renovação do positivo testemunho T8 297 5 O Senhor pede a renovação do positivo testemunho apresentado em anos passados. Ele pede uma reforma da vida espiritual. As energias espirituais do Seu povo têm por muito tempo estado entorpecidas, mas deve haver um ressurgimento da morte aparente. T8 297 6 Pela oração e confissão do pecado, precisamos preparar o caminho do Rei. Ao fazermos isso, teremos o poder do Espírito. Precisamos da energia pentecostal. Ela virá; pois o Senhor prometeu enviar o Seu Espírito como o poder que vence. T8 298 1 Tempos perigosos estão à nossa frente. Quem possui o conhecimento da verdade deve despertar e colocar-se, corpo, alma e espírito, sob a disciplina de Deus. O inimigo está em nosso encalço. Precisamos estar bem despertos, em alerta contra ele. Precisamos revestir-nos de toda a armadura de Deus. Temos que seguir as direções dadas por meio do Espírito de Profecia. Temos que amar a verdade para este tempo e a ela obedecer. Isso nos guardará de aceitar fortes enganos. Deus nos falou por Sua Palavra. Falou-nos pelos testemunhos para a igreja, e pelos livros que têm ajudado a esclarecer o nosso dever presente bem como a posição que devemos ocupar agora. As advertências que têm sido dadas, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, devem ser aceitas. Se as menosprezarmos, que desculpa poderemos apresentar? T8 298 2 Rogo aos que estão trabalhando para Deus que não aceitem o espúrio em lugar do genuíno. Não permitam que a razão humana seja posta onde deveria estar a verdade divina e santificadora. Cristo está aguardando oportunidade para acender fé e amor no coração do Seu povo. Não recebam as teorias errôneas o apoio do povo que deve estar firme na plataforma da verdade eterna. Deus apela para nós, a fim de que nos mantenhamos fiéis aos princípios fundamentais que se baseiam sobre autoridade inquestionável. Buscar o primeiro amor T8 298 3 No coração de muitas pessoas que estão na verdade há muito tempo entrou um espírito inflexível e afeito a julgar. São severos, críticos, murmuradores. Alçaram-se ao assento do juízo, para pronunciar as suas idéias. Deus lhes roga que daí desçam e se prostrem diante dEle em arrependimento, confessando os seus pecados. Ele lhes diz: "Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade. Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:4, 5. Estão-se empenhando por conseguir o primeiro lugar, e por suas palavras e atos ferem muitos corações. T8 299 1 Contra esse espírito e contra a falsa religião do sentimentalismo, a qual é igualmente perigosa, apresento minha advertência. Prestem atenção, irmãos e irmãs. Quem é o seu guia: Cristo, ou o anjo que caiu do Céu? Examinem-se e vejam se estão de fato na fé. A palavra de Deus é a proteção T8 299 2 Nossa senha deve ser: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva." Isaías 8:20. Temos a Bíblia repleta da mais preciosa verdade. Ela contém o começo e o fim do conhecimento. A Escritura, dada por Deus por inspiração, é "proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra". 2 Timóteo 3:16, 17. Escolham a Bíblia como o livro de estudos. Todos podem compreender suas instruções. T8 299 3 Peço aos nossos pastores, médicos, e a todos os membros da igreja, que estudem as lições que Cristo deu aos Seus discípulos exatamente antes de Sua ascensão. Essas lições contêm instruções de que o povo precisa. T8 299 4 A vida eterna só se alcança comendo a carne e bebendo o sangue do Filho de Deus. "Na verdade, na verdade vos digo", disse Cristo, "que aquele que crê em Mim tem a vida eterna. ... Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo. ...Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Porque a Minha carne verdadeiramente é comida, e o Meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. ...O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são Espírito e vida." João 6:47, 51, 54-56, 63. T8 300 1 Cristo roga ao Seu povo que creia e pratique Sua palavra. Os que receberem e assimilarem essa palavra, tornando-a parte de cada ação, de cada atributo de caráter, hão de tornar-se fortes na força de Deus. Ver-se-á que sua fé é de origem celestial. Não se desgarrarão para veredas estranhas. Seu espírito não se volverá para uma religião de sentimentalismo e excitamento. Perante anjos e homens, permanecerão como os que têm caráter cristão forte e coerente. T8 300 2 No dourado incensário da verdade, apresentado nos ensinos de Cristo, temos aquilo que convence e converte as pessoas. Espalhem, na simplicidade de Cristo, as verdades para cuja proclamação veio Ele ao mundo, e o poder de sua mensagem será sentido. Não apresentem teorias ou provas que Cristo nunca mencionou e que não têm fundamento na Bíblia. Temos grandes e solenes verdades para apresentar. "Está escrito" (Mateus 4:4), é a prova que tem que ser colocada diante de cada pessoa. T8 300 3 As pessoas ainda têm capacidade para aprender as coisas que garantirão a sua paz. Ainda se pode ouvir a voz da misericórdia, chamando: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." Mateus 11:28-30. Somente quando nos é concedida vida espiritual encontramos descanso e conseguimos um bem duradouro. Devemos estar em condições de dizer, em meio à tempestade e dificuldades: "Minha âncora está firme." T8 301 1 Recorramos à Palavra de Deus para que nos guie. Busquemos um "assim diz o Senhor". Basta de métodos humanos. A mente educada unicamente na ciência mundana não compreende as coisas de Deus; mas a mesma mente, convertida e santificada, verá na Palavra o poder divino. Só a mente e o coração purificados pela santificação do Espírito podem discernir as coisas celestiais. T8 301 2 Irmãos, em nome do Senhor lhes rogo que despertem e reconheçam seu dever. Renda-se seu coração ao poder do Espírito, e tornar-se-á sensível aos ensinamentos da Palavra. Então serão capazes de discernir as coisas profundas de Deus. T8 301 3 Que Deus sujeite o Seu povo à profunda operação de Seu Espírito! Leve-os Ele a despertar, a reconhecer o perigo em que estão e a preparar-se para o que está para sobrevir à Terra. Estudar o Apocalipse T8 301 4 A João, o Senhor revelou os assuntos que viu serem necessários para o Seu povo nos últimos dias. As instruções que deu encontram-se no livro de Apocalipse. Os que querem ser coobreiros de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, mostrarão profundo interesse nas verdades que se encontram nesse livro. Pela pena e pela voz procurarão tornar claras as coisas maravilhosas para cuja revelação Cristo veio do Céu. T8 301 5 "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus Lhe deu, para mostrar aos Seus servos todas as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo Seu anjo as enviou, e as notificou a João Seu servo; o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo." Apocalipse 1:1-3. T8 302 1 As solenes mensagens que foram dadas, em sua ordem, no Apocalipse, devem ocupar o primeiro lugar no espírito do povo de Deus. Não devemos deixar que qualquer outra coisa nos domine a atenção. T8 302 2 O precioso tempo está passando rapidamente, e há perigo de que muitos serão roubados do tempo que deveria ser dado à proclamação das mensagens que Deus enviou a um mundo caído. A Satanás agrada ver a distração das mentes que deveriam estar empenhadas no estudo das verdades que têm que ver com realidades eternas. T8 302 3 O testemunho de Cristo, testemunho do mais solene caráter, deve ser apresentado ao mundo. Através de todo o livro do Apocalipse se encontram as mais preciosas e enobrecedoras promessas, assim como advertências da mais tremenda e solene importância. Não quererão os que professam possuir conhecimento da verdade ler o testemunho dado por Cristo a João? Não há aí meras conjeturas, nem enganos científicos. Há, sim, as verdades que dizem respeito a nosso bem-estar presente e futuro. Que valor tem a palha em relação ao trigo? À igreja em Sardes T8 302 4 "E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e confirma o restante que estava para morrer, porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei. T8 303 1 "Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes e comigo andarão de branco, porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos Seus anjos. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas." Apocalipse 3:1-6. Mensagem à igreja de Filadélfia T8 303 2 "E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre: Eu sei as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a Minha palavra e não negaste o Meu nome. Eis que Eu farei aos da sinagoga de Satanás (aos que se dizem judeus e não são, mas mentem), eis que Eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que Eu te amo. Como guardaste a palavra da Minha paciência, também Eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra. Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. A quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do Meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do Meu Deus, e também o Meu novo nome." Apocalipse 3:7-12. A mensagem laodiceana T8 304 1 "E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus. Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da Minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de Mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no seu trono." Apocalipse 3:14-21. T8 304 2 O Senhor virá logo. Os vigias nos muros de Sião são instados a despertar e reconhecer a responsabilidade que Deus lhes confiou. Deus requer vigias que, no poder do Espírito, dêem ao mundo a última mensagem de advertência; que anunciem a hora da noite. Requer vigias que despertem os homens e mulheres de sua letargia, a fim de que não caiam no sono da morte. ------------------------Capítulo 47 -- O falso e o verdadeiro na educação T8 305 1 A cabeça dominante na confederação do mal trabalha continuamente para conservar longe de vistas as palavras de Deus, pondo ao contrário em foco as opiniões dos homens. Ele quer que não ouçamos a voz de Deus dizendo: "Este é o caminho, andai nele." Isaías 30:21. Mediante pervertidos processos educativos está ele fazendo o possível para obscurecer a luz celestial. Especulações filosóficas T8 305 2 Especulações filosóficas e pesquisas científicas em que Deus não é reconhecido estão tornando céticos a milhares. Nas escolas de hoje são cuidadosamente ensinadas e amplamente expostas as conclusões a que os doutos têm chegado em resultado de suas descobertas científicas; por outro lado é francamente dada a impressão de que, se esses homens estão certos, não o pode estar a Bíblia. O ceticismo exerce atração sobre o espírito humano. A juventude nele vê uma independência que lhe seduz a imaginação, e é iludida. Satanás triunfa. Ele alimenta toda semente de dúvida lançada no coração juvenil. Faz com que ela cresça e dê frutos, e em pouco tempo são colhidos os frutos da infidelidade. T8 305 3 É por ser o coração humano tão inclinado ao mal, que tão perigoso é semear o ceticismo nos espíritos jovens. Seja o que for que enfraqueça a fé em Deus, tira da pessoa o poder de resistir à tentação. Remove a única salvaguarda real contra o pecado. T8 305 4 Não devemos estabelecer colégios de filosofia escolástica ou no interesse da chamada "mais elevada educação". Nossa grandeza consiste em honrar a Deus mediante a experiência prática, simples, na vida diária. Necessitamos andar com Deus, introduzi-Lo em nosso coração e em nossos lares. Autores incrédulos T8 306 1 Para educar-se julgam muitos ser essencial estudar os escritos dos autores incrédulos, visto essas obras conterem muitas brilhantes gemas de pensamento. Quem foi, porém, o autor dessas jóias de pensamento? -- Deus, e Ele unicamente. É Ele a fonte de toda luz. Por que haveríamos então de mergulhar na massa de erros contidos nas obras dos incrédulos, por amor de algumas verdades intelectuais, quando temos a verdade toda à nossa disposição? T8 306 2 Como é que os homens que se acham em guerra com o governo de Deus chegam a ficar de posse da sabedoria que por vezes manifestam? O próprio Satanás foi educado nas cortes celestiais, e tem o conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isso que o habilita a enganar. Mas pelo fato de se haver Satanás revestido de roupagens de celestial esplendor, haveremos de recebê-lo como anjo de luz? O tentador tem agentes, educados segundo seus métodos, inspirados por seu espírito, e adaptados à sua obra. Cooperaremos nós com eles? Receberemos as obras desses instrumentos como essenciais à educação que desejamos obter? T8 306 3 "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém!" Jó 14:4. Podemos então esperar que jovens mantenham princípios cristãos e adquiram caráter cristão enquanto sua educação é grandemente influenciada pelos ensinos de pagãos, ateus e infiéis? T8 306 4 Se o tempo e os esforços despendidos em tentar aprender as luminosas idéias dos incrédulos fossem consagrados a estudar as preciosidades da Palavra de Deus, milhares dos que agora se acham assentados em trevas e sombras de morte se estariam regozijando na glória da Luz da vida. Conhecimento histórico e teológico T8 307 1 Julgam muitos ser essencial, como preparo para a obra cristã, adquirir amplos conhecimentos dos escritos históricos e teológicos. Supõem que esse conhecimento lhes será de utilidade no ensino do evangelho. Mas seu árduo estudo das opiniões dos homens tende a enfraquecer-lhes o ministério, em vez de o fortalecer. Quando vejo bibliotecas cheias de grandes volumes de conhecimentos de história e teologia, penso: por que gastar dinheiro naquilo que não é pão? O sexto capítulo de João nos diz mais do que se pode encontrar em tais obras. Cristo diz: "Eu sou o pão da vida." João 6:35. "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. T8 307 2 Há um estudo de história que não é condenável. A história sagrada era um dos estudos das escolas dos profetas. No registro de Seu trato com as nações, foram delineadas as pegadas de Jeová. Assim, hoje em dia cumpre-nos considerar Seu trato com as nações da Terra. Devemos ver na História o cumprimento da profecia, estudar as operações da Providência nos grandes movimentos reformatórios, e entender o progresso dos acontecimentos ao ver as nações mobilizando-se para o final combate do grande conflito. T8 307 3 Com demasiada freqüência o motivo de acumular esses muitos livros não é tanto o desejo de obter alimento para a mente e a alma, como a ambição de se relacionar com os filósofos e teólogos, o desejo de apresentar ao povo o cristianismo em termos e frases eruditos. T8 307 4 "Aprendei de Mim", disse o grande Mestre. "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração." Mateus 11:29. O orgulho intelectual não os ajudará na comunicação com as pessoas que estão perecendo por falta do pão da vida. No estudo desses livros, muitos estão permitindo que eles tomem o lugar das lições práticas que deveriam estar aprendendo de Cristo. O povo não se alimenta com os resultados desse estudo. Bem pouco das pesquisas tão fatigantes para a mente proporciona algo valioso para alguém se tornar um bem-sucedido obreiro de Deus. T8 308 1 Homens e mulheres que gastam a vida em trabalhos comuns, humildes, necessitam de palavras tão simples como as que Cristo usou em Suas lições, palavras que sejam facilmente entendidas. O Salvador veio para pregar o evangelho aos pobres. E está escrito que o povo simples ouvia-O com alegria. Os que estão ensinando a verdade para este tempo necessitam de mais profundo discernimento das lições que Ele apresentou. T8 308 2 As palavras do Deus vivo constituem a educação mais elevada. As frases complicadas, destinadas a satisfazer o gosto de pessoas supostamente refinadas, não alcançam o seu objetivo. Os que ministram ao povo precisam comer do pão da vida. Isso lhes dará vigor espiritual; estarão assim preparados para ajudar a todas as classes de pessoas. A piedade, a energia espiritual da igreja, é mantida pelo alimentar-se do pão que desceu do Céu. Devemos aprender aos pés de Jesus a simplicidade da verdadeira piedade. Mitos e contos de fadas T8 308 3 Na educação das crianças e dos jovens dá-se agora importante lugar aos contos de fadas, mitos e histórias imaginárias. Usam-se nas escolas livros dessa natureza, que se encontram também em muitos lares. Como podem pais cristãos permitir que seus filhos usem livros tão cheios de mentiras? Quando as crianças pedem a explicação de histórias tão contrárias aos ensinos recebidos de seus pais, a resposta é que essas histórias não são verdadeiras; mas isso não dissipa os maus resultados do seu uso. As idéias apresentadas nesses livros desencaminham as crianças. Comunicam falsas idéias da vida, suscitando e nutrindo o desejo pelo irreal. T8 309 1 O grande uso desses livros em nossos dias é uma das astutas tramas de Satanás. Ele está procurando desviar a mente, tanto de adultos como de jovens, da grande obra da formação do caráter. Pretende que nossas crianças e jovens sejam devastados pelos enganos destruidores da alma com que ele está enchendo o mundo. Portanto, busca desviar-lhes a mente da Palavra de Deus, impedindo-os assim de obter o conhecimento das verdades que os salvaguardariam. T8 309 2 Nunca devem ser colocados nas mãos da infância e da juventude livros que contenham alguma perversão da verdade. Se os de espírito amadurecido nada tiverem que ver com tais livros, achar-se-ão, mesmo eles, muito mais a salvo. Uma fonte mais pura T8 309 3 Temos abundância do que é real, o que é divino. Os que têm sede de conhecimento não precisam recorrer a fontes poluídas. T8 309 4 Cristo apresentou os princípios da verdade no evangelho. Podemos, em Seus ensinos, beber das puras correntes que fluem do trono de Deus. T8 309 5 Cristo poderia haver comunicado aos homens conhecimentos que ultrapassariam a quaisquer revelações anteriores, deixando para trás todas as outras descobertas. Poderia haver descerrado mistério após mistério, e fazer concentrar em torno dessas maravilhosas revelações o ativo e diligente pensamento das sucessivas gerações até ao fim do tempo. Do ensino da ciência da salvação, não tirou um momento. Seu tempo, Suas faculdades e Sua vida só eram apreciadas e empregadas em prol da salvação das pessoas. Ele viera buscar e salvar o que se tinha perdido, e não Se desviaria de Seu propósito. Não permitiria que coisa alguma O distraísse. T8 310 1 Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As instruções que dava ao povo limitavam-se às próprias necessidades que tinham na vida prática. Ele não satisfazia à curiosidade dos que iam a Ele com indagadoras perguntas. Todas essas perguntas transformava Ele em ocasiões para solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida. Encontravam cerrados todos os caminhos que não fossem aqueles que conduzem a Deus. Fechadas estavam todas as fontes, a não ser a da vida eterna. T8 310 2 Nosso Salvador não animava ninguém a freqüentar as escolas dos rabinos de Sua época, pela razão de que a mente seria corrompida com o continuamente repetido: "Dizem", ou: "Foi dito". Como, pois, devemos nós aceitar as instáveis palavras humanas como exaltada sabedoria, quando se encontra ao nosso alcance uma sabedoria maior e infalível? T8 310 3 O que tenho visto das coisas eternas, bem como o que tenho testemunhado da fraqueza da humanidade, tem-me impressionado profundamente o espírito e influenciado a obra de minha vida. Não vejo motivo para que o ser humano seja louvado ou glorificado. Não vejo razão alguma para que as opiniões dos sábios mundanos e dos chamados grandes homens mereçam confiança e sejam exaltadas. Como podem aqueles que se acham destituídos de divina iluminação possuir idéias acertadas quanto aos planos e caminhos de Deus? T8 310 4 Prefiramos ser instruídos por Aquele que criou os céus e a Terra, que pôs por ordem as estrelas no firmamento, e ao Sol e à Lua designou a sua obra. Eu não preciso recorrer a autores infiéis. Prefiro ser ensinada por Deus. Educação do coração T8 311 1 É justo que os jovens queiram atingir o mais alto desenvolvimento das faculdades mentais. Não quereríamos restringir a educação a que Deus não pôs limites. Mas nossos feitos de nada valerão se não forem utilizados para a honra de Deus e o bem da humanidade. A menos que o nosso conhecimento funcione como degraus para a conquista dos propósitos mais elevados, é de nenhum valor. T8 311 2 O que necessitamos é de conhecimento que fortaleça a mente e o espírito, que nos faça melhores homens e mulheres. T8 311 3 A educação do coração é mais importante do que a educação obtida em livros. É bom, e até mesmo essencial, obter o conhecimento do mundo em que vivemos; mas se deixarmos a eternidade fora de nossos cálculos, cairemos numa falha da qual jamais nos recuperaremos. T8 311 4 Não é bom sobrecarregar a mente de estudos que exigem intensa aplicação, mas que não são introduzidos na vida prática. Tal educação é prejudicial ao estudante. Pois esses estudos diminuem o desejo e a inclinação para aquelas atividades que o habilitariam a ser útil e o tornariam capaz de desempenhar suas responsabilidades. T8 311 5 Se os jovens compreendessem a própria fraqueza, buscariam em Deus a sua força. Se aceitarem ser ensinados por Ele, tornar-se-ão sábios em Sua sabedoria e a vida lhes será frutífera em bênçãos para o mundo. Se, porém, dedicarem a mente a mero estudo especulativo e mundano, separando-se assim de Deus, perderão tudo quanto enriquece a vida. ------------------------Capítulo 48 -- A importância do verdadeiro conhecimento T8 312 1 Precisamos compreender melhor os resultados que se acham em jogo no conflito em que estamos empenhados. Temos de entender mais plenamente o valor das verdades que Deus deu para este tempo, e o perigo que há em permitir que o espírito seja delas desviado pelo grande enganador. T8 312 2 O valor infinito do sacrifício que se tornou necessário para a nossa redenção revela ser o pecado um mal tremendo. Pelo pecado se desarranja todo o organismo humano, se perverte o espírito, se corrompe a imaginação. O pecado degradou as faculdades espirituais. As tentações de fora encontram no coração uma corda que responde, e os pés se volvem imperceptivelmente para o mal. T8 312 3 Como o sacrifício em nosso favor foi completo, assim deve ser completa nossa restauração da mancha do pecado. Não existe ato de impiedade que a lei desculpe; nenhum ímpio pode escapar à sua condenação. A vida de Cristo foi um cumprimento perfeito de cada mandamento da lei. Disse Ele: "Tenho guardado os mandamentos de Meu Pai." João 15:10. Sua vida é nosso padrão de obediência e serviço. T8 312 4 Deus, unicamente, é capaz de renovar o coração. "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:13. É-nos, porém, ordenado: "Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor." Filipenses 2:12. Uma obra necessária T8 312 5 Não é por alguns poucos esforços débeis e intermitentes que se pode endireitar erros ou operar reformas de caráter. A santificação é obra não de um dia, ou de um ano, mas de toda uma vida. A luta pela conquista do próprio eu, da santidade e do Céu, é uma luta que dura a vida toda. Sem contínuo esforço e atividade constante, não pode haver progresso na vida divina, nem o alcance da coroa do vencedor. T8 313 1 A mais forte prova da queda do homem de uma condição elevada é o fato de lhe custar tanto voltar. O caminho de retorno só pode ser vencido por duras lutas, passo a passo, a toda hora. Por um momentâneo ato da vontade pode alguém colocar-se sob o domínio do mal; mas requer mais do que um momentâneo ato de vontade partir esses grilhões e alcançar uma vida mais elevada, mais santa. Pode estar formulado o propósito, iniciada a obra; mas sua realização exigirá esforço, tempo, perseverança, paciência e sacrifício. T8 313 2 Assediados por tentações sem número, temos de resistir firmemente ou seremos vencidos. Se chegarmos ao fim da vida com nossa obra ainda por fazer, será isso uma perda eterna. T8 313 3 A santificação de Paulo era resultado de um constante conflito com o próprio eu. Disse ele: "Cada dia morro." 1 Coríntios 15:31. Sua vontade e seus desejos combatiam diariamente contra o dever e a vontade de Deus. Em vez de seguir a inclinação, ele cumpria a vontade de Deus, por mais que isso representasse a crucifixão de sua própria natureza. T8 313 4 Deus guia o Seu povo passo a passo. A vida do cristão é uma peleja e uma marcha. Nessa guerra não há revezamento; o esforço tem de ser contínuo e perseverante. É pelo esforço incessante que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás. A integridade cristã tem de ser buscada com energia irresistível, e mantida com resoluta firmeza de propósito. T8 313 5 Ninguém se elevará sem rijo, perseverante esforço em favor de si mesmo. Todos têm de empenhar-se por si mesmos nessa peleja. Individualmente somos responsáveis pelo resultado da luta; ainda que Noé, Jó e Daniel aqui estivessem, não poderiam por sua justiça livrar nem o filho nem a filha. A ciência que devemos possuir T8 314 1 Há uma ciência do cristianismo por ser conquistada -- uma ciência tanto mais profunda, mais ampla, mais alta do que qualquer ciência humana quanto os céus são mais elevados do que a Terra. A mente tem de ser disciplinada, educada, treinada; pois devemos prestar serviço a Deus por maneiras que não se acham em harmonia com a inclinação inata. Há tendências para o mal, hereditárias e cultivadas, que têm de ser vencidas. Muitas vezes o preparo e educação de toda uma vida têm de ser rejeitados, a fim de que a pessoa se torne discípulo na escola de Cristo. Nosso coração tem de ser educado de modo que se torne firme em Deus. Devemos formar hábitos de pensamento que nos habilitem a resistir à tentação. Precisamos aprender a olhar para cima. Os princípios da Palavra de Deus -- princípios que são elevados como o céu e que abrangem a eternidade -- devemos compreendê-los em seus efeitos sobre nossa vida diária. Cada ato, cada palavra, cada pensamento deve estar de acordo com esses princípios. T8 314 2 As preciosas graças do Espírito Santo não se desenvolvem num momento. Coragem, fortaleza, mansidão, fé, inabalável confiança no poder de Deus para salvar, são adquiridos pela experiência de anos. Por uma vida de santo esforço e firme adesão ao direito, devem os filhos de Deus confirmar o seu destino. Não há tempo a perder T8 314 3 Não temos tempo a perder. Não sabemos quão cedo poderá terminar para nós o tempo de graça. A eternidade estende-se diante de nós. O véu está para ser erguido. Cristo virá logo. Os anjos de Deus procuram desviar nosso pensamento de nós mesmos e das coisas terrenas. Que eles não trabalhem em vão. T8 315 1 Quando Jesus Se erguer no lugar santíssimo, depuser Suas vestes de mediador e vestir os trajes de vingança, expedir-se-á a ordem: "Quem é injusto faça injustiça ainda; ... e quem é justo faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:11, 12. T8 315 2 Vem uma tempestade, implacável em sua fúria. Estamos preparados para enfrentá-la? T8 315 3 Não precisamos mais dizer: Os perigos dos últimos dias em breve nos sobrevirão. Eles já chegaram. Precisamos que a espada do Senhor agora penetre até à própria alma e medula das concupiscências, apetites e paixões da carne. T8 315 4 As mentes que se têm entregue a pensamentos frouxos, precisam transformar-se. "Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." 1 Pedro 1:13-16. Os pensamentos têm de centralizar-se em Deus. É agora a ocasião de fazer um fervoroso esforço a fim de vencer as tendências naturais do coração carnal. T8 315 5 Nossos esforços, nossa abnegação, nossa perseverança, têm de ser proporcionais ao valor infinito do objeto que buscamos. Unicamente vencendo como Cristo venceu haveremos de alcançar a coroa da vida. A necessidade de renúncia T8 315 6 O grande perigo do homem está em enganar a si mesmo, incorrendo em presunção e separando-se assim de Deus, a fonte de sua força. Nossas tendências naturais, a menos que sejam corrigidas pelo Santo Espírito de Deus, têm em si as sementes da morte moral. A menos que estejamos vitalmente ligados com Deus, não poderemos resistir aos profanos efeitos do amor-próprio, da condescendência própria, e da tentação para pecar. T8 316 1 Para receber auxílio de Cristo é preciso que reconheçamos nossa necessidade. Precisamos ter um real conhecimento de nós mesmos. Unicamente aquele que se conhece como um pecador é que Cristo pode salvar. Unicamente quando vemos nosso completo desamparo e renunciamos a toda a confiança própria é que nos apegaremos ao poder divino. T8 316 2 Não é só no princípio da vida cristã que deve ser praticada essa renúncia. A cada passo de avanço rumo ao Céu deve ela ser renovada. Todas as nossas boas obras são dependentes de um poder fora de nós mesmos; por isso é preciso que haja um contínuo anseio do coração após Deus, uma constante, sincera confissão de pecado e humilhação do espírito perante Ele. Rodeiam-nos perigos; e só estaremos seguros se sentirmos nossa fraqueza e nos apegarmos com fé ao nosso poderoso Libertador. Os maiores interesses T8 316 3 Precisamos voltar as costas aos mil objetos que nos convidam a atenção. Há assuntos que consomem tempo e despertam indagações, mas resultam em nada. Os mais altos interesses demandam a rigorosa atenção e energia que tantas vezes se empregam em coisas relativamente insignificantes. T8 316 4 Aceitar novas teorias não proporciona nova vida. Mesmo a familiaridade com fatos e teorias importantes é de pouco valor a menos que seja colocada em prática. Precisamos sentir nossa responsabilidade de proporcionar a nosso espírito alimento que nutra e estimule a vida espiritual. Conhecimento pessoal de Cristo T8 316 5 "Toda Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nEle. Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso." Provérbios 30:5, 6. T8 317 1 Não estamos fazendo a vontade de Deus quando especulamos em torno de coisas que Ele houve por bem reter de nós. A questão que nos cabe estudar é: "Que é a verdade -- a verdade para o tempo presente, a qual deve ser acariciada, amada, honrada e obedecida?" Os devotos da ciência têm sido derrotados e desanimados em seus esforços por encontrar a Deus. O que precisam indagar neste tempo é isto: "Qual é a verdade que nos habilitará a conseguir nossa salvação?" T8 317 2 Cristo revelou Deus aos Seus discípulos de um modo que efetuou em seu coração uma obra especial -- obra que há muito tem Ele instado conosco a fim de que Lhe permitamos executá-la em nosso coração. Muitos há que, demorando-se demasiadamente sobre a teoria, perderam de vista o poder vivo do exemplo do Salvador. Perderam-nO de vista como o obreiro humilde, abnegado. O que precisam é contemplar a Jesus. Diariamente precisamos de uma nova revelação de Sua presença. Precisamos seguir mais de perto o Seu exemplo de renúncia e sacrifício. T8 317 3 Precisamos da experiência que Paulo teve quando escreveu: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gálatas 2:20. T8 317 4 O conhecimento de Deus e de Jesus Cristo expresso no caráter é uma exaltação acima de tudo o mais, e a que tanto na Terra como no Céu se dá valor. É de todas a mais elevada educação. É a chave que abre os portais da cidade celestial. É desígnio de Deus que todos os que se revestem de Cristo possuam este conhecimento. T8 317 5 Tenho uma mensagem para nossos pastores, médicos, professores e todos os demais que se acham empenhados nos vários ramos do serviço do Mestre. O Senhor lhes ordena que se elevem, que cheguem a uma norma mais santa. Necessitam de uma experiência muito mais profunda do que jamais pensaram em obter. Muitos dos que já fazem parte da grande família de Deus mal sabem o que significa contemplar Sua glória, e ser transformado de glória em glória. Muitos de vocês têm uma vaga percepção da excelência de Cristo, e seu coração vibra de felicidade. Anelam possuir um conhecimento mais pleno e profundo do amor do Salvador. Não se sentem satisfeitos. Mas não têm de se desesperar. Devem dar a Jesus as melhores e mais santas afeições do coração. Entesourar cada raio de luz. Animar cada anseio do coração em busca de Deus. Cultivar os pensamentos espirituais e a santa comunhão. Vocês não viram senão os primeiros raios do alvorecer de Sua glória. À medida que prosseguirem no conhecimento do Senhor, haverão de ver que Sua saída é como a alva. "A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." Provérbios 4:18. Havendo-nos arrependido, confessado os nossos pecados e obtido perdão, devemos prosseguir em aprender de Cristo, até que cheguemos ao clímax de uma fé evangélica perfeita. ------------------------Capítulo 49 -- Conhecimento através da palavra de Deus T8 319 1 A Bíblia inteira é uma revelação da glória de Deus em Cristo. Recebida, crida e obedecida, é o grande instrumento na transformação do caráter. E é o único meio seguro de cultura intelectual. T8 319 2 A razão de ser hoje a juventude, e mesmo os de anos maduros, tão facilmente levados à tentação e pecado, é não estudarem eles a Palavra de Deus e meditarem sobre ela como deveriam. A ausência de firme, resoluta força de vontade, que se faz sentir na vida e no caráter, resulta de negligenciarem a sagrada instrução da Palavra de Deus. Não dirigem o espírito, mediante um esforço sincero, àquilo que inspiraria pensamentos puros e santos e o desviaria do que é impuro e falso. Poucos há que escolhem a melhor parte, que se assentam aos pés de Jesus, como fez Maria, para aprender do Mestre divino. Poucos há que entesouram Suas palavras no coração e as praticam na vida. T8 319 3 As verdades da Bíblia, recebidas, erguerão o espírito de sua afeição às coisas mundanas e seu envilecimento. Se a Palavra de Deus fosse apreciada como deveria ser, tanto os novos como os adultos possuiriam uma retidão interior, uma força de princípios, que os habilitariam a resistir à tentação. T8 319 4 Ensinem e escrevam os homens as coisas preciosas das Santas Escrituras. Dediquem eles os pensamentos, as aptidões, o vigoroso exercício do poder cerebral, ao estudo dos pensamentos de Deus. Não estudem a filosofia das conjeturas humanas, mas sim a filosofia dAquele que é a verdade. Literatura diferente é de pouco valor comparada com essa. T8 319 5 A mente terrena não encontra prazer na contemplação da da Palavra de Deus; mas para a mente renovada pelo Espírito Santo, divina beleza e luz celestial brilham da Página Sagrada. Aquilo que para a mente terrena era um árido deserto, torna-se para a mente espiritual uma terra de fontes vivas. Para nossos filhos T8 320 1 O conhecimento de Deus tal como é revelado em Sua Palavra é o conhecimento que deve ser dado a nossos filhos. Desde o primeiro desabrochar da razão devem eles ser familiarizados com o nome e a vida de Jesus. A primeira de todas as lições que deve ser dada a eles é de que Deus é seu Pai. Os primeiros rudimentos de educação devem ensiná-los a prestar amorosa obediência. Leia-se e repita-se para eles a Palavra de Deus, com reverência e ternura, em porções adequadas à sua compreensão e apropriadas a despertar-lhes o interesse. Sobretudo, aprendam eles de Seu amor revelado em Cristo, e sua grande lição: T8 320 2 "Se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros." 1 João 4:11. T8 320 3 Que a juventude faça da Palavra de Deus o alimento da mente e do espírito. Torne-se a cruz de Cristo a ciência de toda a educação, o centro de todo o ensino e todo o estudo. Seja ela introduzida na experiência diária da vida prática. Assim o Salvador Se tornará para os jovens um amigo e companheiro cotidiano. Todo o entendimento será levado cativo à obediência de Cristo. Com o apóstolo Paulo, estarão eles no caso de dizer: T8 320 4 "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo." Gálatas 6:14. Conhecimento experimental T8 321 1 Assim, pela fé chegarão a conhecer a Deus por um conhecimento experimental. Experimentaram por si mesmos a realidade de Sua Palavra, a veracidade de Suas promessas. Provaram e viram que o Senhor é bom. T8 321 2 O amado João tinha um conhecimento adquirido por sua própria experiência. Podia ele testificar: T8 321 3 "O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram a Palavra da vida (porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada), o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 João 1:1-3. T8 321 4 Desse modo cada um poderá, por sua própria experiência, testificar "que Deus é verdadeiro". João 3:33. Poderá então dar testemunho daquilo que ele mesmo viu, ouviu e sentiu do poder de Cristo. Poderá atestar: T8 321 5 "Eu precisava de auxílio, e encontrei-o em Jesus. Supriu-me todas as necessidades, saciou a fome de minha alma; a Bíblia é para mim a revelação de Cristo. Creio em Jesus porque Ele é para mim um Salvador divino. Creio na Bíblia porque descobri ser ela a voz de Deus ao meu coração." Admiráveis possibilidades T8 321 6 É nosso privilégio avançar sempre mais alto, em busca de mais claras revelações do caráter de Deus. Quando Moisés orou: "Rogo-Te que me mostres a Tua glória", o Senhor não o repreendeu, mas atendeu-lhe a petição. Declarou Deus ao Seu servo: "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti." Êxodo 33:18, 19. T8 322 1 É o pecado que nos obscurece o espírito e embota as percepções. Ao ser o pecado expulso de nosso coração, a luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo, iluminando Sua Palavra e refletida através da natureza, declará-Lo-á, cada vez mais plenamente, "misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade". Êxodo 34:6. T8 322 2 Em Sua luz veremos a luz, até que espírito, coração e alma estejam transformados à imagem de Sua santidade. T8 322 3 Maravilhosas possibilidades estão abertas aos que se apegam às divinas afirmações da Palavra de Deus. Há verdades gloriosas que hão de apresentar-se perante o povo de Deus. Privilégios e deveres que eles nem mesmo imaginam achar-se na Bíblia, hão de ser-lhes expostos perante os olhos. Ao prosseguirem no caminho da humilde obediência, cumprindo a Sua vontade, hão de conhecer cada vez mais os oráculos de Deus. T8 322 4 Tome o estudante a Bíblia como seu guia e ponha-se como uma rocha em defesa dos princípios, e poderá desejar as mais altas realizações. Todas as filosofias da natureza humana têm levado à confusão e vergonha quando Deus não tem sido reconhecido como tudo em todos. Mas a preciosa fé inspirada por Deus comunica força e nobreza de caráter. Quando nos demoramos sobre Sua bondade, Sua misericórdia e Seu amor, torna-se-nos cada vez mais clara a percepção da verdade; mais elevado, mais santo, o desejo de pureza de coração e clareza de pensamento. A pessoa que habita na pura atmosfera de pensamentos santos é transformada pela comunicação com Deus por meio do estudo de Sua Palavra. A verdade é tão grande, de tão vasto alcance, tão profunda, tão ampla, que faz perder de vista o próprio eu. O coração abranda-se e submete-se em humildade, bondade e amor. T8 323 1 E as faculdades naturais crescem por causa da santa obediência. Do estudo das palavras de vida podem os estudantes ficar com o espírito expandido, elevado, enobrecido. Se forem, como Daniel, ouvintes e praticantes da Palavra de Deus, poderão avançar como ele avançou em todos os ramos de ciência. Sendo de pensamento puro, tornar-se-ão fortes mentalmente. Todas as faculdades intelectuais se fortalecerão. Poderão por tal forma educar-se e disciplinar-se que todos os que se encontram dentro da esfera de sua influência verão o que pode tornar-se o homem, e o que pode fazer, quando em ligação com o Deus da sabedoria e poder. Resultados de receber a palavra de Deus T8 323 2 Foi essa a experiência adquirida pelo salmista, por meio do conhecimento da Palavra de Deus. Diz ele: T8 323 3 "Bem-aventurados os que trilham caminhos retos E andam na Lei do Senhor. Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos E O buscam de todo o coração. Tomara que os meus caminhos sejam dirigidos De maneira a poder eu observar os Teus estatutos. Então, não ficaria confundido, Atentando eu para todos os Teus mandamentos. T8 323 4 "Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra. Faze-me entender o caminho dos Teus preceitos; Assim, falarei das Tuas maravilhas. Escondi a Tua palavra no meu coração, Para eu não pecar contra Ti. E andarei em liberdade, Pois busquei os Teus preceitos. T8 323 5 "Desvenda os meus olhos, Para que veja as maravilhas da Tua lei. Também os Teus testemunhos são o meu prazer E os meus conselheiros. Melhor é para mim a lei da Tua boca, Do que inúmeras riquezas em ouro ou prata. T8 324 1 "Oh! Quanto amo a Tua Lei! É a minha meditação em todo o dia! Os Teus estatutos têm sido os meus cânticos No lugar das minhas peregrinações. Maravilhosos são os Teus testemunhos; Por isso, a minha alma os guarda. A exposição das Tuas palavras dá luz E dá entendimento aos símplices. Tu, pelos Teus mandamentos, me fazes mais sábio que meus inimigos, Pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, Porque medito nos Teus testemunhos. Sou mais prudente do que os velhos, Porque guardo os Teus preceitos. Pelos Teus mandamentos, alcancei entendimento; Pelo que aborreço todo falso caminho. T8 324 2 "A Tua Palavra é muito pura; Por isso, o Teu servo a ama. A Tua palavra é a verdade desde o princípio, E cada um dos Teus justos juízos dura para sempre. T8 324 3 "Muita paz têm os que amam a Tua Lei, E para eles não há tropeço. Senhor, tenho esperado na Tua salvação E tenho cumprido os Teus mandamentos. A minha alma tem observado os Teus testemunhos; amo-os extremamente. T8 324 4 "Tenho desejado a Tua salvação, ó Senhor; A Tua Lei é todo o meu prazer. Viva a minha alma e louvar-Te-á; Ajudem-me os Teus juízos. Os Teus testemunhos tenho eu tomado por herança para sempre, Pois são o gozo do meu coração." Salmos 119:1, 2, 5, 6, 9, 27, 11, 45, 18, 24, 72, 97, 54, 129, 130, 98-100, 104, 140, 160, 165-167, 174, 175, 111. Auxílio no estudo da natureza T8 324 5 Aquele que possui um conhecimento de Deus e de Sua Palavra pela experiência pessoal acha-se preparado para empenhar-se no estudo da ciência natural. De Cristo acha-se escrito: "NEle, estava a vida e a vida era a luz dos homens." João 1:4. Quando Adão e Eva no Éden perderam as vestes de santidade, perderam também a luz que iluminara a natureza. Não mais a podiam compreender devidamente. Mas para os que recebem a luz da vida de Cristo, a natureza de novo se ilumina. À luz que brilha da cruz, podemos interpretar devidamente os ensinamentos da natureza. T8 325 1 Aquele que tem conhecimento de Deus e de Sua Palavra tem consumada fé na divindade das Santas Escrituras. Ele não testa a Bíblia pelas idéias científicas do homem. Ele traz essas idéias ao teste da norma infalível. Sabe que a Palavra de Deus é verdade, e a verdade jamais pode contradizer-se; seja o que for que, nos ensinamentos da chamada ciência, contradiga a verdade da revelação divina, é mera suposição humana. T8 325 2 Para o homem verdadeiramente sábio, os conhecimentos científicos abrem vastos campos de pensamento e informações. Os caminhos de Deus, revelados no mundo natural e em Seu trato com o homem, constituem um tesouro do qual todo estudante na escola de Cristo se pode prevalecer. T8 325 3 A verdadeira evidência de um Deus vivo não se encontra meramente na teoria; acha-se na convicção que Deus nos escreveu no coração, iluminada e explanada por Sua Palavra. Acha-se no poder vivo das obras que criou, vistas por olhos iluminados pelo Espírito Santo. T8 325 4 Os que julgam a Deus pelas Suas obras, e não através de suposições de grandes homens, esses vêem Sua presença em tudo. Observam-Lhe o sorriso na alegre luz do Sol, e Seu amor e cuidado pelos homens nas abundantes searas de outono. Mesmo os enfeites da Terra, a verdejante relva, as belas flores de todos os matizes, as altaneiras árvores das florestas, de tantas espécies, o rumorejante regato, o majestoso rio, o plácido lago -- tudo testifica do terno e paternal cuidado de Deus e de Seu desejo de tornar felizes os Seus filhos. A natureza, chave dos mistérios divinos T8 326 1 Ao contemplar o estudante assim as coisas da natureza, sobrevém-lhe uma nova percepção da verdade. Os ensinamentos do grande e divino livro da natureza atestam a verdade da palavra escrita. T8 326 2 No plano da redenção há mistérios que a mente humana é incapaz de penetrar, muitas coisas que a sabedoria humana não sabe explicar; mas a natureza pode ensinar-nos muito acerca do mistério da piedade. Cada botão, cada árvore carregada de frutos, toda a vegetação, encerram lições para nosso estudo. Na germinação da semente lêem-se os mistérios do reino de Deus. T8 326 3 Ao coração abrandado pela graça de Deus, o Sol, a Lua, as estrelas, as árvores, as flores do campo, pronunciam palavras de conselho. O lançar a semente leva o espírito a lembrar a semeadura espiritual. A árvore declara que uma árvore boa não pode dar fruto mau, nem uma árvore má dar bom fruto. "Por seus frutos os conhecereis." Mateus 7:16. Mesmo o joio encerra uma lição. É ele cultura de Satanás e, deixado à vontade, estraga o trigo por seu crescimento viçoso. T8 326 4 Pais e mães, ensinem a seus filhos acerca do Deus que opera maravilhas. Seu poder se manifesta em cada planta, em cada árvore que produz fruto. Levem os filhos para o quintal e expliquem-lhes como Ele faz a semente germinar. O lavrador cultiva a terra e lança a semente, mas não pode fazê-la nascer. Ele precisa confiar em que Deus faça aquilo que nenhum poder humano consegue fazer. O Senhor põe o Seu Espírito na semente, fazendo com que ela germine. Sob o Seu cuidado o germe rompe seu invólucro e nasce, desenvolvendo-se e produzindo fruto. T8 326 5 Ao estudarem as crianças o grande livro da natureza, Deus lhes impressionará o espírito. Ao lhes ser falado da obra que Ele faz em favor da semente, aprendem o segredo do crescimento na graça. Devidamente compreendidas, essas lições conduzem ao Criador, ensinando essas simples e santas verdades que levam o coração em íntimo contato com Deus. Uma lição de obediência T8 327 1 As leis que Deus impôs à natureza são por ela obedecidas. Nuvens e tempestades, Sol e chuva, orvalho e aguaceiros, todos estão sob a supervisão de Deus e obedecem às Suas ordens. Em obediência à Lei de Deus, a haste do cereal rompe a terra, "primeiro, a erva, depois, a espiga, e por último, o grão cheio na espiga". Marcos 4:28. O fruto se vê primeiro no botão, e o Senhor o desenvolve em seu tempo próprio, porque ele não resiste à Sua operação. Assim também as aves cumprem o propósito de Deus, ao fazerem suas longas migrações de uma terra à outra, guiadas através do desconhecido espaço pela mão de poder infinito. T8 327 2 Será possível que o homem, feito à imagem de Deus, dotado de raciocínio e do dom da fala, seja o único que não avalie os Seus dons e que seja desobediente às Suas leis? Hão de os que poderiam ser elevados e enobrecidos, habilitados a ser coobreiros Seus, contentar-se com permanecer imperfeitos no caráter e causar confusão em nosso mundo? Deverão o corpo e alma da herança adquirida por Deus ser embaraçados por hábitos mundanos e práticas ímpias? Não deverão eles refletir a formosura dAquele que todas as coisas fez bem, a fim de que por Sua graça o imperfeito homem pudesse afinal ouvir-Lhe a bênção: "Bem está, servo bom e fiel; ... entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. T8 327 3 Deus deseja que aprendamos da natureza a lição da obediência. T8 327 4 "Mas, pergunta agora às alimárias, E cada uma delas to ensinará; E às aves dos céus, e elas to farão saber; Ou fala com a terra, e ela to ensinará; Até os peixes do mar to contarão. Quem não entende por todas essas coisas Que a mão do Senhor fez isto?" "Com Ele está a sabedoria e a força; Conselho e entendimento tem." Jó 12:7-9, 13. T8 328 1 "Bem-aventurado o homem" que... "o seu prazer está na lei do Senhor. ... Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, Que, no devido tempo, dá o seu fruto, E cuja folhagem não murcha; E tudo quanto ele faz será bem-sucedido." Salmos 1:1-3. T8 328 2 O livro da natureza e a Palavra escrita projetam luz mutuamente sobre si. Ambos nos tornam mais familiarizados com Deus, dando-nos ensinamentos acerca de Seu caráter e das leis pelas quais Ele opera. A educação na vida futura T8 328 3 A educação iniciada aqui não será completada nesta vida; prosseguirá através da eternidade -- progredindo sempre, nunca se completando. Dia a dia, as maravilhosas obras de Deus, as provas de Seu miraculoso poder ao criar e manter o Universo, abrir-se-ão ao espírito em nova beleza. À luz que procede do trono desaparecerão os mistérios, e a mente se encherá de assombro pela simplicidade das coisas que nunca antes compreendera. T8 328 4 Agora vemos por um espelho, obscuramente; mas então veremos face a face; agora conhecemos em parte; mas então conheceremos assim como também somos conhecidos. ------------------------Capítulo 50 -- Nossa grande necessidade T8 329 1 O conhecimento de Deus que opera a transformação de caráter é nossa grande necessidade. Se cumprirmos o Seu propósito, precisará haver em nossa vida uma revelação de Deus que corresponda aos ensinos de Sua Palavra. T8 329 2 A experiência de Enoque e a de João Batista representam o que deve ser a nossa. Necessitamos, muito mais do que o fazemos, estudar a vida destes homens: a daquele que foi transladado para o Céu sem ver a morte, e a daquele que, antes do primeiro advento de Cristo, foi chamado a preparar o caminho do Senhor, a endireitar as Suas veredas. A experiência de Enoque T8 329 3 A respeito de Enoque, está escrito que ele viveu 65 anos e gerou um filho; depois disso ele andou com Deus trezentos anos. Durante aqueles primeiros anos, Enoque havia amado e temido a Deus, e havia guardado os Seus mandamentos. Mas após o nascimento de seu primeiro filho ele alcançou uma experiência mais elevada; foi levado a um relacionamento mais íntimo com Deus. Ao contemplar o amor do filho pelo pai, a confiança simples em sua proteção; ao sentir a profunda e anelante ternura de seu próprio coração pelo filho primogênito, ele aprendeu uma preciosa lição do maravilhoso amor de Deus pelo homem, através da dádiva de Seu Filho, e da confiança que os filhos de Deus podem depositar em seu Pai celestial. O infinito e insondável amor de Deus por meio de Cristo tornou-se o objeto de suas reflexões dia e noite. Com todo o fervor de seu coração ele buscava revelar esse amor ao povo entre o qual vivia. T8 329 4 A caminhada de Enoque com Deus não era em transe ou visão, mas em todos os deveres de sua vida diária. Não se tornou um eremita, separando-se inteiramente do mundo, pois tinha, neste mesmo mundo, uma obra a realizar para Deus. No âmbito familiar e em suas relações com as pessoas, na qualidade de esposo e pai, como amigo, como cidadão, era ele sempre o firme e inamovível servo de Deus. T8 330 1 Sua fé fortaleceu, e seu amor se tornou mais ardente com o passar dos séculos. A oração era para ele a respiração da alma. Ele vivia na atmosfera do Céu. T8 330 2 À medida que as cenas do futuro se abriam diante de seus olhos, Enoque tornou-se um pregador da justiça, apresentando a mensagem de Deus a todos que se dispusessem a ouvir as palavras de advertência. Nas terras para as quais Caim fugira de diante da presença de Deus, o divino profeta tornou conhecidas as maravilhosas cenas que diante dele haviam sido apresentadas em visão. Declarou ele: "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra Ele." Judas 14, 15. T8 330 3 O poder de Deus que operava em Seu servo fazia-se sentir sobre os que ouviam. Alguns deram ouvidos à advertência e renunciaram a seus pecados; as multidões, porém, zombaram diante da solene mensagem. Os servos de Deus devem apresentar semelhante mensagem ao mundo nestes últimos dias, e ocorrerá novamente ser ela recebida com descrença e zombaria. T8 330 4 Enquanto transcorria ano após ano, mais e mais profundo se tornava o abismo da culpa humana, mais e mais escuras se tornavam as nuvens dos julgamentos divinos. Entretanto, Enoque, a fiel testemunha, mantinha-se em atividade, advertindo, suplicando e ensinando, esforçando-se por manter afastada a maré de culpa e por segurar os raios da vingança. T8 330 5 Os homens daquela geração zombaram do homem tolo que não procurava juntar ouro ou prata, nem agregar posses. Mas o coração de Enoque prendia-se a tesouros eternos. Contemplara ele a cidade celestial. Vira o Rei dos reis em Sua glória no meio de Sião. Quanto maior é a iniqüidade, mais sincera era a sua aspiração pelo lar de Deus. Enquanto ainda na Terra, ele habitava, pela fé, no reino da luz. T8 331 1 "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus." Mateus 5:8. Durante trezentos anos, Enoque estivera buscando a pureza de coração, para que pudesse estar em harmonia com o Céu. Durante três séculos, andara com Deus. Dia após dia, almejara uma união mais íntima; cada vez mais estreita se tornara a comunhão até que Deus o tomou para Si. Estivera no limiar do mundo eterno, havendo apenas um passo entre ele e o país da bem-aventurança; e, agora, abriram-se os portais; o andar com Deus, durante tanto tempo praticado na Terra, continuou, e ele passou pelas portas da santa cidade -- o primeiro dentre os homens a entrar ali. T8 331 2 "Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte... pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus." Hebreus 11:5. T8 331 3 Deus nos está chamando para tal comunhão. Como era a de Enoque, deve ser a santidade de caráter dos que serão remidos dentre os homens por ocasião da segunda vinda do Senhor. A experiência de João Batista T8 331 4 João Batista, em sua vida no deserto, foi ensinado por Deus. Ele estudou as revelações de Deus na natureza. Sob a orientação do Espírito de Deus, estudou os escritos dos profetas. De dia e de noite, Cristo era o seu estudo, sua meditação, até que a mente e o coração ficassem cheios da gloriosa visão. T8 331 5 Ele contemplava o Rei em Sua beleza, e o eu se perdia de vista. Ao contemplar a majestade da santidade reconhecia-se incapaz e indigno. Essa era a mensagem de Deus que ele tinha de anunciar. E no poder de Deus e em Sua justiça ele deveria confiar. Estava pronto a sair como mensageiro celestial, sem se impressionar com as pessoas, pois ele havia contemplado a Divindade. Podia comparecer destemidamente perante monarcas terrestres, pois se havia curvado perante o Rei dos reis. T8 332 1 João pregou sua mensagem sem argumentos elaborados ou teorias incoerentes. Sua voz clara e resoluta, mas cheia de esperança, foi ouvida no deserto: "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus." Mateus 3:2. Com um poder novo e estranho, ela atraiu o povo. A nação toda ficou agitada. Multidões afluíram ao deserto. T8 332 2 Camponeses e pescadores iletrados das cercanias; soldados romanos dos quartéis de Herodes; capitães com suas espadas embainhadas, prontos a debelar qualquer coisa que tivesse a aparência de rebelião; avarentos coletores de impostos vindos das bancas de arrecadação; e do Sinédrio, os orgulhosos sacerdotes -- todos ouviam fascinados; e todos, mesmo os fariseus, os saduceus, os frios e indiferentes zombadores, se retiravam tendo silenciado sua zombaria, profundamente abatidos pela convicção de seus pecados. Herodes ouviu a mensagem em seu palácio, e o orgulhoso e empedernido governante tremeu ante o convite ao arrependimento. T8 332 3 Nesta época, que antecede a segunda vinda de Cristo nas nuvens do céu, deve ser feita uma obra como a de João Batista. Deus chama homens com o objetivo de preparar um povo para o grande dia do Senhor. A mensagem procedente do ministério público de Cristo era: "Arrependei-vos, publicanos e pecadores; arrependei-vos, fariseus e saduceus." "Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus." Mateus 3:2. Como um povo que acredita no breve aparecimento de Cristo, temos uma mensagem a dar: "Prepara-te, ... para te encontrares com o teu Deus." Amós 4:12. Nossa mensagem precisa ser direta como foi a mensagem de João. Ele censurava os reis por sua iniqüidade. Embora sua vida estivesse em perigo, não hesitava em declarar a Palavra de Deus. E nossa obra, neste tempo, precisa ser realizada com a mesma fidelidade. T8 333 1 Para pregarmos tal mensagem como João o fez, necessitamos ter uma experiência espiritual semelhante à dele. A mesma obra tem de ser realizada em nós. Precisamos contemplar a Deus, e ao contemplá-Lo, perder de vista nosso eu. T8 333 2 João possuía por natureza os defeitos e fraquezas comuns à humanidade; mas o toque do amor divino o transformou. Quando, depois de haver Cristo iniciado Seu ministério, os discípulos de João foram ter com ele com a queixa de que todos os homens estavam seguindo o novo Mestre, João mostrou quão claramente compreendia sua relação para com o Messias e quão alegremente recebia Aquele para o qual preparara o caminho. T8 333 3 "O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do Céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dEle. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário que Ele cresça e que eu diminua." João 3:27-30. T8 333 4 Contemplando com fé o Redentor, João se erguera à altura da abnegação. Não procurava atrair os homens a si mesmo, e, sim, erguer-lhe os pensamentos mais e mais alto, até repousarem no Cordeiro de Deus. Ele mesmo fora apenas uma voz, um clamor no deserto. Agora, com alegria aceitava o silêncio e a obscuridade, para que os olhos de todos convergissem para a Luz da vida. T8 333 5 Os que são fiéis à sua vocação como mensageiros de Deus, não buscarão honra para si mesmos. O amor-próprio submergir-se-á no amor de Cristo. Reconhecerão que é sua obra proclamar, como o fazia João Batista: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29. T8 333 6 Exaltarão a Jesus, e com Ele será exaltada a humanidade. "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. T8 334 1 O espírito do profeta, esvaziado do eu, enchera-se da luz divina. Em palavras que representavam quase uma contrapartida às palavras do próprio Cristo, testemunhou ele da glória do Salvador: "Aquele que vem de cima é sobre todos, aquele que vem da Terra é da Terra e fala da Terra. Aquele que vem do Céu é sobre todos... Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por medida." João 3:31-34. T8 334 2 Dessa glória de Cristo devem participar todos os Seus seguidores. Só podemos receber da luz do Céu à medida que estamos dispostos a esvaziar-nos do próprio eu. Só podemos discernir o caráter de Deus e aceitar a Cristo pela fé, se consentirmos em levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo. A todos os que isso fazem, o Espírito Santo é dado sem medida. Em Cristo "habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle". Colossences 2:9, 10. As promessas de Deus T8 334 3 A todos os que se dispõem a humilhar o eu são concedidas as promessas de Deus: T8 334 4 "Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor." Êxodo 33:19. T8 334 5 "Clama a Mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes." Jeremias 33:3. T8 334 6 "Abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos", ser-nos-á dado o "o espírito de sabedoria e de revelação", a fim de podermos "compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento", e assim seremos "cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:20; 1:17; 3:18, 19. T8 334 7 Esse é o conhecimento que Deus nos convida a receber, e em comparação com o qual tudo o mais é vaidade e ninharia. ------------------------Testemunhos para a Igreja, 9 T9 3 1 Breve histórico do volume nove T9 11 1 Capítulo 1 -- A última crise T9 19 1 Capítulo 2 -- Chamados para ser testemunhas T9 30 1 Capítulo 3 -- Atividade missionária T9 43 1 Capítulo 4 -- Necessidade de esforço fervoroso T9 49 1 Capítulo 5 -- De graça recebestes, de graça dai T9 61 1 Capítulo 6 -- Nossas publicações T9 65 1 Capítulo 7 -- Disseminando as publicações T9 76 1 Capítulo 8 -- Visão mais ampla T9 81 1 Capítulo 9 -- Reuniões campais e nossas publicações T9 89 1 Capítulo 10 -- Condições existentes nas cidades T9 97 1 Capítulo 11 -- Uma obra atual T9 109 1 Capítulo 12 -- Métodos de trabalho T9 125 1 Capítulo 13 -- Apelo aos membros da igreja T9 137 1 Capítulo 14 -- Conselhos aos pastores T9 153 1 Capítulo 15 -- Fidelidade na reforma do regime alimentar T9 167 1 Capítulo 16 -- Um desafio aos evangelistas médico-missionários T9 173 1 Capítulo 17 -- A escola de médicos-evangelistas T9 179 1 Capítulo 18 -- União entre os de nacionalidades diferentes T9 184 1 Capítulo 19 -- Unidade em Jesus Cristo T9 189 1 Capítulo 20 -- A obra de publicações em College View T9 195 1 Capítulo 21 -- As associações alemã e escandinava T9 199 1 Capítulo 22 -- Chamado a obreiros negros T9 204 1 Capítulo 23 -- Proclamação da verdade onde existe antagonismo racial T9 213 1 Capítulo 24 -- A questão da cor da pele T9 223 1 Capítulo 25 -- Consideração para com os obreiros negros T9 225 1 Capítulo 26 -- Necessidades de um campo missionário T9 227 1 Capítulo 27 -- Um tempo de prova T9 232 1 Capítulo 28 -- O trabalho no domingo T9 239 1 Capítulo 29 -- Palavras de advertência T9 245 1 Capítulo 30 -- Mordomia fiel T9 253 1 Capítulo 31 -- Beneficência T9 257 1 Capítulo 32 -- Espírito de independência T9 262 1 Capítulo 33 -- Distribuição de responsabilidades T9 270 1 Capítulo 34 -- Com humildade e fé T9 277 1 Capítulo 35 -- Liderança bem equilibrada T9 281 1 Capítulo 36 -- Sou ainda menino pequeno T9 285 1 Capítulo 37 -- A recompensa do esforço diligente ------------------------Breve histórico do volume nove T9 3 1 Quando focalizamos os tempos em que foi escrito o nono volume, defrontamo-nos com um período de cinco anos, que se estende até a porção final do verão de 1909. Na experiência da Sra. White, esse período inicia e se encerra com viagens a partir de seu lar, em Santa Helena, Califórnia, à costa Leste, para participar de importantes reuniões. Para a denominação, foi um período de plena recuperação da crise de 1902 e 1903, e também de expansão da obra, de lançamento de novos planos e estabelecimento de novas instituições. T9 3 2 Em seguida a importantes reuniões em Michigan, na primavera de 1904, a Sra. White visitou o Sul, e então, viajou a Washington, D.C., onde providências estavam sendo tomadas para a construção da sede da obra, que havia sido estabelecida na capital da nação. Os prédios da sede deveriam ser erguidos, também uma sede para a Review and Herald, um hospital seria edificado e um colégio estabelecido. O fato de a Sra. White estabelecer seu lar em Washington por alguns meses, onde lhe seria possível aconselhar em relação ao trabalho à medida que esses quatro empreendimentos iam sendo desenvolvidos, representou um grande encorajamento para os obreiros. Isso também representou uma influência de vasto alcance por toda a organização, ao firmar a confiança dos membros da igreja no fato de que Deus havia orientado a transferência da administração e da obra de publicações para a capital nacional. T9 3 3 Esse foi um período de rápido desenvolvimento de nossa obra médica na costa do Pacífico. Hospitais foram abertos em National City, Glendale e Loma Linda, Califórnia. Desde o princípio, Loma Linda pareceu destinada a tornar-se um centro de preparo para obreiros médicos em algum momento futuro, para prosseguir com o trabalho que a denominação iniciara em Battle Creek. Durante os críticos anos do estabelecimento da Escola de Medicina, a Sra. White realizou freqüentes viagens ao Sul da Califórnia, onde proveu aconselhamento e encorajamento de modo pessoal, podendo assim assistir ao lançamento dos planos de desenvolvimento da obra. Foram mensagens recebidas a partir de revelações de Deus a ela concedidas, que nos conduziram passo a passo no estabelecimento de uma Faculdade de Medicina plenamente reconhecida. Tão grandes eram os obstáculos que, não fossem a fé e a confiança inspirados pelos freqüentes conselhos advindos do Espírito de Profecia, jamais teria o empreendimento chegado a bom termo. T9 4 1 Esses importantes projetos, que afastaram bastante a Sra. White de seu lar e de seus escritos, resultaram em grande atraso no lançamento de livros que ela almejava estivessem logo no campo, realizando sua obra. A Ciência do Bom Viver foi o único livro novo de Ellen White a ser lançado nesse período de cinco anos. T9 4 2 A obra da denominação cresceu demasiadamente nesse período para podermos mencionar em detalhes todos os vários passos em que avançou. A mensagem circundava então o globo, missionários estavam sendo enviados ao exterior em crescente número, mais instituições estavam se devotando aos setores educacional, de publicações e médico. A mensagem verdadeiramente estava alcançando os confins da Terra. T9 4 3 Foi uma ocasião de grande regozijo para o coração de Ellen White encontrar-se com os líderes mundiais da obra, quando se reuniram em Washington, D.C., para a sessão da Associação Geral, na primavera de 1909. Essa foi sua última viagem à costa Leste -- e a última sessão da Associação Geral de que participou. Encontrava-se na oportunidade com oitenta e um anos de idade e havia oferecido uma longa vida de serviço à causa de Deus. Havia visto a obra crescer a partir de seus difíceis começos, quando apenas um punhado de pessoas observavam o sábado e aguardavam a breve volta do Senhor. Ao tempo dessa reunião da Associação Geral, existiam 85 mil adventistas, e 1.200 ministros ordenados e licenciados. Quando Ellen White se colocou em pé diante da assembléia da Associação Geral, foi levada a falar acerca de assuntos de grande importância, que necessitavam ser revisados. Dentre eles achava-se a reforma de saúde. Durante quarenta e cinco anos, ela houvera ensinado os grandes princípios do viver saudável, que lhe foram apresentados em visão. Pudera observar os frutos de seus ensinamentos. Entretanto, alguns ainda resistiam à reforma, outros se inclinavam a extremos, e assim ela foi levada a revisar nossa posição e ensinos, ponto por ponto. Essa declaração, apresentada diante da sessão da Associação Geral, constitui importante capítulo do nono volume. T9 5 1 Outro tópico a respeito do qual ela decidiu falar, foi o da Faculdade de Medicina de Loma Linda. Apresentou os objetivos dessa instituição e apelou em favor da cooperação de todos os obreiros e leigos, para tornar esse trabalho um sucesso. Essa importante declaração também faz parte do nono volume. T9 5 2 A Sra. White havia visto o trabalho da administração da igreja desenvolver-se desde um comitê de três pessoas, indicado em 1863 para assumir a Associação Geral, até o presente modelo de organização, com os departamentos da Associação Geral e as Divisões e Uniões dividindo as responsabilidades entre centenas de pessoas, que haviam assumido os encargos da obra nas várias partes do campo mundial. Em suas palavras de encerramento, ela suplicou em favor da unidade e consagração. Na forma escrita da declaração, tratou ainda da autoridade da Associação Geral e da importância dos votos tomados em sessão plenária da mesma. Escreveu a respeito da distribuição de responsabilidades e da necessidade de humildade e fé. Esses conselhos formam importante parte da última seção do volume nove. T9 5 3 Por volta da virada do século, a Sra. White havia iniciado um apelo em favor da renovação do interesse pela evangelização de milhões de pessoas nos grandes centros metropolitanos do mundo. Essa necessidade havia sido enfatizada vez após outra nos conselhos enviados aos obreiros em posição de liderança. Em resposta a essas mensagens, o interesse pela obra nas cidades foi reavivado. Grandes centros foram penetrados. Muitos esforços evangelísticos foram empreendidos, velhas igrejas foram fortalecidas e outras, novas, foram estabelecidas. T9 6 1 A fim de preservar os apelos em favor desse tipo de trabalho, e oferecendo conselhos sobre como conduzi-lo de modo permanente, toda uma seção do nono volume foi dedicada a tão importante assunto. T9 6 2 Também estávamos vivendo naqueles dias a experiência de serem necessários os talentos e energias dos membros leigos para atender aos vários empreendimentos em que nos envolvíamos. Tornava-se cada vez mais claro que esta obra jamais seria concluída, a menos que a força leiga se unisse vigorosamente com os ministros na tarefa de levar a mensagem ao mundo. A obra dos leigos assumiu assim uma nova importância. Nos dois últimos volumes dos Testemunhos uma crescente ênfase foi posta sobre o trabalho dos leigos, o que chegou ao clímax neste nono volume. Em seguida ao cenário da última crise e dos eventos que haveriam de suceder nas cenas finais da história terrestre, vários capítulos são utilizados para convocar todos os adventistas do sétimo dia para tomarem parte ativa no evangelismo, na obra missionária doméstica e na divulgação de literatura. T9 6 3 Duas outras linhas de conselho se encontram representadas neste volume, embora considerável volume de instrução houvesse sido dado em relação ao assunto ao longo dos anos. A primeira tem a ver com a obra entre os negros. A segunda diz respeito à obra de liberdade religiosa. Foi grandemente em resposta aos apelos da Sra. White através de artigos na Review, ainda nas décadas finais do século dezenove, que obreiros e leigos adentraram o grande campo sulista e ali iniciaram o ministério, alguns em ramos educacionais, outros pregando a mensagem, outros em ramos médicos, e ainda outros apenas vivendo a mensagem em seus lares, à medida que estes eram estabelecidos em regiões onde ainda não penetrara a luz. Outros, ainda, haviam-se unido a esse trabalho em resposta aos apelos apresentados no sétimo volume. Os obreiros enfrentavam muitos problemas. Planos precisavam ser estabelecidos para o avanço. Novas questões precisavam ser enfrentadas, especialmente as que se relacionavam com o trabalho nos lugares em que existia antagonismo racial. Ao longo dos anos críticos, muitos conselhos foram dados para servir de segura orientação para o trabalho. Tendo em vista fazer um registro permanente desses conselhos para servir à igreja, foram eles incluídos no nono volume. T9 7 1 A obra de liberdade religiosa constituía uma linha de esforços na qual já nos havíamos engajado por muitos anos. Alguns inclinavam-se a assumir posições extremas, insistindo em que a verdadeira guarda do sábado significava que a pessoa deveria tornar bem claro aos que estivessem à sua volta, que ela trabalhava aos domingos. Em algumas regiões isso resultou em perseguição. O Senhor, em Sua bondade, enviou mensagens a essas pessoas, de modo a prover-nos uma visão equilibrada acerca desse tipo de questão. Esses conselhos igualmente aparecem no nono volume, na seção intitulada "A Obra de Liberdade Religiosa", que inicia com o capítulo "Um Tempo de Prova", e encerra com o capítulo "Palavras de Advertência". Assim, o volume nove, reunindo conselhos novos e antigos, reiterando certas linhas de instrução, oferecendo detalhes de conselhos em outros ramos, estimulando o serviço, indicando os perigos dos extremos, conduzindo à confiança na organização e apresentando a recompensa do esforço sincero, tornou-se a parte principal da série Testemunhos Para a Igreja. T9 7 2 A obra de Ellen White não se encerrou com o lançamento no nono volume dos Testemunhos Para a Igreja. Dedicando-se mais plenamente à tarefa de preparação de livros ao longo dos cinco anos seguintes, ela lançou Atos dos Apóstolos, em 1911, e Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, em 1913. Também efetuou o trabalho final nos manuscritos para a nova edição de Obreiros Evangélicos e Vida e Ensinos, publicados em 1915, e Profetas e Reis, que saiu do prelo em 1916. T9 7 3 Ela se sentiu particularmente feliz com os esforços especiais feitos para advertir as cidades, e de tempos em tempos sua pena emitia alguma mensagem de conselho e instrução no tocante a essa importante fase de nosso trabalho. O firme progresso da causa em todo o mundo foi destacado por essa então idosa mensageira do Senhor, que residia entre as tranqüilas colinas do norte da Califórnia. Embora soubesse que sua atividade estava quase se encerrando, não sentia ela temor quanto ao futuro da obra de Deus, pois escreveu: "Quer minha vida seja poupada, quer não, meus escritos falarão constantemente, e sua obra avançará enquanto o tempo persistir." -- Writing and Sending Out of the Testimonies for the Church, 13, 14. T9 8 1 Enquanto eram estabelecidos os planos para a sessão da Associação Geral de 1913, a Sra. White bem que gostaria de participar; entretanto, em virtude de sua idade avançada, isso não parecia recomendável. Não podendo estar presente para a apresentação de uma mensagem verbal, escreveu ela dois comunicados para serem lidos perante os delegados e membros da igreja reunidos. Na segunda mensagem, que foi lida pelo presidente da Associação Geral na sessão da manhã do dia 27 de maio, ela relembrou a experiência dos anos passados e rejubilou-se diante das marcantes evidências de que Deus havia conduzido Seu povo. Então, olhando para o futuro, suplicou ela por renovados esforços em favor da salvação das pessoas e apelou mais uma vez em favor das cidades ainda não advertidas. Contemplando o futuro, viu o triunfo da igreja e expressou estas palavras de encorajamento: T9 8 2 "Tenho palavras de encorajamento para vocês, meus irmãos. Devemos avançar pela fé e esperança, esperando grandes coisas de Deus. O inimigo tentará por todos os meios atrapalhar os esforços que estão sendo empreendidos para o avanço da verdade, mas na força do Senhor vocês conseguirão alcançar sucesso. Que não sejam pronunciadas palavras desanimadoras, mas tão-somente palavras que tendam a fortalecer e sustentar seus companheiros de obra. ... T9 8 3 "Meu interesse pela obra em geral é ainda tão profundo como sempre, e almejo grandemente que a causa da verdade presente avance com firmeza em todas as partes do mundo. ... T9 8 4 "Oro sinceramente para que o trabalho que realizamos no atual momento cause profunda impressão sobre o coração, a mente e o espírito das pessoas. As perplexidades aumentarão; entretanto, como crentes em Deus, animemos uns aos outros. Não rebaixemos o padrão, antes mantenhamo-lo erguido, olhando Àquele que é o Autor e Consumador de nossa fé. Quando, durante a noite, sou incapaz de dormir, ergo o coração em súplica a Deus, e Ele me fortalece, concedendo-me a segurança de que Ele está ao lado de Seus servos ministradores no campo missionário nacional e em terras distantes. Sinto-me animada e abençoada à medida que compreendo que o Deus de Israel ainda Se encontra guiando o Seu povo, e de que continuará a estar com eles, mesmo até o fim. ... T9 9 1 "O Senhor deseja ver a obra de proclamação da mensagem do terceiro anjo sendo levada avante com crescente eficiência. Assim como Ele atuou em todos os tempos para dar a vitória a Seu povo, também no presente momento almeja Ele conduzir a um triunfante cumprimento Seus propósitos para com a igreja. Pede a Seus santos crentes que prossigam de forma unida, avançando de força a maior força, da fé a uma aumentada segurança e confiança na verdade e justiça de Sua causa. T9 9 2 "Devemos permanecer firmes como a rocha aos princípios da Palavra de Deus, lembrando-nos de que Ele está conosco para outorgar-nos forças para enfrentarmos cada nova experiência. Mantenhamos sempre em nossa vida os princípios da justiça, para que possamos avançar de força em força, em nome do Senhor. Devemos sustentar como extremamente sagrada a fé que uma vez foi fundamentada pela instrução e aprovação do Espírito de Deus, desde nossa experiência inicial até ao tempo presente. Devemos acariciar como muito preciosa a obra que o Senhor tem desempenhado através de Seu povo observador dos mandamentos, a qual, através do poder de Sua graça, tornar-se-á mais e mais forte, mais e mais eficiente à medida que avance o tempo. O inimigo está procurando obscurecer o entendimento do povo de Deus e debilitar a sua eficiência; entretanto, se eles trabalharem de acordo com a direção do Espírito de Deus, Ele abrirá as portas da oportunidade diante deles, para a obra de reconstrução dos lugares desolados. A experiência deste povo será de contínuo crescimento, até que o Senhor desça dos Céus com poder e grande glória, a fim de colocar o Seu selo de final triunfo sobre os fiéis. T9 9 3 "A obra que se acha diante de nós é de tal ordem que exigirá a entrada em ação de todas as habilidades do ser humano. Exigirá o exercício de forte fé e constante vigilância. Por vezes, as dificuldades a serem enfrentadas nos parecerão inteiramente desanimadoras. A própria magnitude da tarefa nos aterrorizará. Ainda assim, com a ajuda de Deus, Seus servos finalmente triunfarão." -- Apresentado em The General Conference Bulletin, 28 de Maio de 1913, p. 164, 165. T9 10 1 Durante todo o tempo em que foram escritos os nove volumes dos Testemunhos Para a Igreja, ao longo de um período de cinquenta e cinco anos, a igreja cresceu continuamente, desenvolveu-se e prosperou. Os conselhos concedidos ofereceram orientação segura; as reprovações e correções conduziram de volta ao caminho da justiça muitos pés que se haviam desviado; as palavras de ânimo e estímulo renovaram muitos corações desmaiados, e o quadro da recompensa dos fiéis levou milhares à determinação de alcançarem o alvo colocado diante deles. T9 10 2 Olhando para a frente, devemos agora relembrar as palavras registradas em Vida e Ensinos, 203: "Nada temos a temer quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e Seu ensino em nossa história passada." T9 10 3 Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White T9 10 4 "Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará." Hebreus 10:37. ------------------------Capítulo 1 -- A última crise T9 11 1 Vivemos no tempo do fim. Os sinais dos tempos, que se cumprem rapidamente, declaram que a vinda de Cristo está próxima, às portas. Os dias em que vivemos são solenes e importantes. O Espírito de Deus está, gradual mas seguramente, sendo retirado da Terra. Pragas e juízos já estão caindo sobre os que desprezam a graça de Deus. As calamidades em terra e mar, as condições sociais agitadas, os rumores de guerra, são assombrosos. Prenunciam a proximidade de acontecimentos da maior importância. T9 11 2 As forças do mal estão se arregimentando e se consolidando. Elas estão se robustecendo para a última grande crise. Grandes mudanças estão prestes a ocorrer no mundo, e os acontecimentos finais serão rápidos. T9 11 3 As condições do mundo mostram que estão iminentes tempos angustiosos. Os jornais estão repletos de indícios de um terrível conflito em futuro próximo. Roubos ousados são ocorrência freqüente. As greves são comuns. Cometem-se por toda parte furtos e assassínios. Homens possuídos de demônios tiram a vida de homens, mulheres e crianças. Os homens têm-se enchido de vícios, e estão generalizados todos os tipos de males. T9 11 4 O inimigo tem conseguido perverter a justiça e encher do desejo de ganho egoísta o coração das pessoas. "A justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar." Isaías 59:14. Nas cidades grandes há multidões vivendo em pobreza e miséria, quase privadas de alimento, abrigo e vestuário; ao passo que nas mesmas cidades há os que têm mais do que o coração poderia desejar, que vivem no luxo, gastando o dinheiro com casas ricamente mobiliadas, com adornos pessoais, ou pior ainda, com a satisfação das paixões carnais, com bebidas alcoólicas, fumo e outros artigos que destroem as faculdades do cérebro, desequilibram a mente e degradam a vida. Sobem para Deus os clamores da humanidade que perece de fome, ao mesmo tempo em que, por toda sorte de opressões e extorsões, os homens acumulam fortunas colossais. T9 12 1 Uma ocasião, achando-me eu na cidade de Nova Iorque, fui convidada, à noite, para contemplar os edifícios que se erguiam, andar sobre andar, para o céu. Garantia-se que esses edifícios seriam à prova de fogo, e haviam sido construídos para glorificar seus proprietários e construtores. Erguiam-se eles cada vez mais alto, e neles era empregado o mais precioso material. Aqueles a quem essas construções pertenciam não perguntavam a si mesmos: "Como melhor poderemos glorificar a Deus?" O Senhor não fazia parte de suas cogitações. T9 12 2 Pensei: "Quem dera que os que desse modo estão empregando seus recursos vissem o seu procedimento como Deus o vê! Estão amontoando edifícios magnificentes, mas quão loucos são, à vista do Dominador do Universo, seus planos e projetos! Não estão estudando com todas as faculdades do coração e da mente, como podem glorificar a Deus. Perderam de vista isso que deve constituir o primeiro dever do ser humano." T9 12 3 Enquanto se erguiam esses edifícios, os proprietários se regozijavam com ambicioso orgulho de que tivessem dinheiro para empregar na satisfação do próprio eu e provocar a inveja de seus vizinhos. Grande parte do dinheiro que assim empregavam havia sido alcançado por extorsões, oprimindo os pobres. Esqueciam-se de que no Céu se conserva registro de todas as transações comerciais; todo trato injusto, cada ato fraudulento, acha-se ali registrado. Tempo virá em que em suas fraudes e insolências os homens atingirão o ponto que o Senhor não permitirá que transponham, e aprenderão que há um limite para a longanimidade de Jeová. T9 13 1 A cena que em seguida passou perante mim foi um alarme de fogo. Os homens olhavam aos altos edifícios, supostamente à prova de fogo, e diziam: "Estão perfeitamente seguros." Mas esses edifícios foram consumidos como se fossem feitos de piche. Os aparelhos contra incêndios nada podiam fazer para deter a destruição. Os bombeiros não podiam fazer funcionar as máquinas. T9 13 2 Fui instruída de que quando vier o tempo do Senhor, se não houver sido realizada mudança no coração dos soberbos, ambiciosos seres humanos, descobrirão os homens que a mão que fora forte para salvar, será igualmente forte para destruir. Nenhuma força terrestre poderá deter a mão de Deus. Não há como, na construção de edifícios, usar material que os preserve da destruição quando vier o tempo determinado por Deus para fazer cair sobre os homens as retribuições do desrespeito à Sua lei e também da ambição egoísta. T9 13 3 Não há muitos, mesmo entre educadores e estadistas, que compreendam as causas que servem de base para o presente estado da sociedade. Os que têm nas mãos as rédeas do governo não têm condições de resolver o problema da corrupção moral, da pobreza, da miséria e do crime crescente. Estão lutando em vão para colocar as operações comerciais sobre base mais segura. Se os homens dessem mais atenção aos ensinamentos da Palavra de Deus, achariam uma solução para os problemas que os desconcertam. T9 13 4 As Escrituras descrevem a condição do mundo exatamente antes da segunda vinda de Cristo. Dos homens que por meio de roubos e extorsões estão acumulando grandes riquezas, está escrito: "Entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a Terra, e vos deleitasses; cevastes os vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu." Tiago 5:3-6. T9 14 1 Quem, no entanto, lê as advertências feitas pelos sinais dos tempos, as quais estão se cumprindo rapidamente? Que impressão é causada sobre os mundanos? Que mudança se vê em sua atitude? Nada mais do que foi visto na atitude dos habitantes do mundo contemporâneo de Noé. Absortos com negócios e prazeres profanos, os antediluvianos "não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos". Mateus 24:39. Tinham advertências, enviadas do Céu, mas recusaram-se a lhes dar atenção. E hoje o mundo, em completo desrespeito à voz de Deus, apressa-se para a ruína eterna. T9 14 2 O mundo está agitado pelo espírito de guerra. A profecia do capítulo onze de Daniel atingiu quase o seu cumprimento completo. Logo se darão as cenas de perturbação das quais falam as profecias. T9 14 3 "Eis que o Senhor esvazia a Terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa os seus moradores. ... Porquanto transgridem as leis, mudam os estatutos, e quebram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a Terra, e os que habitam nela serão desolados. ... Cessou o folguedo dos tamboris, acabou o ruído dos que pulam de prazer, e descansou a alegria da harpa." Isaías 24:1-8. T9 15 1 "Ah! aquele dia! porque o dia do Senhor está perto, e virá como uma assolação do Todo-poderoso. ... A semente apodreceu debaixo dos seus torrões, os celeiros foram assolados, os armazéns derribados, porque se secou o trigo. Como geme o gado! As manadas de vacas estão confusas, porque não têm pasto; também os rebanhos de ovelhas são destruídos." "A vide se secou, a figueira se murchou; a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e a alegria se secou entre os filhos dos homens." Joel 1:15-18, 12. T9 15 2 "Estou ferido no meu coração! ... Não me posso calar, porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra. Quebranto sobre quebranto se apregoa; porque já toda a Terra está destruída." Jeremias 4:19, 20. T9 15 3 "Observei a Terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam. Observei e vi que homem nenhum havia e que todas as aves do céu tinham fugido. Vi também que a terra fértil era um deserto, e que todas as suas cidades estavam derribadas." Jeremias 4:23-26. T9 15 4 "Ah! porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante! e é tempo de angústia para Jacó; ele porém será livrado dela." Jeremias 30:7. T9 15 5 Nem todos neste mundo tomaram o partido dos inimigos de Deus. Nem todos se tornaram desleais. Uns poucos existem que são fiéis a Deus; pois escreve João: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus." Apocalipse 14:12. Logo será travada a violenta luta entre os que servem a Deus e os que O não servem. Logo tudo que pode ser abalado o será, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas. T9 16 1 Satanás é diligente estudante da Bíblia. Sabe que seu tempo é curto e procura em todos os pontos opor-se à obra do Senhor na Terra. É impossível dar uma idéia da experiência do povo de Deus que há de viver na Terra quando se misturarem a glória celestial e a repetição das perseguições do passado. Eles andarão à luz que procede do trono de Deus. Por meio dos anjos haverá constante comunicação entre o Céu e a Terra. E Satanás, rodeado de anjos maus, e declarando-se Deus, operará milagres de todas as espécies, para enganar, se possível, os próprios eleitos. O povo de Deus não encontrará sua segurança na operação de milagres; pois Satanás imitará os milagres que forem operados. O provado e experimentado povo de Deus, encontrará seu poder no sinal de que fala Êxodo 31:12-18. Hão de postar-se do lado da palavra viva: "Está escrito." Mateus 4:4. Essa é a única base sobre que poderão estar seguros. Os que quebraram o seu concerto com Deus estarão naquele dia sem Deus e sem esperança. T9 16 2 Os adoradores de Deus serão distinguidos especialmente pelo seu respeito ao quarto mandamento, visto ser esse o sinal do poder criador de Deus e a testemunha do Seu direito de reclamar a reverência e a homenagem do homem. Os ímpios serão distinguidos pelos seus esforços para demolir o monumento comemorativo do Criador e exaltar a instituição de Roma. Na conclusão do conflito, todo o cristianismo ficará dividido em dois grandes grupos: Os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, e os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal. Embora Igreja e Estado unam o seu poder para obrigar a todos, "pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos", a receberem o sinal da besta, o povo de Deus não o receberá. Apocalipse 13:16. O profeta de Patmos contemplou "os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés... e o cântico do Cordeiro". Apocalipse 15:2, 3. T9 17 1 Tremendas provas e aflições aguardam ao povo de Deus. O espírito de guerra está incitando as nações de um a outro extremo da Terra. Mas em meio ao tempo de angústia que está para vir -- tempo de angústia qual nunca houve desde que existe nação -- o povo escolhido de Deus ficará inabalável. Satanás e seu exército não o poderá destruir; pois anjos magníficos em poder o protegerão. T9 17 2 A palavra de Deus para Seu povo é: "Saí do meio deles, e apartai-vos, ... e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas." 2 Coríntios 6:17, 18. "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis a virtude dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. O povo de Deus deve distinguir-se como um povo que se dedica inteiramente, de todo o coração, ao Seu serviço, não buscando honra para si, e lembrando-se de que por um concerto soleníssimo, se comprometeram a servir ao Senhor, e a Ele somente. T9 17 3 "Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados, porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo. Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado de descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá. Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo. Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-Se." Êxodo 31:12-17. T9 18 1 Não nos assinalam essas palavras como o povo denominado por Deus? e não nos declaram elas que enquanto durar o tempo, devemos saber avaliar a sagrada distinção denominacional que nos é conferida? Os filhos de Israel deveriam observar o sábado através de suas gerações "por concerto perpétuo". Êxodo 31:16. O sábado não perdeu nada de sua significação. É ainda o sinal entre Deus e Seu povo, e o será para sempre. ------------------------Capítulo 2 -- Chamados para ser testemunhas T9 19 1 Em sentido especial foram os adventistas do sétimo dia postos no mundo como vigias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incidiu a maravilhosa luz da Palavra de Deus. Foram incumbidos de uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Nenhuma obra há de tão grande importância. Não devem eles permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção. T9 19 2 As mais solenes verdades já confiadas a mortais nos foram dadas para as proclamarmos ao mundo. A proclamação dessas verdades deve ser nossa obra. O mundo precisa ser advertido, e o povo de Deus deve ser fiel à missão que lhe foi confiada. Não se deve empenhar em especulações, nem entrar em empresas comerciais com incrédulos; pois isso dificultará realizar a obra que Deus lhe confiou. T9 19 3 De Seu povo, diz Cristo: "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Não é questão de pouca importância o termos recebido, por revelação, tão claramente os conselhos e planos de Deus. Admirável privilégio é ser capaz de compreender a vontade de Deus tal como é revelada na segura palavra dos profetas. Isso põe sobre nós pesada responsabilidade. Deus espera que comuniquemos aos outros o conhecimento que nos deu. É Seu propósito que as forças divinas e humanas se unam na proclamação da mensagem de advertência. T9 19 4 Na extensão em que alcançam as suas oportunidades, todos os que receberam a luz da verdade estão sob a mesma responsabilidade que pesava sobre o profeta de Israel, ao qual veio a palavra: "A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da Minha boca e lha anunciarás da Minha parte. Se Eu disser ao ímpio: ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá o ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue Eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma." Ezequiel 33:7-9. T9 20 1 Deveremos esperar até que se cumpram as profecias do fim, antes de dizermos alguma coisa a seu respeito? Que valor terão nossas palavras então? Deveremos esperar até que os juízos de Deus caiam sobre o transgressor antes que lhe digamos como evitá-los? Onde está nossa fé na Palavra de Deus? Teremos que ver as coisas preditas se realizarem, antes que acreditemos no que Ele diz? Em raios claros e distintos tem-nos vindo iluminação, mostrando-nos que o grande dia do Senhor está bem perto, "próximo, às portas". Leiamos e compreendamos antes de ser tarde demais. T9 20 2 Devemos ser consagrados condutos através dos quais a vida celestial flua para outros. O Espírito Santo deve animar e encher toda a igreja, purificando e unindo os corações. Os que foram sepultados com Cristo no batismo devem erguer-se para novidade de vida, dando uma demonstração viva da vida de Cristo. Sobre nós está colocado um sagrado encargo. Foi-nos dada a comissão: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." Mateus 28:19, 20. Fomos consagrados para a obra de tornar conhecido o evangelho da salvação. A perfeição celestial deve ser o nosso poder. Vida santa T9 21 1 Não é somente pregando a verdade, ou distribuindo literatura, que seremos testemunhas de Deus. Lembremo-nos de que uma vida semelhante à de Cristo é o mais poderoso argumento que pode ser apresentado em favor do cristianismo, e que o cristão que não é fiel à sua profissão causa mais dano ao mundo do que um mundano. Nem todos os livros escritos poderiam substituir uma vida santa. Os homens acreditarão, não no que o ministro prega, mas no que a igreja pratica em sua vida. Freqüentemente a influência do sermão pregado do púlpito é anulada pelo sermão vivido pelos que professam ser partidários da verdade. T9 21 2 É desígnio de Deus que Seu povo O glorifique perante o mundo. Ele espera que aqueles que usam o nome de Cristo O representem em pensamento, palavra e ação. Seus pensamentos devem ser puros, e nobres as suas palavras, de molde a elevar e conduzir os que os cercam para mais perto do Salvador. Tudo quanto fazem e dizem deve achar-se impregnado da religião de Cristo. Até suas transações comerciais precisam exalar a fragrância da presença de Deus. T9 21 3 O pecado é coisa odiosa. Manchou a beleza moral de grande número de anjos. Penetrou em nosso mundo, quase obliterando a imagem moral de Deus no homem. Mas por Seu grande amor, Deus proveu um meio pelo qual o homem pudesse reaver a posição de que caíra ao ceder ao tentador. Cristo veio para colocar-Se à frente da humanidade, a fim de conseguir em nosso favor um caráter perfeito. Os que O recebem nascem de novo. T9 21 4 Devido à atuação do fantástico desenvolvimento do pecado, Cristo viu a humanidade possuída pelo príncipe das potestades do ar e empregando força gigantesca em façanhas malignas. Viu também que um poder maior enfrentaria e venceria Satanás. "Agora, é o juízo deste mundo"; disse Ele, "agora, será expulso o príncipe deste mundo." João 12:31. Viu ainda que se os seres humanos nEle cressem, receberiam poder contra as hostes de anjos caídos, cujo nome é legião. Cristo Se fortaleceu com o pensamento de que pelo maravilhoso sacrifício que estava para fazer, o príncipe deste mundo seria lançado fora, e homens e mulheres seriam colocados num lugar no qual, pela graça de Deus, poderiam reaver o que haviam perdido. T9 22 1 A vida que Cristo viveu neste mundo podem também viver os homens e mulheres, por meio do Seu poder e sob Suas instruções. No conflito com Satanás podem eles receber todo auxílio que Cristo obteve. Podem ser mais do que vencedores por Aquele que os amou e por eles Se entregou. T9 22 2 A vida dos professos cristãos que não vivem a vida de Cristo é um escárnio para a religião. Todo aquele cujo nome está registrado no livro da igreja, está sob a obrigação de representar a Cristo, revelando o adorno interior de um espírito manso e quieto. Deve ser testemunha Sua, tornando conhecidas as vantagens de andar e trabalhar segundo o exemplo de Cristo. A verdade para este tempo deve aparecer em seu poder na vida dos que nela crêem e ser comunicada ao mundo. Os crentes devem apresentar na própria vida o seu poder de santificar e enobrecer. Representantes de Cristo T9 22 3 Os habitantes do universo celestial esperam que os seguidores de Cristo resplandeçam como luzes no mundo. Devem mostrar o poder da graça para cuja concessão aos homens Cristo morreu. Deus espera que os que professam ser cristãos revelem em sua vida o mais alto desenvolvimento do cristianismo. São reconhecidos representantes de Cristo, e devem demonstrar que o cristianismo é uma realidade. Devem ser homens de fé, de ânimo, de espírito sadio que, sem questionar, confiem em Deus e em Suas promessas. T9 23 1 Todos os que quiserem entrar na cidade de Deus têm que, durante sua vida terrestre, representar em seu procedimento a Cristo. Isso é o que os torna mensageiros de Cristo, Suas testemunhas. Devem apresentar um claro e positivo testemunho contra todas as más práticas, apontando aos pecadores o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A todos os que O recebem, dá Ele poder para se tornarem filhos de Deus. A regeneração é o único caminho pelo qual podemos entrar na cidade de Deus. É apertado, e estreita a porta pela qual ali se entra, mas para ela devemos guiar homens, mulheres e crianças, ensinando-lhes que para serem salvos precisam de coração novo e novo espírito. Os velhos, hereditários traços de caráter têm que ser vencidos. Os desejos naturais do coração têm que ser transformados. Todo engano, falsidade e maledicência têm que ser postos de lado. A vida nova, que torna semelhantes a Cristo homens e mulheres, é que deve ser vivida. Firme adesão à verdade T9 23 2 Não deve haver pretensão na vida dos que têm mensagens tão sagradas e solenes como as que fomos chamados a proclamar. O mundo está observando os adventistas do sétimo dia porque sabe alguma coisa da sua profissão de fé e da elevada norma que adotam; e quando vê os que não vivem à altura de sua profissão, aponta-os com escárnio. T9 23 3 Quem ama a Jesus há de pôr tudo que há em sua vida em harmonia com a vontade dEle. Escolheram o lado do Senhor, e sua vida deve ser destacada em nítido contraste com a vida dos mundanos. A eles irá o tentador com suas lisonjas e persuasões, dizendo: "Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares." Mateus 4:9. Sabem, porém, que o inimigo nada tem que mereça ser recebido, e recusam-se a ceder a suas tentações. Pela graça de Deus acham-se capacitados para guardar incontaminada sua pureza de princípios. Santos anjos estão bem junto ao seu lado, e Cristo é revelado em sua firme adesão à verdade. São soldados de Cristo, sempre prontos para qualquer obra, e para dar, como testemunhas fiéis, testemunho decidido em favor da verdade. Demonstram que existe um poder espiritual que habilita homens e mulheres a não se afastarem nem um pouco da verdade e justiça, mesmo que em troca se lhes ofereçam todos os dons ambicionados pelos homens. Esses, onde quer que estejam, serão honrados pelo Céu, porque conformaram a vida com a vontade de Deus, não lhes importando os sacrifícios que fossem chamados a fazer. Mensagem mundial T9 24 1 A luz que Deus concedeu ao Seu povo não deve ser encerrada dentro das igrejas que já conhecem a verdade. Deve ser disseminada para os lugares escuros da Terra. Os que andam na luz como Cristo na luz está, cooperarão com o Salvador revelando a outros o que Ele lhes revelou. É propósito de Deus que a verdade para este tempo seja revelada a toda tribo, nação, língua e povo. Homens e mulheres no mundo hoje acham-se absortos na busca de ganho mundano e de mundano prazer. Há milhares de milhares que não dedicam tempo nem interesse à salvação espiritual. Chegado é o tempo em que a mensagem da breve volta de Cristo deve soar através do mundo. T9 25 1 Evidências inequívocas mostram a proximidade do fim. A advertência deve ser dada em tons distintos. Tem que ser preparado o caminho para a vinda do Príncipe da Paz nas nuvens do céu. Muito há para fazer nas cidades que não ouviram ainda a verdade para este tempo. Não devemos estabelecer instituições com o fim de fazê-las rivalizar em proporções e esplendor com as instituições do mundo; mas em nome do Senhor, com a incansável perseverança e o constante zelo que Cristo dedicava a Seus trabalhos, cumpre-nos levar avante a obra de Deus. T9 25 2 Como povo, precisamos humilhar o coração perante Deus, rogando-Lhe o perdão pela nossa negligência no cumprimento da comissão evangélica. Estabelecemos grandes centros em alguns poucos lugares, deixando por trabalhar muitas cidades importantes. Assumamos agora o trabalho que nos é designado, e proclamemos a mensagem que há de despertar homens e mulheres, levando-os a reconhecer seu perigo. Se cada adventista do sétimo dia houvesse feito o trabalho que lhe foi confiado, o número de crentes seria hoje muito maior do que é. Em todas as cidades da América [do Norte], haveria os que tivessem sido levados a tomar a sério a mensagem de obedecer à lei de Deus. T9 25 3 Nalguns lugares a mensagem acerca da observância do sábado foi exposta com clareza e vigor, ao passo que outros foram deixados sem advertência. Não despertarão os que conhecem a verdade, reconhecendo a responsabilidade que sobre eles repousa? Meus irmãos, vocês não podem correr o risco de sepultar-se em empresas ou interesses mundanos. Não podem, de forma alguma, negligenciar a comissão que o Salvador lhes deu. T9 25 4 Tudo que há no Universo concita aos que conhecem a verdade que se consagrem sem reservas à proclamação dessa verdade, tal como lhes foi revelada na mensagem do terceiro anjo. Aquilo que vemos e ouvimos nos conclama ao dever. A atuação dos agentes satânicos requer que cada cristão permaneça em seu posto. Obreiros necessários T9 26 1 A obra que nos foi confiada é importante, e nela são necessários homens sábios, abnegados, pessoas que compreendam o que significa dedicar-se a desinteressados esforços para salvar os perdidos. Mas não há necessidade do serviço de homens mornos; pois tais pessoas Cristo não pode usar. Necessitam-se homens e mulheres cujo coração se comova ante o sofrimento humano e cuja vida dê prova de que estão recebendo e comunicando luz, vida e graça. T9 26 2 O povo de Deus deve aproximar-se de Cristo, em abnegação e sacrifício, tendo como único alvo dar a todo o mundo a mensagem de misericórdia. Alguns trabalharão de um modo, e outros de outro, conforme o Senhor os chamar e guiar. Mas todos devem lutar juntos, procurar fazer do trabalho uma unidade perfeita. Pela pena e pela viva voz devem trabalhar para Deus. A palavra da verdade, impressa, deve ser traduzida para diferentes línguas e levada aos confins da Terra. T9 26 3 Meu coração muitas vezes fica sobrecarregado porque tantos que poderiam trabalhar nada fazem. Agem como joguete das tentações de Satanás. De todo membro de igreja que possui conhecimento da verdade se espera que trabalhe enquanto é dia; porque vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Em breve haveremos de compreender o que significa essa noite. O Espírito de Deus está sendo agravado a ponto de estar-Se retirando da Terra. As nações estão iradas umas contra as outras. Vastos preparativos de guerra estão sendo feitos. A noite está cada vez mais escura. Desperte a igreja e ponha-se a cumprir a obra que lhe foi confiada. Todo crente, mais instruído ou menos preparado, pode levar a mensagem. T9 26 4 Estende-se perante nós a eternidade. A cortina está para ser aberta. Em que estamos pensando, para que assim nos apeguemos ao nosso amor egoísta pela comodidade, enquanto por toda parte ao nosso redor perdidos estão a perecer? Ficou completamente calejado o nosso coração? Não podemos ver nem compreender que temos uma obra para fazer em favor de outros? Irmãos e irmãs, estamos nós entre os que, tendo olhos, não vêem, e tendo ouvidos, não ouvem? Foi em vão que Deus nos deu o conhecimento de Sua vontade? Foi em vão que Ele nos enviou advertência após advertência da proximidade do fim? Acreditamos nas declarações de Sua Palavra acerca do que está para sobrevir ao mundo? Acreditamos que os juízos de Deus impendem sobre os habitantes da Terra? Como, então, podemos ficar de braços cruzados, descuidosos e indiferentes? T9 27 1 Cada dia que passa nos leva para mais perto do fim. Mas, leva-nos, também, para mais perto de Deus? Estamos vigilantes em oração? As pessoas com quem nos associamos dia a dia precisam de nosso auxílio, nossa guia. Podem estar em tal estado de espírito que uma palavra oportuna lhes seja, pela atuação do Espírito Santo no coração, como um ponto de apoio em lugar firme. Amanhã, talvez, algumas dessas pessoas possam estar onde nunca mais as poderemos alcançar. Qual é a nossa influência sobre esses companheiros de jornada? Que esforço estamos fazendo para ganhá-los para Cristo? T9 27 2 O tempo é breve, e nossas forças têm que ser organizadas para produzir uma obra maior. Há necessidade de obreiros que compreendam a grandeza do trabalho, e nele se empenhem, não por amor ao salário que recebem, mas por saberem da proximidade do fim. O tempo demanda maior eficiência e mais profunda consagração. Oh! estou tão preocupada com esse assunto que clamo a Deus: "Suscita e envia mensageiros possuídos do sentimento de responsabilidade, mensageiros em cujo coração tenha sido crucificada a idolatria do próprio eu, a qual faz parte do fundamento de todo pecado." Cena impressionante T9 28 1 Nas visões da noite foi apresentada diante de mim uma cena impressionante. Vi uma imensa bola de fogo cair no meio de algumas lindas habitações, destruindo-as imediatamente. Ouvi alguns dizerem: "Sabíamos que os juízos de Deus sobreviriam à Terra, mas não sabíamos que viriam tão cedo." Outros, com a voz quase embargada de agonia, diziam: "Os senhores sabiam! Por que, então, não nos disseram? Nós não sabíamos." Por toda parte, ouvi serem pronunciadas semelhantes palavras de acusação. T9 28 2 Acordei muito aflita. Adormeci de novo, e pareceu-me estar numa grande reunião. Uma pessoa de autoridade falava à congregação, e perante ela se achava um mapa do mundo todo. Disse que o mapa retratava a vinha do Senhor, que tem de ser cultivada. Quando a luz do Céu incidisse sobre qualquer pessoa, ela deveria refleti-la sobre as demais. Luzes deveriam ser acesas em muitos lugares, e nessas luzes outras ainda deveriam ser acesas. T9 28 3 Foram repetidas as palavras: "Vós sois o sal da Terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mateus 5:13-16. T9 28 4 Vi raios de luz provindo de cidades e vilas, dos lugares altos e baixos da Terra. A Palavra de Deus era obedecida, e em resultado se achavam em cada cidade e vila monumentos Seus. Sua verdade era proclamada através de todo o mundo. T9 29 1 Então foi removido esse mapa, e colocado outro em seu lugar. Nesse a luz brilhava em poucos lugares apenas. O restante do mundo estava em trevas, havendo unicamente uns lampejos de luz aqui e ali. Disse o nosso Instrutor: "Esta escuridão é conseqüência de seguirem os homens o seu próprio caminho. Abrigaram hereditárias e cultivadas tendências para o mal. Tornaram as dúvidas, as murmurações e acusações a principal preocupação de sua vida. Seu coração não está reto para com Deus. Esconderam a sua luz." T9 29 2 Se cada soldado de Cristo houvesse cumprido seu dever, se cada vigia nos muros de Sião houvesse dado à trombeta um sonido certo, o mundo poderia ter ouvido a mensagem de advertência. Mas a obra está com anos de atraso. Enquanto os homens dormem, Satanás avança furtiva e decididamente. T9 29 3 Pondo em Deus nossa confiança, devemos avançar constantemente, fazendo Sua obra com abnegação, com humilde confiança nEle, submetendo-nos, bem como nosso presente e futuro a Sua sábia providência, conservando firme o princípio de nossa confiança até o fim, lembrando que não é pelos nossos merecimentos que recebemos as bênçãos do Céu, mas pelos méritos de Cristo e por nossa aceitação da abundante graça de Deus, através da fé nEle. ------------------------Capítulo 3 -- Atividade missionária T9 30 1 Deus espera serviço pessoal da parte de todo aquele a quem confiou o conhecimento da verdade para este tempo. Nem todos podem ir a terras missionárias estrangeiras, mas todos podem ser missionários entre os familiares e vizinhos. Há muitas maneiras pelas quais os membros da igreja podem dar a mensagem aos que estão ao seu redor. Uma das maneiras mais bem-sucedidas é o viver cristão prestativo, altruísta. Os que estão travando a batalha da vida com grandes desvantagens podem ser refrigerados e fortalecidos por pequeninas atenções que nada custam. Palavras bondosas, proferidas com simplicidade, pequenas atenções dispensadas sem ostentação, hão de afugentar as nuvens da tentação e dúvida que se adensam por sobre a pessoa. A verdadeira e sincera expressão de simpatia cristã transmitida com simplicidade tem poder para abrir a porta de corações que necessitam do simples e delicado toque do Espírito de Cristo. T9 30 2 Cristo aceita -- oh! com que prazer! -- todo agente humano que a Ele se renda. Leva o humano em união com o divino, para que possa comunicar ao mundo os mistérios do amor encarnado. Fale sobre a mensagem de Sua verdade, ore por ela, cante-a, encha dela o mundo, e prossiga avançando para as regiões longínquas. T9 30 3 Seres celestiais desejam cooperar com os agentes humanos para que revelem ao mundo no que as pessoas podem ser transformadas, e o que, por sua influência, realizarão para salvar os que estão prestes a perecer. Aquele que está convertido de fato, estará tão cheio do amor de Deus que almejará comunicar a outros a alegria que ele próprio possui. O Senhor deseja que Sua igreja revele ao mundo a beleza da santidade. Ela deve demonstrar o poder da religião cristã. O Céu deve ser refletido no caráter dos cristãos. O cântico de gratidão e louvor deve ser ouvido pelos que se acham em trevas. Pelas boas-novas do evangelho, por suas promessas e certezas, devemos exprimir nossa gratidão, procurando fazer o bem aos outros. A realização dessa obra trará raios de celestial justiça aos cansados, perplexos e sofredores. É como uma fonte para o viajante cansado e sedento. A cada obra de misericórdia, em cada ato de amor, acham-se presentes anjos de Deus. Nosso exemplo T9 31 1 A obra de Cristo deve ser nosso exemplo. Ele andava continuamente fazendo o bem. No templo e nas sinagogas, nas ruas das cidades, nas praças e nas oficinas, na praia e na encosta dos montes, pregava o evangelho e curava os doentes. Sua vida foi de serviço desinteressado, e nos deve servir de modelo. Seu terno e compassivo amor se constitui em uma censura ao egoísmo e à falta de sensibilidade. T9 31 2 Aonde quer que Cristo fosse, espalhava bênçãos em Seu caminho. Quantos dos que professam crer nEle aprenderam Suas lições de bondade, terna compaixão, amor abnegado? Escutemos Sua voz falando aos fracos, cansados, desamparados: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. Jamais se esgotava Sua paciência, não acabava o Seu amor. T9 31 3 Cristo nos pede que trabalhemos paciente e perseverantemente pelos milhares que estão a perecer em seus pecados, espalhados por todas as terras, como náufragos em praia deserta. Os que participam da glória de Cristo devem também partilhar de Seu ministério, ajudando o fraco, o infeliz e o desalentado. T9 32 1 Os que assumem esse trabalho devem fazer da vida de Cristo seu estudo constante. Sejam intensamente fervorosos, empregando no serviço do Senhor todas as habilidades. Preciosos resultados seguir-se-ão ao esforço sincero e abnegado. Do grande Mestre receberão os obreiros a mais perfeita educação. Mas os que não comunicam a luz que receberam, reconhecerão um dia que sofreram tremenda perda. T9 32 2 Os seres humanos não têm o direito de julgar que existe limite aos esforços que devem empenhar na obra da salvação. Cristo, em algum momento ficou cansado de Sua obra? Alguma vez recuou diante de sacrifícios e dificuldades? Os membros da igreja devem pôr em ação os contínuos e perseverantes esforços como Ele fazia. Devem estar sempre prontos para entrar imediatamente em ação, em obediência às ordens do Mestre. Onde quer que vejamos trabalho por fazer, devemos lançar-nos a ele e executá-lo, olhando constantemente para Jesus. Se nossos membros das igrejas levarem a sério essa instrução, centenas de pessoas serão ganhas para Jesus. Se cada membro fosse um missionário vivo, o evangelho seria rapidamente proclamado em todos os países, a todos os povos, nações e línguas. Resultado do esforço sincero T9 32 3 Ponha-se santificada habilidade na obra da proclamação da verdade para este tempo. Se as forças do inimigo alcançarem a vitória será porque as igrejas negligenciaram a obra que Deus lhes confiou. Por anos, foi-nos apresentada a obra, mas muitos continuaram a dormir. Se os adventistas do sétimo dia despertarem agora e fizerem a obra que lhes foi designada, a verdade, de modo claro, distinto e no poder do Espírito Santo, será apresentada às cidades negligenciadas. T9 32 4 Quando for realizado um trabalho de todo o coração, se verá a eficácia da graça de Cristo. Os vigias dos muros de Sião devem estar bem despertos, e despertar os demais. O povo de Deus deve ser tão fervoroso e fiel em seu trabalho para Ele, que todo egoísmo fique excluído de sua vida. Seus obreiros, então, olho a olho verão (Isaías 52:8), e será revelado o braço do Senhor, cujo poder se viu na vida de Cristo. A confiança será restaurada e haverá unidade através das fileiras de nossas igrejas. Diferentes áreas de trabalho T9 33 1 O Senhor está convidando Seu povo para assumir diferentes áreas de trabalho. Os que se acham nos caminhos e valados da vida devem ouvir a mensagem do evangelho. Os membros da igreja devem fazer a obra de pregação no lar de seus vizinhos que não receberam ainda evidência completa da verdade para este tempo. T9 33 2 Deus pede que famílias cristãs visitem as localidades que estão em trevas e erro, e trabalhem sábia e perseverantemente para o Mestre. Para atender a esse chamado é necessário abnegação. Enquanto muitos esperam que sejam removidos todos os obstáculos, pessoas estão morrendo sem esperança e sem Deus no mundo. Muitos, muitos mesmo, pelo apego a vantagens mundanas ou por amor a conhecimentos científicos, aventuram-se por regiões perigosas, e suportam durezas e privações. Onde se acham os que estão dispostos a fazer o mesmo com o objetivo de falar a outros acerca do Salvador? Onde estão os homens e mulheres dispostos a mudar-se para regiões necessitadas do evangelho, e encaminhar ao Redentor os que andam em trevas? Distribuindo nossas publicações T9 33 3 Muitos, dentre o povo de Deus, terão que levar nossas publicações a lugares onde a terceira mensagem angélica ainda não foi proclamada. Nossos livros têm que ser publicados em muitas línguas. Homens humildes e fiéis levarão esses livros, como colportores-evangelistas, apresentando a verdade aos que, de outro modo, jamais seriam esclarecidos. Os que se dedicam a esse ramo de trabalho devem sair preparados para fazer trabalho médico-missionário. Os doentes e sofredores devem ser ajudados. Muitos, a quem é direcionada essa obra de misericórdia, ouvirão e aceitarão as palavras de vida. T9 34 1 O trabalho do colportor-evangelista, cujo coração se encontra imbuído do Espírito Santo, acha-se repleto de maravilhosas possibilidades para o bem. A apresentação da verdade, com amor e simplicidade, de casa em casa, está em harmonia com a instrução que Cristo deu a Seus discípulos quando os enviou em sua primeira viagem missionária. Mediante hinos de louvor, orações humildes e fervorosas, muitos serão alcançados. O divino Obreiro estará presente para comunicar convicção aos corações. "Estou convosco todos os dias" (Mateus 28:20), é Sua promessa. Com a garantia da constante presença de tal Colaborador podemos trabalhar com fé, esperança e bom ânimo. T9 34 2 De cidade em cidade, país a país, eles devem levar as publicações que contêm a promessa da breve volta do Salvador. Essas publicações devem ser traduzidas para todas as línguas; pois o evangelho tem de ser pregado a todo o mundo. A todo obreiro Cristo promete a eficiência divina, a qual dará êxito aos seus esforços. T9 34 3 Os que conhecem a verdade de longa data precisam buscar o Senhor muito mais ardentemente, a fim de que seu coração se encha da determinação de trabalhar em favor do próximo. Irmãos e irmãs, visitem os que vivem próximo de vocês e com simpatia e bondade procurem alcançar-lhes o coração. Certifiquem-se de trabalhar de maneira que seja removido o preconceito em lugar de despertá-lo. E lembrem-se de que aqueles que conhecem a verdade para o momento presente e ainda limitam seus esforços a sua própria igreja, recusando-se a trabalhar por seus vizinhos ainda não convertidos, serão chamados a prestar contas pelos deveres não cumpridos. T9 35 1 Emprestem aos vizinhos alguns de seus livros menores. Se o interesse deles for se despertado, ofereçam a eles alguns livros maiores. Apresentem-lhes o Parábolas de Jesus. Contem-lhes suas histórias e perguntem se eles desejam um exemplar. Se já o possuírem, indaguem se eles apreciariam ler outro livro semelhante. Se possível, assegurem uma oportunidade de apresentar-lhes a verdade. Vocês devem lançar a semente da verdade junto a todas as águas, embora não saibam qual prosperará. Trabalho de casa em casa T9 35 2 Existem, em muitos lugares, colônias de agricultores que ainda não tiveram a oportunidade de ouvir a verdade para este tempo. Deve-se trabalhar nesses lugares. Que nossos membros leigos empreendam essa parte do serviço. Emprestando ou vendendo livros, distribuindo revistas e dando estudos bíblicos, nossos membros poderão fazer muito em sua vizinhança. Cheios de amor poderão proclamar a mensagem com poder tal que muitos sejam convertidos. T9 35 3 Dois obreiros bíblicos foram visitar uma família. Com a Bíblia aberta diante de si, apresentavam o Senhor Jesus Cristo como o Salvador que perdoa os pecados. Orações sinceras eram apresentadas a Deus, e corações eram abrandados e subjugados pela influência do Espírito de Deus. Suas orações eram pronunciadas com vigor e poder. Ao ser explicada a Palavra de Deus, vi que uma luz suave e radiante iluminava as Escrituras, e eu disse, em voz baixa: "Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a Minha casa se encha." Lucas 14:23. T9 36 1 A preciosa luz era comunicada de vizinho para vizinho. Altares domésticos que haviam ruído, eram de novo erguidos, e muitos foram convertidos. T9 36 2 Irmãos e irmãs, dediquem-se ao Senhor para o serviço. Não permitam que passe oportunidade alguma sem ser aproveitada. Visitem os doentes e sofredores, e manifestem-lhes bondoso interesse. Se possível, façam alguma coisa para os cercar de mais conforto. Poderão assim conquistar-lhes o coração, e dizer uma palavra em favor de Cristo. T9 36 3 Somente a eternidade poderá revelar todo o alcance dessa atividade. Outros ramos de utilidade se abrirão perante os que estão dispostos a cumprir o dever que lhes fica mais perto. O mais importante agora não são os versados e eloqüentes oradores; mas os humildes homens e mulheres cristãos, que tenham aprendido de Jesus de Nazaré a ser mansos e amoráveis, os quais, confiantes em Sua força, saiam pelos caminhos e atalhos para convidar: "Vinde, que já tudo está preparado." Lucas 14:17. T9 36 4 Os que são entendidos nos ramos agrícolas, no cultivo do solo, os que sabem construir edifícios simples e modestos, poderão ajudar. Podem fazer bom trabalho, e ao mesmo tempo mostrar através do caráter o alto padrão que este povo tem o privilégio de alcançar. Lavradores, administradores, construtores, e os que são hábeis em vários outros ramos, devem ir aos campos negligenciados para aproveitar o solo, estabelecer indústrias, desenvolvendo atividades para si e dar aos vizinhos o conhecimento da verdade para este tempo. Trabalho para mulheres T9 36 5 Há um vasto campo de serviço para as mulheres, assim como para os homens. A eficiente cozinheira, a costureira, a enfermeira -- de todas é necessário o auxílio. Que os membros dos lares pobres sejam ensinados a cozinhar, a fazer e consertar sua própria roupa, a tratar dos doentes, a cuidar devidamente do lar. Mesmo as crianças devem ser ensinadas a fazer algum serviço de amor e misericórdia pelos menos afortunados do que elas. O lar, um campo missionário T9 37 1 Que os pais não se esqueçam do grande campo missionário que está perante eles no lar. O filho confiado por Deus a sua mãe, constitui um sagrado encargo. "Toma este filho, esta filha", diz Deus, "e educa-o para Mim. Faça-o desenvolver um caráter polido à semelhança dos palácios, a fim de que venha a resplandecer para sempre nas cortes do Senhor." A luz e glória que irradia do trono de Deus repousa sobre a mãe fiel enquanto se esforça por educar os filhos de maneira a resistirem às influências do mal. Um lugar para cada um T9 37 2 Há trabalho diligente a ser executado por todos. Que cada esforço seja uma influência para o reerguimento da humanidade. São tantos os que precisam ser auxiliados! O coração de quem vive, não para agradar a si próprio, mas para ser uma bênção aos que de tão poucas bênçãos desfrutam, vibrará de satisfação. Desperte-se todo ocioso, e enfrente as realidades da vida! Tome a Palavra de Deus e pesquise-lhe as páginas. Para quem é praticante da Palavra, a vida será na verdade uma realidade viva e verá que a recompensa é abundante. T9 37 3 O Senhor tem em Seu grande plano um lugar para cada um. Ele não concede talentos que não sejam necessários. Ainda que o talento seja pequeno, Deus para ele tem emprego, e se o usarmos com fidelidade, executará exatamente a obra para que o Senhor o destinou. Mesmo os talentos do humilde habitante de uma favela são necessitados no trabalho de casa em casa, e podem nessa atividade realizar mais que talentos brilhantes. T9 38 1 Mil portas de utilidade estão abertas perante nós. Lamentamos os escassos recursos disponíveis atualmente, enquanto nos oprimem várias e urgentes solicitações de meios e homens. Se fôssemos inteiramente fervorosos, imediatamente poderíamos centuplicar os recursos. O egoísmo e a complacência fecham o caminho. T9 38 2 Os membros da igreja devem fazer resplandecer a luz, fazer ouvir as vozes em humildes súplicas, em testemunho contra a intemperança, a loucura e os divertimentos deste mundo, e também na proclamação da verdade para este tempo. A voz, a influência e o tempo -- tudo isso são dons de Deus, e devem ser usados para salvar pessoas para Cristo. T9 38 3 Visite seus vizinhos e demonstre interesse pela salvação deles. Coloque em ação toda a sua energia espiritual. Diga àqueles a quem estiver visitando que se acha próximo às portas, o fim de todas as coisas. O Senhor Jesus Cristo abrirá a porta do coração deles, causando uma duradoura impressão em seu espírito. T9 38 4 Faça um esforço no sentido de despertar homens e mulheres de sua insensibilidade espiritual. Diga-lhes como encontrou a Jesus, e como você foi abençoado desde que se colocou ao Seu serviço. Conte-lhes sobre a felicidade de sentar-se aos pés de Jesus e aprender preciosas lições de Sua Palavra. Fale a eles da alegria, da satisfação que existe na vida cristã. Que suas palavras sejam calorosas, cheias de fervor, para que possam convencê-los de que você encontrou a pérola de grande preço. Suas palavras alegres e animadoras devem demonstrar que foi achada com certeza a estrada melhor. Isso é trabalho missionário genuíno, e se ele for realizado, muitos acordarão como de um sonho. T9 39 1 Mesmo enquanto se dedica à ocupação diária, pode o povo de Deus guiar outros para Cristo. E enquanto isso fizerem, terão a preciosa segurança de que o Salvador lhes está ao lado. Não precisam pensar que estão entregues aos seus próprios fracos esforços. Cristo lhes dará palavras para falar, que hão de refrigerar, animar e fortalecer as pessoas que estão lutando nas trevas. Sua própria fé será fortalecida ao reconhecerem que a promessa do Redentor está sendo cumprida. Não só serão eles uma bênção para outros, mas também a obra que fazem por Cristo trará bênçãos para eles próprios. T9 39 2 Muitos há que podem e devem fazer a obra de que falei. Meu irmão, minha irmã, o que estão fazendo por Cristo? Estão procurando ser uma bênção para outros? Estão seus lábios pronunciando palavras de bondade, simpatia e amor? Estão empregando esforços sinceros para ganhar outros para o Salvador? O resultado de deixar de trabalhar T9 39 3 Relativamente pouco trabalho missionário se faz, e qual é o resultado? -- As verdades que Cristo deu não são ensinadas. Muitos dentre o povo de Deus não estão crescendo em graça. Muitos estão com disposição de espírito desagradável e queixosa. Os que não estão ajudando outros a reconhecerem a importância da verdade para este tempo, têm que sentir-se insatisfeitos consigo mesmos. Satanás tira proveito desse aspecto de sua experiência e os leva a criticar e queixar-se. Se estivessem ativamente empenhados em procurar saber e cumprir a vontade de Deus, sentiriam tal interesse pelas pessoas a perecer, tal desassossego de espírito, que não poderiam ser impedidos de cumprir a comissão: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura." Marcos 16:15. Apelo em favor de esforço incansável T9 40 1 O Senhor convida Seu povo para despertar do sono. O fim de todas as coisas está às portas. Quando os que conhecem a verdade forem cooperadores de Deus, aparecerão os frutos da justiça. Pela revelação do amor de Deus no esforço missionário, muitos serão despertados e levados a reconhecer a malignidade de seu procedimento. Verão que no passado seu egoísmo os desqualificou para serem cooperadores de Deus. A exibição do amor de Deus que se vê no abnegado ministério em favor dos outros, será o meio de levar muitas pessoas a acreditar na Palavra de Deus tal qual ela é. T9 40 2 Deus deseja refrigerar Seu povo pelo dom do Espírito Santo, batizando-o de novo com Seu amor. Não há necessidade de haver escassez do Espírito na igreja. Depois da ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos, que com fé e oração O estavam esperando, e desceu com plenitude e poder tais que atingiu todos os corações. Futuramente a Terra há de ser iluminada com a glória de Deus. Santa influência há de irradiar para o mundo, procedente dos que são santificados pela verdade. A Terra há de ser circundada de uma atmosfera de graça. O Espírito Santo há de atuar em corações humanos, revelando aos homens as coisas de Deus. Famílias missionárias T9 40 3 Muito mais poderia ser feito por Cristo, se todos quantos possuem a luz da verdade vivessem segundo a verdade. Existem famílias cujos membros poderiam todos ser missionários, empenhando-se em trabalho pessoal, labutando pelo Mestre com mãos diligentes e cérebro ativo, imaginando novos métodos para o êxito de Sua obra. Existem homens e mulheres sinceros, prudentes, de coração afetuoso, que muito podem empreender para Cristo, caso se entreguem a Deus, aproximando-se dEle e buscando-O de todo o coração. T9 41 1 Irmãos e irmãs, assumam parte ativa na obra da salvação. Tal obra proverá vida e vigor mental, além de capacidade espiritual. A luz de Cristo irradiará na mente. O Salvador permanecerá no seu coração, e na Sua luz vocês verão a luz. T9 41 2 Consagrem-se inteiramente à obra de Deus. Ele é sua força, e estará à sua mão direita, ajudando-os a levar avante Seus misericordiosos desígnios. Os que estão ao seu redor devem ser atraídos mediante o trabalho pessoal. É necessário relacionar-se com eles. As pregações não farão o trabalho que necessita ser feito. Anjos de Deus os acompanharão às moradas daqueles a quem vocês forem visitar. Essa obra não pode ser feita por procuração. O dinheiro emprestado ou dado não a realiza. Sermões não a concluem. Visitando o povo, falando, orando e simpatizando com ele, estarão conquistando corações. É esse o mais elevado trabalho missionário que pode ser feito. Para isso, é preciso uma fé resoluta e perseverante, paciência inesgotável e um profundo amor pelas pessoas. T9 41 3 Procurem acesso às pessoas em cuja vizinhança vocês vivem. Ao lhes apresentar a verdade, utilizem palavras de simpatia cristã. Lembrem-se de que o Senhor Jesus é o Obreiro-Mestre por excelência. Ele rega a semente semeada. Põe em sua mente palavras que toquem os corações. Esperem que Deus susterá o obreiro consagrado e abnegado. Obediência, fé simples, confiança em Deus -- tais atitudes trarão paz e alegria. Trabalhem desinteressada, afetuosa e pacientemente por todos com quem entrarem em contato. Não manifestem impaciência. Não profiram alguma palavra indelicada. Que o amor de Cristo habite em seu coração, e a lei da bondade em seus lábios. T9 42 1 É um mistério que não haja centenas de pessoas trabalhando onde hoje vemos apenas uma. O universo celestial acha-se pasmo em face da apatia, da frieza, da indiferença daqueles que professam ser filhos e filhas de Deus. Existe na Verdade um poder vivo. É preciso avançar com fé e proclamar a verdade como quem nela crê. Que aqueles por quem vocês trabalham vejam que ela lhes é de fato uma viva realidade. Desenvolvimento através do serviço T9 42 2 Aqueles que devotam a existência a um ministério semelhante ao de Cristo, conhecem o que significa a verdadeira felicidade. Seus interesses e orações estendem-se muito além de si mesmos. Eles próprios crescem à medida que procuram ajudar a outros. Familiarizam-se com os planos mais amplos, as mais admiráveis empresas, e como não haverão de crescer, ao se colocarem como divinos condutos de luz e bênção? Esses recebem sabedoria do Céu. Identificam-se mais e mais com Cristo em todos os Seus planos. Não há margem para a estagnação espiritual. O egoísmo e a autocomplacência são repreendidos pelo contato freqüente com interesses amplos e aspirações elevadas, que se identificam com as atividades sagradas. ------------------------Capítulo 4 -- Necessidade de esforço fervoroso T9 43 1 No poder do Espírito devem os servos, escolhidos por Cristo, dar testemunho de seu Líder. O anelante anseio do Salvador pela salvação dos pecadores, deve assinalar-lhes todos os esforços. Por vozes humanas deve ser proclamado, e soar através do mundo, o gracioso convite feito primeiro por Cristo: "Quem quiser, tome de graça da água da vida." Apocalipse 22:17. A igreja deve dizer: "Vem." Todos os seus talentos devem estar empenhados ativamente ao lado de Cristo. Os seguidores de Cristo devem combinar-se num grande esforço por chamar a atenção do mundo para as profecias da Palavra de Deus, as quais se cumprem rapidamente. A incredulidade e o espiritismo estão se firmando no mundo. Hão de ficar agora frios e descrentes aqueles a quem foi concedida grande luz? T9 43 2 Estamos no limiar do tempo de angústia, e acham-se diante de nós perplexidades com que dificilmente sonhamos. Um poder de baixo está levando os homens a guerrear contra o Céu. Os seres humanos confederaram-se com agentes satânicos para anular a lei de Deus. Os habitantes do mundo rapidamente se vão tornando como os do tempo de Noé, que foram exterminados pelo dilúvio, e como os de Sodoma, que foram consumidos por fogo que caiu do céu. T9 43 3 Os poderes de Satanás estão a trabalhar para conservar o espírito dos homens alheio às realidades eternas. O inimigo dispôs as coisas de maneira que servissem aos seus propósitos. Atividades mundanas, esportes, as modas da época -- são coisas que ocupam o espírito de homens e mulheres. Diversões e leituras inúteis corrompem o discernimento. Na estrada larga que leva à ruína eterna anda um cortejo longo. O mundo, cheio de violência, festas e bebedice, está pervertendo a igreja. A lei de Deus, o divino padrão de justiça, é considerada de nenhum efeito. T9 44 1 Neste tempo -- tempo de alarmante iniqüidade -- uma nova vida, provinda da Fonte de toda a vida, deve tomar posse dos que têm no coração o amor de Deus, e devem eles sair a proclamar com poder a mensagem de um Salvador crucificado e ressurgido. Devem fazer esforços fervorosos, incansáveis, para salvar os perdidos. Seu exemplo deve ser de molde a exercer influência eficaz para o bem, naqueles que os rodeiam. Devem ter por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus nosso Senhor. T9 44 2 Intenso fervor deve agora tomar posse de nós. Nossas energias adormecidas devem ser despertadas e dedicadas a esforços incansáveis. Obreiros consagrados necessitam sair ao campo, preparando a estrada para o Rei, e alcançando vitórias em lugares novos. Meu irmão, minha irmã, porventura não tem para vocês significação alguma a circunstância de que todos os dias estão descendo à sepultura sem ser advertidas nem estar salvas, pessoas ignorantes da necessidade de vida eterna e da expiação que por elas fez o Salvador? Nada significa que em breve o mundo tenha que dar satisfações a Jeová por Sua lei violada? Anjos celestiais maravilham-se de que os que há tantos anos possuem a luz, não tenham ainda levado a tocha da verdade aos lugares escuros da Terra. T9 44 3 O infinito valor do sacrifício requerido para a nossa redenção revela que o pecado é um mal tremendo. Deus poderia haver apagado da criação essa mancha abominável, varrendo de sobre a face da Terra o pecador. Mas Ele "amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. Por que, então, não somos mais fervorosos? Por que está ocioso um tão grande número de pessoas? Por que não estão todos os que professam amar a Deus, procurando iluminar seus vizinhos e companheiros, para que não negligenciem por mais tempo tão grande salvação? Falta de simpatia T9 45 1 Entre os professos cristãos de hoje há tremenda falta de simpatia que deveria ser sentida pelas pessoas que devem ser salvas. A menos que nos pulse o coração em uníssono com o de Cristo, como podemos compreender a santidade e importância da obra para a qual somos chamados pelas palavras que mandam velar pelas pessoas "como aqueles que hão de dar conta delas"? Hebreus 13:17. Falamos em missões cristãs. Ouve-se o som de nossas vozes; sentimos, porém, os compassivos anelos do coração de Cristo pelas criaturas? T9 45 2 O Salvador era um obreiro incansável. Não media o trabalho por horas. Tempo, coração, energia, tudo Ele deu ao serviço em benefício da humanidade. Dias inteiros eram dedicados ao trabalho, e noites inteiras passadas em oração, a fim de ser fortalecido para enfrentar o astuto inimigo em todas as suas enganadoras atuações, e para realizar Sua obra de reerguimento e restauração da humanidade. T9 45 3 O homem que ama a Deus não mede o trabalho pelo sistema das oito horas. Trabalha em todo o tempo, e nunca se acha fora de seu posto de dever. Sempre que se lhe ofereça oportunidade, faz o bem. Em toda parte, em qualquer tempo e lugar, encontra ensejo de trabalhar para Deus. Onde quer que vá, leva consigo uma espécie de fragrância. Uma agradável atmosfera o rodeia. A beleza de sua vida bem-ordenada e consagrada maneira de falar inspira aos outros fé, esperança e coragem. T9 45 4 É de missionários de coração que se precisa. Esforços esporádicos pouco bem farão. Temos de atrair a atenção. Temos de ser profundamente fervorosos. T9 45 5 Mediante trabalho intensivo, em meio de oposição, perigo, perda e sofrimento humano, deve ser levada avante a obra da salvação. Em certa batalha, quando um dos regimentos das forças atacantes estava sendo repelido pelas hostes inimigas, o porta-bandeira permaneceu firme em campo, enquanto as forças recuavam. O comandante gritou-lhe para trazer de volta o pavilhão, mas sua resposta foi: "Traga os homens para junto da bandeira!" Este é o trabalho que se apresenta a todo porta-bandeira: congregar os homens em torno do estandarte. O Senhor nos convida à inteira consagração. Sabemos todos que o pecado de muitos professos cristãos consiste em faltar-lhes o ânimo e a energia para eles mesmos alcançarem a norma, e levar a fazer o mesmo os que se lhes acham ligados. T9 46 1 De todos os países soa o clamor macedônico: "Passa e ajuda-nos!" Atos dos Apóstolos 16:9. Deus tem aberto campos perante nós, e se os agentes humanos tão-somente cooperassem com os divinos, muitas, muitas pessoas seriam ganhas para a verdade. Mas o professo povo do Senhor tem estado a dormir junto ao trabalho que lhe foi designado, o qual em muitos lugares permanece relativamente intocado. Deus tem enviado mensagens após mensagens para despertar nosso povo a fim de fazer alguma coisa. Mas ao chamado: "A quem enviarei?" poucos têm respondido: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. T9 46 2 Quando a ignomínia da indolência e preguiça tiver sido afastada da igreja, o Espírito do Senhor Se manifestará graciosamente. Revelar-se-á o poder divino. A igreja verá a providencial atuação do Senhor dos Exércitos. A luz da verdade brilhará em raios claros, fortes, e, como no tempo dos apóstolos, muitos volverão do erro para a verdade. A Terra será iluminada com a glória do Senhor. T9 46 3 Os anjos celestiais têm esperado longamente que os agentes humanos -- os membros da igreja -- com eles cooperem na grande obra a ser feita. Eles continuam esperando por nós. Tão vasto é o campo, tão amplo o objetivo, que todo coração santificado será levado para o serviço, como instrumento do poder divino. T9 47 1 Ao mesmo tempo haverá um poder atuando de baixo. Enquanto os divinos agentes de misericórdia trabalham por meio de consagrados seres humanos, Satanás põe em atuação as suas forças, dominando a todos os que se submeterem ao seu controle. Haverá muitos senhores e diversos deuses. Ouvir-se-á o clamor: "Eis aqui o Cristo", e "Ei-Lo ali". Mateus 25:20. Por toda parte será vista a profunda conspiração de Satanás, com o propósito de distrair do dever presente a atenção de homens e mulheres. Haverá sinais e maravilhas. Mas os olhos da fé discernirão em todas essas manifestações prenúncios do grandioso e tremendo futuro, e dos triunfos que esperam o povo de Deus. T9 47 2 Trabalhemos, oh! trabalhemos, tendo em vista a eternidade! Tenhamos presente que todas as faculdades devem ser santificadas. Uma grande obra tem que ser feita. Saia de lábios sinceros a prece: "Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o Seu rosto sobre nós. Para que se conheça na Terra o Teu caminho, e em todas as nações a Tua salvação." Salmos 67:1, 2. T9 47 3 Os que reconhecem, em proporção limitada que seja, o que significa a redenção para si e para seus semelhantes, andarão pela fé, e compreenderão em certa medida as vastas necessidades da humanidade. Seu coração será movido de compaixão ao verem a grande miséria de nosso mundo -- a miséria das multidões que sofrem privações de alimento e roupa, e a miséria moral de milhares que se acham sob as sombras de uma terrível condenação, em comparação com a qual o sofrimento físico se reduz a nada. T9 48 1 Tenham presente os membros da igreja que o fato de se acharem os seus nomes nos livros da igreja não os salvará. Devem mostrar-se aprovados por Deus, obreiros que não têm de que se envergonhar. Dia a dia devem formar o seu caráter de acordo com as instruções de Cristo. Devem permanecer nEle, exercendo constantemente a fé em Cristo. Assim crescerão até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo -- cristãos sadios, animados e gratos, guiados por Deus para a luz cada vez mais clara. Se assim não for, achar-se-ão entre os que um dia proferirão a amarga lamentação: "Passou a sega, findou o verão, e não estou salvo! Jeremias 8:20. Por que não me refugiei na Fortaleza? Por que brinquei com o assunto da salvação e desprezei o Espírito da graça?" T9 48 2 "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito." Sofonias 1:14. Tenhamos calçados os pés com os sapatos do evangelho, prontos para marchar imediatamente à primeira ordem. Cada hora, cada minuto, é precioso. Não temos tempo para gastar com a satisfação dos nossos próprios desejos. Ao nosso redor há vidas que perecem em pecado. Cada dia há alguma coisa para fazer por nosso Senhor e Mestre. Cada dia devemos apontar aos perdidos o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. T9 48 3 "Por isso, estai vós apercebidos também, porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis." Mateus 24:44. Vamos nos recolher, à noite, tendo confessado cada pecado. Assim fazíamos quando, em 1844, esperávamos encontrar nosso Senhor. E agora esse evento está mais perto do que quando aceitamos a fé. Estejamos sempre prontos: à noite, de manhã e ao meio-dia, para que, quando se ouvir o clamor: "Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!" (Mateus 25:6), possamos, mesmo que tenhamos de ser despertados do sono, ir-Lhe ao encontro com as lâmpadas espevitadas e acesas. ------------------------Capítulo 5 -- "De graça recebestes, de graça dai" T9 49 1 A abnegação é um dos pontos fundamentais dos ensinamentos de Cristo. Muitas vezes ela é apresentada numa linguagem que parece autoritária, pois Deus vê que não existe outra forma de salvar o homem senão ao cortar de sua vida o egoísmo que, mantido, degradaria todo o ser. T9 49 2 Cristo Se tornou pobre para que pudéssemos nos tornar participantes do "peso eterno de glória mui excelente". 2 Coríntios 4:17. Devemos ter a mesma disposição para o sacrifício que O levou a oferecer-Se para a morte na cruz, tornando possível aos seres humanos obter a vida eterna. Em todo nosso consumo de recursos, devemos esforçar-nos por cumprir o desígnio dAquele que é o Alfa e Ômega de todo esforço cristão. T9 49 3 Devemos depositar no tesouro do Senhor todo dinheiro que possamos economizar. Campos necessitados e ainda não penetrados suplicam por esses recursos. De muitas terras ouve-se o clamor: "Passa... e ajuda-nos!" Atos dos Apóstolos 16:9. T9 49 4 Os membros de nossa igreja devem experimentar profundo interesse nas missões locais e estrangeiras. Grandes bênçãos lhes advêm de fazer abnegados esforços para firmar a bandeira da verdade em novos territórios. O dinheiro empregado nessa obra há de produzir grandes resultados. Novos conversos, regozijando-se na luz recebida por intermédio da Palavra, hão de por sua vez, oferecer de seus meios para levar a luz da verdade a outros. A benevolência divina T9 49 5 Deus nos dá regular, graciosa e abundantemente. Cada bênção terrestre provém de Sua mão. O que ocorreria se o Senhor deixasse de outorgar Seus dons a nós? Quanto clamor de desgraça, sofrimento e necessidade subiria da Terra! Necessitamos diariamente do infalível fluxo da bondade de Jeová! T9 50 1 Este mundo foi estabelecido e é sustentado pelo compassivo amor do Criador. É Deus quem outorga tudo aquilo que possuímos. Requer que Lhe devolvamos uma porção do que abundantemente nos tem concedido. Pense no cuidado que tem dispensado à Terra, enviando chuva e luz solar no devido tempo, fazendo com que a vegetação cresça. Derrama Suas bênçãos sobre justos e injustos. Não deveriam os que recebem Seus favores demonstrar gratidão, oferecendo de seus meios para o auxílio da humanidade sofredora? T9 50 2 Muitas pessoas devem ser confrontadas com o salvador conhecimento da verdade. O pródigo encontra-se distante do lar do Pai, perecendo faminto. Deve ele constituir o alvo de nossa compaixão. Você perguntaria: "De que modo considera Deus os que se encontram perecendo em pecados?" Indico-lhe o Calvário. Deus "deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê, não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Pense no maravilhoso amor do Salvador. Quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu para salvar-nos da morte eterna. Em resposta ao grande amor com que Cristo nos amou, devemos trazer-Lhe a nossa oferta de gratidão. Devemos oferecer o nosso próprio ser. Nosso tempo, talentos e recursos devem fluir para o mundo, numa corrente de amor em benefício da salvação do perdido. Jesus tornou possível que você aceitasse o Seu amor, e que em alegre cooperação trabalhasse sob a Sua fragrante influência. Requer que você utilize suas posses em serviço desinteressado, para que o Seu plano de salvação possa ser levado avante com poder. Ele espera que você dedique integralmente suas energias ao Seu trabalho. T9 51 1 Deseja você tornar segura sua propriedade? Coloque-a na mão que traz os sinais dos cravos da crucifixão. Se retiver a propriedade, ela servirá para sua perda eterna. Dedique-a a Deus, e desse momento em diante ela terá Sua inscrição. Está selada com a Sua imutabilidade. Quer desfrutar seus bens? Use-os, então, de modo que sejam uma bênção para o sofredor. O mundo necessita de auxílio T9 51 2 A grandeza de nosso trabalho requer generosa liberalidade por parte do povo de Deus. Na África, na China e na Índia existem milhares, sim, milhões, que jamais ouviram a mensagem da verdade para este tempo. Precisam ser advertidos. As ilhas do mar estão esperando pelo conhecimento de Deus. Nessas ilhas devem ser estabelecidas escolas a fim de preparar alunos para cursos de nível mais elevado, onde possam receber preparo e voltar para suas terras de origem, a fim de repartir com outros a luz que receberam. T9 51 3 Mesmo em nosso país há muito para ser feito. Muitas cidades ainda estão por ser penetradas e advertidas. Os evangelistas deveriam estar buscando o caminho em todos os lugares em que a mente dos homens está sendo agitada com a questão da legislação dominical e o ensino de religião em escolas públicas. É a negligência dos adventistas do sétimo dia em aperfeiçoar essas oportunidades o que está retardando o avanço da causa. T9 51 4 Deus nos fez Seus mordomos. Colocou Seus bens em nossas mãos para serem fielmente distribuídos. Pede-nos que devolvamos a Ele o que Lhe pertence. Reservou o dízimo como Sua porção sagrada, a fim de ser utilizado para o envio da mensagem do evangelho a todas as partes do mundo. Irmãos e irmãs, confessem seu egoísmo e abandonem-no, trazendo ao Senhor suas dádivas e ofertas. Tragam também a Ele o dízimo retido. Venham e confessem sua negligência. Provem ao Senhor, conforme Ele desafia vocês a fazer. "E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos." Malaquias 3:11. Egoísmo impede a obra de Deus T9 52 1 Foram-me dadas instruções de que ocorre uma retenção do dízimo que deveria ser fielmente trazido ao tesouro do Senhor para o sustento dos ministros e missionários que estão abrindo as Escrituras diante do povo, e trabalhando de casa em casa. A obra de evangelização do mundo tem sido grandemente atrasada pelo egoísmo pessoal. Alguns, mesmo entre professos cristãos, são incapazes de perceber que a obra do evangelho deve ser sustentada pelos meios que Cristo lhes outorgou. O dinheiro é necessário para que o trabalho desenvolvido em todas as partes do mundo seja levado avante. Milhares de milhares estão perecendo no pecado, e a falta de meios está atrapalhando a proclamação da verdade que está sendo levada a todas as nações, tribos, línguas e povos. Existem homens dispostos a ir avante como mensageiros do Senhor, mas em virtude da escassez de recursos na tesouraria, eles não podem ser enviados aos lugares em que o povo está clamando por alguém que venha e lhe ensine a verdade. T9 52 2 Muitos existem no mundo que almejam escutar a palavra da vida. Como, porém, ouvirão sem que haja um pregador? E como poderão sobreviver os que forem enviados, se não tiverem sustento? Deus quer que a vida de Seus obreiros seja cuidadosamente sustentada. Eles constituem Sua propriedade, e Ele é desonrado quando são compelidos a labutar de uma forma que lhes prejudica a saúde. Ele também é desonrado quando, por falta de meios, os obreiros não podem ser enviados aos campos mais necessitados. T9 53 1 Em vez de ficar reclamando com os oficiais da Associação Geral porque não respondem aos múltiplos apelos em favor de homens e de meios, sejam nossos membros da igreja portadores de um testemunho vivo do poder da verdade, ao negarem o eu e ao oferecerem liberalmente para o avanço da causa. Que nossas irmãs economizem ao se recusarem a aplicar custosos adornos em seu vestuário. Que todos os gastos desnecessários sejam cortados. Que cada família traga seus dízimos e ofertas ao Senhor. Colaboradores de Deus T9 53 2 Os que se encontram genuinamente convertidos considerar-se-ão como colaboradores de Deus e contribuirão para o avançamento da obra com os meios que Ele colocou em suas mãos. Se as palavras de Cristo forem atendidas, existirão em Sua tesouraria meios suficientes para suprir as necessidades de Sua causa. Ele confiou a homens e mulheres grande abundância de recursos para ser levado avante Seu plano de misericórdia e benevolência. Deus suplica que Seus mordomos, possuidores de recursos, invistam seu dinheiro na obra de alimentar os famintos, vestir os nus, e na pregação do evangelho aos pobres. A perfeição de caráter não poderá ser obtida sem o sacrifício do eu. T9 53 3 Jamais existiu um tempo mais importante na história de nossa obra do que o presente momento. A mensagem do terceiro capítulo de Malaquias vem a nós, apresentando-nos a necessidade de relacionamento honesto de nossa parte para com o Senhor e Sua obra. Meus irmãos, o dinheiro que vocês têm utilizado para comprar, vender e obter ganhos, será uma maldição se vocês deixarem de dar ao Senhor o que Lhe pertence. Os meios que foram confiados a vocês para o avanço do Senhor, devem ser utilizados para o envio do evangelho a todas as partes do mundo. Somos testemunhas de Cristo, e não devemos permitir que T9 54 4 os interesses e planos do mundo absorvam nosso tempo e atenção. Existem interesses mais elevados em jogo. "Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça." Mateus 6:33. Cristo ofereceu-Se alegre e voluntariamente a fim de executar a vontade de Deus. Tornou-Se obediente até à morte, e morte de cruz. Em vista de tudo que Ele fez, deveríamos nós considerar como sendo difícil renunciar ao eu? Retrocederemos da posição de participantes dos sofrimentos de Cristo? Sua morte deveria despertar cada fibra de nosso ser, levando-nos a voluntariamente consagrarmos a Sua obra tudo que temos e somos. Quando pensamos em tudo que Ele realizou por nós, deveria nosso coração encher-se de gratidão e amor, levando-nos à renúncia de todo egoísmo. Que tarefa poderia o coração recusar-se a desempenhar, sob a constrangedora influência do amor de Cristo? T9 54 1 Não dedicaremos nós, através do sacrifício próprio, tudo que pudermos ao avanço do divino projeto de misericórdia? Seremos capazes de contemplar a divina condescendência, os sofrimentos suportados pelo Filho de Deus, sem nos enchermos do desejo de oferecer algo em sacrifício para Ele? Não é porventura uma grande honra sermos considerados dignos de cooperar com Ele? Ele deixou Seu lar celestial para vir procurar-nos. Não nos tornaremos os Seus subpastores, em busca da perdida e extraviada? Não revelaremos em nossa vida Sua divina ternura e compaixão? T9 54 2 O Senhor deseja que Seu povo se preocupe e cuide dos demais. Quer que seja praticada economia em todas as coisas. Se os obreiros, nos campos missionários, dispuserem dos meios que estão sendo aplicados em custoso mobiliário e adornos pessoais, os triunfos da cruz de Cristo serão grandemente ampliados. T9 54 3 Nem todos podem dar grandes ofertas, nem todos podem realizar grandes obras, magníficas proezas; mas todos podem praticar abnegação, podem revelar o altruísmo do Salvador. Alguns podem fazer grandes doações ao tesouro do Senhor; outros só podem trazer pequenas dádivas; mas todo donativo trazido com sinceridade é aceito pelo Senhor. T9 55 1 Suplicamos pelos meios que estão sendo gastos em coisas desnecessárias. Irmãos e irmãs, não desperdicem dinheiro na compra de coisas desnecessárias. Podem pensar que pequenas quantias não signifiquem tanto, mas muitas coisas pequenas formam um grande todo. Suprimam todo o gasto extravagante. Não condescendam com coisa alguma que seja apenas para ostentação. Seu dinheiro significa a salvação de outras pessoas. Que haja da parte de todos um sistemático ofertar. Alguns estão impossibilitados de dar uma grande soma, mas todos podem pôr de lado, semanalmente, alguma coisa para o Mestre. Que as crianças façam sua parte. Que os pais ensinem os filhos a economizar seu dinheiro para os dar ao Senhor. O ministério evangélico é para ser sustentado com abnegação e sacrifício. Por intermédio dos esforços de abnegação do povo de Deus, outros serão levados à fé, e esses por sua vez ajudarão a aumentar as ofertas apresentadas em favor do avanço da obra do Senhor. T9 55 2 Inconfundíveis evidências indicam a proximidade do fim. O caminho precisa ser preparado para a vinda do Príncipe da Paz. Que os membros de nossas igrejas não se queixem por serem com tanta frequência solicitados a contribuir. O que torna necessário freqüentes apelos? Não é o rápido desenvolvimento dos empreendimentos missionários? Haveremos nós de retardar, pela recusa em darmos, o avanço desses empreendimentos? Esqueceremos que somos cooperadores de Deus? De cada igreja devem subir a Deus orações pelo aumento de devoção e liberalidade. Irmãos e irmãs, não peçamos a diminuição da obra evangelística. Enquanto houver pessoas para ser salvas, nosso interesse nesta obra não deve conhecer abatimento. A igreja não pode encurtar sua tarefa sem negar o seu Mestre. Nem todos podem ir aos campos estrangeiros como missionários, mas todos podem dar de seus meios para o progresso das missões estrangeiras. T9 56 1 Existem novos campos a serem penetrados, e necessitamos da sua ajuda. Ignoraremos a missão a nós concedida, desprezando assim o cumprimento da promessa que acompanha a comissão? Haverá de o povo de Deus tornar-se descuidado e indiferente, recusando-se a oferecer Seus meios para o avanço de Sua obra? Serão eles capazes de fazer isso sem romper sua ligação com Ele? Podem pensar que estão economizando, mas essa será uma maldita economia, pois os colocará na posição de separados de Deus. T9 56 2 Irmãos e irmãs, é demasiado tarde para dedicar o tempo e a energia para servir a si mesmo. Que o último dia não nos encontre destituídos do tesouro celestial. Procuremos promover os triunfos da cruz, iluminar as pessoas, trabalhar pela salvação dos semelhantes, e nossa obra resistirá à penosa prova do fogo. T9 56 3 Todo genuíno e abnegado obreiro de Deus desejará gastar seus recursos e a si próprio em favor dos outros. Cristo diz: "Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna." João 12:25. Mediante esforços fervorosos, solícitos, para ajudar onde houver necessidade de auxílio, o verdadeiro cristão mostra seu amor por Deus e por seus semelhantes. Poderá perder a vida no serviço; mas quando Cristo vier buscar para Si as Suas jóias, ele a tornará a achar. T9 56 4 Irmãos e irmãs, não gastem grandes quantidades de tempo e dinheiro com o eu, em favor de suas aparências. Os que assim fazem, vêem-se obrigados a deixar de realizar muitas coisas que os ajudaria a confortar outros, lançando uma alegre luz em torno dos que vivem sobrecarregados. Todos necessitamos aprender a aproveitar fielmente as oportunidades que tantas vezes se nos apresentam de levarmos luz e esperança à vida de outros. Como poderemos aproveitar essas oportunidades se nossos pensamentos estiverem centralizados em nós mesmos? Aquele que acaricia o eu perde incontáveis chances de colocar em prática o que traria bênção a si mesmo e a outros. É dever do servo de Cristo, sob quaisquer circunstâncias, perguntar-Lhe: "O que posso fazer para ajudar a outros?" Havendo realizado o seu melhor, deve ele deixar as conseqüências com Deus. T9 57 1 Deus proveu para cada qual prazeres que podem ser desfrutados por pobres e ricos igualmente: o prazer que se encontra em cultivar a pureza de pensamentos e a ação abnegada, o prazer que provém de falar palavras de simpatia e praticar atos de bondade. Dos que executam esse serviço, irradia a luz de Cristo para iluminar vidas obscurecidas por muitas mágoas. T9 57 2 Poderá sobrevir a tentação de investir em terras. Talvez seus filhos insistam nessa direção. Será que vocês não conseguiriam realizar algo melhor? Porventura não foi o dinheiro confiado a vocês para ser aplicado com sabedoria, sem ser destinado à usura, de modo que quando o Senhor voltar, possa Ele encontrar os talentos rendendo em dobro? Não conseguem vocês perceber que Ele deseja que utilizem seus meios ajudando a construir locais de culto e a estabelecer instituições de saúde? T9 57 3 Chegou o momento de termos mais estima pelas pessoas do que pelo dinheiro. Se descobrirem um trabalho mais importante neste mundo que a obra da salvação, uma atividade que trará melhores resultados pelo investimento de recursos, não nos informarão vocês a respeito dessa oportunidade, para que possamos aproveitá-la? T9 57 4 Temo que muitos dentre nosso povo não compreendam a importância da obra de Deus. Uma pessoa a quem escrevi solicitando dinheiro, respondeu da seguinte forma: "Recebi sua carta pedindo algum dinheiro. Havia, entretanto, um pedaço de terra que meus filhos me aconselharam a comprar, de modo que apliquei nele o dinheiro que economizara." Quão melhor haveria sido se esse irmão investisse seu dinheiro no estabelecimento de clínicas, através das quais se poderia apresentar o testemunho da verdade para o tempo atual, ou em escolas, as quais trariam a nossos jovens a melhor das influências e onde poderiam ser preparados a fim de se tornar missionários para Deus. T9 58 1 Irmãos e irmãs, invistam seus recursos no estabelecimento de missões cristãs, a partir das quais a luz da verdade brilhará, conduzindo as pessoas a Cristo. Uma pessoa, verdadeiramente convertida, ao se tornar missionária para Deus, ganhará outras para o Salvador. T9 58 2 Foi Deus quem formulou os planos para o avançamento de Sua obra, e Ele proveu a Seu povo mais meios do que o necessário a fim de que, quando Ele solicitar auxílio, possam atender, dizendo: "Senhor, a Tua mina rendeu dez minas." Lucas 19:16. T9 58 3 Se aqueles a quem o dinheiro de Deus foi confiado forem fiéis em trazer à tesouraria do Senhor os meios a eles emprestados, Seu trabalho experimentará rápido avanço. Muitas pessoas serão trazidas à causa da verdade, e apressar-se-á o dia da vinda de Cristo. Homens e mulheres serão colocados sob a influência de obreiros dedicados, verdadeiros e sinceros, que laboram em favor do próximo como que havendo de prestar conta por todos. Os que forem batizados com a medida do espírito apostólico serão constrangidos a se tornar missionários de Deus. Se se demonstrarem genuínos e firmes na fé, se não trocarem o Senhor pelos ganhos terrenos antes reconhecerem a divina supremacia e superintendência, Deus preparará o caminho diante deles e grandemente os abençoará. Ele os ajudará a representar Sua bondade, amor e misericórdia. E a glória do Senhor será a sua retaguarda. Ocorrerá júbilo nas cortes celestiais, ao mesmo tempo que gozo puro e celestial encherá o coração dos obreiros. A fim de salvar os que perecem, estarão dispostos a gastar e deixarem-se gastar, e seu coração se tornará repleto de amor e ações de graças. A consciência da presença de Deus purificará e enobrecerá a sua experiência, enriquecendo-os e fortalecendo-os. A graça do Céu será revelada em suas obras, nas conquistas obtidas em termos de pessoas ganhas para Cristo. T9 59 1 Assim deve ser levada avante a obra de Deus em nosso mundo. Mordomos fiéis devem colocar o dinheiro do Senhor em Seu tesouro, de modo que obreiros possam ser enviados a todas as partes do mundo. A igreja aqui da Terra deve servir a Deus com abnegação e sacrifício. Assim a obra será levada avante, e serão obtidos os mais gloriosos triunfos. T9 59 2 Foi o amor pelos perdidos que conduziu Cristo ao Calvário. E esse amor deve levar-nos à abnegação e ao sacrifício, para a salvação dos que estão perdidos. Ao devolverem os seguidores de Cristo seus bens ao Senhor, estarão ajuntando tesouros em cuja posse entrarão quando ouvirem as palavras: "Bem está, servo bom e fiel. ...entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21. "Pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus." Hebreus 12:2. A alegria de ver pessoas eternamente salvas será a recompensa de todos os que seguem as pegadas do Redentor. T9 59 3 "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Romanos 8:32. T9 59 4 Foi um custoso sacrifício aquele empreendido pelo Senhor dos Céus. A divina benevolência foi revelada em sua infinita profundidade; a Deus teria sido impossível oferecer mais. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Por que é a nossa gratidão tão limitada? Trata-se apenas de um roçar da superfície, quando comparada com a grande torrente de amor que flui do Pai para nós. T9 60 1 Os sinais indicadores da breve segunda vinda de Cristo estão-se cumprindo rapidamente. Será o povo deixado em ignorância acerca dos grandes eventos que estão à frente, tendo assim de enfrentar despreparados aquele terrível dia? Os céus apresentaram uma oferta completa em favor da salvação do mundo. Porventura aqueles que professam amar a Deus e guardar Seus mandamentos, serão indiferentes para com a salvação dos perdidos? Não, não! Isso jamais deve acontecer! T9 60 2 Com incansável zelo devem aqueles que receberam a luz da verdade presente ir adiante, conduzindo essa luz aos que se encontram em trevas. Mediante esforços consagrados, por meio de abnegação e desprendimento, eles devem trabalhar na força do Deus de Israel. Esta mensagem devem ser levada a países estrangeiros; deve ser apresentada às cidades e vilas de nosso próprio país. Os cansados e oprimidos almejam a mensagem da verdade que lhes outorgará repouso e paz em Cristo. Quem levará a mensagem aos que jamais a ouviram? Quem buscará o gozo e a glória de Deus ao conduzir pecadores aos pés dAquele que ofereceu Sua vida em sacrifício por todos nós? Quem apresentará o Salvador diante dos homens, como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"? João 1:29. T9 60 3 "O Senhor deu a palavra; grande era o exército dos que anunciavam as boas-novas." Salmos 68:11. ------------------------Capítulo 6 -- Nossas publicações T9 61 1 A grande e maravilhosa obra da última mensagem angélica deve ser levada avante agora como nunca dantes. O mundo deve receber a luz da verdade por meio do ministério evangelizador da Palavra em nossos livros e periódicos. Nossas publicações devem mostrar que o fim de todas as coisas está às portas. Pede-se-me que diga a nossas casas editoras: "Ergam o estandarte. Ergam-no mais alto. Proclamem a terceira mensagem angélica, a fim de que ela seja ouvida por todo o mundo. Façam ver que 'aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus'. Apocalipse 14:12. Que a nossa literatura proclame a mensagem, como um testemunho para todo o mundo." T9 61 2 Nossos obreiros devem agora ser animados a dar a sua primeira atenção a livros que tratem das evidências de nossa fé -- livros que ensinem as doutrinas da Bíblia e preparem o povo que há de ficar em pé nos tempos difíceis que estão diante de nós. Havendo levado o povo à luz da verdade por meio de instruções bíblicas, acompanhadas de oração, e mediante o emprego sábio de nossas publicações, devemos ensiná-los a tornar-se obreiros na palavra e na doutrina. Devemos animá-los a espalhar os livros que tratam de assuntos bíblicos -- livros cujos ensinamentos preparam o povo para resistir à prova, tendo cingidos os lombos com a verdade, e acesas as lâmpadas. T9 61 3 Temos estado por assim dizer a dormir, relativamente à obra que pode ser efetuada pela circulação da literatura bem preparada. Preguemos agora, pelo uso sábio de periódicos e livros, com resoluta energia a Palavra a fim de que o mundo compreenda a mensagem que Cristo deu a João na Ilha de Patmos. Testifique todo ser humano que professa o nome de Cristo: "O fim de todas as coisas está às portas; prepara-te para te encontrares com o teu Deus." T9 62 1 Nossas publicações devem ir a toda parte. Sejam elas editadas em muitas línguas. A terceira mensagem angélica deve ser proclamada por esse meio e pelo ensinador vivo. Os que crêem na verdade para este tempo, devem despertar! É seu dever recolher agora todos os recursos possíveis, para ajudar os que compreendem a verdade, a proclamá-la. Parte do dinheiro que provém da venda de nossas publicações deve ser empregada para aumentar nossas instalações para a produção de mais literatura que abra olhos cegos e lavre o terreno baldio do coração. T9 62 2 Há o perigo de supervalorizar o aspecto comercial e tornar-se tão absorto em negócios mundanos que as verdades da Palavra de Deus em sua pureza e poder não sejam praticadas na vida. O amor ao negócio e ao ganho está se tornando cada vez mais predominante. Que os irmãos sejam de fato convertidos. Se já houve tempo em que precisássemos compreender nossa responsabilidade, é agora esse tempo, quando a verdade anda tropeçando pelas ruas e a eqüidade não pode entrar. Satanás desceu com grande poder, para atuar com todo o engano da injustiça para os que perecem; e tudo que pode ser abalado sê-lo-á, e as coisas que não podem ser abaladas permanecerão. O Senhor virá muito logo, e estamos no limiar das cenas de calamidade. Agentes satânicos, embora invisíveis, estão a atuar para destruir vidas humanas. Mas se nossa vida se acha escondida com Cristo em Deus, veremos Sua graça e salvação. Cristo virá para estabelecer Seu reino na Terra. Seja santificada a nossa língua, e empregada para glorificá-Lo. Trabalhemos agora como nunca antes. Somos exortados a instar "a tempo e fora de tempo". 2 Timóteo 4:2. Devemos abrir caminho para a apresentação da verdade. Devemos aproveitar cada oportunidade de atrair as pessoas para Cristo. T9 63 1 Como um povo devemos nos converter, e nossa vida ser santificada para declarar a verdade tal como é em Jesus. Na obra de disseminar nossas publicações, podemos, com coração afetuoso e palpitante, falar do amor de um Salvador. Deus, unicamente, tem poder para perdoar pecados; se não transmitirmos essa mensagem aos não-convertidos, nossa negligência poderá ser a ruína deles. Que sejam publicadas em nossas revistas as benditas verdades bíblicas, capazes de salvar vidas. Muitos há que podem auxiliar no trabalho de vender as revistas. O Senhor nos chama a todos para procurarmos salvar os que estão perecendo. Satanás está atuando a fim de enganar até os escolhidos, e agora é o momento de trabalharmos atentamente. Nossos livros e revistas têm que ser postos em evidência perante o povo; o evangelho da verdade presente deve ser proclamado sem demora em nossas cidades. Não despertaremos para o cumprimento de nossos deveres? T9 63 2 Se fizermos da vida e ensinos de Cristo nosso estudo, cada acontecimento que se desenrola fornecerá um texto para um forte discurso. Era assim que o Salvador pregava o evangelho nos caminhos e valados; e ao falar Ele, o pequeno grupo que O escutava avolumava-se, transformando-se em grande multidão. Os evangelistas de hoje devem ser coobreiros de Cristo. Tão certamente como os primeiros discípulos, têm eles a garantia: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:18-20. T9 64 1 A obra que deve ser efetuada pelo povo de Deus acha-se declarada nas palavras inspiradas: "Eis que Eu envio o Meu anjo ante a Tua face, o qual preparará o caminho diante de Ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitei as Suas veredas." Marcos 1:2, 3. "Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho; o Meu Eleito, em quem Se compraz a Minha alma; pus o Meu Espírito sobre Ele; juízo produzirá entre os gentios. ... Não faltará nem será quebrantado, até que ponha na Terra o juízo; e as ilhas aguardarão a Sua doutrina." Isaías 42:1-4. T9 64 2 Deus convida todos os homens a estudar mais plenamente os reclamos de Sua lei. Sua Palavra é sagrada e infinita. A causa da verdade deve prosseguir como uma lâmpada acesa. O fervoroso estudo da Palavra de Deus revelará a verdade. Pecado e erro não serão mantidos, mas a lei de Deus será vindicada. "Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a Terra, e a tudo quanto produz; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela. Eu o Senhor te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por concerto do povo, e para luz dos gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas." Isaías 42:5-7. Os cristãos devem buscar sua luz na Palavra de Deus e, então, com fé, sair para proporcionar essa luz aos que estão em trevas. ------------------------Capítulo 7 -- Disseminando as publicações T9 65 1 Na noite de 2 de Março de 1907, muitas coisas me foram reveladas, concernentes ao valor das nossas publicações acerca da verdade presente, e ao pouco esforço que fazem os nossos irmãos e irmãs nas igrejas para assegurar-lhes ampla disseminação. T9 65 2 Foi-me mostrado em várias ocasiões que os nossos prelos deveriam estar continuamente ocupados em publicar a luz e a verdade. Este é tempo de trevas espirituais nas igrejas do mundo. A ignorância das coisas divinas encobriu da vista dos homens, a Deus e a verdade. As forças do mal estão ganhando força. Satanás promete aos seus coobreiros fazer um trabalho que cativará o mundo. Ao passo que a atividade da igreja é apenas parcial, Satanás e suas legiões exercem atividade intensa. As professas igrejas cristãs não estão convertendo o mundo; pois elas próprias estão corrompidas pelo egoísmo e orgulho, e necessitadas de experimentar em si mesmas o poder regenerador de Deus, antes de poderem guiar outros a uma norma mais pura e elevada. Ocorrência animadora T9 65 3 Passei a tarde de 2 de Março em conselho com o irmão e irmã S. N. Haskell, tratando da obra em Oakland e do seu plano de irem para costa Leste passar algum tempo em South Lancaster. Depois dessa visita, senti-me cansada e fui deitar-me cedo. Eu estava sofrendo de reumatismo no lado esquerdo, e não podia repousar devido à dor. Dava voltas na cama, em busca de alívio para o sofrimento. Sentia no coração uma dor que nada de bom me augurava. Por fim, adormeci. T9 65 4 Por volta das nove e meia da noite, procurei virar-me e, ao fazê-lo, percebi que não sofria mais dor alguma. Ao dar voltas de um para outro lado, e mexer as mãos, sentia extraordinária liberdade e leveza que não posso descrever. O quarto estava inundado de luz, uma luz maravilhosa, suave e azulada, e me parecia estar nos braços de seres celestiais. T9 66 1 Eu tinha desfrutado anteriormente essa luz singular, em momentos de bênção especial, mas nessa vez ela era mais distinta, mais impressionante, e senti tanta paz, uma paz tão plena e abundante que não há palavras para descrevê-la. Sentei-me e vi que estava circundada de uma nuvem brilhante, branca como neve, e de bordos cor rosa forte. Enchia o ar uma música harmoniosa e suave, na qual reconheci o cântico dos anjos. Falou-me, então, uma voz, dizendo: "Não temas; Eu sou o teu Salvador. Santos anjos te rodeiam." T9 66 2 "Estou, então, no Céu", disse eu, "e posso agora descansar. Não terei mais mensagens para transmitir, nem terei que suportar que sejam mal-interpretadas. Tudo me será fácil agora, e desfrutarei paz e descanso. Oh! que paz inefável me enche a alma! É aqui verdadeiramente o Céu? Sou deveras filha de Deus? E desfrutarei para sempre esta paz?" T9 66 3 A Voz respondeu: "O teu trabalho não está acabado." T9 66 4 Tornei a adormecer e, ao acordar, ouvi música e quis cantar. Passou, então, alguém pela minha porta, e eu me perguntava se teria visto a luz. Depois de algum tempo a luz desapareceu, mas ficou a paz. T9 66 5 Passado algum tempo tornei a dormir. Dessa vez me pareceu estar numa reunião de comissão, onde estava sendo estudada a nossa obra de publicações. Estavam presentes vários irmãos nossos, líderes da obra, e o Pastor Haskell e sua esposa, deliberando com os demais irmãos acerca da disseminação dos nossos livros, folhetos e revistas. T9 67 1 O Pastor Haskell apresentou fortes argumentos pelos quais os nossos livros que contêm o conhecimento que foi comunicado à irmã White -- livros que contêm a mensagem especial que deve ser dada ao mundo presentemente -- devem ter ampla disseminação. Disse ele: "Por que não aprecia o nosso povo e não dissemina com maior profusão livros que são divinamente aprovados? Por que não se dedica especial atenção aos livros que contêm advertências sobre a obra de Satanás? Por que não nos esforçamos mais para disseminar os livros que mostram como Satanás se empenha em contrafazer a obra de Deus, e não lhe desvendamos os planos e enganos? Os males morais desses enganos devem ser desfeitos, abrindo-se os olhos das pessoas a fim de que percebam a situação e os perigos de nossa época, e façam esforços diligentes para apegarem-se a Cristo e à Sua justiça." T9 67 2 Estava em nosso meio um mensageiro celestial, o qual proferiu palavras de advertência e instrução. Fez-nos compreender com clareza que o evangelho do reino é a mensagem por cuja falta o mundo perece, e que esta mensagem, contida em nossas publicações já editadas e nas que ainda virão a ser lançadas, deveria ser espalhada entre o povo de perto e de longe. Perigos do estudo especulativo T9 67 3 A luz da verdade, que Deus designa que seja levada ao povo do mundo neste tempo, não é aquela que os homens letrados do mundo procuram comunicar, pois esses homens, em suas pesquisas muitas vezes chegam a conclusões erradas, e em seu estudo de muitos autores, tornam-se entusiasmados com teorias que são de origem satânica. Satanás, trajando as vestes de um anjo de luz, apresenta ao estudo da mente humana assuntos que parecem muito interessantes e são repletos de mistério científico. No estudo desses assuntos, os homens são levados a aceitar conclusões errôneas e a unir-se a espíritos sedutores na obra de propor novas teorias que afastam da verdade. T9 68 1 Existe o perigo de que os falsos sentimentos expressos nos livros que eles têm estado a ler, sejam por vezes entretecidos por nossos missionários, professores e editores com os seus argumentos, sermões e publicações, sob a crença de que são os mesmos princípios ensinados pelo Espírito da verdade. O livro Living Temple [O Templo Vivo] é uma ilustração desse tipo de trabalho, cujo autor declarou em apoio ao mesmo, que seus ensinos eram os mesmos encontrados nos escritos da Sra. White. Repetidamente seremos chamados a enfrentar a influência de homens que estão estudando ciências de origem satânica, por meio das quais Satanás está atuando a fim de negar o caráter pessoal de Deus e Cristo. T9 68 2 O Pai e o Filho têm ambos personalidade. Cristo declarou: "Eu e o Pai somos um." João 10:30. Todavia, foi o Filho de Deus que veio ao mundo em forma humana. Pondo de lado Suas vestes e coroa reais, revestiu da humanidade a Sua divindade, a fim de que as pessoas, mediante o infinito sacrifício por Ele feito, pudessem tornar-se participantes da natureza divina, e escapar à corrupção que pela concupiscência há no mundo. T9 68 3 Cristo foi tentado em todos os pontos, como o é o homem, mas em momento algum apresentou contra o tentador uma acusação injuriosa. Diante de cada tentação, apresentou a palavra do Senhor. "Está escrito" (Mateus 4:4) era a Sua infalível arma. Como representantes de Cristo devemos enfrentar cada ataque do inimigo com a palavra do Deus vivo. Jamais nos deveríamos permitir seguir a trilha da serpente, utilizando seus argumentos científicos. Satanás jamais conseguirá vantagem sobre o filho de Deus que repousa sobre a Sua palavra ao defender-se. T9 69 1 Nosso Conselheiro causou profunda impressão em nossa mente no sentido de que o povo guardador dos mandamentos deve ser santificado por meio da verdade, e que a essa verdade deve sempre ser concedido o mais destacado lugar. Não devemos olvidar que Satanás ainda vive e exerce seu poder enganador através da falsamente chamada ciência. T9 69 2 Cristo era a Majestade do Céu, o Príncipe da vida; ainda assim humilhou-Se como homem, tornando-Se obediente a cada um dos mandamentos da lei de Deus. Passou pelo terreno que cada homem que toma sobre si o Seu nome precisa passar, saindo de Sua grande prova puro e incontaminado pelo pecado. Foi nosso exemplo em todas as coisas. T9 69 3 O primeiro advento de Cristo e Sua vida de ministério não são estudados como deveriam ser. Sua vida foi de abnegação, na qual foi expressa a verdade em todas as suas nobres qualidades. Viveu para abençoar a humanidade em cada boa palavra e obra. Dignidade da obra com livros T9 69 4 A obra de produzir livros é grande e boa; nem sempre, porém, esteve ela na elevada e santa posição que Deus lhe designou ocupar, pelo fato de o eu achar-se entretecido no trabalho de alguns envolvidos com as publicações. A obra da colportagem será o meio de dar rapidamente a sagrada luz da verdade presente ao mundo. As publicações que saem de nossos prelos devem ser de tal caráter que fortaleçam cada ponto de apoio da fé que foi estabelecida pela Palavra de Deus e pela revelação de Seu Espírito. T9 69 5 A verdade que Deus deu a Seu povo nestes últimos dias deve conservá-lo firme quando vierem à igreja os que apresentam falsas teorias. A verdade que tem permanecido firme contra os ataques do inimigo por mais de meio século, precisa ainda ser a confiança e o conforto do povo de Deus. T9 70 1 Nossa evidência aos não professos, de que possuímos a verdade da Palavra de Deus, será dada através de uma vida de estrita renúncia. Não devemos escarnecer de nossa fé, mas sempre conservar diante de nós o exemplo dAquele que, embora Príncipe do Céu, desceu a uma vida de renúncia e sacrifício, para vindicar a justiça da palavra de Seu Pai. Resolvamos todos fazer o melhor ao nosso alcance para que a luz de nossas boas obras possa resplandecer ao mundo. Unidade no progresso T9 70 2 Perfeito acordo deveria existir nos planos estabelecidos para a publicação de nossos livros e periódicos, de modo que a luz neles contida seja rapidamente levada a todas as partes, às igrejas nominais e ao mundo. Muito mais poderia haver sido realizado na venda de nossos livros do que aquilo que até aqui conseguimos. T9 70 3 Nossos pastores devem convocar os membros das igrejas para que participem do triunfo da verdade. "Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti. Porque eis que as trevas cobriram a Terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a Sua glória se verá sobre ti. E as nações caminharão à tua luz, e os reis, ao resplendor que te nasceu." Isaías 60:1-3. Unidade e amor realizarão coisas maravilhosas em favor dos crentes. Não haverão de erguer-se nossas igrejas, apresentando a última mensagem de advertência ao mundo? Projetos de ajuda especial T9 70 4 Parábolas de Jesus é um livro que fala por si mesmo, e tem realizado um bom trabalho. À medida que ele tem sido vendido, e registrados os valores das vendas, tais recursos têm sido destinados a aliviar os débitos de nossas escolas. Mais que isso, porém, muitos ao lerem o livro têm sido abençoados por suas lições de verdade, e muitos outros receberão tais bênçãos ao lerem o livro. T9 71 1 A Ciência do Bom Viver poderá realizar em favor de nossos sanatórios e instituições de saúde a mesma obra que Parábolas de Jesus tem feito em benefício das escolas. Este livro é o portador da sabedoria do Grande Médico. Para mim tem sido um precioso privilégio doar à causa de Deus o trabalho aplicado a esses dois livros. No futuro, deverão ser realizados esforços perseverantes e bem planejados, no sentido de aumentar a venda de ambos. Liquidar débitos T9 71 2 Deus deseja que aprendamos lições dos fracassos do passado. Não Lhe agrada que existam débitos pesando sobre Suas instituições. Chegamos ao tempo em que temos de dar caráter à obra, recusando-nos a erigir grandes e custosos edifícios. Não devemos reproduzir os equívocos do passado, envolvendo-nos mais e mais em débitos. Devemos, antes, empenhar-nos em liquidar as dívidas que ainda existem em nossas instituições. Nossas igrejas, se desejarem fazê-lo, poderão ajudar nesse aspecto. Aqueles membros aos quais o Senhor concedeu recursos, poderão investir seu dinheiro na causa sem a cobrança de juros, ou mesmo a baixas taxas, e por suas ofertas voluntárias poderão contribuir para o sustento da obra. O Senhor pede que seja devolvida alegremente a Ele uma porção dos bens que Ele lhes confiou, tornando-se assim os Seus colaboradores. A obra através dos livros T9 71 3 Estivemos depois em reuniões de assembléias e em grandes reuniões de nossas igrejas, nas quais os pastores apresentaram com clareza os perigos dos tempos em que vivemos e a grande importância de apressar a venda da nossa literatura. Em resposta a esses apelos, os irmãos e irmãs foram à frente e compraram muitos livros. Alguns levaram uns poucos, e outros compraram grande quantidade. A maioria dos compradores pagou à vista os livros comprados. Uns poucos fizeram arranjo para pagá-los depois. T9 72 1 Por estarem os livros sendo vendidos a preços baixos, sendo alguns deles reduzidos especialmente para a ocasião, muitos foram comprados, e alguns por pessoas alheias à nossa fé. Diziam elas: "Por certo estes livros contêm uma mensagem para nós. Estas pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios a fim de que os possuamos, e nós os adquiriremos para nós mesmos e para nossos amigos." T9 72 2 Alguns dentre os nossos manifestaram desaprovação, porém. Um deles disse: "Tem de ser posto um ponto final nesse procedimento, ou o nosso negócio será prejudicado." Ao sair um irmão com uma braçada de livros, um colportor pôs-lhe uma das mãos no braço, e disse: "Irmão, que faz você com tantos livros?" Ouvi, então, a voz de nosso Conselheiro, que dizia: "Não os proíba. Esse é o procedimento a ser seguido. Aproxima-se o fim. Muito tempo se perdeu, pois já há muito deveriam esses livros estar em circulação. Que sejam vendidos por toda parte. Que sejam disseminados como folhas no outono. Esse trabalho deve continuar sem estorvo de pessoa alguma. As pessoas estão perecendo sem Cristo. Sejam elas advertidas a respeito de Seu breve aparecimento nas nuvens do céu." T9 72 3 Alguns obreiros continuaram a manifestar muito desânimo. Um deles chorava e dizia: "Comprando os livros a preço tão baixo, fazem essas pessoas uma injustiça à obra das publicações; além de esse procedimento estar-nos privando de alguma renda com que nossa obra é mantida." Respondeu a Voz: "Vocês não estão sofrendo prejuízo algum. Esses obreiros que compraram os livros a preço reduzido não poderiam conseguir vendê-los com tanta facilidade sem esse suposto sacrifício. Eles os estão comprando agora para amigos e para si mesmos, muitos que, de outro modo nem pensariam em comprar." Precaução T9 73 1 Foi então provida orientação ao irmão Haskell. Em sua ansiedade por suprir o povo com as preciosas verdades contidas em seus livros, e em seu desejo de que todos percebessem que os livros valiam mais do que custavam, e de que todos deveriam ser estimulados a prover uma ampla circulação dos mesmos, achava-se ele a vendê-los a preço muito baixo, tornando assim muito pesado o seu próprio fardo. T9 73 2 Nosso Conselheiro disse: "Os livros devem ser vendidos de tal forma que o autor não fique de mãos vazias, e que a casa publicadora possa reter uma razoável margem, de modo que existam meios para se levar avante a obra." Uma parábola para ser estudada T9 73 3 Cristo declarou: "Porque o Reino dos Céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. T9 73 4 "Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um. T9 74 1 "Vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas, do mesmo modo, receberam um dinheiro cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia. Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros, últimos, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos." Mateus 20:1-16. T9 74 2 Bendita será a recompensa da graça para aqueles que buscaram o Senhor em sua simplicidade e amor. O valor do serviço feito a Deus é medido mais pelo espírito com que o prestamos, do que pelo tempo gasto. Luz para todos T9 74 3 Sinto intenso desejo de que a luz contida em meus livros atinja a todas as pessoas, pois Deus a enviou a todos. Esses livros contêm preciosas lições de experiência cristã. Eu não me atreveria a proibir que, em ocasiões especiais, os livros fossem vendidos a preços baixos, pois sei que contribuindo para o impedimento de sua leitura, estaria escondendo assim a luz de alguma pessoa que poderia por meio da mesma converter-se à verdade. Nenhuma proibição tenho a fazer no tocante à circulação de nossos livros. Seja a luz colocada no candeeiro, de modo a iluminar a todos que se encontram na casa. Quanto ao espírito mercantil T9 75 1 "E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de ladrões. T9 75 2 "E foram ter com ele ao templo cegos e coxos, e curou-os. Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?" Mateus 21:12-16. T9 75 3 Sanatório, Califórnia, 4 de Maio de 1908 T9 75 4 Um ponto que jamais deve ser esquecido por nossos obreiros é que o Senhor Jesus Cristo é nosso diretor. Delineou Ele um plano pelo qual as escolas possam livrar-se de dívidas. Ele não desculpará aqueles que puserem de lado esse plano por falta de confiança no seu sucesso. Quando o Seu povo se unir para auxiliar em Sua causa na Terra, nenhum dos bens prometidos aos fiéis lhes será retido. ------------------------Capítulo 8 -- Visão mais ampla T9 76 1 Ao avançar a obra do Senhor em nossa pátria e no estrangeiro, os que ocupam cargos de responsabilidade precisam fazer planos sábios com o propósito de tirar o maior proveito possível tanto dos homens como dos recursos de que dispõem. A responsabilidade de manter a obra em muitos territórios estrangeiros está grandemente a cargo das Associações de nossa pátria. Essas Associações devem dispor de recursos com que auxiliar a abertura de novos campos em que as importantes verdades da mensagem do terceiro anjo não tenham ainda penetrado. No transcurso dos últimos anos, foram como que por encanto abertas portas; e necessitam-se homens e mulheres para por elas entrarem e darem início ao trabalho zeloso de salvação das pessoas. T9 76 2 Nossas instituições de ensino muito podem fazer no sentido de atender à procura de obreiros instruídos para esses campos missionários. Devem ser elaborados planos sábios para fortalecer a obra feita nos centros de instrução. Devem ser estudados os melhores métodos de preparo de moços e moças consagrados para assumir responsabilidades e ganhar pessoas para Cristo. Devem eles ser ensinados a tratar com as pessoas e a apresentar-lhes a terceira mensagem angélica de maneira atraente. E no que toca ao manejo das finanças, devem ser-lhes ensinadas lições que lhes possam ser úteis quando, enviados a campos isolados, possam suportar muitas privações e exercer a mais estrita economia. T9 76 3 O Senhor instituiu um plano por cujo meio bom número de alunos das nossas escolas pode aprender lições práticas que lhes garantirá êxito em sua carreira. Concedeu-lhes a oportunidade de vender livros preciosos, consagrados ao avanço de nossa obra de educação e saúde. Ao vender esses livros, a juventude passará por muitas experiências que os habilitarão para resolver os problemas que os esperam em regiões distantes. Durante a sua vida estudantil, vendendo esses livros, muitos podem aprender a tratar os estranhos de maneira cortês e a exercer tato na apresentação dos vários pontos da verdade presente. E ao alcançarem certo êxito financeiro, alguns aprenderão lições de economia, que lhes serão de grande proveito quando, como missionários, forem enviados a outra parte. T9 77 1 Os estudantes que se dedicarem à venda do Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver deverão estudar o conteúdo do livro que pretendem vender. Ao familiarizarem-se com o assunto do livro que vendem, e esforçarem-se para pôr em prática os seus ensinos, desenvolver-se-ão intelectual e espiritualmente. As mensagens desses livros contêm a luz que Deus me revelou para comunicar ao mundo. Devem os professores de nossas escolas animar os alunos a estudar atentamente cada capítulo. Devem ensinar essas verdades aos alunos tentando incutir-lhes amor aos preciosos pensamentos que o Senhor nos confiou para comunicarmos ao mundo. T9 77 2 Assim, o preparo para apresentar esses livros, e a experiência diária adquirida com a sua apresentação ao público, tornar-se-ão um aprendizado excelente para os que se empenham nessa espécie de atividade. Com a bênção divina, a juventude será capacitada para servir na vinha do Senhor. T9 77 3 Existe um trabalho especial que precisa ser feito em proveito dos nossos jovens, pelos que assumem a responsabilidade das igrejas em todas as Associações. Ao depararem os oficiais das igrejas com jovens promissores que estejam desejosos de se habilitarem para tornar-se úteis na causa do Senhor, mas cujos pais não podem mandá-los à escola, têm eles o dever de auxiliá-los e animá-los. Devem consultar tanto os pais como os jovens, e juntos agirem com sabedoria. Alguns jovens terão mais aptidão para o trabalho missionário. Existe um grande campo de utilidade na distribuição de nossa literatura e na proclamação, aos nossos amigos e vizinhos, da mensagem do terceiro anjo. Outros jovens devem ser animados a consagrar-se à colportagem, e a vender nossos livros principais. Alguns podem ter aptidões que os tornem excelentes auxiliares de nossas instituições. E, em muitos casos, se os jovens promissores forem sabiamente animados e corretamente dirigidos, podem ganhar seu estipêndio escolar com a venda dos livros Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver. T9 78 1 Ao vender esses livros estarão os jovens agindo como missionários; porque estarão assim levando ao conhecimento dos habitantes do mundo uma luz preciosa. Ao mesmo tempo poderão ganhar o dinheiro necessário para estudar na escola, onde lhes será possível prosseguir preparando-se para serem de maior utilidade na causa do Senhor. Na escola, serão, pelos professores e demais alunos, animados a continuar vendendo livros; no fim dos estudos, terão recebido preparo prático que os capacitará para o trabalho difícil, zeloso e abnegado que os espera em muitos campos estrangeiros, onde a obra da mensagem do terceiro anjo precisa ser divulgada sob circunstâncias difíceis. T9 78 2 Quão melhor é seguir esse plano, que passarem os estudantes pela escola sem alcançar instrução prática para a obra e, terminado o curso, saírem com a responsabilidade de uma dívida pesada e com avaliação imperfeita das dificuldades que terão que enfrentar num campo novo! T9 79 1 Como lhes não será difícil, então, resolverem os problemas financeiros relacionados com a obra de vanguarda em terras estrangeiras! E por quanta dificuldade financeira não terá que passar alguém, até estar liquidada a dívida contraída durante os estudos! T9 79 2 Por outro lado, quanta vantagem haverá se for seguido o plano de instrução por conta própria! Os alunos estarão em situação de sair da instituição educacional quase, ou inteiramente, sem dívida pessoal; as finanças da escola estariam em situação mais próspera; e as lições aprendidas pelo estudante, que em sua própria terra passasse por essas experiências, lhe seriam de valor incalculável nos campos estrangeiros. T9 79 3 Façam-se planos sábios para ajudar estudantes que o mereçam, a ganharem o seu próprio estipêndio escolar mediante a venda destes livros, se o quiserem. Os que por esse meio ganham recursos suficientes para custear seus estudos num de nossos colégios, adquirirão experiência prática valiosíssima que os capacitará para o trabalho missionário de vanguarda noutros campos. T9 79 4 Uma grande obra precisa ser feita no mundo em pouco tempo, e assim devemos estudar, compreender e apreciar, mais que nos anos passados, a providência de Deus em colocar em nossas mãos estes preciosos volumes: Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver. São meios para ajudar estudantes dignos a custearem suas despesas durante o tempo de preparo, assim como também são meios para liquidar os débitos de nossas instituições educacionais e médicas. T9 79 5 Grandes bênçãos acham-se armazenadas diante de nós, à medida que manuseemos sabiamente esses preciosos livros, a nós concedidos para o avanço da causa da verdade presente. Se agirmos de acordo com o plano do Senhor, constataremos que muitos jovens consagrados serão habilitados a penetrar em regiões distantes como missionários práticos; ao mesmo tempo, as associações de nosso país deterão meios com os quais poderão contribuir liberalmente para o sustento da obra a ser desenvolvida em novos territórios. T9 80 1 Sanatório, Califórnia, 17 de Abril de 1908 T9 80 2 Deus deseja que a venda do Parábolas de Jesus seja reconhecida por todo o nosso povo como o Seu método de aliviar de débitos as nossas escolas. É em virtude da negligência desse plano que agora sentimos tão agudamente a escassez de recursos para o avanço da obra. Se houvessem as escolas posto em prática a provisão para elas estabelecida, existiria hoje muito mais dinheiro na tesouraria, e maiores recursos nas mãos dos servos de Deus, com os quais aliviariam as necessidades de outros departamentos carentes da causa; e, melhor que tudo, professores e estudantes haveriam recebido de modo perfeito as lições que necessitam aprender no serviço do Mestre. T9 80 3 Nas cidades facilmente acessíveis a nossos sanatórios e escolas de treinamento, um campo missionário acha-se aberto, o qual temos apenas tocado com a ponta dos dedos. Em alguns desses lugares, um bom começo foi estabelecido. Entretanto, era propósito de Deus que, através da venda de A Ciência do Bom Viver e Parábolas de Jesus, maiores recursos fossem levantados para a obra de nossas instituições de saúde e escolas, e que nosso povo fosse dessa forma deixado em maior liberdade de doar seus meios para a abertura da obra em novos campos missionários. Se nosso povo se engajasse agora na venda desses livros como deveria, teríamos um volume muito maior de recursos para levar avante a obra, utilizando o meio designado pelo Senhor para o seu avanço. ------------------------Capítulo 9 -- Reuniões campais e nossas publicações T9 81 1 No passado os servos de Deus aproveitaram muitas oportunidades preciosas oferecidas pelas assembléias para ensinar ao nosso povo os métodos práticos de apresentar aos amigos e conhecidos as verdades salvadoras da mensagem do terceiro anjo. Muitos foram ensinados a trabalhar, como missionários por conta própria, na localidade onde vivem. De volta dessas reuniões anuais, muitos passaram a trabalhar com maior zelo e de maneira mais adequada que antes. T9 81 2 Seria agradável para Deus que muito mais instrução prática dessa espécie fosse ministrada aos membros da igreja que freqüentam as campais, do que o foi no passado. Tanto os obreiros dirigentes como os nossos irmãos e irmãs de cada Associação devem lembrar-se de que um dos objetivos das nossas assembléias anuais é que todos adquiram o conhecimento dos métodos práticos de trabalho missionário pessoal. T9 81 3 Deus confiou a nossas mãos uma obra por demais sagrada, e necessitamos de nos ajuntar em reuniões para receber instruções a fim de nos habilitarmos a realizar essa obra. Precisamos compreender que parte seremos individualmente chamados a desempenhar na edificação da obra de Deus na Terra, para vindicar Sua santa lei e em exaltar o Salvador como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29. Precisamos nos reunir e receber o toque divino a fim de compreendermos qual deve ser nossa obra no lar. Os pais necessitam compreender como podem enviar os filhos e filhas do santuário do lar, educados de tal maneira que estejam preparados para brilhar como luzes no mundo. Necessitamos compreender como realizar a divisão do trabalho, e como cada parte da obra deve ser levada avante. Cada um deve entender qual a sua parte, para que exista harmonia nos planos e na ação do trabalho combinado de todos. T9 82 1 Quando devidamente dirigidas, as reuniões campais são uma escola em que pastores, anciãos e diáconos podem aprender a fazer trabalho mais perfeito para o Mestre. Elas devem ser uma escola onde os membros da igreja, idosos e jovens, tenham oportunidade de aprender mais completamente o caminho do Senhor, onde os crentes possam receber um preparo que os auxilie a ajudar outros. T9 82 2 O melhor auxílio que os pastores podem oferecer aos membros de nossas igrejas não é pregar sermões, e sim planejar o trabalho para eles. Que a cada um seja designado algo a fazer pelos outros. Sejam todos ajudados a ver que, como recebedores da graça de Cristo, encontram-se sob a obrigação de trabalhar para Ele. Que a todos seja ensinado como trabalhar. Especialmente os recém-conversos devem ser preparados como colaboradores de Deus. Se postos a trabalhar, os murmuradores logo esquecerão suas murmurações; os fracos se tornarão fortes; os ignorantes, inteligentes; assim, todos se prepararão para apresentar a verdade tal qual é em Jesus. Encontrarão um infalível Ajudador nAquele que prometeu salvar os que forem a Ele. T9 82 3 Em algumas de nossas Associações, os dirigentes vacilaram na introdução desses métodos práticos de instrução. Alguns, por temperamento, tendem mais a pregar sermões do que ensinar. Mas em oportunidades tais como as de nossas assembléias anuais, é preciso não perder de vista as chances para ensinar os crentes a realizar trabalho missionário prático onde vivem. Em muitos casos, nessas assembléias, convirá atribuir a certos homens escolhidos a responsabilidade de ministrarem o ensino no tocante a alguns ramos de atividade educacional. T9 83 1 Uns devem ser ensinados a dar estudos bíblicos e a dirigir reuniões em casas de família. Outros podem ter a seu cargo ensinar as pessoas a pôr em prática os princípios de saúde e temperança, e a maneira de tratar os doentes. Outros, ainda, poderão promover o interesse de nossa obra através de revistas e livros. E alguns obreiros escolhidos devem tomar especial interesse em ensinar muitos a como manusear o Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver. T9 83 2 Muitos jamais foram ensinados como vender esses livros destinados ao avanço de nossa obra institucional. Isso, porém, não lhes deve servir de desculpa. Deveriam estudar diligentemente como cumprir com fidelidade a sua parte relativa à circulação desses preciosos livros. Nossas escolas e instituições de saúde precisam ser conduzidas a um mais elevado plano de eficiência, e uma solene responsabilidade repousa sobre todos nós, no tocante a ajudar a colocar essas instituições em vantagem, dando a esses livros uma ampla circulação. Deus será glorificado por todo aquele que assumir ativo interesse na obra de colocar tais livros mas mãos das multidões que se acham sob a necessidade das salvadoras verdades do evangelho. T9 83 3 A oportunidade que temos de fazer o bem enquanto lutamos por levar avante o plano do Senhor no sentido de aliviar os débitos de nossas escolas e clínicas, foi-me apresentado vez após outra em conexão com a Associação do Sul da Califórnia. As condições são ali extremamente favoráveis para um esforço de longo prazo em termos da venda do Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver. Nossos irmãos e irmãs do sul da Califórnia jamais deveriam se cansar desse plano de obtenção de recursos para a liquidação de débitos acumulados. Os alunos da escola de Fernando a as enfermeiras dos três sanatórios estabelecidos na região não se deveriam permitir perder as preciosas experiências de ação missionária pelas quais passam todos os que vendem esses livros. E as associações não se deveriam dar ao luxo de perder os resultados espirituais e financeiros que acompanharão o continuado esforço nessa direção. T9 84 1 Entretanto, os anos passaram, e os estudantes que poderiam haver obtido ricas experiências através de verdadeira obra missionária não foram estimulados a lançar-se de coração à venda do livro Parábolas de Jesus. Membros da igreja em muitos lugares têm-se encontrado diariamente com estranhos -- turistas, homens e mulheres de recursos e influência -- e ainda assim essas oportunidades para fazer circular o Parábolas de Jesus e A Ciência do Bom Viver têm sido desperdiçadas. Muitas pessoas de coração genuíno, que poderiam ter sido alcançadas mediante esforços diligentes, sinceros, não receberam a luz da mensagem do terceiro anjo. T9 84 2 Houvesse sido seguido o plano do Senhor, Seu nome teria sido glorificado e obtidas muitas vitórias espirituais. Os que possuem recursos teriam sido mais capazes e dispostos a virem em auxílio do Senhor, quando Ele Se manifestava de modo extraordinário no estabelecimento de vigorosos centros médicos-missionários, na vizinhança de locais de grande fluxo de pessoas. Os estudantes teriam recebido um treinamento para ampliar grandemente sua eficiência como missionários práticos em nosso país e no estrangeiro. As igrejas teriam sido revigoradas com bênçãos espirituais. Muitos teriam sido conquistados para a verdade, os quais por sua vez trariam para a igreja sua influência e recursos. T9 84 3 Em lugares como o sul da Califórnia, onde milhares de turistas -- muitos deles em busca de saúde e restauração -- se acham constantemente indo e vindo, esforços especiais e contínuos devem ser aplicados no sentido de espalhar os brilhantes raios da luz e da verdade. Os livros A Ciência do Bom Viver e Parábolas de Jesus são especialmente adaptados ao uso em centros de turismo, e todo o possível deveria ser feito para colocar exemplares dessas obras nas mãos dos que têm tempo e inclinação para ler. Especialmente para os que estão à procura de restauração da saúde, é importante o livro A Ciência do Bom Viver. Cada oportunidade favorável de alcançar essas pessoas deve ser utilizada. T9 85 1 Meu coração regozijou-se ao ouvir de um reavivamento do trabalho de socorro das instituições no sul da Califórnia, durante os últimos meses. Em Loma Linda, as enfermeiras receberam treinamento especial para a venda de A Ciência do Bom Viver. À medida que visitaram os lares das cidades e vilas vizinhas, a bênção do Céu repousou ricamente sobre elas, de modo que impressões favoráveis foram exercidas em favor de nosso povo e seu trabalho. T9 85 2 Recentemente, na escola de Fernando, os professores tiveram reavivado o interesse pela venda do Parábolas de Jesus. Grupos de estudantes, após fervoroso estudo do livro, visitaram Los Angeles em companhia de seus professores, e assim adquiriram uma saudável e sólida experiência que valorizam mais que ouro e prata. Esse tipo de trabalho é, de fato, um dos meios orientados por Deus para o preparo missionário de nossa juventude. Aqueles que negligenciarem aproveitar tais oportunidades, estarão perdendo em sua vida um capítulo da experiência de mais elevado valor. Ao participarem dessa experiência de todo coração, os estudantes podem aprender como se aproximar com tato e discrição de homens e mulheres em todas as ocasiões, e como lidar com tais pessoas de modo cortês, e ainda como conduzi-las a dedicarem atenção às verdades contidas nos livros oferecidos à venda. T9 85 3 Nossa preocupação máxima deve ser a salvação das pessoas, e não a arrecadação de dinheiro e, para alcançar esse fim, devemos fazer tudo quanto esteja ao nosso alcance para ensinar os alunos a guiarem as pessoas ao conhecimento da terceira mensagem angélica. Ao sermos bem-sucedidos na atividade de levar a salvação, os que forem acrescentados à fé empregarão, por sua vez, a sua capacidade para transmitir a verdade a outros. Ao trabalharmos diligentemente para a salvação do próximo, Deus dará êxito aos nossos esforços. T9 86 1 Aos presidentes de Associações, e a outras pessoas em posição de responsabilidade, devo dizer: Façamos tudo ao nosso alcance para impressionar os professores vinculados às nossas instituições da obra educacional acerca do valor da bênção disponível àqueles que diligentemente procuram fazer o melhor uso possível da bênção representada pelo Parábolas de Jesus. Estimulemos os professores a se unirem com muitos de seus estudantes em fervoroso estudo desse livro, passo preparatório para a saída com eles rumo ao ativo campo de trabalho. Ajudemos os educadores a compreender sua responsabilidade nesse aspecto. Façamos tudo ao nosso alcance para reavivar o trabalho com o Parábolas de Jesus, e iniciemos planos para uma ativa campanha com A Ciência do Bom Viver. T9 86 2 À medida que professores e alunos se engajarem de coração nesse tipo de atividade, adquirirão experiência que os habilitará a realizar valioso trabalho em conexão com nossas reuniões campais. Através da instrução que poderão prover aos crentes que participarem das campais, por intermédio da venda de muitos livros nos lugares em que tais reuniões ocorrerem, os que estiverem nas escolas serão capacitados a desempenhar sua parte para alcançar as multidões que precisam ouvir a terceira mensagem angélica. Que os professores e estudantes assumam nobremente sua parcela do fardo de demonstrar a nosso próprio povo como comunicar a mensagem a seus amigos e vizinhos. T9 86 3 Ao seguirmos os planos do Senhor, tornamo-nos "cooperadores de Deus". 1 Coríntios 3:9. Qualquer que seja o nosso cargo -- presidente de Associação, pregador, professor, aluno, ou simples membro da igreja -- o Senhor nos considera responsáveis pelo uso que fizermos de nossas oportunidades para transmitir a luz aos que necessitam da verdade presente. Um dos melhores meios que Ele nos concedeu consiste na página impressa. Em nossas escolas e clínicas, nas igrejas e especialmente nas assembléias gerais, devemos aprender a fazer uso sábio desse precioso instrumento. Com paciente diligência, os obreiros escolhidos devem instruir o nosso povo a aproximar-se dos incrédulos de maneira amável e atraente, e a pôr-lhes nas mãos a literatura que, com poder e clareza, apresenta a verdade para este tempo. T9 87 1 Irmãos e irmãs, não nos cansemos de realizar o bem. Durante Seu ministério terrestre, Cristo viajou a pé de um lugar para outro. Exausto, como tantas vezes Se sentiu, com Sua natureza humana exaurida ao extremo, ainda assim sempre Se demonstrava pronto a curar todos que O procuravam, ensinando-lhes o caminho da vida eterna. Embora muitas vezes fisicamente extenuado, não deixou de realizar Seu trabalho. Havia um mundo a ser salvo. Empreendeu todo sacrifício possível, de modo que a luz e a verdade brilhassem fortemente. T9 87 2 O Senhor Deus de Israel deseja vincular-nos em sagrada união com Ele, para que assim exerçamos a viva fé que atua por amor e purifica a vida. Deseja que sejamos um operoso corpo de obreiros capacitados com a adaptabilidade para o Seu serviço; a esses Ele promete o poder para obterem gloriosa vitória em Seu favor. T9 87 3 Sanatório, Califórnia, 10 de Julho de 1908 T9 87 4 Os homens que se encontram na posição de líderes em qualquer ramo da solene obra de anunciar a última mensagem do evangelho, precisam acariciar e cultivar idéias e pontos de vista amplos. É privilégio de todos os que têm responsabilidades na obra do evangelho, serem aptos aprendizes na escola de Cristo. Os professos seguidores do Mestre não devem ser conduzidos pelos ditames de sua própria vontade; sua mente precisa ser educada a pensar os pensamentos de Cristo e iluminada para compreender Sua vontade e o caminho de Deus. Um tal crente seguirá os métodos de trabalho de Cristo. T9 88 1 Nossos irmãos não se devem esquecer de que a sabedoria de Deus realizou provisões para nossas escolas, de um modo que trará bênçãos a todos que participarem do empreendimento. O livro Parábolas de Jesus foi doado para a obra educacional, para que os estudantes e outros amigos das escolas pudessem manejá-lo, e por sua venda fossem capazes de conseguir muitos dos recursos necessários para liquidar as dívidas dessas escolas. Tal plano, todavia, não tem sido apresentado às nossas escolas como deveria; os professores e alunos não têm sido preparados para usar esse livro e corajosamente impulsionar a sua venda em benefício da obra educacional. T9 88 2 Há muito tempo deveriam os professores e alunos de nossas escolas ter aprendido a obter vantagens da oportunidade de conseguir dinheiro através da venda do Parábolas de Jesus. Ao venderem esse livro, os alunos servirão à causa de Deus e, enquanto o fazem, pela disseminação da preciosa luz, aprenderão inestimáveis lições de experiência cristã. Todas as nossas escolas devem agora alinhar-se para empreender sincero esforço no sentido de levar avante o plano a nós apresentado para a educação dos obreiros, para o alívio da carga financeira das escolas, e para o ganho de almas em favor da causa de Cristo. T9 88 3 "Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por Nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. ------------------------Capítulo 10 -- Condições existentes nas cidades T9 89 1 O aumento constante da maldade obstinada está produzindo intenso e quase generalizado senso de culpa nos habitantes das cidades. Predomina atualmente uma "epidemia de crimes" que abate o coração dos homens sensatos e tementes a Deus. A corrupção dominante está além da capacidade humana de descrevê-la. Cada dia traz novas revelações de dissensões, corrupção e fraude que campeiam na política; cada dia traz seu doloroso contingente de violências e infrações da lei, de indiferença para com o sofrimento humano, de brutal e diabólico extermínio da vida humana. Cada dia é testemunha do aumento da insanidade, dos homicídios e suicídios. T9 89 2 As cidades modernas estão se transformando rapidamente em Sodomas e Gomorras. Numerosos são os dias de folga; as ondas da agitação e do prazer desviam milhares de pessoas dos austeros deveres da vida. Os esportes enervantes -- o teatro, as corridas de cavalos, os jogos de azar, as bebidas e as orgias -- despertam ao máximo todas as paixões. T9 90 1 Os jovens são envolvidos pela onda popular. Os que se deixam dominar pelas diversões, abrem a porta para um dilúvio de tentações. Dedicam-se a divertimentos sociais e a irrefletida hilaridade. Passam de uma a outra forma de dissipação, até perderem tanto o desejo como a capacidade de viver de maneira útil. Esfriam as aspirações religiosas; debilita-se a vida espiritual. As mais nobres faculdades, tudo quanto liga o homem ao mundo espiritual, tornam-se envilecidas. T9 90 2 Sob a influência de coligações patronais e em conseqüência de sindicatos e greves, as condições de vida nas cidades pioram constantemente. T9 90 3 A obsessão intensa pelo dinheiro, o amor à ostentação, ao luxo e às extravagâncias -- são todas forças que desviam a maioria das pessoas dos verdadeiros propósitos da vida, e abrem a porta para uma infinidade de males. Muitos, obcecados em sua busca de riquezas terrenas, tornam-se insensíveis aos reclamos divinos e às necessidades do próximo. Consideram sua riqueza um meio de auto-glorificação. Acrescentam casa a casa, um terreno a outro; entulham de objetos de luxo a residência, enquanto a seu redor seres humanos permanecem na miséria e no crime, em doença e morte. T9 90 4 Por meio de toda espécie de opressão e extorsão, acumulam os homens fortunas colossais, enquanto sobem para Deus os clamores da humanidade faminta. Multidões lutam contra a pobreza, obrigadas a trabalhar arduamente por salários ínfimos, sem poderem adquirir as coisas mais indispensáveis à vida. O cansaço e as privações, sem a menor esperança de coisas melhores, tornam-lhes muito pesada a carga. Se a isso forem acrescentadas a enfermidade e a dor, então sua vida se torna quase insuportável. Minadas pelas preocupações e oprimidas, não sabem onde buscar alívio. T9 91 1 As Escrituras descrevem as condições em que se encontrará o mundo às vésperas da segunda vinda de Cristo. O apóstolo Tiago traça um quadro da cobiça e opressão que hão de prevalecer então. Diz ele: "Eia pois agora vós, ricos, ... entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Deliciosamente vivestes sobre a Terra, e vos deleitastes: cevastes os vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu." Tiago 5:1-6. T9 91 2 Tal é o quadro do estado atual das coisas. "Pelo que o juízo se tornou atrás, e a justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar. Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado." Isaías 59:14, 15. T9 91 3 A própria igreja, que deveria ser a coluna e sustentáculo da verdade, fomenta o amor egoísta pelos prazeres. Para a obtenção de dinheiro para fins religiosos, a que meio recorrem muitas igrejas? Bazares, comidas, quermesses, e até a rifas e coisas semelhantes. Freqüentemente, o lugar consagrado para o culto divino é profanado por festanças em que se come e bebe, compra e vende, e as pessoas se divertem. Dessa forma desaparece na mente dos jovens o respeito à casa de Deus e a Seu culto. Enfraquece o domínio próprio. O egoísmo, o apetite e o amor à ostentação são estimulados e fortalecidos com a prática. T9 91 4 De tempos em tempos, tem o Senhor revelado o Seu modo de proceder. Ao sobrevir uma crise, Ele Se tem revelado e interposto para impedir a execução dos planos de Satanás. Muitas vezes permitiu que nações, famílias e indivíduos chegassem a uma crise a fim de que a Sua intervenção fosse notória. Então, tornou manifesto que há um Deus em Israel que mantém a Sua lei e vindica o Seu povo. T9 92 1 No mundo antediluviano, empregavam os homens todo tipo de recursos imagináveis e processos engenhosos para anular a lei de Jeová. Rejeitavam-Lhe a autoridade porque lhes dificultava os planos. Tal como foi nos dias anteriores ao dilúvio, está iminente o momento em que o Senhor irá revelar a Sua onipotência. Neste tempo de generalizada iniqüidade, devemos reconhecer que a última grande crise está próxima. Quando o desafio à lei de Deus for quase universal, quando Seu povo for oprimido e afligido por seus semelhantes, então o Senhor intervirá. T9 92 2 Satanás não dorme; está bem desperto para evitar que se cumpra a firme palavra da profecia. Com sua astúcia e poder enganador esforça-se para contrafazer a vontade de Deus, revelada expressamente em Sua Palavra. Durante anos, Satanás tem estado a dominar a mente dos homens por meio de enganos sutis que ideou para substituírem a verdade. Neste tempo de perigo, os que praticam o bem no temor de Deus, Lhe glorificam o nome repetindo as palavras de Davi: "Já é tempo de operares, ó Senhor, pois eles têm quebrantado a Tua lei." Salmos 119:126. Os juízos divinos sobre as nossas cidades T9 92 3 Estando eu em Loma Linda, Califórnia, em 16 de Abril de 1906, uma cena assombrosíssima me foi revelada. Numa visão noturna, estava eu numa elevação de onde via as casas sacudidas como o vento sacode o junco. Os edifícios, grandes e pequenos, eram derrubados. Os locais de recreação, teatros, hotéis e mansões suntuosas eram sacudidos e arrasados. Muitas vidas eram destruídas e os lamentos dos feridos e aterrorizados enchiam o espaço. T9 93 1 Os anjos destruidores, enviados por Deus, estavam atuando. A um simples toque, os edifícios tão solidamente construídos que os homens os consideravam à prova de qualquer perigo, ficavam reduzidos a um montão de escombros. Nenhuma segurança havia em parte alguma. Pessoalmente, eu não me sentia em perigo, mas não posso descrever as cenas terríveis que me foram apresentadas. Parecia que a paciência divina se havia esgotado, e tinha chegado o dia do juízo. T9 93 2 O anjo que estava ao meu lado me disse, então, que poucas pessoas reconhecem a maldade imperante no mundo atual, especialmente nas grandes cidades. Declarou que o Senhor determinou um dia em que a Sua ira castigará os transgressores pelo persistente menosprezo da Sua lei. T9 93 3 Conquanto terrível, a cena que me foi revelada não me causou tanta impressão quanto as instruções que recebi nessa ocasião. O anjo que estava ao meu lado declarou que a suprema soberania de Deus, o caráter sagrado da Sua lei, devem ser manifestados aos que obstinadamente se recusam a obedecer ao Rei dos reis. Os que preferem permanecer infiéis serão feridos pelos juízos misericordiosos, a fim de que, se possível for, cheguem a se despertar e aperceber-se da pecaminosidade do seu procedimento. T9 93 4 Durante todo o dia seguinte, estive pensando nas cenas que me haviam sido reveladas e nas instruções que as acompanharam. À tarde, fomos a Glendale, próximo de Los Angeles. No decorrer da noite seguinte, recebi novas instruções acerca do caráter santo e obrigatório dos Dez Mandamentos e da supremacia de Deus sobre todos os governantes terrestres. T9 94 1 Parecia-me estar perante uma assembléia, apresentando ao público os reclamos da lei divina. Li as passagens das Escrituras relativas à instituição do sábado no Éden, no final da semana da criação, e à promulgação da lei no Sinai; depois declarei que o sábado deve ser observado como "concerto perpétuo" (Êxodo 31:16) entre Deus e os que Lhe pertencem, a fim de que saibam que são santificados por Jeová, seu Criador. T9 94 2 A seguir, insisti na questão da soberania suprema do governo de Deus sobre todos os governos terrestres. Sua lei deve ser a norma de procedimento. Os homens estão proibidos de perverterem os sentidos por meio da intemperança, ou submeterem a mente às influências satânicas, pois isso impossibilita a observância da lei de Deus. Conquanto o divino Governador suporte com paciência a maldade, não pode ser enganado, e não silenciará para sempre. Sua supremacia, Sua autoridade como Governador do Universo devem ser finalmente reconhecidas, e vindicados os justos reclamos da Sua lei. T9 94 3 Muitas outras instruções no tocante à longanimidade divina, à necessidade de fazer o transgressor compreender o perigo da situação que assume diante de Deus, foram repetidas ao público, tal como eu as havia recebido do meu instrutor. T9 94 4 Em 18 de Abril, dois dias depois de eu haver recebido a visão dos edifícios que desmoronavam, fui atender a um compromisso na igreja da rua Carr, em Los Angeles. Ao aproximarmo-nos da igreja, ouvimos os vendedores de jornais gritarem: "São Francisco destruída por terremoto!" Com o coração opresso li as primeiras notícias recém-impressas daquele terrível desastre. T9 94 5 Duas semanas mais tarde, em viagem para casa, passamos por São Francisco, alugamos um carro e gastamos hora e meia observando a destruição ocorrida naquela grande cidade. Edifícios antes considerados indestrutíveis, jaziam em ruínas. Algumas casas estavam parcialmente soterradas. A cidade apresentava um quadro desolador da incapacidade do engenho humano de construir edifícios à prova de fogo e terremoto. T9 95 1 Pela boca do profeta Sofonias, o Senhor aponta os juízos com que Ele ferirá os malfeitores: T9 95 2 "Inteiramente consumirei tudo sobre a face da Terra, diz o Senhor. Arrebatarei os homens e os animais; consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e os tropeços com os ímpios; e exterminarei os homens de cima da Terra, disse o Senhor." T9 95 3 "E acontecerá que, no dia do sacrifício do Senhor, hei de castigar os príncipes, e os filhos do rei, e todos os que se vestem de vestidura estranha. Castigarei também naquele dia todos aqueles que saltam sobre o umbral, que enchem de violência e engano a casa dos seus senhores. ... T9 95 4 "E há de ser que, naquele tempo, esquadrinharei a Jerusalém com lanternas, e castigarei os homens que estão assentados sobre as suas fezes, que dizem no seu coração: O Senhor não faz bem nem faz mal. Por isso será saqueada a sua fazenda, e assoladas as suas casas; e edificarão casas, mas não habitarão nelas; e plantarão vinhas, mas não lhes beberão o vinho. T9 95 5 "O grande dia do Senhor está perto, está perto, e se apressa muito a voz do dia do Senhor; amargamente clamará ali o homem poderoso. Aquele dia é um dia de indignação, dia de angústia e de ânsia, dia de alvoroço e de desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas. Dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortes e contra as torres altas. E angustiarei os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor; e o seu sangue se derramará como pó, e a sua carne como esterco. Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia do furor do Senhor; mas pelo fogo do Seu zelo toda esta Terra será consumida; porque certamente fará de todos os moradores da Terra uma destruição total e apressada." Sofonias 1:2, 3, 8-18. T9 96 1 Deus não pode ter paciência por muito mais tempo. Seus juízos já começam a cair em alguns lugares, e logo o Seu desagrado será manifesto em outras partes. T9 96 2 Haverá uma série de acontecimentos que revelarão que Deus é o Senhor da situação. A verdade será proclamada em linguagem clara e inequívoca. Como povo, precisamos preparar o caminho do Senhor sob a soberana direção do Espírito Santo. O evangelho deve ser proclamado em sua pureza. A correnteza de águas vivas deve, em seu curso, aprofundar-se e alargar-se. Em todos os campos, próximos e distantes, haverá homens que serão chamados de detrás do arado e das mais comuns profissões em geral preferidas, para ligarem-se a homens experimentados e ser por eles instruídos. À medida que aprendam a trabalhar e se tornem eficientes, proclamarão a verdade com poder. Por causa das maravilhosas atuações da providência divina, montanhas de dificuldades serão removidas e lançadas ao mar. A mensagem que tanta importância tem para os habitantes da Terra, será ouvida e compreendida. Os homens discernirão a verdade. A obra progredirá mais e mais até que a Terra inteira seja advertida; então, virá o fim. ------------------------Capítulo 11 -- Uma obra atual T9 97 1 À medida que transcorre o tempo, torna-se mais e mais evidente que os juízos divinos estão no mundo. Por meio de incêndios, inundações, e terremotos, Deus está advertindo da Sua próxima vinda os habitantes deste mundo. Aproxima-se o tempo da grande crise da história do mundo, em que cada ato do governo de Deus será observado com interesse intenso e apreensão indizível. Os juízos seguir-se-ão em sucessão rápida: incêndios, inundações e terremotos, com guerra e derramamento de sangue. T9 97 2 Oh! se o mundo ao menos conhecesse o tempo da sua visitação! Numerosos são ainda os que não ouviram acerca da verdade que deve prová-los neste tempo. O Espírito de Deus contende ainda com muitos. O tempo dos destruidores juízos divinos é o tempo de graça para os que não tiveram a oportunidade de conhecer a verdade. O Senhor para eles olhará com amor. Comove-se-Lhe o coração compassivo; Seu braço está ainda estendido para salvar, ao passo que a porta já se fecha para os que não quiseram entrar. T9 97 3 A misericórdia divina manifesta-se com grande indulgência. Está Deus retendo os Seus juízos a fim de que a mensagem de advertência alcance a todos. Oh! se nosso povo sentisse devidamente a sua responsabilidade quanto à proclamação ao mundo da última mensagem de misericórdia, que obra extraordinária não seria realizada! T9 97 4 Contemplemos as cidades, e quanto carecem do evangelho! Durante mais de vinte anos me foi lembrada a necessidade de obreiros zelosos entre as multidões que povoam as cidades. Quem se preocupa com as grandes cidades? Uns poucos apenas; quase nenhuma atenção, porém, tem sido dedicada a essa obra, em comparação com as necessidades imensas e as inúmeras oportunidades. Nas cidades da costa leste T9 98 1 Fui instruída que a mensagem deveria ser novamente pregada com poder nas cidades da costa leste dos Estados Unidos. Em muitas dessas grandes cidades do leste, as mensagens do primeiro e segundo anjos foram anunciadas durante o movimento de 1844. A nós, como servos de Deus, nos foi confiada a mensagem do terceiro anjo, a mensagem do atamento, para o preparo de um povo para a vinda do Rei. Devemos fazer todo esforço possível para transmitir o conhecimento da verdade a todos quantos a queiram escutar; e muitos escutarão. Em todas as grandes cidades Deus tem pessoas sinceras, desejosas de saber o que é a verdade. T9 98 2 O tempo é curto; o Senhor quer que tudo quanto se relaciona com a Sua obra seja posto em boa ordem. Quer que a Sua solene mensagem de advertência e convite seja proclamada por Seus mensageiros tão extensamente quanto possível. Nada que possa impedir o avanço da mensagem deverá ser tolerado em nossos planos. "Repita a mensagem, repita a mensagem", foram as palavras a mim dirigidas em muitas ocasiões. "Diga ao Meu povo que repita a mensagem nos lugares onde foi primeiramente anunciada, onde uma igreja após outra se decidiu em favor da verdade, e o poder divino dela testificou de maneira extraordinária." T9 98 3 Durante anos, os pioneiros de nossa obra lutaram contra a pobreza, expostos a numerosas privações, a fim de proporcionar à verdade posição vantajosa. Com poucos recursos, trabalharam sem descanso, e Deus lhes abençoou os humildes esforços. A mensagem foi proclamada com poder na costa leste, e dali se expandiu para o oeste, até que em muitos lugares foram criados centros de influência. Pode ser que atualmente os nossos obreiros não tenham que passar por todas as privações dos primeiros tempos. As condições mais favoráveis, porém, não devem induzir-nos a diminuir os esforços. E agora que o Senhor nos manda proclamar novamente a mensagem com vigor na costa leste, bem como a entrar nas cidades do norte, sul, leste e oeste, não atenderemos, como um só homem, ao Seu mando? Não planejaremos para enviar mensageiros a todos esses campos e sustentá-los liberalmente? Não irão os pastores de Deus a esses centros populosos, para ali advertir as multidões? Para que servem as nossas Associações, senão para a continuação desta mesma obra? T9 99 1 Um início foi empreendido no sentido de proclamar a terceira mensagem angélica na cidade de Washington, e em outras cidades do Sul e do Leste; entretanto, para que possamos corresponder à mente do Senhor, devemos planejar o avanço de uma obra sistemática, de muito maior alcance. Temos de empreender esse trabalho com uma perseverança tal, que não deixe espaço para qualquer abrandamento de nossos esforços, até que possamos contemplar a salvação de Deus. T9 99 2 Em Portland, Maine; em Boston e cidades circunvizinhas; em Nova Iorque e as populosas cidades à sua volta; em Filadélfia, Baltimore e Washington, o Senhor deseja que proclamemos a mensagem do terceiro anjo com poder. Não somos capazes de exercer esse poder por nós mesmos; podemos, contudo, escolher homens capazes e insistir em que eles transitem por essas avenidas de oportunidade, e ali proclamem a mensagem sob o poder do Espírito Santo. Devemos planejar a colocação, nesses lugares, de homens capazes, que apresentem a terceira mensagem angélica de maneira tão convincente, que encontre o caminho do coração. Homens que revelem tal capacidade, não devem ser deixados reunidos num mesmo lugar, executando um trabalho que outros poderiam realizar. T9 100 1 E ao falarem esses obreiros acerca da verdade e a colocarem em prática e orarem por seu progresso, Deus comoverá os corações. Ao trabalharem com todo o ardor que Deus lhes concede, de coração humilde e inteiramente nEle confiantes, seus esforços não deixarão de produzir frutos. O empenho decidido feito com o propósito de encaminhar as pessoas para o conhecimento da verdade para este tempo, terá o apoio dos santos anjos, e muitas delas serão salvas. A liberalidade no esforço missionário T9 100 2 Os Estados do Sul devem receber o conhecimento da verdade presente. Não digamos: "Nossas casas publicadoras e igrejas precisam de mais auxílio. Precisamos de todos os recursos disponíveis para continuar a obra empreendida." Muitos irmãos têm recusado auxiliar certos ramos de atividade missionária, por temor de que sejam consumidos os recursos que haviam destinado para outros empreendimentos. Esses irmãos necessitam de maior dose do Espírito de Cristo. Elevem mais o seu ideal; então, os recém-conversos à verdade perceberão que têm uma obra para realizar. Dessa forma, aumentarão sempre os recursos para levar avante a obra. T9 100 3 Será que vamos esperar até que os habitantes das cidades venham a nós e ofereçam: "Se vierem nos instruir, nós os ajudaremos desta e daquela maneira"? Que sabem eles acerca da nossa mensagem? Façamos a nossa parte para advertir essas pessoas que estão a ponto de perecer sem terem sido advertidas nem salvas. Quer o Senhor que a nossa luz brilhe de maneira tal perante os homens, que o Seu Espírito Santo possa comunicar a verdade aos corações sinceros que O buscam. T9 101 1 Ao fazermos essa obra, veremos os recursos entrarem em nossas contas, e teremos fundos suficientes para dar à nossa obra maior expansão. Serão trazidas para a verdade pessoas ricas que se disporão a dar de seus bens para o avanço da obra de Deus. Foi-me mostrado que há grandes riquezas nas cidades ainda não trabalhadas. Deus suscitou o interesse de pessoas ali. Temos de ir a elas; ensiná-las, como Cristo ensinava; e transmitir-lhes a verdade. Elas a aceitarão. E tão certamente como os sinceros serão convertidos, seus meios serão consagrados ao serviço do Senhor, e veremos o aumento dos recursos. T9 101 2 Bom seria se pudéssemos ver as necessidades dessas cidades, como Deus as vê! Em tempo tal como este, cada pessoa tem de participar. O Senhor vem, aproxima-se o fim, sim, está muito próximo! Dentro em pouco não poderemos trabalhar tão livremente quanto agora. Cenas terríveis estão perante nós e o que temos por fazer devemos fazê-lo com pressa. Motivo para servir T9 101 3 Faz pouco, no transcurso de uma noite, fui despertada do sono e vi os padecimentos que Cristo teve que suportar em favor dos homens. Seu sacrifício, as zombarias e os insultos sofridos às mãos de homens maus, Sua agonia no Jardim do Getsêmani, a traição e a crucifixão: tudo me foi revelado nitidamente. T9 101 4 Vi Cristo em meio de um grande grupo de pessoas. Buscava Ele gravar-lhes na mente os Seus ensinos. Era, porém, menosprezado e repelido. Os homens O sobrecarregavam de injúrias e ignomínia. Esse espetáculo me produziu grande angústia. Instei com Deus: "Que acontecerá a essas pessoas? Será que ninguém, dentre elas, renunciará ao conceito elevado que faz de si mesmas, para, como criança buscar o Senhor? Ninguém quebrantará perante Deus o coração por meio de arrependimento e confissão?" T9 102 1 Foi-me mostrada a agonia de Cristo no horto do Getsêmani, quando o cálice misterioso tremeu nas mãos do Redentor. "Meu Pai", orou Ele, "se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres." Mateus 26:39. Ao interceder Ele perante o Pai, grandes gotas de sangue Lhe caíam do rosto ao chão. Os elementos das trevas congregavam-se em torno do Salvador para O fazer desanimar. T9 102 2 Erguendo-Se do chão, Cristo foi ao lugar onde deixara os discípulos e pedira que com Ele vigiassem e orassem para não cair em tentação. Queria certificar-Se de que compreendiam a Sua agonia; Ele necessitava de simpatia humana. Achou-os, porém, dormindo. Três vezes os buscou, encontrando-os dormindo. T9 102 3 Três vezes o Salvador orou: "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice." Mateus 26:39. Foi, então, que o destino do mundo perdido oscilou na balança. Se Cristo houvesse recusado beber o cálice, o resultado teria sido a ruína eterna da espécie humana. Um anjo do Céu, porém, fortaleceu o Filho de Deus para que aceitasse o cálice e bebesse a sua amarga sentença. T9 102 4 Como são poucos os que reconhecem que tudo isso foi suportado por eles pessoalmente! Como são poucos os que dizem: "Isso foi feito por mim, a fim de que eu possa receber a vida futura imortal!" T9 102 5 Quando me foram apresentadas, de maneira tão vívida, essas coisas, pensei: "Nunca poderei colocar diante do público esse assunto tal como é"; e o que digo aqui é uma parte mínima do que me foi mostrado. Ao pensar eu naquele cálice que tremeu nas mãos de Cristo; ao considerar que Ele poderia haver Se recusado a sorvê-lo e deixado o mundo perecer em seu pecado, fiz a decisão de consagrar todas as energias de minha vida ao trabalho de trazer as pessoas até Ele. T9 103 1 Cristo veio ao mundo para sofrer e morrer a fim de que, pela fé nEle e mediante a apropriação dos Seus méritos, viéssemos a ser colaboradores de Deus. Era desígnio do Salvador que depois de subir ao Céu, para ali interceder em favor dos homens, Seus seguidores prosseguissem com a obra por Ele iniciada. Não demonstrará o ser humano interesse especial em transmitir a luz da mensagem do evangelho aos que continuam nas trevas? Alguns há que se dispõem a ir aos confins da Terra a fim de transmitir aos homens a luz da verdade, mas Deus requer que todos os que conhecem a verdade se esforcem por conquistar outros para o amor da verdade. Como poderemos ser considerados em condições de entrar na cidade de Deus, se não nos dispomos a fazer verdadeiros sacrifícios para salvar os que estão prestes a perecer? T9 103 2 Cada um de nós tem uma obra individual para cumprir. Eu sei que há muitos que se põem na devida relação com Cristo, e têm um único pensamento: apresentar ao mundo a mensagem da verdade presente. Estão sempre dispostos a oferecer os seus préstimos. Entristece-me, porém, ver tantos que se contentam com uma vida cristã empobrecida, e que pouco lhes custa. Mediante sua vida declaram que por eles Cristo morreu em vão. T9 103 3 Se alguém não considera honroso participar dos sofrimentos de Cristo; se não sente responsabilidade alguma por quem está condenado a perecer; se não está disposto a sacrifícios com o fim de economizar em proveito da obra que precisa ser feita, esse seguramente não terá um lugar no reino de Deus. A cada passo precisamos ser participantes dos sofrimentos e da abnegação de Cristo. Precisamos ter em nós a atuação do Espírito de Deus, guiando-nos continuamente pela senda do sacrifício. "Preparai-vos" T9 104 1 "Eis que cedo venho", declara Cristo, "e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:12. Em Sua vinda, o Senhor examinará cada talento e exigirá os juros do capital que nos confiou. Por Sua própria humilhação e agonia; por Sua vida de trabalho e morte ignominiosa, Jesus pagou já os serviços de todos quantos se chamam pelo Seu nome e professam ser servos Seus. Cada qual tem o dever solene de aperfeiçoar todas as suas faculdades para a obra de ganhar pessoas para Ele. "Não sois de vós mesmos", diz Ele, "porque fostes comprados por bom preço"; portanto, temos de glorificar a Deus por meio de uma vida de serviço que arrebatará homens e mulheres do pecado para a justiça. 1 Coríntios 6:19, 20. Fomos comprados pelo preço da própria vida de Cristo -- comprados para que, mediante serviço fiel, devolvamos a Deus o que Lhe pertence. T9 104 2 Não dispomos de tempo agora para dedicar as nossas energias e talentos a empreendimentos mundanos. Será que vamos nos dedicar tanto servindo ao mundo, servindo a nós mesmos, que venhamos a perder a vida eterna e a eterna felicidade do Céu? Oh! não nos podemos com isso conformar! Empreguemos na obra de Deus todo os talentos. Por meio de seus esforços, os que receberem a verdade devem aumentar o número de homens e mulheres que serão coobreiros de Deus. É preciso iluminar e ensinar as pessoas para que possam servir a Deus de maneira sábia; devem elas crescer continuamente no conhecimento da justiça. T9 104 3 O Céu inteiro está interessado na execução da obra que Cristo veio fazer no mundo. Os seres celestiais estão preparando o caminho para que a luz da verdade brilhe nos lugares entenebrecidos da Terra. Os anjos estão prontos para entrar em contato com os que assumem a obra que nos foi designada há anos. Não manifestaremos nós interesse por buscar meios e modos de iniciar o trabalho nas cidades? Muitas oportunidades têm sido desperdiçadas pela negligência em realizarmos prontamente essa obra, deixando de prosseguirmos em fé. Diz o Senhor: "Se vocês tivessem crido nas mensagens que lhes enviei, não haveria tanta falta de obreiros nem de meios para sustentá-los." T9 105 1 A vinda de Cristo está próxima, e se apressa muito. O tempo que nos resta para trabalhar é curto, e homens e mulheres estão perecendo. Disse o anjo: "Não deveriam os homens que receberam grande iluminação cooperar com Aquele que enviou Seu Filho ao mundo para lhes conceder luz e salvação?" Acaso os homens que receberam o conhecimento da verdade, linha após linha, preceito sobre preceito, um pouco aqui e outro pouco ali, darão valor Àquele que veio à Terra para tornar todos os crentes participantes do Seu divino poder? Assim é que a divindade de Cristo deve efetuar a salvação da espécie humana, e tornar eficaz a intercessão de nosso Sumo Sacerdote junto ao trono de Deus. O plano foi ideado no Céu. Não saberão, os que foram comprados a tão alto preço, apreciar tão grande salvação? T9 105 2 Não pode o Senhor aprovar o povo que, conquanto professe piedade, e pretenda crer na breve vinda de Cristo, deixa de advertir as cidades quanto aos juízos que em breve hão de cair sobre a Terra. Os que assim procedem, serão julgados por sua negligência. Cristo deu a Sua preciosa vida para salvar os que perecem em pecados. Negar-nos-emos a cumprir a obra que nos foi designada, e a cooperar com Deus e os seres celestiais? Milhares de pessoas há que assim procedem, deixando de identificar-se com Cristo e, por meio das obras de justiça que são os frutos da graça salvadora, manifestar em sua vida o grande sacrifício de Cristo. Não obstante, essa é em realidade a obra conferida aos homens pelo sacrifício do Filho de Deus. Sabendo nós isso, poderemos ficar indiferentes? Meus irmãos, eu os convido a despertar. As faculdades espirituais não exercidas na atividade em favor de Cristo enfraquecerão e morrerão. Que desculpa poderá ser apresentada para a negligência da grande e bela obra para cujo cumprimento Cristo deu Sua vida? T9 106 1 Não podemos dedicar a coisas vãs e insignificantes os poucos dias que temos de viver sobre a Terra. Devemos humilhar perante Deus o espírito, de maneira que cada coração possa beber da fonte da verdade, e ela realize na vida uma reforma que convença o mundo de que é, de fato, a verdade divina. Esteja a nossa vida escondida com Cristo em Deus. Quando buscarmos o Senhor como crianças, quando deixarmos de encontrar defeitos em nossos irmãos e irmãs, e nos que se esforçam por arcar fielmente com as responsabilidades da obra; quando buscarmos pôr o próprio coração em ordem para com Deus; então, e só então, poderá Ele usar-nos para a glória do Seu nome. T9 106 2 Se quisermos que Deus Se agrade de nosso trabalho, todos deveremos assumir perante Ele atitude de sacrifício pessoal. Lembremos que a mera profissão nada é, a menos que a verdade esteja no coração. É necessário que o poder divino de converter se aposse de nós, a fim de compreendermos as necessidades de um mundo que perece. A principal mensagem de que fui encarregada de transmitir-lhes, é: Preparem-se, preparem-se para o encontro com o Senhor. Limpem as lâmpadas para que a luz da verdade brilhe nos atalhos e valados. Há um mundo inteiro à espera de que lhes seja anunciada a proximidade do fim de todas as coisas. T9 106 3 Irmãos e irmãs: Busquem o Senhor, enquanto pode ser achado. Aproxima-se a hora em que os que desperdiçaram o tempo e as oportunidades se lamentarão de não haverem buscado a Deus. Ele lhes concedeu a faculdade do raciocínio, e quer que ela seja usada para seu benefício e também de Sua obra. Quer que trabalhem para Ele com zelo nas igrejas. Quer que organizem reuniões para as pessoas que não pertencem à igreja, de maneira que aprendam as verdades desta última mensagem de advertência. Lugares há onde serão recebidos com júbilo, onde as pessoas lhes agradecerão por terem recebido sua ajuda. Que Deus os ajude a dedicarem-se como nunca antes foi feito. T9 107 1 Comecemos a trabalhar com aqueles que ainda não receberam iluminação. "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra", declara o Salvador, "e eis que Eu estou convosco todos os dias." Mateus 28:18, 20. O que precisamos é de fé viva, fé para proclamar sobre o sepulcro aberto de José que temos um Salvador vivo, que irá adiante de nós e trabalhará conosco. Deus fará o trabalho, se Lhe fornecermos os instrumentos. Deve haver entre nós muito mais oração e muito menos espírito de incredulidade. Devemos cada vez mais erguer perante o mundo as normas. Precisamos lembrar que, ao proclamarmos liberdade aos cativos e darmos o pão da vida aos famintos, Cristo estará sempre ao nosso lado. Ao nos mantermos alerta para a urgência e importância de nossa obra, a salvação divina será revelada de maneira muito notável. T9 107 2 Deus nos ajude a revestir-nos da armadura e a agir com fervor como se valesse a pena salvar homens e mulheres. Busquemos nova conversão. Precisamos da presença do Santo Espírito de Deus, para nos enternecer o coração e evitar que manifestemos no trabalho espírito rude. Oro a fim de que o Espírito Santo Se aposse inteiramente do nosso coração. Procedamos como filhos de Deus, que buscam o Seu conselho, e se dispõem a executar-Lhe os planos, onde quer que sejam apresentados. Deus será glorificado por um tal povo, e os que nos observam o zelo, dirão: Amém, amém. T9 108 1 "Desperta, desperta, veste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te dos teus vestidos formosos, ó Jerusalém, cidade santa. ... Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis a voz dos teus atalaias! Eles alçam a voz, juntamente exultam; porque olho a olho verão, quando o Senhor voltar a Sião. T9 108 2 "Clamai cantando, exultai juntamente, desertos de Jerusalém; porque o Senhor consolou o Seu povo, remiu a Jerusalém. O Senhor desnudou o Seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus." Isaías 52:1-10. ------------------------Capítulo 12 -- Métodos de trabalho T9 109 1 Conjuntamente com a proclamação da mensagem em cidades grandes, há muitas espécies de trabalho a ser efetuado por obreiros de vários dons. Uns devem trabalhar de um modo, outros de outro. O Senhor deseja que as cidades sejam trabalhadas mediante os esforços unidos de obreiros de diferentes habilidades. Todos devem buscar em Jesus a direção, não confiando na sabedoria dos homens, a fim de que não se extraviem. Como cooperadores de Deus devem procurar estar em harmonia uns com os outros. Deve haver freqüentes concílios e fervorosa, sincera cooperação. Contudo, todos devem buscar sabedoria em Jesus, não dependendo só da direção de homens. T9 109 2 O Senhor deu a alguns pastores a habilidade de reunir e conservar grandes congregações. Isso exige o exercício de tato e habilidade. Nas cidades de hoje, onde existem tantas coisas destinadas a atrair e agradar, o povo pode não se interessar por esforços medíocres. Os pastores designados por Deus hão de achar necessário empenhar esforços extraordinários para atrair a atenção das multidões. E quando conseguem reunir grande número de pessoas, têm de apresentar mensagens de caráter tão fora da ordem comum para que o povo fique desperto e atento. Têm de fazer uso de todos os meios lícitos para fazer com que a verdade sobressaia clara e distintamente. A importante mensagem para este tempo deve ser apresentada tão clara e decididamente que comova os ouvintes, e os leve ao desejo de estudar as Escrituras. T9 109 3 Os que fazem a obra do Senhor nas cidades têm de envidar esforço concentrado, perseverante e devotado, em favor da educação do povo. Embora devam trabalhar fervorosamente para despertar e conservar o interesse dos ouvintes, têm de ao mesmo tempo precaver-se contra qualquer coisa que se aproxime do sensacionalismo. Nesta época de extravagância e ostentação, em que os homens julgam necessário aparentar o que não são para conseguir êxito, os escolhidos mensageiros de Deus devem mostrar o erro de gastar meios desnecessariamente para causar efeito. Ao trabalhar com simplicidade, humildade e gentil dignidade, evitando tudo que seja de natureza teatral, sua obra fará duradoura impressão para o bem. T9 110 1 Há necessidade, é certo, de despender dinheiro, cuidadosamente, para anunciar as reuniões, e prosseguir com a obra sobre bases sólidas. Contudo, logo ficará claro que a força de cada obreiro reside, não nessas manifestações exteriores, mas na tranqüila confiança em Deus, na oração fervorosa, pedindo auxílio, e na obediência à Sua Palavra. Muito mais oração, muito maior semelhança com Cristo, muito mais conformidade com a vontade de Deus, devem ser introduzidas na obra do Senhor. Demonstrações exteriores e extravagante dispêndio de meios não realizarão a obra que deve ser feita. T9 110 2 A obra de Deus tem de ser levada avante com poder. Precisamos do batismo do Espírito Santo. Precisamos compreender que Deus acrescentará às fileiras de Seu povo homens de habilidade e influência que hão de desempenhar sua parte em advertir o mundo. Nem todos no mundo são iníquos e pecaminosos. Deus tem muitos milhares que não dobraram os joelhos a Baal. Há nas igrejas caídas homens e mulheres tementes a Deus. Se assim não fosse, não seríamos incumbidos de proclamar a mensagem: "Caiu! Caiu a grande Babilônia. ... Sai dela, povo Meu." Apocalipse 18:2, 4. Muitos dos sinceros de coração estão suspirando por um sopro de vida do Céu. Eles reconhecerão o evangelho quando lhes for apresentado na beleza e simplicidade com que é colocado na Palavra de Deus. Necessidade do trabalho de casa em casa T9 111 1 De importância igual às conferências públicas especiais é o trabalho de casa em casa, nos lares do povo. Em cidades grandes há certas classes que não podem ser alcançadas pelas reuniões públicas. Essas têm de ser procuradas como o pastor procura a ovelha perdida. Tem que ser feito, em seu favor, diligente esforço pessoal. Sendo negligenciado o trabalho pessoal, perdem-se muitas preciosas oportunidades que, se fossem aproveitadas, fariam avançar decididamente a obra. T9 111 2 Em resultado da apresentação da verdade em congregações grandes, desperta-se um espírito de indagação, e é especialmente importante que esse interesse seja seguido pelo trabalho pessoal. Os que desejam pesquisar a verdade, precisam ser ensinados a estudar diligentemente a Palavra de Deus. Alguém terá de ajudá-los a construir sobre alicerce firme. Nessa ocasião crítica em sua experiência religiosa, quão importante é que instrutores bíblicos sabiamente dirigidos venham ao seu auxílio e lhes abram ao entendimento o tesouro da Palavra de Deus! Missão na cidade -- Um local de treinamento T9 111 3 Uma obra bem equilibrada pode ser melhor efetuada havendo em funcionamento uma escola de preparo para obreiros bíblicos. Enquanto se realizam as reuniões públicas, deve haver, em ligação com essa escola de preparo ou missão urbana, obreiros experientes, de profundo discernimento espiritual, que possam dar aos obreiros bíblicos instrução diária, e que também possam unir-se completamente às conferências públicas que se realizam. E à medida que homens e mulheres são convertidos à verdade, os que estão à frente dessa missão urbana devem mostrar a esses novos conversos como experimentar o poder da verdade em sua vida. Esse esforço unido da parte de todos os obreiros será como uma alavanca colocada no apoio correto. Ensinando a reforma de saúde T9 112 1 Como um povo, foi-nos dada a obra de tornar conhecidos os princípios da reforma de saúde. Alguns há que pensam que a questão do regime alimentar não seja de importância suficiente para ser incluída em seu trabalho evangélico. Mas esses cometem um grande erro. A Palavra de Deus declara: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus." 1 Coríntios 10:31. O assunto da temperança, em todas as suas modalidades, tem lugar importante na obra da salvação. T9 112 2 Em conexão com nossas missões urbanas deveria haver locais apropriados, em que aqueles nos quais se despertou interesse possam reunir-se para ser instruídos. Essa obra necessária não deve ser efetuada de modo tão pobre que se faça impressão desfavorável sobre o espírito do povo. Tudo que é feito deve dar testemunho favorável em prol do Autor da verdade, e deve de modo apropriado representar a santidade e importância das verdades da terceira mensagem angélica. T9 112 3 Devem ser estabelecidas escolas de culinária. Devemos ensinar o povo a preparar alimento saudável. É preciso mostrar-lhes a necessidade de abandonar os alimentos não saudáveis. Mas nunca deveríamos advogar um regime que nos faça padecer fome. É possível ter um regime adequado, nutritivo, sem o emprego de café, chá e carne. A obra de ensinar o povo a preparar um cardápio que seja ao mesmo tempo saudável e apetecível, é da maior importância. T9 112 4 A obra da reforma de saúde é o meio empregado pelo Senhor para diminuir o sofrimento de nosso mundo e para purificar Sua igreja. O povo deve ser ensinado que pode desempenhar o papel da mão ajudadora de Deus, mediante sua cooperação com o Obreiro-Mestre na restauração da saúde física e espiritual. Essa obra traz o selo divino, e há de abrir portas para a entrada de outras verdades preciosas. Há lugar para todos quantos quiserem efetuar essa obra inteligentemente. T9 113 1 Colocar a obra da reforma de saúde como fundamental -- é a mensagem que sou instruída a apresentar. Deve-se mostrar tão claramente o seu valor que se venha a sentir uma vasta necessidade dela. A abstinência de todo alimento e bebida prejudiciais é fruto da verdadeira religião. Aquele que é perfeitamente convertido abandonará todo hábito e apetite prejudiciais. Pela abstinência total vencerá ele o desejo das condescendências que destroem a saúde. T9 113 2 Sou instruída a dizer aos educadores da reforma de saúde: Prossigam! O mundo necessita de cada migalha de influência que pode ser exercida para deter a onda de miséria moral. Que os que ensinam a mensagem do terceiro anjo permaneçam leais a seus parâmetros. "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1, 2. Possa o Senhor prover com as mais claras mensagens da verdade os que trabalham com a palavra e a doutrina. Se Seus obreiros apresentarem essas mensagens com simplicidade, firmeza e toda a autoridade, o Senhor cooperará com eles. Não desprezar os que têm mais posses T9 113 3 Devem os servos de Cristo trabalhar fielmente pelos ricos de nossas cidades, assim como pelos pobres e carentes. Há pessoas que ganham muito dinheiro e ainda são suscetíveis às influências e impressões da mensagem evangélica, e que, quando a Bíblia, e ela unicamente, lhes é apresentada como padrão da fé e prática cristãs, serão pelo Espírito de Deus levadas a abrir portas para a propagação do evangelho. Revelarão uma fé viva na Palavra de Deus, e usarão os meios que lhes foram confiados para preparar o caminho do Senhor, para "endireitar no ermo vereda a nosso Deus". T9 114 1 Durante anos, temos andado preocupados com a pergunta: Como poderemos reunir fundos suficientes para a manutenção das missões que o Senhor tem aberto perante nós? Lemos as ordens positivas do evangelho; e as missões, tanto nos campos nacionais como nos estrangeiros, apresentam suas necessidades. As indicações, ou antes, as positivas revelações da Providência, incitam-nos a fazer rapidamente a obra que está para ser feita. O Senhor deseja que homens possuidores de dinheiro sejam convertidos e sirvam de Sua mão auxiliadora para alcançar outros. Ele deseja que os que podem ajudar na obra da reforma e restauração vejam a preciosa luz da verdade e sejam transformados no caráter, e levados a empregar em Seu serviço o capital que lhes foi confiado. Ele deseja que empreguem os meios que lhes emprestou, em fazer bem, em abrir o caminho para o evangelho ser pregado a todas as classes, perto e longe. T9 114 2 Não há de ser o Céu apreciado pelos homens sábios do mundo? -- Oh, sim! Ali encontrarão eles descanso, paz e repouso de todas as futilidades, toda a ambição, todo o egoísmo. Devemos insistir com eles para que busquem a paz, felicidade e satisfação que Cristo anela conceder-lhes. Insistir com eles para que atentem para a obtenção do mais rico dom que pode ser conferido ao homem mortal -- as vestes da justiça de Cristo. Cristo oferece-lhes uma vida comparável com a vida de Deus, e um peso eterno de glória mui excelente. Se aceitarem a Cristo terão a mais elevada honra, honra que o mundo não pode dar nem tomar. Verão que na observância dos mandamentos de Deus há grande galardão. T9 115 1 O compassivo Redentor ordena aos Seus servos que dêem a ricos e a pobres o convite para a ceia. Devemos ir pelos caminhos e atalhos, e através de esforços perseverantes e resolutos, conduzi-los para que entrem. Que os ministros do evangelho se apoderem desses mais ricos do mundo, e os tragam ao banquete da verdade que Cristo lhes preparou. Aquele que por eles deu a preciosa vida, diz: "Trazei-os e fazei-os sentar à Minha mesa, e Eu os servirei." T9 115 2 Ministros de Cristo, relacionem-se com essa classe. Não os passem por alto, como casos sem esperança. Trabalhem com toda a persuasão possível, e como fruto de seus fiéis esforços verão no reino do Céu pessoas que serão coroadas como vencedores, para cantar o triunfante hino do conquistador. "Comigo andarão de branco", diz o Primeiro e o Último; "porquanto são dignas disso." Apocalipse 3:4. T9 115 3 Pouquíssimo esforço tem sido feito em favor de homens que se acham em posições de responsabilidade no mundo. Muitos deles possuem habilitações superiores; têm meios e são influentes. Esses são dons preciosos, que o Senhor lhes confiou a fim de serem desenvolvidos e usados para o bem de outros. T9 115 4 Procurem salvar também os ricos. Roguem-lhes que restituam ao Senhor os tesouros que Ele lhes confiou, para que em Nova Iorque e outras grandes cidades possam ser estabelecidos centros de influência dos quais a verdade bíblica em sua simplicidade irradie para o povo. Essas pessoas devem ser persuadidas a acumular seus tesouros ao lado do trono de Deus, devolvendo ao Senhor seus bens, habilitando Seus obreiros a fazer o bem e promover Sua glória. Aumentar o número de obreiros T9 116 1 A força de um exército pode ser medida especialmente pela eficiência dos homens que lhe compõem as fileiras. Um general capaz instrui seus oficiais a exercitar todos os soldados para o serviço ativo. Procura desenvolver o mais alto grau de eficiência da parte de todos. Se ele devesse depender apenas dos oficiais, nunca poderia esperar dirigir com êxito uma campanha. Ele conta com os serviços leais e infatigáveis de cada homem em seu exército. A responsabilidade repousa em grande parte sobre aqueles que compõem as fileiras. T9 116 2 E assim ocorre no exército do Príncipe Emanuel. Nosso General, que jamais perdeu uma batalha, espera de cada um que se alistou sob Seu estandarte, serviço fiel e voluntário. No conflito final, que agora se trava entre as forças do bem e as do mal, espera Ele que todos, tanto membros da igreja como pastores, tomem parte. Todos os que se alistaram como soldados Seus, devem prestar fiel serviço como homens bem dispostos, com um vivo reconhecimento da responsabilidade que sobre eles repousa individualmente. T9 116 3 Aqueles a cujo cargo se encontram os interesses espirituais da igreja devem formular planos e encontrar meios pelos quais se dê a todos os seus membros alguma oportunidade de fazer uma parte na obra de Deus. Nem sempre foi isso feito em tempos passados. Não foram bem definidos nem executados os planos para empregar os talentos de cada um em serviço ativo. Poucos estão percebendo quanto se tem perdido por causa disso. T9 116 4 Os dirigentes da causa de Deus, como sábios generais, devem delinear planos para fazer movimentos de avanço ao longo de toda a linha. Em seus planos devem dar atenção especial à obra que pode ser feita pelos membros leigos em favor de seus amigos e vizinhos. A obra de Deus na Terra jamais poderá ser terminada a não ser que os homens e as mulheres que constituem a igreja concorram ao trabalho e unam os seus esforços aos dos pastores e oficiais da igreja. T9 117 1 A salvação de pecadores requer esforço intenso e pessoal. Temos de levar-lhes a palavra de vida, não esperando que eles venham a nós. Oh, pudesse eu falar palavras capazes de despertar homens e mulheres para a ação diligente! Os momentos disponíveis de graça são poucos. Achamo-nos no próprio limiar do mundo eterno. Nenhum tempo temos a perder. Cada momento vale ouro e é excessivamente precioso para ser devotado meramente à satisfação própria. Quem buscará a Deus sinceramente, dEle obtendo força e graça para conduzir-se como Seu fiel obreiro no campo missionário? Desenvolvimento de talentos T9 117 2 Em cada igreja existem talentos que, mediante o correto enfoque, serão desenvolvidos a ponto de se tornarem um grande auxílio ao mundo. O que agora se necessita para a edificação de nossas igrejas é do aprazível trabalho de obreiros sábios para discernir e desenvolver talentos na igreja -- talentos que possam ser preparados para o uso do Mestre. Deveria existir um plano bem organizado para o emprego de obreiros que fossem a todas as nossas igrejas, grandes ou pequenas, para instruir os membros como trabalhar para a edificação da igreja, e também em favor dos descrentes. São necessárias, instrução e educação. Os que estão empenhados em visitar as igrejas, devem ensinar aos irmãos e às irmãs os métodos práticos de fazer trabalho missionário. T9 117 3 Toda a pregação do mundo não levará os homens a sentirem profundamente a necessidade das pessoas que perecem a seu redor. Coisa alguma despertará em homens e mulheres, com tanta intensidade, o zelo abnegado, quanto o enviá-los a novos campos de atividade, em favor dos que estão em trevas. Devem ser preparados obreiros para irem às estradas e atalhos. Precisamos de jardineiros sábios, que transplantem árvores para diferentes localidades, e delas saibam cuidar, a fim de que cresçam. É positivo dever do povo de Deus ir até as regiões mais distantes. Sejam postas em serviço forças para preparar novos campos, estabelecer novos centros de influência onde quer que se encontre uma abertura. Que sejam convocados os obreiros que possuam verdadeiro zelo missionário, e saiam eles a difundir luz e conhecimento, longe e perto. Levem o vivo princípio da reforma de saúde às comunidades que em grande parte ignoram essa verdade. T9 118 1 Homens que estão nos humildes caminhos da vida devem ser estimulados a assumir a obra de Deus. Conforme trabalhem, adquirirão preciosa experiência. Existe grande escassez de obreiros, e não podemos desperdiçar nem mesmo um sequer. Em vez de desencorajar os que estão tentando servir ao Mestre, deveríamos estimular muitos outros a virem para o campo de trabalho. Serviço alegre T9 118 2 Quem comunga com Deus encontrará abundante trabalho a ser feito para Ele. Os que saem no espírito do Mestre, procurando alcançar as pessoas com a verdade, não acharão a obra de atrair almas a Cristo um trabalho desinteressante, sem atrativos, enfadonho. Estão encarregados de uma obra, como lavradores de Deus, e tornar-se-ão cada vez mais vitalizados ao se entregarem ao serviço de Deus. É uma obra de regozijo abrir as Escrituras a outros. T9 118 3 Jovens de ambos os sexos devem ser educados para se tornar obreiros na própria vizinhança e em outros lugares. Que todos apliquem a mente e o coração a fim de se tornarem sábios no no que diz respeito à obra para este tempo, habilitando-se para realizar aquilo para que possuem mais aptidão. T9 119 1 Muitos jovens, que no lar tiveram uma boa educação, devem ser preparados para o serviço e animados a erguer o estandarte da verdade em novos lugares, mediante trabalho fiel e bem planejado. Associando-se com os nossos pastores e obreiros experimentados em trabalho nas cidades, obterão a melhor espécie de preparo. Agindo sob a direção divina, e sustentados pelas orações de seus coobreiros mais experientes, podem fazer bom e abençoado trabalho. Ao unirem seus esforços aos dos obreiros mais idosos, empregando a energia da melhor forma, terão a companhia de anjos celestiais; e como colaboradores de Deus, terão o privilégio de cantar, orar, crer e trabalhar com ânimo e liberdade. A confiança e segurança que a presença dos agentes celestiais lhes trará, a eles e aos seus coobreiros, levá-los-á à oração e ao louvor, com a simplicidade da fé verdadeira. T9 119 2 Não deve existir qualquer atraso nesse bem planejado esforço para educar os membros da igreja. Pessoas plenamente consagradas, e que compreendem a santidade e importância da obra, devem ser escolhidas para trabalhar nas grandes cidades. Não sejam enviados os que não se acharem qualificados nesses aspectos. São necessários homens que ergam os triunfos da cruz, que perseverem sob desencorajamento e privações, que possuam o zelo, resolução e fé, tão indispensáveis no campo missionário. Àqueles que não quiserem se envolver pessoalmente no trabalho, eu digo: Não sirvam de empecilho aos que estão dispostos a trabalhar, antes dêem-lhes estímulo e apoio. T9 119 3 Todo esse trabalho de treinamento deve ser acompanhado de intensa busca do Senhor e de Seu Santo Espírito. Que isso esteja bem claro aos que estão dispostos a se oferecer ao serviço do Mestre. Nossa conduta é observada pelo mundo. Cada ato é analisado e comentado. Precisa haver diligente cultivo das graças cristãs, para que aqueles que professam a verdade sejam capacitados a ensiná-la a outros tal qual ela é em Cristo Jesus, da qual eles mesmos sejam exemplos, e assim nossos inimigos não poderão, com justiça, dizer qualquer coisa má a respeito deles. Deus requer maior piedade, santidade de vida e pureza de conduta, de acordo com os elevados e santificadores princípios que professamos. A vida dos obreiros de Cristo deve ser de tal qualidade que os descrentes, observando sua santa conduta e cuidadosa conversação, venham a sentir-se encantados com a fé que produz tais resultados. Esforço pessoal e reuniões campais T9 120 1 A obra em nossas reuniões campais deve ser conduzida, não de acordo com os planos de homens, mas segundo a maneira de trabalhar de Cristo. Os membros da igreja devem ser incentivados ao trabalho. Anjos de Deus dirigirão a abertura de campos próximos e distantes, para que a obra de advertência ao mundo possa ser rapidamente realizada. Deus convoca os crentes a adquirirem experiência na obra missionária e a penetrarem em novos territórios, atuando de modo inteligente em favor das pessoas. Aos que assim procederem, abrir-se-ão as oportunidades de trabalho. T9 120 2 Continuando o trabalho com os interessados que aparecerem nas reuniões campais, ele serão transformados em auxiliadores em várias linhas, de modo que essas ocasiões devem ser vistas como escolas de treinamento de obreiros. Que os jovens atuem em conjunto com obreiros mais experientes, os quais orarão por aqueles e os instruirão pacientemente. Mulheres consagradas devem engajar-se em trabalho bíblico de casa em casa. Alguns dos obreiros devem atuar como colportores, vendendo nossa literatura ou até oferecendo-a de graça aos que não puderem adquiri-la. T9 121 1 Aqueles que se acham verdadeiramente convertidos, têm de tornar-se mais e mais esclarecidos em sua compreensão das Escrituras, a fim de serem capazes de proporcionar palavras de luz e salvação àqueles que se acham em trevas, e perecendo em seus pecados. Na qualidade de Seus coobreiros, devemos esperar por especial bênção e resultados definidos, enquanto lutamos por salvar as pessoas dos enganos de Satanás, para que venham a tornar-se filhos e filhas da luz. Centros de turismo e centros comerciais T9 121 2 Os que, em resposta ao chamado do momento, entraram para o serviço do Obreiro-Mestre, devem estudar Seus métodos de trabalho. Durante Seu ministério terrestre, o Salvador prevaleceu-Se das oportunidades oferecidas pelos grandes centros de comunicação. Cafarnaum, onde Jesus ficava nos intervalos de Suas viagens de um lado para outro, se tornou conhecida como "Sua cidade". Essa cidade bem se adaptava a ser o centro do trabalho do Salvador. Localizada junto à estrada principal de Damasco a Jerusalém e ao Egito, bem como para o Mar Mediterrâneo, era uma grande via de comunicação. Gente de muitas terras atravessava a cidade, ou ali se demorava para descansar, em suas jornadas de um lado para o outro. Ali, Jesus podia encontrar pessoas de todas as nações e todas as classes sociais; ricos e poderosos, assim como pobres e humildes; Suas lições seriam levadas a outros países e para muitos lares. Desse modo era estimulado o estudo das profecias; e as atenções se voltavam para o Salvador, e Sua missão era levada perante o mundo. T9 121 3 Nestes dias de muita facilidade para viajar, as oportunidades para entrar em contato com homens e mulheres de todas as classes, e de muitas nacionalidades, são muito maiores do que nos dias de Israel. As rotas comerciais têm-se multiplicado mil vezes. Deus tem preparado maravilhosamente o caminho. A imprensa, com seus múltiplos recursos, está ao nosso dispor. Bíblias e publicações em muitas línguas, expondo a verdade para este tempo, estão à nossa disposição, e podem ser levadas rapidamente para todas as partes do mundo. T9 122 1 Cristãos que vivem nos grandes centros de comércio têm oportunidades especiais. Crentes dessas cidades podem trabalhar em favor de Deus na vizinhança de seus lares. T9 122 2 Nas mundialmente afamadas termas balneares, praias e centros de comércio turístico, onde fervilham milhares de pessoas em busca de saúde e prazer, devem ser colocados pastores e colportores capazes de atrair a atenção das multidões. Estejam esses obreiros alerta à sua oportunidade de apresentar a mensagem para este tempo, e realizar reuniões quando tiverem chance. Sejam ligeiros em aproveitar as oportunidades de falar ao povo. Acompanhados do poder do Espírito Santo, apresentem-se ao povo com a mensagem dada por João Batista: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus." Mateus 3:2. A Palavra de Deus deve ser apresentada com clareza e poder, para que os que têm ouvidos para ouvir, ouçam a verdade. Assim o evangelho da verdade presente será posto no caminho dos que o não conhecem, e será aceito por não poucos, e por eles levado a seus lares em todas as partes do mundo. Com zelo incansável T9 122 3 Devemos dar a última advertência de Deus aos homens, e qual não deve ser nosso fervor em estudar a Bíblia, e nosso zelo em espalhar a luz! Que cada um que recebeu a iluminação divina procure comunicá-la. Os obreiros devem ir de casa em casa, abrindo a Bíblia ao povo, disseminando nossa literatura, falando a outros da luz que lhes trouxe bênção a sua própria vida. Que seja distribuída insistentemente literatura nos meios de transporte, na rua, nos grandes navios que singram o oceano, e pelo correio. T9 123 1 Uma grande obra deve ser realizada, e os que conhecem a verdade devem apresentar poderosa intercessão, pedindo ajuda. O amor de Cristo necessita encher os corações. O Espírito de Cristo precisa ser derramado sobre eles, enquanto se preparam para permanecer em pé no dia do juízo. À medida que se consagram a Deus, convincente poder assistirá seus esforços na apresentação da verdade a outros. Não mais podemos dormir nos terrenos encantados de Satanás, antes devemos empregar todos os nossos recursos e disponibilizando-nos através de cada meio que a Providência nos dotou. A última advertência deve ser pregada diante de "muitos povos, e nações, e línguas, e reis" (Apocalipse 10:11), sendo-nos garantida a promessa: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mateus 28:20. T9 123 2 Fui instruída a chamar a atenção de nossos pastores para as cidades que faltam ser trabalhadas, e a instar com eles a fim de que, por todos os meios possíveis, abram caminho para a apresentação da verdade. Em algumas das cidades onde a mensagem da segunda vinda do Senhor foi antes proclamada, somos obrigados a iniciar o trabalho como se fosse um campo novo. Por quanto tempo ainda serão passados por alto esses campos estéreis, essas cidades difíceis? Sem demora, deve o lançamento da semente começar em muitos, muitos lugares. T9 123 3 O Senhor requer de Seus servos um espírito pronto a sentir o valor das pessoas, discernir os deveres a cumprir e atender às obrigações que o Senhor lhes confie. Precisa existir uma devoção que considerará qualquer valor terrestre como insuficiente para ser colocado em lugar da obra a ser empreendida no encaminhamento das pessoas ao conhecimento da verdade. T9 124 1 Pastores, preguem as verdades que resultam no trabalho pessoal em favor dos que estão sem Cristo. Incentivem o esforço pessoal de todos os modos possíveis. Lembrem-se que a obra do ministro não consiste meramente em pregar. Devem antes visitar as famílias nos lares, orar com elas e abrir diante delas as Escrituras. Aquele que desempenha fiel trabalho fora do púlpito, alcançará dez vezes mais do que aquele que restringe a ele suas atividades. Que nossos ministros levem sua carga de responsabilidade com temor e tremor, buscando sabedoria do Senhor e suplicando constantemente por Sua graça. Que façam de Jesus o seu modelo, estudando diligentemente Sua vida e colocando todos os dias em prática os princípios que O dirigiram em Seu serviço, enquanto esteve na Terra. T9 124 2 "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mateus 11:28. Aí se encontra a receita para a cura de todos os que se acham enfermos mental, física e espiritualmente. É esse o presente de Cristo a todos os que O buscam em sinceridade e verdade. Ele é o poderoso Curador. É-nos apresentado então outro convite: "Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve." Mateus 11:29, 30. Ao usarmos o jugo de Cristo e aprendermos dEle lições de mansidão e bondade, encontraremos descanso na fé e na confiança. Constataremos que o jugo de Cristo é suave, e que Seu fardo é leve. ------------------------Capítulo 13 -- Apelo aos membros da igreja T9 125 1 Quando uma série de conferências é realizada por obreiros de experiência num lugar em que vivem irmãos nossos, repousa sobre os crentes desse campo a solene obrigação de fazer tudo quanto está ao seu alcance para abrir o caminho para o Senhor atuar. Devem, orando, examinar a consciência e preparar o caminho para o Senhor, removendo todo pecado que os impediria de cooperar com Deus e com seus irmãos. T9 125 2 Isso nem sempre tem sido compreendido plenamente. Satanás muitas vezes tem introduzido um espírito que impossibilita os membros da igreja de discernir oportunidades para o serviço. Com freqüência, os crentes têm permitido que o inimigo atue por meio deles quando deveriam haver estado completamente consagrados a Deus e ao avanço de Sua obra. Inconscientemente se têm extraviado para longe do caminho da justiça. Acalentando espírito de crítica e censura, farisaica piedade e orgulho, afastaram de si o Espírito de Deus, retardando grandemente a obra dos mensageiros divinos. T9 125 3 Esse mal tem sido observado muitas vezes, e em muitos lugares. Por vezes os que condescenderam com o espírito de crítica e condenação, arrependeram-se, convertendo-se. Então, Deus os pôde usar para honra e glória de Seu nome. T9 125 4 Estamos vivendo num período especial da história da Terra. Uma grande obra tem que ser feita em intervalo de tempo muito curto, e cada cristão deve desempenhar uma parte na manutenção dessa obra. Deus está chamando homens que se consagrem à obra da salvação. Quando começarmos a compreender que sacrifício Cristo fez para salvar um mundo a perecer, ver-se-á luta veemente para salvar as pessoas. Oh se todas as nossas igrejas vissem e reconhecessem o sacrifício infinito de Cristo! Um movimento de reforma T9 126 1 Em visões da noite, passaram perante mim representações de um grande movimento de reforma entre o povo de Deus. Muitos estavam louvando a Deus. Os enfermos eram curados e outros milagres eram realizados. Viu-se um espírito de intercessão tal como se manifestou antes do grande dia de Pentecostes. Viam-se centenas e milhares visitando famílias e abrindo perante elas a Palavra de Deus. Os corações eram convencidos pelo poder do Espírito Santo, e manifestava-se um espírito de genuína conversão. Portas se abriam por toda parte para a proclamação da verdade. O mundo parecia iluminado pela influência celestial. Grandes bênçãos eram recebidas pelo fiel e humilde povo de Deus. Ouvi vozes de ações de graças e louvor, e parecia haver uma reforma como a que testemunhamos em 1844. T9 126 2 Contudo, alguns se recusavam a converter-se. Não estavam dispostos a andar nos caminhos de Deus, e quando, para poder avançar a obra divina, eram feitos pedidos de ofertas voluntárias, alguns se apegavam egoistamente às suas posses terrestres. Esses ambiciosos foram separados do grupo de crentes. Enquanto a graça é prorrogada T9 126 3 Os juízos de Deus estão na Terra e, sob a influência do Espírito Santo, precisamos dar a mensagem de advertência que Ele nos confiou. Temos que proclamar essa mensagem com rapidez, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra. Os homens serão em breve forçados a tomar grandes decisões, e nosso dever é cuidar de que lhes seja proporcionada a oportunidade de compreenderem a verdade, a fim de que se decidam inteligentemente pelo direito. O Senhor chama Seu povo para trabalhar zelosa e prudentemente, enquanto dura o tempo da graça. Importância do trabalho pessoal T9 127 1 Entre os membros de nossas igrejas deve haver mais trabalho de casa em casa, dando estudos bíblicos e distribuindo literatura. O caráter cristão só pode ser formado simétrica e completamente quando o agente humano considera um privilégio trabalhar desinteressadamente na proclamação da verdade e sustentar a causa de Deus com seus meios. Precisamos semear sobre todas as águas, conservando o coração no amor de Deus, trabalhando enquanto é dia, e empregando os meios que o Senhor nos deu para cumprir o dever que primeiro vier, seja ele qual for. O que quer que nossas mãos encontrem para fazer, devemos fazê-lo com fidelidade; seja qual for o sacrifício que sejamos chamados a fazer devemos fazê-lo alegremente. Ao semearmos sobre todas as águas, experimentaremos que "o que semeia em abundância, em abundância também ceifará". 2 Coríntios 9:6. T9 127 2 O exemplo de Cristo deve ser imitado por quem professa ser filho de Deus. Aliviando as necessidades materiais dos semelhantes, a sua gratidão quebrará as barreiras, permitindo alcançar-lhes o coração. Considerem seriamente este assunto. Como igrejas, vocês tiveram oportunidade de trabalhar como cooperadores de Deus. Se tivessem obedecido à Palavra de Deus, e participado desta obra, teriam sido abençoados e encorajados, alcançado rica experiência. Como os demais agentes humanos de Deus, estariam advogando fervorosamente um plano de salvação, de restauração. Esse plano não seria fixo, mas progressivo, avançando de graça em graça e de força em força. T9 128 1 O Senhor me apresentou a obra que tem de ser feita em nossas cidades. Os crentes aí devem trabalhar para Deus nas vizinhanças de sua casa. Necessitam fazê-lo quieta e humildemente, levando consigo, aonde quer que forem, a atmosfera do Céu. Se perderem de vista o próprio eu, apontando sempre para Cristo, será sentido o poder de sua influência. T9 128 2 Não é propósito do Senhor que os pastores sejam deixados a fazer a maior parte da obra de espalhar as sementes da verdade. Homens que não são chamados para o ministério devem trabalhar por seu Mestre segundo a habilidade de cada um. Quando um obreiro se entrega sem reservas ao serviço do Senhor, adquire uma experiência que o habilita a trabalhar para seu Mestre com êxito cada vez maior. A influência que o atraiu para Cristo, ajuda a atrair outros a Ele. Pode ser que nunca lhe seja atribuída a obra de um orador público, mas nem por isso deixa de ser ministro de Deus, e sua obra testifica ser ele nascido de Deus. T9 128 3 As mulheres, da mesma maneira que os homens, podem empenhar-se na obra de colocar a verdade onde possa atuar e manifestar-se. Podem ocupar seu lugar na obra, na presente crise, e o Senhor há de atuar por seu intermédio. Se estiverem possuídas do sentimento do dever, e trabalharem sob a influência do Espírito de Deus, possuirão exatamente a serenidade tão necessária no tempo atual. O Salvador refletirá sobre essas abnegadas mulheres a luz de Seu semblante, e isso lhes dará uma força que excederá à dos homens. Elas podem fazer nas famílias uma obra que aos homens não é possível, uma obra que alcança a vida interior. É-lhes dado pôr-se em contato íntimo com o coração de pessoas de quem os homens não se podem aproximar. Sua obra é necessária. Mulheres discretas e humildes podem realizar boa obra explicando a verdade ao povo, em suas casas. Assim explanada, a Palavra de Deus efetuará sua obra, qual fermento, e mediante sua influência serão convertidas famílias inteiras. T9 129 1 Irmãos e irmãs, formulem seus planos; agarrem cada oportunidade de falar aos vizinhos e companheiros, ou ler-lhes alguma coisa dos livros que contêm a verdade presente. Demonstrem considerar como coisa de suprema importância a salvação das pessoas por quem Cristo tão grande sacrifício fez. T9 129 2 Ao trabalhar pelas almas que perecem, terão como companheiros os anjos. Milhares de milhares e milhões de milhões de anjos aguardam a oportunidade de cooperar com os membros de nossas igrejas para comunicar a luz que Deus generosamente concedeu, a fim de ser preparado um povo para a vinda de Cristo. "Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação." 2 Coríntios 6:2. Que cada família busque do Senhor, em oração fervorosa, auxílio para fazer a obra de Deus. T9 129 3 Não passemos por alto as coisas pequenas, esperando por uma grande obra. Podemos fazer com êxito a obra pequena, mas falhar completamente ao tentar uma obra maior, e cair em desânimo. Estejamos dispostos a realizar qualquer obra que seja necessária. Quer sejamos ricos quer pobres, grandes ou humildes, Deus nos chamou para efetuar um serviço importante para Ele. Fazendo com todas as forças o que nos vier às mãos, desenvolveremos talento e aptidão para a obra. Por outro lado, negligenciando as oportunidades diárias nos tornaremos infrutíferos e áridos. Essa é a razão por que há tantas árvores estéreis no pomar do Senhor. T9 129 4 No círculo doméstico, junto à família de nosso vizinho, ao leito do enfermo, podemos de maneira calma ler as Escrituras e falar uma palavra a favor de Jesus e da verdade. Assim serão semeadas preciosas sementes, que hão de germinar, e depois de muitos dias produzir frutos. T9 130 1 Há um trabalho missionário para ser feito em muitos lugares não promissores. O espírito missionário precisa apoderar-se de nós, estimulando-nos a alcançar classes de pessoas pelas quais não tínhamos planejado trabalhar, e em maneiras e lugares que não tínhamos idéia de fazê-lo. O Senhor tem Seu plano quanto ao lançamento da semente do evangelho. Semeando-a de acordo com a Sua vontade, de tal modo multiplicaremos a semente, que Sua Palavra poderá atingir milhares que jamais ouviram a verdade. T9 130 2 Por toda parte se apresentam oportunidades. Avancemos em cada chance que a Providência nos apresenta. Os olhos têm que ser ungidos com o colírio celestial, para ver e perceber suas oportunidades. Deus está chamando obreiros de visão. Há caminhos que nos serão apresentados. Teremos de ver e compreender essas providenciais oportunidades. T9 130 3 Os mensageiros de Deus serão incumbidos de empenhar-se na mesma obra que Cristo realizou enquanto esteve na Terra. Devem se entregar a todos os ramos de serviço que Ele desenvolveu. Com zelo e sinceridade, vão falar aos homens acerca das insondáveis riquezas e do imortal tesouro celeste. Serão impelidos pelo Espírito Santo. E irão repetir os oferecimentos de paz e perdão feitos pelo Céu. Devem apontar para as portas da cidade de Deus, dizendo: "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas." Apocalipse 22:14. Espírito de abnegação T9 130 4 Todo membro da igreja deve revelar espírito de sacrifício. Em cada lar devem ser ensinadas lições de abnegação. Pais e mães, ensinem seus filhos a economizar. Animem-nos a poupar suas moedinhas, para o trabalho missionário. Cristo é nosso exemplo. Por nossa causa Ele Se fez pobre, a fim de que, por Sua pobreza enriquecêssemos. Ele ensinou que todos devem se alistar com amor e unidade, para trabalhar como Ele trabalhava, para fazer sacrifícios como Ele fazia, para amar como filhos de Deus. T9 131 1 Irmãos e irmãs, temos que permitir sermos convertidos, a fim de praticar a abnegação de Cristo. Vamos nos vestir com simplicidade, mas com asseio. Gastar o menos possível conosco. Tenhamos no lar um cofrinho de moedas, no qual possamos depositar o dinheiro poupado nos pequeninos atos de abnegação. Dia a dia, obtenhamos compreensão mais clara da Palavra de Deus e aproveitemos todas as oportunidades para comunicar aos outros o conhecimento adquirido. Não nos cansemos de fazer o bem, pois Deus nos está constantemente comunicando a grande bênção de Seu dom ao mundo. Cooperemos com o Senhor Jesus, e Ele nos ensinará as inapreciáveis lições de Seu amor. O tempo é curto; na devida ocasião, quando não houver mais tempo, receberemos nossa recompensa. T9 131 2 Aos que amam sinceramente a Deus e possuem meios, sou mandada dizer: Agora é o tempo para investir seus meios no sustento da obra do Senhor. Agora é o tempo de apoiar as mãos dos pastores em seus esforços abnegados para salvar os que estão perecendo no pecado. Ao encontrarem, nas cortes celestiais, as pessoas que ajudaram a salvar, então se sentirão gloriosamente recompensados. T9 131 3 Ninguém retenha suas moedinhas, e os que muito possuem, devem se regozijar por poder acumular no Céu um tesouro que jamais acabará. O dinheiro que recusarmos empregar na obra do Senhor, há de perecer. Sobre ele nenhum juro se acumulará no banco do Céu. T9 132 1 Nas palavras seguintes, descreve o apóstolo Paulo os que sonegam a Deus o que Lhe pertence: "Os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores." 1 Timóteo 6:9, 10. T9 132 2 Isso significa que é necessário semear muito sobre todas as águas. Significa um contínuo repartir de dons e ofertas. Deus proporcionará recursos, de maneira que o fiel mordomo de Seus meios seja suprido com suficiência em todas as coisas, e seja capacitado para realizar, com sobras, toda boa obra. "Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre. Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça." 2 Coríntios 9:9, 10. A semente plantada pródiga e liberalmente, o Senhor a toma a Seu cargo. Aquele que dá a semente ao semeador, dá ao Seu obreiro aquilo que o capacita para cooperar com o Doador da semente. T9 132 3 O Senhor convida hoje os adventistas do sétimo dia de todas as partes para a Ele se consagrarem, e realizarem, segundo sua capacidade, o máximo que lhes for possível para auxiliar Sua obra. Por sua liberalidade ao fazer donativos e ofertas, deseja Ele que revelem apreço por Suas bênçãos e gratidão por Sua misericórdia. T9 132 4 Caros irmãos e irmãs, todo o dinheiro que temos pertence ao Senhor. Apelo agora para que, em nome do Senhor, se unam para conduzir a bom termo os empreendimentos que foram iniciados segundo os conselhos de Deus. Não seja dificultado e tornado fatigante o trabalho de estabelecer monumentos para Deus em muitos lugares, pelo motivo de serem retidos os meios necessários. Não desacoroçoem os que estão lutando por viabilizar projetos importantes, quer sejam grandes ou pequenos, por sermos vagarosos no unir-nos e pôr essas atividades em condições de prestarem serviço eficiente. Levante-se todo o nosso povo e veja o que pode fazer. Mostre que existe unidade e força entre os adventistas do sétimo dia. Condições do serviço aceitável T9 133 1 Como povo, devemos chegar a uma sagrada proximidade de Deus. Precisamos da luz do Céu a brilhar em nosso coração e no íntimo do nosso espírito; precisamos da sabedoria que só Deus pode dar, se quisermos com êxito levar a mensagem a essas cidades. Arregimentem-se as nossas igrejas de todas as partes. Nenhum dos que pelo batismo se comprometeram a viver para o serviço e glória de Deus retire o seu compromisso. Há um mundo para ser salvo; que esse pensamento nos impulsione para maiores sacrifícios e mais fervoroso labor pelos que estão fora do caminho. T9 133 2 Seguindo os princípios da Palavra de Deus, nossa influência será valiosa para qualquer igreja, qualquer organização. Devemos sair em socorro do Senhor, contra os valentes. Todas as palavras frívolas, toda leviandade e trivialidade, são engodos do inimigo para nos privar da força espiritual. Fortaleçamo-nos contra esse mal, em nome do Deus de Israel. Se nos humilharmos perante Deus, Ele nos dará uma mensagem para os que se acham nos caminhos e atalhos, e os que, em países estrangeiros, carecem de nosso auxílio. Limpemos nossas lâmpadas e as conservemos acesas, para revelarmos, através de palavras e atos, preciosos raios de luz. T9 134 1 Se quisermos nos entregar ao Senhor para o Seu serviço, Ele nos instruirá quanto ao que devemos fazer. Se entrarmos em relação íntima com Deus, Ele trabalhará conosco. Não nos absorvamos tanto com nós mesmos e com nossos interesses, a ponto de nos esquecermos dos que estão tentando subir a escada da experiência cristã e precisam de nosso auxílio. Temos que estar prontos para usar na obra do Senhor a capacidade que nos confiou, prontos para proferir palavras a tempo e fora de tempo -- palavras que ajudem e abençoem. T9 134 2 Meus irmãos e irmãs, estamos levando em consideração as necessidades das grandes cidades do Leste [dos Estados Unidos]? Porventura não sabemos que elas precisam ser advertidas a respeito da aproximação de Cristo? A obra que temos diante de nós é maravilhosamente grande. Existe um mundo a ser salvo; há muitas pessoas pelas quais se trabalhar no Leste, nos Estados em que a mensagem da vinda do Senhor foi inicialmente pregada. Quem se oferecerá para realizar esse tipo de trabalho? T9 134 3 Há centenas do nosso povo que deveriam estar fora, no campo, os quais pouco ou nada estão fazendo, para o avanço da mensagem. Os que tiveram toda a vantagem de conhecer a verdade, que receberam instruções, regra sobre regra, mandamento sobre mandamento, um pouco aqui, um pouco ali, têm sobre si grande responsabilidade, relativamente a essas pessoas que nunca ouviram a última mensagem evangélica. T9 134 4 Se neste tempo oportuno os membros da igreja se chegarem humildemente à presença de Deus, afastando do coração todo mal, e consultando-O a cada passo, Ele Se lhes manifestará, e lhes dará ânimo nEle. E, cumprindo os membros da igreja fielmente a sua parte, o Senhor dirigirá e guiará Seus ministros escolhidos, e fortalecê-los-á para sua importante obra. Com muita oração, unamo-nos todos para apoiar-lhes as mãos, e para aparar os brilhantes raios de luz do santuário celestial. T9 135 1 O fim está perto, aproximando-se furtivamente, imperceptivelmente, como a silenciosa aproximação de um ladrão de noite. Conceda o Senhor que não fiquemos por mais tempo a dormir como fazem os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. A verdade há de em breve triunfar gloriosamente, e todos quantos agora escolhem ser coobreiros de Deus, com ela triunfarão. O tempo é curto; vem logo a noite, quando homem nenhum poderá trabalhar. Que os que agora estão jubilosos na luz da verdade presente, apressem-se a comunicá-la a outros. O Senhor está indagando: "A quem enviarei?" Os que desejam fazer sacrifício pela causa da verdade devem responder agora: "Eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6:8. T9 135 2 Fique bem claro aos que desempenham responsabilidades que o Espírito Santo é quem deve dar a forma. É o Senhor quem comanda. Não devemos tentar moldar segundo nossas próprias idéias aqueles para os quais trabalhamos; permitamos, antes, que o Senhor dê a moldagem. Ele não segue um padrão humano. Trabalha de acordo com a Sua própria mente e Espírito. É a obra do homem revelar ao mundo o que Cristo colocou em seu coração; por intermédio de Sua graça, torna-se o homem participante da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que, pela concupiscência, há no mundo. As mais elevadas habilidades daquele que aceita a Cristo são fortalecidas e enobrecidas, de modo que ele se torna capacitado para o serviço de Deus. T9 135 3 Muitos dos homens sábios do mundo receberam tão elevada educação que não conseguem atingir o povo comum. Seu conhecimento é intrincado. Parece muito alto, mas repousa sobre o nada. Os mais inteligentes homens de negócios almejam verdades simples, tais como as que Cristo ofereceu às pessoas enquanto viveu na Terra -- aquela verdade que Ele declarou ser espírito e vida. Suas palavras são as folhas da árvore da vida. O mundo de hoje necessita da luz do exemplo de Cristo, refletindo-se através da vida de homens e mulheres semelhantes a Ele. O intelecto mais poderoso em favor da verdade é aquele que Cristo controla, enobrecendo-o e o purificando pelo Espírito Santo. T9 136 1 Cristo apresentou a comissão: "Ide por todo o mundo." Marcos 16:15. Todos precisam ouvir a mensagem de advertência. Um prêmio do mais elevado valor acha-se diante daqueles que estão desenvolvendo a corrida cristã. Os que correm com paciência receberão a coroa que jamais será perdida. T9 136 2 Cultivemos a tranqüilidade, e entreguemos a guarda de nossa vida a Deus como a um fiel Criador. Ele há de guardar aquilo que Lhe é confiado em depósito. Não Lhe agrada cobrirmos Seu altar de lágrimas e queixumes. Temos já muitos motivos por que louvar ao Senhor, ainda que não vejamos outra pessoa convertida. Mas a boa obra irá avante, se tão-somente avançarmos, e não procurarmos ajustar tudo de acordo com nossas próprias idéias. Deixemos que a paz de Deus reine em nosso coração, e sejamos agradecidos. Deixemos ao Senhor espaço para que Ele atue. Não Lhe obstruamos o caminho. Deixemos o Senhor trabalhar, e Ele há de fazê-lo. T9 136 3 Ao passo que planos abrangentes precisam ser estabelecidos, grande cuidado tem de ser tomado com o trabalho em cada um dos ramos de atividade da causa, para que se encontre harmoniosamente unido com os demais, constituindo assim um todo perfeito. ------------------------Capítulo 14 -- Conselhos aos pastores T9 137 1 A um Obreiro de Grande Experiência na Cidade de Nova Iorque. T9 137 2 Quando penso na situação de Nova Iorque, sinto um grande peso sobre o coração. De noite, os assuntos me foram apresentados sob a seguinte luz: Nova Iorque deve ser trabalhada; haverá abertura naquelas partes da cidade em que não existem igrejas, e ali a verdade encontrará lugar. Há uma vasta obra a ser feita para proclamar a verdade para este tempo aos que se acham mortos em ofensas e pecados. As mensagens mais surpreendentes serão proclamadas por homens designados por Deus, mensagens capazes de advertir o povo, para o despertar. E apesar de alguns ficarem irritados pela advertência, e manifestarem a reação de resistir à luz e à evidência, devemos concluir daí que estamos apresentando a mensagem de prova para este tempo. T9 137 3 Serão comunicadas mensagens não usuais. Os juízos de Deus estão para cair sobre a Terra. Ao mesmo tempo que é necessário estabelecer missões nas cidades, onde colportores, obreiros bíblicos e missionários-médicos práticos sejam preparados para entrar em contato com certas classes. Precisamos ter também, nessas cidades, evangelistas consagrados, por cujo intermédio seja possível apresentar uma mensagem de forma tão decidida que sacudamos os ouvintes. T9 137 4 "Trazei o povo cego, que tem olhos; e os surdos, que têm ouvidos. Todas as nações se congreguem, e os povos se reúnam; quem dentre eles pode anunciar isto e fazer-nos ouvir as coisas antigas? Apresentem as suas testemunhas, para que se justifiquem, e para que se ouça, e para que se diga: Verdade é. Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor, e o Meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e Me creiais, e entendais que Eu sou o mesmo, e que antes de Mim deus nenhum se formou, e depois de Mim nenhum haverá. Eu, Eu sou o Senhor, e fora de Mim não há Salvador. Eu anunciei, e Eu salvei, e Eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus. Ainda antes que houvesse dia, Eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das Minhas mãos; operando Eu, quem impedirá?" Isaías 43:8-13. T9 138 1 "E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz perante eles e as coisas tortas farei direitas. Essas coisas lhes farei e nunca os desampararei. Tornarão atrás e confundir-se-ão de vergonha os que confiam em imagens de escultura e dizem às imagens de fundição: Vós sois nossos deuses. Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver. Quem é cego, senão o Meu servo ou surdo como o Meu mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o galardoado e cego, como o servo do Senhor? Tu vês muitas coisas, mas não as guardas; ainda que tenha os ouvidos abertos, nada ouve. O Senhor Se agradava dele por amor da Sua justiça; engrandeceu-o pela lei e o fez glorioso." Isaías 42:16-21. T9 138 2 A obra esboçada nessas passagens é a que se encontra diante de nós. Os termos "Meu servo", "Israel", "servo do Senhor", aplicam-se a cada um que o Senhor escolheu e indicou para a realização de um certo trabalho. Ele os torna ministros da Sua vontade, embora alguns dos escolhidos possam ser ignorantes a respeito da mesma, tal qual o era Nabucodonosor. T9 138 3 Deus atuará por aqueles dentre Seu povo que se submeterem à obra do Espírito Santo. Ele compromete Sua glória em favor do sucesso do Messias e de Seu reino. "Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e formou a terra e a tudo quanto produz, que dá a respiração ao povo que nela está e o espírito, aos que andam nela. Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por concerto do povo e para luz dos gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos e do cárcere, os que jazem em trevas." Isaías 42:5-7. T9 139 1 "Quem há entre vós que ouça isso? Que atenda e ouça o que há de ser depois?" Isaías 42:23. T9 139 2 O povo de Deus, que possui luz e conhecimento, não tem levado avante os elevados e santos propósitos de Deus. Não tem avançado de vitória em vitória, acrescentando novos territórios, erguendo o estandarte nas cidades e seus subúrbios. Grande cegueira espiritual tem sido demonstrada por aqueles sobre os quais está incidindo enorme luz do Senhor, mas que não têm avançado para uma luz ainda maior e cada vez maior. Os nervos e músculos espirituais dos membros da igreja não têm sido estimulados para fazer avançar a obra. Devem eles ser levados a entender que os ministros não podem efetivar sua salvação, pelo fato de os estarem rodeando. É por essa razão que se têm demonstrado raquíticos, quando deveriam ser pessoas fortes. T9 139 3 Em cada igreja, jovens de ambos os sexos deveriam ser selecionados para desempenhar responsabilidades. Que empreendam cada esforço a fim de se qualificarem para ajudar aqueles que não conhecem a verdade. Deus convoca obreiros sinceros, de coração decidido. O humilde e contrito aprenderá por experiência pessoal que, além dEle, não existe Salvador. T9 140 1 A verdade bíblica precisa ser pregada e praticada. Cada raio de luz outorgado, deve brilhar com um brilho intenso e distinto. A verdade deve avançar como uma lâmpada que alumia. Centenas de servos do Senhor precisam atender a esse chamado, assumindo seus postos como obreiros sinceros, salvadores, participando junto com o Senhor, a fim de auxiliá-Lo contra os poderosos. Deus convoca homens ativos; cheios da vivificadora influência de Seu Espírito, homens que reconheçam a Deus como o Governante Supremo, e dEle recebam abundante evidência do cumprimento de Suas promessas, homens que não sejam mornos, antes cálidos e fervorosos em Seu amor. T9 140 2 Ainda que se aplicasse em benefício deles todo o esforço da igreja nos últimos vinte anos, isso não seria suficiente para transformá-los em membros abnegados, seguidores de Cristo, dispostos a carregar Sua cruz. Muitos têm sido super-alimentados com o alimento espiritual, ao passo que no mundo milhares estão perecendo por falta do pão espiritual. Os membros da igreja precisam trabalhar; devem crescer por si mesmos, esforçando-se por atingir a elevada norma que lhes é proposta. Para isso o Senhor os há de auxiliar, se eles cooperarem com Ele. Caso se mantenham no amor da verdade, não reterão os ministros, impedindo-os de ir anunciar a verdade em novos campos. T9 140 3 As grandes cidades deveriam ter sido trabalhadas assim que as igrejas receberam a luz, porém muitos não têm sentido sobre seus ombros o peso dessa responsabilidade; e Satanás, encontrando-os susceptíveis às suas tentações, os impediu de realizar essa experiência. Deus pede que Seu povo se arrependa, se converta e retorne ao primeiro amor, o qual foi perdido em virtude do fracasso em seguir os passos do abnegado Redentor. Com coragem e simplicidade T9 141 1 Chegou o tempo de empreender decididos esforços nos lugares em que a verdade ainda não foi proclamada. Como realizar a obra do Senhor? Em todo lugar em que se penetre, é necessário lançar uma base sólida para trabalho permanente. Os métodos do Senhor têm de ser seguidos. Vocês não devem se intimidar com aparências exteriores, por mais desanimadoras que pareçam. Devem levar avante a obra, como o Senhor disse que deveria ser. Preguem a Palavra, e o Senhor, por meio de Seu Espírito Santo, há de enviar a convicção à mente dos ouvintes. A Bíblia diz: "E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiam." Marcos 16:20. T9 141 2 Muitos obreiros devem desempenhar sua parte trabalhando de casa em casa e dando estudos bíblicos às famílias. Manifestarão seu crescimento na graça mediante a submissão à vontade de Cristo. Assim adquirirão uma rica experiência. À medida que, com fé, receberem a Palavra de Cristo, nela crerem e a ela obedecerem, a eficiência do Espírito Santo se revelará em sua obra. Haverá uma intensificação de esforço diligente. Será alimentada uma fé que atua por amor, e purifica a alma. Ver-se-ão na vida os frutos do Espírito. T9 141 3 Cristo é a luz do mundo. Aqueles que O seguem não andam em trevas, antes possuem a luz da vida. João declara a respeito de Cristo: "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome." João 1:12. Contemplar a Cristo faz com que o coração, a mente e o caráter estejam em conformidade com a vontade de Deus. T9 141 4 Toda instrução que nossas missões podem proporcionar é importante. Prossigamos com a obra, no poder do mesmo Espírito que a dirigiu em seu estabelecimento. Mediante a exposição das Escrituras, a oração e o exercício da fé, eduquemos o povo no caminho do Senhor; e será edificada uma igreja fundamentada sobre a rocha que é Jesus Cristo. T9 142 1 A obra precisa avançar na simplicidade da verdade. Deus diz: "Tenho para vocês palavras de encorajamento." O Senhor possui nas grandes cidades muitas preciosas almas que não dobraram os joelhos a Baal, e possui também aquelas que adoraram ignorantemente a Baal. Sobre esses deve incidir a luz da verdade, para que possam ver a Cristo como o Caminho, a Verdade e a Vida. T9 142 2 Façamos nossa obra com humildade. Jamais nos elevemos acima da simplicidade do evangelho de Cristo. Não é pela arte da ostentação, mas por erguer a Cristo, o Redentor que perdoa os pecados, haveremos de alcançar êxito em atrair os pecadores. Ao trabalhar para Deus em humildade de coração, Ele Se manifestará a nós. T9 142 3 Mediante o emprego de cartazes, gráficos e ilustrações de várias espécies, o pastor pode fazer a verdade destacar-se clara e distintamente. Isso é um auxílio, e está em harmonia com a Palavra de Deus. Mas quando o obreiro torna seu trabalho tão dispendioso que não sobram no tesouro meios suficientes para manter outros obreiros no campo, ele não está trabalhando de acordo com o plano de Deus. A obra nas grandes cidades deve ser feita de acordo com a ordem de Cristo, não segundo os métodos teatrais. Não é uma realização teatral que glorifica a Deus, mas a apresentação da verdade no amor de Cristo. T9 142 4 Não devemos despojar a verdade de sua dignidade e força impressiva mediante preliminares que têm mais a ver com os moldes do mundo, do que segundo os celestiais. Os ouvintes devem ser levados a compreender que as reuniões não são para lhes agradar os sentidos com a música ou outras quaisquer coisas, mas para pregar a verdade em toda a sua solenidade, para que chegue até eles como uma advertência, despertando-os de seu letárgico sono de satisfação própria. É a verdade nua que, à semelhança de uma aguda espada de dois gumes, corta de ambos os lados. É isso que há de despertar os que se acham mortos em ofensas e pecados. T9 143 1 Aquele que deu a própria vida para salvar homens e mulheres da idolatria e da condescendência própria, deixou um exemplo a ser seguido por todos quantos empreendem a obra de apresentar o evangelho a outros. Têm sido dadas aos servos de Deus, nesta época, as mais solenes verdades a proclamar, e suas ações, métodos e planos devem corresponder à importância de sua mensagem. Se for apresentada a palavra segundo a maneira de Cristo, o auditório será mais profundamente impressionado com as verdades ensinadas. Esse auditório será tomado pela convicção de que é a palavra do Deus vivo. Formalismo no culto T9 143 2 Os mensageiros de Deus não devem seguir os métodos do mundo, em seus esforços para atrair o povo. Nas reuniões que realizam, não devem depender de cantores do mundo e exibições teatrais para despertar o interesse. Como esperar daqueles que não têm interesse na Palavra de Deus, que nunca leram Sua Palavra com o sincero desejo de compreender as verdades, que cantem com espírito e entendimento? Como pode seu coração achar-se em harmonia com as palavras do sagrado hino? Como pode o coro celestial tomar parte numa música apenas formal? T9 143 3 Assim como é difícil relacionar todos os males de uma adoração apenas formal, não há palavras para descrever as profundas bênçãos do louvor genuíno. Quando os seres humanos cantam com o espírito e o entendimento, os músicos celestiais entram na harmonia e se unem ao cântico de ação de graças. Aquele que nos concedeu todos os dons, que nos habilitam a ser coobreiros de Deus, espera que Seus servos cultivem a voz, de modo que possam falar e cantar de maneira compreensível a todos. Não é o cantar forte que é necessário, mas a entonação clara, a pronúncia correta, e a expressão vocal distinta. Que todos dediquem tempo para cultivar a voz, de maneira que o louvor a Deus seja entoado em tons claros e suaves, sem estridências que ofendam o ouvido. A habilidade de cantar é um dom de Deus; seja ela usada para Sua glória. T9 144 1 Escolha-se um grupo de pessoas para tomar parte nos momentos de louvor. E seja este acompanhado por instrumentos de música habilmente tocados. Não nos devemos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra. Essa parte da adoração deve ser cuidadosamente dirigida, pois é o louvor a Deus através do cântico. T9 144 2 Nem sempre o canto deve ser feito apenas por alguns. Permita-se o quanto possível que toda a congregação dele participe. Unidade na diversidade T9 144 3 Em nossos esforços em favor das multidões que habitam nas cidades, devemos realizar um trabalho completo. A obra em tais centros é maior do que um único homem seja capaz de realizar com êxito. Deus tem maneiras várias de atuar, e possui obreiros diversos, aos quais confia diferentes dons. T9 144 4 Um obreiro pode ser bom orador, outro bom escritor, outro ainda pode possuir o dom da oração sincera, fervorosa, outro o de cantar, e ainda outro a capacidade de expor com clareza a Palavra de Deus. E cada um desses dons se deve tornar uma força em favor de Deus, pois Ele age por meio do obreiro. A um dá o Senhor a palavra da sabedoria, a outro conhecimentos, a outro fé; todos, porém, devem trabalhar sob a mesma orientação, isto é, tendo a Cristo como Cabeça. A diversidade de dons conduz à diversidade de realizações; "mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos". 1 Coríntios 12:6. T9 145 1 O Senhor deseja que Seus escolhidos servos aprendam a se unir num esforço harmônico. Talvez pareça a alguns que o contraste entre seus dons e os de seus coobreiros é demasiado grande para permitir que se unam em esforço assim harmônico; mas, ao lembrarem que há variedade de espíritos a serem atingidos, e que alguns rejeitarão a verdade apresentada por um obreiro, abrindo o coração à verdade de Deus em função do modo diferente de outro, eles hão de esforçar-se esperançosamente por trabalhar juntos, em união. Seus talentos, conquanto diversos, podem se achar todos sob a direção do mesmo Espírito. Em toda palavra e ação, manifestar-se-ão bondade e amor; e ao ocupar cada obreiro fielmente o lugar que lhe é designado, a oração de Cristo em favor da unidade de Seus seguidores será atendida, e o mundo conhecerá que são Seus discípulos. T9 145 2 Os obreiros de Deus devem se unir uns aos outros com amorável simpatia e confiança. Aquele que diz ou faz qualquer coisa que tenda a separar os membros da igreja de Cristo, está anulando os desígnios de Deus. Disputas e dissensões na igreja, o nutrir suspeitas e incredulidade, é desonroso para Cristo. Deus deseja que Seus servos cultivem afeição cristã uns pelos outros. A verdadeira religião liga os corações, não somente com Cristo, mas uns aos outros, na mais terna união. Quando soubermos o que significa estar assim unidos com Cristo, e com nossos irmãos, uma fragrante, benéfica influência acompanhará nossas obras aonde quer que formos. T9 145 3 Os obreiros nas cidades grandes devem desempenhar diversas atividades, fazendo todo esforço para produzir os melhores resultados. Cumpre-lhes falar com fé e agir de maneira a impressionar o povo. Não devem limitar a obra a suas idéias particulares. Isso tem ocorrido muito entre nós, como um povo, e tem servido para diminuir o êxito da obra. Lembremo-nos de que o Senhor tem diferentes maneiras de atuar, que Ele tem diferentes obreiros a quem confia os mais diversos dons. Devemos perceber o Seu propósito em enviar certos homens a determinados lugares. T9 146 1 Muito em breve será ouvida a voz de misericórdia. Um pouquinho mais, e será apresentado o gracioso convite: "Se alguém tem sede, que venha a Mim e beba." João 7:37. Deus envia Sua mensagem de advertência às cidades em toda parte. Os mensageiros por Ele enviados devem agir de modo tão harmonioso que todos consigam perceber que esses mensageiros aprenderam de Jesus. Na humildade de Cristo T9 146 2 Nenhuma criatura humana deve ligar outras a si, como se as devesse dominar, dizendo-lhes que façam isto, proibindo que façam aquilo, comandando, ditando, agindo como um oficial para com um batalhão de soldados. Assim procediam os sacerdotes e príncipes no tempo de Cristo, mas não é correto. Depois de a verdade impressionar o coração, e homens e mulheres aceitarem seus ensinos, devem ser tratados como propriedade de Cristo, e não do homem. Se o espírito das pessoas ficar ligado ao seu, você faz com que se desconectem da Fonte de sua sabedoria e suficiência. Eles têm de confiar inteiramente em Deus; e somente assim poderão crescer na graça. T9 146 3 Por maior que seja a pretensão de um homem quanto à sabedoria e conhecimento, a menos que seja ensinado pelo Espírito Santo, é profundamente ignorante das coisas espirituais. Precisa compreender o perigo em que se encontra, bem como sua ineficiência, e confiar completamente nAquele que é o único capaz de proteger os salvos que a Ele se entregam, capaz de lhes comunicar o Seu Espírito e enchê-los de desinteressado amor para com os outros, habilitando-os assim a dar testemunho de que Deus enviou ao mundo Seu Filho para salvar os pecadores. Os que estão verdadeiramente convertidos, hão de avançar juntos, em unidade cristã. Não haja divisão na igreja de Deus, nada de imprudente autoridade sobre os que aceitam a verdade. Em tudo que se faça e diga, deve aparecer a mansidão de Cristo. T9 147 1 Cristo é o fundamento da igreja verdadeira. Temos a inalterável promessa de que Sua presença e proteção serão sobre Seus fiéis, com os que andam em Seu conselho. Cristo tem de ser o primeiro até o fim do tempo. Ele é a fonte da vida e da força, da justiça e da santidade. E Ele é tudo isso para aqueles que tomam o Seu jugo e aprendem dEle a ser mansos e humildes. T9 147 2 A alegria e dever de toda pregação é exaltar a Cristo perante o povo. Esse é o objetivo de toda atividade cristã. Temos de fazer com que Cristo apareça; esconder nEle o próprio eu. Esse é o sacrifício que tem valor. "Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. Enfrentando oposição T9 147 3 Muitas vezes, ao procurar apresentar a verdade, despertamos a oposição; mas, se tentarmos enfrentá-la com argumentos, haveremos unicamente de multiplicá-la, o que não deve acontecer. Temos que nos apegar à afirmativa. Anjos de Deus nos observam, e sabem como impressionar aqueles cuja oposição nos recusamos a enfrentar com argumentos. Não insistamos nos pontos negativos das questões que surgem, mas reunamos na mente verdades afirmativas, aí fixando-as mediante muito estudo, fervorosa oração e entrega do coração. Mantenhamos nossa lâmpada espevitada e ardendo, e deixemos que os raios brilhantes se difundam, para que as pessoas, vendo nossas boas obras, sejam levadas a glorificar o Pai que está no Céu. T9 148 1 Se Cristo não Se houvesse apegado à afirmativa no deserto da tentação, teria perdido tudo quanto desejava conquistar. O método de Cristo é o melhor para enfrentar nossos oponentes. Fortalecemos seus argumentos, quando os confirmamos. Apeguemo-nos sempre à afirmativa. Talvez as próprias pessoas que estão se opondo a nós levem nossas palavras para casa e se convertam à sensata verdade que lhes penetrou o entendimento. T9 148 2 Tenho dito muitas vezes aos nossos irmãos: Seus adversários farão falsas declarações acerca da obra. Não passem adiante essas declarações, mas mantenham as afirmações da verdade viva; e os anjos de Deus hão de abrir o caminho à sua frente. Temos uma grande obra a levar avante, e devemos proceder de maneira criteriosa. Não nos irritemos nunca, nem demos lugar a que se levantem maus sentimentos. Cristo não fazia assim, e Ele é nosso exemplo em tudo. Necessitamos, para a obra que nos foi confiada, de muito mais sabedoria celestial, santificada e humilde, e muito menos do próprio eu. Devemos apoiar-nos firmemente no poder divino. T9 148 3 Aqueles que se têm apartado da fé virão a nossas congregações para distrair nossa atenção da obra que Deus deseja que se faça. Não devemos permitir desviar os ouvidos da verdade para as fábulas. Não nos detenhamos para procurar converter aquele que está proferindo palavras de reprovação contra nossa obra, mas deixemos que se patenteie que somos inspirados pelo Espírito de Jesus Cristo; e anjos de Deus nos porão nos lábios palavras para tocar o coração de nossos oponentes. Se esses homens persistirem em sua atitude, aqueles, na congregação, que são dotados de um espírito sensato, compreenderão qual é a norma mais elevada. Falemos de modo a demonstrar que Jesus Cristo está falando por nosso intermédio. De todo o coração T9 149 1 Se nossos ministros compreendessem quão prontamente os habitantes do mundo deverão alinhar-se diante do trono do julgamento de Deus, a fim de responderem por todas as suas obras, quão intensamente trabalhariam, em conjunto, para apresentar a verdade de Deus! Quão incansavelmente agiriam para fazer avançar a divina causa no mundo, proclamando através de palavras e atos: "Já está próximo o fim de todas as coisas." 1 Pedro 4:7. T9 149 2 "Prepara-te... para te encontrares com o teu Deus." Amós 4:12. Essa é a mensagem que devemos anunciar em toda parte. A trombeta necessita dar o sonido certo. Clara e distintamente deve-se fazer ouvir a advertência: "E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia. ... Sai dela, povo Meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas." Apocalipse 18:2, 4. Estão por cumprir-se as palavras desse texto. Em breve virá a prova final a todos os habitantes da Terra. Naquele tempo serão tomadas decisões imediatas. Os que se convenceram sob a apresentação da Palavra se colocarão sob o ensanguentado estandarte do Príncipe Emanuel. Verão e compreenderão como nunca antes que perderam muitas oportunidades de realizar o bem que deveriam haver praticado. Reconhecerão que não agiram com o zelo necessário, no sentido de buscar e salvar os perdidos, como se fosse para salvá-los do fogo. T9 150 1 Os servos de Deus recebem a exortação: "Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Romanos 12:11. Descuido e ineficiência não são piedade. Quando reconhecermos que estamos trabalhando para Deus, teremos uma melhor intuição da santidade do serviço espiritual. Essa intuição introduzirá vida, vigilância e perseverante energia no desempenho de cada dever. T9 150 2 A religião pura, incontaminada, é algo intensamente prático. Coisa alguma senão a atividade intensa e de todo coração será de valor para a salvação das pessoas. Cumpre-nos fazer de nossos deveres diários atos de devoção, crescendo constantemente em utilidade, pois passamos a ver nosso trabalho à luz da eternidade. T9 150 3 Essa obra nos foi designada por nosso Pai celestial. Cumpre-nos tomar a Bíblia e sair a advertir o mundo. Devemos ser as mãos auxiliadoras de Deus para salvar -- condutos por onde, dia a dia, o Seu amor flua para os que perecem. Apercebendo-se da grande obra de que tem o privilégio de participar, o obreiro vê sua vida enobrecida e santificada. Torna-se repleto da fé que atua por amor e purifica a vida. Coisa alguma é tediosa para aquele que se submete à vontade de Deus. Fazer algo "como ao Senhor" (Colossences 3:23) é um pensamento que empresta encanto a qualquer obra que Deus nos confia. T9 150 4 Toda a nossa atividade deve ser conduzida com base em estritos princípios religiosos. Que a sua sincera indagação seja: "Que posso fazer para agradar o Mestre?" Visite lugares em que os crentes estejam necessitando de encorajamento e auxílio. A cada passo pergunte: "É este o caminho do Senhor? Encontro-me, em espírito, palavra e ação, em harmonia com a Sua vontade?" Se alguém trabalha para Deus com os olhos fitos em Sua glória, a sua obra terá a aprovação divina, e assim sua vida estará cumprindo os propósitos do Senhor. T9 151 1 Ao estudar a Palavra de Deus, penetre mais e mais fundo, abaixo da superfície. Lance mão, pela fé, do poder divino, sondando as profundezas da inspiração. Traga ao seu ministério o poder de Deus, relembrando que o Senhor o está amparando. Que o Seu amor brilhe através de tudo o que você faz e diz. Que a verdade, a preciosa e simples verdade da Palavra de Deus, brilhe em todo o seu fulgor. Humilhe-se diante de Deus. Cristo será a sua eficiência. Ele o indicou como dirigente de Seu rebanho, para alimentá-lo no devido tempo. Os obreiros de Cristo se encontram muitos próximos de Seu amorável coração. Ele almeja aperfeiçoar Sua habitação mediante a perfeição de Seus ministros. T9 151 2 Cristo é o complacente e compassivo Redentor. Em Seu poder sustentador, homens e mulheres tornam-se fortes para resistir ao mal. Ao considerar o pecado, este se mostra excessivamente maligno aos olhos do pecador convicto. Ele se espanta por que não foi a Cristo antes. Sente que suas faltas precisam ser vencidas e que seu apetite e paixões devem ser sujeitados à vontade de Deus, que ele precisa se tornar participante da natureza divina, vencendo a corrupção que domina o mundo. Havendo-se arrependido de suas transgressões contra a lei de Deus, ele procura ardentemente vencer o pecado. Busca revelar o poder da graça de Cristo, e é posto em contato pessoal com o Salvador. Mantém a Cristo como o alvo constante de sua contemplação. Orando, crendo, recebendo as bênçãos de que necessita, aproxima-se cada vez mais da norma que Deus tem para ele. T9 151 3 Novas virtudes são reveladas em seu caráter ao negar-se a si mesmo e exaltar a cruz, seguindo para onde Cristo o conduz. Ele ama o Senhor Jesus de todo o coração, e Cristo Se torna sua sabedoria, justiça, santificação e redenção. T9 152 1 Cristo é nosso exemplo, nossa inspiração, nossa mui excelente recompensa. "Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:9. Deus é o Construtor Mestre, mas o homem tem uma parte a desempenhar. Deve cooperar com Deus. "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Nunca esqueça as palavras: "Cooperadores de Deus." "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:12, 13. A miraculosa atuação do poder da graça de Cristo é revelada na criação de um novo coração no homem, uma vida mais elevada, mais santo entusiasmo. Deus diz: "E vos darei um coração novo." Ezequiel 36:26. Não é isto, a renovação do homem, o maior milagre que se poderia realizar? Que não pode fazer o instrumento humano que pela fé toma posse do divino poder? T9 152 2 Lembre-se de que no trabalhar com Cristo como o seu Salvador pessoal repousa sua força e vitória. Essa parte todos precisam desempenhar. Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele declara: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Por sua vez, a pessoa arrependida e crente responde: "Posso todas as coisas nAquele que me fortalece." Filipenses 4:13. Aos que assim procedem, advém a certeza: "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus." João 1:12. T9 152 3 "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma." 3 João 1:2. ------------------------Capítulo 15 -- Fidelidade na reforma do regime alimentar T9 153 1 Fui incumbida de dirigir uma mensagem a todo o nosso povo a respeito da reforma do regime alimentar; pois muitos se têm desviado de sua anterior fidelidade a esses princípios. T9 153 2 O propósito de Deus em relação a Seus filhos é que cresçam até a estatura perfeita de homens e mulheres em Cristo Jesus. Para conseguir isso, cumpre que façam uso legítimo de toda faculdade do espírito, mente e corpo. Não devem desperdiçar nenhuma força mental nem física. T9 153 3 A questão de como preservar a saúde é de primordial importância. Quando a estudamos no temor do Senhor, aprendemos que o melhor para nosso progresso, tanto físico como espiritual, é a observância de um regime alimentar simples. Estudemos com paciência esse assunto. Precisamos de conhecimento e bons critérios para progredir sabiamente nessa questão. Não se deve resistir, mas sim obedecer às leis da natureza. T9 153 4 Os que receberam instruções sobre os males causados por alimentos cárneos, chá, café e preparações alimentares ricas e não saudáveis, e que estão dispostos a fazer com Deus um concerto de sacrifício, deixarão de satisfazer seu apetite por alimentos que, sabem, não são sadios. Deus exige que o apetite seja purificado e que se pratique a renúncia quando se trata de coisas que não são boas. Essa obra tem de ser executada antes que Seu povo possa aparecer perfeito diante dEle. Responsabilidade pessoal T9 154 1 O povo remanescente de Deus deve estar convertido. A apresentação desta mensagem, tem como objetivo a conversão e santificação das pessoas. Devemos sentir neste movimento o poder do Espírito de Deus. É esta uma mensagem maravilhosa e definida; significa tudo para quem a recebe e deve ser proclamada em alta voz. Devemos ter fé verdadeira e constante em que esta mensagem há de continuar aumentando de importância até o fim do tempo. T9 154 2 Há alguns professos crentes que aceitam certas porções dos Testemunhos como mensagens de Deus, enquanto rejeitam as que condenam suas inclinações favoritas. Tais pessoas estão trabalhando contra seu próprio bem-estar e contra o bem-estar da igreja. É essencial que andemos na luz enquanto a temos. Os que dizem crer na reforma de saúde e, no entanto, trabalham contra seus princípios na vida prática diária, estão se prejudicando e deixando má impressão na mente de crentes e descrentes. Vigor mediante a obediência T9 154 3 Arcam com grande responsabilidade os que conhecem a verdade, para conseguir que todas as suas obras correspondam à sua fé, sua vida seja purificada e santificada, e eles preparados para a obra que tem de ser rapidamente feita nestes últimos dias. Não dispõem de tempo nem de forças para gastá-los com satisfazer o apetite. As seguintes palavras devem soar-nos aos ouvidos com impressiva gravidade: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor." Atos dos Apóstolos 3:19. Muitos dentre nós têm espiritualidade deficiente, e, a menos que sejam totalmente convertidos, se perderão irremediavelmente. Queremos correr esse risco? T9 155 1 Orgulho e fraqueza de fé privam a muitos das ricas bênçãos de Deus. Muitos há que, se não se humilharem diante de Deus, hão de ficar surpreendidos e desapontados quando soar o clamor: "Aí vem o Esposo!" Mateus 25:6. Têm a teoria da verdade, falta-lhes, porém, o óleo nos vasos para as lâmpadas. Nossa fé no presente tempo não deve consistir em mero assentimento ou em simplesmente aceitar a teoria da terceira mensagem. Precisamos do óleo da graça de Cristo para alimentar as nossas lâmpadas, e fazer que a luz de nossa vida brilhe, indicando o caminho aos que estiverem em trevas. T9 155 2 Se quisermos fugir de uma experiência claudicante, cumpre-nos participar com diligência e sem demora da nossa própria salvação, e isso com temor e tremor. Muitos há que não dão prova categórica de sua fidelidade aos votos do batismo. Seu zelo está arrefecido pelo formalismo, ambições mundanas, orgulho e amor-próprio. De quando em quando, seus sentimentos são estimulados, porém não se deixam cair sobre a rocha, Cristo Jesus. Não se chegam a Deus com coração contrito e arrependido, confessando seus pecados. Os que em seu coração experimentam os efeitos da legítima conversão, hão de em sua vida revelar os frutos do Espírito. Quão bom seria se todos os que têm vida espiritual tão diminuta viessem a entender que a vida eterna só será concedida aos que participam da natureza divina, fugindo à "corrupção, que, pela concupiscência há no mundo"! T9 156 1 Somente o poder de Cristo pode realizar uma transformação do coração e do espírito, a qual todos necessitam a fim de com Ele partilhar a nova vida no reino do Céu. "Aquele que não nascer de novo", disse Jesus, "não pode ver o reino de Deus". João 3:3. A religião que vem de Deus é a única que a Ele conduz. Para podermos servi-Lo como convém, importa nascer do Espírito divino. Seremos então induzidos à vigilância, tendo purificado o coração e renovado o entendimento, e obtido graça para conhecer e amar a Deus. Isso nos tornará dispostos para obedecer a todos os reclamos divinos. Esse é o culto legítimo. T9 156 2 Deus requer de Seu povo crescimento contínuo. Devemos aprender que condescender com o apetite constitui o maior embaraço para o desenvolvimento mental e a santificação. Apesar de sua adesão à reforma do regime alimentar, muitos seguem regime impróprio. A transigência com o apetite é a causa principal da debilidade física e mental, e é em grande parte responsável pela fraqueza e morte prematura de muitos. Todo indivíduo que aspira à pureza de espírito, deve ter sempre presente que em Cristo há poder para vencer o apetite. A alimentação cárnea T9 156 3 Se pudéssemos obter qualquer benefício da condescendência com o desejo de alimentos cárneos, eu não lhes faria este apelo. Mas sei que tal não se dá. A alimentação cárnea é prejudicial ao bem-estar físico e devemos aprender a passar sem ela. Os que estão em condições de seguir o regime vegetariano, mas atêm-se às suas preferências, comendo e bebendo o que lhes apraz, aos poucos se tornarão descuidosos das instruções que o Senhor lhes deu no tocante às outras verdades e serão por fim incapazes de as entender, colhendo o que semearam. T9 157 1 Tenho sido instruída que aos alunos de nossas escolas não se deve servir carne nem quaisquer outros alimentos que se sabe serem prejudiciais. Nada que possa promover o apetite pelos estimulantes deve ser posto à mesa. Apelo aos idosos, aos jovens e aos adultos em geral. Não satisfaçam seu apetite com o que lhes pode causar dano. Sirvam ao Senhor com sacrifício. T9 157 2 As próprias crianças devem desempenhar uma parte inteligente nessa obra. Somos todos membros de uma só família e Deus quer que Seus filhos, tanto jovens quanto idosos, resolvam negar-se ao apetite e a poupar os meios necessários para a construção de casas de culto e o sustento dos missionários. T9 157 3 Sou instruída a dizer aos pais: Coloquem-se de corpo e alma do lado do Senhor nessa questão. Precisamos lembrar constantemente que estamos em juízo perante o Senhor do Universo nestes dias de graça. Não é hora de se libertarem das condescendências que os estão prejudicando? É fácil fazer uma profissão formal de fé; testifiquem, porém, os seus atos de renúncia, de sua obediência aos preceitos que Deus estabelece para Seu povo peculiar. Deponham, então, na tesouraria da igreja uma parte das economias realizadas por meio desses atos; e não escassearão os meios para fazer a obra de Deus. T9 157 4 Muitos há que sentem não poder permanecer por muito tempo sem o uso de alimentos cárneos; mas se essas pessoas se colocarem do lado do Senhor, absolutamente resolvidas a andar no caminho pelo qual Ele deseja guiá-las, receberão força e sabedoria, como sucedeu a Daniel e seus companheiros. Verão como o Senhor lhes pode dar bom discernimento, e se surpreenderão ao ver quanto pode ser poupado para a obra de Deus pelos atos de renúncia. As pequenas somas, poupadas por atos de sacrifício farão mais para o sustento da obra de Deus do que os grandes donativos feitos sem renúncia. T9 158 1 Os adventistas do sétimo dia proclamam verdades importantíssimas. Há mais de quarenta anos, o Senhor nos deu luz especial sobre a reforma do regime alimentar, mas de que modo estamos andando nessa luz? Quantos têm recusado viver de acordo com os conselhos de Deus! Como povo, nosso progresso deve ser proporcional à luz que recebemos. Nosso dever é compreender e respeitar os princípios da reforma de saúde. No tocante à temperança, deveríamos ter progredido mais do que qualquer outro povo e, entretanto, há ainda entre nós membros da igreja bem instruídos e mesmo ministros do evangelho que têm pouco respeito pela luz que Deus deu sobre o assunto. Comem o que lhes apraz e agem do mesmo modo. T9 158 2 Os que ocupam cargos de professor ou líderes em nossa causa devem estar firmados no terreno da Bíblia, com relação à reforma de saúde e dar testemunho decidido aos que crêem que estamos vivendo nos últimos dias da história deste mundo. Cumpre traçar uma linha divisória entre os que servem a Deus e os que servem a si próprios. T9 158 3 Foi-me mostrado que os princípios que nos foram propostos no começo da mensagem são tão importantes e devem ser considerados tão conscienciosamente hoje como o foram então. Alguns há que jamais seguiram a luz dada com respeito ao regime alimentar. Agora é o tempo de tirar a luz de sob os obstáculos e fazê-la resplandecer com raios claros e brilhantes. T9 158 4 Os princípios do regime alimentar significam muito para nós, individualmente, e como povo. Quando pela primeira vez me veio a mensagem da reforma alimentar, eu era fraca e muito débil, sujeita a desmaios freqüentes. Roguei a Deus que me auxiliasse, e Ele me apresentou a grande questão da reforma de saúde. Revelou-me que os que pretendem guardar os Seus mandamentos devem ser postos em relação sagrada com Ele e, por meio da temperança no comer e no beber, conservar o espírito e o corpo nas condições mais favoráveis para o Seu serviço. Essa luz me foi uma grande bênção. Tomei posição como observadora da reforma de saúde, sabendo que o Senhor me fortaleceria. Tenho hoje melhor saúde do que na juventude, apesar da minha idade. T9 159 1 Houve quem alegasse que não tenho seguido os princípios da reforma de saúde, tais como os defendo em meus escritos; posso, entretanto, dizer que tenho sido fiel a essa reforma. Os membros da minha família sabem que isso é verdade. "Para a glória de Deus" T9 159 2 Não estabelecemos regra alguma para ser seguida no regime alimentar, mas dizemos que nos países onde há muita fruta, cereais e nozes, os alimentos cárneos não constituem alimentação própria para o povo de Deus. Fui instruída que a alimentação de carne tende a embrutecer a natureza e a privar as pessoas daquele amor e simpatia que devem sentir umas pelas outras, dando aos instintos baixos o domínio sobre as faculdades superiores do ser. Se a alimentação de carne foi saudável algum dia, é perigosa agora. Constitui em grande parte a causa dos cânceres, tumores e moléstias dos pulmões. T9 159 3 Não nos compete fazer do uso da alimentação cárnea uma prova de comunhão; devemos, porém, considerar a influência que crentes professos, que fazem uso de carne, têm sobre outras pessoas. Como mensageiros de Deus, não deveríamos testemunhar ao povo: "Quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus"? 1 Coríntios 10:31. Não deveríamos dar um testemunho decidido contra a transigência com o apetite pervertido? Pode ser considerado apropriado que os ministros do evangelho, que estão a proclamar a verdade mais solene já enviada aos mortais, se constituam em exemplo no regresso às panelas de carne do Egito? É lícito que os que são sustentados pelos dízimos dos celeiros de Deus se permitam a condescendência que tende a envenenar a corrente vivificadora que lhes flui nas veias? É correto que desprezem a luz que Deus lhes deu e as advertências que lhes faz? A saúde do corpo deve ser considerada como essencial para o crescimento na graça e para a aquisição de bom temperamento. Se o estômago não for bem cuidado, a formação de caráter moral íntegro será prejudicada. O cérebro e os nervos relacionam-se com o estômago. O comer e o beber impróprios resultam num pensar e agir também impróprios. T9 160 1 Todos estão sendo agora experimentados e provados. Fomos batizados em Cristo, e, se desempenharmos nossa parte em renunciar a tudo o que nos afeta desfavoravelmente, fazendo de nós o que não devemos ser, ser-nos-á concedida força para o crescimento em Cristo, que é a nossa cabeça viva, e veremos a salvação de Deus. T9 160 2 Somente quando dermos atenção inteligente aos princípios do viver saudável seremos habilitados a ver os males que resultam do regime impróprio. Os que, depois de reconhecerem seus erros, tiverem coragem para reformar seus hábitos; hão de experimentar que o processo da reforma exige lutas e muita perseverança. Uma vez educados os gostos, porém, reconhecerão que o uso de alimentos que antes haviam considerado inofensivos, estivera, pouco a pouco, mas de modo contínuo, lançando bases para a dispepsia e outras moléstias. T9 160 3 Os pais e mães devem vigiar em oração. Devem colocar-se em guarda rigorosa contra a intemperança sob qualquer forma. Ensinem aos filhos os princípios da verdadeira reforma de saúde. Ensinem-lhes o que convém evitar, a fim de preservar a saúde. Já a ira de Deus está começando a manifestar-se sobre os filhos da desobediência. Quantos crimes, pecados e práticas iníquas estão se manifestando por todos os lados! Como um povo, devemos ter o maior cuidado de proteger nossos filhos da companhia depravada. O ensino dos princípios de saúde T9 161 1 Devem ser feitos os maiores esforços para educar o povo nos princípios da reforma de saúde. Importa fundar escolas culinárias e instruir o povo, de casa em casa, na arte de preparar alimentos saudáveis. Todos, adultos e jovens, necessitam aprender a cozinhar com maior simplicidade. Onde quer que a verdade seja apresentada, o povo terá de aprender a preparar alimentos de modo simples e apetitoso. Cumpre mostrar-lhe como é possível seguir um regime alimentar adequado sem lançar mão dos alimentos animais. T9 161 2 Ensinemos ao povo que é melhor saber conservar a saúde do que curar as enfermidades. Nossos médicos devem ser educadores sábios, advertindo a todos contra a tolerância do apetite e mostrando que a abstinência das coisas que Deus proibiu é o único modo de evitar a ruína não só do corpo, mas também da mente. T9 161 3 Muito cuidado e habilidade devem ser empregados na preparação dos alimentos destinados a substituir os que antigamente constituíam o regime alimentar dos que agora estão aprendendo a ser reformadores de saúde. Para esse fim requer-se fé em Deus, firmeza de propósito e o desejo de promover o auxílio mútuo. Um regime que deixa de fornecer os elementos próprios da nutrição acarreta opróbrio à causa da reforma de saúde. Somos mortais e temos que prover o alimento próprio para o corpo. Exageros no regime alimentar T9 161 4 Alguns de nosso povo, ainda que se abstenham conscienciosamente de alimentos impróprios, deixam, entretanto, de suprir-se dos elementos necessários ao sustento do corpo. Nutrindo idéias exageradas a respeito da reforma de saúde, correm o risco de preparar pratos tão insípidos que não satisfazem o apetite. É necessário preparar o alimento de modo a ser não só apetitoso, como substancial. Não se deve subtrair ao corpo o que ele necessita. Eu uso sal e sempre o usei, porque o sal é realmente essencial para o sangue. Os vegetais podem tornar-se mais saborosos com um pouco de leite, nata, ou algo equivalente. T9 162 1 Posto que se tenha advertido contra o perigo de contrair enfermidades pelo uso de manteiga e contra os males provenientes do uso abundante de ovos por parte das crianças, não devemos considerar violação do princípio, usar ovos de galinhas bem tratadas e convenientemente alimentadas. Os ovos contêm propriedades que são agentes medicinais neutralizantes de certos venenos. T9 162 2 Abstendo-se de leite, ovos e manteiga, alguns deixaram de prover ao organismo o alimento necessário e, em conseqüência, se enfraqueceram e ficaram incapacitados para o trabalho. Assim é que a reforma de saúde perde o seu prestígio. A obra que temos procurado construir solidamente, acaba confundida com coisas estranhas que Deus não exigiu, e as energias da igreja são desperdiçadas. Mas Deus intervirá para evitar os resultados de idéias tão extremadas. O evangelho tem por alvo harmonizar a raça pecaminosa. O seu fim é levar ricos e pobres, conjuntamente, aos pés de Jesus. T9 162 3 Tempo virá em que talvez tenhamos que deixar alguns dos artigos de que se compõe o nosso atual regime, tais como leite, nata e ovos, mas não é necessário provocar perplexidade para nós mesmos com restrições exageradas e prematuras. Esperemos até que as circunstâncias o exijam e o Senhor prepare o caminho para isso. T9 162 4 Os que almejam êxito na proclamação dos princípios da reforma de saúde devem fazer da Palavra de Deus seu guia e conselheiro. Somente quando assim procederem é que os mestres dos princípios dessa reforma poderão se colocar em terreno vantajoso. Evitemos dar testemunho contra ela, deixando de usar alimentos nutritivos e saborosos em lugar das coisas prejudiciais do regime que abandonamos. De forma alguma satisfaçamos o apetite quando ele requer estimulantes. Usemos somente alimentos simples, nutritivos e agradeçamos a Deus constantemente os princípios da reforma de saúde. Em tudo sejamos verdadeiros e retos, e ganharemos vitórias preciosas. O regime alimentar em diferentes países T9 163 1 Apesar de batalhar contra a glutonaria e a intemperança, necessitamos reconhecer a condição a que está sujeita a família humana. Deus fez provisões para os que vivem nas diversas partes do mundo. Os que desejam ser Seus cooperadores devem refletir maduramente antes de especificar os alimentos que devem ser usados e os que não devem. Cumpre colocar-nos em ligação íntima com o povo. Se a reforma de saúde com todo o seu rigor, for ensinada àqueles cujas circunstâncias não lhes permitem a sua adoção, poderá produzir mais mal do que bem. Quando prego o evangelho aos pobres, sou instruída a dizer-lhes que tomem os alimentos mais nutritivos. Não posso dizer-lhes: "Não devem comer ovos, nem usar leite ou nata. Não devem empregar manteiga no preparo dos alimentos." O evangelho tem que ser pregado aos pobres, mas ainda não chegamos ao tempo em que deverá ser prescrito o regime dietético mais rigoroso. Palavras aos vacilantes T9 163 2 Os pastores que se sentem em liberdade para tolerar o apetite estão longe de atingir o alvo. Deus os quer como reformadores de saúde. Deseja-os vivendo na luz que foi dada sobre este assunto. Entristece-me ver os que deveriam ser zelosos dos nossos princípios de saúde, ainda não convertidos quanto ao modo de vida que nos convém. Oro ao Senhor para que lhes impressione o espírito com o fato de que estão sofrendo grande perda. Se tudo fosse como deveria ser nos lares de que se compõem nossas igrejas, faríamos trabalho dobrado para o Senhor. Condições da oração aceitável T9 164 1 A fim de serem purificados e permanecerem puros, os adventistas do sétimo dia têm de possuir o Espírito Santo em seu coração e lar. O Senhor me revelou que quando o Israel de hoje se humilhar perante Ele e limpar toda mancha que porventura contamine o templo da alma, ouvir-lhe-á as orações em favor dos enfermos e os abençoará no uso de Seus remédios. Se o agente humano fizer, pela fé, tudo quanto puder para combater a enfermidade, empregando os métodos simples de tratamento por Deus providos, seus esforços serão abençoados por Ele. T9 164 2 Se depois de tanta luz que lhes foi dada, os filhos de Deus ainda mantiverem hábitos errôneos, condescendendo com o apetite e recusando reformar-se, sofrerão fatalmente as conseqüências da transgressão. Se desejarem satisfazer o apetite pervertido, seja a que preço for, Deus não os salvará miraculosamente daquilo que é o resultado de sua condescendência. "Em tormentos, jazereis." Isaías 50:11. T9 164 3 Os que preferem ser presunçosos, dizendo: "O Senhor me curou, não necessito restringir o regime dietético; posso comer e beber o que me aprouver", necessitarão, no corpo e no espírito, do poder restaurador de Deus. Em vista de o Senhor nos ter misericordiosamente curado, não devemos supor que podemos acompanhar as práticas condescendentes do mundo. Façamos o que Cristo ordenava, depois de realizada a cura: "Vai-te, e não peques mais." João 8:11. O apetite não deve ser nosso deus. T9 165 1 O Senhor deu Sua palavra ao Israel antigo: caso se apegassem firmemente a Ele e cumprissem todos os Seus reclamos, Ele os guardaria de todas as doenças que haviam atribulado os egípcios; mas essa promessa foi feita sob condição de obediência. Se os israelitas houvessem obedecido às instruções recebidas, aproveitando-se de suas vantagens, ter-se-iam tornado para o mundo um modelo de saúde e prosperidade. Mas eles deixaram de cumprir o plano divino e, dessa forma, de receber também as bênçãos que poderiam ter sido suas. Entretanto, em José e Daniel, Moisés e Elias e em muitos outros, temos exemplos nobres dos resultados que podem ser obtidos de um plano sábio de vida. Da mesma maneira, a fidelidade hoje em dia produzirá resultados idênticos. É para nós que está escrito: "Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz." 1 Pedro 2:9. Renúncia e descanso T9 165 2 Quantos se privam das bênçãos mais preciosas que Deus tem em depósito para eles, seja em saúde, seja em dons espirituais! Há muitas pessoas que reclamam vitórias e bênçãos especiais para que possam fazer alguma coisa apreciável. Para esse fim estão sempre sentindo que lhes é necessário empenhar-se numa exaustiva luta com orações e lágrimas. Quando tais pessoas esquadrinharem as Escrituras com espírito de oração, para conhecer a expressa vontade divina e pô-la em prática de todo o coração, sem reserva alguma nem condescendência de qualquer espécie, encontrarão descanso. Todas as angústias, lágrimas e lutas não lhes produzirão a bênção que anelam. O eu precisa ser totalmente renunciado. Devem fazer a obra que se lhes apresenta, recebendo a plenitude da graça de Deus, que é prometida a todos os que a pedem com fé. T9 165 3 "Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Lucas 9:23. Sigamos o Salvador em Sua simplicidade e renúncia. O Homem do Calvário seja por nós enaltecido pela palavra e pela vida santificada. O Salvador chega muito perto dos que se consagram a Deus. Se já houve um tempo em que mais necessitássemos da atuação do Espírito Santo no coração e na vida, esse tempo é o atual. Asseguremo-nos desse poder divino para termos a força de viver uma vida de santidade e renúncia. T9 166 1 A Palavra de Deus deve ser nosso livro-texto. O Senhor é nosso ajudador e nosso Deus. Busquemos dEle o modo pelo qual abrirá caminho para o desenvolvimento de Seus planos. ------------------------Capítulo 16 -- Um desafio aos evangelistas médico-missionários T9 167 1 Estamos vivendo nos últimos dias. Aproxima-se o fim de todas as coisas. Cumprem-se rapidamente os sinais preditos por Cristo. Esperam-nos tempos tormentosos; não pronunciemos, porém, palavra alguma de desalento ou descrença. Aquele que compreende as necessidades da situação dispõe as coisas de maneira tal que os obreiros colocados nos diferentes lugares possam desfrutar das vantagens que lhes permitam despertar com mais eficácia a atenção do público. Ele conhece as necessidades dos mais débeis membros do Seu rebanho, e envia Sua mensagem tanto pelos caminhos como pelos atalhos. Ele nos ama com amor eterno. Lembremo-nos de que anunciamos uma mensagem de cura a um mundo repleto de seres enfermos de pecado. Ajude-nos o Senhor a aumentar a nossa fé e fazer-nos compreender que Ele quer que todos conheçamos Seu ministério de cura e Sua obra de propiciação! Ele quer que a luz de Sua graça resplandeça de muitos lugares. Hospitais como centros de evangelização T9 167 2 Há em muitos lugares pessoas que ainda não ouviram a mensagem. Por conseguinte, a obra médico-missionária deve ser levada avante com mais zelo do que jamais o foi. Essa obra é a porta pela qual a verdade consegue entrada nas grandes cidades, e devem ser estabelecidos hospitais em muitos lugares. T9 167 3 A obra efetuada pelas instituições de saúde é um dos meios mais eficazes de atingir todas as classes sociais. Nossos hospitais são o braço direito do evangelho e abrem caminhos pelos quais a humanidade sofredora pode ser atingida pelas boas-novas de restauração mediante Cristo. Nessas instituições podem os enfermos aprender a levar seu caso até o grande Médico, que cooperará com os seus ardentes esforços para recuperar a saúde, resultando na cura, tanto espiritual quanto física. T9 168 1 Cristo não mais está em pessoa no mundo, para ir de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, curando os enfermos; comissionou-nos, porém, com o prosseguimento da obra médico-missionária por Ele iniciada. Devemos, nesse sentido, fazer tudo quanto esteja ao nosso alcance. Devem ser fundadas instituições hospitalares onde os enfermos, tanto homens como mulheres, sejam confiados aos cuidados de médicos e enfermeiros tementes a Deus e tratados sem o emprego de drogas. T9 168 2 Foi-me indicado que a obra a ser feita no tocante à reforma de saúde não deve sofrer atraso algum. Por meio dessa obra é que alcançaremos pessoas, nos caminhos e atalhos. Foi-me mostrado muito especialmente que, por meio dos nossos hospitais, muitos receberão a verdade presente e a ela obedecerão. Nessas instituições, tanto homens como mulheres devem ser ensinados a cuidar do próprio corpo, bem como a manter-se firmes na fé. Deve-se-lhes ensinar o significado de comer a carne e beber o sangue do Filho de Deus. Disse Cristo: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. T9 168 3 Nossos hospitais precisam ser escolas em que o ensino tem de seguir os moldes médico-missionários. Devem dar aos seres feridos pelo pecado, as folhas da árvore da vida, que lhes devolverão a paz, a esperança e a fé em Jesus Cristo. T9 168 4 Seja levada avante a obra do Senhor! Sejam promovidas as obras médico-missionária e educacional! Estou certa de que nossa grande necessidade é a de obreiros zelosos, abnegados, inteligentes e capazes. A verdadeira obra médico-missionária deve estar representada em cada cidade importante. Perguntem, agora, muitos: "Senhor, que queres que faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. O propósito do Senhor é que Seu método de curar, isento de drogas, seja evidenciado em todas as grandes cidades por meio de nossas instituições médicas. Deus reveste de santa dignidade os que, avançando sempre mais, vão a todo lugar onde possam ter acesso. Satanás dificultará a obra em tudo quanto possa; mas o poder divino acompanhará todos os obreiros fiéis. Guiados pela mão de nosso Pai celestial, prossigamos aproveitando todas as ocasiões de estender a obra de Deus. T9 169 1 O Senhor fala a todos os médicos-missionários, dizendo-lhes: Ide hoje trabalhar na Minha vinha para ganhar almas. Deus ouve as orações de todos quantos O buscam em verdade. Possui Ele o poder de que todos carecemos. Ele enche o coração de amor, alegria, paz e santidade. O caráter está constantemente sendo formado. Não podemos perder nosso tempo agindo em oposição aos planos divinos. T9 169 2 Médicos há que, por terem entrado em contato com nossos hospitais, têm interesse em residir próximo dessas instituições; fecham os olhos para não ver o vasto campo, negligenciado e inculto, onde o trabalho abnegado produziria bênçãos para muitos. Os médicos-missionários podem exercer influência enobrecedora e santificadora. Os que assim não procedem, abusam de suas faculdades, e fazem um trabalho que o Senhor repudia. O preparo de obreiros T9 169 3 Se alguma vez o Senhor falou por meu intermédio, Ele está falando agora, quando digo que os obreiros que se dedicam ao ramo da educação, da pregação e da atividade médico-missionária, devem andar unidos como um só homem, trabalhando todos sob a direção de Deus, auxiliando-se e abençoando-se mutuamente. T9 170 1 Os que estiverem relacionados com nossas escolas e instituições de saúde devem trabalhar com entusiasmo. A obra executada sob o ministério do Espírito Santo, e por amor a Deus e à humanidade, receberá o selo divino e irá influenciar as pessoas. T9 170 2 O Senhor convida os jovens para ingressarem em nossas escolas e se prepararem rapidamente para o Seu serviço. Devem ser fundadas escolas em vários lugares, fora das cidades, onde os nossos jovens recebam instrução que os prepare para a obra de evangelização e médico-missionária. T9 170 3 Deve-se conceder ao Senhor a oportunidade de mostrar aos homens o seu dever e influenciar-lhes a mente. Ninguém precisa se comprometer a trabalhar durante determinado número de anos sob a administração de um grupo de homens ou em algum ramo especial da obra do Mestre; porque o próprio Senhor chamará os homens, como fez com os humildes pescadores, e Ele próprio lhes indicará o seu território de atividade, bem como os métodos a ser seguidos. Convidará homens para que abandonem o arado e outras ocupações, para fazer soar a última advertência aos que estão perecendo em seus pecados. Muitas maneiras há de trabalhar para o Mestre; o grande Instrutor despertará a inteligência desses obreiros e lhes fará ver em Sua Palavra coisas maravilhosas. Enfermeiros como evangelistas T9 170 4 Nosso exemplo é Cristo, o grande Missionário-Médico. DEle é dito: "E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo." Mateus 4:23. Curava os enfermos e pregava o evangelho. Em Sua obra, a cura e o ensino estavam intimamente unidos. Eles não devem estar separados hoje. T9 171 1 Os enfermeiros que recebem instrução em nossas instituições devem ser preparados para trabalhar como evangelistas médico-missionários, unindo o ministério da palavra à cura física. T9 171 2 Nossa luz tem de brilhar no meio das trevas morais. Alguns dos que hoje estão em trevas, ao perceberem um reflexo da Luz do mundo, verão que para eles existe esperança de salvação. Nossa luz talvez seja pequena; lembremo-nos, porém, que Deus é quem a dá e Ele nos considera responsáveis por fazê-la brilhar. Poderá acontecer que alguém acenda na nossa vela a sua tocha, e a sua luz seja o meio de tirar das trevas outras pessoas. T9 171 3 Há por toda parte em nosso redor oportunidades para servir. Devemos nos relacionar com nossos vizinhos, e tentar atraí-los para Cristo. Ao assim procedermos, teremos a Sua aprovação e colaboração. T9 171 4 Freqüentemente os moradores de uma cidade onde Cristo havia trabalhado manifestavam o desejo de vê-Lo residir em seu meio e prosseguir trabalhando entre eles. Ele lhes dizia, porém, que Seu dever era ir a outras cidades que não haviam ouvido as verdades que Ele tinha para apresentar. Depois de haver comunicado a verdade aos habitantes de uma localidade, incumbia-os de prosseguirem naquilo que Ele lhes comunicara, e ia a outro lugar. Seus métodos de trabalho devem ser seguidos hoje por aqueles a quem Ele confiou a Sua obra. Devemos ir de um lugar a outro, proclamando a mensagem. Logo que a verdade seja proclamada num lugar, devemos prosseguir para advertir outros. T9 171 5 Devem ser organizados grupos e instruídos os seus membros adequadamente para se dedicarem ao trabalho de enfermeiros, evangelistas, pastores, colportores e estudantes do evangelho, e aperfeiçoarem o caráter à semelhança divina. Nosso alvo atual deve ser o preparo para receber a educação mais elevada na escola celestial. T9 172 1 Segundo as instruções que o Senhor me deu várias vezes, sei que alguns obreiros devem visitar cidades e vilas no desempenho do trabalho médico-missionário. Os que assim procederem conseguirão uma rica colheita, tanto das classes mais elevadas da sociedade como das mais humildes. E o caminho para esse trabalho é melhor preparado pelos esforços dos fiéis colportores. T9 172 2 Muitos serão chamados para o trabalho de casa em casa, dando estudos bíblicos e orando com as pessoas interessadas. T9 172 3 Aprendam os nossos ministros que adquiriram experiência na pregação da Palavra, a dar tratamentos simples, e trabalhem, então, de maneira inteligente como evangelistas médico-missionários. T9 172 4 Precisa-se agora de obreiros evangelistas médico-missionários. Não podemos dedicar anos no preparo deles. Logo portas que agora estão abertas haverão de fechar-se para sempre. Proclamemos a mensagem agora. Não esperemos, dando com isso oportunidade para que o inimigo se aposse do campo que está agora ao nosso alcance. Grupos pequenos devem ir fazer o trabalho de que Cristo incumbiu os Seus discípulos. Trabalhem como evangelistas, disseminando a nossa literatura e falando da verdade às pessoas que encontrarem. Orem pelos doentes, provendo-lhes as necessidades, não com drogas, mas com remédios naturais, ensinando-lhes a recuperar a saúde e evitar a doença. ------------------------Capítulo 17 -- A escola de médicos-evangelistas T9 173 1 Enquanto eu assistia à assembléia geral realizada em Washington, em 1905, recebi de J. A. Burden uma carta em que me descrevia uma propriedade que vira, distante cerca de seis quilômetros de Redlands. Lendo eu essa carta, tive a impressão de que se tratava de um dos lugares por mim vistos em visão, e telegrafei-lhe imediatamente para que, sem demora, comprasse a propriedade. Quando, mais tarde, visitei essa propriedade, pude reconhecer nela um dos lugares que eu havia visto em sonho quase dois anos antes. Como estou agradecida a Deus por nos haver proporcionado esse lugar! T9 173 2 Uma das vantagens principais de Loma Linda é a agradável variedade de paisagens encantadoras que a rodeiam. A extensa vista dos vales e montanhas é magnífica. E o que importa ainda mais que a paisagem magnificente ou os belos edifícios e os extensos terrenos, é a localização próxima de zona densamente povoada e da conseqüente oportunidade de comunicar a mensagem do terceiro anjo a um número muito grande de pessoas. Precisamos de muito discernimento espiritual para reconhecer as dádivas da providência de Deus que nos preparam o caminho para iluminarmos o mundo. T9 173 3 A aquisição dessa propriedade põe sobre nós a pesada responsabilidade de dar feição educacional à obra da instituição. Loma Linda deve ser não somente um hospital, mas também um centro de instrução. Deve ser estabelecida ali uma escola para a formação de evangelistas médico-missionários. Muitas coisas estão envolvidas nessa obra e é de suma importância que comece de maneira correta. O Senhor tem uma obra especial para ser feita neste campo. Encarregou-me Ele de convidar o Pastor Haskell e sua esposa para nos auxiliarem a empreender uma obra idêntica à que foi feita em Avondale. Obreiros experimentados consentiram em unir-se ao pessoal de Loma Linda para fundar a escola que deve funcionar ali. À medida que avancem com fé, o Senhor irá adiante deles, preparando o caminho. T9 174 1 Em relação à escola, direi: Dediquem-se especialmente ao preparo de enfermeiros e médicos. Muitos obreiros devem aprender a ciência médica em nossas escolas médico-missionárias, de modo que possam trabalhar como evangelistas médico-missionários. Essa instrução, declarou o Senhor, está em harmonia com os princípios que formam o fundamento da verdadeira educação superior. Muito se fala de educação superior. A educação mais elevada consiste em andar nas pegadas de Cristo, imitando o exemplo que Ele nos deixou quando esteve no mundo. Não podemos aspirar a uma educação superior a essa; ela é uma educação que fará dos homens colaboradores de Deus. T9 174 2 Possuir educação superior é estar em comunhão viva com Cristo. O Salvador tirou de seus barcos e redes os pescadores iletrados e com eles andou de um lugar para outro, ensinando o povo e suprindo-lhes as necessidades. Sentado numa pedra ou sobre uma elevação do terreno, juntava ao Seu redor os discípulos e os instruía; dentro de pouco tempo, centenas de pessoas Lhe escutavam as palavras. Muitos homens e mulheres há que pensam saber tudo quanto valha a pena saber, quando em realidade têm grande necessidade de sentar-se humildemente aos pés de Jesus e receber instrução dAquele que deu a Sua vida em resgate de um mundo perdido. Todos necessitamos de Cristo, que abandonou os átrios celestiais, Sua veste real, Sua coroa e majestade celestiais, para revestir-Se da nossa humanidade. O Filho de Deus aqui veio como criança a fim de poder compreender tudo quanto a humanidade experimenta e saber como lidar com os homens. Conhece as necessidades das crianças. Nos dias de Seu ministério, não queria que fossem proibidas de se aproximarem dEle. "Deixai vir a Mim os meninos", disse Ele aos discípulos, "porque dos tais é o reino de Deus." Lucas 18:16. T9 175 1 Mantenha-se a simplicidade na obra escolar. Nenhum argumento é mais poderoso que o êxito com base na simplicidade. Podemos alcançar êxito na formação de médicos-missionários sem ter uma escola capaz de produzir médicos que possam competir com os do mundo. Os estudantes devem receber instrução prática. Quanto menos métodos do mundo forem adotados, tanto melhor será para os estudantes. Deve, principalmente, ser cultivada a arte de cuidar dos enfermos sem fazer uso de medicamentos tóxicos, mas em harmonia com a luz que Deus forneceu. Não há necessidade do uso de tóxicos no tratamento dos enfermos. Os estudantes devem sair da escola sem haver sacrificado os princípios da reforma de saúde nem seu amor a Deus e à justiça. T9 175 2 O ensino segundo o ideal do mundo deve ser sempre menos valorizado por quem deseja levar avante eficientemente a obra médico-missionária relacionada com a obra da terceira mensagem angélica. Deve-se-lhes ensinar a obedecer à consciência e, ao seguirem conscienciosa e fielmente os bons métodos no tratamento das enfermidades, esses métodos acabarão por ser reconhecidos como preferíveis aos que estão na moda, e que implicam no uso de medicamentos tóxicos. T9 175 3 Não devemos, nesta época, competir com as escolas de medicina do mundo. Se o fizermos, teremos pouquíssimas perspectivas de sucesso. Não estamos em condições de empreender com êxito o estabelecimento de grandes faculdades de Medicina. Por outro lado, se seguirmos os métodos adotados pela classe médica, exigindo honorários elevados como o fazem os médicos do mundo, afastar-nos-emos dos planos, segundo os quais Cristo quer que exerçamos nosso ministério em prol dos enfermos. T9 176 1 Devemos ter em nossos hospitais homens e mulheres inteligentes, capazes de ensinar os métodos de Cristo. Sob a liderança de professores competentes e consagrados, poderão os jovens tornar-se participantes da natureza divina, e aprender a escapar da corrupção que pela concupiscência há no mundo. Fui instruída que devemos ter um número maior de mulheres capazes de tratar especialmente as enfermidades caracteristicamente femininas, bem como de enfermeiras que tratem dos enfermos de maneira simples, sem o uso de drogas. T9 176 2 Não condiz com as instruções dadas no Sinai, que os médicos devam desempenhar o ofício de parteiras. A Bíblia nos apresenta as parturientes atendidas por outras mulheres, e assim deverá ser, sempre. Mulheres devem ser instruídas e preparadas de maneira tal que possam desempenhar com perícia o cargo de parteiras e médicas junto às pessoas do seu próprio sexo. Devemos ter uma escola onde as mulheres sejam, por médicas, ensinadas a fazer da melhor maneira possível o trabalho de tratar as doenças de senhoras. Em nossa denominação, a obra médica deve atingir o desenvolvimento máximo. T9 176 3 Temos, em Loma Linda, um centro bastante desenvolvido para a execução dos nossos vários empreendimentos missionários. É evidente que foi a Providência que nos levou a possuir essa instituição de saúde. Devemos considerar Loma Linda um lugar que o Senhor previu ser necessário à nossa obra e no-lo deu. Há uma obra sumamente importante para ser feita em relação com os interesses do hospital e escola de Loma Linda, e esta se realizará quando todos trabalharmos para esse fim, avançando conjuntamente, segundo os planos de Deus. T9 177 1 Em Loma Linda, muitos podem ser preparados para trabalhar como missionários na causa da saúde e da temperança. Devem ser preparados professores para muitos ramos de atividade. Devem ser fundadas escolas nos lugares onde nada tenha sido feito ainda. Missionários devem ir a outros Estados onde até agora pouco tem sido realizado. Necessitamos realizar a obra que tem por objetivo disseminar os princípios da reforma de saúde. Deus nos ajude a sermos um povo sábio! T9 177 2 Desejo muito especialmente que as necessidades de nossas instituições de Loma Linda sejam cuidadosamente estudadas e tomadas as medidas acertadas. Para a continuidade da obra nesse lugar, precisamos de homens habilitados e de espiritualidade elevada. Na obra do ensino, precisamos empregar os melhores professores, homens e mulheres prudentes, que confiem inteiramente em Deus. Se os professores das matérias de medicina desempenharem as suas funções no temor de Deus, veremos realizada uma boa obra. Tendo a Cristo como educador, poderemos atingir grau elevado no conhecimento da verdadeira ciência de curar. T9 177 3 O que é de importância máxima é que os estudantes sejam ensinados a praticar corretamente os princípios da reforma de saúde. Temos de ensiná-los a prosseguir fielmente nesse ramo de estudo, combinado com outros aspectos essenciais da instrução. A graça de Jesus Cristo inspirará sabedoria a todos quantos seguem os planos divinos da verdadeira educação. Sigam os estudantes com fidelidade o exemplo dAquele que resgatou a espécie humana pelo preço inestimável da Sua própria vida. Apelem para o Salvador e nEle confiem como quem cura toda espécie de enfermidades. O Senhor quer que os obreiros façam esforços especiais para apontar aos enfermos e sofredores o grande Médico que formou o corpo humano. T9 178 1 Convém que os nossos centros de instrução para obreiros cristãos estejam localizados próximo de nossas instituições de saúde, de maneira que os alunos aprendam os princípios da vida sadia. As instituições que formam obreiros capazes de apresentar a razão das suas crenças, e cuja fé se manifesta em atos de amor e purifica a vida, têm grande valor. Foi-me mostrado claramente que onde quer que seja possível, devem ser fundadas escolas, próximas de nossos hospitais, a fim de que as instituições sirvam de auxílio e amparo umas às outras. Aquele que criou o homem Se interessa pelos que sofrem. Ele dirigiu a fundação das nossas instituições de saúde, bem como a construção das nossas escolas junto delas, a fim de que venham a tornar-se meios eficazes no preparo de homens e mulheres para a obra que tem por objetivo aliviar os sofrimentos da humanidade. T9 178 2 Lembrem-se os participantes da obra médica adventista do sétimo dia, de que o Senhor Deus onipotente reina. Cristo é o maior dos médicos que já pisou sobre a Terra amaldiçoada pelo pecado. O Senhor quer que Seu povo a Ele recorra em busca da capacidade de curar. Ele batizará os Seus com o Espírito Santo, capacitando-os para servir de modo que sejam uma bênção ao restituírem a saúde espiritual e física aos que necessitam de cura. T9 178 3 "Para que todos sejam um." João 17:21. ------------------------Capítulo 18 -- União entre os de nacionalidades diferentes† T9 179 1 "Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba." João 7:37. "Aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d'água que salte para a vida eterna." João 4:14. T9 179 2 Se, não obstante essas promessas, preferirmos permanecer abrasados e ressecados por falta da água viva, a culpa será tão-somente nossa. Se formos a Cristo com a simplicidade da criança que se dirige aos pais terrestres, e Lhe pedirmos as coisas que nos prometeu, crendo que as receberemos, tê-las-emos. Se todos exercêssemos fé como deveríamos, seríamos abençoados com o Espírito Santo de Deus em medida muito maior do que a já por nós recebida em nossas reuniões. Alegra-me que ainda nos restam alguns dias para o término dessas reuniões. Porque esta é a pergunta que surge: Iremos nós à fonte para beber? Darão o exemplo os que ensinam a Verdade? Deus por nós fará grandes coisas se, com fé, nos apegarmos à Sua Palavra. Que possamos ver aqui todos os corações se humilhando perante Deus! T9 179 3 Desde o início dessas reuniões, me senti fortemente inclinada a abordar os assuntos do amor e da fé. E assim é porque vocês necessitam deste testemunho. Alguns dos que vieram trabalhar nestes territórios missionários têm dito: "A senhora não compreende o povo francês; não compreende os alemães. Eles precisam ser tratados desta ou daquela maneira." T9 180 1 Pergunto, porém: Não os compreenderá Deus? Não é Ele que a Seus servos dá uma mensagem para as pessoas? Ele sabe exatamente o que necessitam; e se a mensagem vem diretamente dEle, por intermédio de Seus servos para o povo, cumprirá a obra que lhe foi designada; todos serão unificados em Cristo. Embora alguns sejam arraigadamente franceses, outros entranhadamente alemães e outros profundamente americanos, todos chegarão a ser identicamente semelhantes a Cristo. T9 180 2 O templo israelita foi construído de pedras lavradas e extraídas das montanhas; e cada pedra era preparada para o seu respectivo lugar no templo, lavrada, polida e provada antes de ser transportada para Jerusalém. E quando todas estavam no terreno, a edificação foi erguida sem que se ouvisse o ruído de um único machado ou martelo. Essa construção representa o templo espiritual de Deus, composto de material trazido de todas as nações, línguas, povos e classes sociais, elevados e humildes, ricos e pobres, sábios e iletrados. Não se trata de substâncias inertes que devam ser trabalhadas com martelo e cinzel. São pedras vivas, tiradas da pedreira do mundo por meio da verdade, e o grande Arquiteto principal, o Senhor do templo, as está agora lavrando, polindo e preparando para o seu lugar respectivo no templo espiritual. Uma vez terminado, esse templo será perfeito em todas as suas partes e causará a admiração dos anjos e dos homens; porque o seu Arquiteto e Construtor é Deus. T9 180 3 Ninguém pense que não tem necessidade de correção alguma. Não existe pessoa nem nação que seja perfeita em todos os seus costumes e pensamentos. Uma precisa aprender da outra. Por isso, Deus quer que as diversas nacionalidades se coordenem para chegar a ser um só povo, em sua visão e propósitos. Será, assim, exemplificada a união que há em Cristo. T9 181 1 Eu estava quase com medo de vir a este país, pelo muito que ouvira das peculiaridades das diferentes nacionalidades européias e dos meios a serem empregados para alcançá-las. Mas a sabedoria divina é prometida aos que dela sentem necessidade e a pedem. Deus pode levar as pessoas aonde hão de receber a verdade. Permitamos ao Senhor Se apossar das mentes e moldá-las como o barro é moldado pelas mãos do oleiro, e essas diferenças deixarão de existir. T9 181 2 Irmãos, contemplem a Jesus; imitem-Lhe as maneiras e o espírito, e não terão dificuldade alguma para alcançar esses diferentes tipos de pessoas. Não temos seis modelos para copiar, nem cinco; temos apenas um: Jesus Cristo. Se os irmãos italianos, franceses e alemães tentarem ser iguais a Ele, colocarão os pés sobre o mesmo fundamento da verdade; o mesmo espírito que anima um animará o outro -- Cristo neles, a esperança da glória. Eu os exorto, irmãos e irmãs, a não erguerem um muro de separação entre as diferentes nacionalidades. Ao contrário, tratem de derribá-lo, onde existir. Devemos esforçar-nos por levar todos à harmonia que há em Jesus, trabalhando em prol do objetivo único -- a salvação dos nossos semelhantes. T9 181 3 Meus irmãos no ministério, irão apossar-se das ricas promessas de Deus? Porão de parte o eu e deixarão que Jesus apareça? Antes que Deus possa atuar por seu intermédio, o eu precisa morrer. Fico alarmada ao ver o eu manifestar-se num e noutro, aqui e ali. Em nome de Jesus de Nazaré, eu lhes declaro que sua vontade tem de morrer; ela deve se transformar na vontade de Deus. Ele lhes quer depurar e purificar de toda mácula. Existe uma grande obra para ser feita em seu favor antes de serem revestidos do poder de Deus. Rogo-lhes que se aproximem dEle, a fim de reconhecerem Suas ricas bênçãos, antes de findar esta reunião. T9 182 1 Há aqui pessoas sobre quem brilhou muita luz na forma de advertências e repreensões. Sempre que surgem repreensões, o inimigo tenta criar nos repreendidos o desejo de simpatia humana. Eu quisera, portanto, advertir-lhes para terem cuidado, não aconteça que, ao apelarem para a simpatia alheia e rememorarem suas provas passadas, repitam o erro da exaltação própria. O Senhor conduz repetidas vezes ao mesmo lugar os Seus filhos extraviados; mas se continuamente deixam de escutar as advertências de Seu Espírito, e não emendam todos os seus erros, Ele os deixará, por fim, entregues à própria fraqueza. T9 182 2 Concito-lhes, irmãos, a irem a Cristo e beberem abundantemente da água da salvação. Não apelem para seus próprios sentimentos. Não confundam sentimentalismo com religião. Abandonem todo apoio humano e apóiem todo o peso em Cristo. É necessário um novo preparo antes de poderem se empenhar na obra da salvação. Suas palavras e atos exercem influência sobre outros e, no dia de Deus, terão de dar conta dessa influência. Jesus diz: "Eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar." Apocalipse 3:8. Dessa porta brilha uma luz e, se quisermos, teremos o privilégio de recebê-la. Dirijamos nosso olhar para essa porta aberta, e busquemos receber tudo quanto Cristo está disposto a nos conceder. T9 182 3 Cada qual tem uma luta intensa para vencer o pecado no próprio coração. Às vezes essa obra é muito penosa e desanimadora; pois ao vermos os nossos defeitos de caráter, passamos a considerá-los, em vez de olhar para Jesus e revestir-nos das vestes da Sua justiça. Todo aquele que entrar na cidade de Deus pelas portas de pérola, o fará como vencedor, e sua maior conquista terá sido a do próprio eu. T9 183 1 "Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos Céus e na Terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus." Efésios 3:14-19. T9 183 2 Irmãos e irmãs, como coobreiros de Deus, apoiemo-nos com firmeza no braço do Todo-poderoso. Esforcemo-nos por alcançar a união e o amor, e seremos no mundo uma potência. ------------------------Capítulo 19 -- Unidade em Jesus Cristo T9 184 1 Aos irmãos ligados à obra de publicações em College View: T9 184 2 Enquanto assistia a uma das sessões de comissão da Associação Geral, realizada em Setembro de 1904, estive sumamente preocupada com a unidade que deve reinar em nossa obra. Não me foi possível estar presente a todas as reuniões, mas durante a noite me foram apresentadas uma cena após outra, e tive a impressão de que deveria transmitir uma mensagem aos nossos irmãos de muitos lugares. T9 184 3 Meu coração dói ao comprovar que, conquanto tenhamos motivos extraordinários para elevar nossa capacidade e aptidões ao mais alto grau de desenvolvimento, conformamo-nos em ser anões na obra de Cristo. Deus quer que todos os Seus obreiros cresçam até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo. Onde existe vitalidade há crescimento; e este testifica da presença daquela. As palavras e os atos dão testemunho vivo para o mundo do que o cristianismo realiza em favor dos seguidores de Cristo. T9 184 4 Ao realizarmos a tarefa da qual fomos incumbidos, sem contender com os demais nem criticá-los, nosso trabalho será acompanhado de liberdade, luz e poder tais, que imprimirá feição peculiar e influência poderosa às instituições ou empreendimentos a que estamos ligados. T9 184 5 Lembremo-nos de que quando estamos de mau humor e pensamos ser nosso dever chamar à ordem toda pessoa que de nós se aproxima, jamais estamos em terreno vantajoso. Se cedermos à tentação de criticar os demais, apontar-lhes as faltas e demolir o que fazem, podemos estar certos de que não estamos fazendo a nossa parte de forma nobre e correta. T9 185 1 Este é o tempo em que todo homem que ocupa cargo de responsabilidade, e todo membro da igreja deve colocar cada detalhe de seu trabalho em perfeita consonância com os ensinos da Palavra de Deus. Por meio de vigilância incansável, orações fervorosas, e palavras e atos cristãos, devemos mostrar ao mundo o que Deus quer que Sua igreja seja. T9 185 2 De Sua elevada posição, Cristo, o Rei da glória, a Majestade do Céu viu o estado dos homens. Teve compaixão dos seres humanos em sua fraqueza e pecaminosidade, e veio à Terra para revelar o que Deus é para os homens. Deixando Sua corte real, revestindo Sua divindade com os véus da humanidade, veio pessoalmente ao mundo para desenvolver em nosso favor um caráter perfeito. Não escolheu morada entre os ricos da Terra. Nasceu na pobreza, de pais humildes, e viveu na desprezada aldeia de Nazaré. Logo que atingiu idade suficiente para manejar as ferramentas, contribuiu com a Sua parte para o sustento da família. T9 185 3 Cristo condescendeu em colocar-Se à frente da humanidade para sofrer tentações e suportar as provas que a humanidade tem que sofrer e suportar. Tinha de conhecer o que a humanidade tem que sofrer da parte do inimigo caído, a fim de saber como socorrer os que são tentados. T9 185 4 E Cristo foi feito nosso juiz. O Pai não é o juiz. Tampouco o são os anjos. Aquele que Se revestiu da humanidade e viveu neste mundo vida perfeita, será quem nos há de julgar. Só Ele pode ser nosso Juiz. Lembrar-nos-emos disso, irmãos? Lembrar-se-ão disso os pastores? E os pais e mães, se lembrarão? Cristo assumiu a humanidade para poder ser nosso Juiz. Nenhum de nós foi designado para julgar a outrem. Tudo o que podemos fazer é corrigir-nos. Exorto-lhes, em nome de Cristo, a obedecer à ordem que lhes dá, de nunca assumirem a atitude de juízes. Dia a dia tem soado aos meus ouvidos esta mensagem: "É preciso descer do assento de juiz. Fazê-lo em humildade." T9 186 1 Jamais foi tão necessário como agora que nos neguemos a nós mesmos, carreguemos cada dia a cruz. Até que extremo estamos nós dispostos a dar provas de abnegação? Vida de graça e paz T9 186 2 No primeiro capítulo da segunda epístola de Pedro, está a promessa de que graça e paz nos serão multiplicadas se foi acrescentada à nossa "fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade". 2 Pedro 1:5-7. Essas virtudes são tesouros admiráveis. Tornam o homem "mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir". Isaías 13:12. T9 186 3 "Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Pedro 1:8. T9 186 4 Não nos esforçaremos para fazer o melhor uso possível de nossa habilidade no pouco tempo que ainda nos resta para viver, acrescentando uma graça à outra, e uma capacidade à outra, mostrando que, nos lugares celestiais, temos acesso a uma fonte de poder? Cristo disse: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra." Mateus 28:18. Para que Lhe é dado o poder? -- Para nós. Ele quer que compreendamos que voltou para o Céu como nosso Irmão mais velho, e que o poder ilimitado que Lhe é dado está à nossa disposição. T9 186 5 Receberão o poder do alto todos quantos em sua vida puserem em prática as instruções dadas à igreja por intermédio do apóstolo Pedro. Devemos viver segundo o plano da adição, empenhando-nos por fazer firme a nossa vocação e eleição. Em tudo quanto fizermos e dissermos devemos representar a Cristo. Devemos viver a Sua vida. Os princípios em que Ele Se inspirava devem dirigir-nos a conduta com as pessoas com quem estamos ligados. T9 187 1 Ao estarmos fortemente firmados em Cristo, possuímos uma força de que ser humano algum nos poderá despojar. E por quê? Porque, ao fugir da corrupção que pela concupiscência há no mundo, somos participantes da natureza divina -- participantes da natureza dAquele que veio à Terra revestido da humanidade, para postar-Se à frente da humanidade, e formar caráter imaculado e irrepreensível. T9 187 2 Por que tantos há entre nós débeis e incapazes? É por olharmos para nós mesmos, estudando o nosso temperamento, perguntando-nos como poderemos nos acomodar, nossa individualidade, nossas peculiaridades, em vez de olhar para Cristo e Seu caráter. T9 187 3 Irmãos que poderiam trabalhar juntos em boa harmonia, se aprendessem de Cristo, esquecendo-se de que são americanos ou europeus, alemães ou franceses, suecos, dinamarqueses ou noruegueses, parece sentirem que ao se unirem com os de outras nacionalidades perderão alguma coisa do que lhes caracteriza a região ou nação, substituindo-a por outra. T9 187 4 Irmãos, vamos deixar disso! Não temos o direito de focalizar em nós mesmos a atenção, preferências e caprichos. Não devemos tratar de manter uma identidade peculiar, uma personalidade, uma individualidade que nos mantenha separados dos nossos colaboradores. Temos que manter um caráter, mas esse caráter é o de Cristo. Se tivermos o caráter de Cristo, poderemos trabalhar juntos na obra de Deus. O Cristo que em nós está encontrará o Cristo que está em nossos irmãos, e o Espírito Santo consagrará essa união de sentimentos e procedimentos que testifica perante o mundo que somos filhos de Deus. Que o Senhor nos ajude a morrer para o eu, e nascer de novo, a fim de Cristo poder viver em nós como um princípio vivo e ativo, capaz de nos manter santos. T9 188 1 Trabalhemos com ardor em prol da união. Oremos e trabalhemos para alcançá-la. Ela nos produzirá saúde espiritual, elevação de pensamento, nobreza de caráter, mentalidade celestial que nos capacitará para vencer o egoísmo e as ruins suspeitas, e a ser mais do que vencedores por Aquele que nos amou e a Si mesmo Se deu por nós. Crucifiquemos o eu; consideremos os outros superiores a nós; e assim realizaremos a unidade em Cristo. Perante o Universo celestial, bem como a igreja e o mundo, daremos prova indiscutível de que somos filhos e filhas de Deus. Deus será glorificado através de nosso exemplo. T9 188 2 O milagre que o mundo necessita ver é o que une o coração dos filhos de Deus, uns aos outros, por um amor cristão. Precisa ver os do povo do Senhor assentados juntos no lugares celestiais em Cristo. Não quereremos dar através de nossa vida uma prova do que a verdade divina pode fazer em favor dos que O amam e servem? Deus sabe o que poderemos chegar a ser. Sabe o que a divina graça pode fazer em nosso favor, se nos tornarmos participantes da natureza divina. ------------------------Capítulo 20 -- A obra de publicações em College View T9 189 1 Aprovo os esforços que têm sido empreendidos para estabelecer nossa obra de publicações para a Alemanha e Escandinávia, em College View. Almejo que planos sejam divisados para o estímulo e fortalecimento desse trabalho. T9 189 2 Não devemos deixar sobre nossos irmãos estrangeiros todo o peso do fardo dessa obra. Da mesma forma, não devem nossos irmãos em todo o campo deixar uma carga tão pesada sobre as associações próximas a College View. Os membros dessas associações devem empreender o seu melhor, apoiando esse trabalho. A verdade deve ser proclamada a todas as nações, tribos, línguas e povos. T9 189 3 Nossos irmãos alemães, dinamarqueses e suecos não possuem boas razões para não serem capazes de agir em harmonia com a obra de publicações. Os que crêem na verdade, devem lembrar-se de que são pequenos filhos de Deus, que se encontram sob o Seu treinamento. Sejam eles agradecidos a Deus por Sua múltipla misericórdia, manifestando-se amáveis uns com os outros. Possuem eles um só Deus e apenas um Salvador. Um só Espírito -- o Espírito de Cristo -- deve produzir a unidade em suas fileiras. T9 189 4 Após a ressurreição, Cristo subiu ao Céu, onde até hoje apresenta nossas necessidades diante do Pai. "Eis que, na palma das Minhas mãos, te tenho gravado." Isaías 49:16. Custou algo gravar-nos ali. Custou indescritível agonia. T9 189 5 Se nos humilhássemos perante Deus, e fôssemos bondosos e corteses, compassivos e piedosos, haveria uma centena de conversões à verdade onde agora há apenas uma. Mas, professando sermos convertidos, carregamos conosco uma carga de orgulho que consideramos excessivamente preciosa para ser abandonada. É nosso privilégio depositarmos esse fardo aos pés de Jesus, assumindo em seu lugar o caráter e semelhança de Cristo. O Salvador está esperando que assim procedamos. T9 190 1 Cristo deixou de lado Sua vestimenta real, Sua real coroa e Seu elevado comando, descendo a níveis cada vez mais baixos, às maiores profundezas da humilhação. Assumindo a natureza humana, suportou todas as tentações da humanidade, e em nosso benefício derrotou o inimigo em todos os pontos. T9 190 2 Tudo isso realizou Ele a fim de conceder aos homens o poder necessário para se tornarem vitoriosos. Disse Ele: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra." Mateus 28:18. Essa mesma autoridade outorga Ele aos que O seguem. Devem estes demonstrar ao mundo o poder existente na religião de Cristo, para a conquista do eu. T9 190 3 Cristo orientou: "Aprendei de Mim, ... e encontrareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Por que não aprendemos diariamente do Salvador? Por que não vivemos em constante comunhão com Ele, de modo que em nossos vínculos uns com os outros, possamos falar e agir bondosa e cortesmente? Por que não honramos o Salvador ao manifestarmos ternura e amor uns pelos outros? Se falarmos e agirmos em harmonia com os princípios do Céu, os descrentes serão aproximados de Cristo ao se associarem conosco. A atitude de Cristo para com a nacionalidade T9 190 4 Cristo não fazia distinção de nacionalidade, classe social nem credo. Os escribas e fariseus queriam monopolizar todos os dons do Céu em favor da sua localidade e nação, com exclusão do restante da família no mundo inteiro. Cristo, porém, veio para derrubar todo muro de separação. Veio para mostrar que o dom da Sua misericórdia e amor, como o ar, a luz e a chuva que refrigera o solo, não reconhece limites. T9 191 1 Por Sua vida, Cristo fundou uma religião na qual não há classes sociais; judeus e pagãos, livres e servos são iguais perante Deus e reunidos por um vínculo fraternal. Nenhum exclusivismo influía em Seus atos. Não fazia distinção alguma entre compatriotas e estrangeiros, amigos e inimigos. O que Lhe atraía o coração era a pessoa sedenta da água da vida. T9 191 2 Não menosprezava ser humano algum, mas buscava tornar disponível o bálsamo de cura para toda e qualquer pessoa. Em qualquer companhia que estivesse, apresentava uma lição apropriada ao tempo e às circunstâncias. Todo desprezo ou ultraje que os homens infligiam aos seus semelhantes não fazia senão inspirar-Lhe o sentimento da mais viva necessidade da Sua simpatia divino-humana. Buscava incutir esperança no mais rústico e menos promissor dos homens, assegurando-lhes de que poderiam tornar-se irrepreensíveis e santificados, e adquirir o caráter de filhos de Deus. Firme fundamento T9 191 3 "Portanto, irmãos", diz o apóstolo Pedro, "procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." 2 Pedro 1:10, 11. T9 191 4 Há alguns anos, quando era muito pequeno o grupo de crentes na breve volta de Cristo, os observadores do sábado em Topsham, Estado de Maine, reuniam-se para o culto na ampla cozinha da casa do irmão Stockbridge Howland. Numa manhã de sábado, o irmão Howland estava ausente. Isso nos surpreendeu, pois ele costumava ser sempre pontual. Logo, porém, o vimos chegar com a face radiante, iluminada pela glória de Deus. T9 192 1 "Irmãos -- disse -- achei alguma coisa. Achei que podemos adotar uma norma de procedimento, a cujo respeito nos diz a Palavra de Deus: 'Nunca tropeçareis.' Vou dizer-lhes de que se trata." T9 192 2 Contou-nos, então, que notara que um irmão pescador pobre, pensava não ser tão estimado quanto merecia, e que o irmão Howland e outros se consideravam superiores a ele. Isso não era verdade, mas assim lhe parecia; e durante algumas semanas não comparecera às reuniões. Assim é que o irmão Howland foi à sua casa e, pondo-se de joelhos diante dele, disse: T9 192 3 - Irmão, perdoe-me; que falta cometi eu? T9 192 4 O homem, pegou-o pelo braço, como querendo erguê-lo. T9 192 5 - Não -- disse o irmão Howland -- que tem o irmão contra mim? T9 192 6 - Nada tenho contra você. T9 192 7 - Acho que alguma coisa deve haver -- insistiu o irmão Howland -- porque antes falávamos livremente um ao outro, mas agora você não me dirige mais a palavra, e eu quero saber o que há. T9 192 8 - Levante-se, irmão Howland -- disse ele. Não -- respondeu o irmão Howland -- não quero. Então, eu é que tenho de me ajoelhar -- disse ele, caindo sobre os joelhos e confessando como fora infantil e a quantos maus pensamentos se havia entregue. -- Agora -- acrescentou -- afastarei de mim tudo isso. T9 192 9 Ao contar o irmão Howland essa história, tinha o rosto iluminado pela glória do Senhor. Nem bem havia terminado o seu relato, quando entraram o pescador e sua família, e tivemos uma reunião excelente. T9 192 10 Suponhamos que alguns de nós seguissem o procedimento adotado pelo irmão Howland. Se, quando os nossos irmãos suspeitam mal, fôssemos até eles, dizendo: "Perdoe-me se alguma coisa fiz para ofendê-lo", poderíamos quebrar o feitiço de Satanás e libertar os irmãos de suas tentações. Não permita que coisa alguma se interponha entre você e seus irmãos. Se alguma coisa há que pode ser feita, embora com sacrifício, para remover as suspeitas, faça. Deus quer que nos amemos uns aos outros como irmãos. Quer que sejamos compassivos e amáveis. Quer que nos habituemos a crer que nossos irmãos nos amam e que Jesus nos ama. Amor atrai amor. T9 193 1 Esperamos nós encontrar nossos irmãos no Céu? Se pudermos conviver com eles aqui vivendo em paz e harmonia, poderemos, então, com eles viver lá. Mas como poderemos com eles estar no Céu, se aqui não conseguimos viver sem lutas nem contendas contínuas? Os que seguem procedimento que os separa dos irmãos, e produz discórdia e dissensão, precisam de uma conversão radical. T9 193 2 É necessário que o nosso coração seja enternecido e subjugado pelo amor de Cristo. Devemos cultivar o amor por Ele demonstrado ao morrer por nós na cruz do Calvário. Temos de nos achegar sempre mais ao Salvador. Devemos orar mais e aprender a exercer fé. Precisamos de mais benignidade, compaixão e cortesia. Passaremos por este mundo uma única vez. Não nos esforçaremos por estampar o caráter de Cristo nas pessoas com quem convivemos? T9 193 3 Nosso coração endurecido precisa ser quebrantado. Precisamos formar uma unidade perfeita e reconhecer que fomos resgatados pelo sangue de Jesus Cristo de Nazaré. Diga cada qual para si: "Ele deu a Sua vida por mim, e quer que, ao passar eu por este mundo, revele o amor que Ele manifestou ao entregar-Se por mim." Cristo levou sobre a cruz os nossos pecados em Seu próprio corpo para que Deus seja justo e justificador de quem nEle crê. Há vida, vida eterna reservada para todos quantos se entregam a Cristo. T9 194 1 Eu quero ver o Rei em Sua formosura. Desejo ver-Lhe a beleza incomparável. Quero que também você O contemple. Cristo conduzirá os Seus remidos junto ao rio da vida e explicará tudo quanto lhes foi motivo de perplexidade neste mundo. Serão ali desvendados os mistérios da graça. Onde a sua mente finita só discernia confusão e fracassos, verão eles a mais perfeita e bela harmonia. T9 194 2 Sirvamos a Deus com todas as forças e todo o nosso entendimento. Nossa inteligência aumentará à medida que dela fizermos uso. A experiência religiosa será fortalecida à medida que pusermos mais religiosidade na vida diária. Galgaremos, assim, degrau a degrau a escada que leva ao Céu, até, por fim, passarmos do último e mais alto degrau diretamente para o reino de Deus. Sejamos cristãos neste mundo. Teremos, depois, a vida eterna no reino da glória. T9 194 3 A união existente entre os seguidores de Cristo constitui prova de que o Pai enviou o Seu Filho para salvar os pecadores. É uma testemunha do Seu poder; pois só o miraculoso poder de Deus pode harmonizar os temperamentos tão díspares dos seres humanos, e a todos inspirar o desejo de dizerem a verdade com amor. T9 194 4 As advertências e conselhos de Deus são claros e positivos. Ao lermos as Escrituras e vermos o poder para o bem que há na união, e o poder para o mal que produz a desunião, como poderemos deixar de receber no coração a Palavra de Deus? A suspeita e a desconfiança são como o fermento do mal. A união testifica do poder da verdade. ------------------------Capítulo 21 -- As associações alemã e escandinava T9 195 1 Queridos irmãos: T9 195 2 Alguns de nossos ministros me escreveram, perguntando se a obra entre os alemães e escandinavos não deveria ser conduzida por organizações separadas. Esse assunto me foi apresentado várias vezes. Quando me encontrava em College View, o Senhor me concedeu um testemunho direto, e desde então o assunto me tem sido apresentado outras vezes. T9 195 3 Em certa ocasião, pareceu-me estar numa reunião de concílio, onde essas questões estavam sendo consideradas. Alguém com autoridade ficou em pé no meio daquela assembléia e apresentou os princípios que devem ser observados na obra de Deus. A instrução concedida foi de que, se tal separação ocorresse, não seria de molde a levar avante os interesses do trabalho entre as diversas nacionalidades. Não conduziria ao mais elevado desenvolvimento espiritual. Erguer-se-iam muros, os quais teriam de ser removidos no futuro. T9 195 4 De acordo com a luz que Deus me concedeu, organizações separadas, em vez de propiciarem unidade, criariam discórdia. Se nossos irmãos buscarem juntos o Senhor em humildade, aqueles que pensam ser necessário separar organizações para os alemães e os escandinavos, perceberão que o Senhor deseja que todos trabalhem unidos como irmãos. T9 195 5 Pudessem aqueles que pretendem dividir a obra de Deus levar avante seus propósitos, alguns se exaltariam para realizar uma obra que não deve ser feita. Tal tipo de arranjo retardaria grandemente a causa de Deus. Se quisermos levar adiante a obra com maior sucesso, os talentos encontrados entre os ingleses e americanos devem unir-se com os talentos dos que pertencem a todas as demais nacionalidades. E cada nacionalidade deve cooperar intensamente com as demais. Existe apenas um Senhor e uma só fé. Nosso esforço deve ser no sentido de atender a oração de Cristo em favor dos discípulos, de que todos se tornassem um. T9 196 1 "Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade. Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade." João 17:17-19. T9 196 2 "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste." João 17:20-21. T9 196 3 É necessário compreender que a perfeita unidade entre os obreiros é necessária para o bom desempenho da obra de Deus. Tendo em vista preservar a paz, todos precisam buscar sabedoria do grande Ensinador. Que todos sejam cuidadosos se pensam apresentar proposições ambiciosas, capazes de criar dissensões. T9 196 4 Temos de sujeitar-nos uns aos outros. Nenhum homem constitui, sozinho, um todo completo. Através da submissão da mente e da vontade ao Espírito Santo, seremos sempre aprendizes do grande Ensinador. T9 196 5 Estudemos o segundo capítulo de Atos. Na igreja primitiva, o Espírito de Deus atuou com poder através daqueles que se uniram harmoniosamente. No dia do Pentecostes, encontravam-se todos de acordo, e num mesmo lugar. T9 196 6 Devemos demonstrar ao mundo que os homens de todas as nacionalidades são um em Cristo Jesus. Removamos, então, toda barreira, alcançando a unidade no serviço do Mestre. T9 197 1 Ao erguerem barreiras nacionalistas, vocês apresentam ao mundo um plano de concepção humana, que Deus jamais irá endossar. Aos que se ocupam de tal atividade, diz o apóstolo Paulo: "Porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens? ... Pois quem é Paulo e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; mas cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus." 1 Coríntios 3:3-9. Exemplo de bondade fraternal T9 197 2 Quando nossos irmãos da Escandinávia enfrentaram uma crise financeira, foi dado o testemunho de que não deveríamos permitir que eles ficassem numa posição de bancarrota perante o mundo. Isso desonraria a Deus. A ação pronta e liberal de nossos irmãos na América do Norte constituiu um reconhecimento de que as diferenças em termos de nacionalidade não liberam ninguém de seu dever de assistir a outros na obra de Deus. "Todos vós sois irmãos." Mateus 23:8. Somos todos um na unidade da verdade. T9 197 3 Devemos agora, através de esforço diligente e abnegado, esforçar-nos por andar no amor de Cristo, na unidade do Espírito, através da santificação na verdade. Nenhum trabalho realizado pela metade será suficiente para cumprir o que foi apresentado na oração de Cristo. Devemos praticar aqui os princípios celestiais. No Céu existe um grande local de reunião. T9 197 4 Tenho de escrever com franqueza a respeito do erguimento de muros de separação na obra de Deus. Tal ação me foi apresentada como sendo um engano de invenção humana. Não é o plano do Senhor que Seu povo se separe em grupos distintos, em virtude de diferenças de nacionalidade e idioma. Se assim fizerem, suas idéias se tornarão estreitas, e sua influência será grandemente reduzida. Deus nos convoca à harmoniosa fusão de uma variedade de talentos. T9 198 1 Repito outra vez as palavras de Cristo. Gostaria de imprimi-las profundamente na mente de vocês. "Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. E Eu dei-lhes a glória que a Mim Me deste, para que sejam um, como Nós somos um. Eu neles, e Tu em Mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que Tu Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como Me tens amado a Mim." João 17:20-23. T9 198 2 Cristo protegeu Seu povo do mundo, mas aqueles que erguem barreiras de separação nacional, estarão realizando uma obra para a qual o Senhor Jesus Cristo não ofereceu qualquer estímulo. T9 198 3 Irmãos, unam-se; aproximem-se cada vez mais, deixando de lado toda invenção humana, seguindo bem de perto os passos de Jesus, o nosso grande Exemplo. T9 198 4 "Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a Sua seara." Mateus 9:38. ------------------------Capítulo 22 -- Chamado a obreiros negros T9 199 1 Esforços mais decididos devem ser empreendidos para educar e preparar homens e mulheres negros a fim de se tornarem missionários nos Estados sulinos da América do Norte. Estudantes cristãos negros deveriam estar se preparando para levar a verdade aos de sua própria etnia. Aqueles que fizerem do temor do Senhor o princípio de sua sabedoria, e prestarem atenção aos conselhos de homens de experiência, poderão tornar-se uma grande bênção para os negros, levando o seu próprio povo à luz da verdade presente. Todo obreiro que atuar em humildade e harmonia com seus irmãos, se tornará um conduto de luz para muitos que hoje se encontram nas trevas da ignorância e superstição. T9 199 2 Em vez de se imaginarem como não estando aptos a trabalhar em favor dos negros, sejam nossos irmãos e irmãs negros estimulados a se devotarem como missionários entre os de sua etnia. Existe abundante espaço para homens e mulheres negros trabalharem entre seu próprio povo. Muito trabalho ainda está por ser realizado no campo sulino. Esforços especiais devem ser empreendidos nas grandes cidades. Em cada uma delas existem milhares de negros, aos quais precisa ser dada a mensagem de misericórdia. Seja despertado o espírito missionário no coração de nossos membros de pele negra. Que sinceros esforços sejam empreendidos em favor dos que não conhecem a verdade. T9 200 1 A todo irmão e irmã negros eu diria: Observem a situação tal qual ela é. Perguntem a si mesmos: "Em vista das oportunidades e vantagens a mim asseguradas, quanto devo ao meu Senhor? Como poderei melhor glorificá-Lo, promovendo os interesses de meu próprio povo? Como posso usar com mais vantagem o conhecimento que Deus Se dignou conceder-me? Devo abrir a Bíblia e ensiná-la ao meu povo? Porventura não existem milhares perecendo por falta de conhecimento, aos quais poderei ajudar, se me submeter a Deus, de modo que Ele possa me utilizar como Seu instrumento? Não tenho eu um trabalho a realizar em favor de meus companheiros oprimidos e desencorajados?" T9 200 2 O campo sulino está carente de obreiros. Passarão vocês por alto o seu povo, deixando de empreender esforços em seu favor, ou trabalharão com coração humilde para salvar os que perecem? Existe um trabalho que vocês podem realizar se humilharem o coração diante de Deus. Confiando nEle, encontrarão paz e conforto, mas se seguirem seus próprios caminhos e sua própria vontade, encontrarão espinhos e cardos, e perderão a recompensa. T9 200 3 O tempo é curto, e o que vocês fizerem, devem fazer rapidamente. Tomem a decisão de remir o tempo. Não busquem o próprio prazer. Ergam-se! Assumam o trabalho com um novo propósito de coração. O Senhor abrirá o caminho diante de vocês. Empreendam todo esforço possível para trabalhar nas fileiras de Cristo, em bondade e mansidão, repousando em Sua força. Entendam a obra que o Senhor lhes deu a fazer e, confiando em Deus, vocês serão capacitados a avançar de força em força, de graça em graça. Serão habilitados a atuar diligente e perseverantemente em favor de seu povo, enquanto ainda é dia, pois vem chegando a noite, quando ninguém mais poderá trabalhar. T9 200 4 Existe enorme necessidade de todo tipo de atividade missionária no Sul. Sem mais demora, precisam os obreiros ser preparados para esse campo. Nosso povo deve prover um fundo para o treinamento de homens e mulheres nos estados do sul, os quais, estando acostumados ao clima, poderão trabalhar sem colocar em risco a saúde. T9 201 1 Jovens promissores de ambos os sexos devem ser preparados como professores. Devem dispor das maiores vantagens. Escolas e casas de reunião devem ser construídas em diferentes lugares, empregando-se ali professores. T9 201 2 Os que durante anos têm estado a trabalhar ajudando as pessoas negras, acham-se aptos a oferecer conselho em relação à abertura de tais escolas. Tanto quanto possível, devem elas ser abertas fora das cidades. Entretanto, nas cidades existem muitas crianças que não podem ir à escola se esta se localizar fora; em benefício das mesmas, sejam também abertas escolas nas cidades, tanto quanto no campo. T9 201 3 As crianças e jovens devem receber em tais escolas instruções que representem algo além de aprender a ler. Atividades industriais devem ser aí desenvolvidas. Devem os alunos ter acesso a instalações adequadas para aprender os ofícios que os habilitarão a prover seu próprio sustento. T9 201 4 Nossas igrejas do Norte, bem como as do Sul, devem empreender tudo que estiver a seu alcance para ajudar a estabelecer escolas para as crianças negras. As escolas já existentes devem ser fielmente mantidas. O estabelecimento de outras requererá fundos adicionais. Que nossos irmãos e irmãs façam a sua parte de todo coração, colocando assim essas escolas em posição vantajosa. T9 201 5 Adicionalmente ao engajamento no ramo de estabelecimento de escolas, nossos irmãos negros poderão realizar bom trabalho estabelecendo escolas sabáticas e dominicais entre seu próprio povo -- escolas nas quais os jovens possam ser ensinados por professores cujo coração se encontre transbordando de amor pelas pessoas. T9 202 1 As oportunidades acham-se continuamente abertas nos estados sulinos, e muitos cristãos negros sábios serão chamados ao trabalho. Por várias razões, também homens brancos devem ser escolhidos para a liderança. Somos todos membros de um mesmo corpo e nos completamos unicamente em Cristo, o qual erguerá Seu povo dos baixos níveis aos quais o pecado o degradou, colocando-o em posições nas quais será reconhecido pelas cortes celestiais como constituindo-se em colaborador de Deus. T9 202 2 Existe trabalho a ser realizado em muitos lugares difíceis, e dessas localidades sairão brilhantes obreiros. Seja a obra conduzida de tal forma que os obreiros negros recebam preparo para trabalhar junto aos de sua própria etnia. Dentre eles, existem muitos que possuem talento e habilidade. Procuremos esses homens e mulheres, ensinando-lhes como se envolver na obra da salvação. Deus cooperará com eles, dando-lhes a vitória. "Cooperadores de Deus" T9 202 3 Os ouvidos de Deus estão abertos aos clamores daqueles que estão em Seu serviço. Ele prometeu: "Guiar-te-ei com os Meus olhos." Salmos 32:8. Andem humildemente com Deus, pedindo-Lhe que lhes torne claro o caminho a seguir. Quando Ele fala a Seus representantes, pedindo-lhes que sejam Seus cooperadores, estes realizarão o mesmo tipo de trabalho que Jesus anunciou como sendo a Sua obra ao erguer-Se e falar na sinagoga de Nazaré. Ele abriu o livro do profeta Isaías e leu: "O Espírito do Senhor Jeová está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos." Isaías 61:1. T9 203 1 A verdade hoje se encontra sobrepujada no mundo pelas nuvens de erro que prevalecem. Aquele que consegue influenciar mesmo o mais degradado, ganhando-o para Cristo, está cooperando com as agências divinas em buscar e salvar o perdido. Ao apresentar ao pecador um Salvador pessoal e perdoador de pecados, estendemos a mão de simpatia e de amor cristão, a qual alcança a mão do decaído; erguendo a outra mão a Cristo pela fé, formamos um vínculo de união entre o pecador e o Salvador. T9 203 2 O fim se aproxima e todos precisam agora andar cuidadosa, humilde e mansamente com Cristo Jesus. Nosso precioso Salvador, de quem todos os raios da verdade irradiam para o mundo, deseja que nossa confiança não seja colocada em príncipes, nem em filhos de homens, nos quais não pode ser encontrado auxílio; antes, que repousemos inteiramente nEle. Ele diz: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Temos de olhar constantemente a Jesus, de modo que Ele possa imprimir em nós a Sua adorável imagem. Devemos contemplar o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Então, revelaremos Cristo a nossos semelhantes. ------------------------Capítulo 23 -- Proclamação da verdade onde existe antagonismo racial T9 204 1 Estou muito preocupada com a obra entre as pessoas negras. O evangelho precisa ser pregado a essas pessoas, que em geral vivem em situação de desvantagem. Entretanto, devemos revelar grande precaução nos esforços para erguer essas pessoas. Entre os brancos, em muitos lugares, existe forte preconceito contra os negros. Deveríamos ignorar tal preconceito, porém, isso não é possível. Se agíssemos como se esse antagonismo não existisse, seríamos incapazes de apresentar a luz aos brancos. Temos de enfrentar a situação tal qual ela se apresenta, lidando com ela sábia e inteligentemente. T9 204 2 Durante muitos anos, tenho carregado um pesado fardo em favor dos negros. Dói-me o coração quando percebo os sentimentos contrários a esse povo crescerem mais e mais, e também à medida que vejo muitos adventistas do sétimo dia aparentemente incapazes de compreender a necessidade de um eficaz e imediato trabalho. Os anos estão passando para a eternidade, e ao que parece, bem pouco está sendo feito para ajudar aqueles que até há pouco tempo constituíam uma classe de escravos. T9 204 3 Uma das dificuldades enfrentadas pela obra é que muitos brancos, que vivem onde os negros são numerosos, não estão dispostos a empreender esforços especiais para ver aqueles se erguerem. Quando vêem escolas estabelecidas para os negros, quando percebem que eles estão sendo preparados para adquirir o próprio sustento e a se empenharem nos negócios, a proverem para si lares confortáveis em vez de prosseguirem vivendo em favelas, os brancos vêem a possibilidade de serem desfeitos os seus planos egoístas -- que não mais serão capazes de contratar negros por qualquer ninharia; assim a sua inimizade é despertada. Pensam que estão sendo injuriados e prejudicados. Alguns agem como se a escravidão jamais houvesse sido abolida. Esse espírito torna-se mais e mais forte, à medida que o Espírito de Deus é retirado da Terra; em muitos lugares é agora impossível realizar em favor das pessoas negras a obra que há alguns anos poderia ter sido empreendida. T9 205 1 Muito mais poderia ter sido realizado pelo povo da América do Norte se esforços adequados em favor dos escravos libertos houvessem sido postos em prática pelo governo e pelas igrejas cristãs, logo após a emancipação. O dinheiro deveria ter sido utilizado livremente em favor do cuidado e educação dos mesmos, num momento em que mui grande era a sua necessidade. Mas o governo, após pequeno esforço, deixou os negros a se debaterem, sem auxílio, em suas tremendas dificuldades. Algumas das fortes igrejas cristãs iniciaram um bom trabalho, porém infelizmente fracassaram, não alcançando senão comparativamente poucos. A Igreja Adventista do Sétimo Dia também falhou na porção que lhe cabia. Alguns esforços perseverantes têm sido postos em prática por indivíduos e sociedades a fim de erguer o povo negro, e essa tem sido uma obra nobre. Quão poucos, porém, têm tomado parte em tal obra, a qual deveria haver contado com a simpatia e ajuda de todos! T9 205 2 Esforços nobres foram empreendidos por alguns adventistas do sétimo dia, naquilo que precisa ser realizado em favor das pessoas negras. Houvessem aqueles engajados nessa obra recebido a cooperação de todos os seus irmãos atuantes no ministério, os resultados teriam sido muito diferentes daquilo que hoje se observa. Contudo, a grande maioria de nossos ministros não cooperou, como deveria ter feito, com aqueles poucos que se debatiam no empreendimento de uma obra mui necessária, num campo tão difícil. T9 205 3 À medida que o tempo avança e a oposição se fortalece, as circunstâncias nos instruem a usar da discrição como a melhor alternativa. Se movimentos equivocados ocorreram na obra em favor do povo negro, não foi por falta de advertências. Da Austrália, através das águas do Pacífico, palavras de precaução foram enviadas no sentido de que tudo precisaria ser feito de modo gradual, que os obreiros não deveriam fazer declarações políticas, e que a mistura de brancos e negros em igualdade social não deveria ser encorajada. T9 206 1 Numa reunião de concílio realizada em 1895, em Armadale, subúrbio de Melbourne, Victoria, falei sobre esse assunto, em resposta às indagações de meus irmãos, e insisti na necessidade de precaução. Mencionei que tempos perigosos se aproximavam, e que sentimentos que naquele momento podiam ser expressos, no tocante à obra a ser realizada entre os pessoas negras, no futuro não mais poderiam ser pronunciados sem pôr em risco a própria vida. Afirmei claramente que a obra em favor dos negros teria que seguir linhas de ação diferentes daquelas seguidas em algumas regiões do país em anos anteriores. T9 206 2 Que seja dito o mínimo possível sobre a barreira racial, e que os negros trabalhem principalmente em favor dos de sua própria etnia. T9 206 3 Quanto a brancos e negros adorarem no mesmo edifício, isso não pode ser seguido como um costume geral proveitoso para ambos os grupos -- principalmente no Sul. A melhor coisa a ser feita é prover aos negros que aceitam a verdade os seus próprios locais de culto, nos quais possam eles conduzir seus cultos. Isso é particularmente necessário no Sul, a fim de que o trabalho em favor dos brancos possa ser levado avante sem graves obstáculos. T9 206 4 Providencie-se para os crentes negros templos limpos e de bom gosto. Mostre-se a eles que isso é feito não para excluí-los da adoração junto com os brancos porque eles são negros, mas para promover o progresso da verdade. Compreendam eles que semelhante arranjo deve ser seguido até que o Senhor nos mostre um melhor caminho. T9 207 1 Os membros negros de capacidade e experiência devem ser estimulados a dirigir os cultos em favor de seu povo; e suas vozes devem ser ouvidas nas assembléias representativas. T9 207 2 Entre os crentes negros existem muitos capazes de trabalhar para beneficiar seu próprio povo -- obreiros aos quais o Senhor concedeu luz e conhecimento, possuidores de capacidade nada desprezível. Eles devem atuar com perseverante e do modo mais eficaz possível. Devem utilizar nossa literatura e realizar reuniões em tendas e salões. Por vezes (onde for permitido), ministros brancos podem ajudá-los. Especiais esforços devem ser empreendidos para aumentar o contingente de obreiros negros. Homens negros devem ser cabalmente educados e preparados para dar instruções bíblicas e efetuar reuniões campais entre seu povo. Há muitos dotados de capacidade, os quais devem ser preparados para essa obra. T9 207 3 Devemos nutrir profundo interesse pelo estabelecimento de escolas para as pessoas negras. Não podemos desconsiderar a importância de posicionar a verdade presente diante de professores e estudantes nos grandes colégios para negros, os quais têm sido estabelecidos pelos homens do mundo. T9 207 4 Escolas e instituições de saúde devem ser edificadas para os negros, nos quais os jovens sejam ensinados e preparados para o serviço, e isso pelos melhores professores que se consiga empregar. T9 207 5 Os ministros negros devem empreender todo esforço possível para ajudar os de seu povo a compreenderem a verdade para o tempo presente. À medida que o tempo avança, e aumentam os preconceitos raciais, em muitos lugares tornar-se-á quase impossível obreiros brancos trabalharem em favor dos negros. É possível que brancos que não têm simpatia por nossa obra se unam com negros para combater esse plano, alegando que nosso ensino é uma tentativa para dissolver igrejas e causar perturbações no tocante à questão do sábado. Pastores brancos e pastores negros farão falsas declarações, despertando na mente das pessoas tal sentimento de antagonismo que elas ficarão dispostas a destruir e matar. T9 208 1 Os poderes do inferno estão trabalhando com toda a sua perspicácia para impedir a proclamação da última mensagem de misericórdia entre as pessoas negras. Satanás está se empenhando para tornar sumamente difícil que ministros e professores evangélicos passem por alto o preconceito existente entre brancos e negros. T9 208 2 Sigamos o caminho da sabedoria. Não façamos coisa alguma que, desnecessariamente, suscite oposição -- coisa alguma que impeça a proclamação da mensagem do evangelho. Onde seja requerido pelo costume, ou onde maior eficiência possa ser obtida, reúnam-se os crentes brancos e negros em locais de adoração separados. Cultivemos a mansidão de Cristo. Era Ele a Majestade do Céu, o Filho Unigênito de Deus. Ainda assim, "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". João 3:16. T9 208 3 Se, para salvar o mundo que perecia, Deus condescendeu em entregar Seu Filho à morte atroz e ignominiosa, não deveriam os missionários do Senhor estar dispostos a empreender todo esforço possível a fim de ajudar os que se encontram nas profundezas do pecado, deixando que a luz incida sobre os que estão em escuridão e assim vejam o que é a verdade? Cristo revestiu Sua divindade da humanidade para que pudesse alcançar e reerguer os caídos seres humanos. Não devem os Seus seguidores, por amor a Ele, estar dispostos a submeter-se a muitas coisas injustas e difíceis de suportar, de modo a ajudar exatamente os que estão em necessidade? Seja a obra realizada de tal forma que não desperte preconceitos, os quais poderiam fechar portas agora abertas para a penetração da verdade. T9 209 1 Os homens de talento entre os negros, devem ser cooperadores de Deus em favor dos de seu próprio povo. Assim terão por vezes a oportunidade de apresentar seu testemunho nas reuniões em tendas e em grandes assembléias, alcançando dessa forma muitas, muitas pessoas. Tais oportunidades surgirão à medida que o campo sulino for trabalhado, apresentando-se o alto clamor. Quando for derramado o Espírito Santo, haverá um triunfo da humanidade sobre o preconceito em buscar a salvação de todos os seres humanos. Deus dominará as mentes. Os corações humanos amarão como Cristo amou. E a barreira da cor será considerada por muitos de maneira bem diferente daquela em que é considerada agora. Amar como Cristo ama eleva a mente a uma atmosfera pura, celestial e altruísta. T9 209 2 Quem se acha intimamente ligado a Cristo é elevado acima do preconceito de cor ou casta. Sua fé apodera-se das realidades eternas. O divino Autor da verdade deve ser enaltecido. Nosso coração deve encher-se da fé que atua por amor e purifica o coração. A obra do bom samaritano é o exemplo que devemos seguir. T9 209 3 Não devemos agitar a questão da linha de atuação em favor dos negros, pois isso faria aumentar o preconceito e levaria a uma crise. A luz da mensagem do terceiro anjo deve ser levada aos que necessitam de luz. Devemos agir de modo calmo, quieto e fiel, confiando em nosso Irmão mais velho. Não devemos agitar-nos em definir com exatidão o que vai ocorrer no futuro, no tocante à relação que deve ser mantida entre brancos e negros. A verdade para o tempo presente deve ser proclamada diante de milhares nos estados sulinos. O caminho deve ser limpo, tanto quanto possível, de todo fator obstrutivo. Seja a mensagem do evangelho apresentada ao povo. Que os brancos e os negros atuem em ramos distintos e separados, deixando ao Senhor o encargo do restante. A verdade precisa ser posta diante de homens e mulheres brancos nos estados do sul. Assim será realizada uma obra em favor de suas famílias, a qual resultará na salvação de muitas pessoas. "Com toda sabedoria e prudência" T9 210 1 Enquanto os homens estão tentando definir o que é segregação racial, o tempo avança e as pessoas descem ao sepulcro sem haver recebido a advertência, perdidas. Que tal situação não mais perdure. Que os homens e mulheres se ponham a trabalhar enquanto o Espírito de Deus lhes impressionar a mente. Necessitamos dos talentos dos crentes negros em todos os aspectos, na realização desse trabalho. Que os obreiros negros atuem em favor de seu próprio povo, apoiados pelos obreiros brancos, sempre que houver oportunidade. Muitas vezes, necessitarão de conselho e orientação. Tenham os negros seus próprios locais de culto, assim como também os brancos. Que cada grupo seja zeloso na realização de genuína obra missionária por seu próprio povo, e em favor do povo negro sempre que tal seja possível. T9 210 2 Quando a verdade houver sido apresentada num lugar, e quando muitas pessoas brancas a escutarem e a aceitarem, por vezes surgirão oportunidades para que se empreendam esforços, de modo tranqüilo e não obstrutivo, no sentido de que obreiros brancos atuem em favor de pessoas negras. Tais oportunidades não devem ser passadas por alto. T9 210 3 Entretanto, não devemos despertar desnecessariamente o preconceito, o qual fecharia o caminho para a proclamação da mensagem do terceiro anjo às pessoas brancas. Elas necessitam da mensagem; um tempo de prova se acha diante de nós, tal como jamais houve desde que existe nação. T9 211 1 Grande cuidado precisa ser exercitado, para que nada se diga ou faça a fim de inflamar os sentimentos dos negros contra os brancos. Não agravemos, de modo algum, as dificuldades já existentes. Mesmo que os obreiros atuem sabiamente, e sem agitar a questão, enfrentarão oposição. Abramos o caminho para a vinda do Rei. Que Deus tenha a oportunidade de atuar. Mantenham-se os homens afastados de Seu caminho. Ele planejará e atuará de modo muito mais sábio do que poderiam fazê-lo as pessoas. Lembremo-nos de que nosso primeiro grande dever é pregar a Palavra de Deus, apresentando as advertências da Bíblia. T9 211 2 O Senhor convida a todos para assumirem o trabalho com humildade. Nem todos os ministros acham-se santificados pela verdade. O Senhor convoca a todos para que deixem de lado suas controvérsias. Que os homens se precavenham de fazer qualquer coisa que elimine nossa última oportunidade de penetrar em campos difíceis, onde dominam o preconceito e o antagonismo. T9 211 3 Como meio de vencer o preconceito e obter acesso à consciência, deve-se realizar a obra médico-missionária não em um ou dois lugares apenas, mas em muitas partes onde a verdade ainda não foi proclamada. Devemos trabalhar como evangelistas médico-missionários, curar as pessoas enfermas pelo pecado dando-lhes a mensagem de salvação. Essa obra quebrará os preconceitos como nada o faria. O Sábado T9 212 4 A questão do sábado é uma das que demandam grande cuidado e sabedoria em sua apresentação. Muito da graça e poder de Deus serão necessários para derrubar o ídolo erigido sob a forma de um falso sábado. Ergam o estandarte, ergam-no, mais e mais alto. Apresentem ao povo o vigésimo capítulo de Êxodo, no qual a lei de Deus se encontra registrada. Os primeiros quatro dentre os dez mandamentos apresentam o dever para com nosso Criador. Aquele que é falso para com Deus, não será jamais genuíno para com o seu próximo. O que amar supremamente a Deus, amará seu próximo como a si mesmo. O orgulho só conduz para a vaidade, levando o ser humano a fazer um deus de si mesmo. O evangelho de Cristo santifica o coração, expelindo dali o egoísmo. T9 212 1 "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar." Êxodo 20:8. O sábado foi instituído no Éden, depois de haver Deus criado o mundo. "Assim, os céus, e a Terra, e todo o seu exército foram acabados. E, havendo Deus acabado no dia sétimo a Sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a Sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra, que Deus criara e fizera." Gênesis 2:1-3. T9 212 2 "Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados, porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo. Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá. Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo." Êxodo 31:12-16. T9 212 3 19 de Outubro de 1908 ------------------------Capítulo 24 -- A questão da cor da pele T9 213 1 Tenho algumas coisas a dizer a respeito das pessoas negras dos estados sulinos da América do Norte, e a relação que com elas deveríamos manter. Por tanto tempo estiveram sob a maldição da escravatura, que agora torna-se difícil saber como devem ser tratadas. T9 213 2 Quando os obreiros de Deus permitem que o Seu Espírito atue em sua mente, muito se consegue em favor da salvação dos pecadores. O Senhor é nosso Ajudador. Ele nos guiará em todos os assuntos, se nEle confiarmos. Uma coisa é certa: necessitamos ter fé em Deus -- fé em que Ele arranjará as coisas de tal forma que conseguiremos atuar com sucesso. Jamais alguém confiou em Deus em vão. Ele nunca desaponta os que nEle depositam sua confiança. T9 213 3 Devemos evitar entrar em controvérsia acerca da questão da cor da pele. Se esse assunto for muito agitado, surgirão dificuldades, as quais consumirão muito de nosso precioso tempo. Não podemos estabelecer uma linha definida ao lidarmos com essa questão. Em diferentes lugares, e sob diferentes circunstâncias, o assunto terá de ser manejado de modo distinto. No Sul, onde o preconceito racial é tão forte, não conseguiríamos realizar coisa alguma em termos de apresentação da verdade, se fôssemos lidar com a questão do racismo do mesmo modo como podemos lidar em alguns lugares do Norte. Os obreiros brancos do Sul precisam movimentar-se de uma forma que os capacite a obter acesso às pessoas de cor branca. T9 213 4 É plano de Satanás levar as mentes a revolver a questão étnica. Se suas sugestões forem atendidas, existirá diversidade de opinião e grande confusão. Ninguém é capaz de definir com clareza a posição adequada das pessoas de cor negra. Os homens podem desenvolver teorias, mas posso assegurar-lhes que de nada nos aproveitará seguir teorias humanas. Tanto quanto possível, a questão racial não deve ser provocada. T9 214 1 As cidades do Sul precisam ser trabalhadas, e para essa obra, sem demora, devem ser assegurados os melhores talentos. Que obreiros de pele branca trabalhem pelas pessoas da mesma etnia, proclamando a mensagem da verdade presente em sua simplicidade. Encontrarão portas através das quais serão capazes de atingir as classes mais altas. Cada oportunidade para alcançar essas classes deve ser aproveitada. T9 214 2 Já os obreiros negros devem efetuar tudo que estiver a seu alcance, trabalhando em favor dos próprios negros. Agradeço a Deus porque entre os crentes negros existem homens de talento, capazes de trabalhar eficientemente para apresentar a verdade em linhas bem claras aos seus companheiros. Existem muitos negros de precioso talento os quais se converterão à verdade, se nossos ministros negros forem sábios em divisar caminhos para o preparo de professores para as escolas, assim como outros obreiros para o campo. T9 214 3 As pessoas de pele negra não devem insistir em serem colocadas em posição de igualdade com os de pele branca. O relacionamento entre as duas etnias tem sido um assunto de difícil tratamento. Temo que prossiga sendo um problema causador de dificuldades. Tanto quanto possível, deve ser evitado tudo aquilo que suscite o preconceito das pessoas brancas. Existe o perigo de se fechar a porta, impedindo assim que os obreiros brancos prossigam o seu trabalho em alguns lugares do sul. T9 214 4 Sei que se tentarmos acompanhar as idéias e preferências de alguns dos negros, veremos nosso caminho completamente bloqueado. A obra de proclamação da verdade para este tempo não deve ser atrapalhada por qualquer esforço para nos ajustarmos aos ideais dos negros. Se tentarmos fazer isso, encontraremos barreiras semelhantes a montanhas erguendo-se para impedir a obra que Deus deseja que empreendamos. Se nos movermos com calma e cuidado, agindo da forma como Deus nos indicou, tanto os brancos quanto os negros serão beneficiados por nossa atividade. T9 215 1 Ainda não chegou o tempo de trabalharmos como se não existisse preconceito. Cristo disse: "Portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas." Mateus 10:16. Se perceberem que, ao fazer certas coisas que lhes parecem perfeitamente corretas, vão atrapalhar o avanço da obra de Deus, evitem praticar tais coisas. Nada façam que possa vir a fechar as mentes à recepção da verdade. Existe um mundo a salvar, e nada ganharemos se cortarmos nosso vínculo com aqueles a quem estamos procurando ajudar. Todas as coisas podem ser lícitas, mas nem todas convêm. T9 215 2 O melhor caminho é o da sabedoria. Como colaboradores de Deus, temos de atuar da forma que permita realizarmos o melhor para Ele. Não devemos ir aos extremos. Necessitamos da sabedoria do alto; temos um difícil problema a resolver. Se empreendermos movimentos bruscos agora, grande dano resultará daí. O assunto deve ser apresentado de tal forma que os negros verdadeiramente convertidos se apeguem à verdade em favor de Cristo, recusando-se a renunciar a algum claro princípio da doutrina bíblica porque possam pensar que o melhor de todos os caminhos não seja dedicar-se aos negros. T9 215 3 Temos de sentar-nos como aprendizes aos pés de Cristo a fim de que Ele nos ensine a vontade de Deus, e para que saibamos como trabalhar em favor das pessoas brancas e das negras, no campo sulino. Devemos proceder do modo como o Espírito do Senhor nos ditar, agitando o menos possível a questão racial. Temos de aplicar todas as nossas energias à apresentação da mensagem final do evangelho a todas as pessoas no sul. Se formos conduzidos e controlados pelo Espírito de Deus perceberemos que essa questão ajustar-se-á por si mesma na mente de nosso povo. T9 216 1 Busquemos individualmente ao Senhor. Que se aproximem efetivamente de Deus aqueles cuja experiência religiosa passada alcançou apenas a superfície. Arrependam, arrependam-se e se convertam, para que sejam apagados os seus pecados. T9 216 2 Quando estivermos preparados para tocar a obra com toda a sinceridade, estaremos melhor capacitados do que agora para lidar com as questões envolvidas nessa atividade. Que cada crente faça o seu melhor na preparação do caminho para a obra missionária evangélica que espera por ser realizada. Mas que ninguém entre em controvérsia. É objetivo de Satanás que os cristãos se envolvam em debates uns com os outros. Ele sabe que se não vigiarem, o dia do Senhor os apanhará como um ladrão de noite. Não temos tempo agora para dar lugar ao espírito do inimigo nem para acariciar o preconceito que confunde o discernimento e nos separa de Cristo. T9 216 3 Serão necessários dinheiro e genuínos e perseverantes esforços para realizar o que é necessário entre as pessoas negras. Cada homem precisa agora erguer-se em seu lugar, confessando e abandonando seus pecados, e atuando em harmonia com os irmãos. Os obreiros de Deus precisam possuir um só coração e mente, orando pelo derramamento do Espírito e crendo que Deus cumprirá Sua promessa. Uma lição das atividades de Cristo T9 216 4 Certa ocasião, quando Cristo Se encontrava em meio à Sua obra de curar e pregar, alguém dentre a multidão reunida em torno dEle Lhe disse: "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança." Lucas 12:13. T9 216 5 Esse homem havia testemunhado as maravilhosas obras de Cristo. Ficara surpreso com a clareza de Sua compreensão, Seu superior julgamento e a lisura com que discernia todos os casos trazidos à Sua presença. Ouvira os insistentes apelos de Cristo e Sua solene denúncia dos escribas e fariseus. Se palavras com tamanha autoridade pudessem ser ditas a seu irmão, ele não se atreveria a recusar conceder parte da herança ao homem prejudicado. Assim, solicitou que Cristo exercesse a Sua influência. "Dize a meu irmão", solicitou ele, "que reparta comigo a herança." Lucas 12:13. T9 217 1 O Espírito Santo estava pleiteando com esse homem a fim de que se tornasse herdeiro de uma herança incorruptível e incontaminada, e que jamais desaparecerá. Ele havia visto as evidências do poder de Cristo. Agora era a sua oportunidade de falar ao grande Mestre, expressando os desejos mais íntimos de seu ser. Mas, tal qual um dos personagens da alegoria de Bunyan, seus olhos achavam-se fixos na Terra. Não percebia a coroa acima de sua cabeça. Tal como Simão, o mago, avaliava o dom de Deus como um meio de obter ganho terrestre. T9 217 2 A missão do Salvador sobre a Terra aproximava-se rapidamente do fim. Restavam apenas poucos meses para que completasse o que viera estabelecer no reino da graça. Ainda assim a cobiça humana quase O desviava de Sua obra a fim de assumir a disputa por um pedaço de terra. Cristo, contudo, não podia desviar-Se de Sua missão. Assim, Sua resposta foi: "Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?" Lucas 12:14. T9 217 3 Cristo deixou bem claro ao homem que essa não era a Sua obra. Lutava para salvar pessoas. Não haveria de Se desviar dessa missão a fim de assumir deveres de um magistrado civil. T9 217 4 Quão freqüentemente obriga-se a igreja a assumir atividades que jamais deveriam ser admitidas na obra do ministério evangélico! T9 218 1 Por mais de uma vez Cristo foi solicitado a decidir questões políticas e jurídicas; mas recusava-Se a interferir em assuntos temporais. Sabia que no mundo político existiam procedimentos iníquos e grande tirania. Sua única resposta para isso era a proclamação da verdade bíblica. Às grandes multidões obstruíam Seus passos, apresentou Ele os puros e santos princípios da lei de Deus, falando das bênçãos encontradas na observância desses princípios. Com a autoridade provinda do alto, insistiu Ele na importância da justiça e da misericórdia. Mas não Se permitiu o envolvimento em disputas pessoais. T9 218 2 Cristo ocupava no mundo o lugar de Cabeça do grande reino espiritual para cujo estabelecimento aqui viera -- o reino da justiça. Seus ensinos tornaram claros os princípios enobrecedores e santificadores que regem Seu reino. Mostrou que a justiça, misericórdia e amor são as forças dominantes no reino de Jeová. Tempo de preparo T9 218 3 Estamos vivendo no grande dia antitípico da expiação. Temos de buscar individualmente a Deus. Essa é uma obra pessoal. Aproximemo-nos de Deus, não permitindo que coisa alguma se misture com nossos esforços, e que venha a representar erroneamente a verdade para este tempo. Que todos confessem, não o pecado de seu irmão, mas o seu próprio. Que humilhem o coração perante Deus, tornando-se tão repletos com o Espírito Santo, que sua vida revele haverem nascido de novo. Lemos: "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome." João 1:12. T9 218 4 O evangelho de Cristo deve ser vivido e praticado na vida diária. Os servos de Deus devem ser purificados de toda indiferença, de todo egoísmo. Simplicidade, mansidão e humildade, são de grande valor na obra de Deus. Procuremos unir os obreiros através da confiança e amor. Se não conseguirmos fazer isso, sejamos nós mesmos corretos e deixemos o resto com Deus. Trabalhemos com fé e oração. Escolhamos jovens cristãos e os preparemos para serem, não obreiros de coração semelhante ao ferro, mas obreiros que estejam dispostos a harmonizar-se. T9 219 1 Oro para que o Senhor mude o coração daqueles que, a menos que recebam mais graça, entrarão em tentação. Oro para que Ele abrande e subjugue cada coração. Precisamos viver em íntima relação com Deus, para que possamos amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou. É por meio disso que o mundo deve saber que somos Seus discípulos. Que não exista exaltação do eu. Se os obreiros humilharem o coração diante de Deus, a bênção virá. Receberão a cada momento idéias novas, promissoras, e haverá um maravilhoso reavivamento da obra evangélica médico-missionária. T9 219 2 A grande obra diante de todos nós, os cristãos, é estender o reino de Cristo tão rapidamente quanto possível, de acordo com a divina comissão. O evangelho deve avançar de conquista em conquista, de vitória em vitória. A grandeza do reino sob todo o Céu deve ser dada ao povo dos santos do Altíssimo, e eles assumirão o reino e o possuirão para todo o sempre. A batalha diante de nós T9 219 3 Os servos de Deus devem vestir todas as peças da armadura de Cristo. Não estamos lutando simplesmente com inimigos humanos. Deus convoca todo cristão a empenhar-se na guerra e a lutar sob a Sua liderança, dependendo da graça e ajuda do Céu a fim de alcançar sucesso. T9 219 4 Devemos avançar na força do Todo-poderoso. Jamais poderemos ceder aos ataques de Satanás. Por que não deveríamos nós, como guerreiros cristãos, estar em pé contra os principados e potestades, contra os dirigentes das trevas deste mundo? Deus nos convoca a avançar, utilizando os talentos de que nos dotou. Satanás colocará a tentação diante de nós. Procurará vencer-nos mediante estratagemas. Mas, na força de Deus, devemos permanecer firmes ao princípio como uma rocha. T9 220 1 Nessa guerra não existe trégua. Os agentes satânicos jamais concedem pausa em sua obra de destruição. Os que se encontram no serviço de Cristo precisam vigiar todos os postos. Nosso objetivo é salvar da ruína os pecadores. Essa é uma obra de infinita grandeza e o homem não pode ter a esperança de ser nela bem-sucedido, a menos que se una com o divino Obreiro. T9 220 2 Desde a eternidade é Cristo o Redentor do homem. Desde a queda têm vindo as seguintes palavras aos que se unem a Ele na realização de Sua grande obra: "Não vos canseis de fazer o bem." 2 Tessalonicenses 3:13. "Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor." 1 Coríntios 15:58. T9 220 3 O cristão é estimulado a demonstrar paciente perseverança ao levar avante a obra do ministério evangélico, em conexão com a obra médico-missionária. À medida que ele adquire experiência na religião genuína, obtém um conhecimento espiritual que edifica o caráter. T9 220 4 A vida do genuíno cristão é de contínuo serviço. "Nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Cada dia traz àquele que se encontra no serviço de Deus, deveres proporcionais à sua capacidade. Sua utilidade aumenta quando, sob a direção do supremo Poder, desempenha esses deveres. O cumprimento de um dever nos prepara melhor para assumirmos outro. Aqueles que possuem clara compreensão do que deve ser feito, colocar-se-ão sob a direta luz da Palavra de Deus, em união com as Suas demais forças divinas. Cada dia, revestidos de toda a armadura, avançarão na batalha. Mediante oração, vigilância e perseverança, agirão, determinados a não permitir que o encerramento de suas atividades os encontre despreparados, não tendo feito tudo a seu alcance para a salvação dos perdidos. T9 221 1 Se os cristãos agissem de comum acordo, avançando como um só homem, sob a direção de um único Poder, para a realização de um só objetivo, abalariam o mundo. T9 221 2 Os princípios que nos devem nortear como obreiros na causa de Deus foram expostos pelo apóstolo Paulo. Ele disse: "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. "E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens." Colossences 3:23. Pedro exorta os crentes: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre." 1 Pedro 4:10, 11. T9 221 3 Há grandes leis que governam o mundo da natureza, e as coisas espirituais são controladas por princípios igualmente definidos. Os meios para determinado fim têm de ser empregados, se é que se quer de fato alcançar os resultados desejados. Deus designou a todo homem a sua obra, de acordo com sua habilidade. É pela educação e a prática que as pessoas devem ser habilitadas a enfrentar qualquer emergência que possa surgir, e é necessário um planejamento sábio para colocar cada um em sua própria esfera para que possa obter uma experiência que o faça apto a assumir responsabilidades. T9 222 1 Deus quer que nos ajudemos uns aos outros por uma manifestação de simpatia e abnegado amor. Há os que herdaram temperamento e disposição peculiares. Podem ser de trato difícil, mas somos nós irrepreensíveis? Não os devemos desanimar. Seus erros não se devem tornar propriedade comum. Cristo Se compadece dos que erram em seu raciocínio e os ajuda. Ele sofreu a morte por todos, e por isso tem tocante e profundo interesse em cada pessoa. T9 222 2 Um homem pode estar procurando servir a Deus; entretanto, assaltam-no tentações provindas do interior e do exterior. Satanás e seus anjos insistem e pressionam para que transgrida. Talvez caia ele como presa de suas tentações. De que modo o tratam seus irmãos? Falam-lhe de modo áspero, com palavras cortantes, afastando-o ainda mais do Salvador? Que triste visão a ser contemplada por Cristo e Seus anjos! T9 222 3 Lembremo-nos de que estamos em luta e fracassamos; falhamos no falar e no agir para representar Cristo; caindo e levantando novamente, entre o desespero e a esperança. Não nos permitamos lidar de modo desamorável com aqueles que, à semelhança de nós mesmos, acham-se sujeitos à tentação e também são objetos do infalível amor de Cristo. T9 222 4 Deus lida com os homens como seres responsáveis. Por intermédio de Seu Espírito, atuará na mente que colocou no ser humano, se ele tão-somente Lhe der uma oportunidade de agir, reconhecendo-O em Suas atuações. Deus deseja que cada um use sua própria mente e consciência. Não quer que um homem se torne sombra de outro, refletindo apenas os sentimentos alheios. ------------------------Capítulo 25 -- Consideração para com os obreiros negros T9 223 1 A religião da Bíblia não reconhece casta ou cor. Desconhece posição, riqueza, ou honras conferidas pelo mundo. Deus avalia as pessoas como pessoas. Para Ele, o caráter decide o seu valor. E devemos reconhecer o Espírito de Cristo em todo aquele em quem Ele é revelado. Ninguém deve sentir-se envergonhado de falar com uma honesta pessoa negra em qualquer lugar, ou de estender-lhe a mão. Aquele que vive na atmosfera de Cristo, será ensinado por Deus, aprendendo a considerar os homens como Deus os considera. T9 223 2 Nossos obreiros negros devem ser tratados com consideração. Nem sempre tem ocorrido isso. Esses homens devem ser estimulados a obter um amplo conhecimento da verdade. Devem aprender a como se tornarem eficientes ao ensinar a verdade a outros. Quando se empenharem diligentemente na obra, devem receber a recompensa material por isso. Lembrem-se que eles necessitam de pão. T9 223 3 O Senhor deseja que Seu povo do Norte [dos Estados Unidos] mantenha uma atitude amável para com seus irmãos e irmãs negros. Não deveríamos apressar-nos em encontrar faltas neles. Não deveríamos esperar que, em todos os aspectos, sejam eles iguais aos que tiveram maiores vantagens. Temos de recordar sempre as desvantagens sob as quais as pessoas negras têm vivido. O ambiente delas tem sido muito diferente do das pessoas brancas. As pessoas do norte têm vivido numa atmosfera moral muito mais clara e pura do que as pessoas negras do sul. Não é razoável esperar que, em todos os aspectos, estas últimas possuam tanta firmeza e clareza em suas idéias quanto à moralidade. Estivesse Cristo hoje na Terra, ensinaria as pessoas negras de um modo que nos surpreenderia. Ele nos faz recordar que, mesmo aqueles que em muitos aspectos apresentam grandes vantagens, muitas vezes se sentem feridos se os seus erros recebem grande publicidade, e se palavras de conselho e admoestação se apresentam de maneira desprovida de simpatia. T9 224 1 Quando coisas de natureza objetável ocorrem entre pessoas negras, lembrem-se que o Senhor deseja que vocês procedam com a sabedoria de um fiel pastor. Recordem-se de que a bondade conseguirá muito mais que a censura. Que esses irmãos e irmãs percebam que seus demais irmãos almejam que eles atinjam um padrão mais elevado, e que desejam ajudá-los nesse objetivo. Se em alguns aspectos os negros falharem, não sejamos precipitados em condená-los, afastando-os da obra. T9 224 2 Uma justiça correta e imparcial deve ser aplicada aos negros. Cristo demanda de Seus servos a terna compaixão em favor do sofredor, simpatia para com o desafortunado e generosa consideração para com os procedimentos equivocados. T9 224 3 Os pobres não são excluídos do privilégio de dar. Tanto quanto os ricos, devem eles também tomar parte nesta obra. A lição administrada por Cristo, no tocante às duas moedinhas da viúva, mostra-nos que as menores ofertas dos pobres, se entregues com o coração repleto de amor, são tão aceitáveis quanto as volumosas doações dos ricos. Nas balanças do santuário, as ofertas dos pobres, feitas por amor a Cristo, não são avaliadas de acordo com o montante oferecido, e sim segundo o amor que leva ao sacrifício. ------------------------Capítulo 26 -- Necessidades de um campo missionário T9 225 1 Durante muitos anos, tem o Senhor colocado diante de Seu povo as necessidades do trabalho entre as pessoas de pele negra dos estados sulinos da América do Norte. A escuridão moral desse campo é, em si mesma, um poderoso apelo para o exercício da liberalidade. No passado, alguns realizaram o que podiam a fim de sustentar essa parte de nossa obra; e sua beneficência resultou na conversão de muitas pessoas. T9 225 2 Embora muito reste a ser feito em favor das pessoas negras, devemos regozijar-nos com o trabalho já iniciado. Em número recente do The Gospel Herald [em 1907], é relatado que "há quinze anos, não havia mais de vinte adventistas do sétimo dia negros ao sul da linha que vai de Mason a Dixon; hoje, porém, existem setecentos. Há doze anos, só existia uma igreja adventista negra; hoje existem cinqüenta, sem contar as existentes na África e nas Índias Ocidentais. ... Os dízimos dos irmãos negros, nos Estados Unidos, alcançaram no ano passado a cifra de cinco mil dólares; há quinze anos, não ultrapassavam os cinqüenta dólares." T9 225 3 Agradeçamos a Deus, queridos irmãos e irmãs, e tenhamos coragem! Deus está estendendo Seu braço a fim de realizar uma obra poderosa nesse campo missionário, dentro das fronteiras de nossa própria nação. Está agora oferecendo a Seu povo oportunidades incomuns para fazer avançar rapidamente a mensagem no sul. Deveríamos revelar especial espírito de beneficência por ocasião da oferta anual em favor do trabalho entre os negros. Deus confiou em nós ao nos tornar depositários de recursos e de Sua preciosa graça. Agora, Ele nos indica os pobres, sofredores e oprimidos, aqueles que estão presos em cadeias de superstição e erro; assegura-nos que, se fizermos o bem a eles, Ele aceitará nosso serviço como havendo sido oferecido a Ele próprio. Declara: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes." Mateus 25:40. T9 226 1 Milhares de pessoas negras no sul podem agora ser erguidas, tornando-se agentes humanos para ajudar os de sua própria etnia, se puderem receber a ajuda que Deus nos solicita que lhes estendamos. Multidões de homens e mulheres deste campo sentem sua profunda pobreza e necessidade de erguimento. Quando fiéis mensageiros abrirem diante deles as Escrituras tais quais elas são de fato, apresentando a verdade em sua pureza natural, as trevas desaparecerão. Amplos raios de luz incidirão sobre as pessoas que estão pesquisando a verdade. Com aqueles que têm tido vantagens, ocorrerá uma profunda e inteligente investigação dos aspectos da verdade revelados nas Escrituras. A muitos será ensinada a vontade de Deus. Aprenderão diretamente do grande Ensinador, e aceitarão jubilosos as verdades que os erguerão e santificarão. A imagem moral de Deus será restaurada no coração, e muitos serão eternamente salvos. T9 226 2 Queridos irmãos e irmãs, Cristo está agora mesmo dizendo a vocês: "Ergam os olhos e contemplem o campo sulino; há necessidade de obreiros -- tanto semeadores quanto ceifeiros. Esse campo necessita de recursos para a manutenção desses obreiros." A graça de Cristo é ilimitada, é o dom gratuito de Deus. Por que não teria também esse povo alguma esperança, coragem e fé em sua vida? A luz do sol brilha no coração de todos os que aceitam a Cristo. Setembro de 1907 T9 226 3 "Apregoareis liberdade na Terra a todos os seus moradores." Levítico 25:10. "Sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas." Mateus 10:16. ------------------------Capítulo 27 -- Um tempo de prova T9 227 1 Um período de prova está diante de nós. Cumpre-nos usar agora toda a nossa capacidade e dons para fazer avançar a obra de Deus. As faculdades que o Senhor nos concedeu devem ser usadas para construir, e não para demolir. Os que estão sendo ignorantemente enganados não devem permanecer nessa condição. Aos Seus mensageiros, o Senhor diz: Vão até eles e, quer escutem, quer não, declarem-lhes o que Eu disse. T9 227 2 Está muito próximo o tempo em que se desencadeará a perseguição contra os que proclamam a verdade. A perspectiva não é lisonjeira; mas, não obstante isso, não esmoreçamos em nossos esforços por salvar os que estão prestes a perecer, por cujo resgate o Príncipe do Céu ofereceu Sua própria vida. Se falha um meio, experimentemos outro. Nossos esforços não devem ser débeis e sem vigor. Enquanto nos for poupada a vida, trabalhemos para Deus. Em todas as épocas da igreja, os mensageiros designados por Deus se têm exposto a dificuldades e perseguição por amor da verdade. Mas aonde quer que o povo de Deus seja forçado a ir, ainda que, como o discípulo amado, sejam banidos para ilhas desertas, Cristo saberá onde estão, e os fortalecerá e abençoará, enchendo-os de paz e alegria. T9 228 1 Logo haverá perturbações por todo o mundo. Cumpre que cada qual procure conhecer a Deus. Não temos tempo para esperar. Com zelo e fervor tem que ser dada a mensagem: "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite." Isaías 55:1. "Assim diz o Senhor: Mantende o juízo, e fazei justiça, porque a Minha salvação está prestes a vir, e a Minha justiça a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de perpetrar algum mal." Isaías 56:1, 2. T9 228 2 O amor de Deus à Sua igreja é infinito. Incessante é Seu cuidado de Sua herança. Ele não permite que aflição alguma sobrevenha à igreja senão unicamente a que é essencial para sua purificação, seu bem presente e eterno. Purificará Sua igreja assim como purificou o templo no princípio e no fim de Seu ministério na Terra. Tudo que Ele traz sobre a igreja, em forma de provações e aflições, é com o objetivo de fazer Seu povo adquirir mais profunda piedade e mais força para levar a todas as partes do mundo as vitórias da cruz. Para todos tem Ele uma obra a designar. Tem que haver constante crescimento e progresso. A obra tem que estender-se de cidade a cidade, de país a país, de nação a nação, movendo-se constantemente para frente e para cima, estabelecida, fortalecida e firmada. T9 228 3 "O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, ... cheio de graça e de verdade." Mas os que Cristo veio salvar, não quiseram saber dEle. "Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam." João 1:14, 11. Entregando-se ao domínio de Satanás, rejeitaram o Messias, e buscaram oportunidade para O matar. T9 229 1 Satanás e seus anjos resolveram tornar mais humilhante possível a morte de Cristo. Encheram o coração dos guias judeus de sentimentos de amargo ódio ao Salvador. Dominados pelo inimigo, sacerdotes e príncipes instigaram a multidão a postar-se contra o Filho de Deus. Além das declarações de Sua inocência por parte de Pilatos, ninguém disse em Seu favor uma única palavra. E o próprio Pilatos, conhecendo-Lhe a inocência, entregou-O às afrontas de homens dominados por Satanás. T9 229 2 Acontecimentos semelhantes ocorrerão em futuro próximo: Os homens exaltarão e imporão rigidamente leis que estarão em direta oposição à lei de Deus. Embora zelosos no impor seus próprios mandamentos, desdenharão um claro "assim diz o Senhor". Exaltando um dia de repouso falso, procurarão forçar os homens a desonrar a lei de Jeová -- a transcrição de Seu caráter. Embora inocentes de qualquer mal, os servos de Deus serão entregues a humilhações e afrontas nas mãos dos que, inspirados por Satanás, estão cheios de inveja e fanatismo religioso. T9 229 3 Poderes religiosos, supostamente aliados ao Céu, e declarando ter as características de um cordeiro, por seus atos mostrarão que têm coração de dragão, e são instigados e dominados por Satanás. Está chegando o tempo de o povo de Deus sentir a mão da perseguição, por santificar o sétimo dia. Satanás motivou a mudança do sábado na esperança de concretizar seu propósito, a derrota dos planos de Deus. Ele procura tornar os mandamentos de Deus menos importantes no mundo do que as leis humanas. O homem do pecado, que cuidou em mudar os tempos e a lei, e já oprimiu o povo de Deus, fará com que sejam promulgadas leis que imponham a observância do primeiro dia da semana. Mas o povo de Deus deve ficar firme a favor dEle. E o Senhor atuará em Seu favor, mostrando claramente ser Ele o Deus dos deuses. T9 230 1 Disse o Senhor: "Certamente guardareis Meus sábados; porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações." Êxodo 31:13. Ninguém deve desobedecer ao mandamento de Deus para escapar à perseguição. Mas considerem todos as palavras de Cristo: "Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra." Mateus 10:23. Se for possível evitar, não nos coloquemos sob o poder de homens que são manobrados pelo espírito do anticristo. Devemos fazer o máximo para que os que estão dispostos a sofrer pela causa da verdade sejam poupados da opressão e crueldade. T9 230 2 Cristo é nosso exemplo. A resolução do anticristo, de propagar a rebelião que iniciou no Céu, continuará a atuar nos filhos da desobediência. A inveja e ódio destes contra os que obedecem ao quarto mandamento tornar-se-ão cada vez mais amargos. Mas o povo de Deus não deve esconder sua bandeira. Não deve desrespeitar os mandamentos de Deus, e, para se dar bem, ir com a multidão a praticar o mal. T9 230 3 O Senhor anima a todos quantos O buscam de todo o coração. Dá-lhes Seu Santo Espírito, a manifestação de Sua presença e favor. Mas os que se esquecem de Deus para salvar a vida, serão também por Ele esquecidos. Buscando poupar a vida pela renúncia à verdade, perderão a vida eterna. T9 230 4 A noite da prova está quase no fim. Satanás está exercendo seu impressionante poder, pois sabe que seu tempo é pouco. Os castigos de Deus se acham sobre o mundo, a fim de chamar a todos quantos conhecem a verdade a ocultar-se na fenda da Rocha, e contemplar a glória de Deus. A verdade não pode ser oculta agora. Devem ser feitas declarações positivas. A verdade deve ser expressa com clareza, em folhetos e pequenos livros, e esses espalhados como folhas do outono. T9 231 1 A igreja remanescente terá de passar por grande prova e aflição. Aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, sentirão a ira do dragão e de suas hostes. Satanás reputa por súditos seus os habitantes do mundo; adquiriu domínio sobre as igrejas apóstatas; mas eis um pequeno grupo que resiste à sua supremacia. Se ele os pudesse desarraigar da Terra, completo seria seu triunfo. Como influenciava nas nações pagãs para destruírem Israel, assim, num próximo futuro, ele incitará as maléficas potências terrestres para destruir o povo de Deus. Exigir-se-á de todos que rendam obediência a decretos humanos, para violação da lei divina. Aqueles que se conservarem fiéis a Deus e ao dever, serão traídos "pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos". Lucas 21:16. T9 231 2 "Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a Minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias. Porque a traça os roerá como a uma veste, e o bicho os comerá como à lã; mas a Minha justiça durará para sempre, e a Minha salvação, de geração em geração." "Mas a Minha salvação durará para sempre, e a Minha justiça não será quebrantada." Isaías 51:7, 8, 6. ------------------------Capítulo 28 -- O trabalho no domingo T9 232 1 Prezado irmão: T9 232 2 Procurarei responder à sua pergunta quanto ao que deve fazer no caso de serem decretadas leis dominicais. T9 232 3 A luz que me foi dada pelo Senhor numa ocasião em que esperávamos justamente essa crise que parece estar se aproximando agora, foi que, quando o povo fosse compelido à observância do domingo, os adventistas do sétimo dia mostrassem prudência deixando seu trabalho comum nesse dia e dedicando-se a atividades missionárias. T9 232 4 Desafiar as leis dominicais não fará senão fortalecer em suas perseguições os fanáticos religiosos que as buscam impor. Não devemos lhes dar oportunidade alguma de nos chamarem de violadores da lei. Se tiverem de refrear unicamente indivíduos que não temam a Deus nem aos homens em breve isso perderá para eles a novidade, e verão que não lhes é coerente nem proveitoso serem estritos quanto à observância do domingo. Prossigamos com nosso trabalho missionário, de Bíblia na mão, e o inimigo há de ver que derrotou sua própria causa. Ninguém receberá o sinal da besta pelo fato de mostrar que compreende a sabedoria de manter a paz mediante a abstenção de trabalho que constitua delito, fazendo ao mesmo tempo uma obra da mais elevada importância. T9 232 5 Se dedicarmos o domingo à atividade missionária, o chicote será arrebatado das mãos dos fanáticos arbitrários, que se teriam deleitado em humilhar os adventistas do sétimo dia. Ao verem que nos domingos, nos empenhamos em visitar o povo e abrir perante eles as Escrituras, é inútil procurar impedir nossa obra fazendo leis dominicais. T9 233 1 O domingo pode ser empregado para desenvolver vários ramos de trabalho que muito farão em proveito do Senhor. Podem ser realizadas nesse dia reuniões ao ar livre ou em casas de família. Pode se fazer trabalho de casa em casa. Os que escrevem, podem consagrar esse dia para redigir seus artigos. Realizem-se cultos religiosos no domingo, sempre que possível. Tornem-se essas reuniões vivamente interessantes. Cantem-se verdadeiros hinos de reavivamento, e fale-se com firmeza e poder do amor de Cristo. Fale-se acerca da temperança e da religião genuína. Desse modo, aprenderemos muito acerca de como trabalhar, e alcançaremos a muitos. T9 233 2 Dediquem os professores em nossas escolas o domingo a trabalhos missionários. Fui instruída de que seriam assim capazes de derrotar os propósitos do inimigo. Tomem os professores consigo os estudantes, para realizarem reuniões em favor dos que não conhecem a verdade. Desse modo, realizarão muito mais do que conseguiriam de outra maneira. T9 233 3 Deus nos deu indicações claras acerca de nosso trabalho. Devemos proclamar a verdade a respeito do sábado do Senhor, para reparar a rotura feita em Sua lei. Devemos fazer tudo quanto esteja ao nosso alcance para iluminar os que se acham em ignorância; mas nunca nos devemos ligar a homens do mundo para receber auxílio financeiro. T9 233 4 Acerca dos filhos de Israel, lemos: "E os tirei da terra do Egito, e os levei ao deserto. E dei-lhes os Meus estatutos, e lhes mostrei os Meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles. E também lhes dei os Meus sábados, para que servissem de sinal entre Mim e eles; para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica. Mas a casa de Israel se rebelou contra Mim no deserto, não andando nos Meus estatutos, e rejeitando os Meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles; e profanaram grandemente os Meus sábados; e Eu disse que derramaria sobre eles o Meu furor no deserto, para os consumir. T9 234 1 "O que fiz, porém, foi por amor do Meu nome, para que não fosse profanado diante dos olhos das nações perante as quais os fiz sair. E, contudo, Eu levantei a Minha mão para eles no deserto, para os não deixar entrar na terra que lhes tinha dado, a qual mana leite e mel, e é a glória de todas as terras; porque rejeitaram os Meus juízos, e não andaram nos Meus estatutos, e profanaram os Meus sábados; porque o seu coração andava após os seus ídolos. Não obstante o Meu olho lhes perdoou, para não os destruir nem os consumir no deserto. Mas disse Eu a seus filhos no deserto: Não andeis nos estatutos de vossos pais, nem guardeis os seus juízos, nem vos contamineis com os seus ídolos. Eu sou o Senhor vosso Deus; andai nos Meus estatutos, e guardai os Meus juízos, e executai-os. E santificai os Meus sábados, e servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus." Ezequiel 20:10-20. T9 234 2 O sábado é a prova do Senhor, e homem algum, seja ele rei, sacerdote ou governador, está autorizado a interpor-se entre Deus e o ser humano. Os que procuram servir de consciência para seus semelhantes, colocam-se acima de Deus. Os que se acham sob a influência de uma religião falsa, que observam um dia de descanso espúrio, rejeitarão a mais positiva evidência acerca do verdadeiro sábado. Procurarão obrigar os homens a obedecer às leis de sua própria criação, leis que são diretamente opostas à lei de Deus. Sobre os que insistem nesse procedimento, cairá a ira de Deus. A menos que mudem seu proceder, não poderão escapar à penalidade. T9 235 1 A lei da observância do primeiro dia da semana é produto de um cristianismo apostatado. O domingo é filho do papado, entretanto, é exaltado pelo mundo cristão acima do sagrado dia de repouso de Deus. Em caso algum lhe deve o povo de Deus prestar homenagem. Mas desejo que compreendam que, se provocam oposição quando Deus deseja que a evitem, não estão cumprindo a Sua vontade. Desse modo, despertam preconceito tão implacável que será impossível proclamar a verdade. Não façamos, no domingo, demonstrações de desacato à lei. Se isso ocorrer num lugar, e formos humilhados, a mesma coisa poderá ocorrer noutro lugar. Podemos servir-nos do domingo para levar avante um trabalho que testifique de Cristo. Devemos fazer o melhor possível, trabalhando com toda a mansidão e humildade. T9 235 2 Cristo advertiu os Seus discípulos relativamente ao que haveriam de encontrar em seu trabalho como evangelistas. Ele sabia quais seriam seus sofrimentos, quais as provações e dificuldades que seriam chamados a suportar. Não lhes queria ocultar o conhecimento acerca do que teriam que enfrentar, a fim de que as dificuldades, vindo inesperadamente, não lhes abalassem a fé. "Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis", disse Ele. Com a vinda das aflições, sua fé deveria fortalecer-se e não debilitar-se. Haveriam então de dizer uns aos outros: "Ele nos disse que isso haveria de vir, e o que devemos fazer para resistir." T9 235 3 "Eis", disse Cristo, "que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas." "E odiados de todos sereis por causa do Meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, será salvo." Mateus 10:16, 22. Odiaram a Cristo sem causa. É, então, maravilha que odeiem os que trazem Seu sinal, que fazem Seu serviço? São considerados a escória da Terra. T9 236 1 "Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra." Não é vontade de Deus que a vida de vocês seja descuidadamente sacrificada. "Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem." Mateus 10:23. T9 236 2 Tem que ser dada ao povo a verdade, a verdade direta, positiva. Mas essa verdade deve ser apresentada no espírito de Cristo. Devemos ser como ovelhas no meio de lobos. Os que não querem, por amor de Cristo, observar as advertências por Ele dadas, e não querem exercer paciência nem domínio próprio, perderão preciosas oportunidades de trabalhar para o Mestre. O Senhor não deu ao Seu povo a obra de fazer críticas contra os que estão transgredindo Sua lei. Em caso nenhum devemos fazer ataques às outras igrejas. Lembremo-nos de que, como povo a quem foi confiada sagrada verdade, temos sido negligentes e positivamente infiéis. A obra tem-se limitado a alguns poucos centros, até que o povo ali se tornasse endurecido para com o evangelho. É difícil fazer impressão sobre os que tanto ouviram acerca da verdade, e contudo a rejeitaram. ... T9 236 3 Tudo isso agora se acha contra nós. Se tivéssemos feito esforços fervorosos para alcançar os que, uma vez convertidos, seriam uma fiel representação do que a presente verdade faz pelos seres humanos, quanto mais avançada não estaria nossa obra agora! Não é direito que alguns poucos lugares tenham todas as vantagens, enquanto outros são negligenciados. T9 236 4 Em nossa escola de Avondale, perto de Cooranbong, na Austrália, surgiu para ser resolvida a questão do trabalho aos domingos. Parecia que o cerco logo seria estabelecido tão apertadamente ao redor de nós, que não mais poderíamos trabalhar aos domingos. Nossa escola estava situada no coração das matas, longe de qualquer vila ou estação de estrada de ferro. Ninguém morava bastante perto de nós para que fosse perturbado de qualquer modo, por qualquer coisa que pudéssemos fazer. Contudo, éramos observados. Os funcionários do governo foram instados a inspecionar nossa propriedade, e vieram. Poderiam ter visto muita coisa, se houvessem desejado processar-nos; mas não apareceram para observar os que estavam a trabalhar. Tinham tanta confiança em nós, como povo, e tão grande respeito em virtude da obra que havíamos feito naquela localidade, que achavam poder em tudo ter confiança em nós. T9 237 1 Muitos reconheciam a circunstância de que todo o povo da localidade havia sido transformado desde que ali chegáramos. Uma senhora que não era observadora do sábado, disse-nos: "A senhora não me há de acreditar se eu a informar plenamente acerca da transformação efetuada nesta localidade, em resultado da vinda de vocês para cá, estabelecendo uma escola e realizando essas pequenas reuniões." T9 237 2 Assim, quando nossos irmãos foram ameaçados de perseguição e lançados em perplexidade relativamente ao que deveriam fazer, foi dado o mesmo conselho que se dera em resposta à questão concernente aos jogos. Eu disse: "Empreguem o domingo para fazer trabalho missionário para Deus. Os professores devem acompanhar os alunos. Eles podem tomar a direção da mata (assim chamávamos a região pouco povoada do sertão, onde as casas se encontram às vezes à distancia de dois ou três quilômetros uma da outra) e visitar o povo em suas casas. Essas pessoas devem ficar sabendo que vocês estão interessados na sua salvação." Assim fizeram, e como resultado, foram eles mesmos grandemente beneficiados, capacitando-se para ajudar igualmente a outros. A bênção repousou sobre eles ao estudarem diligentemente as Escrituras a fim de saber apresentar as verdades da Palavra de modo que sejam acolhidas com simpatia. T9 238 1 20 de Agosto de 1903 T9 238 2 Em certa ocasião, os dirigentes de nossa escola em Avondale me perguntaram: "Que faremos? Os oficiais da lei foram incumbidos de prender os que estiverem trabalhando no domingo." Respondi: "Será muito fácil fugir dessa dificuldade. Dediquem o domingo para realizar trabalho missionário ao Senhor. Levem os alunos para reuniões em diferentes lugares, e realizem obra médico-missionária. Eles encontrarão as pessoas nos lares, e assim desfrutarão de uma esplêndida oportunidade para a apresentação da verdade. Uma tal forma de uso do domingo será sempre aceitável ao Senhor." T9 238 3 Devemos fazer todo o possível para remover o preconceito existente no espírito de muitos contra nossa obra e contra o sábado. T9 238 4 Ensinemos o povo a conformar-se em todas as coisas com as leis de seu Estado, quando assim podem fazer sem entrar em conflito com a lei de Deus. T9 238 5 Às vezes, o coração dos perseguidores é suscetível a impressões divinas, como o foi o do apóstolo Paulo antes de sua conversão. ------------------------Capítulo 29 -- Palavras de advertência T9 239 1 Disse Cristo aos discípulos: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas." Mateus 10:16. T9 239 2 Os ataques de Satanás contra os advogados da verdade se tornarão cada vez mais implacáveis e resolutos, até ao próprio fim do tempo. Como nos dias de Cristo os principais sacerdotes e príncipes instigavam contra Ele o povo, assim hoje os guias religiosos provocarão oposição e preconceito contra a verdade para este tempo. O povo será levado a atos de violência e oposição nos quais nunca teriam pensado se não tivessem sido imbuídos do rancor de professos cristãos contra a verdade. T9 239 3 Que procedimento devem seguir os defensores da verdade? Possuem eles a imutável, eterna Palavra de Deus, e devem revelar o fato de que possuem a verdade tal como é em Jesus. Suas palavras não devem ser ásperas e incisivas. Em sua apresentação da verdade devem manifestar o amor, a mansidão e a amabilidade de Cristo. Que a verdade por si mesma produza efeito; a Palavra de Deus é aguda espada de dois gumes, e abrirá caminho até ao coração. Os que sabem que possuem a verdade não devem, pelo emprego de expressões ásperas e severas, dar a Satanás ocasião de interpretar falsamente sua intenção. T9 239 4 Como um povo, devemos portar-nos como o Redentor do mundo. Quando em controvérsia com Satanás acerca do corpo de Moisés, Cristo não ousou apresentar contra ele uma acusação injuriosa. Judas 9. Recebera provocações bastantes para isso fazer, e Satanás ficou desapontado por não ter podido despertar em Cristo um espírito de vingança. Satanás estava pronto para interpretar mal qualquer coisa feita por Jesus; e o Salvador não lhe deu ocasião, nem ao menos a sombra de uma desculpa. Não Se desviava do caminho reto da verdade a que Se propusera, para seguir pelos atalhos, perversões, distrações e prevaricações de Satanás. T9 240 1 Lemos na profecia de Zacarias que, quando Satanás com toda a sua sinagoga se ergueu para resistir às orações de Josué, o sumo sacerdote, e para resistir a Cristo, que estava prestes a mostrar decidido apoio a Josué, "o Senhor disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu a Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?" Zacarias 3:2. T9 240 2 O procedimento de Cristo ao tratar com o adversário, deve nos ser um exemplo para que, em todas as relações com os outros, jamais façamos contra alguém uma acusação injuriosa; muito menos devemos empregar aspereza ou severidade para com os que podem estar tão ansiosos como nós por saber o caminho reto. T9 240 3 Os que foram educados na verdade por preceito e exemplo, devem ter grande tolerância com os outros, que não tiveram conhecimento das Escrituras senão através das interpretações dadas por pastores e membros da igreja, e que têm recebido tradições e fábulas como se fosse a verdade bíblica. Ficam surpreendidos ao ser-lhes apresentada a verdade; é para eles uma nova revelação, e não suportam que lhes seja apresentada logo no princípio toda a verdade, em seu caráter mais admirável. Tudo lhes é novo e estranho, e totalmente diferente daquilo que ouviram de seus pastores; e são propensos a crer no que os pastores lhes disseram -- que os adventistas do sétimo dia não são confiáveis e que não acreditam na Bíblia. Que a verdade lhes seja apresentada tal como é em Jesus, regra sobre regra, mandamento sobre mandamento, um pouco aqui, um pouco ali. T9 240 4 Que aqueles que escrevem em nossas revistas não dirijam rudes ataques e alusões que por certo hão de causar dano, e que obstruirão o caminho e nos impedirão de fazer a obra que devemos fazer a fim de alcançar todas as classes, inclusive os católicos. É nossa obra falar a verdade em amor, e não misturar com a verdade os elementos não santificados do coração natural, e falar coisas que se assemelhem ao mesmo espírito possuído por nossos inimigos. Todas as ásperas acusações recairão sobre nós em medida dupla, quando o poder estiver nas mãos dos que o podem exercer para nosso dano. Muitas e muitas vezes me foi dada a mensagem de que não devemos, a menos que isso seja positivamente necessário para vindicar a verdade, dizer, especialmente em relação a pessoas, uma palavra nem publicar uma sentença que possa instigar nossos inimigos contra nós, e despertar suas paixões até à incandescência. Nossa obra logo será impedida, e logo virá sobre nós o tempo de angústia, tal como nunca houve, e do qual pouca idéia temos. T9 241 1 O Senhor quer que Seus obreiros representem a Ele, o grande Obreiro Missionário. Manifestar algum tipo de precipitação sempre traz dano. A conduta adequada, essencial à vida cristã tem de ser aprendida diariamente na escola de Cristo. Aquele que é descuidado e precipitado em proferir palavras ou em escrevê-las para publicação a ser espalhada pelo mundo, emitindo expressões que nunca mais poderão ser retiradas, está-se desqualificando para receber o legado da sagrada obra que recai neste tempo sobre os seguidores de Cristo. Os que costumam fazer severos ataques, estão formando hábitos que pela repetição se irão fortalecendo, e dos quais terão de arrepender-se. T9 241 2 Devemos examinar cuidadosamente nossas maneiras e nosso espírito, e ver de que modo estamos fazendo a obra que nos foi dada por Deus, a qual envolve a salvação das pessoas. A mais elevada das obrigações repousa sobre nós. Satanás está pronto, ardendo em zelo por inspirar toda a confederação de agentes satânicos, a fim de que os possa levar a unir-se a homens maus e trazer sobre os crentes na verdade, rápido e severo sofrimento. Cada palavra imprudente que seja pronunciada por nossos irmãos, será entesourada pelo príncipe das trevas. T9 242 1 Eu desejaria perguntar: Como ousam finitos seres humanos proferir palavras descuidadas e ferinas que hão de incitar os poderes do inferno contra os santos de Deus, quando Miguel, o arcanjo, não ousou pronunciar contra Satanás juízo blasfemo, mas disse: "O Senhor te repreenda"? Judas 9. T9 242 2 Será impossível evitar completamente dificuldades e sofrimento. Disse Jesus: "Ai do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!" Mateus 18:7. Mas pelo motivo de ter de vir o escândalo, devemos ser cuidadosos em não incitar o temperamento natural dos que não amam a verdade, por palavras imprudentes e pela manifestação de um espírito indelicado. T9 242 3 A preciosa verdade tem de ser apresentada em sua força original. Os enganosos erros que se acham espalhados por toda parte e que estão levando cativo o mundo, devem ser desvendados. Está sendo feito todo o esforço possível para confundir as pessoas com raciocínios sutis, por volvê-las da verdade para fábulas e prepará-las para serem seduzidas por fortes enganos. Mas embora elas estejam se volvendo da verdade para o erro, não devemos lhes falar palavra de censura. Procuremos mostrar-lhes o seu perigo e revelar-lhes quão ofensivo para Jesus Cristo é seu modo de proceder; mas seja tudo feito em compassiva ternura. Pela devida maneira de trabalho alguns que foram enredados por Satanás podem ser resgatados de seu poder. Mas não os censuremos nem os condenemos. Ridicularizar a posição mantida pelos que estão em erro, não lhes abrirá os olhos cegos, nem os atrairá para a verdade. T9 243 1 Quando os homens perdem de vista o exemplo de Cristo e não Lhe imitam a maneira de ensinar, tornam-se presunçosos e saem ao encontro de Satanás com as próprias armas dele. O inimigo bem sabe como dirigir suas armas contra os que as empregam. Jesus só falou palavras de pura verdade e justiça. T9 243 2 Se já houve um povo que devesse andar em humildade diante de Deus, esse povo é Sua igreja, Seus escolhidos nesta geração. Todos precisamos deplorar o entorpecimento de nossas faculdades intelectuais, a falta de apreciação dos privilégios e oportunidades. Nada temos de que nos orgulhar. Ofendemos o Senhor Jesus Cristo por nossa rudeza, por acusações não cristãs. Precisamos nos tornar perfeitos nEle. T9 243 3 É verdade que nos é ordenado: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados." Isaías 58:1. Essa mensagem tem de ser dada, mas apesar disso, devemos ter o cuidado de não acusar, constranger e condenar os que não possuem a luz que possuímos. Não devemos sair de nosso caminho para fazer duras acusações aos católicos. Entre eles existem muitos que são cristãos conscienciosos, que vivem segundo a luz que lhes é proporcionada, e Deus atuará em seu favor. Os que têm grandes privilégios e oportunidades, e que não têm aproveitado suas faculdades físicas, mentais e morais, mas antes vivido para agradar a si mesmos e se têm recusado a desempenhar sua responsabilidade, esses estão em maior perigo e em maior condenação diante de Deus, do que os que se acham em erro no que respeita à doutrina, mas, não obstante, procuram viver para fazer bem aos outros. T9 243 4 Não censuremos os outros; não os condenemos. Se permitirmos que considerações egoístas, raciocínio falso e falsas desculpas nos levem a um perverso estado de espírito e coração, de maneira que não saibamos os caminhos e a vontade de Deus, seremos muito mais culpados do que um pecador declarado. Precisamos ser cautelosos para não condenar os que, diante de Deus, são menos culpados do que nós. T9 244 1 Que todos conservem em mente que, em nenhuma situação, devemos convidar a perseguição. Não devemos utilizar palavras ásperas e cortantes. Que tais palavras sejam mantidas longe de qualquer artigo escrito ou de qualquer discurso proferido. Seja a Palavra de Deus que repreenda e corrija; que os homens finitos se escondam e permaneçam em Cristo Jesus. Que o espírito de Cristo apareça. Que todos vigiem suas palavras, de modo que não venham a colocar os que não compartilham de nossa fé em mortal oposição a nós, dando assim a Satanás a oportunidade de utilizar palavras inadvertidas para bloquear o nosso caminho. T9 244 2 Está por ocorrer um tempo de angústia como nunca houve desde que existe nação. É nosso trabalho retirar de todas as nossas apresentações qualquer coisa que tenha o sabor de retaliação ou desafio, aquilo que poderia causar ações contra igrejas ou indivíduos, pois esse não é o caminho nem o método de Cristo. T9 244 3 O fato de que o povo de Deus, que conhece a verdade, haver fracassado em cumprir seu dever de acordo com a luz oferecida na Palavra de Deus, torna necessário que tomemos mais cuidado, a fim de que não venhamos a ofender os descrentes antes que tenham a oportunidade de ouvir as razões de nossa fé em relação ao sábado e ao domingo. T9 244 4 "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa." Apocalipse 3:11. ------------------------Capítulo 30 -- Mordomia fiel T9 245 1 Cristo nos comprou ao preço de Seu próprio sangue. Ele pagou o resgate necessário à nossa redenção, e se nos apropriarmos do tesouro, ele será nosso por dádiva gratuita de Deus. T9 245 2 "Quanto deves ao meu Senhor?" Lucas 16:5. É impossível calcular. Tudo o que temos vem de Deus. Ele coloca Suas mãos sobre as nossas posses, dizendo: "Sou o genuíno Proprietário de todo o Universo; estes bens são Meus. Consagrem para Mim os dízimos e as ofertas. Quando vocês trouxerem esses bens específicos como um sinal de lealdade e submissão à Minha soberania, a Minha bênção aumentará as posses de vocês, e assim terão em abundância." T9 245 3 Deus está provando cada pessoa que afirma crer nEle. Todos recebemos talentos. O Senhor deu aos homens os Seus bens, com os quais devem negociar. Tornou-os Seus mordomos, colocando em suas mãos dinheiro, casas e terras. Todos esses bens devem ser considerados como pertencendo ao Senhor, e destinados ao avanço de Sua causa, para a construção de Seu reino aqui no mundo. Ao negociarmos com os bens do Senhor, devemos buscar dEle a sabedoria, a fim de não utilizarmos o Seu sagrado encargo para a glorificação de nós mesmos e a condescendência com impulsos egoístas. O montante recebido varia, porém aqueles que menos receberam não devem sentir que, em virtude de terem poucos talentos, nada serão capazes de empreender com eles. T9 246 1 Cada cristão é um mordomo de Deus, a quem foram confiados os Seus bens. Lembrem-se das palavras: "Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel." 1 Coríntios 4:2. Asseguremo-nos de que não estamos roubando a Deus em um jota sequer, pois muito se encontra envolvido nessa questão. T9 246 2 Todas as coisas pertencem a Deus. Podem os homens ignorar Seus reclamos. Enquanto abundantemente derrama Suas bênçãos sobre eles, talvez estejam usando tais bênçãos para satisfação egoísta, mas por certo serão chamados a prestar contas de sua mordomia. T9 246 3 O mordomo identifica-se com o patrão. Aceita as responsabilidades de um mordomo e age em lugar do dono da casa, fazendo o que ele faria se estivesse presidindo. Os interesses do senhor tornam-se seus. A posição do mordomo é dignidade, porque o patrão nele confia. Se, de algum modo, atuar egoistamente, e reverter as vantagens obtidas pelo negociar com os bens de seu senhor em proveito próprio, trai a confiança nele depositada. O sustento do evangelho T9 246 4 O Senhor fez com que a proclamação do evangelho dependesse do trabalho e dádivas voluntárias de todo o Seu povo. Aquele que proclama a mensagem de misericórdia aos homens caídos, tem outra obra a fazer -- apresentar ao povo o dever de sustentar a obra de Deus com seus recursos. Precisa ensinar às pessoas que uma parte de suas rendas pertence a Deus, e deve ser dedicada religiosamente à Sua obra. Essa lição tem que ser apresentada, tanto por preceito como pelo exemplo; deve, portanto, ter o cuidado de que, pelo próprio exemplo, não enfraqueça a força de seu ensino. T9 246 5 Aquilo que, de acordo com as Escrituras, foi posto à parte, como pertencendo ao Senhor, constitui a renda do evangelho, e não mais nos pertence. Não é nada menos que sacrilégio, uma pessoa lançar mão do tesouro do Senhor a fim de se servir, ou a outros, em seus negócios temporais. Alguns são culpados de haver retirado do altar do Senhor aquilo que Lhe foi especialmente consagrado. Todos devem considerar esse assunto sob seu verdadeiro aspecto. Ninguém, vendo-se em situação precária, tire dinheiro consagrado a fins religiosos, empregando-o para seu próprio proveito, e acalmando a consciência com o dizer que o restituirá futuramente. Prefira cortar as despesas de acordo com as rendas que tem, restringir as necessidades e viver de acordo com os meios, a usar o dinheiro do Senhor para fins seculares. O emprego do dízimo T9 247 1 Deus deu orientação especial quanto ao emprego do dízimo. Ele não quer que Sua obra seja entravada por falta de meios. Para que não haja uma obra acidental, nem engano, Ele tornou bem claro o nosso dever sobre esses pontos. A porção que Deus reservou para Si não deve ser desviada para qualquer outro desígnio que não aquele por Ele especificado. Ninguém se sinta na liberdade de reter o dízimo, para empregá-lo segundo seu juízo. Não devem servir-se dele numa emergência, nem usá-lo segundo lhes pareça justo, mesmo no que possam considerar como obra do Senhor. T9 247 2 O pastor deve, por preceito e exemplo, ensinar o povo a considerar o dízimo como sagrado. Não deve pensar que o pode reter e aplicar conforme o seu próprio juízo, por ser pastor. Não lhe pertence. Ele, pastor, não tem a liberdade de separar para si o que pense pertencer-lhe. Não deve apoiar qualquer plano para desviar de seu legítimo emprego os dízimos e ofertas dedicados a Deus. Eles devem ser postos em Seu tesouro, e mantidos sagrados para o serviço dEle, de acordo com o que designou. T9 248 1 Deus deseja que todos os Seus mordomos sejam exatos no seguir os planos divinos. Eles não os devem alterar para praticar alguns atos de caridade, ou dar algum donativo ou oferta quando e como eles, os agentes humanos, acharem oportuno. É um lamentável método da parte dos homens, procurarem melhorar os planos de Deus, inventando expedientes, tirando uma média de seus bons impulsos, contrapondo-os às reivindicações divinas. Deus requer de todos que ponham sua influência do lado de Seu plano. Ele o tornou conhecido; e todos quantos quiserem cooperar com Ele, têm de levar avante esse plano, em vez de ousar tentar melhorá-lo. T9 248 2 O Senhor instruiu a Moisés quanto a Israel: "Tu, pois, ordenarás aos filhos de Israel que te tragam azeite puro de oliveiras, batido, para o candeeiro, para fazer arder as lâmpadas continuamente." Êxodo 27:20. Isso deveria ser uma oferta contínua, para que a casa de Deus fosse devidamente provida do que era necessário para Seu serviço. Seu povo de hoje precisa lembrar que a casa de culto é propriedade do Senhor, e que deve ser escrupulosamente cuidada. Mas o fundo para essa obra não deve provir do dízimo. T9 248 3 Uma mensagem muito clara, definida, me foi dada para nosso povo. É-me ordenado dizer-lhes que estão cometendo um erro em aplicar os dízimos a vários fins, os quais, embora bons em si mesmos, não são aquilo em que o Senhor disse que o dízimo deve ser aplicado. Os que assim o empregam, estão-se afastando do plano de Deus. Ele os julgará por essas coisas. T9 248 4 Um raciocina que o dízimo pode ser aplicado para fins escolares. Outros argumentam ainda que os colportores devem ser sustentados com o dízimo. Comete-se grande erro quando se retira o dízimo do fim em que deve ser empregado -- o sustento dos pastores. Deveria haver hoje no campo uma centena de obreiros bem habilitados, onde existe unicamente um. Uma obrigação solene T9 249 1 O dízimo é sagrado, reservado por Deus para Si mesmo. Tem de ser trazido ao Seu tesouro, para ser empregado em manter os obreiros do evangelho em seu trabalho. Durante longo tempo, o Senhor tem sido roubado, porque há pessoas que não compreendem ser o dízimo a porção que Deus reserva para Si. Alguns se têm sentido insatisfeitos, e afirmado: "Não devolverei mais o dízimo; pois não confio na maneira como as coisas estão sendo dirigidas na sede da obra." Roubará, porém, a Deus, por pensar que a direção da obra não é correta? Apresente sua queixa franca e abertamente, no devido espírito, e às pessoas competentes. Solicite em suas petições que as coisas sejam corrigidas e colocadas em ordem; mas não se retire da obra de Deus, nem se demonstre infiel porque outros não estejam fazendo o que é correto. T9 249 2 Leia atentamente o terceiro capítulo de Malaquias, e veja o que diz o Senhor a respeito do dízimo. Se nossas igrejas tomarem sua posição baseadas na Palavra do Senhor, e forem fiéis na devolução do dízimo ao Seu tesouro, mais obreiros seriam animados a entrar para a obra ministerial. Mais homens se dedicariam ao ministério, não estivessem eles informados da escassez do tesouro. Deveria haver abundante provisão no tesouro do Senhor, e haveria, se corações e mãos egoístas não houvessem retido os dízimos, ou os empregado para sustentar outros ramos de trabalho. T9 249 3 Os exclusivos recursos de Deus não devem ser usados a esmo. O dízimo pertence ao Senhor, e todos aqueles que laçam mão dele serão punidos com a perda de seu tesouro celestial, a menos que se arrependam. Que a obra não continue mais a ser impedida porque o dízimo foi desviado para vários fins diversos daquele para que o Senhor disse que devia ir. Provisões têm de ser feitas para esses outros ramos da obra. Eles devem ser mantidos, mas não pelo dízimo. Deus não mudou; o dízimo tem de ser ainda empregado para a manutenção do ministério. A abertura de novos campos requer mais eficiência ministerial do que possuímos agora, e é preciso haver meios no tesouro. T9 250 1 Os que saem como pastores, têm uma solene responsabilidade pesando sobre eles, a qual é estranhamente negligenciada. Alguns gostam de pregar, mas não dedicam trabalho pessoal às igrejas. Há grande necessidade de instruções relativamente a obrigações e deveres para com Deus, especialmente no que respeita à devolução honesta do dízimo. Nossos pastores sentir-se-iam grandemente entristecidos se não fossem prontamente pagos por seu trabalho; mas, consideram eles que deve haver fundos no tesouro de Deus, com que se sustentem os obreiros? Se deixam de cumprir todo o seu dever em educar o povo a ser fiel no devolver a Deus o que Lhe pertence, haverá falta de meios no tesouro para levar avante a obra do Senhor. T9 250 2 Deve o superintendente do rebanho de Deus se desempenhar fielmente de seu dever. Se, por algum motivo, isso lhe é desagradável e ele toma a atitude de deixar que qualquer outro o faça, não é um obreiro fiel. Leia ele as palavras do Senhor em Malaquias, acusando o povo de roubo para com Ele ao reter os dízimos. O poderoso Deus declara: "Com maldição sois amaldiçoados." Malaquias 3:9. Quando aquele que ministra por palavra e doutrina, vê o povo seguindo um caminho que trará sobre si essa maldição, como pode negligenciar seu dever de dar instruções e advertências? Todo membro de igreja deve ser ensinado a ser fiel em devolver um dízimo honesto. T9 251 1 "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança." Malaquias 3:10. T9 251 2 Oro para que meus irmãos compreendam que a mensagem do terceiro anjo representa muito para nós, e que a observância do verdadeiro sábado deve constituir um sinal distintivo entre aqueles que servem a Deus e os que não O servem. Que despertem os que, indiferentes, chegaram a adormecer. Somos chamados a ser santos, e devemos evitar cuidadosamente dar a impressão de que é de menor importância se conservamos ou não os sinais peculiares de nossa fé. Sobre nós repousa a dourada obrigação de tomarmos uma posição mais firme em favor da verdade e da justiça, do que assumimos no passado. A linha de demarcação entre os que guardam os mandamentos de Deus e os que não os guardam deve ser revelada com inconfundível clareza. Conscienciosamente devemos honrar a Deus, utilizando-nos com diligência de todos os meios disponíveis para nos mantermos em relação de concerto com Ele, de modo a podermos receber as Suas bênçãos -- tão essenciais para um povo que será severamente provado. Se dermos a impressão de que nossa fé ou nossa religião não representam um poder dominante em nossa vida é algo que desonra grandemente a Deus. Assim nos afastamos de Seus mandamentos, os quais são a nossa vida, negando que Ele é o nosso Deus e somos o Seu povo. T9 251 3 "Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos; e dá o pago em sua face a qualquer dos que O aborrecem, fazendo-o perecer; não será remisso para quem O aborrece; em sua face lho pagará." Deuteronômio 7:9, 10. T9 252 1 Onde estaremos antes que findem as mil gerações mencionadas nesse texto? Nosso destino terá sido decidido para a eternidade. Ou seremos considerados dignos de um lar no eterno reino de Deus, ou receberemos a sentença de morte eterna. Aqueles que houverem sido fiéis e verdadeiros em seu concerto com Deus; aqueles que, lembrando-se do Calvário, permanecerem firmes do lado da verdade, sempre se esforçando por honrar a Deus, ouvirão este elogio: "Bem está, servo bom e fiel." Mateus 25:21. Contudo, aqueles que houverem oferecido a Deus um serviço dividido, permitindo que sua vida entrasse em conformidade com os caminhos e práticas do mundo, ouvirão as tristes palavras: "Apartai-vos de mim." (Mateus 25:41); "vos não conheço." Mateus 25:12. ------------------------Capítulo 31 -- Beneficência T9 253 1 "Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundantemente, e transbordarão de mosto os teus lagares." Provérbios 3:9, 10. T9 253 2 "Alguns há que espalham, e ainda se lhes acrescenta mais; e outros que retêm mais do que é justo, mas é para a sua perda. A alma generosa engordará, e o que regar também será regado." Provérbios 11:24, 25. T9 253 3 "O liberal projeta coisas liberais, e pela liberalidade está em pé." Isaías 32:8. T9 253 4 A sabedoria divina designou, no plano da salvação, a lei de ação e reação, tornando a obra da beneficência, em todas as suas modalidades, duplamente abençoada. Aquele que dá aos pobres abençoa outros, e é abençoado, em escala maior ainda. A glória do evangelho T9 253 5 Para que o homem não perdesse os benditos resultados da caridade, nosso Redentor formou o plano de alistá-lo como coobreiro Seu. Deus poderia ter atingido o Seu objetivo de salvar pecadores, sem o auxílio do homem; mas sabia que o homem não poderia ser feliz sem desempenhar uma parte na grande obra. Por uma cadeia de circunstâncias que haveriam de despertar no homem os sentimentos de caridade, concede-lhe Ele os melhores meios de cultivar a beneficência, e o conserva dando habitualmente para ajudar os pobres e para fazer avançar Sua causa. Por suas necessidades, um mundo arruinado está dependendo de nossos talentos de meios e de influência, para apresentar a homens e mulheres a verdade, por cuja falta estão a perecer. E ao atendermos a esses chamados, pelo trabalho e por atos de caridade, tornamo-nos semelhantes à imagem dAquele que por nossa causa Se tornou pobre. Dando, abençoamos outros, e assim acumulamos verdadeiras riquezas. T9 254 1 A glória do evangelho é ter ele base no princípio de restaurar na raça caída a imagem divina, por uma constante manifestação de beneficência. Essa obra começou nas cortes celestiais. Ali deu Deus aos seres humanos uma prova inequívoca do amor que a eles nutre. "Amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. O dom de Cristo revela o coração do Pai. Testifica que, havendo empreendido nossa redenção, Ele não poupará coisa alguma que seja necessária para completar Sua obra, ainda que seja algo muito precioso. T9 254 2 O espírito de liberalidade é o espírito do Céu. O abnegado amor de Cristo é revelado na cruz. Para que o homem pudesse ser salvo, deu Ele tudo quanto possuía, e em seguida deu a Si mesmo. A cruz de Cristo apela para a beneficência de todo seguidor do bendito Salvador. O princípio ali ilustrado é dar, dar. Isso, levado a efeito em real beneficência e boas obras, é o verdadeiro fruto da vida cristã. O princípio dos mundanos é adquirir, adquirir, e assim esperam conseguir felicidade; mas, levado a efeito em todos os seus aspectos, o fruto é miséria e morte. T9 254 3 A luz do evangelho que brilha da cruz de Cristo reprova o egoísmo, e anima a liberalidade e a beneficência. Não deve ser um fato lamentável o haver cada vez mais pedidos para dar. Deus, em Sua providência, está chamando Seu povo para fora de sua limitada esfera de ação, a fim de que se dedique a maiores empreendimentos. Esforço ilimitado é o que se requer neste tempo em que trevas morais cobrem o mundo. Muitos do povo de Deus estão em perigo de ser enredados pelo mundanismo e pela cobiça. Deveriam compreender que a Sua misericórdia é que multiplica os pedidos de meios. Têm que ser-lhes apresentados objetivos que estimulem a beneficência, ou do contrário não poderão imitar o caráter do grande Exemplo. As bênçãos da mordomia T9 255 1 Dando aos discípulos a comissão de ir "por todo o mundo" e pregar "o evangelho a toda a criatura" (Marcos 16:15), Cristo designou aos homens a obra de disseminar o conhecimento de Sua graça. Porém, enquanto alguns saem a pregar, Ele roga a outros que atendam a Seus pedidos de ofertas, para manter Sua causa na Terra. Pôs Ele meios nas mãos dos homens, para que Seus dons divinos possam fluir através de canais humanos, fazendo nós a obra que nos foi designada, de salvar nossos semelhantes. Esta é uma das maneiras em que Deus exalta o homem. É justamente a obra de que o homem precisa; pois lhe despertará no coração as mais profundas simpatias, e porá em atividade as mais elevadas faculdades da mente. T9 255 2 Tudo quanto de bom há na Terra, aqui foi colocado pela dadivosa mão de Deus, como uma expressão de Seu amor ao homem. Os pobres são Seus, e Sua é a causa da religião. O ouro e a prata pertencem ao Senhor, e Ele os poderia fazer chover do Céu, se assim quisesse. Mas em vez disso fez Ele do homem o Seu mordomo, confiando-lhe recursos não para que fossem acumulados, mas usados em benefício de outros. Desse modo tornou o homem o meio pelo qual distribui Suas bênçãos na Terra. Deus planejou o sistema de beneficência, a fim de que o homem se pudesse tornar como seu Criador: de índole benevolente e abnegada, e ser finalmente co-participante de Cristo, da eterna, gloriosa recompensa. Reunindo-se ao redor da cruz T9 256 1 O amor expresso no Calvário deve ser reavivado, fortalecido e difundido entre nossas igrejas. Não deveríamos nós fazer tudo quanto podemos para tornar eficazes os princípios que Cristo trouxe ao mundo? Não nos deveríamos esforçar para estabelecer e tornar eficazes os empreendimentos de beneficência que agora são reclamados sem demora? Ao estarmos perante a cruz, e vermos o Príncipe do Céu morrendo por nós, poderíamos fechar o coração, dizendo: "Não, não tenho nada para dar?" T9 256 2 O crente povo de Cristo deve perpetuar o Seu amor. Esse amor deve atraí-los juntamente em torno da cruz. Deve despi-los de todo o egoísmo e ligá-los a Deus e uns aos outros. T9 256 3 Vamos nos reunir ao redor da cruz do Calvário, em sacrifício e abnegação. Deus nos abençoará ao fazermos o melhor que podemos. Ao nos aproximarmos do trono pelo áureo acesso baixado do Céu à Terra, para arrancar homens do abismo do pecado, nosso coração se expandirá em amor aos nossos irmãos e irmãs que estão sem Deus e sem esperança no mundo. ------------------------Capítulo 32 -- Espírito de independência T9 257 1 Antes de partir para a Austrália, e desde que cheguei a este país, tenho sido instruída que há uma grande obra para ser feita nos Estados Unidos. Os que estavam na obra a princípio, estão desaparecendo. Apenas uns poucos dos pioneiros da causa permanecem agora entre nós. Muitos dos pesados encargos antigamente assumidos por homens de longa experiência, estão recaindo agora sobre homens mais jovens. T9 257 2 Essa transferência de responsabilidades para obreiros cuja experiência é mais ou menos limitada, acha-se acompanhada de alguns perigos contra os quais precisamos precaver-nos. O mundo está cheio de lutas pela supremacia. O espírito de afastamento de companheiros na obra, o espírito de desorganização, está no próprio ar que respiramos. T9 257 3 Para alguns, todos os esforços para estabelecer ordem são considerados perigosos -- como se fosse uma restrição da liberdade individual, devendo, pois, ser temidos como sistema papal. Essas pessoas iludidas consideram virtude jactar-se de sua liberdade de pensar e agir independentemente. Declaram que não aceitam a opinião de homem algum; que não são responsáveis para com homem nenhum. Fui instruída de que Satanás se esforça especialmente para levar homens a julgar que Deus Se agrada de que escolham seu próprio modo de proceder, independentemente do conselho de seus irmãos. T9 257 4 Aí reside um grave perigo para a prosperidade de nossa obra. Precisamos agir discretamente, em harmonia com o juízo de conselheiros tementes a Deus; pois unicamente nesse procedimento residem nossa segurança e força. De outro modo Deus não pode trabalhar conosco, por meio de nós e em nosso favor. T9 257 5 Oh! como Satanás se regozijaria se alcançasse êxito em seus esforços de penetrar no meio deste povo, e desorganizar a obra num tempo em que a organização integral é essencial, e constitui a maior força para evitar os levantes espúrios e refutar pretensões não abonadas pela Palavra de Deus! Precisamos manter as fileiras uniformemente, para que não haja quebra do sistema de organização e ordem, o qual foi erguido por meio de sábio, cuidadoso labor. Não se deve dar autonomia a desordeiros que desejem controlar a obra neste tempo. T9 258 1 Alguns têm apresentado a idéia de que, ao aproximarmo-nos do fim do tempo, cada filho de Deus agirá independentemente de qualquer organização religiosa. Mas fui instruída pelo Senhor de que nesta obra não há isso de cada qual ser independente. As estrelas do céu estão todas sujeitas a leis, cada uma influenciando a outra para fazer a vontade de Deus, prestando obediência comum à lei que lhes dirige a ação. E, para que a obra do Senhor possa avançar sadia e solidamente, Seu povo deve estar unido. T9 258 2 Os movimentos esporádicos, agitados, de alguns que pretendem ser cristãos, são bem representados pelo trabalho de cavalos fortes, mas não adestrados. Quando um puxa para a frente, outro puxa para trás, e à voz de seu guia um se precipita para diante e o outro fica imóvel. Se os homens não agirem em harmonia na grande e importante obra para este tempo, haverá confusão. Não é bom sinal os homens se recusarem a unir-se a seus irmãos, e preferirem agir sozinhos. Falem os obreiros confidencialmente com os irmãos que estão dispostos a apontar cada desvio dos princípios verdadeiros. Se os homens tomarem o jugo de Cristo, não poderão puxar cada um para seu lado; puxarão com Cristo. T9 258 3 Alguns obreiros puxam com toda a força que Deus lhes deu, mas não aprenderam ainda que não devem puxar sozinhos. Em vez de isolar-se, puxem eles em harmonia com seus coobreiros. A menos que façam isso, sua atividade se processará fora de tempo e em direção errada. Trabalharão muitas vezes contra aquilo que Deus deseja ver feito, e assim sua obra será mais do que inútil. Unidade na adversidade T9 259 1 Por outro lado, os guias dentre o povo de Deus devem precaver-se contra o perigo de condenar os métodos de obreiros que são pelo Senhor levados a fazer uma obra especial que só poucos estão habilitados para desempenhar. Sejam os irmãos que estão em cargos de responsabilidade, cuidadosos no criticar maneiras de proceder que não estejam em perfeita harmonia com os seus métodos de trabalho. Não suponham jamais que cada plano deva refletir a sua própria personalidade. Não temam confiar nos métodos de outrem; pois recusando confiar num coobreiro que, com humildade e zelo consagrado está fazendo uma obra especial, na maneira por Deus designada, eles estão retardando o avanço da causa do Senhor. T9 259 2 Deus pode servir-Se, e servir-Se-á dos que não tiverem instrução esmerada nas escolas dos homens. Duvidar de Seu poder para fazer isso, é manifesta incredulidade; é limitar o poder onipotente dAquele para quem nada é impossível. Quem dera houvesse menos dessa cautela indesejável, resultado da desconfiança! Ela deixa tantas forças da igreja sem serem usadas; fecha o caminho de modo que o Espírito Santo não possa valer-Se de pessoas; mantém em ociosidade os que estão dispostos e ansiosos para trabalhar segundo a maneira de Cristo; desencoraja de entrarem na obra muitos que se tornariam coobreiros eficientes de Deus, se lhes fosse concedida uma oportunidade razoável. T9 259 3 Para o profeta, a roda dentro de uma roda, a aparência de criaturas viventes com elas relacionadas, tudo se afigurava complicado e inexplicável. Mas a mão da infinita Sabedoria é vista entre as rodas, e ordem perfeita é o resultado da obra dessas rodas. Cada roda, dirigida pela mão de Deus, trabalha em harmonia perfeita com cada uma das demais. Foi-me mostrado que os seres humanos são propensos a buscar demasiada autoridade, procurando dirigir eles mesmos a obra. Excluem de seus métodos e planos o Senhor Deus, o poderoso Obreiro, e não Lhe confiam tudo relativamente ao avanço da obra. Ninguém deve por um momento imaginar que é capaz de dirigir as coisas que pertencem ao grande EU SOU. Deus em Sua providência está preparando um caminho de maneira que a obra possa ser feita por agentes humanos. Fique, pois, cada qual em seu posto de dever, para desempenhar sua parte para este tempo, e saiba que Deus é seu instrutor. A associação geral T9 260 1 Fui muitas vezes instruída pelo Senhor de que o juízo de homem algum deve estar sujeito ao juízo de outra pessoa. Nunca deve a mente de um homem ou de uns poucos homens ser considerada suficiente em sabedoria e autoridade para controlar a obra, e dizer quais os planos que devem ser seguidos. Mas quando, numa assembléia geral, é exercido o juízo dos irmãos reunidos de todas as partes do campo, independência e juízo particulares não devem obstinadamente ser mantidos, mas renunciados. Nunca deve um obreiro considerar virtude a persistente conservação de sua atitude de independência, contrariamente à decisão do corpo geral. T9 260 2 Por vezes, quando um pequeno grupo de homens, aos quais se acha confiada a direção geral da obra, tem procurado, em nome da Associação Geral, executar planos imprudentes e restringir a obra de Deus, tenho dito que eu não poderia por mais tempo considerar a voz da Associação Geral, representada por esses poucos homens, como a voz de Deus. Mas isso não equivale a dizer que as decisões de uma Associação Geral composta de uma assembléia de homens representativos e devidamente designados, de todas as partes do campo, não deva ser respeitada. Deus ordenou que os representantes de Sua igreja de todas as partes da Terra, quando reunidos numa Assembléia Geral, devam ter autoridade. O erro que alguns estão em perigo de cometer, é dar à opinião e ao juízo de um homem, ou de um pequeno grupo de homens, a plena medida de autoridade e influência de que Deus revestiu Sua igreja, no juízo e voz da Associação Geral reunida para fazer planos para a prosperidade e avançamento de Sua obra. T9 261 1 Quando este poder, que Deus colocou na igreja, é entregue inteiramente a um só homem, e ele é revestido da autoridade de servir de critério para outros espíritos, acha-se então mudada a verdadeira ordem da Bíblia. Os esforços de Satanás sobre o espírito de tal homem serão os mais sutis, e por vezes quase dominantes; pois o inimigo terá a esperança de, por meio do seu espírito, poder influenciar muitos outros. Vamos conceder à mais altamente organizada autoridade na igreja aquilo que somos propensos a dar a um único homem ou a um pequeno grupo de homens. ------------------------Capítulo 33 -- Distribuição de responsabilidades T9 262 1 Deus quer que o Seu povo seja sábio. Dispôs as coisas de maneira tal que homens escolhidos sejam enviados como delegados às nossas assembléias. Esses homens devem ser experimentados e provados. Devem ser homens dignos de confiança. A escolha dos delegados para assistirem às nossas assembléias é um assunto importante. Esses homens devem fazer os planos que serão adotados para o progresso da obra, pelo que devem ser pessoas de discernimento, capazes de raciocinar da causa para o efeito. T9 262 2 "E aconteceu que, ao outro dia, Moisés assentou-se para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até à tarde. Vendo pois o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto, que tu fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até à tarde? Então disse Moisés a seu sogro: É porque este povo vem a mim, para consultar a Deus; quando tem algum negócio vem a mim, para que eu julgue entre um e outro, e lhes declare os estatutos de Deus, e as Suas leis. O sogro de Moisés porém lhe disse: Não é bom o que fazes. Totalmente desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo; porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer. Ouve agora a minha voz; eu te aconselharei, e Deus será contigo: sê tu pelo povo diante de Deus, e leva tu as coisas a Deus; e declara-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho em que devem andar, e a obra que devem fazer. E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza, e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez; para que julguem este povo em todo o tempo; e seja que todo o negócio grave tragam a ti, mas todo o negócio pequeno eles o julguem; assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. T9 263 1 "Se isto fizeres, e Deus to mandar, poderás então subsistir; assim também todo este povo em paz virá ao seu lugar. T9 263 2 "E Moisés deu ouvidos à voz de seu sogro, e fez tudo quanto tinha dito; e escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os pôs por cabeças sobre o povo: maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez. E eles julgaram o povo em todo o tempo; o negócio árduo trouxeram a Moisés, e todo o negócio pequeno julgaram eles." Êxodo 18:13-26. T9 263 3 No primeiro capítulo de Atos, são-nos também fornecidas instruções quanto à escolha de homens que devem arcar com responsabilidades na igreja. A apostasia de Judas deixara um lugar vago nas fileiras dos apóstolos, e era necessário que fosse escolhido outro para substituí-lo. A esse respeito disse Pedro: T9 263 4 "É necessário pois que, dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da Sua ressurreição. E apresentaram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar. E lançando-lhes sortes caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum, foi contado com os onze apóstolos." Atos dos Apóstolos 1:21-26. T9 264 1 Aprendemos, desses passos das Escrituras, que o Senhor tem certos homens para ocupar determinados cargos. Deus ensinará Seu povo a proceder com cautela e a escolher cuidadosamente os homens que não traiam os sagrados encargos. Se nos dias de Cristo foi necessário que os crentes usassem de prudência para a escolha dos homens para os cargos de responsabilidade, nós que vivemos neste tempo certamente precisamos usar de grande discrição. Devemos apresentar a Deus cada caso, e, com oração fervorosa, pedir-Lhe que escolha por nós. T9 264 2 O Senhor Deus do Céu escolheu homens de experiência para assumir as responsabilidades na Sua causa. Esses homens devem exercer influência especial. Se a todos está sendo concedida a autoridade conferida a esses homens escolhidos, algo terá que ser mudado. Os que são escolhidos para arcar com as responsabilidades da causa de Deus não devem ser precipitados, nem presumidos ou egoístas. Jamais devem a sua influência e exemplo estimular o mal. O Senhor jamais deu a algum homem ou mulher a liberdade de propor idéias que tirem da obra o seu cunho sagrado, produzindo nela vulgaridade. A obra de Deus deve tornar-se para Seu povo mais e mais sagrada. Devemos ressaltar por todos os meios possíveis o exaltado caráter da verdade. Os que foram postos como chefes da obra de Deus em nossas instituições devem acentuar sempre a vontade e o caminho de Deus. O bem da obra em geral depende da fidelidade dos homens designados para executar a vontade de Deus nas igrejas. T9 265 1 Os cargos devem ser confiados a homens que queiram adquirir experiência mais vasta, não no tocante ao que é seu, mas no que concerne às coisas de Deus, um conhecimento mais amplo do caráter de Cristo. Quanto melhor conheçam a Cristo, mais fielmente O representarão no mundo. Devem escutar-Lhe a voz e estar atentos às Suas palavras. Uma advertência T9 265 2 "Então começou Ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos Seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso Eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. T9 265 3 "E tu, Cafarnaum, que te ergues até os céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Porém Eu vos digo que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti. T9 265 4 "Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim Te aprouve. Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar. T9 265 5 "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve." Mateus 11:20-30. T9 266 1 Sempre há segurança em ser manso, humilde e compassivo; mas ao mesmo tempo devemos ser firmes como a rocha no que concerne aos ensinos de Cristo. Suas instruções devem ser estritamente seguidas. Não deve ser perdida de vista uma que seja das Suas palavras. A verdade permanece para sempre. Não devemos confiar em mentira ou pretensão alguma. Os que assim procedem verificarão que o fizeram a custo da vida eterna. Devemos abrir caminhos retos para os nossos pés, para que o coxo não se extravie. Quando os coxos se apartam do caminho seguro, quem será responsabilizado senão os que os desviaram? Em troca das obras enganosas que têm por autor o pai da mentira, anularam o conselho dAquele cujas palavras são vida eterna. T9 266 2 Tenho palavras para dizer a todos quantos crêem estar seguros pelo fato de terem sido educados em Battle Creek. O Senhor destruiu duas das nossas maiores instituições estabelecidas em Battle Creek e nos transmitiu uma advertência após outra, tal como Cristo, antigamente, advertiu Betsaida e Cafarnaum. É necessário dar a maior atenção a toda palavra que sai da boca de Deus. Não pode haver da nossa parte afastamento das palavras de Cristo sem que cometamos pecado. O Salvador insiste com os errantes para que se arrependam. Os que humilham o coração e confessam os pecados serão perdoados. Suas transgressões serão relevadas. Mas o homem que considera que, confessando os seus pecados, demonstra fraqueza, não achará perdão, nem verá em Cristo o seu Redentor; perseverará na transgressão, cometerá uma falta após outra e acrescentará pecado a pecado. Que fará essa pessoa no dia em que os livros forem abertos e cada um for julgado segundo as coisas que neles estiverem escritas? T9 267 1 O quinto capítulo do Apocalipse precisa ser mais profundamente estudado. Ele é da maior importância para os que haverão de participar da obra de Deus nestes últimos dias. Alguns há que estão enganados. Não se aperceberam do que está para acontecer na Terra. Os que têm permitido que se lhes obscureça a mente no tocante à natureza do pecado, são vítimas de um erro fatal. A menos que efetuem mudança decisiva, quando Deus pronunciar Suas sentenças sobre os filhos dos homens serão achados em falta. Estão transgredindo a lei e quebrando a aliança eterna, e receberão em conformidade com as suas obras. T9 267 2 "E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de terra; e o Sol tornou-se negro como saco de cilício, e a Lua tornou-se como sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a Terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte. E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. E os reis da Terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá subsistir?" Apocalipse 6:12-17. T9 267 3 "Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. ... Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima." Apocalipse 7:9-17. T9 268 1 Nessas passagens das Escrituras são apresentados dois grupos de pessoas. Um deles se deixou enganar e aliou-se aos inimigos do Senhor. Essas pessoas interpretaram erroneamente as mensagens que lhes foram dirigidas e revestiram-se de justiça própria. Para eles não havia malignidade no pecado. Ensinaram mentiras como se fossem verdades, e por sua causa muitos se extraviaram. T9 268 2 É necessário, agora, que vigiemos a nós mesmos. Foram-nos feitas advertências. Será que não estamos conseguindo ver o cumprimento das predições de Cristo, contidas no vigésimo primeiro capítulo de Lucas? Quantos estão estudando as palavras de Cristo? Quantos estão enganando a si mesmos e se privando das bênçãos reservadas para os que crêem e obedecem? O tempo de graça se prolonga ainda, e temos a oportunidade de apropriar-nos da esperança que o evangelho nos apresenta. Arrependamo-nos e convertamo-nos, abandonando os nossos pecados para que sejam apagados. "Passará o céu e a Terra, mas as Minhas palavras não hão de passar. E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a Terra. Vigiai pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem." Lucas 21:33-36. T9 269 1 Ficarão desatendidas as advertências de Cristo? Não nos arrependeremos sinceramente agora, enquanto a suave voz da Misericórdia ainda é ouvida? T9 269 2 "Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis. Quem é pois o servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a Sua casa, para dar o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os Seus bens. Porém, se aquele mau servo disser consigo: O meu senhor tarde virá; e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os temulentos, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes." Mateus 24:42-51. ------------------------Capítulo 34 -- Com humildade e fé T9 270 1 Foram-me dadas instruções especiais para o povo de Deus, porque tempos perigosos estão perante nós. Aumenta no mundo o espírito de destruição e violência. Na igreja, o poder humano torna-se predominante; os que foram escolhidos para ocupar cargos de confiança julgam-se com o direito de dominar. T9 270 2 Os homens a quem o Senhor chama para ocuparem em Sua obra cargos importantes, devem cultivar humilde confiança nEle. Não devem buscar enfeixar em suas mãos demasiada autoridade; porque Deus não os chamou para dominar, mas para estabelecerem planos e aconselharem-se com os coobreiros. Todo obreiro deve considerar-se igualmente sujeito aos reclamos e instruções de Deus. Conselheiros sábios T9 270 3 Em vista da importância da obra no sul da Califórnia e as perplexidades que a envolvem, deveriam ser escolhidos pelo menos cinco homens sábios e experientes para consultarem-se com os presidentes das Associações e Uniões locais no tocante a planos e métodos gerais. O Senhor não aprova a tendência manifestada por alguns de dominarem os que possuem experiência maior que a sua. Com essa sua maneira de agir, têm alguns demonstrado não estarem capacitados para o cargo importante que ocupam. Todo ser humano que busca dar-se proporções desmedidas e dominar seus semelhantes, demonstra que seria perigoso confiarem-se-lhe responsabilidades religiosas. T9 270 4 Não abrigue alguém a idéia de que, a menos que disponha do dinheiro necessário, não deveria empreender atividade alguma que exija recursos. Se no passado houvéssemos seguido sempre esse método, teríamos perdido vantagens consideráveis, tais como as conseguidas ao comprarmos a escola de Fernando, e os hospitais de Paradise Valley, Glendale e Loma Linda. "Avançai" T9 271 1 Nem sempre deve ser considerado mais sábio o plano de não empreender coisa alguma que exija gastos elevados, sem ter à disposição o dinheiro necessário para terminar o empreendimento. Na edificação de Sua obra, nem sempre esclarece o Senhor todas as coisas para os Seus servos. Fazendo-os avançar pela fé, Ele algumas vezes prova a confiança de Seu povo. Freqüentemente põe-no em situações difíceis e críticas, e o manda avançar quando já os seus pés parecem tocar as águas do Mar Vermelho. Em ocasiões tais, quando os Seus servos elevam orações a Ele com ardente fé, Ele lhes depara uma solução e os leva a lugares espaçosos. T9 271 2 O Senhor quer que neste tempo o Seu povo creia que por eles fará grandes coisas, como fez pelos filhos de Israel na jornada do Egito para Canaã. Devemos manifestar fé consciente, que não vacile em seguir as instruções do Senhor nos momentos mais difíceis. "Avançai" é a ordem que Deus dá ao Seu povo. T9 271 3 A execução dos planos de Deus exige fé e alegre obediência. Quando Ele indica a necessidade de estabelecer a obra em lugares onde ela poderá exercer influência, deve o povo seguir e trabalhar pela fé. Através de seu procedimento piedoso, sua humildade, orações e esforços fervorosos, deve lutar para induzir as pessoas a apreciarem a boa obra que o Senhor estabeleceu em seu meio. Deus pretendia que o hospital de Loma Linda viesse a ser propriedade de nosso povo; e fez com que isso se tornasse realidade num momento em que as torrentes de dificuldades eram impetuosas e transbordavam de seu leito. T9 272 1 A defesa de interesses particulares para alcançar finalidades pessoais é uma coisa. Nisso podem os homens seguir sua própria orientação. Mas o levar avante a obra do Senhor na Terra é assunto totalmente diverso. Ao indicar Ele que a compra de determinada propriedade é necessária para o progresso de Sua causa e para a edificação de Sua obra, quer se trate de hospitais, escolas ou quaisquer outras instituições, Ele tornará possível a realização desses empreendimentos se os que têm experiência mostrarem fé e confiança em Seus planos e agirem com presteza para aproveitar as vantagens que Deus lhes aponta. Embora não devamos arrebatar a propriedade de ninguém, devemos, porém, quando são oferecidas vantagens, estar bem despertos para apreciá-las a fim de podermos fazer planos para a edificação da obra. E ao havermos feito isso, devemos empregar todas as nossas energias para obter do povo de Deus as ofertas voluntárias para a manutenção das novas instituições. T9 272 2 Freqüentemente vê o Senhor a Seus obreiros na incerteza quanto ao que devem fazer. Nesses momentos, se nEle depositarem confiança, Ele lhes revelará a Sua vontade. Daí em diante, a obra de Deus deve avançar rapidamente; e se o Seu povo atender ao apelo, Ele dará espírito voluntário às pessoas ricas para darem de seus recursos e possibilitar, assim, a conclusão de Sua obra na Terra. "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem." Hebreus 11:1. A fé na Palavra de Deus dará aos Seus filhos a posse de propriedades que lhes permitirão trabalhar nas grandes cidades que esperam a mensagem da verdade. T9 273 1 A indiferença, formalismo e incredulidade com que alguns obreiros fazem o seu trabalho constitui ofensa grave ao Espírito de Deus. Diz o apóstolo Paulo: "Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a Palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão. E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós." Filipenses 2:14-17. T9 273 2 Devemos incentivar uns aos outros naquela fé viva que Cristo tornou acessível a todo crente. A obra deve prosseguir à medida que o Senhor prepara o caminho. Ao levar Ele os Seus a situações difíceis, têm eles a vantagem de poderem reunir-se para orar, lembrando que todas as coisas vêm de Deus. Aqueles que ainda não participaram das experiências decisivas que acompanham a obra dos últimos dias, logo terão que passar por situações que provarão fortemente a sua confiança em Deus. No tempo em que Seu povo não vê meio de avançar, quando o Mar Vermelho lhes está à frente e os exércitos perseguidores à retaguarda, é que Deus lhes ordena: "Avançai." Procede Ele dessa maneira para lhes provar a fé. Ao nos sobrevirem essas circunstâncias, avancemos, confiantes em Cristo. Andemos passo a passo no caminho que Ele nos indicar. Provas nos sobrevirão, mas avancemos. Adquiriremos com isso uma experiência que nos fortalecerá a fé em Deus e nos capacitará para serviço mais fiel. O exemplo de Cristo T9 274 1 Deve o povo de Deus adquirir experiência mais profunda e mais vasta nos assuntos da religião. Cristo é o nosso exemplo. Se, mediante fé viva e santificada obediência à Palavra de Deus, manifestamos o amor e a graça de Cristo, se demonstramos raciocínio afinado com as providências com que Deus dirige a Sua obra, manifestaremos ao mundo um poder convincente. Não é a posição elevada que nos confere valor aos olhos de Deus. O homem é medido pela sua consagração e fidelidade no cumprimento da vontade divina. Se o remanescente povo de Deus andar perante Ele com humildade e fé, Deus, por meio deles executará o Seu eterno propósito, capacitando-os para trabalharem em harmonia para dar ao mundo a verdade tal qual é em Jesus. Ele os usará a todos -- homens, mulheres e crianças -- para fazer brilhar a luz sobre o mundo e dele separar um povo que será fiel aos Seus mandamentos. Por meio da fé que o Seu povo nEle deposita, Deus mostrará ao mundo que Ele é o Deus verdadeiro, o Deus de Israel. T9 274 2 "Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo", exorta o apóstolo Paulo, "para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus. Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nEle, como também padecer por Ele." Filipenses 1:27-29. T9 274 3 "Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa. Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. T9 275 1 "Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tornando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos Céus, e na Terra e debaixo da Terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é O que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade." Filipenses 2:1-13. T9 275 2 Fui encarregada de apresentar essas palavras aos nossos irmãos do sul da Califórnia. Elas são necessárias em toda parte em que haja uma igreja estabelecida, porque um espírito estranho se tem introduzido em nosso meio. T9 275 3 É tempo de os homens humilharem perante Deus o coração, e aprenderem a trabalhar segundo a Sua maneira. Os que têm buscado dominar os seus coobreiros, tratem de examinar o espírito de que estão animados. Devem buscar o Senhor com jejum, oração e contrição de espírito. T9 275 4 Em Sua vida terrestre, Cristo deu um exemplo que todos podem seguir com segurança. Ele ama o Seu rebanho e não quer que sobre ele se estabeleça autoridade alguma que lhes restrinja a liberdade no trabalho que Lhe prestam. Ele nunca comissionou ninguém para que dominasse sobre a Sua herança. A verdadeira religião bíblica produzirá o domínio próprio e não o controle de um sobre outro. Como povo, carecemos de uma medida maior do Espírito Santo, a fim de, sem exaltação, podermos anunciar a mensagem solene de que Deus nos incumbiu. T9 276 1 Irmãos, apliquem a si mesmos suas palavras de censura. Ensinem o rebanho de Deus a contemplar a Cristo e não ao homem que é falível. Quem se torna instrutor da verdade deve produzir em sua própria vida os frutos da santidade. Ao contemplar a Cristo e segui-Lo, apresentará aos que lhes são confiados um exemplo do que deve ser o cristão verdadeiro, disposto a aprender. Deixem que Deus lhes ensine o Seu método. Consultem-nO diariamente para saber qual é a Sua vontade. Ele dará conselho infalível a todos quantos O buscarem de coração sincero. Andemos de maneira digna da vocação com que fomos chamados, louvando a Deus, tanto pelo nosso procedimento diário como pelas nossas orações. Dessa maneira pregando a Palavra da vida, estimularemos outras pessoas a seguir a Cristo. ------------------------Capítulo 35 -- Liderança bem equilibrada T9 277 1 Esta manhã, não consigo encontrar repouso. Estou inquieta quanto à situação que prevalece no sul da Califórnia. Deus confiou a cada homem o seu trabalho; mas alguns há que não consideram com oração a sua responsabilidade pessoal. T9 277 2 Ao ser escolhido um obreiro para um cargo, a função em si não lhe confere capacidade que antes não possuísse. Um alto cargo não confere ao caráter as virtudes cristãs. Quem imagina poder por si só traçar os planos para todos os ramos da obra, demonstra grande falta de sabedoria. Mente humana alguma é capaz de, por si mesma, assumir as numerosas e variadas responsabilidades de uma Associação que conta com milhares de membros e reúne muitos ramos de atividade. T9 277 3 Foi-me, porém, mostrado um perigo ainda maior: é o conceito difundido entre os nossos obreiros de que os pregadores e outros empregados na causa devem deixar para alguns chefes o cuidado de determinar-lhes as responsabilidades. A inteligência e o discernimento de um homem não devem ser considerados suficientes para dirigir e modelar uma Associação. Tanto o indivíduo como a igreja têm cada qual as suas responsabilidades. A cada homem deu Deus algum talento ou talentos para serem usados e aperfeiçoados. Ao fazer uso desses talentos, ele se torna mais útil para servir. Deus concedeu entendimento a cada indivíduo e quer que Seus obreiros empreguem e desenvolvam esse dom. Não deve o presidente de uma Associação imaginar que o seu critério individual possa reger o dos demais. T9 278 1 Em nenhuma Associação devem ser apresentadas propostas precipitadamente, sem que se conceda aos irmãos o tempo suficiente para examinar acuradamente todos os aspectos do assunto. Tem-se pensado algumas vezes que, por haver sido o presidente da Associação quem sugeriu certos planos, não haveria necessidade de consultar o Senhor a esse respeito. Dessa forma, foram aceitas propostas que não visavam ao bem espiritual dos crentes, e cujas conseqüências tinham alcance que muito excedia ao que era aparente no primeiro exame. Tais procedimentos não têm a aprovação divina. Muitos, muitíssimos assuntos têm sido propostos e votados, que implicam em muito mais do que estava previsto, e muito mais do que os votantes estavam dispostos a aprovar, caso houvessem tomado tempo para examinar o caso em todos os seus aspectos. T9 278 2 Neste tempo não podemos ser descuidados ou negligentes na obra de Deus. Se quisermos estar preparados para as provas que nos esperam, devemos cada dia buscar o Senhor com fervor. Deve o nosso coração estar limpo de todo sentimento de superioridade, e serem implantados no coração os princípios vivos da verdade. Os jovens e os idosos, bem como as pessoas de meia-idade devem praticar agora as virtudes do caráter de Cristo. Cada dia, devem desenvolver-se espiritualmente a fim de chegarem a ser vasos de honra no serviço do Mestre. T9 278 3 "E aconteceu que, estando Ele a orar num certo lugar, quando acabou Lhe disse um dos Seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos." Lucas 11:1. A oração que, em resposta a este pedido, Cristo deu aos discípulos, não foi feita em linguagem difícil, mas com palavras simples, expressando as necessidades da pessoa. É curta, e refere-se diretamente às necessidades cotidianas. T9 278 4 Cada pessoa tem a prerrogativa de apresentar ao Senhor as suas necessidades particulares, bem como ações de graças pessoais pelas bênçãos que cada dia recebe. Mas as numerosas orações longas, sem vida e sem fé, que são feitas a Deus, em vez de Lhe serem uma satisfação, são-Lhe uma opressão. Oh! quanto precisamos nós de coração puro, convertido! Precisamos ter nossa fé fortalecida. "Pedi, e dar-se-vos-á", é a promessa do Salvador, "buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." Mateus 7:7. Devemos habituar-nos a confiar em Sua Palavra e a acrescentar a todas as nossas obras a luz e a graça de Cristo. Precisamos apossar-nos de Cristo e a Ele apegar-nos até que em nós se manifeste o poder transformador da Sua graça. Se quisermos refletir o caráter divino, precisamos ter fé em Cristo. T9 279 1 Cristo revestiu a Sua divindade com a humanidade e viveu vida de oração e abnegação, sustentando dia a dia uma batalha contra a tentação a fim de poder socorrer os que hoje são tentados. Ele é a nossa eficiência e fortaleza. Quer que, ao apropriar-se da Sua graça, a humanidade participe da Sua natureza divina, e evite, assim, a corrupção que, pela concupiscência, há no mundo. A Palavra de Deus contida no Antigo e Novo Testamentos, estudada com fidelidade e recebida na vida, comunica sabedoria e vida espirituais. Essa Palavra deve ser amada com amor sagrado. A fé na Palavra de Deus e o poder de Cristo para transformar a vida habilitarão o crente para realizar as Suas obras e viver jubilosamente no Senhor. T9 279 2 Repetidamente fui instruída a dizer ao nosso povo: Ponham em Deus a confiança e fé. Não confiem a nenhum homem falível o encargo de definir seu dever. Tenham o privilégio de dizer: "Então declararei o Teu nome aos meus irmãos; louvar-Te-ei no meio da congregação. Vós, que temeis ao Senhor, louvai-O; todos vós, descendência de Jacó, glorificai-O; e temei-O todos vós, descendência de Israel. Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o Seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu. O meu louvor virá de Ti, ... pagarei os meus votos perante os que O temem. Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que O buscam; o vosso coração viverá eternamente." Salmos 22:22-26. T9 280 1 Esses passos das Escrituras vêm bem ao caso. Cada membro da igreja deve compreender que unicamente de Deus é que deve ser esperada a compreensão do dever individual. Bom é que os irmãos se consultem; mas quando os homens prescrevem aos irmãos exatamente o que devem fazer, respondam-lhes eles que escolheram por conselheiro ao Senhor. Os que com humildade O buscarem verão que a Sua graça é suficiente. Mas quando uma pessoa consente que outra se interponha entre ela e o dever que Deus lhe designou, confiando no homem e tomando-o por guia, desvia-se da base firme em que está, para outra insegura e perigosa. Em vez de crescer e desenvolver-se, perderá a espiritualidade. T9 280 2 Homem nenhum possui a faculdade de corrigir os seus próprios defeitos de caráter. Cada indivíduo deve pôr a sua esperança e confiança nAquele que é mais do que humano. Devemos estar sempre lembrados de que a nossa ajuda está nAquele que é poderoso. O Senhor providenciou o necessário auxílio para toda pessoa que O aceita. ------------------------Capítulo 36 -- "Sou ainda menino pequeno" T9 281 1 No princípio de seu reinado, Salomão orou: "Ó Senhor meu Deus, Tu fizeste reinar a Teu servo em lugar de Davi meu pai. E sou ainda menino pequeno nem sei como sair, nem como entrar." 1 Reis 3:7. T9 281 2 Salomão havia sucedido a seu pai Davi no trono de Israel. Deus o honrara grandemente e, como sabemos, tornou-se ele posteriormente o maior, mais rico e mais sábio rei que já se assentara sobre um trono terrestre. Já no princípio de seu reinado impressionou-o o Espírito Santo com a solenidade de suas responsabilidades, e embora rico em talentos e habilidade, reconheceu Salomão que sem auxílio divino estava desamparado como uma criancinha para os executar. Salomão jamais foi tão rico ou tão sábio ou tão verdadeiramente grande como quando confessou ao Senhor: "Sou ainda menino pequeno; nem sei como sair, nem como entrar." 1 Reis 3:7. T9 281 3 Foi num sonho, em que o Senhor lhe apareceu, dizendo: "Pede o que quiseres que te dê" (1 Reis 3:5), que Salomão assim deu expressão à sua sensação de desamparo e necessidade de auxílio divino. Continuou: "Teu servo está no meio do Teu povo que elegeste; povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. A Teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a Teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque, quem poderia julgar a este Teu tão grande povo? T9 281 4 "E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, que Salomão pedisse esta coisa. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste esta coisa, e não pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos, mas pediste para ti entendimento, para ouvir causas de juízo, eis que fiz segundo as tuas palavras. Eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual se não levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus dias." Agora as condições: "E, se andares nos Meus caminhos, guardando os Meus estatutos, e os Meus mandamentos, como andou Davi teu pai, também prolongarei os teus dias. T9 282 1 "E acordou Salomão, e eis que era sonho. E veio a Jerusalém, e pôs-se perante a arca do concerto do Senhor, e sacrificou holocaustos, e preparou sacrifícios pacíficos, e fez um banquete a todos os seus servos." 1 Reis 3:8-15. T9 282 2 Todos os que ocupam posições de responsabilidade precisam aprender a lição que é ensinada na humilde oração de Salomão. Devem sempre lembrar-se de que a posição jamais muda o caráter ou torna o homem infalível. Quanto mais alta a posição que um homem ocupa, quanto maior a responsabilidade que tem sobre si, tanto mais ampla será a influência que exerce, e tanto maior sua necessidade de sentir sua dependência da sabedoria e força de Deus, e de cultivar o melhor e mais santo caráter. Os que aceitam uma posição de responsabilidade na causa de Deus devem lembrar-se sempre de que com o chamado para esta obra, Deus os chamou igualmente para andar circunspectamente diante dEle e de seus semelhantes. Em vez de considerar seu dever ordenar, impor e comandar devem reconhecer que lhes compete aprender. Quando um obreiro em função de responsabilidade deixa de aprender esta lição, quanto mais cedo for dispensado de suas responsabilidades tanto melhor será para ele e para a obra de Deus. A posição jamais concederá santidade nem excelência de caráter. Quem honra a Deus e guarda os Seus mandamentos, também é honrado. T9 283 1 A pergunta que cada um deve dirigir a si mesmo, com toda a humildade, é: "Estou eu habilitado para esta posição? Aprendi eu a manter-me no caminho do Senhor, a fazer justiça e juízo?" O exemplo terrestre do Salvador nos foi dado para que não andemos em nossa própria força, mas para que cada um se considere, como disse Salomão, "menino pequeno". 1 Reis 3:7. "Imitadores de Deus, como filhos amados" T9 283 2 Toda pessoa verdadeiramente convertida pode dizer: "Sou apenas um menino pequeno (1 Reis 3:7); mas sou filho de Deus." Foi a preço infinito que se tomaram providências pelas quais a família humana pudesse ser restaurada à filiação divina. No princípio, Deus fez o homem à Sua própria semelhança. Nossos primeiros pais escutaram a voz do tentador e cederam ao poder de Satanás. Mas o homem não foi abandonado aos resultados do mal que ele escolhera. Foi-lhe feita a promessa de um Libertador. "Porei inimizade entre ti e a mulher", disse Deus à serpente, "e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gênesis 3:15. Antes de ouvirem acerca dos cardos e espinhos, acerca da tristeza e trabalhos que teriam que ser o seu quinhão, ou do pó a que teriam que voltar, ouviram palavras que não podiam deixar de lhes incutir esperança. Tudo que se perdera pela submissão a Satanás podia ser reavido por intermédio de Cristo. T9 283 3 O Filho de Deus foi entregue para redimir a raça humana. A custo de sofrimento infinito, o inocente pelo pecador, foi pago o preço que deveria remir do poder do destruidor a família humana, e restaurá-la à imagem de Deus. Os que aceitam a salvação que lhes é oferecida em Cristo, hão de humilhar-se perante Deus como filhinhos Seus. T9 284 1 Deus quer que Seus filhos peçam as coisas que O habilitem para, por eles, revelar Sua graça ao mundo. Ele quer que busquem Seu conselho, que reconheçam o Seu poder. Cristo tem reivindicações de amor quanto a todos pelos quais deu Sua vida: devem eles obedecer à Sua vontade, se quiserem participar das alegrias que Ele preparou para todos os que refletem Seu caráter aqui. Bem nos convém sentir nossa fraqueza; porque então buscaremos a força e sabedoria que o Pai Se deleita em dar a Seus filhos para sua luta diária contra os poderes do mal. T9 284 2 Embora a educação, preparo e conselho dos que têm experiência sejam todos essenciais, precisam os obreiros ser ensinados que não devem confiar inteiramente no juízo de qualquer homem. Como livres agentes de Deus, dEle todos devem pedir sabedoria. Se o principiante confia inteiramente nos pensamentos de outro, aceitando os seus planos e não indo além, ele só vê através dos olhos desse homem e é, nesse sentido, apenas o eco de outro. ------------------------Capítulo 37 -- A recompensa do esforço diligente T9 285 1 "Se a obra que alguém edificou ... permanecer, esse receberá galardão." 1 Coríntios 3:14. Magnífica será a recompensa concedida quando os obreiros fiéis se reunirem em torno do trono de Deus e do Cordeiro. Quando João, em seu estado mortal, contemplou a glória de Deus, caiu como morto: não pôde suportar a visão. Porém quando os filhos de Deus forem revestidos de imortalidade, vê-Lo-ão "como é". 1 João 3:2. Estarão perante o trono, aceitos no Amado. Todos os seus pecados terão sido apagados, removidas todas as suas transgressões. Podem, então, olhar o deslumbrante resplendor do trono de Deus. Foram co-participantes dos sofrimentos de Cristo, foram coobreiros Seus no plano da redenção, e com Ele participam da alegria de ver os salvos no reino de Deus, para ali louvarem a Deus durante toda a eternidade. T9 285 2 Meu irmão, minha irmã, insisto em que se preparem para a vinda de Cristo nas nuvens do céu. Dia a dia tirem do coração o amor do mundo. Aprendam por experiência própria o que significa ter comunhão com Cristo. Preparem-se para o juízo, para que, ao vir Cristo, para Se fazer admirável em todos os que crêem, vocês estejam entre os que O encontrarão em paz. Naquele dia, os remidos brilharão na glória do Pai e do Filho. Tocando suas harpas de ouro, os anjos darão as boas-vindas ao Rei e aos Seus troféus de vitória -- os que foram lavados e branqueados no sangue do Cordeiro. Um cântico de triunfo ressoará, enchendo todo o Céu. Cristo venceu. Ele penetra nas cortes celestiais, acompanhado de Seus remidos, testemunhas de que a Sua missão de sofrimento e sacrifício não foi em vão. T9 286 1 A ressurreição e ascensão de nosso Senhor é uma prova segura do triunfo final dos santos de Deus sobre a morte e a sepultura, e um penhor de que o Céu está aberto para os que lavaram as vestes do caráter e as branquearam no sangue do Cordeiro. Jesus subiu para o Pai como representante da raça humana, e Deus levará os que refletem a Sua imagem a contemplar a Sua glória e dela participar. T9 286 2 Há ali casas para os peregrinos da Terra. Há vestes para os justos, com coroas de glória e palmas de vitória. Tudo quanto nos tem confundido acerca das providências de Deus será esclarecido no mundo vindouro. As coisas difíceis de serem compreendidas terão então explicação. Os mistérios da graça nos serão desvendados. Naquilo em que a nossa mente finita só via confusão e promessas desfeitas, veremos a mais perfeita e bela harmonia. Saberemos que o amor infinito dispôs as experiências que nos pareciam as mais difíceis. Ao reconhecermos o terno cuidado dAquele que faz todas as coisas contribuírem para o nosso bem, regozijar-nos-emos com júbilo inexprimível e repleto de glória. T9 286 3 A dor não pode existir na atmosfera do Céu. No lar dos remidos, não haverá lágrimas, nenhum cortejo fúnebre, nenhuma exteriorização de luto. "E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade." Isaías 33:24. Uma rica maré de felicidade fluirá e aprofundar-se-á ao avançar a eternidade. T9 286 4 Nós estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas. Consideremos com todo o empenho o bendito porvir. Atravesse a nossa fé toda nuvem de escuridão, e contemplemos Aquele que morreu pelos pecados do mundo. Ele abriu os portais do Paraíso para todos quantos O recebem e nEle crêem. A esses dá Ele o poder de se tornarem filhos e filhas de Deus. Que as aflições que nos angustiam de maneira tão cruel, se transformem em lições instrutivas, ensinando-nos a prosseguir para o alvo pelo prêmio da soberana vocação em Cristo. Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Alegre-nos o coração esta esperança. "Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará." Hebreus 10:37. Bem-aventurados os servos que, quando o Senhor vier, achar vigiando! T9 287 1 Estamos em caminho para casa. Aquele que nos amou de tal maneira que morreu por nós, construiu para nós uma cidade. A Nova Jerusalém é o nosso lugar de repouso. Não haverá tristeza na cidade de Deus. Nenhum véu de infortúnio, nenhuma lamentação de esperanças frustradas e afeições sepultadas serão jamais ouvidas. Logo as vestes de opressão serão trocadas pela veste nupcial. Logo testemunharemos a coroação de nosso Rei! Aqueles cuja vida esteve escondida com Cristo, os que na Terra combateram o bom combate da fé, resplandecerão com a glória do Redentor no reino de Deus. T9 287 2 Não demorará muito até vermos Aquele em quem se centralizam as nossas esperanças de vida eterna. E em Sua presença, todas as provações e sofrimentos desta vida serão como nada. "Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará." Hebreus 10:35-37. Olhemos para cima, olhemos para cima, e deixemos que a nossa fé aumente continuamente. Permitamos que essa fé nos guie pelo caminho estreito que, através dos portais da cidade de Deus, conduz ao grande além, ao amplo, ilimitado futuro de glória destinado aos remidos. "Sede, pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia. Sede vós também pacientes, fortalecei o vosso coração, porque já a vinda do Senhor está próxima." Tiago 5:7, 8. ------------------------Vida de Jesus VJ 9 1 Capítulo 1 -- O nascimento de Jesus VJ 15 1 Capítulo 2 -- A visita dos magos VJ 19 1 Capítulo 3 -- A infância de Jesus VJ 25 1 Capítulo 4 -- Conflitos da vida diária VJ 31 1 Capítulo 5 -- Buscando força do alto VJ 37 1 Capítulo 6 -- Milagres de Cristo VJ 43 1 Capítulo 7 -- Os ensinos de Cristo VJ 49 1 Capítulo 8 -- Jesus também descansava VJ 55 1 Capítulo 9 -- O bom pastor VJ 61 1 Capítulo 10 -- O príncipe da paz VJ 67 1 Capítulo 11 -- Jesus reprova a corrupção VJ 71 1 Capítulo 12 -- A última páscoa VJ 79 1 Capítulo 13 -- Angústia no Getsêmani VJ 85 1 Capítulo 14 -- Traição e prisão de Jesus VJ 95 1 Capítulo 15 -- O julgamento de Cristo VJ 105 1 Capítulo 16 -- A glória do Calvário VJ 111 1 Capítulo 17 -- Ressurreição e vitória VJ 119 1 Capítulo 18 -- "Não temais" VJ 123 1 Capítulo 19 -- "Paz seja convosco!" VJ 127 1 Capítulo 20 -- A ascensão triunfal VJ 131 1 Capítulo 21 -- Quando Cristo voltará? VJ 137 1 Capítulo 22 -- O juízo final VJ 141 1 Capítulo 23 -- A eterna felicidade ------------------------Capítulo 1 -- O nascimento de Jesus VJ 9 1 Situada entre as colinas da Galiléia, a pequena cidade de Nazaré era o lar de José e Maria que posteriormente se tornaram os pais terrestres de Jesus. VJ 9 2 José pertencia à linhagem ou família de Davi, e quando saiu um decreto para o levantamento do censo da população, ele teve que ir a Belém, cidade de Davi, para ali registrar seu nome. Era uma jornada penosa, dadas as condições em que as viagens eram feitas na época. Maria, que acompanhava seu esposo, sentia-se extremamente fatigada ao subir a colina na qual Belém se localizava. E como desejava um lugar confortável onde pudesse repousar! Mas as hospedarias estavam todas lotadas. Os ricos e orgulhosos estavam bem hospedados, enquanto aqueles humildes viajantes tiveram que encontrar descanso em uma rude estrebaria. VJ 10 1 Embora José e Maria não possuíssem bens terrestres, sentiam-se amparados pelo amor de Deus e isso os tornava ricos em paz e contentamento. Eram filhos do Rei celestial que estava prestes a honrá-los de maneira maravilhosa. VJ 10 2 Anjos os acompanharam durante a viagem e quando a noite chegava os mensageiros celestes guardavam o seu repouso. Não foram deixados a sós, pois os anjos permaneceram com eles. VJ 10 3 Ali, naquela pobre estrebaria, nasceu Jesus, o Salvador, e foi colocado em uma manjedoura. O Filho do Altíssimo, Aquele cuja presença havia inundado as cortes celestiais com Sua glória, repousava em um rude berço. O líder celestial VJ 10 4 Antes de vir à Terra, Jesus fora o Comandante das hostes angelicais. Os mais brilhantes e exaltados filhos da alva anunciaram Sua glória na criação. Em Sua presença, diante do trono, cobriam o rosto e lançavam-Lhe aos pés suas coroas, cantando hinos de triunfo ao contemplarem Seu poder e majestade. VJ 10 5 Entretanto, esse glorioso Ser tanto amou o desamparado pecador que tomou sobre Si a forma de um servo para que pudesse sofrer e morrer por nós. VJ 10 6 Jesus poderia ter permanecido ao lado do Pai, usando a coroa e as vestes reais, mas por amor a nós trocou as riquezas do Céu pela pobreza da Terra. Ele escolheu renunciar ao posto de Supremo Comandante e à adoração dos anjos que tanto O amavam. Escolheu trocar a adoração dos seres celestes pela zombaria e desprezo de homens ímpios. Por amor a nós, aceitou uma vida de privações e uma morte vergonhosa. VJ 10 7 Cristo fez tudo isso para provar o quanto Deus nos ama. Viveu na Terra para mostrar como podemos honrar a Deus através da obediência à Sua vontade. Assim agiu para que, seguindo Seu exemplo, possamos finalmente viver com Ele no lar celestial. VJ 10 8 Os sacerdotes e príncipes judeus não estavam preparados para receber Jesus. Sabiam que o Salvador viria em breve, mas esperavam que viesse como um rei poderoso que traria poder e riqueza para a nação. Eram por demais orgulhosos para aceitar o Messias como um bebê indefeso. VJ 10 9 Por isso, quando Jesus nasceu, Deus não lhes revelou o grande acontecimento, mas enviou as novas de grande alegria a alguns pastores que guardavam seus rebanhos nas colinas de Belém. VJ 10 10 Eram homens piedosos e enquanto cuidavam das ovelhas, conversavam a respeito do Salvador prometido e oravam tão sinceramente por Sua vinda, que Deus enviou-lhes brilhantes mensageiros desde o Seu trono de luz, para lhes contar a respeito das boas-novas. Num berço de palha VJ 11 1 "E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis que vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na Terra entre os homens, a quem Ele quer bem. E, ausentando-se deles os anjos para o Céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer. Foram apressadamente e acharam Maria e José e a Criança deitada na manjedoura. E, vendo-O, divulgaram o que lhes tinha sido dito a respeito dEste Menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração." Lucas 2:9-19. Jesus apresentado no templo VJ 11 2 José e Maria eram judeus e seguiam os costumes de sua nação. Quando Jesus completou seis semanas de idade foi apresentado ao Senhor, no templo de Jerusalém. VJ 11 3 Essa prática estava de acordo com a lei que Deus havia dado a Israel e Jesus devia ser obediente em tudo. Assim, o próprio Filho de Deus, o Príncipe do Céu, por Seu exemplo, ensina-nos que devemos obedecer. VJ 11 4 Apenas o primogênito de cada família devia ser apresentado no templo. Essa cerimônia era para lembrar continuamente um evento que havia ocorrido em um passado distante. VJ 11 5 Quando os filhos de Israel eram escravos no Egito, o Senhor enviou Moisés para libertá-los. Ele ordenou que Moisés fosse à presença de Faraó, rei do Egito, e dissesse: VJ 11 6 "Assim diz o Senhor: Israel é Meu filho, Meu primogênito... Deixa ir Meu filho, para que Me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que Eu matarei teu filho, teu primogênito." Êxodo 4:22, 23. VJ 11 7 Moisés levou ao rei esta mensagem. Mas a resposta de Faraó foi: "Quem é o Senhor para que Lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a Israel." Êxodo 5:2. VJ 11 8 Então o Senhor enviou terríveis pragas sobre os egípcios. A última delas foi a morte do primogênito de cada família, desde o filho do rei até o do mais pobre que habitava a região. VJ 11 9 O Senhor ordenou a Moisés que cada família dos israelitas matasse um cordeiro e com o sangue do animal marcasse a ombreira da porta. VJ 13 1 Esse foi o sinal para que o anjo da morte passasse por alto as casas dos israelitas e não tocasse em nenhum deles, exceto os cruéis e orgulhosos egípcios. VJ 13 2 O sangue da Páscoa representava para os judeus o sangue de Cristo. No tempo determinado, Deus lhes daria Seu querido Filho como sacrifício, assim como o cordeiro havia sido sacrificado de modo que todo aquele que cresse nEle pudesse ser salvo da morte eterna. Cristo é chamado a "nossa Páscoa". 1 Coríntios 5:7. Somos redimidos por Seu sangue, através da fé. Efésios 1:7. VJ 13 3 Assim, quando cada família israelita trouxesse seu filho primogênito ao templo, deveria lembrar-se de como os filhos foram salvos da praga e como todos poderiam ser salvos do pecado e da morte eterna. A criança, ao ser apresentada no templo, era tomada nos braços e erguida diante do altar. VJ 13 4 Desse modo, era solenemente dedicada a Deus. E logo que era devolvida à mãe, seu nome era registrado em um rolo, ou livro, que continha o nome de todos os primogênitos de Israel. Assim também todos os que são salvos pelo sangue de Cristo terão seu nome escrito no livro da vida. Reconhecendo o prometido VJ 13 5 José e Maria trouxeram Jesus ao sacerdote conforme requeria a lei. Todos os dias, pais e mães traziam seus filhos e o sacerdote nada notou de diferente em José e Maria dos outros que vinham dedicar seus primogênitos. Para ele, eram simplesmente gente operária. VJ 13 6 Na criança viu apenas um frágil bebê. Ele não podia imaginar que tinha nos braços o Salvador do mundo, o Sumo Sacerdote do templo celestial. Contudo, ele poderia ter sabido, pois se tivesse sido obediente à Palavra de Deus, o Senhor o teria revelado. VJ 13 7 Naquela mesma hora, estavam no templo dois servos fiéis de Deus: Simeão e Ana. Ambos haviam dedicado toda a vida ao serviço do Senhor, que lhes revelou coisas que não podiam ser reveladas aos orgulhosos e egoístas sacerdotes. VJ 13 8 A Simeão deu a promessa de que não morreria sem ver o Salvador. Assim que viu Jesus no templo, ele soube que aquela criança era o Messias prometido. VJ 13 9 Uma luz suave e divina iluminava o rosto de Jesus e, tomando-o nos braços, Simeão louvou a Deus dizendo: VJ 13 10 "Agora, Senhor, podes despedir em paz o Teu servo, segundo a Tua palavra; porque os meus olhos já viram a Tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do Teu povo de Israel." Lucas 2:29-32. VJ 13 11 Ana, uma profetisa, "chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém". Lucas 2:38. VJ 13 12 É desse modo que Deus escolhe pessoas humildes para serem Suas testemunhas. Com freqüência, aqueles a quem o mundo honra são passados por alto. Muitos são como os líderes e sacerdotes judeus. VJ 13 13 Muitos há que estão prontos para servir e honrar a si mesmos, mas pouco se preocupam em honrar e servir a Deus. Por isso Ele não pode escolhê-los para contar aos outros sobre Seu amor e misericórdia. O príncipe da paz VJ 13 14 Maria, mãe de Jesus, meditava em silêncio a respeito da importante profecia de Simeão. Ao olhar o menino em seus braços lembrou-se do que os pastores de Belém haviam dito e seu coração transbordou de gratidão e viva esperança. VJ 13 15 As palavras de Simeão trouxeram-lhe à lembrança a profecia de Isaías. Sabia que aquelas maravilhosas palavras referiam-se a Jesus: VJ 13 16 "O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz." Isaías 9:2. VJ 13 17 "Porque um Menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." Isaías 9:6. ------------------------Capítulo 2 -- A visita dos magos VJ 15 1 Era desejo de Deus que Seu povo soubesse a respeito da vinda de Seu Filho ao mundo. Os sacerdotes deviam ter ensinado o povo a esperar o Salvador, porém eles próprios não sabiam sobre a vinda do Messias. VJ 15 2 Por isso, Deus enviou Seus anjos para anunciar aos pastores que Cristo havia nascido e onde eles poderiam encontrá-Lo. VJ 15 3 Assim, quando Jesus foi apresentado no templo, havia ali pessoas que O receberam como o Salvador. Deus preservara a vida de Simeão e Ana para que tivessem o feliz privilégio de testemunhar que Jesus era o Messias prometido. VJ 15 4 Deus desejava que não só os judeus, mas também outros povos soubessem que o Messias havia chegado. Em um distante país, no Oriente, habitavam homens sábios que haviam estudado as profecias sobre o Messias e acreditavam que o tempo de Sua vinda era chegado. VJ 15 5 Os judeus chamavam esses homens de pagãos, todavia, eles não eram idólatras. Eram pessoas honestas que desejavam conhecer a verdade e fazer a vontade de Deus. VJ 16 1 Deus vê o coração, por isso sabia que esses homens eram confiáveis. Estavam em melhores condições de receber a luz do Céu do que os sacerdotes judeus, cheios de orgulho e egoísmo. VJ 16 2 Esses sábios eram filósofos. Haviam estudado as obras de Deus na natureza e através delas aprenderam a amá-Lo. Estudavam os astros e conheciam-lhes os movimentos. Apreciavam observar os corpos celestes em sua marcha noturna, e se descobrissem alguma estrela nova considerariam isso como um grande acontecimento. Uma estrela de anjos VJ 16 3 Naquela noite, quando os anjos vieram aos pastores de Belém, os magos notaram uma luz estranha no céu. Era a glória que circundava aquele grupo de anjos. Quando a luz se dissipou, viram no céu o que parecia ser uma nova estrela. Naquele momento, lembraram-se da profecia que diz: "Uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro." Números 24:17. Seria esse o sinal do Messias prometido? Decidiram acompanhá-la e ver aonde ela os levaria. A estrela guiou-os até a Judéia. Porém, quando se aproximaram de Jerusalém, sua luz tornou-se tão frágil que não puderam mais segui-la. VJ 16 4 Supondo que os judeus pudessem indicar-lhes o caminho até o Salvador, os magos entraram em Jerusalém e perguntaram: VJ 16 5 "Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a Sua estrela no Oriente e viemos para adorá-Lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta." Mateus 2:2-5. VJ 16 6 Herodes não gostou de ouvir falar de um rei que um dia poderia tomar o seu trono. Então perguntou aos próprios magos quando viram a estrela pela primeira vez. E ele os enviou a Belém, dizendo: VJ 16 7 "Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do Menino; e, quando O tiverdes encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-Lo. Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o Menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se, O adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-Lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra." Mateus 2:8-11. VJ 16 8 Os magos trouxeram ao Salvador as coisas mais preciosas que possuíam. Nisto nos deram exemplo. Muitos oferecem presentes aos seus amigos terrestres, mas nada têm para dar ao Amigo celestial que lhes concede tantas bênçãos. Não devíamos agir assim. Devemos oferecer a Cristo o melhor de tudo o que temos -- nosso tempo, nosso dinheiro, nosso amor. VJ 16 9 Estamos Lhe ofertando presentes quando damos para confortar os pobres e ensinamos às pessoas a respeito do Salvador. Ajudamos assim a salvar aqueles por quem Ele morreu e tais ofertas Deus abençoa. Fuga para o Egito VJ 17 1 Herodes não havia sido sincero quando disse que queria ir para adorar Jesus. Temia que o Salvador crescesse e se tornasse rei, arrebatando-lhe o trono. Desejava encontrar a criança para matá-la. Os magos preparavam-se para voltar e contar a Herodes. Mas o anjo do Senhor apareceu em sonho, ordenando-lhes que voltassem ao seu país por outro caminho. VJ 17 2 "Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que Eu te avise; porque Herodes há de procurar o Menino para O matar." Mateus 2:13. VJ 17 3 José não esperou amanhecer; levantou-se no mesmo instante, tomou Maria e o menino e partiu, naquela noite, para uma longa viagem. VJ 17 4 Os magos deram valiosos presentes a Jesus, e assim Deus proveu os meios para as despesas da viagem e sua estada no Egito, até o retorno à sua própria terra. VJ 17 5 Herodes irou-se quando percebeu que os magos haviam tomado outro caminho para voltar ao seu país. Ele sabia o que Deus havia dito, através de Seu profeta, a respeito da vinda de Cristo. VJ 17 6 Sabia como a estrela havia sido enviada para guiar os magos. Mesmo assim, estava decidido a matar Jesus. Em sua ira, "mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo". Mateus 2:16. VJ 17 7 Estranho era que um homem se pusesse a lutar contra Deus! Como deve ter sido pavorosa a cena da matança de crianças inocentes! Herodes havia praticado muitos atos cruéis, mas sua vida ímpia chegaria logo ao fim. Morreu de modo terrível. VJ 17 8 José e Maria permaneceram no Egito até a morte de Herodes. Então o anjo apareceu a José e lhe disse: "Dispõe-te, toma o Menino e Sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do Menino." Mateus 2:20. VJ 17 9 José esperava estabelecer residência em Belém, onde Jesus havia nascido, mas ao se aproximar da Judéia, soube que o filho de Herodes reinava no lugar de seu pai. VJ 17 10 José temeu ao receber a notícia e não sabia o que fazer. Então Deus enviou um anjo para instruí-lo. Seguindo a orientação do anjo, José retornou para o seu antigo lar em Nazaré. ------------------------Capítulo 3 -- A infância de Jesus VJ 19 1 Jesus passou a infância em uma aldeia nas montanhas. Como Filho de Deus, poderia ter escolhido qualquer lugar na Terra como morada. VJ 19 2 Qualquer lugar seria honrado com Sua presença. Mas Ele não escolheu as mansões dos ricos ou os palácios dos reis. Antes escolheu viver entre os pobres em Nazaré. VJ 19 3 Jesus quer que os pobres saibam que Ele compreende suas provações. Sofreu tudo o que eles têm de sofrer. Por isso, simpatiza com eles e pode ajudá-los. VJ 19 4 A respeito dEle, nos anos de Sua infância, a Bíblia diz: "Crescia o menino e Se fortalecia, enchendo-Se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele. E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens." Lucas 2:40, 52. VJ 20 1 Sua mente era brilhante e ativa. Era rápido na percepção e Sua capacidade de reflexão e sabedoria estavam além de sua idade. Embora seus modos fossem simples e infantis, crescia em inteligência e estatura como as outras crianças. VJ 20 2 Mas Jesus não era semelhante às outras crianças em tudo. Ele sempre demonstrava um espírito cordial e generoso. Suas mãos laboriosas estavam sempre prontas a servir os outros. Era paciente e honesto. VJ 20 3 Firme como uma rocha em questão de princípios, jamais deixou de ser gentil e cortês para com todos que O cercavam. Em casa e onde quer que pudesse estar, era como a luz do sol. VJ 20 4 Era atencioso e prestativo com os mais idosos e pobres, e mostrava bondade até com os animais. Cuidava com carinho de um pássaro ferido e cada ser vivo sentia-se mais feliz em Sua presença. Educação equilibrada VJ 20 5 Nos dias de Cristo, os judeus prezavam muito a educação de seus filhos. Suas escolas eram anexas às sinagogas ou casas de culto e os professores eram chamados de rabis, homens tidos como cultos e preparados para o ensino. VJ 20 6 Jesus não freqüentava essas escolas, pois muitas coisas ensinadas não eram verdadeiras. Em vez da Palavra de Deus, os preceitos dos homens eram estudados e, com freqüência, tais ensinos eram contrários à Palavra que Deus havia ensinado através de Seus profetas. VJ 20 7 O próprio Deus, por meio do Espírito Santo, instruiu Maria na educação de seu filho. Maria ensinava a Jesus as Sagradas Escrituras e Ele aprendeu a ler e a estudar por Si mesmo. VJ 20 8 Jesus também apreciava estudar as maravilhas da Criação de Deus, na Terra e no céu. No livro da natureza, Ele aprendia sobre as plantas e animais, sobre o Sol e as estrelas. VJ 20 9 Dia após dia, Ele os observava e tentava extrair lições deles a fim de compreender a razão de todas as coisas. VJ 20 10 Anjos santos O acompanhavam e O ajudavam a aprender essas coisas ligada a Deus. Assim, Ele crescia em estatura e força, e crescia também em conhecimento e sabedoria. VJ 20 11 Toda criança pode adquirir conhecimento assim como Jesus. Deveríamos gastar tempo em aprender apenas o que é verdadeiro. Falsidade e mentiras não nos farão bem. VJ 20 12 Somente a verdade tem valor e isso podemos aprender na Palavra de Deus e em Suas obras. Quando estudamos essas coisas, os anjos nos ajudam a compreendê-las. VJ 20 13 Poderemos ver a sabedoria e bondade de nosso Pai celestial. Nosso intelecto se fortalecerá e nosso coração se tornará puro, e seremos mais semelhantes a Cristo. O Cordeiro de Deus VJ 21 1 A cada ano, José e Maria viajavam a Jerusalém para as festividades da Páscoa. Quando Jesus tinha doze anos de idade, eles O levaram consigo. VJ 21 2 Era uma jornada agradável. As pessoas iam a pé ou em lombo de bois ou jumentos, gastando alguns dias na viagem. A distância entre Nazaré e Jerusalém é cerca de 100 quilômetros. De todas as partes e até mesmo de outros países, vinham pessoas para a festa e os que moravam na mesma região seguiam em caravanas. VJ 21 3 A festa era celebrada no fim de Março ou começo de Abril. Era primavera na Palestina e toda a terra ficava coberta de flores e alegre com a presença dos pássaros. VJ 21 4 A caminho, os pais contavam aos filhos as maravilhas que Deus havia operado em favor de Israel no passado e, com freqüência, cantavam os lindos salmos de Davi. VJ 21 5 Nos dias de Cristo, as pessoas eram frias e formais em sua dedicação a Deus. Pensavam mais em sua satisfação própria do que na bondade de Deus para com eles. VJ 21 6 Todavia, não era assim com Jesus. Ele gostava de meditar a respeito de Deus. Quando chegou ao templo, observou a atividade dos sacerdotes. Inclinou-Se com os adoradores para orar e Sua voz uniu-se à deles em cânticos de louvor. VJ 21 7 A cada tarde e manhã, um cordeiro era oferecido sobre o altar. O ato representava o sacrifício do Salvador. Enquanto os olhos do menino Jesus observavam a vítima inocente, o Espírito Santo fazia-O compreender o significado daquela morte. Sabia que Ele próprio, como o Cordeiro de Deus, devia morrer pelos pecados dos homens. VJ 21 8 Com tais pensamentos em mente, Jesus preferia ficar a sós. Desse modo, não permaneceu com Seus pais no templo; e, quando regressaram, não estava com eles. Menino brilhante VJ 21 9 Em uma sala anexa ao templo havia uma escola dirigida pelos rabinos e foi para aquele lugar que Jesus Se dirigiu depois de algum tempo. Assentou-Se com outras crianças de Sua idade aos pés dos grandes mestres e ouviu suas palavras. VJ 21 10 Os judeus tinham muitas idéias erradas acerca do Messias. Jesus sabia disso, mas não contradizia os homens cultos. Fazia perguntas a respeito do que os profetas haviam escrito, como alguém que desejava aprender. VJ 21 11 O capítulo 53 de Isaías fala a respeito da morte do Salvador. Jesus leu esse texto e perguntou aos rabis acerca do seu significado. VJ 22 1 Os mestres não puderam responder. Começaram, então, a fazer perguntas a Jesus e se surpreenderam com o conhecimento que Ele tinha das Escrituras. VJ 22 2 Viram que Sua compreensão da Bíblia era muito melhor do que a deles. Perceberam que seus ensinos estavam errados, mas não estavam dispostos a acreditar em algo diferente. VJ 22 3 Jesus portava-Se com tanta modéstia e cortesia que não puderam contrariá-Lo. Queriam mantê-Lo como aluno para ensiná-Lo a explicar a Bíblia como eles faziam. VJ 22 4 Quando José e Maria deixaram Jerusalém para retornar ao lar, não perceberam a ausência de Jesus. Pensaram que Ele estivesse na companhia de algum de seus amigos. VJ 22 5 Mas ao pararem para acampar à noite, sentiram falta da Sua cooperação. Procuraram por Ele entre os grupos, mas em vão. VJ 22 6 José e Maria sentiram um grande temor. Lembraram-se de que Herodes havia tentado matar Jesus em Sua infância e temeram que algum mal Lhe tivesse acontecido. VJ 22 7 Com o coração entristecido, voltaram a Jerusalém, mas não puderam achar o menino, senão depois de três dias. VJ 22 8 Grande foi a alegria ao reencontrá-Lo, embora Maria O repreendesse por tê-los deixado. Ela disse: VJ 22 9 "Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à Tua procura. Ele lhes respondeu: Por que Me procuráveis? Não sabíeis que Me cumpria estar na casa de Meu Pai?" Lucas 2:48, 49. VJ 22 10 Ao falar essas palavras, Jesus apontou para o céu. Em Seu rosto havia uma luz que os deixou admirados. Jesus sabia que era o Filho de Deus e Ele estivera fazendo o trabalho para o qual Deus O enviara ao mundo. VJ 22 11 Maria jamais se esqueceu dessas palavras. Nos anos seguintes, ela compreendeu melhor seu maravilhoso significado. A melhor companhia VJ 22 12 José e Maria amavam a Jesus, embora o fato de tê-Lo perdido demonstrasse certa negligência da parte deles. Haviam-se esquecido da obra que Deus lhes havia confiado. Bastou-lhes um dia de negligência para perderem Jesus. VJ 22 13 Do mesmo modo hoje, muitos perdem a companhia de Jesus. Quando não apreciamos pensar nEle ou orar a Ele, quando nos ocupamos em conversas fúteis, desagradáveis ou más, separamo-nos de Cristo. Sem Ele, sentimo-nos tristes e solitários. VJ 22 14 Mas se realmente desejamos Sua companhia, Ele sempre estará conosco. O Salvador ama estar com todos os que apreciam Sua presença. Ele iluminará o lar mais pobre e alegrará o coração mais triste. Uma vida exemplar VJ 22 15 Embora soubesse que era o Filho de Deus, Jesus retornou a Nazaré, em companhia de José e Maria. Até trinta anos de idade, "era-lhes submisso". Lucas 2:51. VJ 22 16 Aquele que havia sido Comandante do Céu, tornara-Se, na Terra, um filho obediente. As grandes coisas trazidas à Sua mente pelas cerimônias do templo ficavam reservadas em Seu coração, todavia, esperou até o tempo determinado para realizar a obra que Deus Lhe havia designado. VJ 22 17 Jesus viveu no lar de um operário, um homem pobre. Com fidelidade e alegria cumpria Sua parte para ajudar no sustento da família. Quando obteve idade suficiente, aprendeu o ofício e passou a trabalhar na carpintaria com José. VJ 22 18 Vestido com a roupa rústica dos operários, passava pelas ruas do vilarejo, indo e vindo do trabalho. Jamais usou Seu poder divino para tornar a vida mais fácil para Si. VJ 22 19 Enquanto Jesus trabalhava, durante a infância e juventude, Seu corpo e mente se tornaram vigorosos. Ele empregava todas as Suas faculdades de modo a conservá-las saudáveis para realizar o melhor trabalho possível. VJ 23 1 Tudo o que fazia era bem feito. Desejava ser perfeito, até mesmo no manejo das ferramentas. Por Seu exemplo, nos ensinou que devemos ser laboriosos e realizar nossas tarefas cuidadosamente; que um trabalho realizado desse modo é honroso. Todos devem ocupar-se de algo que seja útil para si mesmos e para os outros. VJ 23 2 Deus nos deu o trabalho como uma bênção e Ele se agrada com as crianças que desempenham sua parte nos deveres domésticos, aliviando o fardo do pai e da mãe. Tais crianças, ao crescer e deixar a família, serão uma bênção para a sociedade. VJ 23 3 Os jovens que, por princípio, procuram agradar a Deus realizando o trabalho corretamente serão úteis ao mundo. Ao ser fiéis em posições humildes, estão se preparando para ocupar posições mais elevadas. ------------------------Capítulo 4 -- Conflitos da vida diária VJ 25 1 Os mestres judeus haviam estabelecido muitas regras para o povo e exigiam deles a prática de muitas coisas que Deus não havia ordenado. Até mesmo as crianças tinham que aprender a obedecer a tais regras. Jesus, porém, não procurou aprender o que os rabis ensinavam. Ele cuidava em não falar desrespeitosamente desses professores, mas estudava as Escrituras e obedecia às leis de Deus. VJ 25 2 Com freqüência era repreendido por não proceder como os outros meninos. Então mostrava pela Bíblia o que era correto. VJ 25 3 Jesus Se empenhava continuamente em tornar os outros felizes. Como era cortês e bondoso, os rabinos esperavam que um dia Ele Se sujeitasse aos seus ensinos. Porém, não foi assim. Quando pressionado a obedecer às suas regras, Ele mostrava o que a Bíblia ensinava. Tudo o que ela dissesse, Ele estaria disposto a obedecer. VJ 25 4 Tal atitude irritava os mestres. Sabiam que suas regras eram contrárias à Bíblia, todavia, exigiam que Jesus obedecesse a elas. VJ 26 1 Como não o fizesse, foram se queixar a Seus pais. José e Maria achavam que os rabinos eram pessoas boas e Jesus sofreu pressões, as quais foram difíceis de suportar. VJ 26 2 Os irmãos de Jesus tomaram partido dos rabinos. As palavras desses mestres, diziam eles, devem ser acatadas como a Palavra de Deus. E reprovavam Jesus por colocar-Se acima dos líderes do povo. VJ 26 3 Os rabinos julgavam-se superiores aos demais homens e não se associavam com pessoas comuns. Desprezavam os pobres e os ignorantes. Até mesmo os doentes e sofredores eram deixados sem esperança e conforto. A bondade em pessoa VJ 26 4 Jesus mostrava um amorável interesse por todos. Tentava ajudar a qualquer pessoa que encontrava. Não tinha muito dinheiro para dar, mas freqüentemente deixava de Se alimentar para poder ajudar os outros. VJ 26 5 Quando Seus irmãos falavam duramente com os pobres e desamparados, Jesus ia até eles e lhes dirigia palavras de bondade e encorajamento. Aos sedentos e famintos, sempre lhes trazia um copo de água fria e, com freqüência, repartia com eles Seu próprio alimento. Tudo isso desagradava Seus irmãos. Eles O ameaçavam e tentavam aterrorizá-Lo, mas Jesus não abandonava Sua posição firme, fazendo o que Deus havia ordenado. VJ 26 6 Muitas foram as provações e tentações de Jesus. Satanás vivia em Seu encalço, procurando vencê-Lo. VJ 26 7 Se Jesus praticasse um único ato errado, ou se dissesse uma palavra impaciente, não poderia ter sido nosso Salvador, e então o mundo inteiro se perderia. Satanás sabia disso, e era por esse motivo que insistentemente tentava levar Jesus a pecar. VJ 26 8 O Salvador era guardado constantemente por anjos celestiais, porém Sua vida foi uma luta constante contra os poderes das trevas. Nenhum de nós jamais enfrentará tentações tão pesadas como as que sofreu. VJ 26 9 Mas a cada tentação, respondia: "Está escrito." Mateus 4:4. Não reprovava as más ações de Seus irmãos, mas lhes mostrava o que Deus havia dito. VJ 26 10 Nazaré era uma aldeia ímpia, e a garotada tentava levar Jesus aos seus maus caminhos. Ele era inteligente e alegre, por isso apreciavam Sua companhia. VJ 26 11 Mas Seus princípios piedosos provocavam-nos à ira. Freqüentemente, ao Se recusar a participar de algum ato proibido, Ele era chamado de covarde. Várias vezes zombaram dEle por Se mostrar zeloso até nas pequenas coisas. A tudo respondia: "Está escrito." Mateus 4:4. "O temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento." Jó 28:28. Amar o mal é amar a morte porque "o salário do pecado é a morte". Romanos 6:23. VJ 28 1 Jesus não reivindicava Seus direitos. Quando maltratado, suportava com paciência. Por ser tão disposto e resignado, não raro, tornavam Seu trabalho desnecessariamente mais difícil. Mesmo assim, não desanimava, porque sabia que podia contar com a admiração do Pai celestial. Jovem de oração VJ 28 2 Passava as horas mais felizes quando estava a sós com Deus em meio à natureza. Ao terminar o trabalho, apreciava ir aos campos para meditar nos vales verdejantes ou para orar a Deus nas montanhas, ou ainda, em meio às árvores da floresta. VJ 28 3 Ouvia o gorjeio dos pássaros, cantando ao seu Criador e Sua voz se unia à deles em alegres cânticos de louvor e agradecimento. VJ 28 4 Saudava cada manhã cantando hinos de louvor. Ao amanhecer estava sempre em algum lugar sossegado, meditando em Deus, orando ou lendo a Bíblia. Depois dessa hora tranqüila, voltava para casa e assumia Seus deveres diários de forma exemplar. Onde quer que estivesse, Sua presença parecia trazer os anjos para perto. Todas as pessoas sentiam a influência de Sua vida pura e santa. VJ 28 5 Íntegro e puro, caminhava entre os negligentes, os brutos, os intratáveis, entre os coletores de impostos desonestos, entre os pródigos perdulários, entre os samaritanos injustos, entre os soldados pagãos, entre os camponeses rudes. VJ 28 6 Distribuía palavras de simpatia aqui e ali. Quando encontrava alguém curvado sob os fardos da vida, aliviava-lhes o peso, repetindo as lições que havia aprendido da natureza, do amor, da simpatia e da bondade de Deus. VJ 28 7 Ensinava-lhes a olhar para si mesmos como portadores de preciosos talentos que, se corretamente usados, lhes dariam riquezas eternas. Por Seu próprio exemplo, ensinou que cada minuto é importante e deve ser empregado em alguma atividade útil. VJ 28 8 Jamais considerou o ser humano de pouco valor, ao contrário, sempre tentou encorajar os mais rudes e pouco promissores. Dizia-lhes que Deus os amava como Seus filhos e que podiam se tornar semelhantes a Ele no caráter. VJ 28 9 Assim, desde os mais tenros anos da infância, Jesus trabalhou em favor do próximo. Ninguém podia fazê-Lo desistir desse trabalho, nem os preparados doutores, nem Seus próprios irmãos. Com um motivo sincero, cumpriu o propósito de Sua vida, pois Ele devia ser a luz do mundo. ------------------------Capítulo 5 -- Buscando força do alto VJ 31 1 Quando chegou o tempo de iniciar Seu ministério público, o primeiro ato de Jesus foi ir até o rio Jordão e ser batizado por João Batista. VJ 31 2 João havia sido enviado para preparar o caminho do Salvador. Ele havia pregado no deserto dizendo: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Marcos 1:15. VJ 31 3 Multidões afluíam para ouvi-lo. Muitos se convenciam de seus pecados e eram batizados por ele, no Jordão. VJ 31 4 O Senhor havia revelado a João que algum dia o Messias viria a ele e pediria para ser batizado. Havia também a promessa de que um sinal lhe seria dado, de modo que ele pudesse saber quem era. VJ 31 5 Quando Jesus chegou, João viu em Seu rosto os sinais de uma vida santa, de modo que se recusou a batizá-Lo dizendo: "Eu é que preciso ser batizado por Ti, e Tu vens a mim? Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça." Mateus 3:14, 15. VJ 32 1 Ao pronunciar essas palavras, Sua face Se iluminou com a mesma luz celestial que Simeão havia contemplado. E então, João conduziu o Salvador às águas do belo Jordão e ali O batizou diante de todas as pessoas. VJ 32 2 Jesus não foi batizado para mostrar arrependimento por Seus próprios pecados, pois jamais pecara. Assim fez, para dar-nos o exemplo. VJ 32 3 Quando saiu da água, ajoelhou à margem e orou. Então o céu se abriu e raios de glória refulgiram "e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre Ele". Mateus 3:16. VJ 32 4 As feições e todo o Seu corpo brilhavam com a luz da glória de Deus. E do Céu, ouviu-se uma voz que dizia: VJ 32 5 "Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo." Mateus 3:17. VJ 32 6 A glória que repousou em Cristo é o penhor do amor de Deus por nós. O Salvador veio como nosso exemplo e tão certamente como Deus ouviu Sua oração, também ouvirá a nossa. VJ 32 7 Os mais necessitados, os mais pecadores, os mais desprezados podem ter acesso ao Pai. Quando vamos a Ele em nome de Jesus, a mesma voz que falou a Cristo, fala a nós dizendo: "Este é o Meu filho amado, em quem Me comprazo." Mateus 3:17. A tentação VJ 32 8 Após Seu batismo, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado por Satanás. Ao dirigir-Se para o deserto, Cristo foi conduzido pelo Espírito de Deus. Ele não convidava a tentação. Queria estar a sós a fim de meditar sobre Sua obra e missão. VJ 32 9 Através do jejum e da oração, devia Se preparar para trilhar a senda cruel que Lhe estava destinada. Como Satanás sabia onde o Salvador podia ser encontrado, para lá se dirigiu com o intuito de tentá-Lo. VJ 32 10 Quando Cristo saiu das águas do Jordão, Seu rosto brilhava com a glória de Deus. Mas, depois de ter entrado no deserto, essa glória desvaneceu-se. VJ 32 11 Trazia sobre Si os pecados do mundo e em Seu rosto viam-se marcas de tristeza e angústia que homem algum jamais sentira. Ele sofria pelos pecadores. VJ 32 12 No Éden, Adão e Eva haviam desobedecido a Deus ao comer o fruto proibido. Seu pecado e desobediência trouxeram sofrimento e morte para o mundo. VJ 32 13 Cristo veio dar-nos um exemplo de obediência. No deserto, depois de jejuar quarenta dias, não quis contrariar a vontade de Deus, mesmo para conseguir alimento. VJ 32 14 Uma das primeiras tentações que venceram nossos primeiros pais foi a indulgência no apetite. Através daquele longo jejum, Cristo deveria mostrar que o apetite pode ser subjugado. VJ 32 15 Satanás tenta o homem à indulgência no apetite porque isso enfraquece o corpo e anuvia a mente. Desse modo, ele sabe que pode mais facilmente derrotá-lo ou destruí-lo. VJ 32 16 Porém, o exemplo de Cristo nos ensina que cada desejo incorreto deve ser vencido. Não devemos ser governados pelo apetite, mas sim governá-lo. Uma batalha cruel VJ 32 17 Quando Satanás apareceu a Cristo pela primeira vez, ele tinha a aparência de um anjo de luz. Afirmava ser um mensageiro do Céu. VJ 32 18 Disse-Lhe que não era a vontade do Pai que Ele passasse por tais sofrimentos; Ele deveria apenas demonstrar que estava disposto a sofrer. No momento em que Jesus estava lutando com os mais duros padecimentos provocados pela fome, Satanás Lhe disse: VJ 32 19 "Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." Mateus 4:3. VJ 32 20 Como o Salvador viera para viver como nosso exemplo, deveria suportar o sofrimento como nós precisamos suportá-lo. Não deveria operar nenhum milagre para beneficiar a Si mesmo. Seus milagres deveriam ser somente em favor dos outros. A essa intimação de Satanás, Jesus respondeu: VJ 32 21 "Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus." Mateus 4:4. VJ 32 22 Desse modo, Ele mostrou que obedecer à Palavra de Deus é mais importante que conseguir o alimento material. Aqueles que obedecem aos preceitos de Deus têm a promessa de ter todas as suas necessidades supridas na vida presente e também na vida futura. VJ 32 23 Satanás não conseguiu derrotar Cristo na primeira grande tentação; ele então conduziu Jesus ao pináculo do templo de Jerusalém, e disse: VJ 33 1 "Se és Filho de Deus, atira-Te abaixo, porque está escrito: Aos Seus anjos ordenará a Teu respeito; ... eles Te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." Mateus 4:6. VJ 33 2 Aqui, Satanás seguiu o exemplo de Cristo citando as Escrituras. Mas a promessa não é para aqueles que voluntariamente se aventuram no perigo. Deus não havia ordenado que Jesus Se atirasse do pináculo e Ele não o faria para satisfazer a Satanás. Por isso replicou: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus." Mateus 4:7. VJ 33 3 Devemos confiar no cuidado de nosso Pai celestial, mas não devemos ir aonde Ele não nos ordena. Não devemos fazer o que Ele proíbe. Porque Deus é misericordioso e pronto a perdoar, muitos entendem que é seguro desobedecer-Lhe, mas isso é presunção. Deus perdoará todos os que buscam perdão e se afastam do pecado. Porém, não pode abençoar os que não Lhe obedecem. VJ 33 4 Satanás então apareceu como realmente era -- o príncipe dos poderes das trevas. Levou Jesus ao cume de uma montanha elevada e mostrou-Lhe todos os reinos do mundo. VJ 33 5 A luz do Sol iluminava esplêndidas cidades, palácios de mármore, campos frutíferos e vinhedos. Satanás disse: VJ 33 6 "Tudo isto Te darei se, prostrado, me adorares." Mateus 4:9. VJ 35 1 Por um momento Jesus contemplou a cena e então voltou-lhe as costas. Satanás havia apresentado o que o mundo tem de mais atraente, mas o olhar do Salvador captou além da beleza exterior. VJ 35 2 Ele viu o mundo em sua miséria e pecado, afastado de Deus. Toda essa miséria era resultado de o homem ter-se afastado do Criador para cultuar Satanás. VJ 35 3 O coração de Jesus desejava ardentemente resgatar o que se havia perdido. Desejava devolver ao mundo mais do que a beleza edênica. Desejava colocar o homem em uma posição de vantagem com Deus. Vencendo por amor VJ 35 4 Por amor aos pecadores, Ele resistia à tentação. Deveria ser um vencedor para que eles pudessem vencer, para que pudessem ser iguais aos anjos e dignos de ser reconhecidos como filhos de Deus. A essa oferta, Jesus respondeu: VJ 35 5 "Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto." Mateus 4:10. VJ 35 6 Essa grande tentação compreendia o amor do mundo, a ambição do poder, a soberba da vida e tudo o que possa afastar o homem de adorar a Deus. Satanás ofereceu a Cristo o mundo e suas riquezas se Ele homenageasse os princípios do mal. Do mesmo modo, ele nos apresenta as vantagens que podem resultar da prática do mal. VJ 35 7 Ele segreda aos nossos ouvidos: "Para ser bem-sucedido neste mundo, você deve me servir. Não seja tão escrupuloso por causa da verdade ou da honestidade. Obedeça ao meu conselho e eu lhe darei honras, riquezas e felicidade." VJ 35 8 Dando ouvidos a tais conselhos, estamos adorando a Satanás ao invés de Deus e isso nos trará miséria e ruína. VJ 35 9 Cristo nos mostrou o que devemos fazer quando tentados. Quando Ele disse a Satanás: "Retira-te" (Mateus 4:10), o tentador não pôde resistir a essa ordem. Foi obrigado a se afastar. VJ 35 10 Contorcendo-se de ódio, o chefe rebelde deixou a presença do Redentor do mundo. VJ 35 11 Por hora, o combate havia terminado. A vitória de Cristo fora tão completa quanto a derrota de Adão. VJ 35 12 Do mesmo modo, devemos resistir e vencer a Satanás. O Senhor nos diz: "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós." Tiago 4:7, 8. ------------------------Capítulo 6 -- Milagres de Cristo VJ 37 1 Do deserto, Cristo retornou ao Jordão onde João Batista pregava. Naquele tempo, homens foram enviados pelos líderes de Jerusalém para questioná-lo sobre a autoridade com que ensinava e batizava o povo. VJ 37 2 Perguntaram-lhe se ele era o Messias ou Elias, ou "aquele profeta", referindo-se a Moisés. A todas essas perguntas, João respondia: "Não sou." João 1:21. Então disseram: "Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram." João 1:22. VJ 37 3 João respondeu: "Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías." João 1:23. VJ 37 4 Nos tempos antigos, quando um rei viajava de uma região para outra em seu país, os trabalhadores eram enviados adiante de sua comitiva para abrir as estradas. Deviam cortar as árvores, retirar as pedras e tapar os buracos, de modo que o caminho pudesse estar preparado para o rei. VJ 38 1 Assim, quando Jesus, o rei da corte celestial, estava para vir, João Batista foi enviado a preparar o caminho, anunciando-O ao povo e convidando ao arrependimento de seus pecados. VJ 38 2 Enquanto João respondia aos mensageiros de Jerusalém, ele viu Jesus em pé, à margem do rio. Com o rosto radiante, apontou para Ele e disse: VJ 38 3 "No meio de vós, está quem vós não conheceis, O qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-Lhe as correias das sandálias." João 1:26, 27. VJ 38 4 O povo ficou grandemente comovido. O Messias estava entre eles! Olhavam ao redor ansiosamente para encontrar Aquele de quem João falava. Mas Jesus Se misturou à multidão e não puderam vê-Lo. VJ 38 5 No dia seguinte, João viu Jesus outra vez e, apontando para Ele, exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" João 1:29. Então João falou a respeito do sinal que vira por ocasião do batismo de Cristo: "Vi o Espírito descer do Céu como pomba e pousar sobre Ele. Pois eu, de fato, vi e tenho testificado", acrescentou, "que Ele é o Filho de Deus." João 1:32, 34. VJ 38 6 Com temor e admiração os ouvintes olharam para Jesus. Então questionaram a si mesmos: É Este o Cristo? VJ 38 7 Perceberam que Jesus não ostentava nenhuma aparência de riqueza ou grandeza. Suas vestes eram modestas e simples, tais como o povo pobre usava. Em Seu rosto pálido e cansado havia algo que comovia os corações. VJ 38 8 Sua fisionomia mostrava dignidade e poder, Seu olhar e cada traço do semblante falavam da compaixão divina e de um amor inexprimível. VJ 38 9 Mas os mensageiros de Jerusalém não se sentiram atraídos pelo Salvador. João não dissera o que eles desejavam ouvir. Esperavam o Messias como um grande conquistador. Viram que essa não seria a missão de Jesus e, em seu desapontamento, afastaram-se dEle. VJ 38 10 No dia seguinte, novamente João se encontrou com Jesus e outra vez clamou: "Eis o Cordeiro de Deus!" João 1:36. Dois dos discípulos de João que se encontravam ali, imediatamente O seguiram. Ouviram os Seus ensinos e se tornaram discípulos. Um era André e o outro, João. VJ 38 11 André logo trouxe o seu irmão, Simão, a quem Jesus chamou de Pedro. No outro dia, a caminho da Galiléia, Cristo chamou outro discípulo, Filipe. Assim que Filipe conheceu o Salvador, trouxe-Lhe o amigo Natanael. VJ 38 12 Desse modo, começou a grande obra de Cristo na Terra. Chamou os discípulos um a um; e o primeiro trouxe seu irmão; o outro, seu amigo. Isso é o que cada seguidor de Cristo deve fazer. Assim que tenha conhecido Jesus, deve contar aos outros sobre o precioso amigo que encontrou. Esse é um trabalho que todos podem fazer, quer sejam jovens ou idosos. Milagre na festa VJ 38 13 Em Caná da Galiléia, Cristo com Seus discípulos compareceram a uma festa de casamento. Ali Seu maravilhoso poder foi manifestado para a felicidade de todos os participantes. VJ 38 14 Era costume, naquele país, usar vinho em tais ocasiões. Antes que a festa terminasse, o suprimento de vinho findou. Deixar acabar o vinho em uma festa era considerado falta de hospitalidade e um grande vexame. VJ 39 1 Cristo ficou sabendo o que ocorrera e pediu que os servos enchessem com água seis grandes talhas. Então disse: "Tirai agora e levai ao mestre-sala." João 2:8. VJ 39 2 Em vez da água, saiu vinho das talhas. Esse vinho era muito melhor do que aquele que havia sido servido antes, e havia o suficiente para todos. Depois de operar o milagre, Jesus deixou o local discretamente. Os convidados não perceberam Seu ato até que Ele houvesse desaparecido. VJ 39 3 O presente de Cristo naquela festa constituía um símbolo. A água representava o batismo, e o vinho simbolizava o Seu sangue que devia ser derramado em favor do mundo. VJ 39 4 O vinho que Jesus fez, na ocasião, não era fermentado. A bebida fermentada é a causa de embriaguez e de grandes males e Deus proibiu seu uso. Ele diz: "O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio." Provérbios 20:1. "Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco." Provérbios 23:32. VJ 39 5 O vinho usado na festa era o puro e suave suco de uva. Era o que o profeta Isaías chama de "o mosto" que se acha no "cacho de uva", e acerca do qual diz que "há bênção nele." Isaías 65:8. VJ 39 6 A presença de Cristo numa festa de casamento demonstrou que Ele aprovava a associação de pessoas em uma reunião agradável. Ele apreciava ver o povo feliz. Com freqüência visitava as pessoas nos lares, procurando fazê-los esquecer de seus problemas e preocupações, e pensar na bondade e amor de Deus. Onde quer que estivesse, Cristo sempre Se empenhava em dar assistência. Onde quer que houvesse um coração aberto para receber a mensagem divina, Ele revelava a verdade que conduzia à salvação. Água para o sedento VJ 40 1 Um dia, quando passava por Samaria, sentou-Se à beira de um poço para descansar. Quando uma mulher veio para retirar água, pediu-lhe que Lhe desse de beber. VJ 40 2 A mulher se surpreendeu, pois sabia quanto os judeus odiavam os samaritanos. Mas Cristo lhe disse que se ela quisesse, Ele lhe daria água viva. A essa declaração, ela se surpreendeu mais ainda. Então Jesus disse à mulher: VJ 40 3 "Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna." João 4:13, 14. VJ 40 4 A água viva simboliza o Espírito Santo. Como o viajante sedento necessita de água para beber, assim precisamos do Espírito de Deus em nosso coração. Aquele que beber dessa água jamais terá sede. VJ 40 5 O Espírito Santo traz o amor de Deus ao nosso coração. Ele satisfaz nossos anseios de modo que as riquezas, honras e prazeres do mundo não nos atraiam. Tal é a nossa alegria, que desejamos que os outros também a tenham. Em nós será como uma fonte de água que flui em bênçãos ao nosso redor. VJ 40 6 Todo aquele em quem habitar o Espírito de Deus viverá para sempre com Cristo em Seu reino. Sua recepção no coração, pela fé, é o começo da vida eterna. VJ 40 7 Cristo disse à mulher que ela poderia ter essa preciosa bênção se tão-somente Lhe pedisse. Do mesmo modo, Ele também a concederá. VJ 40 8 A samaritana havia transgredido os mandamentos de Deus e Cristo lhe mostrou que Ele conhecia os pecados de sua vida, mas também lhe mostrou que era seu amigo, que a amava e dela Se compadecia e que se ela renunciasse a seus pecados, Deus a receberia como filha. VJ 40 9 Que felicidade para ela ouvir palavras tão boas! Em sua euforia, correu para a cidade próxima e chamou as pessoas para que viessem ver Jesus. VJ 40 10 Assim, eles se achegaram ao poço e pediram a Jesus que ficasse com eles. Ali Ele permaneceu dois dias ensinando-lhes e muitos ouviram Suas palavras crendo nEle como seu Salvador. Enganados pela aparência VJ 41 1 Durante Seu ministério, Jesus visitou duas vezes Seu antigo lar em Nazaré. Em Sua primeira visita, foi à sinagoga em um sábado. VJ 41 2 Ali leu a profecia de Isaías sobre a obra do Messias -- como Ele devia pregar as boas-novas aos pobres, confortar os abatidos, dar visão aos cegos e curar os enfermos. VJ 41 3 Então disse às pessoas que tudo aquilo havia se cumprido naquele dia. Esse era o trabalho que Ele mesmo estava fazendo. VJ 41 4 Ao ouvir essas palavras, os ouvintes se encheram de alegria. Ficaram convencidos de que Jesus era o Salvador prometido. Seus corações foram tocados pelo entusiasmo e eles responderam com améns fervorosos e louvores a Deus. VJ 41 5 Então recordaram como Jesus havia vivido entre eles como um carpinteiro. Com freqüência, viam-No na oficina com José. E embora em toda a Sua vida houvesse praticado atos de bondade e misericórdia, eles não creram que Jesus era o Messias. VJ 41 6 Dando lugar a pensamentos como esses, abriram caminho para Satanás controlar sua mente e então se iraram contra o Salvador. Clamaram contra Ele e decidiram tirar-Lhe a vida. VJ 41 7 Empurraram-No para diante, dispostos a lançá-Lo de um penhasco. Mas os santos anjos estavam próximos para protegê-Lo. Passando despercebido pela multidão, desapareceu. VJ 41 8 Em Sua próxima visita a Nazaré, o povo não estava mais disposto a recebê-Lo. Afastou-Se dali para não mais retornar. VJ 41 9 Cristo trabalhou por aqueles que queriam Sua ajuda e em todas as regiões por onde passava, o povo se ajuntava ao Seu redor. Enquanto os curava e os ensinava, havia grande alegria. O Céu parecia ter baixado à Terra e eles se regozijavam na graça de um Salvador misericordioso. ------------------------Capítulo 7 -- Os ensinos de Cristo VJ 43 1 Entre os judeus, a religião se tornara uma simples observância de rituais. À medida que se afastavam do verdadeiro culto a Deus e perdiam o poder de Sua palavra, supriam o conteúdo espiritual com cerimônias e tradições inventadas por eles. VJ 43 2 Somente o sangue de Cristo pode purificar do pecado. Somente Seu poder pode livrar o homem de pecar. Mas os judeus dependiam das próprias obras e cerimônias da religião para obter a salvação. Por causa do zelo com que se dedicavam ao desempenho dos atos exteriores, julgavam-se justos e dignos de ocupar um lugar no reino de Deus. VJ 43 3 Suas esperanças se fixavam nas coisas seculares. Anelavam riquezas e poder que achavam ser o prêmio merecido de sua suposta piedade. VJ 43 4 Aguardavam o estabelecimento do reino do Messias na Terra e achavam que Ele haveria de dominar como um grande príncipe entre os homens. Esperavam receber valores e prestígio terrenos por ocasião de Sua vinda. VJ 45 1 Jesus sabia que suas esperanças seriam frustradas. Ele viera ensinar a eles algo muito melhor do que procuravam. VJ 45 2 Seu objetivo era restaurar o verdadeiro culto a Deus. Ele devia trazer a religião com pureza de coração, que se manifestaria em uma vida reta e em um caráter santo. O sermão da montanha VJ 45 3 Em Seu belo sermão da montanha, Jesus explicou o que Deus considera mais precioso e o que proporciona verdadeira felicidade. VJ 45 4 Os discípulos de Cristo haviam sido influenciados pelos ensinos dos rabinos e foi para esses discípulos que as primeiras lições de Cristo foram destinadas. Do mesmo modo, elas se destinam a nós, pois precisamos aprender as mesmas coisas. VJ 45 5 "Bem-aventurados os humildes de espírito", disse Cristo. Mateus 5:3. Os humildes de espírito são aqueles que reconhecem sua própria pecaminosidade e necessidade espiritual. Sabem que em si mesmos nada podem fazer de bom. Desejam receber auxílio de Deus e para eles é dada essa bênção. VJ 45 6 "Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos." Isaías 57:15. VJ 45 7 "Bem-aventurados os que choram." Mateus 5:4. Isso não significa murmurar ou viver em lamúrias, nem apresentar uma disposição amarga e um semblante mal-humorado, mas a bem-aventurança refere-se aos que se entristecem verdadeiramente por seus pecados e buscam o perdão de Deus. VJ 45 8 A todos esses Ele perdoará generosamente. O Senhor diz: VJ 45 9 "Tornarei o seu pranto em júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a sua tristeza." Jeremias 31:13. VJ 45 10 "Bem-aventurados os mansos." Mateus 5:5. Disse Jesus: "Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma." Mateus 11:29. Quando era maltratado, Jesus pagava o mal com o bem. Nisso, Ele nos deu o exemplo, para que agíssemos do mesmo modo. VJ 45 11 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça." Mateus 5:6. Justiça é a prática de ações corretas. É obediência à lei de Deus, pois nessa lei tais princípios estão arrolados. A Bíblia diz: "Todos os Teus mandamentos são justiça." Salmos 119:172. VJ 45 12 Por Seu próprio exemplo, Cristo nos ensinou a obedecer a tais preceitos. A justiça da lei é vista em Sua própria vida. Temos fome e sede de justiça quando desejamos ter pensamentos, palavras e ações semelhantes aos de Cristo. VJ 45 13 E podemos ser semelhantes a Ele se desejarmos. Podemos ter nossa vida como Sua vida e nossas ações em harmonia com a lei de Deus. O Espírito Santo trará o amor de Deus ao coração de modo que nos deleitaremos em cumprir Sua vontade. VJ 45 14 Deus está mais disposto a dar o Seu Espírito do que os pais em oferecer bons presentes aos filhos. Sua promessa é: "Pedi, e dar-se-vos-á." Lucas 11:9. Todos os "que têm fome e sede de justiça... serão fartos." Mateus 5:6. VJ 46 1 "Bem-aventurados os misericordiosos." Mateus 5:7. Ser misericordioso é tratar as pessoas melhor do que merecem. Assim Deus nos tem tratado. Ele tem prazer em atos de misericórdia. É compassivo para com os ingratos e maus. VJ 46 2 Do mesmo modo nos ensina a tratar os semelhantes: "Sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou." Efésios 4:32. VJ 46 3 "Bem-aventurados os limpos de coração." Mateus 5:8. Deus dá mais valor ao que somos do que àquilo que dizemos que somos. Ele não Se importa com nossa aparência exterior; o que deseja é que sejamos puros de coração, então todos os nossos atos e palavras serão justos. VJ 46 4 Davi orava: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro." Salmos 51:10. "As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na Tua presença, Senhor, Rocha minha e Redentor meu!" Salmos 19:14. Essa deve ser a nossa oração. VJ 46 5 "Bem-aventurados os pacificadores." Mateus 5:9. Aquele que tem o espírito manso e humilde de Cristo será um pacificador. Tal disposição não provoca discussões ou refuta com palavras ofensivas. Antes, torna o lar um lugar feliz e traz uma suave atmosfera de paz que envolve a todos. VJ 46 6 "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça." Mateus 5:10. Jesus sabia que por amor a Ele muitos de Seus discípulos seriam lançados na prisão e muitos seriam mortos, mas aconselhou-os a não se entristecer por isso. VJ 46 7 Nada pode causar dano àqueles que amam e seguem a Jesus. Ele os acompanhará em todos os lugares. Podem ser mortos por causa do evangelho, mas Cristo lhes dará a vida eterna e uma coroa de glória. VJ 46 8 E de seu exemplo, outros aprenderiam a respeito do amável Salvador. Cristo disse aos discípulos: VJ 46 9 "Vós sois a luz do mundo." Mateus 5:14. Em breve, Ele partiria do mundo para o lar celestial, mas os discípulos deveriam ensinar aos outros a respeito do Seu amor. Deveriam continuar iluminando. VJ 46 10 A luz do farol, brilhando na escuridão, guia os navios ao porto com segurança; do mesmo modo, os seguidores de Cristo brilham neste mundo escuro, para guiar seres humanos ao lar celestial. VJ 46 11 Isso é o que todos os seguidores de Cristo devem fazer. Ele os chama para serem cooperadores na salvação de outros. Amor: a base da lei VJ 46 12 Tais ensinamentos eram estranhos e novos para os ouvintes de Jesus e, por isso, Ele os repetiu muitas vezes. Certa vez, um doutor da lei veio à Sua presença e Lhe perguntou: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Lucas 10:25-27. VJ 46 13 Em vez de arrepender-se, buscou uma evasiva para seu egoísmo. "Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?" Lucas 10:29. VJ 46 14 Sacerdotes e rabinos, com freqüência, discutiam esse assunto. Não consideravam os pobres e os ignorantes como seu próximo e nem lhes dispensavam bondade. Jesus não participou de suas discussões, mas respondeu com uma história que havia acontecido algum tempo atrás. VJ 47 1 Certo homem, disse Ele, descia de Jerusalém para Jericó. O caminho era íngreme e pedregoso, através de uma região deserta e agreste. No meio da viagem foi assaltado por ladrões e despojado de tudo o que levava. Bateram nele e deixaram-no ferido e quase morto. VJ 47 2 Enquanto ali estava, desceram pela mesma estrada, primeiro um sacerdote e depois um levita do templo de Jerusalém, mas, em vez de ajudá-lo, passaram pelo outro lado do caminho, ignorando-o. VJ 47 3 Esses homens haviam sido escolhidos para ministrar no templo de Deus e deveriam ser como o Senhor a quem serviam, cheios de bondade e misericórdia, mas seus corações eram frios e insensíveis. VJ 47 4 Depois de certo tempo, um samaritano se aproximou. Os samaritanos eram desprezados e odiados pelos judeus. Os que pertenciam a esse povo nada recebiam dos judeus, nem mesmo água para beber ou um pedaço de pão. Mas o samaritano não parou para pensar nisso. Nem mesmo cogitou que os assaltantes ainda poderiam estar por perto espreitando o caminho. VJ 47 5 Ali sofria o pobre homem, sangrando e quase morto. O samaritano tirou a túnica e nela envolveu o ferido. Deu-lhe bebida e tratou seus ferimentos com azeite. Depois colocou-o sobre o animal e levou-o a uma hospedaria, onde cuidou dele a noite toda. VJ 47 6 No dia seguinte, antes de partir, pagou ao hospedeiro para que cuidasse dele até que se recuperasse. Assim narrou o fato; depois, voltando-se para o doutor da lei, perguntou-lhe: "Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?" O doutor respondeu: "O que usou de misericórdia para com ele." Disse-lhe então Jesus: "Vai e procede tu de igual modo." Lucas 10:36, 37. VJ 47 7 Assim, Jesus ensinou que qualquer pessoa que precisar de ajuda é nosso próximo. Devemos tratá-lo como gostaríamos de ser tratados. VJ 47 8 O sacerdote e o levita pretendiam guardar os mandamentos de Deus, mas era o samaritano que realmente os guardava. Seu coração era terno e compassivo. VJ 47 9 Ao socorrer o estranho ferido, ele havia demonstrado amor a Deus e ao próximo. É agradável ao Senhor que façamos o bem uns aos outros, pois assim demonstramos nosso amor a Ele e àqueles que nos cercam. VJ 47 10 Um coração bondoso e compassivo vale mais do que todas as riquezas do mundo. Os que vivem para fazer o bem demonstram que são filhos de Deus. Esses são os que habitarão com Cristo em Seu reino. ------------------------Capítulo 8 -- Jesus também descansava VJ 49 1 Jesus guardou o sábado e ensinou Seus discípulos a guardá-lo. Ele sabia como o dia de repouso devia ser observado, pois Ele mesmo o santificara. VJ 49 2 Diz a Bíblia: "Lembra-te do dia de sábado, para o santificar." Êxodo 20:8. "O sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; ... porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou." Êxodo 20:10, 11. Cristo trabalhou com Seu Pai ao criar a Terra e foi Ele quem fez o sábado. A Bíblia diz que "todas as coisas foram feitas por intermédio dEle". João 1:3. VJ 49 3 Quando olhamos o Sol, as estrelas, as árvores e as belas flores, devemos nos lembrar de que foram criados por Jesus e Ele fez o sábado para nos ajudar a ter em mente o Seu amor e poder. VJ 49 4 Os mestres judeus haviam criado muitas regras a respeito de como guardar o sábado e queriam que fossem obedecidas por todos; assim, vigiavam Jesus para ver se Ele as cumpriria. VJ 50 1 Um sábado, quando Cristo e os discípulos voltavam da sinagoga, atravessaram um campo de cereais. Já era tarde e eles estavam com fome; por isso, colheram algumas espigas e comeram os grãos. VJ 50 2 Em qualquer outro dia era permitido colher e comer do fruto da terra, mas jamais no sábado. Os inimigos de Cristo viram o que os discípulos fizeram e disseram a Jesus: VJ 50 3 "Eis que os Teus discípulos fazem o que não é lícito fazer em dia de sábado." Mateus 12:2. Jesus, porém, defendeu os discípulos. Lembrou aos acusadores que Davi, quando precisou, comeu os pães da proposição do tabernáculo e deu também aos seus famintos seguidores. VJ 50 4 Se foi direito para Davi, quando faminto, comer os pães sagrados, não seria direito aos discípulos colher os grãos nas horas sagradas porque estavam com fome? VJ 50 5 O sábado não foi feito para ser um fardo às pessoas mas para o bem delas e para dar-lhes paz e repouso. Por isso Jesus disse: "O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado." Marcos 2:27. VJ 50 6 "Sucedeu que, em outro sábado, entrou Ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida. Os escribas e fariseus observavam-No, procurando ver se Ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que O acusar. Mas Ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão ressequida: Levanta-te e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé. Então, disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer? E, fitando todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. E assim o fez, e a mão lhe foi restaurada. Mas eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a Jesus." Lucas 6:6-11. VJ 50 7 Jesus mostrou-lhes quão incoerentes eram, ao fazer-lhes esta pergunta: "Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço tirando-a dali?" Mateus 12:11. VJ 50 8 Eles não puderam responder a essa pergunta. Então o Salvador lhes disse: "Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos sábados, fazer o bem." Mateus 12:12. VJ 50 9 É lícito, ou seja, está de acordo com a lei. Cristo jamais reprovou os judeus por guardarem a lei de Deus ou por honrarem o sábado. Ao contrário, Ele sempre exaltou a lei em toda a sua plenitude. VJ 50 10 Declarou Isaías a respeito de Jesus: "Foi do agrado do Senhor, por amor da Sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa." Isaías 42:21. Engrandecer significa exaltar, elevar a uma posição de destaque. VJ 50 11 Cristo engrandeceu a lei demonstrando o maravilhoso significado de cada um de seus preceitos. Mostrou que a obediência não consiste apenas de atos externos que podem ser vistos pelos homens, mas envolve também os pensamentos que podem ser sondados por Deus. Exemplo de obediência VJ 51 1 Aos que O acusaram de abolir a lei, respondeu: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir." Mateus 5:17. VJ 51 2 Cumprir significa guardar ou praticar. Tiago 2:8. Desse modo, quando Jesus veio a João Batista para ser batizado, disse: "... nos convém cumprir toda a justiça." Mateus 3:15. Cumprir a lei é obedecer perfeitamente a ela. VJ 51 3 A lei de Deus jamais poderá ser modificada, porque Cristo disse: "Até que o céu e a Terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra." Mateus 5:18. Quando Ele perguntou: "É lícito, no sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer?" (Lucas 6:9) mostrou que podia ler o coração dos ímpios fariseus que O acusavam. VJ 51 4 Enquanto Jesus tentava salvar vidas curando os doentes, os fariseus tentavam destruir a vida, condenando-O à morte. O que seria melhor, matar no sábado, como planejavam, ou curar os sofredores como Jesus fazia? VJ 51 5 Seria melhor ocupar os pensamentos com idéias homicidas ou demonstrar amor à humanidade através de atos de bondade e misericórdia? VJ 51 6 Em muitas ocasiões, os judeus acusaram Jesus de transgredir o sábado. Muitas vezes tentaram matá-Lo porque Ele não o guardava de acordo com as tradições judaicas. Porém isso não O afetava. Ele guardava o sábado como Deus desejava. Junto ao tanque de Betesda VJ 51 7 Havia em Jerusalém um grande tanque chamado Betesda. Às vezes suas águas eram agitadas e o povo acreditava que o anjo do Senhor descia para agitá-las, e que o primeiro que descesse ao tanque seria curado de qualquer doença que tivesse. VJ 51 8 Um grande número de pessoas vinha àquele lugar com a esperança de ser curado; porém, a maioria amargava a decepção. Ao moverem-se as águas, a multidão se juntava, de modo que muitos nem sequer conseguiam chegar às bordas do tanque. VJ 51 9 Em um dia de sábado, Jesus foi a Betesda. Seu coração encheu-se de compaixão quando viu os pobres sofredores ali. Um deles parecia ser o mais desafortunado de todos. Durante trinta e oito anos sofria de paralisia. Nenhum médico pudera curá-lo. Muitas vezes fora levado a Betesda; porém, quando as águas se agitavam, sempre outra pessoa passava adiante dele. VJ 51 10 Naquele sábado, ele tentara mais uma vez aproximar-se do tanque, mas em vão. Jesus viu-o arrastar-se de volta à esteira que lhe servia de cama. Estava no limite de suas forças. Se ninguém o socorresse de imediato, morreria. VJ 51 11 Quando se deitou e levantou os olhos para olhar o tanque, um rosto compassivo inclinou-Se para ele e lhe perguntou: "Queres ser curado?" João 5:6. VJ 52 1 O homem respondeu com tristeza: "Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto eu vou, desce outro antes de mim." João 5:7. VJ 52 2 O paralítico não sabia que Aquele que lhe falava tinha poder para curar, não apenas ele, mas todos os que viessem à Sua presença. Disse-lhe então Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito e anda." João 5:8. VJ 52 3 Imediatamente o homem tentou obedecer à ordem e sentiu-se forte o suficiente para pôr-se em pé e andar. Que prazer sentiu! VJ 52 4 Tomou sua cama e correu, louvando a Deus a cada passo que dava. Logo encontrou alguns fariseus e contou-lhes sobre a maravilhosa cura. Eles não pareciam felizes, mas o reprovaram por carregar sua cama no dia de sábado. O curado então lhes disse: "O mesmo que me curou me disse: Toma o teu leito e anda." João 5:11. Deixaram pois de censurar o homem e passaram a culpar aquele que lhe dissera para carregar seu leito no dia de sábado. Santificação equivocada VJ 52 5 Em Jerusalém, onde Jesus Se encontrava, havia muitos rabinos instruídos na lei. Ensinavam ao povo muitas de suas falsas idéias a respeito do sábado. Um grande número de pessoas vinha adorar no templo e então as idéias desses mestres eram divulgadas. Cristo desejava corrigir tais erros. Por esse motivo curou o homem em um dia de sábado e lhe ordenou que carregasse sua cama. Sabia que tal ato chamaria a atenção dos rabinos e daria a Ele a oportunidade de instruir o povo. Foi o que aconteceu. Os fariseus levaram Jesus perante o Sinédrio, o supremo conselho dos judeus, para que Se justificasse da acusação de ter violado o sábado. VJ 52 6 O Salvador declarou que Sua ação estava em harmonia com a lei do sábado, e com a vontade e o procedimento de Deus: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também." João 5:17. VJ 52 7 Deus trabalha incessantemente para sustentar a vida de cada criatura. Deveria Seu trabalho cessar no dia de sábado? Deveria Deus proibir o Sol de cumprir sua função de iluminar e aquecer a Terra e nutrir a vegetação no dia de sábado? VJ 52 8 Deveriam os riachos ser impedidos de regar os campos e os mares cessar seu fluxo e refluxo? Deveriam o trigo e o milho parar de crescer no sábado e as árvores e as flores deixar de florescer ou de frutificar nesse dia? VJ 52 9 Se assim fosse, o homem perderia os frutos da terra e as bênçãos que sustêm a vida. A natureza deve continuar o seu trabalho para que o homem não morra. As necessidades da vida devem ser atendidas, os doentes devem ser cuidados e supridas as necessidades dos carentes. Deus não deseja que Suas criaturas sofram horas de dor e amargura que podem ser aliviadas no dia de sábado ou em qualquer outro dia. VJ 52 10 O Céu jamais cessa a sua obra de fazer o bem. A lei proíbe que façamos nosso próprio trabalho no dia do repouso de Deus. As atividades para a nossa subsistência devem cessar; nenhum trabalho para nossa satisfação pessoal ou lucro deve ser feito nesse dia. Mas o sábado não deve ser gasto em ociosidade. Como Deus cessou a Sua obra de criar e descansou no sábado, assim devemos nós também repousar de nossas atividades. Ele nos ordena colocar de lado nossas ocupações diárias e devotar essas horas sagradas a um repouso saudável, dedicando tempo para adorar a Deus e assistindo aos necessitados. ------------------------Capítulo 9 -- O bom pastor VJ 55 1 O Salvador caracterizou a Si mesmo como o bom pastor e aos discípulos como o Seu rebanho. Ele disse: "Eu sou o bom Pastor; conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem a Mim." João 10:14. VJ 55 2 Jesus deveria deixar os discípulos em breve e disse isso para confortá-los. Quando não mais estivesse entre eles, deveriam lembrar-se de Suas palavras. VJ 55 3 Sempre que vissem um pastor cuidando de seu rebanho, haveriam de lembrar-se do Seu amor e cuidado por eles. VJ 55 4 Naquele país, o pastor cuidava de seu rebanho dia e noite. Durante o dia guiava-o às verdes e agradáveis pastagens, às margens do rio, através de colinas rochosas e florestas. VJ 55 5 À noite, vigiava-o, guardando-o do ataque de animais selvagens e de ladrões que sempre rondavam por perto. VJ 55 6 Com ternura, cuidava das ovelhas fracas e doentes. Tomava os cordeirinhos em seus braços e levava-os no colo. VJ 56 1 Não importava o tamanho do rebanho, o pastor conhecia cada uma de suas ovelhas e as chamava pelo nome. VJ 56 2 Do mesmo modo, Cristo, o Pastor celestial, cuida de Seu rebanho espalhado pelo mundo. Ele nos conhece pelo nome. Sabe onde moramos e quem mora conosco. Cuida de cada um como se não houvesse mais ninguém no mundo todo. VJ 56 3 O pastor ia adiante de suas ovelhas e enfrentava por elas todos os perigos. Deparava-se com animais selvagens e ladrões. Muitas vezes, era morto enquanto guardava o rebanho. VJ 56 4 Assim o Salvador guarda Seu rebanho de discípulos e o vigia contra agressores. Ele viveu na Terra, como nós. Foi criança, jovem e adulto. Venceu a Satanás em todas as suas tentações. De igual modo podemos vencer como Ele venceu. VJ 56 5 Morreu para nos salvar. Embora esteja agora no Céu, não Se esquece de nós um só momento. Guardará em segurança cada ovelha de Seu pastoreio. Nenhuma delas poderá ser arrebatada pelo grande inimigo. VJ 56 6 Um pastor pode ter cem ovelhas, mas se uma faltar, ele não permanecerá no aprisco com as outras, mas irá em busca da que se perdeu. VJ 56 7 Enfrentando os perigos da noite escura, debaixo de temporais, percorrendo vales e montanhas, ele irá e não terá descanso até que a perdida seja encontrada. VJ 56 8 E tendo-a achado, toma-a nos braços e a leva de volta ao redil. Não se queixa da longa e difícil busca, mas diz com alegria: VJ 56 9 "Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida." Lucas 15:6. Amor universal VJ 56 10 Assim, o divino Pastor não apenas dispensa Seu terno cuidado com as ovelhas que estão no aprisco. Ele diz: "O Filho do homem veio salvar o que estava perdido." Mateus 18:11. VJ 56 11 "Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no Céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:7. Pecamos e nos desgarramos do redil. Ele veio para nos ajudar a viver uma vida longe do pecado. Isso é ser reconduzido ao redil. VJ 56 12 Quando voltamos com o Pastor e abandonamos a antiga vida de pecado, Cristo diz aos anjos do Céu: "Alegrai-vos comigo, porque já achei a Minha ovelha perdida." Lucas 15:6. VJ 56 13 E o coro de anjos entoa cânticos jubilosos de louvor que enchem o Céu da mais rica melodia. VJ 56 14 Cristo não nos apresenta o quadro de um pastor regressando triste por não ter encontrado a ovelha. Nisto está a garantia de que Deus jamais negligenciará nenhuma das ovelhas desgarradas do rebanho. VJ 56 15 Nenhuma é deixada ao desamparo. Todo aquele que se deixa resgatar por Cristo experimentará a libertação do pecado. VJ 56 16 Que cada alma desgarrada recupere a coragem. O bom Pastor está procurando você. Lembre-se de que a obra de Jesus é buscar aquele que se perdeu. Isso se refere a você também. VJ 56 17 Duvidar da possibilidade da salvação é duvidar do poder redentor dAquele que o comprou por preço infinito. Deixe que a fé substitua a descrença. Contemple as mãos que foram traspassadas e alegre-se no poder da salvação. VJ 56 18 Lembre-se de que Deus e Cristo estão interessados em você e que todo o Céu está envolvido no trabalho de salvação dos pecadores. VJ 56 19 Enquanto Jesus esteve na Terra, mostrou, através de Seus milagres, poder para salvar até os que haviam ido longe demais. Ao curar as doenças do corpo, mostrou que era capaz de limpar o pecado do coração. VJ 56 20 Ele fez o coxo andar, o surdo ouvir, e o cego ver. Purificou os miseráveis leprosos, curou o paralítico e os enfermos com todo tipo de doença. VJ 56 21 Por Sua palavra, até os demônios eram expulsos daqueles a quem subjugavam. Os que presenciavam Seus poderosos milagres se maravilhavam, dizendo: "Que palavra é esta, pois, com autoridade e poder, ordena aos espíritos imundos, e eles saem?" Lucas 4:36. VJ 56 22 Ao comando de Jesus, Pedro foi capaz de andar sobre as águas; mas, ele deveria manter os olhos no Salvador. Quando desviou o olhar, começou a duvidar e a submergir. VJ 56 23 Então gritou: "Salva-me, Senhor!" (Mateus 14:30) e Jesus estendeu-lhe Sua forte mão para sustê-lo. Assim, ainda hoje, quando alguém clama por auxílio, essa poderosa mão se estende para salvar. VJ 56 24 O Salvador ressuscitou mortos. Um destes foi o filho da viúva de Naim. Quando o cortejo fúnebre conduzia o corpo para o sepultamento, Jesus foi ao seu encontro. Tomou o jovem pela mão e o fez levantar-se, devolvendo o filho à sua mãe. Os que ali se achavam voltaram para casa, gritando de alegria e louvando a Deus. VJ 58 1 Assim também Jesus ressuscitou a filha de Jairo, e a Lázaro, que estava morto e sepultado havia quatro dias. VJ 58 2 Quando Jesus voltar à Terra, Sua voz há de soar poderosa rompendo as paredes dos sepulcros, e os mortos em Cristo hão de ressurgir para uma vida gloriosa e imortal, e estarão "para sempre com o Senhor." 1 Tessalonicenses 4:17. Uma obra maravilhosa VJ 58 3 Durante Seu ministério terrestre, o Senhor realizou uma obra maravilhosa! Ele mesmo definiu essa obra em resposta a João Batista. João estava na prisão e sentia-se atribulado e desanimado pela dúvida de que Jesus era, de fato, o Messias. Enviou então alguns de seus discípulos a Jesus, com a pergunta: "És Tu Aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" Mateus 11:3. VJ 58 4 Quando os mensageiros vieram à presença de Jesus, encontraram-No cercado de muitos doentes que estavam sendo curados. Durante todo o dia os mensageiros esperaram, enquanto Jesus estava incansavelmente ocupado em aliviar aqueles sofredores. Finalmente, disse a eles: VJ 58 5 "Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho." Mateus 11:3-5. VJ 58 6 Assim, durante três anos e meio, Jesus andou de um lado para outro fazendo o bem. Então chegou o tempo de concluir Seu ministério. Em companhia de Seus discípulos, deveria subir a Jerusalém para ser traído, condenado e morto. VJ 58 7 Suas próprias palavras deveriam cumprir-se: "O bom Pastor dá a vida pelas ovelhas." João 10:11. VJ 58 8 "Certamente, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si. ... Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos." Isaías 53:4-6. ------------------------Capítulo 10 -- O príncipe da paz VJ 61 1 Jesus se aproximava de Jerusalém para assistir às festividades da Páscoa. Uma grande multidão que também se dirigia para participar desse importante evento O cercava. VJ 61 2 Ao Seu comando, dois discípulos trouxeram um jumentinho, para que, montado nele, pudesse entrar em Jerusalém. Ajeitaram Suas vestes sobre o dorso do animal e ajudaram o Mestre a montá-lo. Tão logo montou, um grande grito de triunfo encheu os ares. A multidão O aclamava Rei e Messias. Mais de quinhentos anos antes, o profeta descrevera esta cena: VJ 61 3 "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e Salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta." Zacarias 9:9. VJ 61 4 Todos, naquela multidão sempre crescente, sentiam-se felizes e entusiasmados. O povo não podia Lhe oferecer presentes caros, mas lançavam suas túnicas como tapete pelo caminho por onde Ele passava. VJ 63 1 Também colheram lindos ramos de oliveira e palmeira para adornar a passagem. Julgavam que escoltavam Aquele que haveria de tomar posse do trono de Davi em Jerusalém. VJ 63 2 O Salvador jamais permitira que Seus seguidores Lhe prestassem homenagens reais; mas, naquela ocasião, desejava manifestar-Se ao mundo de modo especial como seu Redentor. VJ 63 3 O Filho de Deus estava prestes a tornar-Se um sacrifício pelos pecados do homem. Sua igreja, em todos os tempos, deveria tornar o tema de Sua morte um assunto de profundo estudo e reflexão. Era, portanto, necessário que a atenção de todos fosse dirigida a Ele. VJ 63 4 Após uma cena como essa, Sua crucifixão e morte jamais poderiam se ocultar do mundo. Era desígnio de Deus que cada evento dos últimos dias da vida do Salvador fosse marcado de modo tão acentuado que nenhum poder pudesse apagar sua memória. Provas vivas do amor salvador VJ 63 5 Na grande multidão que cercava o Salvador havia evidências de Seu poder de operar milagres. VJ 63 6 Os cegos, a quem devolvera a visão, abriam caminho; os mudos, cuja língua Ele soltara, exprimiam os mais altos brados de louvor. Os inválidos, a quem curara, saltavam de alegria e eram os que mais se apressavam em colher ramos de palmeira para acená-los diante dEle. VJ 63 7 As viúvas e órfãos exaltavam o nome de Jesus por causa de Suas obras de misericórdia em favor deles. Os leprosos, que tinham sido curados por uma palavra, estendiam suas roupas no caminho. VJ 63 8 Os que haviam sido chamados dentre os mortos pela poderosa voz de Jesus estavam lá; e Lázaro, cujo corpo havia apodrecido no sepulcro, desfrutava agora de todo o vigor de sua juventude, acompanhando a multidão que seguia o Salvador a Jerusalém. VJ 63 9 À medida que mais pessoas se uniam à multidão, contagiavam-se pela inspiração do momento e se juntavam aos gritos que ecoavam de colina em colina e de vale em vale: VJ 63 10 "Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!" Mateus 21:9. VJ 63 11 Muitos fariseus presenciavam a cena irritados. Sentiam que perdiam o domínio do povo. Tentaram silenciar a manifestação com toda a sua autoridade; porém, suas ordens e ameaças só aumentavam mais o entusiasmo do povo. VJ 63 12 Sentindo que não podiam controlar a multidão, abriram caminho entre ela e se aproximaram de Jesus dizendo: "Mestre, repreende os Teus discípulos!" Lucas 19:39. VJ 63 13 Disseram que tais aglomerações tumultuadas eram contra a lei e proibidas pelas autoridades. VJ 63 14 Jesus, porém, lhes respondeu: "Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão." Lucas 19:40. VJ 63 15 Essa cena de triunfo era desígnio do próprio Deus, pois havia sido predita pelos profetas e nenhum poder terrestre poderia impedi-la. A obra de Deus seguirá sempre em frente a despeito de os homens tentarem impedi-la ou destruí-la. A tristeza do Salvador VJ 63 16 Quando a multidão atingiu o alto da colina, Jerusalém em todo o seu esplendor apareceu diante da vista de todos. Extasiado ante a repentina visão de beleza, o povo conteve os gritos. Todos os olhares se fixaram no Salvador, esperando ver nEle a mesma expressão de admiração que sentiram. VJ 63 17 Jesus Se deteve e uma nuvem de tristeza envolveu-Lhe o semblante e a multidão atônita O viu chorar copiosamente. VJ 63 18 Ninguém podia compreender a aflição do Mestre, mas Ele chorava porque a cidade estava condenada à destruição. VJ 63 19 Ela havia sido a filha de Seu cuidado e Seu coração se enchia de angústia porque em breve a cidade ficaria desolada. VJ 63 20 Tivessem seus habitantes dado ouvidos aos ensinos de Cristo recebendo-O como o Salvador, Jerusalém teria "permanecido para sempre". VJ 63 21 Teria se tornado a rainha dos reinos, livre com a força concedida por Deus. VJ 63 22 Nenhum exército armado guardaria seus portões e nenhuma bandeira romana tremularia em suas torres. VJ 63 23 De Jerusalém, o estandarte da paz teria ido a todas as nações. Ela teria sido a glória do mundo. VJ 64 1 Os judeus, porém, haviam rejeitado seu Salvador e estavam prestes a crucificar o seu Rei. Quando o Sol mergulhasse no horizonte naquele dia e a noite caísse, o destino de Jerusalém estaria selado para sempre. (Cerca de quarenta anos mais tarde, a cidade seria destruída e queimada pelo exército romano.) VJ 64 2 Os líderes receberam a notícia de que Jesus Se aproximava acompanhado de um grande cortejo. Eles saíram ao Seu encontro com a intenção de dispersar a multidão e ostentando toda a sua autoridade, perguntaram: "Quem é Este?" Mateus 21:10. VJ 64 3 Os discípulos, inspirados pelo Espírito de Deus, responderam: "Adão vos dirá: 'É a semente da mulher que esmagará a cabeça da serpente.' Gênesis 3:15. VJ 64 4 "Pergunte a Abraão e ele vos dirá: 'É Melquisedeque, o Rei de Salém, o Rei da paz.' Hebreus 7:1. VJ 64 5 "Jacó vos dirá: 'Ele é Siló da tribo de Judá.' Gênesis 49:10. VJ 64 6 "Isaías vos dirá: 'Emanuel' (Isaías 7:14), 'Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.' Isaías 9:6. VJ 64 7 "Jeremias vos dirá: 'É o Ramo de Davi', 'o Senhor, Justiça Nossa.' Jeremias 23:6. VJ 65 1 "Daniel vos dirá: 'Ele é o Messias'." Daniel 9:25, 26. VJ 65 2 "Oséias vos dirá: 'Ele é o Senhor Deus dos Exércitos, o Senhor é o Seu nome'." Oséias 12:5. VJ 65 3 "João Batista vos dirá: 'Ele é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo'." João 1:29. VJ 65 4 "Jeová declara de Seu trono: 'Este é o meu Filho amado'." Mateus 3:17. VJ 65 5 "E nós, Seus discípulos, declaramos: 'Este é Jesus, o Messias, o Príncipe da Vida, o Redentor'." VJ 65 6 "Até o príncipe das trevas reconhece-O dizendo: 'Bem sei quem és: o Santo de Deus'." Marcos 1:24. ------------------------Capítulo 11 -- Jesus reprova a corrupção VJ 67 1 No dia seguinte, Jesus entrou no templo. Três anos antes, Ele havia encontrado homens vendendo e comprando no átrio externo e os havia repreendido e expulsado. VJ 67 2 Agora, ao retornar, encontrou o mesmo comércio ali. O átrio estava cheio de bois, ovelhas e aves que eram vendidos aos que desejavam oferecer sacrifícios por seus pecados. VJ 67 3 Os que se ocupavam desse comércio praticavam extorsão e roubo de toda espécie e tal era a balbúrdia e o alvoroço do lado de fora que os adoradores eram seriamente perturbados. VJ 67 4 Cristo parou na escadaria e varreu o átrio com Seu olhar penetrante. Todos os olhares se voltaram para Ele. O vozerio das pessoas e o mugido dos animais cessaram. Todos olhavam para o Filho de Deus, atônitos e temerosos. VJ 68 1 Naquele instante, a divindade irrompeu através da humanidade e deu a Jesus um poder e glória que jamais se manifestara nEle antes. O silêncio tornou-se quase insuportável. VJ 68 2 Finalmente Ele disse em voz clara e com tal poder que sacudiu as pessoas como uma violenta tempestade: VJ 68 3 "Está escrito: A Minha casa será casa de oração. Mas vós a transformastes em covil de salteadores." Lucas 19:46. VJ 68 4 E com autoridade ainda maior da que manifestara três anos atrás, ordenou: "Tirai daqui estas coisas." João 2:16. VJ 68 5 Em outra ocasião os sacerdotes e os líderes do templo haviam fugido diante de Sua voz cheia de autoridade. Depois se sentiram envergonhados de seu temor e decidiram que não mais recuariam daquele jeito. VJ 68 6 Porém, desta vez sentiram-se mais aterrorizados ainda e, com toda pressa, saíram do templo, levando consigo sua mercadoria. O doce médico dos médicos VJ 68 7 Logo em seguida o átrio ficou repleto de enfermos que eram trazidos a Jesus para ser curados. Alguns já estavam morrendo. Essas pessoas aflitas viviam em amargura e enorme necessidade. VJ 68 8 Olhavam suplicantes para Jesus, temendo encontrar o mesmo olhar severo que havia expulsado do templo os mercadores, mas o que encontraram em Sua face foi somente ternura e compaixão. VJ 68 9 Jesus recebeu os doentes atenciosamente e ao toque de Suas mãos a doença e o sofrimento desapareciam. Acolhia ternamente as criancinhas em Seus braços, acalmando seu choro irritado e tirando de seus pequenos corpos a dor e a doença. Eram devolvidas às suas mães, risonhas e curadas. VJ 68 10 Que quadro diferente encontraram os principais e sacerdotes ao voltar cautelosamente para o templo! Homens, mulheres e crianças erguiam a voz em louvor a Deus. VJ 68 11 Viram os doentes curados, os cegos com a visão restaurada, surdos ouvindo e os coxos saltando de alegria. VJ 68 12 As crianças tomavam a frente nas expressões de louvor. Repetindo os cânticos do dia anterior, acenavam os ramos de palmeira em homenagem a Jesus. O templo repercutia as fortes exclamações: VJ 68 13 "Hosana ao Filho de Davi! Bendito O que vem em nome do Senhor!" Mateus 21:9. VJ 68 14 "Eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador." Zacarias 9:9. VJ 68 15 Os líderes tentavam silenciar os gritos de alegria das crianças, mas elas não podiam se calar, pois todos estavam possuídos de uma incontida felicidade pelas maravilhosas obras que Jesus realizara entre eles. VJ 68 16 Dirigiram-se então a Jesus, na esperança de que Ele ordenasse silêncio: VJ 68 17 "Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?" Mateus 21:16. VJ 68 18 Os orgulhosos líderes do povo recusaram o abençoado privilégio de anunciar o nascimento de Cristo e de promover Sua obra na Terra. VJ 68 19 Mas o Seu louvor devia ser proclamado e Deus escolheu as crianças para fazê-lo. Se a voz dos pequeninos tivesse silenciado, as próprias colunas do templo clamariam. ------------------------Capítulo 12 -- A última páscoa VJ 71 1 Os filhos de Israel celebraram a primeira Páscoa no dia em que foram libertos da escravidão no Egito. VJ 71 2 Deus lhes prometera libertação. Disse-lhes que o primogênito de cada família egípcia seria morto. VJ 71 3 Ordenara-lhes que marcassem as ombreiras da porta com o sangue de um cordeiro para que, quando o anjo exterminador estivesse fazendo seu trabalho, passasse por alto a habitação dos hebreus. VJ 71 4 Deveriam assar aquele mesmo cordeiro e comê-lo à noite com pães asmos e ervas amargas que representavam a amargura da escravidão. VJ 71 5 Ao comer a carne do animal, deveriam estar prontos para a jornada, tendo os pés calçados e o cajado na mão. VJ 71 6 Fizeram como o Senhor lhes instruíra e, naquela mesma noite, o rei do Egito ordenou-lhes que deixassem o país. Pela manhã, iniciaram a viagem rumo à terra prometida. Desde aquele dia, os israelitas costumavam celebrar a Páscoa todos os anos, em memória daquela noite em que foram libertados do jugo da servidão. VJ 72 1 Agora o povo se congregava em Jerusalém para comemorar o evento. Cada família preparava um cordeiro que comiam acompanhado de ervas amargas, como seus antepassados no Egito, e contavam aos filhos como Deus fora misericordioso com eles, libertando-os da escravidão. VJ 72 2 Chegara o tempo em que Jesus devia comemorar a festividade com Seus discípulos e pediu a Pedro e a João que encontrassem um lugar e preparassem a ceia da Páscoa. VJ 72 3 Centenas de pessoas vinham a Jerusalém para a celebração e os habitantes da cidade se dispunham a ceder um cômodo da casa para os visitantes fazerem sua celebração. VJ 72 4 O Salvador dissera a Pedro e a João que ao saírem pelas ruas encontrariam um homem com um cântaro de água. Deveriam então segui-lo até a casa em que entrasse e dizer ao dono da casa: VJ 72 5 "O Mestre manda perguntar-te: Onde é o aposento no qual hei de comer a Páscoa com os Meus discípulos?" Lucas 22:11. VJ 72 6 Esse homem deveria então mostrar-lhes uma sala espaçosa no andar superior da casa, provida com tudo de que precisavam e ali deveriam preparar a ceia pascal. Tudo aconteceu conforme Jesus havia dito. VJ 72 7 Na hora da ceia, os discípulos estavam a sós com Jesus. O tempo que haviam passado em companhia do Mestre, nessas festas, havia sido sempre uma ocasião de grande alegria; agora, porém, Jesus estava com o espírito atribulado. VJ 72 8 Finalmente, disse-lhes com a voz embargada pela tristeza: VJ 72 9 "Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do Meu sofrimento." Lucas 22:15. VJ 72 10 Tomando da mesa um cálice de vinho não fermentado, disse: VJ 72 11 "Recebei e reparti entre vós; pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus." Lucas 22:17, 18. VJ 72 12 Era a última vez que Jesus celebrava a Páscoa com Seus discípulos. Era também a última Páscoa que devia ser celebrada na Terra, porque o sacrifício do cordeiro deveria ensinar às pessoas que um dia Cristo, o Cordeiro de Deus, viria para morrer pelos pecados do mundo. Assim, com Sua morte, não haveria mais necessidade de imolar o cordeiro quando Seu sacrifício estivesse consumado. VJ 72 13 Quando os judeus selaram sua rejeição de Cristo condenando-O à morte, rejeitaram tudo o que dava importância e significado àquela festa. Daí em diante a solenidade seria uma cerimônia sem valor. Lição de humildade VJ 72 14 Durante a celebração pascal, passavam-Lhe pela mente as cenas de Seu último e grande sacrifício. Encontrava-Se agora à sombra da cruz e a dor Lhe torturava o coração. Viu diante de Si toda a angústia que devia sofrer. VJ 72 15 Conhecia a ingratidão e a crueldade que Lhe mostrariam aqueles a quem viera salvar; contudo, não Se preocupava com Seu próprio sofrimento e sim com os que O rejeitariam como Salvador, perdendo a vida eterna. VJ 72 16 Seus discípulos, no entanto, eram a Sua maior preocupação, pois quando não mais estivesse com eles, seriam deixados a lutar sozinhos no mundo. VJ 73 1 Tinha muitas coisas para lhes dizer, que serviriam de alento ao coração, quando não mais estivesse na companhia deles. E desejava falar sobre isso naquele último encontro antes de Sua morte. VJ 73 2 Mas nada pôde dizer, pois eles não estavam preparados para ouvir. VJ 73 3 Tinha ocorrido contenda entre eles e ainda abrigavam o pensamento de que em breve Jesus seria proclamado rei e que cada um deles ocuparia posições de honra em Seu reino. Assim, eram hostis e ciumentos uns para com os outros. VJ 73 4 Havia ainda outro problema. Em uma festa, o servo devia lavar os pés dos convidados e, naquela ocasião, fizeram os preparativos para isso. Ali estavam o vaso de água, a bacia e a toalha prontos para o lava-pés, mas nenhum servo apareceu. Os discípulos, portanto, deviam fazer a parte do servo. VJ 73 5 Em seu coração, os discípulos não queriam fazer o papel de servo de seus irmãos. Não estavam dispostos a lavar-lhes os pés. Desse modo, tomaram seus lugares à mesa em silêncio. VJ 73 6 Jesus esperou para ver o que eles fariam. Então, Ele mesmo Se levantou, cingiu-Se com a toalha, despejou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos. Embora magoado por causa da discórdia entre eles, não os repreendeu com palavras duras. Demonstrou Seu amor, agindo como servo de Seus próprios discípulos. Quando terminou, disse-lhes: VJ 73 7 "Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque Eu o sou. Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também." João 13:12-15. VJ 73 8 Dessa maneira, Jesus ensinou aos Seus discípulos que deviam servir uns aos outros. Em vez de buscar a posição mais elevada para si mesmos, deveriam se dispor a servir os irmãos. VJ 73 9 O Salvador veio ao mundo para trabalhar pelos outros, vivendo para ajudar e salvar os necessitados e pecadores, e Ele deseja que façamos o mesmo. VJ 73 10 Os discípulos se sentiram envergonhados de seu ciúme e egoísmo. Seu coração se moveu de amor para com o Mestre e para com os irmãos. Só agora é que estavam prontos para ouvir os ensinos de Cristo. Em sua memória, até que Ele venha VJ 76 1 Estando todos em silêncio, à mesa, Jesus tomou o pão e tendo dado graças, partiu-o e entregou-o aos discípulos, dizendo: "Isto é o Meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de Mim." Lucas 22:19. VJ 76 2 Tomou também o cálice, dizendo: "Este é o cálice da nova aliança no Meu sangue derramado em favor de vós." Lucas 22:20. VJ 76 3 Diz a Bíblia: "Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha." 1 Coríntios 11:26. VJ 76 4 O pão e o vinho representam o corpo e o sangue de Jesus. Assim como o pão foi partido e o vinho tomado, o corpo de Jesus foi partido e Seu sangue derramado por nós. VJ 76 5 Comendo o pão e bebendo o vinho, demonstramos que cremos neste fato. Mostramos que nos arrependemos de nossos pecados e que aceitamos a Cristo como nosso Salvador. VJ 77 1 Enquanto participavam da ceia, os discípulos perceberam o sofrimento de Jesus. Uma atmosfera de tristeza contagiou a todos, e comiam em silêncio. VJ 77 2 Finalmente, Jesus disse: "Em verdade vos digo que um dentre vós me trairá." Mateus 26:21. VJ 77 3 Os discípulos ficaram surpresos e entristecidos com aquela declaração de Jesus e cada um começou a fazer uma introspecção para ver se havia em si algum mau pensamento contra o Mestre. VJ 77 4 Um após o outro perguntava: "Porventura, sou eu, Senhor?" Mateus 26:22. VJ 77 5 Só Judas permanecia calado. Isso fez com que todos os olhares se voltassem para ele. Percebendo que estava sendo observado, também perguntou: "Acaso, sou eu, Mestre?" Jesus lhe respondeu em tom solene: "Tu o disseste." Mateus 26:25. VJ 77 6 Jesus havia lavado os pés de Judas, mas isso não fez com que amasse o Mestre mais do que antes. Ficou aborrecido porque Cristo havia feito o trabalho de um servo. Agora ele sabia que Jesus não seria rei e isso fez com que ficasse mais determinado a traí-Lo. VJ 77 7 Ao perceber que seu intento havia sido descoberto, não teve medo. Levantou-se zangado e deixou rapidamente a sala para realizar seu plano perverso. A retirada de Judas foi um alívio para os que ficaram. O rosto de Jesus iluminou-se e a nuvem de tristeza se dissipou. VJ 77 8 Cristo então conversou com eles durante algum tempo. Disse que ia para a casa de Seu Pai e que prepararia um lugar para eles e retornaria para levá-los consigo. VJ 77 9 Prometeu enviar o Espírito Santo para que fosse o Mestre e Consolador deles. Disse-lhes que orassem em Seu nome e, certamente suas orações seriam atendidas. VJ 77 10 Jesus então orou por eles, pedindo a Deus que os livrasse do mal e que amassem um ao outro assim como Ele os amava. VJ 77 11 Jesus orou por nós do mesmo modo que orou pelos discípulos, dizendo: VJ 77 12 "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em Mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós; para que o mundo creia que Tu Me enviaste; Eu neles, e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste e os amaste, como também amaste a Mim." João 17:20, 21, 23. ------------------------Capítulo 13 -- Angústia no Getsêmani VJ 79 1 A vida do Salvador na Terra foi dedicada à oração. Passou muitas horas a sós com Deus e, com freqüência, Suas preces sinceras subiam ao trono celeste, buscando a sabedoria e força de que necessitava para sustê-Lo em Sua obra e para guardá-Lo de cair nas tentações de Satanás. VJ 79 2 Depois de haver celebrado a Páscoa com Seus discípulos, Jesus foi com eles ao jardim do Getsêmani, onde costumava orar. À medida que caminhava, conversava com eles e os ensinava, mas quando se aproximaram do jardim, tornou-Se estranhamente silencioso. VJ 79 3 Durante toda a Sua vida, Jesus estivera em comunhão com o Pai. O Espírito de Deus havia sido Seu guia e apoio constantes. Por todas as obras que havia feito, sempre glorificara o Pai, dizendo: "Eu nada posso fazer de Mim mesmo." João 5:30. VJ 79 4 Nada podemos fazer por nós mesmos. Somente quando confiamos em Cristo, podemos vencer e fazer Sua vontade na Terra. Devemos ter a mesma confiança simples e infantil que Jesus tinha em Seu Pai. Cristo disse: "Sem Mim nada podeis fazer." João 15:5. VJ 80 1 A terrível noite de agonia para o Salvador começou quando Se aproximou do jardim. Parecia que a presença de Deus, que até então O sustentara, não mais O acompanhava. Começou a sentir o que significa separar-Se do Pai. VJ 80 2 Cristo deveria tomar sobre Si os pecados do mundo e, quando foram colocados sobre Ele, parecia mais do que podia suportar. A culpa do pecado era tão terrível que foi tentado a pensar que Deus não mais O amava. VJ 80 3 Quando sentiu a enorme aversão de Deus ao pecado, deixou escapar essas palavras: "A minha alma está profundamente triste até à morte." Mateus 26:38. VJ 80 4 Jesus deixou os discípulos próximo à entrada do jardim, exceto Pedro, Tiago e João, com os quais entrou no horto. Eram eles Seus mais sinceros discípulos e os companheiros mais chegados. Mas não podia suportar que eles testemunhassem Sua intensa agonia. Disse-lhes: "Ficai aqui e vigiai comigo." Mateus 26:38. VJ 80 5 Caminhou alguns passos adiante e caiu prostrado no chão. Sentia que o peso do pecado O separava do Pai. Tinha diante de Si um abismo tão grande, tão profundo, tão tenebroso que tremia diante dele. VJ 80 6 Cristo não sofria por Seus pecados, mas pelos pecados do mundo. Sentia o desagrado de Deus contra o pecado como o pecador sentirá no grande dia do juízo. VJ 80 7 Em Sua agonia, Cristo Se agarrou ao solo frio. De Seus lábios pálidos ouviu-se o grito amargo: "Meu Pai, se possível, passe de Mim este cálice! Todavia, não seja como Eu quero, e sim como Tu queres." Mateus 26:39. VJ 80 8 Durante uma hora, Cristo suportou sozinho aquela terrível angústia. Então foi até os discípulos, ansioso por receber uma palavra de simpatia. Mas nenhuma simpatia se manifestou, pois eles estavam dormindo. Despertaram ao som de Sua voz, mas quase não O reconheceram, pois a aflição havia alterado a expressão de Seu rosto. Dirigindo-Se a Pedro, perguntou: "Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?" Marcos 14:37. VJ 80 9 Pouco antes de irem ao jardim, Cristo disse aos discípulos: "Todos vós vos escandalizareis." Marcos 14:27. Eles então Lhe asseguraram com veemência que iriam com Jesus à prisão e à morte. E o pobre e auto-suficiente Pedro, cheio de confiança, acrescentou: "Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!" Marcos 14:29. VJ 80 10 Mas os discípulos confiavam em si mesmos. Não olharam para o poderoso Ajudador como Cristo lhes aconselhara a fazer; e quando Ele Se encontrava na hora de maior necessidade, precisando de solidariedade e orações, eles dormiam. Até Pedro dormiu. VJ 80 11 E João, o discípulo amado que costumava se reclinar no peito de Jesus, também dormia. Seguramente a afeição que João sentia pelo Mestre deveria mantê-lo acordado. Suas orações mais fervorosas deveriam ter-se unido às do Mestre naquele momento de extrema aflição. O Redentor passara noites inteiras orando por Seus discípulos para que sua fé não vacilasse na hora da provação. Mas eles não puderam ficar acordados com o Mestre uma hora sequer. VJ 81 1 Se Jesus tivesse agora perguntado a Tiago e a João: "Podeis vós beber o cálice que Eu bebo ou receber o batismo com que Eu sou batizado?" (Marcos 10:38) eles não teriam respondido tão prontamente: "Sim, podemos." VJ 81 2 O coração do Salvador se encheu de compaixão e simpatia diante da fraqueza de Seus discípulos. Temia que eles não suportassem a prova que Seu sofrimento e morte lhes traria. VJ 81 3 Ele, entretanto, não os reprovou por causa de suas fraquezas. Pensou nas provas que teriam diante de si e disse: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." Com bondade, desculpou-lhes a falta cometida para com Ele, dizendo: "O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." Mateus 26:41. Que exemplo de ternura e piedoso amor o Salvador nos deu! VJ 81 4 Outra vez uma angústia insuportável se apossou dEle. Exausto e no limite de Suas forças, cambaleou de volta ao local onde antes havia orado e suplicou ao Céu: VJ 81 5 "Meu Pai, se não é possível passar de Mim este cálice sem que Eu o beba, faça-se a Tua vontade." Mateus 26:42. VJ 81 6 A agonia provocada por essa oração fez com que gotas de sangue fluíssem de Seus poros. Outra vez buscou os discípulos, desejando encontrar conforto e simpatia, e novamente achou-os dormindo. A presença do Mestre os despertou e quando olharam Seu rosto, sentiram medo, pois viram nele manchas de sangue. Não compreendiam a extensão da angústia mental que Sua face expressava. VJ 81 7 Pela terceira vez buscou o lugar da oração. Terror e trevas profundas invadiram-Lhe a alma, pois não sentiu a presença de Seu Pai. Sem isso, temia que, em Sua natureza humana, não poderia resistir ao duro teste. Pela terceira vez, Ele repete a mesma oração. Os anjos anseiam vir em Seu socorro, mas não lhes é permitido. O Filho de Deus deve beber essa taça ou o mundo se perderá para sempre. Ele vê a fraqueza do homem e o poder do pecado. O sofrimento de um mundo condenado se descortina em Sua mente. VJ 81 8 Então toma a decisão definitiva: salvará o homem a qualquer custo. Ele deixou as cortes celestes onde tudo era pureza, felicidade e glória, para salvar a única ovelha que se perdera, o único dentre os mundos criados que caíra em pecado, e não abandonaria Seu propósito. Sua prece agora transpira apenas submissão: VJ 81 9 "Meu Pai, se não é possível passar de Mim este cálice sem que Eu o beba, faça-Se a Tua vontade." Mateus 26:42. A divindade sofre VJ 83 1 O Salvador cai desfalecido ao solo. Nenhum discípulo se encontra ali para ampará-Lo, para erguer ternamente Sua cabeça e banhar aquele rosto tão pálido pelo sofrimento. Cristo está completamente só. VJ 83 2 Mas Deus sofre com Seu Filho. Anjos contemplam-Lhe a agonia e no Céu se faz completo silêncio. Não se ouve nenhum som de harpa. Pudessem os homens perceber o espanto dos anjos celestes, ao contemplarem com mudo pesar o Pai retirando de Seu amado Filho os raios de luz, amor e glória, então compreenderiam melhor quão ofensivo é o pecado à vista de Deus. VJ 83 3 Um poderoso anjo desce do Céu para confortá-Lo. Ergue a cabeça do divino Sofredor, apoiando-a em seu peito e aponta para o Céu. Diz-Lhe que havia vencido a Satanás e, como resultado, milhões estariam com Ele em Seu reino de glória. VJ 83 4 O rosto do Salvador, manchado de sangue, reflete agora a paz celestial. Ele suportou o que nenhum ser humano poderia suportar. Experimentou a agonia da morte no lugar de cada pecador. VJ 83 5 Outra vez procurou os discípulos e encontrou-os dormindo. Tivessem eles permanecido despertos vigiando e orando com o Salvador, teriam recebido forças para suportar a prova que os aguardava. Perdendo aquela oportunidade, não tiveram forças na hora da necessidade. VJ 83 6 Olhando-os com tristeza, Cristo disse: "Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores." Mateus 26:45. VJ 83 7 Falava Ele ainda, quando se ouviram os passos da turba que se aproximava em Sua busca. Voltando-se para os discípulos disse: "Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima." Mateus 26:46. ------------------------Capítulo 14 -- Traição e prisão de Jesus VJ 85 1 Nenhum traço de Seus recentes sofrimentos podia ser notado quando o Salvador Se adiantou para encontrar Seu traidor. Colocando-Se adiante dos discípulos, perguntou à turba: VJ 85 2 "A quem buscais? Responderam-Lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou Eu." João 18:4, 5. VJ 85 3 Ao dizer essas palavras, o anjo que O confortara, colocou-se entre Ele e a multidão. Uma luz divina iluminou Seu rosto e uma forma de pomba pairava sobre Ele. A turba assassina não pôde suportar por um momento sequer a luz da presença divina. Recuaram cambaleantes, e sacerdotes, anciãos e soldados caíram por terra, sem sentidos. VJ 86 1 O anjo se retirou e a luz se apagou. Jesus poderia ter escapado, mas permaneceu ali, calmo e com perfeito domínio de Si mesmo enquanto os discípulos estavam assustados demais para dizer uma só palavra. VJ 86 2 Os soldados logo se recobraram, levantando-se, e junto com os sacerdotes e Judas rodearam Jesus. Pareciam envergonhados de sua fraqueza e temerosos de que Ele pudesse fugir. O Salvador lhes pergunta de novo: VJ 86 3 "A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou Eu; se é a Mim, pois, que buscais, deixai ir estes." João 18:7, 8. VJ 86 4 Nessa hora de provação, os pensamentos de Cristo se voltaram para os Seus amados discípulos. Não queria que sofressem, ainda que tivesse de ser preso e morto. O beijo da traição VJ 86 5 Judas, o traidor, não se esqueceu da parte que tinha a desempenhar. Aproximou-se e O beijou. Disse-lhe Jesus: "Amigo, para que vieste?" Mateus 26:50. E com voz trêmula acrescentou: "Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?" Lucas 22:48. VJ 86 6 Essas amáveis palavras deveriam comover o coração de Judas, mas parece que todo o sentimento de ternura e dignidade o havia abandonado. Agora estava sob o domínio de Satanás. Colocou-se com arrogância ao lado de Jesus e não se envergonhou de entregá-Lo à turba cruel. VJ 86 7 Cristo não recusou o beijo do traidor. Nisso, Ele nos deu exemplo de tolerância, amor e simpatia. Se somos Seus discípulos, devemos tratar nossos inimigos como Ele tratou Judas. VJ 86 8 A multidão homicida se tornou mais ousada quando viu o traidor tocar o Ser que pouco antes havia sido iluminado com a luz celeste diante de seus olhos. Em seguida, prenderam-No e ataram Suas mãos que sempre se ocuparam em fazer o bem. VJ 86 9 Os discípulos não acreditavam que Jesus consentiria em ser preso. Tinham certeza de que o poder que havia lançado a turba por terra era suficiente para livrar o Mestre e Seus companheiros. Ficaram desapontados e indignados quando viram as mãos de Seu amado Mestre serem amarradas. Furioso. Pedro arrancou da espada e brandindo-a cortou a orelha do servo do sacerdote. VJ 86 10 Jesus, vendo o que Pedro fizera, soltou as mãos firmemente amarradas pelos soldados romanos e disse: "Deixai, basta." Lucas 22:51. Tocou então a orelha ferida, que sarou no mesmo instante. VJ 87 1 Disse então a Pedro: "Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão. Acaso, pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?" Mateus 26:52-54. "Não beberei, porventura, o cálice que o Pai Me deu?" João 18:11. VJ 87 2 Voltando-Se então para os sacerdotes e capitães do templo que se encontravam na multidão, disse-lhes: "Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias Eu estava convosco no templo, ensinando, e não Me prendestes; contudo, é para que se cumpram as Escrituras." Marcos 14:48, 49. VJ 87 3 Quando os discípulos viram que o Salvador não fazia nenhum esforço para Se livrar de Seus inimigos, culparam-No por isso. Não podiam compreender Sua rendição àquela turba e, cheios de medo, deixaram o Mestre sozinho e fugiram. VJ 87 4 Cristo havia predito a cena do abandono quando disse: "Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e Me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo." João 16:32. Perante Anás e Caifás VJ 87 5 Jesus foi levado do Jardim do Getsêmani cercado pela turba que o vaiava. Movia-Se com dificuldade pois Suas mãos estavam fortemente atadas e os soldados O mantinham bem perto. VJ 87 6 Primeiro foi levado à casa de Anás, o antigo sumo sacerdote cujo cargo havia sido ocupado por seu genro, Caifás. O ímpio Anás queria ser o primeiro a ver Jesus preso e tirar dEle provas que O levariam à condenação. VJ 87 7 Com essa intenção, interrogou o Salvador em relação aos Seus discípulos e ensinamentos. Cristo respondeu: VJ 87 8 "Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto." João 18:20. VJ 87 9 Então, voltando-Se para o que O interrogava, disse: "Por que Me interrogas? Pergunta aos que ouviram." João 18:21. VJ 87 10 Os próprios sacerdotes tinham enviado espiões para observar Cristo e relatar cada palavra que dizia. Através deles, sabiam tudo o que Cristo ensinava e fazia em cada reunião. Os espiões tentavam apanhá-Lo em Suas próprias palavras para que, desse modo, pudessem condená-Lo. Por isso o Salvador disse: "Pergunta aos que ouviram." João 18:21. Dirigi-vos aos vossos espiões. Eles ouviram o que Eu disse e podem contar-vos a respeito dos Meus ensinos. VJ 87 11 As palavras de Jesus foram tão penetrantes e diretas que o sacerdote sentiu que o seu Prisioneiro conhecia suas intenções. VJ 87 12 Um dos servos de Anás, porém, sentindo que seu mestre não havia sido tratado com o devido respeito, bateu no rosto de Jesus, dizendo: VJ 88 1 "É assim que falas ao sumo sacerdote? Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que Me feres?" João 18:22, 23. VJ 88 2 Jesus poderia ter convocado legiões de anjos celestes para vir em Seu auxílio; mas era parte de Sua missão suportar, em Sua humanidade, todas as ofensas e insultos que os homens pudessem acumular sobre Ele. Julgamento forjado VJ 88 3 Da casa de Anás, o Salvador foi levado ao palácio de Caifás. Ele deveria ser interrogado pelo Sinédrio e, enquanto seus membros eram convocados, Anás e Caifás O questionaram outra vez, mas não obtiveram vantagem sobre Ele. VJ 88 4 Quando os membros do Sinédrio estavam reunidos, Caifás tomou seu lugar de presidente, ladeado pelos juízes; diante deles, os soldados romanos guardavam o Salvador; atrás deles se encontrava a turba acusadora. VJ 88 5 Caifás então ordenou que Jesus operasse um de Seus milagres diante de todos, mas o Salvador permanecendo em silêncio, não deu nenhum sinal de que tinha ouvido uma palavra sequer. Tivesse Ele respondido com um único olhar penetrante e cheio de autoridade tal qual lançara aos comerciantes no templo e toda aquela turba homicida fugiria imediatamente de Sua presença. VJ 88 6 Naquela época, os judeus estavam sob o domínio dos romanos e não eram autorizados a condenar ninguém à morte. O Sinédrio apenas examinava o prisioneiro e então transferia o julgamento para ser ratificado pelas autoridades romanas. VJ 88 7 Para cumprir seu ímpio propósito, deveriam encontrar alguma acusação contra o Salvador que fosse considerada como um ato criminoso pelo governador romano. Podiam assegurar que tinham suficientes evidências de que Cristo havia falado contra muitas tradições e ordenanças judaicas. Era fácil provar que Ele havia denunciado sacerdotes e escribas, chamando-os de hipócritas e assassinos, mas isso não seria motivo de condenação perante os romanos, pois eles mesmos odiavam a hipocrisia dos fariseus. VJ 88 8 Muitas acusações foram apresentadas contra Jesus, mas, ou as testemunhas não estavam de acordo, ou os depoimentos eram de tal natureza que não seriam aceitos pelos romanos. Tentaram fazê-Lo falar, em resposta às acusações, mas Ele parecia não ouvi-los. O silêncio de Cristo, naquele momento, já havia sido descrito pelo profeta Isaías: VJ 89 1 "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a boca." Isaías 53:7. VJ 89 2 Os sacerdotes começaram a temer que não conseguiriam nenhuma prova convincente que pudesse levar Cristo à presença de Pilatos. Sentiam que uma última tentativa precisava ser feita. O sumo sacerdote apontou a mão para o Céu e se dirigiu a Jesus, em forma de solene juramento: VJ 89 3 "Eu Te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus." Mateus 26:63. VJ 89 4 O Salvador jamais negou Sua missão ou Seu relacionamento com o Pai. Podia calar-Se diante de um insulto, mas sempre falava aberta e decididamente quando Sua obra ou filiação divina eram questionadas. VJ 89 5 Todo ouvido inclinou-se para ouvir e todo olhar fixou-se nEle, quando respondeu: "Tu o disseste." Mateus 26:25. VJ 89 6 Segundo o costume da época, responder daquele modo significava "sim" ou "é tal qual disseste". Essa era a maneira de responder de modo mais enfático a uma resposta afirmativa. Uma luz celestial iluminou Seu rosto pálido quando acrescentou: VJ 89 7 "Entretanto, Eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu." Mateus 26:64. VJ 89 8 Nessa declaração, o Salvador apresentou o reverso da cena que ali se desenrolava, apontando-lhes um tempo em que Ele ocupará a posição de Supremo Juiz do Céu e da Terra. Então estará assentado no trono do Pai e de Suas sentenças não haverá apelação. VJ 89 9 Diante de Seus ouvintes, trouxe uma visão daquele dia, quando, ao invés de sofrer abusos e escárnios da turba desordeira, virá nas nuvens do Céu com poder e grande glória. Legiões de anjos O escoltarão e então pronunciará a sentença contra Seus inimigos, achando-se entre eles a mesma turba que O acusava. VJ 89 10 Ao Jesus Se declarar Filho de Deus e Juiz do mundo, o sacerdote rasgou suas vestes, mostrando-se horrorizado. Ergueu as mãos para o Céu e disse: VJ 89 11 "Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia! Que vos parece? Responderam eles: É réu de morte." Mateus 26:65, 66. VJ 89 12 Segundo as leis judaicas, um prisioneiro não podia ser julgado à noite. Por isso, embora já condenado, deveria haver um outro julgamento durante o dia. Insultando o criador VJ 90 1 Jesus foi levado, em seguida, para a sala da guarda, onde sofreu escárnio e abuso dos soldados e da multidão. VJ 90 2 Ao amanhecer, foi Ele conduzido novamente à presença dos juízes onde a condenação definitiva foi pronunciada. Uma fúria satânica se apossou dos líderes e do povo. A multidão urrava como feras selvagens. Lançaram-se então contra Cristo, gritando: "Ele é culpado, matem-No!" Se os soldados romanos não estivessem presentes, eles O teriam feito em pedaços. Porém, a autoridade romana se interpôs, e, com a força das armas, reprimiu a violência do povo. VJ 90 3 Sacerdotes e príncipes se misturaram à multidão e cobriram o Salvador de insultos. Vestiram-No com um manto surrado e Lhe bateram no rosto, dizendo: "Profetiza-nos, Cristo, quem é que Te bateu!" Mateus 26:68. VJ 90 4 E tirando as Suas vestes, cuspiram-Lhe no rosto. VJ 90 5 Os anjos de Deus registraram fielmente cada insulto, olhar, palavra e ato contra seu amado Comandante. Um dia aqueles homens vis que zombaram e bateram no rosto pálido e sereno de Cristo contemplarão esse mesmo rosto mais brilhante do que o Sol. A tragédia de Judas VJ 90 6 Os príncipes judeus estavam ansiosos por prender Jesus, mas por receio de provocar um tumulto entre o povo, não ousavam fazê-Lo abertamente. Por isso buscaram alguém que pudesse traí-Lo secretamente e encontraram em Judas, um dos doze discípulos, a pessoa para praticar esse ato vil. VJ 90 7 Judas tinha naturalmente um forte amor pelo dinheiro, nem sempre fora mau e corrupto a ponto de praticar tal ato. Cultivou, porém, o espírito de avareza até que esse alcançou pleno domínio sobre sua vida e, agora, podia vender o seu Senhor por trinta moedas de prata, o preço de um escravo. Êxodo 21:28-32. Com um beijo traiu o Salvador no Getsêmani. VJ 91 1 Depois de entregá-Lo, seguiu cada passo do Filho de Deus, desde o jardim até o interrogatório diante dos príncipes do povo. Não acreditava que Jesus consentiria em ser morto por eles conforme O ameaçaram. VJ 91 2 A cada momento esperava vê-Lo libertado e protegido pelo poder divino, como havia sido no passado. Mas, à medida que as horas passavam e Jesus Se submetia pacientemente a todas as injúrias e insultos, um terrível medo se apossou do traidor, levando-o a reconhecer que, de fato, ele havia traído Seu Mestre para ser morto. Remorso tardio VJ 92 1 Quando o julgamento terminou, Judas não pôde suportar mais a tortura de uma consciência culpada. De repente, uma voz rouca ecoou no recinto provocando um calafrio de terror em todos os presentes: Ele é inocente. Poupa-O, Caifás. Nada fez para merecer a morte! Mateus 27:3, 4. VJ 92 2 A figura alta de Judas foi vista abrindo caminho pelo meio da multidão chocada. Seu rosto estava pálido e desfigurado e grandes gotas de suor caíam da sua fronte. Avançando até o trono do julgamento, atirou aos pés do sumo sacerdote as trinta peças de prata -- o preço da traição. Agarrou ansiosamente as vestes de Caifás e lhe implorou que libertasse Jesus, pois nEle não havia nenhum crime. Caifás, porém, o repeliu, dizendo: "Que nos importa? Isso é contigo." Mateus 27:4. VJ 92 3 Judas então se lançou aos pés do Salvador. Confessou que Jesus era o Filho de Deus e Lhe implorou que livrasse a Si mesmo de Seus inimigos. Jesus sabia que Judas não havia se arrependido verdadeiramente do seu ato. O falso discípulo temia a punição pelo que havia feito, mas não sentiu genuína tristeza por ter entregue o imaculado Filho de Deus. VJ 93 1 Mesmo assim, Jesus não lhe dirigiu nenhuma palavra de condenação. Olhou-o com piedade e disse: "Para isso nasci e para isso vim ao mundo." João 18:37. VJ 93 2 Um murmúrio de admiração correu pela multidão. Com espanto, presenciaram a longanimidade de Cristo para com Seu traidor. VJ 93 3 Quando Judas percebeu que suas súplicas não dariam resultado, saiu correndo da sala, gritando: "É tarde, é tarde demais!" Sentiu que não podia suportar a crucifixão de Jesus e, em desespero, foi e se enforcou. VJ 93 4 Mais tarde, naquele mesmo dia, quando conduziam Jesus do tribunal de Pilatos ao Calvário, as zombarias e os insultos da turba foram interrompidos quando passaram por um lugar deserto e viram, junto a uma árvore seca, o corpo sem vida de Judas. VJ 93 5 Era um quadro repugnante. O peso do corpo havia rompido a corda e, ao cair, mutilara-se horrivelmente. Os cães agora o devoravam. Os restos foram imediatamente enterrados longe da vista de todos. A zombaria, porém, diminuiu e o rosto pálido de muitos revelava os fortes temores de seu íntimo. Parecia que a retribuição já começava a atingir os que eram culpados do sangue de Jesus. ------------------------Capítulo 15 -- O julgamento de Cristo VJ 95 1 Após ter sido condenado pelos juízes do Sinédrio, Cristo foi levado à presença de Pilatos, governador romano, para que a sentença fosse confirmada e executada. Os sacerdotes judeus não podiam entrar na sala de julgamento de Pilatos. De acordo com as leis cerimoniais, tal ato os tornava imundos e os excluía da participação da festa da Páscoa. VJ 95 2 Em sua cegueira, não viam que Cristo era o verdadeiro Cordeiro da Páscoa e que ao rejeitá-Lo, a grande festa havia perdido seu significado. VJ 95 3 Quando Pilatos olhou para Jesus, notou nEle um homem de aspecto nobre e de porte digno. Em Seu semblante não havia nenhuma expressão de delito. Voltando-se para os sacerdotes, perguntou: "Que acusação trazeis contra Este homem?" João 18:29. VJ 95 4 Seus acusadores, que não desejavam entrar em pormenores, não estavam preparados para essa pergunta. Sabiam que não possuíam nenhuma evidência confiável para que o governador romano condenasse Jesus. Então suscitaram contra Ele falsas testemunhas que disseram: "Encontramos Este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser Ele o Cristo, o Rei." Lucas 23:2. VJ 96 1 Isso era mentira, pois Cristo havia claramente sancionado o pagamento de tributo a César. Quando os escribas O interrogaram sobre essa questão, tentando Lhe armar uma cilada, respondeu: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." Mateus 22:21. VJ 96 2 Pilatos não se deixou enganar pelo depoimento das falsas testemunhas. Voltou-se para o Salvador e perguntou: VJ 96 3 "És Tu o Rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes." Mateus 27:11. VJ 96 4 Ao ouvirem essa resposta, Caifás e os que o acompanhavam apelaram para o testemunho que o próprio Pilatos acabava de ouvir dos lábios de Jesus, de que Ele era, de fato, culpado do crime de que O acusavam. Em altos brados, pediram Sua condenação à morte. VJ 96 5 Como Cristo nada respondesse aos Seus acusadores, Pilatos Lhe disse: VJ 96 6 "Nada respondes? Vê quantas acusações Te fazem! Jesus, porém, não respondeu." Marcos 15:4, 5. VJ 96 7 Pilatos estava perplexo. Não havia encontrado qualquer indício de crime em Jesus. E não confiava naqueles que O acusavam. O porte nobre e a conduta discreta do Salvador contrastavam diretamente com a exaltação e fúria de seus acusadores. Isso impressionou o governador a ponto de se convencer da inocência de Cristo. A oportunidade de Pilatos VJ 96 8 Esperando ouvir dEle a verdade, chamou-O para perto de si e perguntou: VJ 96 9 "És Tu o Rei dos judeus?" João 18:33. VJ 96 10 Cristo não respondeu diretamente a essa pergunta, mas devolveu-lhe outra pergunta: VJ 96 11 "Vem de ti mesmo esta pergunta ou to disseram outros a Meu respeito?" João 18:34. VJ 96 12 O Espírito de Deus estava operando no coração de Pilatos. A pergunta de Jesus tinha o objetivo de levá-lo a examinar mais profundamente seu coração. Pilatos entendeu o significado da pergunta e seu próprio coração se abriu ante ele, sentindo a alma se agitar pela convicção. Nesse momento, porém, um sentimento de orgulho se apoderou dele, e voltando-se para Jesus, disse-Lhe: VJ 97 1 "Porventura, sou judeu? A Tua própria gente e os principais sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?" João 18:35. VJ 97 2 A grande oportunidade de Pilatos havia passado; contudo, Jesus desejava que o governador compreendesse que Ele não viera para ser um rei da Terra e por isso lhe disse: VJ 97 3 "O Meu reino não é deste mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus ministros se empenhariam por Mim, para que não fosse Eu entregue aos judeus; mas agora o Meu reino não é daqui." João 18:36. VJ 97 4 "Então, Lhe disse Pilatos: Logo, Tu és Rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou Rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz." João 18:37. VJ 97 5 Pilatos tinha desejo de conhecer a verdade. Sua mente estava confusa. Avidamente apanhou as palavras de Cristo e seu coração se comoveu com o desejo de conhecer e obter a verdade. Então perguntou a Jesus: "Que é a verdade?" João 18:38. VJ 97 6 Mas não esperou pela resposta. Fora do tribunal, a turba chegou ao máximo da agitação e tumulto. Os sacerdotes clamavam por uma ação imediata e Pilatos teve que se voltar para os interesses do momento. Dirigindo-se ao povo, declarou: VJ 97 7 "Eu não acho nEle crime algum." João 18:38. Essas palavras, vindas dos lábios de um juiz gentio, eram uma reprovação esmagadora da deslealdade e falsidade dos príncipes de Israel que incriminavam o Salvador. VJ 97 8 Quando os sacerdotes e anciãos ouviram o juízo de Pilatos, sua decepção e fúria não conheceram limites. Fazia muito tempo que haviam planejado e esperado por essa oportunidade. Quando viram que havia possibilidade de libertação de Jesus, ficaram a ponto de despedaçá-Lo. VJ 97 9 Descontrolados e irracionais, começaram a praguejar, comportando-se como verdadeiros demônios. Aos gritos, denunciaram Pilatos, ameaçando-o de censura por parte do governo romano. Acusaram-no de se recusar condenar alguém que eles afirmavam ter-se insurgido contra César. Então se puseram a clamar: VJ 97 10 "Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui." Lucas 23:5. VJ 97 11 Até ali Pilatos não havia pensado em condenar Jesus, pois estava certo de Sua inocência. Mas quando ouviu que Cristo era da Galiléia, decidiu enviá-Lo a Herodes, o governador daquela província, o qual se encontrava então em Jerusalém. Através dessa manobra, Pilatos pensou em transferir a responsabilidade de suas mãos para as de Herodes. VJ 98 1 Jesus estava enfraquecido pela fome e exausto pela falta de sono. Além disso, sofria pelo tratamento cruel que havia recebido. Mesmo assim, Pilatos O devolveu aos soldados e Ele foi arrastado entre os insultos e zombaria da multidão impiedosa. Perante Herodes VJ 98 2 Herodes nunca havia se encontrado com Jesus, mas havia muito desejava vê-Lo e testemunhar Seus maravilhosos milagres. Quando o Salvador foi conduzido à sua presença, a turba se agitou, acotovelando-se. Gritavam coisas diferentes, produzindo um vozerio confuso. Herodes ordenou silêncio, pois desejava interrogar o prisioneiro. VJ 98 3 Comovido e curioso, olhou o rosto pálido de Jesus. Viu nele traços de profunda sabedoria e pureza. Estava convencido, assim como Pilatos, de que somente a maldade e a inveja eram os únicos motivos que levaram os judeus a acusá-Lo. VJ 98 4 Então, Herodes O instigou a operar um de Seus milagres diante dele com a promessa de que O soltaria se assim fizesse. Deu ordens para que viessem pessoas paralíticas e deformadas para que Cristo as curasse. O Salvador, porém, Se manteve impassível como se nada estivesse ouvindo ou vendo. VJ 98 5 O Filho de Deus havia assumido em Si mesmo a natureza humana e Lhe cumpria agir como homem em idênticas circunstâncias. Entretanto, não operaria um milagre para meramente satisfazer a curiosidade ou salvar a Si mesmo da dor e humilhação a que homens em situações semelhantes teriam que se sujeitar. VJ 98 6 Seus acusadores tremeram quando Herodes Lhe pediu um milagre. Uma das coisas que mais temiam era a manifestação do poder divino que já tinham presenciado em Cristo. Tal manifestação seria um golpe mortal em seus planos e talvez lhes custasse a própria vida. Por isso, começaram a gritar, atribuindo os milagres de Jesus ao poder de Belzebu, o príncipe dos demônios. Coração endurecido VJ 98 7 Alguns anos antes, Herodes ouvira os ensinos de João Batista e ficara profundamente impressionado; contudo, não abandonara sua vida de intemperança e pecado. Seu coração se endureceu mais e mais e, finalmente, em uma noite de orgia e bebedeira, ordenara que João fosse decapitado para agradar a perversa Herodias. VJ 98 8 Agora, achava-se mais endurecido ainda. Não pôde suportar o silêncio de Jesus. Uma sombra de ira e paixão foi notada em seu rosto e, enfurecido, ameaçou o Salvador, que permaneceu imóvel, em silêncio. VJ 98 9 Cristo viera ao mundo para curar os sofredores. Pudesse Ele ter dito uma única palavra para curar as feridas das almas enfermas pelo pecado, não teria guardado silêncio. Mas nada tinha a dizer àqueles que pisariam a verdade sob seus pés profanos. VJ 98 10 Aquele ouvido que sempre estivera atento aos clamores da miséria humana, se achava agora surdo à ordem de Herodes. Aquele coração, que sempre se comovia com o apelo do mais vil dos pecadores, se fechou ao rei presunçoso que não sentia necessidade de um Salvador. VJ 98 11 Irado, Herodes se voltou para a multidão e declarou Jesus um impostor. Mas Seus acusadores sabiam que não se tratava de nenhum impostor, posto que haviam presenciado muitos de Seus feitos poderosos. VJ 98 12 Então o rei começou a insultar e ridicularizar vergonhosamente o Filho de Deus. "Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-O com desprezo, e, escarnecendo dEle, fê-Lo vestir-Se de um manto aparatoso." Lucas 23:11. VJ 98 13 Quando o perverso rei notou que Jesus sofria em silêncio todas as injúrias, se comoveu com um repentino receio de que não tinha diante de si um homem comum. Ficou perplexo com a idéia de que aquele prisioneiro pudesse ser alguma divindade que descera à Terra. VJ 98 14 Herodes não ousou confirmar a condenação de Jesus. Desejava se livrar daquela terrível responsabilidade e então O enviou de volta a Pilatos. Pilatos perde a autoridade VJ 98 15 Quando os judeus voltaram da presença de Herodes trazendo Jesus de volta ao tribunal, Pilatos ficou muito aborrecido e lhes perguntou o que queriam que ele fizesse. Lembrou-lhes de que já O havia interrogado e não encontrara nenhuma culpa nEle. Recordara-lhes as acusações que fizeram contra Ele, mas nenhuma prova convincente fora apresentada para confirmar uma única acusação. VJ 98 16 Conforme foi mencionado anteriormente, levaram Jesus à presença de Herodes, que era judeu como eles mesmos e ele nada encontrou para que fosse condenado à morte. Contudo, para apaziguar os acusadores, Pilatos disse: "Portanto, após castigá-Lo, soltá-Lo-ei." Lucas 23:16. VJ 99 1 Nisso, Pilatos mostrou sua fraqueza, pois se sabia que Cristo era inocente, por que mandaria castigá-Lo? Assim fazendo, comprometia-se com o erro. Os judeus não mais esqueceram disso durante o julgamento. Haviam conseguido intimidar o governador romano e, agora, tirando vantagem disso, haveriam de pressioná-lo até conseguir a condenação de Jesus. VJ 99 2 A multidão, em alvoroço, exigia mais e mais a vida do prisioneiro. Enquanto hesitava em relação ao que fazer, recebeu uma carta de sua esposa que dizia: "Não te envolvas com esse Justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por Seu respeito." Mateus 27:19. VJ 99 3 Pilatos, ao ler a carta, empalideceu; o povo, ao perceber sua hesitação, redobrou a insistência. Ele sabia que precisava tomar alguma atitude. Era costume, no período da Páscoa, soltar um prisioneiro que o povo escolhesse. Os soldados romanos haviam capturado, um criminoso de fama, chamado Barrabás. Era ladrão e assassino. Então Pilatos se voltou para a multidão e lhes perguntou com seriedade: VJ 99 4 "A quem quereis que eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo?" Mateus 27:17. VJ 99 5 "Toda a multidão, porém, gritava: Fora com Este! Solta-nos Barrabás!" Lucas 23:18. VJ 99 6 Pilatos emudeceu de espanto e desapontamento. Entregando o julgamento ao povo, ele havia perdido a dignidade e o controle da multidão. Daí em diante, se tornou apenas um joguete nas mãos do povo. Eles o levavam aonde queriam. Então perguntou: VJ 99 7 "Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo? Seja crucificado! Responderam todos. Que mal fez ele? Perguntou Pilatos. Porém, cada vez clamavam mais: Seja crucificado!" Mateus 27:22, 23. VJ 99 8 Quando ouviu o grito terrível "Crucifica-O!", o rosto de Pilatos empalideceu. Ele não imaginara tal desfecho. Repetidas vezes havia declarado Jesus inocente, contudo o povo insistia em que Ele sofresse a mais cruel de todas as mortes. Outra vez perguntou: "Que mal fez Ele?" E outra vez o terrível grito ecoou nos ares: "Crucifica-O!" Marcos 15:14. VJ 99 9 Pilatos fez um último esforço para lhes despertar simpatia. Mandou que tomassem a Jesus, completamente exausto e coberto de feridas e O açoitassem na presença de Seus acusadores. O escárnio dos ímpios VJ 101 1 "Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, puseram-Lha na cabeça e vestiram-No com um manto de púrpura. Chegavam-se a Ele e diziam: Salve, Rei dos judeus! E davam-Lhe bofetadas." João 19:2, 3. Cuspiram nEle e uma perversa mão arrancou a vara que Lhe haviam posto nas mãos e com ela Lhe golpeou a coroa em Sua fronte a ponto de os espinhos penetrarem em Suas têmporas e o sangue jorrar pelo rosto e barba. VJ 101 2 Satanás liderava os cruéis soldados em seus abusos contra Jesus. Queria incitá-Lo a algum tipo de vingança, se possível, ou levá-Lo a operar um milagre para livrar a Si mesmo e assim frustrar o plano da salvação. Uma única mancha em Sua vida humana, ou uma única falha em suportar o terrível teste e o Cordeiro de Deus seria uma oferta imperfeita e a redenção do homem teria fracassado. VJ 101 3 Aquele, porém, que podia comandar as hostes celestiais e chamar em Seu auxílio legiões de anjos, sendo que apenas um deles seria suficiente para subjugar a turba cruel, que poderia ter lançado por terra Seus atormentadores com apenas um raio de Sua divina majestade, submeteu-Se a todas as afrontas e ultrajes com uma compostura digna e humilde. Assim como os atos de Seus torturadores os rebaixavam à semelhança de Satanás, a mansidão e a paciência de Jesus O exaltavam acima da humanidade e provavam Seu parentesco com Deus. VJ 101 4 Pilatos se comoveu profundamente com a paciência e a resignação do Salvador. Pediu que introduzissem a Barrabás na sala do julgamento e então colocou os prisioneiros lado a lado. Apontando para Jesus disse em tom solene: "Eis o homem! ... Eis que eu vo-Lo apresento, para que saibais que eu não acho nEle crime algum." João 19:5, 4. VJ 101 5 Ali estava o Filho de Deus, com o manto escarlate e a coroa de espinhos. Desnudo até a cintura, exibia nas costas os vergões extensos e cruéis dos quais o sangue fluía livremente. Seu rosto, manchado de sangue, trazia as marcas da completa exaustão e dor; mas nunca parecera mais belo. Cada traço expressava bondade e resignação e a mais terna piedade para com Seus cruéis algozes. VJ 101 6 Em chocante contraste, se achava o outro prisioneiro em cujas feições mostrava o criminoso empedernido que era. VJ 101 7 Entre os espectadores havia alguns que simpatizavam com Jesus. Mesmo os sacerdotes e príncipes estavam convictos de que Ele era quem dizia ser. Mas não se renderam. Haviam induzido a turba a uma fúria insana e novamente os sacerdotes, os príncipes e o povo gritaram: VJ 101 8 "Crucifica-O, crucifica-O!" João 19:6. VJ 101 9 Finalmente, com a paciência esgotada diante de uma crueldade tão vingativa e irracional, Pilatos disse ao povo: VJ 101 10 "Tomai-O vós outros e crucificai-O; porque eu não acho nEle crime algum." João 19:6. VJ 101 11 Pilatos fez tudo o que podia para libertar o Salvador; mas os judeus gritavam: VJ 101 12 "Se soltas a Este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é contra César." João 19:12. VJ 101 13 Tais palavras atingiram Pilatos em seu ponto fraco. Ele já se tornara suspeito ao governo romano e tal notícia a seu respeito seria sua ruína. "Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo: Estou inocente do sangue dEste Justo; fique o caso convosco!" Mateus 27:24. VJ 101 14 Em vão Pilatos tentou se eximir da culpa de condenar Jesus. Se tivesse agido com energia e firmeza a princípio, fiel à sua própria e justa convicção, o povo teria que acatar sua decisão e não subjugaria sua vontade. Sua vacilação e indecisão foram sua ruína. Viu que não podia libertar Jesus e ainda manter sua posição e honra. Preferiu sacrificar uma vida inocente a perder sua autoridade terrena. Submetendo-se às exigências do povo, novamente mandou açoitar Jesus, e O entregou para ser crucificado. VJ 102 1 Mas, apesar de suas precauções, o que mais temia veio sobre ele. Foi destituído de sua posição de honra, vindo a morrer não muito tempo depois da crucifixão, ferido em seu orgulho e atormentado de remorsos. VJ 102 2 Do mesmo modo, todos os que se comprometem com o pecado, só ganharão sofrimento e ruína. "Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte." Provérbios 14:12. Invocando a maldição VJ 102 3 Quando Pilatos se declarou inocente do sangue de Cristo, Caifás respondeu com arrogância: VJ 102 4 "Caia sobre nós o Seu sangue e sobre nossos filhos!" Mateus 27:25. VJ 102 5 Essas terríveis palavras foram repetidas pelos sacerdotes e pelo povo. Acabavam de pronunciar tremenda sentença sobre si mesmos, uma horrível herança para a posteridade. VJ 102 6 Isso se cumpriu literalmente nas dramáticas cenas da destruição de Jerusalém, cerca de quarenta anos mais tarde. VJ 102 7 Literalmente têm-se cumprido na dispersão, no desprezo e na opressão a que estão sujeitos seus descendentes desde aquele dia. Mas será duplamente literal quando o acerto final de contas vier. O cenário então será mudado. "Esse Jesus... virá" (Atos dos Apóstolos 1:11) "em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus." 2 Tessalonicenses 1:8. VJ 102 8 Dirão eles, então, aos montes e rochedos: "Caí sobre nós e escondei-nos da face dAquele que Se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande dia da ira dEles; e quem é que pode suster-se?" Apocalipse 6:16, 17. ------------------------Capítulo 16 -- A glória do Calvário VJ 105 1 Jesus foi levado ao Calvário apressadamente, em meio a zombarias e gritos de insulto da multidão. Ao passar o limiar do tribunal, puseram-Lhe sobre os ombros feridos a cruz destinada a Barrabás. Os dois ladrões que seriam crucificados com Jesus também receberam suas cruzes. VJ 105 2 O peso do madeiro era mais do que o Salvador podia suportar, em Sua exaustão e sofrimento. Andou apenas alguns passos e caiu desmaiado sob o peso da cruz. VJ 105 3 Quando voltou a Si, a cruz foi outra vez colocada sobre Seus ombros. Cambaleou mais alguns passos e outra vez caiu sem sentidos. Seus algozes viram que Lhe era impossível carregar um peso além de Suas forças e ficaram perplexos, sem saber quem deveria levar aquele fardo humilhante. VJ 105 4 Naquele momento, vindo casualmente ao encontro deles, apareceu Simão, um cireneu, a quem obrigaram a levar a cruz até o Calvário. VJ 106 1 Os filhos de Simão eram discípulos de Jesus, mas ele mesmo não tinha aceitado a Cristo como seu Salvador. Mais tarde, Simão se sentiu sempre grato pelo privilégio de carregar a cruz do Redentor. O peso que foi obrigado a levar se tornou um meio para sua conversão. Os eventos do Calvário e as palavras que ouviu Jesus pronunciar o levaram a aceitá-Lo como o Filho de Deus. VJ 106 2 Chegando ao lugar da crucifixão, os condenados foram amarrados aos instrumentos de suplício. Os dois ladrões reagiram contra os que tentavam crucificá-los; o Salvador, porém, não ofereceu resistência. Momentos de angústia VJ 106 3 A mãe de Jesus O havia seguido naquela terrível jornada até o Calvário. Ao vê-Lo sucumbir exausto ao peso da cruz, seu coração ansiava por Lhe prestar socorro, mas esse privilégio lhe foi negado. VJ 106 4 A cada passo daquele caminho tão sofrido, desejava que seu filho manifestasse o poder divino para livrar-Se da turba assassina, e agora que o drama chegava ao seu ato derradeiro, ao ver como os ladrões eram pendurados na cruz, quanta ansiedade ela teve que suportar! VJ 107 1 Devia Aquele que havia ressuscitado os mortos entregar-Se para ser crucificado? O Filho de Deus consentiria em aceitar morte tão cruel? Devia ela renunciar à crença de que Ele era de fato o Messias? VJ 107 2 Ela viu também Suas mãos serem estendidas no madeiro -- aquelas mãos que sempre se estenderam para abençoar os sofredores. Trouxeram cravos e martelo e, quando os pregos Lhe perfuraram as mãos, os discípulos levaram o corpo desmaiado de Maria para longe daquela cena cruel. VJ 107 3 O Salvador não soltou um gemido sequer. De Seu rosto pálido e sereno, o suor corria fartamente. Os discípulos tinham fugido da pavorosa cena. "O lagar, Eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo." Isaías 63:3. VJ 108 1 Enquanto os soldados faziam seu trabalho, a mente de Jesus se desviou de Seus sofrimentos para se concentrar na terrível recompensa que aguardava os Seus perseguidores. Tendo piedade deles por sua ignorância, orou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. VJ 108 2 Assim, Cristo conquistou o direito de Se tornar o intercessor entre os homens e Deus. Essa oração abrangia o mundo todo, incluindo cada pecador que existiu ou que viria a existir, desde o princípio até a consumação do século. VJ 108 3 Toda vez que pecamos, Cristo é ferido outra vez. Por nós, Ele ergue as mãos feridas diante do trono do Pai e diz: "Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. O rei dos judeus e do universo VJ 108 4 Logo depois de pregar Jesus na cruz, homens fortes levantaram o madeiro e o fincaram violentamente no chão. Isso causou um intenso sofrimento ao Filho de Deus. Pilatos escreveu então um letreiro em latim, grego e hebraico, que mandou afixar em cima da cruz, para que todos pudessem ler: VJ 108 5 "Jesus Nazareno, o Rei dos judeus." João 19:19. VJ 108 6 No entanto, os judeus pediram que Pilatos mudasse a inscrição do letreiro, dizendo: VJ 108 7 "Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que Ele disse: Sou o Rei dos judeus." João 19:21. VJ 108 8 Mas Pilatos se sentia descontente consigo mesmo por causa de sua fraqueza e desprezou completamente os príncipes perversos e invejosos, dizendo: VJ 108 9 "O que escrevi, escrevi." João 19:22. VJ 108 10 Os soldados dividiram entre si as vestes de Jesus, mas como Sua túnica era sem costura, brigaram por ela e finalmente fizeram um acordo de que deveriam lançar a sorte para ver quem a levaria. O profeta de Deus já havia predito esse incidente nas Escrituras: VJ 108 11 "Cães Me cercam; uma súcia de malfeitores Me rodeia; traspassaram-Me as mãos e os pés. Repartem entre si as Minhas vestes e sobre a Minha túnica deitam sortes." Salmos 22:16, 18. VJ 108 12 Assim que Jesus foi erguido na cruz, desenrolou-se uma terrível cena. Sacerdotes, príncipes do povo e escribas se juntaram à multidão e irromperam em zombarias e insultos contra o Filho de Deus agonizante, dizendo: VJ 108 13 "Se Tu és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo." Lucas 23:37. "Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se. É Rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nEle. Confiou em Deus; pois venha livrá-Lo agora, se, de fato, Lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus." Mateus 27:42, 43. VJ 108 14 Cristo poderia ter descido da cruz; mas, se tivesse feito isso, jamais poderíamos ser salvos. Por amor a nós, Ele Se dispôs a morrer. VJ 108 15 "Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isaías 53:5. ------------------------Capítulo 17 -- Ressurreição e vitória VJ 111 1 Ao entregar Sua preciosa vida, Cristo não teve a alegria do triunfo para animá-Lo. Seu coração estava oprimido pela angústia e ferido pela tristeza. Mas não era o medo da morte a causa do Seu sofrimento, e sim o peso esmagador do pecado do mundo que O separava do amor de Seu Pai. Isso foi o que quebrantou o coração do Salvador, a tal ponto que determinou Sua morte antes do tempo previsto. VJ 111 2 Cristo sentiu a angústia que os pecadores hão de sentir quando tiverem consciência de sua culpa e reconhecerem estar para sempre excluídos da paz e da alegria do Céu. VJ 111 3 Os anjos contemplam com assombro a intensa agonia do Filho de Deus. Sua angústia mental é tão intensa que quase não sente os sofrimentos da cruz. VJ 112 1 A própria natureza se envolveu com aquela cena. O Sol, que até o meio-dia havia brilhado no firmamento, de repente negou seu brilho; em volta da cruz, tudo ficou mergulhado em trevas, como se fosse a hora mais escura da noite. Essa escuridão sobrenatural durou três horas completas. VJ 112 2 Um terror indescritível se apossou da multidão. As zombarias e insultos cessaram completamente. Homens, mulheres e crianças caíram por terra cheios de pavor. VJ 112 3 Relâmpagos ocasionais iluminavam a cruz e o Salvador crucificado. Todos julgavam que sua hora de retribuição havia chegado. VJ 112 4 À hora nona, as trevas se dissiparam de sobre o povo, mas ainda envolviam o Salvador como um manto. Raios flamejantes pareciam arremessar-se sobre Ele, ali pendurado na cruz. Foi então que exclamou em um grito desesperado: VJ 112 5 "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" Mateus 27:46. VJ 112 6 Nesse momento, a escuridão caiu sobre Jerusalém e as planícies da Judéia. Todos os olhos se voltaram para a cidade condenada e viram os raios ameaçadores da ira de Deus sendo arrojados contra ela. VJ 112 7 De repente, a sombra sobre a cruz se dissipou, e com voz clara e poderosa que parecia ressoar por toda a criação, Jesus exclamou: VJ 112 8 "Está consumado!" João 19:30. "Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!" Lucas 23:46. VJ 112 9 Uma luz inundou a cruz e o rosto do Salvador se tornou tão brilhante como o Sol. Depois, curvando a cabeça sobre o peito, expirou. VJ 112 10 A multidão ao redor da cruz ficou paralisada e com a respiração suspensa contemplava o Salvador. Outra vez, as trevas baixaram sobre a Terra e se ouviu um estrondo como um poderoso trovão acompanhado de um terremoto. VJ 112 11 As pessoas foram lançadas umas sobre as outras pelo terremoto. Seguiu-se a mais terrível confusão. Nas montanhas vizinhas, as rochas se fenderam precipitando-se penhasco abaixo. Os túmulos se abriram lançando de si seus mortos. Parecia que toda a Criação estava se partindo aos pedaços. Sacerdotes, príncipes, soldados e o povo, mudos de terror, jaziam prostrados ao solo. No sepulcro VJ 112 12 O Salvador havia sido condenado por crime de conspiração contra o governo romano. Pessoas que eram executadas por esse motivo tinham que ser sepultadas à parte, em um local destinado a tais criminosos. VJ 112 13 João, o discípulo amado, estremeceu ante a idéia de que o corpo de seu amado Mestre pudesse ser levado pelos insensíveis soldados romanos e sepultado em um lugar de desonra. Mas ele não podia evitar isso e tampouco tinha alguma influência junto a Pilatos. VJ 112 14 Nesse momento de indecisão, Nicodemos e José de Arimatéia, homens ricos e de influência, vieram para ajudar os discípulos. Ambos eram membros do Sinédrio e conhecidos de Pilatos e decidiram que o Salvador seria sepultado com as devidas honras. VJ 112 15 José foi à presença de Pilatos e pediu corajosamente o corpo de Jesus. Pilatos, depois de haver se informado de que Jesus estava realmente morto, concedeu-lhe o pedido. VJ 112 16 Enquanto José foi conversar com Pilatos, Nicodemos fez os preparativos para o sepultamento. Era* costume, na época, embalsamar o corpo com ungüentos preciosos e especiarias, e envolvê-lo com lençóis de linho. Assim, Nicodemos trouxe cerca de cinqüenta quilos de um preparado de mirra e aloés, muito caro, para o corpo de Jesus. VJ 113 1 Nem a pessoa mais honrada de Jerusalém poderia receber maior respeito e honra em sua morte. Os humildes seguidores de Cristo ficaram maravilhados ao ver o interesse demonstrado por esses príncipes ricos no sepultamento de seu Mestre. Homenagens póstumas VJ 113 2 Oprimidos pela tristeza, os discípulos se esqueceram de que Jesus predissera aqueles acontecimentos. Estavam sem esperança. Nem José, nem Nicodemos aceitaram a Jesus como Salvador abertamente enquanto Ele vivia, mas tinham ouvido Seus ensinos e acompanharam bem de perto cada passo de Seu ministério. Embora os discípulos tivessem esquecido as palavras do Salvador acerca de Sua morte, José e Nicodemos se lembravam muito bem delas. E as cenas ligadas com a morte de Jesus, que desanimaram os discípulos e abalaram sua fé, foram para esses líderes a prova incontestável de que Jesus era o Messias, levando-os a tomar uma posição firme ao Seu lado. VJ 113 3 O apoio desses homens ricos e honrados foi extremamente oportuno naquela ocasião. Eles podiam fazer por seu Mestre morto o que era impossível aos pobres discípulos. VJ 113 4 Com delicadeza e reverência, removeram da cruz, com as próprias mãos, o corpo de Cristo. Lágrimas de compaixão fluíam livremente ao contemplarem o corpo ferido e dilacerado do Mestre. VJ 113 5 José possuía um sepulcro novo, talhado na rocha. Ele o havia construído para seu próprio uso, mas agora o destinara a Jesus. O corpo, com as especiarias trazidas por Nicodemos, foi cuidadosamente envolto em um lençol de linho e o Redentor foi levado à sepultura. VJ 113 6 Embora os príncipes do povo tivessem conseguido a morte de Cristo, não podiam ficar tranqüilos. Conheciam muito bem o Seu grande poder. VJ 113 7 Alguns deles estiveram presentes no túmulo de Lázaro quando Jesus o chamou de volta à vida e tremiam ao pensar que Cristo poderia ressuscitar dos mortos e aparecer diante deles. VJ 113 8 Tinham ouvido Jesus dizer à multidão que estava em Seu poder depor Sua vida e reavê-la e lembraram-se de Suas palavras: "Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei." João 2:19. E sabiam que Ele Se referia a Seu próprio corpo. VJ 113 9 Judas lhes havia dito que em sua última viagem a Jerusalém, Ele teria dito: VJ 113 10 "Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles O condenarão à morte. E O entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas, ao terceiro dia, ressurgirá." Mateus 20:18, 19. VJ 113 11 Recordavam-se agora de muitas coisas que Ele havia dito, predizendo Sua ressurreição, e por mais que quisessem não conseguiam se livrar das apreensões. Como seu pai, o diabo, acreditavam e tremiam. VJ 113 12 Todas as coisas confirmavam que Jesus era o Filho de Deus. À noite, não conseguiam dormir e viviam, agora que Jesus estava morto, mais preocupados com Ele do que quando estava vivo.* VJ 114 1 Decididos a fazer tudo o que pudessem para reter Jesus no túmulo, pediram a Pilatos para selar e guardar o sepulcro até o terceiro dia. Pilatos enviou uma guarda à disposição dos sacerdotes, e disse: VJ 114 2 "Aí tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer. Indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e deixando ali a escolta." Mateus 27:65, 66. Ressuscitou! VJ 114 3 A entrada do sepulcro havia sido fechada com uma grande pedra e foi guardada com a máxima segurança. O selo do império romano fora colocado de tal maneira que a pedra não poderia ser removida sem rompê-lo. VJ 114 4 Uma escolta de soldados romanos montava guarda ao redor, mantendo estrita vigilância para que o corpo não fosse molestado. Alguns guardas rondavam constantemente enquanto outros descansavam no chão. VJ 114 5 Havia, porém, outra guarda perto do túmulo. Anjos poderosos, enviados do Céu, estavam ali. Apenas um desses anjos tinha força suficiente para destruir todo o exército romano. VJ 114 6 A noite que precedeu a manhã do primeiro dia da semana se arrastou lentamente, e se aproximou a hora mais escura, antes do alvorecer. VJ 114 7 Um dos mais poderosos anjos do Céu foi enviado. Seu rosto brilhava como um relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve. As trevas fugiam à sua passagem e o céu inteiro foi iluminado com o brilho de sua glória. VJ 114 8 Os soldados adormecidos despertaram e se colocaram em posição de sentido. Com assombro e admiração olharam o céu aberto e a visão resplandecente que deles se aproximava. VJ 114 9 A terra tremia e arquejava à aproximação do poderoso ser celestial. O anjo veio para cumprir uma missão gloriosa e a velocidade e o poder de seu vôo sacudiram a terra em forte comoção. Soldados, oficiais e sentinelas caíram por terra como mortos. VJ 114 10 Havia ainda outra guarda presente na entrada do sepulcro formada por espíritos maus. Cristo estava morto e Satanás, como dono do império da morte, exigia para si o corpo sem vida de Jesus. VJ 114 11 Os anjos de Satanás estavam presentes para se certificar de que nenhum poder poderia arrebatar Jesus de seu domínio. Mas quando o mensageiro poderoso, enviado do trono de Deus, se aproximou, eles fugiram de terror ante aquela visão. Ressurgindo vitorioso VJ 114 12 O anjo rolou a grande pedra que selava o túmulo como se fosse um seixo e, com voz poderosa que fez a terra tremer, bradou: VJ 114 13 "Jesus, Filho de Deus, Teu Pai Te chama!" VJ 114 14 Então Aquele que conquistara o poder sobre a morte, saiu do sepulcro triunfante e proclamou: "Eu sou a ressurreição e a vida." João 11:25. A hoste de anjos se curvou em reverente adoração diante do Redentor e o receberam com cânticos de louvor. Ao ressurgir, a terra estremeceu, raios faiscaram e trovões ribombaram. Um terremoto assinalou a hora em que Jesus depôs Sua vida. Outro terremoto marcou o momento de Sua triunfante ressurreição. VJ 114 15 Satanás ficou muito irado porque seus anjos fugiram à aproximação dos mensageiros celestiais. Ele ousara acalentar a esperança de que Cristo não tornaria à vida e que o plano da salvação fracassaria. Mas quando viu o Salvador sair do túmulo triunfante, perdeu completamente a esperança. Sabia que seu reino teria fim e que finalmente seria destruído. ------------------------Capítulo 18 -- "Não temais" VJ 119 1 Lucas, em seu relato a respeito do sepultamento do Salvador, fala sobre algumas mulheres que O acompanharam em Sua crucifixão: VJ 119 2 "Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento." Lucas 23:56. VJ 119 3 O Salvador foi enterrado em uma sexta-feira, o sexto dia da semana. As mulheres prepararam os ungüentos e as especiarias para embalsamar seu Senhor e os deixaram de lado até que o sábado tivesse passado. Nem mesmo o trabalho de embalsamar o corpo de Jesus quiseram fazer no sábado. VJ 119 4 "Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-Lo. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do Sol, foram ao túmulo." Marcos 16:1, 2. VJ 119 5 Quando se aproximaram do jardim, surpreenderam-se ao ver o céu iluminado com uma claridade tão bela e sentiram a terra tremer sob seus pés. VJ 120 1 Apressaram-se em direção ao sepulcro e ficaram ainda mais surpresas ao ver que a pedra havia sido removida e nenhum soldado se encontrava ali. VJ 120 2 Maria Madalena foi a primeira a chegar. Vendo que a pedra havia sido removida, correu para contar aos discípulos. Quando as demais mulheres se aproximaram, viram uma luz brilhando no sepulcro e olhando lá dentro, notaram que estava vazio. VJ 120 3 Demorando-se um pouco mais ali, de repente viram um jovem, vestido em roupas resplandecentes, sentado perto do túmulo. Era o anjo que havia removido a pedra. Com medo, tentaram fugir, mas ele lhes disse: VJ 120 4 "Não temais: porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde Ele jazia. Ide, pois, depressa e dizei aos Seus discípulos que Ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vós para a Galiléia; ali O vereis. É como vos digo!" Mateus 28:5-7. VJ 120 5 Quando as mulheres olharam novamente para o túmulo, viram outro anjo reluzente, que lhes perguntou: VJ 120 6 "Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos preveniu, estando ainda na Galiléia, quando disse: Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de pecadores, e seja crucificado, e ressuscite no terceiro dia." Lucas 24:5-7. Esperança renovada VJ 120 7 Os anjos então lhes explicaram a respeito da morte e ressurreição de Cristo. Lembraram as palavras que o próprio Cristo havia falado, nas quais havia predito Sua crucifixão e ressurreição. As palavras de Jesus agora faziam sentido e com esperança e coragem renovadas se apressaram para contar as novas de grande alegria. VJ 120 8 Maria estivera ausente daquela cena e voltava agora em companhia de Pedro e João. Quando eles retornaram a Jerusalém, ela permaneceu no local da sepultura. Não suportava a idéia de sair dali sem antes saber o que havia acontecido com o corpo do seu Senhor. Enquanto chorava, ouviu uma voz que lhe disse: VJ 121 1 "Mulher, por que choras? A quem procuras?" João 20:15. Seus olhos, cobertos de lágrimas, a impediram de reconhecer quem lhe falava. Pensou que se tratava do jardineiro e lhe disse em tom de súplica: VJ 121 2 "Senhor, se tu O tiraste, dize-me onde O puseste, e eu O levarei." João 20:15. VJ 121 3 Pensava consigo que se o túmulo daquele homem rico era um lugar de demasiada honra para o Seu Senhor, ela mesma providenciaria para Ele uma outra sepultura. Mas naquele momento a voz do próprio Cristo soou aos seus ouvidos: "Maria!" João 20:16. VJ 121 4 Enxugando depressa as lágrimas, reconheceu diante de si o Salvador. Em sua alegria, se esquecendo de que Ele havia sido crucificado, estendeu-Lhe as mãos, dizendo: "Raboni (que quer dizer Mestre)!" João 20:16. VJ 121 5 Jesus, porém lhe disse: "Não me detenhas; porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai ter com os Meus irmãos e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus." João 20:17. VJ 121 6 O Salvador recusou receber as homenagens de Seus discípulos até que pudesse Se certificar de que Seu sacrifício havia sido aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais e do próprio Deus recebeu a garantia de que Seu sacrifício pelos pecados da humanidade fora completo e perfeito para expiar o pecado; e através de Seu sangue, todos podiam obter a vida eterna. VJ 121 7 Todo o poder no Céu e na Terra foi então dado ao Príncipe da vida, e Ele retornou aos Seus discípulos neste mundo pecaminoso, a fim de lhes comunicar Seu poder e Sua glória. ------------------------Capítulo 19 -- "Paz seja convosco!" VJ 123 1 No final da tarde daquele mesmo dia da ressurreição, dois discípulos de Jesus seguiam pela estrada de Emaús, pequeno povoado cerca de doze quilômetros de Jerusalém. VJ 123 2 Iam perplexos por causa dos últimos acontecimentos e, principalmente, pelas notícias trazidas pelas mulheres que tinham visto os anjos e Jesus após a ressurreição. VJ 123 3 Voltavam para casa a fim de meditar e orar, na esperança de obter alguma luz em relação àquelas questões que lhes pareciam tão obscuras. VJ 123 4 À medida que avançavam no caminho, um Estranho Se aproximou e Se uniu a eles na caminhada; porém, iam tão absortos na conversa que mal notaram Sua presença. Jesus estavam ali para confortá-los. VJ 124 1 Disfarçado de estrangeiro começou a conversar com eles. "Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de O reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo." Lucas 24:16-19. VJ 124 2 Então Lhe contaram o que havia acontecido e repetiram o relato trazido pelas mulheres que haviam estado no túmulo naquela mesma manhã. Disse-lhes então Jesus: VJ 124 3 "Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na Sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras." Lucas 24:25-27. VJ 124 4 Os discípulos silenciaram de espanto e alegria. Não se aventuravam a perguntar ao estranho quem era Ele. Ouviam ansiosos enquanto Ele lhes explicava a missão de Cristo. Base segura para a fé VJ 124 5 Se o Salvador tivesse revelado Sua identidade aos discípulos, eles teriam ficado satisfeitos. Na plenitude de sua alegria, nada mais teriam desejado. Mas era necessário que eles compreendessem como Sua missão havia sido predita por todos os símbolos e profecias do Antigo Testamento. Deveriam construir a sua fé sobre esses marcos. Cristo não operou nenhum milagre para convencê-los, mas Seu primeiro trabalho foi explicar-lhes as Escrituras. Eles haviam considerado Sua morte como a destruição de todas as suas esperanças. Agora, Cristo lhes mostrava, partindo dos profetas, que isso era a mais forte evidência para sua fé. VJ 124 6 Ao ensinar os discípulos, Cristo lhes mostrou a importância do Antigo Testamento como testemunho de Sua missão. Muitos hoje rejeitam o Antigo Testamento afirmando que ele não é mais necessário; mas esse não é o ensino de Cristo. Deu às Escrituras tanto valor que certa vez declarou: VJ 124 7 "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." Lucas 16:31. VJ 124 8 Ao pôr-do-sol, os discípulos chegaram a sua casa e Jesus "fez menção de passar adiante". Os discípulos, porém, não consentiram em se separar dAquele que lhes havia trazido tanta alegria e esperança. Então disseram: VJ 124 9 "Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. E entrou para ficar com eles." Lucas 24:29. Reconhecendo o Salvador VJ 124 10 Uma refeição simples foi então preparada e Cristo Se assentou à cabeceira da mesa, conforme era Seu costume. Geralmente cabia ao chefe da família pedir a bênção sobre o alimento; Jesus, porém, pondo as mãos sobre o pão o abençoou. Naquele momento, os olhos dos discípulos se abriram. VJ 125 1 O jeito de pedir a bênção, o tom de voz tão familiar, as marcas dos pregos nas mãos, tudo denunciava tratar-se de Seu amado Mestre. VJ 125 2 Por um momento, não puderam pronunciar nenhuma palavra; depois, se levantaram para se lançar aos pés de Jesus e adorá-Lo; no entanto, Ele desapareceu de repente. VJ 125 3 Em sua alegria, esqueceram a fome e o cansaço. Não tocaram na comida e voltaram apressadamente a Jerusalém com a mensagem preciosa do Salvador ressuscitado. VJ 125 4 Estavam ainda contando as grandes novas aos seus companheiros, quando o próprio Jesus Se apresentou entre eles e levantando as mãos para abençoá-los, disse: VJ 125 5 "Paz seja convosco!" Lucas 24:36. VJ 125 6 No princípio, sentiram medo; mas quando Ele lhes mostrou as mãos e os pés traspassados e comeu diante deles, creram e foram consolados. Fé e alegria, então, substituíram a incredulidade, e com sentimentos que as palavras não podem traduzir, reconheceram o Salvador ressuscitado. VJ 125 7 Tomé não estivera presente naquele encontro e se recusava a crer no que diziam a respeito da ressurreição. Oito dias depois, Jesus tornou a aparecer aos discípulos e Tomé estava presente. VJ 125 8 Mostrando-lhe os sinais de Sua crucifixão nas mãos e nos pés, o discípulo se convenceu depressa e exclamou: "Senhor meu e Deus meu!" João 20:28. A missão VJ 125 9 Naquela sala situada no andar superior, Cristo explicou outra vez as Escrituras em relação a Si mesmo. Então disse aos discípulos que o arrependimento e o perdão dos pecados deveriam ser proclamados em Seu nome entre todas as nações, começando em Jerusalém. VJ 125 10 Antes de subir ao Céu, Ele lhes disse: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da Terra." Atos dos Apóstolos 1:8. "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." Mateus 28:20. VJ 125 11 Sois testemunhas da Minha vida e do Meu sacrifício em favor do mundo, Cristo disse. Todo o que vier a Mim, confessando seus pecados, Eu o receberei. Todo o que quiser, pode se reconciliar com Deus e ter a vida eterna. VJ 125 12 A vós, Meus discípulos, entrego esta mensagem de graça e misericórdia para ser dada a todas as nações, línguas e povos. Ide aos lugares mais distantes da Terra e sabei que Minha presença irá convosco. VJ 125 13 Essa ordem de Jesus, dada aos discípulos, inclui todos os crentes até à consumação dos séculos. VJ 125 14 Nem todos podem pregar nas igrejas, mas todos podem ajudar as pessoas individualmente. Os que servem os sofredores, os que ajudam os necessitados, os que confortam os abatidos e que contam aos pecadores a respeito do amor perdoador de Cristo, são Suas testemunhas. ------------------------Capítulo 20 -- A ascensão triunfal VJ 127 1 A obra terrestre de Jesus estava concluída. Havia chegado o tempo de regressar ao lar celestial. Ele vencera e devia agora tomar Seu lugar ao lado do Pai no trono de luz e glória. VJ 127 2 Jesus escolheu o Monte das Oliveiras como o lugar de Sua ascensão. Acompanhado dos onze, dirigiu-Se ao Monte. Os discípulos, porém, não sabiam que esse seria o último contato com o Mestre. Durante o trajeto, Jesus lhes deu as últimas orientações e, pouco antes de partir, deixou a preciosa promessa a cada um de Seus seguidores: VJ 127 3 "Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século." Mateus 28:20. VJ 127 4 Atravessaram o monte para o lado dos arredores de Betânia. Ali pararam e os discípulos se juntaram ao redor do Mestre. Raios de luz pareciam emanar de Seu rosto quando os contemplou com amor. As últimas palavras do Salvador foram repletas do mais profundo sentimento de ternura. VJ 128 1 Com as mãos estendidas para abençoar, lentamente começou a subir. Os discípulos maravilhados, esforçavam a visão para não perder a imagem que desaparecia nas alturas. Uma nuvem de glória O arrebatou da vista de todos. Ao mesmo tempo, a mais bela e harmoniosa melodia cantada pelo coro angelical encheu o ar. Eles se voltaram e viram dois mensageiros celestes que lhes disseram: VJ 128 2 "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao Céu virá do modo como O vistes subir." Atos dos Apóstolos 1:11. VJ 128 3 Esses anjos pertenciam ao exército que tinha vindo para acompanhar o Salvador ao lar celestial. Demonstrando amor e simpatia pelos que ficavam, eles permaneceram ali mais um pouco para os assegurar de que a separação não duraria para sempre. Um amigo nos céus VJ 128 4 Quando os discípulos retornaram a Jerusalém, as pessoas os olhavam com surpresa. Depois do julgamento e crucifixão de seu Mestre, pensavam que eles ficariam deprimidos e envergonhados. Seus inimigos esperavam ver em seu rosto uma expressão de tristeza e derrota. Ao invés disso, havia apenas alegria e triunfo. Em suas faces transparecia uma felicidade sobrenatural. Não lamentavam suas esperanças frustradas, mas se sentiam cheios de louvor e gratidão a Deus. VJ 128 5 Com júbilo, contaram a maravilhosa história da ressurreição de Cristo e de Sua ascensão ao Céu e muitos receberam esse testemunho. Os discípulos não precisavam mais duvidar do futuro, pois sabiam que o Salvador estava no Céu e que Seus cuidados os acompanhariam. Sabiam que Ele estava apresentando diante de Deus os méritos do Seu sangue, mostrando ao Pai Suas mãos e pés traspassados, como uma evidência do preço pago pelos Seus remidos. VJ 128 6 Sabiam que Ele voltaria outra vez, com todos os santos anjos, e aguardavam ansiosamente esse evento com grande alegria e saudosa antecipação. Chegada triunfal do rei da glória VJ 128 7 Quando Jesus desapareceu da vista dos discípulos no Monte das Oliveiras, Ele foi recebido por um exército de anjos que veio para acompanhá-Lo com cânticos de alegria e triunfo. VJ 128 8 Nos portais da cidade de Deus, anjos incontáveis aguardavam Sua chegada. Ao Cristo Se aproximar dos portões, os anjos que O acompanhavam, em tons de triunfo, se dirigem aos que se encontram nos portais: VJ 129 1 "Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória." VJ 129 2 Os anjos que esperam nas portas perguntam: VJ 129 3 "Quem é o Rei da Glória?" VJ 129 4 Eles fazem essa pergunta, não porque não sabem quem Ele é, mas porque desejam ouvir a resposta em exaltação e louvor: VJ 129 5 "O Senhor, forte e poderoso, O Senhor, poderoso nas batalhas. Levantai, ó portas, as vossas cabeças; Levantai-vos, ó portais eternos, Para que entre o Rei da Glória." VJ 129 6 Novamente, os anjos que aguardam perguntam: VJ 129 7 "Quem é esse Rei da Glória?" VJ 129 8 E a escolta de anjos responde em acordes melodiosos: VJ 129 9 "O Senhor dos Exércitos, Ele é o Rei da Glória." Salmos 24:7-10. VJ 129 10 Então os portais se abrem completamente e a multidão de anjos entra na cidade de Deus em majestosa marcha. A mais enlevada música irrompe em belas e melodiosas antífonas de louvor. Toda a hoste angelical aguarda para honrar seu Comandante. Esperam que Ele tome o Seu lugar no trono do Pai. VJ 129 11 Mas Jesus ainda não pode receber o diadema de glória e as vestes reais, pois precisa apresentar diante do Pai um pedido em relação aos Seus escolhidos na Terra. Não pode aceitar as honrarias até que, diante do Universo celestial, Sua igreja seja justificada e aceita. VJ 129 12 Pede para que onde Ele esteja, Seu povo possa estar. Se Ele for honrado, eles devem partilhar a honra com Ele. Os que sofrem com Ele na Terra, devem reinar com Ele em Seu reino. VJ 129 13 Por esse propósito, Cristo intercede por Sua igreja. Identifica Seus interesses com os do Seu povo e com amor e constância mais fortes do que a morte, advoga os direitos e títulos comprados com Seu sangue. VJ 129 14 A resposta do Pai a esse apelo segue adiante na proclamação: "E todos os anjos de Deus O adorem." Hebreus 1:6. Com grande júbilo, os líderes das hostes celestiais adoram o Redentor. Os incontáveis exércitos de anjos se prostram diante dEle, e as cortes do Céu ecoam e tornam a ecoar com um brado de alegria: VJ 129 15 "Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor." Apocalipse 5:12. VJ 129 16 Os seguidores de Cristo são aceitos no Filho Amado. Na presença dos anjos celestiais, o Pai ratificou o concerto feito com Cristo de que Ele receberá pessoas arrependidas e obedientes e as amará como ama Seu Filho. Onde o Redentor estiver, os remidos hão de estar. VJ 129 17 O Filho de Deus triunfou sobre o príncipe das trevas e venceu a morte e o pecado. O Céu vibra com as vozes harmoniosas que proclamam: VJ 129 18 "Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos." Apocalipse 5:13. ------------------------Capítulo 21 -- Quando Cristo voltará? VJ 131 1 Nosso Salvador virá outra vez. Antes de partir, Ele mesmo anunciou aos discípulos a promessa de Seu retorno: "Não se turbe o vosso coração. ... Na casa de Meu Pai há muitas moradas. ... Vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também." João 14:1-3. VJ 131 2 Ele não deixou dúvida quanto à maneira de Seu retorno: "Quando vier o Filho do Homem na Sua majestade e todos os anjos com Ele, então, Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas em Sua presença." Mateus 25:31, 32. VJ 131 3 Cuidadosamente Cristo os advertiu contra os enganos: "Portanto, se vos disserem: Eis que Ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até no Ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem." Mateus 24:26, 27. VJ 133 1 Essa advertência é para nós. Hoje, falsos mestres estão dizendo: "Eis que Ele está no deserto!", e milhares têm saído ao deserto na esperança de encontrar Jesus ali. VJ 133 2 Outros milhares que afirmam manter contato com os espíritos dos mortos, declaram que Ele está "no interior da casa". Mateus 24:26. Essa é a afirmação feita pelo espiritismo. VJ 133 3 Cristo, porém, disse: "Não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até no Ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem." Mateus 24:26, 27. VJ 133 4 Por ocasião de Sua ascensão, os anjos explicaram aos discípulos como Jesus viria outra vez: "assim virá do modo como O vistes subir." Atos dos Apóstolos 1:11. Ele subiu ao Céu corporalmente e eles O viram quando Se separou deles e foi envolvido por uma nuvem. Ele voltará sobre uma grande nuvem branca e "todo olho O verá". Apocalipse 1:7. Sinais do fim VJ 133 5 O dia e a hora exatos de Sua vinda não foram revelados. Cristo disse aos discípulos que Ele Mesmo não sabia o dia ou a hora de Seu retorno; mas, mencionou certos eventos através dos quais poderiam saber quando Sua vinda estaria próxima. VJ 133 6 "Haverá sinais", disse Ele, "no Sol, na Lua e nas estrelas." Lucas 21:25. E explicou com maior clareza ainda: "O Sol escurecerá, a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento." Mateus 24:29. VJ 133 7 "Sobre a Terra", disse Jesus, haverá "angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo." Lucas 21:25, 26. VJ 133 8 "E verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os Seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." Mateus 24:30, 31. VJ 133 9 O Salvador acrescentou ainda: "Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24:32, 33. VJ 133 10 Cristo descreveu os sinais de Sua vinda. Disse que poderíamos saber quando Seu retorno estivesse às portas. Quando as folhas das árvores brotam na primavera, sabemos que o verão está próximo. Do mesmo modo, ao se cumprirem os sinais no Sol, na Lua e nas estrelas, podemos nos certificar de que a vinda de Cristo se aproxima. VJ 133 11 Esses sinais já se cumpriram. Em 19 de Maio de 1780 o Sol escureceu. Esse dia ficou conhecido na História como "o dia escuro". Na região Leste dos Estados Unidos, tão densas eram as trevas que as lamparinas foram acesas ao meio-dia e até depois da meia-noite, a Lua embora fosse cheia, se negou a iluminar. Muitos acreditaram que o dia do juízo havia chegado. Nenhuma razão satisfatória pôde explicar a escuridão sobrenatural, exceto a que foi encontrada nas palavras de Cristo. O escurecimento do Sol e da Lua foi um sinal de Sua vinda. VJ 133 12 Em 13 de Novembro de 1833, ocorreu uma deslumbrante queda de estrelas jamais contemplada pelo homem. Outra vez, as pessoas se convenceram de que era chegado o dia do juízo. VJ 133 13 Desde então, terremotos, furacões, maremotos, pestes, fomes, destruições por fogo ou por inundações têm-se multiplicado. Além disso, angústia e perplexidade entre as nações apontam para o iminente retorno do Senhor Jesus. VJ 133 14 Aos que haveriam de contemplar esses sinais, o Salvador disse: "Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o Céu e a Terra, porém as Minhas palavras não passarão." Mateus 24:34, 35. VJ 134 1 "Porquanto o Senhor mesmo, dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles. entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras." 1 Tessalonicenses 4:16-18. A família de Deus finalmente reunida VJ 134 2 Cristo vem, com poder e grande glória nas nuvens do céu. Uma multidão de anjos resplandecentes virá com Ele. Ele virá para ressuscitar os mortos e transformar os santos vivos de glória em glória. Virá para honrar e levar consigo os que O amam e guardam os Seus mandamentos. Não Se esqueceu deles, nem de Sua promessa. VJ 134 3 Virá para reunir as famílias que foram separadas pela morte. Quando nos lembramos dos nossos queridos que a morte arrebatou, pensamos com ansiedade na manhã da ressurreição quando a trombeta de Deus soará e "os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." 1 Coríntios 15:52. VJ 134 4 Esse tempo está próximo. Um pouco mais e então veremos o Rei em Sua formosura. Ainda um pouco e Ele enxugará dos olhos toda lágrima. Mais um pouco, e Ele nos apresentará "com exultação, imaculados diante da Sua glória". Judas 24. VJ 134 5 Por isso, quando Jesus descreveu os sinais de Seu retorno, disse: "Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima." Lucas 21:28. ------------------------Capítulo 22 -- O juízo final VJ 137 1 O dia da vinda de Cristo será um dia de juízo para o mundo. As Escrituras declaram: "Eis que veio o Senhor entre Suas santas miríades, para exercer juízo contra todos. Judas 14, 15. VJ 137 2 "E todas as nações serão reunidas em Sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas." Mateus 25:32. VJ 137 3 Antes, porém, de vir aquele dia, Deus adverte os homens quanto ao que há de suceder. Em todos os tempos, Suas advertências têm sido dadas. Alguns acreditaram na Palavra de Deus e obedeceram às suas orientações, se livrando, assim, dos juízos que caíram sobre os incrédulos e desobedientes. VJ 137 4 Antes de destruir o mundo pelo dilúvio, Deus ordenou a Noé: "Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de Mim no meio desta geração." Gênesis 7:1. Noé obedeceu e foi salvo. Antes da destruição de Sodoma, os anjos trouxeram a Ló a seguinte mensagem: "Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade." Gênesis 19:14. Ló atendeu à advertência e foi salvo. VJ 138 1 Assim, também, agora somos advertidos a respeito da segunda vinda de Cristo e da destruição que sobrevirá ao mundo e todos os que derem ouvidos às advertências serão salvos. Quando Cristo vier nas nuvens do céu, os justos hão de exclamar: "Eis que Este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará." Isaías 25:9. VJ 138 2 Como não sabemos o tempo exato de Sua vinda, somos exortados a vigiar: "Bem-aventurados aqueles servos a quem o Senhor, quando vier, os encontre vigilantes." Lucas 12:37. Aguardar trabalhando VJ 138 3 Enquanto vigiamos aguardando a vinda de Jesus, não devemos ficar na ociosidade. A expectativa do retorno de Cristo leva as pessoas a temerem os juízos sobre as transgressões. Deve despertá-las para o arrependimento de seus pecados resultados da violação dos mandamentos de Deus. VJ 138 4 Enquanto vigiamos, aguardando a vinda do Senhor, devemos trabalhar diligentemente. Saber que Ele está às portas, deve nos levar a trabalhar com mais dedicação pela salvação de nossos semelhantes. Assim como Noé anunciou a mensagem da destruição do mundo antes do dilúvio, todos os que compreendem a Palavra de Deus, devem advertir as pessoas de seu tempo. VJ 138 5 "Assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem." Mateus 24:37-39. VJ 138 6 O povo dos dias de Noé abusava dos dons de Deus. O excesso na comida e na bebida degeneraram em glutonaria e bebedice. VJ 138 7 Esquecendo-se de Deus, se entregaram a atos abomináveis e vis. VJ 138 8 "Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na Terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração." Gênesis 6:5. O povo daquele tempo foi destruído por causa da sua impiedade. VJ 138 9 Nos dias atuais, os homens estão praticando as mesmas coisas. Glutonaria, intemperança, paixões irrefreadas e toda sorte de práticas abomináveis enchem a Terra. Nos dias de Noé, o mundo foi destruído pela água e agora, a Palavra de Deus ensina que será pelo fogo. VJ 138 10 Mas os homens "deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como Terra, a qual surgiu da água e através da água pela Palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a Terra, pela mesma Palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios". 2 Pedro 3:5-7. VJ 139 1 Os antediluvianos zombavam das advertências de Deus. Chamaram Noé de fanático e alarmista. Homens importantes e cultos afirmavam que um dilúvio como estava sendo anunciado jamais fora visto e nunca poderia ocorrer. VJ 139 2 Hoje, pouca importância se dá à Palavra de Deus. Os homens escarnecem de suas advertências. Multidões dizem: "Onde está a promessa da Sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação." 2 Pedro 3:4. Mas a destruição é iminente. Enquanto os homens zombam: "Onde está a promessa da Sua vinda?" os sinais estão se cumprindo. "Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição; ... e de nenhum modo escaparão." 1 Tessalonicenses 5:3. Preocupação com coisas temporais VJ 139 3 Cristo disse: "Se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti." Apocalipse 3:3. Nos dias atuais, as pessoas se ocupam apenas em comer, beber, plantar, construir, se casar e se dar em casamento. Os empresários continuam comprando e vendendo e os ambiciosos disputam posições de honra. Os amantes dos prazeres lotam teatros, estádios, cassinos e outros divertimentos. Em todo lugar, prevalece a diversão; contudo, o tempo da angústia se aproxima rapidamente e a porta da graça há de se fechar para sempre. VJ 139 4 Foi para o nosso tempo que o Salvador disse estas palavras de advertência: VJ 139 5 "Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente, como um laço." Lucas 21:34. VJ 139 6 "Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem." Lucas 21:36. ------------------------Capítulo 23 -- A eterna felicidade VJ 141 1 O dia da vinda de Cristo será um dia de redenção não apenas para o povo de Deus, mas para todo o planeta, além de ser o dia em que o mal será completamente destruído. VJ 141 2 Deus criou a Terra para ser a morada do homem. Adão viveu em um jardim magnífico que o Próprio Criador embelezara. E embora o pecado tenha manchado a obra de Deus, a raça humana não foi abandonada por seu Criador, nem Seu propósito em relação à Terra foi deixado de lado. VJ 141 3 Anjos foram enviados ao nosso planeta para dar a mensagem de salvação e os vales e colinas ecoaram suas canções de alegria. Os pés do Filho de Deus tocaram o seu solo e por mais de seis mil anos, em toda a sua beleza e nas suas reservas para o nosso sustento, a Terra tem testemunhado o amor do Criador. VJ 141 4 Essa mesma Terra, livre da maldição do pecado, será a morada eterna dos salvos. A Bíblia diz a respeito dela: Deus "não a criou para ser um caos, mas para ser habitada". Isaías 45:18. E "tudo quanto Deus faz durará eternamente". Eclesiastes 3:14. VJ 142 1 Por isso, no Sermão da Montanha o Salvador declarou: "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra." Mateus 5:5. VJ 142 2 O salmista já havia escrito muito tempo atrás: "Mas os mansos herdarão a Terra e se deleitarão na abundância de paz." Salmos 37:11. VJ 142 3 Com essa declaração concordam também outros testemunhos das Escrituras: "Os justos herdarão a Terra e nela habitarão para sempre." Salmos 37:29. Fogo purificador VJ 142 4 O fogo do último dia há de destruir "os céus que agora existem e a Terra", mas do seu caos devem surgir novo céu e uma nova Terra, conforme "a Sua promessa". 2 Pedro 3:7, 13. O céu e a Terra serão renovados. VJ 142 5 "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam." 1 Coríntios 2:9. Nenhuma linguagem humana pode descrever plenamente a recompensa dos justos. Apenas os que desfrutarem dela, poderão compreendê-la. Não podemos conceber a glória do paraíso de Deus. VJ 142 6 Contudo, temos alguns vislumbres do mundo futuro revelados a nós pelo Espírito Santo. 1 Coríntios 2:10. Os quadros que a Escritura Sagrada nos apresenta a respeito da nova Terra são preciosos ao nosso coração. VJ 142 7 Ali o Pastor divino conduz o Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida dá o seu fruto a cada mês e suas folhas são para a saúde das nações. Ali as correntes de água são claras como o cristal e nunca secam. Às suas margens, árvores frondosas lançam sombra sobre o caminho dos salvos. As planícies se estendem, se elevando em colinas verdejantes e em montanhas majestosas que apontam para o céu. Nesses campos tranqüilos, ao lado das correntes vivas, o povo de Deus, peregrinos e estrangeiros na Terra por tanto tempo, finalmente encontram ali o seu lar. VJ 144 1 "O Meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos." Isaías 32:18. "Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de desolação ou ruínas, nos teus limites; mas aos teus muros chamarás Salvação, e às tuas portas, Louvor." Isaías 60:18. VJ 144 2 "Eles edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam." Isaías 65:21, 22. VJ 144 3 "O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso." Isaías 35:1. "Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, e em lugar da sarça crescerá a murta." Isaías 55:13. VJ 144 4 "O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte", diz o Senhor. Isaías 11:6, 9. VJ 144 5 Lá não haverá mais lágrimas, nem cortejos fúnebres, nem sinais de luto. "E a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram." Apocalipse 21:4. "Nenhum morador de Jerusalém dirá: Estou doente; porque ao povo que habita nela, perdoar-se-lhe-á a sua iniqüidade." Isaías 33:24. VJ 144 6 Ali está a Nova Jerusalém, a capital da Terra renovada, "uma coroa de glória na mão do Senhor, um diadema real na mão do teu Deus." Isaías 62:3. A sua luz é "semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da Terra lhe trazem a sua glória." Apocalipse 21:11, 24. VJ 144 7 O Senhor diz: "E exultarei por causa de Jerusalém e Me alegrarei no Meu povo, e nunca mais se ouvirá nela nem voz de choro nem de clamor." Isaías 65:19. "Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles." Apocalipse 21:3. VJ 144 8 Na Nova Terra só habitará justiça. "Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira." Apocalipse 21:27. A santa lei de Deus será honrada por todos. Aqueles que deram provas de sua fidelidade a Deus, guardando os seus preceitos, habitarão com Ele. VJ 144 9 "E não se achou mentira na sua boca." Apocalipse 14:5. "São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham no trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu santuário." Apocalipse 7:14, 15. VJ 144 10 "Os preceitos do Senhor são retos. ...Em os guardar há grande recompensa." Salmos 19:8, 11. VJ 144 11 "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas." Apocalipse 22:14.